Aventuras Na Oração.
Aventuras Na Oração.
Aventuras Na Oração.
CONTRACAPA
Você está precisando de cura, seja para a mente ou para o
corpo? Sente-se incapaz diante de problemas de emprego, ou de
ordem econômica? Seu lar está dividido — o marido contra a
esposa e a geração mais velha contra a nova? Sente-se solitário,
desejoso de uma vida mais plena de significado?
Sim, você deseja orar, mas as palavras não saem. Sente que
precisa da oração, mas, lá dentro, como que cambaleando sob o
peso das dificuldades, o coração exclama: "Onde está Deus,
que não o encontro nesta situação? Como conseguirei o auxílio
e a orientação do Senhor?”
“O auxílio não tarda" é o tema vibrante de "Aventuras na
Oração". Deus, o eterno "Eu Sou", é gloriosamente capaz de
nos responder, afirma nesta obra Catherine Marshall, que é
também autora de vários outros livros inspirativos. Nestas
páginas, ela nos fala de suas descobertas pessoais nesse campo,
deixando-nos entrever a aventura fascinante que a oração pode
ser, e o quanto Deus deseja sejam práticas e específicas as
nossas orações.
Aventuras na Oração certamente se tornará um clássico no
assunto, pois traz-nos orientação há muito necessária com
respeito aos aspectos básicos da oração... Fala do tipo de prece
que nós, nesta idade moderna, mais do que nunca precisamos
redescobrir... A oração de uma criança que, simplesmente,
corre para o Pai celeste em busca de auxílio.
PREFÁCIO
1
Nosso ingresso na escola da oração se faz através de um teste
preliminar que consta de apenas duas perguntas. A primeira é:
temos realmente uma necessidade? E a segunda: reconhecemos
nossa incapacidade para resolver a questão por nós mesmos?
Tudo que aprendi sobre oração resultou de ocasiões em que dei,
clara e decisivamente, respostas positivas a estas duas
perguntas. Quando penso no meu passado, vejo que àquelas
horas difíceis agora se salientam como elevados picos de
montanhas, e não como vales de desalento, como se poderia
esperar. São picos porque, em cada uma daquelas situações,
aprendi uma lição muito importante a respeito de Deus: ele é
bem real, e maravilhosamente capaz de atender às nossas
petições.
Uma destas experiências de aprendizado me ocorreu na
infância, quando enfrentei um desesperado medo do escuro. Na
juventude, a questão foi conseguir o dinheiro para custear
meus estudos no curso superior. A lição que aprendi nestas
duas fases de vida relata em "A Oração que Transforma os
Sonhos em Realidade".
Com a idade de vinte e sete anos, meu grande problema foi uma
enfermidade grave. A lição aprendida nessa ocasião é narrada
em: "A Oração de Renúncia".
Quando contava trinta e poucos anos, aprendi uma grande
lição com a morte súbita de meu marido, Peter Marshall. Com
ela, vieram outros problemas menores: como criar um filho sem
a presença do pai, conseguir emprego àquela altura da vida sem
treinamento especializado. Durante essa fase, aprendi a fazer a
"Oração da Apropriação".
Alguns anos mais tarde, após meu casamento com Leonard
LeSourd e o encargo de três crianças pequenas, precisei voltar
à escola da oração. Como sempre, não foi difícil passar no teste
inicial. A dificuldade era imensa, e minha inadequação,
patente. Naqueles anos, aprendi a "Oração do Necessitado".
Naturalmente, na maioria dos casos, a situação que me colocou
de joelhos não era estritamente pessoal. Por vezes, tratava-se de
problema de um amigo, ou então de necessidade existente em
alguma outra parte desse nosso mundo tão conturbado pela
fome e pela guerra. Mas o critério era sempre o mesmo: uma
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questão muito importante em confronto com nossa
insuficiência de recursos para resolver o problema.
Com o tempo, houve oportunidade de relatar muitas de minhas
descobertas no campo da oração na revista Guideposts. Mais
tarde, reunimos seis destes artigos para a publicação de um
livrete, o qual tem sido muito procurado desde então.
Recentemente, solicitaram-me que revisasse o material para ser
colocado em forma de livro. Esta revisão era necessária porque
cada artigo havia sido condensado e encurtado para caber no
limitado espaço de que dispúnhamos em Guideposts. Portanto,
nas páginas que se seguem, aparece, pela primeira vez, o texto
original completo dos seis artigos sobre oração. Este material
pode ser considerado "clássico" apenas em um sentido: já
passou pelo teste do tempo, depois de impresso.
Em adição aos primeiros artigos, e como o tempo sempre nos
ensina novas lições, acrescento mais dois capítulos: "Orar é
Pedir" e "A Oração de Espera".
Também escrevi, para este volume, uma oração especial
acompanhando cada capítulo. Todos nós temos momentos em
que a oração parece brotar de nossos lábios espontaneamente e
sem esforço. Mas há outras vezes em que precisamos de auxílio
para que o peso de nosso coração chegue até nossos lábios, e é
para tais ocasiões que apresentamos essas orações escritas não
como substitutas para nossas próprias petições, mas como se
fossem uma plataforma de lançamento para elas.
É lógico que nem uma existência inteira e nem um livro.
Mesmo que se tratasse de uma obra bem mais extensa que esta
poderiam fazer mais que arranhar a superfície de assunto tão
amplo e abrangente como é a oração.
Neste volume, deixo de mencionar a oração de adoração, a de
ação de graças, de louvor, de contemplação, de meditação e a
oração que é apenas a elevação do coração humano ao
encontro do Amado de sua alma, em comunhão silenciosa. Não
é que considere sem valor esses aspectos da oração; pelo
contrário; mas é que, através dos séculos, vários escritores, bem
mais qualificados que nós nos legamos clássicos sobre o
assunto.
Por estranho que pareça, a falta que senti nos meus momentos
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de necessidade espiritual foi orientação quanto ao mais
humilde e elementar tipo de oração a oração de petição. A
oração simples da criança que corre ao pai pedindo socorro. É
isto que precisamos redescobrir nesta era de perplexidades:
como recorrer ao Pai.
Nesta década de setenta, as salas e corredores da escola da
oração acham-se mais apinhadas que nunca: pois as
necessidades pesam sobre nós com premência cada vez maior; a
crise econômica mundial, a intensificação dos problemas do
casamento, o aumento do conflito das gerações, o vício de
drogas, o alcoolismo, o câncer que se espalha em proporções
quase epidêmicas. Só podemos mesmo é correr para a escola.
Nossa sede é profunda; nossa ânsia de aprender, enorme.
Que maravilha saber que nossa incapacidade é a chave que
escancara a porta da capacidade divina! Que sempre e sempre
a sede e a fome nos impulsionem para o Senhor, "provar e ver"
como ele é bom. Quem, senão Jesus poderia ter formulado um
plano tão perfeito?
ORAR É PEDIR
Recentemente uma amiga relatou-me o seguinte incidente. Sua
filha, Elizabeth, arranjara um emprego para o verão, a fim de
conseguir o dinheiro necessário para custear suas despesas na
faculdade. Sua tarefa era preparar embalagens de carne para o
balcão frigorífico de um supermercado. Certo dia, pouco antes
de sair para o trabalho, Elizabeth deu pela falta de uma de suas
lentes de contato. E embora sua mãe a auxiliasse na busca, não
encontrou a lente em parte alguma.
Após a moça haver saído para o serviço, usando os óculos, a
mãe assentou-se para tomar uma xícara de café, ponderando a
respeito do problema. Havia milhares de cantinhos onde aquela
fina escama de plástico poderia ter caído. Então ela pensou:
"Será que devo orar a respeito disso? Ou será que o problema é
trivial demais?" Esta amiga, Tib Sherrill, tinha enorme aversão
a orações que tratam o Criador do universo como se ele fora
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um garoto de recados ou como um Papai Noel celestial.
Mas Tib sabia que Elizabeth precisaria gastar a quarta parte do
salário para adquirir outra lente, e a moça contava com esse
dinheiro para despesas na faculdade. Isso significaria também
mais uma semana de desconforto no salão refrigerado onde ela
trabalhava e mais dedos queimados no arame quente da
máquina de embalar.
Acudiu-lhe à mente, então, a parábola que Jesus narrara
acerca da mulher que procurara uma moeda de prata perdida
um objeto valioso. (Lc 15.8-10.)
"Esta história revela", pensou consigo mesma, "que Jesus se
importa com tais coisas, não porque sejam importantes em si
mesmas, mas por que o são para nós.
"Está bem, Senhor", concluiu ela, "nós precisamos do teu
auxílio nesta questão. Podes mostrar-me onde está a lente?"
Sem qualquer razão plausível, ela se levantou e encaminhou-se
para o banheiro. Abaixou-se e correu os dedos cuidadosamente
pela superfície peluda do tapete. Nada!
Ergueu-se de novo e olhou para a pia.
“ Bem", pensou, "pode ter caído aqui e descido pelo cano."
Levantou o ralo cromado para olhar dentro do cano. E ali, bem
na ponta do pino central do ralo achava-se a lente
desaparecida, agarrada no metal como uma gotícula de água. A
primeira vez que alguém abrisse a torneira, ela seria levada
embora.
"Transcorrera menos de um minuto desde que eu fizera aquela
oração na cozinha", contou-me ela. "E eu poderia ter
procurado em todos os lugares, mas nunca me ocorreria retirar
aquela peça."
Esta mãe passara pela experiência de obter resposta ao tipo
mais elementar de oração a petição. Quando nos encontra¬mos
em dificuldades, sejam elas de grande ou pequena monta,
aceitando a palavra de Jesus de que Deus é realmente nosso
Pai, achegamo-nos a ele, contamos-lhe nosso problema da
maneira mais direta e franca possível, e pedimos sua ajuda.
Se alguém ainda não experimentou a glória de receber resposta
definida para uma oração, então, como diz o apóstolo Tiago, a
culpa é apenas sua: "Nada tendes, porque não pedis." (Tg 4.2.)
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Tiago aprendera com o próprio Senhor Jesus que é preciso
pedir. Andando de aldeia em aldeia com o Mestre, quantas
vezes ele vira Jesus forçar a pessoa que lhe apresentava um
pedido a expô-lo em termos claros e diretos. O Mestre não
aceitava generalidades nem pedidos confusos. Um exemplo
disso fora o que acontecera aos dois cegos de Jericó. Os dois
homens haviam estado a repetir as palavras: "Senhor, Filho de
Davi, tem misericórdia de nós." (Mt 20.31.)
A cegueira daqueles mendigos era óbvia, tanto para Jesus como
para os discípulos. No entanto, o Mestre silenciara aquela
petição lamurienta com uma pergunta direta: "O que desejam
que lhes faça?"
Aquela pergunta direta como que sacudiu os dois, despertando-
os de seu estado de auto-piedade. "Senhor", disseram, agora
com decisão, "queremos que nos abras os olhos.”
Na mesma hora, Jesus atendeu. Mais tarde, Tiago e os outros
iriam lembrar-se da expressão de amor e compaixão que se
estampava na fisionomia do Senhor em tais momentos. Como
era intensa a sua solicitude! Então, Jesus tocara os olhos de
cada um dos mendigos, e, imediatamente, sua visão lhes fora
restaurada.
Após observarem uma série de incidentes semelhantes, os
discípulos compreenderam que o método de Jesus era este:
"Diga-me exatamente o que quer. Fale comigo. Peça-me. "
Um ponto que ele enfatizou inúmeras vezes em seu ministério
foi justamente a importância de expressarmos nossos pedidos
ao Pai celestial.
“... Quanto mais vosso Pai que está nos céus dará boas cousas
aos que lhe pedirem?”(Mt 7.11.)
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Quando batemos à porta, ela é aberta diante de nós. Portanto,
Jesus ensinou que receber resposta de oração é receber o que
pedimos.
E ao ouvirem os discípulos tais declarações, será que o
impetuoso Pedro, ou o cético Tomé perguntaram ao Mestre:
"Mas, Senhor, já que o Pai celestial sabe de tudo a nosso
respeito e conhece nossas necessidades, para que precisamos
pedir?”
A resposta de Jesus está implícita em muitos de seus ensinos
acerca da oração. Ele mostrou a estreita ligação que há entre a
oração e o fato de nos tornarmos como crianças.
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o caminho por uma estrada, e depois por outra, em vez de parar
e informar-se.
Deus quer que nós peçamos, não porque ele precise conhecer
nossa situação, mas porque nós precisamos dessa disciplina
espiritual: pedir. Por outro lado, o fato de fazermos um pedido
específico nos obriga a dar um passo de fé. A razão por que
muitos se atêm a divagações e generalidades em suas orações
não é terem um conceito elevado de Deus, mas justamente o
contrário. Receamos que, se fizemos um pedido definido e não
formos atendidos, a pequena fé que temos se esvairá. Por isso,
preferimos seguir a rota mais segura das orações altamente
"espirituais" o tipo de petição que Jesus rejeitava, por não ser
uma oração verdadeira, e sim uma espécie de monólogo, com
que nos enganamos a nós mesmos.
Em seu famoso livro, Cartas do Inferno, C. S. Lewis faz um
comentário oportuno a respeito dessas falsas orações,
colocando na boca do diabo, o Murcegão, o seguinte conselho
para o seu substituto, Cupim:
"Não há dúvida de que é impossível impedir que ele ore por sua
mãe, mas nós temos meios de tornar estas orações ineficazes.
Faça com que ore de maneira bem "espiritual", e que esteja
sempre mais preocupado com o estado de sua alma do que com
o reumatismo dela."
É estranho que nós, que tememos tanto orar para que uma dor
reumática passe ou que uma lente de contato perdida seja
encontrada, não hesitemos em orar pela paz mundial, ou pela
salvação de almas ou por um avivamento que venha modificar
a face de nossos dias. Nunca nos ocorre que se o poder de Deus
está ausente para atender a estas orações cotidianas, estará
também para atender estas petições imensas e abrangentes que
fazemos.
Para termos certeza de que não estamos tentando evitar que
nossa fé seja posta à prova, façamo-nos a seguinte pergunta:
"Será que eu realmente espero que alguma coisa aconteça?"
Isto impedirá que façamos orações que não passam de mera
"contemplação de vitrines". Às vezes é bem agradável "olhar
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vitrines", mas não passa disso. Não nos custa nada. Estamos
apenas olhando, sem intenção de fazer compras. Assim, não
temos compra alguma para mostrar, após todo aquele tempo.
Muitas de nossas orações tanto em público como as particulares
são meros passeios por entre as petições que poderíamos fazer;
não nos definimos, absolutamente. E não esperamos obter nada
com estas orações, a não ser, talvez, uma sensação de euforia.
E quanto ao perigo de perdermos a fé em Deus caso a oração
não seja respondida exatamente do modo como queremos, será
que alguém pode estar mais interessado no estado de nossa fé
que o próprio Deus? O seu desejo é que confiemos nele, e mais
que desejo, é esse o grande anseio de seu coração de Pai. Então,
nós podemos transferir para ele qualquer temor quanto à
possibilidade de perdermos a fé.
E, além disso, será que tememos que uma resposta negativa nos
colocasse de costas contra a parede de nossas deficiências, de
nosso erro em não corresponder às exigências de Deus? E se
assim for, não estaremos nós novamente duvidando de que
Deus é capaz de dar-nos tudo que nos falta seja fé,
perseverança, ou aquela força interior para cumprir suas
exigências?
Várias vezes Jesus falou de um galardão nos céus. Se tendemos
a repelir esta idéia por considerá-la demasiado materialista,
talvez devamos ser mais cautelosos, pois podemos estar sendo
mais "espirituais" que o Senhor.
