O Teste de Rorschach

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O TESTE DE RORSCHACH HERMANN RORSCHACH

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CENTRO DE ESTUDOS E APOIO PSICOLÓGICOIO P SIC O L Ó G IC O

Licenciatura em Psicologia

Cadernos de PSICOPATOLOGIA

O TESTE DE RORSCHACH
de Hermann Rorschach

Maputo, Agosto de 2010


Mod. 01

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O TESTE DE RORSCHACH HERMANN RORSCHACH
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Nota Prévia

O uso de Provas Psicológicas como instrumento de avaliação psicológica está amplamente


generalizado, tanto no mundo de expressão anglo-saxónica como no de expressão francófona ou
mesmo hispânica. E apesar das numerosas e abalizadas opiniões a favor e contra, o seu uso é
imprescindível para emprestar rigor e cientificidade ao diagnóstico.

Em Portugal, as opiniões têm sobretudo pendido, nos últimos vinte anos, para a
parcimónia na sua utilização. Percebem-se as razões dos militantes do uso parcimonioso das
provas psicológicas. Em primeiro lugar, porque o uso das provas exige preparação e estudo
adequados; em segundo lugar, porque a maioria esmagadora das provas à disposição dos
psicólogos não estão adaptadas e aferidas para a população portuguesa. Depois ainda, porque a
sua preparação criteriosa e aferição acarretam custos mais ou menos insuportáveis para as
instituições que poderiam fazê-lo. Em quarto lugar porque, não tendo a maioria dos psicólogos
sido preparada para as utilizar, corre-se um sério risco de a sua utilização se transformar em
panaceia para iludir outros problemas.

Ultimamente, porém, vem-se reconhecendo a absoluta necessidade de ultrapassar estes


constrangimentos ideológicos, económicos e técnico-profissionais.

Não estamos em condições de nos eximirmos a esses condicionalismos. Simplesmente


achámos conveniente introduzir os alunos do Curso de Psicologia no conhecimento mais
pormenorizado e no uso de algumas das técnicas e provas psicométricas em contextos de
avaliação psicológica.

Estes Cadernos de Psicologia Diferencial são um mero exercício pedagógico que se


justifica exclusivamente no quadro da Cadeira de Psicologia Diferencial. São trabalhos práticos
dos alunos que aceitaram estudar as Provas com maior rigor, preparar um guião standard das
normas de aplicação e fazer um primeiro ensaio no contexto da sala de aula.

O Professor

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MODELO DAS NORMAS DE APLICAÇÃO:


1. AUTOR
Hermann RORSCHACH – monografia Psychodiagnostik originalmente publicada em
1921;
2. UTILIZAÇÃO
Usa-se como método de avaliação da personalidade; é um teste projectivo e
constitutivo, visto que o examinando organiza perceptivamente um material não
figurativo; além disso é também um teste idiográfico (análise qualitativa,
descritiva) e ipsativo (referente apenas ao sujeito examinado, não pretende a
análise normativa);
3. IDADES DE APLICAÇÃO
Desde a idade pré-escolar até à idade adulta;
4. MATERIAL NECESSÁRIO
 As dez pranchas originais compostas por dez cartões brancos acetinados de 24,5
por 18 cm com as dez manchas padronizadas: cinco monocromáticas, duas
bicolores e três policromáticas;
 Folhas com a reprodução das pranchas a preto e branco;
 Um cronómetro silencioso para medir o tempo «reaccional» e o tempo «total»
em cada prancha;
 Lápis de cor;
 Folhas de protocolo e de recolha de dados, que podem tomar vários modelos;
5. CONDIÇÕES DE APLICAÇÃO
 Passagem individual;
 A sala de aplicação deve ser tranquila, sóbria, livre de interferências;
 A iluminação, um factor importante, deve descair obliquamente desde a
esquerda ou então por detrás do examinador, não muito forte nem muito fraca,
de preferência natural; a incidência directa da luz solar nas pranchas deve ser
evitada, bem como a luz artificial, e caso tal aconteça esta peculiaridade deverá
merecer uma nota;
 A disposição particular do aplicador e do examinando não tem uma forma
específica e obrigatória; é, sim, aconselhável que o examinador esteja colocado
de forma a percepcionar claramente a mímica, a posição, e as expressões do
examinando, enquanto este deve estar colocado de forma confortável perto do

