(Des) Qualificado - Steven Furtick
(Des) Qualificado - Steven Furtick
(Des) Qualificado - Steven Furtick
“Deus não chama os capacitados. Ele capacita os escolhidos. Este livro vai
transformá-lo e encorajá-lo a uma vida marcada pela dependência da oração e
pela determinação — sua vida nunca mais será a mesma.”
— MARK BATTERSON, pastor líder da igreja National Community,
Washington, DC, e autor best-seller de The Circle Maker
“O pastor Steven não apenas deu voz à dor que frequentemente empurramos
goela abaixo quando alguém nos faz sentir que não somos bons o suficiente,
como também nos direciona ao Único que pode verdadeiramente medir nosso
potencial. O livro (Des)Qualificado irá mostrar-lhe, de forma estratégica e
bíblica, que, mesmo quando passamos despercebidos pelas pessoas, somos
escolhidos a dedo por Deus para ser parte de Seu magnífico plano. Esta é
uma mensagem tão necessária hoje em dia!”
— LYSA TERKEURST, presidente do Proverbs 31 Ministries e autora best-
seller, segundo o New York Times
“Frequentemente abraçamos a falácia de que nosso sucesso depende
exclusivamente de nossas qualificações. Que nós, e apenas nós, somos os
arquitetos de nossas vitórias e da moldura do nosso futuro. Eu estou no
ministério há bastante tempo para saber que Deus ama usar os mais
improváveis para cumprirem Seus propósitos e que nossas habilidades são
sempre secundárias em Seu chamado. Em (Des)Qualificado, pastor Steven
Furtick nos mostra como nos aliarmos e participarmos do chamado de Deus
para nossas vidas, independentemente de quem somos, onde estamos ou do
que pensamos ter falta.”
— BISPO T.D. JAKES, fundador e pastor sênior da The Potter’s House,
Dallas, e autor best-seller, segundo o New York Times
“Todos os humanos se esforçam para serem mais fortes do que realmente são,
melhores do que realmente são e mais do que realmente são. Isso não é
ruim… mas simplesmente não funciona. E como Steven mostra, isso nos
distancia ainda mais de quem somos e de quem desejamos ser. Este livro o
ajudará a ficar mais confortável em sua própria pele, parar com esse esforço e
ver a verdade de como o poder de Deus flui quando conseguimos ser
honestos.”
— DR. HENRY CLOUD, psicólogo clínico, aclamado perito em liderança e
autor best-seller
“Em (Des)Qualificado, meu amigo Steven Furtick nos lembra que o sistema
classificatório de Deus é bem diferente do nosso. Se você é, ao menos, um
pouco parecido comigo, isso é um ótimo lembrete e um grande alívio. Nestas
páginas inspiradoras, Steven fala verdades fortes e úteis de forma humilde e
honesta. Ele nos encoraja a deixarmos os rótulos que colocamos em nós
mesmos e a viver na revelação de um Deus que transforma até nossas
fraquezas em forças. Este livro brilhante fez muito sentido para mim, e eu sei
que fará para você também.”
— MATT REDMAN, líder de louvor e compositor vencedor do Grammy
“Ver o ministério do pastor Steven Furtick é ver alguém vivendo em sua zona
de graça. Ele é um comunicador excepcional, um edificador de igreja
apaixonado e um amante da verdade. Não tenho dúvidas de que sua obra
mais recente, (Des)Qualificado, fará sentido para todos aqueles que já
sentiram o arranque do chamado e a inadequação de sua própria humanidade.
Este livro o encorajará e o fortalecerá em sua jornada.”
— BRIAN HOUSTON, fundador e pastor sênior global da Hillsong Church e
autor best-seller internacional de Viva, Ame, Lidere
“Em uma cultura obcecada por percepção e perfeição, (Des)Qualificado é um
lembrete refrescante de que Deus usa nossas fraquezas a nosso favor. O livro
mais recente de Steven Furtick é honesto, prático e minuciosamente
encorajador, e eu fortemente recomendo. Ele irá ajudá-lo a ver-se com mais
fé e coragem do que nunca antes.”
— ANDY STANLEY, pastor sênior da North Point Ministries, Atlanta
Traduzido do inglês (Un)Qualified
Copyright © 2019 por Steven Furtick
Publicado nos Estados Unidos por Multnomah, uma editora de Th e Crown Publishing Group, uma divisão de Penguin Random
House LLC, New York.
Todos os direitos reservados. Todas as citações bíblicas foram extraídas da Nova Versão Internacional (NVI), salvo indicação em
contrário. Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida, distribuída ou transmitida sob qualquer forma ou meio, ou
armazenada em base de dados ou sistema de recuperação sem a autorização prévia por escrito da Editora Inspire.
Tradução publicada em acordo com Multnomah, uma editora de Th e Crown Publishing Group, uma divisão de Penguin Random
House LLC, New York.
Furtick, Steven.
F992d (Des)Qualificado [recurso eletrônico] : como Deus usa pessoas quebradas para coisas grandes / Steven
Furtick; tradução Mariana Abrahão de Sousa. – São José dos Campos, SP: Inspire, 2020.
Formato: ePUB
Requisitos de sistema: Adobe Digital Editions
Modo de acesso: World Wide Web
Inclui bibliografia
Título original: (Un)Qualified: how God uses broken people to do big things
ISBN 978-65-86516-06-7
Leonard Cohen
DESQUALIFICADO
O que vem à sua mente quando você ouve o nome Steven Furtick?”,
perguntou o entrevistador ao renomado teólogo.
Ei, eles estão falando de mim!
Eu corri de volta para a sala onde o vídeo estava passando, secretamente
empolgado por estar no centro das atenções. Eu havia lido o livro daquele
cara sobre ministérios durante o meu seminário, então eu estava um tanto
quanto lisonjeado com o fato dele saber meu nome. Não nos conhecíamos
pessoalmente.
Eu descobri essa entrevista em particular, da forma com que normalmente
descobrimos a maioria dos vídeos do YouTube — ao cair em queda-livre no
abismo que é a barra lateral de “recomendado para você”. Após clicar no
vídeo, eu saia para me arrumar para ir à igreja. Eu era capaz de escutar a
entrevista no fundo, mas eu não estava realmente ouvindo.
Até que, do nada, eu ouvi aquele mais belo som de todos: meu próprio
nome. É sempre ótimo ser reconhecido.
Exceto quando não é.
“O que vem à sua mente quando você ouve o nome Steven Furtick?”
O teólogo suspirou e abaixou sua cabeça, indicando que a mera
consideração do meu nome era algo cansativo. Isso fez com que a audiência
risse baixinho. Aparentemente eles já sabiam que ele não era meu fã.
Longa e dolorosa pausa. Careta agonizante. Encarada de dar frio na
espinha.
Então o veredito:
“Desqualificado.”
Ele entregou as seis sílabas com um desprezo que ressaltou a gravidade e
a finalidade de seu pronunciamento. Faltou somente o som do martelo no
momento daquele veredito.
Sem elaboração. Sem explicação. Sem qualificadores. Toda minha vida e
ministério foram resumidos em uma única palavra.
E abruptamente a entrevista continuou.
Desqualificado?
Aquela palavra começou a dar voltas em minha cabeça. Era estranho, pois
parte de mim gostaria de sair em minha defesa (contra o YouTube?), mas a
outra parte estava pensando: Amigo, você não sabe metade da história.
Sim, eu luto — com meu temperamento, com meu foco, com meus
motivos, com meus hábitos alimentares, com minha vida de oração, com meu
estado mental. E esta lista nem arranha a superfície.
Eu conheço minhas fraquezas e falhas melhor do que ninguém. Eu não
preciso ouvir uma entrevista online para sentir-me desqualificado.
Dificilmente um dia se vai em que eu não seja capturado pela sensação de
que eu não deveria estar fazendo o que estou fazendo. De que estou indo
muito além da minha alçada. De que eu não mereço nenhuma das minhas
bênçãos ou oportunidades.
Se sou desqualificado?
Este livro é a resposta para esta pergunta. Eu não o estou escrevendo
como uma reação àquela entrevista aleatória no YouTube. Estou fazendo esta
pergunta a mim mesmo durante toda a minha vida. E talvez você também.
Quando comecei a jornada que está por trás deste livro, eu queria
finalmente poder entender como ter uma resposta para aquela pergunta dentro
de mim. Eu queria saber se aquele teólogo estava correto. Precisava saber se
os sussurros de dúvidas que regularmente estrondavam em minha cabeça
eram demônios interiores a serem ignorados — ou sinais de alerta a serem
atendidos. Se eu deveria assumir minhas responsabilidades com confiança em
meu chamado — ou entrar em pânico e me esconder antes que eu estragasse
tudo.
Em um momento ou outro, você provavelmente já se sentiu
desqualificado. Talvez você não tenha tido o duvidoso privilégio de ter sido
avisado do fato pelo YouTube, mas você sabia que era verdade mesmo assim.
Eu acho que todos nós, secretamente, lutamos contra sentimentos de
inadequação, insuficiência e incompetência. Imaginamos se realmente
estamos à altura do desafio. Tememos não ser “suficientes” —
independentemente de como isso se pareça na situação particular de cada um
de nós.
Talvez o problema esteja em seu caráter. Existe uma falha, uma rachadura
ou uma deficiência em que você tenta fazer o seu melhor para esconder. Pode
ser luxúria. Pode ser ira. Pode ser um vício. Mesmo que esteja no passado,
você pode estar vivendo com o medo secreto de que um dia tudo isso voltará
em fúria e destruirá o que você está construindo.
Talvez seja o seu papel como um pai ou uma mãe. No seu local de
trabalho você tem tudo sob controle. Você consegue comprar, vender e trocar
com o que existe de melhor, mas sua vida familiar é outra história. Você não
tem ideia de como criar seu adolescente, e você se sente perigosamente
despreparado.
Ou talvez você saiba que algo profundo em sua alma está impulsionando
você no ministério. Não necessariamente o tempo todo, mas algo
significativo. Você deve ser um líder, alguém que toma decisões, alguém que
assume riscos. Mas seu histórico está longe de ser impecável. E o
pensamento de se expor é petrificante. E se você falhar? E se suas falhas
naufragarem outros ao longo do caminho?
Muitas pessoas passam toda a vida lutando contra essas contradições. Elas
lidam constantemente com vozes em suas mentes que lhes dizem que elas
não são qualificadas, de que nunca serão qualificadas, que elas são
totalmente, epicamente desqualificadas.
Eu escrevi um livro chamado Crash the Chatterbox a respeito de como
resolver os pensamentos negativos. Mas esse livro não é apenas sobre mudar
o barulho que assola sua mente ou o que sai de sua boca. É sobre entender
quem nós realmente somos agora para que possamos ser quem somos
capazes de nos tornar. É sobre descascar impiedosamente os preconceitos e
suposições que construímos sobre nós mesmos. É sobre permitir que Deus
seja nossa fonte de suficiência.
Eu tenho boas notícias! Se você olhar para os grandes homens e mulheres
das Escrituras, encontrará um denominador comum: todos eles não eram
qualificados. Deus tem o hábito de escolher pessoas que foram preteridas.
PASSAR OU FALHAR
A ARMADILHA DA QUALIFICAÇÃO
PATRIARCA CONTRADITÓRIO
COMPLETE A FRASE
Quase quatro mil anos atrás, Deus falou de dentro de uma sarça ardente
com um homem chamado Moisés. Podemos encontrar essa história em Êxodo
3. Se você está na igreja há algum tempo, tenho certeza de que já ouviu falar
sobre isso. Aqui vai uma recapitulação, ornada com alguns detalhes da minha
imaginação.
Deus encontrou Moisés no meio do deserto e o presenteou com um plano
surpreendente. Ele queria que Moisés marchasse Egito adentro, sendo que
essa era a nação mais poderosa do mundo daquela época, e mandasse o faraó
abrir mão de seus milhões de trabalhadores escravos israelitas.
Moisés ficou mesmo surpreso. Mas não de uma forma boa. Ele começou a
suar, e a gaguejar, e a respirar rapidamente, só de pensar no assunto.
Então ele perguntou qual era o nome de Deus. Ele estava desesperado
tentando achar algo — qualquer coisa — que o ajudasse a convencer os
israelitas a embarcarem em sua trama épica.
Instintivamente Moisés sabia que a identidade de Deus era mais
importante do que qualquer coisa naquele momento. Mais importante que
suas próprias habilidades, estudos ou currículo. Mais importante até que o
poder do faraó, ou dos políticos do Egito, ou da viabilidade se tornar um
abolicionista repentinamente.
Então Deus concordou em dizer a Moisés o Seu Nome.
“Moisés, meu nome é… EU SOU.”
Longa e estranha pausa. Moisés se inclinou, atentamente esperando que a
sarça lhe entregasse o segredo. Continue, estou ouvindo. Você é… o quê? O
que você é?… Espera, é só isso? Só “Eu Sou”? Qual é a terceira palavra?
Mas Deus não terminou a frase. Para um Deus perfeito, Ele parecia ter
problemas gritantes com a gramática. Será que Ele não sabia que para esse
verbo seria necessário um objeto como complemento? Não sabia que era
preciso terminar o pensamento?
Talvez Deus estivesse enviando para Moisés — e para cada um de nós —
a mensagem: não passe por cima do eu sou. Não preencha de qualquer modo
a lacuna de quem você é.
Pense sobre essas duas palavras: eu sou. Uma frase tão inexpressiva. Mal
tem duas sílabas.
Porém, é a declaração mais potente e revolucionária que você já fez.
Dentro dela se encontra um poder que pode despir o passado, pilotar o
presente e emoldurar o futuro.
Não quero parecer místico ou etéreo. Isso é intensamente prático. Deus
escolheu essa frase para descrever a Si mesmo, precisamente porque a
identidade e a autopercepção são conceitos fundamentais na vida. A
revelação Eu sou de Deus para Moisés é um enorme componente. Ele é o
todo, é o completo, e é a satisfação para toda e qualquer necessidade ou
desejo que possamos ter. Você pode adicionar todos os superlativos e
hipérboles e ainda assim não vai nem começar a descrever Deus.
Entretanto, você e eu precisamos da terceira palavra. Precisamos ancorar
nossa identidade em termos específicos, tangíveis e descritivos. Precisamos
terminar a frase, e fazemos isso o tempo todo, conscientemente ou não.
Num nível mais genérico, essa terceira palavra é o seu nome.
Mas isso é apenas o começo.
A terceira palavra não fala sobre o nome que seus pais lhe deram, ou
sobre o apelido que você ganhou naquelas férias. Não é o sobre o que você
coloca no crachá da exposição ou como seus amigos o chamam.
Como você completaria a frase “Eu sou__________”? O que você
escreveria neste espaço? Como você se descreve? Não é tão fácil como
parece.
Quando você vai para a igreja, normalmente lhe dão várias dicas sobre
quem Deus é. Você ouve sobre Seu amor, santidade, justiça e bondade.
Jogamos uns termos teológicos como onipresença, onipotência e onisciência.
Aprendemos a descrever Deus em gloriosos detalhes, completando com notas
de rodapés espirituais. Claro, isso é de suma importância.
Mas frequentemente não sabemos quem nós somos. E isso é uma
desconexão fatal.
Veja, uma coisa é saber quem Deus é para você, mas, quem é você para
você mesmo? Talvez você possa descrever e definir Deus, mas será que isso
está sincronizado com como você define e descreve a si mesmo?
Não é que não nos definamos. Fazemos isso sim. Preenchemos o espaço o
tempo todo. Apenas não percebemos. Não paramos para reconhecer as
terceiras palavras que usamos sobre nós mesmos. São automáticas,
inconscientes — e incrivelmente reveladoras. Eu sou um ótimo pai. Sou
péssimo em consertar coisas. Sou notavelmente agressivo no trânsito. Sou
um músico medíocre. Sou um sucesso. Sou um fracasso. Sou…
Estou chamando isto de terceira palavra, mas obviamente não
completamos o espaço com apenas um termo. Nossa terceira palavra pode ser
uma frase. Pode ser uma lista. Pode ser um medo ou um sentimento. Pode ser
uma lembrança ou um trauma. Pode ser uma acusação guardada no fundo da
nossa psique.
Temos completado espaços durante a vida inteira, mas raramente paramos
para pensar se nossa terceira palavra está correta.
Lembro-me dos exercícios de “complete a frase” que eram feitos na
escola. A professora trocava uma ou duas palavras por linhas enigmáticas, e
nós deveríamos descobrir qual palavra era a certa para cada espaço.
Não parecia complicado a princípio, mas tem um problema. Cada espaço
tinha uma — e apenas uma — resposta certa. Ou você acertava, ou errava.
É difícil! Pelo menos em questões de múltipla escolha você possui um
quarto de chances de chutar certo. E em questões dissertativas você pode
enrolar e ganhar crédito pela criatividade, esforço e enrolação. Eu sou bom de
enrolação.
Isso não funcionava tanto assim com os implacáveis espaços escolares.
Não havia lugar para erros, nem margem para engano. Completar as frases
significava saber a resposta certa.
Apenas uma pessoa tinha o direito de decidir o que pertencia ao espaço.
Era a professora. Ela é quem dava o veredito final sobre o que aqueles
espaços representavam.
Em sua vida, quem tem o direito de preencher os espaços? Você? Seus
pais? Seus amigos? As circunstâncias?
Recentemente assisti a uma entrevista antiga do 60 Minutos com Bob
Dylan. O entrevistador perguntou por que ele mudou o nome de Robert
Zimmermann para Bob Dylan.
“Você se chama do que quiser se chamar”, respondeu Dylan com seu
clássico ar de desinteresse. “É a terra dos livres.”[ 2 ]
É possível trocar de nome facilmente. Zimmermann vira Dylan
preenchendo os formulários corretos. Mas e os nomes e títulos internos que
definem uma pessoa? Quem decide isso? E se você não considera que seus
espaços foram preenchidos até agora? Dá para mudar a resposta? Até que
ponto é possível mudar? Até que ponto deveria mudar?