Um veterano guerreiro das batalhas da oração, John R. Rice,
expressou-se de forma drástica a respeito da oração, em sua
obra Asking and Receiving (Pedir e receber). Ele disse: "A
oração não é um automóvel bonito para se dar um passeio
turístico pela cidade. Antes, ela é um caminhão que vai direto
ao armazém de víveres, estaciona ali, é carregado, e volta para
casa com eles."
Se pensamos que nunca conseguiremos reunir fé bastante para
fazer tal oração, temos toda razão. Entretanto, os santos de
Deus mais experimentados nestas questões nos dizem que Deus
usa nosso passo de fé, mesmo hesitante e vacilante, como porta
aberta para que ele opere muito além daquilo que "pedimos ou
pensamos". Nós resolvemos pedir seu auxílio para uma
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dificuldade pequena e imediata. A ação de pedir é como dar um
passo e entrar numa pequena ante-sala. Ao darmos esse passo
hesitante, descobrimos que a ante-sala nos leva para o imenso
salão real de recepção. E para nosso espanto, o próprio Rei vem
ao nosso encontro e nos oferece um presente valiosíssimo, que
só poderia vir de um Rei: o dom de desfrutar da amizade do
Senhor da glória por toda a vida.
"Você pediu dinheiro para o aluguel deste mês", diz ele
sorrindo. "Sente-se aqui aos meus pés e conversaremos sobre o
aluguel, mas também sobre outros assuntos. Tenho muitas
coisas para lhe dizer. Se você aceitar minha amizade, eu e você
teremos à nossa frente anos e anos de glorioso intercâmbio.
Tenho tantas coisas para ensinar-lhe, que precisaremos de toda
a eternidade para tratar disso."
Nossa situação nos faz lembrar a de uma mulher a quem, há
muito tempo atrás, nosso Senhor pediu um pouco de água,
junto ao poço de Jacó, em Sicar. Sob o olhar penetrante
daquele Estranho, e por causa de suas perguntas incisivas, ela
descobriu que a sede que a obrigava a dirigir-se diariamente
àquele poço era problema meramente superficial. O Rabi sabia
de tudo a seu respeito e tinha conhecimento de todas as coisas
erradas que praticara. E, no entanto, não houve condenação
alguma de sua parte, mas somente amor terno e restaurador,
que lhe indicava as soluções de seus problemas, soluções que
ela buscava havia tanto tempo.
Quando passamos a ter este relacionamento pessoal com Jesus,
damos a ele condições de resolver não só nossos problemas
materiais e físicos mais imediatos, mas também nossos
problemas mais profundos, ocultos, que envolvem atitude e
emoções sadias, motivação certa e a maneira de resolvermos
nossos problemas de relacionamento.
Pouco depois, descobriremos que pedir não implica apenas em
expor necessidades. Nossos lábios nem sempre sabem expressar
corretamente o clamor de nosso coração. Em alguns casos, isto
se dá porque nossas emoções estão de tal forma alheias à
atuação da vontade que nossas orações giram em torno de
irrealidades. Às vezes, estamos divididos em nosso interior e
nem sabemos exatamente o que queremos, e por isso não
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podemos suplicar de todo o coração. Ou talvez nós nem mesmo
saibamos o bastante acerca de nossas esperanças e sonhos para
fazermos um pedido definido.
Então concluímos que deve haver vários níveis de petição. E há
tanta coisa para se aprender a respeito da oração!
"Senhor, ensina-nos a orar!"
ORAÇÃO: EU PEÇO
Senhor Jesus, tu que nasceste num estábulo e foste colocado
sobre a palha; tu que andaste por estradas poeirentas e sentiste
sede, e desejaste sentir a água fresca descendo pela tua
garganta; e que riste, e algumas vezes verteste lágrimas
amargas tu és quem está-me chamando de volta à realidade.
Agora entendo o que eu pensava ser uma elevada
espiritualidade, aos teus olhos, é apenas ilusão e engano. Pior
que isso, muitas vezes tem sido uma capa para esconder meu
receio de não receber o que peço.
Tu, que estás muito mais vivo do que eu desejas ir comigo até o
centro e ajudar-me a encontrar um bom ponto para estacionar
o carro, e relembrar-me onde foi que perdi aquele pedaço de
papel com o número de telefone que preciso. Queres também
proporcionar à minha esposa uma boa noite de sono; curar a
artrite de meu vizinho e ajudar John a encontrar um bom
emprego. A alegria invade meu coração quando me lembro de
que tu és Homem, além de seres Deus; e que tu já provaste, em
essência, toda e qualquer dificuldade que eu possa vir a
encontrar.
Tu me ordenas que eu te fale de todas as minhas carências e
prometes que a alegria e os teus preciosos dons estão ao meu
dispor, bastando que eu peça.
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não para bem? Será que eu terei de dar um passo de
crescimento, perdão ou obediência antes, para que possas
atender ao meu pedido? Senhor, se eu precisar de paciência
para aguardar o tempo certo, peço-te que me dês paciência
também.
Já antegozando, com alegria, a tua bênção, espero tua resposta.
Obrigado, Senhor Jesus. Amém.
A ORAÇÃO DO NECESSITADO
Quando eu residia na capital, costumava notar a freqüência
com que os jornais da cidade noticiavam a morte de pessoas que
se suicidavam saltando da ponte da Rua Calvert. Isso vem
acontecendo tantas vezes que o local é conhecido como "a
ponte dos suicídios".
Sentindo o drama que havia por trás daqueles curtos relatos
como no caso da esposa de um major da aeronáutica, uma
senhora de 31 anos de idade, que sofria de câncer inoperável, e
o do velhinho que perdera a esposa havia pouco eu pensava
muitas vezes que, provavelmente, todas aquelas tragédias
possuíam um denominador comum. Cada uma daquelas
pessoas devia ter-se sentido totalmente desvalida e desesperada.
E pensei: "Se ao menos eu pudesse conversar com elas no
momento da crise, poderia dizer-lhes que a consciência de
desamparo, de impotência, é um dos maiores bens que um ser
humano pode possuir."
Eu creio que aquele velho ditado: "Deus ajuda àqueles que se
ajudam" não somente é enganoso, como também, em muitos
casos, totalmente errado. Algumas das mais espetaculares
respostas de oração que recebi foram justamente as de orações
feitas quando me sentia tão impotente para agir, tão
desconcertada, que não poderia fazer absolutamente nada em
meu favor.
O salmista diz: "Na angústia me tens aliviado" (Sl 4.1). Aos
poucos eu fui aprendendo a reconhecer essa angústia como um
dos mais ternos expedientes de que Deus lança mão para
mostrar-nos que Ele é real e gloriosamente capaz de resolver
nossos problemas.
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Uma dessas ocasiões foi quando estava escrevendo meu
primeiro livro. Enviuvara recentemente do Rev. Peter Marshall,
pastor da Igreja Presbiteriana Escocesa e capelão do Senado
dos Estados Unidos, e resolvera empreender o audacioso
projeto de escrever sua biografia. Quando já me achava pelo
meio do manuscrito, recebi críticas desoladoras por parte de
uma pessoa cuja opinião eu muito prezava.
"Você não conseguiu dar ao menos um vislumbre do
verdadeiro Peter Marshall", disse-me sem rodeios.
E o pior de tudo é que ele estava com a razão. O
reconhecimento de minha inaptidão como escritora não foi
apenas mental; foi emocional também, regado com muitas
lágrimas. Mas essa crise resultou em grande revelação para
mim.
Em minha insuficiência, não havia alternativa senão transferir
a empresa para as mãos de Deus. Orei a ele, entregando-lhe o
livro A Man Called Peter (Um Homem Chamado Peter ), e os
resultados também.
E ambas as coisas ficaram com ele. Ainda me espanto quando
penso nos milhões de exemplares da obra que circularam pelo
mundo todo. Mas tanto isso como o enorme sucesso obtido pelo
filme produzido pela companhia cinematográfica 20th Century
Fox, são de pouca monta quando comparados às notícias que
recebo, vez por outra, a respeito de vidas que foram
transformadas pela leitura do livro, e de homens que se
dedicam ao ministério da Palavra por inspiração da vida de
Peter Marshall.
Muitos anos depois, pude ver essa oração do necessitado operar
numa situação mais corriqueira o caso era arranjar uma
empregada doméstica. Antes de casar-me com Leonard Le
Sourd no final de 1959, eu estava muito animada com a
perspectiva de cuidar de seus três filhos pequenos. Meu filho,
Peter John, estava estudando fora havia três anos, e eu me
dedicara ao ministério de escritora. Em seu esforço para
animar-me, Leonard falava confiadamente em conseguirmos
uma boa empregada doméstica.
Todavia descobrimos que conseguir uma empregada em
Chappagua era extremamente difícil. Meses se passaram. Uma
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senhora ficou conosco algumas semanas, e depois saiu.
Procuramos nos classificados, mas sem sucesso. Oramos
persistentemente a respeito do problema, mas a solução não
aparecia. Por fim, resolvi que eu mesma iria encarregar-me do
serviço. Mas logo descobri que cuidar de uma casa
movimentada como a nossa era um serviço de horário mais que
integral. Durante várias semanas, nem cheguei perto da
escrivaninha.
E então, uma vez mais, lançamos mão do já conhecido recurso:
a oração do necessitado o reconhecimento de que eu não
poderia fazer tudo, e também a constatação de que minha
responsabilidade principal era para com o lar. Se Deus desejava
que eu voltasse a escrever, teria que solucionar a questão.
Após ter reconhecido minha total incapacidade para resolver a
situação, surgiu-nos Lucy Arsenault uma pessoa firme, leal,
maravilhosa, plenamente digna de confiança, e, além disso,
excelente cozinheira.
Por que Deus faz questão de que cheguemos ao ponto de
reconhecermos nossa incapacidade total, antes de responder
nossas orações? Uma razão óbvia é que nossa incapacidade
humana é um fato. Deus é realista, e deseja que nós também o
sejamos. Enquanto estivermos nos iludindo, crendo que nossos
próprios recursos podem atender os anseios de nosso coração,
estaremos crendo numa mentira. E é impossível que nossas
orações sejam respondidas se baseadas em auto-ilusão e
mentira.
Então, qual é a verdade acerca da situação humana? Nenhum
de nós teve qualquer participação nas decisões relativas à nossa
origem. Não escolhemos nosso sexo, nem deliberamos se
seríamos japoneses, russos ou americanos; se seríamos
brancos, negros ou amarelos. Tampouco pudemos escolher
nossos ancestrais, nem nossas características físicas.
Depois que nascemos o sistema nervoso central, que é
autômato, passou a controlar todas as nossas funções vitais.
Uma energia que não entendemos bem mantém nosso coração
pulsando, os pulmões funcionando, o sangue circulando, e a
temperatura do corpo entre 36 e 37 graus centígrados.
Um cirurgião pode cortar tecidos do corpo humano, mas não
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pode absolutamente forçar o organismo a religar os tecidos
separados.
E nós envelhecemos automática e inexoravelmente.
Auto-suficiência? Impossível!
Até mesmo o planeta onde vivemos... Não tivemos parte alguma
na sua criação. O pequeno planeta Terra se acha exatamente à
distância certa cerca de 140 milhões de quilômetros da estrela
que é sua fonte de luz e calor. Se chegasse mais perto, seríamos
destruídos pela radiação solar; se afastasse um pouco,
morreríamos por congelamento. O equilíbrio entre o nitrogênio
e o oxigênio do ar atmosférico é ajustado para a sustentação da
vida; os elementos do solo e a criação de depósitos de pedras
raras tudo isso ocorre à revelia do homem este homem
pequenino que se mostra tão orgulhoso e às vezes esbraveja
tanto sobre a superfície da terra.
Jesus fez algum comentário acerca disso tudo? Sim. Como
sempre, ele colocou o dedo no âmago da questão: “... sem mim
nada podeis fazer" (Jo 15.5), disse ele.
Nada? Isto pode parecer um pouco de exagero. Afinal de
contas, o homem tem feito grandes progressos. Já conseguimos
quase eliminar algumas enfermidades, como a varíola, a peste
bubônica, a tuberculose, a poliomielite, e a maioria das doenças
infecciosas infantis. Aprendemos a controlar, em grande parte,
o meio-ambiente; já enviamos homens à lua. Como podemos
considerar isto tudo como incapacidade? A maioria das pessoas
não aprecia muito essa idéia. O culto do humanismo que existe
em nossos dias levou-nos a crer que somos aptos para controlar
nosso próprio destino.
Entretanto, Jesus não somente insistiu em afirmar que somos
totalmente incapazes de tudo, mas ele sublinhou essa verdade
dizendo que ele também estava sujeito a ela durante sua vida
terrena: "Eu nada posso fazer de mim mesmo", disse ele aos
apóstolos (Jo 5.30). Nisto, como em tudo o mais, ele
apre¬sentava o modelo do homem perfeito.
As Escrituras nos revelam, ponto por ponto, a verdade acerca
de nossa incapacidade tanto com relação à vida espiritual,
como à vida física.
Sentimos um impulso em direção a Deus. E nós pensamos que
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somos nós que estamos indo em busca dele. Mas isto não é
verdade. Jesus disse o seguinte: "Ninguém pode vir a mim se o
Pai que me enviou não o trouxer." (Jo 6.44.)
Desejamos ser salvos de nossos pecados e possuir a vida eterna.
E pensamos que, de algum modo, podemos obtê-la. Não. A
verdade é que "... é dom de Deus; não de obras, para que
ninguém se glorie" (Ef 2.8,9).
E quanto às virtudes e graças de que precisamos para obtermos
vitórias na vida cristã fé, alegria, paciência, paz de espírito, a
capacidade de amarmos as pessoas infelizes e desagradáveis
não há nada que possamos fazer para criar em nós tais
qualidades. Paulo nos diz, em Gálatas 5.22,23, que tais coisas
são dons do Espírito Santo. Não há outro meio pelo qual elas
possam ser adquiridas. "O homem não pode receber cousa
alguma se do céu não lhe for dada." (Jo 3.27.) Esta ênfase dada
à nossa incapacidade também é observada nos escritos dos
autores cristãos de outras eras. Vemos, por exemplo, naquela
jóia da literatura do século XVII, no livro do Irmão Lourenço
"A Prática da Presença de Deus". A impotência humana era o
centro em torno do qual esse irmão carmelita fazia girar seu
relacionamento com Deus:
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nós, espíritos menores, penetramos na verdade da declaração
que Jesus fez no décimo quinto capítulo de João: "Sem mim
nada podeis fazer."
O Dr. Arthur Gossip, que escreveu a explanação do Evangelho
de João para o Interpretels Bible, fez um comentário muito
interessante acerca deste texto: "Estas são as palavras mais
animadoras das Escrituras.. . Sem mim nada podeis fazer. Pois
é com base no reconhecimento franco de nossa total
incapacidade, sem o Senhor, que Cristo... Nos dá suas grandes
promessas."
Grandes promessas, como a gloriosa promessa seguinte, que é
suficientemente poderosa para suplantar nossa incapacitação
em um milhão de vezes: "... Para Deus tudo é “possível” (Mc
10.27). Ele está a dizer-nos que um Deus onipotente,
transcendente e eminente está acima de tudo e opera através de
tudo com muito mais perfeição do que nós sabemos.
Se ficássemos apenas com a nossa incapacidade, seríamos
como um pássaro que tentasse voar com uma única asa. Mas
quando acrescentamos a ela a outra asa a da capacidade divina
então o pássaro pode alçar-se triunfantemente acima dos
problemas e atravessar as nuvens de dificuldades que até então
o têm derrotado.