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examinador mas também de modo a que não se sinta constrangido pela sua
presença;
 As pranchas devem ser apresentadas sempre na ordem da sua numeração e na
sua posição original; quaisquer movimentos que o examinando opere na
prancha devem ser devidamente anotados;
 Antes do início da prova deve perguntar-se ao examinando se este já realizou a
prova anteriormente; caso a resposta seja positiva, deve anotar-se a data e as
circunstâncias da aplicação prévia;
6. TEMPO DE APLICAÇÃO
É extremamente variável, podendo ir de trinta minutos a duas horas ou mais; tal
variabilidade deve-se à arbitrariedade que os examinadores detêm na aplicação da
prova; por exemplo, KLOPFER concede três minutos para que emirjam as respostas,
enquanto HERTZ concede dois minutos (Adrados, 1980); embora estes sejam os
limites, estes deverão ser alargados se for facilmente perceptível que a mente do
examinando está a trabalhar no intuito de elaborar uma interpretação mais
substancial;
7. INSTRUÇÕES PARA APLICAÇÃO
 Preparação do examinando:
 Adequação da aplicação a cada caso, tendo em conta a formação cultural, a
inteligência, o nível de desenvolvimento, o que deve ser tido em conta no
fornecimento das instruções;
 Criar um clima de confiança entre o examinando e o examinador;
 A ansiedade ou bloqueio não devem estar presentes no indivíduo;
 Existe um momento considerado «óptimo» que deve ser atingido, no qual não
devem figurar nem muita tensão nem muita descontracção;
 As instruções devem ser breves e claras, como «o que vê aqui?», «o que pode
ser isto?», «no que é que isto o faz pensar?»; alguns indivíduos sofrem uma
espécie de estupor que os deixa incapazes de responder, ao que o examinador
deve combater com frases neutras e animadoras como «pode começar» ou «não
precisa de pensar muito, não se trata de errar ou acertar», «pode falar à
vontade», etc.; O examinador não deve sugestionar o examinando a girar a
prancha em várias posições, mas se este pedir o pedido deverá ser aceite; aqui
devem ser anotadas as várias posições utilizadas mediante os seguintes

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símbolos:  para a posição normal,  para a invertida,  para a lateral esquerda, 


para a lateral direita e ainda o símbolo quando o examinando gira ansiosa
e rapidamente a mancha sem encontrar posição; mais de oito ou dez respostas
por prancha, além de ser cansativo, é desnecessário; as respostas devem ser
transcritas sempre que possível literalmente, anotando observações,
exclamações e comentários bem como o tempo reaccional e total de cada
prancha;
 O INQUÉRITO: um inquérito bem sucedido é a chave para uma boa interpretação;
o examinando não deve ser interrompido durante a prova e o técnico deve
limitar-se à recolha detalhada das respostas, exclamações e comentários, sendo
que a resposta às dúvidas e comentários do examinando deverá ser dada
posteriormente;
 Nesta fase da prova, posterior à interpretação do examinando, pretende-se
averiguar, mediante perguntas neutras e habilmente dirigidas, «onde» e
«como» o examinando viu cada uma das respostas dadas na primeira parte da
prova, o que permite classificar a resposta e conferir-lhe o signo
correspondente de acordo com a nomenclatura do teste;
 Outro objectivo do inquérito é dar uma nova hipótese aos indivíduos que,
embora inteligentes, tenham sofrido bloqueios ou perturbações de índole
emocional durante a primeira fase do teste; os novos esclarecimentos e
contribuições espontâneos contribuirão para uma avaliação mais criteriosa da
personalidade do sujeito;
 O aplicador deve pedir a sua realização a título de colaboração, como uma
contribuição utilíssima para ele; é aconselhável um interesse genuíno e
perguntas simples e naturais para captar a receptividade do examinando; ao
realizar essas perguntas o aplicador deve manter em mente um roteiro que se
inicia nos aspectos fundamentais e estritamente necessários para depois chegar
aos dados secundários e complementares; as perguntas são formuladas do
modo «onde viu…» apontando para a prancha original e depois pedir ao
examinando para contornar com o lápis de cor as suas interpretações nas folhas
de contraste (a preto e branco); deve-se tornar claro que é o próprio
examinando a contornar as figuras e não o aplicador, como alguns técnicos
mais impacientes fazem e ficam de seguida surpresos ao constatar as

