CERS Book - Material Exemplar 2021
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MATERIAL EXEMPLAR
MA
EX TER
EM IA
PL L
AR
CARREIRA JURÍDICA
DIREITO PROCESSUAL
CIVIL
CAPÍTULO 1
Olá, aluno!
garantindo que você terá em mãos um conteúdo direcionado e distribuído de forma inteligente.
Para isso, estamos constantemente analisando o histórico de provas anteriores com fins
de entender como cada Banca e cada Carreira costuma cobrar os assuntos do edital. Afinal,
queremos que sua atenção esteja focada nos assuntos que lhe trarão maior aproveitamento,
pois o tempo é escasso e o cronograma é extenso. Conte conosco para otimizar seu estudo
sempre!
estrutura do CERS Book foi feita em capítulos, de modo que você possa consultar
especificamente os assuntos que estiver estudando no dia ou na semana. Ao final de cada
capítulo você tem a oportunidade de revisar, praticar, identificar erros e aprofundar o assunto
com a leitura de jurisprudência selecionada.
E mesmo você gostando muito de tudo isso, acreditamos que o PDF sempre pode ser
aperfeiçoado! Portanto pedimos gentilmente que, caso tenha quaisquer sugestões ou
comentários, entre em contato através do email pdf@cers.com.br. Sua opinião vale ouro para
a gente!
Acreditamos que com esses recursos você estará munido com tudo que precisa para alcançar
a sua aprovação de maneira eficaz. Racionalizar a preparação dos nossos alunos é mais que
um objetivo para o CERS, trata-se de uma obsessão. Sem mais delongas, partiremos agora para
o estudo da disciplina.
Bons estudos
2
SOBRE ESTA DISCIPLINA
conflitos sociais possam ser pacificados de forma justa e, portanto, com normas previamente
estabelecidas.
Sabemos também que, em regra, a solução desses conflitos será dada pelo Estado, no
exercício da jurisdição, sendo excepcional a denominada autotutela (solução do conflito pela
força) e, apesar de incentivada pelo sistema, a autocomposição (solução pelo consenso) por
vezes não é permitida pelo ordenamento jurídico como forma de solução de conflitos. Quando
permitida, nem sempre será frutífera. Isso posto, é fundamental que o Estado tenha regras
preestabelecidas acerca de como será feita essa prestação jurisdicional. A disciplina processual,
portanto, seja ela penal ou cível, é de suma importância na medida em que é instrumento
indispensável para que a jurisdição seja exercida, de forma justa, à luz dos princípios
constitucionais atinentes à matéria, como o devido processo legal, o contraditório e a ampla
defesa.
Sendo assim, é uma matéria que é amplamente cobrada em todas as carreiras jurídicas,
seja na Magistratura, haja vista que o juiz deve ter pleno conhecimento acerca dos institutos
processuais para conduzir o processo e solucionar os conflitos, seja nas demais carreiras que
exercem funções essenciais à Justiça, como é o caso do Ministério Público, da Defensoria Pública
e da Advocacia Pública, pois em todas elas o manejo processual é fundamental para deduzir
pretensões em juízo.
No que se refere ao estudo da matéria, importante termos em vista que o atual Código
de Processo Civil (Lei nº 13.105) é datado de 16 de março de 2015, tendo entrado em vigor em
18 de março de 2016, ou seja, trata-se de um diploma recente, acerca do qual a jurisprudência
ainda não teve o tempo necessário para se consolidar sobre diversos aspectos, como ocorre em
3
outras matérias. Além disso, o examinador procura, sobretudo em provas objetivas, evitar a
anulação de questões e nada mais seguro do que cobrar texto de lei, pois isso impede
questionamentos posteriores acerca da prova. Dessa forma, a grande maioria das questões
acerca dessa matéria cobram a letra de lei, pois, além de seguro, é, nesse caso, novidade, de
modo que o examinador poderá também selecionar os candidatos que estão atualizados sobre
o assunto.
disposições legais, nos municiando acerca do sentido e alcance das mesmas, o que, além de
fundamental na vida prática, também é cobrado em prova. No que se refere à doutrina, existem
duas jornadas de direito processual civil, realizadas pelo Conselho da Justiça Federal, nos anos
de 2017 e 2018, ou seja, recentes, cujos enunciados podem ser cobrados em prova, sendo
também fonte segura para o examinador. Mas fiquem tranquilos, que esse material irá abordar
todos esses aspectos relevantes.
Uma dica importante: por vezes, na trajetória de concursos, ouvimos muito acerca da
importância da leitura da lei seca, a qual de fato é indispensável. Mas o cérebro humano não é
capaz de decorar tudo de todas as matérias, não é mesmo? Isso acaba gerando angústia no
candidato, que se sente frustrado por não conseguir “decorar” tudo. Portanto, aqui nesse
material, além de trazermos os destaques de lei seca, jurisprudência e doutrina, munindo o
aluno de tudo o que ele precisa saber para ter sucesso nas provas, também nos preocupamos
em abordar o histórico, os motivos, as razões e a aplicação prática dos temas para que o aluno
possa compreender a matéria, e, assim sendo, não ficar desesperado com a “decoreba”, o
estudo ficará mais interessante e a preparação muito mais completa, inclusive para as demais
etapas dos certames que, via de regra, exigem muito mais raciocínio do candidato.
4
Veja abaixo como se dá a distribuição macro da recorrência dessa disciplina:
RECORRÊNCIA DA DISCIPLINA
A partir da análise das últimas provas de Juiz de Direito, Juiz Federal, Promotor de Justiça,
Defensor Público, Procurador do Estado e Procurador Federal, verificou-se que a disciplina de
Direito Processual Civil possui grande recorrência, dada a sua importância, representando
enorme percentual de questões nas provas. Através destes dados, identificou-se quais os temas
mais cobrados na disciplina de Direito Processual Civil.
Além disso, fizemos um levantamento não apenas do tema cobrado, mas da forma como
ele foi cobrado, qual a fonte utilizada pelo examinador para elaborar a questão, isto é, se acerca
do tema cai mais lei seca, mais doutrina, mais jurisprudência etc. Assim, o material irá focar mais
na forma como as provas abordam a matéria, para que o estudo seja otimizado e eficiente.
1% 1%
2% 1%
2% 9%
2% 2% 1% 1%
2%
2%
2% 9%
3%
4% 8%
7%
4% 6%
4%
4%
5% 6%
4% 5%
5%
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TEMAS RECORRÊNCIA
Dos recursos
decisões judiciais
Da sentença e da coisa julgada
6
Ações Coletivas
Do litisconsórcio
Do processo de execução
Arbitragem
Processo Eletrônico
Lei n° 11.417/2006
7
Assim, os assuntos de Direito Processual Civil estão distribuídos da seguinte forma:
CAPÍTULOS
Capítulo 7 – Litisconsórcio
8
Capítulo 21 – Dos Processos Nos Tribunais e dos Meios de
Impugnação das Decisões Judiciais. Da Ordem dos Processos e dos
Processos de Competência Originária dos Tribunais.
9
SOBRE ESTE CAPÍTULO
Após a vigência do Novo Código de Processo Civil (Lei nº 13.105/15), por se tratar de
inovação legislativa recente, sem amparo jurisprudencial com grandes enfoques, a maioria das
provas limitava-se a cobrar o texto da lei. Ocorre que, como será demonstrado no decorrer do
material, passados mais de quatro anos da entrada em vigor da Lei nº 13.105/15, as bancas já
estão mudando o perfil.
Aqui iremos abordar os seguintes temas: princípios gerais, fontes, o estudo sobre a norma
processual civil e o direito intertemporal, que se refere justamente à entrada em vigor do Código
de Processo Civil de 2015 e qual a legislação aplicável aos processos que já estavam em trâmite
quando da mudança.
É muito importante que o aluno não despreze o aprendizado das matérias introdutórias
e da sua principiologia, pois isso é fundamental na compreensão geral dos institutos e para
solucionar questões que demandem maior raciocínio.
10
SUMÁRIO
Capítulo 1 ................................................................................................................................................ 13
11
1.7.7 Princípio da Isonomia....................................................................................................................................... 32
GABARITO ............................................................................................................................................... 56
JURISPRUDÊNCIA................................................................................................................................... 61
12
DIREITO PROCESSUAL CIVIL
Capítulo 1
As normas processuais são aquelas que se referem a toda relação processual e, também,
aos procedimentos. São normas de direito público, pois não se referem ao direito material em
juízo, que pode ser tanto de origem privada como pública, mas sim à relação entre as partes e
todos os que participam da relação processual, bem como aos atos processuais.
Sendo ramo do direito público, a maior parte de suas normas são cogentes, ou seja, de
observância obrigatória. Contudo, a legislação processual civil em vigor ampliou o rol de normas
dispositivas na relação processual, de modo que houve uma maior flexibilização dessas normas,
enuncia:
Art. 190. Versando o processo sobre direitos que admitam autocomposição, é lícito às
partes plenamente capazes estipular mudanças no procedimento para ajustá-lo às
13
especificidades da causa e convencionar sobre os seus ônus, poderes, faculdades e deveres
processuais, antes ou durante o processo.
Nós iremos estudar com mais detalhes esse dispositivo no Capítulo 4, mas é importante
a sua leitura nesse momento do estudo para percebermos que o ordenamento processual civil
buscou incentivar a autocomposição, ou, quando não for frutífera, nos direitos que admitem
autocomposição, passou a permitir a negociação processual, podendo as partes dispor sobre
o procedimento, evidentemente sempre sujeitos ao controle judicial.
Existem outras ocasiões em que o CPC permite uma maior disposição das partes em
matéria processual e estudaremos cada uma delas nos momentos oportunos, mas, a título de
exemplo, temos também o art. 373, §3°, que trata da distribuição convencional do ônus da
prova.
Quando falamos em fontes do direito, temos que dividi-las em fontes formais e em fontes
não formais, conforme nos ensina o doutrinador Marcus Vinicius Rios Gonçalves.
Lei
processual, conforme exposto no art. 22, I. Assim, a fonte primária, em regra, é a lei federal.
O CPC é a principal fonte.
14
Atenção aluno: alguns autores, como Fredie Didier Jr. entendem que não há diferença
entre processo e procedimento. Vale a pena a leitura do seguinte trecho de sua obra:
“De outro lado, há quem entenda que não há distinção entre “processo” e
“procedimento” – processo é procedimento, que é a posição adotada por este
Curso, como já se viu. À União caberia legislar sobre o Direito processual,
estabelecendo as normas que disciplinam os processos perante as cortes federais e
as normas gerais que tratam dos processos que tramitam nas cortes estaduais; aos
Estados, caberia suplementar e suprir omissões da legislação federal, com foco na
disciplina do processo perante as cortes estaduais, em atenção às suas
peculiaridades locais. Essa segunda interpretação é adotada por este Curso, quer
pela absoluta ausência de distinção entre “processo” e “procedimento”, quer porque
se trata interpretação que dá a máxima eficácia aos comandos constitucionais.” 1
Aliás, a própria Constituição Federal é sem dúvidas fonte do direito processual civil, na
medida em que elenca normais processuais fundamentais atinentes ao processo, como é o caso
do princípio do devido processo legal, que estudaremos adiante neste capítulo.
O art. 4 da LINDB dispõe: “Quando a lei for omissa, o juiz decidirá o caso de acordo com
a analogia, os costumes e os princípios gerais de direito .”
Assim, conforme se extrai do texto legal, havendo omissão legislativa, o magistrado deve
se valer dessas fontes para decidir o caso concreto posto à sua análise. Ou seja, tais fontes
servem para integrar o ordenamento jurídico no caso de anomia (ausência de lei capaz de
disciplinar aquele caso concreto).
1
DIDIER JR., Fredie. Curso de Direito Processual Civil: Introdução ao Direito Processual Civil, Parte Geral e Processo
de Conhecimento. 21. ed. - Salvador: Ed. Jus Podivm, 2019, p. 79.
15
os princípios gerais de direito são também fontes formais do sistema, e municiam o julgador
de elementos para integrar o ordenamento, de modo que o sistema jurídico não possuiria
lacunas, justamente porque não tem como fonte só a lei, podendo sempre ser integrado nos
casos de anomia.
As Súmulas Vinculantes estão previstas no art. 103-A da Constituição Federal, que foi
inserido pela EC 45/04, e são disciplinadas pela Lei nº 11.417/06. Acerca do tema, as provas
tendem a cobrar o estudo da lei seca, por isso é importante que o aluno primeiro leia o artigo
constitucional (abaixo transcrito e com destaque para as partes mais importantes) e em seguida
a Lei nº 11.417/06, que é bem pequena e em muitos dispositivos repete a própria Constituição.
Confira:
Art. 103-A. O Supremo Tribunal Federal poderá, de ofício ou por provocação, mediante
decisão de dois terços dos seus membros, após reiteradas decisões sobre matéria
constitucional, aprovar súmula que, a partir de sua publicação na imprensa oficial, terá
efeito vinculante em relação aos demais órgãos do Poder Judiciário e à administração
pública direta e indireta, nas esferas federal, estadual e municipal, bem como proceder à
sua revisão ou cancelamento, na forma estabelecida em lei. (Incluído pela Emenda
Constitucional nº 45, de 2004) (Vide Lei nº 11.417, de 2006).
§ 1º A súmula terá por objetivo a validade, a interpretação e a eficácia de normas
determinadas, acerca das quais haja controvérsia atual entre órgãos judiciários ou entre
esses e a administração pública que acarrete grave insegurança jurídica e relevante
multiplicação de processos sobre questão idêntica. (Incluído pela Emenda
Constitucional nº 45, de 2004)
§ 2º Sem prejuízo do que vier a ser estabelecido em lei, a aprovação, revisão ou
cancelamento de súmula poderá ser provocada por aqueles que podem propor a ação
direta de inconstitucionalidade. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
§ 3º Do ato administrativo ou decisão judicial que contrariar a súmula aplicável ou que
indevidamente a aplicar, caberá reclamação ao Supremo Tribunal Federal que, julgando-a
procedente, anulará o ato administrativo ou cassará a decisão judicial reclamada, e
determinará que outra seja proferida com ou sem a aplicação da súmula, conforme o
caso. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
2
Vide questão 10.
16
Conforme se denota da leitura do artigo, o STF tanto de ofício como por provocação
pode, mediante aprovação de 2/3 dos seus membros, editar súmula após reiteradas decisões
sobre matéria constitucional, a qual será vinculante para o Poder Judiciário e também para
a Administração Pública direta e indireta de todos os entes federativos, a partir de sua
publicação. Esse também é o quórum necessário para revisão e cancelamento do enunciado.
O STF, contudo, pelo mesmo quórum de 2/3, poderá restringir os efeitos vinculantes
OU decidir que só tenha eficácia a partir de outro momento, por questões de segurança
jurídica ou excepcional interesse público.
3
Para ajudar a memorizar utilizamos as seguintes cores:
Rosa: Poder Executivo
Azul: Poder Legislativo
Vermelho: refere-se a Tribunais, MP, DP e advocacia.
Verde: em ambos há exigência do caráter nacional (representação no congresso nacional/âmbito nacional)
17
Legitimados acrescidos pela Lei nº
Legitimados pela CF
11.417/06
Presidente da República
Tribunais Superiores, os Tribunais de
Mesa do Senado Federal
Justiça de Estados ou do Distrito
Mesa da Câmara dos Deputados
Federal e Territórios, os Tribunais
Governador do Estado ou DF
Regionais Federais, os Tribunais
Mesa da Assembleia Legislativa ou da
Regionais do Trabalho, os Tribunais
Câmara Legislativa do DF
Regionais Eleitorais e os Tribunais
Procurador-Geral da República
Militares
Conselho Federal da OAB
Partido Político com representação no
Congresso Nacional
Defensor Público-Geral da União
Confederação Sindical ou Entidade de
Classe de Âmbito Nacional
O art. 102, §2°, da Constituição Federal dispõe que: “As decisões definitivas de mérito,
proferidas pelo Supremo Tribunal Federal, nas ações diretas de inconstitucionalidade e nas ações
declaratórias de constitucionalidade produzirão eficácia contra todos e efeito vinculante,
18
relativamente aos demais órgãos do Poder Judiciário e à administração pública direta e
indireta, nas esferas federal, estadual e municipal.”
Essas decisões também são vinculantes e, portanto, fontes formais acessórias do direito
processual civil.
1.3 Interpretação
ramo do direito, no caso aqui o Direito Processual Civil. Bem como, ser analisada a partir do
texto constitucional, de modo que todo o ordenamento jurídico deve ser lido e interpretado em
19
1.3.1 Quanto aos meios:
Extensiva: o texto legal diz menos do que gostaria de dizer, logo o alcance da norma
é maior do que o texto da lei.
Restritiva: aqui é o oposto. A norma disse mais do que gostaria de dizer, de modo
que o seu alcance é menor do que previsto na lei.
Declarativa: o alcance da norma coincide com o seu texto.
do CPC, segundo o qual as normas de processo civil têm validade e eficácia, em caráter exclusivo,
sobre todo o território nacional, ressalvadas apenas as disposições específicas previstas em
20
1.4.2 Lei Processual Civil no Tempo4
O art. 14 do Código de Processo Civil prevê que a norma processual não retroagirá e
que será aplicada imediatamente aos processos em curso, sendo respeitados os atos
Assim, quanto à aplicação da norma processual aos processos ainda em trâmite, isto é,
aqueles não acobertados pelo fenômeno processual da coisa julgada, aplica-se a regra do
tempus regit actum, não tendo a lei nova o condão de atingir atos processuais já consumados.
Quanto aos atos que perduram no tempo, temos que a nova lei não pode prejudicar o
direito adquirido processual. Assim, se um recurso, por exemplo, é extinto pela nova lei que
entra em vigor durante o prazo processual de sua interposição, a parte não será prejudicada.
Contudo, a lei nova retroagirá para benefício da parte, como, por exemplo, no caso de ampliação
Em suma:
A lei nova não pode retroagir para prejudicar direitos processuais adquiridos.
4
Vide questão 7.
21
1.5 Direito Processual Intertemporal. Critérios. Aplicabilidade das
disposições de direito probatório adotadas no CPC/155
a sentença.
partir daí, que sejam impostas as regras do CPC sobre recursos e seu processamento.
A doutrina também aduz que os prazos processuais iniciados antes do NCPC serão
integralmente regulados pelo CPC/73 (Enunciado 267, FPPC), e que a regra de contagem dos
prazos em dias úteis só se aplica àqueles iniciados após a vigência do NCPC (Enunciado 268,
FPPC).
QUADRO DE VIGÊNCIA
5
Vide questão 9.
22
Decisão publicada na égide do CPC/2015 Recursos e prazos do CPC/2015
Recursos Lei da publicação da sentença
Condições da ação Lei da propositura da ação
Contestação Lei da citação
Lei do requerimento, ou do momento da
Provas
determinação de ofício.
O Novo Código de Processo Civil foi estruturado para ser aplicado à luz da Constituição
da República de 1988, em uma verdadeira filtragem constitucional. Sendo assim, os artigos
iniciais tratam sobre os direitos fundamentais processuais, a serem observados por todas as
partes do processo.
dispositivos uma repetição do que já se encontra no texto Constitucional. Como exemplo tem-
se a duração razoável do processo (art. 5º, LXXVIII, CF), o contraditório (art. 5º, LV, CF), a isonomia
processual (art. 5º, CF), a fundamentação das decisões judiciais (art. 93, IX, CF).
Assim sendo, além dos princípios encontrados na nossa Constituição (como os princípios
6
Vide questão 4.
7
Vide questões 1, 2, 3, 5 e 6.
23
O art. 1º da Lei nº 13.105/15, ao determinar que “O processo civil será ordenado,
da Constituição Federal. Nos artigos seguintes, como veremos, são repetidos também alguns
preceitos constitucionais acerca da matéria, reforçando o comando dado pelo código no artigo
que o inaugura.
Federal: Ninguém será privado da liberdade ou de seus bens sem o devido processo legal;
devendo o Judiciário observar as garantias inerentes ao Estado de Direito.
ao processo civil, de modo que ele seria suficiente para uma correta prestação jurisdicional.
Sua origem história remonta ao ano de 1215, quando foi outorgada a Magna Carta, pelo
rei inglês João Sem Terra.
Devido processo legal formal (procedural due process): diz respeito ao processo,
às garantias que ele deve respeitar e ao regramento legal que deve obedecer.
Devido processo legal substancial ( substantive due process): constitui
autolimitação ao poder estatal, que não pode editar normas que ofendam a
razoabilidade e afrontem as bases do regime democrático.
24
1.7.2 Princípio da Inércia
determina que, uma vez provocada à função jurisdicional do Estado, este tem o dever de
impulsionar a marcha processual, no sentido de ver sanada a lide (conflito de interesse
O art. 3º, caput, elenca o princípio da inafastabilidade da jurisdição, oriundo do art. 5º,
XXXV, da Constituição Federal: “a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou
ameaça a direito”. Não se pode deixar de mencionar a valorização dada pelo NCPC aos métodos
de solução consensual de conflitos, como é o caso da conciliação e da mediação.
ele dirigidos. O Poder Judiciário não pode se recusar a examinar e a responder os pedidos que
lhe foram formulados.
Penas disciplinares aplicadas aos militares (art. 142, §2º): não caberá habeas
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administrativo é determinante para aquilatar o interesse de agir. O STF entendeu
condicioná-lo.
Atenção aluno: aqui não se trata propriamente de uma exceção ao princípio,
mas tão somente da não verificação de uma das condições da ação, qual seja,
Uma das novidades que o aluno deve tomar bastante atenção, reside no art. 4º, o qual
atividade satisfativa”.
Aqui é importante que o aluno tenha em mente que não basta o mero reconhecimento
do direito, mas sim a sua satisfação, a efetividade da tutela jurisdicional prestada. Não basta
assegurar o acesso à justiça, deve-se assegurar também que a tutela jurisdicional prestada seja
efetiva, o que inclui não apenas a solução do caso concreto, mas também a atividade satisfativa.
Isso é um dos elementos que compõem aquilo que Kazuo Watanabe denominou de “acesso à
ordem jurídica justa”.
Dá-se tanto na fase de conhecimento, quanto na execução. Uma das formas pela qual
o NCPC busca dar essa efetividade é por meio da jurisprudencialização. De acordo com o
referido princípio, as partes têm o direito de obter, em prazo razoável, a solução integral do
mérito, de maneira satisfativa.
26
Sobre o tema, assunto interessante é a disciplina judiciária do magistrado: o magistrado
deve aplicar a jurisprudência dos Tribunais Superiores, de maneira que o juiz que não cumpre
tal determinação é institucionalmente indisciplinado.
Dessa forma, de acordo com esse novo sentido de jurisprudencialização, trazido pelo
novo código, o nosso sistema passa a ser um hibridismo entre o civil law e o common law.
O art. 5º do NCPC elencou a boa-fé objetiva como norma fundamental do processo civil,
adquirindo natureza principiológica. Trata-se de uma cláusula geral processual, isso porque
seria impossível elencar hipóteses concretas em que se configuraria a violação do mencionado
princípio. Apesar disso, o NCPC, em alguns dispositivos, traz situações em que se caracteriza a
má-fé, como é o caso do art. 80 do Diploma Legal. Isso apenas reforça a necessidade de
observância da boa-fé objetiva, pois, ainda que não houvesse artigos esparsos, a cláusula geral
já seria suficiente para enquadrar como litigante de má-fé aquele que agisse de maneira desleal.
A boa-fé objetiva trata de uma norma de conduta, é agir de forma leal no processo.
Não se deve confundir com a boa-fé subjetiva, que se refere à intenção do sujeito.
Conforme já decidido pelo Superior Tribunal de Justiça, a boa-fé não se aplica apenas
às partes litigantes, mas a todos aqueles que participam da relação processual, como é o caso
Confira:
Como vimos, a boa-fé objetiva deve ser observada por todo aquele que participa
do processo, incluídos os magistrados. No caso que iremos verificar abaixo, o processo estava
suspenso, pois foi homologada a convenção pela suspensão do processo, portanto, não era
possível a prática de atos processuais, com exceção dos urgentes. Dessa forma, o Poder
Judiciário criou nas partes a legítima expectativa de que o processo só voltaria a tramitar após
o prazo convencionado. Logo, não se pode admitir que, durante o prazo de suspensão, sejam
realizados atos processuais, como a publicação da sentença, começando a fluir dessa data o
prazo para recurso. O Estado-juiz, nesse caso, praticou ato contraditório, incidindo na vedação
Confira:
8
STJ. 4ª Turma. AgRg no AREsp 91311-DF, Rel. Min. Antonio Carlos Ferreira, julgado em 6/12/2012 (Info 511).
28
1. O objeto do presente recurso é o juízo negativo de admissibilidade da Apelação proferido
pelo Tribunal de Justiça, que admitiu o início da contagem de prazo recursal de decisão
publicada enquanto o processo se encontra suspenso, por expressa homologação do juízo
de 1° grau.
2. Cuida-se, na origem, de Ação Declaratória ajuizada pela recorrente contra o Município
de Porto Alegre, tendo como objetivo a declaração de nulidade de processo administrativo
que culminou na aplicação de penalidades pela instalação irregular de duas Estações Rádio
Base (ERBs) naquela municipalidade.
3. O Tribunal a quo não conheceu da Apelação da ora recorrente, porquanto concluiu que
se trata de recurso intempestivo, sob o fundamento de que a suspensão do processo teria
provocado indevida modificação de prazo recursal peremptório.
4. Com base nos fatos delineados no acórdão recorrido, tem-se que: a) após a interposição
dos Embargos de Declaração contra a sentença de mérito, as partes convencionaram a
suspensão do processo pelo prazo de 90 (noventa) dias; b) o juízo de 1° grau homologou
a convenção em 12.9.2007 (fl. 343, e-STJ); c) posteriormente, em 2.10.2007, foi publicada a
sentença dos aclaratórios; d) a Apelação foi interposta em 7.1.2008.
5. Antes mesmo de publicada a sentença contra a qual foi interposta a Apelação, o juízo
de 1° grau já havia homologado requerimento de suspensão do processo pelo prazo de 90
(noventa) dias, situação em que se encontrava o feito naquele momento, conforme
autorizado pelo art. 265, II, § 3°, do CPC. 6. Não se trata, portanto, de indevida alteração de
prazo peremptório (art. 182 do CPC). A convenção não teve como objeto o prazo para a
interposição da Apelação, tampouco este já se encontrava em curso quando requerida e
homologada a suspensão do processo.
7. Nessa situação, o art. 266 do CPC veda a prática de qualquer ato processual, com a
ressalva dos urgentes a fim de evitar dano irreparável. A lei processual não permite, desse
modo, que seja publicada decisão durante a suspensão do feito, não se podendo
cogitar, por conseguinte, do início da contagem do prazo recursal enquanto paralisada
a marca do processo.
8. É imperiosa a proteção da boa-fé objetiva das partes da relação jurídico-processual,
em atenção aos princípios da segurança jurídica, do devido processo legal e seus corolários
- princípios da confiança e da não surpresa - valores muito caros ao nosso ordenamento
jurídico.
9. Ao homologar a convenção pela suspensão do processo, o Poder Judiciário criou nos
jurisdicionados a legítima expectativa de que o processo só voltaria a tramitar após o
termo final do prazo convencionado. Por óbvio, não se pode admitir que, logo em
seguida, seja praticado ato processual de ofício - publicação de decisão - e, ademais,
considerá-lo como termo inicial do prazo recursal.
10. Está caracterizada a prática de atos contraditórios justamente pelo sujeito da relação
processual responsável por conduzir o procedimento com vistas à concretização do
princípio do devido processo legal. Assim agindo, o Poder Judiciário feriu a máxima nemo
29
potest venire contra factum proprium, reconhecidamente aplicável no âmbito processual.
