Teoria Da Personalidade e Do Comportamento

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DESENVOLVIMENTO HUMANO

Fonte: www.clickgratis.com.br

O desenvolvimento humano se estabelece através da interação do indivíduo


com o ambiente físico e social. Caracteriza-se pelo desenvolvimento mental e pelo
crescimento orgânico.
O desenvolvimento mental se constrói continuamente e se constitui pelo
aparecimento gradativo de estruturas mentais. As estruturas mentais são formas de
organização da atividade mental que vão se aperfeiçoando e se solidificando, até o
momento em que todas elas, estando plenamente desenvolvidas, caracterizarão um
estado de equilíbrio superior em relação à inteligência, à vida afetiva e às relações
sociais. Algumas estruturas mentais podem permanecer ao longo de toda a vida,
como, por exemplo: a motivação. Outras estruturas são substituídas a cada nova fase
da vida do indivíduo. A obediência da criança é substituída pela autonomia moral do
adolescente. A relação da criança com os objetos que, se dá primeiro apenas de forma
concreta se transforma na capacidade de abstração.

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IMPORTÂNCIA DO ESTUDO DO DESENVOLVIMENTO HUMANO

Fonte: www.psicologiamsn.com

Cada fase do desenvolvimento humano: pré-natal, infância, adolescência,


maturidade e senescência; apresentam características que as identificam e permitem
o seu reconhecimento. O seu estudo possibilita uma melhor observação,
compreensão e interpretação do comportamento humano. Distinguindo como nascem
e como se desenvolvem as funções psicológicas do ser humano para subsidiar a
organização das condições para o seu desenvolvimento pleno. O desenvolvimento
humano é determinado pela interação de vários fatores.

Fatores que influenciam o desenvolvimento humano

Hereditariedade - Cada criança ao nascer herda de seus sais uma carga


genética que estabelece o seu potencial de desenvolvimento. Estas potencialidades
poderão ou não se desenvolver de acordo com os estímulos advindos do meio
ambiente.
Crescimento orgânico - Com o aumento da altura e estabilização do esqueleto,
é permitido ao indivíduo comportamentos e um domínio de mundo que antes não eram
possíveis.
Maturação Neurofisiológica - É o que torna possível determinados padrões de
comportamento. Por exemplo, o aluno para ser, adequadamente, alfabetizado deve

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ter condições de segurar o lápis e manejá-lo com habilidade, para tanto, é necessário
um desenvolvimento neurológico que uma criança de 2 anos ainda não possui.
Meio Ambiente - Conjunto de influências e estimulações ambientais que
alteram os padrões de comportamento do indivíduo. Uma criança muito estimulada
para a fala pode ter um vocabulário excelente aos 3 anos e não subir escadas bem
porque não vivenciou isso.

Fonte: www.psicologia.templodeapolo.net

PRINCÍPIOS DO DESENVOLVIMENTO HUMANO

O ser humano, no seu processo de desenvolvimento, apesar das diferenças


individuais, segue algumas tendências que são encontradas em todas as pessoas.
Seis delas serão destacadas:
 O desenvolvimento humano é um processo ordenado e contínuo,
dividido em quatro fases principais: infância, adolescência, idade adulta
e senescência;
 O desenvolvimento humano se realiza da cabeça para as extremidades;
sequência céfalo-caudal: a criança sustenta primeiro a cabeça, para só
então levantar o tronco, sentar e andar; progride do centro para a
periferia do corpo; sequência próximo distal: a criança movimenta
primeiro os braços, para depois movimentar as mãos e os dedos;
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 O indivíduo tende a responder sempre de forma mais específica as
estimulações do meio. Cada vez mais vão se especializando os
movimentos do corpo para respostas específicas. A fala se torna mais
abrangente em relação aos objetos a serem designados etc. O
desenvolvimento se dá do geral para o específico;
 Os órgãos não crescem de maneira uniforme. Enquanto o cérebro, por
exemplo,
 Desenvolve-se rapidamente na infância, as outras partes do corpo
seguem ritmos diferenciados, as vezes de forma lenta em outras
aceleradamente;
 Cada indivíduo se desenvolve de acordo com um ritmo próprio que tende
a permanecer constante segundo seus padrões de hereditariedade, se
não for perturbado por influências externas, como má alimentação; ou
internas, como doenças;
Todos os aspectos do desenvolvimento humano são inter-relacionados, não
podendo ser avaliados sem levar em conta essas mútuas interferências.

Aspectos do desenvolvimento humano

O desenvolvimento deve ser entendido como uma globalidade; mas, em razão


de sua riqueza e diversidade, é abordado, para efeito de estudo, a partir de quatro
aspectos básicos:
Aspecto físico-motor - Refere-se ao crescimento orgânico, à maturação
neurofisiológica, à capacidade de manipulação de objetos e de exercício do próprio
corpo.
Aspecto intelectual - Inclui os aspectos de desenvolvimento ligados as
capacidades cognitivas do indivíduo em todas as suas fases. Como quando, por
exemplo, a criança de 2 anos puxa um brinquedo de baixo dos móveis ou adolescente
planeja seus gastos a partir da mesada.
Aspecto afetivo emocional - É a capacidade do indivíduo de integrar suas
experiências. São os sentimentos cotidianos que formam nossa estrutura emocional.
Envolvem os aspectos relacionados ao convívio em sociedade.

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Todos esses aspectos estão presentes de forma concomitante no
desenvolvimento do indivíduo. Uma criança com dificuldades auditivas poderá
apresentar problemas na aprendizagem, repetir o ano letivo, se isolar e por esta causa
se tornar agressiva. Após tratada pode voltar a ter um desenvolvimento normal.
Todas as teorias do desenvolvimento humano partem deste pressuposto de
indissociabilidade desses quatro aspectos, mas, podem estudar o desenvolvimento
global a partir da ênfase em um dos aspectos.
A psicanálise, por exemplo, toma como princípio o aspecto afetivo-emocional.
Piaget, o desenvolvimento intelectual.

O DESENVOLVIMENTO COGNITIVO E SOCIAL

O Desenvolvimento da inteligência

Fonte: www.medplan.com.br

Se os muitos psicólogos que pesquisam o funcionamento mental fossem


solicitados a definir inteligência, haveria uma grande quantidade de diferenças de
opinião. Alguns psicólogos comportamentais propõem que a inteligência é
essencialmente uma capacidade geral única. Outros argumentam que a inteligência
depende de muitas capacidades separadas.

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Spearman (1863-1945) era um conhecido proponente do ponto de vista da
capacidade ser única. Concluiu que todas as tarefas mentais solicitavam duas
qualidades: inteligência e perícias específicas para o item individual. Resolver
problemas de álgebra, por exemplo, exige inteligência geral mais um entendimento de
conceitos numéricos. Spearman supôs que as pessoas espertas tivessem uma grande
dose do fator geral.
L.L. Thurstone (1887-1955), um engenheiro eletricista americano que se tornou
um eminente fazedor de testes, esposava o ponto de vista das “capacidades
separadas”. Alegava que o fator de abrangência geral de Spearman na realidade se
constituía em sete habilidades algo distintas:
Somar, subtrair, multiplicar e dividir;
Escrever e falar com facilidade;
Compreender ideias em forma de palavras;
Reter impressões;
Resolver problemas complexos e tirar proveito da experiência passada;
Perceber corretamente relacionamentos de tamanho e espaciais;
Identificar objetos rápida e exatamente.
Embora Thurstone considerasse que estas capacidades eram relacionadas até
certo ponto, ele enfatizava suas diferenças. Outras controvérsias sobre a natureza da
inteligência dividem os psicólogos em campos opostos: A inteligência deve ser
conceituada como uma capacidade (ou capacidades) para aprender em situações
acadêmicas ou dominar matérias conceituadas abstratas ou, mais geralmente, como
uma capacidade (ou capacidades) para se adaptar ao ambiente? A inteligência deve
ser visualizada como uma faculdade inteiramente cognitiva ou deve-se levar em conta
a motivação? Até que ponto a hereditariedade influencia a inteligência?
Os primitivos psicólogos estavam muito mais interessados em inventar testes
que pudessem diferenciar entre estudantes embotados e rápidos, para que pudessem
ser designados para um currículo escolar apropriado. Por esta razão, as questões
teóricas foram facilmente postas de lado. A inteligência passou a ser definida
operacionalmente em termos dos testes destinados a medi-la. Em outras palavras, o
que quer que os testes medissem era chamado de inteligência. Conceitos práticos
como estes dominaram a pesquisa psicológica sobre a inteligência até bem

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recentemente, quando os cientistas comportamentais começaram a reexaminar seus
pressupostos.
Aqui, distinguimos inteligência medida e inteligência. Por inteligência medida
queremos dizer desempenho em uma situação específica de teste, sempre baseada
em realizações: hábitos e habilidades adquiridos. Em contraste, definimos inteligência
como uma capacidade para atividade mental que não pode ser medida diretamente.
Assumiremos o ponto de vista de que a inteligência consiste em muitas capacidades
cognitivas separadas, inclusive as envolvidas em percepção, memória, pensamento e
linguagem. Embora até certo ponto todos os seres humanos possuam estas
capacidades, parece haver muita variabilidade na eficiência de cada processo.
Também fazemos a suposição de que a inteligência se aplica no ajustamento de cada
processo. Também fazemos a suposição de que a inteligência se aplica no
ajustamento em todas as esferas da vida. Já que as investigações de inteligência se
amparam fortemente em testes, é crucial compreender como os psicólogos têm
medido as capacidades mentais.

