O Brasil e A Cerâmica Antiga. BRANCANTE, E.F. 1981

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ôão pattlo. ano nttmlxxxi


Agradeçamos a colaboração especial de
Oiga Fleury Lom bard ao que diz respeito a revisão do l .° capítulo desta obra.
N O TA D O ÂUTOR

A o apresentar este trabalho, "O B R A SIL E A C ER Â M IC A A N T IG A ",


temos dois escopos em vista, consubstanciados em dofs capítulos.
O primeiro, de ordem didática, foi de téntar 'ordenar as categorias das
cerâmicas que nos cercam, quer rio lar, quer exibidas em vitrinas de lojas e
museus, de colecionadores, em antiquários au expostas em leilões.
Esse ensaio de ordenação nos obrigou a 'uma caminhada retrospectiva
pelo passado e mesmo até às cavernas, para daí partindo tentarmos acompa­
nhar ■ — "pari passu’’ — as metamorfoses que se foram operando com a argila,
provocadas pela mão hábil e impaciente do homem, pára torná-la útil e atraente.
' Nesse trajeto fascinante, do nevoeiro para a claridade, ou melhor, da
prê-História para a História, iremos acompanhar o oleiro e testemunhar sua
pertinácia nos quatro cantos do universo. Revela-se ele na tentativa, sempre
em evolução, de dominar a matéria, seja ela a própria argila, o fogo, os metais,
ou o vidro, a fim de exaurir-lhes as virtudes, controlar-lhes as forças, extrair
coloridos e sobretudo imprimir as formas que-sua sensibilidade impõe.
Estaremos, pois, palmilhando velhas trilhas e roteiros q u e' nos levam a
civilizações que outrora semearam em encruzilhados diversas a Arte, esse atestado
do talento humano que atravessa os tempos. Junto com ela estará presente a
Cerâmica, acompanhando, como arte menor, os esplendores e os progressos
atingidos pelas artes maiores, e recolhendo o legado precioso de novas contribui­
ções, formatos, técnicas, estilos, ornatos, etc.
Assim, o primeiro capítulo reúne e ordena o material cerâmico produzido
pelo homem até alcançar a porcelana,
O segundo capitulo é o que diz respeito mais diretamente ao Brasil. Recebe
quatro subcaphulos: O Quinhentismo, O Seisceníismo, o Setecentismo, o Oito-
ceniismo com algumas incursões pelo século X X . E a seguir um glossário em
quatro idiomas.
Nesses subcapítulos são»_estudadas as referências e ocorrências, século por
século, relativas ã Cerâmica.
Assim, são analisadas crônicas de viajantes, inventários, documentos oficiais,
pautas de alfândegas, jornais, revistas, bibliografia nacional e estrangeira, a fim
de se tentar levantar um quadro tanto quanto possível fiel, do que estava em
uso nesse Brasil colonial, imperial e republicano. Neste ensaio, dada a ligação
da Cerâmica com a Antropologia e. a Sociologia, temos também que tecer comen­
tários sócio-histórico-económicos, para situá-la em seu devido plano.
O produto dessa pesquisa acabou se revelando um ensaio de levantamento
de pequena parte do acervo cerâmico existente nesse grande Brasil, seja em
museus, seja em coleções particulares, em leilões ou antiquários. Acreditamos
que, tanto peias referências dos textos como pelas peças exibidas, essa amostra­
gem, embora modesta e restrita, ê suficiente para revelar uma riqueza ignorada
do grande público e que por certo representa um testemunho de cultura de
tradição e arte.-
Não seria possível realizar esse trabalho, se não. viéssemos a contar com
uma eficiente e bondosa colaboraçâo'’âe parentes e amigos, de antiquários, de
instituições privadas e oficiais, m e io m is e estrangeiras, que não sâ forneceram
informações^ como, muitas, vezes, fotografias de objetos raros.
Com profundo agradecimento, no final do trabalho, tentamos citar nominal­
mente nossos colaboradores, mas desde já nós desculpamos pela omissão de algum.
Caso o leitor venha .a encontrar erros ou omissões,. pedimos que sejam
relevados, dada a complexidade da matéria, os bons propósitos que animaram a
obra e a falha humana,-essa constante ao lado do escritor.

o Autor.

São Paulo — 1981


Eldino da Fonseca Brancante

“0 BRASIL E A CERÂMICA ANTIGA

Usboa c a froia das índias.


CATEGORIAS CERAMICAS

SUM ÁRIO

I - BARRO CRU - BIBLIO G R A FIA

II - BA RRO COZIDO (TERRACOTA) - B IBLIO G R A FIA - E STA M PA S

I I I - TIJO LO S - T E LH A S - LA D R ILH O S - BIBLIO G R A FIA - E ST A M P A S

IV - LOUÇA VIDRADA - BIBLIO G R A FIA - E ST A M P A S

V - A Z U L E JO S - BIBLIO G R A FIA - ESTA M PA S

VI - FAIANÇA - M AIÓLICA - "M EZZA M AIÓLICA ”

B IB L IO G R A F IA S - E ST A M P A S

V II - FAIANÇA FINA - BIBLIO G R A FIA - E ST A M P A S

V III - G R É S - BIBLIO G R A FIA - ESTA M PA S

I X - B IS C U IT - BIBLIO G R A FIA

X - PORCELANA M O LE - BIBLIO G R A FIA - E ST A M P A S

X I - PORCELANA DURA - PORCELANA CHINESA


(ANTIGA E MODERNA) - ESTA M PA S

X II- PO RCELANA A LE M Ã ' - BIBLIO G RA FIA

X III - PORCELANA B R A S IL E IR A -
A natureza das cousas é mais fácil de .Muitos milagres há. mas o mais porten­
sc conccbcr quando as vemos aparecer toso é o homem.
pouco a pouco do que quando as vemos SÓFÜCLES — " A n t í g O r u i ' *
já prontas,
D lscartes
uDiscurso sobre o Método”

I.° Capítulo
I - BARRO CRU

primeiro itemm abordar dentro modernos, como o emprego do Carbono Radioativo


do quadro de categorias m C i-t : o da Potassa JC 40, pode a Arqueologia preci­
variedades cerâmicas ó o barro sar no tempo, não só a evolução da espécie como a
cru, seco ao sol, com ou sem de saas reaiizaçrics artesanais. Jam Jelinek (l> informa-
decoração a frio. -nos: “que c no período neolítico, quando o homem
Como se sabe, este ê o primeiro passa de uma fase nômade para a sedentária, da caça
estágio, o marco zero de uma c da busca do alimento para a agricultura e a criação,
civilização, ou o primeiro degrau que irá levá-la através e iá se agrupa em conglomerados quase urbanos, 6
do desenvolvimento cultural de cada clã, tribo, comu­ que o fabrico da cerâmica junto com a tecelagem faz
nidade ou povo, a outros estágios, para alcançar, afinal, sia aparição'’. Francis Ccloria w, corrobora esse con­
no topo dessa longa escada, a porcelana dura. Ou seria ceito. admjlindo que o fabrico regular da cerâmica surge
ainda, como na execução de uma escala, dedilhar aos no Neolítico no momento em que o homem revela-se
poucos toda a gama musical para atingir a.ttoía mais ao mesmo tempo agricultor, pastor c ceramista, isto
alta —- esta comparação tem sua razão de ser, pois z é, quando adota um modo de vida predomjnsatementc
sonoridade é uma das peculiaridades que distingue os sedentário e gregário, o que não invalida a existência
produtos cerâmicos e nessa orquestra de arte, o barro da cerâmica em caráter ocasional c esparso em períodos
cru, seco ao sol, apresenta o som mais surdo c a e povos anteriores, como no Paleolítico superior.
porcelana o mais puro e cristalino. Assim, o homem começou a tratar o "barro antes
.Mas, como veremos, para que o homem subisse da Idade da Pedra Polida (7000 a.C.), atravessou
todos aqueles degraus ou viesse a dedilhar todas a do Cobre, a do Bronze c alcançou a Idade do Ferro,
aquelas notas, foi preciso milênios. A própria gênese da de 2000 a 1000 a.C., para fazer chegar até nós, uma
espécie que se perde nas névoas e miasmas dos farta messe utilitária e uma pródiga floração de encan­
pântanos, nos mostra quão lento foi o processo para tos nesse jardim das artes menores.
que o homem, viesse a atingir seu pleno desenvolvi­ Vejamos em que consiste tal matéria-prima c as
mento biológico e, com ele, as primeiras manifestações primeiras etapas de seu manuseio. A argila, no dizer
de cultura. Dos primatas, do Homo Ercctus, do Homo de Georges Fontaine, da escola de Belas Artes, na
Sapicns, do Homo Habilis, ao homem histórico, houve França a), é uma terra gorda e compacta, que, diluída
milhões de anos de permeio. Graças a processos na água, torna-se plástica, permanecendo resistente. Ela

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pode então tomar todas as formas que se queira dar; matéria-prima inorgânica, a mais pobre cm todos os
ela é a matéria-prima dos escultores que se expressam povos e tempos: o barro”.
primeiro modelando, antes de traduzir sua obra em Em abono da primazia da cerâmica como expres­
pedra, em hronze, ctc. Mas quando a evaporação tira são cultural do homem primitivo sobre outras mani­
a água da argila, esta perde suas qualidades, fragmen­ festações artesanais, diz-nos ainda Louis Figuier:
ta-se e pulveriza-se a obra que a mão do artista ou do "Requeria mais cuidados, reflexões e observações que
artesão criou diretamente seria de breve duração, se conduziam a uma série dc operações, às vezes longas
não se encontrasse o tncio de conservar a invenção e delicadas, para modejar e decorar um vaso do que
perecível. A argila é maleável quando fria e úmida, para lascar um sílex, chanfrar uma madeira, afilar
mas adquire uma dureza notável sob a ação do fogo; ossos, dobar a lã, trançar fibras e fabricar vestimentas
tornamo-la uma obra quase inalterável, graças ao cozi­ e armas".
mento; a forma efémera torna-se apta a atravessar os E a argila por ser entre todos aqueles materiais
séculos. Na realidade, toda a história da cerâmica de que o homem dispunha e manipulava, o mais dúctil,
enquadra as variações sobre estes quatro pontos: a o mais maleável, o mais plástico c cm decorrência o
matéria-prima, seu endurecimento, sua impermeabili­ mais dócil, além do mais acessível na natureza, passou
dade e sua decoração. K. Drake(i) nos elucida ainda: logo a ser o principal veículo de seus impulsos c intér­
“Raramente a argila se mantém ém condição estática. prete de seus pensamentos. Marcou cia desde logo os
Sua natureza muda com o conteúdo de umidade. Suas primeiros lampejos da mente e da civilização. Diz-nos
propriedades físicas e suas possibilidades variam pro­ übirajara Dolácio MendesM): ‘Tio desejo dc transmitir
gressivamente à medida que d a seca. Por esta razão, suas idéias, o homem utilizou-se a princípio dc materiais
a argila recebe nomes distintos de acordo com seu que pôde encontrar mais a mão. Já vimos mesmo que
estado e estes nomes indicam etapas definidas, cada o barro deve ter sido o primeiro material de que se
uma com características e possibilidades diferentes". valeu. .. No barro são deixadas as primeiras manifes­
Vejamos, a seguir, diversos aspectos concernentes tações do Homo Sapiens, voluntárias, feitas para seus
à manipulação da argila ou do barro seco ao sol, que semelhantes.”
veio a originar 6 fabrico da louça utilitária e a de Não é sem razão nem fundamentos que Platão
adorno chamada entre nós de “louça de barro” e os sentenciou: “A Cerâmica deve ter constituído a primeira
primeiros materiais de construção. das artes conhecidas”.
Aos poucos o homem foi pois, inspirado de uma
■ Segundo Louis Figuier®: “Quando o homem maneira ou de outra, encontrando meios dc manipular
chegou a improvisar armas para combater animais e dar forma ao barro, o que obteve através dc alguns
ferozes ou defender-se de seus ataques, quando pro­ processos clássicos que continuam a ser usados por
curou abrigo para proteger-se das intempéries, deve ter tribos ou comunidades ainda em estágio primitivo, como
pensado em um meio de armazenar os líquidos ou aproveitados na atualidade pelo artesanato popular e
mesmo substâncias sólidas para garantir a refeição do folclórico. Os mais conhecidos são os chamados de
dia seguinte. Ao mesmo tempo que a água para os “aspirai” ou de “colombin" ou dc rolo, pelo qual com
usos comuns da vida, o peixe para sua comida, os cilindros ou roiinhos de barro mole justapostos ou
rios e os lagos, forneciam o barro e o limo. Bastava colocados em caracol, vão sendo levantadas as paredes
pois, uma primeira observação, arguta c feliz da impres­ da peça. Outro, chamado de “levantamento” ou de
são de uma pegada ou das mãos sobre a argila úmida, modelagem, consiste em cavar num bloco dc barro a
para conduzir esse nosso remoto parente ao fabrico cavidade desejada, batendo do lado de fora c mode­
dos primeiros recipientes. Segundo o arqueólogo e lando a peça. Há ainda outro sistema, o moldado, feito
ceramógrafo Martin Almagro Basch, o homem vateu-se com fornias negativas para vasos, figuras ou adornos
de outros materiais como vasilhames antes de fabricar complicados(7). No Brasil, essas designações técnicas
os de barro. Diz-nos cie: “Toda a indústria cerâmica são também usadas, porém variam conforme a região.
nasceu e segue obedecendo a necessidade sentida pelo Existem outras pitorescas como a de “corda" ou de
homem'de criar artificialmente recipientes que conser­ "capitão”, encontradas por Haydeé Nascimento, na
vem os líquidos e as matérias orgânicas dc que necessita região de Apiaí no Estado de São Paulo.
para assegurar sua subsistência. A esta necessidade E outras mais, segundo Herta Locl Scheurer <*>,
essencial, serviram primeiramente recipientes naturais como "tripa”, corno “rodia”, e ainda a de "nhambú”
como crânios de animais, cascas de árvores, de ovos c para o rolo de um metro dc comprimento (Iguapc —
de frutas. Das simples formas côncavas de tão rudimen­ S. Paulo).
tares recipientes e das criadas por outra indústria para- Depois dc se haver dado forma ao barro, o espírito
Ie!a à cerâmica, porém de menos possibilidades artísti­ do homem em busca do belo, melhor diríamos da
cas, a da Cestearia ou a arte do trançado, nasceram mulher já que nesta fase primária e na divisão primitiva
as primeiras formas cerâmicas. Das cascas e dos do trabalho familiar era ela a ceramista do grupo, pro­
cestos nasceram os primeiros pobres e humildes potes curou logo dar-lhe um complemento estético. Nasce,
(“cacharros” ) dc barro saídos da mão industriosa do pois, nesses primórdios da evolução da espeoie, a deco­
homem. À pré-HLstória, analisando .os achados arqueo­ ração, que iria deixar testemunhos em superfícies
lógicos dos povos primitivos atrasados em sua mentali­ rupestres, em tecidos, em ídolos, cm atavios e na
dade c em suas formas de vida, permite-nos hoje cerâmica, marcando aos poucos, estilos definidos. Nesta,
conhecer as origens desta prodigiosa, humilde e encan­ ela procurou adornar as peças com desenhos gravados
tadora arte” . . . “Nenhuma outra criação industrial e no barro mole, com instrumentos rudimentares, eont
artística reflete a capacidade criadora da mão dos as próprias mãos ou com as unhas, dando nascimento
homens e a variedade dc sua alma manifestada em mil â primeira série de ornatos incisos ou cm relevo, este
formas utilitárias c expressivas, nascida da mesma calcado ou com a superposição de partículas de barro

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no corpo da peça. E como os desenhos lineares eram ao conforto e à proteção da espécie e que ate hoje
simples e mais fáceis de executar, e a pessoa humana, continuam sendo utilizados, inclusive em rincões brasi­
a fauna e a flora montavam o cenário do palco silvestre, leiros, e que se classificam dc “primitivos”.
nos riscos há predominância dos traços geométricos, Desses processos, o mais importante e o geralmente
passando depois para os antropozoomorfos e fitofor- mais utilizado na Antiguidade para a construção de
mes. Essas classificações são definidas em duas cate­ casas, muros, torres, etc., foi o adobe.
gorias. Diz-nos Alexandre Speltz<9): “Una planta o un Consistia cie em tijoiões. às vezes somente de
ser viviente puede utilizar-se como adornos de dos barro cru, às vezes misturados com palha e esterco,
maneras distintas: tal como la vemos en la naturaleza que eram secados à sombra e cm seguida expostos ao
— ornamentación realista — o reproducidos con sol, antes dé ampilhndos no levantamento de muros
modificaciones que son consecuencia de sua época, de ou de paredes. Note-se que o adobe era o venerando
la situación política y religiosa de los pueblos, o tam- ancestral dc tijalc, que só aparece mais tarde, quando
bien de ciertas influencias extranas — ornamentación o homem, evoluindo sempre, passa a utilizar-se do fogo,
estilisada. Cada estilo representa la misma planta ei para cozinhar alimentos, prover calor e luz ambiental.
mismo animal dc manera peculiaríssima y, a menudo, Seguem-se outros processos primários, como o de
con formas especialcs y muy diferentes unas de las taipa de pilão, que consistia cm comprimir c socar o
otras”. barro entra duas pranchas de madeira, chamadas de
Mas não ficaram as primeiras ou os primeiros taipas; a técnica do pau a pique, conhecida também
ceramistas adstritos ao aprimoramento da forma ou por “sopapo", em que era levantada uma estrutura
das incisões no barro como representação estética. trançada de bambus ou de varetas sobre as quais era
Deram-lhe um poderoso acessório: o complemento aoosto o barre. O barro cru também serviu (e ainda
ciomátieo, realizado a princípio com cinzas, carvão, serve) para revestir o piso de forma uniforme, o que
tintas vegetais e argilas de outras cores aplicadas a 6 chamado de chão de “terra batida”, de “barro socado”
frio. Assim, na cerâmica, a decoração vai se revelando ou ainda de “chão pisado”, às vezes com mistura de
através de dois atributos que iriam caractcrizá-la no seixos.
tempo e no espaço: o do estilo peculiar a um indivíduo, Porém mais caminha o homem no tempo, mais
a um povo ou a uma época e no qual se integra o sente ímpetos c orgulho de traduzir o seu potencial
emprego c a distribuição das cores. criador de forma ostensiva, e o barro foi um dos instru­
Mas o homem que já revelava seus inatos pendo­ mentos de que lançou mão para extemá-lo.
res artísticos, armado com a inteligência, lançava-se Além áa habitação, passou a murar seus domínios,
eoncomitatitemente a outras magnas realizações de a cercar de muralhas as suas aldeias c cidades e a
ordem prática. Não se conforma nem sc ateve a morar levantar palácios e monumentos, em parte devotados
nas locais e abrigos pré-determinados pela natureza e a ao culto dos mortos.
ele cedidos em primeira locação. Nos primórdios pré- Assim, assina!a-sc o Palácio dos Sumérios, em
-históricos, já se evidencia a aspiração do indivíduo, Kish, na Mesopotâmia, construído 3500 a.C., com
que sc perpetua através de milénios, de possuir sua adobes pequenos já lembrando o tijolo, porém não
própria casa no local que preferir e na feição que lhe queimados, com a peculiaridade de apresentar uma
aprouver. supeifüe almofadada. No Egito, foi localizada uma
pirâmide feita de adobe há 3400 a C. e nos restos
Com lascas de sílex improvisou o machado e, feiram encontradas sementes de trigo junto com palha
cortando árvores, pôde montar uma habitação de '.'Lotas Fiffiàer) " n. O Antigo Testamento faz menção
madeira junto à água que lhe era vital, criando assim a CTCsznsçôes monumentais feitas de adobe no Império
a primeira estrutura palafitaíl0), ou ainda, como é Assírio-Babilõnio, como a Torre de Babel, isso por
chamada no Brasil, casas sobre esteios ou esteiarias, o vefea de 2600 a.C. Rcfcrindo-se a elas esclarece
conjunto das casas lacustres construídas sobre “pilotis”. Aicxaaõrs Spdtz: “essas construções gigantescas eram
Empilhando pedras, levantou paredes para outro tipo feitas em. gerai com acic.be revestido com. pedras planas,
de morada e com o emprego do barro deu início à dagadas - largas, ás vezes com capa de gesso ou de
construção regular da casa, cobrindo-a com ramagens,
asfalto ornada dc mosaicos cm terracota esmaltada.
palha ou madeira, nos primeiros tempos. Esses adeiss tinham até 35 cm de largura. Outros
Estas realizações são qualificadas de “pré-históri­ autores informam que naquelas construções já havia
cas”, quando detectadas arqueologicamente e atribuídas também tijolos queimados”.
àquele período, enquanto as produzidas hoje por comu­ Assim foi o manuseio do barro o principal instru­
nidades que não evoluíram no tempo, espalhadas ainda mento. senão o primeiro de que se valeu a mulher e o
pelo globo, são chamadas dé" “primitivas”. homem para externarem seu pendor artístico e seu senso
Assim, através da maneira de tratar o barro, foram prático e voíupmário, criando a arte cerâmica e dando
nascendo processos, desde a pré-História, para atender as primeiras contribuições à arquitetura.

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B I B L I O G R A F I A

(! ) I am J elinek —. " L 'H o m m e P ré -H isto r iq u e " — Grund,


Paris, 1975. .■
(2) F rancis Ù eloria. — “Arqueologia1' — Comp. Melhora-
__ raentos — S. Paulo, 1975.
(3 J G eorges F ontaine —- "La Céramique Française” —.
Paris, 1965.

(4 ) K. D rake -—■ ''Cerâmica Sin Torno" -,— E.K: Buenos


Aires, 1972.
(5 ) Louis F iguier —a "Les Merveilles de !a Céramique" —
, Paris, 1870. •

(6) U birajara DoLÁCiO Mendes — "Nações de Paleografia”


,átJ: Dept.0 do Arquivo do Estado de São Paulo . 1953 —
pág. 31. " . _

(7 ) Instituto de Cultura Hispânica — Madrid, 1968.


(8) H erta Loee Scheurer (Estados da Cerâmica Popular
ão Est. de S. Paulo — Conselho Estadual de Cultura —
1976 — págs; 28/59 — Semnha do Bom Sucesso —
Itararé).

(9) A lexandre S pelte — " E n c ic lo p é d ia de lo s E stilo s


- Ornamentales" — Buenos Aires, 1905.
(10) R aimundo Lotes — "Sobre P a la fiia s no M a r a n h ã o ” —
. Anais do 20.° Congresso Americanists — eoL 2 —. Rio
1928,
(11) lou rs F iguíer — ob. cit.

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II - TERRACOTA

ste tópico abrange o barro co­ flácidos tomavam-se rijos e as cores do barro e de
zido artificialmente ou terracota, outros materiais sob sua ação se alteravam.
com ou sem pintura a frio, ou Assim, dos fogões, fogueiras e fomos primitivos
louça de barro cozido. Subimos foram surgindo descobertas surpreendentes. Os supor­
mais um degrau em direção ao tes de trempe, conforme a composição das pedras que
topo da escada ou dedilhamos a armavam, derretiam-se ao calor, transformando-se em
mais uma nota sonora da escala outras matérias que iriam converter-se em metais como
cerâmica. A diferença entre esta categoria e a última o ouro, cobre, bronze, prata, ferro, etc., iriam também
abordada consiste em que, naquela, o barro é seco de fomecer uma nova paleta de cores com os óxidos
maneira natural, isto é, ao sol, enquanto nesta ele c minerais, como iriam preparar, com a descoberta do
cozido artificialmente, em forno de lenha ou de outros vidro, uma nova categoria para a cerâmica: a louça
materiais combustíveis. vidrada.
Já não era mais preciso manipular a argila úmida Essas importantes descobertas que levavam milê­
e vê-la enrijecer-se lentamente ao calor brando do sol nios para surgir, passaram também subsidiariamente
e sím observá-la e vê-la sofrer a ação violenta de outro a assinalar no tempo os estágios da civilização de povos,
elemento que já vinha sendo usado para outros misteres, como as Idades do Cobre (6000 a.C.) do Bronze
como o de obter claridade, afastar feras, proporcionar (que é uma liga de cobre e estanho) (3000 a 2000
aquecimento e cozer alimentos. Aproveitado de vulcões, a .G ) e a do Ferro (esta última de 2000 a 1000 a.C .).
de combustões espontâneas ou de faíscas de raio sobre Mas a ação do fogo aquecendo a terra, sobre a
a vegetação seca, o fogo adorado a princípio como qual se assentavam aqueles fogões primitivos, levou logo
divindade, passou logo a ser produzido pela mão do à constatação dc que a argila enrijecia-se ao calor arti­
homem, através do atrito de pedras duras ou através ficial, apresentando um grau de resistência dc colora­
de fricção da madeira, tomando-se um de seus mais ção e sonoridade diferente c superior ao do barro seco
poderosos e eficientes instrumentos. Assim, o carvão ao sol — nesse momento nascia a terracota. Surgem
produto de semi-combustão, a gordura e o óleo, foram a seguir os primeiros fomos para produzi-la, encavados
então sendo empregados nas cavernas onde eram pre­ em barrancos, encovados no solo, levantados sobre o
parados os alimentos ao abrigo das intempéries. Com chão de diferentes formatos e tamanhos, que mais tarde
esses métodos de produzi-lo e de outros para conser­ evoluem para os de tijolos com respiradouros e contro­
vá-lo, nasceu o domínio sobre tal elementos e as formas les de calor e de ar, e outros ainda, conforme o tipo
de iluminação com as lamparinas, as candeias e as de cerâmica a ser fabricado.
tochas, assim como os primeiros fogões e fomos. Tão grande a importância do fogo, que, nos tempos
Esses fogões, se assim podemos chamá-los, eram históricos, Homero (mais ou menos 1000 a.C.) já
de dois tipos, o cavado no chão, em cujo buraco abriga­ cego, é solicitado pelos oleiros de Samos para compor
do o fogo mantinha-se com a lenha e as brasas — , um hino dedicado ao forno no qual invocava Minerva
processo esse que lembra a estrutura das tradicionais para que emprestasse sua mão hábil a fim de que
churrasqueiras' e o fogo de trempe, que consiste em os vasos se cozessem ao grau conveniente (Louis
colocar três pedras e entre elas introduzir gravetos e Figuier) ri).
lenha — sistema esse até hoje utilizado pelos caçadores. Mas outra invenção de implicações profundas,
Essa domesticação do fogo e a observação de seu ainda na pré-História» foi a da roda, que iria abrir um
comportamento estão na base de descobertas transcen­ novo capítulo na locomoção e transmissão de força e
dentais que iriam alterar e marcar novas etapas na proporcionar um sem número de adaptações nas indús­
civilização dos povos em variados campos e sobretudo trias primitivas e modernas. Da roda nasce o moinho,
na Cerâmica. movido a água e pelo vento, e entre outras variadas e
Pode-se imaginar o quanto de espanto, perplexi­ estupendas derivações, a roda ou tom o do oleiro.
dade, confusão e alegria estampados na face rude do Ela, surge tanto na África, como na Europa
hòmem diante da sucessão de fenômenos desdobrando- Nórdica e no Oriente no período neolítico, porém tanto
-se díante de si. A observação ia aumentando o seu a rt)da ou o tomo iriam levar séculos para que seu
restrito acervo de conhecimentos e contribuindo para uso se disseminasse no mundo conhecido.
novas realizações. E a ação do fogo devia mesmo Assim, na Península Ibérica, o tom o só aparece
intrigar aqueles primitivos observadores pois ela e ra 1tão quando os gregos estabeleceram feitorias em seu litoral
imprevisível como desconcertante; destruía’ materiais por volta do século VIII ao século VI a.C., e no interior
como a madeira, a água desaparecia na evaporação, da Península os romanos o difundiram depois do século
elementos sólidos transformavam-se cm líquidos, outros III,d C,

5
Tornos ou Rodas de Oleiro Manuais
EGITO

PinItire t/xisteMe nus Catacumbas cie Thebu:. que mostra o O uso do torno manual é assinalado pelos arqueólogos na
interior de uma oficina oleira dedicada ao fabrico de peças Terra, no período neolítico, tanto na Europa Nórdica como
utilitárias e de adorno e indica as diferentes fases de (!.a seção) no Oriente, porém, i de presumir que, dentro daquele período,
preparação das pasta; pelos artesãos e a confecção' e modela­ tenha cabido a primazia ao Egito, dado o avanço da sua
gem dos vasos pelos torneiros. Observam-se na parede dois evolução.
vasos de modelo e no chão um pole já modelado, e a seguir (Joaquim de Vasconeellos, in " A indústria Cerâmica”, Porto,
(na l . a seção) a preparação para a queima nos fornos. 1907 — pdg. 42 — estampa reproduzida).

Na Gália, ele só veio a ser empregado no primeiro Porém, os gregos inventaram um tomo ainda mais
século de nossa era. completo, na realidade um torno duplo. Consistia ele
E na América, somente com a chegada dos de duas rodas, uma superior, onde era colocada a
europeus, já no século XVI, é que seu uso sc divulga. massa, e outra inferior, inpulsionada pelos pés, deixam
Consistia o torno ou roda de oleiro de uma roda com­ do, pois, livre as duas mãos do oleiro para modelar a
pacta colocada horizontal mente sobre um eixo vertical, peça. Foi o escultor ateniense Thalos, sobrinho de
sobre a qual era pousada a massa a ser modelada, roda Dédalo, cerca de 1200 a.C., que criou esse melhora­
essa que cra impulsionada com uma das mãos enquan­ mento assim como outras invenções, como a da tesoura
to a outra procedia à modelagem. e a do serrote, esta inspirada na espinha dorsal dos
O nome de seu genial inventor e mesmo do povo peixes. O torno ainda viria a ser acionado com maior
que primeiro o usou perdeu-se no tempo, nessa vala desenvoltura com o emprego da polia, pelos chineses.
comum, onde jazem boa parte dos fastos, fatos e per­ Essa invenção constitui um enorme passo sobre
sonagens de nosso passado remoto. Segundo Martin os morosos e imperfeitos métodos anteriores de tratar
Al magro Basch a \ esse tosco, mas eficiente instrumento q barro. Ela conferia ao oleiro mais precisamente ao
teria nascido no vale do Tigre e do Eufnates na Mcso- torneiro, ou ao Iouceiro ou ao ceramista, a capacidade
potâmia, e seu emprego já estava desenvolvido no de produzir simetricamente uma grande variedade de
terceiro milénio antes de Cristo, paralelamente a outros formas e de proceder a múltiplas combinações circula­
progressos, que tardaram como o tomo para propagar- res, ovais, esféricas e cilíndricas. Dava-lhe um controle
-se a outros povos. No Egito, foi localizada uma esteia mais efetivo e regular sobre o barro, a par de maior
nas catacumbas de Thebas, há 2000 a.C. com a perfeição e velocidade no fabrico. Essas vantagens
representação do processo então vigente da fatura de iriam desenvolver consideravelmente a arte cerâmica,
um vaso em terracota, em que se distingue o tomo, não só quanto ao caráter quantitativo da produção,
chamado de manual, com as diversas fases de seu como pelo aspecto artístico em que o ceramista passava
fabrico <3). a dispor de um instrumento, com a ajuda do qual podia

ó
traduzir com desembaraço e apuro as suas manifesta­ artes plásticas à classificação que se tornou norma
ções artesanais. convencional da indicação da paternidade da obra com
O forno conferindo rigidez e fixando cores, e o o “pinxit”, o “fccit” c o “delineavit”.
torno produzindo formas e imprimindo rapidez, além Tamanho apreço era conferido pelos gregos aos
de abrir novos horizontes para a cerâmica, acarretam seus artefatos, que nos famosos Jogos Olímpicos além
modificações que se refletem na própria estrutura social. de coroas de louro c taças de ouro conferidas aos
Através do barro, assiste-se a sucessão de fases distin­ vencedores, havia prêmios para os atletas, constituídos
tas de atividade — a artesanal e a mecânica e uma de artísticos vasos ou figuras em terracota.
entrosando-se com a outra, ao surgimento da industrial, Ela foi para os gregos um dos mais eficientes
que caracteriza o homem moderno. E cada fase acarre­ instrumentos para complementar a sua escrita e divulgar
tando transformações de porte. No regime tribal, a a sua cultura. Foi através dela que plástica ou pictori­
primazia no manuseio da argila era atributo predomi­ camente puderam cies exaltar sua epopéia, reproduzir
nantemente feminino. Mas, já no neolítico, com o fogo sua mitologia e demonstrar seu virtuosismo artístico.
e o tomo, a mulher vai perdendo essas suas atribuições. Num desdobramento visual de formas e de cores, num
Aquele artesanato caseiro e individual, destinado a uma desenrolar de cenas e de episódios, acompanha-se como
família ou a um clã, não estava mais em condições por num painel móvel, a história grega, assim como os
insuficiente e precário, de prover quantidade e quali­ primórdios, a fase dc assimilação e a de eclosão da
dade, para preencher no utilitário a crescente demanda arte genuína no berço de nossa civilização.
de vasilhame e na de adorno, o reclamo artístico já Disünguem-se assim, o período de influência de
manifestado pelas sociedades que se ílhavam em núcleos Micenas (1200 a.C.) que transuda ao Minuano dc
urbanos e semi-urbanos. É quando começam a se Greta; o chamado “geométrico” que faz lembrar as
definir novas funções específicas nos ateliês, fábricas e angulares estilizações egípcias e o convencionalismo
olarias, e o homem assume de regra as tarefas cerâmi­ assirio (IX ao V III séculos a.C .), o “arcaico” (do VII
cas. Exemplo típico, é o revelado pela esteia de Thebas ao V séculos a.C.) em que sobressaem as figuras jovens
(2000 a .C ), ou seja cerca de 4000 anos atrás, que nuas (Kuros e Korai) com seu sorriso estereotipado,
mostra no Egito, um grupo de nove pessoas, com sua o período “clássico” (do V ao III séculos a.C .), consi­
distribuição de trabalho, no qual já não figura a mulher derado a Idade do Ouro, o apogeu estético grego e o
na preparação de um vaso de terracota. helénico, (do IV ao I séculos a .C ), em que se destacam
Na Antiguidade, tanto ocidental, como oriental, a as estatuetas, entre elas, as famosas tânagras, nas quais
figura do oleiro — o responsável pela produção cerâ­ desabrocham em toda a sua plenitude, com caráter
mica — já integrado num ofício, vai adquirindo um próprio, o talento e o virtuosismo daquela gente que
verdadeiro “status” -— na sociedade em que vive, pelas iria legar a nós, latinos, um inigualável acervo de
funções sócio-económica e artística que desenvolve. beleza e um inesgotável manancial de cultura.
No paganismo, passa a merecer a invocação dos deuses, Porem na Antiguidade, não foram somente os
quando não era elevado à condição de divindade, e gregos que souberam manipular a terracota com des­
no Cristianismo, veremos mais adiante, veio a desfru­ treza e criatividade. Antes deles os povos de Creta,
tar do patronato dos príncipes e soberanos. da Mesopotâmia, da China, Egito, brindaram-nos
Assim, no Egito antigo, já havia um protetor de cora esplêndidos espécimes.
oleiros: Ophteh W). Na Grécia, o protetor daquela classe Mas, nesse mostruário universal da terracota o
era Ceramus (donde proveio o termo cerâmica), filho nosso continente não deixa também de participar,
do deus Baco e de Ariana, havendo em Atenas um embora a presença do homem na América, tenha sido
bairro denominado Cerâmica, onde se encontravam constatada com maior atraso no tempo do que na
aqueles artífices{5). Na China, um artesão mártir, Ásia, África e Europa.
chamado Poussah, passou a ser venerado como deus Diz-nos Cecília Meire!les(6): “Autorizados ameri-
dos “Oleiros”, do "Contentamento” e da “ Felicidade”, canistas, como Paul Rivet, chegaram a conclusão
quando para atender a uma encomenda imperial, baseando-se em conhecimentos atuais de arqueologia,
jogou-se na fornalha, e, segundo a crônica, a peça de que a Antiguidade do homem no continente ameri­
saiu perfeita. cano, não pode ser recuada além do pelistoceno, ou
Os gregos e os chineses, na sublimação do belo, talvez na aurora dos tempos neolíticos. Isso situaria
através da forma e do colorido, deram grande destaque o povoamento inicial da América do Sul entre 20000
à sua cerâmica entre as outras manifestações artísticas: e 7000 ou 8000 anos antes de Cristo, e o Brasil não
orgulhavam-se tanto de sua fatura, que parte dela era deve estar distanciado dessas datas” .
marcada, indicando ora o artesão, ora o artista ou a Alberto Rex Gonzales também nos informa:
dinastia que a produziu. Há poucos anos, foi descoberto “Dispomos de algumas evidências que permitem esti­
o ateliê de Fídias o gigante da estatuária grega, e nele mar que o homem deve ter chegado a .América do
uma peça com seu nome, e os ceramógrafos puderam Sul e ocupar os Andes, há uns 25000 anos” . . . E
detectar, através de crônicas e de peças que sobrevi­ quanto à presença da cerâmica, assinala: “Na Colôm­
veram, os nomes de noventa e cinco oleiros e ceramistas bia a cultura cerâmica mais antiga se representa pelos
gregos, entre eles Andócides (oleiro), Eufrânio, Oitos, achados de Puerto Hormiga (3000 a.C.) em c u ja '
Eutimide, Epicteto, Esmiero, Cetes, estes artistas e cerâmica há algumas figuras modeladas com indubitável
ainda uma outra geração, em princípios do século V, graça”.
os pintores de Pintesiléia ou de Brigos, Macro, Duris Apesar desse atraso no tempo e do desconheci­
e outros m ais(S3). mento do uso da roda pelo homem americano, antes
Entre essas peças marcadas, há as assinadas com das conquistas ibéricas, nem por isso deixa ele de
a informação do artesão que as fez e outras com o figurar com brilho, originalidade e diversificação
daquele que a pintou. Esse costume deu origem nas ímpares nesse cotejo universal.

7
Sécs. IV a I a.C. TERRACOTA

O Bárão do Rio Branco c; n um colecionador às arte, o que


poucos sabem (como foram aliás, na carreira diplomática Guerra
Dttvai. Edmundo da Luz Pinto, Souza Leão, M oniz de Argão,
etc.) c sua ilustre família ainda retêm peças dc alio valor
histórico e intrínseco de sua coleção, A revista “Cruzeiro" de
l p de junho de 1946, pág. 64, fez uma reportagem bastante
elucidativa a respeito. A fotografia à esquerda fo i fornecida
à família Rio Branco pelo liamaraty e ilustra a quantidade
das diferentes peças coletadas pelo insigne brasileiro inclusive
diversas tânagras. À direita reproduzimos uma das tánagras de
propriedade de seu neto Dr, José Paranhos do Rio Branco.

S
Séc. IV a III a.C. TERRACO TA
Grécia
(Tânagras)

Ao ah o unia cratera (Keaihere) de


tipo A tico, i undo preto e cromia ocre
avermelhada, representando uma da­
ma sentada e um efebo com oferen­
das coroado de louros; do outro lado
dois homens com bastões. N a base
das figuras uma grega envolvendo a
ânfora e desenhos fito formes com
laçarias soltas. Â esquerda uma esta­
tueta masculina atribuída à cidade de
Tânagra na Grécia jovem descoberta
na Itália. Representaria Ícaro (séc.
IV ao III a.C.}. A direita figure de
mulher com um capuz cônico tr
túnica com mento. Terracota da tipo
tânagra (séc. V I ao IV a.C.).
Cortesia de Pietro Maria Bardi.
Museu de Arte de São Paulo - Assis
Chatcaubríond.

9
TERRACO TA
Brasil
(Pré-ca braliDas)

5-

Pore Santarém (CoL Vera Sampaio Chcrmont — Pará).

10
Di vera as culturas esparsas pelo nosso continente museus, tanto da América como da Europa, exibem
e civilizações marcantes como a Azteca, a Maia e a cerâmica marajoara e santarena, corno também a elas
ínca, nos deixaram um mostruário tão rico quanto se referem quase todos os tratados de arte. O ceratnó-
variado. Nele predominam formatos globulares e grafo Warren E . Cox<S), ao descrever uma garrafa de
tubiformes, o uso do trípode como base de apoio, a Santarém, não deixa de assinalar-lhe os predicados:
confecção de umas funerárias, potes representando “boca bem modelada e decorada com desenhos incisos
figuras e cabeças humanas, os "waeo”, e de animais e exuberantes detalhes”.
e como criações tipicamente continentais o fabrico de As duas cerâmicas que mais se destacaram’ na
vasos comunicantes, a que chamaríamos de xipófagos Bacia Amazônica nos são assim descritas por Cecília
quando geminados, ou de peças duplas ligadas por Meirelles: “A marajoara clássica na arqueologia brasi­
pontes, etc. leira é caracterizada acima de tudo pela riqueza dos
Quanto à participação brasileira nessa mostra ornatos geométricos gravados ou pintados com admirá­
ameríndia da terracota, não deixa ela de concorrer vel firmeza e perícia em suas um as funerárias e em
condignamente, Há mesmo antropólogos que julgam vasos, ídolos e outros variados objetos. Quanto à
que a perfeição da cerâmica, amazônica colocaria os louça de Santarém (Tapajó) é um verdadeiro museu
nossos índios em grau superior ao cultural Neolítico de zo o lo g ia... Tudo para ele (o índio amazônico)
ehi que são classificados. Essa cerâmica da região era zoomorío e antropom orfo. . . Nesse jardim zooló­
amazônica (Marajó, Miracanguera, Rebordeío, Mara- gico que é a cerâmica tapajó (verdadeiro catálogo da
cá, Santarém, etc.) corresponde a um tempo não fauna regional, como tão bem definiu Linné), todos
muito afastado do Descobrimento e em geral foi deste os bichos são representados” . Carlos Estevão W assim
contemporânea. se refere: “Seu estilo é inteiramente diverso dos
demais existentes no Brasil. De notar ainda alguns
Nossos selvícolas pré-cabralinos desconheciam o traços inconfundíveis de seu estilo, como o tratamento
torno e mesmo o uso de moldes ou de formas (estas dos gargalos sobrecarregados de ornatos e relevos, as
já eram usadas pelos andinos), mas mesmo assim representações do gênero “figurines”, e uma riqueza
manipulavam a argila com notável virtuosismo técnico, exuberante a lembrar um barroco nativo. Os tapajós
e sua produção não deixa de apresentar um encanto também fabricavam cachimbos em terracota altamente
particular, pois não se repete. Essa cerâmica indígena elaborados”.
despertou a atenção de vários cronistas de nosso Quanto à parte decorativa nos informa Eduardo
passado que a ela não deixam de referir-se, como G a l v ã o “Como técnicas da decoração predomi­
Staden. Léry, Thevet, d’Abbeville, Carvajal, Heriarte, nam as pinturas em duas ou três cores e o desenho
Cardim, Gabriel Soares e outros. gravado (inciso) cu em relevo (exciso) usando-sc
Cecília Meirelles, em observação detalhada sobre algumas vezes, simultaneamente, esses vários pro­
essas manifestações artesanais, qualifica-as de sober­ cessos. A ornamentação da cerâmica da fase Marajoara
bas, admiráveis, surpreendentes, etc. O que poderia se limita quase exclusivamente ao tratamento da super­
parecer uma explosão de ufanismo regional-é, na fície dos vasos”. As tânagras dc barro decoradas são
realidade, a constatação de um fato, pois múltiplos as peças definidoras por excelência da fase Marajoara.

11
B I B L I O G R A F I A

( 1 ) L o u is F ig u ib r — ob, cit,, p á g . 1 1 7 .
(2 ) M artin Almagro Basch — '‘Iniroducion Cerâmica
Aragon M uel“ — Barcelona, 1954.
(3 ) Joaquim de V asconcellos — i n “A Indústria Cerâmica"
— Porto, 1907.
(4) A rtes nos Séculos — Abril Cultural — S. Paulo, 1969.
(5 ) Joaquim de Vasconcellos — . ob. cit.
(5-A) H enry V an E ffentekre — “Athenas m Idade do
Ouro", in D i á r i o d e N o tíc ia s d e L is b o a d e 1 3 . 1 1 . 1 9 7 9 .
(6) C ecília M eirellês — “Cerâmica in Aries Piósücas no
Brasil" — pág. 20 — Rio, 1952.
(7) A lberto ' R ex G onzales — "A rte Precolombiano
A ndino” — prefácio Cat. Museo Nac. Bellas Artes,
ed. Amigos del Museo Nacional — Buenos Aires, 1971,
(8 j Warren E. Cox —. " The book o f Pottery and Porce­
lain" — vol, II —- estampa 225 — N, Y ork , 1945.
(9) C arlos E stevão — "A Cerâmica de Santarém”, in
rev. DEPHAN — Rio, 1939,
(10) E duardo G alvão — "Exposições de Antropologia" ■—
M u s e u G o d d i — g u ia a .0 I, 1973 -— p á g s . 2 2 / 2 3 ,

C harles E rnest G uignet — ‘‘L a C ê r a m iq u e A n c i e n n e e t


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P aul Courbin — “ F o u r s '1 i n “Revista do Museu Paulista”,


vol. XXVI — Universidade de S. Paulo.

12
111 - TIJO LO S - TELH A S - LA D R ILH O S
COZIDOS AO FOGO

e faio, estamos no domínio da ou eira para secagem, e de fomos maiores e de chami­


terracota c dentro de seu enqua­ nés altas, para afastar a fumaça. Essas fases com­
dramento constitucional, porém preendem o armazenamento do barro extraído das
aqueles produtos fabricados em barreiras, a preparação das pastas, a moldação, o
série, já em olaria o seu uso e enxugo e a cozedura^.
seu destino os colocam na ter­ O tijolo e a olaria, para produri-lo, passaram a
minologia cerâmica, em catego­ constituir um marco na história da civilização. Já se
ria a parte — a da indústria de construção, na qual evidencia, passando do adobe para o tijolo, de uma
incluem-se ainda outros elementos, como ponteiras, época pré-histórica para a histórica, que, de uma ma­
colunas, arcos pré-mo!dados, etc. neira ou de outra, o homem continuava a revelar os dons
Incluímos em nosso roteiro parte dos produtos da previsão c da criação para vencer as contingências
da olaria, embora se liguem mais à arquitetura e à naturais e enfrentar um dos incontáveis desafios a ele
cerâmica industrial de construção porque na realidade, impostos, como o problema da proteção e o da prolife­
demonstram a evolução geral da cerâmica a par de ração da raça.
revelar o aspecto sócio-econômico de uma comunidade, E a silhueta inconfundível de uma olaria na
constituindo ainda, o envólucro de um ambiente c um Antiguidade, que por certo não deveria diferenciar-se
fator complementar dc decoração externa e interna de muito das atuais nos perímetros suburbanos, guarda­
uma composição arquitetônica. das as devidas proporções, constituía um símbolo de
No primeiro tópico deste capítulo, tivemos opor­ afirmação e evolução do homem. A olaria vinha no
tunidade de referir-nos às técnicas primitivas ou rudi­ seu devido tempo, quando o homem deixa de ser
mentares de construção, com o emprego do barro nômade e passa para a fase sedentária, preencher uma
cm — voltamos em parte a elas, pois são as antecesso­ lacuna no processo de desenvolvimento, onde outros
ras do tijolo c de outros artefatos dirctamente ligados materiais, como a pedra e a madeira eram carentes,
à indústria da construção. e, sobretudo, concorrer para que não sofresse solução
O tijolo, como herdeiro do adobe na destinação, de continuidade a instalação de novos aglomerados
c da terracota na solidez, mantém a mesma matéria- habitacionais.
-prima e a primeira etapa de secagem de ambos, Do Mas, com a olaria nasce também o uso das
adobe herda ele ainda a forma compacta retangular, marombas e das formas de madeira (sem fundo, nem
porém mais reduzida, e da terracota o princípio funda­ tam pa), para tratar o barro e manter no tijolo a unifor­
mental da sujeição ao fogo, apondo-lhe outros crité­ midade de seu corpo, como rapidez ao fabrico,
rios na seleção do material e submetendo-o a outros dando-se início, a nosso ver, ao princípio da automação
processos complementares, como as temperaturas eleva­ que iria desembocar na mecanização industrial.
das (até 1.000°) e o uso de formas retangulares no De começo, a tração para mover a maromba,
fabrico. Isso confere vantagens apreciáveis ao tijolo, onde as partidas de barro eram depositadas para
tanto na manipulação quanto na sua aplicação mais serem amassadas, era exercida pelo próprio oleiro,
ampla na arquitetura, passando esta a dispor de um mas com o correr dos tempos e a domesticação dos
material que ao mesmo tempo lhe facilita a composição animais, passam estes a ser os seus instrumentos,
arquitetônica e deixa-lhe campo para combinações quando não o servo ou o prisioneiro cativo a ele
na ornamentação parietal. Além de apresentar uma sujeito.
resistência quase comparável a da pedra, resiste à Os chineses inventaram o monjolo para descascar
água, à neve, ao fogo e mesmo à poluição ácida que cereais, porém aproveitaram o seu martelar para socar
ataca o mármore e outros calcários. o barro, a exemplo daqueles que inventaram os
Não é sem razão que continua o tijolo — arqui- moinhos de água.e de vento, c o velame, captando
milenário — a imperar na construção universal. com engenhosidade as forças da natureza, para irem
As olarias que o produzem, de regra eram mon­ liberando o homem de parte de suas penosas tarefas.
tadas junto às barreiras que forneciam a argila adequa­ O binômio que vaí caracterizando a ação do homem,
da, a chamada gorda, de maior plasticidade, além de de menor participação humana e esforço individual de
outros fatores .que lhe facilitam a produção, como um lado, e de outro, de maior produtividade e eficiên­
malas nas proximidades. cia, vai desenvolvendo sua marcha até chegar ao
Desde os primórdios, já deviam representar esta­ século XIX b XX.
belecimentos de porte, tanto maior quanto a solicitação E nessa caminhada pelo tempo e pelo espaço,
requerida, porque para atender a esta e as fases de empilham-se novos métodos e descobertas. Para a
fabrico dos artefatos, era necessário dispor de terreno combustão nos fornos e fornalhas, além da madeira,
amplo como por exemplo, o chamado de enxugadouro surge a turfa, o carvão mineral, o óleo cru; a força

13
moiora passa a ser produzida pelo vapor, pelo gás, tijolos. Pesquisas arqueológicas recentes precisaram
pela eletricidade, pela energia hidráulica e até nuclear. que havia moldes dc madeira para o fabrico de
Esses agentes, na preparação do tijolo, passam a dois tijolos por vez, e ficamos conhecendo as dimen­
acionar, através de complicados mecanismos de tubula­ sões usadas que eram de 15 x 30 cm com 3 cm de
ções e correias, tambores rotativos, misturadores de espessura<J).
barro — sucessores das humildes marombas — e a
Os Celtas também foram grandes oleiros c depois
promover vendavais aquecidos dentro de túneis para
dos romanos continuaram a tradição do emprego do
a secagem da massa, a preencher formas ou cortar
tijolo, a que chamavam de “bric”, que veio a dar na
com delgados fios de aço as extensas fiadas retangu­
França o étimo “brique” <4), na Inglaterra o termo
lares de barro, c a pôr em movimento carrinhos, estei­
“ brick", para designar o tijolo.
ras rotantes, plataformas móveis, etc.
O emprego do tijolo queimado, é localizado em Os árabes, na Espanha Mourisca, deixaram,
primeiro lugar tanto no Egito como na Mesopotâmia depois do sécuio VII, em numerosos monumentos,
e é de assinalar que desde logo é aproveitado também variados e atraentes exemplos de decoração mural
como ornamento e veículo de comunicação escrita, com o hábil manejamento de fiadas de tijolos salientes
através de representações antropomorfas c zoomorfas nas fachadas, assim como de lajotas aplicadas às pare­
e de inscrições epigrãficas em sua pasta, sobretudo des, processos esses que iriam difundir-sc pela Euro­
em tabletas. Em Ur, onde nasceu Abrahão, já apare­ pa, c na América em Puebla nos séculos X V I/X V II.
cem dizeres revelando fastos de 6000 anos atrás, e Por volta do século XII, a Liga Hanscática, que
em monumentos sumérios entre 3200 e 2100 a.C., apresentou no Ocidente o primeiro e gigantesco orga­
como também nas portas da Babilônia em 2600 a.C. nismo de comércio internacional e intercontinental,
A Torre de Babel, referida no Antigo Testamento, reunindo em uma enorme rede comercial uma confe­
e as Muralhas da Babilônia, como dissemos, foram deração de cidades espalhadas no continente, sobre­
levantadas parte com adobe e parte com tijolos e estes, tudo na Alemanha, nas Ilhas Britânicas, no Báltico, etc.,
após a destruição da cidade pelos persas, foram ainda é tida como uma das maiores fornecedoras de tijolos
reaproveitados para outras construções em vários locais. para construções medievais. E a função do pedreiro,
ou seja, daquele que arma uma parede dc tijolos, e a
As Torres da Porta de Ischtar (40 pés) na do canteiro que monta as de pedra e mármore, dentro
Babilônia, que foram levantadas por Nabuchadrezzar da sociedade medieval era de tal ordem, que tais
(605-562 a.C.) continham nada menos do que qui­ artesãos faziam parte das guildas de Artes e Ofícios,
nhentos e setenta c cinco representações de animais em podendo ostentar seus próprios escudos designativos,
relevo sobre tijolos, como o touro Ramã deus do como em Gand, em 1524<5h E no Vale de Piratininga,
tempo, e o dragão da Babilônia, chamado Sirish. ainda dentro do Quinhcntismo brasileiro (1593), os
No Egito, uma de suas primeiras e monumentais pedreiros tinham seu ofício qualificado w .
pirâmides, a de Sakara, de curioso formato, composta
Para citar apenas um exemplo, entre os notáveis
de vários patamares, era construída de tijolos com e numerosos monumentos arquitetônicos espalhados
revestimento de pedra, o formato dessas pirâmides pela Europa, Henrique VIII, da Inglaterra erigiu o
com largos patamares circundantes, ou gigantescos Palácio de Hampton Court todo em .alvenaria, porém
degraus em volta, é chamado de Zigurate, conforma­ com combinações decorativas na sua colocação e
ção essa mais usada e característica da Mesopotâmia, magníficos arranjos de peças salientes nas numerosas
onde a Torre de Babel constituía um exemplo com chaminés que se erguem sobre suas dependências.
seis patamares.
Esses arranjos com fiadas dc tijolos cm saliências
Na América pré-colombiana esse gênpro de arqui­
e em reentrâncias, em dentilhado nas arcarias, em
tetura mesopoiâmico era muito usado com o sistema
alto e baixo-relevo, assim como o aproveitamento da
de patamares ou com variantes de uma larga e íngreme
superfície parietal para composições geométricas,
escada levando ao topo.
aplicação de inscrições e representações figuradas,
Na índia, o templo de Paharpur, em Bengala colocação de símbolos e escudos cm terracota, já
(séculos V llf e IX d.C.) foi erigido com tijolos e vinham sendo usados na Antigüidade e no Oriente
fileiras de terracota decorada. Médio, como já nos referimos linhas atrás. Os assírios
Os chineses, já na nossa era, com tijolo e pedra e os babilônios, deram ainda ao tijolo mais uma
montaram a sua famosa Grande Muralha, ao longo atraente apresentação revestindo-o com esmaltes vidra­
de sua extensa fronteira e tão larga que nela podiam dos de elevado efeito crômico e que em parte ainda
cruzar carros de guerra, obra essa considerada como podem ser apreciados em museus britânicos c franceses.
uma das maravilhas do universo. Porém, no Ocidente, são os hispano-mouriscos e
Os fenícios e os gregos introduziram o uso dos mais tardiamente os ingleses e os holandeses que dele
tijolos (e do torno) na Península Ibérica por volta tiraram um grande partido decorativo, tanto na cons­
dos séculos VIII ao VI a.C , porém restrito à costa e trução civil, como na oficial.
às suas feitoriasf2). O tijolo teve e continua tendo os mais amplos
Os romanos dele fizeram largo emprego e 0 empregos de ordem prática e decorativa. Serviu para
introduziram na Europa conquistada no começo de construir pirâmides, muralhas, pontes, torres, minare-
nossa era onde difundira sua técnica de fabrico. Na tas, arcarias, colunas, ogivas, abóbadas, aquedutos,
Península Ibérica, que nos diz mais respeito por sua mesquita c templos, tanto pagãos como cristãos, caste­
conexão com nossa história, foi a partir do século III, los, conventos, armazéns, palácios, casas, fornos,
que se processou a difusão da fabricação manual dos chaminés, pisos de interior e calçadas.

14
TELHA

uiro produto saído do ventre que através de milênios mantêm até hoje as caracterís­
fértil da olaria é a telha. O éti­ ticas básicas de origem: a telha curva (ondulada,
mo provém do latim “icgula", canelada, semicircular) e a plana. E por mais que nos
que foi sofrendo corruptelas por tempos moderno e contemporâneo apareçam variantes
onde, no Ocidente, os romanos de formatos, de dimensões, de acoplamento e de
deixavam os princípios de sua materiais diferentes dos clássicos, enquadram-se todas
fulgurante civilização. Na Ingla­ elas apenas nas duas classificações da sua origem — a
terra, “tile" serve tanto para designar telha propriamente curva e a plana.
( “ roof-tile"), como o ladrilho ( “floor-tile” ), e ainda Roma valeu-se mais da telha curva para o uso
c azulejo ( “wall-tíle” ); na França, “ tuile" e “tuilerie” geral, porém na suntuária aplicada aos templos, foros
servem para designar a telha e a olaria, respectiva­ e palácios, aplicou de preferência a telha plana de
mente. Na Holanda, o termo empregado c “tigel”, c mármore ou de bronze. Aos romanos deve a Europa
na Espanha, o castelhano conserva o étimo latino a difusão de seu emprego que se processou onde quer
“tégula" ao lado de "tepa". Em Portugal essa raiz deu que suas sandálias deixassem o rastro de sua soberba
telha, telhado, telheiro. civilização. Esse tipo curvo foi preferencialmente
O homem, na busca incessante de evolução, de usado no Mediterrâneo, e em particular na Espanha,
proteção e sobrevivência, não haveria de se ater aos Portugal, Grécia e Turquia. Consistia ele num perfil
ambientes sombrios e carcerários das cavernas; na sua deitado da letra S, de forma convexa e côncava, e as
ânsia de desfrutar dos espaços livres e banhar-se da telhas se acoplavam sem solução de continuidade sobre
iuz natural, não iria contentar-se com a coberta pre­ a superfície a ser coberta, presas por ganchos de
cária das ramagens contra a chuva, o vento e as tem­ cobre. Esse gênero passou a ser conhecido no Oci­
pestades. A argila, que já lhe havia fornecido a matéria dente por telha espanhola. Operou-sc posteriormente
para construir um abrigo fora daqueles recintos primi­ uma simplificação da telha romana, que facilitava o
tivos, haveria também de ser aproveitada paca con­ manuseio por apresentar menos peso e volume, com
ferir-lhe uma cobertura adequada e permanente. A o desdobramento do S em duas seções: dois U arre­
telha é, poís, inventada, cm complemento a uma sér;e dondados, o que originou a peça avulsa semicilíndrica
de melhoramentos, quando o homem sai da técnica que caracteriza a telha lusitana. Portugal, fiel à filiação
do barro cru seco ao sol que caracteriza a taipa c o latina, designa até hoje de romana ou de canudo
adobe, e ingressa na do barro cozido ao fogo. aquela telha simplificada, e nós, no Brasil, a chama­
Assim, a argila, completando o ciclo de seu mos dc colonial, de capa e calha, e de paulistinha aos
aproveitamento, primeiro fornece ao homem o material modelos menores modemamente criados. A telha plana
de seu vasilhame doméstico e a seguir o de sua habi­ romana, de harro cozido, tinha forma retangular c
tação regular, com o tijolo, os ladrilhos, os azulejos em média 55 cm de longo.
c a telha <c ainda tubulações e condutos). O Brasil só tomou conhecimento das telhas planas
A telha constitui a unidade da cobertura c o no século XIX — as chamadas telhas francesas ou
telhado o todo coberto de uma construção. Porém o de Marselha — produto importado da França, de
homem não se ateve somente ao emprego da telha menores dimensões, até que a indústria local, no último
cerâmica — um telhado pode ser montado com outros quartel do século XIX, começasse a prover o mercado
materiais, como a madeira, o cobre, o bronze, a brasileiro,
ardósia, o mármore, o estanho, o ferro, o zinco, o Na China, as telhas aproximavam-se mais do
vidro, o concreto, o plástico, etc. modelo português do que do romano, porém com uma
A telha de barro não tem a mesma idade de seu diferença: a parte côncava correspondente à calha era
irmão de forno, o tijolo. Este é o irmão primogênito, mais larga do que a convexa que lhe era oposta,
e aquele com o ladrilho, os caçulas da família oleira. também com numerosas variantes. Aliás, no Brasil
Enquanto o tijolo já era empregado há mais de 3000 colonial havia também essa variante tipo chinês.
a.C , na cronologia das civilizações que se superpõem Isso, quanto aos aspectos estruturais da telha
no tempo, a telha só aparece na Grécia por volta ce cerâmica através dos tempos, porém tanto os ociden­
430 a.C., no Templo de Bassae. Acredita-se, porém, tais como os orientais procuraram ambos, à sua manei­
que no Ocidente ela provenha de períodos mais ra, dar ao telhado complementos decorativos, fossem
recuados, pois no Oriente, na China e no Japão, a eles com ornatos ou através da cromia.
sua presença é mais remota. Os Gregos c os Romanos, imprimiram-lhe um
Pelo conhecimento adquirido por meio de pesqui­ remate artístico, para isso, colocavam ornamentos de
sas arqueológicas, a telha apresenta-se sob duas for­ cerâmica, bronze ou mármore, às vezes nos cantos, às
mas, tanto no Ocidente como no Oriente, feitios esses vezes a intervalos regulares e também formando um

15
Séc. X I X TELHAS ESMALTADAS PORTUGUESAS

5
Mostruário de diversos tipos e tamanhos de telhas esmaltada;
em branco e- azul, com diversos tamanhos, às vezes funde
branco, às vezes funde* azul, dando realce às flores e à:
ramagens, dc fino acabamento, com as pontas relevadas (eir
azul ou em branco). Com o fo i dito, em geral revestiam i
parte inferior dos largos beirais coloniais. Fabrico de Deveio,
ou de Santo Antônio do Porto.
Cortesia de Nícia Camargo — São Paulo.

friso contínuo em volta de todo o telhado. Essas afastar os maus espíritos. Porém inovaram com a
peças ornamentais eram chamadas de “acroterium" ou aplicação de telhas esmaltadas que se destacavam no
“ante-fixo” e ainda hoje são reproduzidas em cons­ conjunto pelo brilho c pela cor. O telhado esmaltado
truções modernas em Athenas e alhures. Eram elas de de amarelo claro era mais usado na suntuária dos
cerâmica ou de outros materiais representando folhas templos, palácios e mansões dc mandarins, enquanto
finamente elaboradas em forma de palmeia apoiadas os de preto marcavam a habitação de outras classes.
na parte inferior sobre base retangular com duas Outra decoração típica era a dos terminais dos pagodes
volutas laterais, ou grifos e outros ornatos. Adatações constituídos por peças cerâmicas espalmadas para o
de “acroterium” greco-romano nos foram transmitidas alto.
pelos portugueses, sobretudo nas construções dos séculos O Japão também valcu-sc das telhas esmaltadas
X V III/X IX cm Minas, em barro cru, e no Norte, já como elemento decorativo, havendo telhados pintados
no correr do século XIX e no XX, muitos telhados ce cinza e de prateado. Necessário torna-se realçar a
são decorados com “ponteiras” de louça vidrada. importância dada pelos orientais ao telhado — não
Os chineses colocavam nos cantos e na cumieira constitui como de regra no Ocidente apenas uma
da cobertura telhas encimadas por dragões, animais cobertura. Na concepção antiga, chinesa c japonesa,
fantásticos e outras representações para proteger e fazia ele parte integrante e principal da decoração de

16
ura conjunto arquitetônico — as fachadas e os embasa­ de arremates cerâmicos do tipo dos , pagodes, o que
mentos serviam apenas de apoio às composições esté­ também veio a ter aceitação no Brasil, no século XVIII,
ticas e monumentais dos telhados. sobretudo em Minas.
Na Europa, na Áustria e em outras capitais, Já tivemos oportunidade de ressaltar o papel de
alguns telhados de ardósia, como a Catedral de Santo uma olaria dentro de um contexto socio-econômico e
Estevão em Viena, embora não usando esmaltes, histórico, como também o do oleiro numa comunidade.
apresentavam superfícies policromadas formando dese­ Porém, o desdobramento dos ramos de atividade pro­
nhos geométricos. Os portugueses souberam criar uma fissional em especializações, tão em voga no inundo
forma “sui-generis” e de grande efeito decorativo, moderno, é apenas um princípio que no setor cerâ­
inspirado na China Antiga. Eram as telhas esmaltadas mico já era posto em prática na Antigüídade e n a Idade
de branco e azul, com desenhos de folhas e de pássa­ Média. O pedreiro tinha seu ofício e o colocador de
ros para guarnecerem em geral a parte inferior de telhas (“couvreur de tuiles” ) também era um especia­
beirais solarengos, uso que nos legaram em fins dos lista, um artesão qualificado em sua profissão, dispondo
séculos XVIII e XIX. Outra adaptação portuguesa do de emblemas e distintivos fornecidos pelas corporações
estilo chinês foi o emprego nos cantos dos telhados medievais.

Emblema de Oleiro na Catalunha


(Arquivos Catalães de Artes e Ofícios)
século X V I.

17
LAD RILH O

s romanos, após os fenícios c cra necessária uma espessura igual a do tijolo que
os gregos terem introduzido os respondia por cargas consideráveis, e, como consequên­
rudimentos de arte cerâmica na cia, que não era preciso despender tanta massa para
Península Ibérica, difundiram aquela finalidade, nasce então uma peça cerâmica com
sua técnica, inclusive a do característica diferente que é o ladrilho (e a lajota).
fabrico do ladrilho, a que cha­ Apresenta ele uma série variada de formatos, porém
mavam de “latericum”. é mais leve e de seção mais delgada do que o tijolo.
A corruptela deste étimo latino foi idêntica tanto Mesmo fenômeno ocorre com o azulejo, que deriva
em Portugal como na Espanha, que na época da ocupa­ do ladrilho e cuja espessura é ainda mais restrita, pois
ção romana formavam uma só província daquele Im­ sua função, que é de isolante e de decoração, não
pério, isso por volta do século UI a.C. Porém, com suporta cargas.
uma importante diferença ríc significado — enquanto "A lajota de forma retangular, de maior dimensão
ladrilho em português refere sc a artefato cerâmico de do que o ladrilho, além de servir de piso conheceu
pavimentação, em castelhano “ladrillo” significa tijolo outras aplicações, como evenlualmente a de revesti­
de construção. mento parietal, no que desempenha, em parte, o papel
No fluir do tempo numerosos materiais foram do azulejo. Porém os hispano-mouriscos deram-lhe
sendo empregados pelo homem para o revestimento do uma inesperada atribuição: a da decoração dos forros
piso de uma habitação ou de outros locais. O reino dc mansões e palácios. Nisso não fizeram mais do
vegetal foi-lhe fornecendo através de várias qualidades que inspirar-se ainda nos gregos que não descuravam
de madeira a matéria-prima, como também o reino também do tratamento do forro que armavam com
mineral, a pedra, o mármore e o barro, para atender “caixões" de mármore, no centro dos quais colocavam
aquela finalidade. Formaram-se assim os soalhos com rosetas douradas, quando não, aproveitando-se da
tábuas, tacos e artísticos “parquets” e aparecem os pisos madeira, pintando-a ou revestindo-a com lâminas
pedrcgufhacios, lajeados, polidos ou não, como tam­ metálicas"(8).
bém e sobretudo faz a sua aparição na Antiguidade a Porém, aos hispano-mouriscos coube a iniciativa
harmoniosa composição do mosaico de que os gregos, de adotar a cerâmica de piso no arremate ornamental
os romanos e os bizantinos fizeram largo emprego do forro. Esse gênero dc lajota, que os espanhóis desig­
através de artísticos desenhos e variada cromia. nam de “socarrat” ou “tablero" apresentava diversas
Voltaremos a faiar neles quando abordarmos as técni­ dimensões (32 x 24 cm — 35. x 43 cm -— 37 x 45 cm
cas de azulejo. De notar que os gregos, sempre sensí­ — Í6 x 29 cm) e dois tipos: o liso, empregado na
veis a criações estéticas, souberam também dar um cor natural da argila ou pintado com tintas à base
grande realce ao manejamento do mármore e do con­ de óxido de ferro sobre fundo branco, que sofria um
traste de cores com o uso de quadrados brancos e cozimento para fixação das cores, porém sem esmalte
pretos, o que originou o chamado desenho “enxadreza­ ou vidrado, o que conferia aos “ socarrats" um aspecto
do’', como ocorreu no templo de Asclépio, 380 a .C .17). opaco. Os desenhos variavam com representações
Mais recentemente tanto a borracha como sub­ antropomorfas c antropozoomorfas, fitoformes, com
produtos do petróleo aumentam o arsenal utilitário e arabescos, figuras heráldicas, símbolos de grêmios,
decorativo do revestimento do piso. como também havia os epigráficos, tanto em caracte­
Porem o piso de barro, sob suas diferentes moda­ res árabes, como latinos e castelhanos, estes em letras
lidades, assume, desde os primórdios da civilização góticas da Uaixa Idade Média, com dizeres alusivos ao
corno até hoje, um desempenho preponderante na proprietário, a data da fundação, sentenças religiosas
habitação. e, às vezes, a assinatura do pintor. O outro tipo de
A primeira utilização do barro como revestimento “socarrat" cra o moldado com representações diversas
de piso, é o mais primitivo e rudimentar possível, em baixo relevo, porém estes não eram políeromados.
porém jã apresentando uma superfície mais uniforme, Essas lajotas eram intercaladas e se apoiavam entre
mais compacta e de melhor resistência ao uso que o as vigas paralelas que sustentavam o assoalho superior
chão natural, é o chamado barro “batido”, “socado" ou o forro, formando faixas contínuas paralelas ao
ou “ pisado" que tem por fim, pela compressão, elimi­ vigamento. Essas faixas dc cerâmica colocadas uma ao
nar parte da umidade da terra para torná-la mais lado da outra naqueles intervalos formavam uma
consistente. superfície plana uniforme e apta a receber a decoração.
Quando descoberto o fabrico do tijolo, passou Essa técnica mourisca também teve seu emprego
ele, como ainda hoje, a ser usado na pavimentação — ainda no século XVII, no Brasil. No convento de'
não só servia como isolante ccnira a umidade do solo, Santa Teresa, em Salvador ainda existem forros com
como prestava-sc a arranjos decorativos. Da observa-_ lajotas intercaladas entre as vigas onde funciona atual­
ção de que para o uso doméstico ou de interior, não mente o Museu de Arte Sacra.

19
B I B L I O G R A F I A

(1 ) J oaquim de Vasconcellos — ob. cit.


(2 ) M artin A l magro B asch y L u iz MA L lubiã M unni —
"Cerâmica Aragon-Mue!” — Barcelona, 1952.
(3) Prof, Dr. L eandro SiüaN — " Cerâmica Navarra" —
San Sebastian, 1973.
(4) M. N. B o u n x e r — "Dictionnaire d ts Arte" — Paris.
(5) Marchands et Métiers au Moyen A ge — Paris, 1976.
(6) Citação de H aydée N ascimento — (Afonso de E.
Taunaÿ — "História Seiscentista da Vila de São Paulo).
(7) DiM rmios P apastanoü ■— "Asclépios — Ppidaure et son
Musée", Edições Apollo — Espanha, 1975.
(8) D imitrios P apastanoü — ob. cit.

G uilherme F elgueiras — "Olaria e Cerâmica" (Inst, de


Arqueologia — Lisboa, 1970),

20
P L A C A S O U L A JO T A S
(Socarrats)
Brasil — Espanha

Convento de Santa Teresa Reconstituição de teto do século X V , em casa senhorial.


Salvador Cortesia Masca Nacional Gonzélez Marti. — Valencia *—
Bahia. Espanha.

Detalhe das lajotas de forno (socarrat) decoradas sem esmalte.


C E R Â M IC A A P L IC A D /
À A R Q U IT E T U R A

Exemplo típico c expressivo cio partido tirado pelos arquitetos ingleses


(no exemplo ilustrado, do período Vitoriano) da aplicação de peças
prê-moldadas na construção civil com 3 finalidade de, além da
responder a uma função estrutural, promover um remate artístico
ao conjunto. Os ingleses, bem como os holandeses, foram nisso
fiéis seguidores da técnica ibero-mourisca de aproveitamento e mane-
jaménto da cerâmica, em suas diferentes formas, como recurso na
tratamento arquitetônico de uma fachada ou conjunto: é o caso do
palácio de Henrique V ill em Hampton Court, no qual, entre outros
arranjos, sobressai o tratamento dado às numerosas chaminés do
edifício, — Arquivo do Autor.
REMATHS DE TELHADOS
(Orieule)

10

23
REMATES E VARIANTES DE TELHADOS
(Oriente)

Tem pio em Bangkok — Tailândia.

Palácio dá Verão — Pequim.


REMATES ARTÍSTICOS DE TELHADOS
(O rie n te)

12

T em p lo de K u n Y am em M acau,

T e w p í o E s m e r a ld a d e B e .u : ! i:B.m e t B u d h a T e m p le l
B a n g k o k — T a il â n d ia ,

25
REMATES DE TELHADOS COM LOUÇA VIDRADA
Brasil “ (Pará)

Píaíibnnda em balaústre com


série de colunas de louça vidra*
da nos vãos da alvenaria.

Série de ponteiras (anrefixos),


colocadas sobre o beirai (temi-
nisçências dos r*acrofcrium,t ro­
manos) pousando sobre cimalha
jrisada.

26
IV - LOUÇA VIDRADA

s ta m o s d ia n te d c o u tr o g ra n d e M a s q u e n o v o a s s o c ia d o e ra esse q u e p a s s a v a a
p a s s o d a d o n a té c n ic a d a c e ­ fa z e r p a rte d a c o n g re g a ç ã o c e râ m ic a m ile n a r, fa z e n d o
râ m ic a . E s s a lo u ç a n a d a m a is é re fu lg ir a s p e ç a s , fo rn e c e n d o e m a n te n d o in d e lé v e l
d o q u e a te r r a c o t a à q u a l veio se u fre s c o r c c o lo rid o , c o m o c o m p le ta a su a im p e r­
a g rc g a r-s e u m n o v o e le m e n to , m e a b iliz a ç ã o ? E r a o v id ro q u e s o b o c o n tro le d o fogo
ta m b é m p ro d u to d o fo g o . e d e b a ix o d e c o m b in a ç õ e s q u ím ic a s a d e q u a d a s p a ss a v a
A té e n tã o , c o m o n a c e râ m ic a s o b a s v a ria n te s d e n o m in a d a s d e e s m a lte s , v e rn iz e s,
g reg a e o u tr a s q u e s e lh e a n te c e d e m , a d e c o ra ç ã o v id ra d o , g la s u ra o u c o b e rta , a re v e s tir d e te rm in a d o s
d e fu n d o e o s d e s e n h o s c o lo r id o s e ra m d e re g ra m a te ria is c o m u m a c a p a v itrific á v c l — u m in d u to
e x e c u ta d o s a frio , c o m c in z a s, c a r v ã o e m in é rio s v id ro so — tr a n s p a re n te o u o p a c o , b ra n c o , in c o lo r ou
c o m u n s m is tu ra d o s c o m á g u a o u g o rd u r a <’), o u co m c o lo rid o ,
tin ta s v eg eta is c a rg ila s d e c o re s d iv e rs a s , té c n ic a e sta O te rm o g re g o p a r a d e s ig n á -lo é “ h ia ln s " , q u e
c o n h e c id a p o r e n g o b e , m u ito u s a d a ta m b é m p o r n o sso s d e u o rig e m à p a la v r a h ia lu rg ia , q u e sig n ific a a p rá tic a
in d íg e n a s. d o v id ro . £ uru d o s m ais a n tig o s o fíc io s q u e se c o n h e ­
c e , c 3 0 0 0 a n o s a .C ., o s e g íp c io s, o s c a u d e u s , o s su-
S e g u n d o M a rtin A lm a g ro B a s c h , o s é rio p ro b le m a
m é rio s e d e p o is o s p e rs a s p ro d u z ia m v id ro e e s m a lte s 0 ) .
d o re v e s tim e n to d o s u te n s ílio s, v is a n d o se u m e lh o r
S e g u n d o W o lfg a n g P fe iffe r <3) o seu a p a re c im e n to te ria
a sp e c to e v e d a ç ã o , se g u iu d u a s e ta p a s . A p rim e ira ,
o c o rrid o n o d e lta d o N ilo , o n d e fo r a m e n c o n tr a d o s
co n sistiu n a m e lh o r se le ç ã o d o b a r r o e su a su je iç ã o
re c ip ie n te s d e b a r r o e c o n ta s d e v id ro , e m p e río d o a in d a
a te m p e ra tu ra s , m a is d e v a d a s , e d e p o is c o m p le ta d a
m ais re c u a d o , o u se ja , p e lo q u a r to m ilê n io a n te s d c
co m o u so d e e n g o b e s, q u e , a lis a d o s , c o n trib u ía m p a ra
C risto .
e m b e le z á -lo s c v e d á -lo s c o m m a i o r e fic iê n c ia . E s te
C o n s ta q u e o s g re g o s em se u a p o g e u d e c iv ili­
p e río d o é c a ra c te riz a d o , n o O c id e n te , p e la c e râ m ic a
z a ç ã o n ã o u tiliz a v a m o v id ra d o e m su a c e râ m ic a
g re c o -la tin a , e o in d u to e n tã o a p lic a d o , é c h a m a d o
e m b o ra u tiliz a sse m o v id ro e m o u tro s d o m ín io s ,
p o r B asch , d c “ f tm is ” , c o m p o s to d e a rg ila s p u ra s e
e n q u a n to q u e o s ro m a n o s o e m p re g a v a m p a rc im o n io -
im p e rm e á v e is, p ro c e s so e ste q u e já v in h a d a tra d iç ã o
sa m e n te n o s v a silh a m e s. Q u a n to a s u a d e s c o b e r ta —
o le ira d e C re ta h á 3 0 0 0 a .C . O s g re g o s leg a r a m - n o
q u e foi p o r a c a s o — te r ia m sid o b e d u ín o s q u e , ao
a R o m a e c o m p e q u e n a s v a ria n te s p a s s o u a s e r c o n h e ­
:a z e r a c a m p a r u m a c a ra v a n a , a c e n d e ra m fo g o s d e
cid o p o r “ te rra sig illa ta ” , d e a s p e c to v e rm e lh o e
íre m p e p a r a p r e p a r a r c o m id a e a f a s ta r fe ra s. E q u a l a
b rilh a n te , c o n fe rid o p e la q u a lid a d e d a b a rb o tin a o u d o
s u rp re s a q u a n d o , a o a m a n h e c e r, a b a se d o b ra s e iro
e n g o b e a p lic a d o .
fo rm a v a u m c o rp o s ó lid o a re fle tir o s ra io s d o sol!
E sta p rim e ira e ta p a , a in d a p re c á r ia , d e m o n s tra v a R e a lm e n lc a d e s c o b e r ta v e io a fo r n e c e r u m d o s
to d a v ia o e s fo rç o c o n s ta n te d o h o m e m , e m v á ria s c o m p o s to s q u ím ic o s d o n o v o m a te ria l, c seu a p ro v e i­
p a rte s d o g lo b o , p a ra d o m i n a r a q u ilo q u e lh e d e s p e r ­ ta m e n to a b ria n o v a s e v a sta s p e rs p e c tiv a s p a r a a
ta v a c o b iç a , c a u s a v a -lh e fa s c ín io o u p o d ia s e r-lh e ú til. C e râ m ic a , n ã o só c o n fe r in d o -lh e im p e rm e a b ilid a d e
O rol d e s u a s d e s c o b e rta s , p a r tin d o d o n e o lític o , c o m o u m a s p e c to a té e n tã o d e s c o n h e c id o , a o m e sm o
a tra v e s s a n d o o p ré -h is tó ric o c in g re s s a n d o n o h is tó ­ te m p o q u e p o s s ib ilita v a p e lo c a lo r a fix a ç ã o d e ó x id o s
rico , é im p re s s io n a n te . E n tre o u tr a s c o n q u is ta s s o b re c o u tro s c o ra n te s m in e ra is n o v id ra d o . D e ssa fo rm a ,
a m a té ria , já d o m in a ra o b a r r o m o ld a n d o -o a seu os c o lo rid o s e s p a rs o s q u e a n a tu re z a p ro d ig a liz a a o s
ta le n to , c o m s u a s p r ó p r ia s m ã o s o u c o m o u s o d o to m o o lh o s p a ss a m a se r re lid o s e c o lo c a d o s a o r e d o r d o
o u d e m o ld e s; j á a p ris io n a r a o fo g o e n c la u s u ra n d o -o hom em .
em fo g õ e s e fo m o s ; já p u s e r a a v e s e a n im a is , a á g u a C o m a p a rtic ip a ç ã o d a q u ím ic a , a fa b ric a ç ã o
e o v e n to , a s e u se rv iç o . N a re a lid a d e , o s q u a tr o c e râ m ic a to rn a -s e u m a v e rd a d e ira c iê n c ia a e x ig ir,
e le m e n to s re fe rid o s p e lo s A n tig o s — a te rra , a á g u a , dos q u e a e la se d e d ic a m , c o n h e c im e n to s e sp e c ífic o s
o fogo e o a r — já e s ta v a m in te g ra n d o o u p a rtic i­ p e la c o m p le x id a d e q u e a p re s e n ta . H a v ia q u e p r e p a r a r
p a n d o d ir e ta o u in d ire ta m e n te d a in d ú s tria c e râ m ic a . a s p a s ta s c o n h e c e n d o se u c o m p o r ta m e n to a o fo g o c o m
M a s o b rilh o d e u m a g o ta d e o rv a lh o o u d e u m a re fe rê n c ia a o s g ra u s d e d ila ta ç ã o , c o n tr a ç ã o , fu sib ili-
la sc a d e sílex o u d e q u a r tz o , e o s c o lo r id o s p a ss a g e i­ d a d e c v itr if k a ç ã o . D e o u tr o la d o h a v ia q u e c o o r d e n a r
ro s d e u m a rc o -íris d e s d o b r a d o s n o c é u , o u o s d a s a q u e la s c a ra c te rís tic a s c a d a p tá -la s a o s c o e fic ie n te s
flo re s c d a s b o rb o le ta s d e c u rta d u r a ç ã o , n ã o c o n s e ­ in trín se c o s d o s ó x id o s e o u tro s c o ra n te s m in e ra is p a r a
gu ia c a p tá -lo s a n ã o s e r p re c a r ia m e n te . E sse d e s a fio q u e o s m e sm o s p u d e s s e m in te g ra r-se às p e ç a s. E p a r a
ele o v e n c e , q u a n d o , d e p o is d e is o la r v á rio s m etais, ta n to , h a v ia q u e c o n tr o la r rig o ro sa m e n te o fo g o e o
c o m e ç a a d e s v e n d a r o u tr o s se g re d o s d a n a tu r e z a e fo rn o p a ra c h e g a r a u m a c o z e d u ra p e rfe ita e às c o re s
p assa a in te g ra r a q u ím ic a n a c e râ m ic a . d e se ja d a s, já q u e o m a io r o u o m e n o r c a lo r e a

27
p re s e n ç a d e m a io r 'ou m e n o r q u a n tid a d e d e o x ig ê n io d ifu n d id o — P o m p é ía o s e x ib ia e m to n a lid a d e v e rd e
p o d ia a lt e r a r o c o lo rid o o u d e s tru ir a fo r n a d a . Q u a n d o a z u l a d a (ú).
o o x ig ê n io é ra re fe ito d iz -se q u e a c o z e d u ra e s tá e m A I d a d e M é d ia e u ro p é ia so u b e tir a r u m g ra n d e
re d u ç ã o , s e a o c o n tr á rio a a tm o s fe ra é o x id a n te W, p a r tid o n a d e c o ra ç ã o , p in ta n d o o u c o lo rin d o a fo g o
D a c o n s ta n te e ín tim a re la ç ã o d o c e ra m is ta c o m o s v itra is d a s c a te d ra is q u e ta m is a m a lu z e filtra m as
a m a té ria , d e in fin ita s e x p e riê n c ia s e d e in c o n tá v e is c o re s . G s e sm a lte s, a lé m d e v id r a r p e ç a s , a p lic a m -se
m a lo g ro s , fo ra m s u rg in d o e a m p iia n d o -s e a o s p o u c o s ta m b é m n a jo a lh e r ía e e m v a so s ( “ os c lo is o n n é s ” )
o s c o n h e c im e n to s s o b r e a a rg ila , s o b re o c o m p o r ta ­ c n a c e râ m ic a d e c o n s tru ç ã o , n a s tu b u la ç õ e s , n o s
m e n to d o fo g o e as c o m b in a ç õ e s q u ím ic a s q u e se lh e la d rilh o s , te lh a s e tijo lo s . E s te s , n a E c b a ta n a em
a d a p ta v a m . H a m a d ã , c h e c a ra m a fo r m a r m u r a lh a s c o m sete c o re s ,
E c o m o u m p in to r d ia n te d e u m a te la , o c e r a ­ se g u n d o H e ró d o to . N in iv e e B a b ilô n ia ( f u n d a d a p o r
m is ta d ia n te d e u m a p e ç a p a s s a ta m b é m a d is p o r d e B e lu s 2 6 0 0 a .C , e a r r a s a d a p o r D a n o e m 5 2 2 a .C .)
u m a p a le ta d e c o re s v a ria d a s p a ra , a tra v é s d o p in c e l, ta m b é m o s e x ib ia e m b ra n c o , azu l e v e rm e lh o Pí.
fix a r os im p u ls o s d e s u a im a g in a ç ã o , E q u a is os A h is tó ria d o v id ro , c o m o a d a c e râ m ic a , a p re ­
m in e ra is e se u s d e riv a d o s q u e s o b a a ç ã o d o fo g o s e n ta ta m b é m u m a b r ilh a n te tra je tó ria . D e a p e n a s
iria m p ro d u z ir as c o re s p a ra c o m p o r a p a le ta d o tra n s lú c id o a p rin c íp io , tra n s fo r m a -s e c m tr a n s p a re n te
c e ra m is ta ? e foi d u r a n t e o Im p é rio R o m a n o q u e s e u u so to m o u
D iz -n o s Jo a q u im d e V a s c o n c e llo s “ O s v e rn i­ u m g ra n d e in c re m e n to . S id o n foi o seu p rim e iro g ra n d e
zes, e sm a lte s, v id ra d o s o u g la s u ra s, re p ie s e n ta m p r o ­ c e n tro d e p ro d u ç ã o (c a , I a .C .) n o q u a l j á e ra
d u to s q u ím ic o s v itrific á v e is, o b tid o s a tra v é s d e c o m b i­ a p lic a d a a d e c o ra ç ã o e m relev o , e m p re g a d a s as fo rm a s
n a ç õ e s d e m in e ra is d e b a se , c o m o a p o ta s s a , a so d a , n a s u a f a t u r a e c o m p o s to s os c o lo rid o s a zu l, v io le ta ,
a c a l, o fe rro , o a lu m ín io , o c h u m b o , etc. N a lo u ç a v e rd e e c a s ta n h o . A le x a n d ria , a se g u ir, to rn a -s e ,
c o m u m o rd in á ria é o a lc a n fo r e o sa l m a r in h o q u e d u r a n te o p rim e iro m ilê n io , o c e n tro a rtís tic o d e seu
se a p lic a m a o v a silh a m e e s e fu n d em , d u r a n te a fa b ric o , e m q u e s ã o in tro d u z id a s as té c n ic a s d o c o rte
c o z e d u ra ” . O c o b re , a o q u e p a re c e , foi o m e ta l q u e e a d o s o p r a d o r , té c n ic a s essa s q u e a té h o je v ig o ra m .
p rim e iro fo rn e c e u to n a lid a d e s d iv e rs a s , a tra v é s d o O s m u ç u lm a n o s ta m b é m c o n tr ib u íra m n o seu
ó x id o e u p ro s o (a v e r m e lh a d o ) e o c ú p ric o (e s v e r d e a ­ a p rim o ra m e n to c in tro d u z ira m o u s o d o s re fle x o s
d o ) . O fe rro , co m os ó x id o s f é m e o e fe rro s o , p ro d u z m e tá lic o s e cio o u ro n a d e c o ra ç ã o .
d e s d e o a m a re lo , a la r a n ja d o s , o c re s , te r ra d e S ie n n a N o E x tre m o O rie n te , n a C h in a s u a p re s e n ç a é
e to n s d e v e rd e . O m a n g a n ê s p ro d u z o v io le ta e o m e n c io n a d a 1 0 0 0 a .C . e m d o c u m e n to s , e m b o r a o s
m a r r o m , o a n tim ô n io o a m a re lo . O m in é rio d e c o b a lto e x e m p la re s d e s c o b e rto s d a te m a p e n a s d a d in a s tia H a n
d e s c o b e rto n o B a lu c h istã o , n o O rie n te M é d io , fo i ( 2 0 6 a .C . — 2 2 0 d .C .) .
ta lv e z d o s m a is e m p re g a d o s n a c e râ m ic a ta n to p e lo s Ê V e n e z a , p o ré m c o m s u a s m ú ltip la s v id ra ria s
m u ç u lm a n o s co m o p e lo s c h in e s e s e e u ro p e u s , q u e o s e m M u r a n o n o sé c u lo X V I , e se u a p o g e u n o X V I I , q u e ,
m a n ip u la v a m a fu n d o , c r ia n d o v a ria n te s c o m o e m p r e ­ no O c id e n te , d á o g ra n d e im p u ls o n a s u a d iv u lg a ç ã o
go d o sílica to d e c o b a lto q u e p r o d u z o azu l u ltra m a rin o , no re s to d a E u r o p a , o n d e os p ro d u to s n o sé c u lo X V I
o " a z u l d c S è v re s” , d e “ P rú s s ia ” , o " M a z z a rin o ” , o e r a m c o n h e c id o s p o r " v id ro s à m a n e ira d e V e n e z a ” .
" M a o m e ta n o ” , etc. A p r o d u ç ã o v e n e z ia n a n o s é c u lo X V I I a tin g e ta l
D a c o m b in a ç ã o d e sse s c o m p o n e n te s q u ím ic o s in c re m e n to , q u a n d o e la sc d e s tin a a o u s o c o tid ia n o ,
e n tr e si, su rg e m o u rra s c o re s , c o m o o n eg ro (m is tu ra q u e n e s s a in d u s tria liz a ç ã o in te n s a s e la -s e o s e u v a lo r
d e c a r b o n a to d e c o b a lto , ó x id o f é m e o c m a n g a n ê s ). c o m o a r te s a n a to d e a lto m é r i t o m .
O s m o u ro s e os p e rs a s c ria ra m u m a d e c o ra ç ã o P o ré m , a in d a n a A n tig iiid a d e ( e m e s m o m a is
iris d ic e n te , c o m re fle x o s m e tá lic o s, c o n h e c id a p o r r e c e n t e m e n t e ) , o v id ro e a c e râ m ic a , e m c o rr e la ta e
lu s tre , o b tid a c o m a in tro d u ç ã o d e p ig m e n to s m e tá ­ e s tre ita c o n c o rr ê n c ia d e u tiliz a ç ã o e fu n ç ã o , v ie ra m a
licos d u ra n te o c o z im e n to . O v e rm e lh o e r a c o n h e c id o c o n h e c e r o u tr o d e s tin o in e s p e ra d o : o d e se rv ire m
d e sd e & A n tig iiid a d e , p o ré m os to n s e s u b to n s d o e v e n tu a l m e n te d e u m a e sp é c ie d e m o e d a , e m itid a p o r
v e rm e lh o e d o ro s a le v a ra m m u ito te m p o p a r a s e r p a r tic u la r e s , b a n c o s , o u g o v e rn o s , e a ss im te r e m ta m ­
o b tid o s n a c e râ m ic a c h in e s a . E ste s to n s d e v e rm e lh o b é m se u lu g a r n a n u m is m á tic a , c a b e n d o -lh e s , p o is , a
só fo r a m c o n se g u id o s c o m a fa m o s a “ P u r p u r a d e d u p la a tr ib u iç ã o d o p a p e l e d o m e ta l c o m o m e io
C a s s iu s ” (c o m p o s to e m q u e p a rtic ip a m o o u ro , o c ir c u la n te .
e s ta n h o e o o x ig ê n io ) q u e foi so m e n te d e s c o b e r ta n a E s ta p o d ia s e r a p e n a s de v id ro , c o m o d e te r ra c o ta
H o la n d a , n o sécu lo X V I I . C o m e la ta m b é m se d e s d o ­ o u d e g ré s , o u a in d a d a c o m b in a ç ã o d o s d o is , o u se ja ,
b r a m to n a lid a d e s , v a ria n d o d c v e rm e lh o à c o r-d e -ro s a , d e lo u ç a v id ra d a , e m a is ta r d e d e p o rc e la n a .
q u e iria m to m a r d iv e rsa s d e sig n a ç õ e s e m d ife re n te s D iz -n o s Y o la n d a M a rc o n d e s P o rtu g a ): “ O e m p r e ­
p a ís e s . O s je s u íta s le v a ra m a fó rm u la p a r a a C h in a , o g o d a m o e d a d e c e râ m ic a é tã o a n tig o q u a n to a c iv ili­
q u e veio a c a r a c te riz a r os e stu p e n d o s p ro d u to s c o n h e ­ z a ç ã o a s s íria em q u e a p a re c e c o m o p rim e ira m o e d a
c id o s p o r “ F a m ília R o s a ” , fid u c iá ria d a H is tó ria n o b a r r o c o z id o d e seus
M a s , v o lte m o s ao v id ro e a o s se u s d e riv a d o s . ti jo l o s '« ” .
C o n h e c e ra m eles u m a a m p litu d e e n o rm e d e a p ro v e i­ J á u o E g ito , d e sd e se u a lto Im p é rio a té a d o m i­
ta m e n to , d e s e m p e n h a n d o n a v id a d o h o m e m u m n a ç ã o d o s á ra b e s , c o m o ta m b é m n a F e n íc ia e n a
p a p e l, em p a r le s e m e lh a n te a o d a c e râ m ic a , n o s S ic ília M u ç u lm a n a , as p e ç a s d e v id ro c h e g a ra m a ser
te r re n o s u tilitá rio , a rtístic o e in d u s tria l. O e sp e lh o u s a d a s ta m b é m c o m o m e io c ir c u la n te d e p re f e rê n c ia
q tie p rim itiv a m e n te e ra d e m e ta l p o lid o , p a ss a a ser à c e râ m ic a .
fa b r ic a d o co m o v id ro p la n o . O v id ro , n a f o r m a d e V im o s , e m re s u m o q u e a te r r a c o ta , a o c a m in h a r
v id ra ç a , p a s s a a s u b s titu ir a m a la c a c h e ta d e tr a n s p a ­ n o te m p o , e n c o n tr a -s e c o m o v id ro e se c o b re e n tã o
rê n c ia re d u z id a , e d e sd e os ro m a n o s q u e seu u so era c o m u m a n o v a v e stim e n ta , im p e rm e á v e l e c o lo r id a e

28
assim o rn a d a , so b e dc c a te g o ria c a d q u ire u m n o v o sig n ifie to u te s o r te d ’o u v ra g e s d e p o te rie " . F ic o u
“ 5131115*’ n a so c ie d a d e c e râ m ic a , c o m o n o m e d c louça c o n h e c id o n e sta é p o c a c o m o B e rn a rd d es T u ile rie s .
ou b a rro v id ra d o , H á b il a rte s ã o , a c u m u la v a o s e n tid o a rtís tic o e o c o n h e ­
O a rtis ta q u e su b lim o u o e m p re g o d a lo u ç a v id ra ­ c im e n to d a c iê n c ia . P in to r , e s c u lto r, físic q (q u ím ic o )
d a, la u t o n a fo rm a c o m o n a a p lic a ç ã o d o s e sm a lte s, sa b ia m a n ip u la r tã o b e m a f e r ra m e n ta c o m o as p a s ta s e
foi sem d ú v id a B e rn a rd d e P a lissy e m b o ra L u c c a d e lia os e s m a lte s e p o ss u ía a q u e la p ro fu n d id a d e de p e n sa m e n ­
R o b b ia n o c o m e ç o d e s u a c a rr e ira ta m b é m a h o u v esse to q u e n ã o é d a d a s e n ã o a o h o m e m g e n ia l. O é d ito
m a n ip u la d o c o m m a e s tria , c c le b ríz o u -s e n o e n ta n to , c o n tra os p ro te s ta n te s , d e 1 5 5 9 , n ã o p o u p o u P a lissy .
no fa b ric o d a fa ia n ç a . F o i a rra s ta d o , à B a s tilh a , o n d e m o rre u e m 1 5 8 9 .
S eg u n d o E d o u a rd F o u c a u l t <10): B e m a r d d e P alissy C o m re fe rê n c ia à c la s s ific a ç ã o , h á q u e o b s e rv a r
já c ra c o n h e c id o p o r su a s p in tu r a s s o b re v id ro , q u a n ­ q u e a lo u ç a v id ra d a n ã o é a ssim c o n s id e ra d a te c n ic a ­
d o se e sta b e le c e u em S a io te s, n o s a n o s d e 1 5 3 9 , com m e n te , q u a n d o re c e b e u m en g o b e e s b ra n q u iç a d o o u
sua fam ília. F o i n e ssa c id a d e q u e v iu u m a “ c c u p e " a m a r e la d o e s m a e c id o , f o r m a d o c o m a rg ila b ra n c a o u
( t a ç a ) , d c r a r a b e le z a e se n tiu u m im e n s o d e se jo de c la ra e m is tu ra d o o u c o b e rto c o m e sm a lte d e c h u m b o
e x e c u ta r u m a p e ç a se m e lh a n te , o q u e te n to u d u ra n te L ran sp aren te e , à s v ezes, c o m u m p o u c o de e sm a lte
vinte an o s, se m su cesso , E s ta v a n a m is é ria , chegou e sta rtífe ro , ra lo o u p o b re ■ — nesse ú ltim o c a s o a p e ç a é
a té a q u e im a r p o rta s e ja n e la s p a ra a lim e n ta r o fo rn o , c h a m a d a d e “ m e z z a -m a ió lic a " o u “ b ia n c h e tto ”
q u a n d o veto a p ro d u z ir u m a p e ç a d e c o r b rilh a n te , A s sim , n o B ra sil, g ra n d e p a rte d a s lo u ç a s m in e ira s e
in é d ita n o g ê n e ro . O s ru m o re s d e s u a d e s c o b e rta d e o u tr o s E s ta d o s , s ã o lo u ç a s v id ra d a s e a q u e la s q u e
c h e g a ra m a P a ris, e P a lissy é c o n v id a d o p o r H e n riq u e re c e b e ra m e n g o b e s s a o c o n s id e ra d a s " m e ia s -fa ia n ç a s "
IIí a m o ra r n a s T u ü e rie s , F o i e n tã o q u e e le o b te v e ( “ m e z z a -m a ió lic a ” ) d e n tr o d o rig o r té c n ic o te rm in o ­
o “ b re v e t” d e in v e n to r " d e s ru s tiq u e s fig u lin c s q u e ló g ico .

B I B L I O G R A F I A

( 1 ) F rancis C eloria — "Arqueologia" ■— C ia . M e lh o ra ­ (7) Louis P'lGUILR — ob. cit.


m e n to s d e S. P au lo , 1975,
(3) W olfgang P feiffer — ob. cit.
(2) Noel L enoir — “A Indústria do Vidro" in Revista
C e râ m ic a n.°* 5 7 /5 8 - S. P a u lo , (91 Yolanda Marcondes Portugal — Cerdmicet tta
Nunn'.nUi'icc" in Ansis do Mused Hist. National __
Prefácio Cat. Bienal — 1957 —
( 3 ) W o l f g a n g P f e if f e r — vol. It — PSE 15f> — Rio. 1941
Museu de Arte Moderna — S, Pauto.
[ I t) ) E d o u a r d F o u c a u l t — Lcs A n im u s U lu n r c s — P an s
Í4i G eorges Fontaine — : ia Céramique Française" — 1S4 I.
Paris, 1975.
( l i t W illiam Boyer H oney — European Ceramic A n —
151 J oaquim de V asconcel LOs — "A Indústria Cerâmica'1 pig. 334.
— Potto, 1907.
0 2 ) G eorge Savage and H arold N ewman — An lllnsiraicd
f6 J L o tu s F ig u ie r — ob. cif. Dictionary of Ceramic — pas- 192 — E ngland, 1974,

29
V ID R O
( M u r a n o —■ I tá lia )

O grande Centra de fabricação de vidro do século XVI, tia ilha ,ii


Murano, no Golfo de Veneza, qv.e abastecia a principio a Europa,
passou a fazer concorrência ao grés como contentores.
C E R Â M IC A V ID R A D A
(P érsia)

A linda à esquerda provem da Pérsia, (Kttslwn), época século XIV, ' e dà uma impressão poderosa do senso decorativo persa c da
qualidade de seus desenhos. O prato Itindo, da direita, é proveniente da Turquia, tznik, época século XVII, dimensão 30 cm ‘ A repro­
dução de baixa ê de um prata jmulo turco Iznik do século XVI, diâmetro 35 cm. Esta peça seiscentista já exprime a inrlc leu-
dcnciu ao tratamento das flores e da folhagem no Oriente Médio, o que irá influenciar proluiidamcntc os ceramistas europeus,
sobretudo, a partir da metade do século XIX, quando surge o Art-Nouvcau, — Cortesia da Fundação Caloustc Gidbenkian.

31
Sêc. X V LOUÇA VIDRADA

Prato de louça vidrada do Bemtvasis com ■dizeres em latim


na aba (França) — •_ sêcido XV.
Cortesia do Museu Nacional de Cèramique dc Sèvres.

32
C E R Â M IC A V ID R A D A
Oriente Médio — Períodos Diversos

33
Séc. X X L O U Ç A V ID R A D A
(Moderna — Picasso)

Cabeça de-, túuro, execução de Pablo Piaaso.


Cortesia do Museu Nacional G enzáltz Marti,
Valência.

Peixe, decoração de Fablo Picasso.


Cortesia do Museu Nacional Gonzátez Marti,
Valência.

34
V-AZULEJOS PINTADOS E ESMALTADOS

stc s e to r re p r e s e n ta u m dos n ic o , q u e a n te s d a e ra c ris tã já v in h a d e s c r ito p o r


m a is im p o rta n te s d a p ro d u ç ã o P lín io n o te a tr o c o n s tr u íd o p o r M a r c u s S c a u lu s, g e n ro
c e râ m ic a . D e n o v o a te rra c o ta d e SylJa. V a le a o b s e r v a ç ã o d o p in to r flo re n tin o
d o m in a , c o m o b a se , e s ta o u tra D o m ê n ic o - G h irla n d a io , c o m p a n h e iro d e R a p h a e l: “ L a
c a te g o ria . O m a is d a s v e z e s, o v e ra p ittu r a p e r 1’e te r n itá e ss e re il m o s a ic o ” , p a ra
■a z u le jo (Ou o la d r ilh o ) a té h o je d e m o n s tra r o q u e e le re p re s e n ta v a n o e x te n s o c a m p o
a in d a é c o m p o s to d c b a rr o d a d e c o ra ç ã o , p re s ta n d o -s e a c o m p o s iç ã o d e c a r á te r
c o z id o c o b e rto de v e rn iz o u e sm a lte , o q u e o s la n ç a ria m ito ló g ic o , c e n a s g u e rr e ira s , c ó p ia s d e q u a d ro s c é le ­
te c n ic a m e n te n a c la s sific a ç ã o d e lo u ç a v id ra d a . P o ré m , b re s , re p r e s e n ta ç ã o d e p e rs o n a g e n s h is tó ric o s, d iv in d a ­
d e v id o a o s se u s fo rm a to s e sp e c ífic o s, se u u s o e d e stin o d e s p a g ã s e ic o n o g ra fia c ristã .
e ta m b é m a su a m a n e ira d e fa b ric o , c o n v e n c io n o u -se R e a lm e n te c ie tr a ç a u m a tr a je tó ria n o tá v e l a tra v é s
situ á -lo em c a te g o ria a p a rte , ju n ta m e n te c o m o la d ri­ d o te m p o , c c a m in h a n o e s p a ç o d u r a n t e sé c u lo s p a ra le ­
lho q u e é o a z u le jo d e piso. A m b o s u tiliz a m a s m e s­ la m e n te c o m a a z u le ja ria n o c a m p o d a a rte a p lic a d a .
m as m a té ria s -p rim a s b á sic a s: a rg ila — v id ra d o e as O s g re g o s c d e p o is o s ro m a n o s e n c a rre g a ra m -s e
m e sm a s te m p e ra tu ra s d e fo rn o . de p la n ta r, p o r o n d e p a s s a v a m , o s e s ta n d a rte s d e su a s
A o rig e m d o é tim o , c o m o e ra d e e s p e r a r, p ro v é m leg iõ es, o s m a rc o s d e su a b rilh a n te c iv iliz a ç ã o . E n o
d o á ra b e “ a lz u lc ic h a ” —* q u e sig n ific a p e q u e n a p e d ra m u n d o o c id e n ta l, n a G á lía , n a Ib é ria e n a G e rm â n ia
p o lid a . d e ix a ra m o g o s to p e lo m o sa ic o . C a rlo s M a g n o
A n o ss o ver, no O c id e n te , n a h is tó ria d a C e r â ­ (s é c u lo I X ) tr a z a r tis ta s d e R a v e n a p a ra c o lo c a r o s
m ic a e n a A z u le ja ria e m p a rtic u la r, h á q u e se a ss in a la r m o sa ic o s cm A ix la C h a p c llc . C o m a q u e d a de R o m a ,
n o te m p o trê s g ra n d e s fa s e s: a p ré - m o u ris c a , a h is p a n o - seu u so re s s u s c ita n o Im p é rio B iz a n tin o , v o lta à Itá lia ,
-m o u ris c a e a e u ro p é ia , lesses trê s p e río d o s , a m es. em V e n e z a , F lo r e n ç a , R a v e n a , e tc ., p o is n a F r a n ç a c
d u ra n te e d e p o is d a in tro d u ç ã o d o s n o v o s p ro c e sso s n a A le m a n h a a in d a s o b re v iv ia n o sé c u lo a n te r io r em
le v a n tin o s e d a p re s e n ç a d o s á ra b e s n a P e n ín s u la a p lic a ç õ e s is o la d a s . E s ta a in d a c o n s e rv a n o seu id io m a
ib é r ic a , a b a rc a m , n o q u e d iz re s p e ito a o s m o v im e n to s o te rm o “ m o s a ik p la t te n ” p a ra re fe rir-se a o a z u le jo . O s
d a a rte n o O c id e n te , o G ó tic o , o R e n a s c im e n to , as ingleses a in d a c h a m a m d e “ tile -m o sa íc ” a u m g ê n e ro
n o v a s c ria ç õ e s d o fin ai d o s sécu lo s X V I I I e X IX , e de m o u risc o d e a z u le jo c h a m a d o a líc a ta d o . A d o rn o u
fo rm a m a rc a d a o “ A rt- N o u v e a u " . te m p lo s p a g ã o s , le r m a s , p a lá c io s , m a n s õ e s, ig re ja s e
Q u a n to às c a te g o ria s c e râ m ic a s q u e c o rre s p o n d e m m e s q u ita s. A in d a c o n tin u a a s e r u tiliz a d o em v a ria n te s
à q u e la s três fa se s e se re fe re m a e ste s e to r d a s a rte s q u e v ão b u s c a r a s u a in s p ira ç ã o n a s u a té c n ic a e s tru ­
d e c o ra tiv a s , o b se rv a m -s e ta m b é m lo n g o s “ re in a d o s ” n o tu ra l q u e s e re s u m e , e m ú ltim a a n á lise , n o a d o rn o
d o m ín io d a te r ra , d o fo g o e d a q u ím ic a : o d a T e rra c o ta , a tra v é s d o a g ru p a m e n to d e e le m e n to s só lid o s d iv e rso s,
o d a F a ia n ç a e o d a P o rc e la n a ( in c lu in d o os d iv e rso s c o lo rid o s o u n ã o .
s u c e d â n e o s , c o m o a fa ia n ç a fin a e a p o rc e la n a m o le ) . M a s , v o lta n d o a o s in g leses e à a z u le ja ria , e ste s,
Q u a n to à té c n ic a d e fa tu ra e d e d e c o ra ç ã o n a ao in v é s d e u s a r e m o p ro c e s so c lá s s ic o d o m o s a ic o ,
E u ro p a , m ú ltip lo s m é to d o s v ão s u rg in d o n o deeoiT er c o m p o s to d e p e q u e n o s c u b o s d c p e d ra o u d c m á rm o re ,
d a q u e le s tré s g ra n d e s re in a d o s q u e te m a c a ra c te riz a - d e v id ro s c o lo rid o s e m e s m o d c te r ra c o ta e s m a lta d a ,
-lo s, d c m a n e ira g e ra l, os p ro c e s so s a rtc s a n a l e d d e a p ro v e ita m a p e n a s a p a r te e s tru tu r a l, e m p re g a n d o
in d u s tria l. s o m e n te m a te ria l c e râ m ic o c o m fo rm a s d ife re n te s e
D e p o is d e ssa s c o n s id e ra ç õ e s g e n é ric a s, p a ss e m o s c o lo ra ç ã o v a r ia d a , o u se ja , o m o s a ic o -c e râ m ic o n o
ao s p o rm e n o re s. d iz e r d e J o s é V a lla d a re s .
D e c o m e ç o , o a z u le jo o u o la d r ilh o u s a d o p a ra E m p re g a v a m a p e n a s p e d a ç o s d e a rg ila dc d ife re n ­
a d o rn o m u ra l o u de p is o , c o n sistia a p e n a s d e p e d a ç o s tes c o re s , fo r m a to s e ta m a n h o s , q u e e ra m a p lic a d o s
d e te r ra c o ta lisa , m o n o c ro m a , q u e os e sp a n h ó is d e n o ­ “ in s itu ” , p a r a c o m p o r os d e s e n h o s no p a v im e n to o u
m in a v a m d e “ lo s e ta ” , sem v id ra d o . n a s p a re d e s . V a ria v a m e ste s a p re s e n ta n d o fo rm a s
N a E u ro p a M e d ie v a l, o u so d o a z u le jo d e c o ra d o g e o m é tric a s c a rre d o n d a d a s , e sc u d o s , la ç a ria s , e tc ., e
su rg e n a In g la te rra p o r v o lta d o se g u n d o q u a rte l d o à s vezes o s a z u le jo s e ra m re c o b e rto s c o m g la s u ra
sé c u lo X I I I e seu e m p re g o c irc u n s c re v ia -s e a o s p a lá ­ g ro s se ira d e to n a lid a d e s d ife re n te s.
c io s re a is e a o s te m p lo s . O s in g leses, p o ré m , in tro d u ­ A n te s m e s m o d e c h e g a r-s c à R e n a s c e n ç a , a in d a
z ira m n o v a ç õ e s m ais e la b o ra d a s , fa b ric a n d o -o s p o li- n o G ó tic o M e d ie v a l, a m p lia -se c d iv e rs ific a -se a té c n ic a
c ro m a d o s . e u ro p é ia . A q u e le m o s a ic o p rim itiv o de p e d a c in h o s d e
In s p ira ra m -s e eles n a c o m p o s iç ã o e s tru tu r a l d o a rg ila c o z id a e ra p re te r id o p e lo a z u le jo c o n v e n c io n a l,
m o s a ic o a n tig o a p lic a d o ao p iso , à s p a re d e s , às c o lu n a s c o m p a c to , q u a d r a d o o u re ta n g u la r, a o s q u a is ta m b é m
c a b ó b a d a s , c o m o c o m p le m e n to a m b ie n ta i a rq u ite tó ­ e ra -lh e s c o n fe r id a a d e c o ra ç ã o p o lic ro m a d a p o r e n g e­

35
n h o s o s p ro c e s so s, U m d e le s e ra o c n c a v a d o (e m b u tid o m o d e lo s d e fig u ra s c o lo r id a s c o m e s m a lte s . O s p e rs a s
o u e m b r e c h a d o ) c h a m a d o p e lo s in g le se s d c “ in la id ” c o p ia r a m e sse s p ro c e s s o s d e 221 a .C , a 6 4 0 d ,C .
o u d e " e n c a u s tie ” , q u e c o n s is tia cm in s e rir n o b a r r o O s á ra b e s , e m 6 3 2 d e n o s s a e ra , a d o ta v a m ta m b é m
v e rm e lh o d a p e ç a p o r m e io d e u m m o ld e d e m a d e ira , ta is m é to d o s, a m p lia n d o - o s a in d a c o m u m a n o v a té c n ic a
p a rte s d e a rg ila b ra n c a q u e v in h a a d e s ta c a r o d e s e n h o . q u e é a a p lic a ç ã o d o lu s tre , d c a s p e c to m e tá lic o e d c
H a v ia ta m b é m o e m p re g o d o m o ld a d o , q u e c o n ­ d ife re n te s c o re s ( o “ g o ld c n ” o " s ilv e r” o “ ro s e ” e o
s istia e m s u b m e te r o b a r r o m o le ã p re s s ã o d e fo rm a s “ c o p p e r” , c o m o s ã o c o n h e c id o s na te rm in o lo g ia in g le s a ) ,
o u d c m o ld e s, q u e , im p re n s a d o s , tra n s m itia m o s c o n ­
N o s é c u lo X I V d .C ., p o rc e la n a s c h in e s a s , m o n o -
to rn o s d o d e s e n h o , p o d e n d o e ste s s e r c h a m a d o s ta n to
c ro m a s , c h a m a d a s “c é la d o n s ” e as azu l e b ra n c o ,
d e b a ix o c o m o d e a lto re le v o , c o n fo r m e a d e p re s s ã o
c h e g a m e m g ra n d e q u a n tid a d e à P é rs ia e a o O rie n te
o u a sa liê n c ia a p re s e n ta d a n o c o rp o d o a z u le jo .
D ís tin g u e m -s e a in d a n o M e d ie v o os a z u le jo s re le v a d o s P ró x im o . Is to fe z c o m q u e s e to r n a s s e m o d a c o p ia r os
b e lo s m o d e lo s c h in e s e s n a s s u a s c ro m ia s , fa z e n d o c o m
n a A le m a n h a e d a E u r o p a N ó rd ic a e o s d a A lsá c ia
q u e o le iro s is lâ m ic o s a d o ta s s e m , ta m b é m , a té c n ic a
q u e o s d ifu n d iu p e lo R e n o c o m re p r e s e n ta ç õ e s g ó tic a s
d e a p lic a r o a z u l s o b o v id r a d o , s o b r e tu d o p o rq u e o
(m a is o u m e n o s 1 3 0 0 a .C .) c o m p á s s a ro s e e s c u d o s
a z u l d e c o b a lto e r a e n c o n tr a d o n o O rie n te M é d io , d c
h e rá ld ic o s , a d a p ta n d o -o s n a R e n a s c e n ç a c o m m o tiv o s
o n d e c r a e x p o r ta d o p a r a a C h in a a tr a v é s d o s m e r c a ­
p re d o m in a n te s d e c a ríá tid c s e a rc a n jo s .
d o r e s is lâ m ic o s, E g ito ( F o s f a t ) c S íria ( D a m a s c o )
E n tr o u ta m b é m c m v o g a o p ro c e s s o d e d e c o r a r
s e g u ira m , ta m b é m , a m o d a d o a z u l e b ra n c o n o a z u le jo
as p e ç a s n a té c n ic a d o “ s g r a ffia to " o u e s g ra fita d o ,
q u e a p re s e n ta v a fo rm a s v a ria d a s , in c lu siv e a h e x a g o -
m é to d o e sse p o r a ssim d iz e r u n iv e rs a l c m ile n a r , já
n a i. Iz n ik e K u ta y a , a m b a s n a T u r q u ia , a s s u m e m n o tá ­
q u e o s ín d io s a m e ric a n o s a n te s m e s m o d a s D e s c o b e r­
vel lid e ra n ç a n o fa b r ic o e n a d e c o ra ç ã o , ta n to d o
ta s a p lic a v a m -n o e m s u a s c e râ m ic a s . C o n s is tia e te e m
a z u l c b ra n c o c o m o d a s p e ç a s p o lic ro m a d a s . Iz n ik ,
p ro c e d e r-s e a in c isõ e s o u risc o s s o b r e u m a su p e rfíc ie
n a T u r q u ia , re p r e s e n to u o g ra n d e c e n tr o d o O rie n te
e n g o b a d a (c a ld o d e a rg ila s d e d ife re n te s c o re s a p li­
. M é d io c o m a lto s e b a ix o s n o se u fa stíg io . N o c o m e ç o
c a d o s o b re a s p e ç a s ) q u e d e ix a v a m à v is ta o fu n d o
d o sé c u lo X V I , r e la ta o v ia ja n te E v lig a C h c le b i q u e
d a p a s ta d e b a r r o d e o u tr a c o r <’>,
d e 1 6 0 3 a 1 6 1 7 , n o te m p o d e A h m e d I, h a v ia n a d a
P o ré m e ssa s té c n ic a s o c id e n ta is , a u tó c to n e s o u
m e n o s d o q u e tr e z e n ta s fá b r ic a s ( w o r k s h o p s ) de
a d a p ta d a s , iria m s e r s u p e r a d a s p e lo s á ra b e s . E s te s
c e râ m ic a e q u e j á c m 1 6 4 8 a s u a p ro d u ç ã o h a v ia
s o u b e r a m tir a r u m e n o rm e p a r tid o d a q u ím ic a a p li­
c a íd o a s s u s ta d o r a m e n te c o m a p e n a s n o v e a te liê s cm
c a d a à C e râ m ic a , o q u e o s g re g o s e o s ro m a n o s ,
u so . P o ré m , n o s é c u lo X V I I I , o se u a rte s a n a to re v iv e
e m b o r a c o n h e c e n d o c u tiliz a n d o o s e s m a lte s e os
c o m fu lg o r n a fá b ric a d e T e k fu s S a ra y , e m Is ta m b u l,
v id ra d o s , d e p o u c o se v a le ra m .
c o m a re p r o d u ç ã o d o s a n tig o s m o tiv o s o r ie n ta is c
C o m u m a p a le ta d a s m ais ric a s e m a is c o m p le ­
is lâ m ic o s. K u la y a r e p r e s e n ta v a o s e g u n d o c e n tr o
ta s , c o m o e m p re g o d c e s m a lte s vivos c v id ra d o s
c e râ m ic o tu rc o , p o ré m s o m e n te n o sé c u lo X V I I I , c o m
d e n so s , o s á ra b e s , c o m a té c n ic a a s s im ila d a n o O rie n te
a d ir e ç ã o d e c r is tã o s a rm ê n io s q u e im p rim e m n a d e c o ­
M é d io e d e se n v o lv id a na E s p a n h a , c o n fe re m à A z u lc -
r a ç ã o , a lé m d a c ó p ia d o s m o tiv o s d e Iz n ik , a s sim b o -
ja r ia u m a n o v a d im e n s ã o c o m o a r t e a p lic a d a e c o n tr i­
lo g ias e re p re s e n ta ç õ e s c ris tã s , c o m o m o tiv o s b íb lic o s ,
b u e m d e c is iv a m e n te n a d is s e m in a ç ã o d e s e u u s o n o
q u e ru b in s , e tc . E s ta fá b ric a e x is te a té h o je . D e a s s in a ­
m u n d o m o d e r n o c c o n te m p o râ n e o .
la r , a in d a , a lin d a c e râ m ic a d e K o u b a c h a d o sé c u lo
A q u e le s e la b o r a d o s m o s a ic o s g re c o - ro m a n o s d a
X V I , fa b r ic a d a e m V e ra m in e , n o N o rte d a P é rs ia , e
A n tig u id a d e fe ito s c o m m a te ria l n o b re e d c a lto te o r
q u e e m p a rte se in s p ira n o s m o tiv o s d c Iz n ik <2).
a rtís tic o e os m o s a ic o s c e râ m ic o s d a I d a d e M é d ia , v ã o
a o s p o u c o s c e d e n d o lu g a r a o s ta p e te s , a liz a re s e E m 7 1 1 a .C ., d a ta dc su m a im p o rtâ n c ia n a h is tó ­
stlh a re s a z a le ja d o s . ria p o lític a e n a d a a rte , o e x é rc ito d o C al ifa to d e
E o m a n u s e io hábil d a a rg ila , o c o n tr o le se g u ro D a m a s c o , c o m a n d a d o p o r M u z a b e n N o sa ir, a t r a ­
d a q u ím ic a e o s o u tro s p ro c e s s o s té c n ic o s d ifu n d id o s vessa o C a n a l de G ib r a lta r e p e n e tra na P e n ín s u la .
p e lo s á ra b e s n o O c id e n te d e ix a v a m p a r a tr á s , c o m o A p rim e ira c o lu n a te n d o â le s ta T a rik c o m d o z e m il
o b s o le to e se m e x p re s s ã o , o m o d e s to m o s tru á rio h o m e n s e a o u tr a , M u z a , c o m d ez m il h o m e n s , tra v a m
c e râ m ic o d o M e d ie v o . a b a ta l h a d c G u a d a lc te e d o m in a m o s V isig o d o s ju n to
A ssim , n a E u r o p a p ro c e s s a -s e u m a re v o lu ç ã o n a c o m b o a p a rte d o s c ris tã o s . T o le d o , a s u a fo rm o s a
C e râ m ic a , p o is o s a lfo rg e s le v a n tin o s vêm a b a r r o ta d o s c a p ita l, a c a b a c a in d o cm p o d e r d o s m u ç u lm a n o s ,
c o m a c o n tr ib u iç ã o fértil d c o u tr a s c iv iliz a ç õ e s. A a ss im c o m o , trê s q u a rto s d o te r ritó rio p e n in s u la r. A
fa b ric a ç ã o d o v id ro , o u s o d e tijo lo s, la d rilh o s e d o m in a ç ã o á r a b e s e e x e rc e a tr a v é s d e se te c e n to s a n o s.
a z u le jo s v id ra d o s , o e m p re g o d o s e s m a lte s , e m p a r ti­ P rim e ira m e n te s o b a s o b e r a n ia d ir e ta d o O rie n te ,
c u la r o d e c o b a lto — o azu l m a o m e ta n o — fa z ia m a tr a v é s d o C a lifa d e D a m a s c o ( 7 1 1 - 9 1 2 ) , a se g u ir
p n rte d a q u e la b a g a g e m tra z id a d o N o rte d a Á f ric a e s o b o C a lifa to lo c a l d c C ó r d o b a , já in d e p e n d e n te
d o O rie n te P ró x im o . d a q u e le ( 9 1 2 - 1 0 3 1 ) e a in d a s o b a s d o m in a ç õ e s m o g re -
O s e g íp c io s, 4 0 0 0 a n o s a .C ., já u sa v a m a z u le ­ b in a s ( 1 0 1 0 - 1 2 5 6 ) , e p o r fim c o m os re in o s g r a n a d in o s
jo s m u ra is e , s e g u n d o e le s , p o rq u e “ g a ra n te m u m a ( o u N a z a ri) ( 1 2 3 8 - 1 4 9 2 ) .
a g ra d á v e l fre sc u ra d e n tr o d a c a s a ” . E sse s a z u le jo s, A c iv iliz a ç ã o c r is tã , d u r a n te e sse lo n g o in te rre g n o ,
com a m a n ip u la ç ã o d o c o b re p e lo s a lq u im is ta s so b re v iv e u a p e n a s n a s m o n ta n h a s d o n o rte . E s p a n h a
e g íp c io s, já a p re s e n ta v a m d u a s to n a lid a d e s , o a z u l e P o rtu g a l, c o m tã o p ro lo n g a d a o c u p a ç ã o m u ç u lm a n a ,
tu r q u e s a e o v e rd e N ilo , o s p rim e iro s e s m a lte s a s e re m n ã o p o d e ria m fic a r im u n e s a o seu c o n tá g io , e p a ss a m
re v e la d o s n a b u s c a d o s c o lo rid o s d o a rc o - íris . O s a r e u n ir e m si d u a s p o d e ro s a s c o rr e n te s d e c u ltu ra ,
a s s írio s e o s b a b ilô n io s d o s é c u lo X I I I a .C . a o sé c u lo a O c id e n ta l, q u e h e r d a r a m , c a O rie n ta l, q u e h a v ia m
V I d .C ., fa b ric a v a m a z u le jo s e tijo lo s p in ta d o s c o m a s s im ila d o .

36
A in flu ê n c ia d o s á ra b e s n a C e râ m ic a p e n in s u la r n o s. A r th u r L a n e , o c o m e d id o c e ra m ó g ra fo in g lê s, refe-
c d e p o is n a e u ro p e ia , foi g ra n d e , p o is tr o u x e ra m eles, rin d o -s c a Iz n ik , d iz : " T a lv e z n e n h u m a c e râ m ic a ja m a is
c o m o já d isse m o s, a p re c iá v e l b a g a g e m , n ã o só q u a n to fe ita te n h a c o re s d e tã o in te n s o b r ilh o ” . Is so n o q u e se
a n o v a s té c n ic a s c o m o um n o v o re p e r tó rio d e d e c o ra ­ re fe re ao L e v a n te . M a s a tr ib u i-s c a F ra n c is c o N ic o lo s o
ç ã o , p a rte d e le fo rm a d o já e m s o lo e u ro p e u n o q u a l ( 1 5 4 7 ) ta m b é m o m é r ito e o ta le n to d e te r s id o o p ri­
se in clu em o s fa m o so s a ra b e s c o s, o u s o in te n s o d a s m e iro n o O c id e n te a p r o d u z i r o s p a in é is h is to ria d o s e
fo rm a s g e o m é tric a s q u e o s is lâ m ic o s d e se n v o lv e ra m a fig u ra d o s, c ria n d o u m a n o v a e e s p lê n d id a a p lic a ç ã o de
fu n d o , j á q u e o A lc o rã o lh e s v e d a v a a r e p r o d u ç ã o dc m o ld e m o n u m e n ta l p a r a a a z u le ja ria , e d a n d o à a rq u ite ­
seres, o q u e foi re s p e ita d o d u r a n te a lg u m te m p o , e n tre tu r a O c id e n ta l, u m n o v o e p o d e ro s o c o m p le m e n to , c o m o
o u tra s c o n trib u iç õ e s . à d e c o ra ç ã o ú m n o v o re c u r s o m u ra l n o p re e n c h im e n ­
A q u e la in flu ê n c ia foi tã o fo r te q u e so b re v iv e u to d a s v a s ta s p a re d e s c a s te lã s , riv a liz a n d o c o m a ta p e ­
m u ito te m p o d e p o is d a r e c o n q u is ta p e lo s reis c ristã o s ç a ria , q u a n d o n ã o a d e s lo c a n d o .
d o te rritó rio ib é ric o a o s m o u ro s , s o b re tu d o n a A zu le- O s a z u le jo s e s p a n h ó is , o s h is p a n o -m o u ris c o s , os
ja r ia . A o c u p a ç ã o da P e n ín s u la p e lo s m o u ro s p r o ­ P is a n o s , d e s f ru ta v a m d e m e r e c id o re n o m e e e ra m b a s ­
c e ss o u -se a o s p o u c o s , c o m o d e p o is d o s s e te c e n to s an o s ta n te a p re c ia d o s,
dc d o m ín io , a s u a d e s o c u p a ç ã o foi p r o c e d id a à m e d id a P o rtu g a l, Itá lia ( G ê n o v a , M ilã o , R o m a ) e In g la ­
q u e os reis c a tó lic o s iam c o n q u is ta n d o d e v o lta p a rte te rra im p o rta v a m a q u e le s p ro d u to s . O tip o P is a n o , e n tre
d o te rritó rio . N e sse a v a n ç o e re c u o á ra b e s , e n tre m e ia m o s e c ra m ó g ra fo s , ta m b é m é c o n h e c id o p o r “ a z u le jo
sécu lo s, e p a rte d a p o p u la ç ã o c r is tã , e n tre e la o leiro s p la n o " , p a r a d if e re n c ia r d o s o u tr o s tip o s fa b ric a d o s n a
e a rte s ã o s , ficou e se a d a p to u a o s á ra b e s , c v ice-v ersa m e sm a é p o c a , o u a in d a d e " a z u le jo p in ta d o ” .
q u a n d o d a R e c o n q u is ta , p a r te d o s m o u ro s p e rm a n e c e u V e ja m o s e ss a s té c n ic a s q u e p a rtira m d o O rie n te
so b o d o m ín io c ristã o . P ró x im o e a tr a v é s d o s á ra b e s is lâ m ic o s fo ra m te r
D isso re s u lto u o c h a m a d o e stilo h is p a n o -m o u risc o , d ir e ta m e n te na P e n ín s u la Ib é ric a c , in d i re la m e n te ,
q u e , c o m o o n o m e in d ic a , é a m e sc la o u a a d a p ta ç ã o de fo ra m a lc a n ç a r a S ic ília e a p ró p r ia Itá lia (s ic u lo -
d u a s c o rr e n te s fo rm a is d e in flu ê n c ia o rn a m e n ta l. - m u ç u lm a n a s ).
C o n v e n c io n o u -s e c h a m a r d e m o z á r a b e o s tip o s h íb rid o s N o q u e c o n c e rn e à E s p a n h a , h a v ia d u a s d e u m
d e d e c o ra ç ã o p ro d u z id a s p e lo s c e ra m is ta s c ris tã o s cm la d o , a h i s p a n o - m o u r is c a q u e se r e p r e s e n ta v a p o r trê s
te rritó rio s o c u p a d o s p e lo s m o u ro s , a ssim c o m o o te rm o m a n e ira s , e a p is a n a , e m b o ra e s ta ta m b é m fo sse d e
m u d é ja r a p lic a -s e à p ro d u ç ã o o le ira p ro c e d id a p o r o rig e m á ra b e , m a s b e m d if e re n te d a s o u tr a s . E s s a té c ­
a rte s ã o s m o u ro s n o s te rritó rio s c ris tã o s re c o n q u is ta d o s . nica d a m a ió lic a , s e g u n d o A r th u r L a n e , c o m e ç o u a
S e v ilh a . T ria n a , V a lê n c ia , M ã la g a , M a n iz e s, T a la v e ra ser e m p re g a d a n o O rie n te M é d io , p o r v o lta d o sé c u lo
d c la R c y n a , c o m o P a te rn a T c ru e l, e n tr e o u tro s m ais, IX , p e lo s is lâ m ic o s, te n d o lo g o p a s s a d o p a ra M á la g a
c o n s titu íra m -s e em g ra n d e s c e n tr o s c e râ m ic o s . C o n fo r­ s V a lê n c ia .
m e o p e río d o , esses c e n tro s p ro d u z ira m c e râ m ic a d e P o ré m a p is a n a , n o s sé c u lo s X V I, X V I I , X V I I I é
e stilo g ó tic o -m u ç u lm a n o , h is p a n o -m o u ris c o , re n a s c e n ­ q u e c o n q u is to u o a g r a d o e u ro p e u e v e io a te r u m d e s e n ­
tista, e n tr e la ç a n d o in flu ê n c ia s. E m T r ia n a , a té h o je v o lv im e n to e n o rm e , p a s s a n d o ta m b é m a s e r p ro fu s a -
são u sa d a s essas d e c o ra ç õ e s a n tig a s , a ssim c o m o m e n te fa b ric a d a n a E u r o p a , o q u e c o n tr ib u iu p a r a os
T a la v e ra re to m o u n e ste sé c u lo o fa b ric o d e p e ç a s o u tro s g ê n e ro s c a ír e m a o s p o u c o s e m d e su s o . O s tip o s
d e n tro d a té c n ic a e d a d e c o ra ç ã o c lá s sic a . c h a m a d o s h is p a n o -m o u ris c o s s ã o tr ê s : p rim e iro o
Ê c e rto q u e d a m e ta d e d o sé c u lo X V I e m d ia n te , “ a lic a ta d o " , ta m b é m c h a m a d o d e “ m o s a ic o ” — e ra m
as fá b ric a s (a lf a r c r ia s ) d c S e v ilh a e d e T a la v e r a d e c o z id a s g r a n d e s p la c a s c e râ m ic a s e a p lic a d o c s m a llc
la R e y n a , p ro d u z ira m b e lo s a z u le jo s n a té c n ic a de c o lo rid o , e ra m e la s c h a m a d a s d c " t a e d e s " , e d e p o is
" C u e n c a ” , p o ré m a d o ta r a m ta m b é m o u tr a s d e c o ra ç õ e s se rra d a s c m p e q u e n o s p e d a ç o s q u e se c h a m a v a m " a lic e -
in c lu siv e a p in tu ra d e q u a d ro s e m p a in é is, d e n tr o d e re s” e c o m o s q u a is , ju n to c o m a s c o re s e p e d a ç o s de
o u tr a té c n ic a , c o n h e c id a p o r “ P is a n o ” , o u d e V e n e z a o u tra s p la c a s , e r a c o m p o s to o “ m o s a ic o ” , o u se ja , o
( e de F a e n z a ) , q u e d e p o is p a ss o u a se r c h a m a d a a z u le jo p r o n to p a r a s e r a p lic a d o ; esse tip o im ita v a o
m aió lic a o u fa ia n ç a . ta p e te , te c id o s e b ro c a d o s o rie n ta is , c e ra d e d ifícil e
E sse a p e lid o p rim itiv o p ro v in h a d o n o m e d o P o rto d e lic a d a fa tu ra . E m se g u n d o lu g a r h a v ia o s a z u le jo s
d e P isa , n a Itá lia , q u e e x p o rta v a p a r a a E s p a n h a ta n to rip o “ c o rd a s e c a ” , q u e im ita v a m ta m b é m o tip o “ m o s a i­
lo u ç a c o m o a z u le jo , n a té c n ic a d a m a ió lic a , c ta m b é m c o ” , a o s q u a is se a p lic a v a ó x id o d e m a n g a n ê s d is so lv id o
p o rq u e e m S ev ilh a h a v ia u m e x ím io c e ra m is ta ita lia n o , em lin h a ç a , c o n to r n a n d o o s d e s e n h o s , d e fo rm a a is o la r
F ra n c is c o N ic o lo s o , q u e d e se n v o lv e u e p ro d u z iu b a s ­ c a d a e s m a lte n a q u e im a e e v ita r b o rrõ e s o u m is tu ra s d as
ta n te a q u e le g ê n e ro , e, p o r s e r n a tu r a l d e P is a , p asso u c o re s n a p e ç a . E m te rc e iro , h a v ia o tip o d e n o m in a d o
a s e r c o n h e c id o p o r “ P is a n o ” , o q u e d e u o rig e m ao “c u e n c a ” ( c a v a d o o u d e a r e s ta s ) q u e c o n s is tia na
a p e lid o p a r a a q u e le lip o d e a z u le jo e d e lo u ç a . im p re ss ã o d e m o ld e s n o b a r r o m o le, c a v a n d o e s p a ç o s
P o ré m h á q u e se a c re s c e n ta r n o q u e to c a à d e c o ­ lim ita d o s p o r p a re d e s d e lg a d a s ( a r e s ta s ) p a r a is o la r as
ra ç ã o , o su rg im e n to , n o O c id e n te , d o s p a in é is fig u ra d o s c o re s n a q u e im a , N a é p o c a , esses a z u le jo s e ra m c h a m a ­
e h is to ria d o s . N a re a lid a d e , n a P é rs ia , e m A fa d a n a , o s d o s “ la b o re s ” , E s te p ro c e s s o re to m o u d o M e d ie v o a
tijo lo s e s m a lta d o s c o m re p re s e n ta ç õ e s fig u ra tiv a s, n o té c n ic a d o m o ld a d o , c o m a d ife re n ç a q u e a p ro v e ita v a
q u e d iz re s p e ito à C e râ m ic a , e s ta ria m n a b a se d a u ltr a ­ as p a re d e s d o s m o ld e s p a ra , rios c o m p a rtim e n to s r e b a i­
p a ss a g e m d a su p e rfíc ie lim ita d a d a u n id a d e , la jo ta , x a d o s, c o lo c a r as tin ta s e e sm a lte s sem o risc o d c se
tijo lo s, o u a z u le jo , co m o c a m p o d e c o ra tiv o . Iz n ik , n a m e s c la re m e n tr e si.
T u r q u ia , n o a p o g e u de seus fastígio c e râ m ic o (s é c . X V I A té c n ic a d a m a ió lic a ( o u p is a n a ) c o n s is tia em
e c o m e ç o d o X V I I ) d e se n v o lv e u , c o m m a e s tria , n a c o b rir to d a a su p e rfíc ie d a te rra c o ta c o m e sm a lte esla-
A z u le ja ria , a q u e le d e b o rd a m e n to , m o n ta n d o p a in é is com n ffcro , q u e a g ia c o m o u m e n g o b e , e s c o n d e n d o a c o r
a rr a n jo s flo ra is c in te rc a la ç ã o d e p e rs o n a g e n s m u ç u lm a ­ da p a s ta c p ro d u z in d o u m b ra n c o o p a c o c o m o u m a

37
fo lh a d e p a p e !, s o b re o q u a l e ra m p in ta d o s o s d e s e n h o s " G o o d h a n d lin g o f p o tt e r ’s m a te ria l” , o u se ja , n o b o m
q u e , a s e g u ir re c e b ia m u m a c o b e rta p lu m b ífe ra , tr a n s ­ m a n u s e io d o m a te ria l d o o le iro , p e lo q u a l a tra v é s d a
p a r e n te , p a r a is o la r e fix a r as c o re s . O s fra n c e s e s d e n o ­ q u a lid a d e d a p a s ta e d a fe iç ã o d a fo rm a , d á e le v a z ã o
m in a v a m os a z u le jo s a ssim o b tid o s d e “ c a r r e a u x e s ta n - a o s se u s c o n h e c im e n to s im p rim in d o à p e ç a se u c u n h o
n ifè re s ” , o u se ja , a z u le jo s e s ta n ífe ro s . in d iv id u a l. E s tilo s e d e fin e : “c o m o m o d o , m a n e ira ,
T r ê s tip o s d e d e c o ra ç ã o s e e m p r e g a ra m n o s a z u le ­ fo r m a e c a r á te r e s p e c ia l q u e u m a rtis ta o u to d a u m a
jo s p la n o s ( m a íó iic a ) d o m e a d o d o s é c u lo X V I : o d e é p o c a im p rim e à s s u a s o b r a s ” . E n te n d e m o s , n o e n ta n to ,
la ç a ria , d e tra d iç ã o m u d e ja r; o re n a s c e n tis ta , in s p ira d o q u e a s a rte s m a io re s c o m o a s m e n o r e s , n a q u a l in c lu i-
e m a rte s a n a to e n as c o m p o s iç õ e s d e tr a ta d is ta s d e a r q u i­ -se a c e râ m ic a , c o n d e n s a m e m si d o is e stilo s, o in d iv i­
te tu ra , e o d e g ro te sc o s p la te re s c o s . A p rim e ira d e la s d u a l e o c o le tiv o d a é p o c a , n o q u a l o p rim e iro sc
é a m ais típ ic a s e v ilh a n a ( r e t a n g u l a r ) , c írc u lo s , c o m in te g ra . A q u e le é c a u s a e e ste é e fe ito , p o is se m o
e n fe ite s s u b s id iá rio s d c fio re s. A s e g u n d a a p re s e n ta g ê n io c r ia d o r , m u ita s v e z e s a n ô n im o , q u e e n c o n tr a
v a ria ç õ e s d e m o tiv o s d e a rq u ite tu ra , c ó p ia s d e d e s e n h o s ê m u lo s e se g u id o re s, n ã o n a s c e n e m se firm a o e stilo
d e te to s d e c o ra d o s , é o m o d e lo c h a m a d o d e “ c la v o ” d e u m a e s c o la e n e m o d e u m a é p o c a . E s ta s ,
o u c r a v o ( p r e g o ) , d e fo rm a p ris m á tic a , ta m b é m c o n h e ­ n a r e p r e s e n ta ç ã o o rn a m e n ta l, p a s s a m a a s s in a la r n o
c id o p o r " c la v o s d e S a n ta A n a ” , o rig in á rio s d e T r ia n a te m p o o s se u s p e río d o s p e la s c a ra c te rís tic a s m a r ­
e d e T a la v e r a ( 1 5 6 0 ) , q u e ia m b u s c a r a s u a o rig e m c a n te s . E o e s tilo d a s e sc o la s, n a s a rte s a p lic a d a s
n o e s tilo ro m â n ic o . A te rc e ira é re p r e s e n ta d a p o r g ro ­ se tr a d u z a tr a v é s d a o r n a m e n ta ç ã o . O é tim o p ro v é m d o
te s c o s a p lic a d o s e m g e ra l e m b a r r a s , e e m c e rc a d u ra s g re g o “ o ra io m o s ” , q u e s ig n ific a o r n a to , a d o rn o , e m b e le ­
d e p a in é is, ta m b é m a p re s e n ta flo re s e m o tiv o s v e g e ta is z a m e n to . O r n a to e o rn a m e n ta ç ã o n a iin g u a g e m c o m u m
c o m c a r á te r n a tu r a lis ta . E ste tip o é o m e n o s e m p re g a d o se c o n fu n d e m c te m a m e s m a sig n ific a ç ã o . M a s n ã o é
d o s trê s <3). a ss im n a lin g u a g e m e sp e c ífic a d o a r tis ta (F .S . M a y e r ) .
Q u a n to à e x e c u ç ã o d a d e c o ra ç ã o n a E u r o p a , c o m P o r o rn a m e n ta ç ã o se e n te n d e um c o n ju n to d e
o c o r r e r d o te m p o , fo r a m a d o ta d o s v á rio s p ro c e s so s d e s e n h o s re u n id o s e s te tic a m e n te e a p lic a d o s s o b re u m
p a r a fa c ilita r e a p re s s a r a e x e c u ç ã o d o s d e s e n h o s . o b je to . T o m a d o s s e p a r a d a m e n te , o s m o tiv o s q u e
O s h o la n d e s e s re v iv e ra m e m la rg a e sc a la u m sis­ c o m p õ e m o c o n ju n to s ã o o o r n a to <5). A a r te c e râ m ic a ,
te m a já u sa d o n o O rie n te M é d io , e m p a r tic u la r em n a re a lid a d e , c o n d e n s a e m si d u a s fo rm a s d e e x p re s s ã o ,
íznílc, n a T u rq u ia , s o b r e tu d o n a d e c o ra ç ã o d e se u s a m a te ria l d a fa tu ra e a s u b je tiv a d a d e c o ra ç ã o , a tra v é s
a z u le jo s d c m a ió lic a , c o n h e c id o p o r “ a v u ls o s ” . d a in te rp re ta ç ã o , e s tiliz a ç ã o e tra n s fo r m a ç õ e s g rá fic a s
C o n s is tia ele n a a p lic a ç ã o d e c a rtõ e s p e rf u ra d o s so ­ d o s m o d e lo s in c o n tá v e is q u e o fe re c e m a n a tu r e z a , a
b re a su p e rfíc ie b ra n c a d a p e ç a , p a s s a n d o -s e s o b re eles c ria ç ã o e a im a g in a ç ã o .
p ó d e c a rv ã o p a r a d e ix a r m a r c a d o o d e lin e a m e n to d o d e ­ E sse s in u m e rá v e is m o tiv o s c o n s titu íd o s p e lo o r n a to
s e n h o a s e r se g u id o e c o m p le ta d o a m ã o p e lo c e ra m is ta . e n q u a d ra m -s e , n o to c a n te à d e c o ra ç ã o , e m três d iv isõ e s
H a v ia ta m b é m o u tr o , m a is rá p id o n a p a r te p rá tic a m e s tra s : a g e o m é tric a , a d a s fo rm a s n a tu r a is e a d a s
e m e n o s a rtís tic o n a e x e c u ç ã o , q u e se re s u m ia n a a p li­ fo rm a s a rtific ia is. E to d a o rn a m e n ta ç ã o se d e se n v o lv e
c a ç ã o , s o b r e u m p a p e lã o re c o r ta d o e v a s a d o c o n te n d o g rá fic a e p ic to ric a m e n te a tr a v é s d e ss a s d iv isõ e s, is o la d a s
o d e s e n h o , d e u m a b ro c h a c o m tin ta — p ro c e s s o e ste o u c o m b in a d a s .
c h a m a d o d e “ tr e p a ” w . O h o m e m n o s se u s p rim ó rd io s , n o a m b ie n te q u e
A b a se d e ss e d e s d o b r a m e n to n o q u a l o h o m e m D e u s lh e d e u , j á m a n ife s ta v a s u a in c lin a ç ã o p r á tic a , su a
p a s s a a u tiliz a r a c e ss ó rio s e a rtifíc io s p a r a p ro d u z ir ín d o le d e c o m u n ic a b ilid a d e e se u p e n d o r e sté tic o . P a r a
m a is, e stá c e rta m e n te n o a te s ta d o q u e a n o b re z a , a e x p re s s á -lo s v a le u -se d a s s u p e rfíc ie s ru p e s tre s e d a
p re la z ia c a b u rg u e s ia o u to rg a m ao a z u le jo , c o m o n o v o a rg ila . C o m o m a n u s e io d o b a r r o c rio u o v a s ilh a m e
e im p o rta n te fa to r, n ã o só d e p ro te ç ã o p a rie ta l c o m o d e u tilitá rio e o d e a d o rn o , e a p ô s-líie o o r n a to . E s te , n a
" f r e s c u r a c o n fe rid a a o a m b ie n te ” , c o n fo rm e p re g a v a m s u a su c e s sã o d e re p re s e n ta ç õ e s id e o g rá fic a s p a s s o u a
o s e g íp c io s, m a s s o b r e tu d o p e lo seu v a lo r d e c o ra tiv o . a c u m u la r s ím b o lo s e sig n o s q u e iria m s e r a p ro v e ita d o s
A c e râ m ic a c o m e ç a a p e c a r n a su a s u b s tâ n c ia p a r a fix a r m a te ria lm e n te a lé m d o a s p e c to e s té tic o , a
a rte s a n à l, p a r a p o d e r e x p a n d ir a su a a p lic a ç ã o a m ais lin g u a g e m fa ia d a o u a u d itiv a , o q u e d e u n a s c im e n to a
te m p lo s , p a lá c io s , m a n s õ e s e la re s, e re p r o d u z ir a sé rie u m a n o v a fo rm a d e c o m u n ic a ç ã o g rá fic a e v isu a l n o
d e p a d rõ e s q u e n o v a s fo n te s fa z e m s u rg ir p a r a ta n to , u n iv e rs o , e sta c ria d a p e lo h o m e m .
v ai v a le r-s e d o s re c u rs o s s e m i-a rte s a n a is e m e c â n ic o s, A te r ra c o ta c o o r n a to e s tã o , p o is , n a b a s e d a
e p o r fim d o s in d u s tria is q u e lh e v ã o s e n d o p o s to s à e sc rita e d o a lfa b e to , c o s p rim e iro s a d e le s s e u tiliz a ­
d is p o s iç ã o . re m , n e ss a c o n ju g a ç ã o d c m a té ria e e s p írito , fo ra m o s
V a m o s o b s e r v a r n a E u r o p a u m c o n s ta n te e a p r e ­ a s s írio s e o s b a b ilô n io s .
c iá v e l c re s c e n d o d e p a d ro n a g e n s ( e d e té c n ic a s e n v o l­ V e ja m o s , a se g u ir, a lg u m a s d a s c iv iliz a ç õ e s e
v e n d o a p a s ta c a p r o d u ç ã o ) , s o b re o p o b re c re s trito m o v im e n to s q u e d e ix a ra m m a r c a d o s s u a p a s s a g e m n a
m o s tr u á r io d o M e d ie v o E u ro p e u , te n d o s e u p o n to d e h is tó ria d a a rte , le g a n d o se u s e stilo s e o rn a to s p r e f e ­
la r g a d a c o m o s á ra b e s . rid o s e e n riq u e c e n d o , c a d a vez m ais, o a c e rv o o rn a m e n ­
T o rn a -s e n e c e s s á rio p ro c e d e rm o s a u m re tro c e s s o ta l e u ro p e u .
p a r a v e rific a r-se , p o r a lto , c o m o veio a s e r a m p lia d o O e s tilo eg íp c io d e s d o b ra -s e a tr a v é s d e n u m e ro s a s
a q u e le m in g u a d o r e p e r tó rio d e c o ra tiv o c o m a s c o n tr i­ d in a s tia s , d a M e n fila , d a T e b a n a e d a S a íla . A d e c a ­
b u iç õ e s de o rig e n s d iv e rs a s q u e a tra v é s d o te m p o fo ra m d ê n c ia e g íp c ia c o in c id e c o m a in v a s ã o p e rs a e m 5 3 2
in c o r p o r a n d o se à c e râ m ic a , a tra v é s d a o r n a m e n ta ç ã o a .C . N o c o m e ç o p re d o m in a m o s d e s e n h o s lin e a re s e
o u d o o r n a t o q u e g e ra o e stilo . g e o m é tric o s , p a s s a n d o d e p o is a o s m o tiv o s flo ra is e d a
M u ito s a rtis ta s , s e n ã o to d o s , te m se u e stilo p ró p rio , f a u n a e m q u e s o b re s s a e m os o r n a to s d c p a lm ito s , d o
e ssa m a n ife s ta ç ã o e x te r n a d e im p u ls o s in te rio re s . N a p a p iro , d o e sc a ra v e lh o , d o g a v iã o , e tc . O s h ie ró g lifo s
c e râ m ic a e le se e v id e n c ia , s e g u n d o A r th u r L a n e , n o re p r e s e n ta m u m g ra n d e re p e r tó rio d e o rn a to s id e o g rá -

3S
ficos. O a z u le jo e o v id ra d o fo r a m in v e n ta d o s p e lo s c o n s titu e m s u a fo r m a ç ã o é tn ic a , c o m o o b u d is m o , o
eg ípcios. b ra m a n is m o e o is la m is m o c o m p õ e m a s u a filo so fia e
O estilo a ss írio -b a b iló n ic o re v e la -se n o b a rr o m ístic a e s p iritu a is . N ã o p o d e m d e ix a r d c s e r n u m e ro s o s
c o z id o , nos la d rilh o s ( e a z u le jo s ) , tijo lo s e e ste ia s o s o rn a to s q u e se p r e n d e m à q u e la s o rig e n s, n e m o s
e sm a lta d a s , n o s q u a is a p a re c e m o r n a to s de ro s e ta s, q u e re p re s e n ta m a s u a s im b o lo g ia . R e s s a lta m n a fa rta
p a lm ito s, g rifo s, etc. O s a ss írio s e b a b ilô n io s in v e n ta ­ c e le g a n te o r n a m e n ta ç ã o a flo ra , e n e s ta o c ra v o , a
ram a e sc rita c o m sig n o s im p re sso s n o b a rr o , e m p r e ­ ro s a , a fo lh a d e p a lm e ir a e a “ p a lm e ta " , e stiliz a ç ã o d a
g a ra m o b a ix o relev o e u s a ra m s a rc ó fa g o s dc b a rr o p a lm a , e n a fa u n a s o b re le v a m a s a v e s.
c o z id o d e c o ra d o s . B a b ilô n ia , c e n tro d e c u ltu ra , foi u m a O e stilo j c h in ê s a b a rc a , a e x e m p lo d o e g íp c io ,
d a s c id a d e s m a is a n tig a s, fu n d a d a c m 2 6 0 0 a.C . e aí n u m e ro s a s d in a s tia s q u e se s u c e d e m a p a r t ir d e 2 6 3 7
se p a sso u o e p is ó d io b íb lic o d a T o r r e d e B a b e l, seu a.C . S ão a s c re n ç a s re lig io sa s, a a d o r a ç ã o d a s fo rç a s
n o m e p rim itiv o , c o n s tru íd a e m tijo lo s. n a tu ra is , o c u lto d o s a n te p a s s a d o s in s p ira d o s p o r
O estilo p e rs a a c o m p a n h a e d e se n v o lv e a té cn ica C o n fú c io (s c c . X V a . C ) o m u n d o a n im a l, o s s e re s
d o s e sm a lta d o s assírio s, m a s já se u tiliz a d o s o rn a to s s o b re n a tu ra is , c lc ., q u e in s p ira m a d e c o ra ç ã o . C o m o
g e o m é tric o s in s p ira d o s p e lo s e g íp c io s, p o ré m re v e la n d o b ra m a n is m o (s é c . I d .C .) a p a re c e m a fig u ra h u m a n a
o a p ro v e ita m e n to d o s m o tiv o s e a r r a n jo s flo ra is, em e a g a le ria d c p e rs o n a g e n s d iv in o s e h e ró ic o s. C o m a
q u e p re d o m in a a re p re s e n ta ç ã o d o c ra v o . O u tr o o rn a to in v a s ã o d o s m o n g ó is (s é c . X I I I d .C .) e n tr a a C h in a e m
c a ra c te rís tic o é o d a p in h a , c o n h e c id o p o r “ p in h a c o n ta to c o m a s a rte s p e rs a s e á ra b e s . O la o ís m o ta m b é m
p e rs a " , c u ja c stiliz a ç â o é m u ito a p lic a d a cm ta p e te s e fig u ra n a c e râ m ic a c o m s e u s s ím b o lo s. C o m a c h e g a d a
n a c e râ m ic a c se c o n fu n d e c o m a s p a lm e ia s h in d u s d o s lu s ita n o s n o s é c u lo X V I, e n tr a e m c o n ta to d ir e to
m u ito u s a d a s n o s te c id o s. O e s tilo s e d iv id e cm trê s c o m a E u ro p a e p a r t e d e s u a p r o d u ç ã o é d e s tin a d a à
p e río d o s : o A q u e m c n id a , a té a c o n q u is ta d e A le x a n d re e x p o rta ç ã o , n o p e río d o d a s fa m o s a s C o m p a n h i a d a s
3 3 0 a .C ., d e p o is o P a rto e fin a lm e n te o S a ssá n id a s. Ín d ia s e s o fre a in flu ê n c ia o c id e n ta l. Q u a n to a a z u le jo s,
O e stilo g re g o , in s p ira d o n o s p rim ó rd io s d o a ssírio , e x iste m e x e m p la re s d o sé c u lo X V I I I d o p e r ío d o d e
fo rm a scti c a r á t e r p ró p r io e d e s d o b ra -s e n u m a im p o ­ K a n g -H s i. O s o r n a to s s ã o n u m e ro s ís s im o s e sim b ó lic o s.
n e n te flo ra ç ã o e m to d o s o s c a m p o s d a s m a n ife sta ç õ e s O s e m b le m a s d o s “ O ito I m o rta is " s ã o : o le q u e ( d u a s
c u ltu ra is , m a rc a n d o , s o b r e tu d o n a s a rte s m a io re s , u m a f o r m a s ) , a e s p a d a ( d u a s f o r m a s ) , o p o te , c a s ta n h o la s ,
e ta p a n a h is tó ria d a a r te u n iv e rs a l. A d o ta c o m o o rn a to s o v a so d e flo res, o b a m b u , a fla u ta , o ló tu s. O s “ O ito
alg u n s já c o n h e c id o s , c o m o a s ro s e ta s , a s flo re s d c S ím b o lo s B u d is ta s " s ã o : o g u a rd a - s o l, o ló tu s , a c o n ­
ló tu s e d e p o is a s fo lh a s d e a c a n to e d a p a lm e ira c o m c h a ( f e c h a d a ) , o s d o is p e ix e s , a c o rn u c ó p ia , o n ó , a
v á rio s a rra n jo s , u n id a s e m c a ra c o l, cm e s p ira l, em c a m p a in h a . O s “ O ito S ím b o lo s O r d in á r io s ” s ã o : a p é ­
v o lu tas. A c e râ m ic a g re g a p in ta d a a frio , a p re s e n ta ro la , o lo s a n g o , a p e d r a s o n o r a , o c h ifre d e rin o c e ro n te ,
e n o rm e v a rie d a d e d e o rn a m e n ta ç ã o c o m o e le g â n c ia dc a m o e d a , o s liv ro s, a fo lh a . O s “ O ito D ia g ra m a s ” s ã o :
fo rm a to s , d e s d o b ra n d o -s e n a s re p r e s e n ta ç õ e s g e o m é tri­ o c é u , o v a p o r, o fo g o , o ra io , o v e n to , a á g u a , a m o n ­
c a s — a fa m o sa g re g a — e n a s fo r m a s n a tu r a is e m q u e ta n h a , a te r ra . E a in d a o u tr o s q u e r e p r e s e n ta m e n c a n to s :
p re d o m in a m c e n a s. N e la h á a p re fe rê n c ia p e lo s fu n d o s z c e g o n h a , a ta r ta r u g a , o s p a g o d e s , o c a d e a d o , o e s p e ­
p re to s e d e se n h o s v e rm e lh o s e o c re s , e v ic e -v e rsa . A lh o , a p e d ra , a re d e . E a in d a e x is te m o u tr o s o r n a to s
a rte c e râ m ic a d e s fru ta v a d e e le v a d o c o n c e ito e ta n to c o m o a “ sw á s tic a ” , o s m o rc e g o s, o p ê ss e g o , o c e tr o , o
o s o le iro s c o m o os a rtis ta s d e c o ra d o re s o rg u lh a v a m -s e d e selb im p e ria l, a fê n ix , o s d ra g õ e s , o in c e n s o , o ta b u le iro
se u o fíc io e m u ita s vezes m a rc a v a m a p e ç a s e p a r a d a ­ d e x a d re z , a v a s s o u ra , o e s p a n a d o r , o s in s tru m e n to s
m e n te - o o le iro a fix a v a seu n o m e e o te r m o “ fez” m u sic a is, o “ J o o -i" ( a c a b e ç a d o c e tr o d a lo n g e v id a d e ),
— e o p in to r “ p in to u ” . N o s Jo g o s O lím p ic o s os v e n ­ a p e ô n ia , etc.
c e d o re s e ra m a q u in h o a d o s ta m b é m c o m v a so s c o m o O e stilo ja p o n ê s e a ic a -s e n o c o re a n o q u e , p o r s u a
p rê m io d a s fa ç a n h a s e sp o rtiv a s . vez, d e riv a d o c h in ê s . Ire m o s a b o r d â lo n o s e g u n d o
O estilo ro m a n o b a se ia -se e m e le m e n to s o rn a m e n ­ c a p ítu lo .
tais e tru s c o s c g reg o s, e c o m o o s h e le n o s , le g a ra m ao O e stilo á r a b e d e s e n v o lv e u -s e n o te r ritó rio e u ro p e u
m u n d o u m p a trim ô n io c u ltu ra l e e sté tic o in ig u a lá v e l. a p a r t ir d o sé c u lo V II a o X c d e p o is a té o sé c u lo X V .
N o q u e d iz re sp e ito a o o rn a to , s o b re s s a i o u so d o a c a n to S u a b a g a g e m d c a r t e in c lu i a té p a rte d o e stilo b iz a n tin o .
e a p a re c e o d a o liv e ira . O estilo b iz a n tin o ( o Im p é rio N a E s p a n h a fo rm a m -s e d iv e rs a s e sc o la s a rtís tic a s , c o m o
B iz a n tin o d u ro u d e 3 3 0 a 1 4 5 3 d .C ., o u se ja , d e z a d e C ó rd o b a , em 7 5 6 d .C ., se d e d o C a lifa to , o n d e é
sé c u lo s a te s e r d o m in a d o p e lo s tu r c o s ) a p re s e n ta d u a s in s ta la d a a p rim e ira m a n u f a tu r a á r a b e ( u s a n d o n a
fa se s: a p rim e ira b a s e a d a n a e s c o la c lá s s ic a h e lé n ic a d e c o ra ç ã o o “ a z u l c e le s te " , e o “ azu l p rú s s ia ” ) a de
e a se g u n d a p u ra m e n te b iz a n tin a . A ssim ilo u ta m b é m S e v ilh a , a d e G r a n a d a , e tc . D e c o m e ç o , a d e c o ra ç ã o
p a rle d o s e stilo s d o O rie n te P ró x im o , c o m o o s g re g o s lim ita v a -sc a á rv o re s , flo re s , o b je to s e v e rs e to s , c o n te n ­
e o s ro m a n o s , d e q u e m e ra m o s d e sc e n d e n te s p o lític o s d o p e n s a m e n to s e s e n te n ç a s d o A lc o r ã o , q u e r e p r e ­
e c u ltu ra is . S a n ta S o fia , c o n s tru íd a p e lo im p e ra d o r s e n ta m a d e c o ra ç ã o c h a m a d a d e e p lg rá fic a , já q u e a
J u s tin ia n o , n o s é c u lo V I, a in d a o s te n ta s e u s e stu p e n d o s re lig iã o m a o m e ta n a v e d a v a a re p r e s e n ta ç ã o d e se re s.
m o s a ic o s e o s la d rilh o s c p a in é is d e a z u le jo s. Isso lev o u a e x p lo r a ç ã o a fu n d o d a s c o m b in a ç õ e s
’ O e stilo c é ltic o c a ra c tc riz a -s e p e lo h a rm o n io s o g e o m é tric a s, re ta s , c u rv a s , â n g u lo s , e s tre la s , lo s a n g o s,
e n tr e la ç a m e n to de. fra n ja s e d e fo lh a g e n s. O s o rn a to s la ç a ria s e o s a r r a n jo s o r n a m e n ta is c o n h e c id o s p o r
c ria d o s fo ra m re p ro d u z id o s d u ra n te s é c u lo s e m c o n s e n ­ " a r a b e s c o s ” . D e p o is d a c o n q u is ta p o r Iz a b c l e F e r n a n d o
to . A ra ç a c e lta e s ta b e le c e u -se n o lito r a l A tlâ n tic o e d o re in o d e G r a n a d a ( 1 4 9 2 ) , ú ltim o b a lu a r te á r a b e n a
n a h liin d a . P e n ín s u la , m u ito s a rtífic e s á ra b e s n ã o q u is e ra m re p a -
O estilo h in d u é p ro d u to d e u m c o m p le x o d e lria r-s e e s e g u ira m c u ltiv a n d o s u a s e s p e c ia lid a d e s s o b
c o n trib u iç ã o , ta n to d e ra ç a s c o m o d e re lig iõ e s. S ã o o s u m a d ire ç ã o e s p a n h o la ; a o c o m b in a re m -s e o s e le m e n ­
á rio s , d ra v jd io s , á ra b e s , m o n g ó is, a fe g a n e s e p e rs a s q u e to s d e a rte c ris tã , ro m â n ic a e g ó tic a c o m o s á ra b e s

39
p r o d u z - s e a n o v a fo rm a c h a m a d a m u d é j a r {6>. P roduz* m a is re s trito n a d iv u lg a ç ã o d o n o v o g ê n e ro d e c o ra tiv o ,
-se , p o is , u m e n tr e la ç a m e n to d e m o tiv o s , e o s e le m e n to s já q u e o se u v ig o ro so m o v im e n to re n a s c e n tis ta im p u n h a
n a tu r a is d a flo ra e d a f a u n a s u rg e m n a C e râ m ic a ao à c e râ m ic a a e x p re s s ã o d e s u a s p ró p r ia s m a n ife s ta ç õ e s
la d o d o s g e o m é tric o s. a rtístic a s .
O e stilo ro m â n ic o , d e fe iç ã o m o n á s tic a , c a ra c te ri­ M a s c a b e ria o m é rito e o g a la rd ã o , e m p rim e iro
z a -s e p re fe re n c ia l m e n te p o r s u a d e c o r a ç ã o g e o m é tric a : Sugar a E s p a n h a , P o rtu g a l e H o la n d a d e s a b e r tira r
lo s a n g o s, d e n te a d o s , p o n ta s d e d ia m a n te s , b e s a n te s , u m g ra n d e p a r tid o d o a z u le jo , c o m o v e íc u lo d e e x p re s ­
c ra v o s ( p r e g o s ) , b a stõ e s e o u tr o s d e in s p ira ç ã o o rie n ta l: s ã o o rn a m e n ta l n a E u ro p a , d e fo r m a a fa z é -lo c o n c o r­
le õ e s e q u im e ra s . D o re in o v e g e ta l d á p re fe rê n c ia à re r, c o m ^sucesso, n a d is p u ta d o e s p a ç o m u ra l c o m o
e s tiliz a ç ã o d a fo lh a d e a c a n to . m o s a ic o , jo a fre sc o , a p in tu ra s o b r e te la e a ta p e ç a ria ,
O e s tilo g ó tic o , m e d ie v a l, a tin g e o se u a p o g e u n o o q u e fo i a lc a n ç a d o d e m a n e ira b rilh a n te p o r a q u e le s
s é c u lo X I , n a Ilh a d e F r a n ç a , n a re g iã o d e P a ris . £ o trê s p a ís e s a tra v é s d a c o m p o s iç ã o d e p a in é is fig u ra ti­
tr iu n fo d a o g iv a s o b re o a rc o . U tiliz a a fu n d o a s fo rm a s v o s e h is to ria d o s q u e e x ib ia m c e n a s m ito ló g ic a s , b íb li­
n a tu r a is a p ro v e ita n d o c o m o o r n a t o a s flo re s , a v in h a , c a s, g a la n te s , ic o n o g rá fic a s , g u e rr e ira s , c o m o a tra v é s
a h e ra , o s c a rd o s , e tc ., e a in d a e le m e n to s a n tro p o - ta m b é m d o a z u le jo is o la d o o u em a g ru p a m e n to s d e
m o rfo s e z o o m o rto s. A p ro v e ita ta m b é m o s g ro te sc o s, q u a tr o , d e z e ss e is e m a is p e ç a s, c h a m a d a s ta p e te s,
as á g u ia s, d e m ô n io s, ro s e ta s, e tc . N e sse p e río d o , a A H o la n d a , s o b r e tu d o , d eu n o v a a m p lid ã o à
h e rá ld ic a to m a e n o rm e d e s e n v o lv im e n to e v e m a c re s c e r p a d ro n a g e m d e fe iç ã o e u ro p é ia , c o m u m sem n ú m e ro d e
o re p e r tó rio d e c o ra tiv o c o m in c o n tá v e is o m a ío s q u e a d a p ta ç õ e s e c ria ç õ e s q u e d e s p e r ta v a m in te re ss e p o r su a
c o m p õ e m o s e sc u d o s e b ra s õ e s d e a rm a s . n o v id a d e e d iv e rs ific a ç ã o , c o m p a r a d a s c o m os re p e tid o s
O R e n a s c im e n to ita lia n o a p re s e n ta v a ria n te s d e e s u rra d o s p a d rõ e s e m u s o . F a to esse q u e ia d e e n c o n tro
e s tilo a p a r t ir d o sé c u lo X V . E m se u p rim e iro p e río d o , a u m a s o c ie d a d e b u rg u e s a c a d a v ez m a is á v id a d e
d e 1 4 0 0 a 15 0 0 , s ã o re n o v a d a s a s tr a d iç õ e s só b ria s a d o r n o c o m o fo rm a d e s a tis fa z e r o a n s e io e s té tic o q u e
d a G ré c ia , N o s e g u n d o , d e 1 5 0 0 a 1 6 0 0 , p a ssa à s u a fo r m a ç ã o e c u ltu r a e x ig iam .
in s p ira ç ã o g re c o -ro m a n a c o m a in tro d u ç ã o d e n o v o s
E ta n to a H o la n d a c o m o P o rtu g a l re c e b e ra m a in d a ,
e le m e n to s : fig u ra s h u m a n a s , a n im a is , m á s c a ra s , arm a s,
d ire ta m e n te , n o s sé c u lo s X V I e X V II , o in flu x o d e m ais
c a n ó p lia s , e m b le m a s , v a so s, c a n d e la b r o s , c o ro a s , g ro te s­
o u tr a s c iv iliz a ç õ e s c o m tr a d iç ã o a rtís tic a m u ltim ilc n a r.
c o s a r r a n jo s c o m fo lh a s d e p a lm e ir a , d e a c a n to , d a
O trá fe g o in te n s o e a p rin c íp io e x c lu s iv o c o m o E x tre m o
v in h a , d o lo u ro . A p re s e n ta o a p o g e u . O te rc e iro p e río ­
O rie n te , p o r in te rm é d io d a s c a r r a c a s lu s a s c d a s n a u s
d o é re p r e s e n ta d o p e lo B a rro c o , q u e d e 1 6 0 0 s e e ste n ­
b a ta v a s , c a rr e o u to d o u m n o v o m a n a n c ia l in é d ito q u e
d e a té I SOO, c o m a in te rc a la ç ã o d o R o c o c ó a p a rtir
a b ra n g ia n o v o s e stilo s e s im b o lo g ia s d c o u tr a s relig iõ es
d e 1 7 0 0 ir>, A p ro v e ita m estes e s tilo s o s e le m e n to s d a
a lé m d a m a o m e ta n a o u d a C ris tã .
s e g u n d a fa s e re n a s c e n tis ta d a n d o -lh e s m a is vigor,
E a H o la n d a a ssim ilo u a in d a , c o m m a io r p r o f u n ­
e x p re s s ã o , h a rm o n ia e m o v im e n to . O B a rro c o m a n té m
s im e tria d e v o lu m e s c d e lin e a m e n to s , e o R o c o c ó , n o s d id a d e d o q u e P o rtu g a l, os re fle x o s d a R e n a s c e n ç a
se u s d e s d o b r a m e n to s lin e a re s , u m a e le g a n te a ssim e tria . ita lia n a tra z id o s p e lo s n a v e g a n te s e m e r c a d o re s v e n e ­
O R e n a s c im e n to ita lia n o tev e se u d e s d o b ra m e n to z ia n a s q u e na s u a ro ta re g u la r d e c o m é rc io a tin g ia m
cru P o rtu g a l c o m o M a n u e lin o , q u e p õ e e m evidência A n tu é rp ia , p a s s a n d o p o r G ib ra lta r . E s te p o rto , c e n tro
tra d ic io n a l d e in te n s o c o m é rc io e de c u ltu ra , to rn o u -s e
c e rto s o rn a to s q u e sim b o liz a m a e p o p é ia d o s d e s c o b ri­
m e n to s , c o m o c o n c h a s , c o rd a m e s , e tc. n o L e ste c o n tin e n ta l o m a io r c e n tro c e râ m ic o in te r-
-e u ro p e u , a p a rtir d c 1 5 I0 , q u a n d o G u íd o A n d rie s ou
E n a E s p a n h a esse d e s d o b r a m e n to se p ro c e ssa
G u id o di S a v in o , d e C a s te l D u r a n te , u m d o s c e n tro s
a tra v é s d o e stilo p la te re s c o d o q u a l J o s é C h u r r ig jc r a
c e râ m ic o s ita lia n o s , c d e p o is seu filh o J o ris ( 1 5 6 4 )
é o m a g istra l in té rp re te , in s p ira n d o -s e n a d e lic a d a
d e ra m in íc io c in c re m e n to à f a b r ic a ç ã o d a m a ió lic a .
d e c o ra ç ã o d e o u riv e s a ria p a r a a p lic á -la n a a rq u ite tu ra .
( O te rm o p la te re s c o d e riv a d e “ p la t a ” ) . A H o la n d a , q u e re c e b ia to d a s e ss a s c o n trib u iç õ e s ,
C o m re fe rê n c ia a in d a a o u tr o s e stilo s q u e se à e x e m p lo d a Itá lia , d e s f ru ta v a d c u m e le v a d o nível
se g u e m n o te m p o , ire m o s a b o rd á - lo s “ p a ri-p a s s u ” com a rtís tic o . R e p re s e n ta v a n o L e ste e u ro p e u u m p ó lo
o s c o m e n tá rio s s o b re a e v o lu ç ã o d a c e râ m ic a n o ir ra d ia n te de c u ltu ra d e q u e a E s c o la F la m e n g a é u m
O c id e n te , n o s e g u n d o C a p ítu lo . e x p re s s iv o te s te m u n h o n a s A rte s P lá s tic a s , c o m o n a s
R e to m e m o s a d e s c r iç ã o g e ra l d e ss a le n ta , g ra d a tiv a a rte s m e n o re s a im a g in á ria d e M a lin e s u m a m a r c a n te
c d is tin ta e v o lu ç ã o d a a z u le ja ria , a b s o rv e n d o té c n ic a s e m a n ife s ta ç ã o . A s s u a s fa m o sa s “ g u ild a s " , q u e a g r u p a ­
o rn a to s q u e ir ã o in c o rp o ra r-s e a o se u p a tr im ô n io co m o v a m a rte s ã o s c a rtis ta s d c d ife re n te s o fíc io s, e s ta v a m a
c o r r e r d o s séculos. p o s to s p a ra z e la r p e la q u a lid a d e d a p ro d u ç ã o .
V im o s a p u ja n te c o n tr ib u iç ã o a d v in d a d a p re s e n ç a C o m to d o s esses e le m e n to s e s ta v a a H o la n d a a p ta
d o s á ra b e s islâ m ic o s na P e n ín s u la e p e la a d a p ta ç ã o que a o fe re c e r n a c e râ m ic a a lg o de n o v o e d e b o m . S o u b e ,
se o p e ro u e tra d u z -s e p e la sim b io s e d e d u a s c o rre n te s d o s é c u lo X V I a o X V I I I , r e u n ir a q u e le m a n a n c ia l
m e s tra s de e stilo s q u e , a o se fu n d ire m , fo rm a m u m d is p e rs o e h e te r o g ê n e o e ju n to c o m o se u a u tó c to n e ,
n o v o , c o n h e c id o p o r h is p a n o -m o u ris c o . E ste , e m b o ra c a n a liz á -lo c o m m a e s tria e b o m g o s to p a r a a s u a a z u le ­
h íb rid o , p a s s a a a p re s e n ta r- s e c o m p e rs o n a lid a d e p ró p ria ja r ia e m a n te r d u r a n te m a is d e d u z e n to s a n o s o seu
e m a r c a n te n o q u a d r o d a a z u le ja ria . e s p lê n d id o p a d r ã o a rte s a n a l. E s te lh e v a le u a p re f e rê n ­
C o u b e à E s p a n h a re c e b e r e m se u s o lo aq u e le c ia e m e re c id o re n o m e a té m e a d o s d o sé c u lo X IX .
le g a d o le v a m in o v á ria s vezes m ile n a r, q u e o estilo D e p o is v e m a s u c u m b ir d ia n te d a c o n c o rr ê n c ia p e rtin a z
m u ç u lm a n o c o n d e n s a v a , a d o tá - lo a tr a v é s d o h is p a n o - q u e lh e m o v e m n a d e c o ra ç ã o o p a p e l p in ta d o e o s
- m o u ris c o , tra n s m iti-lo e d iv u lg á -lo n o O c id e n te . a z u le jo s, s o b r e tu d o in g le se s p ro d u z id o s in d u s íria lm e n te ,
A Itá lia ta m b é m d e se m p e n h o u p a p e l id ê n tic o , n a i s a m b o s p ro p o r c io n a n d o n o s a m b ie n te s d o m é s tic o s , o
im p o rta n te n a d is s e m in a ç ã o d a té c n ic a d a m a i ó lk a c m e sm o e fe ito v isu al e b a ix o c u sto .

40
O s e u lo n g o e fo r m o s o r e i n a d o d is tr i b u iu b e n e s s e s D iz -n o s J o a q u i m d e V a s c o n c c llo s * 85: “ q u e a lé m
p a r a m u ita s p a r t e s d o m u n d o . P o rtu g a l i m p o r t o u s e u s d o s a z u le jo s p o li c r o m a d o s e m a r a b e s c o s , d a I g r e ja d e
a z u le jo s c o m o v a le u - s e d e m e s tr e s fla m e n g o s p a r a S ã o R o q u e e m L is b o a , d a t a d o s d e 1 5 8 4 , F r a n c i s c o d e
v á rio s d e s e u s p a in é is — V e r s a lh e s a in d a n o s é c u lo M a to s d e c o r o u e m g r a n d e p a r t e , n a Q u i n t a d a B a c a -
X V I I fo i c o m e le s d e c o r a d o . N o “ G r a n d T r i a n o n ” (s c c . IbÕ a, o s p a v ilh õ e s c o n h e c id o s p o r C a s a d a s Á g u a s ,
X V I I I ) n o C a s te l o d e “ R a m b o u i ll e t” , c o m o c m v á rio s q u in ta e s s a q u e p e r t e n c e u a o g r a n d e A f o n s o d e A lb u ­
c a s te lo s g e r m â n ic o s , e n ó s a q u i n o B ra s il n ã o d e ix a m o s q u e r q u e . E n t r e o s m e l h o r e s q u a d r o s d e a z u le jo s d a
d e tê -lo s . C asa d a s Á g u as c o n s ta u m c h a m a d o "S u z a n a su rp re ­
V e ja m o s p a r t e d a s é r ie d e o r n a t o s q u e se e n d id a n o b a n h o ” , d a t a d o d e 1 5 6 5 .
e n c o n tr a m e m s u a c e r â m ic a só ig u a lá v e l e m n ú m e r o e
N o e n t a n t o , n o s é c u lo X V I , h a v ia a i n d a g r a n d e
v a r ie d a d e s a o s c h in e s e s .
i m p o r t a ç ã o d e a z u le jo s s e v i lh a n o s e ta l a v e r a n o s , is so
N o s é c u lo X V I s ã o o s a r a b e s c o s e d e s e n h o s
p o r v o lt a d e 1 5 8 2 , j á q u e o f a b r ic o lo c a l e r a r e d u z i d o
g e o m é tr ic o s e m p r e s ta d o s d o s á r a b e s e o s a r r a n j o s
c n e m t ã o p r i m o r o s o q u a n t o a q u e le s . A p r o d u ç ã o e m
f l o r a is n o g ê n e r o “ ío g lie e f r u t t i ” d o s it a li a n o s q u e
P o r tu g a l é a s s in a la d a e m L is b o a p o r v o lta d e 1 5 6 0 e
p re v a le c e m - E a s c o r e s e m p r e g a d a s s ã o o a z u l e s c u r o ,
e x e r c id a p o r c e r a m is ta s f la m e n g o s q u e q u e im a v a m a s
o la r a n ja e o a m a r e lo q u e s o b r e s s a e m . N o s é c u lo X V I I
p e ç a s e m “ f o r n o s d e V e n e z a " , o u s e ja , n a t é c n i c a d a
a la r g a - s e a s é r ie d e m o tiv o s c o m la r a n ja s , r o m ã s a b e r t a s ,
m a ió líc a . L o c a li z a v a m - s e e le s n o a n ti g o b a i r r o d a s
tu lip a s , c a c h o s d e u v a s , e s tr e la s , c r u z e s e o a r r a n j o
J a n e l a s V e r d e s e e r a m d e s i g n a d o s p o r “ m a l e g u e ir o s ”
n o tá v e l d e v a s o s d e flo re s n o g ê n e r o d e I m a r i e d e
p o rq u e p ro d u z ia m a c h a m a d a M á le g a d e F ia n d r e s . Is so
p r a t o s c o m f r u ta s . N e s s e s é c u lo o s a r t e s ã o s a r t is t a s
e q u iv a le a d iz e r q u e o s fla m e n g o s j á h a v i a m c o p ia d o
a p e r c e b e m - s e d o v a lo r d o s c h n to s d o s a z u le jo s c o m o o s p r o c e s s o s d e f a b r ic o d a m a i ó li c a p r o v e n i e n te d e
e s p a ç o d e e n q u a d r a m e n t o d e c o r a t iv o . A p a r e c e m e n t ã o
M á ia g a , u m d o s g r a n d e s c e n tr o s c e r â m ic o s e s p a n h ó i s ,
n a s la te ra is o u n o s q u a t r o c a n to s , c o m p l e m e n t a n d o o
c o m o ta m b é m d e V e n e z a , q u e u s a v a p r o c e s s o s id ê n tic o s ,
m o tiv o c e n tr a l, o s d e s e n h o s d e f lo r d e lis, d e v o lu ta s ,
e o s t e n d o a s s im ila d o , in t r o d u z i r a m - n o s e ra P o r t u g a l.
d e r o s e ta s e m a is ta r d e d e a r a n h a s , d e p o n ta s d e la n ç a ,
N o fin a l d o s é c u l o a p a r e c e m a í o s a z u le jo s h i s t o ­
d e c ra v o S j d e f o lh a s d e p a r r e ir a s , d e " c a b e ç a s d e b o i ”
ria d o s e o s d e r e p e t iç ã o , e m aist t a r d e , n o s é c u lo X V I I I ,
( J o o - i ) d o s “ c a n d e l a b r o s ” o u a in d a d e c e r c a d u r a s o u
a m p lia - s e o e m p r e g o c o m O g ê n e r o d a f ig u r a a v u ls a
d e f u n d o s e m p re s ta d o s : a o e s tilo d e W a n - L i . N e s s e
o u o m o tiv o s o l to o u is o la d o , e m p r e g a d o p e lo s h o l a n ­
p e r í o d o j á p r e d o m in a m o a z u l e b r a n c o o r ig in á r io s d o
d e s e s ,, S e m i n t e r r o m p e r o f a b r ic o d o s p a in é i s , e s te s ,
O r ie n te .
e m g e r a l, d e e n c o m e n d a . O s é c u lo X V I I c a r a c t e r i z a - s e
Q u a n t o m a is c a m i n h a m o s n o te m p o m a is p r o l if e ­
s o b r e tu d o p e la p o li c r o m ia q u e c e d e lu g a r a o a z u l e
r a m o s o r n a t o s . A p a r e c e m o s m e d a l h õ e s c o m fig u ra s
b r a n c o q u e i r ia p r e d o m i n a r n a s g r a n d e s c o m p o s iç õ e s
a n tr o p o m o r í a s e z o o m o r f a s e b u s to s , a d a p t a ç ã o d e
s e te c e n tis ta s .
a r te s ã o s d e A n tu é r p i a d o s p a d r õ e s d a m a ió lic a ita lia n a ,
c o m p l e ta d a c o m o s " a i h o r i n i ” . . .N e s s e p e r ío d o ,, e m P o r t u g a l, d is tin g u e m - s e g r a n d e s
E n u m a m u lti p li c a ç ã o d a s m a is d iv e r s if ic a d a s m e s tre s a p a r t i r d e 1 6 9 1 , c o m o o e s p a n h o l D e l B a r c o
p a s s a m a s e r c o p ia d a s g r a v u r a s e q u a d r o s d e a r t is t a s c a s a d o c o m p o r t u g u e s a , q u e c o n f e r iu a m p l it u d e e
fa m o s o s , r e t r a t o s d e p e r s o n a g e n s , r e p r e s e n ta ç ã o d e ti p o s m o n u m e n ta b i li d a d e a o s p a in é is h is to r i a d o s , A n tô n io d e
p ito r e s c o s , c o m o c a v a le ir o s , p e s c a d o r e s , c a ç a d o r e s , s o l­ O liv e ira B e m a r d e s , f a l e c id o e m 1 7 3 2 e q u e m u i to p r o ­
d a d o s , g u e r r e ir o s e d iv e r s o s ti p o s c h in e s e s e d a s o c ie ­ d u z iu n o p e r í o d o d e 16 9 9 a 1 7 2 5 , c o n s i d e r a d o o m a i o r
d a d e q u e s e e n q u a d r a m n u m a s é r ie c o n h e c i d a p o r a z u le jis ta d e s e u te m p o , m a n e j a n d o c o m m a e s tr i a o s
“ m a n i k in s ” . to n s e s u b t o n s d e a z u l e e n q u a d r a n d o s e u s p a in é is c o m
E o h o la n d ê s p r e s o a o m a r , à s u a . n e s g a d e t e r r a la r g a s e b e la s c e r c a d u r a s à m a n e i r a d a ta p e ç a r ia .
e a o s s e u s c o s tu m e s r e p r o d u z s é rie d e v e le ir o s , p o r t o s , D e ix o u u m filh o — P o H c a rp o — q u e c o n ti n u o u s e u s
m o n s tro s m a r in h o s , n e tu n o s , m a r in h a s , c e n a s d e p e s c a , tr a b a lh o s , a s s im c o m o n u m e r o s o s d is c íp u lo s d e p o r te
b a le ia s , p a is a g e n s , m o in h o s , p a s to r a is , q u e r m e s s e s , filia d o s a s u a e s c o la . E n t r e e s te s , A n d r é G o n ç a lv e s ,
v is ta s , c a ç a d a s , e tc , E a in d a s é rie s d e r e p r e s e n ta ç õ e s T c o tô n i o d o s S a n to s , N ic o la u d e F r e i t a s , B a r to l o m e u
m ito ló g ic a s , d e a n im a is d o m é s tic o s e d e c a ç a , a v e s A n tu n e s ( 1 6 8 8 - 1 7 5 3 ) m e s tr e d e o fíc io d e l a d r i l h a d o r
c a s e i r a s e d e j a r d im , e tc . e d e m u i t o in t e r e s s e p a r a o B ra s il, p o is e x e c u t o u e m
N o p e r í o d o d o s L u ís e s d e F r a n ç a , n o s é c u l o X V I I I . 1 7 3 7 o s m a g n íf ic o s p a in é i s d a C a p e l a - m o r d e S ã o F r a n ­
s e g u e a s v a r i a n te s e s tilís tic a s fr a n c e s a s , te n d o a té u m c is c o , n a B a h ia . N ã o s e p o d e o m i ti r o n o m e d e A n t ô n i o
d o s s e u s m o d e l o s d e a z u le jo s id o c o n h e c id o p o r d e F r e i t a s e s o b r e tu d o o d e A n tô n io P e r e i r a , d is c íp u lo
“ P o m p a d o u r” . d ile to d o v e lh o m e s t r e A n t ô n i o d e O liv e i r a B e r u a r d e s .
G r a ç a s à s p e s q u i s a s d o e r u d i to h i s t o r i a d o r M á r i o
I s s o q u a n to à o r n a m e n ta ç ã o , m a s q u a n t o à r e p r e ­
B a r a t a , f o r a m id e n t if ic a d o s o s p a in é is d a C a p e la D o u -
s e n t a ç ã o d o m o t iv o n a s u p e r fíc ie d o a z u le jo c o lo c a m -
T ad a d o R e c if e ( d e 1 7 0 3 ) e o s d o S o la r d o S a ld a n h a
- n o o s h o la n d e s e s d e v a r i a d a s m a n e ir a s c o m o n o s
n a B a h i a , a m b o s d a q u e l e e m é r ito c e r a m is ta .
c o n h e c id o s p o r “ q u a d r a d o ” , p o r “ o v a l” , p o r “ d ia g o n a l” ,
p o r " v e r t i c a l ” , p a r t e d e s s a s d is p o s iç õ e s a d a p t a d a s d a N o f i n a l d o s é c u l o X V I I I e c o m e ç o d o X I X v o lt a
E s p a n h a m o u r is c a , c o m o ta m b é m u s a v a m c o lo c a r o a p r e d o m in a r a p o li c r o m ia . A F á b r i c a d o R a t o , c m
m o tiv o d e n t r o d e u m o u d u p lo c ír c u lo o u m e d a l h ã o . L is b o a , e a d e J u n c a i , e m A lc o b a ç a , f u n d a d a s e m 1 7 7 0 ,
N o tó p i c o “ F a i a n ç a ” c it a r e m o s o s n u m e r o s o s e n tr e o u t r a s , p r o d u z i r a m e s p l ê n d id o s a z u le jo s e p a in é is ,
c e n tr o s re s p o n s á v e is p e la p r o d u ç ã o c e r â m ic a a z u le ja r. s e n d o q u e e s t a e s p e c ia liz a v a - s e e m m o tiv o s re lig io s o s .
Q u a n t o a P o r t u g a l, c o m e ç a e le a f a b r ic a r a z u le jo s N o s é c u l o X I X a f á b r i c a d e lo u ç a d e S a n to A n t ô n i o d a
n a s e g u n d a m e t a d e d o s é c u lo X V I , e o fa z b r i l h a n t e ­ P ie d a d e e r a d a s m a is im p o r t a n t e s , s e n d o d e c o n s i d e r a r
m e n te , d i s p o n d o d e u m a r t i s t a n o tá v e l, F r a n c i s c o d e ta m b é m a d e S a c a v é m , a d e D e v e z a s e a d o C a r v a l h i n h o
M a t o s , q u e d e ix o u p a in é is a s s in a d o s e d a ta d o s . q u e c o s t u m a v a m a r c a r a s p e ç a s c o m F .C . e o s a z u le jo s

41
d c B o r d a ilo P in h e iro , j á n o fim d o s é c u lo X I X c c o m e ç o p a r a a p o r c e l a n a ( p ó d e p e d r a , e t c . ) , s o b r e c u ja s p a s ta s
d o X X , p r i m a n d o n o e s tilo d o " A r t - N o u v e a u " , c o m já e r a m im p r e s s a s d ir e t a m e n t e a s p a d r o n a g e n s . G a n h a ­
e x ím ia e x e c u ç ã o , b e lo s e s m a lte s e , s o b r e tu d o , in s p ir a ç ã o v a m te m p o n e s ta s im p lif ic a ç ã o c o m o n a f i x a ç ã o d a
p r ó p r i a , e a d o S a n to A n t ô n i o d o P o r t o d e J . V a le n te , im a g e m .
N o d iz e r d e W a n d a d c R a n i c r i : “ O s p o r tu g u e s e s M a s o a z u le jo a i n d a e r a c o r t a d o e m o d e l a d o à m ã o
f a b r ic a v a m a z u le jo s lis o s d e c o r ú n ic a , a z u l e b r a n c o , o u e m f o r m a s a v u ls a s , e x p e d ie n te la b o r io s o q u e r e q u e ­
v e r d e o u m e l a d o , c u jo s a r r a n j o s d e c o r a t iv o s fo ra m ria o a r n a s s a m e n to d a p a s t a , o c o r t e n a m e d i d a c e r t a
d e n o m i n a d o s e n x a d r e z a d o s o u d c “ c a ix i lh o " , t a m ­ e a in d a a s u a le n ta s e c a g e m . R e q u e r ia , p o is , u m m ú lti­
b é m o s " i a p e t e s ” c o m a z u le jo s ir ic r ô m io s , a z u l, a m a ­ p lo m a n u s e io a n te s d c s e r le v a d o a o fo g o . N e s s e p a r t i ­
r e lo e b r a n c o . A p a r t i r d a m e t a d e d o s é c u lo X I X o c u l a r a a r t e o le ir a c o n t i n u a v a a m e s m a d o s e g íp c io s ,
a z u le jo p o r tu g u ê s to m a o u t r a s c a r a c t e r í s ti c a s — o p r o ­ 4 0 0 0 a .C .
c e s s o a r t ís t ic o d e e x e c u ç ã o é s u b s tit u íd o p e lo d e e s t a m ­ F o i q u a n d o H e r b e r t M in ío n d e u m la d o e S a m u e l
p a g e m , r e s u lta n d o o c h a m a d o a z u le jo e s t a m p i lh a d o ” . W r ig h t d e o u t r o , a i n d a n a p r im e ir a m e t a d e d o s é c u lo
P o r t u g a l n ã o s o b r e s s a iu n a E u r o p a , e n d e h a v ia X I X , la n ç a m o s f u n d a m e n t o s d a f a b r ic a ç ã o m e c â n ic a
n a ç õ e s q u e c o n c o r r ia m e m q u a li d a d e c o m o e m q u a n t i ­ e a u to m á ti c a d o a z u le jo , c o s d c s u a s e c a g e m d e f o r m a
d a d e d e f a b r ic o , m a s s u a p r o d u ç ã o , n o e n t a n t o , n ã o in d u s tr ia l, c o m f o r m a s d c a ç o , e s te ir a s r o l a n t e s , e n tr e
d e ix o u d e s e r a p r e c iá v e l, p o is , a lé m d a c o lo c a ç ã o d e o u tr o s e x p e d ie n te s .
s e u s p r o d u t o s n o t e r r i t ó r i o m e t r o p o l it a n o , d is p u n h a d e O c ic lo e s t a v a c o m p l e to : p a s t a s i m p lif ic a d a , f a b r i­
m e r c a d o g a r a n t id o e e x c lu s iv o r e p r e s e n t a d o p e lo le q u e c o a u to m a ti z a d o , d e c o r a ç ã o m u l ti - r e p e t id a . H a v ia m e le s
d e s u a s c o lô n i a s u l t r a m a r i n a s e s p a l h a d a s p e lo m u n d o . re d u z id o a m ã o - d e - o b r a o p e r a c i o n a l e e li m i n a d o a p a r ­
N o s s o a c e r v o a z u le jís tic o , s o h r c i u d o d o s é c u lo X V I I I , ti c ip a ç ã o a r t e s a n a l n a c o n c lu s ã o d a p e ç a , o q u e le v a r ia
é g r a n d e e d e q u a li d a d e , e c o n t i n u a d is tr i b u íd o c m a in f e r ir - s e q u e o p r o d u t o , c o m o a p r e s e n ta ç ã o e s té tic a ,
p a lá c io s e m o r m e n t e c m ig r e ja s e c o n v e n to s , a a t e s t a r d e ix a v a a d e s e ja r . N o e n t a n t o , o q u e o s in g le s e s p a s s a ­
o e le v a d o p a d r ã o d o s m e s tre s a z u le ja d o r e s lu s ita n o s e r a m a o f e r e c e r c r a a lg o n o tá v e l c o m o r e a l iz a ç ã o
a s e r v ir d c e lo q ü e n t c te s te m u n h o , s o b r e t u d o c o n s id e ­ p ic tó r ic a , t a n t o n a p r e c i s ã o d o d e t a l h e c o m o n a s u til
r a n d o - s e q u e o te r r e m o t o d c L is b o a , c m 1 7 5 5 , d e s tr u iu r e p r e s e n ta ç ã o d o s d e s e n h o s e c o lo r id o s . E s s a s in v e n ç õ e s
p a r t e d o a c e r v o m e t r o p o l it a n o , é o q u e n o s d iz e m q u e im p r im ia m r a p i d e z a o f a b r ic o c o n f e r ia m v a n ta g e n s
o u t r a s p a la v r a s o P r o l . í l o r s l U d o K n o f f : “ P o r t u g a l é p e c u n iá r ia s s u f ic ie n te s p a r a c o n t r a t a r b o n s a r t is t a s ,
o p a ís d a E u r o p a q u e m a is a z u le jo s o s t e n ta , n ã o m e s m o f o r a d o r a m o , t a n t o p in t o r e s c o m o g r a v a d o r e s ,
s o m e n te na P e n ín s u la com o nos A ç o re s c na p a r a a e s c o lh a d o s m o tiv o s , a e l a b o r a ç ã o d o s d e s e n h o s
M a d e i r a . . . P o r t u g a l ti n h a e x p o r t a d o , d u r a n t e to d o o e a c o n f e c ç ã o d a s m a triz e s . N e s s e p a r t i c u l a r h a v ia
s é c u lo X V I I , c e n te n a s d c m ilh a r e s d e a z u le jo s , a lé m - f i r m a s c o m o M i n to n , H o lii n s , M a w , C o p e ia n d , e n tr e
- m a r , p a r t ic u l a r m e n t e p a r a o B r a s i l" o u tr a s , q u e m a n t in h a m u m a e q u ip e d e a r t is t a s e s c o lh i
S ã o o s in g le s e s q u e e s ta b e le c e m a lin h a d iv is ó ria d o s n ã o só p a r a p r e p a r a ç ã o d a s m a triz e s c o m o ta m b é m
e n tr e a e r a d o s p r o c e s s o s a r t e s a n a i s ( e s e m i- a r te s a n a is ) p a r a e x e c u t a r a m ã o p a r t i d a d e a z u le jo s e p a in é is
e o s in d u s tr ia is . e n c o m e n d a d o s . E m 1 8 7 0 a f i r m a M i n to n C h in a W o rk s ,
O s p r o c e s s o s s e m i- a r te s a n a is e m q u e e n tr a m e m d is p u n h a d e u m c o r p o d e 1 4 0 d e s e n h is ta s , e n t r e c ie s
u s o a c e s s ó r io s c o m o o " f a n t a s m a " , a “t r e p a ” , e tc ., se te p in t o r e s fr a n c e s e s , e h a v ia ta m b é m a r t is t a s j a p o n e ­
d im in u i n d o , m a s n ã o e x c lu in d o a p a r t ic i p a ç ã o d o a r tis ta se s c o n t r a t a d o s , e s p e c ia lis ta s e m e s tiliz a ç õ e s o r ie n ta is .
n o a c a b a m e n to , s ã o a in d a c o n s i d e r a d o s c o m o a r te s a n a is . O q u e a g r a v u r a re v e la s o b r e o c o b r e , a lito g r a f ia c
R e v o lu c i o n a m o s in g le s e s a e x e c u ç ã o d a d e c o r a ç ã o a f o to g r a f ia p o d ia m r e v e l a r s o b r e o p a p e l, o s in g le s e s o
c o m o p r i n c íp i o , a té h o je e m p le n a u ti li z a ç ã o , d o “ tr a n s ­ fa z ia m s o b r e a s u p e r f íc ie d a c e r â m ic a e a in d a c o m o
f e r - p r i n ti n g " e o d o d e c a l q u e , in v e n t a d o p o r J o h n S a d le r v id r a d o p r o t e t o r q u e c o n f e r ia d u r a b i li d a d e ilim ita d a
e m 1 7 5 8 . E s s a d e s c o b e r ta c o lo c o u a p r o d u ç ã o c e r â m ic a , ao p ro d u to .
d a n o it e p a r a o d i a , e m r i tm o in d u s tr i a l. G a b a v a - s e o E e ss e s in v e n to s s u r g ir a m e m b o a h o r a , p o r q u a n t o
in v e n t o r e s e u a s s is t e n te G u y G r e e n , e m s e u p e d id o a p r o d u ç ã o a r t e s a n a l d e c a í a e m q u a li d a d e e e s m e r o , e
o fic ia l d e p a te n t e , d e d e c o r a r n a d a m e n o s d o q u e 1 . 2 0 0 já n ã o s a tis f a z ia a d e m a n d a c r e s c e n te r e q u e r id a p o r
p e ç a s e m se is h o r a s “ m a is e m n ú m e r o , e m e l h o r e m a is u m a s o c i e d a d e e n r i q u e c id a p e lo c o m é r c io , p e l a in d ú s ­
p r e c is o , d o q u e c e m e x ím io s p in t o r e s o f a r ia m n o m e s m o tr ia c p e lo tr á f ic o c o m o s n o v o s m e r c a d o s c o lo n ia is ,
e s p a ç o d e te m p o ” . a m e r ic a n o s e o r ie n ta is .
L o g o d e p o is o s in v e n tiv o s in g le s e s d e s c o b r e m o u tr o E n t r e a s g r a n d e s f i r m a s p io n e i r a s , s u r g e M a w &
p r o c e s s o d e e s t a m p a g e m u ti li z a n d o c h a p a s d e c o b re . C o ., f u n d a d a e m 1 8 5 0 p o r J o h n H o r n b y M a w , v iz in h o
E rn s e g u id a , j á n o s é c u lo X I X , e m 1 8 3 0 a p li c a v a m c o m e a m ig o d o g r a n d e p i n t o r W illia m T u r n e r . P o r v o lta d e
s u c e s s o o p r o c e s s o lito g r á f ic o n a e x e c u ç ã o d a d e c o r a ­ 1 8 9 0 to m o u - s e e le o m a i o r f a b r ic a n t e d e a z u le jo s d o
ç ã o , c a in d a c m 1 8 7 0 p a ss a m a u tiliz a r o p ro c e sso s é c u lo X I X . A f ir m a c o n q u is to u u m a s é r ie d e p r ê m io s
fo to g rá fic o p a r a e s t a m p a r a im a g e m n a c e r â m ic a , p r o ­ in te r n a c io n a is a p a r t i r d e 1 8 5 1 , e m L o n d r e s , n o P o r t o
c e s s o e s s e u ti li z a d o p o r W e d g w o o d e q u e a i n d a s e ria dc D u b lim , P a r i s e n o s E s t a d o s U n id o s , e m F il a d é lf ia
a p r i m o r a d o p o r S h e rw in e C o t t o n p o r v o lt a d e 1 8 9 0 . ( 1 8 7 6 ) . N e s te ú ltim o p a ís a m o s tr a e s tim u lo u a f u n d a ­
O s a z u le jo s d e c o r a d o s p o r e s s e s n o v o s p r o c e s s o s s ã o ç ã o d a f i r m a a m e r i c a n a J .G . L o w , q u e d o is a n o s m a is
c o n h e c id o s p o r e s t a m p a d o s o u e s t a m p i lh a d o s . ta r d e , e m 1 8 7 8 , e m C r e w ( C e s h i r e , I n g l a t e r r a ) j á a r r e ­
D e n o t a r a i n d a q u e n ã o e r a s o m e n te n o s e t o r d a b a ta v a a m e d a l h a d e o u r o d o s in g le s e s . C o n t r a a in d u s ­
d e c o r a ç ã o q u e o s in g le s e s d a v a m p a s s o s d e g ig a n te , tr ia liz a ç ã o , o u tili ta r is m o e o s d e s v i r tu a m e n to s a r t ís t ic o s
m a s ta m b é m n a c o m p o s iç ã o d e n o v a s p a s t a s . A n ã o s u rg e m n a I n g l a t e r r a v o z e s i m p o r t a n t e s c o m o R u s k i n ,
s c r r a r a m e n t e , j á n ã o u tiliz a v a m a m a ió lic a p a r a , s o b r e c r ític o d c a r t e , M o r r is e D e M o r g a n , e s te s d o is lig a d o s
a s u p e r f íc ie a lv a d o e s m a lt e e s t a n íf e r o , a p o r o s d e s e ­ à C e r â m i c a . F o r a m e s te s , c m g r a n d e p a r t e , o s r e s p o n ­
n h o s . J á h a v ia m i n v e n t a d o ta m b é m v á r i o s s u c e d â n e o s s á v e is p e la r e f o r m a d a a r t e a p li c a d a e d o d e s e n h o n o

42
p e río d o final d a c r a V ito r ia n a , e o re to rn o , e m p a rle , e x e m p lo d e se u c o m p a n h e ir o M o r ris , p o ré m c o m o ele
a o a rte s a n a to . c h e g o u à c o n c lu s ã o d e q u e a m á q u in a p o d e ria s e r
E in ic ia d a e lid e ra d a p o r W illia m M o rris u m a a c e ss ó rio d o a rtis ta c c o m isso p ro d u z iu ta m b é m
c a m p a n h a c h a m a d a d e “ A ris a n d C ra fts M o u v e m c n t” , a z u le jo s c o m p ro c e s s o h íb r id o d a d e c o r a ç ã o : a c e rc a ­
p a r a re p o r a C e râ m ic a n a é tic a e in te g rid a d e a rte s a n a is , d u ra d a p e ç a e s ta m p a d a m e c a n ic a m e n te e o c e n tr o
em q u e ele d iz : " o e le m e n to d e c o ra tiv o n o d e s e n h o é p in ta d o à m ã o .
u m a e x p re s s ã o p e ss o a l d a v e rd a d e e d e v e h a v e r id o n e i­ N ã o p o d e m o s e n c e r r a r a s c o n s id e ra ç õ e s s o b re
d a d e n o tr a b a lh o ” . D e le d iz Y v o n n e B r u n h a n im e r !,0): a z u le ja ria se m n o s re f e rir m o s d c m o d o g e ra l, à F r a n ç a .
“ e le p re g o u a n o b re z a d o tr a b a lh o m a n u a l e d o a rte s a ­ C o m o v e re m o s n o s e g u n d o C a p ítu lo , e la se a lin h a c m
n a to e a n e c e ss id a d e d e c r i a r o b je to s d e u so c o rre n te p rim e iro p la n o n o ro l d e n o s s o s fo rn e c e d o re s n o
c o m s u a s p ró p ria s m ã o s ” . C o m e ç o u e le su a c a rr e ira n a s s é c u lo X IX .
a rte s a p lic a d a s m o n ta n d o e d e c o ra n d o v itra is d e n tr o d a A F r a n ç a n o M e d ie v o , p re s a a in d a a té c n ic a
rig o ro sa té c n ic a d o M e d ie v o . E s te n d e u s u a s a tiv id a d e s p rim á ria c m c u rs o n a E u r o p a c o e v a , c a r e n te p o is , d e
ta m b é m p a ra a a z u le ja ria e fu n d o u a firm a M o rris & m e lh o r a p r e s e n ta ç ã o n o s re v e s tim e n to s m u ra is e d e
C o ., d e n tro d a s n o v a s id é ia s e c o n c e p ç õ e s . E r a p o e ta , p is o , r e c o r ria n a s u n tu á r ia a o m o s a ic o c lá s s ic o . C a rlo s
d e se n h ista d e ta le n to e so c ia lis ta a tiv o n a lu ta c o n tra M a g n o , c o m o d is s e m o s , p a r a a d o r n a r a c a te d ra l d e
a m e c a n iz a ç ã o in te n siv a , te n d o n o e n ta n to , n a se g u n d a A ix L a C h a p c lle , c a p ita l d o Im p é rio C a ro lín g io , a in d a
fa se d e su a c a r r e ir a , a d m itid o q u e “ a m á q u in a p o d ia se v a le d o e m p re g o d o m o s a ic o , c u ja a p lic a ç ã o é
s e r e sc ra v a d o h o m e m , u m a f e r ra m e n ta q u e p o d e ria c o n fia d a à e sp e c ia lis ta s v in d o s d e R a v e n a .
co m su cesso , s e r e m p re g a d a p e lo a r tis ta ” . A n o v id a d e
J á n o s s é c u lo s X I V e X V a F r a n ç a c o m e ç a a
e o fre sc o r d e se u s d e s e n h o s e c o lo rid o s a p lic a d o s n a
a d o ta r a n o v a s o lu ç ã o o rn a m e n ta l q u e o s a z u le jo s ib e ro -
C e râ m ic a , n a ta p e ç a ria e n o s p a p é is p in ta d o s ( c h i n ts ) ,
-m o u rís c o s lh e a p re s e n ta v a m , e c m v á rio s p o n to s d e
em q u e s o b re s s a ía m flo re s e p á s s a ro s , ia m n a p a rte
s e u te r ritó rio f o r a m e le s lo c a liz a d o s , c o m o e m A v ig n o n ,
e stilístic a d e fin in d o o “ A rts a n d C ra fts M o u v e m e n t”
n o C h a te a u N c u f d u P a p e , c m T o lo s a , em N a r b e n a
o u se ja , o M o v im e n to d a s A rte s e O fíc io s, in ic ia d o p o r
e n o s P ire n e u s , im p o rta d o s d a E s p a n h a ,
ele, o qu al iria d e s e m b o c a r n o “ M o d e m S ty lc ” , no
“ A rt- N o u v c a u ” , no " S tile F lo r e a íe ” , n a A r te N o v a e N o sé c u lo X V I, o s ita lia n o s p a s s a m a p a rtic ip a r
o u tro s sim ila re s q u e iria m m a r c a r, n o ú ltim o q u a rte l a tiv a m e n te n a d ifu s ã o d a m a ió lic a , ta n to d e a z u le jo s
d o sé c u lo X IX e c o m e ç o d o X X , um n o v o c a p ítu lo na c o m o de lo u ç a , p o is , te n d o re c e b id o a q u e la té c n ic a d e
h is tó ria d a a rte m o d e rn a o c id e n ta l. v á rio s p ó lo s — d o O r ie n te M é d io e d a Ib é ria m o u ra
e d a S icília o c u p a d a p e lo s m u ç u lm a n o s , lo g o a a d o ta ­
W illiam F re n d D e M o rg a n ( 1 8 3 9 - 1 9 1 7 ) c o m e ç o u
ra m e p a s s a ra m a p ro p a g á - la . E c o m u m a v a n ta g e m
su a c a rre ira a rtís tic a c o m o M o rris n o a p re n d iz a d o
a d v in d a d a im p re g n a ç ã o d c u m c u n h o p ró p r io , a lta -
co m v itrais c m óveis, D e p e sq u isa e m p e sq u isa , redes-
m e n te a p re c ia d o , p o is se c o a d u n a v a m e lh o r c o m a fo r ­
c o b rira m a m b o s, p o r in ic ia tiv a p ró p r ia , as fó rm u la s d o
m a ç ã o e u ro p é ia a fim , d o q u e a h is p a n o -m o u ris c a a
lu s tre co m o p ô d e re v iv e r o s e s m a lte s le v a n tin o s. E stes,
e!a m ais e s tra n h a . A s sim , a Itá lia , d ifu n d in d o a
o “ c o p p c r" c o “ g o ld " lu s tre s , a o q u e p a re c e , já h a v ia m
té c n ic a á r a b e , p a s s a a in f lu e n c ia r o g o sto p e la d e c o ra ­
sido re a p lic a d o s p o r W e d g w o o d , em 1 7 7 6 , p o r rec e ita
ç ã o re n a s c e n tis ta p o r m e io d a e x p o r ta ç ã o d c se u s
fo rn e c id a p e lo D o u to r F o g h e rg ill, s e g u n d o in fo rm a ç ã o
e s p lê n d id o s p ro d u to s c a tr a v é s d e m e s tre s c e ra m is ta s
de H , H u d so n M o o r e m ) : c o n s ta ta n d o a in d a q u e em
q u e s c in s ta la m e ra d iv e r s o s p a ís e s , c o m o a F r a n ç a , a
1 8 1 0 já h a v ia n a In g la te rra p a te n te s s o b re s u a fó r­
H o la n d a e a p r ó p r ia E s p a n h a , o n d e p a s s a a in te rfe rir
m u la . A q u e la já e ra d e u so n a P é rs ia n o sé c u lo IX
n a s c o m p o s iç õ e s a rtís tic a s lo c a is.
d e n o ss a e ra , p a s s a n d o d e p o is p a r a a S íria e o E g ito e
v in d o b a te r n a Itá lia , e n a E s p a n h a c m M a n ise s, A E s c o la d e F o n ta in e b le a u q u e re p re s e n to u u m
A ra g ã o c M á la g a , n o s é c u lo X V . O s e s m a lte s , o s c e n tr o m a r c a n te d e c u ltu r a n a F r a n ç a s o b F ra n c is c o I,
c o p io u em Iz n ik . F o r m o u v á ria s so c ie d a d e s c o m seu ir ra d ia n d o s u a in flu e n c ia a té a F la n d r e s , a b ra n g e n d o
n o m e , e e m 1 9 0 7 rc tiro u - s e d e la s , d e ix a n d o seus a s a rte s c h a m a d a s m a io re s , c o m o a p in tu r a , a a rq u ite ­
a ssiste n te s n a d ir e ç ã o , p a r a d e d ic a r-s e à n o v e la . F o i tu r a , e e s c u ltu ra , n ã o d e s c u r o u d a s m e n o re s , c o m o a
u m ta le n to , ta n to n a re d e s c o b e rta d e té c n ic a s c m o tiv o s a z u le ja ria . P a ra ta n t o n ã o p re s c in d iu d a c o la b o r a ç ã o
a n tig o s c o m o n a a d a p ta ç ã o q u e d e le s fez, filtra d a p o r d e m e s tre s ita lia n o s q u e c o m e la c o la b o ra s s e m e
seu g o s to a rtís tic o , p a r a u m a n o v a e s e n s a c io n a l a p a r i­ a ss e sso ra s se m o s a r tis ta s lo c a is.
ç ã o . In s p iro u -s e n a d e c o ra ç ã o p e rs a e n is so n o C o n ti­ A ssim , a p a re c e m n e s s e sé c u lo X V I d o is v u lto s
n e n te e n c o n tro u u m ê m u lo n a p e ss o a d o fra n c ê s d e c e ra m is ta s f r a n c e s e s : M a s s e o t A b a q u e s n e , em R u ã o ,
T h e o d o rc D e c k ( 1 8 2 1 - 1 8 9 1 ) q u e e m 1 8 6 2 ex p ô s e m p re g a n d o j á a té c n ic a d a m a ió lic a im p rim e , n o e n ta n ­
u m a c o m p o s iç ã o c e râ m ic a c o m o n o m e d e F lo re s to , u m c u n h o n a tiv is ta à d e c o ra ç ã o . J o a q u im V a ttie r,
P e rsa s. C o p io u a m a n e ira d o s p in to re s islâ m ic o s, e m L isie u x , in tro d u z ia u m a c o n s ta n te n o s s e u s d e s e ­
v o h o u -s e ta m b é m p a r a a m a ió lic a ita lia n a re p ro d u z in ­ n h o s c o m o e m p re g o d e ro s e ta s , e n a e x e c u ç ã o d a
d o p la c a s e a z u le jo s re le v a d o s n o g ê n e ro d e D e lia d e c o ra ç ã o , in o v a v a c o m u m p ro c e s s o q u e v is u a lm e n te
R o b b ia c d o s e s c u lto re s flo re n tin o s . T in h a c o n h e c i­ p ro d u z ia o m e s m o e fe ito d o s a z u le jo s h is p a n o -
m e n to d e se u v a lo r a p o n to d e s e d e c la r a r : “ o m e lh o r -m o u ris c o s d e c o rd a s e c a e a re s ta , c o m a fo rm a ç ã o d e
q u ím ic o e n tr e o s c e ra m is ta s e o m a is a rtis ta e n tre s u lc o s e m v o lta d o s m o tiv o s , o n d e o s e s m a lte s e ra m
o s q u ím ic o s” . c o n tid o s p a r a n ã o e s c o rre re m . P ro d u z iu a z u le jo s e
C o m o c o n tr o le q u e e x e rc e u d a q u ím ic a d e u vigor la d rilh o s p a r a m u ito s lo c a is in c lu siv e p a r a o P a lá c io
e fre s c u ra a o s e sm a lte s, u tiliz o u c o m su c e s so o re c u rso d c V e rs a lh e s .
d e c o ra tiv o d o “ c ra q u e lé ” e re v iv e u c o m to d a a fo rç a N esse s é c u lo X V I, a in d a c m 1 5 7 8 , é a s s in a la d o
d e se u fu lg o r m e tá lic o o b r ilh o p e rd id o d o s lu stre s. e m N e v c rs u m c e n tr o d c p ro d u ç ã o d irig id o p e la
E q u a n to à té c n ic a , lu to u p e la e x e c u ç ã o a rle s a n a t, a fa m ília c e ra m is ta d o s C o n ra d o s .

43
N o sé c u lo X V I I I a a z u le ja ria fr a n c e s a p a s s a a M o r a (12), n ã o d e ix a d e a s s in a la r e sse a s p e c to d a
s o f re r a in flu ê n c ia d a H o la n d a , d e o n d e ta m b é m im p o r­ a z u le ja ria fra n c e s a n o P r a ta , q u e e le q u a lific a d c
to u a z u le jo s e c o m e le s fo r a m d e c o ra d o s v á rio s “ p o n tilís tic o ” .
p a lá c io s . O s c e n tro s lo c a is d e p ro d u ç ã o c o n c e n tra m - s e N o c a m p o d o s o r n a t o s d e fo rm a s n a tu r a is , s ã o
e m trê s p o n to s : V ro n , SL O m e r e D e sv re s, e s te ú ltim o re p ro d u z id o s m o in h o s , s o ld a d o s , d a m a s c o m g u a rd a -
d c m u ita re le v â n c ia , p o is a te h o je se d e d ic a à c e ra m ic a . -so i, c a s te lo s , c a s a s , ro s e ta s , c ru z e s , flo re s d e lis, e tc .,
N o sé c u lo X D £ , o s a z u le jo s fra n c e s e s s u rg e m n a à m a n e ira h o la n d e s a .
A m é ric a L a tin a e a p re s e n ta m c a ra c te rís tic a s “ su i Q u a n to à c ro m ia , a p a le ta é re s trita . J o g a m o s
g e n e ris ” q u e Ibes c o n fe re m u m a p e rs o n a lid a d e d is tin ta fra n c e se s n e sse p e río d o , e m g e ra l, c o m o a z u l, o v io le ta ,
c o n f r o n ta d a c o m s e u s c o n g ê n e re s p o rtu g u e s e s , h o la n ­ o v e r m e lh o ,1o a m a r e lo . P o ré m , h á q u e a s s in a la r o s
d e se s, in g leses e b e lg a s . azuis, v e rm e lh o s e v io le ta s “ b o r r a d o s ” , a e x e m p lo d o s
N o q u e d iz re s p e ito a o s fo rn e c e d o re s d e s ta e a m - s e : “ b o rr õ e s ” a z u is n a fa ia n ç a fin a , o q u e a p e s a r d e
a fa m ília F o u rm a in tra u x d e D e s v re s , n o P a s d c C a la is , c o n s titu ir fa lh a té c n ic a , n ã o d e ix a d e a g r a d a r n u m a
o g r u p o fr a n c o -a le m ã o V ílle ro y -B o c h c o m fá b ric a s n a v isã o d e c o n ju n to . Q u a n to a o s ta m a n h o s d o s a z u le jo s
F r a n ç a , L u x e m b u rg o , A le m a n h a e a lh u r e s , e S a rre g u e - s ã o eles d e re g ra d e 1 1 x 11 c m e n ã o s ã o u tiliz a d o s
tn in e s ju n to a S tra s b u rg o , n a A ls á c ía . A lin h a m -s e a in d a o a lto e b a ix o re le v o s . A in d a n o fim d e s ta fa s e a p a r e ­
o u tr a s fá b ric a s q u e ta m b é m e x p o rta v a m p a r a o B ra sil c e m o s a z u le jo s e p la c a s c o m n u m e r a ç ã o d o m ic ilia r
c o m o L e v e i M i n e t, B lin F rè r e s , T a u p tïl P o n c tio n , ( r e ta n g u la r e q u a d r a d a c o m fu n d o azul c a lg a ris m o
C h o isy le R o y , B o u la n g e r, L o n g w y , e tc. b ra n c o o u o v a l c o m fu n d o b r a n c o e a lg a ris m o p r e t o ) ,
N o se g u n d o C a p ítu lo d e s te e s tu d o ire m o s n o s e d e r u a s c o m le tr a s d e fo rm a .
e s te n d e r s o b r e a q u e le s p rin c ip a is fo rn e c e d o re s , n o s O se g u n d o p e río d o d a a z u le ja ria fra n c e s a é
in te re s s a n d o n o m o m e n to a p e n a s p e la s c a ra c te rís tic a s c a ra c te riz a d o p e lo s “ A r t- N o u v e a u ” c a v a ria n te d o
d a p ro d u ç ã o fra n c e sa . “ A rt- D e c o ” . E s ta b e le c e -s e u m a ru tu ra n o c a m p o
P re lim in a rm e n te h á q u e s e d is tin g u ir n a q u e la té c n ic o e o rn a m e n ta l. P a ra le la m e n te a o s siste m a s
p ro d u ç ã o d o is p e río d o s d is tin to s : o p rim e iro d o a r te s a n a is e s e m i-a rte s a n a is s u rg e o p ro c e s so in d u s tria l
c o m e ç o d o sé c u lo X V I I a té p o r v o lta d e 1 8 7 0 , q u e se im p õ e , e m p re g a n d o , in c lu siv e , n o v a s p a s ta s ,
s e g u in d o -s e o o u tr o a té o c o m e ç o d o s é c u lo X X , c o m o a fa ia n ç a fin a ( t e r r ç d e p ip e ) ,
e n c a m p a d o p e lo “ A r t- N o u v e a u ” e “ D e c o " . C o m re fe rê n c ia à s fo rm a s g e o m é tric a s , d e ix a m -s e
N a p rim e ira fa s e d e v e -s e r e s s a ita r q u e , e n q u a n to d e la d o a s c o m b in a ç õ e s d a s lin h a s re ta s e a n g u lo s a s
n a In g la te r ra d a v a -s e p re fe rê n c ia à s n o v a s p a s ta s , a h is p a n o -m o u r is c a s p a ra a s su a v e s c u rv ilín e a s in s p ira d a s
F r a n ç a se a p e g a a in d a ao s “ c a rr e a u x s ta n n ifè r e s ” , ou d o s p e rs a s, e m q u e o e le m e n to lin e a r s e d e s e n v o lv e
se ja , a o s a z u le jo s e s ta n ífe ro s d a fa m ília d a fa ia n ç a , cm p re d o m in a n te m e n te e m c u r v a , h a rm o n io s a e ritm ic a ­
q u e a p a s ta e ra d e b a r r o c o z id o re c o b e r ta d e um m e n te . E q u a n to a o c a m p o d e c o ra tiv o , a o c o n tr á rio
e s m a lte o p a c ific a n te à b a s e d e e s ta n h o , e q u e c o n fe ria d a p rim e ira fase, é d a d o ê n fa s e a o p la n o lim ita d o
u m a e s p e s s u ra m a is p ro n u n c ia d a a o c o r p o d o a z u le jo . c o m p a in é is o rn a m e n ta is c u jo s m o tiv o s se p ro je ta m
N e ste p a r tic u la r s ã o b a s ta n te e x p re ssiv o s o s a z u le jo s d e a lé m d a s u p e rfíc ie d e u m só a z u le jo , m as vem a se
S t. H e n r y d e M a rs e ille , c u ja p a s ta é tã o v e rm e lh a q u a n to c o m p le ta r n o p a in e l.
a s te lh a s d a m e s m a fá b r ic a e x p o rta d a s p a r a o B ra sil. Q u a n to a o s o rn a to s , p r e d o m in a m a s fo rm a s
O u tro a s p e c to c a ra c te rís tic o d e ss e p e río d o é a n a tu ra is c o m o d e s ta q u e p a r a a s flo re s (lír io s , n a rc i­
fa tu ra q u e c o n v e n c io n a m o s c h a m a r s e m i-a rte s a n a l, em so s, a m a p o la s , e t c .) , já q u e o " A r t - N o u v e a u ” ta m b é m
q u e s ã o e m p re g a d o s s is te m a s a. q u e j á n o s re fe rim o s é c o n h e c id o p o r e stilo " f lo re a i” , e p a r a a s a v e s, c o m o
d e “ fa n ta s m a ” c d e “ tr e p a ” n o a c a b a m e n to d e c o ra tiv o . cisn e s, p a v õ e s, fa isõ e s, p á s s a ro s e fig u ra s, c o m o
Is so p e lo m e n o s a té m e a d o s d o sé c u lo . Q u a n to a o s n in fa s, s e re ia s , e tc.
m o tiv o s h á u m a p re d o m in â n c ia m a rc a n te p e lo s d e se ­ N o to c a n te ã c ro m ia h á p re fe rê n c ia p e lo a z u l,
n h o s g e o m é tric o s e m q u e a p a re c e m c írc u lo s , p a r a le lo ­ v e rd e e o c re c o m e s m a lte s tra n s lú c id o s , q u e c o n fe re m
g ra m o s, o c to g o n e s , lin h a s p a ra le la s , c ru z a d a s — à s a im p re ss ã o d e p ro fu n d id a d e . Q u a n to à s d im e n sõ e s,
v e z e s c o m in te rc a la ç ã o d e flo re s o u fo lh a s n o s c ru z a ­ p a ss a m e la s d o s 11 x I I c m d o p e r ío d o a n te r io r ,
m e n to s , e tc ., e tc . C o n q u a n to n e ssa s c o m b in a ç õ e s p a r a o p a d r ã o in te rn a c io n a l m a is u s a d o d o s 1 4 x 14
g e o m é tric a s se ja u s a d a a té c n ic a d o “ p ia n o lim ita d o ” , c m e v o lta m a s e r u tiliz a d o s o s b a ix o -re le v o s s o b o
e m q u e c a d a a z u le jo a c o p la d o a o u tro s p ro m o v e u m a p ro c e d im e n to h is p a n o -m o u ris c o d a a re s ta .
im p re s s ã o d e c o n tin u id a d e ria su p e rfíc ie re v e s tid a . O u tr o a s p e c to d esse se g u n d o p e río d o d a a z u te -
M a s o q u e re a lm e n te é p o sto e m e v id e n c ia n a d e c o ra ­ ja r ia fr a n c e s a q u e m a is se d e s ta c a e q u e to m o u um
ç ã o é o e m p re g o a fu n d o d a d e c o ra ç ã o p o n tilh a d a . im p u lso in v u lg a r c o m o “ A rt- N o u v e a u ” — foi o d o
C o n q u a n to d a e x istisse a n te rio n m e n te c o m o s h is p a n o - e m p re g o d e c a rte ia s e p la c a s c e râ m ic a s q u e iria m
-m o u ris c o s, m a s a p e n a s c o m o e le m e n to s e c u n d á r io e c o n ju g a r e m si d o is o b je tiv o s .
c o m p le m e n ta r, n a d e c o ra ç ã o fra n c e s a lh e c d a d o O p rim e iro , d e n tr o d a fu n ç ã o tr a d ic io n a l m e ra -
d e s ta q u e p rin c ip a l. A c re d ita m o s q u e esse m o tiv o m en te d e c o ra tiv o , o o u tr o n e la s in s e rto a p r e s e n ta n d o
d e c o ra tiv o te n h a -s e in s p ira d o n a té c n ic a a n tig a d e u m a fó rm u la p rá tic a de c o m u n ic a ç ã o : a d a in d ic a ç ã o
Izrtik, re v iv id a p e lo s h o la n d e s e s e c h a m a d a d c " f a n ta s ­ e a d o a n ú n c io . F .stam o s n a é p o c a c m q u e T o u lo u s e
m a ” . C o m o já d is se m o s , c o n siste n u m c a r t ã o o u tela L a u tre c p in ta v a c o m e fe ito e x tr a o rd in á rio c o s s e u s
p e rf u ra d a c o m “ p o n to s ” p a r a q u e o p ó d c c a rv ã o d e ix e c a rta z e s a b rin d o u m n o v o c a m p o p a r a a p ro p a g a n d a ,
“ p o n tilh a d o ” n a p e ç a o d e lin e a m e n to a s e r p in ta d o p e lo e o s c e ra m is ta s n o s b rin d a m co m g ra c io so s e a tr a e n te s
a r tis ta — os fra n c e se s te ria m fic a d o n a p rim e ira fase a z u le jo s e p la c a s c o n te n d o a r r a n jo s flo ra is p o lic ro m o s
d e ss e p ro c e s s o , c o lo r in d o a p e n a s o s “ p o n to s ” e c o m e a in d ic a r c m a rtís tic o s le tre iro s ra m o s d e n e g ó c io ,
isso n o s b rin d a ra m c o m u m in é d ito e s u rp re e n d e n te p ro fis s õ e s , n o m e s d e h o té is , re s ta u ra n te s , a rm a z é n s ,
e fe ito d e c o ra tiv o n a s a rte s a p lic a d a s . V ic e n te N a d a i p ré d io s c v iv e n d a s.

44
o n i e s ta f o r m a d e c o m u n ic a ç ã o m o u ra s e ib e r o -m o u r is c a s , e a s in v e n ç õ e s in g le sa s,
a tra v é s d a c e râ m ic a , p o s ta e m te m o s d ife re n te s tip o s , e n tr e e le s :
u s o tim id a m e n te n a p rim e ira
o m o s a ic o ( c o m p e d a ç o s d e a rg ila c o lo r id a )
fase d o s é c u lo X I X , lim ita d a ã
o e m b u tid o o u e m b r e c h a d o ( “ in la id ” o u
n u m e ra ç ã o d o m ic ilia r e in d ic a ­
“ e n c a u s tic ” )
ç ã o d e lo g ra d o u ro p ú b lic o , sem
o e s g ra fita d o
a trib u to s o r n a m e n ta is , atin g e -se
o e s c u ltu ra d o
n e sta s e g u n d a fase o m á x im o d e re q u in te d e c o ra tiv o e
d e e m p re g o p rá tic o c o m a a m p lia ç ã o d a s d e sig n a ç õ e s. o m o ld a d o ( a l t o e b a ix o - re le v o s )
A c re d ita m o s q u e ta l m o d a lid a d e te n h a se o rig in a d o n o o “ a lic a fa d o ”
u so h is p a n o -m o u ris c o d e in te rc a la r, a in te rv a lo s re g u ­ o “ c o rd a seca”
la re s, ta n to c m p iso s c o m o e m p a re d e s e x te r n a s , e n tre o “ c u e n c a ” o u d e a r e s ta s
“ lo s e ta s ” ( n ã o e s m a lta d a s ) , c o m o e n tr e tijo lo s, p e ç a s o p la n o p in ta d o e e s m a lta d o e m te r ra c o ta , em
p o lic ro m a s v id ra d a s , c o n te n d o e m g e ra l e s c u d o s e m a ió lic a , e s ta n ífe ro
signos d e o fíc io s, c o m o fo rm a d e d a r- lh e s d e s ta q u e e o p la n o p in ta d o e e s m a lta d o , e m lo u ç a v id ra d a ,
v a lo riz á -la s c o n tr a u m a su p e rfíc ie n io n o c r o m a e fo rn e ­ p o rc e la n a , fa ia n ç a fin a , p h im b íf e ro
c e r u m a in d ic a ç ã o . O u a in d a a c re d ita m o s q u e o s o lito g rá fic o
fra n c e se s U n h am -se in s p ira d o n o s d e L a R o b b ia , o s o d e c a lc a d o
q u a is, c o m o e m p re g o d o s " b a c c in i” , s o u b e ra m d a r urn o e s ta m p ilh a d o
e x tr a o rd in á rio re a lc e à s p la c a s c e râ m ic a s is o la d a s,
o u tro s .
a d s trita s p o ré m , a p e n a s à fu n ç ã o o rn a m e n ta l.
D e v e m o s a in d a o b s e r v a r q u e n o E x tre m o O rie n te
O fa to é q u e ta n to n a E u ro p a , o s e sp a n h ó is,
ta m b é m s e fa b r ic a v a m a z u le jo s . N a C h in a , e m d iv e rso s
c o m o na A m e ric a , os m e x ic a n o s (N o v a E s p a n h a ) , já
re in a d a s , a p a re c e m e le s c o m d e c o r a ç ã o F a m ília R o s a
u tiliz a v a m a q u e la s in d ic a ç õ e s em lo g ra d o u ro s p ú b lic o s
e o u tr a s d e d iv e r s o s ta m a n h o s . A o q u e p a re c e , seu
e re sid e n c ia is, e n ó s b ra s ile iro s, n o N o rte , a in d a a s
u s o e r a re s trito e e r a m o s a z u le jo s m a io re s m a is e m p r e ­
e x ib im o s d e fa tu ra p o rtu g u e sa .
g ad o s c o m o d e s c a n s o d e b u le s e re c ip ie n te s q u e n te s .
N u m re s u m o g lo b a l, a s té c n ic a s u s a d a s c o m re fe ­ N o S íã o , s ã o o s a z u le jo s b a s t a n te u tiliz a d o s n a d e c o ­
rên cia a o fa b ric o d o la d rilh o , m ais p a rtíc u la rm e n te d o ra ç ã o e x te rn a d e te m p lo s e m o n u m e n to s , ta n to d e
azu le jo , e n g lo b a n d o as m e d ie v a is, a s e u ro p é ia s , as
p a re d e s c o m o d e friso s , o b e lis c o s , p in á c u lo s , e tc .

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B I B L I O G R A F I A

(1) E lizabeth S. E anes — " M e d ie v a l T ile s B ritish M u s é u m " (7) F. S. Mayer -— o b . c il.
— London, 1968.
(8) JoAQUtM B£ Vasooncellos — o b . c it . pág, XX.
(2) Yvonne Brunhammer — “ C é ra m íg iíM d ite s d e K o u b a -
cha" in C a h ie rs de la C é ra m iq u e , n.° 5 c Charles ( 9 ) P ro f. Horst U do K noff — " A z u le jo s a n tig o s d a B a h ia "
Kilfiír, " L e s C é ra m iq u e s M u s s u lm a n e s d 'A n a to lie ” , — m re v . A P C D , v o l. 27, n ,° 7 — S a lv a d o r, 1973.
idem n.° 4.
(1 0 ) Y vonne Brunhammer — "T he N in e te e n T w e n tie s
(3) ANTÔNIO 5ancho Corua i MO — “La Cerâmica Andaluza" S ty le " — L o n d o n , 1969.
— U n iv e rs id a d e de Sevüha — pâg. 9 1— 1948.
(11) H udson Moore — " T h e O ld C h in a B o o k ".
( 4 ) C a r lo s C m — “Azulejo".
(1 2 ) V icente N adal Mora — "Azulejos En El Rio de La
( 5 ) F . S. Mayer — "Manual de Ornamentación" — E d, Plata", U n iv . B u e n o s A ire s , 1949.
GiÜ — B a rc e lo n a , 5 ,a ed . — 1971.

( 6 ) B r u n — ■ "Estilos de ia Decoracion”, 6.a c d ., B a rc e lo n a , Arthur Lane — "A Guide to the Collection oj Tiles"
1970. Londres, 1960.

45
AZULEJOS — LADRILHOS
Ocidentais (InElateirít) (Medievais)

IN G LATERRA - - Mosaico de terracota colorida formando o


piso {detalhe) d guisa de ladrilho — .século X1U — Idade Média.
Cortesia dos "Trustees af ;he Brírish Museum".

23

INGLATERRA — Azulejos medievais — século X V (Brístol).


Cor resta dos " Trustees of rhe Brilish Museum".
Séc, X III AZULEJOS — LADRILHOS
(Medievo inglês)

Esta estampa rs u ■’ uma série de amostras de modelas dos azulejos Í ladrilhos fabricados em tetra-
cota de diferentes cores, descobertos na Abadia de Rievtuiix cm North Yorkshire,
Cortesia dos "Tntste.es of thc Brítish Mitseum",

47
a z u l e jo s
Ib e ro -M o u risc o s

Tipo clássico "poma de diamante” (cravo) século X V f, Scvilha.

Cortesia do Museu Gonzáíez Marti — ■ Valência.

Diversos modelos de corda seca — arestas e azulejos planos —*


o do centro com as armas de Leão ê de arestas, os dois ao
seu fado, são de Talavera, século X V /, planos.


Séc. X V “O BRASIL E A CERÂMICA ANTIGA”
A z u le jo s ita lia n o s
( In f lu ê n c ia m o u ris c a c g ó tic a )

26

Todas eslas peças de diferentes formas (quadrada, retangular,


hexagonal) sofreram ainda da influência slculo-muçulmana ou
ibero-mourisca, levada <J Itália, tanto pela Sicília, como através
da Maiorca, seja pela forma, sefa pela aplicação do lustre.
Os quatro azulejos rl direita em azul e vermelho sobre funde
branco, possuem reflexo metálico misturado ao vermelho. São
azulejos de pequenas dimensões, tipo " t a t e i o ” , e provavelmente,
serviram de intercalação em composições de piso o u parietal.
O motivo central apresenta uma estrela com pontas. A estrela
como símbolo e decoração é usada desde a remota Antigui­
dade — a estrela de cinco pontas, era o símbolo de Salomão
e dos cinco livros de Moisés. Devem ser originários de Faen.za
e fabricados entre 1470/1430, pois existem peças eom o mes­
mo motivo central, embora de dimensões maiores — (Vide
John Scott Taqgart — llalían Maiólica — Londres — pág. 10)
embora a decoração a lustre fosse uma das características de
Cubbio. Coleção A, Itnbcrl.

Estes dois azulejos em forma triangular têm urna faixa com


meandros ou tranças contornando o campo azul, sobre o qual
pousa urn crescente ocre (Brasão de Armas da Família Piccoto-
mim) e provém da Biblioteca de Pio II em Siena (ref. Matlhie-
sen, M l 56). Siena. século X V. Coleção A. Irnbert.

listes três azulejos em azul e branco contendo letras góticas,


apresentam a forma dos "alfardons" de Valência e Manizes,
e faziam parte de um grupa mosaico de quatro "alfardons" e
um azulejo (quadrado) no centro, o qual trazia o motivo prin­
cipal: escudo de armas, signos ou outros desenhos. Acredita­
mos que esses azulejos tenham sido fabricados em Veneza
e sejam cópias similares de Valência, pois peças desse formato
e também em letras góticas compunham o antigo pavimento
da Igreja de Santa Helena, encomendado em Veneza em
1474, descoberta deste século (Vide Manuel González Marli —
Cerâmica dei Levante Espanhol, torno 11, púg. 609, fig. 877).
Todas essas peças fazem parte do acervo do Museu de Arte
dc São Paulo. Cortesia de Pictro Maria Bardi.

49
Séc. X V I a z u l e jo s it a l ia n o s
(Renascença)

27

O painel do alio e os azulejos avulsos de baixo dão-nos uma


exuberante demonstração da guinada operada na decoração na
Itália. Os motivos que durante séculos de tradição vinham
sendo impressos na sua cerâmica, são relegados e adotado
com vigor o novo estilo, que lhe brota das entranhas na
Renascença de seu passado, tão gloriosa na guerra como bri­
lhante nà arte, ainda presente nos monumentos para renascer
na mente e na sensibilidade dos grandes mestres e gênios c
impor-se à admiração dos contemporâneos e dos pósteros.
A decoração de cada peça é de forma geral a do "grotesco",
que no novo repertório renascentista relega as laçarias e os
arabescos mouriscos a segundo plano, para c o p ia r os desenhos
encontrados nas criptas e nas grutas descobertas do tempo do
Imperador Tilo.
De notar, porém, que ainda no século X V I (começo), os
italianos não se haviam liberado das formas mouriscas, pois
o painel de cima é típico ibero-mourisco, composto que é de
quatro alfardons (azulejos hexagonais que vieram do Médio
Oriente, Iznik, Kutaia, etc.) com um azulejo quadrado ao centro.
Os dois conjuntos apresentam (painel de cima e as peças agru­
padas de baixo), belíssimos desenhos de fundo azul, e também
de fundo ocre-amarelo, sobre os quais são pintados os deli­
cados " grotescos" renascentistas. Os azulejos são de fabrico
de Siena e do século XVI. Coleção A, Irnbert — Cortesia de
Pictro Maria Bardi —- Museu de Arte de São Paulo — Assis
Chatcaubriand.

50
Sécs. X V I/X V il A Z U L E J O S O R IE N T E M É D IO
( P é rs ia e T u rq u ia )

Os azulejos de cima fazem parle de um painel iproveniente da Pérsia (Escola de íspaão) — principias do sé­
culo XVI, O seu desenho, cm que sobressai o movimento linear urahescado, lembra fortemente os padrões
de tapetes da mesma região. O painel de haixo é turco, originário- de Iznik (séculos XVI ou XVII) e de novo
revela a exímia arte de valorizar o elemento floral na decoração, com rara elegância. Ambos os painéis são
coloridos, —. Cortesia da Fundação Calouste Gulbenkian.

51
Séc. XV III AZULEJO S CHINESES
(P o r c e la n a )

29

Os azulejos de diferentes tamanhos, eram mais usados na


China, como revestimento parietal, mas serviam também para
descanso de pratos. — Cortesia de Odiia Mathias.

52
Sécs. XVI/XVII AZULEJOS DO ORIENTE MÉDIO

Paine! da famosa Mesquita Azul (The Elue Mosquée) em


Istambul,

53
StV. X V I AZULEJARIA NA NOVA ESPANHA

31

Ao alio, visão de conjunto de uma casa de esquina do Centro


da Cidade do México, construída no século A'Ví, que apre­
senta ainda grande parte de seus painéis intactos, feitos em
Talavcm Pobiana, na mesma época, em azul c branco.
Obedecem eles cm visão de conjunto um movimento geomé­
trico intercalado cm cercaduras brancas, porém no exame do
detalhe, vcrtfica-se nns desenhos das gregas e frisos movimen­
tos lineares fitoformes, semelhantes às "faixas barrocas lusi­
tanas dos Sciscc/uas". Acreditamos que de começo a decoração
era toda cm azul e branco e que posteriormente foram intro­
duzidos elementos de outros feitios e cores para complemen­
tar a destruído. Há indícios que esses azulejos do século K Vl
joram os primeiros a serem colocados em paredes do Conti­
nente Americano. — Arquivo do Autor.

54
séc_ x V I l PUEBLA — MÉXICO
ARRANJOS DE AZULEJOS
(Convento Santa Rosa)
(cozinha)

32

Fogão.

Abóbada da cozinha.

Recanto da cozinha. Dispositivo para manter aquecidos os alimentos.

55
Séc. XVII PUEBLA — MÉXICO
Arranjos de azulejos e lajotas
(Convento de Santa Rosa)

Versão americana da decoração parietal ibero-mourisca, COtn


"iosetas" formando o fundo marrom monocrom o e dando
destaque à intercalação dos azulejos simetricamente aplicados.
Péiio.

56
Séc. X V II PUEBLA — MÉXICO
(Convento de Santa Rosa)
DETALHES DO INTERIOR
Museu José Luiz Betlo Gonzulcs. Nole~.se o apoio (cubo) de
azulejos das vigeis do salão.

3S=A 36

Praça “Pletzuelo de los Sapos" século X V 11 (dentro de uma


Museu lo s ê Luiz Bello Gonzales (Pátio). placa Oval de faiança).

58
stó. X V U / X V l i I PUEBLA — MEXICO
( Azulejaria Estamfera) 37

M meti de Âne Popular Poblano (ex-coiivcnfo Sta. Rita).

59
Séc. X V ll AZULEJOS PORTUGUESES

38
■ Kf-

( P a lá c io d o s M a rq u e s e s d a F r o n t e ir a )

Pormenores do siihar do século X V II da sala de jantar do


Palácio dos Marqueses da Fromeira em que são designados
os vultos portugueses mais em evidência em batalhas como
a de M onlijo e outras. Lêem-sc nestes dois conjuntos os nomes
do Duque de Cadaval, A fonso Furtado, Diogo de Mendonça,
Conde de Mcsquilel, D. Pedro Dalrneidn (sic), ctc.
Cortesia da Eterna. Família dos Marqueses da Fronteira.

60
Sécs. X V II/ X V tl í AZULEJOS OCIDENTAIS
(Portugueses)

39

Século X V fl — Museu do Àzuleio — Lisboa — “Painel de frontal de nitrir com


representação de flora c fauna de influência persa" — primeira m a n d e do século X V II.
Correria MilSéit Nacional de A rte Amiga.

Século X V U Í — ’‘Abanada” constituída por cestos


de flores com aves, Gabriel dei Barco (?) cerca de
1700 D.P. I
Cortesia do '•!u.c:i do Azulejo e do Nacional de
A rte Antiga.
Sécs. X V U lX IX AZULEJOS PORTUGUESES

40’

Este belo silhar cujo padrão é com posto de quatro pedras, representa uma das múltiplas variam
fes do tipo dê tapeie conhecido por mussuroca cu pinhu c obedece ainda à influência mourisca.
Udo Horst K n o fl em: “A zulejos na Bahia**, 1978, no preto , fig. 2 reproduz peças quase semelhan­
tes encontradas no Brasil. Porém o que este silhar apresenta de mais notável é o harmonioso
Qrrunjo duplo do remate: composto de um friso simples e de uma cercadura rara e notável com
os desenhas típicos do m otivo conhecido por “Rendas de Coimbra”, que é corrente na cerâmi­
ca antiga lusitana. Luiz À. de Oliveira, em Exposição Retrospectiva de Cerâmica Nacional (Viana
do Castelo, 1915) diz à pâg , 104, que aquele motivo também aparecia cm cercaduras de azule-
jos. Outro ecramógrafo Dr. Virgílio Correiat em “Azulejos datados’' (1916) acredita que esse
m otivo seria inspirado e copiado dé Veneza, onde era também usado. Acreditamos que essa versão
tenha sua procedência, pois sabe-se que antes dos Descobrimentos as embarcações venezianas
cruzavam Gibraltar, tocavam regularmente tio porto dc Lisboa e iam até Roterdã, integrantes
que foram os venezianos da vasta rede de abastecimento e de troca dc mercadorias na Europa,
fazendo parte da fam osa Liga Hanseática, que por terra e por mar promovia o circuito das
merendo rias do Ocidente e parte do Oriente, O silhar ê da Quinta de Santo Antônio, M afta —
Portugal. —- Cortesia de José Maria Jorge.

41

Azulejos avulsos branco e azul, na técnica da faiança, de


diversas padronagens e fina execução do final do século X IX ,
exportados para o Brasil (15 x 15 cm).
Cortesia de Nícia Camargo (S. Paulo).

62
Sécs. X V lll/X lX A Z U L E J O S P O R T U G U E S E S E E S P A N H Ó IS
De Diversos Períodos

42 43

O painel (pólkrom ado) à esquerda, ao alto, com papagaios


ladeando linda jarra cheia de flores, bem ao gosto da Renas­
cença, com carrancas e suportes compostos de sátiros, é de
fabrico português de Lisboa, 1640 e fe z parte do Convento
da Esperança. O painel ê direita traz as armas reais espanho­
las, fabrico espanhol de Valência, cerca de 1820, A s armas
singelas espanholas a partir de Fernando e Izahel — os reis
católicos — que ostentavam em quatro quartéis, duas torres
e dois leões e simbolizavam a união dos reinos ibéricos (salvo
o Portucalense), fo i sofrendo no correr do tem po numerosos
acréscimos representativos de novas dinastias dos soberanos
que se iam sucedendo no trono, razão por que representam
como um mosaico dc signos heráldicos, sobretudo a partir de
Felipe 11, sempre constando, porém, a presença das Torres e
dos Leões, como pode-se observar no centro, entre três flores
dc lis de prata sobre campo azul (alusão aos Bourbons). Os
quatro azulejos avulsos policrontados da baixo, csUsntferos,
dão uma pequena idéia de versatilidade dos artistas catalães,
estes são da medida de J3 x 13 cm e pode-se localizar na
Bahia e em Recife azulejos dessas dimensões com padronagem
diferente, da mesma origem (Barcelona).

63
Séc. X X A Z U L E J A R I A E P L A C A S C E R Â M IC A S F R A N C E S A S

46

O pointl de cima é uma demonstração da violai la guinada


de estilo que sc operou na Europa com a adoção da Arte
N ova e a luga ao rebuscamenlo. N o caso em apreço, este
beio painel francês feiro nas Faïenceries de Sarreguemines
rescende ao gosto extremo oriental com pessegueiros, folha­
gens e aves tratadas dcUcadamente cm tons suaves. O painel
faz parte da coleção do Museu do A zulejo (Lisboa).
Cortesia do Museu Nacional de A rte Antiga.
A jotografia de buixo exibe amostras de placas que fazem
parte do grande catálogo da Fábrica de Sarreguemines, de
1901, c mostra o partido que os ceramistas franceses souberam
tirar também do emprego da cerâmica, que, além de sua
função ornamental ou utilitária podia servir com eficiência
prática e graciosa também de elemento de comunicação, con­
tendo arranjos artísticos em volta de letreiros indicativos de
ramos de negócio, ofícios, etc.
Cortesia da Diretoria da “Faïenceries dc Sarreguemines“.

64
Sic. X IX AZULEJOS INGLESES
(eslibs diverses)
(13 a IS cm)
4?

A zu itjo (tamanho aumentado) de fabrica de M in ton {marca­


do corn o caritnbo que esreve cm usei de 1830 a 1918) e corn
as palavras M in io n s — China-Works-Stoke on Trcns. Trata-sc
da série de motivas orientais fabricados pela firm a, sendo que
o modelo estampado, cm azul e branco, representa o clássico
motivo do "W illow Partem" ou " Pom binhos", super usado
no pó de pedra inglês. 0 azulejo em apreço corresponde
ainda á segunda metade do século X IX .

O azulejo de baixo tem a marca B -3 W (7), fundo murrain O azulejo poticronmdo compartimentado da esquerda tern no
escuro, cercadura marrom avermelhado, desenhos em argila verso n ° 5 e é atribuído ao finai do século. O da direita com
branca. E uma imitação no período Victoriano dos azulejos flores e folhagens, tem o R d n.° 109593, o que índica tam ­
embutidos da Idade Média C'encaustic tiles"), em que eram bém que é do século passado. O azulejo da segunda fila d
calcados desenhos com anulas de cores diferentes sobre o esquerda é monocrom o verde claro com lírios e está marcado
fundo de barro (Vide Julian Barnard — I'ictori.'it: Ceramic T. Hughes &. Son Long port — England n.° S2 e foi de dem o­
Tiles — London, 1972 — pop, 6). O azulejo da esquerda em lição cm lie i ror. O azulejo da direita cm azul e branco t em
sépia tem a marca M inion's e o da direita em azul esrd mar­ a marca completa de Minton.
cado Davenport e i proveniente de Manaus. A rquivo do A utor,

65
Sëc. X IX A Z U L E J O S E F R IS O S D IV E R S O S
( A rt- N o u v e a u )

43

O primeiro azulejo tl esquerda fundo verde e folhas marrons,


tem marcado England e R* 190.032, o da direita (cabeça) é
do fabrico de J . I, G . Low (mais ou menos 1885) e traz no
verso a palavra excisa "F laxm an". Existe similar n o Smithso­
nian Instituir, Washington D C (Vide Julian Bernard , Victorian
Ceramic Tiles, London, 1972). O azulejo de baixo ü esquerda,
com rosas, está marcado M inton's C, nP W (1865) e o da
direita não traz marca alguma. (MaweT).

O iriso da esquerda ê deste começo de século e vem m anado


''M ude in Bclgium", os outros são ingleses, porem sem marca
O friso da segunda linha à direita é de construção de Soo
Paulo, assim com o o de baixa*

O azulejo â esquerda de fun d o azul escuro com lírios em


sub tom. está marcado “M ”, o d a . direita de fundo esverdeado
e os dois de baixo têm marcado apenas **Engtand’\ Peta
originalidade dos motivos c esmero da execução moldada e
do vidrado forte, acreditamos serem de fabrico de M inion ou
Mawe,

66
Séc. XIX AZULEJOS INGLESES
Arl-Nouvcau e Art-Dcco
(13 a 15 cm)

49

Desses azulejos, somente o tht direita ao alto tem n marca


" A . M . England”. os outros somente "E ngland" o que indica
que seu fabrico ocorreu ainda no século X IX . Os dois de
cima. um foi encontrado em Recife (o da esquerda) e o da
direita é proveniente de São Pauto.

Os dois de cima em decoração cnchacotada, policromade..


estão marcados "England", o de baixo à esquerda é prove­
niente do Recife e está marcado "A . M , England" e o da
direita tem a marea T A S LTD-England.

Estas duas pedras de sóbria, mas de forte interpretação estilística do ART-DF.CO.


são provenientes de Belém, a da direita tem <J marca " M U STER " 408. A rquivo do A utor.