Precedentes do STJ.
11. Recurso Especial provido. 9
das partes do processo se vale da estratégia de não alegar a nulidade no momento que ela
ocorreu e espera para utilizar futuramente caso seja conveniente. Essa postura é denominada
“nulidade de algibeira”. Algibeira significa bolso, de modo que essa expressão foi consagrada
para denominar essas situações em que a parte tem essa “jogada” escondida no “bolso”, uma
verdadeira “carta na manga” para utilizar caso seja oportuno. Evidente a violação do dever de
lealdade nessa situação, de modo que esta prática é rechaçada pela jurisprudência da Corte
Superior.
Confira:
9
STJ. 2ª Turma. REsp 1306463-RS, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 4/9/2012 (Info 503).
10
STJ. 3ª Turma. REsp 1372802-RJ, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em 11/3/2014 (Info 539).
30
1.7.6 Princípio da Cooperação
Aqui não se trata de obrigar que as partes se ajudem, até porque na maioria das vezes
estão em situação de conflito, mas que “ajudem o processo”, ou seja, que atuem de modo a
Conforme nos ensina Fredie Didier Jr., existem dois modelos de processos tradicionais:
modelo adversarial (prepondera o princípio dispositivo) e o modelo inquisitorial (prepondera o
Esses modelos não necessariamente são adotados em sua inteireza durante todo o
mencionados.
processuais, isto é, não são as partes apenas ou o órgão jurisdicional sozinho que irão conduzir
o processo, mas todos de forma cooperativa. Esse formato, inclusive, conforme o ilustre
É importante compreender que não se trata de buscar uma decisão conjunta entre as
partes e o Estado-juiz. Sobre o assunto, veremos adiante que a autocomposição é, sim,
incentivada pela ordem processual civil, mas não estamos falando disso aqui. A cooperação não
se refere à solução do conflito propriamente dita, mas sim à atividade processual, sobre o
31
caminho que será percorrido até a resolução do conflito, atividade esta que deve ser realizada
de modo cooperativo.
Esse princípio vem estabelecido no art. 5º, caput e inciso I, da Constituição Federal, que
assegura que todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza. Sob o aspecto
processual, a isonomia revela-se pela necessidade de dar às partes tratamento igualitário em
relação ao exercício de direitos e faculdades processuais, aos meios de defesa, aos ônus, aos
deveres e à aplicação de sanções processuais (art. 7º, do CPC).
É um princípio dirigido ao legislador e ao juiz, e que exige que a lei e o Judiciário tratem
Há situações em que a lei concede privilégios a um dos litigantes, sem que isso ofenda
o princípio da isonomia, por serem justificados pelo contexto, como é o caso do prazo em
dobro para Ministério Público, Defensoria Pública e Fazenda Pública, a remessa necessária, a
32
1.7.8 Princípio do Contraditório
Deve-se, portanto, dar ciência aos participantes do processo de tudo o que nele ocorre,
dando-lhes oportunidades de se manifestar e de se opor aos requerimentos do adversário.
De acordo com o artigo 9º, passa a ser regra o contraditório prévio, logo a decisão
inaudita altera parte é, a princípio, proibida. Contudo, existem casos em que o contraditório
poderá ser diferido, ou seja, primeiro é deferido o pedido para depois ouvir o réu. São casos
notadamente em que há urgência na prestação da tutela jurisdicional ou em que a prévia
ciência do réu tornará a medida ineficaz. Assim, o CPC elencou algumas exceções, nas quais
pode-se conceder decisão liminar sem a oitiva prévia da outra parte, ou seja, casos em que o
contraditório será diferido:
33
ou improcedência liminar do pedido, o juiz extinguirá o processo sem a oitiva da parte
beneficiada, que será posteriormente comunicada por ato pelo escrivão ou pelo chefe da
secretaria, conforme artigos 239 e 241.
Não pode deixar de se atentar ao que estabelece o art. 10, nele há a previsão do
denominado Princípio do Contraditório Substanciado (em que as partes têm a oportunidade
de influenciar na decisão final proferida), tudo com o fito de IMPEDIR a prolação da chamada
“decisão surpresa”.
pública, aquelas em que pode decidir de ofício, o Juiz não as pode proferir sem que seja
conferido à parte o direito ao contraditório. Esse contraditório deve ser substancial, ou seja,
Assim, há um tripé:
Conhecer: a parte precisa saber o que está acontecendo, através de citação, intimação;
Participar: deve poder manifestar-se no processo, a fim de provar suas alegações
(direito de produzir prova);
Influir: a participação deve ser suficiente, para que o juiz possa apreciar as alegações
das partes.
34
Importante distinguir duas modalidades de decisão: a decisão surpresa é aquela
proferida sem a observância do contraditório. Por outro lado, é chamada de decisão de
terceira via a proferida com base em fundamento não discutido pelas partes.
Com a impossibilidade de decisão de terceira via, o Juiz tem o dever de ouvir as partes
antes de uma decisão, por fundamento do dever de consulta.
O art. 93, IX, da Consituição Federal prevê que: “todos os julgamentos dos órgãos do
Poder Judiciário serão públicos, e fundamentadas todas as decisões, sob pena de nulidade,
podendo a lei limitar a presença, em determinados atos, às próprias partes e a seus advogados,
ou somente a estes, em casos nos quais a preservação do direito à intimidade do interessado
no sigilo não prejudique o interesse público à informação; ”.
atividade exercida pelo Estado-juiz, seja pelas partes que litigam, seja pelas instâncias superiores
ou até mesmo pela própria sociedade.
De acordo com o artigo 11, do CPC, todos os julgamentos do judiciário serão públicos
justamente porque não possuem conteúdo decisório e, portanto, não são idôneos a causar
prejuízos às partes.
35
O próprio código nos traz, no art. 489, §1°, exemplos de situações em que as decisões
provas do processo não têm um valor preestabelecido, de modo que o magistrado poderá
valora-las à luz do caso concreto, mas esta atividade desenvolvida pelo juiz não é ilimitada, não
se trata de um livre convencimento puro, pois a decisão deve ser motivada, fundamentada em
elementos constantes no processo. Assim sendo, fica ainda mais clara a importância da
fundamentação das decisões, pois o controle da valoração da prova só será possível se houver
motivação.
Art. 4º As partes têm o direito de obter em prazo razoável a solução integral do mérito,
incluída a atividade satisfativa.
36
Há três sujeitos desse princípio:
Legislador: que deve editar leis que acelerem e não travem o andamento dos
processos.
Administrador: que deverá zelar pela manutenção adequada dos órgãos judiciários,
caminhe para uma solução rápida, de modo a buscar os melhores resultados possíveis,
Ainda, é comezinho que os doutrinadores têm chamado essa parte do art. 4º (“solução
integral do mérito”) de princípio da primazia do julgamento do mérito.
Trata-se de princípio implícito. Assim, examinando o texto constitucional, vemos que não
há nenhum dispositivo que preceitue, de forma expressa, o duplo grau de jurisdição em todos
os processos.
37
QUADRO SINÓTICO
Formais:
Lei
Analogia, costumes e princípios gerais de direito
Súmula Vinculante
Decisões definitivas de mérito proferidas pelo STF em controle de
FONTES
constitucionalidade
Não Formais:
Doutrina
Precedentes judiciais
Meios:
Gramatical/Literal
Sistemática
Teleológica/Finalística
Histórica
INTERPRETAÇÃO
Resultado:
Extensiva
Restritiva
Declarativa
38
Princípio do Contraditório
Princípio da Não Surpresa ou do Contraditório Substanciado
Princípio da Fundamentação das Decisões
Princípio da Duração Razoável do Processo
Princípio do Duplo Grau de Jurisdição
39
QUESTÕES COMENTADAS
Questão 1
A) Isonomia.
B) Cooperação.
C) Informalidade.
D) Boa-fé objetiva.
Comentário:
O NCPC trouxe, na sua Parte Geral, Livro I, um título específico sobre as normas fundamentais
do Processo Civil (arts. 1º a 15), onde são encontrados diversos Princípios Fundamentais, tais
direitos e faculdades processuais, aos meios de defesa, aos ônus, aos deveres e à aplicação de
sanções processuais, competindo ao juiz zelar pelo efetivo contraditório”. Do artigo 7º, extrai-
40
Por sua vez, dispõe o artigo 6º do NCPC que, “todos os sujeitos do processo devem cooperar
entre si para que se obtenha, em tempo razoável, decisão de mérito justa e efetiva”, trazendo
o PRINCÍPIO DA COOPERAÇÃO.
Por fim, o artigo 5º trata do PRINCÍPIO DA BOA-FÉ, segundo o qual “aquele que de qualquer
forma participa do processo deve comportar-se de acordo com a boa-fé”, impondo a todos que
participam do processo os deveres de probidade e moralidade, uma vez que, o processo não
pode ser utilizado para obtenção de resultados ilícitos, escusos, devendo todos zelar pela correta
O Princípio da Informalidade, por sua vez, não pode ser considerado um Princípio
FUNDAMENTAL do Processo Civil, como um todo, uma vez que a norma processual traz diversas
formalidades que devem ser respeitadas (sem prejuízo da aplicação do Princípio da
Instrumentalidade das Formas). Frise-se, entretanto, que o Princípio da Informalidade é um dos
Questão 2
41
C) O princípio da cooperação atinge somente as partes do processo que devem cooperar entre
E) Será possível, em qualquer grau de jurisdição, a prolação de decisão sem que se dê às partes
oportunidade de se manifestar, se for matéria da qual o juiz deva decidir de ofício.
Comentário:
decisão ou se conceda tutela antecipada contra uma das partes sem que ela seja previamente
ouvida (decisão surpresa).
Art. 9º, CPC/2015: “Não se proferirá decisão contra uma das partes sem que ela seja previamente
ouvida.”
A letra B está correta, sendo, deste modo, o gabarito da questão. A boa-fé no processo tem a
função de estabelecer comportamentos probos e éticos aos diversos personagens do processo
e restringir ou proibir a prática de atos atentatórios à dignidade da justiça.
Art. 5º, CPC/2015. Aquele que de qualquer forma participa do processo deve comportar-se de
acordo com a boa-fé.
Também incorreto o disposto na questão C, pois não atinge somente as partes, mas todos os
sujeitos.
Art. 6º, CPC/2015: Todos os sujeitos do processo devem cooperar entre si para que se obtenha,
em tempo razoável, decisão de mérito justa e efetiva.
Errada a questão D, pois o art. 8 do CPC enuncia que o juiz, ao aplicar o ordenamento jurídico,
42
Art. 8º, CPC/2015: Ao aplicar o ordenamento jurídico, o juiz atenderá aos fins sociais e às
exigências do bem comum, resguardando e promovendo a dignidade da pessoa humana e
observando a proporcionalidade, a razoabilidade, a legalidade, a publicidade e a eficiência .
manifestar, ainda que se trate de matéria sobre a qual deva decidir de ofício.
Art.10. CPC/2015: O juiz não pode decidir, em grau algum de jurisdição, com base em
fundamento a respeito do qual não se tenha dado às partes oportunidade de se manifestar,
ainda que se trate de matéria sobre a qual deva decidir de ofício .
Questão 3
(FCC - TJ-MS JUIZ DE DIREITO SUBSTITUTO - 2020) Em relação aos princípios constitucionais
do processo civil, considere os enunciados seguintes:
II. O princípio da isonomia processual não deve ser entendido abstrata e sim concretamente,
garantindo às partes manter paridade de armas, como forma de manter equilibrada a disputa
judicial entre elas; assim, a isonomia entre partes desiguais só pode ser atingida por meio de
um tratamento também desigual, na medida dessa desigualdade.
III. A razoável duração do processo abrange sua solução integral, incluindo-se a atividade
satisfativa, assegurados os meios que garantam a celeridade da tramitação processual.
IV. O princípio do contraditório processual aplica-se apenas à matéria dispositiva, mas não às
matérias de ordem pública, casos em que o juiz poderá agir de ofício prescindindo-se da oitiva
prévia das partes.
A) I e IV.
43
B) I e II.
C) III e IV.
D) II e III.
Comentários:
I – Alternativa errada: a publicidade é de fato a regra, conforme dispõe o art. 93, IX, da
Constituição Federal e o art. 189 do CPC:
Art. 93, IX: “todos os julgamentos dos órgãos do Poder Judiciário serão públicos, e
fundamentadas todas as decisões, sob pena de nulidade, podendo a lei limitar a presença, em
determinados atos, às próprias partes e a seus advogados, ou somente a estes, em casos nos
quais a preservação do direito à intimidade do interessado no sigilo não prejudique o interesse
público à informação;”
Art. 189: Os atos processuais são públicos, todavia tramitam em segredo de justiça os processos:
I - em que o exija o interesse público ou social; II - que versem sobre casamento, separação de
corpos, divórcio, separação, união estável, filiação, alimentos e guarda de crianças e
adolescentes; III - em que constem dados protegidos pelo direito constitucional à intimidade;
IV - que versem sobre arbitragem, inclusive sobre cumprimento de carta arbitral, desde que a
confidencialidade estipulada na arbitragem seja comprovada perante o juízo. § 1º O direito de
consultar os autos de processo que tramite em segredo de justiça e de pedir certidões de seus
atos é restrito às partes e aos seus procuradores. § 2º O terceiro que demonstrar interesse
jurídico pode requerer ao juiz certidão do dispositivo da sentença, bem como de inventário e
de partilha resultantes de divórcio ou separação.
Contudo, conforme se verifica da leitura dos dispositivos transcritos as hipóteses não são
taxativas.
44
II – Alternativa correta. Como vimos acima, o princípio da isonomia compreende não apenas o
aspecto formal, mas também o material, no sentido de que os desiguais devem ser tratados de
forma desigual na medida de suas desigualdades. Contudo, pela redação da questão o aluno
poderia entender que a isonomia formal não é utilizada pelo ordenamento, o que seria um
equívoco, pois por vezes ela é suficiente para garantir a isonomia no caso concreto. Ou seja,
III – Alternativa correta. O princípio da efetividade, previsto no art. 4 do CPC prevê que o
processo deve ter duração razoável (origem constitucional, art. 5, LXXVIII), o que inclui a
atividade satisfativa. Ou seja, a efetividade significa não apenas reconhecer o direito, mas usufruir
desse reconhecimento.
segundo o qual o juiz ao decidir deve sempre ouvir previamente as partes, ainda que a matéria
possa ser decidida de ofício, para que estas possam efetivamente influir na decisão. Cuidado:
não confundir matérias que podem ser conhecidas de ofício com a possibilidade de decisão
sem oitiva das partes. É possível que existam matérias que possam ser conhecidas de ofício,
Questão 4
(CESPE/CEBRASPE – TJ-PA JUIZ DE DIREITO SUBSTITUTO – 2019) Após ser elaborada lista
que continha a ordem cronológica de conclusão para proferir sentença, a parte requereu
prioridade no julgamento, alegando urgência. O juiz, no entanto, indeferiu o pedido, por não
ter vislumbrado a urgência alegada.
Nessa situação hipotética, o processo retornará para a lista na
A) mesma posição em que ocupava caso o juiz entenda que o pedido não era meramente
protelatório.
45
B) mesma posição que ocupava, independentemente da constatação de necessidade de
conversão em diligência.
C) mesma posição que ocupava, se não houver necessidade de reabertura da instrução.
D) última posição entre os que já estavam na lista quando da apresentação do pedido pelo
autor.
E) última posição, se o juiz entender que o pedido era manifestamente incabível.
Comentário:
A questão pode ser facilmente resolvida a partir da leitura do art. 12 do CPC, que se
encontra no capítulo das normas fundamentais do processo. Segundo o dispositivo, os juízes e
tribunais devem atender a ordem cronológica da conclusão para proferir sentença ou acórdão.
Após a inclusão do processo na lista de processos aptos a julgamento, se houver requerimento
formulado pela parte isso a princípio NÃO altera a ordem cronológica para a decisão, SALVO
se houver reabertura da instrução ou conversão do julgamento em diligência.
Dessa forma a alternativa correta é a C, pois no caso o processo irá voltar para a posição
que já ocupava, salvo se houver necessidade de reabertura da instrução. As demais alternativas
Questão 5
I. Não se considera “decisão surpresa” ou “decisão de terceira via” aquela que, à luz do
ordenamento jurídico nacional, as partes tinham obrigação de prever, concernente às condições
da ação, aos pressupostos de admissibilidade de recurso e aos pressupostos processuais.
46
participação, ao mesmo tempo em que todos os sujeitos processuais cooperam com a condução
do processo.
III. Por meio do contraditório, as partes têm o condão de delimitar a atividade decisória aos
limites do pedido (princípio da congruência ou da adstrição), coibindo o julgamento não apenas
fora e além do pedido, mas, inclusive, em desconformidade com a causa de pedir.
IV. A defesa técnica no processo civil é prescindível para assegurar às partes, ao longo de todas
as etapas do procedimento, a chamada “competência de atuação”, diretamente relacionada ao
exercício pleno dos princípios da ampla defesa, da isonomia e do contraditório.
Comentário:
Item I: Incorreto. De acordo com o princípio do contraditório substanciado, o juiz deve sempre
dar às partes a oportunidade de se manifestar, antes de tomar a decisão, ainda que a matéria
possa ser decidida de oficio e ainda que se trate de condições da ação, pressupostos de
admissibilidade de recurso e de pressupostos processuais.
Item II: Correto. No modelo cooperativo do processo não é o juiz sozinho que deve conduzi-lo,
ou seja, não há protagonismo, já que tanto as partes como o órgão jurisdicional irão conduzir
o processo de modo cooperativo.
Item III: Correto. O princípio da congruência, segundo o qual a decisão deve ser delimitada
pelos limites impostos pela demanda, deve ser compreendido não apenas em relação ao pedido
propriamente dito, mas a partir da causa de pedir. O princípio do contraditório encontra
vinculação ao princípio da congruência na medida em que delimita os limites do caso posto a
apreciação do Poder Judiciário.
47
Item IV: Incorreto. Não é dispensável a defesa técnica no processo civil. A capacidade
postulatória é inclusive um dos pressupostos processuais.
Questão 6
(MPE-SC – PROMOTOR DE JUSTIÇA – 2019) O Código de Processo Civil dispõe que o juiz não
pode decidir, em grau algum de jurisdição, com base em fundamento a respeito do qual não
se tenha dado às partes oportunidade de se manifestar, salvo se tratar de matéria sobre a qual
Certo
Errado
Comentário:
De acordo com o princípio do contraditório substanciado, previsto no art. 10 do CPC, o juiz não
pode decidir com base em fundamento acerca do qual não tenha dado as partes a oportunidade
de se manifestar, ainda que sobre a matéria possa decidir de ofício.
Logo, a assertiva está errada, pois ela é exceção à regra de matérias cognoscíveis de ofício, o
que não está de acordo com a legislação processual civil.
Questão 7
48
A) a lei passou a ser aplicada apenas aos processos ajuizados depois da sua entrada em
vigor, sem retroatividade, em atenção à unidade processual e à validade dos atos
processuais já praticados, evitando, com isso, a utilização de duas normas no mesmo
processo.
B) os atos que estavam pendentes nos processos em curso no momento da sua entrada em
vigor se sujeitaram à nova lei processual, mas foi preservada a eficácia dos atos
processuais já praticados na égide da lei antiga, aplicando a teoria do isolamento dos
atos processuais.
D) aplicou a teoria da unidade processual, segundo a qual a lei nova deve incidir sobre todos
os atos processuais praticados e a praticar no processo em curso, refazendo-se aqueles
realizados em desconformidade com a nova lei.
E) o novo CPC aplicou a teoria da unidade processual, incidindo a sua aplicação sobre os
atos já praticados e os por vir a ser, repetindo aqueles efetivados em desacordo com a
nova regra processual.
Comentário:
49
Sistema das fases processuais: o processo seria dividido em fases independentes, de
modo que a lei vigente no início dessa fase será a aplicada até o seu término e eventual
inovação legislativa será aplicada apenas na fase subsequente.
As alternativas D e E estão erradas, pois afirmam que foi adotado o sistema da unidade
processual, o que não é verdade.
A alternativa A está errada, pois conforme previsão do art. 14 do CPC a norma processual será
aplicada imediatamente aos processos em curso (sistema do isolamento dos atos processuais).
A alternativa C está errada, pois se refere ao sistema das fases processuais, o qual não foi
adotado pelo nosso ordenamento.
A alternativa B está correta, pois em consonância com o sistema do isolamento dos atos
processuais (art. 14, CPC).
Questão 8
A) O legislador usou da chamada “teoria das fases processuais”, de modo que cada fase é
analisada e claramente identificada, promovendo-se a aplicação da nova lei quando
houver nova fase processual na demanda em curso.
B) A teoria adotada pelo legislador foi a chamada “teoria do isolamento dos atos
processuais”, ou seja, cada ato é claramente identificado (e olhado de forma
50
individualizada), promovendo-se a aplicação da nova lei quando houver novo ato
processual na demanda em curso.
C) Com esse dispositivo, o legislador determina o respeito aos atos processuais praticados
e a situações jurídicas consolidadas na vigência da norma revogada tão somente quando
dessas não resultarem piora da situação processual de qualquer das partes. O que for em
benefício da parte, sempre retroagirá.
Comentário:
51
Alternativa A: errada, pois se refere ao sistema das fases processuais.
Alternativa B: correta, pois se refere ao sistema adotado pelo Brasil do isolamento dos atos
processuais, previsto no art. 14 do CPC.
Alternativa C: errada, pois de acordo com o art. 14 do CPC os atos processuais já praticados e
as situações jurídicas consolidadas sob a vigência da lei revogada serão respeitados.
Alternativa E: errada, a norma processual será aplicada imediatamente aos processos em curso,
respeitados os atos processuais já praticados e as situações jurídicas consolidadas sob a vigência
da lei revogada. Assim, não está se referindo ao direito material, mas sim ao direito processual.
Questão 9
(FCC- DPE-BA DEFENSOR PÚBLICO – 2016) Sobre o direito processual intertemporal, o novo
Código de Processo Civil
C) vige desde o dia de sua publicação, porque a lei processual é de natureza cogente e
possui efeito imediato.
E) não possui efeito retroativo e se aplica, em regra, aos processos em curso, respeitados
os atos processuais praticados e as situações jurídicas consolidadas sob a vigência da
norma revogada.
52
Comentário:
Alternativa A: errada, o art. 14 do CPC prevê expressamente que a norma processual não
retroagirá.
Alternativa B: errada, o art. 1047 do CPC prevê que as disposições acerca do direito probatório
do NCPC se aplicam apenas às provas requeridas ou determinadas de ofício a partir da data de
início de sua vigência. Assim, se a prova foi requerida antes do início da sua vigência aplica-se
o ACPC.
Alternativa C: errada, o CPC teve 1 ano de vacatio legis, não entrando em vigor no dia de sua
publicação.
Alternativa D: errada. De fato, o NCPC extinguiu o procedimento sumário, hoje temos apenas o
procedimento comum (ao lado dos especiais), que não é dividido em espécies. O art. 1046, §1°
do CPC prevê que as disposições do ACPC relativas ao procedimento sumário devem se aplicar
as ações já propostas e não sentenciadas até o início da vigência do NCPC. Assim, é falsa a
afirmação de que o NCPC impôs a extinção de todas as ações ajuizadas sob este procedimento.
Questão 10
A) Súmula vinculante será editada somente se tiver por objetivo a interpretação de normas
acerca das quais haja comprovada controvérsia entre órgãos judiciários.
53
D) O efeito vinculante da súmula em relação a todos os órgãos do Poder Judiciário se dá a
partir de sua aprovação pelo plenário do STF; em relação à administração direta e indireta,
tal efeito ocorre com a publicação da súmula na imprensa oficial.
Comentário:
Alternativa A: errada. O art. 103-A, §1° da Constituição prevê que acerca da norma deve haver
controvérsia entre órgãos judiciários ou entre esses e a administração pública.
Alternativa B: errada. A reclamação é dirigida ao STF e não ao CNJ (art. 103-A, §3° da
Constituição).
Alternativa D: errada. A própria Constituição Federal, no art. 103-A, caput, prevê que o efeito
vinculante da súmula aprovada tem início a partir da sua publicação na imprensa oficial.
Alternativa E: Correta. A alternativa reproduz o art. 103-A, §2°, da CF: “Sem prejuízo do que vier
a ser estabelecido em lei, a aprovação, revisão ou cancelamento de súmula poderá ser provocada
por aqueles que podem propor a ação direta de inconstitucionalidade .”
54
Mesa da Câmara dos Deputados Federal e Territórios, os Tribunais
Governador do Estado ou DF Regionais Federais, os Tribunais
Mesa da Assembleia Legislativa ou Regionais do Trabalho, os Tribunais
da Câmara Legislativa do DF Regionais Eleitorais e os Tribunais
Procurador-Geral da República Militares
Conselho Federal da OAB
Partido Político com representação Defensor Público-Geral da União
no Congresso Nacional
Confederação Sindical ou Entidade
de Classe de Âmbito Nacional
55
GABARITO
Questão 1 - C
Questão 2 - B
Questão 3 - D
Questão 4 - C
Questão 5 - D
Questão 6 - ERRADO
Questão 7 - B
Questão 8 - B
Questão 9 - E
Questão 10 - E
56
QUESTÃO DESAFIO
57
GABARITO QUESTÃO DESAFIO
As fontes podem ser diretas ou imediatas, que são aquelas que têm potencial
suficiente para gerar regra jurídica como a lei. Ou podem ser fontes indiretas ou mediatas,
que são aquelas que exercem papel de influência na futura elaboração da norma, não têm
Por fonte direta ou imediata entende-se por aquelas que geram regras jurídicas. Assim,
nas palavras do doutrinador Humberto Theodoro Júnior: “Pode-se, em síntese, afirmar que, no
Estado Democrático de Direito brasileiro atual, fontes legais diretas ou imediatas do direito
processual são a Constituição, os tratados internacionais e as leis infraconstitucionais.”
(Theodoro Júnior, Humberto, Curso de Direito Processual Civil – vol. I: teoria geral do direito
processual civil, processo de conhecimento, procedimento comum – 60. ed. – Rio de Janeiro:
Forense, 2019, p. 83).
Importante observar que o próprio CPC buscou trazer outras legislações como fontes
diretas do direito processual civil, como quando o art. 1º reconhece que: “O processo civil será
ordenado, disciplinado e interpretado conforme os valores e as normas fundamentais
estabelecidos na Constituição da República Federativa do Brasil”. Nesse sentido, o legislador
expressamente reconheceu que o processo civil não tem apenas o seu próprio Código como
fonte imediata, mas, pelo contrário, busca embasamento, acima de tudo, no texto
constitucional.
Não apenas as normas escritas são consideras fontes do direito processual civil. O que
acontece é que o legislador nunca será capaz de prever solução para todas as situações
58
concretas e futuras, principalmente em razão das grandes mudanças dos valores ético-sociais
Nesse sentido temos a lição do professor Elpídio Donizetti: “Por essa razão, a doutrina e
a jurisprudência também devem ser consideradas como fontes do Direito, os quais servirão para
auxiliar o julgador no preenchimento das omissões legislativas, já que não lhe é permitido se
59
LEGISLAÇÃO COMPILADA
60
JURISPRUDÊNCIA
PRINCÍPIOS
⮚ STJ. 4ª Turma. AgRg no AREsp 91311-DF, Rel. Min. Antonio Carlos Ferreira, julgado em 6/12/2012
(Info 511).
1. Os atos praticados pelos serventuários da Justiça gozam de fé pública e presunção de veracidade, devendo
permanecer válidos enquanto não houver declaração de nulidade, a qual não prejudicará a parte de boa-fé.