CONCEITO TRADICIONAL DE INTELIGÊNCIA

O cientista comportamental britânico Francis Galton provavelmente foi a


primeira pessoa a pensar seriamente em testar a inteligência. Galton estabeleceu um
pequeno laboratório em um museu da Londres, expressamente para o propósito de
medir as capacidades humanas. Admitindo que as pessoas com desvantagens
mentais podiam ter falta de acuidade sensorial, ele decidiu que as capacidades
intelectuais e perceptuais poderiam estar altamente relacionadas. Se assim fosse,
uma poderia proporcionar um índice da outra.
Por isso, Galton começou a avaliar tais características, como acuidade visual e
auditiva, sentido da cor, julgamento visual e tempo de reação. Media as atividades
motoras, inclusive o “vigor do puxar e do apertar” e a “força do sopro também”. Em
breve, muitos outros psicólogos estavam igualmente empenhados em procurar criar
testes de capacidades intelectuais. O problema da mensuração da inteligência foi
resolvido adequadamente, pela primeira vez, pelos psicólogos franceses Binet e
Simon.

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Em 1904, estes psicólogos foram encarregados pelo governo francês para
auxiliarem a resolver o problema do baixo rendimento escolar, do grande número de
reprovações nas escolas primárias francesas. Binet atribuiu o problema ao fato das
classes serem heterogêneas, isto é, em uma única classe havia alunos bem dotados
e pouco dotados intelectualmente. Assim, tornava-se selecionar as crianças pelo grau
de inteligência, para formar classes homogêneas. Admitiu-se, também, que o simples
julgamento dos professores não seria uma medida muita objetiva porque eles seriam
influenciados pelas suas simpatias, preconceitos, pelos pais das crianças ou outros
fatores.
Abandonando o problema da definição da inteligência, Binet perguntou-se
simplesmente: “O que fazem os sujeitos brilhantes que a média não consegue fazer?”
Para responder à questão, Binet e Simon desenvolveram uma grande variedade de
tarefas que enfatizavam diferentes aspectos como julgamento, compreensão,
raciocínio, atenção, memória e outros. Uma criança de seis anos que conseguisse
resolver apenas os testes da idade de quatro anos tinha, portanto, uma idade mental
de quatro anos. A criança que resolvesse os testes próprios para a sua idade e
também os de idade superior à sua era considerada de inteligência normal. Este teste
foi traduzido para todo o mundo e despertou especial atenção nos Estados Unidos da
América, onde foram feitas várias revisões e apareceram outras formas de testes. A
mais famosa é a de Terman. Lewis Terman (1877-1956), um psicólogo americano que
trabalhava na Stanford University, produziu uma versão amplamente aceita do teste
de Binet para americanos em 1916 e foi quem primeiro se utilizou do conceito de
“quociente intelectual” (QI), atribuído ao psicólogo alemão Willian Stern, como um
indicador de inteligência.
O Q.I. é um índice numérico que descreve o desempenho relativo em um teste.
Compara o desempenho de uma pessoa com o de outras da mesma idade. Os Q.I.
podem ser calculados de diferentes maneiras. Terman usou o Q.I. para descrever o
relacionamento entre o nível mental e a idade cronológica, tendo rejeitado a medida
de Binet, ou seja, a diferença entre os dois.
Na Escala de Inteligência Stanford-Binet, como foi denominada a revisão de
Terman, inicialmente o Q.I. era calculado desta maneira: a pessoa que estava sendo
testada recebia o crédito de um número preciso de meses para cada resposta correta.
Os pontos eram somados e a soma recebia o rótulo de idade mental (IM). Os valores

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dos pontos dados para cada tarefa eram escolhidos de modo que os escores das
idades mentais médias das pessoas fossem iguais à sua idade cronológica. Depois,
a idade mental era dividida pela idade cronológica (IC) e o resultado multiplicado por
100. Em outras palavras, dizia-se que Q.I. = (MI/IC) x 100.
Uma criança de dez anos de idade que conseguisse um escore de idade mental
de onze obtinha um Q.I. de 110 (11/10 x 100 = 110). O Q.I. refletia a suposição de que
uma idade mental um ano abaixo da idade cronológica da pessoa mostra uma
desvantagem maior aos cinco anos de idade do que aos quinze. Hoje, os Q.I.
Stanford-Binet são calculados de modo ligeiramente diferente. Nota: Não cometa
engano de equacionar Q.I. e inteligência.
Inteligência, como a definimos, é uma capacidade global para atividades
mentais. Q.I. são um número que diz como uma pessoa se desempenhou em um
determinado teste em comparação com outras na mesma faixa etária. As ideias de
Binet a respeito de testar a inteligência foram geralmente adotadas no mundo inteiro
porque seu modelo “funcionava” em um sentido prático. Permitia aos psicólogos
designar à inteligência um número que parecia razoável. E o número podia ser
facilmente calculado por um estranho absoluto depois de interagir com o sujeito
durante uma idade aproximadamente. Alguns cientistas comportamentais tentaram
aperfeiçoar a escala de Binet. Outros construíram novos testes seguindo linhas
semelhantes às de Binet. A fim de pouparem tempo e dinheiro, os psicólogos
desenvolveram instrumentos que podiam ser ministrados a grupos de indivíduos.
Foram criados testes para categorias especiais de pessoas, inclusive bebês,
adolescentes, adultos, cegos e mudos. Atualmente há quase uma centena de testes
de inteligência usados pelos educadores.

INTELIGÊNCIA DO PONTO DE VISTA INTERACIONISTA

A teoria do conhecimento desenvolvida por Jean Piaget, não teve como


princípio a intenção pedagógica. Porém ofereceu aos educadores importantes
princípios para orientar sua prática ao mostrar a forma como o indivíduo estabelece
desde do nascimento uma relação de interação com o meio. Relação esta – com o
mundo físico e social – que promove seu desenvolvimento cognitivo.

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Estágios do desenvolvimento segundo Piaget

Piaget acredita que existem, no desenvolvimento humano, diferentes


momentos: um pensamento, uma maneira de calcular, certa conclusão, podem
parecer absolutamente corretos em um determinado período de desenvolvimento e
absurdos em outro.
Para Piaget, a forma de raciocinar e de aprender da criança passa por estágios.
Por volta dos dois anos, ela evolui do estágio sensório motor, em que a ação envolve
os órgãos sensoriais e os reflexos neurológicos básicos – com sugar o seio materno
- e o pensamento se dá somente sobre as coisas presentes na ação que desenvolve,
para o pré-operatório. Nessa etapa, a crianças e torna capaz de fazer uma coisa e
imaginar outra. Ela faz isso, por exemplo, quando brinca de boneca e representa
situações vividas em dias anteriores.
Outra progressão acontece por volta dos sete anos, quando ela passa para o
estágio operatório concreto. Ela consegue refletir sobre o inverso das coisas e dos
fenômenos e, para concluir um raciocínio, leva em consideração as relações entre os
objetos. Percebe que 3-1=2 porque sabe que 2+1=3. Finalmente, por volta dos doze
anos, chega ao estágio operatório formal. É quando o adolescente começa a
desenvolver ideias completamente abstratas, sem necessitar da relação direta com a
experiência concreta. Ele compreende conceitos como: amor, democracia, liberdade,
etc.
O conhecimento e o desenvolvimento da inteligência seriam construídos na
experiência, a partir da ação do sujeito sobre a realidade. Não sendo imposto de fora
para dentro, por pressão do meio. Mas, alcançadas pelo indivíduo ao longo do
processo de desenvolvimento, processo este entendido como sucessão de estágios
que se diferenciam um dos outros, por mudanças qualitativas. Mudanças que
permitam, não só a assimilação de objetos do conhecimento compatíveis com as
possibilidades já construídas, através da acomodação, mas também sirvam de ponto
de partida para novas construções.
Para Lev Vygotski, o indivíduo não nasce pronto nem é cópia do ambiente
externo. Em sua evolução intelectual há uma interação constante ininterrupta entre
processos internos e influências do mundo social. Vygotski em um posicionamento
que se contrapunha ao pensamento inatista, segundo a qual as pessoas já nascem

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com características, como inteligência e estados emocionais, pré-determinados. Da
mesma forma, enfrentou o empirismo, corrente que defende que as pessoas nascem
como uma folha de papel em branco e que são formadas de acordo com as
experiências às quais são submetidas.
Vygotski, no entanto, entende que o desenvolvimento do conhecimento é fruto
de uma grande influência das experiências do indivíduo. Mas que cada um
proporciona um significado particular a essas vivências. A apreensão do mundo seria
obra do próprio indivíduo. Para ele, desenvolvimento e aprendizado estão intimamente
ligados: nós só nós desenvolvemos se e quando aprendemos. Além disso, o
desenvolvimento não dependeria apenas da maturação, como acreditavam os
inatistas. Apesar de ter condições maturacionais para falar, uma criança só falará se
participar ao longo de sua vida do processo cultural de um grupo, se tiver contato com
uma comunidade de falantes.
A ideia de um maior desenvolvimento quanto maior for o aprendizado suscitou
erros de interpretação. Várias escolas passaram a entender o ensino como uma
transmissão incessante de conteúdos enciclopédicos. Imaginando que assim os
alunos se desenvolveriam mais. No entanto, para ser assimiladas as informações têm
de fazer sentido. Isso acontece quando elas incidem no que Vygotski chamou de Zona
de desenvolvimento proximal, a distância entre aquilo que a criança sabe fazer
sozinha – o desenvolvimento real – e o que é capaz de realizar com a ajuda de alguém
mais experiente – o desenvolvimento potencial.
Dessa forma, o que é zona de desenvolvimento proximal hoje se torna nível de
desenvolvimento real amanhã. O bom ensino, portanto, é o que incide na zona
proximal. Pois, ensinar o que a criança já sabe é pouco desafiador e ir além do que
ela pode aprender é ineficaz. O ideal é partir do que ela domina para ampliar seu
conhecimento.
O professor, de posse desses conceitos pode proporcionar aos alunos, com o
aperfeiçoamento de sua prática através da teoria, de conteúdos pedagógicos
proporcionais à sua capacidade. Democratizando as relações de aprendizagem, a
partir das características de desenvolvimento de conhecimento de cada aluno, para
formar sujeitos autônomos.

