A Pedagogia de Jerome Bruner
A Pedagogia de Jerome Bruner
A Pedagogia de Jerome Bruner
Desenvolvimento
Bruner apelida a sua teoria de instrumentalismo evolucionista, uma vez que, para
o psicólogo e pedagogo norte-americano, o homem depende das técnicas para a
realização da sua própria humanidade. Embora, à semelhança de Jean Piaget, coloque a
maturação e a interacção do sujeito com o ambiente no centro do processo de
desenvolvimento e de formação da pessoa, Bruner acentua o carácter contextual dos
factos psicológicos. A abertura à influência do contexto e do social no processo de
desenvolvimento e de formação torna a teoria de Jerome Bruner mais abrangente do que
a teoria de Jean Piaget e fazem com que aquele consiga incorporar a transmissão social,
o processo de identificação e a imitação no processo de desenvolvimento e formação. O
carácter desenvolvimentista da teoria de Bruner mantém-se graças à tónica que ele
coloca no papel da equilibração, ou seja, a capacidade que cada pessoa tem de se auto-
regular.
Um outro aspecto que diferencia a teoria de Bruner da teoria de Piaget é o papel
que o primeiro concede à cultura, à linguagem e às técnicas como meios que
possibilitam a emergência de modos de representação, levando-o a afirmar que o
desenvolvimento cognitivo será tanto mais rápido quanto melhor for o acesso da pessoa
a um meio cultural rico e estimulante.
O papel que Bruner concede à linguagem no processo de desenvolvimento e de
formação obriga-nos, também, a diferenciar o seu pensamento da teoria do
epistemólogo genebrino. Para Bruner, à semelhança de Chomsky, a linguagem tem um
papel amplificador das competências cognitivas da criança, ajudando-a a uma maior
interacção com o meio cultural.
A teoria de Bruner incorpora, de uma forma coerente, quer as contribuições do
maturacionismo quer os contributos do ambientalismo, pois é através de uns e de outros
que a criança organiza os diferentes modos de representação da realidade, utilizando as
técnicas que a sua cultura lhe transmite. O desenvolvimento cognitivo da criança
depende da utilização de técnicas de elaboração da informação, com o fim de codificar a
experiência, tendo em conta os vários sistemas de representação ao seu dispor.
Bruner, à semelhança de Piaget, procurou tipificar o desenvolvimento cognitivo
numa série de etapas: até aos 3 anos de idade, a criança passa pelo estádio das respostas
motoras, dos 3 aos 9 anos, faz uso da representação icónica, e a partir dos 10 anos de
idade, acede ao estádio da representação simbólica. No primeiro estádio, a criança
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Bruner, neste livro, é a ideia de que é possível ensinar tudo aos alunos desde que se
utilizem procedimentos adaptados aos estilos cognitivos e às necessidades dos alunos.
Assuntos como a natureza da aprendizagem, a estrutura do conhecimento, e os meios
pelos quais um e outro são adquiridos, constituem as grandes linhas de força desta obra.
No livro Toward a Theory of Instruction, Bruner desenvolve os tópicos
discutidos na obra The Process of Education e apresenta, de uma forma estruturada, a
sua teoria da aprendizagem.
A influência que o livro The Process of Education teve nas reformas
curriculares, ocorridas nos EUA, na década de 60, foi enorme. Interessado, em primeiro
lugar, no estudo dos processos de desenvolvimento psicológico e nos diferentes modos
de pensamento, Bruner desenvolveu um conjunto de teorias sobre a aprendizagem, a
linguagem, o currículo, a pedagogia e antropologia que tiveram uma enorme influência,
nos EUA e na Europa, durante as décadas de 60, 70 e 80.
A ligação de Bruner ao “Academic Reform Movement” coincidiu como um
período da guerra fria caracterizado pela rivalidade científica entre os EUA e a Rússia
Soviética, cujo ponto alto ocorreu com o lançamento do “Sputnik”, em 1956. A reacção
americana aos avanços soviéticos na corrida ao espaço teve um forte impacto na
refroma curricular forte e visou reforçar o ensino das Ciências e da Matemática nas
escolas básicas e secundárias. A teoria da aprendizagem de Bruner oferecia uma
moldura inspiradora para tais reformas curriculares, não admirando, portanto, que o
psicólogo de Harvard se visse envolvido nesse movimento de reforma curricular, desde
o início. A obra The Process of Education, escrita na sequência das Conferências de
Woods Hole, realizadas sob os auspícios da National Academy of Sciences, tornou-se a
principal referência das reformas curriculares dessa época. Dos muitos projectos
curriculares desenvolvidos no âmbito desse movimento, convém destacar dois pela
influência que tiveram, respectivamente no ensino das Ciências Matemáticas e Naturais
e no ensino das Ciências Sociais: Science – A Process Aproach e Man: A Course of
Study.