3. No caso, o advogado havia se dado por intimado da sentença mediante cota nos autos. Ato contínuo, foi lançada
certidão com a expressão "sem efeito" sobre a referida cota. Não há certidão de retirada dos autos em carga.
4. O advogado tinha legítima expectativa de que o ato do serventuário ocorreu de forma válida, devendo o prazo
da apelação ser contado a partir da publicação na imprensa oficial.
5. No caso concreto, o Tribunal de origem, ao considerar intempestivo o apelo, vai de encontro aos mencionados
princípios processuais e contraria o art. 141, V, do CPC.
6. Decisão reconsiderada para conhecer do agravo nos próprios autos e dar provimento ao recurso especial.
Conforme já decidido pelo Superior Tribunal de Justiça, a boa-fé não se aplica apenas
às partes litigantes, mas a todos aqueles que participam da relação processual, como é o caso
dos magistrados e serventuários da justiça, de modo que eventuais equívocos perpetrados
61
por estes agentes não têm o condão de prejudicar as partes. Ou seja, aplica-se também o venire
contra factum proprium para atos do juiz e dos serventuários da justiça.
⮚ STJ. 2ª Turma. REsp 1306463-RS, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 4/9/2012 (Info 503).
1. O objeto do presente recurso é o juízo negativo de admissibilidade da Apelação proferido pelo Tribunal de
Justiça, que admitiu o início da contagem de prazo recursal de decisão publicada enquanto o processo se encontra
suspenso, por expressa homologação do juízo de 1° grau.
2. Cuida-se, na origem, de Ação Declaratória ajuizada pela recorrente contra o Município de Porto Alegre, tendo
como objetivo a declaração de nulidade de processo administrativo que culminou na aplicação de penalidades pela
instalação irregular de duas Estações Rádio Base (ERBs) naquela municipalidade.
3. O Tribunal a quo não conheceu da Apelação da ora recorrente, porquanto concluiu que se trata de recurso
intempestivo, sob o fundamento de que a suspensão do processo teria provocado indevida modificação de prazo
recursal peremptório.
4. Com base nos fatos delineados no acórdão recorrido, tem-se que: a) após a interposição dos Embargos de
Declaração contra a sentença de mérito, as partes convencionaram a suspensão do processo pelo prazo de 90
(noventa) dias; b) o juízo de 1° grau homologou a convenção em 12.9.2007 (fl. 343, e-STJ); c) posteriormente, em
2.10.2007, foi publicada a sentença dos aclaratórios; d) a Apelação foi interposta em 7.1.2008.
5. Antes mesmo de publicada a sentença contra a qual foi interposta a Apelação, o juízo de 1° grau já havia
homologado requerimento de suspensão do processo pelo prazo de 90 (noventa) dias, situação em que se
encontrava o feito naquele momento, conforme autorizado pelo art. 265, II, § 3°, do CPC.
6. Não se trata, portanto, de indevida alteração de prazo peremptório (art. 182 do CPC). A convenção não teve
como objeto o prazo para a interposição da Apelação, tampouco este já se encontrava em curso quando requerida
e homologada a suspensão do processo.
62
7. Nessa situação, o art. 266 do CPC veda a prática de qualquer ato processual, com a ressalva dos urgentes a fim
de evitar dano irreparável. A lei processual não permite, desse modo, que seja publicada decisão durante a
suspensão do feito, não se podendo cogitar, por conseguinte, do início da contagem do prazo recursal
enquanto paralisada a marca do processo.
8. É imperiosa a proteção da boa-fé objetiva das partes da relação jurídico-processual, em atenção aos princípios
da segurança jurídica, do devido processo legal e seus corolários - princípios da confiança e da não surpresa -
valores muito caros ao nosso ordenamento jurídico.
9. Ao homologar a convenção pela suspensão do processo, o Poder Judiciário criou nos jurisdicionados a
legítima expectativa de que o processo só voltaria a tramitar após o termo final do prazo convencionado. Por
óbvio, não se pode admitir que, logo em seguida, seja praticado ato processual de ofício - publicação de decisão
- e, ademais, considerá-lo como termo inicial do prazo recursal.
10. Está caracterizada a prática de atos contraditórios justamente pelo sujeito da relação processual responsável
por conduzir o procedimento com vistas à concretização do princípio do devido processo legal. Assim agindo, o
Poder Judiciário feriu a máxima nemo potest venire contra factum proprium, reconhecidamente aplicável no âmbito
processual. Precedentes do STJ.
No caso em tela, o processo estava suspenso, pois foi homologada a convenção pela
suspensão do processo, portanto, não era possível a prática de atos processuais, com exceção
dos urgentes. Dessa forma, o Poder Judiciário criou nas partes a legítima expectativa de que o
processo só voltaria a tramitar após o prazo convencionado. Logo, não se pode admitir que,
⮚ STJ. 3ª Turma. REsp 1372802-RJ, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em 11/3/2014
(Info 539).
63
RECURSOS ESPECIAIS. PROCESSUAL CIVIL. EXECUÇÃO. SUBSTITUIÇÃO DA PENHORA. EQUIVOCADA CERTIFICAÇÃO
DO TRÂNSITO EM JULGADO. NULIDADE. SANEAMENTO DO PROCESSO. PRAZO PARA CONTRAMINUTA AO
AGRAVO DE INSTRUMENTO. NULIDADE SANÁVEL. PRECLUSÃO OCORRÊNCIA.
1. Nulidade da certidão de trânsito em julgado equivocadamente lavrada.
2. "A intimação para a apresentação de contra-razões é condição de validade da decisão que causa prejuízo ao
recorrente" (REsp 1.148.296/SP, CORTE ESPECIAL, rito do art. 543-C).
3. Essa nulidade, porém, decorrente da falta de intimação para contrarrazões fica sanada com a intimação realizada
em momento posterior. Analogia como disposto no art. 214, § 1º, do CPC, relativo à citação. Doutrina sobre o
tema.
4. Inadmissibilidade da chamada "nulidade de algibeira". Precedente específico.
5. Inexistência de previsão legal para contrarrazões em agravo regimental. Precedentes.
6. Descabimento da anulação do acórdão do agravo regimental sob o pretexto de sanar nulidade já sanada ou de
cumprir formalidade não prevista em lei.
7. Necessidade de se manter o atual estado da execução, com base no poder geral de cautela, até a resolução
definitiva da controvérsia de fundo.
8. RECURSO ESPECIAL RETIDO PROVIDO, PREJUDICADO O RECURSO PRINCIPAL.
Esse julgado se refere à violação do princípio da boa-fé quando uma das partes do
processo se vale da estratégia de não alegar a nulidade no momento em que ela ocorreu e
esperar para utilizar futuramente caso seja conveniente. Essa postura é denominada “nulidade
de algibeira”. Algibeira significa bolso, de modo que essa expressão foi consagrada para
denominar essas situações em que a parte tem essa “jogada” escondida no “bolso”, uma
verdadeira “carta na manga” para utilizar caso seja oportuno. Evidente a violação do dever de
lealdade nessa situação, de modo que esta prática é rechaçada pela jurisprudência da Corte
Superior.
⮚ STJ. EREsp 1021851/SP, Rel. Ministra LAURITA VAZ, CORTE ESPECIAL, julgado em 28/06/2012, DJe
04/10/2012
64
1. A reprodução de fundamentos declinados pelas partes ou pelo órgão do Ministério Público ou mesmo de outras
decisões atendem ao comando normativo, e também constitucional, que impõe a necessidade de fundamentação
das decisões judiciais. O que não se tolera é a ausência de fundamentação. Precedentes citados: HC 163.547/RS,
5.ª Turma, Rel. Ministra LAURITA VAZ, DJe de 27/09/2010; HC 92.479/RS, 5.ª Turma, Rel. Ministro NAPOLEÃO NUNES
MAIA FILHO, DJe de 09/03/2009; HC 92.177/RS, 6.ª Turma, Rel. Ministro HAROLDO RODRIGUES - Desembargador
convocado do TJCE -, DJe de 07/12/2009; HC 138.191/RS, 5.ª Turma, Rel. Ministro FELIX FISCHER, DJe de 07/12/2009;
AgRg no REsp 1186078/RS, 5.ª Turma, Rel. Ministra LAURITA VAZ, DJe de 28/06/2011; HC 98.282/RS, 5.ª Turma,
Rel. Ministro ARNALDO ESTEVES LIMA, DJe de 16/11/2009; RHC 15.448/AM, 5.ª Turma, Rel. Ministro GILSON DIPP,
DJ de 14/06/2004; HC 27347/RJ, 6.ª Turma, Rel. Ministro HAMILTON CARVALHIDO, DJ de 01/08/2005; HC
192.107/TO, 5.ª Turma, Rel. Ministro GILSON DIPP, DJe de 17/08/2011.
2. Embargos de divergência, com relação à competência da Corte Especial, conhecidos, mas rejeitados.
Determinação de redistribuição dos embargos no âmbito da Primeira Seção para análise dos recursos à luz dos
paradigmas remanescentes.
sobretudo para que possa haver fiscalização destas e para que a parte possa eventualmente
recorrer da mesma. Tal princípio está previsto no art. 93, IX, da CF. O art. 489, §1° do CPC
O STJ, no julgado acima, decidiu que o que não se admite é a ausência de fundamentação,
⮚ STJ. 3ª Turma.REsp 1666321-RS, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 07/11/2017 (Info 615).
65
1. O propósito recursal consiste em definir o recurso cabível contra o provimento jurisdicional que, após a
entrada em vigor do CPC/2015, acolhe incidente de impugnação à gratuidade de justiça instaurado, em autos
apartados, na vigência do regramento anterior (arts. 4º, 7º e 17 da Lei 1.060/50).
2. A sucessão de leis processuais no tempo subordina-se ao princípio geral do "tempus regit actum", no qual
se fundamenta a teoria do isolamento dos atos processuais.
3. De acordo com essa teoria - atualmente positivada no art. 14 do CPC/2015 - a lei processual nova tem aplicação
imediata aos processos em desenvolvimento, resguardando-se, contudo, a eficácia dos atos processuais já
realizados na forma da legislação anterior, bem como as situações jurídicas consolidadas sob a vigência da norma
revogada.
4. Em homenagem ao referido princípio, esta Corte consolidou o entendimento de que "a lei a reger o recurso
cabível e a forma de sua interposição é aquela vigente à data da publicação da decisão impugnada, ocasião
em que o sucumbente tem a ciência da exata compreensão dos fundamentos do provimento jurisdicional que
pretende combater" (AgInt nos EDcl no AREsp 949.997/AM, 3ª Turma, DJe de 21/09/2017).
5. Na espécie, em que pese a autuação do incidente de impugnação à gratuidade de justiça em autos apartados,
segundo o procedimento vigente à época, o provimento jurisdicional que revogou o benefício foi prolatado já
na vigência do CPC/2015, que prevê o cabimento do recurso de agravo de instrumento.
6. A via recursal eleita pelo recorrente, portanto, mostra-se adequada, impondo-se a devolução dos autos ao
Tribunal de origem para que prossiga no julgamento do agravo de instrumento.
foi prolatada na vigência do NCPC, logo o recurso cabível é o agravo de instrumento, previsto
66
MAPA MENTAL
67
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
______. Lei nº 13.105 de 16 de março de 2015. Institui o Código de Processo Civil. Brasília: Presidência da República,
2015.
BUENO, Cassio Scarpinella. Manual de Direito Processual Civil: Inteiramente Estruturado à Luz do Novo CPC, de
acordo com a Lei n. 13.256, de 4-2-2016. 2. ed. rev., atual. e ampl. – São Paulo: Saraiva, 2016.
CAVALCANTE, Márcio André Lopes. Vade Mecum de Jurisprudência Dizer o Direito. 4ª Edição. – Salvador: Ed. Podivm,
2018.
CAVALCANTE, Márcio André Lopes. Súmulas do STF e STJ. 3ª Edição. – Salvador: Ed. Podivm, 2018.
DIDIER JR., Fredie. Curso de Direito Processual Civil: Introdução ao Direito Processual Civil, Parte Geral e Processo
de Conhecimento. 18. ed. - Salvador: Ed. Jus Podivm, 2016.
DIDIER JR., Fredie. Curso de Direito Processual Civil: Introdução ao Direito Processual Civil, Parte Geral e Processo
de Conhecimento. 21. ed. - Salvador: Ed. Jus Podivm, 2019.
GONÇALVES, Marcus Vinicius Rios. Direito Processual Civil Esquematizado/ Marcus Vinicius Rios Gonçalves;
coordenador Pedro Lenza. 6. ed. São Paulo: Saraiva, 2016.
GONÇALVES, Marcus Vinicius Rios. Direito Processual Civil Esquematizado/ Marcus Vinicius Rios Gonçalves;
coordenador Pedro Lenza. 7. ed. São Paulo: Saraiva, 2016.
Neves, Daniel Amorim Assumpção. Manual de Direito Processual Civil - Volume Único. 10ª edição. Editora JusPodvm,
2018.
Thamay, Rennan. Manual de Direito Processual Civil – 2. ed. – São Paulo: Saraiva Educação, 2019.
THEODORO JÚNIOR, Humberto. Curso de Direito Processual Civil – Teoria geral do direito processual civil, processo
de conhecimento e procedimento comum – vol. I/Humberto Theodoro Júnior. 58. ed. rev., atual. e ampl. – Rio de
Janeiro: Forense, 2017.
68
MA
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CARREIRA JURÍDICA
DIREITO PROCESSUAL
PENAL
CAPÍTULO 1
Olá, aluno!
garantindo que você terá em mãos um conteúdo direcionado e distribuído de forma inteligente.
Para isso, estamos constantemente analisando o histórico de provas anteriores com fins
de entender como cada Banca e cada Carreira costuma cobrar os assuntos do edital. Afinal,
queremos que sua atenção esteja focada nos assuntos que lhe trarão maior aproveitamento,
pois o tempo é escasso e o cronograma é extenso. Conte conosco para otimizar seu estudo
sempre!
estrutura do CERS Book foi feita em capítulos, de modo que você possa consultar
especificamente os assuntos que estiver estudando no dia ou na semana. Ao final de cada
capítulo você tem a oportunidade de revisar, praticar, identificar erros e aprofundar o assunto
com a leitura de jurisprudência selecionada.
E mesmo você gostando muito de tudo isso, acreditamos que o PDF sempre pode ser
aperfeiçoado! Portanto pedimos gentilmente que, caso tenha quaisquer sugestões ou
comentários, entre em contato através do email pdf@cers.com.br. Sua opinião vale ouro para
a gente!
Acreditamos que com esses recursos você estará munido com tudo que precisa para alcançar
a sua aprovação de maneira eficaz. Racionalizar a preparação dos nossos alunos é mais que
um objetivo para o CERS, trata-se de uma obsessão. Sem mais delongas, partiremos agora para
o estudo da disciplina.
Bons estudos
2
SOBRE ESTA DISCIPLINA
Olá, futuros membros das Carreiras Jurídicas! Neste PDF daremos início ao estudo da
disciplina Direito Processual Penal, que possui uma altíssima incidência em seu concurso.
Desta forma, vale lembrar que as notas de corte, na fase inicial dos concursos, são altas,
então, cada ponto e questão são de extrema importância para sua aprovação, então fiquem
atentos!
entre outros. Além disso, você deve ficar atento às mudanças realizadas pelo Pacote Anticrime!
Assim, é importante se atentar ao edital e às peculiaridades da banca e do órgão.
concursos de carreiras compatíveis, ou, questões interessantes para o seu aprendizado; bem
como informativos sobre o assunto tratado. Há, também, ao final, a questão-desafio, que, como
o nome sugere, propõe a sua autoavaliação de desempenho sobre o conteúdo estudado no
capítulo.
STF, selecionadas pela novidade no âmbito desses Tribunais e pela repercussão no meio jurídico,
cobradas em concursos públicos), apesar de compilá-los por assunto ao final de cada capítulo,
é imprescindível que você, caro aluno, faça um estudo proativo por meio de acesso aos sites
dos Tribunais Superiores.
Por fim, vale acrescentar, que em que pese já termos pontuados alguns temas sejam mais
3
RECORRÊNCIA DA DISCIPLINA
A partir da análise das últimas provas das várias Carreiras Jurídicas, verificou-se que a disciplina de
Direito Processual Penal possui como temas mais cobrados:
1% 1% 1%
1%
2%
2% 1%
2% 13%
2%
3%
3%
11%
3%
4%
4%
11%
5%
5%
9%
6%
8%
4
TEMAS RECORRÊNCIA
Nulidades e Recursos
Provas
Competência
Sentença
Lei nº 11.340/2006
Ação Civil
Lei nº 11.343/2006
Lei nº 9.613/98
Lei nº 12.037/2009
Lei n° 8.038/90
Lei nº 12.694/2012
Lei nº 13.344/2016
5
Lei nº 9.807/99
Juiz de Garantias
6
Assim, os assuntos de Direito Processual Penal estão distribuídos da seguinte forma:
CAPÍTULOS
7
Capítulo 21 – Aspectos Processuais da Lei nº 7.210-1984 e suas
Alterações (Lei De Execução Penal - LEP)
Capítulo 22 – Lei nº 8.069/90 (Estatuto da Criança e do Adolescente)
Capítulo 23 – Lei nº 10.259/01
Capítulo 24 – Lei nº 9.503/97 (Código de Trânsito Brasileiro - CTB)
Capítulo 25 – Lei nº 11.343/06 (Lei de Drogas)
Capítulo 26 – Lei nº 8.072/90 (Lei dos Crimes Hediondos)
Capítulo 27 – Lei nº 8.930/94
Capítulo 28 – Lei nº 9.455/97 (Crimes de Tortura)
Capítulo 29 – Lei 9.087/99 (Proteção à Vítima e à Testemunha do
Crime)
Capítulo 30 – Lei nº 9.613/98 (Lavagem de Valores)
Capítulo 31 – Lei nº 9.296/96 (Interceptação Telefônica)
Capítulo 32 – Lei nº 9.605/98 (Crimes Ambientais)
Capítulo 33 – Lei nº 8.038/90
Capítulo 34 – Decreto-Lei Nº 1.002/64
Capítulo 35 – Lei nº 12.037/09
Capítulo 36 – Lei nº 12.850/13 (Lei de Organizações Criminosas)
Capítulo 37 – Lei nº 11.340/06 (Lei de Violência Doméstica)
Capítulo 38 – Lei nº 12.258/10 (Lei de Monitoramento Eletrônico)
Capítulo 39 – Lei nº 13.869/19
Capítulo 40 – Regras Mínimas para o Tratamento do Preso no Brasil
8
SOBRE ESTE CAPÍTULO
disciplina do Direito Processual Penal, passando pela sua conceituação, competência legislativa,
fontes e características.
penal, que inegavelmente exigem do aluno grande atenção, dada a importância não apenas
como condição para aprovação no seu concurso público, mas também para o exercício das suas
funções como Delegado de Polícia, Defensor Público, Magistrado, Promotor de Justiça etc.
sistemas processuais penais, em razão da recente reforma promovida pela Lei nº 13.964/2019
(“Pacote Anticrime) no Código de Processo Penal, certamente os próximos certames para todas
as Carreiras Jurídicas passarão a cobrá-los com maior ênfase, tendo em vista a constante busca
Como se trata de tema com recente alteração, sugere-se o estudo a partir da lei seca
(Constituição Federal e Código de Processo Penal) e da jurisprudência dos Tribunais Superiores.
A doutrina, nesse momento, pode servir como aprofundamento para a segunda fase do certame
ou para a fase oral, tendo em vista a possibilidade de questionamento ao candidato sobre
divergências doutrinárias.
Por fim e não menos importante, cuida-se de temas de rápida leitura e compreensão, não
exigindo maior esforço nos estudos.
9
SUMÁRIO
Capítulo 1 ................................................................................................................................................ 11
GABARITO ............................................................................................................................................... 33
JURISPRUDÊNCIA................................................................................................................................... 39
10
DIREITO PROCESSUAL PENAL
Capítulo 1
No capítulo inaugural, trataremos das bases da disciplina do Direito Processual Penal, a fim
de tornar seguro o caminho dos estudos e da preparação para os concursos públicos das
Carreiras Jurídicas. A exegese do Direito Processual Penal perpassa pela análise de sua
objetivação, fontes, características e, sobretudo, pelos sistemas processuais.
1. Noções Introdutórias
1.1 Introdução
Com a prática da conduta prevista abstratamente como infração penal, seja ela crime ou
contravenção penal (fato típico, ilícito e culpável), surge o direito de punir do Estado, ius
puniendi in concreto. Entretanto, o Estado não pode aplicar a pena automaticamente ao infrator,
sendo preciso que seja instaurado um processo judicial para satisfazer a essa pretensão punitiva
(nulla poena sine judicio).
sanção penal.
Como fica o devido processo legal com a transação penal nos casos de infrações de menor
potencial ofensivo? A transação penal e os seus requisitos serão detalhados mais adiante no
curso, mas é preciso saber que através desse instituto podem ser aplicadas penas restritivas de
direitos e pena de multa ao sujeito antes do recebimento da denúncia. Mesmo quando a
11
transação penal é admitida, não se trata de imposição direta da pena! Nesse caso, é utilizado
para a resolução da causa uma forma não tradicional: a solução consensual, sempre mediante
a supervisão do judiciário.
E quanto ao novo instituto do acordo de não persecução penal, trazido pelo artigo 28-A
pela Lei nº 13.964/2019? Em relação a ele, seu estudo também será desenvolvido ao longo do
curso, mas é bom que se tenha em mente que também se trata da adoção do modelo de justiça
Portanto, podemos afirmar que o processo penal serve como instrumento para que o Estado
aplique a devida sanção penal ao autor do fato delituoso, sem arbítrios ou coerções, devendo
Pondera Aury Lopes Jr. que o processo penal é o caminho necessário para que se possa
chegar, legitimamente, à aplicação da pena, isto é, que seja compreendido não mais sob o
antigo viés de que se trata de mero mecanismo do direito de punir, mas que é um instrumento
que deve observância rigorosa e obrigatória às garantias constitucionais. 1
Por que é preciso tanto rigor processual para aplicar uma pena? Lembre-se que aplicação
do direito penal pode ser muito gravosa para o agente, resultando até mesmo na privação da
sua liberdade. Estamos diante do grande dilema do processo penal: o respeito necessário aos
1
LOPES JUNIOR, Aury. Direito Processual Penal. 17.ed. São Paulo: Saraiva Educação, 2020, pp. 45-46.
12
1.1.1 Conceito
É hipótese de jurisdição necessária, pois o Estado deve instaurar processo diante de uma
infração penal.
A finalidade imediata ou direta do direito processual penal é fazer valer o direito e punir
A competência para legislar sobre direito processual penal é privativa da União (artigo 22,
inciso I, da CF/88), podendo ser atribuída aos estados-membros a competência sobre questões
específicas de direito local mediante lei complementar (artigo 22, parágrafo único, da CF/88). Já
em relação ao Direito Penitenciário, afeto à execução penal, a competência é concorrente entre
1.1.3 Fontes
da norma. Deve ser legislada privativamente pela União. Lei complementar poderá autorizar os
Estados a legislar sobre questões específicas. Atente, Aluno, que a competência para legislar
13
b) Fonte formal ou de cognição: refere-se ao meio pelo qual uma norma jurídica é revelada
no ordenamento jurídico.
b.1) Fontes primárias, imediatas ou diretas: a lei, os tratados, convenções e regras de Direito
Internacional.
1.1.4 Características
Autonomia
O Direito Processual Penal não é submisso ao direito material, pois possui princípios e
regras próprias.
Instrumentalidade
O Direito Processual Penal constitui-se em um meio para fazer atuar o direito penal
material.
Normatividade
14
2. Sistemas Processuais Penais
O sistema processual inquisitivo surgiu com o Direito Canônico, na Europa, no século XIII,
sobretudo, em Roma, com expansão por quase toda a Europa Continental, a partir do Concílio
de Latrão, em 12152.
acusação, de ofício; é ele quem produz as provas e é ele que, ao final, profere a decisão, “[....]
podendo, no curso do processo submeter o acusado a torturas (na origem), a fim de obter a
rainha das provas: a confissão”.3
a dizer que o acusado não era considerado detentor ou sujeito de direitos, e, como possuía a
verdade sobre o crime, deveria prestar contas ao julgador, partindo daí a premissa de que o
Há a concentração dos poderes de acusar e julgar nas mãos de um único órgão do Estado.
de provas com maior e menor valor. A que possui mais valor é a confissão (chamada de “a
rainha das provas”), independentemente de ter sido colhida mediante métodos de tortura.
Depoimentos testemunhais (chamadas por Mittermayer como “a prostituta das provas) são
válidos quando colhidos por pessoas do clero, da nobreza, desprezando-se os depoimentos de
crianças, idosos, deficientes e das mulheres. Por fim, no sistema inquisitório não vigora as
2
NETTO, José Laurindo de Souza. Processo Penal: sistemas e princípios. Curitiba: Juruá, 2010, p. 25.
3
NETTO, José Laurindo de Souza. Op. cit., p. 25.
4
NETTO, José Laurindo de Souza. Op. cit., p. 27.
15
garantias do devido processo legal (due process of law) e do duplo grau de jurisdição, ou seja,
não há possibilidade de submissão das decisões judiciais para revisão ou reforma por um
tribunal ou juízo distinto e hierarquicamente superior.
José Frederico Marques explica os vícios do sistema processual inquisitivo, ao expor que:
O Código de Processo Penal de 1941 foi elaborado com base no Código de Processo Penal
italiano de 1930, criado por Mussolini e com nítida inspiração antidemocrática e inquisitiva, em
um regime histórico fascista. Na década de 1940, o então presidente do Brasil, Getúlio Vargas,
que mantinha estreitos laços de amizade com o presidente italiano, trouxe uma verdadeira
“cópia” do diploma processual italiano, que não era voltado à garantia dos direitos fundamentais
humanos, mas, sobretudo, buscava à efetivação de uma investigação criminal que enxerga o
indivíduo como objeto da persecução penal e não como sujeito de direitos, e que confere
A redação primitiva do Código de Processo Penal/1940 foi sendo objeto de macro reformas
consecutivas após a Constituição Federal de 1988, com o objetivo de espelhar o tratamento do
sistema processual acusatório e de considerar o ser humano como sujeito detentor de direitos.
Os principais marcos podem ser vistos em relação aos procedimentos e sistema probatório
(pelas Leis nº 11.689/2008, 11.690/2008 e 11.719/2008), e após, quanto às prisões provisórias e
medidas cautelares pessoais (pela Lei nº 12.403/2011), e por último, mais recentemente, quanto
à estrutura do sistema acusatório do processo penal brasileiro e suas implicações às garantias
5
MARQUES, José Frederico. Elementos de Direito Processual Penal. v.1. Campinas: Bookseller, 1997, p. 70.
16
Pelo que acima ficou consignado, podemos notar que as principais características do
prática da tortura;
Não há debates orais, predominando procedimentos exclusivamente escritos;
O sistema acusatório tem seu primeiro registro em 1166, em Clarendon, na Inglaterra, por
meio da chamada form of action6, e ganhou relevo quando da criação dos tribunais do júri
ingleses, expandindo-se para importantes marcos legais, como a Magna Carta Libertatum (1215),
Bill of Rights (1689) e Act of Settlement (1710).7
Com a divisão das funções de acusar, defender e julgar, o processo acusatório é actum
trium personarum.
6
NETTO, José Laurindo de Souza. Processo Penal: sistemas e princípios. Curitiba: Juruá, 2010, p. 22
7
NETTO, José Laurindo de Souza. Op. cit., p. 23.
