Lima, Silva, 1997

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RELATOS DE SALA DE AULA

ESTUDANDO OS PLÁSTICOS
Tratamento de problemas autênticos no ensino de química
A seção “Relatos de sala de aula” é um espaço dirigido à Maria Emília Caixeta de Castro Lima
socialização de experiências desenvolvidas no ensino de química, Nilma Soares da Silva
em que se busca valorizar as vivências de sala de aula e intensificar
as reflexões sobre os currículos praticados nas escolas, como
forma de melhorá-los. O ensino tradicional trabalha com
Com o artigo publicado em Química Nova na Escola nº 4, foi conceitos bem definidos e as estraté-
possível conhecer e refletir sobre uma modalidade de formação gias de ensino seguem um ritual roti-
continuada de professores de química dirigida à superação de neiro. Apresentam-se definições,
práticas tradicionais vigentes nas escolas. O presente artigo relata seguidas de alguns exemplos, e pos-
uma experiência desenvolvida por professores que participam teriormente propõem-se extensas
desse processo, enfocando o tratamento de problemas listas de exercícios com respostas
considerados autênticos no ensino-aprendizagem em química, no fechadas, muitos deles estranhos à
nível médio. própria comunidade científica. É
necessário ressaltar que conceitos e
problemas autênticos, contextualização das aprendizagens, conhecimento definições não são a mesma coisa,
6 escolar significativo uma vez que o aluno pode ser capaz
de dar uma definição relativa a deter-
minado conceito e não saber como
usar esse conceito em diferentes pro-

N
este artigo, trazemos o relato blemática e perspectiva que trazemos blemas.
de uma experiência desen- este nosso relato de experiência. A definição é um momento impor-
volvida junto à terceira série tante do processo de construção do
Cultura escolar
do nível médio por professoras e x conhecimento, entretanto representa
professores de química do município cultura científica um estágio de síntese, na construção
de Contagem (MG), no ano de 1996. conceitual. Uma vez que a escola tem
Apresentamos e discutimos alguns Na atividade escolar, o tratamento
instituído rituais mecânicos de defini-
aspectos teóricos e metodológicos descontextualizado de problemas
ções apriorísticas, em detrimento da
que poderão subsidiar a utilização de científicos tem se mostrado com fre- construção conceitual, baseada em
livros paradidáticos no ensino de quí- qüência improdutivo para promover a princípios, resta ao aluno a memori-
mica, como também de recortes de aculturação dos indivíduos na prática zação e a repetição de conteúdos
jornais e artigos de revistas especiali- das comunidades científicas. Investi- divorciados da vida, descontextuali-
zadas, na perspectiva da resolução de gações recentes sobre aprendizagem zados, sem significação.
problemas autênticos no contexto das apontam para a impossibilidade de Essa educação escolar não tem
relações entre ciência, tecnologia e separar o que é aprendido da forma provido os aportes necessários para
sociedade. como isso é aprendido e usado. que os membros de sua comunidade
Considerando que o tratamento de Autores como Brown e cols. (1989) su- possam ter uma formação integral e
um problema autêntico envolve es- gerem que o desenvolvimento completa, que
tratégias que, em sua gênese, são de determinadas estruturas ló- O aluno pode ser capaz lhes permita o
diferentes das adotadas para os tradi- gicas não confere compe- de dar uma definição exercício pleno
cionais problemas escolares, estamos tência aos sujeitos para lidar relativa a determinado da cidadania. A
buscando formas de fortalecer a rela- com problemas diferentes, conceito e não saber escola criou es-
ção escola—cotidiano, por meio da mesmo que eles demandem a como usar esse conceito sa cultura, à
valorização do uso de livros para- mesma lógica subjacente, já em diferentes problemas medida que os
didáticos, de modo que a aprendiza- usada em outras circunstân- rituais, as ferra-
gem seja orientada pela resolução de cias. O conhecimento depen- mentas usadas e a concepção subja-
problemas que propiciem a constru- de, pois, da situação em que é apren- cente do que seja a ciência e a ativi-
ção de conhecimentos e a adoção da dido e usado. Assim, atividade, con- dade científica tornaram-se cada
atitude de pesquisa. É com base nes- teúdo e contexto são vistos como inter- vez mais distantes e estranhos
sa preocupação e em torno dessa pro- dependentes. aos processos desenvolvidos pela

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comunidade científica. Isso tem mos algumas considerações sobre des sociais, individuais e coletivas.