E, a propósito, existe mesmo apenas uma resposta correta? É possível que
todas as nuances e contradições da sua vida sejam resumidas tão
sucintamente?
Estas são perguntas da vida real. Elas atingem o cerne da nossa
autopercepção e senso de identidade. Você provavelmente não precisa mais
fazer exercícios de completar a frase na escola, mas as questões de eu sou da
vida são muito mais desafiadoras. Você as responde todos os dias. E essas
respostas direcionam e redirecionam o curso da sua existência, para bem ou
para mal.
Aqui estão algumas terceiras palavras que eu ouço o tempo todo, tanto da
minha boca, quanto da minha mente: Desqualificado. Burro. Forte.
Motivado. Bagunçado. Leal. Paralisado. Machucado. Arrasado. Abençoado.
Capaz. Desapontado. Quebrado. Cansado. Contente.
Com quais delas você se identificou? Circule-as mentalmente. Qual
palavra você acrescentaria? Com que frequência você pensa sobre si mesmo?
Quais palavras você espera circular daqui a um ano? Ou dez anos? Quais
você vai ensinar seus filhos a circularem?
Agora, só de brincadeira, mude a palavra — a terceira palavra.
Isso muda tudo.
Vamos um pouco mais a fundo. Como a sua avaliação sobre você mesmo
pode ser comparada com o que você deixa as outras pessoas pensarem sobre
você? E como ela pode ser comparada ao que você gostaria de ser? Em outras
palavras, você está fingindo? Tem construído uma fachada para encobrir as
falhas e deficiências que vê em si?
Algo maior a ser perguntado é: como tudo isso é comparado com a
avaliação que Deus faz de você? Sua autoimagem, autodescrição, sua persona
— estão alinhadas com aquilo que Deus criou você para ser?
Estas são perguntas enormes. Perguntas que nos confundem. Perguntas
corajosas. Respondê-las corretamente demorará a vida inteira. Mas, se
ignorá-las, desperdiçará toda a sua vida posando, fingindo, afirmando,
atuando, aperfeiçoando, agradando e justificando. Ainda assim, nunca
encontrará seu verdadeiro eu.
DUPLA DIVISÃO
Converso o tempo todo com pessoas que lutam com o espaço que existe
entre suas fraquezas e seus sonhos, entre quem são e quem Deus as chamou
para ser. Suas terceiras palavras são um claro indicativo de que se sentem
desqualificadas.
Pessoas como Jamar, o qual me disse que sentia um chamado para fazer a
diferença na vida de jovens meninos. Jamar cresceu sem um pai. Teve que
aprender muitas coisas de forma difícil e sonha em compartilhar com esses
garotos a perspectiva e a liderança que nunca teve. Se porém… não fosse
viciado em sexo.
Ele é solteiro, bonitão, com um grande sorriso e bem-sucedido no
trabalho. Ele faz sucesso com as mulheres, e sabe disso.
Durante um período de tempo, ele até que vai muito bem, vivendo nos
padrões de Deus. Mas então, a tentação o derruba. O pecado sexual o drena.
Como ele pode ser um exemplo para os outros se ele mesmo precisa tanto de
ajuda?
Jamar está frustrado, pois consegue ver lampejos do seu eu ideal. Mas
uma raiz de transtorno está envenenando seu crescimento. Então ele conclui:
eu sou… prisioneiro.
E pessoas como Heather. Heather é uma ótima mãe. Ao menos, todos,
exceto Heather, pensam isso. Seus filhos estão se destacando. Fazem
múltiplas atividades depois da escola, tanto artísticas quanto atléticas.
Nenhum deles é viciado em drogas. Isto é sempre positivo, não é? Ela
cozinha para a família várias noites na semana. Sempre lê um capítulo de um
livro para as crianças antes de dormirem.
Mas, de alguma forma, nunca é o suficiente. Despois que as crianças
dormem, tudo que ela consegue ver é a bagunça que ela não arrumou para
deixar o dia perfeito. Tudo que ela lembra é de ter perdido a paciência
quando os ajudava com as tarefas. Como ela pode celebrar seu sucesso como
mãe em meio a tantas bagunças e falhas?
O Pinterest dela, uma rede social para compartilhamento de fotos, tem
boas intenções o suficiente para gastar por três vidas inteiras. Ela começou
quatro planos de leitura da Bíblia em um ano em seu aplicativo da Bíblia, e,
pelo jeito que está indo, talvez termine um na próxima década. Ela se sente
jogada de lá pra cá por uma lista infinita de prioridades. Uma voz em sua
mente sussurra que não existe profundidade no que ela está fazendo, que ela é
medíocre, e que a vida a está deixando para trás. Tudo isso a convenceu do
pensamento: eu sou… um fracasso.
E pessoas como meu irmão, Max. Eu amo o Max. Mas por muito tempo o
ajudei a afastar-se de Deus.
Max e eu crescemos numa boa casa sulista. Isso quer dizer que comíamos
frango com bolinhos e íamos à igreja, pelo menos, uma vez por semana. O
Max é três anos mais novo e quinze centímetros mais alto que eu. Seu nome
também não é Max, é Matthew. Colocar apelido nas pessoas é um mau hábito
que eu tenho, e comecei a chamá-lo de Max quando fiz dezesseis anos.
Coincidentemente, foi nessa época que eu comecei a ficar firme na fé em
Jesus. Já que eu havia decidido pela porta estreita, estava determinado que
todos à minha volta viriam comigo, querendo eles ou não.
Isso incluía o Max. Ele foi um dos meus primeiros convertidos à força, e
sofreu as consequências do meu novo zelo religioso.
Quando eu o levava para a escola, ele normalmente queria ouvir a 96
WAVE, a rádio de rock. Sem chance. Não no meu carro. Nós ouvíamos rock
cristão.
Quando o deixava na escola, às vezes eu o via olhando para as meninas.
Luxúria, eu pensava. E o repreendia como se ele fosse alguém de Sodoma e
Gomorra.
À noite passava na sala de estar e encontrava ele assistindo Beavis and
Butt-Head. Rapidamente eu mudava de canal para o primeiro pregador que eu
achasse.
Eu não o estava julgando. Eu amava meu irmão. E por amá-lo, achava que
era minha responsabilidade mostrar-lhe o caminho para Jesus, mesmo que
isso significasse arrastá-lo comigo para a santidade.
Mas ele não parecia seguir. Eu não entendia por qual motivo.
Só percebi na noite em que meu pai morreu, dezesseis anos depois, que eu
o havia empurrado para a direção oposta.
Lembro-me claramente daquela noite. Quando nossos amigos e familiares
que tinham vindo oferecer suporte à família saíram, já era uma hora da
madrugada. Havia sido a semana mais longa das nossas vidas, e
precisávamos descansar. Max se ajeitou na cadeira reclinada e eu me estiquei
no sofá.
De repente, inesperadamente, Max começou a compartilhar comigo suas
lutas internas durante aqueles anos. Sobre como ele havia querido ter um
relacionamento com Deus há tempos, mas parecia difícil demais.
“Não é para ser difícil”, eu disse.
“Mas para mim sempre pareceu muito difícil”, ele explicou. “Eu via você
no ensino médio. Com todas aquelas regras, todas as coisas que você não
podia falar, ou ver, ou ouvir. E eu não queria ser um crente meia-boca, mas se
é isso que significa ser um cristão verdadeiro, eu sabia que não conseguiria.
Era muito difícil”.
Conversamos um tempo, e eu pedi perdão para ele. Disse que sentia muito
por ter feito parecer que o início do relacionamento com Deus significava
adotar uma lista de restrições. Disse que aprendi com o tempo que o
evangelho não é sobre o que Deus quer de nós, mas o que Ele quer para nós.
A conversa definitivamente acendeu algo. Não só no Max, mas em mim.
Não podia parar de pensar nas palavras que ele usou: “muito difícil”. Isso me
assombrou.
É assim que eu tenho feito parecer? Muito difícil? É assim que deve se
parecer? É assim que deve ser?
Quantas pessoas desistiram da ideia de ter um relacionamento com Deus
por conta de todas as qualificações que anexamos ao que significa conhecê-
Lo?
De algumas formas, a fé vai ser difícil. Citando um pregador antigo do
interior: “Jesus disse pegue sua cruz, não o seu colchão reclinável”. Entendi
isso. Caminhar de verdade com Deus neste mundo é, às vezes, um grande e
complicado empenho. Mas fazer as pessoas sentirem que existem quinze pré-
requisitos para se achegarem a Deus, não pode ser o que Ele tinha em mente
quando chamou esta mensagem de “boas novas”.
Ele colocou esta revelação perto do fim da Bíblia: “O Espírito e a noiva
dizem: ‘Vem!’ E todo aquele que ouvir diga: ‘Vem!’ Quem tiver sede, venha;
e quem quiser, beba de graça da água da vida” (Apocalipse 22:17).
Parece que Deus estava dizendo: “Venha como está”. Muitas vezes a
mensagem que projetamos para os outros é: “Mude quem você é, e depois
você poderá vir”.
Em vez de ajudar meu irmão a encontrar Deus, eu criei, na verdade, um
campo de força que o mantinha longe Dele. Eu havia plantado, sem querer, a
semente de uma terceira palavra em sua alma que deve ser a palavra mais
perigosa de todas: eu sou… indigno.
Quais são as suas terceiras palavras? Elas são em sua maioria positivas ou
negativas? Será que estão tão entrelaçadas que você nem consegue
categorizá-las?
Se você for como Jamar, Heather, Max e eu, suas terceiras palavras
tendem a girar em torno das suas falhas. Provavelmente elas têm mais a ver
com quem você não é, não consegue fazer, ou com o que você sente que está
fazendo errado. Então, devido ao seu caráter ter falhas e sua competência ser
questionável, você tende a sentir-se desqualificado e inadequado.
É assim que pensamos.
Não é preciso dizer isto, mas eu vou dizer mesmo assim: todos nós temos
fraquezas. Nós as chamamos de tudo que se pode imaginar: queda,
escorregão, mancada, vacilo, problema, pecado, erro, falha, vício. Mas todo
mundo as tem.
E para nós, gostando ou não, estas fraquezas têm muito a ver com o modo
como enxergamos a nós mesmos e como vivemos nossas vidas.
A questão central aqui é o que devemos fazer com as nossas fraquezas?
Este livro é o resultado da luta com esta pergunta e algumas outras
parecidas com ela, as quais me importunaram por anos. Questões sobre
autoaceitação. Sobre autoaperfeiçoamento. Sobre quem eu sou em oposição a
quem eu fui chamado para ser e como conciliar estas duas situações.
Tenho que admitir, este não foi um livro fácil de escrever. Não que o
assunto seja particularmente controverso. Foi difícil escrever porque é uma
bagunça.
Como a vida. Como a humanidade. Como eu e você.
Se você já se frustrou com suas falhas ou se irritou com suas fraquezas,
este livro é para você. Mas deixe-me adverti-lo, eu não vou dizer aqui quinze
maneiras de arrumar sua vida em quinze minutos por dia. Não vou lhe dar
dez princípios para a perfeição nem sete segredos do sucesso.
Quero fazer algo que, assim espero, seja muito mais valioso.
Eu quero ser real.
Realista sobre as lutas. Realista sobre o pecado. Realista sobre quem Deus
é e sobre quem nós somos, e não somos. Realista sobre autoestima, autoajuda
e sobre como, às vezes, parece que não conseguimos consertar certas
coisas… e talvez nem devamos.
Este livro é sobre descobrir e abraçar quem você é à luz do que Deus é. É
sobre chegar num acordo com as coisas boas, ruins e as indizíveis da sua
vida, e aprender a deixar Deus usar sua bagunça a seu favor.
Não é sobre ignorar sua complexidade ou negar seus desafios. Longe
disso. Tampouco não é sobre esbaldar-se em autocomiseração e derrota.
É sobre atacar o vão entre quem você é e quem você sente que deveria
ser, e então se conectar com Deus nesse ponto. É sobre buscar o sonho e os
desejos que Deus coloca em seu coração, mesmo quando parece que dez mil
demônios foram despachados para persegui-lo.
Assim como eu tenho lutado com minhas próprias questões sobre o
assunto, também percebo que venho mudando. Aprendi algumas coisas sobre
fraquezas que eu nunca havia entendido antes. Passei a ver a Deus e a mim
mesmo de forma diferente, e isto tem mudado minha forma de ser pai, de ser
pastor e de abordar Deus e a vida. E eu amo estas mudanças.
Aqui vai minha pergunta… ou perguntas, na verdade.
Primeiro, quais são as suas terceiras palavras?
Segundo, e mais importante, quais são as terceiras palavras de Deus para
a sua vida?
E terceiro, e a mais importante de todas, como você tem vivido até agora,
preso na divisão dessas duas realidades?
Você está prestes a descobrir.
É COMPLICADO
BURRO: Você está muito enrolado em camadas, cabeça de cebola. Está com medo dos
seus próprios sentimentos![ 3 ]
O FIASCO DO AFRESCO
SÓ DEUS SABE
EM UMA PALAVRA
Antes mesmo de o meu corpo tomar forma humana, o Senhor já havia planejado
todos os dias da minha vida; cada um deles estava registrado no seu livro, antes de
qualquer um deles existir!
Senhor, como são preciosos para mim os seus pensamentos sobre a vida, ó Deus!
São tantos que não consigo contar!
Se eu os contasse, seriam mais do que os grãos de areia das praias. (versículos 16-
18, NBV)
Davi disse que os pensamentos de Deus a nosso respeito são preciosos.
Isso é reconfortante. Fico feliz em saber que não são frustrantes ou irritantes,
que é a forma como eu penso sobre mim mesmo muitas vezes. Preciosos é
uma boa palavra, mas Davi não parou por aí.
Os pensamentos de Deus também são inumeráveis. Pense nisto por um
instante. O salmista diz isto de dois modos diferentes em dois pequenos
versículos: são tantos que não consigo contar; se eu os contasse, seriam mais
do que os grãos de areia das praias.
O que isso nos diz? Que os pensamentos de Deus a nosso respeito são tão
complexos como nós. Ele não nos simplifica demais. Ele não nos amontoa
em categorias ou põe rótulos com nomes científicos para colocar-nos em
prateleiras organizadas alfabeticamente.
Deus nos conhece detalhada e intimamente. Ele vê nosso passado,
presente e futuro. Todos os momentos, de todos os dias da nossa vida, estão
diante Dele. Ele está mais ciente da nossa complexidade do que qualquer
outro, incluindo nós mesmos. Ele nos desenhou, Ele tem prazer em nós e nos
entende.
Então, se Deus não nos resume em uma única frase, porque nós achamos
que devemos fazer isso?
Mas fazemos o tempo todo. Olhamo-nos num espelho metafórico,
suspiramos de desgosto, e declaramos coisas como:
Eu sou um fracasso.
Eu sou alcoólatra.
Eu sou burro.
Eu não tenho jeito.
Sério? Com uma frase, uma palavra, resumimos toda a nossa identidade,
nossa existência e potencial? Com tanta irreverência, dispensamos nosso
chamado e carimbamos em nós a palavra desqualificado?
Isso é ridículo! Ninguém é tão simples. Somos seres que mudam, movem-
se e crescem. Existem mais dimensões em nossa existência do que nas teorias
científicas mais complexas de buracos de minhoca e universos paralelos que
alguém poderia imaginar.
Deus mesmo Se recusou a reduzir-nos a simples imagens planas. Ele não
funde todas as nossas camadas e dimensões numa imagem bidimensional. Ele
não nos resume numa palavra só.
Então por que nós fazemos isso?
Não estou sugerindo que paremos de usar terceiras palavras. Elas são
parte da vida e podem ser tremendamente libertadoras — quando as ouvimos
corretamente.
O que estou dizendo é que devemos evitar colocar em nós mesmos
tampas e rótulos muito amplos. Muito simplistas. Muito míopes.
Temos que dar crédito à nossa complexidade. Temos que abraçar o fato
de que nossas identidades são algo lindo, delicado e complicado. São obras
de arte, e Deus investiu muito nelas.
Estão em mau estado? Provavelmente. Estão precisando de restauração?
Com certeza. Mas Deus é o restaurador, e Ele vai demorar o tempo que
precisar para fazer Seu trabalho bem feito.
Personalidade
Eu sou tímido. Eu sou espalhafatoso. Eu sou viciado em agradar a todos.
Eu sou determinado...
Caráter
Eu sou honesto. Eu sou preguiçoso. Eu sou mau. Eu sou de confiança.
Eu sou egoísta...
Circunstâncias / Condições
Eu estou exausto. Eu estou curado. Eu sou abençoado. Eu estou
quebrado...
Habilidades
Eu sou burro. Eu sou musical. Eu sou atlético. Eu sou fraco...
Emoções
Eu sou medroso. Eu estou em conflito. Eu estou sobrecarregado. Eu
estou ferido...
Traços físicos
Eu sou devagar. Eu sou homem. Eu sou alto. Eu estou fora de forma...
Estudos
Eu sou um desistente. Eu sou um aluno nota 10. Eu sou formado no
ensino médio...
Família
Eu sou solteiro. Eu sou pai. Eu sou divorciado. Eu sou viúvo...
Etnia / Cultura
Eu sou americano. Eu sou branco. Eu sou latino. Eu sou da roça. Eu sou
da capital...
Sexualidade
Eu sou hétero. Eu sou gay. Eu sou lésbica. Eu sou bissexual. Eu não
tenho certeza...
Ocupação
Eu sou engenheiro. Eu sou pedreiro. Eu estou desempregado. Eu sou
empresário...
