10.18190/1980-8208/estudosgeologicos.v27n1p19-33: Gelson - Fambrini@

Fazer download em pdf ou txt
Fazer download em pdf ou txt
Você está na página 1de 15

CARACTERIZAÇÃO FACIOLÓGICA DAS FORMAÇÕES CARIRI E BREJO

SANTO EM AFLORAMENTOS A NE DO MUNICÍPIO MISSÃO VELHA (CEARÁ –


BRASIL)
Diego da Cunha Silvestre¹
Gelson Luís Fambrini²
André Augusto Feitoza Santos³
10.18190/1980-8208/estudosgeologicos.v27n1p19-33
¹PPGEOC – Programa de Pós-Graduação em Geociências - UFPE, diiegocs@hotmail.com;
2Departamento de Geogia UFPE, gelson.fambrini@ufpe.br;

³Geólogo – Geólogo Autônomo, dekofeitoza@hotmail.com;

RESUMO

Este trabalho teve como objetivo a caractetização dos conjuntos de fácies mais basais
presentes na Bacia do Araripe, Nordeste do Brasil. Os sedimentos estudados aqui são
correspondentes às tectono sequências Sinéclise e Início de Rifte, respectivamente as
formações Cariri e Brejo Santo. A área em que foram levantados os afloramentos situa-se a
NE do Município de Missão Velha – CE. Foram definidas 7 fácies em afloramentos da
Formação Cariri: Conglomerados maciços (Gm), Arenitos conglomeráticos (Scg), Arenitos
finos laminados (Sh), Arenitos com estratificação cruzada tabular (Sp), Arenitos com
estratificação cruzada acanalada (St), Arenitos maciços (Sm) e Folhelhos avermelhados (Fsc).
Já as fácies Folhelhos (Fsc), Argilitos maciços (Fm) e Arenitos calcíferos (Sc) são os
constituintes da Formação Brejo Santo. O empilhamento e a associação das fácies
corroboraram para a classificação de sistemas de sedimentação para as duas formações, para a
Formação Cariri um sistema fluvial entrelaçado e para a Formação Brejo Santo um sistema
lacustre sob fortes influências sazonais.

Palavras Chave: Bacia do Araripe, Formação Cariri, Formação Brejo Santo, Análise de
fácies, Estratigrafia

ABSTRACT

This work aimed to characterize the basal facies sequences in the Araripe Basin,
Northeast of Brazil. The sediments studied correspond to the tectonic sequences syneclisis
and early Rift, respectively Cariri and Brejo Santo formations. The study area is located at NE
of the Missão Velha City - CE. Seven facies were defined in outcrops of the Cariri Formation:
Massive conglomerates (Gm), conglomerate sandstones (Scg), horizontal laminated
sandstones (Sh), tabular cross stratification sandstones (Sp), Sandstones with through cross
stratification (St), Massive sandstones (Sm) and Reddish shale (Fsc). The Shale Facies (Fsc),
Massive Argilites (Fm) and Calciferous Sandstones (Sc) are the constituents of the Brejo
Santo Formation. The stacking and the association of the facies corroborated for the
classification of sedimentation systems for the two formations. The Cariri Formation was
sedimented by a braided river system, and the Brejo Santo Formation by a lacustrine system
under strong seasonal influences.

Keywords: Araripe Basin, Cariri Formation, Brejo Santo Formation, Facies Analysis,
Stratigraphy.

