Ebook - Alfabetização
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ALFABETIZAÇÃO
EM FOCO
2020
E-Book
2020
Fonoaudiologia Educacional
ALFABETIZAÇÃO
EM FOCO
Organizadoras
160 p. : il.
Inclui bibliografia
ISBN: 978-65-86760-07-1
1. Alfabetização. 2. Fonoaudiologia. 3.
Educação. 4. Fluência (Aprendizagem
da língua). 5. Compreensão na leitura.
I. Capellini, Simone Aparecida. II.
Germano, Gilseli Donadon. III. Oliveira,
Sílvia Tavares de.
CDD 372.41
Sumário
Apresentação ...05
Prefácio 1 ...06
Prefácio 2
...08
Clara Regina Brandão de Ávila
Destaque Departamento de Fonoaudiologia 2017
Capítulos
Posfácio ...155
Nos últimos 39 anos a Fonoaudiologia vem expandindo suas áreas de atuação, e o CFFa
cumpre sua missão de legislar sobre a atuação do fonoaudiólogo, prerrogativa assegurada
pelo artigo 10, inciso II da Lei 6965, de 9 de dezembro de 1981, a qual dispõe sobre a
regulamentação da Profissão de Fonoaudiólogo.
A cada novo campo de trabalho que a Fonoaudiologia ocupa, o CFFa preocupa-se em garantir
uma atuação responsável e ética do fonoaudiólogo, com o objetivo de proteger a sociedade.
O CFFa reconheceu, em 20 de março de 2010 , a especialidade em Fonoaudiologia
Escolar/Educacional, e em 18 de setembro do mesmo ano modificou o nome da
especialidade para Fonoaudiologia Educacional, e definiu, por resolução, as atribuições e
competências que o fonoaudiólogo deve ter para obter seu Título de Especialista nessa área.
Esse e-book foi planejado e escrito por fonoaudiólogos com expertise na área da
alfabetização, e que se dispuseram a partilhar suas experiências com o intuito único de
fortalecer a prática fonoaudiológica na área educacional. O conteúdo de excelência dessa
obra pode ser aplicado na atuação de fonoaudiólogos, assessora a compreensão de
professores sobre o processo de alfabetização, sendo o principal favorecido a comunidade
escolar.
Essa parceria teve início quando o CFFa foi solicitado a elaborar material para a Secretaria da
Alfabetização em conjunto com o Departamento de Fonoaudiologia Educacional da
Sociedade Brasileira de Fonoaudiologia. A Secretaria descontinuou essa solicitação, mas a
ideia de publicar um e-book com o resultado desse trabalho foi em frente, gerando um
compilado de conhecimento importante e de acesso fácil ao fonoaudiólogo.
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Prefácio livro Fonoaudiologia Educacional: alfabetização em foco
Nesse ponto, quero escrever não apenas como presidente da organização (gestão
2020-2022), mas como uma testemunha do empenho do Departamento de “Fono Educ”
(como é carinhosamente chamado por nós) na produção de conhecimento e na defesa de
um exercício profissional fonoaudiológico cada vez mais amplo, baseado em evidências
científicas e, acima de tudo, ético, no contexto educacional. Devo destacar que, nesse esforço,
o referido Departamento desempenha com maestria a função de unir prerrogativas inerentes
à nossa formação em saúde (como à prática baseada em evidências e a neurociências) à base
humanística e filosófica que permeia o processo educacional. É exatamente nesse ponto de
equilíbrio entre as diferentes constituições do fazer fonoaudiológico no ambiente
educacional que gostaria de introduzi-los à presente obra.
As organizadoras do E-book, Dra Simone Capellini, Dra Giseli Germano e Dra Sílvia Tavares
reuniram profissionais brasileiros com expertise em diferentes temas relacionados à
Fonoaudiologia Educacional, conseguindo transitar desde as modificações das funções
cerebrais advindas da aprendizagem da leitura e escrita à organização e manejo das
condições da aprendizagem em sala de aula. Convém ressaltar que a Dra Simone Capellini e
a Dra Gisele Germano, atuais gestoras do Departamento de Fonoaudiologia Educacional da
SBFa são incansáveis no objetivo de desenvolver e disseminar critérios de excelência na área.
A organização compartilhada com o Conselho Federal de Fonoaudiologia, representado na
organização pela Dra Sílvia Tavares, reforça uma parceria histórica entra a SBFa e a CFFa que
se consolida em cada produto chancelado conjuntamente pelas duas organizações. Além
disso, tal parceria, no contexto da Fonoaudiologia Educacional, endossa o nosso esforço em
aproximar ciência e exercício profissional para o desenvolvimento de elementos que
suportem a melhor prática fonoaudiológica no ambiente educacional.
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desenvolvimento do milênio propostos pela Organização das Nações Unidas (ONU),
principalmente no que diz respeito à ao ensino básico e universal, assegurando uma
educação de qualidade, inclusiva e equitativa.
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Prefácio Fonoaudiologia Educacional
Com imensa satisfação recebi o convite para prefaciar este livro que, primorosamente
organizado, discute com maestria temas ligados à alfabetização, tanto à luz daquele que
ensina quanto daquele que aprende. Ademais, segundo uma concepção ecológica do
aprendizado, aborda-se o papel da família e do meio sociocultural, como partícipes
indispensáveis para o sucesso do aprendizado acadêmico e apontam-se teorias e práticas
ligadas à alfabetização, que ocorrem em tempos, níveis e contextos e diferentes, mas
essencialmente conectados.
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sabiamente, relaciona a quebra da velocidade ou fluência da leitura a prejuízos da
compreensão textual, e ao consequente desinteresse de jovens pela leitura.
Com base em documentos oficiais, o Capítulo 7 nos brinda com a visão crítica do contexto
histórico e do panorama atual de ações e controles de políticas públicas voltadas para a
alfabetização e o letramento, sempre guiado pela melhor prática baseada nas ciências
cognitivas da leitura e da escrita. Ressalta a necessidade de os órgãos de ensino estarem
afinados com as evidências científicas que apontam tanto as habilidades a serem
desenvolvidas no período de aprendizado do princípio alfabético – metafonológicas,
semântico-lexicais – quanto às características da instrução formal para o aprendizado pleno
da leitura e da escrita. A participação do fonoaudiólogo educacional nessa empreitada, é
imprescindível.
Com base em documentos oficiais, o Capítulo 7 nos brinda com a visão crítica do contexto
histórico e do panorama atual de ações e controles de políticas públicas voltadas para a
alfabetização e o letramento, sempre guiado pela melhor prática baseada nas ciências
cognitivas da leitura e da escrita. Ressalta a necessidade de os órgãos de ensino estarem
afinados com as evidências científicas que apontam tanto as habilidades a serem
desenvolvidas no período de aprendizado do princípio alfabético – metafonológicas,
semântico-lexicais – quanto às características da instrução formal para o aprendizado pleno
da leitura e da escrita. A participação do fonoaudiólogo educacional nessa empreitada, é
imprescindível.
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vocabulário na produção do texto coerente e criativo, capaz de expressar com precisão o
pensamento do estudante.
O livro finaliza com excelentes indicações sobre as melhores condições e disposições para
otimizar o aprendizado em sala de aula. Em consonância com os demais Capítulos que o
antecedem, ressalta a necessidade de observar, monitorar e estimular habilidades de
diferentes naturezas (de físicas a metacognitivas) estimulando a competência comunicativa,
a resolução de problemas, sem esquecer de aspectos psicoafetivos, com vistas ao
desenvolvimento integral e à aprendizagem autorregulada. A noção de que o aprendizado
escolar depende da qualidade da instrução e da garantia do entendimento assim como,
também, do suporte familiar confirma a necessidade de respeito às necessidades individuais
de cada criança.
Por tudo isso, este é um livro essencial, para quem deseja conhecer a abrangência da
Fonoaudiologia Educacional nos domínios da alfabetização, e os construtos teóricos a partir
dos quais apoia seus objetivos e direciona suas ações para benefício dos pequenos brasileiros,
aprendizes leitura e da escrita. Esta obra, certamente, contém informações preciosas e
subsídios para reflexão e crítica sobre a etapa de alfabetização como campo de ação da
Fonoaudiologia.
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CAPÍTULO 1
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INTRODUÇÃO
O ser humano é um ser social que se comunica pela linguagem. Na civilização, aprender a falar
costuma acontecer naturalmente - desde que não se apresente déficit sensorial, perceptual ou
cognitivo.
Aprender a ler modifica o cérebro humano. Para que a linguagem escrita se desenvolva, as
principais funções corticais se reorganizam para acomodar a nova habilidade cultural. Por isso,
ao atingir a maturidade cognitiva, a linguagem escrita deve ser formalmente ensinada em um
contexto de ensino-aprendizagem (Ávila et al., 2017; Changeux, 2012; Dehaene, 2012; Dehaene
et al., 2015; Gabriel, Morais, & Kolinsky, 2016; Snowling, & Hulme, 2013; Morais, 2013; Oakhill, Cain,
& Elbro, 2017; Scliar-Cabral, 2013).
Para os bons leitores, o ato de ler parece se algo simples e fácil, o que faz esquecer o quão difícil
foi seu aprendizado. Durante o ato de ler, o cérebro realiza diversas funções, e cada área do
cérebro tem o seu papel e atua harmoniosamente para que a leitura possa ser realizada.
Quando uma dessas áreas não funciona bem, surgem as dificuldades na aprendizagem da
linguagem escrita, sejam elas de desenvolvimento sejam adquiridas (Cuetos, 2010; Dehaene,
2012).
Cientistas buscam desvendar cada passo realizado durante a leitura, desde o momento de
prestar atenção à palavra escrita e fixar o olhar para identificá-la até o acesso ao seu significado.
Neste momento, quando você, leitor, dedica-se a este texto, seus olhos se movimentam pela
página, da esquerda para a direita, com movimentos rápidos e precisos; a cada segundo, seus
olhos fixam em quatro ou cinco palavras, as quais você reconhece praticamente sem esforço
algum. Você, provavelmente, lê este texto silenciosamente e – apesar disso – é capaz de
recuperar a pronúncia de cada palavra reconhecida é como se estivesse ouvindo as palavras,
mesmo que não as esteja pronunciando em voz alta. Tudo isso já foi explicado pela ciência, com
auxílio das imagens funcionais (Cuetos, 2010; Dehaene, 2012; Dehaene et al., 2015).
Apesar dessas evidências científicas, a leitura é uma atividade cultural, inventada pelo homem,
há cerca de 5.400 anos. O alfabeto não tem mais que 3.800 anos. Por ser uma atividade
cultural, ainda hoje, existe uma forte relutância de algumas áreas para considerar a
aprendizagem da leitura em termos biológicos e não apenas sociais (Dehaene, 2012;
Hernandez et al., 2019).
Reconhecer os caminhos que o nosso cérebro percorre para que a leitura possa ser realizada é
importante em diversos aspectos tais como: 1) conhecer o processamento da leitura; 2)
identificar quais áreas estão afetadas ao se deparar com alguma dificuldade em seu
aprendizado; 3) identificar as patologias adquiridas e do desenvolvimento. Além disso, ao
conhecer o percurso do processamento da leitura no cérebro, é possível planejar os processos
de intervenção, saber como avaliar adequadamente e decidir qual método de ensino e quais
ferramentas escolares são as mais adequadas para a alfabetização.
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O QUE É LEITURA?
O Brasil é um país com língua de base alfabética, o que significa que o seu sistema de escrita é
o alfabeto, tendo como base a letra, apesar de conter sinais ideográficos, números, siglas etc.
(Cagliari, 1996; Oliveira, 2017). Isto implica que a aquisição da leitura está relacionada ao
domínio do princípio alfabético, que é o conhecimento do nome das letras e que uma ou mais
letras (os grafemas) correspondem aos fonemas (menor unidade fonológica que distingue o
significado) (Larsen, Schauber, Kohnen, Nickels, & McArthur, 2020; Morais, 2013; Oliveira, 2017;
Rakhlin et al., 2019; Villagrán, Consejero, Gusmán, Jiménez & Cuevas, 2011).
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“be-ó-éli-a”. (Scliar-Cabral, 2013, p.35). Nesse mesmo sentido, Cagliari afirma que:
[...] é possível ler o que está escrito de diversas maneiras. É uma ilusão pensar que a escrita é um
espelho da fala. A única forma de escrita que retrata a fala, de maneira a correlacionar
univocamente letra e som, é a transcrição fonética. (Cagliari, 1996, pp. 117, como citado em
Oliveira, 2017).
Por isso, é defendido amplamente que o ensino da correspondência grafema-fonema deve ser
realizado, formalmente, no período da alfabetização. Não se deve acreditar que basta expor os
escolares a um grande número de palavras que eles adquirirão a leitura (Dehaene, 2012, Morais,
2013, Scliar-Cabral, 2013).
Dehaene (2012) afirma que, na leitura, deve-se entender, ainda, que existem diferentes formas,
que são os traços distintivos, para representar uma mesma letra, que podem não possuir
ligação específica entre elas, como por exemplo: “a”, “a”, “a”, “a”, “A”, “A”, “A”, “A”, “A”, entre tantas
outras possibilidades existentes. Nesse sentido, o autor define leitura como: “ler é saber
identificar todas as palavras, sejam elas escritas em letra de imprensa, sejam manuscritas, em
maiúsculas ou minúsculas e em todos os tamanhos das fontes” (Dehaene, 2012, p.32-33).
Uma das contribuições da neurociência importante para a educação, em relação à nitidez das
palavras, é a referente ao tamanho da fonte. Ao contrário do que muitos acreditam e utilizam
(salvo casos de deficiência visual ou problemas de visão específicos), a nitidez da palavra não é
otimizada quando se aumenta o tamanho da fonte. Como o processamento se realiza letra a
letra, quanto maior for a fonte da palavra escrita, mais ela se distanciará do centro da retina em
direção à periferia (parafóvea – área de menor nitidez) e maior será o tempo para identificá-la.
No campo foveal, estima-se que caibam cerca de seis caracteres (deve-se contar as letras e os
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espaços), proporcional a uma palavra curta. Consequentemente, quanto maior a fonte, menos
letras caberão no campo foveal, o que aumentará o tempo de identificação da palavra (Cuetos,
2010; Dehaene, 2012; Scliar-Cabral, 2008; Rayner, Juhasz, & Pollatsek, 2013; Snowling & Hulme,
2013).
O modelo da dupla rota, proposto por Coltheart em 1980, explica o reconhecimento da palavra
escrita, mas não apenas do desenvolvimento da leitura. Ele também auxilia na compreensão
sobre os transtornos de leitura, sejam de desenvolvimento sejam os adquiridos (Coltheart, 2013;
Coltheart et al., 2001; Cuetos, 2010). Neste modelo em uma rota é explicado o acesso à palavra
pela aplicação das regras de correspondência grafema-fonema (rota fonológica ou subléxica) e
por outra o reconhecimento da palavra realizado pela sua representação ortográfica (rota
lexical ou direta) (Coltheart, 1980, 2013; Coltheart et al., 2001).
Para identificar a leitura pela rota fonológica, o principal requisito é aprender e automatizar as
regras de conversão grafema-fonema; sendo assim, a pronúncia da palavra será construída ao
relacionar os segmentos da ortografia com os da fonologia. Automatizar tais regras significa
atingir velocidade, precisão e eficiência na conversão desses segmentos. Ao atingir eficiência na
automatização – ou mais exatamente a fluência sublexical –, as palavras poderão ser
segmentadas com pouco esforço consciente por parte do escolar, reduzindo, assim, a carga
cognitiva da tarefa, o que beneficiará o desenvolvimento das representações ortográficas e
fonológicas das palavras (desenvolvimento rota lexical), pois cada vez que o escolar lê
corretamente uma palavra desconhecida, seguindo as regras de conversão grafema-fonema,
forma-se a representação ortográfica da palavra. No entanto, se tal processamento for lento e
trabalhoso, será ineficiente e propenso a erros, e tal tarefa exigirá dos escolares considerável
energia cognitiva (Buchweitz, 2016; Clemens et al., 2020; Clemens et al., 2018; Coltheart et al.,
2001; Cuetos, 2010; Cunningham, Perry, Stanovich, & Share, 2002; Navas, 2017; Oliveira, 2017;
Ritchey & Speece, 2006; Share, 1995).
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Pinheiro; Lúcio, & Silva, 2008; Pinheiro & Rothe-Neves, 2001; Snowling & Hulme, 2013).
A rota lexical realiza o acesso à palavra pela sua representação ortográfica que leva à ativação
das representações semântica e fonológica. Ao visualizar a palavra, ela será recuperada no
léxico mental que contém o conhecimento visual da ortografia das palavras: os padrões de
ortografia que caracterizam a palavra ou parte delas, bem como a pronúncia desses padrões ou
partes das palavras e seu significado (Boros et al., 2016; Capellini et al., 2014; Coltheart, 2013;
Cuetos, 2010; Kim et al., 2010; Mehlhase et al., 2020; Morais, 2013; Oliveira, 2017; Pinheiro, 2001,
2006; Pinheiro, Lúcio, & Silva, 2008; Pinheiro & Rothe-Neves, 2001; Rothe et al., 2015; Raklin et
al., 2019; Snowling & Hulme, 2013).
Em 1970, Geschwind (referenciado por Cuetos, 2010) propôs um caminho percorrido pelo
cérebro para realizar a leitura. A ativação cortical se inicia nos lobos occipitais – responsáveis
pelas áreas visuais –, passa para a área parieto-temporal esquerda, onde o reconhecimento da
palavra e a associação ao significado são realizados; por fim, a região frontal esquerda (área de
Broca e área motora) para o acesso à pronúncia e à articulação. Cuetos (2010) ressalta que essa
proposta é correta; no entanto, simplificada. Com o avanço das pesquisas, já se sabe que há
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mais regiões em cada córtex envolvidas na leitura como – por exemplo – ao se apresentar
palavras e pseudopalavras, diferentes áreas são mais ativadas (Dehaene, 2012; Price & McCrory,
2013).
Não importa o país ou a língua, as mesmas regiões cerebrais são ativadas para o
reconhecimento das palavras, ou seja, a aprendizagem da leitura percorre o mesmo circuito
(Dehaene, 2012). Ao encontro dessa afirmação, o autor comenta o estudo de Paulesu et al.
(2001), no qual foi avaliada a leitura em voz alta de ingleses, italianos e franceses comparando a
ativação das regiões cerebrais. Neste estudo, todos ativaram as mesmas áreas
(parieto-temporal, occipito-temporal e lobo frontal); porém, áreas cerebrais foram ativadas de
maneira diferente em função do sistema ortográfico dos idiomas investigados. Os leitores
ingleses e franceses (ortografia profunda) ativaram a região occipito-temporal, mas
especificamente áreas do giro temporal posterior inferior e anterior (área de representação
ortográfica das palavras, também conhecida como área visual da forma da palavra) enquanto
os italianos (ortografia transparente) ativaram mais a área parieto-temporal correspondente ao
mecanismo de conversão grafema-fonema.
Cuetos (2010) afirmou que o uso das rotas lexical e fonológica não depende apenas do tipo de
palavras a ser lida, também do sistema ortográfico no qual a leitura será realizada. Como
comprovado nos exames de neuroimagem, leitores de sistemas ortográficos profundos, nos
quais existem muitas palavras irregulares, o uso da rota lexical é mais exigido (área
occipito-temporal). Já nos sistemas de ortografia mais transparentes, o uso da rota fonológica é
mais frequente (área parieto-temporal). Pesquisadores corroboram a afirmação de que áreas
cerebrais são ativadas distintamente, dependendo do estímulo a ser apresentado, se a leitura
será realizada diretamente ou será necessária a conversão grafema-fonema (Brignoni-Perez,
Jamal, & Eden, 2020; Debska et al., 2019; Partanen, Siegel, & Giaschi, 2019).
Similar a essas afirmações, Cuetos (2010) cita o estudo de Goswani (2006), no qual aponta que,
nos escolares do 1º ano do Ensino Fundamental, é ativada principalmente a área temporal
superior do hemisfério esquerdo (parieto-temporal – responsável pela conversão
grafema-fonema e o desenvolvimento da rota fonológica). À medida que esses escolares se
tornam leitores mais experientes, aumenta a ativação da área occipito-temporal (área visual da
forma da palavra, responsável pela percepção, visão, leitura e palavra) (Buchweitz, 2016).
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Palavra Escrita
Área occipital
primária é ativada
Léxico Visual
Área occipito-temporal
Léxico Fonológico
Área temporo-parietal
Fonemas
Área temporal
Fala
Refião frontal inferior esquerda -
Áreas de Broca e Sensório Motor
Legenda: os quadrantes em azul são exclusivos da rota lexical, enquanto os em preto, seguindo
as setas indicativas laterais, indicam o percurso da rota fonológica.
Figura 1. Indicação das áreas que são mais ativadas durante o reconhecimento de palavras, pelo
modelo da dupla rota. (Adaptada de Cuetos, 2010, p.45).
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As mudanças no cérebro com a aquisição da linguagem escrita
Hernandez et al. (2019) enfatiza que o sistema visual ventral passou do reconhecimento de
objetos para o reconhecimento altamente especializado, que é o reconhecimento das letras e
também dos números. Em um cérebro com uma alta capacidade de plasticidade, ao alterar a
entrada externa de informação para a linguagem, foi possível chegar a esse sistema mais
refinado. A lateralização das conexões da linguagem é um dos principais marcadores da
especialização do cérebro humano. As funções de linguagem como a fonologia, semântica e
processamento das sentenças, são realizadas no hemisfério esquerdo (Hernandez et al., 2019;
Vigneau, Beaucousin, & Hervé, 2006, 2011).
A área do cérebro responsável por essa organização é o córtex parietal. É a associação da área
visual da forma da palavra com a região parietal inferior esquerda (área occipto-parietal) - com
importante função no campo visual, na dinâmica dos movimentos oculares e controle
atencional visual. O controle atencional é crucial no início do aprendizado da leitura; ele
permite, aos escolares, regular a leitura do tipo letra a letra, direcionar a sua atenção da
esquerda para a direita e de cima para baixo ao longo da página e tornam claras as diferenças
entre as letras espelhadas (Bouhali, Bézagu, Dehaene, & Cohen, 2019; Dehaene et al., 2010;
19
Moulton et al., 2019).