Espiritualidade
Eu sou católico. Eu sou ateu. Eu sou agnóstico. Eu sou cristão...
NA REAL, CARA!
O medo não é a única coisa que nos impede de sermos o nosso verdadeiro
eu. Às vezes, simplesmente não queremos admitir nossas fraquezas. Você
pode chamar isso de vergonha, orgulho, dignidade ou ego, mas nunca é
confortável deixar nossas falhas expostas.
“Na real” é uma daquelas frases que as pessoas usam para ganhar
imunidade diplomática numa conversa. Talvez você já tenha notado isso, por
exemplo, quando um amigo lhe diz algo que, em outro contexto, seria
extremamente inapropriado ou rude, mas ele emenda com um “na real, cara!”
Na real? E por acaso isso deveria amenizar o golpe ou cancelar a
crueldade do que você acabou de falar? Porque não está ajudando em nada,
cara.
Na real.
O que que isso quer dizer? Às vezes usamos autenticidade para encobrir a
apatia. Eu não acho que Deus tenha dado permissão para sermos reais, porém
sem entregarmos o nosso melhor. Pelo contrário, Ele quer que nos
familiarizemos com a versão mais verdadeira de nós mesmos. Deus quer que
desejemos profundamente nos tornarmos mais e mais parecidos com Ele.
O problema de ser real é que a realidade é uma bagunça. Caótica. Falha.
O seu verdadeiro eu e o verdadeiro você possuem algumas adversidades.
É por isso que preferimos as nossas versões pessoais imaginárias. Por isso
fabricamos fachadas e vestimos personagens. Críticas são irritantes porque
elas nos lembram de que nossas falhas estão aparecendo, mesmo que
tentemos tanto escondê-las.
Não sei como dizer isso educadamente, então vou ser direto. Muitos de
nós somos simplesmente orgulhosos. Chamamos isso de perfeccionismo ou
excelência, mas, na verdade, é uma obsessão em nunca errar. É o desejo de
não ficar mal com os outros ou não admitir que cometemos erros. E isso torna
muito difícil sermos o nosso verdadeiro eu, pois, o nosso verdadeiro eu, está
longe de ser perfeito.
Eu acho hilário que a maioria das entrevistas para emprego peça que a
pessoa liste suas fraquezas. Todo mundo sabe que você não escreveria
ladrão, mentiroso ou reclamador crônico, mesmo que fosse verdade. Você
normalmente escreveria trabalho demais, maníaco por organização e
perfeccionista. Eles deveriam chamar essa parte da entrevista daquilo que ela
realmente é:
Falsa modéstia.
Perfeccionismo pode ser uma falsa modéstia muito útil para ser colocada
na ficha para vaga de emprego, mas não é um estilo de vida sustentável no
dia a dia. E a dificuldade em lidar com as fraquezas reais tornará difícil ficar
satisfeito com o seu verdadeiro eu.
Em algum ponto, todos nós teremos que largar o orgulho e admitir nossas
deficiências e dependências.
Não estou dizendo para você parar de trabalhar naquele problema pessoal
de ira ou pessimismo afim de aceitar-se. Autoconfiança não é desculpa para
um comportamento destrutivo.
Estou dizendo que a vida cristã é muito mais do que nos aperfeiçoarmos.
O perfeccionismo é inimigo do progresso. A impossibilidade da nossa
perfeição é justamente o motivo de Jesus ter morrido.
A crença de que Deus está mais interessado em nossa perfeição do que em
nosso relacionamento com Ele é o berço da insegurança.
Muitos de nós fomos ensinados que Deus nos amaria se e quando mudássemos. Na
verdade, Deus o ama para que você possa mudar. O que dá forças à mudança, o
que nos deixa desejosos por ela, é a expectativa do amor.
É essa experiência inerente de amor que se torna o motor para a mudança.[ 5 ]
Acabamos de ver duas grandes razões pelas quais evitamos ser nós
mesmos: o medo do fracasso e o velho orgulho de sempre. A resposta para os
dois casos é ficarmos confortáveis com nossas fraquezas, sabendo que o amor
e o chamado de Deus não dependem da nossa perfeição.
Mas há outro motivo para não vivermos à altura de quem realmente
somos, e é o mais difícil de diagnosticar: a desinformação.
Temos todo tipo de terceiras palavras e estamos plenamente convencidos
de que elas são válidas. Mas nossa percepção pessoal pode estar baseada em
dados errados, e, como consequência, não vivemos aquilo que Deus colocou
dentro de nós.
Eu tenho um amigo chamado Wade. Um dos momentos de fama do Wade
foi atuar em uma série de vídeos sobre educação sexual que passou nas
escolas primárias em toda a Carolina do Sul. Isso incluía, é claro, a escola do
próprio Wade, algo que ele não previu quando concordou em gravar os
vídeos. Hoje ele está em seus trinta e poucos anos, e nunca superou isso.
Os vídeos foram feitos nos anos 80, então eram muito caseiros. Eles eram
tão ridículos que cheguei ao ponto de passar um deles num domingo de
manhã na igreja para todos nós podermos rir juntos do meu amigo. Eu tenho
um senso de humor um pouco estranho, eu sei.
Nesse vídeo em particular, Wade faz o papel de um garoto chamado
Petey. Petey e seu amigo Steve estavam jogando basquete e vestindo o que eu
presumo que eram calças jeans Bugle Boy e tênis da Reebok. Um homem
mais velho, claramente um professor, está ao lado, prestando atenção. A
competição começa a esquentar. Em certo ponto, Steve salta e Petey
acidentalmente é atingido entre as pernas.
Petey grita “ai!”. Geme. Sai cambaleando pela quadra e cai no chão. Foi
uma performance digna do Oscar da Carolina do Sul.
Steve corre até lá e pergunta com aquela voz de Família Sol-Lá-Si-DóNT[
6 ]: “Pete, você tá bem? Desculpa, cara!”
“Ohhhh. Eu tô com vontade de vomitar.”
Imediatamente o estranho adulto corre até eles e fala: “Aguenta aí,
meninão. Eu sei que dói. Nada dói mais do que ser acertado na virilha”.
E finalmente o Steve solta a pérola: “Nossa, cara, é melhor ter cuidado.
Ouvi dizer que ser acertado aí pode dar câncer!”
Neste ponto, o professor/herói vira para o Steve com os olhos apertados,
perguntando de forma descrente, quase ameaçadora: “Você ouviu o quê?”
E... a tela fica preta.
A frase “Você ouviu o quê?” vira o ponto máximo do vídeo, para
encorajar as crianças a se informarem com fontes confiáveis.
É um bom conselho quando se trata de educação sexual e acidentes
bizarros no basquete. Também não é um mau conselho quando se trata da
nossa identidade.
Existem terceiras palavras vagando em nossa cabeça, e que não as
colocamos lá conscientemente. Não as escolhemos nem as aprovamos. Elas
se infiltraram há muito tempo e ali ficaram, sem questionamentos e sem
censura.
E, às vezes, elas estão totalmente erradas.
Muitos de nós decidimos, há muito tempo, quem somos. E é difícil que
qualquer pessoa consiga dizer-nos o contrário.
Talvez tenha sido algo que um parente ou um amigo tenha dito, e aquilo
ficou conosco por tanto tempo que se tornou parte da nossa psique. Talvez
tenha sido uma tragédia ou um erro, e o trauma daquele momento ficou
estampado em nós. Prometemos a nós mesmos que nunca mais iríamos tentar
novamente para não voltarmos a cometer o mesmo erro.
Quando permitimos que terceiras palavras erradas programem nosso
sistema operacional, não é por acaso que nos sentimos desqualificados.
Estamos nos avaliando com base em suposições e acusações que têm pouca
ou nenhuma base real. Quando enchemos nossa imaginação com memórias
distorcidas e medos infundados, envenenamos nosso potencial.
Está na hora de desafiarmos essas terceiras palavras. É hora de olharmos
um pouco incrédulos para nós mesmos e dizermos: “Você ouviu o quê?”
PRIMEIRAS IMPRESSÕES
Tenho certeza que você já ouviu o ditado: “Não existe uma segunda
chance para uma primeira impressão”.
É um grande provérbio. Se você estiver para conhecer uma pessoa que
poderá vir a tornar-se seu cônjuge, ou seu chefe, ou alguém significativo para
a sua existência, você vai querer passar a melhor primeira impressão possível.
Vai querer vestir o melhor terno, tentar impressionar e mostrar todos os seus
pontos fortes. Conquistar o apreço dessas pessoas pode significar um futuro
totalmente novo.
Mas, quando se trata de Deus, a palavra impressão não se aplica.
Primeiras impressões, segundas impressões, falsas impressões, últimas
impressões — são todas irrelevantes porque Ele conhece o seu verdadeiro eu.
Ele enxerga além da fachada e o reconhece por aquilo que você é.
Você não precisa impressioná-Lo para ganhar o Seu favor. Isso é uma
mentira que assombra igualmente tanto os cristãos como os não cristãos.
Muitas vezes pego essa mentira espreitando as sombras do meu coração.
Cremos que temos que nos limpar antes de nos achegarmos a Deus.
Presumimos que a Sua graça, bondade e amor pertencem apenas a aqueles
que provaram ser dignos.
Mas essa não foi a mensagem que Jesus veio trazer nem foi o Deus que
Ele nos mostrou.
Olhe para cada alma humana que Jesus encontrou, para os discípulos que
Ele escolheu a dedo, para os pecadores com quem jantou e para o ladrão que
Ele perdoou na Cruz! Jesus viu o melhor nas pessoas nas piores situações.
Ele as encontrou em suas bagunças, suas realidades, seus momentos mais
desesperados. Ele as amou e acreditou nelas quando não existia nada de
amável ou admirável sobre elas.
Você não precisa passar uma boa impressão para Deus.
Mas precisa sim ser honesto com Ele, e com você mesmo.
A resposta para nossos problemas de identidade não está em nós mesmos.
Está em Jesus. Encontramos nossa real identidade quando filtramos nossas
terceiras palavras através da realidade de Cristo em nós.
Então vamos ver o que acontece quando a sua terceira palavra encontra o
poder de Deus.
UM NOVO MODO DE USAR O
NOME DE DEUS
D existia mais.
Qual o motivo? Porque, nesse dia, ao qual me refiro como “o maior
dia da vida dela”, ela se tornou Holly Furtick.
O que aconteceu quando minha esposa recebeu meu nome? Ela não só
recebeu uma nova carteira de motorista e um novo passaporte. Ela não só
trocou um sobrenome impossível de ser pronunciado por outro.
Quando Holly recebeu meu nome, ela se tornou uma comigo. Como se
nossas corporações passassem por uma fusão.
E ela ficou com a pior parte do negócio. Isso é incontestável.
Mas, de qualquer forma, aquilo que nós somos, somos juntos. O que
fazemos, fazemos juntos. O que temos, temos juntos.
Você recebeu o nome de Jesus quando se tornou um cristão. Foi, sem
sombra de dúvida, o maior dia da sua vida. Foi o dia em que você deu a Ele
tudo de si e recebeu tudo Dele em troca. E é bastante óbvio quem ficou com a
melhor parte do acordo.
Você se tornou um com Jesus. Quem Ele é, você é. O que Ele tem, você
tem.
O apóstolo João diz: “Nisto é em nós aperfeiçoado o amor, para que, no
Dia do Juízo, mantenhamos confiança; pois, segundo ele é, também nós
somos neste mundo” (1 João 4:17, ARA).
Segundo ele é, também nós somos. Em outras palavras, nossa identidade
está embrulhada na Dele. Quem nós somos emana de quem Ele é.
Tudo mudou no dia que você recebeu o nome Dele.
OMG
Mesmo que este subtítulo tenha feito você achar isto um pouco estranho,
continue lendo.
Tenho certeza de que você já ouviu falar dos Dez Mandamentos. Talvez
tenha até memorizado alguns deles. Eles foram dez diretrizes que Deus deu a
Moisés para que fossem entregues a Israel logo após saírem do Egito: Não
adorem outros deuses. Não façam ídolos. Não trabalhem no Sábado.
Obedeçam a seus pais. Não matem pessoas. Não durmam com pessoas com
as quais não sejam casados. Não peguem coisas que não são suas. Digam a
verdade. Não cobicem o que é dos outros.
Só coisa boa, certo? Coisas com as quais a maioria de nós
concordaríamos.
Mas, se você está contando, notou que eu pulei um. É aquele que eu
sempre entendia errado enquanto crescia. Ele aparece em Êxodo 20:7: “Não
tomarás o nome do Senhor, teu Deus, em vão, porque o Senhor não terá por
inocente o que tomar o seu nome em vão” (ARA).
Sempre fui ensinado que este mandamento possui uma aplicação muito
limitada e específica. Basicamente se resume em não dizer “Meu Deus!”
quando estiver chocado ou empolgado. Significa também não dizer “Jesus!”
quando alguém fecha você no trânsito.
Quando criança, e até mesmo quando adulto, eu não conseguia entender
por que esse negócio de “nome-de-Deus-em-vão” era tão sério. De todos os
mandamentos e princípios que Deus poderia ter incluído, por que esse fazia
parte dos dez mais importantes?
Se você está no meio cristão há algum tempo, provavelmente deve ter
notado que as nossas aplicações deste mandamento podem fugir um pouco do
controle. Como por exemplo quando, certa vez, um sujeito bem-intencionado
me chamou para almoçar com ele para que pudesse expressar uma grande
preocupação: o meu uso inapropriado de expressões derivadas de “o nome do
Senhor em vão”. Palavras como “Meu Deus!”, entre outras.
Já vi pessoas debaterem assiduamente se OMG é apropriado em
mensagens de texto ou não.NT[ 7 ]
Senhor, nem sei como responder a isso.
Num tom mais sério, é verdade que mencionar o nome de Deus de forma
respeitosa em conversas é um bom começo. Eu concordo com isso. Mas este
mandamento é muito mais do que a forma como você usa o nome de Deus no
seu vocabulário. Trata-se de como você acolhe o nome Dele no seu estilo de
vida. Foi assim que os hebreus entenderam.
Será que eu utilizo o Seu nome de maneira apropriada e honrosa? Ou será
que faço isso em vão? Em outras palavras, será que eu vivo de acordo com o
que Ele é? Será que minha vida reflete a Sua identidade? Ou eu vivo como se
nunca O tivesse conhecido, como se nunca tivesse recebido o Seu nome ou
nunca tivesse sido de Sua família?
Infelizmente, minha tendência — e talvez a sua — é a de aceitar isso
quase que como uma ameaça. Nós pensamos que o foco de Deus é o nosso
comportamento. Sentimo-nos um pouco como uma criança que está sendo
malcriada em público, e seu pai sussurra avisos em seu ouvido enquanto dá
um sorriso amarelo para encobrir o fogo e o furor de sua ira.
Podemos imaginar Deus dizendo: “É melhor você não me fazer passar
vergonha”. “É melhor você se comportar como Eu, falar como Eu falo e
representar-Me de maneira apropriada”.
Mas nossas ações são só uma pequena parte daquilo que significa usar o
nome de Deus em vão e são as menos importantes no longo prazo.
Na verdade, esse mandamento está diretamente conectado às nossas
terceiras palavras, às nossas identidades, à forma como nós nos vemos.
Lembre-se de que o nome de Deus é EU SOU. Então, toda vez que
tomamos Seu nome e preenchemos a terceira palavra com coisas que são
contrárias ao que Deus diz sobre nós, estamos tomando Seu nome em vão.
Quando permitimos que nossas terceiras palavras superem as terceiras
palavras de Deus, estamos tratando Seu nome como se fosse vazio e sem
importância.
Talvez você pense ou diga: “Eu sou... patético!”
Mas Deus responde com: Você pode até sentir-se assim, mas você está
usando o Meu nome, e Eu sou... poderoso. E se Eu estou em você, você não é
mais patético. Você possui todo o poder que existe em Meu nome.
Você consegue ver como isso é revolucionário? Não é uma ameaça para
levar-nos de volta à obediência. É uma permissão para agirmos como
realmente somos... Nele.
Deus está nos entregando o dom da identidade.
Sua identidade.
Sua suficiência.
Suas qualificações.
Deus quer lhe dar o nome Dele, mesmo na sua situação atual, na sua
fraqueza e na sua necessidade.
Mas você tem que primeiramente aceitá-la.
Você precisa aprender a usar este dom.
Simão sabia a resposta certa para a pergunta de Jesus. Jesus era o Messias,
o Salvador, Deus.
Esse foi um momento e tanto para Simão que, na verdade, tinha um
histórico de falar besteiras. Mas, dessa vez, quando realmente importava, ele
acertou.
Quem você diz que Jesus é?
Esta é a maior pergunta da vida. Acertar esta pergunta é, ao mesmo
tempo, a grande essência da salvação e o início de uma jornada para a vida
toda.
Nós somos salvos quando reconhecemos e acreditamos em Jesus como
nosso Senhor e Salvador, mas isso é só o início do nosso relacionamento com
Ele. Conhecer Deus como Ele é realmente é fundamental para descobrirmos
por que Ele nos fez e quem Ele quer que sejamos.
Esta primeira pergunta nos leva então a uma segunda pergunta:
Quem você diz que você é?
O que pensamos a respeito de Jesus é fundamental para o que pensamos
sobre nós mesmos. Quando Simão corretamente identificou quem Jesus era,
Jesus identificou quem Simão era: “E eu digo que você é Pedro, e sobre esta
pedra edificarei a minha igreja” (versículo 18).
Até aquele momento, o pescador da vila de Betsaida atendia por Simão.
No entanto, depois disso, ele passou a ser chamado de Rocha. É isso que
pétros, ou Pedro, significa em grego. Nada mal para um apelido. Isso
sugeriria que Pedro, mesmo com suas imperfeições tão evidentes, seria
fundamental para o movimento que Jesus estava estabelecendo.