Uma história que sempre me impressionou muito foi a do Dr. A.
B. Simpson, o famoso pregador de Nova York. Ele fora sempre
atormentado por um precário estado de saúde. Sofreu dois
esgotamentos nervosos e ainda tinha problemas cardíacos.
Quando estava com trinta e oito anos de idade, um médico de
Nova York disse-lhe que nunca chegaria aos quarenta.
A declaração daquele médico só conseguiu acentuar seu estado
de incapacidade física, que o pastor já conhecia tão bem.
Pregar era-lhe um esforço agonizante. Subir ladeiras, mesmo
que fracas, causava-lhe sufocação e agonia terríveis.
Em desespero doente no corpo e no espírito o Dr. Simpson
resolveu recorrer à Bíblia para ver exatamente o que Jesus
tinha a dizer a respeito de enfermidades. Descobriu que o
Senhor sempre considerara a cura como parte integrante de seu
evangelho para a redenção total do ser humano.
Numa sexta-feira, pouco depois de ter essa revelação, ele
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resolveu dar um passeio ao campo. Era obrigado a caminhar
lenta e penosamente, pois tinha o fôlego curto. Chegando a um
bosque de pinheiros, assentou-se numa tora de árvore para
descansar. Logo começou a orar, falando a Deus de sua total
impotência com relação às suas condições físicas. Mas a este
senso de incapacidade ele adicionou a certeza de que Deus
sempre desejara uma saúde perfeita para o seu povo. Mais uma
vez, atuava aquela poderosa combinação de realidades minha
total incapacidade e tua perfeita capacidade. Então ele pediu a
Cristo para entrar nele e se tornar sua vida física e suprir todas
as necessidades de seu corpo, daquele instante até que
concluísse sua missão neste mundo.
"E ali, naquele bosque, consegui um contato com Deus",
contou ele mais tarde. "Sentia cada fibra de meu corpo vibrar
com a presença do Senhor."
Alguns dias depois, Simpson escalou uma montanha de mil
metros de altitude. "Quando cheguei ao topo", relatou-o
alegremente, "o mundo de fraquezas e temores estava a meus
pés. E daquele momento em diante, passei a ter, literalmente,
um novo coração dentro do peito."
E tinha mesmo. Nos três primeiros anos, depois de curado, ele
pregou mais de mil sermões; e dirigiu, às vezes, até vinte
reuniões por semana. Seu testemunho era de que em nem uma
só ocasião se sentiu esgotado. E pelo resto da vida, ele se tornou
conhecido pela grande quantidade de trabalho que produziu
tanto em sermões como em livros e ministério pastoral. Viveu
até a idade de setenta e seis anos.
Além disso, a obra de Simpson sobreviveu a ele. A Aliança
Cristã e Missionária, por ele fundada, ainda hoje é uma imensa
força espiritual; seus livros ainda estão sendo reimpressos, e
têm se constituído em bênção para milhões de pessoas.
Por que é que a oração se torna tão eficaz quando
reconhecemos nossa incapacidade pessoal? Primeiro, como já
vimos, porque Deus faz questão de que encaremos a verdade
acerca da situação humana. Deste modo, nós edificamos nossas
orações sobre o firme fundamento da verdade, e não nas bases
falsas do auto-engano e das ilusões.
Este reconhecimento de nossa incapacidade pessoal também se
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constitui no modo mais rápido de chegarmos à atitude correta
na oração, e que Deus considera essencial.
Ele desfere um golpe mortal contra o mais grave pecado seu
senso de independência que leva o homem a ignorar o Senhor.
Outra razão é que enquanto estivermos confiados em nós
mesmos ou em outras pessoas, não podemos aprender de Deus
diretamente como Ele é, como é seu amor por nós como
indivíduos e seu poder real. E o verdadeiro objetivo da vida é a
comunhão com Jesus, a qual também é o único fundamento
para a eternidade. Esta comunhão diária que ele nos oferece é
muito real.
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Deus está girando a maçaneta. Chegou o instante de você agir,
a oportunidade para sua criatividade entrar em ação.
Um belo dia, no futuro, você olhará para trás e seu coração se
encherá de louvor a Deus, ao verificar como o amou tanto que
lhe deixou uma só saída: voltar-se para Ele. Sem essa
providência diretiva e terna, você nunca poderia ter conhecido
por si mesmo o admirável poder da oração do necessitado.
20
Quando jovem, eu desejava ardentemente fazer um curso
superior. Mas atravessávamos os anos da depressão econômica,
e a igreja a que meu pai servia na Virgínia Ocidental tinha
muitos problemas financeiros. Eu já havia sido aceita para
matrícula na Faculdade Agnes Scott, em Decatur, na Geórgia.
Tinha economizado algum dinheiro de prêmios escolares. Além
disso, recebera a promessa de uma bolsa de estudos para alunos
que quisessem trabalhar na escola, mas ainda nos faltavam
centenas de dólares.
Certa noite, mamãe foi encontrar-me, deitada de bruços na
minha cama, em prantos. Sentou-se ao meu lado para
conversar comigo.
"Vamos orar, nós duas, por esse problema", disse
tranqüilamente.
Fomos para o nosso quarto de hóspedes e nos ajoelhamos junto
a um velho leito dourado de carvalho. Aquela fora a primeira
cama que meus pais haviam comprado para seu lar.
"Eu sei que essa idéia de você ir para a faculdade está certa",
disse mamãe. "Creio também que foi Deus quem colocou esse
sonho em sua cabeça. Portanto, vamos pedir-lhe para nos dizer
o que é que podemos fazer para que o sonho se transforme em
realidade."
Durante aqueles instantes de calma que passamos naquele
aposento, senti nova confiança e uma forte determinação
surgirem dentro de mim. Minha mãe tinha uma fé contagiante.
A resposta viria. Como, não sabíamos.
Continuei a fazer os preparativos para ingressar na Faculdade
Agnes Scott. Pouco tempo depois, mamãe recebeu um
oferecimento de um departamento cultural do governo para que
escrevesse a história de nossa comarca. O dinheiro que ela
ganhou foi suficiente para pagar a maior parte de minhas
despesas com a faculdade.
Houve outro exemplo mais dramático de como mamãe aplicava
a oração para a realização de sonhos. Foi o caso de Raymond
Thomas, um rapaz de "Radical Hill", o bairro mais pobre da
cidade. Além de pobre, ele fora criado por uma família do
lugar, e nem sabia quem eram seus pais.
Aquele moço era tão pobre que não possuía um terno. Todas as
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vezes que vinha conversar com minha mãe, trajava macacão de
trabalho e calçava botinas de cano alto; porém andava sempre
impecavelmente limpo. Nos dias quentes de verão, ele se
postava no degrau superior da escadinha de nossa varanda
ensombrada, e conversava... conversava... conversava...
enquanto mamãe se embalava numa cadeira de balanço,
debulhando ervilhas, ou tirando a linha das vagens, ou
remendando meias. Em pouco tempo, mamãe percebeu nele
uma energia ilimitada e uma grande capacidade mental.
Certa tarde, ele deixou entrever o mesmo anseio interior que eu
tivera cursar uma escola superior. Logo que seu sonho se
revelou diante deles, brilhante e claro, mamãe ficou encantada
de ver a expressão de anelo, que se estampava nos olhos
castanhos de Ray, transformar-se na chama da esperança.
“Mas como vou conseguir isto?" perguntou o rapaz. "Não
disponho de recursos econômicos, nem vejo perspectivas de
arranjar dinheiro."
Mamãe percebeu que, com Ray, a oração do sonho deveria ser
mais abrangente, incluindo, além do curso superior, toda uma
nova filosofia de vida.
"Raymond, qualquer que seja a sua necessidade, Deus já possui
os recursos preparados para você, conquanto que você esteja
pronto para recebê-los. E nossa pátria ainda é a terra da
oportunidade, Raymond. Aqui, o céu é o limite. Haverá
dinheiro para todo e qualquer sonho que você tiver e que for
certo para você, para cada sonho pelo qual você estiver disposto
a lutar."
Para uma esposa de pastor que dispunha de parcos recursos,
esta maneira de pensar era um tanto audaciosa. Mas mamãe
cria nisso, e já o provara muitas vezes. E aquelas verdades
começaram a criar raízes na vida de Raymond.
Afinal, chegou o dia em que Ray aceitou o pensamento dela
sem reservas, e mamãe pôde levá-lo a fazer a oração que
transforma os sonhos em realidade. Depois de tê-la ouvido orar
por mim naquela situação, posso bem imaginar como foi sua
oração por ele.
"Senhor, tu concedeste a Ray uma mente privilegiada. Cremos
ser a tua vontade que ela seja desenvolvida e que desejas usar
22
os potenciais de Raymond para iluminar alguma região deste
teu mundo. E como toda a riqueza que há na terra é tua, por
favor, ajude o Raymond, para que ele encontre tudo de que
necessita para fazer esses cursos.
"Pai, cremos também que tu tens projetos maiores para ele.
Coloque em sua mente e coração imagens vividas e sonhos
específicos a respeito das atividades que desejas que ele exerça
após a faculdade. E também, Senhor, dá-lhe a alegria de
sonhar uma grande alegria."
E assim, com a carteira vazia, mas muita fé em seu sonho,
Raymond Thomas embarcou em um ônibus com direção à
faculdade. Se eu fosse relatar aqui como foi que ele conseguiu
tudo de que precisava, iria alongar demasiadamente esta
história. Mamãe arranjou uma senhora que emprestou parte do
dinheiro para ele. Escreveu-lhe cartas de encorajamento e orou
muito por ele. Ray se dispôs a aceitar responsabilidades e tomou
a iniciativa de conseguir trabalho. Durante os quatro anos do
curso, ele trabalhou em doze empregos, manobrando o tempo e
o dinheiro: tantas horas de aulas, tantas para estudo, igreja,
lazer, etc. Mamãe ficou imensamente feliz e orgulhosa no dia
em que Ray recebeu seu diploma de Bacharel em Ciências, com
distinção.
Durante a Segunda Grande Guerra e nos anos que se seguiram,
não mantivemos nenhum contato com Raymond, mas soubemos
que ele fixara residência em Viena, na Áustria. Nos meados de
julho de 1958, quando me preparava para fazer uma viagem à
Europa, escrevi a Ray.
Quando cheguei em Roma, encontrei ali uma carta dele, à
minha espera.
23
Depois foi em Florença; logo que me registrei no hotel, o
encarregado da recepção entregou-me uma carta de Ray.
E em Bad Gastein:
24
certo pode se tornar realidade. Os recursos materiais realmente
estão à disposição de quem quiser sonhar. A oração nos ajuda a
descobrir se o sonho é certo, e ainda nos dá a força para
persistir. "
25
cada um de nós. Ele quer que nos conscientizemos dos alvos
que ele tem para nós. Pois é nisso exatamente que consiste a
oração: os homens operando em união com Deus para trazer do
céu os planos maravilhosos que ele tem para nós.
Mas, infelizmente, muitas vezes, não nos apercebemos desses
planos, porque, devido a uma circunstância qualquer, nossa
capacidade de sonhar se atrofiou, provocando em nós um
complexo de pobreza. A primeira vez que notei isso foi em
contato com uma ex-colega de faculdade, que sofrera muito por
causa da infância pobre que tivera. Dot era incapaz de
visualizar seus interesses no campo vocacional.
Entretanto, ela fora para Washington cheia de ideais com
relação a um cargo público.
“ Eu não quero um cargo qualquer", explicou-me pouco depois
que ali chegara. "Eu aceito a idéia de que Deus tem um plano
para a minha vida, mas acontece que eu ainda não descobri
qual é. Então como é que vou orar com relação a esse problema
de trabalho?"
"Qual seria a ocupação que lhe daria mais
satisfação?”perguntei-lhe. "Geralmente, isso é um bom ponto
de partida para se saber o que fazer."
Minha amiga olhou-me ligeiramente espantada, e abanou a
cabeça.
"Você nunca sonha?”insisti. "Não existe alguma coisa que
você sempre quis ser?"
"Não. Nada. "
Esta jovem não tinha aspirações porque, durante os anos de sua
vida em que a mãe passara por dificuldades financeiras, ela
ensinara à filha que quem não alimenta muitas esperanças
nunca sofre muitas desilusões. Na realidade, isto nada mais era
que uma excelente preparação para esperar pobreza.
Infelizmente, minha amiga acabou ficando num serviço de
arquivista pública, um trabalho rotineiro, em que ela
empregava apenas uma fração de suas muitas habilidades.
Hoje sei que existe uma saída para essa situação. Quando
descobrimos que existem áreas afetadas em nosso
subconsciente, podemos apelar para o poder do Espírito Santo.
Ele pode voltar conosco ao passado e extirpar todo o veneno,
26
aplanar os terrenos acidentados, e criar uma estrada para Deus,
a fim de que ele possa penetrar triunfantemente em nosso
presente com a execução de seu plano para nossa vida, um
plano muitas vezes quase esquecido e já em atraso.
Não há limites para o que essa associação de sonhos e oração
pode realizar. Eu já tenho visto resultados admiráveis em
diversos tipos de experiência, como: encontrar o cônjuge certo,
ou o emprego mais conveniente, encontrar a casa ideal, saber
conduzir a criação dos filhos, e na formação de uma empresa.
Fiquei conhecendo a história da Olivetti anos atrás, quando
visitei as belíssimas instalações da sua fábrica de máquinas de
escrever e equipamentos de escritório em Ivrea, no norte da
Itália, uma região cercada pelos Alpes. Ali eu vi 22 hectares de
terreno, belo projeto de paisagismo, com uma boa enfermaria
para os funcionários, uma biblioteca, fileiras de blocos de
apartamentos pintados em cores claras. A empresa é notável
não somente pelo seu alcance internacional, mas também pela
assistência que dá aos empregados. Fiquei encantada ao
descobrir que tudo aquilo nascera de um sonho...
Anos atrás, um jovem italiano que visitava a fábrica da
Underwood, em Hartford, nos Estados Unidos, deixara-se ficar
no pátio da empresa olhando aqueles edifícios de tijolos
vermelhos. Um passante que visse o rapaz assim absorto teria se
admirado com isso, pois não havia nada de extraordinário
naquelas instalações imensas que ele contemplava tão
atentamente: eram exatamente iguais a outros prédios de
fábricas da região.
Entretanto, para Adriano Olivetti, aqueles prédios
representavam o sonho de uma vida. Naquela época,
Underwood era o maior nome em máquinas de escrever. Algum
dia jurou, ele possuiria uma empresa como aquela, e o nome
Olivetti teriam o mesmo significado de qualidade que esse
outro. Ao procurar fixar em seu coração e mente os edifícios
que tinha diante de si, ele criava uma imagem mental que
serviria de alvo para suas orações.
Trinta e quatro anos depois, Adriano voltou aos Estados Unidos
como Presidente da Ing. C. Olivetti & Co. Dali telefonou para
um colega seu na Itália, a fim de dar-lhe a boa notícia: "Acabo
27
de comprar uma coisa..." e neste ponto sua voz se embargou
pela emoção, "... comprei a Companhia Underwood."
Oito milhões e setecentos mil dólares haviam passado de uma
mão para outra. Com a aquisição do controle da velha
companhia americana, Adriano Olivetti realizava um sonho
que nascera havia trinta e quatro anos.
Existem pessoas que fariam objeções a esta oração que
transforma os sonhos em realidade, porque têm dúvidas quanto
à validade de orarmos pelas necessidades materiais, como: o
vestuário, o pão, uma pescaria, ou para usarmos situações
mais atuais uma vaga para se estacionar o carro. Com toda a
razão indagam: "Será que não é errado tentar utilizar o poder
de Deus e os princípios espirituais para alcançarmos nossos
objetivos pessoais?”