resultado em entendimentos o que vem a ser um problema autên- Dentro dessa concepção de ensino
equivocados sobre o que vem a ser a tico no ensino. de ciências, busca-se instrumenta-
atividade de um cientista. Mesmo que A abordagem de problemas au- lizar os alunos para o debate, no
o aluno tenha sucesso no fluxo da tênticos é, em sua gênese, episte- sentido de chamar a atenção dos
escolarização, ele poderá ter uma mologicamente diferente da aborda- cientistas e dos órgãos governa-
visão fragmentada, distorcida e irreal gem de problemas escolares co- mentais sobre as responsabilidades
da atividade científica e da realidade. muns. Um problema autêntico é, de sociais do trabalho científico, sobre
Treinados para resolver problemas início, aberto e pouco definido, ao os recursos envolvidos, sobre a
muitas vezes sem relação com a contrário do que ocorre normalmen- autonomia de escolha e definição de
realidade, para memorizar fórmulas, te na escola, onde os problemas são pesquisas e sobre o respectivo
nomes e regras mnemônicas, resta- bem definidos, assim como o impacto na qualidade de vida.
lhes construir um quadro da ciência resultado esperado. Em um proble- Acreditamos, também, que o trata-
como algo pronto e infalível e, sobre- ma autêntico, os resultados são mento de problemas autênticos,
tudo, acreditar na neutralidade cientí- inesperados e admitem mais de com características de pesquisa,
fica. uma possibilidade de resposta. Tra- pode levar os estudantes a adquirir
Os alunos são sempre solicitados ta-se do enfoque de situações com- independência intelectual. Os
a usar os instrumentos da ciência sem plexas e de questões amplas, com diferentes suportes que o professor
serem capazes, contudo, de adotar a enfrentamento multidisciplinar, en- fornece ao estudante no tratamento
cultura científica. Para aprender a uti- volvendo muitas vezes julgamentos dessa modalidade de problemas im-
lizar as ferramentas como os práticos de valor que só podem ser decididos plicam em uma gradativa transferên-
as usam, o estudante, como aprendiz, a posteriori. Ao contrário dos proble- cia de competência e de autonomia
deve entrar naquela comunidade e em mas escolares, nos problemas na execução dos trabalhos.
sua cultura (Brown e col., autênticos não
1989). Isso não significa Em um problema existe certo ou er- O contexto da experiência 7
tornar-se um cientista, mas autêntico, os resultados rado, mas custo x No trabalho de formação con-
aculturar-se, isto é, conhe- são inesperados e benefício 1 (Zoller tinuada de professores da FUNEC
cer a linguagem científica, admitem mais de uma e Watson, 1979). (Fundação de Ensino de Contagem
os princípios básicos que possibilidade de Com essa carac- - MG), estamos tentando promover
regem os fenômenos, os resposta terização de pro- um ensino de química que seja
métodos e técnicas dispo- blemas autênti- relevante para a vida de nossos alu-
níveis, as relações que os cientistas cos, tornou-se possível pensar não nos, com a pretensão de inter-rela-
estabelecem com o mundo do seu tra- só na estruturação dos mesmos em cionar a escola e o cotidiano dos
balho, os critérios de validação do sala de aula, mas também nas es- estudantes. Para isso, busca-se sus-
trabalho científico. tratégias de ensino e aprendizagem citar, nos alunos, o interesse por pro-
Compartilhamos com Carvalho e a adotar em seus tratamentos na blemas vivenciados em seu dia-a-
Gil-Pérez (1993) a idéia de que é escola. dia.
importante “conhecer as orientações O conhecimento proporcionado Os temas são trabalhados articu-
metodológicas empregadas na cons- pelo enfrentamento de problemas ladamente ao desenvolvimento do
trução dos conhecimentos, isto é, a autênticos demanda uma constru- currículo, em química orgânica, du-
forma como os cientistas abordam os ção coletiva paulatinamente pensa- rante o ano letivo, sendo previamen-
problemas, as características mais no- da, por meio do ativo envolvimento te escolhidos pelos professores,
táveis de sua atividade, os critérios de do aprendiz e da mediação do pro- quando do planejamento anual. Para
validação e aceitação das teorias fessor, além de estratégias particu- mediar a discussão sobre grandes
científicas” (p. 22). E é com o propó- lares de ensino. A própria definição temas, um dos recursos didáticos
sito de contribuir para a reflexão em de temas deve ser pensada no âm- utilizados refere-se aos livros para-
torno desta problemática apontada, bito de cada contexto em que a es- didáticos.