A partir da confissão de Simão a respeito da identidade de Jesus, foi dada
a ele uma nova percepção a respeito de sua própria identidade.
Antes...
Eu era Simão.
Agora...
Eu sou Rocha.
O que mudou, naquele momento, não foi o que Pedro era, mas sua própria
visão de quem ele era.
Jesus disse que ele era rocha. Isso significa que ele era qualificado.
De repente, Pedro tinha esperança. Ele tinha um futuro. Ele era capaz de
ver o homem que ele realmente era e o homem no qual estava se tornando,
pois Jesus havia mudado sua terceira palavra.
“Você é Pedro.”
Deus quer nos dar revelações de quem nós somos. Ele quer nos mostrar
nosso valor agora, e quer abrir nossos olhos para o que podemos nos tornar
Nele.
Mas aqui é a parte difícil. Muitos de nós chegamos ao ponto de fazermos
afirmativas teologicamente corretas sobre quem Jesus é, mas jamais
estabelecermos uma conexão entre quem Ele é e quem nós somos agora que
estamos Nele.
Sabemos a teologia correta, mas não a aplicamos em nós mesmos e nos
estilos de vida que levamos. Nós, essencialmente, estamos usando Seu nome
em vão. Não porque não O valorizamos ou honramos, mas porque não
percebemos quão poderosamente Seu nome pode permear nosso presente e
transformar nossa existência.
Podemos ser salvos e ir para o Céu, mas até que organizemos nossas
terceiras palavras, vamos vaguear desorientados e distraídos ao longo de
nossas vidas neste planeta. Vamos desperdiçar tempo, recursos, energia e
sonhos.
Eu acredito que Deus quer nos levar em uma aventura onde
descobriremos Ele e nós mesmos. É uma jornada que nos conduzirá a um
senso de realização como nunca imaginamos.
Ao longo do caminho, penso que uma coisa irá destacar-se: na maioria
das vezes, nossas terceiras palavras não serão grandes o suficiente. Elas não
farão jus ao nome de Deus. Nós nos acomodamos na mediocridade, pois é
acessível e aceitável, e porque pensamos que é o que merecemos. Mas Deus
tem muito mais para nós. Isso vem com o nome. É parte do negócio.
Você acredita que Jesus morreu por você? Que o Seu sacrifício pagou por
sua culpa e vergonha de uma vez por todas? Que isso o trouxe para a família
de Deus como um filho ou filha com todos os direitos e privilégios? Você
acredita que Deus não poderia amar você mais ou menos do que Ele ama
neste momento, não importa o que você faça ou deixe de fazer?
Se sim, é hora de agir como tal.
Frequentemente nós não levamos Jesus em consideração quando
preenchemos nossas terceiras palavras. Então as palavras e frases que usamos
para descrever-nos acabam sendo muito pequenas, muito limitadas, muito
condicionais e muito defensivas.
Deus quer explodir a tampa de suas expectativas em relação a si mesmo.
Pare de falar sobre quem você não é e o que você não pode fazer e comece a
ouvir o que Deus diz a respeito de sua vida. Pare de rotular-se e comece a
permitir que Deus faça o que Ele quer fazer em você, com você e através de
você.
OQJDSM
Que mais direi? Não tenho tempo para falar de Gideão, Baraque, Sansão, Jefté,
Davi, Samuel e os profetas, os quais pela fé conquistaram reinos, praticaram a
justiça, alcançaram o cumprimento de promessas, fecharam a boca de leões,
apagaram o poder do fogo e escaparam do fio da espada; da fraqueza tiraram força,
tornaram-se poderosos na batalha e puseram em fuga exércitos estrangeiros.
(versículos 32-34)
FRAQUEZA ÚNICA
Espere! Você deve estar pensando: você está sugerindo que eu não tenho
que consertar nada? Que Deus não liga para os meus pecados? Que eu não
preciso fazer nada e que, mesmo assim, Deus magicamente transformará
pecados em força?
De forma alguma. A Bíblia está cheia de encorajamentos para a mudança,
para parar de pecar, superar as tentações e desafiar fortalezas.
O que estou dizendo é que as nossas respostas às fraquezas não são
sempre claras e precisas como simplesmente aceitar ou trocar. É mais
complicado que isso, assim como nossas identidades são complicadas.
Quando enfrentamos fraquezas específicas, temos que descobrir o que Deus
quer que façamos com elas.
Primeiro: algumas coisas precisam ser aceitas. Reconhecidas. Toleradas.
Elas não vão embora e então devemos nos acostumar com a ideia. Precisamos
aprender a compensá-las, a contar com o apoio dos outros e, principalmente,
precisamos de uma dose saudável de humildade.
Segundo: algumas coisas precisam ser trocadas imediatamente. Elas não
fazem parte da nossa identidade dada por Deus. São intrusas e clandestinas.
Estão machucando a nós ou a outras pessoas, e Deus quer nos ajudar a
erradicá-las imediatamente.
Terceiro: outras coisas precisam ser trocadas... em algum momento.
Podemos começar agora, mas o processo pode levar anos. Precisamos
desenvolver paciência e, de novo, humildade.
Em alguns casos, é fácil perceber em qual dessas categorias nossa falha
ou erro se encaixa, especialmente quando a fraqueza é um pecado óbvio. Por
exemplo: não precisamos orar para saber se assassinato, adultério ou mentira
deveriam ou não fazer parte de nossas vidas pelos próximos trinta anos. A
Bíblia os chama de pecado, e Deus nos dá o poder para viver de forma
diferente agora que O conhecemos.
Mas a maioria das nossas fraquezas são um pouco mais vagas. Muitas
vezes encontram-se em níveis ou dependem do contexto.
Por exemplo, digamos que você é introvertido. Isso precisa mudar? Isso é
uma fraqueza?
Bom, é difícil dizer. Deus não quer que você viva no medo, e às vezes a
timidez é o resultado de um medo paralisante. Então podemos dizer que se é
medo dominando sua vida, isso provavelmente é uma fraqueza que Deus
gostaria de ajudá-lo a superar.
E se o medo o limita tanto que você não obedece à vontade de Deus para
a sua vida, ou se, de alguma forma, você está machucando outros com seu
silêncio, então você poderia dizer que é um pecado e que Deus quer libertá-
lo.
Mas, mesmo que você tenha vencido o medo e tenha se tornado uma
pessoa mais confiante, corajosa e segura, você será algum dia alguém
extrovertido? Provavelmente não. Mas Deus não fez você para agir assim.
Ser introvertido é uma característica pessoal linda e, dessa forma, é uma
força, não uma fraqueza. Gastar sua vida tentando ser extrovertido quando
Deus o criou para ser introvertido é tão prejudicial quanto ser uma pessoa que
vive isolada pelo medo.
Então, querido introvertido hipotético, você pode escolher como reagir.
Você resolve — com ajuda de Deus — se você precisa de uma mudança
dramática, moderada, ou se não precisa de mudança.
Deixe-me dar mais um exemplo. Talvez você gostaria de ser uma pessoa
mais espontânea. Você admira a forma com que os amantes da diversão são
capazes de criarem memórias alegres com os seus queridos simplesmente por
estarem dispostos a fugirem do que foi combinado. O fato é que você tem
inveja da iniciativa deles. Mas será que você deveria imitá-los se sua
personalidade o leva a sempre planejar... tudo?
Talvez você possa experimentar abordagens diferentes. Pode dar um
passo muito ousado e decidir o que pode não ser planejado, o que é exagero
ou o que é uma necessidade doentia por controle. Mas isso não significa ficar
refém de uma espontaneidade além da que lhe é natural. Isso só vai drenar a
energia que você precisa para desfrutar das coisas que você planejou tão
brilhantemente.
Você notou como esse processo é individual? Suas fraquezas são tão
únicas quanto suas forças. Por isso, elas merecem respeito.
Certa vez, Oswald Chambers disse: “Uma fortaleza não vigiada é uma
fraqueza dupla”.[ 11 ]
Mas será que percebemos que uma fraqueza mal compreendida pode ser
também uma força impedida de operar?
Vale a pena tirar um tempo para avaliar suas terceiras palavras de modo
humilde e honesto à luz do poder de Deus que age em você. Não seja tão
rápido em desculpar seu pecado, nem em rotular suas características pessoais
como falhas e tentar mudá-las.
A chave é saber quem você é para Deus. Enquanto você descobre a
definição Dele sobre seu verdadeiro eu, você saberá como responder às suas
necessidades individuais e aos seus problemas.
Então, como você avalia suas fraquezas? Como você sabe se deveria estar
evoluindo em alguma área específica? Aqui vão algumas perguntas para
ajudá-lo a decidir.
A Bíblia chama minha fraqueza de pecado?
Se sim, Deus quer ajudar você a trabalhar nisso. Pecado não faz parte de
quem você realmente é. É um estranho e um parasita. Como não faz parte de
quem você deveria ser, você pode mudar com a ajuda de Deus. Novamente,
isso pode levar um tempo, então não desista tão rapidamente. Continue
resistindo à tentação e atendendo à graça de Deus ao longo do processo.
Tendo dito isto, deixe-me enfatizar que a presença do pecado não o
desqualifica automaticamente para buscar os planos de Deus para a sua vida.
Se esse fosse o caso, todos nós estaríamos desqualificados e sem esperança,
pois todos pecamos. Deus nos abençoa, apesar de nossos pecados, e Ele é
soberano e bom o suficiente para usar até os nossos erros para a Sua glória.
Por outro lado, se sua fraqueza não é claramente um pecado, talvez você
não precise ter tanta pressa em erradicá-la. Seu primeiro passo é descobrir se
Deus quer que você mude ou que simplesmente aceite quem você é e permita
que Ele seja a força em sua fraqueza.
Eu quero superar esta fraqueza ou crescer nesta área?
Deus nos diz que é Ele quem efetua “o querer e o realizar” para fazer Sua
vontade (Filipenses 2:13). Se você tem um desejo profundo de fazer algo, ser
alguém, ou de mudar de alguma forma, as chances de Deus ter colocado esse
desejo em você são altas, e Ele vai auxiliá-lo a conquistar — mesmo contra
todas as probabilidades. Os seus desejos não são infalíveis, é claro, mas se
você está seguindo Deus, por muitas vezes, saberá instintivamente o que é
melhor para sua vida. Talvez você só precise confiar em você mesmo (e no
Deus que está em você) um pouco mais.
Eu tenho graça para mudar?
A graça é o poder sobrenatural de Deus em sua vida. Comumente você
consegue perceber rapidamente se tem graça para crescer ou para mudar em
uma área específica, pois as coisas vão se encaixando. Você investe tempo e
energia em algo, e Deus sopra naquilo. Sente que é algo natural e completo.
A propósito, a vida cristã não foi feita para ser algo praticamente impossível.
Jesus disse que Seu jugo é suave e Seu fardo é leve (veja Mateus 11:30).
O que os outros dizem sobre minhas fraquezas e forças?
O que as pessoas notam em você pode ser bastante revelador. A chave é
saber a quem dar ouvidos. Você precisa de pessoas em sua vida que o
entendam, o afiem, desafiem e encorajem. Quando encontrar pessoas assim,
escute o que elas dizem ver em você. Você pode se surpreender ao descobrir
que suas fraquezas causam pouco incômodo às pessoas e que suas forças são
bem evidentes para elas. Às vezes nossas terceiras palavras precisam ser
calibradas ao pedirmos avaliações às pessoas próximas de nós.
OS OPOSTOS INESPERADOS DE DEUS
Agora, pois, ó Senhor meu Deus, tu fizeste reinar a teu servo em lugar de Davi
meu pai; e sou apenas um menino pequeno; não sei como sair, nem como entrar. E
teu servo está no meio do teu povo que elegeste; povo grande, que nem se pode
contar, nem numerar, pela sua multidão. A teu servo, pois, dá um coração
entendido para julgar a teu povo, para que prudentemente discirna entre o bem e o
mal; porque quem poderia julgar a este teu tão grande povo? (1 Reis 3:7-9, ACF)
Qual foi a resposta de Deus? Ele reprimiu Salomão por assumir ser uma
liderança fraca? Por chamar-se de “apenas um menino”? Afinal, apenas não é
o tipo de terceira palavra que um rei deveria ter. Um rei deveria ter tudo.
Salomão deveria ter apresentado a Deus para os próximos 30 anos, sua visão
estratégica para Israel, e então teria pedido que Deus abençoasse seu plano de
vitória, crescimento e sucesso. É isso que um rei de verdade deveria fazer,
não é?
O próximo versículo nos mostra a opinião de Deus sobre a honestidade de
Salomão: “O pedido que Salomão fez agradou ao Senhor” (versículo 10).
Deus se agradou de Salomão por reconhecer seus limites e por saber onde ir
para buscar ajuda. Como recompensa, Deus não entregou apenas sabedoria a
Salomão. Entregou também riqueza, influência e poder. Salomão teve que
ficar cara a cara com sua falta de qualificação. Mas, ao contrário de esconder-
se dos fatos ou sentir-se sobrecarregado com eles, fez exatamente o que
deveria fazer. Ele se voltou para Deus. Pediu ao Senhor que suprisse o que
estava faltando.
E assim Deus fez. De uma forma que Salomão nunca poderia imaginar,
muito menos realizar sozinho.
Deus quer fazer o mesmo com a nossa fraqueza. Mas, para receber Sua
ajuda, temos que admitir que precisamos dela. Temos que levar nossas
fraquezas a Deus em fé, sem autocondenação, desespero ou vergonha.
Nossas limitações e falhas também são muito boas para que fiquemos
conectados com Deus. Elas nos ajudam a chegarmos mais perto Dele.
Lembram-nos que precisamos Dele, e Ele é a nossa fonte e a nossa resposta.
Quando as coisas vão bem na vida, é tentador nos distrairmos com o
sucesso e acharmos que a vida se resume a isso. Passamos a correr atrás de
vitórias, prosperidade, influência e ministério.
Não há nada de errado com estas coisas, mas elas não foram feitas para
que fossem o objetivo da vida. Foram feitas para serem um subproduto do
nosso crescente relacionamento com Cristo. Em outras palavras, foram feitas
para que nos perseguissem enquanto nós perseguimos a Deus.
Nossas limitações — bem mais do que nossas habilidades — são
lembretes para voltarmos à nossa fonte de força. Elas nos levam de volta para
Deus, para a dependência, para o relacionamento.
O maior problema vem quando pensamos que Deus está aborrecido
conosco por causa dos nossos erros. Que Ele está desapontado porque
ousamos mostrar fragilidade. Que Ele está enojado com os nossos pecados.
Ou que nossas fraquezas demostram o desprazer Dele conosco.
Se esta é a visão que temos de Deus, nossas fraquezas não nos levarão
para mais perto Dele. Elas nos levarão para mais longe, direto para uma
existência dominada por condenação, culpa, legalismo e até ressentimento.
Nós acabaremos nos esforçando para que nos consertemos, para que nos
limpemos e para que nos tornemos dignos de Deus. Ou desistiremos de tudo
no processo, pois ele parece impossível.
Mas, como eu já mencionei, Deus está muito menos preocupado com suas
fraquezas do que você está. Ele sabe o que vai fazer com elas. Ele tem até
planos para usá-las.
Quando entendemos isso, conseguimos chegar mais perto de Deus.
Podemos vê-Lo como um confidente, um Salvador, um parceiro. Mesmo
quando estragamos tudo. Mesmo quando estamos envergonhados. Mesmo
quando somos fracos.
Você provavelmente já ouviu o ditado: “Falhe positivamente!”. Isso quer
dizer que, quando você falhar, pode usar essa oportunidade para aprender e
crescer. É deixar suas falhas trabalharem a seu favor.
Ainda mais importante, no entanto, é deixar que suas falhas o atraiam
para mais perto de Deus. Falhe “mais perto” — perto de Deus, perto da
dependência, perto da fé.
O CONTEXTO É IMPORTANTE
Outro benefício da fraqueza é que ela nos ajuda a termos empatia com os
outros. Frequentemente nossas conexões mais autênticas e sinceras com
outras pessoas são feitas através de fraquezas que compartilhamos.
Qual alívio você poderia oferecer a alguém que está passando por uma
dor pessoal, se você não tiver alguma referência do que seja isso? Suas lutas
dão credibilidade para dizer a alguém que está sofrendo: “Sei como você se
sente, e nós vamos enfrentar isso juntos”. A empatia verdadeira é um
presente empoderador que você poderá entregar apenas depois de ter passado
por algo que tenha revelado as suas fraquezas.
A quem você mais ouve quando precisa de ajuda? Aos intelectuais sabe-
tudo? Ou a pessoas que passaram pelo que você está passando e
sobreviveram para contar a história?
Muitas vezes, nossa maior influência nasce dos mais profundos
sofrimentos. Nossa educação, nossa eloquência e nossa inteligência ajudam
bastante, mas não são nem de perto tão confiáveis quanto as nossas
fraquezas. Tocamos as pessoas ao nosso redor por causa da dor e da
humanidade que compartilhamos.
Entendo que nem todos podem ou devem saber de todos os detalhes das
suas fraquezas. O objetivo não é fazer um desfile com os nossos problemas,
vestindo nossas fraquezas para que o mundo veja. Mas, ao aprendermos a ser
vulneráveis com Deus e com as pessoas certas e de confiança, descobrimos
que toda fraqueza, devidamente processada, contém segredos de força.
Pense qual foi a última vez que você se descontrolou e chorou na frente
de um amigo. Pode ter sido desconfortável. Pode tê-lo envergonhado. Mas
aposto que esse momento de vulnerabilidade ganhou mais o coração dessa
pessoa e cimentou mais ainda a amizade de vocês do que qualquer outra
experiência que vocês tiveram.