Ambas as perguntas são muito válidas e precisam ser
respondidas. Quanto à questão de Deus querer que incluamos
em nossas orações petições a respeito das coisas materiais,
certamente Cristo estava interessado tanto nas necessidades
materiais do homem quanto em sua alma. Ele se interessava
por suas enfermidades e sua fome física. O cristianismo é uma
das poucas religiões do mundo que consideram as coisas
materiais como sendo verdadeiras e importantes tão
verdadeiras que Cristo teve que morrer num corpo de verdade,
numa cruz de verdade.
E quanto ao perigo de nossos sonhos serem resultado de nossa
vontade humana e egoística, existem testes para verificarmos
isto. Somente depois que nossas aspirações são aprovadas
nesses testes e assim, antes de orarmos, estivermos certos de
que o anseio de nosso coração é também o de Deus só então a
oração que realiza os sonhos poderá ser feita com fé e,
portanto, com poder.
Comecemos por reconhecer que as leis de Deus estão em
operação em nosso universo, quer as aceitemos ou não. E nós
temos que operar em harmonia com elas, e não desafiá-las. Por
exemplo, façamos a nós mesmos as seguintes perguntas:
28
Deus dotou meu ser?
•
Esta pergunta não é muito fácil de se responder. Ela exige bom
conhecimento próprio, conhecimento da nossa verdadeira
personalidade, o que poucos de nós possuem.
29
transforma os sonhos em realidade. Entregue o seu sonho a
Deus, e deixe-o aos seus cuidados. Parece haver períodos
quando o sonho é como uma semente que deve ser plantada na
terra escura e deixada ali para germinar. Mas isto não
significará passividade de nossa parte. Há muitas coisas que
podemos fazer fertilizá-la, irrigá-la, roçar o mato e que
implicam em muito trabalho e autodisciplina.
Mas o crescimento daquela semente, aquela misteriosa e
irreprimível germinação de vida nos recônditos da terra, em
segredo, isso é a parte de Deus no processo. Nós não podemos
ficar escavando o solo, a cada momento para examinar como
vai indo o progresso do sonho.
No capítulo seguinte vou abordar mais alguns detalhes sobre o
poder da confiança e da espera em oração.
Mas nesse ínterim, bem antes de vermos a frutificação de
nossas esperanças (aliás, no momento em que um sonho
originado em Deus é plantado em nosso coração), uma
estranha felicidade penetra em nós. Penso que, naquele
instante, todos os recursos do universo são libertados em nosso
favor. Nossa oração, então, está em perfeita consonância com a
vontade de Deus e se torna um veículo para transmissão dos
felizes e triunfantes propósitos do Criador, para nós e para o
mundo.
30
talvez inesperadas. Mas quero confiar muito em ti, a ponto de
seguir-te mesmo que seja por trilhas desconhecidas. Reconheço
que gosto bastante de certos aspectos da minha rotina diária.
Mas sei também que as atitudes e atos habituais que parecem
ser como ninhos confortáveis olhando-se do seu interior, do teu
ponto-de-vista podem parecer celas de prisão. Senhor, se tiveres
de deitar abaixo algumas dessas prisões, peço-te que comeces o
processo agora. Em alegre expectativa, amém.
A ORAÇÃO DE ESPERA
Há algum tempo atrás, eu estava folheando uma velha Bíblia
muito amada e já cheia de orelhas, que eu não utilizava já
havia algum tempo, quando dei com alguns pequenos pedaços
de papel, recortados em forma oval. Sorri, ao relembrar-me do
que se tratava.
Quando meu filho Peter John era pequeno e eu passava por
aquela fase típica de todas as mães de preocupar-me com ele em
demasia, deparei com um artigo escrito pelo Dr. Glenn Clark,
onde, com uma simplicidade quase infantil, ele ensinava como
agir em tais situações.
Na questão da oração em favor dos filhos, dizia ele, parte da
dificuldade reside na demora, no tempo necessário para a lenta
maturação de nossas petições. Mas este é o método de Deus
para os processos da natureza. Por exemplo, uma galinha tem
que chocar os ovos pacientemente, durante o tempo de
incubação, e somente depois é que nascem os pintinhos.
Com essa ilustração em mente, o Dr. Clark sugeria que os pais
passassem alguns minutos por dia, durante uma semana,
pensando nos seus anseios profundos com relação ao futuro
dos filhos. Após escrevê-los num pedaço de papel, deviam pedir
a Jesus que lhes revelasse seus planos para eles; retiramos tudo
que fosse superficial ou egoístico, até conseguir chegar ao
cerne dos desejos e aspirações do Espírito para cada filho, em
particular.
A seguir, continuava o Dr. Clark, escrevam esses anseios, em
forma de petição, usando para isso papéis cortados em formato
oval. Entreguem então as orações ao Pai, para que as responda
31
no tempo e do modo que ele desejar. Para auxiliar a
visualização da idéia de que as respostas podem demorar
bastante para se concretizar, coloquem as folhas de papel entre
as páginas da Bíblia, o que simbolizará o ato de deixar tudo aos
cuidados de Deus.
Resolvi seguir a sugestão, mas não comentei nada com
ninguém, com receio de parecer tola. Entretanto, hoje eu penso
exatamente o contrário. Creio que aqueles pedacinhos de papel
falam de um princípio espiritual muito profundo. Pois quando
encontrei os pedidos em minha Bíblia velha, descobri que o Pai,
terno e amoroso, havia atendido a cada um deles.
Por quê? O que haveria naquela forma de oração que Deus a
honrara tão maravilhosamente? Certamente, não fora o fato de
eu haver recortado aquelas folhas de papel, naquele formato, e
também não havia poder algum em terem sido colocadas entre
as páginas de uma Bíblia. Enquanto meditava nisso, ocorreu-
me que parte do segredo estava na espera. A espera, em si, se
posta em prática de acordo com o método bíblico, parece ser um
estranho mas dinâmico meio de comunicação entre o homem e
Deus.
A espera sempre tem um papel muito relevante no desenrolar
da história do relacionamento de Deus com o homem. Ela é o
método divino que o Senhor utiliza freqüentemente para nos
ensinar que o seu poder é real e que ele pode responder nossas
orações sem quaisquer interferências ou manobras nossas.
Todavia, é tão difícil para nós remover do caminho a nossa
vontade e o nosso senso de tempo. Muitas vezes agimos como a
criança que leva um brinquedo ao pai para que este o conserte .
O pai toma o brinquedo, e, de bom grado, começa a consertá-lo.
Alguns instantes depois, a impaciência infantil começa a se
revelar. Por que está demorando tanto?
A criança fica ali por perto, atrapalhando o trabalho do pai,
fazendo observações desnecessárias, ou críticas tolas.
Finalmente, esgotada sua paciência, ela arranca o brinquedo
das mãos do pai, e sai correndo, dizendo amargamente que já
sabia que ele não conseguiria mesmo consertá-lo. Talvez ele
nem queira consertar brinquedos.
Por outro lado, sempre que confiamos no Pai o bastante para
32
deixarmos o "brinquedo quebrado" aos seus cuidados, não só
eventualmente o receberemos de volta consertado, mas
obteremos uma surpreendente bênção adicional. E
descobriremos, por nós mesmos, o que os santos e místicos
afirmam: que durante o sombrio período de espera, quando
todo o esforço pessoal cessa, há em nós um espantoso surto de
crescimento espiritual. Depois, notamos em nós qualidades,
acrescentadas, como: mais paciência, maior amor pelo Senhor
e pelos que nos rodeiam, mais capacidade de ouvir sua voz,
maior disposição de obedecer.
O divino Agricultor tem estado a ensinar-nos a lição da vida na
Videira. Durante esse período de espera (que para a alma é
como uma noite negra) aprendemos o grande segredo de
permanecer. Permanecer na videira é a chave que abre os
tesouros celestes. (Jo 15.1-8.)
Nosso condicionamento humano nos faz pensar que a
espiritualidade consiste em algo que fazemos. "Não é assim",
diz Jesus, "é a minha vida em você." O ramo da videira não
precisa se esticar e se esforçar para crescer e produzir fruto.
Seu papel é simplesmente permanecer ligado à Videira, e ficar
ali para que a seiva que lhe dá vida possa circular através dele.
Somente então é que podemos produzir "muito fruto".
Jesus também falou bastante acerca dos cronogramas de seu
Pai; o princípio de que existe uma certa seqüência e um
determinado índice de crescimento para tudo, na natureza que
ele criou.
33
responder a cada oração. Segue-se então que somente ele
conhece a dimensão das transformações que precisam ser
operadas em nós antes que possamos ver nossos anseios
realizados. Somente ele sabe das mudanças e operações
externas que têm de ocorrer antes que nossa oração possa ser
respondida. Foi por isso que Jesus disse: "Não vos compete
conhecer tempos ou épocas que o Pai reservou para sua
exclusiva autoridade." (At 1.7.)
Portanto, o Senhor parece estar constantemente usando a
espera como um instrumento para nos dar os melhores de seus
dons. Ele deixou os filhos de Israel esperarem durante várias
gerações, até que ocorresse sua libertação da escravidão do
Egito. Por causa de sua desobediência e obstinação, eles
tiveram que aguardar quarenta anos para entrar na terra
prometida. A espera foi a tônica do exílio. Toda a história do
Velho Testamento se resume em paciente espera pela
"plenitude dos tempos", pelo momento do nascimento do
Salvador. E após a ascensão de Jesus, os que se reuniram no
Cenáculo tiveram que esperar dez dias pela vinda do Espírito
Santo.
Não é de se admirar que algumas das promessas de Deus sejam
condicionadas a uma espera confiante do tempo de Deus:
34
A espera parece ser uma espécie de dramatização da oração,
exigida de nós com freqüência e honrada por Deus, coisa que
só vim a entender depois que descobri a notável "musculatura"
espiritual de fé que ela forma em nós. Pois não é verdade que a
espera exige paciência, persistência, confiança e senso de
expectação, todas elas qualidades que pedimos continuamente a
Deus?
Lembro-me de certa ocasião quando o Senhor me ordenou que
permanecesse de lado, aguardando pacientemente, sem dizer
nada, a solução de um problema, embora estivesse convencida
de que a conhecia. Mesmo numa situação de pequena
amplitude, eu deveria aguardar a hora determinada por ele,
enquanto ele atuava em outro coração humano. Foi uma
experiência grandiosa esperar em atitude de serenidade.
Havia quase dois anos que eu não via Helen. Seu telefonema
chocou-me profundamente, pois ela me disse que Steve, seu
marido, iria abandoná-la para unir-se a uma mulher mais
jovem. Ela desejava conversar comigo.
"Por favor, Catherine, posso ir falar com você?"
"Helen, eu não tenho muita habilidade para conselheira
matrimonial", respondi.
"Mas você pode orar comigo?"
Isso eu podia fazer, e disse-lhe que sim, sem saber a forma
estranha que aquela oração iria tomar.
Quando Helen se apresentou à porta de minha casa em
Boynton Beach, na Flórida, olhei para ela com o coração
pesado. Ela estava vestida descuidadamente, os olhos sem
brilho e irritados de tanto chorar. Estava com excesso de peso e
seu cabelo louro avermelhado precisava de mais trato.
Logo que nos acomodamos no sofá do living, Helen lançou-se
no relato de uma história que girava em torno de um só tema:
ela estava continuamente se depreciando. Eles tinham tido três
filhos, mas Steve quisera mais. Ele passava horas e horas
diante do televisor, mas também ela nunca fora muito boa para
uma conversa. Havia anos que ele não a convidava para sair,
mas ela não se importava muito. Helen não estava certa de
quem era a outra mulher, mas sem dúvida seria uma jovem
mais interessante que ela, e assim por diante.
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E enquanto ela falava, descobri subitamente qual era a causa
da dificuldade. Não que se precisasse de muita perspicácia para
reconhecê-la. Desde o momento em que Helen entrara, estivera
a declarar, em alto e bom som, qual era a raiz do problema. A
verdade é que ela não gostava de si própria. E no instante em
que compreendi isto, tive outra revelação: eu não deveria dizer
nada. O Senhor falou claramente ao meu coração que eu teria
que esperar. Teria que guardar para mim aquela revelação até
que o Senhor a comunicasse também a Helen, na hora
aprazada e do modo mais adequado. O autocontrole que aquilo
exigiu de mim foi imenso, pois ela ficou ali duas horas,
expressando, de diversas maneiras, uma verdade que eu já
conhecia. Mas incrível também foi o senso de expectação que
tive ao observar a operação divina. Ele trouxera Helen até mim
com o objetivo único de dar-lhe tempo — tempo para raciocinar
com coerência e com lógica acerca de seu problema. Meu papel
ali era apenas ajudá-la a conservar os pensamentos na trilha
certa. Helen precisava alcançar um entendimento de si própria,
por si mesma, e o Senhor estava-me dando uma dose
sobrenatural (pelo menos para mim) de paciência, enquanto
encaminhava seu raciocínio ao ponto certo, com muito carinho.
Com este dom da graça, as duas horas se escoaram
rapidamente, tal o suspense que se apoderou de mim diante da
gloriosa antevisão do que estava para acontecer. Aqueles
momentos foram passados numa mistura de conversa, leitura
bíblica, silêncio e atenção às palavras dela. Por fim, Helen
perguntou-me se poderia ir ao jardim, e ficar a sós uns
instantes.
Quando regressou, as palavras se derramavam de seus lábios.
"Aquele versículo, Catherine, que diz que Jesus nos amou antes
que nós o amássemos ultimamente tem sido tão difícil acreditar
que alguém me ama. Mas lá no jardim eu fiquei pensando.
Quando nós realmente cremos que Deus nos ama pessoalmente,
então temos que amar a nós mesmos também."
Acenei com a cabeça, concordando, não me atrevendo a dizer
nada, e ela prosseguiu.
"Bem, ocorreu-me então que, de certo modo, eu o tenho
desonrado, por ter-me descuidado de mim mesma e da casa.
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Quero dizer, meu aumento de peso, refeições simplificadas,
camas sempre por fazer..."
E enquanto eu a escutava, maravilhava-me da operação de
Deus. Se eu tivesse procurado dizer a Helen aquelas coisas, no
papel de amiga dando conselho, era bem provável que ela se
ofendesse ou, quando muito, que aceitasse minhas sugestões
com certa relutância. Desnecessário é dizer que, tal descoberta
não resolveu o problema de Helen, da noite para o dia;
seguiram-se muitos meses de duras provações. Mas,
eventualmente, depois que ela pôs em ordem a casa e a si
mesma, varreu do coração os ressentimentos e as irritações
abafadas, e passou a enxergar-se a si mesma como uma pessoa
preciosa aos olhos de Deus, o casamento também foi salvo.
Fiquei sabendo disso um ano depois, quando recebi um
interurbano dela.
"Achei que você iria gostar de saber, Catherine; eu e Steve
estamos juntos novamente. Estamos viajando. É uma espécie de
segunda lua-de-mel. Passamos horas e horas conversando..."
Então a Bíblia valoriza a espera, em parte porque o exercício
dela exige qualidades que Deus quer cultivar em nós como a
paciência, de que eu preciso tanto. Mas há outra razão. A
espera tem uma função; representa a união de Deus com o
homem para a obtenção de um fim desejado, e este fim é sempre
uma manifestação da história da Páscoa.
