Trabalho Psicanalise

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Faculdade Pitágoras

Bruna Barreto Lisboa


Bruna Guaceroni Ferreira
Caroline Sabino Costa
Deiveskan Serra Soares
Maria Aparecida Mota Mendes
Sandro André de Almeida
Tamyris Martins de Oliveira

INTRODUÇÃO AS PSICOTERAPIAS:
PSICÁNALISE

Belo Horizonte
2013
Bruna Barreto Lisboa
Bruna Guaceroni Ferreira
Caroline Sabino Costa
Deiveskan Serra Soares
Maria Aparecida Mota Mendes
Sandro André de Almeida
Tamyris Martins de Oliveira

INTRODUÇÃO AS PSICOTERAPIAS:
PSICÁNALISE

Trabalho apresentado como requisito para aprovação na


disciplina de Introdução as Psicoterapias, do Curso de
Graduação em Psicologia na Faculdade Pitágoras de
Belo Horizonte.
Orientador: Prof.ª Ana Carolina Dominguez Lynch, M. Sc.

Belo Horizonte
2013
Resumo

O presente trabalho busca revisar na literatura alguns conceitos acerca da


psicanálise e sua clinica. Parte de uma breve compreensão histórica da visão de
homem e dos principais teóricos. Abordamos também questões como o Setting e os
objetivos da psicoterapia e da análise, diferenciando-as.

Palavras-chave: Psicanálise, psicoterapia, teóricos, setting, Freud


SUMÁRIO

1. Introdução......................................................................................................06
2. Visão de homem na abordagem psicanalítica............................................07
2.1. Antecedentes......................................................................................07
2.2. Ruptura................................................................................................09
3. Principais teóricos.........................................................................................15
3.1. Sigmund Freud (1856 – 1939)..........................................................15
3.2. Sándor Ferenczi (1873 – 1933)...........................................................16
3.3. Carl Gustav Jung (1875 – 1961).........................................................17
3.4. Karl Abraham (1877 - 1925)................................................................17
3.5. Sabina Spielrein (1885 - 1942)............................................................18
3.6. Anna Freud (1885 – 1982)...................................................................19
3.7. Melanie Klein (1882-1960)...................................................................19
3.8. Wilhelm reich (1897-1957)..................................................................20
3.9. Wilfred Bion (1897-1979)....................................................................21
3.10. Donald winncott (1896-1971)..............................................................23
3.11. Jacques-Marie-Émile Lacan (1901 - 1981)........................................23
3.12. Jean Laplanche (1924 - 2012).............................................................24
3.13. Jean-Bertrand Lefebvre Pontalis (1924 – 2013)...............................24
4. Principais conceitos que permeiam a clínica.............................................26
4.1. O Inconsciente....................................................................................26
4.2. Pulsão (Trieb).....................................................................................28
4.2.1. A primeira teoria pulsional (Pulsão Sexual x Pulsão de
auto-conservação) ..............................................................................30
4.2.2. A segunda teoria pulsional (Pulsão de Vida x Pulsão de
Morte)......................................................................................................30
4.3. Recalque..............................................................................................34
4.3.1. Recalque Primário Ou Originário............................................36
4.3.2. Recalque Secundário Ou Propriamente Dito.........................37
4.3.3. Retorno do Recalcado.............................................................39
4.3.4. Considerações..........................................................................40
4.4. Repetição.............................................................................................41
4.4.1. Repetição em Lacan.................................................................42
4.5. Fases psicossexuais do desenvolvimento.......................................44
4.5.1. Fase Oral...................................................................................45
4.5.2. Fase Anal...................................................................................45
4.5.3. Fase Fálica................................................................................45
4.5.4. Período de Latência ................................................................46
4.5.5. Fase Genital..............................................................................46
5. Objetivos da Psicoterapia.............................................................................47
5.1. Psicanálise e Psicoterapias...............................................................47
5.2. Psicoterapia de Orientação Psicanalítica.........................................49
5.3. Psicanálise...........................................................................................50
6. Tempo de sessão / duração do tratamento / preço....................................51
7. Setting.............................................................................................................54
8. Estudo de Caso..............................................................................................60
8.1. Resumo................................................................................................60
8.2. Psicanálise e a criança.......................................................................61
8.3. Teoria...................................................................................................61
8.3.1. Sexualidade infantil..................................................................61
8.3.2. Origem do problema................................................................62
8.4. Tratamento...........................................................................................62
8.4.1. Metodologia do tratamento.....................................................63
8.4.1.1. O desenho e a modelagem...........................................63
8.4.1.2. Brincadeira de desaparecimento e retorno.................63
8.4.1.3. Análise............................................................................63
8.5. Considerações....................................................................................64
9. Referências.....................................................................................................65
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1. Introdução

Para Santana (2011), hoje, em pleno século XXI, a psicanálise não

desconhece e nem negligencia as formações do inconsciente freudiano,

apenas visa renovar o sentido do sintoma para estar de acordo com a

subjetividade da época. A psicanálise é uma experiência de discurso que visa

levar o sujeito a sair daquilo que o faz sofrer, para alcançar o bem-dizer da

ética do desejo.

Segundo Forbes (2011), há que se conhecer a diferença entre

Psicanálise e o mar de psicoterapias que são oferecidas. Se até para o

profissional, nem sempre é clara, imagine para o leigo (...). Em síntese,

praticamente todas as psicoterapias seguem o modelo da ética médica: um se

queixa, o outro trata; um não sabe, o outro sabe; um é paciente, o outro é

atuante. Arrisquemos uma definição: no fundamento do que se chama

Psicanálise está sempre - sim - sempre responsabilizar o sofredor em seu

sofrimento. Não culpar, atenção, responsabilizar e de uma responsabilidade

muito diferente da responsabilidade jurídica, que se baseia na consciência dos

fatos. Seria até engraçado que a prática do inconsciente exigisse a

responsabilidade consciente. A responsabilidade em Psicanálise,

contrariamente à jurídica, é a responsabilidade frente ao acaso e à surpresa.

Não dá para ninguém se safar de uma situação dizendo: - "Ah, só se foi o meu

inconsciente", como se ele fosse 'um moleque irresponsável que não tem nada

a ver comigo'.
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2. Visão de homem na abordagem psicanalítica

2.1. Antecedentes

Segundo Teixeira (2001), o interesse sobre o homem como objeto de

estudo data do século V a.C. quando a reflexão filosófica transfere-se dos

temas cosmológicos para os temas do humano. Entretanto, anterior a isso, ele

foi objeto de atenção do mito, da literatura, da política e da educação. O estudo

da História revela que desde Hipócrates temos assistido a passagem de várias

teorias sobre o homem. As ciências, as religiões e todas as formas de entender

o mundo buscam responder a questão sobre o homem, porém, costumam

oferecer respostas, pelos menos em certos pontos, totalmente contraditórias,

eis que elas tendem a se excluir umas às outras.

Na História da Filosofia, existe uma consagrada divisão das concepções

de homem no mundo ocidental. Podem-se separar os estudos acerca dele em

períodos que se caracterizam por um conjunto de idéias que se rivalizam e são

inconciliáveis entre si. Cada período apresenta um círculo de idéias sobre o

homem, e a evolução histórica dessas idéias divide-se, essencialmente, em

três fases distintas: a da concepção clássica de homem (ciência grega), a da

concepção cristã (Idade Média) e a da concepção moderna (JAPIASSU, 1975;

VAZ, 1991).

Jupiassu (1975) sintetiza estas fases da seguinte forma:

• Concepção clássica (ciência grega): a essência do homem define-se

como razão e o centro do pensamento antigo é o cosmo que revela

beleza e harmonia na obediência que deuses e homens devem à lei


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suprema, pois a razão se exerce do alto para baixo, dos deuses para os

homens. Essa é a concepção que tem origem em Platão e estende-se

até a Idade Média.

• Concepção cristã (Idade Média): Nessa época, a concepção passa a

ser teocêntrica e a fonte de explicação para tudo, inclusive para o

conhecimento, situa-se fora do homem, não mais nas leis cósmicas

como na Grécia, mas num Deus criador do qual o homem é dependente.

• Concepção moderna: A partir do Renascimento, surge um novo

homem, bastante marcado pelo individualismo, que lhe tutela a

possibilidade de ser o centro dos valores e do conhecimento. O

individualismo, portanto, como pressuposto maior da Modernidade,

assegura ao homem a idéia e a crença de que ele é dono do mundo e

por este motivo pode, através do conhecimento, ser o senhor do objeto

e, com suas descobertas, controlar e dominar a natureza.

Teixeira (2001) afirma que a Idade Moderna rompe com a síntese

anterior (clássico-cristã), multiplicando-se em numerosas concepções de

homem, a partir da visão dual de Descartes, que fragmenta o homem em res

cogitans e res extensa.

Para Elia (2004), Descartes inaugura assim o Cogito pela proposição

que se tornou famosa: Cogito, ergo sum, a ser traduzida em português como

Penso, logo sou, e não como se traduz costumeiramente: Penso, logo existo.

Em primeiro lugar há uma razão de exatidão de língua e de tradução, dado que

a forma latina é sum — o verbo é ser — e a forma em francês, língua de

Descartes, é “Je pense donc je suis”, e não “Je pense donc j’existe”. E também

pela boa razão filosófica de que a questão da existência, do ser que continuaria
9

sendo em exterioridade ao pensamento que o pensa, do ex-sistir (subsistir fora

— ex — como uma entidade), não era garantida pelo Cogito. Este só garantia o

ser do pensar, uma res cogitans (substância pensante) distinta da res extensa

(substância material), que se estende em corpos no espaço. Para garantir a

existência das coisas, e também de um sujeito pensante que pudesse seguir

existindo para além de seu próprio pensamento, Descartes veio a recorrer a

Deus, sua terceira res, a res infinita.

Figueiredo (1996) enfatiza que a Modernidade, com a dominância de

suas tradições teóricas e epistemológicas, reflete uma nova posição do homem

diante das coisas. O homem da Modernidade está, cada vez mais, entregue a

si mesmo, e cada indivíduo defronta-se com um mundo no qual já não se

sente, plenamente, em casa, pois existe a certeza de que vive num planeta,

como outro qualquer, no meio do universo imenso, e de onde lhe surgem

fenômenos, até então, estranhos. É próprio da Modernidade que o homem se

descubra, não apenas senhor de direito de todas as coisas, mas que também

se reconheça como fonte primordial de seus próprios erros.

2.2. Ruptura

Até então, predominava a filosofia cartesiana, onde o homem era visto

como um animal racional, sujeito do pensamento racional. Com efeito, é a partir

de Freud, que a razão perde sua hegemonia e o homem já não controla seus

desejos, não sendo sequer senhor de sua própria subjetividade. Não em um

sentido de que o homem esta agora à mercê de seus desejos, mas, de que ele

não tem mais tanto controle como acreditava que possuía.


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A Psicanálise é marcada pela estruturação do conceito de inconsciente,

o conceito já existia antes, mas é com Freud que revoluciona a concepção de

homem.

Para Garcia-roza (1991), uma das maneiras de se começar a falar no

inconsciente freudiano pode ser a de se apontar o que ele não é, ou então, a

de se marcar a sua diferença com relação àquela concepção de subjetividade

dominante até Freud. Esta, como já vimos extensamente, é a de uma

subjetividade identificada com a consciência e dominada pela razão;

subjetividade monolítica admitindo, quando muito, “franjas” inconscientes e, em

alguns casos, manifestações psíquicas que permanecem abaixo do “ umbral”

da consciência. O termo “ inconsciente” , quando empregado antes de Freud, o

era de uma forma puramente adjetiva para designar aquilo que não era

consciente, mas jamais para designar um sistema psíquico distinto dos demais

e dotado de atividade própria. A concepção que mais se aproximou da de

Freud foi a de Herbart, que mesmo assim não falava de um psiquismo

topograficamente dividido em sistemas, mas de idéias que continuavam

dinamicamente ativas após terem sido inibidas pelas demais. Qualquer que

tenha sido, porém, a noção de inconsciente elaborada antes de Freud, o fato é

que ela não designava nada de importante ou de decisivo para a compreensão

da subjetividade.