Existe algo com a fraqueza que faz abrir o coração. Ela desarma a pessoa
defensiva. Suaviza o desconfiado. Afaga o indiferente.
A fraqueza mostra às pessoas que não devemos ser temidos ou
reverenciados. Somos mais “um deles”, e sendo assim, somos bem-vindos
para participarmos de suas vidas.
Certa vez, ouvi alguém dizer que as duas palavras que mais precisamos
falar àqueles que estão feridos não é você deveria, mas eu também.
No nosso caso em questão: Jesus. Ele fez Sua grande estreia na raça
humana como um bebê. Isso quer dizer muita coisa. Bebês humanos são
praticamente as criaturas mais carentes de cuidados no planeta.
Além disso, Sua mãe foi uma adolescente grávida solteira. Seu pai era um
trabalhador braçal. Eles eram de Nazaré, uma cidadezinha atrasada que era
alvo de piadas. A juventude de Jesus não poderia ter sido mais distante
possível do que foi da realeza — o que dirá da divindade.
Então, depois de trinta anos não registrados de humanidade, Ele começou
Seu ministério que durou três anos e meio.
Se você fizer as contas, mais de oitenta e cinco por cento de Sua vida
foram passados na obscuridade.
A Bíblia prova algo ao mostrar a humanidade de Jesus durante todo o Seu
ministério. Ele viveu sem pecado, claro, mas também experimentou fadiga,
fome, sede, raiva, tristeza, tragédia, traição, críticas, tentação, perseguição e,
por fim, a morte.
Por que esse contexto? Você já se perguntou? Será que era mesmo
necessário que Ele passasse pela infância, pelo deixar as fraldas e pela
puberdade? Ele tinha que andar na Terra e sofrer suas mazelas por tanto
tempo? Por que Ele não apareceu como o Thor, um super-herói musculoso
que desce do céu para salvar a humanidade?
Hebreus nos conta porque Jesus foi tão... fraco.
Pois não temos um sumo sacerdote que não possa compadecer-se das nossas
fraquezas, mas sim alguém que, como nós, passou por todo tipo de tentação,
porém, sem pecado. Assim sendo, aproximemo-nos do trono da graça com toda a
confiança, a fim de recebermos misericórdia e encontrarmos graça que nos ajude
no momento da necessidade. (Hebreus 4:15-16)
Pois, na verdade, foi crucificado em fraqueza, mas vive pelo poder de Deus. Da
mesma forma, somos fracos nele, mas, pelo poder de Deus, viveremos com ele
para servir a vocês. (2 Coríntios 13:4)
PROJETO OU PROCESSO
Isto é difícil de ouvir, porque somos uma cultura orientada por projetos.
Amamos metas, amamos resoluções e amamos os resultados. Não tem nada
de errado nisto, não necessariamente.
Eu vivo pela emoção de resolver as coisas. Para mim é quase um “deleite”
riscar coisas de uma lista. Na verdade, às vezes, quando eu completo uma
tarefa que eu não planejava fazer, eu volto e coloco na lista, por mais que já
tenha sido feita, só para poder ter a adrenalina de riscar da lista. O quê? Não é
todo mundo que faz isso?
Isto tem funcionado a favor e contra mim durante a vida inteira. Algumas
vezes, este hábito me pressiona até que eu complete algo, pois eu sou um
finalizador. Mas, em outras ocasiões, quando considero começar algo que vai
levar algum tempo a mais, ou quando estou no meio de uma tarefa e não vejo
o fim daquilo, eu congelo. Se eu não consigo estipular um prazo e ver um
progresso significativo ao longo do caminho, eu perco a motivação bem
rápido.
No decurso deste livro, temos discutido as nossas identidades. Temos
olhado para as nossas terceiras palavras, para as nossas fraquezas e forças,
lidando com duas situações opostas: aceitar quem nós somos neste momento
e, ao mesmo tempo, tornarmo-nos quem Deus quer que sejamos.
Existe uma palavra para tudo isso: processo.
A caminhada cristã não é uma linha de chegada. Não é uma meta ou uma
conquista. É um constante relacionamento com Jesus. É uma progressão de
crescimento e mudança, de aceitar e trocar, de ouvir a voz de Deus e viver o
que Ele diz que nós somos.
É um processo, e vai durar o resto de nossas vidas.
Seguir a Jesus é uma constante, é uma experiência para sempre
envolvente. E o quanto antes entendermos isso e aceitarmos esta verdade,
mais desfrutaremos da jornada.
A MUDANÇA É SUPERESTIMADA
É bastante fácil dizer que precisamos ser pacientes com o processo. Falar
sobre os benefícios das fraquezas.Exaltar as virtudes de aceitarmos quem nós
verdadeiramente somos.
Mas eu acho que todos nós sabemos por que estamos com tanta pressa de
mudar.
Porque erros machucam. Eles são dolorosos, vergonhosos e confusos.
Essa é a natureza dos erros, e eu acho que esse é o motivador número um
para mudanças.
E eu sei, espiritualmente falando, que nossa motivação para a mudança
deveria ser a de agradar a Deus.
De forma idealista, isso é verdade. Isso é nobre. E se é assim que você
vive, você é incrível. Palmas para você!
Mas, se formos honestos, a maioria de nós não muda até precisarmos
mudar. Até que a nossa frustração com o estado em que as coisas estão
chegue ao limite. Até que nenhuma das calças no nosso guarda-roupa caibam
mais. Até que nos desgastemos tanto que começamos a pagar o preço em
nossa saúde e em nossos relacionamentos. Ou até os nossos problemas terem
criado isolamento suficiente para que fiquemos conscientes da realidade. Isso
se chama aprender do jeito difícil, e é um padrão universal humano.
Às vezes, nós interpretamos a dor dos nossos erros como punição de
Deus. Eu não vejo dessa forma. Penso que essa dor pode, na verdade, ser um
presente para ajudar-nos a compreender nosso potencial para a mudança.
Para começo de conversa, por que você acha que Deus quer que façamos
essas mudanças? Isso é mais sobre nós do que sobre Ele. E, por mais que seja
verdade que Deus queira que O glorifiquemos e reflitamos sobre Ele com
precisão, Ele não é um ditador caprichoso. Ele não precisa que alcancemos
um alto nível de perfeição para que Ele se sinta bem consigo mesmo sendo
Deus.
Deus sabe que algumas coisas vão exaurir a nossa vida. Vão nos
machucar. Vão machucar pessoas ao nosso redor. Vão machucar nosso
relacionamento com Ele.
Então Ele as chama de pecado, e permite que paremos de fazer essas
coisas.
Vamos esclarecer as coisas. Deus não nos pede para mudarmos porque
isso poderia acrescentar algo para Ele. Não é para o benefício Dele que nós
colocamos nossas vidas em ordem.
É para o nosso. A obediência e a santidade que Ele pede de nós é para
nosso próprio bem-estar e para o bem-estar dos que estão ao nosso redor.
Acho que todos nós podemos concordar que o pecado confunde e
complica nossas vidas. Faz-nos perder o chão, perder o respeito e perder
tudo. Erros são, seja lá qual for a nossa definição, ruins.
Não é surpresa que tentemos tanto revertê-los e eliminá-los. Nós tomamos
decisões de Ano Novo. Começamos o Cross Fit. Voltamos para a escola.
Assistimos TED Talks.
Estamos convencidos de que uma existência livre de falhas está logo ali
na esquina. Se a desejarmos o suficiente, se tentarmos o suficiente, se
estudarmos diligentemente, se nos esforçarmos e persistirmos o suficiente,
chegaremos lá. Vamos superar nossas fraquezas e finalmente seremos felizes.
Mas isso nunca acontece.
Não quero dizer que nunca melhoraremos. É claro que sim. Este é um dos
privilégios de ser humano.Temos uma capacidade enorme de controle sobre
quem nós podemos nos tornar e o que conquistamos. Não apenas pensamos
que chegaremos, como conseguimos chegar. Nós nos esforçamos e fazemos
progresso, e isso é momentaneamente recompensador, mas então temos mais
tarefas para realizar.
E frequentemente nossas melhorias não nos fazem tão felizes quanto
esperávamos.
Ironicamente, quanto mais nos arrumamos, mais nos tornamos
conscientes do quanto nós ainda temos para arrumar. É a contradição da
perfeição. O Paraíso parece tão perto, no entanto, fica sempre apenas no
horizonte, tentando-nos e provocando. Então nos vendemos para o
autoaperfeiçoamento, e andamos por anos na mesma estrada, perguntando-
nos por que ainda não somos felizes.
Sim, nós devemos nos empenhar para sermos as melhores versões
possíveis de nós mesmos. Mas precisamos entender que o exercício do
autoaperfeiçoamento não produz felicidade. Menos falhas nem sempre
querem dizer uma vida mais satisfeita.
Por qual motivo? Porque nossas fraquezas não são necessariamente a
fonte de nossa infelicidade. Portanto, a perfeição não é a cura.
A mudança é boa. A mudança é necessária. A mudança é inevitável.
Mas a mudança, por si só, é superestimada.
CONTINUE CIRCULANDO
Quando entreguei minha vida a Cristo com dezesseis anos, pensei que era
um projeto que havia sido completado. Eu li o que Jesus disse na cruz: “Está
consumado!” (João 19:30). Eu vi o que Paulo escreveu: “E, assim, se alguém
está em Cristo, é nova criatura” (2 Coríntios 5:17, ARA).
Então eu pensei, Legal! De agora em diante, quando eu avistar uma
garota bonita, não terei nenhum pensamento lascivo nem tentador a respeito
dela.
Então uma líder de torcida passou por mim. Não fazia nem vinte e quatro
horas que eu era um filho de Deus e, bum! O mesmo sentimento.
Só que agora eu sabia que era errado. Agora eu me sentia mal por isso.
Mas ainda estava lá. E eu não conseguia entender o porquê. Era depressivo.
Tenho certeza de que você já sentiu essa frustração, talvez em um nível
muito mais sofisticado. Por exemplo: talvez você tenha lido em Efésios 5 o
quanto você precisa amar mais sua esposa. Você pensa: Ok. Eu preciso amar
minha esposa como Cristo amou a Igreja. Então você vai para casa e lava os
pratos.
Ela parece não se impressionar. Ela nem sequer disse: “Obrigada!”. Nem
fez amor com você ali no meio da cozinha.
Então você pensa: Já tentei isso. Eu fiz aquele negócio do amor do qual
ouvi falar. Não deu certo.
Lembre-se de que é um processo. Se você está desconectado por meses,
olhando o celular toda noite após o jantar, lavar a louça uma vez,
provavelmente não vai desfazer tudo isso.
Ou que tal esta? Certa vez alguém o machucou, e você pensou que o tinha
perdoado. Mas então você fica sabendo que ele foi promovido no trabalho, e
você se encontra vagamente chateado. E isso o faz perceber que, bem no
fundo, você secretamente ainda esperava que ele tivesse que pagar pelo que
fez a você. Não é como se você quisesse que ele morresse em um acidente de
carro ou algo assim, mas, definitivamente, você não o queria subindo a
escada do sucesso.
É desencorajador. Eu achei que tivesse superado aquilo, você pensa
desanimado. Eu achei que eu era maior do que isso.
Caminhar com Deus normalmente não é uma linha reta daqui até ali. É
um processo que pode ser um pouco desorientador às vezes. E, se não
entendermos o fator tempo envolvido, se não tivermos as expectativas certas,
podemos terminar desiludidos e derrotados.
No “evangeliquês”, tendemos a olhar para a palavra salvação como algo
passado. Dizemos coisas como “Eu fui salvo quando tinha dezesseis anos”,
ou “Eu sou salvo há vinte anos”.
Nós tratamos como se fosse um evento, mas, na realidade, é um processo.
A Bíblia fala sobre salvação nos três momentos indicados pelos tempos
verbais: passado, presente e futuro.
Quando, no passado, colocamos nossa fé em Jesus, fomos salvos: “Pois
vocês são salvos pela graça, por meio da fé” (Efésios 2:8). Isso é passado.
Está feito. Está consumado. E aconteceu em um momento.
Mas também estamos sendo salvos no presente: “Pois a mensagem da
cruz é loucura para os que estão perecendo, mas para nós, que estamos sendo
salvos, é o poder de Deus” (1 Coríntios 1:18). Isto fala dos processos de
mudança, de crescimento e de profundidade.
E então surge o elemento de salvação no futuro: Nós seremos salvos.
“Herança guardada nos céus para vocês que, mediante a fé, são protegidos
pelo poder de Deus até chegar a salvação prestes a ser revelada no último
tempo” (1 Pedro 1:4-5).
Nós fomos salvos, nós estamos sendo salvos, nós seremos salvos. Não há
dúvida quanto a isso. Caminhar com Deus é uma experiência para a vida
toda. E além.
Sim, nós já somos perdoados. Nós nunca seremos mais perdoados do que
somos agora. Nunca seremos mais amados do que somos agora. Já chegamos
e já somos aceitos. Mas, ao mesmo tempo, é um processo, pois estamos
sendo mudados e transformados a cada dia. E o processo não estará completo
até que vejamos Cristo face a face, quando Ele nos tornar como Ele é.
Não sei quanto a você, mas eu tenho muita coisa para processar. Parte
disso aconteceu antes mesmo que eu nascesse, está no meu gene. Outra parte
tem a ver com minhas próprias decisões, com hábitos que cresceram e
tomaram conta de mim.
E eu fico muito cansado ao ficar rodeando os mesmos problemas. Já orei
a respeito deles. Pensei que já os tinha vencido. Então é frustrante pegar-me
dando voltas ao redor dos mesmos problemas de novo e de novo. E essa
frustração me enche com um sentimento baixo de desesperança. Uma das
minhas bandas favoritas dos anos noventa, Extreme, tinha uma música que
era menosprezada chamada “Eu algum dia vou mudar?” Eu lembro de ficar
pensando, mesmo na adolescência, que o título daquela música era a questão
que definia a minha vida. Como adulto, achei a pergunta ainda mais
desesperadora.
Estava conversando com um amigo recentemente sobre um problema com
o qual lidei durante toda a minha vida: meu temperamento. Eu não sou
violento ou agressivo, mas posso ser um tanto grosseiro. Eu posso ser
bastante irritável e mal-humorado com as pessoas que mais amo, mesmo logo
após pregar.
Portanto, eu estava explicando a esse amigo, que também é conselheiro
profissional, que eu estava cansado de mim mesmo.
Ele perguntou: “Por que você está dizendo algo assim?”
“Porque eu continuo lutando sempre com a mesma coisa. Estou cansado
de rodear nisso repetidas vezes. Com todo o conhecimento que tenho e
considerando como Deus tem sido bom para mim, eu já deveria ter
superado.”
Eu não estava bravo com Deus. Eu estava com raiva de mim mesmo. Eu
estava olhando para a minha pessoa e pensando: depois de tudo que Deus me
deu, por que não consigo mudar? E lá vou eu novamente. Outra volta ao
redor do meu temperamento raivoso. Tudo isso começou quando eu nasci. E
não vai acabar até que eu termine os meus dias.
Quando eu disse ao meu amigo: “Estou cansado de rodear nisso”, ele
disse, enigmaticamente: “Bem, pelo menos você não está rodeando no
mesmo nível”.
A reação típica de um conselheiro.
Ele continuou dizendo: “Sou seu amigo há anos. Sim, você ainda luta com
as mesmas coisas, mas eu percebi que você não fala mais sobre isso do
mesmo modo. Agora você fala como se viesse do coração. Você costumava
estar completamente focado nos seus comportamentos e resultados. Agora
você fala sobre suas motivações. É um nível mais profundo.”
Deixe-me perguntar-lhe. É possível que, mesmo que você esteja dando
voltas no mesmo assunto, Deus esteja trabalhando em seu coração em um
nível mais profundo? Talvez você tenha mais motivos para comemorar do
que você imagina.
Meu amigo continuou: “Outra coisa, vejo você rodeando nesse problema,
mas você está em uma altitude maior”.
“Espere um minuto, eu estou rodeando mais profundo ou mais alto?” Eu
estava confuso com o que ele queria dizer.
Ele continuou, imperturbável: “Você está com mais consciência. Você
está mencionando coisas agora com as quais você nem sabia que tinha lidado
anos atrás quando eu o conheci. Você está mudando muito, embora a luta
pareça tão forte quanto antes”.
Só porque eu estou rodeando o mesmo problema não significa que eu
esteja no mesmo nível. Reconhecer isso tem sido um divisor de águas para
mim. Espero que isso seja útil para você também.
Talvez você esteja se revirando por dentro ultimamente, pensando: Por
que eu sou tão difícil? Por que não consigo resolver isso?
Talvez sua mudança ainda não tenha ficado aparente. Isso não significa
que não esteja acontecendo. E algumas coisas que parecem inúteis na luta de
algum desafio, podem ser práticas para a vitória futura.
O FINALIZADOR
APENAS JACÓ
O PREFERIDO
Nesse ponto, Isaque estava tão velho que não podia mais enxergar. Ele
sabia que não tinha muito tempo e queria entregar a bênção a Esaú. Então
chamou Esaú e ordenou que caçasse algo e lhe trouxesse para comer, e então
o abençoaria.
Chegou Rebeca, a mãe do menino. Depois de ouvir tudo isso da outra
sala, mandou chamar Jacó e disse (parafraseando): “Esta é a sua chance de
conseguir a bênção que vem buscando desde o dia em que nasceu. Esaú saiu
para caçar, mas deve voltar logo, então temos que agir rápido. Eu vou
preparar algo para comer e vou vesti-lo com as roupas de Esaú. Vamos
colocar pele de animal no seu pescoço e nos braços para o caso de Isaque
querer tocar em você. Confie em mim, seu pai está muito cego para notar a
diferença. Quando Esaú chegar, a bênção dele já terá sido entregue a você. E
então não haverá nada que ele possa fazer”.