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INTELIGÊNCIA EMOCIONAL

Fonte: www.leaobrasileiro.com.br

Daniel Golemam, psicólogo PhD de Harvard, é o autor de Inteligência


Emocional. Afirma que temos dois tipos de inteligências distintas. A tradicional que
pode ser medida através de testes de QI e a inteligência emocional QE. Afirma que o
sucesso se dá: 20% devido ao QI e 80 % divido ao QE.
Inteligência Emocional é:
AUTO CONHECIMENTO - capacidade de reconhecer os próprios sentimentos
usando-os para tomar decisões que resultem em satisfação pessoal. Quem não
entende seus sentimentos está à mercê deles. Quem entende pilota melhor sua vida.
Faz opções acertadas sobre com quem casar ou que emprego aceitar.
ADMINISTRAÇÃO DAS EMOÇÕES - habilidade de controlar impulsos,
dispersar a ansiedade ou direcionar a raiva à pessoa certa, na medida certa e na hora
certa.
AUTOMOTIVAÇÃO - habilidade de persistir e se manter otimista mesmo diante
de problemas.
EMPATIA - habilidade de se colocar no lugar do outro, de entender o outro e
de perceber sentimentos não-verbalizados num grupo.
ARTE DO RELACIONAMENTO - capacidade de lidar com as reações
emocionais dos outros, interagindo com tato.
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Ainda não existem testes científicos capazes de mensurar o QE
O QI, medido em testes há quase um século, pode avaliar a capacidade lógica
e a de raciocínio, mas não dá conta de mensurar as demais variantes que podem
fazer a diferença numa carreira ou num casamento.
QI pode lhe dar um emprego X QE garantirá promoções
É a habilidade de perceber sentimentos ocultos e falar o que um grupo quer
ouvir, que fazem de uma pessoa um líder e garantem que alguém seja reconhecido e
promovido.
Na hora de contratar leva-se em conta a sensibilidade, equilíbrio emocional,
flexibilidade de lidar com pessoas diferentes.
O executivo do futuro terá de basear seu trabalho em equipes e se impor pela
competência, não pela força. É necessário saber guiar. O líder moderno é cada vez
mais orientado pelo consenso e pelo entendimento. Em uma divisão de engenheiros
eletrônicos, numa equipe de mais de 150 pessoas foi pedido que apontassem os
colegas mais produtivos e mais eficientes. Não foram apontados os de QI mais altos
e sim os que sabiam conviver com os demais, que estavam sempre motivados,
otimistas e pareciam confiáveis. A capacidade de criar relações de companheirismo
falou mais alto.
Na Metropolitam Life, uma das maiores seguradoras americanas, o psicólogo
Martim Seligman, da Universidade da Pensilvánia, aplicou teste sobre otimismo em
15000 candidatos ao cargo de vendedor (além dos testes tradicionais aplicados pela
empresa). Os resultados apontaram que os otimistas venderam 37 % mais apólices
nos dois primeiros anos de trabalho do que os pessimistas. Os pessimistas pediram
demissão o dobro que os otimistas.
QE não é hereditário. Aprende-se a lidar com as emoções no decorrer da vida.
Emoções fortes como raiva ou ansiedade criam um bloqueio na região frontal
do cérebro responsável pelo raciocínio.
Se você quer fechar um negócio, precisa tentar sempre ver o lado humano da
pessoa que está à sua frente ouvindo mais do que falando. As decisões nunca são
totalmente técnicas.

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TEORIA DAS INTELIGÊNCIAS MÚLTIPLAS

A Teoria das Inteligências Múltiplas foi elaborada a partir dos anos 80 por
pesquisadores da universidade norte americana de Harvard, liderados pelo psicólogo
Howard Gardner. Acompanhando o desempenho de pessoas que haviam sido alunos
fracos, Gardner se surpreendeu com o sucesso obtido por vários deles. O pesquisador
passou então a questionar a avaliação escolar, cujos critérios não incluem a análise
de capacidades que são importantes na vida das pessoas. Concluiu que as formas
convencionais de avaliação apenas traduzem a concepção de inteligência vigente na
escola, limitada à valorização da competência lógico-matemática e da linguística.
A Teoria das Inteligências Múltiplas sustenta que cada indivíduo possui
diversos tipos de inteligência, o que chamamos em linguagem comum de dom,
competência ou habilidade.
Gardner demonstrou que as demais faculdades também são produto de
processos mentais e não há motivos para diferenciá-las. Assim, segundo “uma visão
pluralista da mente”, ampliou o conceito de inteligência única para o de um feixe de
capacidades. Para ele “inteligência é a capacidade de resolver problemas ou elaborar
produtos valorizados em um ambiente cultural ou comunitário”. Identificou oito tipos
de inteligência, mas não considera esse número definitivo.
LÓGICO-MATEMÁTICA - habilidade para o raciocínio dedutivo, para a
compreensão de cadeia de raciocínios, além da capacidade para solucionar
problemas envolvendo números e demais elementos matemáticos. É associada
diretamente ao pensamento científico e, portanto, à ideia tradicional de inteligência.
Os componentes centrais desta inteligência são descritos por Gardner como
uma sensibilidade para padrões, ordem e sistematização. É a habilidade para explorar
relações, categorias e padrões, através da manipulação de objetos ou símbolos, e
para experimentar de forma controlada; é a habilidade para lidar com séries de
raciocínios, para reconhecer problemas e resolvê-los. É a inteligência característica
de matemáticos e cientistas Gardner, porém, explica que, embora o talento cientifico
e o talento matemático possam estar presentes num mesmo indivíduo, os motivos que
movem as ações dos cientistas e dos matemáticos não são os mesmos. Enquanto os
matemáticos desejam criar um mundo abstrato consistente, os cientistas pretendem
explicar a natureza. A criança com especial aptidão nesta inteligência demonstra
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facilidade para contar e fazer cálculos matemáticos e para criar notações práticas de
seu raciocínio.
LINGÜÍSTICA - habilidade para lidar criativamente com palavras nos diferentes
níveis de linguagem, tanto na forma oral como na escrita. Sensibilidade aos sons,
estrutura e significados e funções das palavras e da linguagem. Os componentes
centrais da inteligência linguística são uma sensibilidade para os sons, ritmos e
significados das palavras, além de uma especial percepção das diferentes funções da
linguagem. É a habilidade para usar a linguagem para convencer, agradar, estimular
ou transmitir ideias. Gardner indica que é a habilidade exibida na sua maior
intensidade pelos poetas. Em crianças, esta habilidade se manifesta através da
capacidade para contar histórias originais ou para relatar, com precisão, experiências
vividas.
MUSICAL - capacidade de produzir e apreciar ritmo, tom e timbre; apreciação
das formas de expressividade musical. Permite a organização de sons de maneira
criativa, a partir da discriminação dos elementos musicais. Normalmente não precisam
de aprendizado formal para exercê-la. Esta inteligência se manifesta através de uma
habilidade para apreciar, compor ou reproduzir uma peça musical. Inclui discriminação
de sons, habilidade para perceber temas musicais, sensibilidade para ritmos, texturas
e timbre, e habilidade para produzir e/ou reproduzir música. A criança pequena com
habilidade musical especial percebe desde cedo diferentes sons no seu ambiente e,
frequentemente, canta para si mesma.
ESPACIAL - capacidade de formar um modelo mental preciso de uma situação
espacial e utilizar esse modelo para orientar-se entre objetos ou transformar as
características de um determinado espaço. Percepção com exatidão do mundo viso
espacial e de realizar transformações nas próprias percepções espaciais.
Especialmente desenvolvida em arquitetos, navegadores, pilotos, cirurgiões,
engenheiros e escultores. Gardner descreve a inteligência espacial como a
capacidade para perceber o mundo visual e espacial de forma precisa. É a habilidade
para manipular formas ou objetos mentalmente e, a partir das percepções iniciais, criar
tensão, equilíbrio e composição, numa representação visual ou espacial. É a
inteligência dos artistas plásticos, dos engenheiros e dos arquitetos. Em crianças
pequenas, o potencial especial nessa inteligência é percebido através da habilidade
para quebra-cabeças e outros jogos espaciais e a atenção a detalhes visuais.

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CORPORAL-CINESTÉSICA – capacidade de controlar os movimentos do
próprio corpo é de manipular objetos habilmente. Esta inteligência se refere à
habilidade para resolver problemas ou criar produtos através do uso de parte ou de
todo o corpo. É a habilidade para usar a coordenação grossa ou fina em esportes,
artes cênicas ou plásticas no controle dos movimentos do corpo e na manipulação de
objetos com destreza. A criança especialmente dotada na inteligência cenestésica se
move com graça e expressão a partir de estímulos musicais ou verbais demonstra
uma grande habilidade atlética ou uma coordenação fina apurada.
INTERPESSOAL - capacidade de discernir e responder adequadamente aos
estados de humor, temperamentos, motivações e desejos de outra pessoa.
Capacidade de dar-se bem com as outras pessoas, compreendendo e percebendo
suas motivações ou inibições e sabendo como satisfazer suas expectativas
emocionais. Esta inteligência pode ser descrita como uma habilidade pare entender e
responder adequadamente a humores, temperamentos motivações e desejos de
outras pessoas. Ela é melhor apreciada na observação de psicoterapeutas,
professores, políticos e vendedores bem sucedidos. Na sua forma mais primitiva, a
inteligência interpessoal se manifesta em crianças pequenas como a habilidade para
distinguir pessoas, e na sua forma mais avançada, como a habilidade para perceber
intenções e desejos de outras pessoas e para reagir apropriadamente a partir dessa
percepção. Crianças especialmente dotadas demonstram muito cedo uma habilidade
para liderar outras crianças, uma vez que são extremamente sensíveis às
necessidades e sentimentos de outros.
INTRAPESSOAL – acesso à própria vida de sentimento e capacidade de
discriminar as próprias emoções; conhecimento das forças e fraquezas pessoais.
Competência para conhecer-se e estar bem consigo mesma, administrando seus
sentimentos e emoções a favor de seus projetos. Esta inteligência é o correlativo
interno da inteligência interpessoal, isto é, a habilidade para ter acesso aos próprios
sentimentos, sonhos e ideias, para discriminá-los e lançar mão deles na solução de
problemas pessoais. É o reconhecimento de habilidades, necessidades, desejos e
inteligências próprios, a capacidade para formular uma imagem precisa de si próprio
e a habilidade para usar essa imagem para funcionar de forma efetiva. Como esta
inteligência é a mais pessoal de todas, ela só é observável através dos sistemas

