Infinito Enquanto Dure Ariane Fonseca

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NACIONAIS - ACHERON
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NACIONAIS - ACHERON
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1ª edição, São Paulo

Copyright @2017 por Ariane Fonseca


Capa: Ariane Fonseca
Foto: Gabriel Georgescu/Shutterstoc
Revisão: Camila Gouvêa
Revisão final: Bárbara Pinheiro
Diagramação digital: Ariane Fonseca

ariane@infinitoenquantodure.com.br
Esta obra segue as regras do Novo Acordo
Ortográfico.
Esta é uma obra de ficção. Qualquer semelhança
com nomes, datas e acontecimentos reais é mera
coincidência.
Todos os direitos reservados.
É proibido o armazenamento e/ou reprodução de
qualquer parte desta obra através de quaisquer
meios sem o consentimento da autora.
A violação autoral é crime, previsto na lei nº

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9.610/98, com aplicação legal pelo artigo 184 do


Código Penal.

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Índice
Epígrafe
Prólogo
Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15

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Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 18
Capítulo 19
Capítulo 20
Capítulo 21
Capítulo 22
Capítulo 23
Capítulo 24
Capítulo 25
Capítulo 26
Capítulo 27
Capítulo 28
Capítulo 29
Capítulo 30
Capítulo 31
Capítulo 32
Capítulo 33
Capítulo 34
Capítulo 35
Epílogo
Bônus
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Extra - Claudinha e Max


Agradecimentos

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Dedico esta obra a todos que vivem intensamente o


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hoje.

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Epígrafe
Soneto de fidelidade
Vinícius de Moraes

De tudo ao meu amor serei atento


Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto
Que mesmo em face do maior encanto
Dele se encante mais meu pensamento
Quero vivê-lo em cada vão momento
E em seu louvor hei de espalhar meu canto
E rir meu riso e derramar meu pranto
Ao seu pesar ou seu contentamento
E assim, quando mais tarde me procure
Quem sabe a morte, angústia de quem vive
Quem sabe a solidão, fim de quem ama
Eu possa me dizer do amor (que tive):
Que não seja imortal, posto que é chama
Mas que seja infinito enquanto dure.

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Prólogo
ALICE
Já são onze horas da noite e ainda estou
acordada. Mesmo sendo sábado, isso não era para
acontecer. Mamãe não gosta que eu durma tarde.
Vem sempre com aquela conversa de fazer mal
para a saúde e não ser bom para a beleza. Mas
quem se preocupa com isso aos 8 anos?
— Mamãe, quero ver de novo o filme da
Cinderela.
— Nem pensar, Alice! Está tarde e você
acabou de assistir A Bela e a Fera. Já quer outro?
Sabia que ela olharia o relógio, só que eu
preciso assistir a mais um filme antes de dormir.
Quero ter sonhos lindos com meu príncipe
encantado.
— Quero mamãe. Por favor?! Hoje é
sábado, amanhã não tenho aula.
Tento apelar para o lado sentimental dela,
fazendo a carinha do Gato de Botas.
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— Nem venha com essa cara, Alice. Não


vou cair nos seus joguinhos de novo. Semana
passada já foi a mesma coisa. E na outra, e na
outra. Você não cansa disso, não?
A verdade é que nunca me canso. No meu
pouco tempo de existência, já tenho colecionado
mais bonecas Barbie (com o Ken, claro); DVD's
das princesas e livros, que quase todas as crianças
da pequena cidade onde vivo. Puxei o lado
sentimental da minha mãe, que me contava essas
histórias e me enchia de presentes desde que me
entendo por gente.
— Não me canso, mamãe. E não venha
ficar brava! Quem me fez gostar disso tudo foi
você. Qual foi meu primeiro presente na vida? Qual
foi, mamãe? Vestidinho da Branca de Neve. Tem
naqueles álbuns de fotos que guarda na estante pra
provar.
— Ai, meu Deus. Você é impossível,
menina! Tem o pensamento rápido do seu pai, sabe
argumentar. Olha, eu vou deixá-la assistir, mas só
hoje, viu?! Semana que vem, nem que você chame
a tropa da Disney para vir aqui em casa, não vai
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ficar até tarde vendo filme. Escutou, Alice?


— Claro, mamãe — concordo com um
sorriso estampado de orelha a orelha.
Xeque-mate! Terei garantido meu sonho de
princesa.

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Capítulo 1
♫ Eu era uma sonhadora antes
de você chegar e me desapontar.
Agora é tarde demais pra você
e seu cavalo branco chegarem. ♫
White horse, Taylor Swift
ALICE
Não! Não! Não! Eu não posso ter ouvido
direito. Fecho os olhos e deslizo na parede,
sentando-me no chão com as mãos na cabeça.
Tento acalmar a respiração ofegante, mas é em vão.
Claro que ouvi, não há desculpas. Heitor, meu
príncipe Heitor, na verdade é um sapo.
Tenho que parar de chorar e enfrentá-lo.
Tenho que secar cada uma dessas lágrimas que
insistem em cair. Não vai resolver nada, não vai me
fazer sentir melhor, porém, quero que saiba. Eu sei.
Não passei de um brinquedo, um passatempo de
sete meses.
Meu Deus! Isso realmente está acontecendo

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comigo? Como me transformei em uma completa


idiota que não enxerga sinais nas coisas óbvias?
Toda a minha vida sonhei com um conto de fadas.
Minha experiência com homens não começou bem,
eu devia saber que a vida perfeita da Cinderela, da
Branca de Neve, da Bela Adormecida e companhia
não existe. Droga de Disney e seus ideais que
nunca vão existir. Só servem para criar adultas
como eu, patéticas e choronas. E lá estamos nós
chorando de novo.
Levanto-me do chão e pego o telefone do
bolso. Tento, mais uma vez, contato com
Claudinha. Onde está sua melhor amiga quando
precisa dela? Necessito de coragem, mas a bendita
não atende. Deve estar na cama com algum garoto
novo.
— Claudinha? Graças a Deus! Onde você
está? Já tentei te ligar umas cinco vezes.
— O que foi Alice? Tu tá chorando? —
questiona preocupada.
Por que quando alguém pergunta se estamos
chorando, choramos ainda mais? Nesse momento
viro uma manteiga derretida, encostada de novo na
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parede que separa a ala de comunicação do jardim


da faculdade.
— É... o Heitor. Você estava certa. Ele
fingiu esse tempo todo, se fez de bonzinho e de
compreensivo, mas na verdade não está nem aí pra
mim.
— Ai, eu sabia! — solta Claudinha sem
pensar. — É óbvio que esse moleque não presta
com aquela cara de mauricinho idiota. O que ele te
fez?
— Ele, ele... — Mais lágrimas.
Não consigo falar em voz alta o que Heitor
fez. Não consigo admitir que fui uma completa
inocente acreditando, mais uma vez, no amor.
— O que ele fez, Alice? — grita Claudinha
ao telefone, em um tom preocupado.
— Fui... Eu fui só uma aposta — admito
soluçando.
— Não acredito, eu vou matar esse
desgraçado! — grita novamente.
Sim, Claudinha gosta de falar alto. Pois é,
sou só uma aposta. Dá para acreditar que alguém
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faz isso em pleno século XXI? Já li livros que


contam histórias assim, de garotas que caem na
lábia dos bad boys, mas sério, saiu de moda faz
tempo. Infantil e ridículo!
— Ele passou na república depois do
trabalho. Viemos para a faculdade sorrindo e
conversando numa boa. Heitor tinha pedido para eu
fazer uma resenha importante que precisava
entregar hoje, sempre reclama ser péssimo nisso.
Eu fiz, mas esqueci de entregar ao nos
despedirmos. Ao encontrá-la na bolsa, corri da ala
de negócios para o setor de comunicação. Estava
virando o corredor da sala dele quando o vi
encostado perto do jardim com seu amigo Alison,
que perguntava de uma aposta. Eu custei para
entender que a aposta era eu. Na maior frieza e cara
de pau do universo, Heitor disse que já estava
quase lá e não via a hora de meter o pé na minha
bunda.
— Filho da puta, desgraçado! Porra, não
acredito que foi tão baixo.
— Mais amigos dele chegaram e ficaram
tirando sarro da história. Ele disse que não
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aguentava mais ficar perto de mim, que eu era uma


chata iludida e demorava demais para "abrir as
pernas". Só aguentou até agora porque eu era
gostosa e porque sua honra foi colocada à prova.
Nessa hora uma ruiva chegou à roda. O Heitor a
pegou pelos cabelos, dando um beijão. Além de
fazer uma aposta para tirar minha virgindade, ainda
estava esse tempo todo com outra mulher,
Claudinha — conto, mais uma vez, soluçando de
tanto chorar.
— Para de chorar por esse idiota, Alice.
Pode parar, agora! Heitor não vale uma mísera
lágrima que sai dos seus olhos. Tu vai ao banheiro,
vai lavar esse rosto, retocar a maquiagem e bater na
sala dele. Quando sair, tu rasga essa merda de
resenha na cara dele e o manda tomar no cu. Mas
olha, pelo amor de Deus, não chora. Só fala isso e
sai.
— Foram sete meses, Claudinha. Sete
meses de mentiras — falo limpando o rosto com as
costas da mão. — Não vou fazer cena, nem deixá-
lo achar que estou sofrendo. Farei exatamente o que
você falou.
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— Faz sim, estou indo aí te pegar. Fica


bem, Alice.
Vou ao banheiro e lavo o rosto. Lavo, na
verdade, umas cinco vezes. Retoco a maquiagem e
sigo em direção ao idiota que um dia imaginei ser
meu príncipe. Não sou nenhuma fanática religiosa,
nem estou me guardando para o casamento ou coisa
parecida. Tenho 18 anos e ainda não transei com
ninguém porque, simplesmente, queria que fosse
um momento perfeito, queria que fosse mágico e
com a pessoa certa. Eu devia já ter percebido, a
essa altura da vida, que não existem pessoas
perfeitas nem felizes para sempre. Devia ter
aprendido a lição com o João Pedro e o Cássio.
Aos 11 anos me apaixonei pela primeira
vez. João Pedro era meu novo vizinho, a gente
passava bastante tempo juntos. Eu sonhava com a
hora de sair da escola e brincar com aquele
ruivinho a tarde toda. Ele tinha 12. Um dia fui
chamá-lo em casa para um piquenique no jardim e
o vi vendo filme com a Márcia, a menina mais
bonita da escola. Eu, confesso, era um patinho feio.
Usava óculos, aparelho e era magricela. Por adorar
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estudar, o estereótipo de nerd também não me


ajudava muito. João Pedro começou a ficar cada
vez mais com a Márcia, e me deixar de lado.
Perguntei o motivo da mudança, o danado
confessou que só passava seu tempo comigo antes
porque era novo na cidade e sem amigos. De
acordo com o ruivo, eu não era da turma dele. Pois
é, aviso nº 1 do destino não assimilado.
Só fui ficar mais apresentável com 15 anos,
após retirar o aparelho e os óculos. Nessa época
também já tinha criado umas curvas boas no corpo,
deixando de ser sem sal e sem açúcar. Foi nesse
período que conheci o Cássio, ao começar a
frequentar aulas de inglês. Ele tinha 17. Nós
ficamos amigos e passamos a estudar juntos.
Engraçado e simpático, não foi difícil me
apaixonar. Idealizei mil cenários diferentes para o
primeiro beijo, escrevi uns três diários sobre ele,
colei papéis de bala no guarda-roupa com
mensagens românticas... E? O primeiro beijo foi
péssimo. Sem vida, sem graça e sem nenhum pouco
de romance. Segundos depois de me beijar, Cássio
já deixou bem claro que de forma alguma queria

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namorar naquele momento, então, se eu não


estivesse a fim de uns amassos casuais, não era
para me iludir. Aviso nº2 ignorado.
Foquei no vestibular e estudei ainda mais
para passar numa federal. Não via a hora de
conseguir uma bolsa e mudar para outro estado,
uma cidade grande onde não tivesse nenhum
estereótipo e conhecesse pessoas novas. De
primeira, entrei na UFRJ em Administração com 17
anos. Mudei para o Rio de Janeiro com um sorriso
enorme no rosto, na esperança de alcançar meus
dois maiores sonhos: conhecer um príncipe e
construir uma carreira de sucesso.
Jamais poderia imaginar que o príncipe
carioca iria se mostrar um sapo. Bato na porta da
sala do Heitor e faço exatamente o que tinha
combinado com Claudinha. Ele fica branco na
minha frente, tentando se explicar, mas eu viro as
costas e o deixo falando sozinho.

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Capítulo 2
♫ Queria ser como os outros e rir das
desgraças da vida, ou fingir estar sempre
bem. Ver a leveza das coisas com humor,
mas não me diga isso. ♫
A via láctea, Legião Urbana
MURILO
Mais um dia se passa e eu não sei o que
estou fazendo da minha vida. Hoje é meu
aniversário de 22 anos, só que não tenho motivo
nenhum para comemorar. Na verdade, não tenho
ninguém para lembrar a data. Porra! Não acredito
que dei para filosofar agora. Ou pior, ficar triste.
Merda de bebida.
Acho que o tempo torna a gente mais
maduro, ou sei lá. Se bem que não posso me
considerar uma pessoa madura. Estou aqui parado
neste bar pela terceira vez só esta semana, e hoje é
quinta! Já pedi a quarta dose de vodca enquanto
aguardo Vanessa. Nossa! O nome dela é Vanessa
mesmo? Preciso começar a anotar para não levar
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tapa na cara.
Ahhhh, as mulheres! Se tem uma coisa que
não posso reclamar na vida é de aproveitar. Pelo
menos nisso o universo foi bom comigo, ou não.
Depende do ponto de vista. Caralho, preciso de
outra bebida para acabar com essa baboseira.
— Rafa, manda outra dose aí, cara — peço
entregando o copo ao meu amigo.
— Mas já, Murilo? — pergunta sorrindo. —
Calma, cara, tu acabou de chegar. Desse jeito não
vai ser uma boa companhia.
— Não preciso ser boa companhia. Só
preciso dar o que elas querem.
Rafa gargalha do outro lado do balcão e
enche meu copo novamente. Sento de lado na
cadeira e começo a observar o local. Vanusa está
atrasada. Odeio esperar. Vanusa? Murilo, é
Vanessa, porra!
Minha rotina está acabando comigo. Mal
consigo dormir quatro horas por dia. Acordo cedo
com tanta coisa para resolver que dá até desgosto
abrir os olhos. Mas a gente tem que abrir, não é?
Tem conta para pagar, comida para comprar, roupa
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para vestir… Quem dera, entretanto, esses fossem


meus únicos problemas.
Queria poder voltar no tempo e ter tido uma
vida diferente. Só que, para isso, teria que ter outra
família. O universo, definitivamente, estava de
TPM no dia em que nasci. Porque, olha, foi foda!
Não me lembro de um dia, um dia sequer de
felicidade na minha infância. Ao invés de brincar,
estudar e fazer amigos, passei o tempo limpando as
merdas que meus pais faziam. Nenhuma criança
deveria ter pais mais imaturos do que a própria
criança.
Quando tinha apenas 7 anos, o homem que
doou seu espermatozoide para eu nascer
simplesmente saiu de casa. Lembro como se fosse
hoje essa porcaria. Estava vendo TV na sala, o
Capitão Caverna, que adorava. De repente ouvi
gritos e barulho vindo da cozinha. Era mais uma
briga deles. Não que eu já não estivesse
acostumado, mas aquela parecia diferente, mais
séria.
Meu pai começou a acusar minha mãe de
não ser uma boa esposa, de ter desgraçado a vida
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dele engravidando de mim na adolescência. Pois é,


ele disse que eu era uma desgraça. Culpou-a do seu
vício na bebida e na cocaína, afirmando fazer isso
para esquecer a realidade.
Minha mãe chegou a me defender, dizendo
que não era desgraça nenhuma. Deveria ter sido
benção para eles, se não fosse tão canalha. Ele,
porém, continuou cuspindo mais e mais
atrocidades. E eu lá ouvindo.
Peguei Dona Maria chorando pelos cantos
da casa incontáveis vezes. Meu pai não foi um
marido fiel. Ela sabia disso, mesmo assim não o
largava. A tristeza a fez parar de se preocupar
comigo antes mesmo de engatinhar. Seu tempo
também era dedicado à bebida e às drogas. E eu?
Bom, ficava jogado no canto da casa o dia inteiro.
Sorte a minha ter uma vizinha boa. A Dona Emília
sempre vinha me ver para colocar fraldas limpas e
dar um pouco de leite.
Nesse dia da briga na cozinha, ele deu um
tapa na cara da minha mãe e saiu pela porta. Eu
corri em sua direção para defendê-la e apanhei de
cinta por uns vinte minutos seguidos. Depois que
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sua mão estava cansada e eu mal conseguia


respirar, meu pai disse que já estava de saco cheio
com a gente e que não queria mais nos ver. E nunca
mais o vi.
— Ei? Terra chamando Murilo. Terra
chamando Murilo.
Saio da minha retrospectiva de vida
assustado com a voz feminina que grita ao meu
ouvido. Será Vanessa? Parece que eu conheço
essa...
— Sou eu, cara. Tu tá bêbado? — pergunta
gargalhando.
Claudinha. Claro, só podia ser ela.
Impossível não reconhecer essa voz irritante e
aguda. Acho que nunca conheci uma garota tão
doida. Ela me fazia morrer de rir. Sem filtro, saía
falando qualquer merda. Tenho um pouco de inveja
da sua coragem.
— E aí, gata? Que bêbado nada, nem
comecei.
— Pois não parece. Faz uns cinco minutos
que tô tentando chamar sua atenção lá do outro lado
da pista, e tu aí com essa cara de pastel.
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— Pastel? — retruco gargalhando.


— Ahh, tu entendeu. Cara de peixe morto,
idiota...
— Tá bom, tá bom. Já entendi. O que está
fazendo por essas bandas, sua riquinha metida da
zona sul? Faz tempo que não te vejo.
— Metida é o seu cu! Quem tem dinheiro
são meus pais, eu sou a ovelha negra da família que
procura caminhar com os próprios pés.
— Procura caminhar com os próprios pés,
mas ainda mora com eles numa mansão. Certo?
— Nossa, tu tá chato pra caralho hoje,
hein?! Tá cansado de saber que moro numa casinha
dos fundos, que é minha por direito. Tenho 19 anos
e ainda tô fazendo, ou tentando — explica ela rindo
—, construir minha carreira de sucesso na moda.
— Então tu precisa se esforçar mais, gata.
Em plena quinta-feira de aula e você aqui no bar.
— Eu disse tentando, não conseguindo.
Conheço essa figura há tempos, quando
namorava meu melhor — e único — amigo, Max.
Ela tinha só 14 e vivia fugindo da zona sul para vir
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se divertir com ele aqui na favela. Os dois eram,


sem dúvida, apaixonados. Mas como a vida tem das
suas surpresas, Max acabou tendo oportunidades —
coisa rara por aqui — e foi morar no exterior há
dois anos. Bem na época mais difícil da minha
vida.
— De novo, cara? Murilo! — berra no meu
ouvido.
— Para de gritar, porra!
— Tu tava de novo com a cara de pastel,
maluco.
— Tava nada, fala logo o que tu quer —
digo rindo.
— Olha só, tenho um pedido. Quando te vi
aqui sentado, imaginei que fosse um presente do
universo pra resolver meu problema.
— Problema?
— Sim — diz ela triste. — Minha melhor
amiga está passando por uma desilusão amorosa.
Na verdade, a terceira desilusão amorosa dela em
seus 18 anos de vida.
— Caralho, essa se apaixona, hein?!
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— Pois é, nem me fale. Ela é ótima,


divertida e super gente boa, contudo, tem uma
visão distorcida da vida. Pensa que isso aqui é um
conto de fadas.
— Claudinha, não arruma sarna pra me
coçar. Odeio mina grudenta. E tu sabe que de forma
alguma na vida eu namoro.
— Não, não. Não é nada disso, seu idiota.
Eu quero totalmente o contrário. Ela ainda é
virgem, está se guardando e tal para o cara certo.
Esse último namorado, eles tinham ficado durante
sete meses.
— Sete meses e nada? Puta merda. Ou o
cara é gay ou ela é feia pra caralho.
— Cala boca, seu imbecil. Escuta! Então,
eles ficaram esse tempo todo, mas eu sabia que ele
não valia nada. Mauricinho, idiota, falso do
caralho. Tentei avisar Alice, porém, ela insistia ser
implicância minha. Ontem descobriu que havia
uma aposta para tirar sua virgindade.
— Que idiota! — falo mais alto do que
queria.
Nem conheço essa tal de Alice. É Alice
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mesmo? Acertei o nome de primeira? Bom, nem a


conheço e já tenho vontade de quebrar os dentes
desse cara. Quem faz isso em pleno século XXI?
— Pois é, nem me fale. Eu a deixei em casa
ontem e voltei na faculdade só para dar uns bons
tapas nele e jogar umas verdades naquela cara
lavada. Alice nem sabe disso.
— E como eu entro nessa história? Se ela já
está magoada, tu deveria saber que sou a ú.l.t.i.m.a
pessoa do mundo com quem se envolver —
questiono sem entender aonde Claudinha quer
chegar.
— Eu quero que tu use esse seu corpo
bonito — fala rindo e apontando em minha direção
—, para entretê-la um pouco. Quero colocar na
cabeça dela que essa merda de romance não serve
pra nada. Alice precisa perder logo a virgindade e
seguir em frente. Não fazer disso o seu objetivo de
vida, romantizando cada gesto e cada detalhe.
Claudinha nunca entendeu a escolha de
Max. Eu entendo com toda minha alma. Vivo desde
sempre na favela e sei que, para quem já passou
fome, frio e vive na violência, uma oportunidade é
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tudo na vida. Ele a amava, mas não podia deixar


seu futuro por uma garota.
— Isso é caô, hein, Claudinha. Ela
concordou? Sabe quem e o que sou?
— Bom, então, aí vem à segunda parte.
Ainda não contei para ela meu plano maligno de
prazer delicioso e sem compromisso. Vai ser um
pouco difícil, mas acho que consigo.
— Duvido conseguir. Se ela é cheia de
“mimimi” como disse, não vai querer transar com
um cara que nem conhece. Muito menos um cara
como eu.
Estou até suando frio com essa
possibilidade. Nunca fiquei com uma mina virgem.
E não quero agora, com certeza, arrumar uma para
grudar no meu pé e se apaixonar por mim. Mas ela
não vai aceitar isso, tenho certeza.
Quando Claudinha vai responder, sinto uma
mão quente no meu pescoço. É a Valesca, ops,
Vanessa. Enfim, essa mulher chegou.
— E aí, gato, pronto pra mim?
— Prontíssimo, gata! — minto já de saco

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cheio de esperar.
Pego-a pela cintura e começo a levantar do
banco, me despedindo da marrentinha loira que
espera uma salvação para sua amiga.
— Partiu, Claudinha. Qualquer coisa me
liga.
— Pode deixar. — Vira-se para voltar à
pista de dança. — Ah, Murilo! Vai ser por minha
conta, tá?!
Aceno concordando e saio. Por um instante
tinha me esquecido dessa merda. Dessa vida dupla
que levo agora. Não fico com garotas por vontade
própria, faço para ter dinheiro e viver.
Sou um garoto de programa.

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Capítulo 3
♫ Vou deixar a vida me levar pra
onde ela quiser. Seguir a direção de
uma estrela qualquer. É, não quero
hora pra voltar, não. ♫
Vou deixar, Skank
ALICE
— O que, Maria Claudia Bittencourt? —
pergunto aos berros.
Não sou de gritar, mas nossa... Estou quase
entrando em pânico. Eu sei o quanto Claudinha
odeia que digam o nome dela completo, pois não
gosta de ser estereotipada como um membro da
família mais tradicional da zona sul do Rio de
Janeiro, e faço de propósito. Espero uma explosão
de raiva por parte da minha amiga, porém, não
vem. Preciso respirar, me acalmar e perguntar de
novo para ver se entendi bem. Ela está na
defensiva, o que não é comum, e baixa o tom de
voz.

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— Calma, Alice. É só uma ideia. Pode


parecer ridícula agora, mas te fará bem. Tu sabe
que eu curto você pra caralho, apesar de sermos
tão diferentes. Pare de romantizar as coisas, isso
não existe!
— E você acha que a melhor forma de
deixar de acreditar no amor é, simplesmente,
transar com um garoto de programa? — berro
novamente.
É tão absurda essa proposta dela que me tira
totalmente do sério. Até parece, eu nunca faria isso.
Apesar de tudo, ainda acredito no amor e no meu
“felizes para sempre”. Tem que ter alguém neste
mundo feito para mim. Eu sei!
— Não é qualquer garoto de programa,
Alice. Eu o conheço.
— Meu Deus, Claudinha. É sério isso?
Devo estar num pesadelo horrível, dormindo desde
quarta-feira, e o ápice é agora. Você quer que eu
tenha minha primeira vez com um dos seus
garotos? —questiono com os olhos marejados.
— Cala a boca, Alice! Não é nada disso. Eu
nunca tive nada com o Murilo, ele é o melhor
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amigo do Max.
Max. Há tempos não falamos esse nome,
está na lista dos assuntos proibidos. Desde que
conheço Claudinha ela é essa garota destemida,
sem papas na língua e envolvimento sério com
ninguém. Mas não foi sempre assim.
No dia em que entrei na faculdade, estava
me sentindo um peixe fora d'água. Vinda de uma
cidadezinha de pouco mais de 10 mil habitantes, no
interior de São Paulo, para uma das cidades mais
procuradas do país. Nos primeiros dias fiquei na
minha e tentei canalizar meu tempo nos estudos,
conversando apenas com poucas pessoas da sala e
praticamente não saindo da república.
Eu não queria morar em uma república
devido à fama horrorosa desses espaços
compartilhados. Entretanto, sem dinheiro para
alugar algo sozinha foi a única opção. Por sorte,
divido apenas com duas meninas. Uma fica mais na
casa do namorado do que lá, e a outra está no
último ano, atolada com o TCC. Minha mãe tinha
até pesadelos comigo bêbada, ou até mesmo me
drogando e ficando com qualquer um. Como se não
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me conhecesse, sou igualzinha a ela. Uma eterna


romântica certinha.
Tanto quanto quero me apaixonar
perdidamente por alguém, quero alcançar o sucesso
profissional. Distrações fora desse padrão não são
bem-vindas. Graças a Deus, foco é algo constante
na minha vida. Sou metódica e muito organizada,
prezando por saber todos os meus passos e aonde
eles vão me levar. Essa determinação toda no
começo foi mais importante do que poderia
imaginar, pois mesmo tendo acabado de ingressar
na faculdade de Administração em uma federal,
consegui estágio numa excelente empresa de
tecnologia.
O dia em que fui entregar minha papelada
de estágio na secretaria, no terceiro mês
frequentando a UFRJ, foi quando a conheci. Uma
loira baixinha de olhos azuis, linda e estilosa. Não
que aquele fosse meu estilo, longe disso, mas não
podia negar que as roupas escandalosas e coloridas
dela tinham seu charme. Esbarrei com Claudinha
perto da reitoria, de onde saiu pisando duro e
xingando alto para todo mundo ouvir.
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Uma senhora, também loira, exuberante em


seus 40 e poucos anos, saiu correndo atrás dela e a
ameaçou baixinho, evitando um escândalo. A mão
forte no braço da pequena marrentinha mostrava
que elas deviam se conhecer fora dali. E se
conheciam mesmo, era a sua mãe. Tereza é pró-
reitora.
Depois que a mulher a deixou sair, todo o
material que Claudinha carregava no colo caiu. Ela
xingou mais um pouco e se abaixou para pegar.
Eram várias revistas e cadernos com recortes.
Pensei imediatamente em que curso fazia enquanto
fui ajudá-la. De imediato a menina olhou de cara
feia para mim, mas como não me intimidei e soltei
meu melhor sorriso, ela abaixou a guarda. Assim a
nossa amizade começou.
Mais tarde, nesse mesmo dia, descobri o
motivo da briga: notas baixas no curso de Design.
Claudinha quer ser uma estilista famosa, porém,
digamos que não leva muito a sério a faculdade.
Segundo ela, já nasceu com o dom. A mãe se negou
a permitir que fizesse algo mais específico na
moda, então, vai levando como dá.
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Não entendo nada desse universo, minhas


roupas são bem básicas e odeio chamar a atenção,
contudo, me coloquei à disposição para ajudar nas
aulas gerais, em que ela mais tomava bomba.
Nunca fui de me gabar, entretanto, era inegável
minha inteligência. Claudinha fez cara feia de
novo, mas acabou aceitando. Ninguém merecia sua
mãe no pé.
No começo achei que nunca criaríamos um
laço de amizade realmente forte, somos muito
diferentes. Extremamente diferentes, eu diria. Só
que em pouco tempo construímos uma linda
relação de confiança.
Uma confiança tão grande que fui a única a
saber o que realmente aconteceu entre ela e Max. A
partida dele para Inglaterra logo depois dela
confessar seu amor foi o pior que poderia ter
acontecido com minha amiga. A tristeza a
consumiu, tornando-a uma pessoa fechada e avessa
aos sentimentos.
— Max? Desde quando você resolveu
voltar a frequentar a favela e relembrar isso,
Claudinha? — questiono confusa.
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— Eu voltei há alguns meses, já passou.


Não sinto mais merda nenhuma por aquele idiota.
Não tenho mais problemas em ficar por lá. Eu
adoro aquele lugar, nem sei por que me privei disso
por tanto tempo.
— Tem certeza? Não quero ver você triste
de novo.
— Aí, vamos parar com isso, Alice. Já disse
que não sinto mais merda nenhuma. Olha só, o
assunto aqui é você. Vai pensar na minha proposta?
Eu só quero seu bem, quero que tu deixe de sonhar
acordada e aproveite a vida. Daqui a pouco tem 40
anos já e perdeu sua juventude esperando pelo cara
perfeito que não existe. É meio radical demais fazer
isso com um garoto de programa? Até é, mas por
ele não tem como você se apaixonar.
— Eu não quero brigar, Claudinha. Esquece
isso, jamais vou perder minha virgindade com um
cara que não conheço e escolheu ser garoto de
programa em vez de arrumar um emprego decente.
— Não fala o que tu não sabe, Alice. Murilo
já aguentou muita merda na vida.
— Que seja, Claudinha. Pela nossa
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amizade, esse assunto está encerrado e nunca mais


quero ouvir falar disso.
Ela assente com a cabeça, contudo, está
visivelmente decepcionada por não ter me
convencido. Como se pudesse, ideia absurda!
Despedimo-nos e termino de arrumar as
malas. Eu devia estar na faculdade hoje, mas tive
medo de dar de cara com Heitor e faz dois dias que
fico em casa depois do estágio. Aquele imbecil me
mandou umas 50 mensagens desde quarta. Será que
pensa que sou idiota? Fico imaginando quanto
dinheiro apostaram para ainda querer se explicar e
tentar reatar algo. Sinto ânsia só de pensar.
Não era o final de semana combinado, no
entanto resolvi visitar meus pais de surpresa.
Somos muito ligados, porém, desde que consegui
um estágio e comecei a "namorar" não fui mais
visitá-los com frequência. Passar o sábado e o
domingo chorando pela república não é uma opção.
Heitor não merece nenhuma lágrima, embora elas
caiam do meu rosto sem querer sempre quando me
lembro de como perdi sete meses da minha vida
com alguém tão baixo.
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***
Quando chego à minha cidade natal, o
cheiro de natureza e a calmaria me tomam. Já não
conseguiria mais morar aqui depois de um ano e
meio no Rio, contudo, é bom estar em casa. A
viagem de ônibus foi uma droga. A playlist do
Spotify só tinha músicas melosas que me fizeram
afundar na poltrona e chorar baixinho. Tentei ler
um livro, só tinha romance no Kindle também. O
jeito foi forçar um cochilo de quatro horas. Sem
sucesso, é claro.
Abro o portão da pequena casa de meus pais
e de cara minha mãe aparece na janela assustada,
muito assustada, diria.
— Alice, o que você está fazendo aqui?
— Bom dia para a senhora também, mãe.
Tudo bem?
Dona Rute está branca. Mais branca que
leite, como se tivesse visto um fantasma. Algo me
diz para rebobinar a fita e voltar para o Rio, antes
de me arrepender.
— Alice, por que você não avisou que
vinha?
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— Mãe, não estou entendendo. Tenho que


pedir permissão para vir em casa agora? O que
houve? A senhora está branca como leite.
Ela abre a porta da sala e se senta, fazendo
sinal com a cabeça para segui-la.
— Nossa, filha, eu juro que não queria te
contar assim, sem estar preparada. De qualquer
forma, você vai acabar descobrindo — bufa.
— Descobrir o que, mãe? Fala! A senhora
está me deixando nervosa. Alguém está doente?
Papai está doente?
— Não, filha, não é nada disso. Seu pai...
Seu pai e eu... Bem, nós...
— Fala logo, mãe!
— É... Sabe... Nós decidimos nos divorciar.
Ele não mora mais aqui.
Não! Não pode ser. Meu Deus! Maldita Lei
de Murphy. Como a pior semana da minha
existência pode ficar ainda mais desgraçada? Como
meus pais, meu exemplo de vida plena e feliz, não
estão mais juntos? Como?
Rute e Miguel se conheceram na infância,
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foram amigos e se apaixonaram perdidamente na


adolescência. Eu amo os contos de fada, mas minha
história preferida sempre foi a deles, uma história
verdadeira de amor.
Desde que me entendo por gente eles
sempre estão sorrindo, nunca presenciei nenhuma
briga. Quando saíamos juntos, iam de mãos dadas,
fazendo carinho um no outro. Todo dia meu pai
chegava do trabalho com um mimo. Era um gesto
simples que enchia meus olhos de alegria.
— Não pode ser, mãe. E o “felizes para
sempre”? Você me dizia que o amor de vocês era
além da eternidade. Como isso pode acabar? —
pergunto chorando.
— Filha, eu sabia que você ficaria assim.
Por isso demoramos para te contar.
— Quanto tempo, mãe? Quanto tempo faz
que vocês se separaram?
— Seis meses.
— Não pode ser, mas...
— Eu sei, eu sei... — ela confirma baixinho.
— No natal, quando você veio, não tivemos

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coragem de falar pra você. Havíamos acabado de


decidir que não dava mais e pensamos que não era
uma boa época pra deixá-la triste. Você sempre
amou o natal, filha. Resolvemos esperar passar a
data até ele tirar as coisas de vez daqui.
— E onde está meu pai agora?
— Ele conheceu outra pessoa, meu bem,
está morando com ela agora.
Ahhh não! Agora é demais para o meu
coração aguentar. Ele largou minha mãe, um
casamento duradouro e feliz, por causa de outra?
— Não acredito que ele traiu você, mãe.
Não acred... — solto sem conseguir nem terminar a
frase.
— Shhhhh — fala minha mãe ao ouvido me
abraçando apertado. — Ele não me traiu, filha.
Nosso casamento foi maravilhoso, vivemos
momentos felizes juntos durante muitos anos. A
chama acabou, parecíamos mais dois amigos em
casa. Eu estava errada, o amor não precisa ser para
sempre. Ele também pode ter prazo de validade e
mesmo assim ser amor. A nossa decisão de hoje
não apaga tudo que vivemos. Foi lindo enquanto
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durou.
Conversa fiada essa de "lindo enquanto
durou". Se não foi forte o suficiente para durar, não
era amor de verdade.
— Não acredito, mãe. Não consigo
acreditar que isso está acontecendo.
— Sabe, eu também encontrei outra pessoa,
Alice. Estamos juntos há dois meses. Estou feliz,
me apaixonando novamente. Ele está de plantão na
fábrica hoje, mas amanhã cedo chega aqui e vocês
podem se conhecer. Vou avisar seu pai pra vir vê-
la, meu bem.
Estou sem chão, totalmente sem chão.
Minha única vontade é sumir e nunca mais
aparecer. O amor que sempre acreditei, que minha
mãe me ensinou e que vi na TV e nos livros,
definitivamente, não existe. É só uma ilusão, suga
nossas forças e não nos dá nada em troca. Não sei
como vou conseguir seguir em frente agora
mudando totalmente os conceitos que aprendi
acreditar. Não sei.
***
Ainda são onze horas da manhã de domingo
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e estou indo embora. Dei uma desculpa de


trabalhos para fazer, mas é claro que ela sabe que
não é isso. Rever meu pai e ouvir da boca dele que
realmente já era, que está feliz com outra, e ainda
conhecer o namorado da minha mãe foi a cota do
ano. Estou cansada e preciso voltar antes de
explodir.
Quando contei sobre o Heitor para minha
mãe, ela se arrependeu amargamente sobre a
descoberta da separação deles. Dona Rute ameaçou
pagar alguém no Rio para castrar meu ex-namorado
e disse que eu não podia desistir do amor. Como ela
ainda é capaz de falar isso? Desconversei e avisei
que estava indo embora.
Agora estou aqui na rodoviária, com frio e
sozinha, observando casais felizes do outro lado da
plataforma, rindo e se beijando. Inocentes.
Aproveitem agora, daqui a pouco isso vira pó. Olho
para o meu celular e lembro-me da proposta idiota
da Claudinha. Será que tenho coragem?
Que se foda tudo, não vou mais ficar me
guardando para o príncipe que não existe. Será bom
desencanar de vez dos contos de fada. Não me
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lembro de nenhuma princesa se entregando para um


garoto de programa. Mando mensagem antes de
desistir da ideia.
Pode marcar com o tal Murilo. Que se foda
o amor!

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Capítulo 4
♫ Oh os olhos dela, os olhos dela. Fazem
as estrelas parecerem que não têm brilho.
O cabelo dela, o cabelo dela recai perfeitamente
sem ela precisar fazer nada. Ela é tão linda. ♫
Just the way you are, Bruno Mars
MURILO
Já perdi as contas de quantas vezes estive
em uma sala dessas desde que tinha 16 anos. Uma
vez por semana, toda semana durante o ano inteiro,
sem pausa até para o natal, dá o quê? Uns 52 dias?
Vezes seis anos? Caralho, já são mais de 300!
Muito tempo. E sempre é a mesma coisa, o mesmo
sentimento ruim de ter desperdiçado a vida.
O carma da minha família, claro, passou
para mim. Por mais que eu quisesse ter sido um
adolescente responsável e focado, como o Max, não
tinha jeito. A forma como fui criado não me deu
base para isso. A gente cresceu no mesmo lugar, a
favela do Alemão, só que ele tinha pais de verdade.
O meu pai foi embora e minha mãe só sabia se
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drogar.
O resultado? Você deve imaginar. Com 11
anos, já fumava cigarro e maconha, além de ser
aviãozinho da boca perto de casa. Eu bebia todo
dia, tinha relações sexuais e segurava com
frequência uma arma. Sabe, o tráfico é sedutor. Ele
chega oferecendo prazer, facilidades e,
principalmente, poder. Quando você é um fodido
sem perspectiva, se sente como um rei. Uma pessoa
importante no sistema. Mas tudo tem um preço, não
é mesmo? E na favela ele é bem alto. Ainda bem
que descobri isso cedo. Podia nem estar vivo agora.
O Max também se divertia, porém, nunca se
envolveu com o tráfico e nem deixou de focar nos
estudos. Graças a sua insistência, eu também
frequentei a escola. E era um ótimo aluno. Não
fossem minhas sombras, poderia ter tido um futuro
melhor. Como ele.
Passo o olhar pela sala e vejo velhos rostos
misturados com os novos. Esses últimos assustados
e incrédulos. Lembro bem quando entrei por essas
portas pela primeira vez, depois de cumprir pena de
um ano na unidade de internação para menores da
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Ilha. Aquele inferno da porra. Foi o pior ano da


minha vida, pior que o meu pai ter me abandonado
e minha mãe fingir que eu não existo. Na primeira
vez vim forçado, achando isso tudo uma piada.
Mesmo passando 365 dias preso, era o mesmo
idiota de antes.
Frequentar os Narcóticos Anônimos,
religiosamente, até 18 anos, fez parte da minha
condicional. A escolha de continuar vindo aqui,
quatro anos depois, nem eu sei. É um lembrete do
que eu era e aonde preciso chegar. Estou longe,
bem longe do ideal, mas ficar afastado das drogas
já é um passo fundamental. Hoje em dia só bebo.
Observo Vagner vindo em minha direção e
ajeito-me na cadeira. Ele foi como um pai para
mim quando mais precisei.
— E aí, Murilo, como vão as coisas?
— Na mesma, cara.
— Que desânimo é esse? No que está
pensando? Estava observando você de longe,
parece em outro planeta.
Merda, eu devo estar viajando demais

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ultimamente. Claudinha já me disse isso semana


passada.
— Eu ando mesmo, não sei o que está
acontecendo comigo — falo, mas imediatamente
me arrependo. Não sou esse tipo de cara.
— Murilo, é normal se sentir assim. Você
carrega muito nos ombros. Não quer falar sobre
como estão as coisas? Como está conseguindo se
virar? Não precisa fazer isso sozinho. Eu já disse,
estou aqui para o que precisar.
Vagner sabe sobre toda merda da minha
vida: como foi antes, durante e agora. Não sei qual
fase é mais assustadora, cada uma com um desafio
diferente.
— Eu sei que sim. Tu me ajuda mais do que
pode imaginar — confesso e observo o rosto dele
se encher de uma emoção que não conheço. Ele dá
um suspiro e me abraça forte.
— Murilo, eu sempre estarei aqui pra você.
Mesmo levando na brincadeira os primeiros
oito meses de reuniões do NA, sendo sarcástico e
até atrapalhando quem queria levar a sério, Vagner

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nunca desistiu de mim. Ele me fez voltar a estudar


e tentava a todo custo me manter afastado do
Alemão. Lá era péssimo para minha
ressocialização. Até consegui por um tempo,
entretanto, logo encontrei minha antiga vida e
voltei com tudo para a lama. Nessa fase de recaída,
meu amigo foi fundamental para eu estar vivo
agora. Tenho uma dívida eterna por isso.
A reunião começa e Vagner vai para frente,
relembrando os nossos 12 passos. 12 passos difíceis
de seguir, tenho que dizer.
1º Admitir que somos impotentes e que
nossas vidas se tornaram incontroláveis. Ok, esse
eu consegui.
2º Acreditar que um poder maior do que
nós poderá nos devolver à sanidade. Aqui ainda
tenho um longo caminho a percorrer, não sou uma
pessoa religiosa.
3º Decidir entregar nossa vontade e nossas
vidas aos cuidados de Deus. Se há um ser superior,
por que me deixou nessa merda de vida?
4º Fazer um profundo e destemido
inventário moral de nós mesmos. Faço todo dia,
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não é o melhor dos resultados, mas chegamos lá.


5º Admitir a Deus, a nós mesmos e ao outro
a natureza exata das nossas falhas. Já admiti para
mim, creio que é o mais importante. Para Max,
Dona Emília e Vagner também. São os únicos com
quem posso contar.
6º Deixar que Deus remova todos esses
defeitos de caráter. Se ele remover os problemas, já
fico feliz. Automaticamente, acredito que serei
melhor.
7º Pedir a Deus que remova nossos
defeitos. Eu peço um pouco de trégua. Não está
fácil!
8º Fazer uma lista de todas as pessoas que
prejudicamos. Estou caminhando nesse passo.
9º Fazer reparações diretas a tais pessoas.
Aí, já está devagar.
10º Quando estiver errado, admitir
prontamente. Sou um pouco teimoso, porém, tenho
trabalhado nisso.
11º Melhorar nosso contato consciente com
Deus. Passos de tartaruga.

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12º Levar esta mensagem a outros viciados


e praticar estes princípios em todas as atividades.
A gente tenta.
Vagner é uma espécie de padrinho e nos
encoraja o tempo todo. Pela milésima vez, está
contando que na juventude já foi como nós e
conseguiu passar por tudo e ser feliz. Tenho sérias
dúvidas se um dia chegarei nesse estágio.
Quando saio da reunião, percebo que já são
quase meio-dia e estou atrasadíssimo. Olívia me
espera e, como eu, odeia esperar. Encontrar
reuniões no período da manhã é muito difícil, mas é
a única hora que posso por causa da rotina corrida.
Minha CB 300 vai correr agora.
***
No finalzinho da tarde já estou morto.
Olívia sempre me deixa cansado. Entro no quarto e
separo uma roupa para o terceiro round. As noites
são sempre no bar do Rafa. O espaço já ficou
conhecido em todo o Rio como o point da pegação.
É na favela, mas em um local seguro para os ricos.
Não é para a ralé do Morro. A noite lá sempre
começa cedo. Pessoas cheias da grana que
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procuram diversão vão para beber, dançar e torrar a


grana com garotos e garotas de programa. Como
comecei recentemente no ramo, minha hora custa
trezentos reais. Tem até de mil. Negócio lucrativo.
Pego uma camiseta preta, minha calça jeans
rasgada no joelho — que a mulherada adora — e
uma cueca boxer branca. Jogo a toalha nos ombros
e vou para o banheiro. Tiro a roupa rápido e ligo o
chuveiro para esquentar a água. Quando vou entrar,
meu celular toca. Olho na tela e aparece o nome da
Claudinha. Será que sua amiga aceitou?
— Fala, gata.
— Ocupado hoje à noite?
— Estava entrando no banho agora e vou ao
Rafa mais tarde. Vai me dizer que sua amiga
aceitou?
— Sim! — responde animada.
— E o que a fez mudar de ideia?
— A vida — bufa. — Alice foi para a casa
dos pais no fim de semana e descobriu que eles
estão separados há seis meses. Inclusive, ambos
estão namorando outras pessoas. Foi à gota d'água.

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Acontece, mas na cabeça daquela menina o mundo


é cor-de-rosa.
— Ela é chata, isso sim. Não sabe o que é
problema na vida para perder tempo chorando pelos
cantos por bobeira. Se essa mina grudar na minha,
eu te mato. Nunca na vida sonhe em dar meu
telefone pra ela. Se isso acontecer mesmo, será
uma única noite, ela perde o cabaço e ponto final.
Nunca mais. Nem vou aceitar fazer outra vez para
ela não gamar.
— Nossa, garanhão, se achando, hein?! —
provoca Claudinha sorrindo.
— Tenho meus truques, são infalíveis.
— Alice voltou ontem de São Paulo
decidida. Acho que desta vez ela para com essa
porcaria de romantizar tudo. Até passei na casa dela
à noite pra conversar e ver se tinha certeza de fazer
isso. Nunca a vi tão certa de algo. E olha que a
menina é decidida, tem tudo milimetricamente
calculado.
— Nossa, como broxar um cara em dez
minutos de conversa. Essa Alice parece uma vó.

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— Ela é ótima, tu vai gostar. Cuidado pra


não se apaixonar, hein?
O quê? Claudinha só pode estar brincando.
Gargalho de pensar na possibilidade. Isso jamais
vai acontecer! Primeiro, porque nunca me interessei
por nenhuma mulher fora o sexo. E sexo para mim
é só desejo. Nada desse negócio de intimidade.
Segundo, nem que eu quisesse ia rolar. Minha vida
já é fodida demais para dor de cabeça
desnecessária.
— Isso, definitivamente, não vai acontecer.
Pode ficar tranquila.
— Acho bom. Podemos marcar hoje, então?
Falei para as meninas que moram na república não
aparecerem em casa tão cedo. Tu poderia ir ao apê
dela?
— Manda o endereço pelo Whats. Estarei lá
às oito.
— Ótimo, vou avisá-la para ficar pronta. Eu
deposito o dinheiro, depois me conta quanto tempo
levou pra deixar minha amiga louca.
— Eu não queria cobrar para fazer isso por

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você, Claudinha, mas tu sabe que preciso muito de


dinheiro, né?
— Eu sei, Murilo. Fica tranquilo. E outra, é
o dinheiro da minha mãe. Vamos torrar com orgia e
muita bebida.
— Tu não mudou nada, saudade de quando
éramos mais amigos — falo sorrindo.
— Eu também.
Desligo o telefone e confiro o endereço.
Algo me diz que vou me arrepender de fazer isso
hoje. Entro no chuveiro e tomo uma ducha gelada.
Vai ser uma noite daquelas.
Pelo pouco que sei, Alice é chata,
mesquinha e não sabe foder. Vou ter que ensinar
tudo. Que droga, não tenho paciência para
principiante. Deve ser feia, já que ninguém se deu
ao trabalho de convencê-la antes.
***
Chego na portaria do prédio e peço para
chamar no 67. Que merda, estou nervoso. Não sei
se é por ela ser virgem ou se é por um medo
absurdo de grudar na minha. Calma, Murilo! Não

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há chance de vocês se verem de novo depois de


hoje. É só fazê-la gozar e pronto, já pode ir embora.
Alice não tem com o que comparar mesmo, vai
achar ótimo de qualquer forma. Não precisa
mostrar todo seu potencial.
Minha entrada é liberada e chamo o
elevador. É agora ou nunca. Ao chegar no andar já
sei qual é o seu apê sem nem olhar o número. O
único que tem uma casinha com jardim e corações
pendurado na porta. Puta que pariu! Já estou com
vontade de voltar daqui mesmo. Respiro fundo e
aperto a campainha. É só gozar uma vez e pronto.
Uma vez e pronto. Reforço para o meu cérebro.
Abaixo a cabeça enquanto aguardo e um vento
gelado bate quando a porta se abre. Vamos lá...
Todo o meu corpo fica imóvel ao levantar
os olhos.
Na minha frente está uma menina de cabelo
castanho escuro, que bate no meio das costas. Os
fios fazem umas ondas bonitas no final. Ela é alta,
quase da minha altura. Deve ter cerca de um metro
e setenta. Seus olhos são de um castanho
esverdeado que nunca vi. Penetrantes. Tem o nariz
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pequeno e boca carnuda. Carnuda e naturalmente


rosada. Baixo os olhos e o que vejo não deixa só o
meu corpo imóvel, deixa meu pau duro. Ela está de
vestido. Não é nada vulgar, é um azul florido, um
pouco acima do joelho. Maravilhoso nas curvas do
seu corpo. Alice não é dessas magricelas, tem
bastante carne. O seio avantajado está
perfeitamente redondo no decote e sua cintura fina
é ressaltada com os quadris largos. As pernas
também são bem grossas. Já consigo imaginar
minhas mãos subindo por elas. Caralho!
Preciso falar alguma coisa, rápido, ela está
ficando corada por meus olhos estarem devorando
cada parte do seu corpo. Que fofa! Fofa? Mas que
merda é essa? Deve ser o tesão me consumindo.
Junto forças para me concentrar e, enfim, me
apresento.
— Oi, eu sou Murilo. Tudo bem?
Ela sorri e seu rosto se ilumina com
covinhas perfeitas, deixando-a ainda mais
vermelha.
— Eu sei — diz simplesmente e me convida
para entrar.
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Ela não é tão chata como imaginei, tem


senso de humor. E, definitivamente, não é feia. É
linda até demais! Isso vai ser divertido.

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Capítulo 5
♫ Todos os dias quando acordo não tenho
mais o tempo que passou. Mas tenho muito
tempo, temos todo o tempo do mundo. ♫
Tempo perdido, Legião Urbana
ALICE
Enquanto fecho a porta, sinto um perfume
masculino maravilhoso. Não consigo identificá-lo,
mas fico inebriada. Se não bastasse ser lindo, ainda
é cheiroso. Murilo é um pouco mais alto que eu,
por volta de um metro e oitenta. Tem cabelos
escuros bagunçados de um jeito muito sexy; seus
olhos são castanhos avelã; o rosto marcante, com a
barba por fazer. E a boca? De tirar o fôlego
estampando um sorriso travesso. Tem tatuagens por
todo lado. Ainda não consegui ver direito, porém,
como boa observadora, percebi que somente uma é
colorida, na altura do pescoço. Quer dizer, não sei
se em seu peitoral forte há outras... Meu Deus! Isso
vai ser difícil, estou suando frio de tão nervosa.
Pelo menos, a julgar a forma que ele está
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me olhando, não ficou decepcionado. Estava


insegura com a aparência. Devo ter acertado,
depois de duas horas experimentando todo meu
guarda-roupa. A Claudinha insistiu para fazer
compras na hora do almoço, entretanto, eu não cedi
à sua animação. Por ela, eu usava uma minissaia
com salto 15. Até parece! Escolhi um vestidinho
azul básico e minha melissa preferida. Também
optei por maquiagem simples, só um rímel discreto
nos olhos e um pouco de base.
Com muito custo, quando saí do estágio
passei no shopping e comprei lingerie nova. Queria
ter escolhido uma sensual, contudo, foram as
delicadas de algodão mesmo. Se isso é um ritual de
passagem e não sinto nada por esse cara, não vou
torrar meu suado dinheiro, tampouco, fingir ser
algo que não sou. Já basta ter que pagá-lo. Senhor,
quão absurdo soa isso? Embora não seja dinheiro
meu efetivamente, é por minha causa. Claudinha
insistiu que vai ser meu presente de aniversário
adiantado, porém, não me sinto nem um pouco bem
com isso.
Quão baixo a pessoa precisa chegar na vida
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para aceitar se prostituir em vez de arrumar um


trabalho decente? Não sou preconceituosa, nem
gosto de julgar as pessoas, mas tem coisas que não
consigo entender. Se bem que ele deve pensar a
mesma coisa. Quão louca uma mulher precisa ser
para perder a virgindade com um garoto de
programa? Meu Deus, estou passando mal! Preciso
de um copo de água.
— Não estou... Quer dizer, não me sinto...
— Sorrio sem graça. — Você aceita alguma coisa?
Preciso de um copo de água.
— Tu tem alguma bebida alcoólica? — diz
parecendo também desconfortável.
— Humm... — Enrugo o nariz e ele sorri no
mesmo instante. — Desculpe. Eu não bebo. Mas
temos Coca, café, suco de milho, chá...
— Suco de milho? — pergunta animado.
— Sim, você gosta? As meninas aqui
acham nojento, a Claudinha diz que parece vômito.
Eu amo!
O quê? Acabei de dizer vômito? Alice,
Alice, concentre-se e não estrague o clima.

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— Eu amo também! A Dona Emília, minha


vizinha, sempre me dava um copo quando criança.
Faz um tempão que não tomo.
— Eu fui para a casa dos meus pais no fim
de semana, quer dizer, da minha mãe, e trouxe
garrafas congeladas. Meu avô tem uma plantação
de milho. Eu nasci no interior de São Paulo, uma
cidadezinha bem pequena onde quase todo mundo
tem um quintal grande para plantar suas coisas. —
Sorrio novamente, mas logo percebo que estou
falando como se estivesse em um encontro, não
pagando por hora para ele tirar minha virgindade.
Meu Deus, sou péssima nisso!
Viro desajeitada em direção à cozinha para
tomar um copo de água bem gelado e servir o suco
de milho. Não olho para ele, nem espero sua
resposta antes de me explicar.
— Olha só, desculpa, viu?! Quando eu fico
nervosa tagarelo sem parar. E o nervosismo por
aqui já passou do nível saudável — falo e ele ri de
novo. Será que me acha engraçada?
— Não precisa ficar nervosa, gata. É só
relaxar que tudo flui naturalmente.
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Gata? Relaxar? Nessa altura já estou mais


vermelha que um pimentão. Tiro as garrafas de
suco e a de água da geladeira e as deixo na
bancada. Viro-me para pegar dois copos no armário
em cima da pia e sinto seus olhos no meu corpo.
Nossa! Estou ficando com muito calor. No Rio
costuma ser quente, mesmo em junho, mas agora
faz uns 40 graus aqui dentro.
Quando volto a olhá-lo, suas pupilas estão
em chamas. Ficamos nos encarando pelo que
parece uma eternidade até eu lembrar que preciso
de água. Sirvo seu copo primeiro, por educação, e
encho o meu até a boca. Continuamos nos olhando
em um silêncio torturante. Acabo tomando três de
água, enquanto ele toma o seu de milho.
— Você é gostosa pra caralho. Tu sabe
disso, né?
O quê? Não consigo racionar uma resposta,
então, volto a ficar vermelha como um pimentão.
Murilo parece gostar de me deixar sem graça, pois
está rindo de novo. Começo a ficar com raiva desse
sorriso de deboche.
— Qual é a graça? Por que você fica com
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esse sorriso idiota o tempo todo?


— Calma! — ele fala na defensiva,
gargalhando. Que ódio! — Não precisa ficar
estressada, gata. Primeiro, só constatei um fato bem
verdadeiro: tu é gostosa pra caralho e já estou duro
sem nem encostar em você.
Meu Deus! Agora estou parecendo o
planeta Marte.
— Segundo, não estou rindo para debochar,
e sim por achá-la genuinamente engraçada. Tu
deveria ficar feliz porque faz tempo, muito tempo,
que não dou tanta risada espontaneamente assim —
continua.
— Eu... Bom... É... — tento dizer algo, mas
não consigo pronunciar uma palavra. Só fico ainda
mais vermelha.
— E tu fica ainda mais bonita corada assim
— confessa.
Será que faz tempo mesmo que ele não
sorri? Como, se a vida dele se resume a sexo? Se
transar for como dizem, Murilo deve ser o cara
mais feliz do mundo, já que faz isso com

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frequência.
Espere aí! E se toda essa fala fizer parte de
um script previamente ensaiado? É bem capaz que
seja, e eu aqui filosofando. Para quantas mulheres
ele deve ter dito isso? Ou melhor: com quantas
mulheres ele dormiu? Hoje será que já teve
alguma? Meu Deus! Sou uma idiota. Por um
momento comecei a me preocupar com esse
homem que nunca vi na vida e não conheço nada.
Olha o lado sentimental predominando de novo.
Para com isso, Alice. Só viva o momento. Já deve
ter passado uns trinta minutos e, tempo com o
Murilo, é literalmente dinheiro.
— Então, como vai ser? Não podemos ficar
de papo furado a noite toda — falo secamente e ele
me observa com um olhar divertido e confuso. Não
deve ter entendido como passei de vergonhosa para
direta em segundos.
— Seu pedido é uma ordem, gata. O que tu
quer fazer primeiro? Sou todo seu! — diz com uma
piscadinha.
— Bom... Eu... Não tenho experiência
nisso, esperava que você tomasse a inciativa.
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Mal termino de dizer a frase e ele dá a volta


pela bancada da cozinha, sem tirar os olhos de
mim. A temperatura subiu novamente, entretanto,
em um paradoxo do universo, começo a suar frio.
Estou paralisada com aquele olhar avelã fulminante
entrando direto em partes desconhecidas. Sorte que
tenho apoio por perto, senão já tinha caído. Ele cola
seu corpo no meu e sussurra no ouvido.
— Com todo prazer, gata.
Solto um suspiro que não pretendia, mas
parece que faz Murilo se acender. Ele diz umas
palavras incompreensíveis e coloca suas mãos
fortes na minha cintura, puxando-me para perto de
si.
Mal consigo respirar.
Suas mãos voltam a agir. Começam a subir
pelas minhas costas e cabelos enquanto beija o
pescoço ferozmente com mordidinhas de leve na
orelha. Minhas pernas involuntariamente se
apertam. Nós dois suspiramos dessa vez.
Tomo coragem e acaricio sua barriga
sarada. Murilo abaixa as mãos para a minha coxa e
sobe lentamente por debaixo do vestido, segurando
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minha bunda e me puxando mais para perto dele.