67
VI - FAIANÇA - MAIÔLICA “MEZZA - MAIÓLICA"

odemos vislumbrar pelo que vi­ do ano de 1350, escreve em seus relatórios dc viagem
mos sobre a louça vidrada e os que se fabrica em Málaga bela cerâmica dourada que
azulejos pintados e esmaltados, o é exportada para os países mais distantes. A retomada
que seja faiança ou a maiótica. de Málaga em 1487 pelos cristãos não interrompeu a
Na realidade, parte dc sua histó­ fabricação. Os donos c artesãos mouros lá ficaram e
ria já vem relatada quando abor­ transmitiram aos cristãos os seus processos. O segundo
damos os azulejos cstanífcros centro de fabricação era Maiorca, de onde eram expor­
hispano-mouriscos. tadas faianças tão belas que os italianos as preferiam
No dizer dc Aristidcs Pileggi, “faiança é feita com às mais lindas baixelas de estanho, e cias eram chama­
argila de grande plasticidade, à temperatura reduzida. das de maiólica. As fábricas dc Inca, pequena cidade
É porosa e pouco resistente e recoberta de esmalte do interior dc Maiorca (o museu de Cluny, possui um
opaco à base dc compostos de chumbo e estanho, o prato do século XV) e as de Iviça, gozaram também
que a torna mais dura e sonora. Origem Facnza 1460, de uma grande reputação (seu estilo era o oriental
onde aparece sem essas faianças esmaltadas, daí se tradicional, com caracteres ilegíveis copiando mal as
espalhar por toda a Europa, inclusive Portugal e letras árabes e o lustre tinha cor vermelha cobreada
Espanha”. E ainda nos elucida: “Maiorca fez as pri­ das faianças persas mal cozidas). Em Valcncia tam­
meiras peças do gênero, levam em geral dois cozi­ bém se fabricava louça idêntica, porém com desenhos
mentos”. de águia de São João e versículos do Evangelho, para
Vejamos corno sc pronuncia outro autor, também as distinguir das de Málaga. Fora Manises e outros
sul-americano, J. Saavedra Mcndez: “é uma espécie centros, não se pode deixar de lado Sevilha, cujas
de terracota, ou louça de barro cozido, mas recoberta fábricas, no século XV e ate o XVI, crarn ainda diri­
de esmalte opacificante e às vezes com reflexos metá­ gidas pelos muçulmanos ou descendentes destes, como:
licos. Diz-se também de certas louças italianas fabri­ Aii, Hamete, Mahomad, Mcdina, etc.”.
cadas segundo o gosto dos ateliês introduzidos na A exportação dos produtos cerâmicos íbero-
Itália pelos árabes ou pelos espanhóis das Ilhas -mouriscos, tanto objetos de adorno, cerâmica utilitária
Baleares”. ; azulejos, csparramava-se por diversas nações euro­
Vejamos reputado autor francês do século passa­ péias. Existiam azulejos cstanífcros em Avignon no
do, E. S. Auschcr, que diz: "quando a terra porosa se Chateau Neuf du Pape, em Tolosa, em Narbona, nos
cobre de um verniz branco opaco à base de estanho, Pireneus e até em Utrecht (1375-1400) na Alemanha,
nós passamos a designá-la faiança”. produtos esses oriundos de Paterna, próximo dc Valen-
O mestre Theodore Deck, que foi diretor da Manu­ ça com a decoração conhecida por “Família verde e
fatura de Sèvrcs e exímio ceramista diz: “Antes de violeta”, que caracterizou durante largo período a
mais nada, a palavra faiança é um anacronismo, todo produção daquele centro famoso. No Vaticano (1494)
o mundo sabe, pois os persas fizeram faiança muito e em Nápoles (1446) foram usados também azulejos
antes dos fabricantes de Faenza ( . . . ) Os árabes, hábeis de faiança hispano-mouriscos R).
em se aproveitar das artes e da indústria dos outros, Mas voltemos às considerações em si sobre
aprenderam dos persas a profissão dc oleiro, fabrican­ faiança e maiólica. Jeannc Giacomotti, conservadora
te de faiança, e a importaram nos países que eles con­ do Museu de Louvre tJ), nos informa: “Quanto à palavra
quistaram na Europa. Do começo do século oitavo maiólica, sabe-se que estava em uso desde o século
ao fim do quinze a Espanha foi em parte ocupada XVI, mas no começo aplicava-se somente às ricas
pelos muçulmanos ( . . . ) Málaga, Valência, Manises, 'aianças lustradas (com reflexos metálicos) importa­
exportavam faianças com reflexos metálicos ( . . . ) . As das da Espanha peios barcos da Ilha Maiorca, em
Ilhas Baleares possuíam diversas fábricas importantes, italiano maiólica, antes dc tomar por extensão seu
mas não se conhecem peças anteriores a 1230. O caráter genérico, não será tratada senão de maiólica,
comércio destas ilhas com a Itália era muito intenso. a faiança propriamente dita, quer dizer, a cerâmica
No século XV, é provável que a palavra italiana com a cobertura de esmalte estanífero e decoração
maiólica fosse derivada de Maiorca ( . . . ) eu me inclino pintada”.
entáo a pensar que os antigos ceramistas italianos Georges Fontaine, inspetor geral do ensino de
haviam adquirido os seus processos dos Orientais”. Belas Artes cm França <4> é taxativo em sua classifi­
Diz-nos Marcei D i e n l a f o y “A Espanha não cação. Repitamos aqui, uma vez mais, a definição de
emprestou dos persas somente a fabricação e o uso dos faiança: “E uma terracota recoberta de um esmalte
revestimentos dc faiança. Ela recebeu também a parte opaco a base de estanho”.
de dar ao esmalte o lustre metálico. Iben Batoutah, que Dizia ainda Arthur Lane, o saudoso diretor do
tinha vindo de Tânger e chegado a Málaga por volta departamento de Cerâmica do “Victoria and Albert

69
Museum” : “Faiança maiólica, louça de Delft {Delft cerâmica desde a ocupação cartaginesa e cujos barcos
ware) — todos três sâo nomes nacionais para uma antes mesmo do século XV, mantinham ativo comér­
modalidade de louça feita antigamente para o uso em cio com a Itália e outros países da Europa.
toda a Europa. É uma louça fabricada a temperatura 4. °) Que a palavra faiança deriva da cidade de
branda, geralmentc amarelada ou cor-de-rosa (a pasta) Faenza que depois dc 1460, tornou-sc o mais afamado
e sua característica principal é a glasura branca opaca e maior centro da produção das maiólicas e passou a
que cobre a superfície do barro, como uma pele” ®. fornecer, junto com outros centros italianos, a faiança
Rematando essa série de pronunciamento de cera­ no resto da Europa.
mistas e ceramógrafos, acrescentamos ainda informa­ 5. °) Que a palavra maiólica, no começo, apli­
ções de Georges Fontaine (ob. ciL), sobre os pro­ cava-se apenas aos ricos artefatos com reflexos metá­
cessos de decoração: “Quanto à técnica da decoração licos importados da Espanha e distribuidos pelos barcos
há que observar dois procedimentos: o chamado de de Maiorca, c que somente mais tarde passou a designar
"grand feu" no qual a decoração é aplicada direta- o produto estanífero em geral.
mente sobre o esmalte enr, seco e pulverizado, a tem­ 6. °) Que tanto faiança como maiólica ou majó­
peratura entre 900° e 1.000°, técnica esta já empre­ lica, são louças técnica e intrinsecamente idênticas:
gada pelos árabes no Oriente muçulmano, na Sicília terracota coberta de um esmalte estanífero branco
(de 827 a 1090 d.C.) e na Espanha (desde o século opaco pintada ou esmaltada com vidrado transparente
X e X I), e a do "petit feu” ou fogo de mufla, de plumbífero ou alcalino, com ou sem reflexos metálicos.
temperatura mais baixa, no qual a decoração é aplicada 7. °) Que existem dois tipos de decoração apli
sobre o esmalte já queimado c a temperatura oscila cada na faiança: a chamada de "grand feu”, de gama
entre 750° e 800°. A diferença prática desses dois pro­ mais reduzida de cores, usada pelos árabes, e a do
cessos é que o primeiro exige maior perícia no dese­ “petit feu” introduzida pelos europeus no século XVIII
nho, apresenta maior aderência do esmalte à peça, com maior paleta c o uso do vermelho-rosa.
embora a gama de cores seja mais reduzida: violeta, 8. °) Que existem também faianças que tem fundo
marrom, preto (de manganês), azul de cobalto, verde colorido quando são misturados óxidos corantes ao
(cobre), amarelo (antimônio), vermelho (ferro). Em esmalte estanífero como é o caso dc algumas faianças
contrapartida, as peças cozidas ao fogo de mufla apre­ italianas (bianco sopra azzurro), das francesas dc
sentam uma paleta mais variada e mais extensa, pois Nevers "fond bleu lápis", Marselha e Montpcllicr
a temperatura mais branda, não inutiliza os óxidos, e (fundo amarelo) holandesas (fundo negro, azul), etc.
sobretudo no século XVIII puderam empregar a O conhecimento do novo processo abriu novas
“púrpura de Cassius", cuja tonalidade vermelho-rosa perspectivas para a decoração na Europa, adstrita até
passou a constituir novo e importante elemento crô- então às limitações da terracota, da mezza-maiólica, da
mico, tanto na faiança como na porcelana chinesa em louça vidrada e do grés.
segunda queima”, Era mais um instrumento, um novo veículo que o
Ainda sobre a evolução histórica da decoração, engenho do homem criava para expressar concreta­
Arnold Gandonct nos informa<6): “O emprego do mente as suas manifestações. Era uma nova superfície,
forno de mufla foi introduzido na faiança, abrindo um um campo novo, depois do “fernis” grego, da “terra
campo mais vasto para a policromia, pelos europeus. sigilata” romana e dos engobes diversos, que se oferecia
É um ceramista de Strasburgo que desenvolve, na ao artista. Correspondia, na técnica pictórica, a passar
França, métodos que aprendeu na Alemanha, isso pelos do afresco ou da pintura mural, rugosa áspera e
meados do século XVIII, introduzindo dois elementos intransponável, para a superfície lisa, alva e móvel dc
novos na pasta: um fundente e um cozimento suple­ uma tela.
mentar, à temperatura mais branda (750° a 800°)”, E a faiança se desenvolveu rápida e intensamente
Com esse extenso arrolamento de conceitos de porque encontrou urn terreno pronto a receber semen­
renomados autores, tanto antigos como contemporâ­ tes, pois que a Europa já tomava consciência de sua
neos, tanto brasileiros, argentinos, como franceses, força e de sua personalidade. Soube adaptar processos
ingleses e espanhóis, abrangendo um período de cem c absorver influxos alienígenas, mas numa demonstra­
anos, acreditamos haver fornecido elementos precisos ção pujante passa a firmar, conforme o país, os estilos
e suficientes para um juízo dos mais completos e atua­ que iam caracterizar as suas produções e marcar a
lizados sobre o que seja a faiança ou maiólica, sua evolução da arte no Ocidente, através dc criações pró­
história, sua técnica c decoração, parte das quais jã prias, adaptações híbridas e influências regionais.
foram abordadas quando tratamos dos azulejos estaní- E a faiança, tanto a artística, como a doméstica
feros. e a folclórica, passa a demonstrar cm suas represen­
Passamos a alinhar as conclusões sobre o que foi tações as facetas peculiares, os pendores inerentes a
possível observar nos textos apresentados e em outros: cada povo ou sociedade. Os temas que exibem aquelas
peças, representam na realidade as páginas soltas de
1. °) Que a base técnica da faiança ou da maiólica,um compendio ilustrado pela mão do homem, um
proveio da Pérsia, assim como o emprego do lustre. documentário idôneo c um manancial inesgotável, um
2. °) Que os árabes a introduziram na Europa,dicionário colorido, que tanto o historiador, o antro­
através da produção hispano-mourisca e da sículo- pólogo, o sociólogo, o crítico de arte, podem manusear
-muçulmana, c que também os navegantes venezianos, como matéria-prima básica c direta para estudos sobre
genoveses, pisanos e outros, trouxeram, através do uma determinada época. Bastante significativo é o con­
Mediterrâneo, aqueles artigos diretamente do Oriente ceito externado por Champíteury O ),. . "Dans cet arl,
Próximo, juntaincnle cora as especiarias, sedas, etc. je lis çomme dans un livre, plus elairement encore”
3. °) Que n palavra maiólica uu majólica derivae chama a faiança patriótica como "faiança falante”
de Maiorca, nas Ilhas Baleares, centro de produção (fayence parlante).

70
Seu valor como testemunho hsstórico-artístico- serem considerados, o artístico e o dos usos e costumes
-cultural, acresce ainda mais, se atentarmos que a da época.
faiança, praticamente, foi a única a acompanhar, pri­ O conjunto heráldico, que tem o nome de armas,
mitiva e eruditamente, a registrar o despertar e o desa­ oferece um vasto campo para variações artísticas na
brochar da consciência artística ocidental e suas representação do virol, do paquife, ou do manteletc,
expressões estilísticas. do elmo, do timbre, do coronel, dos suportes laterais,
Transmitiu as influências atávicas da formação •ou do pavilhão com o seu chapéu e cortinas, das legen­
romana, como expressou as manifestações regionais, das e do próprio escudo, ou de dois escudos quando
interpretou o bizantino e o gótico, assimilou e entre­ se trata de annas de aliança. Mas havia ainda varia­
laçou os temas árabes e orientais, e veio a traduzir ções que não /se enquadravam, nem seguiam as rígidas
soberbamente o magno movimento da Renascença e o regras heráldicas, e embora fantasistas e arbitrárias,
seu desdobramento barroco e rococó, como ainda se não deixavam essas criações, no entanto, de apresen­
faz presente no Neo-clássico, no Arte-Nouveau, no tar harmoniosos efeitos no manejamento de bandeiras,
Deco, etc. escudos, ramagens, legendas, etc. Neste rol incluem-se
Esse fato não ocorreu com a faiança fina e a as “faianças patrióticas ou parlantes”.
porcelana européia que não foram contemporâneas de Mas sob o aspecto dos usos e costumes, o empre­
todos aqueles eventos, pois que só foram criadas na go da heráldica era assaz disseminado cm qualquer
Europa no decorrer dò século XVIIL E ainda como nação européia: havia a heráldica familiar que repre­
fator relevante, é que estas surgem quando a cerâmica sentava as linhagens da nobreza, a eclesiástica abar­
começa a ingressar na sua fase industrial e no flagelo cando o clero, seus dignatários e as irmandades nume­
da esteriotipação, enquanto a faiança por mais dc rosas, a de domínio com as armas de cidades, vilas e
duzentos anos, acompanha a fase histórica da arte freguesias e ainda a heráldica de corporação com os
manual pura, livre e espontânea. símbolos de múltiplos ofícios.
A sua representação, que a faiança se encarregava
Esse fator contribuiu para que ela deixasse, como de reproduzir artisticamente ou não, distinguia, pois,
dissemos, um vasto mostruário, feito pela mão do
o nobre, o prelado, o fidalgo e o artesão dentro da
artista ou do artesão, variando do “virtuose” ao pri­
sociedade. Ela servia como um distintivo de classe,
mitivo, do elaborado ao singelo, do academismo à arte uma ficha dc identidade, ou um sinal de "status”, con­
popular.
forme os símbolos que representavam feudos, prelazias,
Os museus as conservam e os colecionadores as ofícios ou domínios públicos.
disputam. Aqueles como fonte de ensinamentos e estes As baixelas com suas bandejas e salvas de prata,
por seu valor decorativo, histórico ou iconográfico, e vermeil e ouro, ostentando armas, conquanto alardeas­
como complementação de um ambiente a refletir bom sem riquezas, não podiam concorrer com a faiança, de
gosto, coerência e cultura. Porque se é dado valor a um lado porque nem todos podiam se oferecer àqueles
uma tapeçaria, uma tela, um móvel, a faiança como custosos objetos e por outro porque ela oferecia uma
a porcelana, ao lado das pratas, é forçosamente um decoração mais atraente com a exibição de cores.
complemento de composição ambiental. W. B. Honey, Mas no setor cerâmico, a faiança encontrou um
autor r e n o m a d o n ã o deixa de exaltar a faiança poderoso concorrente na porcelana chinesa, e era par­
quando diz: “A maiólica proveu uma decoração mais ticular na louça Cia. das índias, a partir do século XVI
esplendida e delicada cm cores c mais audaciosa e até meados do XIX. Isto porque, desde a abertura do
sensível nos desenhos do que tudo o que foi feito na caminho das índias, passou a ser moda na Europa a
cerâmica antes c ate então ( . . . ) pela beleza dc sua de­ posse de objetos de adorno e de aparelhos em porcc-
coração, sempre foi louvada c por isso admirada e cole­ !ma oriental, armoriados, com siglas individuais ou não.
cionada até hoje". As maiólicas da Renascença, por Esse fato não impediu, no entanto, que a realeza,
exemplo, no dizer de John Scott Taggart, “fazem tanto a nobreza, os altos dignatários eclesiásticos não possuís­
parte dela como as esculturas de Donatelo e Miguel sem peças de faiança ao lado das orientais.
Ângelo e as pinturas de Leonardo, Ticiano e Raphael, E apesar da moda e do afluxo enorme das enco­
e os colecionadores de obras-primas devem logica­ mendas orientais ao gosto europeu, esses fatos não
mente colecioná-las (muitas vezes cias são assinadas e foram suficientes para afastar a faiança dos ambientes
datadas) pois na época, em seu na is de origem, nos e das mesas palacianas, monásticas e solarengas.
palácios e mansões, das estavam reunidas". Jeanne
Do confronto, durante séculos, com os metais
Giacomotti nos informa também que: “A faiança
nobres e do duelo com a porcelana Cia. das índias, eia
alcançou tão elevado grau de expressão artística que sobreviveu galhardamente. Vem, porém, a sucumbir
chegou a rivalizar com a ourivesaria, sendo da predile­ como expressão de produção artística e comercial no
ção dos príncipes e grão-senhores. Haja vista a série decorrer do século XIX, não resistindo ao embate com
dos serviços armoriados". a faiança fina (e seus derivados como o pó de pedra)
Realmente, a representação heráldica presta-se a e as porcelanas fabricadas na própria Europa.
um amplo aproveitamento artístico, tal ponto, que nos Ainda nesse setor da cerâmica há que se fazer
informa Taggart: "Muitos medalhões c pratos, ainda menção da “mezza-maiólica”<9) que, como o nome indi­
no Renascimento, eram pintados com armas espúrias ca, situa-se também dentro da família da faiança, pois
por serem atraentes e impressionar o comprador”. é composta do mesmo fundo de terracota, diferindo dela
Mas a sua importância não se adstringia apenas apenas no que diz respeito ao revestimento. Ambas, a
àquele desempenho artístico e de filiação qualificada. faiança como a “mezza-maíólica", têm seu revestimen­
A faiança artística das armas surgia como a necessi­ to, porém tecnicamente, é considerada faiança a que
dade, imposta pelo meio, de aparentar “status” e é recoberta de esmalte estanífero e “mezza-maiólica"
demonstrar bom gosto. Há, pois, outros aspectos a a que é revestida por um caldo de argila ou argilas,

71
A T E L IÊ S E FO RM ATO S D E C E R Â M IC A
(França — Século X V III)

50

Interior âe uma seção de fábrica de faiança e alguns modelos de peças de fabrico regular. Segundo o
"Dictionnaire des Sciences" — '‘Recut'.i sur les Arts Libéraux et les A rts Mécaniques" — 1715 — Paris.

12
FO RM A TO S D E C E R Â M IC A
(França — Séciro X V ÍII)

Parle dos formatos de peças utilitárias, constante do mostruário dtt Grande Enciclopédia de Didcrot c D ’Alam beri c que servia
para mestrado do oleiro (potier) nas Corporações de A rtes e Ofícios'(Século X V ÍII).

73
escolhidas, chamado de engobe, cm geral de tons de esmalte estanífero pobre, formando um fundo claro
esbranquiçados ou claros, às quais é adicionado óxido mas imperfeito c irregular, porém suficiente para poder
de chumbo (transparente) e às vezes também um ser decorado — o colecionador afeito ao trato dessas
pouco de óxido estanífero para clarear o conjunto. Em cerâmicas distingue logo uma da outra. Devemos ao
resumo, a "mezza-maiólica” é por assim dizer uma Prof. Gian Cario Bojani do Museu Jnternationalle delle
imitação grosseira de faiança. Ceramiche de Faenza, ao correr, junto com a Profa.
Essa “mezza-maiólica“ é também conhecida por Trinidad Sanchez Pacheco — Diretora do Museu de
’‘Bianchetto", e representa, na realidade, uma ante­ Barcelona, mostras de cerâmicas variadas de museus
cessora e um sucedâneo da verdadeira faiança estaní- na Europa,/em 1979, por ocasião dc um congresso, a
fera. Tem atrás de si uma velha tradição, pois precedeu especial deferência de nos apontar as subtilezas desse
a Faiança tanto na Europa como no Oriente Próximo, setor e como distingui-las umas das outras d®).
e era de fabrico mais difundido e popular. São tam­ A seguir iremos apontar panoramicamente os
bém consideradas como “mezza-maiólicas'’ as peças países, centros e artistas que se notabilizaram na pro­
antigas e modernas, cuja base de terracota é revestida dução da faiança

B 1 B L I O G
Rá f i a
(1) Marcel Dieulafoy — ’'Histoire Générale de TArt —
Espatine et Portugal" — Hachcle, 1907. (7 ) C hampfleurv — "Histoire des Faiences Patriotiques,
soas la Revolution” — 2.* edição — Paris, 1867.
(2) Arthur Lake — "A Guide to the Collection ot Tiles" —
2,J cd. — Londun, 1960. (8 ) Citação de J ohn Scott — Taggart — Italian Maiólica
(3) Jeanne Giacomotti — "La Majolique de la Renaissan­ -— Londres, 1972.
ce” — Paris, 1961.
(9) G eorge Savage and H arold N ewman — “A n Illustrated
(а) Georges Fontaine — "La Céramique Française" — Dictionary o f Ceramics" — England, 1974 — p ig . 192.
Paris, 1961.
(10) William Boyer H oney — European Ceramic A r t __
(i) Frenche Faïence — pàg. 1 — Londres, 1946. pág. 324.
(б) Arnold Gandonet —* "La Céramique en France au X IX
s iè c le ” — Paris, 1969. U l ) G aetano B allaumni — "Dalle Origin alia Fine del
Cinquecento" — pig. 129 — Fuenza, 1975.
74
HOLANDA

árias causas iriam levá-la a cons­ légio exclusivo de comércio c se estabelecem na Ilha
tituir-se no grande centro manu­ Décima que havia sido ocupada pelos portugueses.
fature iro de faiança c marcá-la Esses dados referem-se a rede comercial estabelecida.
com suas contribuições, como Outro fator foram as ligações de diversas casas
das maiores colaboradoras na dinásticas de Holanda e a ação de seus “stathoulders”
. evolução da decoração na cerâ­ com outras importantes da Europa. Se elas visavam de
mica. Jã tivemos a oportunidade de verificar qual foi a imediato o engrandecimento patrimonial e a formação
sua participação na azulejaria, com o seu enorme re­ de alianças políticas, aqueles entrelaçamentos aristo­
pertório de padronagens. cráticos carreavam também múltiplas implicações, e
Apontaremos apenas duas causas que a nosso ver entre elas, uma bagagem nova, de usos e costumes, de
são as principais. corte para cone e entre seus acessórios materiais: a
Nos séculos XI e XII, o comércio europeu já era cerâmica.
marcado pelo eixo dominante Flandres-Itália, que se A Holanda foi muito cobiçada e palco de guerras
processava tanto por mar, como por terra. No século c de disputas de domínio. Em sete séculos, do IX ao
XIII a Liga Hanseátiea iria integrar naqueles dois XVI (863 a 1558), cinco dinastias revezaram-se no
pólos uma série de outros centros produtores represen­ poder e desde cedo promovem enlaces como elegem
tados por numerosas cidades espalhadas pela Europa, poderosos “stathoulders” para' seu governo. Várias delas
inclusive no Báltico e na Inglaterra. Gênova e Veneza se notabilizaram: a da Alsãcía, Borgonha, Áustria, de
distribuíam mercancias de luxo (especiarias, sedas, Orange e Nassau. Em 1208, Felipe de Alsãcia, Conde
estofos raros, etc.), Bruges e outros centros na Flan- de Flandres, casa-se com a infanta D. Teresa (Matilde),
dres, produtos de consumo e tecidos mais comuns. filha de D. Afonso Henriques (os flamengos chegaram
No século XIV, dada a importância do tráfico, a contribuir com sua frota integrada nas Cruzadas, ao
Gênova e Veneza mantinham feitorias nas Flandres assédio e tomada de Lisboa aos mouros). Em 1238,
com seus “cônsules de mar”, Joanna dc Constantinopla, Condessa de Flandres, casa-
Em meados do século XV, com os Duques de -se com o infante D. Fernando, filho dc D. Sandio,
Borgonha e de Flandres, torna-se Bruges, o maior rei de Portugal. Em 1247 Guilherme, Conde de Holan­
empório financeiro da Europa, contando com 150.000 da, foi proclamado Imperador da Alemanha pelo Papa
habitantes e um centro radiante de cultura; importa lã Inocêncio IV; em 1472, o poderoso Duque de Borgo­
da Inglaterra e da Escócia, e exporta os famosos panos nha e Conde dc Flandres. Felipe o Bom, que iria unifi­
de "olanda", “olandilhas”, “escarlatas flamengas”, e as car os Países Baixos, casa-se com Isabel, filha do rei
“bifas de Bruges" entre outras séries de produtos, parte de Portuga! Dom João I. Em 1477, os Países-Baixos
dos quais constam de vários inventários Vice nti nos do passam para a Casa da Áustria, e o Imperador Carlos
século XVII. V, em 1519, os une ao seu vasto império e aos Felipes,
No século XVI, outros centros se assinalam, como seus herdeiros.
Antuérpia, que em 1503 já contava com feitorias de Quanto aos “stathoulders” há que assinalar
Portugal, da Escandinávia importava madeira para seus Guilherme, nascido cm Haia cm 1650, Príncipe de
barcos, Segundo H. P. Fourest, nos séculos XIV e XV Orange e Nassau, eleito em 1672, que comandou
a Flandres recebia as cerâmicas hispano-mouriscas de tropas contra Luiz XIV c assumiu o trono da Ingla­
Paterna, na sua decoração primitiva de verde e de man­ terra (1690), com o nome de William the Third.
ganês, e no XVI começa a receber peças dos centros Sobre este acontecimento assim se pronuncia H, P.
italianos notadamente de Faenza, já no estilo renas­ Fourest d) “son couronnement comme roi d’Angleterre
centista. (1690) a une portée considérable dans les possibilités
No decorrer do século XVI, a Flandres já começa dc commerce des Pays-Bas. Le règne d’un même prince
a receber peças chinesas com as especiarias, através da dans ces deux pays très commerçants devait avoir
distribuição de Lisboa, porém com o fechamento deste inévitablement une grande portée sur leur prospérité,
porto aos holandeses em 1594, resolvem fundar sua son premier effet étant de lier les intérêts des deux
própria companhia (V,0 ,C.) e buscar as especiarias e nations". Outro autor nos informa que quando
a porcelana diretamente, Guilherme III de Orange foi para a Inglaterra, levou
Não conseguem estabelecer-se na China, a não uma coleção japonesa de porcelanas decoradas por
ser tardiamenle em Cantão, c montam um porto, Kakiemon e que ficaram no Palácio de Hampton
defronte, em Formosa (1624), para receber mer­ CourtQ).
cadorias chinesas de onde seguem para Balávia, seu Com referência ainda a esta notabilíssima família,
grande centro oriental. No Japão, porém, desde 1601 há que lembrar que um de seus membros, príncipe
instalam-se em Hirado e em 1641 conseguem o prívi- Jean Maurice de Nassau-Sícgen, nascido cm 1604,

75
assumiu o governo das possessões holandesas no Brasil terra (Lambeth), a Alemanha (Hamburgo, Nuremberg,
cm 1638, o que iria traïer para nós, entre valiosíssimas Frankfurt), a Espanha (Catalunha) e a Itália (Savona).
contribuições de ordem científica e artística, grés e Porém, os artistas flamengos dão-lhe maior amplidão,
faiança holandesa. passando a explorar toda a iconografia do reino de
Aquela portentosa rede comercial garantiu à Wan-Li: paisagens à borda de lagos, flores estilizadas,
Holanda a troca e a distribuição de produtos rotineiros pássaros, cenas chinesas, etc. Por volta de 1650, já no
de uso doméstico e utilitário, mas as ligações dinásticas período do Imperador Kang-Hsi, adotam outros símbo­
abriam as portas dos castelos e palácios para a sua los chins como os oito imortais, os oito objetos precio­
estupenda produção artística, fosse pintura, tapeçaria, sos, a elegante representação “das damas esguias”, etc.
imaginária ou a sua faiança. Assim sc explica, em parte, (H. P. Fourest).
a presença desta suntuária nas cortes portuguesas, Dos japoneses exploram a fundo o grande reper­
inglesas, francesas, espanholas, etc. tório exibido por Arila, na província de Hizen, cuja
Mas todo o poderio mercantil e financeiro que produção se desenvolve a partir de 1658, porcelana
desfrutou e toda pujança artística que exibiu não seriam esta que tomou o nome de Imari, o porto de onde era
possíveis, se a Holanda, a antiga Batávia dos romanos, exportada para a Batávia e alhures 0>.
não contasse, pela base, precocemente, com uma elite e Sua decoração é sobrecarregada e baseada em
um povo extraordinariamente dotados, reunindo ao desenhos de tecidos e brocados japoneses, c na sua
mesmo tempo dinamismo, cultura e tino comercial, policromia predomina um azul enegrecido e. uni verm e­
aliadas a um poder invulgar de assimilação e criação. lho vivo sob a glasura. O fundador da fábrica foi o
A exemplo do que se verificou na azulcjara grande ceramista Sakaida Kakiemon (cujos descenden­
ocidental, o decorador holandês, na cerâmica utilitária tes a mantiveram), o qual empregava um estilo assimé­
e dc adorno, foi quem mais ornatos exibiu e mais trico com variedade de modelos, entre eles esquilos e
motivos aproveitou, A decoração da faiança holandesa flores w>. Um dc seus modelos mais famosos, copiado
vai receber as ondas que partindo de diversos focos pelos holandeses c pelos próprios chineses (‘‘Chinese
do globo irão ser captadas por seus artistas c adaptadas Imari” ), são os arranjos florais cm vasos e cestas inspi­
a suas características. Assim, em primeiro lugar rcccfcc rados na simbologia chinesa taoísta.
o influxo do hts pano-mourisco em que predominam o Quanto às formas na faiança holandesa, os seus
gênero de Paterna c Manises, seguido do sopro italiano modeladores diversificam profundamente a produção e
renascentista de Orvieto, Faenza, Urbíno e do Extremo- criaram um novo repertório. Entre 1650 e 1670, foram
Oriental, c por fim o bafo francês do rococó. adotados seis feitios de pratos. Sopeiras e terrinas,
Mas a contribuição capital que traz para a foram copiadas de modelos de ourivesaria com formas
cerâmica é a exploração dos motivos extremo-orientais ovais e também circulares(S).
captados a princípio de Portugal, que transplanta para Para flores, além dos vasos e floreiras clássicas,
o Ocidente onde irão vicejar por seu exotismo e introduziram o formato chamado de “jarra de luva”
pitoresco, e dominar o final do Barroco, sobressaindo ou tulipeira, ou ainda “vaso de leque” (vase en
ainda mais nos arranjos ornamentais no período'de éventail) e reviveram os “obeliscos” facntinos do fim
Luís XV, do século XVI e começo do XVII, peças altas e deco­
O repertório decorativo, também exótico para os rativas cheias de bicos, que eram colocadas com flores
europeus, do árabe, do persa e do hindu, a Itália, já sobre as credencias nos palácios. Quanto às estatuetas
havia se encarregado de incluí-lo na bagagem renas­ e figurinhas, reproduziram divindades chinesas, cavalos,
centista inspirando-se nas faianças persas, nos brocados, vacas, cachorros, camundongos, papagaios, galos, gali­
chitas, cashemírs, etc. nhas c ainda pajens negros com turbantes, figuras holan­
Com a descoberta do novo caminho para as desas, etc. Além disso, uma variedade enorme de peças
Índias, por Portugal, este introduz motivos chineses de serviços de jantar, de chá, bacia e gomis, fontes
em sua faiança, e a Holanda, que lhe sucede no tráfico, poticromadas, urinóis, porta-cabeleiras, placas e painéis,
irá aproveitá-ios junto com os do Japão para dissemina­ gaiolas e até violinos decorativos.
dos pela Europa. Na parte técnica da decoração, há duas observa­
Estes novos motivos desempenharam um papel ções a serem feitas. A que corresponde a uma
relevante na decoração européia, passando da cerâmica característica de parte da produção de Delft, chamada
de onde se originou, para os tecidos, tapeçarias, mobi­ de “Trck" que consiste em um traço escuro, em geral
liário, gravuras, quadros, prataria, papel de parede e azul, usado pelo decorador para marcar o contorno de
a própria arquitetura. E passaram a ser conhecidos por um desenho (o que corresponde ao “chatironné”, sendo
"chinoiseries” que, segundo W, B. Honey, refere-se às que neste processo francês, o traço é executado em
"composições fantasiosas, representando um mundo dc preto). Outro característico é o “kwart” ou coberta,
contos de fada de pseudofiguras e cenas chinesas comparável ao “marzocotto italiano", que corresponde
( . . . ) , no final do século XVII e no começo do XVI11", a um verniz especial sobre os desenhos já pintados
Apresentam elas três fases distintas: a do Barroco tardio, sobre o esmalte estanfíero<w.
inspirado pelas gravuras holandesas, a segunda pela Duas variantes usadas pelos decoradores eram os
Escola Francesa {Boucher, etc.), e a terceira depois do fundos azuis e pretos das faianças, sobre os quais eram
Neo-clássico, quando ressuscita no século XIX. apostos os desenhos, o que era obtido misturando
As "chinoiseries’', começavam com as interpreta­ corantes ao óxido branco dc estanho.
ções da porcelana do reino do Imperador Wan-Li Esta vasta e diversificada produção sofria pela
(1573/1619), pelos portugueses, cujos primeiros exem­ base, na parte técnica c artística, um controle efetivo
plares de faiança, em azul e branco, exibem na aba e rigoroso. Se o artesanato holandês pôde sobressair e
signos dela inspirados. Gênero esse que iria ser copiado conquistar mercados, o fez pelo seu alto padrão de
depois de 1609 pelos holandeses e influenciar a Ingla­ qualidade. Para ísso contribuiu decisivamente a criação

76
da Guilda de São Lucas, com sua regras estritas, suas remos vários: A mais antiga chamava-se “Os Quatro
provas dc mestrado, suas multas c penalidades que Heróis de Roma”, fundada em 1600 e manteve-se até
incluíam a expulsão de seus membros. Ceramistas 1764. Seguem “O Gomil” em 1609, o "Barco Dourado"
célebres e artesãos qualificados dela faziam parte, junto em 1613, o “Pote de Flores” cm 1616, o "Pole de
com artistas de outros setores, tanto das artes maiores Metal" em 1639, “Os Três Tonéis de Cinzas” em 1655,
como das menores. Essa poderosa corporação contava "La Fortune” em 1691, "O Leme" cm 1640, "O Roma­
com mais de setecentos associados e atuou até 1833, no” em 1648, “Os Dois Barcos" cm 1666, "A Velha
favorecendo bastante o desenvolvimento da Cerâmica Cabeça de Mouro” em 1648, "O Paváo” em 1651, "O
<H. P. Fourest). Veado" em 1661, “A Grego” em 1658 e manteve-se
Sobre a designação de faiança de Delfl, há um até 1820, 'MÍ Garra” em 1662, "A Estrela” em 1663,
reparo a ser feito. Tal a importância desse centro, que "A Rosa” Cm 1667, “Aos Dois Punhais”, que passou
na Europa se costumava tomar a parte pelo todo, a chamar-se “Os Três Sinos”, em 1671, “O Machado
quando se fazia alusão à produção holandesa. Havia de Porcelana” em 1679, “Três Garrafas de Porcelana”
também na Holanda outros e importantes centros em 1714, “O Bule Coroado” em 1708, etc.
produtores de faiança com características similares e Fora Delft e suas numerosas fábricas, apontaremos
também próprios. Nisso, nossos escrivães coloniais outros centros como Haarlem Middelburg, Amsterdã,
eram bem avisados, pois, nos inventários viccntinos Rotterdã, Gould, Arnhem, Makurn, Maestricht, entre
aquelas faianças eram arroladas sob um termo genérico: os mais importantes. Entre estes, vários se dedicavam
"Louças de Olanda” (sic) o que não induzia a erro de ao azulejo estanífero (tegel), como Gould que se espe­
procedência. cializou em temas religiosos. Rotterdã também fabri­
Vejamos como se repartia a produção entre os cava azulejos, sobretudo na fábrica dc Coinclis
diversos centros de fabrico. Boumcester, que produzia painéis de boa qualidade,
Entre os séculos XVI c XX, houve vários centros representando marinhas (usava as iniciais C.B.M.).
de produção de faiança com fábricas c ceramistas dc Em Haarlem, a tradição do fabrico remonta ao
talento. Citaremos alguns. O primeiro, evidentemente, século XVII, corn a fábrica de Adricn Bogaert. Conhc-
era Delft, cidade situada entre Haia e Rotterdã. Desta­ ce-se a existência dc uma fábrica em Arnhem do século
ca-se no século XVI e começo do XVII, pela exube­ XVII, que devia trabalhar à maneira de Delft, mas
rante e diversificada decoração. Inspirou-sc nos motivos também reproduzindo figuras e retratos, cenas marinhas,
e símbolos chineses, sobretudo de Wan-Li, a nosso ver e ainda pratos com peixes pintados e peças com cestas
copiados de Portugal, e do Japão nos modelos dc de flores coloridas.
Kakiemon e Kutani, ao lado de temas europeus, como Porém, no século XVIII, em 1755 — Johan Van
cenas de batalhas, de caças, assuntos religiosos, motivos Kcrchofí funda outra fábrica de faiança, cuja marca
heráldicos, etc., quase sempre no emprego do azul e era um galo azul.
do branco. Na segunda metade do século XVII, atinge
o seu apogeu, suas faianças conquistam o mercado euro­ Makurn produzia no gênero de Delft, porém,
peu e muitos ceramistas estrangeiros fabricavam faiança aplicando uma tonalidade de azul mais tema.
à maneira de Delft. A sua influência é dc tal ordem, Amsterdã, perto de Owertoon, produzia serviços
que na Inglaterra a faiança era denominada de "Delft de mesa, estatuetas, vasos, etc., utilizando a faiança
Ware” nos séculos XVII e XVIII; só mais recentcinente Ena, ao invés da faiança estanífera, porém em 1764 a
os ingleses passaram a adotar o termo: “tin glazed fábrica foi transferida para Weesp pelo Conde dc
earihen ware", ou seja, louça de vidrado de estanho Gronsfeldt, onde também foi fabricada faiança ao lado
(faiança). Entre os destacados artistas dc Delft, distin­ da porcelana dura, com o nome de Amstel. Decoração
guem-sc Abraham de Cooge, Vart Frylon, Albrecht de em geral de paisagens ou cenas e figuras de camponeses,
Kaisc, Adricn Pynker. Neste segundo período, o do seu apresentando às vezes borda dourada.
apogeu, é dado ênfase às peças policromadas. A produ­ Era Rotterdã, o grande ceramista I. Halmis, que
ção de azuiejos também era de vulto e de qualidade. havia trabalhado em Delft, funda a sua fábrica em
As suas fábricas exibiam nomes pitorescos. Cita­ 1731.

B I B L I O G R A F I A

( l i H P Fourest — "Les Faïences d e D e l f l " — Paris, 1957. M ary and G eoffrey Payton — "Pottery and Porce­
la in " — London, 1973.
(2) G eorge Savage and H arold N ewman — ob. cit.
(3) R. PrcARD — J. P. K erneis — Y. Pruneau — "Les M. A uguste D am me en — "G uide del'Am ateur de Faïences
Compagnies des hides’’ — Paris, 1966. et Porcelaines, Potteries et Terres-Cuites" — pfijj, 205
(4) G eorge Savage and H arold N ewman — " A n M u s t ruled — Paris, 1863.
. D ic tio n a ry of Ceramics" — London, 1974.
R ené Louis D elenne — "Dictionnaire de VAncienne Fai­
(5) M. P. F ourest — ob. cit. ence de D elft" — Paris, 1947.
(6) Jeanne G ucomotti — ob. cit. pâg. 54.
W. P itcairm K nowles — "Dutch Pottery and Porcelain"
—: Londres, 1913,
Eveune Schlumberger — "Eloge de la Tulipière, Connaissan­
ce des A rts n.° 106 — pâgs. 153/159 — 1960. John Bedford — "D elft Ware” — Hone-Kong. 1968.

77
Séc. X V 111 FAIANÇA — IIOLANDA

52

Prelo de faiança com esmalte estarüfero misturado com coran­


te preto e decotuçào a ouro — cerca de 1700.
Cortesia rio M u seu Af acionai dc C erâm ica dc Sêvrea.

Representação de uma vaca com desenhos


policrotnados. Fábrica de Delft, segunda mera -
de do século X V Hl.
Cortesia de Gian Cario Bojani — Musco
fnterntíztonalle d e lic Ceramichc — Faenza —
Itália.

Faiança clássica azul c branca cuia composição lembra uma


esritizaçôo dc píumas. Pertence ao acervo do Museu A rqueo­
lógico do Recife, que possui outros pratos do mesmo serviço*
N o verso existem as iniciais B. e P. que. correspondem ao
ateliê dc Dctft (ano 1741) chamado "A Grego”.
Cortesia A ntônio Gonsalves dc Mello.

78
PUEBLA MÉXICO

sta cidade foi fundada em 1531 Artesanais, e no México da Corporacion de los Alía-
já cora planta urbanística elabo­ reros, para ditar normas e zelar pela categoria dos pro­
rada por arquitetos espanhóis, dutos, a exemplo das guildas holandesas.
tal a importância e a esperança Assim, em 1653 há uma “Ordenanza” cm que é
que nela depositava o governo recomendado: “Que o vidrado da louça fina (faiança)
reinol no plano geral de desen­ seja bem disposto com uma arroba de chumbo e seis
volvimento e colonização da libras de estanho e que seja bem coberta e cozida”.
nova Espanha, Havia a essa altura três categorias de louceiros: o
Pucbla prosperou rapidamente e logo aí se aprendiz, o oficial, o maestro, cada qual com sua tarefa
instalaram várias ordens religiosas, cujos monumen­ específica para a “louça fina”, a “louça comum” c a
tais conventos são bem um testemunho de seu esplen­ “louça amarela",
dor — a exemplo dos jesuítas no Brasil, no desempenho Diz ainda Cervantcs<4) que os espanhóis se encar­
da catequese c do aprendizado e artesanato das artes regavam em geral da faiança e eram chamados de
menores, na técnica européia, entre os aborígenes. Estes “loceros de lo blanco” e de “loza fina” enquanto da
aculturados passaram a empregar na cerâmica o vidra­ “loza colorada, es dccir la de barniz plumbles” (a
do e muito concorreram na fabricação da louça vidrada louça vidrada) se encarregavam os “naturales” ou sejam
utilitária. os aborígenes.
Porém, quando teve início o fabrico das primeiras
Em 16S2, as “Ordenanzas" regulamentam o
louças vidradas, das primeiras faianças ou maióüeas
emprego das cores e em 1710 determina: . . . “no den à
c dos azufejos que vieram a desfrutar de tanta fama?
la loza comum y ordinaria ei azul fino contrahecho sino
Tão famosos foram os seus produtos, que segundo
el verde que es el que atualmente usan y solamente
alguns autores podiam rivalizar com os Talavera do
acustumbram a usar con dicho color aborronado o
la Reyna e que na América surrupiou-lhe o nome;
plumeado en la loza fina, para que por este medio se
Talavera Poblana, Talavera de Puebla, e às vezes
distinga una de Ia o tr a " ,..
apenas Talavera, dando-se ao luxo desde o século XVI
de dispor de pintores que marcavam c assinavam parte Diz Cervantcs que o "azul realzado”, ou seja,
dos seus artigos. Carlos Espcjel (■>, diz referindo-se à aquele azul espesso que costuma ser aplicado nos
cerâmica no México: “A mais importante é chamada azufejos poblanos c cujo esmalte fica em relevo nas
Talavera Poblana, a cerâmica mais fina que se faz no pedras, teve seu emprego iniciado cm Puebla era 1682
país — louça de Talavera como é chamada ate hoje’’. (ob. cif. pág. 22 ).
Segundo Gonzalo Lopes Cervantcs tt>: “ Entre (560 Verifica-se assim que desde o século XVil, na
e 1580 se estabeleceram na cidade de Puebla as pri­ Nova Espanha, o Governo Reinol estabelecia uma
meiras “loccrias” sob a designação de Fábrica de “Loza “economia dirigida” no sentido da qualidade do pro­
i31anca y Azulejo”. Convém ressaltar, diz o mesmo duto. No caso da cerâmica de Pucbla, ela se aplica à
autor, que os termos “lacero" e “loceria” são america- composição da pasta e das proporções dos ingredientes
nismos, pois qs documentos novo-hispanos os utilizavam fundamentais, assim como na discriminação de aplica­
regularmente ao invés de "alfarcro” e “alfareria”. ção das cores — deixa livre porém ao louceiro a dar
Quanto aos azulejos, começaram a ser fabricados largas à sua fantasia, pois omite qualquer imposição no
regularmente em 1602 para adornar a Catedral Metro­ iocante à decoração das peças!
politana, encomendados ao mestre azulejador Gaspar Quanto às pastas ou categorias, vimos que havia
Encimas, que no final do século XVI era louceiro e a produção da louça vidrada e de faiança, c infere-se
assinava suas obras. pela Ordenanza de 1710 que nas louças finas era mats
Quanto à origem dos artesãos de Puebla, diz corrente o emprego do azul cobalto, c na “comum y
W. B. Honey<3): “Ê sabido que foram louceiros de ordinaria", o verde e o amarelo. Ao que parece, esta
Talavera que fundaram cm Puebla a manufatura até determinação fni alterada posteriormente, pois Saavcdra
hoje existente no México, cujos azulejos eram louvados Mcndezl5) informa que a “Corporacion de Alfareros,
por vários autores (1651), assim como as imitações recomendava que os artigos finos podiam ser decorados
de produtos chineses”. Refere-sc Honey, ainda que do com cinco cores e os comuns com três”, o que não
México eram exportados o que se chama “bucaro” — impedia, segundo o mesmo autor, que houvesse como
“um misterioso tipo de cerâmica vermelha — que Tala­ exceção peças finas apenas monocromãs ou mesmo
vera imitava desde o século XVI". bicolores.
Os produtos de Puebla estavam sujeitos ao mesmo Quanto as formas e aos estilos adotados por
rigor imposto na Espanha às suas congêneres castelha­ Puebla, há vários autores que podem ser consultados.
nas que lá dispunham dos Ofícios, Confrarias e Grêmios Como vimos, W, B, Honey já se referia à qualidade de

79
seus azulejos, assim como às imilaçõcs da cerâmica — fabricou-as e exportou-as para outros países sul-
chinesa. americanos, e consta segundo Honey, que exportava
Carlos Espcjcl<é), em síntese, informa-nos que as para a Espanha o tipo conhecido por “ bocearo”.
influencias asiáticas e espanholas atuaram fortemente Com referência à azulejaria, obscrva-se a extrema
sobre o sentimento artístico aborígene e ao mesmo . diversidade dos azulejos íalaveranos de Puebla, em que
tempo a louça de Talavera Poblana filtra a tradição sobressaem o vigor da execução, o emprego denso do
espanhola e o atavismo árabe. esmalte de cobalto, praticamente em relevo, os azulejos
Jorge Saavedra Mendez, em meticuloso estudo nos relevados e agiográficos, os lises (empregados em Por­
aponta com precisão quatro períodos ou estilos diferen­ tugal no Palácio de Cintra) as figuras de arcanjos em
tes na louça poblana<7): desenhos geométricos c estilizações florais.
Porém, a séria concorrência de outros países no
1 ) o tipo hispano-mourisco México, sobretudo dos produtos já em fase dc indus­
2 ) o tipo talavera trialização, fizeram com que aquele maravilhoso arte­
3) o tipo chinês sanato se ressentisse.
4) o tipo hispano-mexicano Em 1693, o censo espanhol acusou em Puebla
quarenta e seis estabelecimentos, já em 1802 caía para
Cada tipo desses é facilmente identificável, pois dezesseis fábricas, e em 1852, para dez.
são as adaptações que os artistas locais faziam dos Quando ai estivemos em 1978, encontramos duas
artigos que abundavam em períodos diversos na Nova fábricas pequenas ainda funcionando mais como curio­
Espanha, chegados através de Acapulco (artigos orien­ sidade turística! Sic transit gloria Mundi!
tais), vindos por intermédio de Manilha, de Vera Cruz, Ressaltamos o pape! notável que desempenhou
e de diversos partos espanhóis e europeus, e ainda da Puebla na decoração parietal, com os arranjos dc
arte local aborígene, que se encontrava ein plena pro­ emprego alternado de azulejos e lajotas. Insptrou-se no
dução, acrescida das mais antigas, pertencentes ao mourisco, porém a nosso ver, desenvolveu com maior
monumental acervo das civilizações americanas. desenvoltura os esquemas decorativos do que os
A influência, a fama c a produção dc Puebla mouros.
merecem os louvores expendidos. Além do mais, foi a Na verdade, não tivemos a oportunidade de verifi­
primeira nação do Continente a fabricar louça vidrada car, nem na Espanha nem alhures, arranjos tão belos
e a famosa faiança que fazia então “rage” na Europa e originais e em tamanha quantidade num mesmo local.

Primeira casa azitlejada no Continente


Americano — na Cidaae do M éxico (sé­
culos X V f/X V ll) .
Foto: Fernando de Moura Campos.

B I B L I O G R A F I A

( 1 ) C aRI.Os E s p e j ÉI, — "Crrãmirn P o p u la r M e x ic a n a " — "*) C a a io s C e r v a n -i e s — ob. cit. pág. 22.


Barcelona, 1975.
(2) G onzales Lopes C ervantes — " Cerâmica Colonial c>: 15) S aavedra M endez — ob. cit. pág. 892.
la Ciudad de M éxico" n.° 33 — Collecíon C ie n tif ic a —
México, 1976 , (6) C arlos E s p e j é l — oí>. cit.
(3 ) W. B. H oney — " European Ceramic A rt" — pág. 60S. (7) loRCE S aavedra M endez — ob. cit. pág. 896.

80
Sees. XV 11/X V 111 TALAVERA — POBLANA
(M ostruário)

54

Observe-se a variedade de jorm as e de coloridos da produção


local na gênero de Talávera.
Cortesia do Museu de A rte José L u iz Bella y Gonzales —
Puebla.

81
Sécs. X V I I / X V i n TALA VERA — POBLANA
(Mostruário)

Observc-se a diversificação dos desenhos e o colorido íorte


dos esmaltes, sobretudo os cobahijeros. Note-se também o
quanto se assemelham várias das representafões cerâmicas com
os m otivos e cores da louça portuguesa popular, em geral em
" mezia-maiàlica".
Cortesia do Museu de Arte José Luís Bello y Gonzales —
Puebla.

82
ESPANHA

oportunidade já tivemos de his­ dizeres e elementos geométricos w, decoração simples


toriar da contribuição árabe na com influência hispano-romana e uso de elementos
azulejaria ocidental e a difusão norte-africanos c bizantinos, cerâmica esta que é chama­
de produtos hispano-mou riscos da de hispano-visigoda.
na Europa medieval, corno tam­ Depois, processa-se a invasão árabe (em 711
bém o papel de pioneira da d.C.) que iria prolongar-se por sete séculos até 1492,
Espanha antes da Itália, na quando são reconquistados os últimos redutos mouros.
divulgação da técnica da faiança, o que iria propiciar A Espanha nesse período já contava com uma consi­
a sua extraordinária expansão no continente. derável população, ou seja, aproximadamente 10
A história da evolução por que passou a cerâmica milhões de habitantes, sendo 8,5 milhões de cristãos,
na Península Ibérica é confusa e imprecisa nu que se mais ou menos 1 milhão de muçulmanos e 200 mil
refere aos seus primórdios, e mesmo até o século XIII. judeus. Politicamente falando, aquela ocupação apre­
A Espanha, como de resto a Europa, foi palco de senta quatro séries distintas que iriam marcar suas
grandes migrações, invasões e ocupações sucessivas. características na evolução da cerâmica. A primeira é
Entre estas a dos celtas no século VI a.C., de cuja assinalada pela dependência dos mouros ao califado de
amálgama nasceu o termo “Celtibero” para designar a Damasco. A do Califado de Córdoba que se torna
fusão de raças entre aqueles invasores e os elementos independente, a dos Impérios Mogrebinos em que se
locais. Os fenícios e os gregos que sc seguem, entre os subdivide esse califado e o reino Nazari ou Granadino.
séculos VIII e VI a.C., utilizaram-se mais da Península De nosso interesse imediato é o de Córdoba (de
para extrair minérios, porem transmitiram o uso do 912 a 1031), que veio a dar a classificação de “califa!”
torno ou da roda do oleiro. Os cartagineses, Asdrúbal à cerâmica produzida naquele período na Espanha.
(em 228 a.C.) e Aníbal (2)0 a.C.), ocuparam a parte Córdoba, a capital, tomou-se um centro florescente,
meridional e oriental de Ibéria, e fundaram Cartagena, radiante de alta cultura, de poderio c de refinamento.
em homenagem à sua grande capital Cartago, e, segun­ Contava ela, incluídos seus arredores e subúrbios, com
do algumas versões, leriam instalado nas Ilhas Baleares mais de um milhão de habitantes. Dispunha de seis­
fornos de cerâmica cm Ivisa e Inca. Os romanos co­ centas mesquitas, novecentas casas de banho, bibliote­
meçam a conquista em 133 a.C. e fundam entre outras cas, parques, etc.
cidades Saragoça, Barcelona, Lérida, etc., lendo mesmo A divulgação do vedrio, ou seja, o vidrado
um Imperador Romano, Trajano, nascido na Ibéria. plumbííero, embora fosse conhecido no Oriente próxi­
O torno, que já havia sida introduzido pelos mo durante a época romana, não se realizou na Penín­
fenícios e gregos, passa a ser difundido, assim como a sula até a invasão muçulmana, com o califado de
técnica de manipulação de terracota c da “sigilala”, Córdoba, no século X. De 1066 em Toledo e de 1609
e ainda a produção de tijolos e telhas (em formas). ern Alpuente, foram encontrados “formulários c depó­
Nesse período já começa a aflorar uma produção híbri­ sitos de cerâmica" em que há menção dc diferentes
da que os arqueólogos passaram a chamar de “ibero- produções, incluída a de reflexos metálicos (S).”
romana” ou “sigi ia ta-hispânica”, ou ainda "hispano- Este período califal marca realmcnte o ponto de
romana” , esta sem engobe (l>. partida da cerâmica hispano-mourisca. Já se definem
Tamanha influência exerceram, que dos romanos novas formas, como também o emprego do verde e
foi adotada parte dos usos e costumes de sua legislação "manganês” sobre o engobe das peças vidradas e do
e a língua latina. A “sigilata hispânica" apresentava lustre. Quanto aos temas predominavam composições
uma decoração com excisos e incisos na representação vegetais, à base de linhas geométricas, laços, caracteres
de sulcos, pontos, ranhuras, cordões em relevo, dese­ CÚficos, figuras, etc.
nhos geométricos, representações zoomorfas e antropo- No período dos impérios mogrebinos (1010 a
morfas, fitoformes (espigas), etc. 1266), perdura a decoração anterior e se destaca a
Os visígodos em 415 d.C., invadem a Península flora, sempre convencional c sem contato com a natu­
c fundam a cidade de Toledo (em 554 d.C.), como reza, os traços geométricos, sobretudo o entrelaçado e
capital de seu império. A propósito desta ocupação nos a decoração epigráfica <é). Quanto ao período do reino
diz José Luís de Arrese<3í: “Os romanos conquistaram Nazari ou Granadino (1238 a 1492) é de assinalar nas
em boa parte, tanto o solo, como o espírito de seus formas a característica peculiar de desproporções do
moradores, enquanto que seus imediatos sucessores gargalo com referencia ao corpo da peça, grande aquele,
históricos, os visígodos, só conseguiram apropriar-se pequeno este, como jarras de parede muito finas. A
do solo”. Esta assertiva revela que não foram de monta técnica decorativa desse período granadino assume
as suas contribuições à cultura nem à arte, embora enorme importância, pois é quando aparece o esmalte,
existam belos ladrilhos e tijolos moldados com signos, ou verniz estanífero, e se introduziu a decoração com
(segue na pàg. 86)
83
CERÂMICA ESPANHOLA
Medievo

56

A o ttílo três pratos de Manises e Paterna (séculos X IV e X V ), Abaixo dois pratos de Paterna
fséculos X III c X IV ). E embaixo, dois pratos de Paterna (séculos X III X IV )t
Deve-se observar que esta última série é chamada ác rtvÍclo verde y morado**t que abrange
uma das primeiras fases decorativas espanholas.
Cortesia Museu Nacional de Cerâmica G onzáltz M arti — Valência,
CERÂMICA ESPANHOLA
(Diversos períodos e centros)

T cruel — século X V 1/1.

57

Cortesia Fundação
Cslousfe Gulbenkian Praio Catalão
e Museu hracionai da — século XVIII.
Cerâmica Gonzàlez Aíarfí.

85
azul de cobalto, como se intensifica o uso do dourado específica de funções — “jarreros", “azulejeros”,
(lustre), sobre a peça esmaltada t7) “não cabe dúvida “oleiros” c “escudilleros”, “A convivência cristã mou­
que a vasilha vidrada primitiva espanhola é um broto risca, foi um eco que não se pode negar e que teve na
da árvore que floresceu em Bagdá no século IX” <*>. produção cerâmica uma eloquente manifestação(KI)-
Àquelas quatro séries do período de ocupação Vcjamos alguns dos centros, entre os muitos que
segue-se a da dominação cristã que iria a partir do se notabilizaram na produção cerâmica, em particular
final do século XV, liberar definitivamenle o território na da faiança, que refletem nela as diferentes influências
e produzir cerâmica ainda presa a vários resquícios sofridas, e que na terminologia mudéjar classificam-se
românicos, góticos c mudéjares e acompanhar com de forma geral de cerâmica mudéjar mourisca, hispano-
desenvoltura o movimento ocidental renascentista, dá -mourisca tj espanhola, conforme suas características e
no século XIII havia grémios de oleiros, com distinção o período a que se prendem.

86
MÁLAGA

centro de Máiaga foi um impor­ “Máiaga tinha uma louça sem igual”, em 1327 Amchd
tantíssimo manipulador de toda Ibn Yahya diz que a mesma é sem rival no mundo, e
ciasse de cerâmica decorada, em 1350/56 o famoso viajante Iben Batoutah pondera
desde a invasão muçulmana até sobre a beleza da cerâmica malagueuha c informa que
o final do reino Nazari, o mais “exportava para os lugares mais longínquos”. Tem-se
citado por viajantes e autores conhecimento que também no Egito sua louça estava
da época, o mais antigo que presente e que posteriormente, no século XV, foi
documentalmente exportava obras para outros países. suplantada pela de Manises ri3).
O nome de Máiaga, servia para designar em Valência a Hoje consideram os ceramógrafos como Llubiá
cerâmica dourada (lustre), ou azul e dourada e aparece que os oleiros de Máiaga foram os verdadeiros intro­
em documentos notariais, contratos, etc., com o nome dutores das técnicas que iriam revolucionar a cerâmica
de malyk, maliche, malequa, meücha, maleque, málica, no Ocidente no século XIII, como o do emprego do
malega, etc. Paradoxal mente resulta ser o centro oleiro esmalte estanífero, do azul do cobalto e dos reflexos
peninsular que menos peças lhe são atribuídas, pois metálicos. Presumc-sc que especialistas persas tenham
quase todas as peças douradas (lustre) e azuis da Idade vindo instalar-se naquele centro e ensinado aqueles
Média, têm sido atribuídas a Granada e Manises <u). processos, que eram segredos familiares no Médio
Quanto às denominações derivadas de Máiaga Oriente. Marcei Dieulafoy corrobora em parte aquela
ternos a dizer que etn português, além de “malegueiro", asserção quando informa que, por volta de 1350,
ou seja, o oleiro que produz cerâmica à “feição de Máiaga era o primeiro centro de fabrico de louça
Máiaga", descobrímos no Brasil, em documento ainda dourada.
do século XVI a expressão “malagua" para designar Valência foi uma das seis capitais na época de
tigela í)J\ Assim, pode-se presumir que a exportação Abderrahman I, no período dos impérios mogrebinos
malaguenlta de tigelas foi de tal ordem, que o feitio (1010-1238). Foi defendida pelo famoso cavaleiro
dessas peças cerâmicas se impôs em Portugal e no Brasil gaulês El Cid, no ano de 1090 contra o ataque almorá-
quinhentista. Acreditamos que realmente Máiaga foi o vide. A população do reino de Valência no século XI
centro que primeiro, em proporções enormes para a era de mais de 400.000 habitantes. Constituiu, como
época, tinha divulgado as novas técnicas cerâmicas, e Máiaga, um dos primeiros e maiores núcleos difusores
durante séculos continuou a manter seu comércio e de cerâmica ibero-mourisca, com seus ateliês, na própria
prestígio. Devemos lembrar que foi dos centros que cidade<M) c das fábricas estabelecidas em Paterna e
durante mais tempo na Península esteve sob o domínio Manises, nos seus arredores. “A louça valenciana agiu
árabe, pois só foi libertada em 1487, pelos reis católicos como um traço de união entre Córdoba e todo o mundo
Isabel e Fernando. Pode assim, ininterruptamente, cerâmico mudéjar ri5)".
durante séculos, absorver, assimilar e transmitir, sem Em 1341 são consignadas as primeiras louças com
solução de continuidade, a técnica muçulmana e sua reflexos metálicos de seus ateliês (que iriam continuar
decoração híbrida, tanto no mudéjar-românico, como produzindo até o século XVI), e ainda no mesmo século
no mudéjar-gótieo, ou em outras interpretações medie­ XIV, tanto Paterna como Manises passam a produzir
vais. Suas principais características são o lustre forte, intensamente a louça decorada com o azul de cobalto.
a disposição de motivos por faixas, bandas ou zonas A louça de Paterna cntronca-sc com a cerâmica
horizontais, inscrição de caracteres e temas vegetais. califal, hispano-muçulmana do século X, ainda engo-
“Os ateliês malaguenhos tomam impulso no século XIII bada, c a partir daí evolui c se expande. Ela traduz a
e continuam até o fim do XV, e depois da reconquista tradição reinicola c os temas ibéricos, romanos c
sua produção não se interrompe, pois os artesãos mesmo visigodos afloram sem cessar na decoração.
mouros dela participam até o século XVT’. Esta consiste em linhas geométricas, representações
Pelos idos do século XIII, já é assinalada nos fitoformes ou florais, caltgráficas (versículos do evan­
documentos a sua presença em Poitsmouth (Inglaterra), gelho), heráldicas e antropozoomorfas, cabeças de
em Perpignan na França, e na Itália como na Espanha. guerreiro, bustos femininos, dançarinas, figuras eques­
No Alhambra ainda sobrevivem azulejos azuis e doura­ tres, desenhos de águia de São João, etc. Porém, o que
dos com personagens desse período. Em 1240 Ibn Said lhe deu características mais definidas foi o emprego
refere-se “al vidrío peregrino admirable” e a uma louça do “chatironné”, que consistia em cercar os contornos
dourada (reflexos metálicos) que se fabrica em Murcia, dos verdes com traços escuros, c o emprego da combi­
Almcria e Máiaga. nação crômica do verde (produzido pela conversão de
No começo do século XIV', em 1303, no porto de utensílios usuais em óxido de cobre e das variantes do
Sandwich (Inglaterra) é consignada a importação de manganês), de que a Espanha era bem provida. É o
“pichororum de malyk”. Em 1320 Fedei Alíah diz que famoso “verde y morado” que iria durante séculos

87
CERÂMICA ESPANHOLA

CoVftha Valenciana (século XVIII) -— com azulejos, peças de diferentes períodos e formatos.

Peças de Pucnte dei Árzohispo —■século XVIU.


Cortesia do Museu Nacional de Cerâmica Gonzâlez Mar lí.

88
caracterizar a produção hispano-mourisca c dominar a italianos, cipriotas e turcos e de elementos catalães e
bacia mediterrânea, inclusive França e Itália. Segundo marroquinos para distribuí-los. No século XVI são
J. M. ürtiz — J. Scals Aracil <!6): “Com essa técnica exportadas peças para o Vaticano, Nápoles, Florença,
a cerâmica de Paterna se converte na mais valiosa das Sicília, Veneza, Turquia, Chipre, Fiandres, Países Bálsi-
cerâmicas espanholas, cujas misturas eram produzidas cos e todas as cortes européias as possuíam c vários
por artesãos cm pequenos ateliês que se chamavam de quadros célebres como de Van Eyck, também celebri­
“obradors" ou “pintaors". Em 13 i 7 os “alfarexos” de zaram Manises. Dc acordo com Saavedra Mcndcz,
Paterna eram denominados nos documentos oficiais de chegou a exportar também para a América. Seu apogeu
“Canta rerius" c “magíster operis terre”. O período em foi no século XVI, começando a decair no século XVII.
que Paterna produziu esta decoração, é chamado de mas sua produção se estende até o fim do século
ciclo “verde y morado”, que na França c conhecida por XVIII.
“Família verde e violeta" (üieulaíoy, Giacomotti e Sevilha, na Andaluzia, sucede a Córdoba, a
outros). deslumbrante sede do Califado do Ocidente Europeu,
Para se ter uma idéia do que foi essa decoração : passa a ser o centro do mais poderoso entre os
peculiar, é bom que se diga que a tonalidade chamada vinte e seis reinos surgidos com o desmembramento
pelos espanhóis de "morado”, admite uma extensão que se segue ã queda do Califado cordobcs. Impõe
ampla de gamas derivadas do manganês, que vão do Sevilha sua supremacia sobre os vinte e cinco reinos
marrom, do “negrusco”, ao violeta e ao cor de vinho. restantes que compõem a ocupação muçulmana, sob
No século XIV, passa Paterna ao uso intensivo do os Abastes, Abel Casin e seu filho Almotahid (1031).
azul de cobalto com reflexos metálicos, já usado cm Mais tarde passa a fazer parte do império almoravid
Málaga, que passa a substituir a bicolor 3nterior(,TI. (1086-1122) depois dá famosa batalha de Zalaca,
em que o sultão Yusufben Taxfin, cujo domínio se
No meado do século XV, num só ano vinham
estendia do Senegal à Argélia, derrota o rei cristão
galeras venezianas, genovesas, florentinas, sicilianas,
Afonso VI, vitória essa que foi atribuída á con­
cipriotas e argelinas a competir com as naus catalãs e
marroquinas em carregar as “obras de terra" em Grao, fusão provocada pelo uso desconhecido de inumeráveis
tambores.
porto de Valência<1S).
Segue-se depois o domínio do império almohade
Maniscs surge, como expressão cerâmica do século (1146-1214 ) e Sevilha é reconquistada para os cristãos
XIV, quando inicia-se o emprego do azul de cobalto ;m 1238, porém no que diz respeito à cerâmica, sua
em Paterna c o ciclo do "verde e manganês" entra em fabricação cstcndcu-sc até 1500, com a participação
declínio. As duas produções valcncíanas passam a con­
de artistas árabes (Saavedra Mcndez). Dedicava-se a
correr, tanto na decoração somente cm azul, como na vários tipos de cerâmica, como a louça vidrada, os
do azul com dourado, sobressaindo no entanto Manises
azulejos c a faiança, cujo fabrico era centralizado cm
na aplicação combinada do azul e dos reflexos metáli­
Triana, nos subúrbios de Sevilha. Decoração inspirada
cos, o que iria dar-lhe fama, a partir do século XIV até
no mudéjar, no gótico e na renascença: entrelaçamentos
o XVII.
e desenhos geométricos, folhagens diversas, animais e
Esta decoração era chamada no medievo de “obra pássaros heráldicos, escudos e mais raro figuras.
de moro” ou "obra damasquina” <!9), o que indica clara­ O lustre também era empregado junto com as cores
mente sua origem do Oriente Médio. O oleiro, ou correntes dc verde manganês, branco e azul. Iniroduziu
melhor, o ceramista, ainda no começo do século XIV. na construção de célebre catedral La Giralda, peças
em 1325, tomava a designação de “cantaririus sine cerâmicas esmaltadas de preto, em forma dc discos
magistre operis terre albe” ou “ magistre operis terre côncavos, contribuindo assim no entrelaçamento da
picla”. E o trabalho desses artistas era notável. Já em cerâmica com a arquitetura.
1383, Francisco Eximenis, escrevia: “A obra de Mani­ São famosos seus azulejos que no século XIV
ses c dourada e pintada com tanta maestria que dela nbedeciam à técnica do alicatado, passando depois para
sc enamorou o mundo inteiro” (20). a da corda seca e a da aresta no século XV e para a
A sua decoração transuda o mudéjar e se desen­ do esmalte estnnífcro no século XVI.
volve nos desenhos geométricos e vegetais combinados, Sevilha, porem, passou a notoriedade e a um
nos heráldicos com águias, touros, cabras, falcões, caste­ enorme florescimento no setor da faiança, quando no
los, nos desenhos caligráficos e Rtomorfos, sendo raras começo do século XVI, com Francisco Nicoloso,
as representações antropomorfas. Fabrica toda a sorte denominado o Pisano, verdadeiro artista, aluno de
de objetos e de múltiplas formas até o século XVII, Lucca dc la Robbia, que desenvolve a técnica oriental
serviços de mesa, cântaros, “albarellos” , vasos e azule da faiança e rompe com a decoração hispano-mourisca,
jos. Tão grande era a exportação desses artigos que passando a produzir painéis historiados de inspiração
sc haviam organizado companhias de exportação, de européia, flamenga, sienense e íaentina (W. B. Honey).

* * *

89
TALA VERA DE LA REINA

alaverà é uma localidade perto No século XVIII, começa a sua decadência. Em


de Toledo, a antiga Talabrica 1720, havia somente oito fábricas, com quatrocentas
dos tempos romanos e foi recon­ pessoas e em 1730 cai para quatro estabelecimentos.
quistada aos mouros em 1082. Isso porque com O advento dos Bourbons na Espanha,
Em 1328, a infanta de Portugal todo o apoio do Estado é dado à Alcora (1727), que
Dona Maria, ao casar-se com o produz artigos exóticos de influência francesa, e esta
rei Afonso XI de Castela rece­ concorrência toma-sc-lhe fatal. Só vem a ressurgir
beu em dote de casamento a vila de Talavera, que brilhantemente no começo deste século, mantendo o
passou então a ser conhecida por Talavera de Ia Reiua, gênero que lhe deu fama.
em homenagem à rainha lusitana. Talavera conheceu tamanho prestígio qae ainda
Diz-nos P. Vaca y J, Ruiz de Luna apogeu no século XVI, um grupo de artesãos é enviado ao
que alcançou Talavera de la Reina no século XVI e México onde iniciam, em Puebla, o fabricò da faiança
que manteve com glória até o fim do XVII, fez desta na América.
cidade um dos centros artísticos e industriais mais Talavera conheceu três grandes períodos. O do
importantes da Península. Amieiros, ourives, fundido- século XVI, distingue-se pelo fabrico de azulejos, de
res, tecelã os, viviam na populosa cidade dando-lhe pratos grandes, fundo branco, pintados em azul, no
animação e vida, mas entre todas as indústrias a que centro figuras ou animais, lebres, cegonhas, garças e
alcançou maior renome, a que expandiu sua reputação nas abas mariposas ou desenhos em arabescos.
por todo o mundo Eoi a indústria cerâmica”. Foi referi­ O segundo período abrange o século XVII, em
da por Cervantes e Lopes de Vega, em seus poemas. que sobressaem os vasos poltcromados ou cm azul, e
No inventário de Dona Joana, irmã de Felipe H, em garrafas, e atinge* seu auge artístico com motivos de
que são arroladas peças de prata, constam louça de caça, cenas de batalha, personagens, e o terceiro período
Talavera “por el gracioso parecer que tiene”. abarca o século XVIII, quando adota o sabor francês na
Em 1657, há menção da irmandade dos mestres decoração, com guirl andas, flores, etc.
e oficiais da cerâmica, e à dos mestres da cerâmica de Em 1810, a fábrica è destruída pelos franceses e
barro colorido. Fabricavam-se lá três classes de arte­ ingleses. Em 1868 houve uma tentativa de ressurgimento
fatos: azulejaria, objetos diversos c esculturas. Os com Guilherme Zuriaga, e cm 1908, Enrique Grijó faz
“coloristas” eram os oficiais que pintavam as peças de renascer a cerâmica primitiva no estilo renascentista e
simples execução, e os pintores “ado mis tas” encarrc- barroco. Funciona até hoje sob o controle da família
gavam-se da decoração de escudos, armas, figuras, Luna.
cenas, etc. As peças antigas não eram marcadas, pois No século XVII, Talavera exportou bastante louça
não traziam a contra-senha do decorador nem a marca para a Vila de São Paulo, de acordo com os inventários
da fábrica. da época.

91
CERÂMICA ESPANHOLA

Prälos Tatavera, séculos X V ll/X V lll (Nota-se a influência oriental do azai e branco). Pelo período, são
exemplares dos que provavelmente c: rculti :mi: pelo Brasil,
Cortesia Museu Nacional Gonzalez Marli — Valência.

62

Peças diferentes ■de Piienie dei Arzobispo. Note-Se


que o fundo das peças cr:ilidas nesta vitrina ê llgei-
ram ente amarelado, e isso nos leva a crer que há
um engobe composto de mistura de argilas claras c
esmalte de chumbo, devendo pois, ser classificadas
de meia-faiança (fundos esses muito encontrados nas
loucas mineiras do século X IX — "tnczza-maiâlica”).
Cortesia Museu Nacional Gonzâlez Marti.

92
B I B L I O G R A F I A

(1) JOSÉ L uiz DE Arrese, In "Prólogo da Cerâmica Navarra”


— S. Sebastião, 1973. j
(2) Prof. Dr. Lexandro S ilvan — "A Cerâmica Navarra" —
S. Sebastião, 1973.
(3) J. Luiz de ArrESe — ob, eh,
(4) Luiz M. L lubiá — ob. cif., pág, 31.
. (5) Luiz M L lubiá — “Cerâmica Medieval Espanhola” - -
2.3 ed, Barcelona, 1973.
(6 ) L u iz M. Llu b iá — ob. cit,, pág. 62.

(7) Lurz'M . Llubiá — ob. eh., pág. 83.


(8) J osé Martinez O rtiz — J aime de Scats A racil — col.
Cerâmica del Museo Hist. Municipal de Valência — 1967.
(9) Luiz M. L lubiá — ob. cit., pág. I l l ,
(10) José Martinez — J aime de Scals Aracil — ob. dl.
(11) L. M. L lubiá — ob. dr.
(12) E. F. BrancaNte — “O Brasil e a Louça da índia”.
(13) L. M. Llubiá — ob. cir.
(14) Luiz M. L lubiá — oi. cif., pág. 158.
(15) J orge Saavedra M endez — ob. cit.
(16) J. M, Ortiz — J.de Scals Aracil — ob. cit. (vide S).
(17) J. M. Ortiz — J.de Scals A racil — ob. cit, (vide 8).
(18) G uiluermo J çsé de Osma — Conde de Valência de
D on J uan —'’“Apticnles sobre cerâmica Mourisca” —
Madrid. 1908.
(19) J. M. O rtiz — I. S. A racil — col. dei Museo Hisl.
Municipal de Valência, 1967.
(20) Ciro B. del C ano e Raphael R oldan G uerrero —
" Cerâmica Farmacêutica” — Madrid, 1928.
(21) P, Vaca y J. R uiz de Leana — "História de la Cerâmica
de Talavera de la Reina” — Madrid, 1943.

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223/371 — Madrid.
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1972.
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—■ Madrid, 1945,
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T a la v e r a " ín " C é r a m ia u e " — Genève, 1954.
Cultura Hispânica — Revistas.
ITÁLIA

Itália se nos apresenta no final dignatários eclesiásticos, alta nobreza, tanto da Itália
do século XV com um papel de como de outros países. Famosas madonas, damas
prol no lançamento daquele célebres, personagens ilustres que o pincel dos mestres
produto cerâmico, responsável imortalizou, também vem reproduzidas com novo vigor
tanto pela difusão da técnica nos esmaltes. Estas representações de personagens, de
.nova como pelo aprimoramento cenas e eventos diversos, profanos ou sacros, deu origem
artístico. à chamada decoração historiada (istoriati) que irá
Desse ninho de talentos e de gênios, ressurgiram encontrar na Espanha, na Holanda e em Portugal,
gigantes que iriam de novo valorizar o homem na grandes intérpretes, sobretudo na azulejaria estanífera.
reformulação das artes maiores da Renascença. Desse Como a cópia de quadros célebres foi dada a qualifi­
berço pródigo, também nasceram vultos que iriam cação de “decoração rafaclesca”.
conferir à faiança um realce equivalente nas artes Entre os responsáveis pelo movimento da Renas­
menores, e fora daquele torrão, iniciar outros artistas cença aplicada à Cerâmica, destacamos alguns mestres
europeus. e algum centros. O maior deles foi Luea delia Robbia,
Sendo renascentistas e encontrando-se no tempo, nascido em Florença em 1388 (em 1399, segundo
resolveram reclamar e chamar a si o legado histórico, outros) e ali faleceu em 1481. Sua presença marca o
humanístico, artístico e cultural que a tradição lhes momento em que é dada preferência na Itália ao
outorgara, De posse dele iriam adaptã-lo às novas emprego da faiança, sobre o da louça vidrada de que
interpretações técnicas, plástica e estética. Rompem Bernard de Palíssy, na França, foi o maior expoente
aqueles mestres com o estilo híbrido, o bizantino-mou­ em sua manipulação técnica e artística. Tanto assim,
risco, que vinha ditando as formas e a decoração na que várias de suas primeiras obras são consideradas por
Península. E como um vulcão que por pressão interior alguns autores como sendo executadas ainda em louça
rompe a crosta do solo e faz jorrar uma torrente de vidrada. Iniciou-se primeiramente na ourivesaria, pas­
lavas, fazem eles ressurgir a Antiguidade clássica. E sando depois a dedicar-se à escultura, tanto em már­
aproveitando o manancial e lhes adicionando outras more, como em bronze, tendo sido discípulo de
contribuições reformulam a decoração às normas da Ghiberti. Como escultor, produziu obras de mérito.
Renascença. Dão um novo sentido plástico à cerâmica: Pesquisador, estudou a cerâmica etrusca e a química.
voltam-se para a estatuária e as figurinas, retornam aos Dominando a modelagem c o comportamento dos
baixos relevos e dão nova versão à modelagem de vasos esmaltes, produziu obras notáveis, as primeiras em
ornamentais, de jarros e “albarellos”, como inventam terracota e em branco esmaltado — estátuas, madonas,
novos moldes sobretudo para os pratos. Quanto aos anjos, molduras, medalhões c série de "albarellos”,
ornatos, revalorizam as rosáceas, as folhas de acanto, inclusive para hospitais, de alturas até 75 cm. A
o perolado, as olivas, o louro, as folhas c as ramagens exemplo dos árabes, integrou a faiança à arquitetura,
estilizadas, a flora e a fauna, sobretudo os quadrúpedes fornecendo placas e medalhões para várias obras do
quiméricos, as variações geométricas e o grotesco, valo­ famoso arquiteto Brunellesco. Foi protegido do príncipe
rizam a figura humana c reproduzem camafeus. Voltam Piero di Cosimo Mediei, para quem executou encomen­
os aüantes e as caríatides, surgem os querubins e os das. Montou um ateliê que iria constituir uma escola
anjos (amorini). de renome e ter seqüência com a presença de parentes
Quanto às cores alargam a paleta conhecida e como Andréa, Ottaviano, Agostini e Antônio. Desses
criam o fundo “berettino", O campo clássico da faiança notabilizou-se também, Andréa delia Robbia (1437-
— branco e opaco — pela nova técnica passa a azul, 1528), que destacou-se na execução de medalhões,
o que iria proporcionar um novo aproveitamento do tabernáculos, peças em baixo relevo, querubins, flores,
branco, não como superfície de fundo, mas como frutas, etc. Deixou três filhos, sendo que dois continua­
desenho sobreposto (bianco sopra azzuro). Quanto aos ram sua obra, e Girolano que foi para a França. Foi
temas, tratam-nos em profusão, do profano ao Sacro. mestre de Francisco Nicoloso, “Pisano” que iria para
O Velho e o Novo Testamento, a mitologia histórica, a Espanha.
a literatura greco-romana saem do letargo tranquilo dos A proliferação de artistas notáveis iria notabilizar
arquivos monásticos e refulgem, vivos, à luz do dia na outros centros, além de Florença.
cerâmica. A heráldica dos românticos cavaleiros das . O mais importante deles foi Faenza — que se
Cruzadas e do Medievo ressurge fresca na faiança chamava Faventia no tempo dos romanos, e teve um
armoriada, tanto cm objetos de adorno, potes de farmá­ papel glorioso na história do Renascimento õ),
cia, como e sobretudo nos serviços brasonados iriam ■ Segundo 1. GiacomotÇi, “precisa-se certamente
gozar de grande voga, dada a atraente apresentação; e reconhecei- a predominância de Faenza, verdadeiro
seriam objeto dc encomendas de papas, soberanos, núcleo onde se vai elaborar o novo estilo”. Desde 1466,

95
começaram a aparecer peças marcadas, cm azul violá­ produziu também serviços brasonados famosos, Urbino
ceo, preto e amarelo, o que constitui c seu primeiro contou com uma plêiade de artistas que lhe deram uma
período, passando depois para o uso de outras cores. grande notoriedade, Nicola Pellipario começa em 1528
Ressurge, sob outra dimensão ornamental, o estilo com seu filho, que desde 1520 lá se instalara. Guido
historiado, vagamente expressado pelos persas, que iria Durantino, que mais tarde passou a assinar Guido Fon­
conhecer um monumental desdobramento nos países que tana, produziu também serviços armoriados célebres,
fabricavam azulejos estaníferos, e Faenza recebeu a encomendados do estrangeiro pelo Connétable de Monl-
influência dos Deila Robbia na parte plástica, c no seu morency, Cardeal Duprat, etc,, e iria deixar uma des­
primeiro periodo a decoração orienta! exsuda na estili- cendência dedicada à faiança. Francesco Xanto Avelli
zação da flora. (falecido cyi 1545), de grande habilidade no emprego
Manfredi foi o seu primeiro dirigente até 1501, dos esmaltes. Na segunda metade do século XVI, os
seguindo-se Benedito e Pietro Bergantini (1503-155S) Fontanas, descendentes de Guido, Oragio (1510-1571),
e depois Paterno Pietro, dito “Pirotto” , que deu fama Nícola e Flamínio, produzem séries de vasos decorati­
à "Casa Pirotto” e “Virgílio Calamelli" (1540). No vos, estatuetas, diversificam formas e criam a
fim do século XV e no correr do século XVI alastrava- “decoração rafadesca” com reprodução de quadros do
se o número de fabricantes, contando-se mais de 30 Vaticano. Seguem-se os ceramistas da família Patanazi,
estabelecimentos do gênero. Entre eles alinhavam-se os até o século XVII que executam serviços famosos para
de Forli, Rimtni, Ravena, Siena. Deruta, Caffagiolo, os duques de Urbino, para Afonso II d’Este e Margarida
Gubbio, Castel Durante, Urbino, Pesaro, Veneza, de Gonzaga e também cópias de gravuras. Nesse perío­
Montelupo, etc. do já passa a faiança a interpretar o Barroco.
Em Deruta, que também aplicou-se à faiança com Em Veneza destaca va m-sc os mestres Guido
lustre, destacaram-se Lázaro de Battista (1511), Fran- Merlini, Jãcomo, Ludovico, Domenico de Venezia (2,a
cesco de Urbino (1537) c Giácomo Mancini; em metade do século XVI). Em Veneza criou-se um gênero
Gubbio (1498), os mestres Giorgi Andreolí de Pavia e no fim do século XVII e XVIII, que foi copiado no
seus irmãos Salimbene (mestre Cencio), Giovanni e resto da Europa, os “amatorii”. Consistia em reproduzir
seus filhos, Sricenzo e Ubatdo (1536). Este centro em xícaras, tigelas e pratos, retratos e figuras com
especializou-se em serviços armoriados e moldados com legendas c dedicatórias, como “a bela Silvia” “a divina
aplicação de lustre. Laura", etc.<2).
Gostei Durante, no ducado de Urbino, contou com Em Caffagiolo, destacam-se os mestres irmãos
Giovanni Maria (1508) e outros, como Nícola Pelii- Faltorini, que se estabeleceram no Castelo de Piero
pario, que depois de 1528 passou para Urbino, onde Francesco de Médiri (1506).

B I B L I O G R A F I A

(1) Angelo G rnolini — "Maiólichs Italiana" — Milano, G uino M arangONI — "Cerâmica — Vetri Veil tate" —- 1927.
1881, L. Dl M a um — " L 'A m a to r e de Maióliche et Porcelhmu" —
Milano, 1914.
(2) C haMEFleurt — "Htstoire des Faiences Palriotiques sous
Ia R evolution" 2* edição — Paris, 1867. José Selva — "Artes A p lic a d a s " — Barcelona, 1957,
John Scott T auoãrt — "Italian M aióliche" — Londres, s/d.
G ai liL,io Lorenzetti — "Maióliche Venere del Setiecenio" — J eanne G iaCOMOTTí — "L a M a jv U iju e de la Renaissance" —
Veneza, 1939. Paris, 196!.
L uigi C orton — "Le Antíche Ceramiche Vcneziane Scopertc CoLLEZlONE D uchot — " Ai a id i i c h r " — H<1. Esperia —
Neila Laguna" — Veneza, 1940. Milano, 1934.

96
Sécs. X IV e X V F A IA N Ç A IT A L IA N A
(Comemores de formas arcaicas)

Mífm ú iX f ím a l^ S ^ ftí
W -ÍM -kiiH

Essa peça tem o formato de um pichei alongado c pela época


c pelo colorido corresponde, a nosso ver, ao conhecido "verde
e morado" do medievo espanhol iManises, paterna, etc,), com
o emprego do óxido de cobre c variantes do manganês. A peça
está classificada como do século X IV e pela cor c pelo período
deve tratar-se de uma “mezza-maiáHca”, ou seja tncin-faiunça.
Ê proveniente de OrvielO.

fií

Cm rufa elegante de corpo globular c comprido. Também


proveniente de Orvielo e do século XIV. A delicada decoração
bicolor ainda se prende ao verde C manganês, cm bera sobre
um fundo bem mais claro e parecendo rnarmorizado, o que
faz presumir também que é tuna mczia-maióliéa, já mais
u p u ta d ü .

- er. 1

O vmo bojudo lembrando um botão é proveniente de Florença


e fabricado no começo do século X V . A decoração d t azul sobre
fundo claro com ligeiros Iroços cm marrom, representa uma
csrilização dc folhas e a série de peças fabricadas com este
mesmo motivo é classificada na Itdfia como peças da “Família
de Folhos de Carvalho**. Ê curioso notar que nessa série que
caracterize a produção de Florença, entre aquela folhagem são
encontrados também animais (Vide John Scotl^Taggart-halian

'&§■*mmmárnm MaiôlicO'Londres sJdata — pâg. S). Todas as peças desta página


provim da coleção A . imbert.
Cortesia de Izahcl di Canossa (Museu de Arre de São Paulo —
Assis, Chatcaubriand)*

97
Séc. XV FAIANÇAS ITALIANAS

65

O prato de ceniro mais fundo com uma estrela de oito pontas


no centro e uma multidão de penas de pavão artisticamente
distribuídas (não de plumas), forma um conjunto decorativo
atraente. Conquanto esta peça faça parte da famosa coleção
A , Imbcrt, não traz indicação de origem, que se presume leahd
sido proveniente de Deruta. Acreditamos que seja ainda da
século X V , ou anterior, quando a influência sículo-muçultrana
é a hispano-mourisca de Maiorca atuavam ainda fortemente
sobre a cerâmica peninsular. As penas e as plumas dc pcvão
são tipicamente de origem persa. O Britisk Museurn exibe Uma
tigela com decoração e cores idênticas, classificada como “Slip
Pair.ted Bowl (mezza-maiôlica) Persian (Samorkand Wartj 9
th 10 th Century Diam. 13,11/16 ín”. Existem diversas varia­
ções desse téma' persa, sendo de notar também uma peça de
Cafaggiolo, mais elaborada, do século X V, da coleção do Müseu
do Louvre (vide Manoel Hoelpi — VAmatore de Maioliche C
Porcellane — 2.“ ed. Mitano s/d pág. 226 e também Enciclo­
pédia de Cuido Marangoni Arti dei Fuoco —- Cerâmica Veltrti­
le — Milano — pág. 9 — 1927).

Prato composto de vários círculos e de uma faixa central que


encerra quatro palmeias. Desenhos geométricos conhecidos por
serrilha, circundam toda a aba. As cores predominantes sàu
verde, ocre e azul. Ê uma peça nitidamente dc Influência
mourisca (desenhos geométricos e as palmeias dc origem
egípciii) e acreditamos que seja anterior ao século X V I. Há um
exemplar com borda parecida catalogado como Deruta f1510)
por John Scott Taggart (ob. cil. pág. 28 e «a capa, tal impor­
tância da peça).

Esta pequena vasilha super decorada apresentei uma bela série


de grotescos na parede interna da peça e no fundo u/nci cena
familiar com a figura de uma mulher com uma criança ao
colo. Alribuida n Faenza, séculos X V l/X V ll. Todas as três
peças comentadas fazem parte da antiga coleção A. Imbcrt.
Cortesia Pietro Maria Bardl - - Museu de Arte de São Paulo
— Assis Chatcaubriand.

98
Séc. XVI FAIANÇA ITALIANA

65

- __ ^

/í peça de cima é um açucareiro fabricado na forma clássica,


mais comum do azul e branco. Dentro de uma reserva vê-se
uma lebre e embaixo os dizeres “Zucharo Rosato”. Ê produto
de Faenza. Os três “albaretlosf* do meio são de Cafaggiolot outro
grande centro de fabrico« Apresentam em comum, sobre o
fundo branco de faiança, a mesma característica de norma
decorativa que é a superposição de largas faixas paralelas
encerrando desenhos diferentes, além dos círculos em azul e
branco que as separam, com predominância do emprego do azul
sobre as outras cores. O **àibarellçT* debaixo, ã esquerda, por
ser atarracado, pode também lembrar um açucareiro e sua
decoração é composta de uma sequência de plumas de pavão
coloridas, provocando um movimento rítmico. Â peça ê atribuí­
da à Toscana ou à própria cidade de Faenza (ficha da
catalogação antiga).
Nota: Gráças a gentil colaboração de J. V. G, Mallet (Chefe
do Departamento do “Victoria and Albert Museum** recebemos
sobre os °3 albareUos’' segundo s m opinião, a informação é
de que “des seriam- de período anterior (1475), isto é antes
de que se crê que a fábrica de Cafaggiolo tenha tido início.
Eles poderiam provar que /ião são de Toscana mas de algum
lugar da Itália Central" (Correspondência de 20/8/1980).

99
Séc. XVI F A IA N Ç A IT A L IA N A
("albarelios")

É7

Pequena amostragem, porém soberba, de uma parle de O ",albarello" du esquerda revela a escolha do tema floral,
“albareilos" fpoles dc farmácia) que jazem parle do acervo do em que flores e folhagens em movimentos ondulantes e suaves
Museu dc Arte de São Paulo, e qtie fizeram parle dc ama destacam-se sobre o fundo azul. Dir-se-ia uma antecipação
famosa coleção, do começo do século, de A . ímbert, que foi bastante precoce do Art-Nouvcau! Numa visão rápida sobre
exposta cm 1911 no Musce des A ris Bccoretijs de Paris, c as três peças, há que observar que somente a d o ; meio è
depois vendida em 1951 por Matrhiesen no Museu. Devemos à integralmente européia de inspiração, enquanto as duas outras
gentileza e aos conhecimentos de D. Izabet di Canossa a clas­ apegam-se ainda è influência do Médio, Oriente — (Pavão e
sificação da grande maioria do acervo de duzentos e cinqãema flores que constituem os temas principais das produções da
rxrmplarcs! Os dois " albarelios“ da direita sãò de Faenta — o Oriente Médio Muçulmano, como Iznik, Kutaya, etc.).
grande cerni, de onde .desabrochou toda essà floração exube­
Solaz Sobre c origem do “albarello" da esquerda (floral)
rante renascentista na cerâmica, que iria dominar e influenciar devemos consignar a gentil informação de I. V, G. Mallei
de tal forma o mundo Ocidental, que afinei foi adotado o nome (Victoria and Albert Museum) de que a seu ver, a peça “não
de faiança (e também maiótica) aos produtos de suas (ábricos. ê de Faenza, porém de um tipo conhecido c comum feito em
O " albarello” da direita tem corro tema principal um harrno- Veneza na segunda metade do século X VI, usual mente atri­
Htoso arranjo dc três plumas dc pavõn superpostas, policromadas, buída à oficina dc .Maestro Domenico da Venezia” (Carta de
sobre fundo azul. O "albarello" cenrrai apresenta um guerreiro 20/3/19SÔ). Com referência ao “albarello da direita refere-se
i(ituc funo'o ocre dentro de uma grande reserva na parte supe­ ainda que “acredito que não i de Faenza c possivelmente chega a
rior da peça, et, cima de uma faixa branca com dizeres. 1600 se, segundo me parece possível, for Siciliana de Trapani,

100
séc, xvi FAIANÇA ITALIANA
68

O medalhão da esquerda com a representação das “Três


Graças" é policromado com loques de lustre vermelho, traz
6 marca do Mestre Giórgio c está datado de 1525, fabrico de
Gubbio.

O prato logo abaixo, de aba larga e ccruro reduzido è poli-


cromado e da Escola de Nlcolo de Urbino, de cerca de 1530.
Apresenta uma cena mitológica com Cupido, Vénus, Vulcano
c no centro Marte, entre outros desenhos

O prato de baixo, policromado, está assinado por Baldassare


Manara e é do fabrico de Faenzit, datudo dc 1530. Apresenta
uma interpretação da cena da Ressurreição de Cristo, com
Mosto Senhor portando um estandarte cm cruz com uma
flâmula, t tris soldados romanos de um lado do túmulo.

0 medalhão ao aho à direita, policromado, tem a sigla F. R ,


1 proveniente do Ducado de Ur bino e fabricado entre 1525 c
1530, Fez parte da famosa coleção Sãlting. Representa t: marte
dc Cleópatra. Todas essas peças de excepcional fatura e rari­
dade fazem parte do acervo do Vistoria and Âlbert Mttscum,
cuja direção gentilmente forneceu as fotografias e autorizou n
reprodução das mesmas.

101
sêc. xvi FAIANÇA ITALIANA

69

Nesta sêríe de pratos e medalhões extravasa todo o virtuosismo


artístico com que os artistas italianos surpreenderam o mundo
de então na Renascença. Os motivos que mais se prestavam a
essa exibição eram sem dtívida o histórico, o mitológico e o
bíblico, com retratos e cópias de quadros célebres. A série que
exibimos nos.dá uma mostra convincente dessa maestria, tanto
-na escolha das cores como das' personagens e dos fundos que
complementam as composições. O prato do alto é de Urbina c
do ano de J530 e faz parte do acervo do Museu Nacional de
Cerâmica de Sèvres, onde está classificado como “faiança
hispano-maiól ica — Itália“,
Cortesia de H. P. Foures! — Museu Nacional de Cerâmica de
Sèvres.
Os dois pratos de baixo em que predomina o campo azul, cotn
paisagens de fundo c cenas mitológicas, são provenientes de
Faenxa. O prato ã esquerda apresenta uma cena de Ivo e
Atamante e foi fabricado por volta de J525. Traz no verso a
marca F.R. Faenza; o da direita representa urna cena de ipólito
e Fedra, cerca de 1535 (Bald assare Manara), Faenza.
Cortesia de Gian Cario Boiar:i — Museu ínteniazionaÜe deite
Ceramichc — Faenza.

102
Séc. X V I F A IA N Ç À IT A L IA N A
Facnza ■ Vencia

70

Peça no sistema de colorir o fundo branco estanífero, com


outros corantes, no caso o cobalto, sobre o qual foram aplica­
das várias cores na representação das diversas frutas exibidas.
Esta decoração é conhecida de "a Jrulti“. Peça de Facnza,
começo do século X V í. Cortesia dc IIP . Fourest — Museu
Nacional de Cerâmica de Sêvres.

O pralo do centro com um brasão papal c um exemplo típico


da técnica que i chamada internacionalntente de "bianco sopra
aituro", isto é, o fundo todo azul (mistura de cobalto com o
esmalte cslanifcro) e a decoração em "grottesdie." branca. Este
sistema, ao que parece, valoriza o desenho, a fui profusàtmnte
copiado por outros países que. inclusive, empregavam outros
fundos com outras cores, como Marselha (amarelo) Dclft
(preto), etc. O prato ê de Facnza — IS2S-1Í36, provavelmente
da Casa Pirota.
Cortesia de Ciait Cario tiojani — Museu Internazzionalte Deite
Ceramiche — Facnza.

Esta peça está catalogada entre as formais da Col. A. Imbert.


Exímio desenho, proporções e perspectivas perfeitas, cores
suaves trr.do no primeiro plano uma estátua da Virgem com o
Menino lesus ao colo. Este prato no entanto não é de faiança
verdadeira, embora a ela se assemelhe segundo a gentil infor­
mação de D.“ Izabel di Canossa. Trata-se dc uma variante de
"mezza-maiólica", mais apurada, que tem o nome de “Ic.rsim".
Fabrico privativo de Veneza, século XVI.
Cortesia de Pietro Maria Bardi — Museu de- Arte Moderna
dc São Paulo.

103
Sécs. XVI e XVU F A IA N Ç A IT A L IA N A
( Deruta — Faenza)

71

O vaso de cima é proveniente de Deruta e ê do século X V I.


Os italianos sc especializaram, além da cxiltição da heráldica,
de signos de ofícios, na cerâmica„ em fabricar peças com
nomes próprios de noivos e palavras de oferta, etc., de que
é um exemplo este lindo vaso, cuja forma internacional tem
a designação de t‘balustcr,\ De um lado vé-se numa reserva
em forma de palmeia invertida a palavra AD REAN A e do
outro M AD ALENA, o que fuz supor o nome de duas irmãs ou
mãe c filha. No bojo. uma faixa de cadeia ou de trançado,
muito usado com outras variantes na c baniStica do Medievo.
O vaso de baixo seria de Deruta (?) e do século XVII, mais
dentro da concepção clássica do emprego da faiança: isto é,
fundo branco estanifao sobre o qual são apostos os desenhos
cm grupos dc azul com toques dc ocre, ligados por tênues
filetes c que sc repetem. Forma francamcnle globular, quase
sem cola e boca estreita do tamanho do embasamento do vaso.
Segundo John Scott — Taggart (Italian Maiôlica, Londres, pág.
4J) é uma forma estilizada do “cone da pinha” (pine cene),
porém Caetano Ballardini “Daíle Origin alta Fine dcl Cinquc-
ce?ito” (Faenza — 1975) pág. J29, assim se expressa sobre
aquele gênero de decoração: “Stile severo", Famigtia à palmeia
persiana”,
Cortesia dc Pictra Maria fíardi —■Museu de Arre dc São Paulo
— Assis Chateaubriand.
Nota: A titulo dc esclarecimento informamos que segundo
I. V. Cs. Maflet (Victoria and Albert Museum) em gentil obscr-
vação esclarece, que a seu ver, o vaso de baixo “não è dc
Deruta mas da zona Floretuina, provavelmente de Montclupo.
Meado do século XVI. (Carta de 20/8/1980).

104
séc. x v iu FAIANÇA ITALIANA

72

Cafeteira de forma elegante e original, bicolor, cuja decoração


ê conhecida por 'Vi paesino" na morfologia italiana. Fub/ içada
em Facttza pela Manufatura Fcrniani — século XVU1,
 sopeira em faiança poUcromada como feitio, acompanha os
modelos cm curso nus outras cerâmicas européias, sobretudo a
francesa, com as alças quase coladas, /nas sua decoração apre­
senta originalidade e é conhecida rut Itália por "decorazione à
gorofano".

Cortesia de Gian Cario Ifojani — Museo fnternazionalle deite


Ceramiche — Facnza.
Sécs. X V e X V I FAIANÇA ITALIANA
(Faenza)

Estes dois lindos pratos policromados ainda do século XV, transudam a influência oriental e representam já o curso para a plena
decoração do Renascimento, com o belo busto da “Giovcnetta", no centro do primeiro prato; a aba larga deste apresenta intercalado,
a um desenho azul circular, a decoração que os italianos chamam de "palmeia persiana” embora na Inglaterra este ornato seja conhe­
cido como pertencente ã esiiiização do "cone de pinha" (John Scott Taggari - Italian Maiúlica, Londres, pág. dl).
O segundo prato policrotnado, também de aba larga, prende-se, ainda, em parte, ao Oriente, com o famoso ornato de "occhi
di penna de pavanc" — muito em voga no correr do século X V na maiúlica italiana — dominando a decoração da aba; ao
centro, dentro de um circulo perlado azul, distingue-se um cálice entre outros ornatos.
O terceiro prato já é do século X V I (1535/1540), policrotnado, e representa a figura de um santo ao centro e com, a decoração na
aba chamada peias italianos de "à quarticri”. Essa decoração nada mais é do que o reflexo da influência chinesa “Ming", que passa a
predominar no século X V II na decoração "azul e branco" da faiança portuguesa e do resto da Europa, ou seja a decoração de aba
compartimentada. Cortesia de Cian Cario Bojani — Musco IntcrnazionaUe delle Ceramiche — Faenza.
PORTUGAL

os séculos XV e XVI, Portuga! de permanência, como também à colônia Franca, já


assombra o mundo com os Des­ estabelecida ao tempo de seu pai, o Conde Henrique
cobrimentos. Ingressa entre os dc Borgonha e admitida a população hebraica, com­
grandes da terra pelas façanhas posta em sua maioria de mercadores, de físicos (médi­
extraordinárias de seus homens cos) e banqueiros. Cavaleiros ingleses que haviam
— o homem lusitano. Aquela participado daquela frota de libertação, recebem igual­
epopéia que teria reflexos pro­ mente o mesmo tratamento, e dentre os frades
fundos na história, traz para a cerâmica contribuições cavaleiros, alguns vieram a ascender a bispos em
valiosas, não só quanto ao conhecimento que veio a dioceses portuguesas”.
proporcionar da porcelana, como pelas manifestações Assim, desde cedo, apenas dez anos após a
refletidas na faiança de um estilo novo que iria abrir independência do Reino, pode Portugal alargar seu
um campo vasto na decoração ocidental. território e contar com núcleos ponderáveis de estran­
Aqueles feitos surpreendentes e outras interpreta­ geiros que iriam integrar-se na população c colaborar
ções artísticas não poderiam ter lugar se não houvesse no seu desenvolvimento.
bases em que se assentar. Dc novo repetimos um dos Paralelamente, as ligações dinásticas vão consoli­
conceitos de Descartes “La nature des choses est plus dando politicamente o reino e favorecendo a aproxima­
aisée à concevoir lorsqu’on les voit naitre peu à peu” . .. ção com outros Estados. O rei Sancho I, filho do
(Discours de la Méthode). E por isso preferimos fundador, casa sua filha, a infanta D.a Tcreza, com
lembrar alguns daqueles elementos que, a nosso ver, Afonso IX, rei de Leão. Mais tarde é o rei de Castela,
concorreram para aquelas realizações, entre as quais, D. Afonso VIII, que casa sua filha D. Urraca com o
apontamos as ligações dinásticas, a égide da Igreja, a rei Afonso II de Portugal. O segundo filho de D. Sancho
causa comum das Cruzadas, o entrelaçamento mercantil, J, o infante D. Fernando, casa-sc com Joana de
os núcleos populacionais de diversas origens, o grau Constantinopla, Condessa de Flandres. “Este casamen­
de cultura prccoccmcnte atingido. to celebra-se com pompa desusada e mais uma vez
Conquanto Portugal se situa geograficamente no entre Lisboa e Bruges, estabelcceu-se um volumoso
extremo oeste europeu defrontando o Atlântico, seu intercâmbio de barões, cavaleiras, prelados, damas,
destino histórico não ficou isolado do concerto dos homens de armas e judeus mercadores.. . muitos deles
Estados medievais c nem deixou de acompanhar e de se estabelecem cá e lá. . . onde fundam linhagens
participar ativamente dos movimentos culturais, cientí­ heráldicas ou simples casas dc comércio” . . AV
ficos e artísticos do continente, Outro casamento que iria ainda mais aproximar
Quando surge o Condado Portucalense e a seguir a França de Portugal, é o do infante D. Afonso, irmão
0 Reino de Portugal no século XII, .estão lançadas as dc Sancho II, com a Condessa de Bolonha, que passa
bases da formação da nacionalidade do povo lusitano, í rei de Portugal com o nome de Afonso III c foi
que se iria materializar sob a firme, lúcida e resoluta cognominado de “Bolonhês" í4>. O outro casamento de
ação das casas dc Borgonha Portuguesa (1137-1383) importância foi o da famosa infanta D.a Izabel, filha de
c de Aviz (1385-1581). D. Afonso Henrique, o funda­ D. João I, o mestre de Aviz, com Felipe o Bom, o
dor, com a determinação do cavaleiro cristão em liber­ poderoso e culto duque dc Borgonha e Conde de Flan-
tar seu reino dos infiéis, e com estofo de estadista, òres. Este consórcio levou numerosos nobres da
desde logo consolida a jovem nação política e territo- comitiva de D.a Izabel a se radicarem em terras flamen­
rialmcnte. Sua irmã Tareja (Matilde), em 1184 casa-se gas onde logo seriam instaladas várias feitorias de
com Felipe da Alsácia, Conde de Flandres, “e segue comércio no porto de Bruges, Antuérpia e Amsterdã.
para Bruges com várias naus e alguns grandes do Reino Lisboa já era escalada dos barcos genoveses e
c pessoas principais e assim donas e donzelas de linha­ venezianos que se destinavam a Bruges, considerada a
gem, quantas cumpria” <*>. Com habilidade persuade “Veneza do Norte". A Liga Hanscática desde 1250,
os cruzados cm apoiar a expulsão dos sarracenos. “Em íizera de Lisboa um de seus portos de arribada no
1147 uma esquadra de duzentas velas leva os devotos rosário de seus entrepostos marítimos.
cavaleiros de Flandres, Lorena e Inglaterra e vem No século XIII o jovem reino já dispunha de uma
arribar nos portos de Portugal, sob o comando do frota composta de barças e dc caravelas para as suas
Conde d’Acrschot, flamengo. A sua hoste, depois da trocas diretas. No século XIV, D. João I (1389) assi­
tomada de Lisboa, parece que Ioda ou quase toda se nava um tratado de comércio com a Flandres. Para lá de
disseminou pelas províncias do Tejo, povoando exclu­ princípio, eram enviados vinhos, azeite, mel e vinagre
sivamente os municípios dc Alhoughia, da Lurinha, de e recebidos tecidos como a estamenha, a burgia, os
Villa Verde, dc Azambuja, de Cezimbra e de Ponte escarlates, a “olandilha”, tapetes, estanhos, chumbo
Sôr” (P. 6 concedido aos mouros forros vencidos, forai trabalhado(5).

107
Não é pois de admirar que no século XV, Portugal Rainha e os púcaros de Extremóz, por sua elegância
já estivesse maduro para executar a tarefa gigante que c apuro chegaram a fazer parte do vasilhame palacia­
sc propôs e que iria converter-se no correr daquele no c realengo, e vieram a merecer referência do poeta
século e no XVI nas surpreendentes realizações das castelhano Lope da Vega. Os árabes trouxeram ele­
Descobertas e do novo caminho para as índias. mentos complementares com o uso do vidrado, parci­
Mas esse adiantamento no comércio e na ciência monioso no período romano, e o emprego dc esmaltes
não era um fator isolado que não tivesse o complemento coloridos.
correspondente de um amadurecimento cultural c artís­ Alént desses fatores, o contato marítimo com as
tico generalizado. Nas artes maiores, na pintura, ainda Repúblicas Italianas e a Flandres, com outros portos
nos alvores da Renascença era um Nuno Gonçalves — peninsulares e, sobretudo, a contiguidade territorial
pintor régio — que iria abrir a galeria dos mestres com a Espanha, familiarizou os oleiros portugueses
lusitanos e sobre o qual Reinaldo dos Santos se pro­ corn novas técnicas, formas, desenhos e coloridos,
nuncia: ‘‘Esta é a gjória da pintura portuguesa do No século XVI a faiança portuguesa faz sua
século XV: o ter criado uma obra que se pode por a aparição. Desde cedo Portugal lançara mão dos produ­
par dos grandes mestres da época” ÍS). A seguir surgem tos hispano-mouriscos para decorar palácios, entre eles
ainda o mestre Jorge Alonso e sua escola de- “corrente o dc Sintra, com azulejos, como identificou-se com o
nacional” a se desvencilhar da flamenga então predo­ processo faentino, a princípio com o uso dos “fomos
minante, e o grande Vasco Fernandes, o Grão Vasco, de Veneza", próprios para o cozimento da faiança,
entre outros vultos. fomos estes instalados em Lisboa por oleiros flamen­
Na arquitetura D. Manuel com seus arquitetos gos que ministravam também o aprendizado artcsanal
lusos, dava-se ao luxo de fugir em parte às normas da da faiança.
Renascença e dar a sua própria versão aos monumen­ Mas logo os oleiros portugueses dominam aquela
tos, buscando nas raízes góticas e mouriscas e nos sím­ técnica e ainda no século XVI os seus ceramistas pro­
bolos da navegação e da epopéia marítima a inspiração duzem notáveis painéis, no gênero historiado, como
para criar um novo estilo, antecipando-se ao barroco, vimos a propósito dos azulejos, acompanhando as
o Manuelino de que a Torre de Belém é um encan­ inovações decorativas renascentistas. Ainda nesse
tador e sugestivo exemplo. século já iniciam a interpretação dos temas chineses
Nas artes decorativas, na ourivesaria, surgia Gil em sua cerâmica, segundo se depreende dos versos
Vicente, o ourives real que iria executar, entre outras laudatórios a Felipe II, quando de sua chegada à Lisboa
obras, a Custódia de Belém, obra-prima feita com o em 1580, em quo há menção de louça chinesa
ouro que Vasco da Gama em 1503, em sua segunda “contra-feita”.
viagem, trouxera da índia. Na tapeçaria, onde havia Assim, já nos fins do século XVI e princípios do
uma tradição moura, a assimilação dos motivos persas XVII, os artistas lusos evidenciam sua personalidade
e indopersas se manifesta na confecção dos tapetes de e a decoração da faiança toma rumo definido, divul­
Amtiolos a exibir ornatos com palmetas, romãs, gando na Europa as primeiras interpretações do
arabescos, etc. Oriente. Portugal foi o primeiro país ocidental a rece­
Na imaginária, depois das magníficas execuções ber o impacto direto dos novos, abundantes, exóticos
góticas c das clássicas renascentistas, os santeiros lusi­ e atraentes padrões persas, hindus, chineses e japone­
tanos inovam com as imagens de marfim e madeira ses e a imbuir-se de seu espírito e de seu valor decora­
executadas na índia, notadamente em Goa, tivo. Ê o que diz em outras palavras Reynaldo dos
Na ebanística, Portugal enriquece o repertório Santos: “Fomos os precursores dessa sugestão oriental
europeu com a divulgação dos móveis chineses de na arte européia, interpretando-a primeiro por cópia
pernas arqueadas e retas com os biombos e peças direta dos modelos importados, renovando-a depois,
charouadas que no século XVIII iriam conhecer grande associando aos símbolos chineses temas nacionais”.
voga, sobretudo a França com a imitação da laca Apresentam então os portugueses reproduções
oriental pelo “verniz Martin". Porém, Portugal introduz inéditas, é o começo das “chinoiseries” — inspiradas
na Europa um novo estilo híbrido conhecido por sobretudo no período de Wan-Li e das porcelanas
hindu-europeu, com farta marqueteria ao sabor conhecidas por “Kraak Porcelain” (corruptela de
árabe-hindu, também numa demonstração dc naciona­ carraca, embarcação de carga lusa de 1.000 tonéis)
lismo artístico, no período filipino (1580-1640), um e as reproduz na sua faiança. São os desenhos conhe­
gênero de móvel conhecido por nós no Brasil como cidos por “aranhões” e “miúdos” e outros que iriam
“manuelino”, por exibir postumamente alguns dos mais tarde ser copiados pelos holandeses, os quais, a
ornatos ligados à navegação e à epopéia dos Descobri­ seu turno, iriam influenciar a decoração na Inglaterra
mentos (tt) de que os bufetes são um eloquente exemplo, e na Alemanha.
com suas pernas dc bolachas c traves torneadas. No seiscentismo, não só Portugal produz para o
E a cerâm ica, d en tro deste co n tex to , n ã o poderio mercado metropolitano, sei viços de mesa simples como
deixar de acompanhar aquele transbordamento de fartamente decorados, sobretudo armoriados, como já
seiva artística que extrapola tanto entre as artes maiores exporta para o seu mercado ultramarino, mormente
como nas menores. para o Brasil.
No século XVI, Portugal já dispunha de uma Pode-se afirmar que a produção em Portugal foi
infra-estrutura implantada pelos romanos c mais tarde de monta, embora não se disponha de dados precisos
complementada pelos mouros durante a ocupação do a respeito, é o que se depreende da presença farta da
território peninsular. Aqueles, na sua bagagem de faiança nos inventários seiscentistas brasileiros, da
cultura e de estética, transmitiram nas tradições da abundância de cacos disseminados em núcleos habita­
Acrópole e do Palatino, a elegância das formas e a cionais antigos e do material recuperado cm naus
técnica apurada da terracota. As bilhas de Caldas da afundadas em nosso litoral. Aliás, o Centro dc Pes-

108 txeçue na pâg. 116>


Séc. X V I I FAIANÇA PORTUGUESA

74

Peça elaborada corn aranhôes e outros símbolos característicos da primeira metade do século XVII. upresen-
tando ao centro um caçador. Reynaldo dos Santos classifica esse gênero como de decoração híbrida sino-
-lusitana e aponta vários exemplos parecidos (íigs. 34, 35 c 36, pág. 60 de " F a ia n ç a s Portuguesas”).
Cortesia de Enrique Dom íngua Gonzálcz (Museu Nacional Gonzáiez.Marti — Valência).

109
Séc. X V U FAIANÇA PORTUGUESA

75

X classificação desta peça {assim como a fotografia), obtida por cortesia do Victoiia and Alberl M useuai
é: " Prato em faiança pintado cm azul, alemão (Hamburgo) ou porrugues. Datado 1648, diâmetro 31,5 cm’’.
Traz na aba a decoração conhecida por aranhões (boninas, etc.) c no centro um escudo, dentro do qual se
vi um frade, como timbre tris flores estilizadas, e como suportes dois animais alados. Embaixo do escudo
a data de 164H, Acreditamos que a peça c portuguesa c não alemã, porque parte daqueles símbolos tem
significado próprio, O frade porta o hábito clássico franciscano (vide Juan Ferrando Roio F .B .R .O . —
iconografia de los Santos, pág. 22 — Barcelona 1950), com a túnica enlaçada na cintura por uma corda oa
cordão que dela pende com borlas e uni rosário na mão. Os suportes do escudo nada mais são do que
uma versão singela do grifo que desde 1640, com a Restauração, tornou-se uni dos símbolos reais da Casa
dc Bragança, reinante em Portugal. Várias Casas de Misericórdia (a de Lisboa, por exemplo), como vários
conventos c irmandades, usavam a Coroa Real, já que portavam os símbolos da Casa Real ou o próprio
escudo i-eaf ou outros símbolos reais, como emblema, iá que vários deles estavam sob o patrocínio dos sobe­
ranos. Assim, acreditamos que o prato datado de IM S pertenceu a um dos vários conventos franciscanos
que naquela data eslava sob a proteção real bragantina.

11 0
Sees. X V l i / X V U I FAIANÇA PORTUGUESA

75

Segundo^ a classificação dn Museu Nacional de Arte Antiga, trata-se de "trabalho


porlue.urs", séculos X V H /X V íll. De notar nesta peça o arrojo do desenhista tia
esiUizaçSo do rosto de uma jovem e no realce que imprime ao seu toucado, que
absorve quase metade da decoração do fundo. Este género de reproduzir rostos ou
retratos pode ter sido inspirado na faiattça jaentina ou veneziana. género esse
conhecido por "cnidlor:i’\ às vezes com nome f legenda.
A aba larga com o desenho da "faixa barroca" dá um remate harmonioso a iodo
o conjunto e já demonstra a libertação dos pintores lusos das influências orientais!
O prato (aliás medalhão) é em branco e azul.
Cortesia cio Museu Nacional de Arte Antiga Foto-Cãmera.

111-
Séc. X V I I FAIANÇA PORTUGUESA

77

S1';.;!<?'■•/o a classificação do Museu Nacional de Afie Antiga, trata-se de trabalho português do século XVII.
O prato é em auil c branco de decoração sobrecarregada com írfo faixas decorativas que parte da borda
tio circulei central; duas farsas, são as chamadas "faixas barrocas" de criação portuguesa <: a faixa do meio
representa signos chineses e pássaros. X o centro duas figuras sentadas debaixo de urna palmeira e uma ter­
ceira Ctrl pé, junto a um templo {vide O rabicho ou o chimi na cabeça de cada uma) complementava a parte
central. Ramagens e flores, iV o segundo capítulo <parte brasileira}, teremos a oportunidade de mostrar nume­
rosos variantes desses desenhos com figuras chinesas em diferentes posições e abas diversas, que foram
fabricados tanto cm Portugal como na Holanda, na Alemanha (Hamburgo, lo tmk(uri on Mein) c Inglaterra,
Cortesia de> Museu Nacional de Arte Antiga,

117.
séc. X V I I ! FAIANÇA PORTUGUESA

Quatro estatuetas da Fábrica do Rato, em que se observa o completo domínio da matéria por pane do escultor
nos diversos movimentos da criança e também a fina execução com um vidrado forte*
Cortesia Museu Nacional de Arte Antiga — Lisboa,

113
Séc. X V I I I FAIANÇA PORTUGUESA

79

A terrina ao lado em forma de pato de exímia modelagem,


exibe o brasão do Marquês de Pombal, a quem pertenceu o
serviço (Cortesia do Museu Nacional de Arte Antiga ■—
Lisboa).

As outras duas terrinas, a de cima moldada cm estilo rococó,


inclusive a artística pega, e a de baixo com faixa, lembrando
a decoração de Ruão, e com um pegador em forma de cabeça
humana (rara), fazem parte da coleção do Sr, José Maria Jorge,
a quem agradecemos a cortesia de autorizar a publicação.
As tris terrinas são da mesma fábrica do Rato c correspondem
ao século XVIII.

114
Séc, X V W
FAIANÇA PORTUGUESA

so

O prato de feitio octogonal ostenta ao centro o escudo coroado


com adornos bélicos e fez parte do serviço de José Antônio
Freire de Andrade, segundo Conde de Bobadeta. governador
interino do Rio e de Afinar Gerais, fora outras elevadas funções
desempenhadas no Reino. Nasceu em J7ÜS e faleceu em 1788.
Decoração azul e cor de vinho. É de faiança, do fabrico real
Fábrica do Rato. Cortesia do Museu Nacional Soares dos Reis
(Porlo).

8!

Travessa vaiada de forma oblonga com guirlandas de folhagens


e flores na aba. Ao centro dama com vestimenta típica do
século X V III e flores na base. Decoração cm que sobressaem
o verde e o amarelo, transmitindo uma harmoniosa impressão
alegre, e viva. Exemplo típico da pintura de Rocha Soares.
Fábrica de Miragaia, Portugal. Cortesia do Museu Nacional
Soares dos Reis (Porto).

115
quis as Subaquáticas de Lisboa, já descobriu, nas libas em 1824, foi fundada a fábrica de Vista Alegre.
de Cabo Verde, um acervo importante de faiança Passamos a fornecer alguns dados generalizados sobre
seiscentista, o que corrobora a assertiva da exportação essas fábricas.
da faiança para além-mar. MASSARELLOS — (1738 a 1920) foi fundada
Esse fato de Portugal ter sido um grande produ­ por Manuel Duarte da Silva em 1738, portanto ante­
tor de faiança é pouco conhecido ou ignorado, como rior ao Rato. Obteve o privilégio de Real. Produziu
aliás, até pouco tempo os ceramógrafos europeus des­ louça comum para mesa e quarto, No século XIX,
conheciam o grande acervo de louças da índia no esteve arrendada a Francisco da Rocha Soares, pro­
Brasil. Foi preciso, em 1950, publicar uma despreten­ prietário de,Miragaia. Produziu também faiança fina
siosa obra (“O Brasil e a Louça da índia”) para que (pó dc pedra).
baseados nela passassem a incluir o Brasil entre os M IRAGAIA — fundada por João Pedro Miragaiá
grandes importadores da porcelana chinesa, o que foi em 1775, tendo como primeiro mestre Sebastião Lopes
divulgado pelos Cahiers de la Céramique de Sèvres Gavicho. Em 1822, era mestre Manuel José Siqueira;
n.° 7, pelos livros “Les poteries et porceiames chinoi- chamado o Torneiro, que fizera estágio na França, dé
ses”, Paris, 1957 e "Porcciaines de Giine — Com- onde trouxera novos e importantes conhecimentos
pagnie des Indes et Brésil” — 1957, ambos de Daisy técnicos. O proprietário, nessa época, era um sobrinho
Lion Goldsmith, do Muséc Guimet, e pelo livro do fundador que merece nossa atenção, Francisco da
“Porcelainc dc la Compagnic des Indes” — (Fribourg, Rocha Soares. Ele estabeleceu planos para montar
1962) de Michel Beurdeley, perito oficial francês. uma filial no Brasil, mas com a morte do “Torneiro”,
Depois dessas publicações pioneiras e reveladoras ocorrida em 1829, não pôde realizá-los. Era tal o
agora já afirmam: “£ por Macau que no século XVTII, desenvolvimento da indústria que em 1824 arrendou
chegam a Portugal c ao Brasil os mais suntuosos ser­ duas fábricas: a de Massarellos e a do Santo Antônio
viços de mesa da Companhia das Índias” (9). do Vale da Piedade de Gaia. Costumava produzir
Mas há uma razão para aquele desconhecimento. também peças vazadas (ajourées) e em relevo, e a
é que Portuga! não disseminou, a exemplo da Holan­ policromia variava com o emprego azul, verde, roxo,
da, a sua faiança pela Europa. A Holanda produzia amarelo e alaranjado sob coberta, e na ornamentação
para o seu mercado externo e Portugal para si e para usava, nos primeiros tempos, festões e guirlandas.
as suas colônias. O seu grande produto de venda na Mais tarde predominou o desenho de flores como o
Europa como distribuidor, eram as porcelanas chine­ alecrim, rosas, cravos, etc. Sabemos que fabricou louça
sas que junto com as especiarias lhe rendiam polpudos pó de pedra, pois àinda no fim do século XVIII,
lucros. Portugal produzia faiança para o seu mercado solicitou isenção de impostos nos portos brasileiros, o
local e para os estabelecimentos lusos espalhados em que foi concedido,
outros continentes e seus dependentes no setor cerâ­ AFURADA (Gaia) — fundada em 1789, espe­
mico. Nesse final do século XVI e no correr do XVII, cializou-se em fabricar peças em biscuit e faiança
havia dois centros principais de produção — o de pintada.
Lisboa, cuja louça tomou o nome de “Louça de CAVACO OU CAVAQUINHO (Gaia) 1778 —
Lisboa”, e o outro de Coimbra, centros esses respon­ Dispunha a fábrica de alvará régio de 10.02.1794, que
sáveis pelo abastecimento da Metrópole t dé suas concedia a “graça de meios dos direitos de entrada
colônias, junto com outros de menor porte. nos portos do Brasil às manufaturas de louça de pedra
Vejamos com maiores detalhes os centros respon­ da cidade do Porto”. A Real Fábrica de Louça de Pó
sáveis pelo fabrico de cerâmica que se escalonam no de Pedra do Cavaquinho fabricou muito obra de
tempo e se dispersam no território português. forma, estatuetas de ornamentação, peças utilitárias de
De destacar Porto e Gaia, Lisboa, Coimbra, fantasia com figuras, animais ou plantas belamente
Caldas da Rainha, Viana do Castelo, Aveiro, Alco- coloridas.
baça, Extremóz, entre outros. Naquela primeira região BANDEIRA (Gaia) — fundada em 1835, espe­
alinham-se diversas fábricas como a de M assarei los cializou-se em fabricar peças estampadas (estampi­
(173&), a de Miragaia (1775), a de Afurada (1789) lhadas).
e de Devezas (1865) e a fábrica de Santo Antônio do DEVEZAS (Gaia) — fundada em 1865 por
decorrer do século XIX, temos a da Bandeira (1835) Antônio de Almeida da Costa e ainda hoje funciona.
e de Devesas (1865) e a fábrica de Santo Antônio do Pela qualidade e quantidade de produção, é uma das
Porto de José P. Valente, e outras. Em Lisboa hã a mais importantes do país. Produzia e produz toda
Real Fábrica do Rato (1767-1834) e a da Bica do qualidade de material para construção, desde tijolos até
Sapato (1796) e numerosas outras pequenas, ainda peças de adorno (pinhas, estátuas, etc.). Fabrica tam­
no século XVIII; do XIX temos a fábrica Constância bém azulejos artísticos e cópias do século XVIII. Seus
(1836), a de Sacavém (1850), Ratinho (1872) catálogos demonstram a gama de seus produtos.
e tc ... Sobre Coimbra hã que assinalar que cons­ Muito exportou para o Brasil;
tituía centro importante e antiquíssimo de produ­ SANTO ANTÔNIO DO PORTO (Gaia) — de
ção, com um ceramista de talento chamado José Pereira Valente, talvez a mais conhecida entre
Brioso; Caldas da Rainha revela entre outras fábricas nós, pois como Devezas, produzia uma infinidade de
anteriores a de Raphael Bordallo Pinheiro em 1884; produtos no século XIX, que eram apreciados na
Viana do Castelo tem sua grande representação na ornamentação de casas e jardins, como pinhas, está­
fábrica de Darque, também chamada de Viana; Alco- tuas diversas, representando os continentes, as quatro
baça apresenta a fábrica de Juncai (>1770-1876) e no estações e outros motivos, assim como vasos, telhas
século XIX o fabricante José dos Reis; Extremóz foi esmaltadas, etc. . . Existe outra fábrica importante
centro de produção desde os romanos e cm 1893, é chamada Santo Antônio do Vale, que segundo Arthur
fundada a fábrica de Louça de Extremóz, e em Aveiro de Sandão, produziu também artigos ornamentais.

116
RATO — chamada Real Fábrica do Rato, Repre­ daguerreótipos como fabricou faiança, as quais, pelo
senta o centro de produção superior a todos os outros sabor dc sua decoração, são muito procuradas.
do país. Foi fundada por Pombal c por Tomás Brunct- SACA VEM (1850) — Real Fábrica de Louça
to, este e José Veroli, ambos italianos, foram os pri­ Sacavém. Fica a uma légua de Lisboa. Fundada jx>r
meiros mestres e contra-mestres. No reinado de D. José, Manuel Joaquim Afonso. Em 1889, empregava duzen­
Brunetto c ainda vários outros estiveram na direção, tos c cinquenta operários e em 1938 mais de setecentos,
inclusive Sebastião fnácio de Almeida, em 1771, um entre oleiros, torneiros, amassadores, pintores, decora­
dos principais pintores, já no tempo de Brunetto, Há dores, estampadores, etc. Em 1938 fabricava cinco
dois períodos de maior brilhantismo a serem assinala­ milhões de pratos e seis milhões de azulejos. De notar
dos: o de Brunetto (quatro auos), quando a cerâmica entre esses últimos os belos azulejos esmaltados no
sofreu influência italiana, sobretudo nas formas, e o dc estilo Art-Noúveau, Fabrica louça pó de pedra, granito
Sebastião Inácio de Almeida (seis anos), que superou meia porcelana e azulejos.
o mestre italiano no emprego do azul c na policromia COIMBRA — e seu distrito reuniram desde 1145
como na perfeição dos esmaltes, na sobriedade e referências ao fabrico de louça. Em 1203 o Mosteiro
delicadeza da pintura, e quanto às formas, lançou-se de Santa Cruz compra dois fornos para louça e cm
com sucesso nas peças de porte. Além da fabricação 1213 outro, A produção de faiança aparece peia pri­
de serviços, produziu o Rato grande quantidade de meira vez em documentos de 1623. A partir do século
esculturas artísticas e, também como nota de grande XVII até o primeiro terço do XIX a cerâmica coim-
destaque — os azulejos. A pintura decorativa, quer brense mantém uma exuberante elaboração. No final
nos azulejos avulsos, quer na composição de esplên­ do XVII, produzia faianças com ornamentação cm
didos painéis, foi exuberante c bela. No começo de azul — o clássico azul c branco — às vezes com reto­
sua produção fabricou também camafeus à moda de ques dc cor arrouxeada sobre esmalte branco cslant-
Wedgwood. Encerrou suas atividades cm 1836. Não fero, Era típica durante certo período a sua decoração
se devem confundir os produtos da Real Fábrica do de formato flabeliforme nas caldeiras e abas do prato
Raio com os da Fábrica do Ratinho fundada em 1872, (às vezes até no fundo), que passou a ser conhecida
pela Duquesa de Palmeia e pela Condessa dc Ficalho como “rendas”. Seu maior artista foi Brioso. Existem
que se inspiraram em Bernard de Palissy. Ao que cacos representando essa decoração seiscentista encon­
consta, fabricava também louça vidrada, dc policromia trados no litoral de São Paulo (Sítio Guaecá — São
alegre e motivos de flores e outros de tipo popular e Sebastião).
grosseiro. As nossas louças vidradas mineiras do CALDAS DA RAINHA — aí foi fundada em
século XIX, muito se aproximam daquele tipo, A IS84 a fábrica de Rnphacl Bordallo Pinheiro que a
disseminação da louça do Ratinho, que é originária dirigiu até 1905, continuando depois sob a direção de
da zona de Coimbra, deve-se ao falo dc terem os tra­ seu irmão Francisco Raphael, que fez seu aprendizado
balhadores da aldeia da Ratoeira levado aqueles arte­ cerâmico na fábrica de Francisco Gomes de Avellar.
fatos para outros locais de trabaiho, sobretudo para Montou as oficinas, fomos e deu grande impulso à
o Alentejo. fábrica de Caldas da Rainha. Criou novas formas e
BICA DO SAPATO (1796) — Consta que a novos estilos, introduzindo a caricatura na louça com
fábrica teve sua origem na primeira metade do século tipos populares e políticos, dando-lhes vida e movi­
XVII, ou talvez mesmo no final do XVI. De positivo mento. Em terracota aplica a mais exuberante poli­
quanto à sua origem existe uma consulta feita à Junta cromia com cores vivas e esmaltes fortes. Produziu
do Comércio cm 1796, em que Luís Soares Henrique louça vidrada, faiança e faiança fina (pó de pedra) e
"pretende que sua majestade lhe concedesse licença manipulou o vermelho e o azul dc Sèvres com maestria.
para a elaboração de uma fábrica de louça fina, cha­ Seus azulejos do gênero Art-Nouveau e as imitações
mada faiança que estava edificando na Horta das dos azulejos mouriscos são verdadeiras obras-primas.
Flores, junto à Btca dos Sapatos. Havia contratado Diz Raphael Salinas Calado ít0): "Raphael Bordaliu
como mestre Joaquim Simpliciano Franco, hábil na Pinheiro, sugestionado por seu irmão Feliciano e
dita manufatura e cm toda qualidade de “possaria" coadjuvado por Fclisberto José da Costa, fundou a
para uso dc química, assim vidrada, como a vidrar”. fábrica de faianças de Caldas da Rainha”.
Pedia todas as isenções concedidas à fábrica dessa Diz-nos ainda Matilde Figueiredo <n> que: Manuel
natureza. O Príncipe Regente em 1797, concedeu a Maria Bordallo Pinheiro, artista multimodo, teve nove
licença solicitada. Produziu todo tipo de louça sob filhos, três deles artistas: Maria Augusta (1841-1915),
glastira íevemente azulada usando as cinco cores vul­ Columbano (1875-1929), e Raphael que era maçon
garmente empregadas no século XVIII, ou seja, o azul, c com o nome de. Goya, de 1875 a 1879, viveu no
o verde, o amarelo, o vinho (ou vinhoso) e o laranja. Brasil. Seu filho Manuel Gustavo Bordallo Pinheiro,
Em 1813, continuava em produção e pertencia a José também foi artista ceramista. A fábrica conheceu
Rodrigues de Magalhães, porém já em decadência. A dificuldades grandes embora arraste-se numa pobreza
fábrica da Bica do Sapato (no século XVIII, era cha­ dourada com várias medalhas cm 1892 na Exposição
mada de Capato) também era conhecida como Fábrica Colombiana de Madri, em 1894 na Exposição Univer­
do Capitão Mor. sal de Anvcrs, em 1895 na Exposição Industrial Por­
CONSTÂNCIA — esta fábrica foi fundada em tuguesa, cm 1904 na Exposição Universal dos Estados
1836 (Lisboa). Produzia louça pó dc pedra, servindo- Unidos. “Arrasta-se numa agonia financeira que gera
-se do barro branco dc Leiria, também fabricava louça obras extraordinárias que ultrapassam o campo da
de pasta rija preta. Em 1938 fabricava faiança c cerâmica ( . . . ) produz intensamente vários gêneros
azulejos. Ela é também conhecida por Fábrica dos diversos e até fantasias além do Art-Nouveau, que
Marianos c Fábrica das Janelas Verdes, Foi lá que fazem prenunciar o Surrealismo”. Granjeou fama tanto
Ciíka ínstaiou em Portugal a primeira casa de retratos em seu pais como admiração no estrangeiro, pois em

117
Paris recebeu a Medalha de Ouro na Exposição Univer­ de mesa, canecas, malgas, castiçais, jarras, floreiras,
sal e foi-lhe conferida a Legião de Honra pelo Gover­ paliteiros, gòrnis, tinteiros e potes de farmácia (do tipo
no francês. Na decoração da sua nova louça repre­ boião). Por volta de 1859 fabricou também louça
sentava a fauna, a flora terrestre e marinha, a carica­ decorada em azul no gênero de Miragaia.
tura, coisas inanimadas, redes de pesca, peixes, etc. ALCOBAÇA .— funda-se aí a fábrica de Junca!
De cunho nacionalista, produziu também cerâmica (1770 a 1876) por José Rodrigues da Silva e Souza,
figureira na representação dos usos e costumes portu­ pintor natural de Leiria. Obteve em 1784 o título de
gueses, com figuras populares e com parte móvel. Real e foi protegida pelo Marquês do Pombal, a quem
Fabricou todo gênero de cerâmica, inclusive pratos de muito deve a cerâmica do século XVIIL Nas cores
uai azulado diáfano, ânforas, jarras, vasos, etc. im , predominavam o vinoso e o azul. Produziu também
imitou azulejos ibero-mouriscos, como criou magníficos azulejos com modvos religiosos.
e exuberantes azulejos de Arte Nova. AVEIRO — Aí foi fundada em 1824 a fábrica
DARQUE OU VIANA — (1774-1855) foi fun­ de Vista Alegre, por José Ferreira Pinto Bastos. Teve
dada por João Araújo Lima, Carlos de Araújo Lemos, vários técnicos portugueses e saxônicos. Augusto
João Gaspar Rego e Antônio Alves Pereira Lemos, a Ferreira Pinto, filho do proprietário, estudou em
sua produção é de feição regional com bela policro­ Sèvres o aperfeiçoamento do fabrico da cerâmica. Em
mia, embora o uso da modelagem não exceda em 1834 produz porcelana de primeira. Também fabricava
perfeição. As cores são suaves e compõem-se do usual vidros, sobretudo copos de várias cores e belos forma­
setecentista, ou seja, do azul, verde, amarelo canário, tos, assim como pires com brasões, bustos de perso­
laranja e violeta. Usou muito a decoração toda em nagens e de soberanos (D. Pedro II, Duque de Bra­
vínoso com desenhos bastante delicados. Além de gança, D.a Maria II, etc.). Suas porcelanas que incluem
motivos florais e outros como filetes simples e duplos, estatuetas, vasos( bustos, serviços de mesa e de chá,
aplicou desenhos de bordados c um dos característi­ eram de superior categoria, não só quanto à pasta
cos de sua faiança é o emprego de uma linha chamada como no capricho dos desenhos de seus excelentes
"corda” que circunda as abas ou as caldeiras dos pintores e pode-se mesmo dizer que seus produtos
pratos. Produziu grande variedade de peças: serviços podiam revalizar com os melhores da Europa.

118
B I B L I O G R A F I A

(1) I u u o G onçalves — “D e P o rtu g a l e d a A r m o r ia d a


B ru g e s " , in boletim <ia Sociedade de Geografia de Lisboa
— serie 74 n.°s 1 e 3 — 1956.
(2) P in h eir o Chagas -— " História d e P o rtu g a l" — vol. I.
O ) Ju n o G onçalves — o b , eit.
(4) A fonso Eduardo Martins Zuquete — "Nobreza tie
P ortugal " — vol. I — Lisboa, 1960.
f
15) J uliü Gonçalves — o p . c it.
(6) R eynaldo dos Santos — " O ito S é c u lo s d e A r te P o rtu ­
g u e s a " — vol. I — Lisboa.

(7) F rancisco Aüolfho de Varnhagen — " H is tó r ia G e ra l


d o B ra sil" — 2.a cd. vol. I — pág, 160 — Rio.

(8 ) Jo sé M ariano F ilh o , A dolpíio M orales de los R io s ,


c outros.
Í9) J. R. P icard — L P. K erneis — "Les Compagnies de
fndes" — Arlhatid — Paris, 1966,
(10) Museu José Malhoa, catálogo
(11) M atilde P essoa de F igueiredo — “Alguns elementos
inéditos sobre a Cerâmica Raphael Bnrdalio Pinheiro" - ­
Sn Jornal Novo de 13.07.1978.
Idem, rdem — “Cerâmica do Museu Raphael BordaUo
Pinheiro", In rev, Municipal ■
—■ ano XL, n.° 1 — 2,“
série, Lisboa, 1979.
(12) J oaquim de Vasconcellos — ob. cit.. pág. 112.

V asco V a lente — "Cerâmica Artística Portuguesa" —■ Porto.


1949. .
R eynaldo dos — “Faiança Portuguesel* — Lisboa,
S antos ■
1950.
A rthur de Sandão — "Faiança Portuguesa" — ed. Civilização
Lisboa s/d.
P edro V ictorino — " Cerâmica Portuense" — Gaia, 1930.
M arcel D ieülafo Y — “Histoire Générale de PArt Espagne el
Portugal" — Hachette-Paris, 1907.
Luís A ugusto dê O liveira — "Exposição Retrospectiva de
Cerâmica Nacional em Viana do Castelo" em 1915 —
Porto. 1920.
José de Q ueiroz — “Cerâmica Portuguesa" — Lisboa, 1948.
Solanos P arvaux — “La Céramique Populaire du Haut
AleiUejo" — Paris, 1968.

119
FRANÇA

desenvolvimento da faiança na Vários reis da França foram também réis da


França, teve a seu favor diversos Navarra, começando com Felipe o Belo (1285),
fatores, uns de menor, outros de inclusive Henrique IV, no século XVI.
maior relevância. O primeiro de­ Quanto às uniões com a Itália, nada menos do
les se refere à sua superioridade que dois soberanos franceses, Henrique II e Henri­
sobre a louça vidrada comum. que IV, casavam-se com Catarina e Maria de Medieis,
O Dr. ChompretW, nos explica: respectivamenie, cm pleno fastígio da renascença
“O emprego, a prática corrente do esmalte italiana.
estanifero opaco ( . . . ) substituía vantajosamente o Outro fator, conta-nos Yvonnc Brunhammer ®
verniz plumbífero, transparente, empregado até então .. . “que no fim do século XVII e começo do XVIII,
para revestir o barro e combater a porosidade. Era o rei Luís XIV, para pagar despesas de guerra, deter­
uma revolução na cerâmica que iria permitir seu minou por éditos sucessivos que ficaram conhecidos
desenvolvimento. Assim, assistimos no século XVII por "éditos suntuários”, que baixelas existentes de
abrirem-se de todos os lados, na França, as fábricas dc mctal-ouro c prata fossem fundidas, dando aso a que
faiança, a exemplo dos grandes centros dc Nevcrs e fossem fundadas numerosas fábricas com a proteção
Ruão. No século XVIII, poderemos citar mais de do Estado, para suprir as mesas palacianas.
trezentas!!!”. Há que se acrescentar a todos esses fatores o
Outro fator, foi a contiguidade territorial da principal, que consiste na criatividade, no bom gosto
França, com os três maiores centros produtores, a c refinamento e na personalidade do artista francês
Espanha, a Itália e a Holanda. Geograficamente que iria logo, sobretudo no século XVIII, destacar-se
colocada entre eles, no centro de uma encruzilhada entre seus congêneres e desdobrar inovações, tanto na
histórica, por onde sc processaram migrações c se interpretação dos temas importados europeus e orien­
mantinham rotas de comércio, não poderia a França tais como na manifestação dos seus regionais c
deixar de conhecer e familiarizar-se com produtos nacionais.
alienígenas. Tanto foi assim que, desde cedo, ainda Iria a França trazer para o acervo comum da
no século XIV, recebeu peças de O m eto e da Espa­ cerâmica contribuições novas e figurar cm primeiro
nha, azulejsria de Paterna, no século XV c no XVI plano no mostruário universal da faiança. A esse
de outros centros italianos como Faenza, Savona, respeito nos diz Jeanne Giacomoltí: “Durante a maior
parte do século XVIII, a faiança francesa, paralela-
Urbino, e espanhóis de Maníses e Paterna, e no século
mente a de DELFT, e como havia feito a maióíica
XVII o a fluxo da Holanda. italiana na renascença, impôs-sc a toda a Europa e foi
Outro fator foi a presença de mestres italianos, em toda parte imitada”.
como Domênico c Augusto Conrado, de Savona c dc Apontaremos a seguir, alguns dos centros de pro­
Girolamo delia Robia, dentre muitos outros, tanto dução e os artistas que os notabilizaram.
italianos como espanhóis, que se instalaram no sul da NEVERS começa com a participação de ceramis­
França(2), no século XV, Girolamo fazia parte do tas italianos cm 1564: Domênico Conrado de Savona
núcleo de artistas renascentistas convidados por Fran­ e seus irmãos, um deles Augusto, fundam uma fábrica
cisco I, núcleo esse chamado de Escola de Fontaine- com Júlio Gambin, dc Lion. Em 1603 Henrique IV
bleati; segundo consta o grande pioneiro francês da concede o privilégio do fabrico que se estende até
faiança, Masseot Abaquesne trabalhou com Girolamo. 1 6 3 0 , quando então surgem outros estabelecimentos,
Outro fator foram os entrelaçamentos aristocrá­ como o de Barthélemy Bourcier em 1 6 3 2 , o de Pedro
ticos. Citamos apenas os mais importantes, começando Custode e Edme Godin e Nieolau Estienne em 1 6 5 2 .
Em 1754 já se contam mais de doze ateliês. Nevers
pela Casa de Borgonha que, já nos séculos XI e XII,
começou copiando LJrbino e os temas renascentistas,
casava com Raimundo e Henrique -—- filhos de Gui­ sobretudo os mitológicos, depois passa a copiar outros
lherme, Conde de Borgonha — com D ,2 Urraca e centros italianos, como Savona, e mesmo a tratar con­
D.a Tereza, filhas do rei Afonso VI. de Leão e Castela juntamente os temas orientais ao gosto japonês, ao
(a condessa D.a Tereza iria ser mãe de D. Afonso gosto chinês (1660 até o século XVIII) e sobretudo
Henrique, o fundador da nação portuguesa). ao persa (de 1630 a 1710); cria o estilo “nivernais”,
Quanto à Holanda, a casa de Valois — Borgonha baseado na cópia de gravuras, como introduz um
foi senhora do Condado de Fiandres do fim do século gênero, o da “ faiança patriótica” cognominado por
XIV ao fim do século XV, quando passou em 1477 Champfkury de “faiança falante” pelo seu alto poder
para a Casa da Áustria. evocativo durante e depois da revolução francesa, e

121
que iria reproduzir caricaturas, eventos, cenas e cos­ duziu estatuetas, medalhões c formosos baixo-relevos,
tumes populares. Deve-se a Neve rs um itpo de fundo inspirando-se em Ruão c Moustiers. Segyc-se outra
azul da faiança conhecido por “bleu lapis”. Confirma fábrica, a de Antoine Bonneíoy que adotou a decora­
André Pottier <4>: “On fabriquait à Nevers des fayences ção no estilo Luís XVI. Outro ceramista foi Joseph
dites de Perse à fond bleu avec omaments blancs Gaspard Robert (1754-1793), que produziu peças
et fins”. finas técnica e artisticamente, distinguindo-se pelo bom
No decorrer do século XVIII começa o declínio, gosto, senso decorativo e sobriedade: paisagens, flores
período em que copia motivos de outras manufaturas no estilo de Watteau e Boucher com uma caracterís­
como Ruão c Moustiers. tica, a do emprego do dourado. A mais importante
RUÃO — notabiliza-se com a atividade de fábrica fqí a da viúva Perrin, cujo marido Claude
Masseot Abaqucsne e de seu filho Lourenço, no século Perrin havia fundado a manufatura em 1740.
XVI. No século XVII, em 1645, Nícolau Poircl, Em 1748 sua viúva associa-se a Honoré Savy,
senhor de Grandval, obtém o privilégio do fabrico que outro fabricante, até 1770, quando se separa. Savy
arrenda a Edme Paierai que iria mantc-lo cm sua iria distinguir no tom verde cru, com o qual executa
família no decorrer do século XVIII. Outra manufa­ “chinoiseries", paisagens com cenas galantes, flores,
tura importante é a de Jean-Marie Levavasseur cuja etc. A viúva Perrin, associa-se a seu filho, François
viúva casa-se com o grande artista Jean Baptiste Abclard, c a fábrica conhece um grande sucesso com
Gtiíllibaud. No fim do século XVII e começo do o emprego do fogo de mufla e passa a sc distinguir
XVIII tomou um grande incremento com os “éditos pelas cores, pelos formatos e motivos que adota.
suntuários”, que lhe valeram fama no fornecimento de Fabrica serviços de mesa com paisagens, marinhas,
serviços armoriados. Desdobrou a sua decoração de motivos chineses, pássaros, insetos, folhagens, fitas,
múltiplas formas com a criação do “estilo radiante" plantas, flores, pastores, etc. Destaca-se o tratamento
(rayonnant), a versão do rocalha enquadrando cenas dado aos ramalhetes (rosas, margaridas, crisântemos),
de Watteau, Boucher, Fillement, e outros (cenas como os motivos de marinha (troféus, condias c peixes),
galantes, campestres, etc.), do período de Luís XV, que adapta ao estilo rocalha. Peças ornamentais e de
o uso de desenhos de brocados, de cornucópias, moti­ serviços de mesa, como as sopeiras, travessas, são
vos chineses (1725) etc. Influenciou outros centros, inspiradas na ourivesaria. Quanto às cores, em geral
tanto na França como no estrangeiro, que decoravam alegres, inova um género que se tornaria famoso: o
“à maneira dc Ruão”. O estilo mais famoso criado fundo amarelo vivo.
por Gtiillibaud no começo do século XVIII é o radian­
NIDERVILLER — Fundada por Jean Louis
te, essencial mente regular e simétrico, que consiste em
Bcyerlé, em 1742. Em 1770 o Conde de Custine
pequenos motivos lineares, “lambrequins” , "cartou­
torna-se seu proprietário. Empregou primeiro o fogo
ches", brocados e outros elementos, partindo do centro
para as bordas, tendo em geral tio centro cestas de alto passando para o de mufla. Inspirou-se marcada-
mente cm Strasburgo e adotou vários temas como
flores, armas, etc.
paisagens, cenas mitológicas, alegorias, sobressaindo
MOUSTIERS — teria sido um padre de Faenía
os seus coloridos refinados onde dominam as variantes
quem transmitiu a Antoine Clerissy o segredo do pro­
cesso da faiança, cujos descendentes iriam dirigir a da cor rosa c da púrpura dc Cassius. A grande origi­
manufatura (1615 a 1728). Em 1682, conta ela com nalidade são as figurinhas inspiradas nas de Saxe,
o pintor François Viry, que iria introduzir decorações modeladas pelos escultores Charles Savage, conhecido
com máscaras e brocados. Em 1710 os Clerissy criam por Lc Mire e Cyfflé (Paul Louis ou Jean?). Adotou
um género novo imitando gravuras de Bcrain, Sebas­ também fundos imitando madeira (trompe 1'oeil).
tien, Leclerc, Daniel Marot, Bernard Toro, etc., no STRASBURGO — Charles François Hannong,
qual se incluem ornatos de quimeras, esfinges, sátiros, holandês que desde 1709 dirigia uma fábrica dc
bustos, entre outros, e que ficou conhecido por “décor cachimbos, associou-se com um pintor de Anspaçh,
Berain", vindo a ser copiado por outros centros. Em Jean Henry Wackenfdd, e fundam em 1721 uma
1735 Joseph Ollérys (vindo de Alcora) desenvolve o manufatura em Strasburgo e outra em 1724 cm
estilo rocalha com cenas campestres e galantes, guir- Haguenau, passando ambas para o controle dos
tanda, medalhões, a flor da batata e cópias dc gravu­ Hannong. Charles, François, Paul, Pierre Antoine c
ras de Callot (pequenos personagens grotescos com Joseph Adam. No primeiro período a influência foi
elementos florais disseminados). Outros decoradores de Delft e de Ruão e depois alemã e predominante­
ainda se distinguem em Moustiers, então famosa, mente francesa, tanto nas formas como na decoração
como Joseph Fouque, com a decoração “à bandeira” dentro do estilo Luís XV (1750-1780). Dada a
e *‘à fanfarra". Moustiers prolonga sua produção até vizinhança da Alemanha, a manufatura foi grande-
meados do século XJX. mente influenciada com a colaboração de técnicos,
MARSELHA — e seu subúrbio de Saint-Jean du pintores e escultores germânicos de Frankental, Meisscn
Dcsert reuniram numerosos estabelecimentos. Em e Hoechsl. Os rnais importantes colaboradores foram
1677 Joseph Clérissy funda um que iria produzir até Adam Frederic de Loweníink, ceramista e pintor que
1733, inspirado em Moustiers (Joseph era irmão dc introduziu a técnica do fogo brando na França em
Pierre Clérissy, estabelecido em 1679 em Moustiers), 1740, Guillaurne Lanz. (1750), escultor que produziu
ambos filhos de Antoine, que fundou Moustiers belos modelos de sopeiras, de cabeças de javali, dc
copiando o estilo radiante, o Beráin e o rocalha. Outra patos, de couve-flor, como também estatuetas no
fábrica é a de Joseph Fauchíer, que havia sido fun­ gênero dc Meisscn, figuras chinesas e animais e Jean
dada por J. Delaresse em 1696, o qual vendeu a Anne Jacqucs Louis que se especializou em figurinhas O
de Clérissy, que, a seu turno, cedeu a Fauchicr; pro­ que mais caracteriza Strasburgo é o tratamento dispen­

122
sado às flores com as criações chamadas de “ flores com outras flores soltas esparramadas no corpo da
da índia", de 1745 a 1760, as “flores naturais” ou peça ou na aba dos pratos. As “flores finas” apresen­
“flores finas”, depois de 1760. tam uma característica sobre as “naturais” que con­
As da “índia”, no gênero oriental, com galhos siste cm traços finos compondo toda a flor. As flores
carregados de pequenas flores, requeriam uma técnica “chalirouneés” tem uma peculiaridade que consiste
mista apurada de fogo alto para os verdes e amarelos, em proceder a um contorno feito com tinta preta em
e fogo brando para a policromia restante. A decoração volta das pétalas ou das folhas, realçando graficamen­
das flores “naturais” ou das “finas”, inspirada na te as formas, processo esse antigo já adotado pelos
porcelana alemã, consistia em arranjos florais, como mouros, na cerâmica ibero-mourisca e na italiana dos
ramalhetes, situados no centro da peça ou fora dela, Quinhentos.

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f. C' Kj :

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V 'typiQV"1^9 ■

B I B L I O G R A F I A

í i ) Dk. Chompret — “Les Faïences de Dijon" — Dijon, 1954. H ans H auc — "La Faïencerie de Strasbourg" — Paris, 1950,
(2) Y vonne Brunhammer — "La Faïence Française" —
Paris, s/d, H enry CurîIL — "Marques et Signatures de la Faience
(3) Yvonne BruNhammer — ob. cir. / Française" — Paris, 1969.
(4) A ndré PotTier — "Histoire de ta Faience de Rouen" — T heodore D ecjk — "La Faïence" — Paris, s/d,
Paris, 1870 — pis- 298.
J eanne G ïacomotti — "La Majolique de ta Renaissance" —
Paris, 196t.
H enry J. R eyNaud — "Faiences Anciennes de Moustiers" —
Berne, 1961. W. B. Honey — "European Ceramic Art" — Londres, s /d .

123
Sécs. X V I/X V U FAIANÇA FRANCESA
82

Montpellier, 1597: com efígie île Henrique IV. Masséot À bai] liesne (século XVI).

Ncvers, 1650
Açucareiro com corpo apoiado por ires figuras chinesas. Criação
Cortesia do Museu Nacional de Sèvres. de Paul Hanong (século XVIII). Coleção de E. F. Brcmcanie.

124
Séc. XIII FAIANÇA FRANCESA

Ruao (inciüde do século X Vil!) (estilo t adiante). Mousliers (começo do século X V 111).
séc. xvm FAIANÇA FRANCESA
90

Note-se a magntfca amostragem de faiança-'; de Marselha (fornias, desenhos e cores) do conjunto de faianças
de fundo amarelo (lotes 35; 36; 39 e 40), de abas recortadas t Iobtidas com delicados desenhos de floras. De
fundo branco, há que assinalar, como fora de série as duas sopeiras (lote 41), de forma oblonga com várias
reservas separando artisticamente o corpo da peça, contendo ci/tas campestres. Especial atenção deve ser dada
às alças laterais e aos pegadores das magnificas terrinas em forma de animais. Fabrico da Veltve Perrin
(Marselha). Catálogo do leilão realizado em 25.11.76 em Paris,
Cortesia de Mrnes. Ader-Picard-Tafan — Comissaires Priscurs-Paris.

126
sécs. x m /x iv FAIANÇA
(OricKc Médio)

91

Iznik — século X V I

Jarro de Kashan, século XVI!!, com reflexos metStcos.


C o r te s ia F u n d a ç ã o Caloustc Gulhenkian. ,

127
Sécs. X l W X l V / X V l FA IA N Ç A
(Pérsia — Turquia)

94
M■

Fundo de tigela Kashan {século XIV).


Cortesia: Fundação Calousle Gulbenkian.

12S
VII - FAIANÇA FINA

ão incluímos a faiança fina na me e mais resistente e sobre a qual a decoração pintada


categoria da faiança, porque a ou estampada passava a ser aplicada dirctamente e
sua designação é imprópria c ainda a menor custo, o que abarcava uma faixa mais
não corresponde ao conceito ampla dc consumidores.
técnico da faiança verdadeira, Com essas composições inéditas e os novos pro­
embora integrada há mais de cessos de decoração que se seguem, também descober­
duzentos anos na linguagem tos pelos ingleses, a cerâmica ingressa no Ocidente cm
cerâmica. Os característicos de sua constituição química, sua fase industrial.
rnmo os de suas variedades, situam na cm categoria No confronto pois com a faiança, solidamente
a parte, plantada na Europa pelos árabes,- os ingleses e aqueles
Referindo-se a cia Pílcggi aponta o fato quando que adotaram seus métodos e fórmulas iriam levar a
diz que a louça inglesa é dc "categoria intermediária, melhor, Ela não poderia resistir à concorrência que
entre a faiança e a porcelana” fl), lhe veio a ser movida pelos processos industriais, e no
Representa ela aquela ânsia inata do homem que decorrer do século XIX termina o seu longo e frutuoso
não se contenta com o que herdou c desfruta, c reinado artesanal, marcando porém no tempo a sua
inquieto, insatisfeito, curioso e inventivo procura novos passagem c deixando na história da arte um rastro
horizontes e novas soluções para a insaciável sede dc colorido c polimorfo de beleza.
conquislas. E a faiança fina, dentro deste contexto, A faiança fina não nasceu da noite para o dia.
representa o esforço dos oleiros ingleses na busca de Foi um processo que levou dezenas de anos, que
novos processos para substituir a faiança clássica e venceu etapas sucessivas até o surgimento de varieda­
alcançar a porcelana no Ocidente. des que oferecessem condições de serem aceitas pela
Nessa escalada e com a invenção daqueles novos burguesia c pela nobreza dc então, afeitas à boa apre­
produtos, rompem eles com o domínio da terracota e sentação e à qualidade do produto cerâmico.
de seus afins, a louça vidrada e a maióliea (inclusive Estas contribuições inglesas que se escalonam no
os azulejos estaníferos), que durante os séculos XVI, tempo, dada a competição entre os fabricantes desde
XVII e XVIII, constituíram o orgulho c a célula mater o século XVIII, eram de regra patenteadas, para que
da produção ocidental e a tela em que os artistas coevos fosse assegurado aos inventores o privilégio oficial do
expressavam a manifestação de seus de%'aneios artís­ fabrico. Essa precaução não impediu, no entanto,
ticos e decorativos. conforme nos revela a História, que muitas das fór­
Como veremos mais adiante, foi através do grés mulas lassem copiadas através de artesãos espiões
que os chineses alcançaram a porcelana, com um pro­ trabalhando nos estabelecimentos, o que explica que
duto intermediário que foi chamado pelos ceramógra- levavam depois para o estrangeiro ou para outros
fos de "protó-porcelana”. Os ceramistas ingleses, concorrentes aquelas receitas. Isso propiciou a disse­
manipulando o mesmo grés e outros materiais, iriam minação de seu uso na França, Portugal e outros países.
também alcançá-la, porém na caminhada descobriram A esse respeito nos conta Arthur de Sandào que havia
um novo produto intermediário de largo emprego
uma fábrica em Portugal que guardava as suas recei­
prático que foi a faiança fina. A ela logo se apegaram,
tas em cofre.
pois, na realidade, ela oferecia condições de concorrer
tanto com a faiança como a própria porcelana, A descoberta que deu origem a uma das varie­
embora “elas fossem sempre opacas” W. Essas contri­ dades mais difundidas da faiança fina — a louça de
buições inglesas assinalaram um marco importante na pó de pedra — ocorreu por acaso, Como vimos, no
história da cerâmica moderna, pois não só passava a que diz respeito ao vidro e à sua aplicação, e como
ser simplificado o fabrico do artefato, como lhes eram veremos ainda na descoberta do caulim na Alemanha
conferidas vantagens intrínsecas sobre os produtos e na França, o acaso foi um oportuno e benfazejo
existentes, sobretudo no setor utilitário. A simplificação colaborador da cerâmica européia.
alcançada consistia na libertação, a exemplo da por­ Pelo pitoresco da narração, transcrevemos um
celana, das capas ou das películas incômodas e tra­ trecho do capítulo “Faience Fine ou Terre de Pipe”,
balhosas da aplicação do esmalte opaco, das barboti- de Mireillc Ernould Gandonct(3j:
nas ou engobes que revestiam de regra, tanto as terra­ "De todos os lados surgem novas invenções. A
cotas como a faiança, para ocultar-lhe a tonalidade e da faiança fina chega de Inglaterra nos meados do
as imperfeições do barro natural. século XVIII. Desde o final do século XVII os oleiros
A vantagem obtida é que as novas pastas con­ de Staffordshire haviam visto as propriedades do sal
feriam ao produto uma massa mais clara, mais unifor­ marinho sobre a argila; uma glasura translúcida. Se

129
este prqcesso pudesse ser utilizado sobre uma pasta resumem com acuidade a matéria, dizendo: “Existe
esbranquiçada, o resultado seria muito mais interes­ um número muito importante de receitas de faiança
sante, , . Mas como clarear a argila? Em 1725 um fina, cada manufatura tem a sua e esta composição é
ceramista cavalga para Londres. Feliz o acaso das mantida secreta. Sem entrar nas inúmeras variantes,
invenções! O cavalo está com uma doença nos olhos; nós sabemos que a composição da pasta 6 na base de
o ceramista desola-se e o estalajadeiro lhe aconselha argilas e de caulins, de sílica e de feldspatos, enquanto
um remédio infalível — a aplicação sobre os olhos que a glasura se compõe, além do caulim, da sílica e
do animal de sílex calcinado. Hesitante, o viajante
obedece e observa logo que o sílex escuro fica branco do feldspato, de uma quantidade de bórax e óxidos
na calcinação, O animal é curado, o ceramista volta metálicos”, j
para Londres mas pensa no seu negócio: por que não A seguir, para. que o leitor possa acompanhar as
alvejar a pasta por esse meio? O resultado é um etapas e aquilatar o que representou a criação e a
sucesso chamado de “cailloutage”, por que os seixos expansão da faiança fina na Europa, levantamos uma
são em geral pedras (caillou) de rio, O sucesso lista cronológica que, a grosso modo, reflete sua
aumenta ainda substituindo o sal marinho por um evolução.
vemiz plumbífero, Acrescentando cal à pasta, esta fica
Em outro resumo anotamos as expressões referen­
ainda mais branca; assemelha-se tanto à argila empre­
tes à faiança fina e seus derivados para facilitar ao
gada para fazer cachimbos (pipes), que lhe é dado o
leitor a sua identificação ern textos nacionais ou estran­
nome, pelos franceses, de “terre pipe". Não é mais o geiros, e sobretudo quando exibida nas peças cerâmi­
sucesso e sim o frenesi: desde 1760, cento e quarenta
cas encontradas em antiquários, coleções e museus.
fabricantes do Staffordshire mobilizam setenta mil
operários para realizá-la e logo esta nova criação vai
invadir a Europa,"
São incontáveis as fórmulas como inúmeras as A FAIANÇA FINA NA INGLATERRA
HISTÓRICO
denominações dadas pelos ceramistas e ceramógrafos
de diversos países à faiança fina c a seus derivados.
Não iremos nos perder nesse cipoal de siglas das recei­ 1671 — John Dwight, em Fulham (Londres), produ­
tas químicas nem no grau da atmosfera dos fornos e ziu louça vermelha e marrom {red and brown
na repetição de definições personalísticas que, no pottery), em 1684 requereu patente para fabricar
fundo, exprimem a mesma coisa. Há os que fornecem um bom grés (fine stoncware), que d e apelidou
uma, outros que se referem a duas, três e mesmo quatro de “porcelana”, c procedeu aos primeiros ensaios
fórmulas e interpretações daqueles processos. para obter um produto cerâmico resistente e
mais claro. Os seus artefatos ficaram conhecidos
Apontaremos apenas três versões. Diz-nos Joaquim
por “louça de Fulham”.
de Vasconceilos w :
", . A pasta da faiança fina é em geral feita prin­ 1680/1690 — John Elers, ceramista holandês, e seus
cipalmente de argila plástica bem lavada e moída c filhos produziam em Burslem, uma variedade de
sílex calcinado cm pó muito fino, e muitas fábricas grés: “liso, avermelhado, não vidrado”, mas com
lhe adicionam giz ( . . . ) Pela constituição da pasta, a mistura de argila branca e areia fina obtêm
a faiança fina apresenta três variedades: uma pasta de coloração ocre e dão-lhe uma
coberta transparente. Esse gênero de louça ficou
1. a) Faiança raamosa — a pasta contém cal. conhecido por “louça dos Elers”.
2. a ) Faiança fina-seixosa (inglesa), que c com­
posta principalmente de argila plástica refra­ 1715 — Thomas Wieldon (1715/1795) é citado pela
tária e da mais branca, de sílex ou quartzo Dra. Thérèse Thomas, como também um dos
(sic). pioneiros. Thomas Mill, em Shelton, chegou aos
mesmos resultados. Foram descobertas as primei­
3. a) Faiança fina feldspátíca, a que chamam grés, ras jazidas de caulim em Devon e na Conmalha,
formada pela argila contendo caulim c o que veio a propiciar o melhoramento das pastas
feldspato, em cujo vidrado ou esmalte entra da faiança fina e a produção da porcelana na
o ácido bórico.” Inglaterra.
Outra ccramógrafa, a Dra. Thérèse Thomas, no 1720/1750 — John Astbury (c. 1689-1743) de
livro em que defendeu tese de doutorado no Instituto Shelton e seu filho Thomas, junto com outro
Superior de História da Arte e de Arqueologia na ceramista Enoch Booth, inventam um novo pro­
Universidade de Liège(®, divide a faiança fina em duto que estabelece um marco importante no
quatro categorias: faiança fina calcária, faiança fina aprimoramento da faiança fina. São atribuídas a
dura propriamente chamada de porcelana opaca ou esses ceramistas as seguintes inovações: cozimen­
meia porcelana, “cailloutage”, que corresponde ao to à temperatura mais baixa (750°), a substitui­
“eream coloured" inglês, e a faiança Fina no gênero ção do sal marinho pelo óxido de chumbo no
da chamada em alemão de “steingut”. vidrado, e a introdução na pasta, de sílex calci­
Mas, em síntese, aponta a autora uma definição nado. Este novo produto que tomou o nome de
geral bastante lúcida c precisa: “A faiança fina tem “cream ware", por ter coloração mais dara e
como principais características uma pasta branca e oferecer uma confecção mais delgada às peças,
uma glasura plumbífera incolor". Ivonne Brossard e não só encontrou grande aceitação como passou
Alain Jacob em pronunciamento dos mais recentes, a ser exportado.

130
3750/1760 — William Litter produz porcelana em 1743 — Humbert Claude Gerin em Pont aux Choux
1724 no Staffordshire e um gênero de faiança fina (Paris) pede e obtém o privilégio da fabricação
ainda com o vidrado de sal marinho, porém com da faiança fina “à imitação da Inglaterra”. É
uma inovação de coberta azulada. quando aparece pela primeira vez, oficialmente,
o termo faiança Fina.
1767/1785 — Josiah Wedgwood, chamado o gigante
da cerâmica inglesa, aperfeiçoa os processos, 1748 — O ceramista francês Mazois e o inglês John
tanto da faiança fina como do grés, ao qual con­ Hill, em Montereau, fabricam “louça à imitação
fere colorações diversas (black basalt, jasper daquela da Inglaterra”.
ware, etc.), menor espessura e novos formatos, 1749 — Em Lunevilie, na Lorena, Jacques Chambrette
A faiança fina por ele produzida é conhecida, (falecido em 1758) e Paul Louis Cyfflé ( 1724r
segundo o gênero, por “cream coloured ware”, 1806), este nascido em Bruxelas e com estudo
"Queen’s ware”, cm homenagem à Rainha Carlota em Paris, produzem em estabelecimentos distintos
da Inglaterra, "pearl ware”, “cane or bamboo uma faiança fina com partes de cal, conhecida
ware” (imitando bambu). Produziu também peças pelo nome de “terre de Lorraine”.
com reflexos metálicos (lustre ware). Os produ­
tos da faiança Wedgwood são muito reputados 1748 — O ceramista François Boch estabelece-se em
até hoje. Audun le Tiche e seus filhos Pierre Joseph,
Dominique e Jean François, em 1767 fundam em
1770 — A fábrica de Spode fabricou tanto grés como Sept Fontaines (Luxemburgo), uma importante
faiança fina, c mesmo um gênero de porcelana fábrica de faiança fina, e mais tarde, em 1809, a
mole (boncchina). Aplicou o processo de decalque família Boch abre outro centro de fabrico era
(transfer-printing), e em 3781 passou a aplicar a Mettalach, no Sarre. Em 1836, os Boch formam
decoração azul com grande sucesso. sociedade com Vílleroy, proprietário de outro
1793/1887 — A fábrica de Danveníort produz faiança estabelecimento de porte em Walierfangen (Sarre),
fina com decoração de reflexos metálicos (lustre). formando a firma Villeroy-Boch, firma esta que
se expandiu consideravelmente e conta hoje com
1805 — John Turner I (1756/1803) e seus irmãos, dezesseis fábricas no mundo.
de Lane End, produzem um novo tipo de faiança Produziram em faiança e em faiança fina artigos
fina e patenteiam-no sob o nome de “stone china”, de primeira qualidade, tanto louça utilitária como
uma variedade de louça dura, pesada, contendo de adorno, louças com reflexos metálicos, azule­
feldspato (chinastone e cornisfa stone ou petuntze), jos, etc.
e caulim (china clay), dois dos componentes da
porcelana. 1772 — A Manufatura Real “des Terres de France"
à imitação da Inglaterra, dirigida por M. Mignon,
1813 — A fabrica de Spode adquire a patente dos produz artefatos de boa qualidade, inclusive esta­
irmãos Turner e aperfeiçoa a fórmula passando a tuetas e bustos de formas elegantes. Essa louça
qualificá-la tanto de “stone china", como de era provavelmente imitação do “cream coloured
“new stone china”, Fabricou também o “feldspar ware” e era chamada de “terre anglaise” 0).
porcelain”, que nada tem a ver cora a porcelana, 1790 — Em Sarreguemines, na Alsácia, é instalado o
muito copiado no continente. primeiro estabelecimento cerâmico. François Paul
1814 — Coleride J. R. Clews fabrica uma faiança fina Utzscheneider, nascido na Baviera em 1771,
conhecida por “pale cream coloured ware” — a exerce a direção da fábrica no período de 1796
firma encerra-se em 1836. ■ a 1836 e se notabiliza a ponto de ser chamado
“o Wedgwood francês" no tratamento do grés e
1815/1833 — A fábrica 'de Mason patenteia uma da faiança fina, em especial o tipo chamado de
outra variedade de Louça inglesa conhecida por "faiança opaca”.
“Ironstone" ou “Granite China” (granito), que 1796 — O ceramista francês Saint Cricq Casaux e o
segundo uns continha partículas de ferro. A “louça inglês Bagnal fundam em Creil uma fábrica de
de granito” foi muito copiada por outros fabri­ faiança fina e de grés preto .
cantes com motivos orientais e azul e branco.
1815/1840 — A fábrica de Swansea produz também
uma faiança fina, branca, de boa qualidade, A FAIANÇA FINA EM PORTUGAL
conhecida por “opaque china", que 6 copiada na HISTÓRICO
Espanha (Sargadelos).
1787 — A fábrica do Cavaquinho obtém por alvará
de 20 de dezembro de 1793, a prorrogação de
A FAIANÇA FINA NA FRANÇA licença concedida em 1787 por mais dez anos,
HISTÓRICO para fabricar “louça de pó de pedra”, ficando
isenta de metade dos direitos de exportação para
o Brasil.
1740 — Há menção de uma fabrica A Manufatura
Real “de Terre d’Angleterre” dirigida pelo cera­ 1794 — Pelo alvará régio de 10 de fevereiro de 1794
mista Edme (Schaeffers, pág. 187) em Pont aux é estendida às manufaturas do Porto a mesmã
Choux. regalia de fabricar a “louça de pó de pedra” t8).

13i
J 807 — A Real Fábrica do Cavaquinho-Gaia continua A FAIANÇA FINA NA HOLANDA
fabricando luuça de pedra incluindo objetos de HISTÓRICO
adomo.
1764 — Há menção da fábrica ern Amsterdã que se
1824 — É fundada a importante fábrica de Vista transfere para Wecsp sob o patrocínio do Conde
Alegre, que inicia o fabrico de louça pó de pedra de Grosnfeldt.
e da porcelana f9). Seguem-se outras fábricas de faiança fina sob a
1867 — Sacavém expõe seus produtos na Exposição denominação de Pctrus Regout, Louis Regout e
“Societé Cerámiquc” cm Maesiricht. E ainda
Internacional de 1867 em Paris.
M. Boch em Wiek.
1907 — Joaquim de Vasconcellos refere-se ao fabrico
em Portugal da louça de pó de pedra e de granito,
esta usada nas fábricas de Sacavétn e Alcântara. A FAIANÇA FINA NA ITÁLIA
HISTÓRICO

A FAIANÇA FINA NO BRASIL 1867 — M. Riehard (Ginori), em Milão fabrica por­


celana e faiança fina concorrendo na Exposição
HISTÓRICO
Internacional dc Paris de 1867.
1902 — A Fábrica Colombo inicia o fabrico de exce­
lente faiança fina, tipo granito, por artesãos DESIGNAÇÕES DA FAIANÇA FINA E DE SUAS
alemães vindos para o Brasil — Zacharias marca VARIEDADES EM DIVERSOS CENTROS
“Brasil Ironstone” (l0). PRODUTORES
1913 — ê iniciado o fabrico de louça pó de pedra em
ALEMANHA
São Paulo, na Água Branca, na cidade de São
Paulo«». - Steingut (pó dc pedra)
Stcingeul (grés)
1944 — É desenvolvida no mercado por várias fábri­
cas a louça tipo granito «2). BRASIL — PORTUGAL
Faiança dura
Faiança fina
A FAIANÇA FINA NA ESPANHA Faiança fina inglesa (seixosa)
HISTÓRICO Faiança fina feldspática
Faiança fina marnosa
1806 — £ fundada a Fábrica Real de Sargadelos pela Faiança fina seixosa
família Ibanez, que conheceu várias fases aió Granito
Louça inglesa
1875, Produziu louça de primeira, que no catá­
Louça porcelanizada
logo de 1837 é denominada de “loza blanca y Meia porcelana
pintada”, e outros tipos, como ‘‘loza jaspeada” Pó de pedra
imitando mármore, e “loza iluminada", misto de Porcelana opaca
estampagem e de pintura manual. Suas mateas Se mi porcelana
apunham, além da razão social “Real Fábrica de "Terraglia”
Sargadelos”, os termos “china opaca" e "semi- “Brasil Ironstone" (Colombo, Paraná)
-chína”.
ESPANHA — ARGENTINA
1875 — São vendidos por Sargadelos parte dos moldes
à firma Pickman & Cia. (M. Francesco de Apon­ China opaca
tes) que continua a fabricar faiança fina com sede Loza de pedernal
em Moncloa c filiais em Sevilha e Alcora, esta Loza blanca (também aplicada à faiança)
produzindo também no género de Wedgwood«». Loza blanca y pintada
Loza iluminada (Sargadelos)
1749/1796 — 1798/1851 — A fábrica de Alcora Loza Jaspeada ( " )
começa, além da porcelana, a fabricar faiança Semi-china ( ” )
fina, segundo modelos de Leeds, de esmalte Tierra de pipa (Alcora)
brilhante e sem policromia. Produziu jarros com
cabeças de carneiro em relevo e bustos do Conde FRANÇA
de Aranda, seu fundador, assím como numerosas
figurinhas esmaltadas representando chineses, Cailloutage
músicos, camponeses, elefantes, etc„ caixas de Faience fine anglaisc
rapé, cabo de bengala, de facas, etc. Na segunda Faíence fine calcaire
etapa foi muito popular e produziu com realismo Faience fine dure
animais como perdizes, patos, galjnhas, etc. Porcclaine opaque
Destacam-se os artistas Cristóbal Más e Clement Demi-porcelaine
Alcart«4). Terre de fer

132
Terre de fcr ivoirc (Gicn) portugueses e Um francês. Agostinho Rebello da Costa
Terre dc Loralne em 1789 informa: “As fábricas existentes no Porto
Terre de pipe eram bastante para proverem uma boa parte do Reino
c das suas conquistas”.
INGLATERRA Pedro Vttortno<IJ), nos aponta diversas fábricas
de faiança fina (pó de pedra, granito, etc.), como a
Cieam coloured earthen ware
Real Fábrcia do Cavaquinho, Santo Antônio do Vale
Cream coloured ware
da Piedade, Sacavém, Alcântara, Torrinha, Constância,
Cream ware
etc. E lembramos nós ainda outras, também importan­
Feldspar china
tes, como a /de Vista Alegre, Devczas, Massareios
Feldspar porcelain
Miragaia, etc.
Granite china
Hard hearthen ware A moda das Exposições internacionais posta em
Ironstone prática peios ingleses no meado do século XIX, seguida
Lustre ware pelos franceses e por nós mesmos no segundo reinado,
Newstone china no âmbito nacional, para emulação dos concorrentes
Opaque china e estímulo de vendas, com as famosas medalhas dc
Opaque porcelain ouro, prata e bronze, muito contribuiu para a divulga­
Pale cream coloured ware ção da faiança fina. Na realidade a Exposição Inter­
Pearl ware nacional de Paris de 1867 consagrou-a.
Queen’s ware Louis Figuier fornece-nos quadro fiel da sua
Salt glased earthen ware posição internacional há mais de cem anos: “Um
(louça vidrada) século depois de sua invenção, graças à Exposição
Salt glased stoneware Universal de 1867 dc Cerâmica, pode aquilatar-sc do
(grés ou pó de pedra) que representava a faiança fina na Europa. Na Ingla­
Stone china (grés ou pó de pedra) terra o seu fabrico concentrava-se no distrito dc
Stone ware Siaffordshire, onde havia nada menos do que 200
(grés — faiança fina) estabelecimentos entre grandes e pequenos e produziu
White earthen ware tanto para o mercado inglês como para a exportação.
Esse distrito cerâmico no fim do século XVIII contava
ITALIA com apenas 6.000 habitantes nas suas 4 ou 5 milhas
Terraglic inglese quadradas; em IS10 já passava para 31.000 e em 1867
Tcrraglie quadruplicava para 125.000 pessoas. Dessas 30.000,
Sloviglie incluíam-se 10.000 mulheres diretamente ligadas à
fabricação da faiança fina e da porcelana mole”.
SUÉCIA “Na França nesse ano, os centros eram Choisy,
Creil, Montercau, Chantilly, Tolosa, Luneville e
Flint porslin Sarreguemincs".
“Na Alemanha destacavam-sc Treves na Prússia
OBSERVAÇÃO: A palavra China no vocabulário Renana, e as fábricas de M. Boch Buschman em
Inglês tem dois significados, no cerâmico designa lo.iça Mettalach e em Sept-Fontaine, no Luxemburgo, aquela
c no geral, nação. Assim, “english china” é sinónimo com fomo de carvão de pedra e esta com madeira.
de “english ware” ou ainda de "english earthen waie”, “Na Holanda havia importante fábrica de faiança
ou seja, louça inglesa em geral, "opaque china" é louça fina, a de M. Rcgout, em Maestricht, com mais de
opaca, “stone china” é louça pó de pedra, "granite dois mil c seiscentos operários e que tentava disputar o
china” é louça tipo granito ou “ironstone”. Há ainda mercado americano com a Inglaterra, depois a “Societé
subtilezas a serem observadas em algumas palavras Céramique” , em Wick, com duzentos c vinte, e M.
compostas inglesas que empregam o étimo “china”, Boch, também em Wick, com sessenta pessoas”.
como por exemplo: “stone china” é um tipo de faiança “Na Itália, M. Richard, em Milão, dispunha de
fina e "China stone” traduz-se por pedra chinesa a é trezentos operários para a fabricação da faiança fina
sinônimo de feldspato. China clay traduz-se por argila e da porcelana” .
chinesa e significa caulim. “Na Espanha havia fábrica em Moncloa de pro­
Para se ter uma idéia mais positiva do que foi a priedade da firma Pickman & Cia., como existiam
aceitação desse novo tipo cerâmico na Europa e da também em Sevilha e Alcora.
revolução que causou e dos novos rumos que imprimiu “ Portugal, cm 1867, também fabricava faiança
à produção, citamos o pronunciamento de dois autores fina em Sacavém, perto de Lisboa".

* * *

133
B I B L I O G R A F I A

{1} A. PlLEGGI — "A Cerâmica no Brasil e no Mundo” —


pág. 195. j
(2) João T eodoro F erreira P into Bastos —■ “A Fábrica
de Vista Alegre no seu Centenário" — 1824/1924.
[31 M ireille Ernoulu G andonet — "La Céramique en
France au X IX siècle" — Paris, 1969,
(4) Joaquim de Vasconcellos — “ A Indústria da Cerâmica”
— Lisboa, 1907,
{51 Dra. T hérèse T homas — "Rôles de Boch et des Villeroy
dans la Céramique des J8.° et 19.° siècles ■— Sarre broc h
1974 — 2.“ edição.
(6) Yvonne Brossard e A lain J acob — Sarroguemines.
eolection ABC — Paris, 1975.
{71 Schaeffers — Marks and Monograms — pág. 187.
(8) Pedro Vitorino — "Cerâmica Portuense" — Lisboa,
1930.
(9) João T eodoro F erreira Bastos :— “ A Fábrica de Vista
Alegre do Centenário” — 1824-1924.
(10) N ewton C arneiro — Colombo — Paraná — Badesp,
1979.
(11) A ristides P ileggi — ob. c it .
(12) A ristides Pjleggi — ob. cit.
(13) G eorge S avage — H arold N ewman — “An illustrated
Dictionary of Ceramics” — Londres, 1974.
(14) Cristobal .M as e C lement A lcart — " Catálogo dc
Cerâmica Espanhola" — Balbina Martinez Caviro —
Madrid, 1968.
(15) Pedro Vitorino — "Cerâmica Portuense” — Gaia, 1930

A. J acquemart — "Les Merveilles de la Céramique" — 4.3


ed.. Paris, 1889.
W. B. H oney — "European Ceramic Art".
A rthur L ane — "French Faience" — lo n d res.
J eanne G iacomotti — "La Céramique" — I — II — III.
"La Majoliquc de la Renaissance” — Paris, 1961.
G isele Boulanger — “L'Art de Reconnaître les Styles".
Y, BrunhaMmer — "Faience Française".
Louis F iguier — "Les Merveilles de l'Industrie".
G eorges F ontaine — "La Céramique en France au X IX ème”
— 1969.
Joaquim de V asconcellos — "Indústria de Cerâmica" —-
Lisboa, 1907.
H odder M , W estroff — "Handbook of Pottery and Porcelain"
— Londres, 1880.

134
Sees. X V IW X IX FAIANÇA FINA
(Inglaterra)
(azul e branco)

DESENHOS FITO FO R M ES

Sem marca

Marcado Copeland
Sem marca (Guaecâ) com diferença

Coleções: Armando Arruda Camargà/Eldino Brancantc

I3 S
S íc. X I X
FAIANÇA FINA
(fngiaterra)
(Pombinhos — WiUow Pattern)
Quatro rores — fábricas diferentes

. Marcado Warranted Staffordshire (azul)

M anado WiUow Addercys Lui. (cor de rosa). Marcado Slafforshire (cinta) Srone China*
Coleção Armando Arruda Camargo. Coleção Armando Arruda Camargo.

Marcado tronsione Wiílow V. ã_ B. (verde).


Coleção Armando Arruda Camargo.
Qbs.: A fábrica holandesa da Peirus Regout — Maestrí&ãl — também produziu em pá de pedra o mesmo desenho em cor He
Coleção Orôncio Vaz de Arruda. '

136
Séc. XIX FAIANÇA FINA
(Inglesa)
Marcado Dou Iton & C °
Bursleni — England
''Watteau"
99

Prato coberto cm azul borrão. Terrina — parte inferior em azul borrão.

Inciso Copeland, estampado cm verde Copeland Marcadoi!Selected Scenery — Window .— Clews — Warranted
I-ttte Spade. Staffordshire
Coicfüo de Armando Arruda Camargo. Coleção de Arjnando Arruda Camargo.

137
Séc. X IX FAIANÇA FINA
(Inglesa)
(Peças polícromadas e lustradas)

100

Imitando Saisuma
(Japonesa)
Coleção de Armando Arruda Camargo.

101

138
Sêc. X IX FA IA N Ç A FIN A
(Vilieroy & Boch)

103

farra branca, marcada


Vilieroy & Boch — Watíerfangen. Made in Saar Basin*
Coleção “Anrigamente Aries**.

Tigela grande, marca Vilieroy Boch —


Wallerfangen. Bule marcado modelo "Nernoa**. /{, F:
Coleção tcAntigamente Artes”. Keramis (subsidiária de Vilieroy <& Boch).

139
VIII - GRES

grés c a louça viírificada são que acima expusemos. Segundo Joaquim de Vasconcel-
produtos que o homem criou los<tJ, existem duas categorias de grés — o grés comum,
naquela sequência permanente para atender a indústria da construção, como manilhas,
de buscas e aperfeiçoamentos. tubulações, sifões, etc. e o grés fino, para uso domés­
Na cronologia das descobertas, tico, empregado para fabricar botijas, jarros, canecas,
o grés foi real mente produzido louça de mesa, etc.
antes da faiança, que só faz a O grés apresentava uma vantagem considerável
sua aparição no Oriente Médio com o islamismo, e da sobre a terracota, já que a vitrificação dc sua pasta
faiança fina (pó de pedra, etc,), que é criação européia dispensava o vidrado para tomá-lo impermeável,
tardia. Porém dadas as características de pasta dura e enquanto esta necessitava de engobe e. de cobertas para
outras que o aproximam da porcelana, os ceramistas seu uso utilitário. O reinado do grés, tanto no Oriente
classificam o grés mais próximo desta. como no Ocidente, foi dos mais longos e até hoje
Veremos mais uma vez o quanto pode a argúcia subsiste. Na China se prolonga até o fim da dinastia
e a inventiva humana exercidas cm dois extremos do Ming, quando sua produção decai, e na Europa eia
mundo. O homem oriental e o homem ocidental, nos segue em crescente pronunciado, até que o vidro de
antípodos da Terra, descobrem o mesmo produto, Veneza, no século XVII, invade o mercado do vasi­
embora em épocas diversas, dão-lhe novas formas e lhame, por ser mais leve e mais barato, e passa a
decorações distintas e amplificam seu uso. oferecer-lhe concorrência.
Esses homens separados no espaço, na fé, na raça Temos que assinalar que a fase do grés na Europa
e nos costumes — o extremo oriental chinês e o extre­ conheceu dois períodos distintos. Q primeiro é repre­
mo ocidental europeu — além de dar contribuições de sentado pela produção germânica que $c estende pre­
peso na manipulação do grés, brindam a cerâmica com ponderante até fins do século XVII e se caracteriza
mais dois importantíssimos produtos. Através do grés, pelos moldes góticos c clássicos medievais. O outro
o chinês chega à porcelana e o inglês descobre a que se segue é o inglês, que cria pastas afins ao grés
faiança fina; aquela representava a suprema conquista e revoluciona as formas, as cores e a decoração, pas­
no setor, e esta um dos seus mais úteis sucedâneos. sando a adotar motivos coetâneos c dc inspiração
Estes vinham preencher, num momento oportuno, oma greco-romana — iria ser copiado no continente, sobre­
lacuna dentro de uma sociedade industrial que emergia, tudo na França.
carente de arteFatos a preços módicos e cm volume, Quanto ao seu fabrico, dois centros sc destacam
para satisfazer uma clientela de consumo. no Oriente: a China que já o utilizava desde os Reinos
Vejamos o que é grés e louça viírificada, segundo Combatentes no século III a.C., e a Coréia do Sul,
o conceito de vários autores. Segundo Pileggi, “é ama onde ele começa a ser produzido, e em quantidade,
composição de contextura muito forte, impermeável, no período de Sila, que vai de 57 a.C. até 935 d.C. ®.
de grão fino, cozido a alta temperatura, entrando em No Ocidente o papel preponderante cabe à
semifusão ou vitrificação total"; Gustavo Barroso nos Renânia, na Alemanha, e ao Staffordshire na Inglaterra.
diz: “é pasta dura, muito densa, sonora e impermeável, Na Coréia são fabricadas urnas funerárias, tigelas,
de grão fino, opaca ou lustrada, feita com argila plás­ figurinhas, jarros ovais, caixas cilíndricas, garrafas de
tica silicosa e saibro". gargalo comprido com glasuras amarelo-castanho e
Quanto à louça viírificada (não confundir com azeitonada. Porém é a produção chinesa que sc sobre­
vidrada), na composição da pasta são incluídas maté­ leva em quantidade, variedade e apuro, formas e cores.
rias-primas diversas que, depois de levadas ao fomo Diz-nos Daisy Lyon Goldsmith: "Entre as variedades,
em alta temperatura, atingem o coeficiente máximo havia uma escura em que participava da pasta uma
vilrificável, inabsorvente de grande resistência, pratica­ pequena quantidade dc caulim e que veio a scr chamada
mente como o grés. de proto-porcelana”. “Como os chineses já dispunham
Essas duas denominações fundem-se, na realidade, do processo da aplicação do vidrado desde o Imperador
etn uma só categoria, diferftido apenas na variedade Han, estavam eles, na realidade, a um passo da por­
de seus componentes, guardando em comum as carac­ celana dura — diz Mário Prodanc — o que veio a
terísticas básicas de impermeabilidade, do cozimento a ocorrer no reinado de Tang”.
alta temperatura e de sua extrema dureza e sonoridade. No reinado de Han, que foi um período de
Diz-nos Auscher: “Les céramiques à pâtes três desenvolvimento cultural e artístico no qual foi inven­
cuites, non absorbantes, constituem la grande famille tado o papel e o pincel, era costume fabricar réplicas
des grés". Essa asserção do mestre francês confirma o de objetos de uso corrente para colocá-los nos túmulos,

141
inclusive cerâmica de diversos tipos. Esta era feita em pratos e sobretudo os beiarminos. A cor variava do
moldes ou manipulada na roda de oleiro, e composta acinzentado branco ou pardo até o avermelhado, quando
de uma pasta avermelhada ou cinza-ardósia. A g!asara a pasta continha argila ferruginosa, depois vermelho
quando usada era de sílicato de chumbo, geralmente e azul com o emprego do manganês e do cobalto. E
dc tonalidade castanha ou esverdeada <3). ainda combinações diversas na decoração, como parte
Qs formatos, inicial mente eram inspirados nas branca e parte melado na mesma peça ou toda acinzen­
peças em bronze, de rituais, como trípodes, vasos tada ou toda melado. De salientar as peças com deco­
cilíndricos, e depois se diversificam com vasos ovóides ração azul cm fundo pardo, sobretudo em jarros,
de longo colo, tigelas de chã e outras, pratos, gomis, botijas, canecas e jarrões que gozam até hoje de mere­
etc. A decoração podia ser tanto incisa como excisa, cida fama i e são conhecidos por “blauweric”. Muitos
em bandas horizontais. As cores passaram a ampliar-se desses espécimes são conservados de geração a geração,
com cobertas azei tonadas (à base de cinzas vegetais), oriundas da imigração germânica no sul do Brasil no
verde-marrom, marrom-avertnelhado, cinza, branco e século XIX.
pretas. Ou então eram as peças apresentadas apenas Quanto às características dos beiarminos diz-nos
com sua cor natural, proveniente da queima, a exemplo ainda Ulysses Pernambucano de Melo Neto, a quem
da terracota, em geral um produto de cor acinzentada, devemos a exumação dos primeiros e magníficos exem­
rosada ou avermelhada, sem engobe ou coberta: no plares em Suape (Pernambuco) e na Fortaleza de Santa
estado de “biscuit”, que conforme W. B. Honey ^ é Catarina do Gabcdelo (Paraíba): “Os Beiarminos
o termo geral aplicado à louça ou à porcelana sem ( . . . ) tinham, dc um modo geral, forma quase esférica,
giasura. no início, passando depois à forma de pêra ( . . . ) .
A partir do século XVf, os grés de Yi-Shing, de Eram manufaturados no torno. O corpo tem decoração
tons marrons variados (preto e vermelho) alcançaram pigmentada, em branco sujo e castanho; quando esmal­
grande voga, tanto na China como na Europa, onde tado aparece, às vezes, o azul cobalto recoberto por
eram conhecidos também pelo termo “boccaro” e para um verniz transparente. Existem ainda exemplares
onde seguiam bules junto com chá chinês (D. L. apenas esmaltados em cinza e azul, sem pigmentação.
Goidsmith). Na China, os bules em grés eram as peças Suas características ornamentais são uma face humana
mais preferidas e mais fabricadas. “Desde o século Vill barbada, colocada no gargalo do jarro, do lado oposto
os chineses eram grandes bebedores de chá ( . . . ) e à asa, e um ou mais medalhões no bojo. O número
certas peças também eram usadas para vinho. Os desses medalhões varia. Já vimos referências a dois,
chineses parece que preferiam os bules em grés marrom três e mesmo seis, em um só exemplar’.
ou vermelho, sem giasura, feitos em Yi-Shing A carranca entre o gargalo e a pança da peça que
Os chineses apresentam ainda uma inovação de caracteriza o belarmíno teria sido aplicada como repre­
grande efeito decorativo, é a manutenção parcial do sália à pessoa do Cardeal italiano Roberto Francisco
grés queimado em sua tonalidade real, e o restante dele Rômulo que combateu a reforma luterana, ou ainda
com aplicação dc cobertas ou esmaltes em geral mono- representaria o semblante do Duque de Alba, o militar
cromos. O contraste obtido, não só de colorido da severo que combateu os insurgentes nos Países-Baixos.
pasta com o da coberta, como o provocado pelo con­ Porém, ambas as versões parecem não ter conexão
fronto do produto fosco com o brilhante, na mesma histórica, mesmo porque aquela figuração barbada varia
peça, obteve um grande sucesso que iria perpetuar-se de peça para peça. Porém, a designação de belarmíno
no tempo. Numerosas .. dinastias valeram-se desse perdurou.
atraente processo, sobretudo na confecção dc figurinhas Quanto à Inglaterra, o grés comum (stoneware)
ou estatuetas em que são mantidos o rosto, os braços, e o grés vermelho (red stoneware) eram muito usados
as mãos e pês “in natura” e o restante esmaltado. até quase o final do século XVII, quando John Dwight
Posteriormente a Europa iria adotá-lo. Pane desses of Fulham (1670) e outros procuraram imitar a por­
produtos híbridos (biscuit 4- esmalte) são catalogados celana branca com o refino da pasta do grés, é o que
pelos “experts” como “bíscuit-emaillés” . nos.conta W. B. Honey. Porém, a moda dos artefatos
chineses levou o ceramista holandês John Philip Elers,
Quanto ao grés no Ocidente, diz-nos Augusto no Staffordshire, a produzir, em 1693, bules c outros
DemminK): “O grés foi fabricado igual mente na artigos similares aos importados de Yi-Shing — o
Alemanha já no século VIII e a antiga Germânia teve famoso “boccaro” — em grés vermelho sem giasura, sem
sua cerâmica comum e impermeável, como a Gália' leve prejuízo de acompanhar o movimento inovador inglês
a sua desde o começo da era cristã”. e de se ter tomado um dos seus destacados participantes.
Na Renânia, os oleiros, inspirados em potes com Porém Josiah Wedgwood, nascido em 1730 em
figuras do século II, produzem um género de vaso Burslem, cognominado o “pai da cerâmica inglesa”, é
peculiar, que iria tornar-se famoso e que passaria a ser
quem reunindo os conhecimentos e os avanços até então
conhecido como “belarmíno”.
feitos e inovando vigorosamente a técnica e a decoração,
Os beiarminos provêm primitivameme de Sicgburg revoluciona 0 mostruário cerâmico inglês, sobretudo 0
na Westfália, porém não eram esmaltados nem bem do grés. Já dera com o “Queen’s ware” (uma das
acabados. Foram os oleír&s de Colônia que melhoraram variedades da faiança fina) uma demonstração de seu
o produto e passaram a exportá-lo em grandes quan­ gosto e perícia quando fornece à rainha Cariota da
tidades para a Inglaterra, França e Países-Baixos, Inglaterra um serviço de novecentas c cinqüenta e duas
segundo Ulysses Pernambucano de Melo Neto írJ. peças para o banquete oferecido à Imperatriz Catarina
Os produtos cerâmicos alemães, em grés, foram da Rússia. Inspirado cm um tipo de grés fabricado rudi-
ampla meu te difundidos no Medievo e consistiam em mentarmente por oleiros de Staffordshire, chamado de
canecas de cerveja, botijas, potes, tigelas, xícaras, “Egyptian-black”, cria um outro tipo mais apurado de­

142
nominado dc “Black basalt”, com o qual produz serviços Nascem assim várias tonalidades de jaspe: o azul, o
de mesa c peças de adorno já com decoração clássica a2ul-acmzentado, o verde, o lilás, o preto e o turquesa.
antiga — a grego-romana —, com aplicações de “bis- Estes artigos invadem o mercado e servem a numerosas
cuit”. Etn 1775 cria outro produto cerâmico chamado finalidades: camafeus, jóias, braceletes, broches, botões,
“Jasper" que alguns autores classificam como uma varie­ caixas de rapé, castiçais, figuras, bustos, animais, servi­
dade do grés e outros como semi-porcelana. Neste novo ços de chá e dc mesa e depois de 1780, a uma série
produto Wedgwood dá vazão a toda sua potencialidade de vasos
criativa. No jaspe eram adicionados corantes nas pastas João Manso Pereira, no Brasil, ainda no século
que iriam dar ao fundo da peça um colorido uniforme c XVIfJ, produziu lindos camafeus no gênero Wedgwood,
fosco, que servia de campo para dar contraste aos baixo dos quais existem exemplares tanto em Portugal como
e alto-rei evos aplicados em branco — em “biscuit”. no Brasil.

B I B L I O G R A F I A

(1) JOAQUIM DE VASCONCELLOS — ob. C l t pigs. 170/3. (5) Victoria and Albert Museum — "Tea-Pots" — Norwich,
1948..
(2) D r. C hewon K in — G. ST. G. M. G omrertz — “:fb e
(6) A ugusto D emmin — “Guide de VAmateur de Faience et
Ceramic Art of Korea" — Londres, 1951. Porcelaine“, 4.“ cd. — Paris, 1873.
(3) Royal Scottish Museum — "Chinese Pottery amt Porce­ (7) U lysses P ernambucano pe M fxo N eto — “Bdarminos"
lain“ — Edimburg, 1955. — ed. Inst, Arqueológico Histórico e Geográfico Pernam­
bucano — Recife, 1975,
(4) W, ii. Honey — “European Ceramic Art" — Londres. (8) R o bin Reilly — “Wedgwood Jasper" — London, 1972.

143
Sécs. XVUIXVUÎ € XIX GRÉS

105
J04

Grés fabricado por


Bóttger (primeiro
quartel d o ! século
X V Hl) imitando as
peças chinesas de
Yishing. (Peça mar­
cada Meissen: duas
espadas cruzadas e
g r a v a d o “BÒTT-
GER")
Coleção do Autor,

Bule e tigelas com fina ornamentaçao sobreposta marrom —■


Yishing (Çhina) século XVIII.

Tigre pintado (século XVIIt) China,

Fundo de bule dc fabrico de Yishing com idíogramas chineses


de votos dc louvor ao chá.

Pote em grés alemão (século XIX), conhecido


Dragão inonocromo moldado, atui pálido (século XVII), por " biauwerke",
Coleção de Anita Marques da Costa. Coleção de "Antigamente Artes".

144
IX - BISCUIT

denominação apareceu na Itália, Pda altura do século XVII, tanto chineses como
com o termo “bistugio” que se mexicanos e ingleses, fabricaram um tipo de cerâmica
referia às peças que tinham pas­ chamada de “boccaro” ou “bucaro” — deixavam a
sado pelo primeiro cozimento e peça inteira ou parte dela sem glasura, empregando
ainda não haviam recebido a porém argilas de fone colorido (inclusive preto), daí
glasura, passando para o francês serem elas conhecidas cm inglês por “red” ou “brown
com o termo “biscuit"’ que veio síoncware”, ou seja, grés vermelho ou marrom, peças
a prevalecer, como designativo de uma categoria cerâ­ essas que eram usadas tanto para a mesa como para
mica a parte. As palavras “bistugio” ou “biscuit” sâo figurinhas. Esse gênero foi copiado dos afamados pro­
ambas compostas do prefixo “bis”, que indica duas dutos chineses de que Yi-Sbing tornou-sc o protótipo
vezes; literalmente, biscuit provém do latim bis-(-coctus, — um grés vermelho — com o qual eram fabricados
o que significa cozido duas vezes, ou recozido. bandejas, tigelas e bules de esmerada fatura e delicada
De acordo com o especialista patrício António decoração relevada.
de Avelar Fernandes, na técnica dos biscuits com A seguir, no século XVIII, há um ressurgimento
relevo, fabricados por Wedgwood, havia na realidade do emprego do grés sem glasura sob novas fórmulas e
dois tempos ou dois cozimentos: o primeiro era repre­ decoração. São os grés conhecidos por "grés finos’"
sentado pela colocação da pasta branca de decoração (grés cérames) criados pelos ingleses com Josiah
em relevo, nas reentrâncias dos moldes e levada ao fogo Wedgwood ã frente, que lhe imprime artificialrnente
baixo {mais ou menos 300 graus) e depois moldado o diversos e atraentes coloridos na pasta fosca, com apli­
resio da peça com a pasta que iria formar o corpo da cações em geral em branco.
mesma, e tudo então levado ao fogo alto de i .40*3 a A faiança fina, de fundo claro, sem glasura,
1.500 graus; processo esse conhceido por “degourdi” também produto de fórmula inglesa, é aproveitada na
e citado por E. S, Auscher d), França por François Paul Ulzchneider (1771-1844),
A terracota ou o barro cozido sem glasura, como cognominado o “Wedgwood francês", para a modelagem
já vimos, foi empregado desde a Antiguidade em de bustos, estatuetas, etc., em Sarreguemines. Em
túmulos, tábuas pictóricas e esteias com figurações ou Toumai e em Scpt-Fonlaincs (1860), as fábricas do
inscrições, ladrilhos, objetos de adorno e utilitários, e complexo Villcroy & Boch, também se dedicavam ao
no grés, género do biscuit, empregando o mesmo material.
Na parte artística, os escultores gregos a põem em A porcelana mole, sem glasura, também se presta
evidência com a série de estatuetas — as famosas à escultura de bustos e estatuetas. Vincennes e Sèvres,
tâtiagras — assim como os romanos em artísticos vasos na França, como Derby na Inglaterra (1790), entre
moldados. Na Índia e na China, desde eras remotas, outras fabricavam atraentes e esmerados espécimes.
as figuras humanas e as de divindades, como a repre­ Porém é a pasta da porcelana dura, melhor que
sentação de animais, moldadas ou modeladas, eram todas as outras, a que c a mais utilizada para competir
artisticamente produzidas. Na América as representa­ com o mármore — o matéria! predileto das artes
ções figuradas pré-colombianas, coloridas a frio, maiores na escultura,
mostram o aproveitamento artístico da terracota.
Foi Jean Jacques Bachelier (1724-1805), diretor
Em Portugal, para não citar outros centros da Manufatura de Sèvres, que percebeu o alcance do
europeus famosos, os elegantes púcaros de Exlrcmóz emprego da pasta alva da porcelana dura ou branda,
em terracota e as bilhas de Caldas da Rainha, desfru­ sem o vidrado, para modelar estátuas. Isso foi no ano
tavam de merecida fama. de 1753. A semelhança com o mármore conferia-lhe
Porém o grés, que fazem parte da família da uma enorme vantagem sobre as terracotas dc tons de
terracota, apenas com a diferença do material empre­ vermelho, rosado, cinzento ou marrom. Logo Sèvres
gado e da temperatura mais elevada que lhe conferem obteve grande sucesso com os seus artísticos biscuits
maior rigidez e impermeabilidade, passará também a executados tanto com a pasta mole como com a dura.
ser utilizado no seu aspecto natural, ou seja, no primeiro E depois outros centros acompanharam a inovação
cozimento, tanto no Oriente como no Ocidente, como de Sèvres, conto Lunéviile, com seu biscuit conhecido
produto de ordem utilitária ou escultórica. como “patê de marbre”, Saxe, Furstenberg (1760), e
Na Idade Média, o grés, mesmo sem glasura, os ingleses com Copeland (1846) e a sua pasta deno­
conheceu grande voga e utilidade como recipiente, minada “Parian”, tentando imitar os mármores gregos
sobretudo botijas para vinhos. da Ilha de Paros, na Grécia, Capodimonte, Viena,

145
Afurara cm Gaia, Vista Alegre (ambas em Portugal), Para Ivonne Brossard e Alain Jacob, no entanto,
Buen Retiro (Espanha), Sept-Fontaines( Luxemburgo). os grés foscos são impropriamente chamados dc biscuit
Assim, num apanhado panorâmico, vemos que 0 “pois que esse termo refere-se cspccificamente à pri­
homem, aliando sempre o espírito prático ao senso meira etapa do fabrico da porcelana"(3).
artístico, valeu-se, desde eras remotas, da argila sem Tanto Deck, como Honey Pileggi e Mountíieid,
cobertura e sob diferentes misturas, seja ela a simples para não citar outros autores, não restringem o emprego
terracota, o grés, a faiança fina, a porcelana mole e a do termo biscuit à pasta da porcelana cozida sem
dura, para servir aos seus fins, e no caso específico de glasura. De acordo com eles, o biscuit pode ser tanto
encontrar materiais, para, sobretudo, competir com as “terra posta no fogo" (Deck), como peças de barro
artes maiores no terreno da estatuária. cozido óu terracota (Honey c Mountíieid), ou massa
Todos esses produtos dc diferentes composições cerâmica cozida de matérias-primas selecionadas
podiam ser vidrados, porém intencionalmente, o cera­ (Pileggi). Estes autores não se referem nem especificam
mista soube tirar deles um grande partido com seu que o biscuit seja forçosamente branco. Não há uma
aspecto fosco c criar um gênero a parte. Porém, a especificação taxativa de que somente as pastas brancas
apresentação de todos esses materiais cerâmicos apenas e somente as da porcelana sejam consideradas biscuit.
no seu primeiro estágio de confecção deveria receber Donde podemos admitir, a grosso modo, que uma terra­
uma designação genérica, para distingui-los dos produ­ cota de qualquer cor, que não chegou a receber engobes,
tos acabados, isto é, com coberta, o que deu origem a pinturas a frio, esmaltes ou cobertas, pode ser conside­
uma designação específica na cerâmica. Vejamos quais rada biscuit.
as opiniões de diversos reputados ceramógráfos sobre o
"biscuit” e se o termo é mesmo a designação adequada Esta pelo menos é a opinião de E. S. Auscher,
para aqueles artefatos sem glasura. que diz; “Quando a pasta do biscuit acha-se parcial ou
totalmente colorida (como é o caso dos baixo-relevos
Theodorc Deck, grande ceramista e ex-diretor da imitados de Wedgwood, feitos em Sèvres), nós conser­
Manufatura dc Sèvres, no século passado assim se vamos esta denominação” <4).
define: “a terra estando pronta e a peça modelada,
põe-se no fogo, depois desta primeira cocção a pasta Acreditamos que acompanharíamos a maioria dos
chama-se biscuit". William B, Honey, autor de vários ceramógrafos definindo o biscuit como pasta de mate­
tratados especializados, ex-direto: do Victoria and riais diversos, cozida e sem coberta, de diferentes tona­
Albert Mttseum, também nos informa que é um termo lidades, que se destina ao fabrico de objetos utilitários
aplicado às peças de barro cozido e à própria porcelana c de adorno, sobretudo à moldagem e modelagem de
sem glasura particularmenle a esta última. Anstidcs medalhões, bustos, estatuetas, etc.
Pileggi, ceramista e ceramógrafo, ex-presidente do A palavra biscuit, cm Portugal, não tem o mesmo
Sindicato Cerâmico de São Paulo, assim se expressa: significado que na França, corresponde a enchacote,
"Biscuit — massa cerâmica de matérias-primas selecio­ como enchacotar é dar a primeira cozedura à louça
nadas, cozidas à temperatura elevada e que se destina antes de vidrar e pintar<S).
especialmente à moldagem dc bustos, estatuetas e tlores. O étimo "bistugio” italiano, que o francês trans­
Os “bíscuits” de porcelana apresentam lindo aspecto dc formou com o mesmo sentido para biscuit, 6 um
mármore branco, sendo os mais afamados os dc Capo- galicismo que, tendo curso internacional entre os cera­
dimonte, os de Sèvres e os de Saxe”. mistas, também se introduziu no vocabulário luso-
Em definição mais recente, David Mountíieid assim -brasileiro, e na terminologia cerâmica tem o significado
se expressa: "biscuit é porcelana sem glasura, feita expresso a que nos referimos. Não se deve traduzir
primeiro na França no século XVIII e subsequente­ biscuit por biscoito, pois esta palavra em cerâmica pode
mente popular na Inglaterra e alhures; também qualquer ter outro significado como o da massa preparada antes
porcelana ou terracota não glasurada ®. de ser levada ao forno.

B I B L I O G R A F I A
( 1 ) E. S. AUSCHEH — "Comment reconnaître Us Porcelaines (3) Y vonne Bhomard e A lain Jacob — "Sarreguemines”
et Us Faïences" — 3.* ed. — Paris, 1928. Paris, 1975.
(2) David M ountpieu) — “The Antique Collectons Illustratcd (4) E. S. A uscher — ob, cit.; pi,g, 3 0 ,
Dictionary" — London, 1974. (5) Caldas A ulete — Rio, 1958.

146
X - PORCELANA MOLE

porcelana mole também é cha­ lidade estética, não deixaram de conhecer também a
mada tenra, branda ou artificial porcelana e de exibi-la no seu período de fastígio e de
— estes termos sinônimos foram luxúria. Sabe-se pelo menos, no que concerne à seda,
os que os eeramógrafos julga­ que Cleópatra em Roma fez sensação vestida “com um
ram mais apropriados para tecido sérico transparente e claro” num festim a Antô­
designar uma nova categoria de nio, como também que as patrícias depois usavam a
pasta. seda ou a “mousseline” regularmente, a ponto de haver
A designação de porcelana a esse novo gênero numerosas lojas desses artigos em Roma(l>.
cerâmico foi feita porque os novos produtos apresenta­ No século X I o geógrafo Edrisi consigna que em
vam um denominador comum entre as duas variedades; Aden, à entrada do Mar Vermelho aportavam merca­
a translucidez e a sonoridade, peculiaridades estas que dorias da China e a porcelana. Nessa mesma centúria
fazem parte do conceito clássico da verdadeira porce­ começam os Cruzados as suas andanças e as épicas
lana. Porém os adjetivos que lhe apuseram (e que na proezas de Cavaleiros da Fé pela Terra Santa e por
realidade representam pratica mente uma palavra com­ certo não deixaram de tomar conhecimento dela.
posta), indicam “moleza” e “artificialidade”, e adver­ No século XIII Marco Polo (1280) volta de sua
tem de imediato que não se trata mesme da porcelana pitoresca viagem, através tia milenar “Estrada da Seda”,
verdadeira porque esta é constitucionalmente dura. E trazendo entre as variadas e sensacionais novidades a
esta característica da porcelana dura lhe é conferida pólvora e o macarrão. No relato que faz das coisas
pela alta temperatura (1350° a 1400°) e sua compo­ chinesas impressiona o meio cultural medieval e entre
sição à base dc caulim e outros materiais específicos as maravilhas que aponta refere-se à porcelana e às
naturais, enquanto as fórmulas das novas pastas moles suas virtudes, assim como rcfere-se a intensidade desse
são compostas cie outros ingredientes químicos e cozidas comércio no próprio Oriente e à importância da produ­
a temperaturas mais baixas (até 1200°) e não apre­ ção e exportação chinesas.
sentam, um dos requisitos fundamentais da porcelana,
Nos séculos XIII/XIV, as cidades de Amálfi,
que é o de não poder ser riscada à faca.
Saíerno, Nápoles, Bári, Pisa, estabelecem um inter­
As receitas dessas pastas variam de acordo com câmbio direto com os entrepostos do litoral do Oriente
os países e os químicos das fábricas. Segundo Bouillet: Médio, do Egito e de Bisando, no que são suplantadas
“é a pasta mais rica em feldspato com óxido de chumbo; pelas repúblicas de Gênova e de Veneza, depois só por
a porcelana mole inglesa leva fosfato de cal e barita Veneza. Esta passa a exercer o tráfico e a distribuição
(sulfato dc bário); a francesa, no começo de Sèvres, das especiarias na Europa. Tal era esse comércio, que
com calcário e fundente, uma frita composta de areia as galeras venezianas ultrapassavam Gibraltar e alcan­
silicosa, é reconhecida por seu tom levemente amare­
çavam o Atlântico, abastecendo Lisboa e Bruges,
lado". Ainda com referência à Sèvres, W. B. Honey chegando às vezes até Londres e Southampton (2).
informa que na mistura da pasta mole, entre outros
ingredientes, entrava também o alabastro. Savage e Segundo o prof. Kerneisa >, em 1423 o doge
Newman nos esclarecem que a porcelana mole é cozida veneziano Tomaso Mocenigo informava que “a nossa
a 1200° e pode ser riscada por faca; na França é frota de guerra é forte de quarenta e cinco galeras e
conhecida em geral por “pâle tendre” mas em Vincen- 8,000 homens. Temos 20.000 operários uo nosso arse­
nes e Sèvres é às ve2es chamada de “Porcelaine de nal”. Também pode-se presumir' que os venezianos
France”, na Inglaterra é chamada de “artificial porce- distribuíssem embora escassamente, peças de porcelana,
lain”, como também de “frit porcelain”. a que explicaria a sua presença embora rara em algu­
Representam essas modalidades um dos últimos mas casas principescas européias.
esforços dos ceramistas europeus para atingir a cobiçada No século XV é consignado no tesouro do
porcelana. É mais uma demonstração do esforço ingente Landsgrave de Hessen uma raça “céladon” engastada
e contínuo de alcançar a perfeição cerâmica, o topo da em prata (atribuída a 1450), e em 1487 Lourenço de
sua evolução. Vem à propósito relatar parte de suas Médicís recebe vasos chineses do sultão do Egito.
andanças no tempo e no espaço. No século XVI, já aberta pelos portugueses a
Presume-se que desde a Antigüídade a porcelana nova rota do Cabo da Boa Esperança, começam estes
já era conhecida dos latinos. Os romanos dominaram a disseminar os produtos chineses nas praças européias,
o Mediterrâneo — o Mare Nostram — com o grande sendo os mercadores holandeses os seus maiores clientes
porto e entreposto de Alexandria, onde chegavam, das até 1.594, quando resolvem estes buscá-los no Oriente,
mais disparatadas procedências, as mercadorias do impedidos que foram de comprá-los em Lisboa pela
Oriente, como especiarias, marfim, pedras preciosas, guerra declarada entre a Espanha e os Países-Baixos
tecidos, essências, ctc. Eles por certo, com sua sensibi­ por Felipe II.

147
Assim, com a visão e o manuseio, direto do pro­ É em Ruão que Edme Poterat, em l.° de outubro
duto, satisfeita e justificada a curiosidade provocada de 1673, obtém o privilégio dè fazer porcelana. Sua
pela tradição e pelas lendas que envolviam a porcelana, fabricação durou 23 anos, perdendo-se após o segredo.
a elite européia manifesta seu apreço e adota-lhe o uso. Conseguiu chegar a uma pasta translúcida em tom
Rende assim um merecido tributo à> arte chinesa e à ligeiramente esverdeado. A decoração era no estilo
perícia inigualável dos seus oleiros e artistas que exce­ radiariie da faiança de Ruão. Em Reaumur, René
diam a tudo quanto a imaginação pudesse conceber e Antoine Ferchault (1683-1757) consegue um tipo
a tudo que a cerâmica ocidental, já melhorada pelos de porcelana mole conhecida por “Reaumur Porcelain”
árabes, havia produzido. O vidrado brilhante, os sober­ de tom amarelado e translúcida, cozida à baixa
bos tons de seus ja so s e estatuetas raonocromos, a temperatura<éí.
paleta variada de seus esmaltes que imitãvam o jade, No século XVIII, em Saint Cloud, a viúva
o jaspe, o alabastro, a ágata, a safira, a execução Chicaneau decidiu montar um estabelecimento - onde
magistral dos desenhos e o exotismo de suas represen­ existia uma antiga manufatura de faiança desde 1670,
tações, a pasta de uma dureZa, e translucidez desco­ e obtém em 1702 cartas patentes para si e seus filhos
nhecidas, eram realmente dê causar: adlniração. por 10 anos, produzindo, até 1766. Distinguem-se seus
Porém o seu valor no decorrer do século XVI era produtos por uma pasta untuosa, ligelramente creme,
enorme, se nos atermos às crônicas; dai época. Damiào com decoração variada, inclusive “chinoiseries’1 —
de Góes, humanista, amigo da Erasmo, em 1541, produziu também estatuetas, às vezes policromadas, com
informa que vêm da China “as louças a .que chamam' defeitos de cozimento aparentes.
porcelana, algumas das quais se vendem a 50, 60 c Em 1725 o Duque de Bourbon, 7.° Príncipe de
100 ducados”, enquanto. na mesma relação refere-se Condé, funda uma fábrica no Petit Chantilly que ficou
e!c a escravos que eram vendidos a 10, 20, 40 e 50 conhecida por Chantilly. Entrega à direção a Sicaire
ducados! Garcia Horta,- naturalista; e físico (médico) Cirou, que já teria trabalhado em Saint Cloud e obtém
em Goa, refere-se, em 15Ô3, aos produtos importados cartas patentes por 20 anos. Este forma uma equipe
do Oriente, e diz: “e o menos be porcelana que vai às com os dois irmãos Dubois (também de Saint Cloud)
vezes tanto que he mais que prata duas vezes”. Relata- e um holandês de Delft; Antoine Créniy, os quais mais
-nos o Prof. Kerneis(4) que, em 1504, quando Veneza tarde irão para Vincennes. A fábrica passando por
não havia sentido ainda o golpe mortal, desfechado várias mãos dura até 1801, quando vem a falir. Essa
pelos portugueses, ao seu comércio, as mercadorias famosa fábrica conheceu três períodos distintos. No
orientais eram lá vendidas por quarenta vezes o seu primeiro de Cirou (1725-1751), apresenta uma pasta
preço de custo, enquanto na Casa da índia, em Lisboa, avermelhada e esverdeada, inspirando-se na decoração
eram-no por dez vezes o custo, conferindo aos mercado­ de Kakiemon e outros motivos de flores, animais, como
res c aos cofres manuelinos qinda um enorme proveito! figuras chinesas policromadas. Produziu estatuetas e a
Assim, dois fatores surgem para que aquele pro­ representação de Poussah o deus chinês da porcelana.
duto fosse imitado. O primeiro era realmente a sua O segundo período é o da direção de Buquet de Mont-
excelência e o fascínio que causava pelo seu exotismo vallier (1745-1766), em que predomina a decoração do
e qualidade intrínsecas. O segundo era a ganância do Extremo Oriente — “blancs de Chine” flores em relevo,
lucro que leva à tentativa de produzir a porcelana in paisagens japonesas. O terceiro período é o de Peyard
loco, dada a sua aceitação e seu alto valor no mercado e seus sucessores (1760-1801), com decoração no
europeu. gênero francês influenciada por Sèvres — paisagens,
flores finas no estilo rocalha, estatuetas brancas ou
Desses influxos nasce a porcelana mole, branda, policromadas de crianças e animais, preferencial mente.
tenra ou artificiai. Vários países se lançam naquela Em 1738 é fundada a fábrica conhecida por
corrida e desafio, a partir do século XVI até o final do
Mennecy e Bourg la Reine, por François Barbin, numa
XVIII, cabendo à Alemanha, logo no início do XVIII, dependência do Castelo do Duque de Villeroy, um
a glória, no Ocidente, de produzir a porcelana no tipo verdadeiro mecenas. Aquele em 1762 entrega a direção
da chinesa.
a seu filho Jean Baptiste, e em 1773, Joseph Jullien e
Porém, somente três países, a Itália, a França a a Symphorien Jacques, seus sucessores, transferem a
Inglaterra, é que, não alcançando de imediato, criam fábrica para Bourg la Reine onde funciona até 1804.
no entanto gêneros novos, de qualidades apreciáveis, Os seus produtos caracterizam-se por uma pasta leve
que seriam conheeidos por um gênero cerâmico inter­ e translúcida com coberta de chumbo bastante transpa­
mediário e mais próximo da porcelana: a porcelana rente. De aspecto vidroso, lembra a opalina. Produziu
mole. serviços de chá e de toilette, estatuetas, peças de adorno,
Ainda no século XVI são feitas tentativas em Ve­ “blanc de Chine", motivos chineses e japoneses, como
neza em 1519, em Ferrara em 1575 e mais frutuosa em flores, personagens e pássaros inspirados em Vlncennes.
Florença, ao tempo do Duque Francisco II de Médici Utilizava o alto-relevo.
(1574-1587) ®. Entre os diversos espécimes recolhi­ Em 1738 dois irmãos, Robert Dubois (modela­
dos a Museus, figuram belos exemplares no Museu dor) e Gille (pintor) que haviam trabalhado em
Nacional de Arte Antiga de Lisboa: um imponente Chantilly, instalam-se numa dependência do Castelo de
conjunto doado pelo rei Fernando II. Essas peças de Vincennes, sob a proteção de Orry de Fulvy, inten­
exímia fatura apresentam formas e desenhos variados, dente das Finanças. Em 1745 Charles Adam assume
em branco e azul, inspirados na faiança italiana, com com outra equipe até 1752, Em 1753 Eloy Brichard
motivos da Renascença, e também em modelos chineses dirige a fábrica e a Marquesa de Pompadour a protege
exportados para a Pérsia. e o rei acaba comprando um terço das ações do empre­
No século XVn são somente os franceses que se endimento que passa a ser chamado de Manufatura
empenham na busca da porcelana. Real de Porcelana de Vincennes. De começo a pasta

148
cra medíocre e depois qualificada de magnífica, Até Giacomotti que se trata de “uma porcelana mole
1745 a decoração inspira-se em Meissen e na. China, inventada pelos ingleses intermediária entre a mole c
passando depois para o gosto francês. Contou com a dura, contendo ossos calcinados, além da parte de
soberbas encomendas da Marquesa de Pompadour. O caulim e feldspato na pasta”, pasta esta que é melho­
ourives Duplessis deu-lhe notoriedade com os modelos rada por Spode em 1799 e passou a constituir uma
“rocaille” para as peças. Seus pintores influenciavam-se especialidade das mais usadas na Inglaterra”.
em Boucher. Distinguem-se dois períodos — o primeiro Chegam os ingleses também (1748) a um tipo de
até 1745, ao gosto chinês, com “blancs de Chine”, porcelana mole à base de mistura de esteatita, (ou seja,
decoração de flores das Índias e cenas chinesas. No pedra sabão, talco ou siiicato de magnésia) na pasta.
segundo, de 1745 a 1756, é o gosto francês que se Esta variedade foi usada em primeiro lúgar èm
reflete com decoração floral, guirlandas c arabescos. Lund’s Bristoí Factory e transferida em 1751 para
Na escultura sobressaem personagens e animais e temas Worcester, usada também em Caughley e Liverpool(,0).
de Boucher e Oudry (animais e caças). Produziu Porém o fabrico da porcelana mole não ficou
excelentes biscuits. restrito aos países citados. A Itália, ou mais especifica­
Em 1756 a fábrica de Vincenncs &transferida para mente Veneza, retoma o fabrico da porcelana mole
Sèvres em propriedade adquirida da Marquesa dc que no correr do século XVI já havia sido produzida
Pompadour. Eloy Brichard continua na direção e e conhecida como “Porcelana dos Médici” .
aumenta o quadro dos colaboradores com notáveis Acredita-se que por volta de 1720 a porcelana mole
elementos, como o químico Maequer. Em 1759 o rei recomeçou a ser produzida, ignorando-se no entanto a
Luís XV adquire todas as ações c indica Boilcau dc composição da pasta italiana.
Picardie diretor-gerente. Sèvres conhece então um A primeira fábrica do gênero é conhecida por
período de grande produção e de notoriedade, dada a “Casa Eccellenttssima Vezzi”, fundada por Francisco
qualidade de seus artigos. Por volta de 3784 compra Vezzi (1651 1740) c seu irmão Giuseppe, ambos piós-
uma fábrica em Límoges. De 1779 cm diante passa peros ourives, que iniciaram uma sociedade cerâmica
para o fabrico da porcelana, produzindo no entanto a com Lucca Montovani e produziam também porcelana
mole até 1800. Fabricou serviços de mesa, toilette, café, dura. A produção era de primeira qualidade, variada
chá, vasos, jardineiras, e de figuras, A decoração e policrornada com máscaras, figuras chinesas, decora­
obedece aos estilos de Luís XV e Luís XVI, com flores, ção às vezes moldada, flores, pássaros, arabescos,
pássaros, paisagens, cenas, jogos de crianças (Boucher), desenhos geométricos, ete. Nela destaca-se o vermelho
cenas galantes (Watteau, Lancret), marinhas c batalhas vçneziano (vivo), com aplicações prateadas nas alças
a moda holandesa, com motivos também de fitas dobra­ e abas, imitando guarnições de metal. Também doura­
das e mais tarde pompeianos. Produziu peças monu­ vam e decoravam as abas dos pratos com desenhos em
mentais de até dois metros com relevos em biscuits e preto ou coloridos.
placas, na escultura Falconet apresentou uma série Outras fábricas dè porcelana mole se notabilizaram
notável de estatuetas em biscuits<7). mais tarde em Veneza, no século XVIII: a dos
Quanto aos ingleses, desdobram-se eles cm esforços Hewelcks, fundada em 1758, vindos da Saxônia, a de
para conseguir a porcelana verdadeira, sobretudo depois Geminiano Cozzi, fundada em 1765 e que funcionou
de 1709, quando a Alemanha já dominava o seu fabrico até 1812, e a de Antonibon, na localidade de Nove, que
mas zelosamente guardava o segredo, como a China, da produziu também faiança e perdurou até 1888(n>.
matéria-prima básica, o caulim. Nessa corrida para A porcelana mole dos Vezzi que até 1758 não
alcançá-la, descobrem primeiro a faiança fina com suas sofreu concorrência na Península, veio a ser exportada
variedades (pó de pedra, etc.) e mais tarde chegam para o Brasil. Acreditamos mesmo que essa exportação
também à porcelana mole por outras vias e processos. fosse regular, pois que desde o ano de 1739 constava da
Primeiro copiam os franceses, e a seguir, com pauta da Alfândega do Rio de Janeiro a designação
composições químicas inéditas produzem outras vari­ de “louça Fma de Veneza” (1I).
antes da porcelana mole. Essa porcelana mole dos Vezzi devia ser muito
A primeira fábrica foi a de Chelsca, por volta de reputada no Brasil, já que em 1739 era avaliada em
1743, no género da pasta francesa®. $300 réis a dúzia de peças, ou seja, quase o dobro do
Depois é criada a variedade conhecida por “ash preço da “louça fina de Lisboa ou do Porto” (estas
bone porcelatn” ou por “fosfáíica” ou “fosfatada”, por eram ainda de faiança), avaliadas no mesmo documento
Thomas Frye, em Bow©>. Informa-nos Jeanne em $160 réis a dúzia!

149
B I B L I O G R A F IA .

(1) R. P icard — I - F. K erneis — T , Bruneau — "Le.t


Compagnie d e s In d e s " — Paris, 1966.
(2) G eorges ,Lef Ranc — "Histoire du Commerce” — 6.a
ed,.— pág. 32 — Paris, 1972.,
(3) Prof. K ern Eis — _ab. e it.
(4) Prof. K ern eis — ob. d t.
(5) G eorges F ontaine — o b. d t .
{6'J Bernard ano T herle H ugues — "English Pottery and
Bone China”. — 4.a ed, London, 1969.
(7J G eorges F ontaine — o b . d t .
(8) G eorge Savage ano H arold N ewman — "An-Illustrated
Dictionary of Ceramics" — London.
(9) B ernard and T herle H ugues — "English and Bane
China” — London, 4.* edição, 1969,
(10) G eorge Savage — H arold N ewman — ob. d t.
(11) Schaeffers — pãgs. 439/444,
(12) Arquivo do Estado — “ D o c u m e n to s In te r e s s a n te s ” —
vol. 45 — pág. 133.

150
Sêc. XV / PORCELANA DE MÉDICI

Segundo J. Gian Cario Bojani. diretor âÕ Museu Internacional delle Cercmiche de Faenza, as peias
conhecidas por Porcelanas dos Mediei, classificadas como porcelana mede, são raríssimas, calcula-se um
máximo de sessenta conhecidas. Na fotografia acima vê-se um lindo e elaborado gomil, hem ao gosto de
Renascença italiana e uma bacia gomilada com motivo sacro ao centro (não são essas peças do mesmo
conjunto), ambas de exímia futura e desenho, olé/n de excelente vidrado. Conforme a autoridade já citada,
foi redcscoherta a fórmula dessa porcelana há pouco tempo petos alemães que descobriram quartzo
na frita de composição. A rilhas as peças foram doadas ao governo por D. Ferdinando Sare Coburgo
Cota, segundo esposo da rainha nona Maria II. Eriste no Museu de Sèvres magnifico frasco do ano df
1581 com as armas elaboradas de Felipe II, encimadas por coroa real, em azul e branco, também em
Porcelana de Mediei.
Cortesia do Museu Nacional de Arte Antiga.

151
Séc. X V 111 PORCELANA MOLE

A x'tcara e o pires polie tomados, com predominância do azai


(bleu du roiJ e ouro, eslão marcados Sèvres e são do período
de 1793 a 1798. São raros os exemplares desse período, conhe­
cendo-se atém desles os do Museu Nacional de Arte Antiga
(Lisboa), e os de Victoria and Albert Muséum. Cortesia de
Newton Carneiro. O bule do centro é vm raro exemplar da
lúbrica de Vezzi, em Veneza, do período de 1723 a 1727. Par
mais estranho que pareça, a Aif&ndega do Rio de Janeiro, nu
pattla de 1739, consigna peças daquela procedência, vindas
para o Brasil, com a classificação de "louça fina de Veneza".
iVo ano de 1977 foi posto em leilão no Sotheby's, em Londres,
peça similar. O pires de baixo com flores soltas e listeis azuis
e dourados {soucoupe à pied), é peça marcada de Sèvres pintada
por Niquet e Tandart, datada de 1770.
Cortesia de Antônio Leon Fiiho.

152
Sêc. XVUI PORCELANA MOLE
2.A metade

I 14

A ,t ditas xícaras Ar Vincennes estão cem marcas de Sevres. A primeira lembrando Meissen,
com fundo branco e delicados desenhos poUcrornaâos. A segunda tem o formato de tona escude-
la (com duas alças douradas laterais), c faz parte de uma série famosa conhecida por "■Orni-
thológica". ,\o pires em unia reserva há a reprodução do pássaro " engoulemenl", c na outra do
“mouckerole"; na xícara, de um lado "te cor mor an”, c de outro “U harté”, Acreditamos que
o serviço de chá deva ter sido executado entre 17S0/I7S8, e tenha sido desenhado por Duíandu.
A título de informação, um aparelho de jantar e sobremesa da Coleção Barão Edmundo de
Rathchild Esq. foi vendido cm Londres em 30 .€5.75 por £. 33 .600 (USS 77,280)1 Vide
Christie's Review 1975 — London,
Cortesia de José Eduardo Loureiro.

115

Xícara e pires em fundo 11bleu du roi” com esmaltes


verdes e pingos vermelhos e turquesas imitando pedras
preciosas, moda pesta em voga por Sèvres e Vin­
cennes a partir de 1780, (Savage <£ Newman — A n
Illustrated Dictionary, Londres), Tanto a xícara como
o pires têm a marca de Sevres correspondente ao
período de 1793.
Coleção do Autor.

153
Sees. X V IIIfX IX PORCELANAS FRANCESAS
Sèvres
(Pastii mole c dura)

à esquerda, xícara (caneca) e pires de um mes­


mo serviço de fundo rosa e desenhos no centro.
O prato de serviço de chá também apresenta a
mesma cor de fundo, aplicações douradas e um
agrupamento de flores no centro, formato irre­
gular lembrando concha. Estas peças cm porce­
lana mole exibem a cor famosa, conhecida por
“Rose Pompãdaur3'.

líô

Peças do serviço de Madatne Dti Barry, favo­


rita do rei da França Luís X V — (com as
iniciais D. 13.) de rica decoração policrotnada,
ainda dentro do estilo rococó (as iniciais na
fotografia estão invertidas), marcado Sèvrcs
(177!).

U 7

Bandeja do serviço de chá, encomendado por


Pauto Petrowitz com suas iniciais no centro, a
água bicéfala c a coroa imperial russa. De­
coração rica e pesada em que sobressai o dou­
rado. Ao lado, bule c xícara (caneca) do mesmo
serviço. Porcelana dura, marcada Sèvrcs (ano
1772). A representação desses três famosos ser­
viços deve-se á cortesia do Museu Nacional de
Cerâmica de Sèvrcs.

154
X I - PORCELANA DURA
(Porcelana chinesa antiga e moderna)

ste tópico sc refere somente à das Quinas — as armas do Reino de Portugal, são os
porcelana dura chinesa até os primeiros signos que abrem na cerâmica chinesa a série
Descobrimentos e à moderna. A dos ornatos europeus, marcando nela o início de uma
de permeio será comentada no fase decorativa à maneira Ocidental.
2.° Capítulo. Entre múltiplas A China, que já produzia para o mercado asiático,
definições qtie sc equivalem, vê, abruptamente, abertas as portas para fornecimentos
preferimos esta: Porcelana dura cm escala universal. Ela iria seguir e conservar depois
(em chinês Tzu) é composta de uma pasta de argila da chegada dos lusitanos, o mesmo princípio que carac­
branca contendo caulim, quartzo e feldspato ou mine­ terizava a sua produção várias vezes secular no meio
rais de composição análoga, cozida à alta temperatura; e ambiente asiáticos: parte de sua produção continuaria
estrutura sólida branca, vitrificada e vidrada, translúcida destinada ao seu uso doméstico, parte para fornecimento
e sonora, descoberta na China no período de Tang, na dos palácios imperiais, ambas tipicamente chinesas, e
Europa (Alemanha), em 1709, por Johan Frcderich parte ao gosto da nova clientela.
Bõtgger,.c na América do Sul, (Brasil), em 1793, por
Assim, parece-nos licito visuatizar a vasta história
João Manso Pereira.
da cerâmica chinesa em duas fases distintas: a sino-
Como já foi dito, a China foi a nação que muito -asiátka ou sino-oriental, que representava o "status-
antes das outras produziu porcelana. quo” cerâmico até os Descobrimentos, e a sino-ociden-
Nessa caminhada milenar, cada reinado imperial tal, quando aquele equilíbrio é quebrado com novos
foi marcando com personalidade a sua passagem no ornatos c formas à européia, e que se inicia no final do
calendário e sua presença nos compêndios de arte, reino de Dom Manuel.
legando-nos um monumental, inigualável e incscedível Iremos, a seguir, comentar aquela primeira fase
patrimônio. mais antiga. Quanto à sino-ocidental que começa a se
A imensa e diversificada obra de seus oleiros processar com os signos manuelinos, será examinada
revela no tempo dois grandes períodos e são os Desco­ no segundo Capítulo, ao abordarmos a presença das
brimentos que nitidamente os distinguem. porcelanas chinesas e nipônicas no Brasil e também o
Quando os bravos navegantes lusos aportam à histórico da porcelana japonesa.
índia e à China, já encontraram uma cerâmica que Na arte cerâmica propriamente dita, os chineses,
reproduzia tanto as criações autóctones, quanto as assi­ apesar de exímios ceramistas, tiveram, no início concor­
miladas de outras civilizações asiáticas. Como é sabido, rentes que os igualavam e mesmo os superavam. O
o Budismo, provindo da índia, penetra e radica-se no vidrado e certas substâncias colorantes, como o azul
Império Chinês ao tempo de Han (206-220 a.C.), jun­ de cobalto, são aperfeiçoamentos dos quais os chineses
tando a sua simbologia às já existentes do folclore tiraram grande partido. Todavia, não foram descobertos
chinês, de Coníúcio (c.551 a.C.) e do Taoísmo já cm nem introduzidos nessa arte por eles. Como vimos, os
curso desde o século VI a.C. egípcios, os sumérios e os caldeus, e mesmo os persas,
A China revelou-se sempre um grande e dos excediam-nos pela qualidade, e foram os que deram à
maiores centros exportadores de cerâmica — abastecia arte cerâmica o maior impulso inicial.
todo o sudoeste e a parte meridional da Âsia, como as Se atentarmos para o alcance desses processos,
ilhas adjacentes do índico e do Pacífico, em que se temos que reverenciar o homem dessas afastadas gera­
incluem as Ilhas Filipinas e sua capital Manilha. Os ções pelo seu esforço em contínua evolução; o brilho
lusitanos nas suas rotas para o Leste, como os espa­ de uma gota de orvalho, a transparência cristalina da
nhóis na rota inversa, por onde passaram, foram cons­ água, a paleta policrõmica da natureza, ele já conseguia
tatando o uso e a presença da porcelana, O Oriente reproduzi-las e retê-las sobre a superfície da cerâmica
Médio e o mundo islâmico constituíam junto com a pela maga de uma química rudimentar. O lustre à base
índia, a maior clientela para a qual eram enviadas peças de pigmentos metálicos e de tão forte irisação, muito
em formas e decorações que as fábricas chinesas produ­ difundido na cerâmica da Antigüidade, sobretudo
ziam de acordo com os gostos locais, egípcia, persa e árabe, deve o seu emprego aos hábeis
A este repertório típico, o puramente chinês e o e inventivos egípcios.
adaptado ao gosto de outras regiões asiáticas, iria juntar- A conformação dos objetos também acompanhava
-sc um novo, inédito e vasto para os chineses, que os a evolução do sentimento artístico; o naturalismo,
navegantes lusos traziam sob o velame alvo das suas ditando a imitação, define primitivamente o feitio das
caravelas e carracas. peças, mas o nível cultural e artístico desses povos
Já no primeiro quartel do século XVI, a esfera evoluídos cria para os objetos cerâmicos e de vidro
armilar — símbolo pessoal de Dom Manuel, c o escudo novas formas e estilizaçõcs — verdadeiras obras de

155
aac, como o peixe policrômico, encontrado nas esca­ Se não veio ter ao Ocidente, ainda ao lempo do
vações de Tdl-Ei-Amarnah no Egito (1922), e cm Império Romano, por intermédio dos egípcios, ou,
exposição no Brilish Museu m. posteriormente, pelos venezianos, genoveses, ou pelos
Os chineses, há perlo de 5.000 anos, dedicavam- pis a nos, é dc presumir que, pelo menos ao tempo das
-se também a essa indústria, como mestres, pelo que Cruzadas (século X II), a sua existência já não fosse
se sabe da descoberta dc quarenta anos atrás, na pro­ to ta lmente ignorada.
víncia de Kansu, de belos exemplares de louça de O famoso geógrafo Edrisi consigna, no século XI,
barro (3.000 a.C. aproximadamente). Mas a porcelana que aportavam a Aden inúmeras mercadorias prove­
c produto essencíalmente chinês, e ninguém lhes con­ nientes da China, entre elas sedas (étoffes riches et
testa a prioridade de invenção, nem a sua enorme con­ veloutées)' e a porcelana (vaisselles dc terre), o que
tribuição para ura nível mais elevado da produção faz presumir que chegadas até Aden, antigo ponto de
cerâmica, nem a sua influencia decisiva sobre o desen­ escala, fossem essas mercadorias destinadas aos gran­
volvimento dessa arte no mundo ocidental. des entrepostos de distribuição como Alexandria, e daí
à Europa.
Havia dúvida até há pouco sobre a data dc seu Sabe-se positivamente que a porcelana chinesa já
aparecimento e fabrico, mas com a recente descoberta existia no Egito no século XII e que o famoso sultão
de vasos e outros objetos em túmulos do tempo dc Saladin, fcirenho inimigo, mas adversário cavalheiresco
Han, na província de Shensi, na China, alguns trata­ dos Cruzados e de Ricardo Coração de Leão, presen­
distas inclinam-se a tomar essa época (206 a.C, a teou a Nur-ed-din, sultão de Damasco, com algumas
220 d.C.) como o período da transição entre cerâ­ peças.
mica c porcelana. Já nos séculos XIII e XIV, segundo referência dc
Evidentemente, trata-se ainda de artigo rudimen­ autor erudito, Jerônimo Bocardo, mercadores italianos
tar de pasta densa, um produto de transição, com iam buscá-las nos mercados árabes para sua distri­
característicos porcclânicos, porém mais duro e de buição.
esmalte brilhante, já cozido cm temperatura muito Que tenham chegado à Europa somente no
mais elevada do que a cerâmica comum. século XIII ou não, o fato é que as peças causaram
Paralelamente a este fato, existe uma referência tal impacto, que chegaram a considerá-las como um
positiva nos escritos chineses, em um poema publicado produto sobrenatural e porfiaram em imitá-las.
quando reinava Wcn-ti, segundo filho de Liupang, da O vidrado brilhante, os soberbos tons de seus
dinastia dos Han ( 175-151a.C); conquanto esse vasos monocromos, a paleta variada de seus esmaltes
poema não faça menção à porcelana cm sua acepção que imitavam o jade, o jaspe, o alabastro, a ágata, a
de hoje, não deixa todavia de referir-se a uma "por­ safira, a execução magistral dos desenhos, a pasta de
celana verde”, que era de pasta densa, muito dura, uma dureza c translucidez desconhecidas eram real­
opaca, com uma coberta ou esmalte que variava do mente fatores de causar admiração.
cinza avermelhado ao verde marinho, para encobrir a Passavam os europeus a adotar as lendas orientais
cor da pasta. a seu respeito, ampliando-as, atribuíam-lhes virtudes
Somente no período da dinastia Tang (618-906 mágicas de filtros misteriosos, o dom de se trincarem
d.C.) é que a porcelana aparece com suas caracterís­ ao contato de veneno ou de neutralizá-lo, ou ainda
ticas bem definidas, e com uma pasta esbranquiçada de augurar boa ou má sorte ou de trazer fecundidade
à água contida em determinados recipientes.
e transluzente. Era essa uma época de grande floresci­
mento artístico c literário, e o comércio com a Ásia As peças que chegavam até a Europa constituíam
Ocidental dos produtos da China já cra bem animado. raridades apreciadas e disputadas pelos príncipes.
Muitos autores tendem a adotar esse período como o Lourenço de Médicis, o “Magnífico", o mecenas pro­
do aparecimento da porcelana. Devia ter ela represen­ tetor de Pico de Mirândola e Miguel Ângelo, é home­
tado uma revelação para outros povos, pois passou as nageado pelo Sultão do Egito, que o presenteia com
Grandes Muralhas, espraiando-se além dos limites do vasos chineses, em 1487.
Celeste Império: sua presença foi comprovada desde Do começo do século XVI existem na Inglaterra
a Antiguidade, na índia, na Pérsia, no Egilo, no espécimes interessantes como os “Warham” e “Tren-
Arquipélago Malásio, em Zanzibar, e há razões para chard Bowls”, que também constituíram presentes
crer que indiretamente tenha alcançado a Europa. régios ou eclesiásticos. Em uma relação coeva de
objetos pertencentes a Dom Manuel (1495-1521), são
As primeiras referências a seu respeito foram os citadas “quatro porcelanas da China, de prata”.
árabes que nos trouxeram; o maometano Sulaimart Não somente no Ocidente esses objetos eram
a descreve (século IX ), como dissemos atrás. Outros altamenlc apreciados e considerados preciosos. Relata-
viajantes islamitas, fazendo referências ã legendária -nos Pigaffeía (1491-1534), um dos destemidos par­
Cathay, citam no ano de 921 de nossa era o chá, a ticipantes da maravilhosa expedição de Magalhães ao
aguardente u a porcelana. Pacífico (1519-1522), a existência da porcelana na
Mais tarde, Marco Polo (1280), minucioso c Malásia. Conta que na Ilha ide Mindanau, quando
arguto observador das coisas asiáticas, também faz ceia va com o rei, notou que só serviam arroz e pescado
menção de fábricas de porcelana informando sobre a muito salgado em “travessas dc porcelana". No
prosperidade desse comércio e a sua exportação. palácio da rainha “toda a casa estava adornada de vasos
Assim, é incontestável que desde cedo a porcelana dc porcelana pendentes na parede”. Na Ilha de Paloan,
constituiu objeto de comércio, o que demonstra o os embaixadores do rei traziam “vasos de porcelana
quanto cra reputada por outros povos. No entanto, cobertos de seda", para receber os presentes. Na ceia,
apesar dessas primeiras referências, não se pode posi­ a cada bocado bebia-se “numa taça de porcelana do
tivar a época certa em que ela teria atingido a Europa. tamanho de um ovo, o licor destilada de arroz” .

156
Em 1574 soberanos nativos das regiões Filipinas Mesmo depois dos portugueses já haverem inicia­
enviavam ao rei da Espanha, como testemunho de do em apreciável escala a importação da porcelana e
amizade e aliança ‘'jóias, ouro, sedas, porcelanas, ricos tê-la disseminado pela Europa, ainda em meados do
e grandes vasos e outras coisas excelentes”. século XVI, era d a tida em alta valia,

Voltamos a citar Damião de Góis, espírito de alta As peças primitivas na Europa costumavam ter
cultura, considerado na época uma grande figura partes protetoras de metal, ouro, pr 2ta, bronze e depois
europeia, tendo sido mesmo retratado por Dürer, que vermeil, para as resguardarem, de acordo com a lenda
nos informa em 1541: “Todos os anos vêm para sino-hindu, de se partirem ao contato do veneno.
Lisboa dos reinos da Nigéria dez a doze mil escravos, Preferiam os monoctomos e entre eles os brilhantes
além dos que chegam de Mauritânia, da índia e do céladons, por julgarem-nos antitóxicos c cambiarem de
Brasil, cada um dos quais se vende por dez, vinte, cor ou se trincarem ao contato da peçonha. Diz
quarenta e cinquenta ducados. , . vêm louças. . . a Antônio Pigaffeta cm seu “Diário da Viagem ao Pací­
que chamam porcelana, algumas das quais se vendem fico” : “Asseguram que se num desses vasos de por­
a cinquenta, sessenta e cem ducados". celana se deitar veneno, no mesmo instante sc toma
Assim, em Lisboa, em 1541, um objeto de por­ inofensivo”. Além dessa vantagem que sabia bem ao
celana contemporânea dos que eram importados espírito da época, havia preferência pelos monocro-
normalmentc pelas naus da índia (não se refere o mos, pelo vistoso de seu aspecto, lembrando os precio­
cronista que eles fossem especiais), podia correspon­ sos vasos de jade, jaspe, alabastro, etc.
der ao valor de vários escravos! Se considerarmos a mentalidade fortemente
Imagínc-se o quanto não representaria, em mate­ supersticiosa que dominava os espíritos na Europa,
rial humano, uma peça considerada tara ou excepcio­ entregues à magia e à alquimia, às pesquisas em busca
nal, daquelas que o chinês produzia para seu uso, ou da pedra filosofal, ao uso do veneno como arma polí­
para os palácios imperiais! tica, compreenderemos melhor quanto não devia ser
disputada e apreciada a porcelana pelos personagens
Ainda sobre o seu valor, Garcia Horta, conforme dc destaque.
nos referimos cm obra publicada na cidade de Goa Assim, no tesouro dos Landsgravc de Hessen
em 1563, isto é, bem depois da porcelana já estar existia uma taça “céladon" atribuída a 1450, engastada
difundida pelos mercados ocidentais, informa: “e em prata; na Inglaterra ainda existem os famosos
sabey que as mercadorias que delia vem (da China) “Trenchard —r and Warham bowls", com guarnições
são leitos (?) dc prata e baixela rícaoiente lavrada, do mesmo metal.
seda solta e tecida, ouro, almisque, aljôfar, cobre, Em Portuga! existiam as "quatro porcelanas da
azougue, vermclham, e o menos he porcelana que vai China de prata", conforme relação de objetos perten­
às vezes tanto que he mais que prata duas vezes”. centes ao guarda-roupa d'El Rey Dom Manuel, no dote
Além disso, convém lembrar que constava ela nos da infanta D. Beatriz de Portugal, casada com Carlos de
inventários de reis e de príncipes entre as jóias e a Sabóia, duque de Sabóia (1522), constava: "seis ma­
prata, e que o próprio Garcia Horta, na sua obra, nilhas (pulseiras) dc porcelana encastoadas em ouro”;
inclui a porcelana no capítulo das “Pedras Preciosas", no inventário (1558), de jóias e prata levantado pela
tal o conceito e reputação que desfrutava. camareira D. Mecía Dandrada (sic), vêm assinaladas:

157
“quatro porcelanas, a saber três de ágata e uma de eternidade, porque não tem começo nem fim, Quando,
jaspe, guarnecidas, bocal e pé, de ouro". dentro de um círculo, existem outros sinais ou iniciais,
Esse costume serviu a importante motivo da representa a felicidade; razão porque é tão comum nos
decoração, e inúmeras peças recebiam, na Europa, pratos de serviço “Cia. das índias” virem as iniciais
armações dc metais -executadas pelos mais famosos do possuidor dentro de um círculo. Um sentimento
ourives, cujo valor, às vezes, era superior ao da pró­ delicado e sutil de filosofia ou poesia emerge de todas
pria porcelana. essas representações.
Além da lenda sobre o veneno, de augúrios ou Mesmo no apogeu do fabrico tipo “Companhia”das
ainda a de propiciar a fecundidade, existiam outras Índias", em que na decoração da louça predominam
crenças na China. A porcelana era tida cm tamanho os motivos ocidentais, como paisagens, cenas e figuras
apreço, como uma das principais demonstrações de européias e signos heráldicos, é muito comum encon­
arte è cultura, que tinha o seu deus próprio *— Poussáh trar símbolos orientais, sobretudo nas abas dos pratos.
Acreditavam os chineses que- havia um espírito que Sobre sua fabricação e composição, os europeus
presidia ao cozitneijto da cerâmica, desde que um dc novo davam largas à sua propensão pelo fantástico,
imperador mandou jogar no forno um oleiro menos c as atribuíam a fórmulas mágicas e manipulações da
feliz (o citado Poussáh) e que a porcelana dessa alquimia.
fornada saiu perfeita e com maravilhosos tons No século XVI, Gui Pancirolli (1522-1599)
avermelhados. escrevia num livro intitulado “Cousas perdidas e
O chinês não somente se esforçava cm produzir inventos”, que a composição da porcelana chinesa
peças num sentido altamente decorativo e estético, obedecia a uma mistura de conchas marinhas, dc
como tinha a preocupação de impregná-la de represen­ gesso c gema dc ovo, e que enterrada durante um
tações e símbolos próprios. Nesse particular a porce­ século, formava uma pasta própria para o fabrico das
lana da China é um documento iconográfico do mais peças.
alto vaior para a História e a Arte. As religiões, a O navegador Antônio Pigaffeta, companheiro de
literatura, os costumes, as lendas e o riquíssimo fol­ Magalhães e o primeiro a consignar a presença da
clore da China encontram-se amiúde representados porcelana na Malásia, informa, segundo lhe fora dito
nas suas produções cerâmicas. pelos naturais, que o material de que ela se compunha
era enterrado de uma geração para outra.
Um sentido espiritual ou simbólico emana, em
Segundo Dam ião de Góis, entre as mercadorias
geral, das suas representações pictóricas — a sua
que Portugal importava, figuravam “louças feitas com
pintura diferencia-se da Ocidental no sentido subjetivo arte admirável de cal das conchas, a que chamavam
dos significados que dela irradiam. A palavra pintura,
em chinês, é constituída por dois idi ogra mas: água e porcelana” m.
terra, e, em geral, o chinês procura figurá-las cm seus Persistiam pois, ainda, as noções imprecisas
desenhos para fazer lembrar o seu significado profundo: corroborando os erros e fantasias da época sobre 2
a água lembrando o elemento primordial da natureza, misteriosa porcelana.
o abismo, o demento fecundante; e a terra, a mon­ Para isso talvez contribuísse em boa proporção
tanha, o rochedo, o alto, a aspiração ao perfeito e, uma dose de malícia da parte do chinês, cioso de
também, a própria mulher. As montanhas quase seus segredos, criando lendas e fantasias para afastar
sempre representadas cm grupos de três a cinco, são o estrangeiro das fórmulas de seu fabrico.
veneradas porque de seus picos sobem aos céus as Pelo visto, teremos verificado qual era para os
almas das pessoas justas, segundo remota lenda sino- europeus o panorama, misto de fábula e realidade
-mongólica. desse mundo asiático, partícularmente da índia e da
A representação, por exemplo, de um sapo com China de antes dos Descobrimentos e ainda nos pri­
três pernas apenas, e de cuja boca se desprende fumo, mórdios do século XVI, verificamos que o intercâmbio
representa a Ciência, que não é perfeita porque lhe com o Oriente era irregular, difícil e moroso e que
falta alguma coisa, falta simbolizada pela ausência de nos países orientais os fatos continuavam envolvidos
uma perna do batrãquio; o fumo representa a emana­ pela fteção, predominando esta e criando, sobre todos
ção da sabedoria. Numa singela decoração, um per­ os conhecimentos, um halo de fantasia e de mistério,
sonagem está ligado a uma determinada interpreta­ que escondia sua verdadeira identidade.
ção — um peregrino pode ser o homem em busca da Sobre a porcelana em particular, verificamos
verdade; um viajante carregado no meio da borrasca que a China já a íahricava remotamente, e que apesar
pode simbolizar a preocupação, as tempestades do de várias referências dc viajantes, somente vem a ser
espírito. Uma ponte pode significar uma transição, conhecida pelos europeus no último quartel do século
mudança de situação social, moral ou espiritual, ou XIII e talvez no início do XfV, por intermédio dos
um dos obstáculos transpostos para atingir a verdade, mercadores italianos cm contato com os intermediários
o supremo bem. árabes.
Sobretudo as flores, muito apreciadas na China, Verificamos os mistérios e lendas que circularam
cedo serviram dc motivo ornamental ou pictórico e, sobre a porcelana, o seu elevado simbolismo e 0 valor
em redor delas gira todo um mundo de significados; e apreço que lhe eram atribuídos.
às vezes, representam os meses, como também as Esse véu que envolvia a realidade asiática, os
estações, os estados d’a!ma, as virtudes, os gênios, os portugueses só o romperam no final do século XV,
deuses, os santos budistas ou entidades taoístas. podendo-se dizer que, com o novo impulso dado à
As figuras geométricas são também muito empre­ navegação e ao comércio, passamos da era das carava­
gadas representando, por estilizações, uma imensidade nas à época das caravelas e, afinal, da fantasia ao
de símbolos: as nuvens, a imortalidade, o círculo, a conhecimento mais concreto dos fatos.
(segue «a página }6l>
1SR
MODELO DE BARCOS NO OCEANO ÍNDICO
N o .Meado do Século XVI

Lafittiu: "La Conquête des Portugais duns Le Nouveau Monde".


Livre X II — pág. 404 {1547).