Central na reforma curricular inspirada na teoria da aprendizagem de Bruner foi
o reconhecimento do valor da ciência como a forma mais sofisticada do conhecimento
humano e, em consequência, o relevo que o ensino das matérias científicas deveria ter
no currículo escolar. Perante o avanço rápido das Ciências, seria necessária uma
abordagem diferente ao seu ensino. Em vez da exposição aos factos, fenómenos e
teorias, Bruner defendia a necessidade de os alunos compreenderem o próprio processo
de descoberta científica, familiarizando-se com as metodologias das Ciências de modo a
assimilarem os princípios e estruturas das diversas Ciências. Assim sendo, “os conceitos
de estrutura, princípio fundamental e transferência são fundamentais e estão interligados
na concepção teórica de Bruner” (Roldão, 1994: 61).
Um outro aspecto central na teoria da aprendizagem de Bruner é a importância
concedida ao método da descoberta, com base na ideia de que o conhecimento da
estrutura das disciplinas exige a utilização das metodologias das Ciências que suportam
as várias disciplinas do currículo. Com esta ideia, Bruner faz a crítica da metodologias
expositivas, considerando, ao invés, que a aprendizagem das Ciências se faz melhor
através do envolvimento dos alunos no processo de descoberta e no uso das
metodologias científicas próprias de cada ciência: “Julgamos que, logo de início, o
aluno deve poder resolver problemas, conjecturar, discutir da mesma maneira que se faz
no campo científico da disciplina” (Bruner, 1965: 1014).
Um outro importante contributo teórico de Bruner para a teoria da aprendizagem
são os conceitos de prontidão e de aprendizagem em espiral, desenvolvidos ao longo do
livro The Process of Education. No essencial, o conceito de prontidão pode ser
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Crítica
A introdução e generalização abusiva destas teses de Bruner, por parte dos
construtores dos curricula, durante as últimas décadas, levou a que muitos professores
se tenham sentido pressionados para privilegiar o uso sistemático dos processos de
pesquisa e da metodologia da descoberta, em prejuízo de uma maior equilíbrio e
diversificação das metodologias, numa evidente desvalorização dos processos de
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transmissão de conhecimentos e dos métodos de aprendizagem por recepção. Como é
evidente, uma aprendizagem de qualidade não pode prescindir nem de uns nem de
outros e qualquer exclusivismo só pode provocar maus resultados.
Roldão (1994: 65) referindo-se às limitações de uma aplicação mecânica para o
desenvolvimento curricular da teoria de Bruner afirma: “Os métodos de pesquisa, que
poderão ser certamente muito apropriados em inúmeras situações de ensino e
aprendizagem, não deveriam ser, quanto a mim, limitados a uma suposta reprodução de
uma abordagem empirista do método científico”.
Ausubel (1978: 60) chamou a atenção para as desvantagens de uma
sobrevalorização da experiência directa como processo de aprendizagem de conceitos,
uma vez que a aplicação do método científico não é suficiente para aprender Ciências.
Embora as críticas que Bruner formulou à rigidez da teoria dos estádios de
desenvolvimento cognitivo de Piaget tenham ajudado a flexibilizar as propostas
curriculares influenciadas pelas teorias cognitivas, a verdade é que a sua preferência
pelo método da descoberta e a defesa que faz do aluno enquanto cientista colocam
muitas limitações à aprendizagem dos factos, noções e teorias, a qual se deve fazer,
também, através de metodologias expositivas e da aprendizagem por recepção, sob pena
da impossibilidade de cumprimento de programas, com as consequentes lacunas de
informação.
Bibliografia
Ausubel, D. Novak, J. e Hanesian, H. (1978). Educational Psychology: A Cognitive
View. Nova Iorque: Holt, Rinehart and Winston
Bruner, J. (1965 a). “The growth of mind”. American Psychologist, 20, 1007-1017
Bruner, J. (1965 b). “MACOS: Man, A course of study”. Educational Services Inc.
Quarterly Report, Spring-Summer, 3-13
Bruner, J. (1964). On Knowing: Essays for the Left Hand. Cambridge. Harvard
University Press