Faz questão de mostrar que já está pronto.
— Porra, Alice. — Ele engole em seco. —
Tu é muito gostosa.
Não consigo nem responder, só o olho com
desejo. Estou morrendo de vontade de beijá-lo, mas
já li uma vez que garotos de programa não beijam
na boca. Será verdade? Que se foda! Reclame com
Claudinha depois que violei as regras.
Tiro as mãos de sua barriga que ainda não
vi, mas posso sentir cheia de gominhos, e coloco no
pescoço, acariciando seus cabelos. Murilo fecha os
olhos e inclina a cabeça levemente para trás, isso
me dá uma ótima oportunidade de agir antes de
mudar de ideia.
Umedeço meus lábios e toco os seus
devagar, tentando perceber uma recusa. Ao
contrário, ele se abre para mim e devora cada
milímetro da minha boca. Estou em chamas. Nunca
me senti assim na vida, é a melhor sensação que já
tive. Não resisto ao desejo e solto um gemido em
sua garganta, deixando-o louco.
Rapidamente, Murilo me levanta pelas
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coxas e me coloca sentada em cima do balcão. Suas


mãos percorrem toda a extensão do meu corpo, da
panturrilha até os seios, enquanto sua boca continua
me matando. Mordo seus lábios de leve e ele
também geme, colocando sua mão bem próxima de
minha calcinha de algodão. Sente minha umidade e
solta mais um gemido. Quando percebo o que
pretende fazer com os dedos, paraliso totalmente.
Paro o beijo e fico imóvel. Minha respiração ainda
está irregular. Meu Deus, não posso! Eu não
consigo fazer isso assim, no balcão da cozinha onde
a gente come.
— Está tudo bem? — pergunta Murilo
ofegante.
— Desculpa, não posso fazer isso aqui —
digo totalmente vermelha, ajeitando meu vestido e
descendo da bancada.
— Ahhh, sim — ele fala sem graça, dando
espaço para eu me afastar um pouco. — Não
pretendia fazer nada aqui, sei que é sua primeira
vez. Só não me aguentei, você é de tirar o fôlego,
Alice.
Continuo vermelha e ele sorri. Ficamos nos
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olhando por alguns instantes, a eletricidade em nós


ainda está presente por toda parte, mas não digo
nada. Não consigo decidir o que fazer. Meu corpo
grita desesperadamente para terminar isso logo,
minha mente suplica para eu não seguir em frente.
Vou me arrepender depois. Eu nem conheço esse
cara, a gente mal conversou uma hora na vida e já
vou lhe dar algo que guardei por 18 anos. Não
posso fazer isso.
— Tu quer ir para o seu quarto?
— Desculpa, Murilo. Não vai rolar aqui
nem em lugar nenhum. Não hoje. Não posso fazer
isso.
Despejo as palavras e, como uma criança
com medo, saio correndo em direção à sala. Sento
no sofá com as mãos no rosto ouvindo passos
pacientes vindo onde estou.
— Alice, eu machuquei você?
— Não! Não é nada disso, Murilo — digo
nervosa, tirando as mãos do rosto e o encarando
novamente. — Olha, pra você eu sou só mais uma
na lista. Pior, sou mais uma cliente. Pra mim, é
importante este momento. Eu estou tentando, juro.
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Não cheguei a esse ponto com ninguém. Mas a


gente se conheceu, literalmente, agora. Por mais
que meu corpo queira terminar isso e nunca mais te
ver, sei que vou me arrepender depois.
Ele fica me olhando atentamente, como se
um plano mirabolante passasse em sua mente. Ou
como se eu fosse uma louca chorona que o fez
perder seu precioso tempo. É difícil decifrá-lo.
— Se tu me conhecesse um pouco melhor,
seria mais fácil fazer isso?
— Como assim? — questiono confusa.
— Continua sendo o mesmo plano. Eu sou
o garoto de programa que vai tirar sua virgindade e
depois a gente não se vê mais. Só que em vez de
fazer isso de uma vez, hoje, vamos fazer aos
poucos até você se soltar. Eu não me abro com
ninguém, então, não me venha dar uma de curiosa
sobre a minha vida. Porém, topo responder
perguntas básicas. O que acha?
Nossa, estou mais confusa ainda. Por que
ele faria isso? Por que desperdiçaria seu tempo
comigo?

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— Não consigo imaginar por que você faria


isso — falo sinceramente.
Ele demora uns segundos para responder, o
que me deixa ainda mais curiosa sobre o motivo.
— Bom, a Claudinha vai tirar sarro da
minha cara pelo resto da vida por não ter
conseguido levar você pra cama. Agora virou uma
questão de honra.
Abaixo os olhos no mesmo instante em que
ele fala a palavra “honra” e solto um suspiro,
frustrada. Murilo estava indo bem na explicação até
agora. Ele percebe minha reação e imediatamente
se desculpa, sentando-se agora do meu lado.
— Porra, Alice! Desculpa. Não devia ter
falado isso. Claudinha me contou sobre a aposta do
seu ex-namorado. Desculpa mesmo. Quis dizer que
não me importo de fazer isso, não vai ser nenhum
sacrifício ajudá-la. Tu é bem gostosa! — ele fala de
um jeito brincalhão, tentando me animar.
— Eu não tenho dinheiro para gastar com
isso, Murilo, e de forma nenhuma vou deixar que
Claudinha torre o dela.

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— Vamos fazer um acordo: só vou cobrar


da Claudinha o que combinamos inicialmente, as
horas consumadas. O resto vai ser uma cortesia da
casa. A gente combina algumas horas na semana.
— Continuo não entendendo por que você
faria isso. Vai perder dinheiro enquanto estiver
comigo. E eu posso nunca querer, de fato, fazer
isso com você. Irá desperdiçar seu tempo.
— Gata, tu pensa demais. Levando em
consideração o que estávamos fazendo há quinze
minutos, não haverá tempo perdido aqui. É só uma
forma de você se soltar e deixar de raciocinar tudo
da forma como acha que é o certo. Pare de pensar,
Alice! Vamos viver um pouco?
Observo-o atentamente antes de dar uma
resposta. Essa sua explicação não está convincente
para os meus padrões, mas ele não deixa de ter
razão em uma coisa: eu penso demais. Preciso parar
de pensar e viver. Estou sentindo o calor do seu
beijo até agora. Murilo será uma ótima terapia em
favor do Carpe Diem. Se eu passar um pouquinho
mais de tempo com ele, acho que consigo fazer
isso. Só não posso, de jeito nenhum, me deixar
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envolver.
— Tá bom, eu aceito!
Nós dois sorrimos e nos sentamos de índio
no sofá, cada um com uma almofada em cima do
colo. Trocamos telefones e combinamos mais ou
menos como isso funcionará. Quando demos conta,
já era meia-noite. Passamos quase três horas apenas
conversando sobre amenidades. Eu fui a única que
tagarelou sobre a infância e a adolescência.
Ele ficou só escutando, entretanto,
compartilhou algumas coisas pessoais, como a
paixão pelo Flamengo e como ama Óreo com leite.
Murilo não é tão ruim quanto imaginei, mas ainda
não entendo seu estilo de vida. Despedimo-nos com
um beijo rápido e suficiente para reacender o calor
em minhas pernas. Ah, isso vai ser divertido, afinal.

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Capítulo 6
♫ Toque na minha janela, bata na minha
porta. Eu quero fazer você se sentir linda. ♫
She will be loved, Maroon 5
MURILO
Fazia tempo que eu não sorria tanto como
ontem. Porra! Ela tinha que ser tão gostosa? Se
fosse feia como imaginei, ou chata como tinha
certeza, não existiria essa ideia idiota de continuar a
vendo. Por que eu fiz isso? Só pode ser muito tesão
pela experiência diferente com uma virgem.
Alice vai ser uma ótima distração dessas
clientes chatas. Suas covinhas perfeitas, o jeito
engraçado que enruga o nariz quando quer se
desculpar por algo, o rosto corado de vergonha
quando a provoco...
E o beijo? Caralho! Aquilo foi de tirar o
fôlego. Geralmente eu não beijo nenhuma das
clientes, é meio que de conhecimento geral que não
fazemos isso. Só quando pagam, e pagam bem.

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Porém nunca fiquei tão feliz com a ignorância


alheia. Se ela não tivesse tomado a iniciativa, eu
teria feito. Aqueles lábios carnudos e rosados
ficaram me chamando a noite toda.
Também nunca fiquei excitado tão rápido e
nem quis tanto uma mulher. Eu teria a tomado ali
mesmo na bancada da cozinha. Nem a toquei, mas
consegui senti-la por cima da calcinha. Estava tão
molhada. Merda! Lá vem o pau duro de novo.
Ontem, quando saí da república, tive que
dar um jeito sozinho nos meus hormônios. Não
demorou nem três minutos. Vergonhoso, mas
verdade. Foi só pensar em minhas mãos subindo
pelas suas pernas e apertando aquela bunda redonda
e gostosa, enquanto experimentava cada canto de
sua boca. Pronto!
Eu poderia ter me aliviado com outra
mulher qualquer, geralmente tenho duas clientes
por noite. Por isso começo cedo, sempre por volta
das oito, para o dia terminar lá pelas três da manhã.
Entretanto, ontem não estava com vontade.
Voltei para casa pensando como Alice fica
ainda mais gostosa quando está brava. Ela disse que
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eu estava rindo por deboche. Meu Deus, se


soubesse! Era tipo uma alegria genuína mesmo, por
estar perto de alguém tão espontânea.
Nem acreditei quando ofereceu suco de
milho. Eu amava quando criança, pena que me traz
memórias tão ruins. Ganhava da Dona Emília nas
horas que me escondia na casa dela com as brigas
dos meus pais. Ontem não me lembrei disso, já que
Alice começou a tagarelar sobre como na cidade de
onde ela veio todo mundo tem quintal grande para
plantar. Cara, ela é uma figura! Nunca vi pessoa se
empolgar mais para conversar.
Que horas são? Merda de tesão reprimido!
Estou atrasado para falar com Max. Combinamos
às nove horas daqui, meio-dia em Londres, de
terminar a música que ele precisa apresentar este
semestre na Royal Academy of Music.
A Royal é o mais antigo conservatório
musical da Inglaterra. Apesar da barra que estava
passando na minha vida, fiquei muito feliz quando
ele conseguiu a bolsa. É um artista nato, merece
brilhar. Max é foda em vários instrumentos, mas
tem dificuldade de compor. Coisa que sempre amei.
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Levanto da mesa da cozinha, coloco o copo


de leite com biscoito Óreo na pia e vou para o
quarto. Enquanto ligo o computador, pego meu
caderno de anotações e o violão. A apresentação de
Max é no piano, entretanto, gosto de fazer minha
versão em seis cordas. Mal ligo o Skype e ele já
está me chamando.
— Caralho, Murilo! Onde você estava?
Olívia te manteve ocupado?
— Calma, cara! Só atrasei vinte minutos.
— Você sabe que só tenho a hora do
almoço pra fazer isso. Aconteceu alguma coisa?
— Não, tô de boa.
— Como se não te conhecesse. Fala logo, o
que houve?
— Porra, Max! Já disse que não foi nada.
— Você tem essa péssima mania de se
fechar e carregar o mundo nas costas. Deixa eu te
falar uma coisa: Não precisa ser assim! Tem
pessoas que se preocupam e querem ajudar. As
coisas pioraram por aí? — insiste meu amigo.
— Estão na mesma merda! Contas pra
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pagar que não param, os mesmos problemas


familiares de sempre, trabalho bosta.
— Trabalho bosta? Fala sério! Você pode
transar toda hora e ainda ganha dinheiro com isso
— brinca.
— Cala a boca, seu idiota! — Sorrio. — Tu
sabe que só estou nessa por falta de opção.
— Você podia tentar a bolsa que te falei e
vir pra cá, Murilo.
— Nem começa com essa merda. Tu sabe
que não posso.
Tento falar com Max, pelo menos, uma vez
por semana. Não passamos de quinze dias sem
trocar uma ideia. Em toda conversa, toca nesse
maldito assunto. Ele sabe a merda que eu passei e
que passo. Sabe os meus problemas e meus limites.
Primeiro, eu nunca passaria nessa escola. Segundo,
se por um milagre passasse, não poderia ir de jeito
nenhum.
— Desculpa, cara. É que você tem tanto
talento, é um desperdício só usar para me ajudar de
vez em quando.

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— O talentoso aqui é você, Max. Fico


muito feliz por ter conquistado o que mais queria.
— Pois é, pena ter custado tão alto.
— Como assim? O que foi?
— Cara, se eu contar com quem eu sonhei
esta semana quase todos os dias, você não vai
acreditar.
— Claudinha de novo?
— De novo. Os sonhos com ela têm
aumentado cada vez mais. Não sei por quê.
— Eu a vi semana passada.
— Viu? Como assim viu? — pergunta
desesperado por informações.
— No bar do Rafa. Ela voltou a frequentar
aqui pelo que parece.
— E como ela está?
— Doida como sempre. — Sorrio.
— Minha doidinha. Que saudade dessa
mulher! Ela falou alguma coisa?
— Sobre você, não.
— Humm — diz desanimado.

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Na verdade, Claudinha pareceu ainda


magoada pelo que aconteceu, mas não quero falar
sobre isso agora. Ele a ama, sempre amou, só foi
atrás de oportunidades melhores para sua vida.
— O que foi?
— O que foi o quê? — pergunto.
— Você ficou estranho.
— Tô de boa, cara.
— Tenho certeza que aconteceu alguma
coisa e você não quer falar.
Aconteceu que estou cansado dessa vida
chata e monótona, mas odeio falar dos meus
problemas. Inclusive, com Max. Vou contar sobre a
Alice, é um terreno mais seguro. Sempre
comentamos de mulher.
— Estou com uma nova cliente, uma bem
diferente.
— Diferente como?
— É toda certinha, não faz nada divertido
na vida. Ela é amiga da Claudinha.
— Amiga? Desde quando Claudinha tem
amiga?
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— Parece que agora tem. Na verdade, é


uma longa história. Resumindo, a Claudinha
contratou meus serviços para tirar a virgindade da
amiga.
— O quê? A mina sabe disso, né?
— Claro que sabe, Max. Ela meio que
acredita em contos de fada, teve algumas decepções
na vida e resolveu aceitar pra chutar o balde.
— Parece história de filme. — Ele ri.
— Pois é.
— E essa mulher é gostosa?
Imaginar eu mostrando para o Max imagens
de Alice no Facebook, como já fiz várias vezes
com mulheres gostosas que peguei, parece
estranho. Não sei por que, mas não consigo entrar
em detalhes sobre ela com meu amigo.
— É sim.
— Cara, você gostou dela. Fala a verdade.
— O quê? Claro que não, Max. Não viaja!
— Ahh você gostou, sim. Nem quer dar
detalhes pra mim. Fala aí, ela tem peitões? Bunda
redondinha? Boca...
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— Cala a boca, Max!


— Sabia! — gaba-se sorrindo. — Você
gostou dela!
— Mas que porra, Max! Para de encher o
saco. Vamos fazer logo essa composição porque o
tempo está passando.
— Vamos! — diz ele rindo com cara de
quem descobriu a energia elétrica.
Passamos a próxima hora tocando e
riscando versos. O resultado final ficou ótimo, seria
ainda melhor apresentado em piano e violão.
Desligo o Skype, porém, continuo pensando
nas palavras de Max: "Você gostou dela".
Gargalho só de pensar. Gostei nada, é só
tesão. Muito tesão, aliás.

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Capítulo 7
♫ Agora pode me xingar, que pra mim
tanto faz. Pode se revoltar, mostrar
a sua ira. Era tudo mentira! ♫
Conto de fadas, Luan Santana
ALICE
É hora do almoço. Saio correndo do estágio
para encontrar Claudinha no shopping. Ela queria ir
lá em casa ontem à noite mesmo para saber o que
aconteceu, mas eu precisava dormir. Trabalho
muito cedo. Já adiantei que Murilo e eu não
fizemos nada de mais, só que quer saber de tudo
nos mínimos detalhes.
"Nada de mais", porém, é meio relativo.
Nunca me senti daquele jeito. O desejo ainda arde
em mim até agora, horas depois de sua mão quente
deslizar pelo meu corpo e sua língua explorar cada
canto da minha boca. Nossa, que calor nesta
cidade!
Quando chego ao local marcado, ela já está

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lá sentada, com cara de impaciente olhando para o


celular.
— Alice, que demora! — grita.
— Desculpa o atraso, Claudinha. Eu tive
que resolver uns problemas antes de sair. E tenho
que voltar rápido também, só tenho trinta minutos.
— Me conta tudo, então, não aguento mais
de curiosidade.
— Não tem muito o que contar. Eu ainda
sou virgem, já falei. Não consegui ir mais longe
conhecendo o cara há poucos minutos. Murilo
propôs que a gente faça devagar, assim posso me
soltar mais.
— Ele propôs isso? — Claudinha pergunta
assustada.
— Sim. Também achei estranho. Eu disse
que não tinha dinheiro pra pagar e, de jeito
nenhum, aceitaria que você pagasse. Ele falou que
só cobraria as horas que, efetivamente, você sabe...
Quando acontecesse.
— Hum — diz simplesmente.
— O que foi?
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— Nada não.
Sei que tem algo, mas não quero nem saber
muito sobre Murilo. Se isso é casual, um rito de
passagem, que aconteça logo e sem envolver
sentimentos. Não dá nem para me imaginar
apaixonada por um garoto de programa.
— Me conte o que rolou — minha amiga
continua.
— Nos beijamos na cozinha, ele beija muito
bem. Nossa! Explorou um pouco com as mãos meu
corpo, porém, não passou disso. Eu não consegui ir
além.
— O que tu achou dele?
— Ele é bem bonito, engraçado também.
Ah, e gosta de suco de milho! — Claudinha imita
como se estivesse vomitando. — Só tem uma
mania irritante de ficar rindo da minha cara o
tempo inteiro. Sem contar que é bem direto. —
Fico corada. — Depois do beijo, ficamos horas
conversando.
— Murilo rindo o tempo inteiro e
conversando? Cara, será que foi o garoto certo na

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sua casa?
— Como assim?
— Esquece, Alice — ela fala rindo, um
sorriso meio forçado. — Então, não foi dessa vez,
mas será em breve, hein?! Pelo amor de Deus, vê se
não se envolve! Só sexo. Entendeu?
— Claro que sim. Eu sei disso.
— Acho bom — reforça enfática.
Almoçamos e falamos de outros assuntos.
Pensei que Claudinha ia querer saber todos os
detalhes, onde exatamente cada parte do meu corpo
foi tocada, mas nem perguntou mais. Bom, agora
também nem tenho tempo de pensar nisso. Preciso
voltar logo.
Despeço-me dela e saio apressada. Quando
me viro para marcar de encontrá-la no intervalo da
faculdade já está longe, grudada ao telefone. Fala
com alguém e parece brava, muito brava.
***
Enfim, hoje vim à aula. Odeio faltar, no
entanto, estava sem condições de enfrentar Heitor
semana passada. Na verdade, nem agora. Espero
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que aquele idiota fique bem longe de mim. Como


não tenho mais sua carona, preciso urgente resolver
a questão de um meio para me locomover.
Minha mãe queria me ajudar a financiar um
carro, acho que vou aceitar. Andar de transporte
público nesta cidade é impossível! Sorte que minha
colega de república, a que está fazendo TCC, me
ofereceu carona ilimitada até o final do ano.
Claudinha mora do outro lado e não gosto de
abusar da boa vontade das pessoas.
Pego minha bolsa e meus livros, e sigo para
a biblioteca. Gosto de ficar lá antes de o primeiro
turno começar. Confirmei com o pessoal da sala e
anotei os tópicos das últimas aulas. Fiz dois
trabalhos e agora já estou adiantando um para o
final do mês. Às vezes eu queria aproveitar mais
esse tempo para conversar com alguém, dar uma
volta pelo campus ou simplesmente ficar de
bobeira. Só que não consigo! Meu cérebro é
condicionado a fazer coisas úteis, que me levem ao
objetivo final. Ou seja, basicamente para o estágio
e a faculdade. Durmo cedo e acordo mais cedo
ainda. Os finais de semana eram para o Heitor
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durante a noite, e meu momento com Claudinha


todo sábado de tarde. Estou ajudando-a no projeto
de abrir uma loja virtual com suas invenções da
moda. O resto usava para ler ou estudar. Parece
uma vida chata, mas sei que vou colher os frutos
daqui dois anos, quando me formar. Tenho tudo
planejado!
Vou para aula e nem vejo a hora passar de
tão bom que está o primeiro período. Discutimos
planos de negócios. No intervalo, meu estômago
ronca e decido dar uma passada na cantina para
comer alguma coisa. Claudinha não está me
atendendo, então, hoje vou ficar sozinha pelo que
parece. Compro um lanche natural e um suco de
laranja, e sigo em direção a uns bancos afastados
próximo do meu bloco. Perdida em pensamentos
sobre a última semana inusitada, mal escuto quando
alguém chama meu nome.
— Alice. — Viro-me em direção a voz e no
mesmo momento fecho a cara.
— O que você quer, Heitor?
— A gente precisa conversar.
— Não tenho nada pra falar com você. —
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Levanto e começo a sair de onde estou, mas ele


pega no meu braço.
— Não sei o que falaram pra você. É
mentira, Alice. Porra! Tu não atende minhas
ligações, nem responde minhas chamadas. Na
portaria do se prédio me disseram que estou
proibido de subir. — Tiro suas mãos do meu braço
e sorrio com sarcasmo.
— É sério isso, Heitor? Você vai tentar agir
como se estivesse tudo bem?
— Não sei do que tu está falando.
— Ah você sabe, seu cretino idiota! —
exalto-me e lágrimas tentam fugir dos meus olhos,
mas as empurro de volta.
— Se falaram sobre Paula e eu, ela não
significa nada pra mim, Alice. Foi só um caso
idiota. Eu te amo — mente e agora estou
gargalhando.
— Paula, a ruiva? Não é por causa dela. E
não diga “eu te amo”, você não sabe o que é amor.
Guarde suas explicações para a próxima aposta! —
digo e Heitor fica branco na minha frente, mais

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branco do que semana passada, quando eu só


rasguei a folha e o mandei tomar no cu, sem prestar
mais esclarecimentos.
— O... o que tu disse?
— Isso mesmo que você ouviu. Sei da sua
aposta idiota e de como você está cansado de
perder tempo com quem "demora pra abrir as
pernas" — falo imitando com as mãos sinais de
aspas.
— Quem te disse isso, Alice?
— Pior que ninguém, Heitor. Tive o
desprazer de ouvir com meus próprios ouvidos,
quando saí correndo da minha sala preocupada com
você e seu trabalho, e vim até aqui entregá-lo.
— Mas que merda!
— Só isso? Você me engana por sete meses,
me faz apaixonar por você, e só vai dizer "Mas que
merda"?
— Porra, Alice! Tu estragou tudo.
— Como é? Eu estraguei?
— Que tempo perdido! Agora que a gente
já estava quase lá, dou uma bobeira dessas. Pensei
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que tu tinha descoberto sobre a Paula, daí ainda


seria fácil dobrar vo... — Nem espero ele terminar
a frase e dou um tapa bem dado no meio da cara
desse idiota.
Em vez de me xingar, Heitor ri. Ri!
— Tu devia usar toda essa energia pra
foder. Perdemos meses com conversas idiotas e
essa sua chatice de planejar até o que vai comer no
almoço. Foi um saco. Tu é chata pra caralho, só
fiquei com você porque é gostosa. Só por isso.
Tinha quem me dar o que quero toda noite.
— Por quê? Por que eu? — Lágrimas
escorrem desesperadamente pelo meu rosto.
— Porque você é difícil e adoro desafios. —
Sorri ao falar.
Minha vontade é dar outro tapa em sua cara,
porém, ele continua.
— Nas primeiras duas semanas eu estava
com você por vontade própria, queria te foder
porque é gostosa. Quando tu disse que era virgem e
ia esperar pra ver se eu era o “homem certo”, não
aguentei! Contei aos caras e ia ganhar uma bela

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bolada. Só que demorou um inferno para isso


acontecer, mas eu ia até o fim. Acho que mereço
meu prêmio por ter suportado tanto.
— Vai para o inferno, seu desgraçado! —
berro. — Nunca mais apareça na minha frente nem
se dirija a mim. Nunca, ouviu?
— Com todo prazer, não perderia mais meu
tempo. Cuidado, hein, se continuar assim vai
morrer virgem. Tu não vai encontrar outro idiota
para aguentar suas chatices por tanto tempo. Tem
certeza que não quer que eu resolva isso logo?
Não quero ouvir mais nada. Saio chorando
pela faculdade e entro no banheiro, trancando forte
a porta. Por que estou chorando? Ele não merece
nenhuma lágrima, nenhuma. Como uma pessoa
pode ser falsa tanto tempo? Passo uns trinta
minutos ali, deixando meus olhos limparem o peso
que está em minha alma por aquelas palavras.
Prometo a mim mesma que nunca mais,
nunca, vou deixar uma pessoa me usar. Chega de
sonhar com príncipes, eles não existem. Chega de
sonhar com o amor. Vou parar de pensar e deixar as
coisas acontecerem, perder essa merda de
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virgindade e seguir com foco na minha carreira.


Meu objetivo nº 1 de vida está, definitivamente,
apagado. Pego o celular e mando uma mensagem
para Murilo.
E aí, quando vamos para o segundo passo
do nosso plano?

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Capítulo 8
♫ Me perdi no céu das suas pintas,
me encontrei no céu da tua boca. Tu
é labirinto, rua sem saída. Me rendi
a tua alma nua, vem cá. ♫
Fica, Anavitória
MURILO
A semana está uma loucura! Não sei o que
foi pior. A única coisa boa é que, daqui a pouco,
vou encontrar Alice. Na terça-feira ela me mandou
uma mensagem querendo marcar nosso próximo
encontro, mas eu estava ocupado demais com
Olívia e não podia agendar nada antes de hoje.
Sexta é o melhor dia para conseguir clientes, só que
não vou dispensá-la de jeito nenhum de novo.
Claudinha não está gostando nada disso, me
ligou puta da vida querendo saber que ideia idiota
foi essa de propor ir devagar. Na verdade, nem eu
sei por que sugeri algo assim. Quando vi já tinha
falado. Ela me disse para acabar logo com isso e
não magoar sua amiga. Retrucou algo sobre eu
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estar diferente e que está sentindo cheiro de merda


no ar.
Eu ri da cara dela, de jeito nenhum ia me
envolver de uma forma que fosse magoá-la. Para
começo de conversa, eu nunca me envolvia. Tudo
fazia parte do charme para convencê-la a se soltar.
Como odeio que me acusem, também logo a
coloquei no lugar, lembrando-a de quem foi a ideia
disso tudo. Claudinha ficou mais puta ainda e,
antes de desligar o telefone, deu um último sermão
sobre, de forma alguma, me apaixonar pela Alice.
Eu gargalhei de novo e a tranquilizei.
Não sei nem o que significa essa palavra,
então, não corro o risco. Tenho certeza que o
motivo dos meus pensamentos se perderem em
Alice durante o dia é o tesão reprimido. Só estou
interessado nela fisicamente. É muito gostosa!
Ela, aliás, é a parte boa dos pensamentos. A
ruim são as contas. Porra! Por que se multiplicam
tanto? Tenho ainda dois alugueis e uma conta de
luz atrasados. Como desgraça pouca é bobagem, a
máquina de lavar roupa resolveu quebrar também.
Preciso pagar logo o aluguel porque dever no
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Morro não é indicado se você preza pela vida.


Quando pego as chaves da moto, tenho uma
ideia e mando mensagem para Alice no WhatsApp.
Me espera na entrada da faculdade, tô indo
te buscar.
Nem morta que eu vou andar nessa sua
moto.
Não fala da minha garota, maluco rs
Sua garota? Meu Deus! Não me diga que
você é desses idiotas que dão nome para os
objetos? =x
Claro que dou, hoje tu vai conhecer de
perto a Rabbit.
Rabbit, de Jessica Rabbit, o desenho
animado? Kkkkkkk
Ohhhh… Já me rendeu muito esse desenho.
Ai que nojo, credo! =O
Estou sentado na moto, parado em frente de
casa, rindo igual um idiota. Tenho que encerrar
essa conversa logo, odeio mandar mensagem.
Vai logo pra frente da faculdade, chego aí
já.
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Eu já disse, não vou andar nesse negócio.


Desculpe, na "Rabbit" kkkk (nome ridículo). Nem
tenho capacete. Sem contar o risco de acidente,
ainda mais à noite.
Estou levando um pra você. Vai logo, Alice.
Para de pensar demais, porra!
Mando a última e guardo o celular no bolso.
Ele está vibrando sem parar. Cara, essa menina é
linda e engraçada, só que muito certinha. Coisa
chata do caralho! Pensa demais para fazer as
coisas, precisa aprender a se soltar na vida, não só
nos relacionamentos. Vou dar minha contribuição
para isso.
Quando chego na faculdade, logo a
encontro com cara de muito, muito brava. Encosto
a moto e ronco o motor de propósito, para irritá-la
ainda mais.
— E aí, gata? — solto e dou uma geral no
seu visual.
Está tão linda como no primeiro dia, só que
hoje com o cabelo preso em um rabo de cavalo,
calça jeans justinha e uma blusa de moletom. Ela
não é dessas minas frescas, com certeza.
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— Gata é a sua mãe. Não fale mais desse


jeito comigo, seu idiota! Você não manda em mim.
Eu não consigo segurar o riso e ela fica
mais brava ainda.
— Já vai começar a rir da minha cara de
novo?
— Alice, a ideia disso tudo não é tu se
soltar? Não estou mandando em você, estou
cumprindo nosso combinado. Para de pensar
demais nas coisas, gata.
— Não me lembro de motos perigosas na
conversa. Não vou subir nisso aí não, tenho medo.
— Não é "isso aí", o nome dela é Rabbit —
corrijo-a sorrindo e ela cai na gargalhada.
— Pervertido!
— Nunca disse que não era. — Dou uma
piscadinha e ela sorri ainda mais. Um lindo sorriso!
— Vamos logo! A noite está passando e temos
muita coisa pra fazer. Eu não vou correr, prometo.
E tu pode se agarrar na minha cintura.
— Se você correr, Murilo, eu juro que
castro você.
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— Tá vendo, Rabbit — falo alisando a


moto. — Olha a dama que eu fui arrumar!
Alice me dá um tapa, sorri novamente e
segura meus ombros para subir na moto. Ela me
abraça tão forte, de medo, que por um instante sinto
um frio na barriga. Arranco mais rápido só para
irritá-la, porém, depois faço questão de ir devagar
para sentir suas mãos na minha cintura e seu rosto
encostado nas minhas costas. O desejo de tê-la já
está se intensificando!
***
Quando chegamos ao seu andar, um cheiro
delicioso invade nossos sentidos e eu lembro que
ainda não comi nada desde o final da tarde. Que
fome! Alice também faz cara de que mataria pelo
bife do vizinho.
— Será que é feio a gente bater na porta
deles e pedir uma marmitinha? — ela pergunta
fazendo careta e eu sorrio.
— Tá de matar! Acabou de lembrar meu
estômago que estou com muita fome.
— Eu também! Bora ver na cozinha o que

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tem de bom. — Abre a porta e me puxa pelas mãos.


Sento no balcão, sim, aquele que me traz
ótimas memórias, e observo enquanto ela abre a
geladeira duas vezes e os armários de despensa
umas quatro.
— Não tem nada que sustente. — Alice faz
bico. — Mas achei uma coisa que você vai gostar:
bolacha Óreo. E temos leite! — Sorri e eu fico feliz
dela ter se lembrado da nossa conversa anterior.
— A janta perfeita! Só tem uma coisa, isso
não é bolacha. É biscoito!
— Na minha terra se chama bolacha.
— Na sua terra está errado. É só ler o
pacote. — Pego da mão dela e faço questão de
mostrar. — B.i.s.c.o.i.t.o r.e.c.h.e.a.d.o — soletro.
— Vou continuar chamando de bolacha. —
Ela dá de ombros para pegar um copo de leite.
— Vai continuar pagando mico. Mania de
paulista falar bolacha!
Ela mostra a língua de um jeito fofo (mas
que merda, essa palavra de novo!) e aponta com a
cabeça para que a siga.
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— Vamos ficar no meu quarto, hoje as


meninas estão aqui.
— No quarto é? Hummm... — Faço minha
melhor cara de sem vergonha e sua respiração
começa a ficar ofegante.
Ficamos nos olhando de forma intensa por
um tempo, até que ela vai em direção ao quarto e
entra. Deixa o biscoito com leite na mesinha de
cabeceira e, antes que possa reagir, agarro-a pela
cintura e viro-a de frente para mim, invadindo sua
boca de forma nada gentil. Caralho! Só agora que a
beijei que percebi como queria fazer isso de novo.
É intenso e longo, cheio de desejo dos dois lados.
— Vamos... É... Você quer comer agora? —
Alice pergunta corada.
Balanço a cabeça concordando e nos
sentamos na cama. Ela encosta-se à parede e eu na
beirada. Pego o copo de leite e começo a devorar os
biscoitos. Estou, realmente, com muita fome!
Quando só faltam três, a linda mulher à minha
frente sorri de forma maliciosa.
— Vamos fazer um jogo! — diz animada e
tira o pacote da minha mão. — Você só pode comer
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esses três últimos se responder três perguntas.


— Ah nem vem, Alice. Já disse que não
falo nada pessoal.
— Não vou perguntar nada de mais, calma.
É só parte do plano, te conhecer um pouco mais
para me soltar. Vamos, vai?
— Com duas condições! — É minha vez de
sorrir maliciosamente.
— Quais? — questiona receosa.
— Se eu responder tudo, depois tu vai me
deixar tirar sua roupa e beijar cada cantinho do seu
corpo. — Alice fica imediatamente nervosa e
inquieta.
— Tirar... tirar tudo?
— Por hoje, tu pode ficar de calcinha e
sutiã.
— E a segunda?
— Nada de perguntas da pergunta.
Respondo uma questão de cada tema e pronto.
— Tá... tá bom — consegue dizer morrendo
de vergonha.
Adoro esse seu jeitinho inocente! Rezo em
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silêncio para que ela faça perguntas tranquilas


porque, Deus, eu quero sentir o gosto do corpo
dessa mulher hoje ainda.
— Pode começar — falo ansioso e ela fica
pensando, com o indicador na boca.
— Hummm... Por que você escolheu ser
garoto de programa em vez de arrumar um
emprego normal, decente?
Mas que porra! Vai começar julgando
mesmo? Não faça isso, Alice, terreno perigoso.
Calma, Murilo! Pensa que para ela, do mundo que
veio, isso não é normal. Respira e responde, foca na
sua nudez daqui a pouco.
— Eu não faço isso porque quero, Alice —
respondo mais ríspido que deveria.
— Desculpa. Eu não queria ofender você,
Murilo. Só não consigo entender a motivação.
— Há cinco meses eu tinha um emprego de
segurança de condomínio. Era um salário legal e
com vários benefícios que ajudavam bastante. Só
que nessa crise a empresa começou a cortar gastos
e eu fui demitido. Já ia fazer dois anos que estava

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lá. A coisa começou apertar em casa e eu tive que


dar um jeito rápido e fácil de conseguir dinheiro.
Como o tráfico não era uma opção, acabei entrando
nesse mundo por indicação de um conhecido. É
difícil conseguir emprego só noturno.
— Por que só à noite? — Alice questiona
curiosa.
— Nada disso, gata. Nada de perguntas da
pergunta, segunda condição. — Ela faz bico e eu
sorrio. — Vamos logo com isso, qual a segunda?
— Você já se meteu em muita encrenca?
Nossa! Agora vamos ficar até amanhã
falando. Não quero assustá-la, mas encrenca é meu
sobrenome praticamente. Já passei por tanta coisa.
— Bastante — digo sem graça.
— Ahhh, isso não é resposta digna. — Faz
bico novamente. — Vou reformular, apaga essa aí.
Qual foi a maior encrenca que você se meteu?
Será que se eu disser que já fui preso ela vai
me colocar para fora? Percebi que me julga, se
souber mais essa vai se decepcionar. Não quero
decepcioná-la.

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— Eu tive uma adolescência difícil, era bem


rebelde. Me envolvi com o pessoal do Morro e me
meti em várias encrencas. A pior foi um assalto que
eu aceitei participar. Fomos pegos em flagrante e
fiquei preso por um ano. Tinha 15 na época.
Alice fica pálida na minha frente, abre e
fecha a boca duas vezes, mas não diz nada. Nem
quero imaginar o que se passa em sua cabeça.
— A última vai — instigo.
— Como são seus pais? — solta e eu tenho
vontade no mesmo instante de retirar o que disse.
Respiro fundo e decido, com foco em seu corpo nu,
dar uma resposta bem curta.
— Meu pai abandonou nossa família
quando eu tinha sete anos e minha mãe morreu já
faz quase três. E é só isso que tu vai saber, Alice.
Seus olhos ficam marejados e ela segura
minha mão, fazendo carinho. É algo estranho,
porém, ao mesmo tempo, bom. Eu costumo cuidar
de tudo, e não ter alguém para cuidar de mim.
— Sinto muito — diz minutos depois com a
voz embargada.

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—Tudo bem, não se preocupe com isso.


Ficamos nos olhando por mais um tempo e
nos beijamos delicadamente, praticamente só
encostando os lábios um no outro.
— Agora é a minha vez! — falo com brilho
nos olhos.
— Tá — diz corada.
Um silêncio enorme pode ser ouvido no
quarto, somente interrompido pelas nossas
respirações pesadas. Chego perto dela, solto seu
cabelo e beijo seu pescoço, empurrando a cabeça
para trás com as duas mãos. Seu gosto é
maravilhoso.
Olhando em seus olhos, coloco as mãos na
beirada do moletom e retiro rapidamente. Faço o
mesmo com a outra blusinha que está atrapalhando
a minha visão. Quando ela fica só de sutiã, um
branco de algodão, tenho dificuldade de respirar.
— Tão linda — digo baixinho em seu
ouvido e ela suspira.
Deito-a na cama e fico por cima, apoiando o
peso em meus braços. Em uma linha reta, começo a

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beijá-la da pontinha da orelha até o começo da sua


calça, roçando os dedos pelo cós. Alice se remexe
toda e aumenta cada vez mais a respiração. Seu
peito está subindo e descendo. Seus lindos peitos
grandes e redondos. Não era o combinado, mas não
resisto e coloco às mãos por debaixo do sutiã,
apertando de leve cada um dos seus mamilos.
Caralho, são tão macios!
— Murilo...
— Tu é muito gostosa, impossível resistir.
Delicio-me mais um pouco e retiro as mãos
das suas lindas mamas, atacando sua boca
novamente. Exploro cada canto, aproveitando que
ela se abre totalmente para mim. Nos esfregamos
um pouco e o desejo já é latente. Como não quero
apressar as coisas, interrompo o beijo e baixo os
olhos, começando a desabotoar sua calça. Desço
lentamente para apreciar a vista. Sua calcinha
também é de algodão branco. Parece um anjo de
tão linda. Contorno a calcinha com a ponta dos
dedos e Alice geme alto para mim. Porra! Está
quase impossível me segurar.
Desço os lábios e começo a beijá-la na parte
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debaixo, sem chegar nas zonas de perigo. Também


é doce e macia, uma sensação maravilhosa. Passo
minhas mãos grandes por toda sua extensão,
devorando-a com os olhos. Alice se senta e pega
em meus cabelos, fazendo que eu gema baixinho.
Em seguida, explora meu peito e acaricia minhas
costas, enquanto me beija.
— Gata, não faz isso. Assim você me mata!
Por hoje, acho que já avançamos bem.
Ela para e me olha pensativa, concordando.
Volta a se deitar de barriga para cima e eu me deito
de lado, fazendo círculos na sua cintura. Ficamos
conversando amenidades por cerca de mais uma
hora depois disso, nos beijando intensamente entre
os intervalos.
Se eu quisesse, isso podia ter terminado
hoje. Da maneira como o desejo estava exalando de
nós, ela teria se entregado. Mas se isso acontecesse,
como ia voltar a vê-la? Ainda quero aproveitar
mais um pouco.

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Capítulo 9
♫ Aí você escolhe a melhor roupa. Aí
você arruma o seu cabelo. E sai com
aquela sua amiga louca que diz que o
bom da vida é ser solteiro. ♫
Eu era, Marcos e Belutti
ALICE
A última semana de aula antes do, tão
esperado, recesso de julho é um tormento de tanta
prova e trabalho para entregar. Passei os últimos
dias estudando feito uma doida, sem tempo até para
a Claudinha. Já sou CDF naturalmente, nessa
época, então, ultrapasso os limites da bitolação.
Hoje é sábado e necessito desestressar minha
mente, urgente. Uma ótima forma de fazer isso
seria um novo encontro com Murilo.
Aiii... A sexta-feira passada foi
maravilhosa! Nem acredito que consegui ficar só de
calcinha e sutiã na sua frente. Aqueles beijos
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quentes e o olhar... Apesar de ser bem tímida, com


ele flui muito naturalmente. Acho que seu charme
de garoto de programa sexy ajuda bastante. Depois
desse encontro, Murilo me mandou mensagem no
domingo, mas eu já estava na rotina dos estudos e
disse que essa semana seria impossível. Claro,
aquele irritante lindo riu da minha cara por uns
cinco minutos enviando infinitos "kkkkkkkkkkkk".
Ele acredita que sou certinha demais, que preciso
relaxar na vida, não só nos relacionamentos. Se eu
fizer isso, entretanto, como vou alcançar meus
objetivos de ter uma carreira de sucesso? Não sei
como.
Também não sei como as pessoas
conseguem viver sem planejar seu futuro, sem
estabelecer metas. Pelo pouco que o conheço, não
tem nenhum planejamento. Parece que leva um dia
de cada vez e seja o que Deus quiser! Quando
questionei sobre a escolha de ser garoto de
programa, ele ficou bem irritado. Será que
realmente não teve outra escolha? Acho bem
difícil, mesmo com a situação que nosso país vive
hoje. Vender o próprio corpo é algo muito irreal

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para mim.
O que realmente me intrigou, foi o fato de
ele já ter sido preso. Fiquei tão chocada que nem
consegui dizer nada. Uma experiência horrível para
um garoto de apenas 15 anos. A mágoa do
abandono do pai deve tê-lo tornado inconsequente.
Minha primeira vez tão sonhada com o príncipe
será com o bad boy. Que ironia do destino, não?
Murilo é totalmente o contrário de tudo que
já desejei. Tem um passado daqueles, um trabalho
nada convencional, não se envolve, é mandão, fala
muito palavrão, não é nada romântico, não gosta de
conversar... A lista é enorme, mas, mesmo assim,
quero fazer isso com ele.
A única coisa que preciso colocar na cabeça
é, de forma alguma, criar expectativas. Somos
muito diferentes e, principalmente, temos
perspectivas futuras totalmente distintas. É só um
ritual de passagem e pronto!
Aproveito os pensamentos divagando em
sua boca gostosa e mando uma mensagem para ele.
Adoraria dar mais um passo no nosso plano.
A senhorita Rabbit está disponível hoje
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para trazê-lo em minha humilde residência?


Envio sorrindo, coloco o celular no bolso da
calça jeans e volto para a faxina de sábado,
animada, esperando uma resposta.
***
Três horas depois e nada. O pior é que ele já
visualizou e não respondeu nem que sim, nem que
não. Odeio me comunicar por mensagem, nem
sempre é recíproco. Se você está pelo menos
falando ao telefone, a pessoa é obrigada a dizer
algo. Murilo deve estar ocupado com suas clientes.
Eca! Se eu ficar pensando muito nisso, acho que
nunca vou conseguir levar esse plano idiota até o
fim.
Resolvo tomar um banho e começo a
separar minhas roupas, quando Claudinha aparece
animada na porta.
— E aí?! Quais seus planos para hoje à
noite? Presumo que nada de Murilo, já que no
sábado ele deve ficar mais ocupado.
— Meu plano é colocar em dia minhas
séries favoritas na Netflix — digo sorrindo.

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— Ahh! Pelo amor de Deus, Alice. Tu é


uma jovem bonita, quase chegando aos 19 anos, e
vai passar o sábado à noite vendo série? Porra!
Parece minha tia de 50 anos.
— Eu não ligo de ter espírito de velha.
— Mas devia ligar, aproveitar a noitada
como todo jovem normal. Hoje tem luau na praia,
vamos? — Claudinha pergunta quase implorando.
— Você sabe que não gosto disso. Só
bebem, fumam e se pegam a noite toda. Nenhuma
das alternativas anteriores me apetece.
— E o plano de se soltar mais, hein? Essa aí
está me parecendo a Alice de sempre.
— Claudinha, o que eu vou fazer no meio
da sua turma? Não tem nada a ver comigo.
— Já foi para saber se vai gostar? Tu tem
que parar de julgar as coisas, Alice. Experimente,
depois reclame.
Realmente, eu tenho essa mania. Não me
orgulho desses julgamentos precipitados, porém,
são mais fortes do que eu. Se ficar aqui, vou remoer
o término com Heitor. Ele sempre volta a me

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atormentar quando estou sozinha. Não sinto mais


nada, contudo, a decepção de ser enganada é
horrível. Murilo, aparentemente, também não está
disponível, então, por que não?
— Tudo bem, eu vou com você — digo,
enfim.
— Glória, aleluia! — Ela me agarra
empolgada. — Às onze horas eu passo aqui para te
pegar.
Concordo com a cabeça e a acompanho até
a porta. Ainda tenho algumas horas para me
arrumar e tentar ficar animada.
***
Quando Claudinha retorna, me sinto
péssima pela escolha da roupa. Estou com um
vestidinho simples, vermelho de alcinha, e
sapatilhas. Só com lápis no olho e uma base, cabelo
em um coque meio solto. Enquanto ela está
exuberante no seu shortinho curto todo
customizado, batinha amarela e saltos anabela.
Cabelos perfeitamente alisados e maquiagem
marcante.

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— Não era um luau? — pergunto tímida.


— É um luau! Por quê?
— Você parece pronta para a balada do
século. Nunca vi usar salto na praia.
— Eu nunca fico sem meu salto. — Ela
sorri e dá uma voltinha.
— Estou me sentindo péssima, Claudinha,
vou ser totalmente ignorada nesta festa.
— Alice, relaxa. Vamos curtir um pouco.
Sem expectativas, sem pré-julgamento, ok?
— Ok.
E é isso que faço. Impressionantemente, a
noite não foi ruim como eu esperava. Ao contrário,
foi ótima. O pessoal é super animado e, mesmo sem
álcool, me diverti bastante. Cantei, dancei e até
conheci um garoto, o Manuel.
Surfista bronzeado, alto e de cabelos
enrolados. Tem a minha idade. Pensei que não ia
ser notada, mas ele me encarou o tempo todo.
Acabamos sendo apresentados pela Claudinha lá
pelo meio do luau e passamos o resto da noite
juntos, conversando e nos beijando. Beijando
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muito, inclusive! Só que não passou disso, apesar


de suas investidas.
Não chega aos pés do Murilo, porém, foi
bom. Por falar nele, aliás, nada de resposta ainda.
Deve estar realmente com a agenda cheia hoje.

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Capítulo 10
♫ Era um cômodo incômodo, sujo como
o dragão de komodo. Úmido, eu homem
da casa aos seis anos. Mofo no canto,
todo TV, engodo pronto pro lodo. ♫
Levanta e anda, Emicida
MURILO
Eu costumava sonhar que tinha um pai
herói, igual aos da Marvel. Ele era uma mistura de
Capitão América com o Hulk, mesclando o que há
de melhor nos dois: a preocupação com o próximo
e a força. Era perfeito! Infelizmente, só sonho
mesmo de um garotinho.
Apesar de a nossa vida ser um inferno com
ele, piorou ainda mais sem. Minha mãe ficou tão
deprimida que abandonou de vez tudo. O dinheiro
que ela conseguia era para bebida e drogas. Não
tinha quem sustentar a casa e, quase sempre, eu
passava fome. Comia na escola ou com Dona
Emília e a família do Max, de vez em quando.
Desde pequeno não gostava de me expor, então,
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ninguém sabia a gravidade das coisas.


Muitas vezes eu imaginei que ele chegaria
pela porta e diria que foi um mal-entendido. Que
estava arrependido e que tudo ficaria bem. Desejei
isso até mais ou menos uns nove anos. Eu quis
muito ter um pai presente para me levar na escola,
soltar pipa, jogar futebol... Quis uma mãe amorosa
para me dar carinho, fazer comidinha gostosa e ler
para mim.
Desisti de esperar e dei de cara com a dura
realidade da falta de estrutura familiar para saber
lidar com a vida. Desde muito cedo tive que
trabalhar para poder sobreviver e a bandidagem foi
o caminho mais fácil. Até hoje, não sei como
consegui me livrar deles. Ainda olham feio para o
meu lado, entretanto, me deixam em paz. Paguei
minha dívida com o tempo que passei na prisão.
Uma vez bandido, você não costuma poder
sair facilmente. No entanto, esse pessoal também é
grato com quem não é X9. Sorte a minha! Eu
aceitei participar do assalto com mais dois, eu era o
único menor de idade. Fiquei do lado de fora,
responsável por vigiar. Fomos delatados pelo cara
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do comércio ao lado da joalheria e a polícia


apareceu do nada. Corri para avisar, mas, nem deu
tempo de pegar o carro. Saímos vazado pelos becos
para tentar fugir, com joias nas mãos e nos bolsos.
Eu tive a infeliz ideia de pegar algumas para ajudar
a carregar.
Fomos encurralados e só eu não consegui
escapar. Pego em flagrante. Fizeram um longo
interrogatório, contudo, não disse uma palavra. Eles
suspeitavam que um dos caras mais procurados do
Morro estava envolvido e queriam a todo custo
prendê-lo. Chegaram a me ameaçar, não adiantou.
Fui para a casa de detenção da Ilha com a fama de
dedo duro. Polícia filha da puta! Totalmente o
contrário do que fiz. Resultado? Levei surras
constantemente. Foi um tempo de merda, nem
gosto de lembrar. Só que o pessoal do Alemão
ficou sabendo do meu sacrifício depois e aliviou
quando disse que não queria essa vida.
Nem precisaria ter passado por tanta coisa
se tivesse uma família presente. Até hoje sofro, não
sei como lidar com os problemas do dia a dia.
Agora tende a ficar ainda pior, o pesadelo dos sete
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anos voltando com tudo. Não acredito que ele teve


a cara de pau de voltar!
Estava saindo para encontrar Olivia quando
recebi uma mensagem de Alice. Fechei a porta
sorrindo com o jeito engraçado dela. Quando ia
responder, avistei um senhor cabisbaixo do outro
lado da rua, olhando para minha casa. Achei
estranho e o encarei, ele ficou imóvel. Péssima
ideia ter ido em sua direção para perguntar se tinha
perdido alguma coisa. Foi só chegar um pouco mais
perto para reconhecê-lo. Meu pai.
De imediato, minha vontade era dar um
soco na cara dele e culpá-lo pela merda que era
minha vida. Culpá-lo pela infância desperdiçada,
pela morte da minha mãe. As palavras fugiram!
Mal conseguia respirar de tanto ódio tomando conta
de mim. Por que depois de 15 anos?
Carlos estava muito diferente. Cabelo
arrumado, barba bem feita, calça jeans com uma
camisa social dobrada no braço. Parecia até alguém
decente. Será que ele tem uma nova família, uma
não problemática? Meu pai também ficou me
observando, com um olhar perdido nas minhas
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tatuagens e na cara de raiva que estava fazendo.


Ele foi o primeiro a tentar falar alguma
coisa, mas eu não o deixei concluir. Levantei os
dedos de forma acusatória e o mandei nem se
atrever a dirigir a palavra a mim. Não sei o que
estava fazendo ali, não sei por que parecia
diferente, não sei o motivo do olhar perdido, como
se estivesse arrependido. Com certeza não estava,
foi bem claro quando nos deixou. E se estivesse,
nem em mil vidas o perdoaria por tudo que fez.
Virei às costas e o mandei sair da minha
frente, nunca mais tendo a cara de pau de aparecer
ali.
***
Dez dias já se passaram desde o reencontro
rápido com o homem que destruiu minha vida.
Foram dias lentos e de merda! Fazia tempo que não
tinha pesadelos, e eles voltaram com tudo, tirando o
pouco tempo de sono que tenho. O desespero e a
raiva foram tão grandes que bebi até cair quase
todos os dias, ficando fora de mim.
Não costumo fazer programas de manhã,
mas precisava liberar energia de alguma forma e
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aceitei tudo que apareceu na minha frente. Loira,


morena, índia, negra, ruiva, gorda, magra... Fiz uma
grana boa, e agora me sinto um lixo. Mais lixo que
já sou naturalmente.
Por quê?
Essa pergunta não quer sair da minha
mente. Não tinha motivo para Carlos aparecer
agora.
Ainda é terça-feira, só que estamos nas
férias de julho e espero que Alice esteja livre esta
noite. Preciso do seu corpo quente e inocente para
ver se esqueço um pouco essa merda. Preciso de
alguém comum, fora dessa droga da minha
realidade, para que eu possa respirar.
Fiquei com dezenas de mulheres esses dias,
mas nenhuma conseguiu aliviar minha mente nem
um minuto. Tomara que ela consiga, só preciso de
cinco minutos de paz.
Agora que percebi que nem respondi sua
mensagem, deve achar que sou idiota por sumir
tanto tempo. Talvez, se responder, ela me ignore
totalmente. Não! Preciso dela hoje. Vou ligar,
apesar de odiar isso. O telefone toca quatro vezes
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antes de atender.
— Alô!
— Oi, gata! E aí, tudo certo? — pergunto
como se tudo estivesse às mil maravilhas.
— Tudo — Alice diz secamente. Com
certeza está com raiva achando que dei um fora
nela. Vou ter que inventar uma desculpa para
conseguir dobrá-la.
— Desculpa não responder sua mensagem,
tive dias de merda. Problemas familiares. —
Resolvo mentir apenas em partes, na verdade,
omitir.
— Familiares? Está tudo bem?
Funcionou a sinceridade, ela mudou o tom
de voz na mesma hora.
— Não. Mas vai ficar! Tu está livre hoje?
Precisamos voltar ao plano logo, daqui a pouco
você está na estaca zero de novo — falo sorrindo.
— Já estou de férias da faculdade, então,
tenho minhas noites livres — responde empolgada.
— Isso é ótimo! Vamos marcar oito horas?
— Combinado! Desculpa, preciso desligar.
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Estou no trabalho. Até lá!


— Até, gata.
Graças a Deus uma coisa boa. O corpo
quente de Alice há de me distrair de verdade hoje.
***
Quando a porta da república se abre, dou de
cara com uma mulher linda de shortinho, blusa fina
de malha quase transparente que cai no ombro e
descalça. Visão do paraíso! Ela prendeu o cabelo
em um coque meio solto e seu pescoço está exposto
de uma forma muito sexy.
— Uau, gata! Gostosa como sempre — já
disparo e automaticamente ela fica corada. Adoro!
— Boa noite, senhor gosta de me deixar
vermelha como pimentão!
— Pior que gosto mesmo, tu fica ainda mais
bonita.
Alice me convida para entrar e eu vou atrás,
atraído por seu pescoço exposto. Adoro beijar essa
parte do corpo! Mal ela fecha a porta, já agarro-a
pelas costas, passando as mãos por sua cintura e
dando beijos molhados no lugar que estava me
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tentando. Alice solta um gritinho que vai direito


para o meu pau. Como essa mina consegue isso tão
rápido, cara?
O desejo me toma e a encosto na parede
com tudo, prendendo suas mãos no alto. Essa
aproximação me deixa ainda mais duro. Invado sua
boca e exploro cada canto dela, dando mordidas de
leve. Ela corresponde também mordendo e me
deixando entrar cada vez mais. Essa garota sabe
beijar.
Desço os lábios para seu pescoço
novamente e vou para a parte do ombro exposta.
Alice se retorce embaixo de mim e sei que também
está com tesão. E muito tesão. Paro o que estou
fazendo com muito custo para lhe propor algo
novo.
— Tu topa avançar um pouco mais hoje?
— Avançar como? — responde ofegante
como eu.
— Só me diz que sim. Se solta, gata, não
pensa muito! — instigo e Alice faz cara de
pensativa. Dou um ultimato para que ela não se
prenda no seu universo de certo e errado. — Me
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deixa te surpreender? — Suspiro em seu ouvido.


Ela geme e balança a cabeça afirmativamente.
Não espero nem dez segundos e enfio
minha mão que está livre por dentro do short,
alisando sua calcinha. Dessa vez eu consegui
realmente colocar o dedo pelo lado de fora e, Deus,
está muito molhada.
— Porra, Alice! Molhadinha pra mim.
— Murilo — ela fala suspirando e eu
continuo passando o dedo pelo lado de fora.
— Eu não vou fazer nada que você não
queira, mas tenho certeza de que tu vai gostar. É só
desligar a sua cabecinha.
— Eu quero... eu quero sentir o seu dedo
dentro — diz gemendo. Caralho, que tesão de
mulher!
— Com todo prazer, gata.
Lentamente, afasto sua calcinha ainda de
short e enfio o dedo na sua umidade. Caralho,
caralho, caralho! Ela se contorce diante de mim,
geme e diz coisas que não consigo entender.
— Porra, Alice, você vai me matar. Tão
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quente, tão apertadinha, tão molhada!


Começo a me mover mais depressa, tirando
e colocando meu dedo dentro dela. A cada gemida
meu desejo triplica de tamanho. Solto suas mãos
que estão no alto e tiro a minha da sua calcinha. Ela
reclama na mesma hora. Rapidamente a agarro pela
bunda, fazendo suas pernas se entrelaçarem nas
minhas costas. Beijamo-nos intensamente, ela
passando as mãos nos meus cabelos e eu nas suas
costas, enquanto andamos até o sofá.
— Sem amigas por aqui hoje? — pergunto
para saber se podemos continuar. Não consigo
esperar para sentir sua umidade.
— Sem — ela fala suspirando e eu a coloco
deitada no sofá, de frente para mim.
Subo em cima de Alice e começo a arrancar
sua blusa. Mais um sutiã de algodão, agora
vermelho. Porra! Essa menina quer me matar.
Começo a desabotoar seu short e desço devagar,
devorando-a com o olhar. Ela é só suspiro, seu
peito subindo e descendo, freneticamente, como o
meu.
Quando está só de calcinha e sutiã, ambos
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combinando, tenho a visão da perfeição. Alice é


muito gostosa, cada curva do seu corpo
perfeitamente desenhada, com carne no lugar certo.
Volto para sua boca, enquanto, minha mão ansiosa,
retorna para dentro de sua calcinha.
— Alice, quero te perguntar uma coisa.
— Hummm… — É só o que consegue dizer.
— Tu já gozou antes? — sinto-a ficar
vermelha embaixo de mim e sorrio. — Não precisa
ficar com vergonha, gata. Quero saber para te
proporcionar as melhores sensações.
— É... muito pouco. Tipo... umas três vezes
só. Comigo mesmo... Quer dizer, eu... — Sorrio
novamente, ela é uma graça!
— Eu entendi, gata. Então, agora vai ser a
melhor, ok?
—Ok — geme de novo.
Sua permissão é o que me basta para ir
direto ao ponto frágil. Massageio o clitóris
enquanto dou estocadas fundas com dois dedos
dentro dela. É gostosa demais!
— Goza pra mim, gata — incentivo,
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enquanto coloco mais um dedo para fazer o


trabalho de levá-la à loucura.
Alice começa a fechar as pernas e sei que
está chegando lá. Invado sua boca, mordendo seus
lábios, aumentando o ritmo cada vez mais. Ela
geme, suspira, e estou ficando louco de tesão.
Chama meu nome quando é invadida pelo desejo e
amolece em meus braços. Estou mais do que
satisfeito de ser o primeiro homem a oferecer essa
experiência.
Ficamos assim por um tempo, para retomar
o fôlego, trocando sorrisos e olhares. Saio de cima
dela e vou direto para o banheiro. Preciso resolver
isso antes de passar vexame gozando nas calças.
Ao sair, encontro-a sentada no sofá, já de
roupa, me esperando com biscoito Óreo e leite.
Ahhh, por que colocou a roupa? Ela ligou a
televisão e está em um canal de esportes passando
Flamengo pela Libertadores. Alice compartilhou
comigo esses dias que também torcia para o
Mengão.
Tinha até me esquecido do jogo, com esta
semana de merda. E não é que também me esqueci
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da semana de merda aqui com ela?