19
Estudos Geológicos vol.27(1) 2017 www.ufpe.br/estudosgeologicos
Diego da Cunha Silvestre et al.

INTRODUÇÃO classificação estratigráfica da Bacia do


Araripe.
A Bacia do Araripe, situada entre Estratigraficamente, hoje, a Bacia
os estados do Ceará, de Pernambuco e do do Araripe é constituída por 4 Tectono
Piauí, teve como seu primeiro estudo Sequências: (i) Sinéclise, (ii) Pré-Rifte,
referente à estratigrafia da bacia, Small (iii) Clímax Rifte e (iv) Pós-Rifte (Figura
(1913), que a configurou segundo 4 1). Considerando esta configuração, a
unidades básicas (conglomerado basal, bacia é composta respectivamente pelas
arenito inferior, calcário de Sant’anna e formações (i) Cariri, (ii) Brejo Santo,
arenito superior). Contudo, na década de Missão Velha, (iii) Abaiara, (iv) Barbalha,
60, por meio de uma iniciativa promovida Crato, Ipubi, Romualdo, Araripina e Exu
pelo Departamento de Geologia da (Assine, 2007; Assine et al., 2014).
Universidade Federal de Pernambuco As Tectono Sequências Sinéclise,
(pesquisadores e alunos) que realizou Pré-Rifte e Clímax Rifte afloram apenas na
trabalhos sobre a referida Bacia, propondo borda Leste da bacia (Sub Bacia Vale do
uma nova denominação para as unidades Cariri) e em sub superfície nas demais
de Small, a exemplo dos trabalhos de áreas da bacia, a exemplo das sondagens
Beurlen (1962, 1963). realizadas sobre o domínio da Chapada do
Trabalhos subsequentes chamaram Araripe (Oeste).
a atenção de potenciais petrolíferos para a Este trabalho resume a
Bacia do Araripe. A exemplo de trabalhos caracterização faciológica das unidades
como Rand & Manso (1984), Ghignone et mapeáveis a NE do município de Missão
al., (1986), Miranda et al., (1986), Ponte & Velha – CE. As unidades mapeadas nesta
Appi (1990), Assine (1992, 2007), área são as formações Cariri (Sequência
Neumann & Cabrera (1999), promoveram Sinéclise) e Brejo Santo (Base da
resultados que viriam refinar a sequência Pré-Rifte).

Figura 1 – Mapa Geológico da Bacia do Araripe e suas Tectono Sequências (modificado de


Assine, 2007).

20
Estudos Geológicos vol.27(1) 2017 www.ufpe.br/estudosgeologicos
CARACTERIZAÇÃO FACIOLÓGICA DAS FORMAÇÕES CARIRI E BREJO SANTO...

MATERIAIS E MÉTODOS pontos e descrição macroscópica dos


afloramentos. Desta forma foram
Primeiramente foi realizado um identificadas estruturas presentes nos
levantamento bibliográfico da Bacia do afloramentos, caracterização litológica e
Araripe, das tectono sequências, dos faciológica das unidades e correlações
intervalos que compõem a base da bacia estratigráficas. Nesta etapa foram
(Formações Cariri, Brejo Santo e Missão identificados 58 pontos aflorantes
Velha). Consequentemente foram característicos das unidades (Fig. 2).
definidos os pontos com possíveis As análises de fácies foram
afloramentos apreciáveis através de orientadas segundo o modelo do código de
modelos fotointerpretados da região com a fácies de Miall (1978, 1996). Os modelos
utilização de fotografias aéreas de escala de interpretação de sistemas de
1:70.000 disponibilizadas pela SUDENE. sedimentação seguiram Reading, 1996;
Realizadas as definições prévias Catuneanu, 2002, 2006; Miall, 1996,
das áreas aflorantes, foram realizadas 2014).
etapas de campo para catalogação dos

Figura 2 – Mapa da Localização dos afloramentos descritos no processo de caracterização das


unidades; área a nordeste de Missão Velha – CE.

