Fichamento Destino Das Letras FINAL

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Universidade Federal da Fronteira Sul

Bolsista: Isabel Schapuis Wendling


Fichamento:
BASTOS, Maria Helena Camara; CUNHA, Maria Teresa Santos; MIGNOT, Ana
Chrytina Venancio (Org.). Destinos das Letras: história, educação e escrita epistolar.
Passo Fundo: Upf, 2002. 277 p.
Como o polvo e o camaleão se transformam: modelos e práticas epistolares na
Espanha Moderna
GÓMEZ, Antonio Castillo. “Como o polvo e o camaleão se transformam”: modelos e
práticas epistolares na Espanha moderna. In: BASTOS, Maria Helena Camara;
CUNHA, Maria Teresa Santos; MIGNOT, Ana Chrytina Venancio (Org.). Destinos das
Letras: história, educação e escrita epistolar. Passo Fundo: Upf, 2002. p. 13-74.
1. A ida e a vinda das cartas: uma escritura necessária
- Inicialmente, trata um pouco sobre a formação de uma prática de escrita epistolar, que
apesar de já existir na antiguidade, ganhou real força e significado apenas nos séculos
XVI e XVII.
- esse aumento da prática de escrita de cartas, segundo o autor se deu graças ao
crescimento da alfabetização que teve no período; e segundo por conta do que ele
chamou de “desenraizar-se”, que dados por vários motivos como causas militares,
saídas para as terras americanas, etc.
- Resultado: “Idas e vindas das cartas faziam parte da realidade cotidiana daqueles
tempos e o de carteiro um dos ofícios dignos de figurar na Praça Universal de todas as
ciências e artes de Cristóbal Suárez de Figueroa” (p.15)
- “Como refúgio do privado, as cartas foram também uma das práticas de cultura escrita
mais frequentadas pelas mulheres” (p.16)
- “Era tal sua importância (de escrever cartas) que nem sequer os analfabetos se
livraram desta necessidade” (p.17)
- A escrita de cartas se tornou algo tão comum e necessário, pois era capaz de aproximar
aquele que estava longe. Eram os motivos, razoes pessoais, familiares, políticas,
religiosas.
- “conversação entre ausentes” (p.17)
- As cartas não serviam apenas para transmitir ideias e pensamentos, mas também para
relatar vivências intimas, pessoais e até mundanas. Sendo “a comunicação epistolar uma
das manifestações mais evidentes de escritura subjetivo e existencial” (p.18)
- A destruição de cartas também seria algo comum, para manter o segredo e sigilo de
algo.
- Mas apesar da confidencia ser um dos maiores sustentos das cartas, era também aquilo
que impedia alguns assuntos. A possibilidade de acabar em mãos erradas limitava o
“permitido” a ser escrito, então a carta não era o leito mais adequado para a expressão
de todas as ideias e de todos os sentimentos.
2. A busca do interlocutor
- “cada carta busca seu interlocutor, reclama a presença da pessoa ausente. Preserva os
vínculos na distância e configura um espaço através do qual se expressam e
desenvolvem as identidades pessoais, familiares ou sociais.” (p.22)
- Nessa parte o autor apresenta como o escrevente da carta escreve para um determinado
interlocutor, como há a busca da presença na ausência, permitindo na própria carta que
o leitor capte e reviva o que o autor viveu, remetendo ao passado no presente.
- O autor fala sobre a “Inter personalidade imaginada” onde o autor imagina para quem
escreve, e o que ele quer/deve saber, havendo já, de certa forma, a uma imaginação do
que seria tal conversa. “A materialização escrita da experiência pessoal é inseparável do
pacto estabelecido com o leitor real, normalmente o destinatário.” (p. 23)
- A carta comum também se fortaleceu muito no período, existindo para que se
mantivesse as relações pessoais entre aqueles distantes.
- “A carta coloca-se num presente frágil marcado pela nostalgia da presença perdida e a
ansiosa espera do retorno de tal modo que a ausência faz da carta uma escrita de ficção”
(p.25)
- “cartear-se não é falar-se” (p.25)
- “as cartas comuns representam também um discurso onde o individuo configura sua
identidade e a projeta aos demais através da escritura no momento de sua leitura.
Escritas e lidas em tempos distantes, a ausência e a presença são uma só quando a carta
chega a seu destinatário[...]” (p.27)
3. Do tratado ao formulário: estratégias textuais da disciplina epistolar
- Por conta do aumento da produção epistolar, formou-se uma nova forma de escrita,
essa tratava as formas de apresentação, iniciação e conclusão de uma carta. Montou-se
uma formalização e padronização.
- Criaram-se vários livros que apresentavam técnicas e maneiras corretas de redigir uma
carta, tratando desde o comprimento, desenvolvimento, até o “adeus”. Tais livros
fizeram tantos sucesso, que muitas das exemplificações foram copiadas para a
formulação das cartas pessoais.
-Logo, montaram-se repertórios e formulários para construções de cartas.
- Tais manuais eram utilizados em maior escala pela civilização cortesã.
4. As práticas epistolares, entre a ordem e a conveniência
- “É claro que a aplicação do discurso contido nos manuais não se pode entender-se
como algo geral. Primeiro, porque, como muito foi dito, o público destinatário dos
mesmos estava muito centrado nos secretários, profissionais da pluma e pessoas
letradas.” (p. 38)
- Segundo porque o leque previsto para momentos epistolares era muito restrito, não
cabendo a todos momentos e circunstancias das pessoas.
- Em casos de cartas muito comuns, para familiares por exemplo, até mesmo pessoas da
corte deixavam de lado as cortesias dos manuais, pois tais casos não eram necessários
tão formalmente. Mantinha-se a cordialidade, mas de forma mais natural.
- “Alterar o protocolo da escritura de cartas implicava, afinal, romper o ‘pacto social’”,
(p.45) Assim, ainda que de forma mais simples, toda carta continha um ritual, o qual em
grande parte da população europeia seguia a risca, permitindo e mantendo a
cordialidade entre as pessoas.

