Infinito Enquanto Dure Ariane Fonseca
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meios sem o consentimento da autora.
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Índice
Epígrafe
Prólogo
Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
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Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 18
Capítulo 19
Capítulo 20
Capítulo 21
Capítulo 22
Capítulo 23
Capítulo 24
Capítulo 25
Capítulo 26
Capítulo 27
Capítulo 28
Capítulo 29
Capítulo 30
Capítulo 31
Capítulo 32
Capítulo 33
Capítulo 34
Capítulo 35
Epílogo
Bônus
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hoje.
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Epígrafe
Soneto de fidelidade
Vinícius de Moraes
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Prólogo
ALICE
Já são onze horas da noite e ainda estou
acordada. Mesmo sendo sábado, isso não era para
acontecer. Mamãe não gosta que eu durma tarde.
Vem sempre com aquela conversa de fazer mal
para a saúde e não ser bom para a beleza. Mas
quem se preocupa com isso aos 8 anos?
— Mamãe, quero ver de novo o filme da
Cinderela.
— Nem pensar, Alice! Está tarde e você
acabou de assistir A Bela e a Fera. Já quer outro?
Sabia que ela olharia o relógio, só que eu
preciso assistir a mais um filme antes de dormir.
Quero ter sonhos lindos com meu príncipe
encantado.
— Quero mamãe. Por favor?! Hoje é
sábado, amanhã não tenho aula.
Tento apelar para o lado sentimental dela,
fazendo a carinha do Gato de Botas.
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Capítulo 1
♫ Eu era uma sonhadora antes
de você chegar e me desapontar.
Agora é tarde demais pra você
e seu cavalo branco chegarem. ♫
White horse, Taylor Swift
ALICE
Não! Não! Não! Eu não posso ter ouvido
direito. Fecho os olhos e deslizo na parede,
sentando-me no chão com as mãos na cabeça.
Tento acalmar a respiração ofegante, mas é em vão.
Claro que ouvi, não há desculpas. Heitor, meu
príncipe Heitor, na verdade é um sapo.
Tenho que parar de chorar e enfrentá-lo.
Tenho que secar cada uma dessas lágrimas que
insistem em cair. Não vai resolver nada, não vai me
fazer sentir melhor, porém, quero que saiba. Eu sei.
Não passei de um brinquedo, um passatempo de
sete meses.
Meu Deus! Isso realmente está acontecendo
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Capítulo 2
♫ Queria ser como os outros e rir das
desgraças da vida, ou fingir estar sempre
bem. Ver a leveza das coisas com humor,
mas não me diga isso. ♫
A via láctea, Legião Urbana
MURILO
Mais um dia se passa e eu não sei o que
estou fazendo da minha vida. Hoje é meu
aniversário de 22 anos, só que não tenho motivo
nenhum para comemorar. Na verdade, não tenho
ninguém para lembrar a data. Porra! Não acredito
que dei para filosofar agora. Ou pior, ficar triste.
Merda de bebida.
Acho que o tempo torna a gente mais
maduro, ou sei lá. Se bem que não posso me
considerar uma pessoa madura. Estou aqui parado
neste bar pela terceira vez só esta semana, e hoje é
quinta! Já pedi a quarta dose de vodca enquanto
aguardo Vanessa. Nossa! O nome dela é Vanessa
mesmo? Preciso começar a anotar para não levar
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tapa na cara.
Ahhhh, as mulheres! Se tem uma coisa que
não posso reclamar na vida é de aproveitar. Pelo
menos nisso o universo foi bom comigo, ou não.
Depende do ponto de vista. Caralho, preciso de
outra bebida para acabar com essa baboseira.
— Rafa, manda outra dose aí, cara — peço
entregando o copo ao meu amigo.
— Mas já, Murilo? — pergunta sorrindo. —
Calma, cara, tu acabou de chegar. Desse jeito não
vai ser uma boa companhia.
— Não preciso ser boa companhia. Só
preciso dar o que elas querem.
Rafa gargalha do outro lado do balcão e
enche meu copo novamente. Sento de lado na
cadeira e começo a observar o local. Vanusa está
atrasada. Odeio esperar. Vanusa? Murilo, é
Vanessa, porra!
Minha rotina está acabando comigo. Mal
consigo dormir quatro horas por dia. Acordo cedo
com tanta coisa para resolver que dá até desgosto
abrir os olhos. Mas a gente tem que abrir, não é?
Tem conta para pagar, comida para comprar, roupa
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cheio de esperar.
Pego-a pela cintura e começo a levantar do
banco, me despedindo da marrentinha loira que
espera uma salvação para sua amiga.
— Partiu, Claudinha. Qualquer coisa me
liga.
— Pode deixar. — Vira-se para voltar à
pista de dança. — Ah, Murilo! Vai ser por minha
conta, tá?!
Aceno concordando e saio. Por um instante
tinha me esquecido dessa merda. Dessa vida dupla
que levo agora. Não fico com garotas por vontade
própria, faço para ter dinheiro e viver.
Sou um garoto de programa.
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Capítulo 3
♫ Vou deixar a vida me levar pra
onde ela quiser. Seguir a direção de
uma estrela qualquer. É, não quero
hora pra voltar, não. ♫
Vou deixar, Skank
ALICE
— O que, Maria Claudia Bittencourt? —
pergunto aos berros.
Não sou de gritar, mas nossa... Estou quase
entrando em pânico. Eu sei o quanto Claudinha
odeia que digam o nome dela completo, pois não
gosta de ser estereotipada como um membro da
família mais tradicional da zona sul do Rio de
Janeiro, e faço de propósito. Espero uma explosão
de raiva por parte da minha amiga, porém, não
vem. Preciso respirar, me acalmar e perguntar de
novo para ver se entendi bem. Ela está na
defensiva, o que não é comum, e baixa o tom de
voz.
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amigo do Max.
Max. Há tempos não falamos esse nome,
está na lista dos assuntos proibidos. Desde que
conheço Claudinha ela é essa garota destemida,
sem papas na língua e envolvimento sério com
ninguém. Mas não foi sempre assim.
No dia em que entrei na faculdade, estava
me sentindo um peixe fora d'água. Vinda de uma
cidadezinha de pouco mais de 10 mil habitantes, no
interior de São Paulo, para uma das cidades mais
procuradas do país. Nos primeiros dias fiquei na
minha e tentei canalizar meu tempo nos estudos,
conversando apenas com poucas pessoas da sala e
praticamente não saindo da república.
Eu não queria morar em uma república
devido à fama horrorosa desses espaços
compartilhados. Entretanto, sem dinheiro para
alugar algo sozinha foi a única opção. Por sorte,
divido apenas com duas meninas. Uma fica mais na
casa do namorado do que lá, e a outra está no
último ano, atolada com o TCC. Minha mãe tinha
até pesadelos comigo bêbada, ou até mesmo me
drogando e ficando com qualquer um. Como se não
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***
Quando chego à minha cidade natal, o
cheiro de natureza e a calmaria me tomam. Já não
conseguiria mais morar aqui depois de um ano e
meio no Rio, contudo, é bom estar em casa. A
viagem de ônibus foi uma droga. A playlist do
Spotify só tinha músicas melosas que me fizeram
afundar na poltrona e chorar baixinho. Tentei ler
um livro, só tinha romance no Kindle também. O
jeito foi forçar um cochilo de quatro horas. Sem
sucesso, é claro.
Abro o portão da pequena casa de meus pais
e de cara minha mãe aparece na janela assustada,
muito assustada, diria.
— Alice, o que você está fazendo aqui?
— Bom dia para a senhora também, mãe.
Tudo bem?
Dona Rute está branca. Mais branca que
leite, como se tivesse visto um fantasma. Algo me
diz para rebobinar a fita e voltar para o Rio, antes
de me arrepender.
— Alice, por que você não avisou que
vinha?
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durou.
Conversa fiada essa de "lindo enquanto
durou". Se não foi forte o suficiente para durar, não
era amor de verdade.
— Não acredito, mãe. Não consigo
acreditar que isso está acontecendo.
— Sabe, eu também encontrei outra pessoa,
Alice. Estamos juntos há dois meses. Estou feliz,
me apaixonando novamente. Ele está de plantão na
fábrica hoje, mas amanhã cedo chega aqui e vocês
podem se conhecer. Vou avisar seu pai pra vir vê-
la, meu bem.
Estou sem chão, totalmente sem chão.
Minha única vontade é sumir e nunca mais
aparecer. O amor que sempre acreditei, que minha
mãe me ensinou e que vi na TV e nos livros,
definitivamente, não existe. É só uma ilusão, suga
nossas forças e não nos dá nada em troca. Não sei
como vou conseguir seguir em frente agora
mudando totalmente os conceitos que aprendi
acreditar. Não sei.
***
Ainda são onze horas da manhã de domingo
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Capítulo 4
♫ Oh os olhos dela, os olhos dela. Fazem
as estrelas parecerem que não têm brilho.
O cabelo dela, o cabelo dela recai perfeitamente
sem ela precisar fazer nada. Ela é tão linda. ♫
Just the way you are, Bruno Mars
MURILO
Já perdi as contas de quantas vezes estive
em uma sala dessas desde que tinha 16 anos. Uma
vez por semana, toda semana durante o ano inteiro,
sem pausa até para o natal, dá o quê? Uns 52 dias?
Vezes seis anos? Caralho, já são mais de 300!
