Manual Audiovisual UCs
Manual Audiovisual UCs
Manual Audiovisual UCs
produção audiovisual
em unidades de
conservação
organização e textos
Carlos Sanches
Luciana Alvarenga
oganização e textos
Carlos Sanches
Luciana Alvarenga
diagramação
Mary Paz Guillen Manual básico de
Imagens da série de TV “Parques do Brasil”
Carlos Sanches produção audiovisual
em unidades de
Luciana Alvarenga
Ilustrações da série de TV “Parques do Brasil”
conservação
Marco Bravo
Imagens subaquáticas
Edson Faria Junior
Assessoria de Cooperação
Fabiane Gaspar
Revisão de texto organização e textos
Francisco Marques
CIP - Catalogação na publicação
Elaborada pela bibliotecária Gabriela Lopes (CRB7-6643) Carlos Sanches
S211 Sanches, Carlos.
Manual básico de produção audiovisual em unidades de
Luciana Alvarenga
conservação [livro eletrônico] / Carlos Sanches, Luciana
Alvarenga. – 1. ed. – Rio de Janeiro : Vertente edições, 2019.
pdf.
ISBN 978-85-63100-20-7 (livro eletrônico)
CDD – 580.7
CDU - 58
ÍNDICE Duração da obra
20
apresentação
7 A expedição
21
A produção audiovisual
8 O roteiro
28
Etapas da produção
10 Produção de imagens
31
Gênero e formato
13 NOÇÕES DE PÓS-PRODUÇÃO
50
Plano, cena e sequência
19 leituras complementares
54
Realização:
apresentação
A partir do final do século XIX, o audiovisual foi progressivamente se tor-
nando parte da cultura mundial através da produção de filmes, vídeos e
programas de TV, que encantaram e encantam multidões. Desde este iní-
cio, a Natureza e seus personagens estiveram entre os temas preferidos de
várias dessas produções. Ao mesmo tempo, cientistas pioneiros enxerga-
ram o Audiovisual como mais um instrumento de pesquisa. Ainda hoje,
aparelhos como armadilhas fotográficas são fundamentais para estudos so-
bre a Mastofauna em ambientes naturais. Com o desenvolvimento técnico
e artístico dessa poderosa ferramenta, temos na atualidade um excelente
instrumento de interpretação ambiental e de divulgação científica.
Este manual apresenta possibilidades e elementos básicos para a produção
de vídeos de diferentes formatos para propósitos diversos, tendo como lo-
cação as unidades de conservação, em especial as federais, utilizando como
personagens a megabiodiversidade brasileira. É destinado a educadores,
pesquisadores, estudantes e a todos os interessados em produzir vídeos em
Apoio:
ambientes naturais.
Produzido a partir do Edital Universal 01/2016 de Apoio a Projetos de Pes-
quisa do CNPq, este manual é resultado das experiências vivenciadas na
realização da série de TV e web “Parques do Brasil”, uma coprodução entre
a Casa de Oswaldo Cruz da Fundação Oswaldo Cruz, a Empresa Brasil de
Comunicação-EBC e o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodi-
versidade – ICMBio. O objetivo desta parceria é promover a produção de
conteúdos audiovisuais sobre a biodiversidade, os processos ecológicos e
demais temas relativos às unidades de conservação federais brasileiras.
6 7
3. Alunos numa sala de aula;
2. Pesquisa e uso em salas de aula; Porém, se a finalidade for produzir um vídeo educativo, um programa de
TV ou um filme para cinema, você precisará de uma equipe de produção.
3. Processos educativos e de divulgação científica;
4. Utilização em centros de visitantes, museus e outros;
5. Exibição na TV e na web;
6. Cinema.
8
3
Etapas da produção Produção
A Produção é o período 4 Pós-produção
Toda e qualquer produção pode ser organizada em quatro etapas básicas: da gravação das imagens.
Desenvolvimento do Projeto, Pré-produção, Produção e Pós-produção. A Pós inclui basicamente a
edição e a finalização da obra,
mas também pode incluir: de-
1 Desenvolvimento 2 Pré-produção
locução, sonorização, video-
grafismo, efeitos visuais, mi-
do projeto Existem outras duas eta-
pas, uma anterior e outra
xagem, correção de cor, entre
outros. A complexidade desta
Nesta etapa é montada toda a estru- posterior ao processo de etapa vai depender da finalida-
tura de produção, incluindo equipe, produção. A primeira é a de do Projeto.
Esta etapa inclui as definições estéticas, equipamentos, transporte, hospe- captação de recursos. A
de formato e de conteúdo do produto au- dagem, autorizações de filmagens e outra é o processo de di-
diovisual. Incluindo o roteiro, que pode outros elementos necessários à reali- vulgação e de exibição do
ser um simples Roteiro de gravação, no zação do produto. Aqui também são produto pronto. Como
caso de documentários, ou um detalha- agendadas as gravações e locações. essas etapas extrapolam
do roteiro de ficção, com a descrição das os objetivos básicos deste
ações dos personagens e dos diálogos. manual, para fins práticos
não detalharemos essas
questões aqui.
Gênero e formato
O estudo dos gêneros no audiovisual é recente no Brasil. Tendo como pon-
to de partida a programação das TVs, existem categorias como entreteni-
mento, informativo, educativo, publicidade, entre outros. Como este ma-
nual objetiva a produção de conteúdos sobre a biodiversidade, vamos nos
ater aos seguintes gêneros: educativo, documentário e jornalístico. Os três
apresentam inúmeras possibilidades de formato.
O gênero educativo envolve uma série de produções que têm como objetivo
ensinar algo ou servir de base para o ensino de algo a alguém. Na maioria
dos casos, as produções educativas funcionam como uma aula audiovisual.
O gênero documentário é mais amplo e pressupõe uma grande diversidade
de subgêneros. O documentário não tem caráter educativo, o objetivo é,
basicamente, entreter o público a partir da construção de narrativas sobre
determinada realidade. O fazer documental pressupõe uma autodefinição
sobre essa atividade e geralmente utiliza imagens captadas em ambientes
reais. Os documentários podem ser desenvolvidos a partir dos seguintes
modos:
ses elementos para construí-lo. Uma questão fundamental que perpassa
MODO D E F I N I Ç ÃO E C AR ACT E R Í ST I C AS pelos três gêneros é que toda a produção audiovisual precisa entreter o seu
Comentários verbais sobre imagens e uma lógica de argu- público.