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diferenças; sendo o RORSCHACH um teste projectivo, devem ser feitos todos os


esforços para que o examinando se projecte, mas também para evitar, pelo
menos conscientemente, as projecções do próprio aplicador;
 Nas respostas às perguntas «onde» e «como» encontrar-se-ão os dados
necessários para a localização das respostas, bem como os factores que levaram
o sujeito a dar essas respostas, o que permite ao aplicador chegar a conclusões
claras acerca da localização e dos determinantes; são estes factores,
localização e determinantes, juntamente com o conteúdo e respostas
originais e banais, que constituem os quatro aspectos a julgar em cada
resposta para, mediante a simbologia adequada, se chegar a conclusões
objectivas;
8. COTAÇÃO
 A cotação é realizada segundo quatro categorias principais: a localização, os
determinantes, o conteúdo e respostas originais e banais;
 LOCALIZAÇÃO: é a área que foi percepcionada como base de cada resposta; pode
ser a mancha inteira, uma grande parte ou uma pequena parte, um pormenor
mínimo ou parte do fundo branco; a área percepcionada pode ser bem definida
ou simplesmente vaga e confusa; as respostas podem ser classificadas como
globais (G), de detalhe grande habitual (D), de detalhe pequeno (Dd), de detalhe
oligofrénico (Do) e de espaço em branco (Dbl), cotações que designam as
qualidades do padrão de percepção de cada indivíduo em todo o teste;
 A uma resposta que abrange a mancha na sua totalidade dá-se o nome de
resposta global primária; sujeitos inteligentes, com boa capacidade de
abstracção e de síntese, costumam dar as chamadas respostas globais
secundárias, como as «simultâneo-combinatórias», nas quais o indivíduo reúne
diversos elementos da mancha (simultaneamente) e os combina numa resposta
global; ambas recebem o símbolo G;
 As respostas globais secundárias podem ser simultâneo-combinatórias,
«sucessivo-combinatórias», «confabulatórias» ou ainda «contaminadas»; as
sucessivo-combinatórias, que requerem menor habilidade do que as anteriores;
caracterizam-se por um processo de síntese mais lento, no qual o sujeito vai
percebendo os detalhes sucessivamente e depois englobando-os; recebe
também o símbolo G;

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 Nas respostas globais confabulatórias o sujeito toma por base um detalhe e, por
extensão, engloba o resto; recebe o símbolo DG, embora nas percentagens se
conte como G; embora na maioria das vezes estas respostas sejam negativas,
algumas podem ser positivas se o englobamento da percepção não prejudicar a
sua exactidão, recebendo o símbolo DG +;
 As respostas globais contaminadas, apenas observadas em esquizofrénicos, são
segundo BOHM (1953, citado por Adrados, 1980, pp.27) «condensações
esquizofrénicas que fundem duas respostas como numa placa fotográfica
submetida a uma dupla exposição», portanto resultantes de combinações de
duas ou mais percepções; A percentagem normal de respostas G num
psicograma é de cerca de 20 a 30% relativamente ao número total de respostas;
o cálculo faz-se através da multiplicação do total de respostas G por 100 e
seguidamente da divisão pelo número total de respostas:
G * 100
_______
R

 As respostas de detalhe são aquelas que se focalizam num determinado sector


da mancha; a distinção entre detalhes grandes (D) e detalhes pequenos (Dd) é
feita estatisticamente e não pelo tamanho, sendo pouco variáveis
internacionalmente;
 A percentagem usual destas respostas em relação ao número total de
percepções oscila entre os 45 e os 55%, sendo calculada da mesma forma que
as respostas G;
 Os pequenos detalhes (Dd) são pouco comuns e normalmente abrangem uma
superfície bastante limitada; Este tipo de resposta tem uma proporção ideal de
10 a 15%;
 As respostas de pequeno detalhe oligofrénico (Do) são aquelas nas quais o
sujeito interpreta apenas uma parte do corpo humano onde a maioria dos
indivíduos costuma perceber a sua totalidade;
 As respostas em branco (Dbl) aparecem, segundo RORSCHACH (1948, citado
por Adrados, 1980), nos casos em que os examinandos não captam as figuras,
mas sim os espaços brancos situados entre as manchas;
 DETERMINANTES: são as características das manchas tal como o indivíduo as
percepcionou e dizem respeito aos aspectos ou qualidades da mancha que