Abro um sorrisão e me jogo ao seu lado,
não dispensando a chance de comer meu biscoito
favorito, torcer pelo meu time do coração e tirar
uma casquinha o resto da noite dessa mulher.

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Capítulo 11
♫ Minha tristeza é levantar minhas raivas
descontadas, meus medos são fundados.
Esta represa não existe mais. Que parte
do não você não entende? ♫
No, Alanis Morissette
ALICE
Está quase acabando o primeiro tempo do
jogo e o Mengão vem garantindo o placar, metendo
três a zero no adversário. Murilo fica me olhando
com cara assustada pelos gritos que solto quando
Guerreiro perde um gol ou o juiz comete uma falha.
Eu me empolgo na torcida!
Sempre adorei esportes, no geral, mas o
futebol é minha paixão. Pratiquei natação com uns
cinco anos, depois fui para o balé. Na escola era do
time de vôlei, handebol e futsal. Hoje em dia
apenas corro por causa do tempo. Contudo, é uma
corrida religiosa! Faça chuva ou faça sol, todos os
dias às seis horas da manhã.

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— Acho que nunca vi uma garota se


empolgar tanto no jogo — Murilo solta rindo.
— Sério? — pergunto incrédula e ele
balança a cabeça. — Hoje em dia as mulheres
frequentam o estádio e acompanham esportes tanto
quanto os homens. Não há nada de novo nisso!
— Eu sei que sim. — Ele ri novamente. —
Quis dizer que, pessoalmente, nunca vi uma garota
animada desse jeito vendo uma partida de futebol.
— Você nunca foi ao estádio?
— Já, claro que já. Maraca é nosso
santuário! Mas a gente ia com um bando de loucos
lá do Morro, somente homens. Eu era adolescente.
Faz uns quatro anos que não frequento.
— Por quê? — questiono curiosa.
— Não te interessa! — diz com uma
expressão brincalhona, apesar das palavras grossas.
— Quem vê pensa que estou perguntando
uma coisa muito importante. Você é muito
fechado! Sabia que faz bem se abrir um pouco?
— Não, obrigado.
Nossa! Que homem difícil. Conhecemo-nos
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há pouco tempo, admito, porém, conversar é


normal de todo ser humano. Murilo não gosta de
entrar em questões pessoais, nem mesmo as mais
banais. Será que esconde algum segredo como dos
livros que gosto de ler? Tem sempre um clímax
para dar vida à história. Queria saber o dele.
— Olha, não sei você, mas estou morrendo
de fome. Essa bolacha não alimentou minha
lombriga direito — confesso mudando de assunto e
esfregando as mãos na barriga.
— Biscoito, Alice! E, cara, tu é a mina mais
estranha que já conheci — fala gargalhando.
— Estranha?
— Ao mesmo tempo em que é toda
menininha, foge do estereótipo, totalmente. Gosta
de futebol, não fica de graça com comida. Tu me
representa, Alice! — Ele bate continência.
— Não sou menininha! — defendo
sorrindo. — Você tá com fome? Eu super topo
uma pizza.
— Demorô! Eu só não gosto de nada com
catupiry.

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— Como assim, Brasil? — questiono mais


alto do que pretendia.
— Tu gosta? Acho nojento, parece vômito!
— Murilo faz cara de nojo.
— Quem é a menininha aqui? Parece que
viramos o jogo, pessoal! — falo encarando-o com
olhos divertidos.
— Pensamento rápido! — Ele gargalha
novamente.
— Catupiry é vida! Amo em uma pizza de
bacon com calabresa. Hummmm... — Faço
biquinho e fecho os olhos.
— Menina, não faz esse bico pra mim que
vai direto aqui pra baixo. — Ele aponta para sua
calça.
— Pelo amor de Deus, Murilo! Você só
pensa nisso?
— Ahhh, com certeza!
— Então, de que pizza você gosta? — Volto
ao assunto para sair dessa conversa embaraçosa.
— Qualquer uma que não tenha catupiry —
afirma e reviro os olhos para ele.
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— Vou pedir uma inteira de calabresa com


bacon, só metade com catupiry. — Levanto do sofá
e pego meu celular para ligar no delivery.
— Tu vai comer metade da pizza? —
pergunta incrédulo.
— Por quê? Qual o problema?
— Por nada, só curiosidade mesmo.
Murilo sorri e fica me encarando do sofá.
Na verdade, devorando-me com os olhos. Ah, esse
olhar carregado de desejo! Traz sensações
diferentes e deliciosas. Faço meu pedido,
adicionando uma Coca bem gelada. Graças a Deus,
eles são conhecidos pela entrega rápida. Estou
morrendo de fome! Quando confirmo os dados e
desligo, o primeiro tempo do jogo acaba.
— Agora a gente podia aproveitar esses
quinze minutos de intervalo, concorda?
— Caramba, definitivamente, você só pensa
nisso — bufo e me sento no sofá.
— Faz parte do plano se soltar, lembra?
Estou apenas cumprindo com a minha parte.
Admite, tu está gostando! — sussurra em meu

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ouvido e eu apenas o encaro.


Nossos olhares. Eles, com certeza, são
sempre intensos. Tomo a iniciativa e o beijo com
entusiasmo para mostrar o quanto estou gostando.
Murilo corresponde instantaneamente e na mesma
intensidade, me puxando pela cintura para ficar
sentada em cima dele. Interrompe o beijo apenas
por um minuto para tirar a camiseta com maestria e
rapidez, mostrando-me pela primeira vez uma
barriga de tanquinho coberta por dezenas de
tatuagens. Realmente, a única colorida é a que fica
no pescoço. Uau, ele é muito gostoso!
— Gosta do que vê, Alice? — pergunta com
uma voz rouca e sexy.
Nem consigo responder, fico ali parada
encarando-o. Começo a explorá-lo e arrisco-me a
dar uns beijinhos em seu peitoral. Sinto-o crescer
embaixo de mim e até ouço um gemido baixo.
Murilo pega na beirada da minha blusa e
também a tira. Seus olhos alcançam os meus com
cautela, pedindo permissão silenciosamente para ir
um pouco mais além desta vez. Eu aceito! Ele
passa as mãos pelas minhas costas, chegando
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próximo do fecho do sutiã que sei que vai cair em


segundos.
Estou bastante envergonhada de ficar
exposta pela primeira vez assim para um homem,
entretanto, ao mesmo tempo, morrendo de vontade.
Uma alça cai primeiro nos ombros e ele dá um
beijo molhado ali, me fazendo arquear. Faz o
mesmo do outro lado e puxa a peça pelos meus
braços.
Automaticamente fico corada e Murilo
passa a mão pelo meu rosto, dando um beijo mais
lento e encostando seu corpo no meu. É quente, é
arrepiante, é delicioso!
— Não fica com vergonha, gata. Tu é linda!
— confessa baixinho na minha boca.
Subo minhas mãos dos seus ombros até a
nuca e agarro seus cabelos, massageando
lentamente. Ele coloca as suas nos meus seios,
apertando de leve, e volta a invadir minha boca
com voracidade, mordendo e explorando. Joga meu
corpo mais para cima do dele, encostando
totalmente no sofá, e começa a descer sua boca.
Orelha, pescoço, ombro... Quanto mais ele
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desce, mais me mexo, arqueando as costas e


sentindo-o maior. Murilo chega próximo aos meus
seios e olha para cima, novamente pedindo
permissão. Faço um carinho no seu cabelo e ele
encosta seus lábios carnudos na minha pele, dando
uma mordidinha de leve, depois uma lambida e
uma chupada.
— Murilo, que gostoso! — falo gemendo.
É totalmente delicioso. Ele está segurando
minhas costas com suas duas mãos e intensifica as
chupadas. Meu Deus, estou ficando sem ar de tão
bom! Sem perceber, já estou me esfregando nele,
rebolando no seu colo. Quanto mais eu me perco
nessa sensação nova, mais ele intensifica o ritmo.
Também está com desejo.
— Murilo — falo ofegante. — Murilo, acho
que... Aiii...
— Goza pra mim, gata! Goza gotoso se
esfregando no meu pau.
Ai, essa sua boca suja serve para alguma
coisa nesses momentos, me deixa ainda mais em
chamas. Não demorou nada, minutos depois estava
em êxtase, amolecendo em seus braços. Percebo
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sua respiração ofegante, seu peito subindo e


descendo, e sei que dessa vez preciso ajudá-lo a
aliviar esse desejo.
Solto-me dos seus braços e fico em pé.
Murilo está me encarando com o olhar perdido, não
faz ideia do que vou fazer. Respiro fundo, tomo
coragem e me ajoelho na sua frente, colocando os
dedos no botão da sua calça.
— O que tu vai fazer? — pergunta quase
sem ar.
— Eu quero fazer isso pra você também,
sabe... com as mãos. — Fico sem graça e ele
arregala os olhos, com certeza não esperava essa
minha atitude.
— Se tu não quiser, não tem problema,
Alice. Não precisa fazer isso.
— Eu quero! — digo firme, abro o botão da
calça e a puxo pelas suas pernas.
É a visão do paraíso: coxas grossas, uma
barriga de tanquinho e um documento de botar
respeito.
— Olha, eu não sei muito bem o que fazer,

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então, se você puder me orientar acho que eu


consigo — admito envergonhada.
— Tira a cueca — ele ordena engolindo em
seco de tanto desejo.
Obedeço e fico em choque com o que
aparece na minha frente. Uau! É bem mais
impressionante do que as descrições infinitas da
Claudinha sobre um pênis.
— Agora coloca suas mãos aqui no meio e
comece a fazer movimentos leves — ensina com
suas próprias mãos. Nossa, é excitante essa visão!
Faço como ele manda e o vejo arqueando as
costas, respirando pesadamente e abrindo a boca.
Nossa, Murilo fica ainda mais bonito assim. Sua
reação me motiva e intensifico os movimentos, ora
lento ora mais rápido.
— Caralho, Alice! Assim mesmo.
Continua, gata.
Sem saber muito o que fazer, passo a outra
mão pela parte debaixo do seu pênis, nas bolinhas,
e ele geme alto. Tão alto, que até me assusto.
Começa a se mexer e sei que está chegando lá.

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Aumento a intensidade e fico observando seu rosto


mudar com a chegada do prazer, enquanto minhas
mãos ficam cheias do seu líquido quente.
— Nossa, mulher! Isso porque você é
inocente. Imagina quando souber das coisas —
elogia e me dá um beijinho molhado na boca. Eu,
claro, fico corada.
Levantamos e vamos ao banheiro nos lavar.
A partida de futebol voltou e nem percebemos.
Murilo pergunta se pode jogar uma água no corpo e
eu pego uma toalha para ele. Corro na sala para
pegar também minhas roupas e termino de me
vestir exatamente na hora que o interfone toca. É a
pizza. Nossa, tinha até esquecido dela. Sorte que
chegou só agora! Sorrio, lembrando das cenas de
minutos atrás.
Quando Murilo sai do banheiro já peguei os
talheres, os copos e estou concentrada no jogo,
comendo um pedaço generoso da pizza.
— Seus pais não te deram educação, não?
Tem que esperar a visita pra comer — ele
resmunga, esboçando um bico e se serve.
— Deram sim! E me ensinaram a não
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perder tempo na vida. Estou focada em acabar com


a minha fome que, neste momento, é bem grande
— digo sorrindo e colocando mais um pedaço na
boca.
— Quanto foi a pizza? Faço questão de
pagar, ou pelo menos dividir.
— Nem vem, já tá pago e pronto. Pelo
menos isso eu pago, né, fazer valer o seu tempo
precioso — lembro com um sorriso amarelo.
— Posso afirmar que o tempo está sendo
bem aproveitado aqui, gata. — Dá uma piscadinha
para mim e ri do meu terceiro pedaço de pizza. —
Aliás, como tu mantém isso tudo aí? Você é
gostosa demais para quem não se preocupa com o
que come.
— Dá pra parar de falar "gostosa" em toda
frase? Eu acho estranho e fico muito sem graça.
— Mas é o que tu é, gata. Gostosa pra
caralho! E esses peitos, então? Redondos e macios.
Nossa, me levam à loucura.
— Murilo! — grito vermelha como um
pimentão. Ele gargalha. — Eu corro, todo dia às

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seis horas da manhã.


— Nossa! Por que madruga desse jeito?
— Porque, ao contrário de você, eu durmo à
noite, não fico na vagabundagem — falo tirando
sarro.
— Essa doeu! — brinca colocando as mãos
no peito.
— "Mas é o que tu é, gato" — imito suas
palavras.
— Hummm... gato, é? — ele pergunta
malicioso e eu reviro os olhos.
Ficamos em silêncio por um tempo para
terminar de comer. Estou realmente com fome.
Acho que essa adrenalina toda abre o apetite. Olho-
o de relance e, tenho que concordar, ele é muito
bonito. Seus cabelos bagunçados estão caídos na
testa, escondendo aqueles olhos castanhos
penetrantes. Quando está descontraído e sorrindo
bobo, consegue ficar ainda mais lindo que quando
está cheio de desejo. Fico observando suas
tatuagens. Preenchem quase todo o braço e peito.
São muito diferentes, queria perguntar sobre elas.

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Será que isso é permitido?


— Por que você tem tanta tatuagem? —
arrisco.
— Porque eu gosto, ué — diz e reviro os
olhos novamente para ele.
— Sério! Por que só uma é colorida?
— Nossa! Você presta atenção, hein, gata?!
— repreende sorrindo. — E é curiosa demais para o
meu gosto!
— Sou uma observadora nata.
— Tô vendo.
— E então?
— Então, o quê?
— O porquê das tatuagens?
— Você não vai desistir, né? — Murilo
bufa.
— Não — admito sorrindo.
— Cada uma delas foi feita em uma época
diferente da minha vida. Representam o que estou
sentindo.
— Essa aqui, o que significa? — Passo as

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mãos em seu braço, onde tem uma linda nota


musical.
— Eu gosto de música.
— Sério? Que legal! Você toca guitarra ou
algo assim? Bateria?
— Não. Gosto de compor.
— Uau! Por essa eu não esperava. Um dia
você poderia me mostrar suas músicas.
— Nem fodendo. — Sorri de lado.
— Que educado! — Sorrio também, mas no
fundo querendo que aceite. Fiquei super curiosa.
— Acabou o interrogatório? — Ele faz cara
de bravo, brincando.
— Não é interrogatório. É conversa normal,
seu idiota. E essa aqui? — Coloco as pontas dos
dedos do lado esquerdo da sua barriga, em cima de
um menino sentado, parecendo triste e olhando
para o chão.
— Como tu é curiosa, mulher! Vamos
acabar logo com isso, essa é a última, ok?!
— Mas ainda quero saber da colorida. Por
que só uma colorida?
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— Chega disso, Alice! Eu avisei no começo


que odeio que se metam na minha vida. — Agora
está sério de verdade.
— Só fala do menino, então? — arrisco
com olhinhos pidões. Sempre funcionava com
minha mãe. Ele bufa, claramente pensando se deve
ou não.
— Fiz com 11 anos, foi minha primeira
tatuagem. Ela me representa. Um garoto perdido e
sem perspectiva — confessa e perco até o ar.
Merda!
— Desculpe, Murilo, não queria ser
intrometida.
— Pois é, então, não seja.
— Foi por causa do seu pai, né? A partida
dele? — Não queria perguntar em voz alta, mas
quando vejo já saiu e Murilo está bufando na minha
frente.
— Tá na hora de ir, te vejo outro dia.
— Calma, não precisa ir embora.
— Depois da semana de merda que eu tive,
depois da volta desse desgraçado, tudo que eu não
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preciso é de interrogatório seu. Nem te conheço.


Nossa, essa doeu! Porém, fiquei paralisada
com a parte "depois da volta".
— Seu pai voltou, Murilo? Que bom! Vocês
podem acertar as coisas.
— Que bom? Tu só pode estar de
brincadeira! — Ele já está se levantando e
colocando a camiseta.
— Eu não quero me meter na sua vida.
Como você disse, nem te conheço. Mas, pelo pouco
que convivemos, percebi que guarda muita mágoa
do passado. Você precisa enfrentá-lo para deixá-lo
para trás e focar só no futuro, Murilo.
— Tu não sabe de nada, garota.
Percebo que está se controlando para não
me xingar de verdade. Acho que fui longe demais.
É, realmente fui. Ele não diz mais nada, termina de
calçar seu tênis all star e se vira. Bate a porta atrás
dele. Que droga, o que eu fiz? Murilo deve ter uma
ferida muito grande, não devia ter mexido nisso.
Agora não vai querer mais terminar nosso plano.

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Capítulo 12
♫ Meu pai, me diga o que vê quando olha
para trás em sua vida perdida e não me vê? ♫
Father of mine, Everclear
MURILO
Quem essa menina pensa que é para me dar
conselhos? Raiva é pouco para o que estou sentindo
desde ontem à noite. Ela não sabe de nada! Na sua
merda de vida perfeita, nunca deve ter sonhado
com um abraço verdadeiro porque na vida real não
tinha isso. Nunca deve ter esperado por horas
alguém na porta da escola porque simplesmente
esqueceram. Droga! Preciso me acalmar, mas as
lembranças não param de aparecer na minha mente.
***
— Mamãe, mamãe, mamãe! — saio
gritando pelo corredor. — Amanhã é a
aplesentação do Dia do Papai na escolinha. Eu
falei válias vezes plo papai essa semana não
esquecê. Ele plometeu. Ele vai mesmo, né, mamãe?

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— Claro que vai, filho. É sua primeira


apresentação de Dia dos Pais na escolinha. Vou
conversar com ele quando chegar.
— Êeee! — Pulo animado. — Mamãe,
aplendi uma música muito, muito, muito linda na
escolinha pla canta plo papai. A tia Kalina disse
que ele vai adolar e queler me cobli de beijinhos.
Eu quelo muito que ele goste pla me dá beijinho.
Fico tiste quando o papai não qué fica comigo.
— O papai não está passando por uma fase
boa, filho. Já, já ele melhora, tá? — ela diz
secando uma lágrima que cai.
— Mamãe, não chora, eu tô aqui. Até o
papai melhola eu vou ser o helói da nossa casa, tá
bom? — explico, oferecendo um abraço.
— Tá bom, amor.
Escuto a porta da sala se abrindo e corro
em direção à entrada.
— Papaiiiiii.
— O que você quer, garoto? — fala
impaciente e eu pulo no seu pescoço.
— Papai, amanhã é a aplesentação do Dia
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do Papai na escolinha. Tô aplendendo uma música


muito linda pla você.
— Só isso? Vou perder meu tempo indo lá
pra ouvir uma música? — reclama alterado, com
cheiro de bebida.
— Carlos, você está bêbado? Para de falar
isso na frente do Murilo. Você não está vendo que
ele só quer sua atenção? É uma criança de apenas
três anos, seu idiota! — xinga minha mãe.
— Não enche a porra da minha paciência,
Maria! E tira esse moleque daqui que quero dormir
um pouco, minha cabeça está latejando.
***
Primeiro Dia dos Pais na escola. Maldita
lembrança! Além de não irem à apresentação, nem
ele nem minha mãe, me esqueceram lá. Fiquei duas
horas esperando. A Karina ligou várias vezes e
ninguém atendeu. Chegou a me levar em casa mais
tarde, só que estava vazia. Tive que ficar com ela,
pois como deixaria uma criança de três anos
sozinha? Somente às nove horas da noite conseguiu
contato. Voltei para dar de cara com dois bêbados.

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Naquele dia não ganhei beijinhos. Ganhei


lágrimas de tristeza.
Anos mais tarde, em um dia de lucidez,
minha mãe contou o que aconteceu. Tentou insistir
para Carlos ir à apresentação, porém, só conseguiu
insultos e gritaria. O maldito estava bêbado às oito
horas da manhã! Ele saiu de casa batendo a porta e
ela ficou desolada, buscando uma desculpa boa
para me dar. Acabou tomando umas para aliviar seu
estresse e também ficou bêbada. Saiu atrás dele,
convicta a arrastá-lo para a escola, entretanto, a
embriaguez falou mais alto. Apagou, esquecendo-
se de tudo. Inclusive de mim, que precisava que
alguém me buscasse.
Preciso parar de pensar nessa merda toda!
Já passou e tenho que seguir em frente. Por mais
que seja cada dia mais difícil enfrentar meus
problemas, é isso que necessito fazer.
Pego as roupas sujas do cesto e coloco na
máquina de lavar. Com o dinheiro da semana louca
de programa, consegui arrumá-la e ainda pagar a
luz e o aluguel atrasados. Pelo menos isso de bom
daquela merda.
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Lavo a louça na pia também e dou uma


varrida na casa. Mando uma mensagem para o Max
avisando que hoje estou muito ocupado. Tudo que
não preciso é mais um querendo falar na minha
cabeça. Quero silêncio.
Já são quase onze horas da manhã e preciso
arrumar alguma coisa para comer. Abro a geladeira,
mas está praticamente vazia. Pego a chave da moto
para dar uma passada rápida no supermercado antes
de ir encontrar Olívia. Quando estou saindo, não
acredito no que vejo. Não pode ser ele de novo,
parado na porta da minha casa. Deus, por favor,
tenha dó de mim!
Pelo jeito não tem, pois dessa vez, Carlos
vem em minha direção decidido. Caralho!
— Murilo, precisamos conversar — pede
meu pai.
— Não tenho nada pra falar com você —
digo rápido e com raiva.
— Você pode não ter, mas eu tenho. Soube
da sua mãe, sinto muito.
— Tu sente muito? — Agora perco

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totalmente a paciência. — Deveria ter sentido


muito há 15 anos, quando saiu por aquela porta e
me deixou na merda, nos deixou na merda. Deveria
ter sentido muito quando fez minha mãe, uma
mulher doce e apaixonada, se transformar numa
alcoólatra, drogada que esqueceu a razão de viver,
esqueceu da família.
— Eu sei que cometi muitos erros! Estou os
reparando, filho, sou uma pessoa melhor.
— Que bom pra você, Carlos. Pena que não
posso dizer o mesmo — solto com ironia.
— Murilo, deixe-me entrar. Eu preciso falar
com você.
— Já disse que não tenho nada pra falar! —
explico irritado e desvio do seu caminho, chegando
até a moto.
— Eu vou continuar vindo aqui até você me
ouvir.
Que inferno! Preciso de uma folga dessa
vida, é tanto problema, tanto drama. Olho no
relógio e decido ouvi-lo de uma vez, para nunca
mais encontrá-lo.

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— Não tenho obrigação nenhuma de ouvir


você, mas como a última coisa que quero é ver essa
sua cara, tu pode falar a merda que veio falar.
Porém, acredite, não vai mudar nada. Depois,
nunca mais apareça aqui!
Ele acena com a cabeça, triste, e eu volto a
abrir a porta da casa. Paro na sala, do lado da
estante, e fico o encarando. Agora parece nervoso,
esfregando as mãos toda hora e olhando para baixo.
— Fala logo porque tenho coisa muito mais
importante pra fazer — disparo estressado.
— Primeiramente, quero pedir desculpas
por não ter sido o pai que você queria — começa a
dizer e eu não aguento. Acabo rindo na cara dele.
— Olha, tu passou longe, muito longe, de
ser um merda de um pai. Que dirá um pai! Mas até
um merda seria melhor do que não ter nenhum —
declaro e lágrimas começam a sair de seus olhos.
Ahh não, caralho! Só falta essa.
— Eu sei, me desculpe.
— Eu não desculpo, nem adianta chorar!
Não tem como desculpar o que tu fez. Tu

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desgraçou tudo a nossa volta.


— Murilo, entenda meu lado. Eu era um
adolescente imaturo. Sua mãe ficou grávida com 15
anos, eu tinha 17. Não tinha estrutura nenhuma.
Nunca tive uma família.
— E daí? O que a gente tinha a ver com
isso? Por que tu não deixou minha mãe ficar com a
vó, então? Com esse seu orgulho idiota, a fez
acabar com a própria vida.
— Como você sabe da sua vó?
— Minha mãe me contou. Ela queria vê-la
antes de morrer, mas não consegui encontrá-la.
Mudaram do Rio — falo ríspido, querendo acabar
logo com a conversa.
— Sua vó não suportava a ideia da sua mãe
estar grávida de mim, um favelado, Murilo. Ela era
da classe alta, insistiu mais de uma vez para a
Maria abortar. Se você tivesse ido pra lá, teria sido
enviado para adoção.
— Com certeza teria sido uma vida melhor
da que tive — digo e ele abaixa a cabeça
novamente, passando as mãos pela nuca.

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— Eu sei. Você não sabe como me


arrependo de tudo. Me arrependo de não ter
deixado sua mãe ir embora. Me arrependo de ter
ficado tão desesperado de constituir uma família
que estraguei com tudo.
— Com certeza, tu estragou. Eu era uma
criança, caralho! Uma criança largada, que ficava a
maior parte do tempo suja e com fome. Tu
atormentou tanto minha mãe que ela se tornou o
mesmo que você. Consegue imaginar como foi
sobreviver esse tempo todo sem pai e sem mãe?
— Murilo, eu... — Mais lágrimas.
— Pode engolir essas lágrimas aí, que elas
não me comovem nenhum pouco. Lembra o que tu
me disse uma vez sobre chorar? — Ele fica pálido e
engole em seco.
Com certeza, se lembra. Eu não consigo
esquecer.
***
— Papai! Acorda, papai! — chamo
desesperado na beirada da cama dele.
— O que você quer, moleque? — Está

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novamente com cheiro forte na boca.


— Papai, eu estou com medo do escuro.
Deixa eu dormir aí com vocês — peço chorando.
— Nem pensar. Cai fora daqui.
— Por favor, papai, estou com muito medo.
Tem um monstro lá debaixo da cama.
— Caralho, Murilo. Que inferno, vai
acordar sua mãe, porra!
— Papai, mas você é o herói, você que tem
que combater o monstro. — Cutuco mais uma vez e
ele se levanta bravo, me pegando firme pelo braço.
— Que porra, moleque! Não acredito que
me acordou por causa de um medinho de monstro.
Você não é homem, caralho?
— Papai, eu sou criança — soluço entre
lágrimas.
— Filho meu não é marica que chora à toa.
Chorar é para os fracos, os idiotas que não sabem
o que fazer. Você está com medo, é? — Agora seu
olhar é frio.
— Sim, papai — admito baixinho.
— Então, vem aqui que vou fazer você
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perder esse medo rapidinho.— Sorri de um jeito


tenebroso.
***
— Eu tinha cinco anos! Cinco anos,
caralho! Tu abriu a porta da cozinha e me fez
dormir no quintal. Era uma noite fria e escura de
julho. Nem uma merda de cobertor tu me deu.
Nada! Apenas me largou lá e trancou a porta. Eu
chorei tanto, mas tanto, que acabei adormecendo do
lado da máquina de lavar depois de umas cinco
horas.
— Murilo... Eu... Eu sei que errei muito
com vocês, mas eu quero reparar isso.
Agora chega! Não tenho mais que ouvir
essa merda. Nem que ele virasse o Papa eu o
perdoaria. Foram muitas lágrimas e noites mal
dormidas, foram muitos anos no fundo do poço
para um simples pedido de desculpas. Tenho
vontade de socá-lo até não aguentar mais.
— Sai fora daqui, Carlos! Sai antes que eu
não responda por mim. Eu estou me segurando
muito para não te dar um soco agora mesmo. Mas,
sabe por que não vou fazer isso? Porque eu sou
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muito melhor que você.


— Eu sei que sim, Murilo.
— Sai daqui agora! — grito. — Não quero
mais ouvir essa baboseira. Esquece esse negócio de
perdão porque nunca vai rolar. Nunca!
Pego-o pelo braço e o coloco para fora de
casa. Ele está transtornado com minhas palavras.
Que se dane! Fiquei transtornado a vida toda.
Tranco a porta e sigo caminhando rápido em
direção à moto.
— Murilo, não dirija assim. É perigoso,
filho.
— Não sou seu filho! — grito novamente.
Ligo a Rabbit e saio cantando pneu pela rua,
sem olhar para trás. Minha cabeça ferve, meu
coração bate forte e lágrimas caem dos meus olhos
sem eu querer. Definitivamente, sou um fraco.

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Capítulo 13
♫ Penteando o meu cabelo, será que estou
perfeita? Eu esqueci o que fazer para me
encaixar no molde. Quanto mais eu tento,
menos dá certo. Tenho que corrigir porque
tudo dentro de mim grita não. ♫
Who you are, Jessie J
ALICE
Já mandei umas três mensagens para o
Murilo pedindo desculpas, por ter me intrometido,
desde terça, só que nem foram visualizadas. Fui
longe demais. Pelo pouco que o conheço, é óbvio
que teve uma vida difícil e que sua família foi
crucial nesse processo. Maldita boca curiosa!
Estou no estágio, é quase final de
expediente, e minha cabeça viaja longe. Estranho
como ultimamente tenho me sentido diferente.
Apesar de ser sonhadora, não costumo me dar ao
luxo de perder tempo divagando. Pelo menos, não
durante o dia, enquanto preciso colocar em prática
meus planos.
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Parece que desde o acontecido com o Heitor


minhas prioridades foram abaladas. Sinto-me como
se estivesse seguindo um script que foi alterado e
agora estou perdida. Não sei improvisar na vida. E
o mais assustador é que cheguei até questionar esse
tempo pensando demais. É uma fase, só pode ser.
Vai passar!
Arrumo minhas coisas e sigo para a
portaria. Vou para a casa de Claudinha hoje,
aproveitar as férias para adiantar o lançamento da
sua loja virtual com peças autorais. Não estou com
cabeça, mas quero ajudar minha amiga.
— Tá pensando na morte da bezerra? —
Claudinha pergunta rindo, enquanto encosta o carro
perto de onde estou.
— Tô pensando que tô perdida. — Sorrio e
entro.
— Perdida como, Alice?
— Sei lá, não está fazendo muito sentido
minha vida ultimamente. O Heitor, meus pais... Até
esse emprego que tanto queria agora parece sem
graça.

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— Será que tu não está acordando?


— Acordando? — questiono erguendo uma
sobrancelha.
— É! Acho que tu faz tudo o que esperam
que faça. Não vive por si. Por ser muito inteligente,
é como se fosse obrigada a se dar bem sempre. Ter
uma vida exemplar. O que não existe, claro, já pode
perceber.
Faz sentido. Sou muito cobrada pela minha
família, professores e amigos. Tem uma
expectativa enorme em cima de mim e, com isso,
adquiri um medo absurdo de falhar com as pessoas,
de decepcioná-las. É claro, eu adoro Administração
agora, no entanto, não era o curso que eu queria
fazer.
Ser uma executiva de sucesso é o sonho do
meu pai. Ele não teve chance de concluir sua
faculdade e repassou a missão para mim. Desde
criança pensei em fazer Serviço Social, ouvir e
ajudar as pessoas, porém, minha mãe acha que não
é uma profissão de verdade. Como poderia não ser?
É, e é muito nobre. Queria trabalhar em um lar com
crianças abandonadas ou em um asilo.
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— Pode ser — digo secamente.


— O Murilo te respondeu? — Claudinha
pergunta mudando de assunto, percebeu que não
quero falar. Por isso, amo minha amiga.
— Não. Tô me sentindo muito mal de ser
intrometida.
— Cara, tu não devia ter falado isso pra ele.
Não sabe da merda que é sua relação com os pais.
— Ele disse que a mãe morreu, o que
aconteceu?
— Ela morreu na mesma época que o Max
se mudou pra Inglaterra. Foi uma barra e tanto.
Mas não quero falar disso, Alice. Primeiro, porque
é problema do Murilo e se um dia ele quiser, o que
eu duvido, te conta. Segundo, tu não precisa saber.
Já disse pra não se envolver!
— Eu sei, eu sei. Calma! Só curiosidade.
— Acho bom! Mudando de assunto de
novo, este ano tu vai ficar aqui no seu aniversário,
né?
— Aí, Claudinha, não sei. Você sabe como
é minha mãe com essas datas. Ela disse que quer
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organizar um jantar com meus tios e primos. Não tô


a fim disso pra celebrar 19 anos, mas...
— Mas nada, Alice. Pelo amor de Deus!
Seja pulso firme nas coisas. Tu não precisa agradar
ninguém, só a você mesma.
— Se eu não for, o que faremos sábado,
então?
— Ahhh, eu tenho planos. Bons planos,
fique tranquila. Vamos pra balada! — Pisca e eu
concordo sorrindo.
Vai ser um inferno aguentar minha mãe
enchendo o saco, entretanto, eu quero fazer algo
diferente este ano. Quando chegar em casa, ligo
para avisá-la.
***
Três horas depois, estou na república. Disco
o número da minha mãe enquanto faço um mexidão
na cozinha com os restos da semana.
— Alô! — ela atende animada.
— Oi, mãe. Tudo certo?
— Alice, minha filha, tudo bem. E aí, como
andam as coisas? Heitor não te encheu o saco, né?
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— Não, tô de boa mãe. — Definitivamente,


não quero falar com ela sobre isso.
— Preparada para nos visitar este fim de
semana?
— Então, mãe, por isso te liguei agora. Eu...
— Alice Cavalcante, não me diga que você
não vem? Já estou arranjando tudo com suas tias.
— Eu sei, mãe, me desculpa. Mas eu queria
ficar aqui este ano, fazer algo diferente pra variar.
— E só agora me avisa, faltando dois dias?
Que falta de consideração, Alice! O que eu falo
para suas tias?
— Fala que eu quis ficar aqui, oras. Mãe,
não sou mais criança, elas vão entender.
— De onde saiu isso, Alice? O que está
acontecendo com você? Tem a ver com seu pai e
eu?
— Não tem nada a ver com vocês, mãe.
Tem comigo mesma! Tô começando a cansar de
fazer sempre as mesmas coisas, de ficar planejando
tudo. Parece que não vivo, só vou levando —
desabafo sem pensar. Merda, ela vai dar sermão!
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— Alice, você ficou louca? Pelo amor de


Deus, se recomponha menina. Não esqueça suas
metas. Você vai ser feliz, minha filha.
— Mãe, eu não vou pra casa no fim de
semana — declaro decidida.
— Alice, não...
— Mãe, não adianta. Eu não vou. Boa noite,
viu, preciso comer porque estou com fome.
— Alice?
— Tchau, mãe. Te amo. Beijo.
Desligo antes de ela continuar a ladainha.
Vai ser divertido com Claudinha. Murilo também
podia ir. Quem sabe como presente, enfim,
chegamos aos finalmente? Vou tentar enviar uma
nova mensagem.
Já me desculpou? =( Que tal uma saída
sábado comigo e com Claudinha? Uma balada?
Mais um passo no nosso plano. É meu niver ;-)
Dessa vez, a resposta vem rápida.
Não posso, tenho que trabalhar.
Às vezes, me esqueço de que ele é um
garoto de programa. Que merda!
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Capítulo 14
♫ Lentamente quero te despir com beijos,
lentamente. Assinar as paredes do seu labirinto
e
fazer de todo seu corpo um manuscrito. ♫
Despacito, Luis Fonsi
MURILO
A conversa com meu pai esta semana
desestruturou o pouco da estrutura que eu estava
tentando construir na minha vida. Sinto-me perdido
e com raiva. Muita raiva dessa merda toda! A única
coisa boa é que canalizei esse sentimento na
música. Já foram quatro composições, e agora
trabalho em mais uma.
Estou sentado na cama com o violão no
colo, um caderno aberto e uma caneta na orelha,
praticamente, o sábado inteiro. A música sempre
me acalma, como se me transportasse para outra
dimensão. Nunca gostei de falar, porém, me
expresso muito bem com as palavras. Dedilho as
notas que tentei fechar a tarde toda e o refrão fica
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pronto.
♫ Por que agora?
Por quê?
Você teve muitas chances de voltar
Eu precisei mais de você do que possa imaginar
É muito tarde pro perdão
Minha sina é a solidão
Por quê? ♫
Será que minha sina é a solidão? Não digo
uma solidão de ficar, literalmente, só, sem pessoas
ao redor, mas a pior que poderia existir: a interior.
Uma alma perdida que não sabe encontrar o
caminho de volta.
Pego meu computador para gravá-la,
sempre faço isso quando termino uma canção, e
vejo que Max está on-line. Decido mostrar a ele e o
chamo por vídeo.
— Até que enfim resolveu falar comigo.
Esqueceu dos amigos? — atende rapidamente.
— Foi mal, dias de merda! Não vou entrar
em muitos detalhes, nem adianta perguntar. Meu
pai voltou.

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— O que, Murilo? — grita incrédulo. —


Por que não me falou isso antes?
— Tô de saco cheio e não queria falar com
ninguém. Nem com você.
— Você está bem, cara?
— Não. Estou com muita raiva. Não
acredito que, depois desse tempo todo, ele resolveu
aparecer e fingir que está tudo bem.
— Ele veio pedir perdão?
— Não quero falar , Max. Por favor.
— Murilo, você precisa parar com isso.
Centraliza demais os problemas, um dia vai te
matar.
— Já estou morrendo aos poucos, fica
tranquilo.
— Idiota! — Max me repreende bravo.
— É sério, não quero levar esse assunto
adiante. Não foi para conversar sobre as minhas
desgraças que te chamei. Quero mostrar umas
composições.
— A raiva sempre inspira você ainda mais,
né? Sempre foi assim.
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— Pois é, não sei falar de coisas que me


deixam feliz. Só das partes ruins — desabafo e meu
amigo fica pensativo do outro lado. — Vou mandar
os vídeos aqui no chat. Terminei uma agora, vou
gravar enquanto tu dá uma olhada nessas.
— Beleza.
Envio o que já tenho pronto e gravo a nova
melodia. Ficou realmente muito boa. Fico
esperando a avaliação de Max.
— Murilo, está incrível, cara, de verdade.
Uma melhor do que a outra. Parabéns!
— Ahh, valeu. Que bom que gostou.
Quando tu aprova eu sei que está bom, afinal, você
é o perito em música aqui.
— Para com isso, eu já cansei de falar que
você tem talento. Só você não vê! As músicas
ficaram, de fato, muito boas. Você deveria levá-las
adiante.
— Até parece, Max! Só hobby mesmo.
— Mas não devia ser. Pelo menos em
barzinho poderia tocar. Murilo, por que você não
me escuta?

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— Porque eu preciso sair agora. Até mais!


— Sorrio e desligo a chamada.
Lá vem ele com a mesma conversa de
sempre. Coisa chata! Vejo meu telefone vibrando e,
sem pensar, pulo da cama. Será Alice me
convidando para sair de novo? Agora que me
acalmei da sua intromissão, bem que poderíamos
manter os planos. Não fui muito educado da última
vez. É que, realmente, odeio quando se metem na
minha vida.
Gato, que tal uma noite a três? Tô com
saudade e minha amiga está louca pra te conhecer.
Disponível?
Com certeza não é Alice. Apenas uma
cliente qualquer que nem me dei ao trabalho de
anotar o número. Marco o programa para às nove
horas da noite.
***
Eu deveria estar animado em passar a noite
com duas mulheres ao mesmo tempo? Deveria!
Porém, a única coisa que sinto é tédio. A menina
mora do outro lado da cidade e a demora para
chegar me deixa ainda mais incomodado. Quando
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estou na portaria do seu prédio, paro


repentinamente. Não tenho cabeça para isso agora,
a última coisa que preciso é fingir. Dou meia volta
e faço uma coisa que nunca tinha feito antes:
dispenso uma mulher. Ou, melhor, duas de uma
vez.
Desde aquela semana maluca de trepadas
seguidas, dia e noite, não tive mais ninguém. Além
de a minha cabeça estar longe, de alguma forma
agora me sinto estranho fazendo programa. Como
se fosse errado. Não consigo entender o motivo,
mas é mais forte do que eu.
Subo na Rabbit e fico perambulando pelas
ruas do Rio sem destino. É uma ótima terapia para
esfriar um pouco a cabeça. Depois de três horas,
paro em frente ao bar do Rafa. Está lotado, com
carros por todo lado. Preciso beber umas doses
antes de ir para casa. Demoro quase quinze minutos
para achar uma vaga e caminho com dificuldade até
o balcão.
— Caralho, Rafa! Essa merda tá lotada
hoje, hein? — questiono já de saco cheio de esperar
tanto para chegar ali.
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— Graças a Deus, Murilo. Preciso fazer


dinheiro nessa crise.
— Nem me fale, tá difícil.
— O que tu vai querer?
— Uísque duplo, por favor!
— É pra já! — fala pegando com agilidade
um copo e despejando o líquido. — Sua amiga tá
aqui de novo, cara. A loirinha marrenta.
— Claudinha?
— Sim. E tá com uma morena gostosa pra
caralho. Na boa, se eu não tivesse que trabalhar a
comeria aqui e agora — diz olhando para frente e
balançando a cabeça em direção às meninas.
Cerro os olhos na mesma hora e fecho as
mãos ao lado do corpo. O que é isso?
Alice está com os cabelos soltos, em ondas
perfeitas nas pontas. Seu rosto está maquiado e um
batom vermelho na sua boca carnuda me tira o ar.
O vestido é verde escuro, bem colado no corpo,
valorizando seus seios e suas coxas. Um salto alto
completa a tentação. Apesar de preferi-la natural,
não há como negar que está gostosa pra caralho.
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Gostosa é até pouco!


Mas, claro, não foi só eu que percebi sua
beleza. Estou sentado no bar e ela está na pista de
dança, que fica do outro lado. Praticamente todos
os homens ao seu redor a encaram. Dança com
Claudinha uma música rápida e sensual, parece até
que está um pouco bêbada, a julgar pelo jeito que
se mexe.
Perco-me totalmente em seus movimentos
quando, de repente, vejo mãos em sua cintura e ela
se afastando. Sem perceber, já estou ao lado dela
encarando o engraçadinho.
— Perdeu alguma coisa aqui? —questiono
com raiva.
— Qual é a sua, cara?
— Eu que te pergunto, chega agarrando a
menina por trás.
— Ela é sua, por acaso?
— Não é de ninguém, cara. Só porque está
sozinha não te dá o direito de agarrá-la.
— Não se mete, seu...
Nem o espero terminar e já parto para cima
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do garoto. Que petulante! Melhor saber brigar


porque, com a raiva acumulada que estou sentindo,
vai ficar feio para o seu lado. Mal seguro sua
camisa, avisto cabelos esvoaçantes entrando na
minha frente. É ela.
— Para, Murilo! Não briga por minha
causa, por favor. Não quero arrumar confusão —
suplica.
— Ele é um idiota, Alice.
— Eu sei, mas deixa quieto. Por favor? —
Ela está segurando minha mão e me olhando com
olhos preocupados. Não tem como resistir a isso.
Solto o cara e ele sai xingando baixo.
— Obrigada — sussurra.
— Que exibição de masculinidade, hein,
cara? Tava esperando a competição de quem mija
mais longe — dispara Claudinha. Claro, ela sempre
tumultuando o ambiente.
— Cara folgado, só isso.
— Sei. — Emburra. Mas, oras, o que eu fiz
de errado?
Começa a tocar a nova sensação do
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momento, Despacito, e as duas ficam animadas na


minha frente. É praticamente impossível ficar
parado ouvindo essa música.
— Vem dançar comigo? — Alice pergunta
sorrindo.
— Ahh... Melhor não — desconverso.
— Só uma música, não vai morrer por isso,
vai?
— Tá bom, tá bom — aceito e ela me puxa
pela mão.
A canção começa bem apropriada: "Sim,
você sabe que eu estive te observando".
Alice coloca as mãos nos meus ombros e
me encara profundamente. Esses olhos castanhos
esverdeados enormes são de matar! Chega mais
perto, para que eu possa segurá-la, e a aperto firme
na cintura. Começa a se movimentar rápido, no
ritmo da música, mexendo os quadris de um lado
para o outro. Caralho, essa mulher tem gingado.
Que tesão!
Continuamos nos olhando intensamente,
parece que ensaiamos um número de tão perfeita a

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sincronia. Cada movimento que ela faz vai direto


para o meu pau! Alice sobe as mãos para a minha
nuca, massageando meu cabelo e,
instantaneamente, eu fecho os olhos e mordo os
lábios.
— Gata, não me provoca — falo em seu
ouvido.
— O plano é esse — responde também
sussurrando e eu abro um sorriso malicioso.
Com certeza, ela bebeu. Não seria assim tão
direta se estivesse sóbria. Quando a música diz
"Passinho a passinho, devagar, devagarinho,
vamos nos pegando, pouquinho a pouquinho",
Alice se vira de costas e esfrega sua bunda gostosa
em mim, descendo lentamente. Passa uma mão pelo
meu cabelo, me puxando para perto, e ainda canta
no meu ouvido: "Que le enseñes a mi boca tus
lugares favoritos". Puta que pariu! Já não estou
mais respondendo por mim.
Pego-a pela cintura e a puxo na ânsia de
beijá-la o quanto antes. No momento em que
nossos lábios se tocam, uma explosão de sensações
invade meu corpo. É fato que a boca dessa mulher
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me leva à loucura! Sinto-me bem quando estamos


assim, conectados. Perco a noção de tempo e
espaço.
— Ei! Pelo amor de Deus vocês dois, né?!
— reclama Claudinha gargalhando, pendurada nos
braços de um cara. — Por mais que esteja excitante
presenciar a esfregação aí, precisam lembrar de que
estamos no meio de um bar. Arrumem um quarto,
por favor.
Mesmo bêbada, Alice fica corada com o
comentário da amiga e para imóvel ao meu lado.
— Tu quer sair daqui? — pergunto sem
pensar muito.
— Sim — responde sorrindo e mostrando
suas lindas covinhas.
Damos as mãos e caminhamos rapidamente
até a saída. Rafa me vê com Alice e me mostra o
dedo do meio, gargalhando. Retribuo com um
sorriso vitorioso. Se fodeu, babaca. Ela é minha!
Minha? Murilo, segura esse tesão aí. Nem
tanto, cara.
Quando chegamos onde estacionei a Rabbit

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já não estou aguentando mais de tanta vontade de


despi-la e beijar cada cantinho dessas curvas
deliciosas. Faz anos que não levo nenhuma garota
em casa, porém, como é o local mais próximo
daqui vou abrir uma exceção. Depois que a gente se
divertir por algumas horinhas a levo embora. Nem
três minutos depois, já estou abrindo a porta de
casa.
— Essa é sua casa? — questiona curiosa.
— É sim. Não repara na bagunça. Homem
fazendo serviço doméstico tu já viu, né? — Sorrio
sem graça.
— Nossa! Acabei de imaginar uma cena
nada adequada para menores. Você nu, encostado
na pia e lavando louça de avental — Alice comenta
corada e eu gargalho.
— Tu bebeu, né?
— Só um pouquinho. Por quê?
— Um pouquinho quanto? É a primeira vez
que tu bebe?
— Sim, mãe — responde emburrando a
cara. Fica ainda mais linda!

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— Não tô querendo ser chato, mas não


vamos abusar hoje aqui. De forma nenhuma vou
deixar que perca sua virgindade bêbada.
— Ahhhhhhhhhhh — Alice reclama e faz
biquinho.
— Ahh nada! Tu não me perdoaria depois,
Alice. Nem eu, pra falar a verdade. É muita
canalhice aproveitar do momento, apesar de estar
quase explodindo aqui olhando para você gostosa
desse jeito.
— Gostou do meu visual hoje? — diz
dando uma voltinha com a mão na cintura.
— Gosto sempre, mas hoje está de matar —
admito e ela sorri, sem graça.
Entramos e a seguro pelas mãos novamente,
andando rápido até o quarto. Não quero que ela
fique prestando atenção nas coisas. Daqui a pouco
vem com aquela boca curiosa enchendo-me de
perguntas que não quero responder.
Mal fecho a porta, enlaço minhas mãos na
sua cintura e volto a invadir sua boca. Cada
cantinho é explorado, intercalando a língua com

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mordidinhas que me levam à loucura. Levanto-a e


imediatamente ela passa as pernas pela minha
cintura. Minhas mãos estão desesperadas para tocá-
la. Quando a deito na cama, se levanta na mesma
hora.
— Não! Senta aí você. Quero fazer uma
coisa.
Não faço ideia do que Alice vai fazer, mas
obedeço.
Meu Deus! Por que fui ouvi-la?
A linda mulher à minha frente começa a
mexer seu corpo com maestria novamente e coloca
a mão na barra do vestido. Caralho, ela não vai
fazer isso. Merda, ela vai!
Estou, literalmente, de boca aberta olhando
para essa garota tímida, que fica vermelha por
qualquer coisa, se despindo para mim. Ela está me
olhando profundamente, e mostrando covinhas
lindas nos lábios. Que tesão! Vou ter que retirar
forças das profundezas do meu ser para conseguir
parar isso.
Alice termina de tirar o vestido e a puxo

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para a cama, ficando por cima. Se a ver tirando


calcinha e sutiã, não respondo por mim. Ela me
ajuda a tirar minhas roupas e toco nossos corpos.
Aproveito a posição para matar a saudade e beijá-la
da ponta da orelha até os pés, deixando-nos
ofegantes.
— Murilo, eu quero você — fala gemendo
na minha boca.
— Não, Alice. Por favor, não faz isso. Não
sou de ferro.
— Você não me quer? — pergunta
provocando ao chupar meu pescoço. Arqueio e
suspiro pelo seu toque.
— Caralho! É sério essa pergunta? Tô de
pau duro desde que te vi no bar. Como pode dizer
isso?
— Por que não me toma, então?
— Porque tu bebeu, Alice. Não podemos
fazer assim.
— Eu não estou totalmente bêbada, sei o
que estou fazendo.
— Mesmo assim, não é certo. Não vamos
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fazer isso!
— Podemos tentar outra coisa, então, né?
— ela pergunta com cara maliciosa.
— O quê? — pergunto até com medo da
resposta.
— Ahh, nada... — De repente Alice fica
corada.
— Fala, gata! O que tu quer que eu faça?
— Bobeira, deixa pra lá.
— Ei, não tenha vergonha comigo! — digo
puxando seu queixo para que me olhe. — Tu pode
ser você mesma, se expressar como quiser. Não
vou julgá-la ou coisa assim, se é isso que está
pensando — explico e ela me observa pensativa,
ponderando suas palavras.
— Eu queria... Bom, queria que você... —
fala apontando para sua calcinha.
— Tu quer que eu te chupe? — Mal
acredito que ela está pedindo isso. Minha boca
saliva na mesma hora. Que vontade que estou de
sentir seu gosto!
—S... sim — responde corada.
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— Ahhh… Será um prazer, gata.


Nossa! Já fiz isso centenas de vezes,
entretanto, nunca fiquei tão nervoso. À medida que
desço minhas mãos pelo corpo de Alice vou
sentindo mais frio na barriga. Que estranho! Baixo
sua calcinha lentamente, para saborear o momento,
e me ajeito entre suas pernas.
— Tem certeza disso, gata? — pergunto
novamente antes de começar.
— Tenho sim, Murilo — assente animada.
Umedeço os lábios e volto à atenção para
suas pernas abertas, experimentando seu gosto.
Meu Deus! Que delícia. Até isso nela é perfeito,
como pode? Já está molhadinha.
— Alice, que gosto incrível! — elogio e ela
se remexe embaixo de mim.
Perco a noção do tempo ali, explorando
cada cantinho. Alice está ficando louca de desejo, e
eu quase não consigo respirar.
— Mais rápido, por favor, mais rápido! —
pede ofegante e eu obedeço levando minha mão ao
seu clitóris.

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— Vai, gata! Quero sentir seu gosto.


Ela se remexe, contorce, leva a cabeça para
trás, fecha e abre os olhos. Está perdida nas novas
sensações. E como é um tesão do caralho observá-
la assim! Que vontade de tirar essa cueca e enfiar
meu pau dentro dela. Respira, Murilo. Hoje não,
hoje não.
Enquanto travo minha guerra interior, Alice
chega lá, desmanchando-se embaixo de mim. Essa
mulher vai me matar, é gostosa demais!
— Nossa, acho que nunca me senti tão bem
em toda minha vida. Que delícia sua boca, Murilo.
— Que bom que tu curtiu, gata, porque eu
adorei experimentar você — falo lambendo os
lábios e ela geme mais uma vez, sorrindo.
Alice se vira na cama, para ficar de lado, e
percebo que está cansada. A adrenalina baixou e os
efeitos do álcool estão chegando. Ajudo-a a se
limpar e coloco sua cabeça no travesseiro. Ela está
com sono, mas insiste em ficar conversando. Só
que não dura nem cinco minutos dessa vez e
desmaia no meu colchão.

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— Feliz aniversário, linda — sussurro em


seu ouvido.
Preciso levá-la embora logo, porém, não
custa deixá-la descansar um pouco. Nem percebo a
hora passar admirando sua beleza e acabo
adormecendo também, abraçando-a de costas.

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Capítulo 15
♫ Ontem é história e amanhã é um mistério.
Posso ver você olhando de volta pra mim,
mantenha seus olhos em mim. ♫
Mirrors, Justin Timberlake
ALICE
Abro os olhos com dificuldade, localizando-
me onde estou. Nossa! Que dor de cabeça. Parece
que um caminhão passou por cima do meu cérebro
e esmagou os meus miolos. Por isso não bebo. A
sensação boa é momentânea, depois o corpo que
sofre as consequências.
Imagens de ontem começam a ser formar na
minha mente. Shopping à tarde, Claudinha
insistindo para eu comprar um vestido novo e
sensual, preparação em casa para a balada, uns
drinks coloridos bem fortes, muita risada, dança...
Murilo! Sim, me lembro de tudo que aconteceu. Eu
não estava bêbada, só bastante no ar. Sou fraca
demais para o álcool. Senhor! Lembro-me que
fiquei bem abusada. Agora que não bebo mais
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mesmo pelo resto da vida. Que vergonha! Eu me


esfreguei nele em uma boate cheia de gente e
viemos para sua casa.
Olho ao redor e me toco. Não tem ninguém
do outro lado da cama e a luz já bate na janela.
Amanheceu e ainda estou aqui. O quarto é
pequeno, branco e sem decoração. Tem um guarda-
roupa do lado esquerdo, uma mesa de computador
perto da janela e um violão encostado na parede.
Sim! A música. Queria tanto vê-lo tocar, mas
duvido que me mostre. Não vou ficar brava, porque
ganhou uns bons pontos na minha lista.
Tenho que reconhecer que Murilo foi um
perfeito cavalheiro. Apesar das minhas
vergonhosas insistências, ele não se deixou levar e
respeitou os limites. Podia ter se aproveitado,
entretanto, se preocupou o tempo todo. Só
esquentamos um pouquinho. Ahh... Sua boca. Meu
Deus! Ela realmente sabe trabalhar bem. Fico com
calor só de lembrar.
Onde será que ele se meteu? Resolvo
levantar e procurá-lo pela casa, mas paraliso ao
ouvir vozes. Tem duas de homens, e duas de
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mulheres. Merda! Que não sejam clientes. Não


quero nem imaginar isso. Eles estão falando baixo,
porém, dá para percebê-los. Como eu vou embora
daqui?
Começo a ficar desesperada em busca do
meu vestido. Dormi só de calcinha e sutiã, preciso
procurá-lo urgente. Eu senti frio, lembro-me de um
corpo quente encostado no meu. Será que ficamos
de conchinha a noite toda? Preciso parar de divagar
e correr, antes que Murilo se esqueça de que estou
aqui e traga a tropa para sua cama.
Encontro-o jogado no chão e me visto
rapidamente, calçando meu salto. Odeio salto!
Agora vou parecer uma louca andando pela rua
sozinha com essa roupa. Enquanto penso como sair
sem ser notada, ouço a voz de Murilo ficar mais
alta, como se estivesse chegando próximo ao
quarto.
— Olívia, não faça isso!
Olívia? Quem é Olívia? Ele parece
desesperado para que ela não entre. Será que
Murilo tem uma namorada inocente como eu fui
com Heitor? Que acredita nele fielmente e o cretino
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passa as noites com várias mulheres se


prostituindo, sem ela saber? Ai, meu Deus! Estou
passando mal. Que não seja isso! Coitada dessa
menina. Alguém coloca a mão na maçaneta da
porta e meu coração vai parar na boca com o medo
da realidade.
— Olívia! — Murilo grita.
Ela não escuta e entra do mesmo jeito. Mas,
espere aí!
Olívia não é cliente, com certeza. Também
não é namorada, posso confirmar.
Quem será?
O que aparece na minha frente é uma
menininha linda de olhos escuros e cabelos
castanhos. É branquinha, deve ter, no máximo, uns
quatro anos.
—Oi! — digo encantada.
— Oi! — ela responde emburrada. — Mu,
quem é essa?
Já gostei dela. Tem personalidade forte!
— Olívia, eu falei pra não entrar aqui. Tu
precisa me obedecer, querida — fala Murilo para a
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criança com carinho, se ajoelhando para olhá-la nos


olhos. Parece nem me ver parada ali.
— Diculpa. Eu tô procurano a Mônica.
Esqueci ela aqui ontem, preciso da Mônica, Mu.
— Eu sei que sim, mas eu disse que não
estava aqui.
— Vamo procurá?
— Agora eu não posso, preciso levar aquela
moça ali na casa dela. Daqui a pouco a gente
procura, tá?! — ele explica, finalmente, me
olhando.
— Quem é ela? Você não me falô.
— O nome dela é Alice.
— Mas quem é?
— Alice, ué.
— Não. O que é?
Estou entretida com a pequena. Brava,
determinada e curiosa! Fico imóvel ouvindo o
diálogo dos dois, querendo encaixar as peças.
— Nossa, Olívia, tu pergunta demais.
— E tu nunca tem resposta.