159
GOA NO SÉCULO XVI

121

Goa, do século X V ! ao X X , constituiu o principal entreposto


português no Oriente.
Almirante Vasco da Cama, o descobridor da rola das Índias,
e o primeiro europeu, logo seguido por Pedro Alvares Cabra!,
a trazer porcelana pelo novo caminho.

Assim, temos que reverenciar a figura de Vasco duzidos os primeiros céladons de Yue (pasta de grés),
da Gama, que abriu a nova rota das índias pelo Cabo de Hong-Kong e de Tch’ang-Cha. As cores emprega­
da Boa Esperança, descortinando, afinal, as maravilhas das variam: vermelho, amarelo, turquesa, azul e
desse Oriente, por tanto tempo misterioso e desconhe­ costumavam os loucciros misturar pigmentos de
cido. Por esse caminho aberto por suas destemerosas óxidos nos esmaltes que colocavam sobre a glasura,
naus, seguido logo depois por Pedro Alvares Cabral, conseguindo, com isso, outras tonalidades. Nesta
começaram então a afluir por nova via, mais profusa­ dinastia há predileção pelo fabrico de vasos e urnas
mente, os produtos asiáticos, com os benefícios de funerárias. Foi um período em que desabrocham na
outras civilizações. China as artes e iniciam-se as relações comerciais
Cabe a Vasco da Gama, a par de ser o herói extra-muros. Começa o intercâmbio com a Ásia
desse magno movimento, o título, no setor porcelâ- Ocidental e seguem expedições para o Turquestão,
nico, de ter sido o primeiro a trazer “algüas peças" Tergana, Bátria e Pãrtia. Foi nessa dinastia que o
chinesas pela nova rota, e assim ser o pioneiro de Budismo penetrou oficialmente na China. Esses fatos
sua mais ampla divulgação no mundo Ocidental. Lsso, influenciaram poderosamente a cerâmica e a arte chine­
como se infere do complemento da "Carta enviada sas, pois aqueles contatos traziam novas contribuições
para Roma ao Cardeal Protector, acompanhando não só quanto as formas como no referente à decora­
outra em que D. Manuel participou ao Papa a desco­ ção e à simbologia, que trazia consigo um número
berta do Caminho para a índia e dando-lhe minuciosas considerável de ornatos novos,
informações a. respeito daquela região”, escrita em Scgue-se, em importância, a dinastia de T'ang
Lisboa a 28 de agosto de 1 4 9 9 .,. “c (têm) em muyia (618-906) em que há grande prosperidade, floresci­
sommã porcelanas q vem doutras províncias de fóra mento de todas as artes e vitais descobertas para a
da Yndia a ella vender-se e cm assaz cantydade de cerâmica. Os árabes estabelecem-se em Cantão e
que os nossos agora nos trouxera algüas peças”. carreiam com eles as influências da arte persa e
Faremos, agora um apanhado panorâmico sobre bizantina que passam a atuar. A dinastia T aog fabri­
a cerâmica chinesa cm si, abordando as dinastias e cou porcelana funerária, artística e utilitária com reves­
reinados que mais se destacaram até Vasco da Gama. timento feldspático. Eram usados o amarelo palha e o
Foram descobertos espécimes cerâmicos do perío­ azul cobalto da Pérsia, que fazia parte da contribuição
do neolítico (2500 a 1500 a.C,), eram elas pretas, dos árabes no aprimoramento da decoração. Peças
polidas e com desenhos incisos. Já na dinastia Han sóbrias, branco puro e brilhante também faziam parte
{206 a.C. a 220 a.C.) a pasta evoiui para o vermelho ca produção. Funcionavam várias fábricas: a de Yeu-
e o cinza, é empregado uma espécie de grés com han em Chekiang, e a de Hsing-yao na Província de
coberta feldspática e fabricada a cerâmica com ou sem Hopei, fabricando ambas tigelas de chá de grande uso
glasura, às vezes pintada a frio. E já existiam sete r.a China. A fábrica de Yueh ficou célebre pelas por­
fábricas produzindo cerâmicas de tipos diferentes, ê celanas chamadas pisê, feitas especial mente para os
quando aparece a proto-porcelana (grés com um membros da Casa Imperial. Em Honan fabricou-se
pouco de caulim, cozido à alta temperatura), a pre­ uma porcelana “azul como o firmamento, delgada
cursora da verdadeira porcelana, e também são pro­ como o papel, brilhante como um espelho e com um

161
som semelhante a aparelho musical”, segundo os feiras de Cantão, Atraídos pelo azul e branco das
“Anais da dinastia Tang". peças dc porcelana chinesa, os portugueses abandona­
È nessa dinastia que começa a história mirabo­ ram o céladon e passaram a importar essa louça em
lante da porcelana: emerge ela da terra como a concha grandes carregamentos para o Ocidente,
nacarada do mar, a emitir raios de luz e fachos de Na dinastia Ming a capital da China c passada
cores! para Pequim e a produção cerâmica é concentrada
E ainda de assinalar a dinastia Sung (960 a 1276), quase totalmencc em Chinlehchcn em 1369, e ainda
Esta dinastia ceiebrizou-se com os céladons de glasura há lá uma fábrica estatal de melhor qualidade do que
brilhante, rica e lustrosa. Período considerado por as outras para encomendas especiais do governo atual.
muitos ceramistas como o do fabrico da mais perfeita O local era ideal inclusive para a distribuição dos pro­
porcelana de todos os tempos. Seus monocromos são dutos por via fluvial, alcançando Nanquim, e por mar,
inigualáveis, sem decoração, a não ser desenhos inci­ tanto Swatow, Macau como Cantão, na cosia chinesa,
sos ou moldados ievemente, sob glasura brilhante, c a Ilha de Formosa, onde os holandeses iriam mon­
grossa e untuosa. A cor dominante é o verde em todas tar um porto.
os seus tons, desde o oliva até o verde pálido acizen­ Esse período também se caracteriza pela preferên­
tado. Era usado também o marrom, o roxo, o azul, o cia do fabrico da porcelana sobre o do grés. Também
bege claro. As peças em geral possuem cercadura de passa a ser aplicado como norma o uso do "níen-hao”
metais preciosos como medida de proteção devido à nos artefatos cerâmicos. Nesse período é construído o
crença de que os venenos as partiam. Há variedade Pagode de Nanquim, todo coberto dc placas dc por­
de monocromos brancos, marrons, pretos e do violáceo celana verde e amarela, e as telhas do Tempio do
ao azul. Dispunha de afamadas fábricas como: Ting- Céu, em Pequim, são esmaltadas de azul arroxeado.
-Yaa (Hopei), Tu-yao (Ho-nan), Tung-yao (Ho- Distinguem-se na produção os famosos branco de
nan), Kuan-yao (Ho-nan), Lung Chuan Yao (Cbe Fukien (blanc de Chine), os céladons que constituem
Kíang), Ching-yao (Honan) e Chien-Yao {Fukien). o principal produto de exportação, com motivos florais
Segundo Plácido G u t i e r r e z o uso do “céladon” sob a coberta, as peças pretas fabricadas na Província
foi mais intenso ate a chegada dos portugueses que de Honan, isso com referência aos monocromos. Com
passaram a preferir 0 azul e branco. Vejamos o que referência à policromia, as cores mais usadas na
nos conta: dinastia Ming são o azul turquesa, o azul profundo e
“Virtudes mágicas atribuídas à porcelana céladon o violeta (aubergine), e como característico que iria
pelos chineses garantiram a venda de enorme quanti­ conhecer grande voga e atravessar as dinastias Ming
dade daquele tipo de louça aos poderosos e supersti­ e Ch'ing: os “branco e azul".
ciosos senhores árabes e persas durante cerca de três No Quínhentismo defrontam-sc, cara a cara, em
séculos, O que hoje seria considerado um bem suce­ solo oriental, os mercadores europeus com os orientais,
dido plano dc marketing foi posto em prática pelos mais precisa mente o lusitano e o chinês. De lá para
chineses: eles espalharam discretamente pela colônia cá, cm quatro séculos, toda uma caudal de intercâm­
dc mercadores árabes em Cantão que sua porcelana bio iria se estabelecer, e a porcelana iria refletir, no
céladon apresentaria manchas de um vermelho vivo, correr dessas centúrias, profundas modificações no
ou se partiria, se nela fosse servida qualquer iguaria que. respeita à decoração.
envenenada”. Já nos primórdios do Quínhentismo surgem na
Mais tarde, já no século XVI, o monopólio do Europa as primeiras peças com signos ocidentais,
comércio com o Extremo Oriente passava às mãos cic conhecidas por manuelinas, c no correr do século,
mercadores lusitanos, que se estabeleciam em Macau — outras, conhecidas pelos ceramógrafos como sino-
território chinês — criando a Casa das Índias, portuguesas. No segundo capítulo iremos desenvolver
e obtinham permissão para visitar e comerciar nas o assunto.

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162
PORCELANA CHINESA MODERNA

Uma viagem à China — a velha Cathay, é algo Fengchi, LiÜng, Hunan, Fukicn, Kwangtung, Shiwan,
que recomendamos com empenho ao apreciador da Shantung, Hopei, Taugsban e ainda produtos da região
cerâmica. dc Swatow.
Pode-se pensar que as maravilhas exaltadas em E essas informações puderam ser confirmadas em
vários idiomas c diapasões por nm Ibcn Batoutah, um mais de quatro gêneros de amostragem. Uma delas
Femao Mendes Pinto, um Gui de Panciroli, um Anto- são as chamadas "Lojas da Amizade” onde, em qual­
nio Pigafetta, um Garcia Horta, um Damião de Góis, quer cidade chinesa, são vendidos artigos tanto popu­
um Frei Gaspar da Cruz, um Marco Polo, um Pare lares como dc luxos, tais como tapeies, sedas finíssi­
d’En treco) les, entre muitos outros cronistas, tenham mas, brocados, marfins e jades eximiamente talhados,
deixado de existir. leques, arcas de sândalos, cerâmica, etc, etc. Em
Que as altas chaminés, os fornos de Chintehcben, suma, toda aquela parafernália que nossas avós chega­
o maior centro cerâmico do mundo que mantinha a ram a conhecer C a desfrutar e que lá as reencontra­
cidade em penumbra constante, tenham deixado de mos ao lado de novas criações.
vomitar fumaça e que o ventre generoso dos fomos Há também as "Lojas do Povo" de artigos mais
chins tenha deixado de expelir produtos como os secundários, onde também aparece a porcelana, e em
famosos “céladons”, as “cascas de ovos”, os “flambés”, particular o serviço “Azul Pombinhos", imitando o
os "blanc de Chine", as "Famílias Negras”, etc. antigo "Wiilow Pattern", porém dc sopeira redonda e
Pode-se também pensar que a extinção da Compa­ um azul cobalto mais escuro.
nhia das índias Orientais Inglesas em 1834 c o advento Todos esses produtos a China contínua produzin­
da República Chinesa cm 1912, que afastou as veneran­ do para si e para ouiras partes do mundo, e muitos
das dinastias chins do puder, tenham criado um colapso deles são encontrados cm lojas no Brasil.
no piano cerâmico; ou que a volumosa produção indus­ Quanto à porcelana, as “Lojas cia Amizade”
tria! Ocidental tenha invadido o mercado chinês e dc vendem desde artigos populares até os mais finos, tanto
lá banido os produtos do Celeste Império! modernos, como antigos, sendo de notar que peças
Mero engano. Temos que pensar que o escambo com mais de 120 anos não são vendidas e há proibição
chinês antes dos Descobrimentos, cobria todo o Extre­ dc exportá-las.
mo Oriente, o Oriente e ainda o Oriente Médio, das Em todas as porcelanas aí vendidas é aposto um
Ilhas do Pacífico às Costas da África e às margens do lacre oficial provando a sua autenticidade. Um apare­
Mediterrâneo! Com os descobrimentos passou cie a lho para doze pessoas em azul e branco ou do tipo
abastecer o Ocidente europeu e o americano e aumen­ famoso ainda hoje recopiado, o “grain de riz”, custava
tou deveras sua produção para atender n esses novos (cm outubro de 1978) 240 "yuang”, ou seja, mais ou
mercados e aos caprichos destes novos e exigentes menos 120 dólares, com sopeiras, travessas e tudo
clientes que o comércio c a indústria enriqueceram. mais! Vasos de exímia fatura e excelente esmalte,
Passado esse volumoso fluxo de abastecimento que cópias bem acabadas das famosas "Famílias Negras”
durou cerca de quatro séculos, voltou a China a se do reinado de Kang-Hsi, variavam conforme o tamanho
dedicar ao seu antigo e milenar mercado que já era c a idade (menos de 120 anos), de Cr$ 10.000,00 a
enorme se considerarmos o volume de consumo de Cr$ 80.000,00!
populações imensas corno a sua própria c dc alguns Uma peça do século passado, do período de
de seus vizinhos e consumidores. Tung-Chi (1862-1875), representando uma floreira
Assim, passada aquela euforia que agitou por azul e branco — 25 cm, de comprimento, custava.
alguns séculos as lides milenarmente calmas da pro­ 150 dólares, pratos Companhia das índias, polícroma-
dução chinesa, retoma a velha Calhai ao seu ritmo dos (com frutas e borboletas do final do século XIX),
tranqíiilo de rotina. A mudança dc regime político em cjslavam de 100 a 330 dólares.
nada alterou o atavismo cultural c artístico do oleiro Outra fonte de informação é a própria Feira de
chinês de produzir e criar, e agora em condições Cantão, tradicional evento nos fastos do comércio
bastante melhoradas pode ele desenvolver suas ativida­ chinês, que tivemos oportunidade de visitar, em que é
des com maior desembaraço, já que dispõe hoje de exibido tudo que é fabricado no imenso território
técnicas mais avançadas para a mistura da pasta e o chinês e o' que de mais importante o país produz, desde
controle do fogo c dos óxidos. a parte industrial até as mais finas e sofisticadas peças
De acordo com informações colhidas sobre a sua de artesania.
produção utilitária e de adorno, continua ela, ativa e Outra amostragem importante foi a visita à
diversificada. Os seus mais importantes centros cerâ­ exposição na Cidade Redonda, cm Pequim, só de
micos continuam em atividade como Chintehchen, produtos da fábrica de Chintehchen, em que nos

163
foram apontados pelos seus dirigentes, com precisão -Kong” — in “The Chinese Export Commodities Faír
e vagar, os numerosos e magníficos produtos daquele Special Editíou” — 1978 -— Autumn — (Setembro) —
centro famoso — .inclusive uma vasta vitrina de vasos Hong-Kong.
pintados por aprendizes, cujos produtos eram difíceis Na parte de ilustração acreditamos que o leitor
de distinguir das peças acabadas pelos seus mestres. poderá verificar que o que foi dito sobre a produção
Outra exposição foi feita em Hong-Kong, tam­ moderna na China não d exagero e apresenta na
bém em 1978, um grande centro internacional, encru­ verdade urna tão agradável surpresa como lisonjeira
zilhada de raças e de comércio, na qua! foram exibidos realidade.
mais de 10.000 exemplares das porcelanas provindas Outros centros do Extremo Oriente, fora da
de diversas províncias e centros de produção. (Vide China, J^pão e Coréia, produzem boa porcelana e grcs,
“Reemergence of Traditional Products — an Impres- como a Tailândia (excelente porcelana azul e branco
sion from the Chinese Ceramics Exibition in Hong- — martabanis e grés) e Formosa (Taipê).

164
D ife r e n te s P erío d o s C E R Â M I C A C H IN E S A
Museu Imperial — Pequim

123

Peças em barro cozido e louça vidrada.


O cão é do período neolítico. Os Ires
trípodes reproduzidos são de mais ou
menos 2000 a,C. Parte dessas peças eram
colocadas em túmulos. 0 pote de vinho
abaixo, moldado em grés porcelanizado,
ê do século VIII (Cartg) com uma giasu-
ra dc çéladon feito na província de Shen­
si. A parte super ior da garrafa representa
cabeça de uma fénix ou de galo dc
influência estrangeira (Vide "China to­
day and her ancient treasures" John
Lebold and Jerome A. Cohen — N.
York — 1949 — pág. 159).
Cortesia do Museu Imperial — Cidade
Proibida, Pequim.

165
PORCELANA CHINESA
Túmulo dos Mine (Wan-Li)

124

Várias peças de diversos formatos, cores e períodos que ornam a tumba dos imperadores Ming,
cm l ’eq:óm em particular a de (iioi-ti-diua, conhecido por Wan-Li e descoberto recente mero?
(1957). As tumbas dos Mings ainda não foram todas elas recuperadas e classificadas. S5o sub
lerrâneas e a câmara mortuária situa se nutn luxuoso palácio que reflete pelos objetos que o
adornam, o requinte c o fausto dos imperadores da dinastia Ming.
Diferentes Períodos PORCELANA CHINESA
Museu Imperial — Pequim

125

Peças diversas e de diversos períodos (eéladons, blancs de


Chine, camelo Tang), sendo de notar a mais curiosa delas,
ao alio, em porcelana preta e manchas brancas, pois sc trata
dc um tambor (mais ou menos 60 cm) de orquestra, e não dc
travesseiro.
Cortesia dc Li Wu Fin — Museu imperial ■— Cidade Proibida,
Pequim.

167
Diferentes Períodos P O R C E L A N A C H IN E S A
Museu Im perial — Pequim

116

Prt, as monocromat e policromas de diversos feitios e decoração,


sendo de notar, à esquerda, um belo poliche em forma abalaus-
trada, monocromo em "narron flamhé’’, e ao lado um vaso
com pequenas alças de mesma decoração. A direita, dois pratos,
sendo um de fundo vivo amarelo com o desenho do Dragão
Imperial, ocupando todo o fundo da peça. Abaixo, um elegan­
te vaso fundo branco, flores e ramagens, típico do reinado de
Yung-Cheng. A esquerda, embaixo, três peças {um vasa e dois
pires) de fundo vermelho c aplicações douradas, e d direita,
uma grande tigela (século XVIII), no gênero " mandarim”,
Cortesia do Diretor Sr. Li IVu Pin — Museu Imperial.

168
Secs, x t n / x i v / x v n PORCELANA CHINESA

127

Gomil elegante e delicado em az_uI c branco eoht a decoração 0 prato em azul e branco sem marca, de aba compartimen­
do bojo compartimentada em várias seções, desenhos fitofot- tada em que se inserem motivos e símbolos chineses, tendo
mes e lineares. Esta peça faz lembrar a série de modelos de no centro um desenho fítoforme, è do primeiro reinado de
íina fatura destinada ao mercada persa-muçulmano (século Wan-Li. Esse gênero de decoração passou a ser classificado
XIII), — Arquivo do Autor. pelos holandeses e os ceramógrafos europeus como "K R A A K
FORSELEYS" {ou seja, por corruptela, “Porcelana de Corra-
ca"), pois parte da produção do reinado de Wan-Li ainda no
começo do século X V II era transportada pelas pesadas
carracas portuguesas para o Ocidente, tráfico esse que passou
a ser dominado no correr daquele século pelos holandeses.
Os motivos e a disposição dos elementos decorativos dentro da
peça, criados naquele reinado, passaram a influenciar profun-
damente a faiança portuguesa que primeiro deles tiveram
conhecimento e escambaram-na profusamente até que os holan­
deses mais tarde, adotando-as também de Amsterdã, espalha­
ram sua ■faiança peta Europa inspirados naqueles motivos
orientais (Vide Sir Harry Carner "Oriental Btue and Whiie"
England — 1972 — 3.“ edição). — Coleção do Autor,

169
Sécs. X V l/ X V ll P O R C E L A N A C H IN E S A
( D ife re n te s P e río d o s )

120

Rico caso celadon do século X V (Ming) em montagem fran.


cesa ormoulu do século X V fll. (Vide Plácido Gutierrez
Porcelana das índias no Brasil Quinhentista”, in Revista das
Artes, maio de 1975, pág. 27), neusta das

129

Segundo classificação de Plácido Gutierrez, a peça à direita


chama-se “Narguilê" Iraia-se de um Ming em forma de elefante,
Betirdeley (págs. 25 c 28) mostra uma outra peça parecida, a
que chamei de "gargoutete" e que faz parte do Museu do
Caramulo (Portugal). C!assifica-ax como pegas do período
Carraque, ainda do começo do século X V II (Ming),
Howarct e Aycrs (China for tlie West, pág. 50) nos dão ainda
alguns detalhes complementares estampando outra peça que
nrri buem ser do finai do século XVI. Chamam-na de "drinklng
flash", conhecida na Malásia de "Kendi”, feita para o mer­
cado 5ui Asiático, Era usada originalmente seguindo tradições
budistas e servia para rituais religiosos. Cortesia de Plácido
Gutierrez. ,

170
Sees, x v n / x v m CERÂMICA CHINESA
Ftagmemos salvados da nau afundada nas proximidades
de Mont Serrai — Bahia

130

Estes fragmentos provém do naufrágio de um barco ainda não


identificado, cuja ocorrência, presume-se tenha-se dado cm
tips do século X Y IIl, ou inícios do X IX com um carregamento
misto de porcelanas antigas dt diferentes períodos. Os fragmen­
tos encontrados na embarcação .foram classificados como do
período de Tien-Chi a Kien-Lung, ou mesmo Kiai-Sing, Nas
figuras acima as damas c o velho (em “biscuit émaiilé”) têm
a cabeça e as mãos em biscuit e as vestes esmaltadas em azai
sob o vidrado (o velho tem as barbas cobertas de esmalte
branco). Essas peças são do período Ming. Abaixo vê-se uma
cabeça esmaltada d européia, com peruca (Kang-Hsi), ttm
honre o em “biscuit érnaitlé" (Ming), este classificado por corte­
sia de Masahico Kawaltara, curador do Museu de Kyoto c
autor de várias obras, coma sendo do período dc TicncWi
e do lado direito um busto em grés esmaltado de verde
(Kang-Hsi). — Arquivo do Autor.

171
Sécs. X V IIIX V 111 CERÂMICA CHINESA

iíi

A dama em porcelana apoiada cm uma rocha, é pintada em


três cores: branco, azul e tijolo c de tato untuoso. dada a
espessura dos esmaltes. Trata-se não somente de um objeto
dc adorno como de um defumador, pois possui um orijicio
circular destinado a receber as “baguettes" de incenso ou
outras essências aromáticas muito em voga no Oriente (uso
esse que se transpôs para o Ocidente, pois até hoje existem
os incensórios nas igrejas católicas), A peça foi classificada
como da dinastia Ming. mais precisamente do período de
TiencWi (1621/1627).

172
s«f. XVUI PORCELANA CHINESA

132

O i dois cervos ino idênticos, o de baixo está pousado em


almofada sobre estrado de bronze dourado, São feitos em
“grés rinaillé" e silo conhecidos por "Cervos d'A xis" — a
palavra axis corresponde aos pingos de esmalte brancos for­
mando cruzes que aparecem ern espécie rara dc veados, Na
\iinbologia chinesa significa votos de longevidade. Existe outro
exemplar idêntico na coleção Oppenheimer. em Nova York.
Segundo as gentis informações da D. D. Conservadora D.a Maria
Xta/wcta Mota, do Museu da Fundação Calouste Gulbenkian.
que também nos cedeu a fotografia, o cervo do Museu foi classi­
ficado pela Sra. Daisy Lion Goldsmith conto sendo da Dinastia
Tsing e do reinado de KifH-i.11/1g. A peça ao lado, similar,
mede de base IS cm e de altura 10 cm, Em ambas, os chifres
aio de b ro n z e . — Arquivo do Autor.

173
Séc, X V III C O M PA N H IA DAS ÍN D IA S
Personalizada

133

A riça floreira com um elaborado brasão duplo, onde se distinguem as armas de


Portugal e uma nau em cada escudo e chapéu e cordões episcopais, pertenceu à
Santa Casa de Misericórdia de Lisboa. É de observar çuc, cm geral, essas irman­
dades, além dc usarem parle des armas, usavam também coroa c outros símbolos
reais. (Vide pormenor dos brasões conjugados embaixo). Gentileza de Jocques
Kugel (Paris).
Sécs. X V ll/X V U l COMPANHIA DAS ÍNDIAS
Família Sampaio e Mcílo

As peças com os armas dos Sampaio e Mello, no sentido rigoroso tio termo, seriam mais apropriadamente chamadas de “guar­
nição de rata" dado o grande número existente, atém da baixela, de jarrões armoriados, boíões, potes, carias de chá 11 de faqueiro,
polvilhadorcs, e<C, Peças importantes desta família acharn-se espalhadas entre museus e colecionadores renomados, dada a sua impor­
tância i beleza, O Museu Nacional de Arte Antiga de Lisboa, guarda dois vasos poUcromados com 0,80 cm de altura; a Fundação
Ricardo Espirito Santo exibe dois potes de aproximadamente 1,20 m de altura, e um par de potvilhadores; o Paço Ducal de Guima­
rães ostenta dois enormes jarroes decorativos em seus salões, etc. Acreditamos que essa ilustre família, além de suas baixelas,
seja a que mais peças de- adorno c as mais imponentes apresentou em todo o período das Companhias das índias (Vide “Catálogo
de Antiguidades — Dinastia" 3/12/75 — grav. 10; "Connaissance dcsArls" n.° 76, de junho de 1958, jarra ou floreira grande
com alças e as armas, "Cerâmica Brasonada" dc Castro e Sola (dois pratos), vol. 11, "Loiça Brasonada’’ de Campos e Sousa (um
prato) c entre colecionadores D, Fausto Figueiredo (duas jarrinhas) e ainda outras peças que foram do colecionador Ernesto Vi-
Hiena), Quanto ao titular dessas Orças informamos:
"José Campos r Sousa é o principal apóstolo da teoria .. que o destinatário foi Manuel Corte Real de Sampaio, que no reinado
dc Dom Afonso VI, fez parte do 5.° Conselho Governativo da Índia" (1668-1671) (Loiça Brasonada, pág, 336),
Mesma teoria c esposada por David IIcorará e John Aycrs. os últimos a se pronunciarem sobre o assunto em "China for lhe West"
(pág, 3S0), que dizem "que Manuel Corte Real de Sampaio também foi oficia! da Santa Inquisição (1664) c tornou-se Capitão Gerai
de Damão e Goa em 1690, c é a ele que estes serviços sempre foram atribuídos".
Devemos â nitnia gentileza de Gonçalo Sampaio Mello um longo estudo sobre os Sampaio c Mello, constante de um opúsculo "O
Serviço de Porcelana da China da Companhia das Índias" com o Brasão Português Sampaio e Mello — Curitiba — maio de 1979,
e as fotografias das três peças que sua família conserva. Diz-nos ele:
"Neste quadro de considerações desponta com naturalidade a última, teoria já anunciada, e a única que até hoje não sofreu séria
contestação. Diz respeito a uma família do Norte de Portugal que teve o seu solar na aldeia do Rabaçal (Conselho de Meda) e
mais remotamente na vila de Mello, o qual se julga ter sido a primeira destinatária do sei viço de porcelana onde se acham talhadas
as suas armas. ;
A resenha genealógica desta família dc nome HOMEM DE SAMPAIO E. MELLO — ou longamente, Menezes da Silveira Homem
de Sampaio e Mello — fará parte do 111 Anuário da Nobreza de Portugal, « jair brevemente em leira de, forma, sob a responsa­
bilidade do Instituto Português de Heráldica — onde, entre outros elementos, ficará estabelecida a sua proveniência de Mcm Soares
de Mello e Martim de Sütnpayo, os primeiros conhecidos com esses acmes há cerca de vinte gerações",
À esquerda, ao alto, vemos um prato com larga cercadura dourada com toques de "rouge de fer", lendo ao centro o brasão entre
arabescos poUcromados. O brasão de baixo é o fundo de uma grande travessa com moldura de madeira c à direita um frasco de
chá, com tampa de prata, armoriado.
Coleção Dr. Rui Sampaio e Mello, informações de Gonçalo Sampaio e Mclto.
séc, xvn i PORCELANA DAS ÍNDIAS
Família Sampaio e Mello (Portuga!)

Jcirrào armoriado, com o brasão português de Sampaio e Mello, “monture” em bronze dourado francês. f. assim que tio Catálogo
da Dinastia Antiquários, Lisboa, c anunciada a venda de um jarráo similar.
Peio que nos foi dada apreciar com informações contidas nas obras de José Campos c Sousa, do Conde Castro e Sola, David Ho­
ward e John Ayers, e a correspondência do Sr, Gonçalo Sem-aio c Mello, existem na realidade várias baixelas e objetos diversos,
com as armas de uma mesma família “Sampaio e Mello”, mas de diferentes períodos e decorações. Castro e Sola nos exibe
dois pratos de serviços diferentes, um idêntico àquele por nós estampado (pertencente ao Dr. Rui Sampaio e Mello), com aba
dourada com caldeira e brasão no centro, e outro prato com uma cercadura singela composta de traços oblíquos (estampas
C L X X X V I e C LXX X V ll, ob, cit,) também com brasão rto centro,
O primeiro, pela decoração e formato nos dá a impressão de que seja do século XVIJI, e o segundo, inclusive pela forma atigelada
do prato (sem caldeira), ao gosto chinês, é nitidamente do século X V li.
O mesmo se dá corn oilir lo’, de adorno que, a nosso ver, foram encomendadas também em várias épocas <t separadamente, pois
não seguem a mesma decoração das baixelas. O frasco exibido parece-nos um Ming autêntico e os jarrões fâ se perdem na riquíssima
e enrolada decoração que costuma caracterizar as encomendas requintadas do século X V Ui.
Cortesia de José María Jorge.

176
P i versos Períodoj A CERÂMICA NA NUMISMÁTICA

156

Os quadros acima apresentam um mostruário variado e colorido de peças de diferentes


materiais cerâmicos, fazendo as vezes de moeda em diferentes períodos e regiões do Oriente,
notadamente no Sião, onde desempenhou por largo tempo a função de rneio circulante.
Estas peças são chamadas em inglês de "TOKEN". étimo que entre outros significados
quer dizer também; "espécie dc moeda emitida entigamente por bancos ou particulares".
(The New Michaelis lllustrateei Dictionary, J9 th edition — Londres — S. Paulo -— 1976 —
English Portuguesa). As peças do quadro de cima, são do acervo da historiadora e cole-
cionadora D.a Lucia Di Tomassi, as do meio são da coleção do Autor. A série de baixo é
de três “moedas” deste século em grés marrom, marcadas Meissen, com as indicações no
verso de 5-10 c 20 M (marcos) entre dois ramos de trigo e desenhos variados no anverso
e foram de uso na Saxônia (de. Leste), datadas de 192J. Segundo consta, estas e outras
peças similares, com a quebra do marco alemão após a Primeira Guerra Mundial, chegaram
a ter curso como meio circulante, Coleção Dr. Roberto Lemos Monteiro — São Pauto.

177
Séc. X X PORCELANA CHINESA
Moderna

137

Belíssimo vas® (par) ofertado peto governo chinês na pessoa


do Regente do império Tzu-Shi ao Barão do Rio Branco e
conservado na ilustre Família (Vide Maria Amónia — O Barão
em São Paulo in O Cruzeiro, 1/6/1946, pág. 64J.
Cortesia do Dr. José Paranhos do Rio Branco,

136

Fundo de três tigelas modernas, cópias de antigas. As coloridas


em que sobressaem os fundos amarelo e azul e a pin lura em
ligeiro relevo, sao decoradas na maneira conhecida por "gra-
viata"; a da esquerda ê um típico céladon cuja produção vem
da Antiguidade e continua sendo produzido ainda com magni­
fica apresentação. — Arquivo do Autor.

178
139

Exposição gerai de manufaturados chineses de diversas regiões


da China, inclusive cerâmica, realizada anualmcnte em Cantão.
Em cima, um “stand" exibe peças de adorno. Ao centro, vitrina
com abjetos variados; embaixo, magnífico vaso com coberta
"craquelée" com motivo de decoração grega na parte bojuda.
Arquivo do Autor.

179
Séc. XX FEIRA DE CANTÃO

I 40

A s figuras finamente execuladus da vitrina à direita são eni “biscuil émaiilé", ott seja, to ruías cie uma sõ vez, com partes sem esmalte
(cabeça c mãos em biscuil). As outras representam vasos e bules de diferentes formatos e cores, sendo de notar o belo "cachepot"
com uma eximia decoração de folhas e dc flores, executadas a mão. A esquerda uma cópia dos famosos cavalos T'ang (cuja altura
varia de 13 a 35 cm) e são vendidos na China, tanto nas Lojas Populares (Shangai), conta nas Lojas da Amizade (Pequim).
Arquivo do Autor.

180
Séc. X X EXPOSIÇÃO DE CHINTEHCHEN
Cidade Redonda-Pequim

! 41

Exposição orpuni tudo peia Companhia Industrial da Província ele Clria Sili, para divulgação dos produtos ele Chintehchcn e outros
(Ii>7S). Na vitrina da esquerda divisam-se vários objetos de adorno e algumas peças de ihâ em braitco e azul. A s três outras fotos
apresentam peças monumentais com pessoas ao lado. para se ter idéia do seu tamanho. O vaso do alto à direita, de colo afilado,
representando urna cena chinesa, tem ao lado o Sr. Chati, diretor da Exposição. Note-se à esquerda, embaixo, o enorme vaso de
forma clássica em céladon, e à direita a enorme peça ern azul e branco.
Arquivo do Atilor.

1§1
Sec. X X EX PO SIÇÃ O DE C H IN TEH C H E N
{coni.)

142

A fotografia de cima representa um *tour de force " de técnica de forno — traia-se de uma placa d t um metro e meio de largura,
com cavalos cm debandada, da qual só se pôde fotografar mande* À esquerda, na linha do centro, um "roitge flambe" £ um vaso
atui com alças c faixa em material fosco marrom, 4 o centro, urttu lanterna em casca de ovo {abat-jour) com a base feita em
“grein de riz”. Â direita, ao lado de vasos menores policrornados, um beto espécime de cópia da Família Negra, Embaixo, va­
riantes de forma e decoração em azul e. branca de um brrle e dois vasos.
Arquivo do Autor,

182
Séc. XX EXPOSIÇÃO DE CH1NTEHCHEN
(Serviços de mesa e tic chá)

Na parte tlt cima dois serviços de chá. policromados; no centro,


outros serviços em azul e brancof sendo de notar que o da
direita vem acompanhado de um conjunto de oveiros e cremeiras
que costumavam acompanhar os serviços Companhia das índias
vindos para o Brasil. Embaixo, à esquerda, aparelho com barra
v folhagens em verde, c à direita um serviço ainda mutio em
voga, encontrado no mundo inteiro, do gênero conhecido por
Srain de rizlt. — Arquivo do Autor.

183
Sêc. XX EXPOSIÇÃO INTERNACIONAL DE CERÂMICA CHINESA
Hong-Konu — {Setembro — 1978)

144

O serviço exposto ao alto, de bela decoração, fundo pre'o com flores e ramagens espalhadas Igènero do "miite fleurs" francês, ou
da amiga decoração de tapetes do Médio OrienteJ, t pelot chineses conhecida por “decoração de Cantão”, o que equivale a dizer
que as peças são encomendadas em branco do fabricante {provavelmente Chintehchen) e lá decoradas, como ao tempo das
Companhias das índias (quando boa parte dos serviços eram completados em Cantão), O aparelho da direita é em branco e azul
com estilização de flores e ramagens. O serviço cor de rosa, à esquerda, è do gênero conhecido por "graviata" e trata-se de cópia
de outros aparelhos e vasos do século X IX — tão apreciados em várias p arí« do mundo c existem em diferentes cores: turquesa,
esverdeado, azulado, avermelhado e amarelado.
Arquivo do Autor.

184
Séc. X X EXPOSIÇÃO INTERNACIONAL DE CERÂMICA CHINESA
Hong-Kong — (Setembro — 1978)

As duas figuras de cirna, na realidade são duas esrtíriias. A da


esquerda, com a túnica de fundo escuro e salpicada de flores,
sobre ama flor de lótus entreaberta, representa a deusa da
Misericórdia _ (Goddess of Merçy) e é de tamanho natural
U J7 m ou 62 inches), A da direita, com túnica branca ligeira-
mente decorada traz no colo unia criança e nas mãos um
rosário pendente. Está assentada sobre uma fênix acima das
nuvens. Na simbologia chinesa ela representa a deusa da Miseri­
córdia “oferecendo uma criança à fctiix". Embaixo, parte do
mostruário variado de porcelanas, vendo-se no primeiro plano
dois tamboretes e um vuso largo em “rouge f lambi". (Vide
publicação em “The Chinese Export Comtnodities fair Special
Etfilion" — 19 7$ — Autumn — Ilong-Kong).
Arquivo do Autor.

185
Sâc. X X TAILÂNDIA
(Produtos cerâmicos}

Acima belo t bem acabado “cechepot" colocado no terraço


de hotel cm Bdli — Indonésia. Ao centro, pote vidrado com
tampa de porcelana bastante alva c esmalte forte de cobalto.
Abaixo também em saguão de hotel, em Báli, vaso grande cm
cêladmx claro com desenhos impressos sob a glasura.
Arquivo do Autor.

186
Séc. X X TAILÂNDIA
(M aríabanis-E rés)

Variantes modernas dos antigas “martabanis" referidos petos navegantes portugueses na costa do Sino, desde o sfeula XVI. como
contentores grandes com quatro alças para transporte de especiarias, cereais e azeite. Hoje as variantes desses vasilhames cerâmi­
cos ancestrais são usadas como peças de adorno em “martabani" d: volume médio (40 cm), custa 300 dólares, como é o caso
da peça ao alto, à esquerda ou como pote para flores e iarbustos em residências e hotéis. São todos de fundo meiado com deco­
ração ás vetes incisa, às vezes pintada com motivos orientais. Porém os ",martabanis" são profusamente usados também na parte
pobre de ílangckoc, para captação e guarda de água, sobretudo nos braços de rio próximos da cidade, onde funciona o "Mercado
Flutuante", o comércio é feito com barcos — nesses tocais eles são colocados fora de casa para capear as águas da chuva — água
que é considerada pela lertda siamesa como sagrada. Na foto à esquerda percebe-.se um cano de cutha dando diretamente sobre o
"martabani" maior. A respeito de "martabanis" vide as estampas n.°‘ S e 6 de "Chinese Export Porcelain" de O. F. Lunsingh/
Scheurieer, Londres — 1974. — Arquivo do Autor.

187
X l l - PORCELANA ALEMÃ

uanto à descoberta da porcelana -chinesa com cores brilhantes, inspirando-sç também


dura na Europa, ela foi feita por no estilo de Kakicmon (japonês). Depois de 1730,
acaso, apesar da ânsia e dos sucedem-se cenas de porto, às vezes, ainda, com figu­
esforços químicos e dos cera­ ras orientais. Por volta de 1740, são adotados os
mistas alemães, ingleses e por­ géneros em voga das pastorais (Waíleau), cenas cam­
tugueses em produzi-la, o que pestres (Teniers), figurações de anjos (Boucher) e
só foi alcançado, quando reuni­ batalhas, e um estilo mais leve e feminino do Rococó.
ram o trinômio porcclamstko: caulim, feldspato, Nesse meado do século XVIII, a produção era
quartzo. de porte e a demanda grande em razão da fama que
Johan Frederich Bõttger, nascido em 4 de feverei­ Meissen desfrutava. Seus produtos encontravam merca­
ro de 1682, no Principado de Reuss-Scheiz, foi grande do na Rússia, Turquia, Inglaterra e eram bastante
químico. Protegido do eleitor da Saxônia, Augusto o disseminados na própria Alemanha e na França, que
Forte, dedicou-se a profundos estudos junto com o enviava encomendas com gravuras a serem adaptadas.
físico Ebrenfried Waiter Von Tschirnhausen fale­ Em 1756, Meissen é ocupada por Frederico G
cido em 1708, sem no entanto chegar a nada de Grande, durante a Guerra dos Sete Anos (1756-63),
concludente até 1709. que a manteve em funcionamento fazendo executar
Um dia, devendo comparecer a uma festa na enormes encomendas de serviços e caixas de rapé. Ao
Corte, comprou uma peruca e à última hora faltou-lhe terminar a guerra, Meissen perde a sua supremacia
o pó para empoá-la. Valeu-se de seu assistente que para a fábrica de Berlim, e depois desse período,
lhe forneceu um pó branco. Depois da festa queixou-se durante muito tempo pouco criou, ou nada dc original.
Bõttger ao companheiro, que a peruca lhe parecia Em 1774, o Conde Camilo Marcolini foi desig­
por demais pesada e indagou-se sobre o pó usado, Foi nado diretor e tentou a restauração da fábrica e a
então informado que não era pó de arroz, mas sim recuperação dc sua antiga prosperidade e prestígio.
um similar que custava muito mais barato, . . Bõttger
Muita porcelana foi fabricada policromada e em azul
analisou o material imedíatamente e constatou que se
tratava de caulim. Isso se passou em 1709, e já cm c branco, ao lado dc elaborados serviços com delicadas
1710 estava instalada a primeira fábrica na Europa1, pinturas cm miniatura. Produziu também figuras e
a famosa Manufatura de Porcelana Meissen cujos grupos em biscuit. As guerras napoleônicas interrom­
produtos também eram conhecidos por “Dresden” ou peram aquele impulso e só no meado do século XIX,
“Saxe" ou ainda “Royat Meissen” ou "Royal Dresden". Meissen revive a sua prosperidade anterior com a
A fábrica de Meissen ficava a 12 milhas dc produção no estilo Império c na cópia do Gótico e do
Dresden, e foi dirigida por Bõttger até sua morte, Rococó, passando também a produzir os antigos
ocorrida em 1719. Em sua gestão foram fabricados modelos de seu grande período. Estas cópias, bem
artigos em grés vermelho copiados de Yi-Shing, executadas, podem trazer confusão aos colecionadores
sobretudo bules, c também uma porcelana branco- menos avisados, que deverão atentar para a qualidade
-acinzentada c depois branca, usando alto relevo com da pasta e das tonalidades empregadas, sobretudo, os
arranjos florais. Produtos esses de esmerada apresen­ vermelhos e verdes.
tação. No começo do século XX, Meissen ainda produz
Em 1720, assume a direção John Grcgor Hcrold, figuras e modelos originais de grande expressão artís­
químico e artista, que introduz a decoração pseudo- tica sob a direção de Adolf Pfeiffer (1919) (-4).

* *

189
XIII - PORCELANA BRASILEIRA

uanto à descoberta e ao fabrico manuseio da terra e no manejo do fogo, após milênios


da porcelana dura na América de percalços e de buscas, para deixar-nos, enfim, um
do Sul, ainda no século XVIII, legado substancial que honra a técnica e a arte. Vira-se
ela é devida a João Manso ele agora nesta era da tecnologia e dos sucedâneos,
Pereira,' de acordo com nume­ para os plásticos que despontam no ambiente utilitário
rosas referências, tanto no da casa, porém sem desbancar a soberana porcelana
Brasil, como em Portugal e na em seu reinado alvo ou multicor e polimorfo de beleza.
Alemanha. Era de químico e mineralogista, e professor Quanto à cerâmica, cujas etapas da evolução
de Humanidades no Rio de Janeiro, Conseguiu desco­ constitucional e artística tentamos desdobrar continua
brir o caulim na Ilha do Governador ou Ilha Grande, e eía seguindo o homem e servindo a sociedade.
seus estudos e experiências foram iniciados bem antes Na decoração está sempre presente, se renovando
de 1793, pois neste ano já estava produzindo porcelana e evoluindo no tempo, entrelaçando influências atávicas
de acordo com peças datadas, e uma Ordem Régia de ou criando. ..
D. Maria 1, de 5 de setembro de 1793. Diz Udo Knoff: “Desde tempos pré-históricos, é
Enviou numerosas peças para Portugal, como a cerâmica a simbolização do fator “criar” — os
amostras de qualidade da porcelana fabricada com o psicanalistas que pesquisam a criatividade incluem,
caulim por d e descoberto, como fabricou artísticos neste poder de criar, a flexibilidade, a originalidade
camafeus em biscuit em voga na Europa, à maneira e a habilidade de elaborar” .
de Wedgwood, representando personagens da Casa de Se continua sendo a companheira constante do
Bragança. Acreditamos que de tenha produzido tam­ homem, é como utilidade, veículo de inspiração e
bém diversos serviços de diário pelo que se infere de criações, deixando atrás de si uma esteira luminosa e
crônicas e diversas referências de ceramógrafos lusos. uma fonte inesgotável de ensinamentos que abrangem
No segundo Capítulo (Seteceniismo), analisare­ a Arte, a Cultura, a Sociologia, a História, a
mos a procedência das mesmas e as marcas de seus Heráldica. . .
produtos. *• A alma sensível dos poetas e o senso dos filó­
O Brasil volta a fabricar porcelana, porém em sofos não deixou de captar os seus encantos nem de
caráter industrial, no século XX, em 1903, como cantar seus predicados. Já na remota Antiguidade é
veremos também no segundo CapítuloíS). Homero que implorava aos deuses que as fornadas
dos oleiros saíssem perfeitas. Já o imortal Ronsard,
o cantor supremo das rosas, percebendo seu fim,
* exclama:
$ » “Il faut laisser maisons et vergers et jardins”
“Vaisselles et vaisseaux que l’artisan burine"!
Este é o topo da escada a que nos compromete­ E por certo John Keats, devia estar se referindo
mos conduzi-los subindo degrau por degrau. Daqui à porcelana, quando escreve o famoso e imortal verso:
por diante, não consegue o homem ultrapassá-lo, é o "A ihing of Beauty
topo intransponível de quanto pôde ele realizar no Is a joy for ever”!

* * *

*
B I B L I O G R A F I A

(! ) Damião DE góis — Carla a Nânio 1541 — "Opúsculo* (5) E. F. Brancante — Ob. cif. ( . . . Louça Mineira) in
Históricos”. Revista Paulisíânia. n,° 79 S, Fanio.

(2) Plácido G utierrez — " P o r e elana das In d ia s no Brasil


Quinhentista" in Vida das Aries — ano I — Maio de 1975.
T ed G. Wear — "Change and Moneys of she world"
tJ ) W. B. H omey — Ob, cit., p&g. 2. 1957 — New York (estampas, pig, 27).
HaNS M. F. SchulMaW — Catalogue of Ancient Coins —
(4) W. B. Honey — “German Porcelain*- -— London s/d. Public Auction — New York — febr, 28 th 1959.

191
PORCELANA BRASILEIRA — CAETÉ
— 1903 —

I 4K

Bule e Xícara cm porcelana branca de excelen te alvura e vidrado coru frisos dourados (não marcados). Coleção Dr. Israel Pinheiro
F íllw ,

192
CATEGORIAS CERÂMICAS

I Capítulo

ÍNDICE DO TEXTO

I - - BARRO CRU

Origens, características, métodos de confecção de artefatos. Adobe, taipa de


pilão, pau a pique, pisos de barro. Construções na Antiguidade................ .. 1 a 4

II _ BARRO COZIDO OU TERRACOTA

Aproveitamento do fogo artificiai na Cerâmica, fogões primitivos — a roda do


oleiro manual e dupla — evolução das formas — artesanato oleiro integrado em
ofício -— a figura do oleiro na Antiguidade e Idade Média. A terracota no
Ocidente e na América................................................................................................ 5 a 12

III — TIJOLOS — TELHAS — LADRILHOS

Método de fabrico do tijolo e seu uso no Egito, Mesopotâmia, etc. Introdução


do tijolo na Europa. A telha curva e a plana e suas variantes. Sua difusão pelos
romanos na Europa Ocidental e no Mediterrâneo. A telha de barro sem reves­
timento, a vidrada e a cobrida no Oriente e Extremo Oriente. O telhado e suas
variantes artísticas, tanto em cor como em formatos. A telha no Ocidente e a
esmaltada azul e branca lusitana. O uso da argila como revestimento do piso
— barro socado — o tijolo servindo de piso e a aparição do ladrilho (formas
quadradas, retangulares, hexagonais, etc.). A lajota usada como piso e como
forro de mansões (socarrais)........................................ ............ ................................. 13 a 26

IV — LOUÇA VIDRADA

O revestimento da cerâmica e sua vedação na Antiguidade — o "fernis" e "terra


sigillata” (Grécia e Roma). A descoberta do vidro no Nilo, sua aplicação na
Cerâmica (4000 a.C.) e o surgimento da louça vidrada seguida dos óxidos de
metais variados e os esmaltes coloridos, A gama de cores. A Púrpura de Cassius
e a Família Rosa. O vidro no Oriente e no Ocidente, em Veneza (Murano).
Moedas de cerâmica vidrada. Bemad de Palissy — A Louça vidrada e a meia-
faiança................................................................................................................. .......... 27 a 34

V — AZULEJOS PINTADOS E ESMALTADOS

Origens, fases de evolução, métodos de fatura no Oriente Médio e na Europa.


Os processos artesanais e industriais, histórico — os árabes, a influência hispa­
no-mourisca, técnicas novas introduzidas na Europa — Estilos e Ornatos. O
azulejo avulso estarüfero (faiança) e os painéis "istoriato" de Francisco Nicoloso,
o Pisano, Ornamentação. A expansão da azulefaria na Europa, Holanda e Por­
tugal. Mestres ceramistas. Os ingleses, novos métodos e novas pastas. Movimento
do "Arts and Crafts”. A industrialização — Novas decorações: o Art-Nouveau
e o Art-Deco. A presença da azulefaria francesa na América ixitina — decora­
ção original, placas indicativas — resumo de técnicas........................................... 35 a 67

193
VI — FAIÂNÇA-MAJÓUCA — MEZZA-MAIÓLICA

Série de pronunciamentos sobre o conceito da faiança com suas origens, suas


características constitucionais, técnicas e evolução de decoração, fornos de fogo
alto e de rnufla — cores. Considerações e conclusões. O desenvolvimento rápido
e intenso da faiança na Europa, tanto utilitária como de adorno. Seu interesse
artístico. Seu uso na representação heráldica. A “mezza-maióüca", ou "bian-
chetto". Sua constituição. Seu uso mais predominantemente na cerâmica popular
e folclórica. Centros que se destacavam jno fabrico da faiança. Holan­
da e seus núcleos — México (Puebla) — Espanha (Mâlaga e outros centros -—
Talavera de La Reina) .—- Itália e seus núcleos — Portugal (Massarelos — Mira­
gaia — A furada — Cavaco Bandeira — Deveias — Santo Antônio do Porto
— Rato — Bica do Sapato — Constância -— Sacavêm — Coimbra — Caldas da
Rainha — Darque ou Viana — Alcobaça —- Aveiro) — França (Nevers — Ruão
— Moustiers — Marselha — Niddervíller — Strasburgo).................................... 69 a J 28

VII — FAIANÇA FINA

Contribuição inglesa no fabrico do novo produto. Conceito e variedades — suas


diversas categorias, constituição e fórmulas. Seu sucesso. Seu histórico e desig­
nações em diversos países produtores: Inglaterra — França — Portugal —
Espanha — Holanda — Itália — Alemanha — Brasil — Argentina. Seu mos­
truário na Exposição Internacional de 1867 em Paris................................................ 129 a 140

VIII — GRÉS

O grés, sua contextura, seu uso e emprego variado: período na Europa de


fabrico. Alemanha e Inglaterra. Produção no Oriente: China e Coréia. Centros
na Europa: Rcnània e Siaffordshire. Sua presença no Oriente em túmulos (China);
formatos inspirados no bronze. Os famosos grés de Yi-Shing (século XVI). Os
"boccaro", os helarminos. O grés comum e o vermelho. Josiah Wedgwood e
suas criações e variantes de grés. João Manso Pereira, pioneiro na América
Latina, camafeus. ........................................................................................................ 141 a 144

IX — BISCUIT

Conceito, processos, variedades, emprego. Peças mistas: “boccaro", cópias do


Oriente, centros produtores na França, Saneguemines (Paulo Utzcheneiderf,
Tournai, Sept Foníaines (Villeroy tè Boch); Inglaterra (Derby, Wedgwood, etc.).
Sèvres, Jean Jacqttes Bachelier — grande e esmerada produção. Considerações
sobre o conceito do "biscuif dado por diversos autores. Definições. ............. 145 a 146

X — PORCELANA MOLE

Sua translucidez e sonoridade. Características da pasta. Retrospecto sobre o que a


porcelana dura representava para o Mundo Antigo e os esforços dos ceramistas
para fabricá-la, chegando às fórmulas de porcelana mole. A Porcelana dos Médicis
no século XVI. O fabrico da porcelana mole na França nos séculos X V II e
X V lll por diversos ceramistas, começando por Edme Poterat e chegando aos
produtos apurados de Vincennes e à Sèvres. Pastas inglesas consideradas como
variantes de porcelana mole no século XVIII. A fábrica de Chelsea produz no
gênero francês. A porcelana mole conhecida por “ash bone porcelain" ou "jos-
fâtica" ou "fosfatada" empregada em Bow, e a fabricada à base de mistura
de esleatita, usada também por Worcester. A volta dos italianos ao fabrico da
porcelana mole com a "Casa Excelientísshna Vezzi" de primeira qualidade, a dos
Hewelks, etc. .... ................ ......................... ................................................................. 147 a 154

194
XI — PORCELANA DURA

PORCELANA CHINESA — ANTIGA E MODERNA


Conceituação. Fase sino-asiática ou sino-oriental e a sino-ocidental. Comentário
sobre essa primeira fase. Descoberta e fabrico da porcelana na dinastia T'ang. Sua
fama e lendas na Europa, seu elevado valor. Simhotogia e decoração. Apanhado
panorâmico sobre a cerâmica chinesa, sua constituição e composição. Intercâmbio
com a Ásia Ocidental. Centros de produção. Características. As dinastias T’ang —
Sung — Ming. Produtos grés e porcelana. Quanto à porcelana moderna, pode-se
dizer que a China esforça-se em manter seu padrãoI de qualidade. Continuam em
pleno funcionamento seus principais centros de atividade, incluindo-se neles o
famoso de Chintehchen e Swatow. Inovações e reproduções. As lojas do Povo e
da Amizade, as Exposições na China e no Estrangeiro e a feira tradicional de
Cantão, Comentários sobre valores, artigos e qualidades. Alusão ao fabrico
de artigos cerâmicos da Thailândia e Formosa................ .......................................... 155 a 187

XII — PORCELANA A LEMA

As pesquisas e a descoberta tardia da porcelana dura somente no século XVIII


na Alemanha (1709). As figuras de Johan Frederic Bdttger, químico e Eherenfried
Walter von Tschirnausen, os descobridores da fórmula com a inclusão do caulim.
A primeira fábrica instalada sob os auspícios de Augusto o Forte, eleitor da
Saxónia: a de M eissen. Produtos em grés vermelho, tipo Yi-Shing e porcelana
branco-acinzcntada e depois pura. Grandes diretores como Harold e Marcolini.
Finíssimos produtos. . .................................................................................................. 189

XIII — PORCELANA BRASILEIRA

João Manso Pereira, químico e mineralogisw, descobre o caulim na Ilha do


Governador ou Ilha Grande e na década de 1790, consegue produzir grés e
porcelana. Produziu belos camafeus, e acredita-se que também serviços de chá
e de mesa. No segundo capítulo — Selecentismo — é feita uma análise porme­
norizada sobre a personagem, suas marcas e produtos. Em 1903, o Brasil volta a
fabricar porcelanas de caráter industriai em Caeté (Minas). No segundo capítulo
nos alongamos sobre o evento. Conclusões............................................................. 19J a 192

195
CATEGORIAS CERÂMICAS
I Capítulo
ÍNDICE DAS ESTAMPAS

l . a página: A legaria sobre o comércio.


BARRO CRU — TERRACOTA —* TIJOLOS _ TELHAS — LADRILHOS
n,°
J — Grupo de oleiros egípcios (Catacumbas de Tebas).
2 —- liarão do Rio Branco e sua coleção de Tânagras.
3 — Tânagra do Museu de Arte de São Paulo.
4 — Ânfora grega do Museu de Arte de São Paulo.
5 — Três estampas com quatro cerâmicas indígenas, pré~cabraUnas.
6 — Duas estampas com telhas esmaltadas portuguesas, azul e branco.
7 — Estampa de ofício de oleiro catalão (século XVI).
8 — Quatro exemplos de "socorrais".
9 — Peças pré-moldadas em cerâmica (Londres).
10 — Quatro estampas com telhados diferentes (Oriente).
11 — Duas estampas com telhados diferentes (Oriente).
12 — Duas estampas com telhados diferentes (Oriente).
13 — Duas estampas de arremates de telhado — Belém.
14 — Estampa antiga da cidade de Murano, a capital do vidro.

LOUÇA VIDRADA:
n.°
15 — Dois pratos e uma tigela da Pérsia.
16 — Miniatura de múmia — azul-turquesa — Egito.
17 — Prato de Beauvasis, século X V — França.
18 — Tigela persa (Kashan) — século XIV.
19 — Caneca feita em Iznik (século XVI).
20 — Pablo Picasso, prato com duas cabeças de touro.
21 — Pablo Picasso, travessa com desenho de peixe.

AZULEJOS — LADRILHOS:
n ;0
22 — Mosaico de terracota — colorida — Inglaterra, século X ltl.
23 — Azulejos medievais, Bristol, século XV.
24 — Amostras de modelos de azulejos e ladrilhos, com partes de terracota
colorida (Inglaterra).
25 — Azulejos ibero-mouriscos, diversos gêneros.
26 — Azulejos italianos (influência mourisca e gótica).
27 — Azulejos italianos (Renascença).
28 —- Azulejos do Oriente Médio.
29 — Azulejos chineses (Kang-Hsi) policromado e em branco e preto.
30 — Dois painéis do Oriente Médio de Mesquitas em Teerã e em Istambul
(Mesquita azul).
31 — Azule faria na Nova Espanha.
32 — Azulejos (Cozinha do Convento Santa Rosa) — Puebla — México.
33 — Arranjos parietais com azulejos e lajotas — Puebla.
34 — Detalhes de interior — Convento de Santa Rosa — Puebla — México.

197
35 — Detalhes do Museu José Luiz Bello Gonzales — Puebla.
35-A — Idern, idem.
3<í — Praça Plazuelo de Los Sapos — arranjo parietal, século XVII,
37 — Diversos tipos de azulejaria estanífera — Puebla.
38 — Azulejos portugueses do palácio dós Marqueses da Fronteira.
39 — Painel policromado de frontal de altar e outro chamado "Abanada" do
Museu do Azulejo — Lisboa.
40 — Silhar azul e branco do gênero tapete com friso e barra, rendas de
Coimbra, Quinta de Santo Antônio, Mafra — Portugal.
41 — Cinco azulejos, azul e branco (final da século XIX) portugueses.
42 — Painel policromado (1640) Convento Ida Esperança — Portugal.
43 — Painel policromado com as armas dos Felipes, Valência — Espanha.
44 — Quatro azulejos policromados avulsos de Barcelona (Catalunha) século
XIX.
45 — Painel policromado Ari-Nouveau-Sarreguemines—- Museu do Azulejo —
Lisboa.
46 — A mostras de placas de propaganda de Sarreguemines — arquivo do Autor.
47 — Diferentes tipos de azulejos ingleses do século XIX.
48 — Mostruário de azulejos e frisos AruNouveau, ingleses (exceção de um
friso belga).
49 — Mostruário de azulejos Ari-Nouvcau e Ârt-Deco ingleses, parte deles
encontrados no Brasil.

FAIANÇA MAJÓLICA — MEZZA-MAIÓLICA

n.°
50 — Estampa de interior de fãbrica em França em 1715.
51 — Estampa com formatos para mestrado de oleiros, França, século XVIII.
52 — Tris peças de faiança européia (holandesa e italiana).

MÉXICO — PUEBLA

53 —- Casa com azulejos estarúferos, branco e azul, dos séculos X V l / X V l l na


cidade do México.
54 — Mostruário de faianças de diferentes formatos e cores — do Museu
de Puebla.
55 — Idem, idem.

CERÂMICA ESPANHOLA {diversos períodos e centros)

n.°
56 -—- Diversos pratos de Manhes de Paterna (séculos X IV e X V e ciclo “verde
y morado'").
57 *— Continuação mostruário do século XIII ao XVIII.
58 — Cozinha Valenciana (reconstituição século X V II I ).
59 —- Mostruário de faianças e mezza-maiólicas de Puente dei Arzobispo.
60 —— Jarra de Talavera, policromada.
61 — Pratos de Talavera, séculos XVII /XVIII.
62 — Pratos de, mezza-maiólíca de Puente dei Arzobispo.

FAIANÇA ITALIANA

n.°
63 — Dois contentores, século X IV de Orvieto.
64 ■
— Vaso com alças de Florença (Família Folhas de Carvalho).
65 — Dois pratos e uma vasilha — séculos X V e X VI, Deruta e Faenza,
66 — Um açucareiro e conjunto de. quatro albarellos. Cafaggioio e Faenza.
67 — Três albarellos coloridos — Faenza — Renascença.
68 — Quatro medalhões com cenas mitológicas, século XVI, Urbino, Guhbio,
Faenza (Cort. Victoria and Albert Museum).

198
69 —- Três medalhões com cenas mitológicas, o 1 de Urbino (1530) os outros
dois de Faenza (1525).
70 — Três medalhões: (dois de Faenza e um de Veneza) século XVI.
71 — Dois vasos, Deruta (século XVI) e Faenza (?), século XVIII.
72 -—- Cafeteira e sopeira policromadas, século XVIII (Faenza).
73 — Três medalhões, os dois primeiros, século XV. O terceiro é do século XVI.

FAIANÇA PORTUGUESA

n.°
74 — Prato elaborado, primeira metade século X V I I - - influência chinesa.
(Cortesia Museu Gonzâlez Marti).
75 — Prato com aranhões, escudo central com frade, suportes: grifos e data de
1648. (Cortesia Victoria and Âlbert M useum)
76 — Medalhão azul e branco, século XVII, decoração faixa barroca e centro
"amatorü".
77 — Prato elaborado século XVII com mistura de temas, tendo ao centro figu­
ras chinesas. (Cort. Museu TIacionai Arte Antiga).
78 — Quatro estatuetas da Fábrica do Rato, século XVIII.
79 — Três formatos de terrinas diferentes (século XVIII) da Fábrica do Rato.
80 — Prato octogonal que pertenceu ao 2 ° Conde de Bobadela (Cort. Museu
Nacional Soares dos Reis).
81 — Travessa vasada polícromada com figura de mulher ao centro — fabrico
de Miragaia.

FAIANÇA FRANCESA

82 — Jarra de fabrico de Montpellier, 1597.


83 — Jarra de fabrico de Masseot Abaquesne (século XVI).
84 ■
— Uma cabaça e vaso de fabrico de Nevers (1650).
85 — Açucareiro (Chlnoiserie) criação Paul Hannong-Strasburgo.
86 — Terrina fabrico de Marselha (racocó) 1775.
87 — Medalhão de Ruão, estilo radiante (século X V 111).
88 — Travessa estilo típico de Moustiers (século XVIII),
89 — Floreira Strasburgo — "Chlnoiserie” (século XVIII).
90 — Conjunto de diversos formatos e cores de faianças de Marseille (Cort.
A der-Picard- Tajan).

FAIANÇA ORIENTE-MÉDÍO

n.°
91 — Prato de Iznik, século XVI.
92 —- Jarro de Kashan, século XIII (Lustre).
93 — Tigela, decoração Minai.
94 —- Prato Iznik com animais (século XIII).
95 — Fundo de tigela de Kashan, século XIV.

FAIANÇA FINA INGLESA

n,°
97 — Conjunto de decoração fitoforme variada, azul e branco e azul borrão.
98 — Conjunto de quatro pratos com mesma decoração de “Pombinhos", porém
de quatro cores: azul, cinza, cor de rosa e verde, marcas diferentes.
99 — Conjunto variado de peças em azul e branco de diferentes marcas.
100 — Travessa imitando Satsitma sem marca.
101 — Travessa imitando porcelana chinesa mandarim, marcado Mason.
102 — Bacia em "copper lustre", marcado Copeland.

199
FAIANÇA FINA — V1LLEROY & BOCH
n.u
103 — Conjunto de três peças — jarra, tigela c bule marcados.

GRÉS

n.°
104 — Bule e duas tigelas marrorj de Yi-Shing.j século XVI I1.
105 — Pote fabricado por Boétlger, l.° quartel século XVIII.
106 — Fundo de bule com idiogramas de Yi-Shing.
107 — Tigre em duas corei, século XVIII, China.
108 — Dragão monocromo em azul pálido, século XVII,
109 — Pole em grés alemão, "blauwerke", século XIX.

PORCELANA DE MÉDICI

n.0
110 — Gomil e bacia, azul e branco, raríssima. (Cortesia Museu Xacionai
Arte Antiga).

PORCELANA MOLE
n.°
111 — Xícara e pires, marcados Sevres (1793-1798).
112 — Bule da fábrica de Vezzi de Veneza (1723-1727).
113 — Pires, marcado Sèvres pintado por Niquet c Tandart — 1770,
114 — Duas xícaras do período de Vincennes, marcadas Sèvres.
115 — Xícara e. pires em azul, com marca de Sèvres, 1793.

PORCELANAS FRANCESAS
n.ü
116 — Peças com fundo "Rose Pompadour", marcadas Sèvres.
117 — Peças do Serviço de Madame Du Barry, marcadas Sèvres.
118 — Peças com o serviço do príncipe Paulo Petrowilz. — 1772 (Porcelana
Dura).

ESTAMPAS DIVERSAS

119 — Vista de Lisboa século XVI (Hans Staden),


120 — Modelos de barcos do Oceano Indico (século XVI).
121 ~ Goa. século XVI.
122 — Almirante Vasco da Gama, dentro de um escudo.

CERÂMICA CHINESA

n.°
123 Mostra de peças raras, incluindo o Neolítico do Museu imperial de
Pequim.
124 Peças chinesas do túmulo de Wan-Li.
125 Outras peças do Museu imperial de Pequim.
126 Outro mostruário do Museu Imperial de Pequim.
127 Gomil em azul e branco, sécido Xl ll, c prato Wan-Li (século XV!!).
128 Vaso Céladon, século XV.
129 Garrafa tipo "Narguilê" (séculos X V I J X V l l ) também chamada Kendi.
130 Série de estatuetas (no estado) salvados na nau de Mont Scriat, períodos
Tienctii, Kang-Hsi, Kien-Lung. (Arquivo do Autor).
131 Defumador em forma de estatueta de mulher.
132 Duas estampas de "Cervo d'Axis" (uma do Museu Fundação Calouste
Gulbenkian).

200
COMPANHIA DAS ÍNDIAS (Personalizada)

n.°
133 — Floreira com detalhe da Sta. Casa de Misericórdia de Lisboa.
134 — Quatro peças policromadas com as armas dos Sampaio e Mello dc
diferentes formatos e períodos.
135 — Par de vasos com detalhes com as armas dos Sampaio e Mello.

CERÂMICA NA NUMISMÁTICA

n.°
136 — Três quadros com peças de diferentes materiais cerâmicos, empregados
eventualmente como moedas.

CERÂMICA CHINESA

n.°
137 — Jarro, oferta governo chinês ao Barão do Rio Branco.
138 — Fundo de três tigelas modernas, cópias de antigas (céladon e graviata).
139 — Mostruário da Feira de Cantão
140 — Conl. Mostruário da Feira de Cantão
141 — Exp. Fábrica Chintehchen — Cidade Redonda Pequim.
142 — Cont. Exposição Fábrica Chintehchen.
143 — Idem, idem.
144 — Exposição Internacional — Hong-Kong — 1978.
145 - Idem, idem.
146 — Thailândia — produtos cerâmicos
147 — Thailãndia — "martabanis”.
148 — Porcelana Brasileira Caeté.

201
0 BRASIL E A CERAMICA ANTIGA ”
2.° Capítulo

Mapa holandês de 1630 da América ilo Sul no qual à direita, destaca-se o Brasil (BRASÍLIA)
QUINHENTISMO BRASILEIRO

SUMÁRIO:

I - BARRO CRU
I I - BARRO COZIDO (TERRACOTA) - IMAGINÁRIA

III - CERÂMICA EUROPÉIA


IV - PORCELANA DA CHINA - BIBLIOGRAFIA - ESTAMPAS
I I o Capítulo
I e II - BARRO CRU e TERRACOTA (IMAGINÁRIA)

o chegarem os portugueses à vés de episódios esparsos referidas pelas crônicas, leva


Terra de Santa Cruz, depara­ os pesquisadores a se apegarem a um dos poucos
ram-se-lhes povos ainda no está­ elementos tangíveis que lhes restam: a cerâmica.
gio cultural da Idade da Pedra E é através de sua “leitura“ c da sua classificação que
Polida, ou do Neolítico, e a téc­ vão eles estabelecendo as fases arqueológicas c comple­
nica de manipular o b a r r o pren­ mentando a história do homem americano.
dia-se ainda às duas primeiras Todo o material recolhido é separado por
categorias de cerâmicas: a do barro cru seco ao sol e a “tradições”, o que na linguagem arqueológica significa
do barro cozido artificialmente, ou terracota. “grupos de elementos ou técnicas que se distribuem
Ao tempo dos Descobrimentos, já havia em nosso com persistência temporal” <*>.
território uma ponderável população autóctone,
estimada em dois milhões, que se esparrama em manchas Para efeitos daqueles estudos foi o nosso território
esparsas, à beira do mar, dos rios, dos lagos e pelas dividido em duas vastas zonas: a da Bacia Amazônica e
florestas. A maioria das tribos brasileiras entre o seu a da Faixa Costeira, abrangendo esta todo o território
variado artesanato dedicava-se à cerâmica e, na distri­ — interior e litoral — abaixo daquela.
buição do trabalho doméstico eram as índias que se Na primeira, foram relevadas as seguintes
entregavam à lide oleira. tradições: “ hachurada zonada — borda incisa — poli-
Os estudos arqueológicos, intensos e extensos, croma-ineisa ponteada. Na Faixa Costeira as tradições
procedidos desde o século passado, e contemporanea­ regionais — tradição tupi-guarani (esta com subtradição
mente ordenados e sistematizados, concorrem para corrugada, escovada, pintada, corrugada-escovada, pin-
recompor aquele mostruário artesanal. Esta exumação tada-comigada) e a tradição nco-brasileira" w.
realizada com critério científico em numerosos sítios, Numa visio dc conjunto, a primeira zona foi mais
vêm trazendo à luz, centenas de milhares de fragmen­ beneficiada pelas migrações ocorridas que se proces­
tos. Só o Museu Emílio Goeldi, em Belém, possui mais saram provindas da região andina de maior desenvol­
dc duzentos mil!
vimento e que se fixaram em núcleos na Amazônia
Este documentário, ao mesmo tempo que nos
brasileira.
exibe os tipos e características da cerâmica aborígene,
vai servindo de base, para os arqueólogos e antropó­ Diz-nos Eduardo Galvào: p > . . . “alguns grupos
logos, de aferição do desenvolvimento, do parentesco de maior avanço cultural penetraram na Amazônia, em
cultural e da localização, no tempo e no espaço, dos tempos pré-colombianos, vindos das encostas orientais
núcleos tribais pré e pós cabralinos. andinas. As marcas de sua passagem encontram-se na
E a sistemática mais recente adotada nessas cerâmica acumulada cm inúmeros sítios ao largo do
pesquisas é procedida principatmente, através do exame Amazonas. A afirmação de sua origem ocidental e do
da cerâmica encontrada que é agrupada dentro de uma alto nivel de sua cultura encontram-se na qualidade,
nova nomenclatura que atende àquelas finalidades na decoração e na forma dessa cerâmica. A forma e o
(Igor Chmyz-1966). estilo ornamental dos vasos indicam um parentesco com
A reconstituição desse passado, que uma escrita os povos da região subandina e do mar das Caraíbas.
própria teria revelado, e que apenas se vislumbra atra­ Entretanto, identificam-se por características próprias,

207
facilmente percebidas na cerâmica dc Marajó e de défaut chez ces peintresses américaines: elles font avec
Santarém”. ' leurs pinceaux ce qui leur sera venu en fantaisie. Si
Assim, entre aquelas duas divisões mestras do vous les priez ensuite d’en faire de la même sorte,
território, existe uma diferença marcante. comme elles n’ont d’outre projet, dessin et crayon que
Na Amazônia, além da produção costumeira de la quintessence dc leur cervelle qui trotte, elles ne
artefatos utilitários, de culto e de adorno sem maiores sauraient reproduire le premier ouvrage: a ce point que
atrativos ornamentais, destacam-sc em alguns centros, vous n’en verrez jamais deux dc la même façon”.
produtos de elevado padrão artístico e técnica apurada, Frei Gaspar de Carvajal, que fez parte da expedi­
de que são expoentes as cerâmicas Marajoara e Santa- ção do Capitão Francisco dc Orellana em 1541, que
rena, entre outras, e de que já demos notícia no I.° primeiro desceu o Rio Grande ou o Rio de Orellana
Capítulo ao abordar a Terracota no concerto universal. (Rio Amazonas) nos dá uma pitoresca descrição do
Na Faixa Costeira, o fabrico local não apresentava que observou na hospitalidade do chefe Omagua, entre
aqueles atributos dc originalidade ornamental, de os índios Tapajós. Damos na íntegra o texto em caste­
técnica e elaboração artísticas; as formas e a decoração lhano para maior fidelidade dc interpretação:
eram mais simples, mais primárias e rudimentares. “En este pueblo estaba una casa de placer, dentro
Na Bacia Amazônica, predominavam os índios de la qual habia mucha loza dc diversas hechuras, así
Tapajós c na Faixa Costeira, os Tupinambás e foram de tinajas como de cântaros muy grandes de más de
cies objeto das primeiras referências sobre o artesanato veinte e cinco arrobas, y otras vasijas pequenas como
oleiro no quinhentismo brasileiro. platos y escudiltas y candelabros desta loza dc la mejor
São cronistas estrangeiros — alemães, franceses e que se ha visto en el mundo, porque lá de Málaga no
castelhanos — que nos dão conta, em primeira mão, se iguala con cila, porque es toda vidriada y esmaltada
das impressões sobre a cerâmica ameríndia. de todas colores y tan vivas que espantan, y demás
Hans Staden, cuja figura é até hoje reverenciada disto los dibujos y pinturas que en ella hacen son tan
entre nós, assim nos informa em sua obra: ...A s compasados que natural rnenlc labran y dibujan lodo
mulheres fabricavam os vasos do seguinte modo: como !o romano: y alií nos dicicron los índios que lodo
“Formam com barro uma espécie de massa a que lo que en esta casa habia de barro lo habia en la
dão a forma desejada; sabem muito bem colorir. tierra adentro de oro y dc plata, y que ellos nos llevarian
Deixam estes vasos secar por algum tempo, os põem allá que era cerca".<é)
depois em cima de pedras, cobrem com lenha e assim Conquanto este relatório tenha sido elaborado por
deixam no fogo até ficarem rubros, então acham-se um frade culto, a afirmação de que existiam peças de
suficientemente cozidos" (4). louça vidrada não veio a ser confirmada por pesquisas
Jean de Léry, francês natural dc Lamargellc, na procedidas na região dos índios Ornágua, Se cia fosse
Borgonha, missionário calvinista, companheiro de comprovada, o fato teria enorme repercussão na histó­
Villegagnon, em seu “Journal de Bord en la terre de ria da Cerâmica no Novo Mundo, porquanto o emprego
Brésil en 1557”, cuja primeira edição foi publicada em do vidrado não era conhecido na América inteira ao
La Rochelle em 1578 <!), é mais explícito. Damos na tempo dos Descobrimentos.
íntegra o texto original em francês porquanto algumas Aproveitamos o ensejo para esboçar os métodos
traduções podem levar a um equívoco no tocante ao empregados pelos índios brasileiros no preparo de sua
emprego do vidrado pelos Tupinambás. O texto divide- cerâmica, e por certo pelo que acabamos de dizer deles
-sc em duas partes, a primeira referente ao fabrico e não consta a manipulação química do vidrado.
as formas e a outra relativa à decoração. Ao chegarem os portugueses às nossas bandas,
“Or, pour faire un sommaire des autres meubles encontraram eles três tipos de tribos “as que não fabri­
de nos Américains, les femmes (qui ont entre elles, cavam cerâmica, as que produziam louça de barro cru
toute la charge du ménage) font force cannes et grands seco ao sol e as que a coziam ao fogo e toda a cerâmica
vaisseaux de terre pour faire contenir le breuvage dit era fabricada a mão, com a ajuda dos mais rudimentares
caouin, semblablement, des pots à mettre à cuire, de e improvisados instrumentos, pois o tomo de olaria era
forme ronde ou ovale, des poêles moyennes et petites, completamentc ignorado pelo índio americano antes da
plats et autres vaisselles de terre”. Celle-ci n’est guère conquista ibérica; o sistema de moldes ou formas tão
unie au dehors, elle est néamoins bien polie et comme usados na região andina era desconhecido no Baixo
plombée au dedans par une certaine liqueur blanche qui Amazonas como cm Marajó”, f71
durcit, et il n’est pas possible aux potiers de par-deçà de Quanto à coleta do barro, sabiam os índios fazê-lo
mieux accoutrer leurs poteries de terre”. de forma apropriada, assim como preparar massas mis­
As palavras “et comme plombée”, vêm sendo turadas com areia, cinzas, conchas e pedras moídas e
traduzidas por "tão bem vidradas” quando o certo é até com fragmentos dc quartzo e feldspato. Sabiam
"e como (se fossem) vidradas", o que se coaduna com modelar através dos processos clássicos de espiral e
a realidade técnica. do levantamento, assim como alisar as paredes dos
O trecho seguinte do mesmo parágrafo, concerna artefatos antes de levá-los ao fogo, como dar-lhes poli­
a decoração e nele Léry é mais prolixo: “Ces femmes mento com seixos depois de Cozidos. Conheciam a téc­
détrempent aussi certaines couleurs grisâtres, propres nica de recobrir as pastas com engobe ou barbotinas,
à cela et font avec des pinceaux mille petites gentilles­ usando o taguá (peróxido dc ferro) ou a tabatinga, E
ses, comme guillochcs lacs d’amour et outres drôleries quanto ao cozimento, seguiam as normas neolíticas,
au dedans de ces vaisselles de terre, principalement en cabendo ressaltar a singela referência de Hans Staden,
celles qui contiennent la farine et les autres viandes: e que lembra o uso do tripé pré-histórico, quando
de façon qu’on est servi assez élégamment voire dirais- informa: . . . “os vasos os põem em cima de pedras,
je, plus honnêtement, que le sont ceux qui usent, par- cobrem com lenha, c assim deixam no fogo até ficarem
deçà, de vaisselle de bois. Et il est vrai qu’il existe un rubros, então acham-se suficientementes cozidos.”

208
Quanto às formas, as crônicas de Staden, Léry e pinturas que nela se fazem são tão compassados que
Carvajal já nos revelam uma grande diversidade de natural mente executam e desenham tudo como o roma­
modelos como de tamanhos (embora estejam elas no” (Carvajal 6 em parte suspeito de exagero, pois
ainda incompletas, pois sabemos que fabricavam urnas chegou a afirmar que as louças eram “vidradas e
funerárias, colheres, fusos, apitos, tangas, bancos, esmaltadas”).
carimbos planos e circulares, botoques, cachimbos, Léry informa que elas executavam a pincel mil
estatuetas, etc.). Assim nesses primeiros arrolamentos desenhos delicados como "guillochis” ou “guilloché"
já constam: grandes vasos, panelas, frigideiras médias e outros estranhos e observa talvez com dose de humor:
e pequenas, pratos e outros utensílios (Léry) como “existe um defeito nessas pintoras americanas: elas
muita louça de diferentes formas, tinalhas (?) cântaros fazem com seus pincéis o que lhes dita a fantasia,. . a
grandes (de. mais de 25 arrobas!) e outras vasilhas tal ponto que não se verão jamais duas peças com
pequenas como escudelas e candieiros (Carvajal). decoração igual”.
E quanto à decoração plástica souberam as oleiras Nesta observação está, a nosso ver, o maior elogio
indígenas dominar as formas e adu2ir ornatos relevados, que poderia caber às humildes ancestrais de nosso
praticar as técnicas milenares do inciso e do exciso, as folclore. Livres, no seu mundo livre, elas iriam trans­
do esgrafttado e ainda outras variações. Faziam uso mitir a mensagem da liberdade à arte proputar, com
de carimbos e de roletes, estes também aplicados à seu cunho de ingenuidade, espontaneidade e improvi­
pinturas sobre a pele. sação, com um sabor peculiar, puro e autentico.
Informa-nos Napoleão Figueiredo, Maria Helena Sobre a cerâmica Marajó ara, o Prof, Mário Simões
de A mo rim Folha (pág. 17, ob. cit.) referindo-se à leve oportunidade, no lançamento de uma série filaté­
tradição tupi-guarani que ela era caracterizada (em lica lançada pelos nossos "Correios e Telégrafos”, em
grande parte) pela decoração acanelada, corrugada- que era reproduzida em selo uma urna marajoara, de
-escovada, incisa, modelada, pintada e roíetada. Sabiam emiiir precisa apreciação sobre a famosa cultura indí­
ainda os índios imprimir um brilho notável às peças gena. Para maior clareza reproduzimos o texto na ínte­
através do polimento com seixos, acabamento este que gra e o selo posto em circulação.
chegou a impressionar a Léry e a confundir Carvajal,
que tomou as peças vistas na Amazônia como sendo
rcalmente “vidradas e esmaltadas”.
Acompanhando o costume dos índios de pintarem-
-se a si próprios — cabeça, corpo e membros — trans­
feriram as oleiras àquele pendor atávico para a decora­
ção da cerâmica, colorindo-as a frio. Valiam-se para
tanto de cinzas, como de tintas vegetais e argiias de
diferentes cores que a Natureza pródiga lhes punha ao
alcance das mãos, dessas ancestrais pioneiras da deco­
ração em nossa terra.
Assim diz-nos Angyone Costa: M — o tejuco, o
gesso, o carvão vegetal, o urucum, o caraju ou carajuru,
etc,, davam-lhes embora restrita, uma paleta coro
branco, vermelho, preto e cinzento.
Quanto à aplicação dessas tintas, há que observar CERÂMICA MARAJOARA — PARÁ
que Léry por duas vezes em seu relato informa que as
índias empregavam “pincéis”, sem especificar se de “A ilha de Marajó, com cerca de 48.000 km2,
penas, de pêlos ou de fibras. está situada no Estado do Pará, e é a maior e mais
Nos desenhos e pinturas há predominância das importante da foz do Amazonas. De topografia relati­
representações antropozoomórficas e das variantes geo­ vamente plana, coberta por mata tropical a oeste e
métricas e lineares. Curioso que Léiy se refere entre os extensos campos a leste, e sulcada por inúmeros rios
desenhos indígenas ao guillochis ou “guilloché”, muito e igarapés, foi ocupada no passado por antigos grupos
empregado na ourivesaria européia através de roletes. indígenas pertencentes a cinco culturas ou fases arqueo­
Apesar de não contarem com o torno e de só lógicas distintas, as quais habitaram sucessivamente a
disporem de um instrumental improvisado e de uma parte centro-oriental da ilha a partir de 1100 antes
paleta restrita, nem por isso deixaram essas vossas de Cristo. Destas fases ou culturas pré-cabralinas,
humildes artistas, de apresentarem peças bem acabadas, destaca-se, quer pelo nível cultural alcançado, quer
de pequenas e avantajadas proporções, como caldeirões, pela extensa área ocupada, a fase MARAJOARA,
igaçabas, camocins, como de aprazível colorido ou introduzida na ilha cerca do ano 400 de nossa era e
ainda peças de excepcional valor artístico como, entre ali se extinguindo em 1300.
outras, as de Santarém e Marajó. Seus aterros artificiais, construídos ao longo dos
Aqueles primeiros observadores quinhentistas de tios e lagos para fins de habitação, cerimônias e
nosso meio e que abrem a galeria de nossos primeiros cemitérios, como também a cerâmica altamente elabo­
críticos de arte não deixam de se pronunciar, encomias- rada neles encontrada, atraíram desde cedo a atenção
ticamente à cerâmica gentílica. de viajantes e naturalistas que deles se ocuparam em
Diz Staden: “sabem muito bem colorir”. Carvajal suas narrativas e trabalhos publicados. Contudo,
eleva aos píncaros a sua admiração: . . . “desta louça somente em meados de nosso século, com as pesquisas
da melhor que se tem no mundo” . . . “a de Málaga de Clilford Evans e Betty Meggers, foi identificada a
não se iguala com ela" e “além disso os desenhos e fase MARAJOARA, bem como estabelecida uma

209
TERRACO TA
Instrum ental dc Decoração Indígena

Os índios do Amazonas, entre os vários expedientes que usavam


pau3 decorar suas peças em cerâmica, seus tecidos c seu próprio
corpo, utilizavam-se engershosamehtc também de vários ro!etcs,
carimbos e peças denteadas, feitas de madeira ou aproveitando
casca de frutos. O Museu Goeldi, em Belém, nos dã uma
mostra variada desse instrumental.

210
sequência de desenvolvimento cultura] para Marajó e Nesses primórdios de instalação e de fixação no
áreas próximas. Território, com obras de porte para a época, releva
A cerâmica de fase MARAJÓ ARA, ao contrário assinalar as realizações levadas a efeito por Braz Cubas
daqueles que a precederam e sucederam na ilha, é como Provedor das Capitanias de São Vicente e de
produto de um artesanato consciente, expressado pela Santo Amaro, cuja figura é apontada como “ um gênio
rígida padronização de formas e sofisticadas técnicas construtivo” por J. P, Leite Cordeiro <'».
decorativas. Umas funerárias, vasos cerimoniais, ban­ Construiu ele diversas casas (de pedra e cal) em
cos, tangas femininas, estatuetas, etc., engobados de São Vicente e Santos a mando de Thomé de Souza,
branco e pintados com complexos desenhos pretos e como fortificações (a da Bertioga é lhe atribuída) e
vermelhos, ou ainda por excisões, incisões e modela­ em 16 de fevereiro de 1553, iniciou a construção da
gem, atestam o alto grau de desenvolvimento artístico Casa da Alfândega de Santos, que entre outras especi­
do qual essa cultura era portadora”. ficações deveria ser coberta de telha c abrigar artilharia.
Entre as técnicas de construção importadas, pre­
MÁRIO F. SIMÕES valecia no litoral, onde a pedra de regra, era mais
Museu Paraense Emílio Gocldi. abundante, os estabelecimentos levantados “de pedra
e cal" ou de “pedra entaipada” d®. O emprego do
tijolo era restrito pelo custo, falta de mão-de-obra e
Com a chegada dos europeus e dos primeiros produção insuficiente. Assim os sistemas aplicados e
oleiros, parte deles improvisados, nas Capitanias, a difundidos nas Capitanias eram os de taipa de pilão,
cerâmica no Brasil adentra em sua segunda fase que é do adobe e do pau a pique, prevalecendo no entanto
caracterizada por novas técnicas. nas de São Vicente e Santo Amaro, a taipa de pilão
Numa costa e território imensos, com feitorias e com “repartimentos” internos de taipa de mão, uso
estabelecimentos dispersos, os habitantes, por força esse que iria prolongar-se até o século XVÍIÍ. A
das circunstâncias, tinham que elevar ao máximo a Câmara da Vila de São Paulo em 1594, chegava a
sua capacidade de improvisação e promover o mais alugar ou aforar sete taipais, aos moradores, ou seja, as
possível a sua auto-suficiência. Para tanto valiam-se tábuas entre as quais o barro era socado(u). -
eles do vasilhame autóctone, ou fabricavam o seu E o barro de terra tratado à européia ainda con­
próprio ou utilizavam o importado. tribuía para modificar o aspecto pacato da povoação
Essas três opções, que muitas vezes se entrosam, bandeirante, transformando-a, durante certo período
é que irão marcar o panorama cerâmico quinhentista em recinto murado: a Vila Forte de Piratininga.
e começar a definir o quadro do equipamento domés­ Em 1562, os chefes índios Jangoanhara e Arari,
tico coiooial. a 10 de julho, atacam e quase sobrepujam as forças
Assim nos sítios isolados, nas grandes proprieda­ locais. Segundo as Atas da Câmara de São Paulo, a
des rurais, como os engenhos, e nas irmandades, 5 de novembro, o procurador do Conselho, Luiz
sobretudo as jesuíticas, como nos povoados e vilas é Martins, requer que “se acabassem os muros e baluar­
que têm início o artesanato cerâmico, às vezes impro­ tes”, Mais tarde, depois de concluída a cinta de defesa
visado, e a indústria oleira, para suprirem a demanda da vila, e acontecendo que vários moradores fizessem
do meio, tanto do utilitário, como do de adorno a do buracos na mesma, o atento e precavido procurador
da construção. intima vários moradores para que, no prazo cie um
Diz-nos Serafim Leite: "Os portugueses levaram mês: "tapassem as ditas taipas, de taipas de pilão cõ
as olarias para o Brasil no período das Donatárias e pena dc quinhentos réis para o Conselho” <14),
chegaram vários oleiros cm 1549 para a fundação' da
cidade de Salvador, mas a cerâmica já era praticada Assim, à maneira medieval, trancava-se a popula­
pelos índios do Brasil antes dos Descobrimentos e ção no alto da colina, dominando os vales adjacentes
eles sempre foram bons colaboradores dos irmãos da e espreitando a aproximação do gentil hostil, e a segu­
Companhia nesta arte” . rança de sua defesa externa, à qual não faltavam
‘‘A primeira notícia de que os irmãos fabricavam baluartes, dependia da muralha de barro, levantada em
objetos de barco é de 1560, na Capitania de São taipa dc pilão, E assim, segundo Anchieta: “Ficou
Vicente, e é provável que já a fabricassem antes, quer Piratininga segura de todo embate” ílsh
aí, quer na Bahia, sem se individualizarem os irmãos E o que dizer das coberturas das casas nesse Brasil
fabricantes, O que deixou maior nome foi Amaro de antanho, em processo de formação? O que domi­
Lopes, mestre oleiro na Bahia, que exerceu a arte no nava a visão do casario das vilas nesses tempos
século XVI e ensinou bem ao pessoal do Colégio”. recuados? Era ccrtamente a mesma visão cinzenta do
São citados ainda pelo referido autor outros irmãos, cenário neolítico, que se tinha com as tabas do selví-
como Afonso Braz, (1524-1550-1610) arquiteto, Jorge coía. Era o sistema de se cobrirem as moradas com
Antônio (1555-1574-1608), oJeíro e enfermeiro, Bama- palha ou sapé, que perdurou ainda bastante tempo nos
bé Telo (1542-1583-1590), oleiro, alfaiate, carpintei­ centros urbanos após a Descoberta, como perdura até
ro. ( “Artes e Ofícios dos Jesuítas no Brasil” —- 1549- hoje em parte do meio rural.
-]760), Nesse rol de pioneiros quinhentistas, destaca-se As Atas da Câmara nos confirmam que elas eram
o padre Afonso Braz cie quem é dito: “não se conten­ cobertas de sapé ou de palha, e a própria Câmara
tou ele em fazer as casas dos Jesuítas. Pode ser consi­ da Vila só veio a ser coberta de telhas após contrato
derado o primeiro arquiteto do Brasil firmado com o oleiro Christovam Fernandes que se
Jorge de Lima, em Anchieta, conta que o irmão obrigara também a cobrir o resto da vila. Isso no ano
Diogo Jácotne "levantou um torno de pé sem nada ter de 1575,
jamais sabido do ofício que o que lhe deu a engenhosa Quem primeiro solicitou e obteve permissão para
caridade”001. montar em Piratininga uma olaria para fazer telhas

211
íoi Christovam Diniz, genro de Domingos Femandci nenhuma casa de telha, senão todas de colmo e todas
e, com este, fundador da atua] cidade de Itu. terreiras. De colmo se cobria, aliás, boa parte das
Obteve Christovam Diniz, licença da Câmara, casas, cm especial as da gente m iúda.. . O que todos
bem como o terreno necessário para montagem da tinham eram aposentamentos térreos com fartura,
olaria; não levou avante o seu intento, pois “se fora simples pardieiros de terra batida, às vezes com cober­
para o mar”. tura de colmo ou de palha, onde se guardavam alfaias
Em ata da sessão da Câmara, de 6 de março de c se depositavam comestíveis” <l7).
1575, é dito que aquele oleiro se propunha a; “fazer Com tudo isso, quer nos parecer que os famosos
telhas para se cobrirem as moradas desta vila por ser bandeirantes, cujos inventários são por muitos lidos
cousa para enobrecimento dela” . .. “e a dita telha era com comiseração, não eram mais pobres que seus
necessária por razão desta vila estar coberta de palha parentes ou compatriotas metropolitanos,
e correr risco por razão do fogo”. Com razão e equilíbrio, o saudoso Sérgio Milliet,
São estipuladas então as condições da remunera­ no prefácio de “Vida e Morte do Bandeirante”, assim
ção do oleiro: “quatro cruzados em dinheiro pago no se expressa: “o que coloca a verdade, acerca da riqueza
dinheiro da terra que serão mantimentos e carnes, bandeirante, entre Oliveira Viana e Alcântara Macha­
gado bois e vacas e porcos porquanto nesta vila não do, nem tão ricos, nem tão miseráveis éramos nós no
há outra fazenda. . . e ele a fará de bom tamanho e início do século XVII” <18- w.
boa forma que fique de dois palmos e meio depois de Ainda com referência a telhas e outros artefatos
cozida”. cerâmicos, Gabriel Soares em 1587, nos informa:
Sobre este particular do “dinheiro” em Piratinin- . . . “tem a Bahia muito barro de que se faz muito boa
ga, podemos lembrar que o sistema da barganha era telha c muito tijolo dc toda a sorte, de que há em cada
o corrente e admitido oficialmente, e até pratos consti­ engenho um forno de tijolos e telhas em os quais tam­
tuíam moeda de troca com “açúcar branco e rijo” cm bém se coze muito boa louça e formas (de açúcar)
fins do século XVI e começo' do X V II(16J . que se fazem do mesmo barro”
A Câmara determinou o tamanho da telha a ser Referimo-nos até aqui, mais especificamente aos
fabricada na Vila, não fez referência ao tipo pois que variados empregos do barro nas construções, debaixo
nesse período até o século XIX é a telha denominada dos novos métodos trazidos de além-mar pelos coloni­
em Portugal de "canudo ou romana” que irá dominar zadores e que já caracterizam a segunda fase cerâmica
nas coberturas, a qual chamamos nós de colonial ou no Brasil, ou seja, a alienígena.
de telha de canal.
Quanto à primazia do seu fabrico na Capitania, IMAGINÁRIA
acreditamos que caiba a São Vicente e a Santos, pois
Braz Cubas, como vimos, já em 1553, ficara obrigado Mas o barro cozido nessa segunda fase da Cerâ­
a cobrir as casas da Alfândega com aquele material. mica no Brasil, na qual passa a participar o elemento
Há também outra indicação, está no planalto europeu, serviu também, e com destaque, a uma ala
referente à Fazenda de Piqucry, o que recuaria para importante da Arte, a estatuária, que iria se desdobrar
muito antes, pelos idos do 1536, o emprego de telhas. na imaginária sacra erudita, na popular e ainda servir
Diz J. P. Leite Cordeiro (ob. cit. págs. 31-53-56): ao folclore.
"Aí tinha Braz Cubas, muito antes mesmo da sesmaria, Nesse Brasil de antanho, descoberto sob o signo
uma fazenda de mantimentos e criação, casas fortes da Cruz, o culto católico era intenso e as imagens
e uma ermida coberta de telhas". A fazenda referida trazidas da Metrópole não eram suficientes para
veio fazer parte da conhecida sesmaria de Jurubatuba atendê-lo e Satisfazer a devoção dos fiéis. Nisso a
que lhe foi concedida em 1536. participação das Ordens Religiosas, Jesuíticas, Francis-
Mas não se tomem aqueles dados, o da barganha canas, Beneditinas, para complementar a escassez, foi
e o da escassez de casas cobertas de telhas, como decisiva e responsável pelo desabrochar dc uma arte
parâmetro aferidor da extrema pobreza da Capitania, que iria se desdobrar no espaço e se firmar no tempo,
e em particular do reduto bandeirante cm plena fase com uma série de santeiros notáveis, os “figulus
de fixação e desenvolvimento. Há que considerar a statuarius” no dizer de Serafim Leite e abrir um campo
época, a distância da costa, as condições locais, como ainda pouco estudado da arte popular leiga e sacra c
também estabelecendo um paralelo com o que se do artesanato que de forma geral nela se calca c age
passava entre a população da própria Metrópole, em como veículo dc sua divulgação.
pleno devaneio de seu poderio e prosperidade. Dom Clemente da Silva Nigra, a quem a cultura
Só então, podcr-se-á formar um juízo mais justo e a Arte devem no Brasil uma das mais brilhantes
da realidade vicemina c da do Sul do território brasi­ contribuições, faz referência a um nome pioneiro. E o
leiro. Afinal de contas, em 1593, a vila já dispunha de João Gonçalo Fernandes, vindo da Bahia, autor
de uma organização própria de oleiros e de um juiz das imagens de Nossa Senhora da Conceição, que
de ofício. (Afonso de E. Taunay — "São Paulo nos pertence à Matriz de Itanhaém, de Nossa Senhora do
Primeiros Anos” — S. Paulo, pág. 111). Rosário e de Santo Antônio, este quase de tamanho
No interior de Portugal, na mesma época, era natural, ambas da Matriz de São Vicente (1560)
ainda a técnica milenar da taipa de pilão que prepon­ (Exposição de Arte-Sacra-Rio-1955).
derava e a telha era escassa nas coberturas. Este santeiro abre a série esplêndida rtb que iria
Diz-nos renomado sociólogo: “Como a madeira consagrar nos oratórios, nas capelas, nas ermidas c nos
fosse rara, construiu-se dc preferência em taipa, pecra templos, o elevado padrão da imaginária sacra erudita,
e tijolo. . . os pavimentos faziam-se também de tijolos de barro cozido e pintado a frio, executadas no Brasil,
ou com ladrilhos cm forma dc m osaico... Na Serra e morcar juntas com as produzidas no século XVII,
de Montemuro, pelos meados do século XVI não há a prioridade continental nesse ramo da Arte, Dom

2J2
Clemente o cognomina “pai da imaginária brasileira’’ Até aqui procedemos a um esboço sobre a produ­
c Pedro de Oliveira Ribeiro Neto, dele nos conta: que ção indígena e a um apanhado sobre a alienígena que
João Gonçalo Fernandes, segundo consta, “esteve preso se lhe segue, produzida na terra. Falta, para termos
por motivos políticos na cadeia de Itanbaém quando uma visão panorâmica das categorias cerâmicas usadas
lhe foram encomendadas as imagens”, quanto ao seu nesse quinhentismo brasileiro, a localização dos pro­
estilo nos diz ainda: “poderia ser João Gonçalo Fer­ dutos fabricados na Europa e na China.
nandes, filiado à Escola Salaico-Riscamha do Norte de Certamente esse mostruário foi grande, a começar
Portugal, de influência gótica importada por biscainhos pelos pertences trazidos pelos colonizadores lusos,
e galegos. . . teria sido aluno de João de Ruão de cujas complementado pelo abastecimento periódico feito
Virgens e Santas, tirou a expressão das imagens que pelas naus metropolitanas, que montavam a uma média
nos deixou de herança” . . . (22> anual de quarenta, no fim do século XVI O*),
Ainda nesse quinhentismo surge também o artista
ceramista, o arquiteto franciscano frei Francisco dos Além disso, não faltaram em nossas costas, expe­
Santos, que modelou duas belas imagens de Nossa dições de diferentes nações cobiçando a presa gigante
Senhora, uma para Olinda, em 1575, e outra para de Portugal. Parte delas traficavam, outras saqueavam e
Salvador (esta executada em 1616) (231 e ao mesmo algumas ocupavam parte do território, como é o caso
santeiro são atribuídas por Pedro de Oliveira Ribeiro dos franceses e holandeses. Essas incursões e ocupa­
Neto mais duas importantes Nossas Senhoras do Rosá­ ções e as lutas terrestres e os combates navais decor­
rio de bases diferentes, e que fizeram parte da capela rentes, travados de Norte a Sul, deixaram vestígios
do creso paulista Guilherme Pompeu de Almeida. materiais. A pesquisa arqueológica terrestre e aquática
Dom Clemente atribui também a imagem de Nossa poderá aos poucos recompor aquele painel cerâmico
Senhora, da coleção do Dr. José Mirabeau Sampaio, estrangeiro, através dos testemunhos materiais recolhi­
de Salvador, àquele mestre.
dos, referentes ao século XVI.
Nesse particular de fartura de imagens de barro
cozido, parte identificada, parte anônima, informa Dom Até o momento, faltam-nos esses elementos e na
Clemente: “Verificamos São Paulo ser o Estado onde ausência deles temos que nos reportar ao que existe
mais se produziu imagem de barro cozido, desde 1560 em coleções e museus estrangeiros e nos basear nas
até 1803, sem interrupção” . indicações das crônicas conhecidas.

213
III - CERÂMICA EUROPÉIA

primeira referência que se pren­ '.536; e quando assim não fosse, o que dizer, quando
de à importação de cerâmica a partir de 1580, passamos nós para o domínio Feli-
européia, refere-se à faiança pino, e havia no Brasil, pelo menos na Capitania de
espanhola, e data de 1536. Esta São Vicente, importante núcleo castelhano, e as naus
informação é das mais importan­ e carTacas lusas não eram mais as únicas a aportarem
tes; reproduzimos Garcia Fer­ livre mente em nossos ancoradouros?
nandes, que diz: .. ."en Tata-
Acresce ainda que inventários do começo do
vera hace-se vidriado blanco, verde, azul, jaspeado y
século XVII que podem ainda referir-se a acervos do
de otras colores, que es lo mejor que en Caslilla se
século XVI, apontam com certa profusão as louças de
labra y de ello se provêe Castilla, Andalucia, Portugal y Talavera em Piratininga (que eram mais baratas do
se passa à las índias” 05:1.
que as do Reino, de Lisboa e da índia, conforme pude­
Ora, estas Índias nada mais são do que a América
mos apurar no cotejo dos inventários viceníinos
c as colônias ibéricas, e Talavera de la Reina constituía
seiscentistas, em obra já publicada).
um dos grandes centros cerâmicos de produção da
faiança nesse século, ê evidente que parte da popula­ Podemos conhecer as características dessa louça
ção colonial, haveria de comer em louças vindas do taíaverana e de outros centros espanhóis de exporta­
Reino, a qual por sua vez também importava outras ção já que os museus na Espanha são bastos dc mate­
de Talavera, como é dito por Garcia Fernandes. rial quinhentista e mesmo os da Argentina, porem aic
Pode-se, pois, concluir que Portugal, como nosso o momento não foram identificadas aqui peças do
único fornecedor regular, no-las enviavam desde período.

IV - PORCELANA DA CHINA

utras notícias sobre a cerâmica o termo passou depois para "malga” que designa
importada e sua presença em tigela em nosso vocabulário, assim como deu o nome
solo brasileiro, referem-se espe­ á louça malagueira, uma faiança com esmalte estaní-
cificamente à porcelana chinesa, íero bastante branco, e vidrado plumbífero forte.
a famosa louça da índia. Eram também chamados de malaguciros, os oleiros ou
A primeira delas é feita pelo louceiros em Portugal, tanto portugueses como flamen­
padre Fernando Cardim, em gos que fabricavam louça feita em “fornos de Veneza”,
1583, relatando que, perto de Porto Seguro, chegou-lhe isto é, dentro da técnica e‘ decoração da faiança pro­
“uma índia com uma porcelana da índia cheia de quei­ vinda de Málaga e de outros centros de produção
jadinhas de açúcar e um grande púcaro de água fria castelhana ou italiana.
dizendo que aquilo mandava seu senhor ao Padre Ainda nesse setor das porcelanas chinesas, iremos
Joseph” (Padre José dc Anchieta). Logo a seguir, em assinalar peças cujo fábrico se situa entre 1516 c 1521
1587, Gabriel Soares, constata também na Bahia: e que são dc interesse porcclamstico internacional, e
, . . "custosas baixelas, obras de arte, louça da índia, da em particular de relevância histórica luso-brastlcira.
China e tapeçarias do Oriente atestam o requintado Essas porcelanas não chegaram ao Brasil na
gosto desses magnatas’’. (Senhores de engenho) época, porém, são as primeiras fabricadas na China
Outra referência do século XVI é a do ano de para o Ocidente e trazidas pela nova rota, para o nosso
1599. Esta consta de inventário que arrola: “Três por­ primeiro soberano OU em sua homenagem, Dom
celanas da índia e duas Málaguas avaliadas em Manuel, o Venturoso, aquele monarca que concretizou
duzentos e cinqüenta réis”. A dona desse acervo era os sonhos da dinastia de Aviz e escreveu com a tinta
Maria Gonçalves, casada com Clemente Alvares, sócio azul dos mares o prefácio de nossa história e traçou
de Afonso Sardinha na primeira mineração no Brasil os ramos dc nosso destino.
(1595) nas lavras do laraguã, de Voturuna (Parnaí- A maioria dessas louças a ele atribuídas ostenta
ba) e Jaguamimbaba, na Mantiqueira <21>. a esfera armilar, quando não, concomitantemente as
De notar neste inventário a palavra málagua que Quinas .de Portugal. Aquele símbolo era a divisa
provém de Málaga, grande centro ceramista, junto pessoal do soberano e fora-lhe conferida por Dom
com Talavera e Seviíha no século XVI: por corruptela. João II "quando lhe ordenara casa”. Junto com as

(segue ua pdg.218) 215


Séc. X V I FAIANÇA PORTUGUESA

Peça rara, policromada, reproduzida de "Faianças Portuguesas''


— séculos X V ! c X VII — do Prof. Reynaldo dos Santos, por
cortesia de D S Irene Quilhó, viúva do mestre.
Por estranho que pareça, encontramos no litoral brasileiro, um
fragmento em propriedade que foi da Ordem do Carmo que
se estabeleceu em São Sebastião em 1608, o que leva a supor
que peças desse gênero quinhentista tenham chegado ao Brasil
e continuado a serem fabricadas no começo do século X V I
{vide o caco colorido encontrado, à esquerda na base da
fotografia).

216
TEXTO DE INVENTÁRIO DE MARIA GONÇALVES 1599
em que é assinalada a presença de
"Porcelana da Índia"
Arquivo do Estado de São Paulo,

152

217
bandeiras das Quinas e da Ordem de Cristo, eram os sanção do imperador chinês, para o estabelecimento
gloriosos pendões que arvoravam as caravelas, no do comércio em Cantão. As relações dos portugueses
reinado do Venturoso. com o Celeste Império, começam a sc desenvolver, o
Diz-nos Southey que a l.° de maio de 1500. na que lhes permite estabelecerem-se em Ning-po (1540),
primeira cruz erguida em Porto Seguro “pregaram nela em Chincheu (1549) e Macau (1557).
as armas de Portugal e a esfera, que era a divisa pessoal Em 1542, três viajantes aportam ao Japão, dando
del-rei Dom Manuel” Em 1645, quando Dom João aso a se entabolarem relações mercantis, conquanto de
IV eleva a colônia à condição de Principado, aquele pouco vulto e irregulares, tendo a missão dc Francisco
emblema heráldico volta a ser desfraldado c na navega­ Xavier se sobressaído apenas em importância prose-
ção, para o Brasil a partir de 1647, as naus passam lítica. j
a arvorar uma bandeira branca e a esfera armilar A porcelana então deixa de scr adquirida
dourada <W). A presença dela foi uma constante na unicamente na Índia ou no Reino de Pegu (em Marta­
iconografia brasileira, tanto na numismática de todo o ban): suprimem os portugueses parte dos intermediá­
período colonial e imperial, como na bandeira do rios canarins, mouros e peguanos, passando eles pró­
Principado do Reino e do Reino Unido de Portugal, prios a também comprá-las das mãos dos mercadores
Brasil e Algarves, como a do Império em 1889. e mandarins chineses.
Por aquelas razões de interesse porcelanístico e Os pontos de maior importância no Extremo
histórico e ainda tradicional brasileiro, é que incluímos, Oriente, tratando-se do comércio da porcelana, eram
neste trabalho, o seu exame. E também porque ao evidentemente Cantão e Macau.
estudar as peças atribuídas ou pertencentes a Dom Cantão (1517), mais junto à região da produção
Manuel, estaremos exibindo parte dos produtos da cerâmica chinesa, constituía importante entreposto
dinastia Ming, que se prolonga até 1644, em cujo interno chinês, no Delta do.Sikiang e Pekiang, com
período, foram assinaladas várias peças no Brasil. seu porto avançado de Whampoa, a 15 km da foz,
Antes porém, teremos que apontar o que foi a e onde mais tarde seriam montados ateliês de decora­
expansão comercial lusa no Oriente c o que represen­ ção para complementar parte da demanda ocidental,
tava a produção chinesa para entendermos o porquê Macau no estuário era a janela aberta para o
da presença e do uso das porcelanas entre a população mar. Macau cujo nome completo é Cidade do Santo
no Brasil ainda nos Quinhentos. Destacamos a figura Nome de Deus de Macau, já era ponto de escala por­
de dois pioneiros que, além de realizarem os mais tuguesa cm 1536 e fora fundada depois em 1557 e
altos feitos náuticos, também no setor cerâmico são lembrava, pelo estilo colonial das casas, um recanto
os dois primeiros a trazer porcelana pela nova rota. meridional luso em terras asiáticas. Passou desde logo
Vasco da Gama, em 1499, traz para a Rainha Dona a constituir vital ponto de comercio, dispondo de porto
Leonor várias peças da índia, e nosso Pedro Álvares bem abrigado e durante três séculos manteve quase
Cabral de volta a Lisboa ainda em 1500 oferece ao ininterruptamente o monopólio do comércio chinês.
soberano outras tantas porcelanas (30). Camões ali esteve dezoito meses, e aí escreveu em pleno
Vejamos a rede de comércio velozmente estabele­ apogeu da epopéia lusitana, parte dos Lusíadas
cida pelos portugueses naquelas bandas, (1550-1560).
Damão (arroz), Chaul (seda), Baçaim (madeira Após o estudo das datas do estabelecimento dos
de construção), Diu, Ormuz, Cananor, Coulam, diversos entrepostos e das expedições de várias perso­
Cochim, Calecut (pimenta), formam os numerosos nagens, chegamos à conclusão, por evidência, que as
entrepostos, sendo Goa o principal núcleo. Do Ceilão peças de Dom Manuel, que vamos apontar tinham
trazem a canela, pérolas, marfim, algodão, sedas, sido fabricadas em Chintehchen e exportadas de Cantão
tabaco, enxofre. Malaca era o centro avançado do ou Macau entre 1516 e 1521.
comércio da Indochina no extremo Oriente. Registra Tivemos o privilégio, em 1950, de focalizar uma
Pinheiro Chagas, que Martaban, antes de os portugue­ determinada peça atribuída a Dom Manuel e revelar
ses estabelecerem feitorias na China, era o ponto onde aos ceramógrafos como a mais antiga das louças feitas
se trocavam certas mercadorias e se fazia grande comér­ para o Ocidente com signos europeus. Isso veio a ser
cio de porcelana. Convém assinalar que este porto deu objeto de artigo na revista “Céramique”, da Sociedade
o nome de “martabans”, “martabanis” ou “martavans” Internacional de Cerâmica em Genebra, porquanto até
para a designação de enormes jarros para líquidos, então rit) só se conheciam algumas peças de outras
cereais ou frutas, em grés ou louça vidrada, com quatro personagens com datas posteriores (1541-1557)
alças para ser içado a bordo, ainda em uso na região enquanto a que exibimos pertencia ao saudoso amigo
e na Indonésia, também para captações da água de José Cortez (coleção Ulmar) era de Dom Manuel e
chuva. do período do Imperador Cheng-Tê (1506-1521), e
Na Oceania, nas Molucas, em Borneo, em Suma- fazia parte da antiga e conhecida coleção Domellas
tra e Java, chegam as naus lusitanas, estabelecem-se (Portugal).
os mercadores. Mas os portugueses vão mais adiante Anos depois, aquele magnífico exemplar veio a
ainda, alcançam a China em 1513 em Ta-Mao, distrito scr exposto em Londres, na “Royal Academy of
de Kuan-Tung. São três portugueses que lá aportam: Arts” ° 2). De 1950 para cá foram aparecendo outros
Jorge Alvares, Rafael Perestrello e Simão de Almeida. espécimes alterando o conhecimento que se firmava
Tais descrições fizeram de sua civilização, que durante muito tempo sobre as peças pioneiras. Assim
Dom Manuel, demonstrando o elevado interesse que vão surgindo outros exemplares com as quinas e a
dispensava à conquista desses mercados, envia em 1516 esfera armilar que era o símbolo de Dom Manuel, o
o embaixador Tomé Pires, com luzida comitiva a Venturoso, e ainda outros espécimes com armas dc
Pequim em uma frota composta de oito navios coman­ fidalgos dizeres, ou mesmo siglas religiosas ainda dentro
dada por Fernâo Feres de Andrade e consegue a do Quinhentismo.

218
CIDADE DE GOA

Cortesia de D M a r i a Helena Costa e Silva


Municipal de São Pauto).

219
PORTO DE MACAU
China.

.156

PLAN B E LAVILLÊ ET D U PO R T BE MACAO.


.;• . /W* f t .B -£ ^ fT d e. ir X a r m r .
' *. • £ ck r& . ..
t..llll.-tl.l ■' " ......— ~

Cortesia da Biblioteca Municipal de SSo Paulo.

220
O ilustre ceramógrafo José de Campos e Sousa, apresentam os “nien-hao" do imperador Hsuan-Tê
em 1970, aponta e põe em destaque mais dois esplên­ (1426-1435) que foram apostos nas peças de Dom
didos exemplares, uma bacia e uma tigela com a esfera Manuel, corno era hábito chinês, como forma de
armilar e as quinas lusitanas pertencentes ao conhe­ valorizá-las.
cido colecionador, Sr, Antônio de Medeiros e Almeida, Aproveitamos para explicar o que ocorre com
de Lisboa <3J). referência aos “nien-hao” de Hsuan-Tc aplicados nos
Aiém dessas, surgiu também uma jarra piriforme, exemplares fabricados posteriormente no reinado do
à qual falta a alça, de sóbria decoração, mas elegante Imperador Cheng-Tê. (Existe rio Brasil peça quinhen­
formato, exibindo em realce o escudo de Portugal inver­ tista do antigo colecionador José Gonçalves, nas mes­
tido de cada lado (lote 107, de 17 de outubro de mas condiçòcé; vide estampa.)
1961, de Sotheby’s) e ainda uma tigela baixa e larga O reinado daquele Imperador foi de 1426 a 1435:
com ligeira diferença da coleção Medeiros de Almeida, apesar de curto é considerado como um dos mais
exposta à venda no Sotheby's, em 3 de dezembro de expressivos da arte cerâmica oriental. São concordes
1974, lote 577 <»>. as observações dos porcelanistas sobre a aplicação do
Ainda há de se destacar a grande tigela quinhen­ “nien-hao” e a cópia do estilo de Hsuan*Tê nas peças
tista exibida no Museu de Topkapi em Istambul que dc períodos posteriores.
pertenceu a Pero de Faria, o capitão governador de
Malaca, de 1573 a 1543, e que faleceu em 1546. A é um caso freqiiente a aplicação dc um “nien-
peça exibe seu nome, a esfera armilar e a data de 1541. -hao” mais antigo nas peças executadas no período dc
Outras peças menores de outras decorações com Kia-Tsiug e mesmo nos períodos seguintes, porque os
o nome da mesma personagem existem nos museus de ceramistas chineses procuravam imitar c copiar os mais
Beja (1541) e de Nápoles (1547), as quais foram belos exemplares do período Hsuan-Tê, que foram
consideradas por longo tempo pelos ceramógrafos, sempre reconhecidos na China como os melhores e os
como sendo as primeiras fabricadas para o Ocidente, mais preciosos, onde a procura das tonalidades da
Outra peça de interesse é um gomil com a sigla monocromia, e o encanto da decoração e a delicadeza
jesuítica — 1HS -— ou o monograma Sagrado, cotno dos aspectos, raríssimas vezes puderam ser ultrapassa­
tem sido chamada, cujo fabrico, peio estilo, presume-se dos. Eram, sobretudo, os mais procurados os tons
poder situar-se entre 1540-1550, o que corresponde azuis do “sou-ni-po”, cuja composição se perdera cm
também ao período em que a atividade cristã no 1465, quando se acabaram as reservas cobaluferas,
Oriente alcançou posição destacada. (Existem dois que provinham muito provavelmente, das montanhas
exemplares iguais.) do Beluchistão (no Oriente Médio). Nos períodos
De notar ainda que nesse quinhentismo é encon­ seguintes foram esses tons quase igualados com o em­
trado uru frasco em azul e branco com as armas de prego de um certo azul de cobalto que um governador
Leão e Castela tJ6>. do Yoa-Nan tinha podido comprar, e a quedos chineses
Peça extraordinária provavelmente do começo do çhamavam “Hoei-Tsing”, azul dos muçulmanos.<w)
domínio tilipino no Brasit, isto é, entre I5SQ c 1600 — Vimos, pois, panoramicamentc, porém de manei­
trazida pelos portugueses da China, via Cabo, ou pelos ra positiva c sobretudo expressiva, que a população do
espanhóis, via Manilha, atribuída a Felipe II, Brasil dos Quinhentos já apresentava, no setor cerâ­
Essas peças com a esfera armilar ou o escudo de mico, algumas brilhantes demonstrações.
Portugal parte das quais fabricadas ainda cm vida de Na parte artística sobrelevavam os produtos
Dom Manuel e outras posterior mente ainda ostentando ameríndios de alguns centros da Bacia Amazônica a
a esfera armilar que depois de sua morte passou tam­ fatura de imagens de porte, de barro cozido da terra
bém a representar o emblema nacional, porém ainda pintada a frio, pelos santeiros luso-brasileiros. E na
do século dezesseis, passaram a serem conhecidas entre parte das ricas louças das índias, já era observada a
os ceramógrafos como porcelanas manuelinas ou do sua presença no litoral de Porto Seguro — como no
grupo manuelino <37>. planalto vicentino e nos engenhos baianos — para
A maioria dessas louças corresponde ao reinado gáudio da sociedade de então, que já estadeava suas
do Imperador Cheng-Tê (1506-1521) da dinastia baixelas importadas da China sobre mesas e bufetes
Ming e presume-se que tenham sido executadas, entre coloniais.
a expedição do Comandante Fcmão Pcres de Andrade Esse fato revela o requinte e o refinamento dessa
à China, em 1516 e a morte do soberano luso, ocorrida primeva sociedade luso-brasileira; é de ressaltar tam­
em 1521. bém os da elite piratiningana, no planalto hostil, no seu
Quase todas (com exceção da tigela não marcada primeiio século de instalação, quando já se rabisca­
da Coleção Medeiros e Almeida) e de outra exposta vam, com a ponta dos terçados, os contornos do imenso
à venda em dezembro de 1974 — lote 577 de Sotheby’s, legado bandeirante à Nação,

221
b i b l i o g r a f i a

Final da Dinastia Mine- Reinados Chineses no Sécnlo Geográlicò de S. Paulo — catálogo da I.1 exposição de
XVI: Hung-Chih (1488-1505) — Cheng-Tê (1506-1521) Imagens Brasileiras, 1954 — Carlos A. C. Lemos "Notas
— Chia-Ching (1522-1566) — Lung-Ching (1567-1572) sobre a Imaginária Popular Paulista", in rev. do Inst,
Wan-Li (1575-1619). de Est. Brasileiros, n.° 9 — 1970 — E, F. Brancante:
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(1) N aPOLEÃO FtGUEtREDO, MaRU HELENA DE AMORí M FOLHA
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“Referências Quinhentistas” in Colóquio de 1974 —
n a A m a z ô n ia B ra sileira ", in catálogo da coleção Arqueo­
Revista da Univ. da Bahia — Francisco Roberto, in rev.
lógica dos Inst. Histórico e Geográfico de Alagoas —
do Instituto Histórico e Geográfico Guarujá, Bertioga
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(2) M ário F. SimOes .— " ín d ic e d a s fa s e s a r q u e o ló g ic a s " Imagens Religiosas do Brasil" — S. Paulo •— 1956.
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(3) E duardo G alvão •— " E x p o s iç õ e s d e A n tr o p o lo g ia —
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(24 ) Roberto S imonsen — “História Econômica do Brasil"
— 1500-1810 S. Paulo — pág. 184 — Cia. Edit.
(4) H ans Staden — " R e la ç ã o V e ríd ic a e S u c in ta d o s U so s Nacional, 1944.
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(5) ! ean de Léry — " J o u r n a l d e B o r d e n la T e rr e d e B résll
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(26) F ernão C arimm — “ Tratados da Terra e Gente do
1578, comentada por M. R. Mayeux, Editions Paris, 1957, Brasil” — págs. 263-267 e 276.
(6) F rei Gaspar de C arvajal — " lie la c ió n d e l V ia je de (27) A fonso TAunay — "São Paulo no século X V I".
O r e lla n a ", edição Gonsejo de la Hispanidad, Madrid, 1944, (28) Roberto Southey — "História do Brasil" — ed. 1862
(7) F rederico Barata — “A r q u e o lo g ia " — in " A s A r ie s — R io — to m o I — pág. 33.
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(8) Ancyone Costa — in " A r te s P lá stic a s n o B ra sil’’ (1952). S, P aulo, 1933.
(9) Serafim L eite — " O s J e s u íta s n a V ila d e S ã o P a u lo " , (3 0 ) G aspar C orrêa — " Lendas da India”, vol, I — págs.
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(10) H aydée N ascimento — " C e r â m ic a F o lc ló ric a d o A p ia h y " TOccident en Chine”, m "L a Céramique " — Genéve,
— in Rev. do Arquivo, n.° CLXXXVI — S. Paulo. 1950.
(!l) 1. P. L eite Cordeiro — " B r a z C u b a s e a C a p ita n ia d e (32) Exhibition o f Portuguese Art., catálogo n.° 534 —
S ã o V ic e n te " , 1951. pág. 100 — 31-53-56. Londres, 1955.
(12) Luiz Saía — " A M o ra d ia P a u lis ta " — W asth Rodrigues, (3 3 ) José de C a m po s e Sousa — "A Propósito da Cerâmica
" D o c u m e n tá r io A r q u ite tô n ic o " —- C aRLOS C. Lemos con­ Armoriadct" — Braga, 1976.
ferencia no Museu da Casa Brasileira (34 ) Catálogo de Sotheby's Park Bernel dc 17.10.1961 —
(13) H ernanl Silva Bruno — " A H is tó r ia d a C id a d e d e S ã o lote 107 idem, idem de 3 de dezembro de 1974, lote 577
P a u lo " . (tigela baixa).
(14) R aymundo de Menezes — " H is tó r ia s d a H is tó r ia d e (35 ) Sotheby's Park Bcrnet, lote 79 do leilão de 10.01.1970
S ã o P a u lo " — ed. Melhoramentos — S. Paulo, 1954 e Coleção Alexandre Pope — Smithsonian Institute —
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Shrine — Washington — 1956.
(15) Antônio Baptista Pereira — “ A C id a d e d e A n c h ie ta "
(in Revista do Arquivo Municipal, n,° 23, ano JI, págs. (36) D avid Howard e John A yers —- “China for the West "
19 e 83) c o mapa de Mertig. — pág. 53 — Londres, 1979.
(16) Arquivo do Estado de São Paulo — " In v e n tá r io s e T e s ­ (37) C lare le O or beiller — " China Trade Porcelain" —
ta m e n to s "’ — vol. II, pág. 157. Patterns o f Exchange Metropolitan Museum of Art —
New York — Geographic Society — pág. 14.
(17) A. H. de Ouveira M arques — “ A S o c ie d a d e M e d ie v a l
P o rtu g u e s a ” — ed. Sá da Cosia, Lisboa. 1971 — págs. (38 ) D avid Howard e John A yers — “China for the West"
73-76/77. — L ondres, 1978,
(18) Alcântara M achado — " V id a e M o r te d o B a n d e ir a n te "
— S. Paulo.
Lutz K e il — Porcelanas Chinesas d o século XVI com inscri­
(19) S érgio M iluet — prefácio in " V i d a c M o r te d o ções em Português, in Boletim da Academia Nacional de
B a n d e ir a n te ”,
Belas Artes —- n.° X —. págs. 18/69. — lisboa, 1942.
(20) G abriel Soares — " N o tíc ia s d o B r a s il" — Martins Edi­ C láudio H en r iq u e Ba sile — "Os raros e caros objetos de
tora — S, Paulo — vol. I — págs. 308 e 324. porcelana Companhia das Índias", in "Fim de Semana"
(21) D om C lemente da S u.va N igra — " C a tá lo g o d a E x p o ­ de 21.09.1979. ano II — n.° 74.
siç ã o d e A r t e S a cra , E sc u ltu ra Coíontaf d o B r a s il" , in
J uan C ayón C arlos C asta N — "Las Monedas Espanolas desde
Rev. do Inst. Histórico e Geográfico Guarujá — Bertioga los Reyes Católicos y Juan Carlo P' — págs. 56 a 91
— anos I-H, 1970 — Rio, 1955.
— págs. 183 a 195 — Madrid, 1976.
(22) P edro O liveira Ribeiro N eto e outros: Oliveira Ribeiro
Neto — " Im a g e n s P a u lista s n o s é c u lo X V I I " — in Rev. Manuel Cahvallo — “El Comércio con Asia" in A rle s de
do lnst. Histórico e Geográfico Guarujá — Bertioga — México, n.° 143.
ano I — 1—- 1969, pág. 67. “A r te R e lig io s a C o lo n ia l en e t M arco A n t ô n io A lm azan — "El Galeon de Manilla" — in
B r a s il" in caL da “ Exposíción dei Museo de Arte Hispano Artes de Mexico, n.° 143 — pág. 62.
Americano, ed. Min. Rei. Exteriores c Sec. de Cult. Esp. A n t ô n io F rancisco C araban — "El Comércio del Oriente en
e Turismo — S. Paulo, 1972 — Stanislaw Herslal “ I m a ­ la Provinda Mexicana”, in Artes de México, n.° 143 —
g e n s R e lig io s a s n o B r a s il" — S. Paulo — lnst. Histórico e 1971.

222
Séc. X V I PERÍODO SINO-PORTUGUÊS
(Série Manuelina)
Gomil de Dom Manuel

Esta peça, cujo form ato lembra bule ou cafeteira, era de uso na Europa nos
séculos X IV e X V , em metal e vinha acompanhada de bacia de lavar as mãos,
nas casas nobres, modelo inspirado de similares usados na Pérsia e nos países
muçulmanos.
Apresenta, como decoração principal, dos dois lados d esfera armitar e o “nien-hao"
no frete de H suan-Ti, embora fosse o gomil fabriccdo no período do Imperador
Cheng-Tê, da dinastia Ming. Fez parte da Coleção U L M A R (abreviação de
Ultramar) e pertenceu a losé Cortei, que morava no Brasil, casado com uma
dama brasileira.

PORCELANA DA CHINA

Azul e Branco
Período Chctig-Té
(Primeiro Quartel do século X V I)

223
PERÍODO SINO-PORTUGUÊS

1SB

Peça constante do Catálogo de Sotheby's de I7JÔ.196Î, ï&te sob n.° J071 Tratasse de uma
jarra pîriforme com dois escudos âè Portugal, um de cada lado, alça (faltando) em feitio
de rabo de peixet boca hexagonal, com borda de grega azul e pé cônico. Marcado Hsuan-Tê
Nien Tsaô, porém do período de Chen-T ê (1506/1521 ) a exemplo do go mil de Dont Manuel,
jâ exibido. Segundo Sotheby’s, pode-se presumir que o gomil referido e esta garrafa tenham
sido fabricados na mesma época, pois eles têm em comum I / 0 o nien-hao, 2? a grega da
boca, 3? o detalhe da alça (nesta peça falia a alça inteira, porém a base que resta é parte
do rabo de gaio cornutn às duas peças).
Cortesia de Marcas Linnel *— Sotheby's FarJi Bernet — Londres.

224
Séc. X V I PERÍODO SINO-PORTUGUÊS-MANUEUNO
Bacia de Dom Manuel — Porcelana

Na parle externa da peça, são exibidas quatro reservas farina­


das por -um círculo, contendo m otivos e emblemas diferentes,
como a esfera armilar, as armas de Portugal (em posição
invertida) o monograma sagrado circundado por grinalda de
espinhos e ainda outra com ornamentos florais. N a aba estreita
há os dizeres: A V E M A R IA G R A T IA PLENA, e no fundo
apresenta uni leão budista e uma bola entre dois círculos, Como
cercadura externa superior e inferior uma série interligada de
" joo-i-heads " . Ostenta o " nUn-hao " de H suan-Tl, porém fabri­
cada durante o reinado de Câeng-Tê, da dinastia M ing (Primeiro
quartel do Século X V I). A zul e branco.

Coleção Medeiros e Almeida (Lisboa).


(Peça reproduzida de José de Campos e Sousa — op. cit.
pág, 17).

225
sêc. x v i PERÍODO SINO-PORTUGUÊS-MANUELINO
T ig e la de Dotr Manuel

A tigela encerra quatro reservar, entre desenhos de nuvens, a esfera úrmilar, as armas de Portugal
invertidas e o monograma sagrado e n tre ' uma coroe de espinhos. A inversão do brasão português
se repete em outras peças do período, pois os chineses desconheciam os escudos nobiliárquicos
e seus acessórios decorativos, assim como a posição heráldica de usá-los. N a borda, há um duplo
listei < a peça não apresenta " níen-hao " , sendo porâm genuína c do período de C heng-Ti —
primeiro quartel do século X V I. Coleção Medeiros e Alm eida — Lisboa. (Peça reproduzida de
José de Campos e Sousa — ob. cit. pág. 17).

226
Séc. X V I PERÍODO SINO-PORTUGUÊS
(Castela)

Três fotos de um frasco de peregrino (gourde) cm a n d e branco, sern marca; em cima a peça inteira; à esquerda detalhe da
brasão e à direita da decoração do verto da peça composto de ramagens à maneira chinesa. Esses “fro-teos de peregrino", como
eram chamados, têm uma tradição longínqua, pois eram levados pelos romeiros ern suas peregrinações, inclusive durante as Cru­
zadas. Corresponderia hoje ao cantil do caçador ou do soldado em excursão. Peça das mais raras e das mais curiosas. E!u
tem na boca um remate antigo em latão, em formato de copo, srguto por uma corrente. A peça pertenceu oí> conhecido
colecionador Ricardo Espírito Santo e Silva c outros ezemplures tem sido reproduzidos cm outros trabalhos. Segundo John
Ayers e David K on a -d ' r*;. o seu feitio foi buscar inspiração em similares de bronze, na Pérsia. Este fato i coerente pois ê
sabido que os chineses, antes das Descobertas, supriam largame nte o Oriente M édio e <t índia, a ponto de influenciar a cerâmica
muçulmana com o seu famoso azul e branco Assim, o gomil de Dom Manuel, conform e explicamos (ob. cif. adendo) e cs vários
tipos de “narguilés" quinhentistas, obedeciam às exigências do mercado persa ou hindu, adaptando-se às suas formas usuais.
0 frasco apresenta o escudo de Leão e Castela (duas torres, aois leões e uma cruz separando-os). Esse era o pendão glorioso de
Fernando e Izabel, os felizes soberanos que conseguiram unificar todos os reinos na Espanha, desalojar os mouros em janeiro
de 1492, de Granada, e no mesmo ano em Outubro, descobrir a América.
Este brasão, no qual se inclui a Cruz de Cristo, a exemplo da esfera armilar de D om Manuel, continuou pelo tem po a ser
reproduzido também em moedas, cm geral apenas de um lado, pelos reis que foram se sucedendo, como a lembrança ou o
sim bolo de um período glorioso da nação espanhola ou de Castela Apenas no intuito de prestai um esclarecimento, podemos
afirmar que o brasão pintado no frasco, são as armas de Fernando V e tzabel e não as de Felipe II {1536/1598). O brasão
completo e pessoal deste soberano vem estampando cm outra peça preciosa, no Museu de Sèvres: outro frasco de form a diferente
em porcelana dc Mediei, com o brasão de Felipe lí, datado de 1581: que é um escudo que representa um verdadeiro mosaico
genealógica com a multidão de dinastias que nele vêm representadas.
Outro ponto a ser esclarecido è a época do frasco, que segundo vários autores, vern a ser ainda do período de Wüti-Li. Porém
essa asserção estaria na dependência em parte dc se ler! conhecimento por qual via o frasco chegou na Europa (de podia ter
sido destinado tanto a Felipe 11, como a outro soberano espanhol). Devemos nos hor.hrar que “desde meados dei siglo X V I
hasta principio de! X IX que puede bien decir-se que las h la s Filipinas jueron una colonia de México, mais que la misma Espana"
(Marco A . A lm azan — "El Galeon de Manilha in Artes de M éxico n.° 143 — pág. 2). Este tráfico fo i intensificado pelo meado
do século X V I, vindo a scr reduzido aos poucos e interrompido em 1593 (A ntônio Francisco Caraban — El Comércio dcl Ori­
ente. . , in Artes de M éxico n,° 143 — 1971). A peça em questão poderia ter rindo por aquela via ocidental, ou sefa. Manilha,
Acapulco, Vera Cruz (no golfo do México), Castela, ou então pela via clássica do Cabo da Boa Esperança, fã que a do Cabo
Horn, contornado por Fernando Magalhães não tinha finalidade comercial.
Assim, a peça podia tanto ter vindo no meado do século X V I para outro soberano, como no fim do século (de 1588 a 1600)
para Felipe II, quando da reunião das duas coroas lusas e apanho!as e trazidas para homenagear o soberano comum.
Coleção João Gonçalo do Amaral Cabral.
Séc. XV! PERÍODO SINO-PORTUGUÊS

Gom il ou jarra coin emblema jesuítico (em duas posições) azul c


branco, sem marca, alça em "verm eil" com as iniciais I, l í, S.,
no bojo, conhecido como monograma sagrado de cada lado
da peça. A elegante jarra rescinde ainda, como o conhecido
gomil de Dom Manuel, ao gosto do Oriente M édio c acredita­
mos que seja ainda dos primeiros períodos da presença dos
lusitanos no Oriente. Segundo John A yers c D avid Howard
(China for the West, Sotheby's Park Bernet, London, 1978,
pág. 4 S I) é provável que a delicada peça tenha sido encomen­
dada para ritual cristão, o que é perfeitántente presumível se
levarmos etrt conta que a atividade religiosa na índia e no
Japão era já intensa pelo meado do século X V I, com a presença
de São Francisco Xavier, nas bandas Nipônicas, em sua heróica
missão de evangelização; segundo os m esm os autores a peça
teria sido fabricada por volta de' 1540/1550. Quanto ao con­
fronto de estilo com o gomil de D om Manuel, vide E. F.
Brancante (ob. cit. Âdetido); trata-se de peça raríssima, com o
aliás, o são as desse recuado período sino-português.
Cortesia de A ntônio Costa, Lisboa.

228
Séc, X V I PERÍODO SINO PORTUGUÊS
G a rra fa de Jorge Antiques

DINASTIA MING, ÉPOCA ClU A-CH ING {1522-1566)


Garrafa de Jorge Antiques
datada de 1S52 c com inscrição cm português,
O ter ia do Sr, Antônio de Carvalho e Silva,

Corlcua Fundação A bel de Lacerda — hiiiiru do Caramulo —


Por: Est. C X X /l.

Obs.: Garrafa — Porcelana da dinastia Ming: época Chia-Ching


(1522-1566). Piriformc, de Jorge Anriques, data de J552 e
com inscrição cm português: "Isto mandou fazer lO R G E A N R Z
N /A E R A DE 1552 Reina". Ornamentação de flores e folhas,
peiies e estreias do mar. Decoração azul. N o fundo inscrição
chinesa " que infinitas felicidades acompanhem todos OS Seus
negócios”. Na parte superior aplicação metálica para fumar,
írabuUio turco. Dim. 21,3 cm.

229
Séc. X V I PERÍODO SINO-PORTUGUÊS
Bule Armoriado-marcado
(Sá ou Peixoto)

165

Peça marcada com -íeis tdiogramas chineses correspondendo ao período de Chia-Ching {1522-1566), com brasão enxaquetado enci­
mado por elmo c virol. Armas dos St1 ou dos Peixotos. Coleção Medeiros e Alm eida — reproduzida de José de Campos e
Sousa, ob. cit.

230
Séc. X V I PERÍODO SINO-PORTUGUÊS
Pia lo Armoriado
(Mello ou Almeida)

"235 Prato. Porcelana da dinastia Ming — época Wan-Li (1573-1620}. M otivo


Português, brasãp dos M ellos ou Almeidas, envolvido pelo paquife que orna­
menta toda a parte central; borda constituída por gomos form ando reservas
com flores, frutos e insetos. Decoração: ao centro branco sobre azul e na
borda azul sobre branco.
Oferta do Sr, João Felipe da Silva Nascim ento — Est, C X X ÍV ,"

DINASTIA MING, ÉPOCA WAN-LI


(1573-1620)

Prato com m otivo português: brasão dos Mellos ou Almeidas.


Cortesia da Fundação Abel de Lacerda.

231
Séc. X V I PERÍODO SINO-PORTUGUÊS
Malga 'Anônim a)

16?

A malga acima (no fundo interno exists o desenho de um animal


mitológico) foi adquirida no Brasil pelo saudoso colecionador José
Gonsalves a apresenta o mesmo “nien-hao" do gomil, de Dom Manuel,
isto é de Hsuan-Tê, quando na realidade foi cia fabricada no reinado
dc Cheng-Tê (1506/152]) provavelmente contemporânea de Dom
Manuel (vide a este respeito Luís Keil, ob, cit.).
Essas peças com decoração ao gosto hindu (com elefantes, animais
mitológicos, etc.) é mais uma demonstração do intenso comércio
existente da porcelana chinesa com a índia e o Oriente Médio, ao
tem po dos Descobrimentos com toda um a série de artefatos com
signos budistas e outros, com o esta malga destinada ao mercado
indiano.

Coleção de A nita Gonsalves {S. Paulo),

232
Séc. X V I PE R ÍO D O SINO-PORTUGUÊS
Porcelana. Chinesa

Jarro-potiche, conhecido por cinco corei (Wous-ts-ai), embora


desse gênero se conheçam ouïras poucas peças com outras
cores.
Feça da dinastia Ming, Rara,

Coleção Prof, Edmundo de Vasconceüos (Brasil).

233
1 e II - BARRO CRU e TERRACOTA

om r e f e r ê n c ia à p r o d u ç ã o lo c a i N ão podem os d e ix a r de a s s in a la r a im p o r tâ n c ia
d o s p r o d u to s d a o la r ia , in c lu s iv e d e u m a o la r ia n o c e n á r io c o lo n ia l. E la e r a u m in str u ­
lo u ç a de barro c o z id o , a lin h a ­ m e n to de p ro g resso e su a p resen ça p ressu p u n h a
m o s a lg u n s d a d o s d e v á r i a s p a r ­ n ú c l e o s já e m p le n a e v o lu ç ã o e p o r c e r t o u m a te s ta d o
t e s d o B r a s il. N a V i l a d e P ir a - de c iv iliz a ç ã o n esse B r a s il em fo rm a ç ã o . D e su a s
t in in g a e a r r e d o r e s , c o n s t a t a - s e en tra n h a s a rd en tes s a ía m os tijo lo s , te lh a s , la jo ta s ,
a d is s e m in a ç ã o da a t i v id a d e ta b u la ç õ e s e m u ita s vezes, com o a s s in a lo u F em ão
o le ir a c o m a p r e s e n ç a , e n tr e a p o p u la ç ã o , d e c e r to s C a r d im , o v a s ilh a m e d o m é s tic o , o que é f a c ilm e n te
a p e tr e c h o s d e v á r io s f o m o s e o la r ia s q u e s ã o r e v e la d o s c o m p r e e n s ív e l p e lo b a ix o c u s t o d e s s a lo u ç a q u e a p r o ­
a t r a v é s d e i n v e n t á r io s q u e a b a r c a m a p r im e ir a m e t a d e v e it a v a as m esm a s in s ta la ç õ e s , os m esm os fo m o s,
d o s é c u lo X V I I , m a is p r e d s a m e n te d e 1609 a 1656. m ã o - d e - o b r a , m a t é r ia - p r im a , tr a n sp o rte, etc.
C o m o seg u e: Podem os a té d iz e r que a s o la r ia s e os te m p lo s
— “ G r a d e d e f a z e r t e l h a ” ( i n v e n t á r i o d e B e lc h i o r rep resen ta v a m bem d o is s ím b o io s n a p a is a g e m verde­
C a r n e ir o , 1 6 0 9 , v o l u m e I I ) ; ja n te d o jo v e m B r a s il: o d o e sfo r ç o em p r e e n d e d o r d o
— “F o r n o d e f a z e r t e lh a e c a n o a d e a c a r r e ta r a h om em e a p resen ça de D eus a abençoar a ta refa
t e lh a ” (in v e n tá r io de F r a n c is c a C ard oso, á rd u a d o s p io n e ir o s .
1 6 1 1 , v o l. I I I ) ; M a s o tijo lo n o B r a s il, n e s s e s e ís c e n t is m o c h e g o u
— “ F ô r m a d e f a z e r lo u ç a s " ( i n v e n t á r i o d e M a n o e l t a m b é m a s e r i m p o r t a d o . I s s o p o r q u e , e m p a r t e s e r v ia
R c q u e ix o , 1 6 1 6 , v o l. X X X I ) ; d e la str o p a r a a s n a u s e c m p a r t e , s u p r ia a d e f i c i ê n c i a
— “ S ítio com um fo rn o de t e lh a s " (in v e n tá r io d o f a b r ic o l o c a l e a p r e s s a v a a c o n c l u s ã o d e o b r a s c m
de Isa b el A n tu n e s, 1 6 1 7 — v o l. V ) ; c e r to s c e n tr o s lito r â n e o s .
— “ F o r n o d e c o z e r te lh a ” (in v e n tá r io d e Joana Podem os r e v e la r que os h o la n d e s e s na p a r te
N u n es, 1 6 2 5 , v o l. X X X I I ) ; ocupada d o N o r d e ste , d a v a m -se a o lu x o d e tr a z é -lo s
— “ O la r ia c o m s e u f o r n o d e c o z e r t e lh a " ( i n v e n ­ d a F r ís ia para co n stru çã o de p o sto s de d efesa e de
t á r io de A n tô n io de O liv e ir a , 1632, v o l. c a s a s . N ã o s e t r a ta a p e n a s d e c i t a ç ã o d e c r ô n i c a , m a s
X III); de f a to c o n c r e to , p o is fo r a m d e s c o b e r to s t a is tijo lo s .
— “ O la r ia com casa e fo rn o " (in v e n tá r io de A liá s , L A , G o n s a lv e s d e M e llo , p e s q u is a d o r e a r q u e ó ­
D i o g o C o u t in h o d e M e l l o , 1 6 5 4 , v o l. X V ) ; lo g o , no p r e fá c io da obra “ A z u le jo s H o la n d e s e s no
— “ O la r ia ” (in v e n tá r io de L u z ia L em e, 1656, C o n v en to de S a n to A n tô n io do R e c i f e ” <41, d á -n o s
v o l. X V ) in f o r m a ç õ e s p r e c is a s q u a n to à im p o r ta ç ã o de tijo lo s ,
A s i n d i c a ç õ e s d e “g r a d e d e f a z e r t e l h a ” e “ f ô r m a L eíhas e l a d r i l h o s , e t c ., t r a z id o s p e l a C o m p a n h ia das
d e fa z e r lo u ç a ” , im p lic a m em s e a d m it ir o a r t e s a n a t o ín d ia s O c id e n ta is p a ra o N o r d e s te . “ M a te r ia l d e c o n s tr u ­
c a s e ir o c o m o a t u a n t e , t a n t o n a p r o d u ç ã o d e p a r t e d e ção v e io em q u a n t id a d e c o n s id e r á v e l para P ernam ­
a r tig o s d e c o n s t r u ç ã o c o m o n a p r o d u ç ã o d o v a s i l h a m e b u c o . . , n ã o s ó p o r in ic ia tiv a d a C o m p a n h ia d a s ín d ia s
u t ilit á r io . M a s o q u e é d e s e n o ta r n a q u e le s sin g e lo s O c id e n ta is ... com o por d ilig ê n c ia de p a r t i c u la r e s ” .
a r r o la m e n t o s é q u e n ã o h á m e n ç ã o e s p e c í f i c a a o M u it o s d e s t e s t r a z ia m c o n s i g o t i j o l o s , p r a n c h a s d e m a ­
fa b r ic o d e t i j o l o s , q u a n d o e x p r e s s a m e n t e s ã o in d ic a d a s d e ir a , c a l e “ o u t r o s m a t e r ia is d e c o n s t r u ç ã o ” , e o u t r o s
o la r ia s e f o m o s d e f a z e r t e lh a s , O q u e v ê m c o r r o b o r a r r e q u e r ia m l i c e n ç a p a r a i m p o r t a ç ã o d e t e l h a s , e t c .
o f a t o , já o b s e r v a d o p o r v á r i o s h is t o r ia d o r e s , d e q u e P ara se te r u m a id é ia do enorm e v o lu m e d e s s e
o em p rego da ta ip a de p ilã o fo i e c o n tin u o u sen d o c o m é r c io , n o s i n f o r m a o e r u d it o m e s t r e q u e n o p e r ío d n
d u r a n te o p e r ío d o c o l o n i a l e im p e r ia l o q u e d o m in a v a d e j a n e ir o d e 1 6 4 1 a j u l h o d e 1 6 4 3 , is to é, n u m p e r ío ­
a t é c n ic a de co n stru çã o , so b r e tu d o nos m e io s r u r a is do de 30 m eses chegaram ao B r a s il n a d a m e n o s do
n a C a p i t a n i a e n a P r o v í n c ia d e S ã o P a u l o , c o m o m a is que 1 .1 5 4 .5 5 0 tijo lo s e la d r ilh o s . Segundo o m esm n
ta r d e n a C a p i t a n i a d e M i n a s G e r a is f o i a t é c n ic a do a u to r , a s i m p o r t a ç õ e s n ã o e r a m s u fic ie n te s , ta n to q u e
a d o b e a p r e d o m in a n t e . o A l t o C o n s e lh o d a q u e l a C o m p a n h i a , p a r a p a v im e n t a r
M a s is s o n ã o q u e r d iz e r q u e n o c o m e ç o d o s é c u l o as r u a s d e R e c i f e e a c o n s t r u ç ã o d e v á r i a s c a s a s , c o m o
X V I I , o tijo lo n ã o f o s s e u tiliz a d o e m S ã o P a u lo . T e m o d o p r ó p r io C o n s e l h o ( 2 2 5 . 0 0 0 t i j o l o s ) c a d o P a lá ­
é t e lo g o u m e m p r e g o t ã o i n e s p e r a d o q u a n t o m a c a b r o : c io de y r ib u r g de N a ssa u • e a in d a la d r ilh a m e n to ,
a o s v in t e e t r ê s d e m a i o d e 1 6 1 0 , c o n se r ta a c â m a r a r e s o lv e u a fo ra r te r r a s à m argem do R io C a p ib a r ib e
da V ila com " F ernão D a lv e s ” a c o n str u ç ã o cóm para a lo c a liz a ç ã o de dez o la r ia s . V em os p o is que
t ij o lo c o z i d o do p e lo u r in h o q u e s e r ia pago a “ te r sa ” N a s s a u q u e r ia d a r a o R e c i f e , s e d e d a f a m o s a C o m p a ­
p a r te e m d i n h e ir o o u o u r o e a s o u t r a s d u a s p a r t e s e m n h ia das Í n d ia s O c id e n ta 'is , um “sta tu s” de c id a d e ,
pano de a lg o d ã o a “rezam de q u a tr o r e a le s a t r a ta d a n o s m o l d e s e u r o p e u s e p r e o c u p a n d o -se em
v a ia " & c u r b a n iz á - la . N ã o s ó im p o r ta v a tijo lo s , c o m o in c e n ti­

239
v a v a c o m a d o a ç ã o d e t e r r e n o s , a i n s t a l a ç ã o d e o la r ia s . será um p o d ero so in s t r u m e n t o de m a n ife s ta ç õ e s de
P r e f e r ia o b a r r o c o z i d o à c a n t a r i a . N i s s o s e g u i a a t r a ­ ordem c u l t u r a l. E n esse p a r t i c u la r o B r a s il n esse
d iç ã o dos P a ís e s B a ix o s , onde a té h o je p r e d o m in a m sé c u lo XVH, d esp o n ta r a d ia n te nas d em o n stra çõ es
as ca sa s e e d ifíc io s em tijo lo s , e m g r a n d e p a r te p e la e x u b e r a n t e s e d i v e r s if i c a d a s d e o r d e m a r t ís t ic a .
e s c a s s e z d a p e d r a n a q u e l a r e g iã o .
N a q u e la in fo r m a ç ã o , h á a m e n ç ã o d a p a v im e n ta ­ IM A G IN Á R IA
ç ã o d e r u a s c o m tijo lo s e a r e fe r ê n c ia a la d r ilh a m e n to ,
o q u e n o s le v a a o la d r ilh o e à la jo ta , o u se ja a o r e v e s ­ H á u m a ta v is m o q u e a c o m p a n h a o h o m e m , c o m o
t i m e n t o d e p is o , um fe n ô m e n o g e n é tic o , a tr a v é s d o s te m p o s e sem p re
O ch ão ou o p is o d e u m a m o r a d a p o d ia s e r d e s e m a n i f e s t a / n u m b in á r io c l á s s i c o : U t i l i d a d e e E s t é t i c a .
b arro socad o, ou “ b a tid o ” com o p referem os p o rtu ­ D om C le m e n te d a S ilv a N ig r a , o in fa tig á v e l p e s ­
g u e s e s , e i s s o a in d a s e v e r i f i c a h o d i e r n a m e n t e n o n o s s o q u is a d o r e fu n d a d o r d o M u s e u d e A r te S a c r a d a B a h ia ,
in t e r io r , o u d e l a d r ilh o o u d e la j o t a s e m e s m o d e t i j o lo , c m s u a s a p r o fu n d a d a s p e s q u is a s e e s tu d o s , r e v e lo u a o
m u i t a s v e z e s d e m a d e ir a o u a in d a d e l a j e a d o e m e s m o m e i o c u l t u r a l e a r t ís t ic o o q u e d e s c o b r i u n o s b o l o r e n ­
de m árm ore im p o r ta d o . O em prego de m a t e r ia is to s e p ic o ta d o s a l f a r r á b io s do o p u le n to a r q u iv o da
n obres e s t a r ia n a d e p e n d ê n c ia d ir e t a d a p o s iç ã o do O rdem d e S ã o B e n to e q u e d e u e n s e jo à id e n tific a ç ã o
p r o p r i e t á r i o , s e p a r t ic u la r a b a s t a d o , s e o E s t a d o , s e a de a u t o r ia e l o c a l i z a ç ã o de p eças em lo c a is d iv e r s o s .
Ig r e ja o u Ir m a n d a d e s e ta m b é m c o n f o r m e a a b u n d â n ­ N a d a m a is n a d a m e n o s d o q u e a e x i s t ê n c i a d e v á r ia s
c ia na r e g iã o de d e t e r m in a d o s a r t ig o s e a f a c i l id a d e dezenas . de im a g e n s fe ita s cm terra co ta p e lo s d o is
d e i m p o r t a ç ã o n a r e g i ã o li t o r â n e a , d a c a n t a r ia l a v r a d a m a io r e s s a n te ir o s s e is c e n tis ta s n o B r a s il: F rei A g o s ti­
ou de m árm ore para e d if íc io s . E ra se m d ú v id a um n h o d a P ie d a d e e F r e i A g o s t i n h o d e J e su s, a té e n tã o
p a r â m e tr o p ara a f e r ir o grau de r e q u in t e do m e io d e s c o n h e c id o s , s e p u lta d o s cju e e sta v a m na p o e ir a do
s o c i a l . N e s s e p a r t ic u la r v e r e m o s q u e n o f im d o s é c u l o tem p o ou no s u d á r io do e s q u e c i m e n t o . . P r o d u z ir a m
X IX e com eço do XX, as c id a d e s de São L u ís do e s s e s d o i s n o t á v e i s a r t is t a s o b r a s s o b e r b a s q u e s e e s p a ­
M aranhão e B e lé m do P ará d e r a m -se ao lu x o de lh a m p o r o r a t ó r i o s c a lt a r e s d e S ã o P a u l o , d a B a h i a ,
r e v e s t ir c a l ç a d a s e c o l o c a r g u ia s e m m á r m o r e d e L io z R i o , P e r n a m b u c o e a lh u r e s ,
ou d e E x t r e m ó z t r a z id o p e lo s v e le ir o s p o rtu g u eses e F rei A g o s tin h o da P ie d a d e n a sceu cm P o r t u g a l,
q u e a in d a s e a c h a m e m u so! p r e s u m iv e lm e n te em 1580 e fa le c e u na B a h ia em
M a s v o lta n d o a o s p is o s d a s m o r a d a s: 0 2 ,0 4 .1 6 6 1 . E s s e e s c u lto r c e r a m is ta d o m in o u a m o d e ­
O q u e a lg u n s i g n o r a m é q u e a l a j o t a t in h a , t a m ­ la g e m do barro com o ta m b é m a dos m e ta is c o m o a
bém um a o u tr a d e s tin a ç ã o . Por m a is c u r io s o que p r a ta c o c h u m b o . N e s t e s e to r d a o u r iv e s a r ia a p lic a d a
p a r e ç a s e r v ia t a m b é m p a r a a d o r n o o u r e m a t e d o f o r r o à e s ta tu á r ia , r e v e la -s e ta m b é m um d os p recu rsores da
em c a s a d e m a io r p o r te e m e lh o r a c a b a m e n to . P o d ia f u n d i ç ã o a r t ís t ic a n o B r a s i l . A s n u m e r o s a s i n v o c a ç õ e s
d a r -se o c a s o d o p is o se r d e la jo ta e n c a r a n d o o fo r r o que in t e r p r e t a , d em o n stra m a v e r s a tilid a d e do a r t is t a
d e m e s m o m a t e r ia l. E r a m e l a s c o l o c a d a s l a d o a l a d o , n a c r ia ç ã o . A s é r ie d e r e l i c á r i o s t a n t o e m b arro co m o
e n c a ix a n d o -s e na p a rte i n f e r io r das v ig a s , fo r m a n d o em p ra ta e um a p a rte d a s im a g e n s a p r e s e n ta m um a
f ile ir a s l a r g a s p a r a le la s a o m a d e i r a m e . E x i s t e n o B r a s i l , e la b o r a d a fa tu r a s e ja n o s o r n a to s d a s v e s tim e n ta s c o m o
u m e x e m p l o t í p i c o d e s s e p r o c e s s o e m v á r ia s s a í a s e n o tr a ta m e n to d a s c a b e ç a s , c a b e le ir a s , c o r o a s , c o ifa s ,
s a lõ e s d o C o n v e n to d e S a n ta T e r e s a d o s é c u lo X V I I , m it r a s e r e s p le n d o r e s . Seu e s tilo é id e n tific a d o por
onde fu n c io n a o M u seu d e A rte S acra em S a lv a d o r . D om C le m e n te com o c o n tin u id a d e dos “ fu lg o r e s da
A c o n s t r u ç ã o d e s s e h a r m o n i o s o c o n j u n t o a r q u it e ­ R e n a s c e n ç a , m a n ife s ta d o e m P o r tu g a l, n o m o s te ir o d e
tô n ic o é a t r ib u íd a ao a r q u it e t o e s p a n h o l, o m o n je A lc o b a ç a e que certa m e n te in flu e n c ia r a m o a r t is t a ” .
b e n e d i t i n o F r e i M a c á r i o d e S ã o J o ã o , s e g u n d o a a b a li- P o r é m , h á u m a o u t r a s é r i e d e i m a g e n s q u e já s e
sa d a o p in iã o de D om C le m e n te . D iz e le que com o in te g r a m nos a lv o r e s d o b a r r o c o b r a s ile ir o e c o n tr a s ­
e s p a n h o l, F rei M a c á r io deve te r c o n h e c i d o as c o n s­ t a m c o m o c o n v e n c i o n a l i s m o s a c r o , a c a d ê m i c o e h ir t o .
tru ç õ e s c a r m e lita s da E sp an ha, e s p e c ia lm e n te a de N e la o m a g is t r a l m onge b e n e d itin o lib e r ta -s e das
S a n ta T e r e sa , em Á v i l a , “ t r a n s p o n d o e l e m e n t o s ib é r i ­ am arras e s c o lá s tic a s , d i v e r s if i c a p o stu ra s, in o v a fo r ­
c o s , t ã o d o a g r a d o d o s C a r m e lit a s d a R e f o r m a esp a­ m a s, d o m in a a a n a to m ia , para t r a n s m it ir , e x p r e s s iv a
n h o l a ” . E s t a r ia a s s im e x p l i c a d a a r a z ã o d e s e r a p l i c a d o e v ig o ro sa m e n te , a s m e n s a g e n s d e. su a s r e p r e s e n ta ç õ e s .
ao fo r r o um p r o c e d im e n to tip ic a m e n te e s p a n h o l, já D e sta s é r ie , é ex p o en te m á x im o o São P edro
q u e o se u c o n s tr u to r c o n h e c ia a s té c n ic a s a p lic a d a s n a A r r e p e n d id o . E la tr a n s m ite “um a fo rça ex u b e r a n te e
r b é r ia W . u m a in t e n s a c o n c e n t r a ç ã o í n t i m a ” e r e v e l a “ o e x t r e m o
A t é c n ic a ta lv e z de o r ig e m m u d éja r era m u ito a b a tim e n to do a p ó s to lo ”, no d iz e r de seu b ió g r a f o .
em p r e g a d a n a E s p a n h a , c o m u m tip o d e la jo ta g ra n d e Segundo C l a r iv a l d o P rado V a la d a r e s , a obra rep re­
o u p l a c a d e c e r â m ic a , d e c o r a d a c o m b r a s õ e s o u d e s e ­ s e n t a r ia o a u t o - r e t r a t o d o m o n g e b e n e d i t i n o e s o b r e
n h o s, e q u e era ch a m a d a d e “so c ca rra t" , p o rém e l a a s s i m s e p r o n u n c i a . . . " E a ú n i c a f ig u r a q u e f o r ­
a p o i a d a s e l a s n a p a r t e s u p e r io r d a s v i g a s e n ã o e n c a i ­ m u la n a a n a to m ia h u m a n a o p r o fu n d o e s ta d o d e
x a d a s n a p a r t e in f e r io r , c o m o o c o r r e n o B r a s i l . E s s a s d e v o ç ã o , d e h u m ild a d e e d e h u m ilh a ç ã o . . , S ã o P e d r o
la j o t a s nos fo rro s c o n s titu ía m um tru n fo a m a is d e n ã o é u m a im a g e m c o n s a g r a tó r ia , m a s u m d e p o im e n to
q u e d i s p u n h a o a r q u it e t o c o l o n i a l n o c o m p l e m e n t o d a d e c a r á te r h u m a n o c. te r r e n o " .
d e c o r a ç ã o d e u m a m b ie n te n o b re. F òram c a ta lo g a d a s d a q u e le e s c u lto r c e r a m is t a
M a s n o B r a s il s e is c e n tis ta o e m p r e g o d a s t é c n ic a s e n tre as peças por e le a s s in a d a s e as que lh e são
u lt r a m a r in a s de c o n str u ç ã o , a tra v és dos v á r io s pro­ a t r ib u íd a s , p e r t o d e t r in ta e x e m p l a r e s , s e n d o q u a t o r z e
c e s s o s d e c o n d ic io n a r o b a r r o cru e a s d e p r o d u z i-lo b u sto s r e lic á r io s (in c lu íd o s os de p ra ta ) e q u a to r z e
q u e im a d o n a s o la r ia s d e m o n s tr a v a p o s itiv a m e n te u m a im a g e n s de corpo i n t e ir o de ta m a n h o s d iv e r s o s . Em
e v o lu ç ã o s ó c io -e c o n ô m íc a . M a s o b a rro fo i e sem p re São P a u lo , so b r e ssa e m as d e N . S. d o M ont S e r r a i,

240
S a n to A m aro e São B en to . D e n o ta r que o b arro d a im a g in á r ia l o c a l , h á n u m e r o s o s o u t r o s d e s a n t e i r o s
em p regad o é a v e r m e lh a d o e b em c o z id o e que su a s a n ô n im o s , a p o n t a d o s p o r D o m C le m e n te , e n tr e e le s o
p e ç a s e r a m q u e im a d a s e m f o m o s c o m u n s d e p ã o . M e s tr e d e A n g r a e a in d a o u t r o c o m a s in ic ia is H .R .,
P e d r o O l iv e ir a d e R i b e i r o N e t o , p r i m e i r o d ir e t o r a s s i n a l a d o p o r P e d r o O l iv e ir a R i b e i r o N e t o , q u e m o d e ­
d o M u s e u d e A r te S a c r a d e S ã o P a u lo , n o s in fo r m a : lo u a Im a g em de N o ssa Senhora da L uz, d a ta d a d e
“F rei A g o s tin h o de Jesu s, fo i o d is c íp u lo d ile to de 1 6 6 2 , d o s ítio G u a e c á (S . P a u lo ) .
F r e i A g o s t i n h o d a P ie d a d e , c o m o q u a l t r a b a lh o u n o A f a lta ta lv e z dos bons sa n te ir o s p ia tin o s ou
m o s t e ir o de São B en to , d a B a h ia . C a r io c a d e n a s c i- t a l v e z p e lo p r e s t íg io d e s s a p r o d u ç ã o a r t ís t ic a b r a s ile ir a
m e n to , ten d o e sta d o em P o r tu g a l para o rd en a r-se na época, o .f a t o é qúe v á r ia s peças fa b r ic a d a s no
b e n e d itin o e m 1 6 2 8 , a li s e a p e r f e i ç o o u c o m o c e r a m is t a B r a s il c h e g a rpm a ser e x p o r ta d a s para o e s tr a n g e ir o ,
e p in t o r , t r a z e n d o d e v o l t a a o B r a s i l o s e n s i n a m e n t o s c o m o é o c a s o d a im a g e m d e N o s s a S e n h o r a d e L u ja n ,
a p r e n d id o s nâ E uropa, onde por to d a a p a rte se q u e é a S a n ta p a d r o e ir a d a A r g e n tin a , e d e u m C r is to
s e g u ia m a s e s c o l a s e s p a n h o l a s e f l a m e n g a s , j á b a r r o c a s , p a ra a C a te d r a l d e B u e n o s A ir e s .
e x u b e r a n t e s e ; m o v im e n t a d a s . N o s m o s t e i r o s B e n e d i t i ­ J o ã o H e r m e s d e A r a ú jo , a e s s e r e s p e ito in fo r m a .
n o s d a B a h ia ,; d o R i o d e J a n e ir o e d e S ã o P a u l o , t r a ­ “N o q u e d iz r e s p e i t o à i m a g in á r i a , d o i s e x e m p l o s s e
b a lh o u 0 g r a n d e c e r a m is t a e p in t o r , m a s e m S ã o P a u l o r e v e ste m d e c a r á te r , in c lu s iv e s im b ó lic o : a im p o r tâ n ­
é q u e s e e n c o n t r a a in c o m p a r a v e l m e n t e m a i o r e m a is c ia d o S u l d o B r a s i l d e d u a s i m a g e n s d a V i r g e m e da
im p o r t a n t e p a r t e d e s u a o b r a ” í6). f a tu r a d o S a n t o C r i s t o d a C a te d r a l d e B u e n o s A ir e s .
C o m r e f e r ê n c ia à s s u a s c a r a c t e r í s t i c a s n o s a p o n t a P o r v o lt a d e 1 6 3 0 u m r i c o f a z e n d e i r o p o r t u g u ê s , r a d i ­
e l e " a d e s e n v o lt u r a n o p la n e j a m e n t o , a e x p r e s s ã o s o r r i­ c a d o e m S u m a n p a , n a P r o v ín c ia d e S ã o J e r ô n ím o d e
d e n te de b e a t it u d e , o p o r te fla m e n g o , carnudo e C ó r d o b a , f e z t r a z e r d o S u l d o B r a s i l , d e S a n t a C a t a r i­
e x u b e r a n te n a s M a d o n a s, as b a se s b o r d a d a s d e a n jo s na, se g u n d o d iz e m a lg u n s , m as p r o v a v e lm e n te do
e v o l u t a s . . . e a in d a “ F r e i A g o s t i n h o d e J e s u s é j u u it o lito ia l p a u lis t a , duas im a g e n s da V ir g e m de bano
t í p i c o e m u i t o m e n o s r e n a s c e n t is t a q u e o o u t r o a r t is t a c o z id o : um a da V ir g e m da C o n s o la ç ã o e o u tr a da
m o n g e" (F r e i A g o s tin h o d a P ie d a d e ) , o q u e D o m C le ­ I m a c u la d a C o n c e i ç ã o . A p r im e ir a é v e n e r a d a a t é h o j e
m e n t e c o r r o b o r a q u a n d o d iz q u e e l e “ n ã o h e s i t o u e m no s a n t u á r io de Sum anpa; a seg u n d a c a p r in c ip a l
acom p anh ar as fo rm a s tã o m o v im e n ta d a s do s é c u lo p a d r o e ir a da A r g e n tin a , venerada em L u ja n . E ssa s
X V I I ” . D e ix o u n u m e r o s a s e s c u lt u r a s e m b a r r o , v á r ia s d u a s im a g e n s , d e g r a n d e s e n t i d o r e l i g i o s o , a p r e s e n t a m
d e z e n a s , a m a io r ia e m S ã o P a u lo . F a le c e u no ano de e n o r m e in te r e ss e a r tís tic o , já q u e s ã o e x e m p lo s d a a r te
1 6 6 1 , n o m e sm o a n o d e se u m estre. O b a rro d e su a s d a im a g in á r ia q u e n a q u e l a é p o c a , f l o r e s c e u n o E s t a d o
im a g e n s a p r e s e n t a u m a c o n s t a n t e d e a c i n z e n t a d o a o c o n ­ d e S ã o P a u l o ” F>.
tr á r io d a s d e F r e i A g o s t i n h o d a P ie d a d e q u e é a v e r m e ­ A e s s e r e s p e it o F r a n c i s c o R o b e r t o d á - n o s p i t o r e s ­
lh a d o e m e lh o r c o z id o , o q u e le v a a o fa to d e a s b a se s c o s e m in u c i o s o s d e t a l h e s s o b r e a e n c o m e n d a , o t r a n s ­
d a s i m a g e n s d a q u e l e s e r e m m a is a t a c a r r a c la s e p e s a d a s , p o rte s o s in c id e n te s q u e o c o r r e r a m n a lo n g a v ia g e m
a s s im c o m o a s p a r t e s i n f e r i o r e s d o q u e a s d e s t e e s c u l - p a r a o P r a t a , d o q u e r e s u lt o u u m a i m a g e m d e fa tu r a
't ó r c e r a m is t a . P r o d u z iu m e n o s r e li c á r i o s , u m d o s q u a is b r a s ile ir a p a s s a r à m a is e l e v a d a c o n d i ç ã o d e c u l t o n o
se e n c o n tr a e m S ã o S e b a s tiã o . A lé m d e s te s e x p o e n t e p a ís v iz in h o : a de p a d r o e ir a da nação A r g e n tin a ^ .

B I B L I O G R A F I A

(1 ) H ernani da Silva Bruno -— "Equipamentos de trabalho (6 ) P edro O liveira R ibeiro N e t o — "Im agem Paulistas do
nos Inventários e Testamentos Colonials" — Conf. Cosa sé c. X V II" — rçv. Insí, Histórico e Geográfico Guarujã —
Brasileira — 07.06.74. Bert ioga, ano I, 1969.
(2 ) Atas da Câmara — vol, II — págs. 268/9. (7 ) "Pi A rte Luso Brasileno" —■ cn cl Rio de Ia Plata *—
Museo Nacional de Arte Decorativo — Buenos Aires —
(3) Correspondência do Prof, J. A , G onsalves Mello da 1966,
Univ, de Recife — 1974.
(8 ) "Ê paulista a imagem de Nossa Senhora de Lujan — pa­
(4) J. M. S antos Simões — 1959. droeira da Argentina?" — in rev. do Inst. Hist, e Geogr.
,de Gúartijá — Bertioga — n.° 11 — SP — 1978.
da S ilva N igra — "O s dois Escultores
(5 ) D o m C l e m e n t e
Fret Agostinho da Piedade ê Frei Agostinho de Jesus e o
Arquiteto Frei Mtictírio de São João” ■— págs. 102/3 — Stanislaw H erstal — "im agens Religiosas no Brasil" —
Cons, Estadual de Cultura — SP — 1971. 1954 e 1956.

241
FREI AGOSTINHO DA PIEDADE

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W - :m ? à
i,A
i F

169

São Pedro Arrepen­


dido, Barro cozido,
ail, 67 çm., feito
cerca de 1640 para
o Mosteiro de São Bento,
de 8rt tas, no Recôncavo da
Bahia. I erience à Igrejinha do
M ont S e m ! - Salvador. A ima­
gem é coru iderada como o auto-
retrato do a lista. Reproduzido de
Dom Clement. • da Silva Nigrn —
“Frei Agostinho da Piedade ■— Frei
Agostinhro de Jem s e o arquiteto Frei
Macâria de São João” — Universidade da
Bahia, Conselho Fede ra t de Cultura, edição
da Secretaria de Cultúta, Esportes e Turismo
- 197 fiS. 20.

242
Séc. X V I I IMAGEM PAULISTA

[ ?0

Imagem poUcromada em terracota da


autoria de Frei Agostinho de Jesus, com
a invocação de Nossa Senhora dos
Praieres, proveniente de Sant'A na do
Parnaíbâ — São Paulo — allura 1,04 m.

Cortesia Dr. Soão Marino,

243
FREI AGOSTINHO DE JESUS

171

NOSSA SENHORA D A PURIFICAÇÃO. Barro cozido, all ura


PS cm,f Removida da Parnaiba para o Museu de A rte de São
Paulo, no Convênio da Luz,
Reproduzido' de: idem, idem referência bibliográfica anterior.

244
Séc. X V I I TERRACOTA

172

Innigem policromada, cabeça restaurada de fatura de Fret


Agostinho, de Jesus, de acorda com "experiise" de Francisco
Roberto {S, Paulo), com a representação da Nossa Senhora do
Rosário, marcada rui base posterior com a data de 1641, com
form e detalhe ao lado, atlura: 24 cm. Paulista.

Coi. Roberto Lemos M onteiro,

245
Sêc. X V II TERRACOTA

NOSSA SENHORA DA LUZ. Padroeira da -Capeia do Sítio


Guaecd, S, Sebastião, SP. Imagem marcada no verso com as
iniciais fJR do ano de 1662, altura 65 cm.

(Cortesia do 4.° Disirito do Serviço do Patrimônio Histórico


e Artístico Nacional). Marca do verso da imagem.

246
III - AZULEJOS

n e ss e s é c u lo X V I I q u e o s a z u le ­ m o v im e n t o s o c ia l, e c le s iá s tic o , e c o n ô m ic o e p o lític o
jo s fa zem su a a p a r iç ã o nas d a e o lo n ia lu s a .
p a red es c o lo n ia is , p o is se d e s c o ­ E n tre o s m ú ltip lo s le g a d o s , g e n é tic o s e té c n ic o s
n h e c e m , a té o m o m e n to , p e ç a s da c iv iliz a ç ã o o c i d e n t a l, so b re ssa em por ce r to n esse
d e f a s e a n t e r io r . o p u le n to a c e r v o , o e g o j o v ia l d o lu s ita n o e e n g a s ta d a s
C o r r e s p o n d e a q u e le p e r ío d o a o na p a r e d e a s p e d r a s lu m in o s a s d o s t a p e te s e d o s p a in é is
u so g e n e r a liz a d o n a E u r o p a da a z u le j a r e s d e s e u s a r t is t a s .
t é c n ic a da m a ió lic a e do a z u le jo cham ado p la n o ou
P r e d o m in a m no m o s t r u á r io a in d a e x is te n te os
l i s o , r a z ã o p o r q u e n ã o s e e n c o n t r a r a m n o B r a s il e x e m ­
ta p e te s p o r tu g u e s e s , com a in t e r m i t ê n c i a de a z u le jo s
p la r e s d o a lic a ia d o , d a c o r d a s e c a o u d o a r e s t a , q u e n o
a v u ls o s , e ob serv a S a n to s S im õ e s : “ e s c a s s e ia m os
Q u m h e n t i s m o a in d a p a r t ilh a v a m c o m o s d e fa ia n ç a o
p a in é is com fig u r a ç ã o hum ana ou a g io g r á fic a ” . A
r e v e s t im e n t o p a v im e n t a r c p a r ie t a l n a P e n ín s u l a I b é r ic a ,
ob serv a çã o do r e p e r t ó r io d is p e r s o p e la s a n t ig a s c a p i ­
A s s im os a z u le j o s que aqui a p o r ta r a m eram de t a n ia s e o exam e a te n to de p eças s o lta s e n c o n tr a d a s
f a ia n ç a , o u s e j a d e t e r r a c o t a c o m r e v e s t im e n t o e s t a n í- podem in d ic a r ou fa z e r p r e s u m ir a p r o c e d ê n c ia c a
f e r o , e o R e i n o fo i o s e u in t r o d u t o r e q u a s e e x c l u s iv o é p o c a d o m a t e r ia l c e r â m i c o , u ã o s ó a t r a v é s d c a n á l i s e s
f o r n e c e d o r . H á q u e m d ig a q u e “ P o r t u g a l t e n h a e x p o r ­ c i e n t if ic a s com o por c erto s c a r a c te r ís tic o s a e la s
t a d o d u r a n te t o d o o s é c u l o X V I I , c e n t e n a s d c m ilh a r e s in e r e n t e s . E n t r e e s t e s a c o n t e x t u r a e a c o r d a m a t é r ia ,
d c a z u le j o s d c a l é m - m a r , p a r ü c u l a r m c n t e p a r a o B r a s il, o ta m a n h o e a esp essu ra da p edra, o núm ero de
e , e s p e c i a l m e n t e à B a h i a " tw. e le m e n to s da c o m p o s iç ã o o r n a m e n ta ! e a decoração,
P o r é m , d e s c o b e r t a s r c la t ív a m e n t e r e c e n t e s d e m o n s ­ já q u e e s t e s f a t o r e s v a r i a v a m n o t e m p o e d if e r ia m nos
tr a r a m ta m b é m a p resen ça de a z u le jo s h o la n d e s e s , p r ó p r io s p a í s e s d e o r ig e m .
c o m u m m o s t r u á r io d e n o v e c e n t a s p e d r a s , o r d e n a d a s c m A m a t é r ia - p r im a da f a ia n ç a — b arro, te r r a ou
s é r ie s o u ''f a m ília s ” , n o c l a u s t r o d o C o n v e n t o d e S a n t o a r g ila — tem u m a c o n te x tu r a e u m a c o r v a r iá v e is d e
A n t ô n i o d o R e c i f e , d o s q u a is n o s d ã o n o tíc ia s - v á r io s u m a r e g iã o p a r a o u t r a , f in a e g r o s s a , d e s i g u a l e n i g o s a ,
a u to r e s e n tr e e le s : M á r io B a r a ta , A n tô n io G o n s a lv c s u n t u o s a c li s a , c i n z e n t a , o c r e , r o s a , s a l m o n a d a , b r a n c a ,
d e M e l l o c J, M , d o s S a n t o s S im õ e s , e t c . <l0). E a q u e l a m a t é r ia - p r im a , c o n f o r m e a q u a lid a d e
H á ta m b é m s u s p e it a s d a e x i s t ê n c i a n o B r a s il, d e d a b a r r e ir a de onde e ra e x tr a íd a , s o fr ia m u ta çõ es d c
a z u le j o s e s p a n h ó is , a té agora não lo c a liz a d o s em c o lo r id o d e p o is d e q u e im a d a .
g r u p o s . J o s é V a lla d a r e s , o e c lé tic o e s a u d o s o p e s q u i­ C o m o já d i s s e m o s , o s a z u l e j o s q u e n o s c h e g a r a m
sa d o r a v e n ta a p o s s i b il i d a d e com m u it a p r o c e d ê n c ia , n o s S e i s c e n t o s , s ã o t o d a s t e r r a c o t a s s u b m e t id a s a u m a
r e v e la rid o o q u e c o n s t a d a t r a d iç ã o b a i a n a a r e s p e it o , te m p e r a tu r a d e f o g o a lio , d e 9 0 0 a 1 ,0 0 0 g ra u s. S e g u n ­
in v o c a n d o o fa io de a d o m in a ç ã o e s p a n h o la a b a rca r d o a lg u n s a u t o r e s , o s m e s m o s f o r n o s q u e s e r v ia m para
o p e r ío d o de 15S0 a 1640, e so b r e tu d o o b serv a n d o f a b r ic a r a m a i ó li c a , p r i m it i v a m e n t e c h a m a d o s d e f o r n o s
a se m e lh a n ç a dos ta p e te s p o lic r o m a d o s p o r tu g u eses d e V e n e z a , s e r v ia m tam b ém p a r a a q u e i m a d o a z u le j o
com o s c a s te lh a n o s . E a in d a , a c r e s c e n t a m o s n ó s , c o m que lh e é a f i m .
o s a z u le j o s a v u ls o s d o t i p o p o n t a d c d i a m a n t e o q u e O b arro d o s a z u le jo s d a r e g iã o dc L is b o a , p e lo
P o r tu g a l c o p io u d e T a la v e r a e S e v ilh a , e r e p r e se n ta m q u e p o d e m o s a p r e c ia r e m p e ç a s d e ta p e te s , a p r e se n ta
a t r a n s iç ã o lu s a d o s é c u l o X V I p a r a o X V T L d e p o is de q u e im a d o , um a t o n a lid a d e p a lh a . Já os
E s t e s ú lt im o s n ã o f o r a m v i s t o s p o r S a n t o s S im õ e s a z u le jo s d e S e v ilh a ( T r ia n a ) d o m e s m o p e r ío d o lê m
no seu m in u c io s o le v a n ta m e n to p r o c e d id o em n o ssa u m c o r p o a c e n íu a d a m c n le a v e r m e lh a d o .
te r r a , porém fo i d e sc o b e r to ura e x e m p la r p e lo pro­ O b a rro c o z id o d e D e lft “ é d e u m a sp e c to b ege
fe ss o r H o r s t U d o R n o f f , d a E s c o la d e B e la s A r t e s d a c la r o q u e p o d e r ia d iz e r -s e d e c a m e lo , d c g r ã o b a s ta n te
B a h ia n o a n t ig o m o s t e i r o d e S a n t o A n t ô n i o d o P a r a - u n id o " t* » . S e g u n d o o u t r o a u t o r , c o n f o r m e a r e g i ã o d a
g u a ç tt. H o la n d a , a te rra co ta p o d e r ia a p r e se n ta r to n a lid a d e s
A te se d e V a lla d a r e s e n c o n tr a a p o io ta m b é m no r o s a d a s , a m a r e l a d a s o u a c a s t a n h a d a s <**.
f a t o d e h a v e r e x i s t i d o im p o r t a ç ã o r e g u la r d e p r o d u t o s Q u a n to a o ta m a n h o e à e sp e ssu r a d a s p e ç a s, há
e s p a n h ó i s n o S e i s c e n t i s m o e n a q u a l a f a ia n ç a t a l a v e r a - v á r ia s o b s e r v a ç õ e s a s e r e m f e it a s . C a d a p a í s e m e s m o
na s e in c lu i e x p r e s sa m e n te , d e a c o r d o c o m o s a r r o la ­ d e n tr o d e le , a lg u n s cen tro s f a b r ic a n t e s , m a n têm no
m e n t o s d e i n v e n t á r io s v i c e n t i n o s . se is c e n tis m o , d e fo r m a g e r a l, u m a c o n s t a n t e c m su a s
É n a B a h ia , n o R e c i f e e n o R i o d e J a n e ir o q u e m e d id a s . S ã o e s t a s q u e s e r v e m com o f a t o r s u b s id iá r io
s e l o c a l i z a m o s e s p é c i m e s m a is a n t i g o s e a m a i o r q u a n ­ na d is tin ç ã o en tr e si dos p r o d u to s de p r o c e d ê n c ia
t id a d e d e a z u le j o s , f a t o que se e x p lic a p e la con cen ­ e s t r a n g e ir a , e m b o r a , à s v o z e s , a s d i f e r e n ç a s p o s s a m ser
tra çã o n a q u e le s c e n tro s, so b r e tu d o no b a ia n o , do m ín im a s e n tr e e le s .

247
À esp essu ra de um a p ed ra e stá na razão d ir e t a os cen tr o s p r o d u to r e s v ã o a p e r fe iç o a n d o su a s p a sta s,
do ta m a n h o e da q u a lid a d e do m a t e r ia l c e r â m ic o no p r ó p r io d e c o r r e r d o s é c u l o , o s s e u s a z u l e j o s s e r ã o
e s c o l h i d o . M a i o r a d i m e n s ã o d o c o r p o c m a is in f e r io r m a is d e lg a d o s , e a r e la ç ã o do p eso em fu n çã o do
a c o n t e x t u r a , m a is e s p e s s o o a z u l e j o , E a m e d id a q u e v o lu m e se r á m e n o r .

D i m e n s õ e s u s u a is d o a z u l e j o s e i s c e n t i s t a :

Largura Espessura

P o r tu g a l 135 a 144m m 17 a 19 m m
1
f l . a m e ta d e sé c , X V I I 130 a Í37m m 12 a 18m m
H o la n d a j[ 2.® m e t a d e s é c . X V I I 128 a 137m m 8 a 16m m

[ S e v ilh a -T a la v e r a 125 a 130m m 14m m


E sp an h a |
! C a t a lu n h a 130 a 140m m I4 m m

( D a d o s o b t i d o s d o s s e g u in t e s a u t o r e s : P r o f . H o r s t U d o d a r u m o u t r o r it m o o r n a m e n t a l , m a i s d e s t a c a d o , c o n t r a
K n o ff, D in g e r m a n K o r í, A n tó n io Sancho C orbacho, a s u p e r f í c i e p a r ie t a l. V á r i o s s a i õ e s d o P a l á c i o d e S in tr a
F e líc io G u im a r ã e s , J o sé d e Q u e i r o z t ,3>. A r t h u r L a n e o sten ta m a q u e l e s a d o r n o s <!5h
(T ile s V ie to r ia A lb e r t M u seu m — 1 9 6 0 ), in f o r m a é um a r e m in is c ê n c ia a d a p ta d a à a z u le j a r ia do
a in d a que no s é c u lo X V III, b a ix o u a esp essu ra dos " a c r o i e r i u m 5’ r o m a n o o u d o a n t e f i x o l u s it a n o o u a in d a
a z u l e j o s h o l a n d e s e s p a r a 6 m m , a p r o x i m a d a m e n t e <w >. da “ p o n te ir a ” n o r d e s tin a com e s tiliz a ç õ e s d e f lo r õ e s ,
Q u a n to ao nú m ero de e le m e n to s na c o m p o s iç ã o g r if o s , fo lh a g e n s e o u tr o s o rn a to s, e n f i le ir a d o s , às

o r n a m e n ta l, os p o rtu g u eses davam p r e f e r ê n c ia ao vezes a in te r v a lo s r e g u la r e s sob re as c o r n ija s dos


a g r u p a m e n to d e 2 x 2 , o u s e ja q u a tr o a z u le jo s , c o m O te m p lo s e e d if íc io s , p r o je ta n d o -s e e m s ilh u e ta s o b r e o
m e s m o d e m e n t o o u m ó d u lo , r e p e tid o q u a tr o v e z e s , N ã o fu n d o d o c éu .

d esp reza v a m e le s no en ta n to , r it m o s m a is a m p lo s O t a m a n h o d a q u e l a s p e ç a s v a r ia v a , o f r is o c o r r e s ­
c o m o 4 x 4 , o u se ja d e z e s s e is a z u le jo s , o u a in d a 6 x 6 p o n d ia d e 1 /2 a 3 /4 d a p ed ra, a cercadura era co m ­

com t r in ta e s e t s p e d r a s , i n d o a t é a o m a io r d e l e s c o m ­ p o sta de um a z u le jo i n t e ir o e a barra se c o n s titu ía


p o sto d e 12 x 1 2 , o q u e c o r r e s p o n d ia a c e n t o c q u a ­ de 2 fia d a s ou m a is de a z u le jo s e acom panhava a
e s p e s s u r a e a p a r t e c o n s t i t u c i o n a l d o s ilh a r , d o a liz a r
ren ta c q u a tr o a z u le j o s .
o u d o p a in e l.
N e s s e s a r r a n j o s , o p a d r ã o , i s t o c , a u n id a d e o r n a ­
D essa s breves c o n s id e r a ç õ e s , v e r ific a -s e com o
m e n ta l que com punha o esq u em a d e c o r a tiv o , p o d ia
r e g r a q u e n o c o t e j o d e f a b r i c o , o s a z u le j o s p o r t u g u e s e s
ser c o n s titu íd o de 1 a 14 e le m e n to s . E ssa p ad rona-
eram m a io r e s , en q u a n to os h o la n d e s e s e e s p a n h ó is
g e m r e p e t id a , e q u e ir ia s e r d e s d o b r a d a “ i n - s t t u ” d e
m en ores. E q u a n to à esp essu ra eram a q u e le s m a is
fo r m a a o c u p a r o e s p a ç o p a ra o q u a l era d e s tin a d a , é
grossos e m a is p e s a d o s , e n q u a n t o e s t e s m a is d e l g a d o s
que era cham ada dc ta p e te . E ste ir ia c a r a c t e r iz a r ,
e m a is l e v e s .
d u r a n te la r g a f a s e s e i s c e n t i s t a , a a z u le j a r ia t r a n s p la n ­
Q u a n to à decoração dos a z u le jo s , e n v o lv e e la a
t a d a d e P o r t u g a l e p r e d o m i n a n t e n o B r a s il.
a p r e c ia ç ã o dos m o tiv o s c das cores. E os m o tiv o s
M a s h a v ia t a m b é m , e m b o r a m a i s r a r o s , o s p a i n é i s
u tiliz a d o s en q u a d ra m -se na d is tin ç ã o en tr e a s fo r m a s
fig u r a d o s ou h is t o r i a d o s que fo g em ao lim ite do
g e o m é tr ic a s , n a t u r a is e a r t if ic ia is . As g e o m é tr ic a s se
n ú m e r o d e e l e m e n t o s , já q u e e s t a v a m e le s a d s t r it o s à
c a r a c t e r iz a m p e la e x p l o r a ç ã o d a li n h a e d o c ír c u lo e
e x t e n s ã o d o p a in e l p ic t ó r i c o , e v ia d e r e g r a , d a s s u p e r ­
a s v a r i a n t e s d c e s t i l i z a ç ã o q u e lh e s f o r a m s e n d o d a d a s
f í c i e s d o s l o c a i s p a r a o s q u a is e r a m e n c o m e n d a d o s ,
no te m p o por d iv e r s o s p o v o s. E n g lo b a m -s c n e la s ,
c m g e r a i d e e n c a i x e , n a s c o m p o s i ç õ e s a r q u it e t ô n ic a s .
e n tre o u tr a s, as “ tr a ç a r ia s ” g ó tic a s c as “ la ç a r ia s ”
H a v i a a in d a o u t r o g ê n e r o d e a z u l e j o i n d e p e n d e n ­ 1árab es. As fo rm a s n a t u r a is e n v o lv e m a n a tu r e z a , a
te , s e m lig a ç ã o fo r ç a d a c o m o u tr o s , e q u e c o r r e sp o n d e flo r a , a fa u n a e a r e p r e s e n ta ç ã o h u m a n a , e n q u a n to a s
a o t ip o c o n h e c i d o p o r a z u l e j o s o l t o , i s o l a d o o u a v u l s o , a r tific ia is se ex p ressa m nos e m b le m a s , c a r t e ia s ,
que co n d en sa v a em s i, l i m it a d a à su a q u a d r a tu r a , a e s c u d o s , t r o f é u s , l e g e n d a s , e t c . (l6>.
u n id a d e d e c o r a t i v a . A a z u le ja r ia p o r tu g u e s a d o s S e is c e n to s , e x p o r ta d a
P orém h a v ia t a m b é m o u tr o s e le m e n to s a c e s s ó r io s p a r a o B r a s i l , c a r a c t e r i z a - s e m a is n a e x p r e s s ã o g e o m é ­
d o p r in c ip a l: o s fr is o s , a s c e r c a d u r a s o u b o rd a d u ra s, t r ic a d o q u e n a n a t u r a l , e m b o r a n o f in a l d a c e n t ú r ia
as b arras e a in d a os lis e s , q u e li m i t a v a m ou davam p r e d o m in e a n a tu r a l n a fig u r a ç ã o d e s e u s p a in é is , d e
r e m a t e a u m a c o m p o s i ç ã o a z u le j a r . O q u e c o r r e s p o n ­ s e u s ta p e te s e a z u le jo s a v u ls o s .
d ia a u m a r é p lic a d a s m o ld u r a s e n q u a d r a n d o t e l a s o u Q u a n to ao e s tilo , o b e d e c e e l a , a in d a à s in flu ê n ­
d a s f a ix a s q u e e n v o lv ia m t a p e ç a r ia s . c i a s s a r r a c e n a s , a n d a l u z a s e f a e n t i n a s q u e d o m in a r a m
Por seu cunho d e c o r a tiv o , a q u e le s e le m e n t o s a p r im e ir a f a s e d a e x p a n s ã o a z u íe j ís t ic a e u r o p é i a , m a s
d esem p en h a v a m o u tr a fu n ç ã o im p o r t a n t e a lé m do no d ecu rso do s é c u lo p assa a a d o ta r em p a rte as
e m o ld u r a r a e n t o de fo rm a in d e p e n d e n te , com pondo c r i a ç õ e s h o l a n d e s a s , E s t a s j á h a v i a m s e li b e r t a d o m a is
p o r s i s ó o ú n i c o f o c o v is u a l. I s s o q u a n d o e r a m a p l i ­ cedo d a q u e la s in flu ê n c ia s , e se v o lta v a m para novos
cados em f ia d a s c o n tín u a s nos ro d a p és, e s p e lh o s de m o tiv o s e in te r p r e ta ç õ e s p r ó p r ia s e s tilís tic a s , a tr a v é s
e s c a d a r ia s o u en q u a d ra m en to s d e j a n e la s e p o rta d a s. d a s f o r m a s g e o m é t r i c a s e d a s n a t u r a is , b a s e a d o s e m
Os lis e s eram p eças r e c o r ta d a s c o lo c a d a s v e r t i­ t e m a s l o c a i s e n o r i c o m a n a n c i a l t io E x t r e m o O r i e n t e ,
c a l m e n t e a i n t e r v a lo s r e g u la r e s , a c i m a d o s f r is o s , p a r a s o b r e tu d o n a a z u le ja r ia a v u ls a .

248
O s a z u l e j o s a v u ls o s p o r t u g u e s e s , d o c o m e ç o , s ã o in s p ir a r a m - s e na t ip o lo g ia h o la n d e s a que com eçou
d o t ip o e n x a d r e z a d o e d e la ç a r ia s d e c r i a ç ã o m u d é j a r , com os a r r a n jo s flo r a is ( “ f o g lie e fn itti" ) com os
e do t ip o p o n ta de d ia m a n t e (c a b e ç a de p rego) de d e se n h o s g e o m é tr ic o s e a ra b esco s, p assa n d o a rep re­
concepção andai u za, com o ta m b ém do gênero dos s e n t a ç ã o d e la r a n j a s , r o m ã s , t u l i p a s , c a c h o s d c u v a s ,
“ a m o r in i" e d e s u a s v a r ia n t e s f ig u r a t iv a s d e in s p ir a ç ã o e s t r e la s , e t c . , p a r a e m s e g u i d a í í x a r e m - s e n o s d e s e n h o s
r e n a s c e n t is t a , e d e p á s s a r o s à m a n e ir a t a l a v e r a n a , N a □ v u ls o s d e s é r i e s o u “ f a m í l i a s ” d e v a s t a i n s p i r a ç ã o .
s u a s e g u n d a f a s e d e f a b r ic o d e a z u le j o s a v u l s o s a m p lia A n tô n io G o n sa lv e s d e M e llo d e te c to u u m a p a rte
o e m p r e g o d a s f o r m a s n a t u r a is s o b a n o v a i n s p i r a ç ã o d essa o r ig in a l c d i v e r s if i c a d a tip o lo g ia fla m e n g a , em
h o la n d e s a c o p ia n d o p a r te d e su a d e c o r a ç ã o fíto ío r m c P e r n a m b u c o n o c la u s tr o d o C o n v e n t o d e S a n to A n t ô ­
e a n t r o p o 20 o m ó r f i c a . E s s e s a z u l e j o s p o r t u g u e s e s d o f in a l n io , onde pôde a n o ta r v á r ia s c o le ç õ e s d e n o m in a d a s
do s é c u lo X V I I , s ã o f a c ilm e n t e i d e n t i f i c a d o s n o c o n ­ por e le de: P r o fis s õ e s — B arcos — F ig u r i n h a s —
fr o n to c o m o s h o la n d e s e s e e s p a n h ó is p e lo ta m a n h o e Jogos I n fa n tis — A n im a is — V asos F lo r id o s —
p e la e s p e s s u r a , p e la fo rm a m e n o s ap urada d os d ese­ M o n stro s M a r in h o s — C a v a le ir o s — M a r in h a s —
n h o s e p e l o c o l o r i d o F orte d o a z u l c o b a l t o — gênero C ena C o rtezã , com ca n to s v a r ia d o s em f lo r de li s ,
e ste que ir ia a té 1710 e s e r ia r e t o m a d o no f in a l d o a r a n h iç o , c a b e ç a d e b o i , M i n g , t o d o s e m a z u l e b r a n c o .
s é c u lo X V I I I c c o m e ç o d o X I X , p o r é m com u m azul
C om r e fe r ê n c ia s aos ca n to s dos a z u le jo s , há
e s m a e c id o .
ta m b ém o b serv a çõ es que serv em para d is tin g u i-lo s
O a z u le j o enxad rezad o ou e n x a q u e ta d o jo g a v a
e n t r e s i. O s h o l a n d e s e s c r ia r a m u m a g r a n d e v a r ie d a d e
ap enas com o co n tra ste c r ô m ic o na a lt e r n â n c ia das
d e c a n to s p ara a d o r n a r su a s p ed ra s, o s p o r tu g u e se s sc
p ed ras, cada qual m onocroraa: bran ca — azul —-
a t iv e r a m a p o u co s, c o m o o d c “ p é ta la s ” c as “ estr e ­
verd e — ocre (m e la d o a m a r e lo ), esq u em a esse
lin h a s " , o u n e n h u m . O s e s p a n h ó i s d o c o m e ç o d o s é c u l o
b a s e a d o , n ã o n o m o s a ic o c lá s s ic o , h e te r o g ê n e o e m iú d o ,
X V I I n ã o o s u tiliz a v a m , p o r é m e n q u a d r a v a m c a d a a z u -
m a s s im n a e s tr u t u r a p a v im e n t a r , q u a d r a d a , d e m ár­
ie j o c o m u m f in o f i le t e a m a r e l a d o d c p o u c o s m i lí m e t r o s .
m o r e , j á a p lic a d a n a G r é c ia . O e n x a d r e z a d o c o n h e c e u
H á d e s e o b s e r v a r a in d a q u e g r a n d e p a r te d o s m o tiv o s
u m s e m n ú m e r o d e r i s c o s e v a r ia n t e s in t r o d u z i d a s p e l o s d o s a z u le jo s h o la n d e s e s era c o lo c a d a d e n tr o d e r e se r ­
á r a b e s c o m s u a s la ç a r ia s — o s in i g u a lá v e is m e s t r e s d a s
v a s r e c o r ta d a s dc in s p ir a ç ã o g ó tic a o v a is e “quadra­
c o m p o s i ç õ e s g e o m é t r ic a s .
d o s” (u m q u a d ra d o c o lo c a d o o b liq u a m e n te ) e so b re­
A p o n ta d e d ia m a n te (ta m b é m c h a m a d a d e c r a v o ,
tu d o d e n tr o dc um d u p lo c ír c u lo e n v o lv e n d o to d o s
o u d e c a b e ç a d e p r e g o ) , te v e se u in íc io d e fa b r ic o e m
e s s e s e n q u a d r a m e n t o s o m o t i v o c e n t r a l.
T a la v e r a em 1 5 6 0 ç a s e g u ir c m S e v ilh a (T r ía n a ) s
Q u a n t o à s c o r e s d a a z u le j a r ia s e i s c e n t i s t a , s e g u ia m
a p r e s e n t a v a e m c a d a a z u le j o u m d e s e n h o p r i s m á t i c o e
e la s a p a le ta das em pregadas na fa ia n ç a u t ilit á r ia e
p o lic r o m a d o , p orém , co m um jo g o de c o r e s co n tra s­
de adorno, cham ada de fo g o a lto (9 0 0 a 1 .0 0 0 ° )
t a d o , d e f o r m a a t r a n s m itir u m e f e i t o v is u a l d e r e l e v o ,
f o r n e c id a p e lo s s e g u in te s m in e r a is : o c o b a lto para o
ou um ca r á te r t r id im e n s io n a l. R e p r e se n ta v a um
a z u l, o m a n g a n ê s p a r a o r o x o , m a r r o m e p r e t o e a n t i -
“ tr o m p e 1’o e i r , i n s p ir a d o na cabeça dos grandes
m ô n io p a ra o a m a r e lo , o c o b r e p a ra o v e r d e e o fe r r o
c r a v o s d e fe r r o e d e b r o n z e e u a s a l m o f a d a s d e p o r t a s
p a r a o v e r m e l h o ,,7 ) . E s s e s m e s m o s ó x i d o s c o n f o r m e o
e d e a r m á r io s , c o r r e n t e n a e b a n í s t i c a d o s Q u i n h e n t o s
t r a t a m e n t o ir ia m f o r n e c e r a s g r a d a ç õ e s d c t o n a lid a d e s .
e d o s S e is c e n to s .
P orém c a d a p a ís , o u m esm o cad a cen tro p rodu­
Q u a n to a o s “ a m o r i n i ” já r e p r e s e n t a v a m a lib e r ­
to r , t in h a a s u a p r e f e r ê n c i a n o e m p r e g o d a s t i n t a s , o u
ta çã o e u r o p é ia d a s in f l u ê n c i a s h i s p a n o - m o u r i s c a s e o
p o r d e f i c i ê n c i a d a m a t é r ia - p r im a e d a d i f i c u l d a d e d e
in g r e sso e e x p lo r a ç ã o e s tilís tic a d o b a r r o c o , e o s p o r ­
s u a m a n i p u l a ç ã o q u í m i c a o u p e la i n c l i n a ç ã o n a tu r a l
tu g u e se s a d o ta r a m a s f ig u r a s e c a b e ç a s d e a n jo s n o s
d o s s e u s a r t is t a s p i n t o r e s p o r c e r t a s c o r e s c t o n s .
s e u s a z u l e j o s e m f r is o s , c e r c a d u r a s e b a r r a s ,
lá a d e c o r a ç ã o d o s ta p e te s, p o lic r o m a (so m e n te Em P o r tu g a l, seg u n d o F e líc io G u im a r ã e s , as
n o f in a l d o s é c u l o é q u e c o e x i s t e c o m o a z u l e b r a n c o ) c o r e s em p r e g a d a s n o s ta p e te s era m o a zu l c o b a lto , o
ia b u s c a r o s seu s m o tiv o s n o s d e s e n h o s d a s la ç a r ia s a m a r e lo , branco e r o x o -v in o s o , e o u tr o s to n s de
d o s p a n o s , d o s r ic o s b r o c a d o s e b o r d a d o s e a in d a n o s a m a r e lo t o r r a d o , a l a r a n j a d o q u a s e v e r m e l h o ,
t a p e t e s o r ie n t a is . A p r e s e n t a m e le s v á r ia s d e n o m i n a ç õ e s N o B r a s i l , o p r o f e s s o r U d o K n o f f o b s e r v a q u e a té
dc acordo com os m o d e lo s ; as m a is a n tig a s são a 1 6 6 0 /1 6 8 0 , a p o lic r o m ia d o m in a n te era dos a z u is ,
“ c a m é lia " e “ m a s s a r o c a ” , p e l o m e a d o d o s é c u l o a p a r e c e r o x o s e o c r e s , e s te s à s v e z e s s o b r e p in ta d o s d e a m a r e lo
a “ r a a r v ila " e p e lo f in a l d o X V T I a “ la ç a r ia " , e n t r e n u m a s e g u n d a q u e i m a ( ,s ) .
o u t r a s v a r ie d a d e s m e n o s u s a d a s . H ã ta m b é m t a p e te s b ic o lo r e s e m a zu l e a m a r e lo
Q u a n to à d ecoração dos p a in é is fig u r a d o s ou (o c r e ) com o ta m b é m ap en as em a zu l e b r a n c o , p e lo
h i s t o r ia d o s , a in d a sob a in f l u ê n c i a r e n a s c e n t is t a de f in a l d o s é c u lo (1 6 8 0 /1 6 9 0 ), o m esm o a c o n te c e n d o
N ic o lo s o , a p r e s e n ta m c e n a s d a H is tó r ia Sagrada, da com o s fr is o s , c e r c a d u r a s e b a r r a s.
M i t o l o g ia , d a H i s t ó r ia e d a A g j o g r a f i a , Q u a n to aos a z u le jo s a v u ls o s dos t ip o s d e p o n ta
O s f r is o s , c e r c a d u r a s c b a r r a s , s e g u ia m o s m o t i ­ d e d ia m a n te , a n jo s e a v e s d a fa se c lá s s ic a , e ra m e le s
v o s g e o m é t r ic o s e a s f o r m a s n a t u r a is , c o m o f o l h a g e n s p o lic r o m a d o s a té o f in a l d a c e n t ú r ia , s e m p r e j u íz o d o
e a n j o s e m e n o s a s a r t if ic ia is , O d esen h o q u e co n h e­ m o n o c r o m á tic o a z u l e b r a n c o , q u e su r g e n e ss e p e r ío ­
ceu grande voga é o d e n o m in a d o d e “ fa ix a b a r r o c a " do. (H á a u to r e s q u e d e s ig n a m o azu l e b ra n co c o m o
f o r m a d o d e f o l h a g e n s , d is p o s t a s e m v o lu ta s c o n tin u a s b ic o lo r ). A e s s e r e s p e i t o p o n t i f i c a S a lin a s : “ E d u r a n t e
en tr e d o is tra ço s p a r a le lo s , que com eça na se g u n d a o ú ltim o q u a r te l d a é p o c a S e is c e n tis ta , p o r in flu ê n c ia
m e ta d e do sé c u lo X V II e c o n to rn a o a z u le j o ta p e te d a p o r c e la n a o r ie n ta l, q u e su rg e a m oda do azu l e
e s é r ie s d e a z u le j o s a v u ls o s (F e líc io G u im a r ã e s ). branco*; o » .
Os a z u le j o s a v u ls o s p o rtu g u eses, em branco e Os h o la n d e s e s em pregavam , g ro sso m odo, as
a z u l, do ú ltim o q u a r te l do sé c u lo , com o d is s e m o s , m esm a s to n a lid a d e s , p orém aos a z u le jo s a v u ls o s do

(segue na pág , 252) 249


séc. XVI AZULEJOS PORTUGUESES
Lisboa

174-

Painel poiicrom ado da S.“ da Vida, da amiga igreja de S t.° A n d ré, Fabrica dc Lisboa,
r. Í5S0, atribuída a Francisco de M atos, M useu do A zulejo. Cortesia do M u seu
N acional de A rte A m iga, Lisboa.

250
sécs,. xvn/xvin AZULEJOS HOLANDESES

Estes painéis do gênero conhecido por "historiato", introduzi­


dos na Azulejaría por Nícoioso em Sevilha, foram encomen­
dados para adornar a antiga Igreja Madre de Deus, sede atual
do M useu do Azulejo (que faz parte do Museu Nacional de
A rte Antiga) à Holanda, ao ateliê de um dos artistas flarhen-
gos mais em voga van der K loet de Átnsterdam, cerca de 17GO
A i s c a i -se a linda cercadura cm folhagem estilizada que acom­
panha e dá remate à composição, sobre outra em que se movi­
mentam anjos suportando o enquadramento; também é de se
considerar notável a delicada fatura em azul e. sub-tons com
desenhos perfeitos e um pronunciado sentido de perspectiva. Cortesia do Museu Nacional de Arte Antiga.

251
m e a d o d o s é c u l o , já p r e d o m i n a o u s o d o a z u l e b r a n c o , 1640) se in s t a la r a m a z u le jo s p o r tu g u e se s, m a g n ífic o s
do branco e roxo (v in o s o ) e ta m b ém a c o m b in a ç ã o p o r s in a l, c o m o n a I g r e ja d e N o s s a S e n h o r a d o A m p a ­
c r o m á t ic a d o a z u l e r o x o . ro, em O lin d a ,
D iz -n o s S a n to s S im õ e s nas su a s o b serv a çõ es, 4. °) D u r a n te a se g u n d a m e ta d e d o s é c u lo X V I I
sob re o m o s t r u á r io a z u le jís tic o e x is te n te no B r a s il: in lc n s if íc a -s e a c o n s tr u ç ã o d e te m p lo s e d e " S o b r a d o s ”
“ n o ú ltim o q u a r te l d o s é c u lo X V I Í c o e x is te m a z u le jo s de engenhos e de v e r d a d e ir o s p a lá c io s . Só ex eep eto -
p o lic r o m o s e m o n o c r o m o s , m a s é m a n ife s to q u e e s te s n a lm e n t e e s s a s e d i f i c a ç õ e s e r a m d e s p r o v id a s d e a z u le ­
ganham p o p u la r id a d e o b r ig a n d o a novos d esen h o s e j o s , c , e s t e s c o n t i n u a r a m a v ir d a M e t r ó p o l e ( . . . ) s e m p r e
c o m b in a ç õ e s d e c o r a t iv a s " . E a in d a o b serv a : “O d e q u a l i d a d e e x c e p c i o n a l ( a t é f r o n t a l d e a lt a r d c N o s s a
r e la t iv o pequeno acervo da a z u le j a r ia se is c e n tis ta de S e n h o r a d a íP ie d a d e , j u n t o a o R e c i f e ) .
p in tu r a p o lic r o m a será a m p la m e n t e co m p en sa d o c o m . 5. °) O s i n c r o n i s m o é p a r t íc u la r m e n t e p e r f e i t o a o
a a z u le j a r ia d o s f in s d o s é c u l o X V I I c p r i m e i r o s a n o s f in d a r o s é c u l o X V I I , q u a n d o a p a d r o n a g e m p o l i c r o m a
do X V III, quando os v e lh o s p ad rões m u ltic o r e s s ã o c e d e p a s s o a o s d e s e n h o s a d o i s t o n s d e a z u l, f e n ô m e n o
g ra d u a l m e n te r e p r o d u z id o s a p e n a s e m to n a lid a d e s d e q u e s e o b s e r v a o n d e q u e r q u e o a z u l e j o f o í im p o r t a d o
a z u l" . p a r a d e c o r a ç ã o , e n t r e 1 6 8 0 e o f in a i d a c e n t ú r ia ( . . . )
O em prego do azu l e branco con heceu eoorm e e t a m b é m n o s e d i f í c i o s c iv is .
voga na E uropa, i n s p ir a d a na c e r â m ic a c h in e s a . E 6. °) M as é p r e c is a m e n te o p e r ío d o d c t r a n s iç ã o
essa d ecoração a p r e se n ta v a um a e c o n o m ia de tem p o en tr e os s é c u lo s X V II e X V IU , a q u e le que m e lh o r
n ó f a b r ic o , c o m o t a m b é m n o e m p r e g o d o s m i n e r a i s — a te sta o fa v o r q u e o a z u le jo m e r e c e u , e q u e fa z e m q u e
r e s t r in g ia - s e ao u so do e sta n h o p ara a o b te n ç ã o da n o B r a s il p e r s is t a m e x e m p la r e s n o tá v e is p o r e x tr e m a -
cap a b ranca de fu n d o e ao m a n u s e io q u ím ic o do m e n te raros ( . . . ) ( S o la r d o S a ld a n h a , e m S a lv a d o r ,
c o b a lto , que ir ia fo r n e c e r as v á r ia s gradações p ara C a p e la d a O r d e m T e r c e i r a d e S ã o F r a n c i s c o , n o R e d - ,
r e a lç a r a p lá s t ic a d o s d e s e n h o s . fe , a “ C a p e la D o u r a d a " — A C e i a d e C r is t o , n o r e f e i ­
D am os a p a la v r a ao m estre S a n to s S im õ e s na t ó r io d o C o n v e n t o d e S ã o F r a n c i s c o , e m S a l v a d o r , e t c , ) ,
a p r e c ia ç ã o que fa z s o b r e o co n ju n to d o s a z u le jo s n o 7. °) T odas as épocas a r t ís t ic a s do p o r te n to so
B r a s il. s é c u l o X V I I I t ê m c o n d i g n a r e p r e s e n t a ç ã o n a " A m é r ic a
P o r tu g u e s a " . O que tem m u it a im p o r t â n c i a , p o is q u e
1 ,° ) Q ue a im p o r t a ç ã o e in s ta la ç ã o de a z u le j o s
com o te r r e m o to d e L is b o a em 1 7 5 5 , p a r te d a q u e le s
no B r a s il acom panha o d e s e n v o lv im e n to das d e m a is
p e r ío d o s d e s a p a r e c e r a m n a a z u le j a r ia p o r t u g u e s a .
m a n ife s ta ç õ e s a r t ís t ic a s , e aqui com o no R e in o , o
R e sta -n o s in d ic a r qual t e r ia s id o a p r im e ir a
a z n le j o é a j u s t a d o à a r q u it e t u r a ( . . . ) L o g o a s p r im e ir a s
a p l i c a ç ã o d c a z u l e j o s n o N o r d e s t e e n o S u l d o p a ís ,
e d if ic a ç õ e s r e l ig io s a s a d q u ir ir a m p e r s o n a lid a d e a r t ís ­
S e r a f im L e it e n o s in f o r m a q u e , e m 1 6 1 5 , a C a p e la
t ic a ( . . . ) l o g o , o a z u le j o f o i c h a m a d o a e m b e l e z a r e
d e S ã o J e r ô n im o , e m O l i n d a , fo i d e c o r a d a c o m a z u le ­
e n r i q u e c e r o s i n t e r io r e s d a s n a v e s , d o s c l a u s t r o s e d a s
jo s p r o v in d o s d a M e t r ó p o le e q u e a C a p e la in fe liz m e n ­
c a p e la s . S e r ã o d e 1620 os e x e m p l a r e s m a is r e c u a d o s
te in c e n d io u -s e p ouco d e p o is , o que não in v a lid a a
n o tem p o ,
p resen ça dos a z u le jo s n o B r a s il, b em no com eço do
2 . 11) O s esq u em as d e c o r a tiv o s seg u em a lin h a s é c u lo .
t r a d ic io n a l p o r t u g u e s a s e m i n o v a ç õ e s , a g ru p a m e n to s Q u a n to a o S u d e s te , é n a C a p ita n ia d e S ã o V ic e n ­
d e p a d r o n a g e m , l i m it a ç ã o p o r b a r r a s e fr is o s c o m te , no f in a l da c e n t ú r ia ou nos p r im e ir o s anos dos
ca n to s p r ó p r io s , co n to r n a m e n to dos a c id e n te s de S e te c e n to s (a té 1710) que o a z u le jo s e fa z p r e se n te
a r q u it e t u r a , r ig o r o s a o b s e r v a ç ã o d a e s c a l a e p r o p o r ç õ e s n o C o n v e n to d e S ã o F r a n c is c o , e m Ita n h a ém . F o ra m
e s p e c ia is . r e le v a d o s p o r S a n to s S im õ e s , ta p e te s e m a z u l e b r a n c o ,
3 ,° ) A p resen ça no R e c ife — h o je c la u s tr o de de 4 x 4 /8 , com g r a n d e s f o l h a s r e c u r v a d a s ir r a d ia n d o -
S a n t o A n t ô n i o , d e a z u le j o s h o l a n d e s e s , e x p l i c a - s e c o m -sc dc um flo r ã o c e n tr a l d e r iv a d o d o t ip o “ c a m é lia ” ,
a d o m i n a ç ã o b a t á v i c a . . . e p r o v a q u a n t o o a z u l e j o já e ta m b é m u m p a in e l d e N o s s a S e n h o r a , e s te e n v o lv id o
e s la v a a c r e d ita d o n a d e c o r a ç ã o p e r n a m b u c a n a . A liá s , p o r b a r r a d e d o is a z u le jo s d o t ip o f o lh a s e n c u r v a d a s .
e s sa p r e s e n ç a n ã o te v e c o n s e q u ê n c ia s e m e s m o d u r a n te Q u a n t o à h is t ó r ia g e r a l d a A z u l e j a r i a , r e p o r t a m o -
o p e r ío d o h o la n d ê s ( m a is p r e c is a m e n te , cerca de nos ao I . ° C a p í t u l o a o it e m “ A z u l e j o s ” .

252
B I B L I O G R A F I A

(9) Prof. H obst U do K noff — “Azulejos amigos da Bahia".


— 1973.
(10) G eorges F ontaine — " L a C é ra m iq u e F ra n ç a is e " —
Paris, 1965 — pág. 2.
£11) H. P. F öurest — " L a s F a y e n c e s d e D e l f t " — Paris.
(12) D ingerman Korf-D ütch T iles — New York — 1964.
(13) Prof. H obst U do Knoff, D mgerman Korf, A ntonio
Sancho Gcirbacho, F elício G uimarães, José de
Q ueiroz.
(14) Arthur Lane — Tiles — Victoria and Albert Museum
— 1960.
(15) Reynaldo dos Santos — Faiança Portuguesa — Lisboa
— 1960.
(16) F. S. Meyer — Manual de Oraamentación 11.* cd. —
B arcelona---- 1971.
(17) H. P. Poorest — " L e s F a y e n c e s d e D e l f t ” — Paris —
págs. 5-18 — 1957.
(18) In "Azulejos do Pelourinho" — Fundação Patrimônio
Artístico e Cultural da Bahia — S/D.
(19) Raphael Salinas C alado — Catálogo da Exposição dc
Azulejos Portugueses realizada em S. Paulo — 1978.

L ourival G o m e s M achado — "V oltando aos A zulejos” —


in “ O Estado de São Paulo” (Arte SP — Í965).
J. M. Santos Simões — “Azulejaria no Brasil" — Lisboa —
1965.

253
IV - FAIANÇA

s e g u ir ir e m o s a p r e c ia r o que C om r e fe r ê n c ia a o s é c u lo X V I ( d e z e s s e is ) , c o m o
co n sta so b re as fa ia n ç a s no d iz R e y n a ld o dos S a n to s, o e stu d o da fa ia n ç a e stá
B r a s il. N o l.° C a p ítu lo , já n o s lo n g e d e e s ta r e s c la r e c id o , a p e sa r d e v á r io s e n s a io s e
a lo n g a m o s so b re a h is t ó r ia da d is c u s s õ e s . “ O s q u a d r o s m a n u e lin o s e j o a n in o s d e ix a m
f a ia n ç a e m P o r tu g a l e e m o u tr o s en tr e v e r as fo rm a s de v á r ia s p eças; a lg u m a s d essa s
c e n tr o s im p o r ta n te s d a E u r o p a , r e p r e s e n ta ç õ e s id e n tific a m -s e c o m o c h in e s a s , v a le n c ia -
a o s q u a is n o s r e p o r t a m o s , n a s ( m a n i s e s ) o u i t a li a n a s , m a s o u t r a s d e c a r á t e r m a i s
in v e n t á r io s e x is te n te s a f a ia n ç a s in g e lo , su g e r e m o r ig e m n a c io n a l. Isso , no to c a n te à
i m p o r t a d a t in h a d i v e r s a s d e s i g n a ç õ e s : l o u ç a d e L i s b o a , p r im e ir a m e ta d e do s é c u lo ; no referen te à segu n d a
lo u ç a d o R e in o e d e T a la v e r a . A fa ia n ç a h o la n d e s a , m e t a d e , a p in t u r a p o r t u g u e s a d e i x a d c s e r n a t u r a lis t a
n essa c e n t ú r ia não fo i c o n s ig n a d a em i n v e n t á r io s , e d e c u n h o n a c io n a l p a r a in flu c n c ia r - s e n o m a n e ir is m o
porém su a p resen ça v e r ific a d a e m achados a r q u e o ló ­ i t a l i a n o , e n t ã o e m v o g a . L i s b o a já c o n s t i t u i i m p o r t a n t e
g ic o s . N e m ta m p o u c o a fr a n c e s a , c u ja e x is tê n c ia m a te ­ cen tro c e r â m ic o e no m ead o do s é c u lo p o s s u ía du­
r ia l e m lo c a is o c u p a d o s p e lo s g a u le s e s a in d a não fo i z e n to s e s e is o le ir o s , d e z e s s e te t e l h e i r o s , v in t e e d o is
r e v e la d a c o r r e sp o n d e n te ao s é c u lo X V II, em b ora h o m e n s q u e f a z ia m t i j o l o s c t r in ta e t r ê s l a d r ilh a d o r e s .
c a c h i m b o s d e b a r r o t e n h a m s i d o r e t ir a d o s d e n a u c o r ­ A s in flu ê n c ia s in v o c a d a s p e lo s c e r a m õ g r a fo s , tê m s id o
s á r ia fra n cesa a fu n d a d a n o com eço d o s é c u lo X V III três: T a la v e r a , I t á lia , C h in a ” . “ A i n f l u ê n c i a t a la v e r in a
n a B a ía d e P a r a n a g u á . (a in d a segu n d o R e y n a ld o dos S a n to s), a p lic a r -s e -ia
m a is à lo u ç a d o m é s tic a e n ã o à d e c o r a tiv a ” . Q u a n to à
I r e m o s e s b o ç a r o s c a r a c t e r í s t i c o s g e r a is d a q u e l a s
i n f l u ê n c i a i t a li a n a , a im p o r ta ç ã o dos p r im o r o s o s m e ­
lo u ç a s , a s r e f e r ê n c ia s à e l a s n o B r a s i l e o acervo que
d a lh õ e s d e d e lia R o b b ia fo r n e c ia m m o tiv o s e c o lo r id o s
pôde ser le v a n ta d o , ta n to a n ô n im o com o p e r s o n a li­
zad o. v a r ia d o s d e d e c o r a ç ã o . A o m e s m o te m p o , a s lo u ç a s d e
V eneza e de P is a (fa ia n ç a ), que co n sta m de v á r io s
No to c a n te a P o r tu g a l, h á u m b r e v e r e tr o sp e c to
d o c u m e n t o s , já e r a m c o p i a d a s n a p r ó p r ia L i s b o a , q u e
a ser le m b r a d o . C e r a m ic a m e n te fa la n d o , é com o
p o s s u ía , a c e r to m o m e n t o , “ v in te e o it o fo r n o s d e V e ­
a p r e n d iz a d o rom ano q u e se u s o le ir o s e n ceta m a su a
n e z a ” , isto é, para p ro d u çã o d a lo u ç a na té c n ic a da
f a s e e v o l u t iv a no to c a n te ao m a n u s e io do barro e o
m a ió lic a .
a p u r o d a s f o r m a s . D e s s a h e r a n ç a m i le n a r e d o a t a v is ­
mo d e co rre n te, sã o c c r ta m e n te te ste m u n h o s e lo q u e n ­ A s fa ia n ç a s p o r tu g u e s a s d e ss e p e r ío d o s ã o e x tr e ­
te s as b ilh a s d c C a ld a s d a R a in h a e os púcaros de m a m e n te raras.
E x trem ó z. Há ta m b ém r e fe r ê n c ia s a o u tr o s cen tro s.
Q u a n to às fa ia n ç a s do s é c u lo X V II sã o de­
D i z - n o s L u iz A . d e O l iv e ir a : “N o u t r a s p o v o a ç õ e s m u it o
coradas em geral em azul e branco, e ta m b é m
i m p o r t a n t e s c o m o C o im b r a , S a n t a r é m , A v e i r o , P r a d o ,
c o r d e v in h o (v in o s a s ) e a p r e s e n ta m v á r ia s m o d a l i d a ­
e t c ., n o l a m - s c a lg u m a s i n d i c a ç õ e s q u e p r o v a m o e x e r c í ­
d e s d e d e c o r a ç ã o . N e s s a s p e ç a s p r e d o m i n a m , e m g e r a l,
c i o d a o la r ia d e s d e t e m p o s i m e f n o r ia is ” (1).
a i n s p i r a ç ã o c h i n e s a d u r a n t e la r g a f a s e d o s s e i s c e n t o s e
C o m o a d v e n to d a o c u p a ç ã o e d o m ín io d o s
d i s t i n g u e m - s e tr ê s t i p o s d i v e r s o s d e d e s e n h o s : 1 , ° ) o t ip o
Á r a b e s , a q u e le a p r e n d iz a d o Se a m p l i a , c o m o u tr a s
c h a m a d o d e “ a r a n h õ e s ” o u d e " s í m b o lo s ” , o u “ s in té ­
t é c n ic a s , novas decorações é o u so p r e v a le n te do
t i c o ” ; 2 . ° ) o d e s e n h o m i ú d o ; 3 . ° ) o d e r e n d a s . É a in d a
v id r a d o .
com um a m u it a s , q u e r n o s p a r e c e r , e l e m e n t o s c o m p l e ­
A c r e d ita m o s q u e o e m p r e g o d a s lo u ç a s v id r a d a s
m e n ta r e s com o as “ e s p i r a is ” , com o “as b o n in a s ” os
c o m e s m a l t e p lu m b íf e r o q u e c a r a c t e r iz a a p r im e ir a f a s e
“ f ile te s ” e d iv e r s o s tip o s d e cercadu ra na a b a. E n tre
d a g ra n d e e v o lu ç ã o d a c e r â m ic a le v a n t in a p r e v a le c e u
e s t e s , o m a i s c o n h e c i d o é c h a m a d o d e “ tr ê s c a n t o s ” o u
d u r a n te la r g o p e r í o d o em P o r t u g a l e l á d e i x o u r a íz e s
“ tr ê s p o n to s ” , o u , a in d a , d e “ p in h õ e s " , e tn a z u l e v in h o ,
que a té h o je v ic e j a m . P en sam os p o is que os p ra to s
v id r a d o s com e s m a lte p lu m b ífe r o de c a r á t e r p o p u la r e a c h a m a d a f a ix a b a r r o c a , e m u ito s o u tr o s q u e J o s é
d o P r a d o , já a s s i n a l a d o s n o s é c u l o X V I I e r e f e r id o s p o r de Q u e ir o z , em d e ta lh e , d esen h o u no seu m a g n ífic o
L u i z A . d e O l i v e i r a s e j a m a in d a r e m i n i s c ê n c i a s d a q u e l e tr a ta d o . P orém R e y n a ld o dos S a n to s r e f o r m u lo u os
a n t ig o e p r o v e i t o s o a r t e s a n a t o m o u r i s c o . e s t u d o s a n t e r i o r e s e a p r e s e n t a c m 1 9 6 0 u m a n o v a in t e r ­

P orém os árabes tr o u x e r a m ta m b ém a m a i ó li c a , p r e t a ç ã o : d e m u it a a c u i d a d e e p r o c e d ê n c i a . A c r e d i t a m o s
c o m s u a v e s t i m e n t a a lv a e b r i l h a n t e , d e t é c n i c a e a p r e ­ q u e c o m e l a s e t o m o u m a i s f á c il e p r e c is a a i d e n t i f i c a ­
se n ta çã o m a is s o fis tic a d a s , c o n s ig n a n d o um a nova ção d a q u e la s p e ç a s n o te m p o . Q u a n to à c la s s if ic a ç ã o
e ta p a d e e v o lu ç ã o se m n o e n ta n to d e sc a r ta r d o m er­ d iv id e e le p e la decoração essa s fa ia n ç a s em q u a tr o
cado p o p u la r a f a b r ic a ç ã o p a r a le la da terra co ta , da g ru p o s' c o r r e sp o n d e n d o a q u a tr o c ic lo s de m a is ou
lo u ç a v id r a d a e “ m e z z a - m a i ó l i c a ” . m e n o s u m q u a r to d e s é c u lo , c o m o se g u e :

(segue na pãg. 257) 255


Séc. X V U

SÃO SALVADOR
176

SnKidot, fim <k> tículo XVII,


Fropçr. Rctiltoo. ab tá,

Vista do Porto da Cidade de São Salvador.


Cortesia da Biblioteca Municipal de São Paulo.

RIO DE JANEIRO

177

kit] ile Janeiro, lim ijo wuW» XVII ;


pTO ger. Ide « - | ___ -

Vista do Porto t Cidade do R io de Janeiro.


Cortesia da Biblioteca M unicipal de São Paulo .

256
No primeiro grupo (d e m a is ou m enos 1600 a d a s c h in e s a s , ju n to c o m o s p a n o s d e a lg o d ã o , d e se d a ,
m a is o u m e n o s 1 6 2 5 ) : d e c o r a ç ã o e m g e r a l a z u l, s o b r e de li, de lin h o , de d is p a r a t a d a s p r o c e d ê n c ia s : de
e s m a l t e b r a n c o , i n s p ir a - s e n o s m o d e l o s c h i n e s e s c o p i a n ­ Saragoça, de L on d res, de C a m b r a ia , de R uão, de
do os tem a s s im b ó lic o s , as p a is a g e n s , a ía u n a e os F la n d r e s , d o R e i n o , d e C a s t e l a , d a Í n d i a e d a C h i n a , e t c .
c o s t u m e s d a é p o c a W a n - li. A s s im , fic a m o s s a b e n d o q u e , n o p e r ío d o q u e v a i
No segundo grupo ( d e m a i s o u m e n o s 1 6 2 5 a m a is d e 1 6 0 0 a 1 6 3 5 , o v a lo r m é d io d e u m p r a to d e p o r c e ­
ou m enos 1 6 5 0 ): à q u e le s s í m b o l o s e te m a s q u e , e m l a n a d a í n d i a e r a d e 2 2 0 r é is , e n q u a n t o q u e , n o m e s ­
geral d eco ra m a a h a d o s p r a to s, a s s o c ia m -s e m o tiv o s m o p e r ío d o , a m é d ia d o s p r a to s d e p r o c e d ê n c ia e u r o ­
p o r tu g u e s e s . T ê m , p o is , u m c a r á te r h íb r id o . P e r s o n a g e n s p é i a e r a d e m a is o u m e n o s 5 0 r é is , c o n s i d e r a n d o o s d e
c o m in d u m e n t á r ia n a c i o n a l , c a v a l e i r o s , b r a s õ e s , n u s T a la v e r a , d e L is b o a c d o R e in o .
m i t o l ó g i c o s , n o m e s , a n im a is , à s v e z e s e s t i l i z a d o s . I s t o
A lo u ç a d o R e in o , c o m o é c h a m a d a n o s in v e n ­
é a s s o c i a d o à a n t ig a c l a s s i f i c a ç ã o d e J o s é d e Q u e ir o z ,
t á r io s , é t id a , se m c o n fir m a ç ã o , com o fa b r ic a d a na
dos “ a ra n h õ es” e “d esen h o m iú d o ” . R e p r e se n ta o
r e g iã o do P o r to , in fe liz m e n te se m b ases a in d a p ara
ap ogeu .
u m a id e n tific a ç ã o se g u r a q u a n to a o s m o tiv o s e c o lo r i­
No terceiro grupo ( d e m a is o u m e n o s 1 6 5 0 a m a is dos que o s t e n t a v a í 3b F r a n c is c o M arq u es dos S a n to s
ou m enos 1 6 7 5 ): O s s ím b o lo s c h in e s e s sim p lific a m -s e in fo r m a : “D en tro , porém , do c a p ítu lo da c e r â m ic a
e , d e n t r o d e u m a i n t e r p r e t a ç ã o m a is p o p u la r e a n e d ó ­ p o r t u g u e s a i m p o r t a d a p e la C o l ô n i a , d e s e j a m o s a ssev e­
t i c a , n ã o a p r e s e n t a m m a is o e s p í r it o o r i e n t a l . A s f o r m a s rar q u e e la n o s v e io d a s in ú m e r a s p e q u e n a s f á b r ic a s
d e c o r a t iv a s s ã o m a i s p i t o r e s c a s d o q u e r e q u in t a d a s . do P o r to — a lo u ç a do R e in o dos I n v e n tá r io s ” . ,
No quarto grupo ( d e m a i s o u m e n o s 1 6 7 5 a m a is C o n q u a n to o a u to r a fir m e is s o , o q u e r e a lm e n te p o d e .
o u m e n o s 1 7 0 0 ) : d e s a p a r e c e a e v o l u ç ã o c h in e s a d o c o r r e s p o n d e r à r e a l i d a d e , n ã o a p o n t a e l e , i n f e li z m e n t e ,
c o m e ç o e s ã o agora te m a s n o v o s , e s s e n c ia lm e n te eu ro ­ a s fo n te s e m q u e b a s e ia a s u a a fir m a ç ã o .
p e u s q u e e s t a b e l e c e m a t r a n s iç ã o p a r a o c a r á t e r d e c o r a ­ N ão h á d ú v id a d e q u e a s lo u ç a s d o R e in o e r a m
t iv o das f a ia n ç a s do s é c u lo X V 111. N e ste s tem a s d ife r e n te s d a s lo u ç a s d e L is b o a , j á q u e o s e s c r iv ã e s as
d o m in a m as ren d a s, as cabeças de m u lh e r e s , f a ix a s d is t in g u ia m u m a s d a s o u tr a s n o s a r r o la m e n to s s e is c e n ­
b a r r o c a s , c e r c a d u r a d e tr ê s p o n t o s , as fo r m a s g e o m é ­ tista s, d a n d o ta m b é m a c a d a q u a l o s s e u s v a lo r e s .
t r ic a s , e t c .
A s s im , n o p e r ío d o d e 1 6 1 6 a 1 6 2 3 , fo ra m c o n s ig ­
E s s e s p o i s s ã o o s c a r a c t e r í s t i c o s g e r a is d a d e c o r a ­ n a d o s e m d o i s i n v e n t á r io s v i n t e e t r ê s p r a t o s d e L i s b o a ,
ç ã o d a s f a i a n ç a s p o r t u g u e s a s , q u e t iv e r a m se u gran d e o s c ila n d o o p r e ç o e n tre 4 0 e 8 0 r é is . N o p e r ío d o d e
cen tro de produção em L is b o a , sem d e sc a r ta r -s e a 1 6 1 9 a 1 6 3 5 , s ã o a r r o l a d o s e m t r ê s i n v e n t á r io s t r in ta e
c o n tr ib u iç ã o de C o im b r a com su a s rendas t íp ic a s , o ito p e ç a s d e lo u ç a d o R e in o , v a r ia n d o o v a lo r e n tr e
A v e ir o 'e P o r to , e o u tr o s cen tr o s m e n o r e s. 4 0 e 6 0 r é i s (J). Q u a n t o a o f a t o d e n o m e s m o i n v e n t á r io ,
P orém o m a to r ia i c e r â m ic o de que há n o t íc ia c o n s t a r u m a l o u ç a d e $ 4 0 , 0 0 é o u t r a d e $ 8 0 , 0 0 r é is
q u e f o i e x p o r t a d o p a r a o B r a s i l f o i t o d o e l e a r r o la d o de L is b o a , e o u tr a d e $ 40, e $ 60 r é is d o R e in o ,
a q u i, q u a n t o à p r o c e d ê n c ia e u r o p é ia ap en as em duas e x p lic a - s e p e la r a z ã o d e q u e h a v ia p r a to s d e u s o c o r ­
d e s ig n a ç õ e s : L o u ç a d e L is b o a e L o u ç a d o R e in o . C o m ren te c o m apenas um f i le t e a z u l o u v í n o s o n a b o r d a ,
r e f e r ê n c ia à E sp an h a, os i n v e n t á r io s só c o n s ig n a m e v id e n t e m e n t e m a is b a r a to s e o u tr o s d e fa r ta d e c o r a ç ã o ,
T a l a v e r a q u a n d o s a b e m o s q u e S e v i l h a já n o s Q u in h e n ­ e v id e n te m e n te m a is c a r o s (a r a n h õ e s , e t c .) .
to s e x p o r ta v a su a f a ia n ç a p a r a a s ín d ia s O c id e n t a is , E s s e s d a d o s n o s le v a m a crer , e m b o r a p o r p e q u e n a
c o m o v im o s lin h a s a tr á s, e n ã o s e v ê r a z ã o p a r a q u e m a r g e m , q u e a s lo u ç a s d e L is b o a n o c o m e ç o d o s é c u lo
n ã o c o n tin u a s s e a f o m e c ê -I a . O fa to é q u e h a v ia ab u n ­ X V I I , e r a m m a is r e p u ta d a s q u e a s c h a m a d a s d o R e in o ,
d â n c ia de to d a s a q u e la s l o u ç a s e u r o p é ia s no B r a s il. p r o v a v e lm e n te p o r s u a m e lh o r q u a lid a d e e a p r e s e n ta ­
N e s s e s s e is c e n to s , o N o r d e s te , o n d e s e c o n c e n tr a v a ç ã o , já q u e a lc a n ç a v a m p r e ç o s u p e r io r .
a produção a ç u c a r e ir a , era m e lh o r a q u in h o a d o na
E sta lo u ç a do R e in o não é m e n c io n a d a por
d is t r ib u iç ã o d o s a r t ig o s e s t r a n g e ir o s , m a s n e m p o r i s s o
nenhum c e r a m ó g r a ío p o rtu g u ês com o um a c a te g o r ia
o S u d e s t e d e i x a v a d e im p o r t á - l o s . O l i v e i r a V ia n a ,
c o n h e c id a e d is tin ta . N em ta m p o u c o P o r tu g a l (a o
P e d r o C a lm o n , G ilb e r to F r e ir e , e n tr e o u tr o s ilu s t r e s
c o n tr á r io da C h in a ) f a b r ic a v a s é r ie s de fa ia n ç a s de
h is t o r ia d o r e s , nos dão c o n ta da o p u lê n c ia d a q u e la
q u a lid a d e d ife r e n te para se u u so in t e r n o e para a
r e g iã o e d o r o l d o s a r t ig o s u t i l i t á r i o s e d e l u x o q u e a
su a s o c ie d a d e c o n s u m ia ® . I n fe liz m e n te p a r a o s h is ­ e x p o r ta ç ã o . A p r e s e n ta v a a p e n a s , is s o sim , u m a d e c o r a ­
t o r ia d o r e s e s o c i ó l o g o s , s ã o r a r o s o s i n v e n t á r io s b a ia n o s ç ã o d i f e r e n t e , p e ç a s s i m p l e s p o p u la r e s e o u t r a s e l a b o ­
e pern am bu can os d esse p e r ío d o , o que d ific u lta u m r a d a s , c o m o já o b s e r v a m o s . P o r é m d a m e s m a q u a lid a d e
e s tu d o m a is a p u r a d o so b re a s l o u ç a s im p o r t a d a s p o r q u a n to à p a sta e ao e s m a lte , A s c la s s if ic a ç õ e s d esse
a q u e la s r e g i õ e s . p e r ío d o se is c e n tis ta sã o q u a s e t o t a l m e n t e a t r ib u íd a s a
E m c o n t r a p a r t id a s ã o b a s t o s o s i n v e n t á r io s v ic e n - L i s b o a ; a s f a i a n ç a s a t r ib u íd a s a C o im b r a , e n t r e o u t r o s
t i n o s e m q u e s ã o m e n c i o n a d a s a s f a i a n ç a s e u r o p é ia s e c a r a c te r ís tic o s c o m u n s c o m o s d e L is b o a , a p r e s e n ta v a m
m e s m o a p o r c e la n a d a ín d ia , o q u e n u m a r e c o m p o s i­ a decoração das ren d a s, porém , e sta decoração só
ç ã o h is tó r ic a v e m d a r c o lo r id o s c o s m o p o lit a s à s m e sa s ap arece d os m ea d o s p ara o f im d o s é c u lo X V I I .
e b u fe te s b a n d e ir a n te s . f S o m o s le v a d o s a c r e r q u e a s lo u ç a s d c L is b o a e
N o e s tu d o q u e fiz e m o s e m 1 9 5 0 , tiv e m o s o p o r tu ­ do R e in o , para te r e m s id o fa c ilm e n te d is t in g u id a s e
n id a d e d e dar o d e v id o d e s ta q u e à q u e le fa to d ig ú ifi- id e n tific a d a s p e lo s e s c r iv ã e s , d e v ia m a p r e se n ta r en tr e
ca n te, a s s im com o e s ta b e le c e r a té p a r a le lo en tr e os e l a s d i f e r e n ç a s s e n s í v e i s , p a r a n ã o d iz e r v i s í v e i s . I s s o a
p r e ç o s c o e v o s d a s d ife r e n te s lo u ç a s u s a d a s e m P ir a t i- n o s s o v e r , s ó o c o r r e r ia n o c o n f r o n to d e u r a a d e c o r a ç ã o
n i n g a , s o b r e s s a in d o com g r a n d e d if e r e n ç a , o s v a lo r e s b a s t a n t e d i f e r e n t e o u t í p ic a , e t a m b é m na com paração

257
da qualidade e acabamento entre uma louça de Lisboa Santa Marinha d5Gieiros. Fabricava-se e ainda se fabri­
e a outra do Reino, Isso podia ser verificado no con­ ca louça popular de três categorias: a negra, a fosca
fronto entre uma peça de faiança, (e sabe-se que as e a vidrada. . . a vidrada é a mais comum e que mais
de Lisboa eram de faiança) e uma outra mais inferior, se usa. , . A pasta é grossa de barro vermelho, coberta
como a louça vidrada, bastante comum ou ainda, c esta de um vidrado plumbífero de cor am arelada., . orna­
hipótese nos parece mais plausível, no confronto eom mentadas com pinceladas, arabescos, desenhos geomé­
as peças populares de meia-faiança (mezza-maiólica) tricos, pingos, lineamentos, traços”, E na estampa n.°
de uso corrente na Europa e que mais se aproximava 32, apresenta quatro pratos de Prado, do século XVI,
da faiança, embora de aspecto mais rugoso e inferior. com estes característicos, que obedecem ainda à inspira­
Enquanto aquela tinha como característico uma ção local e múdéjar.
coberta de esmalte estanífero que tomava o fundo Assim, temos a impressão de que as louças do
branco e opaco e era mais apurada de acabamento, Reino, consignadas em nossos inventários do começo
a outra era uma terracota recoberta de um vidrado do século XVI [, poderiam ser as louças populares,
transparente que deixava transparecer a cor da pasta produzidas cm “olarias de Coimbra” de “Cervães”,
de barro, em geral menos tratada, e a meia-faiança “Cabanellas” e também do “Prado”.
(mezza-maiólica) era a mesma terracota, porém reco­ Curioso notar as variantes ortográficas, usadas
berta de um engobe feito com mistura de argilas claras pelos escrivães e notários, na capitania de São Vicente,
e óxido de chumbo pára esconder a cor do barro, e para designar o mesmo termo cerâmico.
sobre o qual era procedida a decoração.
. Estas louças eram profusamente usadas em Portu­ (“Inventários e Testamentos” —- Arquivo do Esta­
gal, tradicionalmente populares, e de menor preço e do de S. Paulo),
com decoração livre, vistosa, polícromada, e que fugia Volume 44 — pág. 150 : Lousa
aos requintes e academismo das de Lisboa, Talavcra e ” 165 : Lloça
Dclft. Já no século XVI, a louça vidrada e a meia­
” 146 : Lossa
-faiança, pelo que se pode deduzir, eram encontradas em
diversas localidades, ainda sob influência tradicional Volume 42 — ” 67 : Loussa
mudéjar, em Portugal. " 20 : Louça
No século XIX, era ela também fabricada em Quanto à famosa Louça de Talavera de La Reyna,
‘'Olarias de Coimbra” W com figuras lípícas portugue­ merece ela especial destaque, pois desfrutou de renome
sas, entre outros motivos. Remanescentes dessa tradi­ internacional, havendo menção seiscentista como vimos
ção do fabrico de louça vidrada e meia-faiança, são as de que era exportada para Portugal e para as índias
chamadas hoje de "Ratinho” e no século XIX, houve Ocidentais, fato esse corroborado pelos inventários
um considerável incremento dessa produção popular, vieentinos. E ainda nos é dito:. .. “As classes ricas
e o mais curioso, dc diversas decorações, incluídas nelas serviam-sc então (século XVII) de louça da China, e
as mais “modernas” para a época, como as represen­ as menos abastadas consumiam os produtos ordinários
tações florais de gênero orientalista, provavelmente do país ou os que vinham da Espanha, um pouco mais
inspirado pelos ceramistas franceses de Limoges. perfeitos, principalmente das olarias de Talavera” <»,
Aquelas louças vidradas rcinóis e meias-faianças, Essa produção prima ainda hoje, por sua poli­
na qual incluímos nós, as meias faianças já referidas, cromia viva e pelos seus belos tons de cobalto e seu
às quais atribuímos a designação de louça do Reino, vidrado forte. Sua presença em São Paulo é facilmente
a nosso ver, teriam continuado a scr importadas depois explicada pela posição de distribuidora, assumida por
do século XVII, paralclamente com as faianças de Lisboa, dos artigos estrangeiros, pelo domínio filipíno
Lisboa, e de outros centros. A presença do vasilhame e o considerável núcleo de castelhanos então residentes
vidrado no Brasil, era fato corrente e nos é assinalada na Vila de Piratininga, a ponto dele tentar aclamar
Amador Bucno (filho de espanhol), o rei de
entre 1578 e 1750 por Hernani Silva Bruno (6>1 diz ele:
São Paulo__
- “Em trinta e nove documentos aparecem oitenta e nove
botijas ordinárias de> barro, vidradas ou de arame”. Era uma faiança vistosa e de boa qualidade,
embora seu preço que oscilava entre $ 42 e $ 50 réis
Aquelas louças vidradas rcinóis e meias-faianças, equivalesse ao valor da louça do Reino. Nesse primeiro
teriam inspirado aos oleiros lusos e brasileiros no fim terço do século XVII, ela é assinalada em Piratininga,
do século XVIII e no correr do XIX, a fabricá-las em nos seguintes inventários: no dc Izabel da Cunha, onde
Minas, em diversos pontos, como em Saramenba, Caeté, constam sete pratos de Talavera com o valor de $ 350
etc. Nessa produção mineira mista, toma-se fácil réis e no dc Antônio de Oliveira onde são arrolados
distinguir uma louça vidrada de uma “mezza-maiólica" doze pratos no valor de $ 500 réis.
ou da verdadeira faiança que Minas, segundo nossas Sua decoração, por scr típica, não devia confundir
observações, não chegou a fabricar no século XIX. os escrivães locais em sua identificação, pois enquanto
Em abono da possibilidade de que a louça do a louça de Lisboa nesse período, sofria a influência
Reino seria louça vidrada ou meia-faiança, valemo-nos oriental, a de Talavera impregnava-se ainda da mudéjar,
ainda de Luiz A. de Oliveira, que descreve peças da medieval c da renascentista.
daquele gênero em Portugal, ainda do século XVII <»; No quinhentismo, os motivos centrais representa­
diz ele: “Pela denominação da louça popular do Prádo, vam em geral, animais, aves, figuras humanas e mito­
entende-se a que se fabrica nessa povoação e também lógicas e as cercaduras eram compostas de borboletas
noutras freguesias limítrofes, como Ccrvães,- Caba- ou folhagens, seguindo-se no correr do século XVII,
nellas, etc., sendo uma dessas freguesias denominada composições mais ricas, como representações de

258
Sêc. XVII FAIANÇA ESPANHOLA

I7S

Pichei em faiança policromada fabricado em Talavera de La


Reyna, séculos X V I lfX V llI -— Coleção do Autor.

Í79

Exemplar raro de prato de arroz de fabrico de Talavera de La


Reyna, correspondente aó século XVII. Adquirido cm Santos,
dç -Antônio Amado -— Coleção do Âu!orr

259
caçadas, cenas de batalha, personagens, etc. Pelos que uma peça pode refletir duas influências, ou apenas
valores constantes daqueles arrolamentos, acreditamos uma.
que os pratos talaveranos vindos para o Brasil, Nos temas novos sino-nipônicos, enquanto Portu­
a exemplo dos que ainda são encontrados na Bacia do gal adota restritamente os chineses, a Holanda não só
Prata, fossem de tipo comum com apenas um filete ou os amplia com a rica iconografia do período do Impe­
cordão azul na borda, com ou sem sigla, brasão ou rador Wan-Li, como integra na decoração os modelos
desenho no centro. típicos japoneses dc Kakicmon, Kutani, etc., com vasos
Quanto à faiança conhecida genericamente por floridos, leques, etc,, chamando a si, a parte do reper­
Delft, desconhecemos referências específicas a das nos tório folclórico-religioso do Japão. ■
antigos cronistas, como em inventários seiscentistas, Quanto as cores, faz uso da paleta clássica do
Ela só vem a ser consignada, salvo outras revelações, fogo alto, já referida. Porém há urn descompasso no
em 1789 no arrolamento dos bens de frei Manuel da tempo com referência ao emprego da policromia de sua
Ressurreição, em Piratininga, como "louça de Ol and a”. faiança em confronto com a portuguesa. O azul e
Porém o fato de sua existência no Sdscentismo branco é a tónica e o policroraado se desenvolve na
brasileiro é notório. Os holandeses não iriam tanto em segunda metade do século XVII, liderado pelos deco­
Pernambuco como na Bahia, usar louças portuguesas radores de Delft, em cuja área se localizam mais de
quando eles as possuíam de tão boa qualidade em sua vinte fábricas. De notar que os holandeses também
terra natal. O príncipe Maurício de Nassau, por certo empregaram faianças de campo azul e preto, incorpo­
não iria exibir aparelhos lusitanos — louça de seus rando corantes fortes ao esmalte branco estanífero,
ferrenhos adversários. Sobre a história da faiança holandesa, seus centros
Sobre a louça holandesa devemos observar que de fabrico e seus decoradores, reportamo-nos ao í.°
tais foram a influência e reputação de Delft na Europa, ■capítulo — FAIANÇA.
que sc costumava tomar a parte pelo todo. A faiança Qual o mostruário dessa cerâmica estrangeira que
tipo Delft era copiada e produzida por outros centros aportou no Brasil e daquela, que embora fora do país,
oleiros importantes, como Harlem, Amsterdam, Hoorn, nos diz respeito? Quais as peças ou fragmentos exis­
Rotterdam, Lcwarden, Haarlingen, etc. Ela era tentes que podem reconstituir parte do acervo sócio­
também copiada no estrangeiro, sobretudo na -histórico brasileiro? - é o que tentaremos esboçar.
Alemanha (Nuremberg, Hamburgo, Munique) c na Para maior facilidade de exposição, desejamos
Inglaterra (Lambeth) e foi tal suá influência nesse esclarecer qual a terminologia por nós empregada no
país, que a faiança feita na Inglaterra durante os enfoque daquele acervo. _
séculos XVII e XVIII, era chamada de louça de Delft Em primeiro lugar há dois tipos de faiança, no di­
(Delft ware). zer de Reynaldo dos Santos, rcferindo-sc a pratos: “a
Certos modelos fabricados na Alemanha c em doméstica e a decorativa”, o que explica os arrolamen­
Portugal prestam-sc a confusões com similares holan­ tos num mesmo inventário dc um preço inferior c outro
deses, tal a semelhança entre eles, sobretudo na repre­ superior, para pratos da mesma procedência. O que
sentação de alguns temas orientais com cercaduras corresponde nos aparelhos de mesa a peças dc serviços
compartimentadas com Signos chineses c na dc figuras de diário, com decoração singela ou sem da, e nos
orientais com posturas prototipadas. aparelhos de gala com apresentação de peças da mais
esmerada decoração. Critério esse extensivo a outros
Somente há uns 80 anos atrás, é que pesquisadores
tipos dc artefatos, como jarras, canudos, malgas, etc,,
holandeses compulsando arquivos antigos, demonstra­
com pouca ou nenhuma decoração e peças requintadas
ram que seu país contava com urn grande número de
e de aparato.
fábricas ou oficinas oleiras, além de Delft (10>. Como
contava também com numerosos artistas avulsos nos Em segundo lugar, num plano social-histórico,
séculos XVI c XVII, e muitos ceramistas célebres classificamos toda a cerâmica antiga em duas seções:
inscritos na Guilda de São Lucas, sendo que estes de a histórica ou personalizada e a anônima. Há mais dc
vinte anos adotamos esse critério em exposição oficial,
norma marcavam suas cerâmicas. Fato esse que even­ por nós supervisionado, para distingui-las (l,).
tualmente poderá facilitar a identificação de peças que
venham ainda a serem encontradas no Brasil, Consideramos cerâmica histórica ou personalizada,
toda aquela que apresenta uma filiação social, com
A faiança holandesa do século XVII constitui um nomes grafados, armas, siglas, signos, legendas, timbres,
grande repertório, diversificado e exuberante a igual coronéis, em suma a que possa ser filiada a persona­
de sua azulejaria prenhe de inovações, gem, instituição ou nação. Incluídas também peças sem
A temática de sua decoração se desenvolve nenhum atributo indicativo mas que tenha comprova-
através do aproveitamento de duas fontes básicas de damente pertencido a personagens da vida social e
inspiração: a ocidental e a extremo-oriental. A primeira política ou a entidades da época. E a cerâmica anônima
encampa seus costumes locais, sua heráldica, seus per­ é toda aquela, singela ou elaborada, que não ofereça
sonagens, suas paisagens e a esplêndida iconografia de aqueles elementos de identificação quanto ao seu antigo
suas tapeçarias, telas e gravuras como incorpora res­ possuidor.
quícios hispano-mouriscos, já assimilados na Europa e No século XVIII e XIX, as peças ou aparelhos
reedita o Compendiário renascentista em que sobressai da Família Real Portuguesa c da Imperial Brasileira,
a História Sagrada e a mitologia. A segunda adventícia foram chamadas por Francisco Marques dos Santos dc
trás dos antípodas um gênero novo e exótico. Tanto "Porcelanas ou Louças Bragantinas”, classificação que
emprega os temas separadamente como também numa adotamos para distingui-las nos Capítulos referentes ao
simbiose feliz, agrupa-os harmoni os amente de forma Sètecentismo e Oitocèntismo Brasileiros.

260
PEÇAS HISTÓRICAS DATADAS

R E F E R Ê N C IA S
1641 Armas reais portuguesas duas garrafas elaboradas C onde C astro e Sola , ob. cit. (12)
I64t Armas reajs portuguesas um par de galhetas singelas C o n d e C astro e Sola , ob. cit.
1651 Brasão dos Silvas prato (estampa 8) Luiz A. de O u v E t r u , ob. cit. (1 3 )
1652 Companhia-de Jesus canudo com iniciais I M S . C ondb C astro e Sola , ob. cit.
1655 Companhia de Jesus canudo elaborado com iniciais Museu d c Arte Amiga
1677 Brasão dos Silvas ptaío elaborado, borda aranhòcs Co n d e C astro e Sola , ob. cif.
1681 Armas de D, Pedro 11 (1648/1706) pote elaborado C onde C astro e So l a , ob. cit.
(Pertenceu ao Conde de Atnea!)
1699 Brasão dos Silvas prato gomilado, borda recortada, C onde C astro e Sola , ob, cit.
filetes azuis. (Col. Conde do Ameal)

PEÇAS HISTÓRICAS SEM DATAS


(Parte)
Armas de aliança de Portugal e dos Pote armoriado. C onde C astro e S ola , ob. cit.
Gusmões, de D.* Luiza Franc isca de
Gusmão, rainha de Portugal e Regente.

Armas de aliança de Portugal e Arngão, Jarra armoriada. C onde C astro e Sola , ob. cit.
com coroa rea.i, azul e cor de vinho,
alt. 0,25 cm, cm homenagem « D . ' Izabel
de Aragno, rainha de Portugal, canoni­
zada com o Sta. Izabel e fundadora de
diversos conventos, entre eles o de St,*
Clara, que lhe adotou as armas e o
cordãn cm volta do escudo. {Existe na
Bahia um Convento daquela ordem).

Companhia dc Jesus. Boiáo elaborado com iniciais dentro de O onde C astro e S ola , ob. cit.
um círculo flamejante.

D. Afonso VI — 22,° Rei de Portugal Floreira armoriada, C onde C astro e S o ía , ob. cit.
1643-1683, fabrico de Savorta, Itália,

Frei GaU-ão {século X V III), Convento Caneca. Museu de Arte Sacra de S, Paulo.
da Lú2.

Cruz dc Cristo. Uma escudela singela. ■ Museu Machado de Castro (Fort ).

Companhia de Jesus, século XVJI Um covilhete ou base de galheta com Inst. Arqueológico de Recife.
(Segundo Proí. Gonsalves do M ello), iniciais I.H.S.