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originam as respostas; as respostas podem ser classificadas de acordo com a


forma, a sombra (ou claro-escuro), a cor, o movimento e a perspectiva ou
combinações entre elas;
 A forma diz respeito aos contornos da mancha; as formas podem ser
percepcionadas com exactidão e são cotadas com F; quando os perceptos são
inabituais mas nítidos faz-se a cotação com F + e quando os perceptos são
negativos faz-se a cotação com F –; a percentagem de F (que não se deve
afastas dos 50%) é calculada pela seguinte fórmula:
F * 100
_______
R
 As percentagens de F +, por sua vez, calculam-se através da seguinte fórmula:
(F+) * 100
_______
(F+) + (F–)
 A sombra é cotada tendo em conta a frequência, a intensidade e a interpretação
que o sujeito faz do sombreado; estas respostas são cotadas com E;
 BINDER (1953, citado por Adrados, 1980) refere o «choque claro-escuro» que
ocorre quando o indivíduo é afectado no seu equilíbrio pela apresentação de
uma prancha, o que lhe causa uma perturbação em relação às tonalidades
escuras (normalmente relacionado com a neurose de angústia); BROSIN &
FROMN (1940, citado por Adrados, 1980) indicam alguns modos de detecção
desse choque: aumento do tempo de reacção perante pranchas claro-escuro;
exclamações emocionais; comentários indicativos de ansiedade, irritabilidade e
resistência passiva; diferenças na produtividade; decréscimo na qualidade de
respostas formais; rejeição da prancha; conteúdo pobre;
 Em relação à cor, o examinador anota as referências que o sujeito faz à cor e a
maneira como este combina com a forma; as respostas de cor sem implicação
da forma são cotadas com C, enquanto que as respostas de cor combinadas com
a forma em que a forma é dominante em relação à cor cotam-se com FC e
quando a cor é dominante em relação à forma usa-se o CF;
 A cor pode produzir, tal como a sombra, um choque no sujeito, o «choque de
cor», cuja forma de detecção é a mesma que a da sombra (BROSIN & FROMN,
1940, citado por Adrados, 1980); a cor, por vezes, produz um desequilíbrio
emocional no sujeito que se repercute numa diminuição da capacidade do

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sujeito responder (pode ser indicativo de neurose de angústia); isto deve-se ao


facto da apresentação de manchas coloridas despertar certo grau de sentimento
ou emocionalidade; a cor é indicativa da intensidade emocional do sujeito;
 As respostas de movimento dizem respeito às cinestesias, isto é, são as
interpretações da mancha como uma figura a executar um movimento; quando
o movimento é humano a cotação é feita com K, quando o movimento é animal
mas antropomórfico cota-se com kan, quando o movimento é referente a seres
inanimados cota-se com kob; KLOPFER (1952, citado por Adrados, 1980)
apresenta outra nomenclatura para a cotação das respostas de movimento, M
para o movimento humano e m para o movimento animal (sendo que as
respostas fora desta natureza perceptiva não são cotadas);
 Outro aspecto a ter em conta na cotação é a perspectiva ou profundidade que
está relacionada com a percepção tridimensional da mancha e que se cota com
FE;
 BECK (1956, citado por Freeman, 1980) acrescenta outro determinante na
cotação das respostas, a organização, que é cotada com Z; este determinante é
uma extensão do conceito de resposta global (G) (ver pp.6-7) e indica a
capacidade para percepcionar ou criar «relações novas e significativas entre
partes da figura habitualmente não organizadas desse modo» (Beck, 1956,
citado por Freeman, 1980, pp.675);
 CONTEÚDO: refere-se ao que o examinando realmente viu, o que pode ser de
grande importância quando correctamente interpretado; segundo ADRADOS
(1980) cerca de 80 % das respostas obtidas podem ser agrupadas em animais
(A), seres humanos (H) e objectos (Obj);
 As respostas zoomórficas referem-se ao conteúdo animal (A) e têm um índice
ideal de 25 %; a classificação das respostas A refere-se a animais completos,
parados ou em movimento, enquanto que as respostas Ad referem-se a
perceptos de parte do corpo de animais;
 As respostas de conteúdo humano (H) classificam-se como todas as respostas
referentes a pessoas, tanto em movimento como paradas ou deitadas; respostas
H podem também ser referentes a figuras fantásticas ou mitológicas como
«anjos», «demónios», «fantasmas». «sereias», …; a sua percentagem ideal é de