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Toma! Já adoro essa menina. Ele nunca tem


mesmo.
— Eu já falei pra tu que é feio ficar
enchendo as pessoas de perguntas.
Quando Olívia ia soltar mais uma, aparece
na porta uma senhora que aparenta uns 70 anos
acompanhada de um menino. Um menino muito
parecido com o Murilo: olhos castanhos avelã,
cabelos bagunçados... Mas, ele é diferente. Com
certeza, tem Síndrome de Down. Que fofo! Está
sorrindo e agarrado no braço da mulher que se
assusta ao me ver ali.
— Murilo, me desculpa! Não sabia que tu
estava acompanhado — explica a senhora.
— Dona Emília, tudo bem. Eu perdi a hora,
era pra ter levado a Alice ontem mesmo pra casa.
— Eu não posso ficar com eles agora, o Zé
está me esperando pra ir à feira. Daqui a pouco eu
volto e tu poder levar a moça em casa. Ok?
— Não se preocupe — tomo coragem para
dizer. — Eu posso ir de Uber ou de ônibus.
— Tu não vai sair aqui, no meio da favela,

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vestida desse jeito, procurando ônibus, táxi, Uber,


ou o que seja — se intromete Murilo irritado.
— Por que não? — questiono
inocentemente.
— Porque tu está na favela, Alice, não no
seu bairro.
Ok, melhor não discutir. Todos estão
olhando para nós, quietos, mas vejo um sorriso
escondido nos lábios de Dona Emília. Não estou
entendendo nada.
— Pode procurá a Mônica agora? — a
menininha volta a perguntar. Que fofa!
— Eu vou indo, daqui a pouco estou de
volta — despede-se Dona Emília e sai pela porta.
— Raul, tu ajuda a Olívia a procurar a
Mônica, por favor? — Murilo pergunta ao menino.
— Claro! Vem, Li — ele responde
animado, estendendo a mão, e os dois saem
saltitantes do quarto.
Murilo está tenso, se levanta do chão e
passa as mãos pela nuca. Eu continuo em silêncio,
com medo da minha boca fazer perguntas que
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estraguem tudo de novo, apesar de morrer de


curiosidade.
— Eles são meus irmãos
— Irmãos? — pergunto incrédula.
— Sim. O Raul é de pai e mãe, a Olívia só
por parte de mãe. O meu pai nem sabe que o Raul
existe. Ele foi embora antes dela descobrir a
gravidez.
Fico chocada, coitado do Raul! Aproveito
que Murilo abaixou a guarda, e tento arriscar a
sorte.
— Por isso você só pode trabalhar à noite?
Por causa deles?
— Isso — responde secamente, contudo,
depois, graças a Deus, resolve continuar. Não ia
aguentar de curiosidade. — A Dona Emília trabalha
durante o dia e não pode ficar com eles. Ela é a
única pessoa que me ajuda. Provavelmente, já
teriam ido para um abrigo. Não conseguimos
creche para a Olívia em tempo integral, nem escola
para o Raul. Os dois só ficam meio período, de
manhã. Enquanto estão lá, eu tenho que dar uma

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ajeitada nas coisas aqui, fazer os serviços


domésticos, arrumar comida... Toda a tarde eu
passo com eles. Não temos mais ninguém, somos
só nós.
Um nó se forma na minha garganta. Que
arrependimento de ter feito julgamentos
precipitados. Realmente, não podemos falar sem
saber da realidade das coisas. Estou até com
vergonha das minhas palavras, não sabia que ele
tinha todo esse peso nas costas.
— Desculpa, Murilo, por ter julgado você
ser garoto de programa. Entendo o motivo agora.
— Julgar é fácil, Alice. Difícil é entender.
Tu acha que eu gosto do que faço? Só não tenho
opção! É isso, e tenho a família que me restou, ou
já era.
— Eu sinto muito mesmo pelo julgamento.
— Tudo bem, já esperava isso. Todo mundo
joga pedra mesmo. Quando saí do emprego de
segurança, eu fiquei um mês e meio procurando
vaga dia e noite. Mas só no período noturno é bem
difícil. As coisas começaram a ficar feias aqui e
tive que tomar medidas urgentes.
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Olívia interrompe nosso momento de


sinceridade e fico triste. Murilo estava tão propício
a responder. Ela entra feliz pelo quarto, gritando e
pulando no colo do irmão.
— Acheiiiiiii! Tava debaixo da pia.
— O que a Mônica tava fazendo debaixo da
pia, Olívia? Já falei para tomar cuidado com seus
brinquedos. É para guardar no lugar quando não for
usar mais.
— Ela foi procurá comida pra Magali.
Não aguento, morro de rir com a esperteza
da menina. Parece eu quando criança. Sempre com
a resposta na ponta da língua! Murilo olha para
mim e também sorri.
—Tenho que admitir que tu é esperta — ele
diz.
— Eu sou esperta e linda. E divetida. E
legal.
Estou gargalhando de novo. Essa menina é
uma figura!
— Tu tá rino de mim?
— Desculpe, você é muito engraçada.
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— Isso é uma coisa boa?


— Ahh... É sim! Mantenha esse senso de
humor e será uma pessoa muito querida quando
crescer.
— Tá bom! — a pequena me responde
sorrindo e volta à atenção para o irmão. — Mu,
gotei dela. É sua namorada?
— O quê? Não, Olívia! De onde tu tira
essas coisas? Eu não tenho namorada. Alice é só
uma conhecida.
— Eu tenho namorado.
Meu Deus, ela não para! Estou adorando,
minha boca não fecha de tanto que dou risada.
— Para o seu bem, acho melhor tu não ter,
Olívia. — Murilo a encara sério.
—Tenho, sim! É o Pedro da escolinha.
— Vou ter uma conversa com esse Pedro.
— Eu vô casá com ele.
Quase engasgo agora de tanto que rio e
Murilo parece que vai ter um ataque cardíaco.
— Olívia, acho melhor a gente ir, viu!? Seu
irmão vai ter um ataque se você continuar falando
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essas coisas pra ele. Homens não sabem lidar com


casamentos — explico.
— Não incentiva, Alice, senão, eu mato
você — diz brincalhão e eu dou de ombros
divertida.
Pego nas mãos da pequena e vou para sala
aguardar Dona Emília chegar. Nossa! Só agora me
liguei. Deve ser a mesma Dona Emília da infância
dele, a que dava suco de milho. Já adoro essa
senhorinha, tem um coração bom.
— Tu quer casá? — de repente a pequena
me questiona.
Pergunta difícil, será que ainda quero depois
dessas últimas semanas?
— Eu queria muito, agora não tenho tanta
certeza.
— Por quê?
— Porque eu descobri que não é como eu
pensava.
— Como você pensava?
— Um conto de fadas, como dos filmes da
Disney. Você gosta?
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— Eca! Não gosto das princesa. São chata!


— Sério? — pergunto rindo novamente.
— Gosto da Mônica e do Cebolinha.
— Ela é muito brava, não?
— Só um pouquinho. É porque querem
pegá o Sansão.
— Você quer ser como ela quando crescer?
— Sim! Eu não vô deixá as pessoa me fazê
de boba.
— Isso aí! Você é muito esperta, sabia?
— Sabia. E muito linda.
— Sim, muito linda também — concordo
sorrindo pela milésima vez na manhã.
Raul aparece na sala e também se senta ao
meu lado, passando a mão no meu cabelo.
— Tu é bonita — ele me elogia.
— Obrigada, Raul.
— Mamãe também era bonita.
Não sei nem mais o que dizer, meu coração
dói só de pensar na vida deles. Sem pais, com um
irmão que precisa se virar para conseguirem
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sobreviver. Quando mesmo eu estava reclamando


da minha vida? Resolvo mudar de assunto para não
deixá-los tristes.
— Vocês gostam de praia? Eu adoro!
— Simmmm!— Olívia responde primeiro,
muito animada. — Mas o Mu não leva a gente.
— Não? Não acredito! Por quê?
— Ele diz que não tem tempo. Eu queria ir.
— Ela faz beicinho.
— Eu podia levar vocês um dia — digo sem
pensar.
— Sério? — Raul pergunta batendo palmas.
— Sim! Quer dizer, se o Murilo deixar, eu
levo sim. Seria bem divertido!
— Eu quero! Eu quero! — Olívia pula na
minha frente. — Mu, Mu… A gente pode ir na
praia com ela? — questiona, olhando para a porta
do outro lado da sala, que dá de costas de onde
estou sentada.
Quanto tempo será que ele está ali?
— Vou pensar — responde simplesmente.
— Ahhhhhh... Tu não leva, não deixa
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ninguém levá! — A pequena emburra e eu não


consigo deixar de sorrir. É muito lisa!
— Mais lá pra frente, quem sabe, se ela
ainda quiser, pode ser.
— Êeee! — Olívia comemora pulando e
abraçando o Raul. — Nós vamo na praia!
— Quem vai à praia? — Dona Emília abre a
porta da sala e entra na conversa.
— Euuu, euuuu. E o Raul — diz Olívia. —
Ela vai levá. — Aponta na minha direção.
— Que legal, vocês vão se divertir!
— Vamos, Alice? — Murilo pergunta,
querendo cortar o assunto
— Claro.
Despeço-me de todos com um beijo e um
abraço, sem vontade de ir embora.
— Quando você vem? — Olívia questiona
referindo-se ao dia que os levarei na praia.
— Olívia! — adverte Murilo. — Eu disse
um dia, não amanhã. Calma! — Ela faz bico.
— Eu vou ver direitinho e aviso o Murilo,
tá? Não vai demorar e não vou esquecer, prometo.
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— Tá bom.
A baixinha me abraça de novo e dá um
beijo na minha bochecha. Crianças, como são
fáceis de agradar! Ficam felizes por coisas simples,
como uma visita à praia. Agora lembrei porque
queria tanto fazer Serviço Social e trabalhar com
elas. Queria ser capaz de fazê-las sorrir, como hoje.
Vou sentir saudade de Olívia e Raul quando esse
plano acabar.

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Capítulo 16
♫ Quando eu soltar a minha voz, por favor,
entenda que palavra por palavra eis
aqui uma pessoa se entregando. ♫
Sangrando, Gonzaguinha
MURILO
Fiz o trajeto de casa até a república da Alice
pelo caminho mais longo. Gosto da sensação do seu
corpo colado no meu, o cabelo ao vento e as mãos
na minha cintura. Não sei definir em uma palavra o
que estou sentindo agora, mas vê-la interagindo tão
naturalmente com meus irmãos fez algo diferente
nascer dentro de mim. Parecia tão comum, tão
certo. Ela gostou deles genuinamente e são poucas
as pessoas que se preocupam conosco. Até se
colocou à disposição para levar Olívia e Raul na
praia. Nem consegui dizer que era uma péssima
ideia na hora, fiquei admirado com a proposta.
Acho que perdi uns dez minutos os olhando
escondido.
Quando cheguei na portaria do seu prédio
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dei um beijo tão lento que ela ficou me olhando


confusa. Também parecia perdida em pensamentos.
Acho que foi a primeira vez que beijei alguém com
delicadeza, sem pensar em sexo. Eu queria dizer
alguma coisa, porém, sei que não devo e vim
embora. Alice tentou marcar um novo encontro
hoje à noite ainda, só que achei melhor dispensá-la
e menti que preciso trabalhar. Na verdade, até
preciso mesmo, mas onde anda a vontade de me
deitar com várias mulheres desconhecidas em
noites vazias?
Já estou em casa e é quase hora do almoço.
Dona Emília está no quintal estendendo roupa e
rindo com as crianças. Nem que eu passasse o resto
da vida agradecendo, não seria o suficiente para
tudo o que essa mulher já fez por mim.
— Não precisa fazer isso, Dona Emília —
digo colocando as mãos nos seus ombros.
— Não me custa nada, Murilo. Estava aqui
mesmo. Eu ia adiantar o almoço, só que a Olívia
disse que tu prometeu fazer panquecas.
— É verdade, eu prometi. Já está na hora de
irmos para a cozinha, hein? — falo em sua direção
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e ela sai pulando animada.


— Oba! Vamo fazê paqueca, Raul?! —
Olívia chama o irmão.
— Muito simpática a moça, Murilo. —
Dona Emília chama minha atenção com aquele
sorrisinho maroto.
— É só uma conhecida, nada de mais.
— Sei! Nunca vi tu com uma garota em
casa desde a morte da sua mãe. E eu percebi o jeito
que olha pra ela. Ela te olha do mesmo jeito, sabia?
— Não sei do que a senhora está falando.
— Começo a ficar irritado. Odeio esse tipo de
conversa.
— Eu sei que tu não gosta, e eu nem deveria
me meter, mas ela é diferente, Murilo. Parece uma
garota muito boa, você deveria, enfim, ter um
relacionamento de verdade.
— Me diz como eu posso ter um
relacionamento de verdade com essa vida? Não
seria justo.
— Se tu está pensando se é justo ou não,
quer dizer que gosta dela?
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— Dona Emília, não abuse da sorte — falo


sério, mas rindo. — Agradeço a ajuda por hoje.
— Tudo bem, eu desisto de você. Sempre se
fecha nessa muralha que criou e não deixa as
pessoas entrarem. É muito melhor ter companhia aí
dentro, viu!?
— Tá bom. Boa tarde. — Tento encerrar o
assunto e ela sorri, acariciando meu rosto de um
jeito maternal. Eu a amo como se fosse minha mãe,
apesar de nunca ter dito isso.
Mal ela sai, Olívia vem correndo em minha
direção fazendo o drama que lhe é peculiar.
— Mu, tô morrendo de fome e tu aí parado.
Tem um buraco aqui, ó! — Aponta para o centro da
barriga.
— Tem, é? Deixa eu ver. — Aproximo e
sigo o dedo dela enchendo-a de coceguinhas.
— Para, Mu! — implora no meio de
gargalhadas e eu a torturo mais um pouquinho
antes de soltá-la.
— Bora lá fazer panqueca, vem! — chamo
Olívia e Raul.

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Eles adoram ajudar na cozinha! Embora,


mais atrapalhem, gosto desse momento só nosso,
em que, por um instante, esqueço dos problemas.
***
Durante a preparação, o almoço e a limpeza
da cozinha os dois não pararam de falar sobre o
bendito passeio com Alice na praia e em como ela
era bonita e legal. Nem conhecem a menina e já
caíram em seu encanto também. Também? Para
com isso, Murilo, que você não caiu em nada!
Nunca se amarrou em ninguém, não será agora.
Não pode ser agora.
Aproveito a distração dos dois assistindo a
um filme na sala e pego meu computador para
checar as novidades. Tem dez ligações perdidas de
Max no Skype e dois e-mails não lidos, apenas com
o título "Fica on-line agora" e "Por que não me
atende, porra?". Pego o celular no meu bolso e
percebo que deixei no vibra para não acordar Alice
à noite. Droga! Tem mais dezenas de mensagens
dele no Whats. Será que aconteceu alguma coisa?
Chamo seu número imediatamente e não demora
nem dez segundos para aceitar a ligação.
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— Porra, Murilo! Onde você tava?


— O que aconteceu, cara? Quer me matar
do coração? — pergunto em tom preocupado.
— Nossa! Tô tentando falar com você desde
cedo e nada. Já tava entrando em desespero aqui.
Tá tudo bem?
— Eu que pergunto, Max. O que houve?
— Nada! Só tenho uma boa notícia e queria
compartilhar. Tá tudo certo mesmo aí?
— Tá! Eu esqueci o celular no vibra noite
passada e depois fiquei entretido com a Olívia e o
Raul.
— Eu tenho uma notícia maravilhosa pra
você, nem vai acreditar — Max diz empolgado.
— O que foi dessa vez? — Faço cara de
impaciente. Ele sempre inventa uma forma de me
ajudar lá da Inglaterra, e quase sempre acabamos
brigando por isso.
— Pode pelo menos fingir uma cara feliz?
Dessa vez não estou mandando dinheiro ou nada do
tipo não.
— Acho bom, Max. Já disse que dos meus
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problemas cuido eu. Tu tem os seus.


— Não é assim que funciona uma amizade,
mas não vou discutir com você. É teimoso demais!
Bom, a boa notícia é que neste semestre estou com
um professor novo. Ele é do Brasil, apesar de morar
aqui há mais de quinze anos. Ontem mostrei suas
últimas músicas e ele simplesmente adorou. Gostou
de verdade, Murilo.
— E?
— E que a família dele tem um estúdio aí
no Rio e eles estão à procura de novos talentos.
Novos talentos no seu estilo, diga-se de passagem.
Músicas mais reflexivas e intensas.
— Max, não começa com isso de novo,
cara, por favor.
— Murilo, pelo amor de Deus! Escuta o que
eu estou falando. O cara gostou da sua música. Ele
quer te dar uma oportunidade de gravar. Custa você
acreditar em você uma vez na vida? Qual é o seu
problema?
— Tu quer que eu comece a listar meus
problemas, Max?

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— Para de carregar o mundo nas costas!


Deixa as pessoas ajudarem você, cara. Porra! É
irritante sua teimosia. Vai viver um pouco só por
você uma vez na sua vida, fazer o que realmente
ama. Você é muito bom, tem potencial.
— Max, tu sabe que isso não dá dinheiro.
Como eu vou fazer o que amo, se tem duas bocas
para eu sustentar? Uma criança de apenas quatro
anos e um irmão que precisa de atendimento
especializado? Tu sabe quanto eu gasto por mês
com o Raul no cardiologista e com remédios? Se
fosse depender do SUS, ele já tinha morrido.
— Eu sei, Murilo. Eu sei. Mas dessa vez é
algo grande. A gravadora tem nome, possui um
bom plano de divulgação e a chance de você ganhar
destaque é ótima. Não custa tentar. Por favor.
— Cara, por que tu não desiste disso?
— Porque eu sou seu amigo. Amigos não
deixam o outro desistir dos sonhos. Era para você
estar aqui, Murilo. Se não fosse toda essa
reviravolta na sua vida, estaria aqui comigo na
Inglaterra. A vida não é perfeita, eu sei, só que
agora você tem uma oportunidade real de voltar a
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fazer o que nasceu pra fazer. Por favor, só escuta o


que ele tem a dizer.
— Não sei, Max.
— Eu vou deixar os contatos da gravadora
aqui no chat. Tá marcado para quarta-feira, às dez
horas da manhã. Só aparece e ouve, Murilo. Só isso
que te peço.
— Vou pensar. Vou pensar.
Fecho o computador e deito na cama com as
mãos na cabeça. Fico olhando o teto enquanto
memórias de um passado não muito distante
invadem minha mente.
***
— Murilo! — uma voz baixa chama meu
nome e acordo assustado.
Passo às noites neste hospital há cinco dias,
esperando minha mãe reagir. Olho no relógio, são
três horas da manhã. Dou uma conferida no
ambiente e está tudo silencioso. Devo estar
sonhando, pois o médico disse que iria sedá-la
para não sentir dor. Preciso tentar dormir um
pouco.

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— Murilo! — a voz chama de novo e eu


percebo que não é um sonho. É ela, minha mãe,
enfim, acordou.
— Mãe! — Sigo em sua direção. — Está se
sentindo melhor?
— Murilo! — diz com dificuldade, tem
muitos aparelhos na sua garganta. — Eu preciso te
pedir uma coisa.
— Para com isso!— Já sei aonde quer
chegar e não estou a fim de ouvir.
— Escuta! Eu não consigo falar direito.
Preciso que me escute sem me interromper. Você
pode fazer isso? — Não consigo dizer nada e só
balanço a cabeça afirmativamente. — Filho,
primeiro, preciso pedir desculpas. Desculpas por
ter sido uma mãe fraca, que se deixou engolir pela
vida e esqueceu do que realmente importa.
— Mãe! — Tento repreendê-la, mas ela
levanta a mão para continuar seu discurso. Não é
uma boa hora para falar disso, não quero magoá-
la. Dona Maria sabe o que penso.
— Agora já é tarde demais para reparar

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meus erros, eu sei. Não espero que me perdoe, mas


eu preciso saber que vocês serão felizes para que
possa tentar descansar em paz. Murilo, me
prometa que vai garantir que Olívia e Raul fiquem
bem. Já passaram por muita coisa, não permita
que sejam mandados para um orfanato.
— Vou cuidar dos meus irmãos, fica
tranquila.
— Me prometa também, filho, que você não
vai esquecer sua vida por causa deles, que vai em
busca dos seus sonhos e vai fazer o que ama? —
pede e não digo nada. — Murilo, todos nós vamos
partir um dia. O que faz a gente chegar nesse ponto
que estou agora, e sorrir ou se lamentar, é como
escolhemos viver.
***
Às cinco horas da manhã desse dia ela
morreu. Não tenho levado a sério seu conselho.
Meus últimos anos foram de pura sobrevivência.
Acho que preciso dar um jeito nisso para poder
sorrir quando for minha vez de partir.

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Capítulo 17
♫ Cada passo que estou dando, cada
movimento que eu faço, parece perdido
sem nenhuma direção. ♫
The climb, Miley Cyrus
ALICE
Claudinha e eu estamos esparramadas no
sofá da república, maratonando nossas séries
preferidas na Netflix, desde às quatro horas da
tarde. Já são oito e meia da noite. Sempre perdemos
a noção do tempo quando ficamos assim, só com a
TV, pipoca, refrigerante e brigadeiro. Adoro! Ela já
me perguntou umas vinte vezes sobre a noite de
ontem com Murilo, se chegamos aos finalmente.
Meu Deus! Qual a dificuldade de entender um não?
— Alice, tu tem certeza que não chegaram
lá mesmo? Tu tava muito empolgada quando saiu
do bar, quase arrancando a roupa do Murilo.
— De novo, Claudinha? Já é vigésima
primeira vez hoje que você toca nesse assunto —
reclamo revirando os olhos e pausando o novo
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episódio de House of Cards.


— Cara, já faz um mês que tu tá saindo com
ele. Murilo não é dessas coisas, não.
— Ele foi muito respeitoso em não forçar
nada enquanto eu estava alterada com o álcool —
defendo-o.
— Mas, e as outras vezes? Tô começando a
achar que essa não é uma boa ideia. Tá demorando
demais, daqui a pouco tu se envolve e vai voltar
para a estaca zero.
— Ahh não, Claudinha. Agora que tá
ficando bom! Ele já deixou bem claro que não se
envolve e, sinceramente, tô de boa. Sei do seu
trabalho e, agora que conheci a família dele, não
julgo mais. Entretanto, não dá para ficar com uma
pessoa assim, né?!
— Não tá me cheirando bem isso — ela diz
com uma cara estranha, como se soubesse de algo e
não quisesse me contar. — Até agora não acredito
que Murilo levou você na casa dele, nunca leva
ninguém lá. Eu mesma só fui uma vez, e nem
cheguei a entrar. Só na porta.

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— Você conhece os irmãos dele?


— Sim! Conheço mais o Raul. Ele é uma
graça, super atencioso. Costumava ficar com a
gente quando a mãe do Murilo estava em crise ou
muito bêbada. Ou seja, quase sempre. A menininha
era bebê ainda, na última vez que a vi. Não muito
tempo depois que ela nasceu a Dona Maria morreu
e o Max foi embora.
— Por que não me falou nada sobre isso?
— Porque tu não precisa saber, oras.
Conhecer a pessoa, seus problemas, só complica as
coisas. É melhor ficar na atração física que é mais
seguro.
— Credo, Claudinha, que horror! — falo me
levantando do sofá e indo para a cozinha fazer
outra rodada de pipoca.
Quando coloco o pacote no micro-ondas,
me toco das datas e de como deve ter sido difícil
para o Murilo.
— Nossa! Ele ficou sozinho com um irmão
que precisa de cuidados especiais e uma bebê. Deve
ter sido uma barra. — Coloco a cabeça na porta

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para olhar minha amiga insensível, que está


mexendo no celular.
— Foi sim. Eu não presenciei muito na
época, mas hoje me arrependo de não ter oferecido
ajuda. Éramos muito amigos. Fiquei com tanto ódio
do Max que me afastei. Ele se desdobrava para dar
conta. A vizinha sempre ajudou muito.
— Conheci a Dona Emília, ela parece ser
uma mulher incrível. Já gostei dela. Como você
reencontrou com Murilo? Como teve essa ideia
de... Você sabe...? — Pego a pipoca pronta e volto
para o sofá.
— Há uns cinco meses eu voltei a
frequentar o bar do Rafa, a favela. Desde a partida
do Max não tinha ido mais lá. O que foi uma
idiotice, já que ele é página virada. Bom, no
primeiro dia que voltei o vi com uma mulher, daí
não quis interromper. Estava conversando com um
conhecido nosso daquela época, que é garoto de
programa também, e ele me contou a novidade.
Parece que Murilo tinha acabado de perder o
emprego e as coisas estavam ficando feias para o
lado dele.
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— É, ele comentou isso mesmo. Coitado.


— Ele contou? Cara...
Quando Claudinha ia dar mais um chilique
sem motivo, meu telefone começa a vibrar debaixo
da almofada. Olho para a tela e até desanimo. É
minha mãe. Ainda está chateada pelo aniversário,
nem me ligou para dar parabéns. Peço licença e me
levanto, atendendo a chamada no canto da sala.
— Alô, mãe! — digo sem animação.
— Até que enfim, Alice. Pensei que não ia
me atender nunca.
— Do que você está falando?
— Eu cansei de te ligar hoje, e nada.
— Não tem nenhuma ligação perdida no
meu celular, mãe.
— Claro que tem, olha direito. — Confiro
na tela e tem mesmo, quinze chamadas não
atendidas dela. Que droga!
— Nossa mãe, agora que tô vendo aqui. Não
tocou, não sei o que aconteceu. Meu celular deve tá
com problema de novo.
— Tá com problema ou você que está
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avoada? Alice, onde você passou a noite?


— Sério isso, mãe? Eu já sou maior de
idade.
—Seriíssimo! Tem 19 anos, mas é inocente
igual a uma criança. Você não bebeu, né?
— Não fiz nada de mais. Só fui num bar, lá
no Alemão.
— Que Alemão? O Morro? — ela pergunta
se exaltando.
— Sim — respondo calmamente.
— O que você foi fazer numa favela? Além
de perigoso, nesses lugares só tem bandido.
Com certeza, puxei da minha mãe a péssima
mania de fazer um “pré-conceito” sobre as coisas.
— Calma, não precisa gritar. — Olho para
Claudinha, que está assustada no sofá, gesticulando
perguntas do que está acontecendo. Balanço as
mãos em sinal de que está tudo bem.
— Calma? Eu ficaria calma se você
continuasse sendo a garota de sempre, estudiosa e
tranquila. Não essa rebelde que cancela
compromisso com a família e vai parar numa
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favela. Aposto que foi ideia daquela sua amiga sem


juízo.
— Rebelde? Sério, mãe? — Rio na sua cara.
Que mulher exagerada! — E não mete ela nisso,
não.
— Rebelde sim. Tudo isso tem a ver com a
separação do seu pai e eu, né?
— Eu já disse, para com isso. Não tem nada
a ver com vocês. Tem comigo mesma. Me deixa
aproveitar um pouco minha vida, pelo amor de
Deus, mãe.
— Isso não é aproveitar, Alice. Isso é
desperdiçar tempo. Tempo que poderia ser gasto
nas suas metas, nos seus sonhos.
— Meus sonhos ou o sonho de vocês? —
digo estressada, cansada dessa conversa.
— O quê?
— Você me criou como uma princesa, me
fazendo acreditar em contos de fada que não
existem. Que eu me lembre, não queria fazer curso
de Administração também.
— Alice, o que você está dizendo?
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— Deixa pra lá, mãe. — Não adianta


argumentar com ela.
— Venha pra casa neste final de semana,
precisamos conversar.
— Mãe, vão voltar minhas aulas semana
que vem. Preciso arrumar um monte de coisas.
— Alice, eu estou mandando, não estou
pedindo.
— Mãe, não quero brigar. É melhor a gente
parar por aqui, né? Boa noite!
— Essa conversa não acabou! — ameaça e
desliga o telefone.
Como o dia passa em menos de vinte
minutos de ótimo para péssimo? Meu Deus! Está
impossível essa cobrança sem motivo em cima de
mim. Quem vê pensa que sou uma péssima filha
que vive dando problema.
— Ei, o que tá pegando? — Claudinha se
aproxima preocupada.
— Nada, só minha mãe pegando no meu pé
— digo secamente, não quero mais falar sobre isso.
— Vamos voltar para o House of Cards?
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— Bora lá! — ela diz animada, sem forçar


nada.
Passamos mais duas horas e meia à base de
comida e séries. Pena que não prestei atenção em
quase nada. Minha cabeça estava longe: mãe
desestabilizada, trabalho, faculdade, menininha
fofa, garotinho simpático, olhos castanhos
penetrantes. Principalmente, esse último.

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Capítulo 18
♫ Nada gosta de não fazer nada. Todo
telefone quer tocar. Uma janela é
tão infeliz fechada quanto um
carro sempre no mesmo lugar. ♫
Pra ter o que fazer, Clarice Falcão
MURILO
Amanhã, às dez horas, tenho que estar na
gravadora. Nervoso é pouco para o meu estado de
espírito. Não sei por que sempre fico tão inseguro
com relação à música, é o que faço de melhor na
vida. As canções saem tão naturalmente, parece que
sempre estiveram dentro de mim.
Já gravei as cópias que o Max pediu que eu
levasse, no e-mail enorme que me enviou com
orientações, e estou aqui sentado na cama há umas
duas horas esboçando uma nova letra. Pego a
caneta e o caderno novamente.
♫ Não deixe que as circunstâncias da vida te
façam desistir
O que você é ninguém pode tirar
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Se cair, dê logo um jeito de se levantar levante-se



O que você quer fazer antes de na hora de partir?
ÉEscolha sorrir ou se lamentar ♫
Não adianta, não está fluindo. Levanto e
desisto de terminar isso hoje. Quando começo a
riscar cada palavra, não fica bom. Decido adiantar
o almoço, já que terei uma manhã corrida, e vou
para cozinha fazer arroz. Deixo o feijão temperado
e asso uma torta de frango. Raul adora!
Graças a Deus nasci com o gene para a
culinária. Dona Emília me ensinou uns bons
truques também, se não a gente viveria de macarrão
instantâneo ou fast food. Termino tudo e olho no
relógio. Onze horas da noite. Merda de tempo que
não passa!
Eu devia trabalhar, mas não tenho cabeça
para isso com toda essa ansiedade. Mesmo quando
não saio, as crianças dormem na casa da nossa
vizinha anjo. Tem hora que me sinto incomodado
pelo tanto que ela faz, só que aquela senhorinha de
cabelos grisalhos insiste. Acho que nos adotou
como filhos, já que nunca teve os seus. Não
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reclamo, porque ter um tempo sozinho, às vezes, é


tudo que preciso. Exceto hoje.
Será que Alice está ocupada? Se eu aparecer
na casa dela agora, será que aceita dar um rolê na
praia, ficar de bobeira para acalmar os nervos?
Nem penso demais. Pego minhas chaves, a jaqueta
de couro e sigo em direção à república.
Somente quando estou na portaria envio
uma mensagem para convencê-la. Pensando bem,
acho que vim aqui à toa. Ela vai inventar um
milhão de desculpas.
Tá ocupada?
Entediada =/ E vc, o que tá fazendo?
Tô na porta do seu prédio.
O quê? O que tá fazendo aqui?
Bora dar um rolê na praia?
Essa hora? Você tá louco? É quase onze e
meia e estamos no inverno.
Não é para entrar na água, não sou tão
doido. Só pra contemplar a natureza.
Contemplar a natureza? kkkkkkkkkkkk As
companhias te cansaram hoje, é? rs
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Não quero confessar à Alice que não faço


programa há dias, tampouco, que preciso
desestressar por causa da entrevista de amanhã. Ela
não tem nada a ver com isso, melhor deixá-la
pensar o que quiser.
Pois é, vida difícil.
Imagino rs... Mas eu passo.
Vamos logo, Alice, só meia hora.
Eu não posso, tenho que trabalhar amanhã.
Para de ser velha coroca. A Rabbit tá
esperando.
Ahhhhh, você é muito chato, sabia?
Eu sei. Vem logo!
Como não respondeu mais, sei que está
descendo. Um sorriso bobo aparece nos meus
lábios sem que eu perceba. Gosto da sua presença,
tenho que admitir. Fico esperando na moto mesmo,
fuçando no celular. Escuto barulho no portão e
levanto a cabeça. Caralho! Como é linda essa
mulher. Alice está com os cabelos soltos, jaqueta
jeans e uma calça legging de matar.
— Devia ser proibido usar essas calças.
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— Por quê? — Alice pergunta confusa. Tão


inocente!
— Porque são um tesão, dá vontade de fazer
muitas coisas — confesso e dou um tapa na sua
bunda macia.
Ela fica corada e eu solto um sorriso sem
vergonha. É muito fofa! Merda de palavra que não
sai da minha mente ultimamente.
— Lá vem você com o dom de me deixar
morrendo de vergonha.
— Não fique, gata. Como sempre, tu tá
gostosa pra caralho!
— Para com isso, menino! — repreende-me
com um tapa no braço e a pego pela cintura,
desprevenida.
Passo as mãos pelos seus cabelos e a seguro
firme na nuca, preenchendo sua boca com meu
hálito quente. Deus, como é gostoso beijá-la!
Nunca me canso do sabor. Ela coloca as mãos nas
minhas costas e se entrega, dando aquelas
mordidinhas que só Alice sabe, e que me deixam
louco. Poderia ficar assim durante horas.

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— Vamos logo, tenho que acordar cedo —


Interrompe o beijo sorrindo e finge estar brava.
— Tu é uma estraga prazer, sabia?
— Sou sensata, isso sim. Nós vamos
mesmo para a praia a essa hora da noite?
— Com certeza, vamos! É muito relaxante
ouvir o barulho do mar e olhar para o horizonte. A
noite está bonita hoje.
Ela apenas assente, e faz seu ritual de
sempre quando está na Rabbit. Agarra a minha
cintura e coloca seu rosto encostado nas minhas
costas. Sensação boa essa! Dou partida e seguimos
em direção à Praia Vermelha. Uma praia pequena e
com uma paisagem envolvente, entre o Morro da
Urca e o Morro da Babilônia.
A noite está realmente bonita, com o céu
estrelado e uma lua cheia grandiosa no centro. Vou
devagar apreciando a paisagem, já que por muitas
vezes estou tão apressado que nem contemplo a
beleza a meu redor.
Quando chegamos, meu telefone toca e vejo
o número de Dona Emília na tela. Fico preocupado

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e atendo prontamente, afastando-me de Alice.


— Alô! Tá tudo bem aí?
— Tudo certo, Murilo! Fica tranquilo.
— Ahh… Que susto! Já pensei merda. —
Suspiro aliviado.
— Na verdade, liguei porque Olívia teve
um pesadelo e acordou chorando e chamando por
você. Desculpa atrapalhar, mas ela não parou de
falar até eu pegar o telefone — explica e abro um
sorriso imaginando a insistência da pequena.
— Tudo bem, deixa eu falar com ela.
Enquanto espero, viro-me e vejo Alice
conversando com um filho da puta de um cara com
pinta de surfista. Ela está sorrindo como se o
conhecesse e uma sensação estranha me toma. Um
misto de raiva com insegurança. Que merda! Odeio
esses sentimentos novos. Cerro os dentes e apresso-
me para terminar logo essa ligação.
— Olívia, tá aí?
— Oi, Mu!
— Não precisa ficar com medo, querida. É
só um sonho, viu? Eu tô aqui sempre pra te
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proteger! — explico enquanto vejo o desgraçado


colocar a porra da mão no braço de Alice.
— Eu sei, mas não consigo durmi. O
monstro tá debaixo da cama.
— Eu vou mandar meu ajudante, o senhor
invisível, ficar do seu lado para que nada aconteça.
Tá bom?
— Tá bom.
— Ele já chegou? É super rápido!
— Chegou sim! Tá aqui do meu lado.
— Só você consegue vê-lo. Vai com ele
para a cama que amanhã cedo estou aí.
— Obrigada, Mu.
— De nada, meu amor. Boa noite!
Desligo o telefone caminhando em direção
aos dois que continuam de papo. O que tanto tem
para falar? Alice sente minha presença e se vira
preocupada.
— Está tudo bem?
— Está sim, Olívia teve um pesadelo —
respondo chegando bem perto dela para mostrar ao
idiota que está acompanhada.
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— Ahhh… É… Esse é o Manuel, amigo da


Claudinha — ela apresenta sem graça. Droga! Será
que já ficou com ele?
— Fala, cara — digo secamente.
— E aê! — cumprimenta me avaliando. —
Eu já vou indo. Vê se aparece mais vezes no luau,
Alice. Aquela noite foi ótima! — lembra sorrindo e
a garota ao meu lado fica vermelha. Com certeza,
ficaram! Minha boca forma uma linha fina e tento
conter a raiva que aumenta dentro de mim.
— Tchau! — é a única coisa que consegue
falar.
O babaca alto sai e pego sua mão em
silêncio em direção ao cantinho esquerdo da orla.
Sento e abro as pernas para que Alice possa se
encostar ao meu peito e ficar de frente para o mar.
— Vocês já tiveram alguma coisa? —
pergunto e me repreendo na mesma hora. Que
droga de pergunta é essa?
— A gente ficou esses tempos atrás num
luau que fui com Claudinha.
— Só beijo ou algo mais? — questiono sem

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conseguir me controlar e dou um soco na minha


cara em pensamento. Não tenho nada com isso,
porém, adoraria ter sido o único a tocá-la.
— Só beijo — responde sem graça, ainda
olhando para o mar.
Solto um sorriso de alívio sem que Alice
perceba e voltamos a ficar em silêncio por um
minuto. Ela apreciando a bela vista e eu a
apreciando.
Nossa! É ainda mais linda quando você
presta atenção.
Seu sorriso fica perfeito com aquele
buraquinho que se forma na bochecha toda vez que
ela sorri. Seus olhos são grandes, com cílios
também grandes. Eles não são totalmente verdes, é
meio misturado com castanho, bem diferente. Seu
cabelo está muito cheiroso e eu me perco ali.
— O que foi? — pergunta, finalmente, me
olhando. Acho que percebeu que a estava fitando
demais. Droga!
— Nada, só pensando na vida. É bonito
aqui, né? — desconverso.

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— Demais! Nunca me canso do Rio. É um


lugar mais incrível que o outro.
— Verdade, não podemos reclamar de
beleza por aqui. Onde sua família mora é bonito
também?
— É sim, tem bastante natureza. Mas é
paradão, interior do interior. — Ela sorri com as
covinhas lindas.
— Acho que ia gostar de morar em um
lugar paradão. Às vezes, sinto falta da calmaria. Lá
no Morro é muito agitado.
— Imagino — assente, mas na verdade não
faz ideia de como é realmente agitado.
O tempo passa e nem me lembro mais da
ansiedade do início do dia. Agora estou calmo e
confiante de que amanhã será um dia importante
para mim. O dia que, enfim, vou mostrar minha
música e ter uma real oportunidade de oferecer uma
vida melhor para os meus irmãos. Não me iludo em
ser um cantor famoso, só de fazer o que amo já me
deixa feliz. Preciso de um emprego seguro e fixo.
Saio do meu devaneio com Alice suspirando
frustrada na minha frente.
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— Aconteceu alguma coisa?


— Você acha que seria muita loucura se eu
trocasse de curso? — ela diz de repente, parecendo
confusa.
— Tu quer mudar ou vai fazer isso por
alguém?
— Eu quero!
— Então, não. Quando parte de nós, sempre
é o certo.
— Meus pais vão ficar loucos de ódio. Eu
até gosto de Administração, sabe, mas não era isso
que eu queria. Gostaria de fazer Serviço Social e
trabalhar com crianças ou idosos.
— Tu se daria bem com crianças. A Olívia
e o Raul não param de falar de você.
— Ahhh… — Seus olhos brilham. — São
muito fofos, adorei conhecê-los! Na verdade, é um
pouco culpa dos seus irmãos. Eles despertaram essa
vontade que estava adormecida aqui dentro.
— Então, o que tu tá esperando?
— Sei lá. Não gosto muito de mudanças
bruscas de rota. Já tinha tudo planejado. E tenho
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um ótimo estágio, embora esteja ficando chato


porque não me sinto mais tão empolgada com a
área. Eu preciso de um emprego para me manter
aqui. Eu já não ia aceitar dinheiro dos meus pais de
qualquer forma, porém, mudando de curso, aí que
não ofereceriam.
— É bom mudar de rota às vezes, Alice. Ter
tudo planejado é chato. Os imprevistos que fazem
valer a pena.
— É, tenho percebido — admite me
encarando. Caralho! Não me olha assim. Parece
que meu coração vai sair pela boca. Mas que merda
é essa?
Já que a conversa está indo para caminhos
desconhecidos, e não me sinto bem nesse terreno,
decido encerrar a noite antes que faça algo que vou
me arrepender. Olho no relógio para dar um tiro
certeiro.
— Meia-noite e quarenta e cinco já,
acredita?
— Nossa, já? Meu Deus, precisamos ir
embora. — Levanta-se e começa a limpar a areia da
calça. Ahhh, essa maldita calça!
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— O tempo voa quando estamos na


companhia do mar — digo e ela sorri. Na verdade,
o tempo voa é quando estamos juntos.
Volto para a república no gás, sem trânsito é
tentador acelerar e sentir o vento frio batendo no
rosto. Dessa vez, Alice nem reclama, também
parece curtir. Está perdida em seus pensamentos
sobre a decisão que precisa tomar.
— Obrigada pela noite, até que foi legal —
confessa quando chegamos à portaria.
— Estamos aqui pra isso! — digo descendo
da moto e abraçando-a. — Eu me convidaria para
subir e ajudar você tirar essa calça, mas acho que
não deixaria — arrisco provocá-la.
— De jeito nenhum! Já está tarde.
— Então, só uma casquinha! — falo e nem
a deixo retrucar. Pego Alice firme pela bunda,
dando leves apertadinhas, enquanto invado sua
boca. Ela fica ofegante e geme na minha garganta.
— Murilo...
— Alice... — suspiro. — Melhor a gente
parar por aqui já que não quer me deixar subir.

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— Com certeza. Boa noite — diz saindo


dos meus braços e sorrindo novamente.
— Boa noite — respondo baixinho e fico ali
esperando-a entrar em segurança.
***
Já estou na gravadora, mexendo as mãos
suadas ansiosamente na recepção, enquanto
aguardo me chamarem. Caramba! Nem me lembro
da última vez que fiquei tão nervoso. Vesti uma
calça jeans escura e uma camisa social azul listrada.
Estou até que bem apresentável. A secretária nem
disfarça seu olhar em mim a cada cinco segundos.
— Murilo? — uma voz masculina me
chama.
— Sim. — Levanto e o cumprimento.
— Sou Jorge, muito prazer. Vamos entrar.
O escritório é muito bonito e espaçoso.
Além da recepção, logo na entrada tem três salas
repletas de pessoas trabalhando em seus
computadores. Há dois grandes estúdios também,
bem perto da sala maior que entramos agora e há
três pessoas sentadas, esperando.

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— Murilo, esses são Pedro, Felipe e Clara.


Somos sócios aqui na gravadora. — Jorge me
apresenta a cada um.
— Estávamos ansiosos em conhecê-lo —
diz Felipe apertando minha mão.
— É, o Matheus fez ótimas recomendações
suas lá da Inglaterra — acrescentaClara também me
cumprimentando.
— Eu é que estou ansioso — admito
nervoso. — Muito obrigado pela oportunidade de
mostrar meu trabalho.
— Tu trouxe outras gravações? — pergunta
Jorge.
—Trouxe sim, estão aqui. — Entrego um
pen-drive com uma seleção de 32 músicas autorais
gravadas em voz e violão.
Pedro conecta o aparelho no seu
computador e projeta na tela, que está na parede,
minha imagem, ajustando o som. Passamos à
próxima uma hora e meia ouvindo cada uma das
canções. Sempre intercalando-as de vários elogios e
de como poderiam ficar ainda melhores se bem

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produzidas. Estou até emocionado com tanto


comentário positivo. Quando a última música toca,
todos se viram sorrindo em minha direção.
— Murilo, tu tem muito talento. Parabéns!
— elogia Clara.
— Obrigado, fico feliz de verdade que
tenha gostado.
— Eu adorei, cara. Tem uma pegada mais
intimista, só a voz e o violão. E as letras, as letras
são foda — afirma Pedro.
— Valeu mesmo.
— Tu não tem nenhuma música
apaixonada? Não que sejam ruins as reflexivas,
gostei muito, curiosidade mesmo — questiona
Felipe intrigado.
— Tenho um bloqueio enorme, não sei
escrever músicas sobre amor, paixão.
— Ahhh… Isso deve ser porque ainda não
se apaixonou. Quando ficar de quatro por alguém,
teremos a fase melosa de Murilo — gargalha Jorge
do meu lado na mesa.
— Acho difícil isso acontecer. — Sorrio
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também.
— Olha, agora falando sério, seu trabalho é
excelente, Murilo. Nós queremos fechar um
contrato com você. Está interessado? — questiona
Jorge. Como se ainda precisasse perguntar!
— Sim, estou muito interessado.
— A Clara vai te explicar certinho as
questões jurídicas e valores. No começo não é nada
exorbitante, mas vejo que podemos crescer muito.
O Matheus me disse que tu tem umas limitações de
horário. Pra gente, sem problemas nos
encontrarmos à noite. Ficamos aqui todo dia até às
onze — continua explicando.
— Nossa, maravilha! A partir das seis
horas, eu já posso.
— Combinado, então. Ainda esta semana
assinamos o contrato e começamos a selecionar as
músicas para o primeiro álbum — finaliza Jorge.
— Negócio fechado, então? — Felipe
estende a mão e eu a aperto feliz.
— Fechado!
Nem acredito! Negócio fechado. Eu vou ter
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um trabalho gravado profissionalmente e a


esperança de futuro melhor.

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Capítulo 19
♫ Foi assim como ver o mar, a primeira vez
que meus olhos se viram no seu olhar. ♫
Todo azul do mar, Roupa Nova
ALICE
Passei a semana pensando na minha
conversa com Murilo sobre mudar de curso. Será
que eu tenho coragem? Como vou me manter aqui
sem um emprego? É verdade que tenho um bom
dinheiro guardado, pois não sou de gastar e meu
atual trabalho paga muito bem, mas, mesmo assim,
parece loucura.
Teria que começar do zero: nova classe,
novos professores. Teria que correr atrás de um
estágio e economizar ainda mais. Sem contar a
aprovação da universidade, não sei se é fácil. Por
que tudo anda me incomodando tanto?
Termino de vestir meu biquíni vermelho e
coloco um vestido soltinho. Checo minha bolsa
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para confirmar se não esqueci nada: toalhas, canga,


protetor, condicionador e pente. Tudo certo! Apesar
de estarmos no inverno, hoje é um sábado bem
quente no Rio de Janeiro. A previsão diz que vai
chegar aos 37 graus.
Marquei de encontrar Murilo, Olívia e Raul
no posto 12 da praia do Leblon, às nove horas. Dei
uma pesquisada antes nas melhores opções e lá tem
um espaço legal para crianças. O Murilo disse que
se a gente não fosse logo neste passeio teria que
matar a irmã dele, de tanto que perguntava quando
aconteceria. Crianças! Sorrio pensando na
insistência dela questionando.
Vou para cozinha terminar os lanches
naturais que já deixei montados e coloco em uma
frasqueira térmica com suco e água. Duvido que
meu companheiro de aventuras sexuais vai lembrar
de, sequer, levar o básico. A Claudinha me
emprestou o carro dela, porém, tive que omitir o
motivo. Ela já está neurótica, se disser que estou
indo passear com a família toda, vai me matar.
Chego à praia e logo os avisto, sentados
perto do quiosque que combinamos. Estaciono e
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pego minhas bolsas. Mal chego perto e já vejo


Murilo gargalhando. Ele está divinamente lindo, de
chinelo Havaianas, bermuda jeans e uma camiseta
avelã do tom dos seus olhos. Sobe até um calor
com a visão!
— Não sabia que tu era farofeira — ele diz
tirando sarro da minha cara.
— Não é farofa, idiota. É o básico. Duvido
que você passou protetor solar neles. — Olho
sorrindo para Olívia e Raul.
— O sol da manhã faz bem para a pele —
rebate rapidamente, continuando a provocação.
— Mesmo sendo benéfico para a saúde,
ainda sim, é necessário o protetor solar.
— O que é potetô solar? — Escuto uma
vozinha fofa nos encarando curiosa.
— É um produto que passamos no corpo
para o sol não machucar a gente — explico
acariciando seus cabelos.
— Ah, tá. Já pode entrá na água? — ela
pergunta querendo ir logo ao assunto que lhe
interessa.

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— Calma, Olívia, deixa a gente chegar


primeiro, querida — Murilo fala carinhoso e ela faz
bico.
Dou um beijo na bochecha do Raul e pego
em seu braço para achar um bom lugar na areia. A
praia já está cheia de gente, mas conseguimos um
guarda-sol bem posicionado entre o parquinho e o
mar. Tiro o shortinho e a blusa da Olívia para
passar bastante protetor solar em sua pele branca.
Ela está muito fofa com um maiô de bolinhas preto
e amarelo. Também prendo seu cabelo, para dar
mais liberdade na hora de brincar, com um dos
meus prendedores. Murilo está passando protetor
no irmão, enquanto ele fala — feliz — de como o
lugar é bonito.
— Olívia, eu tenho um presente pra você —
digo pegando um brinquedo da bolsa e escondendo
nas costas.
— Pesente? Adoro pesente. Eu quero!
Mostro um kit de brinquedos de praia da
Turma da Mônica e ela avança no meu pescoço, me
dando um abraço tão forte que me deixa
emocionada.
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— Tu é muito, muito, muito, muito linda.


— Eu sou linda só porque te dei presente ou
sou de verdade? — questiono sorrindo.
— Hummm... Fica mais linda quando dá
pesente. — Murilo gargalha da esperteza da irmã e
estende a mão para ela.
— Bate aqui, maninha. Tu é das minhas!
— Raul, também tenho um pra você. Vem
cá! — Viro para o menino lindo de olhos azuis à
minha frente.
— Tem mesmo?
— Na verdade, é um pra nós dois. Vamos
aprender a jogar frescobol — falo e ele também
vem em minha direção, dando um beijo estralado
na bochecha.
— Não precisava, obrigado, Alice. —
Murilo me olha agradecido pelo carinho.
— Imagina, não é nada.
— Agora pode entrá na água? — Olívia
pergunta novamente.
— Por favor? — implora Raul com as mãos
juntas.
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— Pode, pode. Mas fiquem aqui na beira,


onde possamos vê-los — o irmão libera.
Ele nem termina de dizer, os dois saem
correndo igual a loucos com baldinhos na mão e
sentam na areia perto da água. Tiro meu vestido e
estendo uma canga no chão para poder tomar um
pouco de sol. Quando me viro para pegar o protetor
solar, Murilo está com as pupilas dilatadas me
devorando com os olhos.
— Caralho, Alice.
— O que foi? — pergunto assustada,
olhando em volta e checando as crianças brincando
na areia.
— Assim tu me mata, que roupa é essa? —
questiona mordendo os lábios.
— É biquíni, ué. Estamos na praia, se você
esqueceu. — Reviro os olhos.
— Porra, mulher! Mas precisa vestir um
assim para o Leblon inteiro olhar pra você?
— Hã? — Sério, não estou acompanhando
sua linha de raciocínio. Parece bravo agora.
— Esquece — bufa.
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— Passa protetor nas minhas costas, por


favor? — tento mudar de assunto para voltar o bom
humor do rapaz.
Quando suas mãos grandes encostam em
mim com o líquido gelado, solto um suspiro
involuntário, que percorre toda minha espinha.
Automaticamente, os pelos do meu braço se
arrepiam.
— Alice, não faz isso... — Murilo fala
baixinho em meu ouvido.
— Fazer o quê? — pergunto sabendo do
que ele está falando, mas não resisto.
— Isso. — Passa o líquido novamente
devagar nas minhas costas, dando pequenos
apertões com o corpo colado no meu, e eu volto a
suspirar.
— Não consigo controlar.
— Se tu não controlar, eu não respondo por
mim. E estamos no meio da praia, com centenas de
pessoas em volta.
— Então, para de me provocar.
— Tu que tá me provocando, com esse
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corpo delicioso nesse biquíni de tirar o fôlego.


Gostosa pra caralho, Alice! — confessa novamente
baixinho e já estou me sentindo molhada. Que
droga! Dou uma mexida nas pernas e ele percebe.
— Tu já tá molhadinha, gata? — Murilo
aperta forte minha cintura, ainda estou de costas
para ele, e passa a mão na minha bunda
discretamente. Meu Deus!
— Ok, vamos parar com isso, né!? — peço
ofegante.
— Da próxima vez, venha pra praia de
burca.
— Ahh, tá! Controle-se você, garanhão.
Vou lá brincar com Raul e Olívia. — Fujo dele
antes de ficar louca ali.
Nem vejo o tempo passar distraída com as
crianças. Jogamos um pouco de frescobol, fazemos
um grande castelo de areia, depois enterramos a
Olívia e entramos na água. Mesmo com o sol
quente, está muito gelada. Sempre olho de relance e
Murilo está nos encarando pensativo, uma
expressão indecifrável. O que será que está
pensando?
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— Quero vir na praia todo dia. Você traz?


— Olívia pergunta.
— Nossa, seria um sonho poder vir à praia
todo dia, né? Mas eu não posso, tenho que trabalhar
e depois estudar.
— O Mu também trabalha — ela diz e fico
curiosa. O que será que eles pensam que Murilo
faz?
— Os adultos costumam ter essa vida,
precisamos trabalhar.
— Vida chata. Prefiro ir na praia.
— Eu também prefiro — concordo sorrindo
da sua espontaneidade.
— Eu quero trabalhar, fazer música igual
meu irmão. — Raul entra na conversa.
— Olha, que chique, quero um autógrafo
antes de virar famoso, hein? — digo e ele balança a
cabeça afirmativamente, orgulhoso.
— Tu sabia que o Mu é cantor? — Olívia
questiona.
— Fiquei sabendo, mas ele não quer me
mostrar nenhuma música. Acredita?
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— Tu é namorada dele? — Raul pergunta.


— Não, somos amigos! — respondo
rapidamente, vermelha de vergonha. O que vou
dizer? “Não, estou só pagando pra ele tirar minha
virgindade”.
— Então, você pode ser minha namorada?
— ele diz tímido. Ai, que fofura!
— Adoraria, quando você crescer. Tá bom?
— Raul me abraça, dando outro beijo na bochecha.
Saímos da água para comer alguma coisa.
Já estou morrendo de fome. Murilo está sentado na
canga, olhando seu celular.
— Irmão, irmão! — Raul chama sua
atenção. — Quando eu crescer, a Alice vai ser
minha namorada, sabia? — conta feliz.
— Vai, é? Tá bem de namorada, então. Ela
é linda! — admite olhando em minha direção, um
olhar diferente das outras vezes. Diria até que com
ternura. Preciso parar de imaginar coisas. Foco,
mulher!
Sento ao seu lado e pego minha bolsa
térmica com comida. Murilo reclama da farofa

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mais uma vez, entretanto, come três dos meus


sanduíches. Apesar da cara feia para a cenoura,
Olívia também come tudo. Ficamos rindo e
conversando um tempão. As crianças decidem
brincar no parquinho e dou um mergulho de
verdade no mar, para eliminar as energias
negativas. Quando percebo já são três horas da
tarde.
— Eu preciso ir, estou com o carro da
Claudinha e nem sonhei em contar que estava com
vocês hoje — explico a Murilo voltando ao nosso
guarda-sol e enxugando o cabelo.
— Nossa, ela tá pirando de vez, né? Acha
que tá rolando alguma coisa entre nós.
— Pois é. Loucura da cabeça dela.
Abaixo para começar a guardar as coisas e
sem querer perco o equilíbrio. Caio no colo de
Murilo que, instintivamente, me segura com suas
mãos firmes. Nossos olhos voltam a se encontrar e
eu mal consigo respirar o encarando assim. Ele
inclina a cabeça em minha direção e já imagino um
beijo daqueles de tirar o fôlego, mas não é o que
acontece. Apenas acaricia meu rosto com a mão
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direita e encosta o nariz no meu.


— Obrigado por hoje. De verdade.

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Capítulo 20
♫ Quando eu estava lá fora, você percebeu?
Você sabe? Você não me encontrou.
Alguém se importa? ♫
Ode to my family, The Cranberries
MURILO
Acho que Alice não entende como eu, de
fato, me sinto agradecido pelo seu pequeno gesto.
Estamos acostumados a ficar sozinhos, até isolados,
diria. Por mais que eu tente, sei que estou longe do
ideal para os meus irmãos. Nem sempre tenho
paciência para brincar e, como não temos carro, o
transporte público me desanima de passear com
eles. Passamos quase o tempo todo dentro de casa,
pois dar mole na favela não é uma opção para os
dois.
O coitado do Raul é o que mais sofre. A
Olívia ainda nasceu em uma época que, pelo
menos, alguém estava mais centrado. Eu tinha
saído da cadeia há um tempo e, depois da recaída
que tive aos 17, tomei um pouco de juízo. A minha
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mãe estava arrependida também da sua infinidade


de erros e se cuidou na gravidez. Já meu maninho,
passou sete meses apenas em sua barriga, de tanta
complicação por causa de drogas. Ela ainda o
rejeitou ao nascer rotulando-o de “imperfeito”.
Muitas vezes eu amamentava o Raul e
trocava sua fralda durante o dia. Dona Emília me
ensinou a fazer o básico para ele sobreviver. Era
uma criança feliz, carinhosa, e totalmente largada.
Foi uma infância de merda, como a minha.
Passo as mãos pela nuca de Alice, enquanto
aperto sua cintura firme, e encosto meus lábios nos
seus. Preciso disso para afastar essas merdas de
pensamentos. Adoro como sua boca responde à
minha instantaneamente, na mesma intensidade.
Ela já está sem fôlego e eu sem o ar, no sentido
literal da palavra.
Não gosto de como me sinto quando
estamos assim. Odeio coisas que não sei definir,
prefiro ficar sem sentir nada. Igual aconteceu com
as outras clientes que tive. Era só sexo e pronto.
Não me importava. Com a Alice quero saber de
tudo. Droga!
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Dou graças a Deus quando Olívia vem


correndo em nossa direção, pedindo mais comida.
Desvio o olhar e tiro minhas mãos da sua cintura.
— Mu, tô com fome — confessa e pula no
nosso colo. Ainda estamos na mesma posição de
quando Alice caiu agora há pouco.
— Novidade, tu vive com fome.
— Deixa a menina! Ela está em fase de
crescimento, precisa de muita comida — Alice
defende sorrindo.
— O que vamos comê? — A pequena faz
bico e eu me levanto.
— Eu preciso ir embora, mas tive uma
ótima ideia. Que tal passarmos em casa antes,
rapidinho, para comer um delicioso bolo de
cenoura que fiz ontem? Depois levo vocês.
— Não, Alice. Não precisa disso! Vamos de
ônibus.
— Ahhhh… Eu quero bolo de cenoura! —
Olívia faz olhinhos pidões.
— Ouvi bolo? Também quero! — Raul vem
correndo e se junta a nós.
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— Viu, você é voto perdido! — ela me diz


com uma piscadela. Ai, essa mulher!
— Ok, ok. Mas vai ser bem rápido, viu? A
Alice tem compromisso — explico aos meus
irmãos. Se não falar nada, vão querer dormir na
casa dela.
Termino de juntar as coisas, faço as
crianças passarem na ducha e vamos para o carro.
Não acho que seja uma boa ideia essa aproximação
toda, afinal, em breve isso vai acabar, porém,
decido não estragar a alegria deles hoje.
O caminho até a casa da Alice é repleto de
gargalhadas e brincadeiras idiotas, do tipo: “Qual a
cor do carro que vai passar primeiro?”. Quem nos
vê pensa que somos uma família daquelas de
comercial de margarina. A empolgação, entretanto,
só dura até o momento que chegamos à porta da
sua casa.
— Alice, que palhaçada é essa? — uma
senhora questiona assim que colocamos os pés para
dentro, ainda gargalhando da piada sem graça do
Raul sobre o que é um pontinho amarelo lutando
Kickboxer.
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— Mãe? O que a senhora está fazendo


aqui? — ela responde fechando a cara na mesma
hora.
A mulher nem disfarça o olhar inquisidor
em cima de mim, devorando cada uma das minhas
tatuagens. Pego Olívia no colo e deixo Raul atrás
de mim.
— Eu vim colocar um pouco de juízo na sua
cabeça — esbraveja.
— Não podia dar sermão pelo telefone,
mãe? — Alice também está perdendo a paciência e
eu ali, sem saber o que fazer.
— Se você atendesse esse telefone, Alice.
Hoje já tentei te ligar umas cem vezes. Estou aqui
plantada o dia inteiro. Onde você estava?
— Já falei que meu telefone está ruim,
você...
— Mu, e o bolo? — Olívia corta a conversa
fazendo essa pergunta totalmente fora de hora.
— Agora não, querida. A gente volta outro
dia pra comer, tá?
— Nem pensar! Deixa a menina comer o
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bolo. Vem, Olívia! — Alice dá os braços para


pegá-la. Droga! Isso não vai dar certo.
— Escuta o garoto, Alice. Agora não é hora.
Temos muito que conversar — a mãe interrompe
de novo. Definitivamente, não foi com minha cara.
— Alice, a gente combina outra hora.
Conversa com sua mãe que é melhor. Por favor —
falo baixinho tentando evitar que o clima fique pior
do que já está.
— Desculpa por isso — pede sem jeito. —
Peraí, vou pegar um pedaço do bolo pra eles.
Enquanto sai correndo para a cozinha, sem
sequer olhar para a mãe, eu fico totalmente sem
jeito ali parado. Mais um dos motivos pelos quais
não me envolvo: tem muita bagagem junto. Eu teria
Olívia e Raul, ela, toda sua família.
Mas que merda estou pensando?
Alice volta tão rápido quanto foi e entrega
sorrindo um potinho para minha irmã.
— Pronto! Agora você pode comer o bolo,
gatinha.
— Obrigada — agradece feliz.
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— Tem bastante, é para dividir com o Raul,


viu!?
— Eu divido um poquinho.
— Bom, vamos embora, então, né? — digo
rapidamente.
— Eu levo vocês — Alice tenta argumentar,
mas a corto.
— Nem pensar! A gente vai de ônibus
mesmo. Até mais! — encerro a conversa antes que
cisme em ser teimosa. — Boa tarde! — digo em
direção à senhora raivosa à minha frente,
entretanto, sem resposta.
Quando Alice fecha a porta, se desculpando
mais uma vez pela situação constrangedora, ainda é
perfeitamente possível ouvir a conversa entre as
duas.
— Que falta de educação, mãe! — adverte
baixinho.
— Alice, desde quando você sai com caras
que tem filhas pequenas? — sua voz é de puro
desgosto.
— O quê? Mãe, não viaja! É irmã dele.
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— Que seja irmã! De onde você tirou essas


pessoas? Não tem nada a ver com você. Alice, o
que está acontecendo?
Droga, droga, droga. Chamo o elevador e
ignoro a sensação estranha que me vem por essa
reprovação.
***
Olívia nem aguentou chegar em casa para
comer o abençoado bolo. Devorou tudo na viagem,
enquanto xingava a mãe da Alice de bruxa má.
Tentei ensinar que era errado falar isso, mas todas
as vezes ri junto. Eu sei, sou péssimo nisso de
educar.
Já são quase cinco horas quando descemos
do ônibus perto de casa. O tempo está esfriando.
Viro a esquina, distraído, e minha espinha congela
quando escuto uma voz atrás de mim. Puta que
pariu, mas que droga!
— O que tu quer? — Viro com tanta raiva
que ele se encolhe.
— Quero continuar nossa conversa. Por
favor, me escuta.