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simbólicos das outras inteligências, ou seja, através de manifestações linguísticas,
musicais ou cenestésicas.
NATURALISTA – perícia em distinguir entre membros de uma espécie, em
reconhecer a existência de outras espécies próximas e mapear as relações,
formalmente ou informalmente, entre várias espécies. Kátia Smole, em sua
dissertação de mestrado sobre o tema, amplia a proposta defendendo a classificação
da habilidade de desenhar como uma outra inteligência.
PICTÓRICA - faculdade de reproduzir, pelo desenho, objetos e situações reais
ou mentais. Segundo Gardner “Sempre envolvemos mais de uma habilidade na
solução de problemas, embora existam predominâncias”. As inteligências se integram.
Excetuados os casos de lesões, todos nascem com o potencial das várias
inteligências. A partir das relações com o ambiente, incluindo os estímulos culturais,
desenvolvemos mais algumas e deixamos de aprimorar outras.

O DESENVOLVIMENTO DO COMPORTAMENTO SOCIAL: O PROCESSO DE


SOCIALIZAÇÃO

O ser humano é um ser gregário, não vive isolado. Ao contrário, ele participa
de vários grupos entre os quais estão a família- onde se desenvolve a socialização
primária -, os companheiros, a escola, a comunidade religiosa etc. – com os quais
desenvolve a socialização secundária. Em cada grupo ele deve desempenhar um
papel, ou seja, um modo estruturado de comportar-se em um grupo. Realizando aquilo
que se espera que um indivíduo faça quando ocupa uma posição no grupo.
Assim, existe um padrão de comportamento para o aluno, para o professor,
para o noivo, para o pai etc. Além disso, existem padrões de comportamento que são
considerados adequados para as diferentes idades e gêneros. O papel de professor,
tradicionalmente aceito, inclui explicar, fornecer informações, dirigir uma discussão,
questionar, avaliar, aconselhar etc. O papel de mãe inclui o cuidado com a casa e com
a alimentação da família, a criação, a proteção e a orientação das crianças. Do pai
espera-se que oriente os filhos, trabalhe e forneça o sustento para todos. Da criança
exige-se afeto, obediência e respeito a seus pais e irmãos.
Ao mesmo tempo em que uma criança desempenha o seu papel, aprende os
papéis de seu pai, de sua mãe e dos demais familiares. Uma criança, depois de fazer
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uma coisa errada, pode chamar a si mesma de “feia”, exatamente como ela acha que
faria sua mãe. Pode imitar os movimentos de seu pai ao dirigir o automóvel da família.
Pode, ainda, brincar da mesma forma como fazem seus irmãos mais velhos. Isso
mostra que os elementos da família se transformaram em modelos cuja conduta pode
ser imitada.

Noção de personalidade

Cada um de nós, no seu íntimo, está convencido que é capaz de formar uma
impressão de si mesmo e dos outros, constatando inclusive, sem trocar palavras, que
tal impressão é frequentemente partilhada com outras pessoas além de si; o que vem
reforçar ainda mais a convicção sobre a correção da impressão inicial.
Ora a formalização dessa impressão resulta precisamente no esforço que se
pretende empreender ao tentar circunscrever a personalidade numa rede semântica...
é que de facto, num sentido material, a personalidade não existe, uma vez que se trata
de uma construção hipotética inferida a partir do que diz ou deixa de dizer e faz ou
não um determinado ser humano, a partir do momento em que se torna possível
reconhecer aí um padrão, uma estrutura relativamente estável de elementos que lhe
são peculiares, permitindo assim distingui-lo dos demais e mesmo prever o seu
comportamento em certas situações. Temos assim que a razão de ser do estudo da
personalidade se pode prender inicialmente com a previsibilidade.
De facto, a compreensão do comportamento permite, além de uma interação
mais eficaz, a sua eventual antecipação e mesmo controlo ou modificação. E assim é
que, com a personalidade, se pretende explicar o que as pessoas fazem e porque o
fazem, definindo-a como sendo uma configuração de disposições características
individuais e de propensão para modos de agir que determinam e descrevem a
adaptação e / ou a forma singular de ajustamento ao ambiente. Expressando-se num
determinado ambiente, inclui pois aspectos estruturais mais ou menos estáveis da
mente, bem assim como aspectos dinâmicos; permitindo estes, por exemplo, fazer
face à variedade requerida pela contingência circunstancial. E aqui é de salientar que
muitas vezes o controlo, mais do que pelas disposições, passa essencialmente pelo
adequado reconhecimento destas variáveis situacionais.

18
De um modo muito sintético, recorrendo às palavras de Ashby: “é o
metassistema que resulta da interação do sistema pessoa com o sistema sociedade.”
Isto é, podemos situar o sistema pessoa humana numa encruzilhada biopsicossocial,
atribuindo a preservação na memória, respectivamente conforme o nível - da vida, do
bem-estar, ou da cultura -, da espécie (ADN), do indivíduo (biografia), e do grupo
social (tradição, etc). Como subsistemas biológicos temos, culminados pelo sistema
neuro-endócrino integrador, os órgãos, os tecidos e as células, e como supra sistemas
sociais, a díade - seja a do terapeuta com o seu paciente -, a família, a comunidade,
a sociedade, e a noosfera.
Um organismo, qualquer que ele seja, mais do que uma soma de funções, é
um sistema de processos em mútua interação. E assim temos que a personalidade é
uma organização dinâmica global, e não um mero somatório estrutural de reflexos,
sensações, impulsos, etc. A sua estrutura, bastante inclusiva, é a da psicologia, sem
que dela seja sinónima; integra as idiossincrasias enquanto expressões peculiares,
singulares mas duradouras, da pessoa que vivencia; isto é, que protege a sua
autoestima ao lidar com os acontecimentos com que circunstancialmente se depara.
Para a sua abordagem adoptamos a mnemónica “clássica” dos quatro dês:
determinantes, descrição, desenvolvimento e dinâmica. Estes quatro dês prendem-
se, de certa forma, com a evolução do modo como a fomos conhecendo;
designadamente com a sequência cronológica dos seus modelos explicativos.

OS QUATRO D’S: DETERMINANTES, DESCRIÇÃO, DESENVOLVIMENTO E


DINÂMICA

Determinantes Numa certa forma de perspectivar a personalidade descrevem-


se por vezes uma faceta afetiva (1), também encarada como temperamento enquanto
atitude ou tendência afetiva básica; uma ativa (2), por vezes identificada, no que tem
de conativa ou volitiva, com o carácter, isto é, com a persona 1; e finalmente, uma
cognitiva ou intelectual (3).
No entanto, em relação aos determinantes, podemos antes caracterizar a
individualidade assumindo uma base constitucional sobre a qual se organiza a
personalidade. Esta refere-se pois a invariantes psíquicas / comportamentais que se
remetem para uma dimensão diacrónica; quer dizer, para o que sedimentou na história
19
singular. A identidade por seu turno, reconhece-se numa dimensão sincrónica
enraizada na intersubjetividade. Ou seja, aceita-se uma concepção multifatorial dos
determinantes ao conceber a interação plural de fatores biogenéticos, socioculturais
— variáveis situacionais portanto —, e psicológicos — ou seja, variáveis pessoais —
. Podemos assim discernir duas vertentes contributivas: uma inata, presa a fatores
hereditários, e outra adquirida, antes referida ao ambiental ou relacional.

Fonte: www.ibccoaching.com.br

Ou seja, na conformação da personalidade intervêm as potencialidades


inatas modeladas pela experiência durante a maturação / desenvolvimento. O
adquirido por sua vez, resultando basicamente da interação, pode situar-se no
plano da experiência comum, ou então no da singular , específica. Durante a
biomaturação podem inclusive referir-se determinados períodos críticos que, em
termos de psicodesenvolvimento, têm a sua contraparte em períodos sensíveis
de aprendizagem.
Tal como na socialização, estes permitem identificar fases e crises,
permitindo mesmo referenciar fixações e regressões na formação do ego ; ou melhor,
nos processos de passagem do Eu para níveis superiores, também dito de
individuação do selbst . A crise, por seu lado, e enquanto homeorrése, pode em
determinadas circunstâncias, ser encarada como uma desintegração positiva; e
designadamente no caso da aquisição de informação levar a uma acomodação da
conformação pré-existente, e assim conduzir à passagem para um modo de
funcionamento próprio de um novo patamar homeostático.
20
Será por exemplo o caso da estabilidade, relativa que seja, conseguida
à custa da mobilização para a criação artística, ou da integração de uma identidade
resultante de papéis fragmentários anteriormente obtidos por identificação. Por outras
palavras podemos pois dizer em relação ao inato que sobre a constituição vem depois
intervir o adquirido através de uma modelação decorrente da socialização.
De outro nível, está resulta na conformação da personalidade, conforme se
disse, por meio da aquisição de papéis selecionados por identificação com
pessoas significativas do meio; seja o caso, pelo menos nas primeiras fases, dos
pais ou seus substitutos. E aqui se reconhece que, se tal processo de identificação
respeita a uma experiência singular referida a contingências específicas, já os papeis
são oriundos da experiência comum; a qual por seu turno respeita antes ao
contexto sociocultural.
A busca de identidade própria na adolescência virá a culminar, em condições
normais, com a redução de dissonâncias e a integração desses vários papéis
adquiridos por identificação. Pode referir-se, a título de exemplo, que uma deficiente
integração da personalidade pode ser ilustrada com os casos de dissociação, não
tanto entre realidade e sonho, mas antes entre diferentes papéis; é o que acontece
com alguns casos, reais e / ou puramente fictícios, tornados célebres por via
romanesca: As três faces de Eva, O médico e o monstro, Psycho, Clube de combate,
etc. Ou de modo mais controlado entre ator e personagem, a cujo propósito
recordo Kean; ou ainda entre os heterónimos literários prefigurando um alterego , a
cujo propósito recordaria Pessoa: “...esta tendência não passou com a infância,
desenvolveu-se na adolescência, radicou-se com o crescimento dela, tornou-se
finalmente a forma natural do meu espírito. Hoje já não tenho personalidade: quanto
em mim haja de humano, eu o dividi entre os autores vários de cuja obra tenho sido o
executor. Sou hoje o ponto de reunião de uma pequena humanidade só minha”.
Ou seja, o ego desenvolve-se, antes do mais, através da auto percepção, da
consciência de si mesmo — proprium (Allport) —; processo de atribuição esse que
de certo modo nos permite dizer que existimos através dos outros, que somos a
imagem que nos é refletida desde sempre pelos outros. No processo de
individuação o selbst / self vai pois culminar a integração, distanciando-se da
persona no que está tem que se refere mais às formas de impregnação social
do indivíduo. De realçar no entanto, que o processo se não detém aqui, uma vez