21
Estudos Geológicos vol.27(1) 2017 www.ufpe.br/estudosgeologicos
Diego da Cunha Silvestre et al.

GEOLÓGIA REGIONAL & Anjos (1964) e seguida por Assine


(1992) como unidade composta de
A Bacia do Araripe repousa sobre sedimentos finos (silte e argila) com
os Terrenos Piancó-Alto Brígida e localizadas influências arenosas (raras).
Granjeiro do Domínio da Zona Transversal Esta unidade é constituída de folhelhos
da Província Borborema. Desta forma, avermelhados a acastanhados e siltitos de
limitada a Norte e a Sul pelos lineamentos coloração esverdeada, acinzentada.
Patos e Pernambuco. (Fambrini et al., 2013b).
Possuindo uma área de Definidos como sedimentos do
aproximadamente 9.000 Km², a Bacia do Arenito Inferior (Small, 1913), o pacote de
Araripe é considerada a maior e mais sedimentos pertencentes à Formação
completa (sequências sedimentares) entre Missão Velha (Assine, 1992) é
as bacias interiores brasileiras. caracterizado por pacotes arenosos de
Apesar de ser considerada uma granulação grossa a média, portadores de
bacia do tipo rifte, com sua origem ligada troncos fósseis.
aos eventos de ruptura do supercontinente A Sequência Clímax Rifte, aqui
Gondwana Ocidental, a Bacia do Araripe considerada segundo Fambrini et al.,
não culminou com a instalação de um (2010a) é composta do ciclo superior
oceano assim como as bacias marginais arenoso da Formação Missão Velha e os
brasileiras correlatas. sedimentos sobrepostos da Formação
Desta forma, a estratigrafia da Abaiara.
Bacia encontra-se hoje configurada em 4 Os sedimentos do intervalo
Tectono Sequências: Sinéclise, Pré-Rifte, denominado de Formação Abaiara (Assine,
Clímax Rifte e Pós-Rifte (Assine, 2007). 1992) se tratam de camadas intercaladas de
A Sequência Sinéclise, representa a arenitos finos, siltitos e folhelhos. As
unidade basal da bacia, foi definida camadas arenosas apresentam, por vezes,
originalmente por Small (1913) como os estruturas convolutas (Fambrini et al.,
conglomerados basais, passou a fazer parte 2012).
da Formação Cariri (Beurlen, 1962) e A Sequência Pós-Rifte é definida
outrora denominada de Mauriti (Gaspary & como a fase de diferenciação da Bacia do
Anjos, 1964). Araripe e das bacias marginais do Leste do
Caracterizada por arenitos Brasil. Nesta Sequência encontram-se dois
imaturos, de grãos sub angulosos a grandes Grupos: Grupo Santana
angulosos, granulação média a grossa e (Formações Barbalha, Crato, Ipubi e
mal selecionados. Geralmente contendo Romualdo) e o Grupo Araripe (Formações
níveis conglomeráticos na base da unidade, Araripina e Exu). Estes grupos também
enquanto para o topo os arenitos podem ser representados como Pós Rifte I
encontram-se intercalados a níveis siltosos e II, respectivamente. Assine et al., (2014)
de tons claros a arroxeados. A unidade definiu o Grupo Santana como grandes
apresenta estratos cruzados tabulares e sequências transgressivas marinhas dentro
acanalados. dos domínios da Bacia do Araripe.
Sobrepostos à Formação Cariri, A Formação Barbalha foi definida
encontram-se os sedimentos da Formação por Assine (1990) e Ponte & Appi (1990)
Brejo Santo, que correspondem à base da como unidade constituída de dois grandes
Sequência Pré-Rifte (Assine, 2007), ou ciclos arenosos granodecrescentes
Sequência Início de Rifte (Fambrini et al., ascendentes separados por uma camada de
2010a, 2011). Definida originalmente, sedimentos finos de origem lacustre.
como Formação Brejo Santo, por Gaspary
22
Estudos Geológicos vol.27(1) 2017 www.ufpe.br/estudosgeologicos
CARACTERIZAÇÃO FACIOLÓGICA DAS FORMAÇÕES CARIRI E BREJO SANTO...

