Cesário Verde - Cânticos Do Realismo
Cesário Verde - Cânticos Do Realismo
Cesário Verde - Cânticos Do Realismo
Cesario Verde /
Contextualização histórico-literária
Cesário escreveu numa época em que a burguesia liberal se tinha estabelecido firmemente no poder, levando a cabo
uma política de desenvolvimento capitalista.
A “Geração de 70” procura opor-se ao status burguês, abrindo os caminhos da modernidade a uma sociedade altamente
estratificada.
– grande descontentamento em relação à decadência da realidade política, cultural e social do país.
– novo olhar dos escritores «revolucionários» sobre a cidade em evolução e sobre a sociedade burguesa.
Assiste-se, nesta altura, ao crescimento e transformação da capital, através dos progressos na indústria, meios de
transporte e comércio, e uma grande migração oriunda do campo. Sem estar preparada para este crescimento urbano,
Lisboa evidencia várias fragilidades, entre elas:
– muitas ruas eram de terra batida e mal iluminadas.
– nos bairros mais antigos as condições de higiene eram péssimas
– a falta de saneamento urbano básico provocava graves epidemias, tais como tuberculose, febres,
cólera.
– precariedade nas condições de trabalho.
Tendo Lisboa como personagem principal dos seus poemas, Cesário Verde observa atentamente o que se passa,
filtra e capta o real nos seus múltiplos ângulos e descreve o que vê:
– uma cidade de contrastes
– bairros modernos onde se instala a nova burguesia
– as condições precárias dos trabalhadores
– o lado miserável da cidade, destacando o povo que trabalha e sofre
Estas circunstâncias dão origem a uma poesia pautada pelas seguintes características:
– tom declamatório e antirromântico
– objetividade na observação e realidade
– poetização do real e do quotidiano
– crítica social da era industrial
Cesário escreveu uma poesia inovadora, seguindo os princípios do Impressionismo e do Realismo, mas também precursora
do Modernismo e do Surrealismo.
José Joaquim Cesário Verde nasceu a 25 de fevereiro de 1855, em Lisboa e morre 19 de julho de 1886, no
Lumiar, com apenas 31 anos.
Inscreveu-se no Curso Superior de Letras, em 1873, onde conhece António José Silva Pinto, e nesse mesmo
ano dá início à sua aventura literária, com a publicação dos seus primeiros poemas no jornal Diário de Noticias.
Em 1877, surgem os primeiros sintomas de tuberculose, não o impedindo de continuar a sua vida literária, e em
1879 publica o poema “Cristalizações” na Revista de Coimbra. “O Sentimento dum Ocidental” é publicado em 1880.
A partir de 1881 começou a integrar o «Grupo do Leão» - grupo de jovens escritores e artistas que se reunia
na Cervejaria Leão de Ouro, em Lisboa.
A Lisboa de Cesário
Em Lisboa, quando Cesário Verde começou a trabalhar, observava tudo e deixava-se impressionar por pequenas
coisas sem importância que o deslumbravam e o deixavam estático, a olhar, como se abrisse os olhos pela primeira vez.
Tudo isto, o que via, ouvia ou julgava ver e ouvir, sempre igual e sempre diferente, dava-lhe uma sensação de
plenitude, de euforia.
O seu encantamento era tão grande que errava longamente pela Baixa, numa hora em que o movimento
diminuía.
As suas digressões levavam-no, por vezes, a bairros excêntricos onde, ao crepúsculo, oficiais namoravam
burguesinhas irrequietas debruçadas às janelas ou às barreiras da cidade poluída pelo fumo das indústrias.
Porém, em certas noites, regressava a casa tristemente pois tudo lhe parecia baço, triste e inexpressivo.
A cidade
Cesário Verde, tal como os impressionistas, “pintou” a natureza humana. O seu olhar detém-se no campo, mas
privilegia a Lisboa do século XIX, destacando novos locais de convívio e novas personagens.
O espaço urbano é sentido como opressivo e destrutivo, como um local de corrupção, mas também de vida
dura, no qual o ser humano se desumaniza, suscitando uma reflexão sobre o percurso existencial.
No que diz respeito aos tipos sociais, sobressaem a empatia do sujeito relativamente às classes mais
desfavorecidas e um sentimento de compaixão pelos mais vulneráveis da sociedade mercantil.
A denúncia da injustiça social perpassa pelo contraste entre o trabalho duro dos elementos do povo – a força
ativa da sociedade – e o ócio das classes dominantes.
As mulheres também são apresentadas sob dois pontos de vista diferentes: a mulher simples, vulnerável, que
desperta no sujeito poético um instinto de proteção, por oposição à mulher altiva, que ostenta elegância e riqueza,
pertencente a um estrato social elevado.
– A cidade como símbolo da opressão da vida burguesa.
– A cidade moderna – atração e repulsa.
– A rua – lugar de representação das injustiças sociais.
– Análise social e dissecação dos tipos sociais.
– Intenção satírica da poesia.
– Poetização dos tipos sociais.
– Solidariedade com os mais frágeis.
O real, apreendido pelos sentidos e pela imaginação, é transfigurado pela arte, que:
Recompõe a realidade tornando-a mais bela ou feia.
Acentua os tons sombrios ou os odores desagradáveis da cidade.
Transfiguração
Metáforas Hipérboles
Cesário Verde tem um modo especial de ver e captar o que o cerca. A sua “visão de poeta”, penetrante e
lúcida, gera-se a partir do real, mas não o substitui completamente e permite-lhe a transfiguração do observado, sem
nunca perder o vínculo com o real. A sua requintada sensibilidade e o dom da palavra inspiram-lhe a associação invulgar
de ideias, o termo exato e inesperado.
O poeta recria as cores e os objetos que o rodeiam quando iluminados pela luz do sol, “o intenso colorista”,
porque um dos poderes criativos do sol inclui as associações emocionais de cores. É neste contexto que, em “Num
Bairro Moderno”, as frutas e os legumes vão dando forma a um corpo humano, ou, em “De Tarde”, os seios
assemelham-se a duas rolas. No poema “Cristalizações”, as árvores despidas transfiguram-se em elementos náuticos,
adquirindo uma dimensão épica.
Cesário, numa to de inspiração criadora, combina uma extraordinária capacidade de observação como uma
exigência ética e estética invulgar, abrindo novos caminhos à poesia portuguesa.
– Apreensão da realidade através dos sentidos.
– A cor, a luz, o movimento, o cheiro, o som e o paladar estimulam e inspiram.
– Os estímulos conduzem à metamorfose poética do real.
Linguagem e estrutura
Recursos expressivos