Nunca me esqueci de um incidente relatado por Patt Barnes, de
Milwaukee, que contou de uma idosa vendedora de flores que
conheceu e que lhe ensinou o segredo dos "três dias". Patt
ficou tão impressionado com a visível alegria da velhinha, que
comentou com ela que sua vida devia ser totalmente isenta de
problemas e dificuldades. Não, não disse ela tivera os mesmos
problemas que qualquer outra pessoa, mas sabia que cada um
deles tinha dentro de si uma força viva de ressurreição. Quando
Jesus morreu, tudo pareceu negro, mas três dias depois,
ocorreu a ressurreição.
"É por isso que sou feliz", disse ela. "Eu conheço o segredo.
Quando lhe sobrevier qualquer dificuldade, dê a Deus um voto
de confiança: espere três dias."
Podemos fazer com que uma derrota aparente se transforme em
37
vitória através da confiança no princípio da ressurreição. Esse
tempo de espera pode não ser exatamente três dias, mas o
princípio é verdadeiro. E assim como o seu protótipo bíblico (a
Páscoa) não foi um evento passivo, assim também é esse tipo de
espera. Nela também, alguma coisa tem que morrer geralmente
é a preocupação ou a tentativa de resolver o problema nós
mesmos.
Alguns anos atrás, uma amiga minha de Washington falou-me
a respeito da oração que ela estava fazendo em favor de seu
filho, que então tinha dez anos de idade.
"Eu já estou começando a orar para que Deus prepare uma
esposa para Bobby a esposa certa. Peço a Deus que ela seja
protegida do mal; peço em favor de seu crescimento, tanto físico
como espiritual", contou-me.
Aquilo era novidade para mim. Mas a idéia me pareceu tão
certa que comecei a fazer o mesmo. Durante alguns dias, todas
as manhãs, eu trabalhei na formulação daquela oração
criativa, o tipo que, eu sabia por experiência, Deus se agrada
em atender. Perguntei a mim mesma: "Quais seriam as
características de espírito, mente e coração da jovem ideal para
meu filho?" Eu não estava muito preocupada com exteriores
se seria loura ou morena; naturalmente, a beleza interior se
refletiria no exterior.
E assim, detalhe por detalhe, e com bastante clareza, os traços
da moça ideal, por mim imaginada, foram sendo postos no
papel. O mais importante era que ela conhecesse a Jesus Cristo
pessoalmente, e o amasse de todo o coração. Deveria ser
inteligente e ter cultura bastante para que houvesse entre
ambos um estímulo intelectual. Teria que ter alegria de viver,
sendo de humor, e aquele jeitinho especial, e assim por diante.
Depois, quando o retrato já parecia estar completo, certa
manhã eu o confiei ao Senhor, pedindo-lhe que corrigisse as
falhas, e o tornasse realidade para Peter, em seu tempo certo e
à sua maneira. A seguir, eu o enterrei, por assim dizer, entre as
páginas da mesma Bíblia velha, como um lavrador coloca a
semente na terra.
Nos anos que se seguiram, tive que lutar para não desenterrar a
semente, vez por outra, para ver como se estava saindo, à
38
medida que as garotas iam passando pela vida de Peter. Muitas
eram bonitas; outras eram mais difíceis de aceitar. Mas, por
fim, o tempo da espera criativa se encerrou quando Peter John
estava a meio de seu curso do Seminário de Princeton. O nome
da jovem era Edith.
Algum tempo depois que Edith e Peter já estavam noivos,
encontrei aquelas anotações e pude ver, com grande admiração,
que ali estava, detalhe por detalhe, uma descrição de Edith. E
naturalmente, como sempre, Deus acrescentara mais alguns
dividendos. Ela era alta, como Peter; loura, como ele, e ótima
cozinheira. Que homem não gostaria de uma jovem assim? Ela
era forte fisicamente e dona de uma alegre vitalidade. Além
disso, gostava muito de jardinagem, trabalhos manuais e outros
passatempos que ele também apreciava. Gostei dela
imediatamente, e nunca cesso de agradecer a Deus por uma tão
maravilhosa resposta para a misteriosa e triunfante oração de
espera.
39
Vem, Senhor Jesus, e habita em meu coração. Como estou
alegre de saber que a resposta de minha oração não depende
absolutamente de mim. E quando eu permaneço em ti,
serenamente, e deixo tua vida fluir para mim, que maravilha é
saber que o Pai não vê minha paciência em farrapos nem
minha fé insuficiente, mas apenas a tua paciência, Senhor, e a
tua confiança de que tudo está sob o controle do Pai.
Em tua fé, eu te agradeço desde já pela resposta à minha
oração, uma resposta que será mais gloriosa do que eu
imagino. Amém.
A ORAÇÃO DE RENÚNCIA
Como a maioria das pessoas, logo que comecei a ter
experiências vivas com a oração, comecei a ter também
inúmeras perguntas e dúvidas no assunto, tais como: por que
algumas orações sinceras e agonizantes não são atendidas
enquanto outras são?
Mesmo agora, eu ainda faço perguntas. Os mistérios acerca da
oração são sempre maiores que o conhecimento que temos e
nos impulsionam, motivando-nos a buscar maiores
experiências.
Mas uma coisa eu sei, e aprendi-a através de experiências
difíceis. Há um modo de orar que sempre tem resultado em
gloriosas respostas; gloriosas porque, a cada vez que é feita,
libera um poder imenso que está além do entendimento
humano. É a oração da renúncia.
Tive o meu primeiro vislumbre a este respeito em setembro de
1943. Havia seis meses que eu estava enferma, sofrendo de uma
infecção pulmonar, e o corpo de especialistas que me assistia
parecia não ter condições de curar-me. Orara persistentemente,
fazendo uso de toda a fé que eu podia ter, mas tudo dera em
nada. Eu continuava de cama.
Certo dia, veio ter às minhas mãos um folheto. Era a história de
uma missionária que fora inválida durante oito anos. Ela orava
constantemente a Deus para que a restabelecesse, para que ela
pudesse trabalhar para ele. Por fim, cansada daquela repetição
inútil, ela orou:
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"Está bem, Senhor. Eu desisto. Se tu preferes que eu
permaneça inválida, isto só concerne a ti. De qualquer modo,
eu quero a ti muito mais do que desejo a saúde. Deixo contigo a
decisão."
Daí a duas semanas, ela estava de pé, completamente curada.
Isso não fazia sentido para mim; entretanto, não conseguia
esquecer o caso. No dia 14 de setembro, pela manhã nunca
pode¬rei esquecer tal data! consegui colocar-me em posição de
total aceitação.
"Estou cansada de pedir", foi o brado de meu coração. "Estou
derrotada, acabada. Senhor, tu tomarás a decisão do que irá
suceder comigo."
Lágrimas corriam pelo meu rosto. Não senti fé alguma, pelo
menos, não senti a fé que conhecia; e não esperava nada. A
entrega de meu corpo doente foi feita sem qualquer vestígio da
graça divina.
E o resultado? Foi como se eu houvesse apertado o botão que
abria as janelas do céu; foi como se a energia celestial
começasse a fluir e fluir. Em questão de horas experimentei a
presença do Cristo Vivo de uma forma que varreu toda a dúvida
e revolucionou minha vida. Naquele instante, iniciou-se o meu
restabelecimento.
Através deste incidente e de outros que se seguiram, Deus
estava tentando ensinar-me uma lição muito importante a
respeito da oração. Aos poucos eu fui entendendo que o espírito
exigente, orientado pela vontade própria, bloqueia o caminho
da oração. Compreendi que a razão disto era que Deus
absolutamente se recusa a violentar nosso livre arbítrio, e que,
portanto, a não ser que nossa vontade lhe seja entregue
voluntariamente, Deus não pode atender à nossa oração.
Com o correr do tempo, fui compreendendo outros aspectos
acerca da oração de renúncia através da experiência de outros,
tanto de contemporâneos, como pela leitura de livros. A oração
de Jesus no Jardim do Getsêmani, como vim a entender depois,
é um modelo para nós. Cristo poderia ter evitado a cruz. Ele
não era obrigado a ir a Jerusalém aquela última vez. Ele
poderia ter contemporizado, entrando em acordo com os
sacerdotes; poderia ter feito um acordo com Caifás. Poderia ter
41
apelado para seus seguidores, ou ter agradado a Judas,
fundando um império terreno. Pilatos quis soltá-lo, e só faltou
implorar-lhe para que dissesse a palavra certa que lhe
permitiria fazê-lo. Mesmo no jardim, na noite da traição, ele
teve bastante tempo e oportunidade de fugir. Mas ao invés
disso, Cristo usou de seu livre arbítrio para deixar a decisão nas
mãos do Pai.
A tradução dos evangelhos feita por J. B. Phillips dá uma
ênfase especial às palavras de Jesus: "Pai querido,... todas as
coisas te são possíveis. Permite que eu não tenha que beber este
cálice! Contudo, não seja o que eu quero, mas o que tu queres."
(Mc 14.36.)
A oração não foi respondida como desejava o Jesus humano;
todavia, desde então, o poder tem fluído de sua cruz.
Mesmo no instante em que Cristo estava-se curvando à
possibilidade de uma terrível morte na cruz, ele nunca se
esqueceu nem da presença de Deus, nem do seu poder. Existe
uma profunda diferença entre aceitação e resignação. Na
oração de renúncia não existe o fator resignação. A resignação
diz: "A situação é esta, e eu me resigno a aceitá-la como é." A
seguir, ela se deita no pó de um universo sem Deus, e se põe a
esperar o pior.
A aceitação afirma: "É verdade. Esta é a minha situação no
momento. Vou encarar a realidade dela sem pestanejar. Mas
também abrirei as mãos para aceitar de bom grado tudo que o
Pai enviar." E assim, a aceitação nunca fecha a porta para a
esperança.
Entretanto, mesmo tendo esperança, nossa renúncia deve ser
real e a decisão de renunciar à vontade própria é o ato mais
difícil que nós, seres humanos, temos que realizar.
Lembro-me da agonia de uma bela jovem de nome Sara, que
me confiou os problemas que estava enfrentando com seu
noivado.
"Eu amo Jeb", disse-me ela, "e sei que ele me ama. Mas o
problema é que ele bebe muito. Não que ele seja alcoólatra,
não. Mas a bebida é uma espécie de símbolo das idéias que ele
tem. Isto está-me incomodando bastante, e eu fico pensando se
não é justamente Deus querendo dizer-me para desistir de Jeb."
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Enquanto conversávamos, Sara chegou à conclusão do que
deveria fazer. Estava certa de que perderia um bem
infinitamente precioso se não decidisse pelo ideal mais elevado
e melhor. Lágrimas brilhavam em seus olhos quando disse:
"Vou terminar o noivado. Se Deus quer que eu me case com
Jeb, ele terá que modificar a situação a bebida e tudo o mais."
E naquele momento, de modo simples e incisivo, ela orou a
Deus falando-lhe de sua decisão. Colocou nas mãos do Senhor
seus sonhos desfeitos e seu futuro desconhecido.
Jeb não modificou nem suas idéias nem seus ideais, e Sara não
se casou com ele. Um ano depois, recebi dela uma carta em que
transbordava de alegria.
“Quase morri quando tive que renunciar a Jeb, mas Deus
sabia que ele não era o homem com quem eu deveria me casar.
Recentemente, eu fiquei conhecendo o rapaz certo, e vamos nos
casar. E hoje eu realmente sei o que é a sabedoria e a alegria de
se confiar em Deus totalmente..."
É bom lembrar que nem mesmo o Grande Pastor pode guiar, se
as ovelhas, em vez de segui-lo, preferirem correr à frente e
tomar caminhos de sua própria escolha. Essa é a razão de
Cristo insistir em exigir obediência prática: Por que me
chamais, Senhor, Senhor, e não fazeis o que vos mando? (Lc
6.46.) Obedecer... obediência... confiar... são expressões que
encontramos freqüentemente nos evangelhos. A maleabilidade
de um coração obediente deve ser completa, desde o ato de
acertarmos nossa vontade com a de Deus, às ações resultantes.
E se formos pensar bem, como é que a obediência pode ser
genuína a menos que desistamos de nossa vontade própria, em
cada episódio da vida, à medida que ela avança quer o
entendamos ou não, e mesmo parecendo que foi o mal quem
deu origem ao episódio em questão? É por isso que não nos
deve surpreender o fato de que a lei da renúncia jaz no âmago
do segredo da oração respondida.
Foi o que descobriu a Sra. Nathaniel Hawthorne, esposa do
famoso escritor americano, certa vez, quando teve que lutar em
oração, no ano de 1860, em Roma. Una, a filha mais velha do
casal, estava à morte, gravemente atacada de malária. O médico
que a assistia, Dr. Franco, já lhes havia dito, naquela noite, que
43
se a febre da garota não abaixasse antes do amanhecer, ela
morreria.
Sentada à beira da cama de sua filha, seu pensamento voltou-se
para seu marido, que se encontrava no aposento anexo, e para
o que ele dissera naquele dia:
"Eu não agüento mais esse vai-e-vem entre esperança e temor;
portanto, estou tomando a decisão de não ter mais esperanças.
Mas a mãe não conseguiu partilhar da mesma desesperança de
Nathaniel. Una não podia morrer, não devia morrer. A filha era
tão parecida com o pai; era dotada de grande inteligência e
tinha o caráter mais complexo de todos os filhos do casal
Hawthorne. Por que razão algum capricho da Providência iria
exigir-lhes que desistissem dela?
Além disso, a garota estivera delirante durante vários dias, sem
reconhecer ninguém. Se ela morresse naquela noite, eles não
teriam nem mesmo o consolo de uma despedida.
Enquanto a noite avançava, a menina continuava tão quieta
que parecia estar na antecâmara da morte. A mãe foi até à
janela e olhou para a praça. Não havia luar; era um céu escuro
e silente, carregado de nuvens.
"Eu não suportarei esta perda; não posso, não posso..."
Então, subitamente, ocorreu-lhe outro pensamento, de maneira
inexplicável.
"Por que deveria eu duvidar da bondade de Deus? Que ele leve
Una, se achar melhor assim. E mais ainda: posso entregá-la
para Ele. Eu a entrego a ti, Senhor. Não vou mais lutar contra
ti."
Foi então que algo estranho aconteceu. Depois de ter feito este
grande sacrifício, a Sra. Hawthorne pensou que iria sentir-se
mais triste. Em vez disso, porém, ela se sentiu mais leve, mais
feliz e contente, que em qualquer outra ocasião, desde que a
longa enfermidade de Una começara.
Alguns minutos depois, ela voltou ao quarto da menina e tocou
sua testa. Estava úmida e fria. O pulso estava calmo e regular.
Una dormia normalmente. E a mãe correu ao quarto contíguo
para contar ao marido que o milagre acontecera.
No terreno da oração respondida, a progressão dos eventos na
cura de Una não apresentou nada de extraordinário. Pois nos
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anos que se seguiram, depois que ouvi o relato do acontecido
com o casal Hawthorne, continuei a ouvir experiências
estranhamente parecidas. A que relato a seguir me foi contada
por uma amiga, em uma carta.
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exigiram de Deus que respondesse sua petição. E enquanto esse
espírito de exigência predominou Deus lhes pareceu remoto e
inaccessível. Depois, ao constatarem a evidente inutilidade da
oração de exigência, e aliando-se a isso o cansaço do corpo e do
espírito, cada uma orou rendendo-se à possibilidade daquilo
que ela mais temia. Aquele instante foi um momento decisivo.
Súbita e inexplicavelmente o temor desapareceu e a paz se fez
presente. Seguiu-se, então, uma sensação de leveza e gozo, que
não tinha conexão alguma com as circunstâncias externas.
Aquele foi o ponto crítico. Daquele momento em diante, a
oração começou a ser respondida.
A questão que nos intriga é: qual é o segredo ou lei espiritual
que atua na oração de renúncia?