Posteriormente, foi interpretada As áreas aflorantes exibem


como de origem fluvial e deltaica, típica da estratificações cruzadas tabulares e
fase rifte da Bacia do Araripe (Fambrini et acanaladas exceto alguns níveis que não
al., 2012). apresentam estruturas internas às camadas
A Formação Crato junto com as (maciços). Os sets têm espessura de escala
formações Ipubi e Romualdo representam decimétrica a métrica e possuem um
uma sequência transgressiva marinha paleofluxo geral para NNW.
completa (Assine et al., 2014), com Foram identificadas 7 fácies nos
sequências carbonáticas (Fm. Crato) afloramentos mapeados: (Gm)
recobertas por uma camada de rochas Conglomerados maciços, (Scg) Arenitos
evaporíticas (Fm. Ipubi), enquanto são grossos com níveis conglomeráticos, (Sm)
capeadas por horizontes de sedimentos que Arenitos maciços, (St) Arenitos com
representam a máxima inundação (Fm. estratificação cruzada acanalada, (Sp)
Romualdo). Arenitos com estratificação cruzada
Os sedimentos que representam a tabular, (Sh) Arenitos finos laminados e
subsequência Pós Rifte II são sequências (Fsc) Folhelhos.
tipicamente arenosas assim como os A fácies Gm é representado por
arenitos superiores de Small (1913). pacotes tabulares a lenticulares de
Representada pelas formações Araripina e conglomerados matriz suportados (matriz
Exu, são as unidades que recobrem toda a arenosa grossa) onde os clastos não
Chapada do Araripe e se encontram em possuem orientação preferencial. Esta
desnível topográfico de destaque na região fácies é típica da base da Formação Cariri
(Assine, 2007). (Fig. 3).
Os sedimentos que compõem a
CARACTERIZAÇÃO FACIOLÓGICA fácies Scg são os mais bem representados
DAS UNIDADES nos afloramentos. Composta de arenitos de
granulação grossa com níveis
Formação Cariri conglomeráticos intercalados nos sets.
Apresentam uma geometria lenticular com
Somados 42 afloramentos descritos, estratificação cruzada acanalada de
esta unidade é representada por sucessões pequeno a médio porte.
de estratos arenosos, amarelados a A fácies Sm é caracterizado por
acinzentados, portadores de níveis lentes arenosas sem estruturação interna,
conglomeráticos, de granulação grossa a podendo apresentar gradação normal. São
média. Apresenta-se geralmente composto níveis arenosos grossos a finos de colo-
de sedimentos imaturos, grãos angulosos a ração amarelada a esbranquiçada (Fig. 4).
subangulosos e mal selecionados. Já a fácies St foi definido segundo
Aparenta um perfil granode- níveis arenosos de granulação grossa a
crescente, para o topo, pouco desenvolvido média, mal selecionados, dispostos
onde se intercalam níveis argilosos e segundo uma geometria lenticular (Fig. 4).
siltosos às camadas arenosas. Os seixos Apresentam estratificação cruzada
pertencentes aos níveis conglomeráticos acanalada de médio a pequeno porte, com
têm diâmetro entre 2 e 15cm. gradação normal dentro dos sets.

23
Estudos Geológicos vol.27(1) 2017 www.ufpe.br/estudosgeologicos
Diego da Cunha Silvestre et al.

Tabela 1 - Fácies mapeadas da Formação Cariri (segundo código de fácies de Miall, 1996)

Fácies Estruturas Interpretação

Gm Agradacionais, maciços; Depósito de fluxo de detritos

Scg Estratos cruzados tabulares com seixos Migração de barras de meio de canais
presentes na base dos sets; fluviais

Sm Maciços; Depósitos de desconfinamento de fluxos

St Estratificação cruzada acanalada; Migração de barras fluviais (dunas


subaquosas em regime de fluxo inferior)

Sp Estratificação cruzada tabular; Formas de leito fluvial (regime de fluxo


superior)

Sh Laminação plano paralela; Foirmas de leito fluvial (fluxo


supercrítico)

Fsc Laminação bem desenvolvida Panícies de Inundação

Figura 3 – Afloramento da fácies Gm portando clastos com 15cm de diâmetro – Formação Cariri

24
Estudos Geológicos vol.27(1) 2017 www.ufpe.br/estudosgeologicos
CARACTERIZAÇÃO FACIOLÓGICA DAS FORMAÇÕES CARIRI E BREJO SANTO...

Figura 4 – Afloramento da Formação Cariri em corte exposto na Ferrovia Transnordestina (NE


de Missão Velha); Evidências das fácies St (em corte transversal), Sm e Fsc.

O conjunto de sedimentos da fácies laminação pouco desenvolvida, podendo


Sp são intervalos arenosos, de grãos conter seixos espaçados.
médios a grossos, mal selecionados, Por fim, a fácies Fsc foi aqui
esbranquiçados a amarelados, com definido como intervalos de sedimentos
estratificação cruzada tabular de pequeno a finos (silte e argila) com laminação bem
médio porte. marcada em horizontes bem definidos que
Definidos em afloramentos como se intercalam aos arenitos no topo da
arenitos médios a finos os sedimentos da Formação Cariri (Fig. 5).
fácies Sh são mal selecionados, com

25
Estudos Geológicos vol.27(1) 2017 www.ufpe.br/estudosgeologicos
Diego da Cunha Silvestre et al.

Figura 5 – Afloramento da Formação Cariri em corte exposto na Ferrovia Transnordestina (NE


de Missão Velha); Evidências de corte transversal da fácies St e um nível da fácies Fsc.