Expositivo mentação. Prioriza a palavra falada e o discurso direto. Nar- Outra forma de abordar o tema é analisar complementarmente a obra a
ração em OFF. Uma fonte única ou unificadora do discurso. partir do ponto de vista dos modelos de não-ficção. Existem vários dis-
Comentários visuais através da associação de imagens e da cursos de não-ficção que infuenciam ou fazem parte do fazer documental.
Poético Alguns desses modelos:
trilha sonora.
Reflexivo O cineasta/produtor discute o fazer cinematográfico. Defesa/Promoção de A partir de um ponto de vista específico, elabora uma série
uma causa de argumentações em defesa de uma causa.
Média-metragem – Padrão televisivo para produções que cubram meia hora 2) Onde o seu objeto é encontrado? (região, município, distrito, bairro).
ou uma hora da programação. Segundo definição da Agência Nacional de
Cinema - Ancine, o média-metragem possui entre 16 e 69 minutos de du- As Unidades de Conservação
ração.
Se o seu objetivo for realizar produções sobre a biodiversidade, é quase
Longa-metragem – Formato para cinema e TV. No Brasil, os longas preci- certo que a sua locação será um ambiente natural numa unidade de con-
sam ter mais de 70 minutos de duração. servação.
As produções audiovisuais podem ser seriadas ou não. Obras com mais de Também conhecidas como “áreas protegidas” ou “reservas”, as Unidades de
dois episódios ou capítulos já podem ser consideradas seriadas. Existem Conservação são áreas delimitadas com o objetivo de proteger a biodiver-
diferentes padrões de obras seriadas que apresentam ou não continuidade sidade e os ambientes naturais. De acordo com o SNUC (Sistema Nacional
entre os capítulos. As obras de ficção geralmente possuem uma continuida- de Unidades de Conservação), essas unidades se dividem em dois grupos:
de narrativa entre um episódio e outro, a não ser os seriados, que contam as de proteção integral e as de uso sustentável.
uma história isolada de determinado(s) personagem(ns) por episódio. As
séries documentais seguem o mesmo padrão do seriado, podendo ser visu-
alizadas sem uma ordem certa.
O objetivo básico da Unidade de Conservação de proteção integral é pre- Consulte mapas da região e da Unidade de Conservação. Na internet exis-
servar a Natureza, sendo admitido apenas o uso indireto dos seus recur- tem algumas boas plataformas para consultas como o Google Maps e o
sos naturais (pesquisa, visitação, contemplação, educação ambiental, lazer, Google Earth. Alguns órgãos ambientais disponibilizam mapas dentro des-
prática de esportes). Esse grupo inclui os parques nacionais (PARNA), aí sas plataformas.
incluídos os parques estaduais e os parques naturais municipais, as reser-
vas biológicas (REBIO), as estações ecológicas (ESEC), os refúgios da vida Outras questões importantes para o campo
silvestre (RVS) e os monumentos naturais (MN).
Ao construir o cronograma e produzir a logística de campo, é fundamental
O objetivo básico da Unidade de Conservação de uso sustentável é com- prever também:
patibilizar a conservação da Natureza com o uso sustentável de parte dos
recursos naturais (extrativismo, manejo ambiental, ordenamento territo- 1) Meios de deslocamento (automóvel, automóvel 4X4, caminhada, barco
rial, coleta). Esse grupo inclui as reservas extrativistas (RESEX), as reservas etc). Prever ou não a quantidade de combustível, locação de veículos, con-
de desenvolvimento sustentável (RDS), as florestas nacionais (FLONA), as tratação de motorista ou piloto, equipamento para trekking etc.
áreas de proteção ambiental (APA), as áreas de relevante interesse ecoló- 2) Lugares para pernoite (pousada, hotel, casa de família, abrigo, camping,
gico (ARIE) e as reservas de fauna (RF). As reservas particulares do pa- camping selvagem). Verificar se você precisará levar ou alugar uma barraca
trimônio natural (RPPN) são enquadradas no grupo de uso sustentável e, de camping e outros acessórios necessários (roupa de cama, saco de dor-
diferentemente das anteriores, públicas, são privadas. mir, mosquiteiro, fogareiro etc);
O roteiro Embaixo dessa descrição, que inclui informações sobre a imagem e o som,
inserimos diálogos e/ou narração, se houver.
Esse roteiro é empregado mais para filmes de ficção, mas também pode ser
utilizado para a construção de cenas de um docudrama ou de um esquete
Existem diferentes formatos de roteiro, utilizados para produções de carac- dentro de um documentário.
terísticas distintas.
Em produções televisivas, é comum utilizar um roteiro organizado em
O mais conhecido é o roteiro de cinema de ficção, onde a ação, o cenário e duas colunas, uma para o vídeo e outra para o áudio:
os personagens são detalhados. Este roteiro apresenta também os diálogos
que serão falados e/ou a narração. Segue abaixo um trecho como exemplo:
S EQ. V Í D EO ÁU D IO
EXT. PLANALTO DE ITATIAIA – DIA
SOM DO VENTO.
Apesar do sol a pino, a temperatura é baixa. O vento ASSOBIA.
Uma estrada de terra corta o vale, cercado por montanhas e uma PERSONAGEM 1 (preocupado)
vegetação baixa. Dois homens encasacados, de boné e mochila car-
AINDA BEM QUE O TEMPO ABRIU,
gueira nas costas, caminham quase apressadamente:
PG estrada que corta o vale MAS ESTAMOS COMEÇANDO A NOS-
PERSONAGEM 1 (preocupado) no Planalto de Itatiaia. SA CAMINHADA UM POUCO TARDE.
01 QUANTO TEMPO LEVA ATÉ O PICO?
Ainda bem que o tempo abriu, mas estamos começando a nossa PM - PERSONAGEM 1 e
caminhada um pouco tarde. Quanto tempo leva até o pico? PERSONAGEM 2 caminham PERSONAGEM 2 (esbaforido)
apressadamente.