21
alcançada a idade adulta; antes prossegue, podendo-se inclusive continuar a
discernir fases que, passando pelo envelhecimento, culminarão na morte.

MODELOS DE TEORIAS ESTRUTURAIS

De certo modo podemos distribuir as principais teorias da personalidade por


entre teorias estruturais / descritivas — como são as de tipos (categoriais) e/ou as de
traços (dimensionais) —; e processuais — designadamente as teorias do
desenvolvimento ou genéticas (numa perspectiva diacrónicas), e as abordagens
dinâmicas (numa perspectiva sincrónicas) — que incorporam uma dimensão temporal
1 . Conforme ficou dito as primeiras, que se debruçam sobre a estrutura, são
essencialmente descritivas.

Tipologias

Quanto à preocupação em descrever tipos de personalidade , esta pode-se


fazer remontar pelo menos aos tempos de Hipócrates e da Escola de Cós (460-
377 a.C.), através de Políbio, seu genro e discípulo; ficando definitivamente
vulgarizada por Galeno (129- 199) no século II d.C., que a desenvolveu até
encontrar 13 combinações de humores. Viria depois a ser retomada mais tarde pelo
filósofo moralista Emmanuel Kant (1724-1804) ao manter em quatro quadrantes a
divisão da humanidade quanto ao seu temperamento. Radicando-se na
cosmogonia dos quatro elementos de Empédocles — água, ar, terra, e fogo —, e
partindo do princípio da identidade entre o macrocosmo (o universo) e o microcosmo
(o indivíduo), tinha a pretensão de classificar os modos de reagir de acordo
com o predomínio dos humores.
E assim é que consideravam predominar a linfa nos que classificavam como
fleumáticos, o sangue nos sanguíneos, a atrabílis nos melancólicos, e a bílis nos
coléricos. Os fleumáticos, corpulentos e com tendência para a obesidade, seriam
perseverantes, fatalistas e pouco emotivos — frios e impessoais —, calmos, ou
mesmo apáticos e lentos. Os sanguíneos seriam de estatura média, musculosos, e
dinâmicos, confiantes e optimistas, corajosos e mesmo impulsivos, corados,
galhofeiros, de voz forte, e se afetuosos e agradáveis, também suportando mal as
22
contrariedades. Os melancólicos ou nervosos, os longilíneos, pouco musculosos, com
predomínio da vida interior, e inclinação para a tristeza e depressividade.
Finalmente os coléricos ou biliosos seriam os irascíveis — irritáveis e irados —
; metódicos e ativos, de reação rápida, revelavam-se combativos, podendo mesmo
ser violentos ou sectários. Este quadro hipocrático vem a ser retomado em
abordagens mais modernas — Ivanov, Smolenski, Pende, etc — que, de algum modo
herdeiras destes tipos fisiológicos, grosso modo pretendem uma categorização de
acordo com os padrões de resposta autonómica, em simpaticotónicos e
parassimpaticotónicos. Nesta mesma perspectiva psicossomática, o próprio Pavlov,
nos seus estudos de reflexologia, distinguiu quatro tipos temperamentais: o
equilibrado, o excitável, o inibido, e o inerte. Para além dos tipos humorais, outras
tipologias há que se debruçam antes sobre os tipos físicos, sobre os tipos de corpo.
É o que acontece com os biótipos de Ernst Kretschmer (1888-1964). Com efeito
este autor concebeu um sistema objetivo para descrever tipos constitucionais (1925),
de acordo com o qual propõe e descreve um tipo pícnico (1) — de constituição
compacta, baixo e com tórax e abdómen largos —, um leptossomático ou asténico
(2) — magro, frágil, pouco musculado —, e um atlético (3) — intermédio e
musculoso —. Reservando ainda um tipo displástico para referir as misturas
incongruentes de diferentes tipos em diferentes partes do corpo. A pretensão deste
autor era a “biologizar” determinadas perturbações psiquiátricas associando-as a
estes morfotipos.
Para o efeito considerava tais patologias como resultantes de uma acentuação
dos temperamentos normais: da disposição ciclotímica à psicose maníaco- depressiva
para os pícnicos, e da esquizotipia à esquizóidia, e desta à esquizofrenia, para os
leptossomáticos.
É o que também acontece de algum modo com a depuração ulteriormente
levada a cabo por William H. Sheldon (1899-1977). Este autor trabalhou sobre as
fotografias de 4000 estudantes de 18 anos, sempre em poses idênticas, obtidas a
partir de três ângulos; depois, baseado nas suas medições, extraía 17 índices relativos
a várias partes do corpo — obtidas pela razão entre estas e a altura —, segundo as
quais pontuava cinco áreas diferentes do corpo. Por este processo atribuía ao final,
no seu Teste de Performance Somatotípica, pontuações de 1 a 7 num continuum entre
endomorfia, mesomorfia, e ectomorfia. Isto é, pontuava-as de acordo com o

23
considerava como o predomínio de um de três folhetos embrionários. Por outro lado
acompanhou durante cinco anos trinta e três estudantes, em cujo comportamento e
carácter reconheceu, através de análise factorial, 60 traços de personalidade.
Distribuindo-os em três séries, estabeleceria assim depois (1942),
respectivamente, correlatos temperamentais com os que dizia viscerotónicos (1) —
sociáveis, amáveis, emotivos, dependentes (de aprovação), de sono profundo e com
gosto pelos alimentos e pelo conforto —; com os cerebrotónicos (2) — sensíveis e
inibidos, preocupados e solitários, com fracos hábitos de dormir e fadiga crónica —; e
com os somatotónicos (3) — sentindo necessidade de poder, afirmativos, de modos
enérgicos e agressivamente competitivos, com um limiar de ansiedade elevado,
mostrando-se corajosos e mesmo indiferentes à dor, com gosto pelo exercício
e pela aventura —. Prosseguindo a pretensão de Kretschmer, também Sheldon, ao
reclamar uma correlação entre endomorfia e viscerotonia, defendia ser esta uma
disposição afetiva que, associada a uma fraca capacidade inibitória, encontrava a
sua expressão extremada na psicose maníaco-depressiva.
A ectomorfia por seu turno, na ausência do afeto e da energia do viscerotónico,
constituiria uma disposição hebóide, caracterizada pelo evitamento social,
minimizando a competição em função da escassez de recursos. Por outro lado ainda
à mesomorfia corresponderia uma disposição paranóide, oscilando entre a
preocupação, a ideação persecutória, e o ressentimento, para os que se sentem mais
fracos, e a arrogância, para os que se sentem mais fortes, mostrando-se
declaradamente litigantes e agressivos.
Na realidade apenas obteve correlações positivas moderadas entre a
ectomorfia e a esquizofrenia, e entre a endomorfia e a psicose maníaco-
depressiva; já a mesomorfia surgiu-lhe correlacionada com a psicose maníaco-
depressiva e com a paranóia. Pode dizer-se que de certo modo, neste contexto, as
abordagens de Kretschmer / Sheldon resumem a essência das propostas existentes.
Uma há no entanto que, pelo seu cunho inovador à altura, e pelo esquecimento
sistemático a que mal- intencionadamente é votada, talvez mereça uma breve
referência à parte; trata-se da tipologia reichiana. Com efeito este autor, rompendo
com a ortodoxia psicanalítica, postulou que os conflitos intrapsíquicos se
inscrevem no sistema musculo- esquelético, bem assim como condicionam o nível