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— Não tenho nada para falar com você, já


disse.
— Quem é esse, Mu? — Olívia pergunta.
— Não é ninguém, Olívia. Vamos entrar,
vai. — Puxo os dois pelas mãos.
Tudo que eu não preciso é de mais drama
familiar hoje.
— Sou o pai dele — o doador de
espermatozoide responde.
— Pai é muito diferente da merda que você
foi — retruco instintivamente.
— Eu não tenho pai — Raul diz,
inocentemente, e meu coração para.
Merda, agora não.
Tarde demais.
Carlos está olhando atentamente para o
Raul como se juntasse os pontos. Os pontos que ele
não sabe. Passa as mãos no cabelo, baixa a cabeça.
Seu rosto é tomado por vários sentimentos e me
olha fixamente. Lágrimas saem dos seus olhos.
— Murilo, ele é… — nem consegue
terminar a frase. Já sacou.
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— Vamos, Olívia e Raul. — Puxo-os


novamente.
Não tenho que dar explicações para ele.
— Murilo, eu tenho o direito de saber. Me
fala.
— Tu perdeu todo o direito quando
abandonou minha mãe aqui, nos abandonou,
porque "não aguentava mais" — despejo
exatamente com as mesmas palavras que ele usou
há 15 anos, e sigo em direção à porta. Preciso
entrar logo.
— Já pedi desculpas, merda. Me fala logo,
ele é?
— Só pedir desculpas não resolve nada.
Nada! — grito. — E sim, ele é.
Entro e tranco a porta.
Tranco com força, desejando que ele suma
da minha frente.
Suma da minha vida para sempre.
Não preciso dele, Raul não precisa.
Meu irmão não vai descobrir agora que, na
verdade, tem um pai. Um dos piores, daqueles que
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não aguentam a pressão e fogem se fodendo para


quem fica.
Ele tem a mim, nós três nos bastamos.

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Capítulo 21
♫ Não quero fechar os meus olhos, não quero
adormecer.
Sim, eu não quero perder nada. ♫
I don't wanna miss a thing, Aerosmith
ALICE
Como o tempo voa, meu Deus! Uma hora é
sábado e estou tendo uma discussão épica com
minha mãe sobre deixar que eu viva por mim, outra
já é quinta-feira. Por falar em Dona Rute, que
conversa tivemos!
Ela ficou até às dez horas da noite com um
blábláblá na minha cabeça, de estar irreconhecível
e que a época da rebeldia tinha passado. Nunca me
reconheci tanto como agora. Foi embora indignada
com a minha postura firme.
Estou louca para chegar em casa, contudo,
hoje preciso enfrentar o transporte público.
Claudinha viajou obrigada com sua família para um
casamento no Sul e minhas duas colegas de
república sumiram. Mais cedo falei com Murilo no
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Whats, tive vontade de pedir uma carona, só que


imaginei ser estranho fazer isso. Ele deve estar bem
ocupado com suas clientes.
Junto minhas coisas e saio em direção à
portaria. As aulas voltaram há poucos dias e o
campus está lotado. Meus olhos piscam três vezes
para acreditar no que vejo. Quando chego do lado
de fora dou de cara com Murilo na moto, olhando
fixamente para a entrada da faculdade.
Por que ele é tão bonito? Usando essa
jaqueta de couro preta parece ainda mais um bad
boy. Fica tão sexy! Aproximo-me e ele abre aquele
sorriso de matar.
— E aí, gata?
— Oi. O que te traz aqui? — Estou curiosa
para saber por que não está com suas garotas.
— Vim te buscar, ué. Tu disse que ia de
ônibus. Já está muito tarde para andar de transporte
público.
Paro por um minuto para refletir sobre sua
frase, encarando-o. Por que ele se importa? Será
que se importa porque gosta, pelo menos um

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pouquinho, de mim? Nossa, Alice, não viaja!


Quando penso em responder com uma piada sobre
saber me defender, uma risada idiota interrompe.
— Já arrumou outro trouxa, Alice? — Não
acredito que ele vai fazer isso.

— Heitor, qual parte do “nunca mais


aparece na minha frente”, você não entendeu? —
digo com ódio em sua direção.
— Ei, cara, sai dessa enquanto pode. Essa aí
só faz a gente perder tempo — o imbecil do meu
ex-namorado fala e Murilo sai da moto.
Merda, tudo que eu não preciso é chamar
atenção desse monte de gente agora. O pessoal já
está se aglomerando à nossa volta.
— Repete o que tu disse se é homem. —
Murilo está com ódio nos olhos, a boca em uma
linha fina e as mãos fechadas ao lado do corpo.
— Ele é um idiota, vamos embora daqui.
Não merece nosso tempo. — Tento afastá-lo,
entretanto, o Heitor não para. Ele nunca para.
— Tô falando de brother pra brother, cara.
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Não vale a pena esperar, ela demora muito pra abrir


essas pernas grossas e delic...
Heitor não consegue nem terminar a frase.
Murilo dá um soco tão forte no seu nariz que acho
que o quebrou. Merda! O que eu faço agora? Ele
não para de socar sua cara, vai desfigurá-lo.
Esse idiota merece levar uma bela surra,
mas não quero confusão e nem ser espetáculo para
essa gente toda.
— Murilo, por favor, vamos embora —
imploro puxando-o pelo braço e ele me olha.
Acho que percebe meu desespero porque
para de bater. Está segurando Heitor pela gola da
camisa.
— Escuta aqui, seu merda! Se tu preza por
sua vida de bosta, não chega perto dela. Esquece
que ela existe. Homens como tu despertam o pior
de mim, não sabem tratar uma mulher com respeito
— ameaça e soca mais uma vez, só que agora lá
embaixo.
— Idiota é você, depois não diga que não
avisei — Heitor ainda esbraveja jogado no chão,

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cuspindo sangue.
Puxo Murilo e subo na moto, quero sair dali
o quanto antes.
***
Vamos para minha casa em silêncio, porém,
não consigo conter o sorriso pela cena. Foi
merecido! Murilo deu o soco que eu devia ter dado.
Estamos esperando o elevador e ele ainda está
tenso.
— Por que você está tão bravo? Eu nem
ligo mais para o que aquele idiota diz.
— Como tu conseguiu ficar com aquilo,
Alice? Ele é desses babacas bem babacas.
— Não sei como também, eu costumo ser
bem cega. — Dou de ombros. —Para um garoto de
programa tu é bem defensor das mulheres, hein!?
— tento brincar.
— O que tem a ver, Alice? — Murilo fecha
a cara e fica sério.
— Ai, desculpa. Era para ser uma piada.
Não teve graça.
— Ser garoto de programa é bem diferente
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de ser babaca. Eu nunca forcei ninguém a fazer


nada, tampouco, agredi. Seja verbalmente ou
fisicamente. Só faço com consentimento. Nunca
tive um relacionamento, mas nem por isso tratei
mal as mulheres com quem saí. Tanto é que a gente
já podia ter acabado com isso faz tempo, só que eu
te respeitei. No dia do seu aniversário não
chegamos lá porque eu não quis fazer nada com
você bêbada.
— Eu sei, eu sei. — Pego em sua mão e
olho em seus olhos castanhos. — Desculpa mesmo,
não devia ter dito isso.
Não consigo decifrá-lo, contudo, esse olhar
é sempre carregado. Parece que uma vida passa em
sua mente quando está assim e ele fica em dúvida
do que fazer. É estranho e intenso, ao mesmo
tempo.
Se for parar para pensar, realmente faz
tempo que estamos nos encontrando. Parece uma
eternidade desde o dia em que abri a porta e me
deparei com um homem cheiroso de cabeça baixa.
Eu me senti atraída por ele instantaneamente, como
nenhum outro ainda tinha feito.
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— Nunca quis tanto fazer isso — penso


alto.
— O quê? — Murilo pergunta confuso e eu
fico sem graça.
Já estamos na porta de casa e eu abro a
fechadura.
— Estou aqui lembrando que faz tempo
mesmo que estamos nos encontrando. E você é a
primeira pessoa que eu, de fato, quero muito.
— Alice... — ele começa a dizer, mas o
interrompo com um beijo.
A temperatura sobe rapidamente quando
nossos lábios se tocam. Adoro essas sensações
diferentes que aparecem em meu corpo com seu
toque. Minhas pernas se mexem involuntariamente
e um líquido se forma entre elas. Sinto um frio na
barriga e um puxão começa a se formar, mas não
um puxão que dói. Um bem prazeroso. Não paro o
beijo e abro a porta com dificuldade. Eu quero esse
homem hoje. Dentro de mim.
Como não sei se temos companhia em casa,
o direciono ainda com minha boca na sua até o

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quarto e fecho a porta. Já estamos sem ar e eu com


uma vontade enorme de senti-lo.
— Alice, a gente não precisa fazer isso
agora — explica com dificuldade.
O beijo mexe com ele tanto quanto faz
comigo.
— Eu quero, Murilo. Eu quero muito.
Ele segura meu queixo e me olha para ter
certeza que eu realmente estou preparada para isso.
Fecho os olhos ao sentir suas mãos pela lateral do
meu corpo. Murilo tira minha blusa com delicadeza
e parte para a calça, se abaixando e ficando na
altura da minha cintura. Meu Deus do céu, que
visão!
Mordo os lábios e coloco as mãos no seu
cabelo, massageando enquanto ele me deixa apenas
de calcinha e sutiã, dando beijos quentes nas
minhas pernas.
— Tu gosta dos meus lábios, Alice? — ele
pergunta, dando mordidinhas perto da minha
virilha.
— Ai, sim. Eu gosto... Muito!

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— E disso, tu gosta?
Nem tenho tempo para assimilar do que ele
está falando. Afasta minha calcinha com a boca,
enfiando um dedo dentro de mim. Fico até tonta
com tanto desejo.
— Murilo... — gemo e ele intensifica as
estocadas.
— Tão molhadinha pra mim.
Como é boa essa sensação. Por que mesmo
demorei tanto para experimentá-la? Coloco as mãos
nos meus seios, tocando-os devagar, e Murilo
geme.
— Gata, assim tu vai me matar.
Puxo-o pela gola da camisa e invado sua
boca novamente. Nem estou me reconhecendo,
sinto como se meus instintos estivessem me
guiando. Tiro sua camisa e o jogo na cama. Murilo
me olha assustado, mas com divertimento. Também
está gostando da Alice sem vergonha.
Subo em sua perna e começo a abrir sua
calça. Um desejo de experimentá-lo me consome.
Ele já sentiu meu gosto, eu queria muito sentir o

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dele também. Será que deveria? Ai, que se foda!


Sem pensar demais agora, Alice. Apenas faça.
Deixo-o só de cueca e me aninho na sua
lateral. Murilo já percebeu minha intenção e está
com os lábios entreabertos, ansioso pelo meu toque.
— Eu... eu queria sentir seu gosto... Posso?
— Claro, gata — responde com os olhos
cheios de desejo e tira a cueca, deixando seu belo
membro a centímetros do meu rosto.
Paro um segundo para pensar e respiro
fundo. Eu quero fazer isso, não tem nada de mais.
— Desculpa se eu não fizer direito, tá?! —
digo e não espero a resposta.
Seguro-o firme e encosto minha boca nele.
— Puta merda, Alice! Que boca quente.
A sensação da minha boca quente no seu
membro realmente é boa. Um choque gostoso. Fico
envergonhada no começo, mas logo pego o jeito
estimulada pelas gemidas e puxões de cabelo do
Murilo. Cada chupada ele fica mais excitado, e eu
vou ficando junto. Nossa, é gostoso dar prazer.
Parece que a gente fica mais empolgada dando do
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que recebendo.
Passo as mãos na parte debaixo do seu pênis
e ele geme alto, já percebi que sente tesão aqui e
decido passar a língua, lambendo devagar.
— Alice, que delícia. Ahhhhh...
Continuo enquanto o masturbo com as
mãos. Ele está quase lá, intercalando gemidos,
suspiros e palavrões.
— Quero sentir seu gosto — peço me
entregando ao momento e volto com a boca para
seu membro.
É o que faltava. Murilo curva o corpo e
deixa seu líquido quente sair na minha boca. Um
líquido espesso e de um gosto que não sei dizer
qual é. Mas é bom. Muito bom! Eu mal termino de
engolir, sou surpreendida com suas mãos fortes me
jogando de costas na cama. Ele fica por cima e
começa a beijar meu pescoço ferozmente.
— Alice... — sussurra no meu ouvido. —
Isso foi... Foi muito bom. É sério, acho que nunca
gozei com tanta vontade.
Fico empolgada com seu elogio e mexo

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meu corpo, encaixando certinho seu membro entre


as minhas pernas. Já estou latejando por dentro de
desejo. Eu o quero muito dentro de mim! Mesmo
de calcinha, só senti-lo assim tão perto me deixa
louca.
Ele sorri no meu pescoço e vai descendo
lentamente, suas mãos acompanhando os lábios.
Uma pegada firme que adoro. Quando chega perto
da minha calcinha e a segura com a ponta dos
dedos, Murilo para de repente e fica em silêncio.
De imediato imagino que faz parte do
charme, no entanto, ele logo coloca uma mão na
cabeça e se levanta. Parece tonto.
— Está tudo bem? — pergunto preocupada.
Murilo apenas me olha confuso e cai. Cai
no chão com tudo. Só lembro de gritar,
desesperada, e correr a seu encontro.
Ele desmaiou.
Pego o telefone e ligo para a emergência
tremendo, enquanto visto sua roupa e enfio a minha
no corpo de qualquer jeito. Meu Deus! O que
aconteceu?

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Capítulo 22
♫ Doente feito um cão, você sentirá muito.
Pegue leve. Diga boa noite. Pegue leve. ♫
Sick as a dog, Aerosmith
MURILO
Estou tonto, enjoado. Minha cabeça dói e
sinto uma forte dor do lado esquerdo do corpo, na
região lombar. Chega até a me faltar o ar.
Cadê Alice?
Agora mesmo estava com ela, na sua casa.
A gente quase chegou lá. De repente minha vista
ficou escurecida e não lembro mais. Parece que caí.
Abro os olhos com dificuldade e observo o
local. Estou dentro da ambulância, deitado na
maca. Tem um paramédico checando meus sinais
vitais.
— Murilo, tu consegue falar? Está bem?
— Eu... estou tonto. Muita dor aqui. —
Aponto para a parte debaixo das minhas costas
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fazendo uma careta. Caralho! Dói demais.


Não consigo ficar com os olhos abertos, a
tontura está forte. Vejo tudo embaçado. Escuto a
voz de Alice e fico mais calmo. Ela está aqui!
— Por favor! Pelo amor de Deus, me deixa
entrar na ambulância com vocês.
— Moça, tu é da família?
— Eu... — ela para um pouco — sou
namorada. Moço, estou desesperada. A gente tava
bem em um minuto, no outro ele caiu com tudo no
chão. Do nada. Não sei o que pensar. Por favor. —
Sua voz já soa baixa no final da frase. Parece
realmente preocupada.
— Tá bom, vai, pode entrar. Já vamos sair.
Alice suspira e entra rápido na ambulância.
Consigo sentir sua presença. Abro os olhos
devagar, porém, mal consigo mantê-los assim. Ela
percebe e abre um sorriso enorme, vindo em minha
direção, mesmo com o paramédico ainda me
examinando.
— Murilo, graças a Deus! — Se ajoelha e
pega minha mão esquerda. Está tremendo. — Eu

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fiquei com tanto medo. Fica bem, tá?! Eu tô aqui.


— Moça, se vai ficar aqui, não pode
atrapalhar o atendimento. Sente ali e espere. Já
estamos saindo — adverte o paramédico.
Ela fica tensa, levanta e se senta longe de
mim. Queria responder, xingá-lo por ser estúpido,
mas estou sem forças. Meus olhos se fecham
novamente. A dor está ficando intensa demais e
tenho falta de ar. Recebo uma máscara de oxigênio
e tento relaxar pensando no que Alice disse:
Namorada.
Até que essa palavra que sempre odiei soa
bem na boca dela.
***
Quando percebo, já estamos no hospital. O
balanço de tirar a maca da ambulância está
aumentando o meu enjoo. Acho que vou... Droga!
Viro-me de lado e vomito próximo do paramédico.
— Murilo, você está bem? — Alice vem
correndo do outro lado e segura meu pescoço,
ajeitando o meu cabelo para não sujar.
Olho-a de relance, está com os olhos

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inchados. Estava chorando? Tenho vontade de


abraçá-la, parece muito nervosa. As dores na
lombar voltam a ficar intensas e me encosto de
novo na maca.
— Rápido, vamos levá-lo pra dentro! —
um enfermeiro anuncia e se aproxima.
— O paciente refere fortes dores lombares,
estava inconsciente até agora pouco. Saturação
baixa, mas já fizemos oxigenoterapia. Sinais vitais
instáveis — o paramédico passa minhas condições.
Começo a me mover de novo e sinto que
Alice está próxima, com aqueles olhos grandes
cheios de preocupação.
— Moça, tu não pode passar daqui. Espere
ali na recepção que o médico atualiza o quadro dele
mais tarde. Se quiser, avise a família.
Eu continuo e ela fica ali parada, pensativa.
Não tem para quem avisar. Olívia e Raul são duas
crianças, Dona Emília está com eles. Somos só nós.
Aliás, que droga!
Preciso sair logo daqui. Amanhã de manhã
não tem quem fique com meus irmãos. É levar na

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escola, fazer comida e à tarde cuidar deles.


Sou levado para uma sala grande. Dois
enfermeiros estão me passando da maca para uma
cama espaçosa e um médico chega logo em
seguida.
— Murilo, eu sou o Doutor Bernardo. Você
consegue falar?
— Sim — respondo com dificuldade.
— Como está sua urina? Clara? Escura?
— Está mais escura ultimamente.
— Dói ao urinar?
— Essa semana tem ardido um pouco, mas
não me preocupei. — Arqueio com outra pontada
nas costas.
O médico me deixa virado de lado e dá
pequenas pancadinhas com o punho fechado na
região lombar, de cima para baixo. Caralho! Grito
de dor.
— Você tem sentido, nos últimos tempos,
dor de cabeça, coceira na pele, fadiga, perda de
apetite?
Paro um pouco para pensar. Dor de cabeça
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eu sempre tive bastante, desde criança, mas


realmente tem ficado pior. Eu imaginei que poderia
ser por causa da rotina corrida e da infinidade de
problemas que tenho. Não durmo direito. Minha
pele também anda coçando com frequência, esses
dias até comentei com Dona Emília que parecia que
estava com alergia de alguma coisa. A fadiga
piorou muito hoje, antes era meio imperceptível, de
vez em quando. A fome? Se for pensar, antes eu
comia melhor. Alice come mais que eu.
— Sim. Acho que sim para todos.
— Murilo, vamos fazer exames de sangue e
de urina para confirmar, entretanto, creio que você
está com algum problema renal. Vou passar um
medicamento para dor enquanto aguardamos os
resultados.
Ahhh... Mas que beleza! Estou precisando
mesmo de mais problema na minha vida. O médico
sai, passando orientações ao enfermeiro.
— Tu consegue se levantar, Murilo, para
colher a urina?
Estou com uma dor da porra, só que nem
fodendo vou mijar naquele coletor desumano. Faço
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que sim com a cabeça e ele me ajuda caminhar até


o banheiro. Minha boca está seca, preciso de água.
O xixi sai com dificuldade, está mais escuro que o
normal e arde bastante. O enfermeiro aproveita e
coloca em mim aquelas roupas ridículas de
hospital.
Quando retorno para a cama, uma
enfermeira está arrumando a seringa para tirar o
sangue. Ela se vira e, quando me vê, encara
descaradamente. Começa pelas tatuagens e percorre
todo o corpo. Fica até com os lábios entreabertos.
Eu costumava gostar dessa reação nas mulheres
antes, hoje não ligo. Prefiro as covinhas da Alice
quando a faço rir.
Mas que desgraça, merda!
O que é isso, Murilo?
A dor deve estar afetando meu cérebro.
Deito-me e a enfermeira se aproxima com a
seringa. Continua me encarando sem cerimônia. Se
fosse em outros tempos... Ela até que é gostosinha!
Ruiva, com sardinhas pelo rosto e uma bela
comissão de frente. Um terceiro enfermeiro entra
no quarto e chama minha atenção ao mencionar
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Alice.
— Murilo, precisamos do seu RG. Sua
namorada Alice está pendente com isso para
finalizar a ficha.
A enfermeira ruiva fica cabisbaixa com a
palavra "namorada". Tenho vontade de rir da
situação, até que é engraçado. Faço sinal para o
bolso da minha calça e peço a carteira. Retiro e
entrego para o homem que aguarda na minha
frente.
— Tu pode me fazer um favor? Diga para
Alice que estou melhor — peço me remexendo na
cama, outra pontada na lombar.
— Pode deixar, eu digo. — Ele sai e a
enfermeira atirada me olha curiosa.
— Tu não parece bem pra mim — provoca
espetando a agulha no meu braço.
Faz tempo que não tenho essa sensação! A
última vez não foi para colher sangue. Estava no
Morro em uma época de recaída.
— Pois é, mas não quero preocupar minha
namorada. — Forço um sorriso. Nem sei por que

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disse isso, porém, me divirto por dentro com a cara


de raiva dela.
— O remédio que estou colocando aqui no
soro vai te dar sono e melhorar um pouco a dor —
o enfermeiro que me ajudou no banheiro explica
saindo da sala. — Descanse um pouco, Murilo.
A ruiva também termina seu trabalho e sai
sem dizer nada. Fico lá sozinho no quarto,
reparando no local. Tem dois leitos vazios,
poltronas beges no canto da sala, aparelhos
médicos entre cada cama. Sinto minhas pálpebras
pesando e fecho os olhos. Não adianta, é melhor
tentar dormir.
***
Acordo meio atordoado, será que dormi
muito? O remédio deve ter feito efeito, graças a
Deus! Agora sinto leves pontadas apenas na
lombar. Viro-me para o lado e dou de cara com
lindos olhos esverdeados me encarando, aquelas
covinhas de matar. Também percebo que os dois
leitos que estavam vazios foram ocupados por uma
criança e uma mulher de meia idade.
— Está melhor? — Alice pergunta.
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— Sim — respondo preguiçoso, a


encarando. Adoro me perder nos seus olhos.
— Eu não posso ficar muito aqui. Tive que
reviver meus 8 anos e fazer os olhos pidões do
Gato de Botas para convencer o enfermeiro me
deixar te ver um pouquinho — ela fala sorrindo e
eu sorrio junto.
— Aposto que nem precisava, ele teria feito
só pela sua beleza — provoco. — Não se esqueça
que tu é gostosa pra caralho.
— Vejo que já está bem mesmo, fazendo
até piada velha. — Fica corada e sorri novamente,
me batendo nos ombros.
O enfermeiro aparece na porta neste
momento e avisa que Alice precisa sair. Ela faz
bico e me dá um beijo na bochecha, se dirigindo em
direção à porta. Eu me lembro do Raul e da Olívia
e, mesmo não querendo, tento recorrer a ela.
Infelizmente, não tenho muitas pessoas disponíveis,
e de confiança, no meu círculo de contatos.
— Alice, desculpa te pedir isso, mas será
que tem alguma chance de tu levar meus irmãos na
escola amanhã cedo? Espero que antes da hora do
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almoço consiga sair daqui.


— Claro, Murilo! Eu ia lá mesmo cedinho
falar com Dona Emília, perguntar se podia ajudar
com eles.
— Ela trabalha cedo, cuida de uma senhora
idosa. Não tem como deixá-la na mão e eu não
tenho mais a quem recorrer.
— Não se preocupe com isso, eu os levo
sim.
— Obrigado, Alice.
— Não por isso. Fica bem, tá?! Vou ficar
mais um pouquinho lá na recepção.
— Que horas são? — Perdi totalmente a
noção do tempo.
— Três da manhã.
— O quê? Alice, pelo amor de Deus, vai
embora! Tem que dormir. Daqui a pouco tu precisa
ir trabalhar.
Ela apenas ri e sai da sala me dando um
tchau. Ai, essa mulher! Me deixa sem palavras.
Com raiva e admiração ao mesmo tempo. O
médico, acho que é Doutor Bernardo o nome dele,
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chega logo em seguida. Está com um semblante


sério segurando uns papéis na mão. Ajeito-me na
cama.
— Murilo, você já teve caso de doença
renal na família?
— Minha mãe morreu com vários
problemas de saúde, inclusive nos rins.
— Qual foi o diagnóstico dela?
— Não foi conclusivo. Foi considerado
abuso de álcool e todo tipo de droga. Apesar de, na
época, ela estar mais limpa por causa do
nascimento da minha irmã, os médicos disseram
que o estrago já tinha sido feito.
— Mais alguém na família? Sabe se vocês
possuem alguma doença hereditária?
— Não tenho contato com ninguém da
família. Não sei.
O médico continua sério. Que merda! Não
parece que vai dar uma boa notícia. Minhas mãos
começam a suar frio.
— Murilo, seus resultados chegaram. Sua
proteinúria, que é a perda excessiva de proteínas
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através da urina, está muito alta. Bem acima do


normal. Eu pedi um exame de sangue completo e
tivemos algumas alterações sérias que me
preocuparam muito. Quero fazer mais uns exames
para ter certeza absoluta, contudo, temo más
notícias. O diagnóstico pode ser mais sério do que
uma simples cólica renal.
Fico sem reação. Mais sério? Mais sério
quanto? Dá para minha vida ser mais fodida? É
possível isso? Uma infinidade de perguntas sem
respostas começam a brotar na minha mente. O
médico ainda está parado na minha frente e o
encaro sério.
— Por favor, não atualiza as informações
para a moça que está lá fora. Não diga sobre essa
possibilidade de algo mais grave. Não é da minha
família, somos só amigos. Não diga nada a ela, ok,
doutor? Não quero preocupar Alice.
— Ok — ele confirma e fico aliviado por
um minuto, até voltar a ficar perdido em meus
pensamentos.
Mais sério quanto?

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Capítulo 23
♫ Deixo assim ficar subentendido. Como
uma ideia que existe na cabeça e não
tem a menor pretensão de acontecer. ♫
Mais uma de amor, Lulu Santos
ALICE
Fiquei aguardando na recepção por mais
quarenta minutos depois de visitar Murilo. Eu
queria saber notícias, ninguém passa mal daquele
jeito do nada. Tentei obter informações do médico
de plantão que o estava atendendo, mas sem
sucesso por não ser da família. Só recebi um
simples "No momento ele está bem". Isso eu
percebi, fez até piada para me provocar. O que
preciso saber é o motivo, a raiz do problema.
Chamei um Uber e acabo de chegar em
casa. Entro no quarto e o cheiro dele ainda está
aqui. Um cheiro bom que me traz lembranças
quentes de sua boca pelo meu corpo. Da minha
boca no seu. Balanço a cabeça para espantar os
pensamentos.
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Pego uma roupa leve e decido tomar um


banho. Vai ter que ser um frio! Nem adianta dormir
essa hora, daqui a pouco amanhece e preciso ficar
com Olívia e Raul. Arrumo-me rapidamente e
reforço o café. Ficar acordada hoje vai ser
complicado. Por ainda ser sexta-feira, preciso
avisar meu chefe que aconteceu um imprevisto e
não poderei trabalhar. Em mais de um ano na
empresa, nunca faltei. Acredito que ele vá entender.
O relógio marca seis horas. Vejo as chaves
da Rabbit no balcão, até aprendi dirigir, porém, não
me atrevo a ir de moto. Além de não ter carta ainda,
com sono não é uma boa pedida. Chamo o Uber
novamente. Graças a Deus inventaram esse
aplicativo, o táxi no Rio é de vender um rim!
Chego rapidamente no Alemão e já vejo
Dona Emília na porta da casa do Murilo. Suas
feições são preocupadas, ela percebe que a moto
dele não está ali. Aproximo-me cautelosa para não
assustar as crianças com más notícias.
— Alice! — Olívia vem em minha direção
com os braços abertos e sorriso no rosto.
— Oi, pequena! Tudo bem? — Ela balança
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a cabeça em afirmativa e Raul também se aproxima


para me dar um beijo.
— Ele passou mal e está no hospital. Já
explico melhor — sussurro para Dona Emília.
— O que vocês tão falando? É feio falá
escondido, sabia? — Olívia puxa minha blusa e nós
todos rimos.
— Estou contando para Dona Emília que
tenho uma surpresa. Vou levá-los na escola daqui a
pouco e depois vocês vão passar o dia comigo, lá
em casa.
— Êeeee — os dois dizem em uníssono.
— Mas cadê o irmão? — Raul pergunta.
— Ele está ocupado hoje. Vão lá separando
algumas coisas que queiram levar que eu já vou
ajudar.
Dona Emília está muito nervosa, não vê a
hora que eu dê explicações. Explicações que,
infelizmente, eu não tenho. Puxo-a no canto da sala
para evitar que as crianças ouçam.
— Dona Emília, nós estávamos juntos
ontem à noite tranquilamente. Do nada o Murilo
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ficou tonto e desmaiou. Nós corremos para o


hospital, ele também teve falta de ar e vomitou.
Estava com fortes dores.
— Meu Deus! O que meu menino tem?
Tenho certeza neste momento, se é que
ainda restavam dúvidas, que ela ama essa família
como se fosse a dela.
— Eu não sei — confesso desanimada. —
O médico não quis dizer nada pra mim por não ser
da família. Mas quando eu saí de lá, nessa
madrugada, o Murilo estava sem dor, até fazendo
piada. — Expresso um sorriso fraco.
— O Murilo é forte mesmo! Já passou por
tanta coisa, coitado do meu menino. Ele anda
passando mal direto, com coceira no corpo,
diarreia. Reclamou até de um zumbido no ouvido.
Mas pensa que vai ao médico? Vai nada! É teimoso
igual a uma mula. Falei várias vezes e insistia não
ser nada. Espero que não seja mesmo.
— Se Deus quiser não será! — tento
confortá-la, e também me confortar.
— Eu, infelizmente, não posso ficar com as

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crianças. Cuido de uma senhora idosa agora


durante o dia, não tem quem me substituir.
— Eu sei, eu sei. Fica tranquila, Dona
Emília. Já avisei meu chefe que não vou ao
trabalho hoje. Vou deixá-los na escola e depois
venho buscar para dormir em casa. Tudo bem?
— O Murilo não vai sair hoje?
— Não. Da pouca informação que o médico
me deu, falou que precisava fazer mais uns exames
— conto e Dona Emília não gosta da notícia. Fica
apreensiva de novo, mas não diz nada.
Pergunto onde é a escola das crianças e ela
me explica. Vou ao quarto ajudá-los e nos
apressamos para não atrasar. Como já tomaram
café, conseguimos cumprir o prazo. O prédio fica
na favela mesmo, um local bem feio, cheio de
pichações. Deixo-os lá e retorno para casa. Paro no
supermercado durante o caminho para comprar
algo fácil de cozinhar. Também pego ingredientes
para um bolo de cenoura, que os irmãos do Murilo
adoraram, e algumas guloseimas. Coisa boa de ser
criança é isso, não é?
Chego à república ajeitando as coisas e
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colocando as panelas no fogo. Meu Deus! Ser dona


de casa cansa e o tempo voa. Já são dez horas. Meu
telefone toca e é Claudinha. Deve estar entediada
com os preparativos do casamento que foi no Sul.
— Oi, Claudinha.
— Vem me matar! Me mata que é melhor
do que ficar aqui com essas pessoas chatas me
perguntando a cada cinco segundos “Cadê o
namorado, cadê a roupa decente…” Ah, puta que
pariu! Odeio essas coisas, Alice — ela diz atônita e
eu dou risada. Ela odeia mesmo.
— Calma, Claudinha! Domingo você tá de
volta.
— Não conte com isso, até lá já me matei
antes. — Dou risada mais uma vez. — O que tu tá
fazendo?
Ah, droga! Será que conto a verdade para
ela? Claudinha vai me dar um sermão sobre
envolvimentos e blábláblá. Eu sei que não devia
me envolver assim com os irmãos dele, sendo que
não temos nada. E nem nunca vamos ter. Contudo,
como deixá-lo na mão se pode contar com tão
poucas pessoas? Decido dizer a verdade porque
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preciso também da ajuda da minha amiga.


— Claudinha, eu vou contar uma coisa. Não
surta, tá?!
— Tu transou, enfim, com o Murilo? — ela
grita de ansiedade no telefone.
— Nossa, só pensa nisso, gente! — Reviro
os olhos. — Não, não transei! Mas é sobre ele
mesmo que quero falar.
— Alice, pelo amor do Deus que tu
acredita, não me diga que tá gostando dele?
— Claudinha, não interrompe, caralho!
Escuta primeiro — peço estressada.
— Uauuuuu! A menina tá até falando
palavrão.
— Você me irrita tem hora, sabia?! Eu não
transei com o Murilo ainda, porém, ontem quase
chegamos lá. Teríamos chegado se ele não tivesse
passado mal e desmaiado.
— Como assim? O que ele tem, Alice? —
Agora parece preocupada ao telefone.
— Não sei — respondo triste. — Vai passar
mais uma noite no hospital para exames. Murilo
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não tem com quem deixar os irmãos de dia e me


coloquei à disposição. Não me julga, Claudinha!
Ele não tem mais pra quem pedir.
Espero um sermão de trinta minutos na
minha cabeça, entretanto, Claudinha não diz nada.
Ao contrário, fica em silêncio por uns segundos.
— Claudinha? — pergunto pensando que
desligou na minha cara.
— Não vou julgar, Alice. Eu conheço a
história dele, esqueceu?
— Não esqueci, mas pensei... Deixa pra lá!
Queria te pedir uma coisa. Será que pode me
emprestar seu carro? Ficar andando de Uber pra
baixo e pra cima é uma bosta.
— Claro! Vou ligar para Dona Rita liberar
sua entrada. Ela tem uma cópia da chave de casa lá
nos fundos. A do carro está no balcão da cozinha.
— Obrigada, Claudinha.
— Alice, só me promete que não vai se
envolver. Não ilude também essas pobres crianças,
fazendo-as pensar que tu vai ficar na vida delas.
Sabe que não vai, né?

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— Eu sei — respondo secamente, no fundo


querendo dizer outra coisa.
Eu sei que não, porém, queria não saber.
Vou sentir falta do Murilo sim, com certeza. No
entanto, o que mais vai doer é me afastar dessa
família que aprendi a admirar.
***
O dia voou! Depois de falar com Claudinha,
terminei o almoço correndo e fui na sua casa pegar
o carro. Busquei Olívia e Raul e passamos a tarde
toda nos divertindo. Comemos até dar dor de
barriga, fui passear com eles no shopping à tarde e
até assistimos Meu Malvado Favorito 3 no cinema.
Adoraram! Nem acreditei quando disseram que
nunca tinham ido ao cinema.
Liguei no hospital cinco vezes para saber
informações do Murilo também. Não queria levar
as crianças lá para verem o irmão doente. Nas
quatro primeiras tentativas me recusaram dar
qualquer notícia. Na última a mulher ficou com dó
da minha insistência e me contou que ele estava
melhor, aguardando o resultado dos exames.
Provavelmente, teria alta no período da manhã.
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Graças a Deus!
Escureceu, voltamos para casa e pedi pizza.
Agora está na hora de dormir e estou arrumando a
cama. Sorte que temos um colchão de casal aqui na
república para o caso de visitas. Olívia me encara
com olhinhos brilhantes.
— O que foi, querida?
— Eu gostei do dia hoje. Foi muito
divetido.
— Que bom, pequena! Fico feliz que tenha
gostado.
— Eu também adorei. A gente podia fazer
mais vezes, né?! — Raul entra na conversa.
Fico em silêncio, pensando se haverá outra
oportunidade. Não posso iludi-los, como bem disse
Claudinha.
— Quem sabe. Tomara que sim!
— Eu não lembro da minha mamãe, mas
você parece o que meus amiguinhos dizem sobre a
mamãe deles. Você é legal e cuida da gente. O Mu
tem uma ótima namorada — Olívia declara e fico
em choque, com os olhos marejados.
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— Querida — engulo em seco espantando


as lágrimas —, não sou namorada do seu irmão,
somos apenas amigos. Nós também podemos ser.
Mesmo quando Murilo e eu nos afastarmos, vou
conversar com ele para deixar eu sempre ter um
tempinho com vocês. Tá bem? Adorei conhecê-los!
— Tu jura, Alice? — Raul questiona.
— Eu juro! Vou pedir pra ele.
— Que bom! Eu lembro da mamãe e você é
bem mais legal que ela. Dá carinho, brinca com a
gente e não usa aquelas coisas estranhas que a
deixavam brava e sem paciência — Raul confessa e
as lágrimas que estava segurando caem.
Esse menininho especial deve ter
presenciado muita coisa. A mãe provavelmente
bebia ou usava drogas. Murilo nunca contou muito
sobre a família.
— Então, agora que tu é minha amiga,
posso dormir?! Tô com sono! — Olívia interrompe
e me beija na bochecha.
— Boa noite, meus amores! Durmam com
Deus — digo e saio do meu quarto, deixando a luz

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do abajur ligada.
Preciso respirar um pouco, assimilar toda
essa conversa. Murilo e eu não teremos um futuro
juntos, contudo, definitivamente, quero manter
Olívia e Raul no meu.

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Capítulo 24
♫ Uma noite longa por uma vida curta.
Mas já não me importa, basta poder te ajudar.
Eu tô na lanterna dos afogados. ♫
Lanterna dos afogados, Cássia Eller
MURILO
Odeio ficar sem fazer nada, preso numa
cama de hospital. Meu celular acabou a bateria faz
tempo, a televisão foi monopolizada pelo menino
que está no quarto junto comigo e nem visita eu
recebo. Ainda tenho que aguentar a angústia de
esperar resultados de exames que podem mudar
minha vida. Não acredito que vou ter que ficar aqui
até amanhã cedo. Que droga!
O enfermeiro que me ajudou no banheiro
ontem entra no quarto sorrindo, enquanto checa o
soro do garoto ao lado. Esse pessoal não descansa,
não?
— Cara, sua namorada é insistente, hein?!
Ela atormentou tanto a recepção para dar
informações suas que a Rita está até com dor de
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cabeça — declara divertindo-se.


— O quê? — Estou meio lento e demoro a
entender.
Que namorada? Está falando com a pessoa
certa?
— A menina que chegou com você, Alice.
Está atormentando a recepção em busca de notícias
sobre sua saúde.
— Ah, sim. Ela é boa em convencer quando
quer — digo sorrindo e ele sai do quarto.
É estranho dizer isso. Estou começando a
gostar do som dessa palavra. Seria bom ter Alice
como namorada? Balanço a cabeça para espantar
pensamentos que não vão acontecer e me viro para
tentar cochilar um pouco. Melhor do que ficar
divagando.
***
Acordo com a presença do Doutor Bernardo
no quarto. Quis dormir para tirar Alice da cabeça,
sonhei com ela. Merda! O que está acontecendo
comigo? Tempo bom era quando me divertia sem
preocupação com nada. Agora só fico pensando

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nessa mulher.
— Boa tarde, Murilo. Sente-se melhor? — o
médico pergunta sério e me desperta de vez.
— Sim, não estou mais sentindo dores.
— Preciso ser sincero, não tenho boas
notícias. Essas dores vão voltar.
— Como assim? Os resultados dos exames
já ficaram prontos?
— Sim, e meu palpite estava certo.
— O que eu tenho, Doutor Bernardo? —
questiono aflito, passando as mãos pelos cabelos.
— Você tem uma doença hereditária
considerada rara, conhecida como doença de Fabry.
É um distúrbio causado por uma deficiência no
cromossomo X que faz com que o corpo não
produza a quantidade suficiente de uma enzima
chamada alfa-GAL, responsável pela remoção das
substâncias gordurosas das células. A insuficiência
dessa enzima faz com que a gordura se acumule nas
células e cause danos nos tecidos de todo o corpo.
— Não entendi direito. É uma doença séria?
— Muito séria, Murilo. Simplificando, a
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falta dessa enzima faz partes do corpo que


dependem de pequenos vasos sanguíneos ficarem
obstruídas. As áreas mais afetadas são rins,
coração, sistema nervoso e pele. A doença de Fabry
é um erro inato do metabolismo. Isto significa que
a criança já nasce com a alteração genética, sendo
possível diagnosticar precocemente, mesmo que os
sintomas clínicos, em geral, tendam a aparecer
apenas anos depois. Por volta dos 20 anos de idade
começa a surgir a perda de proteína na urina, que vi
no seu exame ontem, e que demonstra a lesão renal
cada vez maior. Mais tarde há o comprometimento
dos vasos sanguíneos de diversos órgãos, que
podem levar à morte através de infarto do
miocárdio ou acidente vascular cerebral. Um outro
problema é a ocorrência de insuficiência renal
terminal.
Nossa! Não consigo nem assimilar direito
tanta informação. Estou fodido.
— Mas essa questão de ser hereditária, quer
dizer que peguei da minha mãe ou do meu pai? —
pergunto e o ódio sobe em minhas veias. Aposto
que é dele! Nada de bom vem daquele homem.
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— Isso. É importante, inclusive, os


familiares fazerem o aconselhamento genético para
a identificação de novos membros que possam ser
portadores da doença.
— Todo filho de uma pessoa com essa
doença herda? — O desespero me bate ao pensar
em Olívia e Raul. Não aguentaria algo assim com
todos nós.
— Não. Os homens têm um cromossomo X
e um cromossomo Y. As mulheres têm dois
cromossomos X. Um pai com a doença de Fabry
transmite a mutação para todas suas filhas, mas não
para os filhos. As mulheres afetadas têm 50% de
chance de passar tanto para filhas como filhos.
— Tu tá querendo me dizer, então, que essa
doença veio da minha mãe, não do meu pai?
— Exatamente. Eu desconfiei quando você
disse que ela teve complicações nos rins e sua
morte foi inconclusiva. Aliás, Murilo, preciso dizer
que foi uma sorte muito grande eu estar de plantão
ontem. Atualmente, o maior desafio dessa doença é
justamente o diagnóstico precoce, pois, além de ser
rara, não há características físicas aparentes. Muitos
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pacientes com Fabry são inicialmente


diagnosticados incorretamente e podem consultar
diferentes especialistas antes de obter um
diagnóstico preciso. Eu percebi algo errado porque
estou fazendo Doutorado sobre doenças raras.
Isso é sorte ou azar? Ainda estou
anestesiado com as informações, sem acreditar.
— Eu tenho mais dois irmãos da mesma
mãe, são mais novos — conto com olhos
marejados.
— Eles precisam fazer exames também,
mas fique tranquilo, Murilo. Acho muito difícil
todos vocês terem. No Brasil, foram identificados
até o momento cerca de 220 pacientes somente.
— E o que eu faço agora? Qual tratamento?
— A terapia engloba tratamentos de suporte
e tratamentos específicos. O tratamento de suporte
serve para controlar os sintomas e sinais presentes
e, geralmente, complementa a terapia específica. A
título de exemplo, para se prevenir as doenças
cerebrovasculares, utiliza-se medicação
antiplaquetária ou anticoagulantes e a nível renal
controla-se a hipertensão arterial. O principal
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tratamento específico é a terapia de reposição


enzimática, onde se repõem as enzimas alfa-
galactosidade A e beta-galactosidade Aa cada 15
dias. A tolerância é normalmente boa e a finalidade
é prevenir o progresso da doença nos doentes
jovens e evitar ou reverter o avanço nos doentes
mais velhos. A terapia genética é uma técnica que
propõe o tratamento definitivo da doença, estando
em fase experimental.
— E o SUS cobre esse tratamento? Porque
eu não tenho dinheiro.
Mal sobrevivemos atualmente, não posso
ter esse gasto.
— Embora, as duas terapias de reposição
estejam disponíveis no Brasil, aprovadas pela
Anvisa, ainda não existe nenhum programa para
garantir o acesso ao tratamento pelo SUS.
— Mas que droga! Vou morrer, então... —
penso alto.
— Calma, Murilo. Conte comigo, estou
disposto a ajudá-lo. Será um ótimo estudo de caso
para a minha tese de Doutorado e podemos facilitar
o caminho para outras pessoas que descubram a
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doença no futuro. — Forço um sorriso fraco, pelo


menos uma boa notícia.
— Qual minha expectativa de vida, Doutor
Bernardo?
— Já houve muitos avanços, mas a
expectativa de vida dos portadores é reduzida em
20 anos para homens, principalmente, sem o
tratamento adequado — explica e fecho os olhos,
em silêncio. — Murilo, eu sei que é muita coisa
para assimilar, só tente manter a calma. As
alterações nos seus exames me mostram que até o
momento a doença afetou apenas seus rins. Sabe-se
que a grande maioria dos pacientes com a doença
irá ter algum comprometimento renal ao longo da
vida. Estou preocupado que essas dores avancem,
por isso, vou acompanhar de perto para o caso de
hemodiálise e até transplante renal.
— Transplante?
— Sim, em muitos casos é necessário. Vou
te passar encaminhamento para outros médicos
também. O tratamento é multidisciplinar. É preciso
cuidar até da alimentação, pois o consumo de certos
alimentos pode aumentar a ingestão de água. Como
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há uma diminuição da urina, os líquidos e o sal


ficam acumulados no corpo, originando os inchaços
e o aumento da pressão arterial.
Balanço a cabeça apenas para confirmar que
entendi e o Doutor Bernardo se retira.
Cara, não vou nem chegar aos 60. Se tiver
sorte, terei mais 36 anos de vida.
Se tiver sorte!

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Capítulo 25
♫ Sim, vou te deixar determinar o ritmo
porque
não estou pensando direito. Minha cabeça está
girando,
não consigo mais ver com clareza. ♫
Love me like you do, Ellie Goulding
ALICE
No começo da manhã ligo no hospital
novamente para saber se Murilo terá alta e fico
aliviada ao ser informada que ele sairá depois do
almoço. Dou comida para Olívia e Raul e os levo
até Dona Emília. Às duas e meia em ponto chego
na recepção. Não deveria, mas estou até com frio
na barriga de tanta ansiedade em vê-lo.
Sou orientada a sentar e aguardar. Mexo no
celular e me distraio por alguns minutos até um
homem atraente, de cabelos bagunçados e olhos
castanhos penetrantes aparecer no meu campo de
visão. É tão lindo que nenhuma mulher consegue
conter virar o pescoço para admirá-lo. Ele parece
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surpreso em me ver e está com feições tristes. Será


que aconteceu alguma coisa e ninguém quis me
falar? Praticamente corro em sua direção.
— Murilo, você está melhor? — pergunto e
seguro sua mão.
Ele fica me olhando por um tempo, parece
perdido em pensamentos.
— O que tu tá fazendo aqui?
— Eu liguei de manhã para saber que horas
você ia sair, vim te buscar. Estou de carro. Seus
irmãos já estão com a Dona Emília — explico e ele
continua me olhando.
Nossa, Murilo está estranho! Seu olhar
profundo está três vezes mais misterioso e intenso.
É intimidante, parece que está vendo minha alma.
— Você está bem? Parece estranho.
— Sim — responde seco, sem tirar seus
olhos dos meus.
— Tem certeza, Murilo? O médico
descobriu o que você tem?
— Não foi nada de mais, Alice. Pode ficar
tranquila. É cansaço e estresse, vou tomar alguns
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remédios.
— Só isso? E aquela dor?
— É reflexo do estresse. Uma hora o corpo
cobra as preocupações da mente.
Estranho é pouco para defini-lo, sinto que
está me escondendo algo.
— Se você tiver com algum problema, pode
me falar. A gente não tem nada, mas nos tornamos
amigos. Pode contar comigo — insisto.
— Tudo bem, Alice. Pode ficar tranquila,
tá?
— Se você diz.
Murilo desvia o olhar pela primeira vez e
sai caminhando ao meu lado. Não estou
acreditando muito em suas palavras. Espero que
seja paranoia da minha cabeça. Depois de tudo que
já passou, o universo não faria algo ruim acontecer.
Faria?
***
Quando chegamos ao Alemão, ele desce
rapidamente do carro e vai em direção à casa da
Dona Emília. Bate na porta e me espera alcançá-lo
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para entrar. A casa dela é ainda mais simples que a


do Murilo, poucos móveis e bem antigos. Porém, é
tudo muito limpo e aconchegante. Raul o enxerga
primeiro e vem em sua direção.
— Irmão, você voltou!
Murilo nem espera ele chegar ao seu lado e
já o puxa para um abraço. Não um abraço qualquer,
um daqueles de aquecer o coração, de verdade. Não
sei se é sempre assim quando ficam algum tempo
sem se ver, se está aliviado de ter voltado bem...
Fico até emocionada com o contato tão íntimo.
Olívia também aparece na porta da cozinha
e vem correndo para entrar na roda. Ele a pega no
colo e dá vários beijinhos, enquanto faz
coceguinhas na sua barriga e um som delicioso
invade o ambiente. Dona Emília está encostada no
canto, com um semblante indecifrável.
— Tava com saudade, Mu.
— Eu também, meu amor. Tu se comportou
direitinho com a Alice?
— Sim, foi muito divetido. Nós comemos
várias coisas gostosas, passeamos no shopp e

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assistimos o filme do Minio. Ela agora é minha


amiga, disse que estará com a gente para sempre.
Ah droga! Não era para Olívia falar isso
assim. Fico imóvel e pálida na mesma hora, Murilo
me olha tenso e vejo Dona Emília esconder um
sorriso.
— Murilo, pode descansar. Eu fico com as
crianças hoje.
— Não, Dona Emília. Estou bem já.
— Nem pensar. Vai pra casa, toma um
banho e come algo decente. Sei que no hospital a
comida é horrível.
Ele tenta argumentar de novo, mas acaba
aceitando. Está sério, pensativo e não olhou
nenhuma vez na minha direção enquanto saíamos
da casa de Dona Emília. Merda! Está bravo com a
história de "para sempre". Péssima hora, Olívia.
Nem deu tempo de me explicar antes.
— Olha só, se preferir ficar sozinho nos
falamos mais tarde ou amanhã, tá? — pergunto ao
chegarmos à sua porta.
— Alice, por que você falou aquilo para a

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Olívia? — Ele me encara e abre a fechadura, dando


espaço para que eu entre.
— Desculpa. Eu queria ter explicado direito
antes. Nos divertimos muito ontem, eles estavam
animados me falando o quanto estavam felizes e eu
não resisti.
— Tu tem noção que não temos nada, né?
Essa aproximação que eu temia. Raul e Olívia não
deveriam se apegar a você. Muito menos te chamar
de "amiga para sempre" — confessa preocupado.
Eu sei que realmente não temos nada, ele é
um garoto de programa. Contudo, sinto um frio na
barriga ao ouvi-lo confirmar isso.
— Eu sei, Murilo. Fique tranquilo que não
estou criando falsas expectativas de nada. Lembro
muito bem do nosso acordo. Mas queria falar algo
sobre as crianças.
— O que, Alice?
— Mesmo quando a gente terminar isso,
não nos vermos mais, eu gostaria de continuar o
contato com seus irmãos de vez em quando. Sei lá,
uma vez por mês. Para sairmos, passearmos um

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pouco. São maravilhosos e eu queria muito manter


a amizade deles.
Murilo fica em silêncio por um minuto.
Suas expressões se suavizam e percebo que fica
mais aliviado. Ai, graças a Deus! Estava com medo
de sair gritando comigo.
— Por que você faria isso? — questiona
baixinho, quase não ouço.
— Porque eu gosto deles, de verdade.
Independentemente de qualquer coisa entre nós,
Olívia e Raul não têm nada a ver com isso. Eu
posso combinar de pegá-los na Dona Emília se
você autorizar e...
Não consigo terminar de falar. Murilo me
invade. Segura-me forte na cintura e me beija
desesperado. Sinto até que está sufocado, como se
estivesse carregando o peso do mundo nas costas e
o soltasse por um minuto. O calor chega
rapidamente. Como pode esse homem me deixar
excitada com um toque?
Ele tranca a porta da casa e me pega no
colo, sem descolar sua boca da minha. Passo
minhas pernas por sua cintura e consigo sentir sua
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ereção. Fico feliz de não ser a única afetada por


nossa aproximação. Caminha em direção ao seu
pequeno quarto e vou me perdendo em seus lábios.
Poderia beijá-lo o dia todo e não me cansaria.
Lábios macios que me levam à loucura com
mordidas. Murilo aperta minha bunda com as duas
mãos e dou um gemido alto. Já estou
completamente molhada e com desejo dele.
— Alice... — sussurra no meu ouvido.
— Eu quero você, Murilo.
— Ahhh... caralho! — Seus olhos vidram
quando fecho minha mão na sua calça.
Ele me coloca sentada na beirada da cama e
fica na minha frente, se despindo. Meu Deus do
céu! É muito gostoso. Toma controle do meu prazer
mantendo o olhar o tempo todo para captar as
reações. Inconscientemente mordo os lábios e
aperto minhas pernas.
— Tu já tá molhadinha pra mim, Alice?
Confirmo com a cabeça e Murilo joga longe
sua calça, me deixando com uma visão maravilhosa
de seu membro grande por dentro de uma cueca

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boxer preta. Fica linda no contraste de sua pele


clara e coxas grossas. Que calor!
— Eu quero ver.
— O quê? — Fico meio perdida com a
visão que não escuto o início da fala.
— Eu quero ver o quanto tu tá molhadinha.
De novo não consigo falar. Ele me joga
deitada na cama e começa a tirar minha calça. Meu
coração parece que vai sair pela boca.
Ai, droga! Será que pode fazer isso depois
de dois dias no hospital?
— Murilo...
— Sim... — responde puxando minha
calcinha e mal consigo raciocinar.
— Você… — tento continuar e ele beija a
ponta dos meus pés, acariciando minhas pernas. —
Você pode fazer isso?
— Isso? — chega na altura da minha virilha
e escancara minhas pernas. Caralho! Solto outro
gemido, dessa vez mais alto ainda.
— É... Você pode? Acabou de sair do
hospital.
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Ele nem me responde. Sua boca cai com


tudo em mim. Aqueles lábios fazem ainda mais
maravilhas lá. Já estou sem ar.
— Murilo... É sério...
Para mostrar que não quer conversa, enfia
dois dedos de uma vez para me calar. Caramba, dá
muito certo!
— Eu não quero gozar agora... — digo em
um suspiro. — Quero ficar louca com você dentro
de mim.
De onde está saindo essas coisas?
Espanto o medo e me deixo envolver pelo
momento. Murilo levanta a cabeça para me olhar.
Senhor! Essa visão é para deixar qualquer uma
louca. Cabelo bagunçado, lábios inchados... E ele
ainda está os lambendo.
— Ah é?! Então vou deixá-la ainda mais
com vontade.
— É possível? — Quase não consigo
acreditar.
— Com certeza é.
Murilo sobe seu corpo e chega na minha
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boca de novo. É gostoso sentir meu próprio gosto.


Ele me beija com vontade e encaixa seu membro
perfeitamente entre minhas pernas. Ok, com certeza
ele pode me deixar com mais vontade. Muito mais
vontade.
Enquanto vai descendo a boca pela minha
orelha, meu pescoço, meu ombro… Se mexe em
um ritmo lento. Caralho! Que coisa boa. E olha que
não sou de falar palavrão, na verdade odeio
palavrão.
— Puta que pariu, Murilo! Ahhhhhhh... —
Contorço-me toda quando sua boca chega aos meus
seios e ele puxa o sutiã para cima, sem cerimônia,
se deliciando deles.
— Shhh... Ainda tem mais. Tu não queria
ficar com vontade?
Não estou conseguindo nem enxergar mais
direito, minha vista está embaçada. Ele tira o sutiã e
fica sugando um dos meus seios, deixando
mordidinhas e lambendo. A outra mão está
entretendo o outro. Troca de lado e vou ficando
completamente louca. Louca de desejo por esse
homem.
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Agarro suas costas e seu cabelo. Ele geme,


sei que gosta. Murilo coloca um dedo novamente
na minha vagina, onde seu membro, totalmente
ereto, me castiga ainda vestido, e eu quase não
aguento. Estou praticamente toda latejando.
Ele para e eu aproveito para inverter os
papéis. Agora vai sofrer um pouco. Viro-me
rapidamente e fico por cima. Seus olhos vidram,
não esperava por essa.
— Caralho, Alice! Que vista, você assim
em cima de mim. Gostosa! — elogia enquanto
acaricia meus dois seios com as mãos.
Eu começo a cavalgar nele ainda de cueca.
— Ahhhhhhhh... Porra... — geme alto e eu
intensifico.
— Vai pagar com a mesma moeda — falo
divertida e Murilo me aperta. Está gostando da
brincadeira.
Começo no pescoço e me deleito no salgado
da sua pele enquanto esfrego meu quadril contra
ele. Eu beijo tudo. Cochicho elogios em sua pele.
Quando levanto o olhar, encontro-o me

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observando. Aperto os olhos fechados enquanto ele


crava suas mãos nas minhas costas. Adoro essa
pegada mais firme. Geme e pressiona sua testa
contra a minha.
— Alice, eu não tenho tanto autocontrole
como você. Não vou aguentar tu assim tão gostosa
em cima de mim. Ahhhhhhhhhhh... — Para quando
desço de repente para baixo e coloco as mãos por
dentro da cueca, acariciando. Que delícia ouvir esse
gemido.
— Shhhhhhh... Ainda tem mais.
— Está copiando minhas frases agora, é? —
Ele abre aquele sorriso maravilhoso. — Cadê a
Alice toda certinha, meu Deus?
— Está dormindo agora, deixa a outra agir
— respondo tirando sua cueca e colocando meus
lábios no seu membro.
— Que porra está tentando fazer comigo?
Que boca, Alice. Que boca!
Suas palavras me incentivam a chupar cada
vez mais. Estou confiante. Acho que Murilo
percebe, pois tudo nele é uma respiração pesada e

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ruídos graves. Sua expressão é de tirar o fôlego.