Maneiras de Escrever, maneiras de viver: cartas familiares no século XIX


DAUPHIN, Cécile. POUBLAN, Danièle. Maneiras de escrever, maneiras de viver:
cartas familiares no século XIX. In: BASTOS, Maria Helena Camara; CUNHA, Maria
Teresa Santos; MIGNOT, Ana Chrytina Venancio (Org.). Destinos das
Letras: história, educação e escrita epistolar. Passo Fundo: Upf, 2002. p. 13-74.
- As cartas como fonte de pesquisa do historiador, devem ser analisadas com tal
cuidado quanto outras fontes. Elas não devem ser levadas por ter sempre a “verdade”
pois são escritas conforme determinados casos e pessoas.
- “Do mesmo modo que qualquer traço, comportam mecanismos de ilusão cujas regras e
efeitos são constitutivos de sua significação” (p.76)
Os correspondentes
- “Ler uma carta é entrar em uma história sem conhecer a primeira palavra, sem saber o
que aconteceu antes nem o que chegara depois, o que se disse antes, nem o que se dirá
depois. Sabemos somente que essa carta é um momento de longa duração, apenas um
elo de uma cadeia sem começo nem fim” (p.76)
As cartas
- “A correspondência é um objeto construído, inscrito no tempo e no espaço social,
desde sua origem, uma a uma, cartas esparsas, até sua descoberta.” [...] (p.80) Esse
processo de construção das cartas está também na destruição de algumas (proposital ou
não) na erosão do tempo, e até na “conservação das cartas familiares”, deixadas como
herança.
- Algumas pessoas tinham mais interesse no guardo das cartas, tendo inclusive, relação
com seu espaço social.
- “Conservar e classificar as cartas permite mostra-las aos filhos, aos netos e aos
descendentes. Essa maneira de reter, de escolher o que é qualificado como ‘cartas boas’
é um instrumento eficaz para edificar os herdeiros[...]” (p.81)
- Esses epistolários assumem junto a terras, ao mobiliários, joias, etc. Uma função de
‘identidade forte’. (p.82)
Um olhar antropológico
- Existem então, na prática de escrita epistolar, rituais, e posturas as quais o escrevente
segue. O autor segue uma noção de temporalidade diferenciada, para que possa escrever
a carta.
- A prática do local especifico de escrita, o escritório. Havendo algumas exceções da
saída desse local, indo para praças por exemplo. Essa saída mostra o quão cotidiano e
necessário se fazia a carta.
- As mulheres tinham o costume de escrever em locais mais diferenciados da casa, e
tendo em alguns momentos companhia de filhos, irmãos, etc. A carta significava a fuga
do espaço, ao tempo que tentava mostrar o quanto ela fazia parte do mesmo.
- “O dizer verdadeiro do detalhe torna-se aqui prova de um dizer verdadeiro de tudo,
portanto prova de sinceridade. O efeito de real equivale, então, ao efeito de verdade.
Nesse jogo de conivência, cada um avalia o que pode revelar de si e o que pode ser
dito.” (p.86)

