Teorico Etica e Cidadania Unidade I

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Ética e Cidadania

Material Teórico

Ética e Moral

Responsável pelo Conteúdo:


Prof. Dr. Silvio Pinto Ferreira Junior

Revisão Técnica:
Prof. Ms. Avelar Cezar Imamura

Revisão Linguística:
Prof. Esp. Gislene Teresinha Rocha Delgado de Carvalho
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Ética e Moral

Orientações de Estudo
O conteúdo a que você tem acesso para estudar, a partir de agora, foi elaborado com
a intenção de alcançar dois objetivos: o primeiro, fornecer a base teórica e conceitual
sobre “o que é ética”, já que esse tem sido um tema fundamental apresentado e debatido,
amplamente, em todos os meios; o segundo objetivo consiste em provocar uma reflexão que
permita a você, estudante, aprofundar-se nas principais análises sobre o comportamento
humano, com o intuito de possibilitar maior e melhor compreensão da realidade social em
que vivemos.
Refletir sobre o comportamento humano, sobre nossas próprias atitudes no dia a dia e
sobre a maneira como vemos o mundo ajuda-nos a guiar a nossa prática social de cidadãos
conscientes, críticos e politicamente comprometidos com uma positiva transformação social.

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Unidade: Ética e Moral

Contextualização

Em meio às agitações do mundo de hoje, o ser humano,


na busca da sobrevivência num ambiente social cada vez mais
competitivo, individualista e em constantes transformações,
muitas vezes esquece valores morais que são tão importantes
para uma boa convivência. Esse desvirtuamento da conduta
humana tem refletido de forma negativa, gerando um
aumento da violência, do egoísmo e da indiferença pelo outro,
como se pode observar nos noticiários, nas mudanças dos
padrões familiares, na convivência com as outras pessoas,
enfim, resultando em cidadãos se não violentos, estressados,
mal humorados etc., em cidadãos receosos, desconfiados,
desorientados e medrosos, infelizes.
Por conta disso tudo, tratar da ética se torna indispensável. A
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princípio, é necessário que se faça uma revisão dos conceitos e
atitudes que regem o comportamento humano para se conseguir uma convivência mais harmoniosa
entre as pessoas, tanto no que se refere à profissão, quanto em suas relações pessoais.
Vamos iniciar o estudo introdutório à ética, buscando a compreensão de sua importância e
analisando a transformação dos valores em tempos atuais

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O que é ética?

O homem é uma espécie de interseção entre dois mundos: o real e o ideal. Pela
liberdade humana, os valores do mundo ideal podem atuar sobre o mundo real.

Nicolai Hartmann

Conceito
Em nossa rotina diária, encontramo-nos, frequentemente, diante de situações nas quais
somos levados a tomar decisões que dependem daquilo que consideramos bom, justo ou
moralmente correto. Todas as vezes que isso ocorre, as decisões tomadas envolvem um
julgamento moral da realidade, a partir do qual vamos nos orientar. De acordo com o que
dizia Aristóteles:

“A característica específica do homem em comparação com os outros animais


é que somente ele tem o sentimento do bem e do mal, do justo e do injusto e
de outras qualidades morais”

(ARISTÓTELES. Política, p. 15).

Se, segundo Aristóteles, o homem tem conhecimento do que é bom ou mau, do que é justo
ou injusto, então podemos dizer que o homem age no mundo de acordo com valores.
Esses valores dependem da forma como o homem vê o mundo que o rodeia, e a partir
de então age de acordo com suas noções que são compartilhadas com outros homens em
determinada sociedade. Explicando melhor sobre os valores que o homem toma como diretriz
para tomar suas decisões, podemos refletir sobre diversos aspectos como, por exemplo, o que
é o bem e o que é o mal. O bem para um pode ser o mal para outro. O que é justo e o que
não é? O que é justo para um pode não ser para outro? Enfim, em outras palavras, o homem
é um ser moral, um ser que avalia sua ação a partir de valores.