na perspectiva da busca de melhorias, cola está inserida, segundo o inte- A cada série do ensino médio são
que trazemos o presente relato de resse dos alunos e de forma que per- explorados dois grandes temas. Na
experiência, que trata de uma abor- mita uma convergência para os tópi- primeira série estão sendo trabalha-
dagem possível de problemas autên- cos do conteúdo tradicionalmente dos os temas ‘Lixo’ e ‘Água’, dois
ticos no ensino de química. planejados. graves problemas que atingem a
Faz-se necessário partir daque- população de Contagem. A inexis-
Problemas autênticos no les problemas que, de uma forma ou tência de aterros sanitários e de
ensino de outra, afligem a comunidade em coleta regular de lixo, além da falta
Antes do relato da experiência seu dia-a-dia, para que o educando de saneamento básico, são proble-
que estamos desenvolvendo, traze- possa vir a assumir responsabilida- mas comuns nos bairros de

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Contagem, e a comunidade sofre tiva, o que constitui um dos requisitos tação do problema, os estudantes
sérios problemas de saúde em essenciais para uma ação docente elaboram um projeto de pesquisa.
função da poluição proveniente do eficaz e satisfatória (Carvalho e Gil- O projeto deve explicitar, além do
parque industrial. Pérez, 1993, p. 49). problema, a metodologia da pesquisa
Na segunda série, o estudo recai O livro paradidático trabalhado é e a forma de apresentação dos resul-
sobre os temas ‘Energia’ e ‘Alimen- escolhido mediante discussão prévia tados, incluindo as referências biblio-
tos’. Discutem-se, por exemplo, entre professores de gráficas e as fontes de
vantagens e desvantagens do uso química, com base em pesquisa. O projeto é
Os estudantes devem
do álcool e da gasolina como com- critérios para a escolha concebido como algo
escolher um problema,
bustíveis, formas alternativas de do livro. Ressaltam-se dinâmico, em proces-
na comunidade ou no
energia, além dos problemas rela- os aspectos positivos so, e portanto vai mu-
trabalho, que julguem
cionados à industrialização de ali- da obra, a possível relevante para ser dando de conforma-
mentos, como técnicas de conser- existência de erros, as investigado ção à medida que o
vação, aditivos químicos, saúde, dificuldades a serem estudante compreen-
fome, entre outros. enfrentadas e as pos- de melhor o problema
Na terceira série, ao se abordar sibilidades de êxito ao trabalhar com e o que pretende com o próprio de-
o tema ‘Plásticos’ pretende-se não o livro. senrolar da pesquisa.
só informar o aluno sobre aspectos No início do ano letivo, os alunos A escolha do tema/problema a ser
químicos desses materiais mas, ao são informados sobre a exigência da investigado e da forma de apresenta-
mesmo tempo, discutir problemas leitura do livro e de que serão subme- ção é livre, mediante orientação ou su-
relacionados ao impacto ambiental tidos a uma avaliação, com o objetivo gestões do professor. Podemos citar
decorrente do uso de plásticos e de verificar a qualidade da leitura exemplos como:
iniciativas que possam minimizar realizada. Fica a critério do professor • Plásticos são melhores que os
esse impacto. o tipo de avaliação, contudo é comum materiais naturais? Quais são as
8 No desenvolvimento do trabalho que ela ocorra com
está sendo adotado o livro paradi- consulta, podendo ain-
dático Plásticos: um bem supérfluo da ser individual ou em
ou um mal necessário. Esse livro po- duplas. Outro recurso
de ser útil ao professor por abordar também utilizado, com
desde o aparecimento e uso do esse mesmo objetivo,
plástico até o problema ambiental é a realização de semi-
criado para o futuro. O conteúdo nários e debates, nos
apresentado pelo livro, além de quais os estudantes
enfocar tópicos de química orgâni- têm oportunidade de
ca, como propriedades dos com- discutir o livro com os
postos orgânicos, interações inter- demais colegas. Du-
moleculares e polimerização, dá rante a discussão, co-
relevância à reciclagem e à degra- meçam a surgir refe-
dação ambiental. A experiência de rências aos problemas
trabalho sobre plásticos que passa- que os estudantes
mos a relatar a seguir insere-se no vivenciam na comuni-
ensino de química orgânica, ainda dade ou no trabalho,
restrito à terceira série do ensino ou sobre os quais ou-
médio. viram falar, leram em
revistas e jornais, viram
O desenvolvimento da na televisão etc.