Armas do Convento de Sta. Clara (fabri­ Medalhão (fragmento). Salvados do Galeão Sacramento Bahia,
cada cm Lisboa). Existe uma jarra com
as mesmas armas, porém com decoração
dc rendas de Coimbra do Museu Macha­
do dc Castro cm Portugal.

Família dos Silvas (general Francisco Parle de serviço armoriado (de mesa Salvados d o Galeão Sacramento (14).
Corrêa da Silva). c de c h i).

Esfera nrmilar portuguesa, singela Albarcllo. Salvados d o Galeão Sacramento.

Esfera nrmilar com os dizeres: Pote nbulachado. Salvados d o Galeão Sacramento.


SPERO IN DEO.

Armas dos Silvas. Prato avulso com elmo e belo paquife Salvados do Galeão Sacramento (1 5 ).
ocupando o centro d o prato que não
ostenta nenhuma outra decoração na
aba.

Armas dos Carneiros, pertenceu a Luiz Tigela (fuiança de Lisbca). Museu Nacional de Arte Antiga —
Carneiro dc Souza, conde da Ilha do Lisboa (1 6 ),
Príncipe, donatário da Capitania de
São Vicente.

General Francisco Barreto de Menezes, Boiáo azul e cor de vir.ha (faiança de Museu Nacional de Arte Antiga —
vencedor da batalha dos Guararapes, Lisboa), Lisboa.
capitão general de Pernambuco c gover­
nador da Bahia, falecido em 1688.

D. Rodrigo da Costa, governador geral Prato dc faiança. Museu Nadonnl dc Arte Antiga.
do Brasil; este governador possuía
também um serviço em Companhia das
índias.

261
PECAS E FRAGMENTOS
fPffflt í- fragmentos — diversa períodos e classificações)

1. °) U m p r a to s in g e lo {file te azu l n a borda) e m b o s s a d o u sa d o s na é p o c a : com o a lb a r e llo , p r a to s, m e d a ­


n a p a r e d e d o C o n v e n to d o C a r m o { S a lv a d o r ) e l h õ e s , j a r r in h a s , le it e ir a s , b o t i j a s e t ig e la s .
r e c o lh id o a o M u s e u d a O r d e m d o C a r m o ( B a h i a ) . 4. °) S é r ie de fr a g m e n to s de fa ia n ç a p o rtu g u esa e
2. °) P r a to s, m e d a lh õ e s , b o i õ e s c t r a v e s s a s d o acervo h o la n d e s a r e c o lh id a p e lo s a r q u e ó lo g o s : D r. J o sé
d o M u s e u d o E s t a d o , d o .p e r ío d o d e J o s é V a l a ­ G o n s a lv e s d e M e llo e s e u f ilh o U ly s s c s , n o N o r ­
d a r e s e d e C a r lo s E d u a r d o d a R o c h a , q u e a u m e n ­ d e ste , n o s s ít io s a r q u e o ló g ic o s d a b a ía d e Ig u a p e
t o u con sideravelm ente p a c e r v o d e f a i a n ç a d o (P e r n a tp b u c o ) c n a F o r t a l e z a d e S a n t a C a t a r in a
M u seu n a s u a g e s t ã o n o D e p a r t a m e n t o d e C u lt u r a . d o C a b e d e lo (P a r a íb a ) ju n to c o m a s é r ie n o t á v e l
3. °) S é r ie d e p r a t o s , m e d a l h õ e s e f r a g m e n t o s d a n a u d e b c l a r i n i n o s , t ij o lo s , t e l h a s , e t c ., e e m N a z a r e t h
p o r t u g u e s a a f u n d a d a n a a lt u r a d o R i o V e r m e l h o n o C a b o d e S t .° A g o s tin h o ( p a r t e f a i a n ç a , p a r le
" O G a le ã o S a c r a m e n to ” , n a B a h ia e m 1 6 6 8 . E sse g r é s).
le v a n ta m e n to a r q u e o ló g ic o s u b -a q u á tic o , tr o u x e
um a nova c o n t r ib u iç ã o ao c o n h e c im e n to das 5. °) S é r ie n u m e r o sa d e fr a g m e n to s d c c e r â m ic a r e c o ­
f a ia n ç a s n o B r a s il, p o i s o m o s t r u á r io e n c o n t r a d o lh i d a (fa ia n ç a , grés, fa ia n ç a fin a , p o r c e la n a
fo i v a r ia d o , c o m u m so r tim e n to a p r e c iá v e l d e c h in e s a , e u r o p é ia , in d íg e n a ) n o S ítio G u a c c á ,
p ra to s c o m d e se n h o s d i f e r e n t e s c o m o a n im a is , lit o r a l n o r t e d e S ã o P a u l o e m p r o p r i e d a d e q u e
a v e s , d e s e n h o s g e o m é tr ic o s , fito fo r m e s , c o m e s c a ­ d esd e 1 6 0 8 , p e r te n c e u a o s C a r m e lita s .
r n ia s , rendas e a in d a a lg u n s b ra so n a d o s {S ilv a , 6. °) F ra g m en to s r e c o lh id o s de 1975 p ara cá, p e lo
C o n v e n t o d e S a n t a C la r a , e s f e r a a r m ila r , c r u z d e P r o f . A n t ó n i o R u b b o M u l l e r , n a I lh a B e t a , E s t a d o
C r i s t o , e t c ., c o m o t a m b é m v a r ie d a d e d e f o r m a t o s d e S ã o P a u lo .

B I B L I O G R A F I A

(1) Exposição Retrospectiva da Cerâmica Nacional cm Vianna (12) Conde de C astro e Sola — "Cerâmica Brasonada" —
do Castelo, 1916 — pág, 70 — Porto, 1920, 2 vols. Portugal, Lisboa.
(2) E. F. Drancante — citação em " O B ra sil e a L o u ç a da ; 13) Luiz A. de O uveira — o b . cit. -— estampa 8.
tn d ia " .

(3) F. Marques dos Santos —- in " A r ie s P lá stica s n o B ra sil" (14) U lisses P ernambucano de M ello N eto — "O Galeão
— Rio. Sacramento" in Navigator n.° 13 — Junho de 1976 a
dezembto de 1977.
(4) E. F, fi RANÇAMTE — o b . cir,
(15) Revista "V eja” de 23 dc março de 1977 — "Tesouro no
(5) Luiz A. de O liveira — o b . cit. estampa 31. Mar" — pég. 61 — "O Cruzeiro” de 25 dc abril de 1973
Reportagem de Leopold Oberst — fotos dc Luiz Alfredo
( 6 ) H ernani Stl-VA Bruno — “ O E q u ip a m e n to da C a sa B an-
— mergulhadores José Maria Rabello Filho — Francisco
d e irista . se g u n d o o s A n tig o s In v e n tá r io s e T e s ta m e n to s " de Paula Guimarães Gordílbo.
.— Depl.° Patrimônio Histórico, 1977.
(7) E. F. BRaNcakte — " A c h e g a s s o b re C e r â m ic a d o sé c u lo (16) Catálogo do Museu Nacional de Arte Antiga -— Lisboa.
X IX n o B rasil. A L o u ç a M in e ir a " — S. Paulo, 197Í —
in rev. Paulistânia n.° 79.
(S) Luiz A. de Oliveira — ob. cit.. pág 71 — estampa 32. Frof . R eynaldo dos Santos — "Faiança Portuguesa" — sé­
culos XVI e XVII — Lisboa, 1960.
(9) G r a n d e E n c ic lo p é d ia P o rtu g u e sa e B ra sileira — Editorial
Enciclopédia — Lisboa — Rio — vol, VI — pág. 474, A rthur de Sandão — “Faiança Portuguesa" — séculos XVI11
(10) H. P. Fourest — " L e i F a ie n ces d e D e l f l " — Paris. e. XIX — Lisboa.

(1 1 ) E x p o s iç ã o 4 ? C en te n á rio d a cid a d e d e S ã o P a u to — Insl. C eoffr EY A. G ooOEN — "Oriental Esport M arket Porcetain "
Histórico e Geográfico — S. Paulo, 1954. -— pág. 340 — Londres, 1977-

262
Séc. X V II FAIANÇA PORTUGUESA

ISO

[Prato de faiança, com pássaros no centro e


jnã aha os aranhões.
inspiração Wan-Li Presumivelmente primeiro
quartel do século XVII.
Museu Nacional de Arte Antiga {Foto-Cámera).

18 I

Prato de faiança, com dama ao centro. Presu­


mivelmente segundo quartel do século X V II.
Cortesia do Museu Nacional de Arte Antiga
(Foto-Cõmera).

263
FAIANÇA PORTUGUESA
Séc. X V II
182

Prato de faiança portuguesa, com A nfl-


irite ou a figura da Fortuna ao centro.
Presumível fttentc uitifíto quartel do sé­
culo XVII.
Cortesia do Museu Nacional de. Arte
A n tiga {F o t o - C ânurra).

PruW de faiança portuguesa, com coelho


ao centro* Presumivelmente terceiro
quartel do século XVII*
Cortesia do Museu Nacional de Arte
Antiga (Foto-Câmeral

264
Séc. X V II FAIANÇAS DIVERSAS

Peça coberta com pega alta, quadrilobada com o desenha


clássico dos (iranHões, Ao lado albarello {canudo) com figura
ao centro, desenhos fiíoformcs tendo ao alto e na base uma
cercadura conhecida por faixa barroca. Cortesia do Museu
Nacional de Arte Antiga. Em baixo, linda composição em azul
(' vinoso, composta somente de círculos de feives barrocas"
e dois listeis cm azul.
Cortesia de Florindo dos Santos, (Lisboa).

265
Séc. X V I I FAIANÇA PORTUGUESA

1Í0

Garrafa em azul e branco com as armas e coroa real, da/ada. ‘


Cortesia do Museu Nacional Soares dos Reis (Porto). Âo ahc
prato polierornado, do gênero aranhões da coleção do Museu
Nacional de Arte Antiga. Ao centro travessa pequena, base de
gale fera em azul e branco (20 cm x 13.50 cm), com a sigla dc
Companhia de Jesus, dentro de um círculo de pontos e raios
Cortesia do Prof. José Antônio Gonsalves Mello (Museu dc
tnm m io Arqueológico de Recife). Prato gênero aranhões com
os dizeres dentro de escudo: DP Maria de Harros Rego, poli-
cromado. Coleção de José Maria Jorge.

2 66
Séc. X V II F A IA N Ç A S H IS T Ó R IC A S PO R TU G U ESA S
(Brasonadas)
i9i

Prato em azul c branco com o brasão da


Família Costa. Segundo Conde Castro e
Sola, pertenceu a Dom Rodrigo da Costa
(oh. cit. estampa C L IV ) nascido- cm 1657
e falecido cm 1722. governador eca p itã o -
gcneral da Ilha da Madeira e do Estado
do Brasil c vice-rei da índia. Cortesia do
M useu Nacional de Arte Antiga {Folo-
Câmera). Este titular possuía também um
outro serviço cm Companhia das índias.
O bs.: Segundo citação de Çlare Le Cor •
bciller, à pãg. 80 de " China fo r the West",
observa a escritora que o serviço também
poderia ter pertencido a Dom Francisco
da Costa, governador de Macau (I69J /9.3).

J 92

Botão brasonado em azul e cor de vinho, pertenceu ao general


Francisco Barreto de Menezes, vencedor da Baralha dos
Guararapes, capitão—general de Pernambuco e governador da
Bahia. (Vide catálogo do Museu das Janelas Verdes, estampa
100 de "M useus Nacionais de Arte Antiga", Lisboa, 1937 e
Cerâmica Brasonada do Conde de Castro e Sola).
Cortesia do Museu Nacional de Arte Antiga — Lisboa.

267
See. XVII FAIANÇAS PORTUGUESAS
{Br usou adas)

19.1

Medalhão reproduzido de "Cerâmica Brasonada do Conde


Castio e Sola", em azul e branco e d a n ific a d o por Reynaldo
dor Santos {ob. eil. pda- 120) buscado numa jarra armoriada
do Museu Machado de Castro (Port.) corno pertencente aos
serviços do Convento de Santa Ciara r Portugal. Tam bém
A rthur de Sandão exibe uma jarra em faiança portuguesa
Ipág. 37, fig. 18), idêntica em azul e branco.
iVo Brasil, no Galeão Sacramento (1608) foi encontrado um
medalhão cm que se distingue o m esm o brasão e era certamenle
destinado ao C onvento de Santa Clara cm Salvador. {Vide fotos,
pág. 14 da revista Cruzeiro de 2S de abril de 1973, “O TESO U ­
RO N O FU N D O DO M A R ").

194

Tigela de jaiança que pertenceu a Luiz Carneiro de Souza, l.° Coride da Ilha do Príncipe, 3.° neto de Martim A fonso
de Souza, o donatário da Capitania de São Vicente. Fundou a cidade' paulista de Sorocaba. ( Vide Francisco C onstando,
História do Brasil — 2 ° vo/., pág. 179 — Aurcliano Leite — História da Civilização Paulista, ptig. 41).
Cortesia do Museu Nacional de A rte A ntiga (Foto-Câmera).

268
Séc. X V II F A IA N Ç A P O R T U G U E SA

195

Botão de farmácia da Casa de Misericórdia, em faiança cm


azul e branco com um M c coroa real, como era usual dado
o patrocínio real a essas instituições de caridade. Cortesia do
Museu Soares dos Reis (Porte). À s vezes era usado nas Santas
Casas de Misericórdia o próprio escudo real, como veremos nutn
belo exemplar em Companhia das hidras, do século XV1ÍJ, da
Coíeção de Jacques Kiigel (Paris).

196

Medalhão em faiança, em azul e branco com decoração de


rendas nas bordas, na caldeira e na aba, lendo ao centrai uma
roseta dentro dc um círculo rendado — peça fora do comum,
pela simplicidade c ão m esm o tempo uma composição bem
equilibrada baseada apenas cm círculos.
Coleção Florindo dos Santos.

269
Séc. XVÍÍ OS SILVAS NA CERÂMICA PORTUGUESA
(aparelhos e azulejos)

Obsç Ê a nobre fam ília dos Silvas ou Sytvas, da Casa de Avciras, s tm dúvida a que
ocupa o maior e mais variado mostruário de peças de faiança armoriada no correr
do século X V 1L Com punha-sc essa família de um a série notável de personalidades,
entre fidalgos, viscondes, condes, marqueses e altos dignitários, tanto militares, civis,
como eclesiásticos, que se notabilizaram também no século X V ÍJ I, alguns dos quais
prestavam serviços ao Brasil. Sobre a ascendência, descendem os Sylvas dos antigos
reis de Leão, na pessoa de Gonçalo G om es da Silva, Senhor de Vagos, D e sua
casa são ramos todas as demais casas de apelido Silva (Condes de Unhão, Marqueses
de Alegrete, Condes de Vilta M ayor, Condes de Taro uca, Viscondes de Villa Nova
da Cerveira, M arquês dc Niza, Condes de Santiago, de S. Lourenço, 4 ? Conde de
Sarzcdas e o 6P Visconde de Alegrete — D om M anrique — I P M arquês de Vagos
(D. Francisco Tellô de M enezes j, etc. Entre altos dignitários eclesiásticos, cita-se Dom
Alberto da Silva, arcebispo de Goa ( Í635/J6&S) e entre os militaresr o malogrado
general Francisco Corrêa da Silva, que devia assumir no Brasil, o alio cargo âe
Capitão-general. D os aparelhos desses nobres, chegaram até nós numerosas peças
que pertenceram ã ilustre clan, a grande maioria em faiança (mais de dez serviços
diferentes), com o também alguns aparelhos em Companhia das Índias, abrangendo já o
século X V HL Infeíizm ente o tem po faz perder a individuação de quase todos os
serviços. Darem os a seguir o que fo i possível reunir graças â colaboração de amigos
brasileiros e portugueses, aos quais aproveitamos o ensejo para agradecer. N ã o po­
demos deixar de assinalar que Reynaldo dos Scnios aponta outras duas peças diferentes
‘ que podem ser ainda do século X V I: uma escudela e um a travessa ovalada e que
são da coleção d o M useu M achado de Castro (ob. cif- pãg, 26, figs, 8 e 9).
A o alto parte do siihar que circunda a vasta sala de jantar do Palácio dos Marqueses
da Fronteira, em que vêm assinaladas batalhas e os nom es dos lusitanos que nelas
se notabilizaram. Lê-se claramente no painel acima, o nom e de D om João da Silva.

Cortesia da Exm a. Família dòs M arqueses da Fronteira.

270
Séc. XVII OS S IL V A S N A F A IA N Ç A P O R T U G U E S A

Prato mu! e branco com o escudo dos Silvas, datado de 1649.


Cortesia do Museu Nacional de A rte Antiga.

uno 1668

Fragmentos do prato azul e branco que não


porta data, proveniente do Galeão Sacramento
que ajundou em 1668 nos baixios do Rio
ano 1649 Vermelho na Costa da Bahia, pertenceu ao
general Francisco Corrêa da Silva.
200 A rquivo de Francisco de Paula GardiUio.

201

Tigela proveniente do m esm a naujrágio do


ano de 1668 e que pertenceu ao general Fran­
cisco Corrêa da Silva que vinha assumir no
Brasil o posto de Capitão-general. A rquivo do
A utor.
ano 1677

Pfato azul e branco com as armas dos 5íívaj c a data de 1677.


Cortesia do Museu Nacional de Arte Antiga. Lisboa.

271
Séc. XV11 O S S IL V A S N A F A I A N Ç A P O R T U G U E S A

203

202

Estas três pratos fazem parte do acervo do Mus< u Nacional


Soares dos R eis e é um testemunho da v em tilidade da
decoração, sóbria ou carregada, porém em que s? destaca a
elaboração do escudo central com seu paquife decorativo.
O prato de cima, com aba planaf sem nenhuma decoração,
assemelha-se às peças encontradas no Galeão Sacramento
{1668) pertencentes ao General Francisco Corrêa da Silva, tanto
pratos como tigelas fvide pagina anterior).
Obsx O ctalbarellc/3 azul e branco com o brasãi dos Silvas
dentro de um a elipse form ando uma cercadura de folhagem c
cópia do século X V H executada para a Exposição de Portugal
nas Comemorações do 4 ? Centenário da Cidade d r São Paulo
{1954). Coleção do A utor ,

272
See. XV11 OS S IL V A S N A F A IA N Ç A P O R T U G U E S A

204

Este beto “at ba reilo" ostenta ao centro as armas dos Silvas,


entre um sóbrio paquife e um decorativo coronel, que infeliz-
mente não traduz ao certo a categoria do titular, se conde ou
marques, razão porque até hoje, não foi atribuído precisamente
a um dos numerosos condes (ou marqueses) daquela família
no século X V II. Cortesia do Museu Nacional Soares das Reis.

205

206

0 prato de arroz (53 cm) com faixa azul, rendilhado do lado


interior e o brasão dos Silvas com coronel (antigo) de conde,
pertenceu a D, Manrique da Silva, 6.° conde de Portalegre,
Existe outro serviço com um ponto grutule azul á esquerda tio
escudo e ainda outros sem nenhuma decoração na aba. Segun­
do o Conde Castro e Sola, o fabrico do serviço deve ter sido
entre 1614 e 25, O Conde faleceu em 1648 (ob, cit, vot. / —
pàg 74).

O “albarello” à direita presumimos que tenha pertencido a


Dom Alberto da Silva, cônego de Sto, Agostinho e Arcebispo de
Goa, pois viveu esse prelado de 1685 a 1688 e o canudo
estampada é encimado por um chapéu eclesiástico, o que condiz
além do brasão da família Silva com seu cargo. Tanto o Conde
Castro e Sola (ob. cit. pág. 145 — vol. I), como Campos t
Souza (em “A propósito da Cerâmica Armoriada” — Braga,
1976; ptígs, 16/17) nos informam que é atribuído ao mesmo
prelado um outro serviço etn Companhia das Índias, também
tendo ao centro 6 brasão dos Silva e o chapéu eclesiástico.
Acreditamos que as características da peça Companhia das
índias não se enquadrem nas decorações conhecidas do século
X V II e talvez devam pertencer a outro prelado do século X V 111
de apelido Silva, pois na coleção Florindo dos Santos, existe
um beio exemplar diferente dos estampados por Castro e Sola
e Campos e Sousa, também com o escudo dos Silvas e'chapéu
eclesiástico em louça "Companhia das índias”. Deve lrafar-sc
de um hom ónim o ou parente que viveu no século seguinte,
também eclesiástico.

273
sêc. xvii F A IA N Ç A P O R T U G U E SA
(Salvados do Galeão Sacramento — Bahia - 1658)

Cortesia do almirante Fernando Ernesto Carneiro Ribeiro,


(Comandante do, 2.° Como rido N aval — Salvador).
A rquivo do Aútor.

Nossa Senhora (em terracota).

" Albarello" com o desenho du esfera


armilar em azul c branco.

Botão com pássaro azul, viroso e branco.

274
Stk, X V I I F A IA N Ç A P O R T U G U E SA
(Salvados do Galeão Sacramento — Bahia •— 1668}

Arquivo do A utor.

Foi verificado que a bordo do Galeão Sacramento , havia grande


e variado sortimento de cerâmica (faiança) inclusive aparelhos
inteiros, com o ê o caso da serviço do general Francisco Corrêa
da Silva* governador geral do Brasil. O prato õo lado é de
fidalgo e exibe um artístico paquife, ostenta ao centro um
escudo partido com uma estrela de cada iado e uma banda
no centro, certamente, fazia parte de um outro serviço de
personagem que acompanhava o governador-geral porém não
pode até o m om ento ser identificado.

Garrafa com alça em faiança, cujo es rnalie foi destruído neta


ação da água salma ou o "líxam ento" provocado pela areia
em locais de corrente — conservado, contado, no coto c no
bojo riscos ainda de esmalte verde.

A tigela eto h d o com hcxafôlío com o m otivo c ctttrtd, tem duas


séries de faixas com o decoração formadas peias 11Rendas de
Coimbra

2-75
Sic. X V II F A IA N Ç A P O R T U G U E SA
(Salvados do Galcáo Sacramento — Bahia — 166S)

Arquivo do A utor.

214
213

a ^

Ti ■í - U r i'

fm m d íd 'È

S& i ,
v. -i
■■- «

M e d a lh ã o a z u l e b ra n c o c o m a r e tn h õ t s e c u b e ç a dr. h!edí.lhao corn os arankões nu aba c um coelho no


mulher. centro.

21S 216

Pr alo cm azul c branco com variações de desenhos Prato em azul e branco com variações de desenhos
geométricos, raro. geométricos, raros.

276
. X V 11 FAIANÇA PORTUGUESA
(Salvados do Galeão Sacramento — Bahia — 1668)

Arquivo do Autor,
217 218

Parte de um medalhão áe faiança com decoração ile rendas


de Coimbra.

Peroleira em barro cozido. Prato de ccr^fítica de decoração não identificável.


Sêc. XVII FAIANÇA PORTUGUESA
{Salvados do Galeão Saciamcnio — Bahia — 1668}

A rquivo cio Autor.

222 223

O prato ao alto à esquerda representa um busto de mulher e o da direita ao centro, uma Cruz. A peça à esquerda è uma
tigela com as armas dos Silvas, jií reproduzida (do serviço d o general Francisco Corrêa da Silva, m orto no naufrágio, como
já fo i dito), e o prato da direita, roseta formada de linhas concêntricas ao centro e aba de uranhões.

278
See. X V fl faiança portuguesa e outras
226

Medalhão azul e branco da antiga Coleção Calmem do Museu


do Estado, Bali ta, classificado por José Vaüadares (ficha n.c
43.585) como sendo holandês, mede 0,3 cm. A decoração do
medalhão fo i muito copiada na Europa, tanto na Alemanha
corno na Holanda e cm Portugal. N o Victoria and A lbert
Museum, existem exemplares, pretor e medalhões parecidos,
atribuídos tanto à Alem anha como à Holanda, do século X V ]l.
Portugal tratou jo m esm o tem a com variantes próprias (vide
Reynaldo dos Santos, A rthur de Sandão, etc,).
Cortesia de Carlos Eduardo da Rocha — Bahia.

227

Prato çain <‘ba gomUada c compartimentada, inserindo finuras


p desenhos de flores, ainda dentro da inspiração Wan-Li, quanto
íj es la disposição da cercadura. Presume-se de origem alemã.
Existem no Vicloria and Albert Muscum, peças com cercaduras
compartimentados idênticas com desenhos miúdos e com figuras.
Coleção Armando Arruda Camargo (ref. 66636-971).

22S 229

prato azul e branco, fazendo parle da mesma série de inspiração


Prato azul e branco com aba larga sem recorte porém, inspirada chinesa, pasta ligeiramente azulada, aínòuida pelo colecionador,
no mesmo gênero da série exposta. como sendo de origem inglesa, ainda do século X V U .
Cortesia do Museu Soares dos Reis (Porto). Coleção Particular (Lisboa).

279
F A IA N Ç A PORTUGUESA E OUTRAS
Séc. X V I I

230
O prato à esquerda fo i adquirido em São Paulo; tem caracterís­
ticas do começo do século X V II. Acreditamos que seja de
procedência portuguesa Aba recortada, m otivo central dentro
de um duplo círculo. Coleção do Autor,

O prato à direita foi adquirido em Londres com as mesmas


características r pequenas variantes de desenho, m otivo central
dentro de um duplo círculo, aba recortada. Existem no Victoria
and Albert M useum, vários espécimes similares atribuídos à
Holanda e Alemanha {rcf. 66637-971).
Coleção do Autor.

232

O prato â esquerda jo i adquirido em Madrid com as figuras


da aba e do centro mais semelhantes às do medalhão holandês
da coleção Miguel Calmon — (Bahia) ficha -I3.SS5, portanto
mais provável ser de procedência holandesa __ motivo central
dentro de um duplo desenho facetado (nove facetas).

233

O prato redondo ò direita em faiança, acreditamos que se)a


português, muito curioso e interessante, pois apresenta uma
outra interpretação dos desenhos da aba, ainda debaixo de
inspiração chinesa, porém diferente desta série que apresenta­
mos de personagens chineses, apresentando uma decoração mais
concentrada e mais chinesa de feição.
Coleção Particular.

280
Séc. XVII FAIANÇAS
FRAGMENTOS ENCONTRADOS N A PRAIA E SÍTIO
GUAECÁ QUE PERTENCEU AOS CARMELITAS NO
MUNICÍPIO DE S. SEBASTIÃO (1608)

234

Mostruário da decoração de diferentes abas usadas pelos Carmelitas no


período dos séculos X V II e X V III. Branco e azul c também vinoso.
Distingue-se ao alto um caco de decoração, chamada de três contas.
Arquivo do Autor.

23 4- A 235

Mostruário com diferentes decorações em que se percebem "Albarcllo” em meia-faiança, azul e branco com o brasão da.
rendas de Coimbra, desenhos geométricos, etc. Ordem do Carmo — (Lisboa — Coimbra).
Arquivo do Autor. Coleção do Autor,

281
V - PORCELANA DA CHINA

s t e s é c u l o X V I I é r ic o e m r e f e ­ gal — c h a m a d o s m e r c a d o r e s d e id a p o r v i n d a ; o s q u e
r ê n c ia s e e m e n s in a m e n to s , q u e er a m a s s is te n te s n a s v ila s o u c id a d e s , is t o é , o s e s ta b e ­
a p r e s e n ç a d a p o r c e la n a c h in e s a le c id o s com lo ja s e a in d a h a v ia os que com pravam
no B r a s il, r e la tiv a m e n te abun­ m e r c a d o r ia s d a q u e l e s e a s ia m v e n d e r p e lo s e n g e n h o s
d a n te , n o s p r o p o r c io n a . e fa zen d a s; o tip o de m ercador que p o s te r io r m e n te
. P o r é m , p a r a s it u ã -I a n o a m b i e n ­ r e c e b e u o a p e l i d o d e m a sc a te .*
te c o lo n ia l e c o lo c á -la no se u D e s s a m a n e ir a , e x p lic a - s e a p r e s e n ç a e d is s e m in a ­
d e v i d o lu g a r e n t r e o s d i v e r s o s v a s i l h a m e s o u a r t e f a t o s ç ã o d o s a r tig o s f in o s n ã o s ó n o s c e n t r o s , m a s ta m b é m
u t ilit á r io s u t i l i z a d o s n o s e i s c e n t i s m o b r a s ile ir o , é n e c e s ­ em lo c a is a fa s ta d o s , a té m e s m o n a v ila d e S ã o P a u lo ,
s á r io , p r e iím in a r m e n t e , t e c e r a lg u m a s c o n s i d e r a ç õ e s g e ­ c o m o t i v e m o s o p o r t u n i d a d e d e a p r e c ia r .
r a is , c o m o p roceder a a lg u n s p a r a l e l o s e c o n fr o n to s. S e g u n d o a m e sm a fo n te , " a s lo ja s e s ta v a m c o lm a ­
P a r a t a n t o n o s v a l e m o s e m g r a n d e p a r t e , d e p e s q u i s a s já
das de m e r c a d o r ia s de m u ito p reço, co m o são to d a
r e a liz a d a s e q u e c o n s t a m n o liv r o “ O B r a s i l e a L o u ç a so r te d e lo u ç a r i a , s e d a s r iq u ís s im a s , p a n o s fin ís s im o s ,
d a í n d i a ” , p u b li c a d o e m 1950.
b r o c a d o s m a r a v ilh o s o s , q u e tu d o s e g a sta e m grande
Em um s é c u lo , P o r tu g a ! h a v ia a p a r e lh a d o a c ó p ia n a terra , c o m o d e ix a r g r a n d e p r o v e n to a o s m e r ­
c o l ô n i a c o m o n e c e s s á r io p a r a s e u d e s e n v o l v i m e n t o ; o s cadores que o s vendem ”.
n ú c l e o s d e c o l o n i z a ç ã o já e s t a v a m la n ç a d o s c o m pro­
J á tiv e m o s o p o r tu n id a d e d e m o str a r c o m o a p o r ­
f u n d a s r a íz e s n a s c o s t a s e m e s m o n o i n t e r i o r ; o c o m é r ­
c e la n a c h in e s a s e im p ô s t ã o r a p id a m e n te e m P o r tu g a l
c i o a s s u m ia proporções de im p o r t â n c ia e a ex p a n sã o
c na E u rop a e v e r ific a m o s que su a p e n e tr a ç ã o no
g e o g r á f ic a h a v ia s e d ila t a d o c o n s i d e r a v e l m e n t e , c h e g a n ­
B r a s il, t a m b é m s e p r o c e s s o u b e m c e d o . S e c o n s i d e r a r ­
d o a t é a o A m a z o n a s ( 9 0 0 l é g u a s d e c o s t a ) . A p o p u la ­
m o s q u e a p o r c e l a n a d a í n d i a n o B r a s i l , c u s t a v a m u it o
ção se a la s t r a v a p e lo t e r r it ó r io , a m a lg a m a v a -s e em
m a is c a r o d o q u e a lo u ç a d e p r o c e d ê n c ia e u r o p é ia , e ,
n ú c le o s é tn ic o s , fo r m a n d o u m m o s a ic o p o ltc r ó m ic o e m
n ã o a p r e s e n t a v a a d u r a b i l id a d e d o e s t a n h o o u d a p r a t a ,
q u e s e e n c a sto a v a p o n d e r á v e l e lit e s o c i a l d e s e n h o r e s
t e m o s q u e a d m it ir q u e e r a a d q u ir i d a , c o n s c i e n t e m e n t e ,
de engenho, s e r t a n is t a s , fu n c io n á r io s , f id a lg o s , rep re­
c o m o o b je to d e lu x o , v o iu p lu á r io , c o m o u m a e x p r e s s ã o
s e n t a n t e s d o c l e r o e c o m e r c ia n t e s .
d e r e q u in t e , u m a te sta d o d e bom g o sto e tr a ta m e n to
S e g u n d o s e in fe r e d e “ O s D iá lo g o s d a s G r a n d e z a s
q u e h o n ra n o s s a p o p u la ç ã o d e s s e s te m p o s r e c u a d o s .
do B r a s il” (1 6 1 8 ), h a v ia n a C o lô n ia três s o r te s de
m e r c a d o r e s ; o s q u e tr a z ia m m e r c a d o r i a d o R e i n o e a s P a r a c it a r a l g u n s d o s i n v e n t á r io s d e S ã o P a u l o e m
v e n d ia m c o m p r a n d o n a p r a ç a p r o d u t o s d o B r a s il, c o m o que c o n sta m p ra to s da ín d ia , com a r e s p e c t iv a
a ç ú c a r , a l g o d ã o , â m b a r , e t c ., p a r a l e v á - l o s p a r a P o r t u ­ a v a lia ç ã o , d o c o m e ç o d o s é c u lo a té 1 6 3 5 , tem o s:

em 1609 — 5 p r a to s d e p o r c e la n a d a ín d ia 1SOOO (u n td , $200)


em 1619 — 2 p o r c e la n a s d a ín d ia $600 ( " $300)
em 1627 — 1 p ra to d a ín d ia sã o (sic) $480 ( ” $480)
1 rem en d ad o (sic) $160 ( ” $160)
2 p ta to s pequenos $360 ( ” $180)
em 1633 — 4 p o r c e la n a s d a ín d ia $640 ( ” $160)
em 1635 — 3 p ra to s d a ín d ia $480 ( ” $160)

( V a l o r m é d i o d o p r a t o d a ín d i a $ 2 2 0 ) . (1)

V eja m o s ta m b ém c i n c o in v e n t á r io s a b r a n g e n d o o ç ã o d a p r o c e d ê n c ia d o s p r a to s: de L is b o a , d o R e in o
m e s m o p e r ío d o s o b r e l o u ç a e u r o p é ia e m q u e h á in d ie a - ou d e T a la v e r a (d e la R e y n a ) .

em 1616 — 7 p r a to sd e T a la v e r a $350 (u n id . $50)


em 1616 — 3 p r a to sd e L is b o a $240 ( ” $80)
em 1623 — 19 p o r c e la n a s (sic) d e L is b o a $760 ( ” $40)
em 1632 — 12 p ra to s d e T a la v e r a $500 ( " $42)
em 1635 — 7 p ra to s d e lo u ç a d o R e in o $280 ( ” $40)

( V a l o r m é d i o d o p r a t o d e p r o c e d ê n c ia e u r o p é i a S 5 0 ) , V >

283
V e r ifiq u e m o s ta m b é m o v a lo r d a s p e ç a s e u r o p é ia s
c o lo r id a s ou " la v r a d a s ” de que há m enção n esse
p e r ío d o :

5 p r a t o s a z u is d e b a r r o $250 (u n íd . $50)
cm 16L 9 —
cm 1619 — 11 p . d e p o r c e l . (sic) p in t a d a s d o R e i n o 5660 ( ” $60)
8 p r a to s b r a n c o s la v r a d o s $400 ( ” $50)
cm 1620 —
em 1630 — 20 p r a to s e t i g e l a s p in t a d a s d o R e in o $800 ( " $40)

( V a l o r m é d i o d e p e ç a s p in t a d a s o u “ l a v r a d a s ” S 5 0 ) . tn

P o r e s s e s a lg a r is m o s , e x tr a íd o s d e i n v e n t á r io s n o D a d a a e s c a s s e z d e n u m e r á r io e m c e r t o s p e r ío d o s
m esm o p e r í o d o , is t o é , de 1600 a té 1 6 3 5 , poderá o e em d e t e r m in a d a s zonas do p a ís , o s is te m a de
l e i t o r v e r if ic a r q u e e n q u a n t o u m p r a t o d a í n d i a p o d i a barganhar ou de p a g a m e n to cm e s p é c ie era co rre n te
v a le r d e 5 1 6 0 a $ 4 8 0 r é is , u m d e T a la v e r a , d e L is b o a e a d m itid o o fic ia l m e n te ; n o s a u to s d e a r r o la m e n to d o s
o u d o R e i n o , f o s s e p i n t a d o o u a i n d a “ l a v r a d o ” , v a lia b e n s d o c a p itã o B e lc h io r C a r n e ir o , f a le c id o e m 1609,
de $40 ao m á x im o de $80! C o n tra ste fla g r a n te e la v r a d o p e lo e s c r iv ã o no p r ó p r io a r r a ia l do se r tã o ,
e x p r e s s iv o en tr e o v a lo r do p r o d u to o r ie n ta l e o c o n s to u : “ L o g o m a n d o u o c a p itã o a r r e m a ta r o s p r a to s
e u r o p e u , p o d e n d o v a le r a q u e le d e q u a tr o a d o z e v e z e s cm o c u ra d o r P a sc h o a ! D e lg a d o em q u a tr o p e so s p a g o s
m a is d o q u e o o u t r o . . , e m d in h e ir o o u a s s u c a r ( s i c ) b r a n c o e r ij o " . N o s p r i­
A s s im , q u em a d q u ir ia um p ra to d a ín d ia , c o m o m e ir o s te m p o s a e s c a s s e z d a m o e d a e m S ã o P a u lo , era
já d i s s e m o s , o a d q u ir ia p o r l u x o , p o r q u a n t o o s i m i l a r t o t a l, A q u e h a v ia le v a v a m -n a os n a v io s a tr o c o de
e m lo u ç a e u r o p é ia e r a o f e r e c id o n o m e r c a d o p o r q u a n ­ m e r c a d o r ia s .. , “ T u d o in d ic a q u e n ã o s ó o a lg o d ã o e o
tia s e n s i v e l m e n t e m a is b a i x a , a ssu ca r (s ic ) fo ra m o p r im e ir o d in h e ir o p a u lis t a :
Q u e o u so d o s p r a to s d e e sta n h o fo ss e c o rre n te n a t a m b é m a m a r m e la d a ' ’ <5l
C o l ó n i a , n ã o n o s a d m ir a , n e m s u r p r e e n d e — a p resen ­ De to d a s e s sa s a p r e c ia ç õ e s , v á r io s f a to s a f lo r a m
ta v a m e l e s u m c u n h o p r á t ic o e d e i n d i s c u t í v e l r e l e v â n ­ c o m o im p o r t a n t e s . P r i m e i r o a a b u n d â n c i a ( r e l a t i v a ) d a s
c ia s o b r e q u a lq u e r o u t r a b a i x e l a , s e n d o s e u u s o p r a t i­ lo u ç a s c h in e s a s en tr e n ó s, a cu sa d a s n o s i n v e n t á r io s e
c a m e n t e i n d e f i n i d o , p r e s t a n d o - s e m e s m o a s e r r e f u n d id o c r ô n ic a s s e is c e n tis ta s .
a b a ix a te m p e r a tu r a , e se u p reço , c o n q u a n to e le v a d o , S e g u n d o , se u p r e ç o e le v a d o em com p aração com
ig u a l o u s u p e r io r a o p r e ç o m é d i o d a lo u ç a d a ín d ia , o u tr a s lo u ç a s e o u t r o s m a t e r ia i s c o m o o e sta n h o c a
e r a i n f e r i o r a o d a p r a t a (4). p ra ta , c u ja p r e s e n ç a é ta m b é m a s s in a la d a , e a b u n d a n te
Q ue o u so da p ra ta , ta m b ém fo sse d ifu n d id o a n a C a p i t a n i a d e S ã o P a u l o e a lh u r e s .
p o n to d e o a u to r d o “ V a lo r o s o L u c id e n o ” , o b se r v a r : C om esses c o n fr o n to s e s ta b e le c e -s e n a tu r a lm e n te
“ por m is e r á v e l é t id a en tre e la (a s o c ie d a d e ) quem u m a h ie r a r q u ia e n t r e o s d i v e r s o s a r t e f a t o s u t i l i t á r i o s d e
n ã o te m u m s e r v iç o d e p r a ta " , ta m b é m n ã o n o s im p r e s ­ d i f e r e n t e s m a t e r ia is , u s a d o s n a é p o c a , n a q u a l a p o r c e ­
s i o n a ; é q u e a p r e s e n ç a d a p r a t a e s u a a b u n d â n c ia n o la n a d a C h in a , n o c o m e ç o d o s é c u lo X V II, s a i a lta ­
B r a s il p r i m e v o , n ã o o b e d e c i a m s o m e n t e a u m r e q u in t e m e n t e p r e s t ig ia d a . E s s a h ie r a r q u ia n ã o p a s s o u d e s a p e r ­
de o sten ta çã o ; p r e n d ia m -s e ta m b ém a o u tr a s ca u sa s. c e b id a a o a r q u e ó lo g o U ly s s e s P e r n a m b u c a n o d e M e llo
O nde o m e io c ir c u la n te era esca sso , o s is t e m a de e N eto , ao c o m e n ta r a lo c a liz a ç ã o e os o b je to s a
c o m é r c io era q u a se se m p r e o d a b a rg a n h a ; o n d e n ã o b o r d o d o G a le ã o S a c r a m e n to , a fu n d a d o e m 1668 nas
h a v ia e s ta b e le c im e n to s d e g u a r d a d o s v a lo r e s n e m c o s t a s d a B a h ia .
c r é d i t o o r g a n i z a d o , e a s e g u r a n ç a e r a p r e c á r ia , r e p r e ­ T e r c e ir o , o papel r e le v a n te que por fo rça das
s e n ta v a a p ra ta u m p a d r ã o m o n e tá r io , u m a r e s e r v a d e c ir c u n s tâ n c ia s vem a p o r c e la n a c h in e s a d esem p en h a r
f á c il l o c o m o ç ã o . n a v id a c i v i l , s o c i a l e c o m e r c i a l d a c o l ô n i a . V e j a m o s
A s j ó i a s , o o u r o , a p r a t a , m e lh o r d o q u e q u a is q u e r a lg u n s d e s s e s p a p é i s :
o u t r o s b e n s , c o n s t i t u í a m u m a a p l i c a ç ã o d e c a p i t a l, u m a A s s in a la P edro C a lm o n : “ nenhum a f a m ília
e s p é c ie d e a ç ã o a o p o r ta d o r o u r eserv a n e g o c iá v e l; era a p o se n ta d a da rua D ir e ita , nenhum a lo ja da rua d o
m oeda d e q u e la n ç a r m ã o . O p reço de um p ra to d e C o lé g io , n e n h u m tr a fic a n te c o m tr a p ic h e n a b a ix a p ô d e
p ra ta — e os h a v ia e n tre a p o p u la ç ã o s e is c e n tis ta o r g u lh a r -s e de s a lv a r o seu púcaro dc p ra ta , a su a
b a n d e ir a n te — p o d i a o s c i la r , d e acordo c o in o p e so , t r a v e s s a c h i n e s a , a s u a a r c a cie p r e g a r ia ." <6> R e f e r i n d o -
e n t r e c i n c o c o i t o m il r é is ; o e q u i v a l e n t e a u m a s b r a ç a s - s e à o c u p a ç ã o d a B a h ia em 1 6 2 4 / 2 5 p e lo s h o la n d e s e s .
d e c h ã o s n o c o r a ç ã o d a v ila , p e la ru a D ir e ita , d e S a n to E a s s im , a p o r c e la n a p a ssa a té a f ig u r a r com o
A n tó n io o u d e S ã o B e n t o , o u a in d a a um s í t i o p e la s p r e s a o u d e s p o j o d e g u e r r a . . , M a is in t e r e s s a n t e a i n d a ,
b a n d a s d o I p ir a n g a c o m ' c a s a s d e t a ip a d e m ã o , á r v o r e s é e la f ig u r a r t a m b é m c o m o p e n h o r d c d ív id a , s e g u n d o
d e e s p i n h o ( l a r a n j e ir a , l i m e ir a , e t c . ) , p a r r e ir a e f i g u e i ­ s e i n f e r e d o t e s t a m e n t o r e d ig id o e m 1 6 0 3 , p o r D io g o
ra, a v a lia d a s e m s e i s m il r é is . M a r t in s M a c h u c a , b a n d e ir a n t e f a l e c i d o n o s e r t ã o (em
P a r a e m p r e g a r e x p r e s s ã o c o r r e n t e , a p r a t a r e u n ia 1 6 1 3 ) , d o q u a l c o n s t a q u e , e n tr e o u tr o s o b je to s , s e is
o ú t il a o a g r a d á v e l, r e p r e s e n t a n d o v a l o r e a l a r d e a n d o p o r c e la n a s d a ín d ia , h a v ia m s i d o e m p e n h a d a s . <7)
o p u lê n c ia . E x p lic a - s e a s s im su a p r e s e n ç a n o s in v e n tá ­ A o q u e p a r e c e er a m e la s d o a g r a d o d a s d o n a s d e
r io s c o e v o s e m p r o p o r ç ã o t ã o e l e v a d a q u e m u it a s v e z e s c a s a s e is c e n tis ta s , e n ã o r a r o , p a r a m e lh o r a d o r n a r u m a
a t i n g i a a u m t e r ç o d o a c e r v o a r r o la d o — c o r r e s p o n d ia , m e sa , e r a m o b je to d e e m p r é s tim o . S a b e -s e q u e o g r a n d e
p o i s a d i n h e i r o e m c a i x a . C u r i o s o n o t a r q u e h a v ia p o e ta G r e g ó r io d e M a to s ( 1 6 3 3 - 1 6 9 6 ) p o s s u ía p a la n ­
t a m b é m o u t r o s a r t ig o s q u e f u n c i o n a v a m c o m o “ m o e d a g a n a s d e p o r c e la n a , o q u e m o tiv o u d e s u a p a r te a
co rre n te” . s e g u i n t e s á t ir a :

284
Dizem que tis almas que vão, para su as p ito r e s c a s c o m p o s iç õ e s . Os bancos dos
A esle mundo não vêm; j a r d in s eram r e v e s t id o s com as con ch as dos n o sso s
E as minhas palanganas m o lu s c o s . N a s c o m p o s iç õ e s d e m a io r v a lo r o r n a m e n ta l,
Fizeram-se almas também? c o m p o s t a s e m f o r m a d e c r ip t a , a s p a r e d e s e r a m r e v e s ­
t id a s c o m a lo u ç a azul c h in e s a , c h a m a d a de M acau.
V e r ific a m o s ta m b é m n o m a n u s e io d o s d o c u m e n to s E m p r e g a v a m -se p ra to s p eq u en o s, tra v essa s e p ir e s ,
v i c e n t i n o s q u e e la s f a z ia m a s v e z e s d e n u m e r á r io , s e n d o s o b r e m o r d e n te d e c a l d e m a r is c o . A lg u m a s v e z e s , e s s e s
e n t r e g u e s e m p a g a m e n t o d e p a r te d a s c u s t a s a o e s c r i v ã o e le m e n to s d e c o m p o s iç ã o o r n a m e n ta l e r a m is o la d o s u n s
q u e a r r o la v a u m in v e n t á r io . C o m o n o t a r o m â n t i c a , v e m d o s o u tr o s, p o r m e io d e u m a c e r c a d u r a d e c o n c h a s e
ta m b é m a p o r c e la n a f ig u r a r n o d o t e d e c a s a m e n t o d e c a r a m u jo s” . ■
A n a d e P r o e n ç a , n e ta d e A n t ô n io d e P r o e n ç a , c a p itã o - V e r ifíc a -s c p o rta n to , que a p o r c e la n a c h in e s a
-m o r da C a p it a n ia d e S ã o V ic e n t e , e tn 1580, q u e se c o n s titu ía ta m b é m e l e m e n t o d e c o r a t i v o , p r in c ip a l m e n t e
c a s a r a c o m S a lv a d o r P ir e s ; e n t r e j ó i a s , m ó v e i s , p r a t a s , a lo u ç a q u e s e c o n v e n c io n o u c h a m a r L o u ç a d e M a c a u ,
e s c r a v o s, b o is , reze s, o v e lh a s e c h ã o s, c o n sta m : um a isto é , a b ra n ca e a z u l, a m a is c o r r e n t e e a p r e c ia d a
d ú z ia d e p r a t o s d e p o r c e la n a <8>, da época.
T al o agrado e ap reço em que eram tid o s os E x p lic a -s e e s s e u so p e io q u e e s s a lo u ç a ap resen ­
p r a t o s d a Í n d ia q u e p e ç a s q u e b r a d a s e r a m r e m e n d a d a s ta v a de n o tá v e l: um v id r a d o b r ilh a n te e to n s fo r te s
v in d o a f ig u r a r c m e s p ó l i o c o m o t a is a l c a n ç a n d o a in d a d e a z u l, s o b a c o b e r t a , o q u e c o n t r i b u í a p a r a c o n s e r v a r
a v a lia ç ã o e le v a d a . in d e f i n i d a m e n t e a f r e s c u r a d a s c o r e s .
E sse o b je to de u so ou de a p a r a to p r e se n te nas Já o je s u íta P ère d ’E n t r e c o l l e s h a v ia a s s in a la d o
v ila s e c i d a d e s lit o r â n e a s , c o m o n o s s í t i o s , e n g e n h o s e em su a e s ta d a na C h in a , em C h in te h c h e n , que o
f a z e n d a s d o in t e r io r s o f r e a s s ím v ic i s s i t u d e s v á r i a s e o s refu g o das p eças de p o r c e la n a era a t ir a d o ao r io e
m a is in e s p e r a d o s d e s t in o s . b r ilh a v a s o b a co rre n te. À n o ite c o n s t it u ía um esp e­
S e u e m p r e g o a m p lia - s e a in d a m a is , na d ecoração tá c u lo o r e fle x o d esses cacos il u m i n a n d o as á g u a s.
d e p ared es, de ig r e ja s o u casas n o b res, em j a r d in s e O s fr a d e s d e s d e é p o c a r e m o ta , u tiliz a v a m a z u le jo s o u
n o e m b e le z a m e n to d e p a s s e io s . O p r a to d e p o r c e la n a , c a c o s d e p o r c e la n a p a r a e m b e le z a r e c h a m a r a a t e n ç ã o
p a ssa ta m b ém a ser a p r o v e it a d o e a fa zer, as vezes, n a s c ú p u la s d a s I g r e j a s ,
p a r te d o p r ó p r io a z u le j o . Aqui no B r a s il, há m u it o s e x e m p lo s de em bre-
P a ssa m o s a tr a n sc r e v e r in t e r e s s a n t e trech o de c h a m e n to com o fo i d it o por J o sé M a r ia n o F .° em
a u to r ia d o s a u d o s o e d is t in t o p e s q u i s a d o r q u e f o i J o s é que são a p r o v e ita d a s , c o n c h a s , p edras e cacos de
M a r ia n o F i l h o , E l u c i d a - n o s m a g i s t r a l m c n í e e c o m p o r ­ lo u ç a ou de p o r c e la n a , a s s im , com o fr a g m e n to s de
m e n o r e s so b r e a a rte o r n a m e n ta i d e e m b r e c h a r c o n c h a s , a z u le j o s o u p r a t o s c p ir e s i n t e ir o s .
m a r is c o s , c a r a c ó is s e ix o s e peças de p o r c e la n a : “A Um d o s e x e m p l o s m a is c i t a d o s é o d a T o n e d a
a rte de em b rechar, t ip ic a m e n t e m o u r is c a , já se fa z I g r e ja d o S e m i n á r io d e B e lé m d a C a c h o e i r a , n o M u n i ­
s e n t ir n a B a h ia , c o m e ç o d o s é c u l o X V I I I . A liá s , em c íp io d e C a c h o e ir a n a B a h ia , e m q u e é fo r m a d a u m a
p le n o sé c u lo X V Í I T , já s e u sa v a m o s s e ix o s r o la d o s cru z d e L oren a com p r a to s n a T o r r e , e n tr e c a c o s d e
c o lh id o s nos r io s , para o r e v e s t im e n t o dos sa gu ões, d iv e r s a s p r o c e d ê n c ia s . O u tr o e x e m p lo é o a lta r de
v e s t íb u lo s e d e m a is p e ç a s d e s e r v i ç o s a r e z d o c h ã o . S a n to A n tô n io , lo g o n a e n tr a d a , à d ir e ita , da I g r e ja
N a B a h ia e em P e r n a m b u c o , a s a l é a s d o s j a r d in s d a s de B oa V ia g e m em S a lv a d o r . E a in d a en tre m u it o s
casas n ob res, eram q u a se sem p re c u id a d o s a m e n te o u t r o s o J a r d im d a P r in c e s a , e m q u e e x is te m bancos
e m b r e c h a d a s . O s c m b r e c h a d o r e s , m u it o n u m e r o s o s , n o e p a in é is e m b r e c h a d o s c o m lo u ç a d a f a m u la g e m e da
f im d o s é c u l o X V I I I , u t iliz a v a m - s e d e m a t e r ia is d iv e r s o s c a s a I m p e r ia l.

28 5
Sécs. X V U / X V l î ï EXEMPLOS DE EMBRECHÀMENTOS
Extremo Oriente

237

238

O templo de cimo, com seus quatro minaretes e ú corpo central,


chama-se Templo da Aurora {{Vai. Aroon oj Dawn) fica em
Bangekoc na Tailândia. Ê todo ele recoberto e cmbreehado de
azulejo? poticromadof c monocromos, de cacos, pratos, pires e
placas, tanto cm porcelana como em louça vidrada. Verdadeira
jóia que reluz ao sol e brilha ao luar.

286
Sécí. X V H / X V I I I / X I X EXEM PLOS DE EM BRECHAM ENTOS
(Brasil)
239

No Brasil é comum revestir dc azulejos os coruchéus das Igrejas. Porém estas quatro fotografias nos mostram as quatro faces de unta
torre t as composições diferentes em que entram cacos dc azulejos de diferentes períodos, conchas, pires e pratos. Jrata-se da Torre
da Igreja de Belém da Cachoeira na Bahia, l á tivemos oportunidade de retificar afirmação anterior (em "O Brasil c a Louça da
índia") de que os pratos azuis c brancos não eram de porcelana chinesa dc Macau — constatou-se que se. trata de peças da cha­
mada louça de pó de pedra inglesa, também em azul e branco, imitando Macau, c uma série de pratos só em branco.
A rquivo do Autor.

287
Séc. X I X EMBRECHAMENTOS — RIO

240

A o alto gruta no “Jardim da Princesa*9* situada no parque do Palácio da Quinta da Boa Vista ou Faço de Sao Cristovam* Rio
de Janeiro, decorada com conchos e variadas louças que serviram no Paço. Pm baixo detalhe da parte superior do espaldar dc
um banco (tipo marquise) do mesmo jardim decorado da mesma form a e onde se podem distinguir varias peças; a travesa maior
de aba compartimentada ê dc um serviço cm porcelana de Wedgwooà, abaixo um prato chinês do tipo Macau e do lado direito
um prato “Pombinhos*1 (pó de pedra) e do esquerdo outra louça inglesa com -paisagem.
À s estampas foram reproduzidas do artigo de A lcindo Sodré — uLouças Imperiais” — in A nuário do Museu Imperial n.° 4, Petró -
polis. 1943.

288
Sécs. X V I l / X V Í Í l / X l X EXEMPLOS DE EMBRECHAMENTOS
(Bahia)
241

Á o alto vé-se o altar de Santo Antônio, na Igreja cie Neissa


Senhora de Boa Viagem (à direita, nu entrada) em Salvador
— Bahia. Ê lodo ele embrechado com seixos, cacos de pratos
e pires e uma série ainda mais variada de fragmentos de azule­
jos de diferentes períodos e procedências, dos séculos X V IU
ao X IX {França, Inglaterra e Portugal).

289
Sees. XVI ll /XI X EXEMPLOS DE EMBRECHAMENTOS
(Bahia cont.)

Igreja de Nossa Senhora de Boa Viagem (continuação) detalhes d o altar de Santo A ntônio — embrechamentos de seixos e cacos
cerâmicos, form ando barras c desenhos em relevo. Os cacos nesta pene silo de origem inglesa, louça azul, branca e azul borrão e
porcelana chinesa do gênero conhecido por Macau (azul e branco).

290
Séc. X X EXEMPLOS DE EMBREC HAMENTOS MODERNOS
São Paulo

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/**.«? de patamar c degraus de escada do pátio posterior da Casa da Rua Dona Antônio dc Queiroz ti.ú ISO — SÃO PAU LO
{Nicia Camargo <£ D eco rações)t execução de em brechm tem o feita corri uma grande variedade de cacos de azulejos, frisos e
cercaduras de diferentes procedências, em que são visíveis fragmentas ingleses, franceses c portugueses de variada padro-
nagern antiga.
Cortesia de D P Nícíà Camargo — S. Paulo.

291
S éc. X V I I PORCELANA DA CHINA
(Marcada)

1 ■^

244

Preiio-medaUtSo da dinastia Ming, marcado com o “nicn-hao" do Imperador Chia-Ching.

Coleção Plácido Gutierrez.

Cortesia de José Teixeira Leite.

192
Séc. X V I!
PORCELANA DA CHINA
(Marcada)

246

247

4 peça (U cima é uma bilha em porcelana conhecida por


’narghile”, a do centro e a de baixo são potiches, todos da
dinastia Ming, do reinado do Imperador Wan-Li. F aiem parte
da coleção do erudito colecionador Flácido Gutierrez.
Cortesia de José Teixeira Leite.

293
Séc. X V I I PORCELANA CHINESA
249

Poticbe raro da dinastia Ming, caracterizado


por um azai pálido, quase esmaecido, de dese­
nho delicado com ramos de bambu e pássaros.
Coleção Plácido Gutierrez (Rio).

Vaso cilíndrico úho, classificado como sendo


da Família Verde, reino de Kang-flsi, ainda
do século X V II. Linda decoração em que
prevalece a folhagem e num arranjo deco­
rativo aparece ao alto et fehuar.g (fêmea
do pavão) símbolo da Imperatriz chinesa.
Cortesia Museu Calousle Gulbenkian.

Frasco pirífortne, em azul e branco, facetado da dinastia Ming


(I368-J644), da coleção do Museu Internazionale delle Cera-
miçhe-Faenza. Peça provavelmente destinada ao mercado pcrsa-
-ntuçuhnano pelo acabamento em metal adamascado da parte
superior,
Cortesia de Gian Cario Bojtml {Itália).

294
S ic s . X V I I I X V U I LOUÇA CHINESA
(Swatow)

A s peças expostas acima são do gênero classificado como


Swatow, foram todas encontradas no Brasil. O boiõo de cima
e o prato de baixo à esquerda fizeram parte da antiga coleção
pernambucana e pertenceram ao Dr, Renato Magalhães de
Gouvcã; a. pequena malga {colorida) é proveniente de Recife
e faz parte da Coleção de A ntônio Carlos de Noronha, As
duas tigelas da direita, são uma só (vista de dentro e vista
externa, podendo-se observar a rugosidade da base e o
"double ring’’ uo frete), Ã direita cn\ bairn, fragmento de prato
Swatow, proveniente do naufrágio du hhh de M ont Serrat, Sobre
peças Swatow em colorido ver John Ayers -e David Howard
"China for the West", Londres, 1979,

295
261

Série de potes com tampa em porcelana de diversos tamanhos


e com diversas tonalidades de azul cobalto e com desenhos em
traços finos e também com pinceladas grossas opacas, Segun­
do um perito oriental (King Kong Lee, Hong-Kong) são peças
de um período de transição entre M ing e Kang-Hsi {1642-
-1722), portanto ainda do século X V II, mais provavelmente.
Os dois 'potes de baixo à esquerda, de fundo chocolate com
reservas douradas e em preto (a policromia do rougn de fer
e do ouro desapareceram) é do tipo conhecido por Eatávia,
m uito apreciado na Holanda. Chegavam no destino carregando
noz-moscada ou outra especiaria, razão por que na Bahia são
eles classificados como “nozera“ nas Museus c entre particula­
■■ - C C'l r e s .— A rquivo do Autor.

296
Sic. X V ll PO R C E LA N A CHINESA
{Estatuetas Femininas)

262

Estatuetas fem ininas do folclore sino-hindu, no sistema do


"biscuit emaillé", executadas em fogo atlo, ou seja, com 05
esmaltes resistentes cozidos ao mesmo tempo que a pasta (seja
ela de grés ou de porci‘/aní!j. A s cabeças e as mãos são em
bise ui! (foscas). N ote a elegância da modelagem c a excelência
dos esmaltes densos, cores definidas e brüho forte. Este fogo
de estatuetas, juntas com outras que ainda iremos comentar,
foram gentilmente classificadas pelo Sr. Li W u Psn {diretor do
Museu Imperial de Pequim) c foram atribuídas ao período de
Tien-Chi (1-621-27) dei dinastia M1NG. Estas figuras continua­
ram a scr reproduzidas até o final de K ien Lung ou seja fintã
do século X V III, por serem n ã o s ó muito apreciadas nn China
como tidas como "bihelots“ de luxo em vitrinas e sobre
móveis ocidentais -— o livro recente "Chine-Fotcric Biscuit -
(d•cs" — ‘edição A BC — Itália, 1976, texto d( Jcan Paul
Desroches et Aíain Jacúb, na pâg. 3 e tuis estampas do Sábio
e do Grupo de dois músicos, dá-nos urrí exemplo dessas cópias
que pecam sem dúvida, nos detalhes tanto da cocção como dá
qualidade- da pasta sobre os originais de Tíen-C/ri. A s figuras
isoladas de damas, são conhecidas pelos ingleses por “Long
Elisas". — A rquivo do Autor,

297
Séc. XV ü PORCELANA CHINESA
(Estatuetas Masculinas)

Quatro figuras masculinas, três em " bise uit-êmaiUé“, sobre


porcelana c uma sobre pasta de grés. A primeira d direita ao
ai to ê m uito importante, pois segundo o Aíuseu de Kyoto,
foram copiadas no Japão (são iá conhecidos por boneco) e
cem também reproduzidas em obras japonesas corno modelo
copiado. Esta e as demais são do período do imperador chinês
Jien-Chi (1621-27) da dinastia Síing. A figura sentada rnenúr
é em grés e trata-se de um de fum ador m uito em uso nas
casas e templos orientais, — A rquivo do Autor,

O par de “bonecos" existentes no Museu Nacional de A rte


A ntiga. ao contrário do que está em cima, é todo esmaltado
e atribuído ao final da dinastia Ming. Estes bonecos continua­
ram a ser copiados no período dc Kang-lfsi.
Cortesia do Museu Nacional de Arte Antiga [Portugal).
PORCELANA CHINESA BRASONADA

porcelana chinesa brasonada Quer nos parecer, após estudos e ponderações,


também aparece relacionando-se que tal peça pertenceu ao vulto mais proeminente
com o Brasil e convém notar que daquela ilustre família no século XVII. Trata-se de
nos primeiros serviços, e.m dois Dom Jerônimo, filho primogênito do 5.° Conde de
deles foi usada a cor preferida e Atouguia, Dom Luiz, que morreu em 1639, casado com
-mais em voga na época: o azul D.a Filipa de Vrlhena, conspiradora com seus filhos
cm seus variados tons. contra o domínio da Espanha, Dom Jerônimo foi um
Um fidalgo, António de Albuquerque dos ardorosos revolucionários e conquistou “celebri­
Maranhão, capitão-mor da Paraíba e do Maranhão, dade” na Corte, desempenhando importantes cargos
que lutou ainda jovem contra os franceses e foi um tanto no Reino (governador de Trás-os-Montes, do
dos mais ardorosos guerreiros frente aos batavos, filho Alentejo, capitão general da Amada, conselheiro da
de Jerônimo de Albuquerque Maranhão, senhor do guerra do Conselho do Estado, etc.), como no Brasil,
engenho Ctinhaú, e neto da índia Dona Maria do onde ocupou o importante cargo dc capitão-general,
Espírito Santo Arcoverde (Uirã-ubi), é quem abre a
É de notar que as armas apostas na jarra do Museu
série luso-brasileira dos serviços armoriados conhecidos
Nacional dc Arte Antiga, se assemelham das estampas
em porcelana chinesa. Isso, de acordo com a classifi­
exibidas cm a “Nobreza de Portugal”, pág. 335, É de
cação consta nLe da Cerâmica Brasonada -do Conde
Castro e Sola insigne heraldo-genealogista c autoridade se observar que nas armas exibidas em documentos,
retratos e peças de porcelana dos Atouguias, prevalece
em cerâmica histórica.
A estar certa quanto ao possuidor a classificação o coronel de marquês sobre o de conde, pelo fato
acima, teríamos então um fidalgo já de geração brasi­ conhecido de um dos antepassados, Dom Luiz, que foi
leira, (pois além de ser filho de mameluco, nasceu no duas vezes vice-rei da índia e recebeu o título de
Brasil e bateu-se valorosamente por sua libertação) Marquês de Santarém em 1580. Basta observar o
entre os primeiros no Ocidente a ostentar um serviço brasão c o coronel da peça do Museu das Janelas
brasonado em porcelana da China. Isso porque, Verdes, classificada como do século XVII, exibida por
constituem exceções, peças armoriadas anteriores ao Beurdeley <l0>, o medalhão do Museu Guimet do meado
período de Kang-Hsi (1662-1722), sendo corrente o do século XVIII, o do Museu Arqueológico de Recife
conceito de que o fabrico dessas baixelas teve início (Brasil), também do século XVIII, entre outros exem­
no último quartel do século XVII, mas que sua produ­ plares, com as mesmas características básicas,
ção regular só começou no século XVIII. Segundo Lafitau (u\ o título de marquês, foi
Por essas considerações, para nosso desvaneci­ conferido em 1580 quando Dom Luiz, exercia o seu
mento, o fidalgo António dc Albuquerque Maranhão segundo mandato de více-rei (de 1579 a 1583) por­
teria sido o primeiro elemento euro-americano a esta- tanto ainda em vida de Dom Luiz. A alusão a esse
dear um serviço armoriado em porcelana chinesa. marquesado foi mantida de regra, pelos descendentes
Porém, existe ainda o serviço com as armas dos encimando o escudo dos Atouguias, conforme prova a
Costas, e que segundo Castro e S o la p e r te n c e u a Estampa da Biblioteca Nacional (que é do século
D. Rodrigo da Costa, governador e capitão general do XVII), com coroa de marquês hoje no Arquivo
Brasil e vice-rei da índia (1707). Tomou posse na do Museu Nacional de Arte Antiga.
Bahia em 1702, permanecendo no posto até 1705.
Há também que assinalar uma jarra do Museu No século XVIII, voltaremos a nos referir a essa
Nacional de Arte Antiga, catalogada como da família ilustre clan e a outros serviços pertencentes a outro
Ataíde, em duas cores, do século XVII. membro também dc grande projeção dos Ataídes.

299
Séc. XV U PO R C E LA N A BRASONADA
(Albuquerque — Costa)

Q prato rie cim a. segundo o Conde de Castro ê Sola, perten­


ceu a A m ónio Albuquerque Maranhão, capitão-mor da Paraíba
e do Maranhão — um dos bravas na lula contra os holan­
deses. O prato de haixo com as armas dos Costas, segundo a
•liesma erudita fo n te , pertenceu a B o m Rodrigo da Costa,
governador e capitão-general do Brasil. {Conde de Castro e
Sota — "Cerâmica Brasonada " — estampas X C V tl e C L IV ).
OBS.t Segundo já observamos a propósito do prato em faiança
de D om Rodrigo da Costa, há uma citação de Clare t e
Corbeilier, com entando um a grande c beta bacia em Companhia
das Índias do m esm o serviço de que o aparelho poderia ter per-
trnr.idn a um hom ónim o: D om Francisco da Costa, gover­
nador de Macau {1691/93). Vide. David Howard e John Aycrs,
cb. cit, págs. 80/81 — estampa 33,

300
sêc. xvii PO R C E L A N A CHINESA
(Ataíde.)

267

Á T T A ID IV S A T T O G Y L C C 0 -
M È^;O LlM V L T R A ,A IO N X A N /L PROVTNCLÇ
N V SfevT 0 T L V S B R A S ÍU /E M O D E R A T O R .
ANNO. NÇTXH -S' SV/£._ X X X V IIÃ ' . ....
“] ERÔ NIM O DE A TA ÍD E , Conde de Atouguia, outrora moderador
(governador) da Província dc Trás-os-M otites (Transmontana) agora
moderador (governador) de Todo o Brasil. A no de sua idade 37 anos".
Note-se que o coronel da Estampa não é positivamente de Conde,
porém assemelha-se ao de Marquês com a presença de diversos florões,
(Estampa atualmente existente no Museu Nacional de A rte Antiga,
proveniente cia Biblioteca Nacional — Lisboa).

A estampa com o retrato âc D om ierônim o e com as armas


dos A taídes ao iodo, e o elegante gomil chinês, com a inter­
pretação do mesmo escudo e do mesmo coronel, não deixam
dúvida, a nosso ver, quanto a origem do uso da coroa de
marquês com o escudo dos Ataídes, pelos condes de Atouguia.
A representação é d e D om Ierônim o de Ataíde, o mais desta­
cado membro da família no século X V II, e que ocupou elevados
cargos tanto em Portugal como no Brasil, .depois de 1640, o\t
seja da Restauração, razão por que atribuímos a ele o gomil
de que reproduzimos também detalhe, que coincideníemenie
com a gravura, exibe a coroa de marquês. N o Brasil exerceu
o cargo de Capitão-General, com 37 üitos de idade,- O mesmo
gomil ê representado por M ir hei Beurdeley (oh, cit.) mencio­
nando que pertenceu a família Ataíde. e é do século X V II ,
sem especificar no entanto, qual de seus membros fo i possuidor
da peça ou do serviço.
Cortesia do Museu Nacional de Arte Antiga — Lisboa.

301,
Séc. XV II PO R C ELA N A C H IN ESA A R M O R IA D A
(M ello ou Almeida)

Segundo classificação do M usei Guimei (especializado em porcelana tia China), traia-ie de praia fundo com oito lobas na
aba, decorados de flores e com as armas das Mellos ou dos Almeidas, do período de reinado de Kang-Itsí (iü 22-1722),
Peça em azul e branco {ficha G-266-1 — Paris), Deve admirar-se a bela composição do desenho e o arranjo ornamental
do paquife cm volta do escudo.
Clichê fornecido por Cortesia do hiitseé Guimei, Paris.
O f i S . : (Va rica Coleção tio Museu do Carãtnulo {Portugal) — Fundação A bel d c Lacerda —- existe um prato çom (J1 armas

e paquifes idênticos, porém de aba diferente, atribuído ainda ao período IVan-LI (ÍÍ73-I62Q).

302
V - FAIANÇA

ste é também o século em que pousar sobre toalhas rendadas ou adamascadas dos nos­
as faianças portuguesas, acom­ sos bufetes. Vêm essas louças animai de cores e corpo-
panhando o suno vigoroso de riflear de formas os ambientes coloniais e dar um toque
sua azulejaria, aprimoram-se e cosmopolita à mesa e aos ambientes luso-brasileiros.
se diversificam. £ ainda esse século, o do confronto nas casas re­
Aparecem das nos lares de quintadas entre a porcelana chinesa em plena exube­
nossos antepassados ataviadas rância, a porcelana européia que já circula entre as
de novas roupagens, numa floração alegre c prolixa de cortes e a faiança veterana, ainda em plena forma e
cores e motivos, exibindo formas novas e elegantes que fastígio.
o rococó lhes imprime. A coexistência da faiança lusa com outros artigos
Ainda peio primeiro terço do século, as louças cerâmicos dos mais reputados então aplica-se pelo
fabricadas na Metrópole (faianças ou louça vidrada), grau de qualidade e de atração conferido pelos oleiros
que aportavam ao Brasil, ou pelo menos aquelas que e artistas lusitanos aos seus produtos, e também* pelo
chegavam ao porto do Rio de Janeiro, vinham apenas sèu preço mais acessível, já que o governo real protegia
com a designação lacônica de Lisboa ou do Porto. A a exportação com redução de taxas, como veremos mais
designação usada no século XVII de ‘‘louça do Reino” adiante.
desaparece dos inventários assim como a “louça de A faiança portuguesa, no correr do século, vai rom­
Talavera”. pendo aos poucos com a sinomama do azul e branco,
A pauta da dízima da Alfândega do Rio, do ano para voltar de preferência à variada paleta da Natureza
de 1739, éum documento de alto teor sócio-económico, que os esmaltes reproduzem. Assim eia passa a oferecer
pois indica a procedência e os valores de todas as mer­ um novo repertório bem como acrescenta uma nova
cadorias importadas pela Colônia naquela época, e no linguagem franca e colorida à cerâmica metropolitana,
tocante aos artefatos cerâmicos, nós fornece preciosos exibindo tanto pinturas e formas eruditas, que seus artis­
informes: d) tas executam seguindo a moda, como o traço espontâ­
neo e o colorido fresco de seu rico artesanato popular.
Louça fina da China, a dúzia — 96Ö réis Quanto ao estilo, vimos que ao findar o século
Louça fina de Veneza, ” ” — 600 réis XVII, os oleiros portugueses já se libertavam da preva­
Louça fina de Lisboa, ” ” — 160 réis lência chinesa e da mourisca na decoração.
Louça fina do Porto, " ” — 160 réis
O século XVIII terá a sua linha mestra estilística
Louça grossa de Lisboa, ” ” — 80 réis calcada preva lente mente nos motivos ç formatos euro­
Louça grossa do Porto, ’’ ” — 80 réis
peus, predominando a influência francesa. A esse res­
Mas na segunda metade do século XVIII, a pro­ peito, Joaquim de Vaseoncelíos é positivo: “Se algum
dução dos centros cerâmicos portugueses não se limita país influiu sensivelmente sobre a indústria oleira portu­
mais a essa designação vaga e geral de “louça grossa ou guesa, foi a França com sua faiança de Ruão, cujas
fina de Lisboa ou do Porto’’. peças serviram de modelos no segando e último terço
A produção se avoluma, os centros oleiros saem do do século XVIII.”
anonimato regional, índividualizam-se e ganham perso­ O governo real associa-se ao esforço generalizado
nalidade própria, e as fábricas que se espalham pelo de produzir, e Pombal em 7 de novembro de 1770,
território luso, passam a orgulhar-se de seu nome, como expede alvará proibindo a entrada no Brasil de toda a
seus artistas, passam a ser conhecidos por suas criações. louça fabricada fora do Reino, à exceção da que viesse
Assim surgem Massarellos em 1738, a Real Fábrica da índia ou da China, em embarcações portuguesas,
do Rato (Lisboa) sob patronato real em 1767, a de assim como isentava de direitos por saída toda a
Juncai em 1770, a de Viana (Darque) em 1774, a de louça fabricada em Portugal.
Miragaia (Porto) em 1775, a de Santo Antônio do E o volume dessa exportação de faiança para o
Vale da Piedade (Jerônimo Rossí), em Gaia, cm 1785, Brasil passou a ser realmente de vulto. Relata-nos
a de Afurada em 1789, a do Cavaquinho em 1794, e Arthur de Sandão ®, que só a Companhia Geral do
ainda outras. (Sobre o histórico desses estabelecimentos Grão Pará e Maranhão e â de Pernambuco e Paraíba
reportamo-nos ao primeiro capítulo — Faiança-Por- (entre outros armadores que traficavam com a colônia)
tugal.) encomendavam à fábrica do Rato, a primeira delas,
São os produtos desses centros que ao lado da . faianças ■no valor da avultada soma de 741,225 réis e
custosa “louça fina da China”, ou seja, de porcelana a segunda milhares de pratos no valor de 725,185 réis!
chinesa, e das reputadas “louças de Veneza”, ou seja, Diz-nos ainda o erudito autor: “O Brasil era então
da fina porcelana mole italiana, ou ainda da clássica o principal mercado ultramarino da chamada louça fina
“louça de Olanda”, ou seja, da faiança de Delft vêm cie que em 1789 o Padre Agostinho Rebelo da Costa,

■323
dizia haver produção locai bastante par3 prover uma Souza — 4.° Conde de Vimieiro, nascido em 1735, e
grande parte do Reino e das suas contjuistas ■ falecido em 1790, filho de D. Diogo de Faro e Souza,
Aquele alvará de 1770 d= proteção e incentivo de o 3.° Conde que foi capitão de infantaria no Brasil e
Pombal aos fabricantes metropolitanos volta a ser revi- neto do 2.° Conde de Vimieiro, governador e capitão
gorado por D.a Msri* f» erri ^ de fevereiro de 1794, general de Mazagão c do Estado do Brasil (que herdou
*'a pedido de João da Rocha e outros proprietários de a Capitania de São Vicente por casamento com a filha
d iferen tes fábricas d e louça fina”, <31 que pedem seja de Pero Lopes de Sousa) e faleceu na Bahia em 1719.
reduzida também a taxa de entrada no Brasil. De consignar ainda, na parte histórica que nos diz
Com essas medidas, o uso das “louças finas” de respeito, um prato de faiança azul e cor de vinho, do
Portugal, como era então designada a faiança, pôde Rato, com ás armas dos Freires íl0>. Tem a legenda
ftnnar-se e expandir-se, pois que seu preço, se tornava "Ave-Maria Gratia Plena”, e troféus de guerra, em volta
mais acessível que os produtos finos de outras proce­ do escudo. E o brasão usado pelos condes de Bobadcla.
dências, livre que ficava do duplo' gravame de "saída O prato, segundo Castro e Sola, pertenceu ao 2.° Conde
do Reino e de “entrada” no Brasil, de Bobadela, José Antônio Freire de Andrada, gover­
Mas a faiança metropolitana, apesar das medidas nador interino do Rio de Janeiro e de Minas Gerais,
protecionistas fiscais, não era a única faiança usada no nascido em 1708 e falecido em 1784. Este José Antônio,
Brasil. A holandesa apesar dos entraves, se faz também era irmão do l.° Conde de Bobadela, Gomes Freire de
presente. Andrada, do Conselho de D. João V, e de D. José I,
Em 1789. o inventário de Frei Manuel da Ressur­ 1A Capitão general do Rio de Janeiro e Minas, comissá­
reiçãow , entre numerosas pratas e alfaias, reúne, rio e l.° plenipotenciário nas conferências sobre
também o seguinte: os limites do Estado do Brasil, com as colônias espa­
“quatro temos de pratos compridos de dúzia ,, nholas, etc. Segundo Wasth Rodrigues bO, foi ele quem
cada terno de louça de Olanda azul e dois pires, mandou executar em 1743, o Paço da Cidade, para
TrÉs pratos compridos pequenos da mesma louça residência dos Governadores no Rio, no qual, em 1808,
se instalou a Família Real.
Cinco terrinas azuis com seus pratos e tampas de
louça fina de Olanda De referir-se ainda a um serviço, provavelmente de
fabrico do Porto, de decoração azul com as armas dos
Uma sopeira sem tampa azul de louça de Olanda
Almeidas e cena galante, que pertenceu a outro perso­
Um prato comprido azul e fundo de louça de nagem ilustre de nossa história D. Antônio de Almeida
Olanda”. Soares e Portugal, 4.° Conde de Avintes, l.° Conde e
Quanto ao acervo encontrado no Brasil e as peças l.° Marquês do Lavradio. Nasceu em 1701 e faleceu
de interesse luso-brasileiro, há que se tecerem várias em 1760. Primeiramente foi governador capitão general
considerações. de Angola c depois 8.° Vice-rei do Brasil <l2>.
Diversas peças foram fabricadas para D. José I, De consignar-sc também a travessa recortada com
2ô.° rei de Portugal (1734-1777). Campos e Sousa nos relevo na orla c ramagens na aba, e brasão de armas no
aponta duas executadas peia Real Fábrica do Ratq: uma centro que fez parte do serviço em faiança de Darquc,
terrina ricamente modelada, toda esmaltada a branco, de João Pereira Ramos de Azeredo Couljnho, nascido
tendo no bojo o brasão de armas reais í53 e um pote no engenho de Marapicu (Rio de Janeiro) em 1722 e
inédito, também do Rato, fabricado entre 1767 e 1777, falecido em 1799. Entre os diversos e importantes cargos
bastante decorativo porém com as armas reais heraldí- que desempenhou, alinha-se o de desembargador da
camente imperfeitas w. Relação da Bahia em 1763, A travessa no centro apre­
Jenny Dreyfus371, ao comentar a produção da faian­ senta o escudo esquartilhado com as armas dos Moreiras
ça lusa, destaca a Real Fábrica do Rato e nos informa — Azeredos — Coutinhos e Pereiras,(l3)
sobre outros serviços históricos por ela fabricados: “Dos Do que chegou até nós, do grande acervo cerâmico
melhores exemplares, citamos as peças destinadas aos brasileiro, o mais abundante é, fora de dúvida, o da
palácios e jardins reais, especialmentc as que foram porcelana chinesa, mas a faiança, apesar de sua friabi-
fabricadas para o Marquês de Pombal. Há dessa época lidade, não deixa de fazer boa figura no século XVIII.
um famoso tanque para peixes que pertenceu aos Vis­
Além das numerosas peças de interesse artístico c
condes de Asseca. Na parte bojuda da peça se vê o histórico, relacionadas linhas atrás, o Museu das Artes
brasão dos Condes de Vimieiro”. da Bahia, Casa Goes Calmon, antigo Museu do Estado,
Ainda da Fábrica do Rato, Arthur de Sandão nos apresenta o melhor mostruário. Carlos Eduardo da
aponta lindo covilhete, em forma triangular, recortado, Rocha aumentou o acervo do Museu com a aquisição
policromado, com as armas de Pombal ao centro, ladea­ que fez de uma coleção baiana em que se incluem boiôes
das por dois anjos, w e “aib arelios” do século XVIII, entre outros modelos
Outros estabelecimentos executaram também servi­ cerâmicos de diversas procedências de fabrico. O Museu
ços de mesa para o Marquês de Pombal, Sebastião José Costa Pinto também apresenta algumas peças de faiança.
de Carvalho (1699-1782), personagem que dominou a O Museu de Arte Sacra de São Paulo guarda uma
administração e a política lusas do século XVIfl e pro­ caneca, relíquia que pertenceu a Frei Galváo, No Museu
moveu entre numerosas medidas, a intensificação do do Instituto Arqueológico do Recife, existem várias
comércio com o Brasil, com a criação da Companhia peças em faiança de Delft, marcadas, do século XVIII
Grão Pará e Maranhão: são as fábricas Nacional do (1741) e uma pequena salva (de galhetas?) provavel­
Porto, referida por Castro e Sola c a de Massarellos, mente do fabrico de Lisboa (presumível do século
também referida por Jenny Dreyfus. XVII), da Companhia de Jesus.
Com referência ao tanque de peixes de decoração Entre colecionadores, figura D.* Beatriz Alves
policromam, pertenceu ele a D. Sancho de Faro e Lima, com artístico tinteiro de faiança francesa de

324
Marseilie com a marca da Viúva Perrin, assim como o Quanto à faiança fina portuguesa (louça pó de pedra
príncipe D. Pedro Gastão de Orleans e Bragança, pos­ e variantes) consideramos muito restrita a sua presença
suidor de linda terrina do mesmo fabrico. no Brasil, apesar das fábricas de Miragaia e de Cava­
Em São Paulo, o erudito colecionador, o saudoso quinho, ainda dentro do século XVIII, obterem isenção
José Gonsalves, reunia diversos exemplares de faiança de impostos por alvará régio de D.a Maria I. Porém so­
portuguesa, francesa e espanhola, adquiridas no mercado bre a entrada daquela louça no Brasil há de consignar-se,
local, há mais de cinquenta anos. A ilustre viúva, a pin­ no entanto, um serviço para nós importante em pó de
tora D,a Anita, brilhante aluna de Pedro Alexandrino, pedra, (de mesa e de chá) branco, moldado, com as
ainda conserva parte dessa coleção, da qual adquirimos armas estampadas na aba em preto-cinza e coronel, de
um prato da Catalunha (século XVIII) e uma travessa D. Marcos dè Noronha e Brito — 8.° Conde dos
recortada com marca de Viana (século XVIII), Arcos e 15 .° 'Vice-rei do Brasil (o último). O escudo
esquartejado é encimado por coroa de marquês pelo
No Rio de Janeiro o colecionador (e leiloeiro) fato de D. Marcos pertencer também à Casa dos Mar­
Antônio Leon Filho, guarda uma terrina policromada queses de Angeja (Vide à respeito o brasão colorido
da fábrica da Bica dos Sapatos (1775) assim como uma do Conde dos Arcos in Anais do Museu Histórico
esbelta ânfora em faiança francesa de Sceaux ( “têtes Nacional, vol. m , 1942).
de bélier” com alças) cerca de 1800. Quanto ao grés, não topamos com menções de sua
Permitimo-nos, nesse final do sub-capítulo da presença no século XVIII, mas d e já era de uso entre a
Faiança, de dizer algo sobre outras duas categorias cerâ­ população holandesa da ocupação no Nordeste no
micas que não foram destacadas no Sumário pelos pou­ século XVII. Com maior razão, acreditamos que o grés
cos elementos colhidos a seu respeito referentes ao já estivesse disseminado, tanto cm Minas, como nas
século XVni: o pó de pedra e o grés. Capitanias do Sul, no final do século XVIII.

272 a

Xícara e pires armoriados, em jaUmçit


fina, do S.° Conde dos Arcos e 15."
Vice-rei do Brasil D. Marcos Noronha
e Brito (1771-1828). Serviço atribuído à
fabrico português e ao fim do síc. X V III
ou começo tio X IX .

B I B L I O G R A F I A

( t ) Arquivo do Estado de São Paulo — “Documentos Inte­ (8 ) A rthur de S andão, oÈ>. cit., pãg, 99, fig. 82.
ressantes" — vol. 45 — págs. 133 a 174.
(9 ) O .NP11 de C astro e Sola — uC e r â m ic a B r a s o n a d a ",
(2) A rthur de Sandão — ob: cit., pSg. 19. vol. II, pãg. 157, estampa CXCI,

(3 ) Arquivo Nacional — códice 441 — pág. 50, Rio. (1 0 ) C onde de C astro e Sola — o b . cit. — estam pa LXL
(11) W asth R odrigues — ob. cit., pág, 192.
(4 ) Arquivo do Estado de São Paulo.
(12) C onde d a C astro e S ola — ob. cit, e Max F luss —
(5 ) José de C am pos e Sousa — " A Louça Brasonada ino “História Administrativa do Brasil" — Rio — estampa
Arranjo dos Interiores Portugueses dos séculos X V I a cvrii,
X I X " — pãg. 30 — Lisboa, 1970.
(13) C onde ne C astro e Sola - vol. II, estampa CCXXV11,
( 6 ) Joséde C ampos e Sousa — "A propósito de cerâmica coleção Dr, João Luiz da Fonseca,
armoriada’’ — fls. 21, cst. fis. 17 — Braga, 1976.
(7 ) J enny D eeyeus ■— "A nais do Museu Histérico Nacionai'‘ Jeanne G iacomotti — '‘Céramique’’ — 3 vols. Flammarion
— vol, III, pãg, 293. — Paris.

325
See. X V III FAIANÇAS HOLANDESAS NO BRASIL
273

O medalhão çom veleiros £ casas no centro, está marcado' è


fo i fabricado no ateliê conhecido por " A Grego" de Delft,
ano de 1765. Coleção do Autor. O prato redondo em azul e ‘
branco, lendo no verso a marca B~P, pertence ã coleção do
M useu do Instituto Arqueológico de Recife (Pef e corresponde
ao ano de 1741, O museu possui vários exemplares do mesmo
ateliê holandês.

274

O potiche de forma barroca com tampa poiicromada, com


predominância de azul e violeta, obedece a form ato ainda do
séc. X V II (vide exemplar no South Kensington M useum com
“Chinoiseries") marcado de L. Sandents — (vide Pitcairn
K now les — ‘‘Dutch Pottery and Porcelain" —- London, 1915,
pag. 50 verso e -SO). Coleção Autor.

326
Scc. X V U l FAIANÇAS NO BRASIL

276
Eira sopeira portuguesa poliçromada c atribuída à fábrica da
Bica dos Sapatos e de cerca de~]775. N ão traz marca.
Cortesia de A ntônio Leon Filho (Rio).

277

A elegante ânfora com tampa e alças em "tâte de bélier" e


-decoração de flores e guirtandax, tem a marca em azul SP
que corresponde às faianças francesas de Sceaux — cerca de
isno..
Coleção de Antônio Leon Filho (Pio),

278

A elegante terrina barroca faz parte de um serviço cotn deco­


ração flora! ú de marinhas. Foi presente de casamento de
Dom Pedro Gnslao áe O tia m s c Bragança çom Dona Espe­
rança de Bourbon.
(Faiança de Marselha —- Vva. Pcrrin),

327
FA IA N Ç A S D IV ERSA S
279

280

à njora em faiança com flores em relevo no local das alças c


da pega (ia lampa, do fabrico de Marseilie, da fábrica da.V va
Perrin {1750~1770), marcada.
Cortesia do M useé National de Céramique de Sèvres,

2S1

Vaso de form a alongada, canelado com


lampa, encimada p ó r.itm leão, cm azul
e branco e fina decoração, T dm a marca
de um dar mais famosos.ateliês de D eift
de  rent Lootingf proprietário da “Piai
de Porcelaine” cm J706. Vide Dictio--
noire de FA ncienne Faieacc de Deift,
pág. 17 — Paris, 1947. Forma um par
e fa z parte do acervo da Fundação
Maria Luisa e Oscar Americano, S,
Fdulo. M ede mais ou menos 65 cm.

A caneca que se divisa ao lado do crucifixo, faz parte da


coleção de objetos que pertenceram a Frei Gaivão e acham-sc
recolhidos no Convento da Luz no M useu A rte Sacra dc São
Pauto. A caneca é de faiança portuguesa, com cercadura em
azul e vinOso, século X V III.
Cortesia da direção do Museu de A rte Sacra de São Pauto,
(fotò M e reator - Gráficos B runntr - São Paulo)

328
s íc s . x v in/xix F A IA N Ç A PO RTU G U ESA E ESPA N H O LA
N O BRASIL

O medalhão à direita, com uma nau em que se divisam, num dos mastros. as armas reais portuguesas. í catalogado como do
século X IX e faz parte das coleções do A ntigo Museu do Estado da Bahia , j em marca. A travessa de baixo é recortada e de
decoração vinosa, marca Viana,
O prato de arroz em cima. ã esquerda, çora um pássaro no centro e sanefas na aba c de meia-faiança e. originário da Cata­
lunha (Barcelona), do século X V III. peça adquirida da arsliga coleção José Gonsaives __ $. Paulo,

329
séc. xvm FAIANÇA PORTUGUESA

285

Cachorro da Real Fábrica do Raio. (Bruneio).


Conc.ua de José Mana Jorge (Portugal).

286

Tulipeira ou “jarra, de lavas", corno é chamada em Feri usa!,


de adorno caseiro ou de altar, faiança a tu i e branca (Porto?).
Coleção José G om es Ferreira (Porlugal),

330
VI - PORCELANA CHINESA

abe, a esta altura, um esclare­ comércio oriental castelhano, onde aportavam os jun­
cimento geral sobre o que é cos chineses, vindos de diferentes pontos da costa
chamado louça ou porcelana da chinesa A ligação marítima era Manilha-Acapulco,
índia ou da China e louça ou Em 1733, é fundada a Companhia Real das Ilhas
porcelana Companhia das ín­ Filipinas, criada por Felipe V, que não se revelou prós­
dias, e a razão de ser de outras pera. Em 1785, é fundada uma outra Companhia das
designações que iremos apontar. Filipinas por Francisco Cabamrs, banqueiro.
Vamos assistir, do começo do século XVII em E a Europa com tantas nações envolvidas nesse
diante, ao desmantelamento da vasta organização tráfico, passa a ser abarrotada dc artigos asiáticos,
montada pelos portugueses no Oriente, e ao assalto do Para se ter uma idéia do volume desse escambo,
mercado oriental por vários países europeus que dispu­ só a Companhia das índias Orientais Holandesa
tam cupidamente os despojos dos lusitanos. (V.O.C.), importou entre 1602 c 1682, num período de
As águas asiáticas passam a refletir os pavilhões oitenta anos, nada menos do que 12.000,000 de peças
dc outras nações, quando não se colorem com o sangue de porcelana, sendo 1,900.000 de origem japonesa e
de acesas lutas. Levam aqueles símbolos ao Oriente, 1.450.000 de Tonklm, estas entre 1663 e 1682(2).
menos os benefícios de uma civilização esclarecida e os Isso, no século XVII, porém entre o século XV1I1
elevados princípios da moral cristã, do que o espírito e o XIX, num período de cem anos, abrangendo o pleno
materialista do mercantilismo e do colonialismo inter­ apogeu da exportação chinesa, a Inglaterra importou,
nacionais que já tomam expressão c vulto, segundo estimativas, entre 25.000,000 e 30.000.000 de
São os ingleses (1599-1600), os holandeses (1602), peças.
os dinamarqueses (3616), os franceses (1673), os Quanto a Portugal, é estimado que fez aproximada­
austríacos (1751) e os suecos (1766) e ainda outros mente 1.200 viagens de tda c volta ao Oriente até
que fundam suas Companhias das Índias, ou empresas 1800, assim como a importação lusa é calculada em
equivalentes organizam expedições, cujas naus vão se 12.000.000 de peças até aquela data. Para se ter uma
misturar pelos mares das índias c do Extremo Oriente, ideia do que representava uma expedição de ida e de
procurando abrir e fixar feitorias. “torna viagem”, têm-se as seguintes indicações: no
Nesse rol, incluem-se os americanos que em 1787, século XVI, a duração média era dc três anos; no
conseguem estabelecer um entreposto em Cantão, pas­ século XVII, de dois anos e meio; c no século XVIII,
sando a desenvolver utn intenso comércio que irá pro­ de treze a vinte e quatro meses tJ>.
longar-se pelo século XIX a dentro, com os seus velozes E a Europa familiarizando-se com os produtos impor­
"Clippers”. tados, sofre a influência daquelas remotas e antigas
Mas nesse tráfico, cabe também um papei impor­ civilizações, como passa a seu turno a influenciar a
tante à sócia de Portugal na partilha de novos mundos produção cerâmica oriental.
Castela. Os castelhanos por intermédio do português Ê quando se inicia o fabrico regular, em larga
Fernando Magalhães e de seus oficiais, estabelecem escala, no gosto c nos moldes e orientação européias,
contato com o Extremo-Orieníe, chegando às Filipinas. o que deu origem, no tocante à porcelana, à classifica­
A frota dc Magalhães saí em agosto de 1519, da Espa­ ção de louça ou porcelana “Companhias das índias".
nha, com seis embarcações e pelos idos de Setembro Informa Daisy Lion Gpldsmich; “Costuma-se designar
de 1522, ao final de mil peripécias, e após a morte do sob o nome de Companhia das índias, toda esta porce­
Capitão Sebastião Elcano, um dos poucos sobreviventes, lana destinada ao Ocidente".
retorna à Sevii ha, com uma única Caravela — a Vitória, Essa classificação aplica-se a um período da pro­
Vinha esta nau carregada de artigos orientais. Desde dução cerâmica chinesa — o da maior intensidade de
então, o contato dos espanhóis com o Oriente é mantido fabrico, de cunho alienígena ou com característicos
sobretudo através da Nova Espanha (México), que constitucionais diferentes, para os mercados externos —
recebia as mercadorias, como sedas, algodões, especia­ aproximadamente cento e sessenta anos, começando
rias e porcelana, na costa do Pacífico cm Acapulco, e as ainda no último quartel do século XVII, vindo a ter­
transportavam por terra ao golfo do México (Vera minar nominalmente em 1834, quando cessam as
Cruz), onde as frotas castelhanas as levavam, com o atividades comerciais da Companhia Inglesa, embora
ouro c a prata, para os portos peninsulares ibéricos. tenha continuado o fabrico de louça para o Ocidente,
Era o de Sevilha que concentrava esse tráfico, existindo já em menor escala, e embarcações, veleiros e navios
lá a famosa “Casa das Índias”, onde eram negociados os de outros armadores, empresas e nações continuassem
artigos ultramarinos, e cuja construção monumental trazendo para seus mercados, como é o caso do Brasil,
abriga ainda hoje os “Arquivos das índias”. México e Estados Unidos.
Manilha, fundada em 1571, era o centro do (segue na pâg. 334)

331
Séc. X V III EMBARCAÇÕES HOLANDESAS

Tipo de nau de carga de luxo', com equipamento de guerra,


destinada a carreira das índias Orientais.

Tipos de embarcações pesados de carga gênero das earracas


portuguesas, apelidadas pelos batavos de V LJE T E N .

332
SEDES DAS CO M PAN HIAS DAS ÍN D IA S
Hoiamicsas e Inglesas

Sede da Companhia das índias Orientais


Inglesas ano 1726.

Sede da Companhia das índias Orientais Holandesa que Sede da Companhia das Índias Ocidentais de onde foi
dirigia as operações comerciais com o Oriente. comandada a ocupação holandesa no Brasil.

333
Os portugueses haviam desde o começo do século entre a produção clássica sino-oriental, ainda classifica­
XVI, promovido a importação dos artigos orientais e da quanto aos característicos como "Porcelana da
os espalhado no Ocidente e, depois de estabelecidos na China”, e o novel estágio sino-ocidental, no qual passam
China, desfrutaram durante quase tim século junto à a enquadrar-se as porcelanas conhecidas por Companhia
fonte da produção cerâmica, do monopólio da aquisição das índias. Isso quanto à designação moderna inter­
da porcelana; depois, no começo do século XVII, outros nacional.
povos entraram a disputar essas fontes, fundando as Na terminologia portuguesa antiga constante das
suas companhias de comércio c desde logo passaram crônicas, dos inventários, de manifestos dc bordo e re­
também a transportar porcelana. gistros de alfândegas, referentes ao Oriente, a expressão
No entanto, naquele primeiro período, em que os louça oa porcelana da índia, ou da China, ou simples­
portugueses dominaram até o último quartel do século mente porcelana (porsolanas) ou loiça, refere-se indis­
XVII, época em que já outras nações lhes haviam tintamente a uma peça de superior qualidade como a
arrebatado o monopólio, embora a louça fosse trans­ outros tipos chineses inferiores.
portada, tanto em embarcações portuguesas como mais Porém a partir dc 1725, cm inventário de Taubatc,
tarde em naus das Companhias das índias Holandesas, São Paulo, surge no Brasil, mais outra designação; a
francesas e inglesas, não eram essas peças consideradas de louça de Macau; estava presa à denominação do
técnicamente tipo ‘‘Companhia das índias”, isso porque porto de origem na China, e iria, sobretudo no século
ainda não haviam sofrido as alterações que vieram a XIX, designar mais precisamenle a louça chinesa azul
caracterizar aquela classificação. e branca, trazida pelas carracas, naus e veleiros lusos,
Aqueles períodos dos séculos XVI c XVII, no qual da mesma maneira que na França é denominada de por­
a produção chinesa seguia sua linha de formas e de celana de “Nankim", tipo de porcelana azul e branca
decoração tradicionais, com raras inclusões de um ou para diferenciar dos outros gcncros cerâmicos chineses
outro atributo ocidental, têm designações próprias. importados do mesmo porto para o mercado francês(6).
A primeira que abrange a grosso modo, o século O termo e a classificação dc Companhia das índias
XVI, é conhecida por sino-portuguesa, e é dada a por­ é moderno; surge quando ceramógraíos europeus tentam
celana azul e branco importada por Portuga! e distri­ no século passado estabelecer uma terminologia apro­
buída na Europa e no Brasil, que apresenta brasões reais priada para um gênero dc produção chinesa. E a desig­
e da nobreza, monogramas sagrados (I.H.S.) e outros nação originou-se do fato de aquele tipo de porcelana
símbolos como a cruz de espinhos, e legendas com ca­ ser transportado mormente pelas empresas de comércio
racteres ocidentais. Dentro desse período, as peças que e navegação holandesas, inglesas, francesas e outras
ostentam a esfera armitar com os signos do Zodíaco, rotuladas de Companhia das índias Orientais.
símbolo pessoal do rei Dom Manuel — essas peças são Com a moda na Europa dos artigos orientais e a
conhecidas por ‘‘porcelanas manuelinas” <4K produção chinesa em larga escala para satisfazê-la, foi-se
No segundo período, ou seja, já no século XVII, criando um tipo à parte de porcelana de inspiração
dominado env grande parte pelos mercadores holandeses, acentuadamente ocidental no que se refere à forma c à
as peças de exportação chinesa do azul e branco são decoração, por ser fabricada em série e para outros
conhecidas na Europa por “Kraak Parcelam” e exibem mercados; quase sempre de encomenda, faltavam-lhe os
principal mente os modelos tardios do reinado do Impe­ requisitos de qualidade e originalidade da clássica por­
rador Wan-Lí (1573-1617). O termo “Kraak" é corrup­ celana da China, Pelo fato de as fábricas produtoras
tela de carraca, embarcação de carga lusitana, e o dc artigos de exportação se terem concentrado mais na
nome dado a esse, tipo de porcelana deve-se ao apresa­ província de Kiangsi, a pasta da louça ‘‘Companhia
mento em 1602 pelos holandeses da carraca Catharina, das índias” tomou em geral, a tonalidade cinza-azul ada
rio Estreito de Malaca. Essa embarcação carregava umas em virtude do caulim dessa região ser mais escuro do
cem mil porcelanas que foram postas em leilão em que o de outras, como o de Fou-Kien, por exemplo, que
1604 em Amsterdam, e atraiu compradores de toda a primava por sua alvura.
Europa, Entre os adquirentes figuram Jaime I, da Além desse característico da matéria-prima, era
Inglaterra e Henrique IV, da França. Esse carregamento, comum a pasta apresentar também imperfeições pelo
causou sensação e veio servir dc modelos a cópias em fato importante de caulim não ser devidamente tratado.
faiança í5). Segue-se a esse apresamento o de outra car­ Tomava em geral um aspecto granulado “encaroçado”
raca de porte, a Santiago, ao largo da Ilha de Santa no dizer de José VaUadares, o que lhe valeu o nome
Helena, com um carregamento de decoração idêntica de “pasta de arroz”, que em francês é chamada “peau
chinesa. d’orange”. Parte dos desenhos e dos esmaltes dos pro­
Nessa designação incluem-se as peças em branco dutos cerâmicos eram aplicados de preferência sobre a
c azul, âs vezes de um azul pálido, às vezes de azul coberta, em fogo de mufla, o que lhes conferia menor
acinzentado, já às vezes também, com formas européias, resistência ao uso. A cor era aplicada em três maneiras
trazidas pelos portugueses no período de 1602 a 1636. diferentes —• sob o vidrado (ou coberta) como no azul
De 1637 a 1657, quando os holandeses já dominavam e branco; misturada com o vidrado, como no céladon;
francamente o tráfico, continua ainda o azul e branco a sobre o vidrado, como na maioria das secções policrô-
scr a decoração preferida pelos europeus, porém a micas, quando pode ser aplicada simples ou misturada
maioria dos motivos evolui para protótipos ocidentais e com o. vidrado; neste último caso fica em relevo e é
aparecem também tulipas, e a pasta nesse período é de conhecida como esmalte. Apesar de soberbamente
primeira qualidade e aparecem também na Europa, mais executados, na fabricação estandardizada, esses produ­
escassamente, peças dc cinco cores e muitos céladons, tos deixavam, no entanto, de apresentar os requisitos da
Esses dois períodos, o si no-português no qual é costumeira perfeição. Além disso, ao contrário do geral
incluído o manuelino e o do “Kraak Porcelain” que lhe da fabricação chinesa, com raríssimas exceções, essa
segue, representam na realidade o estágio de transição louça não era marcada, o que revela o escrúpulo artísti-

334
293

Büíâvla representava o empório holandês no Oriente — lá eram recolhidas as encomendas c compras


jcítas à China, tanto de porcelanas como de outros artigos, assim como recolhia a produção japonesa.
Foi dado o nome de “B A T Ã V IA " a um gênero de porcelana de fundo chocolate, tanto serviços de chá ,
como potes (estes conhecidos na Bahia por noiera pois que em geral vinham carregados de especiarias).
Na nau de M ont Serrar existiam exemplares cinda corn noz moscada {pimenta do reino).

335
co do chinês em marcar uma produção a que não fosse terca (Lowestofl), na Holanda, na Alemanha, e na
dado um caráter melhor da arte nacional. Era 1677, foi França.
proibido o uso do “nien-hao”, ou seja a marca da Sabe-se que em 1815, a Inglaterra importou vários
dinastia e do reinado para os produtos destinados à serviços decorados na China, porém com reservas em
exportação. Continuou, no entanto a vingar a aplicação branco para a aposição do brasão polícromado ou a
do “double ring” e de outros signos, embora cscas- colocação de iniciais ou de outros símbolos
samenlc. Acreditamos que apenas uma parte dos serviços
O Padre d’EnirecolIcs, que visitou fábricas cm dc personalidades brasileiras, encomendada a Macau já
Chintehchen, fornece-nos preciosos informes, em sua lenha vindo,com as iniciais aplicadas a fogo na China.
carta ao Padre Orry, escrita em 1712, isto é, em pleno Porém comj referência aos serviços adquiridos no mer­
período do reflorescimento da técnica chinesa e da cado local, pensamos que as siglas teoham sido apostas
fabricação da louça “Compauhía das índias”. Apre­ a frio, de acordo com o cüente, apenas com um mor­
ciando a história da produção cerâmica chinesa, assinala dente. Isso porque há iniciais, cujo colorido dourado
a diferença entre aquela época e as anteriores, no que se difere do da borda, e que tem resistido mais ao uso do
refere a qualidade: — “anciennement disent les annales, que outras que logo se apagaram, enquanto o resto do
la porcelaine était d’un blanc exquis, et n’avait nui dourado da decoração original da peça permanece nas
defaut; les ouvrages qu’on en faisait et qui se transpor­ bordas c desenhos.
taient dans les autres royaumes ne s’y appelaient pas A produção chinesa, depois da abertura da Rota
que les bijoux précieux de Joat-cheou”. das índias, e iniciada a exportação para o Ocidente,
O centro dessa produção era Chintehchen, embo­ obedeceu, a grosso modo, a duas divisões mestras: a
ra houvesse fábricas em outras províncias como a de destinada ao seu mercado interno (Kun-Io e Man-lo),
Honan, Che-Kiang, Fou-Kien, etc. Praticamente sozá- ao sabor chinês, e a destinada ao mercado externo, de
nha, abastecia o Mundo com os maravilhosos artigos caráter alienígena (Yang-Lt).
que o engenho do oleiro chinês plasmava na argila e Na primeira divisão, incluem-se as peças finas
que a maestria dos pintores coloria nos mais estupendos (Kun-Io), fabricadas para os palácios, os mandarins e
esmaltes. Sua arte e perícia eram tais que se jactavam a elite chinesa, peças estas não destinadas à exportação
de que não havia tonalidades que não pudessem imitar. e via de regra marcadas com o respectivo “nien-hao”, e
Eram verdadeiros mágicos da técnica do colorido; o que que são classificadas por vários autores, (entre os quais
a Natureza pudesse oferecer de mais sutil, fossem os nos incluímos) de "Porcelana da China” e não “Porce­
tons mais fortes e delicados ou os matizes mais comple­ lana Companhia das Índias". Ainda nesta divisão,
xos fixavam os artistas chineses sobre a superfície lisa incluem-se também as peças Man-lo, dc fabrico gros­
da porcelana na frescura indelével do esmalte. Na paleta seiro e destinada ao uso da população c que têm outra
das cores empregadas, havia locuções pitorescas, poéti­ classificação, como veremos mais adiante.
cas, exóticas a determinar certas tonalidades: “a cor do A segunda divisão abarca o fabrico para fora
céu depois da chuva, a cor do peito do pavão, a cor do (Yang-Lt), fossem as peças destinadas aos diferentes
capim novo batido de sol, o azul do ovo do piníaroxo, países ocidentais, fossem elas encomendadas para o
o matiz do penacho do alcion, a cor do luar, da cinza Mundo Muçulmano, que já era abastecido pelos oleiros
das rosas, do verde das montanhas distantes, da poeira chineses, muito antes das expedições de Vasco da Gama
das folhas de chá. . . ” e Fernando de Magalhães abrirem as novas rotas para o
Parte dos motivos das peças de exportação ao gos:o Oriente, de rumos opostos! Estas louças, como dissemos,
europeu era copiada de desenhos e de estampas, e parte têm caráter alienígena em sua decoração e mesmo com
das formas obedecia aos modelers de madeira (desde caracteres epigráficos.
1635) ou de meta! e de faiança enviados à China, Acontece que as peças fabricadas ao gosto chinês,
sobretudo pela Holanda, para cópia. para seu mercado interno, tanto as de boa qualidade
(Kun-lo) como as grosseiras (Man-lo), também passa­
Cantão era o grande porto e o empório comercial ram a ser requisitadas para o mercado ocidental, pois
por onde se processava a quase totalidade do tráfico caíram também no agrado dos europeus por sua origi­
cerâmico, através dos entrepostos do comércio, e mais nalidade, sobretudo o azul e branco.
tarde diversas feitorias estrangeiras. Lã os intermediá­
Assim, na realidade, o Ocidente importava tudo o
rios chineses mantinham numerosos ateliês ou oficinas
que a China produzisse, a seu gosto oriental e mais o
que se encarregavam precipuamente dc complementar a
que o europeu encomendava com decoração ocidentali­
decoração das peças encomendadas a Chintehchen, e
zada.
lá funcionava anualmerite uma grande feira cerâmica m Aquela louça popular e grosseira já era objeto de
que até hoje se realiza. exportação para o Oriente Médio c outros centros asiáti­
■Assim, de regra, os serviços de mesa eram lá rema­ cos, às vezes com legendas árabes desde 1450, conforme
tados com os escudos de armas, siglas, dizeres ou peças datadas existentes no Museu Topkapt, em
legendas a fogo brando e a aplicação do dourado que Istambul.
exigia um tratamento a fogo ainda mais baixo. Ao que Quanto ao estilo dessas porcelanas populares, inspi­
consta, segundo estatística levantada na Inglaterra, as ravam-se elas mais predominantemente nos Mings da
peças personalizadas (com brasões, siglas, coronéis, segunda metade do século XVI e primeira metade do
etc.) representavam apenas 1% do volume enviado século XVII com características marcantes de execução
para a Inglaterra, e esses serviços em média levavam mais livre, espontânea e vigorosa do que as peças
dois anos para serem executados! fabricadas para os palácios e mandarins.
Pequena parte das encomendas a Chintehchen Essas louças mais grosseiras (Man-To) eram fabri­
era terminada na Euiopa com aqueles motivos, C fts cadas em diversos pontos da China, Segundo alguns
vezes sobrcdccorada com outros, o que ocorria na tngla- autores nos arredores de Chintehchen, segundo outros

336
s ic . x v i v x v m LOUÇA “GROSSA” CHINESA
(Swatow)
Arqueologia terrestre e subaquática

Exemplo típico de matga em porcelana, do gênero Swatow (louça grossa).


Nota-se no frete que a base da peça ê rudimentarmente tratada (sobram
grãos de areia cozidos juntos no forno) assim como os desenhos são
primitivamente traçados e ainda é visto o "doubie ring” que indicaria
primeiro que a peça é posterior a 1677 (quando o Imperador Kang-Hsi
proibiu a colocação do nien-hao imperial nas peças secundárias) c que sua
proveniência deva ser dos fornos de C/ifnteiie/ien, que usavam aqueles
círculos, A malga exibida (cuja parle posterior falta) é urna peça quebrada
das que foram salvadas de um naufrágio. Porém, o que deve ser observado
de mais importante são os três cacos em baixo, na fotografia. Revelam
a malga e os três fragmentos um i faio surpreendente:
a) a malga quebrada ê proveniente da r.üu de M ont Sérrot, afundada
na Bahia, que
vinha do Oriente carregada de porcelanas para o Brasii e fo i descoberta
kâ poucos anos.
b) O caso afilado de feitio triangular, também é um fragm ento de louça
similar a da malga com os mesmos característicos daquela (Swatow),
porém descoberto enterrado em Porto Seguro no Estado da Bahia, possi­
velmente de período anterior.
c) Os outros dois cacos em baixo, à esquerda, são também do mesmo
gênero, porém descobertos no litoral de São Paulo (Sítio G w ecâ, que
pertenceu aos Carmelitas).
Como se pode depreender, as louças tipo Swatow eram bastante populares
no Brasii colonial, já que sem maiores pesquisas encontramos espécimes em
três locais diferentes de nossa costa, bastante afastados um do outro, demons­
trando também a intensidade do comércio chinês em nossa terra.
Fotos — Cortesia; Peter Naumann.

337
sm Fukien e no sol da China, em Tonkin e Annam, e desde o Quinhentismo, faziam parte dos carregamentos
eram exportadas em grande parte pelo porto de Swatow e destinavam-se, tanto a Portugal, como ao Brasil.
(que fica perto de Cantão e Macau) que veio a dar o Na classificação geral de Companhia das Índias,
nome a esse gênero de porcelana oriental. entram numerosas sub-classificações, distintas entre si,
Essa louça de Swatow era levada para Formosa, dependendo do período, da pasta, da forma e da deco­
Batávia, Japão, Filipinas, Índia e nações muçulmanas, ração sendo de observar que as peças marcadas com
como também para Cantão e Macau, de onde eram “nien-hao" não são consideradas por nós como Com­
esparramadas pelo mundo dito civilizado, panhia das Índias, e sim “Porcelana da China".
Harry Garner acredita que os portugueses já impor­ O próprio termo Companhia das índias tem várias
tavam aquela louça, desde os primórdios de seu tráfico designações equivalentes, cujo emprego varia segundo
oriental, pois nos informa: “Os registros portugueses o país ou o ceramógrafo que as emprega. Temos assim:
do meado do século XVI fazem uma distinção entre a "Chinese Export Porcelain — Oriental Lowestoft —
porcelana fina e a grosseira; e as louças de Swatow Gombron ware — Cantão — Macau — Nankim
podem muito bem estar incluídas nesta última classe(9). — East Índia Company China — Indian China —
Frei Gaspar da Cruz a esse respeito nos presta em Porcelaine des Indes —- Porcelaine de Commaude —
1570, valioso esclarecimento. Diz e le ... “todavia há Chíne de Commande — Louça da Índia — Porcelana
muita porcelana grossa e outra muito Fma e há alguma de Encomenda — Porcelana Chinesa, etc.
que não é lícito vender-sc comumente porque só usam Quanto às sub-classificações, aninham-se elas cm
dela os regedores e por ser vermelha e verde e dourada três vastos grupos: o monocromo — o azul e branco
e amarela: vende-se alguma desta e muito pouco e — o policromado.
muito escondido. , <lí).
Essa prática de importar tanto a louça fina como Entre os monocromos contam-se os "blancs de
a grosseira (tipo Swatow) tomou-se praxe entre os Chine”, os “cèladoos”, os “corais”, os "mustardas”, a
portugueses, pois quase todos os carregamentos releva­ gama dos azuis (powder blue, etc.), os “poeira de chá”,
dos do século XVIII no-lo confirmam. Entre estes, os “flambés”, etc.
citamos os seguintes: No grupo azul e branco, incluem-se os tipos de
Em 1716, na Alfândega de Goa, é consignada a exportação conhecidos por Macau, Nankim, Cantão,
presença de “louça groça” (sic) e “louça fina”, vindas Swatow, etc. Não são incluídas nessa categoria de Com­
de Macau. panhia das Índias as peças Míngs (embora parte delas
Em 1785, a nau Santa Cruz, traz de Macau para não marcadas) do período manuelino c sino-português,
Lisboa “cento e quarenta e três caixas de louça fina e consideradas como “Porcelana da China”, assim como
dois míl e trezentos e oitenta e quatro caixas de os “Kraak Porcelain" do século XVII.
louça grossa” (n). Quanto aos policromados, alinham-sc diversos gê­
Em 1757, na Bahia, é recolhida, na alfândega real, neros, como a Família Crisântcmos-Pcônía, a Rosa, a
a dízima sobre mercadorias diversas, trazidas pela nau Negra, a Amarela, a Verde, os Mandarins, os “Indian
Santo Antônio e Justiça, e entre elas “porcelanas di­ China”, os Jesuíticos, as Figuras Européias, os “Gra-
versas" e “louça grossa de Macau” <n>. viata”, os Ba távias, os ímari Chineses, os Armoriados,
E ainda, nós achados da nau afundada nas proxi­ etc.
midades do Forte Mont Serrat, foi encontrado abun­ Esses gêneros de decoração foram usados parte
dante material cerâmico em que se distinguem nitida­ ainda no século XVII e sobretudo no século XVIII,
mente a louça fina e a louça grossa, o que em detalhe abrangendo a dinastia Ming nos seus últimos reinados
veremos mais adiante. e a dinastia T’Sing ou CHtiig (mandehú) sob os rei­
Torna-se claro, pois que essas louças tipo Swatow, nados dos imperadores seguintes:

REINADOS CHINESES DEPOIS DOS DESCOBRIMENTOS ATÉ O PRINCÍPIO DO SÉCULO X X

T S IN C (CIV1NG)
M IN G
(Porcelana dá China e produtos Companhia das índias)
(não considerados Companhia das Índias)
Ch’ ung Tehe
Chcns-Tê — 1506-1522 (não considerados ainda Companhia das
Ch'ia Ch'ing — 1522-1567 índias) — 1644-1662
Kang-Hsi --„ 1662-1722
Lung-Chin g — 1567-1572 Yung-Cheng — 1723-1735
W an-Ii — 1573-1617 Ch'íen-Lüng ---
OU
T'ai-Chang — 1620 (Kkn-Lim g) — 1736-1795
T'ien-Ki — 1621-1627 Ch'ia Ching
ou
ou (Kiat-Sing) — 1796-1820
T'ien-Chi Tao-K.ouang — 1821-1834-185!
Híen-Fong ou Hsion-Féng — 1851-1861
Chon g-Cheng _ 1628-1644 Tong-Tche ou Tting-Ghíh — 1862-1874
ou Kotíang-Siu ou Kuartfi-Hsü — 1875-1907
Cli'ung-Cheng Hsü.m-Tung — 1909-1912
República Chinesa — 1912

A Companhia das índias Inglesa extinguia-se comercialmente trr, 1834, isto no meado da dinastia de Tao-Kouang (1821 a 1851 ).

338
Apreseniamos a seguir algumas das características vermelho ferrugem (rouge de fer) e o dourado. Em
que marcam essas últimas dinastias a partir de Kang-Hsi, Portugal, os antiquários costumam designar de figura
e que se integram diretamente no período conhecido européia toda a porcelana que as exibe, seja em “encre
por Companhia das Índias e de exportação para o de Chine” (ou jesuítica) ou não: ainda de assinalar
Ocidente. Antes porém, desejamos assinalar que a estar nesse reinado a decoração chamada de “mille fleurs”
certa a informação de Frei Gaspar da Crua, de 1570, (corolas pintadas lado a lado, cobrindo toda a peça) e
já no reinado do Lung-Ching (1567-1572) aparecia o ainda o gênero mandarim representando cenas, grupos
dourado na decoração chinesa dJ). de mandarins ou de pessoas, tendo por fundo paisagens
No reinado de Kang-Hsi, afora a criação de belís­ ou interiores de moradias.
simas formas, delicados desenhos e cores apuradas, há AssinaSa/nos ainda o reinado de Kiat-Sing ou
que assinalar dois novos tipos de decoração que passa­ Chia-Ching (1796-1820) que marca o incremento da
rão na Europa a ser conhecidos por Família Preta c exportação dos azuis e brancos, já conhecidos na Euro­
Família Verde, e de acordo com Daisy L. Goldsmith, õ pa por Macau, Cantão azul e Nankim e cujo protótipo
ouro foi diseretamente empregado em Kang-Hsi e é o Willow Pattem”, ou seja, “Os Pombinhos” também
Yung-Cheng, tendo no reinado de Kten-Lung, conhe­ conhecido por Salgueiro,
cido um amplo uso passando alem da decoração dos Constatamos que tanto no Quinhentismo como no
desenhos a ser aplicado cm alças, pegas e pegadeiras Seisccntismo, as louças fabricadas na China vieram a ter
de sopeiras, pratos cobertos, xícaras, etc. Dc notar em Portugal e no Brasil em profusão, de acordo com
ainda como observação de interesse que o uso do espécimes da época, ainda existentes, e revelações de
"nien-hao” só começou a ser empregado em Chinteh- inventários ou testemunho de cronistas coevos e regis­
clien por volta de 1349, quando Pequim passa a capital tros portuários que apontamos linhas atrás.
dos Mings. Depois de 1677, sob o reinado dc Kang-Hsi, Acerca do século XVIII, podemos também indicar
6 proibido o uso do “nien-hao” para as peças de expor­ referências significativas sobre a louça da índia em
tação. Estas últimas, de forma geral, não trazem indi­ diversas Capitanias e ainda um documentário “in na-
cação no verso, porém, algumas às vezes apresentam o tura”, fornecido peio abundante material recolhido de
“double-ring”, os símbolos sagrados, os signos de uma nau de carreira, afundada.
louvores, ou ainda o selo do distribuidor e mais rara­ Sobre a Capitania dc São Paulo, há uma indicação
mente o nome do artista, como já foi assinalado e de valia, apontada no testamento do Coronel Fernandes
rararnente, também a exemplo do Japão, o nome do Furtado, feito na cidade de Taubaté em 24 de janeiro
forno ou ateliê do artista. dc 1725. Nele consta, entre relação de objetos dc ouro
O reinado seguinte de Yung-Cheng, embora curto, e prata, o seguinte: “Declaro que possuo três pratos
marca a sua presença pela qualidade dos seus produtos grandes da índia, seis sopeiras com suas cobertas dc
e por mais uma inovação decorativa conhecida por Macau e dezenas dc pratos pequenos dos mesmos" C1S).
Família Rosa. Foram os padres jesuítas, estabelecidos De notar neste testamento a menção a Macau. É a
na Corte Imperial Chinesa, que levaram da Europa o primeira vez que se nos depara a nova designação, que
processo de Cassitis de Leyde (1650), conhecido por começa a ser empregada, a nosso ver, para distinguir
púrpura de Cassius, que permitia pela primeira vez, a louça da índia policromada da porcelana específica-
utilízarem-sc na decoração as cambiantes do rosa ao mente azul e branco: “A louça de Macau”.
rubi, A Família Rosa tornou-se conhecida por aquelas De agora em diante, iremos encontrar com fre-
tonalidades novas e belas e foi tão apreciada que varou qüência essa denominação (às vezes a de louça da Índia
diversas dinastias até Tao-Kouang (1821-1851). Porém azul), que atravessa o período colonial e adentra pelo
as peças mais reputadas da Família Rosa são de Yung- Império, pois em 1855, nos livros da Mordomia Impe­
-Cheiig, que a criou e se distinguem das demais com rial, continua ela presente para designar a porcelana
uma decoração leve, a superfície branca da peça menos azul e branca ao lado da louça da índia ou da China,
ocupada pelos desenhos, que com isso ganham maior consignando-se, e ainda a designação da louça de
destaque, porcelana lustrosa e sem defeito. Já na dinastia Nankim azul e de Cantão azul, conforme pauta da
seguinte de Kicn-Lung, a decoração é sobrecarregada Alfândega de 1837.
e as pastas menos tratadas, O vermelho chamado antigo, Conquanto Minas Gerais ofuscasse as demais Ca­
já era empregado desde Sung, obtido usando-se o cobre pitanias no devaneio cie sua riqueza e na exuberância
misturado com o vidrado, num sistema de redução do de sua arte barroca, a Bahia não deixava, no entanto,
forno (introdução controlada na fornalha de oxigênio), de se representar condignamente uo concerto econômico.
ptíréin de tonalidade pouco atraente. Também Tmari, Apesar das perturbações na sua produção açucareira e
no Japão, osou bastante o esmalte vermelho inventado da concorrência antilhaiia que crescia no mercado
por Kakiemon no período de seu apogeu (1661 a 1773) externo, encontrava ela outras fontes de proventos com
e que caracteriza aquela produção por seu tom vivo dd a produção e exportação do tabaco cm grande escala
No reinado de Kien-Lung (1736-1795), a expor­ para Portugal, África e Oriente, com as Companhias
tação pelas Companhias das índias atinge o seu apogeu. de armadores e o ativo comércio de escravos para as
Nesse reinado aparecem também novos tipos de deco­ regiões diamantíferas; assim também, pelo menos até
ração. O artista T’ang Wing inventa a famosa “encre meados do século, desempenhava a função da principal
de Chine” por nós chamada dc tinta de Nankim, para distribuidora dos artigos orientais para as outras Capi­
desenhos sobre o papel de arroz c cerâmica, o que veio tanias e: mesmo para o Vice-reiriado da Prata, sem
a notabilizar o gênero de porcelana Companhia das contar ainda com a construção e o reparo de naus
índias, conhecido por “Jesuítico” que representava deli- feitos em vários estaleiros baianos.
cadamente pintados a tinta preta chinesa, motivos reli­ Segundo estatística levantada, a Bahia, mais espe-
giosos, mitológicos, cenas galantes e cópias de quadros cificamente o porto de Salvador, gozou de intenso e
e gravuras européias, decoração essa completada pelo invejável movimento; só no decorrer do século XVIII,

339
nada menos do que cento e trinta naus da Carreira da jarros, pratos, bacia, etc., mais de duzentos e cin­
índia, lá arribaram vindas do Oriente, por motivos quenta peças!
vários, sem contar as naus de tráfego regular de Por­ De outro nababo, esse de Minas, tivemos oportu­
tuga] com a Colônia (lí)- nidade, por informações de famílias, de obter indicações
Assim não admira que parte dos inventários sobre louça da índia. Trata-se de João Fernandes Oli­
refletisse aquela próspera situação' consignando veira, doutor em leís por Coimbra (1750) e desem­
louça da índia, com tintas azuis ou louça da índia com bargador, que obteve do Conde de Oeiras o privilégio
tintas encarnadas e douradas ou louça da índia toda de ser nomeado contratador de diamantes, junto com
dourada, conforme vem arrolado no inventário dos bens seu pai. Sua fortuna foi talvez a maior do Continente
do cirurgião-mor Manoel Martins dos Santos Rego em todos os íetnpos coloniais. Assevera Xavier da
(1808-1810) que pode ainda referir-se a espólio do V e i g a o B) qUe cm seu tempo foi o “súbdito mais rico
século x v m (Arquivo Particular do descendente Dr. do Rei de Portugal”. Apesar de seus gastos desmedidos
Luiz Rodrigues de Moraes) llT>. e seus caprichos de milionário, malgrado a perseguição
No inventário dos bens de João Lopes Fiuzza, de Pombal, temeroso de seu prestígio e poderio, im­
senhor de engenhos, falecido em 1714, além de nume­ pondo-lhe a multa fabulosa de onze milhões de cru­
rosa biblioteca e outros pertences, constava um serviço zados — quantia fantástica para a época — o nababo
de mesa em louça da índia, tão numeroso que foi repar­ deixou em Portugal, numerosas quintas c casas nobres,
tido entre todos os herdeiros e ainda mais “duas jarras um morgado (o de Grijó), quarteirões em Lisboa, no
grandes da índia, 30SOOO, duas jarras de azul e ouro Brasil possuía casas em Vila Rica, Rio de Janeiro, etc.
205000, hua jarra da Índia azul e branca 35000, hua Suas propriedades rústicas compunham-se de dezesseis
jarra da índia de ouro e preto 8$000, dons leões da fazendas de 24 a 45 léguas cada uma. .. sem contar
Índia 25500, dous leões brancos e vermelhos 35000, as inúmeras lavras!
dous ditos verdes, dous galos, dous caxorros, dous ma­ Na sede de uma de suas fazendas, a de Itaipaba
cacos pardos, dous elefantes, quatro bugios em sua (onde existiam lavras de diamantes), foi encontrada
avaliação e mais dous galos e duas sereias 55000”. pelos descendentes, uma barrica intacta no sótão, con­
Na Capitania de São Paulo, peio final do século, tendo um serviço completo de porcelana chinesa, da
também é localizado outro opulento e sugestivo acervo denominada louça de Macau, e por ocasião de uma
de louças da índia. visita do Eh. Rauí Soares (presidente do Estado), a
Em 1789, voltando ao inventário de Frei Manuel Diamantina, foi-lhe oferecido o referido serviço pelo
da Ressurreição, já citado, sobre as peças de faiança Dr, João Batista Fernandes de Oliveira Catta Preta,
holandesa, constam: quinto neto do opulento contratador.
2 jarras de louça da Índia Quanto à presença da louça chinesa nesse século
99 pires de louça da índia XVIII no Rio de Janeiro, ou seja na Sede do Governo
2 bules de louça da índia e um cafeteiro (síc) do Estado do Brasil, ela é óbvia e já referida em grande
9 dúzias e 7 pratos de guardanapo de louça da parte porém Gilberto Freire nos aponta mais um ele­
Índia, azul mento de valia, citando o Almanaque do Rio de 1792,
15 pratos ditos "que havia no Rio, doze lojas de louça da Índia”, o
1 fruteira pequena da mesma louça com ramos que nos parece bastante expressivo!
vermelhos Vejamos neste século XX, o que nos foi possível
1 bacia redonda de louça da Índia, com o beiço
localizar de peças chinesas ainda existentes do século
quebrado
XVIII, de interesse cerâmico histórico, sócio-económi­
4 saleiros pequenos e pimenteiros e 1 pires de
co ou artístico.
pé da mesma louça
6 pratos de mesa fundos, grandes e redondos O acervo luso-brasileiro a esse respeito é ainda
de louça da Índia grande e imponente apesar dos agravos do tempo.
t Sopeira redonda de louça da índia, branca e Dividiremos esse ensaio de arrolamento cm três
dourada com sua tampa partes:
2 sopeiras pequenas redondas com sua tampa I — Porcelanas Companhia das índias Bragan-
com ramos vermelhos de louça da índia tinas. (vide pág. 343)
1 sopeirinha pequena de asa com ramos verme­ II — Porcelanas Companhia das índias persona­
lhos e tampa de ramos. lizadas ou históricas, (vide pág, 351)
Este inventário, onde abundam pratas, móveis e III — Porcelanas da época — anônimas e grés.
alfaias, reúne só em louça da índia, entre sopeiras, (vide pág. 369)

340
B I B L I O G R A F I A

( í ) R. P icard, I. P. K erneis, y Bruneau — ob. cit., págs.


56 a 39.
{2) Maria P enkàLã — "F ar E a ste r n C e ra m ist ’ — Hague
— 1963. /
(3) R, P icard, J, P. K erneis. y Brune au — o b . e it ., pães.
33 c 113,
(4) C lare L e GorbeILLer — "China Trade Porcelains" —
Patterns of Exchange Metropolitan Museum of Art
— pigs. 5/14/13 — N. York, 1974.
(5) T. Volker — Porcelain 1602/82 — Leyden, 1934, citado
por C lare L e Corbeiller.
(6) D aisy Lion Goldsmith — ob. cit., pág. 133.
(7) Clare Le Corbeiller — ob. cit.. pág. 4.
(8) D avid SaNtuaRY Howard — "Chinese Armorial Por­
celain", pág. 57 — Londres, 1974.
(9 ) Oriental Blue and White — 3A ed„ 1973.
(10) F rei G aspar da Cruz — "Tratado da China c de Ormuz"
1570 — 3.a ed., Barcelos, 1937.
(11) J osé C ampos e Sousa — ob. cit., págs 37/38 — " Loiça
Brasonada" — Porlo, 1962.
(12) Jose R oberto do A maral L apa — "A Bahia e a Carreira
da India" — Brasiliana, 333 — págs. 272/3 — 1968.
(13) F r ei G aspar da C ruz — ob. cit.
(14) Hideo T acai — "Japanese Ceramic" — Japão, 1977.
(15) F elix G ltsaRd F.° — " B a n d c trism ó T i ',:;h ::íc a n o " -—
S. Paulo — Instituto Histórico.
(16) Josi R oberto do A maral L apa — ob. cit. págs. 259 e
273.
(17) D r. L uiz Rodrigues de Moraes — descendente (arquivo
de família), Sno Paulo. (Sítio na Água Branca),
(18) Xavier da V eiga — " E fe m é r id e s M in e ir a s " — vol, I —
Pág. 5.
(1 9 ) G ilber to F reire — "O s Ingleses no Brasil“ — Rio,
1979.

A fonso Eduardo M artins Zuquete — "A Nobreza em Por­


tugal" — vol, II ( — cd. I960 — págs, 322/334/335.
Anais do Museu Histórico — vol, II — pág. 156.
G ustavo Barroso — Anais do Museu Histórico — vol. III —
págs. 56/166 — 1942.
M ax F leluss — "História Administrativa do Brasil ■— S
Paulo — 1922.
Joseph F rançois Lj .pit au — "Histoire de.s Découvertes et
Conquêtes des Portugais" — tomo IV — págs. 3 78/384
- Paris. 1734.
P edro M arlz — "Diálogo de varias Histórias" — pág. 145 -—
Lisboa, 1806.
A ntônio Villas Boas e S ampaio — “Nobilarquia Portuguesa,
pág. 235 — Lisboa. 1976.
M ichel Betjrdeley — "Porcelaine de la Compagnie des
Indes” — Suisse, 1962 — estampa 77 e pág. 119 — cat.
156 — págs. 10/11 /1 2 /1 3 /1 4 .
A rmando de M atos — "Brasonârio de Portugal" — n.° 134
— Porto, 1943.
D avid . Howard e John Ayers — "China for the West" —
figs.: 457 c 457-A — Londres, 1978.
J osé de C ampos e Sousa — A propósito do livro — "Porce­
laine de la Compagnie des Indes" — Porto, 1962,
Jo sé de C am pos e Sousa — “ A propósito da C erâm ica A rm o ­
riada" — pág. 8 — Braga, 1976.
Barbara Beaucamp Markowsxy — Catáiogo do Kunstgewerbe
Museum — 1980, pág. 386 — estampa 396 (pratos do
Conv. de Sla. Teresa — B A ).

341
Séc. X V II PORCELANA CHINESA ARMORIADA
(Pinto)

270

Peça : classificada pelo Museu Nacional de À ile Antiga, ión,r- d o 1período de Kang-Hsi e ç o m as o r n u is tUi fatmUti
portuguesa Pinto, em branco c azul. Nota-se d. aba de finíssimos desenhos, que obedece ã influência Hindu-Persa, rui
reqiiência de oito reservas preenchidas de flores enquadradas tui$ contornos das clássicas ‘ pr.Unctcs".
Cortesia do Museu Nacional de A rlt Amiga.

303
B I B L I O G R A F I A

(1) Arquivo do Estado, Inventários de: Belchior D ias


C arneiro, I sabel Sobrinha, M anuel Vândala Loürenço
de Siqueira, Margarida Rodrigues.
(2) Arquivo do Estado, Inventários de: Isabel da C unha,
CtJRrsrovAM pg Acuur G irão, Pedro N unes, Antônio
de Oliveira, Antônio da Silva,
(3) Arquivo do Estado, Inventários de: F rancisco V elho.
Isabel Sobrinha, J oão G omes, e Isabel Soares.
(4 ) E, F. Brancante — referência 131, na pág. 114, e ref.
135, na pág. 116, de "O Brasil e a Louça da índia’',
£5) Batista P ereira, in rev. do Arq. Municipal, n.° 23, ano
II — " A Cidade de Anchieta", págs. 87/88.
(6) P. M. N estscher — "Or Holandeses no Brasil" —
R. Southey ■ — “História Geral do Brasil" — vol. III ■
—.
Vicente Thcimldo Lessa ~ "Maurício de Nassau, o
Brasileiro", em ed. cuit. bras. 1937 — pig, 54 — Pedro
Cal mon — " História da Casa da Torre" — pá g. 43,
(7 ) Arquivo do Estado ■
— vo!. Ill, pâgs, 454 e 456 — 1920.
(8 ) Inventários e Testamentos — vol. XI — págs. 426, 444
c 461 — Inventário de F rancisco de Proença.
(9) Conde Castro e Sola — ab. cit. pág, 66 est, CLIV.
£10) M ichel Beukdeley —- "La Porcelaine Compagnie des
Indes" — office du liv r e Suisse — pá g 76.
(U ) J oseph F rançois Lafitau — " Histoire des Decouvertes
et Conquêtes des Portugais dans le Nouveau M onde" —
Paris, 1731 — tomo IV — pâgs. 378/84,
(12) A fonso Eduardo M artins Zuquete — “A Nobreza em
Portugal" — 3 vois. — vol. Il, pâgs. 334/355.
U lysses P ernambucano he Mello N eto — "O Galeão
Sacramento" in Navigator n,° 13 — Rio, 1978,
P lácido G utierrez — “Porcelanas das índias no Brasil Qui­
nhentista" — in. rev. das Artes — Maio 1975, pág. 27
— Rio.
E. F. Brancante — o b , c it ., pág, 195.
D aisy L ion G o ld sm ith — "L a Porcelaine Chinoise", Paris.
M ar u H elena Brancante - "Cerâmica no Brasil Anti-
go“ — in rev, do Inst. Hist, e Geogr, Guarujá — Bcr-
tioga -— ano I — S. Paulo.
José de C ampos e Sousa — "A Loiça Brasonada nos
. Arranjos dos Interiores Portugueses dos séculos X V t a
X IX ” in Arqueologia e História — vol. II, 9,a s é r ie _______ .
Lisboa, 1970.
1osé de C ampos e Sousa ■
— "A propósito da Cerâmica
Armoriada " — Braga, 1976.
F rancisco Ribeiro N eto — in “Fatos e Fotos", 23 de abril de
1973, fotógrafo Lázaro Torres — 0 Tesouro da
Caravela Afundada.

304
SEISCENTISMO:

ÍNDICE DO TEXTO

I _ II — B A R R O C R U E T E R R A C O T A

P R O D U T O S D E O L A R IA

Referências históricas.
Importação no Nordeste de material de construção durante a Ocupação Holandesa. 239 a 240

IM A G I N A R IA

Frei Agostinho da Piedade e Frei Agostinho de Jesus. Imagens brasileiras no


Prata {Surnanpa e Lujan)....................... .............................................................................................. 240 a 246

III — A ZU L EJO S

Técnica e características — Decoraçao, particularidades, apreciação sobre o


emprego do azulejo no Brasil............................................................................................................ 247 a 253

IV — F A IA N Ç A

Designações locais da cerâmica importada, critérios âe classificação da faiança


no tempo. Referências de inventários e confronto de valores de importação.
Alusão à mezza-maiôlica e a louça vidrada entre o s artigos importados junto com
a faiança. Faiança de Talavera e de Delft. A influência oriental na decoração.
Faianças históricas e anônimas. Salvados do Galeão Sacramento.................................. 255 a 2 8 í

V — P O R C E L A N A D A C H IN A

Referências de diversos inventários da Vila de São Paulo. Cotejo de valores entre


a cerâmica européia e a porcelana da Índia. Considerações sobre a presença da
porcelana chinesa c seu uso. Os embrechamentos. Porcelana chinesa brasonada.
Considerações............................................ . . . .......................................... ..........................-t.................. 283 a 304

305
SEISCENTISMO

ÍNDICE DE ESTAMPAS

IM A G IN Á R IA :

169 São Pedro Arrependido, frei Agostinho da Piedade.

,170 Nossa Senhora dos Prazeres, Irei Agostinho de Jesus.

17 1 Nossa Senhora da Purificação, frei Agostinho de Jesus.

17 2 Nossa Senhora do Rosário, frei Agostinho de Jesus.

17 3 Nossa Senhora da Luz, marcada H. R. — Guaecá.

17 4 Painel policromado, Igreja St.° André, ç, 1580. Atr. à Francisco de

Matos-Usboa.
17 5 — Museu do Azidejo — Lisboa — Dois Painéis Holandeses.
17 6 — São Salvador (século XVII).
17 7 — Rio de Janeiro (século XVII).

F A IA N Ç A ;
n,°
775 — Pichei de Talavera, policromado.
17 9— Prato de Talavera, azul e branco.
ISO — Prato faiança portuguesa, Museu Nac. Arte Antiga.
18 1— Prato faiança portuguesa, Museu Nac, A no Antiga.
18 2— Prato faiança portuguesa, Museu Nac. Arte Antiga.
18 3— Prato faiança portuguesa, Museu Nac. Arte Antiga.
184 — Peça coberta com desenhos aranhões —* Museu Nac. Arte Antiga.
18 5— Aibareilo com figura — Museu Nac. de Arte Antiga,
186 — Prato com faixa barroca.
18 7
— Garrafa com armas reais. Museu Nac, Soares dos Reis.
188 ■
— Prato em faiança policromada, Museu Nac. de Arte Antiga.
189 — Pequena travessa com sigla Companhia de Jesus — Museu Arqueológico
de Recife.
190 — Prato policromado co/n dizeres.
19 1 — Prato brasonado (Costa) Museu Nac. de Arte Antiga.
192 — Boião brasonado (Francisco Barreto de Menezes) Museu Nac. de Arte
Antiga.
19 3 __ Medalhão brasonado do Convento de Santa Clara — "Cerâmica Braso­
nada".
1 9 4 — Tigela brasonada (Luiz Carneiro de Souza) Museu Nac. de Arte Antiga.
19 5 — Boião com coroa real e um M — Museu Nac. Soares dos Reis.
196 — Medalhão com rendas.
19 7 — Parte do painel — Palácio dos Marqueses da Fronteira.
198 — Prato com brasão dos Silvas, datado 1649, Museu Nac. de Arte Antiga.
199 — Fragmento do prato de naufrágio com armas dos Silvas (general Francisco
Corrêa da Silva).
200 — Prato com brasão dos Silvas, datado 1677.
20] — Tigela de naufrágio com armas dos Silvas (general Francisco Corria da
Silva).
202 — A Ibareilo com leão dos Silvas — Exposição IV Centenário S. Paulo —
1954.
203 — Três pratos diferentes com brasão dos Silvas, Museu Nac. Soares dos Reis.
204 —- A Ibareilo com brasão dos Silvas, coroado, Museu Nac. Soares dos Reis.
205 — Prato de arroz, 6.° Conde de Portalegre.
206 —* Aibaretlo com armas dos Silvas, chapéu episcopal.
207 —■ Nossa Senhora (em terracota), naufrágio Galeão Sacramento.

307
208 — Baião em faiança, azuí-vinoso, naufrágio Galeão Sacramento.
209 — Albarello com. esfera armilar, naufrágio Galeão Sacramento.
2 10 -— Prato aiigelado com armas não identificadas, naufrágio Galeão
Sacramento.
2 1 1 — Garrafa, com armas não identificadas, naufrágio Galeão Sacramento.
2 12 — Tigeja, com armas não identificadas, naufrágio Galeão Sacramento.
2 13 — Medalhão (fragmento com figura de mulher) naufrágio Galeão Sacrainenio.
2 14 — ■ Medalhão com aranhões e coelho, naufrágio Galeão Sacramento.
2 15 — Prato com desenhos geométricos, naufrágio Galeão Sacramento.
2 16 — Prato com desenhos geométricos, naufrágio Galeão Sacramento.
2 17 — Dois fragmentos de medalhões, naufrágio Galeão Sacramento,
2 18 — - Fragmento medalhão — Rendas, naufrágio Galeão Sacramento.
2 19 — Peroleira (terracota) naufrágio Galeão Sacramento.
220 — Prato não identificado (queimado), naufrágio Galeão Sacramento.
2 2 1 — Prato com orelhas, m o identificável.
22 2 — - Prato com busto de mulher, naufrágio Galeão Sacramento.
223 — Prato com Cruz, naufrágio Galeão Sacramento.
224 — Tigela dos Silvas (General Francisco Corrêa da Silva) naufrágio Galeão
Sacramento.
225 — Prato com roseta central.
226 — Medalhão recortado com figuras.
227 — Praia recortado com figuras, compartimentado.
228 — Prato redondo com figuras.
229 — Prato recortado com figuras (centro octogonal).
230 — Prato aba recortada com figuras (centro circular).
2 3 1 — Prato aba recortada com figuras (centro circular).
232 — Idem, idem (centro octogonal).
2 33 — Prato redondo, com figuras, aba compartimentada.
234 — Mostruário de fragmentos de faiança (Sítio Guaecâ).
234-A — Mostruário de fragmentos de faiança (Sítio Guaecâ),
2 35 — “ Albarello " (meia-faiança) armas do Carmo.

EMBRECHAMENTOS CERÂMICOS:
n.
a
236 Templo em Bangckoc revestido de cerâmica.

237 Detalhe do mesmo.

238 Detalhe do mesmo.

239 Igreja de Belém da Cachoeira (quatro faces do Coruchéu).

240 Quinta da Boa Vista — Jardim da Princesa — Duas vistas.

241 Igreja de Nossa Senhora da Boa Viagem — altar de Santo Antônio

(cinco detalhes),
242 — Continuação: detalhes da Igreja Nossa Sra. da Boa Viagem.
243 — Piso (três vistas de detalhes) Casa Nícia Camargo — S. Paulo (moderno).

P O R C E L A N A C H IN E S A V A R I A D A — (M arcadas, sem m arca, tipo S w atow )


n .°
244 — Prato azul e branco, marcado da dinastia Ming.
245 — Verso do prato com a marca de Chia-Ching.
246 — - Bi7/ia (narghilé) azul e branco, período Wan-Li.
247 ■— Potiche azul e branco.— Wan-Li.
248 — Potiche em azul e branco com reservas, Wan-Li,
249 -— Potiche em azul e branco (pálido) Ming.
250 — Vaso cilíndrico, policrornado, Família Verde — Kang-Hsi,
251 — Frasco piriforme, em azul e branco — Ming.
2 52 — Potiche em azul e branco, proveniente de Pernambuco.
2 53 — Fundo de tigela (azul e branco) — Salvador — Porto Seguro — S. Paulo.
254 — Tigela colorida proveniente de Recife.
2 55 — Tigela (lado externo) azul e branco, Bahia — Porto Seguro — S. Pauto.
256 — Prato azul e branco — proveniente de Pernambuco.
257 — Fragmento de prato, nau afundada' cm Mont Scrrat.
258 — Pole com tampa, azul e branco, transição Ming e Ch'ing.

308
259 — Dois paies, idem, idem, variante de decoração.
260 — Dois potes, idem, idem, variante de decoração,
261 — Dois potes de fundo chocolate {Batavia) "notera",
262 ■
— Série de estatuetas “Long Elisas’ (biscuit émaillé) período Tien-Chi.
263 — Quatro estatuetas masculinas {biscuit émaillé) período Tien-Chi.
264 — Par de "bonecos’ esmaltados do Museu Nac. de Arte Antiga — Final
da dinastia Ming.

PORCELANA CHINESA BRASONADA:


n .°

265 — Prato em azul e branco de Antônio Albuquerque Maranhão.


266 — Prato em azul e branco de Dom Rodrigo da Costa.
267 —■ Estampa de Dom Jerônimo de Ataíde com armas dos Ataídes.
268 — Gomil policromado e em baixo detalhe do mesmo com as armas de
Âtaídes, (atribuído por nós a Dom Jerônimo, capitão-general do Brasil)
Museu Nacional de Arte Antiga.
269 — Prato de aba lobada, azul e branco com armas dos Mellos ou Almeidas.
270 —• Prato redondo, azul e branco com armas da Família Pinto — Kang-Hsi,
SETECENTISMO

SUMÁRIO

I e II BARRO CRU E TERRACOTA


-

III LOUÇA VIDRADA


-

IV AZULEJOS - BIBLIOGRAFIA
-

V - FAIANÇA BIBLIOGRAFIA - ESTAMPAS


-

VI - PORCELANA CHINESA - BIBLIOGRAFIA (Companhia das índias


Bragantinas, Históricas e Anônimas) ESTAMPAS
-

VII PORCELANA BRASILEIRA E BISCUIT - ESTAMPAS


-

VIU COMENTÁRIOS SOBRE A NAU AFUNDADA EM MONT SERRAT


-

BIBLIOGRAFIA ESTAMPAS
-
I e II - BARRO CRU e TERRACOTA

ortugal e Espanha, com os O nfluxo de população que o surto da mineração


Descobrimentos, haviam dado atraíca para os sertões, era enorme, como a demanda
a chave da prosperidade e a do crescente de suprimentos utilitários e voluptuãrios para
domínio político-econômico ao satisfazer àquela massa e à elite que dela emergia,
Ocidente. Essa atração para o Eldorado recém-surgido era
As riquezas carreadas pelas no­ de tal ordem que se processava um esvaziamento huma­
vas rotas de outros territórios e no de outras Capitanias a favor de Minas. Com referên­
centros dc produção incitam as Cortes ao luxo e ao cia a de São Paulo nos é dito: “Outras vezes, os oficiais
requinte, como despertam na sociedade o desejo de ferreiros, alfaiates, sapateiros, bem como outros artesãos,
usufruir prazeres e desfrutar da beleza, através da Arte padeiros, marceneiros, cantoneiros, oleiros, etc., prefe­
que afluía do Oriente e já brotava vigorosa no Ocidente! riam mudar-se para as Minas, para ficarem mais próxi­
E 0 período de ativação artística e de manifestações mos dos novos e ricos clientes mineradores”, dl
intensas de apuro e refinamento em todos os terrenos, Essa leva impressionante de emigrantes de outras
do culto do belo e do pendor pela suntuária e pela Capitanias, e, sobretudo, a de portugueses emigrados da
luxúria. Metrópole em busca de fortuna, ativava o comércio
Esse extravasamento extraordinário reflete-se tam­ local, bem como desenvolvia a importação e fazia pros­
bém de modo brilhante nas artes menores, na ebanística, perar a Colônia. Mas essa corrida para a mineração foi
na ourivesaria, na imaginária e na cerâmica que nesse de tal ordem que, cm 1732 o Conselho Ultramarino
século já nos brinda em 1709 na Alemanha, com o alarmava-se com o despovoamento do Reino c repre­
fabrico da tão cobiçada porcelana na Europa. sentava ao Rei para opor-se à evasão de súditos para
Portugal debilitado peia perda entre outras causas, o ultramar brasileiro!
do monopólio da distribuição das especiarias, vê surgir Em 1720, os brancos representavam 37% da po­
o milagre tão longamente cobiçado da torrente de ouro pulação da Capitania das Minas Gerais, total esse
e pedrarias que as entranhas da sua colônia atlântica constituído quase integralmente de portugueses metro­
lhe proporciona. Com essa vivificante transfusão, a politanos e nascidos no Brasil, cabendo os 63% restan­
Corte Bragantina rivaliza em fausto e aparato com as tes aos índios, africanos e mestiços, como mulatos,
congêneres européias. No dizer de João Lúcio de Aze­ mamelucos e cafuzos. Peio final do século XVÍU, o
vedo, “Portugal ia de novo dar ao mundo o espetáculo levantamento demográfico das Capitanias ia testemunhar
de uma nação embriagada de suas riquezas”. um aumento e disparidade marcantes de concentrações
Segundo Homboldt, mais da metade do ouro pro­ demográficas em confronto com o século XVII. O Brasil
duzido na América no século XVItl, foi extraído no com uma população estimada cm 2.850.000 almas, já
Brasil. ultrapassava, e de muito, a do Reino, calculada em
Esse fator novo iria acarretar sensíveis alterações 2 milhões! E dentro desse contexto colonial, Minas
no panorama sócio-económico local, bem como influir Gerais passou a ser a Capitania mais densamente povoa­
poderosamente na economia lusitana e até mesmo refle­ da com 650.000 habitantes, cabendo à Bahia 530.000,
tir-se, segundo, alguns autores, na revolução industrial a Pernambuco 480.000, ao Rio 280,000 e a São Paulo,
inglesa. menos de 200.000, incluída a comarca de Curitiba.(2)
O estabelecimento de novos e densos núcleos po­ Os senhores de engenho que tanto impressionaram
pulacionais, como o surgimento de outros focos de os cronistas coevos, não eram mais os únicos a esfadea-
irradiação econômica, obrigam o Reino a utna revisão rem aparato e magnificência no cenário sul-americano,
político-administrativa do Estado do Brasil. Em conse­ aqueles senhores rurais do Nordeste, apontados por
quência, duas medidas de elevado alcance prático são Oliveira Viana “como os mais esplêndidos súditos
tomadas pelo governo Metropolitano. d’El-Rei de Portugal, em toda a sua monarquia", iriam,
Dom João V, em 2 de dezembro de 1720, promove de agora em diante, encontrar rivais cm opulência pelas
o desmembramento das Capitanias de São Paulo e de bandas do Sul.
Minas do Ouro, dando a cada uma delas, limites, juris­ E toda a parafernália do requinte oriental, que
dição c governo próprios. Gilberto Freire, nos aponta em “Casa Grande e Sen­
E em 1763, a sede do governo geral da colônia é zala”, como existente no Nordeste, desloca-se também
deslocada de Salvador para o Rio de Janeiro. acompanhando a benigna aragem da prosperidade, rumo
Unia muilidão de forasteiros movimenta-se pelos ao Sul, como o chapéu de sol, o palanquim, O leque, a
territórios recém-desbravados e vai estabelecendo bengala, a colcha de seda, a telha a modo sino-japonesa,
núcleos de fixação e redes de comércio entre a costa e o telhado caído para os lados e recurvados nas pontas
o sertão, e fortunas de porte vão surgindo na exploração em oornos de lua, a porcelana da China, etc.
das lavras e dos garimpos, e no seu abastecimento. . E a elite que ia se formando e despontando na

313
região sudeste brasileira, nada fícou a d ev er em requinte Tapetes ou alcatifas, os havia de diferentes regiões,
àquelas nordestinas. Teimava cia em manter na costa e da Itália, da índia e Arrayolos, grandes e pequenos.
no Rio, antes mesmo de ser elevado a sede do Estado E quanto ao vasilhame utilitário, farto era o equi­
do Brasil (1763) e nas vil.« c cidades dos sertões minei­ pamento de copa, cozinha e sala de jantar: bacias com
ros, os refinamentos das urbes européias. Impressionante seus gomis de estanho, chocolateiras de cobre, canecas
6 O rol dos artigos que aportam aquele centro distri­ de Olanda (sic) e de Veneza, e toda uma série de louça
buidor que em grande parle abastecia as Gerais. A pauta de barro, vinda da Bahia, em que se alinham alguidares
tia Alfândega do Rio de Janeiro, do ano de 1739 das de diferentes tamanhos, bosões, frigideiras, garrafas
mercadorias importadas, dá-nos um retrato fiel do grau infusas, púcaros, “tigelas de cabo", pratos de comer,
de requinte mantido. bacias, “panelas de cozinha grandes e pequenas dc
As mulheres podiam se fartar de escolher os artigos palmo de'boca para cima pouco mais ou menos",
que sua imaginação pudesse sonhar e a sua vaidade E como remate de toque cosmopolita: "louça fina
exigir, como os homens tinham a seu dispor todo um da China e de Veneza”, “louça fina de Lisboa e Porto”,
arsenal com que valorizar o garbo masculino. Eram “louça grossa de Lisboa e Porto”, W
adereços, gargantilhas de coral, anéis variados, plumas Feito este apanhado de caráter sócio-económico,
de toucado, espelhos diversos, pentes de marfim, de passamos a apontar e apreciar outras referências de
tartaruga, de osso, sapatos, e chinelos de seda, veludo interesse sobre a presença e utilização dos produtos
e marroquim bordados de ouro e prata fina, come de cerâmicos, tanto da terra como estrangeiros, obedecendo
“prata falsa". Quanto às essências com que se perfu­ à ordem das diversas categorias que se nos vão depa­
marem, dispunham da “agoa de Córdova”, “agoa de rando no setecentismo brasileiro.
Rainha da Hungria" “agoa de flor”, “agoa rosada”,
“agoa" chamada do “Francês”, “óleo de jasmim" e BARRO COZIDO
“óleo rosado". Com referencia aos tecidos, era tão A categoria cerâmica produzida na terra, que
grande a variedade, quando disparatada a procedência, caracteriza a centúria é ainda a do barro cozido, com
são cetins, sedas, damascos, tafetás, baetas, chitas, velu­ a incidência da produção da louça vidrada c a desco­
dos, fustões, bomba2 Ínas, estamenhas, boca chi nas, bar- berta da porcelana no final do século.
reganas, gorgorões, etc., provindos de Nápoles, da índia, Os indígenas aculturados continuam a participar
de Castela, de Ruão, de Londres, de Granada, de Porta­ preponderantemente do fabrico do vasilhame doméstico,
legre, Coimbra c Cabo Verde, de Amburgo (sic) de assim como os senhores dc engenhos através de seus
Cambraya e da Turquia etc. Quanto à moda, havia fomos, mantem a auto-suficiência dos conglomerados
modelos prontos a venda e também vestidos usados, rurais nos longínquos latifúndios, enquanto os Jesuítas,
ambos importados, assim como rendas de ouro e prata no seu labor paciente e contínuo, se dedicam à tarefa
fina, saias, jalccos e vestes de brim e de camurça borda­ benfazeja de ministrar instrução e aprendizado do arte­
das de ouro e prata, veludo “lavrado” de ouro e prata, sanato oleiro entre outros, à população. A atividade de
camisas de Olanda (sic), Cambraya, Bertanha (sic), mestres oleiros em seus colégios no Maranhão e Pará, é
lenços de seda da Índia, lenços de Lamego, do Levanle, assinalada destacando-se entre cies os irmãos João dc
da Olanda, como meias de seda, de lã de camelo, de Almeida (1718-1748). «>
“linha inglesa e ponto de Paris”, de Galiza, de Itália, c Certa men te uma proporção ponderável dc portu­
ainda metas para homens com "quadrados bordados de gueses reinóis e descendentes americanos como escravos
ouro e prata" c “colarinhos pura o pescoço”. e agregados, complementavam aquela produção para
Havia ainda as perucas de cabelo humano, como dar vasão à demanda cada vez. mais premente de
cabeleiras de pelo de bode e de carneiro, carapuças de vasilhames.
seda bordadas de ouro e prata, chapéus finos do Norte, A esse respeito, no tocante à Capitania de Minas
do Porto ou de Lisboa, cachimbos de barro e dc “pau Gerais, e que pode servir cie regra para as demais,
axaroado”, bengalas de cana com castão, abotoaduras Augusto de Lima Júnior, nos informa: “A indústria do
de fio de ouro e prata fina, borzeguíns e bolas de oleiro tão popular em Portugal, desde séculos, adquiriu
marroquim amarelo ou bordadas de ouro e prata. regular desenvolvimento entre os colonos e muitas fábri­
Quanto à música, eram importados órgãos dc dife­ cas, de louça grosseira forneceram sua mercadoria ao
rentes tamanhos, cravos e “espinhetes", rabecas, violas, consumo local”.
rabecões, cítaras, trombetas, pandeiros e “berimbaus”. A produção bahiana nessa primeira metade do
Com referência à parte alimentar, também era a século XVIII, revela-se de porte, pois como vimos linhas
sociedade centro-sulina exigente de paladar; além das atrás, era a única a constar da pauta dos artigos recebi­
clássicas especiarias e cereais eram importadas azeitonas, dos no porto do Rio de Janeiro. A discriminação ad-va-
castanhas, passas, aveias, arenques, sardinha, bacalhau, lorem de 1739, da louça bahiana c da estrangeira
manteiga e sortidas qualidades de queijos de Alentejo, de naquele porto permite estabelecer um confronto entre
Montemor, das Ilhas e outros flamengos, e como nota elas.
de destaque “marmelada de Santos, a S 0,80 a caixa”. F. através dos valores e pela procedência atribuí­
No que diz respeito ao mobiliário, vêm embarcados dos a cada qual, pode-se presumir qual o tipo ou a
do Reino ou da Bahia, bufetes, leitos, catres, "cadei­ categoria da cerâmica da terra como diferenciar a da
rinha da moda", cadeiras de palha, preguiceiros, assim Europa e da China, e assim distinguir dentro do termo
como papeleiras de “meio corpo”, de “dois corpos” e genérico de “louça” que vem sendo empregado indistin­
outras de “xarão comum, com vidros", e ainda fecha­ ta mente naquele documento, as diversas variedades
duras mouriscas e inglesas para armários e gavetas, específicas cela contidas como porcelana, porcelana
dobradiças, engonços, maçanetas douradas, caixas de mole, faiança, louça vidrada ou apenas louça de barro
madrepérola, de tartaruga de xarão de vinbáticoe canas­ cozido import adas no porto do Rio de Janeiro naquele
tras “cncouiadas". período.

314
LOUÇA ESTRANGEIRA:
(1739)
“Louça fina da China", média por peça $ SO réis (corresponde à porcelana)
“Sopeiras da índia" as maiores $600 réis ( ” ” ” )
"Louça fina de Veneza" média por peça $ 50 réis ( ” ’’ ” mole)
(trata-se de porcelana mole cuja única fábrica em Veneza, no período de Í739, era a Casa Vezzi)
“Louça fina de Lisboa e Porto”, média por peça $ 13,30 réis (faiança)
"Louça grossa de Lísboa e Porto”, ” * ” S 0,65 réis (louça vidrada ou meia faiança)
I

LOUÇA RAHÍANA
(1739)
As mais caras são os alguidares (de três palmos c meio de boca) panelas e boiões grandes —
$ 0,40 réis — louça de barro cozido e louça vidrada (?)
As mais baratas são os pratos, bacia e alguidares pequenos — $ 0,10 réis

Essa louça bahiana que ia ter ao Rio, deve ser a zem louça à vender não larguem as folhas que nos ba­
mesma que era exportada para o Reino nas torna-vi a* laios trazem" rí*.
gens das carracas e naus lusas. A nosso ver é a ela que Também é consignado o fabrico de louça no bairro
se deve referir o alvará real de 11.12.1756, que per­ de Nossa Senhora do Ó — o levantamento feito em
mitia aos “Oficiais, mestres marinheiros e mais Homens 1768, da população daquele bairro assinala um louceiro
do Mar ‘carregar do Brasil para a Metrópole, livre de e diz: “Quirino, mulato, vive de fazer louças." £*>
direitos de entrada, louça fabricada no Brasil’.” <s> Quanto ao fabrico de tijolos e seu uso em São
No tocante ao fabrico de louça de barro cm São Paulo, há duas referências significativas.
Paulo, há logo em 1704, menção de um oleiro impor­ Em 1733, nas Atas da Câmara de São Paulo, é
tante que fabricava peroleíras para armazenamento de consignada a necessidade de montar uma lareira de
vinho, azeite ou melado, e outros artigos, c foi contra­ tijolo cm seu recinto. As referências a lareiras não são
tado pelo Capitão-mor Guilherme Pompeu de Almeida comuns no Brasil Colonial; sabe-se que na Bahia e em
(Pai do célebre padre). Reza o documento: “Contas Minas as havia, e nesta, de preferência, nas Câmaras;
com Antônio Cubas o oleiro. Aos 24 de setembro de entre elas existe uma notável no Edifício do Museu
1704, entrou em minha fazenda (em Parnahyba) Antô­ da Inconfidência, antiga Câmara Municipal de Vila
nio Fds Cubas que mandei vir de Otu (Itu) para tra­ Rica, que serve de fogão e de lareira com distribuição
balhar e me fazer peroleíras e lhe mandei a dita vila de calor para os pavimentos de pedra do andar supe­
de Otu 60.000 réis em dinheiro que me mandou pedir rior. Outra indicação é de 1742 c se refere a calçadas
e me deve o dito dinheiro para me ir satisfazendo rio de tijolos na vila de São Paulo. E interessante pen­
que avençar nas obras que me fizer de barro concer- sar que, em meados do século XVIII, as calçadas das
tou-se comigo em um cruzado de feitio de cada uma ruas de São Paulo (ou parte delas) fossem pavimenta­
das peroleiras que forem do meu contento e o mais das, dando assim uma demonstração de trato e tentativa
que fizer como é telhas, tijolos e mais obras que lhe de apresentação e ordenação urbanística. Afinal de
darei o terço de tudo. Eu lhe disse que o milho, o feijão contas, os bandeirantes uão descuravam de tratar de
e o sal não havia de custar cousa alguma -— o mais seu ninho de águias, plantado no topo dò Triângulo
como é aguardente, carne, etc., que lhe assistirá pelo urbano, donde partiam em bandos, em memoráveis
preço que corresse à sua custa”, (G) arrancadas em busca de ouro, nos longínquos horizon­
Quanto à participação indígena, continua ela atuan­ tes, semeando cidades onde pousavam. Isto, apesar do
te em São Paulo. Conta-nos Eduardo Etzel: No século Morgado de Matheus informar que a seu tempo as mas
XVIII, nas famosas feiras de Pilatos, instituídas pelo da vila não eram calçadas.
Capitão General Antônio Manoel de Mello e Castro e Quanto ao uso do barro cozido ou da terracota
Mendonça, apelidado Pilatos, hoje no Bairro da Luz, para a fatura de imagens, Serafim Leite (Arte e Ofícios
os indígenas vendiam seus produtos de cerâmica com dos Jesuítas no B rasil)(1® nos aponta o irmão Jesuíta
grande aceitação, como ainda em nossos dias as pane- Francisco Rebelo (1713-1737-1791) natural de Braga,
leiras de Goiás velho, encantam os forasteiros com suas estatuário de barro — “figtilus stafuaríus" — que exe­
moringas exóticas de comovente primitivismo e beleza”. cutou presépios no Brasil. Há também que fazer menção
Em 1745, é expedido um edital na Vila dc São a Antônio Boarque de Azevedo, que foi um exímio
Paulo, pelo zeloso almotacel Ignácio de Barros Rego santeiro, a julgar pela execução artística de uma peça
que bem demonstra a participação indígena na produ­ assinada e datada de 1762, da coleção do Dr. Leão
ção: "farão advertir os índios das aldeias quando tra­ Gondim, do Rio,

* * *

315
III - LOUCA VIDRADA

utro ponto de interesse é saber a louça vidrada fosse realmentc fabricada no Brasil, nos
quando foi consignada a entrada primórdios mesmo da Colonização, a exemplo do que
da louça vidrada entre nós, ocorreu na América Central, dirigida pelos padres. Na
quando se iniciou o seu fabrico Bahia, desde a instalação do Governo Geral, nos idos
local. do Guinhcmismo, havia uma poderosa concentração de
A sua presença no Brasil, vinda elementos remóis — o leigo, o clerical e o artesanal —
do Reino, era evidente teria que como também lá se concentrava a capacidade eco­
acompanhar o equipamento doméstico utilitário indis­ nômica, financeira e industrial da Colônia, pelo menos
pensável aos primeiros colonizadores. ate 1763, quando a sede do governo é transferida para
O bojo das naus e dos galeões ou a pança larga o Rio de Janeiro.
das carracas eram verdadeiros armazéns flutuantes atu­ Como consequência dessa concentração p] uri forme,
lhados de mercadorias. temos, entre outras manifestações no terreno das artes
O material recolhido do galeão Sacramento afun­ menores, a exportação para outras Capitanias, de catres
dado em 1668 na paragem do R j o Vermelho na Bahia, e leitos c de artefatos cerâmicos, conforme consigna a
é em parte um testemunho vjvo disso. pauta da Alfândega do Rio de Janeiro, de 1739. No
Assim, um rol extenso de recipientes se fazia pre­ confronto entre os diversos tipos de louça, então expor­
sente no Brasil, fora os gigos, barris, cestos, jacás, cai­ tados pela Bahia, para outras praças e de seus preços,
xetas e cabaças; havia também os contentores de acreditamos que os alguidares bahianos, cotados ao
alimentos e líquidos, estes em estanho, prata ou cerâ­ preço alto de $ 40 réis a unidade, fossem de louça
mica: escudelas, pratos, panelas, frascos, copos, púca­ vidrada,
ros, garrafas, albarellos, botões, malgas, jarras em for­ É de se presumir, com bastante verossimilhança,
mato de ânforas, alguidares, etc, De ressaltar ainda as que parte dos oleiros remóis afeitos aos processos ce­
famosas peroleiras de que Ernani Silva Bruno (">, faz râmicos na Metrópole, entre os três materiais mais usa­
menção, informando que em um documento de .1680, dos na esmaltação — o chumbo, o estanho e o sal —
são assinaladas “vinte peroleiras sevilhanas" — serviam não conhecessem pelos menos o emprego deste último.
elas, segundo o mesmo autor, para vinho, vinagre, mel, Enquanto aqueles exigiam técnica de aplicação mais
melado, sal. Quanto às botijas, informa Ulysses Per­ apurada, o processo salino era o mais rudimentar e o
nambucano Mello Neto í,2>que foi encontrada no galeão mais simples na escala da manipulação química — ca­
Sacramento, grande número delas, que continham azeite, seiro por assim dizer — pois consistia apenas na intro­
ágna, vinho, aguardente e ainda, secundariamente, ser­ dução do sai de cozinha no forno, abaixo de 1 .000°,
viam de contentores, também para sólidos como azei­ para recobrir as peças de uma glasura brilhante dan­
tonas, ameixas, alcaparras e até balas de mosquete de do-lhes atraente coloração, nas cambiantes de mel claro
chumbo a bordo. a escuro.
Porém a informação de maior interesse cerâmico Presumimos também que cm Minas o fabrico da
surge com a indicação de que no período de 1578 a louça vidrada já fosse corrente no transcurso do século
1750, nos documentos compulsados em São Paulo, são XVIII, com a presença de oleiros portugueses de que
referidas “oitenta e nove botijas, ordinárias de barro, ou Augusto de Lima, faz menção.
vidradas, ou de arame’’, segundo Emani Silva Bruno. O fato é que os mineiros pelo final da centúria
Assim a louça vidrada importada correspondente a procuram melhorar a cerâmica até então existente. O
vasilhame, é consignada naquele período. Porém o fato que implica necessariamente na escolha de melhor ma­
é que não existe uma referência expressa, coeva dessa terial para a composição da pasta e uma técnica mais
categoria de louça, fabricada na terra, no correr do apurada na manipulação dos diferentes esmaltes. É o
século XVIII, salvo alguma nova revelação. que se pode deduzir do que as crônicas nos relatam so­
Quanto à louça vidrada, fabricada no Brasil pelos bre os ensaios bem sucedidos, procedidos pelo D e. José
índios, constante do relatório da expedição de Oreílana, Bittencourt com o barro de Caeté, entre 1777 e 1786 (14>.
ainda, no século XVI, a sua existência na Amazônia, Porém, segundo foi possível apurar, a louça vi­
não pôde ser comprovada, como vimos, O que não drada, fabricada na terra, sá vem referida especifica­
acontece em Pucbla no México, onde há referências que mente em documento no ano de 1800.
Ordens Religiosas, ainda no correr do século XVI, já É no inventário de uma dama paulista de Itape-
haviam passado a ensinar aos índios mexicanos o iiso tíninga, D.a Incs Vieira Prestes, que são assinalados:
do torno e aplicação do vidrado no vasilhame. ' “Dois púcaros de louça vidrada da terra”, referindo-se
Mas é de se presumir, embora não consignada, que àquele inventário e pertences ainda ao século X V III.(,í)

317
IV - AZULEJOS

o século anterior, o artesanato munhos de alguns dos mais belos exemplares desta
azulejar em Portugal, era ainda época.” {t7>
restrito. A esse respeito nos é Esse setecentismo lusitano é pois o século do pleno
dito: “Nesta época (século florescimento de arte azulejar e de uma produção volu­
X V n) os fabricantes portu­ mosa e diversificada.
gueses se queixavam da invasão Este é ainda o século em que se constata o começo
do mercado pelos azulejos do do alastramento do uso do azulejo no Brasil e em que
Norte (holandeses). Em 1687, como medida de pro­ a azulejaria portuguesa domina soberana o mercado
teção à entrada do produto foi proibida, restrição que ultramarino brasileiro. E a sua aceitação no Brasil tem
durou até 1698. Durante estes onze anos, os portugueses sua razão dc ser, pois os produtos portugueses, faziam
trataram de melhorar sua técnica para fazer face à jus àquela preferência, já que as suas fábricas porfiavam
concorrência estrangeira. O ano de 1755, marcado pelo em apresentar produtos superiores, de vistoso efeito e
terremoto que destruiu Lisboa parcialmente, assinalou artística apresentação. No tocante aos painéis e aos tape­
também o fim de importação dos “azulejos do tes, produziram verdadeiras jóias que ainda hoje, passa­
Norte”. «» dos séculos, subsistem engastados em numerosas paredes
No século XVIII, em seu transcurso a Azulejaria das construções coloniais, de forma a continuarem a ser
portuguesa com um corpo artesanal mais habilitado e o admirados pelas gerações que vão passando.
controle da concorrência flamenga, estabelecido, irá Entre o rol de obras notáveis dc artistas, azulejistas
expandir-se tanto em volume como em qualidade. É o ou "mestres de ofício tadrilhador” qtfe nos é lícito
século no qual alcança ela seu apogeu artístico, da admirar, de várias delas foram identificados os autores.
mesma maneira que o século XIX irá apresentar seu Assim, foi Bartolomeu Antunes (1688-1753) quem
declínio, com a queda da produção e da qualidade, dado executou os magníficos painéis da Capela Mor de São
Os problemas poiíticos do começo da centúria e adoção Francisco, na Bahia, E de acordo com as pesquisas de
dos métodos industriais e a concorrência da faiança fina. Mário Barata, os lindos alizares da Capela Dourada do
. .. A esse propósito pontifica Raphael Salinas Cala­ Recife de 1703, assim como os do Solar do Saldanha,
foram executados pelo mestre Antônio Pereira,
do: “O século XVIII é por excelência o período da
Caracteriza-se. ainda esse século pelo predomínio
grande expansão, era que, a quantidade corresponde à do azul e branco, que só passa a ceder lugar aos
qualidade e todo o país, recebe com agrado o novo esquemas coloridos pelo final da centúria com o neo-
revestimento. O Brasil, Açores e Madeira, são teste­ -clãssico.

LISBOA ANTES DO TERREMOTO

Pormenor da "Vista Panorâmica de Lisboa" Painel de Azulejos do fabrico de Lisboa, 1730, existente no
Museu do Azulejo. Cortesia do Museu Nacional de Arte Amiga„

319
Dc notar ainda que há uma d i f e r e n ç a marcante lejar as fachadas cra inicialmentc defesa contra a pene­
entre a execução dos painéis, sempre mais esmerada e tração das chuvas; depois tornou-se moda embelezar e
a dos azulejos avulsos, dc fabricação cm série, esterioti- imitar o vizinho”, c acrescenta: “Na história da Cultura,
pada, produzidos aqueüei em ateiies de renome c estes, deve ser entendido transcendendo suas propriedades pu­
em sua maioria, por numerosos e pequenos fabricantes ramente práticas, como símbolo de status e forma de
regionais, quando não de produção familiar, sobretudo arte. Somente através deste prisma poderemos explicar
n a im itação de motivos holandeses, por volta de 1720 satisfatoriamente sua intensiva importação para o Brasil
C 30, quando por vezes "participava toda a família do colonial e não certamcntc invocando causas climáticas
oleiro, cada membro se especializando na pintura de ou técnicas".
determinada figura”. 0« I
Realmente essas argutas observações de ordem psi-
Devc-se ressaltar que os painéis que eram executa­ so-social — a da ostentação e a da busca do belo
dos uas oficinas de artistas independentes de renome, através da arte — pela sociedade colonial, constituíram
e os desenhados por pintores de fábricas de nomeada, o fator determinante que explica a rápida e ampla apli­
estavam uns e outros presos, nesse género figurativo, as cação do azulejo no Brasil, nos centros urbanos e rurais,
escolas e aos temas em voga do Barroco, do Rococó ou onde medrava a prosperidade.
do Neo-Clássico.
Porém a decoração do azulejo avulso, tanto mo- Estas razões não eliminam outros atributos secun­
nocor como policromado, refletia, quando não inspira­ dários que por certo influíram também na expansão do
dos por similar estrangeiro, uma criatividade pura na azulejo avulso, sobretudo no final da centúria: o da
escolha dos motivos, quase sempre liberta dos ditames frescura conferida ao ambiente já assinalada pelos
acadêmicos. Udo Knoff corrobora esse pensamento, egipeiais milênios antes de nossa era, o da higiene e
quando assinala: “Os artistas portugueses, todavia, não limpeza na conservação de determinadas dependências
copiaram as, figuras avulsas dos outros, mas criaram os de uma habitação.
seus próprios motivos de espírito diferente e sem dúvida O emprego, pois, do azulejo que classicamente esta­
mais decorativo (oh, cit. pág, 57). va adstrito às partes nobres da casa, onde exercia apenas
Esse confronto entre o convencionalismo e a livre uma função decorativa, como no vestíbulo, nas galerias,
concepção repete-se na decoração da faiança dc mesa nas escadarias, nos páteos, nas salas de jantar, nos sa­
e de adorno e da louça vidrada. Há fábricas, como 6 o lões, etc,, passa também a outras dependências secundá­
caso da do Rato, Juncai, Viana, entre outras, que rias e à parte externa da morada, passando a exercer a
sego em em suas composições os estilos e convenções dupla função de adorno e proteção.
pictóricas e esculturais dentro do modismo dominante, O uso do azulejo fora do recinto de uma edificação,
e outras oficinas que produzem a seu talante. Estas, mormente templo, já era de emprego milenar e aplicado
auto-criadoras cm sua expressão decorativa, interpretan­ como forma dc proteção c realce ornamental, tanto na
do singela mas expressivamente o pendor e o agrado Europa Ocidental como na Oriental. Em Constantino­
populares nos motivos e na cor, como é o caso, entre pla, hoje Istambul, são vários os exemplos de torres e
outras, das produções típicas do Prado, dos cangirões cúpulas de templos e mesquitas artisticamente ornamen­
do Porto, dos “Ratinhos” da região de Coimbra, ou tadas com aquele material resplandecente. E mesmo no
ainda pelo fim do século XIX, as personagens de Bor­ Brasil, os coruchéos da Igreja de Belém da Cachoeira
dado Pinheiro, revelando lodos aspectos folclóricos ou entre muitos outros, cuja construção remonta ao século
costumes regionais. XVII e que, são revestidos de conchas, de azulejos e
Porém, a nosso ver, o que mais caracteriza a fase de pratos, constituem belo e pitoresco exemplo do
setecentista do azulejo no Brasil, são dois fatos; o início emprego do azulejo fora dos recintos cobertos.
entre nós da democratização de seu uso e a início de
sua expansão dentro e fora do recinto habitacional. A Mas a grande revelação foi realmente o emprego
esse propósito o Professor Udo observa: “Os murais externo do azulejo em fachadas inteiras. Acreditamos
eram adquiridos pela classe rica e pelas igrejas, já o que empunhamos mesmo o galardão dessa primazia ino­
azulejo avulso cra adquirido pela classe média”. vadora nas artes aplicadas pelo menos na América do
Realmente os painéis eram de custo bem mais ele­ Sul. A Argentina, que também usou o revestimento
vado e via dc regra eram objeto de encomenda com externo azulejado, só o aplicou depois do Brasil, utili­
indicação dos temas e das dimensões, já que em geral, zando-se, sobretudo, da azuiejaria francesa e de raros
eram destinados a locais predeterminados nas igrejas, exemplares espanhóis, todos eles do século XIX.
palácios e mansões. Enquanto que o azulejo avulso, José Wasth Rodrigues aponta aquela adaptação
fabricado em série, era oferecido na praça a quem c externa, como tendo sido posta em prática no Brasil,
quisesse e a preço bem mais acessível. Referindo-se a a partir de meados do século XIX; acreditamos que o
Salvador, informa o citado autor: “Chegaram cargas emérito pesquisador tenha se baseado em que numerosas
inteiras dc um mesmo desenho que depois foram ven­ fachadas do Nordeste apresentavam revestimento azu-
didas para as diversas casas ent construção — não raras lejar português, idêntico; e ele os considerou todos como
vezes na mesma rua” , sendo da mesma época de fabrico do meado do século
O outro fato a que aludimos é o início da aplica­ XIX. Acontece porém que já havia fachadas revestidas
ção do azulejo além do recinto social do prédio — a com azulejos portugueses no século XVIII e outras com
dupla invasão das superfícies parietais: uma que invade azulejos da mesma padronagem, porém fabricados no
as dependências secundárias da moradia, como dispen­ século XIX, copiando os primeiros. Entre vários padrões
sas, depósitos, copas, cozinhas, banheiros, etc., c a outra que passaram do século XVIII para o século XIX,
parte que se alastra para fora da casa e vai compor o podemos lembrar de momento dois citados pelo Pro­
revestimento externo da vivenda. fessor Udo, um conhecido por "Estrela e Bicho”, que
Ainda segundo Udo, na Bahia "O costume da azu- chegou a Bahia no fim do século XVIIÍ. “ Durante uns

320
cinquenta anos, foi usado este pad rão .. . " e outro tipo, mestre, a nosso ver restringe-se apenas à América do
com flores, azul c branco do qual é dito: “Desenho Sul. Raphael Salinas Calado rth nos mostra um correr
muito querido durante duzentos anos”, riu de casas da Vila de Ovar em Portugal com variados
Santos Simões é de opinião de que os azulejos de azulejos de fachadas atribuídos ao final do século
fachada foram aplicados ainda no século XVIII no XVin. No porto, existe igreja com revestimento exter­
Brasil, quando diz: “Constatei que é precisamente no no, to talmente de azulejos.
Brasil e ainda no século XVIII que o azulejo sai dos Em Puebla, no México, há ruas inteiras azutcjadas
interiores e vai revestir fachadas! Solução engenhosa e (em combinações de lajotas e azulejos) datando do
utilitária, ela não havia ocorrido na Metrópole, onde século XVII e na própria cidade do México, existe uma
apenas o azulejo é aplicado em vergas de porta ou jane­ casa senhorial/no Centro da Cidade, toda azulejada de
las externas". Porém essa primazia alegada pelo saudoso branco e azul, atribuídos os azulejos ao século XVI!

B I B L I O G R A F I A

(1) Mafalda P. Z emella — " 0 A b a s le c im e tv o d a C a p ita n ia (11) E rnani Silva Bruno — op. cit.
d a s M in a s G e ra is n a Século K V 111“ -— USP — S. Paulo,
(12) U lvssiis P ernambucano M ello N eto — op. eít.
1951,
(13) Arquivo das índias — Scvilha.
(2) A ugusto de L ima J únior — " A C a p ita n ia d e M in a s
G e ra is“, 2,a edição — Ric\ (14) E. F. Bramcante — "A chegas.. . Louça Mineira", in Rev.
Paulistânia n,° 79 — S, Paulo, 1975.
(3) Arquivo do Estado de São Paulo — Documentos Interes­
santes — vol. 45 -— págs, 133 a 174 — Luís LisantL — (15) O racY N ogueira — "Família e. Comunidade" — M.
"Negócios Coloniais", cd. Ministério da Fazenda — 5 Educação — 1962 — pág. 137.
vols. — Rio, 1973. (16) "Azulejos, sua origem sua história” in rev, "Casa e
(4) S erafim Le it e — " A r te s e O fíc io s n o B ra sil ", Jardim” — vol. 125 — pág. 6 — 1965,
(5) Lycurgo dos Santos F slho — " U m a C o m u n id a d e R u ra l (17) "Evolução do Azulejo em Portugal do século X V ao
tio B ra sil A n r ig a " — págs. 413/414. século X IX ” — Brasil — Maio, 1978 — (Exposição),
(6) José P edro L eite Cordeiro — “Capitão-mor Guilherme (18) Professor Uno Knoff , ob. cit,, pág. 57.
Pompeu de Almeida", in Rev. n.° 58, do Inst. Hísl. e (19) Professor U&o K noff, oh. cit., pág, 57.
Geográfico de São Paulo — pág, 549. (20) Azulejos Beneditinos — Bahia, 1978,
(7) Regísiro Geral da Câmara Municipal — vol. Ill — (21) Ob. cit., pág. 462 — fig, 16 — pág. 458 — fjg. 5.
1745/1747.
(22) R aruaEL Saunas C alado (in “Evolução do azulejo em
(8) Arquivo do Estado — Maço da População de São Paulo Portugal do século X V ao século X X " -— São Paulo _
— 1768. maio, 1978 —. Exposição no Brasil).
(9) A ffonso d'EscRAGNOLLE T aunay — " V ila d e São
P a n to " ,
UO) Serafim Leite — "Artes e Ofícios dos lesai tas no Moda em São Paulo — in rev. do Museu Paulista — nova
B r a s il”, série — vol. V — 1951,

321
A Z U LEJO S
Revestimento externo em Portugal

272

"Rua na Vila de Ovar, mostrando a utilização de azulejos de fachada do final do século X V !li. Fabrico de Aveiro Porto".
{Raphael Salinas Calado, op. cii.j.
bxpaição realizada no Fundação Armando Alvares Penteado, maio de 1978, São Paulo, (Foto cedida por cortesia da Fundação).

322
PORCELANAS BRAGANTINAS

l.a Categoria: à nossa história voltaram para Portuga! com todos os


Nesta categoria, consideramos as peças que fize­ seus pertences, inclusive os diversos serviços de seu
ram parte de serviços e outras, que com coronel, brasão, uso e só aos poucos, nós no Brasil vamos tomando
siglas, signos, legendas, retratos e mesmo sem nenhum conhecimento do aparecimento de um ou outro apa­
desses atributos, foram consideradas de uso e perten­ relho de interesse brasileiro.
centes a membros ou pessoas ligadas por parentesco Graças a vários colecionadores já falecidos ou
ou afinidade à dinastia de Bragança, peças essas já contemporâneos, a quem prestamos homenagem, pela
consagradas como tal, pela tradição e aceitas pelos pertinácia e espírito de conservação de um patrimônio
Museus, colecionadores, antiquários e leiloeiros, e comum, como Carlos Frederico, Odilon de Souza, S,
também aquelas em que novas revelações e descobertas, Vieira de Carvalho, Francisco Marques dos Santos,
devidamente comprovadas, vieram a ser reveladas. Guilherme Guinle, G as tão Penal va, Marechal Emigdio
Como é o caso de outras fidedignas que agora são Tallone, João do Rego Barros, Areai, Comandante
apresentadas como a xícara com as armas reais do Andrade Pinto, Antônio Villares da Silva, Vva. Jaime
espólio de Dona Augusta Victória, esposa do último rei Loureiro, apenas para nos referir aos dessa primeira
de Portugal, Dom Manuel (xícara essa do tempo de geração já falecidos, c mais os da geração atual que
Dom João V I), e ainda uma floreira que pertenceu à representam uma legião de valor, foi possível reconsti­
Princesa Dona Izabel e foi dada de presente a Dona Ana tuir e ampliar, como ainda hoje continua sendo feito,
Gruncwald, etc. o rol de peças identificadas desse passado brasileiro.
Pode parecer estranho que até agora continuem Do lado português, há que render profunda ho­
a ser identificadas novas peças tanto no setor bragan- menagem às pessoas do ilustre heraldista e colecionador,
tino como no de titulares e outras personagens do Conde Castro c Sola, do Conde de Ameal, e outros
passado, porém o fato nos parece explicável. Há que pesquisadores como o Prof. Reynaido dos Santos, José
considerar que a Corte e as sociedades Imperial e Campos e Sousa, Ricardo Espírito Santo, Arthur
Republicana, seguindo a moda c a necessidade, iam cie Sandão e uma plêiade de eruditos conservadores de
adquirindo baixelas no mercado local oo as encomen­ museus, colecionadores e antiquários conscientes.
dando fora, com especificações, e acumulando tanto Damos pois a seguir a relação das peças que já
em palácios, como mansões solarengas, serviços c eram conhecidas e foram citadas e estampadas por
objetos novos ao lado de outros desfalcados. diversos pesquisadores, tanto brasileiros como estran­
Foi o que aconteceu com as louças da Família geiros, em trabalhos especializados de base e que vêm
Bragantina, que foram se amontoando etn diversos pa­ citados na bibliografia para que os interessados que
lácios, desde a chegada da Corte Portuguesa em 1808, ainda não as conheçam possatn a elas recorrer com
(mais de quinze mil pessoas vieram com Dom João VI) proveito. De algumas delas indicamos os atuais possui­
até 1S89. O acúmulo de material em uso e guardado dores. Como é óbvio, não nos foi possível reunir neste
durante oitenta e um anos, abrangendo pois várias gera­ trabalho todas elas (apenas damos a relação das conhe­
ções e o material trazido de Portugal, foi de vulto. Os cidas, porém exibimos algumas delas a titulo ilustra­
assentamentos. dos livros da mordomia (em que são tivo). Revelamos outras que aíé agora eram ignoradas
arroladas tanto peças armoriadas como as dos diversos do grande público e ora são apresentadas, produto que
palácios como Palácio dos Vice-reis, São Cristovam e foram de novas pesquisas, descobertas c informações.
Fazenda Sta. Cruz, corroboram a grande quantidade de 1. °) Xícara c pires de um serviço de café, poli-
louça existente no final da monarquia). Dessa forma cromado, com armas de aliança, do casamento do rei
puderam ser apresentadas a leilão milhares de peças e Dom João V com a arquiduquesa da Áustria, Dona
numerosos serviços ainda com apreciável número de María Ana, em 07.07.1708, do período de Kang-Hsi,
exemplares, com uma diversificação enorme de mode­ Em homenagem à rainha, que foi regente do reino de
los, armoriados ou não. Portugal em 1742, foi dado o nome de Mariana em
Como as descrições dos Catálogos dos leilões 1745 à antiga Vila Real do Ribeirão do Carmo, Minas
eram falhas c por demais omissas, muitas peças, só Gerais. Reprodução da peç.a pertencente â coleção de
mais tarde, puderam ser identificadas e reconhecidas lacques Kiigel.
através de testemunhos de familiares, de amigos, da 2. °) Prato do Serviço do rei Dom José I (1714-
famtilagem e dos próprios arrematantes e seus descen­ -1777), azul e ouro, com as armas heraidicamente
dentes, como proveniente dos Paços. Historiadores, imperfeitas de Portugal na aba, que é recortada e
colecionadores e pessoas que receberam presentes ainda decorada com flores, caldeira com cercadura de tran­
etn vida dos Imperadores e de seus familiares puderam çado' e no centro flores e folhagens à maneira chinesa.
também prestar seu testemunho e informações fidedig­ Período de Kíen-Lung, Reprodução de José Campos e
nas. Acresce também que muitos portugueses ligados Sousa — Brasões, est. XXI — Coleção Corte Real,

343
3. °) Sopeira ù “présentoir” do serviço de inaugu­Portugal, período Kiat-Sing. Palácio de Queluz (Michel
ração da estátua equestre de Dom José I, usado na Beurdeley, ob. cit. pág. 190, cat. 160).
inauguração do monumento em 1775, serviço policro- 8. °) Tamborete que pertenceu a Dona Maria I,
mado. Dom José foi príncipe do Brasil e rei de Portugal princesa do Brasil c rainha de Portugal, policramado,
e casou-se com Dona Maria Ana Victória de Bourbon, oitavado (faz parte de um jogo dc cinco). Estes tam­
filha do rei da Espanha Felipe V — período Kien-Lung, boretes foram herdados por Dom João VI, Dora Pe­
catálogo de junho de 1976 dos leiloeiros franceses — dro I, Princesa Izabei, Príncipe do Grão Pará c Dom
ADER — PICARD — TA J AN (Paris). Pedro Gastão de Orleans e Bragança, seu atual possui­
4. °) Molheira e travessa do serviço de Dom Pedrodor. Período Kiat-Sing (E, F. Brancante, ob. cit. est.
III, rei de Portugal (nascido em 1717 e falecido 'em LVIH, alt. 59 cm).
1786). Casou-se em 1760 com sua sobrinha Dona Ma­ 9. °) Tigela de serviço de chá com o busto de Dom
ria Francisca, princesa do Brasil, a futura Dona Maria João, Príncipe Regente dc um lado, e o de Dona Carlota
1. Serviço poli cromado sobressaindo os tons rosados, Joaquina, princesa do Brasil de outro, peça policromada
tendo ao centro as armas de Portugal, sobre a Cruz ainda no estilo Luiz XVI. Período Kiat-Sing (E, F.
de Malta. Período de Kien-Lung, coleção Jacques Brancante, ob. cit., est. VI, págs. 221/2, coleção de
KLigel (Paris). S. Vieira de Carvalho).
10. °) Peças de sete serviços não armoriados,
5. °) Xícara e pires de serviço de chá das bodas
porém considerados reais e que são conhecidos por:
de Dona Maria I, com seu tio Pedra III em 1760. Peças
Pastores, Galos, Pavões, Corças, Correios, estes prova­
policromadas com a alegoria da Glória empunhando
medalhão com a efígie dos reais consortes e a legenda velmente vindos com a Corte e com características de
Kien-Lung, e ainda Paisagem Pequena e Paisagem
“Maria I c Petrus IIP’. Período Kien-Lung, Ricardo
Espírito Santo Silva, J. A. Lloyd Hyde c Eduardo Grande, já do período de transição e, provavelmente
Malta: I!A Porcelana da China”, ao gosto Europeu, de estoques já existentes em lojas do país e adquiridas
Lisboa, 1956, est. XIX, coleção SC de Portugal. para a Família Reai.
11. °) Xícara Companhia das índias com bojo
6. °) Pires policramado de serviço de chá, varianteduplo ostentando na reserva o brasão de Portugal
do anterior, também do casamento de Dona Maria J sustentado por tenentes (dois anjos que pisam sobre o
com Dom Pedro III, no centro também um medalhão pavilhão francês) — esse serviço foi feito para come­
com a efígie dos soberanos entre palmas ladeado por morar a derrota e a desocupação do solo português
dois anjos e a mesma legenda, idem, idem coleção E.M. pelas tropas francesas, peça rara. Coleção dc Jacques
Portugal. Kiigel (Paris).
7. °) Floreira hexagonal que pertenceu à Dona 12. °) Serviço conhecido como os Meninos dc
Maria I, de fundo bege decorada alternadamente com Palhavã — coleção de José Maria Jorge.
reservas dc pássaros e folhagens floridas c as armas de Etc., __

344
Sécs. X V III/X IX PORCELANAS BRAGANTINAS

Serviço conhecido come os M eninos de Palhavã (filhos


bastardos de Dom João V), havendo no w a n fo , contro­
vérsia sobre a verdadeira proveniência do serviço.
Cor!es ia de José Mn ria Jorge.

297

Serviço de Dom Pedro UI c de D ona Maria l, usado no fa ia ­


d o de Queluz, Dos rnais belos que se conhecem em cuiltj
rocaiíle. Gentileza de Jacques Kügel (Paris), a o lado a travessa
ou " présentoir” da pequena molheira.

298

A xícara de boca larga, fo i adquirida em Zurich no leilão do


espólio de Dona Augusta Viclâria Sigmarigen. esposa de D om
Manuel, falecidos ambos no exílio. Representa o repúdio e
vitória dos Portugueses na ocupação Francesa, pois ao lado do
brasão real, víem-se dois anjos como suportes, pisando em
baixo duas bandeiras francesas cruzadas no chão. O pires e a
xícara afundada com armas de aliança (portuguesa e austría­
ca) jizeram parte do serviço de café do casamento de Dom
João V com Maria Ana. arquiduquesa da Áustria, peça extre-
mamenie rara. Coleção Particular.

345
Séc. X V II! PORCELANAS BRAGANTINAS

299

Sopeira c prisentoir do serviço conhecido da "inauguração da estátua equestre de Dom José I, rei de
Portugal". Estas peças foram leiloadas n o F a la i s GalUéra", em Paris, em junho de 1976, pelos rena-
mados leiloeiros franceses: Ader, Ficard e Tajan. Cortesia de Mr, Patricc Sonnenberg — Paris,

346
Séc. XVIII PORCELANAS BRAGANTINAS

Prato raro que pertenceu a Dom José 1, de Portugal {1714-1777), de elaborada decoração azul e ouro:
a borda couta quatorze lobos e c aba é compartimentada também em quatorze divisões com flores e na
de cima o b rasco real; a base da aba junto â caldeira é constituída por um colar de “Jo-i". A caldeira c
de fundo azul, com desenhos quadriculados, arcos e cantas. O centro é com posto de um arranjo floral
tipicamente chinês. Damos a seguir a indicação de José de Campos e Sousa, contida em "Loiça Braso­
nada", Lisboa, 196j — pág. 247, de onde reproduzimos a estampa e colhemos os dados; o verbete do
autor ê;
"Estampa X X X I. Dom José I, Porcelana da China, de encomenda, Coleção Corte Real, Lisboa.
Foto Abreu N unes — Lijsboa",
Séc. XV II! PORCELANAS B RAGANTIN AS

301

Tamborete de um jogo de cinco, pertencente á coleção de Dom


Pedro Gastao de Orleans e Bragança (o brasão ê do período
de D ona Maria 1 e Dom Pedro III) — século X V III,

(detalhe)

348
Séc. XVIII PORCELANAS BRAGANTINAS

30^'

A tigela apresenta as suas duas faces numa, a príncipe


regente Dom João e noutra, a princesa D o m Cartola
Joaquina, peça essa ainda com atribuios do século XVI11.
A tigela pertenceu ao Conselheiro José Higino Pereira
e fo i adquirida em R ecife em 1896, pelo Sr* Vieira de
Carvalho. A travessa de baixo é do serviço conhecido
por uG aiío^’ e fo i leiloada em Paris, em 1976, pelos
leiloeiros: A der, Picard e Tajart,
Cortesia de M r. Patríce Sonnenberg.

349
Sees. XVHJ/X IX PORCELANAS BRAGANTINAS

304

A sopeira, à esquerdo, é conhecida com o dos "Correios", fa-


tendú parte dos serviços Imperiais; cortesia de D om Pedro
Gastão de Orleans e Bragança.

305

Floreira de uni serviço que pertenceu íi Princesa Izabet e foi


dada ti ama, Ana Grünewald, do Príncipe do Brasil, Dom
Pedro de Alcântara, pai de Dom Pedro Gastão de Orleans e
Bragança a quem devem or a cortesia da informação.

306

Séries d e t r is p ra to s d e se rv iç o s c o n h e c id o s p o r " P o y S cs , P a tlo r e s e G a to s " , c o n s id e r a d o s c o m o re a is e im p eria is,


C orresia d e J o ã o M o re ir a G a r c c z F ilh o ,

350
PORCELANAS HISTÓRICAS OU PERSONALIZADAS
(Século XVIII)

2Ã Categoria: Peças poücromadas de borda recortada com escudo na


aba e festões entrelaçados com flores no centro. Pe­
Nesta categoria, consideramos as peças (fora as ríodo Kien-Lung. (col. Conde Castro e Soia, ob. cit.
da Família Real e Imperial) com coroa, siglas, icono­ pág. 135 —- E. F. Brancante, ob. cit. pág. 44 — est.
grafias diversas, legendas c outros signos, e mesmo sem XLH).
nenhum deles, porém que possam apresentar uma 7.°) Serviço de Antônio Joaquim da Costa Corte
individualização e um intéresse histórico ou social com Real, nascido cm 1730 (?) e falecido em 1814. Foi
filiação comprovada por testemunhos fidedignos ou por desembargador na relação da Bahia, em 1782. As peças
documentos. são poücromadas (a aba é idêntica ao serviço de Dom
Damos pois uma relação daquelas peças que já André de Mello e Castro) com o brasão entre a aba e
foram localizadas c exibidas por outros pesquizadores, a caldeira. Período Kien-Lung — coleção Antônio Ave­
cuja bibliografia apontamos para orientação do leitor, lar Fernandes (E.F. Brancante, ob. cit. — cst. XLII1).
exibindo no momento apenas uma pequena parte delas; S,°) Serviço de Luiz Pinto de Souza Coutinho, 1
e a seguir estampamos outras que agora são reveladas visconde de Balsemâo, nascido cm 1735, c falecido em
ao grande público, assim como fragmentos de cerâmicas 1804. Ocupou várias e importantes missões, além de
personalizadas, ter sido capitão-general e governador da Capitania de
t,°) Serviço de Dom André de Mello e Castro, 4 .0 Mato Grosso. Existem dois serviços idênticos policrò-
conde das Galvcas, serviu em Minas e na Baliia e foi mados, apenas com a diferença de um deles apresentar
nosso 5.° Vice-rei (1735-1748). Policromado com o paqutfes em volta do escudo. Período Kien-Lung,
brasão no centro. Período Yung-Cfieng, ou começo do (Conde Castro e Sola, ob. cil. — E. F. Brancante —
Kien-Lung. (E. F, Brancante, ob. cit. est. XVIII). ob, cit. — est. XXXVI).
2. °) Serviços atribuídos por nós a Dom Luís de 9.°) Serviço de Antônio Veiga Cabral da Câmara,
Ataíde (ou Dom Luís Peregrino de Âtaíde), que, entre l.° Visconde de Mirandela, nascido em 1739 e falecido
outros cargos elevados, desempenhou o de Ó.° Vice-rei em 1810. Foi governador de Sta, Catarina e das Armas
do Brasil (1748-1755). Vide mais adiante histórico do Rio de Janeiro (17S0) e depois governador na índia.
sobre os Ata ides e os Atouguias assim como os comen­ Peças policromadas rieamenie decorada com festões na
tários sobre os serviços daquela grande figura. aba, alvéolos azuis na caldeira e brasão no centro. E. F.
3. °) Serviço de Dom Diogo José Vito de MenezesBrancante, ob. cit. — est. XXXV - coí. Alfredo Se­
Cominho, 5.° Marquês dc Marialva, 1 ° conde de Can­ queira Filho.
ta nhede e que pertenceu também a seu filho Dom Pedro
José Joaquim Vito de Menezes Couíinbo, 6 .° Marquês !0.°) Serviço de Manuel da Cunha Menezes, 3.°
de Marialva e 8.° conde de Cantanhede, falecido em conde de Lumiares, nascido em 1742 e falecido em
Paris em 1823. Representou Dom Pedro I, no casa­ 1791. Governador e capitão-general de Pernambuco e
mento com Dona Leopoldina, acompanhando-a ao Rio. governador da Bahia de 1774 a 1779, Peças ricamente
Período Kien-Lung (E. F. Brancante, ob. cit. pág. 2 68 decoradas com alvéolos na caldeira e brasão no centro.
— esLX XII): Período Kien-Lung. E. F. Brancante, ob, cit. — est.
4. °) Serviço de José Seabra da Silva, ministro doXXXI — col. Zulmíra Veloso.
Reina, deportado por Pombal para o Brasil, e cujo 11. °) Serviço que pertenceu a Francisco da Silva
filho Manuel Maria Coutinho Pereira Seabra e Souza Telio de Menezes, l.° Marquês de Vagos, 6 ,° Conde
recebeu como desagravo o título de Visconde da Bahia. de Aveiras (Port.), nascido em 1723, em Portuga! e
Peças poücromadas com brasão, flores e festões. Pe­ falecido em 1813, no Rio de Janeiro. No Brasil desem­
ríodo Kien-Lung. (Conde Castro e Sola, ob. cit. págs. penhou as altas funções de governador das Armas da
36/40 — E. F. Brancante, ob. cit. cst. XIX). Corte e da Capitania do Rio de Janeiro, Conde Castro e
5. °) Serviço dc José Pires de Carvalho e Albu­ Soia, ob. cit, pág. 142/3 — esL LXXXIV — col.
querque, (casado com uma Garcia D’A vila) capitão- Francisco de Assis Magalhães e Menezes (Port.).
-;nor da Bahia (1743). Peças poücromadas, recortadas, 12. °) Serviço de Dom Rodrigo Domingos Antônio
com festões e brasão no centro. Período Kien-Lung. de Souza Coutinho, í-.° Conde de Linhares, nascido em
Coleção Michel Ellin — SP. (E. F. Brancante, ob. cit. Minas Gerais em 1755 e falecido no Rio, em 1812.
pág. 298, est. XXX). / Ministro da Marinha, dos Estrangeiros e da Guerra, de
6. °) Serviço do Fidalgo José Mascarenhas PachecoPortugal, na permanência da Corte no Rio de Janeiro,
Pereira Coelho de Mello — (1720-1788?) fundador Peças poücromadas com festões e o brasão com as
da Academia Brasílica dos Renascidos, na Bahia; armas dos Sousas e Coutinhos. Período Kien-Lung. Co­
esteve preso em Santa Catarina por motivos políticos. leção Conde Castro e Soia (Port.),

351
13T) Três serviços diferentes tío 5.° conde cie Sar- 21. °) Doisjarrões do Palácio da Aclamação, Salva
zedas, Dom Bernardo José Maria de Lorena e Silveira, dor. Segundo a tradição, esses jarros monumentais que
governador 9 anos da Capitania de S. Paulo e depois adornam o salão de festas do Palácio do Governo da
(lid e Minas. Foi também vice-rei da índia, mas voltou Bahia, serviam na época para armazenar cereais. Pe­
ao Brás®, integrando a Corte de Dom João VI, Nasceu ríodo Kang-Hsi. Informações Dr. Luiz Torres — BA.
cm 1756 ern Portugal e faleceu no Rio em 1819. A 22 . °) Pratos embrcehados etn dependência do
cidade paulista de Lorena adotoo-ihe.o nome, em home­ Convento de Santa Teresa, parte dos fundos, atirai Mm-
nagem ao operoso governador. Os três serviços são seu de Ane Sacra da Bahia, pratos em azul e branco
po lie cornados, ostentando os brasões dos, Silveira c dos com ramos de flores e ccrea. Período Kten-Lung (cerca
Tãvoras, com a legenda "Quaseumque fitjdit” (atraves­ de 1740). /
sarei quaisquer águas). Período Krat-Shjg — E. F.
Brancante, ob, cit. — etc. XXXII — XXXIII — 23. °) Pratos embrcehados nos dois coruchéus da
XXXIV. Igreja de Belém da Cachoeira — BA — formando uma
14. °) Serviço de Dom José Luís de Castro, 2,°cruz de Lorena — Jouça azul c branco (louça pó de
Conde de Rezende, 13.° Vice-rei do Brasil, de: 1790 a pedra inglesa, conhecida por borrão, séculos X V III/
180R A cidade cie Rezende adotou seu apelido em XIX). Retificamos informações anteriores de que se
homenagem à sua pessoa. Sob seu governo c que foi tratava de porcelana chinesa.
supliciado o Tiradentes, Decoração políeroma com o Havíamos informado (ob, cit. págs. 141/143/144)
brasão dos Castros ao centro (ouro e arruelas azuis). que se tratava de porcelana chjnesa azul c branca, do
Período Kien-Lung. Conde Castro e Sola, ob. cit, pág, século XVII, baseando-nos em assertiva de 1937 de Go-
92, (E. F. Brancante, est. XX — coleção Campos e dofredo Filho, de que a cúpula era coberta “da mais ruti­
Sousa — PorL), lante dc louça de Macau" (in rcv. do* Scrv. Patrimônio
15. °) Serviço, atribuído ao Comandante JoaquimHist. e Arts. Nacional 1937, págs. 101/111), Porém
José de Siqueira — proprietário, em Mala Porcos Santos Simões refere-se “a vestígios de louça oriental de
(Botafogo), de uma das mais belas residências do Rio mistura com azulejos de padrão azul, obra que se me afi­
de Janeiro. Decoração Luiz XVI, à maneira do “bleu gura ter sido feita já nos princípios do século XIX” (ob.
du roi”, com ramagens douradas e a sigla J.J.S. dentro cit. pág. 56). Diante das discrepâncias, fizemos verifica­
de uma elipse ao centro. Cerca cie 1770/80 — Período ção in-loco. Os pratos são dé louça inglesa (pó dc pe­
Kten-Lung (Newton T. da Silva Carneiro — “A Louça dra) em azul borrado (louça borrão) com motivos
da Companhia das índias no Brasil”, 1943 — SP — imitando os orientais e alguns 'brancos. Quanto aos
pág. 22). azulejos portugueses, confirmam o período de princí­
16. °) Serviço de Dom Frei Cipriano dc São José,pios do século XIX pela espessura (13 mm), pela
5.° bispo de Mariana (1799), decoração policromada decoração de um azul esmaecido c pela pasta cor de
com barra azul denteada, centro flores. Período Kien- palha. Há porém cacos de louça chinesa.
-Lung — ( Edgard Cerquei ra Falcão — “Relíquias da
24. °) Cacos embrcehados no altar de Santo Antô­
Terra do Ouro").
nio, na entrada da Igreja de Nossa Senhora de Boa
17. °) Serviço com a sigla do Capitão João Noguei­Viagem, onde existem três grandes e magníficos painéis
ra dos Santos —- J.N.S, — casado com Dona Joana da em azulejos estaníferos, no altar-mor, com ex-votos em
Conceição, pais <le Domingos José Nogueira Jaguaribe azul e branco, fabrico de Lisboa (?) e embrechados
(Visconde de Jaguaribe). nascido em Aracaty — Ceará, cacos de cerâmica djversa — louça inglesa (pó dc pedra,
em 14 de setembro de 1820 e falecido no Rio de Janeiro etc), tipo borrão ej outros fragmentos de azulejos do
em 5 de junho de ÍS90. Desembargador da Relação dó Pas de Calais, mas contendo também cacos de pofcela-
Recife e do Rio, senador pelo Ceará e ministro da na chineza azul e branca, cacos de azulejos portugueses
Guerra em 1871. As peças são policromadas em ‘Tougc azuis com cabeças de anjo, etc. (séculos XVIII e X IX ),
de fer” e ouro e dentro de um ovai as iniciais J.N.S.; a
decoração da aba de eximia execução é conhecida por 25. °) Cacos e pratos de louça inglesa e porcelana
Fiizhugh, muito apreciada na América do Norte. No chinesa, embrechados no Jardim das Princesas, na Quin­
Brasil existe outro serviço, o do Visconde de Cabo Frio, ta da Boa Vista, Rio de Janeiro (séculos XVIII c XIX).
(sem iniciais) com aba idêntica mas em marrom. Perío­ 26. °) Serviço que pertenceu, segundo consta, à
do Kiat-Sing. A travessa da estampa pertenceu à coleção família Freire, radicada cm Paqueíá, nos séculos XVIII,
de Gastão Penal va, jornalista carioca e colecionador. XÍX e XX. Peças desse aparelho foram exibidas em
38.° ) Dois serviços que pertenceram a Francísca da Buenos Aires, em Exposição patrocinada pelo Ministé­
Silva de Oliveira (a famosa Xica da Silva), casada com rio de Educação do Brasil, e constam do Catálogo sob
João Fernandes de Oliveira o opulento contratador de n.° 38 (18-10-1966) sob àquela denominação.
diamantes, um cm porcelana chinesa (louça de Macau) 27. °) Tigela brasonada atribuída à Família Albu­
e outro de fabrico japonês, porcelana de Imari com querque —- Período Kjen-I.ung,
peças vasadas policromadas com realce de azul e ver­
melho. Segundo metade do século XVIII — coi Ante­ 28. °) Serviço com as armas dos Lindcnbergs —
nor Edmundo Horta — M.G. Serviço de mesa e de chá. Segundo informações, perten­
19.°) Par de vasos da Igreja de Mariana, policro- ceu a Adolpbo Frederico Lindenberg, cônsul alemão em
mados, alt. 85 cm, fundo em “powder blue”, com Portugal — irmão de Luiz Lindenberg, filhos do
reservas em Família Rosa, Período Yung-Chcng. burgomestre de Lubeck João Gaspar Lindenberg —
2Q.°) Par de vasos da Igreja de São Francisco de (1740-1840) . Acreditamos que parte do aparelho tenha
Paula — Rio de Janeiro, do período de Kang Hsi, dc chegado ao Brasil, através dc Lujz Lindenberg que aqui
acordo com Francisco Marques dos Santos, se radicou.

352
Séc. XVIII PORCELANA COMPANHIA DAS ÍNDIAS
(Histéricas ou Personalizadas)
307
A lt-avessa moldada com !rançado de cesleariã na aba e
guirlcindas de flores, com friso azul e faixa na caldeira com
o brasão, coronel e a legenda Ave-Maria, faz parle do serviço
do 1,a Visconde de A{irandella — Francisco A ntônio Veiga
Cabral da Câmara, governador interino da Capitânia de Santa
Catarina (1778/79) e governador das Armas do Rio de Janeiro
(1780) e governador da índia. Coleção A Chiou Carneiro.

308

Trata-se de um serviço antigo no Brasil. Segundo consta o


serviço original, teria pertencido a uma família Freire de
Faquetá (Rio) e por morte dà Sinhá Freire (cerca dc 1900). o
serviço foi dividido entre quatro herdeiros -—* uma parte foi ven­
dida ct Fernando Baerleirt (antiquúrio) do Rio, que vendeu parte
para a Argentina, a A lfredo Olmos (antiquário) de Buenos
Aires. P m te desse serviço, uma sopeira, travessa, pratos, etc,,
(ao todo oito peças) foram exibidas em Buenos A ires em E xpo
sição patrocinada pelo M inistério da Educação do Brasil em
1 8 ,1 0 .1 96b e organizada pela Embaixada do Brasil e oeto
Museo Nacional de A rte Decorativo, dc Buenos Aires, "E t Arte
Luso Brasiteho en cl Rio dc la Flafa” e consta do respectivo
catálogo sob n P 3 8 1 com os seguintes dizeres: miChina — Fer­
ie neceron a ta famUia Freire de ia fsla de Faquetá (Bahia da
Guanabara) Brasil”,
Coleção Gilberto Paccar he — 5. Faido,

309

StTvífo em azul "bleu du roi e ouro com J. J. S.” que pertenceu a


personagem do R io de Janeiro (século X V lti): ao Comandante
Joaquim José de Siqueira “cuja casa em Mata-Porcos, era
uma das melhores do R io de Janeiro Colonial”. Vide Newton
da Silva Carneiro — “A Louça da Companhia das Índias no
JirasU", ín rev. de Estudos Brasileiros. Rio, ano V, vai. 9 —
1942 e separata 1943 (Empresa Gráfica Rev, dos Tribunais
de São Paulo).

353
Sees. XVIU /XIX PORCELANAS CHINESAS
(Históricas ou Personaliiadas)

Par de jarras importantíssimas, pertencentes ao Palácio da


A cia,'nação, sede do Governo Baiano — 35 cm. do alto
período Kang-Hsi. Cortesia do .Senhor Governador Roberto
Santos e Luís Pedreira Torres.

310

Prato que pertenceu ao 5.° Conde dc Lumiares, Manuel da


Cunha Mener.es, governador e capitão general de Pernambuco
e governador da Bahia (1774 a 1779),' Vide Conde de Castro
e Sola, ob, cit. Brtiamcamp Freire —- Brasão da Sala de Sintra
— pág. 168 e B. F. Brancante, oh, cit, pág. 302.
Cortesia do colecionador José Miguel Osório M onteiro Soares
(Rio).

Visconde de Balsemão (com paqitile) existe outro serviço


idêntico sem decoração em volta do escudo.
Cortesia de Paulo M e na no (Santos).

354
Sécs. X V II!/X IX P O R C E L A N A S C O M P A N H IA D A S ÍN D IA S
Família Lmdenberg

Segundo o Conde de Castro c Sola fob, cit. pãg. 157 — est. L X X X IX ) este .serviço
pertenceu a Ailolpho Frederico Liadcnbcrg, cônsul alemão em Portugal, irmão
de Luiz Lindenberg {que veio para o Brasil 'em ISIS) ambos filhos de João Gaspar
Lindenberg (1710*1824! senador blrgomestre de Lubcck. Acreditam os que os dois
serviços sejam do burgo mestre e que o Adoipho, como o Lidz, se w irmão, tenham
herdado parte dele, pois são encontradas peças desse serviço (tanto a de mesa,
como o de chá) no Br as d. Lrtiz foi o tronco brasileiro dessa ilustre família, nascido
cm Lubeck ein 0 7.11,1700 e falecido no R io em 10.0$ .1850; era engenheiro
agrônomo, administrou ã Fazenda)Mandioca, do Barão Von Langsdorff, em Porto
Estreia, tendo depois fundado as Sulinas de Cabo Frio, a serviço de Dom Pedro
1, O prato de cima tem friso marrom c ouro e no centro as armas policroiuadai
dos Lindenberg e pertencente ao Arquiteto Adoipho U ndcnbetg. A xícara de
baixo, de fundo negro i listei dourado na reserva, ostenta o m esm o brasão da
família. Coleção Newton Carneiro (Vide Carlos Fouquet — A Família Lindenberg
no Brasil, in rev. Genealógica Brasileira — ano í — 194 — nP 1, pág. 21 —
S, Paulo. — Alberto Lamcgo — "O Homem e. a Restinga" — Rio).

355
Séc. XV SII PORCELANAS COMPANHIA DAS ÍNDIAS
{Históricas cm Personalizadas)

314

José Pires de Albuquerque, capitão-mor da Bahia (1743), casa­


do com uma Gürcía D'A vila — Período Kien-Lung.
Cortesia de Michel Erlin — 5, Paulo.

Serviço do M inistro do Reino — José Seabra da Silva, iarnbém


conhecido por aparelho do Visconde da Bahia, {sen filho, que
herdou o serviço). Cortesia de M ichel Etlin — .S. Paulo,

Prato com guirlandas na aba e as iniciais T. G .


no centra, que pertenceu, segundo NcwtOn Car­
neiro a TVióinás Gonçalves — capitão-mor do
Rio de Janeiro, século X V III. Existe do mesmo
personagem utn serviço de café com swyj Iniciais,
porém de decoração diferente.

356
Séc. x v i u P O R C E L A N A S C O M P A N H IA D A S ÍN D IA S
(Históricas ou Personalizadas)
(BRASONADAS)

pires brasonado todo decorado cotn figuras chinesas, inclusive


uma sentada dentro de um círculo no centro. O brasão na aba
encimado por elmo e plunuts, indica que se trata de. fidatgo <
segundo consta (Jenny D rtyfus) o brasão seria da família
Albuquerque. Período Kien-Lung.
Cortesia dc Antônio de Avellar Fernandes,

Xícara poUçroma, armoriada, de serviço de


chã do primeiro Visconde de Mirandella (já
referido).
Coleção Dr, José Miguel Monteiro Soares —
Ui.o)

O prato ao lado, é um dos serviços conhecidos dc D Bernardo


José Maria de Lorena e Silveira, 5.° Conde das Sarzedas,
governador da Capitania de São Pãulo ’ da de Minas Gerais
e Vice-rei da índia. (Vide E. F. Brancanle, oh. eh.).

357
Sees. X VI U/ X I X PORCELANAS COMPANHIA DAS ÍNDIAS
(Históricas ou Personalizadas)

Travessa policromada com o brasão do I S Visconde de h ;i-


semõo — Luiz Pinto de Souza Com inho — n. 1735 f. ISO tj_
que ocupou posição cie relevo em Portugal e no Brasil, onde 'oi
320
capitão-general e governador da Capitania de M ato Gros ro.
Vide E. F. Brancdnte, ob. cit. págs. 31819, Existe outro senrço
idêntico porém c im o brasão ladeado de belos paquífes.

Travessa em "rouge de fer" e ouro, tendo na aba a decoração


conhecida por "F ilz Hitgh“, no centro o prato tem a sigitt
J. N. S, que corresponde às iniciais do capitão João Nogueira
dos Santos, pai de Domingos José Nogueira Jsguaribe — IF
Visconde de laguaribe, que desempenhou entre outros elevados
cargos, o de senador pelo Ceará e M inistro da Guerra em
1871. Peça adquirida do antigo colecionador Gas;ao Pcnalva,

O prato de borda recortada com ramagens de flores na t ba


e ramalhete no centro, ostentando na aba o escudo de fida go
em cores, encimado de elm o e timbre, pertenceu a José M rt-
carenhas Pacheco Pereira Coelho de M ello, que ocupou cargos
de importância na administração pombalina e no Braid.
Hom em de letras , fundou na Bahia a Academia Brasílica t'os
Renascidos. Esteve preso em Santa Catarina, de 1759 a 17 ’7,
por desobedecer a Pombal na perseguição aos jesuítas (v de
Alberto Larnego — A Academia Brasílica dos Renascidos —
Paris, 1923 t Conde Castro r Sola, ob, cit, vol. 1 —■pág. 1C9),

358
Sêc. XV 111 PO RCELANAS COMPANHIA DAS ÍNDIAS
A Família Ataíde — Condes de Atouguía
n JV i ■J ‘. i , ■ C 3 /■ .

Dom Luiz de Ataíde — 3 D Conde de. A!ougitia — 2 3 ° Vice-rei tia índia

O brasão da fa m ília dos Aíatdcs remonta ao 1? Conde de Atougnia, A h a io Gonçalves de Ataídr. isso pelos idos da metade tio século X IV . ao
tempo do rei Dom A fonso V, de Portugal, cognominado o Africano, de quem Álvaro fo i lio. Consistia esse brasão dc "três bondas de prata,
sobre campo azul, tendo cotno timbre uma Onça agachada".
Essa família notabilizou-se na História (e também na do Brasil), incluindo-se um dos seus mem bros naquela plêiade de super-homens que no
século XVI , não só criaram o imenso império ultramarino, como souberam manter (um pttgilo de bravos, com pulso e ânimo fortes) o domínio
lusitano sobre a imensidão do mundo oriental■
Pode-se dizer que ê com a morte de Dom Lais de Ataíde, o 3? Conde de A tottgtlia, que sc encerra aquele cicio luminoso da história lusitano
e o desfilar daqueles gigantes legendários. Fm d e duas vezes Vice-rei da índia e na última gestão, com o 23.° Vice-rei de 1579 a 15S3 (segundo
Lafitau), governou o império oriental português no curro reinado de Dom Sebastião, que se encerra cm ISSO, Consta que nesse ano, o rei Felipe
II da Espanha que havia assumido o trono também de Portugal, tem endo que peta sua fama, valor c capacidade Dom Luís fundasse um império
ultramarino independente da Espanha com sede tia índia, apressou-se a conceder-lhe o título de. Marquês de Santarém. Esse título não veio a
ser usado pelos seus descendentes que eram conhecidos sociaimen te por Condes de Atougtãa, porém a maioria de seus descendentes já no século
XVII, passa a usar a coroa de marquês em lembrança daquela honrosa outorga real. Isso ê comprovado tanto em estampas (Dom Jerânimo, 6,°
Conde) como na louça do século X V l í (Jarra do Museu Nacional de Arfe A ntiga) e sobretudo nos serviços da primeira metade do século X V i l l ,
como veremos mais adiante,
A segunda personalidade dessa família, em ordem de projeção social e administrativa, foi o 6 ? Conde, Dom Jerônimo, q primogênito do
SP Conde, que foi um dos conspiradores e se insurgiu contra o domínio filipino em 1640, tendo falecido em 1655. Desempenhou importantes car­
gos na administração metropolitana, como foi também um prestimoso governador g eficiente Capitão general do Brasil, de 1654 a 1657, A ele,
atribuímos a farra referida, do Museu Nacional de Arte Antiga e reproduzida em página inteira por Beurdeley (ob. cit. pàg. 57) e classificada
apenas como sendo do século X V l i c da família Ataíde, sem indicação da personagem. Assim pensamos, porque Dom Jerônimo, o 65 Conde
de A rouguia, em estampa que existiu na Biblioteca Nacional de Lisboa é visto ao lado do Brasão dos Ataídes, encimado por Corou de marquês.
(Vide Zuquete, ob. cit, pág.s, 334/5). (Esta estampa encontra-se agora no arquivo do Museu Nacional de Arte Antiga).
0 outro grande vulto da história familiar dos Ataídes foi o 10P Conde de Aloitguia,. Dom Luís de Ataíde, mas cujo nome por extenso ê
Luís Peregrino de Ataíde, nascido em 16 dc Outubro de 1700 e falecido em 1756. Fez parle do Conselho d'El R ei D om João V, foi capitão
general do Reino dc Algarve e a seguir, 65 Vice-rei do Brasil, de 1748 a 1755, N o século X V Itl, fo i a personalidade de nmior destaque da
família (razão também dé poder ostentar variados e ricos serviços que sua condição social reclamava cm parle), isso porque o Se lí filho Dom
Jerônimo, o I I P Conde de Alottguia, casado com uma Távore, teve trágico destino, morrendo m oço no cadafalso em 1759, na chamada cons­
piração dos Tthora. Teve Dom Jerônimo "seus bens confiscados" — a "casa demo!ida" — o "chão salgado" e "picado ou raspado o seu
brasão de armas".
Dom Jerônimo. c infeliz H P Conde . deixou três filhos menores e sem fortuna, um deles de nome Luís, sem condições de manter a alta tradi­
ção de nobreza. Somente em 1800, Dom João, Príncipe Regente, revogou em parte as penalidades que recaíam sobre a ilustre família.
Assim dos Ataídes do século X V líl, .‘■■•'rente o nosso Vice-rei desfrutou dc stotus que permitisse a posse de tão magníficos e numerosos apa­
relhos em Companhia das índias, A seguir enumeraremos e comentaremos ai peças dos serviços que tivemos a oportunidade de ver, inclusive
Com brasão e alguns também trazendo iniciais, dc cinco aparelhos diferentes, dos quais dois deles são representados aqui no Brasil, um em coleção
tradicional particular e outro em um dos nossos museus importantes.
Tentos conhecimento de que a atribuição desses serviços ans Ataídes, após décadas de tranquila aceitação por museus c colecionadores, vem
sendo contestada ultimamente por ilustres ceramógrafos, porém com o devido respeito, adiamos necessário também expor nosso ponto de' vista
a respeito, no que acreditemos estarmos concorrendo para que outros possam fazer um juízo mais completo do assunto.

359
Séc, XVIII COMPANHIA DAS ÍNDIAS
( I a m el ade) Ataídc (n,° J)

Duas sopeiras e um medalhão (com uma reprodução em detalhe


no centro da peça do m esm o se n ’iço do M useu Guimcí (,°aris)
que ê referido por Beurdeley {ob. cit., pâg, ISP) em otte é
dito: “armas de um a grande família portuguesa as A U; des”.
A s figuras acima têm as seguintes dimensões: O medalhão 33
cm, as sopeiras 35 cm de altura, 30 cm de boca e 32,50
cm de lampa. Chamamos a atenção das iniciais visíveis nas
sopeiras: dois L laterais (correspondente a Luís ) e um A centra!
(correspondente a A tarde) essas duas letras estão ligadas entre si
por um arabesco em form a de espiral; chamamos também a
atenção para o coronel ( nítido) de marquês. D e notar as imper­
feições da execução de escudos e outros detalhes num rr.csmo
serviço, enquanto nas sopeiras há duas bandas da ouro, no
medalhão são três bandas. De notar também que enquanto no
medalhão o tim bre parece um animal com chifre, nas sopeiras
aparece o timbre com uma cabeça apenas com orelhas, porém
nestas há um porm enor curioso: em baixo do escudo em
dourado percebe-se nitidamente uma carranca animalesca:
leão ou onça (devem os nos lembrar que o tim bre oficial dos
Ataídes ê "um a onça agachada” c ainda a observar na nserva
abaixo: do escudo que poder-se-ia distinguir d o h A separados,
arabescados.
Cortesia de José Maria Jorge (Portugal),

360
Séc, X V U I C O M PA N H IA DAS ÍNDIAS
(1 ° ntft ade } A ta id e ( N ,° 2 )

Museu do Instiitiio Arqueológico


de Recife (PE)

3 2 5

Medalhão medindo 42 cm de diâmetro, ostentando um escudo e coronel de marques ; tem


no verso o “double ring,r e a flor de ifartemísia’*; na decoração predomina a laçaria. A s
armas certas dos Ataides são quatro bandas de prata em campo azul e a medalhão (com
detalhe do centro abaixo) exibe apenas três bandas de ouro em campo azul. O m esm o engano
ocorre nos outros serviços, fato comum nas reproduções feitos na China de brasões europeus,
A hás. a mesma representação heráldica é repetida nos demais serviços conhecidos dos Ataídts,
sendo que nas terrinas aparecem apenas duas bandas de ouro (prata). Já tivem os oportunidade
de nos pronunciar no texto que esse serviço deve ter pertencido ao nosso 6 7 Vice-rei do
Brasil; Luts (Feregrino) de A laide (1749-/755), nascido em 1700 e falecido em 1758.
séc. x v m COMPANHIA DAS ÍNDIAS
(i.a metade} A t a í d e (N ,°s J c 4 )

326

Medalhão com as mesmas cafúCtcrlsticas das peças rtPs I e 2,


isto cr escudo cotn tris bandas de ouro (prata) e coronel de
marques (semigasto). Neste medalhão, com o aliás no anterior t
predomina um arranjo harmonioso de laçaria, sendo que neste
há um quadrilátero central form ado com ramagens. Na deco­
ração, prevalece o azul cobalto dc fogo alto e o dourado sobre
a glasura entremeando com os desenhos azuis,
N o frete do medalhão, existe a marca do ,{douhle rmg” e o
signo chinês do ftfu n g u s'\ Este serviço é pois também atribuído
ao mesmo titular Dom Luís (Peregrino) de Atüíde, 6.° Vice-rei
do Brasil.
A miga Coleção de Luis Nazarena de Assumpção,
Cortesia Exm a * Família.

O utro serviço com um grande pavilhão sobre a coroa de


marquês c o escudo dos Ataídes — riquíssima fatura , não
exisiem arabescos que form em iniciais.
Coleção de José Maria Jorge (Portugal).

362
Sêc. X V II! C O M PA N H IA DAS ÍNDIAS
Ataídc (Serviço n,° 5)

327

Grande medalhão de 33 cm de diâmetro (tendo em baixo a ampliação do centro


e detalhe do aba). Desenhos em azul cobalto sob o vidrado, inclusive duplo
círculo no centro e três na aba, e uma policromia rica e variada corri excelente
esmaltação com verde, vermelho em tons da Família Rosa, amarelo e aplicações
douradas. Cercadura rica com quatro reservas, inserindo quatro máscaras: duas
masculinas c duas femininas, em vez das quatro cabeças de touro que ornam a
aba de outro serviço, o N .° I que é similar à peça do M useu G uimet, entre
desenhos geométricos e til o formes. O escudo de armas com seus implementos,
inclusive a bela coroa de marquês perlada, repousa sobre um inryo suporte artís­
tico terminando em volutas, sobre o qual nos seus extremos são vistos dois touros
deitados.
Diretamente debaixo do escudo dentro de uma reserva de contorno dourado, o
leitor poderá notar com um pouco de atenção, que são desenhos lembrando um
arabesco decorativo, porém na realidade em seus traços encerra ele a sigla do
possuidor da peça. Fodcm-se distinguir naquela reserva cinco iniciais duas de
cada lado e uma central como segue: dois L cruzados (â maneira de marcas de
Sèvrcs) e um A grande form ado pelo cruzamento desses dois D e laleralmeme
um F de cada lado. N a base do arranjo distinguem-se ainda desenhos lineares
unindo harmoniosamente o conjunto. Encerra pois, aos nossos olhos a reserva
realmente a sigla L . F. A . que corresponde ao nome com pleto do 6.“ Vice-rei -
do Brasil, D om Luís Peregrino de Ataíde.
Coleção de José Maria Jorge (Portugal)

363
Séc, X V III PO R C E LA N A CH IN ESA E JA PO N ESA
(Serviços Personalizados)

32S
Prato, ern Companhia das índias que pertenceu ao 5P Bispa
de Mariatia (Minas) Dom Cspriano de São José (1799), Btitra
e borda alaranjadas com triângulos alternados azuis e brancas,
apresentando um aspecto denteada, gênero "Serrilha". Note-se
na aba um frijo azul c abaixo outro mais grosso circundando
fundo do pmip.
A o centro flores. O serviço acha-se recolhido no M useu Arqtti-
episcopal de Maritma, ê lido conto proveniente de "G oa", vide
lideur de Ccrqueira Falcão — Relíquias da Terra do Ouro - ■
1957 — Si:o Pauto, pág. 83 — cot. de Roberto Pararihos do
Rio Branco.

330

Pt cio de serviço de chd. vasado, que


pertenceu ao famoso contratador de
diamantes João Fernandes de Oliveira,
casado com Xica da Silva,
Porcelana Imari final do .Século X V Hl,
Col. A ntenor Edm undo Horta.

J29

Pruro similar não personalizado, porém com várias diferençai,


entre elas, friso dourado na borda e apenas um círculo dourado
tta aba (ao invés de dois círculos azuis do serviço do 5.° Bispo
de Mariana). Cot, Oscar Selos Braga, De notar que estes dois
serviços lembram o estampado por David Howard e John
A yers (ob. cif, pág. 484) que, segundo estes autores o Chinês
reservava para o mercado persa. Com a diferença que nesse
serviço a barra, era composta por losangos seguidas, e os ora
apresentados são decorados pnr triângulos de cores alternadas,
bio último quartel do século o rnottvo foi copiado por Copclünd
sob n.° D.9618 também colorido.

364
Séc. XVII! LO U ÇA C O M PA N H IA DAS ÍNDIAS
(Personalizada)

33!

O Conde de Lumiares, Manuel da Cunha M enezes {1742-1791)


exerceu elevados cargos no Brasil, como capitão general e
governador de Pernambuco e Bahia, Possuía dois serviços, um
armoriado (E, F. Brancante, ob. çitu pãg. 302) e outro sem
sigla, coroa ou escudo, porém de rica fatura, A maior parte
deste ' serviço permanece intata em mãos de descendentes
(Dona Maria Te reza Gomes Ferreira, Portuga!) faltando os
pratos de sopa e sobremesa e uma parte menor, que ficaram
no Brasil, de que são testemunhos algumas peças que foram
da coleção de Renato Magalhães Gouvea , adquiridas em Per­
nambuco (prato de sobremesa à direita). Pelo mostruário pode -
'se aquilatar a beleza do serviço.
Cortesia de José Gornes Ferreira, fPeríodo Kien-Lung).

365
Séc. X V líl PO R C E LA N A C O M PA N H IA DAS ÍNDIAS
(Históricas ou Personalizadas)
(America Espanhola)

332

Travessa com brasão no centro e legenda acima de um membro Sopeira do século X V UJ de origem espanhola.
da Família G aí vez. Vide Beurdeley, pdgs. 89/90. Cortesia do Museu Nacional de A rte Antiga.
Coleção de A ntenor Edmundo Horta (Brasil).

Pormenor do brasão da sopeira acima.

Obs.; O prato de arroz poticrornado a esquerda, tem dois filetes X V líl: M athias de Galvez (>■ Gallardo) que fo i Vice-rei no
cor de rosa (um denteado) na aba e no centro um vistoso brasão México e D om Bernardo de Gâlvez (y Gallardo), nascido em
com largo paquife com troféus encimado por elm o e coronel 1746, que fo i tenente-general dos Exércitos Reais, Governador
e tem ainda sobre esse conjunto ornamental uma cinta em azul ■ e Capitão General da Luisiana e da Flórida e que por seus
contendo uma legenda. Esta legenda fo i relevada e decifrada méritos recebeu a comenda da Ordem de São Carlos e o título
de outra peça (uma terrina da coleção de M adame Espírito de Conde, cm 1783, do rei Carlos IIJ. Este titular deixou um
Santo, Lisboa) por M ichet Beurdeley (ob. cit. pãg. 90) e deve-se filho, M iguel de G a h e z, que fo i o 2F Conde de G a h ez, nascido
ter: “A rm as dei Exmo. Senor Galvez em Gueriço na Venezuela, Acreditamos que os dois serviços
A terrina policromada à direita com idêntico brasão . elmo apresentados, que ostentam os mesmos atributos heráldicos
coronel, paquife e troféus, sem a cinta porém, pertence ao (em um falta a cinta), pertenceram a Dom Bernardo de Galvez,
Museu Nacional de Árte A ntiga (Lisboa) e lã está classificada o primeiro conde, porquanto as suas armas estão encimadas
com o armas de **família espanhola”. Dam os o pormenor do por um coronel de nobreza; e o paquife que circunda o escudo
brasão da terrina para melhor confronto. N ão temos dúvida ê todo ele de caráter bélico com os troféus (bandeiras, lanças,
de que eram dois serviços diferentes, um com guirlandas e outro canhões) o que condiz com sua carreira de verdadeiro militar
mais simples que pertenceram ao mesmo nobre da América e brilhante guerreiro que foi.
Espanhola: David H covard e John A yers (oh. cit. pãg , 390, ví crescer que embaixo dos dois serviços hâ a cruz da Ordem dc
estampa 356} exibem uma bela jardineira do serviço idêntico São Carlos, que não consta ter sido concedida ao Vice-rei, nem
ao do Museu português (com guiríandas), sem a cinta com a ao 2 ? Conde de G alvez e sim a D om Bernardo (vide A lberto
legenda. A família Galvez fo i m uito importante com diversos y A ríuro Garcia Carrafa — “Dicionário heráldico y Genealó­
ramos espalhados santo na Espanha, com o na América. Dois gico de Apelidos Espanoles y A m cncanof* — 1930 — Madrid
membros dela se destacaram em solo americano no século — vo/. X X X I V — págs. 28/32).

366
Séc. X V III PO R C ELA N A C O M PA N H IA DAS ÍN D IA S
(Históricas ou Personalizadas)
(México)
332

O prato de cima com as armas inseridas em um círculo dourado,


representa um prato do serviço da família A H E D O . Coleção
Particular. O prato em bairro, à direita é uma alegoria com
um guerreiro romano, sobre a comemoração da Fundação da
Academia Mexicana, com os dizeres: "IN SOLE, IN A U C .
M E X . A C A D . E X C . CUR. A N , 1790".
O prato à esquerda com borda recortada e teitdo ao centro a
cesta de flores ífruit Rasketl à maneira holandesa, fa z parte
do serviço do Vice-rei do México — R E V 1LL A G IG E D O .
.Coleção Particular.

367
Séc. X V U 1 porcelana c o m p a n h ia das ín d ia s
(Históricas ou Personalizadas)
{América Espanhola)

Travessa recortada, medalhão central e escudo real e a legenda


Plus Ultra. cordão e comenda com cruz e os dizeres: Reg.
Eod. Trib. Nov. Hisp. Frírn. Eidelit M omtm A rdi Eeat ME
M É X IC O ( . . . ) (1739).
Coleção Particular (México).

Sopeira facetada com os dizeres "Proclamado E N LA


CIU D AD D E V ALLAÜ O L1D D E M IC H O A C Á N . FOR SU
A L F E R E Z B E R N A R D O E O N C E R R A D A 1792."
(A o centro coroa teci com três bustos e nos extremos capacccs
romanos). Coleção Particular (México).

Travessa recortada com medalhão no centro e os dizeres: E N


SU E X A L T A C IO N A L TRONO LA CIU D AD DE M ÉXICO
e em baixo:
E N 27 DE D EC IE M BR E D E 1789.
Coleção Particular (México).

368
PORCELANAS CHINESAS ANÔNIMAS

3 ,a C a te g o ria :
b ra s õ e s e o u tr a s c o m in ic ia is q u e n ã o p u d e ra m s e r
N e s ta c a te g o ria , n ã o fa z e m o s re la ç ã o ; a p e n a s e x ib i­ id e n tific a d a s n a e s p e r a n ç a q u e p o s s a m a in d a v ir a ser
m o s e s ta m p a s d e p e ç a s c u ja p ro p r ie d a d e se p e rd e u n o re c o n h e c id a s p o r a lg u m d e s c e n d e n te o u id e n tific a d a s p o r
te m p o e c o n tin u a ig n o ra d a n ã o d is p o n d o p o is d e u m a h is to ria d o re s e h e ra ld is ta s .
filia ç ã o o u d e u m a id e n tific a ç ã o q u e as v in c u le à n o ssa E s ta m p a m o s ta m b é m d iv e rs a s p e ç a s c h in e s a s n o
h is tó ria d ire ta m e n te o u a se rv iç o s q u e te n h a m p e rte n ­ fin a l d o S e te c e n tis m o , sa lv a d a s d e u m n a u frá g io c o ­
c id o a p e rs o n a lid a d e s d o m e io so c ia l, n h e c id o p o r N a u d e M o n t S e r r a t, h á p o u c o d e s c o b e rta
E la s fo r a m e sc o lh id a s de d iv e rsa s c o le ç õ e s e pelo ( 1 9 7 5 ) e m S a lv a d o r, q u e v e io a u m e n ta r, c o n s id e ra v e l­
m é rito q u e a p re s e n ta m , se ja d e fo r m a to o u d e d e c o ­ m e n te o c o n h e c im e n to d o s tip o s d e lo u ç a s c h in e s a s
ra ç ã o . N e s ta c a te g o ria e sta m p a m o s ta m b é m , p e ç a s com u sa d a s n o B ra s il, n o p e río d o c o lo n ia l e im p e ria l.

369
Sees. X V I I I I X I X PORCELANAS CHINESAS ANÔNIMAS

Reservatório c bacia {Fonlaine et bassin) poHçramado de altura


de 38 cm e a bacia 38 cm , peças do período de Kang-Hsi da
coleção Miçitc! Cahtso/i. Cortesia do antigo Museu do Estado
da Bahia.

Travessa ao gênero âe decoração de festões e guirlandos do


século X V t!l, com uma águia bicifala no estudo e coroa real.
Serviço ainda não idcnrifícado. Cortesia do colecionador Pamo
M enano (Sumos}.

Travessa com decoração simples de listei dourado rui borda


e iriso de flores de lis na aba interna, belo brasão de aliança
no icnfru com Loronel de rnuiíjués, brasões tiiridu não iderili-
jiçados. Coleção de A nrônio Carlos Noronha — S. Paulo.

370
Sêc. X V W PO RCELA N A S C O M PA N H IA DAS ÍNDIAS
ANÔNIM AS
(Decoração Jestmíca)

334

Prato em "grisailie" com detalhe abaixo, mostrando cena


i'o(an/e copiada dc gravura, m uito popular na época, de autor
desconhecido, provavelmente francês, A borda interna com
"fleur de lys" e a borda externa com quatro reservas (paisagens
chinesas e pássaros). Borda idêntica pode j cr vista no j arnoso
prato "Soldados Escoceses" — Bettrdeltry, pâg. 103, Diâmetro
23 cm, Kien-Lung, ca, 1745.
Informações prestadas e fotografias da Coleção de Píter
Naumann.

371
Séc. X V Hl PORCELANAS COMPANHIA DAS ÍNDIAS
ANÔNIMAS
{Decoração Jesuítica)

335

O praia de cima cm "Encre de Chir.e". ouro c tons rosados,


carnctcrisíicus dos desenhos chamados de “Jesuíticos", representa
reprodução dc quadro de pintor holandês, c do Centro í repro­
dução de uma estampa francesa conhecida por " Les Pélêrins
de 1’Illc C yth irc" e o dc baixo i reprodução também de estampa
francesa do século X V lll.
Coleções de M idtel EtUn e autor.

372
Sêcs. X V 111 / X I X PORCELANAS CHINESAS ANÔNIMAS

0.1 dois vasos com suportes de madeira (base quadrada e base


redonda) em “blanc de Chine", representam arbustos floridos,
de coleção particular. ,-!.t outras ditas- peças de baixo com
arbustos, poUcromaâas, apresentam variantes e vem sendo
reproduzidas desde Kang-Hsi, até primeira metade do século
X IX . Informações colhidas por cortesia de L i Wtt Pin (Museu
Imperial — Pequim) e Marcus U ra.cl (Sotheby's).
Coleção de José Eduardo Loureiro.

373
Sécs. XVIU/XIX PORCELANAS COMPANHIA DAS ÍNDIAS ANÔNIMAS

337

A sopeira do alto. com folhagem verde e ouro e quatro iniciais, fa z parta de


serviço antigo no Brasil e é da coleção A ntônio Vülares da Siiva (S. Paulo). O
Palácio dos Bandeirantes tem uma travessa grande na sala de jantar da ala resi­
dencial desse serviço. A sopeira de baixo à direita, toda em sépia, ostenta o
desenho conhecido nos Estados Unidos por "F dz-H ugh", pois era uai dos m otivos
do agrado americano. M useu Mariano Procópio — Juiz de Fora.
A sopeira cm baixo à esquerda é de um dos serviços mais conhecidos e reputados
em Companhia das índias c chama-se "La D am e au Parusol". Consta que foi
inspirado de antigo modelo chinís em azul e branco, interpretado pelo artista
oficial da Companhia das Índias Holandesas, Corneiit Prottck. O s primeiros
serviços foram feitos com a predominância do coral c ouro na segunda porre do
século X V U i, seguindo depois uma outra versão em Família Rosa, mais tardia.
A primeira série é do século Kang-Hsi (rouge dc jer) a segunda já é do período
Kien-Lung, com outros esmaltes. Há também versões feitas no Japão. (Vide
Beurdeley, ob. cit. pág, 61), Ho lirtisii existem várias peças desses scrviço: assim
como duas sopeiras.
(Cortesia Antiga coleção Luís Nazareno de Assumpção, A rm ando Arruda Camar­
go, Floriano Catnpolina de Rezende Camargo),

374
Séc. X V I I I PORCELANAS CHINESAS ANÔNIMAS

Os Ires pratos de cima fazem pane da amiga coleção dc Luís Nazareno de Assumpção (cor­
tesia da Família); o 1 ° à esquerda apresenta duas codornas, í do período de Yung-Cheng,
peça rara; o 2P bastante elaborado, tem como motivo centra! um rolo de seda ou papel
desdobrado, "pólo da sabedoria". A m bos os pratos são considerados da Família Rosa. O
prato do centro em altd e ouro tem no verso o " double ring" e o símbolo chamado de " flor
de artemísia.” •’ è conhecido internacionalmcnte por " powdcr blue”. Os dois pratos de baixo
são dois exemplos de variantes do gênero chamado de Chincse-Imari, pois que são cópias
inspiradas na decoração usada pela famosa fábrica japonesa dc Im ari (foram identificados no
Oriente),

375
Sécs. X V Jli/ X lX PO RCELA N A S CHINESAS A N ÔN IM A S
(Diversos Períodos)

339

Prato rttso e vistoso do período de Yung-Cheng, com duas codornas em baixo e bela folhagem de peônias, Família Rosa
Sobre a gtasura está marcado em chinês o nome do forno de produção , ocorrência rara no.v peças chinesas, À direita
b u h com grande medalhão copiando cena de gravura francesa, a alça escura è em prata francesa do século X V Ílf, marcada.
Os antiquários portugueses costumam classificar essas peças com cenas policromadas como "Figuras Enron fias" O prato à
esquerda, com signos Taoistas na aba e cena chinesa r.o centro é da coleção de Do,n Pedro Castão de Orleans e Bragança.
A travessa de basxo {par} e uma das betas vananres da conhecida serie “Tobacco L eaf” do sâcuio X V IU e faz pane da cole­
ção do jDr. Fioriauo Campõtina de Rezende Camargo.

376
Séc. X V III PO RCELA N A S CHINESAS ANÔNIM AS
(Peça híbrida)

340

PORCELANA D A C H IN A — C H IA -C H ÍN G (1796-1820)
B U D A
Oferta 4a Srtt. D a Maria Cristina M oniz Galvâo.
Cortesia Fundação A bel de Lacerda — Museu do Caramuio,

Obs.: Descrição do Catálogo "Budc". Porcelana da China —


Chia-Ching {1796-1820), Farte superior em cerâmica, da Real
Fábrica do Rato — Dint. 38 cm. Est. C X L.

Existe outra peça (sopeira) idêntica, perfeita no M useu do


Virreinado, no México, com as armas dos Cervantes c outra
ainda referida por Beurdeiey, (ob. cit. pâg; 166), classificada
como "piitai" divindade sentada, dorso nu, e ainda há outra que
faz parte da Fundação Ricardo Espírito Santo Silva — Lisboa.
Séc. X V III PORCELANAS CHINESAS ANÔNIMAS

A s três peças dç cima: poie, buís e leiteira, são cpnhectdàs por Jesuíticas'f pintadas a ltencre de Chincu , ouro e cor
de rosa, estas eram também do agrado do mercado brasileiro (o naufrágio do M ont Serrai em Salvador, exibe quanti­
dade de peças idênticas, infelizmente desbotadas ). Estas peças foram leiloados na França {Áder, Picar d, Tajan, em
1976 em Paris). Cortesia de Mr. Patrice Sonnenberg. O cão de baixo, com seu guiso r policromado, existe em várias
coleções. Beurdcíey exibe um cão parecido dc coleção portuguesa. A s 'duas lebres no centro, poíícromadas, form am
uma representação rara.
Coleção .Particular.

378
Séc. X V 111 PO R C E L A N A C O M PA N H IA DAS ÍN D IA S
(Represent ações aoomorfas)

Os dois gansos de cima, policrornos, são peças raras que de


regra serviam de ornamento ou acompanhavam como peças
nobres determinados serviços ricos. Existem peças parecidas
como ê o caso dc um pnr estampado, porém de coleção diver­
sa, por David H o w a rd 'e John A yers {China for the West, fig.
6!5). Os dois cachorros cm pêlo avermelhado com duas horas
de castiçais, foram importados na Europa fum o com outros
/mimais, como elefantes, também servindo de candelabro ou
candiciro f leitão de Duran, Madrid, Dezembro 1976, lote 82).
São peças raras, par idêntico desses " carlins ” {oram já leiloados
em Parts,, no Palais Gailiera em 1976 (Mes Ader-Picard e Tajan)
e faziam pane do acervo de fioichild e Patino.
A sopeira de baixo em form a de cabeça de javali, policroma,
como dissemos, além de ornato também acompanhava serviços
importantes. De muita procura na Europa pelo último quartel
do sec. X V HL Período Kien-Lung, Fez parte da coleção do
saudoso Piãcido Gutierrez e hoje, junto com as outras peças
estampadas nesta página são da coleção dc Gilberto Dsccache.

379
Séc. X V III C O M PA N H IA DAS ÍNDIAS
(Representação zoom orfa)

34:

£ íf í gênero de representação em sopeiras como também de gaios, galinhas, gansos, javalis, fo i do cgr ado do
marcado europeu, no último quartel do século X V III, Existiam peças avulsas e outras que acompanha­
vam certos serviços Jc luso em Companhia1'dus ín d ia s — assim encontram-se ainda hoje, tanto cabeças
de vaca como de javalis, gansos, etc., com os brasões correspondentes aos apostos rios serviços de mesa.
O espécime exibido é dos mais raros, pois a sua policromia foge à regra dos outros; fundo a própria
porcelana salpicada de flores e folhagens, no género alemão de Meíssen (blumen style), c dentro da-
çromia da Família Rosa. Período Kien-Lung. Coleção de Gilberto Daccaclte — 5, Puulo,

380
Séc. X V 111 III — PORCELANAS COMPANHIA DAS ÍNDIAS ANÔNIMAS

Sopeira Família Rosa — meados do século X y ! !!


(Cortesia de Raquel Burner).

Dos lados, gomil de face e de perfii, Família Rosa. século XV!II, Cortesia de A ntônio Carlos Noronha. Beça característicamer.te
barroca, pintada em esmaltes da Família Rosa com flores esparramadas r bouquets do gênero "deittsche blumen style", inspirada
na produção da fábrica de Meissen. (Vide David Harvard and John Ayers — China fa r the West — fig. 53C-A, pág. JS/J.
A o alto outro gomil, em forma clássica européia, gomiiado com larga alfa é decoração cm “chinoiscries". Cortesia Sr. João Pen­
teado. Embaixo, um gomil de decoração Família Rosa, porém "sub gene ris" Com uma carranca à maneira dos belarminos do
século X V ii Coleção Gilberto Daccache.

381
Séc, X VIII PO RCELAN AS C O M PA N H IA DAS ÍNDIAS ANÔNIM AS
(Pecas Sanitárias)

344

peça de cima representa um bidê, ainda de decoração da Família Rosa (primeira metade do
século X V I//). Foram os franceses que no começo daquela centúria introduziram o uso desse
aparelho no equipamento domiciliar, tanto em faiança corno em porcelana européia. Nü
estampa trata-se ja de porcelana chinesa. Há outros exemplares sobretudo em azul e brancot
no gênero da louça de Macau c sua exportação prolongou-se do século X V 111 até o correr
do X IX , A peça é das mais raras, A peça a tateo de form ato ovalado e larga alça é conhecida
por {‘Bourdaloun (urinol portátil para senhoras) apareceu na França, fabricado tanto em
porcelana corno em faiança européias - Em porcelana Companhia das índias aparece por
volta de 1722 prclongando-sc o se ar fabrico até 1 7 9 5 segundo George Savagc and ffarold
Newman — {An lUustrated Oiciionary o f Ceramics, pág, 53}. Quanto ao nome e emprego
há uma versão que foi inventado ao tempo de um pregador jesuíta Louis Rourdaloue
(1632-1704) que pregava na C one de Luís X IV , porém " cujos longos discursos detinham as
damas da Corte de tal maneira que necessitavam desse receptáculo prático**. (Vide Ehnor
Gordon Cúllectmg Cfnncse Export Forceiai n New York, 1977 — pág, 111). A peça estampada
é atribuída à segunda metade do século X V Ilí.
Coleção Gilberto Daccache,

382
séc. x v m PO RCELA N A S CHINESAS
(Chinese Imari)

345

Houve um período na China em que os oleiros se dedicaram


a imitar motivos japoneses e em particular os produtos do
famoso fabrico de Imari — são essas imifações tâo perfeitas
que põem em dúvida o próprio conhecedor que pãra tanto
tem que tomar em consideração vários fatores com o os míni­
mos detalhes dos desenhos, a cor da pasta (a chinesa é mais
ciara, etc.). Trata-se de um par de vasos de 1 m de altura
e vieram para o Brasil {Belo Horizonte) no começo dó século
passado. Cortesia da Sra. Conceição da Costa Neves. (detalhe)

Outro gênero de Chinese-Imari, de forma conhecida por


“corneta” ou ucanudo” com decoração diferente da de cima
e m uito produzida no sêcido X V l I l também em pratos e
serviços. Coleção M iguel Calmon — A ntigo Museu do Estado
da Bahia.