Formação Brejo Santo natureza textural e mineralógica. Por


tratar-se de sedimentos finos são mais
Foram observados 16 afloramentos susceptíveis aos processos intempéricos
desta unidade nos arredores do centro que dificulta a preservação de faces
municipal de Missão Velha. Foi definida expostas em afloramentos.
como uma sequência pelítica em contato Contudo, no geral, os folhelhos da
discordante com a unidade sotoposta. A Formação Brejo Santo se mostram bem
Formação Brejo Santo é determinada por laminados e podendo apresentar
um empilhamento de rochas finas (silte e concreções e níveis arenosos calcíferos em
argila) com coloração arroxeada bem sua sequência (Fig. 7). Estas concreções
característica na área. Por vezes apresenta estão dispostas seguindo um padrão
pequenas influências arenosas no registro mosqueado na formação.
com coloração esverdeada a acinzentada de Apesar de parecer uma unidade
composição carbonática. monótona, foram identificadas 3 fácies: (F)
O baixo número de afloramentos Folhelhos, (Fm) Argilitos/siltitos maciços e
apreciáveis desta formação se dá pela sua (Sc) Arenito Calcífero.
26
Estudos Geológicos vol.27(1) 2017 www.ufpe.br/estudosgeologicos
CARACTERIZAÇÃO FACIOLÓGICA DAS FORMAÇÕES CARIRI E BREJO SANTO...

Tabela 2 - Fácies identificadas em afloramentos da Formação Brejo Santo (segundo código de fácies
de Miall, 1996).

Fácies Estrutura Interpretação

Fsc Laminação bem definida; Ambiente lacustre

Fm Sem estruturação interna Rápida precipitação de


(maciço); partículas em suspensão

Sc Marcas de onda, laminação Aposte fluvial efêmero em


cruzada cavalgante, por vezes intervalos de cheia
maciços.

O conjunto de fácies Fsc é Aqui descritos como fácies Sc os


representado por intervalos argilosos níveis arenosos de granulação fina e
arroxeados bem laminados, já a fácies Fm composição calcífera. Estes níveis
composto pelo conjunto de sedimentos arenosos se encontram intercalados aos
argilosos arroxeados sem nenhuma argilitos e folhelhos no topo da formação.
estrutura interna (padrão maciço). Essas Podem apresentar localmente marcas de
fácies são as mais representativas na onda no topo das lentes, laminação cruzada
Formação Brejo Santo devido sua cavalgante e até padrão maciço.
continuidade lateral e sucessão vertical na
unidade.

Figura 6 – Afloramento da Cachoeira de Missão Velha, paredão da Formação Cariri com


cortes transversais das estratificações cruzadas acanaladas, mergulhando para NE.

27
Estudos Geológicos vol.27(1) 2017 www.ufpe.br/estudosgeologicos
Diego da Cunha Silvestre et al.

Figura 7 - Seção reconstruída de afloramento de ravina da Fm. Brejo Santo e suas associações
faciológicas.

28
Estudos Geológicos vol.27(1) 2017 www.ufpe.br/estudosgeologicos
CARACTERIZAÇÃO FACIOLÓGICA DAS FORMAÇÕES CARIRI E BREJO SANTO...