Parte dele é o seguinte: sabemos que o medo é como uma tela
que se ergue entre nós e Deus, e que impede o seu poder de
chegar até nós. E como é que nos libertamos do medo?
Isso não é fácil, quando está em jogo a vida de um ente querido,
ou quando está em jogo aquilo que mais desejamos neste
mundo. Nessas ocasiões, todas as nossas emoções e anseios
estão atrelados ao receio do que possa acontecer.
Evidentemente, somente uma atitude drástica pode destruir esse
temor gigantesco e o espírito de exigência que geralmente o
acompanha. E em minha experiência descobri que tentar
resolver a questão fazendo afirmações de fé não adianta muito;
é preciso uma medida mais enérgica.
É quando nos deparamos frente a frente com a lei da renúncia.
Será que Jesus estava querendo nos ensinar a aplicar esta lei
quando disse: "Não resistais ao mal"? (Mt 5.39 - Rev. e Cor.)
Pare de fugir dessa probabilidade aterradora, e de negá-la.
Encare de frente a possibilidade de acontecer o que você mais
teme.
No momento da crise, pode parecer-nos que isso é exatamente o
oposto da fé, e temos vontade de dizer:
"Senhor, tu não disseste para orarmos com fé? Estou confuso
agora. Será que o princípio da renúncia significa que nunca
podemos orar com segurança a respeito de questões bem
definidas? Se assim for, então como isso pode ser fé?"
A todas essas petições de explicação, Jesus sempre dá,
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pacientemente, a mesma resposta.
"Obedeça-me. Depois então, você saberá de tudo e começará a
entender."
E assim damos os primeiros passos da obediência, que são, às
vezes, tão penosos. E eis que, quando paramos de desviar os
olhos, e nos forçamos a caminhar ao encontro do temor, e o
encaramos de frente nunca esquecendo que Deus e seu poder
ainda são a realidade suprema o temor se evapora. É drástico?
Sim; mas é um meio positivo de liberarmos o poder da oração
para a solução dos problemas humanos.
Por vezes, o milagre da oração gloriosamente respondida ocorre
neste ponto. Em outras situações, o Bom Pastor nos conduz da
renúncia à compreensão confiante. Não é o mesmo que tentar
formular pensamentos positivos ou fazer afirmações de fé;
também não é uma atuação nossa; é um dom de Deus. (Ef 2.8 e
1 Co 12.9.)
Por vezes o dom da fé nos é concedido através de um verso das
Escrituras que parece se salientar da página que lemos ou nos
vem à memória, e nos abrasa o coração. A compreensão
confiante, outras vezes, vem após uma revelação interior de
Deus, uma palavra confirmada pelo Espírito Santo, que nos
mostra o que irá suceder naquela situação. Na ocasião, é
possível que Deus nos diga que não pode conceder-nos aquilo
que pedimos como foi no caso de Sara. Evidentemente,
enquanto não aceitarmos tal possibilidade, não estaremos sendo
sinceros em nossa oração de renúncia.
Sempre que o Pai nos outorga aquilo que pedimos, esta palavra
de revelação aparece em circunstâncias externas e o milagre
acontece e nós compreendemos que as atitudes de renúncia e fé
não são contraditórias. A oração de renúncia é a criança
abandonando sua rebelião contra o fato de ser criança,
colocando sua mão na mão poderosa e firme do Pai, e
confiando nele para conduzi-la pelo caminho de trevas que tem
que passar.
Na oração de fé, nossa mão continua unida à dele. Nosso
coração permanece obediente. Mas agora o Senhor nos faz sair
da escuridão aterradora sentindo nós apenas o contato
tranqüilizador de sua mão na nossa e nos leva ao brilho da luz
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do sol. E fitamos o rosto da Pessoa que vai ao nosso lado, e
vibramos de gozo ao reconhecê-la a mão do Pai é a mão de
Jesus.
E durante todo o trajeto nosso coração nos havia dito
exatamente isso. Renúncia? Fé? Apenas a coragem de confiar
em Jesus.
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com gratidão por saber que isto também cooperará "para o
bem" (Rm 8.28). Amém.
A ORAÇÃO SECRETA
Em julho de 1960, visitei pela primeira vez a Capela Sistina, em
Roma, e achei interessante o que ouvi sobre Miguel Ângelo
Buonarroti e seu método de trabalho. Durante os quatro anos
que levou para pintar a cúpula da capela, o grande florentino
passou muito tempo sozinho, a portas trancadas. Ainda bem
jovem Miguel Ângelo descobriu que, para ele, era impossível
fazer um trabalho de valor sem certo sigilo.
Quando ouvi isso, lembrei-me também do poder que existe no
aposento secreto. Aprendi a realidade disso com uma
experiência que tive em conexão com meu primeiro livro, Um
Homem Chamado Peter. Depois que o esboço geral da obra foi
aprovado pelos editores, veio-me um pensamento instintivo de
que o livro deveria ser mantido no maior sigilo possível,
enquanto não o terminasse.
Olhando para o passado, agora, vejo pelo menos duas razões
para a necessidade daquele cuidado. Eu sabia que a
criatividade necessária para a produção da obra era como uma
plantinha muito delicada. Ela poderia secar e morrer
facilmente, se exposta ao desânimo ou à crítica destrutiva.
Sabia também que as idéias de outras pessoas poderiam vir a
anuviar as minhas e poderiam embaçar e confundir aquelas
convicções interiores, que eu deveria seguir para obter uma
narrativa fiel.
Muitos outros escritores já descobriram que, quando expõem
prematuramente a outrem alguma idéia que têm para um artigo
ou livro, sua capacidade de colocar, de maneira clara, aquela
idéia no papel fica prejudicada.
Ernest Hemingway, por exemplo, já descreveu as dificuldades
com que se deparou quando trabalhava no manuscrito de The
Sun Also Rises (O Sol Também Nasce). O cenário era a aldeia
de Schruns, nos Alpes Austríacos. Certa noite de inverno, ao pé
da lareira, ele cometeu o engano de ler em voz alta alguns
trechos do romance. O perigo para ele não consistia em crítica
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destrutiva, e, sim, em louvores exagerados, que poderiam
prejudicar seu próprio senso de julgamento. Ele descreveu o
fato em A Moveable Feast (Festa Móvel):
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respeito de necessidades específicas.
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Jesus ordenou-lhes expressamen¬te que ninguém o soubesse"
(Mc 5.42,43).
A oração secreta não precisa entrar em conflito com a oração a
dois nem com a oração em grupo. Quando Jesus ressuscitou a
filha de Jairo, havia sete pessoas presentes: a menina, os pais
dela, Pedro, Tiago, João e Cristo. Entretanto, logo depois de tão
notável experiência de grupo, Jesus parece dizer que o poder
será liberado com mais intensidade se não houver comentários
a respeito do fato, fora do aposento da oração.
Nas primeiras vezes que li esses relatos do ministério de Cristo,
pensei que ele des¬java que alguns milagres fossem mantidos
em sigilo para que não tivesse que se haver com as multidões,
ou talvez porque a divulgação deles pudesse levá-lo à cruz
prematuramente. Mas agora creio que existe uma razão mais
significativa para aquele cuidado é que as respostas de oração
podem ser prejudicadas ou até mesmo anuladas se a
experiência for exposta ao comentário dos incrédulos. O
evangelho conta que quando Jesus regressou à sua cidade de
origem, Nazaré, onde o povo via nele apenas o filho do
carpinteiro, ele "não fez ali muitos milagres, por causa da
incredulidade deles" (Mt 13.58).
E se isso aconteceu ao próprio Cristo, quanto mais fácil não
será suceder o mesmo com qualquer um de nós?
Como Jesus apreciava a oração em secreto! Ele tinha o hábito
de levantar-se "alta madrugada" e sair para o ar-livre ou uma
montanha ou um lugar deserto para orar. Talvez fosse porque
as casas da Palestina eram muito pequenas e muito cheias de
gente, e esse, o único recurso de que dispunha para ficar a sós.
Antes das grandes decisões como no caso da escolha dos doze
apóstolos ele orava a noite inteira. E no início de seu
ministério, vemos Jesus dirigindo-se para o deserto, onde
passou quarenta dias e quarenta noites sozinho, concentrado
em oração. Ele sabia que precisava de muito poder, e que só o
encontraria na oração secreta.
Existem outras razões pelas qual Jesus nos instruiu a orar em
segredo. O verdadeiro poder da oração só é liberado quando o
espírito do homem toca o Espírito de Deus. Assim como
acontece na adoração, assim também na oração: "Deus é
52
espírito; e importa que os seus adoradores o adorem em espírito
e em verdade." (Jo 4.24.) O aposento secreto nos ajuda a nos
libertarmos dos entraves que nos impedem de orar com o
espírito. Por exemplo, estando em nosso aposento, com a porta
fechada, é pouco provável que tomemos uma atitude de
ostentação, a atitude fingida que tendemos a tomar quando há
outras pessoas presentes. Sabemos que não podemos enganar a
Deus. Em secreto, encontramos mais facilidade em nos
apresentarmos diante dele com total sinceridade.
Além disso, é necessário barrar de nossa atenção as coisas que
podem distrair-nos a campainha da porta, o telefone, o
tintureiro, as crianças. Deus pede que o adoremos com a mente
concentrada e com seu Espírito orientando o rumo de nossa
vontade e emoções. A mente dividida com tendências para se
distrair não está em sua melhor atitude receptiva.
Existe também a questão do nosso livro de caixa espiritual.
Quando executamos uma boa ação, geralmente estamos
prontos a divulgá-la, exibi-la, recolher e gastar os créditos dela
advindos. As ações más ou indignas, nós as escondemos. Os
"créditos" (isto é, dé¬bitos) dos atos maus ficam conosco e vão-
se acumulando. Assim, nossa personalidade está sempre em
débito. Espiritualmente, permanecemos a um nível de falência
crônico.
Jesus disse que, se quisermos nos tornar pessoas realizadas e
produtivas, temos que reverter o processo. Isto é, temos que nos
despir de nossas fraquezas, falhas e pecados, confessando-os
abertamente, ao passo que conservamos em segredo as boas
obras e os atos de bondade. Disso resulta um acúmulo de poder
interior.
E quando o reservatório de nosso interior começa a se encher,
nós experimentamos a "recompensa" do Pai, que Jesus
prometeu: a presença de Deus em nossa vida e circunstâncias,
com todas as bênçãos dela decorrentes.
E é somente bem depois que a oração secreta é atendida, que
podemos contar quais foram as bênçãos. É por isso que agora
eu posso falar de nossas orações em favor da família Stowe.
(Naturalmente, este não é seu nome verdadeiro.)
Aconteceu algum tempo atrás, quando nossos filhos eram
53
pequenos. O Sr. Stowe lecionava na escola que as crianças
freqüentavam. Era um homem que dedicava tudo de si mesmo à
sua profissão. Assim, para nós, ele simbolizava todos aqueles
cidadãos obscuros que servem à nação desinteressadamente, e
muitas vezes com pouca remuneração. O casal tinha cinco
filhos e morava numa casa pequena demais para a família, e
estava enfrentando muitas aperturas financeiras. Apesar disso,
porém, sempre se podia contar com eles para os
empreendimentos comunitários. Mas nós sabíamos que eles
mesmos tinham muito pouco das coisas essenciais da vida, e
não dispunham de muitas das facilidades e confortos extras
com que tantos de nós até já se acostumaram.
Nosso interesse pela família começou sob a forma de conversas
à mesa do jantar, seguidas, algum tempo depois, por uma
oração em favor deles, durante uma de nossas reuniões da
família. Depois fizemos a Deus a seguinte pergunta: "Senhor,
existe alguma coisa que tu queres que nós façamos pela família
Stowe?"
A resposta não tardou a vir. Fomos encaminhados para um
velho romance de que havíamos nos esquecido quase que
completamente, o livro The Magnificent Obsession (A Grande
Obsessão), de Lloyd C. Douglas. Quando nos recordamos da
história vimos que se tratava do seguinte: um escultor de nome
Randolph descobrira que toda a vez que dava esmolas da
maneira como Jesus ensinara no Sermão do Monte, isto é, não
deixando que outros soubessem de sua ação generosa, sua vida
era visitada por um novo poder, que se manifestava em energia
para o trabalho, em renovada segurança e tranqüilidade no
relacionamento com os outros, e quanto ás respostas de suas
orações. A petição do escultor não era que lhe fossem dados
riqueza e fama; antes, orava por seu trabalho, para que lhe
fosse concedida "a capacidade de realizar pelo menos uma obra
de estatuária que fosse de valor".
A oração de Randolph foi respondida abundantemente e ele se
tornou um talentoso escultor. E, eventualmente, isso resultou
em fama e proveito material.
No livro de Douglas, aquele "segredo de guardar um segredo"
foi passado a outros, incluindo um neurocirurgião com
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resultados igualmente espantosos.
Tudo isto levou-nos à decisão de fazer da família Stowe o nosso
alvo para o Natal, e manter isso em segredo tanto deles como de
todos os outros conhecidos.
Estabelecemos ainda outras regras básicas. Iríamos
confeccionar, nós mesmos, a maioria dos presentes como
bolos, biscoitos (de nossas velhas receitas preferidas) e
ornamentos natalinos com fitas e lentejoulas; faríamos uma
pequena árvore de Natal para os pássaros, decorada com
comestíveis próprios para eles. Além disso, as crianças iriam
ajuntar (ou procurar ganhar) dinheiro para comprarmos pelo
menos um presente para cada pessoa da família Stowe.
Na véspera de Natal, enchemos uma grande caixa de papelão
com os presentes. Incluímos um bilhete, explicando aos nossos
amigos que aqueles presentes tinham a finalidade de
demonstrar-lhes o quanto apreciávamos sua contínua e
desinteressada contribuição para a comunidade; e como o
presente vinha do próprio Jesus, não era necessário mencionar
outros nomes. E com cada um daqueles presentes seguia uma
oração a Deus para que abençoasse a família abundantemente.
A caixa foi deixada na porta da casa.
E tanto o presente como a oração secreta foram recompensados
de forma maravilhosa. Soubemos, depois, que aquele foi um
dos melhores natais que os Stowe teve. E pouco depois, o Sr.
Stowe recebeu oferta de uma colocação mais bem remunerada.
Subitamente, toda a comunidade começou a demonstrar mais o
seu apreço pelo trabalho desinteressado daquela família. Os
filhos deles encontraram vários meios de auxílio para
pagamento de seus estudos superiores. E nós todos recebemos
muitas bênçãos com essa experiência.
E como a condição básica desse tipo de oração é o sigilo, não é
fácil conseguirmos ilustrações dela que não as pessoais.
Foi somente depois da morte de Janet Ritter (damos aqui um
nome fictício por não podermos divulgar seu segredo) que os
membros de sua família e os amigos mais chegados
descobriram a poderosa influência que a oração em secreto
tivera em sua vida.
Janet era casada com um conhecido jornalista de Nova York.
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Com pouco mais de quarenta anos de idade, ela se tornou
alcoólatra. Os melhores esforços profissionais no sentido de
curá-la de seu vício não obtiveram sucesso algum. Seu
sentimento de derrota e auto-depreciação tomou uma forma
muito curiosa. Várias vezes, ao chegar em casa, seu marido a
encontrou caída no interior de seu closet . Obcecada por um
intenso sentimento de culpa toda vez que bebia muitas vezes ela
sentia desejos de arrumar o armário. E começava a trabalhar
freneticamente até cair desmaiada. No fim de tudo, foi o closet
que lhe deu a solução para sua libertação. Do pouco que ela
nos relatou, pudemos entender a história toda, como se passou.