383
PORCELANAS COMPANHIA DAS ÍNDIAS ANÔNIMAS
346

Linda sopeira t “présentoir" do século XVIU (Kien-Lung) com cotoa de Visconde c um l e um L com um D entrelaçado.
Coleção de Florindo dos Santos fPortugal).

Fruto de serviço rico com as armas na aba e cena chinesa ao Prato de serviço do século XIX , com timbre e coronel dc
centro. Fmmha Host,. Coleção de José Maria Jorge {Portugal). Visconde, nos dois quartéis superiores as armas de Portugal,
Coleção de José Maria Jorge (Portugal),

A terrina poltcrortuida ostenta um brasão ovalado não identifi­


cado, fendo por timbre uma figura com legenda sob o escudo
e desenhos dc flores e de pássaros, de interesse também a
forma da sopeira facetada com alças em cabeça de porco — '
Família Rosa, Coleção Particular,

384
Séc, XVIII PO RCELA N A S C O M PA N H IA DAS ÍNDIAS ANÔNIM AS
(in s p ir a d a s na B íb lia e L ite ra tu ra O c id e n ta l)

347

A o alto travessa recortada ãe desenhos azuis na aba s centro


policromado, representa a interpretação chinesa da "Fuga de
São José e de Nossa Senhora", para o Egito. Peça rara da
Coleção de A ntenor Edm undo Horta (Minas). A travessa d direi-
W faz parte de um serviço reputado com a interpretação dos
artistas chineses da cena de Dom Quixote e Sandio Pancha,
etn esmaltes da Família Rosa com quatro reserves no gênero de
Meissen etn desenhos " grisailie" delicados com pássaros e
paisagens chinesas. H ouve outra série, cópia desta, ainda no
século X V H l copiada de outra gravura, inspirada etn quadro
que ilustrava uma das primeiras edições do livro de Cer vantes.
Houve espécimes similares çm leilão em Paris (Mmes. Áder-
-Picard-Taianj no ano de 2976. Cortesia de Raquel Brener.
0 prato redondo ri esquerda em poiicromo, com predominância
de azul e verde tendo ao centro um artista fantasiado (com
calças dc Arlequim ) fa z parte de uma série numerosa encom fn-
dada ã'China para o mercado holandês (ca. 1722) inspirada em
peça popular na época: Commedia deli'Arte de “Comédia
Italiana" — (Vide David Howard and John A yers — China for
the West, pág. 253 — figura 230). Coleção Gilberto Daccache.

385
Séc. X V U i PORCELANAS CHINESAS
(C o nvento de Sla. Teresa — Salvados da Nau de Mont Serrât)
(azul e branco)

34S

Os três fundos dc pratos sem as abas foram e continuam embutí“


dos cm parede interna na parte posterior cio Museu de Arte
Sacra (BA). Todos eles apresentam o m esm o motivo com uma
grade e folhagens c margaridas no primeiro plano, com pequenas
variantes de desenho e m esm o da cor mais forte e mais fraca
do cobalto sob a glasura, t> que se explica dado o caráter
artesam l dâ fatura.
Porém o que se nos apresenta de notável é a comparação do
prato quebrado (fragmento dos salvados da nau dc M ont Serrar)
com os fundos dos pratos do convento que obedecem o m esm a
inspiração decorativa e apresentam os m esm os desenhos, com
mínimas variantes — form am lodos esses pratos parte de uma
série m uito em voga no século X V l l l e que teve seu fabrico
iniciado ern 1740 no começo dõ reinado do Imperador Kicn-
-Lung (1736-1795).
Essa comparação demonstra claramente que esses pratos eram
do tipo daqueles que eram importados e usados no Brasil,
no correr do século X V lll.
Eram eles também importados na Europa, pois no acervo do
Kunstgcwcrbe Museurn de Co! o tila, Catálogo de Bárbara,
Bemtcamp — M arkowsky (1980 — pág, 336, estampa 396),
pode-se apreciar prato com aba e centro idênticos ao do
naufrágio, atribuído ao meado do século X V lll.
Notei: Os três fundos de pratos d esquerda, do Convento de
St.a Teresa são considerados por nós coma Porcelana Histórica
ou Personalizada {vide pág. 352 n.° 22) e foram aqui exibidos
coma exemplo c confronto com peça quase idêntica do nau­
frágio, esta classificada como Porcelana Chinesa Anônima.

3 86
Séc. X V UI PORCELANAS CHINESAS ANÔNIMAS
(azul e branco)

349

Os dois pratos de cima, c) direita, são dã série de “grade” ou “cerco’* no primei­


ro piano da peça de que jà no.? referimos a propósito do Convento de Santa
Teresa (Museu de Arte Sacra-Bahia) e tiveram srtt fabrico iniciado cm 1740.
O que é de se notar ê tt transição que jâ vai se processando na form a o u no
perfil dos pratos, caminltandô os chineses }d decididamente para o fabrico do
molde ocidental, com a intercalação da caldeira entre o fundo c a aba da peça
em detrimento do perfil clássico chinês ütigelado.
Arquivo do A utor ,

Os dois pretos â esquerda, de feitio afigcltido (sem aba) c


decoração de ramagens ou / fores soltas são atribuídos ao perícxw
dc 1700 a 1735, ou seja ainda dos reinados de Kang-Hsi
(1662 a 1722) e Yung-Cheng (1723 a 1735). O primeiro de
ramagens m au delicadas ê atribuído ao período de 1700 a
1720 {é pois ainda do reinado de Kang-H st] e o de baixo com
os desenhos espessos de cobalto é do começo Yung-Cheng
f 1723-1735J. O prato dc baixo, rica c delicadamcntc decorado,
com fundo adamascado moldado, apresentando no centro um
motivo composto de peixes, dentro de um círculo (símbolo da
felicidade conjuga!) é do fabrico dc Yirng-Cheng,

O medalhão em azul e branco, acima ê ão gênero


Swatow c fo i adquirido recentemente cm leilão
no Rio, peio colecionador de arlc Frof. Edmundo
de Vasconceliús.

387
séc. x v i u PO RCELA N A S CHINESAS A N ÔN IM A S
(Marcadas)

J50

O prato em azul e branco, com cena ao centro e elaborada


aba, está marcado com ó "nien-hao" do reinado de Kang-Hsi.
Fez parte da antiga e renomada coleção de E dm undo Navarro
de Andrade, Cortesia ds Armando Arruda Camargo, O prato
de campo a n d com cinco reservas poticrornadas pertenceu ã
coleção de Veridiam Prado e seu neto Luiz Prado e traz no
verso quatro idiogramas com t> "double ring” do período de
Kang-Hsi. O medalhão azul c branco c a reprodução ao lado do
verso é do periodb- do reinado de Yung-Cbeng conforme a re­
presentação do seu "nien-hao'’. Existe um par rle medalhões
idênticos, os quais fizeram pane da antiga coleção de Leonardos
(Fio) c hoje è da Coleção de Beatriz A lves de Lima — 5. Paulo.

388
Séc. X V i l l PORCELANAS CHINESAS
(azul e branco)

351

Vaso periforme cem saliência no bocal e desenhos de flores e


ramagens estilhadas na base. Período Kien-Lung —- sem marca.
Coleção de Beatriz A lves de Lima.

Os dois pratos em azul e branca tio centro são peças umifíi de


gasto chinês e leitos sem a esteriotipaçÕO que irão caracterizar
os tipos conhecidos por Macau ou Nankin, do fim do século
X V III c começo do X IX . Peças bem acabadas 2 de desenhos
eximiamente executados Kien-Lung — meados — sem marca.
Coleção de Beatriz Alves de Um a.

Prato conhecido pelo gênero de "powder blue", fundo az id


co.tt desenhos executados em dourado; fez parte da coleção
Leonardos'do R io — traz no frete o ",double ring" e no centro
no verso ct flor de artemísia, período Ktmg-Hsi.
Cclcção de Beatriz A lves de Lima.

339
s ic . xvm PO RCELA N A S CHINESAS ANÔN IM A S E GRÉS
(R epresentações Z oom ú rficas)

352

O cavaleiro à esquerda (faz pane de. um por) é de tonalidade verde-escuro brilhante e de pequena estatura, período de Kang-ltsi, par
idêntico, foi vendido cm Sothehys em 17.0i.J966 (vide Ivory Hammcr-Soíhetry's Fark Bernet — 1965/66 — Londres). A figura do
centro é chamada de Cão tle Fé e representa, na tradição sino-hindu, um animal mitológico aparentando um dragão que serve dc
guardião aos templos e por extensão à proteção familiar: também são conhecidos por leão ou dragão de Fã; aliás i costume tam ­
bém colocar em cimeira de mansões r seus extremos é beirais, telhas ornadas com essas figuras mitológicas e outras pala afastar
os rr.pl>de.s malignot da casa, São apresentados em par: Macho e Fêmea, o da figura c macho. A peça é decorada cm três cores:
verde, amarelo e marrom, em jogo alto, Na parte superior porta um canudo canelada e com pontas verdes, onde são colocadas
as haguetes de incenso, pois se trata de um defumador, Essas peças.foram m uito reproduzidas em diversas dimensões em várias
épocas, sendo as mais reputadas as de Kang-Hsi, à cuja dinastia atribuímos, o leôo exibido.
A direita vemos em g ris a representação de um tigre indiano. Essas pequenas figuras eram também executadas em "cioisonné" nas
mesmas cores.
Arquivo do Autor, >

390
séc. x vin GRÉS CHINÊS
352?

A o alio ó esquerda, jogo de chá ; ã direita dois fretes de bules


com inscrições chinesa'; de louvor, no de baixo lê-sei "Este
precioso gosto ê realmente algo que um homem pode apreciar“,
(Trad. Cortesia de M ax Ouang — S, Pendo), A esquerda, uni
bule e em baixo, um leão deitado, em grés. Observe-se o finís­
sim o desenho relevado sobre o barro vermelho de Yi-Shing, que
fo i m uito copiado na Inglaterra, Em baixo pequeno pole
contendo ainda grãos de noz-moscada que resistiram ao tempo.

391
VII - PORCELANA BRASILEIRA E BISCUIT
(A N O — 1793)

esse s é c u lo a re v e la ç ã o que len tim fo rn e c e u m o d e lo s dc p e q u e n o s c a m a fe u s c o m


c o lo c a b e m a lto o n o m e d o efíg ies d e D o n a M a r ia I, P e d r o I Í I , d o P rín c ip e d o
B ra sil n o s e to r c e râ m ic o , é a d e B rasil, q u e fo ra m fe ito s c m p o rc e la n a c m a n d a d o s p a r a
J o ã o M a n s o P e re ira , o p rim e iro o R e in o , se n d o m u ito s a p ro v e ita d o s e m jó ia s e a in d a
a f a b r ic a r p o rc e la n a d u ra , tip o h o je c o n h e c id o s e m c o le ç õ e s " .
c h in e s a , n a A m é ric a d o Sul. I P — D a c o rr e s p o n d ê n c ia d e J o ã o M a n s o P e re ira
E ra e le q u ím ic o e m ín e ra lo g ista , co m a R e a l J u n t a d e C o m é rc io d e L is b o a , d e 31 d e
p ro fe s s o r d e H u m a n id a d e s n o R io d e ja n e i r o . F o i in ­ a b ril d e 1 7 9 5 , c o n s t a : . . . “ a g o ra re m e to o u tr o s b a rr o s
c u m b id o , e n tr e o u tr a s m issõ e s, d e e x p lo ra ç õ e s à c a ta d e e m ra m a , p ró p rio p a r a eia s, e n v ia n d o ta m b é m a lg u m a s
d e te rm in a d o s m in e ra is, c o m o d e s c o b rim e n to d e n itre ira s p e ssa s (sic) já fabricadas, e m c a m a fe u s , c a d ilh o s e o u tr o s
em S o ro c a b a , Itu c C u ritib a d ). C o n se g u iu lo c a liz a r c v a so s d e d ife re n te s K a o lin s e a rg ila s, tr a n s p a re n te s e
c a u lim n a Ilh a G ra n d e o u d o G o v e r n a d o r e seu s e stu d o s o p acas” .
e e x p e riê n c ia s , fo ra m in ic ia d o s a n te s d e 1 7 9 3 , p o rq u a n to 3. ° — N a o b r a b á s ic a d e J o s é d e O u c iro z !S>, o
u m a o rd e m régia d c D o n a M a r ia I, d e 5 d e s e te m b ro , já a u to r a p re s e n ta d ic io n á rio d e n o m e s c d e le c o n s ta :
o re fe re . E e x is te m c a m a fe u s d c s e u fa b ric o , d a ta d o s d e “M a n s o P e re ira ( J o ã o ) fa b ric a n te d e p o rc e la n a s e d e s­
1793 e e m c a r ta de 10 d e ju lh o d e 1 7 9 7 , ern q u e re c la m a c o b rid o r d o c a o lin o e a rg ila s p a r a e ss a m a n u f a tu r a . Ilh a
o p a g a m e n to d c d e sp e s a s re a liz a d a s c o m su a s v ia g e n s, G ra n d e ( R i o d e J a n e i r o ) 1 7 9 5 " .
c o n firm a o fa b ric o “ d a p o rc e la n a a d m irá v e l d e q u e fiz
O ra , n ã o a c re d ita m o s q u e a q u e le c e ra m ó g ra fo d e ­
o s re tra to s d o s N o sso s A u g u sto s S o b e ra n o s " ( n e s ta c a rta
sig n a sse p o r fa b r ic a n te a p e n a s a u m e n s a ia d o r d a
a ss in a -s e e le J o ã o M a n ç o P e r e i r a ) 0 ). O fa b ric o d a
m a té ria .
p o rc e la n a d e v e te r-se p ro c e s s a d o a té 1 8 2 0 ( 2 0 dc
a g o s to ) q u a n d o faleceu. 4. ° — A s n u m e r o s a s m a rc a s a p o s ta s e m p e ç a s v a ­
ria d a s e m e s m o u m a d e “ L is b o a " , c o m o se g u e :
E x iste m v e rsõ e s d e q u e e le te ria fa b r ic a d o se rv iç o s
V a s c o V a le n te , e m P o rc e la n a A rtís tic a P o rtu g u e s a ,
c o m e m o ra tiv o s d a In d e p e n d ê n c ia , p o ré m J e n n y D re y íu s ,
c ita n a p á g in a 2 6 , a m a r c a “ Ilh a G r a n d e " ; n a p á g in a 2 7 ,
e m e stu d o s o b re as p e ç a s a lu siv a s a q u e le e v e n to , a fa s ta
a m a r c a d e n tr o d e u m q u a d r ilá te r o M anso em d u as
a h ip ó te se , m e s m o p o rq u e J o ã o M a n s o P e re ira faleceu
R . Jan ,
cm 1820.
p e ç a s d ife re n te s e a in d a as in ic ia is J.M . c m c a m a fe u c o m
N o e n ta n to , e le fa b ric o u n u m e ro s o s c a m a fe u s no o b u s to d c D . P e d r o I I I ( n o b r a ç o ) ; J o s é d e Q u e iro z
g ê n e ro d e W e d g w o o d c m v o g a n a E u ro p a , a p re s e n ta n d o (o p . ciL fig u ra s 1 4 5 a 1 4 9 ) c o n s ig n a c in c o p e ç a s m a r ­
efígies d e p e rs o n a g e n s d a C a s a d e B ra g a n ç a , e a c re d ita ­ c a d a s “ Ilh a G r a n d e ” ; e a in d a W . Z im m e rm a n e s ta m ­
m o s q u e te n h a ta m b é m p ro d u z id o d iv e rso s se rv iç o s d e p a m a is d u a s m a r c a s :
uso d iá rio . P e lo m e n o s é o q u e s e in fe re d e n u m e ro sa s
re fe rê n c ia s q u e a s e g u ir a p o n ta m o s : “ N a I lh a G r a n d e ” L is b o a
1 -° — Y o ia n d a M a r c o n d e s P o rtu g a l m fe z e s tu ­ de e a d c L is b o a 1793
d o s s o b re a q u e la p e rs o n a lid a d e e d iz q u e J. M . dc M a ­ J .M . P e r e ir a , 1 7 9 3 J , M . P e re ira
c e d o a firm o u : “ a lg u n s d o s m a is c o n s id e ra d o s h a b ita n te s
d o R ío d e J a n e ir o s e d e s v a n e c ia m d e p o s s u ir lo u ç a d o P e lo q u e v im o s, s ã o c in c o as m a rc a s d e Jo ã o M a n ­
p aís fa b ric a d a p e lo c é le b re J o ã o M a n s o P e r e ir a ” . E so P e re ira , o q u e le v a a s u p o r q u e h o u v e s s e p ro d u ç ã o
M o re ira d e A z e v e d o ta m b é m d iz : " q u e a o re i D o m d u ra n te m u ito te m p o p a r a v a ria r a id e n tific a ç ã o c e râ ­
J o ã o V I, o fe rto u u m a p a re lh o d c p o rc e la n a e u m a c a ix i­ m ica. P o r q u e L is b o a ? T e r ia e le fa b r ic a d o p e ç a s c o m
n h a d e s a b ã o d e b a r b a q u e fa b r ic a ra c o m arg ila e n c o n ­ c a u lim m e tro p o lita n o ( B a rto lo m c u d a C o s ta d e sc o b riu
tra d a n a Ilh a d o G o v e rn a d o r. o “ c a o lin o " e m 1 7 7 3 e m P o rtu g a l? ) Is s o ta m b é m n ã o
M a rq u e s d o s S a n to s <4h e s tu d a n d o a o b r a d o c é le ­ se ria p la u s ív e l, p o is J . M . P e re ira n ã o só d is p u n h a d a ­
b re M e s tre V a le n tim (V a le n tim d a F o n se c a c S ilv a ), q u e la m a té ria p rim a n o B ra s il, c o m o a té a re m e tia p a ra
in fo rm a : “ H o u v e n o seu te m p o u m p ro fe s s o r d c L a tim , o R e in o , C o m o , p o is , e x p lic a r o re g is tro na E u ro p a ,
o q u ím ic o J o ã o M a n s o P e re ira , q u e se in s ta la ra n a Ilh a d a q u e la m a r c a se n ã o c o m o te n d o e le p ró p r io fa b ric a d o
do G o v e rn a d o r, c o m fa b r ic a d e o b je to s d e lo u ç a c p o r­ p o rc e la n a s c m L is b o a ?
c e la n a . A p e d id o d e ste , d e u V a le n tim m o d e lo d e dois 5 ,° — A a tr ib u iç ã o q u e lh e é fe ita p o r a u to re s
b d o s a p a re lh o s d e c h á , q u e d e p o is d e e x e c u ta d o s fo ra m p o rtu g u e s e s d c d o is se rv iç o s: u m d e m e s a e o u tr o d e
p a ra L isb o a . U m d o s a p a re lh o s e ra d e m eta l re v e s tid o .c h á . w
de e sm a lte , d a n d o jd é ia d e m a n u f a tu r a c h in e s a , d e V a le n te d iz à p á g in a 2 2 , (fig u ra 1 1 ) : “T e r r in a
C a n tã o . M a n s o fe z e n sa io s c fa b ric o u u m c h a rã o tã o co m a s in ic ia is P .F .V . c o m a in s c riç ã o — S ite b a r r o h e
p e rfe ito q u a n to o im p o rta d o . A o re fe rid o M a n s o , V a ­ o u tro o u n ic ó rm o 1 7 7 6 — e sta d a ta le v a -n o s à c o n c lu s ã o

393
de que a baixela deve ter sido fabricada com o caulim Diremos nós, que nada há de mais plausível diante
recolhido por Bartolomeu da Costa, ou pelo Dr, Van- dessa abalizada opinião que João Manso Pereira quises­
dei li, não sendo natural que dele houvesse então outros se homenagear um ilustre “brasileiro” com uma folha
pesquisadores, a não ser que o Dr, Manso Pereira. . . de serviços das mais brilhantes a favor do Brasil e de
já tivesse iniciado no Brasil os seus trabalhos nesse Portugal, oferecendo-lhe um serviço de chá.
sentido”. O que há de curioso e lamentável 6 que só se co­
Página 24: “Serviço de chá que figurou na Expo­ nhecem no Brasil, até o momento apenas três exem­
sição de Cerâmica, realizada no Porto em 1882. Joaquim plares marcados desse ceramista que usava cinco marcas
de Vasconcellos descreveu assim: Compõe-se de seis diferentes. Um anel em coleção particular (tipo cama­
chávenas com seus pires, bules, leiteira, açucareiro (sem feu) no Paraná, e outras duas peças ovais de três c meio
tam pa), mantegueira c tigela de lavar as chávenas (figu­ por três centímetros, em bíscuit, constando do leilão de
ra da Glória coroada, com um carro triunfai puxado por novembro de 1977, sob lote n.° 8, do leiloeiro Ernani,
dois pavões verdes com um medalhão com dois retratos que foram posteriormente adquiridas pelo Banco do
e escrito na moldura Maria I c Petrus IIÍ), Supomos se­ Brasil, peças representando o Princípe do Brasil Dom
rem estas peças um resultado dos ensaios do Tenente João e a Princesa Dona Carlota Joaqnina,
General Bartolomeu da Costa, 1774. A maior parte das Gastão Penal va atribui a João Manso Pereira, um
peças tem o monograma na borda J.P.X., em vermelho) prato, porém sem marca, e. cujo desuno 6 ignorado. No
ou J.P.X.C, Teria o serviço pertencido a Joaquim Pi­ entanto em Portugal, além dos serviços que lhe são
nheiro Xavier Cintado (sic ), (o certo é Curado) atribuídos, existem numerosas peças marcadas entre
1743-1830, general nascido no Brasil (G oyaz), Barão entidades e coleções particulares.
e Conde de São João das Duas Barras, Comendador da De qualquer forma, esse insigne patrício, para gáu­
Torre e Espada, Governador das Armas de 1822 a dio de nossa cultura, fez inscrever marcas brasileiras,
1828, conforme Enciclopéia Ilustrada, vol. X I, pág. 406. ainda no século XVJII, nos tratados internacionais de
Num artigo intitulado “Cerâmica Portuguesa *— Subsí­ cerâmica; e outros compêndios confirmam a lhe con­
dios Históricos", Joaquim cie Vasconcellos é de opinião sagrar o nome, de forma a demonstrar a nossa priori­
que o serviço pode mui lo bem, ser obra do Dr, João dade, na América Latina, na produção da tão cobiçada
Manso Pereira. porcelana.

1 _. ]Lisbonne, Lissabon!
Brésil
L IS B O A
1
«71M. Pereira. 1
rM J M H h d R A N X í s jK* A *** »«-t 8
D a. «itf «tf8*l/é feil
l 1 p a m / ^ A i 7?s «u- *•w é*fíi <?®j&1f C i
I
Marcas de João Manso Pereira, consignadas no livro de Graesse “Guide de 1'Âmaleur de Porcelaínes er de F ayencef’.

13 èriíe edition
por
E. Z IM M E R M A N
Berlim, 1910.

O b s C o m o se pode verificar jú havia no ano de 1793 seu


registro de marca no Brasil, na lllw Grande, e na própria
Lisboa os seus produtos eram reconhecidos.

394
Séc. X V I 11 PORCELANA BRASILEIRA E BISCUIT

A o alto duas peças ovaltidas f 3,5 cm x 3 cm J representando os Príncipes do Brasil, D om João


€ Dona Cartola loaquina. Tratam-se de dois magníficos camafeus fabricados no gênero de
Wedgwood, com uma base de material cinza-azulado que relembra o jaspe inglês, classificado
como grés fin o ou também porcelana artificial e as figuras são feitas em porcelana dura
branca. H á quem diga que João Manso teria solicitado a colaboração do M estre VaUntim
nos moldes daqueles e outros bustos. Peças de extrema raridade e qualidade, que bem reve­
lam o talento e a perícia do nosso patrício, A terceira fotografia mostra a marca gravada na
pasta no reverso dos Camafeus: “ Afanso R . Jan ", isto é, João-Manso Pereira, R io de Janeiro.
Esses camafeus foram adquiridos do leiloeiro Ernani, lote n ? S em novem bro de 1977, pelo
Banco do Brasil, já que Dom João V í fo i o fundador do estabelecimento o qual cortczmente
permitiu que fossem os mesmos fotografados e publicados; Cortesia do Banco do Brasil
{Seção do A rquivo e de Museus) (vide capa).

395
VIII - COMENTÁRIOS SOBRE A S
PORCELANAS CHINESAS ANÓNIMAS
DA NAU AFUNDADA EM MONT SE R R A T

imprensa (“A Tribuna”, “A Tar­ vasos, jarros e potes, têm formatos diversos: “balaústre”,
de", "O Jornal da Bahia" e o corneta, piriforme, globular, gomílado, com base lisa ou
“O Estado de Sáo Paulo” ) no canelada, com ou sem aplicações vasadas na parto
correr do ano de 1975, noticiou inferior.
a descoberta dc uma nau afun­ Quanto aos pratos, só os há rasos, uns de perfil
dada perto do Forte de Mont ocidental (com caldeira e aba) e outros de perfil orien­
Serrat, defronte a praia de Boa tal (sem aba, de borda atigelada).
Viagem, em Salvador. O achado foi feito peio jovem Há representações zoomorfas, com Cão de Fô, dra­
mergulhador Walter Dias de Andrade, que além dessa gão, tigre, veado, cavalo, e, antropomorfas, com uma
descoberta fez a de uma ti3U holandesa, entregando a série em “biscuit émaíllc" de figuras chinesas e hindus,
recuperação desta, ao Comando Naval, que dela já cm que se sobressaem as “Damas”, cm esmalte azul e
retirou uma esplêndida série de canhões de bronze do céladon, e ainda, estatuetas em grés com esmalte azul.
século XVII e mesmo de períodos anteriores. Quanto à decoração, o material da nau afundada
Os achados da primeira nau foram examinados enquadra-se nas duas técnicas usuais de aplicação de
pelo Professor Valentim Caldcron, arqueólogo, atual cores. As peças queimadas a fogo alto são as repre­
diretor do Museu de Arte Sacra da Bahia, que os clas­ sentadas pelos pratos, tigelas, xícaras, potjches, frascos,
sificou como sendo do século XVIII, trazidos da etc., pintados de azul de cobalto sob a coberta, e os
índia por nau mercante portuguesa. ( “A Tribuna”, potiches de cor chocolate (chamados de “ nozera” na
17-02-1975). Bahia), assim com o as representações zoomorfas de
Convidado também para, como ceramógrafo, opi­ variantes de verde, marrom e amarelo, e as aníropo-
nar sobre o material recolhjdo, passamos a extern ar morfas de esmalte branco brilhante, azul c "céladon".
nossas observações: Estas peças queimadas a alta temperatura, protegi­
I — Os achados, bilros em jacarandá de mobi­ das pelo esmalte denso ou pela pintura sob a glasura,
liário, fragmentos dc imagens de marfim à feição de sofreram muito pouco com o incêndio.
Goa, espelho de fechadura de bronze adamascada e O restante das peças *— bules, leiteiras, xícaras,
jóias filigranadas dc tipo indo-português, resíduos de vasos, etc., foi decorado a fogo brando sobre o vidrado,
especiarias diversas, a cerâmica (parte em azul e bran­ na técnica e no gênero jesuítico, à base de desenhos
co, parte policromada), deixam supor tratar-se de elaborados com tinta preta (a base de manganesío)
carregamento vindo do Oriente, mais especificamente de vermelho rosa ou carmesim, e decoração a ouro, esta
Macau e Goa, em nau ou mais provavelmente em car- fixada ainda em temperatura mais baixa.
raca lusa da Carreira da índia, incendiada. Nesse rol, incluem-se elegantes xícaras de azul
Com referência ao acervo cerâmico contido na nau, soprado (powder blue) com aplicações em ouro, e as
abrange ele as seguintes categorias: de fundo negro fosco com reservas policromadas.
a) barro cozido (lajotas de piso) Quanto à qualidade, o material recolhido reúne
b) grés djversos: cinzento (estatuetas, defumado- três níveis distintos. Começa com as finíssimas porcela­
res em parte esmaltados) marron e escuro nas casca dc ovo, e as brancas policromadas no gênero
(serviço de chã), estes últimos de Yí-Shlng. jesuítico, com vestígios ainda de folhagens, flores, inse­
c) biscuit (figuras e estatuetas em parte esmal­ tos, aves, etc., e as em azul soprado (powder blue) com
tadas ). vestígios de decoração dourada, as de fundo negro fosco
d) porcelanas diversas; casca de ovo, pasta fina ou chocolate (estas de tipo Batávia), ambas com reser­
branca, pasta grosseira acinzentada. vas policromadas. E ainda dentro dessa primeira linha as
Quanto aos artefatos, há variedade de bules, lei­ peças de adorno, em “biscuit émaillé”, tanto cm pasta
teiras, tigejas, xícaras, covilhetes, poüches, vasos, jarros de porcelana com o de grés (recobertas com esmaltes
e poles, pratos rasos, estatuetas, defumadores, frascos . cm parte).
para chá, floreiras pequenas com folhagens e flores em Algumas daquelas peças cm porcelana, apresentam
porcelana, etc. o duplo círculo (double ring) com ou sem signos
D e notar que os bules são de forma abolachada no frete.
com bicos retos ou recurvados, com bases lisas ou cane­ D e média qualidade, aünham-se os serviços de chá
ladas, as leiteiras são piriformes com bases idênticas, em grés marrom de Yi-shing, com primorosa decoração
algumas com relevos e decoração aplicada vas ada. Os fitoforme, burilada cm relevo, muito apreciados na

397
PO R C E LA N A S CHINESAS ANÔNIM AS
Da nau afundada de Mont Serrât

Parle dos achados du nau ctfu/idada nas proximidades do S ie n ’ Serrât, nu Bahia de Todos os Sait/os, Bal: ia en: fevereiro de J 975,
quundo foi descoberta peio mergulhador Walter Dias de Andrade, que geniitmente nos cedeu estas e outras fotografias das salvados.

398
Inglaterra c na Alemanha. Como peça “sui-generis”, Porém, confessamos que, levando fotografias ao
vimos um frasco alto em grés avermelhado, com painéis O rientée à Europa para a classificação, tivemos, graças
rebaixados pintados a ouro sobre fundo de charão a gentileza de peritos, como o Sr. King Kong Lee, de
negro. Hong-Kong, e da cortesia de Li Wu Fin, diretor do
E também as porcelanas em azul e branco, que Museu Imperial de Pequim, e da fidalguia de Marcus
eram importadas em muito maior quantidade do que as Linnel do Departamento de Cerâmica de Sotheby’s,
policroiiiadas, tanto na Europa como na América, dada informações coincidentes e positivas: Que existiam na­
a sua popularidade e preço mais acessível, o que não quele carregamento, fragmentos e peças desde o período
as excluía, todavia, dos recintos solarengos ou palacia­ de Tien’Chi ou Tíen-Ki (o boneco quebrado), portanto
nos. Tem-se conhecimento de que a corte e nobreza 1 6 2 1 /1 6 2 7 , 4 de todos os outros períodos, sobretudo
francesas (Mme, de Pompadour) as apreciavam e as dos meados do século XVIII, atravessando pois vários
usavam no diário e na nossa Corte Imperial também famosos reinados, até Kiat-Sing (1 7 9 6 /1 8 2 0 ), repre­
eram elas de uso, c vários espécimes podem ainda ser sentado pelos vasos de base com arbustos em “Blanc
admirados no Jardjm das Princesas, na Quinta da Boa de Chine” ou polie ramados.
Vista, como a "Xica da Silva" cm sua opulenta osten­ Dessa forma o carregamento da nau afundada
tação em Diamantina. trazia peças de diferentes períodos o que nos pareceu
O sortimento decorativo dos pratos é variado: há estranho, ou seja o fato de uma embarcação provinda
com desenhos de flores, grandes c miúdas, folhagens, do Oriente não trazer peças de um só período, que seria
símbolos chineses, jardins com coluna e cerca, vasos o seu contemporâneo. Porém, segundo King Kong Lee
tipo Imari, flores de pessegueiro (peach-bloom ) e e Marcus Linnel, essa ocorrência não é um fato isolado
“pombinhos” (Willow Pattern), ou seja, com chorão nem raro no comércio oriental, pois os armadores ato­
ou salgueiro, ponte, casa c pombos, porém em versão chavam as naus com as encomendas ocidentais definidas
ajuda não esteriotipada do século XIX . e arrecadavam ainda dos mercadores locais, peças de
Como qualidade mais interior, contam-se bules em outros períodos, quando as encontravam pois havia
grés escuro ou acinzentado, sem nenhuma decoração, mercado garantido para elas, O próprio King Kong Lee,
alguns com idiogramas de louvor no frete. deu-nos como exemplo a descoberta em janeiro de 1976,
E ai tida, as louças em azul e branco conhecidas de uma embarcação coreana afundada há muitos
internacionalmente como louça de Swatow, que se dis­ séculos na costa de Sinan na Coréa, que trazia variada
tinguem da “louça de Macau", por sua qualidade de carga artística. Entre bronzes, pedras duras, lacas,
pasta inferior e sua decoração “sui-generis". moedas de cobre, nada menos do que 5.000 porcelanas
A louça de Swatow do naufrágio é representada céladons! As moedas eram datadas de 1311 a.D. e a
por pratos atigela dos (sem aba) e por malgas com idade dos céladons variava bastante: os mais antigos
decoração de azul cobalto, sob o vidrado. Essas louças eram atribuídos a Sung e os mais novos ao reinado de
são muito reputadas, sobretudo no mercado japonês, Yuan (1 266-1368) ou seja do século XIII e XIV.
para onde também eram exportadas nos séculos XVII Sobre esse famoso achado houve uma importante expo­
e XVIÍÍ, e são louvadas p d o que apresentam de-vigor, sição era Hong-Kong W.
espontaneidade e pureza da arte chinesa na sua inter­ A seguir, reproduziremos o levantamento do que
pretação popular. nos foi possível fazer, em geral de peças imperfeitas,
Essas louças nos são sobremodo simpáticas, pois como poderão verificar (decoração desbotada ou peças
acreditamos eram as que vinham do Oriente, arroladas lascadas ou quebradas, que foram mostradas quando
nos manifestos como “louça grossa”. Um fato podemos das entrevistas publicadas em Salvador pela "A Tarde”
afirmar com segurança: elas eram de uso corrente no e “A Tribuna”, em 1975, e a visita do prof. Valeníim
Brasil, no século XVIIT, pois tivemos oportunidade de Calderon).
recuperar cacos idênticos aos das tigelas da nau Mont Porém o que continuamos ignorando por falta de
Serrat, em Porto Seguro e no litoral de São Pauto, no elementos positivos é a data do afundamento e o nome
Sítio Guaecá (estampa 2 9 4 ). Parte dessas tigelas da nau, apesar de haver quem diga se tratar da nau
apresenta o duplo círculo ("double ring”) no frete o Nossa Senhora do Rosário e Santo André, que sosso-
que indicaria que seu fabrico é da região de Chin- brou em 1737, porém essa hipótese está descartada
tehchen. pois há numerosas peças que correspondem a períodos
Ignora-se até o momento a data do afundamento muito mais posteriores.
da embarcação; e elementos como o sino, placas indi­ Aproveitamos a oportunidade para agradecer ao
cativas ou mesmo canhões, moedas etc., para indicar Senhor Walter Dias de Andrade o gesto amigo e dc
o período (não foram encontrados). Acreditamos que alto significado para os estudiosos da cerâmica chinesa
o carregamento de porcelana pudesse nos indicar a data da oportunidade de proceder a esse levantamento
com maior ou menor precisão, por suas características; técnico permitindo que parte desses salvados fossem
pensávamos no entanto que todas as peças fossem do fotografados, corpo também nos fornecendo fotos suple­
mesmo período e que esse fosse o século XVIII. mentares submarinas e outras.

399
B I B L I O G R A F I A

(1 ) "D ocum entos Interessantes" — vo!. 29 — págs. 7 /8 (Arqui­


vo d o Estado de S. Paulo),
(2 ) Arquivo do Estado de S. Paulo — “Documentos Interes­
santes’’ — vol. 29 — págs. 9/10.
(3 ) Yolanda M arcondes Portugal — "A Cerâmica na
Num ism ática" em Anais no Museu Hist, Nacional — vol.
II, 1971 — pág. 72 — Rio. (Ob. cli.).
(4) F. M arques dos Santos — "Estudos Brasileiros" — ano
I, n.° 3 -— pág, 9 — Rio, 1938.
(5) J osé de Q ueiroz — "Cerâmica Portuense" — 2 .a ed.,
Lisboa, 1947 — vol. II, pág. 161.

(6) W. Z ím Merman — " Guide de Pamaleur de Porceiaines


ei Faycnces" 13,3 ed. — Berlim, 1910.
(7 ) V asco V alente — ob. cit., págs. 22/24,
(8) National Museum o f Korea, 1977 — "Especial Exibition
o} Cultural Relics Found o ff Sinan Coast" — in 1976,

Jornais da Bahia: “ A Tarde", de 1 ° de março de 1975.


“ Tribuna da Bahia” , de 0 6 .0 2 .7 5 e de 14.02.75 — pág.
5 de 1 7.02.75.
Revista da Ãfrica d o Sul — ’’Panorama", n.° 13 -—- Julho de
1977.
Tesouros do Passado — págs. 28, 29, 30 e 31 — Reportagem
sobre escavações com cerâmica chinesa, etc., na Cidade
do Cabo.

José n r C ampos e Sousa .... ’’Memórias sobre Loiça Braso­


nada" — Lisboa, 1978,
G astao P enal VA — “Porcelanas da Casa de Bragança" — in
Anuário do Museu Imperial — Ministério da Educação
— Petrópolis, 1942 - - págs. 117 a 148,

400
Séc. XVIII PORCELANAS CHINESAS ANÔNIMAS
(Salvados da Nau cic Mont Serrai)
(Pratos azuis e brancos — fragmentos)

Fragmenta de prato, (lembrando de relance o clássico “Wiltow Tree", sem o ser) de traços grossos lineares, uma caldeira form ada
eom delicado "irdlils" c no centro uma paisagem chinesa em que se divisam ramagens, tronco de charão e pagodes, Como esta peça
ainda é do período de Kang-Hsl (1662-1722), deve ser das primeiras que. serva a,ui de inspiração pura outras variantes dos próprios
chineses (como o lenda dos Bombinhos e do Salgueiro) e sobretudo para os ingleses. Estes desde o fim do século X V III (1780)
que começaram a popularizar a motivo na Inglaterra, primeiro em CaugMey e depois em outras fábricas de porte, como Spode,
porém lá romanceando u cena com os dois amantes representados, a final petos dois pombinhos. Aparece com as variantes d m se
motivo um sem número de abas tio decorrer do século X V III , fnrifo por parte das numerosas fábricas inglesas conto também pot
parte dos chineses que no finai de Kien-Lung, muito exportaram para a Ocidente, aqueles padrões que até hoie fabricam e entre
nós, no Brasil, fixou-se corno um dos protótipos entre muitos da chamada louça de Macau, O mosivo chegou a scr tão popular que
em Londres fo i montada uma opereta cômica ‘‘The Wiilow pattern“, no Sasoy Theatre cm 1901. Vide “The Story of Wiilow
Pattern Plme" — 5 f ed. A e B — Black Ld l.ondon —- 1975 e Gulland. voL II — púg. 875. O fragm ento de prato t) direita é dc
fundo azul pintado com toques compartimentados de azul claro com ramagens de pessegueiros, tanta na nhti como rto centro ; es Sc
gênero muito mais comum em potichcs é conhecido por "prttnus" ou '‘hawfhorn”, na terminologia dos centmógr tifos. O prato de
baixo, à esquerda. é de form a aitgelada (sem ctüdeira) lembrando os pratos antigos chineses, é do ripo conhecido internacionalmente
como Swatow (pasta mais grossa e mais grosseira, desenhos livres c espontâneos, pinceladas leves c fortes) de uso iro Brasil.
O prata da direita é feito dentro da técnica conhecida pot ‘‘Jesuítica" a que já nos referimos c que começou a ser executada na
China, primeiro com motivos bíblicos e religiosos na carneça da século X V III. tenda depois até meado do século XVI I I represen
lado outros motivos coma mitológicos, religiosos, galantes e até eróticos. O prato em apreço era de rica e delicada fatura em
"encre de Cíiiíie", com toques rosados e dourados; dislinguem-se ainda dois pássaros pousados cm um galho entre diversas flore',.
Como estes desenhos eram aplicados sobre O vidrado, como fti dissemos, não puderem manter a sua integridade crfimica primitiva,
no contato com a água do mar,

401
Séc, xvm PO R C E LA N A S CHINESAS ANÔNIM AS
(Azul £ branco)

357

Ext es quatro p raros não deixam dc demonstrar ã versatilidade chinesa de decoração c dc significados- N o primeiro, apresenta em
primeiro plano uma grade e no fu fido uma coluna, entre outros desenhos inclusive ramagens; as grades muito usadas em jardins
hos pratos, sofrem um se rã número de variações na decoração^ N o convento de Santa Teresa (Museu de Arte Sacra) ^na Bahia,
corno fá dissemos, há irás pratos embutidos na parede, similares apertas com ligeiras variantes. O prato da direita é da muita
elaboração — o fundo à todo de “adamascado”, isto è, moldado cm deser.ho que lembra brocado: no centro .. entre uma larga
grinalda de flores, quatro peixes dentro dc um duplo círculo representando o peixe felicidade conjugai 0 prato dc baixo ã esquerda,
bastante desenhado mostra â esquerda a cesta dc flores (basket o f jlowcrs) que é original mente um sim bolo taoista e depois ser­
viu de modelo para adorno, sobretudo na porcelana, de fm ari e na faiança e azule faria holandesas. 0 prato dc baixo da direita:
(existe similar reproduzido em W, G. Gidland-Chinese Parcelain, vol. 1/1928 — fig. 251) exibe ao alto e em baixo um símbolo
musical (oh. cif.t pâg, 74) e ao centro um papel ou seda desenhado representando urti rolo desdobrado que representa ' o poço da
Sabedoria’*. Pratos que abrangem os reinados de Kang-Hsi, Yung-Cheng c começo dc Kicn-Ltmg. (Os dois pratos dc d m a já foram
também comentados em outro local). A rquivo do Autor.

402
séc. xvni PORCELANAS ANÔNIMAS
(Salvados da Nau de Mont Serrat)

358

T>i-s vasos, os dois primeiros à esquerda peio jormato são conhecidos por balaústre (bàlmter) e o da direita ê conhecido por corne­
ta A decoração é do gênero "J c o n d e o ', isto é, sobre a glosara os desenhos a ilencre de Chine” toques de rosa c dourado. Á s três
peças, dada a exposição ao fogo ou d b.gua salgada* perderam grande parte de sett atrativo, Período Ytmg-Cheng (1723-1735).

Dois jrasços.de chá de tamanho


e form atos diferentes. O da es­
querda obedece a decoração
jesuítica de pintura a ltencre de
Chine", sobre í> vidrado, razão
por que os desenhos se deterio­
raram com a ação salina. O
frasco da direita é de decoração
azul sob o vidrado, porem este
sofreu com o esfregamento' na
areia ■ cr..c.s não apresenta
brilho. Arquivo do A utor.

403
Séc. X V lit PORCELANAS CHINESAS ANÔNIMAS
{Salvados da Nau de M ont Serrai)

359

Cinco vasos ou poles que têm em comam uma base decorãât


imitando o “ajourée,> ou o vaiado, quatro dries obedecem t
decoração 11Jesuítica " e um deles ê de fundo azul, porem jt
esmerilhado peio m ovim ento da areia, A peça da esqtterdt
apresenta ainda um requinte sobre as outras, pois sobre c
círculo Vüsado da base; apresenta duas fileiras relevadas gom i
todas, hã peças tam bém com apenas uma fiteira. Os pofinhoi
de baixo, de mínima dimensão ( vide escala) eram feitos pari
compor jogos de brinquedos de crianças, costume esse qm
existia tanto na China com o no Japão.
O período dos potes de cirna (Jesuíticos) sc situa entre 1700 <
1750, e os de baixo são de períodos diversos ç três são en
grés (os da esquerda). Os cinco potinhos com base imitando e
“ajouréc” ou o vasado, efeito conseguido com a aplicação dí
um elemento moldado em volta do pê das peças, de um fo r­
m ato ovàide, foram m uito populares na Europa entre 1735 <
1765. Diz-nos David Howard e John A yers (vide ob. cit, púg
419, est. 419) que essas peças eram tão apreciadas que m
América eram elas ainda encontradas no finai do século X I X
Existem também com decoração em Família Rosa (que nãc
foram encontrados entre os fragmentos) entre coleções bahianai
e também peças armoriadas pura a Inglaterra, daquele feitio .

404
Séc. XV UI PORCELANAS CHINESAS ANÓNIMAS
(Salvados da Nau de Mont Serrât)

A s cinco xícaras em azul e branco sob a coberta aqui exibidas («r isiem também sem alças não constando desta fotografia), asse-
mctham-sc às outras também salvadas de um galeão espanhol afundaria cm Í67S, na Zona do Caribe, estas peças salvados do
naufrágio espanhol saíram de Macau c daí para Manilha, o grande centro e entreposto Idipino no Parífiro, e Je là chegaram aie
Acapulco. Dai atravessaram a N ova Espanha a lombo de mula para Serem carregadas cm outro galeão, no golfo do Á ftifco, v<r.
Europa (Sevilka), quando afundaram ( vide “The Treasurc o f lhe Spanislt Mum m A ri 11! Ancrion Sotheby's Park Ber net” London,
1966/67) classificadas as peças como sendo do période de Kang-Hsi. A s on!’í; s xícaras, a du esquerda alta é cm a : u ! do gênera
“powdcr l'ini'". estando desbotada, A xícara em preto cotn reservas ao tdto ã direita assim como o pi’es, também sofreram a ação
do mar, pots a decoração é tt fogo brando, A xícara de baixo c do tipo "Jesuítico'' pintada sobre a glas.ura. Arquivo do Autor,

405
Sécs. X V III/X IX PORCELANAS CHINESAS
(Salvados da Nau de Mont Serrai)

Versos de pires e de tigelas e tampo,


s e n d o que quatro exibem no frete
sob o vidradot símbolos chineses,
tampa dO centro com raios pintados
em azul' convergindo sobre o frete
e desenhos de flores , entre eles, ê
de delicada execução <? concepção
original. Os desenhos são de fogo
alto sob o vidrado e do período de
Kang-Hsi (1662-1722), A rquivo do
A utor. f

406
Séc. XVI!f PORCELANAS CHINESAS ANÔNIMAS
(Salvadas da Nau de M onl Seira l)
(Bules c Lcileitas)

362

Todos esses bules e leiteiras de diferentes formatos e épocas,


lotam decoradas sobre a glasuru, a maneira “Jesuítica" Idesenha.
dos a “eners de C hinc”, com toques de rosa e dourado), porêtii
a longa exposição â ação salina destruía a integridade da pri­
mitiva c rica decoração. O bule de cima tem bico reto e indico
unia evolução sobre os outros que são mais antigos, formato
■esse posto em uso pelos chineses de 1750/60 em diante. O bule
de baixo ê uma das peças mais belas com o canelada (que
aliiís ê reproduzido no século X V l l I etn muitos potes c vojqj)
da base e da rampa, os círculos vaiados sobrepostos e os
desenhos relevados graciosos. A rquivo do Autor.

407
Séc. X V m PORCELANAS CHINESAS ANÔNIMAS
(Salvados òa nau ílc Mont Serrat)
Pires e Covilhetes

3Ê3

Exemplos de quatro peças, o pratinho e o pires de cima dc forma redonda


e os dois covilhetes de baixo de borda hcxagonat recortada — desenhos em
preto com toques de roitge de fer c dourado.
Elas ilustram a decoração conhecida por "Jesuítica1’ que começou a ser exe­
cutada na China, no começo do século XVI I I , perdurando na moda até
meados do século. È pois .produto já da dinastia Ching. Como a decoração,
como lá foi dito, é sobre a giasura estão os desenhos apagados e não podem
refletir í! delicadeza dos desenhos que se inspiraram em cópias de assuntos
mitológicos, galantes, religiosos, etc.
E a pasta dessas peças costuma ser de m elhor qualidade finais alvas) corno
também mais delgadas do que o resto dos produtos de exportação. Vide
Georgc Savage and Haroiã Newman — "A n Ulusírated Dictionary of Cera-
m ies" — turndres, 1974.
Arquivo do Autor.

408
Sécs. x v i u / x r x PORCELANAS CHINESAS ANÔNIMAS

364

Três gêneros de tigelas: dois do tipo “Jesuítico" (desenhos


apagados), dois do tipo Swatow e um a esquerda, em ha iro, de
fmos desenhos em azul com barra interna, sob o vidrado. D e jc
observar as duas peças do centro: que na realidade ó uma só:
vista por dentro e vista por fora. Estas malgas tipo Swatow
(maiores que as tigelas comuns) são referidas em inventários no
Brasil e como já dissemos no texto, eram peças de uso comum,
no período colonial, pois que além das peças e fragmentos salvos
de naufrágio, foram encontrados cacos de regular tamanho,
tento no litoral paulista, erti Sito Sebastião, como no litoral
baiano, em Porto Seguro.
Arquivo do A utor .

409
Séc. X V U PORCELANAS CHINESAS
(Eslaluetas)

365

0 boneco de a m a foi classifiçadò pelo Museu de K yow , como


do período de Tien-C hi ou Tien-Ki (1621-1627) e serviu de
modelo ò cerâmica iapone.ro, encontrando-se espécimes copiados
cm porcelana Imari, do século X V Ítl, A s outras estatuetas são
também M ing e continuaram a ser recoplaáas na própria China
até o século XI X, dado o agrado cm que eram tidas. Estas figu­
rações de damas são conhecidas na Inglaterra por "L ong
Elisas1 Todas as estatuetas foram confeccionadas ru técnica do
"biscuit cmaillé" (biscuit á vista e esmalte fogo alto).
Arquivo do Autor.

410
SETECENTISMO

ÍNDICE DO TEXTO

I — ir — BARRO CRU E TERRACOTA

Considerações sobre a economia brasileira e lusitana e. a imigração em Minas.


Dados demográficos e referências à importação geral. Cerâmica produzida
por escravos em fornos de engenho, pelos índios acullurados e os portugueses
reinóis. Contribuição dos colégios jesuíticos, no aprendizado artesanal, inclusive
cerâmico. Mestres oleiros jesuítas. Produção bahiana de louça. Pauta da Alfândega
1739. Referências à produção em SSo Paulo. Presença de lareira de tijolos.
Imagens.............................................. ............................................................................................ 313 a 315

m — LOUÇA VIDRADA

Considerações sobre material cerâmico importado. Referência à botijas vidradas


em inventários de São Paulo (1578 a 1750). Ensaios do Dr. José Bittencourt,
em Caeté (1777 a 1786). Consignação de púcaros vidrados em Itapetininga,
final do século .......................................................................... ................ ................ ................... 3 /7

IV — AZULEJOS

Grande desenvolvimento da azulejaria lusa, sobressaindo o fabrico de excelentes


painéis, tanto para revestimento parietal nas Igrejas do Reino como do Brasil e
mansões. Artistas azulejadores de renome. Predomínio ainda do azul e branco.
Estilos. A criatividade lusa mais manifesta no azul cgr avulso do que nos painéis
(istoriato). Considerações gerais. O uso do azulejo além do recinto social e nas
fachadas. Fachadas externas no Brasil, em Portugal e sobretudo em Puebla e
na cidade do México, estas do século X V I/X V II ........... .......................................... 319 a 322

V — FAIANÇA

O surgimento de numerosas fábricas e núcleos de fabrico em Portugal. Principais


fábricas. Outras louças (Veneza e Delft) consignadas no Brasil. Proteção de
Pombal ã faiança exportada, seu volume e parte do acervo histórico e anônimõ
de interesse luso-brasileiro.
— Condes de Vimieiro, O Conde de Bolmdcla, o Marquês de Lavradio, João
Pereira Ramos de Azevedo Coutinlw, Frei Galvão (S, Paulo) Companhia de
Jesus, etc. (E em faiança fina serviço do 15.° Vice-rei D. Marcos de Noronha
e Brito).................... ........................................................................ .. ......................................... 323 a 330

v r — PORCELANA CHINESA

Retrospecto histórico do escambo oriental e outras referências do tráfico e do


comércio, com a presença dos holandeses, ingleses, etc. Porcelana manuelina e
sino-portuguesa — "Kraak Porcelain" —- Porcelana Companhia das índias —
características gerais, denominações oficiais e usuais no Brasil — Centros de

411
fabrico na China — Chintehchen — Cantão o mais importante centro distri­
buidor e núcleo de ateliês de acabamento. Encomendas a Macau. Hipótese sobre
a aplicação do ouro das siglas. A produção chinesa — Kun-Io M ando —
Yang-Li. A louça conhecida por Swatcw (azul e branco e colorida). Outras
designações para a porcelana Companhia das índias — Sub-classificações. Reina­
dos chineses. Características de alguns deies. A presença da porcelana chinesa no
Brasil, referências históricas em diversas capitanias — Ensaio de arrolamento em
três categorias sócio-históricas:
1P — Companhia das índias Braganiinas. I
2. a — Companhia das índias personalizadas oü históricas.
3. “ — Companhia das Índias da época — anônimas.
Explicação sobre o conceito e relação de peças conhecidas e consideradas como
"Bragantinas", personalizadas e anônimas........................................................................ 331 a 391

YII _ PORCELANA BRASILEIRA E BISCUIT

Dados sobre João Manso Pereira, que desempenhou diversas atividades científicas,
como exploração de minerais, descobrimento de rátreiras e do caulim. Passou
também para a produção cerâmica, tanto da utilitária, segundo a crônica, como
da artística em que produziu camafeus de excelente qualidade. Presume-se que
tenha iniciado suas atividades de ceramista, antes mesmo de 1793. Faleceu em
1820. Citações e comentários de diversos historiadores, nacionais e estrangeiros,
sobre esse vulto patrício e .tewr produtos. Sitas m a rca s. ................................................ 393 a 395

VIII — COMENTÁRIOS SOBRE A N AU A FU N D A D A EM MONT SERRAT

Noticias de vários fornais sobre a descoberta de uma nau afundada perto da


costa na altura do Mont Serrai em Salvador. Exame dos salvados pelo prof.
Valentim Calderon (1975) e por nós na mesma época. Classificação do material
cerâmico, encontrado (em geral defeituoso), em que se consigna a diversidade
de qualidade e de formatos, e sobretudo peças de diferentes reinados chineses,
segundo opinião de peritos estrangeiros (China e J a p ã o ). ................. .... ..................... 397 a 410

412
SETECENTISMO

ÍNDICE DAS ESTAMPAS

AZULEJARIA:

n.°
271 — Painel azul e branco com vista panorâmica de Lisboa (1730),
272 — Rua da Vila de Ovar com casas revestidas de azulejo palie ramados,
final do século X V lll.

FAIANÇA HOLANDESA e outras:

272-A — (Serviço de chá , em faiança fina, do J5.° Vice-rei do Brasil).


273 — Medalhão holandês, gomilado com marinha, marcado "A Grego" — 7765.
274 — Prato azul e branco holandês, decoração plumas, marcado B.P. ■— 1741
— com detalhe da marca.
275 — Potiche forma barroca holandês, séculos XV U /X V U 1, marcado Z. San-
dents.
276 — Sopeira portuguesa policromada atribuída à Bica dos Sapatos ± 1775.
277 — Ânfora francesa policromada, Sceaux, França ± 1800.
278 — Terrina barroca francesa, fabrico de Marselha, ( Vva. Perrin) século X V lll,
279 — Ânfora policromada francesa com flores apostas, Marselha (Vva. Perrin)
1750/1770.
280 — Vaso de Deift.
281 — Pequena caneca portuguesa que pertenceu ao Frei Galvão, azul e branco
vinoso.
282 — Medalhão com uma nau com armas reais portuguesas (século XIX).
283 ~ Travessa recortada decoração virtosa, marcada Viana (século X V lll).
284 — Prato de arroz espanhol, azul e branco, com festões e pássaros, Cata-
lunha-Barcelona (século XVIfí).
285 — Cachorro, fabrico da Real Fábrica de Ralo (Brtmeto) século X V lll.
286 — Tuhpcira ou jarra de luvas, azul e branco — Porto (?) século X V lll.

ASSUNTOS DIVERSOS:

287 —• Nau de carga de luxo, holandesa, século X V lll.


288 — Nau de carga pesada holandesa, gênero carraca portuguesa, século X V lll.
289 — Sede da Companhia das índias inglesas em Londres.
290 — Idem, idem, ano de 1726,
291 — Sede da Companhia dm índias Orientais Holandesa.
292 — Sede da Companhia das Índias Ocidentais Holandesa.
293 — Vista de Batávia, entreposto holandês no Extremo-Oriente.

LOUÇA CHINESA (SWATOW)

294 — Malga quebrada (falta parte posterior) em azul e branco, salvados na


Nau de Mont Serrat — em baixo cacos de louça idêntica encontrados
em Porto Seguro e em São Sebastião (S. Paulo).

413
PORCELANAS BRAGANTINAS:

295 —- Prato do serviço conhecido como "Os meninos de Palhavã", século XVI11.
296 — Molheira de Dom Pedro 111 e Dona Maria 1 (Palácio de Queluz).
297 — "Présentoir” da molheira, idem, idem.
298 — Conjunto com xícaras e pires do casamento de Dom lodo V e xícara
(tipo cabaça) com armas de Portugal e anjos pisando bandeira francesa.
299 — Sopeira e présentoir do serviço "Inauguração da Estátua Equestre de
Dom losé I". j
300 — Prato que pertenceu a Dom José ( 1 7 1 4 - 1 7 7 7 ) reproduzido de Loiça
Brasonada de Campos e Sousa.
301 — Tamborete e detalhe com armas, pertenceu a Dona Maria II (Porém o
brasão levava a crer que seja do século X V lll).
302 — Tigela com as efígies do príncipe Dom João e da princesa Dona Carlota
Joaquina.
303 — Travessa do serviço real conhecido por Gãllos.
■304 — Sopeira conhecida como do serviço dos "Correios’'.
305 — Floreira de Serviço que pertenceu á Princesa Izabel.
3Ô6 — Conjunto de três pratos dos serviços conhecidos por "Pavões-Pastores
e Gallos”.

PORCELANAS HISTÓRICAS OU PERSONALIZADAS:

307 — Travessa policromada do Serviço do I o Visconde de Mirandella, Por ­


tugal.
308 -—- Sopeira policromada da Família Freire, de Paquetá — Fio,
309 — Prato com aba em azul e ouro com iniciais J J S . (Comandante Joaquim
losé de Siqueira) — Rio.
310 — Par de jarras policromada do período Kang-Hsi, do Palácio da Acla­
mação ( BA ).
311 — Prato do serviço policromada do 3.° Conde de Lumiares, Portugal.
312 ■— Prato do serviço do Visconde de Balsemão com paquife, Portugal.
313 — Prato e xícara com as armas dos Lindenberg, Alemanha.
314 — Prato do serviço policromada de José Pires de Albuquerque •—
Klen-Lung, Portugal.
315 — Prato do serviço policromada do ministro José Seabra da Silva e de seu
filho o Visconde da Bahia.
316 — Prato do serviço policromada de Thornas Gonçalves, capitão-mor.
317 — Pires brasonado com o brasão (presumível) da Família Albuquerque.
318 — Prato policromada do serviço do 5P Conde de Sarzedas, Portugal.
319 — Xícara do IP Visconde de Mirandella.
320 — Travessa do 1 Visconde de Balsemão (brasão sem paquijcs).
321 — Travessa com a sigla J.N.S. capitão João Nogueira dos Santos, pai do
Visconde de Jaguaribe, Brasil.
322 —- Prato policromada que pertenceu ao fidalgo José Mascarenhas Pacheco
Pereira Coelho de Mello, fundador da Academia dos Renascidos,
Portugal.
323 — Estampa com efígie de Dom Luís de Ataíde, 3.° Conde de Atouguia •—
Vice-rei da índia — século XVI,
324 — Ataíde — Peças do serviço (nP 1} (quatro peças e um detalhe aumentado)
atribuído por nós a Luís (Peregrino) de Ataíde — 6P Vice-rei.
325 — Ataíde, medalhão com detalhe do mesmo titular ("Dauble ríng" no verso
e flor de artemísia).
326 — Ataíde, serviço n.°* 3 e 4 (o medalhão tem "double ring" e o símbolo
do fungas no verso) e dois detalhes do mesmo, e serviço n.° 4 é de prato
com pavilhão sobre o coronel de marquês, ambos do mesmo titular.
327 — Ataíde, serviço nP 5, prato de arroz com detalhe e iniciais arabescoiius
(LPA) de brasão que correspondem a Luís Peregrino de Ataíde, 6P
Vice-rei do Brasil, i
328 — Prato original do 5P Bispo de Diamantina.
329 — Prato parecido , com o do 5P Bispo de Diamantina.
330 —* Um prato de sobremesa, vasado, Irnari, que pertenceu a Xica da Silva.

414
COMPANHIA DAS ÍNDIAS (poücromadas e era azul e branco - anónimas)

331 - Parte do serviço (não armoriado) do Conde de Lu miares, Manuel da


Cunha Meneses (quatro estampas).
332 — Vários serviços Anténca Espaniwla.
333 — Quatro estampas (gomil e bacia, duas travessas com armas não identi­
ficadas).
334 — Prato e detalhe de prato com decoração jesuítica.
335 — Três pratos com decoração jesuítica. j
336 — Quatro vasos com arbustos em porcelana.1
337 — Três sopeiras diferentes (uma “La Dame ou Parasol").
33S — Cinco pratos com diferentes desenhos.
339 — Quatro estampas em que se inclui urn prato Yung-Cheng, um bule com
figuras européias, uma fior de tabaco e um prato com desenhos referentes
ã Sabedoria.
340 — Buda em Companhia das índias e faiança do Raio (parte de cima).
34! — Três estampas com peças de serviço de chã e animais diversos.
342 — Representações zoomúrficas.
343 — Sopeira e feitios de gomis.
344 — Peças Sanitárias.
345 — Duas peças (e um detalhe) de peças "Chinese Imari",
346 — Cinco peças amoríadas não identificadas.
347 — Duas travessas representando a “Fuga de José para o Egito" e "Cervantcs
Sancho Pança", e um prato com comediante.
348 Quatro peças, tendo três centros de prato do Convento de Santa Te­
resa (porcelana personalizada) e um prato (fragmento) da Nau de Mont
Serrai, (porcelana anônima).
349 — Seis pratos azul e branco, motivos diversos.
350 — Quatro porcelanas da China, marcadas Kang-Hsi (urna com detalhe do
verso).
35} — Um vaso, dois pratos azul e branco e um azul e ouro (Kang-Hsi) não
marcado.

GRÉS

352 — Um cavalo e cavaleiro em verde (grés) Kang-Hsi, urn cão de Fò


(porcelana) e um tigre (duas cores) em grés.
352-A — Diversos grés de Yi-Shing (peças variadas).

PORCELANA BRASILEIRA (1793)

353 — Reprodução de marcas de João Manso Pereira em obra estrangeira.


354 — Dois Camafeus Dom João e Dona Carlota Joaquina com detalhe marca.

SALVADOS DA NAU DE MONT SERRAT

355 Cinco vistas subquâticas.


356 Quatro pratos, azul e branco (parte fragmentos).
357 Quatro pratos, azul e branco.
358 Cinco peças (no estado) da Nau de Mont Serrat.
359 Nove peças diversas (no estado) da Nau de Mont Serrat,
360 Nove xícaras e pires (no estado) da Nau de Mont Serrat.
361 Cinco versos de pires e tigelas, da Nau de Mont Serrat.
362 Bules e leiteiras, no estado, da Nau de Mont Serrat.
363 Dois pires e dois covilhetes, no estado da Nau de Mont Serrat,
364 Cinco tigelas (uma coberta) no estado, da Nau de Mont Serrat.
365 Quatro estatuetas diversas, no estado da Nau de Mont Serrar,

415
OITO CENTISMO
(e algumas referências do século XX)

SUMÁRIO

I -PRODUTOS DE OLARIA ESTAMPAS


-

II - IMAGINÁRIA
III - CACHIMBOS - ESTAMPAS BIBLIOGRAFIA
-

IV LOUÇA DE BARRO E LOUÇA VIDRADA -


-

BIBLIOGRAFIA ESTAMPAS
-

V - AZULEJOS - ESTAMPAS BIBLIOGRAFIA


-

VI FAIANCA-MAIÓLICA - MEIA-FAIANÇA
- -

BIBLIOGRAFIA - ESTAMPAS
VII - FAIANÇA FINA - LOUÇA TIPO GRANITO - PARANÁ 1902 -
LOUÇA TIPO PÓ DE PEDRA - SÃO PAULO 1913 - BIBLIOGRAFIA
-

- ESTAMPAS DE LOUÇAS FINAS DIVERSAS, ICONOGRÁFICAS, etc.


VIII - BISCUIT - ESTAMPAS
IX - GRÉS - BIBLIOGRAFIA - ESTAMPAS
X - PORCELANA OCIDENTAL ORIENTAL E NACIONAL:
BIBLIOGRAFIA
XI SÈVRES - BIBLIOGRAFIA
-

XII PORCELANAS DE PARIS


-

XIII LIMOGES - OUTRAS FÁBRICAS FRANCESAS E EUROPÉIAS


-

XIV - ESTAMPAS DE PORCELANAS DIVERSAS, diferentes designações


- BIBLIOGRAFIA
XV - PORCELANA JAPONESA - ESTAMPAS - BIBLIOGRAFIA
XVI - PORCELANA CHINESA BIBLIOGRAFIA - ESTAMPAS
-

XVII - PORCELANAS BRASILEIRAS - (Pioneiras do século XX) ESTAMPAS


-
/ - PRODUTOS DE OLARIA

o século XIX, observa-se um consigna também no período de 12-12-1821 a


esforço intenso de produção em 14-03-1823, a importação de tijolos do estrangeiro,
Iodas as Províncias para suprir parti cuia rmente, de Bordeaux, Gênova e New-Castle,
a demanda crescente, tanto de nesse período, o único fornecedor de tijolos da Corte
materiais de construção como de (salvo Parati com duzentos) é a cidade de São Sebas­
■artigos utilitários e voluptuários. tião, no litoral de São Paulo, que além de telhas e
Esse esforço intenso se processa tijolos, remete apreciável quantidade de "tijolos de la­
através da produção generalizada do barro cozido sob drilhos” sem contar a louça utilitária,
as suas diferentes formas, como tijolos, telhas, lajotas, E:n 1817, Maximilsano, príncipe Wíed Neuwied,
ladrilhos, arte figureira, cachimbos, artefatos domés­ nos informa que na llahia (além dc outros centros de
ticos e de adorno e a fabricação de louça vidrada, produção) havia olarias fabricando telhas, às margens
Há referência de que pela década de 60, foram do rio Jaguaribe,
fabricados azulejos, azul c branco, cm Niterói, imitando Marques dos Santos [4>informa que em Santa Cata­
um tipo clássico português. D Paraná, pelo final do rina, na Colônia de Dona Francisca (futura Joinville),
século, surpreende com sua louça artística vidrada e havia uma “imensa olaria’*, o que se pode mesmo de­
talvez com alguns exemplares em faiança, e com seu preender de bela litografia exibida em 1850. Informa,
excelente pó de pedra, como veremos em detalhe, lambera, que em 1861, a firma Pedro Antônio Survilio
A Corte também surpreende com várias peças conhe­ & Cia. possuía importante fábrica, tendo ganho medalha
cidas em faiança genuína, produzidas pelo final do de praia, em Exposição na Corte. Em outra exposição,
período Victoriano, porém sem que se possa considerar a segunda na Corte, apresentaram-se vários outros expo­
como produção regular de comércio. sitores como José Morais Gomes Pereira, cum tubos e
Já no começa do século XX, cm São Paulo, foram sifões esmaltados para esgotos, de Pernambuco; Frédéric
fabricadas peças em porcelana e de adorno em “biscml”, Ostem ik, de Curitiba, expõe telhas chatas para competir
no puro estilo art-nouveau, como ainda no primeiro com as curvas; em 1881 há outra exposição em que se
quartel do século, em Caeté, volta-se a fabricar porce­ apresentam a Fábrica de Produtos Cerâmicos Santa
lana de l . a qualidade (1903) e no Rio ( 1 9 i9 ) a Ma­ Cruz, de Oliveira Pinto & Cia., a Cerâmica de Porto da
nufatura Nacional de Porcelanas (com louça doméstica, Rosa, de Corrêa Bandeira & Cia., de São Gonçalo, e a
artefatos, isoladores) e depois de 1931, passou a pro­ firma Viúva Guedes e Filhos, no Porto da Estrela,
duzir azulejos (grupo Kiabie) d). Joseph Hancox (tijolos, inclusive refratários), e Torres
Esse século XIX , em nosso território irá eviden­ & Cia., com telhas dc canal, ambos de São Gonçalo.
ciar-se também pela pletora de artigos importados, e Quanto aos produtos de olaria, é consignado em
todos os gêneros que irão complementar as deficiências São Paulo, cm 1836 o fabrico de oitenta mil telhas na
locais, tanto etn quantidade, como em quaiidade e capital da Província, assim como é verificada a pre­
variedade. sença de quarenta oleiros na cidad e<;). Informa-nos
Essa importação em massa, tanto de artigos euro­ tambén Hernani Silva Bruno'6*; “Em 1857, havia na
peus, como americanos e orientais, irá deixar no Brasil, cidade nove pequenas fábricas de telhas e de tijolos.
espalhados em museus, em coleções particulares e em Mas não se fazia uso de tijolos se não para ladrilhar
antiquários, um eloquente documentário de ordem só­ e a primeira grande fábrica só sc inaugurou, parece, no
cio-económica ou psico-socíal. Mas quanto à produção ano de 1859, no Bom Retiro". Ao que parece, cabe ao
local, todo um arsenal vai saindo do bojo quente dos Paraná o pioneirismo no fabrico de telhas tipo francês,
fornos, na feição que os hábitos, o gosto e a finalidade pois que na Exposição Nacional de 1866 — Frédéric
ditam aos grupos de Oleiros locais para satisfazer pre­ Osternak, expôs “telhas chatas menos pesadas do que as
cariamente ao mercado local. curvas" <7). Informou-nos também, Carlos L em os(í), que
Mas passemos primeiro aos produtos da olaria, de antes de 1875, havia importante olaria em Campinas,
caráter industrial, destinados à construção. de Antônio Carlos Sampaio Peixoto, genro do Barão
Debret nos esclarece que ‘‘no Rio de laneíro, sa- de Indaiatuba, que fabricava tijolos e lajotas, acontecen­
be-se que desde o começo do século, fundarám-se várias do que a fábrica foi visitada por Dom Pedro II em 1875,
fábricas de tijolos em consequência sobretudo, da pre­ o qua! autorizou o uso nas peças, do Brasão Imperial.
sença da Corte Portuguesa, passando a ter mercado Celso Maria de M ello Pupo (9\ a respeito ainda, diz:
garantido a produção dessas indústrias” P). “Tendo em sua chácara em Cambuí (Campinas), olaria
Maria Graham nos informa que em 1822, em São (1 868) moderna fazendo tijolos sólidos ou tubulares,
Gonçalo, Província do Rio de Janeiro, havia piaria ladrilhos imprensados ou não, tubos para encanamentos
produzindo tijolos e p otesí3). A Alfândega do Rio, c saneamento” . . .

419
T E R R A C O T A PIN TA D A A FR IO
Brasil
366

Garrafa com brasão imperial de um lado, <’ d o outro palmeira


e outros desenhos em relevo, barro cozido pintado a frio.
Coleção Beatriz A lves de Lima.
ACESSÓRIOS D E CONSTRUÇÃO
Deveítas — Parto (1910)
Portugal

367

Arremates em cerâmica de construção: pináculos, ponteiras,


lápides, ainda dentro da inspiração neo-gótica (1910),
Sèc. X IX TELHAS FRANCESAS

368

Centro dã Cidade de São Paulo. Hospital do Isolamento, ISSO.


Cortesia de Nelson Guimarães. Cortesia do Dr, Carlos de Oliveira Bastos.

T EL H A , L A JO T A E T IJO L O BR A SILEIRO S

Obs.: Na lajota lê-se "Sampaio Peixoto — Campinas" e tio


centro distingue-se o bt.asão imperial entre as iniciais l e O.
O tijolo ostenta o m esm o distintivo e iniciais, sendo que o I
se refere a "Imperial" e o O refere-se a "Olaria". Ambas as
peças foram fabricadas por. volta de 1875.
Gentileza de Luís Barbosa de Oi .".‘rira.

422
Ainda, sobre os produtos de olaria em São Paulo, Quanto ã importação dessas telhas modernas, provinham
nos informa Pileggt que os Irmãos Sacoman, de origem sobretudo da França. Conseguimos localizar ainda vá­
francesa, fundam em 1895, a grande indústria de cons­ rias marcas e inscrições de algumas olarias importantes
trução, a mais moderna e melhor equipada do Brasil. do estrangeiro e de São Paulo, do fim do século XIX ,
Fabricam eles tijolos prensados e furados, ladrilhos com ou começo do século X X . São elas:
argilas de lodos os tipos, telhas, manilhas, etc. . .
Entre outros méritos, lançaram no mercado um “Armand Etienne & Cie. Marseille
novo tipo para substituir a telha clássica colonial, cha­ St. Henry Martin Frères”
mada de diferentes designações como: de capa e calha, “Saumati Frères
de capa e bica, de meia cana, de canal, ou simplesmente M arseille/St. Henry”
curva e que em São Paulo, no século X X continuou a “A ntônio1Proust Rodovalho”
ser imitada c produzida em tamanho menor, apelidada Ca yeira s Província de São Paulo
de “paulistinha". “Grand écaille pour Tqtture Breveté S.G.D.G.
St, Henry Marseille Roux Frères”
Em Portugal, aquelas telhas são chamadas dc ro­ “Pierre Sacoman
mana on de canudo no). Essa telha de canal, por nós St, Henry Marseille”
chamada de “colonial” foi buscar seu formato nos idos "Tuileries de Marseille
da ocupação romana na península Ibérica, e a decoração Lopes & Sacoman
dessas mesmas telhas, em esmalte azul c branco, que St. Paul"
orna a face inferior de parte dos beirais solarengos do
século XIX, foi inspirar-se em outra civilização. Na Quanto a Sacoman e suas telhas, sabe-se que essa
lendária China havia palácios, templos e pagodes que fábrica teve longa duração e abasteceu o interior de
ostentavam tellins c remates de telhado esmaltados, n o - São Paulo. N o ano de 1974, visitamos, no município de
nocromos ou policromados e os lusitanos adotaram o Ca pi va ri, a sede da chamada Fazenda do Barão, cons­
processo em parte, nô-lo transmitindo no século XIX, truída em 1802, pertencente à família do Barão de
através das fábricas de Devesas e de Santo Antônio. Almeida Lima, cuja construção nos presta ensinamentos
Porém aos poucos no Brasil, cobrem-se as casas curiosos, pois a sua base é de pedra entgipada, os salões
coin o novo e moderno tipo de telha que jó vinha sendo e dependências dc taipa de pilão, a cozinha de pau a
importado mas que logo passa a ser fabricado aqui e pique ou barrotes, e os adendos posteriores foram levan­
conhecido por telha de Marselha ou Marselhesa. Esse tados com lijçlos (marca P, J.) e a cobertura destas
tipo novo de cobertura resguardava melhor da chuva e partes mais recentes era feita com telhas tipo francês,
do vento e até hoje continua a ser empregado e chama­ com os seguintes dizeres: "Tuileries de Marseille Lopes
do, no mercado de construção, por “telha francesa”. & Sacoman — St. Paul”.

423
II - IMAGINÁRIA

uanto ã arte fígureira desdo­ Ouanto às técnicas de cozimentos aplicadas nesse


bra-se ela na figuração popular gênero de cerâmica c ela bastante diversificada e impro­
e na imaginária sacra, variando visada. De forma geral, são secadas ao sol as suas
a fatura do primitivo ao erudito. figuras como também usam uma forma intermediária de
O barro mais dócil aos capri­ cozimento com as peças colocadas nas brasas de seus
chos do homem do que a ma­ próprios fogões a len h a112). Mas hã também quem dispo­
deira, o metal e a pedra, é o nha de fornos próprios e apropriados para a queima das
material preferido pelos artistas figureiros ou os san­ peças. Costa Pereira a esse respeito chega a estabelecer
teiros para ir materializando a sua visão e interpretação uma hierarquia entre os artistas figureiros quando assim
do ambiente, do folclore ou das invocações do culto. se expressa: “Em geral a queima é uma operação reali­
Já nos dizia Ubirajara Dolácio Mendes que *‘no zada somente pelos artistas que já ultrapassaram a fase
barro são deixadas as primeiras manifestações do Homo primária extremamente simplificada e quase inexpressiva
Sapiens, voluntárias, expressa mente para seus seme­ de modelagem popular".(n)
lhantes". Quanto à imaginária, em São Paulo, sobressaem os
E o barro vgi fixando no tempo, numa cadeia de santeiros que além da montagem de presépios, apresen­
criações e interpretações tudo aquilo que a sensibilidade tavam as imagens chamadas de "paulistinhas” de peque­
do artista artesão fixou na sua mente e que suas mãos no porte e características próprias.
obedecendo a impulsos interiores, passa a dar forma Pedro de Oliveira Ribeiro Neto assinala que a
externa, concreta e definitiva. Ou são eloeubrações pró­ fatura dessas imagens retomava a tradição anterior dos
prias com dose de empirismo cçiador, ou manifestações primeiros séculos de colonização, mas segundo Eduardo
de origem atávica que vão encontrar suas raízes nas Etzel, essa produção é mais própria do século XIX e
labas indígenas, nas choças africanas ou nas palhoças animava com perfis esguios, cromia viva, e invocações
caboclas quando não se inspiram em aspectos do meio variadas, os oratórios do Vale do Paraíba.
social urbano ou rural, ou na mística religiosa.
No que concerne aos presépios, tanto no Vale do
São os barristas bonequeíros, os artistas figureiros,
Paraíba, em Orós no Ceará, como em São Gonçalo,
os santeiros, os presepeiros que no século X IX , vão
perto de Cuiabá, que eles são executados. Em São Gon­
trazendo a sua contribuição, além dos elementos impro­
visados que sc entregam à modelagem do barro, usando çalo, até hoje eles são montados por artesãs que lá são
chamadas de presepeiras. <u>
uns, técnicas artesanais mgis adequadas, e outros, empre­
gando os mais rudimentares métodos e instrumental de De notar com respeito à imaginária de culto que
trabalho. nesse século XIX, foram também importadas imagens
Em geral essa manipulação do barro era e continua de diferentes portes, de louça vidrada, em faiança e em
a ser exercida nos quatro cantos de nosso território, porcelana, parte da França, mas a maioria delas de
pelas mulheres que vão transmitindo as tradições artesa- Portugal, sendo as pequenas em geral policromadas e as
nais locais. Ocorre também no meio rural, com o observa maiores esmaltadas em branco leitoso. Segundo Marques
Edson Carneiro, a participação familiar nesse artesanato dos Santos, aquelas seriam provenientes de Alcobaça.
oleiro; diz ele: "Nenhum outro género de arte popular Os centros de arte fígureira ou de cerâmica artís­
mobiliza tão grande contingente de trabalhadores (adul­ tica, estão distribuídos irregularmente no país. Como
tos, velhos e crianças), nem assume tão diretamcnlc o observa Edson Carneiro: “Não se fez ainda um levan­
caráter de empreendimento familiar, em geral, nos pe­ tamento completo dos lugares em que floresceu ou flo­
ríodos de entresafra.” (l 11 resce a escultura em barro". tis>

369

Versão popular da
Coroação de Nossa Senhora,
pela Santíssima Trindade,
era terracota, clara e compacta,
A Sagrada Família S ã o Luís do Farahytinga, Coleção
(“Paulistinha”). Alírio de Moraes Machado.

425
III - CACHIMBOS

u so do c a c h im b o no U n iv e r s o “ le m b r a o b a r r o c o p o r t u g u ê s e x i b i n d o l i n d o s o r n a t o s d e
p reced e a o u so d o ta b a c o . Já c s tiliz a ç ã o v e g e ta l” . T e n d o s id o o b s e r v a d o q u e n a té c n i­
a o tem p o d o s C e lta s e d o s c a d e c o n f e c ç ã o s ã o o s c a c h im b o s fe ito s e m d u a s p a r te s
R om anos que c a c h im b o s eram d is t in t a s e d e p o is c o la d o s , com o ta m b ém p a rte d e le s
r e f e r id o s p o r a u t o r e s la t in o s . a p r e s e n t a u m o r i f í c i o n a p a r t e in f e r io r ( o q u e s e r e p e t e
P lín io in f o r m a em su a N a tu - ta m b é m c m M in a s ) d e s tin a d o à s u s p e n s ã o p r o te to r a em
r a lis H is t ó r ia que “a fu m a ça c o r d é is , q u a n d o n ã o e m u s o , B a r a ta , a c o m p a n h a n d o a
a s p ir a d a a t r a v é s d c c a n u d o é a g r a d á v e l” . í16' id é ia d e q u e o e s t i l o d e s s a s p e ç a s o b e d e c e a o s c â n o n e s
N o m u n d o a n t ig o , e r a m d iv e r s a s s u b s t â n c i a s v e g e ­ a r t í s t i c o s i m p o r t a d o s , le m b r a n o e n t a n t o q u e a in s p ir a ­
t a is , g r ã o s , e r v a s , g r a v e t o s , q u e in t r o d u z id a s n a s c a l d e i ­ ção b arroca pode p r o v ir dos d esen h o s dos p ú lp it o s
ras d o s c a c h im b o s , a o s e r e m q u e im a d a s , p r o d u z ia m a s a c r o s d a s ig r e j a s e c a p e l a s , e s p a l h a d a s p e la r e g iã o .
f u m a ç a in a la d a o u a s p ir a d a p e l o s f u m a n t e s c n a C h in a , Há c a c h im b o s com r e p resen ta çõ es z .o o - a n t r o p o -
o ó p io já era q u e im a d o em c a c h im b o s , a n te s dc os m o r f a s , f í t o f o r m e s e g e o m é t r i c a s e c o m d e c o r a ç ã o e s t r ia ­
e u r o p e u s lá a p o r t a r e m . d a , c a n e la d a , e s g r a f i t a d a , e m r e l e v o e i n c is a , c o m bc-
A a r q u e o l o g i a , r e v o l v e n d o o s o l o p i s a d o p o r ta n t a s s a n te s , r o s á c e a s e r a m a g e n s. O s c a c h im b o s d isp u n h a m
g e r a ç õ e s d e s a p a r e c id a s , c o n f ir m a e c o r r o b o r a a s a m ig a s d e c a n u d o s c u r to s o u lo n g o s , e s te s d c a v a n ta ja d o s c o m ­
c r ô n ic a s so b r e a e x is tê n c ia d e c a c h im b o s d e d iv e r s o s p r im e n to s ; a o que parece eram do m a io r agrado da
m a t e r ia is , c o m o o g e s s o , o o s s o , a m a d e i r a , o m a r fim , p o p u la ç ã o c o l o n i a l . H a v i a p e ç a s c o m u m a p o n t e ir a n o
a p e d r a , o b a r r o , e t c ., u s a d o s a n te s d o s d e s c o b r im e n t o s c o t o v e lo d o c a c h im b o , p a r te e s s a q u e às v e z e s a p resen ­
n a E u r o p a , na Á s ia e n a Á fr ic a . ta v a um fu r o — s e g u n d o v á r i o s c o m e n t a r is t a s a h a s t e
P o r é m , ca b e a C o lo m b o , q u a n d o d e s c o b r e a A m é ­ l o n g a e r a p a r a e s f r i a r a f u m a ç a e t o r n á - la m e n o s c a r ­
r ic a , em 1492 (n a I lh a G u a n a h a n i, nas B a h a m a s), r e g a d a d e n i c o t in a ; q u a n t o à p o n t e ir a e r a u m r e f o r ç o d e
t a m b é m o g a la r d ã o d e s e r o p r im e ir o o c i d e n t a l a o b s e r ­ p ro teçã o p a ra q n e a p e ç a p u d esse a p o ia r -s e no chão
v a r o f a t o n a s í n d i a s O r ie n t a is , q u a n d o a p o n t a e m s e u o u e m m e sa s , e o fu r o e m c a n u d o lo n g o , p ara p en d u ra r
d iá r io d e b o r d o , o h á b i t o d e f u m a r o t a b a c o e n tr e o s o p ito .
a b o r í g e n e s a m e r i c a n o s . E o t a b a c o e r a p la n t a c o m p l e t a ­ O fa to r e le v a n te é q u e o ta b a c o n o s é c u lo X IX
m e n te d e s c o n h e c id a d o s E u r o p e u s . v e i o a c o n s t i t u i r u m a d a s p r in c ip a is r e c e it a s d a b a l a n ­
E a s e g u ir , n u m c r e s c e n d o v e r t i g i n o s o , t a n t o o s ç a c o m e r c ia l e ju n to c o m o ca fé, fo r a m o s p r o d u to s
m o d e l o s d e c a c h i m b o s i n d íg e n a s c o m o a p la n ta d o t a ­ b r a s i l e i r o s d e m a io r e x p o r t a ç ã o . A ta l p o n t o q u e o s r a ­
b a c o p a s s a m a in v a d ir a E u r o p a ; e a o f u m o p a s s a m a m o s d c ta b a c o e d e c a f é , a m a rra d o s n a b a s e c o m la ç o s
s e r a t r ib u íd a s v ir t u d e s e x c e p c i o n a i s . E m 1 5 7 4 , o b o tâ ­ d e f it a , p a s s a r a m a s e r c o n s i d e r a d o s s í m b o l o s n a c i o n a i s ,
n ic o K a r l C lu s iu s e s c r e v i a : “O ta b a c o é um r e m é d io c r ia n d o -s e n a a rte d e c o r a tiv a u m n o v o c ó d ig o o r n a m e n ­
u n iv e r s a l p a r a a s d o e n ç a s d e t o d a a s o r t e ” . , . !l7) ta l g e n u i n a m e n t e b r a s i l e i r o p a r a s u b s t it u ir n o s a r r a n j o s
E m F r a n ç a , a m o d a d e f u m a r t a b a c o e m c a c h im b o f l o r a i s , o s já s u r r a d o s a c a n t o e lo u r o que nos fo ra m
é l e v a d a p e l o e m b a i x a d o r e m L is b o a — J e a n N i c o í ( d e l e g a d o s p e l o s g r e g o s e r o m a n o s , a t r a v é s d a I b é r ia .
o n d e d e r iv a o t e r m o N i c o t i n a ) . C a t a r in a d e M é d ic is é A q u e l e a r t ís t ic o m o t i v o p a s s o u a f a z e r p a r t e d a b a n d e ir a
q u e m o d i f u n d e n a c o r t e f r a n c e s a a la r d e a n d o s e u s d o n s im p e r ia l e a s e r r e p r o d u z id o e m c o n d e c o r a ç õ e s , m e d a ­
m e d ic in a is ! lh a s, m o e d a s , e m s e r v iç o s d e m e s a , e tc .

C o m r e f e r ê n c ia a o B r a s il, n ã o h á i n d i c a ç ã o d e q u e E a c o m p a n h a n d o a e n o r m e p r o d u ç ã o d o ta b a c o ,
o h á b ito d o s ín d io s d e fu m a r e m ta b a c o , d o C e n tr o e d o a l a s t r a - s e p e l o t e r r it ó r io o f a b r i c o s im p le s o u e la b o r a d o
N o r t e d a A m e r i c a , t e n h a d e s c i d o d o s a l t ip l a n o s a n d in o s d o c a c h im b o , s o b r e tu d o o d c b a r r o , d is s e m in a n d o -s e o
p a r a a s p l a n í c i e s b r a s ile ir a s . s e u u s o e n t r e a s c l a s s e s s o c i a i s , m a is a c e n t u a d a m e n t e

O T T , e m p e s q u i s a s d e 1 9 4 4 , i n f o r m a , r e f e r in d o - s e
e n tr e as m u lh e r e s c o s escra v o s.

à s b u s c a s a r q u e o ló g ic a s n a r e g iã o d e S a n ta r é m : “ N u n ca S ã o n u m e r o s o s o s r e l a t o s d e v ia j a n t e s c d e a r t is t a s
f o i e n c o n t r a d o c a c h i m b o a t r ib u íd o a p r é - C a b r a l" <"h e s tr a n g e ir o s q u e fo c a liz a m c m c r ô n ic a s e re tr a ta m em
d e s e n h o s e p in t u r a s o s d i v e r s o s e p i t o r e s c o s a s p e c t o s
P o r é m o c u l t iv o d o t a b a c o e o u s o d o c a c h im b o
d a q u e le h á b ito .
d if u n d e - s e r a p id a m e n t e n a A m a z ô n i a , l o g o a p ó s a d e s ­
c o b e r t a <*w. A s p e s q u is a s d e ste s é c u lo r e v e la m um a S a i n t - H i l a ir e , e m 1 8 1 9 , n u m a v e n d a d e Itu , o b se r ­
g r a n d e v a r ie d a d e d e e x e m p l a r e s , s e n d o n a r e g iã o A m a ­ va: “ m e ia d ú z ia de m u lh e r e s a fu m a rem c o m p r id o s
z ô n i c a o s e u f a b r ic o a t r ib u íd o a o s í n d i o s a c u liu r a d o s o u c a c h i m b o s d e t r ê s p é s ” - 12*5
a o s m is s i o n á r i o s . F r e d e r i c o B a r a ta a p o n t a p e l o m e n o s G eorgc G ard n er em 1 8 3 6 , a p o n ta q u e e m G o iá s ,
c i n c o t ip o s d i s t i n t o s e o s d e n o m i n a d e í n d i o - j e s u í t i c o s o u M a t o G r o s s o e P ia u í : “ A s m u lh e r e s d e q u a s e t o d a s a s
t a p a j ó s - j e s u í t í c o s <20). S o b r e s e u e s t i l o in f o r m a O T T , q u e c la s se s sã o a fe ita s a o c a c h im b o , c o m o o s h o m en s” e

427
CACHIMBOS
Brasil
(Barro cozido)

Obs.r Várias representações de fum antes populares da Rio


antigo —- Observem-se os longos canudos dc alguns. Cortesia
de Cândido Guinle de Paula M achado, (pâg. 88, in “A truiy
leal a heróica cidade de São Sebastião do Rio dc Janeiro", Rio).
A s duas estampas de cima são de Guflhobcl c a dc baixo de
Chambellain, .

428
CACHIMBOS
Minas

371

A produção de cachimbos (pitos) r.o período colonial fo i grande, com o atestam relatos de
viajantes e estampas da época, sendo seu m o muito difundido entre a população fem inina.
Verificam-se em Minas, diversas técnicas de fatura como o moldado e o modelado, assim
como o emprego de inciso e do relevado, a exemplo da louça mineira em geral. Quanto à
composição, variam cias do primitivo ao erudito. Este distingue-se pela ponteira de proteção e
apoio com furos; e sua decoração elaborada inspira-se, sobretudo no barroco mineiro. Há
exemplos com cabeças de anjos, máscaras, cornucépias, sanefas, perolados e ainda desenhos
geométricos. São Paulo também produziu cachimbas, sm do que em São Sebastião, no Bairro
de São Francisco, ainda hoje são fabricados.
Os cachimbos desta folha (o da esquerda c o de beiro) são da região dc Diamantina — o de
baixo, tem a data de 1733 com as iniciais BJ.P.M , O da direita é da região de Sabará. Os
outros cachimbos <5) à direita (barro palha) são do Vale do Paraopeba (Congonhas).
Coleção Roberto Pa ranhos do R io Branco.
Séculos X V H /X V tU .

429
CACHIM BOS
C hina

372

Dois exemplares em cerâmica chinesa representando fum antes, O


prato de xobrejntem de cima é de um dos serviços (o outro ê
armoriado) de Manuel da Cunha Menezes, í ? Conde de Lu-
rriiares, governador e capitão general de Pernambuco, nascido
em 1742 e falecido em 1791. O prato de sobremesa é do perío­
do de K ien-Lung e representa no centro uma cena em que
se percebe o fumante com uni cachimbo comprido, sendo
atendido por um servente. Coleção Rem ito Magalhães Gouvêa.
A peça em grés verde, mostra uni cavaleiro'chinês ou mongol
segurando um cachimbo — período de Kcmg-Hsi.
A rquivo do A utor.
CACHIMBOS
Minas
(Terracota)

373

O cachimbo à esquerda, moldado, apresentando a. cabeça de um anjo é de inspiração f taticamente barroca, como
aliás boa parle da produção mineira da centúria. O da direita i um cachimbo antropomorfo de form a afunilada
e singela de artesanato indígena ou caboclo. Â peça central com mascaras e fu ro na base situa-se entre <t
influência africana e a barroca. Os dois cachimbos de baixo demonstram claramente outras inspirações ainda
dentro do barroco; uma elaboração diversa usando estrias, cordame, {dir-se-ia reminiscências manuelinas) e
o da direita unia tríplice série de óvulos ou besantes em relevo com os de centro de maior tamanho.
Coleção lósé Waher da Sove., pattlo de Vasconcelios e Roberto Paraniios do R io Branco.

431
CACHIMBOS
Santarém — Amazonas
(Barro Cozido)

"Cachimbo indígena de Santarém visto cm duas posições para


permitir a apreciação dos ornatos que na fig. 7 melhor ainda
sc apresentam desenhados em pteno. A cabam ento cuidadoso c
paciente, barro claro e bem queimado, aparentemente sem
mistura e sem superposição de camada mais ciara e fina. D i­
mensões: Largura 4,5 cm; altura 3,S cm; diâmetro da boca, pela
face interna 2,5 cm ."
Coleção Rose-Robcrt Brown.
Reproduzido de Frederico Barata. "O s maravilhosos cachimbos
dc Santarém" m vai. X II — Estudos Brasileiro? — Rio, 1944.

432
r e fe r in d o -s e à lo c a lid a d e de N a tiv id a d e a crescen ta : p e r í o d o c o l o n i a l , h á q u e r e s s a lt a r a r e q u in t a d a p r o d u ç ã o
" a q u i o h á b i t o d e f u m a r é g e r a l e n t r e a s m u lh e r e s ; d e m in e ir a . E s t a d i s t i n g u e - s e n o p e r í o d o c o l o n i a l e im p e r ia l
m a n h ã à n o it e , r a r o l h e s s a í d a b o c a o p it o , c o m s e u em lin h a s g e r a is , da A m a z ô n ia , p e la s fo r m a s m a is
l o n g o c a n u d o d e p a u , d e c e r c a d e tr ê s p é s d e c o m p r i­ e s g u i a s e m e n o s a t a r r a c a d a s e p o r u m a v a r i e d a d e m a io r
m e n t o ” . <22) de in te r p r e ta ç õ e s e m que se in c l u i a versão barroca
m in e ir a .
F r a n c is C a s t e ln a u em 1844, r e fe r in d o -s e a um a
C o n sta ta ra m -se em M in a s , d iv e r s a s té c n ic a s de
f a z e n d a e in C u ia b á , n o s d iz : “ A v e lh a ( o c to g e n á r ia ) ,
fa tu r a c o m o o m o ld a d o e o m o d e la d o , a s s im com o o
f u m a n d o u m c o m p r i d o c a c h i m b o , c u j o c a b o e r a s u s t id o
e m p r e g o d o in c is o e d o r e le v a d o . Q u a n to ã c o m p o s iç ã o ,
p o r u r n a e s c r a v a d e c ó c o r a s ” , t131
há um a g a n /a m u ito gran d e en tre o p r im it iv o e o
O p r ín c ip e M a x i m t l i a n o in f o r m a q u e " o s c a c h im ­ e r u d it o , E ste d is tin g u e -s e p e la p o n te ir a de p r o te ç ã o ,
b o s u s a d o s p e lo s p e sc a d o r e s, c o m o e m t o d o o B r a s il,
com f u r o s c s u a d e c o r a ç ã o e l a b o r a d a in s p i r a - s e , s o b r e ­
p a r t ic u la r m e n t e p e l o s n e g r o s e o u t r a s p e s s o a s d a s c la s s e s
tu d o , no a b u n d a n te barroco m i n e ir o . Há peças com
h u m ild e s , c o n s t a m d e u m p e q u e n o r e c ip ie n te d e b a rro
cabeças de a n jo s, m á sca ra s, c a reta s, c o r n u c ó p ia s ,
c o z id o e s c u r o e d e u m tu b o fin o c lis o fe ito d a h a ste d e
s a n e fa s , p e r o la d o s e a in d a h a r m o n io s o s d e s e n h o s g e o ­
u m a e s p é c ie de p la n t a que cresce a c o n s id e r á v e l
m é t r ic o s .
a lt u r a ” . (M)
São P a u lo ta m b é m p r o d u z iu c a c h im b o s que sã o
D e n t r o d a v a r ia d a 'e g r a n d e p r o d u ç ã o b r a s ile ir a q u e a s s i n a l a d o s n a é p o c a im p e r i a l, e m S ã o S e b a s t i ã o , o n d e
v a i d o m a is r u d im e n t a r p it o à s p e ç a s m a is e l a b o r a d a s a té h o j e , n o B a ir r o d e S ã ò F r a n c i s c o , s ã o fa b r ic a d o s
cm q u e s o b r e le v a m o s p r o d u to s d a r e g iã o a m a z ô n ic a n o p it o s s i n g e l o s .

B I B L I O G R A F I A

’ l ) “A evolução da indústria Cerâmica no Brasil", in carta (13) C. J, C osta P ereira — “A Cerâmica Popular da Bahia"
mensal n,° 272 — Rio, 1977. —- pãg. 116 — Bahia, 1957.
(2 ) J. B. D ebret — "Viagem Pitoresca e Histórica ao Brasil" (14) P rofA J ulietã A ndrade — “Arte e Artesanato na
— 1 — pãg. 257. Cuiabania” — Museu C. Brasileira, coní. em 20.06.1975,
(3) M aria G raham — ob. cit., pãg. 217. (15) Edson C arneiro — ob, cit.
(4) M arques dos Santos — ob, cii„ pãg. 291. (16 ) J oachim A. F rank —- “Le livre da Fumeur de Pipe” -
pág. 13 — Paris, 1971,
(5) Maria Lu/sa Marcíuo — "A cidade de São pòuic" —
1750-1850 — Univ. de São Paulo — 1973 — págs. (17) J oachim A. F rank — ob. cit,, pág. 22.
25 e 130. (18) C, F. O tt — Museu Nacional n.° 5 - pág. 192 — 1944.
(6 ) E rnaNI Silva Bruno — “História e Tradições da Cidade (19) F rederico Barata - "A Arte Oleira dos Tapajós" in
dc São Paulo” — pãg. 437 — vol, III. Rev. do Museu Paulista, vol. 5 — págs. 183/187 — 1951.
(7) M arques dos S antos — o b , cir., pãg, 292. (20) F rederico Barata — “Os maravilhosos Cachimbos de
(8) C ari.OS L emos — Conferência "A rquitetura Residencial
Santarém", in Estudos Brasileiros, vol. XIII — 1944,
Brasileira" em 13 de fevereiro de 1974 — Museu Casa (21) Saint-hilaire — ob. cit., págs. 238/9.
Brasileira. (22) G eorge G ardner — “Viagens ao Brasil”, págs. 11 e 280.
{9) C elso M aria de M ello Puro — “Campinas, seu berço e (23) F rancis C aStelnau — "Expedição às regiões centrais da
juventude” — Campinas, 1969. América do Sul" — pág. 157.
(10) J. VaSCONCELLOS — "indústria Cerâmica" — 1907. (24) Pp.íncife M aximilian© — ob. cit., pág. 94.
(11) Edson Carneiro — "Artes Populares, seu Universo e
Diversidade”, ín Dicionário dc Artes Plásticas no Brasil U birajara D olãcio M endes — "Noções de Paleografia",
— ed. Civ. Brasileira — Rio, 1969, Dept.° d o Arquivo d o Estado de São Paulo. 1952.
(12 ) H aydée N ascim ento — “Cerâmica Utilitária de Apialiy" Eduardo Etzel — "im agem Sacra Brasileira", ed. Melhora­
— S. Paulo. mentos — S. Paulo, 1979.

433
IV - LOUCA DE BARRO E LOUCA VIDRADA

a p r o d u ç ã o d e f e i ç ã o in d u s t r ia l m a to ; e n tr e o s M a la iis , e r a m d e u m a e s fe r a u m p o u c o
de a r te fa to s d o m é s tic o s u t ilit á ­ d e p r im id a , t e n d o u m a la r g a a b e r t u r a . <3)
r io s e de adorno, o b se r v a -se ,
Em 1822, S a i n t - H i l a ír e a s s in a la que em S a n ta
n e s s e s é c u lo X I X , u m a d iv e r s i­
C a t a r in a e e m P o r t o A l e g r e , o n d e s e r e f e r e a tr ê s o la r ia s
d a d e m u ito g r a n d e d e p r o d u to s
q u e f a b r ic a v a m lo u ç a : “A s lo u ç a s e r a m bem f e ita s e
e u m e s f o r ç o d e m e lh o r ia t é c n i­
na m a io r ia c o lo r id a s d e v e r m e lh o , porém m a is g ro s­
c a , e m q u e s o b r e s s a i, s o b r e t u d o ,
s e ir a s , já q u e e r a m f e i t a s c o m a r g ila n e g r a q u e a p ó s o
o f a b r ic o d a l o u ç a v id r a d a , p o r é m aparecendo o u tr o s
c o z i m e n t o s e t o r n a v a a m a r e l a ” . D i z - n o s a in d a , r e f e -
s r r ig n s n o B r a s il, i m it a n d o a f a ia n ç a c o m e n g o b e s c la ­
r in d o - s c a S a n t a C a t a r in a , q u e l á e x i s t e u m g ê n e r o d e
r o s e a m a r e l a d o s , m u it o c o m u n s , e m M in a s e ta m b ém
in d ú s t r ia q u e l h e é p e c u l i a r : “ o f a b r i c o d e v a s i l h a s d e
en co n tra d o s e m o u tr a s P r o v í n c ia s , c o m o n a s d o R i o e
barro ern que a água se co n serv a fr e sc a e que se
P a r a n á , p r o d u t o s e s s e s q u e s e c l a s s i f ic a m com o m e ia -
ex p o rta para o R io de J a n e ir o e o u tr a s c id a d e s do
-fa ia n ç a ou m e ia -m a ió lic a ( “ m e z z a -m a ió Ü c a ” ) e que
B r a s il...” e la s sã o de cor v e r m e lh a escu ra, lis a s ,
a p r e se n ta m d if e r e n ç a s o b r e a lo u ç a v id r a d a n a t é c n ic a
r e lu z e n t e s e d e a r g i l a f in ís s im a , s e n d o a s m a i s c o m u n s ,
d e f a b r ic o e n a a p r e s e n t a ç ã o . um a e s p é c ie d e b ilh a (m o r in g u e ) de fo rm a arredon­
V ã o a p a r e c e n d o p o is , m o r in g a s , t a lh a s , p o t e s , m e ­ dada, com a s a e d o i s g a r g a lo s , u m m a io r p a r a e n c h e ­
d a lh õ e s , o s te n ta n d o d e s e n h o s v a r ia d o s e f o r m a t o s d i­ r ia s de água e o u tr o m enor, p e la qual se bebe o
fe r e n te s, r e tr a to s m o ld a d o s , n o m e s g r a v a d o s o u s o b r e ­ p r e c i o s o l í q u id o . A o u tr o s v a s o s d e s tin a d o s a o m e s m o
p o sto s c o m b r a s õ e s d e a r m a s d o I m p é r io , d e P o r t u g a l fim , c o s tu m a m dar fo r m a s m a is e le g a n te s , s e n d o por
o u d a R e p ú b lic a , c o m a r a z ã o s o c i a l d o f a b r ic a n t e , e is s o ta m b é m u tiliz a d o s c o m o o b je to s d e a d o r n o . T o d a s
a in d a a l g u id a r e s , b o tõ e s, p ra to s, s o p e ir a s , g a lin h a s essa s lo u ç a s são fe ita s ao to m o , com a r g ila de cor
o r n a m e n ta is q u e se r v e m d e g a rra fa e d e c o p o , flo r e i­ a z e ito n a . . . d e p o is de seca s à so m b ra , p a s s a m -lh e s
r a s , c a n e c a s , t in t e ir o s , e s c a r r a d e i r a s , u r in ó is , e t c ., p a r t e com um pano a so lu ç ã o de um barro v e r m e lh o ...
e m t e r r a c o t a n a c o r n a t u r a l, p a r t e e n g o b a d a e p in t a d a p u le m -n a s com um a p edra lis a e le v a m -n a s ao fo r ­
a f r io e p a r t e e m lo u ç a v id r a d a . D e n o t a r q u e o s i n g le ­ no”. F r a n c is c o M arq u es dos S a n to s, a p o n ta o fa ­
ses d esd e 1734, f a b r ic a v a m g a lin h a s e o u tr a s aves e b r ic o , e m J o in v ille , d e p o te s d e m e la d o d e in f l u ê n c i a
a n im a is e m l o u ç a v id r a d a , in s p ir a d o s n a s o b e r b a fa tu r a a ç o r ia n a . ^
dos e s p é c im e s c h in e s e s .
N o R io d e J a n e ir o , e m N i t e r ó i , n a a n t ig a a ld e ia
O fa to í que a p rodução lo c a l f o i g r a n d e e b a s ­ de São L ourenço, a s s in a la -s e ta m b ém o a rtesa n a to
ta n te d iv e r s if i c a d a , ta n to a de ca r á te r a r t e s a n a l, na in d íg e n a . I n f o r m a - n o s o P r i n c ip e M a x i m i l i a n o d e W ie d
q u a l a p a r t ic ip a ç ã o d o ín d io c o n t i n u a r e l e v a n t e , c o m o N e u w ie d , em 1315: .. . "A s cabanas dos ín d io s se
a d e f e i ç ã o in d u s t r ia l, q u e já t o m a v u lt o n a s p r o v ín c ia s . e s p a lh a m no m e io de l a r a n j e ir a s , b a n a n e ir a s . . . os
N u m e r o s o s s ã o o s v i a j a n t e s e s t r a n g e ir o s q u e n o s h a b ita n te s e s ta v a m ocupados em su a s ca b a n a s na fa ­
d e ix a r a m r e l a t o s e c o m e n t á r io s d e i n t e r e s s e e p it o r e s ­ b r i c a ç ã o d c p o t e s d e a r g ila c i n z e n t a e s c u r a , q u e t o m a
cos sob re essa produção esp a rra m a d a p e lo s q u a tr o u m a c o r a v e r m e lh a d a quando p assa p e lo f o g o . . . fa ­
c a n t o s d o t e r r it ó r io . b r ic a r a g r a n d e s v a s o s u tiliz a n d o -s e apenas das m ã o s,
S a in t-H ü a ir e jã v in h a a s s in a la n d o a lo u ç a u tili­ se m em pregar a rod a, e a l i s a m - lh e s a s u p e r fíc ie por
t á r ia e m São P a u lo , d e s d e 1808, e m a is t a r d e , f a z ia m e io d e p e q u e n a s conchas que um edecem com a
u m t r is t e e j u s t o c o m e n t á r io : “E m 1 8 2 3 , a e s p o lia ç ã o b o c a ” . . . (-6>
a o s i n d í g e n a s d e P in h e i r o s e s t a v a c o m p l e t a m e n t c c o n ­ F r a n c is c o M arques dos S a n to s F) a p o n ta um fa ­
su m a d a . . . In tru so s o c u p a v a m to d a s a s te r r a s q u e a b r ic a n t e n o R i o , J o s é G o r y , p o r v o lta de 1350 com
e s s e s i n f e l i z e s p e r t e n c ia m . G a n h a v a m o s m e s m o s a v id a a f á b r ic a N a c i o n a l d e L o u ç a B r a n c a V id r a d a , q u e s e
c o m o j o r n a le ir o s , a s m u lh e r e s f a b r i c a v a m a r te fa to s d e d e d i c a v a a p r o d u z i r o r n a t o s d e j a r d im , e a o q u e p a r e ­
b a r r o ” . t'> A c i d a d e d e S ã o P a u l o , p e i o s i d o s d e 1 8 3 6 , c e , tr a ta v a -se d e e s ta b e le c im e n to de p o r te , p e la pro­
d e a c o r d o c o m o q u a d r o d e a t iv id a d e s , a r r o la q u a r e n ta p a g a n d a p r o m o v id a .
o le ir o s n d a e s t a b e l e c i d o s , <2) Sobre o A m a zo n a s, no ano de 1 8 5 9 , o v ia ja n te
S o b r e M in a s , a q u e le a u t o r f r a n c ê s i n f o r m a q u e as R o b e r t A v e - L a i 1e m e n t, n o s in f o r m a : “ U m a o la r ia e m
ín d ia s f a b r ic a v a m v a so s v e r m e lh o s , de ta m a n h o s d i­ S e r p a (a tu a l lía c o t ia r a ) e m a is a d e B r e v e s , a b a s te c e m
v erso s. . , com um a te r r a negra b a sta n te f in a ; nos M anaus de lo u ç a de b arro. V êem -se v a so s, e t c ,, no
a r r e d o r e s d e P e ç a n h a , n a v iz i n h a n ç a d e M i n a s N o v a s , g o s t o p e c u l i a r í n d i o , l i n d a s b a c i a s d e m ã o s e d e b i lh a s
a in d a a s s in a la q u e eram a s m u lh e r e s que f a b r ic a v a m para' água, cu jo v a r ia d o c o lo r id o é e n ca n ta d o r . As
o v a s ilh a m e e er a m m u ito b e m f e it o s , fa z ia m -n o s de c o r e s p r in c ip a is d a l o u ç a d e b a r r o s ã o o a m a r e lo e o
d iv e r s o s ta m a n h o s , m as to d o s t in h a m 0 m esm o fo r ­ e n c a r n a d o . O a m a r e lo é p rep a ra d o c o m o c r e d e te r r a ,

435'
um v e r m e lh o a m a r e la d o e x t r a íd o do urucu ou b ix a t r ib u ir p o d e r o s a m e n t e p a r a o a u m e n t o d e m o g r á f i c o c a
o r c l l a n a , e u m e n c a r n a d o m u it o i n t e n s o c o m a s f o lh a s i n t e n s i f i c a ç ã o d o f a b r ic o d a l o u ç a l o c a l , o q u e é c o r r o ­
d c u m a b e g ó n i a í6). b o r a d o p e l a s r e f e r ê n c i a s d e v i a j a n t e s e s t r a n g e ir o s .
No P a r á , I lh a d e A r a p ir a n g a , o u t r o v ia j a n t e cm E ssa c o r r id a de p o r tu g u e se s p ara M in a s , fo i de
1 8 5 9 , a s s in a la : . . . " N e s s a f a z e n d a c e r c a d e c in q u e n t a ta l ordem que v á r ia s p r o ib iç õ e s fo ra m e s ta b e le c id a s
escravos trabalham e m c e r â m i c a ; m o s t r a r a m - n o s m a g n í­ p o r le i, em 1709, 1711 e 1 7 2 0 , s e m s u r t ir o e f e i t o d e
f i c o s v a s o s d e v á r io s f o r m a t o s ” . . . í9> e s ta n c a r a co r r e n te m ig r a t ó r ia . E m 1732, o C o n s e lh o
S obre a B a h ia , já p e lo s id o s do s é c u lo X V III U l t r a m a r in o r ep resen ta v a ao rei para o p o r-se à q u e la
em 1 7 7 9 , q u e a s u a l o u ç a s e f a z ia p r e s e n t e n o m e r c a d o e v a s ã o d e s ú d ito s m e tr o p o lita n o s . P o r tu g a l c o m cerca
c a ç io c a , p o is é c o n s ig n a d o que n a q u e le ano e x is t ia m d e d o i s m i lh õ e s d c h a b i t a n t e s , v ia t r a n s f e r ir - s e p a r a o
“ d e z e s s e i s l o j a s d e v a r e j o d e l o u ç a d a B a h i a ” . <!0> B r a s i l e m m e n o s d e c e m a n o s , c e r c a d e o i t o c e n t a s m il
C . J , C o s t a P e r e ir a c ll> c o r r o b o r a o f a t o , q u a n d o p e s s o a s . 6 « O C o n s e l h o p o n d e r a v a a o r e i q u e o B r a s il
in f o r m a que " ...e x p o r t a v a c e r â m ic a para o R ic , com errais b r a n c o s e m a is r iq u e z a “ não so frerá se r
ta n to a s s im que em 1840, o Jornal do C o m é r c io , d o m i n a d o p e la n a çã o m enor".
p u b li c a v a u m a n ú n c i o c o m u n i c a n d o q u e c h e g a r a g r a n d e E o q u e r e p r e s e n ta v a M in a s n e s s e c o n fr o n to de­
p a r t id a d e l o u ç a d a B a h i a , p a r a u m a d a s c a s a s d e c o ­ m o g r á fic o c o m o r e s to d a s o u tr a s u n id a d e s . C a p ita n ia s
m é r c io d a C o r te " . o u P r o v í n c ia s — n o Fim d o s é c u l o X V I I I e c o m e ç o d o
O s r e g is t r o s d a A l f â n d e g a d o R i o , n o p e r í o d o d e X ÍX ? O B r a s il n esse p e r ío d o c o n ta v a com um a po­
1 2 -1 2 -1 8 2 1 a 1 4 - 0 3 - 1 8 2 3 (1->, c o n s i g n a m a e n tra d a de p u la ç ã o de 2 .8 5 0 .0 0 0 h a b ita n te s , p o rta n to m a is que
d u z e n ta s e q u a r e n ta e duas t a lh a s , p r o v e n ie n te s da P o r t u g a l. E M in a s rep resen ta v a a u n id a d e b r a s ile ir a
B a h ia ; d e São S e b a s iiã o d u z e n ta s ta lh a s , d u z e n ta s e m a is p o p u lo s a c o m 6 5 0 ,0 0 0 a lm a s ; a B a h i a d i s p u n h a
q u a r e n t a e q u a t r o p a n e l a s e p o t e s ; e d e S a n t a C a t a r in a de 5 3 0 .0 0 0 ; P ernam buco 4 8 0 .0 0 0 e o R io com
tr ê s m il e q u i n h e n t a s m o r in g a s . E s s e s d a d o s m o s t r a m 3 8 0 .0 0 0 , q u a s e a m e t a d e d a p o p u la ç ã o d e M in a s . N e s ­
q u e p o u c o a n te s e p o u c o d e p o is d e n o s s a in d e p e n d ê n ­ s e c o n t e x to , a C a p ita n ia d e S ã o P a u lo a p r e s e n ta v a em
c i a , o s p r in c ip a is f o r n e c e d o r e s d c l o u ç a u t ilit á r ia p a r a 1 8 0 8 , um to ta l d e 2 0 0 .0 0 0 h a b ita n te s in c lu íd o n e ste
a C o rte, eram a q u e le s cen tro s lito r â n e o s . C a u sa -n o s m o n ta n te 3 5 .0 0 0 r eferen tes à C o m a r c a d e C u r it ib a e
su rp resa sa b er a tr a v é s d a q u e le s a p o n ta m e n to s que a 2 5 .0 0 0 d a c id a d e d e S ã o P a u l o . . .
C a p i t a n i a , d e p o i s P r o v í n c ia d c S ã o P a u l o , s e a lin h a v a H á d c se a cr e sc e n ta r q u e p a rte p o n d e r á v e l d a q u e ­
e n t r e o s m a i s im p o r t a n t e s c e n t r o s e x p o r t a d o r e s , a t r a v é s la p o p u la ç ã o , era c o n s titu íd a de p o rtu g u eses ou de
d a c i d a d e d e S ã o S e b a s t i ã o ; a l i á s , A z e v e d o M a r q u e s <l3\ d e s c e n d e n t e s s e u s ; já em 1720, os brancos rep resen ­
n ã o d e i x a d e a s s in a la r , n a s e g u n d a m e t a d e d o s é c u l o , a ta v a m m a is o u m enos 37% dos h a b it a n t e s d a C a p i­
e x is tê n c ia d a p r o d u ç ã o d a lo u ç a d e b a r r o cm S ã o S e ­ t a n ia , e c e r ia m c n te boa p a r te d e le s t in h a n oções de
b a s tiã o , q u a n d o se r e fe r e a o a rtesa n a to d a s m u lh e r e s c e r â m ic a e a p r o d u z ia m . D iz -n o s A u g u sto de L im a
l o u c e i r a s d o b a ir r o d e S a o F r a n c i s c o . A i n d a h o j e e x i s ­ Júnior *‘A in d ú s t r ia do o le ir o , tã o p o p u la r em
tem r e m in is c ê n c ia s d e s s a tr a d iç ã o lo c a l, c o m a p r o d u ç ã o P o r t u g a l, d esd e s é c u lo s , a d q u ir iu r e g u la r d e s e n v o lv i­
d e p a n e la s , p o te s e a té c a c h im b o s , e m b o r a c ia s e -r e p r e ­ m e n to en tre os c o lo n o s e m u it a s f á b r ic a s de lo u ç a
se n te por p o u q u ís s im a s lo u c e ir a s c o m o D ona S ilv a n s g r o s s e ir a fo rn ecera m su a m e r c a d o r ia ao con su m o
e D ona A m é lia . A liá s , São S e b a s tiã o c o n s titu ía um lo c a i” .
a ç iv o p o n to de c o m é r c io , p o is já no f im do s é c u lo A s s i m , n ã o é d e a d m ir a r q u e a p r o d u ç ã o lo c a ! n a
X V III, a b a s te c ia a C o rte com “açúcar, p e ix e , f e ij ã o qual os p o r tu g u e se s c o la b o r a v a m , fo sse grande. De
p reto , c a fé , m a r m e la d a , gom a”, co n fo rm e co n sta do o u t r a m a n e ir a j u n t o c o m a im p o r t a ç ã o , n ã o s e r i a d a d a
q u a d ro d a s E n tr a d a s d o P o r to d o R io d e J a n e ir o , d o v a z ã o a o c o n s u m o c a d a v e z m a i o r d a p o p u la ç ã o c o m ­
ano de 1791 p o s t a d e b r a s i l e i r o s , d e e u r o p e u s , d c ín d i o s , d e e s c r a ­
A s é r ie de E x p o s iç õ e s , r e a liz a d a s n a C o r te , nos v o s a f r i c a n o s e d e m e s t i ç o s , c o m o m u la t o s , m a m e l u c o s
anos de 1861, 1873, 1875, 1S8I e de 1888, com a c c a fu z o s.
re p r e se n ta ç ã o d e q u a se to d a s a s p r o v ín c ia s d o Im p é­ A in d a h o je sã o n u m ero so s o s r e m a n e sc e n te s d a ­
r io , f a l a b e m a lto d o p r o g r e s so d a p r o d u ç ã o d o b arro q u e le s p r o d u to s lo c a is q u e d jv e r s o s c o le c io n a d o r e s em
c o z i d o , d o s p r o d u t o s d e o l a r i a e d a l o u ç a v id r a d a . boa hora procuram r e c o lh e r a n te s que d esa p a reça m
N a E x p o s iç ã o d e 1 8 8 1 , n o M in is té r io d a A g r ic u l­ por c o m p le to . E sses p e s q u is a d o r e s com p u seram um
tu r a e a s e g u j r e m 1 8 8 1 e m B u e n o s A i r e s , p a r t ic ip a v a m m o s tr u á r io v a r ia d o e s u í-g e n e r is , d e v o lv e n d o a n o ssa
c i n c o e x p o s i t o r e s b r a s i l e i r o s , e n t r e e le s F r a n c i s c o A n t ó ­ v is ã o n u m a p a c ie n te e x u m a ç ã o d o p a s s a d o , o a m b ie n ­
n io E s b e r a r d , d o R i o d e J a n e i r o , c o m a r t ig o s d o m é s t i c o s te das copas e c o z in h a s m in e ir a s , N e le r e s u lta um a
com o l a l h a s , f ilt r o s , m o r in g a s , p a n d a s, p o te s, e tc ., e gam a ex ten sa de cores: o a v e r m e lh a d o , o pardo, o
a p r e s e n to u ta m b é m “ a m o str a s d e lo u ç a b ra n ca e s m a l­ a m a r e lo , o c a s ta n h o , o m e la d o , o b r a n c o , o a z e ito n a d o ,
t a d a , e n s a i o s i m p e r f e i t o s e r e c e n t e s " 0 5 ). o m a r r o m , o v e r d e , e a in d a to n a lid a d e s b r a n d a s le m ­
A c r e d ita m o s porem , que a C a p it a n ia , P r o v ín c ia b r a n d o m a t i z e s d e a q u a r e la .
c d e p o i s E s t a d o d e M i n a s G e r a i s a p r e s e n t a s s e o m a io r E o in t e r e s s a n t e ê v e r i f i c a r - s e q u e e s s e s t i p o s d e
ín d ic e de produção, p e lo m enos na p r im e ir a m e ta d e lo u ç a são a in d a e n co n tra d o s nos q u a tr o ca n to s do
d o s é c u lo , q u a n d o a in d a n ã o s e h a v ia m d is s ip a d o as t e r r it ó r io m i n e ir o , o que d em o n stra , por um la d o , o
fo r tu n a s p r o v in d a s d a s la v r a s e a e s p e r a n ç a d a d e s c o ­ q u a n to eram a p r e c ia d o s e , p o r o u tr o , q u ã o in te n s o e
b e r ta de novos filõ e s a n im a v a os g a r im p e ir o s , o d ifu s o era a q u e le c o m é r c io .
c o m é r c io e o s g o v e r n a n te s , T e m o s a c o n s id e r a r , q u e a São lo u ç a s , m u ita s vezes de e la b o r a d a fa tu r a ,
le v a de im ig r a n t e s de t e r r it ó r io s e, so b r e tu d o a dc p r a to s, s o p e ir a s , b u le s , x íc a r a s , m e io s b o iõ e s e c a n e c a s
p o r t u g u e s e s e m m a s s a i m ig r a d o s d e P o r t u g a l , p r o v o ­ c o m ta m p a , tig e la s , p o te s , c u s c u z e ir o s , c a n g ir õ e s (g ê­
c a d a p e l a c o r r id a d o o u r o e d o s d i a m a n t e s , v e i o a c o n ­ n ero T o b y -ju g ), e tc .

436
Q u a n to aos fo r m a to s, v a r ja m b a sta n te , havendo O p o te t ip o c a n jir ã o ( com re p r e se n ta ç ã o a n tr o -
n o e n ta n to u m a p r e d o m in â n c ia de fo r m a s le m b r a n d o p o m o r fa ) da c o le ç ã o P a u lo V a s c o n c e llo s , pode ter
a s e ç ã o m é d i a c i n f e r io r d e u m b o i ã o c l á s s i c o b o j u d o , s id o c o p ia d o d e e s p é c im e s da r e g iã o d o P o r to , o n d e
de ta m p a e pega com v a r ia ç õ e s d e b o jo e de boca, fo r a m fa b r ic a d o s e m p r im e ir o lu g a r e m P o r tu g a l, de
com o há ta m b ém peças m a is raras de c o m p l ic a d a L is b o a (F á b r ic a d o R a t in h o ) o u d e C a ld a s d a R a in h a ,
f a tu r a com r e c ip ie n te s de p e r f il c ir c u la r com b ic o s , d e D e v e r a e d a F á b r ic a d e C h o u p e l o , c o m o ta m b ém
o u t r a s i r i p o d e s d e c o m p o s i ç ã o g la b u l a d a , e t c . in s p ir a d o s c m e x e m p la r e s in g le s e s de v á r ia s f á b r ic a s ,
p o is fo i na I n g la t e r r a , e m S ta ffo r d s h ir e , que o s can-
Q u a n to à decoração, a p r e se n ta m das certa s c a ­
g ir õ e s (co m fig u r a s ) t iv e r a m o r ig e m , d c lá p a s s a n d o
r a c t e r ís t ic a s . C om r e f e r ê n c ia à c r o m ia , há peças so ­
p a ra o r e sto d a E u r o p a , o n d e a r e p r e se n ta ç ã o d e p er­
m e n te m on ocrom as, o u tr a s de fu n d o m onocrcm o,
s o n a l i d a d e s e d e t i p o s p o p u la r e s , s e t o r n o u m oda na
s o b r e o q u a l s ã o p in t a d a s m a n c h a s d e c a r á t e r a b s t r a t o
C e r â m ic a .
o u e n t ã o d e s e n h o s o u c o m p o s i ç õ e s d e i n s p i r a ç ã o f lo r a l.
H á ta m b ém p e ç a s d e fu n d o p o lic r o m a d o a p r e s e n ta n d o A s p e q u e n a s f l o r e ir a s a t r i b u í d a s à z o n a de D ia ­
to n a lid a d e s d e s m a ia d a s , com o o u tr a s a p r e se n ta n d o o m a n t in a - S e r r o , d e b o c a g r a n d e e p e r f il d e a s a s la r g a s ,
género c o n h e c id o por e sp o n ja d o e o m a r m o r ia d o . le m b r a m e s p é c im e s m a io r e s dos que co stu m a v a m
P a r te d e s s a s l o u ç a s s ã o e n g o b a d a s e c o n s i d e r a d a s d e o r n a r a lt a r e s ; e n t r e a s b a n q u e ta s d e p ra ta , m e ta l ou
m e ia - f a ia n ç a ( “ m c z z a - m a i ó l i c a ” ) . m a d e ir a , eram com uns esses o r n a m e n to s no s é c u lo
X IX , fo ssem em p o r c e la n a “V ic u x P a r is " , o u de fa ­
C om r e la ç ã o à d e c o r a ç ã o i n c is a e a r e le v a d a , h á
b r ic o d e J a c o b P e t it . Q u a n t o a o u t r o t i p o d e f l o r e ir a s ,
que a s s in a la r a v a r ia n t e de m o tiv o s , uns im it a n d o
com m ú ltip lo s b r a ç o s , ta n to a s d c c o r p o b o ju d o (v id e
c o r d a m e s , o u t r o s a p r e s e n t a n d o s é r ie d e b e s a n t e s e c a ­
e s ta m p a ) c o m o a s d e fo r m a to e s p a lm a d o , f la h e lifo r m e ,
n e la r a s , com o há ta m b ém a s fa ix a s im p r e ss a s com
sã o cham adas de “ t u li p e i r a s ” e p r o v in h a m de D c lft
d ife r e n te s d esen h o s, in c lu s iv e a lg u n s le m b r a n d o o
o n d e fo i in ic ia d o o se u u s o n o s é c u lo X V I I ; e s s a s f lo ­
■‘g u i l l o c h é " , à m a n e ir a da o u r iv e s a r ia , com o e x is te m
r e ir a s e r a m e v e n tu a l m e n te , ta m b é m u sa d a s c o m o c a n ­
ta m b é m peças com d ecoração p o n t ilh a d a e p e n te a d a
d e la b r o s , E s s a s ja r r a s j á e r a m u sa d a s em P o r tu g a l e
n a t é c n ic a d o e s g r a f i t a d o e o u tr a s c o m flo r e s, fo lh a ­
f a b r ic a d a s em S a n to A n tô n io do V a le da P ie d a d e ,
gens e o r n a m e n to s d iv e r s o s , ju s ta p o s to s .
d e s d e o s é c u l o X V I I I <ts> e lá s ã o c h a m a d a s d e " ja r r a s
D e v e m o s , n o e n t a n t o , r e s s a lt a r q u e t a n t o n o s f o r ­ d e lu v a ” .
m a to s c o m o na d ecoração i n c is a e r e le v a d a , h á u m a
N o q u e lo c a a o s c a n u d o s — e s s e s s ã o d c o r ig e m
m e r itó r ia d o s e d e c r i a t i v i d a d e e d e e s t é t ic a l o c a i s q u e
p ersa, onde eram c o n h e c id o s por “ e l-b a r a n i” c lá já
não p a sso u d e s a p e r c e b id a a S a in t - H iia ir e que d is s e r
s e r v ia m c o m o p o t e s p a r a g u a r d a r u n g ü e n t o e p r o d u t o s
“O s v a so s a p r e s e n ta m cm geral lin d a s fo rm a s” . A
m e d ic in a is . F oram os árabes que os tr o u x e r a m do
in s p ir a ç ã o p ara o s d e s e n h o s p in ta d o s c c e r to s fo r m a to s
O r ie n t e M é d i o e o s c e r a m i s t a s i b e r o - m o u r i s c o s p a s s a ­
d e c o m p l ic a d a f a tu r a , q u e r e m o s c r e r q u e p r o v e io s o ­
ram a r e p r o d u z i-lo s p a r a o m e s m o fim , c o m o p o te s d c
b r e tu d o de P o r t u g a l, a tra v és de M a s s a r e llo s , V ia n a ,
f a r m á c ia . E le s têm com o c a r a c te r ís tic a dc o r ig e m o
C a l d a s d a R a i n h a , F e r v e n ç a , e t c ., a s s i m c o m o d a E s p a ­
e s tr a n g u la m e n to n a s e ç ã o m é d ia d o tu b o c p a ss a r a m a
n h a , p e l o s “ a lf a r e r o s ” d a G a lf c ia , d e L eão, da A nda­
s e r c o n h e c i d o s n a t e r m in o l o g i a c e r â m i c a c o m o “ a lb a -
l u z ia , e t c .
r e llo s ” , p o is a Itá lia q u e o s r e c e b e u d e M a jo r c a , d ifu n ­
Em P o r t u g a l, c o s t u m a m ch am ar d e ‘‘R a t i n h o ” a d iu o m o d e l o p a r a o r e sto d a E u r o p a , a tr a v é s d e su a
um tip o p o p u la r d e lo u ç a m u it o d e c o r a t i v a qu e deve v is t o s a fa ia n ç a .
te r in s p ir a d o a m i n e ir a , e m b o r a e s s e g ê n e r o n a d a t e n h a
Qs r e c ip ie n te s para con servar e s s ê n c ia s , drogas
a v e r c o m o s p r o d u t o s c e r â m i c o s d a f á b r ic a d a D u q u e ­
e m e d ic a m e n to s , a p r e s e n ta m v á r ia s d e n o m in a ç õ e s c
s a d e P a lm e i a , q u e t e v e p o u c a d u r a ç ã o e c h a m a v a - s e
fo rm a to s.
ta m b é m R a tin h o . G ra n d e p a r te d e s s a lo u ç a v is t o s a e
E le s p o d e m ta n to se r p o te s, c a n u d o s, b o iõ e s tu b u ­
p o p u la r lu s a , é c o n s i d e r a d a d e m e i a - f a i a n ç a o u e n g o -
la r e s , b o tõ e s b o ju d o s, com o b o iõ e s c ilín d r ic o s ; essa s
b a d a c o m a r g ila d a r a e e s m a l t e d e c h u m b o , à s v e z e s
c o m p o u c o e s m a lte e s ta n ífe r o . d e s ig n a ç õ e s m o r fo ló g ic a s e n g lo b a m -s e to d a s n o term o
g e n é r ic o q u e e s p e c ific a su a fu n ç ã o , o u se ja , “ p o te s d e
A s i n f l u e n c i a s a s s i m i l a d a s p e l o s o l e i r o s , c e r a m is ­
f a r m á c ia ” o u " b o iõ e s d e b o t i c a ” ( c o m o s ã o c o n h e c i d o s
ta s ou lo u c e ir o s m i n e ir o s , s ã o d e o r j g e m d iv e r s a .
e m P o r tu g a l) . E x is te m ta m b é m g a r r a fa s p a ra o m e sm o
Q u e r e m o s c r e r q u e as lo u ç a s d e b a rro , ta n to a s se c a s
u so . T o d o s e ste s r e c i p i e n t e s e s t r a n g e ir o s p o r t a m in d i­
ao s o l, com o as c o z id a s ao fo rn o , so frer a m m a is a
c a ç ã o a t r a v é s d e i n s c r iç õ e s , b r a s õ e s o u s i g l a s . O b o i ã o ,
i n f l u ê n c i a i n d íg e n a ( à s v e z e s já a c u l t u r a d a ) , a a f r ic a ­
p o te o u c a n u d o , c o m e s tr a n g u la m e n to n a p a r te m é d ia ,
n a e a c a b o c la .
com o d is s e m o s é c o n h e c id o p o r “ a lb a r e llo ” ; o b o iã o
No en ta n to as que a tu a r a m sob re a fa tu r a das b o ju d o ( q u e m u ito s s ó c h a m a m d e b o iã o ) te m , c o m o
l o u ç a s v id r a d a s c “ m e z z a - m a i ó l i c a s ” q u e e x i g i a m t é c n i­ c a r a c t e r ís t ic a p e c u l i a r , s u a f o r m a g l o b u l a d a o u p i r i f o r ­
c a s m a is a p u r a d a s, in c lu s iv e a m a n ip u la ç ã o q u ím ic a d e m e e o b o iã o c ilín d r ic o é o c a n u d o o u p o te s e m e s tr a n ­
e s m a lte s , fo ra m m a is m a rca d a m e n te de in f lu ê n c ia g u la m e n to , E ste ú ltim o que vem acom panhado de
e u r o p é ia , so b r e tu d o ib é r ic a , m o u r is c a ou o r ie n ta l, o t a m p a c ô n i c a s ó f e z a p a r i ç ã o n a s p r a t e le ir a s d e n o s s o s
q u e m a is s e e v i d e n c i a n a e s c o l h a d o s f o r m a t o s . b o tic á r io s , cm fin s d o s é c u lo X V I 1 Í e no correr d o
A c a b a m o s d e d iz e r , s o b r e i n f l u ê n c i a s a s s im ila d a s s é c u lo X I X . » »
e m M i n a s , n ã o p r o v é m d a s a p e n a s d a c e r â m i c a ib é r ic a . A s p e ç a s d e c o m p lic a d a fa tu r a , ta n t o d a c o le ç ã o
C e r to s fo r m a to s s ã o típ ic o s d e la , c o m o o u tr o s s ã o d e P a u lo V a s c o n c e llo s c o m o d e W a lle r J o s é d a S ilv a , r e v e ­
p r o c e d ê n c i a d i v e r s a , t r a z id o s d e lo n g e a t r a v é s d e P o r ­ la m f o r te in flu ê n c ia e s p a n h o la . São e la s os tr íp o d e s
t u g a l, o u p o r o u t r o s p a í s e s , já q u e a a b e r t u r a d o s p o r ­ gl a b u la d o s , os c a n d e la b r o s (o u flo r e ir a s ) co m p o sto
to s em 1 8 0 8 , e n s e jo u o c o m é r c io d ir e to . de um tu b o em fo rm a d e c ír c u lo , c o m um ou v á r io s

437
b i c o s , e a in d a u m a ja r r a f o r m a d a d c m e a n d r o s Ui b u ­ 1855 — E a n a lis a d o e m S ê v r c s b a r r o d c S ã o C a e ­
la r e s e u m b i c o s u p e r io r . A l g u ,,s d e s s e s m o d e l o s já ta n o , a tr ê s lé g u a s de M a r ia n a , c o n s id e r a d o com o
e r a m f a b r ic a d o s e m M a n is e s , d e s d e o s é c u l o X V . c a u lim e “ a p e ç a c o z id a d eu boa lo u ç a ” — a n a lis a d o
onde eram c o n h e c id o s P °r b ib e r o n s e ja r r a s de ta m b é m n o R i o , p e l o n a t u r a lis t a F r e i G u s t a v o S c r r ã o ,
t r a m p a ” . C o m r e f c r é n c ia a o s r e c i p i e n t e s c o m b a s e ir i- s e n d o m u it o f a v o r á v e l o e x a m e ” .
p o d e g lo b u ia d a , e s t e s já a p a r e c ia m n a C h in a , n a p r o ­ A u g u s t o d e L im a J ú n io r j n f o r m a q u e h a v ia “ a l g u ­
v í n c i a d e S h a n t u n g , c m l o u ç a b r a n c a v id r a d a ( a l L m a s f á b r ic a s d e p r o d u ç ã o c e r â m i c a n a r e g iã o d c M a ­
31 c m ) n o t e r c e ir o o u p r i n c í p i o s d o s e g u n d o m ilê n io r ia n a " . S ã o C a e t a n o , p o r f o r ç a d e s e u bom m a t e r ia l,
b .C . d e a c o r d o c o m e s c a v a ç õ e s p r o c e d id a s e m 1 9 6 4 d® , n ã o p o d e d e i x a r d e e s t a r i n c lu íd a e n t r e e la s .
c n o M e d i t e r r â n e o 2 0 0 0 a . C . , n a i l h a d e C h ip r e OU e
1858; — £ aprovada p e lo governo m in e ir o um a
a q u e le fo rm a to , ê de se p r e s u m ir que os árabes o
su b v en çã o de c in c o co n to s de r é is , para o m e lh o r a ­
ten h a m t r a z id o p a r a a I b é r ia .
m e n t o d a “F á b r i c a d e C a e t é ” , o q u e n o s le v a a crer
E sse fo rm a to de r e c ip ie n te , que le v o u m ilê n io s q u e e s s e c e n tr o fo s s e o q u e a p r e s e n ta s se m e lh o r e s c o n ­
para ch egar do O r ie n t e ao a l t ip l a n o m in e ir o parece d iç õ e s e n tre to d o s os o u tr o s, p ara m erecer a q u e le
q u e , a le m d e a g r a d a r a o s c h i n e s e s , d p r i o t a s , ib e r o s e i n c e n t iv o .
m i n e ir o s , a g r a d o u t a m b é m a o s b a n d e ir a n te s , p o r q u a n ­ 18.. -— A u g u sto de L im a J ú n io r in fo r m a ; “A
to e le se fa z p r e se n te em A p ia í, onde lo u c e ir a s do .in d ú s t r ia d o o l e i r o , t ã o p o p u la r c m P o r t u g a l, a d q u ir iu
b a ir r o d e S e r r in h o , a in d a o f a b r ic a m , o b e d e c e n d o a tra­ r e g u la r d e s e n v o l v i m e n t o e n t r e o s c o l o n o s c m u i t a s fá ­
d iç ã o a n tig a , s e n d o lá d e n o m in a d o s de “ g a rra fa s d e b r ic a s d e lo u ç a g r o s s e ir a fo r n e c e r a m su a m e r c a d o r ia
três p e r n a s ” a o c o n s u m o lo c a l. T e m o s c o n h e c im e n to d e a lg u m a s c m
E m P o r tu g a ! a s “ ja r r a s d e s e g r e d o ” , a s b i l h a s b o ­ M a r ia n a (S ã o C a e ta n o , en tre o u tr a s ) , em P ra d o s, cm
j u d a s o u p ir i f o r m e s c o m b i c o e b o c a la t e r a is e a l ç a n a C ongonhas do C am po e no a r r a ia l d o O u r o B ranco,
p a rte s u p e r io r (c o le ç ã o P a u lo V n s c o n c d io s ), a s s im a f o r a u m a p r ó x i m a d e O u r o P r e t o , q u e r e s is t iu a t é o fim
c o m o p e ç a s e m f o r m a d e c í r c u l o , t u b i f o r m e s c o m v á r io s d o s é c u lo p a s s a d o ( S a r a m c n h a ) , P r a to s , tig e la s , p o te s
g a r g a l o s , e r a m f a b r ic a d a s s o b r e t u d o , e m E x lr e m ó z . d e á g u a , m o r i n g a s o u b ilh a s , a lg u id a r e s , e t c ., f o r a m f a ­
T a n to a s “j a r r a s d e s e g r e d o ” c o m o a s b ilh a s d e b r i c a d o s e t iv e r a m p r o c u r a . c28> M a n u e l B a n d e j r a ta m ­
a l ç a s u p e r io r , c o m v a r i a ç õ e s d e f o r m a t o , e r a m e , c o n ­ b é m i n f o r m a , e m b o r a n ã o a s s i n a l e a d a t a , q u e a f á b r ic a
t in u a m s e n d o , f a b r ic a d a s n a B a h i a , s o b r e t u d o c m M a - d e V ila R ic a d e sa p a r e c e u .
r a g o g ip in h o , s e n d o que a q u e la s t a m b é m eram con h e­ 1 8 6 8 — L o u ç a s v id r a d a s f a b r i c a d a s c m T a q u a r u ç u
c id a s p o r " p ú c a r o s d e su r p r e sa " e “p ú ca ro s d e enga­ (d is tr ito d e C a e t é ) , p e lo s s ó c io s F e lip e N c r y T e ix e ir a ,
n o ” , t o d a s d e c o r a d a s a fr io . d o s u a f i lh a F l o r i n d a d e J e s u s e A n t ó n i o P e r e ir a d e A r a ú j o
Q u a n to às g a rra fa s em fo r m a d e g a lo o u d e g a ­ T a v a r e s , e a d o t a n d o a t é c n ic a d a f á b r ic a d e C a e t é ; “ F e i ­
lin h a , em te r r a c o ta ou em lo u ç a v id r a d a , ta n to na ta a a p u r a ç ã o d o b a r r o p e l o t a m is e a m a s s a d o o b a r r o a
A n d a lu z ia c o m o n a E x t r e m a d u r a E s p a n h o l a , s ã o e la s b r a ç o , fa z e m a lo u ç a c o m u m a rod a to c a d a c o m o p é e
a t é h o j e r e p r o d u z id a s . q u e i m a d a e r a f o r n o o r d in á r io , v id r a d a e m p e d r a m o í d a
o u c o m ó x id o d e fe r r o e d c c o b r e e m p a r te s ig u a is . , . e
V e j a m o s o q u e n o s f o i p o s s í v e l r e u n ir c o m r e fe ­
o b a r r o e m p r e g a d o e m T a q u a r u ç u , é d e d iv e r s a s c o r e s
r ê n c ia a d o cu m e n to s so b re essa s lo u ç a s m in e ir a s e
e e x is te em grande a b u n d â n c ia nos arredores d e ste
su a produção, o que poderá s e r v ir s u b s id ia ria m e n te
a r r a ia ] , a s s im c o m o p e d r a s p a r a t o d o s o s v i d r o s . _ , os
p a r a a i d e n t i f i c a ç ã o d o lo c a l d e s e u f a b r ic o .
f a b r i c a n t e s s ã o p o b r e s e c a r r e g a d o s d c f i l h o s , e t c , dó)
1 7 7 7 -1 7 8 6 — D r. J o sé B itte n c o u r t A c c io ly fez
1883 — N a c i d a d e d e P a s s o s , h á f á b r ic a d e l o u ç a
e n s a io s e e x p e r iê n c ia s f a v o r á v e is com o barro de
c o m a in fo r m a ç ã o de que “ n esta p a r ó q u ia , há exce­
C a e té , p orém não há e v id ê n c ia de que te n h a dado
le n t e c a u lim " .
i n í c i o a u m a p r o d u ç ã o r e g u la r d e l o u ç a .
1893 — F undação o fic ia l em C a eté, em 13 dc
1 8 ..-..., — O i n g lê s J o h n M o r g a n in le r ç s s o u - j u l h o , d a C e r â m i c a N a c i o n a l , p e l o D r . J o ã o P in h e i r o d a
-se em o r g a n iz a r um a so c ie d a d e p ara a p r o v e ita r o S i l v a ( q u e fo i p r e s i d e n t e d a P r o v í n c ia e m 1890) e p e lo
m a t e r ia l d e C a e t é , p o r é m c a d u c o u s u a c o n c e s s ã o sem D r . C a r lo s T h o m a z d c M a g a lh ã e s , le n te d a E s c o la d e
q u e m o n t a s s e f á b r ic a . <M> M .in a s d e O u r o P r e t o , c o m o p r o p ó s ito d e fa z e r p r o s ­
1 8 0 9 -1 8 1 2 — John M aw c a s s in a la , cm C ongo­ p e r a r a c i d a d e d e C a e t é c m e lh o r a r a q u a l i d a d e e p r o ­
nhas do C am po, um a o la r ia q u e , e m p r e g a n d o “ barro d u z ir a r t i g o s f i n o s v i s a n d o a p o r c e l a n a , A a t a d i z e n t r e
em seu e sta d o n a t iv o " e “ a r o d a " , f a b r ic a v a " p r a to s , o u tr a s c o is a s : " S e n d o d a d a s a s c o n d iç õ e s fís ic a s c o m
p o te s, ja r r a s p esa d a s e m a c iç a s , m as p ouco s ó lid a s , q u e a t u a l m e n t e s e fa b r ic a u m a e s p é c i e d e lo u ç a b á r b a r a
que se to rn a v a m m enos fr á g e is com o em prego de n e s s a c id a d e d e C a e té , c o n s e g u ir m e lh o r a r . . . c o m u m a
v e r n i z e s p e s s o ” . S e g u n d o a in d a M a w e , e r a " u m a terra i n t e r v e n ç ã o q u ím ic a " . ( D o i s m e s e s d e p o i s é r e la t a d o q u e
p a r a p o r c e la n a , su p e r io r à q u e la e m p r e g a d a e m S êvrcs, c o n s e g u ir a m c o n d j ç õ e s a n im a d o r a s c c o m n ovas p rovas
P r o v in h a d a c o lin a dc S a n to A n tô n io p erto d e C o n ­ e d e s c o b e r ta s d e r a m o p r o b le m a c o m o r e s o lv id o ) . D iz
g o n h a s d o C a m p o " ( c it a ç ã o d e M a n u e l B a n d e ir a ). ■a A t a a in d a ; V i r a m p o r e l e s ( e s t u d o s ) c o m o s e p o d e
1 8 1 6 -1 8 2 2 — S a i n t - H i l a ir e , a s s in a la u r n a fá b r ic a c o n s e g u i r o e s m a l t e b r a n c o n a lo u ç a b á r b a r a a q u i f a b r i­
dc lo u ç a p e r to de V ila R ic a (O u r o P r e lo ), “que se c a d a n o s f o m o s r u d im e n t a r e s d e c u p im " .
e s t a b e le c e u h á p o u c o s a n o s " , .. “ O s v a s o s a p r e s e n ta m 1893 — £ a s s in a la d a a p r e s e n ç a cm M o n d c o s , “ a
em gera! lin d a s fo r m a s, m as sã o r e v e s t id o s de um a m e ia lé g u a d e C a e t é , d e um v e lh o l o u c e ir o cham ado
cam ad a m u it o esp essa de v e r n iz e q u eb ra m -se com M a n u e l V i c e n t e , q u e t in h a t a m b é m s e u f o r n o d e c u p i m
m u it a f a c ilid a d e . É e v i d e n t e , a liá s , q u e c o n s e g u i n d o - s e (A ta c il.) .
e v it a r e s s e s d e f e i t o s a m a n u f a t u r a d e V ila R i c a , fiq u e 1897 — In fo r m a X a v ie r d a V e ig a , q u e a té e n tã o
r iv a liz a n d o c o m a s d a E u r o p a " . . , !27) n ã o h a v ia p r o d u ç ã o c m M in a s d e p o r c e la n a .

438
1898 — P r e c i o s o á lb u m d e f o t o g r a f i a s d a “ C e r â ­ s e r v iu p a r a a i n d u s t r i a l iz a ç ã o d a p o r c e l a n a . N o a n o d e
m ic a N a c i o n a l ” , e m q u e s ã o e x i b i d a s a s i n s t a l a ç õ e s d a 1 8 9 3 , já li n h a s i d o a s s i n a l a d a a d e s c o b e r t a p e í o s t é c n i ­
fá b r ic a e s e u s d e p ó s i t o s , c o m o s a r t ig o s p r o d u z id o s . c o s d o e s m a lte branco para decoração das lo u ç a s
1 9 0 3 -1 9 2 1 — F a b r ic o d e p e ç a s u t ilit á r ia s e m p o r ­ v id r a d a s .
c e l a n a e m C a e t é , d c f o r m a i n d u s t r ia l, in f o r m a ç õ e s d o s Q u a n to a o s fo r m a to s e tip o s d e lo u ç a s d e C a e té ,
a tu a is d ir ig e n te s e do jo rn a l “O P a is " , sob o t ít u lo q u e c o n s t a m d o á lb u m d e 1 8 9 8 , p u d e m o s d i s t in g u ir n a
K a u lír n , d i a s 7 c 8 de ju n h o d c 1926. f o t o I , d o in t e r io r d o D e p ó s i t o d e L o u ç a s A r t í s t i c a s , o s
1 9 2 1 — T r a n s f o r m a ç ã o d a a n tig a r a z ã o s o c i a l p a r a s e g u in t e s m o d e l o s : u m m e d a l h ã o c o m o b u s t o d e T ír a -
“ C e r â m ic a João P in h e ir o " , que prod u z a t u a lm e n t e d e n te s , o u tr o d e F lo r ia n o P e ix o to , u m a s é r ie d e â n fo r a s
( 1 9 7 5 ) s o m e n t e p r o d u t o s r e f r a t á r io s . de t ip o c lá s s ic o , p o te s su p er d ecorados com f o lh a s ,
D e s s a e n u m e r a ç ã o d e d a t a s , d a d o s e c o m e n t á r io s , f lo r e s , g a l h o s em r e le v o (já esta m o s n esta a ltu r a no
c o n c l u i - s e f o r a d e d ú v id a q u e o s a r t ig o s p r o d u z id o s e m p e r ío d o d o f l o r e a i , d o A r t - N o u v e a u ) , b i l h a s , p o t e s p a r a
M in a s d e v ia m d j f e r e n c ia r - s e b a sta n te en tre s i, o que f l o r e s d e d e p e n d u r a r , g a r r a f a s , m o r in g a s c o m a l ç a f l o ­
fa z c o m q u e o s r e m a n e sc e n te s d e lo u ç a s e n c o n tr a d o s r a is , p e ç a s ( t i p o f l o r e i r a s ) d e b o c a la r g a c o m a s a b a s
h o j e s e j a m b a s t a n t e d i v e r s if i c a d o s , i s s o t a m b é m e m r a ­ (a jo u r é e s, o u v a s a d a s , e t c .) . A f o to g r a fia n .° 7 f o c a liz a
z õ e s d e d i f e r e n ç a n a t é c n ic a d c o r ig e m a d o t a d a n a p r o ­ o in te r io r d o d e p ó s i t o de lo u ç a d c s e r v iç o e n e la sc
dução das a r g ila s e m p r e g a d a s e seu tr a ta m e n to , dos d is t in g u e m s e r v iç o s d e chá, c r e m c ir a s , c o r n o ta m b é m
f o r n o s , d a s f o r m a s , d e v id r a d o s e e s m a l t e u t i l i z a d o s . la r g a s b a c ia s e j a r r o s , e s c a r r a d e ir a s e u r in ó is .

A s s i m , n ã o e s t a m o s i n c l i n a d o s a a d m it ir , s a l v o p r o ­ Q u a n to a S a r a m e n h a , s a b e - s e q u e s c e s tin g u iu n o
vas a c e itá v e is o u d o c u m e n to s , in c lu s iv e fr a g m e n to s f im d o s é c u l o , c o n f o r m e i n f o r m a ç ã o d c A u g u s t o L i m a
e n c o n t r a d o s n o s a n t i g o s l o c a i s , q u e a lo u ç a m in e ir a v i­ j r. o n Q orroborada p o r M a n u e l B a n d e i r a <í ; ’. O c o le ­
d r a d a d o s é c u l o X I X r e s t r in j a - s e a p e n a s a tré-s o u q u a ­ c io n a d o r P a u lo V a s c o n c e llo s e x ib iu -n o s u m a p e ç a por
tro o r ig e n s , com o C a e té , S aram enha, D ia m a n tin a e l e a t r ib u íd a a S a r a m e n h a q u e m o s t r a n o f r e t e a i n s c r i ­
( S e r r o ) e B a r b a c e n a , q u a n d o o s c e n t r o s a p r o d u z i- la s ç ã o “ 1 9 2 2 fe v e r e ir o " , d o n d e d e d u z im o s q u e e m b o r a a
eram n u m ero so s, em r e g iõ e s esp a rsa s com té c n ic a s . f á b r ic a h a ja s i d o e x t i n t a , a r t e s ã o s s e u s e d e s c e n d e n t e s
m a t e r ia is , a r t e s ã o s , m o d e l a d o r e s , d e c o r a d o r e s e a p a r e - d e l e s c o n t in u a r a m a p r o d u z ir in d i v id u a l m e n t e n a m e s m a
I h a m e u t o s d if e r e n t e s . O s c e n t r o s e n c o n t r a d o s a t é a g o r a , t é c n ic a e d e c o r a ç ã o .
sã o o n z e :
S a r a m e n h a , s u b ú r b io d e V ila R ic a (O u r o P r e to )
( O la r ia ) 1 — C ongonhas do C am po a p r e se n ta u m a p r o d u ç ã o p e lo q u e se p o d e a p u ra r, b a s ­
(F á b r jc a s) 7 — V i l a R ic a ( S a r a m e n h a ) t a n t e d iv e r s if i c a d a . O q u e s e e x p l i c a p e l o f a t o d e V i l a
P a sso s R i c a te r s i d o a C a p ita l d a C a p ita n ia e d a P r o v í n c ia .
C a eté A c r e d i t a m o s q u e a m a i o r i a d o s p r a t o s d e l o u ç a v id r a d a
M a r ia n a ( S S o C a e t a n o ) com d e s e n h o s p o lic r o m a d o s e s o b r e tu d o o s de fu n d o
P rados e s b r a n q u iç a d o (m e ia fa ia n ç a ), se ja m de fa tu r a sa ra ­
O uro B ranco m e n h a , p o i s a d e c o r a ç ã o d e s s a lo u ç a e x i g i u a r t is t a s m a i s
T aq uaruçu c s p e q ia liz a d o s e e s te s é líc ito a d m itir -s c q u e s e c o n c e n ­
(L o u c e ir o ) 1 — M ondéos t r a s s e m n a C a p it a l d a P r o v í n c ia , o n d e a d e m a n d a e r a
? D ia m a n t in a ( S e r r o ) m a i o r e m a is q u a l i f i c a d a . F .x ís t e u m e x e m p l a r p r a t o d e
7 B arbacen a b a r b e ir o d a c o l e ç ã o d o fa le c id o c o le c io n a d o r S im õ c n s
d a S ilv a ( h o j e n o M u s e u d a I n c o n f i d ê n c i a ) c o m a a n o ­
D esses cen tro s c e r â m ic o s , d esta ca -se C a e té , que
ta ç ã o d e S a r a m e n h a , o q u e c o r r o b o r a a q u e la o p in iã o ; é
p a s s o u p o r q u a t r o f a s e s . S e u p r im e ir o p e r í o d o p e r d e - s e
um e x e m p l a r t í p i c o d a m c ía - f n ia n ç a " m e z z a - m a i ó l i c a " .
n o ú l t i m o q u a r te l d o s é c u l o X V I I I a t é 1 8 5 S , q u a n d o a
A c r e d ita m o s ta m b é m que s e ja da m esm a p r o c e d ê n c ia
f á b r ic a d e C a e t é r e c e b e v u l t o s a s u b v e n ç ã o ( c i n c o c o n t o s
p a r t e d a s p e ç a s d a m a i s f in a e l a b o r a ç ã o c t é c n ic a o l e i r a
dc r e is ) do G o v e r n o P r o v i n c ia l , e já d e v e e n t ã o te r
m a is a p u r a d a , c o m o é o caso d os tr íp o d e s p a r te d a s
m e l h o r a d o a q u a lid a d e d a l o u ç a , q u e s e r v iu a t é d e d it o
g a lin h a s p o lic r o m a d a s , c a n g ir õ c s , p e ç a s tu b i fo r m e s, p o ­
m a ld o s o :
te s, can ecas, s o p e ir a s , cu m b u cas, e tc, com d esen h o s
“ L o u ç a d e C a eté f it o f o n r e s e a b str a to s so b r e fu n d o s e s m a lta d o s u n ifo r ­
J u s t iç a de Ita m b é m e s o u d e c o r e s e s c o r r id a s .
E o povo de S ão M ané
A s p e ç a s d e B a r b a c c n a d e q u e e x i s t e m v á r ia s m a r ­
L iv r e -n o s D e u s , D o m m é ” !
c a d a s , a p r e s e n t a m e m g e r a l, u m f u n d o e s m a l t a d o a m a ­
A seg u n d a fa se ir ia d e 1858 a 1893, quando é r e lo o u a m a r e la d o e c o m o c a r a c te r ís tic o a r e p r e s e n ta ç ã o
c o n s titu íd a a fir m a C e r â m ic a N a c io n a l, com n o tá v e l p o S ic r o n a d a d e f l o r e s e f o l h a s c m r e le v o . A c id a d e d e
a p a r e l h a m e n t o , e a t e r c e ir a d e 1 8 9 3 a t é 1 9 2 1 , q u a n d o B a r b a c e n a é t r a d i c i o n a l m e n t e o c e n t r o m in e ir o d e c u l t i ­
p a s s a a s c r C e r â m ic a J o ã o P in h e i r o , e a q u a r ta d e J 9 2 1 v o d e f lo r e s , d a í s u a c e r â m i c a n e l a s s e in s p ir a r a t é h o j e .
a té h o je . S a b e -s e q u e e m 1 8 6 8 , e m p r e g a v a c o m o v id r a ­ A D ia m a n tin a -S e r r o , d a d a a c o le ta d e n u m e r o s a s
d o p e d r a m o íd a o u c o m ó x id o d e fe r r o e d e c o b r e em p e ç a s c o m c a r a c t e r ís tic o s id ê n tic o s d e fo r m a , d e c o r a ç ã o
p a r t e ig u a is : q u a n t o à a r g ila , s e g u n d o i n f o r m a ç õ e s d o s e c o r d o v id r a d o n a q u e la m e s m a r e g iã o , p a s s o u - s e a
a t u a is d ir ig e n t e s e a m o s t r a s , e r a e é u m a a r g ila p r e t a , a t r ib u ir o f a b r i c o d e d e t e r m in a d o s “ t i p o s ” . S ã o a s f l o ­
q u e d e p o is d e c o z id a s e to r n a b r a n c a , r e ir a s c o m a l ç a s , c o m d e s e n h o s r e l e v a d o s e f u n d o a z e i -
N a t e r c e ir a f a s e d e C a e t é ( d e 1 8 9 3 a 1 9 2 1 ) , c o n ­ t o n a d o ou a m a r e la d o . H á ta m b é m g a r r a fa s, p o le s , b u le s ,
t in u a s e n d o e m p r e g a d o o m e s m o m a t e r ia l p a r a o s a r t e ­ c a n e c a s , c a n u d o s e s m a lta d o s c v e r d e e s c u r o o u m a rro m ,
fa to s c e r â m ic o s , c o m o u t r a s m is t u r a s p a r a o g r é s e o s d e b r ilh o f o r t e , c o m o u s e m a p l i c a ç ã o d e c i n c o r o s e t a s
r e f r a t á r io s , f o r a o u s o d o c a u lim que d e 1903 a 1921, o u c in c o c o r a ç õ e s c m v o lt a d a s p e ç a s .

439
C om e s ta s c o n s id e r a ç õ e s so b r e a lo u ç a m in e ir a , im p o r ta d a s d e P o r tu g a l, n o c o r r e r d o s é c u lo X I X , já q u e
m a is a t u a liz a d a s , r e tific a m o s e stu d o n o sso fe ito em e l a s t iv e r a m i g u a l m e n t e a s u a p r e s e n ç a a s s i n a l a d a n o s
1 9 7 5 0 3> n o qual n os r e f e r im o s à p r o d u ç ã o c e r â m ic a l a r e s b r a s i l e i r o s , n o s p e r í o d o s I m p e r ia l e R e p u b l i c a n o .
d e M i n a s , l i m i t a m o - l a s a p e n a s a o f a b r ic o d a l o u ç a d e É d e p o i s d a r e v o l u ç ã o d e 2 1 d e a b r il d e 1 9 7 4 , q u e
barro (c m o u c o z id o ) e a o d a l o u ç a v id r a d a (p o te r ie v ie r a m e l a s e m m a i o r p r o f u s ã o p a r a o B r a s i l . T r a t a - s e
v e m is s é e ) sem in c lu ir a p r o d u ç ã o d a lo u ç a c o n h e c i d a s o b r e t u d o d a s l o u ç a s c o n h e c i d a s p o r “ R a t i n h o ” , d e a lt o
por m e ia -fa ia n ç a ou m e ia -m a ió lie a (m e z z a -m a ió lic a ), teo r d e c o r a tiv o e c r o m ia v ig o r o s a , a q u e já nos re­
t é c n i c a e s s a a p lic a d a s o b r e t u d o n o s p r a t o s . fe r im o s ,
H á que s e d a r d e s ta q u e e s p e c ia l n esse c o n te x to N o e q u i p a m e n t o d o m é s t i c o b r a s i l e i r o , f o r a a s f a ia n ­
b r a s i l e i r o d e p r o d u t o r e s d e c e r â m ic a a r t ís t ic a e u t ilit á r ia , ç a s d e p r im e ir a q u a l i d a d e e p o r c e l a n a s í i n a s i m p o r t a d a s
à f á b r ic a d e lo u ç a i n s t a la d a e m C o l o m b o e m 1 8 8 0 , por d o O r ie n t e e d a E u r o p a , a l o u ç a v id r a d a t i n h a t a m b é m
F r a n c i s c o B u s a t o . E s t u d o s r e c e n t e s d e N c w t o n C a r n e ir o seu lu g a r a s s e g u r a d o . A l o u ç a b r a s ile ir a , n o e n ta n to ,
n o s r e v e l o u u m a p r o d u ç ã o d e a lt o n í v e l a r t í s t i c o q u e se e m b o r a e n c e r r a n d o e m s i p r e d ic a d o s d e c o r e d e fo r m a s
e q u ip a r a s e m f a v o r à e u r o p é i a e q u e s e d e v e a im ig r a n ­ a s s i n a l a d a s p o r S a i n t - H i l a ir e , n ã o p o d i a c o m p e t i r c o m
te s i t a li a n o s . F r a n c is c o B u s a t o , o r ig in á r io d e D a l e n o v a , a s p o rtu g u esa s (a não ser a s p ro d u çõ es a r tís tic a s d e
P r o v ín c ia d e V ic e n z a , e s ta b e le c id o e m C o lo m b o , p r o d u ­ F r a n c i s c o B u s a t o , e x e c u t a d a s p o r i t a li a n o s i n f e li z m e n t e
z ia t e l h a s e t ij o lo s . R e s o l v e d e p o i s d e c j ic a r - s c à c e r â m i c a de b reve d u ra çã o ).
a r t ís t ic a e d e q u a lid a d e . C o n t r a í a o a r t is t a J o ã o O r t o la - D iz - n o s F r a n c is c o M a r q u e s d o s S a n t o s : “ , , . F á b r i­
n i e in ic ia p e q u e n a p r o d u ç ã o d e u m g ê n e r o d e f a ia n ç a , cas de lo u ç a fin a n unca m edraram n o B r a s il a n tig o ,
lo u ç a v id r a d a e “ m e z z a -m a ió lic a ” , ou v a r ia n t e , e t a l v e z a f a l t a d e r e c u r s o s d o s o l e i r o s o u m a is s e g u r a m e n ­
abran gen d o f lo r e ir a s , p l a c a s , e s t a t u e t a s , â n fo r a s e b i- t e p e la c o n c o r r ê n c ia e u r o p é ia .” E a in d a “ a f i r m a m o s
b c l o t s c p a r t e d e s e u s m o d e l o s i n s p ir a - s e n o A r t - N o u - c o m s e g u r a n ç a , q u e o s n o s s o s p r im e ir o s q u a t r o s é c u l o s
veau, C om e s s e s p r o d u to s a lc a n ç a em 1900 m e d a lh a d e c iv iliz a ç ã o fo r a m d e lo u ç a d e s a tiv a d a ” ( p á g . 2 9 0 ) e
d e O u r o n a E x p o s iç ã o d o I V C e n te n á r io d a D e s c o b e r ta rem a ta n d o d iz : "a lo u ç a v id r a d a f a b r ic a d a no p a ís
d o B r a s il. E s s a f á b r ic a d e C o l o m b o c o n h e c e u d iv e r s a s e n t r a v a c o m o h o j e n a c a s a a b a s t a d a , a t r a v é s d o s a lg u i­
f a s e s a te 1 9 2 6 , p a ss a n d o p o r d iv e r s o s d o n o s . d a r e s , b o i õ e s , p a n e l a s e c m p e ç a s d c v a r ia d a u t i l i d a d e ’’
A fa se r c a lm c n t e b r ilh a n t e é a d e 1897 a 1901, ( p á g . 2 8 7 ) . A r e g r a r e a lm e n le e r a e s s a , p o r é m com a
com a a t u a ç ã o d e J o ã o O n o l a n i , o r ig in á r io d e L ig ú r ia e x c e ç ã o d o s p r o d u to s a r tís tic o s d o P a r a n á d o f in a l d o
c que fez seu a p r e n d iz a d o a r t ís t ic o na A c a d e m ia de sé c u lo , já c ita d o s , que fo r a m de cu rta d u r a ç ã o e de
P in t u r a e E s c u lt u r a d e V e r o n a . E s s a f a s e d e n o m i n a r í a ­ p r o d u ç ã o li m i t a d a e c u j o u s o s e c i r c u n s c r e v e u a o E s t a d o
m o s d e “ I t a lia n a " , p q is a s e g u i r m u d a d e c a t e g o r i a c e ­ o u a p e n a s à r e g iã o d a C a p it a l.
r â m ic a e de dono, que a d o ta o f a b r ic o in d u s t r ia l d e A s s i m , d e m a n e ir a g e r a l, a l o u ç a v id r a d a p o r t u g u e ­
lo u ç a g r a n it o , im p o r t a n d o um a im p o r t a n t e e q u ip e de s a e s u a m e i a - f a i a n ç a p o p u la r “m e z z a - m a i ó l i c a " d o g ê ­
té c n ic o s a le m ã e s — fa se essa que c h a m a r ía m o s de nero R a tin h o , no e q u ip a m e n to d o m é s tic o , s itu a v a -s e
“ g e r m â n ic a " e da qual tr a ta r e m o s m a is a d ia n t e no e n t r e a c o p a e a s a l a d e j a n t a r , a l o u ç a v id r a d a b r a s ile i­
T ó p ic o F a i a n ç a F in a . 0«) ra m a n t i n h a - s e e n t r e a c o p a e a c o z i n h a , s a l v o as do
S o b r e a p r o d u ç ã o d e l o u ç a v id r a d a o u da m e ia - P a ra n á d o p e r ío d o d e F r a n c is c o B u s a to .
fa ia n ç a , em São P a u lo , se ja no p e r ío d o c o lo n ia l ou E s s a s l o u ç a s p o r t u g u e s a s p o p u la r e s , t a n t o d o R a ­
im p e r i a l, o u d o s p r im ó r d io s d a R e p ú b l i c a , h á q u e a s s i­ t i n h o c o m o o u t r a s , e m q u e s e in c lu i p a r t e d a p r o d u ç ã o
n a l a r a lg u n s o l e i r o s i s o l a d o s e a l g u m a s f á b r ic a s . a r t ís t ic a d e B o r d a llo P in h e i r o , v ie r a m a co n h ecer na
O M aço de P o p u la ç ã o da C a p it a l de 1S08 e s e g u n d a m e ta d e d o s é c u lo X I X , u m a v e r s a tilid a d e b e m
i 8 J 1 (3i), a p o n t a : “ J o s é M a n o e l C a r n e ir o , n a tu r a l d e m a io r d e m o tiv o s e d e c r ia t i v i d a d e d o q u e a fa ia n ç a
M i n a s q u e v i v e d e u m a fá b r ic a d e l o u ç a v id r a d a ” e e m v e r d a d e ir a fa b r ic a d a no m esm o p e r ío d o , a n o sso ver
1817 (la ta 3 5 ): “Jo sé A n tô n io B arb osa, n a tu r a l de m a is c a r e n t e d e o r i g i n a l i d a d e .
M in a s , 3 7 a n o s, c a s a d o , b r a n c o , g iv e de fa z e r lo is a s S u a r e p r e s e n ta ç ã o é e m g e r a l f ilo f o r m e , d e té c n ic a
v id r a d a s ” ( s í c ) . j m p e r f e i t a m a s d e s a b o r in g ê n u o e a tr a e n te , p a r te d e
C o m o c e n tr o s p r o d u to r e s, e n tr e o u tr o s h á q u e sc p r o d u ç ã o d e i n s p i r a ç ã o a u t ó c t o n e e p a r t e d e la in t e r p r e ­
d e sta c a r a c id a d e d e S o r o c a b a , c o m a s su a s fa m o sa s ta n d o co m v ig o r o m o d is m o a n g lo -fr a n c ê s o r ic n ta ü s ta .
“ lo u c e ir a s ” e São P a u to . N e s ta , o f a b r ic o de ío u ç a s P o r m a is e s t r a n h o q u e p a r e ç a , c o l e ç õ e s n o B r a s i l (D .
co n cen tra v a -se d e in íc io no B a ir r o de Á gua B ranca. A n i t a M a r q u e s d a C o s t a , M a r c o n d e s F e r r e ir a , G a s t o n
A p o n t a m - s c l á v á r io s f a b r i c a n t e s c o m o " F e r r e ir a & C ia . A d l e r , e n t r e o u t r a s d e S ã o P a u l o ) , r e v e la m u m a s u r p r e ­
—— A g u a B r a n c a ” , q u e f a b r i c a v a v a s i l h a m e s e " J o a q u im e n d e n te v a r ie d a d e d e m o tiv o s . N e s te s s ã o r e p r e s e n ta d o s
d e O liv e ir a — Á g u a B r a n c a * 1, q u e f a b r ic a v a m o r in g a s p a d r õ e s c l á s s i c o s r e p e t i d o s , d e c u n h o p o p u la r c f o l c l ó r i ­
o r n a m e n ta is e m fo r m a d e g a lin h a c o m v is t o s o s c o lo r id o s c o , c o m o d a s m a i s in e s p e r a d a s e s o b e r b a s i n t e r p r e t a ç õ e s
d e e s m a l t e e a in d a : “ A . F e r r e i r a I r m ã o s , Á g u a B r a n c a ” , d o o r i c n t a l is m o o u d o j a p o n i s m o e m voga n a segu n d a
que f a b r ic a v a p in h a s o r n a m e n t a is d e v i s t o s a a p r e s e n ­ m e ta d e d o s é c u lo , m o r m e n te d e L im o g e s , cu ja p r o d u ç ã o
ta ç ã o (C o le ç ã o Isa a c A le x C a ta p ). já im p r e g n a d a do r o m a n tis m o e do im p r e s s io n is m o ,
A i n d a n e s s e b a ir r o d e Á g u a B r a n c a , ir ia s e r in je ta ­ e str a v a sa ta m b ém na r e p resen ta çã o f lo r a l p ersa que
do o e n s a io d e p r o d u to s e m p o r c e la n a e em b is ç u it , p r e n u n c ia o A r t-N o u v e a u e deve te r i n f l u e n c i a d o os
c o m o o f a b r ic o r e g u la r d e lo u ç a d e p e d r a , p e l o p i o n e i r o c e r a m is ta s lu s o s .
R o m e u R a n z in i e u m g r u p o d e s e l e t o s c e r a m i s t a s , c o m A in d a c o m r e fe r ê n c ia a lo u ç a s im p o r ta d a s, h á q u e
a f u n d a ç ã o d a p r im e ir a f á b r ic a d o g é n e r o e m S ã o P a u l o , a s s i n a l a r u m a s é r ie g r a n d e d e s a n t o s o r i g i n á r i o s d e P o r ­
c h a m a d a S a n t a C a t a r in a . t u g a l e d e v a r i a d o s t a m a n h o s e c o r e s , a s s im c o m o , m a is
N e c e s s á r i o t o m a - s e r e f e r i r m o - n o s , a lé m da lo u ç a ra r a s a s im a g e n s fr a n c e s a s , p o r é m , e s ta s er a m e m p o r c e ­
n a c i o n a l t a m b é m à s l o u ç a s v id r a d a s e à s m e i a s - f a i a n ç a s la n a e m g er a l d e a c a b a m e n to d o u r a d o .

440
B I B L I O G R A F I A

(1 ) Saint-H ilaire — "Viagem à Provinda de São Paulo "


— pág. 218-
(2 ) Mahiá L uiza MarCÍLIO — " A cidade dc São Paulo1' —
Povoamento e População — 1750-1850 — pág. 130 —
S. Paulo, 1974.
(3 ) Saint -H ilaire. — '' Viagem pelas Províncias do R io de
Janeiro e Minas Gerais" — tomo I — pãg. 355 — tomo
11 — pág, 52. j
(4) SAINT-Ht la IRE “Viagem â Província de Santa Cata­
rina" — págs. 187/188.
(5) F rancisco Marques dos Santos — oh, çit., pág. 292.
(6 ) P ríncipe Maximü.iano de Wied N euwied — "Viagem
ao Brasil" — vol. I — pág. 35.
(7) F rancisco M arques pos S antos — ob, cit., pág, 290.
(8 ) B. C hica — "Viagem pelo Norte do Brasil" no ano de
1859 — vol. II — pág. 111.
(9 ) F. Biard — "Dois anos no Erasil" — Imprensa Nacional
— p ig . 368 — R io, 1945.
(10) Eul-ÍUA M aria L ahmeyer Lobo — “História do Rio de
Janeiro" — 2 vols, — IBMEC — pág. 69 — Rio, 1978.
(11) C. J. C osta Pereira — " A Cerâmica Popular da Bahia“
— pág. 28 — Salvador, 1957,
(12 ) O Espelho — Imprensa Nacional.
(13) A zevedo Marques — "Apontam entos Históricos".
(14) E uláI ia Maria L ahmeyer Lobo — oh. cit,, pág. 59,
(15) F rancisco Marques dos Santos — ob, cit., pág. 292,
(16 ) A ugusto de L ima 1ÜNiOK — "A Capitânia de Minas Ge­
rais" — Rio 2.» cd, — pág. 87,
(17) A ugusto de L ima Júnior — op. cit., pág. 299.
(18) Luís A. de Ouvrira — " Cerâmica Nacional" — Porto,
1920 — estampa 51.
(19) Exposição de Faianças Portuguesas de Farmácia —
Lisboa, 1972,
(20) The Genius o í China — cat, Exposição Chinesa — Royal
Academy London, 1973/74 — estampa 58.
(21) R, J. C harleston — World Ceramics —- London. 1957,
(22) Haydée N ascimento — "A Cerâmica Folclórica dc
A piahy" — conf. Museu da Casa Brasileira — 1974.
(23) lo s e Q ueirós — “Cerâmica Portuguesa" — gr. 155-A —
Lisboa, 1948. i
(24 ) A. C. da Costa Pereira —. op. cit., pág. 57.
(25) I. P. X avier da V eiga — "EJemérides Mineiras" — Vol. II.
(26) J ohn Morgan — op. cit.
(27 ) Saint-H ilaire — op. cit,
(2S) A ugusto de L ima J únior — op. cit., págs, 299/300,
(29) M anuel Bandeira — "Guide d'Ouro Preto " Imprensa
N a tio n a l —- pág. 35 — Rio, 1948,
(30 ) Arquivo imperial, maço 142 a.0 5.988, citado por Mar­
ques dos Santos.
(31) A ugusto de L ima Jk. — ob. cit.
(32) M anuel Bandeira — op. cit.
(33 ) E. F. Brancante — “Achegas sobre a Cerâmica do
século X IX no Brasil’’ — Louça Mineira in Rev. Pauiis-
tãnía ii.° 79 —- pág. 66 —• S. Paulo,
(34 ) N ewton C arneiro — “A Fábrica Colombo e a Cerâ­
mica Artística no Brasil" — editor BADEP — março
1979 — Curitiba c “Os italianos no Parana’’ — Catá­
logo de Exposição de 6 de março no BADEP.
(35 ) Arquivo do Estado — lata 34, lata 35,
(36) F rancisco Marques dos Santos — ob. cit., pág. 289,

441
LO U Ç A V ID R A D A
[São Paulo)

442
Sécs. X I X / X X LOUÇA ESMALTADA PORTUGUESA
(Ornamental)

376

H enna de Dom Pedro IV , Duque de Bragança, fardado, Tendo


no busto uma banda dc Ordem honorífica, no peito um
"crachá” e o Toisão dc Ouro pendente. N o soco redondo,
vêetít-st as armas de Portugal com ramagens e em baixo, na hase
retangular as palavras "D om Pedro IV ”, na frente e do lado
"Santo António do Porto”, cm azul.
Peça rara: existe outro exemplar no pâíio do Museu fíistôdco
Nacional do Rio de Janeiro.
Coleção do Autor.

377

Busto do almirante D om Vasco da Gama, portando traje da


época e no peito a Cruz de Cristo * o símbolo padroeiro dos
Descobrimentos —- na cabeça gorro gomil ado. E na base em
azul, os dizeres " Vasco da Gam a " e do lado direito a palavra
Devezus e do outro Porto. Esta fábrica dedicou-se mais do
que as outras à confecção de estátuas e bustos, representando
personagens ilustres (Vide em outro local Catálogo da Fábrica
de Dcvezas — 1910).
Cortesia de San tina Leite D*Apriíe.

443
Séc. X IX LOUÇA VIDRADA

37 S

Pinha nacional proveniente do N ono com uma passadeira letrgn


composta de ramos de café. Fazenda Campos Eiíseos —
Vassouras ~ Cortesia de Míriam Cintra Gordinho.

Talha em esmalte marrom das m uito usadas no período impe


riat, ostentando ao centro o brasão imperial com manto, Tanlo
Sla. Catarina como a Bahia exportaram essas talhas no século
X í 7/j' e começo do X IX . para o R io e outras provindas, pois e
produção na Corte era insuficiente; é o que se pode deduzir
pelas pautas da Âljândcecí no porto do R io de Janeiro.
Coleção de lean Lotus Pilem.

444
LOUÇAS M IN EIRA S

380

em -
zona

445
LO U ÇA S B R A SIL E IR A S
{São Fautô e Minas)

381

A s duas galinhas (garrafas) são de fabrico do bairro da Agua


B r anta {S* Paulo) assim como o bule é a floreira de alças
de D iãrrnmtMa-Serra, a caneca com flores de Barbaccna e a
caneca com tampa de Saram enha.

446
Séc. XIX LOUÇA MINEIRA
(Louça-vidrada e meia-faiança)

3S2

Vemos ao aha duas peças de formato tubiform e; ã esquerda é uma jarra de segredo e â direita ê um candelabro ou floreira que orna
altares. Os víucm do centro com flores são peças tipicamente do fabrico d e Barbacenn. A s irês sâtí da Coleção do Sr. Paulo de
Vúsconcellos. O ttipode glohulado de baixo é da. regido dc Sete Lagoas (coleção Br, Wãlter Dias da Silva). O pichei em baixo â
esquerda é de fabrico goiano e a galinha ã direita é proveniente dc Minas. Coleção de Paulo Vusconcellos. O pole do centro com
folhas e frutos poiicromados é tipico de Barbacena. Coleção de Roberto Paranhos do Rio Branco.

447
Sèc. X I X LOUÇA MINEIRA
{Meia-faiança, e Louça-Vidrada)

O prato de cima i de barbeiro e foi adqui­


rido no leilão do espólio de Simpens da
Silva com anotação de ter sido fabricado
em Sarameniia; esta peça fo i adquirida
pelo Sr, João Mcss, que a cedeu a Paulo
Vasconcellos que por sua vez a ofertou ao
Museu da Inconfidência (Ouro Preto},
exemplo de jtm tipo de louça engobada do
tipo " mezza-maiòlica”, ou meia-faiança,
O pote com efígie é proveniente de Catas
A lias e o trípode de Sarameniia, A caneca
com folhagem é de Barbacena e foi iden­
tificada pela Conservadora do M useu Na­
cional de Sèvres (Mine Á ntoinette Fay-
-Halié) conto senão ioitça vidrada {pote-
rie vernissée). O pote claro em baixo é de
Saramenha e a floreira com alça í atri­
buída ã região de Diamantina-Serro.
Coleções Paulo VasconccUos, Walter Dias
da Silva, Maurício M ei relics.
LOUÇA MINEIRA
{Meia-faiança c Louça-Vidrada}

384

Os três pratos de cirna: o da esquerda, barra verde, foi adquirido


no litoral; os dois outros de fundo esbranquiçado, sobretudo o
da direita, de inspiração portuguesa, devem ser provenientes
de Caeté e engobados. Coleção Paulo Vasconcellos. A floreira
da esquerda, o albareUo do centre e o pote. com rosetas apli­
cadas são da região Diamantina-Serro. A farinheira embaixo
de fundo amarelado é típica de Saramenha e na técnica de
meia-faiança.

449
Séc, X I X LO U Ç A M ÍN E IR A
(Meia-faiança e louça-vidrada)

385

386

A talha de cima {com detalhe ao lado) é palicromada (fundo engobado) com aplicações de folhagens, cruz e a coroa impe­
rial com ramos de café e fumo.’ è originária de Car ré. Coleção M artas. Carneiro de M endonça. O bule ao lado é verde espon-
lado. e de ,a b rko paulista r está marcado Cerâmica Sia. Cruz. Piracicaba — A ntônio ff. Souza. A tigela acima é peça mol­
dada marcada Ferrara <£ Cia. — Água Branca — S. Paulo.
CoIccao María Elisa Pereira Bueno c Paulo Vasconcellos (S. Paulo).

450
LOUÇA ESMALTADA PORTUGUESA
Fábrica de Devazas
(Pane de catálogo de 1910)

451
Fábrica de Devezas
(Catálogo d e 1910, continuação)

Observe-se a enorme diversidade de artigos fabricados por


Devezas, desde o utilitário, o de adorno e. o sanitário: com
atenção, podem-se encontrar diversos artefato,! dos que foram e
ainda continuam sendo de uso no Brasil, como estatueras.
Isoes, cachorros, quimeras, vasos de diferentes formas, esta­
tuetas pequenas e de grande porte, bustos de personalidades,
etc.

452
Sêc. X IX TELHAS ESMALTADAS PORTUGUESAS

Estas telhas eram de muito uso no Brasil, em geral na par Se


de baixo, dos beirais das mansões coloniais e m esm o no período
republicano do fim do X IX e começo deste século. São d a s de
fundo azul ou de fundo branco com ramagens e flores e as pon­
tas em relevo. Provém cias do solar demolido em Petropolis da
Família Santos Dm nont (avós do Pai da Áviaçõoj, segundo
informação da colecionadora a quem devemos a cortesia das
fotografias, D P Nícia de Camargo (S. Paulo).
LOUÇA PARANAENSE
(Faiança, mcia-faiança e louça-vidrada)
(Francisco Busaío — Colom bo — Paraná)

390

FB
d o b o -rr^b v

'P d '7 - c r n cx

Marcas usadas por Francisco Busato de 189? 3 1901.

Estas peças são de fabrico de F. Busato e decoradas por João


Ortalani e figuraram no salão de Exposições do BADESF, etn
6 de março de 1979 " O s italianos no Paraná". Observe-se a
delicada decoração floral das peças de fundo claro c a cximhi
modelagem dos potes de fundo marrom com folhas e flores
relevadas policromadas. no gênero An-NouVeau de Bordatio
Pinheiro. A pequena travessa retangular. não é do mesmo
período, nem do u u t s m ú material (louça granito e decalcomania). ■
Cortesia de Cyritlo Ortolani e Òldemar Blasi.

454
Séc, X I X LOUÇA POPULAR PORTUGUESA
(M e z z a -M a ió lic a )

Essas peças ora exibidas do gênero conhecido por “Ratinho",


têm todas elas a infíaêiteia do modism o orientalhta d o final
do século XI X, liderado por Limoges nu louça de mesa.
Coleção Anita Marques da Costa,
Séc. X IX LOUÇAS PORTUGUESAS

392

A s imagens de cima, polieromadas têm várias invocações e


fazem parle de um mostruário m uito maior. Todas, com exce­
ção da primeira imagem, com base barroca, as outras trazem
a invocação rta frente (Virgem Imaculada, N. Srtj. Piedade
( P i e t á S a n t o A ntônio, Sta. A na) e no verso portam um núm e­
ro que acreditamos seja numeração de comércio para facilitar
as encomendas para Portugal, Coleção Autor.
Embaixo, duas faces de um pote da fábrica de Caldas da
Rainha, de Bordallo Pinheiro , cm que sobressai o colorido e a
modelagem fiioform e. Coleção Newton Carneiro (Paraná),

456
V - A ZU LEJO S

o s e t o r d a f a b r i c a ç ã o d c a z u le ­ a S ã o L u ís c e r c a d e c e n t o e s e t e m il, q u a tr o c e n ta s c
j o s p in t a d o s e v id r a d o s , o B r a s il duas peças e p o s te r io r m e n te v ie r a m ta m b é m a z u le j o s
n esse s é c u lo não se a p r e se n ta d a F r a n ç a , d a B é lg ic a e d a A l e m a n h a " ’.
a in d a c o m o c e n t r o p r o d u t o r . É A p e sa r d a a ç ã o d o tem p o e da d e p r e d a ç ã o c o n s ­
c o n s i g n a d o s e u f a b r ic o e m 1861 ta n te dos v â n d a lo s , há c id a d e s que a in d a podem
e 1 8 6 6 n a P r o v í n c ia d o R i o d e o f e r e c e r a v i s ã o r a r a n u m m e s m o q u a r t e ir ã o , d e v á r ia s
J a n e ir o . E m 1 8 6 1 , na I E x p o s i­ f a c h a d a s r e v e s t id a s d e a z u le j o s .
ç ã o N a c i o n a l , h á r e f e r ê n c ia s a a z u le j o s p r o d u z id o s e m M o rm cn te em S a lv a d o r , e m S ã o L u ís , e m A l c â n ­
N i t e r ó i , p o r P e d r o A n t ô n i o S ü r v í l l o & C i a ., d e b o a t a r a e e m B e l é m , s o b r e v i v e m in t a c t o s i m p o n e n t e s e
q u a lid a d e , e n a II E x p o s iç ã o d e 1 8 6 6 , e n c o n tr a m -se p r e c i o s o s c o n j u n t o s q u e a in d a a n im a m d c c o r e s e
c i t a ç õ e s d e o u t r o s f a b r ic a n t e s , J o s é B o t e l h o d e A r a ú j o a le g r a m d e e n c a n t o v i c i a s t r is t o n h a s e r u a s p a r d a c e n t a s .
e R o u g c o t-A in é , c o m m a te r ia l s e m e l h a n t e , t a m b é m d a Q u a is a s n a ç õ e s q u e c o l a b o r a r a m no a fo r m o s e a -
P r o v ín c ia d o R i o d e J a n e ir o . n te n to d o c a s a r io b r a s ile ir o tra n sfo rm a n d o cm a le g r e
P orém i g n o r a - s e a e x i s t ê n c i a d e u m o u d e a lg u n s c s o r r id e n t e a fis io n o m ia sjisu d a e m o n ó to n a de um
d e s s e s e x e m p l a r e s p i o n e ir o s d a in d ú s t r ia n a c i o n a l ; n e m q u a r t e ir ã o ? F o r a P o r t u g a l , p o d e m o s a r r o la r p o r o r d e m
e x is t e m o u t r a s r e f e r ê n c ia s d e q u e e le s t e n h a m a s s u m id o de v o lu m e , a F rança, a I n g la t e r r a , a A le m a n h a , a
u m p a p e l d e d e s t a q u e n o a b a s t e c i m e n t o d a C o r t e , e n tr e E sp an h a, o L uxem burgo e a B é lg i c a , is s o de fo rm a
o s c o n g e n e r e s e u r o p e u s ; a s s im , t e m o s d e a c r e d it a r q u e g e r a l, a t é a L a G u e r r a M u n d ia l.
a q u e la s d u a s f á b r ic a s p i o n e i r a s s e d e d ic a r a m ap enas a Q u a n to às f á b r ic a s do s é c u lo X IX , há que se
u m a p r o d u ç ã o d e e n s a i o , s e m c o n t in u id a d e c r e p e r c u s s ã o d e sta c a r a d o R a to (L isb o a ) que p r o d u z iu a t é 1836,
m a io r n o m e r c a d o lo c a l. quando en cerra a t r a j e t ó r ia lu m in o s a que tra ço u no
E m c o n t r a p a r t id a , n u m e r o s o s f a t o r e s v ã o c o n c o r ­ c a m p o d a fa ia n ç a , ta n to n o a d o r n o , c o m o n o v a s ilh a m e ,
r e r p a r a a p le t o r a e a v a r i e d a d e d e a z u le j o s e s t r a n g e ir o s n a e s t a t u á r ia e n a a z u le j a r ia . S e g u e t n - s e a de Juncai
esp a rra m a d o s p e lo B r a s il, C om o v im o s , no s é c u lo que, d esd e 1775, v in h a se d e d ic a n d o m a is a te m a s
a n t e r io r h a v i a s i d o i n i c i a d o o s e u e m p r e g o e m f a c h a d a s sa cro s, a d e S a ca v ém , a d e M a ssa rcü o s (P o r to ), que
d e c a s a s e a m p lia d o o se u u so à s d e p e n d ê n c ia s m e n o s t a m b é m p r o d u z iu a z u l e j o s r e l e v a d o s , a d o C a r v a l i n h o ,
n o b r e s d a r e s id ê n c ia . N e s t e s é c u l o , a t in g e o a p o g e u o d e b e lo s e s m a lte s ( c o m F .C . n o v e r s o ) e a in d a p e lo s
m o d is m o d e su a a p lic a ç ã o e x te r n a e ta m b ém in te r n a . m eados do s é c u lo a f á b r ic a de A v e ir o , cu jo s b e lo s
O u t r o f a t o r q u e s e a p r e s e n t a é a s i t u a ç ã o c r ia d a p e la e x e m p la r e s p o lic r o m a d o s , o u e m m a r r o m , a m a r e lo , d e
a b e r tu r a d o s p o r to s p e lo V is c o n d e d e C a y n i, e m 2 5 d c b e lo v id r a d o , p u d e r a m s e r a p r e c ia d o s n a E x p o s iç ã o d a
j a n e ir o dc 1808, o que v e io p r o p ic ia r a e n tra d a de F u n d a ç ã o Á lv a r e s P e n te a d o , d e 1 5 d c ju n h o d e 1 9 7 3 ,
a r t ig o s c u j o m o n o p ó l i o d c f o r n e c i m e n t o c d is t r ib u iç ã o , p a t r o c in a d a p e l o M u seu d e A r te A n t ig a e M u seu de
e r a a p a n á g i o d a M e t r ó p o l e . A s e g u ir , a p r ó p r ia I n d e ­ A z u le jo s d e L is b o a . A r r o la m -s e a in d a a s f á b r ic a s d e
p e n d ê n c i a N a c i o n a l , q u a t o r z e a n o s a p ó s ir ia m a n te r S a n to A n tô n io da P ie d a d e (P o rto ), a de D evezas
liv r e o r e s t o d o s é c u l o X I X , p a r a a im p o r t a ç ã o in te r ­ ( 1 8 6 5 ) , e m G a i a , a d e B o r d a ü o P in h e ir o ( 1 8 8 4 ) , em
n a c io n a l e a c o n c o r r ê n c i a a b e r t a e n t r e o s f o r n e c e d o r e s . C a ld a s d a R a in h a , e a in d a a te liê s a v u ls o s , e n tr e e le s o s
O u t r o p o n t o f a v o r á v e l à e n x u r r a d a d c f o r n e c im e n t o da V ila V e lh a dc G a ia , c ita d o s por Udo K n o ff
p or o u tr o s p a ís e s é a p r ó p r ia r o b u stez da e c o n o m ia que se e s p e c ia liz a v a m em a lt o r e le v o , branco ou
n a c i o n a l . É q u e n o f im d o s é c u l o X V I I I c n o c o m e ç o p o lic r o m a d o .
do X IX , o a lg o d ã o , o ta b a c o e o u tr o s p r o d u to s d o O h i s t ó r i c o d a m a io r ia d e s s a s f á b r ic a s é r e l a t a d o
N o r t e c m a is p a r a o f im d o s é c u l o o d e s e n v o l v i m e n t o n o l . ° c a p í t u l o : A z u l e j o s P o r t u g a l.
p r o v o c a d o p e la b o r r a c h a , v ie r a m a c o n t r ib u ir p a r a q u e D e f o r m a g e r a l , o s a lis a r e s e p a in é is d a s p r im e ir a s
as c i d a d e s d o N o r t e , N o r d e s t e e C e n t r o p u d e s s e m a p r e ­ d é c a d a s d o s é c u lo X I X , e x ib e m as v ersõ es p o ü cro m a -
s e n t a r n u m e r o s o s e b e l o s r e v e s t im e n t o s m u r a is ; e n a s das do n e o -c lá s s ic o p o rtu g u ês. E os a z u le j o s a v u ls o s
p r o v ín c ia s d o S u d este, so b r e i u d o na de São P a d o e d i v e r s if i c a m su a p a d r o n a g e r o , in d e p e n d e n te do e s tilo ,
R io de J a n e ir o , onde o ca fé já d in a m iz a v a r iq u e z a , p o r é m t o d o s e l e s m a n t e n d o u m e l e v a d o c u n h o a r t ís t ic o
o c o r r e o m e s m o fe n ô m e n o . A s s im d e N o rte a S d do e d e c r ia tiv id a d e , t o d o s e l e s a i n d a a d s t r it o s à t é c n i c a
p a ís , o a z u l e j o a v u l s o i n v a d e a s c i d a d e s l it o r â n e a s c o m o a r t e s a n a ! o u s e m i - a r t e s a n a l d a m a j ó lic a .
R io e S a n to s e cobre p a r te de casas s e n h o r ia is do Na seg u n d a m e ta d e do s é c u lo , q u a n d o P o r tu g a l
in t e r io r f l u m i n e n s e , p a u l i s t a , b a i a n o c n o r d e s t i n o . N e s s a reto m a em m a i o r e s c a l a à p r o d u ç ã o r e g u la r a z u le j a r ,
s é r i e d e s t a c a - s e a B a h i a , q u e r e p r e s e n t a o m a io r r e p o ­ h á q u e o b s e r v a r a f r a n c a p r e d o m in â n c ia d a p r o d u ç ã o
s itó r io c o lo n ia l, s e g u id a d o M a r a n h ã o — seg u n d o D o ­ d e a z u le jo s d e c a m p o ilim ita d o o u se ja a d o s a v u ls o s ,
m in g o s V i e i r a F ilh o l!): “A a z u le j a r ia do M aranhão, s o b r e o s d e c a m p o li m i t a d o o u s e ja a dos a lis a r e s e
c o m e ç o u n o s é c u lo X V I I I , q u a n d o em 1 7 9 8 , ch egaram d o s p a in é is .

(segue fia pâg. 483i 457


Sécs. X IX /X X AZULEJOS PORTUGUESES
Art Nouveau
Art-Déco
394

395

Ruphaeí Bordado Pinheiro trouxe á cerâmica, teste­


munhos do seu talento criador corno prova este ozti-
lejo rle espirito “arte nova” , concebido [tara a decora­
ção de uma padaria. Fábrica de Faianças das Cohlus
da Hatnha (I884-19ÕS).
Coleção particular.
Haphael Saltitas Catado, “In Evolução do Azulejo em
Portugal do século XV ao X X .”
Exp. Brasil — Maio 197S.
Exposição Fundação Armando A lvares Penteado
Maio 197S. São Paulo

•-( composição de azulejos relevados de expres­


são “art-deco“ proveniente de utn pavilhão no
parque das Caldas da Rainha, da autoria de
Manuel Gustavo Burdallo Pinheiro. Fábrica de
Faianças Artísticas Borda lio Pinheiro (190?-
1922).
Propriedade do Museu José Malhoa. das Caldas
da Rainha.
(Raphae! Salinas Catado),
Exposição Fundação Armando Alvares Pen*
teoílo, Maio 1978. S. Paulo
AZULEJOS RELEVA DO S PORTU GU ESES

396

Relevo em branco, fundos em azul e amarelo.


Arquivo do Autor

459
A Z U L E JO S PO RTU G U ESES
(e h o la n d e s e s )

397

Este azulejo representa variações de um tema antigo sobre rosai divididas por desenho
•diagonal. Este motivo esteve “na moda por mais de duzentos anos", sendo encontradas pedras
primorosttmente executadas a mão e “até peças imprimidas com lotia incúria".
Segundo consta, esses azulejos chegaram de Portugal em 1710 e. depois da Abertura dos
Portos, ern ÍS08. vieram cti ter turribêni da Holanda. De se observar que pela ultima d é c a d a
do século, foram fabricadas ern Niterói imitapees com 'variações sobre aqueles originais
não tendo no entanto sequência o fabrico,
<Udo Knoff — Azulrjaria na Bahia — - Salvador — 1978 — pág. 32),
a z u l e jo s po rtu gu eses
(e holandeses)

398

Este tipo dc azulejo é reportado aos idos de 1680, como sendo fabricado tanto pelos holandeses
como pelos portugueses. Ê conhecido entre os c eram ágrafos como "bicho c estrela" ou "co-
brmhu". Foi encontrado num oratório público na área do Pelourinho, mandado construir em
1743 c foi depois reproduzido em pequenas variantes. (No Norte encontramos com a mesma
decoração ^c o desenho em amarelo!. Difícil de se focalizarem os períodos das peças encontradas
pots o Palácio do Conde dos Arcos (Salvador) construído em 1817 é também revestido com tais
pedras,
{Udo Knoff in ‘‘Azulejos do Pelourinho” — Fundação do Patrimônio Artístico-Cultural da Bahia).
Séc, X I X A Z U L E JA R IA D IVERSA
Portuguesa no Brasil

(Va pane de ciam, unia slrie de cercadura* de azulejos com motivos- jlorais, mais de caráter clássico. Cortesia do Dr. Carlos Eugênio
Marcondes de Moura (em empréstimo no At use u d a Casa Brasileira). Ao ceiilro e embaixo, vários modelos com diversos cores dos
famosos azulejos i elevados de muito agrado no lisosil, sobretudo no Norte. Esses azulejos eram de regra fabricados no Norte de
Portugal, Ita região do Porto, e em particular na Vila Velha de Gaya, As pedras do centro e de baixo, são da coleção do Autor,

462
AZULEJOS PORTUGUESES NO BRASIL
Divçrsas épocas

400

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(Os azulejos desta página são todos da mesma dimensão, ou seja de Í4 cm x 14 cnt, e não correspondem ao tamanho das fofos),
Ã. pedra ao alto em azul c branco é multo importante, pois provém aa Igreja de Itanhaém que foi quem recebeu os primeiros crem •
piares na Capitania de São Vicente (ramagens). A da direita c um azulejo de uma igreja de Mogi das Cruzes, demolida* século
XVUI, O azulejo com cora de anjo é do século XVIIIt provavelmente do Rafo. O quadro da direita com aves c animais com estre­
linhas nos cantos, è composto dc pedras do século X IX (azul esmaecido). Q azulejo na Unha do centro, à esquerda, azul e branco
ê de muita importância, pois foi o motivo mais vulgarizado no período colonial e o que mais perdurou nas fachadas brasileiras, duzen­
tos anos (como jd foi dito linhas atrás) e transuda sabor chinês na com posição, pois as flores mais lembram papoulas ou pc tinias de
sua porcelana, O azulejo da direita é du coleção de D,11 Ambrozina Maia Sampaio (Pará) e é conhecido por “Sargento'*. Segundo
(Jdo Knoff, figs. I, 2, 3, 4 e 5, as pedras com pétalas nos cantos, teriam começado a aparecer no Brasil çm I73S (in “Azulejos
na Bahia*'* no preto, 1978, pàg, 56), A rosa à esquerda com pétalas nos cantos, i um exemplo da época, 0 azulejo de campo azul
com csicrr.pdiiagem dourada fôrma conjuntos harmoniosos de fachadas. O azulejo policromado da direita com fortes esmaltes ê pro­
veniente dc demolição em Belém c da fabrica àe “Carvalinho*1 (tem marcado no verso F, C J , Coleção do Autor,

463
A Z U L E JA R IA HO LA N D ESA E A L EM Ã
de diversos períodos

401

Os azulejos de cima são holandeses e constituem aiguns


exemplos entre centenas de outros protótipos fabricados,
sobretudo em Delft. O azulejo à esquerda é um desses dos
mais conhecidos e apreciados, copiados do í japoneses (Inutrij
que por sua vez, copiaram dos chineses (símbolo Taoísta). Os
quatro azulejos da direita mostram a virtuosidade dos ceramistas
flamengos, na escolha de cores, perfeição dc desenho e enqua­
dramento do motivo centra! em reservas diferentes (algumas
delas chamadas de espelho). O azulejo azul em baixo, a es­
querda, r uma cercadura de arremate; foi encontrado em São
Paulo, ê alemão (moderno) e tem marcado tto verso " Boizen-
bttrg Cerniany” (coleção Nelson Guimarães).
Os azulejos de baixo, em verde, são provenientes da Bahia
em declarado estilo Art-Nouveait e estão marcados apenas
“Boizenh;irgf*. Coleção do Autor,

464
Séc. X IX AZULE J ARIA FRANCESA
d e d ir e ra a s f á b ric a s

402

A participação francesa no-revestimento das fachadas s interiores ao Brdsil, foi


grande, sobretudo-na segunda metade da século XIX. O estudo desses azulejos
— muitos deles conhecidos por “pontilhados" foi feito por Vicente Nadai Mora
— ‘dil Azulejo en e! d lo de la Plaid11, Univ. de Buenos Aires, que estudou
a fundo não so a padronagem, como o colorido e a procedência de fabrico.
Damos aqui apenas um pequeno mostruário, cujas medidas são em geral I I
cm x II cm e não correspondem à fotografia. Neste mostruário de padronagem
c gêneros diversos, acham-se representadas as seguintes fábricas:

Taupti! Pochon
Levei Minei
Boulanger (Marseille)
Sarreguemines
Blin br c e s
Blin Père c / Fils
Longwy
Choisy Le Roy (Hippolite Boulanger)
Fourmainiraux (Família)
Fábricas de Villeroy S: Bach

Obs.: As fotografias variam de tamanho. Os azulejos estampados são th 1!


cm x 1! cm e 14 cm x 14 cm ,
O azulejo com uma casa {de II cm x 11 cm) do primeiro quadro à esquerda,
também é tido como holandês. Coleções diversas, inclusive de Nelson Gui­
marães, Plínio úe Mendonça, Nicia Camargo e do Autor.

465
A Z U L E JA R IA NO BRASIL
Frisos, cercaduras, tarjas e azuiejos
Art-Nouveau c Art-Deco

403

w
-------------— I
» I —

Peças cerâmicas de diversas procedências e diversas fábricas


encontradas em vários locais do Brasil e que revelam a enorme
diversidade de motivos com que aqueles estilos enriqueceram
a arte azulejistica. Cortesia do Dr. Carlos Eugênio Marcondes
de Moura, S. Paula fern empréstimo no Museu da Casa Brasi­
leira).
Obsq O iriso ao alto, ao centro, em tons verdes e marrons t
do fabrico de BordaHo Pinheiro, de Caldas e representa urr.
gafanhoto. Coleção do Autor. '

466
Sees. XI X/ XX A Z U L E JA R IA DIVERSA
(Procedência o estilo)

404

Os St ô azulejos tom figuração da floras, foram de demolição da cidade de Santos ç estão marcados “Bcfgigue O azulejo da
direita ê proveniente de Belém e está marcado Socavem, de puro estilo fíotúL Idetn o azulejo da esquerda com decoração fito-
forme, sem marca. O azulejo branco, moldado, é de fabrico de ViUeroy-Boch. O friso duplo cm azul C amarelo c de fabrico portu­
guês r representa utn cordame e estaria ligado a resquícios da influência manuelina. (Cortesia Cicia Camargo __ S. Paulo), 0
azulejo de bai.ro cm azut f branco à esquerda é proveniente do Rio de Janeiro, ele dimensões de 20 cm x 20 em, estilo Art-Nauveau.
sem marea, (Cortesia Ur. Rogério Nogueira da Silva Rego — S. Paulo). O azulejo cm baixo ao centro, potieromado, com flores é
th demolição em Santos, mede 20 cm x 20 cm, sem marca (Coleção Paulo Rogério — S. Paulo), O azulejo da direita com um
leão dentro do um círculo, é de fabrico de Vilhroy-Boch, encontrado cm São Paulo.

467
Sécs. XI X/ XX AZULEJARIA DIVERSA
(Art-Nouveaü)

405

Os azulejos estampados são todos da medida de 14 cm x 14 cm


com exceção da peça do centro de forma retangular que mede
8 cm x 16 cm — são rodos eles provenientes de demolições no
Rio de Janeiro. O de cima representa dois hibiscos de cores
marrom-amarelado com dois botões £ folhagem verde, marcado
no verso H, de fabrico belga. O azulejo à esquerda com ume
grinalda de papoulas e&i amarelo, fundo verde claro, está mar­
cado England, ou seja: pedra do século X IX . O azulejo retan­
gular dn centro com um pote de flores não porta marca. O
azulejo da direita, fundo branco e toques de rosa e verde, tam­
bém não tem marca. Os dois azulejos de baixo de fundo azul e
flores brancas aquáticas têm a marca Kl H. e o rt° 444-A .
Cortesia de ANTIQUA DECOR — RIO.

468
Sees. X IX /X X AZULEJARIA DIVERSA
40ó

O s dois azulejos dc cima policromados em Art-Nouveau medem 21 cm x 21 cm e portam a marca HParis — /.Ç .
Givet”, e fazem parte da coleção de Ambrozina Maia Sampaio, Belém, Pará, Ás duas pedras do meio também são
Art-Noiiveau (20 cm x 20 cm), assim, como o azulejo de baixo do centro ern tons esverdeados, são eles de demoli­
ções no Rio de Janeiro e o esverdeado foi dc urna casa de Carlos de Lacerda, ex-governador do Estado da Guana­
bara, Os dois frisos de baixo foram do antigo Mercado Municipal do Rio, jà demolido c note-se que um deles
estampa a face de um porco e o outro a dc um carneiro.
Cortesia dc Paulo Afonso Carvalho Machado — ■ Rio dc Janeiro,

469
Sécs. XIX/XX PLACAS DE AZULEJOS E TERRACOTA
(de indicação)
407

408

409 410

Ao alio monobloco em terracota esculpido com a indicação de logradouro


público em Ouro Preto, Ao centro, enquadrada em moldura de alvenaria,
um jogo de seis azulejos entre desenho linear azul, contendo o nome de
um Largo em São Litis do Maranhão. Em baixo, parte de um álbum com
os modelos de placas cerâmicas para uso em casas comerciais, havendo-as
para anúncios, para nomes de mas, de profissão, de ofícios, etc. Em Paris
ç outras cidades francesas, ainda e comum encontrarem-se dessas peças que
tiveram seu auge de uso no período do Art-Nouvcau e Deco foram f abei­
rada t não ró em Scrrcguemtnes CO,no por outras fábricas. À direita, phea
ceramica com numeração domiciliar, exemplar proveniente de Salvador de
fabricação francesa. (Fourmaintraux — Pas de Calais)

470
AZULEJOS — LADRILHOS
Portugal
D e v e z a s — P o r to

411

FABRICA CERAMICA B DE FUNDIÇÃO DAS DEVEZAS


COM
S U C C U R S A L N A P A M PJL H O SA
m
ANTONIO ADMEEDA DA COSTA & CA
DEPOSITO E 0FF1C1NA OE MARMORE
169, RUA QO LARANJAL, 175— PORTO

N . B. P á r a u m m e l r o q u a d r a d o s ã o p r e c i s o s 51 a i u l o j o s o u la d r i lh o s

PREÇOS POR MILHEIRO

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Obso Caiâlogo do começo do século X X, da Fábrica de


Devczas, cortesia do Dr. José Comes F erreira.
A Z U LEJO S — LA D RILH O S
P o rtu g a l
Devczas

412

Obs.: Página catálogo do começo do século X X, da Fábrica de


Deveras. Cortesia do Dr. Josi Gomes Ferreira.
AZULEJOS — LADRILHOS
Portugal
Devczas

4 1 3

Obs,: Página catálogo do começo ào século X X, da Fábrica


de Devezas, Cortesia do Dr. José Gomes Ferreira.

473
Sêc. X IX A Z U L E I A R IA N O B R A SIL
( F a c h a d a s c o m p o s ta s co m a z u le jo s a v u ls o s )

414

Fachada de cam em São Luís do Maranhão revestida de azu­


lejos avulsos formando desenhos geométricos com o cruza­
mento dc Unhai formadas com folhas d d cores diferentes.
Procedência portuguesa,
roto; Bento Pereira Bueno

415

Siihar de azulejos estaníferos poUcrotnaâos, no gênero" da fa­


chada de cima. Desenhos formados cm .Unhas diagonais cruza­
das com motivos fitoformes. Procedência portuguesa. Belém
do Pará.
Foto ; Bento Pereira Bueno

474
A Z U L E IA R IA N O BRASIL
T e m a s flo ra is e g e o m é tric o s

Levantamento feito de ditas fachadas, em Belém do Pará, em


que se evidencia tone harmoniosa combinação de arranjos
florais e decoração geométrica.
Arquivo do Autor.

475
Séc. X IX AZULEJOS

U m a das raríssimas demonstrações de aplicação


parietal externa de azulejos, na amiga Vila Rica (Ouro
Preto), Encontram-se ainda em bom estado no Gi­
násio Municipal, rua Felipe dos Santas. 16B —
Ouro Preto, paredes recobertas de azulejos azul e
branco “estampilhados" e têm frisos e painéis nr,
amarelo e azul. O casarão exibe ainda uma bela
série de pinhas e estatuetas portuguesas.

476
Séc. X X AZULEJOS
R evestim enlos — Manaus

A casa situada na Praça Tenreiro Aranha, esquina da rua


Teodureío Santo, (com detalhe abaixo ), em Manaus, é azulcia­
da de fundo verde (clássico/ com lindas barras compostas de
. três azulejos com delicada decoração floral — está datada de
1913,. Azulejaria Inglesa,
A fachada de baixo é de um restaurante em outra rua de
Manaus, fundo verde e movimentados e belos desenhos
lineares ao sabor ainda do Art-Nouveau, azulejaria presumivel­
mente francesa.

477
Sees. X V II!/X IX AZULEJOS PORTUGUESES
T e m a s flo ra is

Os azulejos tla fachada de cima â esquerda, são de inspiração holandesa cm azul e branco com subtons de azul.
Os da direita apresentam marcodamenie o estilo corrente do século X VIII, no delineamento em volta do motivo
central, polictornado azul, branco e anrnrcb. Tarja azul.
A cercadura dos azulejos de baixo à esquerda upresenta um belo eleito decorativo lembrando urna espiral em azul
e hrsnco. O centro apresenta rosetas grandes como motivo principal. Todas essas fachadas são de casas da cidade
de São Luís. O painel da direita obedece ã influência mourisca do gênero conhecido por Tapete, com um motivo
clássico que compõe o centro da decoração conhecido por “massaroccF ou “pinha". De fundo azul e subtons de
azul e a decoração dourada, de beto efeito. Arquivo do Autor.

478
Séc. X I X AZULEJOS PORTUGUESES

Variações sobre lemas florais, com movimentos lineares -—- fachadas de Salvador — Bahia.
Fotos: Bento Pereira Bueno
479
a z u l e ja r ia no b r a s il
F a c h a d a s v a ria d a s — S a lv a d o r
421

D í*m « quatro painéis dois são em azul e branco,


um monocromo (co/ri sul’tons de verde) e outro
policromado: azul, amarelo e branco. De notar-se de
importante os azulejos ao alto á esquerda, que
conforme foi dito no J <f Capitulo, começaram a
aparecer no Brasil, peio final do século ,V V11, fabri­
cado por portugueses e também pelos holandeses, no
dizer do Prof. Utfo Krmff, £ chamado de "bicho e
estreia" ou "cobrinfta" entre os ceramistas e colecio­
nadores. Encontram-se também com o mesmo padrão
(no Norte) tanto em as.it! como em amarelo. De
O - 1G> notar-se como excepcional a decoração dos azulejos
Cã c v» _M y<5 . a; em azul r branco, abaixo de delicados desenhos,
temas ern movimentos de laçarias e circulam dando
p a V 4.-9Oi t •fjo
< t'^ '£*Á 3. c- «Trc^.-s a impressão de pontilhado.
♦ b Y °3Í*&y c > * ü # * t U * ; :* í s « - S Arquivo do Autor.

Obs.: Os azulejos ao alto à direita são complemen­


tados por um grega (metade do tamanho de um
azulejo), e o quadro azu! â esquerda com uma cerca­
dura (largura de um azulejo) com o desenho central
de uma grega contínua, acompanhada de uma série
de S na mesma pedra.
ï' 5 .rÃírí >i ♦ o '* “cr» A “cf» A “'í» •jVr-aA
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480
Séc. X IX A Z U L E I A R I A NO BR A SIL
T e m a s f lo ra is e g e o m é tric o s

422
/ 0 M

m m y .

% !n

De notar nesta série de fachadas e. composição


azulejar que apresentam de comum na base,
a inspiração do clássico enxadrezado dos pe­
ríodos primitivos ibero-mouriscos, como uma
tessitura na armação do desenho. Os dois
painéis azuis ã direita apresentam belas
w am M m Ê m m Ê W ,
cercaduras. O enxadrezado duro c marcante
primitivo perde sua agressividade na compo­
sição harmoniosa que lhe soube dar o oleiro
português nus variantes em que com gosto c
apuro soube associar a flora e a geometria.
O painel azul de cima é da fazenda A lagoa,
nos arredores de Salvador e os restantes de
ruas de Salvador, liai'ia
Arquivo do Autor.

481
Sécts, X IX /X X AZULEJO S
R e v e stim e n to s do ta c h a d a s e m A r t-N o u v e a u e D e c o

423

Os azulejos representados nr sir. página revestem fachadas da


cidade de Belém. Os dois primeiros revestimentos acreditamos
ser de fabrico inglês e o de baixo, alemão. Os de cima à
direita apresentam uma elaborada cercadura com variantes dos
motivos centrais do painel e são de estilo Art-Nouveau. enquan­
to os de baixo, que revestem um armazém do porto de Belém,
são do estilo “ART-DECO”.
Arquivo do Autor,

482
No tocante aos azulejos avulsos, continuam ainda um importante centro consumidor das manufaturas
as cópias de determinados protótipos de Deifl, porém, francesas, c no que diz respeito à azuiejaria tornou-sc
com interpretação própria na execução dos motivos, a França a mais séria rival dc Portugal na segunda
como os de ‘'círculos”, de "bichos", de “barcos", de metade da centúria.
“figuras” e de “flores”, produção essa que já vinha do Os centros franceses de produção, sejam de tijolos,
século XVIII, e que sc distingue, segundo Valcntim telhas, como serviços dc mesa e peças de adorno,
Caíderon, por um azul mais escuro, enquanto os azu­ agrupam-se no território gaulés, em zonas diferentes.
lejos do século XIX são de azul mais claro, Esses Com referência à porcelana é a região parisiense
azulejos em geral são adornados nos cantos com pétalas e a limosina (tom seu grande centro de Limoges que
ou estrelinhas, versão lusa dos cantos variados aplica­ predominam, j
dos pelos holandeses, como a “flor de Lys”, a “cabeça No tocante a telhas é Marselha que nos supre de
de boi”, “aranhiços”, etc. um modelo moderno de telha plaua — a famosa telha
Quanto à padronagem, continua ela a se desen­ francesa — que vem desbancar no Brasil, aos poucos,
volver mais acentuadamente nas variantes geométricas; a clássica telha colonial de capa e calha. Em São
porém, irão os azulejos avulsos, (mais caminha o Paulo foram localizadas diversas marcas marselhesas do
tempo) perder o encanto que os notabilizou com os século passado,(í)
novos processos mecânicos c industriais que avassa­ Sobre a produção dc azulejos, há que assinalar
lam a produção lusitana e mundial e que se resume, quatro regiões; a do Pas dc Calais, em Desvres, a de
entre outros, na prensagem dos moldes e na estampa­ Ãlsácia Lorcua em Sarreguemines e a da Boca do Rho-
gem das peças. Aqueles são conhecidos por azulejos dano, na Au bagne, c a de Choisy le Roy, na região
relevados c estes são conhecidos por estampilhados, e, Parisiense.
em geral, são mal executados petos oleiros lusos e de Alinham-sc como principais fornecedores do mer­
regra inferiores aos similares ingleses. Isso não quer cado brasileiro as fábricas de diferentes membros da
dizer no entanto, que Porluga! não continuasse tam­ ilustre família dos Fourmaintraux e os produtos do
bém a produzir cm menor escala, belos azulejos esta- consórcio Villeroy-Boch, formado por descendentes
níferos à moda antiga, haja à vista a bela série de dc rcnômadas e tradicionais ceramistas franceses e
azulejos que adornavam a casa da Família Santos germânicos {hoje a sede desse importante consórcio
Dumont, em Petrópoüs, no fim do século XIX! é em Mcttalach na Alemanha, perto da fronteira
O processo da prensagem de moldes produziu no francesa).
entanto um gênero de azulejo em relevo, que conheceu Seguem-sc ainda, outros fabricantes como Tauptil
grande voga c até hoje continua copiado. Em particular Pochon, Leve! Minet (Desvres) Faïenceries de’Sarre­
os fabricados em Massarellos e na Vila Velha de Gaia. guemines (Alsácia Lorena) “Blin Frères” e "Blin Père
Portugal não se sensibilizou pelo movimento do et Fils” (Aubagne) Longwy, J.C. Givet (azulejos de
“Art-Nouveau” em sua azuiejaria. O mostruário de 21 x 21 cm), Boulenger & Cia., Choisy le Roy; estas
uma de suas fábricas mais importantes — a de Dcve- duas últimas fábricas são da região de Paris.
zas — no seu catálogo do fim do século, ou começo Aqueles primeiros grupos citados merecem um
do século XX, entre os numerosos modelos não exibe destaque maior, pela preferência que lhes deram os
nenhum dc padronagem “floreai". brasileiros, uruguaios e argentinos, ou ainda, pela posi­
Pelo que sabemos, somente Sacavém c Bordallo ção que desfrutam no contexto da produção azulejar do
Pinheiro captaram em Portugal aquela nova mensagem século XIX e na difusão de um estilo novo, original e
decorativa e produziram azulejos incomparáveis de decorativo, no período em que ainda imperava o Art-
concepção, dc colorido e de execução. Nos de Bordallo -Nouveau.
Pinheiro sobressaem os dc fundo verde com gafanhotos Em 1791, um ceramista de Lille, François Joseph
e os de fundo marrom com borboletas policromadas Fourmaintraux, instalou-se cm Desvres c seus descen­
ao centro, c, ainda a imitação dos azulejos mouriscos dentes aí permaneceram. Vários deles no século XIX,
de arestas; seu sucessor Manuel Gustavo Bordallo fundaram por conta própria seus estabelecimentos,
Pinheiro, continuou a obra, e a improvização do mes­ girando com razão social independente como Four­
tre excepcional, produzindo criações, já no estilo do maintraux — Hornoy e Alesandre Fourmaintraux.
Art-Deco.Í)J Porém o ramo que sobrevive é o de François Four­
Os azulejos portugueses, de forma geral são de maintraux — Courquin, neto do fundador dessa dinas­
14 cm x 14 cm. tia de grandes ceramistas, que em 1863 abre também
Portugal produziu, também ladrilhos industriais sua fábrica que posteriormente passa para Charles
do gênero conhecido por “hidráulicos”, A fábrica de Fourmaintraux — Houzel. Hoje a grande empresa gira
Devezas, no final do século XIX e começo do século sob o nome de "Etablissements Céramiques Charles
XX. abasteceu o Brasil í4> de ladrilhos desse gênero, Fourmaintraux et Delassus”, dirigida por Charles De-
e paralelamente produziu azulejos de boa qualidade lassus e Charles Fourmaintraux — Scrivc, Esta empresa
que ainda revestem casarões, sobretudo em Belém. de porte entre o seu magnífico mostruário do mais mo­
derno e avançado cm técnica e decoração, em 1974
* lançou, o que da chama “Série 1863" — “Estanifère”,
* * que reproduz, na técnica da faiança artesanal, as padro-
nagens em voga no século XIX, incluídas nelas os
Os azulejos franceses adornam ainda múltiplos modelos daquelas que exportava para o Brasil, Argen­
casarões espalhados pelo Brasil afora, e gozaram junto tina e Uruguai.
com os portugueses, da preferência dos moradores, A padronagem dos Fourmaintraux era variada,
sobretudo no Rio, em Santos c em Belém. conforme sc pode observar pelos exemplares e fachadas,
O Brasil nesse século XIX, vai constituir-se em ainda existentes no país e pelo mostruário da Four-

(s e g u e n a p á g . 4 9 0 ) 483
S a rrc g u c m in e s - D igoxn e t VÍLry L e F ra n ç o is
Sécs. XI Xf XX M o s tru á rio — ( C o n tin u a ç ã o )

424

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S-r .- *-: • . 'í
W*r***í« sjg&iiTLíiT1
■K-fUr- .• , ; |h .iW

Cortesia da Diretória das "Fayenccries de Sarreguemines",

4S*
Sécs. X IX /X X S a rre g u c m in e s D igoirt e t V iti7 L t F ra n ço i:
A z u le ja ria ; A z u le jo } e A r re m ates
( P a rte A rl-N o v e a u e A r t-D e c o )

Série grande ãc frisos e Ar azulejos menores, assim como uni


mostruário Ac "cabochons" para teto. A esquerda uma série
de azulcios Árt-Dcco e cm baixo azulejos em relevo mono•
cremos e pcUcromados.
Arquivo do Autor.

485
Sees. X IX /X X S a rre g u e m in e s —- D isjoin c t V ilry L e F ra n ç o is
A z u le ja ria : M o s tru á rio d o s p r o d u to s A n - N o u v e a u

426

Arranjo.s cm campo limitado de azulejos, formando painéis


variados e. de belo efeito, com frisos, cercaduras gregas simples
c duplas, c barras (do tipo siihar), largas paru o arremate com
o assoalho a lambem combinações para o forro |vide primeira
figura ã esquerda ao alio). Arquivo do Autor.

4S6
V ILLER O Y & BOCH
Azulejarâ

427

Fachada da sede de todo o consórcio Villeroy & Boch, estabe­


lecido na cidade alemã de Meítaktch. Vê'Se parte do vasto
mostruário, parte do qual veio ter üo Brasil, em estilos diversos
sobressaindo as criações em Art-Nouvcau e Árt-Deco, e outras
Variações florais.
Arquivo do Autor,

487
S é cs, X I X / X X V ILLE R O Y & B O C H
M o s tru á rio A r l-N o u v e a u

Azulejos avulsos e conjuga­


dos jormando desenhas no
estilo Arí-Nouveau — em
baixo pequena série de azule­
jos de canto.
Arquivo do Autor.

488
Sees. X IX /X X VILLEROY & BOCH
(Mostruário de azulejos e ladrilhos!

IfO
M
'l
J:r‘:v:-,>r

Ao alio, azulejos tie exímia execução com variantes de tamanho e de decoração, copiando
a genero de Wcdgteood. inclusive ã direita ao alto uma pedra “An-Nouveau’\ A o centro
tipos de ladrilhos (carreiage). e em baixo cantos de fiadas no estilo Arí-Nouvenu,
Foto: Manoel Brüncantc — Arquivo do Autor,
Cortesia da Direciona de Villeroy <£ Boch (Mcrlalach).

4S9
maintraux — Courquin, exibido no excelente catálogo D e 1 8 6 9 a té h o je : V ille ro y & B o c h e v a ria n te s .
da Exposição de Azulejos, realizada no Museu Nacio­ E s s e e x tr a o r d in á r io c o n s ó rc io m u ltin a c io n a l fo i
nal de Arte Decorativa, em julho de 1971 (pág. II), g ra n d e fo rn e c e d o r d o B ra sil, n o s é c u lo X I X e c o m e ç o
em Buenos Aires, d o X X , d e v a r ia d o s a rte fa to s c e râ m ic o s , c o m o se rv iç o s
Mas os tipos preferidos no Brasil e na Argentina d e m e s a sim p le s e e la b o ra d o s , o b je to s d e a d o rn o , a z u ­
eram os de v a ria n te s geométricas e dos desenhos ponti­ le jo s, c tc „ e d is p õ e h o je d e s e te fá b ric a s n a A le m a n h a ,
lhados __ muitas séries deles com as cores borradas, seis n a F r a n ç a , d u a s n a Itá lia , n o L u x e m b u rg o , n a
sobretudo o azul e o violeta, a exemplo da louça azul S u íç a , n o C a n a d á e n a A rg e n tin a ,
borrada inglesa, (azul borrão) de agradável efeito. De N a E x p o s iç ã o e m P a ris “ 7 e m e B ie n n a le d e s A n ti-
regra, esse gênero francês apresenta as dimensões de q u a ire s d e 1 9 7 4 ” , c o m e m o ra v a o se u 2 2 5 .° a n iv e rs á rio
11 cm x 11 cm. d e fu n d a ç ã o e p e ia m o s tra d a s p e ç a s a n tig a s lá e x p o sta s
Os Fourmajntraux especializa ram-se em fabricar p o d e -s e te r u m a v is ã o d o g ra u a rtís tic o e d a q u a lid a d e
azulejos, ladrilhos, placas, tabuletas c carteias com a d e p a r te d o s p ro d u to s e x p o rta d o s p a r a n ó s.
numeração domiciliar ou os nomes de ruas e praças E sse s fa b r ic a n te s n o s b r in d a r a m c o m se rv iç o s
em letras de forma, de forma clássica, sem atributos v a ria d o s , n o c o m e ç o d o s é c u lo c o m v is ta d e p a is a g e n s
artísticos. Nesse gênero difere da “Faïencerie de Sarre- b ra s ile ira s e a té c o m e n c o u ra ç a d o s d e n o s s a e s q u a d r a .
guemines” que executou esplêndidos espécimes de bela Q u a n to à p a d ro n a g c m d e seu s a z u le jo s, e r a e la
apresentação, na interpretação elegante e colorida do b a s ta n te v a ria d a . F a b ric o u n o m e a d o d o s é c u lo , sé rie s
“Art-Nouveau”, d e a z u le jo s a v u ls o s e s ta m p a d o s , r e t r a t a n d o c e n a s d e
As marcas dos Fourmaintraux são variadas e em v id a u r b a n a c so c ia l, p e rs o n a g e n s, m o n u m e n to s , e tc .,
geral incisas, na pasta dentro de um selo oval: d a v id a fra n c e sa . P o ré m a s u a p ro d u ç ã o a z u le ja r é m a is
c o n h e c id a p e la d e c o r a ç ã o p o n tilh a d a , n o g ê n e ro d o s
“Fourmaintraux”
a z u le jo s d o P a s d e C a ia is e, a in d a p e la in te r p r e ta ç ã o
“Fourmaintraux Hornoy”
d e c o ra tiv a d o “ A r t- N o u v e a u ” . E x p o rto u b a s ta n te a z u ­
“Jules Fourmaintraux Succ”
le jo s m o n o c r o m c s , s o b r e tu d o b ra n c o s . A F a c u ld a d e d c
“Fourmaintraux Courquin”
M e d ic in a n o R to , c o n s tru íd a n a U rc a n o c o m e ç o d o
"Alexandre Fourmaintraux” c atualmente
s é c u lo e d e m o lid a h á p o u c o , fo i em g ra n d e p a rte a z u ­
'‘Fourmaintraux-Delassus’’
le j a d a c o m p e d ra s d e V ille ro y & B o ch .
Quanto a Villeroy — Boch, existe uma tradição E x is te m n u m e r o s a s m a r c a s d e e s ta b e le c im e n to s
ainda mais antiga. Em 1748, na Lorena, em Audun Le s u b s id iá rio s d e V ille ro y & B o c h , s e n d o q u e v á rio s
Ticlie, François Boch e seus filhos fundaram um esta­ e x e m p la re s d e la s s ã o e n c o n tr a d o s n o B ra s il, ta n t o em
belecimento cerâmico ártesanal. Mais tarde, em 1767, s e rv iç o s d e m e s a c o m o n a a z u le ja ria :
estenderam suas atividades, fundando no Luxemburgo
a Manufatura Imperial e Real de Sept-Fontaines sob “ P .J. B o c h a L u x e m b o u rg H .B .”
a proteção da Imperatriz Maria Thereza. Em 1823, é " J .F . B o c h & C ie a L u x e m b o u rg L ” .
adotada a decoração impressa, ou seja, de estampagem, " P o r c e la in e O p a q u e P . J. B o c h -L u x e m b o u r g ”
de gravura sobre o cobre. Jean François Boch também “ V ille ro y & B o c h ” (c o m c a b e ç a d e m e r c ú r io )
já havia fundado cm 1809 um outro, grande estabele­ “ V ille ro y & B o c h — S e p t-fo n tn ín e s ”
cimento, este no Sarre, na Alemanha, em Mettalach, “ V ille ro y & B o c h — D re s d e n ”
especializado em faiança, " V ille ro y & Boch — Mettalach”
No ano de 1836, Jean François associa-se com “ B o c h F rè r e s — K ç ra m is "
Nicolas Villeroy, que era senhor de duas cerâmicas “ B o c h F rè r e s — “ L a L o u v iè re "
(faianceries), uma fundada em 1785, cm Fraucnberg, “ B o c h — B u s c h m a n a M e tta la c h "
na Mosela e a outra em Vaudrevanges, no Sarre em " V . & B. L u x e m b o u rg ”
1787. “B och & F rè re s — T o u rn a y "
Assim, forma-se esse poderoso consórcio franco- “ B .F ." ( c o m u m a to r re o u e s p a d a s c c ru z e s )
-alemão com fábricas importantes,1 tanto ua França “ V ille ro y & B o c h — W a lle rfa n g e n "
como na Alemanha, Bélgica, Luxemburgo e alhures c
que passou erri 1836 a denominar-se Villeroy & Boch, E x is te m ta m b é m o u tr a s m a rc a s d e se rv iç o s d e
controlando outras fábricas cora denominações diversas. m e sa , q u e in d ic a m o n o m e d o m o d e lo d a d e c o ra ç ã o n o
Em 1869, em Mettalach (Alemanha), é iniciado v e rso , a e x e m p lo d o q u e é m u itq ' u s a d o n a lo u ç a d a
o fabrico em larga escala de excelentes azulejos e In g la te r ra , c o m o : C a n to n -— S y riart — F a tiv e tte , e tc .
ladrilhos ao lado da produção jã existente de serviços O s a z u le jo s o b e d e c ia m a o s ta m a n h o s d e 1 1 c m x
de mesa em faiança fina (steingut) de decoração 11 c m , e a o p a d r ã o in te rn a c io n a l d e 1 4 c m x 14 c m . w
primorosa em decalcomanias. Q u a n to à I n g la te r r a , re p o r ta m o -n o s a o 1 c a pí t ul o
Já cm 1862, Boch Frères expunha na Exposição — A z u le jo s — e m q u e é a b o rd a d a a p a rtic ip a ç ã o
de Londres, ladrilhos e azulejos; e em 1863, foi funda­ inglesa n a e v o lu ç ã o h is tó ric a d a C e râ m ic a .
do outro estabelecimento em “Louvroilles-Maubeugc” M a s c a b e a in d a r e s s a lta r a e s tu p e n d a c o n tr ib u iç ã o
(Norte da França) para ladrilhos com marca de Boch in g lesa n o s e to r a z u le jís tic o e s u a p a rtic ip a ç ã o a tiv a n a
Frères et Cie. d e c o ra ç ã o n o B ra sil. E p o r m a is u m a v e z e m d e s ta q u e
Depreendemos, segundo informações da Dra, a “ d e m o c r a tiz a ç ã o ” o u a p o p u la ri/.a ç ã o d o u so d o
Th ère se Thomas, a erudjta arquivista da firma (corres­ a z u le jo q u e foi p r o p ic ia d a p e lo b a r a te a m e n to d o c u s to ,
pondência de 18,12.1973) no que concerne aos a tra v é s d e n o v a s p a s ta s e o u tro s m é to d o s d e c o ra tiv o s
azulejos: in v e n ta d o s p e lo s b r itâ n ic o s .
De 1862 a 1869* a marca noa azulejos é apenas Ê q u e n e ss e p a r t ic u l a r o s in g leses a b a n d o n a r a m a
Boch-Frères. té c n ic a P is a n a o u d e V e n e z a d a c o n fe c ç ã o d o a z u le jo

490 <t r - p i v r na pág. 492)


sécs. xviii/xix/xx A Z U L E J O S E S P A N H Ó IS
(diferentes períodos e medidas)

Os dois iazulejos dr erma, policio mudos de vidrado fraco, f oram adquiridos na Bahia de demolições e medem 20 çm X 20 cm.
A fiteira de baixo com três azulejos palie tomados, representa azulejos conhecidos na Espanha, como da Catalunha, porém fa­
bricados em Barcelona c medem 13 c m x 13 cm — os padrões apresentados são encontrados no Nordeste, o da esquerda e o do
centro sao provenientes de Recife < O azulejo da última fila â esquerda, colorido , com pinhas nos quatro cantos. mede 20 cm r 20
cm e foi encontrado em Santos (Coleção Plínio de Mendonça), q do centro em baixo com a efígie de Camões, mede 11 cm x
11 cm, tem a marca , Sevilfa . Jiijos" e é do M useu de São Luís -— Maranhão, O azulejo da direita é conhecido por ponta de
diamante e e proveniente de Seviíha do século X V 11 ao que consta fo i encontrado espécime idêntico no Convento dc Santo An-
tonio de Paraguassu — Bahia,

491
à m a n e ir a d a m a ió lic a , c o m u m e sm a lte e s ta n ífe ro e re c u p e r a n d o o s e g re d o p e rd id o d e v e lh o s e sm a lte s.
o p a c o s o b re a te rra c o ta e p a s s a ra m a d e s c o b r ir o u tra s E c o m a se n s ib ilid a d e d o s a rtis ta s e a f a n ta s ia d o s
p a s ta s c m s u b s titu iç ã o dacjuela m ile n a r. A s s im fo ra m p o e ta s , p a s s a m a e x a lt a r a s lin h a s e as fo r m a s a tra v é s
s u rg in d o , e n tr e o u tra s in ov a ções, os se u s “ a s h -b o n e d a re p r e s e n ta ç ã o d a s fig u ra s , d a s flo re s e d o s m o v i­
p o r c e l a in ” ( p o r c e la n a m o le fo s fa ta d a ) a p o r c e l a n a à m e n to s o n d u la n te s d o s c a u le s , d a s h a s te s , d a s ra m a g e n s .
b a s e d c p e d ra sa b ão (c o n h e c id a p o r e s t e a ü ta ) c a s E c o m o re s p o n s á v e is p e lo s u r to v e rtig in o so d a
v a rie d a d e s d a fa ia n ç a fin a (c o m o o p ó d e p e d ra , in d ú s tria a z u le ja r in g le sa a p re s e n ta m -s e e m p rim e iro
g ra n ito , e tc .) , p la n o a s firm a s M in to n e M a w .
Com o emprego sobretudo dessa última pasta nos N ó s a q u i n o B ra s il, te m o s a in d a e s p a lh a d a em
azulejos, conseguiram eles, uma sensível redução no 4 iv e rsa s c id a d e s , ta n t o e m fa c h a d a s , c o m o e m in te rio ­
peso e no volume obtendo uma peça mais delgada e res, a r e p r e s e n ta ç ã o d e p a r t e d e ss a p a d ro n a g e m , in c lu ­
resistente ao mesmo letnpo que uma superfície de gra­ siv e a d e “A r t- N o u v e a u " e d o “ A r t- D e c o ” , q u e lh e
nulação mais compacta c de unidade de cor que podia su c e d e , já n o s p rim ó rd io s d o s é c u lo X X .
receber diretamente a decoração. O s a z u le jo s in g le se s, u n s a p re s e n ta m m a rc a s o u tro s
O u tro s a p o r te s d c c o n s id e rá v e l a lc a n c e p rá tic o n ã o . S o b re e s te p a r tic u la r o s in g le se s d e s d e c e d o , p re o -
fo r a m a s té c n ic a s n o v a s d e tr a n s p o s iç ã o d o s m o tiv o s c u p a v a m -s e e m d is c ip lin a r a p r o d u ç ã o , n ã o só p a r a
d is p e n s a n d o o s p ro c e s so s a rc a ic o s d o u so d a m á s c a ra , e v ita r o p lá g io e n tr e o s c o n c o rr e n te s , c o m o p a r a a
d o e stê n c il o u d a “ tr e p a ” . id e n tific a ç ã o d o p ro d u to . N a s c e ra m a ssim v á ria s c o n ­
R e v iv e ra m ta m b é m o s in g le se s, a in d a n o d e c o rr e r v e n ç õ e s im p o s ta s p e lo “ B ritis h P a tt e n t O ffic e " , d e
d o s é c u lo X I X , té c n ic a s a n tig a s re le g a d a s a o e sq u e c i­ L o n d re s , a p rim e ira d e la s e m 1 8 4 1 , o q u e fa c ilita à s
m e n to . v e z e s, a o p e s q u is a d o r, o e s c la re c im e n to d a o rig e m c d o
U m a d e la s foi o re n a s c im e n to p o r v o lta d e 1S 50, p e río d o , in d ic a ç ã o e s s a c h a m a d a p o r eles d e “ D ia m o n d
s o b n o v o s p ro c e s so s, d a v e lh a tr a d iç ã o m ile n a r d o M ark ".
fa b r ic o d c la d rilh o s e a z u le jo s c o m b lo c o s d e a rg ila s A s s im , d e 1 8 4 2 a 1 8 8 3 , a m a io ria d o s a z u le jo s e
d c d if e re n te s c o lo rid o s , e , c o n se g u ira m o m e s m o e fe ito d a lo u ç a é m a r c a d a c o m u m lo s a n g o e n c im a d o p o r
p e lo p ro c e s so c o n h e c id o p o r “ in la id ” q u e c o n siste u m s e m ic írc u lo , c o n h e c id o n a I n g la te r ra p o r “ D ia m o n d
c m ú ltim a a n a lis e n a p re n s a g e m d e a rg ila s c o lo rid a s M a r k " c o n te n d o a s in d ic a ç õ e s se g u in te s:
f o r m a n d o a d e c o ra ç ã o . C o m isso la n ç a r a m p e ç a s q u e
o b tiv e ra m su c e s so n o e stilo n e o -g ó tic o , ta m b é m a p tj-
c a d o à a rq u ite tu ra . O p rin c íp io d e ss e p ro c e s s o , já p e lo c la s se (e m n ú m e ro r o m a n o )
fim d o sé c u lo , le v o u à fa b ric a ç ã o in d u s tria l d e la d rilh o s
c o n h e c id o s p o r “ h id rá u lic o s ” , e m q u e c a m a d a s tê n u e s d ia (e m a lg a r is m o )
d e a rg ila s o u o u tr a s p a s ta s c o lo rid a s q u im ic a m e n te sã o
c o m p rim id a s s o b re o c o rp o d o la d rilh o e p a s s a m a a n o ( l e tr a m a iu s c u la )
fo r m a r a p a d ro n a g e m — e ssa s p e ç a s sã o fo sc a s, p o is
n ã o le v a m v id ra d o .
O u tr a re n a s c e n ç a fe liz foi a re a p líc a ç ã o d o “ lu s tr e ” m ês ( le tr a m a iu s c u la )
o u d o re fle x o m e tá lic o n a c e râ m ic a . T a m b é m fo ra m
b u s c a r n o s a z u le jo s m o u ris c o s d e a re s ta a in s p ira ç ã o
p a r a a fa tu ra d e p e ç a s d e a lto e fe ito d e c o ra tiv o n a
v e rs ã o in g le sa c o n h e c id a p o r “ tu b e U ne” .
E h á a in d a a o b s e r v a r q u e c e rto s fa b ric a n te s
in g leses e m p re g a v a m u m p ro c e s so m isto n a d e c o ra ç ã o
E m 1 8 8 4 , os a z u le jo s d e ix a m de a p re s e n ta r o lo ­
d e a z u le jo s v a le n d o -se d a e sta m p a g e m m e c â n ic a em
sa n g o e c o n té m a p e n a s u m “ R d " ou “ R d - n .° " se g u id o
v o lta d o c e n tro d o a z u le jo o q u a l e r a te r m in a d o a m ã o .
d e u m a n u m e r a ç ã o ( a b r e v ia ç ã o d e R e g is te re d N u m b e r ) ,
E te m o s q u e c o n fe s s a r q u e to d o s e sse s n o v o s
q u e re v e la a in s c riç ã o e o a n o d o fa b ric o n o c ó d ig o
re c u rs o s p o s to s em p r á tic a p e lo s in g le se s a tin g ira m ta l
“ B ritish P a tte n t O ffic e " .
g ra u d e p e rfe iç ã o , q u e , n a re a lid a d e , g ra n d e p a rte
C o n s u lta n d o -s c o n ú m e r o m a r c a d o n o a z u le jo e
d a q u e le s p ro d u to s a p re s e n ta m ta l n itid e z d e d e ta lh e e
c o n f r o n ta n d o - o c o m a se g u in te ta b e la , o b le m -s e ( à s
v ig o r d e c o lo rid o q u e , s o b o a s p e c to v is u a l d a a p re ­
vezes a p e n a s a p r o x im a d a m e n te ) o a n o d o re g is tro d o
s e n ta ç ã o , c o n c o rre fa v o ra v e lm e n te c o ra o a r te s a n a to
a z u le jo :
c lá ssic o . Ano Ano Ano Ano
O re s u lta d o d e to d a e ssa s c o n trib u iç õ e s é q u e a Rd. No. 1-1884 163767-1891 311658-1898 447000-1905
In g la te rra re v o lu c io n a ta m b é m a a rte c e râ m ic a , c n a 19754-t885 185713-1892 331707-1899 471000-1906
se g u n d a m e ta d e do sé c u lo X IX , p a ss a a d o m in a r o 40480-1886 205240-1893 351202-1900 494000-1907
m e r c a d o in te rn a c io n a l d a a z u le ja ria . 64520-1887 224720-1894 368154-1901 519000-1908
90483-1888 2-46975-1895 385500-1902 550000-1909
N e sse ú ltim o p e río d o , d e m o n s tra n d o ta m b é m n a 116648-1889 268392-1896 402500-1903
p a r te a rtís tic a u m a in v e já v e l v e rs a tilid a d e , c ria m o s 141273-1890 291241-1897 420000-1904
in g le se s u m e s tilo novo n a h is tó ria d a a rte : o “ M o d e m
S ty lc " o u o “ A r t- N o u v c a u ” , q u e rá p id a e d e c is iv a ­ D e p o is d e 1 8 9 1 , o s a z u le jo s d e s tin a d o s à e x p o r­
m e n te , ro m p e c o m o s o u tr o s e stilo s e u ro p e u s e se ta ç ã o p a s s a m a e x ib ir ta m b é m a p a la v ra E n g tn n d e
e s p a lh a p d o m u n d o civ iliz a d o . d e p o is d e 1 9 0 0 , é a d o ta d o o “ M A D E IN E N G L A N D ”
E os re s p o n sá v e is p o r e ss a in o v a ç ã o a rtís tic a q u e p a s s o u a s e rv ir d c n o rm a in te rn a c io n a l p a r a c a d a
fo r a m M o r ris c D e M o rg a n . E s s e s a rtis ta s ro m p e ra m p a ís id e n tif ic a r o s seu s p ro d u to s . (7>
c o m a d e c o ra ç ã o e m v o g a já re p e tid a e s u r ra d a , b u s ­ S o b re e ssa s in d ic a ç õ e s n o s u b c a p ítu lo d e F a ia n ç a
c a n d o n a ie n d á ria P é rs ia a in s p ira ç ã o d e u m n o v o estilo F in a , v o lta re m o s a a b o rd á -la s .

492
O u tro s p a íse s ta m b é m n o s fo rn e c e ra m a z u le jo s A V e lh a E s p a n h a n ã o d e ix a ta m b é m d e c o n tr ib u ir
c o m o d is s e m o s lin h a s a trá s . A A le m a n h a se re p r e s e n ta p a r a o e m b e le z a m e n to d o s p is o s e f a c h a d a s n o B ra sil,
c o m v á ria s fá b ric a s em seu te rritó rio : o s a z u le jo s e la d riih o s e s p a n h ó is s ã o d e r e g r a d e 2 0 cm
x 2 0 c m e f o r a m m a is n s a d o s e m S a lv a d o r c e m S a n to s ,
V ille ro y & B o c h — D re s d e n o n d e fo ra m lo c a liz a d o s e n ã o a p re s e n ta m u m v id ra d o
V ü le r o y & B o c h — M e íta la c h fo r te . A c re d ita m o s q u e o c e n tr o d e p ro d u ç ã o d o final
B o c h — B u s c h m a n à M e tta la c h d o s é c u lo X I X c c o m e ç o d o s é c u lo X X se c o n c e n tra s s e
S te in g u t F a b ric W itte rb u rg F a rg e a / d e W e se r e m S e v ilh a e B a rc e lo n a . N o M u s e u d e S ã o L u ís , ex tstc
B o iz e n b u rg u m lin d o e x e m p la r, d e m e d id a m e n o r, c o m o b u s to
d e C a m õ e s e m fu n d o a m a r e lo e m a r c a d o “ S e v ilia , . .
E x is te m e m n o s s a c o le ç ã o d o is a z u le jo s: u m p ro ­ H .ijos” a p re s e n ta n d o n o v e rs o d a p e ç a ra in u ra s p a r a ­
v e n ie n te d a B a h ia , m a rc a d o so m e n te B o iz e n b u rg , o u tro le la s o q u e in d ic a q u e o s e u fa b r ic o te ria m e n o s de
d e u m a c a s a a n tig a d o s C a m p o s E líse o s (S . P a u l o ) , c e m a n o s. A fá b r ic a d e Is id r o T o r r e s , e m B a rc e lo n a ,
m o n o c r o m á tic o a z u l de b e lo v id ra d o m a rc a d o — “ 5 5 9 fa b r ic a v a u m a e n o rm e v a rie d a d e d e m o d e lo s e m q u e se
B o iz e n b u rg 88 G e rm a n y ” . in c lu e m v á ria s se rie s d e b a r r a s e la d r ilh o s d e v a ria d a
A B é lg ic a s e re p re s e n ta c m n o s s o m e rc a d o , e n tr e e e le g a n te p a d ro n a g e m , e m “ A r t- N o u v e a u ” . <®
o u tr a s fá b r ic a s p o r B o c h & F rè rc s — L a L o u v iè re , e o A fá b ric a d e M o n c lô a in c lu i-se ta m b é m n o c o r­
L u x e m b u rg o p e la g ra n d e fá b ric a d e V ille ro y & B o c h r e r d o s é c u lo , e n tr e as p r o d u to r a s d e b e lo s a z u le jo s,
— S e p t F o n ia in e s e a in d a p o r “ V . B . L u x e m b u rg o ” . c o m fo rte v id ra d o .

Azulejos estemlferos do itliima quartel do século X IX , dc


tãbrico português provenientes da mansão da Família Santos
Dum ont em Petrâpolis,
Cortesia de Nicia Camargo (S, Paulo).

B I B L I O G R A F I A

(1 ) D omingos Vieira F ilho — “Azulejaría no Maranhão — (7 ) J ulian B ernard — "Victorian Ceramic Tiles" — Londres,
in "Estado do Maranhão" de 05.08.1975. 1972.
(2 ) Uno K noef — ob. eil., pág. II, estampa I.
(8 ) Catálogo A. Mosaicos — pedra Artificial — Pavimentos
(3 ) R aehael Salinas C alado .—- "A evolução do azulejo cm — Granito Manned — Cimento Armado — Isidro Torres
Portugal do século X V ao século X X ” — Brasil — Maio, — Barcelona, Calle Bianco 52 — Janeiro, 1912.
1978.
(9 ) Coleção Conceição da Costa Neves.
(4 ) .Catálogo da Fábrica t de Fundição de Devezas (cortesia
de José Gomes Ferreira).
Í5) E. F, BkANc Xntb — " A c h e g a s... Louça Mineira" — Hélio de Almeida Brum — " A E v o lu ç ã o da Indústria Cerâ­
separata Revista Paulisiânia n.° 79 — S, Paulo, mica no Brasil” , in Carta Mensal n.° 272 — pág, 20 —
(6 ) T iiÉRÈse T homas — "R3Íe des Boch et des Villeroy datis
Rio, 1977.
la Cérnmiquç des 18 et 19 siècics" — Sarrebruck, 1974 SlLvtO F rOÉs A breu — “A Indústria Cerâmica no Brasil" in
— 2P ed. págs. 114/115/138/209/261. Carta Mensal, n.° 35 — Rio, 1958.