Muito tempo. E sempre é a mesma coisa, o mesmo
sentimento ruim de ter desperdiçado a vida.
O carma da minha família, claro, passou
para mim. Por mais que eu quisesse ter sido um
adolescente responsável e focado, como o Max, não
tinha jeito. A forma como fui criado não me deu
base para isso. A gente cresceu no mesmo lugar, a
favela do Alemão, só que ele tinha pais de verdade.
O meu pai foi embora e minha mãe só sabia se
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drogar.
O resultado? Você deve imaginar. Com 11
anos, já fumava cigarro e maconha, além de ser
aviãozinho da boca perto de casa. Eu bebia todo
dia, tinha relações sexuais e segurava com
frequência uma arma. Sabe, o tráfico é sedutor. Ele
chega oferecendo prazer, facilidades e,
principalmente, poder. Quando você é um fodido
sem perspectiva, se sente como um rei. Uma pessoa
importante no sistema. Mas tudo tem um preço, não
é mesmo? E na favela ele é bem alto. Ainda bem
que descobri isso cedo. Podia nem estar vivo agora.
O Max também se divertia, porém, nunca se
envolveu com o tráfico e nem deixou de focar nos
estudos. Graças a sua insistência, eu também
frequentei a escola. E era um ótimo aluno. Não
fossem minhas sombras, poderia ter tido um futuro
melhor. Como ele.
Passo o olhar pela sala e vejo velhos rostos
misturados com os novos. Esses últimos assustados
e incrédulos. Lembro bem quando entrei por essas
portas pela primeira vez, depois de cumprir pena de
um ano na unidade de internação para menores da
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Capítulo 5
♫ Todos os dias quando acordo não tenho
mais o tempo que passou. Mas tenho muito
tempo, temos todo o tempo do mundo. ♫
Tempo perdido, Legião Urbana
ALICE
Enquanto fecho a porta, sinto um perfume
masculino maravilhoso. Não consigo identificá-lo,
mas fico inebriada. Se não bastasse ser lindo, ainda
é cheiroso. Murilo é um pouco mais alto que eu,
por volta de um metro e oitenta. Tem cabelos
escuros bagunçados de um jeito muito sexy; seus
olhos são castanhos avelã; o rosto marcante, com a
barba por fazer. E a boca? De tirar o fôlego
estampando um sorriso travesso. Tem tatuagens por
todo lado. Ainda não consegui ver direito, porém,
como boa observadora, percebi que somente uma é
colorida, na altura do pescoço. Quer dizer, não sei
se em seu peitoral forte há outras... Meu Deus! Isso
vai ser difícil, estou suando frio de tão nervosa.
Pelo menos, a julgar a forma que ele está
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frequência.
Espere aí! E se toda essa fala fizer parte de
um script previamente ensaiado? É bem capaz que
seja, e eu aqui filosofando. Para quantas mulheres
ele deve ter dito isso? Ou melhor: com quantas
mulheres ele dormiu? Hoje será que já teve
alguma? Meu Deus! Sou uma idiota. Por um
momento comecei a me preocupar com esse
homem que nunca vi na vida e não conheço nada.
Olha o lado sentimental predominando de novo.
Para com isso, Alice. Só viva o momento. Já deve
ter passado uns trinta minutos e, tempo com o
Murilo, é literalmente dinheiro.
— Então, como vai ser? Não podemos ficar
de papo furado a noite toda — falo secamente e ele
me observa com um olhar divertido e confuso. Não
deve ter entendido como passei de vergonhosa para
direta em segundos.
— Seu pedido é uma ordem, gata. O que tu
quer fazer primeiro? Sou todo seu! — diz com uma
piscadinha.
— Bom... Eu... Não tenho experiência
nisso, esperava que você tomasse a inciativa.
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envolver.
— Tá bom, eu aceito!
Nós dois sorrimos e nos sentamos de índio
no sofá, cada um com uma almofada em cima do
colo. Trocamos telefones e combinamos mais ou
menos como isso funcionará. Quando demos conta,
já era meia-noite. Passamos quase três horas apenas
conversando sobre amenidades. Eu fui a única que
tagarelou sobre a infância e a adolescência.
Ele ficou só escutando, entretanto,
compartilhou algumas coisas pessoais, como a
paixão pelo Flamengo e como ama Óreo com leite.
Murilo não é tão ruim quanto imaginei, mas ainda
não entendo seu estilo de vida. Despedimo-nos com
um beijo rápido e suficiente para reacender o calor
em minhas pernas. Ah, isso vai ser divertido, afinal.
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Capítulo 6
♫ Toque na minha janela, bata na minha
porta. Eu quero fazer você se sentir linda. ♫
She will be loved, Maroon 5
MURILO
Fazia tempo que eu não sorria tanto como
ontem. Porra! Ela tinha que ser tão gostosa? Se
fosse feia como imaginei, ou chata como tinha
certeza, não existiria essa ideia idiota de continuar a
vendo. Por que eu fiz isso? Só pode ser muito tesão
pela experiência diferente com uma virgem.
Alice vai ser uma ótima distração dessas
clientes chatas. Suas covinhas perfeitas, o jeito
engraçado que enruga o nariz quando quer se
desculpar por algo, o rosto corado de vergonha
quando a provoco...
E o beijo? Caralho! Aquilo foi de tirar o
fôlego. Geralmente eu não beijo nenhuma das
clientes, é meio que de conhecimento geral que não
fazemos isso. Só quando pagam, e pagam bem.
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Capítulo 7
♫ Agora pode me xingar, que pra mim
tanto faz. Pode se revoltar, mostrar
a sua ira. Era tudo mentira! ♫
Conto de fadas, Luan Santana
ALICE
É hora do almoço. Saio correndo do estágio
para encontrar Claudinha no shopping. Ela queria ir
lá em casa ontem à noite mesmo para saber o que
aconteceu, mas eu precisava dormir. Trabalho
muito cedo. Já adiantei que Murilo e eu não
fizemos nada de mais, só que quer saber de tudo
nos mínimos detalhes.
"Nada de mais", porém, é meio relativo.
Nunca me senti daquele jeito. O desejo ainda arde
em mim até agora, horas depois de sua mão quente
deslizar pelo meu corpo e sua língua explorar cada
canto da minha boca. Nossa, que calor nesta
cidade!
Quando chego ao local marcado, ela já está
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— Nada não.
Sei que tem algo, mas não quero nem saber
muito sobre Murilo. Se isso é casual, um rito de
passagem, que aconteça logo e sem envolver
sentimentos. Não dá nem para me imaginar
apaixonada por um garoto de programa.
— Me conte o que rolou — minha amiga
continua.
— Nos beijamos na cozinha, ele beija muito
bem. Nossa! Explorou um pouco com as mãos meu
corpo, porém, não passou disso. Eu não consegui ir
além.
— O que tu achou dele?
— Ele é bem bonito, engraçado também.
Ah, e gosta de suco de milho! — Claudinha imita
como se estivesse vomitando. — Só tem uma
mania irritante de ficar rindo da minha cara o
tempo inteiro. Sem contar que é bem direto. —
Fico corada. — Depois do beijo, ficamos horas
conversando.
— Murilo rindo o tempo inteiro e
conversando? Cara, será que foi o garoto certo na
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sua casa?
— Como assim?
— Esquece, Alice — ela fala rindo, um
sorriso meio forçado. — Então, não foi dessa vez,
mas será em breve, hein?! Pelo amor de Deus, vê se
não se envolve! Só sexo. Entendeu?
— Claro que sim. Eu sei disso.
— Acho bom — reforça enfática.
Almoçamos e falamos de outros assuntos.
Pensei que Claudinha ia querer saber todos os
detalhes, onde exatamente cada parte do meu corpo
foi tocada, mas nem perguntou mais. Bom, agora
também nem tenho tempo de pensar nisso. Preciso
voltar logo.
Despeço-me dela e saio apressada. Quando
me viro para marcar de encontrá-la no intervalo da
faculdade já está longe, grudada ao telefone. Fala
com alguém e parece brava, muito brava.
***
Enfim, hoje vim à aula. Odeio faltar, no
entanto, estava sem condições de enfrentar Heitor
semana passada. Na verdade, nem agora. Espero
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Capítulo 8
♫ Me perdi no céu das suas pintas,
me encontrei no céu da tua boca. Tu
é labirinto, rua sem saída. Me rendi
a tua alma nua, vem cá. ♫
Fica, Anavitória
MURILO
A semana está uma loucura! Não sei o que
foi pior. A única coisa boa é que, daqui a pouco,
vou encontrar Alice. Na terça-feira ela me mandou
uma mensagem querendo marcar nosso próximo
encontro, mas eu estava ocupado demais com
Olívia e não podia agendar nada antes de hoje.
Sexta é o melhor dia para conseguir clientes, só que
não vou dispensá-la de jeito nenhum de novo.
Claudinha não está gostando nada disso, me
ligou puta da vida querendo saber que ideia idiota
foi essa de propor ir devagar. Na verdade, nem eu
sei por que sugeri algo assim. Quando vi já tinha
falado. Ela me disse para acabar logo com isso e
não magoar sua amiga. Retrucou algo sobre eu
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Capítulo 9
♫ Aí você escolhe a melhor roupa. Aí
você arruma o seu cabelo. E sai com
aquela sua amiga louca que diz que o
bom da vida é ser solteiro. ♫
Eu era, Marcos e Belutti
ALICE
A última semana de aula antes do, tão
esperado, recesso de julho é um tormento de tanta
prova e trabalho para entregar. Passei os últimos
dias estudando feito uma doida, sem tempo até para
a Claudinha. Já sou CDF naturalmente, nessa
época, então, ultrapasso os limites da bitolação.