17
O procedimento acusatório privilegia o princípio da presunção de inocência, pode ser
Para preservar a imparcialidade, o julgador deve adotar uma postura passiva quanto à
produção de provas no sistema acusatório, deixando a atividade probatória como encargo das
“No processo penal acusatório, que campeou na Índia, entre os atenienses e entre
os romanos, notadamente durante o período republicano, e que, presentemente,
com as alterações ditadas pela evolução, vigora em muitas legislações, inclusive,
na nossa, existem, como traços profundamente marcantes: a) o contraditório,
como garantia político-jurídica do cidadão; b) as partes acusadoras e acusada, em
decorrência do contraditório, encontram-se no mesmo pé de igualdade; c) o
processo é público, fiscalizável pelo olho do povo (excepcionalmente se permite
uma publicidade restrita ou especial); d) as funções de acusar, defender e julgar
são atribuídas a pessoas distintas, e, logicamente, não é dado ao Juiz iniciar o
processo (ne procedat judex ex officio); e) o processo pode ser oral ou escrito;
f) existe, em decorrência do contraditório, igualdade de direitos e obrigações entre
as partes, pois “non debet licere actori, quod reo non permittitur”; g) a iniciativa
do processo cabe à parte acusadora, que podrrá ser o ofendido ou seu
representante legal, qualquer cidadão do povo ou órgão do Estado”.8
valor, possuindo todas o mesmo valor, e que devem ser cotejadas pelo juiz, à luz do
mandamento do “livre convencimento motivado”, previsto no artigo 155 do Código de Processo
Penal.
8
TOURINHO FILHO, Fernando da Costa. Processo penal. 18.ed. São Paulo: Saraiva, 1997, p. 34.
18
No sistema acusatório, via de regra, admitem-se todos os meios de prova, exceto quando
Por fim, no sistema processual acusatório, vem como premissas básicas o mandamento do
devido processo legal (due process of law) e do duplo grau de jurisdição, com a possibilidade
de revisão e reforma das decisões jurisdicionais por tribunais ou juízos distintos e
hierarquicamente superiores.
de paridade de armas);
Vigora a publicidade do procedimento;
19
O artigo 3º-A do CPP, acrescido pela Lei nº 13.964/2019 (“Pacote Anticrime”) consagra o
sistema adotado pelo Brasil ao constar expressamente que “o processo penal terá estrutura
acusatória, vedadas a iniciativa do juiz na fase de investigação e a substituição da atuação
probatória do órgão de acusação.
O ideal filosófico fruto das mudanças do século XVIII, quase todo, inspirado nos valores
defendidos pela Revolução Francesa, em 1789, fez que houvesse mudanças nos sistemas de
persecução penal, permitindo a formação de um modelo misto ou híbrido, como forma de
transição do sistema puramente inquisitivo, para um em que permitisse com que houvesse a
separação das funções de investigar, acusar e julgar, que, antes, como visto acima, estava apenas
nas mãos do julgador; e agora, já constituía possibilidade de participação da sociedade na
dedução das demandas penais, bem como, nota-se a criação de um órgão estatal incumbido
pela promoção das ações penais: o Ministério Público.
Com isso, embora o caminho da ação penal adotasse o sistema acusatório, na fase de
Nesse passo, vislumbra-se no sistema misto uma fase processual de instrução preliminar
secreta, a cargo do juiz, seguindo o sistema inquisitivo; e outra fase processual pública, em que
predomina o contraditório nos moldes do sistema acusatório.
20
QUAL O SISTEMA PROCESSUAL ADOTADO NO BRASIL? Alguns doutrinadores apontam
que o sistema processual penal brasileiro é misto porque o inquérito policial, que é inquisitivo
por natureza, contamina o sistema acusatório. Esse entendimento, no entanto, é refutável visto
que deve ser analisado apenas o processo para classificar o sistema em inquisitivo, acusatório
pelo juiz. Entretanto, esses poderes de impulso processual não são suficientes para caracterizar
o sistema misto, pois só podem ser exercidos de forma supletiva à atividade das partes e durante
a fase processual.
Guilherme de Souza Nucci defende que o Brasil adotou um sistema acusatório mitigado,
com o advento da Lei nº 13.964/2019, pois entende que malgrado a Constituição indique a
adoção de um sistema acusatório, não o impõe, tendo em vista que quem “cria” normas
criminal, o que pressupõe que os postulados do sistema acusatório não vigem na investigação
policial.9 Para o autor, o sistema acusatório ainda não se encontra purificado.10
forma explícita quando determina a legitimidade privativa do Ministério Público, órgão acusador,
9
NUCCI, Guilherme de. Curso de Direito Processual Penal. 17. ed. São Paulo, Forense, 2020, p. 114.
10
NUCCI, Guilherme de. Op. cit., p. 116.
21
para propor a ação penal pública, quando garante o contraditório, a ampla defesa e a não
Eugênio Pacelli de Oliveira pondera que o processo penal brasileiro se perfilhou ao sistema
acusatório, o que é possível notar pela distribuição do ônus da prova, tendo em vista que o
legislador optou pelo protagonismo das partes na inquirição das testemunhas, reservando ao
iniciativa probatória ao juiz, como se infere da leitura do artigo 156 do Código de Processo
Penal.11
Já conforme o ensinamento de Rogério Sanches Cunha, é preciso notar que no “[...] sistema
acusatório, cada sujeito processual tem uma função bem definida no processo. A um caberá
acusar (como regra, o Ministério Público), a outro defender (o advogado ou defensor público)
e, a um terceiro, julgar (o juiz)”.13 E conclui o autor de modo enfático: “A nossa Bíblia Política de
1988 adota esse sistema. A lei nº 13.964/2019, obediente à Carta Maior, foi clara, o processo
penal terá estrutura acusatória, vedadas a iniciativa do juiz na fase de investigação e a
substituição da atuação probatória do órgão de acusação”.
11
OLIVEIRA, Eugênio Pacelli de. Curso de Processo Penal. 24.ed. São Paulo, Atlas, 2020, p. 35.
12
OLIVEIRA, Eugênio Pacelli de. Op. cit., p. 35.
13
CUNHA, Rogério Sanches. Pacote Anticrime: Lei nº 13.964/2019 – Comentários ao CP, CPP e LEP. Salvador: Juspodivm, 2020,
p. 69.
22
O sistema acusatório pode ser rígido (o juiz JAMAIS toma a iniciativa de provas) ou flexível
(as partes produzem provas, mas o juiz tem o poder de complementá-las, de determinar perícias
ou a oitiva de testemunhas não requeridas).
Portanto, podemos classificar o nosso sistema como acusatório não ortodoxo, flexível ou
relativo, já que o juiz não é mero expectador no curso do processo penal, podendo, inclusive,
determinar a realização de provas.
De todo modo, é importante notar que o artigo 3º-A do Código de Processo Penal,
acrescido pela Lei nº 13.964/2019, que traz o texto expresso da adoção da estrutura acusatória
no sistema processual penal brasileiro, além de suas várias inovações, como a criação do sistema
do juiz de garantias, encontra-se desde sua publicação em Diário Oficial, com sua eficácia
suspensa por decisão liminar proferida pelo Min. Fux do STF na análise das Ações Diretas de
23
QUADRO SINÓTICO
INTRODUÇÃO
Conjunto de normas e princípios que regulam a aplicação
jurisdicional do Direito Penal, bem como as atividades
CONCEITO
persecutórias da Polícia Judiciária e a estruturação dos órgãos da
função jurisdicional. É ramo do direito público.
Privativa da União, podendo ser atribuída aos estados-membros
a competência sobre questões específicas de direito local
COMPETÊNCIA
mediante lei complementar. Já em relação ao Direito
LEGISLATIVA
Penitenciário, afeto à execução penal, a competência é
concorrente entre os entes.
Autonomia
CARACTERÍSTICAS Instrumentalidade
Normatividade
24
inocência. Apregoa-se a imparcialidade do julgador. Há liberdade
probatória e igualdade de valor entre os meios de prova. A Lei nº
13.964/2019 de forma clara acatou a visão constitucional e
estabeleceu a adoção da estrutura acusatória no Brasil.
Tem uma fase processual de instrução preliminar secreta, a cargo
do juiz, seguindo o sistema inquisitivo; e outra fase processual
SISTEMA MISTO
pública, em que predomina o contraditório nos moldes do sistema
acusatório.
25
QUESTÕES COMENTADAS
Amigo concurseiro, foram colocadas questões de diversas carreiras, para que a prática fique mais
atualizada possível. Mas fique tranquilo, pois as bancas são todas conhecidas por também
Questão 1
brasileiro como um sistema acusatório, desvinculador dos papéis dos agentes processuais e das
funções no processo judicial, mostra-se contraditória quando confrontada com uma série de
e Canadá). EDITORA LUMEN JURIS, Rio de Janeiro, 2013). Leia o caso hipotético descrito a seguir.
O Ministro OMJ, do Supremo Tribunal Federal, rejeitou o pedido da Procuradoria-Geral da
República (PGR), de arquivamento do inquérito aberto para apurar ofensas a integrantes do STF
e da suspensão dos atos praticados no âmbito dessa investigação, como buscas e apreensões
e a censura a sites. Assinale a alternativa INCORRETA quanto a noção de sistema acusatório.
26
D) A requisição de instauração de inquérito policial pelo Ministério Público.
Comentário:
A questão colocou um caso específico, mas na verdade só queria que você respondesse
qual das alternativas não é uma característica compatível com o sistema acusatório. Simples
né? A iniciativa de instauração de inquérito pelo juiz é uma característica do sistema
inquisitivo e não é aceita em nosso processo penal. Assim, a alternativa incorreta é a letra
B.
Questão 2
produção de prova.
Estão certos apenas os itens
A) I e II.
B) I e IV.
27
C) II e III.
D) I, III e IV.
E) II, III e IV.
Comentário:
As assertivas III e IV estão erradas porque a confissão não é meio de prova supremo no
processo penal acusatório, que não adota o sistema de prova tarifada (típico do sistema
processual inquisitivo); assim como não é permitido ao juiz produzir provas no sistema
processual acusatório puro, devendo ter uma postura passiva e imparcial (lembrando que
a questão fala sobre os sistemas processuais penais e não propriamente sobre o sistema
processual penal brasileiro, que é considerado acusatório mitigado).
Assim, depreende-se do enunciado que a alternativa correta é a letra A, porquanto
a atribuição de juiz imparcial e equidistante das partes; outrossim, deve ser conferido
igualdade de tratamento às partes (paridade de armas) e atribuição de igual valor a
qualquer meio de prova.
Questão 3
28
C) Os modelos de sistemas processuais penais estão diretamente relacionados ao exercício do
poder penal estatal, o qual integra um plano político, social e cultural. Dessa forma, as visões
históricas e teóricas sobre o sistema processual penal brasileiro permanecem em constante
convergência e facilitam a identificação do modelo vigente.
D) A Constituição Federal de 1988 traça um processo penal acusatório, porém diversos
dispositivos do Código de Processo Penal apresentam núcleo inquisitivo exigindo uma filtragem
constitucional. Nesse contexto, é defeso ao juiz assumir a gestão das provas, auxiliar o Delegado
de Polícia na colheita de elementos de informação e fundamentar sua decisão em provas
antecipadas.
E) O Código de Processo Penal permite que o inquérito policial, nos crimes de ação pública,
seja iniciado mediante requisição da autoridade judiciária; que a autoridade policial realize as
diligências requisitadas pelo juiz; e que este realize pessoalmente busca domiciliar. Tais
dispositivos são considerados como exceções dentro do sistema acusatório, nos casos de crimes
de natureza grave, v.g., crimes hediondos.
Comentário: A alternativa correta está na letra B, vez que quanto às demais alternativas,
embora existam parcialmente acertos, apresentam argumentos que se misturam ao sistema
Questão 4
29
D) As funções de acusar e de julgar são concentradas em uma pessoa.
determinar esclarecimentos de pontos duvidosos, que não foram objeto de esclarecimento das
partes, a fim de que se possa conferir credibilidade a uma ou outra versão. No entanto, a
atividade probatória, em sua forma de iniciativa, constitui tarefa natural das partes litigantes,
contendoras do processo.
Questão 5
B) Acusatório, primordialmente, razão pela qual não se aplica o sistema de prova tarifada,
podendo a infração que deixa vestígios ser comprovada por qualquer meio de prova, inclusive,
unicamente, a confissão;
30
D) Misto, podendo o magistrado, no momento da sentença, considerar fatos não narrados na
denúncia, mas identificados durante a instrução, para dar nova capitulação jurídica, em respeito
ao instituto da mutatio libelli;
E) Acusatório, primordialmente, de modo que não pode o magistrado decretar prisão preventiva,
antes do início da ação penal, de ofício, sem representação do Ministério Público ou da
autoridade policial.
Comentário:
a análise do sistema processual penal adotado pelo Brasil. No entanto, conforme nosso estudo,
percebe-se que a Constituição Federal de 1988 e as reformas sucedidas pelo Código de Processo
cargo do próprio âmbito do Ministério Público), digam respeito ao exercício do direito de defesa
do investigado ou acusado. Nesse sentido é a súmula vinculante nº 14 editada pelo STF.
- No sistema acusatório, todos os meios de prova têm igual valor, não podendo jamais
pensarmos que em crimes de resultado naturalístico ou material, isto é, delitos que deixam
vestígios no mundo exterior, seja a demonstração do fato ser atestada, unicamente, pela
confissão. A confissão, como estudamos, é apenas um meio de prova, assim como a prova
documental, pericial, testemunhal etc., e sua existência no processo penal, deve ser cotejada
com os demais elementos de prova colhidos na investigação criminal e durante a instrução da
ação penal. Nesse sentido são os artigos 197 e 155 do Código de Processo Penal.
fase da persecução penal. Nesse sentido é o novo artigo 282, parágrafo 2º, do Código de
Processo Penal.
A esse respeito, convém esclarecer que a prisão temporária, na hipótese referida na alternativa
“c”, não possui prazo inicial de 10 (dez) dias, mas, conforme previsão do artigo 2º da Lei nº
31
7.960/1989, tem prazo inicial de 5 (cinco) dias, prorrogável por igual período, em caso de
informes que permitem concluir que o fato esclarecido não tem compatibilidade com aquele
que originalmente está descrito na denúncia, não pode sentenciar o acusado, sem antes abrir
oportunidade para que o Ministério Público proceda ao aditamento da imputação, nos termos
do artigo 384 do Código de Processo Penal, aplicando-se o instituto chamado de “mutatio
libelli”.
32
GABARITO
Questão 1 - B
Questão 2 - A
Questão 3 - B
Questão 4 - C
33
QUESTÃO DESAFIO
34
GABARITO QUESTÃO DESAFIO
Primeiramente, importa analisar o texto do art. 3º-A do CPP, o qual tem a seguinte
redação: “Art. 3º-A – O processo penal terá estrutura acusatória, vedadas a iniciativa do juiz na
fase de investigação e a substituição da atuação probatória do órgão de acusação.” Embora
tenha sido a alteração da Lei 13.964/19, ao inserir o art. 3º-A no CPP, que positivou
expressamente o Sistema Acusatório como modelo processual adotado, é relevante comentar
que a opção por esse modelo já havia sido feita pela Constituição Federal (art. 129, inciso I) ao
separar as funções de acusar e julgar.
Sobre isso, a doutrina faz o seguinte comentário: “Quando se fala, pois, em um sistema
acusatório, como aquele explicitamente adotado pela Constituição Federal (art. 129, inciso I),
que atribui à pessoa diversa da autoridade judiciária a titularidade da ação penal pública, há de
se ter em mente que estamos falando de um modelo democrático, cujo núcleo (gestão da
prova), vinculado ao seu princípio informador – dispositivo –, orientará uma atividade judicial
imparcial, quer durante a fase investigatória, quer durante a fase judicial, respeitando-se, assim,
o contraditório e a ampla defesa, na busca limitada da verdade processual, jamais real.” (LIMA,
Renato Brasileiro de. Manual de processo penal: volume único. 8. ed. rev., ampl. e atual. Salvador:
Ed. JusPodivm, 2020. P. 106). Nesse contexto: RITTER, Ruiz. Imparcialidade no processo penal:
reflexões a partir da teoria da dissonância cognitiva. 2ª ed. São Paulo: Tirant lo Blanch, 2019. p.
175.
35
Por fim, é imprescindível mencionar que os temas aqui tratados, referentes aos arts. 3º-
A; 3º-B; 3º-C; 3º-D; 3º-E e 3º-F, todos do CPP, estão com a eficácia suspensa em razão da liminar
proferida na ADI n. 6.299/DF (STF, ADI n. 6.299/DF, j. 22/01/2020). Portanto, é preciso que o
aluno fique atento e acompanhe esse tema a fim de se preparar para eventuais atualizações da
matéria.
penal: volume único. 8. ed. rev., ampl. e atual. Salvador: Ed. JusPodivm, 2020. P. 105).
fato de ser humano, não há como negar que, após tomar conhecimento das diligências da fase
investigatória, o julgador ficaria envolvido psicologicamente com a causa, colocando-se em
posição propensa a decidir favoravelmente a ela, com grave prejuízo a sua imparcialidade. O
artigo busca, então, evitar essa contaminação e garantir um procedimento realmente acusatório.
Além disso, segundo Geraldo Prado, “a busca das provas da autoria e da existência da
infração penal, pelo juiz, por mais grave que possa parecer o delito, compromete a
imparcialidade daquele que vai decidir (...)”, pois, “pelo menos do ponto de vista psicológico,
por mais sereno que seja o magistrado, sua inserção na mencionada atividade implicará certo
grau de comprometimento com os fatos apurados, afastando-se o julgador do ponto de
equilíbrio que, como garantia das partes, traduz-se no princípio do juiz imparcial”. (PRADO,
36
Geraldo. Sistema acusatório: a conformidade constitucional das leis processuais penais. 3ª ed.
Rio de Janeiro: Editora Lumen Juris, 2005. p. 199). Assim, para se ter um julgamento imparcial e
de fato acusatório, é preciso que juiz mantenha uma posição de alheamento no processo. E,
para que isso seja possível, é necessário que o juiz a atuar na fase do inquérito não seja o
mesmo a atuar na fase processual, sob pena de transformar o art. 3º-A em letra morta.
Outro dispositivo importante e que traduz o espírito do sistema acusatório é o art. 3º-D.
Observe o texto legal: “Art. 3º-D. O juiz que, na fase de investigação, praticar qualquer ato
incluído nas competências dos arts. 4º e 5º deste Código ficará impedido de funcionar no
processo.” Objetiva-se, assim, minimizar, de forma mais efetiva, os fatores de contaminação
subjetiva do julgador do processo. Reforça-se, com isso, a imparcialidade, que é uma das mais
expressivas garantias inerentes ao devido processo legal, prevista inclusive na Convenção
Americana sobre Direitos Humanos (Dec. 678/92, art. 8º, nº 1).
O Juiz das Garantias é, portanto, o meio para se colocar em prática o Sistema Acusatório.
Nessa linha: LOPES JR., Aury. Direito processual penal– 16. ed. – São Paulo: Saraiva Educação,
2019. P. 47.
37
LEGISLAÇÃO COMPILADA
Sistema Acusatório
“Art. 3º-A. O processo penal terá estrutura acusatória, vedadas a iniciativa do juiz na fase de investigação e a
substituição da atuação probatória do órgão de acusação”. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)
38
JURISPRUDÊNCIA
1. Revela especial relevância, na forma do art. 102, § 3º, da Constituição, a questão acerca da possibilidade da
tramitação direta do inquérito policial entre o Ministério Público e a Polícia Civil por Provimento da
Corregedoria Geral de Justiça. 2. Repercussão geral da matéria reconhecida, nos termos do art. 1.035 do CPC.
Comentários: Diante da adoção do sistema processual acusatório, a tramitação dos inquéritos policiais e
termos circunstanciados deve permanecer apenas entre os órgãos incumbidos da investigação criminal e
da dedução da persecução penal, quando dos crimes de ação penal pública, admitindo a intervenção do
Poder Judiciário quando da existência de representação da autoridade policial ou requerimento do
Ministério Público para a restrição de direitos fundamentais ou da própria liberdade do investigado, a
exemplo da decretação de prisão temporária, prisão preventiva, quebra de sigilo bancário, fiscal, telefônico,
informático ou telemático, etc.
AÇÃO PENAL 883/DF, 1ª Turma, Rel. Min. Alexandre de Moraes, j. 20.03.2018, DJE 14.05.2018
Comentários: Não é compatível com o sistema acusatório a inversão do ônus da prova, transferindo a
responsabilidade de demonstrar a inocência ao acusado. Ao contrário, ao Ministério Público incumbe, nos
termos do artigo 156 do Código de Processo Penal, demonstrar a existência da autoria e da existência de um
fato típico, ilícito e culpável.
Informativo 609 (setembro/2017) - HC 397.382-SC, Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura,
por unanimidade, julgado em 3/8/2017, DJe 14/8/2017.
Tráfico de entorpecentes. Momento do interrogatório. Último ato da instrução. Novo entendimento firmado
pelo Excelso no bojo do HC 127.900/AM. Modulação dos efeitos. Publicação da ata de julgamento. Acusado
interrogado no início da instrução.
A controvérsia jurídica cinge-se a analisar suposta nulidade na realização do interrogatório, como primeiro ato da
instrução processual, de acusado pela prática de cometer crime de tráfico de drogas. Há longa data, o Superior
Tribunal de Justiça, com o aval da 2ª Turma do Supremo Tribunal Federal, vinha entendendo, com assento no
princípio da especialidade, que a nova sistemática estabelecida pelo art. 400 do CPP, com a redação conferida pela
Lei n. 11.719/2008 – que transpôs a oitiva do acusado para o fim da audiência –, não se aplicaria ao procedimento
próprio descrito nos arts. 54 a 59 da Lei de Drogas, segundo a qual o interrogatório ocorreria em momento anterior
à oitiva das testemunhas, na forma como preconiza o art. 57 do referido diploma legal. Ocorre que, no julgamento
do HC n. 127.900/AM, Rel. Min. Dias Toffoli, DJe 3/8/2016, a Suprema Corte, por seu Plenário, realizou uma releitura
do artigo 400 do CPP, à luz do sistema constitucional acusatório e dos princípios do contraditório e da ampla
defesa. Naquela assentada, reconheceu-se, em razão de mostrar-se mais compatível com os postulados que
informam o estatuto constitucional do direito de defesa, uma evolução normativa sobre a matéria, de forma que,
por ser mais favorável ao réu e por se revelar mais consentânea com as novas exigências do processo penal
democrático, a norma contida no art. 400 do CPP, na redação dada pela Lei n. 11.719/08, deveria irradiar efeitos
sobre todo o sistema processual penal, ramificando-se e afastando disposições em sentido contrário, mesmo em
procedimentos regidos por leis especiais. Arredou-se, pois, o consagrado critério de resolução de antinomias –
princípio da especialidade –, em favor de uma interpretação teleológica em sintonia com o sistema acusatório
constitucional, sem que tenha havido, no entanto, declaração de inconstitucionalidade das regras em sentido
contrário predispostas em leis especiais ou mesmo da redação originária do art. 400 do CPP. Em conclusão: o
interrogatório passa a ser o último ato da instrução, sendo que a Lei n. 11.719/2008, geral e posterior,
40
prepondera sobre as disposições em contrário presentes em leis especiais. Por fim, importante ressaltar que,
em atenção ao princípio da segurança jurídica, foi realizada a modulação dos efeitos da decisão da Corte Suprema,
pelo que a nova interpretação dada somente teria aplicabilidade a partir da publicação da ata daquele julgamento,
ocorrida em 11.03.2016 (DJe n. 46, divulgado em 10/3/2016). A partir desse marco, portanto, incorreriam em
nulidade os processos em que o interrogatório fosse o primeiro ato da instrução.
Comentários: O acusado, no rito especial da Lei nº 11.343/2006, deve ser interrogado como primeiro ato da
audiência de instrução, o que vai de encontro à alteração do CPP promovida pela Lei nº 11.719/2008, que
deslocou o interrogatório do réu, no procedimento comum, para o último ato da instrução, sob o fundamento
de compatibilização com o sistema acusatório e que privilegia os postulados do contraditório e da ampla defesa,
uma vez que sendo o réu interrogado em último lugar, tem ele conhecimento de todos os depoimentos
produzidos na audiência de instrução, como oitiva da vítima, relatos testemunhais, reconhecimento de coisas e
pessoas; tudo o que permite com que o acusado tenha mais e melhores condições de estabelecer sua defesa
técnica e sua autodefesa perante o juiz competente, podendo refutar alegações, negar ou mesmo confessar a
autoria delituosa, por vezes, pormenorizando fatos que não foram trazidos na prova oral ou que não guardem
coerência completa com o ocorrido.
41
MAPA MENTAL
42
43
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
CUNHA, Rogério Sanches. Pacote anticrime: Lei nº 13.964/2019 – Comentários ao CP, CPP e LEP. Salvador:
Juspodivm, 2020.
LOPES JUNIOR, Aury. Direito Processual Penal. 17.ed. São Paulo: Saraiva Educação, 2020.
MARQUES, José Frederico. Elementos de Direito Processual Penal. v.1. Campinas: Bookseller, 1997.
NETTO, José Laurindo de Souza. Processo Penal: sistemas e princípios. Curitiba: Juruá, 2010.
NUCCI, Guilherme de. Curso de Direito Processual Penal. 17. ed. São Paulo: Forense, 2020.
OLIVEIRA, Eugênio Pacelli de. Curso de Processo Penal. 24.ed. São Paulo, Atlas, 2020.
44
MA
EX TER
EM IA
PL L
AR
CARREIRA JURÍDICA
DIREITO
ADMINISTRATIVO
CAPÍTULO 1
Olá, aluno!
garantindo que você terá em mãos um conteúdo direcionado e distribuído de forma inteligente.
Para isso, estamos constantemente analisando o histórico de provas anteriores com fins
de entender como cada Banca e cada Carreira costuma cobrar os assuntos do edital. Afinal,
queremos que sua atenção esteja focada nos assuntos que lhe trarão maior aproveitamento,
pois o tempo é escasso e o cronograma é extenso. Conte conosco para otimizar seu estudo
sempre!
estrutura do CERS Book foi feita em capítulos, de modo que você possa consultar
especificamente os assuntos que estiver estudando no dia ou na semana. Ao final de cada
capítulo você tem a oportunidade de revisar, praticar, identificar erros e aprofundar o assunto
com a leitura de jurisprudência selecionada.
E mesmo você gostando muito de tudo isso, acreditamos que o PDF sempre pode ser
aperfeiçoado! Portanto pedimos gentilmente que, caso tenha quaisquer sugestões ou
comentários, entre em contato através do email pdf@cers.com.br. Sua opinião vale ouro para
a gente!
Acreditamos que com esses recursos você estará munido com tudo que precisa para alcançar
a sua aprovação de maneira eficaz. Racionalizar a preparação dos nossos alunos é mais que
um objetivo para o CERS, trata-se de uma obsessão. Sem mais delongas, partiremos agora para
o estudo da disciplina.
Bons estudos
2
SOBRE ESTA DISCIPLINA
A título de exemplo, nos últimos concursos para Juiz do Estado de São Paulo, Promotor
de Justiça do Ceará e Procurador do Município de Curitiba, a matéria representou de 10 a 15%
da prova objetiva. Essa representatividade é uma constante nos certames promovidos para
carreira fim. Ainda, vale lembrar, que as notas de corte, na fase inicial dos concursos, são altas,
necessária uma preparação completa do candidato. Assim, este material busca fornecer ao aluno
um conhecimento amplo e suficiente, conforme os temas costumam ser cobrados.
Carreiras Jurídicas.