493
VI - FAIANÇA - MAIÔLICA

presença da verdadeira faiança A fábrica do Rato muito exportou para o Brasil,


no oitocentismo brasileiro, con­ sejam azulejos avulsos e painéis, sejam cerâmicas uti­
tinuará a ser predominante litárias, de adorno caseiro e ornamental externa, rio
mente de origem lusitana, a não século XVIII. Malgrado as perturbações políticas do
ser algumas peças de Fran­ começo do século XIX, continuou como fornecedora
cisco Busato e os produtos co­ de artefatos de primeira qualidade, abastecendo tanto
nhecidos intemacion almeo te por a sociedade colonial, como a própçia Corte no Brasil,
“Mezza-maiólica", ou seja de meia-faiança, que tiveram até o seu fechamento em 1836,
sua presença bem marcada entre nós, tanto de fabrico Informa-nos Marques dos Santos: “Que do Rato,
local, como importado (“Ratinho” ), existiam baixelas, peças avulsas, jarras, bacias, e tc .. .
Insistem os ceramistas metropolitanos em conti­ algumas decoradas cm azul, trazendo as bordaduras de
nuar fabricando faiança como no século XVLII, adap- Rouen. Possuía o nosso país inúmeras peças desse teor,
tando-a a novos repertórios decorativos, muito embora especialmentc em Minas Gerais”. W Significativa é
várias fábricas também se dedicassem ao fabrico de também a informação de Sandão:
faiança fina ou louça inglesa, da variedade conhecida . .Ainda em 1823, seguiam para o Rio de Ja­
por pó de pedra. Isso, quando os grandes centros pro­ neiro peças encomendadas por Dom João VI, entre as
dutores europeus já liaria™ adotado esta nova categoria quais o busto do monarca e cm 1826, a fábrica tomou
para atender à produção de massa da cerâmica utilitária grande encomenda de figuras e vasos para ornar a
e de adorno. Depois de 1830, relegada a faiança a Quinta Imperial da Boa Vista, na mesma cidade, sendo
plano secundário, não mais figura a mesma no topo entregue a direção dos debuxos a lentes de Desenhos e
da produção. Escultura, realizada a execução cerâmica pelo referido
Portugal persiste no entanto, em manter o pres­ mestre Salvador Luís” (3). Melizmcnte esta magnífica
tígio e o uso da faiança no Reino e em suas colônias, manufatura, que rivalizara com o que de melhor havia
no que obteve sucesso, pois no que concerne aoFSrasil, na Europa, fechou em 1836 segundo uns pela concor­
a sua aceitação prolonga-se até o começo do século rência das outras fábricas portuguesas, segundo outros
XX. E isso foi possível porque os oleiros portugueses pela “oposição que lhe fez a louça inglesa” <í}.
na cerâmica utilitária e de adorno doméstico esme­ Porém, na segunda metade do século, as fábricas
ra vam-se em uma decoração alegre e atraente, e, que dominaram o mercado brasileiro, no setor orna­
sobretudo alargaram sensivelmente o campo da apli­ mental, foram Devezas e Santo Antônio do Porto. A
cação cerâmica, dando ênfase* à decoração externa primeira foi fundada por Antônio de Almeida Costa
ornamenta!, por intermédio da louça esmaltada e da em IS65, para o fabrico de cerâmica artística e indus­
meia-faiança, tanto com enfeites p 2ra as mansões, trial. Uma de suas características foi a produção da
como embelezamento de jardins, sem contar a partici­ louça esmaltada branca com um vidrado forte. O catá­
pação da azulejaria na decoração externa, esta, a mor logo de seus produtos, do começo do século XX
das vezes, ainda de revestimento estanífero. (1910?) Impressiona pela diversificação dos gêneros,
As fábricas portuguesas (já citadas, a propósito formas e finalidades. Só no que diz respeito a figuras
dos azulejos estaníferos) que haviam sido fundadas oo e vasos artísticos, apresentava duzentos modelos diver­
século X V m , continuam a produzir faiança, inclusive sos e de tamanhos que variavam de 0,30 m a 1,60 m!
a mais velha delas, a de Massarelíos, que data de 1738. Dedicou-se também esta manufatura ao fabrico de azu­
Ãquelc grupo veterano pioneiro, irão juntar-se muitos lejos e ladrilhos e ao fabrico da “mezza-maiólica”.
outros no correr do século XIX. A outra fábrica acompanha a mesma linha de
Há que destacar, na primeira metade do século, a produção de Devezas e lhe faz concorrência no campo
veterana fábrica do Rato, ainda em plena forma e ornamental, em que é dado ênfase à seção escultural,
entre as novas fábricas de artefatos cerâmicos, a de até de porte. Trata-se da Fábrica Santo António do
Devezas, em 1865, a de Santo Antônio do Porto e a Porto, de José Pereira Valente, fundada em 1884. Não
de Caldas da Rainha, em 1884, entre outras. se deve confundir esta cóm a de Santo Antônio do
A Real Manufatura do Rato, a menina dos olhos Vale da Piedade, fundada em 1785, por Jerônimo
de Pombal, entregava-se com a maestria costumeira Rossi e dedicada a serviços de mesa e de adorno
ao fabrico de todos os tipos de faiança e se esmerava doméstico.
no setor da escultura, em produzir primores artísticos. A fábrica do Rato, aíé 1836 e depois Devezas
Diz-nos Arthur de Sándão, que ela primava: “Em que em 1865 lhe retoma a tradição ornamental e Santo
cada caso com valor plástico de tão preclaro natura­ Antônio do Porto a partir de I8S4, são responsáveis
lismo como atraente sentido ornamental. em grande parte por haverem proporcionado uma das

495
fases mais decorafivas e alegres do u rb a n is m o brasileiro. nham do século XVIII; a de Massarellos c a de Santo
Contribuíram elas para tra n sfo rm a r o aspecto daquelas Antônio do Vale da Piedade. O proprietário daquela
massas pesadonas, siz u d a s rios casarões em jovial c e arrendatários destas, Francisco da Rocha Soares,
colorida apresentação a 'ravés do emprego de telhas pensou também em abrir um estabelecimento no Brasil,
esmaltadas d e b ra n c o e azul, ou ainda de pináculos, quando em 1829, falece o técnico que havia sido esco­
pinhas estatuetas, ponteiras, vasos, balaústres, colune- lhido para tal fim! Desta fábrica existem dois belos c
las a d o rn a n d o o telhado e dando-lhe um remate rítmico bem moldados leões marcados “Miragaia-Porto” na
e itérico muitas vezes de sabor oriental. entrada do Museu Histórico e Antropológico de For­
E os parques solarengos que antes, só raramente, taleza.
em mansão de um ou outro potentado ostentavam Ainda destaea-se a fábrica de Fervença, com seus
estátuas de mármore, passaram a povoar-se de “seres" cangirões típicos e pitorescos, seus botões e mangas de
que o bom gosto e a inspiração dos ceramistas lusos colorido alegre e diverso, que fabricou também vistosas
fizeram surgir nos jardins, em meia-faiança ou louça peças com as armas do Nóvel Império (primeiro rei­
esmaltada. nado) cm que prevalecem ainda resquícios de influen­
Surgem assim múltiplos temas a provocar evoca­ cia hindu, em uma larga e bela faixa composta de
ções diversas. São ninfas, são personagens mitológicas palmeias.
ou históricas, figuras sacras e pagãs, a representação Com referência à faiança fabricada na terra, exis­
dos Continentes, das Estações, das Virtudes, bustos dc tem apenas vagas referências. Diz-nos Francisco Mar­
monarcas, guerreiros, poetas, músicos e, ainda do reino ques dos Santos; “O Império traz-nos a louça vidrada
animal, como leões, cães, lebres, batráqiçíos, répteis, ou a faiança”. Concordamos plenamente com o autor
cisnes e outros bípedes pernaltas, delfins, etc., que no que se refere à louça vidrada de que falamos, junto
passam a povoar nossos parques e jardins. com a meia-faíança, linhas atrás, e cuja produção foi
Outra fábrica que despertou grande interesse no de vulto, haja ã vista a quantidade dessas louças ainda
Brasil foi a de Caldas, como é conhecida, fundada cm existentes.
1884, por Raphael Bordallo Pinheiro, em Caldas da No entanto, no que diz respeito à faiança, o mes­
Rainha. Esta personalidade esteve exilada longo pe­ mo autor aponta apenas duas indicações. A primeira
ríodo no Brasil, por questões políticas. é a estampa reproduzindo uma talha de refresco da
Confeitaria De Roche, que existiu na rua do Ouvidor
No Rio dc Janeiro, foj contratado e colaborou no Rio, classificada como “Faiança esmaltada de bran­
no “Besouro" e também no "Mosquito”, com Agostíni,
co, com relevos azuis”, da coleção Cláudio Mariano,
revistas de critica que alcançaram grande sucesso, onde
a fls, 287, verso da obra Artes Plásticas no Brasil.
pôde dar largas asas ao seu gênio mordaz e tempera­
mento arroubado, através de exímios desenhos e A segunda refere-se à Exposição Nacional de 187S,
“charges" aplicadas aos políticos locais, pela década de realizada na Corte, em que é dito: “Francisco Antônio
1870. Voltando a Portugal, transfere para a cerâmica Maria Esberard Filho, da Corte, apresentava belo e
toda a sua versatilidade intelectual e artística e escancara luzente conjunto: moringas, talhas, jarras, cadinhos,
as portas em Portugal para a reformulação dé formas ensaios de faiança e louça”, à pagina 292 da mesma
e decoração da Arte Nova. Realça o colorido forte dos obra.
esmaltes, foge das formas clássicas do torno e vai esta­ Além desses exemplares, num longo período de
belecer com o folclore e a atualidade política do país, buscas não topamos com essas faianças de fabrico
a observação dos animais, dos répteis, dos insetos, todo nacional, a não ser um estupendo exemplar da coleção
um repertório novo e audaz de soberba fatura e vigo­ Dr. Roberto Leme Monteiro (uma poncheira de 0,65
roso efeito. Dediea-se também ao artesanato azulejar, cm, policromada e bastante decorada, lembrando o
e chega a incursionar pelo mourisco. Seus artefatos mesmo artista da Confeitaria De Roche).
foram muito apreciados no Brasil, e segundo Newton A escassez de peças remanescentes desse período,
Carneiro, na década de 1890, havia no centro da cidade salvo algumas peças de Francisco Busato e a falta
de São Paulo, uma loja que fazia propaganda de seus quase absoluta de dados (ao contrário da louça vidra­
produtos. Produziu faiança e também louça vidrada. da e da meia-faiança) que possam confirmar o fabrico
Há que assinalar também, entre os antigos forne­ regular da faiança no país, nos levam a crer que não
cedores, a fábrica dc Miragaia que em 1824 passa a atingiu expressão dc importância para incluí-las como
arrendar outras duas importantes fábricas, que já vi­ de comércio regular.

* * *

B I B L I O G R A F I A

(1) A rthur de Sandão — ob. cif., pág. S9.


(2) M arques dos Santos — ob. cit.
(3 ) Salvador Luís — ob. ái„ pág. 89,
(4 ) F rancisco M arques dos Santos — ob, eil., pág. 2S6.

496
Sêc. X IX FAIANÇA BRASIL

431 - A

Trata-se de poncheira fabricada na Rio (sem marca) no último terço do século, medindo
de aliara 62 cm, própria para festas, Com decoração carregada dc folhagem apresenta um
busto sustentado por duas figuras nuas c embaixo, os brasões do Império c do R eino de
Portugal. Note-se a semelhança de vários deralhes com a por,cheira publicada por Francisco
Marques dos Santos (in Áries Plásticas, Rio) da Confeitaria Dc Roche do R io de Janeiro,
cm a n d e branco e com a do Museu Soares dos Reis (Porto), embora esta seja apenas cm
atui e branco c sá com desenhos fitoform es c geométricos.
Coleção Dr. Roberto Iremos Monteiro,

497
Sêcs. X IX ,jX X FAIANÇA PORTUGUESA
432

Foncheira ou jarro com torneira de grandes proporções (mais


ou m enos 6X cm , de altura) para confeitarias ou festas. Fundo
atui, decoração //orai cm relevo rescentiendo a influências
victorianas. Feça do fim do século X IX ou começo do X X .
N o liras d esses modelos lusos, provavelmente da região do
Porto, foram copiados pelos ceramistas locais, pois existem
remanescentes de ponche iras do m esm o género, em particular
uma da Confeitaria De Roche, R ua do Ouvidor, no R io de
Janeiro, (Vide Francisco Marques dos Santos, in Aries Plásticas
no Brasit) e outro modelo da coleção de R oberto Lem os
Monteiro, colecionador de São Paulo, estampada neste livro,
esta porém de mais farta policromia e maior elaboração.
Cortesia do M useu Nacional Soares dos Reis.

498
Séc. X I X LOUÇA PORTUGUESA
Ornamental

433

Dois exemplares de vasos de jardim, da segunda metade do


século X IX , da fábrica de Santo Antônio do Porto.
O primeiro faz parte do acervo da sede da Fazenda do Pinhal,
em São Carlos; o segundo é dá Fazenda A lagoa, do Dr.
M athias Mariani Bittencourt, em Santo A m aro — Bahia.

Fotos; Bento Pereira Bueno,

499
Sécs. X IX /X X FAIANÇA PORTUGUESA NO BRASIL

43 «

O baião com as turnos imperiais brasileiras, (primeiro reinado) í


<le fabrico de F eifença — peça rara, ainda com decoração ris-
cendendo ao Oriente (as palmeias na base). Coleção do A m or.
A sopeira em azul e branco, ostenta ainda decoração oriental
e é proveniente de Vita N ova de Gaya.
Coleção do A utor,

O prato ern baixo traz ainda na c,bu a decoração típica dos


festões, usada no século X V III; a p e ç á se m marca é atribuída
à fábrica Bica dos Sapatos, Coleção de A nita Marques da
Costa.
E o boião em baixo em azul e branco é do século X V U l e faz
parte das coleções do antigo M useu do Estado da Bahia.
Fcbrico de Darque (Viana),

500
séa. XIX/XX FAIANÇA PORTUGUESA NO BRASIL

O prato â esquerda ao alto è deste século e atribuído po


fabrico de Coimbra; o da direita, atribuído a Extrcnióz, assim
como a travessa que peia decoração .. cm jeslões, pode ser
atribuída ao final da século X V III ou começo do século X IX .
O pires poiicromado tem as marcas de Sacavcm e é deste século.
À s três primeiras peças são da coleção , cio Sr. Paulo fAenano
{Sentas). A travessa com um coelho e o prato m nt uma figura
são de fabrico moderno com as decorações inspiradas no século
XVÍ1. Coleção de Conceição da Costa Neves.

SOI
LOUÇA PORTUGUESA
O rn a m e n ta l

443

Tipo de ponteira, usada sabre cimalhas, de uso comum no


arremate de construção na cidade de Belém (Pará).
0 formato é de Inspiração greco-romana (acroteriurn) assimi­
lado em Portugal com o ornamentação externa, conhecido com o
antefixos. Existem também outros tipos de ornatos, em barro
cozido, fabricado por D c vezos, entre outras fábricas
portuguesas. Coleção do Autor.
VII - FA IAH ÇA FIN A

o p rim e iro c a p ítu lo , tiv e m o s d e m e sa d e fa ia n ç a , e m a z u l e b r a n c o , im ita n d o m o tiv o


o p o rtu n id a d e d e n o s e s te n d e r s e t e c e n ti s ta .c,)
s o b re s e u c o n c e ito , a ssim c o m o D iv e rs o s p a íse s e u ro p e u s e x p o rta ra m p a r a o B ra sil
in d ic a r a s n u m e r o s a s d e s ig n a ç õ e s fa ia n ç a fin a d e d ife re n te s v a rie d a d e s c a s m a is d is p a r a ­
p o r q u e d a é c o n h e c id a e n tr e o s ta d a s d e s ig n a ç õ e s e m a rc a s .
c e ra m ó g ra fo s , o s fa b ric a n te s e o
S o b re s s a e m e n tr e eles P o rtu g a l, F r a n ç a , A le m a ­
c o m é rc io in te rn a c io n a l.
n h a , H o la n d a , In g la te r r a , B é lg ic a e L u x e m b u rg o .
C o m o a fa ia n ç a d o m in o u o m e rc a d o c e râ m ic o E m P o rtu g a l, a íin h a m -s e d iv e rs o s c e n tr o s m a n u fa -
u tilitá r io c d e a d o r n o n o s sé c u lo s X V I I e X V I I I n a
tu r e iro s e o s tip o s m a is u s a d o s e r a m o p ó d e p e d ra e o
E u r o p a , a q u e le s n o v o s p r o d u to s e m q u e s o b re s s a e m o
g ra n ito . O c o n h e c im e n to d a s fó rm u la s e d o s n o v o s p r o ­
p ó d e p e d ra e o g ra n ito , irã o s e im p o r n o m e rc a d o d a
c e sso s d e c o ra tiv o s , c h e g a ra m c e d o a P o rtu g a l, d a d a s as
lo u ç a d e u so c o m u m , n o tr a n s c u rs o d o sé c u lo X IX .
e s tre ita s re la ç õ e s d in á s tic a s , p o lític a s e c o m e rc ia is com
M a s p a r a a q u e le s p ro d u to s v e n c e re m a fa ia n ç a a v e lh a A lb io n . A s sim , a in d a n o s é c u lo X V I I I , p e lo se u
n o te r re n o u tilitá rio , m o rm e n te n o s serv iço s- d e m esa fin a l, h á m e n ç ã o d e q u e a R e a l F á b r ic a d e L o u ç a d e
e v a silh a m e , d e s tin a d o s a u m a fa ix a d e p o d e r a q u is itiv o P e d ra d o C a v a q u in h o e a d e M ira g a ia n ã o só fa b ric a v a m
m é d io d a p o p u la ç ã o , fo i p re c is o o c o n c u r s o d e fa to re s p a r a o m e r c a d o in te rn o lu s o , c o m o e x p o rta v a m p a r a o
d e c isiv o s. O p rim e iro d e le s c o m o j á fo i s a lie n ta d o , foi B ra s il, já q u e a s d u a s h a v ia m so lic ita d o is e n ç ã o d e
se m d ú v id a a d e s c o b e rta d e p a s ta s a lv a s , e s b r a n q u iç a ­ d ire ito s d e e n tr a d a a q u i, a o te m p o d e D o n a M a r ia I.
d a s o u c re m e s, d e c o r u n ifo rm e , o q u e d is p e n s a v a a H á ta m b é m o u tr a s c o m o a d e S a c a v é m , a d e
a p lic a ç ã o d o e s m a lte o p a c o e s ta n ífe ro p a r a e n c o b rir a
M a s s a re llo s , a d e C o n s tâ n c ia ( 1 8 3 6 ) e A lc â n ta r a .
te r r a c o ta e re c e b e r a d e c o ra ç ã o .
S o b re a d e M a s s a re llo s , in fo rm a -n o s A r t h u r d e
O o u tr o f a t o r fo i a d e s c o b e r ta d e v á rio s o u tr o s
S a n d ã o , q u e p e la a lt u r a d e 1 8 3 0 , já fa b r ic a v a e la p ó de
p ro c e sso s in d u s tria is d e tr a n s p o s iç ã o d e m o tiv o s , to r­
p e d ra “ m a n te n d o o s e g re d o d o e s m a lte in g lê s, d e n tr o
n a n d o a d e c o ra ç ã o m a is sim p le s, m a is b a r a ta e tã o
d o c o f r e " . CT
fiel q u a n to a a rte s a n a l, n a a p r e s e n ta ç ã o d e d e ta lh e s e
d e e fe ito s c ro m á tic o s. H á m e n ç ã o ta m b é m d e q u e a F á b ric a d e V is ta
A le g re ( 1 8 2 4 ) , a o la d o d e s u a e s p lê n d id a p ro d u ç ã o e m
O “ tra n s fe r-p rin tin g ” já v in h a d o s é c u lo X V I I I ,
p o rc e la n a , ta m b é m p a s s o u a p ro d u z ir a v a rie d a d e d e
a p lic a d o p rim e iro s o b re o v id r a d o e d e p o is s o b o v id ra ­
fa ia n ç a fin a c o n h e c id a p o r g ra n ito ( i r o n s t o n e ) .
d o . S e g u e -se o p ro c e s so lito g rá fic o c h a m a d o ta m b é m
d e d e c a lc o m a n ia , d e c u s to m e n o r c e fic iê n c ia e q u iv a ­ A s lo u ç a s m a is c o m u n s n o B ra sil e ra m as d e M a s -
le n te . E m 1 8 3 0 , a s e g u ir o C h r o m o l it o g r á f i c o e a in d a s a re ilo s e S a c a v é m . A in d a re c e n te m e n te fo i p o s to a
o fo to g rá fic o ou fo to c e rá m ic o , p o r v o lta d e 1 8 7 0 . v e n d a u m p r a t o fu n d o c o m d e c a lc o m a n ia p r e t a n a C a s a
T o d as e ssa s in v e n ç õ e s s ã o d e v id a s m o rm e n te a o s d o s L e ilõ e s, e m S ã o P a u lo ( M a r ç o de 1 9 7 8 ) c o m a
in g leses, q u e m u ita s v ezes, a p lic a v a m n a m e s m a p e ç a m a rc a n o v e rs o M a s s a re llo s — C & W — P o rto .
u m e o u tr o , in clu siv e o m a n u a l e m g e ra l, n o c e n tr o da Q u a n to à S a c a v é m , e m m u s e u s d o N o rte e n tr e co­
p eça d e c o ra d a , m o rm e n te n a a z u le ja ria . le c io n a d o re s c o m o a n ttq u á ç to s n o R io , a in d a se e n c o n ­
H a v ia fá b ric a s n a E u r o p a , q u e s c d e d ic a v a m so ­ tra m p ra to s , tra v e s s a s e s o p e ira s d a q u e la m a n u f a tu r a ,
m e n te a o fa b ric o de fa ia n ç a fin a . P o ré m , c o m o o sé c u lo d e fin o a c a b a m e n to , im ita n d o b e m o g ê n e ro in g lê s,
X IX , r e p r e s e n ta v a n a re a lid a d e u m sé c u lo d e tr a n s iç ã o m a rc a d o s : “ S a c a v é m ” , u m a " Â n c o r a " e “ E s tá t u a " , e
e n tr e o a rte s a n a to e a p ro d u ç ã o in d u s tria l, a m a io ria d o s o u tro s c o m d e c o r a ç ã o flo ra l n a b o r d a e n o c e n tro flo re s
e sta b e le c im e n to s c e râ m ic o s m a n tin h a o fa b ric o tr a d i­ e d o is p á s s a ro s , a z u l e b r a n c o , dc b o m a c a b a m e n to ; tra z
c io n a l d e fa ia n ç a e p a ra le la m e n te e n tre g a v a -s e ao a m a r c a “ F a is ã o G ilm a n & C ia . — S a c a v é m ” . íJ}
fa b ric o d o s o u tro s g ê n e ro s e m v o g a , c o m o a fa ia n ç a A p rin c e sa d o B ra s il, D o n a M a r ta d a G ló ria , d e p o is
fin a e a p o rc e la n a . D o n a M a r ia II, ra in h a d e P o rtu g a l, p o s s u ía u m se rv iç o
P o d e -s e d iz e r q u e P o rtu g a l fo i u m d o s p a íse s m ais fin o d c m e sa c o m fris o e c o ro a re a l na a b a , d o u ra d o s ;
fiéis à tra d iç ã o d a fa ia n ç a p o is a té o fin a l d o s é c u lo X IX p a rte d e ss e se rv iç o e r a e m p ó d c p e d ra , m a rc a d o S a c a -
e m e s m o a in d a n o c o m e ç o d o X X , c o n tin u a a p r o d u ­ vem , p a r te n ã o m a r c a d o c o u tr a p a r te c m p o rc e la n a d a
z i-la , s o b re tu d o , n o g ê n e ro o rn a m e n ta l. A esse re s p e ito fá b ric a d c H a v illa n d ( L im o g e s ) . G ra n d e n ú m e ro d e ssa s
ex iste m te s te m u n h o s e x p re s s iv o s c o m o se rv iç o s d e F á ­ p e ç a s, in c lu siv e s o p e ira s , fazem p a rte d o a c e rv o d o
b r ic a de C a rv a lh in h o s , d o P o r to , d e c o ra d o s a m ã o , e n ­ p rín c ip e D o m P e d ro G a s tã o d e O rle a n s e B ra g a n ç a .
c o n tra d o s e m P e tró p o lis , c o m o d e C o im b ra , a m b o s d e s­ C o m re la ç ã o a o s p ro d u to s fra n c e s e s e m fa ia n ç a
te s é c u lo (c o le ç ã o P a u lo M c n a n o ) e a in d a e m c o le ç ã o fin a, so m e n te p e lo ú ltim o q u a rte l d o s é c u lo X l X e
d e A n ita M a rq u e s d a C o s ta ( C a r v a l h in h o ) c se rv iç o s c o m e ç o d o s é c u lo X X , s ã o e le s e n c o n tr a d o s e n tr e n ó s.

503
E s ã o as rim p o rta n te s fá b ric a s d e E . B o u rg e o is d e T iv e m o s o p o rtu n id a d e lin h a s a tr á s , e m “ A z u le jo s ” ,
M a r s e lh a , a F a íe n c c rie d e S a rre g u e m in e s e as fá b ric a s d e r e l a t a r o h is tó ric o d e V ille ro y & B o c h e re s s a lta r o
d o g ru p o fra n c o -a le m ã o d e V ille ro y -B o c h , a s q u e m ais p a p e l p o r e ss a firm a d e s e m p e n h a d o n a d e c o ra ç ã o a z u -
e x p o rta m p a r a o B ra sil. E n tre esses e x p o rta d o re s , d e s ta ­ le ja r n o B ra sil.
c a -s e S a rre g u e m in e s, m a n tid a p e lo s d e s c e n d e n te s d e N ã o foi m e n o r a s u a c o n tr ib u iç ã o n o s o u tr o s g ê n e ­
U tz s c h n e id e r e q u e c o n h e c e u n a s e g u n d a m e ta d e d o ro s c e râ m ic o s . E x p o r to u - n o s se rv iç o s d e d iá r io c o m
sé c u lo , g ra n d e v oga n o m e io fra n c ê s e u m e n o rm e d e s e n ­ d e c o ra ç õ e s p o li c ro m a d a s , e m b r a n c o e v e rd e o u e m
v o lv im e n to e d e m o n s tro u u m a im p re s s io n a n te v e r s a ti­ b ra n c o e a z u l, c o m v is ta s p a n o râ m ic a s e d e m o n u ­
lid a d e e c ria tiv id a d e , ta n t o n a p ro d u ç ã o c o m o n a d e c o ­ m e n to s e à s ; vezes to d o s e m b r a n c o o u c o m e sp ig a s d e
ra ç ã o d e se u s a rtig o s q u e a b ra n g ia m a lo u ç a v id ra d a , trig o m o ld a d a s n a p a s ta .
g rés fin o s n o g ê n e ro d e W e d g w o o d , p e ç a s d e c o r a d a s em T a m b é m n o s fo rn e c e u e s c a rra d e ira s e u rin ó is c o lo ­
lu s tre , à m a n e ira in g le sa , e, so b re tu d o , a fa ia n ç a f in a .
rid o s, e c o m o já d is s e m o s a z u le jo s e la d rilh o s .
P ro d u z iu ta m b é m u m a s é rie v a ria d a d e a z u le jo s A r t-
P e ç a s d a q u e la p ro c e d ê n c ia s ã o a in d a e n c o n tr a d a s
-N o u v e a u , a ss im c o m o a tr a e n te s e a rtís tic o s p a in é is
em v á rio s re c a n to s b ra s ile iro s . N o sítio d e S a n to A n tô ­
c o m o o e x is te n te n o M u s e u d e A z u le jo s d e L is b o a —
n io , e m S ã o R o q u e (S . P a u l o ) , q u e fo i p r o p r ie d a d e d o
n e ss e s e to r c rio u jo g o s d e a z u le jo s e la d rilh o s c o m b in a n ­
e s c r ito r M á r io d e A n d ra d e , o jo r n a lis ta P a u lo D u a r te
d o r u m p ia s e a p a re lh o s s a n itá rio s q u e ta m b é m f a b r ic a ­
e n c o n tr o u m e io p r a to re p r e s e n ta n d o u m a ig re ja e c o m
v a p a r a a m b ie n te s re q u in ta d o s a tra v é s d e s u a s u b s id iá ria
os d iz e re s : “ L e m b ra n ç a d e T re m e m b é " .
c o n h e c id a p o r “ V itr y -L e -F ra n ç o is " .
E m u m b a rc o d e g u e rr a a fu n d a d o n a E n s e a d a d o
G e o rg e s F o n ta in c in fo rm a q u e e m 1 8 7 1 , a fá b ric a
A b ra ã o , e m A n g ra d o s R e is , n o c o m e ç o d o s é c u lo ,
d e S a rre g u e m in e s fu n d o u o u tr a s d u a s s u c u rs a is : a d e fo ra m re c u p e r a d a s n u m e ro s a s p e ç a s d o se rv iç o d e b o rd o ,
D tg o irt e a d e V itry -L e -F ra n ç o is . (4> P ro d u z iu u m se m
c o m o m a lg a s, x íc a r a s , p r a to s , e tc ., ta n to e m b r a n c o
n ú m e r o d e p la c a s, ta b o lc ta s e c a rte ia s in d ic a tiv a s , c o m
c o m o c o m ra m a g e n s era a z u l, q u a s e to d o s m a r c a d o s :
n o m e s d e m o ra d ia s (V ila K y ria l, e t c .) , d e p ro fiss õ e s c
V ilie ro y & B o c h — W a llc rfa n g c n , d o a d o s p o r u m m e r­
d e c o m é rc io , d e b e lo e fe ito d e c o ra tiv o .
g u lh a d o r p a r tic u la r a o M u s e u d a M a r in h a n o R io . E x is ­
E x p o r to u p a ra o B ra s il m ú ltip lo s se rv iç o s d e m e sa , te ta m b é m u m a s é r ie d e p r a to s c o m a re p r o d u ç ã o d e
a lg u n s d e le s e x ib in d o n o v erso o n o m e d o m o d e lo c o m o : n a v io s d e g u e rra b ra s ile iro s , c o m o o c n c o u ra ç a d o S ã o
F le u r y — B ry o n ta — J a rd in ie re — - B o u q u e ts — C h in a P a u lo , o M in a s G e r a is e o R io d e J a n e i r o ; (e s te fo i
— P e r a — Y e d d o — E s p a g n e — e tc ., o u e n tã o o e n c o m e n d a d o à I n g la te r ra , p o ré m c o m a g u e rr a d e
n ú m e ro d o m o tiv o , c o m o " D e c o r 1 8 ’’. ® 1 9 1 4 , n ã o c h e g o u a s e r e n tre g u e à n o ss a M a r in h a ) . T ê m
a m a r c a B o c h F r è s la L o u v iè re e m se lo v e rm e lh o e s ta m ­
S a rre g u e m in e s m u ito c o n trib u iu n a d iv u lg a ç ã o d e
p ilh a d o . V ista s h á d o C o rc o v a d o c o m o b o n d e “ B o ta ­
n o s s a ic o n o g ra fia n o fi nal d o s é c u lo X I X e c o m e ç o d o
fogo n .° 5 8 ” e d e c o ra ç õ e s ro c o c ó , e m v e rd e c la r o e
X X , c o m a re p ro d u ç ã o d e p e rs o n a g e n s d e n o s s a h is tó ­
m a rc a d o B o c h & F r è r e s K e ra m is .
ria , d e lo g ra d o u ro s p ú b lic o s cio R io d e J a n e i r o e d e
S ã o P a u lo , d e C o rp o ra ç õ e s M ilita re s , c o m o o C o rp o C o m re fe rê n c ia a o fo rn e c im e n to d e b e lo s a rtig o s
d e B o m b e iro s d o R io d e J a n e ir o e d e S ão P a u lo , d a em fa ia n ç a fin a d e F r a n ç a , te m o s a in d a q u e n o s re fe rir
F o r ç a P ú b lic a , etc . a L im é v ille , q u e n o sé c u lo p a s s a d o e c o m e ç o d e ste ,
ta m b é m n o s e x p o rto u fa ia n ç a fin a — foi e la fu n d a d a em
O u tr o im p o rta n te f o r n e c e d o r d o m e rc a d o b ra s i­
17 4 9 , p o r J a c q u e s C h a m b rc tte , q u e h a v ia d e s c o b e rto
le iro fo i o c o n s ó rc io V ille ro y & B o c h , a tra v é s d o s u a s
u m a fó rm u la p r ó p r ia d e fa ia n ç a fin a c o m a a d ju n ç ã o de
m ú ltip la s e m p re s a s s u b s id iá ria s e s ta b e le c id a s ta n t o n a c a l. P ro d u z iu b a s ta n te no e stilo ro c a ille c o m u m a c a ra c ­
A le m a n h a , F r a n ç a , L u x e m b u rg o , B é lg ic a , c o m fá b ric a s
te rís tic a d c p a sta b a s ta n te b ra n c a . E x is te m e sp é c im e s de
e m M e tta la c h , c m A u d u n L e T ic h e , L a L o u v íè rc , W a l-
m u ito b o m g o sto n o B ra sil, d c g ê n e ro s d iv e rso s c o m o d e
íe rfa n g c n o u V a u d re v a n g e s, T o u m a y , D re s d e n , S a in t
ja p o n is m o ( F a z e n d a F lo r e s ta — M u n ic íp io d c S ã o
V a a s t, e tc .
C a rlo s ) é c ó p ia d o s é c u lo X V I I I , im ita n d o ta n t o n a
E sse v a sto le q u e d e e sta b e le c im e n to s p ro d u z iu to ­ fo rm a c o m o n a d e c o ra ç ã o a a n tig a fa ia n ç a fra n c e s a
d o s os g ê n e ro s c e râ m ic o s ; ta n to a p o rc e la n a m o le c o m o c o m ra m a g e n s v e rd e s e flo re s ( I r in e u  n g u lo -— le ilã o
a d u ra , ta n to a lo u ç a v id ra d a , a fa ia n ç a , c o m o o g ré s e d e 1978 — S o p e ir a ) . L u n é v illc c o n to u d u ra n te algum
a in d a o b is c u it e m q u e sc e s m e ra n o g ê n e ro “ P a r i a n ” te m p o c o m a c o la b o r a ç ã o d e u m a rtis ta n o tá v e l, ta n to
fa b r ic a d o p e lo s ingleses e m fa ia n ç a fin a . É n o se to r c e ra m is ta c o m o e s c u lto r.
e sp e c ífic o d a fa ia n ç a fin a q u e riv a liz o u c o m S a rre g u e ­ Q u a n to a H o la n d a , n o q u e se re fe re a fa ia n ç a fin a ,
m in e s, p r o d u z in d o u m g ra n d e s o rtim e n to d e m o d e lo s de d e s ta c a m -s e os p ro d u to s d o s d iv e rso s e sta b e le c im e n to s
se rv iç o s c o m d e c o ra ç ã o v a ria d a c o m o c e n a s d e b a ta lh a s , d a fa m ília R e g o u t ( P c t r u s — L o u is c M . R e g o u t) e d a
p a is a g e n s, fig u ra s e m o tiv o s c o n h e c id o s p o r C a n to n - “ S o c ie té C é r a m iq u e " , e m M a e s tric h t e a in d a d e M . B o c h
-S y ria n -F a u v e ttc -O p je n t, e tc ., e a in d a p ra to s c o m d e se ­ e m W ic h . D e ssa s a s m a is c o n h e c id a s e n tr e n ó s c que
n h o s m o ld a d o s. T a m b é m u so u o lu s tre te n d o in v e n ta d o fa b ric a v a m p ra tin h o s e ra m a S o c ie té C é ra m iq u e c a
u m p ro c e s s o d e d e c o ra ç ã o à b a s e d e pi a tin a , d a n d o às de P e tru s R e g o u t & C ie . A p rim e ira a p re s e n ta n o v e rso
p e ç a s u m a s p e c to m e tá lic o p ra te a d o , le m b ra n d o o “ sil- d a s p e ç a s, u m le ã o d e n tr o d o se lo e s ta m p ilh a d o e a
v e r lu s tre ’’ in g lê s, p o ré m , m a is fo rte ! Q u a n to a o s estilo s, se g u n d a u m a e sfin g e n a p a r te s u p e rio r.
a c o m p a n h a n d o a m o d a e m vo g a, c o p io u d e s d e o ro c o ç ó , A p ro d u ç ã o d e s s a s fá b ric a s se re s u m e n o fa b ric o
c o m lin d a s fo n te s e b a c ia s , c o m o o N e o -c lá s s ic o e a b o r­ de p ra tin h o s c o m a b a ( r a n ç a d a m o ld a d a , d e d ife re n te s
d o u c o m d e s e n v o ltu ra o A rt-N o u v e a u , U m d o s se rv iç o s c o re s, te n d o a o c e n tr o u m a v ista p o lic ro m a d a ( p ro c e sso
d e N a p o le ã o foi feito em S e p t-F o n la in e s . V á ria s p e ç a s ío to c e râ m ic o ) d c lo g r a d o u ro p ú b lic o , m o n u m e n to o u
d e ss e c o n s ó rc io fig u ra m n o M u s e u d e S èv rcs e n o d a p a lá c io , A ú ltim a s é r ie d e s s e s p r a to s a p a re c e n a c o m e ­
S e d e d a e m p r e s a em M e tta la c h ( A le m a n h a ) . m o ra ç ã o d o I V C e n te n á r io d a D e s c o b e rta d o B ra s il, c

504
tr a z e m a p o s ta s e m d o u r a d o as d a ta s Í S 2 2 -1 9 2 2 . é v a s­ — P ã o - d e - A ç ú c a r — R io d e J a n e iro .
tíssim a a ic o n o g ra fia q u e e le s re p ro d u z ira m d e m o n u ­ — U m tre c h o d a r u a l . ° d e M a r ç o — R io d e
m e n to s e d e c id a d e s b ra s ile ira s e q u e s e e s te n d e a té o J a n e iro .
p rim e iro q u a rte l d o sé c u lo X X , T a m b é m re p ro d u z ira m — P a lá c io d o G o v e rn o — S ã o P a u lo ,
u m a sé rie d e e m b a rc a ç õ e s m a rc a d a s n o v erso " N a v ir e s " — P a lá c io M o n r o e — R io d e J a n e iro .
( P e t r u s R e g o u t) . — E s tá tu a D . P e d ro I — R io d e J a n e iro .
— R u a 15 d e N o v e m b ro — S ã o P a u lo .
A s e g u ir e n u m e ra m o s a lg u n s d o s p ra to s c o m v ista s
— E s ta ç ã o d a L u z — ( D o is â n g u lo s ) .
b ra s ile ira s :
— R u a J o ã o A lfr e d o — S ã o P a u to .
— P r a ç a E u c ly d e s M a lta — M a c e ió . — Ig re ja /d o T re m e m b é — c o m os d iz e re s e m d o u ­
— M o n u m e n to a D e o d o ro — M a c e ió . r a d o “ F e s ta d e T re m e m b é ” .
— I a q u e ir a — B a h ia . E m b o r a d e m a te ria l in f e r io r e m a l e x e c u ta d o s , re ­
— Ig re ja e H o s p ita l d a M is e ric ó rd ia — C a c h o e ira p re s e n ta m esse s p r a to s u m d o c u m e n tá rio v a lio s o . C o n s ­
— B a h ia . ta q u e e ra m d e s fe ito s d e e n c o m e n d a n a H o la n d a p a r a
— M a g d a le n a P e rn a m b u c o . c o m e rc ia n te s im p o rta n te s d e d iv e rs a s c id a d e s , q u e as
— S a n to s — V ista G e ra l. d is trib u ía m c o m o b rin d e s , j u n t o c o m a s m e rc a d o ria s
— B a irro d e S a n to A n tô n io — P e rn a m b u c o . v e n d id a s.
— R u a M u n ic ip a l — M a n a u s . D e n tr o a in d a d e ss a ic o n o g r a fia e m f a i a n ç a fin a ,
— P ra ç a da R e p ú b lic a — E s tá tu a d e Braz C u b a s c o m m o tiv o s b ra s ile iro s , d e v e m o s le m b r a r q u e e x iste
— S a n to s . u m a sé rie d e b a n d e ja s p o lic ro m a d a s c o m v is ta s v a ria d a s
— T e a tr o M u n ic ip a l -— R io d e J a n e iro . d o R io d e J a n e iro , d e fa b r ic o tc h e c o . F a lta m - n o s a té o
— A v. B e ira M a r — B o ta fo g o — R io d e J a n e iro . m o m e n to e le m e n to s p a r a filiá -la s à s fá b r ic a s n a T c h e -
— I n te n d ê n c ia M u n ic ip a l — P o rto A le g re . c o s lo v á q u ia e a o seu p e río d o d e fa b r ic a ç ã o ; a c re d ita m o s
— S a n to s — M e rc a d o e M o n t S e rra i. q u e s e tr a ta d e sé rie s d o c o m e ç o d o sé c u lo .

444

Alguns tios tipos th’ barcos da coleção fabricada por Petrus


Regout (Maestriçht), vendo-se dois a vapor c urn veleiro do
século X IX .

P o ré m o q u e re a lm e u te c o n q u is to u o m e rc a d o b r a ­ q u a n tia d e q u a tr o m il réis,
sile iro p e la p re fe rê n c ia q u e lh e d is p e n s a v a o g ra n d e a iiá s d e lo u ç a in g le sa c o m q u e
p ú b lic o , so b re tu d o , o d o in te rio r, foi a fa ia n ç a fin a a m a rg e m s e s a b e ..................... CS 4 .0 0 0
in g lesa, c o m as su a s v a rie d a d e s m a is c o rre n te s : o pó d e Q u a tr o p ra to s g ra n d e s d e
p e d ra e o d e g ra n ito . lo u ç a p ó d e p e d r a c o m b ic o s
A c re d ita m o s q u e o u so d essa lo u ç a n o B ra sil r e ­ a z u is, a v a lia d o s c a d a u m a
m o n te a in d a a o sé c u lo X V I I I , p o is e x is te u m in v e n tá rio n o v e c e n to s e s e s s e n ta réis . C $ 960
e m 1 8 0 8 , c u jo a c e rv o d e v e s e p re n d e r m ais a p e rte n c e s C in c o d ito s d a m e s m a lo u ç a
d o sé c u lo a n te rjo r, m a is p e q u e n o s a v a lia d o s c a d a
E is o a rro la m e n to : u m a p e la q u a n tia d e s e te c e n ­
“ fo lh a s 2 8 — u m a p a re lh o de c h á d e lo u ç a to s e v in te r é i s .............................. C $ 720
d a ín d ia , tin ta s a z u is c o m fa l­ C in c o s a la d e ira s d a m e sm a
t a d e le ite ira e u m a x íc a r a e lo u ç a a v a lia d a s c a d a u m a e m
u m p ire s a v a lia d o tu d o n a tre z e n to s réis ........................... .. C $ 300

505
Q u a tro p ra to s g ra n d e s de lo u ­ d e m -s e e n c o n tr a r p e ç a s q u e p o s s a m s c r a tr ib u íd a s c o m
ç a p ó d e p e d ra co m p ra d o s s e g u r a n ç a à m a n u f a tu r a p o rtu g u e s a , nesse p rim e iro
a v a lia d o c a d a u m a se isc e n to s q u a rte l d o s é c u lo X I X .
e q u a re n ta r é i s ........................... C S 640
E n t r e as fá b ric a s q u e m a is s e d e s ta c a ra m n o f o r ­
C in c o so u p e ira s d a m e sm a n e c im e n to a o m e rc a d o b ra s ile iro , h á q u e se d e s ta c a r
lo u ç a c o m seu s p ra to s a v a ­ W e d g w o o d e S p o d e , as q u a is c o n tin u a m a té h o je p ro ­
lia d o s c a d a u m a a q u in h e n to s d u z in d o a rte fa to s c e râ m ic o s , in c lu siv e fq ia n ç a fin a.
réis ................... .. ......................... c$ 500
E s s e s d o is e s ta b e le c im e n to s m a r c a ra m é p o c a p e lo
T rê s tig elas d e lo u ç a b ra n c a
q u e r e p r e s e n ta r a m n o p a n o r a m a c e râ m ic o d o s sé c u lo s
p ó d e p e d r a a v a lia d a s c a d a
X V n i e X I X , ta n t o p e la s in o v a ç õ e s d e p a s ta s c o m o
u m a a c e n to e se s se n ta réis e$ 160
p e la s c ria ç õ e s d iv e rs ific a d a s d e té c n ic a s , fo rm a s, g é n e ro s
U m a le ite ira de lo u ç a p ó d e
e d e c o ra ç ã o .
p e d ra se m ta m p a , a v a lia d a a
q u a n tia d e d u z e n to s ré is . . . cs 200 A fá b ric a d e W e d g w o o d foi fu n d a d a p o r J o s ia h
O ito d ú z ia s d e p r a to s d e lo u ­ W e d g w o o d e m 1 7 5 9 , n a s c id o e m B u rs lé m e m 1 7 3 0 e
ç a p ó d e p e d ra c o m b ic o s fa le c id o e m 1 7 9 5 e fqi c o n s id e ra d o p o r su a s re a liz a ç õ e s
azuis, a v a lia d o s c a d a u m a c o m o o p a i d a c e râ m ic a in g le sa . S u c e d e ra m -lh e se u s
c e n to e v in te réis . ................... C $ 120 filh o s e só c io s. E m 1 7 6 6 , a sso c io ti-se c o m T h o m a z
B e rtle y q u e fa le c e u e m 1 7 8 0 .
‘'fo lh a s 29 — U m a m a n te g u e ira d e lo u ç a p ó
d e p e d ra c o m b ic o d o u ra d o N o q u e d iz re s p e ito à d e c o ra ç ã o d a fa ia n ç a fina,
aliás b ic o azu l, a v a lia d o a W e d g w o o d a p lic a v a e m se u s p ro d u to s o s is te m a d e
q u a n tia d e d u z e n to s e q u a r e n ­ “ tr a n s fe r -p rin tin g ” d e s d e 1 7 5 5 , o q u a l e r a e x e c u ta d o
t a r é i s .............................................. C $ 240 p o r o u tr a firm a , e m L iv e rp o o l, S a d le r & G re e n , u m a
d a s p io n e ira s n a q u e le m é to d o d e tr a n s p o s iç ã o e fo rn e c e ­
( I n v e n tá r io d o s b ens d o C iru r g iã o -M o r M a n o e l M a rtin s
dos S a n to s R e g o e  n g e la F e r r e ir a P re s te s ( 1 8 0 8 - 1 8 1 0 ) d o r a d o s d e s e n h o s e m c h a p a s d e c o b re . P o ré m e ra 1 7 7 4
— S ã o P a u lo , a rq u iv o d o D r. L u iz R o d rig u e s d e M o ­ W e d g w o o d p a s s a a c o n fe c c io n a r su a p r ó p r ia e s ta m p a ­
ra e s , d e s c e n d e n te ), g e m e a c o m p le m e n ta r a d e c o ra ç ã o c o m seu s p ró p rio s
g ra v a d o r e s e p in to re s .
A se g u ir, d a m o s p a r te d o c o n te ú d o d e lo u ç a c o n ­
sig n a d a e m u m d o s m a is im p o rta n te s in v e n tá rio s d o A in d a n a q u e le a n o re c e b e u v in te e c in c o d e s e n h o s
c o m e ç o d o sé c u lo . T r a ta - s e d o a rro la m e n to d o s b e n s q u e h a v ia m sid o e n c o m e n d a d o s a G re e n , e m L iv e rp o o l
d o C o n s e lh e iro E lia s A n tô n io L o p e s , fa le c id o e m 7 d e p a t a a d e c o r a ç ã o s ó b r ia c e le g a n te d a s a b a s de se rv iç o s
o u tu b r o d e 1815 n o R io de J a n e ir o ( C ó d ig o 7 8 9 d o fin o s d e m e s a e q u e a té h o je s i o u s a d o s .
A rq u iv o N a c io n a l ) . E m 1 8 3 0 , in tro d u z W e d g w o o d n a C e râ m ic a o p r o ­
Q u a tro p ra to s c o m p rid o s tra v e sso s p ó d e ~ c e ss o c o n h e c id o p o r" lito g rá fic o ou d e d e c a lc o m a n ia e
p e d ra .......................... IS 6 0 0 q u e c o n tin u a se n d o u s a d o u n iv e rs a lm e n te . O ro! d e se u s
C in c o d o s m a is a b a ix o d e m a io r a m e n o r . $500 a rtis ta s , e r a e n o rm e , e os a lic ia v a e n tr e o s m a is a fa m a ­
S eis d o s r e d o n d o s ........................................... .. 1$440 d o s d a é p o c a , c o m o g ra n d e o n ú m e ro d e se u s m o d e lo s
S ete p ra to s g u a rd a n a p o s .................................... S230 c e n tr a is e d o s d e s e n h o s d a s c e rc a d u r a s d o s se rv iç o s.
U m b u le p e q u e n o d a Í n d i a .............................. 3160 F a b ric o u a p a re lh o s fa m o s o s c o m o o d a R a in h a C h a r ­
U m a c h íc a r a c a s a d a d a d .a .............................. 3130 lo tte , d a In g la te r r a , q u e v e io a d a r o n o m e a u m a d a s
v a rie d a d e s d a fa ia n ç a fin a , a “ Q u e e n ’s W a re ” , a ssim
D o ts p e n ic o s b ra n c o s d e p ó d e p e d ra . . . . S320
c o m o f o r m o s a b a ix e la p a r a o tz a r ru s so .
D u a s te r rin a s d e d .° . . . . . . . . . . . . . . . . . 13600
U m b u le d e b a r r o p r e t o ................................... $240 O s e s ta b e le c im e n to s S p o d e fo ra m fu n d a d o s em
U m a j a r r a d a ín d ia m a tiz a d a se m ta m p a . 2 3 0 0 0 1 7 7 0 p o r J o s ia h S p o d e ( 1 7 3 3 - 1 7 9 7 ) , q u e fo i u m d o s
U m p r a t o tra v e sso d a Í n d ia a z u l .............. .... 3500 p rim e iro s o le iro s d e S ta f fo rd s h ire a a p lic a r o a z u l s o b o
D o is p e n ic o s d e p ó d e p e d ra b ra n c o . . . . $320 v id ra d o p o r v o lta d e 1 7 8 2 , Seu filh o J o s ia h S p o d e I I ,
Q u a tr o c o v ilh e te s e o u tro p i r e s ........... .. $240 d e se n v o lv e u b a s ta n te a p ro d u ç ã o , a p ro v e ita n d o -s e d a
e sc a s se z d o s p r o d u to s c e râ m ic o s , s o b re tu d o c h in e s e s ,
E s s e fa m o s o C o n s e lh e iro g a n h o u s e u lu g a r n a h is ­ d a d o o b lo q u e io d o s p o rto s in g leses d u ra n te as g u e rra s
tó r ia n ã o p o r s u a e n o rm e fo r tu n a , p o is c o m o c o m e r­ n a p o le ô n ic a s . J o s ia h S p o d e Í I I e m 18 2 9 , a s s o c ia -s e a
c ia n te p o ss u ía c in c o n a v io s q u e c o m e rc ia v a m , in clu siv e W illia m T a y lo r C o p e la n d q u e foi p re fe ito d e L o n d re s
c o m o P o rto d e G o a , d e o n d e tra z ia m s o b re tu d o te cid o s
c m 1 8 3 5 . E m 1 8 3 3 , T h o m a z G a r r e t a g ru p a -s e â S o c ie ­
e se d a s, m as p o r h a v e r c e d id o a D o m J o ã o V I e à F a ­
d a d e a té 1 8 4 7 , p a s s a n d o a p ó s a s u a m o rte o c o n tr o le d a
m ília R e a l, p a r a seu a lo ja m e n to , a Q u in ta d a B o a V ista , firm a a o s C o p e la n d .
o n d e h o je fu n c io n a o M u s e u .
A c re d ita m o s q u e to d a s e ssa s c ita ç õ e s d e p ó d e Q u a n to à d e c o ra ç ã o , S p o d e se g u e o p ro c e s s o c o r­
p e d r a se p r e n d a m re a lm e n te , n e sse s d o is in v e n tá rio s, re n te d e “ T r a n s f e r - P r in tin g " , p o r v o lta d e 1 7 8 1 , e em
a lo u ç a in g lesa, m u ito e m b o r a te n h a m o s q u e c o n v ir q u e 1830 in te g ra -s e n o lito g r á fic o , e e m 1 8 7 0 n o f o to c e râ -
p o r a to s o fic ia is se p re s u m a q u e P o rtu g a l e x p o rta s s e m ico , c o m o a liá s a g ra n d e m a io ria d o s e s ta b e le c im e n to s
esse tip o d e lo u ç a (s o b d e n o m in a ç ã o d e lo u ç a fin a d o ta n to d a In g la te r ra , c o m o d o C o n tin e n te .
P o r t o ) . D e sd e o sé c u lo X V I I I , fin a l, n o s in v e n tá rio s D e v e m o s a in d a a s s in a la r o u tr o s p io n e iro s in g leses
c o m p u ls a d o s , n ã o é e la a s s in a la d a , e n e m n o m ateriaL n o f a b r ic o d a fa ia n ç a fin a , q u a s e to d o s a in d a p ro v in d o s
re m a n e sc e n te n o p a ís , n e m e m c o le ç õ e s e m u s e u s p o ­ d o s é c u lo x v n r .

506
E n tr e e les, T h o m ai. T u rn e r, o in tr o d u to r n a d e c o ­ H á a in d a a a s s in a la r q u e m u ita s vezes o s p ro d u to s
ra ç ã o d o m o tiv o c h in ê s c o n h e c id o p o r P o m b in h o s d e c o ra d o s p e lo siste m a d a d e c a lc o m a n ia e ra m c o m p le ­
(W illo w P a tte r n ) c q u e a té h o je c o n tin u a s e n d o re p ro ­ m e n ta d o s ta n to e m W e d g w o o d c o m o e m S p o d e , e ta m ­
d u z id o e c u ja fá b ric a e ra c h a m a d a d e G a u g h le y P o tte ry b é m c m o u tr o s fa b ric a n te s , p o r to q u e s d e e s m a lte s o u
W o rk s e J o h n T u rn e r, de L a n e E n d n o S ta ffo rd s h ire , m e sm o p e la p in t u r a a m ã o , p a r a e n riq u e c e r a a p re s e n ­
e n tre 1 7 8 0 e 1 8 0 6 , m a r c a n d o a m b a s “ T u r n e r ” g ra v a d o ta ç ã o — e m u m a p a la v r a , os se rv iç o s e p e ç a s e ra m
n a p a s ta ; W illiam A d a m s , q u e dirig iu a fá b ric a d e s o b re d e c o ra d o s o u re to c a d o s .
G re e n g a te , e m T u n s ta ll, de 1769 a 1 7 S 0 ; o s irm ã o s Isso já / a c o n te c ia a té c o m a p o rc e la n a c h in e s a q u e
G re e n , q u e f u n d a r a m a fá b ric a “ L e e d s O ld P o tte ry " , m u ita s vezes e ra re d e c o r a d a n a H o la n d a e n a In g la te rra .
co m g ra n d e s v a rie d a d e s d e m o d elo s ( í 7 6 0 - 1 8 7 3 ) G e o r­
P e lo ú ltim o q u a rte l d o s é c u lo X V I I I c c o m e ç o d o
ges H a y n e s , c o m S w a n se a ( 1 7 6 5 - 1 8 7 0 ) q u e se e s p e c ia ­
X IX , re ssu rg e n a E u r o p a , u m p ro c e s s o a n tig o de d e c o ­
lizou no g é n e ro “ O p a q u e -C h in a ” e fa b ric a v a ta m b é m
ra ç ã o c a íd o e m d e s u s o e q u e iria , n o d e c o rr e r d o sé c u lo
p e ç a s v a s a d a s e u s a v a a m a rc a g ra v a d a S w a n s e a ; J o h n
X IX c o n h e c e r d e n o v o , g ra n d e s u c e s so : o s v e tu s to s e
D a v e n p o rt e se u s filh o s, c o m fá b ric a e m L o n g p o rt em
v isto so s re fle x o s m e tá lic o s d a tr a d iç ã o m o u ris c a n a
1795, co m a rtig o s d e b o a q u a lid a d e e b o m v id ra d o
E s p a n h a . A p rin c íp io , o lu s tre re a p a r e c e co m to q u e s c
e q u e e m 1887 a in d a fa b ric a v a m fa ia n ç a fin a e lo u ç a
d e s e n h o s d is c re to s , c o m d e c o r a ç ã o s e c u n d á ria . M a is ta r ­
v id ra d a , m a r c a n d o se u s p ro d u to s c o m u m a â n c o ra
d e, d e d e c o r a ç ã o s e c u n d á r ia o u a c e s s ó ria , p a ss a o lu stre
ou D a v e n p o rt, g ra v a d o ; c ria ra m n u m e ro so s m o tiv o s,
p a r a p rin c ip a l c o m a c o b e r tu r a to ta l ou q u a s e in te g ra l
a ssim c o m o p ro d u z ira m b e la s p e ç a s e m lu stre , co m o
d o a rte fa to c o m a q u e le s ó x id o s m e tá lic o s.
b a c ia s e g o m is (O p a q u e - C h in a ) .
S u rg e m e n tã o , p e ç a s m o n ô e ro m a s c p o lie ro m a d a s
J o s h u a H e a th (1 7 7 0 a 1 8 0 0 ) c se u s su c e sso re s, de v is to so e fe ito , ta n to cm se rv iç o s d e c h á , de c a fé c d e
em H a n le y n o S ta ffo rd s h ire c r ia ra m m u ito s m o tiv o s c ja n ta r, c o m o e m o b je to s d e a d o r n o e n o v a silh a m e .
d e se n v o lv e ra m g ra c io sa s v ersõ es d o s P o m b in h o s c o m
S eg u n d o N . H u d s o n M o o r e , “ s u p õ e -s e q u e foi
d e c o ra ç ã o m e n o s c a rre g a d a d o q u e o s d e m a is f a b r ic a n ­
W e d g w o o d q u e m p ç ím c ito a p lic o u os lu s tre s n a I n g la ­
tes (u s a v a a m a rc a L H .) e a in d a m u ito s o u tro s c o m o
te r ra , o “ c o p p e r ” e o “ g o ld " e m 1776 d e u m a re c e ita
W o o d , S a d le r a n d G re e n , M in to n , M a s o n , J o h n s o n
fo rn e c id a p e lo D o u to r F o ttu rg ill" . J o s é de A lm e id a
B ro th e rs, J. M e ie r & S o n , e tc.
S a n to s (S> a p o n ta o u tro s v á rio s n a In g la te rra , c h e g a n d o
C a b e m a q u i a lg u m a s p a la v ra s s o b re os p ro c e sso s e le p ró p rio à c o n c lu s ã o d e q u e “ s e r ia te m e rá rio re in v i-
a q u e n o s re fe rim o s, s o b re a d e c o ra ç ã o c o rr e n te n a d ic a r-s c p a r a e s te o u a q u e le a p rim a z ia d a d e s c o b e rta
fa ia n ç a fin a n o s sé c u lo s X V H I e X IX , d o p ro c e s s o ” . N a E u r o p a C o n tin e n ta l, ta m b é m são
O “ tr a n s fe r -p rin tin g ” o u “ tra n s fe r” o u p ro c e sso de a p o n ta d o s o u tro s p io n e iro s . D iz e m Iv o n n e B ro u s s a rd e
tra n s p o s iç ã o c o n siste e m d e c o ra r a p e ç a p a s s a n d o p ri­ À la in J a c o b , q u e “ o p ro c e s s o foi im p o rta d o d a B a v ie ra
m e iro e m u m a c h a p a d e c o b re , c o n te n d o os d e se n h o s e n tre 1 8 0 6 e 1 8 0 8 à m e sm a é p o c a e m q u e L a m b e r t
u m a tin ta p re p a r a d a c o m ó x id o s m in e ra is, e a se g u ir o b tin h a u m p rê m io e m P a ris p o r s u a d e s c o b e r ta ” .
tra n s fe rin d o o s m e sm o s a in d a ú m id o s, so b re pape! e O q u e te m o s d e p re v a le n te , a n o ss o v e r, s o b re a
c o m p rim in d o s o b re a p e ç a q u e a seg u ir e ra le v a d a ao c o n tr o v e rtid a p rim a z ia é a c ita ç ã o d e A lm e id a S a n to s
fo g o , c o m o p a p e l im p re g n a d o d e ó le o . de q u e e m 1 8 1 0 , P e te r W a b u rto n , d a “ N e w P o lte r y d e
L a n e E n d ” , tiro u p a te n te d e u m p ro c e s so p a r a d e c o ra r
A m a io ria d o s a u to r e s d á c o m o p io n e iro s d o p ro ­
p o rc e la n a s , fa ia n ç a s e c ris ta is c o m o u ro , p ra ta , p la tin a
c e sso , o s só c io s J o h n S a d le r e G u y G re e n , c m 1 7 5 2 , e,
e o u tro s m e ta is . C o n s is tia o p ro c e s s o e m a p lic a r s o b re
o u tro s J o h n B ro o k s , u m g ra v a d o r, e m 1753.
o m a te ria l j á c o z id o lâ m in a s d o m e ta l e sc o lh id o q u e r
E ste p ro c e s so tin h a a in d a a lg u m a s v a ria n te s no p u ro o u c o m o títu lo re d u z id o e m ligas c o m c h u m b o
q u e d iz re s p e ito à tra n s p o s iç ã o de d e s e n h o d a c h a p a d e ou o u tra s u b s tâ n c ia .
c o b re p a ra a p e ç a ; h a v ia o “ b a t- p rin tin g " e o “ c o ld - C o rro b o r a n d o a q u e la in fo rm a ç ã o , J u lia n B e r-
-p r in tin g " , c u jo v e íc u lo e ra u m a c a m a d a de p a sta g e la ti­ n a r d <7) (V ic to r ia n C e ra m ic T ile s , L o n d o n , 1 9 7 2 ) d iz
n o sa ou de c o la , a p lic a d a s o b re a c h a p a c m v ez d o q u e a " lo u ç a d e lu s tre foi p o p u la r n o S ta ffo rd s h ire n o
p a p e l e e sta p a s ta é q u e a b s o rv ia a tin ta e e ra a p lic a d a c o m e ç o cio s é c u lo X I X " .
s o b re a p e ç a , o u a in d a , o “ h o t- p rin tjn g ” e m q u e u m
p a n o d e se d a im p re g n a d o d o d e s e n h o so b c a lo r e ra O fa to é q u e o lu s tre , ta n to o ro s a d o (d e r iv a d o
d o o u r o ) o c o b r e a d o ( c o p p e r ) e o p r a te a d o (s i!v e r)
tra n sfe rid o à p e ç a . E s te ú ltim o m é to d o d eu lu g a r ao
g o z a ra m g ra n d e su c e s so e fo ra m in te n s a m e n te p r o d u z i­
p ro c e sso m o d e rn o d o “ s iik -s c re e n " .
dos n a E u ro p a , s o b re tu d o , n a se g u n d a m e ta d e d o
Q u a n to a o c h a m a d o p ro c e sso lito g rá fic o p o sto em sécu lo , q u a n d o p a s s a a se r m o d a e n o v id a d e .
uso n a I n g la te r ra em 1 8 3 0 , c h a m a d o ta m b é m de d e c a l­
A p o n ta -n o s A lm e id a S a n to s , v á rio s fa b ric a n te s
c o m a n ia , é b a s ta n te m a is sim p lific a d o , m a is rá p id o e
c o m o “ W e d g w o o d , S p o d e , W o o d , M in to n , W a b u rto n ,
m ais b a ra to . O s d e se n h o s já s ã o im p re sso s p e lo s m é to ­ B a y le y a n d , H a rv e y , J. E . W ile m a n , R a lp h S alt, e tc .” .
d o s c o m u n s d e im p re s s ã o ern fo lh a s d e p a p e l q u im ic a ­
D e v e m o s a c re s c e n ta r a fá b ric a D a v e n p o rt, q u e e x p o rto u
m e n te p re p a r a d a s e q u e s ã o u m e d e c id a s a frio , à m ed id a m u ito lu s tre p a r a o B ra sil, e re s s a lta r os p ro d u to s c e râ ­
q u e sã o a p lic a d a s s o b re a su p e rfíc ie c e râ m ic a , d e ix a n d o m ico s f a b r ic a d o s p o r o u tr o s d o is g ra n d e s v u lto s d a
s o b re e la o d e se n h o e s o b r a n d o o p a p e l. c e râ m ic a in g le s a : D e M o rg a n e M o r ris n o p e río d o
N o p rim e iro m é to d o o u seja, n o d o “ tr a n s fe r-p rin ­ V ic io ria n o . E s te s a rtis ta s q u e re v o lu c io n a ra m a d e c o ­
tin g ” o p a p e l o u as p a s ta s g e la tin o s a s ia m a o fo rn o c o m ra ç ã o e p a r tíc ip a r á m d a c ria ç ã o d o A rt-N o u v e a u
a p e ç a e se v o la tiliz a v a m n a q u e im a , e n c slc o d e se n h o (M o d c rn S ty le ) h a v ia m rc d e s c o b e rto p o r in ic ia tiv a p ró ­
já e n tr a a p lic a d o a n te s c sem v e íc u lo s in te rm e d iá rio s de p ria , as fó rm u la s m o u risc a s e as a p lic a ra m c o m b e lo s
fix a ç ã o . re s u lta d o s ta n to e m p e ç â s o rn a m e n ta is c o m o em a z u le -

507
jo s , e m b o ra o u tro s já dele fizessem u so a n te rio rm e n te , 1 8 3 0 — F lo r a l
ta n to n a In g la te rra co m o n o C on tin ente no tra n s c u rs o B in e R o s e
d o s é c u lo X IX . 1832 — F e rra ra
E n ã o p o d e m o s d e ix a r d e le m b r a r e m F r a n ç a , os G ra p e L eaf
e x c e le n te s produ tos d a F a ia n c e rie d e S a rre g y e m in e s a s /d — C h in e s e V a se
q u a l d e sd e 1 820 p ro d u z iu se rv iç o s d e c h á e c a fé em C h in e se G a rd e n
lu s tre (" fa ie n c e fin e lu s tré e " ) m u ito re n o m a d o s e que C h in o is e rie W illo w P a tte r n
j á n o p a s s a d o c o n s titu ía m p e ç a s d e a p a r a to , m u ita s d e ­ S icilian P a tte r n
la s e x p o s ta s e m v itrin es, M a r in e
M a s cm 1 8 7 0 , os in v e n tiv o s ingleses a in d a c ria m L a u re l
u m n o v o e im p o rta n te p ro c e s s o d e d e c o ra ç ã o , c h a m a d o
DAV EN PORT
d e fo to -c e râ m ic o o u fo to g rá fic o , n o q u a l a fo to g ra fia ,
c o m u m a p r e p a r a ç ã o q u ím ic a a d e q u a d a e u m a e m u lsã o C h in e s e R iv e r S c e n e
p r ó p r ia a p lic a d a s o b r e o b is c u it, e ra tr a n s p o s ta d ire ta - C h in o is e rie R u in s
m e n te s o b r e a s u p e rfíc ie d a fa ia n ç a fin a ou d a p o rc e la n a . Tudor
P o d e -s e im a g in a r o a lc a n c e d esse m é to d o e o se u v a lo r
M a n s io n
c o m o d o c u m e n to ic o n o g rá fic o !
M osquée
V e ja m o s p a r te d a e n o rm e p a d ro n a g e m c o m q u e os
B am b o o an d P eony
in g le se s n o s b rin d a ra m a p a r t ir d o ú ltim o q u a r te l d o
s é c u lo X V T II, a tra v é s d o s m é to d o s in d u s tria is p o r eles SPO DE
in tro d u z id o s e a p e rfe iç o a d o s .
1 7 9 6 / 9 8 — C a s tle
A e sse re s p e ito d izem J o h n M e re d ith e C e c il H a n ­ R om an
ley : “ o p e río d o e m q u e W e d g w o o d v iv e u c tra b a lh o u T ow er
foi n a v e rd a d e a I d a d e d o O u ro d o d e s e n h o in g lê s." L ucano
£ tã o e s p a n to s a a a tiv id a d e d o s o le iro s, q u ã o im ­ 1803 — C a ra in a m a n
p r e s s io n a n te a im a g in a ç ã o d o s a rtis ta s p in to re s , g ra v a ­ 1 8 0 5 /7 — In d ia S p o rtin g
d o r e s e m o d e la d o re s , c o m o in fin d á v e l o ro l d o s m o tiv o s 1 7 9 5 /1 8 0 5 — T h e H u n d re d A n tiq u e s
c ria d o s p a r a a p fic a ç ã o e m s u a c e râ m ic a .
1807 — H e rc u la n e u m
H á d e se n o ta r q u e n a d e c o ra ç ã o d a fa ia n ç a fina 1813 — T u rk
d o fina) d o sé c u lo X V I I I a té final d o X I X , p re v a le c e u 1 8 1 4 ■—- M ilk m a id
n a I n g la te r r a a d e c o ra ç ã o d o azu l e b ra n c o ( e q u e ate
D a g g e r B o rd e r
h o je p e rs is te n a re p ro d u ç ã o d e p a d rõ e s a n tig o s ) s o b re a
Peacok
a m a r e la ta m b é m b a s ta n te u s a d a , a v e rd e , a rp s a , a N e w T e m p le
p o lic ro m a d a .
1815 — N e w N a n k in
A p o n ta re m o s , a títu lo ilu s tra tiv o , d iv e rso s d o s N ew Jap an
m o d e lo s c o n h e c id o s d e a lg u n s c e ra m is ta s p io n e iro s In d ia
in g le se s, A se g u ir o u tro s d e W e d g w o o d , D a v e n p o rt e 1816 — Ita lia n
u m a re la ç ã o m a is e x te n s a d e S p o d e e seu s su c e sso re s W oodm an
q u e a to d o s u ltra p a s s o u na c ria ç ã o d e m o tiv o s.
1 8 1 7 — B lo s s o m
P a rte dos nom es de m o tiv o s de fa ia n ç a fina P a le B ro s e lc y
in g le sa : 1818 —- W a te rlo o
A rc a d e
D IV E R S O S
1819 — L ucano
17 SO — T h e C a u g h le y W illow P a tte rn ( v a r ia n t e )
I 7 S 0 / 9 0 — T h e B u ffalo S h ip
1 7 9 0 — T h e C a u g h le y W illo w P a tte rn 1820 — P an el Japan
(v a r ia n te m a r c a d a I .H .) G e r a n iu m
1 7 9 0 — R e n d e e r a n d S eal ( I . H . ) Oriental
1790 — P a lla d ia n P a g o d a ( I . H . ) 1821 — Font ,
1 7 9 0 — T h e S ta g ( T u r n e r ) .M a rb le
1822 — B u n d a n d F lo w e r
1795 — C o n v e rs a tio n ( I .H .)
B on P ot
1 8 0 0 — T w o M a n W illow P a tte rn
U n io n
(T u rn e r)
1823 — D o u b le B o n P o t
1 8 3 3 / 3 6 — T h e C a ttle a n d R iv e r (H e a th c o tc & C .° )
B lu e B o rd e n F ilig re e
O b s ,: a m a r c a I.H . c o rr e s p o n d e k fá b ric a d e J o s h u a 1824 — Im a g e
H e a th . P e rs ia n
1825 — E tr u s c a n o r G re e k
W EDGW OOD B am boo
1807 — Hibiscus 1826 — B lu e Im p e ria l
— T h e A b s a lo n ’s P illa r U n io n - W re a th

508
A lé m desses m o tiv o s, ex iste m a in d a m u ito s o u tro s L e a v in g th e V illag e J o h n s o n B ro s — Ir o n s to n e
n ã o e n c o n tra d o s , e o u tro s d e c u jo s p a d rõ e s n ã o ío i p o s ­ F lo w e r a n d V a s e C o p e la n d L a te S p o d e
sível fo c a liz a r a d a ta . A ssim T h e N e t — T h e G o tic E n g lis h S c e n e ry W ood Sons
— T h e T w o B ird s — " T h e M a r b le o r M o s a ic ” im ita n d o
G o ld e n D a w n J o h n s o n B r o th e r E n g la n d
o tip o c h in e s c o n h e c id o p o r “ H a w th o rn " e q u e c o rre s ­
(a m a re lo )
p o n d e a o “ p ru n e s p a tte rn ” ( m o d d o d a a m e ix e ir a ) T h e
L a n g e L y se n (g é n e ro h o la n d ê s im ita n d o d a m a s c h i­ T ille n b e rg
n e sa s c h a m a d a s d e raey-ycn — m o ças b o n it a s ) , “ V ic to ria s B ra s ilq ira s ” A d a m s T u n s t a 11
c o n h e c id a n a In g la te rra c o m o “ L o n g E liz a " o u “ L o n g “ P a s s e io P ú b lic o "
L a d ie s ” , te r m o q u e o s c e ra m is ta s e a n tiq u á rio s a p lic a m
“ L a r g o d a L iip a ”
ta m b é m p a r a as e s ta tu e ta s c h in e s a s re p re s e n ta n d o
“ B o ta fo g o ”
m u lh e re s e sg u ia s e e le g a n te s.
“ Q u in ta d a B o a V is ta ”
N o B ra s il, e x is te m m u ita s p e ç a s a v u ls a s e m e sm o
“ M o r ro d a G ló r ia ” M - 5 (g ra v a d o )
a in d a se rv iç o s e m u so c o m m o tiv o s d e ssa s fá b ric a s
in g le sa s, s o b re tu d o o s d e P o m b in h o s e m azu l, e m v e rd e D e a s s in a la r-s e q u e e x is te m , e m b o r a m a is r a r a s ,
e c o r d e ro s a , p o ré m m u ito s m o d e lo s são e n c o n tra d o s in d ic a ç õ e s n o v e rs o , re fe re n te s a o s d is trib u id o r e s o u
a q u i q u e n ã o v ê m a ss in a la d o s n o s c o m p ê n d io s b r i­ re p r e s e n ta n te s d e lo u ç a e s tra n g e ira n o B ra s il ta n to p o r ­
tâ n ic o s. c e la n a co m o p ó d e p e d ra , g r a n ito e o u tr a s . U m a d e la s
é: " I ro n s to n e C h in a " L u ís J o s é d e F a r ia & C ia . O
E n tre o s n â o c o n h e c id o s n a ín g la te r ra e o u tro s
se rv iç o d o p a u lista J o a q u im P a u lin o B a r b o s a A ra n h a
lã c a ta lo g a d o s , p o d e m o s a lin h a r v á ria s p e ç a s c o n s ta n ­
( a n tig a col. O d ilo n d e S o u z a ) e o s e rv iç o d o B a rã o d e
te s d e c o le ç õ e s b ra s ile ira s q u e p o r ta m in d ic a ç õ e s n o
v e rso : A v e la r e A lm e id a , tr a z e m : " V is c a y I r m ã o H . C .° R io
d e J a n e ir o — P a ris . U m d o s se rv iç o s d o P a lá c io d a
G u a n a b a r a e m p o rc e la n a , tr a z n o v e rs o : “ C a s a C y p ria -
IN D IC A Ç Õ E S N O V E R S O
n o R .I .J .P .L . F r a n ç a ” ,
1 - 7 8 — D a v e n p o rt
D o p rim e iro re in a d o , s ã o c o n h e c id o s o s c a rim b o s
8 6 6 7 5 — M in to n
a v e rm e lh a d o s d e W a lle rs te in & C ia ., a p o s to s e m v á rio s
O rie n ta l Iv o ry —* B u rm a h se rv iç o s d o P a ç o , d e p o is W a lle rs te in , M o s e r t & C ia ., ã
A m o ra G a rd e n s r u a d o O u v id o r, 7 0 — ■<*>,
T o n q u im — iro n s to n e
U m p ra to c o m b o r d a e r o s á c e a v e rd e d o c a s a m e n to
E to n C o lle g e — P .R .P .B .
d e F ra n c is c o d e A r r u d a C a m a rg o c M a r ia .A m élia C a r ­
A lp in e — V .G .B .
v a lh o , p o rta u m se lo s o b g la s u ra n o v e rs o : “ E s te v ã o
CUBA B u s k T r a d e M a r k — R io .
A m o u r (c ita d o p o r Jo s é d e A lm e id a S a n to s ) E x is te ta m b é m o u tr o c a rim b o d a c a s a L . C ip ria n o
K y b e r — J, M e ie r S o n — Iro n s to n e & C ia ., ru a d a Q u ita n d a , 85 — R io d e J a n e i r o <9);
S liangai — A d a m ’s & S o n — Iro n s to n e ta m b é m de a s s in a la r as lo u ç a s c o m a in d ic a ç ã o d e
T o k io - J o h n s o n B ro s P o rc e la in e d e L im o g e s L . H a s s — I r m ã o s Im p o r ta d o ­
H o n g n .ú 1421 re s — R io d e J a n e ir o (o b . d t ) . E a in d a n o c o r r e r
A lto n a d e s te sé c u lo M a p p in & W e b b , G r u m b a c h , e tc.
H u m m in g B ird s — K & B A in d a c o m re s p e ito à s é rie d e m o d e lo s , e x is te
" W illo w " — T h o m a s H u g h e s & S o n u m a c o m d e s e n h o s fito fo rm e s , d e lin d a s e la rg a s fo lh a s
L o n g p o rt — E n g la n d o u ra m a g e n s e s tiliz a d a s , c m azu ! ( à s v e z e s b o r r ã o )
S c le c le d e t S c e n e ry — W in d s o r — C lew s W a rra n te d to m a n d o p a r te d o fu n d o , d a c a ld e ira e a a b a d o p ra to
S ta ffo rd s h ire — à s v e z e s c o m flo re s n o c e n tr o . C o n h e c e m o s p e ç a s
C o p e la n d — L a te S p o d e d e s s a sé rie u m a m a r c a d a no v e rs o c o m tr ê s p o n to s em
C o p e la n d a n d G a rre t a z u l, e , o u tr a s g ra v a d a s C o p c la n d , A p re s e n ta e s ta série
“ W illo w " — S ta ffo rd s h ire — S lo n e C h in a H & A u m d e s e n h o p e c u lia r q u e fo g e a o e la b o r a d o d o g o sto
(a z u f) e d a r o tin a in g le sa , m a s q u e p o r s u a e s p o n ta n e id a d e
“ W illo w " — W a rr a n te d S ta ffo rd s h ire I.M . & S. e sin g e le z a s ã o d e b e lo e fe ito . S ão p in ta d a s à m ã o
(a z u l) s o b o e s m a lte o b e d e c e n d o a u m p a d r ã o d e te rm in a d o
“ W illo w ” — Ir o n s to n e C h in a W illo w — V & B m a s e m c a d a p e ç a , p e rc e b e m -s e lig e ira s d ife re n ç a s n a
(v e r d e ) e x e c u ç ã o m a n u a l, o q u e n o s le v a a c r e r q u e o p ro c e s so
d e d e c o r a ç ã o fo s se e x e c u ta d o a tra v é s d o fa n ta s m a o u
"W illo w ” — A d d c rc y s L td . ( r o s a )
e stê n c il c te rm in a d o s a p in c e l.
Iro n s to n e — L o rra in e — W . A d a m s
“ C h in g ” — S e m i-p o rc e la in R o y a l (f le c h a e a r c o ) D e ssa sé rie , a lé m d e se rv iç o s d e m e s a , d e c h á , o u
F a ie n c e A n g la is c G ra n d D e p o t d e P o re c la m e s e t ja n ta r , e ra m f a b r ic a d o s ta m b é m a p a re lh o s d e to ile tte ,
F a ie n c e s c o m la rg a s b a c ia s e e le g a n te s g o m is, m u ita s vezes em
21 R u e D ro u o t — P a ris — S u c u rs a le r u e S a in t F e rre o l azu l b o rr ã o .
M a rs e ille — - T e rre d e F é r (lo s a n g o p a d r ã o — d a ta H á ta m b é m o u tr a sé rie d e se rv iç o s p in ta d o s a
1 8 5 8 ) in ic ia l m ã o , d e c o n c e p ç ã o g e o m é tric a , c o m fa ix a s la rg a s p in ­
A n o a n v e rs o col. O d ilo n d e S o u z a ta d a s e m a z u l a in te rv a lo s re g u la re s n a s p e ç a s c o m
M o n g u lu — J o h n s o n B ro th e rs E n g la n d to q u e s o u risc o s d o u r a d o s v e rm e lh o s o u e m lu s tre ,
W a tte a u — D o u lto n c .° B u rsle m E n g la n d c o n v e rg in d o a s fa ix a s da b o rd a p a r a o c e n tr o d a p e ç a .

509
é d e e s tr a n h a r q u e e ssa s d u a s sé rie s e m fa ia n ç a p la c a s d e fa ia n ç a fin a , c o n te n d o flo re s e s p a rs a s , b o u -
fm a n ã o v e n h a m c ila d a s n e m re p ro d u z id a s e m liv ro s q u e ts e v is ta s d o R io d e J a n e i r o d e c o ra d a s à s v e z e s a
in g le se s, s o b re a d e c o ra ç ã o de s u a c e râ m ic a n o sé c u lo m ã o . E s s a s b a n d e ja s , m u ita s d e la s a in d a e m u s o , sã o
X I X , m o rm e n te q u a n d o h á p e ç a s m a r c a d a s C o p e la n d . re m a ta d a s p o r a rtís tic a s g a le ria s e a lç a s c r o m a d a s ou
E x is tia m v á rio s se rv iç o s d e sse s n o B ra s il, se n d o e n c o n ­ b a n h a d a s a p ra ta . E s s e g ê n e ro foi c o p ia d o n o c o m e ç o
tr a d o s e m Itu e e m S ão J o ã o d ’E I R e i, e n tr e o u tr o s d o s é c u lo X X , p o r fá b r ic a s tc h c c a s.
lo c a is.
C o m o d is s e m o s , o s in g le se s tiv e ra m la rg o m é rito
D e o b s e rv a r-s e q u e p a rte d esse g ra n d e m o s tru á rio n a c o m p o s iç ã o d e lin d a s e in c o n tá v e is c e rc a d u r a s p a ra
e m a z u l c o b a lto e r a c o n s titu íd o d o q u e se p a s s o u a os se u s se rv iç o s q u e n o ta b iliz a ra m o s a r tis ta s , p in to re s
c h a m a r “ azu l b o r r ã o ” o u “ azu l b o r r a d o " . P e n s a m o s e g ra v a d o re s d e s u a s fá b ric a s .
q u e n o in íc io d o fa b ric o h o u v e fa lh a s té c n ic a s na p r e ­
p a ra ç ã o e n a q u a lid a d e d o c o b a lto , e, ta m b é m q u e a P a r a o B ra sil s o u b e ra m eles ta m b é m c r i a r b e la s
fa ia n ç a fin a n ã o s o fre a v itrifíc a ç ã o d a p o rc e la n a ; ê, e su g e s tiv a s fa ix a s. A s s im u m a sé rie d e se rv iç o s
p o r ta n to , m e n o s c o m p a c ta e c o m c e rto g ra u d e p o ro ­ “ B ra s ile iro s ” o s te n ta m u m a b e la b o r d a d u r a , c m v e r­
s id a d e . E sse s d o is fa to re s , m o r m e n ts o ú ltim o q u e m e lh o o u e m a z u l, fo r m a d a p o r fo lh a s e flo re s d e fu m o .
p ro p ic ia q u e a p in tu ra se e s p a r ra m e , c o m o m im m a ta -
D e n o t a r q u e e m a lg u n s se rv iç o s, n o ta d a m e n te o s
b o r r ã o , é, q u e d e v e m e s ta r n a b a s e d o fe n ô m e n o
d e v istas d o P o r t o d o R io e d a L a p a , a c e rc a d u r a é
“ b o r r ã o ” . E sse p ro b le m a já h a v ia a to rm e n ta d o o s
m o u ro s n a lo u ç a v id ra d a e e m s u a fa ia n ç a , o s q u a is a p lic a d a p e lo p ro c e s s o d e d e c a lc o m a n ia e a v ista c e n tr a l
a c e rta a ltu ra in v e n ta ra m o siste m a d a s a re s ta s , s o b r e ­ é e x e c u ta d a p e lo fo to -c e râ m ic o q u e c o n fe re a n itid e z
tu d o , p a r a o a z u le jo , a fim d e r e l e r o s e sm a lte s d u ra n te im p re s s io n a n te a o s d e ta lh e s . A liá s n e ss e p a rtic u la r
o c o z im e n to , a te q u e m a is ta r d e p u d e ra m , q u ím ic a e to m a - s e re la tiv a m e n te fá c il s itu a r n o te m p o e sse s a p a ­
te c n ic a m e n te , d o m in a r o tr a n s b o rd a m e n to . O fa to é re lh o s ( e ta m b é m o s h o la n d e s e s , fra n c e s e s c p o rtu g u e ­
q u e a fa lh a té c n ic a p ro d u z iu um e fe ito d e c o ra tiv o , e, ses, q u e c o p ia r a m o p r o c e s s o ) d a d a a p re c is ã o d a
a c re d ita m o s , q u e p o s te rio rm e n te , m e sm o d e p o is d o s re p r o d u ç ã o d o s lo c a is.
ingleses a p u ra r e m a q u a lid a d e d o c o b a lto d a s p a sta s
A p ro v e ita ra m o s in g leses p a r a p r o d u z ir ta m b é m
c c o n tr o la r e m o s “ b o r r õ e s ” , c o n tin u a ra m e le s a p r o ­
e le g a n te s e b e m a c a b a d o s a p a re lh o s p o p u la r e s , to ta l­
d u z i-lo s in te n c io n a lm e n te ,
m e n te e m b ra n c o , c o m a d e c o ra ç ã o e m re le v o , c m g e ra l
A in d a co m re fe rê n c ia a m o tiv o s, h á q u e re s s a lta r c o m e sp ig a s d e m ilh o e o u tro s c o m m o tiv o s flo ra is ( a
q u e o s in g le se s, m e sm o a n te s d o s fra n c e se s (S a rre g u e - e x e m p lo d e B o c h F ré r e s — • L a L o u v iè re , d a o rg a n iz a ­
m in e s ) e d o s a le m ã e s (V illc ro y & B o c h ) se e s fo rç a ra m ç ã o — ,V il!e ro y -B o c b ), c o m o ta m b é m a p a re lh o s p o li-
e m p r o d u z ir a rtig o s d o a g ra d o o u d o g o sto d a c lie n te la , c ro m a d o s . F a b ric a v a m , ta m b é m , b e lo s a p a re lh o s d e
c o n c o rr e n d o p o r to d a s as fo rm a s e m e io s n a c o n q u is ta to ile tte , c o m su a s ja r r a s , b a c ia s , s a b o n e te ira s , assim
d o s m e rc a d o s , im ita n d o m e s m o e c o n c o rr e n d o c o m o s c o m o b a c ia s s a n itá ria s e m b ra n c o , o u e m azu l e h ra n c o
a rtig o s lo c a is. C o n ta -n o s S é rg io B u a rq u e de H o la n ­ (S e v e r n c lo s e t) , p o ü c ro m a d a s , e , a in d a , p ia s d e ta m a ­
d a <10), q u e n o to c a n te ao s te c id o s, e n tr e v á rio s n h o s e fe itio s e d e c o re s d if e re n te s : b a n d e ja s c o m ­
e x p e d ie n te s e m p re g a d o s , c o n c o rria m o s in g leses c o m a p o s ta s d e p la c a s c o m v is ta s, p a is a g e n s ou d e s e n h o s
in d ú s tria lo c a l fa b ric a n d o p o n c h o s d e fe itio s g a ú c h o s, flo ra is , c o m g a le ria d e m e ta l b ra n c o , em g e ra l, de
c o m o re d e s d o g ê n e ro fa b ric a d o e m S o ro c a b a , e m S ã o fo rm a o b lo n g a , c o m o n o s re fe rim o s lin h a s a tr á s , L u ís
P a u lo . S a ia , a s s in a la <n >, a p re s e n ç a d e b a c ia s s a n itá ria s
N a C e râ m ic a , c ria ra m e les ta m b é m u m a s é rie im ­ e s tra n g e ira s , c o m e s ta m p a de u m a d e c o r a d a , e d iz :
p o rta n te , d e a lto in te re sse ic o n o g rá fic o , c o m v is ta s d e ‘’D u r a n te a fase á u r e a d a e x p a n s ã o u r b a n a , S ã o P a u lo
c id a d e s , p a is a g e n s, m o n u m e n to s , b a ta lh a s , re tra to s d e fe z p ra ç a d e s u a c a p a c id a d e im p o r ta d o r a : d e sd e b a c ia s
p e rs o n a g e n s, e tc ,, a b ra n g e n d o a h is tó ria d e v á ria s n a ­ san itá i;ta s a té e s ta ç õ e s d e a ç o p r é - fa b ric a d a s ” .
ç õ e s d o C o n tin e n te , se ja d a A m é ric a d o S ul, c o m o d o E ssa s lo u ç a s in g le s a s , a b a rc a n d o u m se m n ú m e ro
B ra sil, A rg e n tin a , C h ile , c o m o d a A m é ric a d o N o rte , d e m o tiv o s, a p re s e n ta n d o u m a e x te n s a g a m a u tilitá r ia ,
E s ta d o s U n id o s e C a n a d á . de p re ç o a c e ssív e l e b o a a p re s e n ta ç ã o , h a v ia m re a l-
P a r a te rm o s u m a id é ia d a im p o rtâ n c ia d e sse g ên ero m e n te d c c o n c o r r e r c o m b o a m a rg e m d e su c e s so c o m
ic o n o g rá fic o , só u m a firm a in g le sa , E n o c h W o o d & S on, as p o rc e la n a s e u ro p é ia s , c h in e s a s o u ja p o n e s a s .
a lin h a c e rc a d e c e n to e c in q u e n ta v istas p rim o ro s a s d e
A ssim , in v a d ira m e la s n ã o só o in te rio r d a s P ro ­
d iv e rso s p a íse s (E s ta d o s U n id o s , I n g la te r ra e F r a n ç a ) ,
v ín c ia s o u d o s E s ta d o s , c o m o a s su a s c a p ita is e a
s e g u ín d o -s e o u tr a s c o m o A n d re w S te v e n s o n , R J , C lew s
C o rte , o n d e os P a ç o s B ra g a n tín o s e x ib ia m n ã o só
e n a tu r a lm e n tc S p o d e, o u m e lh o r se u s s u c e s so re s, e n tre
serv iço s c o m u n s c o m o e n c o m e n d a d o s c o m a s a rm a s
m u ita s o u tra s .
im p e ria is. T a m b é m a s o c ie d a d e b ra s ile ira d e e n tã o fe z
D o B ra sil, fo c a liz a ra m d iv e rso s a sp e c to s d o R io la rg o e m p re g o d a q u e la s lo u ç a s , se ja n a u tiliz a ç ã o d o
d e J a n e iro , c o m o v ista s d o P o rto , d o P a s s e io P ú b lic o , d iá rio , c o m o e m se rv iç o s e la b o r a d o s , p o r ta n d o à s vezes
d o F la m e n g o , d a Ig reja d a G ló ria , d o L a r g o d a L a p a , siglas, c o ro n é is , b ra s õ e s , le g e n d a s o u n o m e s p o r e x te n s o .
d e B o ta fo g o , d a Q u in ta d a B o a V ista , e tc . E a in d a
N o s liv ro s d a M o r d o m ia e d a U c h a r ia d o s p a lá c io s
se rv iç o s c o m c e n a s d a B a ta lh a d e L a m a s V a le n tin a s ,
im p e ria is, c o m o e m in v e n tá rio s d iv e rso s (c o m o v im o s
em m a r ro m o u e m a zu l, c o m o r e tra to d o Im p e ra d o r
no de 1 8 0 8 e de 1 8 1 5 ) , n a s c rô n ic a s d e v ia ja n te s e n o s
e d e g e n e ra is d a C a m p a n h a d o P a ra g u a i, n a a b a ,
la m o so s le ilõ e s d o P a ç o , v ê m a q u e la s lo u ç a s a ss in a ­
A in d a d e n tro d esse c a m p o ic o n o g rá fic o la n ç a ra m la d a s, a m o r d a s v e z e s, c o m o lo u ç a in g le sa o u lo u ç a
o s in g le se s, u m a lin d a s é rie d e b a n d e ja s o v a la d a s c o m pó dc p e d ra , ra ra m e n te c o m a in d ic a ç ã o d a fá b r ic a , d -)

510
N o q u e d iz re s p e ito a o s a p a re lh o s d e u s o d a A in d a d e a s s in a la r p o r seu a lto in te re s s e ic o n o ­
F a m ília R e a l c Im p e ria l, fo ra os serv iço s j á c a ta lo g a d o s, g rá fic o , u m a c a n e c a e m p ó d e p e d ra c o m o b u s to d e
e x is te m m u ito s o u tro s n o J a rd im d a s P rin c e s a s , c u jo s D . P e d ro J e D .a L e o p o ld tn a , d a c o le ç ã o P e d r o S é rg io
c a c o s e à s vezes p e ç a s in te ira s, se a c h a m e m b re c h a d o s M o rg a n ti, e u m p r a to m a r c a d o S p o d e d e c o le ç ã o d o
c m a r r a n jo s o rn a m e n ta is e m b a n c o s e g ru ta s d a Q u in ta M u s e u H is tó ric o N a c io n a l, d e ric a d e c o r a ç ã o e m v e rd e
Im p e ria l, d o q u e O s c a r S e llo s n o s d á d e ta lh a d a in fo r­ e o u ro e b r a s ã o im p e ria l n o c e n tro , e , a in d a , u m p a r
m a ç ã o . (13) d e v a so s a fila d o s ( m a is o u m e n o s 8 5 c m d e a lr u ra )
c o m a efígie d o I m p e r a d o r e d e D .a T h e r e z a C h ris tin a ,
Q u a n to a o s a p a re lh o s h istó ric o s c la s sific a d o s , o s
e x p o sto s o o M u s e u Im p e ria l.
M u s e u s H is tó ric o s N a c io n a l e o Im p e ria l re té m um
im p o rta n te a c e rv o em q u e se d e te c ta m n u m e ro s a s e A in d a d e v e m o s a s s in a la r u m a s o p e ira c o m ta m p a ,
v is to s a s p e ç a s c m p ó d e p e d ra e sim ila re s, q u e p e rte n c e u a o In te n d e n te C â m a ra , d a c o le ç ã o A n a
A m é lia e M a r c o s C a rn e ir o d e M e n d o n ç a , d o fim d o
A l . a E x p o s iç ã o d e “ V estes e O b je to s Im p e ria is e
s é c u lo X V I I I o u c o m e ç o d o s é c u lo X I X . N o b o jo d a
d e L o u ç a H is tó ric a ” , re a liz a d a e m 1 9 5 4 , n o In s titu to
s o p e ira v ê e m -se d e n tr o d e u m a re s e rv a a s in ic ia is
H is tó ric o e G e o g rá fic o d e S ão P a u lo , d a q u a l fo m o s
M .F .C ., e m p re to , o u se ja d e M a n o e l F e r r e ir a d a C â ­
d ir e to r, re u n iu tre z e n to s c v in te lo u ç a s h is tó ric a s e e n tre
m a r a , c o m o e r a c o n h e c id o o In te n d e n te , e m b o r a seu
e la s n o re s p e c tiv o c a tá lo g o p o d e m -se d e s ta c a r a s se­ n o m e c o m p le to fo sse M a n o e l F e r r e ir a d a C â m a ra
g u in te s : ( e m fa ia n ç a f i n a ) . B itte n c o u rt e S á. S e g u n d o O h is to r ia d o r M a r c o s C a r­
n e iro de M e n d o n ç a , o fa m o s o I n te n d e n te e r a ir m ã o d e
R E L A Ç Ã O D O C A T A L O G O D A l . a E X P O S IÇ Ã O J o s é d e S á B itte n c o u rt e A c c io ly , o in ic ia d o r d o s e n sa io s
D E L O U Ç A H IS T Ó R IC A e fa b ric o d e lo u ç a c o m a a rg ila c a o iín ic a d e C a e tc , c u jo
d e s e n v o lv im e n to e m fá b ric a d e p ro d u to s fin o s , ta lv e z ,
N ,° s
te n h a sid o o b s ta d o p e la c é le b re p ro ib iç ã o d e 1 7 8 5 , d e
31 — S e rv iç o d e F a m u la g e m — P e d ro I (b r a s ã o m a n u fa tu ra s n o B ra s il, c ita d a p o r S é rg io B u a rq u e d c
v e rd e ) H o la n d a <I41 “ q u e n ã o fo sse m a lé m d a s g ro s s e ria s d c
33 — S e rv iç o In d e p e n d ê n c ia ou M o r te ( p a s ta a lg o d ã o p a r a o s e s c ra v o s ” .
c re m e )
A in d a d e n tr o d e ss e ro l d e lo u ç a h is tó ric a , d e v e ­
34 — S e rv iç o d e In d e p e n d ê n c ia ( p a s ta a m a r e la ) m o s a s s in a la r u m p r a t o c o m a efíg ie d e D o m J o ã o V I ,
5 0 — S e rv iç o d o P a ç o d e S ã o C liris tó v ã o (c o r o a e m p re to sem m a r c a , q u e a c re d ita m o s te n h a sid o
ro x a ) fa b ric a d o p e la fá b ric a d e S a rg a d c lo s, p e ç a e ss a q u e h o je
fa z p a rte d o M u s e u d o B a n c o d o B ra sil.
60 — S e rv iç o d a F a m u la g e m ( p r e to — azu l — r o x o )
m arca B aker C ° E x is te c m N o r to n A m ig ü id a d e s , n o R io d e J a n e iro ,
u m b e lo se rv iç o p o lic ro m a d o c o m s e te n ta e seis p e ç a s
6 2 -- F a m u la g e m m a lg a c o m a s a rm a s im p e ria is
m a rc a d o C o p e la n d a n d G a r r e t, dc fa b ric o d o p e río d o
m a rc a B a k e r C .Q
d e 1833 a 1 8 4 7 , q u e s e g u n d o o re fe rid o a n tiq u á rio ,
63 — F a m u la g e m — a rm a s im p e ria is , fu m o c c a fé p e rte n c e u a o l . ° V is c o n d e c o m g ra n d e z a d e J e q u itin h o ­
(B a k e r C .° ) n h a , F ra n c is c o G é d e A c a b a v a M o n íe z u m a , c u jo b ra s ã o
64 — S erv iço d o “ C o rp o P o lic ia l d e P ro v ín c ia d o d e a rm a s , a p e n a s c o m e lm o , fo i e n c o m e n d a d o n a In g la ­
R io d e J a n e ir o — N ic tb e ro y — l . ° d e m a rç o te r ra , q u a n d o M in is tro P le n ip o te n c iá rio e m L o n d re s ,
de 1888” a n te s d e s e r e le v a d o a V is c o n d e . O s d o is b ra s õ e s , o d o
s e rv iç o é tr a ta d o à in g le sa c o m tim b re s , p a q u ife s, le g e n ­
7 6 — X íc a r a e p ire s c o m os d iz e re s “ P a s s o d a P á tr ia
d a s ( E x -T y ra rrsm id e L ib e r t a s ) q u e :v ê m e x p rim ir o
— R ia c h u e io — P a is s a n d u ”
e s p írito e a s lu ta s lib e ra is d o titu la r, e tc ., e o e x p o s to
7 7 — B o r d a b a r r a d o u r a d a , filetes a z u is e o u ro , p o r Ja y m e S m ith de V a sc o n c e ilo s, (p á g in a 2 4 2 , d o
b ra s ã o n o c e n tro d a C a s a d e B ra g a n ç a A rq u iv o N o b ili á r q u i c o ) , é m a is sim p le s, c o n fe rin d o
81 — S e rv iç o d o D u q u e d e S ax e, friso o u ro , azu! e p o ré m os d o is q u a n to a o e s c u d o .(!S5
c o ro a d o u ra d a E sse g ra n d e c o n ju n to d e lo u ç a in g le sa a in d a
2 6 4 — S e rv iç o B a rã o d o P e n e d o (a z u l e o u r o ) e x is te n te n o B ra s il, é m u ito d iv e rs ific a d o , n ã o só
— V isc o n d e d e P o r t o S e g u ro c o m c o ro a c P .S . q u a n to a o s m o tiv o s c o m o c o m re s p e ito à s in d ic a ç õ e s
e m azu l a p o sta s n o v e rs o d a s p e ç a s .

A m a io ria n ã o a p re s e n ta n e n h u m a in d ic a ç ã o , M a s
A c o le ç ã o O d ilo n d e S o u z a , d e lo u ç a h is tó ric a o u
h á p e ç a s c o m a p e n a s u m a q u e ta n t o p o d e s e r um
p e rs o n a liz a d a , re u n in d o s o b r e tu d o p e ç a s q u e p e rte n c e ­
a lg a rism o ( in d ic a tiv o d o m o d e lo o u d a e n c o m e n d a
ra m a p e rs o n a lid a d e s d a s o c ie d a d e p a u lis ta e p a u lis ta n a
e x e c u ta d a ) c o m o o n o m e d o p ro tó tip o , o u a m a r c a d a
d o sé c u lo X IX e c o m e ç o d o X X , e m b o a h o r a a d q u i­
fá b r ic a o u a in d a o tip o d e lo u ç a (s e Ir o n s to n e , O p a q u e
rid a p e lo g o v e rn o d e P a u lo E g y d io M a r tin s , re ú n e
C h in a , C re a m W a re , e t c ,) , o u a in d a a lo c a lid a d e o u as
ta m b é m a lg u n s e x e m p la re s d e in te re s s e , c o m o d o
p a la v ra s “ E n g la n d ” o u “M a d e in E n g la n d ” o u a in d a
B rig a d e iro F ra n c is c o S o la n o L o p e s , d o P a ra g u a i (D a -
u m le s a n g o c o n h e c id o p o r " D ia m o n d M a r k ” , q u e
v e n p o r t ) , d a M a rq u e s a d e S a n to s ( 1 7 9 7 - 1 8 6 7 ) , em
c o n té m u m c ó d ig o .
a z u l e v e rd e , d o V isc o n d e d e S ã o J o s é d o N o rte ( b o r d a
d o u ra d a c o m as in ic ia is n o c e n tr o ) , d e E u frá s io L o p e s H á p e ç a s ta m b é m , q u e c o n te m d u a s o u tr ê s d e ssa s
d e A r a ú jo , d e M a n i n h o d a S ilv a P r a d o , d o C o n d e in d ic a ç õ e s. N a fa ia n ç a fin a in g le sa n ã o é c o s tu m e v ir
A lv a re s P e n te a d o (M a p le C .° ) ele . in d ic a d o o n o m e d o a rtis ta .

511
T e m o s q u e le m b ra r q u e n a lo u ç a u tilitá r ia v á ria s D e a c o rd o c o ra W .M . S c h a e ffe rs, s ã o e la s:
firm a s in g le sa s u s a v a m o c ó d ig o c o m e rc ia l a d o ta d o p e la
D e 1770 a 1829 — Spode
“ B ritis h P a te n t O ffic e " , d e q u e já fiz e m o s m e n ç ã o n o
S pode N ew F aycncc
e s tu d o d o s a z u le jo s, c h a m a d o d e " D ia m o n d M a r k ” ,
S p o d e S to n e C h in a ( f a ia n ç a
c u jo d e s e n h o le m b ra u m lo sa n g o e c o n té m a lg a rism o s
fin a o u g ré s )
e n u m e ra ç ã o rom ana e o u tro s d e ta lh e s p a ra id e n tific a r
a fá b r ic a , a p a rtid a o u o lo te, a d a ta d e fa b ric o a n te r io r S p o d e ’s Im p e ria l
a 1884. S p o d e — F e ls p a r P o rc e la in
O u tra s in d ic a ç õ e s h á q u e p o d e m s itu a r a p e ç a n o D e 1 8 3 0 /a 1 8 3 3 — S p o d e & C o p e la n d
te m p o , c o m o p o r e x e m p lo : L im ite d , L td ., s ã o r e f e rê n ­ S p o d e , S o n — C o p e la n d
c ia s q u e só a p a re c e m d e p o is d e 1 8 6 0 — “ a m a r c a d o
d ia m a n te ” , im p lic a e m s a b e r q u e o p ro d u to foi fa b ric a d o D e 1 8 3 3 a 1 8 4 7 — C o p e la n d an d G a rre t
a n te s de 1 8 8 4 e o “ R d n .° " (R e g is te re d N u m b e r) C & G
q u a n d o vem se g u id o d e a lg a rism o s re p re s e n ta o có d ig o C o p e la n d & G a rre t L a te
d o a n o d e fa b ric o , e q u a n d o n ã o é se g u id o d e n e n h u m Spode
n ú m e ro , in d ic a q u e a p e ç a é p o s te rio r a 1 8 3 4 , C o p e la n d a n d G a rre t
A p a la v r a “ E n g la n d " e m q u a lq u e r lo u ç a in g le sa é N ew J a p a n S to n e
u m a c o n v e n ç ã o a d o ta d o p e lo g o v e rn o p a r a d e s ig n a r C o p e la n d and Garret
m a te ria l d e s tin a d o à e x p o rta ç ã o , c o n v e n ç ã o e ss a q u e N ew F a ie n c e
d u ro u d e 1891 a té 1 9 0 0 e se a p lic a ta m b é m a o s D e 1 8 4 7 a 1 9 4 6 — C o p e la n d L a te S p o d e
a z u le jo s ,
C o p e la n d
O “ M a d e in E n g la n d " , s u b s titu i a p a la v ra “ E n ­
C o p e la n d S to n e C h in a
g la n d ” d e p o is d e 1 9 0 0 c e ss a n o rm a in g le sa d e in d ic a r
(f a ia n ç a fin a o u g ré s )
a o rig e m d o p ro d u to p a ss o u a s e r a d o ta d a p e lo s o u tro s
M .T . C o p e la n d a n d so n s
p a íse s m a n u f a tu r e iro s e v ig o ra a té h o je .
S p o d e C o p e la n d
D a d o o fa to d e S p o d e (o se u s s u c e s s o re s ) re p re ­
s e n t a r a fá b ric a q u e m a is e x p o rto u lo u ç a d e p ó d e D e 1 9 4 6 a té 1 9 7 0 , a c re d ita m o s q u e te n h a c o n ti­
p e d ra e s im ila re s , e n tr e e ste s o s a z u is b o rrõ e s , d a m o s n u a d o o u s o d e ssa s ú ltim a s d e sig n a ç õ e s, p a s s a n d o n o
a s e g u ir p a r a fa c ilita r o e n q u a d ra m e n to d o p e río d o d a e n ta n to d e p o is d e 1 9 7 0 a se r u s a d a a p e n a s a m a rc a
f a tu r a , as d ife re n te s m a rc a s a p lic a d a s. p rim itiv a : S P O D E .

512
FABRICO DA FAIANÇA FINA NO B R A SIL
LOUÇA DE GRANITO E LOUÇA PÓ DE PEDRA

e s e ja m o s fris a r q u e d e n tr o d a B u s a to m a r c a v a o s se u s p ro d u to s a rtís tic o s c o m a


d e s ig n a ç ã o in te rn a c io n a l e g eral se g u in te in d ic a ç ã o :
d a F a ia n ça F in a , existe 11111 sem
n ú m e ro d e c o m p o s iç õ e s d e p a s ­ V V
ta s e d e d e n o m in a ç õ e s (v id e 1
F B F B
c a p . — F a ia n ç a F i n a ) .
C ba ou C o lo m b o
N o B ra sil, as p rim e ira s fa b ric a ­
d a s fo ra m a lo u ç a d e g ra n ito (c m 1 9 0 2 ) e a lo u ç a P a ra n á P a ra n á
p ó d e p e d ra (e m 1 9 1 3 ) .
P ílc g g i(l6> nos in fo rm a s o b re a d ife re n ç a e n tre e la s : Das peças marcadas conhecidas de F ra n c is c o
D iz -n o s e le : “ A d ife re n ç a c o n siste n a te m p e ra tu ra d c Busato {umas d ez) nenhuma delas é em porcelana ou
c o c ç ã o c n a d o sa g e m d a s s u b s tâ n c ia s e m p re g a d a s n a faiança fina (ou p ó de pedra) e sim de louça vidrada
c o m p o s iç ã o d a m a ssa . A ssim , a m a ssa d a lo u ç a tip o com uma pasta bem tratada em meia-faiança (as
g ra n ito , m a is fu n d e n te , a p re s e n ta m a io r re s istê n c ia e esbranquiçadas) e algumas em um gênero de faiança
m e n o r c a p a c id a d e d e a b s o r ç ã o " . M a is a d ia n te ( à p ág . que, segutuio Cyrilo Ortolani, filho do artista, conti­
195 — in fin e ) in f o r m a ta m b é m q u e a d e tip o nham também caulim. D iz Newton C arneiro(17>, que:
g ra n ito é m a is p a re c id a c o m a p o rc e la n a . "Tão requintadas (ao jornalista Arthur Dias) lhe pa-
A ssim n o B ra s il, tiv e m o s n ó s, n o q u e c o n c e rn e receram algumas peças, que chegou a tomá-las por
a o fa b r ic o d a F a ia n ç a F in a , d u a s p rim a z ia s , u m a p io ­ porcelana"I S e b a s tiã o P a r a n á , e m s u a C h o ro g ra p h ia ,
n e ir a n o tip o lo u ç a d e g ra n ito , n o P a r a n á , e- o u tr a n o s in f o r m a q u e n a E x p o s iç ã o A g ríc o la e I n d u s tria l d o
ta m b é m p io n e ira , n o tip o lo u ç a p ó d e p e d ra , e m S ã o P a r a n á , re a liz a d a e m ju n h o d c 1 9 0 0 , B u s a to c o n c o rr ia
P a u lo . c o m “ lin d a s a m o s tr a s d e lo u ç a fa b r ic a d a n o re fe rid o
e sta b e le c im e n to , s e n d o o e x p o s ito r p re m ia d o c o m m e ­
L O U Ç A T IP O G R A N IT O d a lh a d e o u r o ” .
(P A R A N Á ) N e w to n C a r n e ir o n o s in f o rm a q u e h o u v e u m a
c o m p o s iç ã o e n tr e B u s a to e o n o v o s ó c io Z a c h a ria s , cm
A p rim a z ia d e se u fa b r ic o c a b e à firm a Z a c b a ria s 14 d e a g o sto d e 1 9 0 0 .
& C ia ., d o C o ro n e l Z a c h a ria s d e P a u ía X a v ie r, q u e Já em 1 9 0 2 , d e a c o rd o co m u m a peça co m e m o ­
h a v ia a d q u ir id o o e s ta b e le c im e n to c e râ m ic o d e F r a n ­ ra tiv a , e ra m in a u g u r a d a s o u tr a s a m p lia ç õ e s d a fá b ric a
cisc o B u s a to d e q u e m j á n o s re fe rim o s n o tó p ic o L o u ç a q u e c o n ta v a j á c o m in s ta la ç õ e s in d u s tria is d e v u lto ,
V id ra d a . E s te e ra u m h á b il c o p e ro s o o le iro q u e se ta n to d e e d ific a ç õ e s c o m o d e m a q u in a ria e u m a e q u ip e
m u d o u de C u ritib a , in s ta la n d o -s e e m C o lo m b o , a 2 0 e s tra n g e ira e s p e c ia liz a d a . C o n tr a t a r a Z a c h a ria s n u m e ­
q u iló m e tro s d a q u e la c id a d e , em 1 8 8 8 , o n d e a b u n d a v a m ro so s a rte s ã o s a le m ã e s c o m s u a s fa m ília s , p ro v a v e l­
a rg ila s de p rim e ira q u a lid a d e e c a u lim . m e n te o rig in á ria s d e M e tta la c h , o g ra n d e c e n tr o
A fábrica prosperou rapidamente na produção de c e râ m ic o d e V Ü lero y & Bocfa, e sp e c ia liz a d o e m lo u ç a
telhas, tijolos e artigos utilitários, e acreditamos que fin a, s o b d ir e ç ã o d o q u ím ic o a le m ã o P a u lo K n o ld c
estes foram executados em louça vidrada e em meia- a p a rte a rtís tic a e n tr e g u e a o s p in to r e s a le m ã e s G e rm a n o
-faiança, c mesmo algumas peças em faiança, a exem­ F e ls n c r e E , E n g e lh a r d t.
plo da produção mineira d o século XI X. £ o que nos A fá b ric a d e d ic o u -s e a o fa b ric o d e fa ia n ç a fin a
revelam os remanescentes em coleções particulares e d o g ê n e ro a le m ã o ( s te in g u t ) d e e x c e le n te q u a lid a d e e
no Museu Paranaense. d e c o ra ç ã o d e q u e é u m e s p lê n d id o te s te m u n h o o b u le
P a ss o u a fá b ric a d e p o is c c o n c o m íta n te m e n te a p o lic ro m a d o (c r is â n te m o s , v e rd e e a z u l) m a rc a d o q u e
e sm e ra r-se e m o b je to s d e a d o rn o e m lo u ç a d e b o a e stá re c o lh id o n o M u s e u P a ra n a e n s e . P o r t a e le n o
q u a lid a d e e fin íss im a d e c o ra ç ã o . C o n ta v a B u sa to c o m frete o s d iz e re s :
c in c o a rtis ta s q u e v ie ra m c o n tr a ta d o s d a Itá lia (v e n e -
to s ) e n tre eles J o ã o O rto la n i, a u to r d e u m m e d a lh ã o B R A Z IL IR O N S T O N E
o v a la d o d a ta d o d e 0 4 . 1 1 . 1 8 9 9 , q u e fo i o fe re c id o ao
e n tã o M in is tro d o I n te r io r , D r. A n tô n io A u g u s to C. e d e n tr o d e u m s e lo e s ta m p ilh a d o d is tin g u e m -s e u m
C h a v e s , p e ç a essa c o n s ta n te d o a c e rv o d o M u seu Z ( d o Z a c h a r i a s ) , o C r u z e ir a d o S u l e a p a la v r a
P a ra n a e n s e , C u ritib a .

513
F A IA N Ç A F IN A
(Louça dc Granito)
Fábrica de Zacharias de Paula Xavier Colom bo — Curitiba

445

Marcos utitizadas pela Fahrten dc Colom bo drpots da tun


hicorpom fSo por Zacharias de Paula Xavier, de 1902 a 1909.

Cafeteira decorada com motivos florais, pintura de Germano


Fri.tr.rr, do período de 1902 e 1909. A peça É em faiança fina
do gênero inglês, conhecido por "Ironstone" (granito) —
Cortesia de Ncwion Carneiro c Oldemar Blast.

514
E m 1 9 0 8 , n a E x p o s iç ã o C o m e m o ra tiv a d a A b e r­ ta n to a rte fa to s u tilitá rio s , c o m o o b je to s d e c o ra tiv o s e
tu r a d o s P o rto s , no R io d e J a n e iro , a q u e la fá b ric a a rtig o s s a n itá rio s e m p ó d e p e d ra o u g ra n ito .
fig u ro u n o 1 6 .° g ru p o — v id ro s, c rista is, p o rc e la n a e E m re s u m o , h á q u e s e d iz e r, s o b re a p ro d u ç ã o
lo u ças. Isso fa z s u p o r q u e além d a fa ia n ç a fin a , esti­ c e râ m ic a d o fim d o s é c u lo n o P a r a n á , q u e h o u v e n a ­
vesse se n d o ta m b é m fa b r ic a d o p o rc e la n a , e m b o ra n ã o q u e la P ro v ín c ia , d e p o is E s ta d o B ra s ile iro , d u a s fases
s e c o n h e ç a m e x e m p la re s . N a q u e le a n o , a p ro d u ç ã o e ra d is tin ta s e b rilh a n te s , a ita lia n a d e 1 8 9 7 a 1 9 0 1 , c o m
d e “ se te m il e q u in h e n ta s a d e z m il p e ç a s d e lo u ç a p o r F ra n c is c o B u sa to , J o ã o O rlo la n í e se u s o u tro s a rtista s
d ia " e tr a b a lh a v a a fá b ric a c o m tr in ta a c in q u e n ta ope­ v e n e to s e m q u e fo i fa b r ic a d o lo u ç a v id r a d a e m e ia -
rá rio s, s e g u n d o a ex ig ê n c ia d a p r o c u r a ” , e p o s s u ía dois - ía ta n ç a e u m g ê n e ro d e fa ia n ç a d e e x c e le n te te o r a r tís ­
m o to re s , u m a v a p o r e o u tr o h id rá u lic o . tico e a fa se g e rm â n ic a , d e 1 9 0 2 a 1 9 2 6 , c o m Z a c h a ria s
D e a c o rd o c o m o Á lb u m d o P a r a n á , d e 19 2 3 , ao e o té c n ic o P a u lo R n o íd e o u tr o s a rte s ã o s e sp e c ia lista s
q u e se p o d e d e d u z ir, o p rim itiv o e sta b e le c im e n to já a le m ã e s e q u e p ro d u z ira m e m c a r á t e r in d u s tria l u m
h a v ia p a s s a d o d e m ã o s, p o is “ a m a io r e m e lh o r fáb rica e x c e le n te p ó d e p e d ra “ a te rra g lie fin e ” , c ita d a p e lo
d o P a r a n á " , é a F á b ric a d e L o u ç a s S ã o Z a c h a ria s , d a jo r n a lis ta A r th u r D ia s e m 1 9 0 3 , s e g u n d o N e w io n C a r ­
firm a R o th & C ,° , c o m e sc ritó rio e m C u ritib a , e c u jo n e iro . N e s ta fa s e o s té c n ic o s a le m ã e s in tro d u z e m n o
e n d e re ç o te le g rá fic o e ra “ G ra n ito ” , o q u e e v id e n c ia que B ra s il, s e g u n d o c re m o s , o u s o d a d e c a lc o m a n ia n a c e râ ­
a p ro d u ç ã o d a fa ia n ç a fin a c o n tin u a v a a s e r o p ro d u to m ic a , im p o rta n d o d a A le m a n h a o m a te ria l e s ã o r e p r o ­
p rin c ip a l e n a v a rie d a d e q u e é c o n h e c id a p o r g ra n ito d u z id o s a lé m d e a r r a n jo s flo ra is , e fíg ie s d e F lo r ia n o e
( S tc in g u t) . E s s e R o th , su c e sso r d e Z a c h a ria s , é seu D e o d o ro . E m 1 9 2 1 , é c o n tr a ta d o o té c n ic o M a s S c h lo -
g e n ro A d ã o R o th q u e a rr e n d a a fá b ric a c o m o a tr o gel, q u e v ie ra d e M e isse n , o n d e p in ta v a e m o d e la v a
só c io . A liá s , e m 19 2 3 , j á h a v ia c m C o lo m b o , u m fo rte p o rc e la n a . C o m e ss a a q u is iç ã o , c o n q u is ta a fá b ric a
c o n c o rr e n te p o is a fá b ric a d c L o u ç a C o lo m b o , d c C o lo m b o a M e d a lh a d e O u r o d a E x p o s iç ã o d c 1 9 2 2 .
F o n to u r a & C ia . L td a ., d is p u n h a d e in s ta la ç õ e s m o ­ P o ré m d a d a a c o n c o rr ê n c ia d o s p ro d u to s e s tra n g e iro s ,
d e rn a s , in c lu siv e “ m o in h o d c m o e r p e d ra s " e fab ricav a a fá b ric a é fe c h a d a em 1 9 2 6 .

515
LOUCA PÓ DE PEDRA (SÃO P^ULO)

ã o P a u lo ta m b é m se re v e lo u n o m a n u f a tu r a a u s tría c a . A s p e ç a s e m b is c u it tê m incisos
fa b ric o d e p ó d e p e d ra , c o m a n o fre te as in ic ia is “ F .S .C . S ã o P a u lo ” ( F á b r ic a S a n ta
fu n d a ç ã o d a F á b r ic a S a n ta C a ­ C a ta r in a ) e o s e rv iç o e m p o d e r d o s d e s c e n d e n te s do
ta r in a , no b a ir r o da A gua ilu s tr e fu n d a d o r, u m se lo e s ta m p a d o c o m as in iciais
B r a n c a , n a c id a d e d e S ã o P a u lo , R & F ( R a n z in i e F a g u n d e s ) .
por E u d y d es F agundes e R o ­ S eg u n d o a in d a P ü e g g i ( o b . c it, p á g . 1 4 6 ) : “ D u ­
m eu R a n z in i, f a to esse o c o rrid o ra n te a l . 1 G r a n d e G u e r r a , d e 1 9 1 4 a 1 9 1 8 , a F á b ric a
d e L o u ç a s S a n ta C a ta rin a , p rin c ip a lm e n te , a te n d e u ern
S e g u n d o o sa u d o s o e m p re s á rio e c e ra ­ g ra n d e p a r te às n e c e ss id a d e s d e n o ss o m e rc a d o in te rn o ” .
m ista F . S. V ic e n te de A z e v e d o , c ita d o p o r P ü e g g i, D e p o is d e s s a p rim e ira g ra n d e g u e rra , a la s tro u -s c
ta m b é m p a r tic ip a ra m c o m o p io n e iro s d a q u e la in d ú s tria n ã o só p o r S ão P a u lo c o m o p e lo s o u tr o s E s ta d o s d a
G iu s e p p e Z a p p j e G io v a m ii M in e a ti, q u e a se u tu r n o U n iã o , a p ro d u ç ã o c e râ m ic a e m m o ld e s m o d e rn o s e
m ais ta r d e iria m a b rir seu s p ró p rio s e sta b e le c im e n to s a p e rfe iç o a d o s, fo sse e la a lo u ç a d e b a r r o v id r a d a o u
c o m o é o c a s o d e Z a p p i, q u e fu n d o u u m a d a s p rin c ip a is n ã o , a de p ó d e p e d ra o u d e g ra n ito , c o m o a p o rc e la n a ,
e m p re s a s d o g é n e ro e m S ão P a u lo c a té h o je figura P a s s o u o B ra s il a p ro d u z ir d e tu d o , p a s tilh a s , g rés,
e m p rim e iro p la n o n o m e rc a d o c e râ m ic o . A fá b ric a la d rilh o s e a z u le jo s, n o a n s e io d e s u p r ir o m e rc a d o
S a n ta C a ta r in a e x e c u to u , a lé m d a lo u ç a pó d e p e d ra , in te rn o e a te n u a r o im p a c to d o s p r e ç o s d a c e râ m ic a
e x c e le n te s p ro d u to s a rtístic o s , co m o é o c a so d e u m e s tra n g e ira im p o rta d a . D ã - n o s P ile g g i e m s u a m a g n ífic a
p a r d e ja r r a s e m b is c n it ( d e p o r c e la n a ) n o p u ro e stilo o b ra , u m fiel r e tra to d o q u e fo i e ss a fa s e d e e x p a n s ã o
A rt-N o u v e a u cie p rim o ro s a m o ld a g e m . T a m b é m p r o ­ q u e te v e in íc io aírtd a n o p r im e iro q u a rte l d o s é c u lo e
d u z iu p e ç a s c m p o rc e la n a , c o m o é o c a s o d e u m se rv iç o i r i a d e s a b r o c h a r n u m v ig o ro s o im p u ls o e v o lu m e d e
d e c h á c o m trê s fo rm a to s d e x íc a ra s c o m as ijiiciais p ro d u ç ã o d e fo rm a a a tin g ir n ív e is s u rp re e n d e n te s ,
E . F . d o se u fu n d a d o r — E u d y d e s F a g u n d e s — c o ­ c o m o 6 o c a s o d o fa b r ic o d e a z u le jo s c m q u e c h e g o u o
p ia n d o c o m p e rfe iç ã o id ê n tic o se rv iç o d e m e sa d c B ra s il n p o s iç ã o d e 4 .° p r o d u t o r n o c o n c e rto m u n d ia l.

517
Séc. X X toUÇA PÕ DE PEDRA PAULISTA

44S

Este prato em pó de pedra é de um dos serviços do governador


Adem ar de Barros e tem ao centro as suas iniciais — Fabrico
paulista das "Adelinas São Caetano", da fábrica Barros L ou­
reiro á Cia . Cotação Arruda Camargo.

Obs.: Este prato representa um exemplo do que atrás foi dito,


do esforço brasileiro ainda na l.a metade do século, para
produzir seus próprios serviços de mesa e outras utilidades c
alcançar a independência no setor cerâmico.

518
B I B L I O G R A F I A

(1) C onceição da C osta N eves.


(2) A rthur de Sandão — ob. eil., pág. 214.
(3) Coleção Dr. A rmando de A rruda C amargo.
(4) G eorges F ontaine — ob. eil.
(5 ) Coleção A mbrosina Maia Sampaio — Belém.
(6) J osé de A lmeida Santos — "Manual do Colecionador"
S. Paulo.
(7 ) Julian B ernard — "Victorian Ceramic Tiles" —
London, 1972.
( 8 ) F rancisco M arques dos S antos .
(9 ) F rancisco M arques dos Santos ob. cit., pág. 78.
(10) Sérgio B uarque de H olanda — in prefácio de M aria
Beatriz N izza da Silva — "Cultura e Sociedade no
Rio de Janeiro” (1808-1821), Brasilia, 1977.
( 11) L öfs S aia — ob. eit., pág. 27.
(12) A lcindo SodRÉ — "Louças Imperiais", in Anuário do
Museu Imperial — voL IV — 1943.
(13) O scar Sellos — “A louça imperial no Paço âe São
Christóvam " — ítio.
(14) SÉRcro B tfarque de H olanda — in prefácio - pág. XI
de "Cultura e Sociedade no Rio de Janeiro" (18G8-1S21)
vol. 363 — Brasiliana, 1977.
(15 ) JAVMB Smith DE V ascgncellos — “Arquivo Nobiliár­
quico" — pág, 242,
(16) PlLEGGI — ob. cit., pág. 181.
(1 7 ) N e w t o n C a r n e ir o — ob. cit., pág, 9.

519
FAIANÇA FINA
Iconografia Personalizada

447

446

O prato de cima é de fabrico espanhol e deve tèr eido fabricado


enquanto Dom João se encontrava ao Brasil, prato similar faz
parte da coleção do Banco do Brasil, adquirido do leiloeiro
Ernarú, em novembro de 1977 t lote 45. item n,° 2 do catálogo)
janto com uma grande coicção de estampas, quadros, etc,, da
Família Real e do Principe Regente e D um João VI.
O prato de baixo é de fabrico de Sacavém, em pé de pedra,
comem orativo do nascimento do Marques de Pombal.
F A IA N Ç A F IN A IN G L E S A
Sác. XIX
{C om brasSo Imperial)

P - U 1 Q S histórico? da coleção do Museu Histórico Naciona); o de cima à esquerda tem a aha verde e a decoração dourada; a
travessa da direita é conhecida como "Serviço independência ou Morte", pasm creme (cream eoloured) c pintada ern tw /l sob a
coberta, porém tedccoruda posleriormente em policromia, sobre a g faturo; ignora-se se esta foi executada no Brasil, sem marca
IVide em. da Exposição do iV Centenário da Cidade de S, Paulo. 1954 — 'd o Inst. Histórico c Geográfico, estampa e verbete 33),
O prato abaixo o esquerda é conhecido como "Coroa Roxa" (aba com faixa'dourada), o da direita (Corpo Policiai da Província
do Pio de Joitriiol. tem a aba alaranjada. intercalada de três reservas com■a.t armas tio Império, O de baixo, cm branco, sá ostenta
o brasão imperial com ramos de fum o e café.

521
Séc. X IX FAIANÇA f i n a i n g l e s a
{Iconografia Im perial)

450

Tris '■'■'ir.', tia m esm a jarra: a de cirna mostrando o Imperador


Dom Pedro I, em fardamento ofkial, de perfil, có/n cercadura
delicada envolvendo o retrato; a jarra vista tlc frente apresenta
a bandeira imperial e numa cinta as palavras "Independência
ou a blorte** (sic); a vista de baixo exibe o busto da Imperatriz.
Dona Leòpotdina, em traje de pala e com o panaelte imperial.
Esta peça pertenceu ao ilustre erribaisador na Inglaterra. Dr.
Moiiiz de Aragão (1949) e hoje faz parte da coleção: Faity £
Medina, Rio.

522
Sécs. X I X / X X FAIANÇA FINA INGLESA
Person alijada

451

Este prato, segundo consta, fez parte do serviço diário da


Marquesa de Santos e provêm da Coleção Odilon de Souza,
recolhida no acervo do Palácio dos Bandeirantes. Pó de pedra,
marcado A da ms.

452

Esta tampa de sopeira jaz parte do sennço que pertenceu ao


Intendente Câmara, irmão de Josi Sá Bittencourt c Acctoly.
estudioso de cerâmica de Cacté. A sopetm e os pratos portam
as iniciais do Intendente eor prelo
Coleção de Marcos Carneiro àe Mendonça,

Prato de um dos serviços do Conde Álvares Penteado com as


Iniciais A. P. Tem a marca: “M anufoctured for M aple & CP.
London — Oriental Ivory-Burtnah __ p. B & S.
523
Séc, X I X FAIANÇA FINA INGLESA
Personalizada

Uma sopeírú à um prato do Serviço do Visconde de Jeqttetinhonha (sem coroa), Francisco G é de A ca ba y a M ontezum a (até a inde­
pendência, chamava-se Francisco Gomes Brandão de M ontezum a), Desempenhou importantes carpos, era form ado em adv&cacta e
medicina, e fo i M inistro da Justiça e do Estrangeiro ( l 837). Em 1857, fo i ministro plenipotenciário cm Londres, quando se presu­
m e tenha encomendado o vistoso serviço, sendo depois senador peia Bahia, Conselheiro de Estado (1850), etc . O serviço tem a
marca Copeland A Garret, pertence, segundo informações de Norton Antiguidades Ijd a . a um a neta do titular. Cortesia da Norton
Antiguidades Ltdti, (Vide Barão Smith de Vasconccilos, A rquivo N ob Uárquico Brasileiro, Lausanne, Í918 c Enciclopédia Delta
Larrouse — Rio), Existe em Portuga!, serviço idêntico de decoração e marca, porém com as armas do I.° Barão e IP Visconde
de Junqueira (José Dias Leite Sampaio). O prato de baixo com um P entre arabescos em azul, consta ter pertencido ao Conselheiro
A ntónio Prado e faz parte hoje da coleção do Palácio Bandeirantes (amiga coleção Odilon de Souza). O verso do prato exibe c
marca do distribuidor na França , de faiança inglesa. A no presum ível de ISÓS.

524
S ic . XI X FAIANÇA FINA INGLESA
Perion afeada

O rico prato de cirna com decoração compartimentada r policromaca é classificado com a da Família Real {Dam João V I) mar­
cado ‘'M FC jOO". Cortesia de José Eduardo Loureiro. O prato à esquerda era do serviço da mina de ouro, denominada “Cata
Branca — Brazilian C o m p a n y poria no verso a marca Davenport. Coleção M arcos Carneiro de Mendonça, N a jarra tem escrito
Hotel D ’Oeste — S. Pauto, tradicional estabelecimento hoteleiro do fim do século X IX e do com eço do século X X , no Largo de
São Bento, S. Paulo; tem a marca "R id g va ys Vitrified England", cortesia de "Antigam ente Artes", S. Paulo, O prato de baixo
traz no anverso quatro iniciais entre dois ramos de café, o que faz supor que seja serviço de personalidade brasileira, mas não
identificada, encomendado à Inglaterra.
Cortesia de Norton Antiguidades — Rio.

525
FAIANÇA FINA
Iconografia Comemorativa — 1900

460

Os dois pratos policromados de cima e o de baixo, representam


alegorias sobre o IV Centenário da Descoberta do Brasil em
1900, e são do fabrico de Vista Alegre, O primeiro prato
representa "A partida de Cabral de Lisboa etn 9 de Março
de 1500"; o segundo "O Desembarque de Cabra! no Brasil em
1500"; e o terceiro dentro de um enquadramento gótico, o
busto Jo Alm irante “PEDRO Á L V A R E S C A B R A L " em baixo
das armas reais portuguesas e o escudo republicano brasileiro.
Cortesia de Ecyía Castanheita Brandão.

526
Secs. X I X ! X X FAIANÇA FINA
Iconografia Personalizada

M i#

Representações em louça pó de pedra


c marcadas Sarreguemines, representan­
do nossos imperadores, o Marechal
Deodoro, os Presidentes Prudente de
Morais e Campo Salles, c o Marechal
Bittencourt, Ministro da Guerra, assas­
sinado ao salvar o Presidente Prudente
de Morais. Cole- õcS Marcos Vieira da
Cu'i/io, Brancante, Museu da República
Cortesia de E cy h Caslanhcira Brandão.

527
FAIANÇA FINA
Iconografia Personalizada

Representações de p ra id c n tts da República e cidras personalidades: A fonso Pena, Prudente de Morais, Marques de
Hervüi, Pereira Passos, Washington Luís. O prato vaiado com as armas da República é holandês (Pernis flegout
Macstricht), a xícara do Marquês de Herval é de Sarreçucnú nes, assim como os restantes. Dessa série de personagens
existem fiiiidn outros retratos corno os deScreedelo Corrêa, Veiga Cabral, Paes de Liarros, etc.
Coleções Marcos Vieira da Cunha, Duílio Crispim Farina e M useu da República,
Cortesia Ecyía Castanheiro Brandão.

528
FAIANÇA FINA
iconografia Personalizada

O prato .representando o Almirante Saldanha da Gama é etn pá de pedra, imo marcado; o do Alm irante Tamandarê é em porcelana
sem marca, pintado a mão. sobre o vidrado, e jazem p aru des coleções do Museu Naval e Oceanográfico da Marinha (Cortesia
do Comandante Max Justo Guedes}. Os dois pratos de baixo representam os reis de Portugal, Dom Carlos e Rainha Dona Amélia
são cm pó de pedra e portam a marca Ribeiro Nunes á Alves — Rio e são da coleção Cintra Gordinho — Fazenda Campos
El iscos (Vassouras), peças fabricadas no começo do século.

529
Sécs. X IX /X X FAIANÇA FINA INGLESA
Iconografia Urbana

46-1

O prato com vista da Glória c borda de folhagem e flores de


tabaco, em duas cores, faz parte de um serviço da coleção
Dr , Dutiio Crispim Farina. O de baixo com o mesmo motivo
centrai (Glória), porém com cercadura em sem i-círcub, fez
parte de um serviço pertencente ao Conde do Pinhal. O pratinho
da direita tem o m esm o desenho de borda do serviço do
Conde do Pinhal e representa o Passeio Público, porém de
tom violáceo *

530
Sécs. X I X / X X P Ó D E P E D R A IN G L Ê S
Iconografia — Rio

467 470

468

Observe-se tias travessas e prata à esquerda, a mesma cerca­


dura de folha e flor de tabaco, representando o Largo da Lapa,
Botafogo e Quinta da Boa Vista. Os pratos ù direita, represen­
tam o Pão de Açúcar e o antigo Passeio Público. Todas as
peças tratem marcada no verso 3 indicação do locat, em
português.
Coleção do Autor.

531
Sécs. X lX /X X FAIANÇA FINA
Iconografia Urbana
(Fábrica Boch A Keraims)

474 476

A o alio à esquerda, nutra v a sc o


da Jlha Fiscal, com aba diferente
dç palmeias e A direita o “Reliro"
em Petrépolis; à esquerda a mar­
ca da fábrica; â direita, vista do
bondinho e do Corcovado, c em
baixo ã esquerda, outra versão
da Praia de Icarahy e uma
"Lembrança de Taubiilé" — S.
Paulo. De notar-se que lodos tem
uma decoração pròtotipada, gêne­
ro rococó, não usada pelas outras
fábricas, no período,

532
Sêcs. X V III/XIX FAIANÇA FINA
Iconografia — Rio

477 478

O primeiro prato representa a famosa fábrica dc Caseatinha,


em Petrópoüs. O segundo, trecho da Praia de Icarahy, na
Bahia da Guanabara; o terceiro a Ilha Fiscal, também na
Guanabara (os três pratas têm a aba moldada £ não portam
marca devendo no entanto serem da fábrica Boch Frés, pela
decoração rococá). O quarto apresenta uma vista da Estrada
Niemeycr, na Gávea, Rio, (barra vermelha, aba moldada Tran­
çada, marcado Sarreguemines — França), Todos os pratos têm
a aba moldada no gênero da cestearia.
Coleção Oscar Selos. ,

479 480

533
Séc. XX FAIANÇA FINA
Iconografia Urbana
481

Ê n o tá vd a sitie de pratinhos de diferentes form as e coloridos ,


representando aspectos urbanos ou paisagísticas de numerosos
tocais do território nacional, fabricados por alguns estabeleci­
mentos cerâmicos na Holanda cm Maestrichl, conforme foi
relatado no texto. A té pela ocasião do 1,° Centenário da Inde­
pendência. isto é 1922, eram esses pratos fabricados m uitos
cicies com as datas do anverso em dourado — I S i 2 — 1922,
às vezes de abas lisas, outras vezes moldadas imitando cestca-
ria. Coleção do A utor. O praíinho de cima â esquerda de aba
verde claro, moldada, representa Estátua do Dom Pedro I no
Rio de Janeiro, o 2 ? prato com ccstenría moldada na aba azul,
apresenta uma vista do centro de São Paulo e tem os dizeres
"Anhangabaú”. O da direita, com aba . verde claro é um
documentário mostrando o Palácio M onroe, já demolido no
começo da Avenida Central fRio Branco). Ó prato de baixo,
de aba lisa, representa a Estação da L u z em São Paulo.

534
Séc. X X FAIANÇA FINA
^» - Iconografia Urbana
R io

4S6

A bandeja ã esquerda no alto, redonda, policrornada, com


galeria e oiças de metal, representa o bairro de Coparaíw/io
com o Pão de Açúcar ao fundo, do começo do século e de
fabrico tcheco, A bandeja à direita, ovalada, apresenta no 1
plano a A venida Niem eyer e no fundo a Pedra da Gávea, O
cinzeiro à esquerda {na linha do centro), também policrornada,
mostra a mesma Pedra da Gávea; é comemorativo da Exposi­
ção do IV Centenário do Rrasil, ambas as peças dc fabrico
tcheco. A bandefa ovaiada d direita apresenta ama vista clússb
ca do Pão de Açúcar, com dais barcos nas águas de Botafogo,
O medalhão em baixo f todo cm azul e subtons, imitando o
luar, tendo d esquerda em descida a Avenida Niemeyer, é dc
fabrico inglês, marcado Devem.
Cortesia do Dr, Rogério Nogueira da Silva Rego.

535
Sêc. X X FAIANÇA FINA
Iconografia Urbana (R io)

490 491

A s irês peças de cima (uma leiteira e placas de bandejas) são


de fabrico ichcco e do começo do século. A bandeja retangular
mostra uma vista do Rio, tirada do lado do bairro e da praia
de Copacabttrta com a baia da Guanabara aa fundo. A bandeja
de cima ú direita a enseada de Botafogo com -o Corcovado ao
fundo, e a leiteira com tampa dc metal e alça preta, uma vista
do Pão dq Açúcar.

536
(Primeiro quartel do século XX) F A IA N Ç A F IN A
Iconografia Urbana
São Paulo

453

Outra série âa fábrica francesa de Sarreguemines, focalizando


aspectos de m onum entos e jardins. Â esquerda a famosa Estação
da Luz, à direita o Museu Paulista. Embalso, bucólica paisagem
do Jardim da Luz. Coleção do Autor.

537
FAIANÇA FINA
iconografia Miiitax
(primeiro quartel do sécufo X X )

494

A fabrica francesa de Sarregacrnmes não só focalizou diversos aspectos de paisagens e m otivos urbanos brasileiros como tam-
bem de ordem militar, tanto da Força Pública de São Paulo como do Exército Brasileiro e outras corporações. Nesta página
ao mio da ftta-legpruia, esta escrito: “Bombeiros Parada Militar de 15 de novembro". Coleção Irineu Ângulo. N o prato com
ires cavalaras esta escrito Estado M aior do l .° Batalhão" e no prato d direita “l .° Batalhão com a Bandeira”. Estas duas
peças são do Museu da República. O prato à esquerda tem escrito os dizeres “Descanso de Manobras**,
Cortesia de Ecyla Castanheiro Brandão.

538
FAIANÇA FINA
Iconografia Naval
( Boch Fr és La Louvière)

495

t i c s encouraçados da Armada Brasileira do Primeiro Quartel do


Século: o "São ii.t.io". o “M inits Gerais" e o "R io de Janeiro"
—- este não chegou a ser incorporado â nossa esquadra. Todos
eles da fábrica belga: Boch Frés La Louvière. Os dois primeiros
são do Museu A’,;.*:' e Oçcanográfico da Marinha. [Cortesia
do Comandante M ax Justo Guedes). B o outro é da coleção
do M useu da República.
Cortesia de Ecyla Castanheim Brandão.

539
Séc. X X F A IA N Ç A F IN A
(Holanda)

496

A malga vista acima e com os lados estampados embaixo é de


fabrico holandês t está marcada : Maestricht — "B U rial". A
peça fo i adquirida em Santos pelo Dr. Carlos A lfred o Hablilzel,
Diretor do Museu Histórico Naval de São Vicente (SP) e
representa o feito da travessia da Mancha (Calais-Dover) reali­
zado em 25 de julho de 1909, pelo francês Luís Blériot , Na
peça vê-se a aeronave "BU riot X I " sobre o canal e embaixo
uma fila de rasos de guerra que os ingleses colocaram no tra­
jeto pora dar cobertura ao empreendimento — nas fotos de
baixo, vê-se urna estrada do lado da França c dois carros da
época com a assistência para acompanhar arriscada tentativa
Ipeso SOO kg, potência m otor A nzani 25 HF, velocidade máxi­
ma 58 K m /h !) BUriot um dos grandes pioneiros da aviarão
na Europa e amigo e admirador do PAT D A A V IA Ç A O —-
sobre ele assim se expressou no dia de sua memorável conquis­
ta: "Por causa dele (Santos D um ont) Farís viveu, naquele dia
(12 de novembro de 1906) instantes heróicos, febricitantes de
espírito e de uma emoção comparável às das maiores jornadas
da aviação. O m undo inteiro, sabedor da noticia, advinhou que
para ele uma era até então desconhecida se abria. Começara
a época heróica da aviação". Vide Henrique D um ont biliares
— "Santos D um ont — O Pai da Aviação " — S, Fauio — 1956
— pdg. 50 e também a "U lllustration" de 22 de novembro de
1905. Cortesia do Dr. Carlos Alfredc Habiitzel — Diretor do
Museu Histárida Naval dc São Vicente.

540
Séc. X I X FAIANÇA FINA INGLESA

O prato de cima {estampado) cm azai tem marcado no verso


“E T Q N CO LLEG E“r famoso educandúrio inglês da nobreza
britânica. O prato azul, .meio borrão, 1} esquerda tem a marca
de Copcíand e o da direita tem marcado nò verso o modelo:
“A LP ÍN E ". O pires, embaixo tem inscrito: "A m ora Gardcns"
no verso. O segundo grupo de pratos não tem marca; no centro
um pires de decoração “rose lustre", porém o prato da direita
com faixas concêntricas para um circulo do meio, cm azai e
riscos de lustre é de modelo fabricado por Copeland.
Coleção Sítio Guaecã — S. Sebastião — S. Paulo.

541
Séc. XIX F A IA N Ç A F IN A IN G L E S A
E PORTUGUESA

A travessa de cima é dós desenhos


mais antigos encontrados no Brasil;
está marcado Copeland (gravado}; o
prato à direita com três grupos de
ramagens é mais antigo ainda, com
decoração em azul , sem marca. O
prato à esquerda Com dais pássaros
(faisões}- e rosas no centro é da fá ­
brica portuguesa de Sacavém e traz
no verso estampados numa cinta com
fivela, os dizeres: “Faisão Giíman eí
Cia. Sacavém“, O prato cotn vista
lacustre e linda ccrcaduru está mar­
cado Ironstonc Lor retine W. Adams,
O prato de baixo à esquerda com
cercadura formada em artísticas
gregas c rosetas ê de 1870 e fo i do
casamento dc Francisco de Arruda
Camargo e Maria Amélia, avós do
proprietário das cinca peças refe­
ridas acima (este serviço tem mar­
cado no verso “Estevão Busk" A
Cia. Trade Mttrk — Rio, que era a
firma distribuidora), A travessa azul
com linda vista ca.tfcfíí, pertenceu
ao Conde de Prados e tem no verso
marcado "W ood Marquis de La-
fay etc”.
Cortesia do M useu Mariano Procópio
— Juiz de Fora — MG.

542
Séc. XIX FAIANÇA FINA INGLESA

499

A travessa de cirna é marcada Heathcote & ( s . em azul borde


octogonal, a de baixo, também com cena campestre e bela
cercadura de flores não está marcada. A travessa octogonal com
um ramalhete de flores ao centro, em azul e branco c flores
esparsas e friso azul está marcada Copelcmd and Garrei, A
travessa azai borrão de baixo, tem apenas no verso a indicação
do modelo e não o da fábrica “C U B A ”,
Coleção Sítio Guaecá -- S. Sebastião —■ 5. Paulo.

543
Séc. XIX F A IA N Ç A F IN A
Inglesa e Francesa

500

O prato à esquerda, aba laranja e azul, centro em decoração


azul. pertence a um jogo da Fundação Crespi-Prado. O prato
pequeno a direita, ao lado é francês, com representação de
índios brasileiros, tem no verso escrito: PORC ELA 1N E OPA-
QU E “Recolte et prêsenlatian du Cautchoue” L. M . <Sl Cie".
A. travessa ovalada do centro não tem marca e 0 prato dc
baixo cm azul, fo i retocado a cores, a mão, na fábrica e tem
t-COeaçao rio gênero Chinoiscries** e porta a indicação do
modelo nó verso: "H ong
Coleção Sítio Guaeca — S, Sebastião — 5. Paulo.

.c A K tt» .
.AHLt/
£_Í*C1A**0

Dhcrsos fragmentos de louça pó de


pedta inglesa (uma das marcas com
cabeça, de tigre à esquerda é brasi­
leira, marcada “Ceramus") encon­
tradas na praia' <? Sítio Cuaeeá, no
Município cie São Sebastião — *
São Paulo.

544
Séc. XIX FAIANÇA FINA INGLESA

O prato de aba azul e brigue e flor azul no centro , tem mar*


cado no verso fiA L T O N Á r\ Â travessa do centro com uvas e
folhas de parteira, em azul e ouro , não tem marca * O prato
abaixo, em azul, tem marcado no verso “TO K l O” e a marca
“JO H N SO N BROS“. A s duas peças à direita, travessa e prato
em azul e branco não trazem marca, são dos desenhos mais
antigos encontrados no Brasil, executados pelo processo de
“fantasma“ considerado artesonal.
Coleção Sitio Giiaccd — S. Sebastião — S. Paido.

545
Séc. XIX FAIANÇA FINA INGLESA
(Aparelhos de íoilleie)

A pia, em azul c branco, è do tipo clássico ã i uso no Brasil


de diferentes formatos (altas c am o esta e baixas retangulares),
havendo ainda as policromadas. Existem jogos completos de
pias e vasos sanitários com a mesma decoração, inclusive poli-
cromados. M odelo dc vaso sanitário, marcado Johnson Bros
" The Purltas" Wash D own Closer. O urinol, também de fabrico
inglês, ê proveniente da sede da Fazenda Pinhal, no Município
de São Carlos , São Pauto.

546
Séc. XX FAIANÇA FINA
SiüvTidos de naufrágio — Rio

A xícara d pires com ramagens em m u i £ concha, foram recupe­


rados cm Angra, de embarcação de guerra brasileira, afundada
no princípio do século e poriam a marca V &. B W A LLE R -
F A N G E N ( YUIcroy -& Boch), fazem pane da coleção do M u­
seu Naval e Oceanogrdfico da Marinha. (Cortesia do Cie. M ax
Justo Guedes). A s outras xícaras e pires, embaixo, em melhor
estado constam ser da mesma procedência e portam a marca
de Sarrcguernirtes, decoração de fundo sairnotx c desenhos em
marrom. Cortesia de Farty c Medma (RiO).

547
Séc. XIX FAIANÇA FINA
Fábrica, francesa de Sarrcguemines

A jrícarn de caldo e o pires / íjmí?i parte da coleção do Museu


do Instituto Arqueológico de Recife, r são uma cópia fiel em
pó dc pedra dos serviços em porcelana da Fábrica de Mcisscn,
esrão marcados "Opaque de Sarrcguemincs”. A travessa grande
com decoração de rosas cm azul esmaecido, também ê de Sar­
reguemines (decor 18), O prato dç buixo faz parte dc um grande
e vistoso-serviço, todos com desenhos diferentes no centro, que
fazia parte da Fazenda Taquaral, em Campinas, dc propriedade
de Joaquim Bento A lves U m a.
Cortesia dc Beatriz A lves /.ima.

548
Séc* X IX FAIANÇA FINA PORTUGUESA
(Modelo “Estátua” )

A travessa em azul violáceo, repré­


senta a estátua equestre -de Dom José
I e na aba a representação de edi­
fícios, fontes e obeliscos de-'Lisboa,
Tem marca inglesa. (Diamond
M ark) e é cortesia do historiador
Marcos Carneiro de Mendonça,
Rio, O prato azul com estátua
equestre está marcado (Real Fábri­
ca de Sacavém) e é cortesia do
Museu dc São Luís. A bela travessa
em marrom pertence a Vera Sam­
paio Cher mont e esté também mar­
cada Sacavém (Belém,). Dc obser­
var-se nestas duas últimas peças,
como os portugueses - pelo final do
século, imitavam bem os ingleses,
não sé na pasta p ó de pedra, com o
nos desenhos a decalque*

549
Séc. XX FAIANÇA FINA
( An-N oavcau t A rl-D sco)

0 prato em rainuras, ramagens e flores, de bela esmallação é


do fabrica dc ViUeroy & Boch e foi adquirido na Bahia. A
farra policroniada com o corpo craquelé e um medalhão colo­
rido ao centro entre tiras amarelas está marcada L a Louviire
iBélgica) e assinada. O açucareiro e leiteira em Art-Deco foram
adquiridos ern Minas, estão marcados " li erres Loureiro & Cia.
Adclina — S. Paula1' . {presumivelmente do primeiro terço do
século XX),

550
VIII - BISCUIT

im o s n o p rim e iro c a p ítu lo , q u a l A p a s ta d e p o rc e la n a m o le , ta m b é m , fo i a p re c ia ­


a in te rp re ta ç ã o d a d a p e la m a io ­ d a p e lo tip o d e b is c u it q u e p ro d u z ia d e g ra n u la ç ã o
ria d o s a u to r e s a o te r m o b is c u jt, m iú d a , d e u m b r a n c o de p a lh a e s m a e c id o e s u a v e ao
q u e p a s s o u a c o n s titu ir u m a ta to , e fo i b a s t a n te e x p lo r a d a p e la s fá b ric a s d e V in -
c a te g o ria a p a r te n a c e râ m ic a c e n n e s , S è v rc s e a in g le sa d e D e rb y .
■por a p re s e n ta r u m a c a ra c te rís ­ P o ré m , d e to d a s e ssa s p a s ta s e r a o b is c u it d a
tica p e c u lia r. A s s im , d c a c o rd o p a s t a d e p o r c e la n a d u r a q u e le v a v a a p a lm a e n tr e to d a s ,
c o m a q u e la c o n c e itu a ç ã o a m p la , q u e a d o ta m o s , q u a l­ p e la s u a a lv u r a e p u re z a , S è v rc s foi a s u a b rilh a n te
q u e r p ro d u to c e râ m ic o q u e é c o s id o a o fu g o , m a s, in t r o d u t o r a rio c a m p o a rtís tic o e fez ju s a o re n o m e
n ã o re c e b e g la s u ra n e m e sm a lta ç ã o , p o d e s e r c o n sid e ­ in te rn a c io n a l q u e a té h o je d e s f ru ta p e la e lite d c a rtis­
ra d o b isc u ít. ta s d e r e n o m e q u e e m p re g o u , c o m o H o u d o n e n tre
D e s s a fo rm a , o b is c u it p o d e se r d e p a s ta s d iv e r­ m u ito s o u tr o s «J. Se M e is s e n c rio u o g o s to e n tr e a s
sas e d e d ife re n te s c o re s , b is c u it e m p a s ta d e te r ra c o ta , e lite s , p e la s fig u rin h a s e m p o rc e la n a e s m a lta d a , c o u b e
e m p a s ta d e g rés, d e fa ia n ç a fin a , d e p o rc e la n a m o le , a S è v re s o g a la r d ã o d e c ria r c d e s e n v o lv e r u m g ê n e ro
d e p o rc e la n a d u ra . n o v o e e s ta b e le c e r a m o d a e a in d ú s tria d o s b is c u its
D e n tro d a sé rie de te r ra c o ta s , s u rg e u m a in fin i­ a p lic a d o à s fig u rin h a s , b u s to s , e s tá tu a s e g ru p o s
d a d e d e a rtig o s u tilitá rio s , d e c o ra tiv o s e a rtístic o s , em
O s é c u lo X I X c a ra c te riz a -s e , a lé m d o u s o in te n s o
p a rtic u la r, im a g e n s, e s ta tu e ta s , b u s to s e v a silh a m e ,
d a fa ia n ç a fin a , p e lo m e n o s a té m e a d o s d a c e n tú r ia ,
c u ja s c o re s ir ã o o b e d e c e r às to n a lid a d e s d a s arg ila s
se g u id o p e la p o r c e l a n a d e fa b r ic o e u ro p e u e p e lo e m ­
e sc o lh id a s, v a ria n d o d o e s b ra n q u iç a d o , d o ró s e o , d o
p re g o ta m b é m d o b is c u it q u e a p r o v e ita n d o a s d iv e rs a s
m a rro m , d o a v e rm e lh a d o e m e s m o p re to . A s fa m o sa s
p a s t a s e c o p ia n d o g ê n e ro s c h in e s e s e o s m o d ism o s em
T ã n a g ra s , q u e fo ra m c o p ia d a s n o sé c u lo X I X , d a s
v o g a n o O c id e n te , c o n tin u a r á a s e fa z e r p re s e n te c
c ria ç õ e s e sc u ltó ric a s h e lé n ic a s e m u ita s O utras in s p ira ­
re q u is ita d o a té o s é c u lo X X .
d a s d o M u n d o A n tig o , sã o te r ra c o ta s , q u e a rig o r,
H á ra z õ e s q u e e x p lic a m o re s s u rg im e n to e o
p o d e m s e r c o n s id e ra d a s ta m b é m b tsc u its.
in c re m e n to d o u s o d a c e râ m ic a se m v id ra d o , s o b r e ­
A p a s ta d e fa ia n ç a fin a , c o m s u a s n u m e ro sa s
tu d o , n a p a r te a rtís tic a , a ss im c o m o o a p ro v e ita m e n to
v a ria n te s c o m o o p ó d e p e d ra , g ra n ito , e tc ., q u e
d e p a s ta s d e d ife re n te s c o n s titu iç õ e s e a s u a p ro d u ç ã o
a p re s e n ta v a to n a lid a d e s b r a n c a s o u e s b ra n q u iç a d a s ,
e m la rg a e s c a la , p a r a a te n d e r a u m a v a sta g a m a d e
se rv iu la rg a m e n te p a r a c o n fe c c io n a r a rte fa to s em
a rte fa to s ,
b is c u it, so b re tu d o ja r ro s , c a c h e -p o ts e e s ta tu e ta s , p e ia s
fá b ric a s f r a n c e s a s , e n tr e e la s : S a rre g u e m in e s e T o u m a i, A re s p o s ta é q u e , c o n fo r m e o s g ê n e ro s d o s p ro ­
e, p e la d e S e p t F o n la ín e s n o L u x e m b u rg o , e n tr e m u ita s d u to s q u e fo r a m s e n d o c ria d o s e fa b ric a d o s , e ra m
o u tr a s n a E u ro p a , re q u e rid a s to n a lid a d e s e sp e c ífic a s q u e só c e r ta s p a s ta s
O g ré s e se u s s u c e d â n e o s in g leses, fo r a m d a s c o n fe r ira m , e ta m b é m p o r q u e a m a io ria d e la s e r a d c
p a s ta s m a is e m p re g a d a s n o g ê n e ro d o b is c u it, e c u s to r e d u z id o e m c o n f r o n to c o m a p o r c e la n a q u e
W e d g w o o d , fo i u m d o s m a is e fic ie n te s p ro p a g a d o re s s o m e n te d e p o is d o m e a d o d o s é c u lo p a s s a a s e r m ais
d c se u u s o c o m as su a s m ú ltip la s e a tr a e n te s c a m b ia n ­ v u lg a riz a d a e m a is b a r a t a , c o m a g e n e ra liz a ç ã o d o seu
te s c rô m ic a s e m q u e s e situ a m e n tr e o u tr a s c ria ç õ e s , fa b r ic o n a E u r o p a .
o ja s p e , o b a s a lto e O “ro s s o a n tiq u o ” . E S p o d e d ifu n ­ O u tr o f a t o r é q u e o b is c u it lig a -se e s tre ita m e n te
d iu u m g ê n e ro d e b is c u it, c o n h e c id o p o r “ P à r ia n ” p o r a u m m o v im e n to a rtís tic o q u e ir ia s u f o c a r o b a r r o c o
im ita r o m á rm o re d a I l h a d e P a ró s , q u e s e rv ia em e o ro c o c ó e v o lta r a u m a s o b rie d a d e m a io r e m ais
p a r te , a g ra n d e e s ta tu á r ia c lá s s ic a g re g a . A C h in a já s im p lic id a d e d e e x p re s s ã o , liv re d o re b u s c a m e n to e d e
e m p re g a v a o g rés v id ra d o e o n ã o v id ra d o , n e s s e c a so s o b r e c a rg a d e c o ra tiv a re in a n te s n a s a rte s a p lic a d a s
o b isc u it, d e s d e a d in a s tia H a n , is to é , a n te s d e n o ssa a té e n tã o .
e r a ; e , p e la a ltu r a d o s é c u lo X V I , o s g rés fa b ric a d o s E ra p o is , o b is c u it o p r o d u t o c e râ m ic o q u e m ais
e m Y i-S h in g , a lc a n ç a ra m re n o m e in te rn a c io n a l p e la s e p re s ta v a à c ó p ia d a q u ilo q u e o n o v o e stilo p re te n d ia
q u a lid a d e e b e le z a d e se u s p ro d u to s q u e v a ria y a m d o fa z e r le m b ra r .
v e rm e lh o a o p re to . E ste s p r o d u to s c h in e s e s q u e p o d e m O N e o c lá s s ic o ia s o rv e r s u a in s p ira ç ã o a o M u n ­
te c n ic a m e n te s e r c o n s id e ra d o s b is c u its , tê m u m te im o d o A n tig o e re v iv e r c o m n o v a s in te rp re ta ç õ e s e n o v o s
p r ó p r io n a te rm in o lo g ia c e râ m ic a p e lo q u a l, sã o m a te ria is to d a u m a p o r ç ã o d e c iv iliz a ç õ e s e x tin ta s .
c o n h e c id o s “b o c c a ro ” , ‘'b o c a r a ” o u “ b u c c a ro ” , te rm o S u rg e m a s s im , fig u ra s e d iv in d a d e s e g íp c ia s, a a lim á ria
e ste q u e p o r e x te n s ã o fo i d a d o à s im ita ç õ e s, s o b re tu d o , a s s írio -b a b iló n ic a , e s ta tu e ta s g re g a s, b u s to s ro m a n o s e
in g le sa s, h o la n d e s a s e ita lia n a s , fe ita s n a E u r o p a e a s to d o u m re p e r tó r io q u e a s e sc a v a ç õ e s d e H e rc u la n o e
fa b r ic a d a s n o M é x ic o . P o m p é ía p u n h a m a n u , e e m q u e s o b re ssa ía m â n fo r a s ,

551
c â n ta ro s , c á lic e s, u m a s , “iti n a tu r a ” o u re p ro d u z id o s C a d a p r a te le ira d a q u e la s e le g a n te s v itrin a s p o d ia
e m a d m irá v e is a fre sc o s c o lo rid o s. e s ta r e v o c a n d o u m q u a d ro m ito ló g ic o , b u c ó lic o , g a la n ­
E c o m o essas civilizações se e v id e n c ia ra m n a te ou g u e rr e iro . T a m b é m re u n ia m e la s b u s to s d e p e r ­
s u b lim a ç ã o e s c u ltó ric a , é o b is c u it q u e v e m d e s e m p e ­ s o n a g e n s c é le b re s, c o m o A le x a n d re , A u g u s to , V o lta ire ,
n h a r u m p a p e l im p o rta n te na d ifu s ã o d o n o v o e stiio N a p o le ã o , B is m a rc k , C h o p in , W a g n e r, M o z a ft, B a c h ,
im ita n d o o mármore, o c a lc á rio , o b a s a lto , e tc. P a s te u r, c d e s o b e ra n o s já d e fu n to s , a le m b ra re m na
P o r seu v isto so e fe ito , su a m o d e la g e m d ó c il e seu re c lu s ã o e s tá tic a d a v itrin a , u m v e n e rá v e l c a m p o
b a ix o c u s to e m c o n fr o n to c o m o m á r m o re e o b ro n z e , s a n to c m m in ia tu ra ,
c o n tin u a r á o b is c u it a s e r a p re c ia d o e a s e rv ir a o u tra s E c a d a p r a te le ir a n o fu n d o d e n o ss a m e n te C n a
v a ria n te s a rtís tic a s , q u e irã o se p ro c e s s a n d o a té c h e g a r flo r d e n o s s ^ s e n s ib ilid a d e , a n im a v a -s e c o m o u m p a lc o
a o A r t- N o u v e a u , e a o D e c o , q u e c o m re f o rm u la ç ã o de s u s p e n s o n d e s p a ç o , tr a n s p o r ta n d o - n o s a tr a v é s d a
fo r m a s e d e c o r a ç ã o ro m p e m c o m o s e stilo s h is tó ric o s , c e râ m ic a , a o p a s s a d o , a o b e lo c à s a u d a d e .
E q u a n to à s u a p re s e n ç a n o B ra s il, te m o s a d iz e r
E a in d a p o d e m o s v is lu m b ra r, p o u s a d o s s o b re a s
q u e a s o c ie d a d e b ra s ile ira e s te v e a te n ta a o q u e se
m e sa s, n a h o r a , d o c h á , b u le s e x íc a ra s a z u is d c
p a s s a v a n a E u ro p a , O s m o d ism o s lá re in a n te s , fosse
W e d g w o o d o u as d e lic a d a s tig e la s v e rm e lh a s d e
e m P a ris , L o n d re s , L is b o a ou V ie n a , e ra m a c o m p a ­
Y i-S h in g , m m a n c h a r d e a le g re s c o n tr a s te s a a lv a m o ­
n h a d o s e p ra tic a d o s a q u i c m to d o s o s s e to re s e m q u e
n o to n ia d a s to a lh a s a d a m a s c a d a s , e n g o m a d a s a ferro !
se m a n ife s ta s s e , fosse n a m ú s ic a , n o m o b iliá rio , n a
o u riv e s a ria o u n a c e râ m ic a , A e v o c a r u m a é p o c a , u m a p e rs o n a g e m o u u m a
A s sim , a q u e la sé rie v a ria d a d e b is c u its ta m b é m p r o d u ç ã o a rtís tic a d e m é rito , te m o s n o B ra sil, b a s ta n te
c á v e io te r. te s te m u n h o s , C ita re m o s a p e n a s a lg u n s.
" D e v is u ” , e n c o n tra m -s e e le s e s p a r ra m a d o s p e lo s N o M u s e u H is tó ric o N a c io n a l, e x is te u m b e lo
a n tiq u á rio s , p e la s c o le ç õ e s p a r tic u la re s e p e lo s b u s to d e D o m P e d ro l (S ê v re s o u V ista A le g re ) e cm
m u s e u s. c o le ç ã o p a rtic u la r o c a sa l D o m P e d ro e D o n a A m é lia ,
M a s d e m e m ó ria , p e rm a n e c e m eles in ta to s em d e e x c e p c io n a l fa tu ra . N o M u se u d e A r te A n tig a , d a
n o ss a s m e n te s e re tin a s, tr a n s p o rta n d o -n o s e m g ra ta B a h ia ( a n tig o M u s e u d o E s t a d o ) , e x is te u m a lin d a
e v o c a ç ã o , a o s a m b ie n te s v iv id o s p o r o u tr a s g e ra ç õ e s . ja r r a d e J a c o b P e tit, d a c o le ç ã o G o e s C a lm o n e n o
N a q u e la s c a s a s a v o e n g a s , n a s sa la s d e v isita s P a lá c io d o C a te te , n o M u s e u d a R e p ú b lic a , u m p o r­
p o v o a d a s de c a d e ira s e so fá s e n c a p a d o s , d e ja n e la s te n to s o g ru p o d a m e s m a fa tu ra . O B a rã o d o R io
a lta s e p e s a d o s re p o s te iro s , d e b io m b o s la rg o s, la q u e a ­ B ra n c o p o s s u ía v á ria s e s ta tu e ta s em A rt- N o u v e a u , que
d o s c n a c a ra d o s , d e p a re d e s d e d a m a s c o o u p a p e l p in ­ se rv ia m d c c e n tro d c m esa, p e ç a s e ssa s c o n s e rv a d a s
ta d o , d e c o lo r id a s e s c a r ra d e ir a s s e m e a d a s s o b re ta p e ­ p o r u m d e seu s ilu stre s d e sc e n d e n te s .
tes p e rs a s o u d e A rra y o lo s , é n e ss e h a b ita t q u e se
P o ré m d e s u r p re e n d e n te p a r a a h is tó ria d a a rte
in te g ra v a m o s b is c u its. À s v e z e s, p o u s a d o s s o b r e o
c d a c e râ m ic a n o B ra s il, h á q u e se a s s in a la r o fa b ric o
p ia n o d e c a u d a , à s vezes ftx o s a c a ix a s d e m ú s ic a s,
d o b is c u it e m fin s d o sé c u lo X V I I I e c o m e ç o d o X IX
o n d e lé p id a s d a n ç a rin a s d e c in tu r a s d e lg a d a s, d e
n o R io d e J a n e iro , e no c o m e ç o d o s é c u lo X X em
sa io te s d e filó e p e rn a s e sg u ia s e x e c u ta v a m e m g ra c io ­
S ão P a u lo , v e rd a d e ira s o b ra s p rim a s!
so s v o lte io s, v a ls a s d e L e h a r o u d e S trau ss.
M a s a .m o r d a s v ezes, e s ta v a m o s b is c u its re c lu ­ E s ta m o s n o s re f e rin d o a J o ã o M a n s o P e re ira e
so s e m e le g a n te s v itrin a s fra n c e s a s d e c ris ta is b is e la - a se u s lin d o s c a m a fe u s , im ita n d o o ja s p e d e W e d g ­
d o s a o la d o d e a rtís tic o s d a g u e rrc ó tip o s , d e m e d a lh a s w o o d . E x iste m n o B ra s il, tr ê s p e ç a s , u m a n e l d a c o le ­
e c o n d e c o ra ç õ e s d e fa m ília , r e tr a to s e n c e rr a d o s em ç ã o S e n h o ra N c w to n C a rn e ir o e d o is c a m a fe u s ( d e 3,5
c a ix a s d e p r a ta e e m o ld u ra d o s em c risó lid a s. c m x 3 c m ) o v a la d o s em a z u l e c in z a c o m as efígies
E ra m s o b r e tu d o , e s ta tu e ta s d e C a p o d im o n te , cm b ra n c o ( d e D o m J o ã o e D o n a C a rlo ta J o a q u i-
d e S è v re s, d e J a c o b P e tit, d e V ie n a , d e W e d g w o o d , n a ) , e a u e fa z e m p a r te a tu a lm e n te d o a c e rv o d o
d e M e isse n , d e V ista A le g re o u d e o u tr a s p r o c e d ê n ­ M u s e u d o B a n c o d o B ra s il ( l o te n .° 4 5 d o le ilã o d e
c ia s o u a in d a d e lic a d a s p e ç a s h íb rid a s p a rte e m p o r­ N o v e m b ro d e 1 9 7 8 , d o le ilo e iro E r n a n i — R io —
c e la n a c o lo r id a , p a r te e m re n d ilh a d o s fo sc o s em Ic o n o g ra fia d e D o m J o ã o V I ) ,
b is c u its, a re p r e s e n ta r d a m a s c o m b e lo s to u c a d o s e d e Q u a n to a o f a b r ic o d o b is c u it e m S ã o P a u to , h á
s a ía s r o d a d a s o u d e c rm o lin a s , o u c a v a lh e iro s em q u e s e d e s ta c a r u m p a r d e ja r r a s d c n o tá v e l e le g â n c ia
m e s u ra s e le g a n te s , de m in u e to . e u m a e r u d ita in te r p r e ta ç ã o e s tilístic a d o A rt- N o u v e a u .
E s ta v a m n a m o d a , a lé m d e fig u rin h a s c lá s sic a s, E sta s p e ç a s f o r a m e x e c u ta d a s p o r v o lta d e 1 9 1 3 , p e lo s
e s ta tu e ta s d e n in fa s , s e re ia s, v é n u s e c u p id o s , d e lfin s, a rtista s d a F á b r ic a d e S a n ta C a ta rin a , f u n d a d a p o r
c o m o g ru p o s v a ria d o s e m u m só b lo c o c e râ m ic o o u E u c ly d c s F a g u n d e s e R o m e u R a n z in i, e s ã o e m b isc u it
c o m p e ç a s s o lta s , c o m o d e a n im a is c o m p o n d o u m a d e p a s ta d c p o r c e la n a c e stã o m a r c a d a " F .S .C , — S ão
o rq u e s tra , c a s a is d e ro m â n tic o s n a m o ra d o s , d e R o m e u s P a u lo ” e p e rte n c e ra m à q u e le ilu s tre e e s c la re c id o
e J td te ta s , d e p ie r ro ts c c o lo m b ín a s . p io n e iro p a u lis ta .

552
Séc. X X BISCUIT
Fábrica de Sínta Catarina — Sao Paulo
Fagundes &. Rarudní (1913)

514

Três faces de uma jarra em bise ui! (pasta de porcelana) em


estilo A rt-Nouveau, corri a marca incisa no frete “F. S. C. —
São Faulo” o que corresponde ã Fábrica cie Santa Catarina,
fundada par Buclydes Fagundes e Romeu R antini na A cr.o
Branca, com a razão social de Fagundes tt Ranzini. Esta peça
fabricada por artistas aqui radicados, d&do o alto grau de
perfeição, m ovim ento e criatividade, pode-se comparar com o
que de melhor era produzido na Eurcjja no período. Repre­
senta ninfas, crianças e sereias, em diferentes posições entre
folhagens e espigas de cereais.
Cortesia da Fuma, Família Eitclydes Fagundes.

553
Séc. XIX BISCUIT

5 1 5

Busto em biscuti com soco de márm ore branco c apoiado em


mármore verde. Representa Dom João VI, rei, presumivel­
mente no período brasileiro, sem marca.
Cortesia Jaçqttes Kiigcl {Paris).

554
Séc. X IX BISCUIT
Bust o de Dom Pedro I t Imperatriz Dona Amélia

51É

Estes bustos, de exímia fatura foram adquiridos ent Paris em


1949, peio colecionador Djãlma da Fonseca Hermes. O Museu
Histórico Nacional possui o busto de Dom Pedro 1.
Coleção de Vva. Sebastião Ribeiro Louras,

555
IX - GRES

iv e m o s , já , o p o r tu n id a d e d e n os D a R e n â n i a e d a B a v á r ia , o s c o l o n o s d o P a r a n á ,
r e f e r ir a o g r é s n o p r im e ir o c a p í ­ S a n t a C a t a r in a e R io G ran d e d o S u l tr o u x e r a m um a
t u l o , à s u a a n t ig u id a d e d e s d e a s é r ie v a r ia d a d e c a n e c a s , j a r r o s e j a r r õ e s c o m a t íp ic a
d in a s t ia H a n , à s u a g r a n d e r e s is ­ d ecoração a z u l, q u e j á v in h a do M e d ie v o , c o n h e c id a
t ê n c ia , a o s e u e m p r e g o v a r ia d o , p o r “ b la u w e r k e ” .
in c lu s iv e c o m o m o e d a n o O r ie n ­ O s in g le s e s n ã o d e ix a r a m ta m b ém d e n o s e n v ia r
te, ao seu f a b r ic o nos p a ís e s os seu s grés so b d ife r e n te s fo rm a s e cores: te m o s o
n ó r d i c o s e u r o p e u s , n o s é c u l o V I U e à s a t r a e n t e s v a r ia n ­ a c i n z e n t a d o p a r a o v a s i l h a m e e m g e r a l, o v e r m e l h o ( r e d
t e s i n g le s a s d o s é c u l o X V I I I , sto n e w a re) i m it a n d o o c h in ê s p a r a a lo u ç a de chã,
V im o s ta m b ém q u e esse p r o d u t o c e r â m ic o s e r v iu o n e g r o (b la c k b a s a lt ) e a s é r ie d e l i n d a s t o n a l i d a d e s
de b ase para a d e sc o b e r ta de m a is duas c a t e g o r ia s d o s s e u s j a s p e s p a r a o s o b j e t o s d e a d o r n o e o s s e r v i­
i m p o r t a n t e s : a d a p o r c e la n a d u r a d a C h in a c o m o p r o ­ ç o s fin o s d e m e sa , e , a in d a p a r a a p lic a ç ã o n a o u r iv e ­
d u to in t e r m e d iá r io , c o n h e c id o por p r o t o - p o r c e la n a , e s a r ia e e m p l a c a s n a e b a n í s t i c a .
a f a ia n ç a fin a , c o m v á r io s s u b -p r o d u to s . N esse p a r t ic u la r , se rã o raros en tre n ó s, a q u e le s
O B r a s il f o i im p o r t a d o r d e g r é s s o b v á r ia s f o r m a s que não se le m b r a m de broch es, de b r a c e le te s e de
e q u a lid a d e . T e c n ic a m e n t e h á d u a s c a t e g o r i a s d e g r é s : a n é is e m b is c u i t ( d e p a sta de grés ou d c p o r c e la n a ),
o in d u s t r ia l u sa d o em co n stru çã o , com o m a n ilh a s , os fa m o so s ca m a fe u s de d ife r e n te s cores e fo r m a to s
t u b u l a ç õ e s , a p a r e l h o s s a n it á r io s , i s o l a n t e s , e t c ., e o g r é s e n c a s to a d o s e m o u r o , d e n o s s a s a v ó s . P a r te d e le s era m
fin o , d e s tin a d o à lo u ç a , v a s ilh a m e , o b je to s de r e a lm e n t e de p edras v u lc â n ic a s e p a rte i m it a ç ã o em
a d o rn o , etc. b is c u it . M u i t o s d e l e s a i n d a s o b r e v i v e m c o m o r e líq u ia s
d e f a m í l i a o u c u r i o s i d a d e a r t ís t ic a g u a r d a d o s e m g a v e ­
P r e s t a - s e a s s im , o g r é s a n u m e r o s a s a p l i c a ç õ e s e
ta s o u e x p o sto s e m v itr in a s , e v á r io s d e le s o r n a m os
é u t iliz a d o ta n to no terren o u tilitá r io com o no de
c o to s de ven eran d as dam as em seu s im p o n e n te s
adorno com um e n o a r t ís t ic o .
r etra to s, em te la s ou cm daguerreóüpos d o p e r ío d o
A p r e se n ta -se e le sob v á r io s a sp e c to s de r e v e s ti­
V ic to r ia n o e d a B e lle E p o q u e !
m e n to , to d o v id r a d o , p a r te v id r a d o , ou sem v id r a d o
A i n d a n o t e r r e n o d a s e v o c a ç õ e s , n ã o v ã o lo n g e o s
a lg u m , o u s e j a n o e s t a d o d e b i s c u i t e s o b e s s e a s p e c t o
a p r e se n ta e m g e r a l, u m a p a s t a g r a n u la d a de s u p e r fí­ te m p o s d a s f a m o s a s " p e d r a s ” o u d o s c a n g ir õ e s , lin d a ­
m e n t e d e c o r a d o s , q u e , n a s c e r v e j a r ia s e s p a l h a d a s p e la s
c i e á s p e r a o u r u g o s a . Q u a n t o à s c o r e s , o m a is c o m u m
& o b r a n c o a c in z e n ta d o , m a s e x is te m v a r ia ç õ e s d e p e n ­ c a p i t a is b r a s ile ir a s , s a c i a v a m a s e d e d a c lie n te la c o ti­
d ia n a e regavam de a le g r i a as n o ita d a s da b o ê m ia
dendo da o r ig e m das a r g ila s e dos co r a n te s e m p r e ­
r o m â n t ic a !
g a d o s : d o c r e m e a o m a r r o m , d o v e r m e lh o a o p r e to ,
d o a zu l a o v io lá c e o , e t c . Q u a n to à s fo r m a s , v a r ia d o M a s é so b r e tu d o o v a s ilh a m e , q u e c o n h e c e u um
v a s ilh a m e c lá s s ic o d e c o p a e c o z in h a a o s s e r v iç o s de em prego in te n s o n o B r a s il, s o b a fo r m a d e g a r r a fa s,
m esa , c , n a p a rte d e a d o m o a c o m p a n h a o s fe itio s de m e ia s g a rr a fa s, b o tija s e g a rra fõ es de d ife r e n te s fo r ­
j a r r o s , p o t e s e v a s o s d a t e r r a c o t a e d a l o u ç a v id r a d a , m a to s e ta m a n h o s, de fu n d o c in z a e s b r a n q u iç a d o e
e, no se to r a r t ís t ic o e v o lu i de s im p le s m e d a lh a s , p a r te cor de m e la d o , v id r a d o s , para o a c o n d ic io n a ­
m o e d a s e d e l i c a d a s f ig u r in h a s p a r a e s t a t u e t a s , b u s t o s m e n to de líq u id o s , fo sse v in h o , c e r v e ja , lim o n a d a ,
d e p e r s o n a g e n s . S e n d o d e n o t a r a in d a , g r a n d e s ja r r o s t in t a , a z e ite , m a n te ig a , e tc ,
do t ip o c o n h e c id o por M a r ta b a n i, em p regad o para A I n g la t e r r a d o m in o u esse m ercado não só no
a c o n d ic io n a r l í q u id o s e c e r e a is , a té h o je em u so no B r a s il, c o m o n a A r g e n t i n a e n o U r u g u a i, e a p r e d o ­
S u l e n o S u d e s te a s iá tic o s . m in â n c ia d a im p o r ta ç ã o e r a m e s m o a d e g a r r a fa s p a r a
c e r v e ja .
D esd e o sé c u lo X V III que o B r a s il c o lo n ia l
p a s s o u a fa m ilia r iz a r -s e e a c o n v iv e r c o m o g r é s . C o m A c r e d ita m o s que a grande m a io r ia das f á b r ic a s
a ocu p ação h o la n d e s a , seg u n d o r e la ta m o s no l.° d e c e r v e ja in s ta la d a s no B r a s il, no correr d o s é c u lo
c a p í t u l o , h o u v e a b u n d â n c ia d e b e l a s g a r r a f a s d e v i n h o X IX , a c o n d ic io n a s s e o p r o d u to n a q u e le a tr a e n te
e a g u a r d e n te c o m a r t ís t ic a s m o l d a g e n s — o s fa m o so s in v ó lu c r o im p o r ta d o .
b e la r m in o s . P a r te d essa s fá b r ic a s im p o r ta v a as g a rra fa s da
C om a s n a u s d e c a r r e ir a d a Í n d ia , j u n t o c o m as E u ro p a , já c o m a r a z ã o s o c i a l p in t a d a o u esta m p a d a
e s p e c ia r ia s e a p o r c e la n a , c h e g a v a m do O r ie n t e d e l i ­ s o b o v id r a d o , e , p a r te a s m a n d a v a m v ir s e m d iz e r e s
c a d o s s e r v iç o s d e c h ã , e m g r é s v e r m e lh o e e s c u r o — d e i x a n d o p a r a c o l o c a r a q u i, o s r ó t u lo s c o m d í s t i c o s d e
o s fa m o s o s Y i-s h in g — p a r a a c l i e n t e l a b r a s ile ir a (a in d ic a ç ã o e p r o p a g a n d a .
n a u a f u n d a d a d e M o n t S e r r a i, n a B a h i a , tr a z ia d e s s a s Já em 1 8 1 0 , é c o n s i g n a d a a i m p o r t a ç ã o d e b a r r is
lo u ç a s ) . e g a r r a fa s d e c e r v e ja , e n tr e o u tr o s a r tig o s in g le s e s

557
Em 1822, ano da in d e p e n d ê n c ia , a A lfâ n d e g a te n d o su p era d o a F rança, co m o fo r n e c e d o r d e m a n u ­
do R io c o n s ig n a a im p o r ta ç ã o d e v a s ilh a m e de d ife ­ f a tu r a s e c o lo c a n d o -s e em seg u n d o lu g a r d e p o is da
r e n te s p r o c e d ê n c ia s : “ C a i x a s d e c e r v e ja * ’ e " b a r r is d e G rã -B reta n h a , n a s e x p o r ta ç õ e s para o B r a s il" .
g a r r a f a s " o r iu n d a s d e G o t h c m b u r g o ( S u é c i a ) , B r e - Em 3 8 9 3 , c o n c o r r i a o B r a s il n a E x p o s i ç ã o I n t e r ­
men, A n t u é r p ia , S to c k o lin o e J e r s e y ( I n g l a t e r r a ) (4>. n a c i o n a l d e C h i c a g o , c o m g a r r a f a s d e “ F a f e l B i e r ’’, d o
A s g a rra fa s ou m e ia s g a r r a f a s d e g r é s , p o r v o lt a f a b r ic a n t e p a r a n a e n s e E d u a r d o E n g c lh a r d t.
d e 1 8 5 0 , e m S ã o P a u lo , t a m b é m h ã q u e m á s c h a m a s s e A f á b r ic a d e c e r v e j a A n t á r c t i c a P a u lis t a , f u n d a d a
d e “ b o t ij a J o u ç a d a " ; a e s s e p r o p ó s i t o n o s e lu c id a A n t ô ­ cm 1891, u sa v a o v a s ilh a m e in g lê s , m arcado "H ,
n io E g y d i o M a r t i n s íJ) q u e o v a s i l h a m e d a c e r v e j a K e n n e d y B a r /o w fie ld P o t t e r y -- G la s c o w ” c o m O se u
p r e ta i n g l e s a im p o r t a d a e r a r c a p r o v e it a d o p a r a a v e n d a e m b le m a c o m e r c ia l p in ta d o sob o v id r a d o , c o n fo r m e
de g e n g ib r in a , a 80 r é is a g a r r a f a , b e b id a essa com ­ e x e m p la r d e n o s s a c o le ç ã o . I d ê n tic o v a s ilh a m e e c o m
p o sta d e m ilh o , g e n g ib r e , c a s c a d e lim ã o e á g u a , N o a m esm a m arca in g l e s a , c n c o n tr a v a -se na B a h ia , na
P araná, a té h o je , é f a b r ic a d a a g e n g ib ir r a in d u s t r ia l, F e ir a d e S a n t'A n a , p o r é m se m o d ís tic o c o m e r c ia l, o
e s e u g o s t o m u it o s e a s s e m e l h a a o d a s o d a l i m o n a d a <6>, q u e f a z s u p o r q u e e s s e t i p o d e g a r r a f a e r a im p o r t a d o
p o r é m , a c o n d ic io n a d a s h o je em g a r r a fa s d e v id r o , e d e p o is c o la d o s o s r ó t u lo s d a s m a r c a s l o c a i s .

N o S u l d a B a h ia , e m 1 8 6 2 , é c o n s ig n a d o o s e g u in ­ E m S ã o P a u l o , a in d a n o f i n a l d o s é c u l o e m 1899,
te : ,7) s e is g a r r a f a s d e c e r v e j a c m m e ia s g a r r a f a s , j u n t o é f u n d a d a im p o r t a n t e f á b r ic a e m R i o C l a r o , c h a m a d a
c o m o u t r a s m e r c a d o r ia s in g l e s a s , c o m o m a n t e ig a , e t c . d c C o m p a n h i a I n d u s t r ia l d e R i o G a r o , c o m d e p ó s i t o s
e m v á r i a s c i d a d e s d o i n t e r i o r p a u l i s t a , f a z e n d o in t e n s a
A t é n o s c o n fin s d o T iju c o , no S e r r o , d is t r it o de
p rop agan d a das d iv e r s a s m arcas de c e r v e ja com o:
D ia m a n tin a em M in a s , eram en co n tra d a s g a r r a fa s,
P il s e n , M unchen, S p o r t, R io C la r o b ranca e p r e ta ,
ta m b ém d e m e n o r p o rte, c o m m a rca d e G la s c o w , p ara
E s p e c i a l e E s t r e la (9>,
a c o n d ic io n a m e n to de t in t a s ( S a r d in h a & C ia .) .
Q u a n to a p r o d u ç ã o d o g rés lo c a l, e x is te u m a r e fe ­
O s f a b r ic a n t e s d o P araná t iv e r a m a p r im a z ia d o r ê n c ia do v ia j a n t e D r, H e r m a n n B u r m e is t e r , que cm
f a b r ic o d a c e r v e j a n o B r a s il, e é p r o v á v e l q u e a s g a r r a ­ 1 8 5 3 , e m s u a v ia g e m a o B r a s i l , in f o r m a q u e e m M in a s ,
f a s e x p o s t a s n a E x p o s i ç ã o I n t e r n a c io n a l d e B e r l im de e n co n tro u a r t ig o s em grés, ou m e lh o r “ im a g e n s que
1886, p o rta n d o a m arca do f a b r ic a n t e B ern ard o eram ex e c u ta d a s co m u m p ó v i n d o d a B a h i a ” . T r a la -
W e ig a n g , fo sse m de grés a le m ã o , a s s im com o não - s e d e u m v i a j a n t e ilu s t r e e c u l t o q u e f a z e s t a o b s e r v a ­
d e v e m o s ig n o r a r a im p o r t â n c ia d o c o m é r c i o g e r m â n i c o ção. P o r é m , e la f i c o u s o í t a e i s o l a d a n o e s p a ç o , sem
com o B r a s il já n o ú l t i m o q u a r t e l d o s é c u l o X IX . m a is n a d a q u e v i e s s e a c o n f i r m á - l a , e , s e m se c o n h e ­

D iz -n o s a r e s p e it o S t a n le y E. H i l t o n (81: “Um c e r n e n h u m a p e ç a q u e te n h a c h e g a d o a té n ó s , d a q u e le
fa to r im p o r t a n t e no su cesso c o m e r c ia i ' a le m ã o no m a te r ia l t i d o c o m o g rés. S o m o s le v a d o s a crer q u e a
B r a s il, fo i a e m ig r a ç ã o para e ste p a ís ; os c o lo n o s i n f o r m a ç ã o s e j a u m e q u í v o c o e q u e t e n h a h a v id o c o n ­
fu s ã o ta lv e z , c o m i m a g e n s a c i n z e n t a d a s o u a v e r m e lh a ­
a le m ã e s , e s tim a d o s em a p r o x im a d a m e n te 5 4 ,0 0 0 no
f im do Im p é r io , h a v ia m c r ia d o um a c o m u n id a d e de das de e s te a tita ou pedra sab ão de que, essas s im ,
lín g u a a le m ã , e n g lo b a n d o cerca de 2 0 0 .0 0 0 p esso a s, t a n t o n o s é c u l o X V I I I c o m o n o X I X , a r t is t a s m in e ir o s

cu ja in f l u ê n c i a nos se to r e s f a b r is de ex p o rta çã o - ( A le ija d in h o , se u s d is c íp u lo s e o u tr o s) f iz e r a m la r g o


e n o tá v e l em p r e g o .
-im p o r ta ç ã o e b a n c á r io cresceu cad a vez m a is . O
e s ta b e le c im e n to de n avegação d ir e t a en tre H am bu rgo P o r é m é n a p a r t e d o f a b r ic o d o g r é s in d u s t r ia l,
e o B r a s il a p ó s a g u e r r a f r a n c o - p r u s s ia n a d e 1 8 7 0 , t a m ­ q u e o B r a s i l s e a p a r e lh a p a r a a p r o d u ç ã o c m m o ld e s
b ém i n c e n t iv a v a o c o m e r c ia en tre os d o is p a ís e s . O m od ern os e em e s c a la c o m e r c ia l.
b a i x o p r e ç o d a s m e r c a d o r ia s a l e m ã s e a d i s p o s i ç ã o d o s Por v o lt a de 1898, a “ C e r â m ic a N a c io n a l” , d e
f a b r ic a n t e s a l e m ã e s e m a d a p ta r se u s p r o d u to s à s c o n ­ p r o p r ie d a d e d e J o ã o P in h e i r o , c m C a e l é , d is p u n h a d e
d iç õ e s e g o sto s do m ercad o b r a s ile ir o , fo ra m fa to r e s fo r n o s a ito s d e q u a r e n ta m e tr o s, e s p e c ia is p a r a g r é s e
a d ic io n a is n o r á p id o c r e s c i m e n t o d e s s e c o m é r c i o . Em f a b r ic a v a m a n ilh a s d esse m a t e r ia l cm q u a n t id a d e
m e a d o s da d é c a d a d e 8 0 , o R e íc h to r n o u -s e o se g u n d o ( Á l b u m d e f o t o g r a f i a s d o a r q u i v o d a fir m a C e r â m ic a
com prador m a is im p o r t a n t e de p r o d u to s b r a s ile ir o s . N a c io n a l, h o je C e r â m ic a J o ã o P in h e ir o ) .

* * *

, 6 I B L l O ü B A t- t A

U ) A usCher — "Commeni Reconnaitrt la Porcclalne et Iti 1 6 » Maria do R osário K nechtee — "A ip e u o i da realidudt
Feience" — 3.* c<t — Pafis, 1928. sócio-cultural no plano turístico". conferencia em I 8.04.1975
no Museu da Casa Brasileira.
(2 ) AesCHER — oh. di.. pâg. 172,
(7) Lycurgo Santos F ilho — *'Uma Comurtidade Rural no
(3 ) John M *w t — ob. cit„ págs, 30-1/5. ítrmif A atiço" — púg. 415.
I ff J Stanley E , H ilton — **Aletntinha um a presença antiga
■.11 "O F-tjiríhw" -— ob- til.
no Brasil1' — rr» "O Estado de Sno Paulo” , dc 18.06 1978
-— * p ág . 1 59
tí) An t ô n io E gydio M astins — "São Paulo A ntigo" —
páS 222. {9 } Álbum dc Afuruquara de 1975 — editor. João Silveira*

558
Sécs, X V U I/X 1 X GRÉS

Frasco em grés de Yi-SIling, de capacidade maior do que o


usual, porém com duas peculiaridades: u forma foro do
comum, em faceias e um raríssimo acabamento de decoração;
nos rebaixados das faces posterior e anterior da peça, os chine­
ses a decoraram com aplicação de películas grossas de charão
a ouro forte c as colaram sobre o gris; os fragmentos que se
notam â direitasoltaram -se da outra face e puderam ser fo to ­
grafados. Todos estes recipientes eram exportados já com sus
carga de chá, Primeira: metade do sécttio X V Hl.
Arquivo do Autor.
Oi:-. : Bõltger também imitou este género raro de decoração
recobrindo o grés com charão ou !aca e o rcdccorando com
desenhos a ouro { Vide George Savage c fíarold Ncwman, ob.
eu. pág. 51).

559
Sic. X IX GRÈS
(Black Basait)

0 bule de aprimorado acabamento é de 3812, aproximada­


mente, c presumivelmente de fabrico de Wedgwood, que lançou
o gênero no mercado. Os dois açucareiros são comemorativos
de vitórias de Wellington ê portam de um lado o busto daquele
general com coroa de loiros c pedestal, e do outro lado, os
dizeres: índia, Portugal, Spairt, Victoria, - 1 1,1 jim e I SI S, m ar­
cados. D a coleção Conceição da Còsta Neves. O bule à esquer­
da, polido, assim como o açucareiro com tampa, fosco, perten­
ceram ao Conde de Prados, e fazem parte da coleção do
Museu Mariano Procópio (Juiz de Foraj, marcado Wood.
Cortesia de Geraldu Ferreira Arm ortd Marques.

560
Séc. X IX GRÈS
(Inglês)

523

A o que parece 'a lúbrica escocesa "J. Kenneày — Glascow”,


era a que mais exportava vasilhame para a À m i rica do Sul.
pois as quatro garrafas da estampa, marcadas, foram destina­
das para o Uruguai e Argentina, c as duas do centro para f)
Brasil. Destas uma ê da inauguração, em 1893, da famosa
fábrica de cerveja até hoje existente, a "Companhia Antárctica
Paulista" e a outra, sem dístico, é proveniente do interior da
Bahia (Feira de Santana); nestas era costume aporem-se os
rótulos no Brasil c serviam tanto para cerveja, como para
outras bebidas, como gengibirra, soda limonada, etc.

561
X - PORCELANA OCIDENTAL, ORIENTAL E NACIONAL

e s te tó p ic o ir e m o s c o n s id e r a r em e q u ilíb r io d e p o i s da c r is e d o o u r o d o s anos de 1750


p r im e ir o l u g a r a p o r c e l a n a e u r o ­ e 1770. £ em p le n o p e r ío d o de p r o s p e r id a d e que o
p é ia e m n o s s o m e i o , e m s e g u id a B r a s il p r o c l a m a a s u a I n d e p e n d ê n c i a ” .
a s c h i n e s a s e j a p o n e s a s e p o r fim
Em c o n t r a p a r t id a é a s s in a la d a um a q u a n tid a d e
a b r a s ile ir a dos p r im ó r d io s d o
enorm e d e a r tig o s in g le s e s no B r a s il, c o m e n ta d a por
s é c u lo X X .
R o b erto S im o n s e n ; “C om o a p resa m en to das m erca­
C om o d is s e m o s lin h a s a tr á s, a
d o r ia s p r o v o c a d o p e lo b lo q u e io n a p o le ô n ic o , e c o m as
a b e r tu r a d o s p o r t o s b r a s ile ir o s , e m 1 8 0 8 , s e g u i d a d a
f a c ilid a d e s o u t o r g a d a s d e e x p o r t a ç ã o p a r a o s p o r t o s
I n d e p e n d ê n c ia e m 1 8 2 2 , m a n t e v e a b e r t a a c o m p o r t a
b r a s ile ir o s , v e r i f i c a - s e r á p id o in c r e m e n t o n a r e m e s s a d e
para a en xu rrad a d e a r t ig o s d e o u t r a s n a ç õ e s q u e h á
t o d a a s o r t e d e m a n u f a t u r a s b r it â n ic a s p a r a o B r a s i l ” .
m u it o a g u a r d a v a m a o p o r t u n i d a d e p a r a c o l o c a r e m s e u s
S e g u n d o a i n d a o r e f e r id o e c o n o m i s t a , d e p o i s d a I n d e ­
p r o d u to s n e sta jo v e m n a ç ã o , s e m b a r r e ir a s e e n t r a v e s
p e n d ê n c ia a im p o r t a ç ã o d e a r t i g o s i n g l e s e s a t in g ia , à s
a p o s to s p o r P o r tu g a l n o p e r ío d o c o lo n ia l.
v e z e s , a c if r a e n o r m e d e t r ê s m i lh õ e s d e l i b r a s e s t e r li n a s
A c r e s c e a in d a q u e t e n d o a E u r o p a , lid e r a d a p e la num ano, o q u e c o lo c a v a a n o ssa b a la n ç a c o m e r c ia l
I n g la t e r r a , in g r e s s a d o r e s o lu ta m e n te na r e v o lu ç ã o em r e g im e d e f i c i t á r i o c o m a I n g la t e r r a t21.
in d u s t r ia l, os p a ís e s m a n u f a t u r e ir o s p o r f ia v a m por M a s a q u e le s fa to r e s a p o n ta d o s — a a b ertu ra d o s
to d o s o s m e io s e m e n co n tra r n o v o s m erca d o s para a p o r t o s , a in d e p e n d ê n c i a p o lític a , a c a r ê n c ia d e m a n u ­
c o lo c a ç ã o d e se u s p r o d u to s, c o m a a g r a v a n te p a r a a fa tu r a s lo c a is d e u m la d o e , d e o u tr o a p r o s p e r id a d e
I n g la t e r r a , que d u r a n te o b lo q u e io n a p o le c r a ic o p ro­ s a d ia que o B r a s il já d esfru ta v a p o r e s fo r ç o p r ó p r io
cura co m p en sa r a perda de seu s m ercados com a c o n t r ib u ír a m p a r a in c r e m e n t a r e m o v i m e n t a r s e n s i v e l ­
" in v a s ã o ” e m o u tr a s p ra ça s! m e n t e o c o m é r c i o l o c a l e a im p o r t a ç ã o ,
H a v ia a in d a d o is f a to r e s im p o r t a n t e s que con­ E sta , dada a c o n c o r r ê n c ia , a s s u m ia um ca r á te r
c o r r ia m p ara q u e a q u e le c a u d a l e n c o n tr a ss e u m d e sa - c o s m o p o lita b em m a is a m p lo com um a o ferta m a is
guadouro no B r a s il. De um la d o a c a r ê n c ia q u ase d iv e r s if ic a d a e preços m a is a tr a e n te s, já que as
a b s o lu t a de m a n u fa tu r a s i n s t a la d a s no novel I m p é r io m e r c a d o r ia s f i c a r a m l ib e r t a s dos gravam es im p o s to s
d eco rre n tes das lim ita ç õ e s im p o s ta s p e lo G overno p e la i n t e r m e d i a ç ã o l u s a .
R e in o ! à ex p a n sã o m e r c a n t il na C o lô n ia , lim ita ç õ e s
P a r a s e t e r u m a i d é i a d e s s a t r ib u t a ç ã o : o s a r t ig o s
q u e já v in h a m d a s p r o ib iç õ e s em 1785 que só a d m i­
e s t r a n g e ir o s ( s a l v o o s i n g l e s e s e p o r t u g u e s e s ) , p a g a v a m
t ia m no se to r t ê x t il “ as g r o s s e r ia s ” de a lg o d ã o para
24% d e d ir e ito d e e n tr a d a (2 0 % d e d ir e i t o g r o s s o e
os escra v o s.
4% d e d o n a tiv o ), seg u n d o a C a r ta R é g ia de 28 dc
D e o u tr o la d o , 6 q u e q u a n d o o B r a s il t o r n o u - s e j a n e ir o d e 1 8 0 8 .
in d e p e n d e n te , jã escasseavam as r iq u e z a s p r o v e n ie n ­
N u m ero sa s n ações in s e r e m -s e n a q u e la con cor­
te s d a m in e r a ç ã o , ta n to d o o u r o c o m o d o s d ia m a n te s;
r ê n c ia , agora fra n ca e liv r e que se e s ta b e le c e p ara
porém a jo v em n ação reage a tra v és da a g r ic u ltu r a
prover o a b a s te c im e n to d e um n o v o m erca d o , p o tê n ­
com um t r a b a lh o p r o fíc u o e c o n sta n te, o que bem
c ia ! m e n te p r o m is s o r .
r e v e la a p u j a n ç a e a m a t u r id a d e d o n a s c e n t e p a ís .
O s r e g is t r o s d e im p o r t a ç ã o d a A l f â n d e g a d o R i o
T in h a e n tã o , n o c o rre r d o s é c u lo X I X com que
d e J a n e ir o , c o m p r e e n d e n d o o s a n o s d e 1821 a 1822
p a g a r p e lo q u e n e c e s s ita v a para s e u c o n s u m o , e , a té
e de 1822 a 1 8 2 3 , p o rta n to d u r a n te o p e r ío d o d e 2
com que s a tis fa z e r as e x tr a v a g â n c ia s de su a p r ó p r ia
a n o s , já c o n s i g n a v a m em á g u a s b r a s ile ir a s o p a v i l h ã o
e lite .
de 1 0 n a ç õ e s c u j o s b a r c o s p r o v in h a m d e v im e e um
D iz -n o s m oderno e renom ado e c o n o m is ta em p o r t o s e s t r a n g e ir o s : (3)
r e c e n t e e s t u d o <■>; . . . ‘‘M a s , d e s d e 1793 a guerra na
E uropa, d e v ia e s t im u la r o c o m é r c io d o B r a s il e por A le m a n h a — (B r e m e n — H am burgo)
e le a p r o d u ç ã o b r a s ile ir a " .
A m é r ic a d o N o r t e — (F ila d é lfia ■— B a ltim o r e
“E m I8 Q 6 (. . .) 1 3 6 ,0 0 0 a 1 4 0 .0 0 0 fa rd o s de — New H a v e n )
a lg o d ã o c h e g a m d o B r a s il e m L is b o a . U m a b o a p a rte A r g e n t in a — (B u e n o s A ir e s )
é r e e x p o r t a d a p a r a a I n g la t e r r a . D e s d e 1 7 9 1 , a b a l a n ­
B é lg ic a — (A n tu é r p ia )
ça d o c o m é r c io a n g to -p o r fu g u é s era fa v o r á v e l a P o r ­
t u g a l e o o u r o i n g lê s ia p a r a o B r a s il, a t r a v é s d e P o r ­ C h ile . — (V a lp a r a is o )

t u g a l. Uma g r a n d e r e v o lu ç ã o c o m e r c ia l e e c o n ô m ic a F rança — (H a v re — M a r s e lh a -
p r o d u z iu - s e no I m p é r io P o r tu g u ê s q u e r eto m o u se u B ordéos — N a n tes)

563
I n g la t e r r a — (L o n d res — L iv e r p o o l —- f ir m a r c c o n s o lid a r a lia n ç a s p o lític o -e c o n ô m ic a s e
H u ll — Jersey — N ew d in á s tic a s c o m a p o d ero sa A lb io n . In teresses c o m u n s
C a s ile ) as u n ia m co n tra in im ig o s com u n s: a E sp an h a dos
Itá lia — (G ê n o v a ) F e lip e s n o s é c u lo X V II c a F rança dc N a p o le ã o no
X IX .
P o r tu g a l — (L is b o a — M acau)
A s s im D om J o ã o IV , o 8 .° D u q u e d e B r a g a n ç a ,
S u é c ia — (G o th e m b u r g o )
em 29 d e j a n e ir o d e 1 6 4 2 , p ara c o n s o lid a r a R e s ta u ­
M a s a p r im e ir a a s e d e s t a c a r n e s s a d is p u t a e n t r e ração de P o r tu g a l o c o r r id a em 1640, a s s in a com
f o r n e c e d o r e s i n t e r n a c i o n a i s , f o i a I n g la t e r r a q u e d e h á C a r lo s I, um tr a ta d o de Paz e C o m é r c io , o qual ê
m u it o , d esd e os te m p o s c o lo n ia is , v in h a d e sfru ta n d o r e n o v a d o ai A d a p e l o m esm o D o m J o ã o IV e a R epú-
d e p r i v i l é g i o s o u t o r g a d o s p e la C oroa, o q u e lh e c o n ­ p lic a d a I n g la t e r r a , r e p r e s e n t a d a p o r C r o m w c li, R e z a
f e r iu , d e c o m e ç o , v a n t a g e m a p r e c iá v e l s o b r e o s d e m a is . o a r tig o X I d o T r a ta d o d e Paz e A lia n ç a de 10 de
D iz -n o s S t a n le y E. H Ü to n w, co m e n ta n d o o co­ ju lh o d e 1 6 5 4 ,
m é r c io e s t r a n g e ir o com o B r a s il no s é c u lo p a ssa d o : “ Q u e o p o v o e n a t u r a is d a R e p ú b l i c a d a I n g la t e r r a
“ A tra v és da m a io r p a r te do s é c u lo X IX , a p o tê n c ia p o d e r ia m n e g o c i a r liv r e e s e g u r a m e n t e e c o m e r c i a r e m
e s t r a n g e ir a q u e e x e r c e u o m a io r im p a c t o s o b r e a v id a de P o r tu g a l para o B r a s il, e para o u tr a s c o n q u is ta s
e c o n ô m i c a b r a s ile ir a f o i a G r ã - B r e t a n h a . S e j a n o s e t o r n o ssa s n a Í n d ia O c i d e n t a l , e d e s t a s p a r a o r e in o , e m
de c o m é r c io d e e m p r é s tim o s o u n o d e in v e s tim e n to s , lo d o o g é n e r o e com q u a is m e r c a d o r i a s , e x c c p t u a n d o
os in g le s e s d esem p en h a ra m um papel p r e p o n d e r a n te f a r i n h a , b a c a l h a u , v i n h o , a z e i t e e p a u b r a s il ( o s q u a is
n o m e r c a d o b r a s ile ir o ” . eram p r o ib id o s p e lo c o n tr a to com a C o m p a n h ia do
N o q u e c o n c e r n e à c e r â m ic a , o s m e s m o s r e g is tr o s B r a s i l ) p a g a n d o s ó o s d ir e it o s e c o s t u m e s q u e p a g a s s e m
d a A l f â n d e g a d o R i o , r e f e r e n t e s à s im p o r t a ç õ e s e n t r e os o u tr o s n e g o c ia n te s n a q u e la s p a rtes, e n avegando
1821 a 1823, p e r m it e m e s ta b e le c e r um s ig n ific a tiv o as n a u s in g le s a s fr e ta d a s p e lo s p o r tu g u e s e s d e c o n s e r v a
c o n fr o n to en tre v á r ia s n ações fo rn eced o ra s. com a n ossa arm ad a” .
— Im p o r ta ç ã o d e c e r â m ic a d e 1 8 2 1 à 1 8 2 3 p e lo B em m a is ta rd e com a ocupação de P o r tu g a l
R io — p e l a s t r o p a s N a p o l e ô n i c a s , o P r í n c ip e R e g e n t e , o f u t u r o
I n g la t e r r a — H u ll — C e n t o e v in t e c u m a b a r r ic a s D om João V I, a s s in a c o m o rei J o r g e III, d a In g la ­
d e lo u ç a terra , u m a C on ven ção S ecreta , e m 2 2 d e o u tu b r o de
1807, versan d o a m esm a so b re a t r a n s f e r ê n c ia p ara
L iv e r p o o l — S essen ta b a r r ic a s d c l o u ç a
o B r a s il da sed e da m o n a r q u ia p o rtu g u esa , so b re a
C in q iie n ta e u m a c a ix a s d e
ocu p ação t e m p o r á r ia d a I lh a d a M a d e i r a p e l o s b r it â ­
lo u ç a
n ic o s , sob re o fo r n e c im e n to de s e is naus de gu erra,
T r in t a e s e t e g i g o s ( c e s t a s ) de
c i n c o m il s o l d a d o s e s o b r e a p o s s i b il i d a d e d e s e e s t a ­
lo u ç a
b e le c e r um e n tr e p o sto de m e r c a d o r ia s in g le s a s em
S e s s e n t a e u m g ig o s ( c e s t a s ) d e
p o r to d e S a n ta C a ta r in a .
lo u ç a
O it e n t a f ô r m a s d e b a r r o A lé m d esta C o n v e n ç ã o secreta q u e d eu co b ertu ra
a v i n d a d a C o r t e B r a g a m in a p a r a o B r a s i l , é a s s i n a d o
L on d res — C e n t o e c in q u e n t a e u m
em 1 9 d e fe v e r e ir o d e 1 8 1 0 u m tr a ta d o d e C o m é r c io
b a r r is d e l o u ç a
e N a v e g a ç ã o , e n tr e o P r ín c ip e R e g e n t e e S. M a je sta d e
T r in t a g i g o s d e l o u ç a
B r it â n i c a .
N ew C a s tle — C e r n o e c in q iie n t a g i g o s
O a r tig o 8 .° d esse tr a ta d o p o n tific a : “Q ue su a
d e lo u ç a
A l t e z a R e a l , o P r í n c ip e R e g e n t e s e o b r i g a v a . . . a que
F rança — H a v r e —- C e n to e o ite n ta v o lu m e s d e o c o m é r c io d o s v a s s a lo s b r itâ n ic o s n o s se u s d o m ín io s
p o r c e la n a c o m flo r e s n ã o s e r i a r e s t r in g i d o , i n t e r r o m p i d o o u d e o u t r o a lg u m
V in te e s e te c a ix a s d e lo u ç a m od o a fe ta d o . . . m as a n te s q u e o s v a s s a lo s d a G rã-
A m é r ic a do N o rte - B r e t a n h a t e r i a m l i v r e e ir r e s tr it a p e r m i s s ã o d e c o m p r a r

B a L tim o r c — D o i s c a i x o t e s d e lo u ç a c vender a quem quer que fo sse, de q u a lq u e r m o d o


ou fo rm a que p u d esse c o n v ir -lh e por g ro sso ou cm
F ila d é lfia — Um b a r r il d e lo u ç a
r e t a l h o ÍSL C o n fr o n ta n d o as t a r if a s c o r r e sp o n d e n te s
P o r tu g a l — L is b o a — O n z e c a ix a s d e lo u ç a
aos ú ltim o s p e r ío d o s de e sta d a da C o rte no B r a s il,
M acau — Q u a ren ta e um a c a ix a s is to é , a té p er to d a I n d e p e n d ê n c ia , te m o s :
d e lo u ç a a) q u e a C a r ta R é g ia d e 2 8 d e j a n e ir o d e 1808
D o z e c a i x o t e s d e lo u ç a e s ta b e le c ia que o d ir e ito so b re im p o r ta ç ã o era de
N e s s e c o t e j o , v ê - s e q u e a I n g la t e r r a , s o z i n h a , 24% (2 0 % d e d ir e ito g r o s s o e 4 % d e d o n a tiv o ).
e x p o r t a v a p a r a o B r a s il, n o m e s m o p e r í o d o , u m v o l u m e b) q u e p e lo d ecreto d e 18 d e o u tu b r o d e 1810,
de lo u ç a de p erto de tr ê s vezes m a is d o que o de o s a r tig o s in g le s e s s ã o b e n e fic ia d o s c o m u m a b a tim e n to
t o d o s o s o u t r o s p a s s e s r e u n id o s ! d e 9 % , p a g a n d o d a í p o r d ia n te 15% .
E s s a p r im a z ia n o c o m é r c io d e q u e a im p o r ta ç ã o c ) q u e o d e c r e t o d e 1 1 d e j u n h o d e 1 8 0 8 r e d u z iu
de lo u ç a nos fo r n e c e um su rp re en d e n te testem u n h o , os d ir e ito s dc im p o r ta ç ã o so b re m e r c a d o r ia s p o rtu ­
t in h a r a íz e s r e m o í a s e p r o f u n d a s , e e x p l i c a a r a z ã o d o g u esa s p ara 16% ( is e n ta n d o no en ta n to os te c id o s
p r e d o m ín io b r it â n ic o nas r e la ç õ e s c o m e r c ia is com o p o r tu g u e se s).
I m p é r i o L u s i t a n o c c o m s e u j o v e m r e b e n t o a m e r ic a n o . P o r e s t e a r r o l a m e n t o d e tr ê s d e c r e t o s , c h e g a - s e a o
Ê que d o is m onarcas p o rtu g u eses, s á b io s e ar­ e s p a n to d e v e r ific a r q u e o s in g le s e s p a g a v a m n o B r a s il
g u to s, em d o is m o m e n to s c r ít ic o s p a r a a N a ç ã o e p a r a 15% de d ir e ito s da im p o r ta ç ã o e os sú d ito s p o rtu ­
a d in a s t ia dos B ra g a n ça s, to m a ra m a in ic ia tiv a de g u eses 1 6 % , isto é 1% a m a is ! M

564
F r e d e n c M a u r o a in d a n o s in fo r m a q u e n o s é c u lo c la r o q u e n e m s e m p r e d e s f a v o r a v e l m e n t e , c o m o s h á ­
X V I I I , p e lo tr a ta d o d e M e íh u e n , c m 1 7 0 3 , já g o z a v a m b it o s d e u m a s o c i e d a d e o n d e p r e v a l e c i a o s i s t e m a d e
d c o u tr a s c o n c e s s õ e s . r e c lu s ã o q u a s e m o u r i s c a d o s e x o c h a m a d o f r á g il. M a s
N ã o s a t i s f e i t o s c o m t o d a s e s s a s p r e r r o g a t iv a s e a té n o s c a s o s c m q u e a c o n f e c ç ã o c a b i a à s m ã o s f r a n ­
p r o te ç ã o , e n v ia v a m o s m e r c a d o r e s in g le s e s n a s fr o ta s c e s a s e fe m in in a s , o s t e c i d o s v in h a m , n ã o r a r o d o
p a r a o B r a s il o s c h a m a d o s “ c o m i s s á r i o s v o l a n t e s " q u e c o m é r c io p o r a ta c a d o q u e , p o r m u ito te m p o , fo i q u a se
ao chegar aos p o rto s v e n d ia m a in d a a b ordo seu s um m o n o p ó lio b r itâ n ic o , e , d e o n d e p a g o s à v is ta , e r a m
p r o d u to s d ir e t a m e n t e ao p ú b li c o e aos c o m e r c ia n te s d e p o is d e t r a b a lh a d o s , v e n d i d o s a p r a z o n a s lo j a s d a
lo c a is . ru a d o O u v id o r ) u m q u a s e m o n o p ó l i o f r a n c ê s ” .
C o n sta ta -se p o is , que em d e c o r r ê n c ia de to d a s M a s v o lta n d o à c e r â m ic a in fo r m a J o h n L u c c o c k :
a q u e la s f a c ilid a d e s , a G r ã - B r e t a n h a i m p ô s - s e c o m s e u s “ N u n c a j a n t e i c m c a s a b r a s ile ir a q u e p a r t e d o s o b j e t o s
a r t e f a t o s e m e r c a d o r ia s e m n o s s o m e r c a d o . D o m i n a ç ã o d e m e sa n ã o f o s s e m in g le s e s , e s p e c ia lm e n t e a lo u ç a e a
e s s a q u e s e p r o c e s s o u d u r a n t e s é c u l o s d e n o s s a h is t ó r ia c r is t a le r ia ” , <14> E o b serv a o a u to r que c erta s p eças
c o m e r c ia l, abrangendo o p e r ío d o c o lo n ia l e d e p o is era m c o n s id e r a d a s p r e c io s id a d e s . D i z e le : “ d e n tr o e m
e n q u a n to a C o rte P o r tu g u e s a p e r m a n e c e u no R io de p o u c o v o l t o u o h o m e m q u e a b r iu o c o f r e e c o m g r a n d e
J a n e ir o , p r o s s e g u in d o a in d a d u r a n te o I m p é r io por a lív io v e r ific o u e s ta r in d e n e o te s o u r o . C o n s is tia e s te
fo r ç a d a q u e la s t r a d iç õ e s . No en ta n to , n e ste ú ltim o de um a t e r r in a e concha de lo u ç a g ro ssa a m a r e la ,
p e r í o d o p a s s o u a e n f r e n t a r u m a c o n c o r r ê n c ia s é r ia d e a lg u n s p r a t o s , t r a v e s s a s , x í c a r a s e p ir e s , e , s e b e m m e
o u tr o s p a ís e s n o ta d a m e n te d a F r a n ç a e d a A le m a n h a . le m b r o , u m b u l e d o m e s m o m a t e r ia l. J a m a is u m s e r v i ç o
V e ja m o s cm que c o n s is tia a q u e la e x p o rta çã o d e p o r c e la n a f in a m ereceu d e um a b e la d a m a ta n ta s
in g le s a , d e q u e a c e r â m ic a c p a r t e in t e g r a n t e . a te n ç õ e s q u a n to e s te s p r a to s in g le s e s " . . . “ I s s o c o m
r e f e r ê n c ia ao R i o G r a n d e d o S u l . Q u a n to a M i n a s , e m
E ram s a l, fe iia g e n s , p e ix e s a lg a d o , b a r r is de
v is it a r e a liz a d a n o s a r r e d o r e s d e S ã o J o ã o D E t - R e y " ,
q u e ij o , c h a p é u s , c e s t o s d e l o u ç a d e b a r r o e d e v id r o ,
co n ta -n o s o m esm o c r o n is ta ; a lé m dc m u it a
cord am e, b a r r is e g a rra fa s de c e r v e ja , t in t a s , a rm a s,
p r a ta e lo u ç a in g le s a , tín h a m o s rosca da c id a d e e
r e s in a , a l c a t r ã o , fe r r o e a ç o ; a t é e s p a r t i l h o s , q u e , s e ­
bom v in h o do P o r to , s e r v id o em c a n g ir õ e s d e c r is t a l
gundo o n arrad or eram p e la p r im e ir a v e z i m p o r t a d o s
la p id a d o ” .
n a te r r a ! B a e ta s, r o u p a s f in a s e r e s is t e n t e s p r in c ip a í-
m e n te azu l e p r e to , c a s e m ír a s , g r a n d e q u a n t id a d e d e A in d a so b r e o R i o G r a n d e d o S u l , S a i n t - H i l a ir e ,
ch a p éu s, p r in c ip a l m e n te c a r t o la s (O M u seu de D ia ­ nos i n f o r m a : ' 15) q u e a casa do C onde da F ig u e i r a ,
m a n t in a , p o ssu i um a m a la a n tig a com um a p ro tu b e­ G overnador da C a p ita n ia : “A m esa de r e fe iç õ e s é
r â n c ia p a r a c a s a c a e c a r t o l a ) , b o t a s e s a p a t o s ; l o u ç a s e r v id a t a m b é m c o m l u x o , u m d e l i c i o s o v i n h o d o P o r t o ,
com um e m a is f in a , q u e ijo s de C h e s ir e , m a n te ig a , b r ilh a e m g a r r a f a s e f r a s c o s d e c r i s t a l , a s ig u a r ia s s ã o
m o b ília b a ra ta , p r a to s d e e s ta n h o , la tã o , c h u m b o em s e r v id a s e m p r a t o s d e p o r c e l a n a i n g l e s a , e x t r e r a a m e n t e
v á r ia s fo r m a s, b a la s , p ó lv o r a , d ro g a s, in str u m e n to s fin a ” .
c ie n tífic o s , p a p e l, r e ló g io s , t e le s c ó p io s c m e r c a d o r ia s Q u a n to a G o iá s , na a n tig a V ila B oa, o m esm o
d a s ín d ia s — m e ia s d e s e d a e a l g o d ã o , v e s tid o s e le ­ a r g u to v ia j a n t e fra n cês, nos in f o r m a r e f e r in d o - s e ao
g a n t e s p a r a s e n h o r a s . . . (®> P a lá c io do G overnador, em 1819: “O ja n ta r fo ra
s e r v id o .. , b r ilh a v a m na m esa p o r c e la n a s e m u it o
E m V ila R i c a e n a r e g i ã o d o T i j u c o , d c m i n e r a ç ã o ,
b e la p r a t a r ia . E ra im p o s s ív e l não f ic a r m a r a v ilh a d o
u s a v a m o q u e h a v i a d e m e lh o r d e p r o c e d ê n c i a in g le s a .
p or e sse lu x o , p e n sa n d o que tu d o ch eg a à V ila B oa
D iz o m esm o a u to r : “O s te c id o s de lã in g l e s a não
e in l o m b o d e b u r r o , e q u e n ó s e s t á v a m o s a 3 0 0 l é g u a s
eram c a r o s .. . ca sa co s eram q u a se tã o b a r a to s q u a n to
d o lit o r a l” <l6>
n a I n g la t e r r a ; o s t e c i d o s d e a l g t x iã o c o m u m c o s e s t a m ­
Q u a n to a P ernam buco, r e la ta -n o s L . F . d e T o l-
p a d o s, ch a p éu s, le n ç o s , c a s c m ir a s e p eças de M an-
c h e s te r e r a m d e u s o c o r r e n te . E s te lu g a r ( V ila R ic a ) le n a r e : ' l7) “ A l g u n s s e n h o r e s d e e n g e n h o m e m o s t r a r a m
a r m a s i n g le s a s d c l u x o e d e e l e v a d o p r e ç o . E n c o n t r e i
p a r e c ia s e r d e p ó s i t o d e m e r c a d o r ia s e a r t ig o s i n g l e s e s
d e to d a s a s e s p é c ie s , c o m e x c e ç ã o d a lo u ç a , d o s fia m ­ t a m b é m b e l í s s i m o a p a r e l h o d e p o r c e l a n a d a I n g la t e r r a ” .
bres e d a m a n t e ig a , m u it o c a r o s p o r c a u s a d o tra n s­ Tudo is s o fo i r e la ta d o , abran gen d o um c u rto
p o r t e " (9>. In fo r m a -n o s a in d a que “as n o ssa s m esas p e r ío d o de 1808 a 1819 e põe em e v id ê n c ia que a
e r a m d ia r ia m e n t e p r o v id a s d e u m a v a r ie d a d e e x c e l e n t e lo u ç a m a is f in a c a c o m u m , c o m o o s t r a je s f e m i n i n o s ,
d e c o m i d a s s e r v id a s e m b e la lo u ç a in g le s a de W edg- o s a r t ig o s p a r a h o m e n s f a z ia m p a r t e d e u m m o s t r u á r io
w o d d ” íl0 >. E q u a n to aos tr a je s fe m in in o s em M in a s a in d a b e m m a i s v a s t o , e x p o s t o a o s o l h o s d o s b r a s ile ir o s
■s ã o in t e ir a m e n t e de a r t ig o s in g l e s e s , a lg o d ã o e sta m ­ p e lo s c o m e r c ia n te s b r itâ n ic o s e s ta b e le c id o s em te r r a
p a d o s , c h a p é u s d c p a lh a , f lo r e s a r t if ic ia is , j ó i a s , e t c , . . fir m e o u p o r s e u s “ c o m i s s á r i o s v o l a n t e s ” , i n s t a l a d o s a
E s e l a s i n g le s a s p a r a a s m u lh e r e s " h h . b o r d o d a s n a u s a n c o r a d a s n o s p o rto s!
R e fe r in d o -s e a São P a u lo , no que r e s p e it a às P o r é m a l o u ç a i n g l e s a c o n t i n u a a s e r a s s in a la d a
d a m a s , d iz -n o s o a r g u to c r o n is ta : “ Q u e n ã o te m m o­ p r o fu s a m e n te d e p o is d a I n d e p e n d ê n c ia .
d is t a s ; t o d a s a s p e ç a s d o v e s t u á r io f e m i n i n o s ã o f e it a s Em 1 8 2 3 , M a r i a G r a h a m ÍI8) in f o r m a : “T u d o fo i
p o r a lf a ia t e s " , d ® s e r v id o e m b a i x e l a in g l e s a a z u l e b r a n c o ” , r e f e r i n d o - s e
Q u a n t o à C o r t e , a in d a n e s s e p r im e ir o q u a r t e l d o à v is it a ao E ngenho dos A fo n so s“ na G uanabara. E
s é c u lo X IX , ao que co n sta , a p r e d o m in â n c ia é de a in d a n e s s a v i a g e m d c c r o n is ta o b se r v a e la n a B a h ia
m o d is ta s e não de a l f a ia t e s o u c o s tu r e ir o s . £ o que u m tr a je f r a n c ê s d e v e s t ir .
se depreende do que nos r e la t a S é r g io B u arque de O v ia j a n t e fra n c ê s L o u is de F r e y c i n e t <19> a lu d e
H o la n d a d ® : “ O c o m é r c io fr a n c ê s , s e g u n d o p a r e c e , fo i à a b u n d â n c ia d a c e r â m i c a in g l e s a , p r o v a v e l m e n t e o p ó
f a c i l it a d o p e lo a p a r e c im e n to das p r im e ir a s m u lh e r e s d e p e d r a q u e e l e c h a m a d e f a ia n ç a d e b a r r o , q u a n d o
b a l c o n i s t a s e m o d is t a s , c o i s a n o v a q u e c o n t r a s t a , e , é o b s e r v a n a s u a e s t a d a n a C o r t e : “ C o l o c a m - s e a s ig u a r ia s

565
sobre faiança de barro de que os ingleses trazem e a França. E ainda a verificação marcante da presença
grandes quantidades, os ricos servem-se também da germânica no último quartel do século. Esta se fez
p o rc e la n a da China’ . sentir sobretudo na exportação de produtos manufa­
Os ingleses, hábeis estrategistas e lúcidos comer­ turados, passando a partilhar o mercado brasileiro cora
ciantes, tanto estabeleci3® bases militares pelo mando aquelas duas poderosas e tradicionais potências co­
conhecido corno enl n0îÆO território também encra­ merciais, chegando na década de 1880 a ocupar o 2.°’
vavam “bases" Para apoio de suas operações co­ lugar na pauta das importações brasileiras.íB)
merciais. No século XIX. a Inglaterra e a França juntas é
Estabeleceram assim uma impressionante rede, a claro com(Portugal e, pelo último quartel, com a Ale­
tnaior de que se tem conhecimento na época, para manha, são pois as nações que dominam nosso mercado.
promoção de suas vendas e compras de nossas matérias- Mas após a Independência, havia razões para tanto.
-primas e outros artigos. Aquelas primeiras, através de um intenso intercâmbio
Já em 1808, !á no alto do nosso território, em cultural e comercial, já haviam conquistado a admi­
Belém que dispunha apenas de vinte e cinco mi! habi­ ração dos intelectuais patrícios e das sociedades im­
tantes, havia negociantes ingleses e até agentes consu­ perial e republicana, e a alemã pela excelência de
lares para lhes dar cobertura com o pavilhão britânico. seus produtos e pelos fortes contingentes germânicos
E em 1820, no Rio, já se contavam sessenta estabele­ instalados em nosso território, perto de 200.000 colo­
cimentos ingleses. Em São João d’El Rey, havia filial nos no final do século!
de firma inglesa, estabelecida no Rio e chamava-se
Hopkins Causer & Hopkins (placa antiga no Museu da E a Inglaterra também desfrutava daquela prefe­
Cidade). Em Salvador nos conta Maria Graham: “Há rência por ser simpática a Portugal, como aliada pode­
dezoito casas de comércio inglesas na Bahia, duas rosa tradicional e depois também à Corte Brasileira
francesas e duas alemãs”. C3) e a Dom Pedro I. Afinal de contas foi a velha Albion
quem primeiro reconheceu a nossa Independência e
Observe-se a descomunal proporção dos estabele­ prestou colaboração financeira, e, num momento critico
cimentos ingleses em confronto com os de seus compe­ para a consolidação do Estado Livre, concordou na
tidores mais chegados — franceses e alemães, ainda cessão de oficiais e marujos experimentados para in­
antes de nossa Independência. tegrar os quadros de nossa Marinha de Guerra. A esse
Diz o autor Frederic Mauro as>; “C’est l’invasion respeito, é formalizado um convite de José Bonifácio
du Brésil par le commerce anglais . . . Le pays devenu por sugestão de Caldeira Brant, ao famoso Lord
ainsi une colonie commerciale de l'Angleterre échappe Thomaz Cochrane, Este valoroso marujo, que veio a
au commerce portugais”. ser o primeiro almirante da frota Imperial e chegou
A propósito diz Oliveira Martins: “Tanto o ouro a ser alcunhado de “Cruzado da liberdade americana",
do Brasil passou apenas por Portugal indo fundear trouxe consigo mais quatro oficiais ingleses, entre eles
em Inglaterra em pagamento da farinha e dos gêneros João Pascoe Greeníell, e ainda outros viriam a ser
fabris”. contratados pelo governo Imperial assim como quinhen­
Mas nem todas as concessões oficiais obtidas no tos marinheiros,
Brasil nem todo esse aparelhamento comercial espar­ A França era igualmente bem vista, pelo muito
ramado pelo nosso território [oram suficientes para
que se devia à Missão Francesa de Lebreton e a uma
que essa primazia durasse para sempre,
plêiade de artistas e profissionais brilhantes c pela
Sérgio Buarquc de H o la n d a ^ comentando a en­ afinidade latina. E ainda pelo casamento do jovem
trada de mercadorias estrangeiras no começo do século, Pedro I com a bela e graciosa Amélia de Leuchlenberg,
informa: “Mas nessa fase expansiva da indústria e do sobrinha da Imperatriz Josefma, primeira esposa de
comércio britânico parece ter havido a preocupação Napoleão. E mais tarde, ainda, com o casamento de
de se fabricarem na própria Grã-Bretanha, até artigos duas princesas brasileiras com os príncipes reais da
que no Brasil, constituíam peculiaridades regionais. Casa de França: o Conde d’Eu e o Príncipe de Join­
Confiados tradicional mente à mão de obra artesanal, ville!
já agora não se achavam em condições de competir
com os similares importados. Assim é que ao visitar E, então, essas duas nações nos ditavam, revç-
o Rio Grande do Sul, se admirou Saint-Hilaire de que zando-se cm parte, o bom tom, a etiqueta e a moda,
os ponchos gaúchos fossem “made in England”. Na e até mesmo o estilo de interiores e de mobiliário,
pauta das "Avaliações de todas as mercadorias que se sobretudo, a partir de Luiz Felipe, Napoleão III e da
importam ao Império do Brasil”, impressa em 1826 na Rainha Vitória. Chegava até ao exagero a mania domi­
“ Imperial Tipografia de Plancher” aparecem ponchos nante de seguir aqueles ditames de além-mar. Diz
grossos de lã ou algodão, a dois mi! réis e ditos de pano Maria Beatriz Nizza da Silva ao comentar a socie­
a oito mil réis, e páginas adiante: redes de São Paulo dade carioca de então: “Para os estrangeiros era
ou a semelhança avaliadas cada uma em quatro mil muitas vezes chocante, porque inadequada ao clima,
réis”. essa adoção da moda francesa ou inglesa."
Não levou muito tempo porém, para que a Ingla­ A Inglaterra, que atuava no começo do século,
terra viesse a sofrer uma concorrência séria dos artigos marcadamente sobre a indumentária feminina, passou
e da confecção francesa logo depois postos na moda a dominar depois sobre o vestuário masculino, impondo
e mais tarde das manufaturas e da indústria pesada aos poucos os variados padrões de suas famosas case­
alemã, como dissemos linhas atrás. mi ras e o risco inglês para os “ D and ics” caboclos e
Iremos terminar o século XIX com uma curiosa os janotas da Corte; assim como predominou sobre os
inversão na posição do mercado no tocante â louça artigos de esportes e outros, sobre o paladar de be­
fina e à moda íeminína importadas, entre a Inglaterra bidas fortes como o gin e o whisky, sem jâ nos refe-

566
rirmos à cerveja! E também no fornecimento de artigos Havia uma casa de ópera, que foi construída no
de sua admirável indústria pesada e leve, como teares, Largo do Palácio, pot ordem de Dom Bernardo de
máquinas de costura, embarcações, vagões, locomotivas, Lorena. que governou a Capitania de 1788 a 1797.<3W
pontes e estações de ferro pré-fabricadas, carruagens, Hernani Silva Bruno, nos diz que “a ligação de São
e tc ... e de nosso interesse imediato, exportava-nos Paulo com a Corte por estrada de ferro em 1877,
em quantidade artigos de louça das mais finas e facilitou a apresentação de companhias líricas do Rio
também das mais baratas como já vimos no tópico ou estrangeiras no São José”. Mas os modelos fran­
Faiança Fina,, e ainda veremos mais adiante. ceses, tanto in “íextus” como “in naíura” faziam furor.
A França, depois da queda de Napoleáo e da As esguias bailarinas de óperas, operetas ou “vaude-
restauração dos Bourbons, passou a dominar nos ar­ viUe”, como -as rotundas “belas donas”, das óperas
tigos de seda e outros, nos cosméticos, nas “águas de clássicas eram disputadas como “avis-raras” na Corte
cheiro", como eram conhecidos os perfumes, nas jóias, e nas Capitais da Província. Muitas delas prendiam-se
enfeites, nos vinhos de mesa e em comestíveis finos. aos atrativos desta dadivosa terra c cã ficavam prodiga­
Também já nos fornecia cabeleireiros para o acerto dos lizando encantos, belas maneiras e conhecimentos de
penteados e dos toucados “na última moda de Paris”, alta costura e do “be! canto" aos embasbacados varões
e, avulsos, “cabelos já em caracóis e tranças e cabe­ e embevecidas matronas.
leiras de homens e senhoras”, e ainda fornecia costu­ E numa sociedade que primava por desfrutar aqui
reiros que faziam “vestidos à moda do mais moderno o que de mais apurado existisse alhures, fosse na
gosto de Paris”, chapeleiros e chapeleiras que confec­ Europa ou no Oriente, haveria por certo de ter seu
cionavam chapéus redondos e armados de todas as lugar assegurado a porcelana fina, para dar a nota de
qualidades no último gosto”, <5S* refinamento a uma mesa e adornar cosmopolitamente
Não ficava aí o rol de elementos franceses que urn interior.
vinham para o Brasil, tratar da boa aparência e tentar
manter o garbo e a elegância local no arremedo de Marques dos Santos, nos Informa que desde o
Paris. No dizer de Sérgio Buarque de Holanda, baseado primeiro reinado “vemos no Rio, as casas importadoras
nos informes de Saint-Hilaire, a França ainda nos de gêneros variados e também de porcelana, em grande
“exportava" modistas e balconistas. quantidade”. Uma delas é a casa Wallerstein & Cia.,
depois Wallerstein, Mosert & Cia,, à rua do Ouvidor,
E dentro dessa embaixada aportavam ainda li­ 70 — importadores de belos aparelhos para a Corte.
vreiros para alimentar a cultura do intelectual brasileiro. Também pela década de 1850, a casa do inglês Es­
Como também não faltou uma série brilhante de teva m Busk & Cia., à rua 7 de Setembro, n.° 78. E
desenhistas e pintores franceses que após a Missão ainda muitas outras como a loja do Cajarão Verde dc
Francesa, vieram enriquecer a nossa iconografia, seja Fernando José Alves de Souza, â ma do Ouvidor, 49
no documentário urbano e paisagístico, seja nos re­ a Loja da America de Antônio Marques de Oliveira,
tratos dos soberanos e dc personagens da Corte e da na mesma rua, etc. Pelo fim do século, só no Rio,
Sociedade Imperial, havia para mais de setenta casas de louça, entre as
E não haveria dc faltar, para satisfazer o ouvido quais, várias que recebiam encomendas de ricas bai­
e encantar a visão, a presença de outra sorte de parti­ xelas monogramadas ou não, como A. Millet Filho, a
cipantes no cenário tropical brasileiro, como os atores casa de Bernardo Ribeiro da Cunha, Viscaya Irmãos,
e atrizes que periodicamente cã aportavam com espe­ Haas Irmãos, L. Cipriano & Cia.
táculos de revistas, bem como operetas e peças de
teatro cm toumécs “artísticas e culturais”. Havia ainda outros que forneciam a Corte na
primeira metade do século.
Qualquer dama da Cone ou das capitais das
Províncias acompanhava à risca o risco das costureiras Nos registros dos Livros da Mordomia, segundo
de Paris, como recebia regularmente do Havre, figu­ Alcindo Sodré, há a indicação dc vendas dc louças por
rinos franceses como o “Bon-Ton” — "Foullet” — várias firmas à Corte, no período de 1839 à 1843.
“Caprice” — “Courrier des Dames” — “Favori des
Damos a seguir seus nomes e as louças vendidas.
D ames”, etc, a T> São eles :
Aliás o conforto no Rio de Janeiro, segundo o
mesmo autor “não ficava naquela época aquém do 1839 — M. J. de Araújo Costa
de muitas capitais européias”. Um aparelho de louça
superfina ............ 206S100
Mas também na Província, o requinte era igual.
Assinala Maria Grabam E*1 na Bahia: "algumas casas 1846 — A. Wallerstein
porém são melhores arranjadas”. “Uma . . . era empa­ Cnsto dc pratos de
pelada, o soalho atapetado e as mesas ornamentadas po rcelan a.......................... 505000
com bela porcelana da China e da França. A senhora A. B. Wallerstein
também usava elega ntemente um vestido francês”. Setenta dúzias de pratos de
E, quanto a espetáculos, diz o príncipe Maxtrni- porcelana ..................... 5925099
liano di Wied Neuwied t2,): “O Rio possui um teatro A. Saturnino José
de ópera de uma certa importância, com bailarinas Gonçalves
francesas”. louça ordinária ............... 39$600
E, quanto a São Paulo, no referente à música e 1841 — A. Demarais
aos espetáculos, já no século XVIII que esses impor­ Cinquenta e uma xícaras
tantes setores da Ane eram atendidos. de porcelana ............ 153S000

567
A . S a t u r n in o J o s é
1842 A. Wallerstein
G o n ç a lv e s
louça de porcelana fina . 9275000
louça ordinária e de vidros A. Bernardo Wallerstein
que forneceu ................... 854S570 por quatro caixas com lou­
A. Adolfo Simonsi ça de porcelana fina . . . . 4.8485000
direitos na Alfândega de 1843 Custo de xícaras e pires
louça e livros vindos de de porcelana .................... 3145664
Londres ........ ................... 1925500 A. Wallerstein
A. Bernardo Wallerstein Dez caixas com louça de
& Cia. porcelana ......................... 2.965S970
por quinhentos c dezesseis
pratos de porcelana fina 5,1325736 16,8295400
A. Bernardo Wallerstein Por esse "quantum" enorme para a época c consi­
por nove dúzias e quatro derando-se apenas o período de quatro anos, há que
casais de xícaras de porce­ se deduzir que O uso de louça dos Paços da Cidade e
lana fina d o u ra d a ........ .. 3735330 de São Cristóvão era de vulto. Aliás os catálogos dos
A. Luís Antônio de Faria leitões de 1889 dos pertences imperiais dão-nos uma
por cinco dúzias de xíca­ impressionante mostra de serviços incompletos e da
ras e pires ....................... 1805000 variedade de louças.

(1) Frederic Mauho — o b . c it., pág. 184. (20) M ajua G raham — ob. cit., pág. 160.
(2) " H i s t ó r i a E c o n ô m ic a d o B r a s il" — pág. 397. (21) Frederic Mauro — ob, cit,, págs. 173/242.
(3) " O E s p e l h o " — Imprensa Nacional — Rio 1 8 2 1 -1823 — (22) Sérgio Jíuabqlie de Holanda — in prefácio de “Cultura
Arquivo do Insl,'Histórico e Geográfico de São Paulo. e Sociedade no R io de Janeiro" — 1808-1821 — brasi­
(4) S tanley E. Hilton — i« " O E s ta d o d e S ã o P a u l o " d e liana 363 — 1977.
18.0(5.1978.
(23) Stanley E. H ilton — "Alemanha uma presença antiga
(5) Visconde de Santarém — " Q u a d r o d e m e n t a r d a s R e la ­ no Brasil” in “O Estado de São Pauío" — 18 06.1978
ç õ e s P o lític a s e D i p l o m á t i c o s d e P o r tu g a l" — Paris. 1843
— S. PauSo.
— vol. 17 — páRS. 40/47 — vot. 18 — págs, 443/457.
(6) OUVES O vou — " H i s t ó r i c o d e D ir e it o s A l f a n d e g á r i o s (24) Cap. de Mar e Guerra Anniba! do Amara! Gama —
n o B r a s il" — 1808-1954 — Fíesp — S, Paulo. Lord Cochrane na Independência do Brasil — Sep. Bole­
tim do Club Naval n,° 99 — 1944.
(7) OLIVEIRA Mastins — Citado por Mafalda P. Zsmella —
' O A b a s te c im e n to d a C a p ita n ia d e Minar G e r a is no (15) M aria Beatriz N izza da Silva — "Cultura e Sociedade
s é c u lo X V l t F ' — USP — S. Paulo — 1951, no Rio de Janeiro” — 1803-1821 — Brasiliana 363 —
pág. 33 — 1977.
(81 John Mawe — o b . c it., págs. 304/5 e 312.
(9) John Mawe — o b . c it.. pág. 168. (26) Maria Beatriz N izza da Silva — ob. cit., págs. 34/35.
(10) John Mawe — o b . c it., pág. 218. (27) F rancisco Marques dos S antos — “A Sociedade Flu­
minense ” em 1852 in "Estudos Brasileiros” ano III —
(11) John Mawe — o b . c it., pág, 248 Rio. 1941.
(12) J ohn M awe — o b . c it.. pág. 91
(28) M aria G raham — ob cit., pág. 149.
(13) SÉRGIO BU.MIQUE DE HOLANDA — in prefácio dt “CullUfa
e Sociedade no Rio de Janeiro" — 1808-1821 — Brasi­ (29 ) Viaggio al Brasiie negü nnn: — 1815-1816-1817, Mitano.
liana n.° 863 — 1977. 1821 — pág. 48.
(14) Notas Sobre o Rio de Janeiro e Partes Meridionais do (30) P rof. C iro Monteiro Brizzola — "Música do Brasil
Brasil — 1808-1818 — págs, 83. 126 e 296. Coloniar' — in R tv do Inst. Hisiórico Guarujã —
(15) SãINT-Hilaíre — " V i a g e m a o R i o G r a n d e d o S u l " — Beriioga n,° 8, pág. 41.
pág. 148.
(16) " V i a g e m à s N a s c e n te s d o R i o S ã o F r a n c is c o e p e ta P r o ­
v ín c ia d e G o iá s " — tomo (I — págs. 90/91.
Paula das Avaliações de todas as mercadorias que se
importaram no Império d o Brasil — nova edição —
(17) L. F. de Tollenare — " N o t a s D o m i n i c a i s " — Pernambuco, 1837 (Biblioteca. Nacional).
pág. 87 — 1816-1817.
P. L. L acretelle Ain e — Paris, 1823 — "Consultation
(18) M aria G raham —■ " D i á r i o d e u m a V i a g e m a o B r a s il" pour les négociants faisant le commerce des marchandises
— pág. 315 — Rio. 1938. de Indes” .
(19) LouiS DE Freyctnet — " V o y a g e a u l o u r d u M o n d e e n tr e - Pauta, das Avaliações de todas as mercadorias que se
p is p a r o r d r e d u R o í ' — Paris, 1825 — citado pela proí.* importaram no Império do Brasil, impressa cm 1826 na
Maria Beatriz Nizza da Silva, o b . c it.. pág. 18, Imperial Tipografia de Plancher (Biblioteca Nacional),

568
XI - SÈVRES

o m a d e s c o b e r t a d o c a u lim n a v á r io s e im p o r t a n t e s tr a b a lh o s e o r g a n iz a d o r de d i­
F ra n ça , a R e a l M a n u fa tu r a d e v ersas e x p o s iç õ e s d o g én ero , q u e se g u n d o A u sc h e r , o
S è v r e s c o n s titu i-s e em um a das t e r m o V i e u x P a r is é r e s t r it o e i n d i c a a p e n a s u m e s t i l o
m a is a f a m a d a s f á b r ic a s d a E u r o ­ que p r e d o m in o u em F rança na p r im e ir a m e ta d e do
pa e a q u e le ev en to p r o p ic ia a s é c u lo X IX , c a r a c te r iz a d o p e lo u so de flo r e s esp a r­
m u ltip lic a ç ã o r á p id a dc o u lr o s ram ad as a esm o (je té e s ) e do dourado; em co n tr a ­
im p o r t a n t e s n ú c le o s c e r â m ic o s p a r t id a , a p o n t a - n o s e l e p r ó p r io p u b li c a ç ã o rece n te dc
em te r r it ó r io g a u lê s . R e g in a d e P lin v a t d e G u ü l c b o n " P o r c e l a in e d e P a r i s ”
S èvres, que de in íc io tev e que i n s p ir a r - s e em ( 1 7 7 0 - 1 8 5 0 ) <2), q u e i n c lu i n a c l a s s i f i c a ç ã o d e V ie u x
M c is s e n , que p r im e ir o na E u rop a h a v ia m a n ip u la d o P a r is , t o d a a v a r ia d a p r o d u ç ã o d a s f á b r ic a s d a r e g iã o
a p o r c e la n a dura, g an h a aos p o u c o s p e r s o n a lid a d e e p a r is ie n s e d o f in a l d o s é c u l o X V f l l a o m e a d o d o X .I X .
c r ia t iv id a d e . O c e ra m ó g ra fo G e o r g e s F o n ta in e , na su a e d iç ã o
A s s i m , p a s s a a s e u t u r n o a in f lu e n c ia r a p r o d u ç ã o de 1965, de "La C é r a m iq u e F r a n ç a i s e " <s> n o s d iz :
n ã o s ó l o c a l c o m o a e x t e r n a . "V ários p a í s e s n a E u r o p a , ■ 'A s vendas p ú b li c a s e o c o m é r c io de a n t ig u id a d e s
a o l a d o d e c r i a ç õ e s p r ó p r ia s , i n s p ir a m - s e m a r c a d a - em pregam o term o " V ie u x P a r is ” p a r a d e s ig n a r to d a
m e n lc ern S è v r e s : n a A l e m a n h a c o n t a - s e F u r s íe n b c r g a so r te d e p o r c e la n a s (d u r a s) d a ta n d o g e r a lm e n te d o
e N y n ip h c m b u r g o e n t r e a s p r in c ip a is , n a S u é c ia : M a r i- c o m e ç o d o s é c u lo X I X . A fó r m u la é b a s ta n te a c e itá v e l
e n b e r g c R o r s tr a n d , n a S u íç a : N y o n e em P o r tu g a l a m a s n ã o s u f i c l c n t e m e n t e r e s t r it iv a , p o i s q u e u m a p o r c e ­
f á b r ic a d e V is t a A le g r e . la n a V ie u x P a r is p o d e p roceder de um a d a s m a io r e s
V á r ia s c a u s a s c o n t r ib u ír a m p a r a q u e S è v r e s v ie s s e o u m e n o r e s m a n u fa tu r a s q u e p r o sp e r a v a m , n u m er o sa s,
a d e s f r u t a r d e s s a s it u a ç ã o ím p a r n o c e n á r io p o r c e l a - en tre 1780 a 1 8 3 0 . E ste s a te liê s s a o d e s i g n a d o s s e ja
n ís t í c o i n t e r n a c io n a l. p e lo n o m e d e s e u p r o te to r , s e ja p e lo n o m e da ru a d a
A c o m e ç a r p e lo p a tr o n a to real q u e lh e c o n f e r i a f á b r ic a , s e ja e n f im p e lo n o m e d o n e g ó c io — d ir ía m o s
p r iv ilé g io s o s t e n s i v o s n o f a b r ic o d a p o r c e la n a d c lu x o , d a r a z ã o s o c i a l" .
a ta l p o n to que d esd e 1745 h a v ia um d ecreto real A c r e d ita m o s que o c r it é r io a m p lo u sa d o em
avocando p ara a q u e la m a n u fa tu r a a e x c l u s iv i d a d e da F ra n ça a p o n ta d o p e l o c o n c e i t u a d o c r í t i c o d e a r te é o
im it a ç ã o das p o r c e la n a s de Saxe, c o m p o r ta n d o p a i­ q u e m a is s e a d a p t a a o c r it é r io b r a s i l e i r o cie c l a s s i f ic a ç ã o
sa g e n s e f ig u r a s , d o u r a d o s , f l o r e s c m r e le v o c e s c u l­ d o “ V ie u x P a r is " , p o s t o e m p r á t ic a p e la m a io r ia dos
t u r a s . <! ) a n t iq u á r io s , le ilo e ir o s , m u s e ó lo g o s e c o le c io n a d o r e s ,
Em 1766, L u iz XV a m e n iz a as r e s t r iç õ e s para sen d o d e se a s s in a la r que a c r ít ic a do a u to r d e que
e s t im u la r e d e s e n v o l v e r a p r o d u ç ã o f r a n c e s a e m q u a l i ­ as p eças m arcadas da r e g iã o p a r is ie n s e devam te r
dade e v o lu m e . E no seu r e in a d o to m a u m a m e d id a c la s s ific a ç ã o à p a r te é p le n a m e n te a p lic a d a n o B r a s il.
de e le v a d o a lc a n c e : a o b r i g a ç ã o p o r p a r t e d o s f a b r i­ P ara n ó s, sã o ch am adas de “ V ie u x P a r is ” as
c a n t e s d e a p o r s u a s m a r c a s n o s p r o d u t o s , p o r é m a in d a p eças do p e r ío d o in d ic a d o que não o sten ta m in d i­
reserv a p ara S è v r e s o m o n o p ó lio d o u so d o d o u r a d o e c a ç õ e s n o v e r so , p o is q u a n d o a s tê m sã o e n tã o d e s ig ­
d a p o lic r o m ia ! nadas por d a s. As p eças c l a s s i f ic a d a s de m a n e ir a
E sta s ú lt im a s e x i g ê n c i a s não eram de regra se­ geral por " V ie u x P a r is " , a p r e se n ta m um a decoração
g u id a s p e lo s f a b r ic a n t e s , e is que n u m erosos a t e liê s p o lic r o m a d a v a r ia d a e m q u e s e s o b r e le v a a a p lic a ç ã o
b u r la v a m a q u e le s p r iv ilé g io s e a sse g u r a v a m -s e da do ouro fo sco ou b r ilh a n t e ; às vezes as p eças são
i m p u n id a d e , procurando o b te r a p ro teçã o dc a lt o s lo t a lm e n t c b r a n c a s c o m to d a a d e c o r a ç ã o d o u r a d a ,
d ig n it á r io s d o R e i n o e m e s m o d e p a r e n t e s d o R e i , Um c r ité r io a n á lo g o e x is te c o m r e la ç ã o à c la s s i­
P o r f im , e m 1 7 8 7 , o g o v e r n o real su sp e n d e to d a s fic a ç ã o dc p e ç a s c h in e s a s : quando a peça não apre­
a q u e la s r e s t r iç õ e s e lib e r a a p r o d u ç ã o p a r a a c o n c o r ­ se n ta " n ie n - h a o ” ( n o s p e r ío d o s d e e x p o r ta ç ã o p a r a o
r ê n c ia fra n ca d e m e r c a d o . O c i d e n t e ) é c l a s s i f ic a d a d e n t r o d o t e r m o a m p l o e v a g o
D iz -n o s G eorges F o n ta in e : “Q ue fo i so b r e tu d o de “ P o r c e la n a C ia , das ín d ia s ” que, com o sa b em ,
em P a r is q u e a q u e l a c o n c o r r ê n c ia f o i a m a is t e m í v e l ' ’. a b a r c a um m u n d o d e v a r ia n te s d e c o r a tiv a s ; e m c o n tr a ­
C a b e a e s t a a lt u r a u m a p r e lim in a r p a r a s it u a r m o - p a r t id a q u a n d o a p e ç a é m arcada co m o “ n ie n -h a o "
n os en tre d u as c o n c e iw a ç õ e s q u e p o d e m le v a r a c o n ­ a í e n tã o , a u to m a tic a m e n te é c la s s if ic a d a c o m o nom e
f u s õ e s : O q u e ê c o n s i d e r a d o “ P o r c e l a i n e d c P a r is ” , e d a d in a s tia o u c o m o “ P o r c e la n a d a C h in a ” p ara d is tin ­
o que é cham ado “ V ie tix P a r is " . Os c r i t é r io s p ara g u i- la d a o u t r a .
d e f i n i - l a s d iv e r g e m m esm o n a F ra n ça . A c o n t e c e a in d a , c o m r e la ç ã o à p r o d u ç ã o fr a n c e sa
D iz -n o s o n o s s o e s p e c i a l is t a em p o r c e la n a eu ro­ do p e r ío d o , q u e q u a n d o a s p e ç a s s ã o n it id a m e n t e d e
p é ia , D r. A n tô n io de A v e ila r F ern a n d es, a u to r de e s tilo d e fin id o e n ã o tr a z e m in d ic a ç ã o n o v e r s o , p r e v a -

569
le c e e n tr e n ó s a in d ic a ç ã o d o e s tilo s o b r e a d e s ig n a ç a c D en tro d esse c r ité r io , n o sso s ín d io s com o ta m a n h o
dc “ V ic u x P a r is ” . A s s i m um a xícara com as carac­ d e s u a s i g a ç a b a s e s t a r ia m d a n d o u rn a a lt a d e m o n s t r a ç ã o
te r ís tic a s d o e s tilo D ir e tó r io , 1 I m p é r io o u d a R e s t a u ­ d e c u ltu r a !, . ,
r a ç ã o f r a n c e s a q u e n ã o ua?- m a r c a , e e m b o r a se T o r n o u - s e p r a x e d o E s t a d o f r a n c ê s , n a m o n a r q u ia
e n q u a d r e n o g ê n e r o V ieux P a r is , é c a t a l o g a d a p r e f e r e n - ou n a r e p ú b lic a , o b s e q u i a r g o v e r n o s e p e r s o n a g e n s
c ia lm e n te pelo estilo que o sten ta ou p e la m arca que ilu s t r e s c o m v a so s e b a ix e la s e s p e c ia is encom endados
p o rta . à M a n u f a t u r a , já q u e r e p r e s e n t a v a m e l e s , n a r e a l i d a d e ,
M a s v o lte m o s à s p o r c e la n a s d e S è v r e s: a c o p la m -s e um a das fa c e ta s m a is b r ilh a n t e s da c u lt u r a e a r te
a e la lo g o as fa m o s a s P o r c e la n a s de P a r is q u e ir ã o g a u le s a s .
d e in íc io d a r v ig o r o s o e e x c e p c io n a l r e n o m e a o s p r o ­ S è v r e s n o q u a d ro d a s a rtes m e n o r e s se m p r e c o n s ­
d u to s fr a n c e s e s , p e la q u a lid a d e e p e lo s e n s o a r t ís t ic o , t it u iu o o r g u lh o do a rtesa n a to fra n cês, ju n to com a
e n t r e o s q u a is se in c lu e m as peças c o n h e c id a s por M a n u fa tu r a R eal dc G o b e lin s , e a m b a s a té h o je sã o
“ V i e u x P a r is ” ,
m a n tid a s p e lo E sta d o , em b o ra d e fic itá r ia s , com o um
D ada a e x c e lê n c ia do c a u lim de S t, I r ie ix no p a d r ã o v i v o d e c u lt u r a e v i r t u o s i s m o a r t ís t ic o .
L im o u s in , a g r u p a -se n a q u e le d ep a rta m en to fra n c ê s e
A s s im , se m p r e h o u v e a p r e o c u p a ç ã o d e e s c o lh e r
n a d d a d e d e L i m o g e s a m a i o r i a d a s f á b r ic a s f r a n c e s a s
h o m e n s n o tá v e is p a r a d ir ig i-la s , f o s s e m e l e s c e r a m is t a s
q u e e x p o r ta r a p o r c e la n a p a r a o B r a s il, m o rm e n te na
da envergad u ra d e um T h eod ore D e c k , en tre o u tr o s,
s e g u n d a m e t a d e d o s é c u lo .
fo ssem e le s q u ím ic o s de renom e, com o é o caso d c
S ã o p o is , g r o s s o m o d o e s te s tr ê s c e n tr o s : S èvres,
H cnry R e g n a u lt. D isp ô s em to d a a t r a je tó r ia p ercor­
P a r is , L i m o g e s , q u e ir ã o a b a s t e c e r o B r a s il e c o n t r ib u ir ,
r id a c d e e s t i l o s r e p r e s e n t a d o s d e s d e L u i z X V I ( 1 7 7 4 -
e m m a i o r p a r c e la , p a r a o e n r iq u e c im e n to do n o sso
1 7 9 3 ), D ir e tó r io (1 7 9 5 -1 7 9 9 ), 1 ° I m p é r io (1 8 0 4 -
a c e r v o d o sé c u lo X I X ,
1 8 1 4 ) , R e s t a u r a ç ã o ( 1 8 1 4 - 1 8 3 0 ) c 2 . ° I m p é r io ( 1 8 5 2 -
S o b r e S è v r e s , h á q u e a s s in a la r q u e d a t a d c 1756
1 8 7 0 ) , d e e q u i p e s d e p r im e ir a g r a n d e z a d e d e s e n h i s t a s ,
o se u im p u ls o quando c t r a n s f e r id a c in c o r p o r a d a
p in to r e s , e s c u lto r e s e q u ím ic o s ,
a q u e l a m a n u f a t u r a f a m o s a à f á b r ic a d e V i n c e n n e s , s o b
Foi a s s im que v ie r a m a s u r g ir a lé m das p a sta s
o s a u s p íc io s d o rei L u iz X V e de M ada m e d e P om -
m a is a p e r f e i ç o a d a s cm p o r c e la n a , o s s e u s i n i g u a lá v e is
padour. A té e n tã o era so m e n te f a b r ic a d a p o r c e la n a
e fa m o so s b is c u it s c a in d a to n a lid a d e s que a té h o je
m o le d e e x c e le n t e q u a lid a d e e m a m b o s o s cen tro s.
sã o a d m ir a d a s c o m o o “ b le u du r o i” em 1749 (em
Em 1 7 7 1 , a d q u ir e L u i z X V a s j a z id a s d e S t. I r ie ix
V i n c e n n e s ) , o a z u l tu r q u e s a e m 1 7 5 2 e e m V in c e n n e s ,
p a r a o f o r n e c i m e n t o d o c a u lim às m a n u fa tu r a s. A fá ­
o a tr a e n te R o s e P a m p a d o u r , q u e ta m b é m c h a m a m d e
b r ic a de S è v r e s p a ssa por s é r ia s d i f i c u l d a d e s e v ic is ­
Du B arry em 1 7 5 7 , e a in d a e m 1 8 0 4 , o “V e r t E m p i -
s it u d e s c o m a R e v o l u ç ã o F r a n c e s a e o D i r e t ó r i o , p o r é m
re” , c r ia d o por V auqueJm .
graças à d ir e ç ã o de um n o tá v e l d ir e t o r , A le x a n d r e
Q u a n t o à s f o r m a s e à d e c o r a ç ã o , a lé m d o f a b r ic o
B r o n g n ia r d (1 8 0 0 a 184 7 ) e a o a p o io o fic ia l r e sta b e ­
dos v a s o s m o n u m e n t a is , d a c o n f e c ç ã o d e p la c a s , d e
l e c i d o , t o r n a - s e u m a d a s m a is im p o r t a n t e s e a f a m a d a s
e sta tu e ta s e o b je to s de adorno, Sèvres ta m b ém se
f á b r ic a s e se u s p r o d u to s a lin h a m -s e en tre o que de
n o ta b iliz o u p e la s é r ie de p r im o r o s o s s e r v iç o s , ta n to
m e l h o r s e p r o d u z iu n o O c i d e n t e ,
d e ja n ta r c o m o d e “ d e je u n e r ” ( d e c h á o u c a f é ) .
S o b N a p o le ã o , c o n tin u a su a t r a je tó r ia no cam po
da q u a lid a d e e da a r te . A e u f o r ia provocada p e la s D ada a. e x c e l ê n c i a de seu s a rtesã o s, a r t is t a s e
v j r ó r ia s d o G rande C orso, in v a d e a a lm a g a u le s a c d ir e t o r e s , S è v r e s i n f l u e n c i o u c o n s i d e r a v e l m e n t e o m e io
S èvres p a ssa a ser um dos v e íc u lo s d o e n a lte c im e n to c e r â m i c o f r a n c ê s , c o m a n d a n d o a s f o r m a s e d it a n d o a

de se u s fe ito s , r e p r o d u z in d o na p o r c e la n a to d a um a d ecoração d u r a n te la r g o te m p o .

fa se g lo r io s a da N ação, E com o num “ v id e o ta p e” , E x e m p l o d i s s o é t o d a a s é r i e d a s f á b r ic a s q u e s c


a tr a v é s d a s p e ç a s c o lo r id a s , a s s is te -s e a u m d e s e n r o la r d e d ic a v a m ao género ch am ado de “ P o r c e la n a s de
de cenas in i g u a lá v e is e a um d e s fila r de g a rb o so s P a r is ” , e a in d a o c o m p le x o d e L im o g e s q u e , n o s se u s
p e r s o n a g e n s q u e a H is tó r ia c a le n d a to r n a r a m f a m o s o s . p r i m ó r d io s , p r o d u z ia à m a n e ir a de Sèvres e tã o b em
A s s im u m a p a r te p o n d e r á v e l d a s fo r m a s d a d e c o ­ q u e p o r v e z e s tr a z c o n f u s ã o !
ração c c a r a c t e r iz a d a p e lo e s tilo I m p é r io e d e d ic a d a A q u e la in flu e n c ia n io se r e s tr in g iu ao t e r r it ó r io
às e p o p é ia s c p erson agen s n a p o le õ n ic o s . L em bra a g a u lê s , m as u ltr a p a s s o u as f r o n t e ir a s , p o is v á r ia s e
i n i g u a lá v e l s é r ie d e t e r r a c o t a s g r e g a s a g r a v a r n a c e r â ­ im p o r t a n t e s f á b r ic a s e s tr a n g e ir a s n e la se in s p ir a r a m
m ic a p a r a a v is ã o d o s p ó ste r o s a su a o p u le n ta m ito ­ p r o fu n d a m e n te , com o é o caso dc V ie n a , de V is t a
lo g ia . É n e s s e p e r ío d o q u e r e s su r g e c o m ê n fa se e x c e p ­ A l e g r e , d e N á p o l e s e n a p r ó p r ia A l e m a n h a N y m p h e m -
c io n a l o pendor p e lo m o n u m e n t a l. D iz -n o s o a tu a i b u r g o , e n tr e o u tr a s, c o m o já fo i d ito .
d ir e to r d a M a n u fa tu r a H , P . F o u r e s t: "Um g o sto q u e S èvres a p r e se n ta de regra um a c a r a c te r ís tic a : a
e sta v a d e s tin a d o a durar a té n o sso s d ia s c já b em d e c o n s id e r a r a s u p e r fíc ie c e r â m ic a c o m o um a t e la a
n í t i d o n a é p o c a d o I m p é r io : é O d o v a s o m o n u m e n t a l. ser p in ta d a . Na m a io r p a rte d c su a p rodução r e v e la
S e e le jã e x is tia n o s é c u lo X V I I I v in d o d ir c ta m c n t; essa te n d ê n c ia , s e r v in d o -s e às vezes de s u p e r f íc ie s
d a a r t e e s c u l t u r a l , e ie e r a n o e n t a n t o b a s t a n t e e x c e p ­ u n id a s p a r a e n c o b r ir o fu n d o u tiliz a n d o - s e d o s fu n d o s
c io n a l em p o r c e la n a ” . (P r e f á c io a o C a fá lo g o d e E x p o ­ d o u r a d o s e d e se u s lin d o s m o n o c r o m o s c o m o o “ b le ú
s iç ã o de S èvres no s é c u lo X I X {4> — - M u seu de d u r o i” , o “ V e r t E m p ir e ” , o “ R o s e P o m p a d o u r " e t c . . .
S èvres- 1 9 7 5 -p á g s, 11 — 23 — 3 7 ). E in fo r m a -n o s N is s o ta lv e z e s te ja m os a r t is t a s d e s s e p e r ío d o apega­
a in d a G e o r g e s F o n t a i n e <5> q u e h a v ia p e ç a s d e a t é d o i s d o s, à su a fo rm a çã o la tin a e à té c n ic a dos engobes
m e t r o s d e a lt u r a . g reco -ro m a n o s, c o lo r in d o os fu n d o s n egro, a m a r e lo ,
P e lo que parece, a c r e d it a v a m en tã o os fr a n c e se s v e r m e lh o , para n e le s ap orem a decoração, ou en tã o
que a g ló r ia da F rança e o ta le n to de seu s h o m e n s fic a v a m e le s in flu e n c ia d o s fo r te m e n te p e la s r ece n tes
p o d ia m ser a f e r id o s p e lo v o lu m e de seu s v a s o s ... d e s c o b e r ta s d e H e r c u la n u m e P o m p é ia , q u e tr o u x e d e

570
Secs. X V I U / X I X PORCELANAS FRA N CESA S
Sèvres

Três praias de eximia !atura e delicados desenhos da manufa­


tura Real de Sèvres, Os dois de cima jazem pane de uma série
grande e /arnosa, conhecida por " Serviços M itológicos" e
foram pintados por Georget {vide "Porcdaincs de France",
pàg. 283). O prato de baixo de aba " bordeaux" frisos doura­
dos e ramalhete no centro, está também marcado Sèvres e foi
fabricado em 1808.
Coleção Newton Carneiro.
Sees. X V I I I / X I X PORCELANAS FRA N CESA S
Sèvres

527

Exemplo dc xícara conhecida por "trembieuse" cm que no


pires se observa uma arm açio de porcelana para o encaixe da
xícara . a fim de evitar que com n tremido da mão o líquido
transborde, (invenção mexicana do Marquês dc Mancerinas).
adotada na cerâmica c na ourivesaria durante certo período
— fim do século XVI I I e começo do século XI X. Cortesia
Fundação Crcspi-Prado.