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20%; as respostas Hd («olho», «braço», «cabeça», …) referem-se a detalhes do


corpo do ser humano;
 As respostas anatómicas (Ant) não devem ser confundidas com as respostas de
detalhes humanos (Hd), pois estas respostas referem-se a órgãos internos, como
«pulmão», «ossos», «traqueia», «fígado», …;
 As respostas sexuais (Sex) são pouco frequentes, visto que os sujeitos, seja por
serem demasiado escrupulosos, por parcimónia para com o examinador, ou
mesmo por repressões neuróticas (nestes casos as respostas surgem
frequentemente com sinais de simbolização ou cobertura), evitam a produção
destes perceptos; a total ausência de respostas sexuais em sujeitos adultos é
habitualmente devida a excesso de pudor originado por uma educação
excessivamente rígida; actualmente as respostas sexuais são menos
significativas, isto devido à educação moderna que incita a uma maior
liberdade de expressão, favorecendo assim a diminuição do número de pessoas
que considera este assunto como «tabu»;
 As respostas de conteúdo podem também incluir respostas de objectos (Obj.),
geográficas (Geog.), de plantas (Pl), da natureza (Nat) e arquitectónicas (Arch);
 RESPOSTAS ORIGINAIS E BANAIS: refere-se à classificação de uma resposta como
comummente dada (banal, cotada com +) ou não comum (original, –), tendo em
conta o critério estatístico das respostas;
9. INTERPRETAÇÃO
 LOCALIZAÇÃO: as localizações das respostas são utilizadas na avaliação da
organização dos aspectos intelectuais da personalidade, exibidas pela forma de
abordagem a um problema perceptivo, revelando assim o modo de apreensão
preferido pelo sujeito;
 Uma percentagem elevada de respostas globais é característica dos sujeitos
com elevada capacidade de organização intelectual, de abstracção e de síntese;
contudo, a análise qualitativa das várias respostas G difere consoante o tipo a
que se refere; enquanto que percentagens de respostas G primárias não são
muito significativas, as respostas G secundárias por apelarem a processos
psíquicos de outra qualidade, acarretam informação bem mais relevante
(nomeadamente nas respostas simultâneo e sucessivo-combinatórias);

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 As respostas D referem-se à inteligência prática e apelam a processos mentais


concretos e pouco originais, se bem que uma proporção ideal revela a ligação
ao imediato e ao concreto necessária à «normalidade»; uma percentagem
extremada deste tipo de respostas indica, muitas vezes, preocupação obsessiva
com o trivial (comum em sujeitos com estados de ansiedade, como a neurose
obsessivo compulsiva); esta análise é semelhante na interpretação das respostas
Dd, se bem que neste caso o valor da interpretação deva ser tomado ainda mais
em conta, dado as características desta resposta;
 As respostas de pequeno detalhe oligofrénico aparecem principalmente nos
débeis mentais, nos angustiados e depressivos bem como nos neuróticos
obsessivos; é portanto indicativa de fraca organização intelectual;
 As respostas de detalhe em branco têm um significado psicológico peculiar,
pois indicam tendências oposicionistas sobre o ambiente que rodeia os sujeitos
ou até mesmo sobre si mesmos;
 As respostas confabulatórias são muitas vezes índice de debilidade mental,
principalmente quando em determinadas proporções; contudo, podem também
surgir, em casos específicos, como uma reacção de defesa a um elemento
perturbante (a percepção da totalidade da resposta), pelo que apenas o detalhe é
evidenciado pelo sujeito;
 As respostas contaminadas surgem quase sempre em esquizofrénicos,
indiciando problemas de organização e associação da informação perceptiva de
magnitude psicótica;
 DETERMINANTES: de entre as quatro categorias de cotação das respostas, é nesta
que a interpretação assume maior importância, visto que é a partir da análise dos
determinantes (cuja interrelação é fundamental) que o examinador pode inferir
acerca do tipo vivencial do indivíduo;
 Em relação à forma, se a percepção for nítida e precisa (respostas cotadas com
F ou F +) pode inferir-se que o sujeito possui um controlo firme dos processos
intelectuais e do comportamento; as respostas F – são próprias de indivíduos
que apresentam um comportamento desorganizado e perturbações na
percepção, como no caso dos esquizofrénicos; a forma combinada com outros
determinantes, nomeadamente a cor, indica o grau de actividade intelectual do
sujeito;