Hoje é sábado e necessito desestressar minha
mente, urgente. Uma ótima forma de fazer isso
seria um novo encontro com Murilo.
Aiii... A sexta-feira passada foi
maravilhosa! Nem acredito que consegui ficar só de
calcinha e sutiã na sua frente. Aqueles beijos
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para mim.
O que realmente me intrigou, foi o fato de
ele já ter sido preso. Fiquei tão chocada que nem
consegui dizer nada. Uma experiência horrível para
um garoto de apenas 15 anos. A mágoa do
abandono do pai deve tê-lo tornado inconsequente.
Minha primeira vez tão sonhada com o príncipe
será com o bad boy. Que ironia do destino, não?
Murilo é totalmente o contrário de tudo que
já desejei. Tem um passado daqueles, um trabalho
nada convencional, não se envolve, é mandão, fala
muito palavrão, não é nada romântico, não gosta de
conversar... A lista é enorme, mas, mesmo assim,
quero fazer isso com ele.
A única coisa que preciso colocar na cabeça
é, de forma alguma, criar expectativas. Somos
muito diferentes e, principalmente, temos
perspectivas futuras totalmente distintas. É só um
ritual de passagem e pronto!
Aproveito os pensamentos divagando em
sua boca gostosa e mando uma mensagem para ele.
Adoraria dar mais um passo no nosso plano.
A senhorita Rabbit está disponível hoje
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Capítulo 10
♫ Era um cômodo incômodo, sujo como
o dragão de komodo. Úmido, eu homem
da casa aos seis anos. Mofo no canto,
todo TV, engodo pronto pro lodo. ♫
Levanta e anda, Emicida
MURILO
Eu costumava sonhar que tinha um pai
herói, igual aos da Marvel. Ele era uma mistura de
Capitão América com o Hulk, mesclando o que há
de melhor nos dois: a preocupação com o próximo
e a força. Era perfeito! Infelizmente, só sonho
mesmo de um garotinho.
Apesar de a nossa vida ser um inferno com
ele, piorou ainda mais sem. Minha mãe ficou tão
deprimida que abandonou de vez tudo. O dinheiro
que ela conseguia era para bebida e drogas. Não
tinha quem sustentar a casa e, quase sempre, eu
passava fome. Comia na escola ou com Dona
Emília e a família do Max, de vez em quando.
Desde pequeno não gostava de me expor, então,
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antes de atender.
— Alô!
— Oi, gata! E aí, tudo certo? — pergunto
como se tudo estivesse às mil maravilhas.
— Tudo — Alice diz secamente. Com
certeza está com raiva achando que dei um fora
nela. Vou ter que inventar uma desculpa para
conseguir dobrá-la.
— Desculpa não responder sua mensagem,
tive dias de merda. Problemas familiares. —
Resolvo mentir apenas em partes, na verdade,
omitir.
— Familiares? Está tudo bem?
Funcionou a sinceridade, ela mudou o tom
de voz na mesma hora.
— Não. Mas vai ficar! Tu está livre hoje?
Precisamos voltar ao plano logo, daqui a pouco
você está na estaca zero de novo — falo sorrindo.
— Já estou de férias da faculdade, então,
tenho minhas noites livres — responde empolgada.
— Isso é ótimo! Vamos marcar oito horas?
— Combinado! Desculpa, preciso desligar.
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Capítulo 11
♫ Minha tristeza é levantar minhas raivas
descontadas, meus medos são fundados.
Esta represa não existe mais. Que parte
do não você não entende? ♫
No, Alanis Morissette
ALICE
Está quase acabando o primeiro tempo do
jogo e o Mengão vem garantindo o placar, metendo
três a zero no adversário. Murilo fica me olhando
com cara assustada pelos gritos que solto quando
Guerreiro perde um gol ou o juiz comete uma falha.
Eu me empolgo na torcida!
Sempre adorei esportes, no geral, mas o
futebol é minha paixão. Pratiquei natação com uns
cinco anos, depois fui para o balé. Na escola era do
time de vôlei, handebol e futsal. Hoje em dia
apenas corro por causa do tempo. Contudo, é uma
corrida religiosa! Faça chuva ou faça sol, todos os
dias às seis horas da manhã.
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Capítulo 12
♫ Meu pai, me diga o que vê quando olha
para trás em sua vida perdida e não me vê? ♫
Father of mine, Everclear
MURILO
Quem essa menina pensa que é para me dar
conselhos? Raiva é pouco para o que estou sentindo
desde ontem à noite. Ela não sabe de nada! Na sua
merda de vida perfeita, nunca deve ter sonhado
com um abraço verdadeiro porque na vida real não
tinha isso. Nunca deve ter esperado por horas
alguém na porta da escola porque simplesmente
esqueceram. Droga! Preciso me acalmar, mas as
lembranças não param de aparecer na minha mente.
***
— Mamãe, mamãe, mamãe! — saio
gritando pelo corredor. — Amanhã é a
aplesentação do Dia do Papai na escolinha. Eu
falei válias vezes plo papai essa semana não
esquecê. Ele plometeu. Ele vai mesmo, né, mamãe?
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Capítulo 13
♫ Penteando o meu cabelo, será que estou
perfeita? Eu esqueci o que fazer para me
encaixar no molde. Quanto mais eu tento,
menos dá certo. Tenho que corrigir porque
tudo dentro de mim grita não. ♫
Who you are, Jessie J
ALICE
Já mandei umas três mensagens para o
Murilo pedindo desculpas, por ter me intrometido,
desde terça, só que nem foram visualizadas. Fui
longe demais. Pelo pouco que o conheço, é óbvio
que teve uma vida difícil e que sua família foi
crucial nesse processo. Maldita boca curiosa!
Estou no estágio, é quase final de
expediente, e minha cabeça viaja longe. Estranho
como ultimamente tenho me sentido diferente.
Apesar de ser sonhadora, não costumo me dar ao
luxo de perder tempo divagando. Pelo menos, não
durante o dia, enquanto preciso colocar em prática
meus planos.
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Capítulo 14
♫ Lentamente quero te despir com beijos,
lentamente. Assinar as paredes do seu labirinto
e
fazer de todo seu corpo um manuscrito. ♫
Despacito, Luis Fonsi
MURILO
A conversa com meu pai esta semana
desestruturou o pouco da estrutura que eu estava
tentando construir na minha vida. Sinto-me perdido
e com raiva. Muita raiva dessa merda toda! A única
coisa boa é que canalizei esse sentimento na
música. Já foram quatro composições, e agora
trabalho em mais uma.
Estou sentado na cama com o violão no
colo, um caderno aberto e uma caneta na orelha,
praticamente, o sábado inteiro. A música sempre
me acalma, como se me transportasse para outra
dimensão. Nunca gostei de falar, porém, me
expresso muito bem com as palavras. Dedilho as
notas que tentei fechar a tarde toda e o refrão fica
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pronto.
♫ Por que agora?
Por quê?
Você teve muitas chances de voltar
Eu precisei mais de você do que possa imaginar
É muito tarde pro perdão
Minha sina é a solidão
Por quê? ♫
Será que minha sina é a solidão? Não digo
uma solidão de ficar, literalmente, só, sem pessoas
ao redor, mas a pior que poderia existir: a interior.
Uma alma perdida que não sabe encontrar o
caminho de volta.
Pego meu computador para gravá-la,
sempre faço isso quando termino uma canção, e
vejo que Max está on-line. Decido mostrar a ele e o
chamo por vídeo.
— Até que enfim resolveu falar comigo.
Esqueceu dos amigos? — atende rapidamente.
— Foi mal, dias de merda! Não vou entrar
em muitos detalhes, nem adianta perguntar. Meu
pai voltou.
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fazer isso!
— Podemos tentar outra coisa, então, né?
— ela pergunta com cara maliciosa.
— O quê? — pergunto até com medo da
resposta.
— Ahh, nada... — De repente Alice fica
corada.
— Fala, gata! O que tu quer que eu faça?
— Bobeira, deixa pra lá.
— Ei, não tenha vergonha comigo! — digo
puxando seu queixo para que me olhe. — Tu pode
ser você mesma, se expressar como quiser. Não
vou julgá-la ou coisa assim, se é isso que está
pensando — explico e ela me observa pensativa,
ponderando suas palavras.
— Eu queria... Bom, queria que você... —
fala apontando para sua calcinha.
— Tu quer que eu te chupe? — Mal
acredito que ela está pedindo isso. Minha boca
saliva na mesma hora. Que vontade que estou de
sentir seu gosto!
—S... sim — responde corada.
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Capítulo 15
♫ Ontem é história e amanhã é um mistério.
Posso ver você olhando de volta pra mim,
mantenha seus olhos em mim. ♫
Mirrors, Justin Timberlake
ALICE
Abro os olhos com dificuldade, localizando-
me onde estou. Nossa! Que dor de cabeça. Parece
que um caminhão passou por cima do meu cérebro
e esmagou os meus miolos. Por isso não bebo. A
sensação boa é momentânea, depois o corpo que
sofre as consequências.