Moral é o conjunto de normas que orientam o comportamento humano, tendo como


base os valores próprios a uma comunidade.

Como as comunidades humanas são diferentes entre si, os valores também podem divergir
de uma comunidade para outra, o que dá origem a códigos morais diferentes.
O homem, agindo de acordo com os valores correspondentes ao que se conhece em seu
meio de convivência, está tendo um comportamento ético ou tomando atitudes éticas.

Ética (do grego ethikos, “costume”, “comportamento”) é uma disciplina filosófica que
visa refletir sobre os sistemas morais elaborados pelos homens, buscando compreender
a fundamentação das normas e interdições próprias a cada sistema moral.

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Unidade: Ética e Moral

Sendo assim, agir de forma ética é corresponder aos anseios daquilo que se espera do
homem, com relação a seu comportamento e suas atitudes em meio ao seu círculo social.

Moral e ética
Embora nos deparemos, muitas vezes, com os termos ética e moral, sendo usados como
sinônimos, é importante fazer uma distinção.
A moral é o conjunto de normas e condutas reconhecidas como adequadas ao comportamento
humano por certa comunidade humana. A moral estabelece princípios de vida capazes de
orientar o homem para uma ação moralmente correta.
Podemos dizer que pertence ao campo da moral a reflexão que tem por norma perguntas
fundamentais como:

»» Como posso agir da melhor maneira para ser justo?


»» Quais são os valores que devo escolher para guiar minha vida adequadamente?
»» Existe uma hierarquia de valores que deve ser seguida?
»» Quais sãos as atitudes que devo praticar como pessoa e como cidadão?

Como se vê, a moral está muito relacionada com a consciência do indivíduo, quando este
se pergunta o tempo todo sobre que atitude tomar diante de uma situação ou quando reflete
se determinada ação ocorreu de acordo com o que se aprendeu como certo ou apropriado.
Chamamos a essa reflexão de “Consciência Moral”.
Já, sobre a ética, pode-se defini-la como sendo um estudo sistematizado das diversas morais,
no sentido de explicitar os seus princípios, ou seja, as suas concepções sobre o ser humano e
a existência humana que sustentam uma determinada moral.
Desse modo que apresentamos, é possível dizer que a ética é uma disciplina teórica sobre
uma prática humana, que é o comportamento moral. Porém, as reflexões éticas não ficam
restritas apenas à busca de conhecimento teórico sobre os valores humanos, cuja origem e
desenvolvimento levantam questões de caráter sociológico, antropológico, filosófico, religioso
etc. A ética tem, principalmente, preocupações práticas quando se orienta pelo desejo de unir
o saber ao fazer.
Como filosofia prática, isto é, disciplina teórica com preocupações práticas, a ética busca
aplicar o conhecimento sobre o ser para construir aquilo que deve ser. Para isso, é indispensável
boa parcela de conhecimento teórico. A Palavra “transparência” pode ajudar a compreender
o que é ser ético ou ter um comportamento ético, pois está relacionada ao que “é” de fato,
ou seja, ao que é verdadeiro. Em outras palavras, ser verdadeiro consigo é ser ético, pois se
agirmos assim com nós mesmos, agiremos também com os outros.
É por isso que, muitas vezes, principalmente no campo profissional, a palavra ética está
relacionada à transparência, ao compromisso com a verdade, às ações justas e sinceras que
tendem para o bem.

Você já reparou que um número crescente de empresas vem criando o seu próprio
código de conduta ética? Pois então, a maior parte das empresas cria-o e disponibiliza-o
aos seus colaboradores com o objetivo de que este possa servir como um guia prático
de conduta pessoal e profissional.