A Psicanálise parte da concepção de que o fenômeno humano tem um

sentido e qualquer produto ou expressão humana tem um sentido que nem

sempre está claramente disponível para a pessoa, ou seja, a Psicanálise

trabalha com uma concepção de um homem dividido, um homem que não é

apenas consciência, não é só comportamento, o homem é um ser que se


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coloca frente ao sentido das coisas, é um ser dividido que escapa a si mesmo.

É desta noção de ser dividido que surge a noção de inconsciente.

O modelo de homem apresentado pela psicanálise pode ser resumido

nos seguintes termos, de acordo com Kline (1988): O homem tem dois

impulsos principais: sexualidade e agressão, juntos com motivos determinados

pelo meio ambiente, tais como os conflitos de Édipo e de castração, que

exigem expressão. Uma vez que estes operam um sistema de energia fechado,

a expressão é vital. Através da mediação do Eu em defesas bem e

malsucedidas a expressão direta e indireta, na forma de sintomas neuróticos e

atos simbólicos, é conseguida. Este modelo de homem necessita de um alto

grau de controle na sociedade e saídas institucionalizadas para os impulsos.

Sem esses, de acordo com o modelo freudiano, viveríamos de forma arriscada

(p.143).

O indivíduo freudiano é dotado de dois instintos: Eros ou instinto de

Vida e Tânatus ou instinto de Morte. Eros manifesta-se como libido, e é o

instinto da vida pois tem como função unir os indivíduos em unidades cada vez

maiores. Neste sentido ele age a favor da civilização e da vida comunitária,

mas se opõe a ela quando se faz necessária uma grande quantidade de

energia instintiva, retirada da sexualidade, para o trabalho. Tânatus encontra-

se num segundo plano, podendo ser percebido através das manifestações de

agressividade, e encontrando-se ligado a Eros nas manifestações de sadismo.

Este instinto age contra a civilização na medida em que é regido pelo princípio

de Nirvana, buscando a volta ao estado inorgânico, à quietude, ou seja, à

morte (repouso absoluto), opondo os homens uns contra os outros, processo

esse que se confronta ao de Eros. A evolução da civilização humana pode ser


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descrita como a luta de Eros e Tânatus, Vida e Morte, como a luta da espécie

humana pela vida. (PIZANI, 1999)

FREUD (1929) afirma: "Quando uma tendência instintiva experimenta a

repressão, seus elementos libidinais são transformados em sintomas

(neurose), enquanto seus elementos destrutivos são transformados em

sentimento de culpa" (pg. 183).

É somente a partir do estabelecimento do sentimento de culpa que a

civilização consegue inibir o desejo de agressão nos indivíduos: a resolução do

conflito edipiano implica a introjeção da agressividade, das proibições e da

ordem, que se voltam contra o ego do indivíduo, formando o superego. A partir

do seu estabelecimento, qualquer desejo de satisfação instintiva é punido com

a mesma intensidade que ele gostaria de satisfazer contra o mundo exterior,

gerando um intenso "mal-estar" nos indivíduos, pois do superego nada se

esconde. Para Freud não há a possibilidade de uma sociedade livre, onde os

indivíduos sejam plenamente felizes, já que a formação da sociedade

pressupõe repressão, introjetando nesses indivíduos uma espécie de

policiamento, o superego, que os pune com o sentimento de culpa quando

estes buscam satisfazer as suas pulsões, quando buscam a felicidade. Além do

que, a própria dinâmica libidinal de Freud não permitiria uma sociedade sem

repressão, já que os indivíduos são dotados de instintos agressivos, que

quando libertos destroem a sociedade. A repressão de Eros se faz necessária,

pois implica na conseqüente repressão de Tânatus (PIZANI, 1999).

Kline (1988) continua sua argumentação e afirma que:

“Freud considera, na sua teoria, a pulsão de vida e a pulsão de


morte como faces da mesma moeda. Todas as duas formas de
energias transitam livremente no inconsciente, cujo único objetivo
consiste em aliviar suas tensões, segundo o princípio do prazer e de
acordo com o processo primário. Para ele, o homem é possuidor de
13

um permanente conflito entre forças antagônicas existentes em seu


interior. O Id totalmente inconsciente, não obstante, nem bom nem
mal, abstém-se de qualquer lógica ou racionalidade e faz tudo o que
lhe é possível fazer para atingir seus objetivos, ou seja: livrar-se da
pressão de energias, das quais ele é o próprio reservatório. O Ego,
por sua vez, gerado que foi pelo Id, no sentido de facilitar-lhe a
obtenção do prazer, tenta a todo custo servir de mediador entre as
exigências dele e as exigências da realidade externa, reduzindo ou
adiando o seu prazer, em prol de uma racionalidade aceitável. Um
terceiro elemento, oriundo do Ego, ganha força com o complexo de
Édipo e de castração, e também participa desse jogo de poder.
Trata-se do Superego, o aliado da cultura, na perpetuação das
normas e dos valores sociais. Agora, o Ego, além de mediador entre
as exigências do Isso, do Superego e da realidade externa, precisa
se fortalecer para dominar o mais possível o conteúdo inconsciente e
escrever a sua própria história, pois, como vocês devem estar
lembrados, o Ego e o Superego têm o seu lado obscuro ou
inconsciente” (KLINE, 1988).

Para Cromberg (2001):

“a psicanálise nos leva a uma outra forma de ver o homem e o


mundo, diferente da Ciência, de boa parte da Filosofia e da Religião,
é levar em conta, mais que isso, privilegiar o acidental, exatamente o
que estes saberes desprezam. Neles, o que conta é o universal, o
geral e o particular. O acidental é desprezado. Conta que todo
homem é mortal, Sócrates é homem, então Sócrates é mortal. Se
Sócrates usava uma túnica amarela com bolinhas roxas ou se estava
triste, são eventos desprezíveis para estes saberes. Ora, é
justamente para a túnica ou a tristeza de Sócrates que a Psicanálise
vai dar importância, o acidental singular que diz respeito só a ele.
Não que para a Psicanálise não existam universais. Eles existem,
mas, como diria Merleau Ponty, são universais por oblíquo. São
articuladores, esquemas operatórios de reviravolta que só fazem
sentido na singularidade” (CROMBERG, 2001).

Para Scotti (2013), desde a invenção da psicanálise, Freud nos colocou

diante de uma realidade que altera definitivamente a concepção que temos do

homem e de sua dimensão ética, dimensão que não pode mais recusar, deixar

de lado a dimensão do desejo inconsciente. O que significa dizer que somos

responsáveis pelo que desejamos, mesmo que este desejo seja inconsciente?

Em última instância, isso significa dizer que o inconsciente faz parte de nós e

que, talvez, ele seja mesmo a nossa própria essência, nosso ser ou nosso não-

ser (LACAN, 1991, p. 385).


14

A partir de Freud, o homem se vê diante do fato de que não é soberano

dentro de sua própria casa, que não é dono de seus motivos mais profundos e

de que pode se enganar quanto ao sentido de suas ações. Diante dessa

realidade, qual a posição o possível do homem diante da questão ética que,

segundo Lacan (1991, p. 373), trata do juízo que o homem faz de suas ações?

Como vimos, obviamente, esse juízo não pode mais deixar de considerar a

questão do desejo, mesmo que ele seja inconsciente. Daí, a questão ética que

nos coloca Lacan: “Agiste conforme o desejo que te habita?” (LACAN, 1991, p.

376).

Assim, retomando a metáfora do “iceberg” em que a maior parte de

nosso ser se encontra submersa nas profundezas do inconsciente, qualquer

ética que não leve em conta a dimensão do desejo inconsciente, é uma ética

no mínimo superficial, para não dizer enganosa, o que em termos éticos já é

uma falha de princípio.

A Psicanálise, inventada por Freud, inaugurou uma nova ética que nos

faz, responsáveis, inclusive, pela criança que habita em nós e, que nos faz agir,

algumas vezes, de forma “irresponsável”. Pois o que dizer de algumas formas

de comportamento do homem moderno, baseadas em ideais

fundamentalmente narcísicos? A busca frenética pelo poder, pelos bens do

capital, pela eterna beleza, o gozo descartável que coloca em risco a

sobrevivência da própria espécie e do planeta, nos faz responsáveis até

mesmo pelo lixo, pelos restos que cada um produz e pelo destino que se dá a

eles (SCOTTI, 2013).


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3. Principais teóricos

3.1. Sigmund Freud (1856 – 1939)

Sigmund Freud nasceu em 1856 na pequena cidade de Freiberg, na

Morávia, então parte do Império Austro-Húngaro (atualmente é a República

Checa). Seu pai, Jacob, era um modesto comerciante e sua mãe, Amália, era a

terceira esposa de Jacob. Freud nasceu de uma família judaica e foi o

primogênito de sete irmãos.

Freud desenvolveu uma extensa obra, criando os conceitos pilares e um

modelo teórico inédito e original que conhecemos como Psicanálise.

A Psicanálise de Freud revolucionou as crenças científicas de nosso

século ao estabelecer um entendimento especial e singular das motivações do

sujeito humano. Freud, além da teoria, produziu textos sobre temas da cultura,

escreveu sobre seus casos clínicos e sobre técnica.

Em 1895, Freud afirmou: “sofremos de reminiscências que se curam

lembrando”. A Psicanálise de Freud é um conjunto teórico que apóia um

método de investigação clínico. Um método de cura pela palavra. Razões

históricas assinalaram que o método de investigação não pode ser pensado

como um campo isento, asséptico, pois a cura está atravessada pela questão

da transferência.

Freud tropeçou na ação da transferência enquanto tentava solucionar

questões clínicas dos sintomas histéricos. São conhecidas as atribulações de

Josef Breuer com o amor de transferência de sua paciente Anna O. (Bertha

Pappenheim). Assim como as de Freud com Dora.


16

Render-se ao fenômeno da transferência e processar as articulações

necessárias, no sentido de incluir o potencial do campo transferencial, ampliou

os recursos e alcances do método e da técnica, porém implicou numa

importante escolha: equivalente a renunciar a um suposto poder de curar,

apoiado no modelo médico, como o saber de tirar a dor do paciente, poder de

salvar, - questões de vida e morte. Importante decisão do médico Freud, que

organiza outro modelo, a cura pela palavra, diverso do modelo médico.

Nasceu então o modelo da Psicanálise, em que a cura pela palavra está

pensada por Freud na dimensão de tornar consciente o inconsciente. Porém o

inconsciente não é apenas o que carece de atributo de consciência, isto é, o

pré-consciente que é capaz de se fazer consciente. O inconsciente

propriamente dito, um sistema, é irredutível à consciência.

3.2. Sándor Ferenczi (1873-1933)

Psicanalista húngaro e seguidor de Freud, Incentivou Melanie Klein a

estudar o comportamento de crianças. Em sua contribuição à psicanálise, a

atuação do terapeuta deve ser mais ativa e menos distante do paciente para

permiti-lo trazer à tona suas emoções.

Os principais conceitos criados por Ferenczi são: "introjeção", "desmentido",

"progressão traumática", "clivagem", sendo suas principais contribuições à

teoria da clínica a empatia, a neocatarse, a contratransferência, o brincar, a

análise do analista e a análise mútua.


17

3.3. Carl Gustav Jung (1875 – 1961)

Carl Gustav Jung nasceu no dia 26 de julho de 1875. Ao longo de sua vida

Jung experimentou sonhos periódicos e visões com notáveis características

mitológicas e religiosas, os quais despertaram o interesse por mitos, sonhos e

a psicologia da religião. Ao lado destas experiências, certos fenômenos

parapsicológicos emergiam, sempre para lhe redobrar o espanto e o

questionamento. Carl Gustav Jung morreu no dia 6 de junho de 1961, aos 86

anos, em sua casa, nas margens do lago de Zurique, após uma longa vida

produtiva, que marcou a Antropologia, Sociologia e a Psicologia. Discípulo

favorito de Freud, rompeu com o mestre e fundou a psicologia analítica.