SUCESSÃO DE FÁCIES E SISTEMAS assim considerado como um sistema playa-


DE SEDIMENTAÇÃO lake por Fambrini et al., (2013a).
Os níveis esverdeados presentes
A configuração das associações e dentro da formação, refletem eventos de
sucessões faciológicas presentes nos cheia que proporcionaram um incremento
afloramentos da Formação Cariri refletem na profundidade do lago conservando
características típicas de depósitos ambientes de anoxia no substrato dos
continentais do tipo fluvial. Portanto, a lagos. Entretando, os demais sedimentos
formação possui um empilhamento finos de coloração avermelhada e
granodecrescente ascendente pouco arroxeada refletem eventos de extrema
desenvolvido, de base conglomerática, aridez, que promoveu exposição e
estratos que se sobrepõem em formas de oxidação dos substratos dos lagos.
leitos amalgamados que mantém o Por fim, as formações Cariri e
paleofluxo geral para NNW. As estruturas Brejo Santo representam as primeiras
de estratificação cruzada tabular e unidades sedimentadas na Bacia do
acanaladas exprimem típicos processos de Araripe. A unidade basal, Formação Cariri,
sedimentação de carga de fundo de leitos é composta de fácies de composição grossa
fluviais. na base com clastos de 15cm de diâmetro
Devido ao conjunto de carac- que refletem o momento de alta energia de
terísticas aqui abordadas e as fácies transporte e sedimentação na bacia. Já a
observadas, Formação Cariri teve seu Formação Brejo Santo é considerada por
sistema de sedimentação interpretado Fambrini et al., (2007) como a primeira
como um fluvial entrelaçado (Assine, evidência de um sistema lacustre na bacia.
2007; Fambrini et al., 2010c), como Portanto, o empilhamento destas
observado na Figura 8. duas unidades leva a interpretação de uma
Progredindo no empilhamento, o bacia recém-formada, sistemas de talude,
domínio arenoso de granulação grossa da aluviões e preenchimento de vales (porções
Formação Cariri começa a tornar-se mais mais conglomeráticas da base da Formação
fino e apresentar padrões maciços das Cariri), o interior da formação passou por
camadas. Essas lentes encontram-se um sistema fluvial entrelaçado, enquanto
intercaladas a folhelhos avermelhados (Fig. que para o topo e a Formação Brejo Santo
8). Esse horizonte expressa uma fase mostra a instalação de um sistema lacustre
transicional entre sistemas de sedimen- na bacia. Esta configuração é marcada pelo
tação distintos (Formações Cariri e Brejo caráter granodecrescente ascendente bem
Santo). definido por essas duas unidades.
Considerando os afloramentos
visitados sobre a Formação Brejo Santo, CONCLUSÃO
essa unidade apresenta uma configuração
monótona e com poucos afloramentos. As unidades definidas e analisadas
Contudo, foram identificadas 3 fácies e neste trabalho são as formações Cariri e
suas associações exprimem um padrão de Brejo Santo. A unidade referente aos
sedimentação lacustre. sedimentos da Formação Cariri se
O pacote de folhelhos e argilitos apresenta como arenitos de granulação
maciços representam os sistemas lacustres grossa e conglomerados basais, dispostos
da unidade, já as lentes arenosas segundo lentes que se intercalam no
intercaladas para o topo da unidade têm empilhamento sedimentar. Foram definidas
sua origem correlacionada a sistemas as fácies Conglomerados maciços (Gm),
fluviais efêmeros que viriam a colmatar os Arenitos finos laminados (Sh), Arenitos
lagos instalando a formação sobreposta, com estratificação cruzada acanalada (St),
29
Estudos Geológicos vol.27(1) 2017 www.ufpe.br/estudosgeologicos
Diego da Cunha Silvestre et al.

Arenitos com estratificação cruzada tabular (Scg), Arenitos maciços (Sm) e Folhelhos
(Sp), Arenitos com níveis conglomeráticos (Fsc) em afloramentos.

Figura 8 – Seção colunar levantada em afloramento da Formação Cariri exposta em corte da Ferrovia
Transnordestina (a leste da cidade de Missão Velha).

30
Estudos Geológicos vol.27(1) 2017 www.ufpe.br/estudosgeologicos
CARACTERIZAÇÃO FACIOLÓGICA DAS FORMAÇÕES CARIRI E BREJO SANTO...