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 As respostas de cor fornecem a prova directa da vida impulsiva e das relações


emotivas que o indivíduo estabelece com o seu meio; a maneira como a cor é
combinada com a forma determina o grau de controlo dos impulsos emotivos,
pelo que, de forma geral, uma grande percentagem de respostas de cor indica
impulsividade emocional acentuada; quando existe um predomínio claro de
respostas do tipo FC há um óptimo controlo emocional e uma boa capacidade
de adaptação social por parte do sujeito; de forma inversa, a predominância de
respostas do tipo CF é própria de personalidades impulsivas e egocêntricas;
 No que respeita às respostas de sombra, estas estão relacionadas com o modo
como o indivíduo enfrenta as necessidades afectivas, interpretando-se como
tendo uma relação directa com a ansiedade, as atitudes depressivas e os
sentimentos de insuficiência; constituem, portanto, a forma como o indivíduo
encara e satisfaz as suas necessidades afectivas, quer pela negação, quer pelo
recalcamento, ou insensibilidade ou imaturidade na relação com os outros; este
tipo de respostas podem surgir associadas às respostas de cor (C) e às respostas
acromáticas (C’), sendo que estas últimas designam perceptos predominantes
em preto, branco e cinzento;
 A cotação das respostas de movimento, quando movimento humano, indica a
riqueza da vida associativa do indivíduo, pelo que quanto maior a percentagem
destas respostas mais rica é a vida imaginativa, logo o maior número de
associações; segundo KLOPFER (1956, citado por Freeman, 1980), uma grande
proporção de respostas de movimento animal indica que o indivíduo funciona a
um nível de incitação instintiva e não a um nível de actividade criadora; SALAS
(1945, citado por Adrados, 1980) refere ainda que o movimento está
relacionado com a produtividade da inteligência, ou seja, quanto maior a
percentagem de respostas K maior o nível mental do sujeito; o mesmo autor diz
ainda que este tipo de respostas associadas ao conteúdo permitem inferir um
forte instinto de agressividade e luta, a revelação do instinto sexual e tendência
de se entregar aos outros, a necessidade de protecção, ainda que alerte para a
dificuldade de distinguir as representações de acções instintivas das que se
referem a movimentos expressivos; no entanto, torna-se evidente que ambos os
tipos de resposta procedem da parte dinâmica do núcleo da personalidade e o
estudo profundo do seu conteúdo é parte importante na interpretação da prova;

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 Segundo RORSCHACH (1948, citado por Adrados, 1980), a predominância do


número de respostas de movimento em relação às respostas de cor (K > C)
seria indicativa de introversão, sendo que um indivíduo introversivo (diferente
de introvertido) é aquele que encontra dificuldades de relacionamento e vive
mais para dentro do que para fora; no entanto, esta característica não é fixa e
permite que o sujeito se consiga adaptar à realidade imediata (tal não acontece,
por exemplo, com o esquizofrénico, que é introvertido);
 Do mesmo modo, a predominância do número de respostas de cor em relação
às de movimento (K < C) indica extroversão que RORSCHACH (1948, citado por
Adrados, 1980) define como sendo própria de indivíduos com uma relação
afectiva fácil e expansiva, que vibram com os acontecimentos, que são
influenciáveis pelo ambiente, mais objectivos e materialistas, que
confraternizam com a facilidade, menos estáveis e mais lábeis;
 Há ainda a referir que costuma existir uma correlação inversa entre os índices
de K e os de conteúdo animal (A); segundo RORSCHACH (1948, citado por
Adrados, 1980) as respostas de movimento deverão ter de aparecer numa
proporção de ½ em relação às respostas globais (K : G);
 No que trata à perspectiva (FE), um grande número de respostas deste tipo
indica um bom ajustamento e manipulação das necessidades afectivas por meio
de esforços introspectivos;
 O índice Z de BECK (1956, citado por Freeman, 1980) nas respostas está
relacionado com a originalidade, o que permite inferir que o sujeito possui um
bom nível intelectual;
 CONTEÚDO: o número, as proporções e o género das coisas que são
representadas neste tipo de respostas têm sido diversamente interpretadas e
dotadas de significação psicanalítica, como a vida fantasmática, a significação
simbólica; estas são reveladoras do pensamento estereotipado do indivíduo
como sinal de maturidade ou imaturidade, como reveladoras de sentimentos de
inferioridade e como reflexo dos interesses, obsessões e compulsões do
indivíduo; a análise do conteúdo das interpretações não constitui uma porta de
acesso ao inconsciente, mas pode, isso sim, revelar algumas das suas tendências
quando esta análise é realizada mediante os restantes elementos do psicograma;