3
RECORRÊNCIA DA DISCIPLINA
A partir da análise das últimas provas das carreiras de Juiz de Direito, Promotor de Justiça,
Juiz Federal, Defensor Público, Procuradores diversos, verificou-se que a disciplina de Direito
Administrativo possui grande recorrência. Através destes dados, identificou-se quais os temas
mais cobrados na disciplina.
1% 1%
1% 1%
1%
1%
1%
2% 12%
3%
3%
3%
4% 12%
4%
4%
11%
5%
5%
8%
5%
6% 7%
4
TEMAS RECORRÊNCIA
Licitações e contratos administrativos
Agentes Públicos
Improbidade administrativa
Restrições e intervenção do Estado na propriedade privada
Atos administrativos
Entidades paraestatais, convênios, consórcios e parcerias com o
terceiro setor
Bens públicos
Responsabilidade civil do Estado
Organização administrativa
Poderes e deveres da Administração Pública
5
Regime jurídico das concessões e permissões do serviço público
Processo administrativo
Lei Anticorrupção
Regime jurídico‐administrativo
Parceria público‐privada
Controle da Administração Pública
Serviços públicos
Lei de Responsabilidade Fiscal - LRF
Lei de Acesso à Informação
Estatuto jurídico da empresa pública, da sociedade de economia
mista e de suas subsidiárias
Administração pública
Introdução ao Direito administrativo
Intervenção do Estado no domínio econômico e social
Regime Diferenciado de Contratações Públicas
Lei Orgânica da Magistratura Nacional - LOMAN
6
Assim, os assuntos de Direito Administrativo estão distribuídos da seguinte forma:
CAPÍTULOS
7
Capítulo 18 – Licitações (Inclusive Pregão), Rdc e Contratos
Administrativos. Lei n° 8.666/1993, Lei n° 10.520/2002, Lei nº
12.462/2011, Lei nº 11.079/2004 e Disposições Doutrinárias
Aplicáveis
Capítulo 19 – Intervenção Do Estado No Domínio Econômico E Social
Capítulo 20 – Lei Complementar nº 35, de 14 de março de 1979 (Lei
Orgânica da Magistratura Nacional – LOMAN)
Capítulo 21 – Lei de Responsabilidade Fiscal – LRF (Lei Complementar
n.º 101/00)
Capítulo 22 – Lei de Acesso à Informação - Lei Federal n.º 12.527/11
Capítulo 23 – Lei Anticorrupção - Lei Federal n.º 12.846/13
Capítulo 24 – Lei 13.303/16 – Estatuto Jurídico da Empresa Pública,
da Sociedade de Economia Mista e de suas Subsidiárias, no Âmbito
da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios
8
SOBRE ESTE CAPÍTULO
Direito Administrativo. Assim, trata-se de um tema que não é extenso, bem como não é muito
explorado nas provas de concurso público. Não obstante, o assunto abordado aqui será bastante
importante para o entendimento de tudo que iremos tratar durante o estudo desta disciplina,
facilitando a compreensão global e o raciocínio jurídico, tão crucial para aqueles que visam
certames de Carreiras Jurídicas.
histórica, bem como o que o aproxima ou diferencia dos demais ramos do direito. Para esse
fim, vocês perceberão que utilizaremos majoritariamente as obras doutrinárias de renomados
autores brasileiros, mas não se preocupem porque esse estudo será realizado de forma
sistemática, sempre procurando facilitar o aprendizado através de tabelas, quadros e resumos.
Dessa forma, haja vista a matéria abordada neste capítulo ser mais voltada para a
Administrativo. Essa forma de cobrança será vista ao final do assunto, por meio de questões
comentadas.
9
SUMÁRIO
Capítulo 1 ................................................................................................................................................ 12
1.2.2 Lei.............................................................................................................................................................................. 21
10
1.3.3 Direito Administrativo Italiano...................................................................................................................... 29
GABARITO ............................................................................................................................................... 49
JURISPRUDÊNCIA................................................................................................................................... 56
11
DIREITO ADMINISTRATIVO
Capítulo 1
Este capítulo abarcará o conceito de Direito Administrativo, suas fontes e sua origem
histórica, bem como o que o aproxima ou diferencia dos demais ramos do direito.
1.1 Conceito
grande motivação para o surgimento do direito, que passou a regular tanto as relações
interpessoais, quanto as relações entre os indivíduos e os Estados politicamente organizados.
Nesse ínterim, o ordenamento jurídico torna-se uma importante ferramenta para realização da
justiça e manutenção da paz social.
vez que se pauta na organização e no exercício de atividades do Estado, além de visar o interesse
da coletividade.
1
CARVALHO, Matheus. Manual de Direito Administrativo. 4ª ed. Salvador: JusPODIVM, 2017.
12
Importante pontuar que muito se questiona sobre a real definição do Direito
Administrativo, mas esclarece-se que esta não é unânime na doutrina e, inclusive, enseja
algumas divergências entre os estudiosos. Porém, instituíram-se critérios para delimitação do
objeto e das finalidades, bem como definição da área de atuação deste ramo do direito.
Vejamos:
Não obstante, surgiram críticas acerca desse critério, porque outros ramos do direito
também possuem como objeto relações dessa natureza. Além disso, demonstra-se insuficiente
essa conceituação, haja vista o Direito Administrativo abranger também a atividade da
regula as atividades do Estado para o cumprimento de seus fins. Apesar de ser uma concepção
correta, também não consegue abranger integralmente a matéria, e por essa razão é considerada
incompleta.
2
Vide questão 1
13
exercida por esse Poder, os três poderes exercem funções típicas e atípicas. Desse modo, não
se, portanto, que tal critério ignora que a função administrativa pode ser exercida fora do âmbito
do Poder Executivo, e, por isso, não prosperou.
Busca definir o Direito Administrativo como sendo tudo aquilo que não seja atividade
legislativa ou atividade jurídica. Surgiu diante da dificuldade em identificar o objeto próprio do
Direito Administrativo.
O Direito Administrativo tem por objeto a disciplina jurídica dos serviços públicos,
ou seja, os serviços prestados pelo Estado a toda a coletividade. Esse critério tem origem
francesa e foi defendido por Duguit, Jèze e Bonnard. Para esses estudiosos, qualquer atividade
prestada pelo Estado é serviço público. Essa corrente não ganhou força, pois sabe-se que o
serviço público é apenas uma parte de toda a atividade da Administração Pública, que ainda
contempla o fomento, o exercício de atividade econômica, o Poder de Polícia, dentre outros.
3
Vide questão 2
14
1.1.7 Escola da Puissance Publique
A Escola da puissance publique foi desenvolvida no século XIX por Maurice Hauriou.
Essa teoria parte da distinção entre atividades de autoridade e atividades de gestão.
nas atividades de gestão atua em posição de igualdade com os cidadãos, regendo-se pelo
direito privado. Ainda hoje, muitos autores fazem referência a esses atos denominando-os de
Assim, para essa Escola, o conceito de Direito Administrativo deveria estar atrelado
negociais.
mais eficiente na definição da matéria. No Brasil, este critério foi adotado por Hely Lopes
Meirelles, Celso Antônio Bandeira de Mello, Marçal Justen Filhos, Maria Sylvia Zanella Di Pietro,
entre outros.
Di Pietro define o Direito Administrativo como “o ramo do direito que tem por objeto
4
DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella. Direito Administrativo. 32ª ed. Rio de Janeiro: Forense, 2019.
15
Já para Hely Lopes Meirelles, o Direito Administrativo consiste no “conjunto
A partir deste critério teremos, portanto, uma visão mais ampla e sistêmica do Direito
Administrativo.
Nesse contexto, é importante sabermos como esse conteúdo é cobrado pelas Bancas
em concurso público. A questão a seguir foi feita pela banca FMP Concursos, em 2014, para o
cargo de Juiz Substituto, mas que tem grande relevância em qualquer carreira:
(Banca: FMP Concursos - TJ-MT - Juiz - 2014) “Em face da formação histórica do Direito
Administrativo e do modelo de Estado vigente, é correto afirmar que o Direito Administrativo:
tem por objeto os órgãos, agentes e pessoas jurídicas administrativas que integram a
Administração Pública, a atividade não contenciosa que exerce e os bens de que se utiliza para
Gabarito: Correto. Podemos observar que a questão utilizou o conceito de Direito Administrativo
5
MEIRELES, Hely Lopes. Direito Administrativo Brasileiro. 29ªed. São Paulo: Malheiros, 2003.
16
CONCEITO DOUTRINÁRIO DE DIREITO ADMINISTRATIVO
6
CARVALHO, Matheus. Manual de Direito Administrativo. 4ª ed. Salvador: JusPODIVM, 2017.
7
DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella. Direito Administrativo. 32ª ed. Rio de Janeiro: Forense, 2019.
8
MEIRELES, Hely Lopes. Direito Administrativo Brasileiro. 29ªed. São Paulo: Malheiros, 2003.
9
BANDEIRA DE MELLO, Celso. Curso de Direito Administrativo. 32ª ed. São Paulo: Malheiros, 2015.
10
JUSTEN FIILHO, MARÇAL. Curso de Direito Administrativo. 7ª ed. São Paulo: Atlas, 2008.
17
CRITÉRIO DAS Busca definir o Direito Administrativo como o
RELAÇÕES ramo do direito responsável pelas relações da
JURÍDICAS Administração com os seus administrados.
18
1.2 Fontes
FONTES
repercussão geral)
Após essa noção introdutória acerca das fontes do direito, é importante pontuar que
o Direito Administrativo não se encontra codificado no Brasil, como ocorre em outros ramos,
como no Direito Civil, Penal e Tributário. Assim, não podemos encontrar a disciplina do Direito
19
Administrativo em um só corpo de lei, mas em diversas leis ordinárias, complementares, medidas
reconhecidas pela doutrina, quais sejam: Constituição Federal, Lei, Atos Normativos,
Jurisprudência, Doutrina, Costume e Princípios Gerais do Direito.
1.2.1 Constituição
É de notar-se que grande parte dos institutos do Direito Administrativo brasileiro tem
Essa tendência é prevista por Rafael Oliveira, que leciona em seu Curso de Direito
Administrativo: “O novo constitucionalismo (“neoconstitucionalismo”, “constitucionalismo
11
Vide questão 3
12
OLIVEIRA, Rafael Carvalho Rezende. Curso de Direito Administrativo. 6ª ed. São Paulo: Método, 2018. Pg 14.
20
(Banca: CESPE/CEBRASPE – PGM Manaus - AM – Procurador do Município - 2018) Quanto
às transformações contemporâneas do direito administrativo, julgue o item subsequente: Um
públicos, organização administrativa, etc.); b) a irradiação dos efeitos das normas constitucionais
por todo o sistema jurídico, que gera uma ideia mais ampla de legalidade, submetendo o Estado
não apenas à lei em sentido formal, mas aos princípios e valores constitucionais, à justiça.13
Assim, a questão está correta e refere-se ao segundo sentido lecionado por Di Pietro, pois a
1.2.2 Lei
É fonte primária e direta, eis que a Constituição de 1988 prevê a legalidade como
13
DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella. Direito Administrativo. 32ª ed. Rio de Janeiro: Forense, 2019. Pg 108/109.
21
Nesse aspecto, a lei deve ser considerada em sentido amplo, abrangendo normas
seja, o administrador deve respeitar a lei e o direito como um todo, conforme a distribuição de
competências prevista na Constituição Federal.
ilegalidade ou inconstitucionalidade.
Assim, esses atos podem ser expedidos pelo Chefe do Poder Executivo, órgãos da
Administração Direita ou Indireta. Há que se mencionar, inclusive, a importância da função
Ainda, não se pode deixar de fazer referência aos chamados pareceres normativos e
às súmulas adotadas no âmbito administrativo, ambos com força vinculante.
22
Di Pietro aprofunda-se acerca dos pareceres normativos e das súmulas do âmbito
fundamento em parecer proferido por órgão técnico ou jurídico, estabeleçam que a decisão é
obrigatória para os casos futuros, da mesma natureza. Na realidade, não é o parecer que é
Nesse sentido, no âmbito da Advocacia Geral da União, por exemplo, há previsão no art. 40 da
LC nº 73/93 que o parecer do Advogado Geral da União, aprovado e publicado em conjunto
com o despacho presidencial, vincula a Administração Federal. Se aprovado, mas não publicado,
o parecer obriga apenas as repartições interessadas, quanto tiverem ciência.
Ainda, prevê o art. 43 da mencionada Lei:
Art. 43. A Súmula da Advocacia-Geral da União tem caráter obrigatório quanto a todos os
órgãos jurídicos enumerados nos arts. 2º e 17 desta lei complementar.
§ 1º O enunciado da Súmula editado pelo Advogado-Geral da União há de ser publicado no
Diário Oficial da União, por três dias consecutivos.
Essa previsão de súmulas administrativas vinculantes também existe no âmbito de algumas leis
14
DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella. Direito Administrativo. 32ª ed. Rio de Janeiro: Forense, 2019. Pg 148-149.
23
1.2.4 Jurisprudência
entanto, não há como negar que a jurisprudência tem se tornado muito importante para o
Direito Administrativo.
quando possui natureza vinculante, configurará fonte formal. Por outro lado, como regra geral,
a jurisprudência não possui caráter obrigatório, sendo meramente indicativa, portanto, fonte
material do direito.
1.2.5 Doutrina
Tem natureza de fonte material e secundária15, eis que não integra o direito aplicável
propriamente dito, mas serve de fundamentação e de orientação para as decisões
15
Vide questão 4
24
1.2.6 Costume
Com exceção do costume contra legem, os costumes são, sim, considerados fontes
do direito administrativo. Assim, os costumes não podem ser contra legem, isto é, não podem
ir de encontro ao que determina a lei, que é fonte primária.
A praxe administrativa também é considerada uma fonte desse direito, mas não se confunde
percepção.
16
Vide questão 5
25
1.2.7 Princípios Gerais do Direito
informativos próprios.
Administrativo, eis que era a época das monarquias absolutas, em que a vontade do rei se
confundia com a lei. Inclusive, com base nisso é que surgiu a teoria da irresponsabilidade do
Estado, que, em alguns países, continuou a ter aplicação mesmo após as conquistas do Estado
Moderno.
Apontam-se, entretanto, algumas obras de glosadores da Idade Média, nas quais se considera
como os pontos iniciais dos atuais direitos constitucional, administrativo e fiscal, como a obra
26
Aponta-se a formação do Direito Administrativo, como ramo autônomo, a partir do
momento em que começou a debater-se sobre o conceito de Estado de Direito, o que ocorreu
no Estado Moderno, estruturado sobre o princípio da legalidade e sobre o princípio da
separação de poderes.
Destaca-se, ainda, que a publicação da obra “Espírito das Leis” foi decisiva para o
nascimento da ideia desse ramo do direito. Foi nessa obra que se definiu a Teoria da Tripartição
dos Poderes, desenvolvida por Charles de Montesquieu, no ano de 174817.
Aristóteles e o Tratado sobre Governos Civis (1689), de John Locke, já aparecem tal ideia. Porém,
majoritária não concorda com tal posicionamento, afirmando que nem todos os países
tiveram a mesma história nem estruturaram pela mesma forma o seu poder e, por essa razão,
o Direito Administrativo teve origem diversa e desenvolvimento menor em alguns deles.
17
Vide questão 6
27
1.3.1 Contribuição do Direito Francês
Ano VIII (1800) que teve o papel fundamental de organizar a Administração Pública na
França.
não se pode deixar de comentar do famoso caso Blanco, ocorrido por volta de 1873: Agnés
Blanco, uma menina de apenas 5 anos de idade, ao atravessar uma rua da cidade de Bordeaux,
Diante de tal fato, o Conselheiro Davi concluiu que o Conselho de Estado era
competente para decidir a controvérsia, como também deveria fazê-lo em termos publicísticos,
já que o Estado era parte na relação jurídica. Com isso, houve o afastamento do instituto da
responsabilidade do campo do direito civil, reconhecendo o carácter especial das regras
18
Vide questão 7
28
Após apreciação do caso por parte do Conselho do Estado, este decide conceder uma
pensão vitalícia à vítima. São assim lançadas as bases da Teoria do Risco Administrativo que
estabelece a responsabilidade objetiva do Estado por danos causados pelos seus agentes.
Cumpre ressaltar que, no Estado Moderno, o direito público passou a reger as relações
entre o Estado e os administrados e o Direito Civil teve aplicação apenas subsidiária.
Acrescenta-se que foi o direito alemão que iniciou a valorização dos direitos
fundamentais, bem como da constitucionalização dos princípios e valores que devem
fase (de 1865 até a Primeira Guerra Mundial), abandonou-se aos poucos os métodos de
direito privado e foi assumindo caráter científico, com sistematização própria. A terceira fase
(1922 a 1943), iniciada após a Primeira Guerra Mundial, foi marcada pelo aparecimento do
fascismo, com adoção de princípios autoritários e abolição de postulados democráticos na
29
organização dos órgãos. Só com a queda do fascismo é que voltam os princípios
democráticos.
Administrativo.
Recife20.
19
Vide questão 8
20
Vide questão 9
30
Numa conjuntura atual, destaca-se que o Direito administrativo, assim como o direito
pátrio em geral, tem passado por profundas mudanças e seguido determinadas tendências,
quais sejam:
31
1.4 Direito Administrativo e os demais ramos do direito
jurídicos22. Vejamos:
22
Vide questão 10
32
Direito Eleitoral: o Direito Administrativo define regras de votação, apuração
dos votos e estrutura eleitoral.
33
QUADRO SINÓPTICO
CONCEITO
Critério das
O Direito Administrativo é o ramo do direito responsável pelas
Relações
relações da Administração com os administrados (particular).
Jurídicas
Critério do
Identifica o Direito Administrativo como a atuação apenas do Poder
Poder
Executivo.
Executivo
Critério
O Direito Administrativo é tudo que não seja atividade política,
Negativo ou
jurídica ou legislativa.
Residual
Exegética jurisprudência.
Escola de
Conceitua o direito administrativo partindo da distinção entre
Puissance
atividade de autoridade (império) e atividades de gestão.
Publique
34
Critério da A doutrina majoritária no Brasil leva em conta a Administração
Administração Pública, tendo como objeto os princípios, órgãos, agentes,
FONTES
Administrativo.
35
Enaltecimento do princípio da separação de poderes que serviu de
Direito fundamento para a criação do sistema de dualidade de jurisdição. E
36
Direito
Ocupam-se da disponibilidade orçamentária, que possibilitará a
Tributário e
atuação da Administração Pública.
Financeiro
Direito
Inspiram o processo administrativo, que segue algumas de suas
Processual
normas e princípios.
Civil e Penal
subsidiária da Administração.
Direito Penal bem como ilícitos praticados por agente públicos, coexistindo a
punição na esfera penal, administrativa e cível.
Direito Esse ramo estabelece algumas regras que são aplicas às empresas
Empresarial estatais.
37
QUESTÕES COMENTADAS
Questão 1
Comentário:
Gabarito: Errado.
A questão tenta confundir o candidato com as definições de critério teleológico e critério das
relações jurídicas que abordam o conceito de Direito Administrativo. Importante lembrar que o
critério teleológico, também chamado de finalista, aponta que o Direito Administrativo é um
conjunto harmônico de princípios que disciplinam a atividade do Estado para o alcance de seus
fins. Por sua vez, o critério das relações jurídicas afirma que o Direito Administrativo é
responsável pelo relacionamento da Administração Pública com os administrados, bem como
Questão 2
(CESPE - TC-DF – Procurador - 2013) De acordo com o critério legalista, o direito administrativo
compreende o conjunto de leis administrativas vigentes no país, ao passo que, consoante o
critério das relações jurídicas, abrange o conjunto de normas jurídicas que regulam as relações
entre a administração pública e os administrados. Essa última definição é criticada por boa parte
38
dos doutrinadores, que, embora não a considerem errada, julgam-na insuficiente para especificar
esse ramo do direito, visto que esse tipo de relação entre administração pública e particulares,
também se faz presente em outros ramos.
Comentário:
Gabarito: Certo.
Questão 3
Comentário:
Gabarito: Certo.
39
(b) irradiação dos efeitos das normas constitucionais por todo o sistema jurídico (cf. Virgílio
mas julgamos importantes para a revisão das matérias, por serem bastante completas e permitir
uma certa aprofundada no assunto. Ainda, haja vista não termos muitas questões desse tema
Questão 4
A) Não existe nenhuma espécie de hierarquia entre as fontes do direito administrativo; todas
elas são passíveis e capazes de inovar na ordem jurídica.
B) A lei como fonte do direito administrativo deve ser entendida de forma ampla, contemplando
todas as espécies normativas, incluídas as secundárias, como capazes e aptas a estabelecer
direitos e deveres.
C) A doutrina ostenta papel importante como fonte do direito administrativo, esclarecendo e
Comentário:
Gabarito: letra C.
40
Letra A: Incorreta. Existe hierarquia entre as fontes, tendo em vista que elas são divididas em
primárias e secundárias. Assim, as fontes primárias podem inovar no ordenamento jurídico,
deveres.
Letra C: Correta. Essa é a função principal da doutrina, que é uma fonte secundária.
Vinculante.
Letra E: Incorreta. A lei é fonte primária, enquanto os costumes são fontes secundárias. Assim,
os costumes não podem ser contra legem, não podem ir contra a lei.
Questão 5
No Brasil, assim como no sistema de common law, o costume é uma das fontes principais do
direito administrativo.
Comentário:
Gabarito: Errado.
41
No sistema do common law, a exemplo do que ocorre no direito inglês principalmente, o
costume constitui importante fonte do direito em geral. Não é o que ocorre no Direito
Administrativo brasileiro, que não atribui essa importância aos costumes. Talvez, por isso mesmo,
nem todos os autores incluam o costume entre as fontes do direito e, muito menos, do Direito
Administrativo.
Questão 6
A) se deu no período que antecedeu a Revolução Francesa, século XVI, época em que a gestão
pública era legalmente incondicionada.
por meio da submissão do Poder Público à lei como resultado da vontade geral ou da divisão
das funções estatais entre diferentes órgãos.
Comentário:
Gabarito: Letra D.
Letra A: Incorreta. O Direito Administrativo surge após a Revolução Francesa, que é um dos seus
principais marcos.
42
Letra B: Incorreta. Na época das monarquias absolutas, que foi o regime predominante da Idade
Letra C: Incorreta. Não é verdade que o Direito Administrativo só existia nos países europeus,
até porque cada país teve a sua história e sua forma de estruturar o poder. Em consequência,
o Estado.
Letra E: Incorreta. O sistema inglês que é da jurisdição una ou do controle judicial, e não o
Questão 7
A) o New Deal.
Comentário:
Gabarito: Letra D.
Sem dúvida, o Direito Administrativo foi fruto da pressão social exercida pela burguesia francesa
à época da Revolução Francesa, ocorrida em 1789, que marca o fim do Estado absolutista e
43
nascimento do Estado de Direito. A criação do Conselho de Estado na França foi, entretanto, o
Questão 8
I. O Direito Administrativo tem origem na Idade Média, período histórico em que a vontade do
III. Devido à organização do Estado brasileiro, composto por diferentes entes políticos dotados
A) Apenas I.
B) Apenas III.
C) Apenas I e II.
D) Apenas II e III.
E) I, II e III.
Comentário:
Gabarito: Letra D. Vejamos cada uma das assertivas:
44
I. O Direito Administrativo tem origem na Idade Média, período histórico em que a vontade do
vontade do monarca passa a se subordinar à lei, contudo, tal evento ocorreu no século 18 e
não na Idade Média que já havia terminado no século 15, por isso esta alternativa está errada.
grande importância.
III. Devido à organização do Estado brasileiro, composto por diferentes entes políticos dotados
Também está correto. Realmente, todos os entes políticos possuem competência para legislar
sobre diversos temas de Direito Administrativo, o que torna praticamente inviável a compilação
Questão 9
(PUC-PR - TJ-PR - Juiz Substituto - 2014) Sobre o conceito do direito administrativo e a sua
I. A primeira cadeira de direito administrativo no Brasil foi criada em 1851 e com a implantação
II. O Brasil adotou, desde a instauração da primeira República, o sistema da jurisdição única,
com exceção do período de vigência da Emenda Constitucional nº. 07/77, com a instalação dos
dois contenciosos administrativos por ela estabelecidos.
45
III. O direito administrativo tem como fontes a lei, a doutrina, os costumes e a jurisprudência,
vigorando entre nós, desde o início da República, dado a influência sofrida do direito norte-
americano, o princípio do stare decises.
IV. A interpretação do direito administrativo, além da utilização analógica das regras do direito
privado que lhe foram aplicáveis, há de considerar, necessariamente, três pressupostos: 1º) a
desigualdade jurídica entre a Administração e os administrados; 2º) a presunção de legitimidade
Comentário:
Gabarito: Letra D. Analisemos as assertivas:
ITEM I: Correto. Segundo Hely Lopes Meireles, o Direito Administrativo no Brasil não se atrasou
cronologicamente das demais nações. Em 1851 foi criada essa cadeira (Dec. 608, de 16.08.1851)
nos cursos jurídicos existentes, e já em 1857 era editada a primeira obra sistematizada - Elemento
ITEM II: Incorreto. O Brasil sempre adotou o sistema da jurisdição única (art. 5º, XXXV), contudo,
já houve a previsão do tribunal contencioso administrativo no Brasil exatamente como previsto
na EC 7/77 mencionada na assertiva II. Entretanto, a assertiva está incorreta porque esse tribunal
46
Sistema Francês/ Contencioso Administrativo: Este sistema não é adotado no Brasil. Ele consiste
na criação de órgãos próprios para julgamento de interesse da Administração Pública.
Excepcionalmente, o Judiciário poderá atuar, como, por exemplo, nos casos que versem sobre
Sistema Inglês/ Jurisdição una: aplicado no Brasil, ele prevê que apenas o Judiciário poderá
apreciar as causas, mesmo que de interesse da Administração Pública.
ITEM III: Incorreto, posto que não menciona os princípios gerais do direito e afirma que o direito
brasileiro sofreu grande influência do direito norte-americano, especificamente da adoção do
princípio do stare decises. Entretanto, a jurisprudência do STF só passou a ser vinculante a partir
de 2004, e em apenas alguns casos, com na edição de súmulas vinculantes e o reconhecimento
de repercussão geral nos Recursos Extraordinários.
ITEM IV: Correto. A interpretação das regras do Direito Administrativo está sujeita aos princípios
hermenêuticos gerais estudados pela Filosofia do Direito e, subsidiariamente, às regras
2) a presunção de legitimidade dos atos da Administração: tal atributo tem o poder de inverter
o ônus da prova sobre a validade do ato administrativo, transferindo ao particular o encargo de
Questão 10
administrativo é:
Comentário:
Gabarito: Letra B.
Letra A: Incorreta. O Direito Administrativo está em constante mudança, logo, não é estanque.
48
Letra D: Incorreta. Todos os direitos são interligados, inclusive o Direito Administrativo vem
Letra E: Incorreta. O Direito Administrativo regula também a relação entre particulares e o Estado,
GABARITO
Questão 1 - ERRADO
Questão 2 - CERTO
Questão 3 - CERTO
Questão 4 - C
Questão 5 – ERRADO
Questão 6 – D
Questão 7 - D
Questão 8 - D
Questão 9 - D
Questão 10 – B
49
50
QUESTÃO DESAFIO
51
GABARITO QUESTÃO DESAFIO
Trata-se de ramo do Direito Público que tem por objeto os órgãos, agentes e pessoas
jurídicas administrativas que integram a Administração Pública e os bens de que se utiliza
para a consecução dos fins públicos. Diferencia-se do direito privado porque este visa a
O Direito Administrativo é um dos ramos do Direito Público, uma vez que rege a
organização e o exercício de atividades do Estado e se direciona na busca dos interesses da
coletividade, visando sempre a realização dos fins públicos e com foco na supremacia do
interesse público.