528

Duas fotografias de frente e perfil de xícara em puro estilo


Império, exibindo a Apula Imperial no centro ■— fundo ama­
relo. O pires dentro de uma reserva ostenta uma abelha (sím­
bolo de Napolcão) e dentro de outra um cisne (símbolo da
Imperatriz Josefina). De exímia fatura em amarelo e ouro
com pires exibindo garras, correspondendo ao período de
1S0S, Marcado Manufatura Impériale Sèvres, em vermelho,
(Este serviço costuma ser falsificado).
Coleção E. F. Brancantc.

572
v o lt a to d o um r e p e r t ó r io a r t ís t ic o , so b r e tu d o de s é r ie v is t o s a em e s tilo n e o -c lá s s ic o com b u sto s p in ­
a fr e sc o s, c o m q u e r e s s u s c it a v a m d e c o r a ç ã o c fo r m a s. ta d o s d e p e r s o n a g e n s fa m o s o s c o m o C a r lo s X (1 8 2 9 )
N essa concepção Sèvres d is ta n c io u -s e da su a d o s d u q u e s d e B e r r y e D ’A n g o u l ê m e ( 1 8 2 4 ) , d c
m a io r r iv a l n o C o n t in e n t e a f a m o s a f á b r ic a d e M e i s s e n N e m o u r s ( 1 8 4 5 ) , d e O r le a n s ( 1 8 4 8 ) e tc . (E m ile T il-
o u d e S a x e q u e d isp u to u c o m e la a p r im a z ia a r t ís t ic a tn a n — P o r c e la in e s d e F r a n c e — P a r is , 1 9 5 3 ).
n a E uropa, ten d o p or su a v ez ta m b ém um a s é r ie d e F e l iz m e n t e no B r a s il e x is te a r ep resen ta çã o
s e g u id o r a s , ta n to na A le m a n h a com o a lh u r e s . de m ú lt ip la s p e ç a s d a q u e la m a n u fa tu r a e e n tr e e la s ,
S a x e in te g r a v a d e r e g r a o b r a n c o n a d e c o r a ç ã o — um a d a s m a is b e la s l á r e p r o d u z i d a s , é o “ cefret” do
c o n c e b ia a p a sta com o um fu n d o de p a lc o sob re o p r ín c ip e d c J o in v ille , em e x p o s iç ã o no M u seu Im p e­
q u a l o s p e r s o n a g e n s e otiL ros m o t i v o s c o l o r i d o s ir ia m r ia l. O u tr a s há, im p o r t a n t e s p r e se n te s do governo
ganhar r e a lc e e d esta q u e fo rm a n d o s ilh u e t a sob re o fra n c ê s a P ed ro II c a p r e s id e n te s b r a s ile ir o s , r e c o lh i­
fu n d o c la r o ou a in d a c o n c e b ia a p a sta com o um a d o s a o M u s e u I m p e r ia l e a o M u s e u d a R e p ú b l i c a . H á
to a lh a b r a n c a onde ganhavam r e a lc e os o b je to s n e la ta m b ém s e r v iç o s b ra so n a d o s encom endados por t it u ­
p o u sa d o s. D u as co n cep çõ es, du as e s c o la s . la r e s b r a s ile ir o s , c o m o o C o n d e d e B o a V i s t a , G o v e r ­
M as v o lte m o s a S èvres: q u a n to aos seu s tem a s, nador de P ernam buco, o V is c o n d e de C a v a lc a n ti, o
a lé m dos da e p o p é ia g u e r r e ir a , a d o ta m seu s a r t is t a s , B arão de Q u a r t im , e t c . A S o c ie d a d e I m p e r ia l, com o
s o b r e t u d o o s c l á s s i c o s , a s s im c o m o c ó p i a s d e q u a d r o s d is s e m o s , prezava so b rem o d o a p o r c e la n a fra n cesa c
c é le b r e s a n t ig o s c coevos e acom panha os m o d is m o s en tr e e la s a d e S è v r e s.
em v o g a , c o m o o s r e fle x o s d e A r t-N o u v e a u e d o D e c o . E n tre v á r io s i n v e n t á r io s q u e. t e s t e m u n h a m a su a
E n t r e o s m a is c o n h e c i d o s c it a m o s : p r e s e n ç a , c i t a m o s o d o C o m e n d a d o r B r a z M a r t in s d a
C o s ta P a s s o s , d c 1 S 6 3 , n o s s o a n te p a s s a d o , o r iu n d o d e
1779 - S e r v iç o d o C a r d e a l , P r í n c ip e d e R o h a n P a u G r a n d e , c m V a s s o u r a s , n o q u a l f ig u r a m “ T r in t a e
da I m p e r a t r iz d a R ú s s i a , C a t a r in a II s e is x íc a r a s de p o r c e la n a de Sèvres a v a lia d a s em
d e B u ffo n se te n ta m il r é is (7 0 S G 0 0 ) (J u íz o da P r o v e d o r ia —
1783 — d e V e r s a lh e s R io d e J a n e ir o — 1 8 6 2 , a r q u iv o d o a u t o r ) , N o l e i l ã o d o
1784 — o f e r e c i d o p o r L u i z X V I a o rei G u s ­ P aço fo ra o u tr a s p o r c e la n a s fr a n c e sa s, há r e f e r ê n c ia
ta v o I I I , d a S u é c ia ( l o t e 1 . 1 0 0 ) a d o is g r a n d e s v a s o s d e S è v r e s , a v a lia d o s
1805 — E n c y c lo p é d i q u e e m 3 0 0 5 0 0 0 , E x is te ta m b é m o b e lo s e r v iç o d e “ I z a b e l e
__ M a r li d ’G r ( a b a de ou ro) G a s t o n ” , o u s e j a d a P r i n c e s a I z a b e l e d o C o n d e d ’E u ,
1808 — d a I t á lia m a r c a d o , d e p o s s e d a F a m ília I m p e r ia l.
d o E g it o E en tre c o le c io n a d o r e s b r a s ile ir o s , e x is te m ta m ­
1811 — C a m a fe u s b ém v á r ia s p eças d a q u e le s fa m o so s s e r v iç o s c ita d o s ,
1813 — das D am as dos P aços p r a t o s e x íc a r a s , c o m o é o c a s o d c N c w t o n C a r n e ir o ,
1815 — d a s D a m a s c é le b r e s d a A n t ig u id a d e Jo sé E duardo L o u r e ir o , A n tô n io de A v e lla r F ernan­
1833 — V is ta s d e F r a n ç a d e s , V v a . S e b a s tiã o L o u r e s , V v a . A n t ô n io V ila r e s d a
1841 — F lo r e s t a l S ilv a , D a v i d C a r n e ir o , A l f r e d o S iq u e ir a F i l h o , e t c .
1848 — d o s D ep a rta m e n to s De n o ta r -s e a in d a com o e x c e p c io n a l, a s é r ie dc
1855 — N a p o le ã o III p ra to s c o m r ep resen ta çõ es d e p á ssa ro s que f a z p a rte
1859 — d e L ’E l y s é e do tíco e se le c io n a d o acervo da F undação C r e s p i-
1881 D u p le s s is (m o tiv o s ja p o n e s e s ) -P ra d o , m arcad o. A n to n ío A v e lla r F ernandes (A s
e tc , etc, . . fa ls a s p o r c e la n a s de Sèvres in D iá r io C a r io c a —
1 0 .0 9 ,1 9 4 4 ) nos in f o r m a q u e S è v r e s f o i d a s f á b r ic a s
O u tr a s é r ie d e s e r v i ç o s f a m o s o s é a d o s C a s t e l o s m a is c o p ia d a s , ta n to no e s tr a n g e ir o (A le m a n h a ,
r e a is e d a n o b r e z a , c o m o o d e F o n t a i n e b l e a u , M a l m a i - Á u s tr ia , e t c .) com o na p r ó p r ia F rança ( N e u iliy su r
s o n , D 'E u . N e u i l i y , T r ia n o n , C o m p iè g n e , e t c . S e in e , S a in t A m a n d L e s E a u x , S a n s o n ) e n o s a d v e r te
C om r e f e r ê n c ia aos s e r v iç o s d e chá e de ca fé in d ic a n d o a lg u m a s das precauções que devem p rece­
( s e r v iç o s d e “ d e je u n e r ” o u se ja d e d e sje ju m ) há um a d er um a com p ra de p eças com a q u e l a m a r c a c é le b r e .

■* *

B 1 B L I O G RA F I A

(! ) G eorges Fontaine — o i. cit. pá g, 118. (5 ) G eorges F ontaine —- "L a Céramique Française" — Paris
— 1965.
(2) R egina de P unval de G uillebo.v — “Porcelaine de
Paris I77Û-IS50” — Office de Livre — 1972 -— Suíça,
(3) G eorges F ontaine — "La Céramique Française — Jenny D rêvfus — "Louca Brasonada” — ín Anuário do Mu­
pág. 129. seu Histórico Nacional, ano HL

( 4 J Prefácio ao Catálogo de Exposição de Sèvres no século C láudio Bardi -— "Á porcelana no Brasil" — in Cruzeiro,
XIX — Museu dc Sèvres, 1975 — págs. II, 23 e 37. págs. 5 /6 — 1954.

573
XII - PORCELANAS DE PARIS

u a n to às P o r c e la n a s de P a r is , a o p r im e ir o I m p e r a d o r , e c u j a d e c o r a ç ã o s e e n q u a d r a
a s s im e n t e n d i d a s a s q u e s ã o d a na d e s c r iç ã o a c im a de R e g in a M . R e a l, com cores
r e g iã o d e P a r is e e x i b e m ou o v i v a s , o u r o , f l o r e s e g u ir la n d a s . A c r e s c e p a r a c o r r o b o -
n o m e d o p r o te to r d a m a n u fa tu ­ r a ç ã o d a p r o c e d ê n c i a d e f a b r ic o q u e c o n h e c e m o s p e ç a
ra, d a rua, do n e g ó c io ou do com a q u e la m a r c a n o fr e te e m d o u r a d o .
a r t is t a , l i m i t a r - n o s - e m o s a i n d i ­ DAGOTY — D u ch esse d ’A n g o u l ê m e — 1785-
car a lg u m a s das p r in c ip a is e -1 8 6 7 — Suas o r ig e n s são co n fu sa s; c o n sta que
a q u e l a s d e q u e e x i s t e m e s p é c i m e s n o B r a s il, E s s a s f a ­ D a g o ty se in s ta lo u e m 1 7 8 5 n a r u a S à in t G i i l e s , p e r t o
m o s a s p o r c e l a n a s , t a m b é m d e p r im e ir a q u a l i d a d e s e d e “ l a P la c e R o y a l c ” e q u e m a i s t a r d e s e a s s o c i o u a
e s t a b e l e c e i a in n a r e g iã o p a r is ie n s e , d e p o i s q u e a d e s ­ H o n o r é . E m 1 8 0 4 , c o u ta c o m a p r o te ç ã o d e J o se fm a
c o b e r ta d o c a u lim t o m o u p o s s ív e l e m F ra n ça , a p ro­ e p a ss a a ser c o n h e c id a c o m o M a n u fa tu r a d a Im p e r a ­
d u ç ã o d a p o r c e la n a . tr iz , p a s s a n d o c m 1 8 1 5 p a ra a d e n o m in a ç ã o d a D u q u e ­
E sses n ú c le o s que lá se fo rm a r a m com a r t is t a s s a d * A n g o u lê m e q u e a s s u m e o p a t r o c í n i o d a e m p r e s a .
p r ó p r i o s , g ir a m c o m o s a t é lit e s n a ó r b it a d e S è v r e s q u e , A p o r c e la n a é de b e la q u a lid a d e ; a decoração
c o m o v i m o s , p a s s o u a r e p r e s e n t a r n a f o r m a ç ã o g a u le s a bem c u id a d a e v a r ia d a ê tip ic a m e n te de e s tilo l.°
o f o c o ir r a d ia n t e d c p r e s t íg io e q u a lid a d e . I m p é r io .
NAST — Ruc P o p in c o u r t — 1 7 8 2 -1 8 3 5 . O
M a rca H o n o ré o u D a g o ty p o r e x te n so , o u en tã o
e s ta b e le c im e n to fo i fu n d a d o por Jean N epom ocenc
e s ta m p ilh a d o em v e r m e lh o M m e. Ia D u c h e s s e d ’A n -
H e r m a n n N a s t , n a s c i d o n a Á u s t r ia e m 1 7 5 4 , v e m p a r a g o u lê m c (o u a in d a a n t e s d e 1810 L .S . Ia S e y n i e ) ou
a F ra n ça em 1 7 8 0 , e a í s e e m p r e g o u n u m a te liê c e r â ­
B a ig n o l, p o r e x te n s o .
m ic o , Em 1782, in s t a i o u - s e por su a co n ta na ru a
E x is te b e lo s e r v iç o e n c o m e n d a d o por D om João
P o p in c o u r t e d e s e n v o lv e u s o b r e m o d o se u n e g ó c io c o m
VI c c o n h e c id o por “ R e in o U n id o ” por o ste n ta r o
u rn a p o r c e l a n a b a s t a n t e a lv a e m u i t o d u r a .
b r a s ã o o f i c i a l d e P o r t u g a l , B r a s il e A l g a r v e s n a b o r d a
A tr a v e sso u c o m d ific u ld a d e o p e r ío d o r e v o lu c io ­
d o s p ra to s ra so s e fu n d o s e n o cen tro d o s d e so b r e ­
n á r io , m a s p r o s p e r o u d e n o v o s o b o I m p é r io . P r o d u ­
m e s a . C a r l o s F r e d e r i c o d a S i l v a ( A D u q u e s a d ’A n -
z iu ta m b ém b is c u its no gênero de W edgw ood azul
g o u lê m e e o s s e r v iç o s d a C a s a d e B r a g a n ç a , in " O
c la r o e c in z a , sen d o ta m b ém u tiliz a d o em p ê n d u lo s
E s p e lh o ” — D ezem bro d e 1935) in fo r m a q u e d e p o is
d e r e ló g io s e e m m ó v e is .
d o s l e i l o e s d o s p a ç o s , b o u v e d i s p e r s ã o d e p e ç a s , m u it a s
C o n to u com a c o la b o r a ç ã o d o s e s c u l t o r e s P a jo u
das q u a ís v ie r a m a ser r e c o lh id a s p e lo s a n t iq u á r io s
e K la g m a n e de v á r io s p in to r e s de S èvres, M arca:
e c o le c io n a d o r e s . E n tre e le s — M arechal E m ig d ío
m o n o g r a m a N .S . o u N A S T . E x is te m n o B r a s il m u it a s
T a llo n e q u e a s c e d e u a o D r . J o ã o d o R e g o B a rro s, c
peças m arcadas NAST, se ja m x íc a r a s , se ja m p ra to s
e n t r e e s t e s o s s e r v i ç o s i n é d i t o s c h a m a d o s d a s “ F lo r e s " ,
c o m o o s “P á ssa ro s d e D o m J o ã o V I ” . (E x is te m ta m ­
dos “ B ic h o s ” , das “ C asas” , dos " P á ssa ro s” , que
b é m o u t r o s s e r v i ç o s d e “ P á s s a r o ” , in d i c a d o p o r C a r lo s
s e r v ia m dc c o m p le m e n to ao a p a r e lh o da D u q u esa
F r e d e r ic o , c o m o sen d o da s é r ie “ J o a n in a " , d e M m e .
d ’A n g o u I ê m e ( c o n h e c i d o p o r s e r v i ç o d o R e i n o U n í d o ) .
la D u c h e s s e D ’A n g o u l ê m e . )
P o r c e la n a s s im ila r e s e n c o n tr a m -s e ta m b é m n a c o le ç ã o
L O C R Ê -à la C O U R T IL L E — 1 7 7 1 -1 8 4 1 . No
do a n tig o d o le c io n a d o r o o m a n d ã n te A ndrade P in t o
lu g a r c o n h e c i d o p o r B a s s e C o u r t i i le , L o c r c d c R o i s s y
(s e r v iç o d a s C a s a s ) n o I n s titu to H is tó r ic o e G e o g r á ­
e s ta b e le c e u -s e em 1771, E le era casad o com um a
f ic o B r a s ile ir o .
a l e m ã e v i v e u a lg u m t e m p o n a A l e m a n h a , r a z ã o p e la
Dc H onoré, co n h e c e -se ta m b ém um s e r v iç o
q u a l a s u a p r o d u ç ã o à s v e z e s é c o n h e c i d a p o r a le m ã .
r e c e n te m e n te id e n tific a d o p e lo c o le c io n a d o r , D r . D u ílio
T e v e b o n s c o la b o r a d o r e s c o m o R u s s in g e r — (1 7 7 4 )
C r is p im F a r in a , c o m o s e n d o d o V i s c o n d e d e A r a c a t y .
que v e io d a M a n u fa tu r a d e H o s c h t e d e P o u y a t em
O le ilã o d o p a ç o a c u s a n u m e r o s a s p e ç a s e r e m a ­
1800. C o n to u com a p r o te ç ã o do Duque de B êrry.
n e s c e n te s d e s e r v iç o s fr a n c e se s:
S eu s p r o d u to s eram de fin o a c a b a m e n to e m u it o
t r a n s lú c id o s . lo t e — 8 3 8 — Q u in h e n ta s e s e s s e n ta e o ito p e ç a s ,
Segundo R e g in a M. R e a l, a d ecoração era a zu l e o u r o c o m f a is õ e s — 3 : 8QO$OOQ —
“em cores v iv a s , ouro, flo r e s e g u ir la n d a s em p o li­ (s e r v iç o c o n h e c id o p o r “ C a ç a ” )
c r o m ia (. . . ) m a rca d u a s to c h a s c r u z a d a s . D e s fig u r a ­ lo te — 8 5 7 — 1 D e z e s s e t e x í c a r a s c o m g u a r n iç õ e s
d a s p e l o s a r t is t a s , p a s s a r a m a s p e ç a s a s e r c o n f u n d i d a s de p ra ta — 2 :$ 1 0 0 $ 0 0 0 (r e sto de um
com m a r c a s s e m e lh a n te s d e r iv a d a s d a s e s p a d a s c r u z a ­ p r e se n te de N a p o le ã o III à I m p e r a t r iz
das de S axe” . D on a T ereza)
E x is te n o M u se u I m p e r ia l u m r ic o p ra to com a lo t e — 836 — S e r v iç o fr a n c ê s, d u z e n ta s e v in te
coroa I m p e r ia l e a s ig la P X , c l a s s i f ic a d o p o r a q u e le e c in c o p e ç a s , v e r d e co m a s arm as im p e ­
m u s e u c o m o fa z e n d o p a r te d e u m s e r v iç o p e r te n c e n te r ia is -- 1 :0 0 0 1 0 0 0

575
lo te — ? — s e r v i ç o m a r c a d o M . L . ( I m p e r a t r iz D is p u n h a de um a boa fo r m a ç ã o a r tís tic a , te n d o
D o n a L c o p o ld in a ) d a M a n u fa tu r a c e s id o a lu n o de G ros, V ia jo u p e la E uropa e fe z um
F oecy. e s tá g io em S èvres, m o n ta n d o d e p o is um a te liê em
B e lle v iíle . E m 1830 com s e u Irm ã o M o r d o c h é e , c o m ­
( F , M a r q u e s d o s S a n to s — O le ilã o d o P a ç o d e p r o u u m a p e q u e n a m a n u fa tu r a a n tig a d e F o n la ih e b le a u .
S ã o C ristó v ã o , in A n u á r i o d o M u s e u I m p e r ia l — Em 1 8 6 2 , v e n d e u a f á b r ic a a u m d o s s e u s a s s is ­
P e tr ó p o lís — 1 9 4 6 ) , t e n t e s , J a c q u e m in , q u e f i c a t a m b é m com o s m o ld e s e
m o d e lo s . Em 1863, Jacob P e tit, in s t a lo u -s e na R ua
E x is t e m a in d a n u m e r o s o s s e r v iç o s fra n ceses sem F a r a d is - P o i s s p n i e r è e m P a r is . A m a r c a é J .P . c m azul
m arca com o é o caso do b e lo s e r v iç o do ca sa m en to o u i n c is a . A id e J a c q u e m in s ã o q u a t r o e s p a d a s c r u z a d a s
de D om P edro I co m D o n a A m é lia — um d o s raros o u a s s u a s in i c i a i s . E x i s t e m p e ç a s n o B r a s i l , n a B a h ia
e x e m p la r e s : um a grande t ig e la com a in d ic a ç ã o do (a n tig o M u s e u d o E s ta d o ) e n o M u s e u d a R e p ú b lic a .
d is t r ib u id o r e m F r a n ç a — B a r u c h & C ie — e p erten ce T h eod ore D eck r e v e lo u -s e u m p e s q u is a d o r in c a n ­
à c o l e ç ã o d o D r . M a r c o s C a r n e ir o d a C u n h a . O u t r o b e lo s á v e l. F o i p a ra a F r a n ç a o q u e D e M o r g a n e M o r r is
e r ic o s e r v i ç o p o l i c r o m a d o é o d o p r ín c ip e d e J o i n v i l le . fo ra m para com a I n g la t e r r a . M e r g u lh a no p assad o
Ao encerrarm os e ste le v e c o m e n t á r io so b re as para d e le fa z e r e m e r g ir c o lo r id o s p e r d id o s ou em
“ P o r c e la n a s de P a r is ” não podem os d e ix a r de fa z e r d e s u s o , d a n d o - l h e s n o v a v i t a li d a d e , D o s e s m a l t e s p e r s a s
m enção a d o is gran d es v u lto s da p rodução a r t ís t ic a fa z r e s s u r g ir seu s to n s fra n co s e in te n s o s e d e n tr o
fr a n c e sa , e m b o r a n ã o se e n q u a d r e m e le s n a q u e la d e s s a g a m a f a z s u r g ir u m a n o v a t o n a l i d a d e q u e t o m o u
c la s s ific a ç ã o . T r a ta -s e d e J a c o b P e tit ( 1 7 9 6 - 1 8 6 3 ) e o n o m e d e ‘" b le u -v e r t T h e o d o r e D e c k " . D o s m o s a i c o s
T heodore D eck (1 8 2 3 -1 8 9 1 ), cu ja s obras ta m b ém i t a l i a n o s s e in s p ir a p a r a a p lic a r n a c e r â m i c a o s f u n d o s
c o n tr ib u ír a m para a d o rn a r s a lõ e s im p e r ia is e r e p u b li­ d ou rad os.
canos n o B r a s il. D eck e r a d e o r ig e m a l s a c ia n a e f e z s e u a p r e n d i­
O p r im e ir o r e v e l o u - s c u m e x í m i o c e r a m is t a e s c u l- zado de c e r a m is ta em E s tr a sb u r g o , na A I s á c ia . Em
tu r e o ú lt im o um e stu p e n d o c o lo r is ta , c o n q u is ta n d o 1 8 6 5 , in s ta la -s e c o m se u ir m ã o e m P a r is e i n i c i a u m a
a m b o s u m lu g a r d e d e s t a q u e n a H is t ó r ia d a C e r â m ic a . produção d i v e r s if i c a d a ta n to de f a ia n ç a (co m im it a ­
J a e o b P e t it i n s p ir a - s e n o R o c o c ó , t o r c e e r e t o r c e ções de retra to s da R en ascen ça I ta lia n a ), com o de
su as o b ra s, e s ta tu e ta s , fra sco s, v a so s, c a s tiç a is , e t c ., g r é s e d c p o r c e l a n a . P a r t i c i p o u c o m b r i l h o d e d iv e r s a s
n u m a m a n i p u l a ç ã o n o v a e t u r b u le n t a d e tr a ta r a m a t é ­ e x p o s iç õ e s in te r n a c io n a is . Foi ch am ado a d ir ig ir a
r ia , r e v e l a n d o u m im p r e s s i o n a n t e v ir tu o s is m o e s c u ltó ­ M a n u fa tu r a de Sèvres em 1887 e f a le c e u em 1891
r ic o a lia d o à e s c o lh a d e um a gam a a tr a e n te e su a v e se m le m p o p ara m a rca r c o m se u ta le n to su a p a ss a g e m
d e c o l o r i d o s e n i g e r a l d e t o n s a q u a r e la d o s . n a q u e la e m p r e s a .

Medalhão da fábrica de Theodore D eck (toureado no verso,


em vermelho A. Deck e assinado pelo arlista A L . R EG N IE R ).
Coleção Carlos Roberto Marinho — RIO.

576
XIII - LIMOGES

íe r r e V e r ie t W , a s s im s e e x p r e s s a : V ê - s e a s s im u m a s é r ie d e b e l a s x í c a r a s , p a r t e e m
“ A o la d o d e S è v r e s e d a s g ra n ­ p u r o e s tilo n e o - c lá s s ic o , “ v e ille u s e s ” , v a s o s b a la ú s tr e s ,
des m a n u fa tu r a s e s t r a n g e ir a s , ja r r a s e s p a lm a d a s , e t c ., no gênero h a b itu a lm e n te
L i m o g e s , c o n s e g u i u a s s u m ir u m a c o n h e c id o p o r “ V ie u x P a r is ” . E a m a io r ia d e s s a s p e ç a s
p o s iç ã o , que b a sta n te m o d e sta n ã o s ã o m a r c a d a s, o q u e n o s le v a a s u p o r q u e p o d ia m
no f im do s é c u lo X V III e na e s ta r s e n d o v e n d id a s n a é p o c a p a ra c o n c o r r e r , d a d a a
p r im e ir a m e t a d e d o s é c u l o X I X , s u a ,, b o a a p r e se n ta ç ã o , com os p r o d u to s da r e g iã o
to r n a -se n o tá v e l lo g o d e p o i s d e 1 8 5 0 ”, p a r is ie n s e .
A e sta o b serv a çã o p e r t in e n t e , p e r m it im o - n o s A in d a r e c e n te m e n te deparam os com b e la x íc a r a
p onderar que na p r im e ir a m e ta d e do s é c u lo X I X , a im p é r io com p ir e s , em d esen h o s s é p ia s , m arcada
p o r c e la n a era a in d a b a sta n te c a r a e m r e la ç ã o a o p r e ç o “ N a s t ” , p o r é m , s o b u m a f a i x a d o u r a d a n o f r e t e h a v ia
da f a ia n ç a f in a c o rre n te e q u e a q u e le p e r ío d o rep re­ um a m arca L IM O G E S ! E sse e x e m p lo ilu s t r a que a
se n ta v a o apogeu d o s p r o d u to s d e S è v r e s e d a s P o r ­ s u a q u a l i d a d e p o d e le v a r a c o n f u n d i r c o m o s p r o d u t o s
c e la n a s de P a r is , que a b a fa m a c o n c o r r ê n c ia de c l á s s i c o s d a r e g iã o p a r i s i e n s e ,
q u a is q u e r o u tr o s cen tro s fr a n c e se s, já que m e r e c ia m Na se g u n d a fa s e , d e p o is de 1 8 5 0 , L im o g e s su r­
a p r e f e r ê n c ia das e lite s s o c ia is por seu s in v e j á v e is preende o m e io m e r c a n t il e a r tís tic o . T o r n a -se um
p r e d i c a d o s d e q u a lid a d e e b e l e z a . M a s h á , n o e n t a n t o , c a d in h o o n d e b o r b u lh a m a t iv id a d e , c r ia t i v i d a d e c t i n o
q u e m d ig a q u e “ d e p o i s d c 1 7 8 4 , a p r o d u ç ã o ( d e L i m o - c o m e r c ia l. N e s s e p e r ío d o d e s v e n c ilh a m - s e o s fa b r ic a n ­
ges) p o d e c o n fu n d ir -s e c o m a d e S èvres. A d eco ra çã o tes do L im o u s in d e fin itiv a m e n te da canga p a r is ie n s e
so b re fu n d o b ranco f o i lá o b je to de c u id a d o s p a r t i­ que lh e d it a v a a t é c n ic a e os rum os d e c o r a tiv o s c,

c u la r e s " aK seg u ra d e su a p u ja n ç a , o u sa ta m b é m c r ia r m o d e l o s e
p r o t ó t i p o s q u e ir ã o s e r a p r e c i a d o s p e l a c l i e n t e l a f r a n ­
P o r é m , a p a r t ir d e 1 8 5 0 , c o m o d i z V e r i e t “ L i m o ­
cesa c e s t r a n g e ir a .
g e s to r n a -se n o tá v e l” . E is s o p o r q u e p ô d e a p a r e lh a r - s e
L im o g e s p a ssa no se to r c e r â m ic o a ser para a
p a r a u m a p r o d u ç ã o e m la r g a e s c a l a s e m d e s m e r e c e r d a
F rança o que S ta ffo r d sh tr e fo i para a I n g la t e r r a : o
q u a lid a d e e da boa a p r e se n ta ç ã o de seu s a r t ig o s , o
s e u v iv e i r o f é r t il d e p r o d u ç ã o e c r i a ç ã o .
q u e l h e a b r iu c a m i n h o p a r a a c o n q u i s t a d e p a r t e d a s
e lite s , c o m o ta m b ém p ô d e s e r a p r e f e r id a p e la c l a s s e M o d e r n o c r e n o m a d o c e r a m ó g r a fo fr a n c ê s, G e o r ­
ges F o n t a i n e <5> a s s im encara a produção d a q u e le
m é d ia f r a n c e s a e e s t r a n g e ir a , p o i s no preço já c o m ­
p e t ia c o m a f a i a n ç a f in a . c e n t r o ... " L im o g e s so u b e b r ilh a r ta n to p e la q u a li­
dade de su a s p eças, su a decoração, con heceu ta n to s
F. J . D ’A ! b i s tJ> d iz : “ L i m o g e s , à la fin d u s i è c l e
p e r ío d o s fe liz e s , que não é p resu n çoso p e n sa r-sc que
a é t é la C a p it a t e d e Ia p o r c e i a m e e t n 'e n a r ie n s u ” .
da b r ilh a r á de novo e a in d a m a is a n te s d e p ouco
O u tr o a sp e c to que a c r e d ita m o s d e v a ser c o n s i­ tem p o ” ,
derado n a lu t a de L im o g e s para d e sfr u ta r um lu g a r
P a r a t e r - s e u m a i d é i a d e c o m o s e f o r m o u a q u e le
a o s o l, n o d if íc il d u e l o c o m a s f a m o s a s e t r a d ic io n a is
d in â m ic o n ú c le o o le ir o , p a s s a m o s a r e s u m ir a c r o n o ­
m a n u fa tu r a s fr a n c e sa s , é a r e v e la ç ã o d e su a e x tr e m a
l o g i a d c s u a h i s t ó r ia e a s e q u ê n c i a d o s m o v i m e n t o s d e
v e r s a t ilid a d e . C o n f o r m e p u d e m o s v e r i f i c a r d e “ v i s u ”
s u a c r ia ç ã o , s e g u n d o E d ith M o n n o n i:
n o M u s e u A d r ie n D u b o u c h é , se g u in d o p a sso a p a sso
a e v o l u ç ã o d a s f o r m a s e d a d e c o r a ç ã o d o s s e u s a r t is ­ 1771 — O rei L u iz X V a d q u ir e a s j a z id a s d c c a u lim
t a s , d i s t i n g u i m o s d u a s f a s e s d i s t in t a s , N a p r im e ir a d e d e S t. I r ie ix .
f o r m a g e r a l, p r o c u r a m a n t e r o s p a d r õ e s d e Sèvres e 1771 — A s p r im e ir a s p e ç a s e m p o r c e la n a s ã o f a b r i­
d a s P o r c e l a n a s d e P a r is . E m q u e s t ã o d e e s t i l a s , a p r o ­ cad as em L im o g e s p o r M a s s ié & G r c lle t .
d u ç ã o fr a n c e sa d o s é c u lo X V I I I in flu e n c ia -s e n a p o r ­ 1774 — P a t r o c í n i o d o C o n d e d ’A r t o i s e m e lh o r ia d o s
c e l a n a d e S a x e , q u e a d o t a a t e m á t i c a c h i n e s a . J á V in - p r o d u to s q u e p o r ta m a m a r c a C .D .
cennes en tre 1738 e 1743, em su a p o r c e la n a m o le 1784 — O r e i a d q u ir e o e s t a b e l e c i m e n t o q u e s e t o r n a
in c lu i no seu v o c a b u lá r io d e c o r a tiv o as fa m o sa s f ilia l e d e p e n d e n t e d e S è v r e s .
“ f le u r s d e s I n d e s ” , im it a os “ b la n c s de C h in e " e as 1789 — B a ig n o l, c e r a m is ta en tra para a f á b r ic a do
c e n a s e p e r s o n a g e n s c h in e s e s o q u e red u n d ou em um C o n d e d e l a S e y n ie .
e s tilo p r ó p r io c o n h e c i d o p o r " C h in o is c r íc ” o u C h in e - 1796 — C om a r e v o l u ç ã o , a f á b r ic a é v e n d id a a tr ê s
s i c e s , n o d iz e r d o s a u d o s o p r o f e s s o r E n r iq u e S e h a e f - de se u s a n tig o s a r te s ã o s .
fe r s (4), A s e g u ir , s u b m e t e - s e a o s o f i s t i c a d o R o ç a i lie , 1797 — M u lt ip lic a m -s e as o fic in a s c e r â m ic a s em
L i m o g e s , n o lim ia r d o s é c u l o X I X , j á s e a d a p t a b e m L im o g e s e J e a n F r a n ç o is A illa u d d is tin g u e -s e
a o s p a d r õ e s p a r is ie n s e s . en tr e os fa b r ic a n te s e fu n d a seu p r ó p r io

577
e s ta b e le c im e n to q u e s e t o r n a o p r in c ip a l n o t o m o s d o s m o tiv o s (m éto d o c h a m a d o p e lo s fr a n c e se s
L i m o u s i n e d o m i n a a p r o d u ç ã o d a l . a m e ta » p o r “ c h a tir o n n é ” ta m b é m m u ito u s a d o n a f a ia n ç a ) e
d e d o s é c u lo X E X , o d a d e c a lc o m a n ia c o lo r id a .
1797 — B a ig n o i fu n d a s e u p r ó p r io e s ta b e le c im e n to A essa a lt u r a , o su cesso d e H a v illa n d era n o tá ­
d e s ta c a n d o -s e c o m o p r o d u to r d e b e la s p e ç a s v e l, O p r e s id e n te L i n c o l n já h a v i a a d q u ir id o u m se r­
e m e s t i l o I m p é r i o e u m b r a n c o d c p r im e ir a , v iç o dc lu x o para a C asa B r a n c a , a b r in d o as p o rta s
1816 — F r a n ç o is I I A iíia u d a s s u m e a d ir e ç ã o da para o u tr a s en co m en d a s, ta n to de p r e s id e n te s com o
f á b r ic a d e s e u p a i e p r o c u r a d e s v e n c i lh a r - s e de m onarcas e da d ite s o c ia l de v á r ia s p a rtes do
d a in f lu ê n c ia d e S e v r e s e d e P a r is , m undo. j
1824 — P ie r r e T haraud, fa b r ic a n te lo c a l a d o ta o C h a r le i de H a v illa n d , seu f i lh o , r e s o lv e e sta b e ­
“ d é c o r i m p r im é ” u m d o s p r o c e s s o s d e t r a n s ­ le c e r o u t r o e s t a b e l e c i m e n t o d a f ir m a e m P a r is , c o n h e ­
p o s i ç ã o n a s u a p r o d u ç ã o d e p o r c e l a n a ern c id o p o r A t e l i ê D ’A u t e i l c d e m a n e ir a p o s itiv a p a ssa
e s tilo I m p é r io , i m it a n d o o m esm o s is t e m a a c o m p le ta r a o b r a d o p a i e m L im o g e s , n a a tu a liz a ç ã o
a p l i c a d o e m C r e i l e M o n t c r e a u e m s u a f a ia n ­ c v a r ia ç ã o da decoração. C o n tr a ta e le um c é le b r e
ç a f in a . g r a v a d o r , F é ltx B r a c q u e m o n d , c o m o d ir e t o r . P a ssa a
1839 — O f a b r ic a n t e Jean Pouyat in s ta la d o em fr e q u e n ta r a e lite de i n t e le c t u a i s e de a r t is t a s da
P a r is , t r a n s f e r e s e u e s t a b e l e c i m e n t o p a r a L i­ época, a ss im ila n d o d e le s , en tre o u tr a s in s p ir a ç õ e s , o
m o g es, o n d e produz brancos de e x c e le n te g o sto p e lo o r ie n ta l, p a r t i c u la r m e n t e o ja p o n is m o —
q u a lid a d e . a s s im com o o im p r e s s io n is m o , a p lic a d o à c e r â m ic a .
1842 — D a v id H a v illa n d , a m e r ic a n o , in s ta la um C o l o c a - s e a s s im en tre o s p re c u r so r e s d o A r t-N o u v c a u ,
grande a te liê para d ecoração c fa z grandes que e le encam pa e tr a n s m ite para L im o g e s , a tr a v é s
e n c o m e n d a s e m p e ç a s e m b r a n c o , c o m f e it io s das c r ia ç õ e s de se u s p r ó p r io s e s c u lto r e s c p in t o r e s .
p r ó p r io s , às f á b r ic a s d o s A i í i a u d , Pouyat e P ro d u z ta m b é m em P a r is , l o u ç a s v i d r a d a s ( t e r r e c u it e s
B a ig n o i, é m a ilte é s ) em s é r ie s so b erb a s. E n tre os p r in c ip a is
1853 — H a v illa n d , d a d o o s u c e s s o d c s e u s m o d e lo s , a r t is t a s que c o la b o r a r a m com o A te liê d ’A u t e i l ,
fu n d a su a p r ó p r ia f á b r ic a e d e s e n v o lv e a c ita -s e A lb e r t D am m ou se, P a ll a n d r e . B racquem ond,
e x p o r ta ç ã o para o e x te r io r , so b r e tu d o p a ra B o u r d e ile , B c a u c h a m p s , A u b e e nada m enos do que
os E sta d o s U n id o s , no que aos poucos é G a u g u in , Jean D u ffy e o p r ó p r io C orot em v á r ia s
acom panhado p e lo s o u tr o s p r o d u to r e s . p a is a g e n s .
E s ta m a n u fa tu r a , m a is d o q u e c e n te n á r ia , é u m a
D en tre to d o s a q u e le s p io n e ir o s , m e r e c e d e s ta q u e d a s p o u c a s q u e v ê m s e n d o m a n t id a s d e p a i p a r a f i lh o
a f ig u r a d c D a v i d H a v i l l a n d (1 8 1 4 -1 8 7 9 ). A e le d ev e a té a a tu a lid a d e . E m s u a lo n g a e p r o fíc u a e x is tê n c ia ,
L i m o g e s o s e u i m p r e s s io n a n t e s u r t o c o m e r c ia ! e a s u a m a is d e 3 0 0 m o l d e s f o r a m e s c u l p i d o s e m a i s d e 5 0 . 0 0 0
p ro jeçã o na 2 .a m e ta d e do sé c u lo X IX . E ra e le um d e se n h o s ex ecu ta d o s!
jo v em c o m e r c ia n te , d is t r ib u id o r dc lo u ç a in g le s a em
Na p a r te d e c o r a tiv a , o s s e u s s e r v iç o s , n u m a tr a ­
N ova Io rq u e. V is ita n d o L im o g e s , e n tu s ia s m a -s e p e la
j e t ó r ia a tra v és do te m p o , com o num a p ro jeçã o de
q u a l i d a d e d a p o r c e l a n a e a c r e d it a n d o n a s s u a s p o s s i b i ­
d ia p o s itiv o s c o lo r id o s , fa z d e s d o b r a r d ia n te d o s o lh o s
l i d a d e s c o m e r c i a i s , lá s e i n s t a l a e m 1 8 4 2 .
a e n o r m e s é r ie d e m o d e lo s q u e o e n g e n h o c r ia tiv o d e
R c v c I a - s e , a lé m de um e x tr a o r d in á r io h o m e m de
se u s p in to r e s p r o d u z iu para s a tis fa z e r a c li e n t e l a
n e g ó c io s , u m h á b il t é c n i c o n a c r i a ç ã o d e m o d e l o s , n a
b r a s ile ir a , já b a s t a n t e e x i g e n t e .
e s c o lh a d o s p r o tó tip o s d e c o r a tiv o s e n o a p r im o r a m e n ­
C o n té m esse acervo um a d e m o n str a ç ã o das
to d e p ro cesso s d e e sta m p a g e m e p in t u r a . D e in í c i o ,
v a r ia n t e s d e t e m a s e d esen h o s c das c r o m ia s e m p r e ­
a d q u ir e a p o r c e la n a cm branco dos m e lh o r e s p r o d u ­
gadas e um e x p r e s s iv o testem u n h o d c o rd em d id á t ic o
t o r e s lo c a is d e a c o r d o c o m o s m o ld e s p o r e le c r ia d o s .
na c a r a c te r iz a ç ã o dos p e r ío d o s e dos m o d is m o s no
A s e g u i r f a z d e c o r a r a s s u a s e n c o m e n d a s e m s e u a t e liê
c a m p o d a a rte q u e v ã o s e s u c e d e n d o .
o n d e , d e in íc io , a g r u p o u 1 0 0 a p r e n d iz e s e q u a tr o p r o ­
fesso res, p a ssa n d o d ir e ta m e n te à ex p o r ta ç ã o de seu s C om r e f e r ê n c ia aos s e r v iç o s p e r s o n a liz a d o s com
p r o d u to s p ara o m ercad o a m e r ic a n o . s ig la s , coroas ou b rasões fa b r ic a d o s por H a v illa n d

In v en ta , de acordo a in d a com E d ith M o n n o n s, e le s rep resen ta m ta m b ém um d o c u m e n tá r io da v id a


n a c io n a l. A lé m d o in te r e s s e h e r á ld ic o , g e n e a ló g ic o o u
o p ro cesso dc " c n iu m in a g e " , um a c o m b in a ç ã o enge­
n h o sa d e tr a n s p o s iç ã o (d é c o r im p r im é ) já e x e c u t a d a a r tís tic o , fa z e m as p eça s d esses s e r v i ç o s r e v iv e r p a r t e

p o r P ie r r e T h a r a u d e o u t r o s f a b r i c a n t e s e m L im o g e s , d a s o c i e d a d e d a q u e l e B r a s il d e a n t a n h o e a t r a v é s d e la s

c o m o p r o c e s s o d a d e c a l c o m a n i a o u d a c r o m o - li t o g r a f i a vão r e s s u r g in d o os v u lto s de ta n ta s p erson agen s,


p a r a f a c ilit a r e d a r r a p id e z à d e c o r a ç ã o , s e m d i s p e n s a r in c lu s iv e p a r e n te s e a m ig o s que em o u tr a s d écad as

n o e n t a n t o a p a r c e la d e p a r t i c i p a ç ã o d o a r t is t a p in t o r . a n im a r a m , c o m su a p e r s o n a lid a d e , o p a lc o d e n o ssa
v id a s o c ia l, p o lític a o u fa m ilia r .
C o n s is te o p r o c e s s o d e H a v illa n d e m m arcar em
c h a p a d e c o b r e o s c o n to r n o s d o s d e s e n h o s e , a tr a v é s M erece um d e s ta q u e à p a r te a c o n tr ib u iç ã o d a d a
d a d e c a lc o m a n ia , tr a n sp o r ta r ta m b é m p a rte d a s co r e s p o r L im o g e s n a in te r p r e ta ç ã o d a d e c o r a ç ã o n a p o r c e ­
p a r a a p e ç a , U m a v e z tr a n s p o s to s o s c o n to r n o s e p a rte la n a n o s é c u l o X I X ,
do c o lo r id o , o p in to r dá se u to q u e p esso a l a m ão, P o n t i f i c a F . J . D ’A l b i s
n o a r r e m a te d o s a r te fa to s. “ A p liq u e m o s n o sso s c r ité r io s à época a tu a l c
E sse p r o c e s so a p r e se n ta um m e io term o e n tr e a te n te m o s e x tr a ir a s te n d ê n c ia s , e n ó s c o n s ta ta m o s q u e
produção m anual e a i n d u s t r ia l. N a r e a lid a d e é um a o g o s t o g e r a l d c u m a é p o c a g u ia a produção d ecora­
i n t e li g e n t e a d o ç ã o d e v á r i o s p r o c e s s o s j á c o n h e c i d o s , t iv a " , O q u e n o s le v a a u m a x i o m a v e r d a d e i r o n a
O f a n t a s m a OU a m á s c a r a a d o t a d o s a n t e s n o f a i a n ç a c c iâ m ic a : q u e a d e c o r a ç ã o se g u e o g o sto c o rre n te n o
q u e p a s s a a s e r u t iliz a d a a p e n a s p a r a m a r c a r o s c o n - tem p o .

578
L i m o g e s n a s s u a s p r im e ir a s m a n i f e s t a ç õ e s , a c o m ­ e v i d e n c i a t a m b é m o h á b il e m p r e g o d o o u r o , n o g ê n e r o
panha a regra e p e io f in a l do s é c u lo X V IIT , vai V i e u x P a r is , a s s im c o m o s e l a n ç a m a s p r im e ir a s x íc a r a s
a d o ta n d o os cân on es das grandes m a n u fa tu r a s ta n to em p é s d e garra.
fra n cesa s c o m o e s t r a n g e ir a s , e m que era d a d o ê n fa se P a r a s it u a r m e l h o r o l e i t o r d e n t r o d e s s e s e s t i l o s ,
à r e p r e s e n t a ç ã o d e r o s a s , r a m a g e n s e in s e t o s . r e p e t im o s o s r e s p e c t iv o s p e r í o d o s ;
S e g u e m -sc d e p o is , com o d is s e m o s lin h a s a tr á s,
p e ç a s n o E s tilo D ir e tó r io e Im p é r io , p o r e m em 1820, L u iz XVI 1 7 7 4 -1 7 9 3 - P e r ío d o m o n á r q u ic o
já com eça L im o g e s a dar in d íc io s de p e r s o n a lid a d e D ir e t ó r io 1 7 9 5 -1 7 9 9 - ” r e v o lu c io n á r io
p r ó p r ia com um a in o v a ç ã o p e c u lia r q u e é o u so de 1.° I m p é r io 1 8 0 4 -1 8 1 4 - ” m o n á r q u ic o
p e r la d o o u p e r o la d o , d e b e lo e fe ito n o s s e u s m o d e lo s R e sta u r a ç ã o 1 8 1 4 -1 8 3 0 -
em e s tilo R e sta u r a ç ã o . N e sta r ep resen ta çã o já se 2. ° I m p é r1i 8o 5 2 - 1 8 7 0 -

Xícara ilha e elegante de duns alças e pires com funda rchin'.lido [variante das famosas
Stearns conhecidas por "irgmbteuses” ou "ntancerinas” e cenas policromadas com ramagens
e acabamento dourado). Prato de sobremesa com decoração de cordões dourados t pretos
eont flores de permeio e dourado. Porcelana dura de Limoges, fabricada por Grelíet et
htassiê. Cortesia do fduscu Nacional de Ccràmicc de Sèvres.

N o p e r í o d o d a R e s t a u r a ç ã o j á c o m e ç a a s e m a n i­ A s s im , com a q u e la in s p ir a ç ã o , su r g e m d esen h o s
f e s t a r e n t r e o s f a b r ic a n t e s d c L i m o g e s u m a t e n d ê n c ia d e a n im a is , d e p e ix e s , d e p á s s a r o s , d e a lg a s, d e r a m a ­
na d ecoração de reto rn o à n a tu r e z a e ao b u c o lis m o g e n s , d e f l o r e s e m e s m o d c f ig u r a s t r a t a d a s à m a n e ir a
r o m â n tic o , c o m e ç a m a a p a r e c e r d e s e n h o s m a is l e v e s e ja p o n e sa . E ssa s rep r e se n ta ç õ e s de regra, obedecem
d e l i c a d o s c u tn t r a t a m e n t o m a is a l o n g a d o d o q u e a b a r - ta m b ém a um a c o m p o s iç ã o c a r a c t e r i s l ic a m e n t e ja p o -
r o c a d o d c h a ste s , r a m a g e n s e flo r e s , o q u e p r e n u n c ia r e s a q u a n to à o r d e n a ç ã o d a d e c o r a ç ã o , c o m a d e sc e n ­
c o m a c o m p o s i ç ã o l o n g i l ín c a v e g e t a l a e s g u i a e le g â n c i a t r a liz a ç ã o d o s m o t i v o s — a a s s im e t r ia d e s u a c o l o c a ç ã o
q u e m a r c a r á a lin h a m e s t r a d o A r t - N o u v e a u . a s s im c o m o o c a r á t e r l o n g j l í n e o d a s f o r m a s .
L im o g e s n ã o fo g e à in flu ê n c ia d e W e d g w o o d e
E ssa fa se d e c o r a tiv a c r ia d a por B raequem ond
p r o d u z , p e l o m e a d o d o s é c u l o , p e ç a s c m b ís c u i t a z u l
a lc a n ç o u b a sta n te su cesso e fo i rep resen ta d a com o
com a p l i c a ç õ e s b r a n c a s e m b a r b o t in a .
“S e r v i ç o P a r is ie n s e " n a s E x p o s i ç õ e s d e A r t e s D e c o r a ­
I n flu e n c ia -s e ta m b é m n o m o v im e n to in ic ia d o p e lo s
t iv a s e m 1 8 7 6 , e n a U n i v e r s a l d e 1 8 7 8 , a m b a s e m
c e r a m is ta s in g le s e s d c e s tiü z a ç ã o do fo lc lo r e o r ie n t a l,
P a r is . N ó s , a q u i n o B r a s i l , t e m o s v á r io s e x e m p l o s t í p i ­
e x e c u ta d a -p o r a r t is t a s j a p o n e s e s e b r it â n ic o s para a
c o s d e s s a f a s e e n t r e a s b a i x e l a s d c n o s s o s t it u la r e s ,
s u a c e r â m ic a , c h a m a d a p o r e l e s d e d e c o r a ç ã o o r ie n t a -
e n t r e e l e s . o m a is c a r a c t e r í s t i c o : o d o B a r ã o d e A v e i l a r
l is t a , q u e e n v o l v e t e m a s i n d i a n o s , c h i n e s e s c j a p o n e s e s .
e A lm e id a .
P orém o fa z e m p o r i n ic ia t iv a p r ó p r ia e d ã o -lh e
o u tr a a m p lit u d e d e i n t e r p r e t a ç ã o e a p l i c a ç ã o . A essa fa se se g u e m -se c o m p o s iç õ e s que ir ã o
Em 1 8 5 ó , F e lix B r a e q u e m o n d , o e x ím io g r a v a d o r , in s p ir a r - s e no I m p r e s s io n is m o fra n cês, por v o lta de
d e s c o b r e u m a s é r ie d e e s t a m p a s j a p o n e s a s c n e la s s e 1 8 8 2 , com c o lo r id o s s u a v e s e lu m in o s o s , e n tr e m e a n d o
in s p ir a p a r a m a r c a r n a F r a n ç a u m n o v o e c a r a c t e r í s t i c o o n a t u r a lis m o e o j a p o n i s m o q u e v i n h a m c a r a c t e r iz a n ­
g ê n e r o d e d e c o r a ç ã o q u e to m o u o n o m e d c ja p o n is m o . d o a s p r o d u ç õ e s a n t e r io r e s .

579
Em IS79, B r a c q u e m o n d c r ia o serviço de “Flcurs B arão de E n tre R io s
cr R u b a n s " q u e ir á c a r a c t e r iz a r m a is a c e n t u a d a m e n t e B a r ã o G e r a ld o d e R e z e n d e
o A r t-N o u v e a u n a F ra n ça . B arão d c M ir a n d a
E n tr e 1 8 7 9 e 1 8 8 9 , s« r g e o u tr o s e r v iç o d e n tr o d a B arão d e P o te n g y
m esm a in s p ir a ç ã o cm c °res fo r te s, c o n h e c id o por B arão d e P araúna
" F le u r s P a r is ie n n e s " . B arão de São C a r lo s
E n tre as n u m e r o sa s in d ic a ç õ e s de m arcas da B arão d e S a n ta H e le n a
fá b r ic a H avilland c m s e u s d i f e r e n t e s p e r í o d o s e x is t e B arão d e V ila F lo r
ta m b ém ap enas a s ig la (la c ô n ic a ) H & C .° m u it o B a r ã o G e r a ld o d e R e z e n d e
L e t c ... j
co rren te em s e r v iç o s n o B r a s il e q u e c o r r e s p o n d e p o r O u tr a f á b r ic a que, sob v á r ia s d e s i g n a ç õ e s , ta m ­
e x t e n s o a H a v illa n d & C o m p a n h ia , L im o g e s . bém m u ito e x p o r to u para o B r a s i l f o i: C h a r le s P illt -
N ós aqui n o B r a s il, d i s p o m o s d e u m m o s t r u á r io v u y t , C h . P il l i v u y t , C h a r le s P ii l i v u y t & C ia .
b a s t a n t e d i v e r s if i c a d o q u e ilu s t r a e s s a s d i f e r e n t e s f a s e s D am os a s e g u ir v á r io s t i t u la r e s b r a s ile ir o s que
por q u e p a sso u a p o r c e la n a fr a n c e sa n o s é c u lo X IX , d e l a s e s e r v ir a m :
m o rm e n te em su a se g u n d a m e ta d e , P r in c e s a Iz a b e l (x íc a r a d c c a fé c o m I, p o lic r o n ia d a )
H a v i l l a n d f o i u m a d a s f ir m a s f r a n c e s a s q u e m a i s V is c o n d e d o R io B r a n c o (1 8 7 1 )
c o n c o r r e r a m p a r a o. e n r i q u e c i m e n t o d c n o s s o a c e r v o , V is c o n d e d e S a n ta Iz a b e l
p o is grande p a r te da e lite b r a s ile ir a , in c lu in d o o V is c o n d e d e T a u n a y
Im p erad or, a P r in c e s a Iz a b e l, C onde D ’E u , D ona V i s c o n d e d e V i l l a R e a l d a P r a ia G r a n d e
M a r ia II e P r e s id e n t e s d e l a s e s e r v ir a m . E x i s t e m , p o is , B a r ã o d c A lm e id a R a m o s
c a ta lo g a d o s v á r io s s e r v i ç o s c o n s i d e r a d o s h i s t ó r i c o s o u B arão do C a te te
p e r s o n a liz a d o s , c o m o : B arão dc C a tu m b y
D om P edro II — p ra to do " S e r v iç o d e G a la " (ser­ V is c o n d e d c C a m p o A le g r e
v iç o esse, seg u n d o Jerm y D r e y fu s encom endado B arão d e D rum m ond
d u r a n te a m o n a r q u ia m as so m e n te e n treg u e em B arão d e G uam ã
1 8 9 2 ), em azu l e o u ro. B arão d e G uanabara
D ona M a r ia lf — b ranco co m co ro a dourada (P r in ­ B arão d e I b it in g a
cesa do B r a s il, R a in h a d e P o r t u g a l ) . B arão de I t a p ic u r u M ir im
M arechal D eodoro da F o n seca — d o is s e r v iç o s : um B arão de I t a t íb a
com o n o m e “ D e o d o r o ” e o u t r o d e g a la c o m as B arão de J e q u iá
arm as da R e p ú b lic a , encom endado d u r a n te se u B arão d e M orenos
governo. B arão dc P enedo
D os e s ta b e le c im e n to s de H a v illa n d em d iv e r s o s B a r ã o d c Q u a r t im
p e r ío d o s sob d iv e r s a s d e s ig n a ç õ e s s a ír a m n u m ero sa s B arão do R io P r e to
b a ix e la s para a n o ssa s o c ie d a d e im p e r ia l, en tre e la s B arão d o R io R eal
para: B a rã o d e S ã o D to g o
C o n d e d c F ig u e i r e d o ( C h a r l e s F ie ld H a v i l l a n d ) B arão de S ão T h ía g o
C on d e de P arnahyba B arão de São F id e lis
B arão d e A n a ja z B a rã o d e V a sso u ra s
B a r ã o d c A v e lla r e A lm e id a (H & C .° L im o g e s ) e tc .. .

M ú l t ip l a s f o r a m a in d a a s f á b r i c a s f r a n c e s a s , a lé m
d e S è v r e s , d e H a v i l l a n d e d e P i l l i v u y t , q u e s e r v ir a m a
s o c i e d a d e im p e r ia l e r e p u b lic a n a , n o c o r r e r d o s é c u lo
X I X , e n t r e e la s :

S c h a l c h e r F á b r ic a d o C o n d e D ’A r t o i s B arão de íta b a ia n a ( M . I m p e r ia l)
D a g o ty — F . D o n m a r t in — P a r is V is c o n d e d e U ru ray
B a r ã o d e A la g o a s (M . H . N a c io n a l)
V is c o n d e d e U b á

M e h u n C .P , & C . ° F r a n c e B a r ã o d e T a tu h y (M . I m p e r ia l)
M a is o n H o u s s e :

F a u b o u r g S t. H o n o r é V i s c o n d e d e S a b ó ia (M . H . N a c io n a l)
E. P r im a r d — P a r is B arão de L o r e to
E . S. H onoré B arão de São L ourenço
V i s c o n d e d e A r a c a t y ( c o l . p a r t ic u la r )

V ic to r E tie n n e B arão d o P araná


B arão d e . T in g u á

V ie r z o n B arão d e V a r g e m A le g r e
K lo tz (J . H . K lo t z ) B arão de P o co n é
2 . ° B a r ã o d e C a m p in a s

H . H a c h e e t P e p in B a r a o d e G u a j a r á /2 .° B a iã o d e V a r g e m A le g r e

580
L e H a lle u r — V ie r z o n V is c o n d e d e G u a h y
M an sard B arão de M a to s V ie ir a
B a r ã o d e A t a i i b a N o g u e ir a
2 , ° B a r ã o d e P ir a c ic a b a

W illia m G u é r in & C ie . B a r ã o d e A r a ú j o M a ia
L . Z a s c r a i B o n d e a u & C ie . 2 .° B a rã o d e Ip a n em a
B . R e i L im o g e s B arão de I b ir o c a h y
M acé B arão de R ezende
P a u l B lo t B a r ã o d e G u á ja r á
H a c h e & C ie . B arão de V argem A le g r e
Jean Pouyat C o n d e d o P in h a l
B arão de S ã o D io g o
B arão d e S ão C le m e n te — (x íc a r a )
B a r ã o d e T e r c s ó p o lis
V is c o n d e d e O u r o P r e to

H e n r y B 0 2 ia t C o n d e d e Ip a n em a
B o u r g e o is ( M a r s e l h a ) M arquês d e V a le n ç a e B a r ã o d o R io B r a n c o
H . A r d a m & C ie . M a rq u ês d e S . J o ã o M a r c o s (x íc a r a )
D éroché " S e r v iç o p i n g o d e o u r o ” I m p e r ia l
J u lia n F il s — P a r is M arq u ês d e T r ê s R io s (te m o u tr o s e r v iç o in g lê s )
J u lie n F ils A in e M arquês d o P araná
B arão de N io a c
B arão d e S o le d a d e
B arão d e I b ir ã - M ir im
B arão d e S ã o S e b a s tiã o

H a c h é J u lie n & C i e . V i e r z o n M a r q u ê s d e Itu


B arão d e S ã o J o a q u im

H erbert F rères " S e r v iç o Iz a b e L e G a s t o n "


(im it a n d o s im ila r d e S è v r e s )

M . R . F r a n c e L im o g e s B arão d e D ourado
L . P . d o s S a n to s — P a r is B arão d o L a d á r io
K lo t z B arão d e P oconé
2 .° B a r ã o d e V a s c o n c e llo s

M a n sa rd 2 .° B arão de P ir a c ic a b a
L ero sa y B arão d e P en ed o
M acé B arão de R ezende
G rand D ép ô t 21 ru e D r o u o t 2 .° B a r ã o d e V a le n ç a

A c o le ç ã o O d ilo n de Souza ( P a lá c io B a n d e ir a n ­ E n tre e la s a M a n u fa tu r a I m p e r ia l de V ie n a


t e s -— S. P a u l o ) , a in d a nos fo r n e c e a d e s ig n a ç ã o d e (1 7 X 8 -1 8 6 4 ). Foi um a das m a is a n tig a s f á b r ic a s de
o u t r a s f á b r ic a s o u d is t r ib u id o r e s , c o m o ; p o r c e la n a d o c o n tin e n te , p o is que cm 1718 seu fu n -
d a d o r C la u d e du P a q u ie r , c o m o a u x ílio de a rtesã o s
L . G r u m b a c h & C ° . L im o g e s d c M e i s s e n , d e s v e n d a a f ó r m u la e a o l í n i c a .
G .D .M . Em 1744 é a f á b r ic a v e n d i d a a o E s t a d o c t o m a
R o r s tr a n d o n o m e d e M a n u fa tu r a I m p e r ia l d e V i e n a , p o i s p a s s a
K & G C h r y sa n th e m e , L u n é v ille p a r a a p r o t e ç ã o d a I m p e r a t r iz M a r ia T c r c z a e m e ih o r a
V a g u e r in 8l C ie ., P a r i s — L im o g e s s e n s iv e lm e n te ta n t o a p a sta c o m o o s g ê n e r o s , d e fo r m a
A , L , G a r r a u x , P a r is a se im p o r en tr e o s c e n tr o s im p o r ta n te s c o n tin e n ta is .
P o r c e la in e P a ll a s — L im o g e s C o p i o u S a x e c o m o c o p i o u S è v r e s , v a r ia n d o d o s e s t i l o s
M o u rea u F r è r e s , L iè g e H & C R ococó aos n e o -c lá s s ic o s . D isp ô s de m o d e la d o r e s d e
62 r u e d e P r o v e n c e , P a r is q u a lid a d e c o m o D ano H o u ser, N ie d e r m c y e r c a in d a
A . H a c h é & C i e ., P a r is V i e r z o n A n to n G r a s s i, a le m de e x c e le n te s p in t o r e s e a r t is t a s
L i m o g e s N - G I t é r in & C i e . P a r is c o m o J o s e p h L e it h n e r e G e o r g P e r l. P r o d u z iu in t e n s a -
L G a u v a in , P a r is m e n te , ta n to e sta tu e ta s, f ig u r a s , com o m in ia t u r a s e
C h a p e l l e M a illa r d p la c a s d e q u a d r o s c é le b r e s e so b r e tu d o a p a r e lh o s cie
J .P . C a s a C y p r ia n o — L im o g e s m e sa e d e c h á . É ta m b é m c o n h e c id a p e la a p lic a ç ã o d c
ou ro cm r e le v o n o s a p a r e lh o s d c m e sa , c o n h e c e u se u
C o m p e te -n o s a in d a re f e r i r m o - n o s a o u tr a s f á b r i­ m e lh o r p e r ío d o sob a d ir e ç ã o de S e r g e n th a l (1 7 8 4 -
c a s e s t r a n g e ir a s , a lé m d a s f r a n c e s a s q u e m e r e c e r a m a - 1 8 0 5 ) , P r o d u z iu d u r a n t e m a is d c cen to e c in q u e n t a
a t e n ç ã o d a e l i t e b r a s ile ir a . a n o s , s u a m a r c a t r a d ic io n a l é o e s c u d o d a à u s t r ia e m

581
a z u l o u in c is o . E x is te m n o B r a s il, n u m e r o so s e b e lo s R o y sto n -J o h n so n B ro s
e x e m p la r e s d essa m a n u fa tu r a , so b r e tu d o x íc a r a s em M ille r
e s t i l o I m p é r io . Severn
F ig u r a v a e l a t a m b é m n o ro l d o s p e r te n c e s im p e ­ R o y a l D o u llo n
r ia is , e o l e i l ã o d o P a ç o a c u s a r e m a n e s c e n t e s d a q u e l a C o a lp o r t , W a r in g G illo w
p o r c e la n a : J. C le m e n ts o n
ío te 9 3 7 : u m v a s o d e p o r c e la n a d e V ie n a (r e tr a to SPO DE
d e F r a n c is c o I ) , 3 1 0 $ 0 0 0 — e a in d a H a n le y
u m a x íc a r a d e V ie n a , 1 9 0 5 0 0 0 . G a r la n d H & G
Na II E x p o s iç ã o de X íc a r a s A n t ig a s r e a liz a d a D avenpori
n o M u seu d a s B e la s A r t e s (1 9 5 3 ), en tre d u z e n to s c J. M e ie r S o n
se te n ta e u m a p e ç a s h a v ia o it e n ta e n o v e x íc a r a s d e l.C . M c a k u n H a n le y
V ie n a o que bem d e m o n str a o ap reço em q u e eram L os. H ughes & S o n L td .
t id a s . A lé m da t r a d ic io n a l f á b r ic a de V ie n a , e x is tia A d a m s T u s n ta lJ
o u tr a d e n o m e V ic to r ia ( c o le ç ã o O d ilo n d e S o u z a ) . M ason
C u llu m & S h a rp u s, L o n d o n
* * * M a p le & C .° L o n d o n

D e s d e o s é c u l o X V I I I , q u e a I n g la t e r r a d i s p u n h a D e S p o d e , q u e d e p o is d e 1 8 0 0 , ta m b ém p r o d u z iu
d e u m r o l n o t á v e l d e f á b r ic a s d e p o r c e l a n a d e p r im e ir a p o r c e la n a , e n c o n tr a m -s e a in d a x íc a r a s c o m decorações
q u a lid a d e com o C a u g h le y (1 7 1 5 ), B ow (1 7 3 0 ), p o lic r o m a d a s e cm branco c ouro (n o ssa c o le ç ã o ).
C h e ls e a (1 7 4 5 ). W o r cester (1 7 5 1 ), D erby (1 7 5 6 ), T am bém de a s s in a la r a b a ix e la do B arão de S ouza
P ly m o u t h ( 1 7 6 0 ) , B r is t o l ( 1 7 6 8 ) , ( H u d s o n M o o r e — L im a ( W , T . C o p e la n d ) em p o r c e la n a .
T h e O ld C h in a B o o k — p ág. 1 2 5 ) , C o a lp o r t o u D a f á b r ic a d c W o r e e s t e r , v á r i o s t i t u la r e s e n c o m e n ­
C o a lb r o o k d a le ( 1 7 9 6 ) , ( W .B . H o n e y E u r o p e a n C e r a ­ d a ra m a p a r e lh o s , c o m o o B a r ã o d e P e n e d o , o V is c o n ­
m ic A r t-L o n d res s /d . pág. 135) e a in d a SPO DE d e d e M a c a é e n tr e o u tr o s,
d e p o is de 1800 (o b . e it. pág. 5 8 3 ). W edgw ood por
v o lta de 1808, in ic io u o f a b r ic o na f á b r ic a E t r u r ia * * *
de p o r c e la n a n o p e r í o d o d e T h o m a z B y e r le y (S c h a e ­
ffe r s — M a rk s and M o n o g r a m s — 1 4 .a e d iç ã o —
Da A le m a n h a um rol ex ten so de f á b r ic a s se
L on d res — pág. 6 7 6 ).
e ste n d e com v a r ia n te s d e fo r m a s e d e d ecoração. A
D e s s a s a p e n a s u m a p a r te p e q u e n a é lo c a liz a d a n o
c o m e ç a r p o r M e is s e n e a M a n u fa tu r a d e B e r lim
B r a s il. T e m o s o r ic o s e r v i ç o t r a z id o p e la F a m í l i a R e a l
( K .P .M .) , F u r sten b e rg , N y n p h e m b u r g o , F r a n k e n ta l,
d e P o r t u g a l , o “C r o w n D e r b y ” a i n d a d o s é c u l o X V I I I ,
L i m b a c h , F u l k a , I lm e n a u , R o s e n t h a l e P ir k e n h a m m e r ,
e v á r i a s r e f e r ê n c ia s n o s i n v e n t á r io s d o P a ç o d e p o r c e ­
fu n d a d a em 1 8 0 7 , em C a r ls b a d ( J e n n y D r e y f u s ) .
la n a s d e C o a lp o r t d c q u e i n f e l i z m e n í e n ã o sc c o n h e ­
cem o s e x e m p l a r e s im p e r ia is , S a i n t - H i l a ir c c it a a pre­ V á r ia s p e ç a s h is tó r ic a s s ã o d e p r o c e d ê n c ia g e r ­
sen ça de a p a r e lh o s in g le s e s d e W edgw ood ta n to em m â n ic a c o m o o b e l o s e r v i ç o d o M a r q u ê s d e A b r a n t e s ,
M in a s , c o m o n o R io G r a n d e ( s e m e s p e c i f i c a r s e tr a ta um dos s e r v iç o s da M arq u esa de S a n to s (sem sig la
d e fa ia n ç a fin a , ja s p e o u p o r c e la n a ) . ou b ra sã o ) e x is te n te no M u seu H is tó r ic o N a c io n a l
No le ilã o d o P a ç o , co n sta : (u m a tr a v e ssa ), o a p a r e lh o do p a u lis ta H o r á r io R o­
d r ig u e s ( K . P . M . ) d e q u e e x is te u m e x e m p la r n o P a lá ­
lo te 812: U m s e r v i ç o d e l o u ç a I n g le s a W e d g w o o d , c io d o s B a n d e ir a n te s ( c o L O d ilo n d c S o u z a ) , u m s e r ­
azul e ou ro com flo r e s . v i ç o já d e s s e s é c u l o d o p r e s i d e n t e R o d r i g u e s A l v e s d e
do 1 ,° B a r ã o d c C a m p in a s ( M o r t l o c k & S o n s) e u s o n o a n t i g o P a l á c i o d o s C a m p o s E l f s c o s , d a f á b r ic a
d o M a rq u ês d e T r ê s R io s ( W illia m M o r tlo c k & R o s e n th a l. S e r v iç o d o C o n d e d e S â o M a m c d e (r a d ic a ­
S o n s). do no B r a s il) b ra sã o e fr is o dourado (M e is s e n ). E
a in d a u m s e r v i ç o c o m a s i n i c i a i s A . L , n a b o r d a c o s
A in d a o u tr o s f a b r ic a n t e s , a m a io r ia de pó de d iz e r e s T r e u u n d F e s t , d o p r in c ip e A u g u s to L e o p o ld o
pedra, ta m b ém n o s fo r n e c e r a m a r te fa to s e a p a r e lh o s , d e S a x c , C o b u r g o G o t a , n e to d e D o m 'P e d r o I I . E x is te
com o: a in d a um r ic o s e r v iç o de chá com as i n ic ia is M .A .
q u e p e r te n c e u ta m b é m a o M a r q u ê s d c A b r a n te s, se g u n ­
B a k e r C .° (S e r v iç o d c F a m u la g e m ) (p ó de p ed ra) do in fo r m a ç ã o de seu p o s s u id o r D r. Jo sé M ig u e )
W illia m M o r tlo c k S o n s M o n te ir o S o a r e s .
C h a m b e r la in s W o r c e s te r O u tr a s f á b r ic a s a le m ã s ta m b ém nos ex p o rta ra m
C o a lp o r t s e r v iç o s c o m o :
H e a ih c o t c C .°
A lm o n d S o n s W o llc r s o n — B a v á r ia
J o h n so n B ros S c h la g g e n w a ld
K y b c r - Ir o n s t o n e J. M e ie r S o n H & C .° S e lb — B a v á r ia

582
e n o t a r q u e a f o r a o s a p a r e lh o s F . R . , e n c i m a d a s p o r c o r o a r e a l e q u e s i g n i f i c a F á b r ic a
de d iá r io e de g a la , o m a is R eal F e r d in a n d e a ou F e r d in a n d o R ex d e b a ix o da
com um n a s c a s a s b r a s ile ir a s , d e g la s u r a c ta m b é m um N coroado a z u l, v e r m e lh o ou
f a b r ic o e u r o p e u e r a m a s ja r r a s , im p r e s s o . F u n c io n o u n o r m a l m e n te a té 1806 e d e p o is
e s t a t u e t a s , F ig u r in h a s e o s g r u ­ d essa d a ta so fr e u v ic is s itu d e s v á r ia s , e x tin g u in d o -s e
p o s d e o u tr o s o b je to s d e a d o rn o d e f in itiv a m e n lc c m 1834.
d e fa b r ic a ç ã o a le m ã , fr a n c e sa e A p r o d u ç ã o d e ss e s três g r a n d e s c e n tr o s c e r â m i­
a u s t r ía c a . T a m b é m p a r t ic ip a v a m t a n t o d e m e s a s , c o m o c o s , C a p o d im o n te — B uen R e tir o — N á p o le s , é
d e v it r in a s e d e e n f e i t e s d e n o s s o s in t e r io r e s , p e ç a s d a s c o n h e c id a c o m o “ P o r c e la n a B o u r b ó n ie a ” , p e lo fa to d e
f á b r ic a s de C a p o d im o n te , com o de V is ta A le g r e : seu s fu n d a d o r e s e p a tr o c in a d o r e s s e r e m r e is d a C a s a
b i b e l o t s , e s t a t u e t a s , v a s o s , s e r v i ç o s d e c h á e d e j a n ta r . d e B ourbon.
Q u a n t o a f á b r ic a d e V i s t a A l e g r e , f o i e l a f u n d a d a Em 1821, a f á b r ic a de N á p o le s vende p a rte de
em 1 8 2 4 , cm A v e i r o , p o r J o s é F e r r e ir a P i n t o B a s t o s , se u s m o d e lo s c m o l d e s a u m a f á b r ic a a n t ig a d e F l o ­
q u e a n t e s f a b r ic a v a v id r o . T e v e v á r io s t é c n i c o s p o r t u ­ rença, ch a m a d a D ó c c ia . E sta h a v ia s id o fu n d a d a cm
g u eses e s a x ô n ic o s . A u g u s to F e r r e ir a P i n t o , f i lh o do 1 7 3 5 p e lo M a r q u ê s C a r lo s G in o r i e v e io a fic a r c o n h e ­
p r o p r ie t á r io , e s t u d o u e m S è v r e s o a p e r fe iç o a m e n to d o c id a p o r G in o r i, g o z a n d o de m e r e c id a fa m a , d a d a a
f a b r ic o d a c e r â m ic a . E m 1 8 3 4 , p r o d u z p o r c e la n a de q u a lid a d e e ap uro da decoração. F u n c io n a a té h o je
p r im e ir a . T a m b é m f a b r ic a v a v id r o s , so b r e tu d o copos s o b a d e n o m i n a ç ã o d e G i n o r i o u R i c a r d o G in o r i,
de v á r ia s cores e b e lo s fo r m a to s, a s s im com o p ir e s E x is te m p eças h is tó r ic a s n o B r a s il, c o m o o ser­
com b ra sõ es, b u sto s dc p erson agen s e de so b era n o s v iç o d e c a ld o branco e ouro, com a coroa i m p e r ia l,
(D o m P e d r o I I , D u q u e d e B r a g a n ç a , D o n a M a r ia I I , m a r c a d o G in o r i e m v e r d e , c o m o ta m b é m tr a v e s s a s d e
e t c .) . S u a s p o r c e l a n a s , q u e in c lu e m e s ta tu e ta s , v a so s , um s e r v iç o p r im o r o s o c o m c e r c a d u r a d o u r a d a e m
b u s to s , s e r v iç o s d e m esa e d e ch á, eram d e s u p e r io r lig e ir o r e le v o , que p erten cera m à I m p e r a t r iz T h e r e z a
c a te g o r ia , não só q u a n to à p a sta , c o m o n o c a p r ic h o C r is tin a c o m um N c o r o a d o em v e r m e lh o n o v e r s o d a
dos d esen h o s de se u s e x c e le n te s p in to r e s , e p o d e -se F á b r ic a R e a l d e N á p o l e s (p e r ío d o de 1771 a 1 8 0 8 ),
m e s m o d iz e r q u e s e u s p r o d u t o s p o d i a m r iv a liz a r c o m a s s im com o a x íc a r a com p a rte d a m esm a cerca d u ra
o s m e lh o r e s d a E u r o p a . A t é h o je fu n c io n a m a s f á b r i­ com N coroad o em a z u l, t a m b é m a t r ib u íd a a o m e s m o
c a s d e p o r c e l a n a c a v id r a r ia , p r im a n d o e m e x ib ir s e u p e r í o d o . E s s a s p e ç a s f a z ia m p a rte d a c o le ç ã o d a V v a .
tr a d ic io n a l bom g o sto , sen so a r t ís t ic o c q u a lid a d e . J a y m e L o u r e ir o , e a s tra v essa s fo ra m a d q u ir i d a s p o r
V á r io s m u s e u s e c o le ç õ e s p a r t ic u la r e s p o s s u e m peças e la d e d e s c e n d e n t e d e n o s s a I m p e r a t r iz .
de V is ta A le g r e e a lg u n s s e r v iç o s de t it u la r e s , uns P r e s u m e - s e q u e d it a s p e ç a s t e n h a m s i d o t r a z id a s
m a r c a d o s o u t r o s n ã o , lh e s ã o a t r ib u íd o s . C o r n o o do p o r D . T h c r e z a C r is t in a d a I t á l i a , c o m o a c e r v o d e f a m í­
B arão de P a r a m ir im (C o l. F undação C r e s p i-P r a d o ), lia , já q u e a i lu s t r e d a m a e r a p r in c e s a d a s d u a s S i c í ­
com ram os de fu m o e ca fé e as in ic ia is d o t it u la r , lia s , d a C a s a d o s B o u r b o n s .
c o m o ta m b ém o a p a r e lh o d o B a r ã o d e G u a r ib u , c o m D ó c c ia ou G in o r i a té 1821, u sa v a m arca pró­
l í n d a s c e r c a d u r a s d if e r e n t e s . p r ia , ou se ja , um a e s t r e la com v á r ia s p o n ta s, com
A fá b r ic a d e C a p o d i m o n t e { 1 7 3 6 /4 3 -1 7 5 9 ) nos v a r ia d o s d esen h o s em cores, ou encavada, porém
arredores de N á p o le s fo i fu n d a d a por C a r lo s I I I d c d e p o is d e 1 8 2 1 , q u a n d o a d q u ir iu o s m o l d e s d a f á b r ic a
B o u r b o n , rei d e N á p o le s e das D u as S ic ília s a qual R eal d e N á p o le s d e F e r n a n d o IV , p a sso u e la a u sar
fu n c io n o u n a Itá lia a té 1 7 5 9 . N a q u e le a n o , o rei fo i ta m b ém o N c o r o a d o , ju n to c o m o u t r a s m a r c a s a lu s i­
para a E sp an ha e lá fu n d o u a im p o r ta n te f á b r iç a v a s a G in o r i,
e s p a n h o la , c o n h e c id a por B uen R e tir o (1 7 6 0 -1 8 0 8 ), P odem p erceber os le ito r e s que essa s q u a tr o
p e r t o d e M a d r id . P a r a e l a le v o u o rei o s v in te e u m f á b r ic a s it a lia n a s q u e o p e r a v a m n o S é c u lo X I X , g e r a ­
m e l h o r e s a r t is t a s a l é m d e a r t e s ã o s , m a q u in a r ia , m o d e ­ ram p a ra o s c o le c io n a d o r e s b a sta n te c o n fu s ã o n a s
lo s e m o l d e s , a s s im com o o s p ro cesso s d e f a b r ic o e fo r m a s, n a d e c o r a ç ã o e n a s m a r c a s, já q u e d u a s d e la s
d e c o r a ç ã o u s a d o s n a I t á lia . P r o d u z iu p a s t a m o le e d u r a eram da m esm a c id a d e de N á p o le s , em b ora fu n c io ­
d e p r im e ir a q u a l i d a d e e f u n c i o n o u a t é 1 8 0 8 . T a n t o a n an d o cm p e r í o d o s d i f e r e n t e s , o u tr a n a E s p a n h a c o m
f á b r ic a d e C a p o d i m o n t e c o m o a d e B u e n R e t i r o , u s a r a m a rtesã o s e m o ld e s ita lia n o s e a in d a um a o u tr a dc
u m a flo r d e ly s c o m o m arca em v e r m e lh o , em ouro F lo r e n ç a e m p r e g a n d o a lé m d e m o l d e s , a p r ó p r ia m a r c a
ou azu l so b a c o b e r t a , a l u s ã o à o r ig e m rea l fr a n c e sa d a s e g u n d a f á b r ic a n a p o l i t a n a .
d o fu n d a d o r e ta m b ém um M d coroad o em v e r m e lh o A n tô n io de A v e lla r F ern a n d es, em m in u c io s o s
{ a b r e v ia ç ã o d e M a d r id ) . e s tu d o s e m q u e a l i a v i v ê n c i a e a r g ú c ia d o p e s q u i s a d o r
A c o n te c e que O f ilh o de C a r lo s III, o rei F er­ ao c o n h e c im e n to dos tr a ta d o s c e r â m ic o s e s tr a n g e ir o s ,
nando IV , d e N á p o le s e "das D uas S ic ília s , ta m b é m d á -n o s um a lú c i d a versão sob re as c a r a c te r ís tic a s c
a m a n te da c e r â m ic a , r e s o lv e a b r ir nova m a n u fa tu ra as m a r c a s d e s s a s q u a t r o f á b r i c a s e m P o r c e la n a B o u r -
n o a n o d e 1 7 7 1 , n a c id a d e d e N á p o le s , p o rém n ã o b ô n iç a na R e v is ta d a A s s o c ia ç ã o B r a s ile ir a de A n ti­
m a is n a l o c a l i d a d e d e C a p o d i m o n t e e s i m n a V ila q u á r io s ( n o v e m b r o e d e z e m b r o d e 1 9 7 1 ) , n o q u e b r in d a
R eal de P e r tíc e . E sta f á b r ic a d e n o m in o u -s e F á b r ic a com im p o r t a n t e c o n tr ib u iç ã o a b ib lio g r a f ia c e r â m ic a
R eal d c N á p o le s e p a sso u a u sa r a s s ig la s F .R .F . e b r a s ile ir a .

5S3
I n fe liz m e n te a f á b r ic a G in o r i, u sa n d o a m arca fra n c ê s V te u x P a r is , so b re a s d e m a is , p o d e -se in f e r ir
a n t e r io r d o N c o r o a d o , in u n d o u o s m e r c a d o s c o m u m que esse fa to r e v e la a a fin id a d e la t in a p e lo a p a r a to ,
g é n e r o a t é h o j e c m f a b r ic a ç ã o , c o n h e c i d o p e l o s a n t i ­ p e lo v is to s o c p e lo o s t e n s iv o , c a r a c te r iz a d o d e fo rm a
q u á r i o s d e " C a p o d im o n t e " c o m d e c o r a ç ã o p o l i c r o m a gera! p e lo em prego do dourado e fo r m a s e le g a n te s ,
so b recarregad a co m p e r s o n a g e n s , n in f a s , a n j o s e m co n tra a s o b r ie d a d e que é um a c a r a c te r ís tic a m a is
r e l e v o c o r o a s . E s s a s p e ç a s , e m b o r a a u t ê n t ic a s q u a r flo m a r c a n te d o s s a x õ e s , se ja m a n g lo s o u r c u tô n ic o s .
a o r i g e m , a p re se n ta m e n o r m e d i f i c u l d a d e d e c l a s s i f i ­ A liá s, corroborando essa o b serv a çã o , l in h a s
c a ç ã o q u a n t o a o p e r í o d o d c f a b r ic o . a tr á s fiz e m o s a lu s ã o q u e a g ro sso m odo, a produção
Bastante representativa fo i a II E x p o s iç ã o dc de Sèvres propendeu p e lo m o n u m e n t a l, s o b r e t u d o no
X í c a r a s A n t ig a s - - M u s e u N a c i o n a l d e B e la s A r t e s — p e r ío d o n a p o lé ô n ic o (q u e te v e enorm e in flu ê n c ia no
n ovem bro 1953 — R i o d e J a n e ir o , B r a s il e n a C o r te , ta n to n o v e s tu á r io c o m o n o m o b iliá ­
E s s a e x p o s i ç ã o n o t á v e l r e u n iu d u z e n t o s e s e t e n t a r io e n a p o r c e l a n a ) , e t a m b é m p e la s o b r e c a r g a d e c o r a ­
e u m a x í c a r a s , s e n d o c e r t o q u e m u it a s f a m ília s b r a s i­ t iv a , o c u p a n d o de regra n o sé c u lo X I X , o fu n d o d a s
l e i r a s e m u it o s o u t r o s c o l e c i o n a d o r e s d e l a n ã o p a r t ic i­ p e ç a s, en q u a n to M e is s c n d a v a m a i o r ê n f a s e à p in tu r a
p a r a m c o m s e u s e x e m p l a r e s . P o r é m a r e u n iã o d e p e r t o is o la d a , d e ix a n d o liv r e o cam po da p o r c e la n a e por­
d c t r e z e n t a s p e ç a s já s e r v e p a r a , d e ura i a d o , d e m o n s ­ ta n to m a is le v e a a p r e se n ta ç ã o dos m o tiv o s . P orém
tr a r p a r le d o a c e r v o b r a s ile ir o ( t a n t o d e p e ç a s a d q u i­ h á q u e d iz e r , t a n t o n o q u e t o c a a o m o n u m e n t a l d c q u e
r id a s , já e x i s t e n t e s n o B r a s il, ■n a é p o c a p o r n o s s o s t e m o s n o B r a s i l d iv e r s a s p e ç a s , a lg u m a s h is t ó r ic a s
a n c e s t r a i s , c o m o o u t r a s a d q u ir id a s d e p o i s n a G u r o p a , r e c o lh id a s a m u s e u s d e s s e p e r ío d o , c o m o n o q u e c h a ­
ou t r a z id a s p e l o s a n t i q u á r i o s ) c o m o ta m b ém a p refe­ m a m o s dc so b reca rg a d e c o r a tiv a , q u e S è v r e s e m su a s
r ê n c ia q u e a n o s s a s o c i e d a d e d is p e n s o u a c e r t a s n a ç õ e s . p r o d u ç õ e s , fo s s e m c ia s as m e n o r e s c o m o a s m o n u m e n ­
A e s ta tís tic a le v a n ta d a p o r R e g in a M . R e a l d á o t a is , m a n tin h a um padrão a r t ís t ic o d ific ilm e n te u ltr a -
s e g u i n t e r e s u lt a d o , c i t a n d o a s q u a tr o p r in c ip a is p r o c e ­ p a s s ã v e l. T a lv e z e s s a p rop en são te n h a s u a o r ig e m no
d ê n c ia s : m o v im e n to d a R en ascen ça em q u e a s fa ia n ç a s fr a n c e ­
sa s d e se u s m estr e s c o m o A b a q u e sn e , a e x e m p lo d a s
X íc a r a s fr a n c e sa s — 110 it a lia n a s , c o stu m a v a m p reencher de cores e dc d ese­
” a u s t r ía c a s — 89 n h o s t o d a a s u p e r f í c i e ã d i s p o s i ç ã o d o a r tis ta .
” a le m ã s — 49 A I t á lia , c o m p a rte d c se u s p r o d u to s d a f á b r ic a
" in g le s a s — 5 d e N á p o le s , r e p r o d u z id o s p o r D ó c c la e G in o r i, a b u so u
d essa so b reca rg a d e c o r a tiv a , m o r m e n íe no gênero
E sse m o s t r u á r io não d e ix a de r e v e la r a t e n d ê n ­ c o n h e c id o no c o m é r c io por C a p o d im o n te , com um
c ia d o g o s t o b r a s ile ir o n o c o r r e r d o s é c u l o X I X . E e m a m o n to a d o de f ig u r a s p o lic r o m a d a s e m r e le v o , ta n to
razão da m a n if e s t a p r e fe r ê n c ia p e la s p o r c e l a n a s f r a n ­ em va so s co m o em g ru p o s d e e sta tu e ta s c m e sm o em
cesas e as a u s t r ía c a s , que acom p anh am o gênero s e r v iç o s d e c h á e d e m e sa .

584
X IV - ESTAM PAS DE PORCELANAS EURO PÉIAS DIVERSAS,
diferentes designações

A s e g u ir e s t a m p a m o s um a sé r ie de peças para
ilu s t r a r p a r t e d e s s e n o s s o a c e r v o e m l o u ç a s e s t r a n g e ir a s ,
o b e d e c e n d o d e m a n e ir a g e r a l, a s e g u in te se q u ê n c ia :

I — P o rc e la n a s B ra g a n tin a s d iv e rs a s (Ic o n o -
g rá fic a s e o u tra s ).
II — P o rc e la n a s fra n c e s a s e de o u tra s p ro c e ­
d ê n c ia s , p e rs o n a liz a d a s , o u n ã o .
Hl — P o rc e la n a Ic o n o g rá fic a ( in c lu s iv e p r o ­
p a g a n d a ).
IV — P o rc e la n a s inglesas,
V — P o rce la n a s alem ãs,
VI — S e rv iç o s O fic ia is .
Sec. XIX P O R C E L A N A S B R A G A N T IN A S

A bela fruteira a "J étages”, em azul e auto com reservas


policromadas no gênero rococo, com faisões coloridos, fa i
parte do aparelho braganimo conhecido por *'Serviço de Caça”
de D om João V í .
Coleção Fundação Crespi-Prado.

O prato de sobremesa faz parte do aparelho conhecido por


“Príncipe R egente”, trazendo tio centro o brasão e a coroa
real entre ramagens de fum o e café; ê dc fabrico da M anufac­ M alga do serviço da Independência, o mais reputado e signifi*
ture R oyale de la Duchesse D ’A ngoulèm e , Vide Cai, Exposição cativo das m icções brasileiras; não sà traz di teres cm portu­
TV Centenário S, Paulo — Inst . H ist, e Geográfico. S. Paulo. guês , com o o brasão do império com m anto e ainda outros
Out. J954. est. e verbe te 16. símbolos. Coleção João Moreira Garçez Filho.

5S6
Séc. X IX PORCELANA BRAGANTINA
(lcQQOgrifica Imperial)

Ao alio duas ânforas. em puro estilo Império. Representam Dom Pedro, Duque de Bragança e Dona Maria tia
Glória, Princesa do Brasil, Embaixo as mesmas peças em tamanho maior, Estas duas ânforas que formam ptlr,
foram executadas após a abdicação de Dom Pedro I, quando ele e a nossa Princesa desembarcaram na Inglaterra,
já na Campanha de Restauração do Trono Português, usurpado por D. Miguel, isso porque na ânfora da direita,
vê-se uma galeota com diversos personagens e uma bandeira do lado direito, as.tim como Westminsler, o Tamisa
e pequenas embarcações de permeio, A ânfora com D. Pedro tem ao fundo um arranjo fantasioso da Bahia da
Guanabara em que se divisa, ã esquerda os Arcos e à direita a Igreja da Glória, As duas peças têm de altura
dS cm; a de Dom Pedro tem no verso a ouro, o brasão imperta! com coroa e ramos de café. A de D. Maria da
Glória traz no verso o brasão de Portugal curiosamente ladeado lambem de ramos de caíè.
Coleção Fernando Barreto.
Obs.; O colecionador Neiviort Carneiro possui ânfora panada, porém com alças diferentes, base assente em
pês de garra e paisagem de fundo definida.
Séc. X IX PORCELANA BRAGANTINA
(Icoiiográfica Imperial)

Ao alto t duas ânforas era estilo império representando bustos âe Dom Pedro (a da esquerda mais moço com fardamento dc gtíla
do Imperador do Brasil, e a da direita pouco mais velho já com fardamento de gala de Duque de Bragança c Regente do Reino
de Portugal). A ânfora da esquerda tem no verso o brasão imperial aplicado a ouro e faz parte da coleção dc Alexandre Fadai. Á
da direita tem no verso um medalhão com um ramalhete de flores, também a ouro. sem brasão. Â ânfora de baixo representa Dom
João VI e tem na cercadura dourada em volta do medalhão com seu retrato os seguintes dizeres: DOM JOÃO, R EY DE POR­
TUGA L E DO BRASIL (&k), No verso em ouro as armas de Portugal. Estas duas últimas peças são da coleção de Fany e Medi tia
A ânfora da direita representa Dom Pedro / com fardamento oficial noJ P plano c tem como fundo a Igreja da Glória e a entrada
da baia de Guanabara t faz parte• da coleção Newtcm Carneiro.

58S
Séc. X IX PO RCELA N A S BRA G A N TIN A S
(Francesa)

538

Segundo a tradição, este par de ânforas, (altura 6 J S cm), faz


parte de um aparelho conhecido como "Serviço dos Pássaros"
da fábrica NAST, Sendo considerado como pertencente a
Dom João VI,
Cortesia de João Luiz Maninho (Galeria Brasil — Rio).
FOTO: Lula Rodrigues.

589
Séc. X I X PORCELANAS BRAGANTINAS

53S

Serviço de gala Dom Pedro l, catalogado no Museu Imperial


(tem a marca cm ouro de La CouríÜíe) aba vermelho escuro
com aplicações douradas com três reservas com flores. Ao
centro a sigla P. I. coroada e ladeada de ramos de fumo e café,
Coleção £ - F . Brancante.

540

Serviço de gala com aba azul e aplicações douradas, tendo


ao centro o brasão c ' manto Imperiais, marcado Theódore
Haviliand — Límoges, France, J. G o d in , 1 5 rue du Paradis.
Consta que esse serviço joí encomendado ã França ainda
durante o Império, porém sá teria chegado após a proclamação
da República. Doação de Edmundo da Luz Finto •—* Cortesia
Museu Imperial.

Í4 1

Larga tigela do serviço do casamento dc Dom Pedro / com


Dosa Amélia dc Leuchtenberg, (Jrria das raras peças que traz
no verso em vermelho a palavra “Bartich” que deve ser o
nome do distribuidor do aparelho, em França ou Brasil,
Cortesia dc Marcos Vieira da Cunha.

590
Séc, X IX PORCELANAS BRAGANTINAS

A xícara apreren!a am magnífico ra r ato da Princesa do Brasil


Dona Maria da Gloria, depois Rainha Dona Maria 11, Perlen -
i eu à coleção do saudoso e antigo colecionador Claudio Barâi.
Cortesia Lourenço 1.ias Lacotnbe.

Sopeirinha poücroinada, fundo púrpura r decoração dourada,


com duas faixas de fundo branco e ramagem em ouro, (A
pega assim como as alças foram restauradas). Ostenta na
rampa, como na parle inferior, medalhões coloridos dentro de
um circulo dourado cota o brasão do Reino Unido de Portugas,
Brasil c Àtgarvcs. A peça tem similar na Cerâmica Brasonada
do Conde Castro e Sola (estampa C Llí) que informa haver
diversos exemplares dessa porcelana, ao que parece de proce­
dência austríaca, segundo cie não trazem marca. Esia porém
tem em vermelho no frete ama coroa com cinco pontas e
um jota (J).
Coleção Fany e Mcdina,

591
Séc. X I X PORCELANAS BRAGANTINAS
(Iconografia Imperial)

Far de jarros cm porcelana do género "Vieiíx Paris”, apresentando os retratos dos imperadores ainda jovens, moldurados por
cordame dourados em relevo, sob as arruas imperiais.Na parte de cima os jarros por inteiro e na de baixo detalhe dos medalhões.
Dom Pedro I! pbrta uma ponta da banda de Ordem do Cruzeiro (faixa azul) e na lapela o Tosão de Ouro e a placa da mesma
ordem, A Imperatriz Dona Thereza Cliristitut porta um discreto diadema sobre os cabelos penteados em bandós, utn duplo cotar
de. pérolas e um broche, atravessando o colo a banda da Ordem do Cruzeiro. Peça sem marca, altura 27 cm, de procedência fran­
cesa presumivelmente. O Museu de Arte de São Paulo, Assis Cbatcuubriand, possui par idêntico. Cortesia Lourenço Luís Locombe
— Museu Imperial.

592
Sic. X IX PORCELANAS BRAGANTINAS
(Iconografia Imperial)

ff > >

Um par de jarros em porcelana, do gênero Vieux Paris, de


boca larga e decoração dourada, em que sobressaem cordões
c pingentes re.torddos, no crr.trn em relevo o busto dos Impera­
dores jovens em trajes da Corte. Scj&re os retratos poíicromados,
um laço verde em relevo'e as armas imperiais. Cortesia do M u­
seu Histórico Nacional. A peça de baixo (base de um samovar
ou dc uma “veilleuse") representa Dom Pedro criança t junto
de seu ombro esquerdo iiã os dizeres em dourado: S. A . le P ' 1
Imperial — Cortesia do Museu Imperial — altura I I cm.

593
Sec. X IX
PORCELANAS b r a g a n t in a s
[Francisas)

As cinco tigelas de cores c desenhos diferentes, casca de ovo, policromadas, de origent francesa, sem marca, f izr-
rum parte dos serviços do Paço ao tempo do Imperador Dom Pedro U: o conjunto das cinco constitui o que
de mais raro existe nas coleções brasileiras histéricas, conhecidas como “Coroinhas". Cortesia Antônio Avellar
Fernandes. A xícara e pires em verde e ouro (raríssimo) fa i parre de um serviço do Palácio de Queluz, do gêne­
ro Pieux Paris, (que não veio para o Brasil, segundo informações do possuidor) tem o brasão do Reino Unido
e a marca Deroche.
Cortesia Newton Carneiro.

594
Séc. X IX PORCELANAS BRAGÀNTINAS
(P e ç a s P a la c ia n a s )
5S2

H58È8fâte&!

A ânfora de cima. com fundo “blcu du roi". alças douradas


e dentro de u n ia reserva em forma de eclipse, as armas impe­
riais e na aba flores, fazia par.te do Palácio de São Cristóvão,
Serres. Cortesia do Museu Histórico Nacional.
O vaso do centro, de fundo púrpura e dourado, tenda por alça
os grifos fde Bragança) e no centro o busto em cores do
Imperador, fez parte da Coleção Jaime Leal Costa e Eldino
Brancante. Tem as iniciais E. D. na pasta e aitura de 44 cm.
Coleção de Vva. Sebastião Loures.
A coluna que sustenta uma bela ânfora em “blêit du ro?' e
aplicações douradas com motivos império e contém um N
com ramos de louro ç águia Imperial francesa, foi oferecida
ao Brasil pdo governo francês.
Cortesia Museu da República {Catete).

595
Sécs. X V l i t / X I X PORCELANAS BRAGANTINAS
(Im peratriz T her e ia Christina)

As duas travessas e uma xícara jazem parte de um serviço de


mesa e de chá, trazidos para o Brasil pela Imperatriz DP Thereza
Clirístina, por herança coube o restante do aparelho à Princesa
tzabçl e ao príncipe D. Luiz e O. Henrique de Orlcans e
Bragança. Trata-se, de acordo com Antônio Avellar Fernandes
das Porcelanas conhecidas entre nós por “Bourbônicas" —
trazem as duas travessas o N coroado em vermelha sobre a
glasitra indicativo de Nápoles, e no centro as vistas do "Cassino
delia Favorita", que vêm escritas em vermelho no verso, A
xícara e pires exibem uma cercadura dourada e paisagens e
no pires está escrito "Real Palazzo di Caserta", a marca no
verso é cm azul.
Cortesia de José Eduardo loureiro.

555

5.56

557

O bs.: Sobre as manufaturas de Capodirnonte, Buen Retiro e


de Nápoles, vide Antônio A veilin' Fernandes — “A Porcelana
Bourbôiiica" in Boletim Novembro c Dezembro 1971 da Asso­
ciação Brasileira de Antiquários, Rio. Sobre a Manufatura Rent
de Nápoles em si, vide 15’. M. Chaffers — Maks and Mono­
grams 14? edição — Los Angeles — 1946 — pâg, 435.

596
Séc, X IX PORCELANAS BRAGANT1NAS
(Im peratriz Thereza Christina)

P a r de castiçais (com o reverso) em 11bíeu da !(>■’' com reserva


central ostentando a coroa imperial e as iniciais T e C de
um lado, e do outro no reverso a figura de um músico tocando
viola. Os castiçais estão guarnecidos com uma montagem de
bronze, finamente cinzelada. Conquanto não se distinga a
marca, deve a mesma ser do fabrico de S èvres.
Cortesia de Herminio Lunardellt.

597
Séc. X IX PO RCELA N A S B R A G A N TIN A S
(C o n d e (TE u e P rin c e s a l i a b e i)

Ao alto à esquerda, molheira de serviço de gola de riquíssima decoração em fundo azul, aplicações douradas e reservas com flores
e a sigla coroada dos Orléans, tendo por tenentes dois anjos com ramos de flores, marcado Sèvres, O serviço da direita com sigla
entrelaçada de Gaston e Izabcl, sob a coroa imperial, de que a molheira é um exemplo elegante, tem a marca de Sèvres —» existe o
mesmo serviço em complemento ao prinritivo com o marca Hebert Frères' rue de h Paix — Paris, O prato em baixo, cm branco
com a sigla e coroa dos Orléans, é proveniente do Polais de St. Cloué c marcado Sèvres e era o serviço de uso diário da Princesa
Izabet â do Conde d*Eu. A xícara de café, cm c a s c a d e ovo era de uso da Princesa c porta um I sob a coroa imperial, Essas peças
fazem parie da coleção de S. A . 1. Dom Pedro Gastão de Orléans e Bragança,

598
PORCELANAS BRAGANTTNAS
Ic o n o g rá fic a
{ P rín c ip e J e J o in v ille e p rin c e s a D o n a F ra n c is c a )

563

Cofre de luxo encomendado pela rainha Maria Amélia,


mulher de Lu l i Felipe, rei dos franceses e dado corno presente
de casamento a seu filho, o P rín c ip e íí í Joinville, por ocasião
do casamento deste com a princesa brasileira Dona Francisca,
filha de Dom Pedro / / . Pode-se considerar uma das obras
primas das mais expressivas, fabricadas pela Real Manufatura
de Sèvres, pela perfeição da execução em lodos Os seus detalhes.
Nada menos do que seis reputados artistas colaboraram na
confecção do cofre e na pintura dos seus cinco painéis, um dos
quais, o de frente, representa a cena de S. S. A, A. R. R„ o
Príncipe e a Princesa de Joinville dirigindo-se para a Fragata
La Belle Poule, fundada na baía do Rio de Janeiro, Enlre os
grandes nomes de artistas figuram Horácio Vernet e Luís
Gabriel Eugênio Isabcy e Luís Garneray, pintor de marinhas.
Características: Bronze dourado, porcelana de Sèvres c esmaltes.
Dimensões: 0,563 x 0,681 x 0^32 cm. Os dados e a fotografia
foram fornecidos gcntUmeme pelo Museu Imperial, Cortesia
de Lourenço Luis Lacombe {Referência: Jacques Kügel —
"Uma preciosidade de Sèvres", in Anuário do Museu Imperial
— vol. X — - Pctrôpolis, 1949),
Séc. X I X PORCELANAS BRAGANT1NAS
(Im peratriz D ona Leopoldina)

564

Xícara e pireJ, estilo Império em dourado, com medalhão


ovalado policromado, representando a nossa IP Imperatriz
Dona Leopoldina, com vestido azul, luvas compridas, portando
colar e medalhão colorido com o busto de Dom Pedro 1 —
ao fundo a baía da Guanabara. N o frete do pires, está marcado
em dourado o nome do pintor: Schodcher.
Coleção Fundação Maria Lulsa e Oscar Americano, S. Paula.

565

O lindo prato ãe aba lilás: com desenhos dourados e um bela


ramalhete ao centro é considerado como lendo feito parte de
um dos serviços da Imperatriz Dona Leopoldina. Sem marca,
porém, presumivelmente francês. (Vide catálogo Exposições do
Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo,- da 1954 verbete
c estampa nP 37í).
Coleção José Eduardo Loureiro, S. Paulo.

600
Séc. X IX PEÇAS BRAGANTINAS E COMEMORATIVAS

A ietrina de horda e formato recortados com coroa real £ frisos dourados faz parte do serviço da Princesa do Brasil, depois Rainha
Donu Maria / / de Portugal, marcado Hüviltand. O pires e xícara â esquerda com três reservas com folhagem dc fumo e café e nome
dc baWlhas de guerra do Paraguay sâo comemorativos daqueles eventos e conhecidos como peça rara dç nosso acervo (Coleção
üuilio Crispim Farina), A xícara aífa de caldo faz parte do serviço dc Dom Pedro I cont as armas imperiais e folhagem, gênero Vieux
Parts, sem marca. O prato em faiança fina amarelada (cream-cofoured waré) é de fabrico inglês e comemorativo da Independência,
sem marca (pertenceu ao Dr. Washington Luís Pereira de Souza). À xícara de porcelana branca com decoração dourada fez parte do
serviço do casamento dos Príncipes do Grão Partí — (porta um P e um E sob a coroa imperial, significando Dom Pedro dc Aitâm
sara e Princesa Elizabeth),
Coleção Palácio Grão Pará — Peirópolis.

601
Sécs. X V l ll / X I X PEÇAS PER SO N A LIZA D A S
( D j v e m s P ro c e d ê n c ia s )

571

Bule que faz parte do grande serviço de mesa c de chá, que


pertenceu ao Conde de Pcssé, ostentando suas armas entre
motivos chineses e acabamento dourado.
Cortesia do Antigo Museu éo Estado (Bahia).

572 573

Jarra e baciã de wHctte poticromada e dourada, portando as


iniciais APR e que pertenceu a André Pereira Rebouças O bule faz parte junto com uma linda bandeja em porcelana
cngrnheiro da renome no meio profissional e social. A cidade de um serviço conhecido por “tile à tête" oferecido uo Presi­
de São Paulo honrou-lhe a personalidade, dando o nome de dente Nilo Peçanha c ofertado ao Museu da República pelu
A venida Rebouças, a uma das suas principais avenidas. Exma. viúva. Porcelana marcada de Meisscn.
Cortesia do Mttseu Histórico Nacional. Cortesia de Ecyla Castanbeira Brandão.

602
Sêc. X IX PEÇAS PERSO N A LIZA D A S
(D iv e rs a s P ro c e d ê n c ia s )

floreira yasada que pertenceu ao Barão dc Sào


ThiagOt sem marca. Decoração a ouro, a sigla S T
sob coronel.
Cortesia do Museu Histórico Nacional.

575

Bule do serviço de chá que pertenceu ao Barão de


São Bento, sem marcaf porem de decoração tipica­
mente inglesa, tem branda Spode do primeiro período.

■ixi.óy'

5 76

Floreira vasada que faz parte do serviço da Conde


de Passé, de porcelana dc primeira, sem marcat pro­
vavelmente francesat Notar a cercadura lembrando o
desenho das faixas barrocas seiscentistas na faiança.
Cortesia do Museu Histórico Nacional.
Séc. X IX PORCELANA HISTÓRICA OU PERSONALIZADA
(Serviços A rm oriados)

577 578

Sopeira em porcelana de Sèvres mareada, que pertenceu ao' Prato do serviço do Barão de Miranda, Júlio de Miranda r
Coude de Boa Visra — fV a o e ije o do Rcgo Barras (falecido em .Silva, falecido em 1881, marcado Hrsvilland, Limoges, com aba
1860), ouro e branco, pegador dourado e brasão policromado. gomtlc.de com flores miúdas e o brasão policromado ao Cenlru.
Fai pavernudor da Província de Pernambuco. Coleção Rogério Nogueira da Silva Rego.
Cortesia Instituto Arqueológico de Recife.

Prato dc aba com ramos de flores ao centro, as iniciais Prato do serviço do Barão e Visconde de São Lourenço, Fran­
W, J. M T. A., do Barao de Paramlrim, do IP Reinado, entre
cisco Gonçalves Martins, de rica decoração com flores na aba
ramos de cafe e tabaco (lembrando 0 serviço conhecido por sobre fundo acinzentado e um friso perolado na estreita caldeira
tom ara Muntcspal) Dom Pedro 1, foi padrinho de casamento ao centro' coroa e duas iniciais.' S e L.
deste titular do fmpéno. (Mtgucl J o „ - Mnna de Jelve e Coleção Luís Pedreira Torres,
Argol to).

604
séc. xix PORCELANA HISTÓRICA OU PERSONALIZADA

581

Bacia e. Jarra cm porcelana branca, friso dourado e brasão


central. Fez parte do serviço de toilette do visconde e conde
de Figueiredo, Sr. Francisco de Figueiredo, falecido em ISS9,
sem marca. Cortesia Museu Histórico Nacional,

583

Cromeira dó serviço do Barão de Santa Helena, José Joaquim Bule de um serviço de chá, que pertenceu ao Barão de Jtquiá
Monteiro da Silva, forma moderna (2.a metade elo século XIX), — fundo verde, arremates dourados e dentro de reserva retan­
recortada, criação de Haviltand & Cic. Limogcr. gular uma coroa dourada e os dizeres “Barão de Jequiá”.
Cortesia Museu imperial. Cortesia Museu Histórico Nacional,

605
Séc. X I X PO RCELA N A FRA N CESA E FA IA N Ç A FIN A
( P e rs o n a liz a d a e C o m e m o r a tiv a )

585
584

O prato recortado de fundo “bleu du roP\ com filete e decoração dourados, tem dcnlrõ de ttm medalhão oval o retrato poticromado
do Visconde de Inhaúmat Joaquim José Ignácio encimado por coronel. Coleção de Marcos Carneiro de Mendonça (Rio). Segundo
Jenny Dreyjus (Anuário do Museu Histórico, voL XXV-estampa 56) o Visconde de Inhaúma, possuía também um serviço em
“Louça de Macau“, sem iniciais, do tipo "Pomhinkos", conforme a estampa por eia exibida.
O prato à direita é uma peça comemorativa (existem pratos em marrom e em azul) e ê de fabrico inglês (pô de pedra), Representa
a batalha de Lomas Vale minas, Vê-se uma aba com decoração quadriculada e pontilhada com seis reservas representando o retrato
de personagens da Guerra do Paraguay e dando seus nomes na seguinte ordem: Dom Pedro ll ao alto, à direita o Conde d*Eu e
no mesmo sentido o Marquês de H enal, o General Câmarat o Visconde de Inhaúma e o Duque de Caxias, No centro, episódio da
batalha e da morte de Solano Lopcz, com os dizeres embaixo: "A morte de Lo pez” (reg. n.° 2699 do Arquivo Museu Imperial).
No verso uma bandeira do Império e as palavras **Victôrias Brasileiras** e marcado W éc 7 -— Tunstall.
Cortesia de Celso Corrêa Dias e Luiz Lottrenço Lccombe.

Obs.: Ocupando parte da página, exibimos um fragmento de prato idêntico aonde se divisam ainda na parte inferior do medalhão
os dizeres: . .ONDE INHAÚMA**, referindo-se sem dúvida ao Visconde de Inhaúma. Tal fragmento (bastante gasto pela ação do
mar), foi encontrado na Traia do Guaecd, Município de São Sebastião — S. Paulo.
Devemos ao Dr. Ruy Qthake, presidente do Condephaat de SÒo Paulo e à suo equipe, <a gentileza dc mandar proceder à amphaçuo
do caco por nós cnconii ado.
Foto Júlio Abe,

606
Sêc. X I X PORCELANAS FRANCESAS PERSONALIZADAS
(A rm oriadas e com siglas)

Os dois pratos de cima são do serviço do Barão de Avcllar e Almeida (Vassouras) e são rodos diferentes, marcados Llniogcs. 0
prato em beiro à direita com as iniciais entrelaçadas C e P decorado a ouro com violetas, pertenceu ao Conde de Parnahyba
| i , rindo). Cortesia da E ima. Família, O prato de baixo à esquerda sem marca, pertenceu ao Conde de Morta Maia e exibe sob
ti " ' corcl''c dourtido dois emes maiusculos entrelaçados, além de ramagens de cores v iv a r. O prato ao centro está marcado A. Hisclte
A Cie. VtCTzon em vermelho e em verde A. H. & Cie. V. France Vierzon.. pertenceu a Francisco José Alvares da Fonseca (a v ó do
Autor) chefe da casa civil dos Presidentes Afonso Pena c V ;!o Peçonha. De notasse nessa série de pratos a decoração típica posta em
pratico e urante determinado período por Limoges (segunda metade do século X IX J e outras fábricas francesas, da interpretação dc
temas orientais, o que recebeu várias denominações como: Oríentaiismo, Japonismo, fndianismo, havendo também nesse período
outros generos inclusive pratos cotn inspiração impressionista.

607
Séc. X IX PO RCELA N A EU R O PÉ IA PER SO N A LIZA D A
(B ra so n a d a )

0 prato de cima, de rica cercadura dourada e azul, com aí


armas em reserva, tendo ao centro um ramalhete de flores,
pertenceu ao Visconde do Rio Preto, fabrico de Limoges. Os
dois pratos de baixo pertenceram ao Farão de Penedo (que
possuía ainda outros serviços), o primeiro decorado a ouro e
perolado com um P coroado na aba e uma legenda “Sperare
Infes!is Metue Secondis". 0 segundo é de fundo verde com
quatros grandes reservas com flores policromadas tendo aa
centro o timbre e o grande colar da Rosa daquele importante
diplomata {está marcado Royal Worçester).
Coleção do Autor.
O prato fundo branco com armas inclinadas c tendo por
tenentes dois atlantes na aba, pertenceu ao Visconde de Aracaty,
Augusto de Oyenhauser Gravenburg, filho de conde austríaco.
Está marcado no verso “rir.r.orc", segundo as gentis informações
da colecionador, Dr. Duílio Crispins Farina (vide Barão Smith
de Vasconcellos, Arquivo Nobiliárquico Brasileiro — pâg. 50).

608
Séc. X I X PO R C E LA N A PER SO N A LIZA D A
(P o r c e la n a F ra n c e s a )

Pires e xícara dc fundo azulado com o busto do Marquês dc


Herval — Manoel Luiz Osório. Porcelana sem marca, p õ ren s
provavelmente de Limoges. Exislerr, também com funda ver­
melho, Cortesia do Museu Imperial — Pelrópolis.

597
$n

Xícara no gênero "Vieux Paris", com pés de garra, presumi­ Xícara de um aparelho de chã, também no género "Vieux
velmente começo do século X IX , exibindo o retraio eximtu­ Paris" e que segundo informações da Exma. homilia, pertenceu
mente desenhado dc L. Vieira da Silva, ao Conselheiro Antônio da Silva Prado. Porcelana provavel­
Cortesia do Museu Histórico Nacional. mente de Limoges. Coleção de E. P. Brancanle,

609
Sécs. X V t U / X I X PO RCELA N A S FRANCESAS
(P e rs o n a liz a d a e A n ô n im a )

Segundo classificação do Museu imperial, traia-se de um prato raso, de porcelana francesa, borda com cercadura cor âc vinho C
ornatos douriidos: ao fundo uma ave de plumagem rnulticolot ida: no dorso os dizeres: '*/.(' Couroucou rort'iitu'r. Entre Os cole­
cionadores, este serviço i conhecido por “Joinville"; existem no Palácio Ducal de Guimarães, vitrinas çom peças similares, sem
marca. Os três pratos do centro com pássaro policromo, desenhos dourados são marcados Sèvres. O prato de baixo à esquerda com
símbolos çuerreiros na aba, lembra o período napoleônico c trai escrito na pedra de baixo em francês “Jacana du BrésiF’ (Jaçanã)
e o outro ã direita com aba em branco e dois listíis dourados, debaixo do pássaro cm primeiro plano, lê-se: "Savacott du Brísil".
Coleções Museu Imperial, Fundação Crespí-Prado e Autor.

610
sécs. xvm /xix PO RCELAN AS FRANCESA S
(Vários gêneros de Vieux Paris!

604

O bule ao alio, com flores soltas e complementos dourados de


-decoração, representa a conceituarão clássica do chamado
“Vieux Paris", no dizer de Attscher c de Anlônio Avaliar
Fernandes, 0 castiçal t) direita por sua decoração e forma
frococá) lembra o serviço de Caça Imperial, O bule de baixo
de bela doiiração e formato com círculos de fundo azul, ostenta
neles, abelhas e flores douradas, faz parle de um serviço com­
pleto de chá. O frasco verde e ouro, com pássaros e ramagens
poltcrvmndas e bela solução de base com delfins sustentando
a peça, está marcado Jacob Pctit.
Cortesia de José Eduardo Loureiro.

611
S ic. X I X PO RCELAN AS FRA N CESA S
(J a c o b P e tit)

O casiiçal polwromaito (forma par) de uma elegância e harmo­


nia de formas incomparáveis, reveta bem o estilo do grande
mestre Jacob Petil dado a executar no barro, verdadeiras peças
de ourivesaria, tamanha a delicadeza tios desenhos (marcado
J./P.). Cortesia de José Eduardo Loureiro.

60K

Prata de aba verde e ouro coai reservas policromadas e uma


flor no centro: segundo Newton CarneiroT é atribuído ao
fabrico de Jacob Petit e pertence a Honôrio Hermcto Carneiro
Lería, Marquês do Paraná, com suas iniciais na reserva.
Cortesia de Newton Carneiro,

609

mmmL . Peça rara pelos detalhes, tanto quanto pelo tamanho e a


delicadeza, no tratamento dos movimentos esculturais. Reprc*
senta Netuno e ê urna das mais belas peças do Museu da
República (Rio). Foi presente de embaixador estrangeiro. Ê
uma das peças maiores que Jacob Pctii produziu. Tem a marca
J. P, (porcelana).
Cortesia de Ecyla Castanheiro Brandão (Museu da República).

612
S ie . X I X PORCELANAS FRANCESAS

T igela ' pires com rico decoração policromada com anjos e


paisagens que fez parta da coleção do Embaixador Guerra
Ou vai. Porcelana sem marca. Começo do século XIX.
Coleção de E. 0 Ilrancattte.

61 I fi! 2

Serviço de chá, conhecido por " Pompeiano", fundo amarelo


claro com efígie de guerreiro romano, de uso na Fazenda
Guarita, em Vassouras e que pertenceu ao Barão de ipiabas no Xícara de serviço de chá, com aplicações douradas sobre azul
2 Reinado. Porcelana provavelmente de Limoges — 2.& e flores policromadas, tipo **Viciix Paris**, porcelana dura
trtclade do século XIX. 1 metade do século XIX.
Cortesia de Marcos Vieira da Cunha, seu neto. Coleção de Alexandre Loeb.

613
Séc. X IX PORCELANAS DE DIVERSAS PROCEDÊNCIAS
(Anónimas e Personalizadas)

61?

Pires de serviço de chá. marcado Visia Alegre, século XIX,


Cortesia Museu São Luís.

O prato à direita ostenta as armas dos Duques de ta Rochcfõucautd; esuf assinado por Soirou e foi fabricado por ,
Coleção Newton Carneiro. í r i (1&2q s , ,,^
O prato da esquerda de riquíssima decoração com as letras C t D fnão identificadas), formadas com flores c rosas ao gênero d
peças de Madame Fotnpadottr e da Dst Barry, i do século XVI U c esttí marcada com um A, sob uma coroa real em vermelho
Segundo informações do Museu Mariano Procópio, trata-se da fábrica de André Mariç Lebouef 0778-1799) rtte Thiruus. um dos
estabelecimentos sob a proteção de Maria Antoniela■ Cortesia de Dona Geratda F, Armond Marques.

614
sécs. x v i n / x i x PORCELANAS DE DIVERSAS PROCEDÊNCIAS
(Uma personalizada)

616

617

619

Ao alto à direita, caneca e pires com desenhos dc pássaros e


folhagem no gênero de Meissen, marcado Viena.
Par de candelabros em porcelana policromada com jogo de
mangas, altura 2! cm. Par de figuras de adornos sem marca no
género " Vieux Paris", provavelmente francesa, ambos cs pares
são de. acervo da antiga coicçSo Catmon. Cortesia do Museu
de Arte da Bahia. Jarro com um casal, com vestimentas do
século XVIII, série de flores, fundo azul e remates dourados.
Presente dc casamento recebido por Dorn Pedro de Alcântara,
filho da Princesa habe!. Porcelana marcada de Meissen.

615
Séc. X IX PORCELANA ICONOGRÁFICA
(Visias do Rio)

A s duas "veiitcuses" e o pote de farmácia no gênero " Vieux


Paris”, apresentam vistas variadas do ttio de Janeiro, como o
Morro da Glória. Botafogo. Pão de Açúcar, etc.
Coleção Marcos Carneiro de Mendonça (o pote) e Armando
Arruda Camargo (as duas ouStm peças).

616
Sécs. X V U I/X IX PORCELANA ICONOGRÁFICA
(Vistas do Rio)

Estas duas vistas f uma do porto do Rio de Janeiro t outra da


Quinta da Boa Vista) fazem parle de um rico serviço de aba
em "bleu du roi” e folhagem dourada'com vistas não sá do
Rio de Janeiro, como de importantes cid ceies e monumentos
mundiais, e foi de uso do Conde de São Mamede.
Cortesia de Alexandre Smith de Vasconcellos.

617
Séc. X X PORCELANA ICONOGRÁFICA
(São Luís do M aranhão e Campinas de São Paulo)

Os três pratos de porcelana branca C borda recortada, com v if íu í eni a::d, são provenientes de aspectos do começo do século, do
cidade de São Luís, apresentam a praça Gonçalves Dias, a Salão do Teatro São Luís, peças essas da coleção Osvaldo Soares e a
Praça toão Lisboa, da coleção de Adalgtsa Pinheiro Cosia, Estes prata i tratem a marca F K, Q, 2 (? ) e jazem parte do acervo da
Museu de São Luís. O prata de baixo ã direita, de borda recortada e pcilicrermuda, representa um dos monumentos de Campinas.
Cortesia de Mòrio Pimenta Camargo,

618
Secs, X IX '/X X PORCELANA DE RECLAME

Dizeres transpostas sobre a porcelana pelo processo fotográfico


de uma página de jornal, mais propriamente de um anúncio de
casa comercial (S. Àguiar <£ Cia.) em que entre outros artigos
são oferecidas "louças". "Tudo a preços muito reduzidos” —
sem marca. Cortesia Museu de São Luís — Doação J, Jansen,

630

Curioso cardápio aposto sobre a porcelana, de um restaurante


importante do Rio de'- Janeiro, "Maison Moderne", com a
data de 17 de julho de JSSS, e a lista das iguarias, com seus
preços, entre as quais se distinguem: Nhambit, peru, marreco,
etc., com a observação de que "pão, gelo e conservas não se
pagão”. Sem marca. Cortesia do Museu da República.

619
Séc. X V III PO R C E L A N A IN G LESA
( C h e ls e a )

631

Jã no meado do século X VIII, a influência japonesa em de


tal porte, que fábricas da Inglaterra de primeira linha, como
Cheísea, copiavam as criações decorativas de Kakicmon, porém
exibindo a marca da fábrica. Coleção Particular.

620
Sees. X V Hl/X IX PORCELANA INGLESA

632

O prato de cima com iinda folhagem policromada e desenhos


geométricos com paisagens no fundo, faz parte do serviço de
Dom João VI. acreditando-se que o mesmo (que ê do século
XVIII) tenha vindo para o Brasil com a Corte, Marcado Royttl
Dcrby. Coleção Particular,

O prato do centro também é um Royal Derby, manado, foi


adquirido no Sotheby's (século X IX ) e representa bem a inter­
pretação inglesa sobre os temas da porcelana japonesa de
Irntiri. Coleção José Ferreira Lopes (Rio-Tòqu(o)

O pires de baixo representa a variante de uma série decorativa


que os artistas de Spode produziram com poucos tons, porém
fortes. O Serviço em Companhia das índias d O Conde dc
Itamaraty e do Duque de Palmeia, sem iniciais, assemelha-se a
essa série inglesa. Marcado no verso SPODE. (Ver Davi d IIo-
ward e John Áycrs — oh. cit.) em que representa o mesmo
serviço em Companhia das índias, dando porém conto inspira­
ção do desenho para os chineses, as fábricas de New Hall e
Minton.
A xícara e o pires, são de porcelana mole inglesa do fim do
século X V III e começo do XIX, marcado SPODE em Vermelho.
Este modelo, segundo nossa interpretação, veio tambítn a influ­
enciar os decoradores de Cantão da porcelana chinesa pois os
serviços conhecidos no Brasil, do Conde dc Itamaraty (sem
sigla) e do Duque de Palmeia (em Portugal) quase idêntico,
lembram o modeio inglês.

621
Sees, x vm /x ix PORCELANAS INGLESAS

635

Es!as dita.! xícaras com seus pires, a primeira em decoração


dourada (Derby) e na reserva paisagem poiicroma, a segunda
(W orcestcr) de fundo azul escuro, ramagehs a ouro e flores e
ramos políerotnados, demonstram não só a perícia dos artistas
ingleses, corno seu bom gosto na escolha das cores.
Coleção Particular.

622
Sécs, X V 111/X I X PO RCELAN AS A LEM Ã S
(A rm o ria d a s e A n ô n im a s )

636 637

O prato de cima à esquerda, onde predominam o ouro e


arranjos florais no gênero rococâ, tem a marca de Sase e o
brasão do Marquês de Abrantes na reserva superior.
Cortesia de Américo Ribeiro dos Santos,
O prato â direita, com liste! na borda avermelhado, e coroa
imperial tem os dizeres "Treu und Fesi" numa cinta e pertenceu
ao Duque de Sare, genro de Dom Pedro 12.
O bule azul à esquerda de rica decoração, tem a marca de
Berlim no frete e na frente junto ao gargalo, três flores de lys
e debaixo: da alça uma coroa real, o que leva a supor, tratar-se
de aparelho realengo. O poiichs fundo rosa está marcado A. R.
(Augusto Rer) e trata-se de peça rara, ambas as peças são de
propriedade de José Eduardo Loureiro,
A estatueta representa Napotcão com seu cavalo branco na
passagem das Alpes, para invadir a Itália, motivo conhecido
.por "Passagem dos Alpes", pintado pelo famoso DavidJ marcado
Nynfemburg, Coleção Anita Marques da Costa.

623
Séc. X IX SERVIÇOS O FIC IA IS
(Baile dá ilha Fiscal —- Império)

Todos sabem que o último baile do Império foi o realizado na


Ilha Fiscal, em 1889. Desse evento existem vários quadros e
estampas; foram mandadas fabricar, para comemorar o evento,
várias dezenas de xícaras de cajé e para homenagear parte dos
convidados em que sc incluíam os embaixadores sediados na
Corte, foram feitas xícaras decoradas, de lífii lado com tt
bandeira imperial â esquerda e de outro à direita, com as
bandeiras de países amigos. A xícara de cima'apresenta â direita
a bandeira alemã, a dc baixo ã esquerda a de Portugal e a da
direita, da Espanha, fundo ligeiramente amarelado, sem murca.
Cortesia de S, A. I. Dom Pedra Castão de Orteans e Bragança.

624
Sees. X IX /X X SERVIÇOS OFICIAIS
(República)

644

645

Um dos primeiros serviços de gala da Presidência da República,


encomendados a ffavilland-Limoges, pegador dourado em forma Um dos serviços usados no Ministério das Reluçãcs Exteriores
de folhagem estilizada. Peças marcadas. (Palácio Itamaraty) estilo rococó, sóbrio c elegante, pega e
Cortesia de Ecyla Castanheiro Brandão. Museu da República, alças douradas, brasão colorido.
Co te te. Cortesia Dr. Duilio Crispim Farina — S. Paulo.

646 647

Às duas peias tom barra azul e filete dourado com as


armas da República, policromadas, estão marcadas "Rosrntnal
Selh-Bavaria" e fazem parte boje da coleção do Palácio dos
Bandeirantes (SP). Provem estas peças da antiga coleção Odilon
de Souza e consta terem sido encomendadas, inspiradas no
serviço antiga do Conselheiro Rodrigues Alves, quando gover­
nador do Estado; têm também uma faixa azul e ouro « o
brasão poiicrornado.

625
Sees. X IX / X X SERVIÇOS OFIC IA IS
CAntigo Palácio dos Campt» Eiíscos-SP)

650

Na pane superior, o I.° prato ã esquerda é do serviço adquirido


peio governador Dr. Armando de Salles Oliveira, barra rosa
com crisântemos e no centro cesta de flores, decoração inspirada
no juponisrno, marcado trWedgwood". 0 do centro foi adquirido
peio interventor Dr. Adhemar Pereira de Barros, monocromo
com as iniciais C. E. (Campos Elíseos) na aba, marcado Mauá-
SP. O prato ã direita,:âc gala, fot adquirido no governo do
Dr. Júlio Prestes, barra azut e dourada, com as armas da
República em ouro, marcado Minton's. A tampa na parle
inferior é do serviço adquirido peto Conselheiro Rodrigues
Alves quando governador, lislêis atuis e dourados, com as
armas dú República policromadas, sem marca, presumivelmente
francês.

626
Sécs. X IX /X X S E R V IÇ O S O F IC IA IS
(Presidência da República)

654

Na coluna d esquerda, véem-se um prato e um covilhete do


mesmo serviço, de borda recortada com arranjos florais e
folhagens douradas cm Useiro relevo e a palavra “DEÕDORO"
em aru! (Marechal Üeoàoro da Fonseca, IP presidente da
República). A xícara de baixo, pires e pratinho recortados com
decoração dourada têm também o norne Dcodoro, cm dourado.
Esses três serviços foram encomendados à fábrica de Theodoro
Havilland Li motes. Quanto aos dois serviços da direita, o
prato com faixa dourada tem na aba as iniciais A e 3 entre­
laçadas, o serviço de chd com faixa alui escuro e ouro também
porta a mesma sigla. Pertenceram ao Presidente Arthur Ber-
nardes e são da fábrica Rosenthal.
Cortesia Museu da República,

627
Sécs. X I X / X X S E R V IÇ O S O F IC IA IS
(Presidência da RcpúbJita)

Servido presidencial de borda festonada irregular, com a aba decorada em "bleu du roí" e azul esbatido, com togues dourados em
ramagens tiú centro o brasão poiicrornatlo da República, fabrico de Limoges, marcado / / & CP JL France — ffmãUand CP,
Limares, O segundo prato bronco, xomente com as armas da República, coloridas na aba e friso dourado (apagado) é âe Limoges,
f /*■ France' t tem a marca do distribuidor, no Rio de Janeiro: Casa Cypriano Rio de Janeiro, em vermelho. O prato de baixo
com decoração e o brasão dourados, é de fabrico brasileiro, da fabrica Brennand de Pernambuco (século XX). O prato de baixo dá
direita, de fita dccorúção da A-fanufatura Rca! de Bruxelas, representa uma série policromada de vistas de cidades belgas — fot
oferecido p c h rei Alberto ao Presidente Epitdcio Pessoa, por ocasiõt da comemoração da Independência em 1922. Cortesia de
Ecyla Castanheiro Brandão (Museu da República).

62 S
Séc. X X S E R V IÇ O S O F IC IA IS

662

663

lcV eilleuse" em porcelana de Limoges com as armas policroma-


das da República, faz parle de urn serviço já mencionada,
marcado Casa Cypriano. O praio de peixe com as armas da
República poiícromadas e semeado de fiares e ramos também
foi encomendado â Limogcs, O praio de baixo, recortado e de
aba mc/ldada ondulada com ramagens e ao alio dois anjos tem
ao centro as armas do Estado da Bahia e é o serviço oficial de
gala, usado no Palácio da Aclamação em Salvador, Marcado
L. P. & Limogcs. Cortesia do Museu dc República c do Sr.
Governador Roberto Santos e Luís Pedreira Torres,

629
sécs. X IX /X X SERVIÇOS O FIC IA IS
(Vasos <le Guerra)

O prato à esquerda com listei vente na borda e a coroa imperial sobre uma âncora e faixa embaixo fez pane do serviço do vaso
de Riterra lavarí da Marinha Imperial cuja descrição é a seguinte:
"lavar?' — Prato com friso azut esverdeado na borda £ na aba a coroa imperial sobre uma âncora e esta sobre uma cinta portando
o nome Javari. A porcelana é marcada A. Davebuy & Sandret Havre. Este vaso de guerra brasileiro tem uma história interessante.
Em )SVJ naufragou na baía do Rio de Janeiro próximo à ilha Fiscal, o monitor cncouraçado "Javari" sob o comando do capitão
tenente Afonso Augusto Rodrigues de Vasconcellos. Este navio abriu água abalado peta artilharia durante um combate com as
fortalezas da barra do Rio de Janeiro. Era do tipo-Solimôes que havia naufragado antes no Cui u Poiòrúo em i9 de Maio de IS92.
Informações gentilmente prestadas pelo seu possuidor Dr, Luís Pedreira Torres, O prato á direita fazia parte do serviço de gala do
cncouraçado São Paulo, de fabrico inglês (Couipori A. D.) — porcelana branca tendo na aba dois llsléis c delicados ornatos doura­
dos e ao centro o brasao da República e sob ele o nome de “São Paulo" (ficha 229, do Arquivo do Museu da República) como
todos sabem o cncouraçado São Paulo, quando desativado foi vendido à Inglaterra e afundou durante uma tempestade r.o meio do
Oceano Atlântico. (Cortesia de Ecyla Casianheira Brandão). O prato de baixo com friso dourado tem a marea IJmoges UNIC, 12
rue de Paradis <' um escudo com três cruzes e as tetras S. M. Este prato fez parte do serviço de bordo da embarcação de guerra
"Duque de Caxias", tendo na aba um escudo coroado, este prato faria parte da coleção Odilon de Souza e hoje faz parte do acervo
do Puldcio Bandeirantes (São Paulo),

630
BIBLIOGRAFIA
(1) Pierre VERLET — "Les Grands Sirvices de Limoges in
Cahiers de la Céramique-Limoges, suplemenl n,° 13,
(2) G eorges F ontaine , ob, cit., pág. 128.
(3 ) F. J . D ’i l b i s — "Commentaires sur l'évolution des décors
au X IX et X X siècles in Cahiers de la Céramique Consacré
a Limoges1', suplement n.° 13, sfd,
(4 ) E nrique S c h a e f f e r s — "Chinesiccs" in A n a is d o M u s e u
Histórico e National, voL XXII — pág. 35,
(5) G eorges F ontaine — " L a C éram ique F rançaise " —•
pág. 158 — Paris, 1965.
Í6) F. J. D'àlbis, ob. çit.

631
XV - PORCELANA JAPONESA

obre a cerâmica japonesa, não outros, em 1542, quando três mercadores, Antônio da
resta dúvida que eia se fez pre­ Mota, Francisco Zaimoto, c Antônio Peixoto, lá che­
sente no Brasil já nos meados garam. Logo os portugueses estabeleceram uma feitoria
do século XVIII, mas, sobre­ na Ilha de Kiou-Sou. Na história da vida do Padre
tudo, no século XIX, porém, Francisco Xavier® há informação de grande movi­
'são escassas as referências a mento de venda dc mercadorias indianas, remédios,
respeito. tecidos e curiosidades ocidentais pelos portugueses —
Isso talvez, porque as porcelanas Companhias calcuia-se em 300 toneladas de ouro (cm moeda) por
das índias, de origem chinesa, como sabemos, domina­ ano que saíam do Japão. Os mercadores lusos frequen-
ram ampíamente o mercado e provavelmente as peças - tavam os portos de Bongo, Firando e Imari, confi­
japonesas oriundas da região de Hizen, de Arita ou nando-se depois em Nagazaki, onde construíram uma
Imari ou de Kutani eram confundidas com aquelas de iihoía artificial chamada Décima, que mais tarde veio
clássica tradição em nosso meio, monneníe se conside­ a ser utilizada pela Companhia das índias Holandesas.
rarmos que eias tinham um ponto comum (entre outros) Nesta primeira fase dc comércio eram os portos
que era a sua procedência oriental, a decoração em da Nagazaki e Imari que davam escoamento à larga
geral diferente e exótica, em comparação com os co­ produção da porcelana nipônica da Província de Hizen,
nhecidos motivos ocidentais, europeus. Além disso, onde se localizavam numerosas fábricas, sobretudo de
conforme pudemos verificar no próprio Japão, pelo Arita que passou a ser conhecida no Ocidente como
menos relativo a peças do primeiro quartel do século '“louça de Imari", por causa do porto de embarque,
XIX, havia uma semelhança muito grande dc pasta como o porto de Macau, na China, deu o nome a
entre as chinesas de exportação e as originárias de um tipo íle porcelana azul e branca de exportação.
Tmari, de uso, sobretudo nas peças populares do gê­ Porém, este comércio interrompeu-se abruptamente
nero de Swatovv de coloração cinza-azul ado. E também em 1539, por um édito imperial proibindo aos portu­
pelo fato dc a grande maioria das peças de exportação gueses sua presença no Japão: "A raça inteira dos
não trazerem marcas, o que colocava o público leigo portugueses, incluindo suas mães, domésticas e tudo
em dúvida quanto à procedência o que até hoje ainda que depende deles será exilado a Macau", reza uma
acontece com determinadas peças difíceis de classificar. das severas cláusulas daquele estatuto.
Existe ainda um outro fator a considerar por “A importação das mais antigas porcelanas japo­
analogia. Sabemos que os holandeses carregavam suas nesas que se acham na Europa (é um fato mais ou
naus tanto com encomendas chinesas, como sobretudo, menos fora de dúvida) é devida aos portugueses que
japonesas, de que foram realmente os grandes distri­ as trouxeram entre 1550 e 1639” ®,
buidores na Europa. Porém, nem todos sabem que os Outras razões também concorreram para a ex­
espanhóis do México, desde eras remotas, ou seja a pulsão dos portugueses e o massacre deles em 1641,
partir do século XVI, que a Nova Espanha (México do qual veio também a ser vítima a figura ímpar de
atual) mantinha um regular e intenso comércio com o São Francisco Xavier. Este intemerato e santo missio­
Oriente, através da Capitai das Ilhas Filipinas, Manilha. nário havia chegado ao Japão em 1549 e se localizou
Este era um comércio direto das ilhas com o continente em Kagoshima, na Província de Satsuma, onde os
americano. É dito por abalizado autor mexicano que: portugueses se entregavam ao comércio da porcelana.
"Undoubtly the ruost important part of the gaileons No entusiasmo da Evangelização, os missionários
(de Acapulco ou de Manilha como eram chamados) portugueses, particularmente São Francisco Xavier,
consisted of íhousands of pieces of japanese and Chi- procuravam interferir nos motivos da decoração da
nese porcelain destined to satisfy western demand for porcelana, com temas religiosos católicos, coisa que
this fragile delicate and precious ware” W. também desagradava aos japoneses W.
Quanto aos holandeses conseguiram eles cartas
Assim, não resta dúvida que foi de porte a pre­ patentes para comerciar em 1611 e até se estabeleceram
sença dos artigos nipânicos, que por serem também
na ilha da “Décima", onde estiveram os portugueses,
de superior qualidade e beleza, eram aceitos pelas e as naus holandesas iniciaram intenso comércio. Se­
elites, quando não confundidos com os chineses. gundo Kaempfer, a porcelana passou a constituir um
Vejamos como se processou esse intercâmbio artigo regular de comércio, calculando-se (de 1611
nipônico com a Europa e a América. em diante) uma média de centena de caixas. Em 1664,
Os lusitanos foram os primeiros europeus a trafi­ diz Jaquemarí que chegaram à Holanda quarenta e qua­
carem com o Japão. Segundo uns autores, o seu tro mil,- novecentos e quarenta e três peças de porcela­
contato teria se efetuado em 1534, quando até intro­ nas japonesas raras. No mesmo ano saíram de B atavia
duziram o uso das armas de fogo no Japão; segundo dezesseis mil quinhentas e oitenta peças de outras por-

633
PER ÍO D O S CERÂM ICO S DO JA PÃ O

667

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634
celanas diversas recolhidas pela Companhia das Índias No que diz respeito aos artefatos destinados à
Holandesas<SL população, lembram eícs as peças conhecidas e classi­
Arqueologicamente, constata-se que a primeira ficadas como Swatow, tanto pela impureza e coloração
porcelana, produzida no Japão, foi em Arita, na Pro­ das pastas, como pela espontaneidade e uma estili-
víncia de Hizen, fabricada por um coreano naturalizado, zação singela mas expressiva nos traços incisivos dos
Ti Cham Pyong, entre 1610 e 1619, embora haja desenhos, estes predominahtemcnte em azul e branco.
referências históricas que levam a supor que a pro­ A pasta empregada nessa faixa da produção
dução tenha sido iniciada no decorrer do século XVI, assemelha-se a ponto de confundir, a clássica pasta da
como vimos linhas atrás peias crônicas antigas. Essa porcelana Chinesa de Exportação que se apresenta
porcelana tomou o nome de Imari pelo fato de ser em geral em coloração cinza-azulada e uma superfície
embarcada naquele porto. enrugada. Dada essa semelhança, que vem de século,
De 1629 a 1643, a produção já adquire persona­ temos conhecimento de que serviços inteiros são
lidade com uma feição técnica c comercial definida. exportados em branco do Japão, para serem decorados
Porém nesses primórdios e mesmo mais adiante, tendo por artesãos chineses cm Hong-Kong, à maneira chinesa
em vista a vizinhança e ensinamentos ministrados por e no gênero de Companhia das índias.
seus tradicionais mestres chineses e coreanos, tanto as Quanto aos mercados externos eram preferidas
formas como a decoração revelam a influência destes as peças do gênero “brocado", de apresentação sobre­
exímios ceramistas. carregada, porém vistosa, com prevalência dos esmal­
A porcelana conhecida por velha Imari (Ko- tes vermelhos, azuis e dourados. Quanto aos dese­
-Imari) apresenta duas fases significativas. A primeira nhos predominavam as variantes inspiradas na última
de 1644 a 1660, é iluminada pelo talento de Sakaida fase dc Wan-Li, de faixas geométricas ou reservas
Kakicmon, cujos descendentes irão revezar-se na di­ ocupando as largas abas dos pratos ou das malgas,
reção do estabelecimento à altura do genial oleiro, o tendo no centro uma reserva maior, às vezes circular,
qual irá notabílizar-se pelo emprego de um tom de contendo figuras ou variações fitoformes, quadrifólios,
vermelho e estilo próprio.
trifólios, etc., entre elas as “cestas de flores”.
O estilo que veio a formar profundas implicações,
Complementavam esses tipos as peças em azul e
acarretará tanto na Europa, como na própria China
e definirá um gênero decorativo japonês na Cerâmica, branco e as policromadas que deram fama a Kakiemon,
inspirado nas pinturas de Muromachi e outras mani­ de disposição assimétrica e todo um rol espeeifiea-
festações artísticas genuinamente nipônicas do começo mente dc encomenda com siglas, coronéis, legendas,
do grande período de Edo. Assim essa primeira fase emblemas, pavilhões c personagens com indumentária
já encerra duas escolas: a tradicional chinesa e a européia.
nafivista, genuinamente autóctone. De notar, segundo Emmanuel Cooper <7), que os
Segue-se a fase considerada como a Idade de artigos de exportação eram “de decoração elaborada
Ouro do Imari Antigo, que abrange perto'de um e de produção maciça”, o que nos leva a crer que ao
século — de 1661 a 1753. Nela aperfeiçoam-se a contrário da China, que só fabricava o melhor para
o seu mercado interno, fmari dava tanta atenção ao
qualidade do vermeiho, a composição das pastas, a
seu mercado externo quanto aos fornecimentos de sua
diversificação dos motivos; e a organização fabril e dite. Outro ponto citado pelo referido autor, é que
comercial se aparelham para enfrentar vasta demanda. Imari, já no século XVIII, não só fabricava excelente
Nesse período, Imari passa a assumir no Japão porcelana como passou também a desenvolver a
o papel de Chintehchen na China: tem que abastecer técnica do decalque (transfer-printing), Não especifica
o mercado interno, satisfazer o externo, fabricar arte­ o autor se esse “transfer-printing” era em cores ou
fatos ao gosto e ao uso domésticos e esmerar-se em monocromo, se sob a glasura ou sobre o vidrado.
atender a uma clientela ocidental exigente e sofisti­ Podemos no entanto afirmar, com peço de nossa
cada, através, mormente, dos mercadores holandeses. coleção, que no primeiro quartel do século XIX, o
Segundo Hazcl H. Gorham í© porcelanas japone­ “transfer-printing" em azul, sob o vidrado, era executa­
sas chegavam a ser contrabandeadas fora do Japão por do eximiamente em peças de uso popular (de pasta
mercadores chineses para serem vendidas nas Índias cínza-azulada). Há informação que mais tarde também
Orientais Holandesas e até mesmo na índia. Informa foi utilizado o decalque colorido.
também que em 1664, uma das embarcações batavas Informa-nos outra autora, Hazel H. Gorham í8>
carregou mais dc quarenta e cinco mil peças de porcela­ que cedo no século XVIII, os japoneses começaram
na de Imari, diretamente para a Holanda, a usar uma espécie de máscara (estêncil) para fundos
Na parte doméstica sua produção destina-se à e cercaduras de peças.
todas as classes sociais, fabricam tanto o mais requin­ Utilizavam também um processo sui-generis,
tado e artístico adorno como o mais simples e utili­ prático e eficiente. Coziam a fogo alto, apenas parte
tário vasilhame. Fornecia ao Palácio Imperial de das cores que haviam escolhido para compor a decora­
Kyoto, aos monges shintoistas, a aristocracia urbana ção e ao mesmo tempo riscavam em azul cobalto os
e rural e ainda ao Sho-Gun, como também a parte demais desenhos que numa segunda etapa, a fogo
menos afortunada da população. brando, seriam executados com outras cores. Assim já
Com referência aos produtos destinados aos ficavam delineados nas peças os outros motivos a
elementos oficiais eram eles esmerados, tanto em azui serem coloridos à temperatura diferente. Não c raro
e branco em que transudava a influência dc Wan-Li perceber-se cm peças do século XIX, os riscos de
como nos “brocados” em que transbordava o virtuo­ cobalto formando o contorno de outros motivos colo­
sismo policromico e gráfico. ridos — sobretudo do dourado.

635
Os japoneses por intermédio de Imari, tiveram o a valorização das flores e enLre elas a mais cantada
mérito raro, de atrasados no tempo no fabrico da pelos poetas, a rosa já celebrada por Ronsard, o prín­
porcelana, de humildes e modestos discípulos dos cipe dos poetas franceses. Sobretudo, a figuração hindu,
coreanos e chineses, imporem-se rápida e progressiva- cuja representação é diferente da Ocidental, empre-
mente como grandes ceramistas, igualando, quando goii-a em suas faianças e porcelanas, chamando-as dc
não superando os mestres milenares em arte, cm qua­ “fleurs des Indes”, Os alemães não deixaram dc sc
lidade e em criatividade. R. Picard, J. P, Kerneis e prender também aos mesmos encantos e em sua cerâ­
T. Bruneau (Lcs Comp. des Indcs, Arthaud) infor­ mica vem ela exotícamente denominada de "Indianisch
mam que o azul e branco japonês chegou em deter­ Biumert”.
minada época, a apresentar-se de melhor qualidade. O Japonismo encerra ainda em si uma importante
E no mercado internacional, a porcelana japonesa do característica que é a concepção introduzida por Kakie-
século XVII apresentava-se mais cara do que a chi­ rnon, o genial revolucionário da assimetria na pintura
nesa! O custo em certa época (século XVII) era dc no que foi seguido tanto com contrastes fortes de tons
0,64 florins para a japonesa e 0,14 para a chinesa como nas mais suaves nuances dc coloridos esvoaçados
Imari desempenhou sem dúvida um relevante por Kutani. Com a disposição dos motivos ou dos
papel na história da decoração universal e disputou volumes crõmicos de forma assimétrica (ao contrário
com a China a atenção e a preferência dos Ocidentais, do sistema do brocado, que preenche todo o campo
Aquela desde o século XVI, que havia acrescido ao da peça) e destacados sobre o fundo do prato, é con­
repertório da Arte, o termo Chinesice, para designar ferida à composição, não só um destaque no desenho
um conjunto sui-generis, de ornatos e de composições. como leveza no conjunto. Esta concepção levou Yung-
Mais tarde no século XVIII, volta a penetrar esse -Cheng no seu curto reinado a adotar todo um largo
estilo, em grande pompa nos ambientes palacianos esquema baseado não só na assimetria como na esco­
ocidentais, seja através dos biombos, tapetes, brocados lha de preferência dos temas florais, e, com essa dire­
e móveis laqueados com verniz Martin, marfins e a triz singela, em contraste com a exuberância e o vir­
porcelana chinesa, inspirando outros espécimes locais, tuosismo de Kang-Hsi, realiza uma série tão elegante
copiados à maneira chinesa na Europa e ainda cm c leve de criações, quanto pródiga de encantos e deli­
pavilhões espalhados em jardins. No próprio Brasil, cadeza, a ponto de seus produtos revelarem-se dos
vamos encontrar aquela benfazeja inspiração oriental, mais reputados da dinastia Ching no mercado inter­
diferente e bela, tanto na arquitetura como na ebanfs- nacional.
tica e na pintura, nos tetos apagoados de Ouro Preto O Japão, como dissemos, também influenciou os
e alhures, assim como, em arcas e portas de armários ceramistas do Imperador Kicn-JLung, a ponto deie
reproduzir durante largo período toda uma categoria
e de igrejas decoradas com as Chinoiseries. O mesmo
de padrões usados no Japão, tão importante esta pro­
acontece com o Japão que desde o século XVI, através dução cm qualidade e quantidade c motivos copiados
das interpretações originalíssimas de Kakiemon e tam­ que passou a constituir uma sub-classificação da famo­
bém dos excelentes produtos de Kutani na Província sa porcelana chinesa “Companhia das índias", conhe­
de Kaga, passa também a impressionar o meio artís­ cida como “Chinese Imari*'.
tico europeu. Desse repertório chinês, destaca-se o motivo
Desde o século XVIII, que na Inglaterra (Chelsea, conhecido por “Cestas de Flores” (Flowers Baskct).
Bow, Worcester), na França (Chantílly, Strasburgo) Este belo ornato foi posto em evidência pelos argutos
e na Alemanha, se constata na produção a inspiração japoneses, que o foram exumar entre um dos oito
do novo, elegante e original repertório japonês. remotos símbolos sagrados do Taoismo. Este motivo
E o mais surpreendente é que na própria China, foi larga e exaustivamente empregado na azulejaria
durante certo período, é assinalada também aquela ç faianças flamengas, c como dissemos, profusamente
influência que não só se transmite à porcelana, como fabricado pelos chineses para o Ocidente c chega
a outros setores das artes menores como na tecelagem,
mesmo a causar confusão com as peças similares feitas
no marfim, na madeira e no jade, em que o artesão
chinês transplanta também parte dp folclore nipônico, em uma ou outra nação no mesmo período, tal a per­
feição do desenho e a semelhança da pasta, Segundo
No século XIX, volta aquela tradição artística
pela década de 1870, num verdadeiro renascimento. King-Kong-Lee, “expert" chinês (Gammon Housc
Exumam-na do esquecimento em que haviam caído Hong-Kong), no século XVIII a pasta do “Chinese
vários ceramistas europeus entre eles; De Morris, De Imari”, é mais alva do que o similar japonês,
Morgan, Havilland, Dcck, etc., que aproveitaram para Imari, ta! qual no esplendor de sua Idade dc Ouro,
enfeitar o florido bouquet que veio a se constituir no continua a brilhar ainda intensamente na constelação
movimento do Art-Nouveau, que empolgou a Europa. dos países amantes do belo cerâmico daquele criado
Esse estilo japonês passou a ser conhecido por pelo engenho e sensibilidade humana. Há na porce­
Oricntalismo, Japonísmo ou mesmo Indianismo, diferin­ lana, para os que sabem ler fora da rotina escrita e
do no tratamento da forma, do desenho e da cor por dos cânones clássicos, impostos à nossa formação, um
uma gama um tanto maior de variedades do estilo chinês poema gravado ou uma mensagem a ser captada, que
das “Chinoiseries", apegando a interpretação uniforme fala a alma sensível, através da elegância plástica das
clássica do folclore, do simbolismo e da religião, O formas, seja através da harmonia das cores ou dos
japonês tem por característica a prevalência dos temas motivos,
Ilorais e seus arranjos que seriam cotados no Oriente Imari continua a fabricar serviços de concepção
Médio (Pérsia e índia) e no Extremo Oriente, no moderna avançada como também a exemplo do que
Japão, para compor uma vasta e colorida mostra para ocorre na China, a reproduzir com notável arte os seus

636
belos modelos antigos, mais apreciados peio público 2. ° — Quando o Senhor de Satsuma contrata
local e internacional. Destes aparelhos, são os mais Ninsei para trabalhar em Kagoshima com sua equipe,
conhecidos "The Dutch", cujo motivo vem sendo período cm que o produto é apenas conhecido por
repetido desde do século XVII, até hoje. Outro é a “louça dc Satsuma” .
cópia do serviço, lembrando as figuras de Luiz XIV 3. ° — Quando parte dos artesãos dc Ninsei
c Mme. de Montespan, que contínua cm fabrico. voltam a se estabelecer em Awata e esta cerâmica
Há também, segundo consta, exportação de peças passa a ser denominada de Kyo-Satsuma.
de porcelana cm branco, para serem decoradas fora. A As louças abrangendo esses três períodos ao que
decoração definitiva é procedida, a mór das vezes, em se pode deduzir, mantinham na realidade afinidades
ateliês particulares em Hong-Kong c à maneira chinesa, marcantes, já que tomaram expressão artística juntas
como os gêneros “Mandarim", “mille-flcurs”, "gravia- com a presença de Ninsei e a escola que lhe deu con­
ta", etc. e também no gênero Companhia das índias, tinuidade. Consta que a idade de ouro de Satsuma foi
aproveitando pastas cinza ou verde azuladas. Em geral a primeira metade do século XIX.
essas peças vêm estampilhadas sobre a glas ura cm ver­ Essa louça de Satsuma tem características defi­
melho com os dizeres “Dccorated in Hong-Kong”. Esse nidas, pois a sua pasta (de faiança fina) tem uma
tipo de pasta, segundo Lacrtc Ottoiano (S. Paulo) é coloração idêntica ao “crcam coloured wure”, ou seja
proveniente da região de Scto no Japão. ligeiramente cor de palha ou amarelada. Outra carac­
Essas peças rodam por várias partes do mundo, terística: o fino e decorativo craquelé de seu vidrado.
dos mercados Orientais, para os Ocidentais, de lojas Quanto à decoração, é ela de regra, sobrecarre­
variadas para antiquários, de antiquários para leilões. gada, com renas, personagens, cabeças, bustos, flores,
De Hong-Kong, China Town, Marché aux Puces e, etc., ocupando os temas quase todo o corpo das peças,
digamos também, Manaus correm também junto com sobressaindo o uso intenso do dourado e de cores
as reproduções chinesas modernas, como cavalos de suaves. Porém é de notar que parte de sua produção,
estilo Tang, as “ Famílias Negras”, os “céladons”, os de excelente qualidade, revela um artesanato dg alto
“flambes”, tanto em terracota como cm louça esmal­ padrão.
tada.
Não dispomos de dados até o presente, para afir­
Acreditamos que enquanto o chinês nos fascina mar sobre a importação consignada ao Brasil, das
na elegância das formas e na técnica do fogo, o japo­ iouças japonesas; acreditamos que das aqui chegaram
nês, pelo tipo de decoração demonstra um espírito misturadas com as peças de Companhia das Índias,
mais livre, se o primeiro tenta nos mostrar o belo trazidas pelos portugueses ou pelos holandeses, Mas
material, o japonês nos transporta através da poesia pelo que vimos, Portugal teve a prioridade desse trá­
a um belo subjetivo. fico durante quase um século, dc L542 a 1639, (embo­
Não da cópta do belo natural que um Deus criou ra no final, compartilhada pelos flamengos quando
através da Natureza para nossa perene contemplação, começou a se processar a expulsão dos lusitanos
mas sim do belo criado pelas mãos humanas através daquele país).
da sensibilidade, interpretando a arte como sua mente Acreditamos que peças japonesas desse período
ímagjna livremente. quinhentista e seiscentista nao tenham chegado ao
Outro centro cerâmico japonês de interesse para Brasil por intermédio de Portugal; os inventários a
esse respeito sc calam.
o Brasil é o de Satsuma, já que mormente no século
XIX, cá vieram ter peças daquela procedência. Porém, os holandeses assumiram também com
Portugal esse comércio em 1611, continuando peio
Sobretudo de adorno como monumentais jarrões c
século XVII adentro, e segundo as crônicas fizeram
vastos medalhões, a concorrer nos nossos salões aristo­ regularmente grandes importações de porcelana japo­
cráticos imperiais c republicanos, em estáticas postu­ nesa para distribuição.
ras, com os vasos de Sèvres em “bleu du roi”, e os Ê possível e provável que naquele período tenham
Capodimome, super povoados de anjos e figuras! trazido para o Brasil, além das faianças de Holanda,
Peio que se pôde apurar, o seu fabrico teve início as porcelanas japonesas que já vinham sc integrando
no século XVII, por coreanos que haviam se estabele­ em seus hábitos domésticos e de negócio, já que elas
cido na Tlha de Kyushu em águas japonesas. faziam parte considerável de sua extensa pauta de
Por volta de 1650, consta que o Senhor da Pro­ exportação para o resto da Europa.
víncia de Satsuma, que admirava os trabalhos dc Com referência ao século XVII, sabe-se que a
Nonomura de Ninsei, um famoso artista estabelecido importação também era volumosa c que a Holanda era
em Awata, em Kyoto, o contratou com sua equipe quase a exclusiva distribuidora na Europa.
para dirigir a fábrica de Satsuma em Kagoshima. Lã Os portugueses, conquanto mantivessem o mono­
em Awata, Ninsei jã produzia artigos excelentes conhe­ pólio de exportação dc seus artefatos para o Brasil,
cidos por Faiança de Awata. Após a morte do brilhan­ não deixavam de trazer em suas naus também artigos
te ceramista, parte de seus discípulos se dispersa; uns tíe outros países consignados à Colônia — isso porque,
permaneceram em Satsuma, outros voltam a se esta­ se havia um édito real proibindo o comércio estran­
belecer em Awata, em Kyoto. geiro com o Brasil, havia outro que permitia a entrada
Assim sobre a produção que reúne pontos em no país de artigos alienígenas uma vez que fossem
comum, dc Awata e Satsuma, há très tempos a con­ embarcados em naus lusitanas, conforme reza o alvará
siderar: régio dc 7 de novembro de 1770.
1,° — Nonomura Ninsei em Awata fabrica um Assim, havia peio menos no século XV1[f (e já
ripo cerâmico chamado de Faiança de Awata. vímos que também no XIX) uma brecha, o que vem

637
explicar a proliferação de artigos estrangeiros no gões nas reservas e decoração a vermelho, ouro e verde,
Brasil, antes da abertura dos portos, como manteiga, com marca atribuída a Kutani (século XVIII).
queijos, vinhos, tecidos, cerveja, etc., inclusive a porce­ Outras peças, também do século XVIII, tipica­
lana japonesa. mente Imari (Arita) são provenientes de Diamantina:
Nas recentes pesquisas realizadas no Nordeste, trata-se de pratos de sobremesa, com borda "ajourée"
em locais ocupados no século XVII pelos batavos, c faziam parte do serviço de mesa (junto com outro
certa mente serão encontrados fragmentos dessas visto­ aparelho chinês do tipo Macau) da famosa Chica da
sas louças, como a recuperação de naus afundadas em Sjva e do contratador de diamantes, não menos famo­
nossa costa, provindas da carreira da índia, deverão so, João Fernandes de Oliveira, O remanescente desses
atestar a presença daqueles artigos. aparelhos encoi)lra-se com um dos seus descendentes,
Por enquanto conhecemos poucas peças de filia­ o colecionador Antenor Edmundo Horta, morador no
ção convincente. O sociólogo Prof. Gilberto Freire, Município dc Esmeralda, cm Minas. Várias coleções
esclarecido colecionador, entre belos exemplares de particulares detêm um mostruário diversificado dessas
porcelana variada que recheiam o seu aprazível reduto porcelanas nipónicas em que se incluem também,
de Apicucos, mostrou-nos um medalhão que havia pratos e jarros “Satsuma” adquiridos no Brasil, como
pertencido ao padre Morais (há uns cento e cinquenta a de Renato Magalhães G OUvêa c Armando Arruda
anos) — peça muita bonita, com faisão no centro, dra­ Camargo.

638
Sécs. X V U IfX lX PO R C E L A N A JA PO N E SA

Estatueta de 50 cm de aiwra, fabrico de Satsttmu, com predo­


minância de dourado, coleção D.a Anita Marques da Cosia,
sem marca, classificada em Tóquio, como do período Meyji
(ISóSi. 0 prato de fundo decorado, ondulado, com cabeças dc
monges, também é do mesmo período e dc Satsurna; coleção
Armando Arruda Camargo, assim corno o prato de larga faixa
avermelhada com dizeres japoneses, este do gênero de Kutani,
O prato de baixo à direita ê do século X IX da coleção de
D.a Ambrozina Maia Sampaio (Bctém-Parc) e é proveniente de
II izen.

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SÉc. X I X P O R C E L A N A JA PO N E SA

O prato de cima (com reprodução do veno ao lado) pólícrc-


maão e trançado quase todo com riscos dourados, é um desenha
muito apreciado, que vem sendo copiada do século X V II ao
XIX. O Museu de Seattic (USA.! possui um original do século
XVII. Informações presto fio í pelo perito King-Kong-Lee, de
Hong-Kong (Gamnion H om e art Gallery L ti,) Coleção Armando
Arruda Camargo, O prato de baixo é também de Imarí, com
um castelo na parte superior e bandas largas, imitando tecidos
como complemento decorativo — decoração fora do comum
mas de belo efeito crômlco.

674

640
Sécs. X V lli/ X I X PO R C ELA N A JA PO N E SA

xy

Na parle dc cirna, uma rica travessa quadrada e ao lado, um prato vaiado tendo como motivo central a cesta de pores f"flower
baskci"), motivo Taoísta e copiado profusantcnte no Japão, c na faiança holandesa; o medalhão é da coleção do Dr, Armando Arru­
da Camargo t o prato qut pertenceu a C hka da Silva, falecida em 1796, é de propriedade de Seu descendente, Sr. Antenor Horta.
A peça i dos meados do século XVIII, de fabrico de Imari, do género vasado (fret n-ork), motivo clássico (das cestas) conhecido
por “Waisunagni". A travessa oval ão centro é de procedência pernambucana c faz parte do coleção de Renato Magalhães Couvêa
(S. Paulo). O prato azul (com a reprodução do reverso) é um prato raro conhecido por “maço. o sapo e o peixe", inspirado etn
gravura holandesa. Ê atribuído â época de Kyo-Ho (1716-S735), proveniente de Jfirado.

641
Séc. X IX PO R C ELA N A JA PO N E SA

680
679

O prato dê cima com. aba alaranjada a flores ao centro, de


decoração sobrecarregada e vistosat foi feito para o mercado
europeu {Aritaj, o verso do prato mostra seis idiogramas em
vermelho, correspondendo ao período de MeyjL Os dois pratos
de baixo com decoração em vermelho no gênero de Kuíanh
são cópias executadas pelã fábrica de Imarit de motivos e cores
do século X V JL (Informações do Museu de Kyoto).
Antiga coleção Souza Campos,

682
681

642
Sécs. X V U I/X IX PO RCELANA JA PO N E SA
(Imari)

Os dois pratos de cima, apresen­


tam a mesma estrutura de deco­
ração com variantes nas reservas
e a estíUzaçao de urna fruta no
centro. Coleção José Ferreira
Lopes (Rio de Janeiro). Os pratos
do centro, também de elaborada
confecção o da esquerda no cen­
tro, traz a representação de' um
“qttaárrfâlio" fcoleção José Fer­
reira Lopes) £ o outro de um
“trifáiio“ (coleção Dr. Armando
Arruda Camargo). O prato em
baixo ã direita com predominân­
cia de faixas espiraiadas em ver­
melho, é da coleção do Museu
Aíariano Procúpio (Juiz de Fora,
Minas),

643
Séc. X IX PORCELANA JAPONESA
(Imari)

Prato dc inspiração chinesa, lembrando o período de Yung-


•Cheng, com o desdobramento de uma flor de lotus e suas
pétalas, porém de fatura de Imari dó período de Meyji. Cole­
ção Américo Ribeiro dos Santos. Q prato à direita, a primeira
vista lembrando um “Chinese Imari", foi classificado em
Tóquio, como Imari verdadeiro, também do mesmo período.
A. série de três pratos com motivos diferentes são da segunda
metade do século X IX e mostram a grande diversificação dos
motivos da fábrica Imari. Coleção particular (México),

69 1

Ó44
Sécs. X V I I 1 / X I X PORCELANA JAPONESA

Medalhão ricamente decorada cúm reservas na aba e vários


moüvos no centro, inclusive um belo pavão, fabrico de Imari.
Coleção Fundação Crespi-Paulo. Â travessa da direita, quadrada,
Imarit ê da coleção do Dr. Armando Arruda Camargo. A fra-
vessinha com predcminância de vermelho ê proveniente de Arita
e pertence à coleção do Conselheiro Cultural da Embaixada do
Brasil em Tóquio, Dr. José Ferreira Lopes, colecionador. Á
grande, travessa (38 cm) octogonal forma um par dê figuras
de rica decoração na aba. Coleção Sr a. Anita Marques da Costa,
O prato redondo <z direita com variações coloridas, partindo
de uma flor de botão do centrof é do fabrico de Imari e da
Coleção Armando Arruda Camargo.

645
Séc. X IX PO R C E LA N A IM A R Ï
( d e e x p o rta ç ã o e u s o in te r n o )

Ö Japão, a exemplo da China, fabricava gêneros diversos para diferentes


mercados, Afa figura de cima remos uma pequeâa tigela, dé rara singe*
leia, destinada ao uso popular; a pasta, peió coiorido Ugêhatnente alula-
da, faz confundir m m a porcelana Companhia das' Indus, de exportação.
O patinha policromado de dupla paliça, é de uma série que' vem sendo,
desde a século X V II, fabricada paru o exterior até hoje, exibe uma
caravela e personagens vestidos ä européia; o gênero é conhecido por
“The D ui eh”. A série de quatro potínhos (defumadored!) também são de
uso interno, sendo de observar que o terceiro à direita etn hrcaeci c otiil,
com uma larga grega fia base e folhagens no bofo, i decorado pelo pro­
cesso de decalque que Imãri já Usava em 1810 (que ê a data da peça). ï>a
série de baixo, leiteira policroinada em que sobressai o azul, "rouge de
fer" e o dourado; foi adquirida ein Juiz de Fofa é obedece a outro pro­
cesso Curioso de decoração dm duas fases, não usado pelos chineses e
que consista em desenhar etii azul cobalto tio fogo alto, não sé' OS dese­
nhos tszjdd, completos como os contornos dos motivos que em fogo brando
serão pintados a ouro, em outra etapa. Segundo cortesia do Museu de
Kycfio. as peças foram classificadas: as arttí e brãnco da 1830, o pôiinho
de dupla pança é de 1880, c o s dois potinhos azul monocromo, são do
ano de 1850, '

646
B I B L I O G R A F I A

( [ ) G gnzalo O bregon — “Ei Aspecto Artístico dei Comércio


com Filipinas”, in Artes de México ri.° 143 — 1971.
(2) K ampfer — "Histoire du Japon".
13) C. A. A tjsdley et J. L. Bowes — “Le Céramique
Japonaise" — P a ris, 1881.
(4) T heodoro R osins — “A louça japonesa" — in Anuário
do Museu Imperial — vol. 4 — pág. 169/185.
(5) A. J acquemart ■- "Les merveilles de la Céramique" —
Paris, 2,a ed. 1868.,
(61 H azel H. G orham — “Japanese and Oriental Ceramics"
Tóquio, 7.a ed. 1978.
Í7) E mmanuel C ooper — "A history of pottery
York, pág, 98 — 1972.
(8) H azel H. G orham — op. ci/., pág. 184.
19) Les Compagnies des Indes, Arthaud, pág, 89/90 — Paris.

647
XVI - PORCELANA CHINESA

produçãs chinesa do século XIX Era a alfazema, o alcanfor, o aloés, a mirra, o


é representada por cinco reina­ patchoult, o almíscar, o sândalo, o benjoim, c a água
dos que são: de rosas que, para deleite das damas, vinham de longe
Ch’ia Citing — 1796 — 1820 exalando ainda os eflúvios da primavera de jardins
Tao-Kouang — 1821 — 1851 orientais. Era o incenso a criar atmosferas artificiais
Hien-Fcng — 1851 — 1861 em templos pagãos e cristãos, em palácios de príncipes
T'ong-T :he — 1862 — 1874 c de sobas, ou ainda provocando falsos nimbos e per­
Kouang Stu — 1875 — 1907 fumando de odores suaves a penumbra das alcovas!
Tiveram esses imperantes o pesado encargo de Era ainda o aljôfar, a pérola, o rubi, a safira,
tentar manter cm condições idvcrsas a tradição ds a esmeralda, o diamante, o lápis-lazzuli, que vinham
seus ancestrais que há mais de mil anos, vinham formar um escrínio precioso e fascinante para adornar
abastecendo o mundo civilizado com artigos de aila coroas realengas e servir de moeda persuasiva e galante
categoria. junto às damas para arrancar sorrisos, agrados ou
Vinham desde a Antigüidade, dos confins do Mar vencer resistências!
da China, dos extremos do Celeste Império, varando E para cobrir os corpos toda uma série de teci­
a Ásia em rotas terrestres e marítimas, engrossados dos: pesados estofos de cetim, damascos, brocados
pelo caminho com outros artefatos exóticos, para fiados a ouro e prata, sedas lisas e multicores, chalés
arribar afinal às margens azuis do Mediterrâneo ou de cachimir, chitas hindus e as leves musselinas a
às águas encarnciradas do Bosphoro. Esse trajeto era envolver de nuvens transparentes a nudez das vestais
realizado na Aniigiiidade por diversas vias indiretas, ou afagar as carnes lascivas dc messalinas!
entre elas a famosa Estrada da Seda que abastecia de E ainda rotundos jarrões, pichéis e martabanis,
tecidos aos romanos. Há menção em escritos latinos, prenhes de vinhos e de neciares diversos, de “nargui-
que o imperador Augusto, recebeu em Roma uma ic” perfumado de cujas panças jorravam a euforia e
embaixada de persas e chineses que ievou quatro anos a alegria cantadas em versos imortais por Omar
para lá chegar! Khayam!
Esse fluxo a começo se processava em ombro de E também o cânhamo já transformado em haxixi
gente, em lombo de cavalo e dorso de muares, ou c as papoulas rubras de CatBay convertidas em ópio
ainda sobre as corcovas de camelos que em filas ou para transportar as mentes, à cata de sensação, às
caravanas penosamente iam vencendo etapas, serpen­ esferas do irreal e dos sonhos!
teando entre vales, desertos, penhascos, passes e mon­ E entre os líquidos inofensivos, vinha o chá em
tanhas, sob neve, chuva ou sol escaldante. ricas embalagens de porcelana, já elevado a ritual na
E ainda eram esses artigos baldeados em diversos Corte Inglesa, introduzido por Catarina de Bragança,
pontos desse interminável trajeto, para o bojo ou o filha de Dom João IV, casada com Carlos II da Ingla­
convés das la nteias, dos juncos, das fustas, das patra­ terra, irmã de Dom Theodósio, o primeiro príncipe do
ças, das galeras, dos galeões, das naus e depois dos Brasil e cujo dote de aiguns milhões de cruzados foram
modernos veleiros, para afinal, vencendo tormentas, pagos pelo “Principado”, sob a forma de “donati­
doenças, ataques de bucaneros, chegar às mãos do vos” . . .
Branco! E ainda as alcatifas e as alfombras, tecidos em
E aqueles fardos e barris, aquelas barças, gigos lã ou era seda para serem estendidas em tendas de
c amarrados provindos do Oriente, China, India, Coro­ emires e sultões e pelos pisos, mesas c paredes de
mandel, Pérsia, Ceilão, Anatólia, etc, iam trazendo palácios da Idade Média e da Renascença, produtos
produtos que militares de anos de vivência entre os de artesanato chinês, caucasiano, persa, turco mano,
homens, haviam alcançado fama merecida e se impu­ hindu, etc, de que pintores como Lotto, Rcmbrandt c
seram aos hábitos e costumes das elites civilizadas do Holbcin, entre outros, nos dão soberbas reproduções
mundo conhecido, a começar pelos romanos. em suas telas!
Era todo um estupendo, diversificado e mirabo­ E entre tantas preciosidades havia ainda de surgir
lante arsenal que chegava para ser disputado avida­ uma jóia, tão preciosa quanto as outras integrantes
mente por atacado e a varejo, às vezes em leilões, nas deste tesouro das “Mil e Uma Noites”. Garcia Horta
praças distribuidoras do Ocidente. cm 1563 já afirmava que ela “vai as vezes tanto que
Era o cravo, a canela, o gengibre, a pimenta, o é mais que prata duas vezes”, e em 1582, um viajante
açafrão, alcaparra, o “curry” que vinham condimen­ inglês na Nova Espanha (México) dizia: “Una pieza
tar iguarias insossas e excitar apetites lassos. daba por cila su peso en plata” . . . (s>

649
lira pois naquela companhia selecta que nos a única maneira de enfrentar aquela concorrência para
chegavam “as jóias preciosas de Joat-Cheou”, como os armadores americanos em franco e regular inter­
cognominava o Padre d’Entrecalles a porcelana câmbio com o Extremo Oriente, era de comprar na
chinesa. China, o matéria] mais grosseiro c portanto o mais
Sc essa jóia não era um produto rutilante da barato. Porém estas importações não excluem a pre­
Natureza, o era certamentc do engenho humano, dada sença de belas malgas policromadas com assuntos
a complexidade e a perícia exigidas para produzi-la. rorte-americanos, nem a presença de uma série de
O oleiro operava um milagre. Transformado em baixelas encomendadas ao Oriente para a sociedade
mago de um troço de terra informe fazia surgir das local como as de aba Fitz-Hugh, as policromadas
labaredas, numa metamorfose digna de um alquimista similares aos serviços do Conde de llamaraty e do
sobrenatural, um puro, cristalino e translúcido objeto Duque de Palmeia, em Portugal, entre tantas outras,
de arte. nem os diversos serviços com decorações de persona­
Curioso notar que enquanto a civilização grega lidades como Martha Washington e outros diferentes
se pautou pelos padrões sóbrios e frugais dos povos ostentando a Ordem de Cinciimali ou o seio americano.
guerreiros e produziu a mais notável floração artística Mas o que é certo é que a China continuou a
naturalista, como das mais luminosas expressões cul­ exportar dentro de seu clássico c milenar critério —
turais de que se tem notícia, a oriental primou pela louça fina, louça regular e a “grossa" (como eram
exuberância e pelo tequiute, Esmerou-se tanto no luxo, conhecidas nos manifestos de bordo) e que segundo
na manifestação do fausto e do aparato, como na o gosto de cada região para lá mandava o gênero e
exaltação dos sentidos c também no apuro artístico. tipos que seus consumidores exigiam — salvo é claro
E no correr do tempo vamos assistindo à requisi­ os produtos especiais destinados aos Palácios Imperiais.
ção e integração pelo Ocidente a começar pelos Roma­ Pelo menos no que diz respeito ao Brasil, con­
nos, daquela parafernália que nos encanta a vista, fala tinuamos no século XIX a importar todo aquele
ao paladar e incita à lascívia. mostruário variado que os fornos sempre acesos c
Não é sem razão que Baudelaire cm “Invitation ativos da velha Cathay exibia — fossem aparelhos
au Voyage”, diz ã sua bela, referindo-se ao Oriente e utilitários, fossem peças de adorno, tanto peças poli­
aos barcos de lá vindos: cromadas em que se incluem as armoriadas com siglas
" . . . C'est pour assouvir como a gama variada dos azul e branco, cm que domi­
Ton moindre désir navam os “ Pombinhos” ou “Salgueiro”, e ainda as
Qu’ils viennent du bout du Monde! peças carregadas de esmaltes grossos, conhecidas por
— Lá tout n’est qu’ordre et beauté "graviata", os mandarins de diferentes categorias e
Luxe, calme et volupté”. malgas e pratos grosseiros do género Swatow.
Pode-se dizer, que nesses cinco reinados que A prova dessa diversificação é exibida neste livro
cobrem o século XIX, não furam criadas novas “Fa­ em citações c estampas acrescida do material encon­
mílias", nem novos esmaltes e novos nionocromos, ou trado na nau de Mont Serrat, cujos salvados são uma
outros gêneros inéditos que chegaram a celebrizar amostragem viva e positiva do material chinês por nós
vários reinados anteriores! importado.
Ao que parece, o gênero chinês e a inventiva de Mas devemos relembrar que aquela concorrência
seus oleiros já nos haviam legado o que de mais subli­ internacional entre artigos chineses e ocidentais e
me podia alcançar o homem no domínio do fogo e da disputa de mercado no Ocidente já vinha de séculos
matéria; restava a estes últimos imperantes apenas a anteriores, e que a preferência da sociedade ocidental
tarefa inglória de não desmerecerem do passado, des­ se manifestara francamenle de começo pelas porcela­
dobrando-se para manter o alto padrão de sua louça nas chinesas e japonesas no cotejo com as faianças
fina c ao mesmo tempo produzirem em massa, artigos clássicas.
inferiores para contrapor-se em desvantagem, à mortal Nesse duelo, os produtos orientais haviam se
concorrência das faianças finas e das porcelanas euro­ conduzido galhardamente durante os séculos XVI,
péias, a mor parte delas produzidas industrialmente. XVII c XVIII, períodos em que eram disputados e
E diga-se que todo esse esforço chinês de pro­ que chegou a constituir mania a sua posse, co-habilari­
duzir artigos finos, de reco pi ar serviços ainda em voga do com destaque nos palácios, nas mansões da nobreza,
como o cio tipo Macau, os mandarins e muitos outros, do clero e da burguesia com a faiança ibero-mourisca,
assim como artigos inferiores tipo Swalow, era feito a italiana, a francesa e outras.
na base de puro artesanato. Pórém no século XIX, a situação difere pois que
O Japão com suas magníficas produções sofreu, a partir do século XVIII, as porcelanas de Meissen
ao lado da China, das mesmas vicissitudes; porém [ 1709) e a seguir as de Sèvres e de Limoges e ainda
Imari no começo do século, em parte de sua produção, as inglesas entram no mercado, porém no começo ainda
passa a aplicar o decalque para minimizar esforços e a preços mais altos do que as orientais.
reduzir custos, assim como passou a utilizar-se tam­ Mas na segunda metade do século XIX, com a
bém do processo da máscara (estêncil). avalanche de vasilhame atraente com que a revolução
Há quem diga que pelo menos no que díz respei­ industrial abarrota os mercados a preços baixos, os
to aos Estados Unidos®, a produção chinesa no produtos chineses tendem a ser preteridos. Um fato
século XIX decaiu bastante em qualidade. no entanto que cabe observar é que acreditamos que
Acreditamos que esse fato se circunscreva ao o Brasil, tenha sido um dos últimos países a deixarem
mercado norte-americano, onde os produtos chineses dc importar regularmente as louças chinesas tão enrai*
lutavam para não serem desalojados pelos ingleses. E gadas estavam elas cm nossos hábitos, fossem as louças

650
p e r s o n a l i z a d a ; e m a is f in a s p a r a a s u a e lit e com o os nuou a ser r e p r o d u z id o p e lo s c h in e s e s so b v a r ia n t e s
v a r ia d o s tip o s de azu l e branco, in c lu in d o -s e n esta d iv e r s a s d a d o o agrado de su a decoração, ch egan d o
s é r ie o p r o tó tip o p o p u la r c o n h e c i d o por P o m b in h o m esm o a té o s é c u lo a t u a l, so fr e n d o no en ta n to no
( W illo w T r e c ) e q u e era m a is c o n h e c id o p o r M a c a u . d ecorrer d o te m p o um a p r o n u n c ia d a d e g e n e r e s c ê n c ia
A s s im no B r a s il, d e p o is dc 1350, a p o r c e la n a ta n to d e p a sta c o m o d e d e s e n h o e c o lo r id o .
c h in e s a c o n t i n u o u a in d a a o l a d o d a s e u r o p é ia s , a s e r M as v o lta n d o ao tr á fe g o , G oa e M acau eram
a d q u ir id a p o r n o s s o s m a i o r e s , e m b o r a e m m e n o r e s c a la . s u b - d is t r ib u i d o r e s por fo rça da im p o s iç ã o da C oroa
A p r e fe r ê n c ia da e lite b r a s ile ir a com eçou a e do m o n o p ó lio d o c o m é r c io r e s n o l, a s s im os co n su ­
d iv id ir - s e en tre a o r ie n t a i e a o c i d e n t a l, já a o tem p o m id o r e s n o Ejtrasil a n t e s d a I n d e p e n d ê n c i a t in h a m que
d a In d e p e n d ê n c ia . P o r é m s o m e n te p e lo s id o s d e 1 8 7 0 , p a g a r o so b r e -p r e ç o d e to d o s o s a r tig o s q u e as naus
é que e la pende p r o n u n c ia d a m e n t e p e la s p o r c e la n a s p o r t u g u e s a s ía t n a d q u ir ir n a s f o n t e s c h i n e s a s d c e x p o r ­
e u r o p é ia s , so b r e tu d o de L ím o g e s por su a boa q u a li­ ta ç ã o c o m o C a n tã o , N a n k ím , S w a t o w , e tc .
d ad e, bom g o sto e grande v a r ie d a d e de padrões
D onde d e d u z ir -s e , é c la r o que a p o r c e la n a lá
a d a p ta d o s a o s m o d is m o s e m voga.
a d q u ir id a , a p esa r dos fa v o r e s fis c a is o u to r g a d o s por
D esap arece ou d im in u í s e n s iv e lm e n te o in t e r e s s e D om João V I, em 1 3 d e m a i o d e 1 8 1 0 , a in d a e r a m a i s
p e lo s s e r v iç o s m o n o g r a m a d o s o u se m s i g l a s o r ie n t a is , cara do q u e a q u e la a d q u ir id a n a s f o n t e s o r ie n t a is —
m e s m o p o r q u e le v a v a m e le s d o i s a n o s p a r a s e r e n t r e ­ essa s itu a ç ã o , verem os m a is a d ia n t e , ir á m o d ific a r -s e
g u es, e n q u a n to os eu ropeus le v a v a m apenas a lg u n s a p ó s a I n d e p e n d ê n c ia , com g ra n d e p a rte d essa s c o m ­
m eses. pras efetu a d a s d ir e t a m e n t e nas fo n te s E x tr e m o -
O q u e fo g e a e s sa regra sã o as p eça s d e ad orn o - O r i e r u a is p e l o s b r a s ile ir o s .
m o n u m e n t a is com o ja rrõ es o r n a m e n t a is c h in e s e s e
In fo r m a -n o s P edro C a lm o n in p r e fá c io de “O
j a p o n e s e s p a r a e n f e i t a r o s g r a n d e s s a l õ e s d e P a lá c io s
B r a s il e a L ouça da ín d ia ” , q u e d e sd e 1 7 8 7 , barcos
d o G o v e r n o e d e m a n s õ e s s e n h o r i a i s , a o la d o d o s v a s o s
de arm adores e s ta b e le c id o s no B r a s il, d i s p u n h a m de
e â n fo r a s d e S è v r e s e d o s a b a r r o c a d o s C a p o d im o n le ,
c o n c e s s ã o d e t r á f i c o c o m o O r ie n t e e n o s c it a A n t ô n i o
d e d ú b io s p e r í o d o s .
da S ilv a L is b o a que cm 1832, p o s s u ía um a f r a g a ta
P e lo q u e v im o s , a e x t i n ç ã o o f i c i a l d a C o m p a n h ia em s e r v iç o de C a lc u tá para o R ecôncavo!
I n g le s a das ín d ia s O r ie n t a is e m 1334, não chegou a
M esm o fen ô m en o ocorre nos E sta d o s U n id o s ,
a f e ta r o f o r n e c i m e n t o d a p o r c e l a n a c h i n e s a n o B r a s il,
q u a n d o em 1834, com a e x t in ç ã o d a C o m p a n h ia d a s
que s e e s te n d e b em a lé m de 1 8 5 0 , c o m o já d i s s e m o s ,
ín d ia s I n g le s a s , os a m e r ic a n o s i n c e n t iv a m por su a
e q u e s e a r r a s ta m e s m o a t é o s é c u l o X X . O s a g e n t e s
c o n t a e c o m s e u s p r ó p r i o s a r m a d o r e s o c o m é r c i o d ir e t o
d a q u e la p o d e r o s a e m p r e sa e s ta b e le c id o s n o B r a s il n ã o
m a is se in t e r e s s a r a m por su a d is t r i b u i ç ã o , em p en ha­ com o O r ie n te , u san d o um t ip o de v e le ir o que se

dos que p a ssa ra m o s m ercad ores in g le s e s a p ó s 1834, t o r n o u f a m o s o p o r s u a r a p id e z : o s C lip p e r s n o p e r í o ­


d o d e 1 8 3 0 a 1 8 6 0 . D i z - n o s C a r i W . D r e p p c r d (4> q u e
a a tu c h a r o B r a s il com se u s p r o d u to s , so b r e tu d o os
in d u s t r ia is . Isso não quer d iz e r que os in g le s e s não o p e r ío d o de m a io r im p o r t a ç ã o a m e r ic a n a fo i no
c o n tin u a s s e m na M e tr ó p o le , em o u tr a e s c a la c em c o m e ç o d o s é c u lo X I X , p r o lo n g a n d o -s e a lé m dc 1840.
ca rá ter i n d i v id u a l a prom over com p ras no m ercad o M as v o lte m o s ao m o v im e n to c h in ê s de fo r n e c i­
c h i n ê s — h a v i a m e s m o u m t i p o d c v e l e i r o m a is r á p id o , m e n to p a ra c O c id e n te .
do gênero a m e r ic a n o , c h a m a d o d e “ I n d ia m a n " d e s ti­ N esse .s é c u lo X IX , nao .e r a m a p e t ia s um as
nado à q u e la c a r r e ir a o r ie n t a l que ia ter a C a n tã o , c á f i l a s p e r d i d a s n a i m e n s i d ã o d e u m t e r r it ó r io o u u m a s
to rn a d o o en trep o sto in t e r n a c io n a l d a p o r c e la n a . g a le r a s a v u ls a s ou a lg u m a s n a u s s o lta s p e la v a s t id ã o
D essa fo r m a , o a b a s te c im e n to d o m e r c a d o b r a s i­ d o O c e a n o , q u e se em p en h a v a m cm le v a r a o s e u d e s ­
le ir o f ic o u a d s t r it o a o s c a r r e g a m e n t o s q u e i s o l a d a m e n ­ t in o o v a l i o s o s o r t i m e n t o o r ie n t a l
te, p o r e m r e g u la r m e n t e , e r a m p r o m o v id o s p e lo s v e le i­ D e p o is que os lu s ita n o s e o s c a s te lh a n o s a b rem
ros p o rtu g u eses e lu s o -b r a s ile ir o s c p e la s f r a g a ta s d c novas ro ta s, o s m ares se c o a lh a m de em barcações a
a r m a d o r e s b r a s ile ir o s , t a n t o b a i a n o s c o m o c a r i o c a s e cru za r o s o c e a n o s , o ste n ta n d o os m a is d i v e r s o s p a v i ­
p ern am b u can os, d ir e t a m e n t e com G oa, C a lc u t á ,
lh õ e s , in c lu s iv e o n e g r o s in is t r o d o s f l ib u s t e i r o s , n u m
M acau, B o m b a in , Shangai e m esm o C a n tã o . E ste
crescen d o a ssu sta d o r, ta n to de u n id a d e s , com o de
en orm e e n tr e p o sto no s é c u lo X IX to rn o u -se o m a io r
ta m a n h o , v o lu m e d e ca rg a e a p r e sa m e n to s.
de to d o s da p o r c e la n a c h in e s a com as n u m ero sa s
O s p o r tu g u e s e s e o s e s p a n h ó is fo r a m a s m a io r e s
fe ito r ia s de p a ís e s e s t r a n g e ir o s lá in s ta la d o s e su as
v ít im a s d o s c o r s á r io s , so b r e tu d o e ste s nas R o ta s da
f a m o s a s f e ir a s o n d e o s m e r c a d o r e s d e t o d o o m o n d o
P r a ta , n o A tlâ n tic o ; e na R o ta de M a n ilh a , F r a n c is
ia m to m a r c o n h e c im e n to dos p r o d u to s c h in e s e s e
D r a k e e C a v e n d is h fo r a m os m a is a tiv o s . C o n ta -n o s
e s ta b e le c e r c o n ta to s, f e ir a s essa s que a té h o je se
G o n 2a l o O b r e g o n ® q u e a n a u d e C a v e n d is h e m um a
r e a liz a m .
de su a s en tra d a s e m P ly m o u t h o s t e n t a v a to d o o seu
De n o ta r que d u r a n te o p e r ío d o c o lo n ia l, as
e n o r m e v e la m e e m d a m a sco azu l ap resad o d e um dos
l o u ç a s q u e c h e g a v a m a o B r a s il v in h a m v ia d e r e g r a
g a le õ e s e s p a n h ó is d o P a c ífic o ,
d e G o a e d e M a c a u , a ta l p o n t o q u e n o B r a s il a d e n o ­
m in a ç ã o d e lo u ç a d e M a c a u t e v e g r a n d e d i v u l g a ç ã o f*5 P o r fa la r e m v o l u m e d e c a r g a , i n f o r m a m o s a q u i,
e d esd e 1725 já c o n s t a v a de i n v e n t á r io em T a u b a té q u e a s c a r a v e la s q u e s e d e d ic a r a m ao D e s c o b r im e n to
{S ão P a u to ); essa d e n o m in a ç ã o errôn ea m as genera­ e ao tr á fe g o o r ie n ta i t in h a m u m a c a p a c id a d e d e 150
liz a d a , c o m o já fo i d i t o e r a s o b r e t u d o a p lic a d a à l o u ç a t o n é i s n o s i d o s d e 1 . 5 0 0 ! P o r é m lo g o d e p o i s a s c a r r a c a s
b ranca e a z u l, em p a r t ic u la r o tip o c o n h e c id o por lu s a s n o s é c u l o X V I I j á c o m p o r t a v a m 1 . 0 0 0 t o n é is { d a í
P o m b in h o s , E s te t ip o c r ia d o p e lo s c h in e s e s a o te m p o o te r m o “ to n e la d a ” a p lic a d o à c a p a c id a d e d a s e m b a r ­
d e K a n g -H si era u m a lo u ç a f in a e rep u ta d a e c o n ti­ c a ç õ e s n a te r m in o lo g ia m a r ítim a ).
P o u c o s sa b em q u e s ó d o i s p a í s e s a m e r ic a n o s p a r ­ D a d o o f a to d e h a v e r p e ç a s d e c e r â m i c a p r ó p r ia s
t ic ip a v a m do c o m é r c io d ir e to r e g u la r c o m o O r ie n t e , p a r a a r m a z e n a r o " n a r g lu lé ” o u se ja á g u a p e r fu m a d a ,
d esd e do s é c u lo X V I; M é x ic o e B r a s il e por essa p a r a fu m a r c a c h im b o n a A r á b ia fs>, p o d e - s e p r e s u m ir
razão n o s d e te m o s so b re a q u e la nação ir m ã . q u e o s e s p a n h ó i s a p r e c ia s s e m ta m b ém a q u e le tr a d ic io ­
n al c o s tu m e árabe.
O u tr o e sta d o a m e r ic a n o ta m b ém exerceu esse
t r á f i c o d i r e t o q u e f o i o s l i s t a d o s U n i d o s , p o r é m t a r d ia - Em razão d esse a t iv o c o m é r c io , en tre o s é c u lo
m e n te : p e l o f in a l d o s é c u l o X V I I I c d u r a n te p a r t e d o X V III e o com eço do X IX , a N ova E sp an h a p o d ia
X IX , com o d is s e m o s lin h a s a trá s. r e u n ir n u m e r o s o s se r v iç o s h is tó r ic o s , se ja de fa m ília
e n o b r e s lá r a d ic a d o s c o m o d e in s titu iç õ e s e c o m e m o ­
A s s im a q u e le s d o is p a ís e s l a t in o s d esfru ta ra m
r a ç õ e s c í v i c a s ,' s e m co n ta r u m v a lio s ís s im o acervo de
d e s d e c e d o , c o n c o r u ita n te m e n te c o m a E u r o p a , d a q u e le
P o r c e l a n a d a C h in a , r e c o l h i d o s a m u s e u s e im p o r t a n -
a rsen al de m e r c a d o r ia s e x ó t i c a s e a r iís lic o s a r te fa to s,
:es c o le ç õ e s p a r t ic u la r e s c o m o a da F u n d ação F ranz
para s a t is f a z e r a s o c ie d a d e lo c a l .
M eyer.
Q u a n to ao M é x ic o , d esd e que M a g a lh ã e s cm A s s im , não é de a d m ir a r que ta n to a E sp an h a
1521 ch egou ao a r q u ip é la g o das F il i p i n a s , que os com o o M é x ic o p u d essem e x ib ir v a r ia d o s a p a r e lh o s .
c o n t a to s d ir e to s e n tr e o O r ie n te e a C o sta O c id e n ta l De se r e s s a lt a r que h is tó r ic a e m a t e r ia l m e n t e , d esd e
da N ova E sp an h a (M é x ic o ) m a is p a r íic u la r m e n t e o s é c u lo X V I , q u e a E sp a n h a se rep resen ta e n tr e o s
c o m o p o rto d e A c a p u lc o , s e to rn a m a o s p o u c o s reg u ­ p i o n e i r o s n a im p o r t a ç ã o p a r a a E u r o p a , d e p e ç a s c o m
la r e s <
-6\ F e l ip e II i n c e n t iv a e s s e c o n t a t o , p o i s q u e s e a r m a s o c id e n t a is , o m a g n ífic o fr a sc o ( c a n t il) e x ib id o
e v i d e n c i a m a is c u r t o e m a is p r á t ic o ( m e s m o q u e p a r t e ta n to por B e u r d e le y com o por John A ycrs e D a v id
d a s m e r c a d o r ia s tiv e s s e m que a tr a v e ssa r a lo m b o de H ow ard em su a s o b r a s, e e x ib id o p o r n ó s d a c o le ç ã o
burro d as c o sta s d o P a c ífic o às d o G o lfo d o M é x ic o d e J o ã o G o n ç a lo d o A m a r a l C a b ra l é u m te ste m u n h o
em V era C ru z) e m e n o s a r r i s c a d o d o q u e o já t r a d i­ p o s itiv o , p o is t a is fr a sc o s o ste n ta m as arm as a n tig a s
c io n a l p e lo C a b o d a B o a E s p e r a n ç a . A s s im em 1559, d a E s p a n h a , o f a m o s o e s c u d o d e L e ã o e C a s te la (d o is
ordena que se m o n tem e x p e d iç õ e s p r o p o r c io n a n d o le õ e s e d u a s to r r e s) s ím b o lo d o c o m e ç o da gran d eza
n a u s e recu rso s. E m 1 5 6 5 o frei A n d r é s U rd a n eta d e s ­ e s p a n h o la , q u a n d o F e r n a n d o V c a R a in h a I z a b e l, d e r ­
cobre a r o ta dc to rn a v ia g e m e M ig u e l L opes de ro ta m o s á ra b es em G ran ad a, em 1492, prom ovem a
L egazp i fu n d a M a n ilh a , que se to rn a u ra dos m a is , u n i ã o d o s r e i n o s i b é r i c o s e a in d a d e s c o b r e m a A m é r i­
sen ã o o m a i s im p o r t a n t e e m p ó r io o c id e n ta l d o s pro­ ca! E sse escu d o de L eão e C a s te la é por ta l fo rm a
d u t o s d o O r i e n t e , n a m e s m a d é c a d a <2>. u m s í m b o l o n a c io n a l q u e F e l i p e I I c u n h o u , a e x e m p l o
Em 1 5 9 3 , p o r d e c r e t o r e a l, f ic a li m i t a d o a d o i s b a r c o s d e s e u s o u t r o s r e is a n t e c e s s o r e s , m o e d a s t e n d o d c u m
por ano e 300 to n e la d a s d e m e r c a d o r ia n o v a lo r d e la d o o e s c u d o a n tig o s in g e lo e a p e n a s e s q u a r tc la d o d e
2 5 0 ,0 0 0 p e s o s d e p ra ta , p o r é m c o m o te m p o o v o lu m e C a s te la e de o u tr o la d o o seu b ra sã o f i li p i n o , c a r r e ­
cresceu à c if r a enorm e dc 2 .0 0 0 .0 0 0 e c a lc u la m em g a d o d e a r m a s d e d ife r e n te s d in a s tia s .
2 0 0 .0 0 0 .0 0 0 d e p e s o s d e p r a ta o to ta l p a g o p e lo s m e r ­ O q u e s e i g n o r a é a d a t a o u o p e r í o d o d o f a b r ic o
c a d o r e s d e N u v a E s p a n h a a o s d e M a n ilh a , e m duzen­ d esse fa m o so f r a s c o , já q u e p o d i a e le te r c h e g a d o à
to s e c in q u e n ta a n o s d e in te r c â m b io c o m o s p r o d u to s E sp an h a nos p r i m ó r d io s das D esco b erta s, v ia M a n i­
o r ie n ta is . lh a — A c a p u lc o — V era C ruz — S e v i l h a , o u t r a z id o
p e lo s p o r tu g u e s e s p a r a F e lip e I I , n o c o m e ç o d o d o m í­
D esd e 1565 a té 1815, p e r ío d o das gu erras de
n io f ilip in o (1 5 8 0 /1 6 4 0 ).
In d e p e n d ê n c ia d o M é x ic o , q u a n d o c e s s a m a s im p o r ­
t a ç õ e s o r i e n t a i s , o u s e j a , d u r a n t e d u z e n t o s c c in q u e n t a E n t r e a s p e ç a s h i s t ó r i c a s e m C o m p a n h i a d a s Í n d ia s
anos não houve in t e r r u p ç ã o n e s s e cau d al d e fo r n e c i­ m a is c o n h e c i d a s , a l i n h a m - s e as s e g u in te s ™ :

m e n t o s , s a l v o p o r v á r io s a p r e s a m e n t o s o c a s i o n a d o s p o r A hedo
p ir a t a s in g l e s e s , h o l a n d e s e s , f r a n c e s e s e a t é d in a m a r ­ C crv a n tes (R o eo có ) s o p e ir a Buda c/ b ra sã o
q u e s e s , n a r o ta e n t r e M a n i l h a e A c a p u l c o ! S e lv a N e v a d a
R e v ilta g ig e d ü
A c a p u l c o h a v i a s e t o r n a d o u n i c e n t r o d is t r ib u id o r
A c a d e m ia d e San C a r lo s d e la N u e v a E s p a n h a
d a q u e l e s p r o d u t o s n o C o n t in e n t e A m e r i c a n o e a n u a l-
J u r a m e n t o d e F e r n a n d o V I I e m V a íla d o J id
m e n te lá h a v ia um a f e ir a c o n c o r r id a onde o u tr o s
C o n d e d e ta C o r t in a
p a ís e s su l-a m e r ic a n o s , so b r e tu d o o P eru , ia m a b a s­
P r o c la m a c io n dc C a r lo s I V
tec e r -se de p o r c e la n a fin a e m esm o rece b e r se r v iç o s
F ernando V II
b rason ad os en co m en d a d o s a tra v és dc A c a p u lc o e
F a m ília R o s a
M a n i l h a à C h in a .
F a m ília S a n c h o d e T e ja d a
A s s im , o M é x ic o d e sfr u to u d e s d e c e d o e in te n s a ­ F a m ília G á lv e s
m e n te d a q u e le s r e fin a m e n to s o r ie n ta is . A in d a r e c e n te -
O o u t r o p a ís d a A m é r i c a q u e d e s d e o s p r im ó r d io s
m e n te fo ra m en co n tra d o s fr a g m e n to s de p o r c e la n a
r e c e b e u a q u e l e s s o r t i m e n t o s c o m o já v i m o s , f o i o n o s s o
c h in e s a , quando da a b e r tu r a de um a das lin h a s de p a ís . N a r e a lid a d e a f a m o s a “ L o u ç a d a í n d i a ” , a c o m ­
m e tr ô n a c id a d e do M é x ic o , seg u n d o In fo rm a çã o do p a n h o u d o r e m o to O u in h e n tis m o , o u se ja d o b e r ç o d e
d ir e t o r d o M u s e u d e T ó q u i o .
n o s s a f o r m a ç ã o , o c r e s c i m e n t o d o B r a s i l c o a p r im o r a ­
I m p o r t a v a m o s e s p a n h ó i s , p e ç a s e m m a r f im , c o m o m e n to d e su a s o c i e d a d e , p o r m a is d e tr ezen to s a n o s,
ta m b ém c a b e ç a s d e v ir g e n s e m ã o s d c s a n t o s , a v u ls a s c o m p a r t i l h o u ( p r e s e n t e à s m e s a s s o i a r e n g a s ) d o s h ã b i-
p ara serem e m b u t id a s cm su a i m a g in á r ia t a lh a d a na eos d e n o s s o s m a io r a is , s e j a n a in t i m i d a d e e r e c a t o d a s
N ova E sp an h a. A té c a s u la s de m is s a , e m brocados r e fe iç õ e s d iá r ia s , se ja n o s d ia s d e fe s t a , n a s e x ib iç õ e s
r ic o s e b ordados e x c e le n te s eram encom endados a d e g a la , a i n d a à l u z d e v e l a s , c a n d e l a b r o s e c a n d i e i r o s .
C h in a . H o je os m o s tr u á r io s dos m u seu s ou as paredes de

652
m u it a s c a s a s , o u v it r in a s a t e s t a m o b o m g o s t o e o J o h n M a w e , o in c a n s á v e l o b s e r v a d o r , e m 1 8 0 8 ,
a p e g o à t r a d iç ã o e c o m o p á g in a s s o l t a s d e u m á lb u m a i n d a c o m e n t a : “ A lo u ç a d e M a c a u , c o m o e r a c o n h e ­
de f a m ília que se m a n u s e ia com c a r in h o e r e s p e it o , c id a , p r o c e d ia de Shangai (? ) ...v in h a com o la str o
r e le m b r a n d o p a s s a g e n s de n o sso p a s s a d o , d a h is t ó r ia n o f u n d o d o s n a v i o s e s e j u lg a v a in d ig n a d e a p a r e c e r
d a a r te e d e n o s s o s c o s tu m e s . n a s m e s a s d a a r is t o c r a c ia e d a b u r g u e s ia o p u l e n t a , e r a
Sc c o n fr o n ta r m o s as r e fe r ê n c ia s h is t ó r ic a s e as r e le g a d a a o u s o d o s e m p r e g a d o s e d o s d e p e n d e n t e s d e
p eças a in d a e x is te n te s , haverem os dc c o n v ir que de b a ix a s itu a ç ã o s o c ia l. M a is a d ia n te p r o s s e g u e : “Q u a se
lo n g e o s é c u lo X I X se a p r e se n ta c o m o m a is r ic o e to d a s as fa m ília s de tr a ta m e n to p o s s u ía m b a ix e la s c
v a r ia d o a c e r v o e m P o r c e l a n a C h i n e s a . M ú l t ip l o s f a t o ­ a p a r e lh o s dej chá da ín d ia , f e ito s às vezes de enco­
res ir ia m concorrer para esse fa to , porém o fa to r m en d a s d e c o la d a s a g o s to d o p o s s u id o r c o m s e u b r a sã o
d e c is iv o fo i a c h e g a d a d a F a m ília R e a l e d a C o r te a o d e a r m a s q u a n d o t in h a
B r a s il e m 1 SO S, o n d e D o m J o ã o p e r m a n e c e u t r e z e a n o s . F r is a e le q u e a lo u ç a d e M acau (s ic ) em 1808
I m p r e s s i o n a n t e a q u e la m ig r a ç ã o ! U m c o m b o io e n o r m e s e d e s tin a v a à fa m u ta g e m e a p o lic r o m a d a (à s vezes
c o m p o s t o d e q u a r e n ta n a v io s , d e z e s s e is v a s o s d e gu erra a r m o r ia d a ) a o u so d a s d o n a s d e c a s a . O q u e é c erto ,
6 a in d a o u t r o s d e e s c o lta para t r a n s p o r t a r a F a m ília ta n to n o B r a s il c o m o n a E u r o p a , é q u e o p r e ç o d a q u e la
R e a l, a n o b r e z a m e t r o p o lit a n a e s e u s a g r e g a d o s , n a d a era in fe r io r à c o lo r id a ,
m enos do que 1 5 ,0 0 0 p e ss o a s! C o m e le v im o s e x a u s ti­ O q u e M a w e n ã o e s p e c ific a n e m n o s c o n ta é q u e
v a m e n t e n o " O B r a s il e a L o u ç a d a í n d i a ” , v e i o n ã o s ó e x is tia m v á r io s m o d e lo s d a c h a m a d a lo u ç a d e M a c a u ,
um a q u a n t id a d e a p r e c iá v e l de s e r v iç o s das ín d ia s , d a s m a is f in a s c o m o d a s m a i s g r o s s e i r a s e m a is b a r a ­
c o m o o s n o b r e s d e r e g r a , t r o u x e r a m o u f iz e r a m t r a z e r ta s. A c r e d ita m o s q u e se ja m e s s a s e as c o n h e c id a s p o r
p o s i c r io r m c n t e a s s u a s r ic a s b a i x e l a s . A c i d a d e d o R i o “ P o m b i n h o s ” a s q u e e le s e r e f e r e .
d e J a n e ir o , q u e c o n t a v a c o m 5 0 , 0 0 0 h a b it a n t e s c m C abe a esse r e s p e ito u m a e x p lic a ç ã o . O azu l e
1 8 0 8 , já e m 1 8 1 7 a p r e s e n t a v a u m a p o p u l a ç ã o d e m a is b r a n c o , a q u i n o B r a s il g e n e r ic a m e n te n a é p o c a , e a té
de 1 1 0 , 0 0 0 a lm a s ! E n e s s e p e r í o d o f o r a m c o n s t r u íd a s h o je , c h a m a d o de M a ca u , era m u ito r ep u ta d o d esd e
s e i s c e n t a s c a s a s e m o n t a d a s c e n t o e c in q u e n t a c h á c a r a s . o s p e r ío d o s d e K a n g -H s i e Y u n g -C h e n g c e r a m tid o s
A q u e le a flu x o d e r e a le z a e d a n o b r e z a p o r tu g u e s a em co ta çã o , com o e x p o r ta d o s em a p r e c iá v e l v o lu m e
e o c o n t a to d ir e to c o m o s f id a lg o s d o R e i n o , e s t im u la p a r a o O c i d e n t e ! E s t e t i p o d c l o u ç a a z u l c b r a n c a fin a
a s o c ie d a d e lo c a l em e x ib ir - s e à a ltu r a dos ilu s t r e s jã e r a c o n s ig n a d a e m i n v e n t á r io d e 1 7 2 5 c m T a u b a t é ,
“ e x ila d o s " . A e m u la ç ã o p o is fo i ta m b é m u m d o s fa to ­ co rresp o n d en d o p o is aos p r o d u to s da d in a s t ia Y ung-
res que c o n t r ib u ír a m para que os e le m e n to s lo c a is -C h e n g , fa m o s o s p o r s u a b o a q u a lid a d e ; o u tr o s te s te ­
b r a s ile ir o s p a s s a s s e m a e n c o m e n d a r u m n ú m e r o a in d a m u n h o s e x i s t e m d e s s a p r im e ir a m e t a d e d o s é c u l o X V I I I
m a io r d e b a i x e l a s d o q u e n o s é c u l o a n t e r io r . d a p r e se n ç a d e s s e s “ M a e a u s ” fin o s n o B r a s il, c o m o
O u tr o f a to r fo i o fa to de que com a sed e da o s p ra to s e m b r e c h a d o s d o C o n v e n to d e S a n ta T e r e s a
M o n a r q u ia P o r t u g u e s a , e s t a b e l e c i d a n o R io , e P o r tu ­ (M u seu de A r te Sacra d a B a h ia ) com o a s é r ie d e
g al o c u p a d o p e lo s fr a n c e se s d u r a n te c e r to p e r ío d o , o fr a g m e n to s de peças e p ra to s s a lv a d o s da nau de
c o m é r c io l u s it a n o o r ie n ta l p a s s o u a co n c e n tr a r -se M o n t S e r r a i, n a B a h i a .
n a q u e le p o r to . M e s m o f e n ô m e n o o c o r r ia n a F r a n ç a c o m a lo u ç a
O u tr o s f a t o r e s im p o r t a n t e s S u r g e m q u e v ê m f a v o ­ de N a n k in , c o m o u tr a s v a r ia n t e s s o b r e a d e M acau,
recer a in d a m a is □ p resen ça da lo u ç a c h in e s a en tr e nom e dado ta m b ém g e n e r ic a m e n te à lo u ç a branco e
n ó s. D o m João V I, p o r d ecreto real d e 1810, is e n t a a zu l p r o v in d a d a C h in a e d e s tin a d a d e reg ra a o m e r ­
d e t o d o s o s im p o s t o s d e e n t r a d a a s m e r c a d o r ia s p r o ­ c a d o fra n cês.
v in d a s d e O o a e M a c a u , A c o n t e c e q u e a p a r t ir d o m e a d o d o s é c u l o , já n a
O p r ó p r io m e str e P e d r o C a lm o n a s s in a la o fa to d in a s t ia K c e n - L u n g e s o b r e t u d o p e l o f in a l d a c e n t ú r ia
e a p o n ta o u t r o (!0); “A e sta c ir c u n s tâ n c ia a c id e n t a l e no c o r r e r d o s é c u lo X I X , q u e c e r to s tip o s d c p o r c e ­
( is e n ç ã o d e ta x a s ) a c r e s c e n t a - s e o u tr a s é r ie d e f a t o s ; la n a c h i n e s a p a r a a t e n d e r a u m a c o n c o r r ê n c i a e d e m a n ­
a d ir e t a c o m u n ic a ç ã o no f im do s é c u lo X V III a té d a en o rm es, se a b a sta rd a e c a i r e a lm e n te d e v a lo r e
1812 ou 1 8 1 4 , en tr e e s s e m e r c a d o d o B r a s il (B a h ia - q u a lid a d e . É o p e r ío d o c m que te m in íc io a in v a sã o
-R e c ife -R io ) e B o m b a im , C a lc u tá , M a c a u " . O n ú m e r o n o s m e r c a d o s o c id e n ta is d c u m tip o d e lo u ç a d e M a c a u
de lo j a s que m e r ca d eja v a m com a r t ig o s do C e le s te com o d e se n h o q u e se to m o u c lá s s ic o e c o m o p r o tó ­
I m p é r io no R io c n a B a h ia , era m u it o g r a n d e s e n d o tip o " G s P o m b in h o s ” o u “ S a lg u e ir o s ” ( W íllo w T ree)
a m a is a n t ig a a C asa da C h in a , fu n d a d a em 1809, com m u it a s v a r ia n te s de d esen h o s, dc p a sta m a is
c o n f o r m e n o s r e la t a F r a n c i s c o M a r q u e s d o s S a n t o s ( i l ) , gro ssa e m a is c in z a -a z u l a d a , ou de a z u is e s m a e c id o s
s e n d o q u e p e lo f in a l d o s é c u lo , so m a v a m a m a is d e e d e s e n h o s m a is g r o s s e i r o s d o q u e a q u e l e s d o c o m e ç o
s e t e n t a a s c a s a s q u e s ó n o R i o d c J a n e ir o c o m e r c i a v a m e d o s m e a d o s d o sé c u lo X V I I I .
com p o r c e l a n a s d iv e r s a s ! J u n to c o m esses “M a ea u s” d e carregação, exp or­
A s c r ô n ic a s d o s v ia ja n te s n ã o d e ix a m de o b ser­ t a v a a C h i n a t a m b é m o u t r o s a r t ig o s i n f e r i o r e s p a r a o
v a r a p r o life r a ç ã o d a s lo u ç a s fin a s no B r a s il n esse B r a s il e a l h u r e s , a r t i g o s d e c o m b a t e , c o m o o s " m a n ­
1 q u a r te l d o s é c u l o . d a r in s " e os “ g r a v ia ta s ” , aos q u a is já f a lt a v a m a
M a r ia G r a h a m ( 1 8 2 0 / 1 8 2 3 ) , r e f e r in d o - s e à B a h ia , n i t i d e z e a p r e c i s ã o d o s d e s e n h o s , a f ir m e z a d a s c o r e s
in fo r m a : “B oa q u a n tid a d e d e b e la p o r c e la n a c h in e s a e a b o a q u a lid a d e d a p a sta .
e x i b í a - s e e m t o m o d a s a l a ” ( l i ) ; R e f e r e - s e a in d a a u m a P orém a lo u ç a bran co e a z u l, ta n to de adorno
c a s a n o R i o d e J a n e ir o , d a B a r o n e s a d e C a m p o s , e m com o u tilit á r ia — a que m a is perdurou na H is t ó r ia
q u e o b s e r v a e n t r e v á r io s o b j e t o s d e p r a t a a s “ e l e g a n ­ e n o s m o s t r u á r io s c e r â m ic o s e a m a is c o p ia d a p e lo s
tes p o r c e la n a s da C h in a e s ta v a m c o lo c a d a s num a d ecoradores na E u ro p a , a in d a no sé c u lo X V Ü I con­
g ra n d e m esa ” . tin u o u c o n h e c e n d o a p r e c iá v e l p r e s tíg io .

653
A s s im , na F rança, no s é c u lo X V 11I, M adam e A n o sso v er, e s se s fa to s en c o n tr a m e x p lic a ç ã o da
P o m p a d o u r , o a b a d e d e T e r n a y e o d u q u e d e P r a s lin e l i m in a ç ã o n a s p a u t a s d a A l f â n d e g a d o n o m e M acau
d e la f a z ia m u so . c dos d ife r e n te s tip o s u s a d o s n o B r a s il, d o "azul e
No lir a s it , o c o n tr a ta d o r d c d ia m a n te s J o ã o F e r ­ b r a n c o ” . £ q u e a n te s d a I n d e p e n d ê n c ia , o s c o n ta to s
nandes de O liv e ir a , casad o com a fa m o sa C h ic a da er a m o b r ig a to r ia m e n te fe ito s c o m G o a e M a c a u c o m o
S i l v a , c o n s i d e r a d o " o m a is r i c ó s ú d it o d o r e i d e P o r ­ sa b e m o s e e x c e p c io n a l e ra ra m en te c o m a lg u n s e n t r e ­
t u g a l, e m t o d a a s u a m o n a r q u ia " , t a m b é m a p r e s e n t a v a p o s to s in d ia n o s c o m o B o m b a im e C a lc u tá .
o seu a p a r e lh o , com o n u m ero so s o u tr o s b r a s ile ir o s P orém d e p o is da I n d e p e n d ê n c ia , a lé m do e s fr ia ­
c u ja s p e ç a s v ê m c o n s ig n a d a s em in v e n t á r io s . m e n to p o l í t i c o jc c o m e r c i a l d u r a n t e c e r t o te m p o com
Jenny D rey fu s c o n s ig n a que “o s p ra to s de P o r t u g a l, o B r a s i l f i c o u liv r e d c c o m p r a r d ir e ta m e n te
M acau" eram em pregados no P aço I m p e r ia l de São onde q u is e s s e , liv r e d o a r b ít r io dos preços lu s ita n o s ;
C h r is tó v á o e que a in d a no J a r d im da P r in c e s a , no a f in a l d e c o n t a s , c o m o d is s e m o s lin h a s a tr á s, m e r c a ­
parque d a q u e le p a lá c io , & v is to um r e m a n e sc e n te d o r ia s c o m o a p o r c e la n a c a s e s p e c ia r ia s eram ven­
i n t a c t o d a q u e l e s e r v i ç o . D i z a i n d a a e r u d it a c o n s e r v a ­ d id a s n a q u e l e s e n t r e p o s t o s p e l o s p r e ç o s i m p o s t o s p e l o s
dora que ao “ V is c o n d e de In h a ú m a ” são a t r ib u íd o s p o rtu g u eses — p o is e s s e s en tr e p o sto s, ta n to em s o lo
p r a t o s i d ê n t i c o s (14b h in d u c o m o c h i n ê s , v i v i a m p o r a s s im d iz e r , e x c l u s i v a -
V e ja m o s q u a l e r a o v a lo r d a lo u ç a a z u l e b ra n ca m e n te à c u sta d e ste c o m é r c io q u e lh e s p r o p o r c io n a v a
c h in e s a e m F ra n ça e d a p o li c r o m a d a e m 1767: p o lp u d o lu c r o e n tr e o p r e ç o d e c o m p r a e d e v e n d a .
S e r v iç o d c N a n k in com cen to e se te n ta e c in c o A s s im , fo r a m aos poucos se d e s lo c a n d o as c o m ­
p eça s— ( p r e ç o d e 2 1 1 a 2 1 7 lib r a s f r a n c e s a s ) . pras dos tr a d ic io n a is pom os de fo r n e c im e n to p ara
S e r v iç o p o lic r o m a d o (o u a r m o r ia d o ) — cen to e o u tr o s n o v o s e d ir e to s , c o m o C a n t ã o (o n d e se a b a ste­
se te n ta e c in c o peças — (p r eço d e 3 0 0 a 500 lib r a s c ia m a n te s o s n e g o c ia n t e s lu s o s d c M a c a u , d e G o a e
fr a n c e sa s). de L is b o a ) e ta m b ém N a n k in , e n tr e p o s to fr a n c ê s q u e
O u tr o p o n to a p o n ta d o p o r R . P i c a r d (IÍ), é que por c erto v e n d ia m a is b a ra to do que M acau, onde
C a n tã o , p e lo f in a l do s é c u lo X V III, e x p o rta v a p e lo n u n c a f o i f a b r ic a d a p o r c e l a n a .
m e n o s tr ê s v e z e s m a is d e l o u ç a a z u l e b r a n c a d o q u e
A c r e d ita m o s q u e a lg u n s ite n s c it a d o s d a P a u ta d a
p o lic r o m a d a ,
A lfâ n d e g a d e 1 8 3 7 s e r v i r ã o d e e s c l a r e c i m e n t o <IT>;
E s t e s c o n fr o n to s r e v e la m a d ife r e n ç a e n tr e a q u e le s
d o i s t i p o s d e lo u ç a c h i n e s a e m 1767, em F r a n ç a , E ste — . . . “ A p a r e l h o s d e l o u ç a d a Í n d ia p in t a d a
f a t o e x p l i c a r i a a o b s e r v a ç ã o d e M a w e d e q u e a lg u m a s o u e s m a lta d a .................................................................. 1§200
f a m í l i a s n o B r a s il d e s t in a v a m a lo u ç a d e M a c a u (p r o ­ — A p a r e lh o s d e lo u ç a da ín d ia o r d in á r io s ,
v a v e lm e n te a c o n h e c id a p o r P o m b in h o s ) p a r a a fa tn u - p in t a d a s sem ouro para chá, c o n te n d o
la g e m , p o r se u b a ix o c u sto cm r e la ç ã o à lo u ç a p o li- d o z e x í c a r a s e d o z e p ir e s p a r a c h á , s e i s
crom ada. x íc a r a s p a r a c h o c o l a t e , u m b u l e , u m a ç u ­
I n c lin a m o -n o s porém m a is p ara a versão de c a r e ir o , um a m a n te g u e ir a , um a le it e ir a ,
R . P ic a r d d e q u e o s s e r v i ç o s a z u l e b r a n c o d e b o a q u a ­ u m a t i g e l a , tr ê s o u q u a t r o p r a t o s ................ 58200
l i d a d e f a z ia m p a r te d o d iá r io e o s p o lie r o m a d o s c o n s ­ — A p a r e lh o s d e lo u ç a f in o s , p in ta d o s , es­
t it u ía m s e r v iç o s d e c e r im ô n ia o u d e g a la n o s p a lá c io s m a lta d o s o u d o u r a d o s para ch á , c o n te n ­
e m ansões s o la r e n g a s . d o v in te e q u a tr o x íc a r a s , v in te e q u a tr o
O fa to r e a lm e n íe a c o n s ig n a r é que as lo u ç a s p ir e s , u m b u le , u m a ç u c a r e i r o , u m a c a f e ­
c h in e s a s ( e j a p o n e s a s ) er a m a b u n d a n te s n o B r a s il, n o t e ir a , u m a l e i t e i r a , u m a m a n t e g u e i r a , u m a
s é c u lo X I X . t ig e la , q u a t r o p r a t o s ................................................ 40S000
E m a b o n o d a a fir m a ç ã o , c ita m o s F r a n c is c o M a r ­ — A p a r e lh o s d e lo u ç a azul de Cantão p ara
q u e s d o s S a n t o s d 6) q u e nos in fo r m a : “R ecorren d o à m e s a c o n t e n d o d o z e d ú z ia s d e p r a t o s s o r t i ­
p r ó p r ia o b s e r v a ç ã o , p o d e r e m o s d iz e r q u e o g o s t o p e l a d o s, d o z e p r a t o s t r a v e s s a s , d u a s t e r r in a s
p o r c e la n a im p o r ta d a d a C h in a fo i tã o in te n s o e m P o r ­ com p ra to s p ara m o l h o , d u a s s a la d e ir a s ,
tu g a l q u a n to a q u i, so b r e tu d o na B a h ia onde de fo i q u a tr o p ra to s para fo m o , q u a tr o p r a to s
b a s t a n t e m a r c a d o . H á t r in t a a n o s ( n a d é c a d a d e 2 0 ) . p a r a g u iz a d o c o m ra m b o r, q u a tr o m a n te -
em S a lv a d o r , quem p a ssa sse por um a obra na h ora g u e ir a s d e b i c o e q u a t r o s a l e i r o s ................ 705000
d o a l m o ç o , v e r ia p e d r e ir o e o u t r o s o p e r á r i o s c o m e n d o — A p a r e lh o d c lo u ç a azul de Nankin p ara
em p ra to s c h in e s e s , às vezes de m a n d a r in s e g e r a l- a m esa c o m a s m e s m a s p e ç a s ....................... 2005000
m e n te c o u s a m e lh o r ” . — B u l e d c lo u ç a d a índia azul d e C a n tã o . 720
£ d e sc o b serv a r que a t e r m in o l o g i a d o m in a n te — B u l e d c lo u ç a a z u l d e N a n k i n ............ IS 440
n a é p o c a c o l o n i a l e m e s m o a c it a d a p e l o s c r o n i s t a s é — B u le d e lo u ç a d a ín d ia , p in ta d a e s m a lta ­
lo u ç a d a ín d ia e lo u ç a d e M a c a u . A m b a s c o n tin u a r a m d a e d o u r a d a f i n a ................... ........................ ...... 35200
a t e r c u r s o , p o r é m a d e M a c a u p a s s o u m a is c a r a c t e r i- -— C a n e c a s p in t a d a s o u e s m a l t a d a s d e l o u ç a
z a d a m e n te a in d ic a r a lo u ç a azu l e branco, o que da ín d ia o r d in á r ia .............................1 .................. 240
p ro sseg u e a té h o je p ara d e s i g n a r a r t ig o s m e n o s fin o s — I d e m , i d e m , d o u r a d a .................................. 480
n a q u e la s c o r e s , N o e n ta n to , h o u v e p e r ío d o s q u e essa — T e r r in a s d e l o u ç a d a Í n d i a a z u l d e C a n t ã o 4 5800
d e s ig n a ç ã o fo i o m itid a e n ã o u sa d a . — T e r r in a s dc lo u ç a da ín d ia azul de
A s s im no ano de 1837, ocorre, querem os crer, N a n k in .......................................................................... . I2 S O Ü O
o d e s a p a r e c im e n to d o te r m o M acau d o s a n a is f i s c a i s , — T e r r in a d e lo u ç a d ita , e s m a lta d a , p in ta ­
p o is na p a u ta d a A lfâ n d e g a n ã o é c o n s ig n a d a a su a da ou dourada fin a ............................................... 185000
p resen ça en tre os a r t ig o s im p o r ta d o s , aparecendo — T e r r in a d c 4 a 6 p o l e g a d a s d a í n d i a a z u !
o u tr o s n o m e s p ara in d ic a r a s d iv e r s a s v a r ie d a d e s d o de C a n tã o ................................................................... 15600
a z u l e b r a n c o im p o r t a d o . — Id e m , id e m , a z u l d e N a n k in ............................. 5$00Q

654
(A p a u t a c o n t í n u a c o m o u t r o s a r t ig o s , i n c l u s i v e p r e ç o s de que h a r ia n u m ero so s t ip o s de azu l e branco em
d e lo u ç a p ó d e pedra se m I n d ic a ç ã o de procedên­ u s o n o B r a s i l , j á d e o u t r o s c e n t r o s o r ie n t a is .
c ia , e tc , e t c .) O u t r o e n s i n a m e n t o n o s r e v e la o m e s m o d o c u m e n ­
C ita m o s n e sta r e la ç ã o , e n tr e a s n u m e r o s a s d e s ig ­ to : q u e im p o r tá v a m o s d ife r e n te s q u a lid a d e s d e lo u ç a
n a ç õ e s , a p e n a s a s s e g u in t e s : da ín d i a e m 1 8 3 7 , d esd e “ a o r d in á r ia ” à “ p in ta d a ” ,
“ L ouça da ! n d i a p in t a d a e e s m a l t a d a ” e s m a lta d a e “d ourada f in a ” e p e la t a b e la de p reços
“ L ouça da ín d i a o r d in á r ia e p in t a d a ” p o d e - s e a q u ila t a r q u a l a d i f e r e n ç a d e v a l o r e s e n t r e o s
“ A p a r e lh o s d e lo u ç a fin o s , p in ta d o s , e s m a lta d o s e d i v e r s o s t ip o s d a l o u ç a a z u l e b r a n c o c o m o d o s d a l o u ç a
d o u ra d o s” d a ín d ia im p o r ta d o s p o r n ó s.
" A p a r e lh o d e lo u ç a a z u l d e C a n tã o ” D e n o t a i f a in d a a in t e n s i d a d e d o c o m é r c i o , d e p o i s
" A p a r e lh o d e lo u ç a a z u l d e N a n k in ” d e e x tin ta em 1834 a fa m o sa C o m p a n h ia d a s ín d ia s
“ B u le d e lo u ç a a z u l d e C a n tã o ” O c i d e n t a i s I n g le s a .
“ B u l e d e lo u ç a a z u l d e N a n k i n ” V e ja m o s o q u e se p ô d e s a lv a r d o a n o n im a to d a
“ T e r r in a s d e l o u ç a da ín d ia azu l d e C a n tã o ” p le to r a de lo u ç a s c h in e s a s im p o r t a d a s e a in d a e x is ­
‘T e r r i n a s d c lo u ç a da ín d ia azu l de N a n k in ” te n te s no B r a s il, com n u m ero so s s e r v iç o s c o n te n d o
e tc , etc. s ig la s q u e n ã o chegaram a in d a a ser id e n t i f i c a d a s ,
P o r e s ta s d e s ig n a ç õ e s , in f e r e - s e q u e su rgem d o is i n f e liz m e n t e .
novos n o m es q u e n ã o eram c o r r e n t e s n a t e r m in o l o g i a I r e m o s te n ta r r e la c io n a r a s lo u ç a s C o m p a n h ia d a s
c e r â m ic a b r a s ile ir a : o d e lo u ç a azul de C a n tã o e o ín d ia s p e r s o n a liz a d a s ou c o n s id e r a d a s h is tó r ic a s , das
d e lo u ç a a z u l d c N a n k i n , s e m co n ta r o term o “ lo u ç a q u e f o r a m p o s s í v e i s lo c a l i z a r a t é o m o m e n t o . N a p a r t e
da ín d ia a z u l” , o n d e na p a u ta fig u r a “o a z u l” p ara ilu s t r a t iv a e s t a m p a m o s a p e n a s u m a o u o u t r a d e s s a s
d i f e r e n c i a r d a lo u ç a d a ín d i a c o r r e n t e q u e c o r r e s p o n ­ p e ç a s , já r e v e l a d a s e p u b li c a d a s e m o b r a s e s p e c ia liz a ­
d ia à lo u ç a c h in e s a p o l i c r o m a d a . A s s i m n ã o h á d ú v id a d a s , t a n t o n o B r a s il c o m o e m P o r t u g a l e a lh u r e s .

655
PORCELANAS COMPANHIA DAS ÍNDIAS
BRA GANTINA S E PEPSONALIZA DAS

( C o n tin u a ç ã o das já r e f e r id a s no su b -c a p ítu lo — M a r q u ê s d a V i l a R e a l d a P r a ia G r a n d e


a n t e r io r S e t e c e n t i s t a ) . (sem in ic ia is ) . ................................................... 1 7 4 8 -1 8 2 7
C a e ta n o P in t o d e M ir a n d a M o n te n e g r o
— S e r v iç o In d e p e n d ê n c ia ( D . P e d r o I)
— S e r v iç o P r in c e s a Iz a b e l (q u e p r e se n te o u a Ana
b) R ein a d o do Im p erador T ao-K ou an g 1 8 2 1 -1 8 5 1
G r u n e w a ld , am a de p r ín c ip e d o G rão P ará, co m
u m a p e ç a f lo r e ir a d o s e r v i ç o ) .
1 D u q u e d e P a lm e ia ( D . P e d r o S o u z a
(In fo rm a çõ e s d e D o m P ed ro G a stS o de O r le a n s
H o ls te in ) m in is tr o e m 1 8 2 0 n o R io , d o
e B r a g a n ç a ).
R e in o d e P o r tu g a l, B r a s il e A lg a r v e s ,
Q u a n to a o s s e r v iç o s n ã o i m p e r ia is q u e p e r t e n c e -
( s e r v iç o p a r e c id o c o m o d o l . ° B a r ã o
r a m a p e r s o n a l i d a d e s d o t n c io s o c i a l , ir e m o s e n u m e r a -
d o I t a m a r a ty ) , F a le c id o e m L is b o a e m . 1850
-lo s d e a c o r d o c o m a época em q u e p r e s u m im o s q u e
I B a r ã o de Ita m a r a ty — F r a n c is c o
e l e s t e n h a m s id o e n c o m e n d a d o s o u c o m p r a d o s , b a s e a d o
J o sé d a R o c h a L eão ( s e r v i ç o p a r e c id o
n a i d a d e d o s s e u s p o s s u id o r e s o u d e o u t r o s e l e m e n t o s .
com o do 1 ,° Duque de P a lm e ia s/
C o m i s s o p e n s a m o s q u e p o d e m o s m e lh o r d is t r ib u ir as
in ic ia is ) . F a le c id o n o R io em ................ 1853
encom endas no d e c o r r e r r io s é c u l o , ta lv e z m o stra r a
— A lm ir a n te A le x a n d r e E lo y P o r te lli —
d i f e r e n ç a o u s im ilit u d e d e d e c o r a ç ã o d e a lg u m a s d e la s
c /in íc ia is , fa le c id o em .................................... 1838
c ta m b é m c o n f ir m a r a e x i s t ê n c i a do c o m é r c io c o m a
(s e r v iç o c o n h e c id o por M arquês de
C h in a , b e m a lé m d a e x t i n ç ã o e m 1 8 3 4 , d a C o m p a n h ia
L a g e s, se u g e n r o q u e h e r d o u o s e r v iç o )
d a s í n d i a s O r ie n t a is I n g le s a .
— l . ° C o n d e d e B e lm o n t e — com b ra sã o 1 7 6 7 -1 8 3 0
D. V asco M anuel F ig u e i r e d o C abral
PO R C ELA N A S P E R S O N A L IZ A D A S C O M P A N H IA d a C âm ara
D A S ÍN D IA S — |,° M arquês de T orres N ovas — com
b ra sã o ................................................... ...................... 1766- ?
a) Reinado tio Imperador Ch’ia Ching 1796-1820 D , Á lv a r o A n t ô n io d e N o r o n h a A b r a n -
c h e s C a s te lo B r a n c o
— C o n d e d a B a rc a — l.° V is c o n d e d e S tr a n fo r d (I n g la te r r a )
A n tô n io de A ra ú jo c A zevedo com — com b ra sã o ...................................................... 1 7 8 0 -1 8 5 5
b r a s ã o .............................................................. ............... 1 7 5 4 -1 8 1 7 P c r c y C l i n í o n S y d n e y S m it h
— M a n o e l P a e s d e S a n d e C a s tr o ( c o m b r a ­ — l .° C o n d e d e V ü la R e a l — c o m b r a sã o 1 7 8 5 -1 8 5 5
sã o , n om ead o governador d e S P ) ... -1 8 0 8 D . J o s é L u iz d e S o u z a B o t e lh o M o u r â o
— S e r v iç o de João F e r r e ir a P in t o , em e V a s c o n c e lio s
p a r te h e r d a d o p o r D . V e r id ia n a e s e u — L ° B arão d e S orocab a — com i n ic ia is 1788- ?
filh o o C o n s e lh e i r o A n tô n io da S ilv a B o a v e n tu r a D e lfim P e r e ir a
P rado, com in ic ia is J F P (co m d ecora­ — F r a n c is c o A g o s tin h o G o m e s ( a tr ib u íd o )
ç ã o i d ê n t ic a a o a n t e r io r , s a l v o n o c e n ­ com in ic ia is .............................................................. 1 7 6 9 -1 8 4 2
tro ) ( V id e A r g e u G u im a r ã e s — D ic io n á r io
— C o n d e d a R ib e ir a G r a n d e ( c o m b r a s ã o ) B ib lio g r á fic o B r a s ile ir o — pág. 1 9 8 ).
2 se r v iç o s :
D . J o s é M a r ia A n tô n io .G o n ç a lv e s c) R ein a d o do Im p erad or H ie n -F o n g 1 8 5 1 -1 8 6 1
Z arco da C âm ara ............................................... 1 7 8 4 -1 8 2 0
— A d o lp h o F r e d e r ic o L in d e n b e r g h (c o m — l . ° C o n d e d e S a r m e n to — com b ra sã o Í7 9 2 -IS 6 5
b r a s ã o ) 2 s e r v iç o s João F e r r e ir a S a r m e n to
ir m ã o d e L u i z L in d e n b e r g h que v e io — 1 Conde de N ova F r ib u r g o — com
para o B r a s il ......................................................... 1 7 6 8 -1 8 3 0 i n ic ia is ............................................................... 1 7 9 5 -1 8 6 5
— V i s c o n d e d a C a c h o e ir a — c o m i n ic ia is . 1 7 6 4 -1 8 2 6 A n t ô n i o C l e m e n t e P in t o
J o s é L u i z d e C a r v a lh o c M e lo — M a n u e l I g n ã c io M o n iz B a r r e to d e A r a -
— l.° B a r ã o d e I t a m a r a ty J o s é d a R o c h a gão — com i n ic ia is ................... .................. ... 1 7 8 9 -1 8 6 5
L eão (p a i d o 2 .° b a rã o , C o n d e d e Ita - (s e r v iç o c o n h e c id o por B aro n esa de
m a r a ty ) ..................................... ............... .................. J770- ? A ! cm q u er, su a f ilh a )

657
— B arão de São João M arcos — c o r a in i­ fic a m e n te a o s e r v iç o d o M a r q u ê s d e S ã o J o ã o M a r c o s
c ia l ......................... .................................. ........................ 1 7 7 2 -1 8 6 8 cm com p aração com o u tr o p a r e c id o d e o u tr a c o r , d e
—- L ° v is c o n d e d e C a b o F r io — s e m in ic ia l 1 7 7 7 -1 8 6 5 c o le ç ã o a m e r ic a n a .

— l . ° B a r ã o d e A le g r e t e ( c a s o u e m 1 8 5 3 } Há o u tr a s ob serv a çõ es ta m b é m a serem f e it a s
com r e fe r ê n c ia s a s im ilitu d e s d e a p a r e lh o s , c o m o por
J o ã o J o sé de A ra ú jo G o m e s
— s e m i n i c i a l ................... , , .................................. ? -1 8 6 2 e x e m p l o o d o c o n d e d e V iO a R e a l , c o m o C onde da
R ib e ir a G r a n d e , o s e r v iç o d o B a r ã o d e A r a ú jo G ó e s ,
— ■ P e d r o J o s é B e r n a rd e s
com o de A le x a n d r e E lo y P o r te lli, o a p a r e lh o de
(p a i da M arq u esa de Ita m a r a ty ) (tí­
M an oel de Sahde e C a str o com o de João F e r r e ir a
tu lo 1887) (v iú v a 1 8 8 3 )
P in t o (in ic ia iá J F P ), casad o com C o n c e iç ã o C o sta
— V is c o n d e de In h aú m a — - se m in ic ia is C a r v a lh o , e c u jo s e r v iç o fo i d e u s o d e s e u f ilh o An­
(lo u ç a M acau) ..................................................... 1 8 0 8 -1 8 6 9 tô n io da C o sta P in t o è que v e io a ser herdado em
(J o a q u im J o sé I g n á c io ) p a rte por D on a V e r id ia n a , m ã e do C o n s e lh e ir o An­
(J cn n y D r e y fu s — in A n u á r io M u seu H is tó r ic o — tô n io P r a d o — s e r v iç o e s se e n o r m e , te n d o a o c e n tr o
v o l. X X V — E s ta m p a 6 6 ) . m o tiv o s d a s F á b u la s d e Ê sop o ( fic a a s s im r e tific a d a
a in fo r m a ç ã o d e fls . 3 2 2 d o liv r o “ O B r a s il e a L o u ç a
d) R e in a d o do Im p era d o r T 'o n g -T c ]ie 1 8 6 2 -1 8 7 4 d a í n d i a ” , e m q u e in f o r m a m o s q u e a s i n ic ia is e r a m
J S P e q u e o s e r v iç o fô r a e n c o m e n d a d o p e lo C a p itã o
J o a q u im d a S ilv a P r a d o ). A s s im q u a lq u e r a t r ib u iç ã o
— B arão d è M a ssa m b a rá
ao s e r v iç o ao B arão de Ig u a p e, não é p r o ced en te.
M a r c e lin o d e A v e lla r e A lm e id a — sem
T am bém de a s s in a la r a s e m e lh a n ç a dos d esen h o s de
in ic ia is (títu lo 1867)
c e r c a d u r a s d o s e r v iç o d o V is c o n d e d e C a b o F r io , c o m
— B arão da F on seca
o s e r v iç o do pai do V is c o n d e cie J a g u a r ib e , am bos
João F ig u e i r e d o P e r e ir a de B arras — com b o r d a s c o n h e c id a s in te m a c io n a lm e n te c o m o F itz -
com in ic ia is (títu lo 1867)
H u g h e q u e e r a m d o a g r a d o d o s a m e r ic a n o s . E ta m b é m
— 2.ü B arão, l.° V is c o n d e e C onde de e x is te um b e lo s e r v iç o com a m esm a cercadura de
T ta m a r a ty c o m i n ic ia is ...................................... 1 8 0 6 -1 8 8 3 f o l h a s d e v id e ir a e m e s m a l t e a z u l e d o u r a d o , id ê n t ic a
F r a n c is c o J o sé d a R o c h a ( f ilh o d e F r a n ­ a d o B a rã o d e S o ro ca b a , porém ao in v é s d a s in ic ia is
c is c o J o s é d a R o c h a L e ã o l . ° B a r ã o d e BDP (B o a v e n tu r a D e lfim P e r e ir a ) o sten ta u m ram a­
Ita m a r a ty ). E x is te o u tr o s e r v iç o her­ lh e t e d e flo r e s n o c e n tr a . A in d a d e s e n o ta r a s e m e ­
dado d o pai o I ,° B a r ã o , se m in ic ia is lh a n ç a d o s e r v i ç o s e m s i g l a s c o m p r e d o m i n â n c i a d e a z u l
— Thom az X a v ie r G a r c ia de A lm e id a e ouro do 1 B a r ã o d e Ita m a r a ty c o m o d o í D u q u e
— c o m in i c i a i s ................................... * .................. 1 7 9 2 -1 8 7 0 d e P a lm e ia e c o m o u tr o s e r v iç o e x is te n te n o s E s ta d o s
U n i d o s , a t r ib u íd o a 1805 ( v id e “ C h in a f o r th e W e s t ”
— B a r ã o d e T ie tê , c o m i n i c i a i s ...................... 1 7 9 3 -1 8 7 7
pág. 5 0 1 ).
J o s é M a n u e l d a S ilv a
A in d a h á s e r v iç o s q u e tê m s e m e lh a n ç a e n tr e si,
c o m o o b e lo a p a r e lh o d a M a r q u e s a d e Ita m a r a ty , o u
e) R e in a d o do Im p era d o r K o u a n g -S íu 1875-1907
se ja , do pai P edro J o sé B crnardcs e um o u tr o da
F a m ília L age, com in i c i a i s , do qual in fe liz m e n te fo i
— B arão d e A ra ú jo G ó e s
p e r d id a a p i s t a .
ín o c ê n c io M a r q u e s d e A r a ú jo G ó e s
— c o m i n i c i a i s ...................... ' ............................ ... ? -1 8 9 7 De n o ta r que a lg u n s s e r v iç o s são fr a n ca m e n te
— B a r ã o d e R a m a lh o “ m a n d a r in s ” , de e x c e le n te q u a lid a d e , com o c o do
J o a q u im I g n á c io R a m a l h o c o m in ic ia is - B arão d e M assam b ará e o u tr o s, q u e se i n s p ir a m na­
DPAR ..................................................... ........................ 1 8 0 9 -1 9 0 2 q u e le e s tiio com o o M arquês d e T orres N ovas (es­
ta m p a X L V d e “ O B r a s il e a L o u ç a d a ín d ia " ) o do
— B arão d e L essa — c o m in ic ia l L . . .. 1887
M a n u e l I g n á c i o M o n i z B a r r e t o d e A r a g ã o e a in d a u m
p ir e s com f ig u r a s e um a c h in e s a no cen tra to c a n d o
S o b r e e s s e s s e r v iç o s d o s é c u lo X IX , da m a io r ia v io la e u m b r a s ã o n a b o r d a , a tr ib u íd o à F a m ília A lb u ­
d e p e r s o n a g e n s b r a s ile ir o s , já h o u v e c o m e n t á r i o s s o b r e querque, por Jénny D r e y fu s c p erten cen te à c o le ç ã o
su a d e c o r a ç ã o . d e A n tô n io A v e iia r F e r n a n d e s,
D iz -n o s M a rq u es d o s S a n to s — ■ (o b . c it .) “q u e A in d a o s e r v iç o d e D . M a r ia C e c ília F o n t e s , em
d e t e r m in a d o s d e s e n h o s , f o r a m p r e f e r i d o s a q u i e c e r t o s “ b ie u dn r o í” , e ouro, com o o s e r v iç o ta m b ém t io
p ad rões cau savam a d m ir a ç ã o era P o r tu g a l a c o le c io ­ s é c u l o X V I I I (,S), d o c o m a n d a n t e J o a q u im J o s é d e S i ­
n ad ores p o r tu g u e se s c o m o o V is c o n d e de C a r n a x id e q u e ir a , d ecorado à L u iz X V I, E ta m b ém e x is te um
que os d e s c o n h e c ia m em P o r t u g a l .” J o sé C u s tó d io p ra to c o m a s in ic ia is J S P , id ê n tic o a o s e r v iç o d a P a i­
V d lo s o o u tr o c o le c io n a d o r d is s e -n o s : “E m P o r tu g a l, sa g em P equena, de D om João V I, com a d if e r e n ç a
há c erta s d e c o r a ç õ e s, q u e n ã o e n c o n tr a m o s e m lo u ç a a p e n a s d e h a v e r i n i c i a i s c o l o c a d a s n o c e n t r o , a o in v é s
c h in e s a d a q u i” . d a c l á s s i c a " p a is a g e m p e q u e n a " . A q u e l e p r a t o c o n s t o u
E sse fa lo ta m b ém já fo i o b servad o por a u to r e s d o lo t e 3 4 4 , d o le ilo e ir o T a lib e r íi, n o le ilã o d e ju n h o
in g le s e s ( “ C h in a fo r th e W est” ) , r e fe r in d o -s e e s p e c i­ d e 1 9 7 9 , em S ã o P a u lo .

* * *

658 *
B I B L I O G R A F I A

([) G on/ALO O bregon — "El Aspecto Artístico del Comér­


cio com Filipinos*', in Artes de México it,° 143 — 197L
(2) Prof . P icard, ob. cit.
(3) H. F. Brancante — ob. cit., pãg. 95.
(4) C arl W. Drepperd — "The Prime of American Antiques"
— pág. 41.
(5) G onzalo G erecon — ob. cit.
(6) M anuel Carrallo — "Et Comércio con Asia in Artes
de México” — Ed. In ah 1976 c I orce R ené G onzales
— "Porcelana China de Exportacion" — ibidem.
(7) CONSUELO MarQüivar — "Derrotero Histórico dei Galeon
eic Acapulco in Artes M r rico” — ed. Inah — 1976.
(8) G onzalo O bregon — ob. cit., pãg. 86 ■
— "Artes de
México" n.° 143 — 1976.
(9) J orgf. R en é G onzales -— “La Porcelana China in Artes
de México" — —ed. Inah 1976.
( Iü) P edro Calmom — in prefácio do "O Brasil e a Louça
da Índia”.
,(11) F rancisco M arques dos Santos — ob. cit., pãg. 284,
(12) M aría G raham — op. cit., pig. 149/300 — (1820/1823),
(13) J ohn M aWE - - "Viagens ao interior do Brasil” — 1806
— pig. 108.
(14) J enny D reyfus — " Louça de Dom Pedro IP’ — in Anais
do Museu HisL Nacional — vol, X XV -— 1974 —
estampa 66.
(15) R,P icard — ob, cit., pig. 318.
(16) F rancisco Marques dos Santos — ob. cit., pig. 247.

(17) Pauta das Avaliações de Todas as Mercadorias que se


importam no Império do Brasil — Nova Edição —
Pernambuco — Tipografia Faria. 1837.
(18} N ewton I. da Silva C arneiro — “A Louça da Compa­
nhia das índias” — Brasil — 1943 — S. Paulo,

R yochi F ujiotà G akoji Has abe, The Sancho Press —


"Ceramic of the World The M ing liinasry” — p ig . 14
— 73 — Tóquio.
John L ehold and Jerome A. Cohen — "China Today and
her A ncient Treasures" — pig. 159 — N. York, 1949.
E. F. B rancante — "Achegas sobre Cerâmica do século X I X
do Brasil — ■A Louça M ineira" — Separata da Revista
"Paulistânia", n.° 79 — S. Paulo.

659
P O R C E L A N A S B R A G A N T IN A S
(Companhia das índias)
(Histórica)

700

O pirei a a xícara em Companhia das índias são p o lk minados e


ostentam o brasão do Reino Unido de Portugal, Brasil e Algar-
ves, sobre campo vermelho, além da dizeres em chinês. Presente
do im perador Chia-Ching a Dom João VI (vide E. F. Brancante
ob. cu. págs, I l t i f l l / / 2 J S / 2 J 9 ) , conhecido com o o serviço do
Reino Unido.