O empilhamento sedimentar da REFERÊNCIAS


formação apresenta uma granodecrescência
ascendente pouco desenvolvida onde no
Assine, M.L.1992. Análise estratigráfica
topo da unidade ocorrem níveis de
da Bacia do Araripe, Nordeste do
folhelhos intercalados a arenitos maciços.
Brasil. Revista Brasileira de
O sistema deposicional para esta
Geociências, 22(3): 289-300.
formação foi classificado segundo a
Assine, M.L. 2007. Bacia do Araripe.
associação e a sucessão de fácies como um
Boletim de Geociências da
sistema fluvial entrelaçado de alta energia
Petrobrás, 15(2): 371- 389.
devido ao diâmetro dos clastos inclusos em
Assine, M.L.; Perinotto, J.A.J.; Custódio,
fácies conglomeráticas. Contudo, apresenta
M.A.; Neumann, V.H.M.L.; Varejao,
uma perceptível queda da energia do
F.G.; Mescolotti, P.C. 2014.
sistema para o topo, onde se intercalam os
Sequências deposicionais do Andar
folhelhos.
Alagoas da Bacia do Araripe,
Os sedimentos estritamente
Nordeste do Brasil Boletim de
lamosos da Formação Brejo Santo são
Geociências da Petrobrás, 22 (1): 3-
compostos de um empilhamento de
28.
argilitos maciços e folhelhos arroxeados
Beurlen, K. 1962. A geologia da Chapada
com aspectos mosqueados de porções
do Araripe. An. Acad. Bras.Ciênc.,
esverdeadas nos afloramentos. Foram
34(3):365-370.
identificadas 3 fácies, Folhelhos (Fsc),
Beurlen, K. 1963. Geologia e estratigrafia
Argilitos maciços (Fm) e Arenitos
da Chapada do Araripe. In: Congr.
calcíferos (Sc). Essas fácies arenosas
Bras. Geol., 17. Recife, 1963.
ocorrem em forma de lentes e são
Anais... Recife, SBG/SUDENE. 47 p.
localizados, mais comuns no topo da
(Suplemento).
formação.
Catuneanu, O. 2002. Sequence stratigraphy
Portanto, a classificação do sistema
of clastic systems: concepts, merits
deposicional da Formação Brejo Santo foi
and pitfalls. Journal of African Earth
caracterizado como um sistema lacustre
Sciences, 35: 43p.
(primeira evidência na Bacia do Araripe)
Catuneanu, O. 2006. Sequence
que apresenta feições de influências
Stratigraphy – Principles and
climáticas. Intervalos de extrema aridez
Applications. Elsevier Science. 336p.
representados por sedimentos oxidados
Fambrini, G.L., Lemos, D.R., Tesser Jr.,
(arroxeados, avermelhados), enquanto os
S., Araújo, J.T., Silva-Filho, W.F.,
sedimentos acinzentados esverdeados
Souza, B.Y.C., Neumann, V.H.
representam momentos de cheia e
2011. Estratigrafia, Arquitetura
incremento da profundidade do lago
Deposicional e Faciologia da
promovendo anoxia.
Formação Missão Velha
As fácies arenosas exprimem a
(Neojurássico-Eocretáceo) na Área-
influência de rios efêmeros que
Tipo, Bacia do Araripe, Nordeste do
desembocavam no corpo lacustre e viriam
Brasil: Exemplo de Sedimentação de
a soterrar os lagos para instalação dos
Estágio de Início de Rifte a Clímax
sistemas sobrepostos da formação Missão
de Rifte. Geologia USP, Série
Velha.
Científica, v. 11, p. 55-87.
Fambrini, G.L.; Neumann, V.H.M.L.;
Silva-Filho, W.F.; Valença, L.M.M.;
Lima-Filho, M.F.; Barbosa J.A.;
Tesser Jr., S.; Souza, B.Y.C. 2007.
31
Estudos Geológicos vol.27(1) 2017 www.ufpe.br/estudosgeologicos
Diego da Cunha Silvestre et al.