Certo dia ela estava deitada na cama, travando uma
desesperada batalha interior. Graças à Associação dos
Alcoólatras Anônimos ela não bebia havia dois meses. Naquela
manhã, ela sentiu um impulso muito grande para ingerir uma
dose, apenas uma. Mas ela sabia muito bem que se tomasse
uma, centenas se seguiriam, e nunca seriam suficientes.
"Ó Deus, ajuda-me", clamou ela. "Não posso decepcionar meu
marido e meus filhos novamente."
Na mesinha da cabeceira, ao seu lado, estava uma Bíblia de
capa de couro branco, que poucas vezes lera. Entretanto, nesse
dia, ela a abriu ao acaso, e deu com o Sermão do Monte. Seus
olhos caíram na palavra closet. Imediatamente, sua atenção
ficou presa naquilo. Closet! O seu closet se tornara para ela um
símbolo, um odioso símbolo.
Orar no closet? Por quê? Ela não tinha a mínima idéia. Mas
aquele pequeno quarto a atraiu como se fosse imantado. Uma
vez mais ela se achou enfiando-se por entre suas coisas, só que
desta vez estava orando, pedindo libertação daquele cativeiro.
E a recompensa que Jesus prometeu foi concedida a Janet
Ritter. Ela venceu a atração que o álcool exercia sobre sua vida.
E além disso, sua personalidade ficou impregnada de tal
magnetismo pessoal que cinco anos após a sua morte, eu ainda
56
via o rosto de seus amigos se iluminar quando falavam dela.
Muitos dos detalhes de sua história, nós nunca descobriremos.
Mas sabemos que, a partir daquele dia, a fórmula de poder,
revelada por Jesus, se tornou como um guia para Janet. Ela
aprendeu que dar uma parte de si mesma ou de suas posses
para outros, em segredo, formava a base para o
rejuvenescimento da sua vida interior.
Quero relatar apenas dois casos que ficaram conhecidos
acidentalmente. A direção de uma escola particular de Nova
York recebeu instruções para ir a um bairro pobre da cidade e
escolher ali uma menina que demonstrasse possuir aptidões.
Essa menina teria todas as despesas escolares pagas, mas
nunca deveria conhecer o nome de sua benfeitora.
Um solteirão amigo seu, de Nova York, que estava com
bronquite, recebeu, diariamente, uma terrina de sopa de uma
bandeja com alimentos especiais, que lhe eram entregues em
sua própria casa. O mensageiro não revelou quem o enviara,
nem havia qualquer outra identificação na bandeja, mas o
rapaz adivinhou de quem se tratava, e Janet teve que confessar.
Indubitavelmente, ela deve ter praticado uma longa série de
atos bondosos grandes e pequenos e todos mantidos em sigilo.
As recompensas vinham tão abertamente, que a influência de
Janet Ritter para o bem continuará por muito tempo. Além
disso, sua personalidade se revestiu daquele indefinível encanto
e magnetismo feminino com que toda mulher sonha.
Se você acha que suas orações não dão resultado, como todos
nós pensamos por vezes, sugiro-lhe que ponha em prática essa
fórmula de oração que Jesus passou a todos nós. O mundo
precisa desesperadamente do poder monumental que deriva da
oração secreta.
57
incubação, sob o corpo da paciente mãe-galinha. Nossa própria
criação também exige meses de reclusão na escuridão do ventre
materno. Percebo, então, que a oração, que é a mais elevada
forma de criação, também deve ficar algum tempo oculta
contigo, para tua obra ser completada.
Senhor, aqui está a petição que meu coração
deseja: .........................
Sinto minha fé fortalecer-se quando me lembro de que tu
queres que esta petição fique como um segredo entre nós; e que
quando eu escondo meu pedido em ti, estou tocando o próprio
coração criador do universo.
Então, deixo contigo esta petição, ó Pai. E, à medida que os
dias se passarem, sem que haja resultados visíveis para mim,
dá-me o dom de saber que, como cuidas de mim com mais
ternura do que de qualquer semente ou ovo, tua obra de criação
em meu favor está-se processando com a mesma certeza com
que se processa neles. Oh, como te agradeço! Na beleza e no
poder do nome de Jesus te peço. Amém.
58
apanhara emprestado.
"Sei que devo estar com uma péssima aparência", desculpou-
se. "Sinto-me como se fosse uma bola que vai de um lado para
outro, das crianças para a titia."
Enquanto conversávamos acerca de seu problema, de repente,
tive uma inspiração.
"Você tem pedido a Deus para modificar a disposição de sua
tia, e acha que ela está cada vez mais implicante. Então, por
que não abandona a tentativa de modificá-la, e simplesmente
pede a Deus que a abençoe, em tudo e por tudo?"
Ellen mostrou-se muito espantada.
"Você quer dizer que eu devo pedir a Deus para abençoar a
titia, quer ela o mereça ou não?"
Mas antes que eu pudesse responder-lhe, minha amiga teve
outro pensamento.
"Ah, percebo", disse pensativamente, "acho que nenhum de
nós merece nada de Deus, não é?"
"Foi exatamente o que eu pensei", disse-lhe. "Nada que nós
possamos fazer será suficiente para tornar-nos merecedores de
receber qualquer coisa, por insignificante que seja das mãos de
Deus."
"Então, Catherine, vamos experimentar a sua idéia. Será que
você poderia orar comigo agora mesmo?"
"Naturalmente; mas lembre-se de uma coisa, Ellen: quando
oramos a Deus pedindo que ele abençoe alguém, o que estamos
pedindo é: 'Senhor, torna tal pessoa feliz.' Pois este é o
significado literal da palavra bênção na Bíblia felicidade."
E segundo me recordo, a oração de Ellen foi mais ou menos
assim:
"Senhor, eu sei que é da tua vontade que nossa família seja
mais feliz do que tem sido. E sei também que isso não será
possível enquanto cada um de nós não for feliz. Abençoa a titia
agora, naquilo que ela precisa. Dá-lhe o dom da alegria. Ajuda
as crianças a amá-la e respeitá-la e mostra-me como posso ser
mais bondosa com ela. Amém."
59
abundantemente.
“A atmosfera da casa mudou completamente. Sabe de uma
coisa? Esse negócio de orar pedindo que Deus abençoe é como
dinamite. Mas ainda não entendo por que aquela oração foi
respondida quando tantas outras não foram. Por que será que
existe um poder tão grande em se desejar a felicidade para
outrem?"
Talvez uma razão de nos surpreendermos tanto quando Deus
abençoa alguém em atenção ao nosso pedido, é que associamos
Jesus Cristo primeiramente com um "homem de dores e que
sabe o que é padecer" (Is 53.3). Mas, na verdade, um homem
que tivesse uma atitude sombria nunca poderia ter atraído a si
as criancinhas. Somente um entusiasta, alguém que ia ao
encontro da vida com inabalável alegria de viver, poderia ter
conseguido que aqueles rudes pescadores se tornassem seus
discípulos. A tristeza não poderia durar muito, quando um
aleijado, prazerosamente, atirava fora suas muletas, ou um
leproso saía correndo, saltando e cantando pelo caminho a
fora, para ir mostrar ao sumo sacerdote a sua pele curada. E
não nos esqueçamos de que os evangelhos registram que Jesus
atrapalhou todos os enterros a que assistiu.
Inegavelmente, Jesus estava mais que ciente dos problemas e
desilusões desta vida. "No mundo passais por aflições", disse
ele aos discípulos. "Mas", continuou ele, "tende bom ânimo, eu
venci o mundo." (Jo 16.33.) Em outras palavras: "Animem-se!
O pior que pode acontecer neste mundo, ainda é pouco para
mim.”
A verdadeira fonte da alegria de Jesus nos é revelada nas
inesquecíveis palavras que foram ditas, primeiramente, pelo
salmista (Sl 45.7), e, séculos depois, pelo autor de Hebreus.
60
assim!?
É por isso que a oração da bênção de gozo não depende dos
méritos que possuímos e nem é prejudicada pela ausência deles.
Jesus é o único justo; portanto, o único perfeitamente feliz. Mas
esse gozo ele deseja partilhar com todos os que o desejarem
receber.
Agora começamos a entender por que minha amiga Ellen
pisava terra firme em não fazer dos méritos de sua tia uma
condição para a oração da bênção de gozo. Ela sabia que Jesus
dissera: "Amai os vossos inimigos... bendizei aos que vos
maldizem." (Lc 6.27,28.)
Logo que começamos a obedecer a ordem de Cristo,
descobrimos que a nossa oração pedindo a bênção de Deus
para aqueles com quem temos dificuldades e a solução para
essas dificuldades, estão estreitamente relacionadas.
Vi uma ilustração viva dessa ligação entre a oração da bênção
de gozo e o poder de Deus para transformar situações, aplicada
de forma negativa, no caso de uma senhora que veio procurar-
me pedindo conselho acerca de seu problema conjugal.
Enquanto tomávamos uma xícara de chá, ela expôs-me a
dificuldade. Sofrera o golpe mais duro que o orgulho feminino
pode suportar seu marido lhe comunicara que não a amava
mais e que iria deixá-la.
A Sra. B. achava que o problema era todo por culpa do marido,
e apresentou críticas amargas contra ele não ia à igreja,
passava muito pouco tempo com os filhos, e era-lhe infiel.
"Somente Deus pode salvá-lo", arrematou sombriamente.
"Vou dar-lhe uma idéia de como deve orar pelo seu marido",
disse-lhe. "Peça a Deus para derramar muitas bênçãos sobre
ele, chuvas de bênçãos espirituais, materiais e físicas. Depois,
deixe o resto com o Senhor."
A mulher tomou outro gole de chá, os lábios apertados numa
linha firme.
"Meu marido já prosperou demais", disse. "E é exatamente
esse o problema dele. A única coisa que irá fazê-lo recuperar a
razão e voltar para Deus será passar por uma série de
dificuldades."
E ela saiu, dizendo que iria orar para que Deus mudasse seu
61
marido e o tornasse bom, e depois o trouxesse para ela e os
filhos. E suas orações fracassaram. Eventualmente, ele
conseguiu o divórcio, e se casou com outra.
Em uma de suas parábolas, Jesus fez alguns comentários
acerca desse tipo de oração que a Sra. B. fez por seu marido.
Estava o Mestre certo dia no templo, quando viu dois homens
orarem: um importante e culto fariseu, e um humilde
publicano. "Não façam como o fariseu", disse Jesus aos seus
discípulos. Ele orou assim: "Ó Deus, graças te dou porque não
sou como os demais homens, roubadores, injustos e adúlteros,
nem ainda como este publicano." (Lc 18.11.)
A seguir, Jesus disse, indiretamente, que o fariseu não estava,
de fato, orando; apenas falava consigo mesmo. E logicamente
ele não voltou para casa “justificada” (v. 14), isto é, sua oração
não foi respondida.
E por que não? Porque Deus não atento para o que dizem
nossos lábios, e sim para o que realmente sentimos e pensamos
por trás daquela fachada de palavras. E então, o que o fariseu
quis dizer? Mais ou menos o seguinte: "Senhor, eu te agradeço
por que não sou como o Sr. Fulano. Eu sou bom, e as pessoas
daquele tipo são más. Ele não merece tuas bênçãos. Sugiro-te
que envies a este pecador uma porção de problemas. Isto deve
fazê-lo cair em si mesmo. Não está certo, Senhor, esse negócio
de o ímpio prosperar."
Se eu ou você estivéssemos no controle do mundo,
provavelmente não permitiríamos que os ímpios prosperassem.
Mas a verdade é que muitos deles prosperam. E através dos
tempos, esse fato tem incomodado os homens. No livro de Jó,
que talvez seja o mais antigo livro da Bíblia, ele luta com este
problema. Em vários salmos, também, a questão é mencionada.
Mas Jesus foi e sempre é realista. Ele simplesmente aceitou o
fato de que, como Deus é todo amor, em muitos casos, o ímpio
irá prosperar: “... porque ele faz nascer o seu sol sobre maus e
bons, e vir chuvas sobre justos e injustos" (Mt 5.45).
"Eu, porém, vos digo: Amai os vossos inimigos e orai pelos que
vos perseguem." (Mt 5.44 e Lc 6.28.)
Será que Jesus está dizendo, então, que a justiça ou a
impiedade não têm importância para Deus? Absolutamente. O
62
pecado é uma questão muito séria, séria bastante para fazer
com que Jesus tomasse a cruz, e para levar o mundo cada vez
mais perto do desastre total. Mas a verdade é que as orações de
auto justificação ou de acusação não transformam os homens
maus em bons. Somente o amor feliz tem o poder de redimir.
Corrie ten Boom, uma holandesa amiga nossa, estava-se
esforçando bastante para obedecer o mandamento de Jesus que
ordena que amemos nossos inimigos. Certa noite, numa igreja
de Munique, ao terminar sua palestra, reconhece um homem
um antigo oficial da polícia alemã, muito detestado pelos
prisioneiros do campo de concentração de Ravesnbruck. Aquele
homem fora um dos muitos que haviam maltratado Corrie e sua
irmã Betsie durante o tempo em que haviam estado prisioneiras
ali. Betsie morrera na prisão. Depois que Corrie fora libertada,
em 1945, ela viajara pela Alemanha, antigo país inimigo,
apresentando a todos que a quisessem ouvir a mensagem que
Deus colocara em seu coração como uma brasa viva o perdão.
E agora, aqui estava ele o primeiro de seus verdugos que ela
revia depois de sua libertação. Esse homem era o guarda de
olhar furtivo e voz zombeteira, que ficava á porta dos chuveiros
de Ravensbruck. Ela sentiu o coração gelar quando viu aquele
homem caminhando em sua direção.
“Irmã", disse ele amavelmente, estendendo a mão, "obrigado
pela sua mensagem. E pensar que ele lavou todos os nossos
pecados!"
Corrie sentiu o braço direito se enrijecer, ficando como que
preso ao lado do corpo. E enquanto aquela tempestade de
pensamentos e ódio e ressentimento rugiam em seu peito, ela
sabia que estava errada. Ela acabara de pregar sobre amar os
inimigos, e estava recebendo um desafio para pôr em prática
suas palavras.
Ela tentou sorrir, esforçou-se para estender-lhe o braço, mas
não conseguiu. Não havia em seu coração o menor vestígio de
simpatia para com aquele homem que se achava ali, com a mão
estendida.
“Senhor Jesus, não consigo perdoá-lo", orou ela rapidamente,
em silêncio. "Dá-me o teu perdão.”
Então o braço de Corrie se ergueu, e quando seus dedos
63
tocaram os dele, incrivelmente, ela sentiu algo parecido com
uma corrente elétrica que começava em seu ombro e descia pelo
braço e passava para o alemão. Ao mesmo tempo, em seu
coração, brotou um enorme amor pelo antigo guarda um amor
que ela não pensara ser possível. A partir de então, Corrie
descobriu que ela facilmente conseguiria orar para que Deus
derramasse abundantes chuvas de bênçãos sobre o ex-guarda.
Foi desse modo que Corrie ten Boom prendeu aquilo que todos
nós temos que aprender, mais cedo ou mais tarde só podemos
amar nossos inimigos ao ponto de pedir a Deus felicidade para
eles, se aquele que foi ungido com o óleo da alegria fizer isso
por nós.
Muito antes dos dias de Jesus, os antigos israelitas já haviam
descoberto a verdade de que a alegria é o segredo para se
chegar à presença de Deus: Porque a alegria do Senhor é a
vossa força (Nem. 8.10). Na tua presença há plenitude de
alegria (Sl 16.11). Servi ao Senhor com alegria, apresentai-vos
diante dele com cântico (Sl 100.2).