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Viu como falar sobre ética está cada vez mais constante em nosso dia a dia? Até o mercado
de trabalho e grande parte das empresas estão abordando este assunto. E olha que falar sobre
ética vem de um longo percurso, desde a Grécia Antiga! Os gregos foram os primeiros a
darem essa grande contribuição para o pensamento sobre o comportamento e as ações do
homem em seu meio.

Racionalidade e Liberdade
Aristóteles, em suas análises, caracterizou os seres humanos como sendo seres racionais,
ou seja, que falam e agem de acordo com o que pensam. O filosofo concebeu a dimensão
anímica ou psíquica (psique=alma) dos homens como um composto de duas partes: uma
racional, por expressar-se pela atividade filosófica e matemática e outra, privada de razão,
por conta de seus elementos vegetativos e apetitivos. Essa análise realizada por Aristóteles
permitiu uma hierarquização dos seres vivos.
De acordo com essa dimensão humana que Aristóteles descreve, a parte da alma privada
de razão nos iguala a todos os outros animais movidos pelos instintos primários como a sede,
a fome, o sono e a reprodução. Somos, portanto, guiados pela necessidade de sobrevivência.
Todos os seres vivos têm em comum uma necessidade maior e prioritária: resolver o problema
de encontrar a forma mais prática, duradoura, garantida e/ou menos arriscada de sobreviver.
Temos necessidade de alimentos para saciar a nossa fome; de água para a sede; dormir para
descansar o organismo e nos reproduzir por meio da atividade sexual e assim perpetuar a
espécie. Se pensarmos por esse ponto de vista, fica então a pergunta: Mas o que, então, nos
diferencia dos outros animais? Segundo Aristóteles, é a racionalidade. Nós somos capazes
de pensar, usar a razão, planejar nossas ações e de realizar escolhas e julgá-las, determinando
seu valor. Agimos acreditando que estamos fazendo o bem e, mesmo quando julgamos mal
nossas ações, o critério básico para qualquer julgamento é sempre estabelecido pelo bem.

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Os seres humanos, portanto, identificam-se como tais pelas distinções que são capazes
de estabelecer com os outros animais e, consequentemente, se diferenciam de todos os
demais seres vivos, pois definem-se pela capacidade de pensar, falar, trabalhar e amar. Somos
dotados de sentimentos, de afeto, de memória, sofremos e temos consciência de tudo isso,
diferentemente de qualquer outro animal.

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Unidade: Ética e Moral

Quando Aristóteles pensou filosoficamente sobre o homem e procurou fazer suas análises
sobre esse “animal que pensa”, diferente de todos os outros e, portanto, humano, identificou
três coisas que controlam sua ação: a sensação, a razão e o desejo.

A primeira, a sensação, não é princípio para julgar a ação, pois também os outros animais
possuem sensação, mas não participam da ação. Já a ação é o movimento deliberativo, isto é,
a origem da ação é a escolha. Portanto, pode-se afirmar também que os homens diferem dos
demais animais porque são capazes de realizar escolhas. Quanto ao desejo, através da razão,
desejamos e racionalmente efetuamos escolhas. Para Aristóteles, então o desejo é a força
que impulsiona todas as nossas ações que através da razão, ou guiadas por ela, conduzem os
nossos desejos ao encontro de seu objetivo.

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As escolhas que realizamos, de forma racional, elegem os objetos para o nosso desejo
motivado pelo emocional, dessa forma afirmamos nossa condição de liberdade de
realizar escolhas. Ora, o que é a liberdade senão a capacidade de escolher?

Os animais não fazem escolhas, pois suas ações são determinadas pelo padrão genético,
portanto, são previsíveis. Já os humanos, por terem a liberdade de escolha, podem se desviar do
determinismo que rege o mundo da natureza. Quando olhamos para um filhote de um animal
qualquer, ou até mesmo no estado adulto, somos capazes de imaginar qual será seu futuro
comportamento. Quando olhamos para um bebê, essa previsão também é possível porque ainda
está frágil e em estado constante de aprendizagem, ao contrário de um adulto, quando é certo
que seu comportamento será imprevisível, assim como suas intenções e suas atitudes.