experiência O professor solicita,
Incentivar a leitura, a interpretação nesse contexto, que os
e produção de textos, a criatividade, a estudantes, em grupo,
expressão oral, a pesquisa e o desen- escolham um proble-
volvimento do senso crítico é um ma que julguem rele-
objetivo básico do processo. A adoção vante para ser investi-
da metodologia ativa supõe, sem dú- gado, de preferência
vida, trabalho adicional para os profes- algo que se relacione
sores, mas ao mesmo tempo concede com a cidade/local em
Este é o livro paradidático adotado no desenvolvimento do
estímulos e motivação, pelo interesse que vivem. Após a trabalho aqui relatado. Uma resenha deste livro foi publicada em
à pesquisa como uma atividade cria- identificação e delimi- Química Nova na Escola nº 4, p. 14.

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vantagens e desvantagens dos mate- em relação a essa polêmica? levando necessariamente a mudanças
riais naturais e dos plásticos? As van- Os alunos contam com a orienta- radicais no papel do professor, o qual
tagens que acompanham o uso de ção do professor, que aprecia os pro- passa a orientar e dirigir ‘pesqui-
polímeros sintéticos compensam seus jetos e apresenta sugestões de me- sadores iniciantes’ (Carvalho e Gil-
inconvenientes? lhoria, o mesmo acontecendo com os Pérez, 1993, p. 50-52).
• Há substitutos para os plásticos? relatórios parciais. O professor moni- Essa participação do professor
O que as pesquisas atuais vêm apon- tora o conjunto das ações dos estu- pode ser algo difícil e problemático.
tando quanto a novas dantes, auxiliando na Não se trata mais de solicitar dos es-
tecnologias de fabrica- Atividades como sessões organização, análise e tudantes ‘pesquisas’ como cópias de
ção de plásticos biode- de vídeo, confecção de discussão dos dados enciclopédias, surgindo dificuldades
gradáveis? murais, discussões sobre obtidos. no próprio entendimento do que seja
• Todos os objetos a qualidade de vida e o Paralelamente, são orientar e dirigir pesquisadores inician-
de matéria plástica co- meio também são feitas visitas dos alu- tes. Nesse sentido, a modalidade de
mercializados são in- desenvolvidas nos a uma fábrica de formação continuada que desenvolve-
dispensáveis? Qual se- artigos plásticos, a fim mos (descrita em Química Nova na
rá o futuro da indústria de plásticos no de reconhecerem o tipo de processo Escola nº 4) propicia o assessora-
mundo? Se houvesse uma súbita utilizado — ou seja, produção ou mo- mento ao professor na construção de
redução na produção de plásticos, delagem de plástico — e se ambien- uma nova concepção de pesquisa de
quem se ressentiria mais: os países tarem em um laboratório industrial. problemas autênticos. O próprio grupo
desenvolvidos ou os subdesenvolvi- Além disso, conta-se com sessões de de professores assessorados exerce
dos? Qual seria a situação de seu mu- vídeo, confecção de murais, discus- influência sobre o entendimento dos
nicípio, caso houvesse essa súbita sões sobre a qualidade de vida e o colegas na medida em que socializam
redução na produção de plásticos? meio em que se vive, com posicio- suas experiências individuais.
• Que impacto o uso de plásticos namentos e encaminhamentos. Outra dificuldade que percebemos,
está ocasionando no ambiente, no Ao final, os estudantes apresentam à frente desse trabalho, relaciona-se 9
mundo contemporâneo? Em que me- a pesquisa e seus resultados para os às dúvidas dos professores quanto à
dida esse impacto está sendo objeto colegas na forma que julgarem mais validade dessa modalidade de traba-
de investigação e de campanhas de adequada. É comum a produção de lho e atividade. Com freqüência per-
educação ambiental? Que iniciativas vídeo, exposição de fotografias, con- guntam se o livro paradidático vai ser
têm sido tomadas em seu município fecção de slides, de maquetes, utilizado, se o estudante precisa ler, se
visando diminuir esse impacto? encenações etc., tudo isso confeccio- vai haver apresentação das atividades.