Imagens de ontem começam a ser formar na
minha mente. Shopping à tarde, Claudinha
insistindo para eu comprar um vestido novo e
sensual, preparação em casa para a balada, uns
drinks coloridos bem fortes, muita risada, dança...
Murilo! Sim, me lembro de tudo que aconteceu. Eu
não estava bêbada, só bastante no ar. Sou fraca
demais para o álcool. Senhor! Lembro-me que
fiquei bem abusada. Agora que não bebo mais
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— Tá bom.
A baixinha me abraça de novo e dá um
beijo na minha bochecha. Crianças, como são
fáceis de agradar! Ficam felizes por coisas simples,
como uma visita à praia. Agora lembrei porque
queria tanto fazer Serviço Social e trabalhar com
elas. Queria ser capaz de fazê-las sorrir, como hoje.
Vou sentir saudade de Olívia e Raul quando esse
plano acabar.
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Capítulo 16
♫ Quando eu soltar a minha voz, por favor,
entenda que palavra por palavra eis
aqui uma pessoa se entregando. ♫
Sangrando, Gonzaguinha
MURILO
Fiz o trajeto de casa até a república da Alice
pelo caminho mais longo. Gosto da sensação do seu
corpo colado no meu, o cabelo ao vento e as mãos
na minha cintura. Não sei definir em uma palavra o
que estou sentindo agora, mas vê-la interagindo tão
naturalmente com meus irmãos fez algo diferente
nascer dentro de mim. Parecia tão comum, tão
certo. Ela gostou deles genuinamente e são poucas
as pessoas que se preocupam conosco. Até se
colocou à disposição para levar Olívia e Raul na
praia. Nem consegui dizer que era uma péssima
ideia na hora, fiquei admirado com a proposta.
Acho que perdi uns dez minutos os olhando
escondido.
Quando cheguei na portaria do seu prédio
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Capítulo 17
♫ Cada passo que estou dando, cada
movimento que eu faço, parece perdido
sem nenhuma direção. ♫
The climb, Miley Cyrus
ALICE
Claudinha e eu estamos esparramadas no
sofá da república, maratonando nossas séries
preferidas na Netflix, desde às quatro horas da
tarde. Já são oito e meia da noite. Sempre perdemos
a noção do tempo quando ficamos assim, só com a
TV, pipoca, refrigerante e brigadeiro. Adoro! Ela já
me perguntou umas vinte vezes sobre a noite de
ontem com Murilo, se chegamos aos finalmente.
Meu Deus! Qual a dificuldade de entender um não?
— Alice, tu tem certeza que não chegaram
lá mesmo? Tu tava muito empolgada quando saiu
do bar, quase arrancando a roupa do Murilo.
— De novo, Claudinha? Já é vigésima
primeira vez hoje que você toca nesse assunto —
reclamo revirando os olhos e pausando o novo
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Capítulo 18
♫ Nada gosta de não fazer nada. Todo
telefone quer tocar. Uma janela é
tão infeliz fechada quanto um
carro sempre no mesmo lugar. ♫
Pra ter o que fazer, Clarice Falcão
MURILO
Amanhã, às dez horas, tenho que estar na
gravadora. Nervoso é pouco para o meu estado de
espírito. Não sei por que sempre fico tão inseguro
com relação à música, é o que faço de melhor na
vida. As canções saem tão naturalmente, parece que
sempre estiveram dentro de mim.
Já gravei as cópias que o Max pediu que eu
levasse, no e-mail enorme que me enviou com
orientações, e estou aqui sentado na cama há umas
duas horas esboçando uma nova letra. Pego a
caneta e o caderno novamente.
♫ Não deixe que as circunstâncias da vida te
façam desistir
O que você é ninguém pode tirar
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também.
— Olha, agora falando sério, seu trabalho é
excelente, Murilo. Nós queremos fechar um
contrato com você. Está interessado? — questiona
Jorge. Como se ainda precisasse perguntar!
— Sim, estou muito interessado.
— A Clara vai te explicar certinho as
questões jurídicas e valores. No começo não é nada
exorbitante, mas vejo que podemos crescer muito.
O Matheus me disse que tu tem umas limitações de
horário. Pra gente, sem problemas nos
encontrarmos à noite. Ficamos aqui todo dia até às
onze — continua explicando.
— Nossa, maravilha! A partir das seis
horas, eu já posso.
— Combinado, então. Ainda esta semana
assinamos o contrato e começamos a selecionar as
músicas para o primeiro álbum — finaliza Jorge.
— Negócio fechado, então? — Felipe
estende a mão e eu a aperto feliz.
— Fechado!
Nem acredito! Negócio fechado. Eu vou ter
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Capítulo 19
♫ Foi assim como ver o mar, a primeira vez
que meus olhos se viram no seu olhar. ♫
Todo azul do mar, Roupa Nova
ALICE
Passei a semana pensando na minha
conversa com Murilo sobre mudar de curso. Será
que eu tenho coragem? Como vou me manter aqui
sem um emprego? É verdade que tenho um bom
dinheiro guardado, pois não sou de gastar e meu
atual trabalho paga muito bem, mas, mesmo assim,
parece loucura.
Teria que começar do zero: nova classe,
novos professores. Teria que correr atrás de um
estágio e economizar ainda mais. Sem contar a
aprovação da universidade, não sei se é fácil. Por
que tudo anda me incomodando tanto?
Termino de vestir meu biquíni vermelho e
coloco um vestido soltinho. Checo minha bolsa
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Capítulo 20
♫ Quando eu estava lá fora, você percebeu?
Você sabe? Você não me encontrou.
Alguém se importa? ♫
Ode to my family, The Cranberries
MURILO
Acho que Alice não entende como eu, de
fato, me sinto agradecido pelo seu pequeno gesto.
Estamos acostumados a ficar sozinhos, até isolados,
diria. Por mais que eu tente, sei que estou longe do
ideal para os meus irmãos. Nem sempre tenho
paciência para brincar e, como não temos carro, o
transporte público me desanima de passear com
eles. Passamos quase o tempo todo dentro de casa,
pois dar mole na favela não é uma opção para os
dois.
O coitado do Raul é o que mais sofre. A
Olívia ainda nasceu em uma época que, pelo
menos, alguém estava mais centrado. Eu tinha
saído da cadeia há um tempo e, depois da recaída
que tive aos 17, tomei um pouco de juízo. A minha
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Capítulo 21
♫ Não quero fechar os meus olhos, não quero
adormecer.
Sim, eu não quero perder nada. ♫
I don't wanna miss a thing, Aerosmith
ALICE
Como o tempo voa, meu Deus! Uma hora é
sábado e estou tendo uma discussão épica com
minha mãe sobre deixar que eu viva por mim, outra
já é quinta-feira. Por falar em Dona Rute, que
conversa tivemos!
Ela ficou até às dez horas da noite com um
blábláblá na minha cabeça, de estar irreconhecível
e que a época da rebeldia tinha passado. Nunca me
reconheci tanto como agora. Foi embora indignada
com a minha postura firme.
Estou louca para chegar em casa, contudo,
hoje preciso enfrentar o transporte público.
Claudinha viajou obrigada com sua família para um
casamento no Sul e minhas duas colegas de
república sumiram. Mais cedo falei com Murilo no
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cuspindo sangue.
Puxo Murilo e subo na moto, quero sair dali
o quanto antes.
***
Vamos para minha casa em silêncio, porém,
não consigo conter o sorriso pela cena. Foi
merecido! Murilo deu o soco que eu devia ter dado.
Estamos esperando o elevador e ele ainda está
tenso.
— Por que você está tão bravo? Eu nem
ligo mais para o que aquele idiota diz.
— Como tu conseguiu ficar com aquilo,
Alice? Ele é desses babacas bem babacas.
— Não sei como também, eu costumo ser
bem cega. — Dou de ombros. —Para um garoto de
programa tu é bem defensor das mulheres, hein!?
— tento brincar.
— O que tem a ver, Alice? — Murilo fecha
a cara e fica sério.
— Ai, desculpa. Era para ser uma piada.
Não teve graça.
— Ser garoto de programa é bem diferente
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— E disso, tu gosta?
Nem tenho tempo para assimilar do que ele
está falando. Afasta minha calcinha com a boca,
enfiando um dedo dentro de mim. Fico até tonta
com tanto desejo.
— Murilo... — gemo e ele intensifica as
estocadas.
— Tão molhadinha pra mim.
Como é boa essa sensação. Por que mesmo
demorei tanto para experimentá-la? Coloco as mãos
nos meus seios, tocando-os devagar, e Murilo
geme.
— Gata, assim tu vai me matar.
Puxo-o pela gola da camisa e invado sua
boca novamente. Nem estou me reconhecendo,
sinto como se meus instintos estivessem me
guiando. Tiro sua camisa e o jogo na cama. Murilo
me olha assustado, mas com divertimento. Também
está gostando da Alice sem vergonha.
Subo em sua perna e começo a abrir sua
calça. Um desejo de experimentá-lo me consome.
Ele já sentiu meu gosto, eu queria muito sentir o
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que recebendo.
Passo as mãos na parte debaixo do seu pênis
e ele geme alto, já percebi que sente tesão aqui e
decido passar a língua, lambendo devagar.
— Alice, que delícia. Ahhhhh...
Continuo enquanto o masturbo com as
mãos. Ele está quase lá, intercalando gemidos,
suspiros e palavrões.