O lobo parietal é uma região associativa complexa e está relacionada com a via magnocelular.
É responsável pelas questões visoespaciais, profundidade, localização, noção de espaço,
movimentos sacádicos e na conversão da ortografia em fonologia e semântica, além do
controle da atenção visual, como já mencionado (Bouhali et al., 2019; Moulton et al., 2019;
Simon, Mangin, Cohen, Le Bihan, & Dehaene, 2002; Vigneau et al., 2006)
A região parietal é um núcleo importante da rede de leitura, em especial nos seus estágios
iniciais, quando os escolares dependem mais da decodificação serial grafema-fonema (Bouhali
et al., 2019). A leitura serial do tipo letra a letra, ou seja, a dependência da decodificação de cada
grafema em seu respectivo fonema tem duração suficiente até os leitores acumularem
conhecimento ortográfico para utilizar as representações ortográficas e acessar diretamente as
palavras, realizando o processamento paralelo das letras (Cohen, Dehaene, Vinckier, Jober, &
Montavont, 2008; Dehaene et al., 2010; Grainger & Ziegler, 2011; Moulton et al., 2019).
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O planum temporale, por constituir grande parte da área de percepção da linguagem, na área
de Wernicke, também está envolvido em atividades como desempenho de vocabulário,
memória verbal e compreensão auditiva da informação. Após a mensagem ser interpretada,
ela passa para o lobo frontal inferior área de Broca e a área sensório motor, pré central esquerdo
para acesso à pronúncia e à articulação (Burton, Small, & Blumstein, 2000; Dehaene et al., 2015;
Zatorre, Meyer, Gjedde, & Evans, 1996).
A ativação do processo semântico ativa diferentes áreas do cérebro, como frontal inferior,
temporal médio, occipito-parietal, parieto-temporal, entre outras (Cuetos, 2010; Mumnery et al.,
1999; Noppeney & Price, 2003; Price & McCrory, 2013). No entanto, cabe ressaltar que essas
regiões estão envolvidas em diferentes estratégias de recuperação da informação semântica e
não são ativadas todas ao mesmo tempo, visto que dependem da tarefa a ser executada (Price
& McCrory, 2013). Por exemplo, ao codificar o significado de uma palavra, a região temporal
média é ativada, mas se for necessário selecionar um significado entre outros, a região frontal
inferior será acionada.
Ao traçar os caminhos que o cérebro percorre durante a leitura, pode-se constatar que as áreas
ativadas e seu funcionamento corroboram o funcionamento do modelo de reconhecimento da
palavra, dupla rota.
Considerações finais
Conhecer o funcionamento do sistema de leitura e quais áreas são ativadas para cada estímulo
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oportuniza o planejamento do ensino da leitura e a identificação das dificuldades em seu
aprendizado – permitindo diferenciar o que é um processo relacionado ao desenvolvimento da
linguagem escrita do que é uma dificuldade que necessita de intervenção. Assim, consegue-se
aproveitar – ao máximo – cada fase do desenvolvimento maturacional da criança.
Além disso, tal conhecimento pode favorecer a escolha do método mais adequado para a
alfabetização. Unir a neurociência e a educação só trará benefícios; um deles, permitir a
proposta de estratégias de ensino ou intervenções educacionais adequadas e adaptadas a cada
fase do desenvolvimento acadêmico.
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25
26
CAPÍTULO 2
Habilidades preditoras
para a aprendizagem
da leitura e escrita
27
O presente capítulo tem o intuito de apresentar as
habilidades preditoras para a aprendizagem,
direcionando a atenção do leitor para o trabalho
que pode ser desenvolvido com os escolares em
processo de alfabetização. Esse trabalho visa
maximizar a aprendizagem frente ao
desenvolvimento típico e suprir com propostas de
intervenção aquele escolar que apresenta um
desenvolvimento atípico no processo de
alfabetização, devido à presença de alguma
dificuldade ou alteração específica de
aprendizagem.
28
INTRODUÇÃO
A aprendizagem pode ser definida como um processo que se inicia nos primeiros anos de
desenvolvimento da criança e perdura durante toda vida, podendo ser dividida em
aprendizagem informal e formal. O processo de aprendizagem informal é caracterizado por
experiências adquiridas relacionadas ao meio em que o indivíduo está inserido, podendo
ocorrer com ou sem orientação prévia, uma vez que não necessita do acompanhamento de
outro indivíduo que possua este conhecimento prévio para repassá-lo. Trata-se – portanto – de
um contexto livre, com formação de conceitos via acertos e erros obtidos durante o processo
(Tabile & Jacometo, 2017).
A alfabetização pode ser entendida como um processo complexo, amplo e que envolve
diversos mecanismos cognitivos e linguísticos, que devem se desenvolver e se associar de forma
plena e harmônica. Caso haja intercorrências nesse processo, podem surgir as dificuldades de
aprendizagem, sendo passageiras (quando sanadas pelo próprio indivíduo que aprende ou
pela interferência de quem a identifica – professores ou profissionais que atuam na área da
educação) ou duradouras (quando não superadas dentro do processo educacional, podendo
gerar maiores prejuízos ao aprendizado futuro, associadas ou não a alterações específicas de
aprendizagem, de base neurobiológica) (Santos, Oliveira, Cunha & Oses, 2017).
29
estímulos sonoros e convertê-los em estímulos linguísticos. A associação dessas habilidades a
outros processos cognitivos linguísticos: a memória, a atenção, a velocidade de processamento,
o armazenamento, o acesso e a recuperação de informações linguísticas também fortalecem o
desenvolvimento das habilidades preditoras (Monteiro & Soares, 2014; Silva & Capellini, 2019).
Fonte: Autoras.
30
Velocidade de Processamento Processamento Auditivo
cognitivo
Fonte: Autoras.
Fonte: Autoras.
31
Descrição das habilidades preditoras para a aprendizagem
Habilidade auditiva
A percepção auditiva ainda pode ser citada como fundamental no contexto da aprendizagem
por ser responsável por relacionar conceitos apresentados oralmente, assim como por direcio-
nar o foco da atenção auditiva para um ou mais estímulos de interesse, na presença de distrato-
res. Essa situação presente nos cotidianos escolares (Exemplo: ruído externo – barulho na rua,
quadra de esportes, intervalo/recreio escolar, entre outros – e interno – ventilador, conversas
paralelas, entre outros - na sala de aula).
Habilidade visual
A habilidade visual, também identificada como uma das principais portas de entrada da infor-
mação para a aprendizagem, caracteriza-se por receber estímulos via processamento visual
com o intuito de interpretá-los. Pode ser definida como uma habilidade multidimensional, pois
é capaz de associar mais de uma informação ao mesmo tempo, como formas, cores, posições,
entre outras (Mendes, 2019).
32
resse sendo esse isolado ou entre diversos elementos; acessando a memória visual que armaze-
na tais estímulos para que possam ser recuperados futuramente, possibilitando a recuperação
da informação visual de forma eficaz e precisa.
A habilidade visual está diretamente relacionada ao aprendizado escolar, pois é a responsável
pela discriminação de letras para o reconhecimento do alfabeto e a seleção para a discrimina-
ção na leitura, permitindo a diferenciação específica de letras de acordo com a sua posição
(Exemplo: p – q – b – d, m – n – u – v). Ocorrendo a não identificação do posicionamento das letras,
podem surgir erros na escrita e na leitura (Mendes, 2019).
A habilidade visual também se responsabiliza pela discriminação figura fundo entre diversos
estímulos como letras, formas, números, entre outros, auxiliando na manutenção do foco visual
para a decodificação, seja para a identificação de sequências de formas ou para a identificação
de letras ou números.
A alteração da habilidade visual pode acarretar erros na leitura para a discriminação de letras,
direcionado a adivinhação de palavras, decodificação incorreta ou omissão de letras, além de
dificuldade em manter o foco da leitura sequencial em linhas. Isso causa a continuidade incor-
reta na leitura principalmente textual, assim como pode levar à escrita de letras incorretas por
não acessar o estímulo com sua representação adequada para o uso em relação à disposição
espacial na letra na representação do código escrito.
A alteração da velocidade de processamento – seja ela visual, seja auditiva – acarreta alterações
significativas no processo de aprendizagem da leitura e da escrita, uma vez que a leitura pode
ser lentificada pela dificuldade em reconhecer e acessar os estímulos visuais, as letras, causan-
do quebras na decodificação, o que interfere na compreensão textual. Quanto à escrita, o não
acesso rápido e contínuo das letras leva a erros de omissão e substituição, além do prejuízo do
registro contínuo da escrita (Capovilla & Capovilla, 2002).
33
Habilidade de consciência fonológica
A consciência fonológica é a habilidade que permite ao indivíduo refletir sobre os sons (fone-
mas) que compõem sua língua, manipular essas pequenas unidades sonoras com o intuito de
formar pequenos segmentos denominados sílabas e estruturar – a partir daí – novas palavras
que podem ser empregadas em diferentes contextos. Dessa forma, a consciência fonológica
permite não apenas a reflexão sobre a língua, mas também a compreensão para a formação de
palavras e o emprego dessas (Silva & Capellini, 2019).
De acordo com a literatura, a habilidade de consciência fonológica é uma das habilidades mais
complexas para a alfabetização, pois a unidade sonora denominada fonema não apresentam
um significado quando apresentadas de forma isolada, ganhando forma e expressão ao se
juntar com outras sequências sonoras (Calet, Gutiérrez-Palm, Simpson, González-Trujillo &
Defior, 2015; Rosal et al, 2016; Santos & Barrera, 2017).
Mesmo sendo uma estrutura de alta complexidade, o ensino formal da consciência fonológica
pode ser compreendido como estratégia facilitadora para a alfabetização, pois possibilita a
compreensão do princípio alfabético da língua portuguesa, desenvolvendo o entendimento de
como se estruturam a leitura e a escrita alfabética.
A atenção se associa às habilidades auditiva e visual, sendo responsável por direcionar os estí-
mulos que envolvem estas habilidades. A atenção seletiva permite a discriminação de estímu-
los desnecessários ao desenvolvimento dessas habilidades, focando no que é importante e des-
cartando os estímulos distratores. Por sua vez, a atenção sustentada possibilita a manutenção
em uma atividade por um tempo maior, sem que seja interrompida por estímulos externos,
consolidando o aprendizado (Sousa & Rueda, 2017).
A memória visual permite armazenar estímulos por um breve período, auxilia no reconheci-
mento de características específicas de determinados estímulos como forma, posição e tama-
nho, possibilitando a distinção entre estímulos semelhantes (por exemplo: letras e números).
Dessa forma, a memória visual é a responsável por reproduzir sequências assertivas em meio a
outros estímulos que não são de interesse para a composição de uma palavra (Baddeley &
34
Anderson, 2011).
Uma vez que a informação for armazenada, poderá ser acessada futuramente e recuperada de
forma rápida e sucessiva pela habilidade de velocidade de processamento, cumprindo a
função desejada da leitura e da escrita. Assim, torna-se possível compreender que as habilida-
des preditoras para a aprendizagem descritas devem se desenvolver de forma associada e har-
mônica para que o aprendizado escolar aconteça em seu fluxo contínuo, sem que haja interfe-
rências (Milburn et al., 2019).
Para tal, fica clara a importância da estimulação e/ou intervenção relacionadas a estas habilida-
des, paralela ao ensino formal educacional ou desenvolvidas em prática clínica, visando poten-
cializar o aprendizado de escolares com ou sem dificuldades no percurso educacional.
Desde os anos 80 do século passado, as teorias dos campos da linguística e psicologia passa-
ram a embasar a educação brasileira, sobretudo no que se refere às práticas de alfabetização.
Tal mudança retirava o foco dos “métodos” de alfabetização em si – até então utilizados de ma-
neira técnica e sem embasamento científico – e deslocava a atenção para a maneira como a
“aprendizagem” acontece: para como a criança se apropria do sistema de escrita alfabética.
A principal abordagem teórica eleita para basear essa mudança de perspectiva e fundamentar
as diretrizes e medidas oficiais na área educacional foi o construtivismo de Jean Piaget. Contu-
do, muitos problemas aconteceram, ao longo de mais de 30 anos da aplicação do construtivis-
mo na educação brasileira (Chakur, 2014). Não cabe aqui elencar esses problemas, mas o fato é
que a qualidade da alfabetização brasileira tem se revelado bastante aquém da esperada. A
este respeito, o último relatório anual do Todos pela Educação afirma – por exemplo – que 59%
das crianças de oito anos, no Rio de Janeiro, não sabem ler (Todos pela Educação, 2018).
Com base no exposto e fundamentadas na PNA (Brasil, 2019), serão apresentadas a seguir
sugestões práticas para o desenvolvimento das habilidades preditoras na Educação Infantil e
séries iniciais do Ensino Fundamental.
35
Habilidade auditiva
Pensando tanto na criança com desenvolvimento típico quanto naquela com DPA, a escola e os
educadores têm um importante papel no sentido de promover o desenvolvimento das habili-
dades auditivas dos educandos. Contudo, tal aspecto nem sempre é abordado na formação
básica ou permanente dos professores, o que dificulta muito o trabalho. A esse respeito, um
estudo conduzido por Reis, Dias e Boscolo (2018) revelou que professores possuíam um conhe-
cimento escasso acerca da temática, que foi minimizado a partir de oficinas educativas.
Não é papel da escola tratar os escolares com DPA, visto que o tratamento da desordem deve
ocorrer em contexto clínico (em unidades de saúde); contudo, algumas estratégias podem ser
utilizadas em sala de aula, a fim de promover o desenvolvimento das habilidades auditivas.
Zorzi, Galindo e Queiroga (2017) – por exemplo – apresentam algumas atividades que podem
ser utilizadas neste contexto. Dentre elas, destacam-se as seguintes atividades:
• Ritmo – utilizando batidas de mãos, pés ou mesmo batida do lápis na mesa a criança deve
imitar sequências de sons produzidas pelo professor, intercalando também a percepção de
intensidade forte e fraca.
• Discriminação auditiva – as crianças escutam pares de palavras que ora são idênticas ora pos-
suem um traço fonético distintivo (um som diferente) e devem dizer se as palavras são iguais ou
diferentes. Uma variação da atividade apresentada pelos autores é a proposta de que a criança,
ao ouvir uma pseudopalavra (palavra que não existe), lembre-se de uma palavra verdadeira, ex:
“porda” parece com? (porta ou porca).
• Memória fonológica para dígitos, palavras e pseudopalavras – as crianças são convidadas a par-
ticipar de um “jogo de memorizar” sequências crescentes de números ou palavras, bem como
de repetir pseudopalavras extensas. Essa atividade, além de trabalhar as habilidades auditivas,
favorece também a velocidade do processamento e o processamento cognitivo (apresentadas
em separado anteriormente por finalidade didática).
Inúmeras outras atividades lúdicas e interessantes podem ser realizadas no contexto educacio-
nal, a fim de favorecer o desenvolvimento das habilidades auditivas dos educandos. Jesus e
Silva (2019) – por exemplo – investigaram a influência da musicalização nas habilidades auditi-
vas de crianças em fase pré-escolar. Os autores compararam o desempenho em habilidades
36
auditivas de crianças de cinco e seis anos que participavam de um projeto de iniciação musical
com crianças que não participavam do projeto e concluíram que os pré-escolares que partici-
pavam da atividade de musicalização apresentaram melhor desempenho nos testes que ava-
liaram as habilidades de memória sequencial, não verbal e verbal, e de ordenação temporal de
três sons, quando comparados aos pré-escolares que não participavam de musicalização. De
acordo com os autores, a musicalização influenciou positivamente as habilidades auditivas de
pré-escolares.
Habilidade visual
Era uma vez “O menino que aprendeu a ver”. O livro de Ruth Rocha (2013) narra a história de
João que vai, pouco a pouco, aprendendo que o mundo é cheio de coisas para se ver. De início,
ele não entendia o sentido de umas coisas que via, como as placas com o nome da rua e o
letreiro do ônibus; com a aprendizagem das primeiras letras na escola, o mundo passou a ter
um novo sentido pois, finalmente, ele aprendeu a ver.
O livro descrito acima descreve, com maestria, a importância da habilidade visual para a apren-
dizagem da leitura, e um novo mundo surge para a criança. A este respeito, Sargiani e Maluf
(2018) argumentam que a leitura requer uma habilidade específica e um conjunto de capaci-
dades mais ou menos gerais. A habilidade específica da leitura seria justamente a identificação
de palavras escritas (habilidade visual). Os autores argumentam que essa habilidade é específi-
ca porque os circuitos cerebrais que a sustentam são criados durante a aprendizagem da leitu-
ra, e só são utilizados para essa função. Já as habilidades mais gerais incluiriam – como aponta-
do anteriormente – outros aspectos linguísticos e cognitivos como: atenção, memória operacio-
nal, conhecimento lexical (vocabulário) e da gramática da língua, raciocínio, conhecimento
semântico e enciclopédico (conhecimento de mundo), e capacidades de análise e de síntese.
Essas capacidades são gerais, pois são partilhadas com outras funções cognitivas; em especial,
com o processamento da linguagem oral.
Sargiani e Maluf (2018) acrescentam, corroborando com Mendes (2019), que a compreensão da
leitura depende dessas muitas habilidades cognitivas e linguísticas, mas também depende da
habilidade específica que é a identificação ou o reconhecimento visual de palavras escritas. Isso
equivale a dizer que sem a decodificação não há compreensão. Por esta razão, defendem que
a decodificação deve ser ensinada pelos professores, enquanto as crianças também desenvol-
vem – em paralelo – as capacidades cognitivas e os conhecimentos linguísticos que lhes permi-
tirão compreender os textos.
Como mencionando anteriormente, Mendes (2019) explica que a habilidade visual é multidi-
mensional, pois requer informações distintas de formas, cores, posições entre outras.
Como exemplo do trabalho que pode ser realizado no contexto educacional para desenvolver
37
as habilidades visuais, Zorzi et al. (2017) descrevem uma série de atividades tais como: imitação
de expressões faciais; imitação de movimentos com as mãos; identificação de formas, figuras e
letras com o mesmo tamanho; observação e reprodução de sequências de figuras com formas
e cores distintas; identificação de figuras, letras e números embaralhados, separando-os em
conjuntos; identificação de figuras em diferentes posições; identificação de sequência de cores;
identificação de números, letras, palavras e frases em posições correta e invertida; identificação
de partes das letras e de semelhanças visuais em letras de forma; contagem do número de
letras em palavras; identificação de letras iguais em palavras diferentes; identificação do
número de palavras em frases, dentre outras.
Tais atividades – isoladamente – não asseguram que a criança aprenda a ler, no sentido de com-
preender o texto, visto que, como já foi explanado anteriormente, a compreensão depende de
outras habilidades mais gerais. Se trabalhadas precocemente na educação infantil, essas ativi-
dades facilitarão a decodificação das palavras, fazendo que a criança comece a “ver” o mundo
de um jeito diferente, como o personagem João do livro O menino que começou a ver (Rocha,
2013).
Justi e Cunha (2016) analisaram a precisão de medidas de nomeação seriada rápida (NSR) para
identificar estudantes da Educação Infantil e 1º ano do Ensino Fundamental em risco e sem
risco de dificuldade de leitura. Os resultados mostraram que as medidas de NSR (objetos, cores,
números e letras) são razoáveis em identificar o risco/não risco de dificuldade de leitura. Resul-
tados semelhantes foram encontrados por Rosal et al, (2016).
Para promover o desenvolvimento da NSR, Zorzi et al. (2017) propõem atividades que vão desde
a nomeação rápida isolada de sequências de cores, formas, figuras (objetos), letras e números à
nomeação de diferentes tipos estímulos em uma mesma prancha. Os autores propõem
também uma ordem crescente do número de estímulos por prancha.
Santos e Capellini (2019) propõem que as atividades de NSR podem ser oferecidas coletiva-
mente, escritas ou projetadas na lousa, com a observação de que o professor deve atentar para
os escolares que gastam mais tempo (são lentos) ou que apresentam muitos erros na atividade.
As autoras acrescentam a importância de – em um estágio mais avançado – acrescentar a
nomeação rápida de palavras, como estratégia para favorecer a fluência na leitura.
38
Habilidade de consciência fonológica
A consciência fonológica pode ser desenvolvida por meio de diversas atividades que permitem
estimular a reflexão sobre a língua. Tais habilidades podem ser a relação letra/som (grafema/fo-
nema), análise e síntese fonêmica, segmentação fonêmica, transposição fonêmica, adição e/ou
subtração de fonema inicial ou final, discriminação sonora, substituição fonêmica, entre outras.
As atividades silábicas permitem a formação de novas palavras via manipulação dos segmentos
sonoros maiores, as sílabas, que mesmo apresentadas isoladas, possuem significado, o que as
torna de mais fácil percepção. O trabalho com as sílabas auxilia a percepção das palavras e
como segmentos que compõem uma palavra específica podem estar presentes em outras
palavras, na mesma posição ou em diferentes posições (início, meio e final).
Cerqueira César, Santos e Capellini (2019) elaboraram um conjunto de histórias para o desenvol-
vimento da rima e aliteração, além da expansão do vocabulário, de crianças na faixa etária entre
três e sete anos. São oito livros, cada um com cinco histórias que giram em torno das aventuras
de um personagem principal (A Rata Rose, Tartaruga Túlio, Borboleta Bibi, Poppi Porco-espi-
nho, Gata Gabi, Fred Fofinho, Coelho Conrado e Samuel Sortudo). Ao final de cada livro, são
oferecidas atividades práticas complementares voltadas ao desenvolvimento da rima e alitera-
ção. Tais atividades mostram a possibilidade de trabalhar com a consciência fonológica desde
a Educação Infantil.
De modo semelhante, Zorzi et al. (2017) propõem que – na educação infantil – a consciência
fonológica seja trabalhada preferencialmente no nível da sílaba, mas também por meio de
atividades com rima e aliteração.
39
A proposta de intervenção com a consciência fonológica também pode estar associada a práti-
ca de leitura. Trata-se de uma proposta que potencializa o desenvolvimento desta habilidade
preditora a alfabetização, pois a percepção do fonema, de acordo com a reflexão sobre a língua,
pode ser praticada por meio da leitura, tornando-se dois processos que se fortalecem mutua-
mente (Calet et al., 2015).