PERSONAGEM 2 (esbaforido) SE CONSEGUIRMOS MANTER ESSE
RITMO, CHEGAMOS LÁ NO MEIO DA
Se conseguirmos manter esse ritmo, chegamos lá no meio da tarde. TARDE.
Esse formato de roteiro apresenta uma série de variantes, mas no geral é
bem simples.
No cabeçalho de cada sequência, deveremos descrever se o cenário é EXT (ex-
terior) ou INT (interior). Localizá-lo (PLANALTO DE ITATIAIA). E situar o
período do dia em que ocorre a ação (DIA, NOITE, ENTARDECER etc).
Esse formato de roteiro pode ser utilizado tanto para cenas de ficção quan- O roteiro de gravação
to para documentários, matérias jornalísticas ou outros gêneros. Ele tam-
bém se presta à construção de roteiros de edição: Para fins práticos, se o objetivo é simplesmente organizar a produção de
um documentário, construa um roteiro de gravação.
Um roteiro de gravação nada mais é do que um cronograma detalhado de
S EQ. V Í D EO ÁU D IO tudo que for necessário para a realização da produção.
VENTO (vento 0001)
Liste as imagens que você pretende gravar e encaixe nesse cronograma.
NARRAÇÃO:
01 IMAGEM 0001, 0002 e 0003 É importante prever o tempo necessário para cada coisa que pretende gra-
PARA CONHECER A PARTE ALTA DO var, principalmente o tempo de deslocamento entre um ponto e outro.
PARQUE NACIONAL DE ITATIAIA É
PRECISO SE PREPARAR PARA O FRIO. É importante também definir o horário de cada gravação. No ambiente
natural terrestre, os melhores horários são sempre o início da manhã e o
final da tarde. Deve-se evitar gravações ao meio-dia (a fauna se esconde e
Em produções documentais, na fase do desenvolvimento do projeto, é prá- a luz é ruim).
tica estabelecida, inclusive em projetos que pretendem captar recursos via
leis de incentivo, a construção de um argumento. O Argumento descreve
detalhadamente o produto que se pretende realizar, esmiuçando os obje-
tivos da produção, bem como o objeto da mesma, seja ele um lugar, uma Produção de imagens
comunidade, uma família ou um personagem. O Argumento geralmente
apresenta o formato e as escolhas estéticas da produção, bem como as refe-
Com exceção de alguns vídeos de pequena duração, a maioria das produções
rências que serão utilizadas.
deverá conter vários planos. Na história do cinema, da TV e do vídeo, reali-
Se o objetivo for apresentar o Projeto num órgão de fomento, é preciso regis- zadores desenvolveram uma incrível diversidade de tipos de imagens utiliza-
trar o Argumento na Biblioteca Nacional. Fazer esse registro é algo simples, dos na escrita das narrativas audiovisuais.
basta pagar uma taxa, preencher um formulário específico e, com o Argu-
mento (ou Roteiro) impresso e assinado, dar entrada. Veja como fazer:
https://www.bn.gov.br/servicos/direitos-autorais/registro-ou-averbacao
Para narrar uma história, você deverá utilizar diferentes tipos de pla- PLONGÉE Câmera mais alta do que o objeto.
nos, contextualizando o ambiente, o cenário e os personagens. Nos
dias atuais, existe um arsenal de equipamentos que permite ao docu-
mentarista construir a sua narrativa de uma forma adequada e dinâ- CONTRA-PLONGÉE Câmera mais baixa que o objeto.
mica.O equipamento básico em qualquer produção audiovisual sobre
biodiversidade e ambientes naturais é uma câmera e um tripé, com os TAMANHO DA IMAGEM
seus devidos acessórios. Existem diferentes medidas de Planos Gerais (PG). O Grande
No mercado existe uma enorme variedade de câmeras digitais. Para Plano Geral (GPG) abarca uma área extensa vista de longe.
facilitar a escolha você, deve pensar mais uma vez no objetivo da sua PLANOS GERAIS Utilizado geralmente para descrever o ambiente ou a paisa-
produção. Para produzir um vídeo com objetivo de utilizá-lo em sala gem como um todo. O Plano Geral revela a área ou o cenário
de aula ou para veiculá-lo na internet ou mesmo numa TV, ou seja, na onde os personagens interagem.
maioria dos casos, basta uma câmera que capte imagens em Full HD. PLANOS MÉDIOS O Plano Médio recorta o Plano Geral para destacar os per-
OU INTERMEDIÁ- sonagens e a interação entre eles. É um plano entre o Plano
No quadro abaixo algumas imagens básicas e suas características: RIOS Geral e o Close.
Como o Plano Geral, existem diferentes Closes. O Plano
Próximo ou Primeiro Plano (PP) mostra o personagem do
TIPOS DE CLOSES tronco para cima. Temos o Close. que mostra do ombro para
C AR ACT E R Í ST I C AS B ÁS I C AS E USOS cima. E um mais fechado ainda, que revela somente o rosto
IMAGEM/PLANO do personagem.
PONTO DE VISTA DA CÂMERA Os Inserts são comentários de imagens no meio da trama. Os
INSERTS OU PLA- Planos-Detalhes revelam partes do cenário (uma pedra, uma
OBJETIVA Vemos a imagem do ponto de vista de um observador externo. NOS DETALHES placa, um monte, etc) ou dos personagens (os pés, as mãos,
os olhos, etc).
Vemos a imagem do ponto de vista de um personagem es- MOVIMENTOS DE CÂMERA
SUBJETIVA
pecífico. Movimento horizontal da câmera num tripé, revelando uma
PANORÂMICA grande área do ambiente, como se estivéssemos girando a
ÂNGULO DA CÂMERA
(PAN) cabeça para a esquerda ou para a direita. Se realizado com
velocidade, chamamos de Chicote.
ÂNGULO PLANO Câmera na altura dos olhos do personagem ou da ação.
Movimento vertical da câmera num tripé, como se estivésse-
TILT OU PANORÂ-
mos movendo o ohar de cima para baixo (descendente) ou
MICA VERTICAL
de baixo para cima (ascendente).