Em sua teoria, nem todas as neuroses têm base sexual. Além de um

inconsciente individual há também um inconsciente coletivo, compartilhado por

todas as pessoas e de onde decorrem sonhos e fantasias.

3.4. Karl Abraham (1877 - 1925)

Psicanalista alemão, foi discípulo de Freud e analista de Melanie Klein. A

importância de Karl Abraham é notória pela curta mas intensa interlocução com

Freud. Por sua teoria, tornou-se um autor obrigatório para o estudo da

melancolia, merecendo de Freud palavras enfáticas em sua homenagem, por

ocasião de sua morte precoce, aos 48 anos, no dia de Natal de 1925.

Contribuição à psicanálise: O desenvolvimento de doenças como a

esquizofrenia e a psicose maníaco-depressiva tem origem na fixação em

alguma das fases do desenvolvimento psicossexual da criança.

As contribuições de Abraham para o entendimento da melancolia são de

extrema relevância. Foi um tema sobre o qual se debruçou e no qual ajudou a


18

expandir a circunscrição feita por Freud, estabelecida em 1917, no artigo “Luto

e Melancolia”.

3.5. Sabina Spielrein (1885 - 1942)

Foi uma das primeiras mulheres psicanalistas do mundo. Sendo a

introdutora do conceito de pulsão de morte em psicanálise. Isto se deu no seu

texto de 1911, “A destruição como causa do devir”, apresentado em novembro,

deste ano, na Sociedade Psicanalítica de Viena, da qual ela foi a segunda

mulher a se filiar. A análise deste texto permite localizar a origem do conceito

de pulsão de morte em Sabina Spielrein. O escrito princeps visionário de

Sabina Spielrein foi seguido de escritos importantes, principalmente de As

origens das palavras infantis Papai e Mamãe (1922), lido no VI Congresso

Internacional de Psicanálise, o mesmo em que Freud leu “Mais além do

Princípio do prazer”, em 1920, e Algumas analogias entre o pensamento da

criança, o do afásico e o pensamento subconsciente (1923) que esboçam uma

teoria psicanalítica da origem e do desenvolvimento da linguagem nas crianças

e da formação do símbolo. Trabalhou com Jean Piaget no Instituto Rousseau,

entre 1920-1923. Foi sua analista e ambos pertenceram à Sociedade Suíça de

Psicanálise. Piaget leu seu trabalho O pensamento simbólico e o pensamento

da criança no VII Congresso Internacional de Psicanálise, em 1922. Podemos

afirmar o pioneirismo destas idéias e de um solo comum entre os dois na

discussão das questões sobre a formação do pensamento e da linguagem.

Sabina Spielrein, em suas pesquisas e seus escritos, participa das reflexões

sobre a aquisição da linguagem e do pensamento pela criança e acaba pondo

em contato as questões sobre a emergência da linguagem e do pensamento


19

simbólico em Freud e Piaget. Ela teve um papel central na introdução à

psicanálise a Jean Piaget e na apresentação da obra deste a Vigotsky.

3.6. Anna Freud (1885 – 1982)

Anna Freud, a filha caçula do casal Sigmund e Martha Freud. Ela desenvolveu

o modelo de estudo sistemático de sua vida emocional e mental. No ponto de

vista de como concebia o sujeito, Anna Freud não se afastou do modelo

freudiano que representava a subjetividade como uma unidade isolada.

Embora tivesse uma preocupação com o meio ambiente e a questão

pedagógica, não propôs mudanças estruturais, uma vez que continuou a

pensar a constituição do sujeito a partir de seus instintos. Segundo essa

concepção, biológica, a constituição da subjetividade se dá a partir de

características inatas. Na obra de Anna Freud, o mais importante do que

pensar a constituição da subjetividade, tida como inata, é tentar reconstruir

essa subjetividade na intenção de adaptá-la à realidade.

3.7. Melane Klein (1882-1960)

Melanie Klein nasceu na Áustria, a 30 de Março de 1882, em Viena, no

seio de uma família modesta. Influenciou a linhagem inglesa da psicanálise e

foi uma das pioneiras em estudar crianças, que até então não eram analisadas.

Suas teorias se chocaram com as de Anna, filha de Freud, para quem a

abordagem de crianças só tinha um viés pedagógico. Em sua teoria as

crianças manifestam desde cedo fantasias e emoções como a destrutividade,

voltada, por exemplo, ao seio materno. O complexo de Édipo aparece nos


20

primeiros meses de vida, sugerindo que os conflitos e desejos começam muito

antes do imaginado por Freud.

Classicamente, são consideradas como as principais contribuições de Klein à

psicanálise as seguintes formulações:

1. Conceitos sobre as etapas mais primitivas do desenvolvimento psicossexual,

à luz da segunda teoria dos instintos de Freud, sobre as fantasias

inconscientes e as primeiras defesas contra a angústia.

2. O conceito de posição.

3. Os conceitos sobre a formação do ego, do superego e sobre a situação

edipiana.

4. O conceito de mundo interno.

5. O novo status dado ao objeto e, sobretudo, às relações internas de objeto.

6. O conceito dos mecanismos de introjeção e projeção como atuantes desde o

início da vida psíquica em bebês.

A interação entre introjeção e projeção foi posteriormente desenvolvida

intensivamente nos estudos que culminaram na conceituação da identificação

projetiva.

3.8. Wilhelm reich (1897-1957)

Foi um psicanalista austríaco, discípulo de Sigmund Freud que criou, a

partir da Psicanálise uma nova abordagem terapêutica a qual, além das

intervenções verbais, de fundamentação psicanalítica, também inclui

intervenções corporais. Esta abordagem terapêutica foi inicialmente chamada

de Vegetoterapia Caractero-Analítica e posteriormente de Orgonoterapia.

Atualmente, é comum referirmo-nos a ela simplesmente como Psicoterapia


21

Reichiana. A partir de seus estudos sobre o manejo clínico da transferência e

da resistência, desenvolveu a Análise do Caráter, uma das mais importantes

contribuições à abordagem clínica da psicanálise.

Seu interesse em compreender as origens sociais das doenças mentais

e buscar métodos de prevenção das neuroses, levou-o a desenvolver um

trabalho sócio-político intenso junto a juventude operária alemã, trabalho este

que recebeu a denominação de Sexpol. Reich foi, sem dúvida, um importante

pioneiro no estudo dos fenômenos psicossomáticos. Suas descobertas não se

limitam a explicar o envolvimento psíquico nas doenças orgânicas, mas

também o envolvimento de disfunções corporais no caráter neurótico e nas

psicopatologias.

3.9. Wilfred Bion (1897-1979)

Contemporâneo de Melanie Klein e Donald Winnicott, o psicanalista

britânico, nascido na Índia, Wilfred Bion trouxe contribuições originais à prática

clínica. Ele “pensava” a sessão, por exemplo, como uma interação dialética

entre analista e analisando, cujo foco é o aprendizado. Investigador da

formação de vínculos de amor e ódio, ele desenvolveu também trabalhos sobre

dinâmicas de grupos. A obra também explica o método da “Grade”, sistema de

notação científica que permite categorizar enunciados expressos na sessão

psicanalítica. Dessa forma, uma obra densa como Transformações, que implica

a leitura de publicações anteriores do psiquiatra britânico, torna-se acessível e,

principalmente, instigante, ou seja, “acompanhar e desdobrar, passo a passo,

um pensamento intrincado como o de Bion, sem reduzir em nenhum momento

sua complexidade”.
22

3.10. Donald winnicott (1896-1971)

Pediatra britânico, seguiu uma terceira linha na tradição inglesa quando

surgiu a cisão entre Melanie Klein e Anna Freud. Em sua teria o ser humano

está destinado a amadurecer psicologicamente, mas precisa de um ambiente

confiável para isso. A análise não deve ficar restrita ao universo das fantasias

infantis, mas incluir a relação da criança com os pais e com o mundo.

3.11. Jacques-Marie-Émile Lacan (1901 - 1981)

Jacques-Marie-Émile Lacan, nasceu em Paris, em 13 de abril de 1901,

em uma família burguesa de origem provinciana cuja origem paterna é de

fabricantes de vinagres de Orléans (os Dessaux), e de sólida tradição católica.

Lacan foi um dos principais teóricos da psicanálise, talvez o mais importante

depois de Sigmund Freud. Psicanalista francês, Fundiu a teoria freudiana com

os estudos de linguística e antropologia. Seus métodos, tidos como

excêntricos, o levaram a ser expulso da Sociedade Psicanalítica de Paris por

imposição da IPA -Associação Psicanalítica Internacional.

Em sua teoria, o inconsciente é constituído das próprias regras que

estruturam a sociedade, cuja lógica é fornecida pela linguagem. A tripartição

lacaniana: real, simbólico e imaginário constitui a base da contribuição de

Lacan à psicanálise, pois ela oferece alcance e inteligibilidade aos grandes

segmentos da obra de Freud.

O corpo e a mente são duas categorias consagradas a partir da

modernidade com Descartes e entranha todo o senso-comum; mas também, e

principalmente, é o fundamento de toda a ciência contemporânea a exemplo da

medicina, psicologia e saberes vizinhos. A psicanálise, a partir de Lacan, ao


23

invés deste dualismo cartesiano, trabalha com a trilogia: Real, Simbólico e

Imaginário.

3.12. Jean Laplanche (1924 - 2012)

Jean Laplanche, nascido em 21 de junho de 1924, é um psicanalista

pertencente à terceira geração de analistas franceses. Sua formação inicial foi

na Escola Normal Superior, tendo passado um período na Universidade de

Harvard, obtendo agregação em Filosofia, em 1950. Nesse mesmo ano,

começou a fazer terapia psicanalítica com Jacques Lacan. Seguiu assim seu

analista e posterior mentor, tornando-se um dos principais discípulos iniciais de

Lacan. Tamanho sucesso se deve provavelmente à grande penetração de sua

obra mais conhecida, o Vocabulário da Psicanálise, escrita em parceria com

Jean-Bertrand Pontalis, no meio acadêmico da psicologia e da psicanálise no

Brasil. Em todas essas frentes, a obra de Jean Laplanche aponta para o papel

da alteridade na constituição da subjetividade e da teoria psicanalítica. Essa

problemática, por sua vez, implica discussão sobre a ética da psicanálise que

aponta para uma matriz intersubjetiva traumática na constituição do sujeito.

3.13. Jean-Bertrand Lefebvre Pontalis (1924 – 2013)

O escritor, filósofo e psicanalista J-B. Pontalis, nascido em 15 de janeiro

de 1924 e morreu no dia 15 de Janeiro de 2013 aos 89 anos. Ele participou da

fundação da Associação de Psicanálise da França (APF), e posteriormente foi

eleito como membro titular da entidade, um dos maiores intelectuais da França.


24

Entre os livros de Pontalis estão "Entre o sonho e a dor" e "Vocabulário da

Psicanálise", título de referência da área, que assina com Jean Laplanche.

Aluno de Jean-Paul Sartre, Pontalis também colaborou com a revista Les

Temps Modernes. Recebeu os prêmios Valery-Larbaud pelo livro Traversée

des ombes (2003) e Médicis por Frère du précédent (2006). Pontalis dirigiu a

publicação das Novas traduções das obras de Freud, na editora Gallimard.

Autor de uma obra variada e erudita, característica de uma escrita clara e

rigorosa, Pontalis ocupa um lugar de destaque na história da psicanálise

francesa dos últimos 50 anos.