Com tudo isso que pudemos observar até aqui, concluímos que são as escolhas que
vão definir o caráter de um ser humano. Seus vícios e virtudes são manifestações
de suas escolhas ao longo da vida, norteadas pelo convívio em sociedade repleta
de valores acumulados pela educação, pela religião, pela cultura etc., que vamos
chamar de valores morais.

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Ficam, no entanto, algumas questões para serem pensadas:
»» Quando um homem faz suas escolhas na vida, que critérios ele utiliza para tomar
suas decisões?
»» Quais são os valores que regulam suas ações?
»» Quais são os objetivos que pretende atingir e quais serão os meios para concretizá-los?
»» Toda ação deve ser justa e boa?
»» O que determina a justiça e a bondade se não são mais nada além de valores? O que
é ser justo? O que é ser bom, afinal?

Quando exercitamos a liberdade, estamos também nos relacionando, de certa forma, com
outros indivíduos e são dessas relações que surge o que vamos chamar de realidade social.

As relações que temos com um indivíduo ou mais são as relações sociais que vão formar
uma sociedade.

A sociedade é uma construção histórica e é composta por indivíduos que pensam e realizam
escolhas de acordo com seus desejos particulares, como já vimos anteriormente, e é aí, então,
que começam a surgir os conflitos.

Você já leu o jornal, hoje, ou assistiu aos noticiários na TV? Reparou quantos conflitos existem
dentro das relações humanas? São assassinatos, invasões, despejos, roubo, guerras, atentados
terroristas etc. Se os gregos contribuiram com um pensamento tão evoluído, para a época, a
respeito dos valores éticos e morais, sobre cidadania, sobre democracia, por que é, então, que
depois de tantos séculos ainda não conseguimos um entendimento pacífico para uma vida em
sociedade, não é mesmo? Essa é a característica principal do ser humano que estamos expondo
até agora: agir de acordo com seus próprios desejos, ou seja, liberdade de ação.

Para organizar o ser humano em sociedade, foi preciso criar regras de conduta e de convívio,
regras essas que podem ser transmitidas a todos pela educação e que também são garantidas
pelo que vamos chamar de lei, regulada no âmbito da justiça.

Dessa forma, podemos perceber que somos livres para fazermos escolhas, mas sem
prejudicar o outro para satisfazer os nossos desejos. Nesse caso, a nossa liberdade também
tem limites e esses limites são impostos de alguma maneira, seja por meio da lei, de uma
constituição, de uma decisão do Estado, enfim, o que é importante aqui é fazermos uma
reflexão sobre liberdade e como essa questão está ligada à ética. Pense sobre isso e analise
o meio social em que você vive, ele estará repleto de regras de comportamento a serem
seguidas, caso contrário, não saberíamos, ou melhor, não conseguiríamos viver em sociedade.

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Unidade: Ética e Moral

Civilização e Valores

A primeira lei fundamental imposta para a civilização não vem sendo respeitada ainda até
os dias de hoje: É proibido matar!

“Se existem práticas homicidas, os critérios de bondade e justiça não são


cumpridos. Os assassinatos revelam o conflito irremediável entre a liberdade e
a lei. A lei foi construí¬da para garantir o exercício da liberdade. No entanto,
acaso deveríamos julgar livres os indivíduos que praticam crimes? Seriam eles
livres em suas ações ou não? O critério de justiça determina a prisão (perda
da liberdade) para quem cometer homicídio. Mas por que só os pobres são
condenados à prisão? Por que os chamados “crimes de colarinho-branco”
não são punidos com a prisão? Observe que essas questões remetem ao
campo da reflexão ética”
(GALLO, 2003: 56).