24
de activação do sistema nervoso autónomo; desse modo antecipando e abrindo
caminho para a moderna concepção psicossomática da medicina.
E é nesse contexto que se deve compreender quão vanguardista foi a técnica
da vegetoterapia, quando hoje dispomos de novas achegas como o psicodrama,
o sociodrama, as terapias grupais, etc; isto é, numa época em que a expressão
corporal já começou a penetrar nas academias. No âmbito da sua concepção de
economia sexual ele vai opor à sublimação, sobre a qual Freud apoia a cultura, o
orgasmo. Conferindo importância decisiva a Eros, reclama na satisfação sexual a
alegria de viver, a criatividade optimista, e a democracia. Em oposição, da repressão
resulta por seu turno a renúncia; e sem orgasmo, a excitação inibida da energia
libidinal residual leva à angústia e à agressividade. Ora esses mecanismos
repressivos e dominadores, se conduzem à incapacidade orgástica, também têm
tradução muscular na “couraça” caraterial.
Não se trata pois da repressão direta, mas outrossim da sua insinuação
interiorizada sob a forma de autocensura, condicionando o que Reich chama de peste
emocional. Neste contexto descreve mesmo no seu Análise Caraterial, alguns grupos
musculares sinérgicos que considera fulcrais para a análise da “couraça caraterial” —
ocular, maxilar ou oral, cervical, torácico, diafragmático, abdominal, e pélvico —
; e depois, em função das conformações por estes determinadas, descreve algumas
tipologias. Ainda nesta perspectiva de descrição através de tipos, podemos referir os
tipos psicológicos, ou talvez melhor, de comportamento, designadamente conforme
descritos por Carl Gustav Jung (1875- 1961). Simplificando pode dizer-se grosso
modo que este autor classificava os indivíduos (1921), de acordo com as suas
atitudes inatas, por um lado em introvertidos — os que apresentavam predomínio
da sua vida interior —, e por outro em extrovertidos — os sociáveis e interessados
pelo meio externo —.
Na realidade as propostas de Jung viriam a ser operacionalizadas por Isabelle
Myers (1962) através do Inventário tipológico de Myers-Briggs, permitindo classificar
16 tipos de acordo com a sua caracterização em quatro parâmetros: atitudes
(extroversão- introversão), percepção irracional (sensação-intuição), julgamento
racional (pensamento- sentimento), e estilo de vida (avaliação-percepção).
De facto, a análise crítica rigorosa, em estudos com cuidada exclusão das
diversas formas possíveis de contaminação — seja por exemplo o facto de o peso

25
médio aumentar com a idade, e a história natural dos quadros mórbidos localizar
a sua apresentação preferencialmente em determinados grupos etários (como as
perturbações maníacas a partir dos 40 anos) —, não permitiu confirmar de modo
absoluto a pretensa correlação entre a constituição do corpo e a personalidade ou
temperamento. Por outro lado também, a distribuição dos padrões de resposta
autonómica não permite afirmar descontinuidade entre tipos.
E de igual modo em relação à distribuição entre introvertidos e
extrovertidos, também ela é unimodal, e não bimodal; id est , não constituem tipos
distintos, mas antes extremos da distribuição ao longo do continuum de uma mesma
escala. Além disso a análise fatorial permite identificar vários fatores distintos
(referem- se 5); o que de algum modo implica a possibilidade de ambiversão:
introversão de pensamento, por exemplo, não excluirá extroversão social.

ABORDAGENS DIMENSIONAIS

Quanto às teorias de traços, em certa medida também elas se podem


considerar tipológicas; embora agora por via estatística. No entanto não mais
categoriais, mas antes dimensionais, na medida em que remetem o seu modo de
classificar a personalidade para descrições em termos de características que podem
variar ao longo de uma distribuição sem descontinuidades. Assim é que se pode
descrever traço como referindo-se a um conjunto de comportamentos ou
tendências para a ação correlacionadas. Estes traços pretendem pois descrever, e de
certo modo predizer, o comportamento que o indivíduo apresenta, ou tem certa
probabilidade de apresentar; e não tão somente descrever um estado persistente.
No fundo o traço nasce com a análise fatorial, a qual por seu turno parte do
estudo das Inter correlações entre as formas de responder / reagir habituais. Isto será
tanto melhor compreendido enquanto exemplificativamente referido a duas das teorias
mais representativas; e designadamente a teoria das disposições de Gordon Allport
e a dos traços dinâmicos de Raymond Cattel.
Assim é que Allport, juntamente com Odbert (1936), examinou 400 mil
palavras do dicionário de inglês, selecionando 17953 que designavam modos de
comportamento individual. Reduziu depois esse número através da organização de
séries sinonímicas a que foi excluir as menos representativas, abandonando de
26
igual modo as que designavam estados de ânimo temporários, as que tinham um
pendor mais avaliativo do que descritivo, e as que se referiam mais a
características físicas do que a aspectos psicológicos, acabando por assim reduzir a
lista para as 4541 que lhe serviram de ponto de partida para o seu estudo de
formalização teórica.
Cattel por seu turno, fez incidir a sua redução sistemática sobre a lista de 17953
palavras, para o que recorreu à análise estatística, obtendo deste modo 171
variáveis (feixes de correlações com um r > 0.60). Sobre estas fez incidir uma
análise factorial extraindo 36 traços a que chamou de superficiais, os quais viria a
reduzir depois, depurando o modelo, a 12 que designou de agora de traços originais
ou essenciais. Na realidade Cattel propõe um modelo da personalidade resultante da
análise dinâmica dos traços, repousando a sua descrição em dados biográficos
(L-data), de auto avaliação (Q-data), e obtidos por provas de realização objetivas
(T-data). Aos 12 traços essenciais viria a acrescer mais 4 na construção do
questionário ainda hoje em uso, e que deve o seu nome — 16PF — exatamente aos
16 fatores da personalidade que descreve em termos bipolares. Allport, na sua teoria
das disposições, descreveu-nos traços comuns, que no fundo correspondem a
escalas de valores, e disposições pessoais.
De entre os primeiros predominaria um deles, conforme as pessoas. Já para
as disposições pessoais, o autor subdividiu-as em três:
 Fundamentais ou cardinais, não havendo mais do que um punhado,
constituirão objetivos de vida, assumindo um cunho dominante, e
impregnando tudo e a ponto de se poderem tornar “paixões
avassaladoras”;
 Centrais, as que, entre duas e dez, incluem os constituintes básicos da
edificação da personalidade, pelo que serão facilmente reconhecidas
pelos outros, que se valem delas para descrever uma pessoa ausente;
e
 Secundárias ou acidentais, os que, sendo de uso limitado a
situações específicas, não serão tão aparentes, apenas se identificando
com um conhecimento mais aprofundado do indivíduo.
Como resultado destas teorias podemos referir modalidades de traços físicos,
temperamentais, de capacidades, designadamente a intelectual, as
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supramencionadas de valores e interesses, em relação às quais haveria predomínio
de um deles conforme as pessoas em causa (de acordo com as disposições de
Allport).
De acordo com tais valores, podem então considerar-se as pessoas como
teóricas, se racionais, sistemáticas, objetivas; como económicas, se pragmáticas;
como políticas, se manipuladoras, jogando com influência para alcançar poder e fama;
como estéticas, se hedonistas e apreciadoras da beleza; como sociais, se orientadas
para as relações interpessoais; e finalmente como religiosas, algo identificáveis
com as “amadurecidas” na acepção jungiana, e portanto buscando a verdade interior
e a unidade das suas experiências.
Também as atitudes podem, de certa forma, ser encaradas como traços;
considerando-se, por exemplo, um indivíduo como pessoa autoritária, ou um outro
como dogmático. Doutro modo ainda, as disposições motivacionais (Murray), seja por
exemplo o caso das de realização, das de associação, ou outras. Podem referir-se
ainda os traços de interação, ditos expressivos e de estilo, como é o caso da
polidez, da loquacidade, da coerência, da indecisão, do espírito crítico, da
sociabilidade, etc. E finalmente de tendências patológicas, ditos psicopatológicos,
como seja o caso da hipomania, da esquizóidia, ou outros; aqui se enquadram os
traços psicopatológicos de nível neurótico conforme pretende avaliar, por exemplo,
o Questionário do Hospital Middlesex (Crown-Crisp): ansiedade, fobia,
obsessividade, somatização e histrionismo.
Conforme com a posição de cada traço na respectiva escala, resultará
depois o perfil descritivo da personalidade. Mais recentemente surgiram algumas
propostas que pretendem de certo modo obviar a algumas destas questões. Entre
as mais referenciadas conta-se a do inglês Eysenck (1947), que de algum modo
recupera as ideias de Pavlov sobre emoções fortes / fracas, e lentas / rápidas, com as
dimensões agora propostas de neuroticismo / estabilidade emocional, e de introversão
/ extroversão; a que vem ainda acrescentar uma outra referida a psicoticismo.
De realçar como nota curiosa o modo como o autor recupera os tipos humorais
que remontam à antiguidade clássica na medida em que estes se podem situar
no seio das dimensões que ora propõe: o sanguíneo, entre estável e extrovertido;
o colérico, entre extrovertido e emocionalmente instável; o melancólico, entre

28
instável e introvertido; e o fleumático, entre estável e introvertido. Embora agora
já não se trate de fluidos, naturalmente, mas sim de excitação ou inibição cortical.
O que aliás começa a ser empreendido por Wilhelm Wundt (1832- 1920)
quando assume o fio condutor que chega até si através de Kant, rejeitando contudo a
concepção tipológica dos quadrantes, e avançando desde logo com um
posicionamento em relação ao continuum dos tais eixos referidos como de emoções
fortes / fracas, e de emoções lentas / rápidas; seja por exemplo o caso do
colérico, de reação intensa e rápida.
No entanto esta proposta de Eysenck também não fica isenta de críticas , uma
vez que a generalidade das ditas “personalidades difíceis” obtêm todas elas uma
pontuação elevada em neuroticismo, não podendo ser discriminadas no âmbito do
teste. O que leva a inferir outras dimensões descritíveis num plano mais fino.
Além disso também a independência entre neuroticismo e introversão é posta em
causa quando se reconhece, por exemplo, que ambas se reduzem mediante utilização
de ansiolíticos.
Por outro lado ainda, em termos de análise crítica , este tipo de descrição
descura de algum modo as condições de tensão ambiental em que certas disposições
serão ativadas. No caso da teoria das disposições, pode mesmo dizer-se que a
psicopatologia é quase totalmente ignorada, uma vez que se debruça essencialmente
sobre o estudo de pessoas normais; e de entre estes, inclusive, só sobre amostras
recolhidas em determinados estratos socioculturais.

