Hormônios Bioidênticos Manipulados e A Terapia Anti-Aging
Hormônios Bioidênticos Manipulados e A Terapia Anti-Aging
Hormônios Bioidênticos Manipulados e A Terapia Anti-Aging
Marcelo Gondim Rocha* Nos dias de hoje, as mulheres estão vivendo mais. Nos Estados Unidos, estima-se que a
população geral entre 65 e 74 anos de idade irá crescer em torno de 74%. O subgrupo que mais
cresce é a de mulheres mais velhas. São esperadas, nesta década, que esse grupo atinja cerca de
60 milhões de mulheres1. À medida que a expectativa de vida cresce, cresce também um desejo
não somente de atingir uma maior longevidade, mas que se consiga com uma melhor qualidade
de vida. Os sintomas do climatério são extremamente incômodos para essas mulheres. Mais de
85% delas terão queixas, principalmente aquelas de origem vasomotora, como os fogachos2.
No passado, a terapia de reposição hormonal (TRH) era quase uma regra para todas as mu-
lheres no período perimenopausal. Nos dias de hoje, estudos como o Women´s Health Initiative
(WHI)3, levaram a um número menor de prescrições devido a uma maior preocupação tanto
de médicos como de pacientes com relação a seus efeitos colaterais. Houve tanto uma queda
significativa do número de usuárias de TRH de 2002 a 2007 como também houve uma queda
importante no número de novas usuárias4. Apesar dessa queda vertiginosa no uso de TRH,
os sintomas continuam os mesmos. Elas estão à procura de uma fórmula mágica que melhore
seus sintomas, mas que seja isenta de fatores de risco, infelizmente ainda não temos essa opção.
Nesse contexto é que temos visto, principalmente na imprensa leiga, os seguidores da chamada
medicina “anti-aging”. Esses seguidores gostam muito de usar o termo “bioidêntico” como se
fosse uma exclusividade deles. No mercado, já dispomos de vários medicamentos bioidênticos
como a progesterona natural micronizada, o 17-β-estradiol, entre outros. Essas medicações
industrializadas passaram por rigoroso controle de qualidade não só aqui no Brasil como tam-
bém nos Estados Unidos, tendo sido aprovado pelo Food and Drug Administration (FDA – órgão
americano que controla a comercialização e venda de medicamentos). Outro ponto importante
a ser discutido é que no próprio site5 dos que advogam a favor dessa nova terapêutica está es-
crito que os compostos bioidênticos manipulados “oferecem vantagens indiscutíveis quando
se compara com preparações hormonais industrializadas”. Isso não tem o menor embasamento
teórico, visto que não há na literatura estudos bem desenhados, randomizados, controlados com
relação a produtos bioidênticos manipulados6. Sem esses estudos, não podemos inferir sobre sua
eficácia e, principalmente, sobre sua segurança. Isso é “zombar” da ingenuidade das pacientes e
da formação médica dos colegas. Na mesma página da internet encontramos ainda que a pres-
crição de produtos manipulados atingiriam “o objetivo terapêutico de uma forma mais rápida,
* Médico Assistente do Departamento de Ginecologia e Obstetrícia da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (USP);
Mestre em Ginecologia e Obstetrícia pelo Departamento de Ginecologia e Obstetrícia da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da USP – Ribeirão
Preto (SP), Brasil.
Endereço para correspondência: Marcelo Gondim Rocha – Departamento de Ginecologia e Obstetrícia da Faculdade de Medicina de Ribeirão
Preto da USP – Avenida Bandeirantes, 3.900, 8º andar – HCRP – Campus Universitário – Ribeirão Preto (SP), Brasil – CEP:14049-900 – Fone: (16)
3602-2583 – Fax: (16) 3633-0946 – E-mail: marcelorocha@fortalnet.com.br
fisiológica e específica, respeitando as necessidades de cada pessoa”. Ora, a essência
de uma prescrição médica é a escolha da medicação, dose e via mais apropriada para
cada paciente, não sendo, portanto, uma justificativa para tal procedimento. Vale
ainda ressaltar que, como ainda não há na literatura estudos bem desenhados com
relação aos manipulados, isso pode ser considerado uma infração no código de ética
médica. De acordo com o artigo 112 do capítulo XIII é vedado ao médico divulgar
informação sobre assunto médico de forma sensacionalista, promocional ou de conteúdo
inverídico. Em resumo temos que, no tocante a compostos bioidênticos manipulados
versus terapia hormonal regulamentada e aprovada pelos órgãos competentes, os in-
gredientes ativos e inativos de compostos manipulados podem variar enormemente,
as drogas aprovadas pelos órgãos competentes têm a sua pureza, eficácia, segurança
e potência testadas (diferentemente dos manipulados) e que até a presente data não
há evidência de que os compostos manipulados são mais eficientes ou seguros que as
terapias convencionais7. Não podemos permitir que jogadas de marketing sejam usadas
para distorcer a realidade científica atual.
Leituras suplementares
1. McKinlay SM, Brambilla DJ, Posner JG. The normal menopause transition. Maturitas. 1992;14(2):103-15.
2. Stearns V, Ullmer L, Lopez JF, Smith Y, Isaacs C, Hayes D. Hot flushes. Lancet. 2002;360(9348):1851-61.
3. Rossouw JE, Anderson GL, Prentice RL, LaCroix AZ, Kooperberg C, Stefanick ML, et al. Risks and benefits
of estrogen plus progestin in healthy postmenopausal women: principal results From the Women’s Health
Initiative randomized controlled trial. JAMA. 2002;288(3):321-33.
4. Barbaglia G, Macià F, Comas M, Sala M, del Mar Vernet M, Casamitjana M, et al. Trends in hormone therapy
use before and after publication of the Women’s Health Initiative trial: 10 years of follow-up. Menopause.
2009;16(5):1061-4.
5. Longevidade saudável. [citado em 6 out. 2010]. Disponível em: http://www.longevidadesaudavel.com.br/
index.php.
6. Cirigliano M. Bioidentical hormone therapy: a review of the evidence. J Womens Health (Larchmt).
2007;16(5):600-31.
7. Utian WH. Bioidentical hormones: separating science from marketing. Journal [Internet]. [citado 27 set. 2010].
2005. Available from: http://www.femalepatient.com/html/arc/sig/meno/articles/030_10_021.asp.