— Quero sentir seu gosto — peço me
entregando ao momento e volto com a boca para
seu membro.
É o que faltava. Murilo curva o corpo e
deixa seu líquido quente sair na minha boca. Um
líquido espesso e de um gosto que não sei dizer
qual é. Mas é bom. Muito bom! Eu mal termino de
engolir, sou surpreendida com suas mãos fortes me
jogando de costas na cama. Ele fica por cima e
começa a beijar meu pescoço ferozmente.
— Alice... — sussurra no meu ouvido. —
Isso foi... Foi muito bom. É sério, acho que nunca
gozei com tanta vontade.
Fico empolgada com seu elogio e mexo
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Capítulo 22
♫ Doente feito um cão, você sentirá muito.
Pegue leve. Diga boa noite. Pegue leve. ♫
Sick as a dog, Aerosmith
MURILO
Estou tonto, enjoado. Minha cabeça dói e
sinto uma forte dor do lado esquerdo do corpo, na
região lombar. Chega até a me faltar o ar.
Cadê Alice?
Agora mesmo estava com ela, na sua casa.
A gente quase chegou lá. De repente minha vista
ficou escurecida e não lembro mais. Parece que caí.
Abro os olhos com dificuldade e observo o
local. Estou dentro da ambulância, deitado na
maca. Tem um paramédico checando meus sinais
vitais.
— Murilo, tu consegue falar? Está bem?
— Eu... estou tonto. Muita dor aqui. —
Aponto para a parte debaixo das minhas costas
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Alice.
— Murilo, precisamos do seu RG. Sua
namorada Alice está pendente com isso para
finalizar a ficha.
A enfermeira ruiva fica cabisbaixa com a
palavra "namorada". Tenho vontade de rir da
situação, até que é engraçado. Faço sinal para o
bolso da minha calça e peço a carteira. Retiro e
entrego para o homem que aguarda na minha
frente.
— Tu pode me fazer um favor? Diga para
Alice que estou melhor — peço me remexendo na
cama, outra pontada na lombar.
— Pode deixar, eu digo. — Ele sai e a
enfermeira atirada me olha curiosa.
— Tu não parece bem pra mim — provoca
espetando a agulha no meu braço.
Faz tempo que não tenho essa sensação! A
última vez não foi para colher sangue. Estava no
Morro em uma época de recaída.
— Pois é, mas não quero preocupar minha
namorada. — Forço um sorriso. Nem sei por que
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Capítulo 23
♫ Deixo assim ficar subentendido. Como
uma ideia que existe na cabeça e não
tem a menor pretensão de acontecer. ♫
Mais uma de amor, Lulu Santos
ALICE
Fiquei aguardando na recepção por mais
quarenta minutos depois de visitar Murilo. Eu
queria saber notícias, ninguém passa mal daquele
jeito do nada. Tentei obter informações do médico
de plantão que o estava atendendo, mas sem
sucesso por não ser da família. Só recebi um
simples "No momento ele está bem". Isso eu
percebi, fez até piada para me provocar. O que
preciso saber é o motivo, a raiz do problema.
Chamei um Uber e acabo de chegar em
casa. Entro no quarto e o cheiro dele ainda está
aqui. Um cheiro bom que me traz lembranças
quentes de sua boca pelo meu corpo. Da minha
boca no seu. Balanço a cabeça para espantar os
pensamentos.
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Graças a Deus!
Escureceu, voltamos para casa e pedi pizza.
Agora está na hora de dormir e estou arrumando a
cama. Sorte que temos um colchão de casal aqui na
república para o caso de visitas. Olívia me encara
com olhinhos brilhantes.
— O que foi, querida?
— Eu gostei do dia hoje. Foi muito
divetido.
— Que bom, pequena! Fico feliz que tenha
gostado.
— Eu também adorei. A gente podia fazer
mais vezes, né?! — Raul entra na conversa.
Fico em silêncio, pensando se haverá outra
oportunidade. Não posso iludi-los, como bem disse
Claudinha.
— Quem sabe. Tomara que sim!
— Eu não lembro da minha mamãe, mas
você parece o que meus amiguinhos dizem sobre a
mamãe deles. Você é legal e cuida da gente. O Mu
tem uma ótima namorada — Olívia declara e fico
em choque, com os olhos marejados.
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do abajur ligada.
Preciso respirar um pouco, assimilar toda
essa conversa. Murilo e eu não teremos um futuro
juntos, contudo, definitivamente, quero manter
Olívia e Raul no meu.
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Capítulo 24
♫ Uma noite longa por uma vida curta.
Mas já não me importa, basta poder te ajudar.
Eu tô na lanterna dos afogados. ♫
Lanterna dos afogados, Cássia Eller
MURILO
Odeio ficar sem fazer nada, preso numa
cama de hospital. Meu celular acabou a bateria faz
tempo, a televisão foi monopolizada pelo menino
que está no quarto junto comigo e nem visita eu
recebo. Ainda tenho que aguentar a angústia de
esperar resultados de exames que podem mudar
minha vida. Não acredito que vou ter que ficar aqui
até amanhã cedo. Que droga!
O enfermeiro que me ajudou no banheiro
ontem entra no quarto sorrindo, enquanto checa o
soro do garoto ao lado. Esse pessoal não descansa,
não?
— Cara, sua namorada é insistente, hein?!
Ela atormentou tanto a recepção para dar
informações suas que a Rita está até com dor de
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nessa mulher.
— Boa tarde, Murilo. Sente-se melhor? — o
médico pergunta sério e me desperta de vez.
— Sim, não estou mais sentindo dores.
— Preciso ser sincero, não tenho boas
notícias. Essas dores vão voltar.
— Como assim? Os resultados dos exames
já ficaram prontos?
— Sim, e meu palpite estava certo.
— O que eu tenho, Doutor Bernardo? —
questiono aflito, passando as mãos pelos cabelos.
— Você tem uma doença hereditária
considerada rara, conhecida como doença de Fabry.
É um distúrbio causado por uma deficiência no
cromossomo X que faz com que o corpo não
produza a quantidade suficiente de uma enzima
chamada alfa-GAL, responsável pela remoção das
substâncias gordurosas das células. A insuficiência
dessa enzima faz com que a gordura se acumule nas
células e cause danos nos tecidos de todo o corpo.
— Não entendi direito. É uma doença séria?
— Muito séria, Murilo. Simplificando, a
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Capítulo 25
♫ Sim, vou te deixar determinar o ritmo
porque
não estou pensando direito. Minha cabeça está
girando,
não consigo mais ver com clareza. ♫
Love me like you do, Ellie Goulding
ALICE
No começo da manhã ligo no hospital
novamente para saber se Murilo terá alta e fico
aliviada ao ser informada que ele sairá depois do
almoço. Dou comida para Olívia e Raul e os levo
até Dona Emília. Às duas e meia em ponto chego
na recepção. Não deveria, mas estou até com frio
na barriga de tanta ansiedade em vê-lo.
Sou orientada a sentar e aguardar. Mexo no
celular e me distraio por alguns minutos até um
homem atraente, de cabelos bagunçados e olhos
castanhos penetrantes aparecer no meu campo de
visão. É tão lindo que nenhuma mulher consegue
conter virar o pescoço para admirá-lo. Ele parece
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remédios.
— Só isso? E aquela dor?
— É reflexo do estresse. Uma hora o corpo
cobra as preocupações da mente.
Estranho é pouco para defini-lo, sinto que
está me escondendo algo.
— Se você tiver com algum problema, pode
me falar. A gente não tem nada, mas nos tornamos
amigos. Pode contar comigo — insisto.
— Tudo bem, Alice. Pode ficar tranquila,
tá?
— Se você diz.
Murilo desvia o olhar pela primeira vez e
sai caminhando ao meu lado. Não estou
acreditando muito em suas palavras. Espero que
seja paranoia da minha cabeça. Depois de tudo que
já passou, o universo não faria algo ruim acontecer.
Faria?
***
Quando chegamos ao Alemão, ele desce
rapidamente do carro e vai em direção à casa da
Dona Emília. Bate na porta e me espera alcançá-lo
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respirar.
— Tu é... inacreditável. — Abaixa a cabeça
no meu pescoço e apenas respira.
Eu o seguro e saboreio o momento.
Acaricio suas costas e me remexo com ele.
Com cada arremetida a queimação diminui
e, após alguns minutos, estou sem fôlego e
arqueando pela penetração profunda dele. Suas
arremetidas se tornam mais confiantes.
— Murilo, isso é delicioso — suspiro no
seu ouvido.
Ele beija meu ombro e pressiona a testa
contra ele.
— Tu é gostosa demais. Muito apertada.
Meu Deus, eu não vou aguentar — admite com
aquela voz rouca e sexy.
Quase não estamos respirando mais. Estou
pingando suor e somos só grunhidos. Suspiros
ásperos enquanto nos beijamos e agarramos um ao
outro.
Quero contar como ele me tira o fôlego,
mas não consigo. Estou hipnotizada demais. Logo
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Capítulo 26
♫ Eu quero te contar meu segredo só com
o som da minha respiração. Eu quero saber
que seu coração bate. Quero te dizer. ♫
Let there be love, Christina Aguilerar
MURILO
Eu não acredito que vou assumir isso: estou
apaixonado por essa mulher.