Marçal Justen Filho estabelece que "O Direito Administrativo é o conjunto das
normas jurídicas de direito público que disciplinam as atividades administrativas necessárias à
realização dos direitos fundamentais e a organização e o funcionamento das estruturas estatais
e não estatais encarregadas de seu desempenho.". Nunca é o suficiente repetir a leitura do
caput do art. 37 da CF/88, pois esse artigo é definidor de todas as bases da Administração
Pública, vejamos:
"Art. 37. A administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da União, dos
Estados, do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios de legalidade,
impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência e, também, ao seguinte:"
Reforçando a conceituação deste ramo do direito, a Profa. Maria Sylvia Zanella Di Pietro,
por sua vez, define o Direito Administrativo como "o ramo do direito público que tem por objeto
os órgãos, agentes e pessoas jurídicas administrativas que integram a administração pública, a
atividade jurídica não contenciosa que exerce e os bens de que se utiliza para a consecução de
seus fins de natureza pública".
52
Note que adotamos aqui na questão o conceito de Maria Sylvia pois a doutrinadora é
muito utilizada como doutrina base de bancas tradicionais.
Como se pode notar, e o professor Matheus Carvalho diz isso expressamente, a definição
do que é o Direito Administrativo não é unânime na doutrina e enseja algumas divergências
entre os estudiosos da matéria.
PIETRO, Maria Sylvia Zanella di. Direito Administrativo. São Paulo: Editora Atlas, 21ª ed. 2008
JUSTEN FILHO, Marçal. Curso de direito administrativo. 4. ed. São Paulo: Saraiva, 2009. p.
292.
Art. 58. O regime jurídico dos contratos administrativos instituído por esta Lei confere à
Administração, em relação a eles, a prerrogativa de:
I - modificá-los, unilateralmente, para melhor adequação às finalidades de interesse
público, respeitados os direitos do contratado;
II - rescindi-los, unilateralmente, nos casos especificados no inciso I do art. 79 desta Lei;
III - fiscalizar-lhes a execução;
IV - aplicar sanções motivadas pela inexecução total ou parcial do ajuste;
V - nos casos de serviços essenciais, ocupar provisoriamente bens móveis, imóveis, pessoal
e serviços vinculados ao objeto do contrato, na hipótese da necessidade de acautelar
apuração administrativa de faltas contratuais pelo contratado, bem como na hipótese de
rescisão do contrato administrativo.
53
De outra banda, o Direito Privado tem por escopo a regulação dos interesses dos
particulares, tutelando as relações travadas entre as partes como forma de possibilitar o convívio
das pessoas em sociedade e a harmoniosa fruição e utilização de seus bens. Segundo Matheus
Carvalho, o direito privado tem como característica básica as suas normas supletivas, que podem
ser afastadas ou modificadas por acordo das partes interessadas. Ademais, o direito privado se
baseia na igualdade jurídica entre as pessoas tratadas nas relações por ele regidas.
CARVALHO, Matheus. Manual de direto administrativo - 4. ed. rev. ampl. e atual. - Salvador:
JusPODIVM, 2017. P.37.
54
LEGISLAÇÃO COMPILADA
Prezado aluno,
Como você deve ter notado, o presente capítulo possui uma abordagem bastante
doutrinária e teórica. Por essa razão, não indicamos legislação específica que abarque o assunto
estudado. Contudo, todo esse aprendizado conceitual será bastante utilizado para o
55
JURISPRUDÊNCIA
abordagem bastante doutrinária e teórica. Desse modo, também não temos atualmente
jurisprudência específica acerca do tema explorado, mas o entendimento desses tópicos foi
relevante para que, futuramente, você tenha um embasamento teórico robusto para aplicação
dos princípios e conceitos que são, de fato, utilizados nas decisões dos Tribunais Superiores.
56
MAPA MENTAL
57
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
CARVALHO FILHO, JOSÉ DOS SANTOS. MANUAL DE DIREITO ADMINISTRATIVO. 32 ED. SÃO PAULO: ATLAS,
2018.
OLIVEIRA, RAFAEL CARVALHO REZENDE. CURSO DE DIREITO ADMINISTRATIVO. 6 ED. RIO DE JANEIRO:
FORENSE; SÃO PAULO: MÉTODO, 2018.
DI PIETRO, MARIA SYLVIA ZANELLA. DIREITO ADMINISTRATIVO. 32. ED. REV. ATUAL E AMPL. – RIO DE JANEIRO:
FORENSE, 2019.
MEIRELES, HELY LOPES. DIREITO ADMINISTRATIVO BRASILEIRO. 29 ED. SÃO PAULO: MALHEIROS, 2003.
58
MA
EX TER
EM IA
PL L
AR
CARREIRA JURÍDICA
DIREITO CIVIL
CAPÍTULO 1
Olá, aluno!
Afinal, queremos que sua atenção esteja focada nos assuntos que lhe trarão maior
aproveitamento, pois o tempo é escasso e o cronograma é extenso. Conte conosco para
E mesmo você gostando muito de tudo isso, acreditamos que o PDF sempre pode ser
aperfeiçoado! Portanto pedimos gentilmente que, caso tenha quaisquer sugestões ou
comentários, entre em contato através do email pdf@cers.com.br. Sua opinião vale ouro para
a gente!
Acreditamos que com esses recursos você estará munido com tudo que precisa para
alcançar a sua aprovação de maneira eficaz. Racionalizar a preparação dos nossos alunos é
mais que um objetivo para o CERS, trata-se de uma obsessão. Sem mais delongas, partiremos
agora para o estudo da disciplina.
Bons estudos
2
SOBRE ESTA DISCIPLINA
regulam as relações privadas das pessoas enquanto relacionadas com outras pessoas, por
fatos ou coisas comuns. Por reger diversos fenômenos jurídicos, o Direito Civil é uma matéria
vasta e muito cobrada em praticamente todos os certames jurídicos.
Dessa forma, deve o aluno ler as ementas e o resumo dos julgados trazidos neste
material, e também, manter-se sempre atento às atualizações de entendimentos dos tribunais
superiores. Apesar dessa tendência em cobrar a jurisprudência, as provas de primeira fase de
Direito Civil, de forma geral, acabam cobrando basicamente o que está expresso no Código
Civil.
O principal diploma normativo que deve ser utilizado pelo aluno, juntamente com a
leitura desse material, é o Código Civil. Acerca dele, é relevante, principalmente a partir do
capítulo 2, ter em mente que é dividido em Parte Geral e Parte Especial. A Parte Geral, de
maneira ampla, trata da personalidade, das pessoas, do domicílio, dos bens e dos fatos
3
Ressalta-se que dependendo do concurso, algumas áreas do direito civil não são
cobradas. Por exemplo, no certame para Juiz Federal, a matéria referente ao Direito das
Sucessões costuma ficar de fora, já que a competência para processar e julgar causas
toa.
No tocante aos concursos públicos de Cartório, para as funções de notário ou
registrador, a incidência do direito civil é ainda maior. Preste muita atenção no edital se a sua
preferência é essa. Costumam cobrar, nesses certamente Resoluções do CNJ, bem como
normas estatuais específicas, que regulam o serviço de notas e registro.
4
RECORRÊNCIA DA DISCIPLINA
1% 1%
1%
2% 1% 1% 9%
3% 2%
3%
3%
3% 3%
9%
3% 9%
3%
8%
7%
3% 5% 6%
4%
4%
4%
4%
Contratos em Espécie
Do Direito Patrimonial
Responsabilidade Civil
Da Propriedade
Dos Fatos e Negócios Jurídicos
Do Direito de Família
Das Pessoas Naturais
Da Prescrição e da Decadência
Das Relações de Parentesco
Contratos em Geral
Dos Direitos Reais
LINDB
Direito das Obrigações
Da Posse
Da Sucessão Legítima
Das Pessoas Jurídicas
Do Direito das Sucessões
Adimplemento e Extinção das Obrigações
Da Tutela, da Curatela e da Tomada de Decisão Apoiada
Inadimplemento das Obrigações
Da Sucessão Testamentária
Dos Bens
Transmissão das Obrigações
Do Inventário e da Partilha
Atos Unilaterais
Lei nº 9.514/97
5
TEMAS RECORRÊNCIA
Contratos em Espécie
Do Direito Patrimonial
Responsabilidade Civil
Da Propriedade
Dos Fatos e Negócios Jurídicos
Do Direito de Família
Das Pessoas Naturais
Da Prescrição e da Decadência
Das Relações de Parentesco
Contratos em Geral
Dos Direitos Reais
LINDB
Direito das Obrigações
Da Posse
Da Sucessão Legítima
Das Pessoas Jurídicas
Do Direito das Sucessões
Adimplemento e Extinção das Obrigações
Da Tutela, da Curatela e da Tomada de Decisão Apoiada
Inadimplemento das Obrigações
Da Sucessão Testamentária
Dos Bens
Transmissão das Obrigações
Do Inventário e da Partilha
Atos Unilaterais
Lei nº 9.514/97
6
Assim, os assuntos de Direito Civil estão distribuídos da seguinte forma:
CAPÍTULOS
7
SOBRE ESTE CAPÍTULO
Introdução às Normas do Direito Brasileiro, sempre com foco nos assuntos mais incidentes
nos certames por nós analisados.
Esse capítulo é essencial para qualquer carreira jurídica. A LINDB, em regra, encontra-
se no edital de todas as carreiras, pois não se trata apenas de uma norma de Direito Civil,
possuindo incidência universal, em todos os ramos do direito. Isso ocorre porque a LINDB,
diferentemente das demais leis, que recaem sobre o comportamento do ser humano, tem por
objeto as leis ou as normas.
Não há diferenciação quanto à sua cobrança nos certames analisados. Percebeu-se que
Recomenda-se que o aluno leia e releia a LINDB, sempre revisando-a antes da prova
pois a sua incidência é muito provável.
Porém, tenha cuidado, pois apesar de a LINDB ser uma lei curta, ela não é fácil. O aluno
deve ficar atento aos conceitos doutrinários explanados ao longo desse capítulo,
principalmente no estudo para a 2a fase (prova subjetiva) e para as provas orais. Ademais,
deve tomar muito cuidado para não confundir qual lei deve ser aplicada, nos casos dos
artigos 7º, 8º, 9º e 10.
Por último, ressalta-se que, em 2018, houve uma alteração legislativa no texto da
LINDB. Essa inovação incluiu os artigos 20 a 30. São normas voltadas, em sua maioria, à
atividade da administração pública e ao seu controle. Contudo, boa parte dos preceitos
podem ser aplicados nas relações privadas. Em relação a tais dispositivos, o aluno deve ter
8
SUMÁRIO
Capítulo 1 ................................................................................................................................................ 11
1. LINDB ................................................................................................................................................ 11
1.4.1 Integração.............................................................................................................................................................. 20
Espécies de lacunas........................................................................................................................................... 21
Equidade ................................................................................................................................................................ 23
GABARITO ............................................................................................................................................... 52
9
QUESTÃO DESAFIO ................................................................................................................................ 53
JURISPRUDÊNCIA................................................................................................................................... 57
10
DIREITO CIVIL
Capítulo 1
1. LINDB
A LINDB preocupa-se com a própria norma jurídica, sendo essa o seu o objeto de
estudo. Assim, dirige-se a todos os ramos do direito, salvo naquilo que for regulado de
forma diferente na legislação específica. Por exemplo, a analogia não pode ser aplicada in
malem partem no Direito Penal (contra o réu), nem no Direito Tributário (contra o
contribuinte).
Costuma cair a letra da lei, deste modo, leia e releia diversas vezes.
11
1.1 Vigência da norma
A lei passa a vigorar no território brasileiro, quando não possui vacatio legis
determinada, no prazo de 45 dias após a sua publicação. Esse é o chamado princípio da
Nos Estados estrangeiros, por sua vez, passa a vigorar após três meses depois de
O período de vacatio legis, o qual é sempre um prazo contado em dias, tem a função
de fazer com que a lei se torne conhecida pelas pessoas e, deste modo, se adequem a nova
legislação.
PROMULGAÇÃO
PUBLICAÇÃO
VACATIO
LEGIS
VIGÊNCIA
decretos, regulamentos e resoluções podem entrar em vigor na data de sua publicação. Por
1
Sobre o tema, vide questões 2 e 4.
12
sua vez, as leis consideradas de grande repercussão devem respeitar o prazo da vacatio legis
Caso a modificação ocorra durante o prazo da vacatio legis, como essa lei já existe,
ela só pode ser modificada através de uma nova lei.
Assim, como vai acontecer uma nova publicação com a alteração, iniciar-se-á um novo
prazo de vacatio referente apenas à parte que foi corrigida (art. 1º, §3º da LINDB).
correção será considerada como LEI NOVA (art. 1º, §4º da LINDB).
1.1.1 Revogação2
A lei posterior revoga a anterior, quando expressamente o declare, quando seja com ela
O Direito Brasileiro não admite o dessuetudo, que é a revogação da lei pelos costumes
(uma lei que não conseguiu “pegar”, por exemplo). A revogação necessariamente se dará por
outra lei, que revogará expressa ou tacitamente, no todo ou em parte, a lei antiga.
2
Acerca do tema, vide questão 4.
13
Revogação total ou ab-rogação: ocorre quando se torna sem efeito uma norma de
forma integral, com a supressão total do seu texto por uma norma emergente. Exemplo
ocorreu com o Código Civil de 1916, pelo que consta do art. 2.045, primeira parte, do
CC/2002.
Revogação parcial ou derrogação: uma lei nova torna sem efeito parte de uma lei
anterior, como cedeu em face da parte primeira do Código Comercial de 1850,
Uma vez que a lei entrou em vigor, esta continuará vigendo até que venha outra e,
expressa ou tacitamente, a revogue (Art. 2º, caput e §1º da LINDB).
1.1.3 Repristinação3
efetivamente revogada, pela revogação da norma que a revogou. De acordo com a LINDB,
tal efeito apenas é permitido se expressamente declarado. Não há a incidência automática
de repristinação.
3
Sobre o assunto, vide questão 4 e 8.
14
1.2 Obrigatoriedade das normas
O artigo 3º da LINDB afirma que “ninguém se escusa de cumprir a lei, alegando que
não a conhece”. Assim, traz a presunção de que todas as pessoas conhecem a lei4.
presunção do conhecimento das leis não é absoluta, uma vez que existem situações
excepcionais expressamente previstas em lei, nas quais se admite a alegação de erro de
direito.
Embora muito mais numeroso os casos previstos em lei no direito penal, há DOIS casos
Erro de direito como vício de vontade no negócio jurídico (art. 139, III, CC): esse
erro pode ser alegado para o desfazimento do negócio jurídico. De acordo com a
literalidade do art.139, III, CC, “o erro é substancial quando sendo de direito e não
implicando recusa à aplicação da lei, for o motivo único ou principal do negócio
jurídico”.
Considere a hipótese de determinado contrato de compra e venda de um
terreno em Recife/PE, o qual a referida área havia sido considerada de uso
público por uma Lei Municipal. Nesse caso, o comprador poderá desfazer o
negócio jurídico, uma vez que ele não sabia da existência da lei que
inviabilizava a sua utilização do terreno.
4
Sobre o assunto, vide questão 3.
15
1.3 Eficácia da lei no espaço e no tempo
O ordenamento brasileiro consagra, em sua carta magna, que a lei se destina aos fatos
presentes e futuros, mas não aos passados. Nos termos do Artigo 5º, XXXVI da CF: “ A lei não
prejudicará o direito adquirido, o ato jurídico perfeito e a coisa julgada.”
A lei em vigor possui, em regra, efeito imediato e geral, respeitando o ato jurídico
perfeito, o direito adquirido e a coisa julgada (art. 6º, caput, LINDB). A retroatividade é
excepcional e ocorre quando a lei tem dois requisitos: (i) expressa previsão nesse sentido; (ii)
que a retroação não prejudique o ato jurídico perfeito, a coisa julgada e o direito adquirido.
Assim, a lei nova possui efeitos pretéritos, atingindo fatos anteriores aos da sua vigência. É o
caso, por exemplo, do instituto da enfiteuse.
Ato jurídico perfeito: é o ato pronto e acabado, que já exauriu seus efeitos, não
Direito adquirido: é aquele que se incorporou ao patrimônio do particular (art. 6º, §2º,
LINDB). Inexiste direito adquirido a regime jurídico, inclusive em face do Poder
Coisa julgada: decisão judicial contra a qual já não cabe mais recurso (art. 6º, §2º,
LINDB).
5
Acerca desse tema, vide as questões 1, 2 e 3.
16
(FCC – PGE-MT – Procurador do Estado/2016) A seguinte assertiva foi considerada correta:
De acordo com a Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro, a lei nova possui efeito
imediato, por isto atingindo os fatos pendentes, mas devendo respeitar a coisa julgada, o ato
jurídico perfeito e o direito adquirido, incluindo o negócio jurídico sujeito a termo ou sob
condição suspensiva.
Agora, que já entendemos que a regra é a lei não retroagir, será que é possível a
norma continuar surtindo efeitos mesmo depois de revogada?
ULTRATIVIDADE: é o fenômeno através do qual uma lei, já revogada, produz efeitos mesmo
após a sua revogação.
Novamente, é no Direito Penal que existem inúmeros exemplos, como a lei penal mais
benéfica. Por sua vez, no Direito Civil, há uma hipótese no direito de sucessões, qual seja, o
princípio da saisine. Em seus termos, a pessoa que morreu à época do CC/16, mesmo que
tenha aberto o inventário somente na vigência do código de 2002, terá a sucessão
regulamentada pelas antigas leis do direito civil.
Sempre quando uma lei começa a surtir efeitos, fique atento a possíveis regras de
direito intertemporal. Um exemplo é a regra contida no art. 2.035, do CC:
17
Eficácia da Norma no Espaço
É preciso que haja uma regra de conexão, sendo ela chamada de estatuto pessoal em
Estatuto Pessoal6: Lei do domicílio da pessoa (não é onde nasceu). Aplica-se tal hipótese
quando for o caso de se discutir: NOME; PERSONALIDADE; CAPACIDADE; DIREITO DE
Exemplo: Um homem da Arábia Saudita não poderá casar mais de uma vez no Brasil,
Outra hipótese em que lei estrangeira pode ser aplicada no Brasil é a do artigo 7º, §3º
da LINDB, na qual quando os nubentes tiverem domicílios diversos, as normas sobre
6
Sobre o tema, vide questão 7.
7
Sobre o tema, vide questão 5.
18
Ademais, existem três hipóteses em que a LINDB admite a aplicação da lei estrangeira
Conflito sobre bens imóveis: aplica-se a lei do lugar em que está situado o
imóvel;
Lei sucessória mais benéfica ao cônjuge ou aos filhos: aplica-se a lei do
domicílio do de cujus caso esta seja mais benéfica que a brasileira, no processo
de sucessão dos bens do estrangeiro falecido situados no Brasil (artigo 10, §2º
LINDB)8;
Lugar da obrigação: no caso de contratos internacionais se aplica a lei de
residência do proponente (art. 9º, §2º LINDB). CUIDADO: em relação aos
contratos internos, aplica-se a lei do lugar onde foi feita a proposta, nos termos
do artigo 435 do CC.
As obrigações se qualificam e regem pela lei do país em que são constituídas (art. 9º)9.
Nesse sentido, o STJ, em 2017, entendeu que a cobrança de dívida de jogo contraída
por brasileiro em cassino que funciona legalmente no exterior é juridicamente possível
e não ofende a ordem pública, os bons costumes e a soberania nacional devendo ser
aplicada a lei americana10.
Nas hipóteses em que há aplicação da lei estrangeira pela justiça brasileira é vedado,
nos termos do artigo 16 da LINDB, qualquer remissão feita desta lei para outra lei.
8
Sobre o tema, vide questões 5 e 6.
9
Sobre o tema, vide questão 8.
10
Veja o julgado selecionado no tópico referente aos comentários jurisprudenciais no final do presente capítulo (REsp 1628974-
SP)
19
Caso a lei a ser aplicada seja a “lei w” do país X, e esta “lei w” determine que se aplique
a “lei z”, temos aqui o reenvio de 1º grau, o qual é vedado pela LINDB. Ademais, caso essa
“lei w” mande aplicar a lei do país Y, haverá o reenvio de 2º grau, o qual é, igualmente,
proibido.
Resumindo:
1.4.1 Integração
Assim, a lei pode ser lacunosa, porém o ordenamento é completo, pois existem esses
mecanismos para integrar a norma. Nos termos do artigo 4º da LINDB, quando a lei for
omissa, o juiz decidirá o caso de acordo com a analogia, os costumes e os princípios gerais
do direito11. Tal artigo traz um rol taxativo e preferencial ALUNO, OLHE O MACETE:
Segundo o princípio iura novit curiae presume-se que o juiz conhece o direito, devendo a
parte, somente, narrar os fatos. EXCEÇÕES: o juiz pode determinar à parte interessada que
faça prova da existência e vigência da lei em quatro hipóteses:
Direito municipal;
Direito estadual;
Direito estrangeiro;
11
Sobre o tema, vide questões 2, 3 e 8.
20
Direito consuetudinário.
Quanto ao direito municipal e estadual, o juiz somente poderá mandar que a parte faça
prova de leis que não sejam de sua jurisdição.
Espécies de lacunas
Métodos de Colmatação
Analogia: colmatação de uma situação não prevista em lei, através de outra já prevista.
O seu fundamento é a igualdade jurídica, isto é, onde existe a mesma razão deve existir
o mesmo direito (princípio da igualdade de tratamento).
Analogia legis: é a comparação entre uma situação não tratada em lei com outra
tratada em lei específica.
Analogia juris: é a comparação entre uma situação não prevista em lei, com o
Processo de averiguação do
21
(fechada) seguida de forma
genérica (aberta)
união estável heteroafetiva Artigo 121, §2º, I do CP: entende que tal hipótese de
Secundum legem: com previsão na lei, por isso não é integração. O próprio
ordenamento jurídico diz que op juiz deve julgar pelos costumes naqueles casos
12
STJ CORTE ESPECIAL RESP 1704520/MT. Rel. Min Nancy Andrighi, julgado em 05/12/2018 (recurso repetitivo) – Informativo
639
22
não lesar a ninguém;
viver honestamente.
Tais princípios possuem um papel quartenário, só se decide com base neles se o juiz
não conseguiu decidir com base na lei, na analogia e nos costumes.
Assim, podemos concluir que o artigo 4º da LINDB deve ser lido como princípios
Equidade
que ela se dirige e às exigências do bem comum. Ou seja, em toda interpretação devem ser
respeitados os fins sociais a que se dirige a norma.
Esses novos dispositivos vem como uma forma de mudar o cenário de descrença na
atentamente:
“Art. 20. Nas esferas administrativa, controladora e judicial, não se decidirá com base
em valores jurídicos abstratos sem que sejam consideradas as consequências práticas
da decisão.
13
Sobre o tema, vide as questões 8, 9, 10, 11, que cobram a letra da lei.
24
Parágrafo único. A motivação demonstrará a necessidade e a adequação da medida
imposta ou da invalidação de ato, contrato, ajuste, processo ou norma administrativa,
inclusive em face das possíveis alternativas.
Art. 21. A decisão que, nas esferas administrativa, controladora ou judicial, decretar a
invalidação de ato, contrato, ajuste, processo ou norma administrativa deverá indicar
de modo expresso suas consequências jurídicas e administrativas.
Parágrafo único. A decisão a que se refere o caput deste artigo deverá, quando for o
caso, indicar as condições para que a regularização ocorra de modo proporcional e
equânime e sem prejuízo aos interesses gerais, não se podendo impor aos sujeitos
atingidos ônus ou perdas que, em função das peculiaridades do caso, sejam anormais
ou excessivos.
25
Art. 24. A revisão, nas esferas administrativa, controladora ou judicial, quanto à validade
de ato, contrato, ajuste, processo ou norma administrativa cuja produção já se houver
completado levará em conta as orientações gerais da época, sendo vedado que, com
base em mudança posterior de orientação geral, se declarem inválidas situações
plenamente constituídas.
Parágrafo único. Consideram-se orientações gerais as interpretações e especificações
contidas em atos públicos de caráter geral ou em jurisprudência judicial ou
administrativa majoritária, e ainda as adotadas por prática administrativa reiterada e
de amplo conhecimento público.
26
§ 2º Para prevenir ou regular a compensação, poderá ser celebrado compromisso
processual entre os envolvidos.
Art. 28. O agente público responderá pessoalmente por suas decisões ou opiniões
técnicas em caso de dolo ou erro grosseiro.
§ 1º (VETADO).
§ 2º (VETADO).
§ 3º (VETADO).
Art. 29. Em qualquer órgão ou Poder, a edição de atos normativos por autoridade
administrativa, salvo os de mera organização interna, poderá ser precedida de
consulta pública para manifestação de interessados, preferencialmente por meio
eletrônico, a qual será considerada na decisão.
§ 1º A convocação conterá a minuta do ato normativo e fixará o prazo e demais
condições da consulta pública, observadas as normas legais e regulamentares
específicas, se houver.
§ 2º (VETADO).
Art. 30. As autoridades públicas devem atuar para aumentar a segurança jurídica na
aplicação das normas, inclusive por meio de regulamentos, súmulas administrativas e
respostas a consultas.
Parágrafo único. Os instrumentos previstos no caput deste artigo terão caráter
vinculante em relação ao órgão ou entidade a que se destinam, até ulterior
revisão.
27
QUADRO SINÓPTICO
LINDB
Território brasileiro: 45 dias após a sua publicação.
Estados estrangeiros: três meses depois de oficialmente publicada,
quando admitida.
Se após a publicação de uma lei, antes de esta entrar em
VIGÊNCIA DAS NORMAS
vigor, acontecer uma nova publicação, para correção, o prazo
começará a correr a partir desta publicação.
Se a lei já estiver em vigor, a correção será considerada como
LEI NOVA.
A lei será revogada por outra, valendo, no direito brasileiro, o princípio
da continuidade das normas, salvo no caso de leis temporárias, pois
REVOGAÇÃO já são criadas para vigorarem em certo período de tempo.
Ab-rogação: revogação total (absoluta) da lei.
Derrogação: revogação parcial da lei.
Fenômeno legislativo, pelo qual há a entrada novamente em vigor de
uma norma já revogada, devido a revogação da norma que a revogou.
Tal efeito apenas é permitido se expressamente declarado.
REPRISTINAÇÃO
Não há a incidência automática de repristinação. ≠ EFEITO
REPRISTINATÓRIO!
Ninguém pode se escusar com cumprimento da lei alegando o seu
PRINCÍPIO DA desconhecimento. No entanto, há exceções (pode alegar o erro de
OBRIGATORIEDADE DAS direito), exemplos:
NORMAS Casamento putativo (art. 1.561, CC)
Vício de vontade no negócio jurídico (art. 139, III, CC)
PRINCÍPIO DA IRRETROATIVIDADE DA NORMA
Ato jurídico perfeito: ato já consumado segundo a lei vigente
ao tempo em que ele foi efetuado.
Direito adquirido: é aquele que se incorporou ao patrimônio
do particular.
EFICÁCIA DA NORMA NO Coisa julgada: decisão judicial de que já não caiba recurso.
TEMPO ULTRATIVIDADE: quando uma lei produz efeitos mesmo após sua
revogação.
ATENÇÃO se houver uma regra de direito intertemporal (art. 2.035,
do CC: Existência e validade de um negócio jurídico: lei em vigor à
época da celebração ≠ Eficácia: norma atual).