ALTERAÇÃO DA PERSONALIDADE

Clusters (agrupamentos)

No enquadramento contextual da personalidade, as situações de alteração da


mesma, mais do que pelos quadros comportamentais que as tipificam, caracterizam-
se desde logo como padrões de comportamento mais ou menos estáveis e
duradouros. Isto é, mais do que resultarem de reações a fatores de tensão
ligados a impulsos e conflitos, seja eles derivados de esforços adaptativos face a
determinadas solicitações ambientais, têm de se assumir aqui como
primordialmente radicadas num processo maturativo que permita identificar o
29
desenvolvimento estrutural da mesma no âmbito da história biográfica do indivíduo:
enquanto adolescente e adultos jovem, ou até mesmo começando a manifestar-
se desde a infância. Ou por outras palavras, mais do que quadros referentes a
reacções inadequadas, as alterações de personalidade têm de reflectir uma tendência
do indivíduo para perceber e reagir sempre de modo mais ou menos inadequado às
diversas solicitações do seu meio.
E por inadequação ao meio deve entender-se o desvio em relação às
expectativas oriundas da cultura envolvente, dando azo a experiências
desagradáveis, que podem gerar sofrimento e problemas sociais ou laborais.
Pessoas sistemática e caracteristicamente muito desconfiadas, ou passivas, ou
inadequadamente emotivas, ou extremamente dependentes dos outros, ou
terrivelmente compulsivas e ordenadas, ou sem o menor respeito por nada nem
ninguém. No âmbito do DSM esta destrinça resulta nos Eixos I e II, uma vez que as
perturbações enquadráveis no Eixo I podem surgir e desaparecer em diversas alturas
durante a vida, ao passo que as do Eixo II se remetem para perturbações de longa
duração que surgem em regra antes do estado adulto, e que persistem sem mudar
significativamente ao longo da vida.
De fato as alterações da personalidade não melhoram de modo apreciável ao
longo da vida, nem permitem identificar períodos de remissão. Ora estas invariantes
de personalidade, pese embora de tipo psicopatológico, vão de encontro à
natureza do que anteriormente se concebeu como traço. E assim sendo, não será de
estranhar que qualquer um encontre um pouco de si nesta ou naquela descrição de
tais alterações. Só que contra a tentação de concluir pelo processo mórbido, devemos
antes atentar que tais traços, fazendo parte da condição humana, se apresentam
tipificados pelo extremo de um continuum dimensional sem descontinuidades
até à expressão normal; e no caso com toda a probabilidade não serão tão
inflexíveis, inadequados, e fontes de tensão, que possam consubstanciar tal
conjectura.
Há uma enorme multiplicidade de alterações de personalidade que têm sido
reconhecidas e descritas. A ponto de algumas dessas categorias diagnósticas
se sobreporem, ou de poderem estar presentes em simultâneo num mesmo
indivíduo; pelo que tais descrições “clássicas”, conforme se disse, podem de algum
modo ser vantajosamente encaradas como tipos unidos em torno de determinados

30
traços comuns. Aliás nem tampouco há unanimidade quanto aos critérios para
estabelecer as diversas entidades descritas; o que levanta sérias questões quanto à
precisão (validade) e coerência (fiabilidade) das mesmas.
E assim é que, embora mantendo as referidas as descrições “clássicas”, a
classificação da Associação de Psiquiatria Americana ( DSM ) agrupa atualmente tais
descrições no âmbito de três grandes clusters nascidos da análise estatística, no
seio de cada um dos quais se encontram então alguns tipos que, embora distintos,
por esta via se reconheceram de algum modo ligados por traços afins: o A , dos
excêntricos — integrando os esquizotípicos, os esquizóides, e os paranóides —; o B
, dos melodramáticos — onde se encontram os histeróides, os narcísicos, os estado-
limite, e os anti-sociais —; e o C , dos ansiosos — incluindo evitantes, dependentes,
passivo-agressivos, e obsessivo-compulsivos —.
Aliás a este propósito resulta interessante notar que já Eysenck, em
reconhecendo como recorrente na literatura uma concepção da personalidade
variando entre dois pólos — maníacos e melancólicos (Heymans e Wiersma, 1909),
introvertidos e extrovertidos (Jung, 1921), pícnicos e leptossomáticos (Kretschemer,
1925), ectomorfos e endomorfos (Sheldon, 1942) —, parte da hipótese de um
contraste entre persolalidades histéricas — conversão, problemas relacionais,
psicopatia, etc. —, e personalidades distímicas — ansiedade, psicastenia,
depressividade reactiva, etc. —, para a construção da extroversão / introversão no
seu sistema teórico.

REFERENCIAIS

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31
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VOLPI, José Henrique. Particularidades sobre o temperamento, a


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Reichiano, 2004. Disponível em: www.centroreichiano.com.br/artigos.htm.
Acesso em:05/04/2017

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artigo complemetar
PARTICULARIDADES SOBRE O TEMPERAMENTO, A PERSONALIDADE E
O CARÁTER, SEGUNDO A PSICOLOGIA CORPORAL

José Henrique Volpi

É notório o fato de que os estudos sobre as questões que norteiam o


comportamento humano, despertem interesse nos estudiosos à milênios. Da mesma
forma, temperamento, personalidade e caráter, são palavras utilizadas com freqüência
desde a antiguidade. Porém, seus significados quase sempre são confusos e/ou
utilizados de forma errônea. A proposta desse artigo é traçar um apanhando geral
sobre os conceitos postulados por diversos autores, no intuito de oferecer aos
estudantes e profissionais da Psicologia e áreas afins, uma maior clareza.
Temperamento
Há cerca de 2500 anos, Hipócrates, considerado o pai da Medicina, classificou
o temperamento da espécie humana em quatro tipos básicos:
Sangüíneo, típico de pessoas de humor variado;
Melancólico, característico de pessoas tristes e sonhadoras;
Colérico, peculiar de pessoas cujo humor se caracteriza por um desejo forte e
sentimentos impulsivos, com predominância da bile;
Fleumático, encontrado em pessoas lentas e apáticas, de sangue frio.
Tendo feito uso da teoria postulada por Hipócrates, o psicólogo Ivan Pavlop
verificou experimentalmente em animais, os mesmos tipos de temperamentos
humanos, demonstrando ao mesmo tempo a relação dos mesmos com o sistema
nervoso e fatores bioquímicos. A partir disso, várias pesquisas foram desenvolvidas
com base nos neurotransmissores, nos processos genéticos, bioquímicos e nervosos,
acreditando estar aí a exp licação para as diferenças de temperamento
(ZUCKERMAN, 1991).
São vários os sistemas básicos que tentam explicar a essência do
temperamento, porém, dois deles se destacam mais. O primeiro, chamado de sistema
humoral, têm um interesse histórico e liga o estado do organismo com a proporção
dos líquidos e humores que circulam pelo organismo. Daí surgiu a classificação dos
temperamentos sangüíneo, colérico, fleumático e melancólico. O segundo sistema,

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denominado constitucional, se sustenta nas diferentes compleições do organismo e
em sua estrutura física. Essa tipologia representa uma abordagem ao estudo da
relação entre as características físicas e as psicológicas.
A palavra temperamento tem sua origem do latim (temperamentum = medida).
Representa a peculiaridade e intensidade individual dos afetos psíquicos e da
estrutura dominante de humor e motivação.
Breuer, citado por Freud (1987) aponta algumas diferenças de temperamento
dizendo que algumas são mais vivazes ao passo que outras são mais inertes e
letárgicas. Há ainda aquelas que não conseguem ficar paradas, as que tem o dom
inato de se espreguiçarem nos sofás, as que são mais ágeis, etc. Diz ainda que “Essas
diferenças, que constituem o `temperamento natural´ de um homem, por certo se
baseiam em profundas diferenças em seu sistema nervoso — no grau em que os
elementos cerebrais funcionalmente quiescentes liberam energia” (p. 205).
Novais (1977), diz que o temperamento está ligado a um clima químico na qual
se desenvolve a personalidade. Já, Petroviski (1985) define o temperamento como
sendo a combinação determinada e constante das peculiaridades psicodinâmicas do
indivíduo, que se revelam por meio de suas atividades e comportamento, compondo
dessa forma a sua base orgânica. Ainda seguindo o curso desse pensamento, Allport
(1966), caracteriza o temperamento como sendo um fenômeno específico da natureza
emocional do indivíduo, que inclui a sua sensibilidade aos estímulos, intensidade e
rapidez de respostas e várias outras particularidades, todas ligadas à hereditariedade.
Atualmente, o que mais se aceita a respeito do temperamento é que certas
características são decorrentes de processos fisiológicos do sistema linfático, bem
como a ação endócrina de certos hormônios. Assim, pode-se explicar a genética e a
interferência do meio sobre o temperamento de cada pessoa. Então, poderíamos
definir temperamento como sendo uma disposição inata e particular de cada pessoa,
pronta a reagir aos estímulos ambientais; é a maneira interna de ser e agir de uma
pessoa, geneticamente determinado; é o aspecto somático da personalidade.
Segundo Navarro, (1999, pp.5 e 6): encontramos diferentes tipos de
temperamentos. Existem pessoas que são basicamente tireóideas, hipo ou hiper-
suprarenais, timolinfáficas... Isso faz parte do temperamento. Temos um normotipo,
um longitipo, um braquitipo. Tudo isso são aspectos do temperamento da pessoa.