25

4. Principais conceitos que permeiam a clínica

Freud, (1924 [1923]) coloca que a psicanálise cresceu em meio ao

interesse em se saber mais sobre as doenças nervosas, colocando fim a

impotência dos médicos no tratamento destas enfermidades. Inicialmente a

investigação se concentrava no fisiológico, onde o esforço era para localizar

nas regiões do cérebro a causa dessas doenças, não havendo nenhuma

compreensão do fator psíquico. Reconhecia-se a existência do sofrimento que

era de uma outra ordem ainda desconhecida, porém procurava-se a solução

para esse sofrimento no corpo, no anatômico. É nesse cenário constituído de

certa curiosidade, que em 1880 começa-se a praticar a hipnose, sendo

reconhecido que mudanças somáticas aconteciam como conseqüência de

influencias mentais, podendo-se então notar a existência de processos mentais

inconscientes. Através da fala do paciente, o médico tinha acesso a esses

processos mentais, o que possibilitou a descoberta de que eventos passados

tinham poder de sobredeterminaçao sobre a vida desses pacientes. O

inconsciente propriamente dito consiste de processos reprimidos, que exercem

pressão no consciente da mente do sujeito modelando a sua vida cotidiana

(SOUZA, 2010).

4.1. O Inconsciente

Segundo Souza (2010), em sua primeira tópica sobre o aparelho

psíquico Freud (1900) o divide em Consciente, Pré-consciente e Inconsciente.


26

A consciência, segundo ele, é breve e passageira e se destina a recepcionar as

percepções que são de antemão conscientes. Tanto as que provêm de fora

(percepções sensoriais), como as que provêm de dentro e que chamamos de

sensações e sentimentos. No Pré-consciente estão as memórias que se

encontra em estado latente, ou seja, podem se tornar conscientes. O Recalque

é o estado em que as idéias estão antes de se tornarem conscientes e é ele

que nos fornece o modelo para a compreensão do inconsciente. A censura

nesse caso é uma barreira criada pelo Eu para impedir que aquilo que foi

recalcado se torne consciente.

Na segunda tópica do aparelho psíquico Freud (1923) o divide em Id,

Ego, e Superego, introduzindo uma mudança no sentido de pensar o aspecto

tópico (lugares psíquicos) da psicanálise. Ele traz essa nova tópica

simultaneamente a uma nova teoria pulsional (pulsão de vida x pulsão de

morte), isto porque a idéia de inconsciente está se ampliando. A noção de que

havia um lugar para o inconsciente é substituído pelo entendimento de que os

processos inconscientes atravessam o Id, o Ego e o Superego. Um exemplo

disso é a culpa inconsciente presente no Superego. A noção de inconsciente,

então, passa a ser onipresente. Freud (1923) assinala que o inconsciente não

se confunde com o recalcado. O inconsciente está, além disso, sendo o

recalcado um exemplo de material inconsciente, ou de processo psíquico

inconsciente.

Em seu artigo O Eu e o Id, Freud (1923) coloca que “ocorre que através

da técnica psicanalítica, é possível sim, suspender a ação das forças

opositoras e trazer a tona essas idéias, torná-las conscientes”. Afirma assim

que existem formas de trazer à tona os conteúdos inconscientes.


27

O Inconsciente, segundo os escritos freudianos se expressa por meio

das seguintes formas:

Chistes - jogos de palavras aparentemente sem sentido, mas que

ultrapassa o seu próprio conteúdo ao utilizar-se do cômico.

Atos falhos: são manifestações de desejos inconscientes por meio de

lapsos durante a fala onde palavras são substituídas por outras que

aparentemente não faz sentido, mas na realidade expressam o que está

reprimido.

Sonhos – forma disfarçada de realização de desejos. Sobre ele incide

uma censura cujo efeito e a deformação onírica, cujo objetivo é proteger o

sujeito do caráter ameaçador dos seus desejos.

Associação livre – livre associação de palavras, sem pressionar a

busca por uma lembrança específica. É o método terapêutico por excelência da

psicanálise.

4.2. Pulsão (Trieb)

A idéia de pulsão é apresentada por Freud (1915) como um “conceito de

fronteira”, algo que está no limite entre o somático e o orgânico, sendo

equiparada a uma tensão que tem como alvo a descarga.

...um conceito-limite entre o psíquico e o somático, como o

representante psíquico dos estímulos que provêm do interior do corpo e

alcançam a psique, como uma medida da exigência de trabalho imposta ao

psíquico em conseqüência de sua relação com o corpo.(Freud, 1915 p.148).


28

Essa referência exige que esclareçamos que não se trata somente de

algo orgânico ou somente psíquico, mas de uma interligação da psique ao

corpo que leva a um trabalho de busca de objetos. Essa energia que manifesta

no âmbito psíquico é marcada por afetos, imagens e, sobretudo pela

linguagem.

A pulsão segundo Freud (1915), é composta pelos seguintes elementos:

• Pressão – um impulso em direção ao alvo (objeto).

• Meta – é sempre a busca por satisfação.

• Objeto – elemento variável e incontingente, por meio de que a pulsão

pode alcançar sua meta.

• Fonte – é orgânica, isto é, provêm sempre do corpo.

Há o pressuposto de que existe uma pressão constante que leva o

organismo vivo a buscar o prazer e repelir o desprazer, sendo este o princípio

que rege a definição de Pulsão Sexual, ou seja, o Princípio do Prazer. A pulsão

busca o prazer e quem oferece essa possibilidade de satisfação é o outro

enquanto objeto e esse outro é limitado, nunca vai dar conta de proporcionar

uma satisfação total. Podemos então afirmar que a satisfação é sempre parcial,

que ela perdura por um tempo e depois há um retorno da pressão.

Vamos encontrar na obra freudiana duas teorias sobre as pulsões,

sendo que cada uma dessas teorias utiliza um conceito de pulsão. É preciso

salientar que a segunda teoria não substitui a primeira, mas a engloba, com

algumas alterações.
29

4.2.1. A primeira teoria pulsional (Pulsão Sexual x Pulsão de auto-

conservação)

Freud (1920) afirma que os processos psíquicos são regulados de forma

automática pelo princípio do prazer, sendo que a noção de prazer e desprazer

é relacionada com a quantidade de excitação presente na vida psíquica, de

forma que o desprazer está relacionado ao aumento e prazer a diminuição

dessa quantidade. Retoma-se a suposição de que o aparelho psíquico trabalhe

para manter esse nível de excitação em quantidade baixa, ou pelo menos

constante, existindo outras forças que se opõem a essa tendência ao prazer.

Ao princípio do prazer está relacionado modo primário de funcionamento

psíquico, sendo que na medida em que ocorre o desenvolvimento as pulsões

de auto-conservação do Eu acabam por conseguir que o principio do prazer

seja substituído pelo princípio da realidade (pulsão de auto-conservação).

A primeira teoria pulsional compreende então uma pulsão sexual e outra

que Freud considera dessexualizada, que é a pulsão de auto-conservação,

uma tendência do sujeito em tentar sobreviver ligado ao Princípio da

Realidade, que entra em choque com a busca do prazer. A pulsão sexual nos

remete a possibilidade de representação que o sujeito faz da realidade.

4.2.2. A Segunda Teoria Pulsional (Pulsão de Vida x Pulsão de

Morte)

Para Freud (1920) a pulsão sexual passa a ter a conotação de Pulsão de

Vida a partir da concepção de que esta é tudo que unifica que possibilita
30

prazer, é todo movimento que o sujeito faz na direção da obtenção de um

prazer, mesmo parcial. Aquilo que sofre recalque, que está ligado à pulsão de

vida, retorna de uma forma repetitiva. A repetição nos diz que aquilo que foi

recalcado insiste em voltar à consciência e isso é o sintoma, desejo

inconsciente insiste na busca de satisfação. Essa tendência Freud vai chamar

de Compulsão á Repetição. O sintoma tem essa característica de uma

repetição, de uma compulsão á repetição.

O que de fato nos surpreende são os casos em que a pessoa parece

vivenciar passivamente uma experiência sobre a qual não tem nenhuma

influencia, só lhe restando experimentar a repetição da fatalidade. (Freud,

1920, p.147).

A compulsão à repetição é inscrita pela falta de sentido, ou seja, pelo

traumático. Isso nos remete á concepção de trauma como aquilo que foi vivido

e que não tem sentido, não foi possível significar. Esse traumático está inscrito

no início da vida, pois nesse início a criança não tem acesso á linguagem,

sendo assim, não é ela quem dá sentido ás coisas. A Pulsão de Morte é

introduzida nesse momento com a idéia de que existe algo na vida humana que

é sem sentido, que não é explicável, é enigmático, não representável e que

isso faz parte da existência humana. O não representável não se pode

recalcar, pois não tem uma idéia que o represente, logo o que é da ordem do

recalque é a pulsão de vida. O que impulsiona a existência humana é a pulsão

de morte, pois ela é primária, está inscrita no início da vida humana e Freud

(1920) vai se utilizar do mito biológico de que o fim da vida é a morte afirmando

que desde que o sujeito nasce ele está caminhando para esse não sentido,

para o não representável. Ele afirma que essa é a força mais poderosa. Por
31

outro lado ele afirma que a Pulsão de Vida que é sexual, barra a Pulsão de

Morte, ao dar sentido ás coisas.

Ao analisar os sonhos dos neuróticos de guerra Freud (1920) percebe

que eles apontam para uma compulsão à repetição numa tentativa de

estabelecer um limite, um controle, para aquilo que não teve sentido, para

aquilo que fugiu do controle do sujeito. As situações traumáticas estão acima

do psiquismo do sujeito, onde a morte está presente o tempo todo muito

próximo do sujeito. Ele percebe então, que esses sonhos eram o retorno do

não sentido e que os sonhos eram uma tentativa do sujeito dar conta dessa

intensidade pulsional vivida que não foi possível simbolizar. Se o sujeito não

consegue dar sentido, não tem como esquecer. Do ponto de vista da existência

humana a falta de sentido é a morte.

Freud nos leva à compreensão de que o principio do prazer é quem rege

a Pulsão de Vida. O sonho seria uma realização do desejo, daquilo que sofreu

recalque que tem um caráter sexual, porém ao analisar os sonhos dos

neuróticos de guerra conclui que existe algo que está além do princípio do

prazer, que está a serviço da morte, uma Pulsão de Morte.

A teoria formulada por Sigmund Freud no início do século XX é ampla e

complexa. Freud começa seus estudos ainda no fim do século XIX, mas

publica sua primeira obra considerada psicanalítica A interpretação dos

sonhos, em 1900. Assim, o desenvolvimento de tal teoria se relaciona ao

próprio contexto de início de século XX, em que ocorreram diversas

transformações em todo o mundo. Ao tentar entender o sofrimento psíquico de

pacientes diagnosticadas com histeria, Freud acaba por perceber e construir

diversos conceitos ligados à constituição do psiquismo humano. Conceitos


32

complexos que são desenvolvidos nos quarenta anos de história da

Psicanálise, desenvolvida por Freud, e ainda em mais de cem anos de

Psicanálise em que outros autores teorizam a partir dos constructos freudianos

(CARLONI, 2011).

Os principais conceitos que inauguram a Psicanálise de Freud são: a

noção de inconsciente; a teoria sexual e o princípio do prazer e de desprazer; a

teoria das pulsões e a noção de aparelho psíquico. Podemos organizá-los da

seguinte maneira:

No pensamento de Freud, desde a metapsicologia, são as vicissitudes

das pulsões, com seus diferentes destinos, que criam diversos percursos para

a sexualidade organizar capacidades psíquicas de satisfação ou de sintomas.

A aparelhagem psíquica humana não está desenvolvida desde o começo. As

capacidades posteriores resultam de articulações entre o endógeno e o

exógeno e da intersubjetividade na direção da subjetivação. As noções de

aparelho psíquico e de pulsão sexual estão diretamente relacionadas com o

conceito de inconsciente, e com o ego partilham uma origem fundadora da

concepção de uma dimensão psíquica, idéia que por sua vez inventa e funda a

Psicanálise de Freud. Essa dimensão propõe o modelo das formas de ação do

inconsciente: os sonhos, atos falhos, sintomas e a transferência, os quais são

as evidências enigmáticas de produtivas capacidades psíquicas de um sujeito

psíquico (sujeito do inconsciente recalcado). Campo do intrapsíquico, lugar do

conflito psíquico, uma evidência de subjetividade. (FEBRAPSI, 2013).