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 Como já foi dito, as respostas zoomórficas (A) têm um índice ideal de 25%;
enquanto indivíduos imaginativos conseguem uma proporção de 30%, valores
iguais ou acima de 50% indiciam estereotipia e pouca flexibilidade do
pensamento (que pode surgir como uma defesa); por outro lado, uma
percentagem de respostas A excessivamente baixa indica uma dissociação do
pensamento demasiado intensa;
 Para as respostas de conteúdo humano, elas determinam, em parte, o interesse
em si mesmo e nos outros seres humanos; a sua percentagem ideal é de 20%,
enquanto que baixas percentagens podem significar misantropia (antropofobia)
e valores acima da média podem indiciar ansiedade (principalmente nas
respostas Hd) resultante da incorporação negativa da figura humana; certos
detalhes humanos (Hd) podem ter um significado clínico especial; assim,
«olhos» que olham o sujeito são, por exemplo, normalmente reveladores de
tendências paranóides;
 No que trata às respostas de conteúdo anatómico, alerte-se para as pessoas que
trabalham com a anatomia humana (por exemplo médicos, enfermeiros, …)
pois podem apresentar protocolos nos quais a percentagem destas respostas é
exagerada, mas este facto deve ser considerado normal; no entanto, se estas
respostas são mal vistas, elas podem significar índices de neuroses e
hipocondrias (cerca de 40% de respostas positivas), ou simplesmente
estereotipia do pensamento (como no caso de percentagens de 45 a 50%);
quando mal vistas, o diagnóstico é quase sempre bastante negativo;
 RESPOSTAS ORIGINAIS E BANAIS: as percentagens e o número de respostas
originais e banais são tomados como prova do nível de inteligência do
indivíduo, se bem que a qualidade das respostas banais deva sempre ser
aprofundada, pois podem não ser mais do que itens estranhos ou distorções
perceptivas;
10. OBSERVAÇÕES
 INTERRELAÇÕES: As relações existentes no seio de cada categoria de cotação
(isto é, entre os seus elementos), bem como as relações entre as categorias de
cotação (Localização, Determinantes, Conteúdo e Respostas Originais e Banais)
fornecem o material a partir do qual se inferem a estrutura e a organização da
personalidade; assim, nenhum indicador isolado permite, de forma exclusiva,
determinar tal estrutura e organização no indivíduo; todos os indicadores devem

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ser interrelacionados de forma a construir um todo significativo, que permita


uma interpretação consistente;
 ESTRUTURA DA PERSONALIDADE: Segundo FREEMAN (1980, pp.682), o Teste de
RORSCHACH é um «instrumento multidimensional» que se destina a produzir
informações acerca da estrutura e organização da personalidade no indivíduo,
onde três dimensões fundamentais são avaliadas: a actividade intelectual
consciente (obtida através da interpretação da localização das respostas, das
respostas formais, de movimento e organização), as emoções exteriorizadas e as
emoções interiorizadas (por meio da cor, do sombreado, dos respectivos
choques eventualmente ocorridos e da perspectiva, em relação às respostas
formais obtidas); cada uma destas dimensões é apreciada tendo também em
conta as relações entre os componentes, isto é, «o termo “estrutura” designa a
maneira como as diversas dimensões ou aspectos da personalidade se
interrelacionam, de maneira a dar origem a cada uma das três principais
dimensões, que, em si mesmas, estão interrelacionadas, constituindo a
personalidade global do indivíduo» (Freeman, 1980, pp. 682);
 A organização ou estrutura das características personológicas do indivíduo
indica como este encara a vida à sua volta e como utiliza as suas experiências;
quais são as suas percepções, atitudes e comportamentos resultantes da
organização das dimensões;
 O Teste de RORSCHACH pretende responder a algumas das questões sobre a
personalidade do indivíduo, tais como: a natureza da mentalidade do indivíduo,
original ou estereotipada, as aptidões criativas ou reprodutivas, a adaptação à
realidade, se é grande ou pequena, a prevalência da vida «interior» ou da vida
«exterior», como o indivíduo controla as emoções e os sentimentos, se é
propenso à ansiedade e de que forma lida com ela;
 A AVALIAÇÃO NO TESTE DE RORSCHACH: existe um apreciável grau de
subjectividade não só na cotação como também na interpretação das respostas, o
que se torna natural se se pensar que se trata de um teste projectivo, logo,
inestruturado; o teste mostra ter mais utilidade na revelação de personalidades
marcadamente perturbadas, por isso pode dizer-se que está mais próximo da
«patologia» do que da «normalidade»;
 CRÍTICAS AO TESTE DE RORSCHACH: na sua maioria estas incidem na
insuficiência de objectividade, na confiança em normas pessoais (além das