Nunca tive experiência parecida na vida, me
rendi aos seus encantos. Ela mexeu comigo desde o
dia que a encontrei pela primeira vez. Devia ter
fugido daquelas covinhas e rostinho corado. Alice é
muito mais forte do que pensa, muito mais
inteligente do que mostra e muito mais linda do que
possa imaginar.
Além de sua beleza exterior que, meu Deus,
é de tirar o fôlego, ela tem uma beleza cada vez
mais rara hoje em dia. É bonita por dentro.
Preocupa-se sem esperar nada em troca, quer ajudar
genuinamente. Ontem já fiquei mexido quando o
enfermeiro falou sobre suas ligações, porém, vê-la
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— Sim.
— Por que você tem só uma tatuagem
colorida?
Ufa! Mas ainda está pensando nisso?
Lembro-me dessa pergunta no dia que fiquei
morrendo de raiva dela ser intrometida. Naquele
tempo eu não responderia isso para ninguém,
todavia, como ela já passou dessa fase e sabe dos
meus irmãos, não vejo problema em dizer.
— Foi a última que fiz, é para Olívia e
Raul. Como te contei brevemente, tive uma vida de
merda. Eu comecei cedo a ir para o caminho errado
das drogas e do crime e me perdi totalmente. Só
acordei de verdade no fim dos meus 18 anos, ou
seja, há pouco tempo. Minha mãe morreu em
seguida e tive que me virar com duas crianças, uma
casa, contas... Queria deixar no meu corpo uma
marca dessa nova fase, uma vida mais colorida sem
as sombras do passado, e fiz a Fênix.
— Eu conheço a história. O pássaro que
morria e depois renascia, certo?
— Isso mesmo — concordo e meus
pensamentos se perdem novamente.
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retribuído.
— Tu... Alice, tu me deixa louco. Sério,
nunca foi assim tão intenso. Com ninguém.
— Sério? — pergunta muito animada.
— Sério. Meu coração não quer desacelerar.
— O meu também não.
Encaro-a por alguns minutos. Meu Deus, o
que eu vou fazer? É justo ficar com Alice? Nunca
quis tanto uma coisa na vida. Queria que agora
pudesse ler meus pensamentos e me ajudasse a
fazer o certo.
Pego em suas mãos e a levo até o banheiro.
Temos que nos lavar de novo e, dessa vez, vou
entrar junto para ensaboá-la.
— Alice, eu quero tomar banho com você,
mas para seu bem é melhor ficarmos um pouco
longe. — Sorrio.
— Acho que consigo fazer isso — responde
divertida.
Adoro esse seu jeitinho. Droga, estou
virando aqueles idiotas que acha tudo lindo. Que
beleza!
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televisão.
Puta que pariu! Comigo Alice nunca teria
filhos se ficássemos juntos. Nem fodendo ia
arriscar a vida de uma criança inocente com uma
merda de doença hereditária que pode destruí-la e
suas próximas gerações. Continuo afagando seus
cabelos e ela cai no sono.
Meu coração se aperta. É justo pedir para
Alice ficar comigo? É justo inseri-la nesse universo
da favela, eu com duas crianças de bagagem? Não
tenho emprego fixo, já fui garoto de programa. Sou
pobre, mal conseguimos sobreviver. E o pior, tenho
uma doença rara. Prazo já estipulado. O médico foi
muito claro ao explicar que não terei uma vida
fácil. Esse problema nos rins foi só o primeiro.
Serei um peso para ela, um peso atrapalhando seus
sonhos.
Meu Deus! O que eu faço? Por favor, me dê
um sinal. Meu coração a quer, minha mente diz
para deixá-la seguir em frente. Acredito que fui
importante, Alice já está muito mais solta de que
quando a conheci. Começou a ver o mundo por
outro ângulo. Só de ter feito isso por ela me sinto
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feliz.
Um telefone começa a tocar, me levanto
encostando sua cabeça na almofada. Dormiu
mesmo, tão linda assim despreocupada. Quando
chego ao quarto percebo que não é o meu, e sim o
dela. Cinco ligações perdidas da sua mãe. Deve
estar ruim mesmo o aparelho, só ouvi agora o
toque.
Seguro-o nas mãos e meu sinal vem. Vem e
não é nada agradável, aperta meu coração e me
deixa sem ar. Na tela aparece uma mensagem bem
clara e que não me deixa dúvidas.
Alice, por favor, me escuta. Foca nos seus
planos, filha, seus planos de uma vida toda.
Esquece esse cara. Ele não é pra você.
Maldito celular estragado!
Se não estivesse com problemas não veria
essa mensagem. Mas eu queria um sinal, agora não
posso ignorá-lo. Preciso deixar Alice ir, não sou
mesmo homem o suficiente para ela. Merece
alguém melhor, sem um passado assombroso, sem
doença para destruir um futuro próspero. Sento na
cama e fico lá por horas, com a cabeça baixa e as
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mãos no pescoço.
A única mulher que amei, provavelmente, a
única que vou amar.
Eu queria meu “para sempre” com ela.
Porra! Como eu queria que essa merda
existisse.
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Capítulo 27
♫ Só temos uma vida para viver e não temos
tempo
pra desperdiçar, pra desperdiçar. Então,
deixe-me dar um tempo ao seu coração. ♫
Give your heart a break, Demi Lovato
ALICE
Acordo com o pescoço doendo, não acredito
que peguei no sono. Que horas são? A televisão
está ligada no mesmo canal e o pote de pipoca foi
deixado na mesinha. Procuro Murilo, mas ele não
está aqui. Sento no sofá com os olhos meio
fechados, ajeitando o cabelo e puxando a blusa para
baixo. Ainda estou com ela, tenho que admitir que
fica sexy mesmo.
Aliás, meu Deus! O que aconteceu hoje?
Nem acredito que perdi minha virgindade com esse
homem maravilhoso que se faz de durão,
entretanto, no fundo é uma pessoa incrível e
dedicada à família. Confesso que no início o
julguei, mas não há como não admirá-lo agora. Sei
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os seus motivos.
Estou me sentindo tão diferente. Como se
estivesse completa pela primeira vez. Meu coração
acelera só de lembrar as cenas de horas antes.
Cama, cozinha, banheiro... Nem sei dizer qual foi
melhor. Eu fui tão ousada! De onde saiu aquilo de
provocá-lo? Seja de onde for, gostei. Gostei de
aproveitar o momento sem pensar demais. Preciso
fazer isso mais vezes na vida, agir por impulso
pode ser muito bom. E se não for, vale o
aprendizado.
Levanto-me e vou procurá-lo pela casa, está
tudo muito silencioso. Quando chego na porta do
seu quarto, vejo-o sentado na cama, de cabeça
baixa e mãos no pescoço. Tão pensativo! Parece
que ficou horas nessa posição.
— Tudo bem? — pergunto indo em sua
direção e ele levanta a cabeça assustado.
Os olhos estão vermelhos, se não o
conhecesse diria até que chorou.
— Já acordou? — responde com outra
pergunta. — Que horas são?
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mim.
— Caramba, Alice! Três vezes seguidas?
Tá fraca não, hein?! Na minha primeira vez eu
achei horrível, doeu pra caramba.
— Doeu só um pouco, depois eu gostei.
— Ele foi cuidadoso com você?
— Sim, muito — admito lembrando de todo
cuidado que Murilo teve.
— O que foi? Alice, não me diga que tu tá
triste porque não vai ver mais ele?
— O quê? Não. Tô de boa, Claudinha.
— Sei! Como se não te conhecesse… — ela
bufa.
— Obrigada por ter insistido nessa ideia
maluca, viu?! Foi inesquecível. Acho que pude ver
a vida por uma perspectiva diferente durante esse
tempo convivendo com ele e seus irmãos. Até
tomei uma decisão hoje cedo.
— Qual? — pergunta curiosa.
— Vou mudar de curso. Amanhã mesmo
procurarei a universidade para ver como funciona.
Terei que sair do estágio, mas não tem problema.
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Capítulo 28
♫ Por favor, tenha misericórdia de mim.
Vá com calma com o meu coração, mesmo
que não seja sua intenção me machucar. ♫
Mercy, Shawn Mendes
MURILO
O dia passou voando! Graças a Deus,
porque ontem foi um inferno. Cada minuto do meu
domingo pensei em Alice e em como esquecê-la.
As lembranças do seu cheiro, seu sorriso, seu gosto
me deixam louco. É uma droga estar apaixonado!
Se você não pode ficar com a pessoa, fode sua vida.
Como eu queria estar com ela agora, compartilhar
esse momento de alívio.
A única notícia boa desta segunda-feira
nublada é que Olívia e Raul não herdaram a minha
doença. Se todos nós tivéssemos, eu não ia
suportar. Hoje de manhã os trouxe para fazer a
análise do DNA em uma clínica particular, devido à
influência e ajuda do Doutor Bernardo, e agora no
início da noite já ficou pronto. O resultado sai
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— falo rindo.
— Cala a boca, Murilo. Você não sabe
como tive que me segurar para não falar nada antes.
— Claudinha ainda não superou a separação
de vocês, sabe disso?
— Me dói muito isso. Queria que ela
entendesse minha escolha.
— Tenho certeza que ela gosta de você
ainda. Se não gostasse não ia agir assim.
— Eu sei. — Ele sorri esperançoso. — Ela
gosta e você está de quatro por essa tal de Alice.