— Deus... Alice... — Toca meu rosto
gentilmente. Eu movo minha boca sobre ele,
fazendo cada toque dizer algo.
— Quer que eu pare, Murilo? — Ele aperta
os olhos fechados. — Ou quer que eu continue te
tocando?
Quando os abre, há desejo lá. Faminto. Ele
envolve a mão no meu cabelo e me puxa no beijo
mais intenso que já trocamos. Murilo tem gosto de
tesão. Cheiro também. Seu olhar esquenta minha
pele. Agora não tem volta.
Fico novamente por baixo, presa por esse
corpo quente e musculoso. Eu puxo seu cabelo.
Afundo dentes em seu ombro. Cada ruído grave me
deixa ainda mais inebriada. Cada vez que ele se
aperta contra mim, posso sentir mais dele. E quanto
mais eu sinto, mais eu preciso. Quando o seu
volume encosta na minha vagina perco o ar. Vai
acontecer mesmo!
— Alice... — chama com uma voz rouca.
— Tu quer mesmo fazer isso?

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— Eu quero perder minha virgindade com


você. Nunca quis tanto algo na vida como isso.
Ele volta a me tocar. Cada canto do meu
corpo é explorado. Murilo venera minha pele e faz
ruídos suaves que falam mais alto do que a maioria
das palavras que já disse. Estou desesperada para
perguntar se isso é normal. Se as outras mulheres
com quem ele esteve, se suas clientes, se sentem
assim. Escolho apenas sentir com o silêncio.
Eu o beijo. Sua resposta é faminta. Nunca
precisei de nada quanto preciso dele dentro de mim.
Acho que Murilo percebe. Agarra seu jeans do
chão, tira sua carteira e coloca uma camisinha.
Jamais imaginei que poderia ser incrivelmente
excitante vê-lo assim. Um arrepio corre por minha
espinha. Vou perder minha virgindade.
Ele se ajeita entre minhas pernas novamente
e me olha profundamente. Quer confirmar com
meu olhar se quero mesmo fazer isso. Respondo o
encarando na mesma intensidade e encosta seu
membro na minha vagina. Agora colocando-o
mesmo lá dentro.
Ai. Meu. Deus!
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Há pressão, muita pressão, e aumenta


enquanto empurra à frente. Ele não vai longe
porque eu, sem querer, solto um grunhido de dor.
Está ardendo muito.
— Você está bem? — Vejo sua
preocupação, está quase desistindo.
Devo estar mesmo com cara de dor. Faço
que sim com a cabeça.
— Não pare — imploro.
Murilo se move novamente, então, a
pressão começa a queimar. Quando fecho meus
olhos contra a dor, ele para.
— Alice, se quiser fazer isso, continue
olhando pra mim, tá? Eu preciso saber que tu quer,
que está bem. Eu nunca estive com uma virgem,
isso aqui é novidade também.
Nunca esteve?
Uma alegria invade meu coração.
Pelo menos em uma coisa sou novidade
para ele, algo único. Talvez se lembre de mim um
dia por isso. Obedeço e não fecho mais os olhos.
Ficamos nos encarando o tempo todo, enquanto seu
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membro vai afundando dentro de mim. Ele está


devagar, bem devagar, e ouvimos nossa respiração
ofegante dando eco em todo quarto.
— Tu é incrível — cochicha contra meus
lábios. — Eu sabia que seria, mas... Deus, Alice.
Tão apertadinha. Muito gostosa!
Músculos se estendem e doem. Uma
pontada de pânico me atinge. Será que vai caber?
Ele balança de um lado para o outro e consegue ir
um pouco mais fundo cada vez. Interrompe o olhar
por um minuto para me beijar. Um beijo terno e
carinhoso.
— Desculpa por doer.
Outra pressão. Então outra. Eu solto uma
longa respiração e ele também. Está totalmente
dentro de mim.
Totalmente.
Eu olho para Murilo surpresa. A dor foi
substituída por uma queimação pulsante. Prazer.
Ele sorri feliz e acaricia meu rosto. Somos apenas
nós agora. Conectados. É a coisa mais incrível que
já senti. Transbordando com ele, mal posso

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respirar.
— Tu é... inacreditável. — Abaixa a cabeça
no meu pescoço e apenas respira.
Eu o seguro e saboreio o momento.
Acaricio suas costas e me remexo com ele.
Com cada arremetida a queimação diminui
e, após alguns minutos, estou sem fôlego e
arqueando pela penetração profunda dele. Suas
arremetidas se tornam mais confiantes.
— Murilo, isso é delicioso — suspiro no
seu ouvido.
Ele beija meu ombro e pressiona a testa
contra ele.
— Tu é gostosa demais. Muito apertada.
Meu Deus, eu não vou aguentar — admite com
aquela voz rouca e sexy.
Quase não estamos respirando mais. Estou
pingando suor e somos só grunhidos. Suspiros
ásperos enquanto nos beijamos e agarramos um ao
outro.
Quero contar como ele me tira o fôlego,
mas não consigo. Estou hipnotizada demais. Logo
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não consigo manter meus olhos abertos, então


fecho-os e apenas sinto.
Ele continua penetrando, agora mais forte, e
começo a sentir uma onda de prazer chegando.
Abro os olhos para encontrá-lo boquiaberto.
— Alice... não posso mais. Eu vou...
Ohhhhhhhhhhh...
Ele desmonta e eu o acompanho.
Uau.
Murilo cai à frente e murmura cochichos
incoerentes no meu peito. Suspiro sentindo-me
pesada e saciada. Não posso me mover e não quero.
Estou dolorida. Mas quem se importa
depois disso?
Foi muito melhor do que tinha imaginado.
Foi intenso. Foi… Foi sem palavras.
Encosto a cabeça em seu peito e me aninho
um pouco. Suas batidas soam estranhas, como se
houvesse um eco a mais em seu peito. Abraço-o
forte pela cintura.
Será que posso fazer isso?
Deixo para pensar outra hora.
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Capítulo 26
♫ Eu quero te contar meu segredo só com
o som da minha respiração. Eu quero saber
que seu coração bate. Quero te dizer. ♫
Let there be love, Christina Aguilerar
MURILO
Eu não acredito que vou assumir isso: estou
apaixonado por essa mulher.
Nunca tive experiência parecida na vida, me
rendi aos seus encantos. Ela mexeu comigo desde o
dia que a encontrei pela primeira vez. Devia ter
fugido daquelas covinhas e rostinho corado. Alice é
muito mais forte do que pensa, muito mais
inteligente do que mostra e muito mais linda do que
possa imaginar.
Além de sua beleza exterior que, meu Deus,
é de tirar o fôlego, ela tem uma beleza cada vez
mais rara hoje em dia. É bonita por dentro.
Preocupa-se sem esperar nada em troca, quer ajudar
genuinamente. Ontem já fiquei mexido quando o
enfermeiro falou sobre suas ligações, porém, vê-la
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me esperando hoje foi demais. Alice parecia tão


feliz em me ver. Veio até correndo, embora
tentasse esconder.
E com meus irmãos, então? Eu estava
decidido a parar com isso, a pedir que seguisse sua
vida. Na verdade, eu ainda penso nisso. Alice
merece um homem muito melhor do que eu. Um
que não tenha tanta bagagem, tanto problema. Um
que possa envelhecer com ela e lhe dar filhos. Eu
não poderei nada disso. Mas como resistir depois
de dizer que, mesmo que a gente tome rumos
diferentes, quer continuar vendo Olívia e Raul?
Deitado aqui na minha cama apertada agora,
passando a mão em seus cabelos enquanto ela tenta
recuperar a respiração, só consigo pensar como sou
um cara de sorte. Eu posso não ter muito tempo,
entretanto, vivi a melhor experiência ao senti-la de
um jeito tão profundo.
Não posso negar, eu tive muitas mulheres.
Muitas que nem sei dizer. Foram altas, baixas,
magras, gordas, loiras, morenas, negras, ruivas...
Algumas mais bonitas que Alice, inclusive.
Contudo, nada se compara a ela. Toda essa beleza
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sumia com um minuto de conversa. Pessoas vazias.


Com Alice, sua beleza só aumenta à medida que
você a conhece.
Caralho! Não acredito que estou mesmo de
quatro. Não acredito que realmente me interessei
por alguém. Não só interessar, aliás. É como se
meu coração fosse sair do peito. Nunca tive
conexão no sexo. Até hoje. Eu não queria mais sair
de dentro dela, nossos corpos encaixados
perfeitamente. E se Deus poderia me aliviar de
todos esses problemas que surgiram, transformou
minha garota em uma safada na cama. Como não
amar? É a perfeição que todo homem procura.
Tirando-me dos devaneios, Alice acaricia a
lateral da minha cintura e levanta a cabeça, com
aqueles olhos esverdeados lindos. Sorri e eu
retribuo. Tenho que controlar minhas emoções.
Não quero dizer nada para ela, mas está difícil.
— Posso te fazer uma pergunta? — pede e
fico receoso com o assunto.
Tomara que não pergunte de outras
mulheres, não quero estragar o momento a
deixando triste.
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— Sim.
— Por que você tem só uma tatuagem
colorida?
Ufa! Mas ainda está pensando nisso?
Lembro-me dessa pergunta no dia que fiquei
morrendo de raiva dela ser intrometida. Naquele
tempo eu não responderia isso para ninguém,
todavia, como ela já passou dessa fase e sabe dos
meus irmãos, não vejo problema em dizer.
— Foi a última que fiz, é para Olívia e
Raul. Como te contei brevemente, tive uma vida de
merda. Eu comecei cedo a ir para o caminho errado
das drogas e do crime e me perdi totalmente. Só
acordei de verdade no fim dos meus 18 anos, ou
seja, há pouco tempo. Minha mãe morreu em
seguida e tive que me virar com duas crianças, uma
casa, contas... Queria deixar no meu corpo uma
marca dessa nova fase, uma vida mais colorida sem
as sombras do passado, e fiz a Fênix.
— Eu conheço a história. O pássaro que
morria e depois renascia, certo?
— Isso mesmo — concordo e meus
pensamentos se perdem novamente.
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Queria poder ter outra chance de renascer,


longe dessa merda de doença!
— É muito linda — elogia passando as
mãos delicadas no meu pescoço e já começo a ficar
animado de novo.
Caralho! Ela percebe e dá risada.
— Já?
— Com uma mulher gostosa assim fica
difícil se segurar — confesso e Alice sorri
novamente, mas em seguida faz uma careta. Deve
estar dolorida.
— Está doendo?
— Um pouco. Nada de mais.
— Ouviu, amigo?! Sossega aí que Alice
tem que melhorar para o segundo round.
— Mal posso esperar.
— Safadinha! — Dou um tapa na sua bunda
e minha garota solta um gritinho.
— Vamos fazer assim: vou me limpar
rapidinho e tu toma um banho. Farei algo pra gente
comer, estou morrendo de fome.
— Nossa, também estou morrendo de fome!
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Dou um selinho em seus lábios e corro para


o banheiro. Quando volto, ela está enrolada no
lençol, sentada na cama com o cabelo todo
bagunçado. Linda! Amo os seus diferentes lados,
de tímida a safada.
— O que tu quer comer?
— Surpreenda-me! — desafia e entra no
banheiro.
Escuto o som da ducha ligada e, juro, tenho
uma vontade enorme de entrar e fodê-la encostada
na parede. Mas tenho que esperar mais um pouco.
Talvez o banho ajude na dor.
Olho para a cama e a mancha de sangue
prova sua inocência. Meu Deus! Como essa mulher
incrível aceitou isso? Do sonho do príncipe
encantado para um garoto de programa? Um garoto
de programa todo errado. Eu ganhei na loteria por
conhecê-la, porém, será que Alice pode dizer o
mesmo? Será que ainda deseja uma vida de contos
de fadas? Espanto os pensamentos e saio com o
lençol na mão para lavar. Agora não.
Vou para a cozinha e opto por fazer meu
omeletão. É simples, rápido e delicioso. Vai de
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tudo um pouco. Separo os ovos, bacon, cebola,


cenoura, tomate, cebolinha, manteiga, leite, trigo,
sal e fermento em pó. Tenho tempo de picar todos
os ingredientes, bater os ovos e nada da Alice
voltar. Será que foi embora pela janela? Afff...
Murilo, não seja ridículo! Deve ter passado uns
trinta minutos já. Quando decido sair em sua
procura, ela aparece na porta.
C.a.r.a.l.h.o!
Devo estar de queixo caído, nem ligo.
Minha garota lavou os cabelos e eles caem
graciosos em seus ombros. Não vestiu suas roupas.
Pegou uma das minhas camisetas e está só com ela.
Caralho de novo! Que tesão da porra.
Como é alta e tem um corpão, a peça não
fica grande. Está justinha, marcando aquelas
tentações de coxas.
— O que foi? Tudo bem eu usar uma
camiseta sua? — pergunta receosa.
Deve ter entendido errado a minha cara de
tonto.
— Caralho, Alice! Caralho! — digo em

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voz alta o meu pensamento e ela fica imóvel, os


olhos tensos. — Pode usar essa camiseta para o
resto da vida. Tu tá querendo me matar, só pode.
Meu pau vai fugir da calça com você vestida desse
jeito. Tá um tesão!
Ela relaxa e sorri, vindo em minha direção.
— Se eu fosse tu não viria aqui agora —
advirto.
— Por que não? — provoca com voz
sensual.
Já estou apaixonado, desse jeito vou até
escrever uma música.
— Alice, não me tente!
— Sabe, eu tava pensando enquanto tomava
banho... — fala encostando seu corpo no meu. —
Foi maravilhosa essa experiência, mas ainda falta
uma coisa.
— Falta? — questiono engolindo em seco.
Aonde ela quer chegar?
— Eu queria ver como você faz quando não
está com uma menina virgem — solta tentando ser
firme, ainda sim, fica corada ao falar.
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— O quê? — pergunto para ter certeza que


ouvi bem.
Alice enlaça seus braços no meu pescoço e
chega mais perto. Ahhh... Esse cheiro de banho
com seu perfume natural.
— Não pegue leve comigo desta vez,
Murilo — sussurra em meu ouvido.
Puta que pariu!
Fico olhando para ela um minuto. Tentando
absorver seu pedido, tentando lembrar que é melhor
não me envolver mais do que já estou envolvido.
Posso ficar perdidamente louco por Alice.
— Por favor. — pede e meu lado selvagem
toma totalmente conta de mim.
Movido por puro desejo de fodê-la bem
fundo, no meio da minha cozinha, viro-a
bruscamente de costas e coloco minhas mãos entre
suas pernas, enfiando, sem pedir, um dedo lá.
Alice geme alto e inclina a cabeça, me
dando espaço para devorar seu pescoço.
— Tu quer foder gostoso, então, Alice?
— Sim... — responde em suspiros e eu
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enfio dois dedos dentro dela.


— Então seja uma boa garota e me obedece.
Ok?
— Ok.
Estoco com força, fazendo movimentos
circulares. Tiro meus dedos e os levo em sua boca.
Quero vê-la chupar tudo.
Não aguento a Alice safada, ela vai acabar
comigo. Não reclama, deixa rolar. Lambe
vagarosamente cada um dos meus dedos como se
estivesse chupando meu pau. Ahhhh, merda! Estou
fodido.
Abaixo em sua frente e rasgo sua calcinha
com as mãos. Sua pupila se dilata, ela está gostando
desse jeito selvagem.
— Agora tu pode me ver melhor chupando,
Alice. Presta bem atenção.
Entro com minha cabeça entre suas pernas,
de uma forma que ela possa ver perfeitamente o
que estou fazendo. Seguro-a firme pela bunda,
dando tapinhas e apalpando com gosto.
— Ahhhhh... Murilo.
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Ela é só gemido. Não está aguentando nem


respirar direito. Sua perna está ficando mole
embaixo de mim. Alice se apoia na mesa para não
cair. Abaixo minha calça com uma das mãos e
começo a me tocar.
— Olha aqui. Estou me masturbando
enquanto fodo você com minha boca. Se toca,
Alice. Levanta essa blusa, acaricia seus seios pra
mim.
Queria ler seus pensamentos. Minha garota
está com os olhos ardendo de desejo, morde os
lábios constantemente. Parece até que vai sentir
dor, de tanto que os pressiona. Fico de lado para
que ela possa ver meu pau, e volto a torturá-la com
a língua. Sei trabalhar, modéstia à parte.
Não deixo nenhum minuto de olhá-la e
quase gozo quando me obedece e levanta a blusa.
Alice está sem sutiã. Oh, meu Deus, que visão!
Aperta o bico do peito e os acaricia devagar. Pego
uma de suas mãos e a coloco ali para me ajudar.
— Enfia, Alice. Se masturba também —
encorajo e ela faz. Caralho!
Chego ao seu ponto fraco, o clitóris, e é só
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gemido. Não me importo que esteja alto. Que se


foda se alguém ouvir! Quero essa mulher louca por
mim. Quero inteira. Minha.
Levanto sem avisar e a viro de costas
novamente, colocando-a de bruços sobre a mesa da
cozinha. Faço tudo tão rápido que se assusta e grita.
Porém, é um grito de prazer que chega direto lá
embaixo.
— Tá bom assim? — pergunto, mas fico
sem resposta. Alice está extasiada, só balança a
cabeça. — Ahh... Você de quatro assim!
Pego uma camisinha do bolso da calça e
rasgo o pacote com a boca. Enquanto faço isso com
uma mão, a outra está dentro dela, estocando firme.
Essa visão da sua bunda está quase me explodindo.
Coloco-a e entro rapidamente sem pedir licença.
— Diga-me se em algum momento
machucar ou tu quiser parar, ok? — aviso ofegante.
É bom demais estar dentro dela. Não quero
mais sair daqui.
— Ok — responde também com
dificuldade. — Ahhhhhhhhhhhhh…

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Sua reação às minhas investidas mais duras


é maravilhosa.
Entro num transe e não consigo sair de lá.
Cada impulso mais fundo e forte que o outro. Estou
segurando suas costas com uma mão, enquanto
apoio a outra na mesa. Nem dei o trabalho de tirar
minha calça, ela está caída sobre meus pés, assim
como Alice continua com a blusa. Estou a fodendo
na mesa.
Minha respiração já está profunda, debruço-
me sobre ela e agarro seus seios por dentro da
blusa, apertando-os com força. Lindos. Meus.
— Mais forte — incentiva e vou à loucura.
Gemo em seu ouvido e agarro seus quadris
com as duas mãos. Quer mais forte? Assim
teremos! Bato mais e mais rápido, uma batida
alucinante. Alice começa a gritar alto e tampo sua
boca.
— Toque-se. Agora! Vem gozar comigo.
Ela desce suas mãos na vagina inchada.
Queria poder estar sem camisinha para senti-la
pura. Para marcá-la para sempre, onde ninguém vai

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chegar. Tiro-a da mesa e a deixo em um ângulo


mais baixo, onde sua bunda fica arrebitada.
— Ahhhhhhhhhhhh... Murilo, eu não vou
aguentar — confessa.
A penetração nesse ângulo é ainda mais
profunda, intensa. Já estou à beira do orgasmo.
— Eu quero que tu goze primeiro, depois
vou gozar na sua boca.
Quando percebo que minha garota está
chegando lá, entre gemidos, suspiros e gritos
abafados, volto a penetrar fundo. E rápido. Alice se
perde em mim, começa a ficar mole. Deixo-a
ajoelhada no chão e saio dela, quase não me
aguentando. Jogo meu jato de líquido quente na sua
boca aberta à minha espera.
— Ohhhhhhh... Caralho, Alice!
Fico anestesiado com o turbilhão que me
toma, olho para Alice e ela parece como eu.
Estamos perdidos em sensações.
— Nossa, Murilo... Isso foi... foi... Não
tenho palavras.
Ajudo-a se levantar com um sorriso que é
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retribuído.
— Tu... Alice, tu me deixa louco. Sério,
nunca foi assim tão intenso. Com ninguém.
— Sério? — pergunta muito animada.
— Sério. Meu coração não quer desacelerar.
— O meu também não.
Encaro-a por alguns minutos. Meu Deus, o
que eu vou fazer? É justo ficar com Alice? Nunca
quis tanto uma coisa na vida. Queria que agora
pudesse ler meus pensamentos e me ajudasse a
fazer o certo.
Pego em suas mãos e a levo até o banheiro.
Temos que nos lavar de novo e, dessa vez, vou
entrar junto para ensaboá-la.
— Alice, eu quero tomar banho com você,
mas para seu bem é melhor ficarmos um pouco
longe. — Sorrio.
— Acho que consigo fazer isso — responde
divertida.
Adoro esse seu jeitinho. Droga, estou
virando aqueles idiotas que acha tudo lindo. Que
beleza!
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Tiro minha blusa dela e ligo o chuveiro no


quente. Alice está me observando com as mãos
tampando o corpo. É engraçado como seu modo
tímida é ligado automaticamente quando não está
no sexo.
— Não precisa ficar com vergonha. Tu é
linda! — encorajo e ela cora.
Livro-me da calça e entramos no box. É
apertado, então minha ideia de ficar longe não dá
muito certo. Merda! Acalme-se, Murilo. Não posso
machucá-la, já foi demais o que acabamos de fazer.
Pego a bucha e esfrego sabão na minha
garota. Começo por seu pescoço e vou descendo
lentamente. Não desviamos o olhar. Ela parece
assustada. Na verdade, esse é um momento muito
íntimo. Nunca dei banho em uma pessoa antes,
estou adorando. Abaixo-me em sua frente e Alice
suspira. Dou risada e balanço a cabeça em negativa
para seus pensamentos. Pego suas pernas grossas e
deliciosas para lavar. Oh, força de vontade. Cadê
você?
Levanto-me e ela tira a bucha das minhas
mãos.
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— Minha vez — avisa e eu não reclamo.


Deixo-a também ter esse contato.
Alice segura na minha cintura e começa
pelo abdômen. Chega mais perto e encosta seus
seios nus redondos no meu peito. Olho-a em
chamas.
— Não faz isso. Já estou no limite —
suplico em seu ouvido.
Ela não escuta e chega ainda mais perto,
envolvendo-me em um abraço enquanto ensaboa
minhas costas. Sinto sua risada no meu pescoço.
Estou fodido. Completamente fodido, louco por ela.
Alice desce a esponja para meu membro e
se demora ali. Aprendeu a torturar, filha da mãe!
Sobe novamente, joga a espoja no chão, segura
meus cabelos com as duas mãos e me beija. Um
beijo que começa muito devagar. Íntimo demais.
Encosto-a na parede e a pego pelas pernas,
que se grudam nas minhas costas. Amo segurá-la
assim, firme em meus braços. Estou ardendo de
desejo, mas quero fazer tudo devagar. Quero fazer
amor com ela de novo, como da primeira vez. Com
aquela conexão de olhares e corpos. Não paramos o
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beijo, ainda terno. Queria muito entrar nela sem


camisinha. Sei que não é certo, só que estou
morrendo de vontade.
— Alice... — chamo com a voz rouca. —
Tu toma pílula ou algum outro método
contraceptivo?
— Comecei a tomar pílula quando aceitei
ficar com você. Por quê? — explica e arregala os
olhos. Já sabe o que vou falar.
— Tu confia em mim?
— Muito — responde sem um milésimo de
segundo de dúvida.
Porra! Amo essa mulher.
— Eu faço exames regularmente, não tenho
nenhuma doença contagiosa. Eu juro. Nunca, nunca
fiquei com uma mulher sem camisinha. Mas, Deus,
Alice! Eu queria entrar em você sem nada. Tu
deixa?
— Sim…
Meu coração está batendo acelerado, droga,
tomara que não perceba. Ainda estou com ela no
meu colo, encostada na parede. Volto a beijá-la
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com carinho e coloco meus dedos entre suas


pernas.
— Ahhh... Sempre pronta, que delícia.
Ela respira com dificuldade, já com puro
desejo de me ter novamente. Possuo-a devagar,
quero lento, bem lento desta vez. Alice está
apoiando suas mãos nos meus ombros e joga a
cabeça para trás quando estou completamente
dentro dela.
— Alice... Meu Deus... Porra! Tão
apertada, tão molhada... tão gostosa!
É incrível estar dentro dela sem nada que
me atrapalhe senti-la por inteiro. Ahhh, mulher, o
que você está fazendo comigo? Seguro-a mais
firme pelas pernas e começo a aumentar o ritmo
lentamente. De pouquinho a pouquinho. Dou beijos
molhados e quentes até os seus seios. Alice chega
mais perto, enlaçando seus braços no meu pescoço
e baixando a cabeça no meu ombro.
— Murilo... é sempre assim, tão bom? —
sussurra.
— Na verdade, não. A gente que se encaixa

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muito bem — respondo sinceramente.


Eu queria dizer mais, queria dizer que
nunca tive um sexo tão maravilhoso. Que nunca
tinha feito amor na vida, porém, ainda não decidi se
isso é uma boa ideia.
Aproveito a nova posição para estocá-la
mais fundo, ainda lentamente. Estamos grudados,
só ouvindo respirações pesadas, gemidos e
suspiros. Porra! Não imaginava que o lento poderia
ser tão bom. Voltamos os olhares e já não estou
aguentando mais.
— Fica olhando pra mim, tá? — peço e ela
concorda.
E assim tenho a experiência mais incrível
que já tive com uma mulher. Intensa, com
sentimento. Entro e tiro meu pau de dentro dela
completando-a, nos deixando à beira do orgasmo.
— Rápido, por favor, Murilo. Não aguento
mais.
Também não aguento e a obedeço,
afundando-me nela mais e mais fundo. Alice está
mordendo os lábios, cravando suas unhas nas

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minhas costas. Eu estou apertando sua bunda com


força.
— Vem comigo. Vem!
Ela vai. Oh, caralho, ela vai! Perco-me na
sensação sem explicação de deixar meu líquido
invadi-la. Dou um gemido alto e animalesco, jogo
minha cabeça para trás, totalmente perdido no
êxtase daquele momento. Uau, isso foi demais!
Alice me abraça, me abraça forte quando a
coloco no chão. E ficamos assim por um tempo que
não sei dizer, em silêncio, absorvendo essa
intimidade intensa. Só deixando a água cair sobre
nós.
***
Quando me dou conta, já são oito horas da
noite. Depois do banho inesquecível, fomos comer,
enfim, meu omeletão. Tive que fazer três de tanta
fome. Amo o jeito de Alice sem cerimônia. Foi ela
quem pediu o terceiro, disse que ainda nem tinha
tampado o buraco do estômago. Gargalhei por
longos minutos.
Ela me ajudou a lavar a louça quando

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terminamos e lhe contei um pouco sobre minha


infância e adolescência. Depois de Max e Vagner, é
a única que sabe essas coisas. Falei da experiência
horrível da prisão, apanhando todo dia porque me
achavam X9. Cheguei a ficar em coma com uma
surra de vinte garotos. Também comentei sobre as
drogas que minha mãe usava e os perrengues que
uma criança assustada teve que enfrentar. Alice
ficou boquiaberta a maior parte do tempo, não
acreditava naquilo. Sempre com um olhar de
ternura.
Agora estamos deitados no sofá, com as
pernas na mesinha do centro comendo pipoca e
assistindo a "Como se fosse a primeira vez". Se
alguém me falasse isso há dois meses eu morreria
de tanto rir. Vendo filme de romance, em um
sábado à noite. Com uma mulher. Sem sexo.
Alice encosta a cabeça nos meus ombros, o
cansaço da maratona de hoje deve estar chegando.
— Tá com sono?
— Nossa, bateu uma canseira aqui! —
confessa e sorri.
— Normal, vem cá. — Deito-a com a
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cabeça no meu colo e afago seus cabelos.


Ela se aninha e tenta prestar atenção no
filme. A cena está na parte que Adam Sandler
descobre que a mulher por quem se apaixonou tem
um problema sério de memória e sempre esquece o
que aconteceu no dia ao dormir.
— Deve ser muito triste isso, né?! Ter uma
doença que você não tem controle, não tem cura.
Você não pode ter lembranças, aproveitar os
momentos, os filhos.
Fico em silêncio com seu comentário.
Droga! Uma hora eu teria que cair na realidade. A
minha consciência volta com tudo para lembrar que
foi uma péssima ideia o que fizemos hoje. Se eu já
estava apaixonado de manhã, agora estou
completamente louco. Meu coração só bate por
Alice, ela domina todos meus pensamentos.
— Tu sonha em ter filhos? Essas coisas de
família? — questiono tentando ser casual, mas até
engulo em seco. Sorte que ela não pode me ver.
— Claro! Que mulher não gostaria de ter
filhos? Eu queria dois, uma menina e um menino
— responde sorrindo, sem tirar os olhos da
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televisão.
Puta que pariu! Comigo Alice nunca teria
filhos se ficássemos juntos. Nem fodendo ia
arriscar a vida de uma criança inocente com uma
merda de doença hereditária que pode destruí-la e
suas próximas gerações. Continuo afagando seus
cabelos e ela cai no sono.
Meu coração se aperta. É justo pedir para
Alice ficar comigo? É justo inseri-la nesse universo
da favela, eu com duas crianças de bagagem? Não
tenho emprego fixo, já fui garoto de programa. Sou
pobre, mal conseguimos sobreviver. E o pior, tenho
uma doença rara. Prazo já estipulado. O médico foi
muito claro ao explicar que não terei uma vida
fácil. Esse problema nos rins foi só o primeiro.
Serei um peso para ela, um peso atrapalhando seus
sonhos.
Meu Deus! O que eu faço? Por favor, me dê
um sinal. Meu coração a quer, minha mente diz
para deixá-la seguir em frente. Acredito que fui
importante, Alice já está muito mais solta de que
quando a conheci. Começou a ver o mundo por
outro ângulo. Só de ter feito isso por ela me sinto
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feliz.
Um telefone começa a tocar, me levanto
encostando sua cabeça na almofada. Dormiu
mesmo, tão linda assim despreocupada. Quando
chego ao quarto percebo que não é o meu, e sim o
dela. Cinco ligações perdidas da sua mãe. Deve
estar ruim mesmo o aparelho, só ouvi agora o
toque.
Seguro-o nas mãos e meu sinal vem. Vem e
não é nada agradável, aperta meu coração e me
deixa sem ar. Na tela aparece uma mensagem bem
clara e que não me deixa dúvidas.
Alice, por favor, me escuta. Foca nos seus
planos, filha, seus planos de uma vida toda.
Esquece esse cara. Ele não é pra você.
Maldito celular estragado!
Se não estivesse com problemas não veria
essa mensagem. Mas eu queria um sinal, agora não
posso ignorá-lo. Preciso deixar Alice ir, não sou
mesmo homem o suficiente para ela. Merece
alguém melhor, sem um passado assombroso, sem
doença para destruir um futuro próspero. Sento na
cama e fico lá por horas, com a cabeça baixa e as
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mãos no pescoço.
A única mulher que amei, provavelmente, a
única que vou amar.
Eu queria meu “para sempre” com ela.
Porra! Como eu queria que essa merda
existisse.

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Capítulo 27
♫ Só temos uma vida para viver e não temos
tempo
pra desperdiçar, pra desperdiçar. Então,
deixe-me dar um tempo ao seu coração. ♫
Give your heart a break, Demi Lovato
ALICE
Acordo com o pescoço doendo, não acredito
que peguei no sono. Que horas são? A televisão
está ligada no mesmo canal e o pote de pipoca foi
deixado na mesinha. Procuro Murilo, mas ele não
está aqui. Sento no sofá com os olhos meio
fechados, ajeitando o cabelo e puxando a blusa para
baixo. Ainda estou com ela, tenho que admitir que
fica sexy mesmo.
Aliás, meu Deus! O que aconteceu hoje?
Nem acredito que perdi minha virgindade com esse
homem maravilhoso que se faz de durão,
entretanto, no fundo é uma pessoa incrível e
dedicada à família. Confesso que no início o
julguei, mas não há como não admirá-lo agora. Sei
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os seus motivos.
Estou me sentindo tão diferente. Como se
estivesse completa pela primeira vez. Meu coração
acelera só de lembrar as cenas de horas antes.
Cama, cozinha, banheiro... Nem sei dizer qual foi
melhor. Eu fui tão ousada! De onde saiu aquilo de
provocá-lo? Seja de onde for, gostei. Gostei de
aproveitar o momento sem pensar demais. Preciso
fazer isso mais vezes na vida, agir por impulso
pode ser muito bom. E se não for, vale o
aprendizado.
Levanto-me e vou procurá-lo pela casa, está
tudo muito silencioso. Quando chego na porta do
seu quarto, vejo-o sentado na cama, de cabeça
baixa e mãos no pescoço. Tão pensativo! Parece
que ficou horas nessa posição.
— Tudo bem? — pergunto indo em sua
direção e ele levanta a cabeça assustado.
Os olhos estão vermelhos, se não o
conhecesse diria até que chorou.
— Já acordou? — responde com outra
pergunta. — Que horas são?

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— Não sei, perdi a noção. Faz tempo que


você está aqui? Aconteceu alguma coisa?
— Não, tá tudo certo — Murilo diz
tentando ser casual, mas tenho certeza de que
aconteceu algo. Sexto sentido de mulher não falha!
— Queria te perguntar uma coisa.
— Sim.
— Tu gostou da experiência da primeira
vez? Foi como sempre quis?
— Foi muito melhor do que eu tinha
imaginado — afirmo sorrindo. E foi mesmo!
— Sério?
— Muito sério — falo e sento-me ao seu
lado na cama.
— Que bom, fico feliz por isso.
— E pra você?
— Pra mim o quê?
— Foi bom?
— Foi único! — admite e abaixa a cabeça
de novo, passando as mãos pelos cabelos.
— Você quer me falar alguma coisa? —

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questiono e Murilo fica em silêncio, me olhando


por longos segundos.
Vejo confusão em seus lindos olhos
castanhos.
— Sabe o que é, Alice... Eu... Eu gostei
muito mesmo dessa experiência, foi bem diferente
pra mim. Mas... agora preciso seguir minha vida.
Desculpe, não quero magoar você… Se lembra do
nosso acordo, né?! — pergunta ansioso.
Ok, por essa eu não esperava.
Fico tão em choque com as palavras que
nem consigo responder de imediato. É claro que me
lembro do acordo. Apenas encontros esporádicos
sem envolvimento para que eu pudesse perder
minha virgindade.
Hoje perdi, agora acabou.
Alice, você sabia que não era para ter
sentimentos por ele. É um garoto de programa,
conhece dezenas de mulheres por semana. Por que
acha que com você seria diferente? Cliente vip?
Droga de reações físicas para nossos sentimentos!
Minhas mãos estão suando frio, sinto

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tremores na barriga, meus olhos não piscam e


minha boca está seca. Preciso responder algo logo.
Não quero parecer a mesma menininha sonhadora e
chata de antes. Até porque não sou mais. Eu cresci
bastante nesse tempo, e tenho que agradecer Murilo
por isso.
Respira, calma! Foram bons momentos
vividos juntos e é isso que você precisa levar.
Guarde os sorrisos e os olhares na lembrança. Não
precisa se arrepender da sua escolha.
— Lembro sim — respondo, enfim, com
um sorriso fraco. — E agradeço você pela proposta.
Acho que tive bons aprendizados nesse tempo, não
só naquilo, pra vida!
— Tu é uma garota incrível, viu?! Não
deixe nunca que digam o contrário. Confie em
você, no seu verdadeiro eu, que tudo se ajeita. Não
vai ser um mar de rosas sempre, mas tu chega lá —
Murilo encoraja segurando minhas mãos e me
encarando daquela forma que dá vontade de
abandonar tudo.
— Eu posso ver as crianças de vez em
quando? Combino com a Dona Emília de pegar
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com ela — questiono esperançosa. Não queria me


afastar deles, já são meus amigos.
— Claro! Agradeço muito por isso. Tu não
precisa...
— Eu quero! Quero sair com eles porque
gosto. São crianças incríveis.
— Obrigado mesmo — agradece de cabeça
baixa novamente, acariciando meus dedos.
— Eu vou indo, então, tá?! Preciso arrumar
as coisas lá em casa. Olívia, Raul e eu fizemos uma
boa bagunça — explico sorrindo.
— Já? — Murilo levanta a cabeça de
repente, vejo tristeza ali. — Eu levo você, então.
— Sua moto ficou lá em casa, esqueceu? E
eu tô com o carro da Claudinha.
— Nossa, é verdade. Posso ir com você pra
pegar a Rabbit?
— Tá bom.
Levanto da cama, que me traz lindas
lembranças, e pego minha roupa na escrivaninha do
computador. Nem estou acreditando que disse tudo
isso numa boa, sem surtar nem idealizar nada.
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Enquanto me visto, Murilo não tira os olhos de


mim, como se registrasse na memória cada parte do
meu corpo. Eu realmente vou sentir falta desse
homem, do seu cheiro, seu sorriso, seu toque...
Contudo, eu sabia desde o começo que teria um
prazo para o fim, e apesar da dor que insiste em
apertar o meu peito, estou feliz por ter aceitado.
Foram dias maravilhosos, que eu não teria
se tivesse continuado sonhando com o príncipe
encantado. Eu não menti. Minha primeira vez foi
totalmente diferente do que tinha imaginado. Só
que foi também bem melhor. Não tinha velas
espalhadas pelo ambiente nem pétalas de rosas na
cama, mas havia um homem e uma mulher
conectados profundamente. Isso não vou esquecer
jamais.
Entramos no carro em silêncio, Murilo
ainda está bem pensativo. Conversamos só o
necessário, enquanto ele se perde em olhar para o
nada pela janela. Faço o mesmo. Espero que tenha
sido uma experiência legal para ele como foi para
mim. Não tenho a pretensão de ter sido a melhor,
mas gostaria que se lembrasse com carinho. Porque
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com certeza o farei.


Assim que chegamos à república a tensão
fica ainda maior, despedidas nunca foram meu
forte.
— Você quer subir pra pegar a chave?
— Eu espero aqui, pode ser? Quero pegar
Olívia e Raul com a Dona Emília hoje ainda.
— Tudo bem, só um minuto.
Confesso que não reclamaria se ele subisse
e a gente repetisse mais uma vez nossas cenas de
intimidade intensa. Porém, é melhor assim. Eu
preciso acalmar esse coração que ainda está
batendo forte e não confundir as coisas. Foi bom
enquanto durou. Foi muito bom! Espanto uma
lágrima que escapa dos olhos com o canto da mão e
pego a chave no balcão da cozinha.
Ao encontrá-lo de novo na entrada do
prédio, está encostado na mureta, perto da portaria,
olhando para o céu. Que visão linda, vou sentir
saudade...
— Aqui está. — Aproximo-me entregando-
as.

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Ele olha para mim com aqueles olhos.


Aqueles de tirar o fôlego e cruza os dedos nas
minhas mãos, encostando seu corpo no meu. Sobe
para a minha cintura e me abraça forte.
— Obrigado, Alice. Obrigado por tudo, tá?!
— fala baixinho em meu ouvido.
— Eu que agradeço —respondo quase
inaudível.
E, então, nossos lábios se encontram mais
uma vez em um beijo que começa terno, singelo, e
rapidamente se torna desesperado. Não tenho
dúvidas, é um adeus, uma despedida. Mesmo que
me encontre com os irmãos dele, provavelmente
Murilo não verei mais.
***
O domingo passa arrastando e, por mais que
eu queira esquecer, as cenas do dia anterior não
saem da minha cabeça. Droga, Alice! Cadê a parte
do não se envolver? Não se apaixonar? Preciso
distrair minha mente e nada melhor do que a louca
da minha amiga.
Claudinha chegou de viagem agora há

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pouco e está vindo para casa de táxi para saber das


novidades. O porteiro já até anunciou sua chegada.
Quando mencionei ao telefone que tinha perdido a
virgindade, quase enfartou no aeroporto. A
campainha toca e sei que é ela.
— Alice, conte-me tudo, não me esconda
nada! — Claudinha chega apavorada, nem espera
eu abrir a porta direito.
— Olá! Boa tarde pra você também.
— Boa tarde o cacete! Desembucha mulher,
19 anos para acontecer e tu quer se ater a
formalidades — fala e eu caio na risada. Com ela
não tem como ficar triste.
— Então, foi ontem. Depois que ele saiu do
hospital, ficamos sozinhos na casa dele e rolou.
— Nem esperou o menino se recuperar
direito? — Claudinha me provoca divertida.
— Pois é. — Coro.
Passo a próxima hora contando quase todos
os detalhes para minha amiga curiosa que questiona
a cada dois segundos. Algumas coisas como, as que
aconteceram no chuveiro, prefiro guardar só para

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mim.
— Caramba, Alice! Três vezes seguidas?
Tá fraca não, hein?! Na minha primeira vez eu
achei horrível, doeu pra caramba.
— Doeu só um pouco, depois eu gostei.
— Ele foi cuidadoso com você?
— Sim, muito — admito lembrando de todo
cuidado que Murilo teve.
— O que foi? Alice, não me diga que tu tá
triste porque não vai ver mais ele?
— O quê? Não. Tô de boa, Claudinha.
— Sei! Como se não te conhecesse… — ela
bufa.
— Obrigada por ter insistido nessa ideia
maluca, viu?! Foi inesquecível. Acho que pude ver
a vida por uma perspectiva diferente durante esse
tempo convivendo com ele e seus irmãos. Até
tomei uma decisão hoje cedo.
— Qual? — pergunta curiosa.
— Vou mudar de curso. Amanhã mesmo
procurarei a universidade para ver como funciona.
Terei que sair do estágio, mas não tem problema.
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Tenho um dinheiro guardado e vou economizando


até conseguir outro na área de Serviço Social.
— Caralho, Alice! Que ótima notícia. Fico
muito feliz por você. Siga seu coração.
Abraço minha amiga e sorrio por dentro
com a ironia de sua frase. Se eu fosse seguir meu
coração, a essa hora estaria com um certo alguém
lá no Morro do Alemão.

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Capítulo 28
♫ Por favor, tenha misericórdia de mim.
Vá com calma com o meu coração, mesmo
que não seja sua intenção me machucar. ♫
Mercy, Shawn Mendes
MURILO
O dia passou voando! Graças a Deus,
porque ontem foi um inferno. Cada minuto do meu
domingo pensei em Alice e em como esquecê-la.
As lembranças do seu cheiro, seu sorriso, seu gosto
me deixam louco. É uma droga estar apaixonado!
Se você não pode ficar com a pessoa, fode sua vida.
Como eu queria estar com ela agora, compartilhar
esse momento de alívio.
A única notícia boa desta segunda-feira
nublada é que Olívia e Raul não herdaram a minha
doença. Se todos nós tivéssemos, eu não ia
suportar. Hoje de manhã os trouxe para fazer a
análise do DNA em uma clínica particular, devido à
influência e ajuda do Doutor Bernardo, e agora no
início da noite já ficou pronto. O resultado sai
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rápido, ainda bem.


— Você não tem mesmo mais parentes
próximos que possamos fazer a análise do
hederograma? É importante identificar outros
membros da família para o tratamento — pergunta
Doutor Bernardo.
— Se temos, eu não tenho contato. Meus
avós não conversavam com a minha mãe.
— Entendo. Então, agora é focar no seu
tratamento, Murilo. Já estou verificando para
conseguir a terapia de reposição enzimática pelo
SUS.
— Uma curiosidade, Doutor. Por que eles
precisaram fazer exame de DNA e eu não?
— Nos homens, a confirmação do
diagnóstico da doença é feita através de um exame
de sangue que mede a atividade da enzima alfa-
galactosidade A. Como muitas mulheres
apresentam atividade da α-Gal A dentro dos limites
de normalidade, é ideal que seja solicitada a análise
do DNA para que o diagnóstico possa ser
confirmado. Não há registro de homens com
Síndrome de Down e Doença de Fabry, por isso,
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achei melhor avaliar o Raul também pelo DNA


para não ter erro.
— Ahh, sim. Pelo DNA não tem como
errar, né?! Sei lá, descobrir no futuro a doença?
— Não! É garantido.
— Ufa, que bom! Obrigado por tudo. Não
sei como agradecê-lo.
— Não tem o que agradecer, Murilo. Tem
que se cuidar! Você precisa tomar os outros
remédios que passei para o tratamento sintomático
do rim, que foi o principal órgão afetado até o
momento. Se progredir, como já expliquei, pode ser
necessário iniciar a hemodiálise e até optar pelo
transplante.
— O senhor acha que vou precisar de um
transplante? Tenho pouquíssimas pessoas
conhecidas que poderiam fazer o teste de
compatibilidade e sei que a fila de espera é longa.
— Temos que monitorar, a situação atual
não é das melhores. Encontrar um doador vivo
entre os familiares e mais próximos é o ideal e mais
rápido. A principal característica das listas é que

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elas não funcionam por ordem de chegada, em que


o primeiro a se inscrever receberá o órgão antes do
segundo e assim consecutivamente. Em vez disso,
os critérios obedecem a condições médicas. São
três fatores determinantes: compatibilidade dos
grupos sanguíneos, tempo de espera e gravidade da
doença.
— Espero que não precise.
***
Saio do consultório em Ipanema já por volta
das sete e meia da noite e paro um pouco na Praia
de Copacabana para olhar o mar. Ele sempre
acalma meus pensamentos. Não quero ficar
abusando da Dona Emília agora que não estou
fazendo programa, mas preciso de um momento.
Aconteceu muita coisa nesses últimos dias, me
sinto pesado. O que mais me intriga, porém, é que
apesar do diagnóstico preocupante e sério que
recebi de uma doença rara não é isso que ocupa
minha mente. E sim ela. Suas covinhas, seu olhar,
seu corpo quente... Puta que pariu, estou ferrado!
Meu celular vibra e vejo a foto de Max
chamando no Skype pela terceira vez hoje. Ontem à
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noite, em um dos momentos de tristeza, mandei e-


mail para ele contando as péssimas novidades sobre
minha saúde. Que droga! Não devia ter falado
porra nenhuma, agora vai ficar me atormentando.
Penso em ignorá-lo de novo, entretanto,
aproveito o sinal do Wi-fi na orla e o silêncio em
minha volta, apesar do local costumar ser lotado,
para atendê-lo.
— Caralho, Murilo! Joga uma bomba na
gente e não atende essa merda de telefone.
— Estava ocupado, Max — defendo e ele
revira os olhos.
— Que história é essa de doença rara? Pelo
amor de Deus! Estou quase pegando um avião aqui.
— Estou na rua, Max. Acabei de sair da
clínica onde Olívia e Raul também fizeram exames.
Depois eu converso com calma em casa. Mas,
resumindo, eles estão limpos, graças a Deus, e eu
terei que fazer acompanhamento médico para o
resto da minha curta vida.
— Como assim curta? — pergunta
preocupado.

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— Quem tem essa doença tem expectativa


de vida reduzida.
— Porra, Murilo! Que merda...
— Ei, olha quem está aqui.
Uma voz conhecida interrompe a conversa,
vindo pelas minhas costas e Max fica pálido na tela
do Skype. Também reconhece esse som.
Abaixo o celular para que ela não veja.
Tudo que eu não preciso agora é um clima tenso
entre Max e Claudinha. Desde que ele foi embora e
a deixou nunca mais se falaram. Acredito que ainda
se amem, mas ela não vai assumir nunca. Assim
como eu.
— Oi, Claudinha — acentuo seu nome para
que Max permaneça em silêncio.
— Eu ia lá no bar do Rafa te procurar, mas
tava ali andando na areia para refrescar as ideias e
o vi.
— Até esqueço que tu mora por aqui. Por
que ia me procurar? — questiono curioso.
Será que aconteceu algo com Alice?
— Pra te pagar, ué. Trato é trato! Fiquei
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sabendo que, enfim, vocês chegaram lá. — Ela


sorri e eu fico sério.
Que merda é essa de pagar? De forma
alguma vou aceitar qualquer dinheiro pelos
momentos maravilhosos que tive com Alice.
— Eu não quero um centavo por isso,
Claudinha — falo e ela arregala os olhos, fechando
a cara.
— Por que não? Foi o combinado.
— Foi antes de eu conhecê-la. Não vou
cobrar porque não me senti com uma cliente, foi
bom e não quero receber por isso.
Se eu pudesse ler mentes, tenho certeza que
veria Claudinha me xingando de tudo quanto é
palavrão existente na face da Terra. Droga! Tenho
que segurar esse impulso de homem apaixonado
perto dos outros.
— Não me olha com essa cara, Claudinha.
Já fiz isso outras vezes quando curto a cliente. Fica
na paz que não estou de quatro por sua amiga, não
— explico tentando parecer verdadeiro.
— Mas é um mentiroso mesmo! — o filho

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da puta do Max fala alto e Claudinha fica


paralisada. Droga!
— Tu… tu tava em alguma ligação? — ela
questiona querendo ter certeza que ouviu direito.
— Desculpa, Claudinha. Eu estava falando
com o Max antes de tu chegar e tentei não criar um
clima chato.
— Bom, já vou indo, então. Tem certeza
que não quer a grana?
—Tenho sim — respondo convicto.
— Espera aí, Claudinha. Não precisa ir por
minha causa — o idiota do Max continua falando.
Meu Deus! Não tem noção do perigo. — Você está
bem? Tô com saudade.
— Pois eu não tenho nenhuma. E se estou
bem ou não, não te interessa. — Ela pisa duro e sai
explodindo de raiva.
Quando está bem longe do meu campo de
visão, ajeito o celular que já estava levantado a essa
altura e não resisto da vontade de tirar sarro do meu
amigo.
— Cara, é sério isso? Tu é um sem noção
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— falo rindo.
— Cala a boca, Murilo. Você não sabe
como tive que me segurar para não falar nada antes.
— Claudinha ainda não superou a separação
de vocês, sabe disso?
— Me dói muito isso. Queria que ela
entendesse minha escolha.
— Tenho certeza que ela gosta de você
ainda. Se não gostasse não ia agir assim.
— Eu sei. — Ele sorri esperançoso. — Ela
gosta e você está de quatro por essa tal de Alice.
— Não me enche, Max!
— Eu soube desde o dia que me falou sobre
ela outro dia — enaltece orgulhoso.
— Eu gosto dela sim. Está satisfeito?
— Ahhh, meu caro, isso é muito mais que
gostar. Conheço essa cara de bobo.
— Não abusa, Max — aviso tentando
parecer irritado, mas, no fundo, aliviado de assumir
isso para alguém. — Conversamos mais tarde,
preciso ir embora.
— Tudo bem, apaixonado — responde
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gargalhando.
— Vá se ferrar!
Desligo e volto a apreciar o mar mais um
pouco. É! Não tem mesmo como negar. Estou
apaixonado por Alice. Reparo as ondas indo e
vindo e, pela primeira vez nos meus 22 anos de
vida, tenho a inspiração de uma música romântica.
A primeira feita para ela.

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Capítulo 29
♫ Abra seus planos e, caramba, você é livre.
Olhe dentro
do seu coração e vai descobrir que o céu é
seu. ♫
I'm yours, Jason Mraz
ALICE
Dizem que o tempo cura as feridas, que faz
a gente esquecer e seguir em frente. Eu, realmente,
avancei depois que conheci Murilo. Porém, tirá-lo
da minha cabeça é outra coisa bem diferente. Já se
passaram seis meses desde o dia que o vi pela
última vez. Parece que foi ontem. Sinto sua
presença cada vez mais viva dentro de mim.
Quando nos despedimos naquele sábado
muitas palavras não foram ditas. Eu queria contar
que estava apaixonada e que adoraria tentar um
relacionamento de verdade, passar mais tempo com
ele. Tive outras experiências passageiras nesses
meses e nem se compara. Só não me arrependo de
ter deixado como combinado porque acredito que
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algo mais duradouro não combina com o seu jeito e


eu, realmente, precisava de um tempo para mim.
Nem que eu quisesse ia conseguir manter o Murilo
só no sexo. Já estava, ou estou, para lá de
envolvida.
O ruim de ser uma sonhadora e idealizar as
coisas é que você vive em um mundo de ilusão,
onde tudo é perfeito e os problemas não existem.
Daí cai na realidade, leva uma porrada depois da
outra e se torna uma sombra.
Não fosse meu conto de fada totalmente
invertido, talvez ainda estivesse sonhando
acordada. Vivendo de aparências em vez de
aproveitar das dificuldades do dia a dia para
crescer. Continuaria me sentindo vítima da minha
própria história, não a protagonista. Graças a Deus
acordei. E amo a pessoa que me tornei depois que o
conheci.
Naquela mesma semana que nos
despedimos, eu conversei com meu chefe e
expliquei que ia mudar de curso na faculdade. João
nem acreditou que Administração não era meu
sonho. Segundo ele, eu fazia tão bem meu trabalho
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e era tão dedicada que podia jurar que sempre quis


ser uma empresária. Mas nunca quis, apesar de
achar a profissão muito interessante.
Sorte que tinha começado há pouco tempo o
segundo semestre, então, minha transferência para
Serviço Social não foi difícil. Longe de ter sido
tudo maravilhoso nos primeiros dias, como
acontece nos filmes quando a mocinha resolve dar
uma reviravolta em sua vida. Ainda sim, eu adorei
a mudança apesar dos pesares.
Tive dificuldade de começar do zero e
muitas vezes questionei se tinha tomado a decisão
certa. Afinal, era um excelente estágio. João me
deu a certeza de contratação garantida para tentar
me convencer, mas fui firme. Sem contar o salário
acima da média, plano de saúde e cesta básica.
Demorei quatro meses para encontrar um
novo estágio, e ele não é nada glamouroso. Passei a
trabalhar em uma casa de apoio para crianças
vítimas de abuso e descobri que meus problemas
não são nada perto daquelas pessoinhas frágeis e
inocentes que foram roubadas de si tão cedo. Cresci
mais nesses últimos meses do que nos meus 19
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anos de vida, com certeza.


O trabalho requer muito mais do meu
psicológico e paga, infinitamente, menos que o
outro. Recebo um salário mínimo que mal dá para o
aluguel e minhas contas básicas. Não que eu fosse
uma gastadeira, porém, hoje em dia economizo
ainda mais. O que está me ajudando é a loja virtual
da Claudinha. Não é que a aparente loucura dela
está dando super certo? Minha amiga fatura cerca
de dez mil por mês com suas roupas e a ajudo com
a parte administrativa nas horas vagas. Esse
dinheiro extra que salva os dias que insistem em
sobrar no fim do mês.
Olho para a paisagem urbana típica do
Morro do Alemão, pelo vidro do carro, e meu
coração se inquieta espantando meus pensamentos.
Sempre fico na expectativa de encontrá-lo, o que
nunca acontece, claro. Como combinamos, Murilo
permitiu que eu continuasse vendo os seus irmãos e
assim tenho feito, religiosamente, todo último
domingo de cada mês. Claudinha sempre me
empresta seu carro para que eu possa aproveitar
bastante com eles. Na última visita fomos ao
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Zoológico e hoje vamos ao Aquário.


Paro o carro na frente da casa da Dona
Emília e os dois já estão na porta me esperando
junto com ela. Que saudade que fico deles! Se
pudesse os pegava mais vezes no mês. Pena que
está muito corrido, e nem sei se Murilo deixaria.
— Oi, lindezas! — cumprimento sorrindo
ao sair do carro.
— Saudade! — Olívia fala correndo ao meu
encontro.
— Tu tá linda — Raul diz dando um beijo
na minha bochecha.
— Saudade de vocês também. — Abraço a
pequena. — Obrigada, Raul.
Dona Emília toda vez me olha enigmática,
como se quisesse contar mil segredos, mas não
pode falar nada. Chega a dar uma aflição de tanta
curiosidade em saber o que ela está pensando.
— Oi, Dona Emília. Tudo bem?
— Tudo.
É a que se resume responder sempre e eu,
roboticamente, balanço a cabeça em afirmação.
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Virou um ritual engraçado.


— Bora passear?
— Simmm! — respondem em uníssono.
Despeço-me da senhora misteriosa e parto
com as crianças para o Aquário. Depois programei
um piquenique no parque, as coisas já estão no
carro.
— Agora você está gostando da escola
nova, Raul? — questiono olhando para o carona.
Ele sempre gosta de sentar na frente comigo.
— Ah sim, agora tá ficando legal. Estamos
fazendo aula de esporte e música. Sabia que tô
aprendendo a tocar violão igual ao irmão?
Há quatro meses Raul me contou que estava
mudando para uma instituição de ensino adequada
para atender crianças com Síndrome de Down,
inclusive, com professores capacitados e em tempo
integral. É uma escola pública normal, entretanto,
estão a tornando modelo para educação inclusiva.
Ele não gostou muito no começo, achava chato
porque não tinha amigos.
— Que bom! O que eu falei pra você? Com

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o tempo a gente se acostuma com as coisas —


explico animada e ele sorri contente.
Sempre evito ao máximo dar corda para os
assuntos relacionados ao Murilo porque percebi, no
primeiro domingo que os peguei, que foram
instruídos a não dar informações sobre isso. Tento
respeitar, apesar da curiosidade.
— Eu continuo não gostando desse tal de
integral. Achava mais legal passá a tarde com o
Mu. — Olívia emburra no banco de trás.
Ela também conseguiu uma vaga no ensino
integral da mesma escola que o Raul. Fiquei muito
feliz quando me contaram porque significa que
Murilo agora tem tempo durante o dia. Espero do
fundo do coração que tenha conseguido um
emprego porque só de imaginá-lo com clientes me
sobe uma raiva... Afasto os pensamentos
ciumentos.
— Por que, Olívia? — pergunto sorrindo.
Ela sempre conta uma história mais
engraçada que a outra do motivo de não gostar.
— Aquela merenda é ruim demais. Eu tive

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que comê bolo da princesa com beterraba esta


semana. Eca! — Imita cara de nojo e eu caio na
gargalhada.
— Mas é saudável, faz bem querida —
tento incentivar em meio ao riso.
— É o que o Mu falou. Mas você pensa que
ele come beterraba? Come nada. Qué falá pra mim
comê, mas comê que é bom, nada. — Caio na
gargalhada novamente.
Por isso amo essa família, eles são
maravilhosos!
— Eu aposto que ele come sim, você que
não vê.
— Tu defende porque é namorada dele —
Olívia diz fazendo bico e até engasgo com a risada
que estava dando.
— Nós não somos namorados, já falei pra
você, querida.
— Mas podia ser. Eu ouvi o Mu dizê para o
Raul que tava com saudade de você esses dias
enquanto ensinava ele tocar violão.
— Shhhhhhh! — Raul coloca o dedo
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indicador na boca e pede silêncio para a irmã.


Estou tão atordoada com a informação que
nem consigo acompanhar a cena.
— Tu disse que ia guardar segredo, Olívia.
— Ahhh é — ela responde batendo a mão
na boca. — O Mu não disse nada não, tô
confundindo tudo. Já chegou no Aquário? —
desconversa.
Essa garota é esperta!
— Chegamos! — tento responder animada.
O resto do dia é perfeito, como todos que
estamos juntos. O único problema deste domingo
ensolarado é que meu coração traiçoeiro não
consegue parar de repetir a frase "Saudade de você"
para o meu cérebro.