28
Territorialidade é a regra geral, mas é mitigada, pois, em alguns casos,
admite-se a aplicação da legislação estrangeira:
Estatuto Pessoal (lei do domicílio da pessoa) cuida da
personalidade,
nome,
capacidade,
direito de família,
bens móveis que o interessado traz consigo,
penhor,
capacidade sucessória.
EXCEÇÕES:
EFICÁCIA DA NORMA
Lei do primeiro domicílio conjugal cuida dos impedimentos
NO ESPAÇO
matrimoniais e do regime de bens, quando os nubentes tiverem
domicílios diversos.
Lei de onde está situado o imóvel cuida do conflito sobre o
bem imóvel.
Lei sucessória do domicílio do de cujus se mais benéfica ao
cônjuge ou aos filhos do que a lei brasileira, no caso de imóvel
de propriedade de cujus estrangeiro, mas situado no Brasil.
Lei de residência do proponente cuida dos contratos
internacionais.
Lei do país em que são constituídas cuida das obrigações.
PRINCÍPIO DA O art. 16, LINDB: impede o juiz brasileiro, ao aplicar uma lei
DEVOLUÇÃO OU DO internacional, de aplicar outra norma porventura citada por aquela lei
RETORNO OU DO internacional.
REENVIO
Analogia, costumes e princípios gerais do direito.
Vedação ao non liquet
Essa é uma ordem hierárquica, preferencial:
1) Analogia: colmatação de uma situação não prevista em lei, por
meio de outra já prevista. Analogia legis: é a comparação entre
uma situação não tratada em lei com outra tratada em lei
TÉCNICAS DE específica. Analogia juris: é a comparação entre uma situação não
INTEGRAÇÃO DA LEI prevista em lei, com o sistema jurídico como um todo.
29
3) Princípios gerais do direito: são postulados universais, como
não lesar a ninguém, dar a cada um o que é seu, viver
honestamente.
EQUIDADE Apenas nos casos previstos em lei pode ser uma técnica de integração
INTERPRETAÇÃO DA Na interpretação da lei o juiz atenderá aos fins sociais a que a ela se
NORMA dirige e às exigências do bem comum
30
QUESTÕES COMENTADAS
Questão 1
(CESPE - 2018 - PC-SE – Delegado de Polícia) Uma nova lei, que disciplinou integralmente
matéria antes regulada por outra norma, foi publicada oficialmente sem estabelecer data para
a sua entrada em vigor e sem prever prazo de sua vigência. Sessenta dias após a publicação
oficial dessa nova lei, foi ajuizada uma ação em que as partes discutem um contrato firmado
anos antes sobre o assunto objeto das referidas normas.
Tendo como referência essa situação hipotética, julgue o seguinte item, com base na Lei de
Introdução às Normas do Direito Brasileiro.
Apesar de a nova lei ter revogado integralmente a anterior, ela não se aplica ao contrato
objeto da ação.
A) Certo
B) Errado
Comentário:
Em primeiro lugar, a assertiva ressalta que houve surgimento de uma nova lei, que
disciplinou integralmente matéria antes regulada por outra norma. Tal fato, nos termos do
artigo 2º, § 1º da LINDB é uma das três hipóteses de revogação da norma.
Vamos relembrar? De acordo com o art. 2º, §1º da LINDB, a lei posterior revogará a
31
Em segundo lugar, devemos atentar ao art. 6º da LINDB: “a Lei em vigor terá efeito
imediato e geral, respeitados o ato jurídico perfeito, o direito adquirido e a coisa julgada".
A própria CRFB, em seu art. 5º, XXXVI, dispõe que: “a lei não prejudicará o direito
adquirido, o ato jurídico perfeito e a coisa julgada”. No caso narrado pelo enunciado, estamos
tempo em que se efetuou". Assim, o contrato firmado anos antes, não será regulado pela
nova lei.
Questão 2
(Banca própria – 2019 - MPE-GO - Promotor de Justiça - prova anulada) Sobre a vigência das
normas no Direito Brasileiro, disciplinada pelo Decreto-Lei n. 4.657/42 (Lei de Introdução às
a) Salvo disposição contrária, a lei começa a vigorar em todo o país quarenta e cinco dias
depois de oficialmente publicada, contudo, nos Estados estrangeiros, a obrigatoriedade da lei
brasileira, quando admitida, se inicia três meses depois de oficialmente publicada.
b) Não se destinando à vigência temporária, a lei terá vigor até que outra a modifique ou
revogue, sendo certo que a lei posterior revoga a anterior quando expressamente o declare,
quando seja com ela incompatível ou quando regule inteiramente a matéria de que tratava a
lei anterior. Ademais, a lei nova, que estabeleça disposições gerais ou especiais a par das já
c) O entendimento de que, quando a lei for omissa, o juiz decidirá o caso de acordo com a
analogia, os costumes e os princípios gerais de direito, não constitui norma formal no Direito
32
d) A Lei em vigor terá efeito imediato e geral, respeitados o ato jurídico perfeito, o direito
adquirido e a coisa julgada, sendo que, de acordo com a definição legal, reputa-se ato jurídico
perfeito o já consumado segundo a lei vigente ao tempo em que se efetuou.
Comentário:
Caro aluno, a questão pede a alternativa INCORRETA. Tenha muita atenção para não cair
em pegadinhas por não ter lido o enunciado.
A) CORRETA. A alternativa está correta, frente ao que prevê a literalidade do artigo 1°, caput
e §1º da LINDB: “Salvo disposição contrária, a lei começa a vigorar em todo o país 45
(quarenta e cinco) dias depois de oficialmente publicada. … § 1º Nos Estados, estrangeiros, a
Não confunda três meses com 90 dias, haja vista que os meses podem ter número
variado de dias, cujo prazo total pode ser inferior ou superior a noventa. Inclusive, tenha
B) CORRETA. A alternativa diz exatamente o que está escrito no artigo 2º da LINDB. Veja a
sua transcrição: “Não se destinando à vigência temporária, a lei terá vigor até que outra a
lei anterior. §2° A lei nova, que estabeleça disposições gerais ou especiais a par das já
existentes, não revoga nem modifica a lei anterior”.
33
A revogação necessariamente ocorrerá por meio de outra lei, que revogará expressa ou
tacitamente, no todo ou em parte, a lei antiga, quando seja com ela incompatível ou quando
regule inteiramente a matéria de que tratava a lei anterior. Ademais, temos que a norma geral
não revoga a especial, assim como a nova especial não revoga a geral, podendo ambas
coexistir pacificamente, exceto se disciplinarem de maneira distinta a mesma matéria ou se a
adotada pelo aplicador do direito. Ele deve seguir tais critérios para viabilizar a solução para a
demanda judicial quando há lacuna legislativa, conforme já explicado no presente capítulo.
D) CORRETA. A alternativa está correta, face ao que prevê o art. 6°, caput e §1º da LINDB: “A
Lei em vigor terá efeito imediato e geral, respeitados o ato jurídico perfeito, o direito
adquirido e a coisa julgada. § 1º Reputa-se ato jurídico perfeito o já consumado segundo a lei
vigente ao tempo em que se efetuou”.
O artigo 6° trata da intangibilidade do ato jurídico perfeito (ou seja, o ato já consumado
de acordo com a lei vigente ao tempo em que se efetuou), do direito adquirido (aquele que já
se integrou ao patrimônio e à personalidade de seu titular, seja por se ter realizado o termo
estabelecido, ou por se ter implementado a condição necessária, de modo que nem norma ou
fato posterior possam alterar situação jurídica já consolidada sob sua égide), da coisa julgada
Desta forma, a lei nova só incidirá sobre os fatos ocorridos durante seu período de
vigência, não podendo, em regra, alcançar efeitos produzidos por relações jurídicas anteriores
34
Questão 3
(Fundação CEFET Bahia - 2018 - MPBA - Promotor de Justiça) Com base na Lei de Introdução
leis, uma lei eficaz deve ser cumprida por todos, ainda que a desconheçam.
( ) A revogação de uma lei pode ser total ou parcial. Quando toda a lei antiga for revogada
pela nova, a esta força dá-se o nome de derrogação.
( ) Segundo a Lei de Introdução ao Código Civil, nenhuma lei nova prejudicará direito
adquirido, o ato jurídico perfeito e a coisa julgada. Isso significa que o princípio da
irretroatividade das leis fica sacramentado.
( ) Publicada uma lei, pode ser que ela contenha erros que careçam de correção. Neste caso,
A) F V V F
B) F F V V
C) V F V V
D) V F V F
E) V V F F
Comentário:
35
Primeira assertiva: verdadeira. É exatamente essa ideia que a LINDB preconiza. De acordo
com o art. 3o da LINDB, em regra, “ninguém se escusa de cumprir a lei, alegando que não a
conhece”.
Segunda assertiva: falsa. Lembre-se que revogação de uma lei pode ser total ou parcial.
Quando toda a lei antiga for revogada pela nova, a esta força dá-se o nome de ab-rogação.
Quando apenas parte da lei antiga for revogada pela lei nova, dá-se o nome de derrogação.
em provas) determina que “ a Lei em vigor terá efeito imediato e geral, respeitados o ato
jurídico perfeito, o direito adquirido e a coisa julgada”.
Quarta assertiva: verdadeira. De acordo com o art. 1º. § 4o da LINDB, “as correções a texto
de lei já em vigor consideram-se lei nova”. Assim, correta a assertiva ao dizer que recomeçará
o prazo da vacatio legis.
Questão 4
A) salvo disposição em contrário, a lei brasileira começará a vigorar no País quarenta e cinco
dias após a sua publicação e nos Estados estrangeiros, quando admitida, sessenta dias depois
de oficialmente publicada;
B) a lei X foi revogada pela lei Y em 2012. Em 2013, a lei Y perdeu a sua vigência. Tal situação
C) a lei posterior revoga a anterior quando assim o declare, quando seja com ela incompatível
36
D) a revogação consiste na supressão da força obrigatória da lei, retirando-lhe a sua eficácia,
E) tanto a autoridade judiciária brasileira quanto a estrangeira será competente para conhecer
Comentário:
A questão é antiga mas muito importante para revisarmos os assuntos mais cobrados.
A) INCORRETA. A alternativa está incorreta, pois, salvo disposição contrária, a lei começa a
vigorar em todo o país quarenta e cinco dias depois de oficialmente publicada (art. 1º, caput,
LINDB). Nos Estados estrangeiros, a obrigatoriedade da lei brasileira, quando admitida, inicia-
se três meses depois de oficialmente publicada (art. 1º, §1º, LINDB).
Quanto ao § 1º, perceba que a lei brasileira, quando admitida, se inicia três meses
depois de oficialmente publicada, o que não se confunde, por exemplo, com noventa dias,
haja vista que os meses podem ter número variado de dias, cujo prazo total pode ser inferior
ou superior a noventa.
B) INCORRETA. A alternativa está incorreta, diante do que dispõe o artigo 2°, § 3º, da LINDB.
Vejamos: “§ 3º Salvo disposição em contrário, a lei revogada não se restaura por ter a lei
Tal previsão legal trata do instituto da “repristinação", que se dá quando a lei revogada
se restaura em face da lei revogadora ter perdido a vigência.
brasileiro. Assim, em havendo uma “LEI A", e, sendo esta revogada pela “LEI B", caso a “LEI B"
37
(revogadora) venha a ser revogada, não retornam automaticamente os efeitos da “LEI A", no
Direito brasileiro.
contrário".
expressa ou tacitamente, no todo ou em parte, a lei antiga, quando seja com ela incompatível
ou quando regule inteiramente a matéria de que tratava a lei anterior.
D) CORRETA. A revogação, elucidada no art. 2.º da LINDB, pode ocorrer sob duas formas,
Revogação total ou ab-rogação: ocorre quando se torna sem efeito uma norma de
forma integral, com a supressão total do seu texto por uma norma emergente. Exemplo
ocorreu com o Código Civil de 1916, pelo que consta do art. 2.045, primeira parte, do
CC/2002.
Revogação parcial ou derrogação: uma lei nova torna sem efeito parte de uma lei
38
Questão 5
(CESPE - 2017 - DPE/AL - Defensor Público) Em 1.º/1/2017, Lúcio, que era brasileiro e casado
sob o regime legal com Maria, também brasileira, ambos residentes e domiciliados em um
país asiático, faleceu. Lúcio deixou dois filhos como herdeiros, Vanessa e Robson, residentes e
domiciliados no Brasil, e os seguintes bens a inventariar: a casa em que residia no exterior,
uma casa no Brasil e dois automóveis, localizados no exterior. O casamento de Lúcio e Maria
foi celebrado no Brasil. Antes do casamento, ele residia e era domiciliado no Brasil, ao passo
que ela residia e era domiciliada em um país africano. O primeiro domicílio do casal foi no
exterior.
d) Aplica-se a lei brasileira quanto à regulação das relações concernentes a todos os bens de
Lúcio.
Comentário:
Aluno, essa questão é muito interessante pois exige a aplicação dos dispositivos da LINDB em
um caso prático.
A) CORRETA. Veja o seguinte trecho do enunciado: "Lúcio deixou dois filhos como herdeiros,
Vanessa e Robson, residentes e domiciliados no Brasil". De acordo com o art. 10, §2º, LINDB,
a lei do domicílio do herdeiro ou legatário regula a sua capacidade para suceder. Assim,
correta a assertiva já que Vanessa e Robson são os heideiros e moram no Brasil.
39
B) INCORRETA. Atenção aluno, não se aplica a lei brasileira quanto ao regime de bens do
casal. De acordo com o art. 7º, §4º da LINDB, o regime de bens deve obedecer a lei do país
em que os nubentes tiverem domicílio, e se este for diverso, à do primeiro domicílio conjugal.
C) INCORRETA. A alternativa C está incorreta pois não se aplica a lei brasileira, no caso, para
regular o regime de bens do casal. Veja o seguinte trecho do enunciado: "Em 1.º/1/2017,
Lúcio, que era brasileiro e casado sob o regime legal com Maria, também brasileira, ambos
residentes e domiciliados em um país asiático, faleceu." De acordo com o art. 7º, caput,
LINDB, a lei do país em que for domiciliada a pessoa determina as regras sobre o começo e
fim da personalidade, o nome e a capacidade e os direitos de família. Assim, no caso, deve ser
aplicada a lei do país asiático em que ambos eram domiciliados, e não a lei brasileira.
da LINDB, a sucessão por morte ou por ausência obedece à lei do país em que era
domiciliado o defunto ou desaparecido, qualquer que seja a natureza da situação de bens.
Assim, não se aplica a lei brasileira nem para regular relações concernentes a todos os bens
de Lúcio nem para regular a sucessão.
Não confundir:
caput, LINDB);
Lei que regula a capacidade para suceder -----> do domicílio dos herdeiros/legatários
(art. 10,§2º. LINDB);
Lei que regula a sucessão dos bens, situados no Brasil, mas que pertençam
a pessoas estrangeiras ---> depende (art. 10, §1 LINDB):
40
deve o magistrado aplicar a lei mais benéfica ao cônjuge e/ou filhos brasileiros, seja
ela:
o lei brasileira;
Questão 6
(FCC - 2018 - MP-PB - Promotor de Justiça) A sucessão por morte ou ausência obedece à lei
dos bens, mas a sucessão de bens de estrangeiros, situados no Brasil, será regulada pela lei
brasileira em benefício do cônjuge ou dos filhos brasileiros, ou de quem os represente,
sempre que não lhes seja mais favorável a lei pessoal do de cujus.
c) do país em que se abriu a sucessão, mas a capacidade para suceder se regula pela lei do
domicílio do herdeiro, salvo se brasileiro, quanto aos bens situados no Brasil, se a lei brasileira
d) do país em que se abrir a sucessão, mas a capacidade para suceder se regula pela lei da
nacionalidade do herdeiro.
e) do país em que era domiciliado o defunto ou o desaparecido, qualquer que seja a natureza
e a situação dos bens, mas a sucessão de bens de estrangeiros situados no Brasil será
regulada pela lei brasileira, em benefício do cônjuge ou dos filhos brasileiros, ou de quem os
represente, sempre que não lhes seja mais favorável a lei pessoal do de cujus.
Comentário:
41
A) INCORRETA. De acordo com o art. 10 da LINDB, obedecerá a lei do país em que
será regulada pela lei brasileira em benefício do cônjuge ou dos filhos brasileiros, ou de quem
os represente, sempre que não lhes seja mais favorável a lei pessoal do "de cujus", de acordo
C) INCORRETA. Não é a lei do país em que se abriu a sucessão, mas serão aplicadas as regras
do país onde era domiciliado o defunto ou o ausente. No que toca à capacidade sucessória,
E) CORRETA. Veja que o item está em consonância com o que dispõe o caput e o § 1º do art.
10 da LINDB: “A sucessão de bens de estrangeiros, situados no País, será regulada pela lei
brasileira em benefício do cônjuge ou dos filhos brasileiros, ou de quem os represente,
sempre que não lhes seja mais favorável a lei pessoal do de cujus”.
Questão 7
(CESPE - 2019 - TJ-AM - Oficial de Justiça - Avaliador) No que concerne à Lei de Introdução às
sobre o começo e o fim da sua personalidade, seu nome, sua capacidade civil e seus direitos
de família são aquelas da legislação vigente no seu país de origem.
42
A) Certo
B) Errado
Comentário:
Aluno, veja como as provas de todas as bancas que analisamos estão cobrando apenas
o texto da LINDB. Então, conforme já falamos, leia e releia a LINDB.
pessoa estrangeira ou não, as regras relacionadas aos assuntos especificados (começo e fim
da personalidade, nome, capacidade e direitos de família) são determinadas pelo país de
Questão 8
atuação dos agentes públicos, bem como estabelece regras gerais de interpretação.
Tendo em vista as disposições deste Diploma Legal, assinale a seguir a alternativa correta:
43
B) Uma lei federal revogada por outra lei federal posterior tem sua vigência restaurada caso a
lei revogadora posterior perca sua vigência, como também tem sua eficácia jurídica
restabelecida para casos concretos para os quais era aplicada,
C) A lei do país em que a pessoa natural é domiciliada, seja ela brasileira nata ou naturalizada
após processo regular com decisão transitada em julgado, determina as regras especificas
sobre responsabilidade civil a serem aplicadas num caso concreto.
D) Na hipótese de lacuna legal, que consiste em não haver uma hipótese normativa especifica
e expressa a ser aplicada para um determinado caso concreto, o Juiz decidirá utilizando a
ponderação, a analogia, os costumes e os princípios gerais do direito.
Comentário:
valores jurídicos abstratos sem que sejam consideradas as consequências práticas da decisão”.
Assim, vejam as importância de possuir um material atualizado!
dispõe o Art. 2° § 3: “Salvo disposição em contrário, a lei revogada não se restaura por ter a
lei revogadora perdido a vigência”.
norma volta a ter vida no ordenamento jurídico visto que o dispositivo que a revogou
foi declarado inconstitucional via ação concentrada, como no caso de uma ADI. Uma
norma declarada inconstitucional é expurgada de tal modo da ordem jurídica que é
vista como se nunca tivesse existido, tendo a sentença efeito ex tunc.
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A alternativa C está incorreta pois, de acordo com o artigo 9º, caput, da LINDB, para
Atentem-se que o dispositivo está em conflito parcial com o art. 435 do CC.
Aplicando-se o princípio da especialidade, deve-se entender que a regra do art. 435 do CC
serve para os contratos nacionais; enquanto o dispositivo da LINDB é aplicado aos contratos
internacionais.
A lei do país em que domiciliada a pessoa determina as regras sobre o começo e o fim
os candidatos, misturando a regra do artigo 7º com o que determina o artigo 9º. Leia
atentamente os dois dispositivos!
A alternativa D está incorreta pois, de acordo com o artigo 4º da LINDB, quando a lei for
omissa, o juiz decidirá o caso de acordo com a analogia, os costumes e os princípios gerais
de direito.
A letra E também trata da novidade legislativa de 2018 e está incorreta. De acordo com o
previsto no art 28 da LINDB, o agente público responderá pessoalmente por suas decisões ou
opiniões técnicas apenas em caso de dolo ou erro grosseiro.
Questão 9
(VUNESP - 2019 - TJ-RJ - Juiz de Direito Substituto) Em conformidade com a Lei de Introdução
às Normas do Direito Brasileiro (L.I.N.D.B.), na redação dada pela Lei n° 13.655/2018,
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manifestação de interessados, preferencialmente por meio eletrônico, a qual será considerada
na decisão.
administrativa, cuja sentença fará coisa julgada com eficácia erga omnes.
Comentário:
Aluno, por se tratar de mudança legislativa recente (2018), tende a cair em prova
apenas a letra da lei, como ocorreu nessa questão. Então dê muita atenção à literalidade
dos arts. 20 a 30, CC! Fique ligado!
de mera organização interna. Veja a literalidade do artigo 29, LINDB: “Em qualquer
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órgão ou Poder, a edição de atos normativos por autoridade administrativa, salvo os de
mera organização interna, poderá ser precedida de consulta pública para manifestação
de interessados, preferencialmente por meio eletrônico, a qual será considerada na
decisão” (grifamos).
C) INCORRETA. Aluno, veja que a alternativa está incorreta pois não há previsão na LINDB de
“Art. 26. Para eliminar irregularidade, incerteza jurídica ou situação contenciosa na aplicação
reconhecidos por orientação geral; IV - deverá prever com clareza as obrigações das partes, o
prazo para seu cumprimento e as sanções aplicáveis em caso de descumprimento”.
47
Questão 10
(VUNESP - 2019 - TJ-AC - Juiz de Direito Substituto) Segundo o que dispõe, expressamente, a
Comentário:
a) CORRETA. O gabarito da questão é a alternativa A. Veja o que dispõe a LINDB: “Art. 26.
Para eliminar irregularidade, incerteza jurídica ou situação contenciosa na aplicação do
observada a legislação aplicável, o qual só produzirá efeitos a partir de sua publicação oficial”
(negritamos).
Por exemplo, imagine o caso em que uma criança foi vítima de uma bala perdida que
saiu da arma de um agente estatal. Em casos como esse, nos quais a condenação é muito
48
provável, um acordo pode ser eficiente a fim de obter um valor mais razoável de indenização,
Indisponibilidade do Interesse Público, pois o acordo representa uma melhor forma de atingir
o interesse público.
Havia tal previsão no projeto inicial da Lei 13.655/2018, o qual acrescentou o art. 25 da
LINDB. No entanto, ele foi vetado. Tal dispositivo estabelecia que, quando necessário, por
razões de segurança jurídica de interesse geral, o ente poderia propor ação declaratória de
validade de ato, do contrato, dentre outros. Um dos motivos do veto foi o provável aumento
Questão 11
49
Nesse panorama, assinale a alternativa correta.
C) As instâncias controladora e judicial, embora obrigadas a motivar suas decisões, não devem
considerar as consequências práticas da medida imposta, que é atividade de competência
exclusiva da administração pública.
Comentário:
De acordo com o art. 30, as autoridades públicas devem atuar para aumentar a
segurança jurídica na aplicação das normas, inclusive por meio de regulamentos, súmulas
administrativas e respostas a consultas. Seu parágrafo único reza que os instrumentos
decidirá com base em valores jurídicos abstratos sem que sejam consideradas as
consequências práticas da decisão.
50
De acordo com o que vimos, o art. 29 da LINDB preconiza que: em qualquer órgão ou
51
GABARITO
Questão 1 - A
Questão 2 - C
Questão 3 - C
Questão 4 - D
Questão 5 - A
Questão 6 - E
Questão 7 - B
Questão 8 - A
Questão 9 - B
Questão 10 - A
Questão 11 - D
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QUESTÃO DESAFIO
53
GABARITO QUESTÃO DESAFIO
Lei do Domicílio.
O art. 7º, caput, da LINDB consagra a regra “lex domicilii”, ou seja, a Lei do Domicílio.
De acordo com esse artigo: “A lei do país em que domiciliada a pessoa determina as regras
sobre o começo e o fim da personalidade, o nome, a capacidade e os direitos de família.”
Assim, por ambos terem o domicílio na Argentina e lá exigirem esse consentimento, mesmo o
casamento sendo realizado no Brasil, onde essa regra não existe, deverá ser aplicada a lei
A respeito da lei do domicílio, o doutrinador Flávio Tartuce nos ensina: “O art. 7.º da Lei
de Introdução consagra a regra lex domicilii, pela qual devem ser aplicadas, no que concerne
se que o Novo CPC traz regras importantes a respeito dos limites da jurisdição nacional e da
cooperação internacional. Como decorrência natural da lex domicilli, enuncia o Estatuto
21, inciso I, do CPC/2015).” (Tartuce, Flávio. Direito civil: lei de introdução e parte geral – v. 1 –
15. ed. – Rio de Janeiro: Forense, 2019, p. 84-85).
54
No entanto, a título de observação, será dispensável tal autorização se o noivo
estrangeiro aqui tiver domicílio. Aplicaria-se, nesse caso, a lei brasileira, porque o casamento
seria realizado no Brasil e o estrangeiro encontra-se aqui domiciliado.
é claro ao estabelecer que: “Realizando-se o casamento no Brasil, será aplicada a lei brasileira
quanto aos impedimentos dirimentes e às formalidades da celebração.” Assim, todos os
casamentos realizados no Brasil deverão respeitar as regras dos arts. 1.521 e 1.522 do CC, em
relação aos impedimentos, e os arts. 1.533 a 1.542 do CC, em relação às formalidades da
celebração, não importando qual o regramento estabelecido no país de domicílio dos
nubentes. O comando legal em questão consagra o princípio da “lex loci celebrationis”, ou
seja, a lei do local da celebração.
Analisando tal regramento, o respeitável jurista Carlos Roberto Gonçalves aduz: “Ainda
que os nubentes sejam estrangeiros, a lei brasileira será aplicável (lex loci actus), inclusive no
tocante aos impedimentos dirimentes, absolutos e relativos (CC, arts. 1.521, 1.548, I, e 1.550).
Não, porém, com relação aos impedimentos proibitivos ou meramente impedientes (art.
1.523), que não invalidam o casamento e são considerados apenas “causas suspensivas”. O
estrangeiro domiciliado fora do país que se casar no Brasil não estará sujeito a tais sanções se
estas não forem previstas na sua lei pessoal.” (Gonçalves, Carlos Roberto. Direito civil
brasileiro, volume 1: parte geral – 15. ed. – São Paulo: Saraiva, 2017, p. 89).
55
LEGISLAÇÃO COMPILADA
56
JURISPRUDÊNCIA
STJ. 3ª Turma. REsp 1628974-SP, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 13/6/2017 (Info
610).
EMENTA: “RECURSO ESPECIAL. CIVIL. PROCESSUAL CIVIL. AÇÃO MONITÓRIA. COBRANÇA. DÍVIDA DE JOGO.
CASSINO NORTE-AMERICANO. POSSIBILIDADE. ART. 9º DA LEI DE INTRODUÇÃO ÀS NORMAS DO DIREITO
BRASILEIRO. EQUIVALÊNCIA. DIREITO NACIONAL E ESTRANGEIRO. OFENSA À ORDEM PÚBLICA.
INEXISTÊNCIA. ENRIQUECIMENTO SEM CAUSA. VEDAÇÃO. TRIBUNAL ESTADUAL. ÓRGÃO INTERNO.
INCOMPETÊNCIA. NORMAS ESTADUAIS. NÃO CONHECIMENTO. PRESCRIÇÃO. SÚMULA Nº 83/STJ.
CERCEAMENTO DE DEFESA. OCORRÊNCIA. 1. Na presente demanda está sendo cobrada obrigação constituída
integralmente nos Estados Unidos da América, mais especificamente no Estado de Nevada, razão pela qual
deve ser aplicada, no que concerne ao direito material, a lei estrangeira (art. 9º, caput, LINDB).