Além das filmadoras, existem as DSLRs, câmeras fotográficas digitais re-
CRANE (OU Movimentos diversos realizados com uma câmera instalada flex (câmera com espelho interno que permite enxergar o objeto retratado
BOOM) numa grua. através da mesma lente por onde a imagem é gravada no sensor), que hoje
também propiciam a gravação de vídeos. São leves e portáteis, permitindo
Todo e qualquer plano em movimento realizado com uma
a utilização de um vasto número de objetivas diferentes.
câmera presa a um veículo ou equipamento que se movimen-
ta em diferentes direções (para a frente, para trás, para os Outra opção são as câmeras de ação ou action cameras. Pequenas e ver-
TRAVELLINGS OU lados etc). A câmera pode estar presa num carrinho (Dolly), sáteis, possuem estojos à prova d’água e permitem gravações onde seria
DOLLYS num automóvel, num barco, num helicóptero ou num drone. arriscado ou inadequado utilizar uma câmera mais robusta.
A câmera pode ou não estar associada a um mecanismo de
estabilização. É chamado de track (ou truck) o movimento Objetivas
lateral da câmera num suporte móvel.
Como o próprio nome diz, o cinegrafista movimenta a câ- Também conhecida como lente, a objetiva é um instrumento óptico utiliza-
CÂMERA NA MÃO mera, segurando-a nas mãos, e “sentimos” o movimento do do para direcionar a luz/imagem até o sensor da câmera. As três principais
seu andar. categorias de objetivas são: padrão - normal-, grande angular e teleobjetiva.
Mudança da distância focal de uma Lente Zoom. Com esta A padrão ou normal produz uma imagem semelhante ao que o ser humano
ZOOM lente podemos, sem sair de uma posição fixa, nos aproximar- enxerga. Esta lente possui uma distância focal entre 45 e 50 mm, mas pode
mos do objeto (zoom-in) ou nos afastarmos dele (zoom-out). variar dependendo do tamanho do sensor da câmera. São lentes apropria-
das para gravar paisagens e retratos.
As câmeras digitais A origem dessa classificação vem das câmeras de fotografia e de cinema analó-
gicas, que utilizavam o padrão da bitola do filme de 35 mm (36x24mm). Nas
As filmadoras digitais são as mais práticas e utilizadas em diferentes tipos de
câmeras digitais existem diferentes tamanhos de sensores, que vão ter influên-
gravações. Existem filmadoras com lentes embutidas no corpo da câmera (que
cia direta não somente na qualidade da imagem (em termos genéricos, quan-
não podem ser substituídas) e outras que permitem a utilização de diferentes
to maior o sensor, maior a qualidade), mas também no ângulo de visão
objetivas. As filmadoras são vendidas geralmente com uma lente zoom, que
da objetiva. Nas digitais, o padrão 35 mm ganha o nome de full frame.
facilita o trabalho do cinegrafista, permitindo a captação de imagens utilizando
diferentes distâncias focais sem necessidade de trocar de lente. A grande angular possibilita um ângulo de visão maior do que as
normais. A partir do padrão 35 mm, uma grande angular seria
A distância focal é medida em milímetros e permite um ângulo de visão
qualquer lente com menos de 45 mm. As lentes mais abrangen-
determinado. Quanto maior a distância focal da lente, menor o ângulo (e
tes, que permitem captar imagens até com um ângulo de 180°
o campo) de visão.
são chamadas de Olho-de-peixe.
As teleobjetivas já são o oposto possuem ângulos de visão menores do que Com o barateamento dos softwares de edição e de finalização da era digital,
a normal, ou seja, são lentes que cobrem trechos restritos da paisagem, a prática hoje é produzir imagens padrão (standard), ou seja, bem enqua-
aproximando os objetos. São essenciais para gravações na Natureza, prin- dradas, focadas e com a luz adequada, mas sem muita interferência em
cipalmente de animais. É praticamente impossível fazer boas imagens de termos de estilo de fotografia.
fauna sem uma teleobjetiva.
As objetivas podem ser fixas, com uma distância focal definida e única, Tripé
ou então uma lente Zoom, que percorre de forma progressiva uma grande O que chamamos aqui de tripé é um sistema formado pelo tripé propria-
amplitude de distâncias focais: algumas alcançam de 50mm a 1000mm. mente dito e a cabeça do tripé. Este sistema é fundamental para qualquer
Já no sistema digital, nesse mesmo tipo de lente, em lugar da modificação gravação em ambientes naturais, ainda mais quando utilizamos zooms ou
da distância focal, há um artifício que atua cortando ou redimencionando teleobjetivas. Utilize um que seja adequado ao peso do equipamento e que
também de forma progressiva, o campo da imagem filmada, ampliando-a permita o ajuste de altura do mesmo. Além de forte e leve, fácil de carregar,
ou reduzindo-a para ocupar a mesma extensão da tela. Com ela, óptica ou o sistema deve possuir uma cabeça com meia-esfera (Ball level), que possi-
digital, podemos produzir vários enquadramentos distintos, aproximando bilita nivelar a câmera com rapidez.
ou afastando o objeto. Pela sua praticidade, também é uma lente funda-
mental para produções nos ambientes naturais.
Dentro dessa classificação, existem características ou objetivas específicas.
Uma delas é a lente Macro. Esta objetiva permite enquadrar objetos muito
pequenos, focando a distâncias bem menores do que as lentes normais.
São muito utilizadas para fazer imagens de insetos e de tudo o que for bem
pequeno.
Filtros
A maioria das filmadoras vem com alguns filtros integrados, principal-
mente filtros ND (filtros de densidade neutra), que objetivam diminuir a
entrada de luz na objetiva e possuem várias gradações.
Mas existe uma série de filtros que podem ser utilizados para fins estéticos
como, por exemplo, o Polarizador, que elimina reflexos, aumenta o con-
traste e realça cores.
Sistemas de estabilização da câmera
Leve sempre todos os cabos necessários, de preferência mais
No mercado existem diversos equipamentos que proporcionam estabilida- Cabos
de um de cada.
de à câmera, propiciando a produção de imagens estáveis quando em mo-
vimento. O Steadicam é o mais famoso deles, mas hoje existem diferentes Nunca esqueça o carregador de bateria. Tenha um equipa-
Carregadores de ba-
marcas de estabilizadores de imagem para diferentes usos. mento que permita a você carregar várias baterias ao mesmo
teria
tempo.