O livro “O mal-estar na civilização” de Sigmund Freud (o criador da psicanálise), publicado


em 1930, traz uma análise feita pelo autor sobre o avanço da civilização, constatando que os
seres humanos estão condenados, durante toda sua existência, a viver um conflito irremediável
entre as necessidades que estimulam a concretização de uma vida em “liberdade” e as barreiras
que são encontradas na sociedade em que vivem quando se deparam com as “leis”.
Os diagnósticos de Freud, quando faz uma análise do processo civilizatório, apontam para
uma reconstrução das ideias clássicas de Aristóteles, quando este coloca a questão sobre “o
que o homem deseja, de mais importante, realizar na vida?” Não há dúvida de que todos os
seres humanos vivem em busca da felicidade. Todos nós queremos ser felizes, mesmo que
essa felicidade seja vista por cada um de forma diferente. Para uns, ser feliz é ter saúde, para
outros é a riqueza, felicidade plena pode ser o encontro de uma pessoa a quem se ama e que
corresponde a esse amor, enfim, esse estado é percebido e percorrido por cada um de nós de
maneira distinta. Dessa forma, concluímos que toda ação humana tem em vista a conquista da
felicidade permanente.
Se a humanidade existe há tanto tempo, então porque nos afastamos dessa meta principal
que é a felicidade? Freud faz uma análise dessa insatisfação constante que se sente por não
se alcançar nunca a felicidade plena e duradoura, refletindo sobre a Ética civilizatória como
promessa de felicidade. O psicanalista aborda as buscas constantes de uma fórmula que
não existe nem nas artes, nem na religião, nem na ciência e tão pouco na filosofia, sendo,
portanto, esse um dos problemas que incide sobre o destino da humanidade e, por isso, Freud
claramente vai apontar que a liberdade e as leis vão criar um conflito irremediável.

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Freud inicia o seu ensaio conhecido como O mal-estar na civilização com uma
discussão sobre o que seria a felicidade para os homens, argumentando que para
o homem, essa busca constante pelo estado de felicidade plena é o que faz a vida
ter sentido. Isso vai se dar de duas maneiras, resumindo, ou melhor, generalizando
bem o pensamento do psicanalista: Essa busca de felicidade vai se efetivar em se
evitando o desprazer, o qual causa sofrimento, e a busca constante de prazer, o
que proporcionaria a felicidade. O direcionamento que o homem dá a suas ações
para cada um desses sentidos estaria diretamente relacionado com o controle dos
seus instintos (Para saber mais, leia O mal -estar na civilização. In: Edição Standard
brasileira das obras completas de Freud.
Tradução de José Octávio de Aguiar Abreu. Rio de Janeiro: Imago, 1974, p. 73-171, vol. XXI).

Uma das tarefas mais difíceis da civilização é humanizar esse animal racional chamado
homem. Complementando o que já se falou anteriormente sobre Aristóteles, os argumentos
de Freud, na obra citada, nos dão margem para encontrar elementos para caracterizar o
processo civilizatório construído pelos seres humanos. Essa elevação do homem em relação
à condição animal pode também ser caracterizada pelo que vamos chamar de cultura. Os
humanos são seres da cultura. O acesso aos bens culturais produzidos em toda a história é o
que define nossa condição huma¬na. O homem é um animal cujo maior desejo é tornar-se
humano. Todos nós estamos submetidos ao processo civilizatório. Desde o nascimento até
a morte, somos atravessados pelos critérios que sustentam a civilização: o bem e a justiça.
(GALLO, 2003:57).

Hoje em dia, já no século XXI, podemos perceber que os tempos mudaram muito
rapidamente, e para melhor, quando analisamos que a vida se tornou um pouco mais digna, o
aumento da qualidade de vida em dados gerais é notório, as taxas de crescimento da natalidade,
o aumento da expectativa de vida, os avanços científicos e tecnológicos em todas as áreas e,
principalmente, na área da saúde possibilitaram esses avanços. O acesso à educação melhorou
os índices de alfabetização em todas as partes do mundo, incluindo os países subdesenvolvidos.
A liberdade sexual é mais tolerada e a população de hoje usufrui mais e melhor dos bens
culturais. Porém, apesar de tudo isso, o mal-estar na civilização ainda prevalece.