Considerações Finais
Ao final desse estudo, conclui-se que é preciso uma releitura das abordagens e métodos de
ensino empregados na educação infantil e no ciclo de alfabetização. Esses devem se dar à luz
dos estudos e avanços da neurociência e de outras áreas que produzem conhecimento em
torno da aprendizagem inicial da leitura e escrita, assim como de suas habilidades preditoras.
Para tanto, seria necessário um grande esforço para unir conhecimentos científicos produzidos
tanto pelas Ciências Humanas e Sociais, quanto pelas Ciências Biológicas.
A este respeito, Sargiani e Maluf (2018) destacam que as atividades desenvolvidas na educação
infantil devem ser lúdicas e instrutivas, garantindo o desenvolvimento de habilidades necessá-
rias para os anos seguintes de escolarização. Nesse sentido, os autores consideram que a deci-
são sobre as melhores estratégias de ensino e conteúdos deveriam ser fundamentadas em pes-
quisas científicas. Como exemplo, pontuam que é comum encontrar argumentos contrários ao
ensino de linguagem escrita na pré-escola, e isso faz com que, no Brasil, as recomendações para
os professores da educação infantil sobre linguagem sejam pouco específicas, baseadas em
teorias desatualizadas ou em posicionamentos ideológicos.
Sargiani e Maluf (2018) argumentam que a multiplicação das pesquisas sobre a aprendizagem
da leitura e escrita, em diversas línguas, possibilitou a criação do que pode ser chamado de
ciência da leitura: um conjunto de evidências sobre como as pessoas aprendem e como devem
ser ensinadas a ler e escrever, baseadas em pesquisas oriundas principalmente da psicologia
cognitiva e das neurociências. Destacam – ainda – que os conhecimentos produzidos pela ciên-
cia da leitura têm sido fundamentais para a elaboração de políticas públicas em países com
melhores indicadores educacionais que o Brasil como, por exemplo, França, Portugal, Estados
Unidos e Reino Unido.
De acordo com Sargiani e Maluf (2018), o conjunto de evidências da ciência da leitura compro-
40
vam que aprender a ler e escrever não é uma consequência natural do desenvolvimento da
linguagem oral. Em vez disso, para ser alfabetizado, o aprendiz precisa entender coisas mais
específicas, como, por exemplo, que as letras representam os sons da fala, devendo possuir a
capacidade de realizar manipulações conscientes sobre esta representação (consciência fono-
lógica). Nesse sentido, os autores defendem que a educação infantil deve preparar a criança
para o ciclo de alfabetização que, por sua vez, irá possibilitar o desenvolvimento de habilidades
e competências necessárias ao ensino fundamental e etapas posteriores do processo de alfabe-
tização.
Sargiani e Maluf (2018) destacam, ainda, que a qualidade dos estímulos que as crianças rece-
bem em interação com a sua bagagem genética será fundamental para o desenvolvimento das
áreas do cérebro relacionadas à linguagem. Do mesmo modo, as crianças que demonstrarem
boa proficiência em linguagem oral e habilidades iniciais do processamento da linguagem
escrita na educação infantil terão melhores desempenhos na aprendizagem da leitura; conse-
quentemente, maior desempenho nas séries iniciais do ensino fundamental.
Essas habilidades que derivam –portanto – de uma função primária que é a linguagem oral, a
leitura e a escrita dependem de capacidades biologicamente determinadas, aliadas a habilida-
des (preditoras) que podem e devem ser ensinadas na escola.
O destaque dado pelas pesquisas no campo da neurociência à educação infantil entra em con-
flito com a concepção arraigada culturalmente sobre o papel da creche e da pré-escola. Muitas
pessoas, baseadas numa concepção assistencialista, acreditam que a creche tem o papel de
prover higiene, sono, alimentação e segurança às crianças. De forma semelhante, acreditam
que a educação infantil deve ser um espaço para a criança brincar não havendo uma preocupa-
ção com o preparo para a escolarização posterior; tampouco, com o desenvolvimento da
linguagem. Tal concepção dificulta o reconhecimento da importância da educação infantil
pela sociedade.
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42
CAPÍTULO 3
A importância do
processamento fonológico
para a alfabetização
43
A alfabetização vem sendo descrita e discutida há
anos, visto que é um tema que vem se tornando de
domínio não só de professores como também de
outros profissionais que atuam na área da saúde e
da educação. Além disso, ao mesmo tempo em que
são diversos os métodos de alfabetização em foco
para discussão, essa é escassa quando se trata de
quais mecanismos e quais relações cognitivas
acerca da alfabetização são as mais eficientes, bem
como os processos e processamentos envolvidos
neste período escolar.
44
Alfabetização: apresentação e contexto
De acordo com estudos (Heinig, 2010; Leite, Martins & Pinheiro, 2018), embora seja necessária
a utilização de métodos de alfabetização pautados em estudos que levem em consideração
as bases cognitivas para a aprendizagem da leitura, isto não vem sendo considerado. Ainda há
uma rejeição sobre a ideia de o processo de aprendizagem de linguagem escrita não
acontecer naturalmente e precisar ser pautado em evidências científicas, de forma
sistematizada e formalizada.
Dehaene (2012) afirmou que – utilizando apenas o método analítico, em que o acesso inicial
parte do significado da palavra – o lado direito do cérebro é ativado, o que contrapõe o que é
necessário para o reconhecimento dos grafemas. Esse reconhecimento ocorre do lado
esquerdo do cérebro, onde é realizada a correspondência grafema-fonema e a construção de
45
associações silábicas de menor complexidade para maior complexidade, conforme descrito
no esquema a seguir:
Maior Complexidade
Consoante, consoante+Vogal=PRA
Menor Complexidade
Consoante+Vogal=PA
Para Morais (2014), a alfabetização deve ser baseada em um sistema alfabético: aquele em
que as letras do alfabeto são representadas por sons. Existem diversos sistemas de escrita no
mundo, mas quando são ensinadas a leitura e escrita baseadas em um sistema alfabético, é
necessário ensinar não só as letras, mas também estes sons. Quando o indivíduo percebe este
sistema, podemos afirmar que ele compreendeu o princípio alfabético.
De acordo com a literatura (Wagner & Torgesen, 1987; Anjos, Barbosa & Azoni, 2019), o
processamento fonológico é a utilização de informações fonológicas na utilização da
linguagem oral e escrita, referindo-se a três habilidades:
• Metafonológicas
Habilidades metafonológicas
Segundo autores ((Scliar-Cabral, 2003; Pinheiro, Silva & Germano, 2019), ao nos referirmos às
habilidades metafonológicas devemos inferir o termo “consciência fonológica” pois são um
conjunto de habilidades que derivam da capacidade de o sujeito refletir sobre sua própria
linguagem
46
As habilidades metafonológicas já podem ser percebidas nas crianças desde a pré-escola,
desde o momento em que aprendem e desenvolvem a capacidade de manipular elementos
fonológicos intencionalmente. Portanto, é necessário que – no ensino fundamental –estas
habilidades passem a ser ensinadas de forma sistematizada, uma vez que a aquisição destas
habilidades é de extrema importância para que o escolar não apresente prejuízos no
desempenho de leitura e escrita e desenvolva as habilidades necessárias de conversão
grafema-fonema para um bom desempenho em leitura (Germano & Capellini, 2015;
Germano & Capellini, 2016).
A Figura 2 mostra quais são estas habilidades e a progressão com que devem acontecer e
serem ensinadas para o escolar:
Habilidade
Fonêmica
Habilidade
Silábica
Rima e
Aliteração
A rima é uma das habilidades metafonológicas que é desenvolvida por volta dos quatro anos
de idade, mais precisamente a percepção de que palavras podem ter segmentos sonoros
idênticos; consequentemente, colaboram para o aparecimento da consciência fonêmica
(Badian, 2001; Cerqueira-Cesar, 2018).
A aliteração é a percepção que o sujeito tem de reconhecer os sons iniciais das palavras.
Pennington e Lefly (2004) explicam que a percepção dos contrastes fonológicos e a
segmentação das palavras ocorre por volta dos sete meses e meio de idade, sendo possível
que aos nove meses de idade a criança atinja a capacidade de segmentar a sílaba em onset
(consoante + vogal).
47
A aprendizagem da leitura é realizada, de forma consciente, com o entendimento de que as
palavras faladas podem ser divididas em unidades menores (sílabas). Na fase pré-escolar, a
criança adquire a capacidade de manipular estas unidades (sílabas) com menor
complexidade; durante a alfabetização, com maior complexidade (Brunswick, Martin e
Rippon, 2012).
er
ol
envolvidas no
ep
Fon
isódico
cia
inconsciente de lembranças
Vis
uoespa
passadas. Gingri;
Keske-Soare s &
Mota, 2005
Fonte: Elaborada pelas autoras
48
A velocidade de
Para processar o que chamamos de material fonológico é acesso ao léxico é
necessário o uso do material fonológico que se dá por meio da considerada na
alça fonológica, de acordo com a figura anterior. literatura como
preditora para o
Esta “alça fonológica” é responsável por processar o material desenvolvimento
linguístico, tornando possível que o indivíduo consiga – por da leitura e da
meio dela – aprender palavras novas. Esta alça conta com dois escrita.
subcomponentes: um que retém a informação linguística,
chamado armazenador fonológico; outro, responsável pela Catts, Gillispie;
reverberação subvocal, chamado de alça articulatória (Lobo; Leonard; Kail &
Acrani & Ávila, 2008). Miller, 200
A literatura (Barboza, Garcia & Galera, 2015; Kessler, 1997; Grivol & Hage, 2011; Granzotti; Furlan
& Domenis; & Fukuda, 2013) aponta que para avaliar a memória operacional fonológica,
utiliza-se a utilização de dois principais testes, sendo eles a repetição de não palavras
(palavras sem significado mas ortograficamente possíveis de serem codificadas e decodificas
no português brasileiro) e a repetição de dígitos em ordem direta e inversa.
49
Velocidade de acesso ao léxico mental
O teste de nomeação automática rápida foi descrito em 1974 por Denckla e Rudel. O teste
consiste em apresentar quatro pranchas contendo estímulos repetidamente que devem ser
nomeados pelos escolares o mais rápido possível. Estes estímulos são letras, cores, dígitos e
objetos.
Atenção ao estímulo
Estes mecanismos também são utilizados no momento da leitura; neste, também se faz
necessário um processamento visual refinado dos sinais gráficos juntamente com o
processamento fonológico. Esta habilidade é requisitada LOGO QUANDO A CRIANÇA INICIA
O PERÍODO DE ALFABETIZAÇÃO. Segundo descrito na dissertação de Santos (2017) e para as
autoras (Capellini, Ferreira, Salgado & Ciasca, 2007), o processamento fonológico é necessário
para realizar a identificação da palavra no processo de decodificação fonológica, tendo auxílio
das representações fonológicas. Este processo permite a conversão dos sinais gráficos em
50
representações fonológicas.
Ainda de acordo com Bicalho e Alves (2010), sabe-se que escolares com dificuldades de
aprendizagem apresentam desempenho abaixo da média quando esse é comparado ao de
escolares com bom desempenho acadêmico, tornando-se assim uma habilidade preditora
para o desenvolvimento da leitura e da escrita.
Segundo Moll, Fusseneger, Willburger e Landerl (2009), crianças que apresentam uma
velocidade de acesso ao léxico adequada; consequentemente, conseguem ler palavras
inteiras e maiores com mais facilidade do que escolares que utilizam apenas a rota fonológica
para realização da leitura e fazer decodificação de segmento por segmento. Ao apresentar
velocidade de acesso, apresentam velocidade de leitura.
Segundo autores (Brondani; Assencio-Ferreira & Zorzi, 2002; Capovilla & Capovilla, 2003;
Chiaramonte, 2018), o processamento fonológico é de extrema importância não só para
escolares com bom desempenho acadêmico, mas também para escolares que apresentam
transtornos de aprendizagem, uma vez que estes transtornos podem causar a
desorganização ao elaborar formas gramaticais, dificuldade para memória e erros
ortográficos. Como a organização fonológica é considerada base para o desenvolvimento de
fala, os escolares podem – por meio deste processamento – refletir sobre o sistema da língua,
identificando os fonemas componentes das palavras e assim desenvolvendo o conhecimento
do princípio de escrita do sistema alfabético.
51
não é exposta às habilidades de processamento fonológico, ela pode apresentar falhas de
desenvolvimento de vocabulário/léxico (Brandenburg; Klesczewski; Schuchardt; Fischbach;
Büttner & Hasselhorn, 2017).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Desta forma, o ensino instrucional destas habilidades, bem como a estimulação das mesmas
em cum contexto de alfabetização, pode contribuir para o desenvolvimento e o domínio do
princípio alfabético da Língua Portuguesa de nosso país.
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54
CAPÍTULO 4
Fluência de leitura
55
56
INTRODUÇÃO
Desde a década de 90, avaliações externas em larga escala no Brasil levantam diferentes
reflexões acerca do ensino, e sobre formas de melhorar a qualidade da educação nacional. No
Brasil, o Sistema de Avaliação da Educação Básica (SAEB) (Brasil, 2017a) engloba três tipos
diferentes de avaliação (a Avaliação Nacional da Educação Básica, a Avaliação Nacional do
Rendimento Escolar – conhecidos como Prova Brasil e Avaliação Nacional de Alfabetização).
Essas são baseadas nos Parâmetros Curriculares Nacionais, com o objetivo de acompanhar o
alcance de conteúdos mínimos propostos, definir prioridades e dar aporte para o
desenvolvimento, aprimoramento e monitoramento de políticas públicas, incluindo aquelas
voltadas para o incentivo à leitura para melhoria na qualidade de ensino (Heck, 2018; Silva,
Lopes, & Castro, 2016).
Tanto em avaliações de larga escalar desenvolvida pelos órgãos competentes nacionais, quanto
em avaliações internacionais, como o Programme for International Student Assessment (PISA)
demonstram resultados insatisfatórios em relação ao desempenho em leitura para crianças e
adolescentes brasileiros. O PISA é aplicado a cada três anos com escolares de 15 anos de idade,
avaliando domínios da leitura, matemática e ciências. A última aplicação realizada em 2018
traz dados de 10.691 estudantes em 597 escolas, da rede pública e privada, matriculados a partir
do 7º ano do Ensino Fundamental, e demonstram que 50% dos jovens brasileiros não têm o
nível básico em leitura, considerado pela OCDE como o mínimo para exercer sua plena
cidadania. Apenas 0,2% da amostra atingiu o nível máximo de proficiência em leitura. Além
disto, desde 2009, as médias de desempenho nacionais estão estagnadas (Instituto Nacional
de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira [INEP], 2019).
Os resultados das avaliações externas de larga escala demonstram que ainda há necessidade
de constantes mudanças no cenário educacional e principalmente no que está relacionado ao
ensino e aprendizagem da leitura, uma vez que para uma nação mais justa e igualitária é
necessário uma população que saiba ler e tenha hábitos de leitura pois diante das
necessidades da vida, a leitura é convocada desde às atividades básicas, até para o exercício da
cidadania e para participação social (Dias, 2017; Fernandes, 2017).
O livro acaba por tomar um lugar de destaque neste cenário, e por isto observa-se um
57
empenho de políticas públicas para que os escolares tenham mais acesso a livros, como o
Programa Nacional do Livro Didático (PNLD), o Programa Nacional Biblioteca da Escola (PNBE)
— programa de distribuição de livros de literatura e de estímulo à leitura literária, Projeto Trilhas,
o Alfaletrar/Cenpec entre outros. Muitos destes programas, na prática apresentam grandes
desafios de implementação ou, como o PNBE encontram-se no momento estagnados (Brasil,
2008, 2016; Moreira, 2017).
Outros programas, frente aos baixos índices de desempenho dos leitores brasileiros também
são criados na tentativa de modificar este cenário, como programas que enfocam diretamente
os professores como o Programa Mais Alfabetização, instituído pela Portaria Nº 142/2018 que
tem por objetivo melhor assessorar o processo de alfabetização por meio da contratação de
assistentes de alfabetização para trabalhar com os professores por um período de cinco ou dez
horas semanais, para cada turma de 1º e 2º anos (Brasil, 2018).
Com o objetivo de atender a uma das metas do Plano Nacional da Educação, como a meta 5
“Alfabetizar todas as crianças, no máximo, até o final do 3º (terceiro) ano do ensino
fundamental” (Brasil, 2014), ou como postulado na Base Nacional Comum Curricular (Brasil,
2017b), alfabetizar nos anos iniciais (processo que se daria entre o 1º e 2º anos, e finalizando-se
no 3º ano do Ensino Fundamental) é criado também o Pacto Nacional pela Alfabetização na
Idade Certa (PNAIC), que tem por objetivo a formação continuada de professores
alfabetizadores (Brasil, 2017c).
Nos sites formais do governo é possível ter acesso à todas as informações sobre tais programas
e a alguns materiais utilizados na formação continuada destes professores. Em uma pesquisa
por palavras-chave como “fluência” e “fluência de leitura” nos cadernos de formação
continuada dos professores no Pacto Nacional pela Alfabetização na Idade Certa são
encontradas algumas referências sobre os termos, que de acordo com Martins (2018)
demonstram superficialidade sobre esta habilidade, pela falta de uma definição clara para a
fluência de leitura e estudos que demonstrem a sua relação com a compreensão, ou ainda pela
falta de descrição de atividades ou sequências didáticas com o objetivo de desenvolver a
fluência de leitura, apesar da afirmação de que a fluência é necessária para a proficiência no
processo leitor, como encontrado em um trecho de um dos cadernos (Brasil, 2015, p. 101). A
definição de “fluência” não encontra seu contexto adequado nem a explicação de sua
importância.
Neste contexto as pesquisas científicas demonstram que praticar leitura com o objetivo de
melhorar a fluência tem demonstrado resultados positivos também no desempenho da
compreensão, mesmo quando esta habilidade não tenha recebido intervenção direta, com
melhoras evidentes na competência em geral dos escolares (Stevens, Walker & Vaughn, 2017).
Embora leitores que ainda não conquistaram fluência na leitura possam ser capazes de ler a
maioria das palavras de um texto corretamente, ou seja, com precisão, se suas leituras se
apresentarem excessivamente lentas, como leituras silabadas, ou que ocorrem palavra por
palavra, com pausa longas, com falta de uso adequado da prosódia, esse tipo de leitura
normalmente resulta em pouca compreensão. Como resultados colaterais, ainda é possível
observar que estes escolares não gostam de praticar leitura e que estão em constantemente
fuga da atividade. A leitura lenta e disfluente – portanto – está ligada à falta de compreensão, e
isso faz com que os alunos leiam menos; o que, por sua vez, resulta em um progresso mais lento
na leitura do que o aprsentado pelos alunos que leem a uma taxa dentro da média para a idade
ou escolaridade (Rasinski, 2000).
58
Não é suficiente para os escolares lerem um texto com precisão; eles precisam –além disso – ler
com automaticidade e prosódia. Quando eles podem ler com automaticidade, sem precisar de
atenção consciente e esforço, podem utilizar uma parte do que alguns pesquisadores chamam
de energia cognitiva (como memória operacional e atenção consciente) para a tarefa mais
importante da leitura: a compreensão. Utilizando estes recursos, realizam, por exemplo,
inferências; para utilizar a prosódia do texto, realizam a interpretação necessária e não colocam
todo seu esforço na decodificação das palavras (Rasinski, 2012).
Para estimular o estudante brasileiro ao hábito da leitura, é necessário que ele se envolva em
práticas que melhorem a fluência. Mesmo com todo o aparato legislativo citado, nota-se uma
defasagem nas políticas públicas que deveriam incluir – sistematicamente – a instrução com
fluência, apoiando assim práticas de leitura que deveriam contemplar, avaliar e também
desenvolver a fluência leitora nos escolares brasileiros desde o início do processo de
alfabetização.
Com isto, não somente os escolares que poderiam seguir o percurso acadêmico sem maiores
dificuldades de leitura, mas também os que já apresentam dificuldades e aqueles com
transtornos de aprendizagem, acabam por – muitas vezes – finalizar o primeiro ciclo básico da
aprendizagem com déficits em fluência leitora; por consequência, na compreensão (Rasinski,
2014). Desta forma, faz-se necessária uma discussão sobre os aspectos do desenvolvimento da
fluência, formas de avaliação e instruções que podem muito auxiliar todos os leitores e
escolares, inclusive aqueles com transtornos de aprendizagem.
Para que esta habilidade se desenvolva de forma eficiente e caminhe em direção à leitura
fluente de palavras e textos, vários mecanismos subjacentes precisam apresentar bom
desenvolvimento tais como as habilidades do processamento fonológico, morfológico,
semântico, ortográfico e sintático (Coltheart, 2006; Guimarães & Paula, 2010; Mota et al., 2011;
Torgesen, Wagner, & Rashotte, 1994). Simplificando, os mecanismos de decodificação –
capacidade de associação de uma letra (ou grafema) ao seu correspondente sonoro (fonema) e
reconhecimento automático de palavras são habilidades essenciais para que um leitor alcance
59
uma leitura fluente. Desta forma, serão abordadas – neste capítulo – estratégias para a avaliação,
o monitoramento e a intervenção sobre a habilidade de leitura fluente, tomando-se como
pressuposto que as habilidades de base para a decodificação, assim como o reconhecimento
automático de palavras já foram alcançados.
De acordo com o National Reading Panel (2000), a habilidade de fluência leitora se caracteriza
pela capacidade de ler um texto de maneira precisa imprimindo uma velocidade natural e
expressão apropriada; tem como componentes a acurácia, a velocidade e a expressividade.
Enquanto a acurácia é definida como a precisão na decodificação das palavras lidas (medida
pela contagem das palavras lidas corretamente, excluindo-se as que forem pronunciadas de
forma incorreta), a velocidade é definida pela quantidade de palavras que uma pessoa
consegue ler dentro de um determinado tempo, o que reflete a capacidade de
reconhecimento automático das palavras. Tais componentes (acurácia e velocidade) foram
combinados em uma única medida: palavras lidas corretamente por minuto (PCPM), sendo a
mais utilizada para acessar a habilidade de leitura.