Acessórios indispensáveis Transporte o equipamento em cases ou mochilas específicos.
Pode ser um que permita o transporte em veículos ou du-
Para realizar gravações em ambientes naturais, em lugares distantes que não rante viagens longas, mas que seja leve o suficiente para uma
possuem fontes de energia acessíveis, alguns acessórios são indispensáveis: Cases ou mochilas
trilha. Se você quiser mais segurança, tenha um para o trans-
porte de longa distância (case) e outro para trilhas (mochila).
Hoje existem cases à prova d’água e flutuantes.
Ac essó r io U so
Você precisa de um computador para descarregar as imagens Tenha sempre à mão um filtro de linha, ou mesmo um estabilizador de
produzidas. Com o tamanho das imagens em Full HD, e ago- voltagem, além de “benjamins”, para diferentes tomadas.
Lap top
ra em 4K, o lap top é fundamental em qualquer produção. Dê É importante ter também um pequeno kit de ferramentas com chaves de
preferência a lap tops que possuam baterias de longa duração. fenda e outras específicas para o seu equipamento.
Como os lap tops possuem um HD de tamanho limitado, é
HD externo sempre bom ter um HD externo disponível, de preferência Se o destino for distante ou caro, tenha mais de um equipamento ou aces-
um que utilize o próprio lap top como fonte de energia. sório disponível para o caso de avaria ou perda.
Nem sempre vai haver uma fonte de energia por perto. Cal-
Baterias cule a necessidade diária de baterias. Saiba sempre quanto Drones
tempo dura uma, em média.
Tempos atrás, para fazer imagens aéreas, era imprescindível locar um he-
Para não ficar carregando o lap top nas costas nas trilhas, licóptero ou um avião pequeno, de preferência munido com equipamen-
Cartões de memória tenha uma quantidade de cartões de memória adequada às to de giroestabilização. Os custos para produzir imagens desse tipo eram
suas necessidades diárias, ou até para mais de um dia. altos e demandavam uma logística complexa. Hoje, com o surgimento de
Leve sempre um kit básico de limpeza para as lentes, com- drones relativamente baratos, que produzem imagens de qualidade em alta
posto por borrifador, líquido para limpeza, lenços e cotonetes definição, a utilização de imagens aéreas se tornou bem mais acessível e
específicos, pincel e dois panos, um para lentes (se for o caso recorrente.
Kit de limpeza
de acabarem os lenços) e um para o corpo da câmera. Nunca
utilize o do corpo para limpar uma lente (você pode arran-
há-la).
Apesar de esses drones não substituírem completamente os helicópteros, to surgiu como instrumento científico e funciona da seguinte forma: ins-
eles possibilitam a produção de imagens diferenciadas, a baixíssimas alti- talada numa árvore ou outro suporte, na altura que for mais adequada à
tudes e em ambientes mais fechados. espécie que se pretende gravar, a câmera utiliza um sensor de calor que
dispara quando animais de sangue quente (aves e mamíferos) se aproxi-
As imagens aéreas são excelentes recursos para descrever ambientes e pai- mam. Existem diferentes modelos no mercado, possibilitando a produção
sagens, dando dinamismo à narrativa. de imagens fotográficas e de vídeo com diferentes qualidades.
Mas a utilização de drones requer uma série de cuidados técnicos específi- A sua utilização geralmente está atrelada a um projeto de pesquisa, já que
cos, que vão desde os procedimentos de recarga e de armazenamento das demanda tempo e conhecimentos de campo específicos. Mas é um recurso
baterias até atualizações de Firmware. cada vez mais utilizado para fazer imagens de espécies ariscas, quase im-
Por outro lado, a utilização de drones precisa atender a uma série de nor- possíveis de serem registradas através de outro método.
mativas legais. A sua utilização em ambientes naturais precisa ser criterio- O seu emprego em unidades de conservação também demanda autoriza-
sa, para não trazer impactos a espécies mais sensíveis, nem interferir em ção da administração da unidade.
atividades de visitação. Por isso, a sua utilização em Unidades de Conser-
vação deve acontecer mediante autorização da instituição responsável pela Além das câmeras trap, existem outras câmeras específicas para gravações
administração da unidade. em ambientes naturais como, por exemplo, as câmeras de controle remoto.
Estas não são acionadas por um sensor, mas controladas à distância pelo
Além disso, o drone precisa estar homologado na Agência Nacional de Te- cinegrafista. Algumas possuem ainda o recurso de gravar imagens térmicas
lecomunicações – ANATEL: (câmeras de infravermelho).
http://www.anatel.gov.br/institucional/noticias-destaque/2-uncategorised/
1485-drones-devem-ser-homologados-para-evitar-interferencias
Equipamentos para gravações subaquáticas
E seguir as normativas da ANAC:
https://www.anac.gov.br/assuntos/paginas-tematicas/drones No mercado existem diversas câmeras portáteis à prova d’água, que podem
ser utilizadas para produzir imagens sem grandes pretensões artísticas ou
E do DECEA: de qualidade.
https://www.decea.gov.br/drone/
Para produções mais profissionais, são necessários vários equipamentos es-
pecíficos, normalmente caros. Vamos a alguns deles:
Armadilha fotográfica
A caixa estanque é o equipamento básico para a utilização de câmeras de
Outro equipamento cada vez mais utilizado é a armadilha fotográfica ou diversas qualidades embaixo d’água. Além de isolar a câmera do ambien-
camera trap. Através dela é possível captar imagens noturnas e diurnas de te, deve possibilitar ao cinegrafista utilizar os diversos recursos do equipa-
animais de sangue quente sem a presença do cinegrafista. Este equipamen- mento de gravação. Existem modelos mecânicos e eletrônicos.