33

4.3. Recalque

O mecanismo do recalque é uma construção teórica de fundamental

importância tanto na compreensão da teoria freudiana quando em sua

aplicação na clínica. Freud bem antes de 1915 ao estudar as histéricas

utilizando hipnose já se deparava com fenômenos clínicos de resistência.

Representações que suas pacientes resistiam em torná-las conscientes,

representações recalcadas. Sua primeira referência a este conceito foi

publicada em seu texto Comunicação preliminar de Breuer e Freud.

O mecanismo do recalque fornece ao analista uma arcabouço teórico

que permite a compreensão de determinados fenômenos clínicos além de

acreditar que o recalque é um dos conceitos mais importantes da obra

freudiana conforme declara Freud em A história do movimento

psicanalítico que o recalque é o pilar fundamental sobre o qual descansa o

edifício da psicanálise.

O recalque é uma idéia antiga que já estava presente na teoria de Freud

desde o estudo do caso da Ana O.. Com o abandono da hipnose e com a

criação do método de associação livre Freud observa, no tratamento das

pacientes histéricas, o aparecimento determinados fenômenos clínicos,

esbarrando em resistências que impediam que as idéias patogênicas de seus

pacientes se tornassem conscientes, ou sejam, impediam a rememoração da

paciente. Estas idéias causavam algum sofrimento psíquico. A resistência foi

interpretada por Freud como uma defesa cuja a finalidade era manter fora da

consciência uma idéia que causava algum tipo de sofrimento psíquico levando-

o a criar o conceito de recalque.


34

Em 1915, no texto As pulsões e suas vicissitudes, Freud afirma que as

pulsões podem sofrer as seguintes vicissitudes: a reversão a seu oposto,

retorno em direção ao próprio eu (self) do indivíduo, recalque e sublimação. No

texto o Recalque (1915), Freud, ratifica que o recalque é uma vicissitude da

pulsão e aprofundando-se nesta questão. Freud inicia o texto do Recalque

(1915), afirmando que uma das vicissitudes da pulsão é encontrar resistências

que a tornem inoperantes. Uma das condições necessárias para que o

recalque ocorra é que o efeito da pulsão produza desprazer em vez de prazer.

A satisfação de uma pulsão recalcada pode, produzir prazer em um lugar e

desprazer em outro. Assim sendo a condição para que o recalque aconteça é

que a potencia do desprazer seja maior do que o prazer que seria obtido pela

satisfação.

Importante ressaltar que o recalque esta a serviço da satisfação

pulsional e não contra ela e que ele não é um mecanismo defensivo e só

poderá ocorrer a partir do momento em que tenha ocorrido uma clivagem do

aparelho psíquico separando-o em inconsciente e pré-consciente/consciente.

Em outras palavras para que haja recalque é necessário que haja uma

distinção entre inconsciente e consciente. A essência do recalque consiste em

retirar algo da consciência e mantê-lo afastado dela.

Freud didaticamente separa o recalque em recalque primário ou

originário, recalque secundário ou propriamente dito e retorno do recalcado.

Importante chamar a atenção que esta divisão não são fases, uma vez que o

processo é dinâmico. Abaixo vamos esclarecer cada um destes pontos.


35

4.3.1. Recalque Primário Ou Originário

Em seu texto o recalque, Freud não se aprofunda na explicação do que

seria o recalque primário. Ele diz apenas que consiste em negar a entrada no

consciente do representante psíquico da pulsão e com isto ocorre uma fixação

onde a partir deste momento o representante psíquico da pulsão fica ligado a

ele.

Garcia-Roza (2000), discorre melhor sobre este tema lançando luz

sobre o que Freud não explicou no texto sobre o recalque. O autor comenta

que o recalque primário ou originário é precursor e condição necessária para

que o recalque ocorra. Consistindo em negar ao representante pulsional o

acesso a consciência, estabelecendo uma fixação, uma ligação da pulsão com

seu representante. Ao utilizar o termo inscrição, Freud, procura designar que a

fixação da pulsão a seu representante seria um registro psíquico inteiramente

inacessível à consciência, logo o recalque primário ou original é anterior a

constituição do inconsciente como um sistema psíquico conforme define Freud.

Para Garcia-Roza (2000), o recalque primário ou original “estabelece uma

demarcação interna ao psíquico que vai servir de referência para o recalque

propriamente dito” (pág. 178).

Lacan emprega o termo Pragung (cunhagem) para designar a inscrição

de uma cena em um inconsciente não recalcado. Esta inscrição se dá em um

registro imaginário, uma vez que, não esta integrada a um sistema de

linguagem pois é anterior a aquisição da fala, ou seja, não esta simbolizada.

Garcia-Roza (2000), comenta que para uma melhor compreensão do

que seria o recalque primário seria a análise do caso clínico estudado por
36

Freud do Homem dos Lobos (História de uma neurose infantil), onde um

menino sofre de uma histeria de angústia na forma de uma fobia animal. Onde

uma criança de aproximadamente 02 anos presenciou uma relação sexual dos

pais. Esta cena primária neste momento não teria sido traumática. Neste

momento o que ocorreu foi uma inscrição inconsciente – a Pragung de Lacan.

O efeito traumático ocorreu só depois que a criança teve a possibilidade de

significar esta cena primária (a relação sexual dos pais).

Garcia-Roza (2000), afirma que segundo Freud a compreensão da cena

primária é possível graças ao desenvolvimento psicossexual da criança, só que

há a necessidade da compreensão desta cena primária e esta compreensão só

acontecerá através do ingresso no simbólico, ou seja, com a aquisição da fala.

4.3.2. Recalque Secundário Ou Propriamente Dito

Segundo Freud (1915), o recalque propriamente dito afeta aos

derivados mentais do representante recalcado ou a pensamentos que tenham

ligação associativa a estes representantes.

Além disto, Freud alerta que é errado enfatizar apenas o que sofre o processo

do recalque. Igualmente importante é a atração exercida pelo que foi recalcado

sobre o que possa ser estabelecido algum tipo de ligação ou associação.

O recalque não anula o representante da pulsão. Não é correto supor

que o recalque retira da consciência todos os derivados do que foi recalcado.

Ele continua a existir, a se organizar, a dar origem a derivados e a estabelecer

ligações, nas palavras de Freud “ele se prolifera no escuro”.


37

Através de distorções ou formação de sintomas eles terão acesso ao

consciente. A única interferência do recalque com o representante pulsional é

com o sistema consciente.

A técnica psicanalítica exige que o paciente ao associar livremente

produza os derivados do recalcado de forma que possam ultrapassar a censura

do sistema Pcs/Cs consciente e a partir daí possamos fazer a reconstituição do

representante recalcado. O recalque atua de uma forma individual, cada um de

seus derivados pode ter sua própria vicissitude.

O recalque é individual em seu funcionamento e extremamente móbil, ou seja,

o processo do recalque não é algo que acontece uma única vez. O recalcado

exerce uma pressão contínua em direção ao consciente e o consciente exerce

uma contrapressão, logo a manutenção do recalque existe no aparelho

psíquico num ininterrupto dispêndio de energia.

O representante pulsional original pode ser dividido em 02 partes: uma

que sofrerá o recalque e a outra é idealizada. Ao representante pulsional

entendemos como uma idéia ou grupo de idéias catexizadas com uma quota

de afeto que passa por vicissitudes de recalque que podem ser diferentes das

vicissitudes da idéia.

Ao estudarmos um caso de recalque há a necessidade de

acompanharmos separadamente o que acontece com a idéia e com a energia

pulsional ligada a ela (afeto). A idéia que representa a pulsão geralmente no

processo de recalque desaparece do consciente, caso tenha sido consciente

ou será afastado da consciência, caso esteja prestes a se tornar consciente.


38

O fator quantitativo deste representante pulsional possui 03 vicissitudes: ou é

inteiramente suprimido, ou aparece com um afeto ou é transformado em

ansiedade.

Para Freud (1915), as vicissitudes da quota de afeto pertencentes ao

representante da pulsão são mais importantes que as vicissitudes da idéia. O

propósito do recalque nada mais é do que a fuga do desprazer. Se o recalque

não conseguir evitar o desprazer e ansiedade podemos dizer que falhou apesar

de ter conseguido o seu propósito com a parcela ideacional do representante

da pulsão.

Assim sendo, do ponto de vista econômico, o destino do afeto é mais

importante do que o destino da representação (idéia), uma vez que o afeto é o

modo quantitativo da pulsão. Através do recalque temos êxito em manter o

conteúdo ideativo da pulsão longe do consciente, mas nem sempre o recalque

consegue impedir o desprazer resultante da carga de afeto a ele ligado.

4.3.3. Retorno Do Recalcado

Freud (1915), ao explicar o retorno do recalcado afirma que os efeitos

do recalque esta limitado a observação do recalque sobre a parcela ideacional

do representante da pulsão descobrindo que o mecanismo do recalque cria

uma formação de substitutos e sintomas, mas não os produz. As formações

substitutivas e sintomas são indicações de um retorno do recalcado.

Freud (1915), afirma que o mecanismo do recalque não coincide com o

mecanismo ou mecanismos de formação de substitutos, que existem diferentes


39

mecanismos de formação de substitutos e que os mecanismos de recalque tem

pelo menos uma coisa em comum: uma retirada da catexia de energia.

Para Garcia-Roza (2000), Freud entende o retorno do recalcado como

um momento independente no processo do recalque. O retorno do recalcado

não é simplesmente o aparecimento na consciência dos representantes

pulsionais que foram recalcado. É o reaparecimento por caminhos diferentes

de forma distorcia e deformada destes representantes pulsionais que

escaparam dos mecanismos defensivos do sistema Pcs/Cs.

O que retorna é de tal forma distorcido que satisfaz aos tanto ao

inconsciente quanto ao consciente não produzindo desprazer. São produzidos

derivados submetidos a distorções suficientemente a ponto de ultrapassar as

defesas impostas pelo Eu as representações recalcadas.

4.3.4. Considerações

O conceito de recalque existe na obra de Freud desde a época muito

anterior a 1915. Com a definição do conceito de recalque Freud fornece a

psicanálise um valoroso entendimento acerca dos processos psíquicos que

ocorrem no desenvolvimento psicossexual das crianças. A fidelidade de Freud

a sua clínica, fez com ele constantemente revisasse sua obra (teoria) de forma

a adequá-la a sua clínica. Entender o processo de formação do inconsciente,

dos conteúdos que são recalcados (a idéia) e o que não é recalcado (o afeto) e

a forma como estes conteúdos recalcados retornam ao consciente, permite ao

analista junto com seu paciente delinear caminhos que possibilitam ao paciente
40

entender seus sintomas e quem sabe conseguir elaborá-los. Desta forma este

conceito é fundamental no tratamento das neuroses.

4.4. Repetição

Segundo Roudinesco (1998), a idéia de repetição, aproximada desde

cedo da de compulsão, é uma das dimensões constitutivas da noção de

inconsciente na doutrina freudiana. Desde 1893, em sua “Comunicação

preliminar”, Freud e Josef Breuer frisaram a importância da repetição em sua

abordagem da histeria, ao falarem da rememoração de um sofrimento moral

ligado a um antigo trauma, e concluíram com o célebre aforismo: “É sobretudo

de reminiscências que sofre a histérica.”