A leitura silenciosa é a modalidade usual dos leitores proficientes que, normalmente, leem
mais rapidamente quando em silêncio do que em voz alta (Kim, Wagner, & Foster, 2011). Alguns
estudos apontam que pode ser importante e benéfico para os estudantes receberem
60
instruções sistemáticas de leitura silenciosa guiada, além da leitura oral, a fim de aprimorar a
fluência (Kuhn et al., 2006; Reutzel, Fawson, & Smith, 2008; Vadasy, & Sanders, 2008) e
compreensão leitora (Block, Paris, Reed, Whiteley, & Cleveland, 2009).
Deve-se tomar cuidado ao se conduzir avaliações da leitura silenciosa. Há estudos que apontam
que estudantes podem se engajar em uma “fake reading” (Griffin & Rasinski, 2004; Kim et al.,
2011) quando avaliados por meio de leitura silenciosa: eles apenas fingem estar lendo e
demonstraram uma grande discrepância entre as taxas medidas de leitura oral e leitura
silenciosa. Mesmo assim, tomando-se os devidos cuidados e feitas as devidas conscientizações,
as medidas de leitura silenciosa devem ser sempre conduzidas, de forma comparativa à leitura
oral. As duas modalidades de leitura podem não se desenvolver da mesma forma, uma vez que
nem sempre são manifestações das mesmas habilidades subjacentes de leitura (Kim et al.,
2011).
O TATU ENCABULADO 3
O sapo e o macaco, que moravam perto, resolveram convidar o tatu, 39 porque queriam ser
amigos. 43
— Tatu, porque você não vem brincar com a gente? O dia está lindo! Nós 58 vamos brincar de
bolinha de gude. Você quer? 66
E lá foram os três jogar bolinha de gude. Assim o tatu saiu da toca e 105 ficaram amigos. 107
61
O ideal é se gravar a leitura para posterior análise, com todos os detalhes e em seus aspectos
mais amplos.
Para as análises de taxa e acurácia, deve-se contabilizar o número total de palavras lidas
durante a leitura do primeiro minuto e do texto completo, o número de palavras lidas
incorretamente e o tempo gasto para a leitura, segundo a metodologia proposta por Kawano,
Kida, Carvalho e Ávila (2011).
A taxa de leitura é medida por meio das palavras lidas por minuto (PPM) com a seguinte
fórmula:
A acurácia é medida por meio das palavras lidas corretamente (desconsiderar as falhas na
decodificação, omissões, hesitações) por minuto (PCPM) da seguinte forma:
Avaliação breve: para uma avaliação apenas do primeiro minuto de leitura, contam-se as
palavras lidas no primeiro minuto leitura – PPM – 1° minuto, e as palavras lidas corretamente
apenas no primeiro minuto – PCPM – 1° minuto, subtraindo-se aquelas que foram lidas de forma
incorreta neste tempo. Algumas pesquisas demonstraram que as medidas realizadas durante
o 1° minuto de um texto não se diferenciaram estatisticamente das medidas conduzidas pelas
fórmulas descritas acima (Alves, Moojen, Navas, & Celeste, 2018; Celeste, Pereira, Pereira, & Alves,
2018). Os estudos demonstraram confiabilidade das medidas feitas por meio de análise
simplificada – apenas do primeiro minuto de leitura. Obviamente, não se aconselha trabalhar
apenas com tais medidas simplificadas, mas elas são muito úteis em triagens mais rápidas, ou
mesmo mediante a impossibilidade da leitura do texto completo (seja por circunstâncias
psicológicas ou outros impedimentos).
62
interdisciplinar de forma a se obter informações mais completas e fundamentadas; o mais
importante, um direcionamento adequado quanto a orientações, ajustes educacionais e
possibilidades de intervenção.
No âmbito educacional, é possível conduzir a avaliação de forma coletiva. A forma mais prática
é a avaliação da leitura silenciosa com a marcação do primeiro minuto de leitura; no entanto,
há as ressalvas já feitas neste capítulo quanto à fidedignidade deste tipo de avaliação.
Previamente a tal procedimento, os escolares devem ser conscientizados e muito bem
informados sobre a importância e a seriedade do procedimento, sobretudo das implicações de
uma resposta que não corresponde à sua real velocidade de leitura.
Para a aplicação deste tipo de avaliação coletiva, deve-se entregar uma folha impressa com o
texto adequado à escolaridade para cada aluno da turma e orientá-los a lerem
silenciosamente, a partir da autorização da avaliadora, o texto todo. Ao sinal de um minuto, os
escolares devem parar, marcar a palavra que estavam lendo exatamente naquele momento, e
retomar a leitura. Pode-se acrescentar a avaliação da compreensão do texto lido após este
momento. Gentilini et al. (2020) desenvolveram um texto e um questionário de múltipla
escolha direcionados aos escolares do Ensino Fundamental II. As autoras detalham a
metodologia de análise coletiva da fluência leitora. Trata-se de material de domínio público.
Monitoramento
63
Figura 2 – Gráfico de acompanhamento da taxa de leitura. No eixo vertical, é representada a
quantidade de palavras lidas por minuto; no eixo horizontal, estão as sessões e a data da avalia-
ção.
200
190
180
170
160
150
Fonte: Capelini e Alves (2012), p. 136.
140
130
120
110
100
90
80
70
60
50
40
30
20
10
Nº 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
Data / / / / / / / / / /
Componentes
PPM
Medidas
Fonte: elaborado pelas autoras
PCPM
Escalas
Análise acústica
64
INTERVENÇÃO
Em uma discussão já conhecida, a leitura em voz alta sempre levanta alguns questionamentos
relacionados ao seu valor e à sua importância, principalmente ao se tratar de produzir atitudes
positivas dos leitores em relação aos livros e à leitura. Lesesne, (2006) e Mehmood, Kassim &
Hasan, (2019) realizaram uma breve revisão da literatura e um estudo sobre a opinião de escola-
res e professores sobre a leitura em voz alta e constataram que na opinião dos alunos é de que
essa forma ajuda a criar confiança, pois eles se sentem capazes de perceber seus próprios erros
lendo um texto em voz alta. Alguns achados da revisão deste estudo demonstraram também
que a abordagem da leitura em voz alta também é útil para melhorar o vocabulário, a gramáti-
ca, além de fornecer uma base para estratégias de compreensão auditiva, mantendo os escola-
res ativos e ajudando-os com a memorização. Professores também entendem que a leitura em
voz alta é importante não só como estratégia instrucional, mas também como forma de avalia-
ção e monitoramento da fluência de leitura.
Lane e Wright (2007) chamam a atenção para que o momento dedicado à leitura em voz alta
seja realizado com material escrito adequado, livros bem escritos, com personagens e tramas
envolventes, que oferecem ao profissional diversas oportunidades para modelar leituras fluen-
tes e expressivas.
A leitura em voz alta permite – por exemplo – o treino prosódico de elementos como modula-
ção da entonação às atitudes expressas pelo texto, balizamento de pausas com ajustes às
unidades de significado, uso adequado de ênfases, adequação de velocidade e intensidade
segundo as diferentes partes do texto: elementos essenciais para uma boa fluência leitora. Tais
aspectos estão relacionados a uma melhor compreensão do texto lido (Alves, Reis & Pinheiro,
2005).
Leitura repetida
Proposta pela primeira vez por Jay Samuels em 1979, a técnica da leitura repetida consiste em
reler em voz alta um mesmo texto – relativamente curto e significativo – por um número apro-
65
priado de repetições (usualmente de 3 a 4 vezes) até que se alcance um nível satisfatório de
fluência. Para este nível, são estabelecidas metas de leitura como, por exemplo, o número dese-
jado de palavras lidas corretamente em um minuto (Samuels, 1979; Therrien & Kubina Jr., 2006).
Para acompanhar o progresso dos escolares, é necessário que o profissional cronometre cada
leitura, anote as palavras lidas corretamente por minuto (PCPM) e que o material de leitura sele-
cionado seja adequado ao nível de leitura do escolar: nem muito fácil e nem muito difícil, mas
que acompanhe o estágio de leitura em que o escolar se encontra (Rasinski, 2006; Therrien &
Kubina Jr., 2006).
Um aspecto importante da estratégia da leitura repetida está no fato de sempre ser descrita
como leitura repetida de passagens (trechos de um texto que são possíveis de ler durante um
minuto), traduzindo a palavra literalmente do inglês “passages”, o que significa que o enfoque
da terapia é chegar à realização de uma leitura eficiente de trechos de um texto; não, necessa-
riamente, o texto todo. Por isto textos curtos e significativos são necessários fazendo com que,
em um minuto de leitura, o escolar tenha acesso a uma grande parte senão a quase todo o
texto proposto (Therrien, Gormley & Kubina, 2006). Consequentemente, a releitura de apenas
um minuto do texto faz com que a memória operacional não se sobrecarregue, mas trabalhe a
favor do escolar, que se sentirá confiante ao melhorar a sua leitura ao longo do treino.
Quando o aluno atinge sua meta de leitura pré-definida, a intervenção continua com um novo
texto, o que faz com que tenha a oportunidade do contato com um maior número de textos e
novo vocabulário à medida que avança na intervenção (Valleley & Shriver, 2003). Os textos
podem variar em gêneros, mas pesquisadores chamam a atenção que textos com maior previ-
sibilidade de leitura, rimas, e com oportunidade de se praticar a prosódia – como poesias e
textos de dramaturgia, como monólogos e com bastante diálogos – podem ajudar, pois fazem
com que o escolar dê atenção à expressividade e entonação para compreender o texto, e não
foque apenas no aumento da velocidade de leitura (Rasinski, 2006; Rasinski, Rupley, Paige, &
Nichols, 2016).
Revisões sistemáticas sobre intervenções com a fluência demonstram que a leitura repetida
tem sido a estratégia mais utilizada e mais testada por anos (Chard et al., 2002). Em um estudo
recente de revisão sobre intervenções de fluência com escolares com dificuldades de leitura,
87,5% dos 16 estudos revisados, incluíram intervenção com a estratégia da leitura repetida;
todas as intervenções descritas incluíram componentes adicionais além dos procedimentos de
leitura repetida, como modelação pelo instrutor. Nesse um adulto serve como modelo de leitu-
ra fluente e prosódica; feedback corretivo com treinamento de frases, em que é solicitado ao
escolar que diga a frase do texto que contém cada erro, três vezes, após a pronúncia correta ter
sido modelada pelo instrutor; feedback de desempenho com informações sobre a prosódia dos
escolares após a leitura; dicas verbais que fornecem aos escolares dicas como: “leia esta história
da melhor maneira possível e o mais rápido possível”; estabelecimento de metas com o número
de palavras lidas por minuto e perguntas a serem respondidas após a leitura para promover a
compreensão (Hudson et al., 2020; Sukhram & Monda-Amaya, 2017).
Para Roundy e Roundy (2009), um dos principais recursos da leitura repetida inclui dar a opor-
tunidade para os escolares praticarem a leitura de textos com feedback de desempenho rela-
cionado à precisão e à taxa de leitura. É sugerido – na literatura – que esses procedimentos bási-
cos permitem que palavras previamente desconhecidas se tornem parte do vocabulário visual
das palavras dos alunos, facilitando sua capacidade de ler palavras praticadas com maior veloci-
dade e automaticidade, podendo desta forma dedicar recursos de atenção e memória aos pro-
cessos envolvidos na compreensão leitora.
66
A leitura repetida pode ser utilizada como um programa suplementar de leitura e oferece opor-
tunidade prática individual para estudantes com dificuldades de aprendizagem. A prática da
fluência deveria começar nas séries iniciais, porque as pesquisas demonstram – repetidamente
– que os escolares do primeiro ao terceiro ano se beneficiam mais do ensino explícito e sistemá-
tico da fluência (Melekoğlu, 2019). Uma intervenção sistemática no ensino regular deveria ocor-
rer de três a cinco vezes por semana, em intervalos de dez a vinte minutos de instrução (Lock &
Welsch, 2006).
A fluência é uma habilidade decisiva para as crianças com dificuldades de leitura, e as primeiras
dificuldades que se manifestam em relação à fluência estão relacionadas com a leitura laborio-
sa, lenta, sem precisão e prosódia. Para ajudar os leitores com dificuldades, os profissionais que
se dedicam a este trabalho precisam se concentrar no aprimoramento das habilidades funda-
mentais de leitura por meio de práticas baseadas em evidências, como a estratégia da leitura
repetida (Kostewicz, Kubina, Selfridge, & Gallagher, 2016; Lee & Yoon, 2017 Melekoğlu, 2019; Ste-
vens et al., 2017; Therrien, 2004).
Leitura expansiva
Apesar de uma vasta literatura comprovar que a leitura repetida é uma das estratégias mais
eficientes para desenvolver e melhorar a fluência de leitura, outras também têm sido testadas,
e uma meta-análise buscou abordar uma lacuna na literatura revisando sistematicamente
estudos de intervenções de leitura que não utilizassem a estratégia da leitura repetida com
estudantes com dificuldades de leitura. Analisaram pesquisas em que as intervenções consis-
tiam nos estudantes lerem um ou mais textos sem a necessidade da leitura repetida destes
textos. Na literatura, quando as pesquisas se referem à intervenção com fluência na qual não
haja a repetição do mesmo texto, nomeiam-se as estratégias de leitura expansiva (ou “leitura
ampla”, uma tradução literal para “wide reading”) e leitura independente (Scmmacca et al.,
2015).
A leitura expansiva é a forma mais comum de prática de leitura que geralmente ocorre nos am-
bientes escolares, e é o tipo de leitura com a qual os adultos costumam se envolver. Os estu-
dantes nas salas de aula leem um texto, discutem a leitura com o professor e/ou colegas de
classe, e – posteriormente – é provável que se envolvam em algumas atividades de extensão
relacionadas ao texto para depois passarem para um próximo capítulo do texto ou livro. Clara-
mente, essa forma de leitura também é importante, tanto na sua forma de leitura oral, quanto
na silenciosa (Rasinski, 2014)
67
no seu próprio ritmo. Estudos comparando intervenções de leitura repetida e não repetitiva
produziram resultados de leitura semelhantes em magnitude, sem diferenças significativas
(Scammacca et al., 2015).
Conscientização e automonitoramento
Para que as intervenções com fluência leitora tenham a eficácia e sejam realmente implemen-
tadas na vida dos escolares, eles precisam ser constantemente conscientizados quanto à
importância desta habilidade e do processo de intervenção. Recursos de autoavaliação, de ava-
liação em pares ou grupos sempre ajudam no processo. A estratégia de gravar ou filmar a leitu-
ra é muito útil para que o escolar se escute, se veja e busque compreender os processos que
ainda precisam ser aprimorados e, acima de tudo, que aprenda também a valorizar a sua pró-
pria evolução.
O trabalho constante com a autoestima e abordagem sobre os potenciais do escolar deve ser
priorizado. Mais do que enfocar as dificuldades de leitura, o trabalho deve ser conduzido com
ênfase nas fortalezas, diferenciais e habilidades do escolar.
Estratégia Benefícios
68
CONSIDERAÇÕES FINAIS
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72
CAPÍTULO 5
73
74
A leitura é uma modalidade comunicativa de características próprias, uma vez que para
atingir seu objetivo de transmitir a mensagem textual ela exige do interlocutor um trabalho
árduo e solitário, altamente dependente do uso de estratégias e de suas habilidades
linguísticas e cognitivas. O leitor deve ser capaz de reconstruir as ideias planejadas e
estrategicamente distribuídas ao longo do texto pelo autor, sujeito ausente nesse momento
comunicativo e, portanto, sem poder de mediação sobre esse processo. Assim, a
compreensão exige que o leitor reconstrua mentalmente, através de sua linguagem e
baseado em sua experiência de mundo, a imagem mental ou a situação de mundo
pretendida pelo autor. Só então este poderá colocar em jogo sua posição crítica sobre o
conteúdo comunicado.
Para entender esse texto lido, diferentes processos linguísticos e cognitivos são necessários
para construção de uma representação mental profunda do significado do texto. Ao analisar
os estudos enquadrados na “Simple View of Reading” (SVR) (Gough & Tunmer, 1986), o mapa
de desenvolvimento indica a importância da compreensão oral e da decodificação para
explicar o desempenho em compreensão leitora. Esse modelo cognitivo teórico, por sua vez,
permitiu o surgimento de outros modelos mais amplos, voltados para identificação de meios
para diagnosticar e tratar dificuldades de leitura. Assim, o Modelo dos Componentes da
Leitura (Aaron, Joshi, Gooden, & Bentum, 2008) considera que os fatores que influenciam a
compreensão leitora estão organizados em três domínios: os domínios cognitivo, psicológico
e ecológico.
Dentre os fatores distais mais importantes está o ambiente de alfabetização em casa, medido
pela frequência de leitura compartilhada de livros (Davidse, de Jong, Bus, Hujibregts, & Swaab,
2011). Foram encontrados efeitos diretos e significativos entre o tempo decorrido do início das
práticas de leitura e a motivação, o desempenho acadêmico e a capacidade leitora.
Resultados deixam explícitos os efeitos positivos da experiência de leitura precoce com pais,
75
especialmente para o desenvolvimento acadêmico nos anos iniciais da Educação Básica
(Jung, Choi, & Jung, 2019). O efeito da experiência leitora em ambiente familiar, no entanto,
parece depender diretamente do bem-estar socioeconômico (Froiland, Powell, Diamond, &
Son, 2013).
Essa influência nos conduz a pensar que o apoio a crianças em múltiplos contextos sugere a
necessidade de apoiar práticas de incentivo da literatura em casa, sem desconsiderar os
entraves que podem dificultar o envolvimento de uma família no desenvolvimento da leitura
de crianças pequenas. A falta de acesso aos livros ou mesmo o analfabetismo podem ser
fatores de restrição a participação de pais e cuidadores nas experiências de leitura.
Alternativas podem e devem ser desenvolvidas em âmbito escolar, buscando minimizar esses
impactos e potencializar as oportunidades para o desenvolvimento pleno da compreensão
leitora.
Exemplos de boas práticas que minimizam os impactos desses fatores socioculturais podem
ser encontrados nos materiais propostos pelo Ministério da Educação, através do Programa
de Apoio à Implementação da Base Nacional Comum para a Educação Infantil (Ministério da
Educação, 2019). Dentre estes, um exemplo interessante é o Projeto Sacola Viajante -
Literatura Infantil. Através do incentivo a comunidade escolar, pais foram orientados sobre a
importância da leitura e de seu papel na mediação, sendo orientados a como fazê-la de
modo leve e interessante. A seguir, essas escolas criaram “sacolas viajantes” com livros de
literatura infantil, lápis de cor, desenhos dos contos literários para pintar e um relato sobre o
projeto. Os livros de literatura foram diferentes para cada criança, para que se cumprisse o
objetivo de ampliar o repertório de histórias da turma. Dentre os relatos de experiência, os
educadores referem que o nível de leitura dos estudantes, assim como o interesse pela
escolha de novas leituras têm sido determinante no processo de alfabetização dos mesmos.
Para entender um texto lido, diferentes processos linguísticos e cognitivos são necessários
para construção de uma representação mental profunda do significado do texto. Ao analisar
os estudos enquadrados na “Simple View of Reading” (SVR) (Gough & Tunmer, 1986), o mapa
de desenvolvimento indica a importância da compreensão oral e da decodificação para
explicar o desempenho em compreensão leitora (Catts, Adlof, & Weismer, 2006). Esses
estudos destacam também como as relações de importância e peso dessas variáveis mudam
ao longo do Ensino Fundamental (Hogan, Adlof, & Alonzo, 2014).
Assim, quando observamos as habilidades em leitores iniciantes sabemos que esses leitores
não possuem o nível desejável de automaticidade leitora. Nessa fase da escolaridade, a
decodificação é responsável por 0,76 da variância do desempenho em compreensão leitora
(Kim, 2017). Em resumo, todos os recursos de atenção e memória estão voltados para a leitura
precisa de palavras em detrimento a compreensão leitora.
Portanto, a solução para formação do leitor nesse período inicial de desenvolvimento seria
apoiá-los na execução de tarefas de compreensão. Uma questão central seria oferecer em sala
de aula esse suporte durante um processo de formação tão abrangente. As possibilidades
76
mais conhecidas são duas: ensinar a entender ou ajudar a entender (Bustos et al., 2019a;
Sánchez, García-Rodício, & Acuña, 2009).
Por outro lado, "ajudar a entender" é um processo de longo prazo, no qual a conscientização
do significado textual se configura lentamente, dependendo das necessidades das tarefas de
leitura que os alunos enfrentam diariamente. Nesse caso, a ação potencialmente gera
consciência sobre o entendimento do texto.
Ajudar a entender através da leitura conjunta é ler textos com os alunos e acompanhá-los
durante a leitura. À medida que os alunos participam da interpretação do texto, eles têm a
oportunidade de exercitar os processos de compreensão e, à medida que o professor
intervém, a compreensão é incentivada (Sánchez et al., 2009). Isso significa que, graças a essa
forma de intervenção, é ensinado a entender enquanto os textos são entendidos
autonomamente e, portanto, alguns deles são aprendidos, o que é uma vantagem sobre a
modalidade de estratégias de ensino.
Estudos realizados por Sánchez, García e Rosales (2010) e por Sánchez e García (2015)
observaram as práticas dos professores e propuseram uma combinação de elementos
discursivos como forma de mobilizar os processos de compreensão. É um regulador externo
utilizado para guiar o planejamento da leitura.
Nesse sentido, Kunter, Baumert e Koller (2007) apontam que o planejamento da leitura é um
elemento importante no processo de ensino e aprendizagem. Quando os professores
estabelecem orientações claras e compreensíveis durante o curso de uma ação, incentivam a
estrutura cognitiva dos alunos a identificar inconsistências ou problemas.
77
controlados os efeitos do vocabulário, da decodificação e do QI verbal. Ao justificar a leitura
com movimentos retóricos como: "Isso você sabe, mas ... isso não", há efeitos positivos na
memória dos estudantes universitários na leitura de textos complexos (Sánchez et al., 2009),
como quando encontram textos refutativos nos quais investem mais tempo de leitura
(Diakidoy, Kendou, & Ioannides, 2003). Finalmente, explicar um padrão de entendimento
modera a atitude do leitor de passivo para ativo em todos os níveis representacionais dos
leitores da universidade (van den Broek & Helder; 2017) e relacionar emocionalmente a
aprendizagem com o sentimento de competência facilita a tarefa, porque aumentam a
motivação (Ryan & Deci, 2000). Em resumo, cada uma dessas estratégias está associada a
certos tipos de ajuda que respondem a diferentes estudos e explicam as possibilidades que
esses movimentos discursivos podem ter ao acompanhar a elaboração dos diferentes níveis
representacionais do texto (Bustos et al., 2019a).