— Não me enche, Max!
— Eu soube desde o dia que me falou sobre
ela outro dia — enaltece orgulhoso.
— Eu gosto dela sim. Está satisfeito?
— Ahhh, meu caro, isso é muito mais que
gostar. Conheço essa cara de bobo.
— Não abusa, Max — aviso tentando
parecer irritado, mas, no fundo, aliviado de assumir
isso para alguém. — Conversamos mais tarde,
preciso ir embora.
— Tudo bem, apaixonado — responde
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gargalhando.
— Vá se ferrar!
Desligo e volto a apreciar o mar mais um
pouco. É! Não tem mesmo como negar. Estou
apaixonado por Alice. Reparo as ondas indo e
vindo e, pela primeira vez nos meus 22 anos de
vida, tenho a inspiração de uma música romântica.
A primeira feita para ela.
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Capítulo 29
♫ Abra seus planos e, caramba, você é livre.
Olhe dentro
do seu coração e vai descobrir que o céu é
seu. ♫
I'm yours, Jason Mraz
ALICE
Dizem que o tempo cura as feridas, que faz
a gente esquecer e seguir em frente. Eu, realmente,
avancei depois que conheci Murilo. Porém, tirá-lo
da minha cabeça é outra coisa bem diferente. Já se
passaram seis meses desde o dia que o vi pela
última vez. Parece que foi ontem. Sinto sua
presença cada vez mais viva dentro de mim.
Quando nos despedimos naquele sábado
muitas palavras não foram ditas. Eu queria contar
que estava apaixonada e que adoraria tentar um
relacionamento de verdade, passar mais tempo com
ele. Tive outras experiências passageiras nesses
meses e nem se compara. Só não me arrependo de
ter deixado como combinado porque acredito que
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Capítulo 30
♫ Eu te vejo em todos os rostos vazios na
multidão.
Acordado a noite toda, a noite toda e todos os
dias. ♫
I don't wanna live forever, Taylor Swift
MURILO
Pareço uma criança que fez arte e está
fugindo aqui parado nesta janela, espiando
escondido o que acontece no vizinho. A que ponto
chegamos, hein, Murilo? Meu Deus! Ela consegue
ficar cada vez mais linda. Enquanto desce do carro,
reparo no seu shortinho curto que realça as coxas
grossas e na blusa de algodão que moldura suas
curvas. Que saudade de senti-la. Está sorrindo e o
que mais quero agora é beijar aquela covinha que
se forma em seu rosto doce.
Toda vez que Alice vem aqui, para buscar
ou trazer Olívia e Raul, meu coração quase sai pela
boca de tanto que bate descompassado. Caralho!
Nunca imaginei que gostaria tanto de alguém assim
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lá.
O que está nos salvando financeiramente é
que a abençoada gravadora me contratou como
compositor enquanto não me recupero. Minhas
antigas músicas, mais reflexivas, estão ficando
ótimas em uma banda nova de rock. Também estou
recebendo auxílio-doença do governo por ter uma
enfermidade rara e consegui todo o tratamento
gratuitamente por causa da Política Nacional de
Atenção Integral em Genética Clínica. Nem tenho
como agradecer ao Doutor Bernardo por todo
esforço em me ajudar. Estaria fodido, pois fazer
programa está fora de questão.
Aliás, eu não consegui tocar uma mulher
sequer desde o dia em que me despedi dela no
portão do seu apartamento. Duas semanas depois
eu bem que tentei, após beber até cair de tanta
saudade lá no Bar do Rafa. Era muito bonita,
morena de olhos verdes. Mas não era a minha Alice
e não saímos de uns beijos sem graça. O que me
resta é me aliviar pensando em nossa primeira vez e
na bendita cozinha toda noite.
Volto a prestar atenção na linda garota da
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longe de mim.
O carro dá partida e Olívia e Raul ficam
eufóricos acenando para o veículo. Eles gostam
dela demais e esse carinho só faz meu sentimento
aumentar. Dona Emília os pega pela mão e vem em
minha direção. A porta da sala se abre e pulo
correndo no sofá, como se não estivesse espiando
nada.
— Mu, você tinha que ver que legal o
tubarão que eu vi. Ele tinha um bocão assim, ó. —
Olívia entra correndo animada, imitando com as
mãos o tamanho da boca do animal.
— Nossa, que legal, linda. O que mais
vocês fizeram? — pergunto querendo saber todos
os detalhes, só que não posso parecer muito
desesperado.
— A gente viu vários peixes. Tinha uns
muito feios. Depois fomos ao parque e eu comi
bolo de cenoura. Tava delícia.
— Só isso, Olívia? — Raul olha para a
irmã, travesso.
Oh, droga! O que será que essa pequena
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aprontou?
— Só, ué — responde na defensiva.
Conheço-a, com certeza, fez alguma coisa.
— Não vai contar o que você falou pra
Alice? — Raul instiga.
— O que você falou, Olívia? — questiono
impaciente.
— Nada de mais, Mu. Eu só falei que tu
tava com saudade dela.
— O quê? — pergunto alto, levantando do
sofá. — Por que tu falou isso?
— Porque é verdade — a espertinha fala
sorrindo.
Passo as mãos nos cabelos, nervoso. Merda!
Ela sempre está certa. Contudo, não precisava falar
nada. Não era para falar nada.
— Vão tomar banho, vão — ordeno
mudando de assunto.
— Você tá bravo comigo? — Olívia
questiona. — Não pode ficar bravo, tu ensinou a
não mentir, Mu.
— Não tô bravo, não. Vai logo tomar
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banho, vai.
Não tem como questionar isso. Minha irmã
é lisa demais, sempre encontra um jeito de se safar.
Acompanho os dois correndo casa adentro e me
viro para uma Dona Emília de cara fechada.
Preparo-me para o sermão. É sempre o mesmo.
— Tava espiando da janela de novo,
Murilo?
— Espiando? Até parece. — Dou de
ombros e me sento novamente.
— Vai pensando que me engana. Eu sei que
tu está apaixonado por aquela mulher e fica aí
remoendo isso, ao invés de estar com ela. Tá
perdendo tempo e você, mais do que ninguém aqui,
sabe como ele é precioso.
— Dona Emília, eu te adoro, mas não
vamos discutir isso de novo. Já expliquei meus
motivos.
— Motivos que tu acha que são motivos.
Nem perguntou para a menina o que ela quer, saiu
decidindo para os dois. Agora ficam sofrendo. Tá
na cara que ela também gosta de você.
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Capítulo 31
♫ Meu coração dispara quando você ilumina
meus olhos.
Presa no escuro, mas você é minha lanterna.
Você me guia. ♫
Flashlight, Jessie J
ALICE
O que será que Murilo está fazendo hoje?
Muitas clientes? Droga! Não posso ficar pensando
nisso. Vou enlouquecer assim. Eu sei que é idiota
ter ciúme, eu já sabia do seu trabalho, mas é mais
forte do que eu. Queria ser sua, e ele só meu.
Toda vez que saio com as crianças fico na
expectativa de vê-lo, nem que seja de longe. Não
tive sorte durante esse tempo todo. Se, pelo menos,
eu fosse correspondida, podíamos tentar. Aquele
olhar parecia sentir o mesmo, porém, ele nunca
disse nada. Nem eu, na verdade… Por que amar é
sempre complicado?
Enxugo as lágrimas que insistem em cair
dos meus olhos e encosto o carro da Claudinha
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Capítulo 32
♫ Sinto muito por culpar você por tudo
que eu não consegui fazer. E eu feri a
mim mesmo por ferir você. ♫
Hurt, Christina Aguilera
CARLOS
Sigo a ambulância sem fazer a mínima ideia
do que está acontecendo. O pavor sobe em minhas
veias e seguro firme o volante ao me lembrar
daqueles olhos se fechando. O que Murilo tem?
Como tive coragem de abandonar uma criança? Por
que nunca dei o amor que ele sempre esperou? Eu
fui um pai de merda, de merda para dois filhos. Um
conheceu o pior de mim, o outro nem sabe que
existo. Desperdicei duas chances. As lembranças
invadem minha memória e lágrimas de remorso
escorrem pelos meus olhos.
***
Maria vem em minha direção radiante,
sorrindo e cantarolando. Como eu amo essa
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com um suspiro.
— Sim.
Não estava entendendo a surpresa e alívio
nos olhos do médico.
— Muito prazer, eu sou Doutor Bernardo.
— Ele estende as mãos e eu cumprimento,
balançando a cabeça. — Venho acompanhando
Murilo há uns seis meses e estamos precisando
muito conhecer um parente.
— O quê? Por quê? — questiono confuso.
— O senhor não sabe de nada?
— Não. Estava indo na casa dele para ter
uma conversa definitiva e dei de cara com a
ambulância.
O médico assente e então me dá a pior
notícia que poderia receber. Explica tudo sobre
uma doença rara que meu filho herdou da Maria e
sobre sua saga por um doador compatível. Ele corre
risco de morte, pois o rim já está muito danificado.
Fala sobre sua expectativa de vida limitada e as
dezenas de complicações que ainda terá neste
tempo. Não estou nem mais raciocinando direito.
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Capítulo 33
♫ O tempo passou, a vida mudou, mas eu
continuo seu.
Eu só sei que a vida é mais colorida com
você. ♫
Nocaute, Jorge e Mateus
MURILO
Carlos sai do quarto e sinto como se meu
coração fosse explodir de tanto que está apertado.