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Capítulo 30
♫ Eu te vejo em todos os rostos vazios na
multidão.
Acordado a noite toda, a noite toda e todos os
dias. ♫
I don't wanna live forever, Taylor Swift
MURILO
Pareço uma criança que fez arte e está
fugindo aqui parado nesta janela, espiando
escondido o que acontece no vizinho. A que ponto
chegamos, hein, Murilo? Meu Deus! Ela consegue
ficar cada vez mais linda. Enquanto desce do carro,
reparo no seu shortinho curto que realça as coxas
grossas e na blusa de algodão que moldura suas
curvas. Que saudade de senti-la. Está sorrindo e o
que mais quero agora é beijar aquela covinha que
se forma em seu rosto doce.
Toda vez que Alice vem aqui, para buscar
ou trazer Olívia e Raul, meu coração quase sai pela
boca de tanto que bate descompassado. Caralho!
Nunca imaginei que gostaria tanto de alguém assim
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na vida. Eu nem sei dizer o que sinto por ela. Foi


inspirado nesse sentimento sem explicação que
nesses últimos seis meses as músicas fluíram
naturalmente. Já posso até fazer um CD só com
trilhas sonoras para casais apaixonados. Eu sei,
muito brega. Mas é o efeito dela em mim.
Jorge e o pessoal da gravadora ficaram
radiantes com minha fase melosa, porém, tiraram
muito sarro da minha cara, claro. Eu disse que isso
nunca ia acontecer quando os conheci e em pouco
tempo já estava parecendo o Wando. Inclusive,
acharam que combina muito mais comigo o estilo
romântico e estamos trabalhando nessa linha.
Tenho que admitir que fica bom mesmo. Estou até
sendo comparado com "o novo Tiago Iorc" pela
pegada acústica, somente voz e violão.
Mas como nem tudo são flores, o projeto
está parado no momento porque a droga da minha
doença deu as caras de novo. Parece que meu rim,
definitivamente, não quer funcionar direito e há três
meses faço hemodiálise, três vezes por semana. É
uma porcaria! Fico deitado por quatro horas para
que uma máquina limpe e filtre meu sangue, ou
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seja, faça o trabalho que o rim doente não pode


fazer. O procedimento libera o corpo dos resíduos
prejudiciais à saúde, como o excesso de sal e de
líquidos. Geralmente são horas de tortura total
porque a única coisa que consigo fazer é pensar em
Alice.
Pela falta de avanço no tratamento entrei na
fila de transplante. Eu não ia permitir de jeito
nenhum, ainda sim, por desencargo de consciência
Olívia e Raul fizeram o teste de compatibilidade
por exigência do Doutor Bernardo. Não são
compatíveis. O pessoal dos Narcóticos Anônimos,
Dona Emília e seus familiares e até Max lá da
Inglaterra também fizeram. Ninguém é. A
expectativa do hospital era meu pai pelo grau de
parentesco, mas não faço ideia de onde ele está.
Mesmo que soubesse, não seria iludido. Ele nunca
quis me ajudar, não seria agora. A frustração é
proporcional à expectativa gerada. Por isso, nunca
crio expectativa de nada. A tristeza é que, em
média, os pacientes aguardam sete anos na fila aqui
no Rio de Janeiro à espera de um rim que não seja
de doador vivo. O jeito é rezar para ir levando até

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lá.
O que está nos salvando financeiramente é
que a abençoada gravadora me contratou como
compositor enquanto não me recupero. Minhas
antigas músicas, mais reflexivas, estão ficando
ótimas em uma banda nova de rock. Também estou
recebendo auxílio-doença do governo por ter uma
enfermidade rara e consegui todo o tratamento
gratuitamente por causa da Política Nacional de
Atenção Integral em Genética Clínica. Nem tenho
como agradecer ao Doutor Bernardo por todo
esforço em me ajudar. Estaria fodido, pois fazer
programa está fora de questão.
Aliás, eu não consegui tocar uma mulher
sequer desde o dia em que me despedi dela no
portão do seu apartamento. Duas semanas depois
eu bem que tentei, após beber até cair de tanta
saudade lá no Bar do Rafa. Era muito bonita,
morena de olhos verdes. Mas não era a minha Alice
e não saímos de uns beijos sem graça. O que me
resta é me aliviar pensando em nossa primeira vez e
na bendita cozinha toda noite.
Volto a prestar atenção na linda garota da
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casa ao lado e já fico triste por ter que esperar mais


um mês para esse pequeno momento. O desespero
foi tanto no começo que cheguei a ir na faculdade
para vê-la de longe, porém, fui pego pela Claudinha
em uma dessas tentativas e acho que minha
desculpa de estar passando por ali não caiu. Preferi
evitar e agora só me restaram esses dez minutos a
cada trinta dias. Dez minutos dos quais eu
aproveito cada segundo para gravá-la ainda mais no
meu coração. É masoquista, eu sei, só que não
consigo evitar. Virei um completo idiota.
Alice sempre olha para minha casa antes de
entrar no carro e voltar para sua vida. Está fazendo
isso neste exato momento e se não estivesse bem
escondido podia jurar que pode me ver. Eu consigo
sentir que ela tem saudade também e tenho vontade
de sair correndo para agarrá-la, mas, não posso. É
muito melhor que continue sem meus problemas.
Uma coisa é estar com meus irmãos uma vez por
mês, outra é ter que aturá-los todo dia. Aguentar
um companheiro doente e sem perspectiva de vida.
Eu a amo tanto que quero o melhor para ela.
Mesmo que isso signifique ficar cada dia mais

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longe de mim.
O carro dá partida e Olívia e Raul ficam
eufóricos acenando para o veículo. Eles gostam
dela demais e esse carinho só faz meu sentimento
aumentar. Dona Emília os pega pela mão e vem em
minha direção. A porta da sala se abre e pulo
correndo no sofá, como se não estivesse espiando
nada.
— Mu, você tinha que ver que legal o
tubarão que eu vi. Ele tinha um bocão assim, ó. —
Olívia entra correndo animada, imitando com as
mãos o tamanho da boca do animal.
— Nossa, que legal, linda. O que mais
vocês fizeram? — pergunto querendo saber todos
os detalhes, só que não posso parecer muito
desesperado.
— A gente viu vários peixes. Tinha uns
muito feios. Depois fomos ao parque e eu comi
bolo de cenoura. Tava delícia.
— Só isso, Olívia? — Raul olha para a
irmã, travesso.
Oh, droga! O que será que essa pequena

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aprontou?
— Só, ué — responde na defensiva.
Conheço-a, com certeza, fez alguma coisa.
— Não vai contar o que você falou pra
Alice? — Raul instiga.
— O que você falou, Olívia? — questiono
impaciente.
— Nada de mais, Mu. Eu só falei que tu
tava com saudade dela.
— O quê? — pergunto alto, levantando do
sofá. — Por que tu falou isso?
— Porque é verdade — a espertinha fala
sorrindo.
Passo as mãos nos cabelos, nervoso. Merda!
Ela sempre está certa. Contudo, não precisava falar
nada. Não era para falar nada.
— Vão tomar banho, vão — ordeno
mudando de assunto.
— Você tá bravo comigo? — Olívia
questiona. — Não pode ficar bravo, tu ensinou a
não mentir, Mu.
— Não tô bravo, não. Vai logo tomar
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banho, vai.
Não tem como questionar isso. Minha irmã
é lisa demais, sempre encontra um jeito de se safar.
Acompanho os dois correndo casa adentro e me
viro para uma Dona Emília de cara fechada.
Preparo-me para o sermão. É sempre o mesmo.
— Tava espiando da janela de novo,
Murilo?
— Espiando? Até parece. — Dou de
ombros e me sento novamente.
— Vai pensando que me engana. Eu sei que
tu está apaixonado por aquela mulher e fica aí
remoendo isso, ao invés de estar com ela. Tá
perdendo tempo e você, mais do que ninguém aqui,
sabe como ele é precioso.
— Dona Emília, eu te adoro, mas não
vamos discutir isso de novo. Já expliquei meus
motivos.
— Motivos que tu acha que são motivos.
Nem perguntou para a menina o que ela quer, saiu
decidindo para os dois. Agora ficam sofrendo. Tá
na cara que ela também gosta de você.

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— Ela seguiu a vida dela, vai ser muito


melhor sem mim — murmuro de cabeça baixa.
— Como tu pode garantir isso, Murilo?
Para de ser teimoso. Que mania de carregar o
mundo nas costas sozinho, sem dividir o fardo com
os outros. Toda vez que a vejo aqui nem tenho
coragem de encará-la. Fico com um nó entalado por
você.
— Tu nunca disse nada, né? — pergunto a
fitando.
— Não, mas eu devia. Já que te conheço o
suficiente para saber que não vai atrás dela.
— Eu não vou mesmo, é melhor assim e
pronto — afirmo e me levanto para pegar um copo
de água.
Estou com a boca seca e essa conversa está
me dando até tontura.
— Não adianta falar com você mesmo,
menino turrão!
Penso em responder, porém, uma forte dor
atinge o lado esquerdo do meu corpo. Puta que
pariu! Está mais forte do que nunca. Apoio minhas

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mãos na estante da sala para não cair e grito com a


intensidade dos sintomas.
— Murilo, o que aconteceu? — Dona
Emília corre em minha direção.
— Chama a ambulância. Agora! — suplico
com dificuldade.
Não estou conseguindo respirar, todo o ar
quer fugir pelos meus pulmões e temo pela morte.
Senhor, não permita que eu morra assim, sem ter
conseguido dar um jeito na minha vida e deixar
algo para Olívia e Raul. Eles precisam de mim, por
favor, por favor. Faço uma prece sem jeito torcendo
para quem quer que seja lá em cima me escutar.
O Samu não demora a chegar e preciso de
oxigênio para continuar respirando. Não consigo
assimilar direito o que está acontecendo em minha
volta por causa da dor, mas vejo meus irmãos
chorando, desesperados pela cena, e Dona Emília
os abraçando.
O enfermeiro continua checando meus
sinais e me coloca na maca rapidamente. Eu quero
falar para Olívia e Raul não se preocuparem, que
vou ficar bem, só que minha voz não sai e meus
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olhos já estão se fechando. Caralho! Que dor dos


infernos.
Consigo levantar com dificuldade minhas
pálpebras e fico ainda mais desesperado. De um
lado está Dona Emília falando ao telefone e algo
me diz que está ligando para Alice. Porra! Ela não
me escuta. Mais à frente, meio borrado, tem um
homem vindo correndo com as mãos na cabeça.
Parece meu pai. Meus olhos se fecham de vez.

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Capítulo 31
♫ Meu coração dispara quando você ilumina
meus olhos.
Presa no escuro, mas você é minha lanterna.
Você me guia. ♫
Flashlight, Jessie J
ALICE
O que será que Murilo está fazendo hoje?
Muitas clientes? Droga! Não posso ficar pensando
nisso. Vou enlouquecer assim. Eu sei que é idiota
ter ciúme, eu já sabia do seu trabalho, mas é mais
forte do que eu. Queria ser sua, e ele só meu.
Toda vez que saio com as crianças fico na
expectativa de vê-lo, nem que seja de longe. Não
tive sorte durante esse tempo todo. Se, pelo menos,
eu fosse correspondida, podíamos tentar. Aquele
olhar parecia sentir o mesmo, porém, ele nunca
disse nada. Nem eu, na verdade… Por que amar é
sempre complicado?
Enxugo as lágrimas que insistem em cair
dos meus olhos e encosto o carro da Claudinha
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próximo à calçada. Sua casa dos fundos é maior e


mais bonita que a dos meus pais. Ela odeia o
dinheiro da família e não queria ficar na zona sul,
contudo, resolveu aceitar por insistência da avó
com a condição de morar aqui. O que mais amo em
minha amiga é que a maior parte da herança dos
Bittencourt é dela, só que ela nem se importa. Dá
duro e rala como todos nós, quer crescer por seu
esforço.
— Claudinha, cheguei!
— Tô indo! — grita do segundo andar.
Sento no sofá e pego um espelho na bolsa
para verificar se estou com cara de choro. Tudo que
eu não preciso agora é de sermão sobre
relacionamentos.
— E aí, como foi com a criançada? — Ela
desce as escadas perguntando.
— Foi ótimo! Eu sempre adoro passear com
eles.
— Humm... E essa cara aí? — resmunga.
Mas que droga! Essa mulher percebe tudo.
— Que cara?
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— De cachorro que caiu da mudança —


Claudinha fala e eu caio na risada. Só ela mesmo.
— Você e suas comparações.
— Não muda de assunto, Alice. Tá
pensando nele ainda?
— Ai, Claudinha. Dá um tempo, pelo amor
de Deus! Não quero brigar.
— Mais tempo, Alice? Tu passou seis
meses chorando pelos cantos. Sai de casa para se
divertir só obrigada. Comeu mais sorvete que
criança. Tenta se fazer de forte. Conheço essa
reação. Fiz a mesma coisa quando Max se foi.
— Que exagero! Foram meses muito bons
para o meu amadurecimento. E até fiquei com
outras pessoas.
— Ficou, só que pensando no Murilo que
eu sei — ela confirma e eu bufo.
— Alice, eu só queria que tu assumisse pra
mim que está apaixonada por ele. Não sei por que
tem medo de me falar. Somos amigas. Eu vou
brigar? Vou porque esse negócio de amor só ferra
com a vida da gente. Porém, queria que tu confiasse

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em mim pra desabafar, eu quero o seu melhor.


— Você disse um milhão de vezes pra eu
não me envolver, mas...
— Mas?
— Tá bom, assumo. Eu não queria, juro. Só
que me apaixonei por ele. Perdidamente.
Intensamente. Agora pode dar o sermão que nunca
serei correspondida, vai. — Dou de ombros.
Claudinha fica séria me olhando, como se
medisse as próximas palavras. Conheço-a bem para
saber que está em conflito se me diz ou não algo.
— Eu descobri uma coisa esses tempos
atrás.
— Descobriu o quê? — pergunto e ela
continua séria.
— Droga! Vou me arrepender de falar isso.
— Falar o que, Claudinha? Pelo amor de
Deus, desembucha!
— O Murilo não faz mais programa. Antes
até de vocês pararem de se ver.
— O quê? — grito e levanto do sofá
rapidamente passando as mãos pelos cabelos. —
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Como assim? E as crianças? Como ele está


conseguindo dinheiro? Por que ele não me disse
nada?
— Calma, mulher! Não tenho todas as
respostas do mundo. Só sei que Murilo não aceitou
o dinheiro que eu ia pagar.
— Não? Nossa, Claudinha! Por que não me
disse antes?
— Não quis falar pra tu não criar
expectativas. Isso não quer dizer nada.
Claudinha tem razão, infelizmente. Se
significasse algo, Murilo não tinha me afastado.
Não sei se estou triste ou feliz. Pelo menos também
não está com várias mulheres, cada dia uma
diferente.
— Foi ele quem contou que tinha parado?
— Não. Fui ao Bar do Rafa no final do mês
passado e estava conversando com ele. Perguntei se
andava vendo o Murilo e me contou que ele tinha
parado com o programa e não ia mais lá.
Não consigo raciocinar direito. Se ele parou
e nem está saindo mais à noite, será que tem uma

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namorada? Ai, meu Deus, que droga! Esse homem


está me deixando louca.
— Alice, eu não acredito que vou dizer isso,
mas por que tu não vai falar com Murilo? Diz o que
sente. Eu acho que ele gosta de você, só não está
sabendo lidar com o sentimento.
— Sério? Você acha mesmo, Claudinha?
— Eu o conheço há muito tempo e Murilo
está com cara de idiota apaixonado.
Será? E se eu levar um fora? Quer saber,
que se dane! Eu preciso falar com ele para saber.
Chega dessa falta de comunicação.
— Você me empresta o carro de novo?
— Claro, vai lá!
Pego minha bolsa no sofá e saio correndo
com um milhão de perguntas na cabeça. Por que ele
não está mais fazendo programa? Arrumou um
emprego? Por que não me contou? Gosta de mim?
Por que parou até de ir ao Bar do Rafa?
Calma, Alice! Respira. Em minutos você
vai descobrir.
Entro no carro e coloco o cinto de
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segurança em tempo recorde. Meu pé chuta um


objeto e vejo meu telefone jogado no chão. Deve
ter caído sem eu perceber quando cheguei. Confiro
rapidamente e aparecem nove ligações perdidas da
Dona Emília na tela. Será que aconteceu algo com
as crianças? Retorno e fico aguardando ansiosa.
— Alice, graças a Deus tu atendeu!
— Dona Emília, desculpa, o telefone caiu
no carro e eu nem percebi. Aconteceu alguma
coisa? — pergunto e ela começa a chorar.
Senhor! É mais sério do que eu imaginei.
— O que houve? A senhora está chorando?
— É... Murilo foi para o hospital.
— De novo? Ele está com dores? Foi mais
sério? — questiono desesperada.
— Eu prometi que não falaria, mas não
aguento mais ver vocês dois sofrendo. Ele é muito
teimoso, nunca vai te falar nada.
— Dona Emília, pelo amor de Deus, o que
você prometeu? O que está acontecendo?
— Murilo tem uma doença muito séria,
Alice. Uma doença rara, para ser mais específica, e
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sem cura. Ela vai atacando várias partes do corpo e


dessa vez é o rim que foi afetado. Ele está fazendo
hemodiálise há três meses, entrou na fila do
transplante até.
— Doença rara? Transplante? — pergunto
quase em sussurro. — Por que ele não me disse
nada? Talvez eu pudesse ajudar.
— Ele é assim. Guarda tudo para si e
carrega o mundo nas costas. Meu menino é
guerreiro... — diz e nós duas estamos aos prantos
ao telefone.
— Dona Emília, eu gosto tanto dele...
— Eu sei, eu sei. Desde o dia que vocês
pararam de se ver, Murilo só faz ficar triste e
cabisbaixo. Ele gosta de você também, menina,
como eu nunca o vi gostar de nada na vida.
— Preciso vê-lo agora, antes que seja tarde
demais.
Fecho os olhos e respiro fundo. Dona
Emília me passa o endereço do hospital e sigo o
mais rápido possível ao encontro do meu amor.
Espero que eu tenha tempo de dizer o

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quanto o amo, que senti saudade e como ele mudou


minha vida. Por favor, preciso de tempo. Nem que
seja pouco tempo.

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Capítulo 32
♫ Sinto muito por culpar você por tudo
que eu não consegui fazer. E eu feri a
mim mesmo por ferir você. ♫
Hurt, Christina Aguilera
CARLOS
Sigo a ambulância sem fazer a mínima ideia
do que está acontecendo. O pavor sobe em minhas
veias e seguro firme o volante ao me lembrar
daqueles olhos se fechando. O que Murilo tem?
Como tive coragem de abandonar uma criança? Por
que nunca dei o amor que ele sempre esperou? Eu
fui um pai de merda, de merda para dois filhos. Um
conheceu o pior de mim, o outro nem sabe que
existo. Desperdicei duas chances. As lembranças
invadem minha memória e lágrimas de remorso
escorrem pelos meus olhos.
***
Maria vem em minha direção radiante,
sorrindo e cantarolando. Como eu amo essa

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mulher! Somos jovens demais, eu sei. Menores de


idade, para ser mais específico. Mesmo que
sejamos de mundos tão diferentes, só penso em
ficar com ela para sempre.
Eu, um pobre da favela, ela, uma menina
linda e rica da zona sul. Nem acreditei quando
aceitou minha ideia de fugir de casa. Já faz cinco
meses que moramos juntos. Estou trabalhando e
arrumei um cantinho para nós aqui no Morro. Sou
o homem mais feliz deste mundo.
— Por que tu tá animada assim, amor?
— Tenho uma surpresa — ela responde
pegando em minha mão. — Vem!
Sigo-a sem reclamar pela nossa pequena
casa. Se é no quarto, só pode ser coisa boa.
Quando Maria abre a porta percebo uma caixinha
na cama e a olho sem entender. Está mais linda do
que nunca, seu sorriso é contagiante.
— O que tem ali, Maria?
— Vai lá abrir — encoraja animada.
Pego o objeto e balanço para tentar
adivinhar o que é. Faço suspense só para deixá-la

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louca. Maria é muito ansiosa, é divertido ver seu


desespero. Abro, enfim, a caixinha e todo o ar do
meu pulmão se esvai. Balanço a cabeça para tentar
acordar, mas não é um sonho. Dentro tem
sapatinhos. Sapatinhos de bebê.
— Que merda é essa? — pergunto alterado
e seu sorriso some do rosto.
Maria coloca a mão na barriga
instintivamente e seus olhos enchem de lágrimas.
Com certeza, não foi a reação que esperava. Mas
que merda ela pensava? Que eu ia ficar feliz?
Droga! Só tenho 17 anos.
— É... Calma, amor. Eu... Eu estou
grávida.
— Puta que pariu, Maria! Como foi que tu
deixou isso acontecer? Tu não está tomando a
porcaria do remédio? — grito. Estou transtornado
com a notícia.
— Eu não sei o que aconteceu, estava
tomando sim. Só esqueci alguns dias, porém,
depois voltei ao normal.
— Tu esqueceu? — Sorrio sarcasticamente

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levantando os braços para o alto. — Esqueceu,


Maria?
— De... Desculpa.
— Tu fez isso de propósito? — questiono
com a ira tomando conta de mim.
— Não. Claro que não. Por que tu tá
falando isso?
— Tu sempre me disse que seu sonho era
ter um filho. Mas pelo amor de Deus, a gente mal
tem uma casa. Não temos estrutura para isso.
— Eu juro que não fiz de propósito — ela
diz e vejo verdade em seus olhos, mas continuo
puto da vida. — Estou com medo também, muito
medo. Mas um filho é uma benção, amor. A gente
vai conseguir.
— Nós não vamos ter esse filho — falo
decidido.
— O quê? — rebate alto, chorando
desesperadamente.
— Eu não quero uma porra de uma
criança, Maria. Não agora, talvez daqui muitos
anos. Nossa vida está ótima assim. Somos muito
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jovens para a responsabilidade de um filho.


— Eu não vou matar meu filho! — grita.
— Ahhh tu vai. Eu não quero um bebê
chorando e estragando nossa relação que acabou
de começar.
***
Soco o volante ao me lembrar de como fui
um cretino. Maria era uma mulher linda, seu sorriso
iluminava o ambiente por onde passava. Ela sempre
me disse que queria uma família grande, cheia de
crianças pulando e brincando. E quando isso
aconteceu eu tornei a vida dela um inferno. Foi aí
que tudo começou, a nossa desgraça.
Culpei aquele ser ainda não formado na
barriga da mulher que eu amava por estragar minha
vida. E ele não tinha culpa de nada. Só nasceu
porque eu também participei, mas naquele tempo
não conseguia ver isso.
Maria bateu o pé e não tirou a criança
tornando sua gravidez um martírio. Oito meses de
choros e brigas. Sempre que podia jogava na cara
dela a culpa do nosso relacionamento não ser o

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mesmo, a achava feia e gorda. Eu sei, repugnante.


Tenho nojo do Carlos que fui. Comecei a beber,
voltei a usar drogas e ter com outras mulheres o
que não tinha em casa.
A minha linda garota foi perdendo seu
brilho e ficando cada vez mais deprimida. A
tristeza foi tanta que quando Murilo veio ao mundo
ela teve depressão pós-parto. Eu achei frescura na
época e queria matá-la por ter feito de tudo para
manter a gravidez e depois simplesmente nem olhar
direito para o moleque. Começou a beber também.
Éramos dois bêbados e drogados com uma criança
em casa.
Tudo por minha culpa.
Não apoiei a mulher que amava. Abandonei
meu filho. Destruí nossa família.
A ambulância chega ao hospital e demoro
uma eternidade para conseguir a merda de uma
vaga no estacionamento. Enxugo as lágrimas com
as costas da mão e saio correndo em direção à
recepção.
— Por favor, moça. Por favor — chamo a
enfermeira que está na minha frente com uma pasta
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na mão e falando ao telefone.


— Um minuto, senhor — ela responde.
Droga! Não posso esperar. Já esperei tempo
demais.
— Por favor, preciso saber do meu filho —
insisto.
A mulher fala mais uns segundos e desliga,
me olhando com cautela.
— Pois não?
— Meu filho. Ele acabou de chegar aqui.
Estava desacordado, quero saber pra onde ele foi.
— Como é o nome dele, senhor?
— Murilo. Murilo Silva.
— Não tem nada dele ainda no sistema,
senhor.
— Moça, pelo amor de Deus! Eu preciso...
— O senhor disse Murilo Silva? — Uma
pessoa se aproxima interrompendo a conversa, com
roupa de médico.
— Sim. Ele é meu filho.
— O senhor é pai do Murilo? — pergunta

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com um suspiro.
— Sim.
Não estava entendendo a surpresa e alívio
nos olhos do médico.
— Muito prazer, eu sou Doutor Bernardo.
— Ele estende as mãos e eu cumprimento,
balançando a cabeça. — Venho acompanhando
Murilo há uns seis meses e estamos precisando
muito conhecer um parente.
— O quê? Por quê? — questiono confuso.
— O senhor não sabe de nada?
— Não. Estava indo na casa dele para ter
uma conversa definitiva e dei de cara com a
ambulância.
O médico assente e então me dá a pior
notícia que poderia receber. Explica tudo sobre
uma doença rara que meu filho herdou da Maria e
sobre sua saga por um doador compatível. Ele corre
risco de morte, pois o rim já está muito danificado.
Fala sobre sua expectativa de vida limitada e as
dezenas de complicações que ainda terá neste
tempo. Não estou nem mais raciocinando direito.

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— Eu quero fazer o teste de


compatibilidade. Como funciona? Demora?
— A doação com o doador vivo é bem mais
rápida. Temos que fazer vários exames para
certificar que você apresenta rins com bom
funcionamento, não possui nenhuma doença que
possa ser transmitida ao receptor e que o seu risco
de realizar a cirurgia seja reduzido. Há a
necessidade de ter compatibilidade sanguínea ABO
com o receptor. São realizados ainda testes para
comprovar outras compatibilidades, como HLA e
cross-match. São testes que misturam o sangue do
receptor e do doador para ver se há possibilidade de
rejeição nas primeiras horas pós-transplante. Se for
positivo, o transplante não será realizado, pois a
chance de rejeição é de quase 100%. Venha, vou
agilizar isso.
***
Termino os exames e fico sabendo pelo
Doutor Bernardo que Murilo acordou. Imploro para
que ele me deixe vê-lo por um instante e sou
vencido pela insistência. Agora estou aqui na porta
do quarto tomando coragem para entrar. Não quero
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que ele se altere e fique pior, entretanto, precisamos


conversar.
— Oi — digo sem jeito enquanto me dirijo
para a cama. Está distraído, mas para totalmente ao
me ver.
— O que tu está fazendo aqui? — responde
com raiva.
Odeio saber que meu filho não me suporta.
Depois de tudo que fiz, como poderia ser diferente?
— Murilo, não se altere. Você precisa
descansar.
— Então saia daqui — fala secamente.
— Já soube da sua doença, sinto muito...
— Olha aqui, Carlos. Não preciso da droga
da sua pena! Se, pelo menos, uma vez na vida tu
puder pensar em mim, some da minha frente.
— Eu fiz o teste de compatibilidade.
— O quê? — questiona incrédulo.
— Eu fiz os testes, Doutor Bernardo está
muito confiante que posso doar meu rim pra você.
— Que droga! —reclama baixinho virando
o rosto.
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— Olha, eu sei que você não quer ouvir,


mas eu preciso te pedir perdão por tudo. Desculpa
por não estar presente na sua vida quando mais
precisou, por ter feito sua mãe deixar de ser ela
mesma. Eu me culpo todos os dias pelo que fiz.
— Que bom que se culpa. Quero que morra
se culpando — admite ainda com o rosto virado.
Droga! Isso dói mais do que imaginei.
— Sabe, eu não sou mais aquele cara. Há
dez anos estou limpo. Depois de ter abandonado
vocês eu fui ao fundo do poço, pensei muitas vezes
que morreria. Pensei em me matar, até. Eu merecia
morrer pelo que fiz. Passei fome, morei na rua, me
perdi nas piores drogas. Até que fui morar em São
Paulo e conheci um grupo terapêutico de religiosos.
Fiquei internado lá por cinco anos. Por isso, nem
tenho mais o sotaque carioca. Quando estava
sóbrio, passei a ajudar com outros pacientes e nos
afazeres da casa. Eles me acolheram e me
salvaram, me fizeram enxergar meus erros. Hoje
tenho um emprego, uma casa. Sou um homem de
bem. Voltei para o Rio ano passado e estava
procurando o melhor jeito de entrar em contato.
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Murilo, Deus sabe que me arrependo. E queria


muito que você me perdoasse — desabafo e meu
filho vira o rosto para mim, com lágrimas nos
olhos.
— Por que tu demorou tanto pra voltar?
— Perdão, Murilo. Eu sei que demorei
demais, mas agora estou aqui. Eu não sei explicar o
que senti quando soube que tenho outro filho. O
Raul parece um garoto incrível, como você. Eu
gostaria muito de tentar consertar as coisas entre
nós. Quando os abandonei eu era jovem demais,
não estava preparado para ser pai. Estraguei tudo.
— E tu acha que eu estava preparado para
crescer sem um? Que o Raul estava? — ele joga na
minha cara e as lágrimas voltam a descer dos meus
olhos.
— Não. Hoje sei que não, fui muito
egoísta.
— Eu não consigo perdoar, desculpa. Sei
que seria o nobre a fazer, ainda mais tu sendo, por
ironia do destino, meu mais possível salvador no
momento. Mas droga, eu não consigo. Tu não faz
ideia do inferno que vivi. Tu não faz ideia — diz
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com a voz embargada.


— Eu faço... — respondo derrotado.
A dor do arrependimento invade novamente
meu peito. Não tem mesmo como esperar o perdão
depois de tudo.
— Posso te pedir só uma coisa? — arrisco e
Murilo balança a cabeça sem me encarar. — Eu sei
que o perdão você ainda não consegue dar, talvez
nunca consiga e a culpa é minha. Mas... Sei lá... Eu
posso pelo menos ser mais presente agora?
Conhecer o Raul, ficar mais perto dele... De você?
— Tanto faz — responde baixinho, secando
as lágrimas, e eu abro um sorriso de orelha a
orelha.
Tanto faz é melhor do que não. Posso
sobreviver com isso. Quem sabe com o tempo
consigo provar que sou uma pessoa diferente.
Deixo-o descansando e volto para a
recepção na expectativa dos resultados, rezando
para poder, uma vez na vida, fazer algo bom para
Murilo. Chego e vejo uma menina alta, de cabelos
castanhos e olhos claros parada no balcão. Está

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desesperada, passando as mãos no cabelo e


gesticulando com a enfermeira.
Escuto o nome do meu filho de sua boca e
percebo que está tentando saber notícias dele.
Reclama que espera há horas por uma informação e
nada. Penso em ir em sua direção, mas Doutor
Bernardo aparece e começa a falar com ela.
Sento e fico a observando andar de um lado
para o outro, impaciente. Olha no celular, senta,
levanta. Limpa os olhos lacrimejantes. Sem
dúvidas, é uma garota que ama. Uma garota que
ama meu filho.
Um alívio percorre meu coração por ele ter
alguém assim na vida, alguém que nunca pude ser.

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Capítulo 33
♫ O tempo passou, a vida mudou, mas eu
continuo seu.
Eu só sei que a vida é mais colorida com
você. ♫
Nocaute, Jorge e Mateus
MURILO
Carlos sai do quarto e sinto como se meu
coração fosse explodir de tanto que está apertado.
Caralho! Eu não consigo perdoá-lo. Acho que
nunca serei capaz. Nossa vida teve um rumo
totalmente diferente por causa da sua decisão de
não me aceitar há 22 anos. Minha mãe está morta,
Raul cresceu sem o pai, Olívia não sabe de onde
veio.
Porém, para uma coisa essa conversa foi
boa. Sinto-me em paz por descarregar tudo que
estava entalado na minha garganta, soltar as
lágrimas que estavam presas, ouvir pelo menos sua
versão. Eu tinha ódio dele até poucos minutos atrás,
ódio mesmo, por tudo que ele não foi. Agora não
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sinto nada. Nada bom e nada ruim. E eu não


imaginava como isso poderia ser libertador.
Quero esquecer esse passado de merda e, de
agora em diante, só focar no futuro. Talvez eu
tenha poucas horas, poucos dias, poucos meses...
Não importa! Só me interessam os momentos que
virão, não mais os que já se foram.
Viro-me na cama para ajeitar o corpo, ainda
estou com dor na lombar, apesar da diálise e da
quantidade absurda de remédio que ingeri desde
que cheguei. Doutor Bernardo aparece sorrindo,
então imagino que temos boas notícias.
— Murilo, como está se sentindo?
— Melhor. Só com um pouco de dor.
— Que bom! Olha, eu não devia falar isso
ainda para não gerar falsas expectativas, mas estou
animado. Já fizemos os primeiros exames e um dos
mais importantes deu positivo. Pelo sangue vocês
são compatíveis. Acredito que seu pai poderá ser o
doador.
— Hum — digo somente.
Ainda não me sinto bem com isso. Que tapa

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na cara, não, destino?


— Até amanhã de manhã teremos todos os
resultados e, se tudo ocorrer bem como imagino, já
vamos providenciar o transplante. Com doador vivo
e parente, a burocracia é bem menor — explica e eu
aceno com a cabeça.
— Ah, olha só. Tem uma moça lá na
recepção quase tendo um infarto de tanto nervoso.
Ela quer ver você desesperadamente e não para de
encher o saco das enfermeiras. Posso permitir sua
entrada? Eu sei que não é parente, só que tô com dó
da menina — admite sorrindo e eu quase perco o
ar.
É Alice, só pode ser Alice.
Ela está aqui!
Dona Emília deve ter avisado. Meu Deus, o
que eu faço agora? Nunca precisei tanto de sua
presença, seu sorriso, seu jeito doce.
Não é justo com ela, Murilo. Meu lado
racional tenta lembrar, porém, o coração trava uma
luta brava.
Que se foda o lado racional!

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Eu, pelo menos, tenho que dizer tudo que


sinto por essa mulher, ouvir o que ela tem a me
dizer. O que vai ser depois a gente descobre daqui a
pouco.
— Por favor — respondo baixinho.
— Olha esse coração aí, hein, rapaz?! Um
órgão com problema de cada vez, pelo amor de
Deus! — Doutor Bernardo fala divertido enquanto
bate nos meus ombros e dá uma piscada.
Acompanho-o saindo do quarto com o olhar
e começo a suar frio de nervoso. É agora! Seis
meses depois, com uma saudade que não cabe no
peito, vou tê-la perto de mim outra vez por um
instante. Fecho os olhos e ainda consigo sentir seu
cheiro. Calma. Respira. É só uma garota, droga!
Quem estou tentando enganar? Porra! Não é só
uma garota. É minha garota. Minha Alice.
Levo as mãos à cabeça para tentar relaxar
um pouco e escuto um barulho na porta. É ela.
Linda como a vi horas atrás pela minha janela. Só
que agora existem lágrimas nos seus olhos
inchados. Alice para por um instante e respira
fundo ao me ver. Nem consigo me mexer, estou
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como estátua na mesma posição só a encarando.


Que saudade!
De repente ela corta o contato e corre. Corre
e agarra minha cintura, depositando sua cabeça no
meu peito. Sinto um choque no meu corpo por
tocá-la novamente. Acaricio seus cabelos macios e
encosto minha cabeça na sua. Ficamos assim por
longos minutos. Ela sentindo meu coração bater
mais forte, eu me perdendo em seu cheiro.
Sem dizer. Nenhuma. Palavra.
***
Depois do que parece uma eternidade, não
que esteja reclamando, Alice levanta a cabeça e
volta a me olhar. Senta-se na beirada da cama e eu
a acompanho para que possamos, enfim, conversar.
— Oi — ela diz mostrando suas covinhas
maravilhosas.
— Adoro suas covinhas — admito tocando-
as e Alice abre um lindo sorriso, roçando seu rosto
na minha mão.
— E eu adoro seu toque — confessa e
retribuo o sorriso.

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Merda! Estou fodidamente apaixonado por


essa mulher.
— Precisamos conversar, Alice. Eu tenho
muita coisa pra te falar.
— Sim... — Ela suspira e me encara. — Eu
já sei que você está doente desde a época que
estávamos juntos, que parou de fazer programa, que
precisa de um transplante. Por que você me afastou,
Murilo?
Minha vez de suspirar. Como ela sabe do
programa? Como vou explicar o motivo do meu
afastamento sem envolver sua mãe? Não quero
briga entre elas. A decisão foi só minha.
— Alice, eu estava me envolvendo muito
com você e tinha medo de não atender suas
expectativas. Porra! Tu toda certinha com mil
planejamentos pra vida, querendo um príncipe
encantando, e eu, um ferrado. Sem dinheiro, sem
casa, sem trabalho, sem perspectiva. E ainda com
duas crianças. Como eu me encaixaria nisso, me
fala? Achei injusto demais.
— Por que você só fez isso depois que a
gente transou?
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— Eu ia terminar nosso trato antes disso, eu


juro. Naquele dia que sai do hospital. Só que daí
você chegou falando da Olívia e do Raul e eu não
resisti. Caralho! Eu queria tanto você naquela hora,
que meus instintos foram muito mais fortes que os
motivos para me afastar. Desculpe se te feri.
A última coisa que queria na vida era feri-
la!
— Sabe, aquele foi o melhor dia da minha
vida — confessa e volto a encará-la animado, com
o coração acelerando ainda mais. — Realmente, eu
sempre sonhei com o príncipe, porém, não teria
perdido meu tempo com contos de fada se soubesse
que a vida real é muito melhor.
— Alice, não me fala isso. — Puxo-a para
perto de mim e encosto sua testa na minha. Nossa
respiração está irregular.
— Eu... — Engulo em seco para tomar
coragem de falar. — Eu me apaixonei por você no
momento que levantei os olhos e te vi naquela porta
no dia em que nos conhecemos. Tu toda tímida,
linda, engraçada... Eu demorei pra assumir a mim
mesmo a intensidade dos sentimentos porque, na
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verdade, eu nunca senti isso na vida. Por ninguém.


Eu não sabia o que era amar até você estar dentro
de mim. Porra, Alice! Não se compara nem 1%
com todas as mulheres que já tive na vida juntas.
Aquele dia não foi sexo pra mim. Foi muito mais
que isso, foi entrega. Sério! Aquele sábado foi
minha perdição e minha resposta. Mas eu não sabia
o que você estava sentindo, e como descobri da
doença achei que realmente deveria ser uma
despe...
Sou interrompido por lábios quentes e
desesperados encontrando os meus ainda mais
ávidos.
Nos beijamos.
Como queria isso.
Um beijo quente e nada delicado. Um beijo
de saudade. De seis meses. De palavras não ditas.
De desencontros.
E, ah, de encontro!
Meu Deus, permita que eu posso sentir isso
por um pouco mais de tempo.
— Preciso te falar uma coisa — interrompo

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o momento a contragosto. Preciso ser sincero. Ela


me olha. — Eu quero mais que tudo que já quis
ficar com você, só que não tenho muitos pontos a
meu favor. Nós nunca poderemos ter filhos. Eu
jamais arriscaria a vida de uma criança com uma
sentença de morte predefinida. Tem a Olívia e o
Raul também, nunca vou abandoná-los. Olívia pode
até um dia criar asas e voar por este mundo, mas
Raul sempre estará por perto. Bem perto. E... eu,
como tu sabe, posso ter mais complicações de
saúde que esse rim. Não vai ser uma vida fácil.
— Pode não ser, porém, vai ser uma vida
com você. Isso já me basta! Eu sempre quis ter
filhos, mas Olívia e Raul podem ser os nossos. Já
os amo tanto como se fossem. E, sobre sua doença,
poderá contar com alguém do seu lado na alegria e
na tristeza, na saúde e na doença — diz firme e
meu coração acelera.
Alice é muito mais do que eu imaginei nos
meus melhores sonhos.
Aperto-a na cintura e aproximo mais,
emocionado. Minha vontade é possuí-la agora
mesmo. Seguro firme seus cabelos e desço minha
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boca por seu pescoço, deixando marcas por onde


passo.
— Alice, vai parecer loucura. Mas, porra!
Eu preciso ter você.
— Aqui? — ela pergunta incrédula e
ofegante, ficando corada.
Adoro quando fica com vergonha.
— Agora! Tu confia em mim?
— Com toda minha vida — responde sem
hesitar e eu sorrio como um bobo.
— Fecha a porta como quem não quer nada
e volta aqui. Teremos poucos minutos, mas pela
saudade que estou de você não precisaremos de
mais que cinco.
— Ai, meu Deus! Tá bom — concorda
animada, porém, percebo que está morrendo de
medo.
Deve ser a maior loucura que já fez na vida.
— Encosta a cortina também — continuo
dando instruções.
Ela volta rapidamente para a cama e tiro em
segundos seu short com a calcinha. Isso é
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totalmente loucura, contudo, não consigo me


controlar. Preciso mais dela agora do que o ar que
estou respirando.
— Alice, tu vai ter que ficar por cima, tá?
Eu não posso fazer muito esforço.
— Tá bom. Não vai fazer mal pra você isso,
né?!
— Vai fazer se eu não te sentir. Não estou
aguentando mais.
Ela sorri e sobe na cama, quando me lembro
da droga da camisinha.
— Não temos camisinha. Tudo bem?
— Sim. Eu confio em você. Continuo
tomando pílula.
— Tenho um segredo pra te contar.
— O quê? — pergunta enquanto se ajeita
em cima de mim e passa as mãos por dentro dessa
roupa ridícula de hospital.
Pelo menos nessas horas facilita. Solto um
gemido.
— Caralho! Vai com calma, mulher. Não
podemos fazer barulho. — Mordo os lábios com
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força.
Alice está com sua vagina roçando meu pau
e, mesmo de cueca, posso senti-la encharcada para
mim. Sem avisar enfio um dedo nela.
— Sempre pronta. Ahhh! Assim tu me mata
— sussurro em seu ouvido enquanto começo a
penetrá-la lentamente com o dedo.
— O segredo... fala... temos pouco tempo.
— É... Sabe, eu não tive mais ninguém
depois de você. Não consegui. Toda mulher que
chegava perto de mim só conseguia enxergar seu
sorriso.
— Ahhh, amor — responde derretida,
invadindo minha boca novamente.
Amor?
Meu coração até para.
Como uma palavrinha pequena, de apenas
quatro letras, pode mexer tanto com a gente?
Tiro meus dedos de dentro dela, abaixo a
cueca e a fodo com força, enquanto me delicio com
seus lábios. Ela ainda está de blusa e eu também
com a parte de cima da roupa. Vai ter que ser
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rápido, entretanto, será mais intenso do que nunca.


— Porra... Que saudade. Que saudade de
você — confesso em seus lábios.
Ela se levanta e me dá uma visão do
paraíso, cavalgando forte no meu pau. Estamos
mordendo os lábios para não fazer barulho, mas o
som da respiração não dá para controlar. Só se ouve
isso no quarto pequeno que me colocaram. Sorte
que Doutor Bernardo me deixou na ala particular,
mesmo eu não tendo plano de saúde, porque aqui
não tem outros pacientes e posso aproveitar minha
namorada. Minha namorada? Ah sim, minha.
Depois disso não tem volta.
Alice intensifica o vai e vem do seu quadril
e eu já não aguento mais. Estou no limite do prazer.
— Goza comigo, vem! — chamo enfiando a
mão por debaixo da blusa e apertando seus seios.
Ela adora e vai à loucura, estamos quase lá.
— Não fecha os olhos, olha aqui pra mim.
Me. Perco. Totalmente. Nela.
Chegamos ao clímax e uma alegria imensa
invade meu coração. Sinto coragem de dizer, pela
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primeira vez na vida, uma frase que sempre achei


bonita, porém, não via sentido.
— Eu te amo, Alice — confesso e ela
parece transbordar de alegria, me dando seu sorriso
mais lindo.
— Eu também te amo, Murilo — fala
tocando meu rosto e solto o ar que nem percebi que
estava segurando, puxando-a para um abraço.
Nunca pensei que seria tão feliz em toda
minha vida.
***
Ajeito-me na cama e sinto o sol entrar pela
cortina. Já é de manhã. Alice não poderia, mas pelo
jeito, Doutor Bernardo falou com os enfermeiros e
ninguém reclamou dela ainda estar aqui. Depois da
aventura de ontem à noite, nos vestimos
rapidamente para esconder os vestígios e ficamos
conversando até cair no sono, agarradinhos nesta
pequena cama. Expliquei tudo sobre a doença e
meu novo trabalho na gravadora. Ela ficou mais
entusiasmada que eu. Também me contou que
mudou de curso e que conseguiu outro estágio. Não
poderia estar mais orgulhoso.
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Perguntei o que fez durante os seis meses


que ficamos afastados e meu coração se entristeceu
ao saber que sentiu minha falta tanto quanto senti a
dela. Só não gostei da parte de Claudinha a
incentivando ir para baladas e ficar com outros
caras. Meu sangue ferveu e descobri que ciúme é
um sentimento enlouquecedor. Sei que não posso
falar nada, tive mais mulheres do que me lembro,
ainda sim, meu instinto primitivo queria que ela
fosse só minha.
Agora ninguém chega mais perto dela!
Não enquanto nosso relacionamento durar.
O que espero que seja por todo meu pequeno tempo
de vida. Sinto-a se mexendo e abraço-a acariciando
seus cabelos.
— Bom dia, meu amor.
— Bom dia. Dormiu bem?
— Como nunca! Acho que preciso de tu
sempre na cama comigo para poder relaxar —
brinco e ela me dá um tapa no ombro.
— Ai! — reclamo. — É sério, não estou
brincando.

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— Engraçadinho. Para sua sorte eu não


pretendia sair dela tão cedo mesmo.
Adoro Alice solta e divertida. Somos
surpreendidos com a chegada de Doutor Bernardo e
ela levanta correndo da cama, ajeitando o cabelo.
— Bom dia, jovens. Vejo que você não
enfartou — diz olhando para Alice e sorrindo. — E
que você ainda está com seu coração no lugar. Isso
é bom.
— Desculpa estar deitada na cama, eu sei
que não pode, mas...
— Tudo bem, querida, fica tranquila. Eu
expliquei para os enfermeiros que o Murilo estava
morrendo e que você era o último alento dele.
Ficaram todos comovidos que nem vieram
incomodá-los — conta seu plano e nós dois
gargalhamos, agradecidos. — Tenho boas notícias!
— O rim? — Alice pergunta animada e
ansiosa, ficando de pé.
— Sim! Todos os testes deram compatíveis.
Vamos prepará-lo para a cirurgia, já estou
adiantando toda parte burocrática.

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—Já, tão rápido?


— Sim, Murilo. Seu rim está muito
prejudicado com a doença, não podemos arriscar
outra crise.
— E tem risco esta cirurgia, Doutor
Bernardo? — Alice questiona cautelosa.
Ele já me explicou todas as complicações,
sei que não será fácil.
— Toda pessoa que se submete a uma
cirurgia e anestesia geral corre riscos que podem,
no entanto, serem minimizados com os exames pré-
operatórios e os avanços nas técnicas anestésicas e
cirúrgicas. Pode haver depois também rejeição,
então, precisamos ficar bem atentos.
— Calma, amor. Vai dar tudo certo! Ainda
não vai se livrar de mim — tento brincar, mas ela
continua tensa.
— Querida, você precisa sair agora. Eu a
mantenho informada. Vou dar um minuto para se
despedirem — Doutor Bernardo pede.
— Ok, obrigado — agradeço e ele sai.
— Eu tô com medo de perder você de novo.
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E agora, definitivamente — Alice fala vindo em


minha direção na cama, com olhos lacrimejantes.
— Saiba que eu vou lutar com todas as
forças do meu corpo para sobreviver.
— Prometa que vai lutar e ficar aqui pra
mim — implora e enxugo suas lágrimas com as
mãos.
— Prometo. Se de tudo for minha hora —
começo a falar e ela pede silêncio. — Se de tudo
for minha hora, saiba que tu foi muito amada e a
melhor coisa que já me aconteceu. Obrigado por
tudo, amor. Eu já falei com a Dona Emília e, se eu
morrer, ela vai ficar com as crianças. Queria pedir
pra tu ajudá-la sempre que puder.
— Claro, sempre — concorda agora
soluçando.
— Eu tenho uma coisa pra você. Minha
roupa está naquele armário ali. — Aponto para o
móvel no canto da sala. — Pega meu celular no
bolso da calça, por favor.
Ela obedece confusa e pega o aparelho,
entregando-me rapidamente.

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— Por que você quer o celular?


— Eu contei ontem da gravadora, mas não
expliquei que tipo de música estava fazendo. São
todas para você, Alice. Cada canção que eu compus
nos últimos meses foi pensando em ti — declaro e
ela me abraça forte. — Não sei muito bem me
expressar falando, porém, nessas estrofes mostrei
todo meu amor por você. Os vídeos caseiros que
gravei pelo computador estão na galeria de
imagens.
— Eu te amo — ela diz emocionada.
— Eu também te amo. Agora vai! Já
abusamos demais da boa vontade do Doutor
Bernardo. Seja o que Deus quiser!
Abraçamo-nos e nos beijamos entre
lágrimas. Nada de palavras, somente o olhar que
amo. Alice sai de costas e me manda um beijo pelo
ar, fechando a porta com o celular agarrado na mão.
Meu coração se aperta já de saudade.
Porra! Me deixe viver mais um pouco. Por favor,
só mais um pouco.

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Capítulo 34
♫ Vem viver comigo o presente, o infinito
enquanto dure. ♫
Infinito enquanto dure, Murilo Silva
ALICE
Saio do quarto, transtornada, com lágrimas
que insistem em molhar meu rosto. Não acredito
que tanta coisa aconteceu de ontem para hoje:
doença, transplante, sexo dentro do hospital,
declaração de amor. Ahhh... essa última parte.
Pensei que meu coração fosse explodir quando
Murilo disse as palavras que tanto esperei ouvir.
Espanto os pensamentos que me ocorrem de
poder ser a última vez que o vejo. Não pode ser. Eu
acredito em uma linda história para nós ainda, não
as perfeitas dos contos de fada, mas as construídas
no dia a dia.
Volto a sentar na recepção e procuro um
fone de ouvido na minha bolsa. Não saio daqui até
Murilo estar operado e bem. Já até avisei no
trabalho que estou no hospital com meu namorado.
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Aliás, soa bem dizer meu namorado, não é?


Encontro o que estava querendo e plugo no celular.
Estou ansiosa para ouvir as músicas que ele
compôs inspiradas em mim.
Desbloqueio a tela e aparece uma imagem
linda dos irmãos sorrindo em um parque. Meu amor
está fazendo um ótimo trabalho com sua família.
Tenho orgulho do homem que ele se tornou, apesar
de tudo que já passou. Faço carinho na foto e mais
lágrimas caem dos meus olhos. Senhor, que tudo dê
certo nesta cirurgia! Muita gente precisa dele em
sua vida. Inclusive eu.
Vou na galeria e respiro fundo para apertar
o play. Todos os últimos vídeos que aparecem têm
como miniatura ele sentado na cama, somente com
o violão nas mãos. Clico no primeiro e uma
melodia linda invade meus ouvidos.
Infinito enquanto dure
♫ Era uma vez uma menina
Que de repente estava perdida
Os contos já não servem mais
As coisas ao seu redor passaram a ser reais
Por favor, se encontre
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Corte as asas da imaginação


Sei que eu não chego nem perto do que seria ideal
Mas se espera por um príncipe
Não desaponte no final
No final, no final
Não pense muito lá na frente
Nem em nada que eu te jure
Vem viver comigo o presente
O infinito enquanto dure
Por favor, se encontre
Corte as asas da imaginação
Por favor, se encontre
Corte as asas da imaginação
Não pense muito lá na frente
Nem em nada que eu te jure
Vem viver comigo o presente
O infinito enquanto dure ♫
Ouça música exclusiva:
www.infinitoenquantodure.com.br
O primeiro vídeo acaba e preciso urgente de
um copo de água. Agora não são apenas lágrimas
que caem dos meus olhos, estou soluçando,

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literalmente. Foi a música mais linda que já ouvi


em toda minha vida! Murilo tem uma voz firme e
delicada ao mesmo tempo, meio rouca.
Maravilhosa, com certeza vai fazer muito sucesso.
— Você está bem, querida? — uma senhora
pergunta quando chego ao bebedouro.
— Sim, obrigada, só estou um pouco
emocionada. — Pego o copo e viro com tudo
garganta abaixo.
— Está com alguém querido aqui no
hospital? — questiona também pegando um copo.
— Sim. O amor da minha vida!
— O meu amor também está aqui, vai
passar por uma cirurgia agora. Estou com o coração
apertado, mas, ao mesmo tempo, feliz por termos
chegado até aqui. Joaquim está muito doente,
entreguei sua vida nas mãos de Deus. Não tenho o
que lamentar, aproveitamos cada segundo dos 53
anos que estamos casados. Tanto os momentos
bons como os ruins foram bem aproveitados.
— Espero poder dizer isso. Preciso de mais
tempo com ele. Temos muitas histórias para criar

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ainda. Mal começamos.


— Tenha fé, querida. Tenha fé que seu
desejo pode se realizar.
— É tudo que tenho neste momento —
respondo e me despeço da senhora.
Sento novamente na cadeira e volto com os
fones de ouvido. Vai ser difícil ouvir todos esses
vídeos sem me emocionar. Respiro fundo e aperto o
play.
Sapo apaixonado

♫ Eu sei que não sou o cara ideal pra você


Você sonhou com um príncipe
E eu serei sempre um sapo
Mas, acredite, um sapo muito apaixonado
Não tenho carruagem
Você já conhece minha bagagem
Não será uma vida fácil
Mas, por favor, me aceita no seu mundo frágil
Não prometo o feliz para sempre
Mas garanto que vamos viver intensamente
Vou te amar quando for difícil continuar

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Dia e noite enquanto durar


Eu sei que não sou o cara ideal pra você
Você sonhou com um príncipe
E eu serei sempre um sapo
Mas, acredite, um sapo muito apaixonado
Muito apaixonado ♫
Ainda em êxtase, continuo ouvindo.
Doce magia
♫ Quero beijar sua boca
Na ânsia mais louca
E nesse amor me perder
Eu desejo seus beijos
Entre outros desejos
O que mais quero é você
Sua pele macia
Uma doce magia
Preciso curtir esse amor
Eu canto pra ela
Eu só gosto dela
A vida sem ela é ruim
Eu vivo pra ela
Eu só amo ela
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A vida é mais bela assim


Seu jeitinho inocente
Mostrando pra gente
Uma grande fonte de amor
Seus olhos penetrantes
Seu corpinho excitante
Seus lábios me confundem o sabor
Sua voz é macia
Sua sombra me guia
Por isso te amando eu estou
Eu canto pra ela
Eu só gosto dela
A vida sem ela é ruim
Eu vivo pra ela
Eu só amo ela
A vida é mais bela assim ♫
Tiro o fone e tento contar mentalmente até
dez. Preciso acalmar meu coração e essa respiração
ofegante. De onde Murilo tira tudo isso? Nem nos
meus melhores sonhos poderia ter imaginado
receber um presente desses. Estou sem palavras e
sem reação. Dou play novamente.

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Como essas ondas


♫ O mar está cheio, suas águas escuras
Espumas flutuantes fazendo misturas
Correntes bravas abrindo o caminho
Procurando um lugar pra se acomodar
Suas ondas elevadas invadindo cidades
Não importa o tamanho nem a idade
Só querem um lugar em que possam ficar
E espalhar suas águas sob o brilho do sol
Como essas ondas é o meu amor
Quero te inundar
Quero invadir seu corpo e sempre te amar
Quero correr seu sangue
Até chegar no seu coração
Fazer dele a minha moradia
E te afogar nesta paixão
Como essas ondas é o meu amor
Quero te inundar
Quero invadir seu corpo e sempre te amar ♫
Continuo ouvindo até finalizar as dezesseis
canções que estão na galeria. Dezesseis músicas
sobre o nosso amor, para mim!

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Termino no mesmo instante em que Doutor


Bernardo vem avisar rapidamente que Murilo está
indo para o centro cirúrgico começar a preparação
do transplante. Ligo para Dona Emília e preciso,
desesperadamente, controlar minha ansiedade.
Para me acalmar, volto os vídeos do início e
saio caminhando no jardim do hospital, enquanto
rezo em silêncio para Deus proteger a vida do
Murilo. Ele merece viver, depois de tudo que já
sofreu, precisa ter a chance de ser feliz. Eu vou dar
o meu melhor para que isso aconteça.
Quando dou por mim já são quatro horas da
tarde. Passei o dia inteirinho andando e ouvindo as
minhas músicas. Já sei todas de cor. A fome bate e
decido comer alguma coisa na cantina, pois obter
informações na recepção é impossível.
Mal consigo chegar à porta do refeitório e
sinto uma pontada forte no coração, como se ele
estivesse se rasgando. Saio correndo
desesperadamente em direção ao quarto onde
Murilo estava antes, ignorando várias pessoas me
repreendendo e dizendo ser proibido estar naquele
local.
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Perco totalmente o ar ao ver uma


aglomeração de enfermeiros e médicos entrando
em uma porta afastada no fim do corredor. Olho
para cima e vejo no letreiro: Centro Cirúrgico.
— Paciente Murilo, parada
cardiorrespiratória. — Ouço vagamente.
Não pode ser. Não, não, não, não, não, não,
não, não, não, não, não, não, não, não, não, não,
não, não, não, não, não, não, não, não, não, não,
não, não, não, não, não, não, não, não, não, não,
não. Nós ainda precisamos de tempo! Não, não,
não, não, não, não, não, não, não, não, não, não,
não, não, não, não, não, não.
— Senhorita, você não pode ficar aqui. Por
favor, venha comigo. — Um segurança se
aproxima e pega no meu braço.
Não, não, não, não, não, não, não, não, não,
não, não, não, não, não, não. Coloco as mãos na
cabeça e desabo de joelhos no chão.
Não. Consigo. Mais. Respirar.

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Capítulo 35
♫ Hoje eu preciso te abraçar, sentir teu cheiro
de roupa limpa,
pra esquecer os meus anseios e dormir em
paz. ♫
Só hoje, Jota Quest
MURILO
Dor, alegria, euforia, tristeza. É estranho
como a gente consegue sentir as sensações do outro
às vezes. Neste momento, além do meu próprio,
posso sentir latente o medo de Alice.
Medo é uma espécie de perturbação quando
o cérebro acredita que estamos em perigo, seja ele
real ou não. É um estado de apreensão, em que
mesmo que você se esforce, só consegue esperar
que o pior aconteça. Tento manter a calma para não
deixar meu amor preocupado, mas é difícil
controlar o ressecamento dos lábios, o
empalidecimento da pele, as contrações musculares
involuntárias, as mãos suadas, os batimentos
cardíacos acelerados... Uma luz branca cega meus
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olhos e sei que a partir de agora o meu destino vai


mudar. Chegou a minha hora.
Levanto-me e sigo em direção a uma porta,
ainda não entendendo muito bem onde estou e o
que tenho que fazer. Essa é a merda de sentir medo,
ele nos paralisa. Respiro fundo. Ouço várias vozes
só que não consigo distingui-las. O aperto no peito
vai aumentando a cada passo que a sincronia do
meu corpo e o de Alice se fundem. Quase posso
sentir as lágrimas que caem dos seus olhos agora.
Vai dar tudo certo, meu amor. Penso de todo meu
coração, tentando fazê-la ouvir.
Quando passo a porta, uma paz me invade e
sei que cheguei onde sempre quis estar. O medo vai
dando lugar a alegria e um sorriso estampa meu
rosto. Há uma plateia enorme na minha frente,
daquelas de se perder de vista. Em meio a tantos
rostos e gritos, porém, consigo identificar
rapidamente os das pessoas mais importantes da
minha vida. Na primeira fileira está Alice, abraçada
com Olívia e Raul. Dona Emília, claro, está do
lado, chorando de orgulho daquele menino perdido
que conseguiu alcançar, enfim, seus sonhos.
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Vagner e Claudinha completam minha felicidade.