De pai para filha: Cartas sobre a educação de Cora


BASTOS, Maria Helena Camara. De pai para filha: cartas sobre a educação de Cora
(1849). In: BASTOS, Maria Helena Camara; CUNHA, Maria Teresa Santos; MIGNOT,
Ana Chrytina Venancio (Org.). Destinos das Letras: história, educação e escrita
epistolar. Passo Fundo: Upf, 2002. p. 13-74.
- “As cartas expressam o discurso de um sujeito dirigido a um leitor designado como
pessoa única e privilegiada na ilusão de um intercambio que imita confidência, para, em
seguida, ser socializado.” (p. 89)
- “a carta se autentica por seu caráter íntimo, por se apresentar como discurso
espontâneo; como sob a forma de um discurso produzido por um não-escritor; por não
ser destinado à publicação; por ser escrito na primeira pessoa por alguém que cria um
efeito de verdade.” (p.89)
- “Analisar essas cartas permite embrenhar-se na mentalidade liberal de um pai que teve
como modelos as ideias de Rousseau, Verney, Ribeiro Sanchez, etc., sobre a educação
de sua filha.” (p.90)
- “Para José Lino Coutinho, a publicação das cartas objetivava melhorar a educação das
‘meninas brasileiras até aqui ainda imperfeita’”. (p.91)
- “Cartas sobre a educação de Cora, seguidas de um catecismo moral, político e
religioso, do Dr. José Lino Coutinho, foram publicadas em 1849, por João Gualberto de
Passos, pela tipografia de Carlos Poggetti, da Bahia.” (p.92)
- Tal obra foi feita pela união de centenas de cartas, que foram copiadas e feitas outros
exemplares das mesmas, podendo terem sofrido alterações.
- Houve um problema ao entender para quem se destinavam as cartas, pois José
Coutinho as vezes se referia a interlocutora como vossa filha, sendo que a poetisa
Ildefonsa Laura César, a quem ele mandava as cartas, não era realmente mãe de Cora.
- O autor mostra que há vários autores que inspiraram José Lino Coutinho a escrever
tais cartas a Cora, pela forma que ele tratou e doutrinou os assuntos: Rousseau,
liberalismo vitoriano, Verney, Antonio Nuness Ribeiro Sanchez, etc.
- “as cartas constituíram um tratado com a educação física e moral de Cora e da
suficiente ilustração do espirito para não ser uma criatura fraca, perdida e ignorante”
(p.96)
- Percebe-se uma dicotomia no vocabulário utilizado, ora referindo-se à educação das
meninas, ora dos meninos. O que os meninos fazem, o que as meninas devem fazer.
- José Lino Coutinho, apresenta nas cartas ser defensor de uma educação natural: a
garota deveria ver animais feios, acostumar com o escuro, com a morte, solidão das
igrejas, etc.
- O pai trata sobre variados assuntos, como higiene, leituras, amizades, casamento,
amor, filhos, etc., trazendo indicações de livros sobre tais assuntos, e ainda trazendo
dicas e ensinamentos sobre como reagir ou ser perante tais coisas.
- Sobre o catecismo: era moral, político, e religioso seguia o formato padrão de todos os
catecismos publicados na época. (p.109)
- Por fim, as cartas produzem a memória de uma época e expressam uma atitude diante
da educação feminina.
- “Goulemot (1991) nos diz que cada escrito produz diferentes modos de leitura. Assim,
podemos dizer que temos várias leituras possíveis das cartas: de seu autor, do editor, da
educadora e da filha Cora, e de nós leitores do século XXI” (p.110)

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