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O temperamento pode ser transmitido de pais para filhos, porém, não é
aprendido, nem pode ser educado; apenas pode ser abrandado em sua maneira de
ser, o que é feito pelo caráter.
Personalidade
A personalidade é formada durante as etapas do desenvolvimento psico-afetivo
pelas quais passa a criança desde a gestação. Para a sua formação incluem tanto os
elementos geneticamente herdados (temperamento) como também os adquiridos do
meio ambiente no qual a criança está inserida.
São várias as teorias que versam sobre personalidade tanto quanto as
controvérsias, temas de discussões presentes em toda história da filosofia, psicologia,
sociologia, antropologia e medicina geral, que vão sendo internalizados em seu
psiquismo para formar a personalidade.
Uma das escolas de grande destaque no estudo da personalidade, foi a
psicanálise de S. Freud, que sustenta que os processos do inconscientes dirigem
grande parte do comportamento das pessoas. Outra escola importante foi a do
americano B. F. Skinner que sustenta a tese de que a aprendizagem se dá pelo
condicionamento.
Desde a gestação, as crianças já se encontram em condições ambientais
distintas, sofrendo com a ação dos estresses e apresentando comportamentos
particulares. A antropóloga Margaret Mead (2001) estudou o comportamento de duas
tribos indígenas da Guiné e percebeu que apesar de ambas terem as mesmas
características étnicas e viver no mesmo lugar, apresentavam comportamentos
diferentes. Uma era mais hostil e competitiva ao passo que a outro era mais amistosa,
pacífica e cooperativa, demonstrando assim um comportamento particular.
Assim, Ballone (2003) define personalidade como sendo:
A organização dinâmica dos traços no interior do eu, formados a partir dos genes
particulares que herdamos, das existências singulares que suportamos e das
percepções individuais que temos do mundo, capazes de tornar cada indivíduo único
em sua maneira de ser e de desempenhar o seu papel social (BALLONE, 2003).

Compreender os aspectos e a dinâmica da personalidade humana não é tarefa


simples, visto à complexidade e variedade de elementos que a circunda, gerados por
diversos fatores biológicos, psicológicos e sociais. Com relação aos aspectos sociais,

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quanto mais complexa e diferenciada for a cultura e a organização social em que a
pessoa estiver inserida, mais complexa e diferenciada será a personalidade. Do ponto
de vista biológico, a pessoa já traz consigo, em seus genes, diferentes tendências,
interesses e aptidões que também são formados pela combinação dinâmica entre
diversos fatores hereditários e uma infinidade de influências sócio-psicológicas que
ela recebe do meio ambiente. (FERNANDES FILHO, 1992).
Então, podemos dizer que a personalidade é formada por dois fatores básicos:
Hereditários: são os fatores que estão determinados desde a concepção do
bebê. É a estatura, cor dos olhos, da pele, temperamento, reflexos musculares e
vários outros. É aquilo que o bebê recebe de herança genética de seus pais.
Ambientais: São aqueles que também exercem uma grande influência porque
dizem respeito à cultura, hábitos familiares, grupos sociais, escola, responsabilidade,
moral e ética, etc. São experiências vividas pela criança que irão lhe dar suporte e
contribuir para a formação de sua personalidade.
Mesmo que alguns traços possam ser parecidos com os de outra pessoa, a
personalidade é única. Ela se apóia em uma estrutura biopsicosocial, é dinâmica,
adaptável e mutável.
Strelau e Angleitner (1987) discutem cinco características que diferenciam o
temperamento da personalidade:
O temperamento é biologicamente determinado e a personalidade é um
produto do ambiente social.
Características temperamentais podem ser identificadas já cedo, na infância,
ao passo que a personalidade é moldada durante os períodos do desenvolvimento
infantil.
Diferenças individuais com características temperamentais como ansiedade,
extroversão-introversão, também são observados em animais, ao passo que
personalidade é a prerrogativa de seres humanos.
O temperamento apresenta aspectos estilísticos. A personalidade contém
aspectos do comportamento.
Ao contrário do temperamento, a personalidade se refere à função de
integrativa do comportamento humano.

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Phillips (1983, p. 4) define personalidade como “...a organização integrada de
todas as características cognitivas, afetivas, e físicas de um indivíduo, como se
manifesta em distintas situações e atribui significado especial para outras”.
Assim, em linhas gerais podemos definir personalidade como sendo o conjunto
de elementos temperamentais que foram herdados durante a gestação e de
elementos adquiridos do meio durante as etapas do desenvolvimento, que formam o
mundo interno psíquico de uma pessoa.

CARÁTER

O conceito de caráter emergiu do campo da filosofia e tornou-se objeto de


investigação científica. O termo caráter é originário do grego “charakter” e refere-se a
sinal, marca, ao instrumento que grava. Aplicado esse termo à personalidade, denota
aqueles aspectos que foram gravados, inscritos no psiquismo e no corpo de cada
indivíduo durante o seu desenvolvimento.
Freud (1987) e Abraham (1970) apesar de não terem sido os primeiros, também
se dedicam com afinco ao estudo do caráter e deixaram grandes contribuições, tenso
sido seguidos por vários outros cientistas nessa direção. Mas dentre todos, quem mais
se destacou e conseguiu formar uma teoria condizente do caráter foi Wilhelm Reich.
De acordo com Reich (1995), o caráter é o conjunto de reações e hábitos de
comportamento que vão sendo adquiridos ao longo da vida e que especificam o modo
individual de cada pessoa. Portanto, o caráter é composto das atitudes habituais de
uma pessoa e de seu padrão consistente de respostas para várias situações. Incluem
aqui as atitudes e valores conscientes, o estilo de comportamento (timidez,
agressividade e assim por diante) e as atitudes físicas (postura, hábitos de
manutenção e movimentação do corpo). Em outras palavras, o caráter é a forma com
que a pessoa se mostra ao mundo, com seu temperamento e sua personalidade; é a
expressão do temperamento e da personalidade por meio das atitudes de uma
pessoa.
A gênese e estrutura do caráter tem sido objeto de estudo de diversas escolas
no âmbito da Psicologia sendo que a maioria comunga da mesma idéia que o caráter
não se manifesta de forma total e definitiva na infância, mas vai sendo formado

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enquanto atravessa as distintas fases do desenvolvimento psico-sexual, até alcançar
sua completa expressão ao final da adolescência.
É por meio do caráter que a personalidade e o temperamento do indivíduo se
manifestam. Portanto, conhecer o caráter de uma pessoa significa conhecer os traços
essenciais que determinam o conjunto de seus atos.
Desde o momento da fecundação, todas as informações genéticas do pai e da
mãe passam ao novo bebê, constituindo o seu temperamento. Ainda na gestação, o
bebê apreende todos os estímulos provindos do meio. Sente e sofre com qualquer
alteração sofrida pela mãe durante a gestação e gradativamente, vai incorporando
esses estímulos e organizando-os em seu mundo interno, contribuindo para a
formação de sua personalidade. Os possíveis comprometimentos que por ventura irá
ter ao longo das etapas de desenvolvimento, irão determinar a sua forma de agir e
reagir perante a vida, constituindo assim, o seu caráter, sendo esse, nada mais do
que a expressão de seu mundo interno.
Então, cada pessoa assumirá uma forma definida de funcionamento, padrão
típico de agir frente às mais inusitadas situações. Como exemplo, podemos pensar
numa sala de aula cheia de alunos, onde, sem ninguém esperar, entra um bandido
armado. É provável que todos se assustem, porém, cada qual irá reagir com base em
sua estrutura de caráter. Alguns desmaiam de medo, outros tem diarreia, sono,
taquicardia, sudorese. Encontramos também aqueles que querem persuadir o
bandido, os que tentam seduzi-lo, os que procuram enfrentá-lo, mesmo ele estando
armado. E assim, uma sucessão de comportamentos irão aparecer perante a mesma
situação.
A formação e o tipo de caráter de uma pessoa será determinada por vários
fatores (REICH, 1995). O primeiro desses fatores, diz respeito ao momento em que
ocorre a frustração, ou seja, a etapa em que a criança estiver atravessando em seu
desenvolvimento. Se a frus tração se der na etapa de sustentação (VOLPI & VOLPI,
2002), a criança terá um tipo de caráter esquizóide (REICH, 1995) ou núcleo psicótico
(NAVARRO, 1995). Se a frustração se der na etapa de incorporação (VOLPI & VOLPI,
2002), a criança terá um tipo de caráter oral (REICH, 1995) ou borderline (NAVARRO,
1995). Se a frustração se der na etapa de produção (VOLPI & VOLPI, 2002), a criança
terá um tipo de caráter masoquista ou obsessivo-compulsivo (REICH, 1995) ou
psiconeurótico (NAVARRO, 1995). Se a frustração se der na etapa de identificação

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(VOLPI & VOLPI, 2002), a criança terá um tipo de caráter fálico-narcisista ou
histérico (REICH, 1995) ou neurótico (NAVARRO, 1995). A ausência de frustração,
pode permitir que a criança desenvolva um tipo de caráter chamado de genital, um
ideal de Reich (1995), para as crianças do futuro.
Assim sendo, cada tipo de caráter irá ter uma dinâmica particular. O esquizóide
terá como comportamento básico a esquiva; o oral a dependência; o masoquista a
lamentação e sofrimento; o obsessivo -compulsivo a ordem e limpeza; o fálico-
narcisista o poder e o histérico a sedução.
Um outro fator, de suma importância para a formação e o tipo de caráter que a
criança irá desenvolver, está relacionado à frequência e a intensidade da frustração.
Isso significa que para que ocorra um bloqueio na etapa do desenvolvimento e, por
consequência, a formação de um traço de caráter, é preciso que a frustração ou o
estresse seja aplicado com certa frequência e/ou que sua intensidade seja suficiente
para atingir o limiar da criança. Cabe lembrar que cada criança pessoa possui um
limiar próprio.
Outras situações como a natureza dos impulsos contra os quais a frustração é
principalmente dirigida, as concessões feitas de início à criança, seguidas de
frustrações intensas, sem motivos, o sexo da principal pessoa que frustra a criança e
as contradições existentes nas próprias frustrações, irão formando registros
significativos e comprometendo a criança em seu desenvolvimento psico-afetivo,
deixando, dessa forma, traços significativos que irão compor a sua estrutura de
caráter.
Diz Reich: “o caráter não é determinado por aquilo que evita, mas pela maneira
como o faz e pelas forças pulsionais que o ego utiliza para esse fim” (1995, p. 212).

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