Pesquisas que investigam a eficácia dessas práticas dão uma orientação sobre a forma mais
eficiente de atuar com os leitores iniciantes. Estudos realizados por Bustos et al. (2019b) com
279 escolares chilenos do terceiro ano do Ensino Fundamental submetidos a três tipos de
situações de leitura (leitura autônoma, leitura do texto com planejamento mediado pelo
pesquisador e planejamento associado à leitura oral do texto) indicam que o papel das ajudas
varia de acordo com o tipo de texto ofertado.
78
elaboramos exemplos de estratégias que visam ajudar a compreender, guiando o aluno na
ação estratégica com o texto, e estimular as habilidades necessárias para construção da
compreensão leitora. Desejamos que sejam exemplos práticos da aplicação das orientações
teóricas para a execução por professores durante seu fazer pedagógico.
79
ATIVIDADE 1 – TEXTO NARRATIVO: “A FADA ISADORA” Minéia Pacheco (Adaptado)
A fada Isadora queria ser uma bela bailarina. Queria dançar pelos palcos do mundo e ser
famosa. E queria que ser famosa logo.
Ela estava muito ansiosa! Queria ser famosa logo, e essa agitação estava atrapalhando e
muito!
- Isadora, tudo tem seu tempo para acontecer. Tenha calma! Tudo dará certo! – Falou a
fada Sol.
Mas, a conversa não adiantou. Isadora começou a dar saltos, ficar na ponta de pé sem
ninguém para ensiná-la. Isadora achava que só de ver as bailarinas dando saltos já saberia
como era. Como era de se esperar, em um dos seus saltos, Isadora caiu e torceu o tornozelo.
As demais fadas a viram no chão e correram. Ela não podia se levantar, não podia andar!
- Estava muito ansiosa! Queria muito poder me apresentar pelo mundo, dançar sem
parar, mas agora é tarde... Nunca mais poderei dançar.
Quando a fada Dorinha chegou, colocou uma faixa no tornozelo da fada Isadora e pediu para
que ela descansasse por um mês.
Isadora ficou calada. Sabia que estava errada e que teria que respeitar o tempo de repouso e
assim fez. Um mês depois, a fada Dorinha tirou a faixa do seu pé e percebeu que tudo tinha
dado certo. O tornozelo de Isadora estava bom novamente.
– Estou brincando com vocês. A primeira coisa que vou fazer é entrar em uma ótima
academia de balé e ter muita paciência para um dia ser uma bailarina de verdade. Pode até
demorar um pouquinho, mas vocês ainda vão me aplaudir muito nos palcos do mundo afora.
E foi assim que a fada, que queria ser bailarina, aprendeu a lição: errando, mas aprendendo
com os erros.
80
MEDIAÇÃO ORAL ANTES DA LEITURA
ATIVAÇÃO DA META DE
LEITURA
Se sabe que Agora, quando vamos saber que entendemos bem esse
compreendemos o texto texto? Quando soubermos que problema aconteceu com
quando... Isadora, que consequência teve, e qual foi a
solução. Também devemos saber o que ela aprendeu
com o que aconteceu.
Ativação do desejo para Eu acredito que vocês vão gostar muito, porque é uma história
leitura com a qual também podemos aprender.
Viabilidade da atividade Esse texto é curto e fácil de ler. Além disso, vamos ler juntos.
MODO DE ATUAR Então, agora, vamos ler esse texto com tranquilidade. Eu
Como devemos fazer para vou guiar vocês na leitura de cada parágrafo. Vamos ler o
avançar na leitura texto juntos.
Fonte: As autoras
81
MEDIAÇÃO ORAL DURANTE A LEITURA DO TEXTO “A FADA ISADORA”
Vamos a ler então: Qual foi o Ela estava muito ansiosa! Queria ser famosa logo, e essa
problema? O que aconteceu agitação estava atrapalhando e muito!
com Isadora? - Isadora, tudo tem seu tempo para acontecer. Tenha
calma! Tudo dará certo! – Falou a fada Sol.
Agora precisamos descobrir As demais fadas a viram no chão e correram. Ela não podia
como se sentiu Isadora e qual se levantar, não podia andar!
era seu medo.
– E agora?! Jamais serei bailarina.
Já sabemos qual foi o problema. – Calma, vamos chamar a fada Dorinha, nossa fada
Veremos agora qual foi a médica.
consequência
Quando a fada Dorinha chegou, colocou uma faixa no
tornozelo da fada Isadora e pediu para que ela
descansasse por um mês.
Já sabemos o problema, a Isadora ficou calada. Sabia que estava errada e que teria
consequência e agora leremos que respeitar o tempo de repouso e assim fez. Um mês
qual é a solução.
Fonte: As autoras
Estamos quase no final. Só falta – Bem, a primeira coisa que irei fazer é... – Ela falou.
descobrir o que fez Isadora
82
ATIVIDADES DE COMPREENSÃO: “A FADA ISADORA”
5 - Isadora ficou
1 - Isadora queria 3 - Isadora
com o pé
ser uma bailarina começou a dor
enfaixado
famosa. santos.
por um mês
Fonte: As autoras
2 - Isadora não
tinha paciência
para aprender
balé.
Localizando as informações:
Isadora machucou seu pé e ficou sem dançar por um tempo para se recuperar.
Isadora era ansiosa e não queria esperar para aprender balé com alguém.
83
4 - Habilidade trabalhada: Identificação de detalhes para responder as questões e integração
de informações locais do texto
a) ( ) Isadora respeitou o tempo de repouso porque precisava melhorar para voltar a dançar.
( ) Isadora respeitou o tempo de repouso depois de melhorar para voltar a dançar.
IGUAL OU DIFERENTE?
Os gambás
Rui Cerqueira
Você sabe o que é um gambá? Algumas pessoas pensam que o gambá é aquele bichinho preto
com manchas brancas, com um rabo comprido e peludo, que deixa um cheiro muito ruim por
onde passa, como aparece nos desenhos animados. Mas esse não é um gambá. Ele é o
cangambá: um animal mamífero que pode esguichar um líquido muito fedorento. A gente
sente o cheiro de longe!
O gambá, na verdade, é uma espécie diferente. Ele é um mamífero marsupial e por isso é
diferente do cagambá. As fêmeas do gambá possuem um marsúpio, uma bolsa parecida com
a do canguru. Nessa bolsa, os filhotes ficam protegidos e se alimentam até crescerem e
conseguirem se cuidar sozinhos. Além disso, o gambá tem o tamanho de um gato e pesa no
máximo dois quilos.
Os gambás também soltam um cheiro ruim para se defender, mas ele não é tão forte quanto o
dos cangambás. Conseguimos aguentar bem o seu cheiro.
Os gambás gostam de viver nas florestas, em cima das árvores ou no chão. Podemos vê-los
também no campo e até nas casas perto da mata, onde, muitas vezes, constroem seus ninhos
embaixo do telhado. Durante o dia, os gambás ficam escondidos, dormindo. De noite, eles
aparecem para comer frutos, insetos e outros animais.
84
MEDIAÇÃO ORAL ANTES DA LEITURA
Detecção do problema Mas, o que muitas pessoas não sabem é que há outros
animais parecidos que são confundidos com o gambá.
Detecção do tema do texto Então, ao ler esse texto, vamos aprender um pouco mais
sobre os gambás e saber quais são as diferenças entre ele e
outro animal muito confundido com ele.
ATIVAÇÃO DA META DE
LEITURA
Se sabe que Nós vamos ler agora um texto informativo descritivo, ou
compreendemos o texto seja, um texto que conta como é o gambá. Ele vai falar sobre
quando... as características do seu corpo, onde e como ele vive, do que
se alimenta.
Agora, quando vamos saber que entendemos bem esse
texto? Quando soubermos a diferença entre o gambá e o
cagambá, como é o gambá, onde ele vive, como ele vive
e de que ele se alimenta.
Ativação do desejo para Eu acredito que vocês vão gostar muito, porque é um texto
leitura interessante. Vocês vão aprender mais sobre os gambás!
Viabilidade da atividade Esse texto é curto e fácil de ler. Além disso, vamos ler juntos.
MODO DE ATUAR Então, agora, vamos ler esse texto com tranquilidade. Eu
Como devemos fazer para vou guiar vocês na leitura de cada parágrafo. Vamos ler o
Fonte: As autoras
85
MEDIAÇÃO ORAL DURANTE A LEITURA DO TEXTO “OS GAMBÁS”
Nesse parágrafo, vamos Você sabe o que é um gambá? Algumas pessoas pensam
descobrir qual é o animal que o gambá é aquele bichinho preto com manchas
confundido com o gambá. brancas, com um rabo comprido e peludo, que deixa um
Vamos prestar atenção em cheiro muito ruim por onde passa, como aparece nos
como ele é. desenhos animados. Mas esse não é um gambá. Ele é o
cangambá: um animal mamífero que pode esguichar um
líquido muito fedorento. A gente sente o cheiro de longe!
Fonte: As autoras
Já sabemos as diferenças entre Os gambás gostam de viver nas florestas, em cima das
o cagambá e o gambá. Agora árvores ou no chão. Podemos vê-los também no campo e
precisamos saber onde vive o até nas casas perto da mata, onde, muitas vezes,
gambá, como vive e o que constroem seus ninhos embaixo do telhado. Durante o dia,
come. os gambás ficam escondidos, dormindo. De noite, eles
aparecem para comer frutos, insetos e outros animais.
DETETIVE DE PALAVRAS
Algumas palavras do texto são tão difíceis... e para descobrir o significado precisamos buscar
pistas.
O que é marsupial? Procure as pistas nesse outro trecho. Marque com um traço vermelho as
informações importantes.
86
O gambá, na verdade, é uma espécie diferente. Ele é um mamífero marsu-
pial e por isso, é diferente do cagambá. As fêmeas do gambá possuem um
marsúpio, uma bolsa parecida com a do canguru. Nessa bolsa, os filhotes
ficam protegidos e se alimentam crescerem e conseguirem se cuidar sozi-
nhos. Além disso, o gambá tem o tamanho de um gato e pesa no máximo
dois quilos.
Mãos à obra!
Escreva com suas palavras o que é marsupial.
_____________________________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________________________
O texto traz informações sobre como é o corpo do gambá. Essas informações são chamadas de
características físicas. Escreva três CARACTERÍSTICAS FÍSICAS do gambá.
Fonte: As autoras
87
3 - Habilidade trabalhada: Responder a questões explícitas
LOCALIZANDO AS INFORMAÇÕES:
Baseado nestas informações encontradas e escreva acima de cada figura o nome correto de
cada animal.
88
5 - Habilidade trabalhada: Analisar elementos e estrutura de diferentes tipos de textos
escritos
IGUAL OU DIFERENTE?
Organize as informações que o texto trouxe. Veja o título e procure no texto onde estão estas
informações. Coloque no quadrado número do parágrafo que traz cada informação.
Conte como os
Descreva os gambás gambás se defendem
89
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91
92
CAPÍTULO 6
A Importância do Processamento
Ortográfico para a Alfabetização
93
94
INTRODUÇÃO
No decorrer dos últimos anos em nosso país, temos presenciado debates acirrados sobre a
alfabetização e o ensino da língua, sobretudo quando se trata da metodologia de ensino da
leitura e da escrita mais eficiente, capaz de alavancar os índices de desempenho de nossos
escolares. Propaga-se a ideia de que a alfabetização seja algo menor ou secundário na
escolarização, permanecendo essencialmente o conceito da compreensão dos textos
escritos, como o que seria importante.
Ora, nos parece lógica a importância da compreensão de textos, e isso requer muito mais do
que alfabetizar, sem dúvida! É algo permanente, com a duração de toda uma vida. Ao
contrário, a alfabetização como código, apresenta inauguração, procedimento e término.
Segundo Oliveira (2019),o que exige maior empenho no entendimento do texto escrito é a
interpretação do significado das palavras que não têm sentido nelas próprias – anáforas
(identificam objetos, pessoas, momentos, lugares e ações a partir da menção anterior na
sentença ou no discurso) edêiticos (pronomes demonstrativos e pessoais, tempos verbais e
advérbios de tempo e lugar, que dependem do contexto) – mas que tem a função de explicar
ou implicar as ideias umas com as outras, e para isso é indispensável ir além do processo
formal de alfabetização. Entretanto, esse e outros autores consideram o domínio integral da
língua escrita, iniciando pelo ensino explícito das correlações fonografêmicas e
grafofonêmicas, como um dos meios, indispensável, que viabiliza a compreensão do sentido
da palavra no texto e com base no contexto(Carvalho, Ávila, & Kida, 2017; Cunha, & Capellini,
2016; Cunha, Martins, & Capellini, 2017).
De acordo com os autores Kirby, Roth, Desrochers e Lai (2008), a leitura e a notação
ortográfica são habilidades complexas, cuja aprendizagem se prolonga por vários anos,
requerendo, além da instrução formal, o envolvimento de várias competências e
conhecimentos que são descritos por Vellutino, Fletcher, Snowling e Scanlon (2004),
incluindo a capacidade de decodificação ortográfica e fonológica, e o conhecimento
semântico-pragmático. Muito embora essa aprendizagem seja árdua, a maioria das crianças
desenvolve-a com relativa facilidade, contudo para outras, esta aquisição mostra-se
particularmente custosa.
Uma das causas mais descritas na literatura nacional e internacional, é a alteração ou falha no
processamento fonológico, que compreende as operações mentais de processamento da
informação baseada na estrutura fonológica da linguagem oral, incluindo a consciência
fonológica, a rapidez e precisão no acesso ao léxico mental e a memória operacional
fonológica, sendo confirmada por diversos autores que preconizam a relação de
reciprocidade entre as habilidades metalinguísticas e o sucesso na alfabetização (Cunha &
Capellini, 2009; Andrade, Andrade, & Capellini, 2014; Germano & Capellini, 2015; Fukuda &
Capellini, 2018).
Apesar disso, sabe-se que a aprendizagem da leitura e escrita a partir da fonologia da língua
portuguesa percorre apenas os primeiros passos no funcionamento bidirecional do sistema
de escrita (Batista & Fusco, 2012), portanto, não é esperado que todas as possibilidades
ortográficas sejam alcançadas pelo som das palavras(Nunes & Bryant, 2014),
consequentemente, destaca-se a relevância em pesquisar e esclarecer o modo como as
crianças aprendem as palavras cujas ortografias vão além da fonologia, uma vez que são
95
insuficientes para garantir o alcance da leitura e escrita ortográfica, apenas a estimulação das
habilidades metafonológicas, a simples exposição dos alunos às palavras escritas e a tentativa
de memorização de regras.
PROCESSAMENTO ORTOGRÁFICO
Desde 1980, são estudadas as diferentes etapas pelas quais os escolares passam quando
entram em contato com as letras do alfabeto e o princípio alfabético até o momento em que
se tornam leitores competentes. Igualmente, as demandas cognitivas, linguísticas e visuais,
necessárias à alfabetização.
ORTOGRAFIA
Para Horta e Martins (2004, p.213), a ortografia é um dos componentes da escrita, definida
como “a codificação das formas linguísticas em formas escritas, respeitando um contrato
social aceito e respeitado por todos”.
Refere-se, então, a um conjunto de regras que, para determinada língua, estabelece a grafia
correta das palavras e tem a função de anular a variação linguística na escrita, em nível de
palavra, para mantê-la padronizada e íntegra (Cagliari, 1997; Morais, 2007), permitindo que
falantes de dialetos diferentes possam ter uma forma neutra de ler (Massini-Cagliari, 1999;
Scliar-Cabral, 2003). Ou seja, escrever ortograficamente constitui a escolha de uma única
maneira para registrar as palavras de uma língua, independentemente da maneira que
possam ser pronunciadas na fala ou na leitura oral.
Desta forma, os modelos de escritas que se encontram dentro da norma padrão culta
96
instituídos e empregados até os dias atuais, ensejam evitar escritas diferentes de uma mesma
palavra (Queiroga, Lins, & Pereira, 2006; Batista, Cervera-Mérida, Ygual-Fernández & Capellini,
2014; Teixeira, Schiefer, Carvalho & Ávila, 2016; Chiaramonte & Capellini, 2019).
PROCESSAMENTO ORTOGRÁFICO
97
plausível, e pede-se que seja identificada a pseudopalavra com a sequência de letras que
mais se assemelha a uma palavra real. Exemplos: [terrfo – terpa], [çalfo – foçal], [govra – govda],
[pamto – ronto], [rinhapo – rihapo], [rasfões – rasfõ], [vassle – vasle].
Por sua vez, Matilde (2014) construiu uma tarefa adaptada de Conrad e Levy (2007), para
avaliar a capacidade para formar representações mnésicas de sequência de letras, chamada
“Prova de memória ortográfica imediata”. Consiste na apresentação visual em computador de
uma pseudopalavra por 2500ms, seguida por ausência de apresentação na tela durante
1400ms, e após isso, apresentação de uma sequência alvo de letras, para a criança decidir se
essa sequência estava ou não inserida na pseudopalavra vista anteriormente. Exemplos:
BELÇACO – XXXXX – [ÇA], SISVEL – XXXXX – [CI], XIROL – XXXXX – [XI], MAGISTA – XXXXX – [GIS].
98
PROCESSAMENTO ORTOGRÁFICO E PERCEPÇÃO VISUAL
Segundo Santos e Navas (2016), o conhecimento visual das palavras escritas é representado
pelo processador ortográfico. Nele, as letras são representadas por meio de feixes de traços
visuais interconectados, enquanto as palavras são representadas como sequências de letras
interconectadas, formando uma rede de reconhecimento visual. Enquanto o leitor aprendiz
é exposto ao material escrito, as conexões começam a se estabelecer. Quanto mais o escolar
realiza análises detalhadas da estrutura interna das palavras e mais frequentemente uma
determinada sequência de letras é encontrada, mais fortes ficam as conexões entre as
unidades, gerando mais representações ortográficas acuradas que, por sua vez, levam a um
reconhecimento mais eficiente da palavra.
99
Conforme Barbante, Amaro Jr. e Costa (2006), a conclusão é que essa lateralização e
participação mais imediata do giro fusiforme esquerdo, observada durante a primeira etapa
do desenvolvimento da leitura infantil, está diretamente relacionada a uma maior
capacidade de leitura que ocorre com o passar dos anos. Em concordância, os estudos de
Badian (2001) e Roman e colaboradores (2009),mostram que o processamento ortográfico
está na base da leitura sendo transformada com o aumento da idade e escolaridade,
tornando-se mais rápida e fluente.
Antes, porém, Cardoso (2019) propõe que o desenvolvimento da percepção visual, que
engloba habilidades visuais diferentes, inicia-se com a exploração visual e o processamento
da informação visual desde o nascimento, evoluindo rapidamente durante a infância,
alcançando o nível esperado para o adulto por volta de 11 ou 12 anos de idade (Cardoso &
Capellini, 2017.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Estudos mais recentes, sugerem que a percepção visual e a integração visomotora compõem
as habilidades preditoras para o desenvolvimento do processamento ortográfico e, portanto,
assumem um papel central na aprendizagem da escrita ortográfica.
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102
CAPÍTULO 7
Alfabetização e a
fonoaudiologia educacional
103
104
INTRODUÇÃO
O fonoaudiólogo, em sua atuação junto à Educação, defronta-se com vários tipos de demandas,
predominando – muitas vezes – aquelas ligadas a alunos que apresentam algum tipo de
dificuldade ou transtorno, como é o caso dos escolares que estão inseridos nos programas de
Educação Especial. Embora essas crianças necessitem de uma atenção diferenciada por parte
dos fonoaudiólogos que trabalham junto às escolas, uma visão verdadeiramente educacional
deve ir além da intervenção em casos individuais e ultrapassar a perspectiva de prevenção e
promoção de saúde entre os escolares. Neste sentido, o papel primordial do fonoaudiólogo
educacional deve ser o de colaborar com a construção de projetos e ações educacionais,
voltados para toda a população de estudantes, que tenham como foco o desenvolvimento de
competências, principalmente cognitivas, linguísticas e sociais, fundamentais para garantir
condições favoráveis de aprendizagem e alcance das metas estabelecidas para cada etapa da
escolaridade.
O SAEB, desta forma, pretende criar condições para que as escolas e as redes municipais e
estaduais de ensino possam avaliar a qualidade da educação que está sendo oferecida aos
estudantes. O resultado da avaliação pode ser um forte indicativo das condições do ensino
oferecido tendo como objetivo apresentar subsídios para a elaboração, o monitoramento e o
aprimoramento de políticas educacionais. Complementarmente, as médias de desempenho
no SAEB, em conjunto com as taxas de aprovação, reprovação e abandono obtidas no Censo
Escolar, compõem o IDEB (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica).
Conforme publicação do portal Todos pela Educação (2018), os resultados do SAEB 2017, a
partir da avaliação de alunos do 5º e do 9º ano do ensino fundamental e de alunos do Ensino
Médio, indicam que:
105
Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb) 2017, liberados hoje (30) pelo Ministério da
Educação (MEC). De acordo com os resultados, apenas os Anos Iniciais do Ensino Fundamental
(EFI) têm o que comemorar e demonstram um crescimento consistente nas duas áreas de
conhecimento, reforçando a tendência das últimas edições da avaliação.
A partir dos resultados do PISA 2018, divulgados no final de 2019, a “UOL Educação” publica
uma matéria intitulada “Brasil cai em ranking mundial de ciências e matemática e empaca em
leitura”:
Com o desempenho dos estudantes brasileiros estagnado desde 2009, o país perdeu posições
na principal avaliação da educação básica no mundo, o Pisa (Programa Internacional de
Avaliação de Estudantes). O Brasil aparece entre as 20 piores colocações no ranking das três
áreas acompanhadas pelo exame: matemática, ciências e leitura. Ao todo, foram analisados 79
países e territórios.