Nos dias de hoje, esse mal-estar de que estamos falando assume novas formas, sendo
associado às condições econômicas e sociais que os indivíduos vêm experimentando no
mundo moderno. Apesar dos benefícios à vida humana que vieram com os avanços sociais
e econômicos, principalmente a partir da segunda metade do século XX, ainda vivemos a
triste experiência que se caracteriza em alguns países como, por exemplo, a fome, a miséria,
os atentados terroristas, as guerras, o desemprego, a instabilidade econômica e social,
enfim, fatores estes que geram uma insegurança social no indivíduo e consequentemente são
responsáveis pelas doenças psíquicas de nossos tempos.

A incerteza, se nossas perspectivas serão realizadas devido às mudanças no trabalho,


no cenário econômico e político, a instabilidade dos relacionamentos interpessoais fez do
homem moderno um ser inseguro e amedrontado diante do que se espera para um futuro
sempre pouco conhecido. Essa sociedade individualista não prestou muita atenção no que
vinha acontecendo com a chegada de novos valores morais, éticos e culturais e ainda tenta se

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Unidade: Ética e Moral

adaptar a tudo isso, mudanças essas que devem abalar o narcisismo do homem. O indivíduo
se vê sem ocupação e sem perspectivas quando se depara com o desemprego estrutural, a
mecanização do trabalho. Ele perde sua identidade na medida em que perde sua ocupação.
É este mal-estar na civilização, que surge da preocupação, do medo e da insegurança que
procuramos diagnosticar em nossa época.
Por fim, fica a questão: como vamos relacionar ética (instância individual) e civilização
(instância coletiva)? A ética, pensada no campo da lei, leva-nos à mesma conclusão de Freud.
Ao obter a posse dos meios de poder e coerção, uma minoria impõe seus valores à grande
maioria. O poder é concebido como essa imposição de uma minoria à grande maioria. Mas
a conclusão de Freud nos permite pensar o poder também como resistência por parte da
maioria. Nesse caso, o Estado aparece como o grande gerenciador desse conflito, por meio
de seu sistema de leis e práticas de coerção como, por exemplo, a prisão (GALLO, 2003: 57).
Pensar sobre a ética nos possibilita olhar para várias direções e uma delas é o exercício
estético, no sentido de que podemos criar condições para instaurar uma ética da beleza, ou
seja, fazer da vida uma obra de arte, esculpida como quem dá forma a uma pedra bruta ou
dá cores a uma tela. A pedra e a tela seriam as imposições, obstáculos ou restrições impostas
pela civilização e das quais não conseguiremos nos livrar, pois fazem parte da vida, do dia a
dia, mas podemos ter a liberdade de escolha de que cores ou formato queremos dar a nossa
vida, construindo assim uma trajetória menos complicada para aquilo que estaremos sempre
buscando: a felicidade.

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Material Complementar

Mais informações acerca do tema “O que é ética” podem ser encontradas nos textos abaixo:
Filmes:
À Procura da Felicidade (2006, EUA, direção: Gabriele Muccino).
Homens de Honra (2000, EUA, direção: George Tillman Jr).
Dançando no escuro (2000, França, direção: Lars Von Trier).
Livros:
O que é ética, de Álvaro L. M. Valls, Editora Brasiliense, coleção Primeiros Passos.
Ética para meu filho, de Fernando Savater, Editora Martins Fontes.

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Unidade: Ética e Moral

Referências

COTRIM, Gilberto. Fundamentos da Filosofia. São Paulo: Saraiva, 2000, p. 263.


GALLO, Silvio. Ética e cidadania. Campinas: Papirus, 2003, p. 53

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Anotações

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