A porta para lentes é um equipamento complementar que se agrega à caixa Captação do som ambiente
estanque e permite fazer imagens mais próximas, diminuindo o efeito de re-
Durante a gravação de imagens na natureza, nem sempre conseguimos
fração da água.
captar um áudio de qualidade. É importante utilizar um microfone dire-
Outro equipamento essencial é um kit de iluminação composto por (geral- cional preparado para evitar a interferência do vento (colocar protetor de
mente) dois braços articulados com luzes LED ou HID. vento, que é feito com espuma acústica) e de outros ruídos, que atrapalham
o registro sonoro.
Além desses instrumentos, existem tripés específicos para gravações suba-
quáticas, microfones externos, BRUVs – equipamentos que lembram uma Na manipulação do equipamento, nem sempre conseguimos obter um áu-
armadilha fotográfica - e drones subaquáticos. dio limpo de interferências, por isso, o ideal é produzir um banco de sons
com gravações específicas, que muitas vezes requerem um conhecimento
técnico de um profissional.
De qualquer maneira, vale a pena gravar especificamente pensando no áudio.
Uma das maneiras mais simples de realizar esse registro é acoplar o micro-
fone na câmera, embora muitas filmadoras já vêm com bons microfones.
Outra opção é utilizar um gravador de áudio externo.
De acordo com o padrão de polaridade (área dentro da qual o microfone
pode captar bem) existem microfones onidirecionais, que captam sons de
todas as direções (como o nosso ouvido) ou direcionais, que captam sons
originados em um determinado ponto ou região. Os direcionais são cha-
mados também de cardiodes. Existem supercardiodes, hipercardiodes e
ultracardiodes com padrões progressivamente mais estreitos.
Além do padrão de polaridade, os microfones podem ser caracterizados
pela forma como são utilizados. Para a gravação de sons ambientes, nor-
malmente serão utilizados microfones de vara (boom). Para entrevistas e
reportagens, são geralmente indicados microfones de mão (vulgarmente
chamados de “sorvetões”) e de lapela (lavalier), com ou sem fio.
Relação de aspecto, resolução e cor Existem vários ajustes de cor, como o matiz (que descreve cada cor propria-
mente dita), a saturação (a intensidade da cor) e o brilho (luminosidade).
Antes de iniciar qualquer gravação, é preciso regular a câmera de acordo com Hoje em dia o ideal é utilizar o padrão médio apresentado pela câmera
a tela fim principal da sua produção: Internet? Cinema? TV? HD? Full HD? (Standard) e, se houver necessidade ou desejo, modificar esse padrão so-
Um dos primeiros ajustes é a relação de aspecto da imagem. Durante a his- mente na pós-produção.
tória do Audiovisual foram surgindo diversos padrões. No início, o padrão
cinematográfico e televisivo era o 4:3. Atualmente o padrão Full HD é 16:9. Noções básicas para produzir imagens adequadas
Além da relação de aspecto, você pode ajustar a resolução da imagem. A As câmeras possuem uma série de ajustes com o intuito de permitir a pro-
resolução da imagem se regula através do número de pixels em cada qua- dução de imagens nítidas e de qualidade.
dro e pelo número de quadros por segundo.
O foco é um deles. A imagem em foco aparece clara e nítida, com todos
A primeira resolução é a espacial, caracterizada pela relação do número os contornos bem definidos. O foco depende da distância entre a lente e o
de linhas de rastreamento (resolução vertical) pelo número de pixels por sensor. Quanto maior a lente (em mm) ou a distância focal, menor a área
linha (resolução horizontal). Quanto mais linhas e pixels, mais qualida- em foco na imagem. A essa área damos o nome de profundidade de campo.
de. O sistema analógico de TV (SDTV) utiliza 480 linhas com 704 pixels
cada. O sistema HD possui 720 linhas com 1.280 pixels. O Full HD possui O foco pode ser ajustado manualmente, mas várias câmeras possuem o
1.080 linhas com 1.920 pixels. Já a resolução 4K apresenta 2.160 linhas recurso do foco automático ou Autofocus.
com 3.840 pixels cada. Outro ajuste é a exposição ou a quantidade de luz que deixamos entrar na
A resolução temporal é definida pelo número de quadros por segundo. O câmera. Ele é feito através de um mecanismo chamado de diafragma ou
padrão cinematográfico utiliza 24 quadros por segundo. No Brasil, o pa- íris. Quanto mais aberto o diafragma, mais luz. O padrão de entrada de
drão utilizado (NTSC) em TV e vídeo é o de 30 quadros por segundo (29,7, luz é chamado de f-stop. Como esse padrão representa na verdade uma
com mais exatidão). proporção, quanto menor o f-stop, maior a quantidade de luz entrará na
câmera. O diafragma pode ser ajustado manualmente ou também pode-se
Algumas câmeras possibilitam a gravação de diferentes números de qua- optar por um autoajuste do mesmo, dependendo da complexidade da gra-
dros por segundo. A partir de 60 quadros (frames) por segundo (fps) já vação ou da experiência do cinegrafista.
temos uma gravação em câmera lenta. Câmeras especiais chegam a
gravar milhares de quadros por segundo com qualidade, produ- Um ajuste fundamental antes de qualquer gravação é o balanceamento de
zindo imagens como a de uma gota se espatifando lentamente branco. Esse balanceamento permite ajustar a câmera para que o branco
numa superfície sólida. apareça branco na tela, independentemente da temperatura de cor da luz.
A temperatura de cor varia no decorrer do dia e com condições climáticas
e de luz específicas. Por exemplo, uma luz média natural de meio-dia é de
5.600º Kelvin. Uma luz de pôr do sol é mais quente, em torno dos 3000º sejam longas, que captem algo mais do que uma “simples fotografia”. Quan-
Kelvin. Um dia nublado produz uma luz mais fria e azulada, em torno dos to mais imagens, melhor.
7.000º a 8.000º Kelvin.
Respeite a fauna e a distância de segurança imposta pelos animais – cada
Outro ajuste possível é o ISO. Nas câmeras analógicas, este ajuste era dado animal possui uma diferente. Em locais onde a caça é recorrente, será mui-
através do filme utilizado – cada filme possuía uma sensibilidade determi- to mais difícil se aproximar dos bichos. Em locais onde a caça não é tão
nada. Então havia (e há) um filme específico para gravação com diferentes comum, você poderá se aproximar mais. Aproxime-se aos poucos, nunca
luzes, naturais ou não, para dia, para noite etc. Com o advento do digital, diretamente. Deixe o animal se acostumar com você, deixe-o perceber que
isso foi transportado para a sensibilidade do sensor, criando a possibilida- você não é uma ameaça. Esteja sempre preparado, os animais são curiosos
de de uma incrível margem de escala ISO. Algumas câmeras permitem a e muitos irão observá-lo, nem que seja brevemente.
gravação com pouquíssima luz e ISOs altíssimos.