A Avaliação Nacional da Alfabetização (ANA), de acordo com o INEP (2015) tem por finalidade
avaliar os níveis de alfabetização e letramento em Língua Portuguesa, o desempenho em
Matemática e as condições de oferta do Ciclo de Alfabetização das redes públicas. Participam
da avaliação todos os estudantes do 3º ano do Ensino Fundamental matriculados nas escolas
públicas no ano da aplicação da avaliação. Na última avaliação, realizada em 2016, os testes
foram aplicados para 2,5 milhões de estudantes, de 50 mil escolas e 100 mil turmas. Em 2013, a
ANA, prevista no Pacto Nacional pela Alfabetização na Idade Certa (Pnaic), também foi
adicionada aos demais procedimentos que compõem o Saeb que, a partir de 2019, passou a
contemplar, além do ensino fundamental e médio, a educação infantil.
Frente à divulgação dos resultados do ANA 2016, o jornal O Globo publicou matéria intitulada
'Catástrofe nacional', uma vez que, segundo dados do MEC, mais da metade dos alunos do 3º
ano do ensino fundamental apresentavam nível insuficiente em leitura e matemática:
RIO- Especialistas classificaram como crítico o cenário traçado pelas estatísticas da Avaliação
Nacional de Alfabetização (ANA), divulgadas pelo Ministério da Educação (MEC), nesta
quarta-feira. Os dados da ANA mostraram que mais da metade dos alunos do 3º ano do ensino
fundamental têm nível insuficiente em provas de leitura e matemática. Os educadores
criticaram a falha na implementação de políticas e a falta de continuidade das iniciativas.
Como apontam as mais recentes avaliações realizadas juntos aos estudantes brasileiros (ANA
2016, SAEB 2017 e PISA 2018), os resultados em provas nacionais e internacionais, de modo
106
geral, indicam sérios problemas em termos da qualidade de ensino ofertada no país, os quais
se refletem em desempenhos significativamente abaixo do esperado, tanto no ensino
fundamental quanto médio, levando-se em conta parâmetros de aprendizagem estabelecidos
no plano nacional e internacional.
Neste contexto, um ponto fundamental a ser analisado diz respeito aos resultados da última
Avaliação Nacional da Alfabetização (ANA), de 2016, os quais demonstram que, na média
nacional, cerca de 55% dos alunos, no final do 3º ano do ensino fundamental, ainda não
alcançaram, minimamente, conhecimentos satisfatórios de leitura, ou seja, ainda não atingiram
um nível alfabético de escrita. Importante lembrar que a política de alfabetização, nesta época,
estipulava prazo de até três anos para que os alunos chegassem à condição alfabética.
Considerando duzentos dias letivos por ano, tempo mínimo de quatro horas diárias de aula e o
período de três anos, teremos duas mil e quatrocentas horas de oportunidades e situações que
deveriam ser propícias para aprender a ler e a escrever. Porém, apesar deste tempo bastante
considerável, mais da metade dos alunos, ao término deste longo período, ainda não
desenvolveram competências mínimas para ler, escrever e, podemos acrescentar, realizar
pequenos cálculos matemáticos.
Alfabetização no Brasil
Desde o início da década de 80, o ensino de Língua Portuguesa na escola tem sido o centro da
discussão acerca da necessidade de melhorar a qualidade da educação no País. No ensino
fundamental, o eixo da discussão, no que se refere ao fracasso escolar, tem sido a questão da
leitura e da escrita. Sabe-se que os índices brasileiros de repetência nas séries iniciais —
inaceitáveis mesmo em países muito mais pobres — estão diretamente ligados à dificuldade
que a escola tem de ensinar a ler e a escrever. Essa dificuldade expressa-se com clareza nos dois
gargalos em que se concentra a maior parte da repetência: no fim da primeira série (ou mesmo
das duas primeiras) e na quinta série. No primeiro, por dificuldade em alfabetizar; no segundo,
por não conseguir garantir o uso eficaz da linguagem, condição para que os alunos possam
continuar a progredir até, pelo menos, o fim da oitava série. Por outro lado, a dificuldade dos
alunos universitários em compreender os textos propostos para leitura e organizar ideias por
escrito de forma legível levou universidades a trocar os testes de múltipla escolha dos exames
vestibulares por questões dissertativas e a não só aumentar o peso da prova de redação na nota
final como também a dar-lhe um tratamento praticamente eliminatório. Essas evidências de
fracasso escolar apontam a necessidade da reestruturação do ensino de Língua Portuguesa,
com o objetivo de encontrar formas de garantir, de fato, a aprendizagem da leitura e da escrita
(p.14).
Dois “gargalos” – portanto – são apontados como responsáveis pelo fracasso do ensino
fundamental: dificuldade em alfabetizar e a falha em garantir o uso eficaz da linguagem.
107
Podemos afirmar que há uma relação causal entre esses dois fatos uma vez que é a
possibilidade de ler e escrever que garante o crescimento e a riqueza da linguagem, tanto oral
quanto escrita, tornando-a eficaz para dar conta da demanda da vida escolar. Como um efeito
em cascata, as consequências desses déficits prejudicam as etapas subsequentes do ensino
fundamental, do ensino médio e chegam até o ensino superior, como tem sido identificado
pelos sistemas de avaliação. Mortatti (2006), ao analisar a história da alfabetização no Brasil,
afirma que essas dificuldades de ensino são históricas, sendo um dos pontos fracos da
educação em nosso país.
Com o objetivo de superar essa situação considerada crônica desde a década de 1980, grande
parte das redes de educação pública começou a realizar reorientações curriculares e projetos
de formação de professores numa tentativa de rever as chamadas práticas tradicionais de
alfabetização inicial e de ensino da Língua Portuguesa. A publicação dos Parâmetros
Curriculares Nacionais da Língua Portuguesa – em 1997 – corresponde a uma espécie de síntese
dos avanços desse período.
Do ponto de vista das ideias ou teorias que têm circulado nas últimas décadas nas nossas
escolas, funcionando como referência para as práticas pedagógicas nas séries iniciais - nos anos
60, por exemplo - a fundamentação teórica em voga buscava no aluno a causa do fracasso
escolar. Essa ideia era – e é – vista com naturalidade, uma vez que, para uma parcela de alunos,
o ensino dava mostras de funcionar. Portanto, para aqueles que não aprendiam, nada mais
“lógico” do que imaginar que deveriam ter problemas. Essa forma de pensar se reflete nos
chamados exercícios de “prontidão”, elaborados para compensar os déficits dos alunos com
defasagens.
Com o advento dos anos 80, educadores começaram a ter acesso a publicações que
propunham mudanças na forma de compreender o processo de alfabetização, deslocando a
ênfase, até então, dada ao “como se ensina”, direcionando-a para o “como se aprende”.
Publicações como a Psicogênese da língua escrita, de Ferreiro e Teberosky (1986), tiveram
grande impacto em nosso meio educacional e ajudaram a identificar aspectos considerados
relevantes no processo de aprendizagem. Por exemplo, permitiram compreender as diferenças
de aprendizagem entre crianças provenientes de famílias mais favorecidas, comparadas às
crianças que vinham de famílias menos favorecidas. O foco sobre as questões da aprendizagem
permitiu constatar que as crianças traziam para a escola muito mais conhecimentos prévios a
respeito do ler e do escrever do que se supunha. Nesse sentido, os estudantes de famílias mais
favorecidas tinham muito mais oportunidades de participar de atividades envolvendo leitura e
escrita do que seus pares menos favorecidos, com forte influência sobre o processo de
alfabetização.
108
Grande variedade de textos passou a ser usada em sala de aula, em substituição às estratégias
até então em vigor, tendo como bases teóricas publicações da psicolinguística, da
sociolinguística, da gramática textual, da teoria da comunicação, da semiótica, e da análise do
discurso, aplicadas em práticas de ensino que têm como essência o uso da linguagem. O
objetivo é a compreensão ativa dos textos e não a mera decodificação e a possibilidade de levar
os alunos a pensar sobre a linguagem e utilizá-la de forma adequada.
O domínio da língua tem estreita relação com a possibilidade de plena participação social, pois
é por meio dela que o homem se comunica, tem acesso à informação, expressa e defende
pontos de vista, partilha ou constrói visões de mundo, produz conhecimento. Assim, um
projeto educativo comprometido com a democratização social e cultural atribui à escola a
função e a responsabilidade de garantir a todos os seus alunos o acesso aos saberes linguísticos
necessários para o exercício da cidadania, direito inalienável de todos.
Essa responsabilidade é tanto maior quanto menor for o grau de letramento das comunidades
em que vivem os alunos. Considerando os diferentes níveis de conhecimento prévio, cabe à
escola promover a sua ampliação de forma que, progressivamente, durante os oito anos do
ensino fundamental, cada aluno se torne capaz de interpretar diferentes textos que circulam
socialmente, de assumir a palavra e, como cidadão, de produzir textos eficazes nas mais
variadas situações (p.16).
Com as novas tendências que foram ganhando corpo na educação a partir dos anos 80, surgiu
o conceito de letramento. Podemos tomar como referência a definição de Kleiman (2005),
para quem o letramento pode ser visto como um processo de imersão, de experiências –
qualquer que seja a pessoa, independentemente da idade – no universo dos textos escritos que
efetivamente fazem parte das mais diversas situações sociais. Para essa concepção, tornar-se
letrado significa participar de práticas sociais nas quais a escrita está presente, o que implica a
compreensão do sentido dos textos e de suas funções. O termo "letrado", portanto, é
empregado para descrever aquelas pessoas que participam de práticas sociais que envolvem a
linguagem escrita, independentemente de estarem alfabetizadas ou não. Assim sendo, uma
pessoa que, embora não leia e nem escreva mas que conheça – por exemplo – a função de uma
receita, de um bilhete, de um manual de instruções, de um boleto de pagamento e outros
gêneros textuais, apesar de não saber ler e escrever, pode ser considerada como tendo algum
grau de letramento.
109
conhecimentos a respeito do código escrito, os quais devem ser ativados quando a pessoa
participa de situações sociais diversificadas envolvendo leitura e escrita, sem que fique restrita
ao âmbito escolar. Nessa perspectiva, a alfabetização deve ser concebida como uma
aprendizagem específica, inseparável do letramento. E o que é muito importante: a
alfabetização se faz necessária para garantir os avanços desejados no letramento, embora não
seja suficiente se tomada isoladamente.
Como foi salientado, reflexo das tendências teóricas que começaram a surgir nos anos 80, a
partir de sua publicação, os PCNs da Língua Portuguesa passam a exercer – oficialmente – forte
influência no ensino da linguagem escrita, com críticas e restrições explícitas ao papel da
codificação e aos métodos de alfabetização até então empregados:
É preciso superar algumas concepções sobre o aprendizado inicial da leitura. A principal delas
é a de que ler é simplesmente decodificar, converter letras em sons, sendo a compreensão
consequência natural dessa ação. Por conta desta concepção equivocada, a escola vem
produzindo grande quantidade de “leitores” capazes de decodificar qualquer texto, mas com
enormes dificuldades para compreender o que tentam ler. O conhecimento atualmente
disponível a respeito do processo de leitura indica que não se deve ensinar a ler por meio de
práticas centradas na decodificação. Ao contrário, é preciso oferecer aos alunos inúmeras
oportunidades de aprenderem a ler usando os procedimentos que os bons leitores utilizam. É
preciso que antecipem, que façam inferências a partir do contexto ou do conhecimento prévio
que possuem, que verifiquem suas suposições — tanto em relação à escrita, propriamente,
quanto ao significado. É disso que se está falando quando se diz que é preciso “aprender a ler,
lendo”: de adquirir o conhecimento da correspondência fonográfica, de compreender a
natureza e o funcionamento do sistema alfabético, dentro de uma prática ampla de leitura.
Para aprender a ler, é preciso que o aluno se defronte com os escritos que utilizaria se soubesse
mesmo ler — com os textos de verdade, portanto. Os materiais feitos exclusivamente para
ensinar a ler não são bons para aprender a ler: têm servido apenas para ensinar a decodificar,
contribuindo para que o aluno construa uma visão empobrecida da leitura (p. 37).
Um agravante pode ser apontado quando encontramos afirmações como “é preciso oferecer
aos alunos inúmeras oportunidades de aprenderem a ler usando os procedimentos que os
bons leitores utilizam. É preciso que antecipem, que façam inferências a partir do contexto ou
do conhecimento prévio que possuem, que verifiquem suas suposições – tanto em relação à
escrita, propriamente, quanto ao significado.” De acordo com Morais (2006), graças a diretrizes
como essa, muitos passaram a defender a ideia de que a escrita alfabética pode ser aprendida
espontaneamente, bastando a simples exposição sistemática dos alunos aos textos. Omitiu-se
o fato de que somente na medida em que tenham oportunidades claras e sistematicamente
dirigidas para refletir sobre esses conhecimentos, as crianças terão condições para
compreender e usar, com autonomia, o complexo jogo de relações entre letras e sons.
Também podemos encontrar, nesta passagem (PCNs, 2007, p.37), fundamentos para a
chamada desmetodização da alfabetização, empregando a definição de Mortatti (2006), ou o
apagamento da alfabetização, nos termos de Soares (2016). Esse apagamento se deve à
desconsideração da língua escrita como um objeto de conhecimento a ser dominado pela
criança. Necessário salientar que esse conhecimento é, essencialmente, de natureza linguística,
110
que está na base dos sistemas alfabético e ortográfico e que se manifesta por um jogo de
relações convencionais entre fonemas e grafemas. Dessa forma, a partir de uma visão
distorcida, colocou-se grande ênfase no sujeito que aprende, relegando o objeto de
conhecimento a ser assimilado. Além do mais, passou-se a atribuir uma conotação negativa em
relação a métodos já conhecidos de ensino da leitura e da escrita, classificando-os como
antiquados ou tradicionais, como se fossem as únicas alternativas para atingir tal objetivo.
Soares (2016) aponta que a desconstrução da alfabetização tem sido atribuída à possível
confusão entre letramento e alfabetização, conceitos que acabam sendo fundidos na medida
em que não se diferenciam os aspectos do sentido e da função daqueles que são
fundamentalmente de natureza linguística, como as competências envolvidas na
alfabetização. Embora o fracasso escolar no nível da alfabetização não seja um fato novo, a
perda da especificidade desse processo tem sido considerada um dos fatores mais relevantes –
apesar de não exclusivo – na continuidade da situação de fracasso no ensino da língua,
manifestado claramente na baixa competência dos alunos para ler e para escrever.
O presente relatório trata da alfabetização das crianças. Nos últimos 30 anos, foram feitos
notáveis progressos científicos. O estudo da leitura hoje se constitui em um ramo científico
sólido. Também nesse período, importantes avanços foram realizados nas práticas de
alfabetização de inúmeros países. O Brasil se encontra à margem desses conhecimentos e
desses progressos.”
(...) O Brasil não vem conseguindo alfabetizar adequadamente suas crianças - conforme
evidenciado pelo desempenho dos alunos nos anos posteriores. A alfabetização inadequada
compromete o sucesso escolar dos alunos e afeta de maneira irreversível a trajetória escolar dos
alunos de nível socioeconômico mais baixo, que constituem a maioria da população que
frequenta as escolas.
(...) Dificuldade do país em usar conhecimentos científicos e dados de avaliação para melhorar
a qualidade da educação. No caso da avaliação, o país vem realizando trabalhos como os do
SAEB – Sistema de Avaliação da Educação Básica - há mais de dez anos, mas não vem
conseguindo usar os resultados como instrumento de diagnóstico para melhorar o
desempenho dos alunos. Em consequência, quase 80% dos alunos que concluem a oitavo ano
do Ensino Fundamental se tornam candidatos a analfabetos funcionais- inviabilizando a
proposta de erradicar o analfabetismo adulto. No caso dos conhecimentos científicos, o país
vem ignorando os progressos e as práticas mais adequadas para alfabetizar alunos, atendo-se a
concepções equivocadas e manifestamente ineficazes sobre o que é e como se deve alfabetizar
as crianças (p.15).
Porém, apesar dos problemas apontados e da evidente importância que deve ser atribuída à
alfabetização, as práticas pedagógicas continuaram seguindo, principalmente as ligadas aos
preceitos descritos nos documentos oficiais, nos quais predomina a tendência de se privilegiar
o conhecimento acerca das características discursivas da linguagem, em detrimento do ensino
111
direto, explícito e sistemático de capacidades para a decifração do código escrito, ou seja, da
alfabetização, conforme aponta Soares (2016). Se – por um lado –- não há dúvidas a respeito da
relevância do conhecimento textual para que o sujeito possa participar do mundo letrado,
também não restam dúvidas a respeito da importância do aprendizado da escrita alfabética:
do processo de alfabetização propriamente dito, o qual implica correspondências entre
grafemas e fonemas. Acima de tudo, como afirma a autora, devemos considerar que a
capacidade de compreender o funcionamento do código escrito é uma condição
imprescindível para que o sujeito logre ler de forma independente garantindo, efetivamente,
sua inserção no mundo dos verdadeiramente letrados.
Fischer (2006), em sua obra História da Leitura, ressalta que, nos dois últimos séculos, centenas
de métodos foram propostos, sendo que, entre as abordagens mais atuais, há uma diversidade
de posições como a decodificação de grafemas versus a visualização de palavras inteiras. Ainda
descreve que a neurociência tem se debruçado sobre essa temática, ajudando a superar
controvérsias na medida em que – por exemplo – constata que as crianças precisam
compreender alguns conceitos básicos, como saber o que significam e o que são as letras, saber
pronunciá-las e reconhecer diferentes sequências de sons. Complementarmente, as crianças
devem desenvolver um conjunto de habilidades linguísticas, como diferenciar sons, alcançar
uma fluência leitora básica e a capacidade de realizar análises metalinguísticas.
Seguindo uma perspectiva histórica, Fischer (2006) chama a atenção para as práticas
pedagógicas denominadas “modernas”, segundo as quais as crianças não devem mais
aprender a como ler – a decodificar – mas sim, por meio de uma “abordagem ativa”, devem
desvendar, por si mesmas, o significado de palavras ou frases novas. Sem poder recorrer ao
processo de decodificação, considerada uma estratégia do passado, elas são levadas a
combinar recursos como observar as palavras ou frases inteiras, verificar os prefixos e recorrer a
pistas contextuais como o uso de ilustrações.
Como consequência dessa nova abordagem, porém, a qual se tornou muito popular nas
décadas de 1970 e 1980, houve uma drástica redução nos volumes de leitura em todo o mundo
desenvolvido. Os educadores então começaram a retornar, pelo menos como complemento,
ao método “fonético”, pelo qual a ênfase é dada na decodificação e conexão das letras a fim de
pronunciar palavras inteiras por meios das letras que as compõem. E nos locais onde a fonética
foi reaplicada, o volume de leitura sofreu melhorias significativas (p. 297).
Não encontramos evidências científicas que sustentem que as crianças não possam ser
letradas e alfabetizadas, ao mesmo tempo, dado o caráter de interdependência e
complementaridade entre os dois processos. Quando os alunos encontram situações
adequadamente planejadas para o ensino explícito e sistemático das relações
fonema-grafema, os resultados na alfabetização são muito mais rápidos e eficazes do que
quando se atribui, à própria criança, a missão de tudo descobrir, algum dia, por conta própria.
112
Condições mais favoráveis de ensino, com objetivos e estratégias claramente definidos e com
professores apropriadamente preparados, em muito poderiam diminuir o drama de milhões
de alunos que, apesar de frequentarem nossas escolas por anos a fio, continuam sem aprender
a ler e escrever com um mínimo de competência. Isso se reflete em altas taxas de reprovação,
distorção idade-série, abandono e evasão. O Censo Escolar de 2018, publicado pelo INEP (2019),
indica que, no 3º ano, a taxa de reprovação foi de 9,4%, e a de distorção idade-série foi de 12,6%,
com aumento significativo nos anos seguintes. No 7º ano, mais de 810 mil alunos matriculados
nas redes federal, estadual e municipal estavam com dois anos ou mais de atraso escolar. São
essas crianças – em sua maioria – que serão encaminhadas para o fonoaudiólogo com queixas
de que não conseguem aprender, como se a escola se isentasse de qualquer responsabilidade.
Envolvidos em discussões com foco distorcido, educadores debatem questões sobre métodos,
esquecendo-se das competências ou habilidades que deveriam promover para que todos
tenham garantido seus direitos de aprender a ler e a escrever. Devemos entender Métodos de
ensino como conjuntos de procedimentos educacionais elaborados tendo como objetivo o
desenvolvimento de certos conhecimentos ou competências que devem ser atingidos por
parte de quem aprende.
Os métodos – por sua vez – podem estar bem ou mal elaborados, mas é preciso que não se
confunda um método que está sendo empregado, que pode ser eficaz ou ineficaz, fácil ou
difícil, bom ou ruim, com os objetivos que se busca alcançar. Por exemplo, podemos criticar as
cartilhas antigas pelo modo como apresentam a língua e conduzem a aprendizagem da leitura
e da escrita, porém não podemos negar a importância dos conhecimentos que elas pretendem
promover, como a noção de palavra, de sílaba, de fonema e letra.
Os métodos de ensino não são criações independentes, com vida própria. Eles devem estar
subordinados a objetivos previamente estabelecidos, os quais definem competências a serem
promovidas. A aplicação dos procedimentos gera resultados e serão esses resultados,
analisados criteriosamente a partir de evidências, que poderão dizer se os métodos são ou não
eficazes. Avaliar métodos, aplicando critérios vagos que os definem como “tradicionais” ou
“modernos” não tem se mostrado uma alternativa confiável (Morais, 2006; Soares, 2016).
Para podermos definir as competências que devem ser promovidas pelas escolas nos anos
iniciais do ensino fundamental, tendo em vista levar seus alunos a ler e escrever com
competência, devemos – necessariamente – compreender a natureza dos sistemas de escrita
alfabéticos (Zorzi, 2017). Podemos elencar algumas habilidades fundamentais que as crianças
devem alcançar:
1 - Tornar-se capaz de segmentar palavras, partindo destas como um todo, passando pelas
sílabas até chegar ao nível dos fonemas, identificando-os e gerando um conjunto.
113
2 - Compreender, ou constatar, que as diferentes palavras se constituem a partir da
combinação dos fonemas que compõem tal conjunto.
3 - Compreender que, para cada fonema, existe, no mínimo, uma letra para representá-lo. Isto
significa aprender o valor sonoro das letras e estabilizar as correspondências
fonemas-grafemas. Desta forma, a um conjunto limitado de fonemas também corresponde
um conjunto limitado de símbolos gráficos.