• Redução produtiva, incineração, nado pelos estudantes como recursos O professor que se impõe a exigência
degradação, reciclagem: qual a solu- didáticos para a apresentação do que de “esgotar todo o conteúdo” consi-
ção para o problema ambiental acar- foi pesquisado. dera que esse trabalho lhe rouba parte
retado pelos polímeros artificiais? Os resultados obtidos no primeiro preciosa dotempo para ensinar quí-
Algumas dessas medidas estão sendo ano (1996) já apresentam elementos mica.
implementadas no Brasil e/ou em sua importantes para a compreensão dos Na sala de aula, outra dificuldade
cidade? limites e da validade que pode surgir, nes-
• O município conta com coleta desse tipo de trabalho Os alunos passam da se tipo de atividade,
seletiva de lixo? Que destino é dado nas escolas de ensino ‘pesquisa’ tipo cópias de refere-se à falta de
ao lixo plástico de Contagem? Há médio. Os alunos de- enciclopédias para a de entendimento do pro-
alguma indústria de reciclagem de monstram um surpreen- um problema autêntico, blema, por parte do
plásticos em Contagem? Qualquer dente interesse pelo tornando-se aluno. Não há que se
tipo de plástico é reciclável? Como conteúdo do livro, princi- pesquisadores iniciantes esperar que os alunos
identificar os vários tipos de plásticos? palmente no que diz tenham, de imediato,
Como as indústrias separam diferen- respeito à degradação ambiental e à um entendimento completo do que
tes tipos de plásticos para reciclagem? reciclagem. seja o problema e de quais sejam os
Qual é o tipo de processo utilizado caminhos a trilhar na busca de sua so-
nessas indústrias: modelagem ou pro- Dificuldades percebidas e lução. Igualmente, os alunos não têm
dução do material plástico? algumas considerações o mesmo entendimento do problema
Com base nas abordagens dos O desafio de pesquisar um proble- entre si, o que exige a atuação do pro-
problemas, como os apontados, dá- ma autêntico, como estamos pro- fessor na estruturação de atividades
se tratamento às questões, informa- pondo, exige que o professor auxilie o e na construção de consensos/enten-
ções e conteúdos do livro lido, com estudante no entendimento daquilo dimentos.
ênfase na discussão sobre: em que consiste o problema e na inter- Mesmo que a atividade seja seg-
• Plástico: bem supérfluo ou mal pretação dos resultados. Implica ori- mentada de forma a diminuir os ‘graus
necessário? Como você se posiciona entar a aprendizagem como pesquisa, de liberdade’ na confecção da tarefa,

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a compreensão da mesma só se dá à só tenha competência para resolver o Avaliamos como positiva essa
medida que se avança em direção à problema, mas também que, ao final, iniciativa e a experiência que vem sen-
sua solução. Como a tarefa é comple- ele saiba propor um outro problema do desenvolvida pelos professores,
xa, é comum que ocorra a segmenta- semelhante, que possa ser investiga- muito embora saibamos que a apro-
ção da mesma. Portanto, deve-se do. Assim, inicialmente o professor irá vação da mesma não é consensual.
considerar o risco de que esse proces- explicitar o objeto do trabalho e os Os professores relatam que há alunos
so de segmentação da tarefa possa objetivos a serem alcançados, além que acham os livros ‘chatos’, e essas
levar à fragmentação do conhecimen- do critério de sucesso. reclamações dos estudantes são
to. O restabelecimento do nexo entre Acreditamos que essa modalidade traduzidas, pelos professores, como
a parte (as tarefas) e o todo (problema) de problema possa ser desenvolvida falta de hábito de leitura. A tarefa que
é garantido pelo professor que tem o por meio de tarefas estruturadas, se mostra mais difícil está relacionada
papel de mediador da aprendizagem. semi-estruturadas ou até mesmo à primeira parte do trabalho, que en-
Ao mesmo tempo em que a tarefa é completamente livres, o que não quer volve a leitura e a definição de um pro-
fragmentada, o professor explica e dizer que o estudante não conte com jeto de pesquisa com caráter de
mostra as articulações a orientação do pro- problema autêntico, cujas caracterís-
internas recompondo o O professor atua como fessor em todas as ticas e dificuldades foram aqui discu-
todo. ‘consciência emprestada’ etapas do processo. tidas. Registra-se que, via de regra,
Compartilhamos e, aos poucos, ajuda a A orientação do pro- bons trabalhos têm surgido e muitos
com Mortimer e Carva- construir o suporte fessor é fundamental, estudantes têm demonstrado interes-
lho a idéia de que “a conceitual que garante a até mesmo em aten- se e satisfação em desenvolvê-los.