Caralho! Eu não consigo perdoá-lo. Acho que
nunca serei capaz. Nossa vida teve um rumo
totalmente diferente por causa da sua decisão de
não me aceitar há 22 anos. Minha mãe está morta,
Raul cresceu sem o pai, Olívia não sabe de onde
veio.
Porém, para uma coisa essa conversa foi
boa. Sinto-me em paz por descarregar tudo que
estava entalado na minha garganta, soltar as
lágrimas que estavam presas, ouvir pelo menos sua
versão. Eu tinha ódio dele até poucos minutos atrás,
ódio mesmo, por tudo que ele não foi. Agora não
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força.
Alice está com sua vagina roçando meu pau
e, mesmo de cueca, posso senti-la encharcada para
mim. Sem avisar enfio um dedo nela.
— Sempre pronta. Ahhh! Assim tu me mata
— sussurro em seu ouvido enquanto começo a
penetrá-la lentamente com o dedo.
— O segredo... fala... temos pouco tempo.
— É... Sabe, eu não tive mais ninguém
depois de você. Não consegui. Toda mulher que
chegava perto de mim só conseguia enxergar seu
sorriso.
— Ahhh, amor — responde derretida,
invadindo minha boca novamente.
Amor?
Meu coração até para.
Como uma palavrinha pequena, de apenas
quatro letras, pode mexer tanto com a gente?
Tiro meus dedos de dentro dela, abaixo a
cueca e a fodo com força, enquanto me delicio com
seus lábios. Ela ainda está de blusa e eu também
com a parte de cima da roupa. Vai ter que ser
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Capítulo 34
♫ Vem viver comigo o presente, o infinito
enquanto dure. ♫
Infinito enquanto dure, Murilo Silva
ALICE
Saio do quarto, transtornada, com lágrimas
que insistem em molhar meu rosto. Não acredito
que tanta coisa aconteceu de ontem para hoje:
doença, transplante, sexo dentro do hospital,
declaração de amor. Ahhh... essa última parte.
Pensei que meu coração fosse explodir quando
Murilo disse as palavras que tanto esperei ouvir.
Espanto os pensamentos que me ocorrem de
poder ser a última vez que o vejo. Não pode ser. Eu
acredito em uma linda história para nós ainda, não
as perfeitas dos contos de fada, mas as construídas
no dia a dia.
Volto a sentar na recepção e procuro um
fone de ouvido na minha bolsa. Não saio daqui até
Murilo estar operado e bem. Já até avisei no
trabalho que estou no hospital com meu namorado.
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Capítulo 35
♫ Hoje eu preciso te abraçar, sentir teu cheiro
de roupa limpa,
pra esquecer os meus anseios e dormir em
paz. ♫
Só hoje, Jota Quest
MURILO
Dor, alegria, euforia, tristeza. É estranho
como a gente consegue sentir as sensações do outro
às vezes. Neste momento, além do meu próprio,
posso sentir latente o medo de Alice.
Medo é uma espécie de perturbação quando
o cérebro acredita que estamos em perigo, seja ele
real ou não. É um estado de apreensão, em que
mesmo que você se esforce, só consegue esperar
que o pior aconteça. Tento manter a calma para não
deixar meu amor preocupado, mas é difícil
controlar o ressecamento dos lábios, o
empalidecimento da pele, as contrações musculares
involuntárias, as mãos suadas, os batimentos
cardíacos acelerados... Uma luz branca cega meus
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Epílogo
♫ Vou te amar incondicionalmente. Não há medo
agora.
Eu levarei os seus dias ruins com os seus bons. ♫
Unconditionally, Katy Perry
ALICE
Nervosa é pouco para o que estou sentindo.
Amanhã é meu casamento e, apesar de ser uma
cerimônia muito discreta na praia, não estou
aguentando de ansiedade. Faz só sete meses desde
o pedido e, meu Deus, aquele foi o dia mais
emocionante da minha vida. Ver milhares de
pessoas cantando nossa música, ele ajoelhado e se
declarando para mim. Lágrimas invadem meus
olhos só de lembrar.
Meus pais não gostaram muito da ideia de
me casar tão nova, afinal, ainda não cheguei aos 23.
Nem terminei a faculdade. Mas não preciso nem
quero aprovação de ninguém. Pelo menos minha
mãe está aceitando meu futuro marido agora. Não
podemos perder tempo. Quem sabe como será o
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***
O celular desperta e abro os olhos animada.
É hoje. Vou casar! Meu coração acelera e sinto as
mãos geladas. Levanto-me rapidamente e sigo até
ao banheiro para tomar um banho. Claudinha
dormiu na república essa noite e está esparramada
no colchão do chão. Ontem ela estava mesmo
decidida a me levar em um clube de strippers,
porém, implorei para gente ficar em um barzinho
normal. Fui chamada de chata, mas a venci pelo
cansaço. Divertimo-nos muito bebendo,
conversando e dançando.
As duas meninas que dividem comigo o
apartamento são até legais, contudo, nem de longe
tenho com elas a mesma intimidade. Inclusive, nem
vão ao casamento. Ambas tiveram um
compromisso e estão na casa dos pais. Dei graças a
Deus, ia convidar por educação. A cerimônia é bem
íntima. Serão apenas eu, Murilo, Raul, Olívia,
Dona Emília, Max, Claudinha, Vagner, meus pais e
Carlos.
Depois de quase quarenta minutos tentando
relaxar no banho, saio vestindo um shortinho jeans
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tradição.
Alice se aconchega no meu peito e entro,
colocando-a de pé próximo à porta. Ela não para de
falar um minuto, sua curiosidade não a deixa ficar
quieta. Apenas digo que já vai descobrir. Deixei
tudo preparado à tarde. A casa está com pétalas de
rosas jogadas pelo chão fazendo um caminho até
nosso quarto e há velas por todo canto. Acendo
cada uma delas e volto para o lado do meu amor,
retirando sua venda.
— Bem-vinda ao nosso lar — declaro
emocionado.
Alice coloca as mãos na boca e varre o local
com olhos lacrimejantes. Começa a andar pela sala
e vai em direção à cozinha, que fica no mesmo
ambiente dividida por um balcão. Abre a geladeira,
os armários, coloca a mão na mesa de jantar. Sua
felicidade me deixa ainda mais realizado.
— É nossa casa? Murilo, você... — nem
termina a frase e pula no meu colo, entrelaçando
suas pernas na minha cintura.
— Gostou? — questiono acariciando suas
costas nuas com uma das mãos.
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Bônus
♫ Lembra aquele beijo amor, quando a gente
se encontrou?
Foi assim que começou minha felicidade. ♫
Minha felicidade, Roberta Campos
ALICE
— Eu sempre ganho de você — provoco
Murilo enquanto caminhamos pela praia de mãos
dadas.
Chegamos em Porto de Galinhas há duas
horas. Ele estava cansado, queria dormir um
pouco no hotel, porém, fiz cara de pidona e viemos
ver esse mar azul transparente. Aguardava
ansiosa! O Rio de Janeiro é lindo, mas esse lugar...
Meu Deus! Uma imensidão de águas límpidas. É
final de dia, tem pouca gente no local, e o tom
alaranjado do céu deixa a paisagem ainda mais
deslumbrante.
— Tu joga baixo com esses olhos enormes
aí — reclama fazendo bico.
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coisa também.
— Qualquer coisa, meu amor.
— Você vai me esperar onde quer que
esteja.
— Nem precisava pedir. Ainda teremos
nosso para sempre — promete e beija os nós dos
meus dedos.
***
Sinto as mãos de Olívia no meu ombro. É
hora de partir. Ela me ajuda a levantar e saímos
abraçadas do cemitério. Pedi um momento a sós
com Murilo depois do enterro, acho que acabei
ficando umas duas horas perdida em pensamentos.
Raul espera do lado de fora do carro, brincando
com seu sobrinho Pedro. É, o tempo passa rápido.
Minha pequena bocuda já se casou e teve um lindo
filho. Raul também está namorando e feliz da vida.
Tempo. A partir de hoje espero que ele
também voe. Vou cumprir minha promessa sim,
mas esquecê-lo, jamais. Olho para meu braço e
contorno com os dedos a tatuagem que agora fica
ofuscada na pele que começa a enrugar.
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Amor infinito.
— Não acabou, meu amor. Ainda vamos
nos encontrar — digo baixinho encarando o céu.
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Agradecimentos
Primeiramente, quero agradecer você que
chegou até aqui. Obrigada por dar uma chance à
história de amor do Murilo e da Alice.
Também agradeço a Deus pelo dom da vida
e à minha família maravilhosa que me faz viver
intensamente o hoje, nas alegrias e tristezas. Meu
marido Ednelson Prado e meus filhos, Arthur e
Matheus. Em especial ainda meu pai, José Batista,
que contribuiu com as lindas canções deste livro.
Comecei escrever Infinito enquanto dure no
dia 9 de maio de 2017, sem nenhuma pretensão, e
olha onde estamos hoje! Alice e Murilo
representam tantos e tantos casais que não têm uma
vida perfeita, mas vivem rodeados de amor. É isso
que importa, não é mesmo?
Teve muita gente querida que fez esse
sonho se tornar realidade e eu agradeço cada uma
de coração. No entanto, algumas foram essenciais.
As betas/amigas, Rebeca Caballero e
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