4 - Compreender que, para escrever uma palavra, o ponto de partida é analisar sua estrutura
sonora, identificar cada um dos fonemas componentes e atribuir a eles as letras
correspondentes;
5 - Como princípio geral, compreender que, para ler, deve-se atribuir às letras os sons que elas
representam, unir os fonemas em sílabas e as sílabas em palavras.
O Ensino Fundamental, anos iniciais e anos finais, está organizado em cinco “Áreas do
Conhecimento”: Linguagens, Matemática, Ciências da Natureza, Ciências Humanas e Ensino
Religioso. A Língua Portuguesa, que engloba o processo de alfabetização, corresponde a um
dos componentes curriculares da área de Linguagens. A importância deste componente é das
mais relevantes uma vez que, de acordo com a BNCC, “a ação pedagógica, nos dois primeiros
anos do Ensino Fundamental, deve estar focada na alfabetização, tendo em vista garantir
amplas oportunidades para que os alunos se apropriem do sistema de escrita alfabética de
modo articulado ao desenvolvimento de outras habilidades de leitura e de escrita e ao seu
envolvimento em práticas diversificadas de letramentos (p.88)” .
114
precisará desenvolver competências ou conhecimentos que são fundamentais para que
alguém se torne alfabetizado, ou seja, para que consiga “codificar e decodificar” os sons da
língua (fonemas) em material gráfico (grafemas ou letras): desenvolvimento da consciência
fonológica (palavras, sílabas, rimas e fonemas); conhecimento do alfabeto em seus vários
formatos (letras de imprensa e cursiva, maiúsculas e minúsculas), além do estabelecimento de
relações grafofônicas entre esses dois sistemas (BNCC, 2017, p. 88).
Ainda de acordo com a BNCC, “alfabetizar é trabalhar com a apropriação pelo aluno da
ortografia do português do Brasil escrito, compreendendo como se dá este processo de
construção de um conjunto de conhecimentos sobre o funcionamento fonológico da língua
pelo estudante”. Para que isso se torne possível, a criança precisa conhecer as relações entre os
fonemas do português oral usado no Brasil e as letras (grafemas). Especificamente, está sendo
apontado que a alfabetização depende do conhecimento da “mecânica” ou do funcionamento
da escrita alfabética para ler e escrever, o que significa, principalmente, “perceber as relações
bastante complexas que se estabelecem entre os sons da fala (fonemas) e as letras da escrita
(grafemas), o que envolve consciência fonológica da linguagem: perceber seus sons, como se
separam e se juntam em novas palavras (p.88)”.
Enquanto a alfabetização está prevista para ocorrer nos dois primeiros anos do ensino
fundamental, definiu-se um processo muito mais longo, denominado “ortografização”, o qual
deve aprofundar o conhecimento da ortografia do português do Brasil. Nesse contexto, três
aspectos são tidos como relevantes: a) as relações entre a variedade de língua oral falada e a
língua escrita; b) os tipos de relações fono-ortográficas encontradas no português do Brasil; e c)
a estrutura da sílaba do português do Brasil.
De modo geral, tendo como base diversas pesquisas cientificamente fundamentadas, sobre as
habilidades envolvidas na alfabetização que corresponde ao processo definido como meta
prioritária para o início do ensino fundamental, a legislação passa a reconhecer –
explicitamente – que a criança necessita desenvolver capacidades de codificação e
decodificação que implicam:
- Conhecer o alfabeto.
- Ampliar a sacada do olhar para porções maiores de texto que meras palavras, desenvolvendo
assim fluência e rapidez de leitura.
115
base nas mais recentes evidências científicas, no intuito de melhorar a qualidade da
alfabetização e combater o analfabetismo absoluto e funcional no território brasileiro”. A PNA,
visa, também, contribuir para que as metas 5 e 9 do Plano Nacional de Educação, possam ser
devidamente alcançadas:
META 5: alfabetizar todas as crianças, no máximo, até o final do 3º (terceiro) ano do ensino
fundamental.
META 9: elevar a taxa de alfabetização da população com 15 (quinze) anos ou mais para 93,5%
(noventa e três inteiros e cinco décimos por cento) até 2015 e, até o final da vigência deste PNE,
erradicar o analfabetismo absoluto e reduzir em 50% (cinquenta por cento) a taxa de
analfabetismo funcional (p. 40).
De acordo com a PNA (2019), que aprofunda o conceito apresentado na BNCC, faz-se necessário
definir, com mais detalhes, o que está sendo entendido como alfabetização. Mais
especificamente:
Para garantir o êxito nesse processo, a PNA afirma que é indispensável que o ensino esteja em
conformidade com as evidências científicas mais atuais, com referência, em particular, às
ciências cognitivas da leitura e da escrita. Nesse sentido, são apontados seis componentes, ou
competências essenciais para serem desenvolvidas: a consciência fonêmica, a instrução fônica
sistemática, a fluência em leitura oral, o desenvolvimento de vocabulário, a compreensão de
textos e a produção de escrita.
Importante ressaltar que – em linhas gerais – essas competências ou habilidades que devem ser
desenvolvidas nesse período inicial mostram compatibilidade, assim como complementam as
habilidades apontadas por Zorzi (2017), no que diz respeito às escritas de natureza alfabética.
Espera-se, desta forma que, ao definir tais competências e desenvolver as condições
curriculares/metodológicas que permitam alcançá-las, o problema do fracasso escolar,
caracterizado pelo baixo índice de aprendizagem nesses anos iniciais, possa ser,
progressivamente, superado.
116
ação e gerenciamento curricular, que engloba todo o conjunto de decisões e ações definidoras
do currículo e de sua dinâmica. Consequentemente, as redes pública e privada de ensino têm
que criar seus currículos e preparar adequadamente o corpo docente responsável para
executar planos de ação, o que implica desenvolver materiais de orientação e uso para os
professores, bem como garantir formação docente permanente que possibilite contínuo
aperfeiçoamento dos processos de ensino e aprendizagem.
Neste texto, temos exposto uma série de elementos que podem nos ajudar a refletir sobre o
papel do fonoaudiólogo na educação, em especial o educacional. Como se pretendeu
demonstrar, um dos pontos historicamente frágeis de nossa educação – desde as etapas mais
iniciais da escolarização – está ligado às grandes limitações encontradas para desenvolver
habilidades de comunicação oral e, acima de tudo, de linguagem escrita. Consequentemente,
a função primordial da escola fica sem sentido, uma vez que, conforme exposto nos PCNs (1997,
p.16), “um projeto educativo comprometido com a democratização social e cultural atribui à
escola a função e a responsabilidade de garantir a todos os seus alunos o acesso aos saberes
linguísticos necessários para o exercício da cidadania, direito inalienável de todos.” Cabe
ressaltar que estamos falando, exatamente, daquilo que podemos considerar como objeto
central da Fonoaudiologia, que é o de promover, de forma otimizada, o desenvolvimento da
linguagem oral e da linguagem escrita.
Como agravante, temos o fato de que essa dificuldade não se restringe àqueles alunos que
apresentam problemas de aprendizagem em virtude de algum tipo de déficit funcional, como
é o caso dos distúrbios de aprendizagem, ou que estão participando de programas de inclusão
ou de educação especial por apresentarem quadros de autismo, deficiência intelectual,
deficiência auditiva, visual, motora, ou outros transtornos do desenvolvimento. A dificuldade é
generalizada e nos leva a pensar que se já é difícil ensinar quem não tem problemas para
aprender, o que dizer em relação àqueles alunos que necessitam de atenção e de recursos
diferenciados para poderem se desenvolver em sua trajetória acadêmica? Podemos afirmar
que propostas adequadas de ensino podem beneficiar todos os alunos, especialmente aqueles
que – de fato – apresentam limitações ou dificuldades.
117
particular nas ciências cognitivas voltadas para a linguagem, como é o caso das competências
linguísticas que são definidas por esses documentos.
Para um número significativo de educadores, esses conceitos são novos e podem parecer muito
complicados. Via de regra, e até mesmo seguindo as diretrizes educacionais anteriores, tais
conceitos não estavam presentes na maioria das práticas pedagógicas; tampouco, fizeram
parte da formação acadêmica dos professores nos cursos de Pedagogia ou de pós-graduação.
Como os desafios da Educação requerem um esforço integrado de profissionais de várias áreas,
será necessária a atuação conjunta na elaboração das novas propostas baseadas no
desenvolvimento de competências, de acordo com o que está estabelecido na BNCC para cada
área de conhecimento e para cada série.
Referência
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119
120
CAPÍTULO 8
121
122
A linguagem está ligada aos aspectos do desenvolvimento como – por exemplo – condições
sociais, afetivas, cognitivas e cerebrais, estendendo-se por toda a vida. Trata-se de uma das
capacidades mais complexas do ser humano (Ciasca, Rodrigues, Azoni & Lima, 2015).
Gil (2010) define linguagem como uma forma de comunicação, caracterizada pelo uso
individual de um número limitado de unidades mínimas que formam os códigos de um
sistema, que se combinam. Esses são definidos e compartilhados por uma mesma
comunidade linguística, apresentando diferentes variantes no âmbito oral, escrita e gestual.
Pode ainda ser dividida em dois momentos ou processos, a codificação, ou expressão, em que
a compreensão é entendida como sinais de entrada (falados, gesticulados ou escrito), que
precisam se transformar em um conceito, enquanto a produção ou expressão seria um
conceito que deveremos encontrar palavras apropriadas (Gazzaniga et.al., 2006).
Morais (1996) considera que aquisição da escrita é uma habilidade mais exigente do que a
leitura. A leitura não permite uma análise fonêmica, realizando apenas o reconhecimento de
palavras baseada em índices parciais; entretanto, escrever significa evocar e lembrar-se da
palavra, necessitando de um conjunto de informações prévias. Produzir um texto escrito é
muito mais complexo do que entendê-lo.
Maia (2018) explica que o escritor responsável pela produção do texto é quem decide sobre o
que vai escrever e como, de acordo com suas intenções pragmáticas, enquanto o leitor deverá
estar empenhado em reconhecer, compreender e interpretar as palavras do texto.
Para Frith (2003), há uma interdependência dos processos da aquisição da leitura e da escrita,
e a aprendizagem da leitura requer a existência de três estágios: logográfico (forma de
pré-leitura em que as palavras escritas são percebidas como desenhos e não especificamente
como um código alfabético); alfabético (compreende a relação entre a oralidade e escrita,
podendo haver erros de regulação grafofonêmica); ortográfico (produção direta das formas
ortográficas pré-armazenadas no léxico).
Portanto, vale aqui ressaltar que – durante todo o processo de alfabetização – há a necessidade
do desenvolvimento lexical adequado, uma vez que este influencia diretamente na habilidade
da codificação. Para que seja possível escrever qualquer palavra, o sujeito deve fazer uma busca
no seu léxico mental. Assim, tanto o processo ortográfico quanto o fonológico são atuantes
nesta busca de forma eficaz (Santos & Befi-Lopes, 2012).
As mesmas autoras acima citadas concordam com Perfetti (1997) e defendem que, para a plena
aquisição e desenvolvimento da escrita, o vocabulário e a habilidade fonológica ganham
123
destaques neste processo, pois é por meio da decodificação fonológica que o estudante tem a
possibilidade de adquirir as informações ortográficas de cada palavra e consolidá-las em seu
inventário léxico para posterior busca. Este resgaste de informações ortográficas e fonológicas é
mantido na memória operacional , e sua consolidação é feita quando há o estabelecimento da
associação de seus constituintes sonoros com os respectivos grafemas (Wagner, Torgesen,
Laughon, Simmons & Rashotte, 1993). Dessa forma, o nível de vocabulário seria prévio será
determinando para o desempenho tanto da leitura quanto da escrita (Romonath, 2007).
O processo de aquisição da escrita, para Ciasca et.al. (2015), é complexo, uma vez que exige, da
criança, habilidades de segmentação das palavras, de identificação da correspondência
fonema-grafema e das possibilidades de construção silábica. As autoras (op.cit.) explicam que
há significativa importância da representação dos sons da linguagem falada (fonologia) e da
habilidade de manipular mentalmente a representação dos sons específicos da fala
(processamento linguístico) para a aquisição da leitura e escrita, no princípio alfabético
(produção).
Recentemente a consciência fonológica tem sido vista como elemento crucial para que a
criança inicie o processo de alfabetização. Maia (2018) afirma que o reconhecimento das letras,
o conhecimento das relações estabelecidas entre os grafemas e fonemas do Sistema de Escrita
Alfabética, da direção da escrita (da esquerda para a direita) e a posição fixa das letras em
algumas palavras não são suficientes para tornar o indivíduo alfabetizado; espera-se que
3 - Rotas lexical e fonológica. Estes construtos serão discutidos mais detalhadamente no subtítulo
“Compreensão leitora e formação conceitual”.
4 - Processo de autorreflexão e ação, no qual o indivíduo estrutura, monitora e avalia o seu próprio
aprendizado.
ele consiga captar a palavra escrita sem dificuldades para reconhecê-la, conseguindo construir
seu sentido.
124
Dessa forma, para manipular as estruturas linguísticas, intencionalmente, o escolar deve
desenvolver uma consciência explícita sobre estas estruturas. Assim, a consciência
metalinguística é adquirida ao longo do processo de ensino possibilitando o desenvolvimento
de outras habilidades metacognitivas, que auxiliam no processo de aprendizagem.
Produção textual
125
linguístico e evoluindo espontaneamente; em paralelo com a linguagem, diferentemente dos
comportamentos metalinguísticos. Entendemos – assim – que os comportamentos
epilinguísticos antecedem os comportamentos metalinguísticos, uma vez que, o processo de
escolarização (em especial o aprendizado da leitura) participa do processo de desenvolvimento
desta habilidade (Gombert, 2003; Spnillo, 2009).
Sampaio (2017), em sua tese de doutorado, teve por objetivo avaliar o vocabulário receptivo dos
escolares do 3º ao 5º ano do ensino fundamental público, bem como verificar como o grau de
narrativização obtido nas produções narrativas escritas se correlacionaria com esta habilidade.
A autora esclarece que a opção pelo uso do vocabulário receptivo se justificou devido à
ausência de protocolos nacionais padronizados disponíveis para avaliar o vocabulário
expressivo na escolaridade desejada da pesquisa. Assim, utilizou a prova TVfusp (Capovilla,
2011), aplicando-a de forma individual.
Com relação às médias obtidas no teste aplicado, a autora demonstrou que, com o aumento da
seriação, as médias quantitativas também aumentaram, evidenciando o efeito da
escolarização sobre o conhecimento vocabular (Capovilla & Prudêncio, 2006). No entanto, ao
relacionar este desempenho com o grau de narrativização dos escolares, a autora descreve que
os resultados não foram estatisticamente significantes: não houve identificação de diferença
com relação ao processo narrativo e a prova de vocabulário.
Em relação a este achado, a autora sugere que, mesmo com o efeito da escolarização na
pontuação quantitativa obtida no TVfusp, em sua maioria, todos os grupos avaliados obtiveram
classificação média de desempenho segundo o instrumento utilizado. (Capovila & Varanda,
2011). Apesar da importância de se avaliar o vocabulário de forma conjunta como sendo uma
avaliação mais completa (Ferracini, Capovilla, Dias & Capovilla, 2006), o vocabulário receptivo
está mais relacionado ao desenvolvimento cognitivo da capacidade em compreender a
linguagem, seja falada, escrita seja gestual (Capovilla, Negrão, & Damazio, 2011) do que em
produzir um texto, portanto, poderia vir a justificar o fraco índice de correlação.
Os estudos de Capovilla e Prudêncio (2006), por sua vez, evidenciaram que a prova de
vocabulário receptivo (TVfusp) se correlacionou positivamente com a escrita sob ditado,
evidenciando o efeito do vocabulário receptivo no desempenho na escrita de palavras isoladas
e controladas.
Já no estudo realizado por Santos e Hage (2012), utilizaram uma prova de vocabulário
expressivo (ABFW) e evidenciaram correlação positiva da escrita de palavras isoladas com as
categorias de análise de redação. As autoras descrevem que conseguiram observar que os
escolares com melhor desempenho na prova de vocabulário, foram aqueles que escreveram as
melhores histórias em todas as categorias de análise da redação, associando o vocabulário
expressivo à geração de ideias (Berninger, Abbott, Augsburger & García, 2009).
126
apresentou um desempenho deficitário na habilidade relacionada à linguagem oral,
provavelmente terá mais dificuldades no ato da escrita.
Sem a apropriação lexical devida, o estudante não terá condição de fazer as escolhas descritas,
causando – em alguns casos – problemas na comunicação.
A formação das palavras e simplesmente o seu reconhecimento parecem não ser suficientes
para a compreensão e produção textual, seja oral seja escrita. O ensino de vocábulo necessita
ser feito da própria criação e produção textual, na qual o dicionário pode ser um recurso
didático para a aquisição de vocabulário, produção e leitura textual (Serra, 2016).
Faz-se necessário retomar que a linguagem tem papel fundamental como mediadora da
autorregulação e funções executivas no desenvolvimento eficiente da construção textual.
Assim, para que se possa – de fato – auxiliar e compreender por que nossos escolares podem
apresentar dificuldades em redigir seus textos escritos, é fundamental que todas as habilidades
sejam avaliadas de modo global e intercaladas, relevante para fins diagnósticos e interventivos.
Fayol (2014, p.26) afirma que os indivíduos capazes de elaborar textos relativos ao domínio do
seu conhecimento, conseguem:
4) coordenar, no mais das vezes com sucesso, essas diferentes atividades distribuindo sua
atenção e sua memória temporária de maneira a prevenir ou minimizar o custo de tempo real,
de sorte que sua gestão permaneça possível nos limites da capacidade.
Na leitura, Pereira (2015) afirma que a criança começa fazendo o reconhecimento gráfico das
palavras; depois, vai atribuindo significado com o objetivo de aprimorar a forma ortográfica das
127
palavras e os seus processos motores. A aquisição da leitura envolve, além de processos
cognitivos, diferentes rotas no acesso ao léxico para a consequente compreensão do que se lê.
5 - Capacidade de reproduzir todos os fonemas de sua língua, combinar esses fonemas em unidades
mais complexas como sílabas, rimas e palavras, e criar expressões com múltiplas palavras que
respeitem os padrões prosódicos de seu idioma (MAIA, 2018).
6 - Habilidade de estabelecer relações entre os sons da língua e as letras do alfabeto que os
representam (MAIA, 2018).
Para Fayol (2014), os leitores experientes são capazes de identificar rápida e eficazmente
palavras já conhecidas (rota lexical) sem confundir umas com outras e, decifrar itens novos (rota
fonológica).
De acordo com Moojen (2009), a rota lexical é utilizada por leitores fluentes que possuem as
representações gráficas das palavras armazenadas em sua memória léxico-semântica,
preferencialmente na escrita de palavras irregulares, por meio de uma conexão direta entre o
significado e a forma visual da palavra. Já a rota fonológica é utilizada por leitores em formação
que convertem o fonema/grafema de palavras regulares e/ou desconhecidas, sem necessitar de
acessar o léxico interno pela recodificação fonológica (conversão letra/som).
A leitura é a realização do objetivo da escrita, e quem escreve, o faz para ser lido. Podemos ter
várias atitudes perante a leitura, pois ler é um processo de descoberta e requer um trabalho
paciente, perseverante e desafiador; pode também ser superficial, sem grandes pretensões,
uma atividade lúdica (Cagliari, 2009).
128
Enriquecimento do vocabulário
Quando se pensa em ensino de vocabulário na educação básica, segundo Serra (2016), logo é
lembrado o ditado de palavras sem qualquer finalidade comunicativa. Com isso objetivava-se
ensinar os estudantes a perceberem a morfologia das palavras, a ortografia e saber qual a
classe que elas pertencem, não visando a uma atividade linguística, estando esta prática
desassociada da ideia de aquisição de uma habilidade textual-comunicativa.
Quando falamos de vocabulário é importante existir preocupação no que ser refere ao campo
semântico (sentido) da palavra na construção textual; a utilização de diferentes palavras pode
gerar diferentes efeitos de sentido no texto, e esse campo de sentidos se torna essencial
também para a coesão e a coerência textual.
O que faz um conjunto de frases ser considerado um texto são os elementos de coerência e
coesão textual (Travaglia, 2016; Antunes, 2016). De acordo com Travaglia (2016, p.87).
A utilização de diferentes gêneros textuais se faz importante nas práticas de leitura e escrita, no
uso da linguagem e no processo das ações comunicativas, porque apresentam aspectos sociais
e da intencionalidade humana. Trata-se de fenômenos históricos, profundamente vinculados à
vida cultural e social.
7 - Diz respeito ao modo como os elementos subjacentes à superfície textual entram numa
configuração veiculadora de sentidos (Koch, 2015).
8 - Forma como os elementos linguísticos se interligam, se interconectam (Koch, 2015).
Para Marcuschi (2004), os gêneros são entidades sóciodiscursivas e formas de ação social
fundamentais em qualquer situação comunicativa, frutos de um trabalho coletivo que
129
contribuem para ordenar e estabilizar as atividades comunicativas do dia a dia.
Nas mais variadas atividades sociais, Bakhtin (1998) evidencia inúmeras maneiras de interação
entre a humanidade e afirma que os gêneros são instrumentos dessas práticas: vendendo,
comprando, trabalhando, brincando, se divertindo, etc.
• Secundários: frutos de uma comunicação cultural mais evoluída e mais complexa: romance,
discurso científico, teatro, etc.
Considerações Finais
É importante reiterar que a produção de um texto escrito é algo muito mais complexo do que
a compreensão do mesmo. Cabe ao escritor decidir sobre o que vai escrever e como fazer,
conforme suas intenções pragmáticas, evocando um conjunto de informações prévias,
expressando-as através de seu vocabulário disponível, enquanto cabe ao leitor apenas
reconhecer, compreender e interpretar as palavras do texto.
O desenvolvimento da linguagem escrita é um processo gradual, e cabe ressaltar que não basta
apenas refletir sobre a linguagem no nível sintático e semântico; também nos níveis
morfológicos, fonológico e lexical.
Diante do que foi exposto, percebemos que é durante o processo de alfabetização que o escolar
apresentará o desenvolvimento lexical, que influenciará na habilidade de compreensao e na
formação do léxico mental. O indivíduo adquire informações ortográficas das palavras e as
consolidam em seu inventário léxico para posteriores buscas, através da decodificação
fonológica.