660
Sic. XIX PORCELANAS COMPANHIA DAS ÍNDIAS

A ânfora da esquerda fa z parte do suplemento nobre dos serviços Companhia das índias (em geral par) para serent colocados sobre
aparadores ou mesas, este 1 corresponde ao serviço 11Paisagem Grande” considerado imperial. A ânfora da direita, polieromadq
faz parte do acervo da coleção M iguel Calmem, do antigo Museu do Estado da Bahia. A floreira de baixo de sóbria decoração faz
parte do conhecido aparelho da “Paisagem Pequena”.

661
Sees, X V I U f X l X PORCELANAS COMPANHIA DAS ÍNDIAS
( Persona lijada)

704
O bule faz parte do serviço de Francisco Tello de Menezes,
6 conde de Aveiras e I.0 M arquês de Vagos, nascido etn
Janeiro de 1723 r falecido no Rio. em Novem bro de 1813.
Veio para o Brasil com o m ordom o-m or da Princesa Dona Maria
Benedita e ocupou na Corte o elevado cargo de governador
das A rm as da Corre e dal Capitania do Ria de Janeiro (1811).
Ostenta o brasão dos Silvas que também era das ContJes de
A v eiras e coroa de marques. Vide E. F, Brancante, ob. cil„
pág. 352. Cortesia do M useu Nacional de A rte Antiga —
Lisboa.

Pote polkrom ado sem tampa, restaurado, llorcs e borboletas


e urna cercadura de " joii-heads" no colo e outra de retângulos
em volta da base. A o centro a sigla J. H. S .'co m cruz e três
cravos na base 'monograma sagrado) símbolo da Companhia
de Jesus. Arquivo do Autor.

Um dos 1res serviços de Dom Bernardo José Maria de Lorena


e Silveira que, etn 17S8, foi governador da Capitania de S ã o
Paulo, a cuja testa permaneceu nove m o s , Foi Vice-rei da índia
e ocupou uinda importantes cargos. Delirou assinalada a sua
presença cm São Paulo por numerosas e avançadas realizações.
Nasceu cm 1756, em Portugal r faleceu n o R io de J a n eiro
cm 1818 ou 1819, Vide E. F. Brancante, ob, cif., pdgs\ 305
ã 312.

662
Séc. XIX PORCELANAS COMPANHIA DAS ÍNDIAS
(Personalizadas)
{Armoriadas c com siglas)

707

Esta travessa vaiada fe z parte do serviço de D. José M m ia


Antônio Gonçalves Zarco da Câmara — 7.° Conde da Ribeira
C *ind.tr nascidiz c.y: Portugal em 1784 e falecido tio Rio de
Janeiro cm 1820. jF ez parte da comitiva real para o Brasil.
Existe um outro serviço, também armoriado com borboletas e
flores da coleção de. Francisco Marques dos Santos (Vide
E. F. Brttncantc, ob. cit,, pdg. 365),
Coleção E. F. Brancante.

708

Pires de outro serviço de chá do 7.° Conde da Ribeira Grande,


acima rejerido.
Coleção Pedro Edmundo Santoro,

709

Pires de um serviço de chá com iniciais ao centro do pires


(a,pagadas) e também nas xícaras. Pertenceu a José Manuel
da Silva, Barão de Tietê, nascido em J793 e falecido em 1877.
Desempenhou importantes cargos, tanto no alto comércio,
como na política. Foi Vice-presidente da Província dc São
Fmtlo em 1839, deputado do Conselho dó Estado, etc.
Coleção E. F. Brancante.

710

Peça de um rico serviço com bela cercadura dourada, entre­


meada de esmaltes azuis, faixa dourada no fundo e uma elipse
central, contendo três iniciais. É informado pelo possuidor como
tendo pertencido a membro da família Souza Holstein-Bcck
(Portuga!). Coleção João Eduardo Penteado.

663
Séc. X IX P O R C E L A N A S C O M P A N H IA D A S ÍN D IA S
(Histórica)

711

O prato de rica decoração a ouro e esmalte azul, apresetikt


no centro , para o/idc convergem pingos dourados, a sigla
J- J P. B. e pertenceu ao João Figueiredo Pereira de Barros,
Barão de Fonseca, irmão tio Barão de Icarahy. Era fazendeiro
c senhor de avultuados haveres, tanto nti Província Fluminense
(em N iterói existe um bairro "Fonseca", em sua homenagem,
onde doou uma de suas principais avenidas -(a Alam eda de
S, Boaventura) como também ern São Páuto c em Belém do
Desativado.
A decoração da peça â tipicamente inglesa, copiada, conto pode
ser verificado, comparando-se a xícara e pires de fábrica inglesa
de Dérby com o prato em Companhia das ‘índias. Este prato
pertenceu a ex-coleçãó do E-crno. Sr, D ri Washington Luiz
Pereira, de Souza. Coleção E. F. Brcncante.

664
séc. x i x
P O R C E L A N A S C O M P A N H IA D A S ÍN D IA S
(I3uqiie <lc Palm eia)

Etl< pralo faz parte de um serviço que pertenceu no i.° Duque de Palmeia e seus descendentes, inclusive ao S.° Conde de Palmeia, nas­
cido em 11197. D. Domingos de Souza Hohtein-Beck e falecido em 1970. Metade do aparelho encontra-se hoje em mãos de uma de suas
ilustres descendentes a Erma. Condessa de Carnide. que o mantém em sua bela sala de estar em dois grandes armários envidraçados
junto cútn o serviço de chd c de café de mesma decoração com pequena variante de cercadura dourada. Na página seguinte exibimos o
serviço do Conde de Itamaraly, que apresetua pequenas diferenças com o ora exibido, sendo a mais em evidência o desenho de um pesse­
gueiro florido à esquerda do Itamarasy e tinb pessegueiro florido no centro com mais dois arbustos (Palmeia). O fato de existirem serviços
parecidos em poder de personalidades diferentes é com um , pois costuma haver repetição de determinados aparelhos chineses em Compa­
nhia das Indlas. Haja à viíiB o famoso serviço dos Pavões do século X V ÍU , reproduzido em várias séries e formatos e os serviços em >
azul e branco quase sempre fabricados cm série.
Acreditamos que 'tanto O serviço do t cv.de de Itamaraty, coma Ja Duque de Puhnela tenham sido adquiridos na Praça do Rio de Janeiro,
já que este últim o residia aqui onde desempenhou us funções do Ministro do Reino de Portugal, Brasil c Aigarves (1820), e onde sc revelou
ao fado de D om João Ví, como um dos seus mais ativos e argutos conselheiros políticos. O serviço de mesa do Duqite de Palmeia é acom­
panhado de um serviço de chá que tem uma curiosidade: apresenta xícaras de diferente: formatos, tigelas, xícaras alias com alça redonda, xí­
caras de dupla pança ou bojo (coma preferem os portugueses tipo "cabaça") copiando as alças, o form ato do século X V ÍH . A s xícaras de
café c de chá, têm uma cercadura dourada ao invés de folhas de parreira em esmalte azul dos pratos, travessas, terrinas, etc. Agradecemos
a oportunidade da visita e de apreciar os aparelhos do i ° Duque de Palmeia (de mesa, de chá c de café) assinv como as informações pres­
tadas d a autorização de revelá-las, à cortesia da Uma, Sra. Condessa de Carnide., Sra. D.a Maria Luiza de Souza Holstein Beck de Arriaga
c Cunha. i
Coleção do Conde de Carnide, Sr. José Street de Arriaga c Curha Portugal).

665
Séc. X I X PORCELANAS COMPANHIA DAS ÍNDIAS
{Conde de Itanjaraty)

Travessa do serviço conhecido com o tendo pertencido ao 2.°


Barão, Visconde e Conde de ítam araty Francisco José da
Rocha (1806-1383), casado com D ,° Maria Romana Bcrnardes,
a qual depois de viúva fo i o marquesa de ítam araty (1887) e
que lambem possuía um belo serviço herdado de seu pai
Pedro l o s i Bernardas com as iniciais P. J, B. O Conde de
ítamaraty era lílho do I R Barão de ítamaraty, Francisco
José da Rocha Leão, a quem primeiro pertenceu o serviço
cite é do período do Imperador Chia-Ching (1796-1820).
Possuía, a Conde de Utmharaty, lambem um serviço de chá,
com as iniciais F, I. R, de riquíssima decoração policromaãa,
sendo quase rodas as peças diferentes, algumas das quais
estampamos etn outro local e que atribuímos ao reinado do
Imperador Tung Chich (1862-1873). Vários Museus, inclusive
o Histórico Nacionai e colecionadores possuem tanto este
serviço com o o de chá. Coleção Pr ter Naumar.n (cx-coieçSo
Zita Cintra Gordinho). Existe em Portugal serviço parecido
que pertenceu ao !.° Duque de Paímela, com três arbustos no
a n tr o das peças, em vez de um sá.

716

7)7

O pires do centro é de fabrico inglês de 8pode (marcado em


vermelho) de porcelana branda do fim do século X V l l l ou
começo do X IX e pela decoração, parece haver inspirado os
chineses no fabrica dos serviços, tanto do Conde de ítam araty,
como do Duque de Paímela e ainda outros conhecidos dit
mesma série nos Estados Unidos. John A ycrs e David
Iloward (China fo r the West, pág, 561 ) apresentam um ser­
viço de chá com as mesmas características, cujo fabrico c
atribuído ã 1805, e quanto à decoração também apontam
aqueles amores a influência de madetos ingleses que leriam
inspirado os chineses, no caso provavelmente a fábrica de
New Hall e também a de M inton.

718

A esquerda detalhe da travessa: Trata-se de


serviço atribuído ao reinado de Chia-Ching,
no início do século X IX . Decoração vigo­
rosa em que xe sobressaem o azul, o ala­
ranjado e o dourado, com uma cercadura
de folhas de parreira, cachos ac uva c ouro,
tendo ao centro um tem plo em ruínas c á
esquerda (imitando as cores e o movim ento
inclinado do arbusto do pircy de Spode) um
pessegueiro em flor de forníp recurvada.
Cortesia de Peter Neumann.

666
Sees. XV111/XIX PORCELANAS COMPANHIA DAS ÍNDIAS
(Personalizadas)

O prato iíe sobremesa de cima onde predomina a decoração


ouro, lem a sigla F. J. R. e pertenceu a Francisco José da
Rocha, l.° Conde de Itamaraiy. Este serviço de sobremesa ê
dos mais ricos das coleções brasileiras, pois quase cada prato
tem um desenho diferente sempre m uito elaborado. (Vide E. F,
Brancante. ob. cit. pág. 390, est. L iV ). O pires à direita com
. larga cercaduga dc esmaltes arais ' verdes intercaladas de
reservas decoradas e dentro de um círculo as iniciais A . C. P.
pertenceu a A ntônio Clemente Finto, l .° Barão de Nova
Friburgo. M useu Imperial — Petrópolis. O pires dc baixo,
com larga barra compartimentada com reservas com pássaros
e folhagens tem dentro de um círculo as iniciais F. A . G. que
correspondem às de Francisco .Agostinho Gomes, deputado às
Cortes Portuguesas, nascido na Bahia (1769-1842). Vide Argeu
Guimarães — Dicionário Biobibliogràfico Brasileiro —■ Rio —
Arquivo do Autor. .

667
Sees. XV U l/X IX PORCELANAS COMPANHIA DAS ÍNDIAS
(Personalizadas)
(armoriadas, com siglas e sem siglas)

722

Dois pratos iif dois serviços diferentes que pertenceram a D.


Bernardo j a s í Maria de Lorena e Silveira. 5,a Conde de Sarze-
tlits, governador da Capitania de S. Paulo f1797 a 1803) e
depois de Minas e Vice-rei das índias (o de baixo é chamado
de "rêchaiid" e j i foi referido).
Coleção João Moreira Carcez Filho.

Travessa varada do serviço que pertenceu a D. A n d ré tie


M ello e Castro Conde das Galveas e S.° Vice-rei do Brasil dc
1735 a 1749, tendo antes sido governador da Capitania de Minas
Gerais de 1732 a 1735, Coleção Particular.

Serviço do Conde de B onfim , José Francisco de Mesquita,


nascido em 1790 c falecido em 1873, que depois passou para
o uso de Seu filho o 2.° barão de Mesquira, Jcrônimo Roberto
de Mesquita, falecido em 1888 no R io de janeiro.
Coleção Fernando Soares.

668
Séc. X I X PORCELANAS COMPANHIA DAS ÍNDIAS
(Personalizadas)

725 726

Os dois pratos de sobremesa de cima com as iniciais F. J. R.


e decoração dourada, fazem parle do serviço já referido do
l.° Conde de Itamaraty (ãrnncicco José da. Rocha), que como
já dissemos são quase todos diferentes e ricamenie decorados: lo
prato dei esquerda é da coleção Marcos Carneiro de Mendonça
(Rio) e o da direita ría amiga coleção A ntônio VUfares da Silva
(S. Paulo). Embaixo à esquerda o exemplar faz pane da coleção
do Dr. José Miguei Monteiro Soares (Rio) (duplicata) e o da
direita em ouro e reservas hexagonais em azul faz parte do
acervo de N cwton Carneiro (Paraná).
Séc. X I X PORCELANAS COMPANHIA DAS ÍNDIAS
(Personalizadas)
(Titulares Brasileiros e Estrangeiros)

O p rato policromado d esquerda ao alio, faz parte de um


numeroso e vistoso serviço com aba idêntica ao serviço de
Manoel Paes de Sande e Castro (vide E. F, Brancante, ob.
cit, pág. 323), porém tendo no centro m otivos diferentes
(segundo consta seriam interpretações das Fábulas de Esopo).
Tat serviço fo i encomendado por João Ferreira Pinto e traz
as iniciais 1, F. P. (e não J. 5. P., como fizem os menção na
citação na pág. 323) e é conhecido entre os colecionadores
por "Serviço dos Bichos” e pertenceu ao seu filho A ntônio
Costa Pinto e depois a seu genro o Cons. A ntônio Prado.
Este serviço nada lern a ver com o procedência com o Barão
de fgtmpe. Coleção Fundação Crespi-Prado.
O pires ao alto com as ermas no centro com coronel e timbre
e leões por suportes, pertenceu ao Visconde de Strangford
Percy Clinton Sydney Smilh, foi o primeiro embaixador
britânico no Brasil, na Corte do Príncipe Regente D . João,
no Rio, permanecendo no Brasil de 1S07 até 1814. A iim de
diplomata, homem letrado traduziu poemas de Camões em
várias edições para a Ingiaterra e os F itados Unidos,
Coleção Newton Carneiro.
A xícara embaixo com anjos carregando coroa de louro e
com festões e friso na borda, toda em sépia, pertenceu ao
Barão de Lessa (o pires tem no centro um L dourado), O
Barão de Lessa, Eioy Bicudo V arelh Lessa, paulista era filho
dos barões de Paraibuna e recebeu o título em J8S7.

729

670
Sêc. XIX PORCELANAS COMPANHIA DAS ÍNDIAS
(Personalizadas)

732

O pires policrOMãdo do serviço de chá ê um dos mais finos das coleções brasileiras; <2 pasta é de grande
translucidez* mais delgada e mais alva do que o comum das peças de exportação, chutnadas Companhia das
índias. A aba apresenta uma cena do folclore chinês, em tons azuis, verdes c amarelos, gênero conhecido por
porcelana “mandaria". N o ccniro dentro do círculo a sigla que corresponde à pessoa do fidalgo
Manoel fgnécio M oniz Barreto de Aragão (de Souza e M e n e z e s n a s c id o em Salvador cm J789 c falecido em
1865, O serviço é conhecido por Baronêsa de Alcniquâr; D ° Francisco Assis Vianna Moniz, Barreto dc Ara -
gdo, que herdou o aparelho de chá de seu pai.
Cortesia de Newton Carneiro.

671
Séc, XIX PORCELANAS COMPANHIA DAS ÍNDIAS
(Persoiulizodas)
(Brasonadas)

734

O prato ricamente decorado com folhai de parreira e uvas lenda tio centro o escudo cortado com armas
dos Saudes, dos Paes o dos Castros, com coronel de Conde, pertenceu a M anoel Paes de Sar.de e Castro,
fidalgo do Reino, foi nomeado em 1806 governador c capiiiío general de São Paulo, sem no entanto
tornar posse. Coleção Antônio Costa, Portuga!. (Vide E. F. ílrancante: ob, cit. págs. 322/323). E s isic um
serviço com idêntica decoração, porém, com asiinidais 3. F, P. que pertenceu ti João Ferreira Pinto cortt
tn'oiivüs dc fábulas de Esopo no centro,
A tigela de bairro no género mandarim, com as iniciais T. -V. .* coronel dentro de um circular dourado
pertenceu ü D. Á lvaro A ntônio de Noronha A branches Ccisletio Branco — l.° M arquês dc Torres Novas
e 7 ? Conde Valtadüres (Portugal). Entre outras funções desempenhou o cargo dc mordomo-mor de Dom
João V t e Dom redro IV. Seu pai, o 6.° Conde de Vatladares, fo i governador e capitão general de M inas
Gerais em 1768, (Vide E. F. Brancanie, ob. cit. páç. 356) M useu Histórico Nacional.

672
S éc, X IX
PORCELANAS COMPANHIA DAS ÍNDIAS
(Personalizadas)

735

O aparelho dc que faz parte este prato, de decoração delicada policromada, tendo as iniciais A .E.P-,
dentro de um círculo de flores , pertenceu ao Marechal Alexandre Eioy PortelH. nascido em Portugal €n\
1760 e que veio para o Brasil e m J 7 S I, onde desempenhou diversos cargos técnicos corno astrônomo, geó-
. grafo, engenheiro e militar, tendo prestado serviços »ia demarcação das fronteiras com as possessões
espanholas do Rio da Croata (Tratado de Sento Jldcíonsa). Fez parte do Exército Pacificador da Banda
Oriental e em I S I I foi graduado no posto de Marechal de Campo, Por ocasião da Independência optou
la cidadania brasileira. Sua filha, Sebasliana Be nr ve nu to Marques PortelH, casou-se com João Vieira de
Carvalho, nascido em 1791 em Ponugal e falecido cm 1847 no Rio, que fo i Conde e Marquês de La­
ges, tendo sido Ministro da Guerra e do Império nove vez.es — o casal herdou o serviço que é conhecido
entre os colecionadores como do “Marquês de Lages1'. Existe no entanto serviço absolutamente similar
(porém com quatro iniciais no círculo central). Ignora-se que lenha sido este outro serviço encomen­
dado a seguir por descendentes ou outros parentes ou par outra personalidade brasileira. (Vide E. F,
Brancante, oh. cif., pág. 2S8),
Cortesia de S. Victra de Carvalho,

673
PORCELANAS COMPANHIA DAS ÍNDIAS
(Personalizadas)

736

Thotnaz Xavier Garcia de Almeida, a quem pertenceu o prato t nasceu ú 14 de junho de 1792 , no Rio
Grande do Norte e faleceu em J.° de janeiro de J87Ô no Rio de Janeiro. F orm ado cm direito pela Uni­
versidade de Coimbra, fo i deputado geral pelas Províncias do Rio Grande do N orte e Pernambuco ç
ministro do Supremo Tribunal. Segundo Presidente da Província de São Paulo, ocupou o carpo durante
quatro meses (de 19J 2.1827 a 18.04J 828) e em seguida fo i presidente de Pernambuco (1828/29) e da
Bahia ( ISSS a ÍS4Ô) e novamente de Pernambuco (1844 a I $45),
O prato, de aspecto vistoso e desenhos harmoniosos, é decorado s “rouge da ferrt c ouro; ao centro tem
um a grinalda dc flores conv pássaros formando semi-circulo, no. centro do qual se vêcrn a ouro: X. X.
^ Eurt dação Castro Maio, no R io de Janeiro , detém exposta a maioria deste serviço, inclusive sopci-
tüS W*iic Eugênia Fgas "Galeria dos Presidentes de São Pauto”, 1925, pág. 24 e A rnold Wildberger **Qs
Presidentes da Província da Bahia”, 1949, págs. 229/40),
Sêcs- X V U l / K Í K PORCELANAS COMPANHIA DAS ÍNDIAS
(Personalizadas)

737

Travessa policroma do serviço do i ° liarão, Visconde c


Marques tia Villa Real da Praia Grande, Caetano Pinto de
Miranda Motuerscgro — governador e capitão general dn
Capitania dc M uito Grosso. Nasceu em Portugal em 1748 e
jcleceu no Rio de Janeiro em 1827, Adquirido dirctamcnte,
segundo informação de uma descendente do marquês peto cole­
cionador fír. José Miguel M onteiro Soares.
Obs.: Existe tarnhêm um serviço do m esm o titular cm louça
francesa com coroa c iniciais

Segundo liarão c Visconde de Cabo Frio, Joaquim Thometz do


Amura!, nascido em ISI S no Rio de Janeiro e falecido cm 1907.
Foi ministro plenipotenciário cm Londres <• outras capitais e
Secretário das Relações Exteriores, Este serviço foi identifi­
cado já há anos e consta das coleções de diversos museus
inclusive o Histórico Nacional. Aba Filz Hugh {ao gosto
americano) em tons sépia-marrom.
Coleção Dr. José Miguel Monteiro S o e m .

Este serviço policroma de mesa e de chá. ‘az parte de várias


coleções e vem sendo apontado com o tendo pertencido ao
primeiro Barão de Alegrete, João José de Araújo Gomes
Foi moço fidalgo da Casa Imperial e Comendador da Ordem
de Christo, Faleceu cm J862.

675
Séc. XIX PORCELANAS COMPANHIA DAS ÍNDIAS
í Per so2 alijadas e Anônimas)

A faladeira de cima faz parte do serviço danificado no Museu Mariano Prccópio, conto M arquês de S. Marcos, ostentando do lado o “B" que
caracteriza a origem, de acordo com as informações de sua ilustre família. Â travessa & direita í toda em desenhos de rosas cm sépia, E ü prato
à esquerda faz parte do serviço que foi oferecido ao Barão de ítamalho, com quatro iniciais D .P.A .R , {Vide "O Brasil e a Louça da índia" —
pàg. 338). Estas peças falem parte da rira coleção em Companhia das Inif ias Históricas do Museu Mariano Bros ópio (Juiz de Fora — Minas)
c cortesia de Geraldo Ferreira Armrmil Marques. A grande travessa (35 cm) Companhia das índias, com decoração verde e ouro e. iniciais apaga­
das, provavelmente pertenceu a personalidade brasileira, pois existem há muito outras peças no Brasil. Acervo tio Palácio dos Bandeirantes (sala
de fnrttnr — ala residencial) S. Paulo. Cortesia de Prrirtes KrigPmo da Silva Ramos. O prato n direita rnm unta rnm ao centro, maneira de
Mcissen, faz parte de um aparelho que acreditamos sefa antigo no país, pois colecionadores tradicionais o possuem; parte dele é de propriedade
do Dr. Cândido Guinlc dc Paula Machado. Coleção E. F. Brancante.

676
Séc. X I X P O R C E L A N A S C O M P A N H T A D A S ÍN D IA S
[ílisTúdcas c Anônimas) 745

O prato com friso mira e atai pertenceu 0o Visconde M Cachoeira, Jfj.tr lu ís de Carvalho e M ello. O prato â direita com
cestas de fiares, pertenceu, segundo classificação do Museu Marir.no Proa)pio, a Manoel Machado Coelho de Castro (sogro
de Mtiriano Procópio). No centro á esquerda ví-se detalhe do mesmo prato e à direita detalhe de prato que, segundo aquela
mesma fonte, pertenceu ti Rainha Dona Carlotti Joaquins, sem brasão ou iniciais. O prato em baixo à esquerda i em C om ­
panhia das Índias e do acervo do Mure:: Mariano Procopio, e o da direita de fundo chocolate com reserves cm branco c folha­
gem e flores pollcromarlas, é do século X V U I e ê conhecido por "Batávia".
Cortesia de Geraldo Ferreira Armontl Marques (h til de Fora).

677
Sêc. X I X PORCELANAS COMPANHIA DAS ÍNDIAS
(Personalizadas)

Os dois pratos de sobremesa de cima cam as iniciais F. 3. R.


{apagada cm ato prato) fazem parte do serviço numeroso de
peças quase diferentes do I P Conde de Itarnaraty {Francisco José
da Rocha) e fazem parte da antiga coleção A ntônio Vil lares
da Silva. O prato de. baixo de barra alaranjada e dourada com
as odeieis I.A.G., pertenceu a Inocêheio de Araújo Góes de
tradicional família baiana, fo i o I P Barão de Araújo Góes e
Presidente da Província de Pernambuco em 1386,
f Vide E. F. Brancaníe H ob. cit.} pãg. 335).

678
Sécs. X VilI/XIX PORCELANAS COMPANHIA DAS ÍNDIAS
(Po!icroma<!a e azul c branco)

A elegante sopeira, de formp bojada, com Uma grande travessa com faixas douradas e discreta decoração em azul, encerra iniciais
dentro de reservas grandes em lorota de circulo (século XI X) e faz pane da coleção do Dr. Oscar Americano N eto (S. Pauto),
A s demais sopeiras fazem parle do acervo da Fundação Maria Luísa e Oscar Americano. De notar-se à esquerda, duas variantes
do serviço conhecido por Pavões c as alças e pegadores das sopeiras : uma de form a hexagonal com alças cm cabeça de porco c
pega rococó, u outra dc form a oblonga, alças espalmadas e pega idêntica. Como ê sabido existem diversos serviços corri o mesma
decoração de pavões e peônius (Família Rosa) fabricados no correr do século XVIII, dado que aquele padrão era muito apreciado
na Europa, constando mesmo que o Faço Imperial possuía um ou dois serviços do gênero. (Vide E. F, Brancante — “O Brasil e tt
Louça da índia" — pàgs. 176 c 222).
À direito vê-sc uma série de tris sopeiras azul e branco, de motivos diferentes, do gênero conhecido entre nós por louça de Macau
(século XVÍ H).

679
Sêc. X I X PORCELANAS COMPANHIA DAS ÍNDIAS

753 754

Série à esquerda de xícaras e pires demonstrando a grande


versatilidade dos composições dc exportação. Quanto às cores,
há que ressaltar o "Bleu dit R u é' c: o salmon.
N o que loca aos desenhos, há que destacar as combinações
come tricas da 2 r xícara e os delicados traços da xícara de
faixo, adquirida no leilão Areal (Rio) como atribuída â M ar­
quesa de ham araty. Coleção do A utor,

A sopeira ao alto é ricamerue decorada, com cena chinesa


no largo medalhão e dentro de uma elipse dourada contém
quatro iniciais (T. F. C. B.). Coleção Particular.

680
S ecs. XVIU /XÏX PORCELANAS COMPANHIA DAS ÍNDIAS
(Formatos Diversos)

A o alto è esquerda uma ânfora do começo d o século X IX —


essas peças dc aparato costumavam acompanhar os aparelhos
importantes vindos da China. Cortesia de Josê Eduardo Lou­
reiro. O jarro com figura antropomorfa no gargalo ê do
século X V III {Família Rosa) e representa ã versão em porcelana
Companhia das índias dos famosos belarminos muito fabri­
cados na Europa no século X V IIt servindo com o recipiente
para vinho, porém feitos em grés; de uso corrente na Holanda
e na Rcnãnta. Vide peça parecida em forma, colorida, c
carranca com o brasão dos Lynch (Vide Elinor Gordon
“Collecting Chinese E rport — Porcelain”, New York, 1977 —
pág. 32L Par de vasos embaixo á esquerda tem a forma
clássica de "baluster” e apresenta como alças duas figuras
chinesas e no centro paisagens européias em sépia. Período
Kien-Liíug. Coleção Gilberto Daccache.

681
XVII - PORCELANAS BRASILEIRAS

Tivemos o privilégio, graças à fidalguia cio Dr.


Israel Pinheiro Filho e Dr. Expedito Bastos, entre
outros componentes da "Cerâmica João Pinheiro" de
apreciar parte de um serviço de chá, gênero Vieux
Paris, daqueles que eram produzidos em Caeté, em
porcelana de 1903 a 1921. Para melhor conhecimento
do público e por se tratar de apresentação inédita para
os ccramógrafos, publicamos na íntegra a ata de 1893,
em que João Pinheiro da Silva, lançava-se na melhoria
de seus produtos, jã em busca da porcelana, em tra­
balho a parte, (vide Revista Paulistânia n.° 79, 1975
“Achegas sobre Cerâmica do Século XIX no Brasil —
A Louça Mineira”).
Há ainda a acrescentar que a Fábrica de Santa
Catarina cm São Paulo além do fabrico da louça de
pó de pedra e de biscuit já referidos, fabricou também
porcelana de boa qualidade (1913), Exibimos três
exemplares de um serviço de chá e café com barra cor
de rosa e friso “iraise" com as iniciais E. e F. entre­
laçadas, as peças estão marcadas com selo vermelho
“Fábrica de Santa Catarina”. As iniciais E. e F. corres­
pondem ao nome do sócio fundador Euciydes Fagundes,

683
Principias do séc. XX PORCELANAS BRASILEIRAS

Feérica de Caeté (Minas) 1903.

Arquivo do Autor (Cortesia de Israel. Pinheiro Filho).

Fábrica de Santa Catarina (S. Paulo) 1913,

757

Depois dos ensaios t fabrico da porcelana por João Manso Pereira (fim do século X IV// e começa do XIX), somente em
J903 ê retomada a produção dela no Brasil, em Caeté, Minas. Em cima, bule e xícara de café ent porcelana, decorados a
ouro, sem marca. Ent 7975* já cm Sr,o Pauto, a Fábrica de Suma Catarina (FAGUNDES ,'i R AN ZIN I) no Bairro de Agua
Branca, produz porcelana dentro de elevada técnica, imitando porcelana austríaca, que serviu de modelo. Ás tres peças
exibidas com as iniciais E. F., correspondem ao nome do sócio fundador, EUCLYDES FAGUNDES r estão marcadas. De
notar que a firma citada contava logo de início com jmia equipe de primeira plana, com uni grande técnico italiano (con-
tratado por tres anos) o Sr. José Zappi — Presidente da Cooperativa de Imola rta Itália a foi decorador também o italiano
G, Miniali (Aristides Filrggi, ob. cit., púgs, 146-143-vcrso). A s belas jarras em biseuit já expostas linhas atrás (no mb-capitulo-
-Bisctiit) dão-nos uma amostra exuberante da capacidade da fábrica na parte artística desde sua fundação. Arquivo do Autor.
Cortesia da Extna. Família de Euclydcs Fagundes. 1

684
OITOCENTISMO BRASILEIRO
(c algumas referências do século XX)

ÍNDICE DO TEXTO

T PRODUTOS DF, OI A R I A
Esforço generalizado das Capitanias em produzir material cerâmico para seu uso
e exportação doméstica. Proliferação de olarias. Referências a pó de pedra, gra­
nito, faiança, mezta-maiâlica e porcelana {alguns desses produtos só vêm a ser
fabricados no começo do século XX). Chegada da Corte c demanda maior. Refe­
rências diversas sobre firmas e produção. Exposições na Corte. Telhas francesas
importadas e fabricadas no Brasil — Sacoman e a grande indústria moderna de
construção (1895).......................................................................................................... 419 a 423

II — IMAGINARIA
Reflexos da arte popular e folclórica através do barro: os barristas bonequeiros, as
artistas figureiros ou santeiros, os presepeiros, as paneleiras, as oleiras, etc.
Técnicas rudimentares e improvisadas de decoração e cozimento. As “Paulisti-
nhas". Referências â importação de imagens em louça vidrada, em faiança e
em porcelana....................................................................................... .... ................. _. 425

Hl — CACHIMBOS

Histórico de suas origens e usos. Colombo. Karl Clusius, Jean Nicot, Catarina de
Médicis. Cultivo na Amazônia e fabrico de cachimbos de vários estilos e decorações
variadas com representações zooantropomorfas, fitoformes e geométricas. Relato
de viajantes. Produção em Minas, Santarém, etc. Técnicas de fabrico ........... 427 a 433

IV — LOUÇA DE BARRO — LOUÇA VIDRADA

Diversidade de produção e melhoria na qualidade. Participação do índio no


fabrico artesanal. Referências de viajantes e de locais de produção. Registro da
Alfândega consignando intercâmbios litorâneos São Salvador (BA), São Sebastião,
entre os fornecedores da Corte de artefatos cerâmicos. Concentração demográfica
em Minas Gerais, retrospecto histórico, produção de louça diversificada, incluindo
pratos, sopeiras, etc. e artigos de adorno de diferentes inspirações, quanto a forma­
tos e decoração. Características da louça mineira. Referências históricas de fabrico
em Minas e núcleos de fabrico. Caeté, Sararrienha, Barbacena, Diamantina-Serro,
etc. Fabrico de louça no Paraná — Francisco B usa to, em Colombo. Alto nível
técnico e artístico. Fase italiana, fase germânica com fabrico de faiança fina (grani­
to). São Paulo e o fabrico de louça — Água Branca, núcleo pioneiro da cidade com
diferentes firmas. Artefatos portugueses importados, inclusive de Bordado Pinheiro
e a louça popular conhecida por "Ratinho" ....................................................... 435 a 456

685
V — AZULEJOS

Primeira referência ao fabrico na Província Fluminense (1861), Incrementação


do uso de recobrimento de fachadas. Países que contribuiram no fornecimento
de azulejos: Portugal, França, Inglaterra, Alemanha, Espanha, Luxemburgo e
Bélgica, Centros produtores portugueses. Padronagem. Os seus azulejos relevados,
centros de fabrico, Bordallo Pinheiro e o A rt-Nouveaa. Produção francesa, centros
de exportação. Fornecedores diversos, A família Fourmaintraux e a presença mar-
cante de seus produtos no Brasil. Os seus diferentes estabelecimentos e sua deco­
ração em que se inclui o pontilhcdo. Placas indicativas de números de rua e de
logradouros públicos. Villeroy & Boch, também grande fornecedor no Império e
começo do século X X , com numerosas filiais. Padronagem variada, também em
parte pontilhada, incluindo-se o Art-Nouveau. Relação de seus estabelecimentos
em vários países. Ã contribuição inglesa na decoração no Brasil. Suas pastas
diferentes, com a faiança fina. As novas técnicas na transposição dos motivos.
Diferentes processos de fabrico com o renascimento do "inlaid" e aplicação
do lustre, decoração híbrida (manual e industrial). Morris e De Morgan e a criação
do "Modem Style" (Art-Nouveau). Principais produtores ingleses. Indicações sobre
o período de fabrico. A presença da azutefaria alemã no Brasil. ............................ 457 a 493

VI — FAIANÇA-MAIÓLICA — M EIA-FAIANÇA

Portuga! e a sobrevivência do uso da faiança, inclusive nos seus azulejos. Centros


produtores. Sua presença no movimento do Ârt-Nouveau com Bordallo Pinheiro
e a fábrica de Caldas com numerosas criações. A participação marcante de várias
fábricas na decoração ornamental — De vezos. Santo Antônio do Porto, etc.
Exposição Nacional de 1875 e referência expressa do fabrico da faiança no
Brusil, Ponchciras.......................................................................................................... 495 a 502

VII _ FAIANÇA-FINA
Diferentes países fornecedores do Brasil. Centros de produção em Portugal, do
século XVÜ l ao XIX, Participação francesa com as "Faiencerics de Sarreguemi-
nes", com variados gêneros, inclusive iconográfico de personagens e logradouros
públicos. Luneville. A presença do consórcio Villeroy & Boch, com suas numero­
sas subsidiárias no mercado brasileiro. Contribuição da Holanda com diversos
estabelecimentos em Maestricht e em Wich, seus pratos com iconografia de cida­
des, monumentos', etc. Bandejas e outros artefatos de origem (checa, com icono­
grafia brasileira do começo do século X X . A predominância inglesa no forneci­
mento variado de artigos cerâmicos — referências históricas ao pó de pedra,
Wedgwood e Spode. Novos processos de decoração —- o decalque. Pioneiros, A
volta do lustre e suas variedades. Processo foto-cerâmico ou fotográfico e seu
largo emprego na iconografia em geral. Padronagem variada e relação dos modelos
mais conhecidos dos diversos centros de fabrico ingleses e algumas indicações
contidas no verso das peças. Alguns dos distribuidores no Brasil. A decoração
enormemente diversificada. Azul e branco, "azul borrão’’ ou "azul borrado", Po-
ticromados. A contribuição à nossa iconografia. Grande sortimento de produtos
populares e finos para a sociedade imperial e a própria Corte. Relação de serviços
e peças históricas cm faiança fina, Indicações dos códigos comerciais ingleses para
localização de períodos de fabrico. Diferentes designações da Fábrica Spode e
sucessores. Louça tipo Granito, fabricada no Paraná, em Colombo, pela firma
Zacharias á Cia. do Coronel Zacharias de Paula Xavier —- Histórico. Marcas dc
Francisco Busato, seu antecessor, fabricante de louça em faiança e em meia-faiança
e louça vidrada. Marcas da Fábrica de Colombo de louça granito (1)02 a 1909).
Louça pó de pedra, fabricada em São Paulo -— Fábrica Santa Catarina, (Euclydes
Fagundes) e Romeu Ranzini. Histórico.................................... . ............. .. ............. 503 a 550

VIII — BISCUIT
Aplicações — Pastas diversas ~ Wedgwood — Spode — Os "boccaro" chi­
neses e outros. Sèvres e o uso do biscuit de pasta dura, sua farna. A produção

686
de figurinhas e de estatuetas, bustos, etc. O biscuit nos ambientes brasileiros __
Capodimome — , Sèvres, Jacob Petit, Viena, Wedgwood, Meissen, Vista Alegre,
etc. Fabrico brasileiro de João Manso Pereira (século XVIII) e da Fábrica de Santa
Catarina em São Patdo (1912/13J.................. ..................................... .................... 55 / a 555

O grés industria! e o fino. Suas diversas aplicações. Sua presença no Brasil —


os Belarminos, os Yi-Shing, os blauwerke, os black-basalt, os jaspes. As botijas
e os vasilhames ingleses (garrafas de cerveja, potes de tinta, etc.). Fabrico do grés
industrial no Brasil pela Cerâmica Nacional, (1898) em Caetê............................... 557 a 561

X — PORCELANA OCIDENTAL, ORIENTAL E NACIONAL

Considerações sobre a importação brasileira-, no começo do século — predomínio


inglês sobre outros países. Favoritismo dado a eles no período colonial e no
começo do Império. Os comissários volantes. Concorrência, de outras nações,
notadamente da França. Referências de cronistas à presença de louça estrangeira
e de outros artigos no Brasil Casas importadoras, lojas e distribuidores de merca­
dorias e louças importadas................ ............................................................. ............ 563 a 568

XI — SÈVRES
Descoberta do caulim na França e a fundação da Real Manufatura de Sèvrcs e
os privilégios dados pela Coroa à sua produção. Porcelana de Paris e porcelana
Vieux Paris, diferença. Incorporação a Sèvres da famosa fábrica de Vincennes
de pasta mole em 1776 — A sua enorme expansão e fama de sua produção e
e os principais ceramistas e artistas renonwdos que nela colaboraram. Caracte­
rísticas de sua produção. Serviços famosos........................ ........................................ 569 a 573

XII — PORCELANAS DE PARIS

Nasr — Locré à la Courtille — Dagoti, Honoré, Duchesse d'Angouléme, etc.


Jacob Petit — grande modelador e ceramista. Theodore Deck, fabrico de faiança,
grés e porcelana e criação de novos coloridos. ............... ...................................... 575 a 576

XIII — LIMOGES
Diversos núcleos cerâmicos, estabelecidos em Limoges e no Limousin, depois da
descoberta do caulim em St. Irielx e do patronato inicial de Luiz XV. Seu papel
na produção francesa da segunda metade do século. Suas criações tanto técnicas
como artísticas. Havilland e seu talento de empresário e ceramista — Félix
Bracquemor.d e o japonismo. Parte dos serviços encomendados a Havilland e ã
Pilíivuyt, pelos titulares brasileiros. Relação de outros fabricantes franceses que
serviram parte da sociedade brasileira e outros europeus (austríacos, ingleses,
alemães, portugueses e os "bourbõnicos")................................................................... 577 a 584

XIV — ESTAMPAS DE PORCELANAS DIVERSAS, DIFERENTES DESIGNAÇÕES

Série de peças para ilustrar parte do acervo em louças estrangeiras, obedecendo,


de maneira geral, a seguinte sequência: Porcelanas Braganimas diversas (Icono­
gráficos e outras). Porcelanas francesas e de outras procedências, personalizadas
ou não. Porcelana Iconográficc (inclusive propaganda). Porcelanas inglesas.
Porcelana alemã. Serviços Oficiais.............. .............. ............................................ . . 585 a 631

687
XV — PORCELANA JAPONESA
Os lusitanos no Japão no século X V I. São Francisco Xavier — Expulsão dos
Portugueses, instalação dos Holandeses (1611), Arita (1610/1619) a primeira
fábrica que tomou o nome de Ima ri (porto de embarque) — Ko-lmari (Sakaida
Kakiemon) - - Períodos Cerâmicos — Produção, categorias, estilos. Idade do
Ouro de Imari (1661-1753). Influência no Ocidente. O Japonismo, Satsuma
(século X V II) — Nonomura de Ninsei (Kyolo). Fases do fabrico. Pasta de faiança
fina ("cream coloured ware"). Exportação volumosa e de boa qualidade no
século XIX. ............................................................... í .......................................... .. . 633 a 64 J

XVI — PORCELANA CHINESA

Retrospecto da produção chinesa. Esforço chinês de manter o padrão dts quali­


dade e produzir também maciçcmente dada a concorrência européia no setor
cerâmico. Comentários sobre essa concorrência no Brasil. O intercâmbio direto
e indireto entre a América e o Oriente; O Brasil e o México (desde o século XVI)
e os Estados Unidos do final do século X V III ao XIX. O comércio da América
Espanhola com o Oriente (via Manilha). Comentários sobre o intercâmbio brasilei­
ro com o Oriente e o material importado — Pautas da Alfândega e outros elemen­
tos. Relação de porcelanas Companhia das índias importadas, personalizadas e
anônimas............................................ .......... ..................... v ......................... ................ 649 a 681

XVII — PORCELANAS BRASILEIRAS — (Pioneiras do século X X )

Breve notícia sobre fábrica em Caeté, centro oleiro tradicional mineiro, que rei­
nicia o fabrico da porcelana nos primórdios do século X X , e sobre a Fábrica de
Santa Catarina, em São Paulo, que em 1913 produz serviços de chá.................... 683 a 6 8 J

688
OITOCE íN TISMO BRASILEIRO

ÍNDICE DAS ESTAMPAS

PRODUTOS DE OLARLA
n.°
366 — Garrafa com tampa poUcromada, com brasão Imperial (duas vistas).
367 — Folha catálogo acessórios de construção — Fábrica Devezas (1910),
368 — Telhas, lajotas, tijolos, (estrangeiros e nacionais).

IMAGINÁRIA

369 — A “Sagrada Família" (PauUstinha) e “Coroação de Nossa Senhora

CACHIMBOS
370 — Três estampas, pintores estrangeiros (Guillobel e Chambeliain).
371 — Dois grupos de fotografias de cachimbos mineiros.
372 — Prato chinês (século X V 111) com cena de fumante no centro, em baixo
cavaleiro com pipa.
373 — Cinco modelos de cachimbos antigos,
374 — Dois cachimbos de Santarém. .

LOUÇA VIDRADA E MEIA-FAIANÇA


375 — Uma ânfora e uma pinha paulistas.
376 — Busto de D. Pedro IV, Fábrica Santo Antônio do Porto.
377 — Busto Vasco da Gama, Fábrica de Devezas.
378 — Pinha nacional com ramos de café.
379 — Talha com brasão imperial.
380 — Vários tipos de louça mineira.
381 -— Vários tipos de louça mineira e paulista.
382 — Outros modelos de louça vidrada e meia-faiança.
383 — Outros modelos de louça vidrada e. meia-faiança com prato de barbeiro.
384 — Pratos e vasilhames.
385 —- Talha de Caeté, com detalhe.
386 — Bule e tigela de fabrico paulista.
387 — Catálogo Fábrica Devezas -— 1910 — Porto.
388 —- Continuação, idem, idem.
389 — Telhas coloridas portuguesas.
390 — Louça paranaense — Francisco Dusato.
391 — Louça popular portuguesa.
392 — Grupo de imagens de louça vidrada.
393 — Pote poUcromada de Borda!lo Pinheiro.

AZULEJARIA PORTUGUESA e Outras:

394 — Imitação borboleta poUcromada (Art-Nouveau) — Bordalto Pinheiro.


395 — Composição em Art-Deco (começo do século XX).

689
396 - Azulejos relevados portugueses (fundo arnarelo e fundo azul),
397 — Variação sobre motivos de rosas (azul e branco).
398 — Azulejo conhecido por "Bicho e estrela" ou "Cobrinha", azul e branco.
399 — Azulejaria portuguesa diversa no Brasil.
400 — 7dem, idern.
401 - Azulejaria holandesa a alemã, diversos períodos, no Brasil,
402 - Azulejaria francesa de diversas fábricas, no Brasil,
403 — Árt-Nouveau e Art-Deco — azulejos, frisos, etc., no Brasil.
404 — Azulejaria diversa de Estilo e procedência, j no Brasil.
405 — Azulejaria diversa (Ârt-Nouveau), no Brasilí
406 — Azulejaria diversa no Brasil.
407 — Placa em terracota, de logradouro público.
408 — Placa com seis azulejos (azul e branco).
409 — Placas ern cerâmica policrornada, indicativas de estabelecimentos.
410 — Placa cerâmica com numeração domiciliar.
411 — Catálogo (folha) da Fábrica de Devezas (Portugal).
412 — Idem, idem.
413 — Idem, idem.
414 — Exemplo de fachadas compostas de azulejos.
415 — Idem, idem.
416 — Temas florais e geométricos.
417 — Fachada em Minas (com detalhes composta de azulejos).
418 Fachadas em Manaus compostas de azulejos.
419 — Fachadas com azulejos portugueses.
420 — Idem, idem — ternas florais e lineares.
421 — Fachadas diversas — Salvador.
422 — Fachadas com temas florais e geométricos.
423 — Revestimentos de fachadas em Árt-Nouveau e Art-Deco (Belém).
424 — Mostruário de Azulejos da Fábrica de Sarreguemines.
425 — Idem, idem.
426 ~ Idem, idem.
427 — Mostruário de azulejos da Fábrica Vitleroy & Boch.
428 — Idem, idem.
429 — Idem, idern.
431 — Três azulejos branco e azul portugueses em fim de sub-capítulo.

AZULEJARIA ESPANHOLA:
430 — Diversos modelos de diferentes períodos.

FAIANÇA:
431-A — Artística poncheira fabricada no Rio (policrornada).
432 — Idem, idem fabricada em Portugal — Museu Nacional Soares dos Reis.
433 — Dois exemplares de louça ornamental portuguesa (vasos de jardins).
4 3 4 — Boião com armas imperiais brasileiras — l.° reinado (Fervença —
Portugal).
435 — Sopeira azul e branco de Vila Nova de Gaya — Portugal.
436 — Prato sem marca atribuído a Bica dos Sapatos ■— Portugal.
437 — Boião século X V II1 — fabrico de Viana,
438 — Prato atribuído ao fabrico de Coimbra.
439 — Idem — Extrcmóz.
440 — Travessa, também atribuída a Extremóz.
441 — Pires policromado marcado Sacavém,
442 — Travessa e prato em branco e azul, cópias de motivos do século XVII,
443 — Ponteira de telhado de casa de Belém,

FAIANÇA FINA (Pó de pedra, etc.). ,


444 — Três tipos de embarcações da fábrica Petrus Regout (Maastricht).
445 — Bule com duas marcas da Fábrica Zacharias- de Paula Xavier — Colombo
— Paraná (louça granito).
446 — Prato pó de pedra — Fábrica "Adelinos São Caetano".

690
FAIANÇA FINA (Iconografia Personalizada)

447 Busto de Dom João VI (fabrico espanhol).


448 Busto do Marquês de Pombal (Sacavém).
449 Cinco praias diferentes com brasão Imperial.
450 Jarra (três vistas) com efígie de Dom Pedro I e D.a Leopoldina (inglesa).
451 Prato que pertenceu â Marquesa de Santas,
452 Tampa de sopeira que pertenceu ao Intendente Câmara.
453 Prato de um dos serviços do Conde Álvares Penteado.
454 Sopeira e prato do serviço do Visconde de lequetinhonha.
455 Prato com um P (e verso) que pertenceu ao Conselheiro Antônio Prado.
456 Prato da Família Real (D. João VI), tnarca Wedgwood (incisa).
457 Prato da mina de ouro Cata-Branca, Minas (inglês).
458 Jarra do "Hotel d'Oeste", marca inglesa.
459 Prato com iniciais e ramos de café — inglês.
460 Três pratos comemorativos do IV Centenário (Fábrica de Vista Alegre).
461 Representação de .0. Pedro II, Dona Theresa Christina, Marechal Deodo-
ro, Prudente de Moraes, Campos Salles, Marechal Bittencourt (fabrico
de Sarreguemines).
462 Representação de Afonso Pena, Prudente de Moraes, Marquês de Her vai,
Pereira Passos, Washington Luís (fabrico de Petrus Regout-Maestricht)
a xícara é de Sarreguemines.
463 Representação de Saldanha da Cama, Almirante Tamatidaré, Rei Dom
Carlos e Rainha Dona Amélia, estes dois últimos fabricados no Rio,

ICONOGRAFIA URBANA:
464 — Vista da Glória (inglês).
465 — Vista do Passeio Público (inglês).
466 — Vista da Glória (inglês).
467 — Vista do Largo da Lapa.
468 — Vista do Botafogo.
469 — Vista da Quinta da Boa Vista.
470 — Vista do Pão de Açúcar.
471 — Outra vista do Passeio Público.
472 — Vista da Ilha Fiscal (Boch & Fr es. K cramis).
473 — Vista do Retiro (Petrápolis), idem, idem,
474 — Vista da Praia do icarahy (Niterói), idem, idem.
475 — Vista do Corcovado (bondinho), idem, idem.
476 — Igreja Matriz Taubaté — 5. Paulo.
477 — Fábrica de cerveja "Cascatinha" — Petrápolis (marcado Sarreguemines}.
478 — Outra vista de Icarahy (marcado Sarreguemines).
479 — Outra vista da Ilha Fiscal (mureado Sarreguemines).
480 —- Vista da Estrada do Niemeyer e Pedra da Gávea (marcado Sarre­
guemines).
481 — Estátua de Dom Pedro I —- Rio (Maastricht).
482 —- Vista do Vale do Anhangabaú — S. Paulo.
483 — Palácio Monroe (Ria) — (Maastricht).
484 — Estação da Luz —- São Paulo (Maastricht).
485 — Bandeja com vista de Copacabana (fabrico lcheco).
486 — Bandeja com vista da Estrada Niameyer e Pedra da Gávea (fabrico
tcheco).
487 — Cinzeiro (1922) Pedra da Gávea.
488 — Bandeja com vista do Pão de Açúcar (tcheco).
489 — Medalhão em azul (luar) da descida da Av. Niemeyer, Rio (trunca
inglesa Devon).
490 — Leiteira com vista do Pão de Açúcar (fabrico tcheco).
491 — Enseada de Botafogo e Corcovado (fabrico tcheco}.
492 — Bandeja com vista de Copacabana e Guanabara no fundo (fabrico tcheco).
493 — Três pratos fabrico Sarreguemines com. monumentos e paisagens paulistas.

ICONOGRAFIA MILITAR
494 — Quatro pratos da Fábrica de Sarreguemines com representações de corpo~
rações militares.

691
ic o n o g r a f ia n a v a l e a é r e a

495 — Três encouraçados da Armada Brasileira, vistas policromadas.


496 — Tigela em azul — Travessia da Mancha por Blériot com vasos de guerra.

FAIANÇA FINA INGLESA (Pó de pedra, etc.).

497 — Pratos e pires, padronagens e marcas diversas.


498 ■— Pratos e travessas, padronagens e (um lustre) marcas diversas,
499 — Travessas, padronagens e marcas diversas.
500 — Pratos e pires, padronagens e marcas diversas (fragmentos com marcas).
501 — Pratos e pires, padronagens e (um lustre) marcas diversas.

APARELHOS DE TOILETTE — Marcas diversas.

502 — Pia em azul e branco.


503 — Vaso sanitário policrornado, de frente e perfil.
504 — Urinol, azul e branco.

SALVADOS DO NAUFRÁGIO DE ANGRA — RIO

505 — Xícara, pires e detalhe, Museu Naval e Oceanográfico da Marinha — Rio.


Marca V. fí. Walterfangen.
506 — Par de xícaras e pires, decorações diferentes, marcado Sarreguemines.

FAIANÇA FINA FRANCESA DE SARREGUEMINES

507 — Xícara branca e azul. cópia de Meissen, marcada Sarreguemines, detalhe


ao lado.
508 — Traversa lobada — marcada "Décor 18”, com detalhe da marca.
509 — Prato de serviço da Fazenda Taquaral, Campinas — S. Paulo.

FAIANÇA FINA PORTUGUESA DE SACA VEM

510 — Diversos modelos de padronagem da fábrica de Sacavém com estátua


equestre.

ART-NOUVEAU E ART-DECO

511 — Prato com rainuras policrornado (marcado Villeroy & Boch).


512 — Jarro craquelé policrornado. marcado La Louvière e assinado (Bélgica).
513 — Açucareiro e leiteira com decoração floral marcados Banos Loureiro &
Cia. (Adelinas — S. Paulo).

BISCUIT

514 — Jarra fabrico Santa Catarina — S. Paulo — 1913.


515 — Busto de Dom João VI.
516 — Busto de Dom Pedro I.
517 — Busto de Dona Amélia.

692
GRÉS

518 — Frasco de Yi-Shing com aplicações de placas de laca.


519 — Bule ( Wedgwood).
520 —- Dois açucareiros comemorativos — 1813.
521 — Bule (Conde de Prados).
522 — Açucareiro (Conde de Prados).
523 — Grupo de quatro garrafas (J. Kennedy Glascow).

PORCELANAS DE SÈVRES E DE LIMOGES

524 — Prato de Sèvres (mitológico).


525 — Prato de Sèvres (mitológico).
526 — Prato de Sèvres (flores).
527 — Xícara (mancerina ou tremhleuse).
528 — Frente de xícara com águia napoleônica (Sèvres e perfil).
529 — Xícara com duas alças, alongada e, prato de sobremesa — Limoges —
marcadas.

PORCELANAS BRAGANTINAS DIVERSAS

530 — Fruteira do ‘'Serviço de Caça", porcelana francesa.


531 — Prato de sobremesa "Príncipe Regente" (com brasão no centro) fábrica
Duchesse VAngoiãême.
532 — Malga do serviço da Independência (Companhia das índias).
533 — Par de ânforas Dom Pedro e Dona Maria, princesa do Rrasil (duas vistas).
534 — Ânfora, busto Imperador Dom Pedro 1, sem marca.
535 — Ânfora, busto Dom Pedro IV, sem marca.
536 — Ânfora, busto Dom João VI, sem marca.
537 — Ânfora, estilo Império com Dom Pedro I e Guanabara.
538 — Par de ânforas, serviço dos Pássaros (fábrica NAST).
539 _ Serviço de gala Dom Pedro í, aba vermelho escuro (Lã Courtille).
540 — Serviço de gaia Dom Pedro II, marcado Theodore Hávitland.
541 —• Tigela "Serviço do Casamento" de Dom Pedro I e Dona Amélia.
542 — Xícara com retrato Princesa do Brasil.
543 — Sopeirinha fundo púrpura com brasão do Reino Unido.
544 — Par de jarros com ret ratos Dom Pedro 11 e Tkereza Christina, jovens
"Vieux Paris".
545 — Detalhe, par de jarros.
546 —- Idem, idem com variantes.
547 —- Peça com retrato de Dom Pedro It, criança.
548 — Duas tigelas e pires, Dom Pedro 11, conhecidas como "Coroinhas" sem
marca.
549 — Uma tigela e pires, Dom Pedro II, conhecida por "Coroinha", azul.
550 — Duas tigelas e pires policwmados. Dom Pedro II, conhecidas por
"Coroinha".
551 —- Uma xícara e pires, fundo verde, brasão Reino Unido.
552 —■ Ânfora Palácio São Cristóvão, Sèvres.
553 — Vaso com retrato Dom Pedro II, fundo púrpura.
554 — Ânfora e coluna com N e águia Napoleônica, fundo azul.
555 — Travessa com vista "Cassino delia Favorita" —— Na poli — marcada N
coroado.
556 — Xícara e pires com vista do “Real Palazzo di Caserla".
557 — Travessa com vista do “Real Cassino de Belvedere" — Napoli.
558 — Par de castiçais — Imperatriz Thereza Christina, com verso.
559 — Molheira serviço Conde d’Eu (sigla coroada dos Orleans) marcado
Sèvres.
560 — Molheira do serviçc de "Izabel et Gaston", marcado Sèvres.
561 — Prato com sigla coroada dos Orleans, uso diário do Conde d’Eu e
Princesa Izabel, marcado Sèvres.
562 — Xícara de café de uso da Princesa Izabel (1 coroado) sem marca.

593
563 -— Cofre de luxo, presente de casamento da rainha da França ao Príncipe
de Joinville, marcado Sèvres.
564 — Xícara e pires com efígie Imperatriz Dona Leopoldina.
565 — Prato aba lilás, flores, ouro, serviço Dona Leopoldina, sem marca,
566 — Terrina branca, friso e coroa dourados — Serviço Dona Maria II —
Haviltand.
567 — Xícara de caldo, Pedro I, "Vieux Paris'’, com armas imperiais.
568 —- Prato em faiança fina inglesa, comemorativo da Independência.
56Ç — Xícara e pires brancos com friso dourado, jsigla P.E. coroado (serviço
casamento do Príncipe do Grão Pará), !
570 — Xícara e pires comemorativos guerra do Paraguai.

PEÇAS PERSONALIZADAS (Diversas Procedências)


571 — Bule que pertenceu ao Conde de Passé.
572 — Jarra e bacia que pertenceu a André Pereira Rebouças.
573 — Bule que faz parte de um serviço que pertenceu ao Presidente Nilo
Peçanha, marcado Meissen.
574 — Floreira vasada que pertenceu ao Barão de São Thiago.
575 — Bule de serviço de chá que pertenceu ao Barão de São Bento.
576 — Floreira vasada do serviço do Conde, de Passé.
577 —• Sopeira do serviço do Conde de Boa Vista.
578 — Prato gomiíodo do serviço do Barão de Miranda.
579 — Prato do Barão de Paramirim.
580 — Prato do Visconde de São Lourenço.
581 —- Bacia e jarra que pertenceu ao Conde de Figueiredo.
582 —- Cremeira do serviço do Barão de Santa Helena, marcado Havilland,
583 — Bule de um serviço que pertenceu ao Barão de Jequiâ.

PORCELANA FRANCESA (E FAIANÇA FINA)


584 — Prato em porcelana que pertenceu ao Visconde de Inhaúma.
585 — Prato marrom, comemorativo da batalha de Lornas Valentinas, com o
busto do Visconde.
586 — Fragmento de prato similar, encontrado no Sítio Guaecã (Município de
São Sebastião, S. Patdo).

PORCELANAS FRANCESAS PERSONALIZADAS


587 — Prato do serviço do Barão Ávellar e Almeida.-
588 -— Idem, idem variante motivo.
589 — Prato com flores alaranjadas e um F dourado (Fonseca), marcado A.H.
& Cie. V. France Vtenon.
590 —- Prato recortado, pertencente ao Barão de Mota Maia, sem marca.
591 —• Prato do serviço do Conde de Parnahyba.

PORCELANA EUROPÉIA PERSONALIZADA


592 — Prato recortado, pertenceu ao Visconde do Rio Preto -—- Linwges.
593 -— Prato redondo do serviço do Barão de Penedo.
594 — Prato recortado, colar da Ordem da Rosa — Barão de Penedo, mar­
cado Royal Worcester.
595 — Prato redondo com armas do Visconde de Aracaty, marcado Honoré.
596 — Xícara e pires, busto do Marquês de Herval, sem marca.
597 — Xícara com pires, pé de garra de L. Vieira da Silva.
598 _ Xícara e pires de um dos serviços do Cons. António Prado, sem marca.

PORCELANAS DIVERSAS (anônimas é personalizadas)


599 — Prato "Joinville" (pássaros), sem marca, (faz parte das louças bragan-
tinas).
600 — Três pratos com pássaros, marcado Sèvres, Fund. Crespi-Prado.
601 — Prato com pássaro do Brasil (Jaçanã) sem marca.

694
602 — Prato com pássaro do Brasil (Savacou) sem marca,
603 — Bule no estito clássico Vieux Paris.
604 —• Castiçal estilo rococó, francês.
605 — Bule gênero Vieux raris,
606 — Frasco marcado Jacob Petit.
607 — Castiça! marcado Jacob Petit.
608 -—- Prato do Marquês do Paraná, atribuído à Jacob Petit.
609 — Estatueta de Netuno — Jacob Petit.
610 — Tigela e pires. Vieux Paris.
6Í1 — Xícara e pires “Pompeiano".
612 — Xícara e pires " Vieux Paris".
613 -— Pires marcado Vista Alegre.
614 — Prato com iniciais C.D. (fábrica André Marte Leboeuf).
615 — Prato com armas Duque de la Rochefoucault (fabrico Locrâ).
616 — Par de candelabros, base de porcelana, figuras.
617 — Caneca e pires-pássaros, marcado Viena.
618 — Par de figuras cie adorno, sem marca.
619 — Jarro com duas figuras -— marcado Meissen.

PORCELANA ICONOGRAEICA (inclusive propaganda)


620 — Pote de farmácia com vistas do Pão de Açúcar.
621 —■ "V edleuse“ com vistas da Glória.
622 — “Veilleuse" com vistas do Rio.
623 — Prato com vistas do Porto do Rio, serviço Conde de São Marnede,
624 — Prato com vista da Quinta da Boa Vista, serv. Conde de São Marnede.
625 — Prato com vista da Praça Gonçalves Dias — São Luís, sem marca.
626 — Prato com vista Salão do Théairo — São Luís — sem marca.
627 — Prato com vista de monumento de Campinas (S. Paulo) — sem marca
628 — Prato com Praça de João Lisboa {São Luís).
629 — Prato contendo um anúncio sobre louças — São Luís,
630- — Prato contendo menu do restaurante “Maison Moderne" — Rio.

PORCELANA INGLESA
631 — Prato inglês, policromado com influência japonesa, marcado Chelsea.
632 — Prato policromado do serviço de Dom João VI, marca Royal Crown
Derby.
633 — Prato policromado, influência Imari — Royal Crown Derby.
634 — Xícara e pires, porcelana mole, tons azuis e laranja, marca SPODE.
635 — Grupo de duas xícaras com pires, marcas Derby e Worcester.

PORCELANA ALEMÃ
636 Prato rococó, pertenceu ao Marquês de Âbrantes, marca Saxe.

637 Prato com sigla e coroa Imperial do ser\’, âo Duque de Saxe, marca Saxe.

638 Bule, fundo azul, ouro, reserva com personagens, marcado Berlim.

639 Potichc fundo lilás, grande reserva central com cena, marcado A.R.

(Augusto Rex),
640 — Estatueta de Napoleão "Passagem dos Alpes”, de David, marcada
Nymphemburg.

SERVIÇOS OFICIAIS
641 —Serviço do baile da liba Fiscal (bandeira Imperial e Alemã).
642 —Serviço do baile da Ilha Fiscal (bandeira Imperial e Portuguesa).
643 —Serviço do baile da Ilha Fiscal (bandeira imperial e Espanhola).
644 —Serviço de gala da Presidência (azul e ouro) Havilland.
645 Serviço do Ministério das Relações Exteriores (República).

646 Azeitoneira, serviço antigo do Palácio dos Campos Elyseos (ao tempo

do Dr. Rodrigues Alves).
647 — Prato do mesmo serviço.

695
648 — Serviço do Palácio dos Campos Elyseos, encomendado pelo Dr. Arman-
do Salles de Oliveira, marcado Wedgwood.
649 — Idem, idem, encomendado pelo interventor Dr. Adhemar de Barros,
650 — Idem, idem, encomendado pelo Dr. Júlio Prestes, marcado Minton’s.
651 — Tampa do serviço já mencionado adquirido pelo Dr. Rodrigues Alves,
para o palácio.
652 — Prato da Presidência com os dizeres ",Deodoro" (Havilland).
653 — Ázeitoncira do mesmo serviço.
654 — Prato de doce, xícara e pires com os dizerçs "Deodoro" (Havitíand).
655 — Prato do serviço do presidente Arthur Berhardes.
656 — Xícara e pires de outro serviço do mesmo presidente.
657 ~ Prato de. gaia da Presidência com marca de Havilland.
658 — Prato da Presidência, branco no verso tem a marca do distribuidor,
Casa Cypriano.
659 — Prato da Presidência, fabrico de Brennand.
660 — Prato do serviço oferecido pelo rei Alberto ao presidente Epitdcio
Pessoa em 1922.
'661 — "Veilleuse" do serviço jd mencionado da Presidência (Casa Cypriano),
662 —- Travessa de peixe, serviço da Presidência (Limoges).
663 — Prato do serviço do Palácio da Aclamação (Bahia), marcado L.P.
& Limoges.
664 — Prato do serviço do vcso de guerra Javari da Marinha Imperial.
665 — Prato do serviço do encouraçado São Paulo, marcado Coatport A.D,
666 — Prato do serviço do vcso de guerra "Duque de Caxias", marcado
Limoges Unic.

PORCELANA JAPONESA

667 - - Quadro com os períodos cerâmicos do Japão.


668 — Estatueta Sa!suma, período Meyji.
669 -■ Prato com cabeça de monges, Satsuma, período Meyji.
670 — Prato com faixa avermelhada, gênero Kutani, período Meyji.
67) — Prato com ramagens e aves — Hizen.
672 — Prato policromado com trançado dourado, século X V 111 — Imarí.
673 — Verso da peça.
674 — Prato policromado com Castelo na pane superior, Imarí.
675 — Travessa quadrada, com desenho Waisunagni (llower basket) — Imarí.
676 — Prato com aba varada, centro Waisunagni, pertenceu a Xica da Silva,
século XVIII, imarí.
677 — Travessa oval, azul e vermelho, século X V Ill, procedência pernam­
bucana.
678 — Prato em azul, inspirado na Holanda (o mago, o sapo e o peixe), época
Kya-Ho (1716-1735) com detalhe no verso.
679 — Prato aba alaranjada, Áríta, marcado período Meyji.
680 — Verso do prato com seis idiagramas.
681 — Prato alaranjado no gênero de Kutani (Imarí).
682 - Prato alaranjado no gênero de Kutani (Imarí).
683 — Prato atigelado com aba compartimentada (Imarí).
684 ~~ Idem, idetn, com variantes na aba (Imarí).
685 — Idem, idem, com quadrifóíio no centro (Imarí).
686 — Idem, idem, com trifólio no centro (Imarí).
<557 — Prato policromado com predominância de azul claro e vermelho (Imarí),
688 — Prato policromado com faixas largas espiraladas (Imarí).
689 ~ Prato com desdobramento flor de lótus, período Meyji.
690 — Prato com tronco e folhagens, Imarí.
691 — Série de três pratos, motivos variados, Imarí.
692 — Medalhão com predominância ouro e azul com pavão — Imarí.
693 — Travessa quadrada, (azul, vermelho e ouro — Imarí.
694 — Travessinha (Covilhete) predominância vermelho — Arita.
695 — Travessa octogonal com figura no. centro — Imarí.
696 — Prato redondo com irradiações coloridas partindo do centro — Imarí.
697 — Tigela com desenho azul (pasta gênero Companhia das índias) e pote
de formato de cabaça, desenho "Dutck“, Imarí.

696
698 — Série de quatro potinhos, sendo que o terceiro é decorado pelo sistema
decalque — Irnari.
699 — Quatro poünhos e uma leiteira com sistema de decoração (azul), sob a
glasura e sobre o vidrado — Irnari,

PORCELANA COMPANHIA DAS ÍNDIAS (Bragandnas e Outras)


700 — Xícara e pires com brasão R d no tinido!— presente governo chinês a
Dom João VI,
701 — Ânfora poticromada do serviço "Paisagem Grande”.
702 — Ânfora policromada da antiga coleção Miguel Calmem (Bahia).
703 — Floreira do serviço "Paisagem Pequena”.
704 — Bule do serviço de Francisco Tello de Menezes — 6 ,° Conde de Aveiras
e 1,° Marquês de Vagos — gov. da Capitania do Rio de Janeiro.
705 — Pote com sigla da Companhia de Jesus — (J.H.S.).
706 — Um dos três serviços de Dom Bernardo José Maria de Lorena e Silveira,
gov. Capitania São Paulo e Minas.
707 — Travessa vasada, serviço de D, José Maria Antônio Gonsalves Zarco da
Câmara, 7.° Conde da Ribeira Grande,
708 — Pires de outro serviço do 7.° Conde da Ribeira Grande.
709 — Pires de um serviço de chá que pertenceu ao Barão de Tietê.
710 - Travessa atribuída a membro da família Souza — Holstein Beck (Por­
tugal).
711 ■— Prato do serviço do Barão da Fonseca.
712 — Xícara marcada Derby com desenhos similares ao serviço do Barão da
Fonseca.
713 — Pires do mesmo serviço Derby.
714 — Prato de um dos serviços que pertenceram ao 1 P Duque de Palmeia,
715 — Detalhe do mesmo prato.
7J6 — Travessa do serviço que pertenceu ao l.° Barão de ltamaraty e depois
a seu filho o 2.° Barão, Visconde c Conde de ltamaraty Francisco José
da Rocha,
7 /7 — Pires de fabrico de Spode.
718 — Detalhe da parle central da travessa do Serviço do Conde de ltamaraty.
719 — Prato de sobremesa do l.° Conde de ltamaraty com as iniciais F.J.R.
720 — Pires da serviço de chá do Barão de Nova Friburgo com as iniciais
A.C.P. (Antônio Clemente Pinto).
721 — Pires com a sigla F.A.G. que corresponde a Francisco Agostinho Gomes,
baiano,
722 ■— Dois pratos de dois serviços diferentes do 5,° Conde de Sa.rz.edas, já
referido.
723 — Travessa vasada que pertenceu ao 5.° Vice-rei, Conde das Gaivêas,
724 ■
—■Serviço conhecido por "Conde de Bonfim".
725 — Prato sobremesa do l.° Conde de ltamaraty, com iniciais F.J.R., deco­
ração diferente dos outros.
726 — Idern, idem, decoração diferente dos outros.
— Prato de sobremesa do l.° Conde de ltamaraty, decoração diferente dos
727 ■
outros pratos.
728 — Idem, idem, com reservas em azul.
729 — Xícara que pertenceu ao Barão de Lcssa.
730 — Pires que pertenceu ao embaixador na Corte do Rio, Visconde de
Strangford.
731 -— Prato de serviço João Ferreira Pinto (com as iniciais J.F.P. em dourado)
conhecido por "Serviço dos Bichos”.
732 — Pires do serviço conhecido por Baronesa de Alemquer, herdado de seu
pai, com as iniciais M.I.M.B.A. (Manoel Ignácio Moniz Barreto ÂragSo).
733 — Prato do serviço do fidalgo Manoel Paes de Sande e Castro,
734 — Tigela com iniciais T.N. coroada, pertenceu ao l.° Marquês de- Torres
Novas, mordomo de Dom João Ví, etc,
735 — Serviço conhecido por Marquês de Lages, mas que pertenceu ao Mare­
chal Alexandre Eloy PorteUi com suas iniciais ao centro {A.E.P.) e foi
herdado pelo marquês, seu genro..
736 — Serviço com iniciais que pertenceu a Thornaz Xavier de Almeida, presi­
dente da Província de São Paulo.

697
737 — Três peças — Marquês da Vila Real da Praia Grande, Visconde de Cabo
Frío e Barão de Alegrete (pela ordem).
738 — Saladeira do serviço conhecido por Marquês de São João Marcos.
739 — Detalhe da saladeira, com um B. dourado (Barão ou Betim).
740 — Serviço que pertenceu ao Barão de Ramalho (com iniciais do ofertante
D.P.A.R.).
741 — Travessa da coleção Museu Mariano Procàpio.
742 — 77«v&r.ra com iniciais apagadas do Palácio Bandeirantes.
743 —- Prato Companhia das Índias com uma rosa. j
744 — Prato que pertenceu ao Visconde da Cachoeira, José Luiz de Carvalho
e Mello, com iniciais.
745 — Prato que pertenceu a Manoel Machado Coelho de Castro.
746 -— Parte do prato de cima e parte de um outro atribuído à Dona Caríota
Joaquim.
747 — Prato Companhia das índias, decoração azul e sépia.
748 — Prato tipo Baiávia, fundo chocolate e reservas,
749 —■ Prato de sobremesa (iniciais apagadas) do l.° Conde de Itamaraty.
750 — Idem, idem, com decoração diferente e as iniciais ainda visíveis F.J.R.
751 — Prato com as iniciais Í.A.G. que pertenceu ao Barão de Araújo Goes.
752 — Uma sopeira da coleção de Oscar Americano Neto e uma série de
sopeiras da Fundação Maria Luísa e Oscar Americano.
753 — Série de quatro xícaras diferentes Companhia das índias, século XI X.
754 — Sopeira com iniciais T.F.C.B., não identificada,
755 — Urna ânfora, um jarro, dois vasos policromos.

PORCELANAS BRASILEIRAS
756 — Bule, xícara c pires da Fábrica de Caeté, Minas.
757 — Peças de serviço de chã e café da Fábrica Santa Catarina.

698
GLOSSÁRIO

1) Termos em portugüês

2) Termos em inglês

3) Termos em francês

4) Termos em espanhol
TERM O S EM PORTU GU ÊS

(Perfil de Pratos)

ftL d to
CLnontiò 0

t ie .b o n .d o , a ba aba, bonda

d zb fu u ri

n e v ítiA Q - ta n d a z
— A — Azulejo Iglográfíco — Azulejo com representação dc Santos.
Azulejo relevado — Azulejo que apresenta relevos.
Acanalada ~ Peça canelada, Azulejos, técnicas de decoração — (Do árabe al-zulciclia).
Adobe — Tijolo cru (técnica antiga dc construção) barro A decoração com azulejo foi aplicada no Próximo Oricnle
misturado com palha. Os mouros o introduziram na Es­ quatro milênios a,C. Os egípcios usavam-no nas paredes paru
panha e Portugal c este no Brasil. melhor refrescar o ambiente. Os assírios c babilônios do
Afta ba — Gomil (Pérsia). séc. XIII a.C. até o séc. VI a.C., faziam tijolos esmal­
"A jau ré" — Termo francês; transí tirado, vasado, fenes trado, tados pintados com esmaltes coloridos com figuras, Na
incestado, Europa a técnica mais em uso, antes do séc. XII, era
"A th arei lo” — Variedade de potes cilíndricos, mais altos ou a do sgraffiato ou sgraffito ou gral fito (em francês
mais baixos, mais largos ou mais estreitos, com ou sem “décor en creux” ): os desenhos eram gravados a mão
ligeiro estrangulamento no centro, com ou sem alça, com através de uma camada de argila branca, a qual era em
ou sem tampa; a forma já era encontrada na Pérsia (ai- parte completa mente raspada para mostrar o fundo
- barani) e na Síria no séc, XII e na Espanha mourisca marrom da pasta do azulejo. Os azulejos de Dclfl, sobre­
a partir dos sécs. XV e XVI e eram usados para con­ tudo os avulsos e os planos, sofriam outro processo
servar artigos farmacêuticos e unguentos. Seu uso passou decorativo: para apressar o trabalho dos artistas pintarei,
para a Itália e o resto da Europa, a decoração inclui era usado um cartão furado, colocado sobre o azulejo e
brasões, retratos {amatorii), o nome abreviado do conteúdo, sobre o qual colocava-se o pó de carvão para deixur
etc, Existe uma série magnífica no Brasil dos sécs. XV c marcado na pasta o delineamento do desenho a scr seguido
XVI, de antiga famosa coleção (A. Imbert — Parts) cm pelo artesão.
exposição no Museu de Arte de São Paulo. Esse processo com variantes, è chamado em Portugal de
Atbarrada — Vaso sem asa em que se costumam pôr flores, fantasma. Há outros processos usados pelos franceses e
pichei de barro com bico. ingleses, como o chamado de estêncil. Estes pelo último
Alcarraza (árabe) — Espécie de bilha dc barro porosa, moringa. quartel do séc. XVIlí, se utilizavam da transposição
Aleanfôr — Cânfora. da imagem na decoração, através de diversos processos,
Alcatruz — Vasilha que os árabes usavam para tomar água, como o ‘Transfer-printing" e variantes como o decalque
no Brasil significa tubos de barro, de pedra ou dc pa­ c a litografia, assim como o processo fotográfico ou
pelão-betumado; condutores de água (recipiente dc água foto-cerâmico (1870).
colocados nas rodas d'ãgua dos engenhos).
Alguidar —- Vaso de barro vermelho ou vidrado, com maior
circunferência do que fundo. — B —
Alizar — Termo árabe (al-tzur) faixa de azulejos e também
dá-se o mesmo nome ao enquadramento de portas ou dc liarias de água à barba ou degolada ou sangradeira —- Bacias
janelas com cercaduras ou barra de azulejos. com pequeno recorte circular na aba, as pequenas tu m
Almofla -— Vaso dc barro mais largo do que alto, princt- usadas como sangradeiras e as maiores para barba.
palrnenle para lavar as mãos; tigela de fundo largo e Bacias de cloaca — Latrina.
caldeira quase perpendicular.
“Bãccini” ou “ Tondo” — Medalhões dc cerâmica que se
Almotalia — Pequeno vaso de forma cônica para azeite
(cn graxadeira). embutiam na parede na Itália até o séc. XV, para deco­
Almudc — Vaso que contém medida dc capacidade para ração ou marcar a data da fundação de prédio, ou o
líquidos, dc doze canadas ou quarenta c oito quartilhos nome do proprietário ou de uma mansão.
(antiga medida de cercais). Barbotina — Caldo ou nata dc argila cm suspensão na água,
"Amoriui" — Cupidos muito usados na Itália na decoração chamada também pelos oktros de lambugem (Joaquim
do séc. XVII. Vasconcellos. ob. cit. pág. 83).
Anil — Índigo. Banisln-bonequdro — Artesão que produz figuras dc presépio
Aulefixo-acroterio — Peças de cerâmica, colocadas nos telhados (Bahia), corresponde a artista fjgurelro.
c cimalhas, como arremate dc fachadas, no Norte do país, Barrote — O mesmo que pau a pique.
chamavam também de ponteiras (reminiscência dos “ acro- Bata — Pequeno maço dc madeira para sovar o barro antes
terium" gregos e romanos). , de colocá-lo na roda.
Anverso — Parto anterior do prato. Batega — Bacia.
Arabescos — (Árabe) Na decoração islâmica consiste cm deco­
ração plana de linhas ou fitas intrincadas e entrelaçadas, Batente — Peça de madeira plana Com cabo para acertar os
formando um desenho abstrato. Como decoração popular tijolos que sofreram deformação. (Joaquim de Vascon-
mourisca era muito usada, porém sem formas de animais, cclios, ob. ciL pág. 47, est. 55).
os louceiros espanhóis é que aduziam desenhos zoomorfos Belarmino ou belanníne — Tipo de jarro piriforme em grés,
e antropomorfos. Esses desenhos influenciaram mais tarde produzido na região do Reno, para vinho, tendo na frente
o barroco do Norte como ornamento. No séc. XfX na moldada uma máscara com barba, fabricado a partir do
Inglaterra esses desenhos eram também chamados dc século XV. Segundo umas das versões, o nome provim
"Morcsques”. do Cardeal Roberto Belarmíno que se opôs a reforma
Aranhões —- Tipo de decoração encontrada na faiança portu­ nos países protestantes.
guesa. Este motivo ornamental (séc, XVO) sofreu uma “ Bianco supra azzuro” — Termo italiano para designar a
evolução que na forma primitiva apresentava a "pedra aplicação de desenhos brancos sobre um fundo azul,
sonora" dos chineses, modificado por sucessivas estilizações, conseguindo com a mistura do esmalte esianífero com
transformou-se mim motivo parecido com um inseto. corante forte azul no caso o cobalto usado mais na maió-
Daí provém o nome “aranhões” (ca lá logo do “Museu lica italiana dos sécs. XVI c XVI [. A China passou
das janelas Verdes" -— 1938 — pág, 10, estampa 101). a utilizar-se do processo por volta de 1730/40, como
Argila —- Barro de diversas cores e composições, inclusive decoração ou complemento dela.
branco.
Bitlia — Vaso de barro bojudo com gargalo curto, com uma
Azul de cobalto — Mineral que tem por base o alumínaio de asa, com duas asas c boca larga é chamado cântaro,
cobalto. Continua sendo o ingrediente mais usado na
decoração, sob o vidrado do azul e branco. Primeiramente Biscuit — Pasta dc matérias primas selecionadas, cozidas à
usado pelos Persas, foi introduzido na China durante a temperaturas elevadas e que se destina a moldagem de
dinastia Yuan (280-1368) c foi extensivamente empregado bustos, estatuetas, flores, adornos, branco de aspecto de
durante a dinastia Ming. A cor oscila entre um azul mármore (Sèvrcs, Capo dimonte, Saxc, Viena, etc.), rara-
cinzento e escuro para a pura safira. Provinha oiigí- mente de cor. Por extensão, também pode-se considerar
nalmentc das montanhas do BcluchistSo na Pérsia. É um biscuit, qualquer pasta cerâmica depois de cozida e antes
mineral que suporta altas temperaturas, daí scr chamado de vidrada. Enehaeotc em Portugal.
também de azul de fogo alto (até 1500a). Bispote ■— Vaso de quarto dc dormir (urino!) com tampa, do
Azulejos enxaquetados — Azulejos cuja disposição das peças inglês "piss-pot”, pinico, bacia dc mesa de cabeceira,
lembram, o tabuleiro de xadrez. Uispotcira — É a mesa dc quarto na qual se guarda o bispote
Azulejo estampado — Também dito de “estampilhado”. (eriado-mudo). ,

703
"Buccaro" —. "Bocara” ou "Buccaro” — Termo cerâmico protetor dos oleiros, havendo até na Atenas antiga um
italiano para designar peças que exibem parte ou todo bairro denominado Cerâmica, ocupado pr in ci palm ente
de seu corpo etn terracota; a China as fabricava na pro pcios oleiros.
víncia de Yi-Shing. Os ingleses as chamam tic “Red Cerámicn Aplicada — Assim considerados os tijolos murais
Porcelain” ou "Red China", Há referências que peças do e dc piso, os azulejos, os ladrilhos, as placas e ladrilhos
gênero eram também importadas do México e que Talavcra cerâmicos.
também fabricava peças idênticas. Cercea — Peça de metal com o perfil do prato e que Se
Ru ião — Vaso em geral bojudo forma de balão ou piriforme, aplica para dar-lhe a forma do anverso quando está girando
havendo também boiões tubulares (cilíndricos com estran­ no tomo.
gulamento na parte média ou não). Chacota — Barro cozido ou terracota.
(Vide "Faianças de Farmácia” — Catálogo de Exposição Cbamota — Material cerâmico refratário ao calor de granu­
em Lisboa — 1972 da Biblioteca Nacional). lação grosseira.
Bordai to 'Pinheiro — Raphael Bordallo Pinheiro em 1884. Chávena — Taça dc capacidade de meia xícara, usuaímente
depois de ter estado no Brasil, onde se distingue pela designando xícara.
excelência de seus desenhos e charges políticas, funda em “Chinoiserie” — Decoração inspirada cm motivos chineses,
Caldas da Rainha, importante fábrica (vide faianças) (2° chínesiee.
capitulo). Colo — Parte superior da peça, antes da boca e do pescoço.
Bule de doentes — Em forma de taça — asa lateral, cobertura Corantes — Óxidos variados (cromo, ferro, zinco, cobre,
abaulada e abertura em forma de leque, esmaltado antimônio, estanho, etc.) que servem para a decoração.
(séc. XIX). Corneta — Espécie de manga de corpo cilíndrico com boca
*’ alargada, canudo de boca larga (“ comet” em francês).
“ Coveto” — Termo italiano para designar a caldeira de um
— C — prato ou travessa.
Covilhete — T ífdinha, pequena malga, pequeno prato de parede
Cabaça — Vaso de diferentes dimensões que tem a forma de levantada, existe o termo com o mesmo sentido em espanhol
uma cabaça, fruto que costuma ter uma cintura apertada "cubillcle”, empregado em leilões (Duran —- Madrid, catá­
on uni estrangulamento no seu corpo que fax parecer ter logo — Dez. 1970),
duas seções ou um bojo duplo. Cravilha — Peça refratária que serve para separar as peças
Desde Knng-Hsi que eles são fabricados na China e no forno.
Imari ainda os produz.
Cabelo, ou fio de cabelo — Diz-se de pequena fissura na peça. — D —
Caçamba — Pode ser vasilha ou recipiente e também tem o
mesmo nome das rodas d'agua de engenho em Portugal.
Esse tipo do caçamba lem o nome regional de "Alcatruz Decoração caügráfica — Muito usada na Europa medieval,
de nora”. no Oriente Médio e na Espanha Mourisca (Manises),
Caçoula ou caçoila — Tigela que vai ao fogo. tanto em vasilhames como em azulejos.
Calcetamento — Ladrübamento das ruas ou revestimenlo de Decoração fitnfonne ou fitomorfa — Decoração corn desenhos
pedra. de plantas, folhagens.
Calibrar — Operação de dar forma no tomo ao anverso do Decoração flabetifonne — Decoração em forma de leque.
prato com a cercea, peça feita com o perfil exterior da Desenhos miúdos — Tipo de decoração encontrada na faiança
peça. portuguesa do séc, XVII (José de Queiroz).
Caligrafia — Provém do grego Kalos (belo) + graphein
(escrever), (Ubirajara Dolácio Mendes — Noções de — E —
Paleografia — Arquivo do Estado de S. Paulo — 1953).
Cantape — Pera ou cerâmica gravada em relevo. Enrhacotar — Cozer a louça antes de vidrar.
“Camélia Grande” —- Tipo de decoração poiicroma de azulejos Encbacole — o mesmo que biscuit. ,
portugueses com a estilizaçáo daquela flor, em geral for­ Eagoho ou eu gobe — Caldo de argila ou de argilas escolhidas
mada por quatro pedras. para revestir a terracota e esconder-lhe o fundo, usado
Cniigirãu — Vaso grande de boca Inrga com um bico pequeno desde a Antiguidade na Pérsia. Nossos Índios da Amazônia
e sem pé, para beber vinho; também caneca de cerveja. já o empregava ao tempo das Descobertas. Os romanos
Origem inglesa, 1761, John Asprey cm Staffordshire, o usavam desde o l.° séc. a.C., para obter um vermelho
modelou a primeira caneca cnm uma figura grotesca que uniforme chamado de Terra Sigiiatã, também chamado de
passou a ser conhecida por "Toby Jug'1 e obtendo largo barbo tina.
sucesso passou a ser copiada c modificada com outro Earolaraento —- Técnica indígena de enrolar cilindros de barro
gênero de personagens por numerosas fábricas inglesas. na confecção de peça cerâmica também chamada de “as­
Em Portugal ainda no séc. XVIII, elas são copiadas, pirai” e de "colombin” , peins espanhóis e franceses.
sobretudo por Viana c as fábricas do Porto, representando Enxugo — Secagem para eliminar umidade antes da peça ser
as figuras populares da época, como lavadeiras, peixeiras, submetida à cozedura.
etc. Devezas e a Fábrica do Choupelo em Gaia as fabri­ Escudela — (Do latim “scutela”) Pequena malga baixa com
caram. Bordallo Pinheiro no fim do século também dela asas ou orelhas.
se utilizou. Esgrafito — Técnica de decoração dc desenhar linhas incisas
Cantos de azulejo — As peças avulsas de Delft, costumam sobro o corpo da peça.
apresentar desenhos nos quatro cantos, o chamado "cabeça Esmalte —- £ uma camada de vidro opaca, branca ou colorida,
de boi", a "flor de lis", o "o aranhiço", e “o cravo”; as colocada sobre as peças, vidrado.
portuguesas de desenho avulso, cm gera) apresentam nos Estêncil — Sistema de usar uma leia furada em pontinhos
cantos "estrelinhas” ou "pétalas". para delinear o desenho com pó de carvão, o qual será
Cnulim — Substância argilosa branca que entra na composição seguido pelo artista. H á várias variantes. Os portugueses
da porcelana composta de feldspato (petuntze) alumina, chamavam-no de “máscara” ou dc “fantasma” . É tanto
quarlzo, etc, empregado nos azulejos como no resto dos objetos
Caxixts — Miniaturas de louça grande caprichosamente irabn. cerâmicos.
Ihadas, moringas, pratos, panelas, fruteiras, tigelas, frigi­
deiras, quartílhas, etc, (Bahia).
"Céiadon” — Nome dado ãs porcelanas monoeromas vidradas — F —
de cor olívada; constitui um dos principais produtos de
exportação da Coréia, da China e do Iapão e até hoje Faetiza — 0 centro italiano mais famoso de fabrico da
são eles fabricados no Oriente. maiólica e que com o tempo c pela alta qualidade de
Cerâmica — Provém do étimo grego Keramos, chifre oco de seus produtos acaba dando o nome de faiança a essa
animal, servindo como copo ao homem primitivo. Existe categoria cerâmica introduzida na Europa pdos árabes.
também a versão de que provém do termo Kcramik que Faiança — Feita com argila de grande plasticidade, tempe­
designa argila e ainda segundo J. Vasconcellos, a palavra ratura de cfc 900°. É porosa c pouco resistente e recoberta
seria originária do nome Céramus que segundo a mito­ de esmalte- opaco â base de compostos de chumbo
logia grega era filho do Deus Bacco e de Ariana e era (transparente) e estanho branco (opaco).

704
Faiança ao fogo alto —» Faiança cozida a alia temperatura o Gome — Caldeira, figurou em Catálogo de leilão de Jaime
que [imita o número <3e cores (víoicla, castanho, preto, ver­ Leal da Costa no Rio de Janeiro, como designando caldeira
melho, verde, amarelo, azul) que não se desintegram ao da peça, em julho dc 1951, pág. 3, descrição do lote 16
calor. e lote 18 (prato fundo). Segundo o antiquário e numismata
Faiança ao fogo bramiu — Faiança cozida entre 800° a 1.100°, José Claudíno da Nóbrega, esta expressão é originária
no chamado fogo de mufla ou reverbero o que estende da numismática onde é chamado dc Gome o espaço ou
a gama de cores a serem aplicadas. a faixa que fica na moeda entre o motivo central e a
Faianças de Farmácia — Existem três variedades: a) boióes borda.
tubulares, os mais numerosos de íorma aproximadamente Grés-cerâmico — Composição de contextura muito forte,
cilíndrica, pois apresentam um estrangulamento n 2 parte impermeável, de grão fino, cozida a alta temperatura,
media. Também se índuern neste grupo os boiões em que entrando em semi-fusão ou vitriíicação total (A. Pilcggi
não se verifica tal estrangulamento, geralmente são recentes — ob. cit.) ou pasta dura e muito densa, sonora, imper­
(fins dos sécs. XVII e XIX); b) boiões bojudos de forma meável, de grão fino opaco mt lustrado feita com argila
mais vulgar, estes podem tomar uma forma acentuada plástica stlicosa e saibro (G. Barroso — Introdução
de balão ou mostrarem uma configuração pinforme; Técnica Museus, vol. II — pág, 376).
c) os espécimes menos vulgares e também mais antigos Servem os grés comuns para o fabrico de tubos, manilhas,
são as garrafas de faiança (vide Exposição de Faianças sifões, etc., para construções, e os grés finos para em­
Portuguesas dc Farmácia — Biblioteca Nacional Lisboa, pregos diversos, como botijas, louça resistente, etc. (J, de
1972). Vasconcclíos, ob. cit. pág. 84).
Faiança fina — Faiança fina ou inglesa: Segundo Alexandre "steingut” —- nome dado ao grés na Alemanha e à uma
Bronguiart (Sèvres), a faiança fina pertence aos produtos variedade de faiança fina — (Villeroy & Boch e outras
de pasta dura e opaca, branca iufuzível ao fogo de porce­ fábricas).
lana e com vidrado de chumbo. Porém, a sua composição “steinzueg" — uma das variedades de grés, em particular
è diferente da clássica faiança Ou majolica. Sua pasta é os fabricados por Bõitger no primeiro quartel do séc.
XVIII em Meíssen.
produto de vários ingredientes, conforme a fábrica que
os aplica, é compacta e de forma gerai esbranquiçada, Gretado -— (“Craqueíé") Processo aplicado no verniz, para
provocar rachaduras no esmalte; estalado.
dispensando o engobe. Existe um sem número de varie­ Greiarnento — Trincas nos esmaltes que se alastram em conse­
dades como pó dc pedra, granito, etc. Chamada pelos quência de diferenças de temperatura.
franceses dc "faience fine" ou “terre de pipe anglaise" “Grotesco” — Conjunto de ornamentos fantasiosos em que
e pelos ingleses dc "cream coloured ware” ou "queen’s sobressaem animais, figuras, folhagens — típico do período
ware” ou “white earthenware", os alemães a chamam de da Renascença.
"s Seingut" (V illeroy & Boch). K cozida à temperatura mais
elevada do que a faiança verdadeira e recoberto de esmalte
transparente, em geral plumbífero, — ti -
Fnïünça ou porcelana "craquelée"’ — Desde Sung que foi
adotado pelos chineses o processo, dando a impressão de “ Hua" — Termo chinês para designar a decoração usada na
que a peça está coberta por uma rede ou partida em porcelana Míng primitiva e no século XVIII na porcelana
átomos ligados entre si. 0$ tipos de rachas (craques) branca, também chamada de decoração “secreta" que con­
grandes são chamados dc "pé dc caranguejo” e as pe­ siste em formar desenhos furando a pasta e recobrindo-a
quenas de “escamas de peixe" ou “truité", por sua □penas com esmalte transparente.
semelhança com as escamas das trutas. Gustavo Barroso
a denomina de faiança ou porcelana “estalada", assim
como vários autores portugueses.
Faiançn ou Porcelana Marmorizada ou Marmoriada — Peças Identificação entre pasta mole e pasta dura — Esfregando-se
imitando o veiado de diversos mármores. a área não vidrada de uma peça com a unha esta serã
Feldspato —■ Em chinês peturUze, um dos componentes da lixada, em se tratando de pasta dura, e se for pasta mole
purcelftna chinesa e japonesa. Ele tem seu ponto de fusão serã a unha que deixará sua marca, Um caco pode ser
a 1.951)“ quando s e . transforma mima espécie de vidro facilmente identificado, porquanto a pasta dura parte-se
natural; loma-sc cristalino, como cristal de rocha (a pedra como vidro, deixando arestas compactas, enquanto a mole.
do muiratitan é uma das variedades do feldspato); o ao partir-se, exibe sua contextura granular, como torrões
étimo é alemão: fdd^cam po, spatcepedra. dc açúcar.
Figulina — O u argila magra é o barro mais usado nas olarias, hiftiga — Espécie de bilha.
próprio para tdhas e tijolos, com pouca plasticidade, ao
contrário das chamadas argilas gordas com maior plástica
(L dc Vasconcclíos, op, cit. pág. 27), — J —
Em francês existe a palavra “figulinc” que nada tem a
ver com a primeira definição. Esta palavra francesa era João Manso Pereira — Ceramista, químico, mineraiogista e
empregada por Bernard de Paüssy no séc. XVI para professor de Humanidades no Rio de Janeiro. Localizou
designar as suas louças com objetos, cobras, lagartos, o caulim na Ilha do Governador c foi oficialmente o
peixes etc,, copiadas do natural c cobertas com esmaltes descobridor na América do Sul da porcelana dura, produ­
coloridos; depois o termo '‘figurine” passou a ser empre­ zindo vários produtos “como camafeus, cadilhos e outtos
gado para obras do mesmo gênero na França, sobretudo vasos” que enviou à Portugal, à Rainha Dona Maria I, em
para pequenas estatuetas. 1793 e 1795. Tem suas marcas registradas em vários
Frete -— Parte central do reverso do prato limitada por um tratados cerâmicos estrangeiros.
debrum (Campos e Sonsa-Loiça Brasonada).
Frita — £ uma composição de argila com vários materiais vilri- — L —
ficáveis formando unia pasta que é considerada como
"Porcelana Artificial" ou “ Porcelana Mole" ou "Pasta Lareira — Muito comum na Eu topa, lareiras e pequenos
Branda”.
fomos revestidos de cerâmica como decoração e para
Fundentes dos esmaltes — Substâncias diversas: areia branca, aquecimento de interiores (azulejos, placas cerâmicas,
quartzo feldspatos (petuntze) borax, ácido bórico, nitrato, tijolos esmaltados, refratários ou não).
carbonato de cálcio, de soda, de cal, sal marinho. Na Vila de São Paulo, é consignada a presença de lareira
FusibitUlade —- A argila pura é infuzível, porém à alla em 1733 "e fazer-ihe de íijollo hua lareira de tijollo
temperatura com os componentes estranhos de que está com suas costas do mesmo tijollo para defender as ma­
impregnada, pode-se tomar fuzível. deiras”. (Atas da Câmara de São Paulo, vol. X — pág, 278).
Lastra — Massa cerâmica.
“Ling Lung” — Trabalho vasado e fenestrado (ajourée) na
— G — porcelana chinesa.
Listei õu Lís li lo — Filete.
Gigo — Termo bastante empregado nos relatórios da Alfândega Louça (ou loiça) — “Denominação genérica, compreendendo
colonial, iratam-sc de cestas que traziam mercadorias. todos os produtos manufaturados da Cerâmica, compostos

705
de substancias minerais, sujeitas a uma ou mais queimas” suas "Frotas das índias” e poste ri o rmente em fins do
(A. Pilcggi, ob. cit.5, "São de loiça os objetos de barro séc. XVI, pelas naus das Companhias das índias Orientais de
cozida, faiança, gris ou porcelana” (José de Campos e diferentes nações. Em português a, expressão era aplicada
Sousa — pág, 27). Também há os que a caracterizam indífereotemente para designar tanto a "Porcelana da
como categoria à parte e cientificamente a definem como China” (de categoria e classificação superior) como a
"Massas cerâmicas, de argilas, sílica e fundentes alcalinos porcelana chinesa de exportação (dc categoria inferior e
(feldspato) ou alcalinos terrosos (óxidos de cálcio ou classificações diversas). Ainda no século XIX, a mordomia
magnésio) denominadas também de Terraglia, maiólica, da Fazenda Imperial de Santa Cruz, continuava a arrolar a
Faiança ou louça de pó dc ped ra, grani to, etc." (Rev. porcelana Companhia das índias como “Louças das índias” ,
Brasileira dc Cerâmica). “Há também em uso designar-se distinguindo-se, porém duas peças de “louça de Macau”,
a louça e porcelana, considerando primeiro Eudo que não azul e branco). (Vide Arquivo do Distrito Federal, citado
é porcelana" — Marques dos Santos. por Gastão ^'Penalva in Anuário do Museu Imperial —
Louça Armoriada — Com desenhos de brasões, escudos 1942 — pãgs, 117 a 148 e pág. 124, nota 7). Há também no
legendas, armas, coronéis, siglas coroadas, elmos, vírois, Brasil a referência a “louça da índia Azul” a "Louça Azul
pavilhões, mantelele, tenentes e snporlcs, paquifes, cte. de Nankin” e a de Cantão (Pauta da Alfândega de 1837)
Loitça de Barro — Produto de argila de uma ou mais quali­ e parte dos autores ingleses aplicam aquela expressão geral
dades sem composição específica, de massa porosa, de louça da índia:
adquirindo a cor após a queima de acordo com as tona­ Indian China — Indian Poreelain — Indian China Class
lidades das argilas empregadas (terracota). — aplicável somente para os tipos de exportação, incluindo
Louça dc Caelé — (Vide louças mineiras). a Família Verde e outras.
Lonça de Cantão — Há uma enorme variação de tipos expor­ “Esta classe deve incluir toda porcelana feita cm quanti­
tados saídos por aquele porto, pois que Cantão era o dade para exportação ã Europa . . . as formas na
grande empório chinês da venda da porcelana até com maioria dos casos são européias”. Os franceses, cm parle
exposições regulares para expor os produtos chineses para aplicavam o mesmo termo para a mesma classificação
os mercadores e agentes das várias Companhias das Índias e (A. Jacquemart — Histoiy of Cera mie Art — Tradução
Londres, 1877).
armadores que operavam com o Oriente, Boa parte das
encomendas feitas à China, eram fabricadas no interior, Louça Islâmica ou Maometana — Lonça produzida no Oriente
com a aplicação das cores à fogo alto c terminadas as Próximo desde o séc. IX na Pérsia (Irã), na Meso-
outras cores e a decoração à fogo brando nos múltiplos potâmia (Iraque) Turquia e no Egito, provenientes de
ateliês de CánIão. Exportava tanto a louça azul c branca vários locais, como Minai, Amol, Kashan, Gabri, Lakabi,
como tt policromada. Na pauta da Alfândega Brasileira Ravy, Nishapur e Sultanabad, nesta classificação incluent-se
(1837) há menção de “terrinas de louça da índia azul as louças de Rakka e Iznik e as dc Fostat.
de Cantão". Louça dc Iznik — Louça fabricada em Iznilí (antiga Nicéa)
Louça Decalcada — Existem vários processos de transposição, na Anatolia, Turquia, não longe de Istambul do outro
para decorar a louça tndustrialmente — o principal deles lado do Bósforo, Era feita çom unta pasta arenosa c
é chamado de decalque — uma variante do "transfer- usual mente coberta com um engobe branco com mistura
-printing". Esses processos vieram a dar enorme impulso de óxido de chumbo, às vezes com parte de estanho, tipo
tt produção, inglesa e européia, com a imitação sobretudo esse conhecido como "tnezia-maióUca" ou meia-faiança.
do azul e branco e dos motivos chineses — ( 1* 0 0 1 binhos e A glasura cobre as cores usadas cm temperatura alta t
outros) e reprodução dc vistas de cidades, monumentos, os desenhos são sob coberta. As peças primitivas deco­
alegorias, bustos de personagens, motivos históricos e radas com motivos florais eram cm azul escuro e claro
patrióticos. Existem pratos com vistas do Rio, de cidades c inspiradas nas peças da dinastia Ming. Em geral essas
brasileiras como à passagens da guerra do Paraguai, vasos louças eram pintadas cotn cores fortes c brilhantes, tanlo
dc guerra, etc. o azul como a turquesa, o venle e o vermelho.
Louça de Delft — Faiança (também feita na Inglaterra, onde Louça dc Jaspe — Considerada como grés fino e mesmo porce­
era chamada de Ddft-Ware ou English Dclft-Ware) que lana artificial. Fabricada por Wedgwood 1774 (vide Jasper
era também conhecida por maiólica holandesa (Dutch no Glossário em inglês).
Maiólica), produzida na Holanda que no começo sofreu Louça ou porcelana Jesuítica -— Os jesuítas mantiveram contato
a influência italiana (primeira metade do séc. X V I). com a Corte Chinesa e cm função desse contato acabaram
O impulsa da indústria da cerâmica em Delft, teve lugar por influenciar a decoração da. porcelana com desenhos
no meado do séc, X V II, quando os oleiros ou louceiros, religiosos sobretudo bíblicos executados por eles próprios
ocuparam pnrte das cervejarias desocupadas pelo declínio como os irmãos Beilevüle (1684) e os pintores Ghcrarditií
desta indústria. Acontecendo que no mesmo período a Com­ Castigiioni (1725) e Aiticri,.. e dessa forma direta ou
panhia das Índias Orientais, importava enorme quantidade indire tumente criaram um género novo que se caracteriza
de porcelana oriental, primeiro no séc. X V I, comprando pelos desenhos à "encre de Chine” — toques cor dc rota
os exemplares cm Lisboa para distribuição para a sua (nouge dc fer) e ouro; posteriormente a gama de motivos
clientela nórdica, depois indo direta mente íi China, estabe­ ampliou-se largamente com Lemas mitológicos, com cópias
lecendo o comércio direto. de gravuras e quadros célebres c outros temas, inclusive
Assim, os fabricantes de Delft habituaram-se a admirar eróticos. Há os que consideram dentro desta classificação
os motivos chineses e neles encontraram uma fonte de esses lemas não religiosos. Os antiquários e leiloeiros
inspiração copiando os modelos eom grande sucesso. As portugueses costumam chamar de “Figuras Européias" as
mais finas peças foram produzidas èntre 1640 e 1740. peças que apresentam figuras poli cromadas.
Louça de "Deus” — Louça de barro feita pelos escravos Louça de Lisboa — Produtos cerâmicos provenientes da região
(copos, jarros, pkhorrss, cabaças, etc,, nos feriados de Lisboa, consignados nos inventários vicenlinos do
e dias santos). E porque assim cratn feitos nos lazeres séc. XVI t.
dos dias consagrados à Igreja, esses objetas tornavam Louça nu porcelana de Macau — Porcelana chinesa de deco­
aquela designação (C J. da Costa Pcteira, op. cil. pág. 78). ração branco e azul (sob o vidrado) muito reputada no
Louça Fotográfica — Louça decorada eom um processo usado [empo de Kang-Hsi e que os chineses continuaram a
por Wedgwood de fixar o motivo fotográfico de 1870 reproduzir imensamente com motivos chineses para o
cm diante — (G, Savage e H. Newman — "An Hlustraled mercado externo, variando estes motivos conforme o
Dictionnary of Ceramics" — Londres — 1974), Também período sendo o mais popular, conhecido por “ Pom-
chamado de processo FotocerSniico (Thèfese Th ornas, de binhos” muito copiado pelos, ingleses. No Brasil é comu-
Villeroy & Boch -— Mettalach), meníe chamada de louça dc Macau pelo nome do porto
Louça Histórica e Louça Anônima — Para distinguir mim e entreposto português que a exportava comprando-a no
plano sócio-histórico a classificação da cerâmica antiga, mercado chinês, John Mawe em viagens ao interior no
adotamos o critério de dividi-la cm duas grandes seções: Brasil (1808) consígnou-se sua presença no Rio no princípio
a histórica ou personalizada c a anônima. A primeira do séc. XIX, designando de “louza azul de Macau" (pág.
quando é filiada a uma personagem c a segunda quando 108) assim como outros viajantes como Maria Graiham
desconhece-se p possuidor da peça. (Vide 29 Capitulo e também consta de inventários desde 1725 (Taubaté)
"Faiança”, in fine textus). como também vem arrolada Registro da Alfândega d o .
Louça da índia ou Porcelana da índia — Designa a porcelana Rio de Janeiro (O Espelho, Rio n9 11 — de 1822/23),
chinesa introduzida na Europa pelos portugueses com as que consigna a entrada em 14 de março de 1823 de “ qua­

706
renta c uma caixas de louça e doze caixotes provenientes lo u ça ou Porcelana da China — £ assim chamado o produto
de Macau”. As finas são conhecidas hoje por “azul e bran­ chinês mais fino e apurado, fabricado para uso interno,
co”, sem menção a Macau. pelas fábricas imperiais chamadas de Kin-Io (K.un, magis­
Louça ou porcelana "Manda riu” — “ . . . profusamente deco­ trado e Io, fábrica). Campos e 'Sousa, ob, cit.
rada é um dos tipos bastardos característicos da decadência Louça ou Porcelana da Companhia das índias — É a porcelana
da porcelana chinesa de encom enda...” (José Campos e fabricada na China para os mercados ocidentais com
Sousa — "Loiça Brasonada" — pág. 50). Começada a desenhos e formas inspiradas no Ocidente, c mesmo com
fabricar no séc. XVH1 a sua decoração representa grupos desenhos e formas chinesas, porém fabricadas em série
de mandarins, tendo por fnndo a paisagem ou interior de c dc qualidade inferior pelas fábricas ou olarias chamadas
habitação, às vezes também com personagens mitológicos de Man-Io (Man-povo — Io-olaria). Muitos ccramôgrafos
ou divindades budistas ou taoístas, ou quadros repre­ dão-lhe outra denominação, como “Chinese Export Por­
sentando procissões, casamentos ou outras cerimonias (I. V. celain” ou “Indian China” — “Indian Porcelain” —
Jorge, ob. cit.) em voga até o começo do séc. XIX, “Indian China Class” e aiguns de “Chinese Lowestoft."
porém continua a ser fabricada até hoje. Os ingleses on "Oriental l-owcsloft"; outros mais recensesneme a cha­
também chamam de louça mandaria (Mandarin warc) os mam de “Porcelana Chinesa de Encomenda". Dessa por­
produtos da fábrica de Lowestoft que imitavam a poli­ celana da Companhia das índias, existe unta enormidade
cromia e os motivos chineses. Durante algum tempo de tipos c de formas e a reprodução de um sem número
houve quem chamasse os serviços Companhia das índias de assuntos, como bíblicos, galantes, marinhos, de caça,
Chineses dc "Lowestoft" ou Oriental Lowestoft c como de esporte, históricos, políticos, maçónicos, heráldicos,
sendo fabricado nessa fábrica inglesa. mon ogra mados, mitológicos e cópias de grasniras e quadros
Louça de Maragogipínho — (Bahia) — Louça popular feita clássicos.
por mulheres com brunimento feito com seixo liso deco­ laruça ou Porcelana de Iroari — A paleta de Itrtart é de um
ração a tinia esmalte (verde, vermelho e branCo), azul escuro sob o vidrado e esmalte vermelho indiano,
combinados com muito dourado em modelos confusos, em
Louças de Manises -— Grande centro oleiro espanhol, nos geral cobrindo quase toda a peça com desenhos de crisân­
subúrbios da cidade de Valência, tendo começado sua temos, peómas e dragões c outras “chinoiseries". Ela
produção no séc. XV, chegando a exportar suas louças
e azulejos no estilo hispano-mourisco. inspirou-se nas sedas c lacas orientais que agradavam aos
europeus. Os produtos embarcados em Imari, já eram
Louças Mineiras — Ma via no séc. XIX vários centros (sendo exportados pelos portugueses e em grande quantidade pelos
que apenas um chegou até nós) em Minas produzindo holandeses cm 1680, Os europeus copiaram bastante aqueles
louça: Congonhas do Campo, Vila Rica (Sarameuha),
motivos c formas sobretudo Meissen e Chantilly (pratos
Caeté. Mariana (São Caetano), Prados, Guro Branco, e tigelas octogonais c hex agon ais e vasos com secção qua­
Tüquaruçu, Moitdéos (loucetro com forno), Barbacena, etc. drada), A natureza assimétrica da decoração de Arita,
São em geral louças vidradas e meias faianças, algumas . deve ter inspirado parte do estilo rococó.
de elaborada fatura c grande diversidade de formas: Louça ou Porcelana de Kakiemrm —- Kâkiemon foi o fundador
pratos, sopeiras, botões, vasos, potes, canecas, cuscuzeiros, dc uma família de oleiros que trabalhava em Arita, distrito
etc. Ou amo a decoração, às vezes com desenhos coloridos japonês, cerca dc 1650/1720. Suas composições a mor
ou em relevo com cordames, folhagens, galhos, flores e das vezes eram assimétricas e desbastadas, especial mente
ninda faixas impressas diferentes, inclusive em “guil- com galhos floridos c ameixas, com rochas e outras pai­
loclté" à maneira da ourivesaria; quanto à crontia há sagens. As peças eram pintadas em agradável cor de
predominância dos fundos pardos do alaranjado, do tijolo (brique), verde e lilás, muitas vezes complementadas
avermelhado, do verde, do creme, do melado e do branco, com amarelo e turquesa, douração ou azul sob o vidrado.
etc, (Vide E. F. Brancante “Achegas sobre Cerâmica do Esses produtos foram copiados por Meissen, Bow, Chelsea,
séc. XIX no Brasil e Louças Mineiras” in Rev. Paul is- Worcester, etc.
tâniã rt° 79 — S. Paulo), Louça ou Porcelana “Sangue dc boi" — Glasura vermelha
Louça ou porcelana de Nankin — Louça do gênero da de (cobre) empregada pelos chineses (lang-yno) desde o séc,
Macau que se destinava ao mercado francês e tomou c XIV e com sucesso cm Ming. Atinge o apogeu com os
nome de Nankin tia França, também pelo nome do porto monocromos do período de Kang-Hsi,
de exportação e feitoria francesa. Difere do azul e branco Louça ou Porcelana de Swatow — Nome dado a um tipo dc
conhecido por Macau, Queremos crer que é louça mais porcelana provinciana exportada pelo porto de Swatow
fina e apresenta variantes de desenho e muitas vezes tem (defronte à Formosa) e proveniente dc vários centros olei­
toques dourados, o que não acontece com aquela. O ros, presumindo-se fabricada nos arredores de Chírtíechen,
Brasil também importou a louça azul e branco de Nankin ou em Fu-Kien, no Amtam em Toiikim e na própria cidade
com esse nome: consta na Pauta da Alfândega Brasileira de Swatow e bastante exportada do porto de Swatow
em 1837, vários arrolamentos com seu preço como terrinas para o Japão, as Filipinas, Índias e Ocidente. Porcelana
de "louça da índia azul e Nankin 12$1300 — aparelho popular na China em azul e branco (às vezes em verde,
de louça azul e Nankin 200SOOO, etc." turquesa, e vermelho) com glasura forte, desenhos espon­
Louça de Osso —- Uma louça translúcida, composta com farinha tâneos, sem precisão, pinceladas carregadas dc tinta —
de osso. reproduz tanto modelos clássicos chineses como os dc
Louça de Pedra Sabão (Soup Stone) — Pedra sabão ou estea- Ming, como outros filoformes c epigrafia islâmica, Muitas
tita (silteato de magnésia), descoberta em Cornwali peças vêm marcadas com o duplo círculo (doublering),
(Inglaterra) foi empregada na cerâmica pela primeira vez, o que indicaria também a sua origem de Chintcchen.
pela fábrica Lund de Bristol em 1749, depois cm Uver- Louças desse género de Swatow $So encontradas no Brasil
p o o l.. . 1770, Worcester 1751/1820 e Caughiey 1775/ em diversas sítios.
1799. Hoje, são fabricadas louças com aquele material, Louça do Reino — Termos empregados nos inventários pau­
consideradas como porcelana. listas para designar determinadas louças provindas da
Louça pó de pedra —-T em semelhança com porcelana, é de Metrópole no séc. XVIt.
composição diferente coro a moagem do feldspato e do Louça Talavera de La Reina -— Faiança espanhola de primeira
quartzo a pó náo muito fírto, pois as partículas ficam qualidade, frequente nos inventários paulistas do séc. XVII
visíveis e desiguais em tamanho, dando a impressão de (Vide glossário cm espanhol).
pó de pedra. No comércio para efeito de propaganda é Louça Transtuzenie — (Translucent Ware) diz-se da porcelana
chamada meia porcelana (A. PíSeggi, ob. ctL). chinesa ornamentada com furos na pasta, recobertos
Louça ou Porcelana de Arita — Porcelana japonesa que apre­ apenas de glasura o que a deixa em parte transparente
senta dois estilos de decoração: o Kâkiemon (do nOme da (os furos ovalados são chamados de “grain de ri z" pelos
famosa família de ceramistas) e o Iroari (do mesmo nome franceses).
do porto de embarque). Louça Vítrificada — na composição da massa, são incluídas
Lo aça ou Porcelana da Batávia — Porcelana chinesa de expor­ matérias primas diversas que depois de levadas ao forno
tação (Companhia das Índias), de fundo chocolate com em alta temperatura, atingem o coeficiente máximo vitri-
reservas em azul ou policromas encomendadas à China ou ftcável inabsorvenic de grande resistência praticamente
ainda pintadas à jesuíta c exportadas pelos holandeses pelo como o grés cerâmico (usada também como a porcelana
seu porto de Batávia. para artigos sanitários).

707
Louça de Yl-Shiug — Grés chinês, vide "Boccaro". — o —
Lucai Delia Itobblu — Nascido em Florença (1388-1481) íoi
quem pela primeira vez aplicou o esmalte vitrificável, Olarias chinesas — Duas categorias:
obtendo baixos relevos de belo efeito e cunho pessoal. a) a das fábricas imperiais “kun-lo” (kun=magislrado e
Passou seu ateliê à Audrea delia Robbia (1455-1525) seu Io—fábrica) ç as populares "Man-Io” (Man=povo).
sobrinho, e estes a seus filhos. Os trabalhos realizados As primeiras tinham a preocupação dc fabricar louça
por esta família foram tão notáveis que influenciaram perfeitíssima, as segundas não se preocupavam com
outros países. (A. Pilcggí, ob. cit.) Lucca foi aluno dc a perfeição e seu objetivo era fabricar louça por um
Leonardo da Vinci c ames de se dedicar à cerâmica foi preço tão baixo quanto possível (José de C. c Sousa,
ourives. Foi mestre de Francisco Nicoloso "Pfsano” que ob. cit. pig. 56).
se notabilizou na Espanha na arte da maiólica. Criou Oliis — Utensílios dc barro de cozinha.
medalhões, molduras largas, cabeças de anjos, flores e Oria — Borda, margem, cercadura. Também filete.
frutos. Origem — Em cerâmica serve para designar o local onde a
Lustre — Em francês “Décor á reflets métalliques” deco­ peça é fabricada; difere de procedência ou proveniência,
ração de reflexos metálicos — a produção do lustre Orladura — Cercadura.
provêm do Próximo Oriente no séc. IX (Pérsia, Meso- Ourela — Oria-margcm — cercadura,
potâmla) talvez do Egito. Na Espanha, em Málaga e Uveiro — Recipiente pequeno para colocação do ovo.
Valência (M anises) como também Aragão e outros locais
nos sécs. XIV, XV c XVI; os oleiros mouros produziam
a louça hispano-mourisca com lustre. Na Itália, também — F —
era empregado no séc, XV c começo do XVI, a cidade
de Gubbio mantém como característica o emprego do
Palangana — O termo é empregado pelo poeta Gregário de
lustre cm suas produções. Vide glossário em inglês. Mattos (1633/96) como designando peça de porcelana
(vide obras de "Gregórío de Mattos” — 2° Satírica —
torno V pág, 358 — cd. Ac, Brasileira de Letras).
— M — A palavra designa travessa, tabuleiro e varia de forma
(tigela grande ou malga no Norte c em Portugal) “é vaso
de barro que tem muita circunferência e pouco pé e
Malegueiros ou matugueiros — Artesãos que faziam cerâmica serve para lavar as mãos e oultos ministérios1* (síc).
à moda de Málaga cm fornos do tipo de Veneza, isto F, João Pacheco “Divertimentos Eruditos” tomo I — pág,
é, que fabricavam faiança. ' 348-1734 —Lisboa.
Malga — Tigela vidrada, bronca ou do cor. Campos e Sousa — ("Brasõens”) estampa manifestos de
Malólien — Espécie de terracota, ou louça de b ano cozido, naus vindas de Macau em que constam numerosas paian-
mas recoberta de esmalte opacificnnte (e às vezes eoul ganas, inclusive palanganas '‘rrieyans1’.
reflexos metálicos). Maiórea fez as primeiras peças do Palmatória — Castiçal com cabo.
gênero, leva geralmente dois cozimentos (A. Pileggi, ob. Papeleiras — Designação em Goiás das mulheres que fabricam
cit.). Diz-se também de certas louças italianas fabricadas panelas, moringas e outros artefatos cerâmicos de forma
segundo o gosto dos ateliês introduzidos na Itália pelos artesanal.
árabes ou pelos espanhóis das Ilhas Baleares. Francisco Pasta de arroz cozido —- Diz-se da pasta da porcelana Compa­
Nicoloso, denominado o Pisano, desenvolveu a técnica da nhia das índias que apresenta um aspecto granulado pelo
maióitea em Talavera. Faiança, fato do caulim e outros ingredientes não terem sido devi-
Mangas — Filtro afunilado para líquidos e também vasos damente tratados (em francês: “Patê peau cTorange”). Em
cilíndricos altos com boca mais larga do que o corpo, inglês: "chicken-skin".
“Marli'' — Aba ou borda ou listei (em geral dourado) do Paulistiulias — Classificação aceita para designar as pequenas
prato ou travessa. O termo sofrç várias interpretações imagens de culto doméstico, fabricadas em São Paulo,
entre autores e rauseólogos franceses. Adotamos o critério com características próprias. Também são chamadas “pau-
Ustinhas" as telhas tipo colonial menores do que as antigas.
de Midi cl Bcurdeley de considerá-lo como aba.
Pedra — Termo em cerâmica para designar o azulejo, unidade.
Maromba — Máquina de amassar o barro,
Perne — Peça refratária que serve para separar as peças
Míirnst — Marga, mistura de argila e calcário, usado em olaria. dentro do forno (há também trempes c cravílhas para
Mmiabanls — Martaban uu Martavnn — Grandes vasos em o mesmo fim).
grés (Sião « adjacências) — içados a bordo com espe­ Pérsica — O mesmo que cariáttde.
ciarias, azeite, cereais, água, etc,
Pichei — Vaso cora gargalo estreito e asa %ervindo para
Mussaroca — Ornato encontrado sob numerosas variantes nos tirar vinho nos tonéis.
azulejos coloniais, representa uma csLilização da pinha e Picho — O mesmo que pichei, pequeno pote dc barro.
d apresentado em gera] cm agrupamento de quatro pedras. Pichorra — Bule,
"Mexano" — Tijolo requeimado ou vidrado, próprio para Fivcteiro — Pote em que se queimam substâncias aromáticas
revestimento de pisos, degraus, etc. (Cat, Guia M. Janelas Verdes, 1938).
Mil Flores — Motivo de decoração encontrado na porcelana Pó dc pedra —■ Uma das variantes da Faiança Fina (vide
chinesa que consiste no agrupamento de uma multidão de texto — 19 capítulo — “Faiança Fina” ),
flores e pétalas, policromadas — chamado na França de “Porcelana’* — Como provincial is mo luso podia também signi­
"Miüc-Fleurs” e na Itália de “ Müle-Fiori”. O tema já ficar pequena tigela c mesmo xícara.
era usado pelos egípcios e romanos. Porcelana -— Provém da palavra italiana porcela que designa
Moedas portuguesas (denominações mitigas no Brasil) — Vide uma espécie de concha lisa c branca. Divide-se em tenra,
a pauta das avaliações da Alfândega do Rio do ano dc branca, mole ou artificial, (temperatura 1200° a 130CF)
1N2Ó (Tipografia Plancher Biblioteca Nacional). e dura (1300° a 1500°). fi utilizada para uso domestico,
Muleta — Pequena roda com caracteres gravados para im­ dc laboratório, para eletrotécnica, adorno, etc ..
primir decorações na pasta cerâmica, quando ainda mole. Porcelana de Médici — (Mole): esta famosa porcelana é uma
Moringa ou Moringue — Espécie de garrafão de barro, às das variedades de pasta mole, a primeira a ser feita na
vezes com forma d e , ânfora, próprio pai*a. guardai/ e Europa. Ê sabido ter sido produzida sob o patrocínio de
refrescar a água. Francesco I e Maria dc Médici de 1575 a 1587 c foi
criada pelo italiano Bernardo Buontalenti cm Florença,
segundo citação dc Antônio Avellar Fernandes. Co­
nhecem-se duas peças datadas: um frasco com as armas de
— N — Felipe II no Museu dc Louvrc e um medalhão com o
retrato dc Franccsco (1586). Formas e desenhos variados
inspirados na faiança italiana e também em motivos
"Nien-hao” — Nicn=ano, pcríodo-hao=nome) são idíogramas orientais de exportação chinesa para a P é rsia ... (W, B.
que designam a marca chinesa indicando o período c o Honey, ob. cit.). O Museu Nacional de Arte Antiga
imperador reinante. (Lisboa) possui dois belos exemplares. Ao que parece, segun-

708
do Gian Cario Bojani (do Museu da Cerâmica de Faenza) metal), como sobrevivência do hábito que já vinha do
acredita-se que só devam existir umas sessenta peças conhe medievo de lavar as mãos na mesa com as bacias e
cidas e segundo este erudito diretor já foi descoberta a sua gomis que eram passados entre os convivas, nas casas
fórmula receatemente por peritos alemães. nobres.
Porcelana Americana — Feita pela primeira vez em pequena Prato ladeira — Travessa de carne, tem umas canduras,
quantidade cm Savannah, por volta de 1730, por Andrew convergindo para urna concavidade maior, onde vem ter
Duçhé, O começo real. industriai, foi a fábrica de Bonnin o molho das carnes.
and Morris estabelecida em Filadélfia, 1769. Prato de "dessert" — Prato de sobremesa, designação adotada
Porcelana Dura (em chinês “Tzn") — Pasta composta de argila no Inventário da Cozinha de São Cristhovão em 1855
branca (caulim) quartzo, feldspato ou minerais de compo­ (Guilherme Aulcr).
sição análog3, cozida à alta temperatura. Estrutura sólida Prato Meão — Prato de sobremesa.
branca, vitriíicada, translúcida e sonora, descoberta na Prato sopetro 4 - Prato de sopa, termo usado cm Portugal.
China no período T ang (61S a 906 d.C.) e na Europa, Pratos travessas com ralos ou grelhas — Designação no Inven­
na Alemanha, em 1709 por Frederico Bottger e no Brasil tário do Paço de S., Cristhovão, de 1855, para as travessas
em 1793 por João Manso Pereira. Sua composição é de e nas quais se sobrepõe uma peça perfurada e sobre a
50% de caulim, 25% de feldspato e 25% de quartzo qua] se coloca o peixe, ficando o molho na parle inferior
conforme a variação das dosagens a porcelana dura é de da travessa.
melhor ou de pior qualidade. Produtos de Barro — (China) os produtos cerâmicos que nlo
Porcelana Família Negra — São chamadas as peças chinesas eram porcelana, vidrados ou não, inclusive as faianças
de fundo negro (opaco ou brilhante), podem ser roono- tinham o nome genérico de Tao e a porcelana de Tzit.
cromas (Ming) ou com desenhos (período de K’ang-Hsi) Púcara — Pequeno vaso de barra com asa, caneca. Em
e cores da Família Verde. A classificação destas "famílias” liturgia, os copos altos de prata e ouro, que levavam
que são quatro, deve-se ao ceramógrafo francês Albert água ou vinho são chamados de vasos puriScadoies ou
Jacqucmart, que se baseou na predominância de deter­ púcaros.
minadas cores na decoração das peças chinesas.
Porcelana da Família Amarela — Decoração usada no reinado
de Kang-Hsi (1662-1722), na qual a paleta da Família — Q —
Verde é empregada com aplicações de amarelo em várias
combinações. Quartilho — Caneca contendo a medida de líquido corres­
Porcelana Mote ou Tenra, Branca ou Artificial — Pasta mais pondente a 1/4 da canada ou quatro martelos. No Brasil,
rica em feldspato e esmalte com óxido de chumbo, a correspondia a 0,6665 litros.
porcelana inglesa leva fosfato de cal e barita, a francesa
(no começo de Sevres) com calcário (e mistura de pá de
alabastro) e fundente uma frita composta de areia süicosa — R —
-—- é reconhecida por seu tom lev emente amarelada
(Etouillet — Die. des Arts des Let ires et des Ciences). Roda de oleiro ou torno — Peça com um eixo vertical giratório
Porcelana “Vieux Paris” — Nome dado de acordo coro Antônio e duas rodas em tabuleiros redondos, o de baixo acionado
Avellar Fernandes, citando Auscher, à porcelana "Vieux pelos pés, no de cima é depositada a massa para ser
Paris"; representa um estilo de decoração com flores modelada pelas mãos.
soltas e bouquets esparramados sobre o corpo da peça Rodeiro — O mesmo que torneiro, oleiro que trabalha na
e constitui um estilo à parte. O uso porém no Brasil roda ou torno.
entre os antiquários e colecionadores e mesmo na França "R o a Pompadour" — Cor de fundo rosa, Também chamado
entre alguns centros 6 de estender aquela classificação de Rose Dubarry, introduzida por Sèvres em 1758, ha­
as peças com muito ouro, fabricadas do fim do séc. XVIII vendo quem atribua sua descoberta à Hellot. porém, os
até 1850. arquivos da Real Manufatura, indicam Xhroriet como seu
Porca la nos ou Louças Bragautloas — Terminologia adotada descobridor em 1758, apesar de haver peças com data
por Francisco Marques dos Santos pura designar a Cerâ­ anterior, de 1756 (segundo citação de Antônio Avellar
mica filiada aos Braganças, ou seja à Família Real Fernandes).
Portuguesa e a Imperial Brasileira. "Rouge de fer” — Vermelho ferrugem, muito usado na
Porrões — Vasos compridos de base afilada e bocal pequeno porcelana Companhia das Índias, dos sees. XVIII e XIX.
— (lembram formas antigas de açúcar).
Prásino — Nome antigo da cor verde.
Prate iras — Travessas, — S -—
1’ralel -— Diminutivo de prato.
Prato — Segundo um autor Fr. Domingos Vieira, Grande
Die, Português — vol. II — Porto — 1873, o étimo Serrilha — Decoração usada pelos Jouceiros portugueses
provém do grego “plalys” (largo): "Peça de metal, barro imitando serra, colocada entre a aba e a caldeira, também
ou pau errv que se serve a comida nas mesas”. Segundo chamado de “Corda".
o Novo Diclionnario da Língua Portuguesa — 2a ed. Simbologia Chinesa (Animais):
Lisboa, 1853, a palavra prato provém do francês Fang (a Fenis) -— Ave fabulosa, misto de faisão e pavão,
"plat" (chato c prato) “peça mais ou menos cova de emblema da Imperatriz, símbolo de virtudes e mere­
louça, metal ou madeira, sobre a -qual servem-se iguarias cimentos.
na mesa". O prato compõe-se de várias partes, ou seja, A cegonha —- Longa vida.
fundo caldeira, aba a borda. A face destinada ao uso O papagaio — Aviso às rnuiheres para serem fiéis aos seus
chama-se anverso e a outra, verso, A parte centra] do maridos.
verso, limitada por um debrum, chama-se frete. (Vide I. O pavão -- Posição oficial, importância. "N a simbologia dos
Campos e Sousa, ob, dt.). ornatos, o pavão representa a ressurreição, pois em todas
Prato Co vo — Prato fundo, porém sem aba (do tipo chinês). as primaveras ihe crescem novameníe as belas penas caídas
Prato Fundo — Prato de sopa, prato covo, no outono" (Corona Lemos, ob. cit.).
Prnto galinheiro — Designação seiscentista em Portugal para O ganso — Felicidade doméstica.
os pratos coves ou fundos. A pega —- Alegria.
Prato de guardanapo — Prato raso. Á tartaruga — (Kwei) é também emblema de longevidade.
Prato de “água às mãos” •— Termo empregado nos inventários O morcego t a and o rinha — Boro augúrio.
paulistas como o nome indica, trata-se de peça de O boi, o touro — Emblemas da primavera e agricultura.
cerâmica (provavelmente prato fundo e grande) na qual Dragões — Na decoração chinesa existem com vários signi­
lavavam-se as mãos, após a refeição, pois é sabido 1que ficados o dragão celestial, .o espiritual, o dos Tesouros
no Quinhentismo e Seiscentismo, tanto europeu como Ocultos, o Imperial (com cinco garras).
bandeirante eram raros os talheres que constituíam óbjeto O canteiro, o bode —- Emblemas de aposentadoria,
de luxo e requinte; a tais peças correspondiam as “toalhas O unicórnio — (Ki-Lin) um dos quatro fabulosos animais,
de água, as mãos", também citadas nos inventários para O peixe — (Yu) dois peixes representam a felicidade conjugal.
enxugar as mãos, após tê-las lavado no "prato”. No séc. A pérola — Cercada de laços representa o talento.
XIX intensificou-se o emprego das lavandas (porém de A concha — Emblema de próspera fornada,
uso individual) ou "tigela de lavar" (de louça, crista! ou A borboleta — Cupido chinês.

709
O sapo — Com (rés pernas {de cuja boca sc desprende fumo) Tiipeíro — Especialista em armar a taipa.
representa a Ciência, pois lhe falta alguma cousa, □ fumo Talba -—> Vasilha de barro.
representando a emanação da sabedoria. Taleiga — Vaso contendo medida amiga pára líquidos e
Simbologia (Flores): cereais.
A peònía — Representa a primavera, como também a riqueza Tardoz -—- Parte posterior do prato, ou reverso.
e a nobreza é emblema da beleza feminina, do amor e Terracota — Argila cozida ao fogo, artificialmente.
do afeto. “Têtc a tête” —. Jogo de duas xícaras para casal com bandeja.
O lótus — O verão e a pureza. Tigílão — Malga grande.
Ü crisântemo — O outono e a longevidade, com dezfôseis Tigela de lavar — Bacia, termo empregado no Inventário do
pétalas é considerado emblema imperial do Japão. Paço de São CrUthovão em 1S55 (Guilherme Auler).
A flor da ameberira — D inverno, Tijolo ou lejolo — /Peça de barro cozido, destinada à construção.
O pessegueiro em flor — Casamento, longevidade. Temperaturas de cozedura em média de artefatos cerâmicos —
A romã — A posteridade através dc numerosa descendência. Louça ordinária 700?; tijolo e telha 1,000"; faiança esta-
A Flor dc Lótus — Lien Psua. Pureza. nífera 900?; faiança fina 1.200?; Grés 1,400?; Porcelana
Siiubologin (Cores): 1.500?.
O amarelo ouro — é símbolo de grandeza e riqueza, cor Torneiro — Artesão que Opera no tomo.
sagrada para os chineses, pois é cor de Ruda.
O verde — Ê alegria na China e cor sagrada dos Muçulmanos.
O azul — Se for claro £ melancolia amorosa e se for escuro
é eternidade.
O branco — Luz, pureza e paz, Variegar — Colorir de várias cores, matizar.
O negro — É símbolo de revolta para os mongóis e virilidade Vilrifrcítção — A argila que forma uma pasta cerâmica assim
para os persas. como os indutos que conslítuem os vidrados, são produtos
Sovar o barro — Amassar o barro, batendo-o com a bata, vitrificávçis, A vitrificação se opera a determinada tempe­
antes de colocar na roda. ratura, variando conforme as composições (J. Vasconcellos,
Smukba — Vasilha de cerca de quatro cilindros, usada em op. rit, pág. 103).
Coimbra. Vitriíícável — Se diz do material que é suscetível de ser
transformado em vidro, os silícatos são vitrificáveis.
Vidrado — ê uma camada de vidro transparente.
— T —

Tabatinga — Argila originalmenic chamada de barro branco — X —


pelos índios.
Taipa — Parede de barro comprimida entre tábuas (taipais). Xícara — Taça com asa c pires, chávena.

710
T E R M O S E M IN G R E S

(Perfil de Pratos)

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b a ck:
— A — os ingleses também os fabricam, com versos no fundo
ou a efígie de Napolcão ou simplesmente um olho.
Areanists — Oleiros que guardam os segredos e as fórmulas Charger — Sinônimo de dísh, geralmcme circular ou ova!
dos processos cerâmicos das fábricas. para servir came, também servia para pendurar-se na
Armorial Porcelain —• Porcelana armoriada. parede — Medalhão.
Artificial Porcelain — O mesmo que porcelana branda, tenra Chicken Skin — O mesmo que “orange skin", É chamado
ou mole na Inglaterra no séc, XVIII, era feira com em português pasta dc arroz, o que acontece quando a
diversos componenies (Bone Ash Porcelain, à base de pasta é ondulada, o que os chineses, e também os ingleses,
ossos calcinados — Soaprock ou Soapstone, à base dc chamavam dc pele de galinha e outros de casca de
pedra sabão), etc. laranja. Muito íreqiknte na cerâmica chinesa (de Mirsg
“ Art-Nouveau” Tiles — Willian dc Morgan (Morris & Co) c nas Companhias das índias) c japonesa.
rcdescobre as fórmulas do "lustre” e dos esmaltes faentinos “China" —- ê usado comumente na Inglaterra como sinônimo
e os azuis e verdes de Ixnik e desde 1880 produz azulejos de “ware , louça ou porcelana.
de novo estilo representando lírios, nenúfares, amapolas, China Clay — Caulim.
cisnes, pavões, ramos, paisagens exóticas, etc. Chinaman — Importador ou negociante de porcelana oriental.
Ash Tray — Cinzeiro, China Stone -—- Feldspato (petunlze),
Chinese Dinner Bowl — Tigela chinesa sem asas que serve
— El — para jantar.
Chinese Export Porcelain — Porcelana Companhia das índias
Bali Clay — Argila plástica. (vide glossário cm português).
Balustrc — Balaústre, termo empregado pelos ingleses eir, Clay — Argila.
cerâmica para designar vasos píriformes, porém menos Cobalt Blue —- Mineral que tem por base o aluininato de
bojudos que lembram a silhueta de ura balaústre. cobalto. Continua sendo o ingrediente mais usado para
Rand — Faixa. “o azul e branco" sob o vidrado. Primeiramente usado
Basal Ring — O mesmo que frete de uma peça (anel de base) pelos persas, foi introduzido na China durante a dinastia
Base — Base. Yuan (1280-1368) e foi exlcnsívamente usado durante a
Basiu — Bacia (de fonte). dinastia Ming.
Batavia Ware — Louça de Batávia, tipo dc porcelana chinesa Cockspur — Suporte refratário para manter as peças no forno
— perues ou cravilha.
assim eharaada por ser exportada pelo porto holandês Cock-Turrcn — Sopeira etn forma de galo feita pelos chineses
de Batávia cm lava, de onde na primeira metade do séc. no reinado de Chícn-Luug (1736-1796). Peças cm porce­
XVII era embarcada para a Europa peia Companhia lana cm forma de galo e galinhas, eram fabricadas cm
Holandesa das Índias Orientais, cia tem uma cor chocolate Meissen desde 1734.
lustrosa, com reservas em leques pintadas cm Família Coffee Pot — Cafeteira.
Rosa e azul, ou a tinta preta tipo Nankin, chamam-na
também dc cor de café com leite. Imitada cm Meissen e Coiling — Método primitivo dc lazer potes com cilindros de
em outros centros. barro (sistema de aspirai).
Ilcnlccra vases -— Vasos altos de boca larga sem asas (também Cover Dísh — Prato coberto.
Crazing — (Em francês “craquelure” , “tréssaillage"): Vidrado
usados em altares).
• fragmentado devido a contratação do esmalte ao esfriar
Black Rasiilt ou Egyptian Black — Basalto negro ou preto antes do corpo da peça.
egípcio, são chamados os grés pretos muito duros, sobre Cream Coloured Ware ou Queen’s Ware ou AVhíte Earthen Ware
os quais se aplicava a decoração em relevo imitando i — Chamada de "faiança fina inglesa” pelos franceses, é
cerâmica antiga da Grécia, Especialidade da fábrica de
Wedgwood. composta de uma argila mais branca e de areia fina e
não tem necessidade de ser coberta de esmalte opaco ou
Bleeding — Borrão (azul borrado) muito comum na loufi de um engobc como ocorre com a faiança, basta uma
pó de pedra inglesa, diz-se quando uma cor mislurs-st glasura transparente diretamerae sobre a pasta, cozida à
com outras ou com o branco do fundo. temperatura mais elevada do que a faiança verdadeira
iJody —- Corpo.
Cream Pitcher — leiteira.
"Boccaro” Ware — Grés vermelho da região de Yi-Shing, Crest — Escudo, brasão.
lembrando a cerâmica italiana do tipo “ Boccaro" — Cup and Saucer — Xícara e pires (na porcelana chinesa a asa
louça com cor da terracota, às vezes decorada em releve na xícara só aparece no fim do séc. XVIII).
ou pintada, também chamada de ‘'red-porcelain” ou Cups — Taças.
“red-china” e “rosso antko” por Wedgwood, ha também
a versão de que essas peças eram fabricadas rto México — D —
e na Espanha de onde os portugueses a importavam,
(tone Ash ou Bone Porcelain — Pasta feita eoni as cinzas dos Delft ware — Louça de Delft, nome também empregado pelos
ossos calcinados que é branco puro, usadas cm combinação ingleses para designar a faiança.
com os ingredientes da pasta dura da porcelana, processo Dessert Plate — Prato de sobremesa.
patenteado em 1748 por Thomas Frye de Bow — passos Diaper Border — Aba decorada com arabescos; a palavra
depois a ser chamada de "English Bone Porcelain" — "diaper” empregada isoladamente refere-sc a um desenho
também conhecida por porcelana fosfatada. ornamental com desenhos geométricos.
Bone China — Também chamada de louça ou porcelana Dinner Plate -— Prato de jantar.
inglesa Josiah Spode (1794), introduziu a$ cinzas dc ossos Dlsh —- Sinônimo de prato, porém indica pratos maiores e
na porcelana com um bom resultado. medalhões (acima de 12 polegadas).
Bowl — Boi, malga, tigela, Drug Pot — “Albarelio”, pote de farmácia.
Ilrocade pattems — Motivo muito usado na porcelana de Dutch Tiles — Azulejos holandeses. Havia os azulejos de
Arita, com vermelho, azul e dourado imitando brocado. desenhos avulsos e composições de painéis.
Também às vezes chamado de decoração japonesa. Muita
copiado na Europa e também na China na primeira metade — E —
do séc. x v m .
Rrcovn Ware —- Grés marrom com vidrado salino (salt-glazed Ear — Pequena protuberância numa peça que serve de alça
Stone ware); processo patenteado em 1671 por Dwight e (orelha).
era aplicado no séc. XVII em Noulngham, Derbyshirc, Egg Cups — Copinhos de ovos.
Londres e alhures. A cor pode variar de marrom choco- Egg Ornament — Decoração de bordas e cercaduras cora a
late à parda c a decoração impressa ou esculpida. Servia repetição de ‘'óvulos" — de origem clássica, também
para muitos usos a;é castiçais, estatuetas, canecas, etc, empregada na ebtmislica e na ourivesaria, seu uso começou
Kiittcr Dísh -— Mantegueira. no fim do séc, XVI.
Egg Shell Porcelain — Porcelana chamada de casca de ovo,
— C — devido a sua mínima espessura; fabricada na China no
período Yung-Ho (1403-1424), c copiada profusamer.te em
Candlcsticks — Candelabros. períodos posteriores (Kang-Hsi e Kien-Lung) e também no
Chaniber Pot — Urino! — Sèvres e Meissen fabricaram no Japão a partir do séc. XVI1L Os chineses a chamavam de
séc. XVIH belos exemplares. No começo do século XIX, T o T a i (sem corpo).

713
Emifficl — Esmalte. Hybrid Bone Ash Paste — Caulim e granito cm combinação
Encaustlc Tiles — Incrustação de argilas formando desenhos com cinza de ossos coberto com glasura de ebumbo,
cm azulejos ç ladrilhos, processo primitivamente usado no produzem a chamada “‘Bonc Forcebin" que é mais fraca
Medievo sobretudo cm catedrais c revivido no período do que a porcelana de pasta mole, muito usada peias
Victoriano. fábricas Worcester, Spode e Dcrby.
Engraved Designs — Desenhos gravados na pasta.
Ewer — Gomil. — I —
— F — ludion China — Ou indiac Porceiain ou ladian China Ciass,
“louça da fadia”, somente aplicável na Inglaterra para os
Faiance — Faiança, tipos de exportação da China para o Ocidente,
Featbcr-Edge — Borda com desenhos representando penas, índia Ware — Termo usado na Inglaterra — sinónimo de
rnuílo usada pelos ceramistas ingleses e franceses, desde Indian China no sic. XVIII, para designar a louça
o scc. XVIIL importada da China — louça da índia,
Feldspar Porcclain — Porcelana incluindo rocha feldspática Isinid décoration — Usado nos ladrilhos e azulejos medievais,
fabricada por íosiah Spode em 1820. processo retomado no período Victoriano: argilas compri­
Ftange — Borda de vaso. midas ou incrustadas no corpo do azulejo (vide cncauslie).
Fiat Top >— Tampa achatada ou plana. Ironstnne — Louça tipo granito ou “granité China".
Flint — Uma forma de sílica que constitui um dos ingredientes
da faiança fina inglesa (crcam colourcd ware), também
quartzo. — 3 —
Floor Tiles —- Ladrilhos.
Floiter Basket — Cesta de flores, motivo que corresponde no Japanese Ware — A cerâmica japonesa, de grande mérito,
folclore chinês, a um dos símbolos ou emblemas dos usava também o grés, havendo fábricas famosas que
Oito Imortais do Taoísmo — seita religiosa — A Religião manufaturavam fina louça de barro e faiança fina (crcam
Suprema — fundada na China no sée. VI antes de Cristo coloured ware) como Saisuma, e porcelana dc primeira
por Lao Tseu (Bouiltet, M, N. Dictionnaire "Universal, as fábricas de Arita, Kutani, Hizen, Imari, Hirato. Não só
1872, Paris>. Motivo amplamente copiado na cerâmica a China copiou diversos modelos japoneses como também
japonesa e holandesa. a Europa, Holanda, Alemanha e Inglaterra, cm particular
Food C arritr — Marmita, inspirada cm modelos chineses c de Imari, Kutani e Kaltiemon.
japoneses. J*r — Jarro — pode ter várias formas, a oviforme corresponde
Foot-rim — O anel de base das peças cerâmicas, frete, “stand". ao boiãe.
"basal ring". Jasper — Louça fina contendo 50 % de sulfato de bário de
Frit — Frita, mistura de diversos materiais que servem para pasta dura de finos pigmentos, às vezes ligeirametUc
obter um produto que se assemelha com a pasta da translúcida, sem glasuras, introduzida no comércio por
porcelana artificiai, Jost3h Wedgwood cm 1774, classificada como grés fino,
Fruit Basket — Fruteira. e ás vezes também como porcelana artificial. De 1785
em diante foi muito copiada na Inglaterra, França (Sèvres)
c Alemanha. Sofriu um só cozimento em geral e algumas
— G — peças dc uso eram vidradas no interior (segundo cozi­
mento). Muito usadas para o fabrico de vasos, placas,
Gartlen Scats — Tamboretes, cilíndricos ou poligonais, feitos botões, camafeus, medalhões c ornamentos de móveis,
de grés ou ric porcelana a partir da dinastia Ming, deco­ A decoração em geral era sobre fundo de cor uniforme
rados em azul sob o vidrado ou cotn esmaltes poiicromos, lilás, azui, verde claro, amarelo ou preto (sem ser Black
bastante exportados t ainda fabricados. Na China são Basait ware) relevos brancos.
mais de uso externo nos jardins do que no interior das Jng .— Cântaro, caneca, bilha, moringa.
casas.
Gílding — Dou ração,
Ginger Jnr — Jarro, feitio de botão. — K —

Glaz.e —- Glasura, vidrado.


Gobkts — Fr. (gobelet) copo. Kcltlc ■— Chaleira, bule de chá,
Gombrom ware — O porto dc Gombrom fica defronte a “Kraák Purstlryn” — Designação dada pelos holandeses para
Ormuz (antigo entreposto e feitoria lusitana) no golfo os produtos azul e branco do período de Wan-LÍ que
Persa, foi o primeiro posto aberto para a Companhia das eram transportados pelas carracas lusas, várias das quais,
índias Orientais Inglesas c nesse local os artigos da índia entre cias a Santa Catarina e a Santiago, foram capturadas
e da China eram trocados pelos da Europa, e a louça no começo do séc. XVII (1602) e levadas para Amsterdam
proveniente da China no começo foi chamada de 1— esse gênero de porcelana influenciou a ÍEiiauça holandesa
"Gombrom Ware", isto c, louça de Gombrom, nome do do sic. XVII,
porto. Existe também a versão dc que os persas, nos sécs,
XVJÍ e XVIII, exportavam louças vidradas imitando a — L—
porcelana chinesa pelu porlo de Gombrom (hoje Bandar
Abbas), Lacqucr — Charão.
Cotirilc - - Espécie de cantil (garrafa dc peregrino) abaulado Lavatory — Pia.
ou redondo. Leitd Glazc — Glasura de chumbo.
Grady ladles — Conchas de molho. Leiige — Borda do prato.
Ground -— Fundo da peça. Lip — Ourela.
Lowestoft - (Sulfoik-Inglaterra). É o nome dc pequena, mas
— H — interessante fábrica (1757 à 1802) de porcelana dura e
porcelana mole contendo cinzas de ossos em sim compo­
Handies — Alças. sição. Fabricava sobretudo serviços de mesa. No primeiro
Hand tumed whecl —- Roda ou torno de oleiro movimentada período sob o esmalte em azul, geralmente escuro, ou
apenas com as mãos. O Egito já a empregava 2.000 a.C. em tom de tinta quase preta. Empregava vários motivos,
Hard Paste Poreelahi — Porcelana dura. inclusive as "chinoiseries” . Aplicava também o “iransfer
“Hítusmalera" — Artesanato particular de decoradores inde- printing” cm azul sob coberta; as abas c cercaduras eram
pendentes na Alemanha, tanto na faiança como na adotadas de motivos chineses. A pintura pclicroma ern
porcelana. feita imitando a louça Companhia das índias (Chinesc
Harvthorn pattem — O mesmo que "Prunus PallEm”, ou seja, Export Porcclain). Serviços dc mesa com escudos e brasões
motivos de ameixas, usados a partir dc Kang-Hsi (1622- formam parte dc sua produção e parte de porcelanas
1720). chinesas armoriadas (Cta. das índias) são atribuídas
Hearlhen Ware — Termo usado para a louca dc barro não erroneamente, como sendo fabricadas em Lowestoft.
vitriticada (a terracota, a mníólica, a faiança, são Porcelana chinesa, chegava a Lowestoft em branco (como
variedades de “Hearlhen Ware"). na Holanda) para ser decorada na Europa, sendo no

714
See. XIX BISCUIT
B u s to d e D o m P e d r o I e I m p e r a t r i z D o n a A m é lia

516

5 17

Estes bustos, de exím ia fatura foram adquiridos em Paris em


1949, pe!o colecionador D jalm a da Fonseca Hermes, 0 Museu
Histórico Aracionai possui o busto de D om Pedro 1.
Coleção de Vva. Sebastião Ribeiro Loures.

555
e n ta n to rei a tiv a m e n te fá c il d istin g u ir as p eças fa b ric a d a s — R ■
—■
lo ta lm tn te etn L o w e sto ft e as im p o rta d a s d a C h in a e
d e c o ra d a s n a In g la te rr a . R e d p o rc e la in o u B e d C h in a — E ra o n o m e d a d o n o s sees.
L u s tre o r lu s te r — D e c o ra ç ã o c o m iris a çõ es m e tá lic a s. O s p e rsa s, X V II e X V I II p a r a o g rés v e rm e lh o n ã o v id ra d o (o c h a ­
os M o u ro s, o s E sp a n h ó is (M á la g a , V a lê n c ia e M a n izes) e os m a d o B o c c a ro w a re ) e a te r r a c o ta , f e ito s e m Y i-S h ín g n a
italia n o s, e m a is ta r d e o s in g leses p r in c ip a lm e n te , fiz e ra m C h in a c p a r a as im ita ç õ e s fe ita s n a E u ro p a c n o M é x ic o .
in te n so uso d esse p ro c e ss o . E x istem m u ita s v a rie d a d e s: o N a E u ro p a f ic a ra m fa m o s o s o s g ré s (stein euet) d e B d ttg e r
“ c o p p e r lu s tr e ” (b a se a d o n o c o b re), o “ g o ld lu s tr e ” n o l? q u a rte l d o sé c . X V III.
(d o u ra d o ), o “silv e r lu s tr e ” (im ita n d o st p ra ia ) e o “ rose R e lie f d e c o r a tio n — D e c o r a ç ã o e m re le v o .
lu s tre " (d e riv a d o d o o u ro ) e le. O B rasil im p o rto u lo u ç a R e tic u la te d w a re - L o u ç a f re ta d a (fra n c ê s -a jo tlre é ) v a sa d a .
c o m lu s tre n o sec. X IX , ta n to d a In g la te rr a c o m o da R ic e g ra in d e c o r a tio n — U s a d a n a d e c o r a ç ã o c h in e sa c o n sis­
F ra n ç a (S a rre g u e m ín e s), tin d o d e p e q u e n a s p e rfu ra ç õ e s f e ita s n o c o rp o d a peça,
c m f o r m a d e g rã o d e a r ro z c c o b e rta s co m a g la s u ra ,
— M — té c n ic a o riu n d a d a P é rs ia n o sé c . XVT1I.

M a n d a rin -ware — V id e " lo u ç a m a n d a r in " (g lo ssá rio e m


p o rtu g u ê s).
— S —
M a n u e lin o w a r e — N o m e d a d o p o r v á rio s c e ra m ó g ra fo s ,
S z là d e B ow l -—- 5 a la d e ira .
in clu siv e C la r e 1 c C o r b c iü e r p a r a a s p r im e ir a s p e ç a s
tra z id a s n o séc. X V I p e lo s p o rtu g u e s e s p a r a a E u ro p a S a lt C e lla r — S a leiro .
c o m o sím b o lo d e D . M a n u e l o u se ja c o m a e s fe ra a rm ila r. S a u c e b o a t — M o lh e ira .
S a u c e r d is k — P i re s c o n c a v a d o , A m a n e ira d o s p r a to s c h in eses
M a rb le d w a r e s — L o u ç a s m a r m o n z íid a s o lt m a rn io ria d a s —
c o m p õ e -se s o m e n ie d e “ b o tto m " o u " w e ll” (fu n d o ) e
S ão p ro d u z id a s c o m a m is tu ra d e a rg ila s d e d ife re n te s
“ sid e " o u “ ris e " (c a ld e ira ) e n a p a r te d e tr á s (b a c k ) de
c o re s, p ro c e sso c o n h e c id o d o s c e ra m is ta s tio O c id e n te e
" s ta n d " o u s a liê n c ia o n d e sc a s s e n ta o p ra to .
d o O rie n te e d o s R o m a n o s (1? sé c u lo ).
S c a llo p e d — G o m ila d o .
M a s o n 's Iro n s to n e — F á b r ic a f u n d a d a e m 17117 q u e fa b ric a v a
" S g r a fia to ” — D e c o r a ç ã o r is c a n d o o e n g o b e p a r a a p a r e c e r a
em q u a n tid a d e a lo u ç a p ó d e p e d ra e co m d e c o ra ç ã o em
o u tr a c o r d o f u n d o d a p e ç a f o rm a n d o d e s e n h o s.
g e ra l “ tra n s f e r -p r im in g '’. E x p o rto u b a s la n le p a r a o B rasil
Shape -—- Forma.
n o séc, X IX ,
S h a v in g d ish -—. P ra to d e b a r b e a r .
M é d id P o rc e la in -— (V id e g lo ss á rio em p o rtu g u ê s) P o rc e la n a
SiBi S c re e n —- L ite ra l: c o r tin a d e se d a . P ro c e sso a n tig o de
de M éd ici.
im p re ss ã o u s a d o p e lo s c h in e s e s e re to m a d o m o d e r n a m c n le .
M o sle m B l u e —- (A zu l m a o m e ta n o ) A zu l d e c o b a lto in tro d u z id o
S in o -P o rtu g u ê s W a r e — T e rm o u s a d o p e lo s in g le se s à s p e ç a s
n a C h in a n o sec, X V I p e lo s Á ra b e s ,
c h in e s a s fa b ric a d a s n o sé c. X V I e tra z id a s p e lo s p o r tu ­
M o u s ta c h e c u p — T ip o d e x íc a r a p a r a p ro te g e r o s b ig o d es,
g ueses p a r a a E u ro p a .
u sa d o n o p e río d o v ito ria n o e in tro d u z id o n o m e r c a d o p o r
S lip c o a tin g — C a p a d e e n g o b e , m u ito u s a d a n a “ m ezza-
H a rv e y A d a m s a n d C o m p a n y d e I^o n g to n — S ia fío rd s b iic .
-m a ió lic a ” o u lo u ç a e n g o b a d a .
M o ttle d — E s p o n ja d o .
M u ffle K iln — F o r n o d e m u f ia (b a ix a te m p e r a tu ra e b aix o Slip w a re — L o u ç a e m e n g o b e , c o n s isle n a c o lo c a ç ã o so b re
a lo u ç a d e b a n o d e m is tu r a s se m i-líq u id a s d e o u tr a s a rg ilas
e sm alte ).
( ta m b é m c h a m a d a s d e b a r b o íin a , " p a s tilla g e ” , p ro c e sso
M u g — J a rr o , p o te, ta ç a .
m u ito u s a d o n a A n tig u id a d e ) p a r a e s c o n d e r o f u n d o de
b a r ro d a p e ç a e s o b r e esse n o v o re v e stim e n to e ra m ap o sto s
— N —
os d e s e n h o s, o u cs gr a í it ados.
N a n k in C h in a — P o rc e la n a a zu l e b r a n c a c h in e sa , m u ito S lip en g o h e — E n g o b e .
e x p o rta d a no f im d o séc. X V I I I e n o X I X p e lo . p o rto d e S o a p S lo n e — (S te a tita ) P e d r a s a b ã o ta m b é m u sa d a c o m o in g re ­
N a n k in , d ie n te d a p o r c e la n a m o le e m n u m e r o s a s fá b ric a s inglesas
N a itk iu w a re s — L o u ç a s im p o rta d a s d e N a n k in , d o g e n ero (B risto l, W o r c e s te r, L iv e rp o o l, C a u g h e y , S w a n se a ) e ta m ­
d a c h a m a d a lo u ç a d e M a c a u c o m v a ria n te s n a E u ro p a . b ém e m d iv e rs a s fá b ric a s ita lia n a s . H o je já se fa b ric a
N a rg h ile — P e ç a g lo b u la r e p ir if o r m e c o m g a rg a lo a lto , p o rc e la n a d u r a à b ase d e ste a tita . S o a p sto n e é sin ô n im o
o rig in á rio d a P é rsia , b ic o la te ra l. d e S o a p ro c k .
NecJc — P e sc o ç o (g a rg a lo ) d a p e ç a . S o ft P a s te P o rc e la in — P o rc e la n a m o le , b r a n d a o u a rtific ia l.
S o u p P la te — P r a to d e so p a .
— O —
S o u p T u re e n — S o p e ira .
O p a q u e C h in a — O m e sm o q u e S to n e C h in a , p ó d e p e d ra . 5 p o d e (e Copeland) — F á b r ic a fu n d a d a p o r Jo sta lt S p o d c e
O x -b lo o d in o n o c ro in e s — M o n o c .ro m o s ch in e se s c o m a c o lo ­ c o n tin u a d a p o r s e u filh o d o m e s m o n o m e q ue e m 1779,
ra ç ã o c h a m a d a d e s a n g u e d e boi, m u ito u s a d a n o p e río d o a sso c io u -se a C o p e la n d ,
d e K a n g -h si. S ta n d — P a rte d q b a ix o d a p e ç a q u e se rv e d e a p o io (em geral
cm b isc u it).
— P —-
S ta n d s — T e m d o is s ig n ific a d o s : p a r te s a lie n te n o re v e rso do
P e a r S h a p e — P irifo rm e , p r a to e s o b re o q u a l e le se a s se n ta , e sig n ific a ta m b é m a
P ie c e rd w o rk — T ra b a lh o “ ítjo u ré " , p e rfu ra d o , v a s a d o , fen es- tra v e ss a p e q u e n a o u g ra n d e s o b re a q u al se a s se n ta m
tra d o . c e rta s p e ç a s n o b re s c o m o s o p e ira s , p ra to s c o b e rto s, etc.
P itc h e rs — J a rro s . S to n e C h in a — V a rie d a d e s c e râ m ic a s d o g ê n e ro d e lo u ç a p ó
P inte —• P ra to , d iv id e-se e m v á ria s p a rte s: b o rd e r o u rim , de p e d r a m e lh o r a d a s p o r S p o d e Lt, (1805) é u m a lo u ç a
ed g e , sid e o u rise, b o tto m o u w e lt, o u s e ja a b a , b o rd a , d u r a ( h a rd h e ftr th e n w a re ) te n d o a lg u m a s d a s q u a lid a d e s
c a ld e ira e f u n d o (a p a la v r a " d is h ” d e s ig n a p r a to s m a io re s d a p o r c e la n a a d o grés.
o u m e d a lh õ e s ). S to n e W a re G r é s ( “ b la c k b a s a lt" o u “ E g ip tia n B lac k " de
P la tte r — T ra v e s sa . W e d g w o o d , “ b r o w n a n d b u f f s to n e w a r e " de SpO de, etc.).
P o rr in g e r — E sc u d e la .
P ó tic h e — V a so b o ju d o c lá s sic o f ra n c ê s c o m ta m p a . S u g a r B o x — A ç u c a re iro ,
P o tte r — O leiro , S u p p e r S e t — C o n ju n to d e lo u ç a s d e ja n te s (a p a re lh o ).
P o tte r's W h e e l — R o d a d e o le iro . " S w a to w ” — P o rto c h in ê s q u e f o rn e c ia p o r c e la n a ta n to p a ra
P o tte ry — A p a la v ra a m ig a m e n te d e s ig n a v a q u a lq u e r c e râ m ic a , o O c id e n te , c o m o p a r a o J a p ã o e o m e rc a d o in te rn o ,
h o je é a p lic a d a p a r a d e s ig n a r o s a rtig o s d e b a r r o c o zid o p o ré m m a is r u d im e n ta r, ta n to d e p a s ta (m a is g ro ss a e m ais
e fa ia n ç a , s n ã o p a r a o g rés v itrtfic a d o e a p o rc e la n a tr a n s ­ p e sa d a ) c o m o d e d e s e n h o s m a is p rim itiv o s e m a z u l c b ra n c o
lú cid a e c h in e s a . e c o lo rid o s , a c re d ita -s c q u e s e u f a b ric o fo sse fe ito p a r te n a
P o w d e r B lu e o u p o w d e re d -b lu e — “ A z u l p u lv e riz a d o ” , u m fa ix a lito râ n e a e x tr e m o a s iá tic a — d a I n d o c h in a ã C o ré ia ,
fu n d o a zu l p ro d u z id o , e s p a rr a m a n d o o u s o p r a n d o o s p ig ­ p o ré m e x p o r ta d a s p e lo p o r to d e S w a to w , e ssa s p e ç a s e ra m
m e n to s a tra v é s d e u m tu b o f e c h a d o d e u m la d o co m gaze. d e u so n o B ra s il so b o n o m e d e " lo u ç a g ro ssa ” , se g u n d o
P ro c e ss o in v e n ta d o p e lo s ch in e se s (B ieu so u ffté ). se d e p re e n d e d o s re g is tro s c o lo n ia is . A re g iã o d e S w ato w
P u n c b D o w ! — P o n c h c ira . a in d a f a b ric a p o r c e la n a n a a tu a lid a d e .

715
— T — — V •—
T a b le w a re s — S e rv iç o s d e m esa. V a se i— V a s o .
T a n k a rd — C an eca. Y e fie ta b le d ish — L e g u m e ira .
T e a B a ttle — B u le d e ch á.
T e a P o t — B u le d e chá. — W —
T e a S ets — C o n ju n to d e chá.
T in G la z e d E a rth e n w a re o n T in G la z e d W a re — F a ia n ç a , W a re — T e m v á rio s sig n ific a d o s p o d e n d o d e s ig n a r g e n e ric a ­
ta m b é m c h a m a d a n a In g la te rr a d e D c lftw a rc o u E n g lis h m e n te v a s ilh a m e , lo u ç a o u c e râ m ic a . E x em p lo s:
D e lftw a re . C h íu e s c w a re — P o rc e la n a c h in e s a ;
T ile s — À z u le jo s. G o m b r o tn w .ire — P o rc e la n a d e G o m b ro m ;
T o b y ju g — C a n e c a (co m fig u ra s , etc.), p a r a to m a r c e rv e ja D ó lít v a r e — L o u ç a d e D c lf t fa ia n ç a ;
o u v in h o , c a n g irã o . E u r th e n w a re — L o u ç a d e b a r r o nfio v itrific a d a ;
Top - O m e s m o q u e “ c o v e r” , t a m p a d e ja r ro . S to n e w a re — G ré s;
T r a n s f e r o u T r a n s f e r P rin tin g — P ro c e sso d e tr a n s p o r ta r o s T ro n s to n c w a re — L o u ç a tip o g ra n ito .
d e s e n h o s p a r a o b isc u it c o m p a p é is im p re g n a d o s c o m u B o n e asll w a re — P o rc e la n a f o s f a ta d a (m o le ) o u “ lo u ç a
d e osso ” ;
tin ta d o s d e s e n h o s - - m is tu r a d o c o m Óleo q u e é o v e íc u lo
d e s sa tra n s fe rê n c ia — o s p a p é is e o ó leo d e s a p a re c e m n a T e a ta b le w a r e — L o u ç a d e ch á.
c o c ç ã o d e ix a n d o o s d e s e n h o s c as c o re s n a s peças. T r a ­ W a te r b o ttlé -— G a r r a f a d c á g u a , p o d e ta m b é m te r v á ria s
d u z -se p o r d e c a lq u e . , f o rm a s in c lu siv e a p ir if o r m e u s a d a n a P é rsia c p e lo s
M a o m e ta n o s .
T r a n s lu c e n t w a re — P o rc e la n a tra n slu z c n te : d iz-sc d a p o r c e ­
W e ll — ( B o tto m ) F u n d o d c u m a p e ç a , " b a s a l r iu g '1.
la n a c h in e s a o r n a m e n ta d a c o m fu ro s n a p a s ta re c o b e r to s
W ín e B rrttle — G a r r a f a d e v in h o .
a p e n a s p e la g la sitra , o q u e a d e ix a c m p a r te tr a n s p a r e n te .
T r a y — B a n d e ja . W in e P o t — P o te d e v in h o ,
Y i-S h in g -W a re — P a s ta d e g ré s m a r r o m , a v e rm e lh a d a o u p re ta
T re llis -— T ra n ç a d o n a d e c o ra ç ã o .
d e se rv iç o s d e c h á m u ito p o p u la r n a E u ro p a e f in a m e n ie
I iir e e n a n d c o v e r — T e r r in a c o m ta m p a . d e c o r a d a co m b a ix o e a lto re le v o e p r o fu s a m e n te c o p ia d a
T u re e n a n d s ta n d — T e rr in a e tra v e ss a d e b a ix o (p ré s c n to ir). n o O c id e n te , ta n to n a I n g la te rr a (E le rs) c o m o n a A le m a n h a
T u rn ta b le — M e s a o u to m o d e o le ir o q u e so m o v im e n ta c o m (B ò ltg e r). É ta m b é m c h a m a d a d e " B o c c a ro w a re ” , R ed
os p é s e as m ão s. P o rc e la ín o u R e d C h in a .

716
TERM O S E M FRAN C ÊS

(Perfil de Pratos)

e.nvnà.6 o M h lo X z - p tc u t

fiaccond ou
fa o s i d u A Z - m a J i & t esc/ adio, - m a KtÃ
b o s td ijJ ic i n i & A i c u A z
- bcLáÁÍVL„

ta Z o n
fizvejiA
— A — B o rd P o ly lo b é — B o rd o r e c o r ta d o d e p r a to o u tra v e ss a , poli-
lo b a d o .
A ig u iè re — G o m il. B o u rd a lo u e — U rin o l coCn ta m p a p a r a se n h o ra s .
A ile — A b a d e p r a to . B o r d u r e (m a rlí) A b a , b o rd a .
A lh a rc l — A Jb arelIo . B o rd u re in té r ie u re — C a ld e ir a d o p r a to o u d a tra v e s s a , lam -
A n se — A lç a . b ém c h a m a d a d e “ r a c c o r d 1'.
A rg ile — A rg ila . B o u g e o ir — C a stiç a l.
A rtis a n — A rte sã o . B o u q u e tiè re s — F lo re ira s .
A s sie tte (p la te ) — P ra to (raso ). B o u te ille — G a r r a f a .
A ssie tte à d e s se rt — P ra to d e so b re m e sa . B riq u e — ■ T ijo lo (A p a la v r a p ro v ê m d o c e lta bric).
A s sie tte à p o ta g e (cre u se ) — P ra to d e s o p a (fu n d o ). B ro c — J a r rai
A te lie r — O fic in a . B r u le - p a rf u m í — Q u e im a d o r d e p e rfu m e s , d e fu m a d o r.

— B — — C —

B a n o e te — T ra v e s s a (ta b u le iro ) d e c e râ m ic a c o m alças. C a c h e t-p o t — V a so d e c e r â m ic a o n d e se c o lo c a m p o te s d e


B a rb e a u x — D e c o ra ç ã o d e espigas e stilizad a s d e trig o m u ito
p la n ta s .
u s a d a e m S èv res c em o u tr a s m a n u f a tu ra s fra n c e s a s e
C a b a re t — T e rm o e m p re g a d o p a r a d e s ig n a r u m jo g o d e p o r ­
in g lesa s. c e la n a p a r a c h á o u c a f é c o m b a n d e ja . U m se rv iç o p a r a
B ar b u tin e — E n gobe. u m a p e sso a e r a c h a m a d o d e “ s o lita ire " e p a r a d u a s " tc lé
B as re lie fs — B aixo relev o s,
à te tê ” .
B a ssin — D iz-se d a p a r te fu n d a d o p r a to o u d a p eç a , b acia. C a fe tiè re -— C a fe te ira .
Bassin de b a rb ie r — B a c ia c o m re e n trâ n c ia p a r a fa z e r a b a rb a C a illo u ta g e — O m e sm o q u e f a ia n ç a f in a in g le sa ( te rr e de
o u sa n g ria . p ip e ) “ íe r ra g lia " .
B ecs — Bicos. C a m a ïe u — G ê n e r o d e d e c o r a ç ã o d e a s su n to s h is tó ric o s o u
S lelaruiine ■ — T ip o de ja r ro em g rés p ro d u z id o n a I n g la te rra m ito ló g ic o s d e c o r ú n ic a s o b re fu n d o s b ra n c o s , c h a m a d a
(séc. X V II) c n a re g iã o d o R e n o p a r a v in h o , te n d o n a ta m b é m d e p a s ta m o n o c r o m a o u “ g risa ille ” .
fre n te m o ld a d a n a p a s ta , u m a m á s c a ra c o m b a r b a , fa b ri­ C a n n e lle — C a n e c a d e c e rv e ja c o m ta m p a de metall.
c a d o À p a r tir d o séc. X V . O n o m e , se g u n d o c o n s ta , p r o ­ C a rlin — P e q u e n o c a c h o r r o c o m f o c in h o a c h a ta d o , p ê lo ra s o ,
vêm d o C a rd e a l R o b e rto Be! a r m in o , q u e se o p ô s à R e fo r­ m u ito re p ro d u z id o n a c e r â m ic a c h in e s a .
m a n o s p a ís e s p ro te sta n te s . C a rr e a u — (D e c a rré : q u a d r a d o ) A z u le jo o u la d r ilh o d e arg ila
R é rd ü e r »— P ia d e á g u a b e n ta . o u d e tijo lo , o u d e p e d r a c a lc á r e a o u d e m á rm o re , ta m ­
B e rn a rd D e P a ü ss y — U m d o s m a io re s, se n ã o o m a io r c e ra ­ bém c h a m a d o “ c a r r e a u d e re v ê te m e n t” m u ito u s a d o n a
m ista d a F ra n ç a , N a sc e u p e rto d e A g e n em 1500 o u F r a n ç a e n tr e os se cs. X I I e X V i e m re sid ê n c ia s , p a lá c io s
1515. E ra p in to r de v id ro . C a ta rin a d e M íd íe is e m 1366 e c a p e la s (v id ra d o ).
e n c o m e n d o u a g ru ta fa m o sa d a s T u ile rie s . A s su a s c e râ ­ C a rre la g e — P iso la d rilh a d o .
m icas s ã o o b r a d e técn ico e sá b io . C h e g a v a à m o ld a g e m C a rr e le u r s —- O p e r á r io s q u e c o lo c a m o s “ c a rr e a u x " d e arg ila
d ir e ta d e ré p te is e d e p la n ta s . T a m b é m fe z c estas, p ra to s, (a z u le jo o u la d rilh o ). O s q u e c o lo c a m o s “ q u a d ra d o s ” de
m e d a lh õ e s, cen as m ito ló g ic a s, etc. C rio u o te rm o “ figu- m á rm o re o u efe p e d r a s ã o c h a m a d o s d e m a rm o ris ta s .
lin c s ru stiq u e s " p a ra d e sig n a r o s o b je to s v id ra d o s e m relev o , C a rto u c h e — R e serv a.
p o r ele fa b ric a d o s. C a s s a it te — V a s o c o b e rto p a r a q u e im a r p e r fu m e e essê n c ia s,
B e u rrie rs — M a m e g u e ira s . te n d o fu ro s n a ta m p a o u n a p a r le s u p e rio r.
B ib e lo ts — O b je to s d e e n fe ite (capeei ai id ad e d e J a c o b P etit). C é ra m iq u e — D o g re g o K é ra m o s — te r r a d e o le iro s ; n o m e d a d o
BPdcl — Bidê. à a r te q u e te m p o r o b je to a fa b ric a ç ã o d a lo u ç a , fa ia n ç a s
B iscu it — " B is c u it" (v id e 1? c a p ítu lo ). e p o rc e la n a s c o n s id e ra d a s em g e ra l (v id e g lo ssá rio em
B iscu it é m a illé — G â h e ro de d e c o ra ç ã o c h in e s a d e g ran d e p o rtu g u ê s).
e fe ito c sim p licid ad e, fe ita em fo g o a lto c o m p o u c a s c o res, C b a tn b rc h m ( H a u s m a le r) — D e c o ra d o re s q u e c o m p ra v a m a
e m g e ra l m o n o c ro m a d a s. d eix a n d o às v ezes p a rle d a p eça p o r c e la n a e rn b r a n c o d a s fá b ric a s e as p in ta v a m . D e c o ra ­
em b isc u it (c o m o a c a b e ç a , o ro sto , p e rn a s e b ra ç o s q u a n ­ d o re s in d e p e n d e n te s .
d o se tr a ta d e e s ta tu e ta s), p e ç a s essas d e ftib iíc o d esd e C h a n d e lie r — - C a n d e la b ro .
C h e n g -T i c s o b re tu d o K an g -H si, q u e a p lic o u o p ro cesso C b a tir o n n é — P ro c e s s o m u ito e m v o g a n a F ra n ç a e ta m b é m na
nos F o -D o g s, A té re c e n te m e n te e r a m o s " b is c u its é m a illé s" H o la n d a o n d e é c h a m a d o rie " I re k " , p a r a c o n to r n a r os
a in d a co p iad o s, d a d o o seu a g ra d o . d e s e n h o s c o m u m file te e s c u ro e assim d a r-lh e s n ia is p re c i­
B lan c d e C h in e — P o rc e la n a b r a n c a v id ra d a (e m g e ra l n ã o sã o e n itid e z . E ste p ro c e s s o já e r a U sado n o p e río d o m o u ­
p in ta d a ) fe ita em T ê -h u a n a p ro v ín c ia c h in e sa d e F u k ie n risc o e m C ó r d o b a , p e lo s m u ç u lm a n o s .
e p ro fu s a m e n te im p o rta d a n a E u ro p a n o sée. X V J1L F o i C h in o is e rie ■— G ê n e ro d e d e c o ra ç ã o , in sp ira d o n o s d e se n h o s e
m u ito c o p ia d o o g ê n e ro (S a in t-C lo u d , M e tm e c y , C h a n tilly , m o tiv o s c h in e se s.
Y in ccn n es, M e isse n , B ow e B u cn R e tiro ). O v id ra d o é C h a p e o u p n t à b iè re — C a n e c a d e c e rv eja,
grosso , ric o e u n tu o so . C o l — G a rg a lo .
B leu d e S èv res -- A z u l celeste, o u a zu l n o v o d e Sèvres. C o lo m b in — ■ C ilin d r o d e b a r ro c o m q u e sc m o n ta v a m p eças
B leu d u r o i o u b le u ro y a l — A z u l u ltra m a rin o (e sc u ro ) in v e n ­ c e râ m ic a s p rim itiv a m e n te (tn d io s , etc,).
ta d o p o r S èv res e d e m u ito u so e m v a s o s o rn a m e n ta is, C o n s o le d 'a p p liq u e — P c a n h a .
fru te ira s , a b a s de p r a to s , etc. C o q u ille d ’o e u f — C a s c a d e o v o (p o rc e la n a d e e x tre m a fin u ra ).
[tien d u f o u r — A z u l q u a s e p re to q u e a c o n te c e q u a n d o a te m ­ C o rb e ille -— C e sta .
p e r a tu ra d a f o rn a d a n ã o é b em re g u la d a , é c o n s id e ra d o C o u v e rte — C o b e rta (v id e g lo ssá rio em p o rtu g u ê s).
c o m o d e fe ito . . C r a c h o ir — E s c a rra d e ira .
B leu M a z a rin o u g ro s b le u — A z u l e s c u ro u s a d o n a d e c o ra ç ã o C ra q u e lé , c r a q u e lu r e — T é c n ic a de e s ta la r o v id ra d o c o m o efe ito
d a p o rc e la n a , m a is d o q u e n a lo u ç a , o n o m e é a trib u íd o d e d e c o ra ç ã o u sa n d o te m p e r a tu ra s d ife re n te s p a r a o cozi­
ao C a rd e a l Jú lio M a z a rin o (1 6 0 2 -1 6 6 1 ) o u à D u q u e s a de m e n to d o c o r p o e d o v id ra d o d a p e ç a . T é c n ic a in v e n ta d a
M a z z a rin , f a le c id a e m 1699, p e lo s c h in e s e s n o p rin c íp io d a d in a s tia S u n g (960*1280)
B leu S o u fflé — T e rm o m u ito e m p re g a d o , a zu l so p ra d o (e m e m K u a n ; v o lto u à m o d a n o sé c . X V III n a s c ó p ia s das
in g lês “p o w d c r b lu e ” ) m u ito em. u so n a p o r c e la n a ch in esa. p e ç a s d e S u n g . T e m d ife re n te s tip o s: g a r ra d e c a ra n g u e jo s
B leu T u rq u o is e — A zu l tu rq u e s a (1 7 5 2 ), c o r fa m o sa d e Sèvres. (c ia b -e ía w ) c o m p o u c a s é la rg a s r a c h a s , a d e gelo “ p a r tid o ”
B o c h e t F rè re s (M a u b e u g e ) — F á b r ic a a n tig a f ra n c e s a q u e c o m ra c h a s m e n o r e s e m a is ju n ta s e a “ tru ité ” c o m e s c a ­
e x p o rto u lo u ça p a r a o Brasil n o séc. X I X e c o m e ç o d o m a s m ín im a s d e p e ix e ju n ta d a s la d o a la d o .
séc, X X , lig a d a k V ille roy &. Boch. C ru c h e — l a r r a .
B ois vein é — Im ita ç ã o p in ta d a n a c e râ m ic a d e m a d e ir a v eiad a. C u is so n — C o z im e n to .
B o ite à c o u te a u x — C a ix a d e g u a r d a r fa c a s . C u v e tte — B a c ia .
B o ite à ép ic e s — C a ix a d e g u a r d a r e sp e c ia ria s.
B o ite s — C a ix a s. — D —
Boi T ig e la .
Bol à b o u illo n a v e c s o a c o u v e rc le — T ig e la d e c a ld o co m D e c a lc a m a n ie — P ro c e s s o in v e n ta d o pelos in g le se s ( tra n s fe r-
su a ta m p a . -p rin tin g ), d e c a lq u e .

719
D e c o r à gu iria fit! es — D e c o ra ç ã o d c festõ e s m a is u s a d a em G r a n d f e u — D iz-sfl d o s fo rn o s d e a lta te m p e r a tu ra q u e c o z e m
M o u s tte rs m u ito e m v o g a n o séc. X V i n , ta n to n a c e rã - a p o r c e la n a e o u tr a s c e râ m ic a s e fu n d e m d e te rm in a d o s
. m ic a o c id e n ta l c o m o n a c h in e s a d e e x p o rta ç ã o . e s m a lte s.
D é c o r à la c o rn e oti n u c o ru e t — D e c o ra ç ã o m u ito u s a d a n a G ris a ille — P in tu ra c in z e n ta d e u m a só c o r, im ita n d o b a ix o
Id a d e M é d ia p a r a p in ta r p in g o s re d o n d o s, lin h a s e p a l a ­ r e le v o e n ã o re p ro d u z in d o , se n ã o o c la r o e o e s c u ro (d o n d e
v ra s u sa n d o o s a p a r e lh o s d c c o n fe ite iro s (b ico s, c a n ó p lia s , o n o m e c h ia ro s c u ro q u e lh e d e u a Itá lia ), (M . N . B o u illet,
bisnagas}. ob. d l ) .
D é c o r n u P u c b o ir — O m e s m o q u e “ d é c o r au p o n c ís " ; estê n c il - H —
(m á s c a ra ) c o m o u so d e b o n e c a d e c a rv ã o o u p o lv ilh o .
D é c o r in c b é — D e c o ra ç ã o in cisa. H a u s m a le r — T ra d u ç ã o lite ra l: “ p in to r e m c a s a " , a rtis ta que
D é c o r P e rsa n — D e c o ra ç ã o p e r s a q u e co n siste c m r a m o s d c a d q u ir ia a lo ú ç a e m b ra n c o e a d e c o ra v a e m se u a teliê,
flo re s , tu lip a s , ja c in to s, n a rc is o s e m a rg a rid a s c o m p á s sa ro s. ( C h a m brelan)'.
D is q u e — M e d a lh ã o . H u ilie r — G a lh e te iro .
D o r u re — D o u ra ç ã o .
D o u b le -g o u rd e — P e ç a c e râ m ic a q u e le m b ra o f o rm a to d e u m a
c a b a ç a e assim é c h a m a d a " b o jo -d u p lo ” , “ d u p la p a n ç a ” , J a tte — V a s o re d o n d o e se m re b o rd o . D ie t, U n iv . d e I a lan g u e
c o m p o s ta d c d o is c o rp o s g lo b u la re s su p e rp o s to s o u lig a ­ F ra n ç o is e , 2 è m e c d ., P a ris — P .C .V . Fioíste, 1803.
d o s, N o p e río d o d e K a n g -H si fo ra m fa b ric a d a s m u ita s
J a c o b P e tit — C e ra m is ta b rilh a n te e e x ím io m o d e la d o r. D is­
p e ç a s d esse fo rm a to .
tin g u e -se p o r u m s o p r o d e fa n ta s ia e m o v im e n to cm o p o ­
— E — siç ã o à rig id e z e s e v e rid a d e d o E stilo Im p é rio , im p rim in d o
à s s u a s p e ç a s unv c a r á te r q u a s e d c o u riv e s a ria . P etit c rio u
F c la fs — D iz-se e m c e râ m ic a de. la s c a s na p eça u m e s tilo q u e se b a s e o u n u s It a d iç õ e s, já a n u n c ia n d o o
É c u e lle — E sc u d e la ; m a lg a b a ix a c o m a lç a s la te ra is. r o m a n tis m o em s u a s p ro d u ç õ e s ; n ã o se in te re ss o u p o r b a i­
E m a il — E s m a lte . x e la s, a n ã o s e r p o r “ lésé à te tc ” e “ s o lita ire s ” , em c o m ­
É m a iíia g e n u tre n ip c — E s m a lta ç ã o d a p e ç a m e rg u lh a n d o -a n o p e n s a ç ã o p r o d u z ia p eças a v u lsa s, re ló g io s, c a s tiç a is, vasos
liq u id o . e m e s tilo ro c o c ó . S u a p o r c e la n a é b o a , o v id ra d o b rilh a n te ,
É m a u x c lo iso n n e s — E sm a lte s s e p a ra d o s n a p e ç a e q u e n ã o a s c o re s su a v e s e b e m a p lic a d a s . F o i o r e p re s e n ta n te m ais
se m istu ra m a p ó s o c o ai m en to, p e r fe ito d o s “ b ib e lo ts " c p r e c u r s o r d a p o rc e la n a c o n te m ­
E n c rie r — T in te iro , p o r â n e a , M a n tin h a c m 1S30 s u a fá b ric a c m F o n ta in e b le a u
E n g o b e — E n g o b e , b a rb o tin a . e e m 1834 fix o u -s e e m B e lle V ïlîe.
J a rd in iè r e — Ja rd in e ira .
— F —
F a ç o m ia g e — M o d e la g e m m a n u a l. — K —
F a ie n c e — F a ia n ç a ,
F a ie n c e fin e — T a m b é m c h a m a d a p e lo s fra n c e se s d e “ fa ie n c e K a o lin — - C a u lim ( n a F ra n ç a o p rim e iro c a u lim foi d e s c o b e rlo
fin e a n g la is e ” o u " te r r e de p ip e ” e p e lo s in g lese s d e e m S a in í-Y rie u x , p e r to d e L im o g es) c m 1796, p o r M m e.
“ c r e a m -c o lo u red w a re " o u “ Q u e e n ’s w a r e ” (W e d g w o o d ) D a r n e l, m u lh e r d e u m c iru rg iã o , q u e se in te re sso u em
o u a in d a d c “w h ite e a rth e n w a re " ; é c o m p o s ta d e u m a m a n d a r e x a m in a r, p e n s a n d o q u e se rv isse p a r a fa z e r sa b ã o .
a rg ila m a is a lv a e d e a r e ia fin a , ele . e n ã o le m n e c e s s i­
d a d e d e se r c o b e rta d e e s m a lte o p a c o o u d e u m en g o b e
c o m o a c o n te c e c o m a f a ia n ç a clá ssic a ; b a s ta u m a g la su rn
L a m b re q u in — D e c o ra ç ã o d e festõ es p e n d e n te s.
tra n s p a re n te s o b re a p a s ta b r a n c a , É co z id a a te m p e r a tu ra
L a v a b o — P ia , la v a n d a .
m a is e le v a d a d o q u e a fa ia n ç a v e rd a d e ira . N a re a lid a d e
L é g u m ie r — L c g u m e ira .
re p re s e n ta o q u e é c h a m a d o d e f r ita o u se ja , m is tu r a s de
L im o g e s — ■ V ide te x to d o 2o c a p itu lo “ P o rc e la n a s O c id e n ta is " .
a rg ila s c o u tro s in g re d ie n te s p a r a f o r m a r a p a s ta .
L tth ó c é ra m e — O m e sm o q u e grés.
F a ie n c e p a trio tiq u e — F a ia n ç a r e p re s e n ta n d o a le g o ria s, cen a s,
fig u ra s , b a n d e ira s e d iz e re s d e o rd e m h istó ric a .
— M —
F ê liire - f ile — P e q u e n a tr in c a n a p e ç a c e râ m ic a c o n h e c id a
a q u i p elo s c o le c io n a d o re s p o r “ c a b e io ” . M a g o t — F ig u ra s g ro te sc a s feilas tia C h in a , cm p o rc e la n a e
E cu d e n u m f it — D iz-se d o s f o m o s d e b a ix a te m p e r a tu r a p a ra o u tr o s m a te ria is (a p a la v ra d e s ig n a ta m b é m m acaco),
c o z e r d e te r m in a d a s c e râ m ic a s e f u n d ir d e te rm in a d o s M a jo ltq u e — M a ió lic a , fa ia n ç a .
e sm a lte s. M a rb r é — M a rm o riz a d o o u m a rm o ria d o .
Figti litre — T e rm o e m p re g a d o p o r B e rn a rd d e P aJissy n o séc. M a rli — A b a , b o rd a , listei.
X V I p a r a d e s ig n a r a s su a s lo u ç a s c o m o o b je to s, c o b ra s , M a rli d e n te lé — B o rd a d e n te a d a .
la g a rto s, p e ix es, c a ra n g u e jo s , etc., c o p ia d o s d o n a tu r a l e M a rs e ille — C e n tr o p r o d u to r d c b o a c e râ m ic a , e m 1765 f a b r i­
co b e rio s c o m g las u ras c o lo rid a s . D e p o is o te r m o “ fig n lin c ” c o u p o r c e la n a e a n te s e d e p o is e x c e le n te f a ia n ç a d e fo g o
p a sso u a se r e m p re g a d o p a r a a s o b ra s d o m e s m o g ê n e ro . d e m u fla ; e x p o rto u p a r a o B rasil m u ito s dos se u s p ro d u to s
F ig u rin e - - F ig u ra s, n o séc. X IX , s o b re tu d o te lh a s p a r a S ão P a u lo de v á ria s
F ile ta g e s — F ilc ta g e n s. f á b ric a s ,
F la m b e a u — T o c h e iro , M a s c a ro n s — C a rr a n c a s .
F o n d a n ls — F u n d e n te s . M a s tic — S ão c h a m a d a s a s fa ia n ç a s c u ja d e c o ra ç ã o s e c o m p õ e
F o n ta in e c l c u v e tte — F o n te e b a c ia . d e e s m a lte s o p a c o s e tra n s p a r e n te s s e p a ra d o s e n tr e si.
F o n ta in e e t so n b a ssin — F o n te ( c o n ju n to d e r e s e r v a tó r io de " M e z z a -m a ió lic a " — T e r r a c o ta re v e stid a d e um e n g o b e c o m
á g u a e b a c ia ). m is tu r a d e a rg ila s e ó x id o d c c h u m b o , p ro c e sso m u ito a n t i ­
F 'o u r — F o rn o . g o j á u sa d o p e lo s ro m a n o s ; e x is te m v á ria s fó rm u la s , v a ria m
F o u r à re v e rb e re — F o rn o d e “m u f la ” ( b a ix a te m p e r a tu ra ) . c o n f o rm e a s re g iõ e s.
F o u r n ia in tr a u x — F á b r ic a f ra n c e s a q u e n o sec. X IX , m u ito M o u le — M o ld e ,
e x p o r to u a z u le jo s p a r a o B ra s il. A in d a fu n c io n a c o m o g r a n ­
d e e m p re sa , corn a z u le jo s m o d e rn o s e c ó p ia d e a n tig o s. — P —
F ria b le — F riá v e l, q u e b ra d iç o .
P a u s e — A p a r te b o ju d a d a p e ç a .
F ritte — ( D o la tim frig e r e - fr ita r) P a s ta jã c o z id a u m a vez, frita . P e n d u le s — R e ló g io s d e a d o r q o e m c e râ m ic a , cm g eral c o lo ­
T e m o sig n ific a d o tie u m a c o m p o s iç ã o d e v á rio s m a te ria is, c a d o s o b r e m ó v e is e la r e ira s .
in c lu siv e q u a rtz o p a r a a p r e p a r a ç ã o d a p a s ta ; a p o rc e la n a P ic h e ts — V a s o s c o m a lç a s p a r a v in h o .
d c M ediei £ c o n s id e ra d a u m a f r ita (M u s e u I n te rn a tio n a le
F ié d m ic h e — P e d e s ta l, b a s e d e c e r â m ic a fe ita ju n to c o m a
d e F a e n z a — Itá lia ).
p e ç a (m o lh e ira s c o m se u p r a to c o la d a ).
P la q u e e x -v o to — P la c a (e m c e râ m ic a ) dc ex -v o to .
— G —
P la t — P ra to , c o m p õ e -se d e trê s p a rte s : b a ssin -fu n d o ; r a c c o r d -
G la ç u re — G la s u ra , v id ra d o , c o b e rta . -c a ld e ira , a ile -a b a (c a t. E x p . S èv re s, 3 S e te m b ro , 1973).
G o b e te t — P e q u e n o c o p o . P ia l à c a h o te — P r a to c o v o , p r a to a tig e la d o , tip o c h in é s,
G o tilo t — G a rg a lo . se n t a b a .
G o u r d e — E sp écie d e c a n til e m c e râ m ic a , te n d o às v ezes fo rm a ­ P la t à b a r b e — T ra v e s s a f u n d a c o m r e e n trâ n c ia c irc u la r p a ra
to g lo b u la r; g a rra fa d e p e re g rin o . o pescoço.

720
P la í o v a le avcc íg o u f lo ir — T ra v e s s a o v a l à q u a l se so b rep õ e — R —
u m a p e ç a p e r fu r a d a so b re a q u a l se c o lo c a o p eix e, escor- R e b o rd — B o rd a .
ro n d o o m o lh o n a p a rte in fe rio r d a tra v e ssa ; n o in v e n tá rio R in c e a u x R am ag en s.
d o P a ç o d e S ã o C ristó v ã o d e 1855, c o n s ta m " p r a to s , t r a ­ R o se P o m p a d o u r — T o m d e r o s a (s e g u n d a m e ta d e d o séc.
v e s sa s c o m ra lo s e p e ix e ira s e d o is ra lo s " . X V I II ) , d e s c o b e rto p e la m a n u f a tu r a d e S è v re s, ta m b é m
P la te a u -— T ra v e s sa . c o n h e c id o c o m o "R o se D u b a r ry " , vide g lo ssá rio ern
p o rtu g u ê s .
P lo m u re — T e rm o a rc a ic o p a r a g lasu rp .
R o u g e d e f e r (ro u g e c o ra il) -— D e c o ra ç ã o a v e rm e lh o fe rro ,
P o ig n é e d e c a n n e — C a b o d e b e n g a la . m u ito u s a d a n o sé c. X V I II (v e rm e lh o fe rru g e m ) n a p o r ­
P o m m e a u — P e g a d a p e ç a , p a rte su p e rio r d a so p e ira , p e g a ­ c e la n a c h in e s a .
d o r, e tc . R o u le a u , v a s e r o u le a u — R o lo , v a so c ilín d ric o .
P o n i i f — F o l h a c o m o tr a ç a d o d a c o m p o s iç ã o c u ja s lin h a s são
p e r fu r a d a s e so b re a q u a l é a p lic a d a u m a b o n e c a c o n te n d o — S —
p ó p r e to ; se rv e p a r a o d e c o ra d o r s itu a r seu d e s e n h o . E stê n ­ S a liè re — S a le iro .
cil, m á s c a ra , fa n ta sm a . S a rre g u e m in e s — F á b r ic a f ra n c e s a n a A lsá e ia — F r a n ç a . Im ­
P o n c is ( p o n â f , p o n d l ) — E stê n c il {vide g lo ssário e m p o rtu g u ê s). p o r ta n te c e n tr o d e p ro d u ç ã o d e f a ia n ç a fu n d a d a e m 1790
P o rc e la in c d e C h in e — C la ssific a ç ã o d a p o rc e la n a c h in e s a d e p o r P a u lo U tz s c h c n e id e r e m a n tid a a tra v é s d o séc. X IX
p r im e ir a q u a lid a d e (v id e g lo ssá rio e m p o rtu g u ê s). p o r s e u s d e s c e n d e n te s . P ro d u z ia v á rio s tipos d e c e râ m ic a ,
in c lu in d o ta m b é m f a ia n ç a f in a e g rés n o g ê n e ro d e W c d -
Poreelaine d e la C o m p a g titc d e s In d es — P o rc e la n a d a C ia . d as
g w o o d e lo u ç a - v id ra d a e " b o n e c h in a p o r e d a i n ” e “ lu s­
ín d ia s (vide g lo ssá rio e m p o rtu g u ê s).
tr e " n o se c . X I X , g rés im p é rio , fu n d o s c re m e e fig u ra s
P o rc c ln in c d e P a r ts — A ssim c h a m a d a a p ro d u ç ã o d e p o rce­ erri p r e to , f u n d o a z u l c o m fig u ra s c m b ra n c o . E x p o rto u
la n a d o s d iv e rso s ate liê s c fá b ric a s situ a d a s n a re g iã o de b a s ta n te p a r a o B rasil n o fim d o sec. X IX e p rim e iro
P a ris, q u e c o m e ç o u co m o a te liê d e M a rie M o re a u , a in d a q u a r t e l d o sé c . X X , in d u s iv e p r a to s co m v istas d e lo g ra ­
n o séc, X V III, q u e fo i a p rim e ira a f a b ric a r p o rc e la n a ciíí d o u ro s p ú b lic o s d e S ão P a u lo , efíg ie s d e p re sid e n te s d a
P a ris. D e m u ito s d e sse s a ic tté s , c o m o D a g o ty N a s l, R e p ú b lic a , e tc . (fa ia n ç a fin a ). F a b r ic o u ta m b é m a z u le jo s
D e n u c lle , D u c h c se d 'A iig o u lê m e , e tc ., tem o s e x e m p la re s c p a in é is d e e s tilo A rt-N o u v e a u (M u s e u d o s A z u le jo s —
n o Brasil, L isb o a ).
P o rc e la in c d u re — P o rc e la n a d u ra . S a u p o u d re u s e — P o lv ilh a d o r.
P o re e la in e te n d re iia tu rc lic — p o re e la in e p h o sp lia tiq u e — S e a u — B a ld e p a r a p ô r g a rra fa s .
P o rc e la n a m o le n a tu ra l in v e n ta d a p elo s c e ra m is ta s in g le ­ S erv ice b la s o n u é — A p a r e lh o b ra s o n a d o .
ses e in te rm e d iá ria ertire a p o rc e la n a d u r a c a a rtific ia l S erv ice d e d e je û n e r — S erv iço d e c h á o u d e c a f é (v e r C a ta ­
(m ole) c o n té m ossos c a lc in a d o s , a lé m d o c a u lim e fe ld s ­ lo g u e d e l’E x p o s itio n d e 1975 à S èvres, “ P o rc e la in e s de
p a to n a p a s ta , c o n h e c id a ta m b é m p o r p o rc e la n a fo sfá tic a S è v re s a u X IX s iè c le " , p â g . 19).
q u e m e lh o r a d a p o r S po d e, p o r v o lta d e 1799 e 1805, S e rv ic e d e ta b le ■— A p a r e lh o d e m ess.
p a s so u a c o n s titu ir Limo e s p e c ia lid a d e c e râ m ic a das m ais S o u c o u p e — P ire s.
u sa d a s n a In g la te rra . S o u d u re — S olda.
P o rc e la in c te n d re o u p atê te n d re — P o te e la n a m o le o u p asta S o u p iè rc o u te rrin e — S o u p d r a o u le rrin a .
b ra n d a . S o u s lasse — P ire s.
P o re e la in e V ieiix P a ris — é c o s tu m e n o B rasil, d e n o m in a r-s e S ta tu e tte s — E s ta tu e ta s .
assim as p o rc e la n a s d e c o ra d a s p o r ate liê s p a rtic u la re s de S u c rie r — A ç u c a re iro .
P a ris, q u e n ã o o s te n ta m m a rc a e m g e ra l f in a m e n te p in ta ­ S u rto u t d e ta b le — . C c n ir o d e m esa de lo u ç a (o u m é ta l),
d a s, às v ezes so m e n te a o u ro , a b ra n g e n d o o fim do séc.
X V III nté m e a d o s d o X IX , lim o g e s ta m b é m p ro d u z ia no
— T —
m e s m o g ê n e ro c u m o u se m m a rc a , c o m o se vê n o M useu T a b a tiè re — T a b a q u e ira .
lo c a l A drícri D tib o u c h c . T a lo n — F r e te de p ra to s o u tra v e ss a s.
S e g u n d o A u s c h e r, c ita d o p o r A n tó n io À v e lla r F e rn a n d e s, T a b o u r e t — T a m b o re te .
o estilo " V ie u x P a ris" c o n s istiria d e flo re s e s p a rs a s n a peça T asse — X íc a ra .
(flc u rs jetées) e d o u ra d o . T a s s e à b o u illo n —- T a ç a ou x íc a ra d e caldo.
T a ss e à g la c e — T a ç a p a ra so rv ete (n o se rv iç o d e C a ta rin a
P u rte -ru u n tre — P o rta re ló g io .
II d a R ú ssia , 1778, fe ito e m S èvres, c o n s ta m v arias).
P a r te -p a ra p lu ie — P o rta g u a rd a -c h u v a , em g eral d e fo rm a
T a s s e c o u v e rte — T a ç a c o b e rla .
c ilín d ric a .
T e in te — T o n a lid a d e .
P o t à c rè m e — C rc m e ira . T e rr e c u ite -— T e rr a c o ta ,
P o t à f a rd s — P o te d e c o sm é tic o s (as p eças ch in e sa s, le m b ra m T e rr e v e rn iss é e — Q u a n d o a te rra p o ro s a ê c o b e rta d ’u m a
u m a m a r m ita c o m v á ria s p e ç a s su p e rp o s ta s, co n te n d o cad a e u p a o u d e u n i v e rn iz tra n s p a re n te in c o lo r o u c o lo rid o ,
u m a, u rn a v a rie d a d e d e u n g u e n to s ). e la to m a o n o m e d e lo u ç a v id ra d a (E . S. A u sc h e r).
P o t à c a u e t e u v e ite — M o rin g a , b acia. T e rr in e p la te — P r a to c o b e rto .
P o t d e c h a m b re (sem ta m p a ) — U rin o l. T e tê à te té — Jo g o d e d u a s x íc a ra s, d o is p ire s e b a n d e ja
P ot à p o m m ad e — Pode de p om ada, p a r a ca sa i.
P o t à tire — B u le d e c h á, T h é iè re — B u le d e c h á .
P o te rie — (D e p o t = p o te ) E s ta p a la v ra d e sig n a a o m esm o T o u r à p o tie r — T o n lu de o le iro .
te m p o io d o v a so de a rg ila e a in d ú s tria d o o le iro . E sta T o u rn a g e — M o d e la g e m n o to rn o ,
in d ú s tria a b ra n g e a f a b ric a ç ã o d e to d a e sp écie d e v aso , T o n m e a u — . T o r n o c e râ m ic o .
v a s ilh a m e e u te n s ílio s fe ito s d è a rg ila e o u tro s m a te ria is T o u rn e u r — A r te s ã o q u e tr a b a lh a n o to rn o , to rn e iro .
(M . N , B o u illet, o b . c it.) lo u ç a o u lo iça. T re illis — T ra n ç a d o n a d e c o ra ç ã o .
T re m b le u s e — C o n ju n to d e x íc a r a e p ire s, c o n te n d o este u m a
P o te rie à p o tie r — T é c n ic a d e m o d e la r a p e ç a c o m o to rn o , a r m a ç ã o d e c e r â m ic a n o c e n tro p a r a a p o io d a x íc a ra (em
tr a b a lh o c o n ju g a d a d o s p és e d a s m ão s, e s p a n h o l m a n c e rin a ).
P o te rie a ii p a tm ic r — S in ó n im o d e " e o lo m b in ” , fo rm a p r im i­ T ru c a g e — C o n tr e f a ç ã o , fa lsific a ç ã o .
tiv a d e ir-se m o d e la n d o a p e ç a c o m c o rd õ e s cilín d rico s T u ile s — T e lh a s .
su p e rp o s to s d e a rg ila o u d e p a s ta , té c n ic a c o n h e c id a p o r — V —
asp ira i ou se rp e n tin a .
V a is e lle — ( D o la tim vas, v a s is = v a s o ) T e rm o c o le tiv o q u e
P o te rie v e ru lssé e — L o u ç a v id ra d a . d e s ig n a o coo ju n to d e to d o s os v aso s o u v a s ilh a m e s
P o tic h e — V a so d e c o ra d o , q u a s e s e m p re c o m la m p a , fo rm a c o n c a v a d o s , m a is o u m e n o s g ra n d e s, s e rv in d o ao u so
g lo b u la r o u p irifo rm e . o r d in á r io d a m e sa c o m o tra v e ssa s, p ra to s , so p e ira s,
P o d e r — O le iro , lo u c e iro , ; c a ç a ro la s , etc.
P o ts à b iè re — C a n e c a s d e c e rv eja. V a se d e n u i t c o u v e rt — U rin o l com ta m p a .
P o ts d e p h a rm a c ie — P o le s d e f a rm á c ia , a lb a re llo . V e rn is — V e rn iz .
P rls e iito ir — P e ç a (tra v e s s a o u p ra to ) d e a c o m p a n h a m e n to , em V e r n is ,a u s e l — V e rn iz sa lin o , fin o , in co lo r.
g e ra l d a s so p e ira s, d e in a n te g u e ira s, a ç u c a re iro s , p ra to s V e rn is s a lin — V e rn iz o u v id ra d o d e snl m a r in h o q u e lev ad o
c o b e rto s, etc . ao f o itto se to r n a fin o e tra n s p a re n te .
P risc — P e g a , p e g a d o r d e u m a p e ç a c e râ m ic a . V e rs e u s e à C ouvercle — J a r r a c o m ta m p a .

721
TERM O S E M ESPAN H O L

(Perfil de Pratos)

ojvm. ayiteJiloK = cmvMMO

p la t o

bohd&, ottWLa

anlU o - p l t anula/,t - fizple. ~ òoI qao

ccuia poòt&Uon. = KZVQAÃO


— A — B a rro b is c o c h a d o — B a rro q u e j á so fre u u m p rim e iro
c o z im e n to .
A c a n a la d a — P e ç a c a n e la d a . B e llo la — V a s ilh a p e q u e n a e m q u e se c o lo c a b á ls a m o o u
A d u ja — C ilin d ro d e b a r ro co m q u e se m o n ta v a u m a p eça e s p é c ie s a ro m á tic a s .
c e râ m ic a p r im itiv a m e n te (ín d io s, etc.) " c o lo m b ín " . B idês — - B idés..
A g a llo n a d o —- G o m ita do. B o rd e — B o rd a , a b a d e u m a p eç a .
A la m b ri SIa s o u o üt» m b ri Sins — P e q u e n o s azu le jo s c o lo cad o s B o te p a r a b o tic á r io — P o te d e f a rm á c ia , (a lb are U o ) p o le de
d e n tro d e u n ia c o m p o s iç ã o c e râ m ic a . b o tic a .
A lb a h a q u e r a — V a so p a r a p la n ta s . B o te s d t ta b a c o -— P o te s d e fu m o .
B o c a R e tir o — C a rlo s I I I a s su m in d o o tr o n o d a E s p a n h a ,
" A lb a r e llo ” — V a rie d a d e d e p o te s c ilín d ric o s com ou sem
tr o u x e d e N á p o le s os m e lh o re s a rtis ta s d e C a p o d im o n te
a lç a ( fo rm a p e rsa) p a r a d iv e rso s u sos, c h a m a d o na Es*
e in s ta lo u a F á b r ic a de Ilu e n R e tiro n o P a lá c io , p e rto
p a n h a ta m b é m d e ta p e io o u b o te .
A te a r r a ç a — V a s ilh a d e b a r ro p o ro so c p o u c o co zid o p a ra d e M a d rid .
e s fria r á g u a .
A Ic ô ra — (V a lê n c ia , E sp a n h a ) A p rin c ip a l f á b ric a d e fa ia n ç a
n o séc. X V I II n a E s p a n h a , c o n s id e ra d a a lg u m te m p o — C —
c o m o a m a is fin a d a E u ro p a , f u n d a d a e m 1725 p e lo
C o n d e d e A ra n d a , S eu p rin c ip a l a rtis ta fo i lo s é O lery s C a b o s d e e u c h ilio -— C a b o s d e f a c a .
q ue em 1 7 4 7 fe z e s tu d o s e m M o n tp e llie r. C a lc o o u c a lq u e — R is c o leve d e um d ese n h o q u e se risc o u
A b a r d o us — A z u le jo s d e f o r m a h e x a g o n a l e q u e e n tra m n a p o r c im a d e o u tr o .
c o m p o s iç ã o d o s p a in é is ; ta m b é m d e sig n a e scu d o , C a n d e ia — C a n d e ia .
A b a r e r ia — A r te de f a b ric a r o b je to s d e b a r r o , n o M é x ico é C a n d e le ró s — C a s tiç a is , c a n d e la b ro s .
c h a m a d o d e lo c e ria . C a ittim p lo ra — - P e ç a c e r â m ic a em fo rm a d c c an til.
A lf a re ro — O u lo c e ro : o le iro , lo u c e íro , p e s so a q u e f a z C a ra a n te r io r — A n v e rso d e u m p r a to o u d e u m a m o e d a .
v a silh a s e d e m a is p e ç a s d e b a r ro . H o M é x ico o te rm o m ais C a ra p o s te rio r — R e v e rso -v e rso .
u sa d o é io c e ro , a o in v és de a lfa re ro . C a z u e la — V a s ilh a d e b a r ro p a r a c o z in h a .
C etteEa — S a n e fa (d e c o ra ç ã o u sa d a e m T a la v c ra , etc.).
Alfares — Olarias.
C e n tro — F u n d o d e u n i p ra to .
A lic e r — P e ç a s p o lig o n a is re g u la re s o u n ã o , q u e fo rm a m a s
C o c h u ra — C o z im e n to , q u e im a , c o cçã o .
c o m p o siç õ e s d o a z u le jo a lic a ta d o , " ta p e te " c o u tra s.
C u d ia r ó u —- C o lh e r g ra n d e (de c e râ m ic a o u o u tro m a te ria l).
A liz a r — F o r r a r de a z u le jo s , p a in e l b a ix o , m u ra l.
C u e llo — C o to d c u m a g a r ra fa o u p o te .
A nil lo — P a r ta sa lie n te d o v e rso d o fu n d o d o p ra to , fre te .
C u e n c a *— O u a r e s ta , té c n ic a m u d é ja r d e c o lo c a r o e sm a lte
A q u a m a n ile s — J a rra s co m b ico p a r a la v a r-s e as m ã o s n as s o b re o a z u le jo , s im ila r ao “c h a m p le v é " n a o u riv e s a ria ,
p a la n g a n a s o u n a s jo fa în a s, C u e n c o — U m a e sp écie d e p ra to p e c u lia r a f u n ila d o d c f u n d o
A ra b e s c o s — (v id e g lo ssá rio cm p o rtu g u ê s). c h a to , se rv e d e sa U id eira, fru te ira , etc . M u ito u s a d o n a
Ardia — A rg ila . E s p a n h a c ta m b é m e m P o rtu g a l (p o p u la r).
A ris ta — O m e s m o q u e c u e n c a (a re sta ). C u e rd a se c a — T é c n ic a m u d é ja r d e m a n te r s e p a ra d o s o s
A s trá g a lo — M o ld u ra s p e q u e n a s d o g ê n e ro c o rd ã o c o n stitu íd a s e s m a lte s d u r a n te o c o z im e n to d o s a z u le jo s (c o m tr a ç o s
p o r e le m e n to s c o m o p é ro la s , etc,, m u ito u sa d a s n o s d e ó x id o d e fe rro ).
a r re m a te s d e a r q u ite tu ra , m ó v e is, p r a ta e c e râ m ic a . C u c m o d e Ia a b u n d â n c ia — C o rn u c ó p ia ,
A fo b a o u a to b o n s — (A ra b e ; a to b ) A d o b e , la d r ilh o ru d im e n ta r,
g ra n d e , a m a s s a d o c m is tu ra d o c o m p a lh a .
A z a s — A sa s, alças. — D —
A z a fa te o u e a n a s tillo — V a silh a p e q u e n a .
A z u le jo — D e riv a de a l-z u ia ic h a o u z u le ic h a (p e d ra p e q u e n a D a n o — T e r m o e m p re g a d o p e lo s le ilo e iro s e s p a n h ó is p a ra
p o lid a ) é u m a " lo z e ta ” d e b a r r o , b r a n c a o u n ã o , c o zid a i n f o r m a r q u e h á d e fe ito n a p eça.
d u a s vezes, p in ta d a , v id ra d a c q u a s e s e m p re q u a d r a d a o u
r e ta n g u la r q u e se d e s tin a , e m c o m b in a ç ã o c o m o u tra s
p e ç a s ig u ais o u c o m p le m e n ta re s p a r a o r n a m e n ta r su p e r­
fícies a rq u ite tô n ic a s . A z u le jo e m e s p a n h o l p o d e sig n ific a r
— E —
ta m b é m la d rilh o (la d riilo ).
A z u le jo a n io tia d iliu d o — A z u le jo c o m d e se n h o s im ita n d o E sc iip id e ra s — E s c a r r a d e ira s ,
a lm o fa d a s . E n g a lb a o u e n g o b e -- E n g o b e (vide g lo ss á rio em P o rtu g u ê s ).
A z u le jo " a r t- n o u v e a u " — W illia m d e M o rg a n (M o rris & C4) E n sul a d e r a s — S a la d e íra s .
re d e sc o b rc a s fo rm u la s d o " lu s tr e ” e d o s esm a lte s fa c u - E s ta rc íd o s — S ã o c h a m a d o s os c a rtõ e s c o m os tr a ç o s p rin c ip a is
p o n te a d o s d e a g u lh a s o b re os q u a is se p a s sa u m a b o n e c a
lin o s c o s azu is c v e rd e s d e ïs n ik e d esd e 1 8 8 0 p ro d u z
a z u le jo s d e n o v o e stilo , r e p re s e n ta n d o lírio s n e n ú fa re s, im p re g n a d a d e p ó d e c a rv ã o m a r c a n d o o s c o n to r n o s d o
a m a p o la s , cisnes, p a v õ e s, ra m o s , p a is a g e n s e x ó ticas, etc. d e s e n h o q u e fic a d e lin e a d o n a p a s ta . O p ro c e ss o é c h a ­
(V id e M a r th a N a n n i — " E t A z u le jo " in c a t. d o M u seu m a d o d e e stê n c il o u dc m á s c a ra , o u a in d a d e fa n ta s m a
e m P o rtu g a l.
N a c io n a l d e A rte D e c o ra tiv a — B. A ire s , 1971).
F .s ta rtír — E s ta m p a r d e s e n h o s, le tra s o u n ú m e ro s , p a s sa n d o
A z u le jo e m P u n ia de C la v o s — A z u le jo s p in ta d o s e m p o n ta s
a b r o c h a o u b o n e c a s o b re u m a c h a p a , c a r tã o o u tá b u a
d e d ia m a n te im ita n d o c ra v o s a n tig o s fa c e ta d o s fa b ric a d o s
e m q n e e s tã o eles p re v ia m e n te d e lin e a d o s . H á u m a
p o r T a la v c ra e o u tr a s fá b ric a s e s p a n h o la s.
v a r ia n te ta m b é m d e ste p ro c e sso c h a m a d o d c " tr e p a " .
A z u le jo e s ta m p a d o — T é c n ic a la n ç a d a n a I n g la te r r a (B ristol
c L iv e rp o o l) d e e s ta m p a r co m c h a p a d e c o b r e o u de
m a d e ira .
— F —
A z u le jo lu s tr a d o — A z u le jo c o m iris a ç õ e s m e tá lic a s .
A z u le jo p isa n o — A z u le jo p in ta d o n a té c n ic a e d e c o ra ç ã o de
P isa (F ra n c is c o N ic o lo s o " P is a n o ” , c e ra m is ta ita lia n o em F a ja s — F a ix a s .
S evilh a) tip o -m a íó ü c a . C h a m a d o ta m b é m d c a z u le jo p la n o F lo re ro — P o te d e flo re s.
F ó lil — P e rn a s , s u p o rte r e fr a tá r io p a r a m a n te r as p e ç a s n o
o u p in ta d o .
f o rn o .
F uerste — S ig n ific a ta n to tra v e s s a d c u m se rv iç o , c o m o fo n te .
F u e n te g allo n tad a — T ra v e s s a g o m tla d a .
— B —

B a ld a q u in o s — E sp écie d e d o sse l o u d e p a lio , d e riv a d o d o — G —


ita lia n o " b a ld a c c o ” q u e sig n ific a v a b ro c a d o d e o u ro
fa b ric a d o e m B ag d á c q u e in s p iro u a d e c o ra ç ã o ce râ m ic a G o lle te — G a r g a lo .
ta n to n o O rie n te c o m o n o O cid en te. G r if o -— A n im a l m ito ló g ic o co m a sas d e á g u ia e c o rp o de
B a ld o sa — L a d rilh o (n o U ru g u a i). le ã o , Vem d a A n tig u id a d e — sím b o lo d a C a s a d e B ra g a n ç a .
B a rre n o — B a cia g ra n d e p a r a la v a r lo u ç a o u s a n g ra r aves. C u im a ld a s — G r in a ld a s , guírla rtd as.

725
H — P a lm e ia — O r n a to im ita n d o fo lh a d c p a lm e ir a u sa d o n a c e r â ­
m ic a , te c id o s , ta p e te s e le , c o ra c s tü is a ç c e s v a ria d a s.
H u e lln — A ç ã o e e fe ito d c c a lc a r — sin a l q u e d e ix a u rn a P a n e le s ■—- P a in é is.
lâ m in a u u f o rm a n o p a p e l o u e m o u lr o m a te r ia l s o b re o P a n z a — P a r te b o ju d a d a p e ç a .
q u a l se e s ta m p a u m d e se n h o . P a te r n a — V id e V a lê n c ia .
P e lo s — O q u e é c h a m a d o de “ c a b e lo ” p e lo s a n tiq u á r io s e
— J — c o le c io n a d o re s b ra s ile iro s , c o rre s p o n d e a u m a p e q u e n a
fis s u ra n a p eça.
Ja rro — Ja rro . P e n ta g r a m a — S elo d e S a lo m ã o , r e p re s e n ta d o p o r u m a e s tre la
J iç a ra s — X íc a ra s . d e c in c o p o n ta s , os. c in c o s e n tid o s p a r a o s ju d e u s e os
J o f a in a — V a s ilh a c ô n c a v a d e g ra n d e d iâ m e tr o e p o u c a p r o f u n ­ c in c o liv ro s d e M o y sé s.
d id a d e , u s a d a g e ra l m e n te p a r a la v a r-s e a s m ão s. P ila s d e á g u a B trádU a o u b e n d ife ra s — P ias d e á g u a b e n ta .
P ifo r r o — B ic o cie c â n ta r o s .
— L — P la c a s — G r a n d e s ta b o le ir o s d e b a r ro c o z id o c o m p in tu r a e
v id r a d o ( fr e q u e n te e n tr e o s m u ç u lm a n o s ) p a r a u so m u ra l,
L á b io — O u “ b o r d e d e l a b o c a ” , b o c a l d a p e ç a .
ta m b é m p o d e d e s ig n a r tra v e ss a .
L a b o re s — A z u le jo s fa b ric a d o s n a té c n ic a d c " e u e n c a ” ou
P la c a s c e r â m ic a s n u m e r a d a s — N o ú ltim o te r ç o d o séc. X IX
a re sta .
a F r a n ç a e x p o r to u p a r a o B ra s il e A rg e n tin a a z u le jo s
L e b rillo — P e ç a s g ra n d e s d e a b a e s tre ita , p a r e d e a lia c f u n d o
m a io re s c o m n ú m e r o s p a r a re g is tr o d o m ic ilia r ( M a n h a
c h a to , ta m b é m c h a m a d a s d e jo fa in a s .
N a n n i, o p . c it.) f u n d o a z u l *. n ú m e r o s e m b ra n c o , assim
L e g u m b re ra — L e g u m e ira .
c o m o p a r a d e s ig n a ç õ e s d e ru a s .
L o s e ta s — P e q u e n a s p la c a s d e c e râ m ic a q u e c o n fo rm e su a
P la n lilla — T á b u a o u p r a n c h a c o r ta d a co m os m e sm o s â n g u lo s ,
c o n s titu iç ã o e a c a b a m e n to , p o d e m s e r ta n to la d rilh o s
c o m o a z u le jo s . T a m b é m sã o u sa d a s n a c o r n a tu r a l de f ig u ra s e ta m a n h o s q u e h á d e t e r a su p e rfíc ie d e u m a p e ç a
v e rm e lh o se m d e s e n h o s p a r a c o m p o r p a in é is ju n to co m c s o b re a q u a l se a p lic a a c o r c o m b ro c h a g ro ss a p a r a
a z u le jo s p in ta d o s . r e p ro d u z ir u m d e s e n h o e m s é rie e m s ilh u e ta .
F ia titio s -— P ire s.
L o z a — B a rro fin o c o z id o e e s m a lta d o c o m q u e s e fa z e m
p ra to s, x íc a ra s , etc., lo u ç a o u lo iça, F la to — P ra to .
L o z a d e p e d e m a ] — L o u ç a p ó d c p e d ra . P ta to d e p o s tre o u p la tito — P r a to d e so b re m e s a .
L u stre — T é c n ic a á r a b e d e d e c o ra ç ã o c o m iris a ç õ e s m e tá lic a s . K lato p la y o — P r a t o ra so .
F la to s o p e ro o u p la ío h o o d o — P r a t o d e so p a o u p r a to fu n d o .
— M — P lo m o — - C h u r a b ò .

M a c c la --- [D o ita lia n o m a z z e lo , “ m a z z o d e flo re s " ) — v aso


d e b a r ro c o z id o , co m f u ro n a base e q u e c h e io d e te rra — R —
c o lo c a m -se p la n ta s — p o te d e p la n ta s .
M a c e ie ro — P o te c ilín d ric o c o m alç a , R a jo la — L a d rilh o s r e ta n g u la re s d e c o ra d o s (V alên cia).
M á liig a — C e n tr o m a is im p o rta n te d a A n d a lu z ia , o s ate liê s
m íila g u e n h o s to m a m g ra n d e d e s e n v o lv im e n to n o séc.
X III e v ã o a té o firrv d o séc. X V , q u a n d o M á la g a é re c o n ­
— S —
q u ista d a p e lo s re is c a tó lic o s . A s p r in c ip a is c a ra c te rístic a s
sã o : o e m p re g o d o lu s tre f o r te , d is p o s iç ã o d e m o tiv o s S a h u m a d o re s — P e ç a s d e c e râ m ic a o u m e ta l p a r a q u e im a r
p o r z o n a s h o riz o n ta is , in sc riç ã o d e c a ra c te re s e te m a s in c e n so ,
vegetais. S a le m — S a le iro .
M a n c e rin a s — P ire s co m s u p o rte c e n tra l re d o n d o d e c e râ m ic a S a lv illa — D e sa lv a , b a n d e ja p e q u e n a ,
p a r a a lo ja r a x íc a ra (e ste tip o fo i la n ç a d o n o P ê n r e Se vi Lha (A n d a lu z ia ) — D e d ic a v a -s e a três tip o s de c e râ m ic a :
c o p ia d o n a E u ro p a , n a F r a n ç a c h a m a -s e " tre m b le u s e ” , a t e r r a c o ta v id ra d a e e s m a lta d a , os a z u le jo s c o lo rid o s e
e x iste ta m b é m c m m e ta l o u p ra ta ). In v e n ç ã o d o C o n d e e s m a lta d o s f e ito s so b v á rio s p ro c e s s o s e a q u e le s e x e c u ta d o s
d e M a n c e rin a s (M éx ico ), n a té c n ic a d e M a jo rc a e p in ta d o s à ita lia n a , c u ja f á b ric a
M im izcs — V id e V alê n c ia . e r a c e n tr a liz a d a n o s s u b ú r b io s e m T ria n a . S e v ilh a foi
M o r a d o — T e rm o m u ito e m p re g a d o n a c e r â m ic a e s p a n h o la r e c o n q u is ta d a a o s m o u ro s e m 124®, p o ré m e s te n d e u -s e a
a n tig a q d u r a n te a lg u m te m p o fe z p a r te d a d e c o ra ç ã o f a b ric a ç ã o c e r â m ic a n a s m ã o s dos á ra b e s a té 1 5 0 0 ,
(sécs. X I V e X V ) fo rm a n d o o “c ic lo v e rd e y m o r a d o ” , O s p r im e ir o s a z u le jo s im p o rta n te s e ra m e x e c u ta d o s c o m
b ic o lo r, q u e e a ra c le riz o u p o r lo n g o te m p o a p r o d u ç ã o d e d e s e n h o s im p re ss o s c m r e le v o c o m e s c u d o s c o b e rto s c o m
V a lê n c ia (M a n lz e s) c o u tro s c e n tro s e u ro p e u s , p a s s a n d o e s m a lte m a r ro m e o u tr o s e s m a lte s c o lo rid o s. O s a lic a ía d o s
ta m b é m p a r a a I tá lia (O rv ie to ) e F r a n ç a , E ra g e ra l as l i e ra m f a b ric a d o s n o sé c . X IV o u a n te rio r m e n te ;
p e ç a s assim d e c o ra d a s e r a m e ra " m e z z a -m a ió lic a ” . O d e p o is n o m e ío d o séc. X V f a b ric a v a m OS d e c o r d a
m o ra d o é u m a c o r o riu n d a d o m a n g a n ê s c c o n fo rm e a s e c a e òs d c a re s ta s (c n c n c a s ). O lu s tr e ta m b é m e ra
re g iã o s o f r e to n a lid a d e s q u e v ã o tio v in o so a o m a r r o m e e m p re g a d o ju n to c o m a s c o re s usu a is: m a rro m , v e rd e ;
a o ra à r ro m e s c u ro c p re to — se rv ia ta m b é m p a r a co n ­ b ra n c o e a z u l. Q u a n to a o s p r o d u to s d c ra a ió lic a , deve
to rn a r' o s d e s e n h o s a se re m p in ta d o s p e lo s a rtis ta s (p ro ­ S e v ilh a se u e n o rm e d e s e n v o lv im e n to n o c o m e ç o d o sé c.
cesso c h a m a d o c m F r a n ç a d e " c h a lir o n n é ” c n a H o la n d a X V I à F ra n c is c o N ic o ln s o . D e v e -se a e le os p a in é is
d e “ tre c ” ). c h a m a d o s d e “ is to r ia lo " c o d e s e n v o lv im e n to d a m a ió lic a
M u n e q u ita d c e s ta re lr — B o n e c a c o n te n d o p ó d e c a rv ã o , gesso n a E u ro p a , c h a m a d o d e O P is a n ó , v e rd a d e iro a rtis ta , a lu n o
o u p o lv ilh o v e rm e lh o p a r a p a s s a r s o b r e o e s tê n c il ou d e L u c c a d e la R o b b ia q u e , a lé m d a d e c o ra ç ã o ro tin e ira
m á s c a ra n a d e c o ra ç ã o d a p e ç a . tle a z u le jo s p r o d u z iu e s p lê n d id o s p a in é is p a r a ig re ja s e
p a lá c io s r e a is c o m in s p ira ç ã o d iv e rs a d a ib e ro -m o u risc a ,
— O — c o m o f la m e n g a , re n e n s e e f a c n tin a d a é p o c a ,
S n e u rra ts — L a jo ta s v u lg a re s o u p la c a s g ra n d e s p in ta d a s se m
O d ia v a d o — O ita v a d o . v e rn iz e c o z id a s d e u m a s ó vez (p o d e m se r c o n s id e ra d o s
011» — (O llc rü ) P a u e ia re d o n d a d e b a r ro o u m e ta l c o m d u a s a z u le jo s o u la d r ilh o s ru d im e n ta re s ). V a lê n c ia . S e rv ia m
asas, c o lo e b o c a la rg a s, p a r a p r e p a r a r c o m id a o u e s q u e n ta r ta m b é m p a r a d e c o r a r o f o r r o e n tr e a s v igas. (E x e m p lo n o
ág u a , B rasil n o M u s e u d e A d e S a c ra d e S a lv a d o r).
O rí 1la — B o rd a, b e ira , lin h a e m q u e te r m in a a s u p e rfíc ie de S o p e ro y ta p a — S o p e ira c la m p a .
um co rp o . S u b a s ta -— L e ilã o ,
O r illa r — R e m a ta r a su p e rfíc ie d e u m a p e ç a .
O rz a s — V a s ilh a s v id ra d a s d e b a r ro a lta s , tip o b o íá o p a n ç u d o
c o m o u se m a sas q u e se rv e p a r a g u a r d a r c o n s e rv a s. — T —
— P — T a b a n q u e — R o d a d e o le iro .
T a b lc ro — P a in e ! d e c e râ m ic a .
P a la n g a n a u u p a la n c a n a — M a lg a la rg a t b a ix a a c o m p a n h a d a T a c e lc s — P la c a s de c e r â m ic a e s m a lta d a s q u e e ra m c o r ta d a s
era g e ra l d e “a q u a m a n ile ’ ( ja rr a co m b ico ). (se rra d a s) e m “ a lic e re s " (p e q u e n o s p e d a ç o s) p a r a c o m p o r
P a lm a tó ria s — C a s tiç a l d e c e râ m ic a (ou d c m e ta l) c o m cab o . o a z u le jo a líc a ta d o .

726
T ü la v e ra dc L a R e in a — P rin c ip a l f á b ric a d e fa ia n ç a n o s T iitfe ro s — T in te iro s .
sécs. X V I e X V I I n a E s p a n h a e cu jo s p r o d u to s c o n s ta m T ra c e ria — O rn a m e n to s g e o m é tric o s d o re p e r tó r io d e c o ra tiv o
re p e tid a m e n te d o s in v e n tá rio s p a u lista s . T e v e trê s g ra n d e s gótico.
p e río d o s n o séc X V I; a z u le jo s , p ra to s g ra n d e s, fu n d o s T re u z a d o — T r a n ç a d o (Ireillis).
b ra n c o , p in ta d o s em a z u l, n o c e n tro f ig u ra s o u an im a is, T r e p a __ U m a v a r ia n te d o c s ta rc id o ( m á s c a ra o u fa n ta s m a ,
le b re s, c e g o n h a s , g a rç a s e n a s b o rd a s m a rip o s a s o u _ d e ­ estê n c il) in v e n ta d o n a C a ta lu n h a , c o n s ta n d o d c u m p a p e lã o
s e n h o s cm a ra b e s c o s e ra m a g e n s . O s e g u n d o p e río d o e n c e r a d o c o m o s d e s e n h o s v a s a d o s s o b re o q u a l p a ssa-se
c o rre s p o n d e a o séc, X V I I e m q u e ta m b é m f a b ric o u v aso s a b ro c h a c o m tin ta p a r a re p ro d u z ir d ire ta m e n te o d e s e n h o .
p o ü c ro m o s o u a z u is e g a r ra fa s e a tin g e O se u a u g e co m
m o tiv o s d e c a ç a , c e n a s d e b a ta lh a , p e rs o n a g e n s e o te rc e iro —* U ~
n o sé c . X V II í q u a n to a d o ta o g o sto f ra n c ê s n a d e c o ­
ra ç ã o c o m g u irla n d a s, flo res, etc . E m 1810 a fá b ric a U m b o — P ra to c o m p r o tu b e râ n c ia n o c e n tro , in flu ê n c ia d a s
fe c h a d e s tru íd a p e lo s fra n c e se s e ingleses. E m 1868 h o u v e s a lv a s d e p r a ta d a o u riv e s a ria m e d ie v a l o n d e o f o rm a to
u m re s s u rg im e n to c o m G u ilh e rm e Z u ria g a c em 1908 é m u ito c o m u m .
E n riq u e G r ijó , te n to u re n a s c e r a c e râ m ic a p rim itiv a
d e c o ra n d o p e ç a s d e e s tilo re n a s c e n tis ta e b a rro c o . F u n c io n a — V —
a té h o je . N o séc. X V I I a f á b ric a e x p o rto u b a s ta n te
lo u ç a p a r a S ã o P a u lo , d e a c o rd o c o m o s in v e n tá rio s V a lê n c ia , P a te r n a c M a n iz c s — E m 1341, a p a re c e m os p ri­
v ic e n tin o s d o séc. X V II. m e iro s a te liê s c o m lo u ç a s d e r e fle x o s m e tá lic o s n a E s p a n h a ,
T a lte r — O fic in a , in d o a té o s sé cs. X V e X V I . E x is tia m ate liê s e m P a te r n a
T apa — T am pa. e M a n izes n o s a r ra b a ld e s de V a lê n c ia . S eus te m a s e ra m
T a p ic e s — D e c o ra ç ã o p e rs a e m u d é ja r d e su p e rfíc ie s c o m ­ d c in flu ê n c ia á ra b e e c r is tã (g ó tic o , f ra n c ê s o u ita lia n o ).
p o sta s d e a z u le jo s im ita n d o o s d e s e n h o s d o s ta p e te s A trib u i-s e à P a te r n a fa ia n ç a s d c e stilo s a rc a ic o s com
o rie n ta is. a n im a is, p e rs o n a g e n s o u e le m e n to s flo ra is c m v e rd e e em
T a r r o s d e b o tic a — B o iõ cs d c fe itio p irifo rm e e ta m b é m m a n g a n ê s, s o b re f u n d o b ra n c o , M a n iz e s, n o séc. X V I, in ­
b ilh a s d e f a ia n ç a c o m to r n e ira em b a ix o p a ra u so n as c lin o u -se e m m a n te r o estilo p u r a m e n te o r ie n ta i, c o m
fa rm á c ia s , in sc riç õ e s á ra b e s e a p lic a ç ã o d e lu s tr e . M ais ta r d e p a s so u
T a z a — X íc a ra , ta ç a . à d e c o ra ç ã o f lo r a l. A. p ro d u ç ã o ê m u ito g ra n d e o c h e g a
T a r a s c o n ta p a d o r e s — T a ç a s p a r a ca ld o s co m ta m p a s . a e x p o r ta r p a r a a A m é ric a . F a b r ic a to d a a s o rte de
T e rr a sig ila ta — C e râ m ic a r o m a n a q u e c o m e ç o u n o p rim e iro o b je to s e f o rm a s c e râ m ic a s , se rv iç o s d e m e sa , a z u le jo s,
c â n ta ro s , v a s o s , cíc., a té o fim d o sé c . X V III.
séc, a .C . d e c o r a d a co rn en g o b e c co m d e se n h o s im p re sso s.
V a sija — V a s ilh a , c o m p õ e -se d e “ p ie d e p a n z a y c u e llo "
T e te ro s — B u les d e ch á,
d iv id e tn -s e e m v a s ilh a s p a r a d e p ó s ito , v a s ilh a s p a r a tira r
T ib o r — V a so s u sa d o s n o M é x ico , c u ja s d im e n sõ e s v a ria v a m
a e n c h e r o u tro s re c ip ie n te s, v a s ilh a s d e v e rte r e p a r a b e b e r.
d e l í cm a 1 ,5 0 m .!
V a so p a r a re tre te — U rin o l.
T ie rr a d e p ip a —- F a ia n ç a fin a .
T in a g ra — P o te p ir if o r m e se m a lç a s . V id — V id e ira .

727
AGRADECIMENTOS DO AUTOR

INSTITUIÇÕES ESTRANGEIRAS: INSTITUIÇÕES NACIONAIS:


Ader*Ficard-Tajan —- Paris Antigarnente Artes — 5. Paulo
Biblioteca Nacional — Lisboa Arquivo do Estado — S, Paulo
Biblioteca Nacional — Madrid Arquivo Nacional — R io
Bibíioihèque Nationale — Paris Banco do Brasil {Divisão de Museus)
British Museum -— Londres Biblioteca Municipal de São Paulo
Casa da Cultura — Puehh — México Biblioteca Nacional — Rio
Casa das índias — ■■ $ evil ha Centúrias A niigüidadcs — Fatty e Medina ~ Rio
Centro de Pesquisas Stíbaquâsicas — • Lisboa Clubs Piratininga — São Paulo
Direção Exp. da Fâbt Chintehchen — Pequim Comando Naval — 2P Distrito — S a í v e d o r
Direção Expf Feira Anual de Cantão Companhia Lithographien Ypiranga — São Paulo
Direção Geral Patrimônio Nacional — Lisboa Condephaat — São Paulo
Faienceries de Sarregue mines — Aí sacia Divisão de M use ui — Secretaria da Cultura — S. Paulo
Fourmaintraux Delassus — Pas de Caíah 4P Distrito do SPfi A N — São Paulo
Fundação Cõlõuste Gulbenkian —* Lisboa Embaixada do Brasil — Argentino
Fundação Ricardo Espírito Santo Silva — Lisboa Lm baixada do Brasil — China
Gammon House Art Gallery -— Hong Kong Embaixada do Brasil — México
Kyoto National Museum — Japão Embaixada do Brasil — Japão
Musté Adrien Debouché — Limoges Fundação Armando Alvares Penteado — São Paulo
M usei de h Maison Havilland ■—* Limoges Fundação Çrespi-Prado -— São Paulo
Muxei des Arts Décoraiifs — * Paris Fundação Cultural do Maranhão
M usei Guimet — Paris Fundação Raimundo Castro Maia — Rio
Museé National de la Ciratnique — Sèvres Galeria Brasii — R io
Museo del V irreinado — Tetzpfon — México Galeria Dom Pedro l í — S ã o Pauto
Museo Imcrnazionah delle Ceramichc -— Faenza Instituto Genealógico Brasileiro — São Paulo
Museo N acionai de Arte Decorativo — B, Aires Instituto Histórico c Geográfico de Alagoas
Museo de Arte José Luiz Bello y Gonsales — Puebla Instituto Histórico e Geogrólico Guarufá-Bertioga
Museo de Arfes Decorativas — Madrid Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo
Museu Arqueológico — Istambul Museu Costa Pinto — Salvador
Museu da Câmara Municipal de Lisboa Museu da Casa Brasileira — São Paulo
Museu da Marinha —- Lisboa Museu de Arte de S. Paulo — A. Chateaubriand
Museu de Topikapi —- Istambul Museu de Arte — • Casa Goes Calrnon — Salvador
Museu de Tóquio — Japão Museu de Arte Sacra — São Paulo
Museu de ViUeroy-Boch-MeUalaçh — Alemanha Museu de Arte Sacra — Salvador
Museu do Azulejo — Lisboa Museu Goeldi -—- Belém
Museu do Caramulo — Fundação Abel de Lacerda — Portugal Museu Histórico e Antropológico do Ceará
Museu Histórico e Artístico do Maranhão
Museu do Palácio imperial — Cidade Proibida (Pequim) Museu Histórico Nacional — - Rio
Museu Histórico Nacional — Montevideo Museu Imperial — PctrépoUs
Museu Nacional de Áríe Antiga — Lisboa Museu Mariano Procépio — Juiz de Fora
Museu Nacional da Grécia — A thenas Museu Naval e Õceanogréfico da Marinha — Rio
Museu Nacional Soares dos Reis Porto Museu Paranaense — Curitiba
Secretaria General dei l.N.A JÍ. — México Museu Paulista — São Paulo
Secretaria Gerai de Turismo — Pequim Natal Antiguidades — São Puído
Sotheby's Park fíernet <t C.° — Londres Norton Antigüidades — Rio
Sociedade de Geografia —- Lisbon Palácio da Aclamação — Bahia
Victoria and Albert Museum — * Londres Palácio dos Bandeirantes — * Casa Civil — S. Paulo
Wallace Collection — Londres Revista Paufistânia — São Pauto

PARTICULARES:

Aiteen Dawson — Londres Antônio Pimenta — Rio


Alexandre Fadul — Rio Antônio Víllares da Silva — S. Paulo (!)
Amèrozina Maia Sampaio — Pará Antônio Leon Filho — Rio
Amin Atta — Rio Ariel Valência Ramlres — México
Américo Ribeiro dos Santos Armando Arruda Camargo — São Paulo
Ana Amélia Carneiro de Mendonça — Minas (t) Arnold Wiidebergcr — Salvador
Anita Gonsah-es — S. Paulo Beatrit Alves de Lima -— S ã o Ponto
Antenor Edmundo Horta — Minas Benta P ei eira Buena —- São Carlos
Antninettc Fay-Halli — França Bernardo José Castelo Branco -— São Paulo
Antônio Avellar Fernandes — Rio Cândido Guinle Paula Machado — Rio
António Carlos Noronha — S. Paulo Carlos Eduardo da Rocha — Salvador
Antônio Costa — Lisboa Carlos Eugênio Marcondes de Moura —- S. Paulo

729
Carlos de Oliveira Bailor — São Paulo Luís Braga — Recife
Celso Correa Dias — São Paulo (t) Luís Miguel Sci.lf — Belém
Claudine Richard — México Lourenço Luís Lacombe — Pelropôlis
Cláudio Henrique Bastle — São Pauto Exma. Família Marquês da Fronteira — Portugal
Clotilda Machado de Carvalho -— Rio Comandante Max Justo Guedes — Rio
Ctóvís Burnay - - Rio Manoel Bran cante — São Paulo
Conceição da Cosia Neves — São Paulo Maria Helena Brancanre — ■Sc.o Pauto
Cyrillo Otiolani — Curitiba Maria Elisa Pereira Bueno — São Paulo
Exma. Família Conde Castro ■' Sola — Portugal (t) Maria Manuela Mota — Lisboa
Exma. Família Condes de Carnide — Portugal Maria Helena Costa e Silva — São Paulo
David Carneiro — Curitiba Maria Teresa ef José Gomes Ferreira — Lisboa
Duiliõ Crispim Farina — São Paulo Mário F. Simoès — Belém
Domingos Gonzáíes Marli — Espanha Maria Clementina da C. Quaresma — Portugal
Dotn Clemente da Silva Nigra — Vassoures Mário Pimenta de Camargo — São Paulo
Ecyia Castanheiro Brandão — Rio Marcus Linnet — Londres
Edmundo de Vasconcellos — São Paulo Marcos Vieira da Cunha — Vassouras
Everardo Magalhães Castro — Rio Michel Etlin — São Paulo
Enei Mota Tribusi Neves — Maranhão Myriam Cintra Gordinho — Vassouras
Exma. Família Euchdes Fagundes — S. Paulo (f) Maurício Meireiles ■— Minas
Expedito Bastos —- Belo Horizonte Mathias Mancou Bittencourt <— Bahia
Almtc. F. E. Carneiro Ribeiro — Rio Maurício e Rachel Brener — Rio
Federico A Idao — Buenos Aires Mercedes Roseis -— Salvador
Fernando Barreto — São Paulo Max Ouang — Suo Paulo
Fernando Medeiros — São Paula Miguel Osório Monteiro Soares — Rio
Fernando Soares — São Paulo Matilde Pessoa de Figueiredo — - Lisboa
Florindo dos Santos — Lisboa Marcos Carneiro de Mendonça — Rio
Francisco Roberto — São Pauto Nélson Guimarães — São P a u to
Francisco Mancada — Lisboa Néíio Migliorini — São Paulo
Francisco de Paula Gordilho — Salvador Nicia Camargo — São Paulo
Floriano Cantpolina de Rezende Camargo — S. Paulo Newton Carneiro — - Curitiba
Gilberto CFic.cc br - S. Paulo Odyla Mathias — São Paulo If)
Gonçalo Sampaio e Mello — Paraná Oldemar Blasi — Paraná
Gaby Dietzen — Paris — Mettalach — Alemanha Osmirio de Oliveira Barreto — Ceará
Geraida Ferreira Atm ond Marques — Minas (f) Oscar Seílos Braga — Rio
Gaston Adler — São Paulo Paulo Arena — São Paulo (t)
Gian Cario Bojani — Itália Pauto Afonso Machado de Carvalho — Rio
Haydée Nascí mento — São Paulo Paulo e Vera Sampaio Chermont — Belém
Henrique Lindcnbergh Filho Paulo Menano — Santos
Herminio LunardclU — São Paulo Patrice Sonnenberg — Paris
Hernanl Silva Bruno — São Paulo Paulo Pt oi cnç ar.o —■ Tan balé
S>a. Gon Sião — - Pequim Pauto Duarte — São Paulo
izabei di Canossa — São Paulo Paulo Vasconcellos — São Paulo
Israel Pinheiro Filho — • Mmas Plácido Gutierrez — Rio (t)
Irineu Ângulo — São Paulo Peter Naumann — São Paulo
Irene Quilhá — Portugal Pietro Maria Bardi — São Paula
J V. G. Múllet — Londres Pedro de Oliveira Ribeiro Neto — São Paulo
João Gonçalo do Amaral Cabral — Portugal Plínio de Mendonça — São Paulo
ire coce? Kiigel — P a r ir Pedro A. Palott — Puebla México
J. P. Leite Cordeiro — S. Paulo Peregrine Pollen — . Londres
Jacques Pilon São Paulo (f) S, A /. D. Pedro Gastão de Orleans e Bragança
Jean Louis Pilon — S. Paulo S. A. 1. D. Pedro Henrique de Orleans tf Bragança
João Eduardo Penteado -—• S Paulo Raphael Salinas Calado — Lisboa
João Moss — Rio Rogério Nogueira da S ih a Rego — São Paulo
João Teixeira ■— Rio Roberto Paranhos do Rio Branco — São Paulo
João Marino — S. Paulo Rubo Antônio Muller. — ■ Soo Paulo
João Luiz Maninho — Rio Renato Magalhães Gouvêa — São Paulo
José Claudino da Nábrega — São Paulo Renata Crespi da Silva Prado — São Paulo
José Antônio Gonsalves de Mello — Recife Raul Lima — Rio
José de Campos c Sousa — Portugal {}) R. C. Kennedy — Londres
José ds Harros Martins — S. Paulo Buy Sampaio e Mello — Paraná
José Ferreira Lopes — Tóquio Ruy Othake — São Paulo
José Roberto Teixeira Leite ~ São Paulo Rita Corrêa Dias — São Paulo
José Lopes Filha — Alagoas Roberto J. Charleston — Londres
José Leandro de Barros Pimentel — São Paulo San:Fui Leite d’Aprile — São Paulo
José Maria Jorge — Portugal Sebastião Ribeiro Loures — f ito (t)
José Eduardo Loureiro — São Paulo Serafim Santiago Braga — Pernambuco
José Paranhos do Rio Branco — São Paulo Sérgio d ’A z z f — São Paulo
José Silva — Lisboa Stanislaw Herstal — São Paulo
Julian Thompson — l Fing Kong Sylvia Sodré Assumpção — São Paulo
King Kong Lee — Hong Kong Trinidad Sanchez Pacheco — . Espanha
F. L. d'Aibis — Ha villand — Limoges Thèresc Thomas — Mettalach — Alemanha
Laurie Ottaiano ■— São Paulo Horst Knoff Udo — Salvador
Imuyd Ribeiro Escobar — São Paulo Vinícius Stein Campos — São Paulo
Sr. Li Wu Pin — Pequim Vaictitim Calderon Salvador (t)
Lúcia F. de Mello Falkenberg — São Paulo Walter Dias de Andrade — Salvador
Dr. Luís Pedreira Torres — Salvador (f) Walter Dias da Silva — Minas
Exma. Família Luiz Nazareno de Assumpção — 5, Paulo if) Yurik de Beauregard (Sarreguemines)
Luís Barbosa de Oliveira — Suo Paulo r Zatdir Lima — Buenos Aires

130
R E F E R Ê N C IA S SO B R E T R A B A L H O S
DO AUTOR

M IC H E L BEURDELEY — " P o rc e la in e de ta S E R G IO M J L L E T — "O E s ta d o " S áo P a u lo ,


C o m p a g n ie d es In d e s” , F rib u rg , 1962, p ág . 85, 0 1 .0 8 .1 9 5 1 .
"Eidino da For:seca Brancante a fait paraître em ( . . . ) Estamos ainda no
momento das análises. "Por
19S0, à São Paulo, un excellent ouvrage sur la por­ isso me agrada mais uma pesquisa objetiva ( . . . ) O
celaine des Indes pour le Brésil". Dr. Eidino Brancante, que ê um apaixonado da Ixruça
da Índia, acaba de publicar uma obra importante”.
D A Y S I L IO N G O L D S M IT H — “ P o rc e la in e de
C h in e C o m p a g n ie d e s In d e s e t B résil in C a h ie rs
Ma n u el b a n d e ir a — c a r t a de 05 07. 1951.
(...) "publicação que honra a cultura brasileira”.
de la C é ra m iq u e n .° 7-1957, p á g . 124.
(. . ■) Une importante étude de M Eidino da Fonseca R O Q U E T T E P IN T O — C a r ta de 2 6 .0 5 .1 9 5 1 .
Brancante, parue em 1950, nous en donne un i.rI“,;- ( . . . ) "Mando-lhe os meus parabéns peto trabalho
(a ire extrêmement intéressant { ...} . que ê, sem favor, monumental”,
A N G E L O P E R E I R A — P o rtu g a l, 0 6 .0 5 .1 9 5 2 .
C O N N A IS S A N C E d es A rts — de 1 5 .0 3 .1 9 5 5 , ( . . . ) Trala-se de uma obra magnífica, talvez a única
P a ris, p á g . 23. no género.
f . . .) "Une des communications lesplus intérésstmtes, W A S H IN G T O N L U ÍS P E R E IR A D E S O U S A —
(entre 27 articles provenant de quatorze nations C a r ta de 2 2 .0 9 .1 9 5 1 .
d'Europe et d'Amérique) est celle de Monsieur Eidino ( . . . ) O seu livro ( . , . ) £ uma obra de arte e lite­
Brancante de São Paulo sur les prémières comman­ ratura que bem merece o nosso louvor.
des de l'Occident en Chine”.
L U ÍS ARROBAS M A R T IN S — C asa C iv il,
D A M IÂ O P E R E S — (U n iv e rs id a d e de C o im b ra , 2 7 ,0 2 .1 9 7 6 .
3 1 .0 1 .1 9 5 2 ) , ( . . . ) "As Achegassobre Cerâmica do século X IX
(■■ ■) “O seu belíssimo livro chegou-me às mãos há no Brasil -— Louça Mineira" são mais uma contri­
poucos dias, poucos, mas o suficiente para admirar buição valiosa que lhe ficamos devendo nesse assumo,
nele u erudição elo autor e a segurança ãe seu à que pcucos se dedicam ou estudam ( . . . ) .
juízo” ( , . . ). Q U I R I N O D A S IL V A — D iá r io da N o ite —
JO S É D E C A M P O S E S O U S A — L isb o a — D eze m ­ 1 3 .0 8 .1 9 5 2 .
b ro , 1962. f . . . ) "fez muito bem oSr. Brancante, è um livro
que faltava incluir na História do Brasil",
"em louvor do seu precioso livro O Brasil e a
Louça da índia C O R R E IA JO N T O R — A G a z e ta — 2 3 ,0 9 .1 9 5 2 .
(. . . ) "Dt. Eidino Brancante, pertence à fina estirpe
C O N D E S S A D E C A S T R O E SO LA — P o rtu g a l, intelectual desses fascinantes eruditos, que com preci­
0 6 .0 5 .1 9 5 2 . são admirável sabem dosar a divulgação de seus
( . . . ) não menos admirei a vasta erudição
(. ..) quer sólidos ensinamentos".
principalmente na forma como deu vida, com pro­ J O A Q U IM T H O M A Z — Jo rn a l do B rasil, R io ,
fundo amor c apreciação subtil a história das nossas I I . 0 7 .1 9 5 1 .
duas p iítrÍE í irmãs. ( . . . ) O autor passou a constituir no Brasil, um
P A D R E S E R A F IM L E I T E — C a rta d e 19. 1 1 .1 9 5 4 , legítimo expoente de çulrura e atividade intelectual.
R om a. P E R E G R IN O J Ú N I O R — C a r ta ôe 1 0 .0 6 .1 9 5 1 ,
( . . . ) método disciplinado, proficiência, novidade t ( . . . ) obra de erudito c de artista, quero felicitá-lo
apresentação gráfica magnifica. Ensina e impõe-se. muito efusivomente pela sua publicação.
JO S É V Ã L L A D A R E S — E stu d o s d e A r te B ra s ile ira
PEDRO CALM ON — Jo rn a l do C o m e rc io , R io,
— M useu d o E sta d o d a B a h ia — - 1960 — pags.
1 5 .0 4 .1 9 5 3 .
166-172, n .° s 6 37 e 6 6 2 .
È um monumento de ilustração, a propósito (Sobre o Car. do Instituto Histórico e Geográfico de
dessa porcelana oriental ( . . . ) , Enriqueceu-se com São Paulo: Exposição em São Paulo, 1954. come­
isso a bibliografia nacional com uma obra de excep­ morativa do IV Centenário).
cional importância. ( . . . ) A classificação competente das peças realizadas
G U I L H E R M E D E A L M E ID A — D iá rio d e São por José Wasth Rodrigues, Antônio Ávetlar Fernan­
P a u lo , 1 0 .0 5 .1 9 5 1 . des e Eidino da Fonseca Brancante, faz deste catá­
logo ume boa obra de referência.
f . . ■) Ë uma História da Brasil que o Brasil p re tijo v n (Sobre o livro "O Brasil e a Louça da índia”): Cole­
conhecer, Uma História que não morre nas páginas cionador apaixonado e esclarecido da louça chinesa
mal impressas do compêndio escolar falsificado, mas ( . . . ) ria: orou o autor —- a obra de referência indis­
que vive legítima ( . . . ) nessas heráldicas peças íii pensável ã todos que se interessam pelos belos servi­
louça frágil (. . . }. ços de porcelana oriental ( . . .),
M ENOTTI DEL P IC C H I A — A G a z e la , F R A N C IS C O M A R Q U E S D O S S A N T O S — “ L o u ç a
2 0 .0 4 .1 9 5 1 . e P o rc e la n a " in A rte s P lá stic a s n o B rasil, R io , 1952,
(. - . ) Eidino Brancante é um mestre na matéria. Seu pág. 272,
estudo sobre a preciosa louça abrange ( . . . ) aquele ( . . . ) "Baseando-se nos inventários de Sao Paulo do
mundo mágico e desconhecido de que Merco Polo século XI'11 (.-■} escreve o grande estudioso Eidino
nos dava fantásticas noticias (. . . ) . Brancante".

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