O termo compulsão foi empregado por Freud numa carta a Wilhelm

Fliess datada de 7 de fevereiro de 1894. Nesta, ele falou de sua dificuldade de

ligar a neurose obsessiva à sexualidade e evocou, para ilustrar sua colocação,

um caso clínico a propósito do qual falou em “micção compulsiva”. Em seu

“Projeto para uma psicologia científica”, Freud desenvolveu a idéia de

facilitação, na qual podemos discernir a prefiguração da compulsão à repetição:

algumas quantidades de energia conseguem transpor as barreiras de contato,

com isso ocasionando uma dor, mas também abrindo uma passagem que

tenderá a se tornar permanente e, como tal, fonte de prazer, apesar da dor

sistematicamente reavivada. Quando, em sua carta a Wilhelm Fliess de 6 de

dezembro de 1896, Freud definiu pela primeira vez sua concepção do aparelho

psíquico e descreveu as superestruturas das “neuropsicoses sexuais”, ele

constatou a necessidade de ir mais longe e “explicar por que incidentes


41

sexuais, geradores de prazer no momento de sua produção, provocam

desprazer em certos sujeitos quando de seu posterior reaparecimento sob a

forma de lembranças, ao passo que, em outros, dão origem a compulsões”

(Roudinesco, 1998).

A idéia de uma repetição inexorável, passível de ser assimilada à do


destino (mais tarde, Freud identificaria neuroses de destino, próximas das
neuroses de fracasso definidas por René Laforgue), foi contemporânea da
descoberta do Édipo, que ele participou a Fliess na carta de 15 de outubro de
1897:
“Encontrei em mim, como em toda parte, sentimentos
amorosos em relação à minha mãe e de ciúme a respeito de meu
pai, sentimentos estes que, penso eu, são comuns a todas as
crianças pequenas (...). Se realmente é assim, é compreensível, a
despeito de todas as objeções racionais que se opõem à hipótese de
uma fatalidade inexorável, o efeito cativante de Édipo rei (...). A
lenda grega apoderou-se de uma compulsão que todos reconhecem,
porque todos a sentiram.” Freud começou a fazer da compulsão à
repetição um objeto autônomo de sua reflexão em 1914, num artigo
intitulado “Recordar, repetir, elaborar”.

De uma análise para outra, identificou a permanência dessa compulsão

à repetição: ela estaria ligada à transferência, mesmo não constituindo a

totalidade da transferência. Ela é uma maneira de o paciente se lembrar,

maneira ainda mais insistente na medida em que ele resiste a uma

rememoração cuja conotação sexual lhe desperta vergonha. “É no manejo da

transferência”, escreveu Freud, “que encontramos o principal meio de barrar a

compulsão à repetição e transformá-la numa razão para lembrar. Tornamos

essa compulsão anódina, ou mesmo útil, limitando seus direitos, não

permitindo que ela subsista senão num domínio circunscrito. Facultamos seu

acesso à transferência, essa espécie de arena onde lhe será permitido

manifestar-se com liberdade quase completa, e onde lhe pediremos que nos

revele tudo o que se dissimula de patogênico no psiquismo do sujeito”

(Roudinesco, 1998).
42

Em Mais-além do princípio de prazer, observando fatos do cotidiano,

como seu neto a brincar incansavelmente de atirar um carretel por cima da

grade do berço e em seguida apanhá-lo de volta, puxando-o pelo barbante e

pontuando seus gestos com duas exclamações, Fort (saiu) e Da (voltou), e

também observando as neuroses de guerra, nas quais os sujeitos não cessam

de reviver episódios dolorosos, Freud aprofundou sua reflexão. Se essas

formas de compulsão à repetição eram realmente o aspecto assumido pelo

retorno do recalque, era impossível sustentar que obedecessem unicamente à

busca do prazer: com efeito, restava uma espécie de resíduo que escapava a

essa determinação, um “mais-além do princípio de prazer”. Assim, Freud foi

conduzido a desenvolver o que ele mesmo reconheceu ser uma especulação,

porém uma especulação a que jamais renunciaria. Essa compulsão, essa força

pulsional que produz a repetição da dor, traduz a impossibilidade de escapar

de um movimento de regressão, quer seu conteúdo seja desprazeroso ou não.

Esse movimento regressivo levou, por recorrência, a postular a existência de

uma tendência para um retorno à origem, ao estado de repouso absoluto, ao

estado de não vida, àquele estado anterior à vida que pressupõe a passagem

pela morte (Roudinesco, 1998).

4.4.1. Repetição em Lacan

Conforme a postura que adotaram diante do conceito de pulsão de

morte, os analistas freudianos atribuíram maior ou menor importância à idéia

de compulsão à repetição, que constitui as premissas daquele.


43

Por esse ponto de vista, Jacques Lacan ocupou uma posição exemplar, ao

fazer da repetição um dos “quatro conceitos fundamentais da psicanálise”,

título dado a seu seminário do ano de 1964. Sensível ao vínculo postulado por

Freud entre a repetição e o inconsciente, Lacan observou que a repetição

inconsciente nunca é uma repetição no sentido habitual de reprodução do

idêntico: a repetição é o movimento, ou melhor, a pulsação que subjaz à busca

de um objeto, de uma coisa (das Ding) sempre situada além desta ou daquela

coisa particular e, por isso mesmo, impossível de atingir. Por exemplo, é

impossível reviver uma impressão vivida por ocasião de uma primeira

experiência. “Uma representação teatral”, explica Freud em Mais além do

princípio de prazer, jamais consegue produzir, na segunda vez, a impressão

que deixou na primeira; com efeito, é difícil fazer um adulto que gostou muito

de um livro decidir-se a relê-lo prontamente, na íntegra. A novidade é sempre a

condição do gozo*.” Sabemos que, para Lacan, o gozo encontra sua origem na

busca, tão repetitiva quanto inútil, do momento da satisfação de uma

necessidade, que só se constitui como demanda no só-depois da resposta que

lhe foi dada.

Para Roudinesco (1998), Lacan distingue duas ordens de repetição, as

quais analisa numa perspectiva aristotélica: por um lado, a tiquê, encontro

dominado pelo acaso — de certo modo, ela é o contrário do kairos, o encontro

que ocorre no “momento oportuno” — e que podemos assimilar ao trauma, ao

choque imprevisível e incontrolável. Esse encontro só pode ser simbolizado,

esvaziado ou domesticado através da fala, e sua repetição traduz a busca

dessa simbolização. Isso porque, se esta permite escapar à lembrança do

trauma, ela só pode consumar-se ao revivê-lo ininterruptamente, como um


44

pesadelo, na fantasia* ou no sonho*. Por outro lado, existe o automaton,

repetição simbólica não do mesmo, mas da origem, próxima da compulsão à

repetição freudiana, que se articula com a pulsão de morte. Esse segundo tipo

de repetição é inscrito por Lacan, no âmbito de sua teoria do significante*,

como depositário da origem da repetição pela qual todo sujeito é não apenas

constituído, mas guiado para os diversos “lugares” que ocupará o longo de sua

vida. Desse processo repetitivo, egundo o qual o significante atribui ao sujeito

eus lugares, Lacan deu uma das mais belas lustrações que existem, em seu

célebre “Seminário obre ‘A carta roubada’”, a leitura psicanalítica o conto de

Edgar Allan Poe (1809-1849) que inaugura o volume dos Escritos.

4.5. Fases psicossexuais do desenvolvimento

Em Zimerman (1999), vemos que para Freud, o desenvolvimento da

sexualidade processa-se numa sequência de estádios psicossexuais que

decorrem desde o nascimento até a adolescência: estádio oral, anal, fálico, de

latência e genital. A cada estádio psicossexual corresponderia uma

determinada zona erógena. E aos diferentes estádios do desenvolvimento

corresponderiam conflitos psicossexuais específicos. O desenvolvimento da

personalidade estaria relacionado com a qualidade das experiências

emocionais vividas nos diferentes estádios. É importante salientar que para o

fundador da psicanálise as grandes modificações afectivas acontecem nos três

primeiros estádios. A personalidade estaria praticamente formada por volta dos

7 anos.
45

4.5.1. Fase Oral: Desde o nascimento, necessidade e gratificação estão

ambas concentradas predominantemente em volta dos lábios,

língua e, um pouco, mais tarde, dos dentes. A pulsão básica do

bebê não é social ou interpessoal, é apenas receber alimento para

atenuar as tensões de fome e sede. No início, ela associa prazer e

redução da tensão ao processo de alimentação. Características

adultas que estão associadas à fixação parcial na fase oral:

fumantes, pessoas que costumam comer demais, gostar de fazer

fofoca, sarcasmo.

4.5.2. Fase Anal: À medida que a criança cresce, novas áreas de

tensão e gratificação são trazidas à consciência. Entre dois e quatro

anos, as crianças geralmente aprendem a controlar os esfíncteres

anais e a bexiga. A obtenção do controle fisiológico é ligada à

percepção de que esse controle é uma nova fonte de prazer.

Características adultas que estão associadas à fixação parcial

nesta fase: ordem, parcimônia e obstinação.

4.5.3. Fase Fálica: É a fase que focaliza as áreas genitais do corpo. É o

período em que uma criança se dá conta de seu pênis ou da falta

de um. É a primeira fase em que as crianças tornam-se conscientes

das diferenças sexuais. Nesta fase é vivida a primeira etapa do

Complexo de Édipo (a segunda será vivenciada na adolescência).

Na infância, todo complexo é reprimido. Mantê-lo inconsciente,

impedi-lo de aparecer, evitar até mesmo que se pense a respeito ou

que se reflita sobre ele, essas são algumas das primeiras tarefas do

superego em desenvolvimento.
46

4.5.4. Período de Latência: Na idade de 5 a 6 anos até o começo da

puberdade, é compreendido como um tempo em que os desejos

sexuais não-resolvidos da fase fálica não são atendidos pelo ego e

cuja repressão é feita, com sucesso, pelo superego. Durante este

período, a sexualidade normalmente não avança mais, pelo

contrário, os anseios sexuais diminuem de vigor e são

abandonadas e esquecidas muitas coisas que a criança fazia e

conhecia. Nesse período da vida, depois que a primeira

eflorescência da sexualidade feneceu, surgem atitudes do ego

como vergonha, repulsa e moralidade, que estão destinadas a fazer

frente à tempestade ulterior da puberdade e a alicerçar o caminho

dos desejos sexuais que se vão despertando.

4.5.5. Fase Genital: A fase final do desenvolvimento biológico e

psicológico ocorre com o início da puberdade e o conseqüente

retorno da energia libidinal aos órgãos sexuais. Neste momento,

meninos e meninas estão ambos conscientes de suas identidades

sexuais distintas e começam a buscar formas de satisfazer suas

necessidades eróticas e interpessoais.


47

5. Objetivos da Psicoterapia

5.1. Psicanálise e Psicoterapias

Segundo Diniz (2008), a terapia psicanalítica, no inicio, era dirigida para

as “neuroses de caráter”, hoje classificadas como “transtornos da

personalidade”. Freud enfatizava que era necessário ter um bom caráter para

ser sensível à psicanálise, o que traduzindo, pretendia-se dizer que trabalhar

com personalidades anti-sociais ou psicóticas seria infrutífero. Esta visão de

que a psicanálise propriamente dita, era a única psicoterapia verdadeiramente

curativa e científica disponível, permeou toda a vida de Freud.

A imagem da pessoa que, deitada num divã, relata seus problemas mais

íntimos e pessoais a um psicanalista ou psicólogo, representa uma situação na

qual o paciente tenta descobrir por ele mesmo a origem de suas fobias, medos,

angústias ou fragilidades e inseguranças em sua história de vida e, em

contrapartida, o analista desempenha o papel de instância estimuladora e alvo

de transferência. Com o surgimento de diferentes escolas, incluindo-se aí

também a própria psicanálise clássica, novas concepções e olhares foram

ampliando o conceito de psicoterapia. Pode-se dizer ainda, que as várias

psicoterapias tenham suas origens nas descobertas de Freud há pouco mais

de um século. Com efeito, há algum tempo atrás, o foco mais completo de uma

psicoterapia era na interpretação do conflito inconsciente. Atualmente, com os

múltiplos modos de ação terapêutica, grande parte dos terapeutas de

orientação analítica reconhece que a ação terapêutica varia de paciente para

paciente. Estimular o insight e criar condições favoráveis ao bom vínculo


48

terapêutico é provavelmente o principal modo pelo qual se provoca a mudança

na terapia psicanalítica. Desse modo, todas as terapias incluídas na tradição

psicanalítica enfatizam a importância da relação terapeuta-paciente e, nesse

contexto, tentam levar o paciente a compreender seus próprios sentimentos

(DINIZ, 2008).