Sistemas lacustres da Bacia do American Congress of


Araripe, Nordeste do Brasil: resposta Sedimentology, 2013. v.único.
à subsidência e tectônica de bacias Fambrini, G.L., Neumann V.H.M.L.,
rifte. In: Simp. Geologia do Buarque, B.V., Menezes-Filho,
Nordeste, XXII, Natal, RN. Atas, J.A.B., Silva-Filho, W.F. 2013b.
2007. v. único. p.101. Facies and depositional systems of
Fambrini G.L., Neumann V.H.M.L., Missão Velha Formation
Lemos D.R., Araújo J.T., Lima- (Neojurassic-Eocretaceous), Araripe
Filho, M. F.,Tesser Jr., S. 2010a. Basin, Northeast Brazil:
Stratigraphy and sedimentology of paleogeographic and tectonic
Rift Initiation to Rift Climax stages implications. 6th Latin American
of the Araripe Basin, Northeastern Sedimentological Congress, 2013,
Brazil: new considerations. In: XVIII São Paulo, Proceedings, p. 25, CD-
International Sedimentological ROM.
Congress, 2010, Mendoza, Gaspary, J. & Anjos, N.F.R. 1964. Estudo
Argentina, Abstracts Volume... Hidrogeológico de Juazeiro do Norte
Mendoza: IAS/PETROBRAS, v. - Ceará. Recife, SUDENE. 25 p.
único, p.104. (Série Hidrogeologia 3).
Fambrini G.L., Neumann V.H.M.L., Ghignone, J.I., Couto, E.A., Assine, M.L.
Valença, L.M.M., Batista Z.V., 1986. Estratigrafia e estrutura das
Araújo J.T., Lemos D.R., Tesser Jr., Bacias do Araripe, Iguatu e Rio do
S., Menezes Filho, J.A.B. 2010b. Peixe. In: Congr. Bras. Geol., 34.
Análise de fácies da Formação Goiânia, 1986. Anais... Goiânia,
Mauriti, Bacia do Araripe, Nordeste SBG. v. l, p. 271-285.
do Brasil. In: Congresso Brasileiro Miall, A.D. 1978. Lithofacies types and
de Geologia, 45, 2010, Belém, PA, vertical profile models in braided-
Anais, v. único. rivers deposits: a summary. In: Miall,
Fambrini, G.L.; Buarque, B. V.; Menezes- A.D. (ed.) Fluvial Sedimentology.
Filho, J.A.B.; Valença, L.M.M.; Calgary, Canadian Society of
Araújo, J.T.; Neumann V.H.M.L. Petroleum Geologists. p. 597-604.
2012. Análise estratigráfica da (Canadian Society of Petroleum
Formação Abaiara (Neocomiano), Geologists Memoir, 5).
Bacia do Araripe, NE do Brasil: Miall A.D. 1996. The geology of fluvial
implicações para a implantação da deposits: sedimentary facies, basin
fase rifte das bacias fanerozóicas analysis and petroleum geology.
brasileiras. In: 46º. Congresso Berlin, Springer, 582 p.
Brasileiro de Geologia, 2012, Santos Miall, A. D. (2014): Fluvial depositional
-SP. Anais..., 2012. v. único. systems: Springer-Verlag, Berlin,
Fambrini, G.L; Batista Z.V., Neumann 316 p.
V.H.M.L., Valença, L.M.M.; Miranda L.O.S., Ferrari, M.P., Viana, R.B.
Agostinho, S.M., Menezes-Filho, 1986. Prospecção sísmica de
J.A.B. 2013a. Sedimentary facies reconhecimento na Bacia do Araripe.
analysis of Cariri Formation, In Congresso Brasileiro de Petróleo,
Sineclysis stage, Araripe Basin, 3., Rio de Janeiro, RJ, 1986. Boletim,
Northeast Brazil. In: 6th Latin PETROBRÁS/IBP, TT-158, p 11.
American Congress of Neumann, V.H. & Cabrera, L. 1999. Una
Sedimentology (6lacs), 2013, São nueva propuesta estratigráfica para
Paulo SP. Abstracts of 6th Latin la tectonosecuencia post-rifte de la
cuenca de Araripe, nordeste de
32
Estudos Geológicos vol.27(1) 2017 www.ufpe.br/estudosgeologicos
CARACTERIZAÇÃO FACIOLÓGICA DAS FORMAÇÕES CARIRI E BREJO SANTO...

Brasil. In: Simpósio Cretáceo Reading, H.G. 1996. Sedimentary


Brasileiro, 5, Serra negra, 1999. environments: processes, facies and
UNESP, Boletim de Resumos: 279- stratigraphy. Blackwell Sci., 668 p.
285. Scherer, C.M.S., Jardim de Sá, E.F.,
Ponte, F.C. & Appi, C.J. 1990. Proposta de Córdoba, V.C., Sousa, D.C., Aquino,
revisão da coluna litoestratigráfica da M.M., Cardoso, F.M.C. 2014.
Bacia do Araripe. In SBG, Congr. Tectono-stratigraphic evolution of
Bras. Geol., 36. Natal, 1990. Anais... the Upper Jurassic–Neocomian rift
Natal, v. l; 211-226. succession, Araripe Basin, Northeast
Rand, H.M. & Manso, V.A.V. 1984. Brazil. Journal of South American
Levantamento gravimétrico e Earth Sciences, v. 49; 106-122.
magnetométrico da Bacia do Araripe. Small, H. 1913. Geologia e Suprimento de
In Congresso Brasileiro de Água Subterrânea no Piauhye Parte
Geologia, 33. Rio de Janeiro, 1984. do Ceará. Recife, Insp. Obras Contra
Anais... v. 4; 2011-2016. Secas. 80 p. (Publicação 25).

33
Estudos Geológicos vol.27(1) 2017 www.ufpe.br/estudosgeologicos

Você também pode gostar