Antes de seguirmos com a história, temos que reconhecer uma coisa.
Creio que este seja um ponto crucial na narrativa e explica muito o porquê
Esaú e Jacó acabaram se tornando daquela forma.
O principal motivo foi que Isaque e Rebeca tinham, cada um, um filho
preferido. Tanto Esaú quanto Jacó cresceram num ambiente onde, a qualquer
momento, um dos pais acharia que o filho não preferido não seria bom o
suficiente. Eles eram comparados, contrastados e jogados um contra o outro.
Não é de se admirar que esses gêmeos viraram pessoas disfuncionais.
Isso me faz pensar: quantos dos nossos problemas de identidade e de
terceiras palavras surgiram por conta de experiências na infância? Não sou
psicólogo, mas as seguintes perguntas valem a pena serem feitas:
Por que eu estou fingindo? Por que estou tentando ser outra pessoa?
Quem me disse o que eu preciso ser? E por que eu sinto como se nunca
pudesse errar?
Se Isaque tivesse sido mais compreensivo com as diferenças de Jacó, será
que ele teria sentido a necessidade de disfarçar-se de Esaú? Se os pais
tivessem valorizado os dois igualmente, será que os garotos teriam crescido
valorizando as forças e fraquezas um do outro em vez de competirem entre si
e serem coniventes em um destruir o outro?
Posso dizer que, em minha vida, tanto como criança quanto como pai de
três filhos, tenho testemunhado o peso que terceiras palavras dadas pelos pais
têm na vida dos filhos. Isso é empolgante e sério ao mesmo tempo.
Pais podem impulsionar seus filhos para se tornarem quem foram
chamados a ser, ou podem sutilmente levar seus filhos a fingirem, posarem e
se portarem de forma dissimulada por pensarem que o que eles são não é bom
o suficiente.
Se você é pai ou mãe, tem a incrível responsabilidade de ajudar seus
filhos a descobrirem quem são. Você tem um discernimento dado por Deus
sobre a identidade deles, e tem o papel de trazer essa identidade à luz.
Isso não significa que você deva controlá-los ou forçá-los a se moldarem
ao estilo de vida que você pretende para eles. Não se trata de torná-los
pequenas versões de você. Não é viver indiretamente através deles,
empurrando-os a cumprirem os sonhos que você nunca realizou e a virarem
os jogadores principais em times em que você nunca jogou.
Significa valorizar quem eles são agora, independentemente do estágio de
suas vidas e da maturidade que tiverem. É ver com os olhos da fé as pessoas
incríveis que eles são hoje e regar as sementes do que eles podem se tornar.
Ainda mais importante, é ajudá-los a valorizarem e reconhecerem quem
eles são.
Isso não é sempre fácil, como qualquer pai de adolescente pode
comprovar.
De repente os colegas, tanto os amigos quanto os valentões, começam a
sugerir novas terceiras palavras, e, como pais, temos a tarefa de ajudá-los a se
encontrarem no meio de tudo isso.
Meus filhos ainda são pequenos, mas eu já consigo ter um vislumbre de
quem eles são e quem virão a ser. Mal posso esperar para assistir às suas
jornadas de autodescoberta e autorealização. Ver a luz acender em seus olhos
quando perceberem que são valiosos, capazes e escolhidos. Ouvi-los contar
sonhos que Deus pessoalmente colocou em seus corações.
A maioria de nós consegue lembrar da infância e de momentos de
identidade quando certas terceiras palavras nos foram entregues. Palavras que
acreditávamos ser verdadeiras. Palavras que moldaram o que nos tornaríamos
e como viveríamos a partir delas. Talvez consigamos lembrar quando
começamos a suspeitar de que não éramos bons o bastante, de que não
atendíamos às expectativas e demandas daqueles que tinham autoridade sobre
nós.
Então passamos a fingir. Construímos fachadas, inventamos identidades,
tentamos desfocar nosso verdadeiro eu para sermos mais agradáveis para
aqueles cujas opiniões valorizávamos.
Novamente, não sou psicólogo. Meu objetivo não é analisar ou
categorizar. E, como vimos antes, identidade é uma coisa complicada. Mas as
complicações da nossa identidade não são intimidadoras para Deus.
Se você cresceu num ambiente disfuncional, se você foi vítima de abuso
de identidade, comparação, manipulação ou favoritismo, saiba que Deus
anseia por revelar o seu verdadeiro você. O verdadeiro você que possui
grande valor. E que foi liberado para crescer no chamado Dele. Peça a Deus
que lhe mostre se você adotou personagens ou fingimentos que estão lhe
fazendo mal.
Não estou dizendo que somos produtos inevitáveis das definições de
outras pessoas. Todos escolhemos nosso próprio caminho. Não podemos
culpar os outros pelo que somos ou pelo que fizemos.
Mas os sistemas de valores que absorvemos quando crianças são
poderosos. Eles nos moldaram, rotularam, muitas vezes nos limitaram e
sequer percebemos.
Então, novamente, pergunte a si mesmo: Por que estou fingindo?
Pode ser o momento de largar conceitos errados sobre sua identidade e o
seu valor pessoal que você tem carregado desde a infância. Pode ser o tempo
de acreditar que você realmente é melhor do que aquilo que eles dizem…
quem quer que sejam eles. Que você é mais forte. Que você é mais capaz.
Que você é mais valioso.
Pode ser o tempo de descobrir quem você realmente é e valorizar seu
verdadeiro eu, tanto quanto Deus valoriza.
O FINGIDOR
Quando Rebeca contou o seu grande plano, Jacó não estava muito
convencido. Mas seguiu com ele mesmo assim. Eu costumava sentir pena de
Jacó. Sua mãe o levou a enganar seu irmão e ele acabou sofrendo as
consequências. O que eu não tinha percebido, até estudar essa história um
pouco mais a fundo, é que, naquela altura dos acontecimentos, Jacó tinha
setenta e seis anos de idade. Aos setenta e seis é um pouco tarde para culpar
sua mãe, amigo! Você precisa assumir a responsabilidade pela sua vida.
Gênesis 27 descreve como Rebeca e Jacó executaram o plano elaborado
para pegar a bênção. A princípio, Isaque suspeitou de algo porque pensou ter
reconhecido a voz de Jacó. Mas quando sentiu o braço peludo e sentiu o
aroma do campo, convenceu-se. A farsa funcionou. Isaque abençoou Jacó.
Pouco depois, Esaú apareceu. Quando descobriu o que Jacó havia feito,
ele não ficou apenas furioso. Ele virou um assassino. Ele começou a soltar
fogo pelas ventas, xingar e ameaçar, e todos sabiam que ele estava falando
sério. E que ele era bom com armas.
O que deixou apenas uma opção para seu irmão mais novo, que era bom
na cozinha.
Corra, Jacó, corra!
Jacó conseguiu a bênção, mas passou os vinte e um anos seguintes como
um fugitivo. Exilado de casa, da família e do país.
Que bênção!
Mas é isso que acontece quando tentamos fazer com que Deus abençoe o
que não somos.
Eu disse isso antes: Deus não pode abençoar quem você finge ser. Na
nossa cultura ultracompetitiva e focada na aparência, esta é uma verdade que
temos que guardar no coração.
Jacó era um fingidor. Ele sabia como tramar e dar o golpe. Tinha se
tornado habilidoso na arte de enganar. Ele podia vestir-se, agir e declamar
falas para conseguir o que queria.
Mas quando conseguiu a bênção de Isaque que tanto queria, essa veio
com uma bagagem inesperada. Ele se viu sozinho, com medo e fugindo.
Sim, por fim Jacó recebeu bênçãos materiais como podemos ler mais
adiante na história. Então, nesse ponto, seu truque funcionou.
Mas será que o satisfez como desejava? Duvido que ele esperasse ter que
fugir de seu irmão homicida para salvar sua vida.
Centenas de anos depois, Salomão escreveu: “A bênção do Senhor traz
riqueza, e não inclui dor alguma” (Provérbios 10:22).
Em outras palavras, quando Deus nos dá algo, também nos dá a
habilidade de desfrutar daquilo. Não significa que, de repente, teremos vidas
perfeitas e sem dor. Mas sim que encontramos realização e satisfação quando
recebemos Suas bênçãos, do Seu modo e a Seu tempo.
A bênção que Jacó recebeu limitava-se a ele estar vestido como Esaú. O
mesmo ocorre conosco quando vivemos como se fôssemos outra pessoa.
Honestamente, é fácil sermos parecidos com Jacó. Uma hora ou outra,
todos nós acabamos vestindo fantasias. Todos agimos e falamos vestidos de
He-Man, sabendo que, lá no fundo, o poder do Crisco não está funcionando.
Então nos perguntamos por que a vida parece vazia, por que as coisas nunca
mudam e por que nos desapontamos profundamente com nós mesmos.
ACEITANDO JACÓ
Jacó pensou que fingir ser Esaú seria a resposta para o seu vazio. Mas, ao
contrário disso, sua farsa criou uma teia de novas complicações, inclusive o
exílio, tendo de morar longe de sua casa e de sua família.
O Jacó fingidor acabou passando os próximos vinte e um anos morando
com Labão, seu tio, que revelou ser um enganador ainda maior do que Jacó
poderia sonhar. Ele fez Jacó parecer fichinha.
Mas, por fim, Jacó decidiu voltar para casa e enfrentar seu passado. No
meio do caminho, ele teve um encontro com Deus. E, como resultado, teve
também um encontro consigo mesmo. É engraçado como isso acontece.
Você pode ler a história em Gênesis 32. Depois de duas décadas de exílio,
Jacó estava a caminho para tentar fazer as pazes com Esaú e rever seus pais.
Ele estava apavorado e não era para menos. Toda a farsa e a enganação de
seu passado ainda o assombravam. Na noite anterior ao encontro com Esaú,
ele estava sozinho no campo. Havia enviado sua família separadamente
devido ao medo do que Esaú poderia fazer. De repente, um desconhecido
apareceu e começou a lutar com ele. Aquilo foi estranho. Mais estranho ainda
foi o fato daquele homem, na verdade, ser Deus. Muitos estudiosos acreditam
ter sido o próprio Jesus, numa forma pré-encarnada.
Lutaram durante toda a noite, mas Jacó se recusava a deixar o homem ir
embora. Ele até chegou a deslocar o quadril de Jacó, mas, mesmo assim, Jacó
não desistia. Dificilmente Jacó poderia saber com quem estava lutando
naquele momento. Mas ele sabia que tinha algo significativo em suas mãos.
Mais importante ainda, algo significativo tinha Jacó em Suas mãos.
O homem que havia passado a vida agarrando, foi agarrado.
E, no auge da batalha, Jacó declara: “Não te deixarei ir, a não ser que me
abençoes” (versículo 26).
Noventa e sete anos não haviam apagado seu modo de ser. A mesma
tenacidade que apresentou no útero foi demonstrada na luta por sua próxima
bênção.
Mas, dessa vez, ele estava agarrado ao Único que verdadeiramente tem
poder para abençoar.
Então, aparentemente do nada, o homem perguntou: “Qual o seu nome?”
Se eu fosse Jacó, pensaria: Que boa hora para perguntar! Estamos
lutando a noite inteira. Você quebrou meu quadril. Agora quer saber meu
nome?
Parece um pouco aleatório até você se lembrar que Jacó já havia ouvido
aquela pergunta antes. Vinte e um anos antes, quando foi até Isaque roubar a
bênção. Isaque perguntou: “Quem é você?”
Naquela ocasião, Jacó respondeu: “Eu sou Esaú”.
Ele havia sido abençoado por Isaque como Esaú muitos anos antes, mas
agora era tempo de ser abençoado por Deus... como ele mesmo. A verdadeira
bênção poderia apenas vir quando ele admitisse quem realmente era.
“Eu sou Jacó. Sim, sou eu. Essa é a minha terceira palavra. Eu sou o
enganador. O apunhalador de costas. O agarra-calcanhar. O segundo filho. O
fingidor. O quebrado. Eu sou Jacó.”
Essa foi a conclusão retumbante de décadas de engano e fingimento. Jacó
finalmente reconheceu quem era, com toda sua imperfeição e insuficiência, e,
por sua amada vida, agarrou-se a Deus.
E as Escrituras registraram o resultado.
Quando ele finalmente aceitou seu nome, Deus o mudou. Ou talvez,
melhor dizendo, Deus revelou sua real identidade. Ele lhe mostrou quem ele
fora chamado para ser o tempo todo.
“Seu nome não será mais Jacó, mas sim Israel, porque você lutou com
Deus e com homens e venceu” (versículo 28). Israel significa “triunfante com
Deus”. Isso foi um grande avanço para um “agarrador de calcanhar” e
“enganador”.
Jacó ainda era Jacó. Mas, em Deus, ele era Israel.
Jacó ainda tinha fraquezas. Mas, em Deus, ele era forte.
É a contradição da terceira palavra. É a dicotomia do destino. Quando
aceitamos quem somos, Deus trabalha na, através da, ao redor da, e apesar da
nossa fraqueza para nos abençoar.
É interessante notar que, quando Jacó perguntou de volta ao homem qual
era o seu nome, ele recusou responder.
“Por que pergunta o meu nome?” (versículo 29). E, sem responder à
pergunta que Jacó julgava importante, o homem entregou a bênção que ele
buscava.
“Então o abençoou ali” (versículo 29).
Então o abençoou ali.
Quando? Quando ele aceitou sua terceira palavra.
Eu sou... Jacó.
Você está em luta com sua própria insegurança, seus medos e suas falhas?
Creio que este seja o ponto de encontro ideal para Deus mostrar quem você
realmente é e lembrá-lo de quem Ele verdadeiramente é. Ele irá abençoá-lo
aí. Nesse lugar. Quando você disser seu verdadeiro nome.
Jacó achou que estava se preparando para fazer as pazes com Esaú. Na
verdade, Deus o levou até o ribeiro naquela noite para fazer as pazes consigo
mesmo. Jacó havia planejado ganhar o perdão do seu irmão ao apresentar
presentes elaborados. Mas nenhum deles se mostrou necessário.
Quando os dois finalmente se encontraram, a Bíblia diz que “Esaú correu
ao encontro de Jacó e abraçou-se ao seu pescoço, e o beijou. E eles
choraram” (Gênesis 33:4).
Ao ficar cara a cara com o homem contra o qual havia passado a vida toda
lutando, Jacó percebeu algo que eu tenho entendido cada vez mais.
A única batalha que eu preciso vencer... é a batalha dentro de mim.
A batalha não é contra Esaú. É comigo mesmo.
Eu creio que, qualquer que seja a circunstância que o trouxe até este ponto
em sua jornada, Deus quer abençoá-lo, aqui e agora. Ele deseja entregar a
você um novo nome e uma nova visão de si mesmo ao amanhecer deste dia.
ME CHAME DE JACÓ
PRIMEIRO EU!
Depois de Jacó fingir ser Esaú e roubar a bênção de seu pai, ele acabou
indo morar com seu tio Labão por vinte e um anos. Como mencionei antes,
Labão era o rei dos farsantes.
Aqui está apenas um exemplo: Jacó se apaixonou por uma das filhas de
Labão, Raquel. Ele teve de trabalhar para Labão por sete anos para ganhar a
mão de Raquel em casamento. Mas, na noite de núpcias, Labão aprontou uma
para Jacó. E não tinha nada de engraçado nisso.
Labão entregou sua filha mais velha, Lia, no lugar de Raquel.
Aparentemente Jacó estava muito bêbado para notar a diferença. Quando ele
acordou no dia seguinte, ficou compreensivelmente furioso. Então Labão
disse que entregaria Raquel também — por mais sete anos de trabalho.
Um touché cósmico. Jacó encontrara alguém à sua altura.
Esse foi apenas o início do drama entre eles. Foi uma triste história de
mentiras, manipulação e engano que se arrastou por décadas. E, ao final de
vinte e um anos, Jacó se encontrava fugindo de medo.
De novo.
Já percebeu como fica complicada a vida quando as pessoas manipulam
umas às outras? Quando pessoas tentam usar outras para conseguirem o que
acham que querem?
É complicado. É confuso. E exaustivo.
Certa vez Jesus disse algo muito poderoso a respeito de como as coisas
funcionam em Seu Reino: “Contudo, muitos primeiros serão últimos; e
muitos últimos serão primeiros” (Mateus 19:30).
Em outras palavras, nem sempre os que saem na frente serão os primeiros.
Lemos isto e dizemos: “Ah, Jesus, não é assim que funciona por aqui.
Você nunca assistiu ao filme A Toda Velocidade? Você não lembra o que o
pai do Rick Bobby falou quando ele saiu queimando pneu?”
“Se você não é o primeiro, você é o último.”
E Jesus deve responder: “Bom filme, mas péssima filosofia”.
No Reino de Deus, tentar ser o primeiro é a melhor forma de tornar-se o
último. Mas aprender a servir, a esperar, a ser humilde e a estar seguro em
Deus é o caminho para o sucesso verdadeiro.
Ter uma vida de eu primeiro é algo miserável. Falo por experiência
própria, e eu já tive várias. Se tudo gira em torno de você, e seu ego é tão
grande que você passa o tempo todo o protegendo e polindo, e você precisa
que todos à sua volta levantem a sua autoestima, você está indo em direção à
miséria.
Ser um agarrador de calcanhar é um péssimo negócio. É horrível ficar
preso dentro de ilusões centradas em você mesmo. É miserável nunca ter um
pensamento maior que “O que eu ganho com isso?” É miserável ficar
desconectado das pessoas à sua volta porque tudo que você consegue pensar
é sobre sua própria conveniência.
E não é só pelo fato da abordagem do eu primeiro estar errada. No fim das
contas, ela nem funciona.