Para Forbes (2010), o termo "Psicanálise" adquiriu certo valor de

mercado e acaba sendo o cobertor genérico de corpos disciplinares muito

diferentes, o mais das vezes, opostos. Em síntese, praticamente todas as

psicoterapias seguem o modelo da ética médica: um se queixa, o outro trata;

um não sabe, o outro sabe; um é paciente, o outro é atuante. Arrisquemos uma

definição: no fundamento do que se chama Psicanálise está sempre - sim -

sempre responsabilizar o sofredor em seu sofrimento. Não culpar, atenção,

responsabilizar e de uma responsabilidade muito diferente da responsabilidade

jurídica, que se baseia na consciência dos fatos. Seria até engraçado que a

prática do inconsciente exigisse a responsabilidade consciente. A

responsabilidade em Psicanálise, contrariamente à jurídica, é a

responsabilidade frente ao acaso e à surpresa. Não dá para ninguém se safar

de uma situação dizendo: - "Ah, só se foi o meu inconsciente", como se ele

fosse 'um moleque irresponsável que não tem nada a ver comigo'. A

Psicanálise se define por sua ética, como queria Lacan, e a ética da

Psicanálise é o avesso da ética médica, por conseguinte, das psicoterapias.

Isso não quer dizer que uma coisa seja melhor que a outra, mas que é

fundamental reconhecer as diferenças para que haja uma colaboração efetiva

entre os campos clínicos e não mútuo borrão, como soe acontecer.


49

5.2. Psicoterapia de Orientação Psicanalítica

A Psicoterapia de Orientação Psicanalítica é uma abordagem que tem

como pressupostos teóricos a Psicanálise, mas que se diferencia desta

basicamente pela técnica utilizada. Enquanto na Psicanálise o objetivo principal

é a mudança da estrutura da personalidade, na psicoterapia o objetivo é mais

modesto: visa o alívio do sintoma. Historicamente foi criada para tornar a

Psicanálise, método este desenvolvido por Sigmund Freud, acessível a mais

pessoas e em menor tempo. Considera-se o paciente/cliente como uma pessoa

única, singular e em estado de sofrimento, devido a uma disfunção mental /

emocional interna, e que está parcial ou totalmente fora de seu controle. Nesse

aspecto, o que em tese diferencia a psicanálise das psicoterapias de

orientação analítica explica que a psicanálise seria para a técnica que analisa a

transferência e a resistência (DINIZ, 2008).

Já a psicoterapia psicodinâmica (psicanalítica) seria qualquer

procedimento que reconhece a transferência e a resistência e as utiliza na

terapia. São essas muitas formas de psicoterapia, nas quais parte ou até toda a

transferência possam não ser analisadas que, naturalmente, representam as

várias distinções entre os métodos expressivos e de apoio que as psicoterapias

psicanalíticas (que não a psicanálise). Atualmente, o terapeuta dinâmico

espera suscitar uma maneira de pensar na mente do paciente, e isto pode

ocorrer de maneira mais diretiva. Diante disso, a proposta de neutralidade

defendida por Freud perde um pouco da rigidez do caráter previamente

estabelecido no modelo da psicanálise clássica (EIZIRIK , 2005).


50

5.3. Psicanálise

Paula (2012), diz que uma análise serve para o sujeito dar-se conta de

que ele é mais vasto, mais complexo e mais ambíguo do que o lugar onde ele

se reconhece (o Eu). Serve ainda para que ele se dê conta de que não

controla nem escolhe tudo que se produz e se expressa nele. Repare: não se

trata de aceitar que não controlamos o que os outros fazem, as contingências

externas, mas algo muito mais intrigante – não temos domínio sequer sobre

nosso próprio ser, isto porque é esta a suposição predominante desde o

surgimento da Modernidade – com Descartes –, a de que somos senhores

soberanos de nosso ser. Não, não somos. Nestes termos, segundo Paula

(2012), a análise é um tratamento de retificação e responsabilização do

sujeito. Por quê? Retificação porque o sujeito passa a se deparar com aquilo

que escapa à sua razão e consciência (e continuará escapando, pois não se

trata de saber tudo sobre si), mas que também o determina. Retificação

porque ele descobre que carrega em si não só sua vontade intencional, como

também aquilo que transborda seu controle. Porque ele se reposiciona diante

de seu discurso, dos outros, de suas queixas. Responsabilização porque ele

descobre sua condição desabonada, caem seus álibis imaginários. Não se

pode mais culpar o “Mas eu não sabia – estava no meu inconsciente” ou então

“a culpa é de meus pais, que não me deram aquilo que eu precisava” (amor ou

limites, por exemplo). Uma coisa não justifica nem reduz a outra.
51

6. Tempo de sessão / duração do tratamento / preço

Não é possível prever a duração do tratamento, já que cada caso deve

ser considerado em sua singularidade.

Uma análise é um trabalho a longo prazo, sem tempo definido para

acabar, em geral dura alguns anos, o que não significa que a pessoa não irá

sentir algumas melhoras já no começo do tratamento.

O tratamento tem uma freqüência semanal, podendo variar entre uma ou mais

vezes por semana conforme a necessidade avaliada pelo profissional e pela

pessoa. A ausência dos sintomas que motivaram o sujeito a procurar

tratamento não implica, necessariamente, em alta. Acontece, por exemplo, de

alguém vir porque está com insônia e após alguns meses de análise não

apresentar mais este sintoma, conseguindo dormir bem. No entanto, a pessoa

percebe que a insônia era apenas um sinal de que outras questões de sua vida

não estavam bem e que precisam ser analisadas.

Segundo Zimerman (2005), a Psicoterapia tem uma finalidade mais

restrita do que o tratamento psicanalítico (a análise). Sua finalidade é, por

exemplo, resolver crises vitais e acidentais; remover sintomas agudos de

quadros de transtornos mentais, como angústia, fobia, paranóia, etc., propiciar

melhor adaptação na família, sociedade e trabalho; dar apoio com vistas a um

melhor enfrentamento de situações difíceis. Habitualmente, as psicoterapias

(tanto individual quanto grupal) são realizadas em uma média de duas sessões

semanais, mas nada impede que possa ser uma sessão semanal, quinzenal ou

até mesmo mensal. O tempo de duração de uma psicoterapia pode ser breve

(por exemplo, “focal”, que visa à resolução de um foco específico de


52

sofrimento) ou longa, que perdura enquanto estiverem, de fato, se processando

melhoras na qualidade de vida da pessoa. Já um tratamento psicanalítico

(análise), visa a um maior aprofundamento, isto é, vai além dos inequívocos

benefícios terapêuticos acima mencionados, sendo que o maior objetivo de

uma análise é conseguir mudanças da estrutura interior do psiquismo. Objetiva,

portanto, realizar verdadeiras e permanentes mudanças caracterológicas, de

sorte a melhorar a qualidade de vida para uma pessoa que, por exemplo, seja

exageradamente obsessiva ou histérica, fóbica, depressiva, paranóide,

psicossomatizadora, etc. Isso, na hipótese de que essa caracterologia, embora

sem sintomas manifestos, de alguma forma possa estar prejudicando a si

próprio e / ou aos demais, com sensíveis prejuízos e inibições nas capacidades

afetivas, intelectuais, comunicativas, criativas e de lazer. Um tratamento

psicanalítico habitualmente é processado com quatro (ou três) sessões

semanais, comumente (mas não obrigatoriamente) com o paciente deitado no

divã, e tem uma duração de vários anos.

Duração:

Segundo Zimerman (1999), o tempo de sessão de uma análise varia

entre 15 a 50 minutos. O que influenciará o fim da sessão é o conteúdo

exposto na mesma, ou seja, a manifestação dos conteúdos reprimidos, que ao

serem expostos necessitam da intervenção.

A psicoterapia tem uma duração mais fixa, geralmente cada sessão de

psicoterapia varia entre 30 e 60 minutos.


53

Preço:

Segundo a tabela do Conselho Federal de psicologia, o preço de uma

sessão de psicoterapia varia de R$ 81,00 a R$ 140,00, sendo que geralmente

é necessário a realização de sessões semanais.

Já na abordagem psicanalítica, a "analise" varia de R$100,00 a R$

500,00.
54

7. Setting

Segundo Zimerman (1999), o setting, comumente traduzido em nosso

idioma como enquadre, pode ser conceituado como a soma de todos os

procedimentos que organizam, normatizam e possibilitam o processo

psicanalítico, resultando em um conjunto de regras, atitudes e combinações,

tanto as contidas no "contrato analítico" como também aquelas que vão se

definindo durante a evolução da análise, como os dias e horários das sessões,

os honorários, modalidade de pagamento, plano de férias, etc.

Quinodoz (2007) cita as condições para o desenvolvimento desse

processo. Segundo ele Freud propõe aos seus pacientes: "Dedico a cada um

de meus doentes uma hora de minha jornada de trabalho; essa hora lhe

pertence e é debitada em sua conta mesmo que não faça uso dela". Freud

pede ao paciente que deite no divã, e se senta atrás dele. Dedica uma sessão

diária a cada paciente, ou seja, seis sessões por semana e, embora admita

fazer exceções, isso não costuma ocorrer: "Para os casos leves ou para

aqueles cujo tratamento já está bem avançado, três horas por semana são

suficientes. De resto, não é interesse nem do médico nem do doente que o

número de horas seja reduzido, e essa redução deve inclusive ser proscrita no

início do tratamento". Quanto à duração da cura, Freud estima que é quase

impossível determiná-la por antecipação. Naturalmente. O paciente tem total

liberdade de interromper sua cura a qualquer momento, afirma, mas ele corre o

risco de um agravamento. Freud menciona várias vezes as pressões que vêm

de todos os lados visando a abreviar a duração da psicanálise sob os pretextos


55

mais variados: "Como conseqüência da incompreensão dos doentes, à qual se

alia a insinceridade do médico, requer-se da análise que ela satisfaça às

exigências mais desmesuradas no prazo mais curto".

A elaboração conceitual do setting se deu como uma decorrência da

paulatina consolidação da psicanálise como uma disciplina e uma prática da

qual se ocupavam profissionais sérios e genuinamente interessados na

investigação da vida mental. Aquilo que Freud e outros praticavam com seus

pacientes pôde ser formulado em conceitos nos quais os profissionais podiam

reconhecer um denominador comum, ou mesmo regras básicas para

pavimentar o caminho em uma direção coerente com a proposta investigativa

psicanalítica. Portanto, preservar o setting é inerente ao trabalho

psicoterapêutico; ele é uma resposta e uma conseqüência natural ao que Freud

havia compreendido sobre a relação peculiar do analista com seu analisando,

caracterizada pelos fenômenos transferências. Em sendo assim, o setting inclui

um método, uma técnica e uma ética. Tentarei contemplar esses três aspectos

neste texto, tendo como base os pressupostos teóricos da psicanálise

(MIGLIAVACCA, 2008).

Assim, o setting, por si mesmo, funciona como um importante fator

terapêutico psicanalítico, pela criação de um espaço que possibilita ao

analisando trazer os seus aspectos infantis no vínculo transferêncial e, ao

mesmo tempo, poder usar a sua parte adulta para ajudar o crescimento

daquelas partes infantis. Igualmente o enquadre também age pelo modelo de

um provável novo funcionamento parental, que consiste na criação, por parte

do psicanalista, de uma atmosfera de trabalho ao mesmo tempo de muita

firmeza (é diferente de rigidez) no indispensável cumprimento e preservação


56

das combinações feitas, juntamente com uma atitude de acolhimento, respeito

e empatia. O destaque que esta sendo dado a participação do analista no

setting e na situação psicanalítica, visa enfatizar que já vai longe o tempo em

que ele se conduzia como um privilegiado observador neutro, atento

unicamente para entender, descodificar e interpretar o "material" trazido pelo

analisando; pelo contrario, hoje e consensual que a sua estrutura psíquica,

ideologia psicanalítica, empatia, conteúdo e forma das interpretações

contribuem, de forma decisiva, nos significados e nos rumos da analise.