Nem tudo vale uma boa imagem. Procure não incomodar demais os ani-
mais, principalmente os que estiverem acompanhados por filhotes. Jamais
Produzindo imagens no ambiente natural encurrale qualquer animal – pode ser perigoso para ambos. Se você não
Nas filmagens de Natureza, quanto menos pessoas em campo melhor. for um especialista, não manipule ou tente manipular os animais. Mesmo
Mais pessoas representam mais ruído e maior possibilidade de afastar a se você for um especialista, evite ao máximo isso – somente o estritamente
fauna. Em campo, deve-se falar o estritamente necessário, de preferência, necessário.
manter silêncio. Se você conseguir respeitar o animal e ao mesmo tempo fazer imagens
Além de silenciosa, a equipe ou o cinegrafista deve buscar a invisibilidade. dele, conseguirá cenas memoráveis, repletas de autenticidade e de beleza.
As roupas não podem ter cores aberrantes. De preferência, roupas que se Mas nem tudo precisa ser mostrado. É possível construir narrativas super
misturem às cores do ambiente. interessantes sem precisar mostrar o bicho.
Evite também se mexer muito ou fazer movimentos bruscos. Não utilize Nem tudo precisa ser azul, um dia de chuva também pode propiciar boas
perfumes fortes, quanto menos odores, melhor também. imagens para a construção de narrativas pouco usuais.
Se você não conhece bem o ambiente, é necessário um guia local. Por vá- Respeite a Natureza, abuse da criatividade e da beleza dos ambientes
rias circunstâncias, dentre elas a de segurança. naturais.
Grave pensando numa sequência de imagens gradativa, de um plano mais O Time lapse
aberto, revelando a paisagem, a um mais fechado, focado num determina-
do local ou objeto. Criado no início do século XX, praticamente junto com o cinema, esta téc-
nica simples é bastante utilizada na demonstração de processos naturais de
Para uma posterior construção de narrativas, é necessário que as imagens longa duração como, por exemplo, o nascimento de uma flor, a passagem
de uma nuvem ou até mesmo a mudança de estação no decorrer do ano. Qual o tempo do seu fenômeno?
Essa técnica é utilizada também para mostrar fenômenos noturnos com
Vamos imaginar que precisamos ou temos que registrar um fenômeno que
luz quase inexistente.
dura 5 horas. Neste caso, para produzir um vídeo de 10 segundos, você
O Time lapse é, na verdade, a junção de uma sequência de fotografias, rea- precisará produzir uma imagem a cada minuto (5 horas = 300 minutos).
lizadas num determinado intervalo de tempo.
Algumas câmeras fotográficas já oferecem esse recurso, para outras é pre-
A primeira pergunta a ser feita antes de utilizar essa técnica é qual o tempo ciso comprar um aparelho que faz com que a câmera dispare de tempos em
necessário para reproduzir o fenômeno que se quer apresentar? tempos, em períodos determinados.
O primordial, a saber, é que para cada segundo de imagem são necessárias
O clima e os equipamentos
30 fotografias. Se você quiser produzir um vídeo de 10 segundos, precisará
de 300 imagens. Proteja seu equipamento da poeira, da umidade (e da água) e de sujeiras
de maneira geral.
No ambiente natural, evite trocar de lente a todo o momento. Se o fizer,
proteja o equipamento do vento.
Cheque as temperaturas máximas e mínimas que o seu equipamento pode
suportar, tanto em atividade quanto armazenado.
Em ambientes muito frios, procure manter o equipamento numa tempe-
ratura próxima da natural. Em ambientes extremos, utilize materiais que
deixem a temperatura do ambiente se igualar ou se aproximar à do interior
de qualquer recipiente onde ele estiver armazenado (dentro dos limites que
ele pode suportar).
Cuidado com a umidade em ambientes extremos. A condensação pode
prejudicar ou até avariar o seu equipamento em condições extremas de
temperatura ou umidade.
Evite ao máximo o choque térmico.
Tenha um cuidado especial com as baterias. Em temperaturas baixas as
baterias geralmente rendem menos e por um período menor do que em
temperaturas mais amenas. A temperatura baixa diminui a velocidade das
reações químicas das baterias.
NOÇÕES DE PÓS-PRODUÇÃO
Com o material organizado e decupado, com a pesquisa e as espécies iden-
tificadas, está na hora de construir o seu Roteiro de Edição. Conforme foi
colocado anteriormente, existem diferentes tipos de roteiro para produções
específicas, bem como inúmeros formatos narrativos. Durante a pré-pro-
dução, você determinou as suas principais escolhas de formatos e estéticas.
O tamanho e a complexidade da pós-produção varia de acordo com cada Agora está na hora de organizar isso no papel para que o editor e demais
produção específica. Mas algumas subetapas são comuns à maioria dos ca- técnicos possam saber como trabalhar. Existem diferentes roteiros de edi-
sos. Depois da gravação, a primeira coisa a ser feita é organizar o material ção, uns mais organizacionais e outros mais artísticos ou literários. Se o seu
captado, incluindo aí a feitura de uma cópia de backup, ao menos. formato pede uma narração, é neste momento que ela será escrita.
Com o material organizado, você pode decupar as imagens. A Decupagem Uma boa opção é criar uma estrutura antes de começar a escrever o roteiro,
permite que você saiba exatamente o que foi gravado e trata de descrever ainda mais se a produção se aproximar de algo mais ficcional ou dramático,
cada plano captado avaliando, nesse processo, a qualidade de cada um. com começo, meio e fim. Construir uma estrutura também é útil para di-
mensionar e organizar o próprio material, equilibrando-o numa narrativa.