Jesus falou em outra ocasião: “Pois que adianta ao homem ganhar o
mundo inteiro, e perder-se ou destruir a si mesmo?” (Lucas 9:25).
Melhor dizendo, de que adianta, Jacó, buscar coisas, sucesso, status e
segurança, para ficar mais perdido do que nunca? De que adianta, se no
processo de perseguir e agarrar, você se perder?
Axl Rose, vocalista da banda Guns N’ Roses, não é um santo, mas ele
estava certo quando disse: “Só porque você está vencendo não significa que é
um sortudo”.[ 13 ]
Tive uma experiência alguns anos atrás que me fez redefinir o que era o
sucesso verdadeiro. Fui convidado para fazer parte de um evento ministerial
onde estariam vários pastores conhecidos. Aquelas pessoas eram e são alguns
dos mais famosos no contexto de igrejas hoje. No jantar, antes do evento,
fiquei pensando por que eu tinha sido incluído, pois sentia-me um pouco
insignificante. E eu era mais de uma década mais novo do que todos no
recinto.
As conversas estavam empolgantes e todos pareciam estar se divertindo.
De repente, a discussão tomou um rumo para o qual eu não estava preparado.
O anfitrião perguntou: “Como vocês descreveriam, em geral, seus
sentimentos com o ministério no ponto em que estão?” A atmosfera do lugar
empalideceu um pouco. A cada pregador que respondia, eu ficava chocado e
um pouco entristecido por ver que a maioria respondia com uma diferente
versão da mesma conclusão: estar no ministério é como estar numa prisão.
Alguns dias depois é que eu pude perceber o impacto que aquela troca de
opiniões havia causado em mim. Eles são homens bons, no topo de suas
áreas. Eles ajudam pessoas, têm propósitos, e estão fazendo uma tremenda
diferença. Não é que eles estivessem sendo hipócritas. Apenas mostraram que
todo o sucesso do mundo, até mesmo trabalhar na obra de Deus, não garante
a satisfação da alma. Aqueles homens, cujas maturidades espirituais são
invejadas por muitos, estavam silenciosamente infelizes.
Meu ponto aqui não é que eles eram todos manipuladores e que Deus
agora os punia por terem fundado seus ministérios sobre as bases erradas.
Nem estou dizendo que fazer o que Deus nos pede será sempre divertido.
Seria difícil defender essa teoria considerando a vida de Paulo ou do próprio
Jesus.
Eu conto esta história apenas porque aquela experiência me levou a uma
decisão importante. Decidi que, se é isso que é preciso para que se construa
um ministério grande, então eu não quero. Recuso-me a dar a minha vida
para ajudar os outros a se sentirem livres e, secretamente, viver preso em uma
solitária.
As palavras de Jesus ressoaram em meu coração naquela noite:
“De que adianta?”
Se você consegue o que queria e não gosta do que conseguiu, qual o
sentido nisso? Deve haver outra maneira.
Mesmo assim, muitos de nós nunca paramos para analisar o nosso
percurso. Então perdemos a nós mesmos — o nosso verdadeiro eu, o nosso
eu autêntico e valioso — pois estamos desesperados demais escalando até o
topo.
Mas, de que adianta, Jesus nos pergunta, se perdermos quem somos só
para ganhar dinheiro, popularidade, frequência nos cultos, seguidores no
Instagram, ou qualquer outra coisa?
Deus não projetou a vida para ser assim. E não nos projetou para
carregarmos todo o peso do nosso destino nas costas.
Esse é o trabalho Dele. E Ele é muito melhor do que nós nisso.
Deve ser por isso que muitos de nós constantemente nos sentimos tão
estressados e sobrecarregados. Talvez estejamos usando as pessoas que
deveríamos estar amando. Talvez estejamos tentando controlar nosso mundo,
quando, na verdade, deveríamos relaxar um pouco e deixar Deus ser Deus.
Talvez, nossas prisões estejam trancadas por dentro.
Quando Jacó chegou na casa de Labão, ele não tinha nada. Quando saiu,
era um homem rico. Tinha família, rebanhos e posses.
Isso não aconteceu apenas porque ele era muito esperto. Aconteceu
porque Deus decidiu abençoá-lo.
Se você ler a história, verá que, tanto Labão quanto Jacó, reconheceram
que a bênção de Jacó vinha das mãos de Deus. Tio e sobrinho passaram a
vida toda rondando um ao outro, espreitando, manobrando e manipulando
para um tentar tirar vantagem do outro. Mas, no final, não foi Labão nem
Jacó quem riu por último. Foi Deus. Ele driblou os dois.
Deus sempre dá um jeito de fazer o que quer. Já percebeu? Nós temos
nossas estratégias e planos. Pensamos quatro passos à frente, e movemos
nossos peões, bispos e cavalos, e ficamos impressionados com a nossa
astúcia.
Então Deus diz: “Xeque-mate!”
A mentalidade do eu primeiro diz que temos que sair na frente, temos que
ser os primeiros. Temos que ser farsantes e até apunhaladores. Jacó aprendeu
sob duras penas que, mais cedo ou mais tarde, o feitiço vira contra o
feiticeiro.
Algumas pessoas fingem, defendem-se e enganam por tanto tempo que
não conseguem imaginar Deus assumindo o controle. Elas construíram a vida
em torno da filosofia de que os despojos vão para os mais fortes, os mais
espertos, os mais manipuladores.
Talvez você se sinta assim. Eu já me senti às vezes.
Talvez você gostaria de poder baixar a guarda um pouco. De poder,
simplesmente, desfrutar dos dias sem ter que estar sempre lutando para ser o
primeiro.
Mas, talvez você pense que se não se cuidar, quem vai cuidar de você?
Preste atenção em suas terceiras palavras. Elas soam algo como:
Eu sou forte.
Eu sou independente.
Eu sou autônomo.
Eu sou autossuficiente.
Sem querer ser crítico, mas estas palavras simplesmente não são verdade.
Podem parecer verdade, e de jeito nenhum eu minimizo suas contribuições
com o seu sucesso. Mas, no fim das contas, você é realmente a razão da
obtenção do sucesso?
Ou é Deus?
A bênção de Deus em nossas vidas tem muito mais a ver com quem Ele é
do que com quem nós somos. Este foi o ponto principal da revelação do Eu
Sou para Moisés.
Uma visão manipulativa da vida resulta da falta de entendimento da
verdadeira fonte das nossas bênçãos. Elas vêm de Deus, e são colocadas
sobre o nosso verdadeiro eu.
Isso nos dá permissão para baixarmos a guarda. Lembra-se daquela
passagem em 2 Coríntios que vimos vários capítulos atrás?
Quando sou fraco é que sou forte.
Neste contexto, Paulo estava pedindo a Deus que o livrasse de sua
fraqueza. Mas Deus disse não.
Então Deus prosseguiu explicando Seu pensamento. Em Deus, as
fraquezas de Paulo não eram mais fraquezas. Eram força. Era bem ali que
Deus iria fazer mais.
Estou convencido de que Deus deixa algumas das nossas fraquezas
permanecerem, pois elas nos oferecem uma janela para a necessidade que
temos Dele. Elas nos lembram de buscarmos a Deus constantemente em vez
de confiarmos apenas em nós mesmos.
Nenhum de nós controla nosso próprio futuro. Nós o influenciamos
enormemente, mas não podemos controlá-lo.
Pense nisto. Não determinamos o local do nosso nascimento. Não
determinamos a economia ou o governo neste lugar. Não podemos impedir
desastres naturais. Não conseguimos prever as decisões das pessoas ao nosso
redor. Não podemos garantir nossa saúde. Não sabemos o dia da nossa morte.
Mas Deus sabe tudo isso e muito mais.
Não conseguimos ficar mais que algumas horas sem descansar ou dormir,
mas o universo não desmorona quando nos enrolamos nas cobertas. Deus
ainda está ali, guiando, protegendo e cuidando do nosso pequeno e finito ser.
Algumas vezes Ele deve rir um bocado do tamanho do nosso ego.
O salmista reconheceu o controle infinito de Deus quando escreveu:
AGARRANDO DEUS
Jacó definia o sucesso pelo tanto que ele se destacava dos outros. Se
tivesse menos que seu irmão, ele era um fracasso. Se tivesse mais, era um
sucesso.
O filósofo C.S. Lewis falou sobre isso quando disse: “O prazer do orgulho
não está em se ter algo, mas somente em se ter mais que a pessoa ao lado”.[
15 ] Não é suficiente apenas ser magra. Temos que ser mais magras que ela.
Não é suficiente ser forte, temos que ser mais fortes que ele. Temos que ser
mais ricos, mais espertos, mais populares, mais bem-sucedidos.
Isso é um problema.
Todas as vezes que nossas terceiras palavras forem uma comparação, e
sempre que nossas terceiras palavras estiverem acompanhadas de mais que...
alarmes, sirenes e luzes vermelhas piscando deveriam disparar em nossa
mente.
Eu sou mais rico que...
Eu sou mais rápido que...
Eu sou mais bonita que...
Eu sou mais influente que...
Eu sou mais espiritual que...
Estas não são o tipo de terceiras palavras que precisamos. Desde quando
ser maior, melhor e mais malvado significa ter sucesso?
Usar comparações para definir o nosso valor é intrinsicamente inseguro.
Deixa claro que nosso sistema de valores está errado.
Fazemos isto mais do que pensamos. Nossas terceiras palavras
frequentemente dependem de outras pessoas. Avaliamos e classificamos a
nós mesmos com base nas pessoas do nosso mundo.
Às vezes nos comparamos com pessoas que são piores que nós apenas
para provar o quanto somos maravilhosos. Outras vezes, nós nos
comparamos com pessoas que são melhores apenas para podermos alimentar
a nossa mentalidade interna de vítima. Nenhum dos extremos é lógico ou
preciso, mas ambos são corrosivos para a alma.
O primeiro produz comodismo. Se olho para outra pessoa e percebo que
sou melhor que ela em algo, tendo a pensar que já cheguei ao máximo
daquela área e posso parar de crescer e trabalhar naquilo. Mas talvez Deus
tenha me chamado para fazer mais. Talvez Ele tenha me dado uma
capacidade ainda maior nessa área.
A segunda produz condenação. Se eu olho para as conquistas, a
espiritualidade ou os talentos de outros e percebo que estou em uma situação
de inferioridade, posso tornar-me desencorajado e inseguro com quem sou.
Posso sentir-me desqualificado, mesmo que Deus esteja perfeitamente feliz
com minha condição.
A comparação também é uma das atividades mais relativas e pessoais que
eu conheço. Você acha que é muito bom em algo? Ótimo! Mas considere
isto: existem sete bilhões de pessoas no planeta, e as chances são de que
algumas milhões de pessoas sejam melhores que você nessa área em
particular.
Tenho um amigo que ama velejar com sua esposa durante três semanas no
verão. Para mim, isso seria um inferno. Não a parte da esposa — por favor,
gente! Estou falando de três semanas num barco. Cada doido com a sua
mania, mas velejar não é para mim.
Entretanto, meu amigo ama. E ele diz que algo interessante acontece
quando ele sai com o barco: “Sabe, sempre começo pensando como eu sou
abençoado por ter três semanas para ficar longe do trabalho, uma esposa com
quem quero ficar junto por três semanas e um charmoso barquinho. Mas,
sempre nos primeiros dias, esbarro com pessoas cujo barco é tão bacana que
até o bote salva-vidas delas deixa o nosso barquinho no chinelo. E não estão
tirando três semanas de férias, pois nunca mais precisarão trabalhar na vida”.
A última frase que ele falou me impactou: “O fato é que sempre haverá
alguém com um barco melhor”.
Pois bem, você deve estar pensando em #problemasderico, mas o cenário
que acabei de descrever é apenas uma representação para ilustrar que não
importa o tanto de “mais” que você tiver, sempre haverá alguém com um
“mais a mais”.
Por outro lado, não importa o tanto que você for ruim em algo, milhões de
pessoas estão piores que você. Existe alguém que daria qualquer coisa para
estar na sua situação e ter a sua força. Como eu disse à nossa igreja uma vez,
alguém, em algum lugar, está orando para ter os seus problemas.
A comparação é uma assassina silenciosa. Ela rouba a nossa alegria e
mina nossos relacionamentos. Faz-nos criticar eventos que deveríamos
celebrar, rejeitar pessoas com as quais deveríamos aprender e desdenhar de
ideias que deveríamos abraçar.
A qualificação que Deus nos dá não depende de outras pessoas. Ele não
exalta os erros dos outros para que nos sintamos melhores. Ele não liga nosso
sucesso ou nossa aprovação com o desempenho de outros ao nosso redor.
As terceiras palavras de Deus fluem da Sua visão divina para as nossas
vidas. Ele sabe quem somos e do que somos capazes, e nos aprecia
exatamente como somos. Ele sabe quantos talentos nos deu para que
multiplicássemos e investíssemos de volta no mundo que nos rodeia.
Vale mencionar que a cultura da comparação não é oriunda da era
Pinterest. Ela já existe há milhares de anos. É um resultado natural da
insegurança e do orgulho do ser humano.
Paulo teve que falar sobre isso à igreja de Corinto. Falsos mestres tinham
entrado na igreja e estavam sabotando Paulo. Estavam tentando convencer os
Coríntios de que eram mais qualificados que Paulo e que a igreja deveria dar
ouvidos aos seus ensinamentos no lugar dos dele. O mais louco é que eles
não basearam esse argumento na verdade da mensagem que traziam, mas em
suas qualificações comparadas com as de Paulo.
Paulo não deixou barato. Não porque precisasse justificar-se ou defender-
se, mas porque seus amados amigos estavam sendo induzidos ao erro e
levados cativos espiritualmente. Estavam se tornando presas do espírito de
comparação.
Então Paulo escreveu à igreja: “Não temos a pretensão de nos igualar ou
de nos comparar com alguns que se recomendam a si mesmos. Quando eles
se medem e se comparam consigo mesmos, agem sem entendimento” (2
Coríntios 10:12).
E, em “sem entendimento”, ele quis dizer “como burros”. Esta verdade se
aplica em todas as áreas de nossas vidas, não apenas à doutrina. Comparar e
medir nós mesmos com nós mesmos não faz sentido. Não prova nada. Não
resulta em nada.
Como você define sucesso? Como você sabe se é qualificado? Você tem
orgulho e prazer em ser simplesmente você? Em tornar-se a pessoa que Deus
o chamou para ser? Ou está constantemente se comparando com alguém em
sua vida ou, quem sabe, com todo mundo em sua vida?
Como você reage quando alguém próximo obtém sucesso?
Você parabeniza e celebra com um coração sincero? Ou suspeita que a
vitória dele é a prova de seu próprio despreparo?
A irmã de uma amiga minha foi visitá-la recentemente. A irmã apontou
para um dos cartões de natal na porta da geladeira e perguntou: “Quem é
essa?”
“Ah, é minha amiga Amy”, minha amiga respondeu.
“Ah, não”, disse a irmã, “eu nunca teria uma amiga tão bonita”.
Isso foi há uns dois anos, e a irmã até hoje pergunta: “Como está a Amy
bonita?”, mesmo sem nunca a ter conhecido.
Além da lição óbvia de que não precisamos falar tudo aquilo que
pensamos, essa maneira de pensar diz muito sobre o que nos dirige.
Deus quer que você descubra a liberdade de simplesmente ser você. De
viver sem comparações. De encontrar sua segurança e identidade, não em
relação a quanto você se sobressai ao ser comparado aos outros à sua volta,
mas ao seu relacionamento com Ele.
CHEIO
É APENAS O COMEÇO
lgumas vezes por ano, eu dou uma aula chamada Geração para um
A
descolada.
pequeno grupo de estudantes em nossa igreja. Em uma parte da
aula, peço aos alunos para que me ensinem como falar de forma
O termo em moda [#meta], que também faz ótima parceria com palavras do tipo
“vida”, “corpo”, “cabelo”, “equipe” e “relacionamento” é irreverente, preguiçoso e
propositalmente autodepreciativo. Uma “meta”, nesse contexto, é algo cobiçado e
distante, uma qualidade de vida que nós categorizamos como inalcançável.[ 19 ]
Aqui está um exemplo do que ela estava descrevendo. Digamos que você
veja uma foto dos artistas Jay-Z e Beyoncé no jatinho particular Gulfstream
650 deles, abraçadinhos debaixo de um cobertor feito de pele orgânica de
zebra, e você comenta na foto usando a hashtag “meta”.
É uma forma de dizer: “Ah tá!” e “Bem que eu queria”, tudo de uma vez.
Isso me deixou pensando: não seria esta uma perigosa distorção do real
propósito de uma meta?
Sei que o objetivo é ser brincalhão, e este, certamente, não é um discurso
sobre “os jovens de hoje em dia”. Mas isto me fez pensar. A hashtag metas é
um raciocínio trágico sobre como a raça humana lida com as metas que
sentimos que não estamos preparados para atingir. Ele descreve como muitos
de nós reage mental e emocionalmente quando comparamos onde estamos
agora com o onde gostaríamos de estar. Nossas metas não cumpridas acabam
virando as vozes que zombam de nós. Elas são um comentário sobre nossas
falhas e um lembrete de que não somos bons o suficiente — e de que nunca
seremos.
Será que a proliferação de #metas ridículas não é apenas uma
manifestação moderna das lutas de Jacó? Ele não sabia como lidar com a
lacuna entre quem ele era e quem ele queria ser. Desde o ventre ele tinha
metas que estavam, literalmente, além de seu alcance. Ele sabia que havia
sido chamado para a grandeza, a riqueza e a relevância. Mas ele foi o
segundo. Ele foi o mais fraco da ninhada. Ele era aquele que fazia demais e
era considerado de menos.