130
correlação positiva com a escrita de palavras e melhor desempenho em redação.
Os gêneros textuais podem ser utilizados como uma ferramenta para o ensino e aprendizagem
da linguagem escrita, sendo um excelente recurso tanto para motivar a produção de textos
como para a ampliação do vocabulário.
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133
134
CAPÍTULO 9
Aprendizagem da escrita
manual e as habilidades
percepto-viso-motoras
135
136
A escrita é uma ferramenta de comunicação mais utilizada pela sociedade sendo
considerada uma habilidade linguística que envolve aspectos motores e ortográficos
(Germano & Capellini, 2019; Kandel & Perret, 2015a). Deste modo, os estudos têm investigado
aspectos únicos, sendo unicamente ortográficos (Caramazza, 1997; Kandel & Perret, 2015a) ou
unicamente motores (Lorenzini, 1993; Teulings, Thomassen, & Van Galen, 1983).
Partindo disso, torna-se importante o entendimento de que a escrita pode ser analisada sob
diferentes aspectos, tais como os aspectos ortográficos, os aspectos motores e os
ortográfico-motores, sendo estes últimos relacionados a estudos recentes que investigam sua
interação (Germano & Capellini, 2019).
Assim, este capítulo tem como objetivo descrever a aprendizagem da escrita manual e as
habilidades percepto-visomotoras nela envolvidas.
Assim, para Van Galen (1991), os processos centrais estão mais relacionados à ortografia, pois
ocorre a seleção e a ativação de representações ortográficas, além da recuperação de
informações na memória de longo prazo das características das palavras, como a seleção e
sequência das letras que formariam a palavra. Isso permite a recordação dos componentes da
letra das palavras e sua organização (Caramazza, & Miceli, 1990).
Assim, para que seja realizada a escrita ortográfica, é necessário que o escolar selecione –
primeiramente – o conceito sobre o que deseja escrever, ativando o sistema semântico. Em
seguida, o sistema sintático determinará qual a palavra será utilizada em cada posição da
oração e, então, é acionada a rota fonológica ou a rota lexical para que ocorra a tentativa de
escrita da palavra. Após realizar a representação mental da ortografia das palavras, é ativado
a seleção dos grafemas a serem utilizados; por último, é necessário que ocorram os atos
motores a serem realizados para a realização do grafema enquanto a palavra é codificada
(Sampaio, Fusco, Romero, Amaral, & Capellini, 2017; Germano, Chiaramonte, Giaconi, Cardoso
& Capellini, 2019).
137
manual a fim de que haja a adequação destes movimentos para o planejamento do
tamanho de letras, da amplitude de movimentos e da pressão exercida no papel.
Como no processo central foram selecionadas as representações abstratas das letras, no
processo periférico ocorrerá a ativação do chamado módulo "Seleção de Alógrafos",
responsável pelas formas das letras. Neste momento, são acessados os programas motores
memorizados que irão fornecer informações sobre a forma da letra (maiúscula, minúscula, de
forma, cursiva, etc) além de informações relativas à sequência, à direção do traçado que será
executado pelo escolar para a produção da escrita manual.
Finalmente, tais aspectos motores da produção de letras são modulados por uma série de
parâmetros locais como tamanho, força, velocidade, de modo que nos adaptem às restrições
locais da tarefa de escrita e as letras podem ser produzidas eficientemente. Uma vez que toda
essa informação está configurada, o módulo denominado "Ajuste muscular" prepara-se para
a produção e execução do movimento (Kandel, Lassus-Sangosse, Grosjacques, & Perret, 2017).
Deste modo, podemos verificar que a aprendizagem da escrita manual somente se inicia a
partir de processos cognitivo-linguísticos que desencadeiam programas motores (FIGURA 1).
Thibon, Gerber e Kandel (2018) referiram que um programa motor seria uma espécie de
mapa sensório-motor, que codifica informações sobre o formato da letra, os traços que são
necessários para a produção e a direção desses traços. No processo de aquisição da escrita, as
crianças aprendem a produzir traços para produzir letras; assim, faz-se necessário que ocorra
a integração sensorial com a motora.
138
189-200). Ribeirão Preto: Booktoy.
Assim, à medida que as informações sensório-motoras se tornam cada vez mais precisas na
memória de longo prazo, os escolares passam a produzir letras com menor controle sensorial
e demanda cognitiva (Meulenbroek & Van Galen, 1988, 1989). O controle de movimento será
aprimorado a fim de que os gestos de escrita sejam rápidos, precisos e automáticos. A
automatização está – portanto – ligada ao aprendizado motor implícito de associações
sensório-motoras complexas (Halsband & Lange, 2006). Deste modo, podemos verificar que
um bom controle motor ocorre a partir da internalização da integração sensório-motora e das
experiências aprendidas. Estas ligações ou estes mapas sensoriais-motores se referem ao
mesmo tipo de conceito que os pesquisadores chamam de "programa motor" (Thibon et al.,
2018).
Quando não há mais a concentração consciente sobre os movimentos da escrita por parte do
escolar, a memória operacional libera recursos para os processos de alto nível da escrita
(como, por exemplo, a revisão do texto escrito), garantindo, dessa forma, um texto melhor
escrito (Mccarney et al., 2013). Em outras palavras, a automatização aparece quando os
recursos cognitivos podem ser alocados a outros componentes da escrita, como ortografia,
construção de sentenças e elaboração de texto (Germano & Capellini, 2019; Thibon et al.,
2018).
Entretanto, em estudo realizado por Germano e Capellini (2019) foi possível verificar que para
escolares brasileiros essa automatização não ocorre totalmente. As autoras utilizaram
medidas precisas do software Ductus (Guinet & Kandel, 2010), sendo que os resultados
indicaram possíveis falhas de interação entre os processos central e periférico, em escolares
entre o 3º e o 5º ano nas medidas de duração de produção da escrita, latência (tempo entre a
apresentação do estímulo e o início da produção da escrita) e fluência na produção de escrita
manual de letras do alfabeto. Os resultados indicaram diminuição do tempo de latência e
dos valores de duração de produção da escrita entre os escolares de 3º ao 5º ano, porém o
mesmo não foi verificado em relação à velocidade de escrita. Como se pode ver, os achados
deste estudo apontaram para uma falta de automatização da escrita manual para os
escolares avaliados, podendo ser relaciona à falta de interação dos processos.
As autoras do estudo supracitado ainda referiram que os resultados podem ter sido
influenciados pela falta de ensino sistematizado para o rastreamento de letras para escolares
brasileiros, uma vez que a proficiência em caligrafia está criticamente ligada ao desempenho
acadêmico. Esses achados trazem uma grande contribuição para a realidade educacional
139
brasileira, trazendo à reflexão a necessidade de rever certas práticas educacionais e clínicas.
Corroborando estudos internacionais, Thibon et al. (2018) destacaram a importância do papel
dos professores para a aprendizagem dos movimentos das letras. Para eles, a elaboração de
programas motores para a produção de uma letra se inicia quando os professores explicam
às crianças como proceder para produzi-los. Para os autores, os professores definem uma
"gramática de ação" que guia as crianças sobre onde começar a escrever e o caminho que
devem seguir para escrever uma letra (Bara & Bonneton-Botte, 2015).
Habilidades percepto-visomotoras
O aprendizado das habilidades motoras está associado à percepção – o modo como cada
indivíduo interpreta as informações recebidas pelos órgãos sensoriais (por ex.: visão, audição,
paladar, tato e cinestesia). Deste modo, as informações são enviadas ao Sistema Nervoso
Central (Input) sendo processadas a fim de gerar uma resposta motora (output) (Gallahue,
Ozmun & Goodway, 2013).
140
Assim os autores acima destacaram que, para uma aprendizagem motora eficaz, ocorre uma
sequência de eventos: recepção sensorial de estímulos (visuais, auditivos, táteis e
cinestésicos); integração sensorial (organização e integração destes estímulos com a
memória); interpretação motora (tomada de decisão motora com base nas informações
sensoriais e informações memorizadas); ativação de movimento (seleção e coordenação e
músculos, articulações e tendões) e feedback (avaliação do ato motor a partir das
informações sensoriais, permitindo correções).
Ainda em Pont, Wallen, Bundy e Case-Smith (2008) e Gallahue et al. (2013), a percepção
motora é definida como um processo de organização das informações recebidas e das
informações armazenadas, que levam a um ato motor evidente e voluntário. Os autores
destacam que o desenvolvimento perceptivo e motor ocorrem combinados. Além disso, para
obter as informações do meio externo, há necessidade da ativação sensorial, de várias
modalidades, sendo que apenas quando os estímulos sensoriais são integrados com as
informações já armazenadas na memória de longa duração é que podemos falar em
percepção.
141
Para que as letras sejam formadas com precisão do ponto de vista motor, faz-se necessários
movimentos sinuosos (Meulenbroek & Van Galen, 1988), os quais envolvem o adequado
movimento coordenado de braço, mão e dedos, controle da força, feedback sensório-motor
e monitoramento visual as letras (Tseng & Chow, 2000). Enquanto o escolar aprende as letras,
suas imagens e a representação motora para desenvolver as mesmas devem ser
armazenadas na memória (Bara & Gentaz, 2011), quando solicitados a grafá-las o imput visual
ajusta o movimento motor para a transcrição (Datchuk & Kubina, 2012). Esta combinação
entre a visão e o motor é o que mais pra frente detalharemos o que chamam de integração
visomotora, mas anteriormente a isso, cabe aqui uma breve explicação sobre a percepção
visual.
Quando o cérebro recebe as informações sensoriais visuais do que foi visto, atribui a elas
significado, interpretá-las e as compreende; é o que define a habilidade de percepção visual
(Auld, Boyd, Moseley & Johnston, 2011; Brown, 2012). Seu desenvolvimento visual ocorre desde
o nascimento e atinge seu nível máximo em torno dos 11/ 12 anos de idade (Deliberato, 2000;
Tsai, Wilson & Wu, 2008). Déficit na percepção visual ocorre quando o hemisfério direito do
córtex cerebral apresenta área com hipofuncionamento; decorrente disso, o escolar não
apresenta problemas na acuidade visual (Fusco, Cardoso & Capellini, 2011) mas sim
dificuldades em reconhecer, organizar, interpretar e/ou recordar imagens visuais, tais como
letras, palavras, números, diagramas, mapas, gráficos e tabelas (Quoos, 2008).
Estudos têm mostrado que crianças escrevem mais rápido e mais legível quando apresentam
melhor desempenho em testes padronizados de percepção visual e/ou integração
visomotora (Duiser, Van Der Kamp, Ledebt & Savelsbergh, 2014; Grewal, Vig & Saini, 2014,
Howe, Chen, Lee, Chen & Wang, 2017). Havendo déficits nessas habilidades podem ocorrer
prejuízos tanto na qualidade da caligrafia (Maldarelli, Kahrs, Hunt & Lockman, 2015) quanto
na velocidade de escrita (Brown & Link, 2016).
Mesmo quando a criança (que possui nível intelectual adequado) recebe e pratica as
instruções para a aquisição da escrita, ela pode apresentar uma dificuldade em produzir as
formas da letra de forma compreensiva, o que o DSM-5 (American Psychiatric Association
[APA], 2014) denomina de "distúrbio de aprendizagem específico com deficiência na
expressão escrita" (codificado como 315,2 (F81.81)), ou popularmente conhecido como
Disgrafia (Rosenblum, Aloni & Josman, 2010).
Para se levar o diagnóstico de disgrafia, a habilidade de escrita deve (APA, 2014) se mostrar
142
inferior à esperada para idade quanto ao desempenho em legibilidade e velocidade de
escrita reduzida (devendo ser comprovada por meio de avaliação clínica e medidas de testes
padronizados), essa dificuldade deve ter – no mínimo – seis meses de persistência e prejudicar
o desempenho escolar, profissional e/ou atividades de vida diária. Caracteriza uma escrita
com déficit na legibilidade quando há prejuízos na qualidade da forma da letra, tais como no
espaçamento e alinhamento das palavras e/ou letras, no tamanho irregular e entre outras que
comprometam a compreensão do leitor diante ao material escrito (Shen, Lee & Chen, 2012).
Quanto à velocidade de escrita, essa, por sua vez, é medida pela taxa/quantidade de
letras/palavras legíveis foram escritas em um determinado tempo (Kim, Al Otaiba, Folsom,
Greulich & Puranik., 2014).
Estudos recentes têm sido realizados, no Brasil, com a população disléxica, demonstrando
que os participantes com dislexia apresentam disgrafia, pois demoraram mais tempo para
iniciar seus movimentos de escrita (ou seja, latência) que os participantes controles
(Germano, Sbrugnara & Capellini, 2018) além de apresentarem mais palavras ilegíveis se
comparado com seus pares típicos (Cardoso et al., 2018a; 2018b): apresentam prejuízos na
legibilidade e na velocidade de escrita. Esses achados corroboram a literatura internacional,
visto que Alvarez, Cottrell e Afonso (2009) referem que escolares com dislexia exibiram
durações de movimento mais longas na escrita de letras, produzindo mais erros. Os
participantes com dislexia tinham dificuldades particulares antes de começar a escrever,
podendo estar relacionada à consistência da Língua (relação entre fonologia e ortografia)
(Kandel, Lassus-Sangosse, Grosjacques, & Perret, 2017). Os estudos de Martlew (1992) e Sumner
et al. (2012) também demonstraram que a taxa de produção de escrita de disléxicos se
mostrou mais lenta do que escolares sem dificuldades de aprendizagem.
Quanto aos escolares com TDAH, um estudo identificou que 70% apresentam prejuízos na
legibilidade (Mayes, Calhoun & Crowell, 2000), entretanto, a divergência quanto a velocidade
de escrita, pois o estudo de Langmaid et al. (2014) demonstrou que essa população escreve
letras isoladas mais rápido do que seus pares típicos, enquanto o estudo de Shen, Lee e Chen
(2012) verificou maior lentidão na velocidade de escrita.
Essa mesma divergência foi encontrada em estudos que relatam a velocidade de escrita de
escolares com TEA, sendo mais lentificada quando comparada ao seu grupo controle
(Hellinckx, Roeyers & Van Waelvelde, 2013) ou até mesmo não encontrando diferença
estatisticamente significante entre o desempenho dos grupos estudados (Cartmill, Roger &
Ziviani, 2009). Entretanto, para a legibilidade, os dois estudos citados anteriormente tiveram
os mesmos achados, isto é, crianças com TEA tem prejuízo na legibilidade da escrita, pois não
são capazes de manter o tamanho das letras.
143
de lado por parte dos profissionais da educação, nem tampouco dos profissionais da saúde.
Quanto maior o conhecimento sobre o desenvolvimento da escrita manual, melhor será a
identificação das dificuldades; promovendo, portanto, um maior planejamento de ações
preventivas e interventivas.
Consideração Final
Podemos concluir que a aprendizagem da escrita manual requer a ativação de inúmeros
processos cognitivo-linguísticos e motores, que sofrem influências direta da prática dos
escolares e da falta de ensino sistemático para os aspectos motores.
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147
CAPÍTULO 10
148
149
Neste capítulo pretende-se discutir alguns aspectos sobre a relação entre os estudantes e os
professores, suas formas de interação e proposição de atividades e como estes refletem na
aprendizagem, pois o sucesso do processo ensino/aprendizagem depende de como a intera-
ção entre as crianças e a relação delas com o professor e com o próprio conhecimento acon-
tecem.
INTRODUÇÃO
Além disso, toda a dinâmica da sala de aula deve ser considerada pois ela pode melhorar ou
piorar o nível de regulação e engajamento da criança no ambiente escolar. O professor deve
estar sempre atento a todos os estudantes da turma, pois também as atitudes dos próprios
150
estudantes influenciam o estado de regulação da turma.
O nível de motivação e interesse dos estudantes pelas atividades também afetam o engaja-
mento deles no ambiente escolar, a motivação e o interesse dependem das experiências e
dos conhecimentos prévios necessários para os novos desafios propostos aos estudantes. Os
professores devem estar atentos à compreensão auditiva, à produção e expressão (verbal e
não verbal), à prontidão pré-acadêmica, ao desenvolvimento cognitivo e à independência da
criança.
O professor deve entender se a criança tem os pré-requisitos necessários para realizar as ativi-
dades propostas e se a criança compreende as instruções e o contexto das atividades, pois
disso depende sua motivação para realização das atividades, sem a base necessária a criança
não consegue se envolver. Além disso antes de serem propostas as atividades essas devem ser
pensadas no sentido de serem ou não significativas, funcionais e relevantes para a criança e
para suas experiências. É importante selecionar os recursos necessários para a aula, prever o
tempo e organizar a sala de forma que o professor ofereça o melhor ensino do conteúdo. As
atividades propostas devem ser estimulantes e bem elaboradas pois isso facilitará o engaja-
mento do estudante e consequentemente sua aprendizagem. Devem ser utilizados diferen-
tes recursos em sala de aula como: jogos, brincadeiras, vídeos e músicas, tais recursos favore-
cem a curiosidade e a motivação dos estudantes. A criatividade, o pensamento emocional e
a autorreflexão da criança devem ser sempre incentivadas. O professor deve valorizar em sua
sala de aula a troca de ideias durante a maior parte do tempo, pois crianças que comparti-
lham experiências, refletem, argumentam e questionam têm favorecido seu desenvolvimen-
to cognitivo, raciocínio e organização do pensamento. A sala de aula deve recriar um ambien-
te agradável que favoreça as trocas comunicativas. Além de seus espaços e recursos tradicio-
nais a sala de aula deve ter uma área reservada para recursos sensoriais, motores e jogos.
151
Realizar avaliações diagnósticas permite ao professor verificar o aprendizado dos estudantes
sobre o assunto e indica a necessidade de um possível rearranjo das suas aulas. Outro aspecto
relevante é a auto avaliação para que o professor esteja sempre monitorando suas atitudes
em prol do bom andamento da rotina da sala de aula. Avaliar a independência da criança se
faz também necessário.
A execução desse PDI não significa a simples redução de conteúdo, mas a forma como o con-
teúdo é apresentado de acordo com as potencialidades e dificuldades de cada estudante. Os
recursos e materiais devem ser adaptados de acordo com a dificuldade de cada estudante. A
figura do mediador é considerada uma necessidade no espaço pedagógico atuando como
intercessor do estudante com Necessidades Educacionais Especiais (NEE) nas diversas situa-
ções escolares como, por exemplo, nas questões sociais, na linguagem, nas brincadeiras, nas
atividades pedagógicas, nas limitações motoras, nas adaptações, regulações e acomodações
das diferenças de cada criança.
152
1) Conforto: sentimentos de segurança e confiança ambiental e emocional
O conforto ambiental seria como o ambiente da sala de aula e da escola foram projetados
para proporcionar sentimentos de conforto e segurança físicos aos estudantes. Para um con-
forto ambiental é importante o professor considerar os níveis de ruído, iluminação, tempera-
tura, fluxo de ar, suportes físicos e posturais, distribuição do mobiliário e o espaço para se
mover dentro da sala. Além disso deve ser levado em conta o que existe na sala de aula que
faz com que os estudantes se sintam bem-vindos.
O conforto emocional seria como o ambiente da sala de aula e da escola foram projetados
para proporcionar sentimentos de conforto e segurança emocional aos estudantes. Quanto
ao conforto emocional o professor deve observar quais os relacionamentos que o estudante
tem na escola, quantos são e com quem eles acontecem.
A competência seria a sensação do estudante poder realizar algo com sucesso. No caso da
competência o professor deve observar se ele demonstra que presume a competência do
estudante. Se existe consistência na maneira como os funcionários falam respeitosamente
com o estudante presumindo competência. Se existem expectativas personalizadas para
cada estudante. Se a regulação, os comportamentos e o engajamento são apoiados por senti-
mentos de competência. Se percebe os momentos que o estudante se sente mais competen-
te e menos competente. Se o professor contribui para que o estudante se sinta competente.
Em que parcela do dia o professor acha que seus estudantes se sentem bem-sucedidos e
determinados. Como o professor apoia os familiares do estudante a promoverem sentimen-
tos de competência em casa.
Ter controle significa sentir-se capaz de fazer algo acontecer, direcionar uma situação, pessoa
153
ou atividade. Ter a capacidade de interagir e liderar. O professor deve perceber se durante o
dia o estudante demonstra intencionalidade. Se o estudante demonstra sentimentos de con-
trole em uma variedade de ambientes, pessoas e atividades. Com qual frequência o professor
oferece oportunidade para seu estudante fazer escolhas, liderar e decidir o que vem depois.
Se o estudante faz interações ao longo do dia e se o professor considera que ele contribui para
as interações e para as atividades ou se ele tem uma participação passiva. Se o professor sabe
o momento em que o estudante tem mais controle e menos controle. Se o professor contri-
bui para que o estudante experiencie momentos de controle. Como o professor apoia os
familiares dos estudantes a promoverem sentimentos de controle em casa.
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Education Conference. Profectum
154
POSFÁCIO
155
Escrever sobre este livro, neste posfácio, nos trouxe a percepção de
quão importante é para a Fonoaudiologia a diversidade de visões que
existe ao se explicar determinados fenômenos que envolvem a vida
humana. A linguagem escrita como processo simbólico, que
possibilitou ao homem expandir suas mensagens para muito além do
seu próprio tempo e espaço, ganhou em nossa sociedade extrema
importância, permitindo a comunicação e a difusão do
conhecimento.
Muito bem vinda foram as discussões, pois abrem portas para o debate
necessário no campo científico que se ancora nos processos
democráticos em que se insere o trabalho de todo aquele que se
dispõe produzir ciência e transformar a realidade.
156
AUTORES
Adriana de Souza Batista Kida
157
Bianca dos Santos
Cláudia da Silva
158
FFC/UNESP. Docente do programa de Pós-Graduação em Fonoaudiologia da Faculdade de
Filosofia e Ciências da Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho FFC/UNESP.
Fonoaudióloga Pesquisadora Colaboradora do Laboratório de Investigação dos Desvios da
Aprendizagem (LIDA) do Departamento de Fonoaudiologia FFC/UNESP-Marília-SP.
Vice-coordenadora do Departamento de Fonoaudiologia Educacional da SBFa.
159
Monique Herrera Cardoso
160
Realização Parceria
SBFa CFFa
www.sbfa.org.br www.fonoaudiologia.org.br