É possível que ao escrever seus salmos Davi se recordasse do
dia quando, literalmente, entrara na presença de Deus com
canto e dança. Os eternos inimigos de Israel, os filisteus,
haviam finalmente sido derrotados. A arca sagrada podia agora
ser conduzida para Jerusalém com toda segurança. E então
Davi conduziu-a, e ele "dançava com todas as suas forças...
com júbilo, e ao som de trombetas" (2 Sm 6.14,15).
E sua esposa Mical, vendo sua alegre descontração, ficou
envergonhada. Seu marido estava fazendo papel ridículo. E
então ela "o desprezou no seu coração" (v. 16). O escritor da
história acrescenta à narrativa uma observação muito curiosa.
Mical nunca viu realizado o maior anseio de sua vida. Ficou
sem filhos até o dia de sua morte.
As Escrituras não nos fornecem maiores explicações a esse
respeito, mas podemos supor que a incapacidade de Mical de
compartilhar da alegria de Davi era simplesmente um indício de
problemas mais graves. A rainha desprezava o marido. Como a
Sra. B., é provável que ela estivesse constantemente nutrindo
ressentimentos e amarguras contra ele e tais coisas constituem
grandes empecilhos para a resposta de oração.
64
Se Mical tivesse sido capaz de perdoar, o gozo poderia ter-se
ligado ao amor, e talvez ela tivesse visto satisfeito seu grande
desejo de ter filhos, assim como muitas outras respostas de
oração.
Agnes Sanford, viúva de um clérigo episcopal e conhecida
escritora, relata como aprendeu a respeito do poder da alegria
quando seu filhinho ficou doente durante um mês e meio, com
os ouvidos inflamados. Conforme relatou depois, suas petições
em favor da cura da criança haviam sido anuladas pelo temor e
o desespero que havia em seu coração. Então, certo dia, um
jovem pastor visitou a família e disse: "Eu subirei lá e orarei
pela criança", falou.
A mãe sentiu-se um pouco descrente de que a oração dele
pudesse conseguir o que as suas não haviam conseguido, mas
conduziu-o ao quarto da criancinha. O jovem pastor tomou a
cabecinha do bebê em suas mãos e orou. Mais tarde,
recordando o incidente, a Sra. Sanford disse:
“Uma luz intensa brilhava nos olhos dele. Olhei para ele, e vi
sua ternura e alegria, e então eu cri, pois a alegria é a
confirmação celestial do poder espiritual..." Agnes Sanford
The Healing Light (A Luz que Cura).
Imediatamente o bebê caiu no sono. Quando acordou estava
curado.
Quando o estandarte da Rainha Elizabeth está hasteado sobre o
Palácio de Buchingham, isso indica que a rainha se encontra
ali. A alegria que se vê no olhar do crente é o sinal de que o Rei
está residindo no coração dele. Do mesmo modo, na oração, a
alegria é um sinal certo da aprovação real.
É possível aprender-se o segredo de orar com alegria mesmo em
meio a uma situação grave ou aparentemente trágica.
Precisamos de cura? Um modo de chegar à alegria é perguntar
a nós mesmos: por que queremos a cura? Depois, criar uma
série de imagens mentais alegres, dos modos como tiraríamos
partido de nossas boas condições de saúde.
Ou é de recursos financeiros que precisamos? Como
utilizaríamos o dinheiro? Uma forma de oração alegre é criar
uma série de imagens mentais sobre o modo como utilizaríamos
esse dinheiro não apenas para nós mesmos, mas para estender
65
a alegria divina a outros.
Depois de ter visto a oração da bênção do gozo tão
gloriosamente atendida na vida de tantas pessoas, comecei a
indagar-me se não estaria aí a solução do problema da paz
mundial. Mesmo aqueles que encaram a oração seriamente não
sabem orar por outras nações. Isso é ainda mais difícil quando
os ideais delas diferem dos nossos, e quando se consideram
inimigas de nosso país.
Talvez Cristo nos dissesse: "As pessoas dos outros países
também são meus filhos. Quanto mais esses homens violentos e
ambiciosos me ignoram e perseguem os meus inocentes, mais
eles precisam ser liberados para receber meu amor, que é
bastante amplo para alcançar a todos."
Naturalmente, nós não podemos bendizer nem orar pelas
pessoas que abusam de outras, ou com as quais estamos em
conflito, a menos que reconheçamos que não podemos fazê-lo
por esforço próprio, e deixemos que Cristo que vive em nós as
ame por nós.
Mas se um grupo, ainda que pequeno, pudesse orar com essa
alegria pelos povos das nações que são nossas "inimigas", com
a esperança de que haverá um bem para elas, pedindo a Deus
abundantes chuvas de bênção sobre elas, em cada aspecto de
sua vida, poderíamos ver tremendos resultados.
Nossa primeira reação a essa sugestão pode ser exatamente a
mesma da Sra. B. Muito arriscado! Quem deseja ver as outras
nações passarem à frente da nossa nas ciências, na exploração
espacial, no poderio bélico e na esfera econômica?
Mas esta maneira de orar não nos parecerá arriscada, depois
que virmos que Deus "faz nascer o seu sol sobre maus e bons",
e que o seu sol da alegria é o único poder neste universo capaz
de transformar o coração dos homens não importa quais sejam
seus problemas, sua ideologia política ou sua nacionalidade.
66
suplicar-te bênçãos.
Mas que ............................... Que é tão incrédulo e não te ama,
merece as dificuldades por que está passando.
Agora compreendo, Pai, que precisas ma¬nifestar o teu amor e
o teu gozo para nós, tuas criaturas, porque és amor e alegria; e
que tu, que és o sol da justiça, em quem não habita treva
alguma (1 Jo 1.5), brilhas sobre nós porque tua natureza é
brilhar e não porque o mereçamos.
E agora, eu libero ................................... De minha atitude
condenatória, e peço-te que o abençoes abundantemente de
todos e quaisquer modos que te parecerem bem.
Vive tua vida em mim, Senhor, para que, doravante, eu deseje
para os outros o mesmo bem que desejo para mim; e que eu
nunca mais suplique bênçãos para mim enquanto no meu
coração sentir rancor para com as bênçãos que derramas sobre
outros.
Purifica-me de todo o egoísmo e mesquinhez. E também, ó Pai,
enche-me com a alegria daquele que foi ungido com o óleo da
alegria ([Hb 1.9] mais do que todos nós. Em teu nome te peço.
Amém.
A ORAÇÃO DE APROPRIAÇÃO
A primeira vez que ouvi falar a respeito da oração de
apropriação foi em 1947, quando vi uma estranha inscrição na
primeira página em branco da Bíblia de Peter Marshall:
67
A seguir, ele ficou em silêncio por alguns instantes, e depois
disse:
"Lembra-se de que eu prometi a Peter John que o levaria à loja
de trens de brinquedo no sábado?"
Acenei que sim.
"Pois eu seria um péssimo pai, se não cumprisse as promessas
que faço a meu filho. E se eu sou consciencioso bastante para
querer cumprir minha palavra, quanto mais Deus."
"Mas essa citação em sua Bíblia", insisti, "existe algum
incidente relacionado com ela?"
Havia, e Peter falou-me da viagem do missionário. Foi em
1856. Livingstone se encontrava diante de um dos maiores
perigos que enfrentara em seus dezesseis anos de vida na
África. Atravessava naqueles dias uma região inóspita,
dominada por Mburuma, um chefe nativo que era muito hostil
para com ele, e estava procurando levar aquela região a se
rebelar contra a expedição do homem branco. Eles haviam
recebido a notícia de que os nativos estavam lentamente se
aproximando de seu acampamento.
Sozinho em sua tenda, Livingstone abriu a Bíblia na promessa
em que muitas vezes ele firmara sua vida. Depois escreveu em
seu diário, o seguinte:
68
da selva.
O missionário reservou para si o último lugar, na última canoa.
Um dos carregadores nativos, temeroso de um ataque à traição,
suplicou a Livingstone que não desse as costas para Mburuma,
concedendo-lhe assim a chance de acertá-lo por detrás.
"Diga-lhe para observar que não estou com medo", replicou
Livingstone. Depois, com toda a dignidade, ele se aproximou
dos atônitos nativos, agradeceu-lhes, saudou-os com a paz de
Deus, e dirigiu-se lentamente para sua canoa. A travessia foi
feita sem problemas. Durante aqueles momentos, o missionário-
explorador deve ter estado vividamente cônscio da presença
daquele que andava ao seu lado. "Eis que estou convosco todos
os dias", escrevera ele na noite anterior. E agora a fé se
tornava em realidade: ele, o Senhor, estava ali, ao seu lado.
Para o Senhor ressuscitado, isso foi como que uma repetição de
um incidente ocorrido durante os seus dias de ministério
terreno. Ele estivera perante outra multidão revoltosa, pronta
para atacá-lo à traição.
69
modificou. De início considerava a leitura bíblica como uma
tarefa enfadonha. E, além disso, nos cursos que freqüentei na
faculdade, a Bíblia era tratada como uma obra literária ou
como fonte de pesquisa para o estudo comparativo das diversas
religiões, e isso em nada alterou o meu tédio pela sua leitura.
Tais cursos, também, não me haviam ajudado a formar um
conceito correto acerca da Bíblia. Seria ela uma antologia de
mitos e lendas folclóricas, que poderíamos considerar
inspirados apenas no mesmo sentido em que as peças de
Shakespeare e os poemas de John Keats o foram? Ou seria as
Escrituras a palavra oficial do próprio Deus, que de algum
modo foi transmitida até nós através da mente e da pena de
alguns homens escolhidos especialmente para isto? Eu não
sabia.
Mas depois que entreguei minha vida a Deus, meu conceito
acerca da Bíblia, gradualmente, foi sofrendo uma
transformação. E eu desejei lê-la porque ela me falava acerca
do caráter de Deus e de seu modo de agir. Achei-me ansiosa por
saber como era que ele agia com os homens, em todas as
situações possíveis e imagináveis, para que eu pudesse ter uma
idéia de como iria agir comigo. E quanto mais eu lia esse livro
notável, mais consciente me tornava de que, através de suas
páginas, Deus falava comigo.
“Mas como é que você sabe disso?" já me perguntaram muitas
vezes. "Como é que pode ter certeza?"
Minha resposta veio com a crescente compreensão de que nós,
seres humanos, chegamos à certeza das coisas por uma destas
duas vias: nas questões pertinentes ao nosso corpo, ou questões
materiais, nós nos convencemos pelas provas intelectuais,
científicas ou patentes. Nas questões relativas ao espírito do
homem, só nos convencemos através de uma revelação pessoal.
Por exemplo, uma pergunta assim: "Como posso saber se Deus
me ama?" nunca pode ser respondida com o raciocínio ou com
provas de laboratório. Pois o amor se localiza na área do
espírito, cuja natureza não se presta a uma prova de caráter
científico. Entretanto, aquela revelação interior: "Ele me ama!
Ele realmente me ama!" é válida, e nos traz tanta certeza que
nos dispomos até a dedicar a vida a esse amor.
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Quando nos conscientizamos de como é grande o número de
questões importantes que sempre escapam às malhas da prova
intelectual e científica, então começamos a apreciar realmente
o valor da revelação. Certamente, esse é um dom
importantíssimo que deveríamos pedir com maior freqüência.
Uma de minhas amigas, que como eu chegou ao nível da
certeza através de uma revelação interior, gosta de pensar na
Bíblia da seguinte maneira:
71
• Deus cumpre a promessa em seu tempo próprio e do modo
como desejar.
72
• Primeiro, ela tinha trabalho demais. Sentia-se como uma
serva em sua própria casa. Como é que uma mulher, sozinha,
podia ser cozinheira, arrumadeira, lavadeira, mãe, esposa e
zeladora da igreja?
73
ensino ou de ajuda ao povo de alguma outra forma (Mc 6.31-
46). Ele compreende bem a sua situação porque também a
experimentou, e em um grau muito mais intenso. Peça-lhe
auxílio para encarar desse modo as interrupções.
Quanto ao período de calma e silêncio para o devocional
particular: tendo crianças pequenas em casa, haverá poucos
períodos de tempo em que não será interrompida. Fiquem
atentas para esses minutos de sossego, frações de tempo que se
lhe apresentarão no decorrer do dia, para orar. A verdadeira
questão é: você quer mesmo orar? Aproprie-se da seguinte
promessa para o coração tranqüilo: Porque Deus não é de
confusão; e, sim, de paz (1 Co 14.33).
Agora, muitos anos depois, existem evidências abundantes de
que as orações de apropriação que Colleen fez foram atendidas.
Embora os filhos já estejam bem mais velhos, ainda ocorrem
interrupções. Entretanto, aquele antigo desespero e a ameaça
de esgotamento deram lugar a uma tranqüila capacidade de
trabalho. Poucas vezes tenho visto uma esposa, mãe e
companheira de um ministro evangélico mais bem sucedida que
ela. E para coroar tudo, Coke ainda é uma mulher bela e
atraente. Já escreveu dois livros, e ainda encontra tempo para
participar das juntas administrativas de duas notáveis
instituições educacionais.
Creio que a oração de apropriação é a mais elevada forma de
oração porque ela traça um círculo do céu à terra, e dessa
maneira ela preenche as condições para se obter poder na
oração. Pois o objetivo de toda e qualquer oração é descobrir a
vontade de Deus, e torná-la nossa petição, para que, como
Jesus nos ensinou a orar no Pai Nosso, a vontade do Pai seja
feita na terra do modo perfeito como é feita nos céus.
E assim, nós nos dirigimos a Deus com um problema,
procurando a solução dele. Deixamos que ele nos fale através
de um texto das Escrituras ou de sua voz suave em nosso
coração. Essa parte da oração se constitui na metade do
círculo, de nós para Deus.
Depois, então, Deus nos indica uma de suas promessas, a que
melhor se aplica á nossa situação. E quando nos apropriamos
dela, o círculo se fecha é a parte que vem dos céus à terra.
74
Esta promessa é a ponta da fé que nós podemos segurar pela
oração. O apóstolo João expressou isso em palavras que são
preciosas como ouro puro:
"E esta é a confiança que temos para com ele, que, se pedirmos
alguma cousa segundo a sua vontade, ele nos ouve. E, se
sabemos que ele nos ouve quanto ao que lhe pedimos, estamos
certos de que obtemos os pedidos que lhe temos feito." (1 Jo
5.14,15.)
75
Senhor, tenho procurado compreender-te e aos teus desígnios
apenas com minha capacidade mental. Mas a confusão e a
incerteza que imperam em minha vida demonstram como é
limitada a minha capacidade de compreensão. Agora entendo
por que nos dotas-te, a nós, tuas criaturas, com uma dimensão
que vai além da inteligência um espírito interior que opera
como um aparelho receptor do teu Espírito. Pai, se há alguém
que precisa de uma revelação de teu Espírito, sou eu. Peço-te a
iluminação do teu Espírito, que é o dom de revelação a
respeito... da Bíblia, e de como devo lê-la [Ela é realmente a tua
Palavra, em um sentido especial?}.
Da promessa específica que queres dar-me hoje. Pai vejo que
esta promessa se relaciona com a seguinte situação: Pela fé,
escreverei essas "palavras de um cavalheiro" em uma folha de
papel.
E agora, Senhor, assinando no verso desta folha, eu me
apropria da promessa que me deste para que opere nessa
situação e em minha vida. Como me alegra saber que este
cheque foi emitido por aquele cuja integridade é
inquestionável! Eu descanso na certeza de que a garantia deste
cheque me dá segurança total, pois por ele respondem todos os
recursos e reservas dos céus. Obrigado, Pai. Amém.
76