O setting se constitui como sendo "as regras do jogo", mas não o jogo

propriamente dito. Contudo, isso não quer dizer que o setting se comporte

como uma situação meramente passiva e formal. Pelo contrário, ele tem uma

função bastante ativa e determinante na evolução da análise, serve de cenário

para a reprodução de velhas e novas experiências emocionais e está sob uma

contínua ameaça em vir a ser desvirtuado tanto pelo analisando como também

pelo analista, em função do impacto de constantes e múltiplas pressões de

toda ordem (ZIMERMAN, 1999).

O setting contempla arranjos práticos para a realização do trabalho, mas

é também um conceito psicológico que inclui uma visão do que acontece

dentro dele – da moldura – de modo diferente do que acontece fora. A par

disso, mas não de menor importância, o setting se constitui como um objeto

internalizado, estreitamente ligado ao vértice e à função analítica. O

esclarecimento necessário dos arranjos práticos é um dos pilares da moldura

dentro da qual se desenhará em infinitas direções, o encontro de duas mentes,

a do profissional e a de seu paciente, em busca de realização (MIGLIAVACCA,

2008).
57

Quanto às funções do setting, Zimerman (1999, p. 298), considera que

ela tem por obrigação "normatizar, delimitar, estabelecer a assimetria e a não-

similaridade" , em outras palavras, o autor lembra que o setting terapêutico tem

que demonstrar para o paciente, desde o início do tratamento, que os papéis

da dupla e suas posições não são de igualdade. O autor afirma isso, pois

somente quando os dois tiverem os seus papéis bem definidos, principalmente,

o terapeuta, a atuação e a contra-atuação tenderão a ser evitadas. Esse

mesmo autor vai além, em suas palavras, relatando que uma das funções do

enquadre é “manter um contínuo aporte do "princípio da realidade", que se

contrapõe ao mundo das ilusões próprias do "princípio do prazer" do paciente.

Segundo ele, a função mais nobre do setting consiste na criação de um

novo espaço onde o analisando terá a oportunidade de reexperimentar com o

seu analista a vivência de antiga e decididamente marcantes experiências

emocionais conflituosas que foram mal compreendidas, atendidas e

significadas pelos pais do passado e, por conseguinte, mal solucionadas pela

criança de ontem, que habita a mente do paciente adulto de hoje. Os alicerces

básicos que sustentam o setting repousam na obediência as cinco regras

técnicas legadas por Freud:

• regra fundamental (e considerada como sendo sinônima com a livre

associação de ideias);

• abstinência;

• neutralidade;

• atenção flutuante;

• amor a verdade.
58

Embora essas "recomendações", de modo geral, continuem validas e

vigentes em sua ideologia essencial, deve ser levado em conta que na

psicanálise atual elas estão bastante modificadas em muitos aspectos

(ZIMERMAN, 1999).

Contudo, há momentos em que o setting acaba rompendo-se, seja por

solicitação de uma das partes ou por situações externas. Quando há o

rompimento do setting, cada paciente irá reagir de uma forma singular frente a

esse novo desafio.

Para Sandler (1990), a mudança de sala pode gerar desconforto ou uma

oportunidade para novas revelações, isso irá depender da saúde mental de

cada paciente. Todos esses efeitos externos sobre o interno do paciente

devem ser considerados pelo terapeuta e trabalhado quando possível. Ainda

afirma que, no tratamento com pacientes crianças, as mudanças do setting

terapêutico podem afetar nas formas de reações da criança. O autor lembra

que as formas de reação serão sempre compatíveis com o grau de distúrbio da

criança, mas a mudança do enquadre pode afetar no tratamento.

Segundo Moreira e Esteves (2012), o setting é mais do que os aspectos

físicos do ambiente de terapia ou das combinações estáticas do contrato, ou

seja, ele é recheado pela forma como a relação dos dois se encontra, pela

aliança terapêutica, pelas questões éticas e pela confiança mútua. Por isso,

inferimos que mais importante do que o espaço físico do setting é o que

chamaremos de “espaço mental do setting”, é poder manter os papéis, as

regras, a ética em qualquer lugar, sem depender do ambiente físico. O

terapeuta e o paciente têm "funções" concretas dentro de um processo

terapêutico, suas responsabilidades frente ao tratamento e isso, também são


59

fatores que constituem o setting. Podemos, assim, estar com ele em qualquer

lugar, mesmo que não seja o local físico mais correto e neutro para que se

realize um atendimento psicoterápico. Assim, independente do local, o

terapeuta deve poder manter as questões da abstinência, da aliança

terapêutica, da ética e da transferência como princípios para guiar o seu

trabalho. O setting vai guiar e assegurar o lugar do terapeuta, mas o campo

terapêutico é o que vai manter as regras fundamentais da psicoterapia intactas.

Sendo assim, o terapeuta que consegue internalizar o lugar não o perderá por

alterações na sala e conseguirá trabalhar com o paciente as fantasias e/ou

desejos que poderão surgir com essas modificações.


60

8. Estudo de Caso

Artigo: A psicanálise da criança - um estudo de caso - Ano 2010.

Autores: Claudia dos Reis Motta. (Psicólogo, Psicanalista)

Luciana Rodrigues Silva. (Pediatra)

Hélio de Castro. (Psiquiatra, Psicanalista)

8.1. Resumo: tratamento de uma criança de cinco anos de idade Fabricio

(nome fictício) Não cqnsegue evacuar durante 4 a 5 dias, resultando

em fortes dores abdominais, suja a roupa involuntariamente, devido à

retenção das fezes, além de, por diversas vezes, a mãe precisar extrair

as fezes manualmente. Fabricio já havia sido submetido à várias

hospitalizações por conta deste sintoma. Associado ao sintoma da

constipação, Fabricio apresenta traços obsessivos que remontam à

fixação da pulsão anal: toca nos objetos com a ponta dos dedos,

detesta sujar-se, demonstra baixa tolerância às frustrações, fazendo

birra ou explodindo com seus familiares e amigos, o que remete à

dificuldade em lidar com sua agressividade. Ansioso e irritadiço,

encontra-se demasiadamente identificado à mãe: baixa autoestima,

exigências e confusões psicoafetivas refletem como um espelho as

questões da mãe. Ela possui traços anais marcados pelo alto nível de

exigência e rigidez consigo e com a educação do filho, além de ser

ordeira e parcimoniosa. Tem dificuldades em colocar limites para o

filho, pois não consegue ocupar uma posição de autoridade em relação

a ele, ao mesmo tempo em que não permite o pai exercê-la. Ele, por
61

sua vez, abstem-se de qualquer implicação no exercício da função

paterna e permite que a separação do casal interfira no vínculo com

seu filho. Os pais divorciaram-se aproximadamente dois anos após o

nascimento de Fabricio. Extremamente colado à mãe, Fabricio

expressa, no sintoma da constipação, a dialética entre permanecer

submetido psiquicamente ao Outro materno ou separar-se dele. O pai é

ausente e distante do filho desde então, recusando-se, na ""maioria das

vezes, a comparecer nas entrevistas, quando convidado pela analista.

8.2. Psicanalise e a Criança:

É vista como um ser que tem direitos e compreende seu ambiente. Falar

de sexualidade infantil Significa também enxergar como ela se posiciona frente

a suas questões e aos desejos dos pais.

8.3. Teoria:

8.3.1. Sexualidade Infantil: A psicanálise da criança remete ao tema da

sexualidade infantil no seu sentido mais amplo. Isto significa

apontar para a forma de a criança lidar consigo e com o outro,

incluindo afetos, pensamentos e fantasias, para o desenvolvimento

psíquico e as suas fixações libidinais.


62

8.3.2. Origem do problema: A criança fala dos seus desejos e das

suas defesas através dos seus sintomas. Frente às frustrações da

vida, o psiquismo humano tende a regredir para alguma fase

anterior quando obteve alguma satisfação, bloqueando assim, a

plasticidade e a flexibilidade para aprender a lidar com as

diversidades e as mudanças da vida.

Sintomas como mutismo, constipação intestinal, enurese, asma, erotização

precoce, alergias na pele, fobias, agressividade exacerbada, questões com a

vida e com a morte são os mais apresentados na clínica.

Os sintomas são satisfações substitutivas de forças pulsionais, sexuais e

agressivas, ou seja, o retorno do recalcado propriamente dito.

Fabricio expressa, no sintoma da constipação, a dialética entre permanecer

submetido psiquicamente ao Outro materno ou separar-se dele. O pai é

ausente e distante do filho desde então, recusando-se, na maioria das vezes,

a comparecer nas entrevistas, quando convidado pela analista.

8.4. Tratamento:

A remissão completa do sintoma ocorreu em seis meses de tratamento. O

atendimento estendeu-se por mais cinco anos, e a análise da criança, através

da escuta, interpretação e ressignificação dos conteúdos latentes, ajudou a

simbolizar. No caso de Fabricio, elaborar a dinâmica de alienação ou

separação entre mãe e filho foi fundamental para ele construir as suas próprias

questões na análise. Já não estava mais sendo trazido pela mãe, mas pelo

seu próprio desejo de crescer.


63

8.4.1. Metodologia do tratamento

8.4.1.1. O desenho e a modelagem

São instrumentos cruciais para possibilitar à criança outra via de

expressão quando elas não sabem o que dizer.

A linguagem gráfica encoraja as crianças a exprimirem uma fantasia

representada pelo desenho. A modelagem é, dessa maneira, vista como um

terceiro plano que facilita certas crianças a exteriorizarem melhor suas

fantasias.

A modelagem pode expressar a imagem inconsciente do corpo da

criança ou do outro, ou ainda, de partes do corpo e, sem que a criança o saiba,

é um instrumento valioso para a escuta e para a dinâmica da análise das

crianças, que pode fabricar e projetar não apenas as suas fantasias a partir de

matérias-primas, mas também expressar a sua transferência com o

profissional que a trata.

8.4.1.2. Brincadeira de desaparecimento e retorno

A criança, através da repetição desse jogo, elaborou a presença e

ausência da mãe e ocupou uma posição de sujeito ativo, pois era ela quem

controlava o aparecimento e o desaparecimento do objeto.

8.4.1.3. Análise

Fabrício permite-se falar dos seus sentimentos e pensamentos em

relação à ausência paterna e dos incômodos no Relacionamento com a mãe


64

que se dá conta do seu desejo inconsciente de manter o filho só para ela, sem

dividi-lo com outras mulheres, quando traz a fantasia e o medo de o filho ser

homossexual no futuro. No processo de análise, Fabrício começa a socializar

melhor, fazendo mais amigos na escola e esboçando questões sobre sua

sexualidade e agressividade: diz que quer seguir a mesma profissão do avô

quando crescer, passa a gostar de se sujar, fala das estratégias para

aproximar- se das meninas e das brincadeiras de luta com os meninos.

8.5. Considerações

Fazer análise para canalizar a energia sexual e agressiva da criança, na

busca de caminhos para ela pensar que lugar subjetivo ocupa na família, na

fantasia da mãe, na fantasia do pai e na dela própria.

Encontrar o que possui de singular, independente das suas

identificações com os pais. Quem ela quer ser quando crescer? Ajudar a

criança a fazer laços sociais, canalizar a sua agressividade e tornar-se sujeito

da sua própria história é tarefa dos pais e do analista da criança, mostrando-

lhes que a vida não é apenas gozo, mas que existem leis.

O processo de análise mobiliza a todos os envolvidos e muitas vezes

pergunta-se: 'Vale a pena "acordar" os monstros?' A análise não acorda

monstros; ela lida com aqueles que já estão acordados, perturbando o sono,

adoecendo o corpo, boicotando a realização dos desejos mais profundos e

construtivos em direção à vida.


65

9. Referências

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