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diversas nomenclaturas, a própria forma de aplicação diverge consoante os


autores), na falta de uniformidade da cotação, na própria determinação das
interrelações das cotações e as diversas categorias de cotação e, também, em
relação aos conceitos psicológicos em que se baseiam as diversas cotações, na
validade reduzida, na restrição ao uso clínico e, segundo FREEMAN (1980,
pp.699), no «cultismo» que se cria em torno desta prática; HUTT (1951, citado
por Freeman, 1980, pp.699-700) equacionou esta problemática do seguinte
modo: «A prática clínica é, presentemente, uma arte. A arte, penso eu,
permanecerá sempre como parte integrante da prática clínica. Contudo, os
aspectos científicos do trabalho clínico transformar-se-ão, com o tempo, num
sector mais vasto desta prática, quando a teoria, a técnica e os critérios
atingirem um estádio mais maduro de desenvolvimento psicológico. Entretanto,
reconheço francamente a importância das normas subjectivas, do juízo clínico e
das influências subtis da intuição. Estas (…) têm de assumir um papel
importante na formulação de hipóteses fecundas sobre o indivíduo. Ao mesmo
tempo, confio, tanto quanto posso, nos indícios científicos de que já dispomos –
normas, dados de garantia e de validade, estudos experimentais decisivos, etc. –
e utilizo-os no apuramento das minhas intuições e respectiva delimitação. Por
último, examino estas intuições clínicas em relação com os dados biográficos, o
comportamento clínico e todas as demais provas acumuladas sobre o indivíduo.
Em resumo, reconheço que, como clínico, tenho dois papéis a desempenhar: o
de artista e o de cientista. Utilizo o primeiro ao procurar conhecer o indivíduo e
o segundo para corrigir as minhas impressões o melhor possível (…). Cada
papel tem o seu lugar e (…) devemos ter o cuidado de não os confundir»;
 O USO DO TESTE DE RORSCHACH: o presente protocolo não pretende ser, nem de
longe é, um manual, propriamente dito, de utilização do Teste de RORSCHACH;
serve, apenas, como um instrumento de referência para aqueles que, desejando
iniciar-se no conteúdo e na prática do teste, ou simplesmente para os mais
interessados, conhecerem os pontos nucleares e fundamentais para construírem
o seu conhecimento teórico básico acerca desta prática; existem variadíssimos
pontos e complexas questões que surgem terminantemente associadas à
aplicação geral (nomeadamente nas cotações das respostas e suas consequentes
interpretações) deste instrumento e cuja importância é fulcral que não foram
aqui referidas; o técnico que deseje inteirar-se profundamente desta prática deve

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consultar e aprofundar um corpus teórico que não está, de forma alguma,


exposto nesta diegese, que apenas se afirma como uma linha orientadora para
promover e acompanhar o conhecimento básico da prática do Teste de
RORSCHACH;
 AS PRANCHAS DO RORSCHACH: a especificidade das pranchas originais é
extrema; a prática deste teste nunca deve ser realizada com outros instrumentos
que não sejam as pranchas originais produzidas por instituições e organismos
especializados; fotocópias, por melhores que sejam, scannerizações e outros
acessos às pranchas por meio de instrumentos de reprodução devem ser sempre
rejeitados; tal facto deve-se à transformação, que é inevitável, de pormenores
(maiores ou mínimos) das manchas relativamente às suas versões originais; é
evidente que, com estímulos visuais diferentes, o examinando percepcionará
obrigatoriamente perceptos diferentes dos provocados pelas manchas originais;
se a percepção é alterada, tal como o padrão de estimulação dos engramas
internos do sujeito, é também claro que as respostas não serão da mesma
qualidade, o que condicionará em absoluto a sua interpretação e,
consequentemente, o psicograma do examinando, obtendo-se assim resultados
enviesados e portanto sem qualquer valor clínico;
11. BIBLIOGRAFIA
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Editora Vozes.

BERNAUD, J-L. (2000). Métodos de avaliação da personalidade (1ª ed.). Lisboa:


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Editores.

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Editores.

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Fundação Calouste Gulbenkian.

GONÇALVES, M. (1994). Rorschach na avaliação psicológica (1ª ed.). Braga:


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KLOPFER, B. & DAVIDSON, H. (1962). The Rorschach technique: an introductory


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MARQUES, M (2001). A psicologia clínica e o Rorschach (2ª ed.). Lisboa: Climepsi

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RICKERS-OVSIANKINA, M. (1977). Rorschach psychology (2nd ed.). Huntington,


New York: Robert E. Krieger Publishing.

RORSCHACH, H. (1967). Psychodiagnostic (4éme ed.). Paris : Présses Universitaires


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