Em documentários de Natureza é comum, a partir da decupagem, identi-
ficar as espécies que não foram identificadas durante as gravações. Se você Roteiro escrito, revisado e finalizado, dependendo do formato escolhido,
não for um especialista, precisará de um para identificar cada grupo de ani- este será o momento em que você gravará a locução. Se não quiser gravar já
mal ou planta que foi gravado, no caso, é claro, de que isso seja importante a locução definitiva, pode optar por gravar um Áudio-guia.
para a sua narrativa. Com os elementos básicos em mãos e um bom roteiro de edição, começa
Dependendo dos objetivos e do rigor científico da produção, além da ade- então uma das principais subetapas da pós: a Edição. A edição demanda um
quada identificação das espécies, haverá a necessidade de uma pesquisa profissional apto a lidar com os softwares de edição e que também conheça
complementar. Em produções que objetivam a divulgação científica a pes- a linguagem da montagem. Para a maioria dos cineastas, é na edição que
quisa começa antes de tudo e só termina depois de finalizada a produção.
surge a mágica do audiovisual. Nos documentários e em formatos afins, a de trilhas sonoras gratuitas na internet. Você pode optar também por usar
edição é fundamental e definidora de um produto com qualidade ou não. músicas já prontas, mas é necessário conseguir a cessão onerosa ou não dos
Uma edição boa faz um material mediano parecer melhor, mas uma edição direitos autorais e do sincronismo das músicas que você pretende utilizar.
ruim pode destruir um material excelente, independentemente até da qua- Muitas vezes sai mais caro pagar esses direitos a músicos, compositores e
lidade do Roteiro (outro elemento fundamental para o êxito da produção). editoras do que contratar alguém para produzir uma trilha musical especí-
A edição engloba dois processos que podem ser concomitantes: a edição de fica para a sua produção.
imagem e a edição de som.
Uma trilha musical inédita e específica pode ser um elemento fundamental
Paralelas à edição ou logo depois dela temos outras subetapas que vão exis- em qualquer produção audiovisual. Vide as inúmeras trilhas de filmes clás-
tir ou não, dependendo da complexidade da produção. sicos ou até de séries de documentários de Natureza da BBC, por exemplo.
De acordo com as escolhas feitas no desenvolvimento do Projeto, é neste Após a edição e a feitura de elementos como a trilha musical e o videogra-
momento pós-roteiro, ou em paralelo à edição, que serão desenvolvidos fismo, temos a Finalização. Nele há duas subetapas paralelas: a finalização
os objetos de videografismo como mapas gráficos, vinhetas ou animações. da imagem e a do som.
Existem inúmeras técnicas de animação como a 2D, a 3D, o Stop Motion e
muitas outras. Sua utilização dependerá de um artista técnico especializa- A de imagem inclui a Correção de Cor ou Color correction, que contribui para
do, equipamentos e recursos financeiros suficientes. A sua utilização é um nivelar a cor e a luz de todo o vídeo. Nesta etapa também são inseridos as
recurso que traz muita qualidade e profissionalismo ao produto. artes e os créditos. Em grandes produções, os Efeitos Especiais também são
finalizados nesta subetapa.
Outra subetapa complementar é a produção ou seleção da Trilha Musical.
Nem toda produção necessita de trilha musical e existem diversos bancos A finalização do som inclui a Sonorização e a Mixagem, que equilibra as
diversas pistas sonoras (narração, trilha musical, som ambiente, efeitos etc)
utilizadas na Sonorização.
Produção audiovisual
leituras complementares DANCYGER, Ken. Técnicas de edição para cinema e vídeo: história, teoria e
prática. Rio de Janeiro: Elsevier, 2007
MASCELLI, Joseph V. Os cinco Cs da cinematografia. São Paulo: Summus, 2010.
As produções documentais sobre a biodiversidade e os ambientes natu- RABIGER, Michael. Direção de cinema: técnicas e estética. Rio de Janeiro:
rais são essencialmente multidisciplinares e envolvem tanto conhecimen- Elsevir, 2007.
tos científicos específicos como Ecologia e Botânica, por exemplo, quanto WARREN, Piers. Wildlife Film-making: looking to the future. United King-
técnicas e conhecimentos igualmente específicos de produção audiovisual dom: Wildeye, 2011.
e de realização cinematográfica.
WATTS, Harris. On Camera: o curso de produção de filme e vídeo da BBC. São
Incluímos aqui uma pequena lista de indicações de leituras para quem qui- Paulo: Summus, 1990.
ser se aprofundar nas diversas especialidades do audiovisual.
WATTS, Harris. Direção de câmera. São Paulo: Summus, 1999.
A série Parque do Brasil
ZETTL, Herbert. Manual de produção de televisão. São Paulo: Cengage Le-
Sanches, C., & Alvarenga, L. (2019). Parques do Brasil: a concepção de uma arning, 2017.
série de documentários de história natural e a promoção da conservação da
biodiversidade e das unidades de conservação brasileiras. Museologia & In-
terdisciplinaridade, 8(15), 193-212. https://doi.org/10.26512/museologia.
v8i15.24677
Documentário
GAUTHIER, Guy. O documentário: um outro cinema. Campinas, SP: Papirus,
2011.
NICHOLS, Bill. Introdução ao documentário. Campinas, SP: Papirus, 2016.
RAMOS, Fernão P. Mas afinal... O que é mesmo um documentário? São Paulo:
Editora Senac São Paulo, 2008.
Roteiro
CAMPOS, Flavio de. Roteiro de cinema e televisão: a arte e a técnica de ima-
ginar, perceber e narrar uma estória. Rio de Janeiro: Zahar, 2007.
COMPARATO, Doc. Da criação ao roteiro: teoria e prática. São Paulo: Sum-
mus, 2018.
FIELD, Syd. Manual do roteiro. São Paulo: Summus, 1995.
FIELD, Syd. Roteiro: problemas e soluções. Curitiba: Arte & Letra, 2016.
PUCCINI, Sergio. Roteiro de documentário: da pré-produção à pós-produção.
Campinas, SP: Papirus, 2009.
SARAIVA, Leandro, e CANNITO, Newton. Manual de roteiro: ou Manuel, o
primo pobre dos manuais de cinema e TV. São Paulo: Conrad, 2004.