Então, como já vimos, ele passou décadas fingindo, manipulando e
comparando-se em um esforço para conquistar, por conta própria, o que Deus
poderia entregar a ele por graça.
Mas então ele enfrentou um anjo.
E ele aceitou a si mesmo.
E recebeu um novo nome.
Eu gostaria de poder dizer-lhe que esse foi, de uma vez por todas, um
momento definitivo de transformação em Jacó e que, ao aceitar sua
identidade, ele estaria para sempre livre de suas lutas e de sua humanidade.
Que Jacó havia se tornado Israel e que viveria feliz para sempre.
Mas eu não posso, pois não acontece dessa forma, apesar das fábulas
infantis que os irmãos Grimm nos contaram. Contos de fada são narrativas
que acabam de maneira ordenada cujas pontas soltas são amarradas. Nelas, os
dragões morrem, os vilões são banidos e os heróis e heroínas se casam e
reinam sobre reinos pintados em aquarela.
Mas, na vida real, a linha entre vilão e herói é um pouco mais borrada.
Assim como foi para Jacó.
Na vida real, heróis têm momentos decisivos de autorrealização, mas
então se voltam e fazem novamente as mesmas coisas destrutivas. Assim
como Jacó fez.
E, na vida real, a narrativa, na verdade, não termina. Pois, na vida real, o
alvo não é viver feliz para sempre. Não é terminar a trama, resolver o conflito
e então exibir os créditos na tela. Existem mais coisas na vida do que eliminar
suas fraquezas e terminar por cima.
É terrível viver em um limbo de confusão entre realidade e destino,
esperando, orando e trabalhando duro por um “felizes para sempre”, o qual
nunca alcançaremos até que entendamos qual é a verdadeira meta.
Obviamente, ter metas não é o problema. Metas são ferramentas úteis para
motivar as nossas ações e medir o nosso progresso. Como humanos, somos
criaturas orientadas por metas, e eu acredito que Deus nos criou desta forma
precisamente por Ele ser um Deus de objetivos claros.
Muitos de nós somos realmente bons em estabelecer metas e até em
alcançá-las. Este não é o problema.
O problema é que, para começo de conversa, assim como Jacó, nós não
temos as metas corretas.
Nós podemos alcançar todas as metas que quisermos, mas se elas forem
as metas erradas, terminaremos no lugar errado. Um comprometimento com
as metas erradas pode criar a ilusão de progresso, mas não trará a recompensa
da verdadeira realização.
Perguntar “Estou alcançando minha meta?” é uma coisa, mas perguntar
“Esta é uma meta boa? Esta é a melhor meta?” é outra.
Em uma sociedade obcecada por metas, é importante que façamos as
perguntas corretas: onde nossas metas estão nos levando? Será que o atual
objetivo de nossas vidas é realmente o objetivo correto? Será que as nossas
metas valem a pena serem atingidas? Será que as pessoas que invejamos são
felizes de fato?
Talvez esta seja a hora de parar com essa correria desenfreada. Parar de
perseguir ilusões como os ratos atrás de uma flauta. Sair dessa roda de
hamsters. (Acabei de perceber que usei metáforas envolvendo roedores.
Deveria melhorar minha habilidade na escrita. #meta).
Eu estava conversando com uma mãe cujos filhos já tinham saído de casa.
Ela me disse o que toda mãe com o “ninho vazio” diria para Holly e eu:
“Valorize cada momento. O tempo voa”.
Isso é fácil para você dizer, eu sempre penso. Seus filhos já foram. Os
meus ainda estão quebrando as coisas em casa.
A mulher continuou: “Olho para o modo com que criei meus filhos, e vejo
que frequentemente eu tinha as metas erradas”.
Eu perguntei: “Por exemplo?”
Ela disse: “Bem, por que eu pensei que a maior meta do dia a dia seria ter
um tapete limpo? Durante os mais de vinte anos que tive crianças em casa, eu
sempre mantive o tapete limpo. Eu brigava com as crianças por causa do
tapete, e todos tiravam seus sapatos por causa dele. Agora eu adoraria ver
mais pessoas transitando pela casa, mais lama e mais suco de maçã no tapete.
Eu alcancei a meta, mas essa meta não era a meta mais importante”.
Quando eu estava no ensino médio, tinha um sujeito cuja meta era fazer
sexo com quantas garotas ele conseguisse. Parecia uma boa ideia para ele no
ensino médio. As pessoas falavam para ele que ele era o cara. Ele estava no
controle. Ele se dava bem com todo mundo, era popular e bem-sucedido.
Eu o reencontrei na reunião de dez anos de formatura.
Ele estava divorciado e confessou para mim que a vida dele parecia vazia.
Ele achava que estava só recebendo, mas, na verdade, estava espalhando
pedaços dele mesmo que jamais recuperaria. Ele alcançou a meta, mas é a
qualidade da meta que determina se isso é significativo.
Portanto, se viver feliz para sempre não é a meta, então qual é? Eu
acredito que a resposta está ilustrada no encontro transformador de vida de
Jacó com o anjo.
O DEUS DE JACÓ
Deve ter sido o momento mais notável na dramática vida de Jacó: “Seu
nome não será mais Jacó, mas sim Israel” (Gênesis 32:28).
Jacó deve ter pensado que Deus estava dizendo: “Cansado de quem você
é? Quer ser outra pessoa? Boom! Desejo concedido. Você tem um novo nome
e uma nova identidade. Você não é mais o fraco, conivente, esguio e pequeno
Jacó. Você é Israel: um príncipe, um governante, o rei da montanha”.
Tenho certeza de que Jacó ficou empolgado com a ideia. Ele passara sua
vida inteira tentando ser um homem que conquistou por esforço próprio.
Agora o próprio Deus estava reconhecendo a conquista de Jacó. Era o clímax,
o zênite, o momento mágico da metamorfose. Jacó se foi, e Israel chegou
para ficar.
Exceto que não foi isso que Deus quis dizer.
Podemos esperar que, desse ponto em diante, a Bíblia iria sempre se
referir a Jacó pelo seu novo nome, Israel. Mas Deus tem uma forma muito
curiosa de ignorar as nossas expectativas. Normalmente é para nos ensinar
alguma coisa.
Muitos anos depois desse evento, Deus apareceria para Moisés na sarça
ardente. Êxodo 3:15 descreve que Deus disse a Moisés que Ele gostaria que
os israelitas O identificassem como o Deus de Abraão, Deus de Isaque e
Deus de...
Jacó.
Espere! Jacó?
Por que não Israel?
Israel era o novo e melhor Jacó, o triunfante e transformado Jacó. Se você
fosse Deus e quisesse ser conhecido, você não se denominaria como o Deus
de Israel? Se você estivesse lançando uma campanha de Relações Públicas
para lançar seu nome, será que você não gostaria de ter seu nome ligado ao
lado mais positivo desse personagem?
Ainda assim, Deus disse a Moisés, e Ele nos diz hoje: “Se você quer saber
quem Eu Sou, você precisa entender que Eu também Sou o Deus de Jacó. Eu
Sou Deus em todos os erros que você cometeu. Eu também Sou Deus em
todas as suas partes que você não quer que vejam. Eu não Sou apenas o Deus
do seu sucesso. Eu Sou o Deus das suas lutas. Eu não Sou apenas o Deus das
suas vitórias. Eu Sou o Deus das suas derrotas.”
“Eu Sou
O Deus
De Jacó.”
Pelo resto de sua vida e ao longo da Bíblia, Jacó foi chamado pelos dois
nomes. Às vezes ele é chamado de Jacó e às vezes ele é chamado de Israel.
Por quê? Pois nós somos complicados, e a mudança também é. A descoberta
de quem nós somos e de quem nós devemos nos tornar é uma jornada de uma
vida inteira.
Mas, neste meio tempo, Deus não tem vergonha de ser associado com
Jacó, e Ele também não tem vergonha de ser associado conosco.
A saga de Jacó nos ensina que viver não significa vencer as nossas
fraquezas para que possamos viver felizes para sempre. Trata-se de viver o
agora, da forma que sejamos aceitos por Deus e, portanto, sermos capazes de
aceitarmos a nós mesmos.
Trata-se de saber que somos Jacó e Israel, ao mesmo tempo. Nós somos
Jacó, pois ainda temos que lutar com coisas bobas. Mas nós também somos
Israel, pois Deus já declarou vitória sobre nós. A verdadeira realização vem
de aceitar as duas realidades ao mesmo tempo.
Quanto mais pudermos aceitá-las, mais fácil será reconciliá-las. Quer
dizer, quanto mais entendemos que somos Israel aos olhos de Deus, menos
nos encontraremos agindo como Jacó. Sejamos honestos! Enquanto
caminharmos neste planeta, nunca seremos completamente livres de nossas
tendências de Jacó. Mas enquanto soubermos que Deus nos nomeou como
Israel, nosso hábito de agir como Jacó não poderá mais nos travar. Nossas
fraquezas, lutas e falhas serão continuamente convertidas em forças pelo
poder de Deus.
Na narrativa de Jacó, nós vemos um homem que briga com todos. Ele
brigou com Esaú no ventre. Ele enganou seu pai para receber uma bênção
que não era sua. Ele disputou tudo com seu tio Labão, das filhas até os
jumentos. Ele tentou derrubar um anjo e acabou manco.
Agora Jacó estava se preparando para enfrentar seu irmão, Esaú, de novo.
Já haviam se passado décadas, e ele ainda lutava com os mesmos problemas.
Por quê? Afinal, Esaú não era o verdadeiro oponente, assim como
também não era o anjo, nem seu tio e muito menos seu pai.
As lutas externas de Jacó eram um reflexo de suas lutas internas. Ele era
um homem em busca de identidade, transformação e aceitação. E até que
conseguisse encontrar isso em Deus, ele nunca viria a ter paz consigo mesmo
nem com o mundo ao seu redor.
Na noite em que enfrentou o anjo, Jacó pensava que estava se preparando
para fazer as pazes com Esaú. Na realidade, Deus o trouxe àquele lugar para
que fizesse as pazes consigo mesmo.
Esse é o ponto da duplicidade de nomes. Jacó teve que lutar contra tudo e
todos em uma tentativa inútil de encontrar seu lugar no mundo. Israel poderia
ter descansado na aceitação de Deus.
O nome Israel não indicava perfeição. Indicava o propósito que Deus
cumpriria através dele. Esse nome indicava o processo de mudança. Indicava
um relacionamento com o Deus que o amava como Jacó, mesmo enquanto
ele se transformava em Israel.
Isto é ilustrado no encontro de Jacó com Esaú alguns versículos e horas
depois. Em comparação com a sua batalha com o anjo, esse encontro foi
surpreendentemente tranquilo. Jacó planejava ganhar o perdão de seu irmão
ao entregar a ele presentes elaborados. Mas nada disso foi necessário.
Quando Jacó e Esaú finalmente se aproximaram, a Bíblia diz o seguinte:
“Mas Esaú correu ao encontro de Jacó e abraçou-se ao seu pescoço, e o
beijou. E eles choraram” (Gênesis 33:4).
Parado face a face com o homem com que ele passou toda sua vida
lutando contra, Jacó, com certeza, percebeu algo que eu agora estou
entendendo mais e mais:
A única batalha que tenho que vencer é a interna.
A batalha não é contra Esaú. É contra mim.
Sua verdadeira luta não é com o seu dinheiro. Sua verdadeira luta não é
com o seu chefe. Sua verdadeira luta não é com a sua sogra.
“Você não conhece a minha sogra”, você pode até dizer.
É um bom argumento. Mas, no fim das contas, é verdade. A primeira luta
que você precisa focar, é a luta no seu interior.
Conheci pessoas lindas que eram inseguras com a sua aparência. Conheci
pessoas de abdômen trincado que reclamavam do quanto estavam gordas.
Aceitação, pertencimento, segurança, valor, significância — a lista continua.
Nós podemos manifestar nossas necessidades de maneiras diferentes, mas
todos nós desejamos a mesma coisa.
Talvez mais uma referência da Oprah nos ajude a ter uma perspectiva
melhor do que estou dizendo. Eu a ouvi falando em uma formatura na
Universidade de Harvard, que a lição mais importante que ela aprendeu em
vinte e cinco anos conversando com as pessoas foi que todos temos o mesmo
denominador comum: nós queremos ser validados; queremos ser
compreendidos. Ela continuou dizendo:
Se alguém pensa que tem razões para confiar na carne, eu ainda mais: circuncidado
no oitavo dia de vida, pertencente ao povo de Israel, à tribo de Benjamim,
verdadeiro hebreu; quanto à lei, fariseu; quanto ao zelo, perseguidor da igreja;
quanto à justiça que há na lei, irrepreensível. (Filipenses 3:4-6)
Mais do que isso, considero tudo como perda, comparado com a suprema grandeza
do conhecimento de Cristo Jesus, meu Senhor, por cuja causa perdi todas as coisas.
Eu as considero como esterco para poder ganhar a Cristo e ser encontrado nele,
não tendo a minha própria justiça que procede da lei, mas a que vem mediante a fé
em Cristo, a justiça que procede de Deus e se baseia na fé. Quero conhecer a
Cristo, ao poder da sua ressurreição e à participação em seus sofrimentos,
tornando-me como ele em sua morte. (Filipenses 3:8-10)
O que Paulo havia conquistado não era errado. Mas não era a melhor
meta. Não valia a pena gastar sua vida naquilo. Paulo estava dizendo: “Esta é
a minha meta agora. Eu quero conhecer a Cristo. Eu fiz todas aquelas outras
coisas. Eu conheci todas as outras coisas. Eu tive um sucesso que você não
conseguiria imaginar. Eu atingi a marca, mas quando cheguei lá, descobri que
eu não a queria. Então abri mão daquela meta e estabeleci uma nova:
conhecer a Jesus”.
O que é mais interessante é que Paulo escreveu isso na prisão. Imagine
um lugar de fraqueza! Aos olhos do mundo, ele havia caído em desgraça. Ele
foi de fariseu a prisioneiro, do respeito à humilhação.
Mas para Paulo, finalmente ele estava vencendo. Ao contrário de
autoqualificar-se, ele estava deixando Deus fazer isso por ele. E justamente as
coisas das quais outras pessoas teriam vergonha, foram os fatores que o
impulsionaram para o destino que Deus tinha para ele.
Mas as coisas ainda ficariam melhores. O versículo 12 diz: “Não que eu já
tenha obtido tudo isso ou tenha sido aperfeiçoado, mas prossigo para alcançá-
lo, pois para isso também fui alcançado por Cristo Jesus”.
As metas de Paulo haviam mudado. Impressionar as pessoas, provar seu
valor, chegar ao topo — tudo isso não tinha mais o mesmo apelo. Sua vida
agora se tratava de conhecer a Jesus e tornar-se tudo o que Jesus o havia
chamado para ser.
Sua vida não estava mais direcionada a alcançar uma meta qualquer;
agora era buscar a meta. Era continuar. Era conhecer a Cristo e ser
encontrado Nele. Era ser qualificado por Deus para cumprir o chamado de
Deus.
Eu acredito que a meta primária que Deus tem para nós nesta vida não é
que cheguemos, mas que alcancemos. Que nós, assim como Paulo, estejamos
mais focados na jornada de conhecer a Jesus e Sua vontade do que
propriamente no destino. De uma forma bem real, a jornada é o destino e o
processo é a meta.
É claro que temos destinos a curto prazo ao longo do caminho. Mas o
destino supremo é o Céu. Uma vez que esta vida tenha acabado, chegaremos
a um lugar de relacionamento completo com Deus, santidade completa e
perfeição completa.
Mas nós ainda não estamos no Céu, meu amigo! Então, se fizermos da
vida algo focado nos pontos de parada, nos pontos de vista e nos pontos altos,
em vez de focarmos na jornada como um todo, perderemos muito do que a
vida tem a nos oferecer.
A propósito, quando eu digo que a meta principal é que alcancemos, não
estou falando de tentativas frustrantes e fúteis para conseguir algo que nunca
teremos. Não se trata de gastar energia com algo fadado ao fracasso como
agarrar o vento. Essa não foi a atitude de Paulo de forma alguma. Persistir ou
alcançar está ligado à experiência contínua com Deus, ao longo desta vida
que Ele sabia que culminaria na próxima vida. Ele falava a respeito da
caminhada com Deus que caracterizou todos os grandes homens e mulheres
das Escrituras.
Nas palavras do poeta inglês Robert Browning: “É indispensável
querermos deitar a mão a mais do que podemos alcançar; se não para que
serviria o céu?”[ 21 ]
Alcançar implica processo.
Alcançar implica mudança.
Alcançar implica relacionamento.
Alcançar implica dependência.
De muitas maneiras, o conceito de alcançar Jesus, caminhar com Jesus e
conhecer a Jesus engloba tudo que estou dizendo neste livro.
Quem nos qualifica? E para quê?
Deus nos qualifica. Para a jornada e tudo o que ela envolve.
A solução para um desqualificado é conhecer Jesus. É aproveitar os altos
e baixos e os fluxos e refluxos da vida junto a Ele. É encarar um futuro
incerto, não com o orgulho que vem da autorealização, nem com o medo que
vem da autodepreciação, mas com a confiança que vem de ter estado com
Jesus.
Se você é um seguidor de Jesus, já possui tudo que precisa para ter uma
vida produtiva, realizada e confiante.
Você já pode remover as máscaras e as armaduras. Já pode parar de
comparar, manipular e fingir. Você pode parar de tentar convencer a si
mesmo de que é capaz e competente apenas com seu próprio esforço.
Avance rumo à lacuna entre quem você é e tudo aquilo que Deus o chama
para ser.
É lá que o crescimento acontece.
E é para isso que serve a graça.
Uma parte da janela de vitral da capela
Dora Maclellan Brown Memorial no Covenant College •
Lookout Mountain, Geórgia — EUA.
EPÍLOGO