Há três anos eu não poderia imaginar como
isso seria possível. Quase perdi minha vida durante
o transplante de rim por causa de uma parada
cardiorrespiratória. Não posso dizer que foi uma
recuperação fácil, fiquei quase um ano entre casa e
hospital. Dezenas de exames e medicamentos.
Dessa vez, porém, eu tinha um lindo e encantador
motivo para lutar ainda mais. Alice permaneceu
comigo o tempo todo, dando apoio e ajudando a
cuidar dos meus irmãos quando não estava no
trabalho ou na faculdade.
Assim que melhorei a gravadora teve a
brilhante ideia de me lançar no Youtube, até que o
CD ficasse pronto, e foi aí que o sucesso começou.
Em pouco tempo ganhei um milhão de
visualizações com a música Infinito enquanto dure.
Parece que minha declaração de amor tocou o
coração de muitas pessoas. Fui chamado para
participar de programas de TV e a fazer pequenos
shows. No mês passado o trabalho ficou pronto e
fui convidado para fazer o lançamento aqui. Então,
cá estou no Rock in Rio, por onde já passaram
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tantas estrelas esta noite.


Cumprimento a plateia animado e começo o
show com a primeira canção que fiz para minha
garota, olhando o mar. Fico surpreendido e até paro
de cantar no refrão para ouvir o coro:
♫ Como essas ondas é o meu amor
Quero te inundar
Quero invadir seu corpo
E sempre te amar ♫
Uma a uma continuo por outros sucessos,
sempre olhando para a minha musa inspiradora. Ela
está linda, com o cabelo preso em um coque solto,
short jeans rasgado e uma regata branca com
detalhes em dourado.
Deixo por último nossa música preferida de
propósito, tenho uma surpresa para fazer. Quando o
show está para terminar, peço licença ao público.
— Pessoal, nosso tempo está acabando.
— Ahhhhhhhhhhhhhh — o coro grita ao
fundo.
— Antes de cantar Infinito enquanto dure,
gostaria de fazer uns agradecimentos. Primeiro,

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para meus irmãos. Olívia e Raul me salvaram, e


não tenho como dizer em palavras como são
importantes na minha vida. Dona Emília, a senhora
também não poderia ficar de fora. É meu anjo da
guarda! Agradeço de coração, meu melhor amigo
Max, que não pode estar aqui hoje, além de
Claudinha, Vagner e o pessoal da gravadora por
todo apoio. Agora vem a mais especial. A gente
sempre deixa o melhor para o final, não é mesmo,
pessoal? — pergunto e ouço a plateia inflamar
novamente.
— Meu amor, tu pode subir aqui? —
Aponto para Alice que fica branca lá embaixo.
Ela coloca as mãos no peito, como quem
questiona se ouviu bem, e eu balanço a cabeça
sorrindo como um bobo. Um bobo apaixonado. Os
seguranças a ajudam subir e meu coração começa
acelerar. Vou a seu encontro e dou um abraço
apertado nela, depositando um beijo doce em seus
lábios.
— Gente, essa é minha musa inspiradora —
apresento e o público vai ao delírio.
Alice está corada daquele jeito que amo,
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suas mãos estão entrelaçadas nas minhas e percebo


que está suando frio. Nem faz ideia do que está por
vir.
— Meu amor, fiz questão de te chamar aqui
no palco porque se não fosse por você, essas
músicas nem existiriam. Não haveria CD, nem
lançamento no maior festival do planeta — digo
olhando fixamente em seus olhos e ela sorri. —
Obrigado por me ensinar o que é amar — declaro e
um coro de "ohhhhhhhhh" invade o espaço.
— Eu que agradeço por me fazer a mulher
mais feliz do mundo — sussurra em meu ouvido ao
me abraçar forte.
Seguro sua mão, não deixando nenhum
segundo de fitá-la. Alice começa a perceber o que
vou fazer e coloca a outra mão na boca. Lágrimas
automaticamente caem como cachoeira dos seus
olhos. Ajoelho-me na sua frente e tiro uma caixinha
do bolso. Estou super nervoso, porém, quero fazer
isso mais do que tudo que já quis.
— Eu sei que não fui um príncipe até agora,
e tu sabe que não teremos um conto de fadas. Meu
Deus, Alice, você é meu ar. Os batimentos que
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pulsam vida para o meu corpo. Não consigo me


imaginar mais sem você. Seu sorriso colore toda a
escuridão que vivi até o dia em que te conheci. Eu
nunca imaginei que iria me apaixonar, mas não me
arrependo nem um segundo de ter escutado a louca
da Claudinha. Amor, tu aceita viver intensamente
comigo cada minuto dos meus dias contados?
— Sim! — ela responde emocionada e se
ajoelha no chão, agarrando meu pescoço.
Um peso sai dos meus ombros e relaxo,
com a felicidade plena preenchendo-me. Ela disse
sim! Invado seus lábios com urgência, esquecendo
que temos milhares de pessoas assistindo ao
momento. A plateia começa a cantar junto com a
banda a nossa música e choramos emocionados.
Estou planejando este momento há três
semanas. Pedi autorização para a organização do
evento, escolhi as alianças com Claudinha e até já
entrei com a papelada na compra de uma casa.
Com o sucesso do canal no Youtube, a
venda dos primeiros CDs e os shows, já consegui
uma boa grana e poderei mudar do Morro do
Alemão. Escolhi uma casa modesta e linda perto da
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praia e da faculdade do meu amor. Tem um quintal


grande para as crianças e bastante verde, como
Alice disse que sempre quis.
Nós estamos morando juntos, oficialmente,
há um ano e meio. Ela disse que não fazia mais
questão de casar, porém, eu sei como esse passo é
importante para uma mulher. Para ser sincero, eu
quero muito celebrar nosso amor com a família e os
amigos. Não será um casamento convencional, mas
acho que Alice vai amar minha ideia.
O coro chega no refrão e começo a cantar
junto, abraçando-a pela cintura e depositando um
beijo na lateral da sua cabeça. Demorei anos para
estar completo, contudo, não mudaria nada se
soubesse que esse seria o desfecho.
***
Quando o show termina, nos encontramos
com Dona Emília e as crianças no camarim. Não
vejo a hora de chegar em casa, preciso fechar esse
dia tomando cada parte do corpo da minha noiva.
Porra! Nunca me canso dela. Esse tempo todo
juntos e cada vez que fazemos amor é uma
sensação nova.
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— Murilo, eu quero fazer uma coisa. E


precisa ser hoje. — Alice de repente me olha séria.
— Hoje? Ahhh, eu tinha outros planos —
tento convencê-la fazendo minha melhor cara de
cafajeste.
— Precisa ser hoje para não perder a
coragem. Você conhece algum tatuador?
— Tatuador? Essa hora, Alice?
— Sim! Eu sei que você conhece… — Ela
me olha com aqueles olhinhos pidões. Droga!
Sempre funciona.
— Tá bom, Alice. Continuo achando que
meu plano é muito melhor, mas se tu quer ficar
horas com um cara estranho cutucando você,
sentindo dor, que seja — falo sorrindo.
— Ebaaa! — Dá pulinhos de alegria.
Meu Deus, por isso a amo. Tão espontânea.
Beijo seus lábios e entrelaço nossos dedos.
— Vamos logo, então, já está muito tarde.
Vou ligar para meu conhecido avisando. Sorte sua
que ele vara a madrugada.
Em menos de vinte minutos chegamos ao
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local. Vim perguntando durante todo o trajeto para


Alice o que ela vai fazer, não quer me contar de
jeito nenhum. Agora está sentada vendo com Jean o
estilo da tatuagem e me fez esperar aqui na frente.
Que droga, não sei esperar.
Uma hora se passa e nada.
— Alice, eu tô indo aí. Não aguento mais
esperar — solto estressado. Não eram os meus
planos para esse fim de dia.
— Não! Espera. Já está acabando.
Mais alguns minutos se passam e ela
aparece na porta, com os olhos cheios de lágrimas.
— Doeu muito, amor? Tu devia ter me
deixado ficar lá, podia ter segurado sua mão —
pergunto preocupado, me aproximando.
— O choro não é pela dor — responde
baixinho.
— Não? O que foi?
E, então, ela me mostra seu pulso ainda
vermelho. Em uma linda letra cursiva, está escrito
AMOR, com um símbolo do infinito embaixo.
— São nossas iniciais, Murilo. A de Alice,
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M de Murilo, O de Olívia e R de Raul. Aconteça o


que for, vocês três sempre estarão comigo. Nosso
tempo pode ser curto, mas meu amor será infinito
enquanto durar.
Não consigo conter a emoção. Ela não
existe, é realmente a melhor pessoa que conheço.
Puxo-a para perto de mim e a abraço forte,
encostando sua cabeça no meu ombro.
— Eu te amo mais que tudo, Alice.
Obrigado por entrar em nossa vida.
— Eu te amo mais do que imaginei que
poderia, Murilo. Obrigado por me deixar fazer
parte da sua linda família.

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Epílogo
♫ Vou te amar incondicionalmente. Não há medo
agora.
Eu levarei os seus dias ruins com os seus bons. ♫
Unconditionally, Katy Perry
ALICE
Nervosa é pouco para o que estou sentindo.
Amanhã é meu casamento e, apesar de ser uma
cerimônia muito discreta na praia, não estou
aguentando de ansiedade. Faz só sete meses desde
o pedido e, meu Deus, aquele foi o dia mais
emocionante da minha vida. Ver milhares de
pessoas cantando nossa música, ele ajoelhado e se
declarando para mim. Lágrimas invadem meus
olhos só de lembrar.
Meus pais não gostaram muito da ideia de
me casar tão nova, afinal, ainda não cheguei aos 23.
Nem terminei a faculdade. Mas não preciso nem
quero aprovação de ninguém. Pelo menos minha
mãe está aceitando meu futuro marido agora. Não
podemos perder tempo. Quem sabe como será o
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amanhã? O amo de todo meu coração, ele me ama.


Não precisamos esperar nem seguir padrões da
sociedade. Hoje sei disso e é libertador.
Na verdade, eu nem fazia questão de casar
mais. Estava muito feliz morando junto com aquela
família linda. Não queria nada do convencional no
nosso relacionamento, aqueles sonhos antigos que
me cegaram por tantos anos. Mas Murilo fez
questão e, confesso, foi uma surpresa maravilhosa.
Só onde vamos morar que ainda é uma incógnita,
está fazendo suspense e deixando minha tensão
normal aflorada. Segundo ele, só vou descobrir
quando voltarmos da lua de mel. Passaremos sete
dias em Porto de Galinhas, em Recife. Carlos vai
ajudar Dona Emília a cuidar de Olívia e do Raul. O
pai do Murilo tem estado bem presente em nossa
vida desde o transplante. Não é a melhor das
relações, porém, está progredindo aos poucos.
— Vamos logo, Alice, a gente vai se
atrasar. — Claudinha entra no quarto irritada,
enquanto saio do banheiro enrolada na toalha.
— Você tem certeza que é uma despedida
de solteira comportada, né? Sabe que não gosto
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dessas festas. Por mim ficava aqui mesmo.


— Pelo amor de Deus, mulher! Tu vai ficar
presa no mesmo homem para o resto da vida.
Aproveita o último dia antes do cabresto. Além
disso, querida, com certeza, Murilo terá uma noite
bem divertida. Homem reunido não presta.
— Ahhhhh, vai tirando sarro mesmo. Quero
ver quando você se apaixonar perdidamente e
quiser se casar — digo e me arrependo na mesma
hora. Minha amiga tira o sorriso do rosto.
— Já passei dessa fase, sou um espírito livre
agora — tenta soar convincente.
— Como você está, sabendo que vai vê-lo
amanhã no casamento? — pergunto referindo-me
ao Max, melhor amigo do Murilo e o grande amor
de Claudinha.
Ele chegou de viagem hoje, já terminou seu
curso e agora ficará no Brasil em definitivo.
— Estou do mesmo jeito de sempre. Nem
aí.
— Sei... Você vai morrer e não vai admitir
que ainda gosta dele.

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— Eu morreria se ainda sentisse algo. Ele


fez sua escolha, segui minha vida e pronto. É assim
que as coisas acontecem — fala encerrando a
conversa. — Termina logo de se arrumar, não
podemos nos atrasar.
Claudinha sai do quarto e eu pego um
vestido preto no guarda-roupa. Visto-me
rapidamente, secando o cabelo e deixando-o preso
em um rabo de cavalo. Será que Murilo vai mesmo
se divertir muito esta noite, com direito àquelas
mulheres seminuas e tudo? Um ciúme fora do
comum me invade e pego o celular sem pensar.
— Oi, amor — Murilo atende.
— Oi.
— O que foi, Alice? — questiona
preocupado.
— Amor, como vai ser sua despedida de
solteiro? Vai ter muita mulher?
— Não — ri com meu ciúme. — Eu disse
ao Max e ao Vagner, nada de mulher, vamos ficar
no Bar do Rafa. Só tenho olhos pra você, Alice.
Não quero mais nenhuma — declara e uma paz

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invade meu coração. — E tu? Pelo amor de Deus,


nada daqueles strippers, hein?! Não quero ninguém
se exibindo pra minha mulher.
Minha mulher. Ai, como é bom ouvir isso.
— Eu disse pra Claudinha, por mim ficava
aqui mesmo numa noite de Netflix...
— Eu mato a Claudinha se ela te levar
nesses clubes, Alice. Juro que mato — admite
alterado e eu dou risada.
— Bem que a gente podia fugir desses
padrinhos e ficar só nós dois.
— Nossa, não me tenta! Mas é a tradição,
não podemos nos ver antes do casamento. Não
quero ter azar, não!
— Desde quando você acredita nessas
coisas? — Gargalho ao telefone.
— Desde que uma morena linda de
covinhas entrou na minha vida. — confessa e me
derreto. Não me canso dessa versão romântica do
meu noivo.
— Eu te amo.
— Também te amo, Alice. Divirta-se, mas
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nada de homem. Eu não tô brincando que mato a


Claudinha. Tenho que ir porque o Max tá mais
nervoso que eu.
— Por causa de reencontrá-la?
— Sim. Ele nunca deixou de amá-la. Esse
tempo todo na Inglaterra e não teve nenhuma
namorada séria. Tchau, amor. Preciso ir mesmo.
Amanhã serei seu marido.
— Não vejo a hora da lua de mel —
provoco atrevida.
— Ahhhhh, mulher, tu ainda me mata. Vou
desligar, senão fico aqui com você a noite inteira.
Meu pau já ficou duro.
— Tchau, divirta-se também e pense em
mim.
— Sempre.
Sorrio feito uma boba e desligo. Enquanto
calço uma sandália baixa fico pensando sobre Max
e Claudinha. Eles mereciam uma segunda chance,
só que duvido minha amiga facilitar. Guardo o
telefone na bolsa e saio para curtir a última noite
como solteira.

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***
O celular desperta e abro os olhos animada.
É hoje. Vou casar! Meu coração acelera e sinto as
mãos geladas. Levanto-me rapidamente e sigo até
ao banheiro para tomar um banho. Claudinha
dormiu na república essa noite e está esparramada
no colchão do chão. Ontem ela estava mesmo
decidida a me levar em um clube de strippers,
porém, implorei para gente ficar em um barzinho
normal. Fui chamada de chata, mas a venci pelo
cansaço. Divertimo-nos muito bebendo,
conversando e dançando.
As duas meninas que dividem comigo o
apartamento são até legais, contudo, nem de longe
tenho com elas a mesma intimidade. Inclusive, nem
vão ao casamento. Ambas tiveram um
compromisso e estão na casa dos pais. Dei graças a
Deus, ia convidar por educação. A cerimônia é bem
íntima. Serão apenas eu, Murilo, Raul, Olívia,
Dona Emília, Max, Claudinha, Vagner, meus pais e
Carlos.
Depois de quase quarenta minutos tentando
relaxar no banho, saio vestindo um shortinho jeans
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e regata. Claudinha já está acordada e mexe no


celular deitada. Minha ansiedade está aumentando e
ainda são 10h. Faltam 7 horas para eu dizer sim.
— Bom dia, flor do dia.
— Bom dia, quase esposa — ela brinca e
sorrio.
— Estou muito nervosa, Claudinha. Parece
que meu coração vai sair pela boca. E se der
alguma coisa errada? Ele desistir? Alguém passar
mal? O juiz não for? Começar a chover? O mar
estiver de ressaca?
— Cala a boca, Alice! Deixa de neurose,
vai dar tudo certo. O Murilo tá de quatro por você
— minha amiga responde gargalhando.
— Tomara que dê mesmo — falo e escuto a
campainha do apartamento tocar.
Estranho, o porteiro não avisou que alguém
estava subindo.
— Está esperando alguém? — Claudinha
questiona.
— Não. Meus pais vão chegar só depois do
almoço.
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Sigo até a porta e lágrimas caem dos meus


olhos quando abro. Seu João, o zelador, está
segurando um buquê de rosas coloridas enorme,
com um cartão em evidência. Uma vez disse ao
Murilo como acho bonita esse tipo de flor exótica e
aproveitei para cutucá-lo de nunca ter me dado uma
rosinha que fosse. Estava esperando o momento
perfeito. Agradeço e pego o lindo vaso, fechando a
porta enquanto inalo o cheiro maravilhoso que
invade o ambiente. Leio o cartão três vezes,
deixando o choro tomar conta de mim.
Alice,
Daqui a pouco vamos selar nosso amor, e
eu não poderia estar mais feliz. Quero que saiba
que você é dona dos meus pensamentos desde o dia
que a vi abrindo essa porta. Seu sorriso tímido, sua
covinha linda, seu olhar assustado, seu beijo…
Fechei os olhos agora e foi como se estivesse
vivendo o momento. Naquela segunda-feira de
inverno eu posso não ter entendido, mas meu
coração já sabia que era seu. Nunca mais consegui
tirá-la da cabeça. Eu prometo que vou amá-la
incondicionalmente todos os dias, mesmo quando a
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morte nos separar.


Sempre seu, Murilo
Não tenho dúvidas que escolhi o cara certo.
Do seu jeito todo errado, é melhor do que tudo que
eu podia ter idealizado. Não o trocaria por nada
nem ninguém. Pego o celular e envio uma
mensagem apaixonada.
Também te amarei incondicionalmente.
Todos os segundos, minutos, dias, anos que
vivermos e não vivermos juntos. Prometo que darei
o melhor de mim pela nossa família.
***
Olho mais uma vez no espelho e quase não
me reconheço. O vestido de noiva que Claudinha
fez ficou lindo, caiu perfeitamente em mim. Minhas
costas estão nuas, o tecido contorna minhas curvas
delicadamente. A parte de cima é bem colocada no
corpo, enquanto embaixo fica mais soltinho. Tem
uma fenda enorme na perna direita, que começa no
meio da minha coxa. Estou com o cabelo solto e
uma tiara de flores na cabeça. Optei por uma
maquiagem leve, valorizando meus olhos, que
Murilo tanto ama.
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— Uau! Acho que nunca vi noiva mais


linda — minha mãe diz abraçando-me.
— Estou bonita mesmo?
— Claro que sim, Alice. Estou muito feliz
por você, viu?! Sei que fui intransigente no início
desse relacionamento e achei que Murilo não fosse
o homem certo, mas estava enganada. Ele é um
bom moço.
— Ele é o melhor, mãe — declaro e ela
assente sorrindo.
— Filha, você está deslumbrante — meu
pai interrompe o momento também me abraçando.
—Obrigada, gente. Acho que meu coração
vai explodir de tanta felicidade — começo a querer
chorar e Claudinha dá um berro da cozinha, vindo
em minha direção.
— Nem pense! Perdi a tarde inteira
arrumando você e não quero borrão na minha obra
de arte. Sossega esse sentimentalismo aí — avisa e
todos rimos.
Está linda também, com um vestido longo
azul, que realça seus olhos.

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— Vamos indo, não aguento mais esperar.


— Alice, tu precisa dar um chá de cadeira
nele. Pelo menos uma hora de espera — minha
amiga tenta alertar.
— O quê? Não quero nem saber de tradição,
se abusar eu chego antes e fico esperando no altar.
Vamos logo! — solto apressada.
Não quero perder nenhum minuto.
MURILO
Ando de um lado para o outro, impaciente.
Passo as mãos no cabelo, roo as unhas. Ainda
faltam quinze minutos para às 17h. Rezo a Deus
para Alice não inventar esse negócio de se atrasar.
Meu coração não vai aguentar esperar mais.
— Murilo, acalme-se. Vai passar mal desse
jeito — ouço meu pai falar.
— É verdade, cara, segura sua onda. Ela já
está chegando — Max completa.
— E se ela não vier? Estou com medo de
começar a chover. O juiz ainda não chegou, nem o
padre. Queria que esse momento fosse perfeito para
Alice.
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— Murilo, se eu não estivesse vendo essa


cena, nunca acreditaria. — Meu amigo cai na
gargalhada. — Você está ficando paranoico igual a
uma mulher. Aposto que Alice está pensando a
mesma coisa.
— Cala boca, idiota. É meu casamento,
porra! Tenho o direito de ficar nervoso — aviso
sorrindo.
Olho ao redor para me acalmar e vejo que
tudo está como nós queríamos. Há um altar de
madeira improvisado no centro e um caminho de
folhas pelo chão. Nas laterais foram colocados
vasos com flores rosa e luminárias.
Quando propus que a cerimônia fosse na
praia, Alice pulou no meu colo radiante, amou a
ideia de imediato. Concordamos em chamar
pouquíssimas pessoas e de fazer um luau após a
parte formal. Ela não sabe, mas também chamei um
padre. Não somos pessoas religiosas, porém, uma
benção para nossa união é sempre bem-vinda.
Quero fazer os votos do matrimônio, na alegria e na
tristeza.
Vejo a mãe dela chegar com Claudinha e
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respiro aliviado. O padre e o juiz também foram


pontuais e estão se organizando no altar. Dona
Emília está do lado do Vagner, meu amigo dos
Narcóticos Anônimos, junto com Olívia e Raul.
Minha irmãzinha ficou muito bonita vestida de
daminha. Está com nossas alianças e não para de
reclamar do vestido.
— Tu está lindo, Alice vai morrer do
coração ao te ver. — Uma voz doce vem em minha
direção. É meu anjo da guarda.
— Tu acha? — pergunto inseguro.
Optei por uma roupa mais despojada, calça
e blusa social brancas. As mangas estão dobradas e
um botão aberto, deixando expostas minhas
tatuagens.
— Claro que sim. Aliás, adoro esse brilho
no seu olhar. Fico feliz por ter vivido para ver isso.
Nunca te vi tão feliz, meu filho. — Dona Emília me
dá um abraço apertado.
— Nunca pensei que poderia ser tão feliz.
— Tu merece. Aproveite cada minuto.
— Vou aproveitar — prometo.

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Posiciono-me ao lado do meu padrinho Max


e percebo que ele mal consegue respirar. Não tira
os olhos de Claudinha, que está incomodada do
outro lado, forçando um sorriso para mim. Ela tenta
a todo custo ignorar a presença do meu amigo,
contudo, pelo seu jeito sei que está mexida.
O juiz avisa que vamos começar e fixo meu
olhar na orla da praia. Nem com mil músicas
poderia explicar o que senti ao vê-la caminhando
em minha direção com seu pai. Deus, eu não
mereço tanta felicidade! Alice está incrivelmente
linda. Abro um sorriso bobo e sou retribuído por
um na mesma proporção.
Meus olhos não conseguem desviar um
segundo sequer do seu rosto e ela sustenta meu
olhar. Sinto lágrimas escorrendo e choro de alegria.
Uma alegria genuína e pura que invade cada
pedaço do meu corpo. Ela se aproxima do altar e
beijo sua testa gentilmente.
— Está linda! — sussurro e Alice sorri.
— Você também, parece um sonho isso
tudo.
— Não é sonho. É nossa realidade, amor.
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A cerimônia começa com o padre e Alice


me olha radiante, sei que adorou a surpresa. Ele nos
prega sobre o amor ser paciente e bondoso e a todo
o momento sorrimos um para o outro. O sacerdote
abençoa as alianças e fazemos nossos votos
emocionados.
— Eu, Alice Cavalcante, te recebo por meu
esposo e prometo ser-te fiel, amar-te e respeitar-te,
na alegria e na tristeza, na saúde e na doença, todos
os dias da nossa vida. — Beija minha mão e coloca
a aliança no dedo esquerdo.
— Eu, Murilo Silva, te recebo por minha
esposa e prometo ser-te fiel, amar-te e respeitar-te,
na alegria e na tristeza, na saúde e na doença, todos
os dias da nossa vida — repito o ritual.
— Pelo poder a mim investido, eu os
declaro marido e mulher. Pode beijar a noiva —
anuncia o padre.
Mal espero terminar a frase, já agarro minha
esposa pela cintura e a levanto do chão, dando um
beijo desesperado em seus lábios. Rodo-a nos
braços e Alice gargalha como criança, enquanto me
delicio com o som. Queria congelar este momento,
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nunca me senti tão pleno.


***
O casamento está maravilhoso. Depois da
assinatura dos papéis, fomos comer e sentamos em
volta de uma fogueira que já estava pronta para
começar o luau. Dediquei várias músicas a minha
linda esposa, que só sabia sorrir. Essa será minha
missão a partir de hoje, manter essas covinhas
sempre no seu rosto.
Queria ficar mais um pouco, só que não
aguento esperar um minuto sem tocá-la. Preciso
sentir seu corpo no meu, tê-la por inteiro, de corpo
e alma. Puxo-a no meu colo e dou um beijo terno
em seus lábios.
— Alice, eu preciso de você — falo em seu
ouvido, aproveitando para morder seu pescoço. Ela
suspira baixo.
— Pensei que nunca ia dizer isso. Vamos?
— Só se for agora.
Levantamos rapidamente e nos despedimos
de todos. Max continua nervoso e até agora não
conseguiu nem chegar perto de Claudinha. Espero

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que se acertem. Adoraria ver meu melhor amigo tão


feliz quanto eu.
Nem quinze minutos depois já estamos no
carro. Alice não perde por esperar a minha última
surpresa do dia.
— Para aonde vamos, amor?
— É surpresa.
— Ai, meu Deus! O que eu fiz para merecer
você?
— Eu que te pergunto. Tu é linda,
inteligente, amorosa. Gostosa pra caralho. Tudo
que um homem poderia querer.
— Não me fala essas coisas que já estou
molhadinha aqui desde a hora que sentei no seu
colo.
— Sério? — Salivo de tesão. — Quero ver.
Sem pedir licença passo minha mão pelas
suas coxas, por uma fenda sensual que tem no seu
vestido, e afasto a calcinha. Alice geme e enfio um
dedo nela devagar.
— Porra! Tão pronta pra mim. Nunca me
canso de você, sabia?
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— Murilo, não faz isso. Eu... não estou


aguentando de saudade.
Ignoro sua súplica e enfio mais um dedo.
Ela morde os lábios e coloca uma mão em seu seio,
apertando-o devagar enquanto a outra aperta meu
braço que a estoca. Se não tivesse com tanta pressa
de chegar a nosso destino, e as ruas do Rio não
fossem tão perigosas, parava aqui mesmo e a fodia
com força. Continuo dirigindo e intercalando meus
olhos entre a estrada e seu rosto de tesão. Caralho!
Adoro ver minha mulher se entregando ao prazer.
— Goza no meu dedinho, vai — provoco
intensificando o movimento.
— Ahhhh, mais rápido. Ahhhh...
Entro fundo e em questão de segundos,
Alice explode, gemendo alto meu nome. Tiro
minha mão de suas pernas e ela puxa, lambendo
cada um dos dedos que a fizeram gozar. Puta que
pariu! Meu pau fica duro feito pedra com a cena.
Ela solta o cinto e se inclina na minha direção.
— O que você vai fazer? — questiono
assustado.

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— Vou retribuir, oras — diz abrindo o zíper


da minha calça e caindo de boca. Deus, essa mulher
vai me matar.
— Porra! Que delícia. Essa sua boca me
deixa louco.
Esforço-me para prestar atenção na estrada,
só que é difícil. Alice sabe como me chupar
gostoso. Mordo os lábios e sei que não vou
aguentar muito tempo, estava morrendo de saudade
do seu toque.
— Alice... Ohhhh.
Jorro meu líquido quente em sua boca, que
se delicia com o sabor lambendo os lábios. Ajeito
minha calça enquanto ela coloca o cinto
novamente.
— Agora sim, está perfeito!
— Nem começou, meu amor. Nem
começou. — Sorrio com a promessa de uma noite
quente e ela corresponde animada.
Entrelaçamos as mãos e continuamos a
viagem em silêncio, curtindo o momento.
***
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Quando estamos na esquina da nossa futura


casa, eu paro o carro. Alice não faz ideia que é para
cá que estamos vindo e, muito menos, que ela já
está pronta para morar, toda mobiliada. Pego uma
venda no porta-luvas e ela me olha curiosa.
— Vamos realizar alguma aventura estilo
Cinquenta tons de cinza e não estou sabendo? —
pergunta divertida.
— Ótima ideia! — respondo sorrindo. —
Mas agora não. Será minha última surpresa da
noite.
Ela quase não se aguenta de curiosidade,
mas me deixa vendá-la. Chego ao endereço e
estaciono o carro na garagem.
— Já chegou? Você sabe que sou ansiosa.
Vou ter um infarto aqui e a culpa é sua —
argumenta atônita.
Não respondo e abro a porta do passageiro,
surpreendendo-a ao pegá-la no colo.
— Ai... — se assusta e sorri. — O que você
vai fazer, amor?
— Carregá-la no colo como manda a

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tradição.
Alice se aconchega no meu peito e entro,
colocando-a de pé próximo à porta. Ela não para de
falar um minuto, sua curiosidade não a deixa ficar
quieta. Apenas digo que já vai descobrir. Deixei
tudo preparado à tarde. A casa está com pétalas de
rosas jogadas pelo chão fazendo um caminho até
nosso quarto e há velas por todo canto. Acendo
cada uma delas e volto para o lado do meu amor,
retirando sua venda.
— Bem-vinda ao nosso lar — declaro
emocionado.
Alice coloca as mãos na boca e varre o local
com olhos lacrimejantes. Começa a andar pela sala
e vai em direção à cozinha, que fica no mesmo
ambiente dividida por um balcão. Abre a geladeira,
os armários, coloca a mão na mesa de jantar. Sua
felicidade me deixa ainda mais realizado.
— É nossa casa? Murilo, você... — nem
termina a frase e pula no meu colo, entrelaçando
suas pernas na minha cintura.
— Gostou? — questiono acariciando suas
costas nuas com uma das mãos.
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— Se eu gostei? Nem estou acreditando. Eu


amei!
— Tem quatro quartos. Não são grandes,
mas pelo menos cada um tem seu cantinho. Um
para nós, uma para cada criança e outro como
escritório para seus trabalhos e minhas horas de
compor. Também tem uma varanda bonita e um
quintal nos fundos com várias plantas, como tu
gosta.
— Nem sei o que dizer, amor — sussurra
me olhando com paixão. — Eu te amo.
Respondo invadindo sua boca e explorando
com avidez cada canto dela. Não quero que ela
apenas ouça o quanto a amo, quero que sinta.
Aperto sua bunda e a aproximo ainda mais de mim.
Jogo sua cabeça para trás, puxando-a pelo cabelo, e
mordo seu pescoço enquanto caminho para nosso
quarto a passos largos.
Deslizo-a do meu corpo perto da cama e
começo a despi-la. Como o vestido não tem zíper,
ajoelho-me na sua frente e começo a subir minhas
mãos por suas pernas para tirá-lo por cima.
— Tu conseguiu, não sei como, ficar ainda
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mais linda com esse vestido. Nunca presenciei


tamanha beleza — admiro encarando-a e ela fecha
os olhos com meu toque, mordendo os lábios. —
Gosta das minhas mãos no seu corpo?
— Elas me deixam louca — admite e mexe
as pernas em sinal que está pronta.
— Ahhh é? — provoco dando um tapa em
sua bunda e Alice solta um gemido.
Jogo a peça no chão e me ajoelho de novo,
rasgando sua calcinha com ferocidade. Ela me olha
com desejo e a seguro firme pela bunda para sentir
seu gosto. Começo a chupá-la e Alice agarra meu
cabelo, ditando o ritmo.
— Murilo... — suspira e direciono meu
dedo ao seu clitóris.
Levo minha língua por todos os cantos e a
jogo na cama quando sinto que está prestes a gozar.
Tiro minhas roupas rapidamente e deito por cima,
arrancando seu sutiã e me deliciando em seus seios
fartos.
— Adoro mamar nos seus peitos. São tão
macios e gostosos.

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— Ahhhhhh... E eu amo você mamando


neles.
Roço meu corpo no seu deixando-a
totalmente perdida em sensações. Beijo seu
pescoço e desço lambendo cada parte do seu corpo.
Quando não estou aguentando mais de desejo, viro-
a bruscamente de costas e a deixo de quatro, dando
outro tapa em sua bunda gostosa.
— Quero foder você com força, enterrar
meu pau o mais fundo que puder — aviso e ela
geme.
— Vem, Murilo — chama com a voz rouca.
Seu chamado é minha perdição. Fico em pé
na beirada da cama e devoro-a com força para que
sinta todo meu desejo e amor. Estamos só em
gemidos e suspiros, com suor descendo pelo nosso
corpo colado. Seguro firme seus seios duros e
aumento as estocadas.
— Goza comigo, Alice.
Peço e ela vem. Então, nos perdemos na
sensação deliciosa que é dividir esse momento
íntimo com a pessoa amada. Abraço-a firme e dou

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um beijo doce em sua testa, enquanto nos


recuperamos jogados na cama.
Depois recomeçamos no banheiro ao tomar
banho e na cozinha ao preparar algo para comer.
Nunca vou me cansar dela. Espero que toda a nossa
vida seja assim como hoje, regada de muito amor e
sexo. Olho-a com carinho enquanto voltamos de
mãos dadas pelo corredor depois dessa maratona e
acaricio seus dedos com delicadeza.
— Minha esposa.
— Meu marido.
FIM

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Bônus
♫ Lembra aquele beijo amor, quando a gente
se encontrou?
Foi assim que começou minha felicidade. ♫
Minha felicidade, Roberta Campos
ALICE
— Eu sempre ganho de você — provoco
Murilo enquanto caminhamos pela praia de mãos
dadas.
Chegamos em Porto de Galinhas há duas
horas. Ele estava cansado, queria dormir um
pouco no hotel, porém, fiz cara de pidona e viemos
ver esse mar azul transparente. Aguardava
ansiosa! O Rio de Janeiro é lindo, mas esse lugar...
Meu Deus! Uma imensidão de águas límpidas. É
final de dia, tem pouca gente no local, e o tom
alaranjado do céu deixa a paisagem ainda mais
deslumbrante.
— Tu joga baixo com esses olhos enormes
aí — reclama fazendo bico.

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— Assume que não resiste ao meu charme.


— Sorrio e dou uma piscadinha para ele, que
retribui.
— Tem uma coisa que tenho certeza que
ganho de você.
— O quê?
— Na... corrida. Corre!
Murilo começa a contar até três e saio em
disparada. Dou o melhor de mim para ganhar
vantagem, contudo, não corro nem dois metros e
sou agarrada pela cintura. Caímos na areia fina e
fofa gargalhando feito crianças. Ele está por cima,
segurando o peso do corpo com as mãos. Acaricia
meu rosto e me dá um beijo terno e demorado.
— Eu te amo — sussurra em meu ouvido.
— Eu te amo mais.
Qualquer pequeno toque de Murilo me
deixa louca. Será que é assim com todo casal?
Espero que sim, pois é a melhor sensação do
mundo. Levantamos da areia e tiro a canga para
entrar na água. Meu marido me fita com olhos
queimando, com certeza aprovou o biquíni azul que

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escolhi. Ele valoriza meus seios e realça o


contorno da minha bunda.
— Tu vestida desse jeito, vou ter que andar
com uma arma no bolso. Não quero homem
nenhum olhando pra minha mulher — resmunga
emburrado.
— Você disse bem, amor. Sua. Sou toda
sua! — declaro e ele me puxa para água com
rapidez.
Vamos para o fundo, onde não tem ondas, e
sorrio das intenções de Murilo. Invade minha boca
com urgência e me coloca em seu colo. Entrelaço
as pernas na sua cintura, puxando seu cabelo
levemente.
— Eu também sou todo seu. Sente.
Sem cerimônia, Murilo afasta a parte
debaixo do meu biquíni com sua mão habilidosa,
abaixa a sunga e me penetra lentamente. Nossa! A
sensação de fazer amor na água é deliciosa.
— Adorei essa aventura! — falo baixinho
em seus lábios.
Ele aperta minha bunda com força e afunda

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mais seu pênis em mim, fazendo-me arquear.


Preciso me controlar, pois estamos na praia, só
que é quase impossível quando se trata dele. Tira
meu cabelo — agora molhado — do pescoço e
começa a torturar aquele pedacinho que tanto
amo. Já não estou mais aguentando de desejo.
— Ahhh, amor, não estou aguentando mais.
— Não aguente, vem comigo — ele chama
e eu vou.
Gozamos gostoso no primeiro sexo, das
dezenas, que tivemos em nossa lua de mel.
***
Lembranças.
Devemos considerá-las boas por terem
acontecido, ou ruins por terem terminado?
É triste lembrar-se de algo que não
acontecerá mais?
Sinceramente, não sei responder essas
perguntas agora. Só as deixo virem, uma por uma,
até preencherem a dor que assola meu coração.
Olho mais uma vez para a lápide na minha
frente e custo a acreditar que esse dia chegou. Eu
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sabia que ia acontecer, mas nada me prepararia para


isso. Murilo se foi, para sempre. Nunca mais
poderei sentir seu cheiro, seu calor, seu toque.
Morreu com apenas 53 anos, vítima da
doença que o assola desde os 22. Chegou ao
coração e não deu uma nova chance para meu
marido guerreiro. Ainda tínhamos muito para
viver...
***
— Você tem medo de morrer? — questiono
olhando as estrelas do céu.
Olívia e Raul queriam acampar e
resolvemos passar a noite no quintal. Já faz quatro
anos que estamos casados e o meu amor por eles
só aumenta. Somos uma linda família! Fizemos
fogueira, comemos marshmallows, cantamos,
inventamos histórias... Enfim, se cansaram e agora
estão na barraca dormindo. Murilo e eu deitamos
na grama para contemplar a linda noite.
— De morrer não. Eu tenho medo de não
ter tempo suficiente pra fazer tudo que quero.
— E o que você quer fazer? — pergunto

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virando minha cabeça para olhá-lo.


— Vocês felizes! — declara me encarando
e fico até sem palavras para responder.
Nunca podia imaginar ser tão feliz em toda
minha vida.
***
Tivemos um casamento perfeito, sem
problemas? Definitivamente, não. A vida a dois não
é fácil, ainda mais com um marido doente.
Murilo trabalhou como cantor por dez anos,
depois se dedicou somente à carreira de compositor
por causa da saúde. Sua correria com os shows no
início nos trouxe um grande desgaste. Por um
tempo, nos víamos muito pouco e a única forma de
manter vivo o amor era por telefone. Eu ficava
sozinha com as crianças, cuidava da casa,
trabalhava. Tinha que vê-lo sempre na mídia,
rodeado de mulheres lindas. Batia ciúme,
insegurança, medo de perder. Entretanto, eu fui a
primeira a insistir para que ele não desistisse desses
momentos. Eu sabia que meu marido me amava e
precisava se sentir realizado. Foram poucos meses,
depois passou a se apresentar somente nos fins de
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semana para curtir a família.


Na adolescência, Olívia me trouxe também
uns bons cabelos brancos. A menina puxou o
espírito aventureiro do irmão. A diferença de
criação e de pensamentos entre Murilo e eu, nos fez
discutir várias e várias vezes.
E a doença? Bom, ela não foi gentil.
Quando as coisas pareciam ir bem, a bendita
aparecia destruindo nossas esperanças. Nem sei
contar quantas vezes fomos parar no hospital
durante esses anos. A Fabry vai corroendo aos
poucos, afetando órgão por órgão até não mais
restar forças do paciente.
Mesmo com todas essas dificuldades, não
me arrependo nenhum minuto sequer da minha
escolha. Foi a melhor que fiz nesta vida. Tivemos
dificuldades sim, mas todas elas foram superadas
porque existia amor entre nós. Vencemos a
distância, a insegurança, as diferenças... Ficamos
juntos na alegria e na tristeza, na saúde e na
doença, honrando nossos votos.
Coloco a rosa colorida que venho segurando
durante todo enterro em seu túmulo e fecho os
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olhos mais uma vez. Pego um punhado de terra


como forma de materializar a despedida e deixo as
lágrimas caírem. Quando virar as costas, vou ter
que cumprir o que prometi a ele horas atrás.
***
O médico já avisou que de hoje Murilo não
passa. Estou aqui sentada do lado de sua cama no
hospital sem saber o que fazer ou pensar. Meu
coração está quase saindo do peito de tão
apertado, não consigo parar de chorar. Ele não
pode me deixar ainda.
Vejo seus olhos castanhos se abrindo e
seguro sua mão.
— Amor, sou eu, Alice — digo encarando-
o.
— Oh, meu amor, não chore — ele pede
com a voz rouca e baixa.
— Murilo... Por favor... — não consigo
nem completar a frase.
— Alice, eu daria tudo para ter tempo com
você. Todos esses anos só me fizeram te amar e te
desejar ainda mais. Nem sei como foi possível. Não

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posso reclamar com a vida. Antes de você chegar


eu só sobrevivia, depois que te conheci é que
aprendi o que é viver. Não me arrependo de nada.
Nem das nossas brigas e desentendimentos, elas só
nos fortaleceram. Eu te imploro, meu amor, não
fique triste. Foca em tudo que passamos juntos.
Vivemos intensamente o presente. O infinito
enquanto durou. Como nossa música.
— Foi mesmo. — Lembro sorrindo entre as
lágrimas que insistem em cair. — Eu nunca me
arrependeria de nada.
— Eu preciso que tu me prometa uma coisa
— ele pede e franzo a testa em desaprovação.
— O quê?
— Tu precisa seguir em frente. Não vou
conseguir descansar em paz se sentir suas
lágrimas, sua dor. Foca na sua carreira, vá
viajar...
— Murilo... — tento argumentar.
— Nada de Murilo. Me prometa, Alice. Não
quero você triste.
— Só prometo se você me prometer uma

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coisa também.
— Qualquer coisa, meu amor.
— Você vai me esperar onde quer que
esteja.
— Nem precisava pedir. Ainda teremos
nosso para sempre — promete e beija os nós dos
meus dedos.
***
Sinto as mãos de Olívia no meu ombro. É
hora de partir. Ela me ajuda a levantar e saímos
abraçadas do cemitério. Pedi um momento a sós
com Murilo depois do enterro, acho que acabei
ficando umas duas horas perdida em pensamentos.
Raul espera do lado de fora do carro, brincando
com seu sobrinho Pedro. É, o tempo passa rápido.
Minha pequena bocuda já se casou e teve um lindo
filho. Raul também está namorando e feliz da vida.
Tempo. A partir de hoje espero que ele
também voe. Vou cumprir minha promessa sim,
mas esquecê-lo, jamais. Olho para meu braço e
contorno com os dedos a tatuagem que agora fica
ofuscada na pele que começa a enrugar.

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Amor infinito.
— Não acabou, meu amor. Ainda vamos
nos encontrar — digo baixinho encarando o céu.

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Extra Claudinha e Max


MAX
Desde o dia que entrei naquele avião e fui
para Inglaterra sonho em ver minha pequena de
novo. Já se passou tanto tempo, mas é como se
ainda fosse adolescente vivendo o primeiro amor.
Na verdade, primeiro e único amor. Antes de
Claudinha, eu tinha ficado com outras garotas,
claro, só que nada como ela. Destemida, bocuda,
corajosa. Quem a vê pela primeira vez pensa até
que é uma boneca, tão baixinha, branquinha, olhos
azuis límpidos como a água. Minha pequena passa
longe de ser frágil, é isso que mais amo nela. Não
consegui ter nenhum relacionamento sério depois
do que vivemos. No começo tentei manter contato,
não queria a perder de vez, porém, ela nunca me
retornou e-mails, mensagens nem ligações.
Agora estou de volta ao Brasil para ficar,
prestes a vê-la novamente, e meu coração parece
que vai fugir do corpo. Bate acelerado. Estou
ansioso e com medo ao mesmo tempo. Tenho tanta

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saudade, mas duvido que vai sequer falar comigo.


Claudinha é difícil de lidar, não é do tipo que dá
segundas chances. Entretanto, sou persistente, não
vou desistir até reconquistá-la.
Tento acalmar Murilo, buscando forças para
também me acalmar. Estou muito feliz por ele,
enfim, se apaixonar por alguém. Alice é uma garota
maravilhosa e ambos merecem ser felizes. Distraio-
me com o mar por um momento, pensando, pela
milésima vez desde que cheguei, como vou fazer
para provar que só existe ela na minha vida.
Escuto meu amigo suspirar aliviado e meu
olhar encontra Claudinha vindo pela areia com uma
senhora. Porra! Nem que eu quisesse ia conseguir
ficar calmo agora que a vi. Ela não é mais uma
menina magrela. Já é mulher, está muito gostosa.
Seu cabelo também não é mais longo até a cintura,
chega um pouco abaixo do ombro em um corte
estiloso. Está com um vestido azul que realça seus
olhos, todas as suas curvas e aqueles seios
maravilhosos que sempre amei. Devo estar de boca
aberta, mas nem ligo.
Minha pequena se posiciona do outro lado
do altar improvisado e solta um sorriso forçado
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para Murilo. Sei que está nervosa também, dá para


sentir. Mantenho o olhar firme nela, que até agora
nem se atreveu a encontrar o meu. Sua armadura
não dura muito e cede. Oh, estou ferrado! Sinto
como se começasse a amá-la ainda mais. Perco-me
na imensidão dos seus olhos azuis que estão
dilatados e escuros. Ela fica assim quando está
ansiosa. Amor, sou eu. Como se lesse meus
pensamentos, Claudinha vira a cara e não me olha
nenhuma outra vez durante toda a cerimônia.
Não consigo deixar de imaginar que, se não
tivesse ido embora, já poderíamos estar casados.
Quem sabe até com filhos. Fazíamos esses planos
naquela época. Apesar de muito doidinha, minha
pequena queria constituir família. Teríamos três
filhos morenos como eu e com olhos claros como o
dela. Pelo que obriguei Murilo me contar, parece
que agora ela não é mais essa garota.
Encaro-a novamente, está deslumbrante
com o cair da noite e a luz da fogueira. Sorri com
Alice e não consigo conter o meu sorriso também,
ao vê-la feliz. As horas passam voando e o novo
casal começa a se despedir. Droga! Nem consegui
uma chance de falar com minha pequena ainda.
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Percebo que pretende ir embora também e decido


que não posso mais esperar o momento certo.
Talvez ele nunca apareça se tratando de nós dois.
— Claudinha, espera. Quero falar com
você.
— Não temos nada para conversar, Max. —
Ela se vira, mas não me olha. Está focada em
minhas mãos no seu braço.
— Por favor, pequena, temos muita coisa
para resolver.
— Pequena? Resolver? — questiona
sorrindo debochada. — Não sou sua pequena há
muitos anos. E tudo já foi resolvido.
— Por que você nunca retornou minhas
mensagens? Tentei entrar em contato por quase três
meses inteiros depois que fui embora.
— Por quê? Tu ainda pergunta, Max? Tu foi
embora, oras. Além de me machucar indo morar do
outro lado do planeta, ainda queria me manter presa
aqui? — solta alterada. Está ficando nervosa.
— A gente podia ter feito dar certo. Eu
amava você. Ainda amo.
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— Chega, Max! Não venha me falar de


amor, pelo amor de Deus.
— É o que sinto. Nunca deixei de sentir. Só
queria que entendesse que era uma grande
oportunidade, eu não podia deixar para trás uma
bolsa de estudos em uma das melhores
universidades de música do mundo. Você vivia me
incentivando, não entendo como pode ficar tão
brava.
— Tu é inacreditável. Inacreditável! —
grita mais uma vez, saindo de perto da fogueira e
caminhando em direção ao mar. Sigo-a.
— Conversa comigo, pequena.
— Já disse para não me chamar assim,
droga.
— Por que você me odeia tanto?
— Bom, me deixa pensar — ironiza
colocando um dedo no queixo. — Tu me fez ficar
total e completamente apaixonada por você.
Esperou eu me entregar e dizer que te amava para,
simplesmente, ir embora. Tu sabia há meses sobre
o processo da bolsa e nem se dignou a me contar.
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Porra! Eu fui a última a saber. E ainda descobri


sem querer olhando aquele e-mail de aceite.
— Eu não tive coragem de contar antes,
estava procurando o melhor momento.
— E o melhor momento era quando
estivesse dentro do avião? Porque eu descobri já
faltavam só três dias para a viagem.
— Desculpa...
— Tu não precisa pedir desculpa de nada,
Max. Já passou, eu era uma adolescente iludida.
— Eu quero pedir desculpa. Eu sei que
magoei você, mas sinto que ainda há amor aqui —
falo segurando sua mão.
— Está sentindo errado. Estou muito bem
sem toda essa merda de sentimentalismo. Gosto da
minha vida assim. Aliás, estou feliz por você ter
chegado tão longe. É merecido pelo seu esforço.
Nosso afastamento nunca foi pela bolsa, e sim
como você foi — responde tirando a sua mão da
minha e começa a caminhar pela areia.
Vejo minha pequena se afastar cada vez
mais e não tenho forças para sair do lugar. Eu
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estraguei tudo, ela nunca vai me perdoar.


CLAUDINHA
Inferno! Por que esse desgraçado tinha que
ficar ainda mais gostoso? Assim fica difícil até de
raciocinar as palavras. Quando o vi de costas
olhando para o mar, assim que cheguei, senti até
um calafrio. Tentei evitar contato visual o
casamento inteiro, mas não resisti. Não posso negar
que tive vontade de agarrá-lo ali mesmo, porém,
logo me lembrei de que são águas passadas e
acalmei meu fogo. Depois disso me peguei o
observando sem que percebesse. Sei que também
estava me secando, pois senti aquele olhar quente
pelo meu corpo.
Se Max já era um moreno de parar o
trânsito quando adolescente, imagina agora? Deve
ter várias namoradas na Inglaterra. Ganhou muito
mais massa muscular, seu cabelo está mais cortado,
deixou cavanhaque... Ahhh, que porra viu! Para
com isso, Maria Claudia. Você não gosta dele, já
passou.
Tiro os sapatos e continuo andando sem
olhar para trás, não posso cair em tentação. Não
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somos mais adolescentes, temos pensamentos


muito diferentes hoje. Não daria certo nem se eu
quisesse. Lembrando, que eu não quero.
Max realmente partiu meu coração indo
embora sem ter a dignidade de conversar comigo
sobre o momento mais importante da sua vida. Eu
jamais teria pedido para ele ficar, não era isso que
eu queria. Ele tem muito talento, merecia a bolsa,
de verdade. O que eu queria era a sinceridade. Ter
aberto o jogo desde o começo. Esperar tirar minha
virgindade e um "eu te amo" para partir foi demais.
Eu tive vontade de responder cada uma das
mensagens e e-mails que ele mandou. As ligações,
então, me faziam perder até o ar. Só que eu não
podia alimentar esse sentimento com o Atlântico
entre nós. Foi então que canalizei minha tristeza
para a moda. Nessa época comecei a gostar ainda
mais de criar e hoje sou uma estilista em ascensão.
De certo modo, tenho até que agradecer nossa
separação. Ficamos muito bem profissionalmente.
Percebo que estou no final da praia e
começo a caminhar em direção a orla. Perdi a
carona com a mãe da Alice, agora preciso chamar
um Uber. Quando viro-me, sinto mãos pesadas no
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meu braço. Droga!


— O que tu quer... — não consigo nem
terminar a frase.
Max invade minha boca com desejo,
segurando-me forte em seus braços. Tento negar o
beijo, mas não consigo resistir ao seu cheiro.
Parece um feitiço para meu corpo. Ele morde meus
lábios do jeito que sabe que adoro e desce para meu
pescoço. Puta que pariu! Está bem melhor do que
me lembrava. Subo minhas mãos para sua nuca e
puxo firme seu cabelo. Como diz o ditado, quem
está na chuva é para se molhar. Agora que se foda,
vou aproveitar o momento.
Entrelaço minhas pernas em sua cintura e
mordo sua orelha. Max geme alto, se deliciando no
meu pescoço. Ainda bem que estamos em uma
praia afastada da região central e tem pouquíssimas
pessoas por perto. Todas concentradas nos seus
afazeres, senão, iríamos presos por atentado ao
pudor.
— Pequena, que saudade — sussurra em
meu ouvido e coloco os dedos em seus lábios,
pedindo silêncio.
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Não quero ouvir nada, vamos só fazer isso e


deixar rolar. Sem conversa. Ele me encara, seus
olhos castanhos ainda mais negros de puro tesão.
Volto a beijá-lo e Max começa a caminhar comigo
em direção as pedras. Ah, sim, nós vamos transar
loucamente hoje. E só hoje.
Não paro de provocá-lo até que a gente
chega em um cantinho bem escuro. Nossa, isso é
até perigoso se tratando de Rio de Janeiro, contudo,
no momento só quero saber de tê-lo dentro de mim.
Desço do seu colo e começo a desabotoar sua
blusa. Não vou tirá-la totalmente, quero apenas
sentir esses gominhos. Acaricio todo seu peitoral
com as mãos e lábios, Max geme puxando meu
cabelo.
Abaixo-me e pego o cinto da sua calça. Ele
me encara faiscando. Não perco tempo e logo tiro
seu membro para fora, caindo de boca e sentindo
seu gosto.
— Porra, pequena! — geme sem desviar o
olhar que também mantenho firme.
Faço questão de encará-lo o tempo todo
para deixá-lo ainda mais louco de desejo. Sugo-o
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com vontade, fazendo movimentos de vai e vem ao


mesmo tempo com a mão. Parece que faz tempo
que ele não faz sexo porque já o sinto pronto para
gozar.
— Eu não vou aguentar mais, pequena. Se
não quiser que eu... Ohhh...
Sei que ele ia falar para eu tirar a boca,
então, intensifiquei ainda mais as chupadas para
que nem consiga pensar demais. Ele me dá seu
líquido quente e tomo tudo, lambendo os lábios.
— Caralho, mulher! Saudade de você —
fala voltando a tomar minha boca. Muito mais
intenso do que antes.
Max passa a me apalpar por todos os lados
com suas mãos grandes. A tortura inicia no
pescoço, desce para os meus seios e vai para a
bunda. Ele levanta meu vestido e segura firme em
minhas coxas.
— Quero sentir seu gosto, pequena — pede
se abaixando e colocando minha calcinha de lado.
Estou encostada em uma pedra e arqueio
meu corpo quando ele enfia um dedo dentro de
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mim. Depois acrescenta mais um e começa os


movimentos.
— Tão molhadinha — sussurra.
Desce sua boca e eu me entrego à sensação
do momento. Se tem uma coisa que esse homem
sabe fazer é chupar bem. Caralho! Max explora
cada cantinho meu, acariciando minhas pernas e
torturando meu clitóris.
— Ahhhh... Que delícia! — confesso.
— Goza, vai!— pede dando um tapa na
minha bunda com força.
Assim que eu gosto, não aguento e deixo-o
me sentir.
Seus olhos estão puro fogo quando ele se
levanta e pega uma camisinha da carteira. Faz tudo
rapidamente e segura uma das minhas pernas mais
alto, penetrando-me sem rodeios. Droga, era assim
que me lembrava dele. Quando está muito excitado
não sabe ser gentil.
Max começa a me estocar com força e toco
seus lábios com intensidade. Ele morde meu
pescoço e afasta um pouco o pano do meu decote.
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— Ah, eu queria estar em um quarto para


rasgar esse vestido, pequena — admite em um
gemido e ataca meus seios, dando chupadas e
mordendo, enquanto acaricia o outro com a mão.
Depois inverte.
— Mais forte! — imploro e ele obedece
prontamente.
Cravo minhas unhas em suas costas, por
dentro da blusa, e Max me fode bem fundo. Segura
minhas duas pernas e entrelaço-as na sua cintura,
ainda encostada na pedra.
— Ohhh, pequena, vem comigo.
Ele chama e eu vou, em um orgasmo
delicioso. Caralho! Faz tempo que não faço sexo
assim tão bom. Ficamos parados um minuto para
recuperar o fôlego, eu encostada em seu peito, ele
com a cabeça deitada na minha. De repente segura
meu rosto e dá um beijo terno em minha testa.
— Eu te amo tanto.
Puta que pariu, Max! Não estraga o
momento. Não passou de sexo, não quero mais
nada com você. Saio do seu aconchego e ajeito meu
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vestido e cabelo. Ele fica em silêncio observando-


me calçar as sandálias. Viro-me e começo a sair
sem dar explicações.
— Aonde você vai, Claudinha? — pergunta
nervoso, com as mãos na nuca.
— Embora. Foi só sexo, Max, não confunda
as coisas — respondo e caminho sem olhar para
trás.

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Agradecimentos
Primeiramente, quero agradecer você que
chegou até aqui. Obrigada por dar uma chance à
história de amor do Murilo e da Alice.
Também agradeço a Deus pelo dom da vida
e à minha família maravilhosa que me faz viver
intensamente o hoje, nas alegrias e tristezas. Meu
marido Ednelson Prado e meus filhos, Arthur e
Matheus. Em especial ainda meu pai, José Batista,
que contribuiu com as lindas canções deste livro.
Comecei escrever Infinito enquanto dure no
dia 9 de maio de 2017, sem nenhuma pretensão, e
olha onde estamos hoje! Alice e Murilo
representam tantos e tantos casais que não têm uma
vida perfeita, mas vivem rodeados de amor. É isso
que importa, não é mesmo?
Teve muita gente querida que fez esse
sonho se tornar realidade e eu agradeço cada uma
de coração. No entanto, algumas foram essenciais.
As betas/amigas, Rebeca Caballero e

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Renata Cundari. Graças a vocês, cheguei até o


fim.
Camila Gouvêa, que foi crucial para me
ajudar na revisão da obra; Bárbara Pinheiro,
responsável pela revisão final; e Jéssica Bidoia,
que me tirou centenas de dúvidas.
Matheus Estevão, cantor que escreveu a
letra e emprestou sua linda voz para a música tema
do livro. Até hoje não sei lidar com a alegria que
fiquei ao ouvi-la, resume perfeitamente a história.
Wânia Araújo, que se tornou mais que
uma leitora, uma amiga. É a presidente do fã clube
Murilindo junto com as lindas Danielle Barreto e
Crys Carvalho.
Sem cada leitor do Wattpad o livro não
alçaria voos mais altos. Teve quem leu desde o
comecinho, maratonou a história nas madrugadas,
torceu, chorou, brigou comigo... Recebi até ameaça
da máfia, acredita? Meu muito obrigada a todos,
sem exceção!
Por fim, e não menos importante, agradeço
os novos amigos que fiz e os ensinamentos que tive
do mundo literário com os grupos Ajudando
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Escritores (AE) e Vale Ler. Vocês me motivam a


ir mais longe.
Não se esqueçam: não pense muito lá na
frente, viva o infinito hoje!
Beijos, Ari.

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