construção do signifi- aprendizagem dos alunos ção à necessidade de
cado de uma tarefa em controle do conteúdo Maria Emília Caixeta de Castro Lima, licenciada
em química e mestre em educação pela UFMG, é
sala de aula é um a ser ensinado e dos professora de prática de ensino de química da Fa-
processo de convergência de enten- objetivos a serem alcançados. Essa culdade de Educação da UFMG e assessora de
10 dimentos. Os alunos não têm, de orientação também se justifica pela ensino de química da FUNEC. Nilma Soares da
Silva é licenciada em química pela UFMG e
início, o mesmo entendimento da ta- dificuldade de entendimento do que é professora de química da FUNEC.
refa. Vai ser ao longo da realização da desejado.
tarefa que esse significado poderá Como um problema autêntico re- Nota
convergir para o mesmo significado fere-se a uma realidade complexa e 1. A expressão custo x benefício
atribuído pelo professor” (Mortimer e multifacetada, comportando aborda- não tem, aqui, simplesmente um sen-
Carvalho, 1996). Um aluno que não gens multidisciplinares, decorrem tido financeiro, mas sim um sentido (de
compreendeu inteiramente a tarefa, à dificuldades no sentido de ‘dar con- custo x benefício) social.
medida que vê seu sistema de enten- ta’ de questões e de assuntos rela-
dimento funcionando dentro de outro cionados com outras áreas do co-
sistema, mais organicamente articula- nhecimento. Há a necessidade de
do, vai progressivamente passando a englobar outras disciplinas nesse fa- Referências Bibliográficas
compreender não só a tarefa em si, zer pedagógico. Ao se fazer certo re- BROWN, J.S., COLLINS, A, DU-
mas também a solução do problema corte, dentro de nosso domínio GUID, P. Situated cognition and the cul-
em questão. disciplinar, é necessário resguardar ture of learning. Educational Researcher,
A idéia que desenvolvemos é a de a necessidade de se considerar 1989.
CARVALHO, A.M.P., GIL-PÉREZ, D.
que o professor atua como ‘consciên- outros tantos elementos que se en-
Formação de professores de ciência.
cia emprestada’ e, aos poucos, vai trecruzam na determinação da rea- São Paulo: Cortez, 1993.
ajudando a modificar o suporte con- lidade em estudo. MORTIMER, E.F., CARVALHO, A.M.P.
ceitual que garante o processo de de- Convivemos também com dificul- Referenciais teóricos para análise do
senvolvimento e de aprendizagem dos dades relacionadas à resistência dos processo de ensino de ciências. Cader-
alunos. Os grupos de trabalho tam- estudantes em ler o livro solicitado. nos de Pesquisa. n. 96, 1996
bém desempenham papel semelhante Nesse sentido, frisamos que a motiva- ZOLLER, U., WATSON, F.G. Technol-
ogy education for nonscience students
ao do professor, isto é, possibilitam ção anterior para a leitura pode se dar
in the secondary school. Science Edu-
aos outros uma maior compreensão pelo uso de estratégias como vídeos cation. v. 1, n. 58, p. 105-116, 1979.
da temática e das tarefas. Em outras que versam sobre o tema, colocação
palavras, um grupo mais organica- de questões para serem consideradas Para saber mais
mente articulado funciona como e respondidas, avaliação da qualidade CANTO, E.L. Plásticos: bem supér-
suporte de entendimento para os co- da leitura, dentre outras. “Lembremos fluo ou mal necessário? São Paulo: Mo-
legas. que somente aquilo que é avaliado é derna, 1995.
Nessa proposta de realização de percebido pelos alunos como real- LIMA, M.E.C.C. Formação continua-
da de professores de química. Química
atividades autênticas pretende-se, mente importante” (Carvalho e Gil-
Nova na Escola, n. 4, p. 12-17, nov. 1996.
entre outras coisas, que o aluno não Pérez, 1993, p. 59).

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