2. Ordem pública é um conceito mutável, atrelado à moral e a ordem jurídica vigente em dado momento
histórico. Não se trata de uma noção estanque, mas de um critério que deve ser revisto conforme a evolução da
sociedade.
3. Na hipótese, não há vedação para a cobrança de dívida de jogo, pois existe equivalência entre a lei
estrangeira e o direito brasileiro, já que ambos permitem determinados jogos de azar, supervisionados pelo
Estado, sendo quanto a esses, admitida a cobrança. 4. O Código Civil atual veda expressamente o
enriquecimento sem causa. Assim, a matéria relativa à ofensa da ordem pública deve ser revisitada sob as luzes
dos princípios que regem as obrigações na ordem contemporânea, isto é, a boa-fé e a vedação do
enriquecimento sem causa. 5. Aquele que visita país estrangeiro, usufrui de sua hospitalidade e contrai livremente
obrigações lícitas, não pode retornar a seu país de origem buscando a impunidade civil. A lesão à boa-fé de
terceiro é patente, bem como o enriquecimento sem causa, motivos esses capazes de contrariar a ordem pública
e os bons costumes. 6. A vedação contida no artigo 50 da Lei de Contravenções Penais diz respeito à exploração
de jogos não legalizados, o que não é o caso dos autos, em que o jogo é permitido pela legislação estrangeira.
7. Para se constatar se houve julgamento do recurso de apelação por órgão incompetente e se, no caso, a
competência é absoluta, seria necessário examinar a competência interna da Corte estadual a qual está assentada
em Resolução e no Regimento Interno, normas que não se revestem da qualidade de lei federal, o que veda seu
conhecimento em recurso especial. 8. A juntada dos originais de documento digital depende de determinação
57
judicial e, no caso dos autos, tanto o juiz de primeiro grau quanto a Corte estadual dispensaram a providência,
dada a ausência de indícios de vício, não restando comprovada a violação do art. 365, § 2º, do CPC/1973. 9. Nos
termos da iterativa jurisprudência desta Corte, sedimentada em recurso repetitivo, a ação monitória fundada em
cheque prescrito está subordinada ao prazo de 5 (cinco) anos, previsto para a cobrança de dívidas líquidas.
Incidência da Súmula nº 83/STJ. 10. Apesar de se tratar de processo monitório, havendo dúvidas acerca do
contexto em que deferido o crédito, de valor vultoso, sem a exigência de garantias, deve ser permitida a
produção de provas em sede de embargos, sob pena de cerceamento de defesa. 11. Recurso conhecido em parte
e, nessa parte, parcialmente provido”. (REsp 1628974/SP, Rel. Ministro RICARDO VILLAS BÔAS CUEVA, TERCEIRA
TURMA, julgado em 13/06/2017, DJe 25/08/2017 - negritamos)
Comentário:
O julgado trata sobre uma dívida de jogo adquirida nos Estados Unidos, mais
especificamente no Estado de Nevada. O recorrente alegou que tal dívida não poderia ser
cobrada, uma vez que jogo de Cassino é proibido pela lei brasileira, sendo, deste modo, uma
Contudo, o STJ decidiu que a tal caso deve ser aplicada a lei estadunidense, nos termos
do artigo 9º da LINDB, pois como a obrigação foi contraída nos EUA, onde os jogos de
cassino são permitidos, aplica-se a lei de onde esta obrigação se constituiu. Quanto à ofensa à
ordem pública o STJ afirmou que cada país tem em suas leis determinados jogos de azar que
são permitidos, não sendo, portanto, contraria a esta, efetivar uma dívida desse tipo. Ademais,
o tribunal entendeu que haveria enriquecimento sem causa caso a dívida não fosse paga, o
qual é vedado expressamente pelo Código Civil.
STF. Plenário. RE 636553/RS, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 19/2/2020 (repercussão geral
- Tema 445) (Info 967).
Ementa: “Recurso extraordinário. Repercussão geral. 2. Aposentadoria. Ato complexo. Necessária a conjugação das
vontades do órgão de origem e do Tribunal de Contas. Inaplicabilidade do art. 54 da Lei 9.784/1999 antes da
perfectibilização do ato de aposentadoria, reforma ou pensão. Manutenção da jurisprudência quanto a este
ponto. 3. Princípios da segurança jurídica e da confiança legítima. Necessidade da estabilização das relações
jurídicas. Fixação do prazo de 5 anos para que o TCU proceda ao registro dos atos de concessão inicial de
aposentadoria, reforma ou pensão, após o qual se considerarão definitivamente registrados. 4. Termo inicial do
58
prazo. Chegada do processo ao Tribunal de Contas. 5. Discussão acerca do contraditório e da ampla defesa
prejudicada. 6. TESE: "Em atenção aos princípios da segurança jurídica e da confiança legítima, os Tribunais de
Contas estão sujeitos ao prazo de 5 anos para o julgamento da legalidade do ato de concessão inicial de
aposentadoria, reforma ou pensão, a contar da chegada do processo à respectiva Corte de Contas". 7. Caso
concreto. Ato inicial da concessão de aposentadoria ocorrido em 1995. Chegada do processo ao TCU em 1996.
Negativa do registro pela Corte de Contas em 2003. Transcurso de mais de 5 anos. 8. Negado provimento ao
recurso”. (RE 636553, Relator(a): GILMAR MENDES, Tribunal Pleno, julgado em 19/02/2020, PROCESSO
ELETRÔNICO DJe-129 DIVULG 25-05-2020 PUBLIC 26-05-2020)
Comentário:
De acordo com o que foi estabelecido nesse julgado, em atenção aos princípios da
Na realidade, não há uma lei disciplinando o prazo para que o Tribunal de Contas
analise a concessão inicial de aposentadoria, reforma ou pensão. Assim, decidiu-se aplicar,
isonomicamente, o art. 1º do Decreto 20.910/1932, por analogia, confrome permite o art. 4º,
LINDB: “Quando a lei for omissa, o juiz decidirá o caso de acordo com a analogia, os
STJ. 3ª Turma. REsp 1787274/MS, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 23/04/2019 (Info 647)
59
4º da LINDB, conquanto ele possa lhe servir de parâmetro interpretativo quanto ao sentido e alcance do texto
normativo. 5. A boa-fé objetiva é princípio fundamental do ordenamento jurídico, com conteúdo valorativo e
nítida força normativa, o qual não se confunde com os princípios gerais do direito, mencionados no art. 4º da
LINDB, que têm caráter informativo e universal, e finalidade meramente integrativa, servindo ao preenchimento
de eventual lacuna normativa. 6. Na trilha da literalidade indireta, fundada na boa-fé objetiva, é possível admitir a
inclusão de terceiro no polo passivo da ação monitória para exigir-lhe o pagamento do cheque, quando ele,
inequivocamente, assumiu, perante o beneficiário, a obrigação a que corresponde o título. 8. Do ponto de vista
do princípio da abstração, igualmente, a boa-fé objetiva funciona como baliza, de modo a permitir que o
beneficiário, com base no negócio jurídico subjacente, do qual participou, exija o pagamento, por meio da ação
monitória, do terceiro que, embora não tenha firmado na cártula - seja como emitente, endossante, ou avalista -
a obrigação de pagar, a ela está vinculado pela causa que deu origem ao título. 9. A flexibilização das normas de
regência, à luz do princípio da boa-fé objetiva, não tem o condão de excluir o dever de garantia do emitente do
cheque, previsto no art. 15 da lei 7.357/85, sob pena de se comprometer a segurança na tutela do crédito, pilar
fundamental das relações jurídicas desse jaez. 10. Hipótese em que, a despeito da nobre intenção do recorrido,
deve ser condenado ao pagamento da quantia inscrita nos cheques por ele emitidos, sem prejuízo de posterior
ação de regresso contra o interessado para reaver o valor que eventualmente venha a despender. 11. Recurso
especial conhecido e provido.”
(REsp 1787274/MS, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI, TERCEIRA TURMA, julgado em 23/04/2019, DJe 26/04/2019.
Comentário:
7.357/85). Esse dever de garantia do emitente do cheque não poder ser afastado com
fundamento nos costumes e no princípio da boa-fé objetiva, ou seja, não há lacuna neste
caso. Na ausência de lacuna, não cabe ao julgador se valer de um costume para afastar a
aplicação da lei, sob pena de ofensa ao art. 4º da LINDB.
STJ. 3ª Turma. REsp 1693732-MG, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 05/05/2020 (Info 671)
EMENTA: “CIVIL. PROCESSUAL CIVIL. USUCAPIÃO ESPECIAL URBANA. PRESCRIÇÃO EXTINTIVA. ESCOAMENTO DO
PRAZO PARA DEDUÇÃO DE PRETENSÃO. PRESCRIÇÃO AQUISITIVA. FORMA DE AQUISIÇÃO DA PROPRIEDADE.
60
DISTINÇÕES. CAUSA IMPEDITIVA DE FLUÊNCIA DA PRESCRIÇÃO. APLICABILIDADE ÀS PRESCRIÇÕES EXTINTIVAS E
AQUISITIVAS. CONSTÂNCIA DA SOCIEDADE CONJUGAL E FLUÊNCIA DO PRAZO PRESCRICIONAL. CAUSA
IMPEDITIVA DA PRESCRIÇÃO QUE CESSA COM A SEPARAÇÃO JUDICIAL, COM O DIVÓRCIO E TAMBÉM COM A
SEPARAÇÃO DE FATO POR LONGO PERÍODO. TRATAMENTO ISONÔMICO PARA SITUAÇÕES DEMASIADAMENTE
SEMELHANTES. PRESCRIÇÃO AQUISITIVA CONFIGURADA. APURAÇÃO DOS DEMAIS REQUISITOS
CONFIGURADORES DA USUCAPIÃO ESPECIAL URBANA. NECESSIDADE DE REJULGAMENTO DA APELAÇÃO. 1-
Ação distribuída em 31/07/2014. Recurso especial interposto em 31/03/2017 e atribuído à Relatora em
15/09/2017. 2- O propósito recursal consiste em definir se a separação de fato do casal é suficiente para cessar a
causa impeditiva da fluência do prazo prescricional prevista no art. 197, I, do CC/2002, e, assim, para deflagrar o
cômputo do prazo para a prescrição aquisitiva do imóvel previsto no art. 1.240 do CC/2002. 3- Duas espécies
distintas de prescrição são reguladas pelo CC/2002: a extintiva, relacionada ao escoamento do lapso temporal
para que se deduza judicialmente pretensão decorrente de violação de direito (arts. 189 a 206) e a aquisitiva,
relacionada a forma de aquisição da propriedade pela usucapião (arts. 1.238 a 1.244). Precedente. 4- A causa
impeditiva de fluência do prazo prescricional prevista no art. 197, I, do CC/2002, conquanto topologicamente
inserida no capítulo da prescrição extintiva, também se aplica às prescrições aquisitivas, na forma do art. 1.244 do
CC/2002. 5- A constância da sociedade conjugal, exigida para a incidência da causa impeditiva da prescrição
extintiva ou aquisitiva (art. 197, I, do CC/2002), cessará não apenas nas hipóteses de divórcio ou de separação
judicial, mas também na hipótese de separação de fato por longo período, tendo em vista que igualmente não
subsistem, nessa hipótese, as razões de ordem moral que justificam a existência da referida norma. Precedente.
6- Sendo incontroverso o transcurso do lapso temporal quinquenal entre a separação de fato e o ajuizamento da
ação de usucapião, mas não tendo havido a apuração, pelas instâncias ordinárias, acerca da presença dos demais
pressupostos configuradores da usucapião, impõe-se a devolução do processo para rejulgamento da apelação,
afastada a discussão acerca da prescrição aquisitiva. 7- Recurso especial conhecido e provido, para determinar
que seja rejulgada a apelação e examinada a eventual presença dos demais requisitos da usucapião especial
urbana”. (REsp 1693732/MG, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI, TERCEIRA TURMA, julgado em 05/05/2020, DJe
11/05/2020)
Comentário:
Esse julgado foi selecionado para mostrar que o intérprete, para resolver situações
cotidianas, nem sempre deve se apegar somente à literalidade do texto da lei, necessitando
também, ao realizar o seu juízo de hermenêutica, perquirir a finalidade da norma, ou seja, a
sua razão de ser e o bem jurídico que ela visa proteger, nos exatos termos do art. 5º da Lei
de Introdução às Normas do Direito Brasileiro – LINDB:
61
Art. 5o Na aplicação da lei, o juiz atenderá aos fins sociais a que ela se dirige e às exigências do bem
comum.
Comentário:
No caso, mesmo não estando prevista no rol do art. 1.571, CC, a separação de
fato muito prolongada, ou por tempo razoável, também pode ser considerada como causa de
STJ. 3ª Turma. REsp 1.362.400-SP, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 28/4/2015 (Info
563).
EMENTA: “RECURSO ESPECIAL. DIREITO INTERNACIONAL PRIVADO. AÇÃO DE SONEGADOS PROMOVIDA PELOS
NETOS DA AUTORA DA HERANÇA (E ALEGADAMENTE HERDEIROS POR REPRESENTAÇÃO DE SEU PAI, PRÉ-
MORTO) EM FACE DA FILHA SOBREVIVENTE DA DE CUJUS, REPUTADA HERDEIRA ÚNICA POR TESTAMENTO
CERRADO E CONJUNTIVO FEITO EM 1943, EM MEIO A SEGUNDA GUERRA MUNDIAL, NA ALEMANHA,
DESTINADA A SOBREPARTILHAR BEM IMÓVEL SITUADO NAQUELE PAÍS (OU O PRODUTO DE SUA VENDA). 1. LEI
DO DOMICÍLIO DO AUTOR DA HERANÇA PARA REGULAR A CORRELATA SUCESSÃO. REGRA QUE COMPORTA
EXCEÇÃO. EXISTÊNCIA DE BENS EM ESTADOS DIFERENTES. 2.
JURISDIÇÃO BRASILEIRA. NÃO INSTAURAÇÃO. IMPOSSIBILIDADE DE DELIBERAR SOBRE BEM SITUADO NO
EXTERIOR. ADOÇÃO DO PRINCÍPIO DA PLURALIDADE DOS JUÍZOS SUCESSÓRIOS. 3. EXISTÊNCIA DE IMÓVEL
SITUADO NA ALEMANHA, BEM COMO REALIZAÇÃO DE TESTAMENTO NESSE PAÍS. CIRCUNSTÂNCIAS
PREVALENTES A DEFINIR A LEX REI SITAE COMO A REGENTE DA SUCESSÃO RELATIVA AO ALUDIDO BEM.
APLICAÇÃO. 4. PRETENSÃO DE SOBREPARTILHAR O IMÓVEL SITO NA ALEMANHA OU O PRODUTO DE SUA
VENDA. INADMISSIBILIDADE. RECONHECIMENTO, PELA LEI E PELO PODER JUDICIÁRIO ALEMÃO, DA CONDIÇÃO
DE HERDEIRA ÚNICA DO BEM. INCORPORAÇÃO AO SEU PATRIMÔNIO JURÍDICO POR DIREITO PRÓPRIO. LEI DO
DOMICILIO DO DE CUJUS. INAPLICABILIDADE ANTES E DEPOIS DO ENCERRAMENTO DA SUCESSÃO
RELACIONADA AO IMÓVEL SITUADO NO EXTERIOR. 5. IMPUTAÇÃO DE MÁ-FÉ DA INVENTARIANTE.
INSUBSISTÊNCIA. 6. RECURSO ESPECIAL IMPROVIDO. 1. A lei de Introdução às Normas de Direito Brasileiro
(LINDB) elegeu o domicílio como relevante regra de conexão para solver conflitos decorrentes de situações
jurídicas relacionadas a mais de um sistema legal (conflitos de leis interespaciais), porquanto consistente na
própria sede jurídica do indivíduo. Em que pese a prevalência da lei do domicílio do indivíduo para regular as
62
suas relações jurídicas pessoais, conforme preceitua a LINDB, esta regra de conexão não é absoluta. 1.2
Especificamente à lei regente da sucessão, pode-se assentar, de igual modo, que o art. 10 da LINDB, ao
estabelecer a lei do domicílio do autor da herança para regê-la, não assume caráter absoluto. A conformação do
direito internacional privado exige a ponderação de outros elementos de conectividade que deverão, a depender
da situação, prevalecer sobre a lei de domicílio do de cujus. Na espécie, destacam-se a situação da coisa e a
própria vontade da autora da herança ao outorgar testamento, elegendo, quanto ao bem sito no exterior,
reflexamente a lei de regência. 2. O art. 10, caput, da LINDB deve ser analisado e interpretado
sistematicamente, em conjunto, portanto, com as demais normas internas que regulam o tema, em especial
o art. 8º, caput, e § 1º do art. 12, ambos da LINDB e o art. 89 do CPC. E, o fazendo, verifica-se que, na
hipótese de haver bens imóveis a inventariar situados, simultaneamente, aqui e no exterior, o Brasil adota o
princípio da pluralidade dos juízos sucessórios. 2.1 Inserem-se, inarredavelmente, no espectro de relações
afetas aos bens imóveis aquelas destinadas a sua transmissão/alienação, seja por ato entre vivos, seja causa
mortis, cabendo, portanto, à lei do país em que situados regê-las (art. 8º, caput, LINDB). 2.2 A Jurisdição
brasileira, com exclusão de qualquer outra, deve conhecer e julgar as ações relativas aos imóveis situados no país,
assim como proceder ao inventário e partilha de bens situados no Brasil, independente do domicílio ou da
nacionalidade do autor da herança (Art. 89 CPC e § 2º do art. 12 da LINDB) 3. A existência de imóvel situado na
Alemanha, bem como a realização de testamento nesse país são circunstâncias prevalentes a definir a lex rei sitae
como a regente da sucessão relativa ao aludido bem (e somente a ele, ressalta-se), afastando-se, assim, a lei
brasileira, de domicílio da autora da herança. Será, portanto, herdeiro do aludido imóvel quem a lei alemã disser
que o é. E, segundo a decisão exarada pela Justiça alemã, em que se reconheceu a validade e eficácia do
testamento efetuado pelo casal em 1943, durante a Segunda Guerra Mundial, a demandada é a única herdeira do
imóvel situado naquele país (ante a verificação das circunstâncias ali referidas - morte dos testadores e de um
dos filhos). 3.1 Esta decisão não tem qualquer repercussão na sucessão aberta - e concluída - no Brasil,
relacionada ao patrimônio aqui situado. De igual modo, a jurisdição brasileira, porque também não instaurada,
não pode proceder a qualquer deliberação quanto à extensão do que, na Alemanha, restou decidido sobre o
imóvel lá situado. 4. O imóvel situado na Alemanha (ou posteriormente, o seu produto), de acordo com a lei de
regência da correspondente sucessão, passou a integrar o patrimônio jurídico da única herdeira. A lei brasileira,
de domicílio da autora da herança, não tem aplicação em relação à sucessão do referido bem, antes de sua
consecução, e, muito menos, depois que o imóvel passou a compor a esfera jurídica da única herdeira. Assim, a
providência judicial do juízo sucessório brasileiro de inventariar e sobrepartilhar o imóvel ou o produto de sua
venda afigurar-se-ia inexistente, porquanto remanesceria não instaurada, de igual modo, a jurisdição nacional. E,
por consectário, a pretensão de posterior compensação revela-se de todo descabida, porquanto significaria, em
última análise, a aplicação indevida e indireta da própria lei brasileira. 5. O decreto expedido pelo Governo
alemão, que viabilizara a restituição de bens confiscados aos proprietários que comprovassem a correspondente
titularidade, é fato ocorrido muito tempo depois do encerramento da sucessão aberta no Brasil e que, por óbvio,
refugiu, a toda evidência, da vontade e do domínio da inventariante. Desde 1983, a ré, em conjunto com os
63
autores, envidou esforços para obter a restituição do bem. E, sendo direito próprio, já que o bem passou a
integrar seu patrimônio jurídico, absolutamente descabido exigir qualquer iniciativa da ré em sobrepartilhar tal
bem, ou o produto de sua venda. Do que ressai absolutamente infundada qualquer imputação de má-fé à pessoa
da inventariante. 6. Recurso especial improvido”. (REsp 1362400/SP, Rel. Ministro MARCO AURÉLIO BELLIZZE,
TERCEIRA TURMA, julgado em 28/04/2015, DJe 05/06/2015 - negritamos)
Comentário:
do autor da herança seja no Brasil. Ao caso, deve-se aplicar a lei estrangeira da situação da
coisa.
sucessão por morte. No entanto, a lei brasileira só se aplica para os bens situados no Brasil e
autoridade judiciária brasileira somente poderá faze o inventário dos bens imóveis aqui
localizados.
STJ. 2ª Seção. REsp 1124859-MG, Rel. originário Min. Luis Felipe Salomão, Rel. para acórdão Min.
Maria Isabel Gallotti, julgado em 26/11/2014 (Info 556).
EMENTA: “RECURSO ESPECIAL. UNIÃO ESTÁVEL. INÍCIO ANTERIOR E DISSOLUÇÃO POSTERIOR À EDIÇÃO DA LEI
9.278/96. BENS ADQUIRIDOS ONEROSAMENTE ANTES DE SUA VIGÊNCIA. 1. Não ofende o art. 535 do CPC a
decisão que examina, de forma fundamentada, todas as questões submetidas à apreciação judicial. 2. A ofensa
aos princípios do direito adquirido, ato jurídico perfeito e coisa julgada encontra vedação em dispositivo
constitucional (art. 5º XXXVI), mas seus conceitos são estabelecidos em lei ordinária (LINDB, art. 6º). Dessa
forma, não havendo na Lei 9.278/96 comando que determine a sua retroatividade, mas decisão judicial acerca da
aplicação da lei nova a determinada relação jurídica existente quando de sua entrada em vigor - hipótese dos
autos - a questão será infraconstitucional, passível de exame mediante recurso especial. Precedentes do STF e
64
deste Tribunal 3. A presunção legal de esforço comum na aquisição do patrimônio dos conviventes foi
introduzida pela Lei 9.278/96, devendo os bens amealhados no período anterior à sua vigência, portanto, ser
divididos proporcionalmente ao esforço comprovado, direito ou indireto, de cada convivente, conforme
disciplinado pelo ordenamento jurídico vigente quando da respectiva aquisição (Súmula 380/STF). 4. Os bens
adquiridos anteriormente à Lei 9.278/96 têm a propriedade - e, consequentemente, a partilha ao cabo da união -
disciplinada pelo ordenamento jurídico vigente quando respectiva aquisição, que ocorre no momento em que se
aperfeiçoam os requisitos legais para tanto e, por conseguinte, sua titularidade não pode ser alterada por lei
posterior em prejuízo ao direito adquirido e ao ato jurídico perfeito (CF, art. 5, XXXVI e Lei de Introdução ao
Código Civil, art. 6º). 5. Os princípios legais que regem a sucessão e a partilha de bens não se confundem: a
sucessão é disciplinada pela lei em vigor na data do óbito; a partilha de bens, ao contrário, seja em razão do
término, em vida, do relacionamento, seja em decorrência do óbito do companheiro ou cônjuge, deve observar o
regime de bens e o ordenamento jurídico vigente ao tempo da aquisição de cada bem a partilhar. 6. A aplicação
da lei vigente ao término do relacionamento a todo o período de união implicaria expropriação do patrimônio
adquirido segundo a disciplina da lei anterior, em manifesta ofensa ao direito adquirido e ao ato jurídico perfeito.
7. Recurso especial parcialmente provido”. (REsp 1124859/MG, Rel. Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO, Rel. p/
Acórdão Ministra MARIA ISABEL GALLOTTI, SEGUNDA SEÇÃO, julgado em 26/11/2014, DJe 27/02/2015,
negritamos)
Comentário:
Apesar de o art. 5º, XXXVI, da CF dispor que é vedada ofensa aos princípios do direito
adquirido, ato jurídico perfeito e coisa julgada, o conceito de tais institutos encontra-se no art.
6º da LINDB. Assim, cabe recurso especial (e não recurso extraordinário) no caso de provável
ofensa ao art. 6º da LINDB quando da interpretação dos conceitos legais de direito adquirido
e ato jurídico perfeito pelo acórdão recorrido, o qual, no caso, aplicou lei nova a uma situação
jurídica já constituída quando de sua edição.
65
MAPA MENTAL
66
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
FARIAS, Cristiano Chaves de. Manual de Direito Civil – Volume Único – 2. ed. atual. e ampl. – Salvador:
JusPodivm, 2018.
TARTUCE, Flávio. Manual de direito civil: volume único – Volume Único - 8. ed. rev, atual. e ampl. – Rio
de Janeiro: Forense; São Paulo: MÉTODO, 2018.
67
MA
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PL L
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CARREIRA JURÍDICA
DIREITO
CONSTITUCIONAL
CAPÍTULO 1
Olá, aluno!
garantindo que você terá em mãos um conteúdo direcionado e distribuído de forma inteligente.
Para isso, estamos constantemente analisando o histórico de provas anteriores com fins
de entender como cada Banca e cada Carreira costuma cobrar os assuntos do edital. Afinal,
queremos que sua atenção esteja focada nos assuntos que lhe trarão maior aproveitamento,
pois o tempo é escasso e o cronograma é extenso. Conte conosco para otimizar seu estudo
sempre!
estrutura do CERS Book foi feita em capítulos, de modo que você possa consultar
especificamente os assuntos que estiver estudando no dia ou na semana. Ao final de cada
capítulo você tem a oportunidade de revisar, praticar, identificar erros e aprofundar o assunto
com a leitura de jurisprudência selecionada.
E mesmo você gostando muito de tudo isso, acreditamos que o PDF sempre pode ser
aperfeiçoado! Portanto pedimos gentilmente que, caso tenha quaisquer sugestões ou
comentários, entre em contato através do email pdf@cers.com.br. Sua opinião vale ouro para
a gente!
Acreditamos que com esses recursos você estará munido com tudo que precisa para alcançar
a sua aprovação de maneira eficaz. Racionalizar a preparação dos nossos alunos é mais que
um objetivo para o CERS, trata-se de uma obsessão. Sem mais delongas, partiremos agora para
o estudo da disciplina.
Bons estudos
2
SOBRE ESTA DISCIPLINA
Daremos início ao estudo da disciplina Direito Constitucional. Via de regra, nos concursos
públicos relacionados às carreiras jurídicas, essa disciplina é cobrada em todas as suas fases.
Assim, é preciso haver uma preparação completa que abarque, na precisa medida, o estudo da
conhecimento teórico, eis que será necessário o aprimoramento das técnicas de resolução de
questões objetivas (múltipla escolha), subjetivas (questões escritas) e, também, quando for o
Vale destacar que não se tem notícia de certame em que não seja cobrada a disciplina
de Direito Constitucional, tamanha a sua importância não só do seu conhecimento teórico, como
também da sua aplicação prática.
inevitavelmente, a disciplina será cobrada de forma bastante contundente, já que afeta à rotina
de trabalho do examinador, por isso, seu estudo, em uma preparação completa do candidato,
não pode ser renegado.
3
Este material busca fornecer ao aluno um conhecimento amplo e suficiente, conforme os
temas costumam ser cobrados, então, ao final e no decorrer dos capítulos serão colacionadas
questões para treinamento, sempre diversificando e exemplificando os concursos de cada área.
Vale acrescentar, por fim, que, como se constatará ao longo dos capítulos, os
Examinadores dos concursos de carreiras jurídicas vêm cobrando a disciplina de maneira
abrangente. Deste modo, em que pese alguns temas sejam mais recorrentes, nenhum capítulo
deste material deve ser negligenciado.
4
RECORRÊNCIA DA DISCIPLINA
A partir da análise das últimas provas das carreiras de Juiz de Direito, Promotor de Justiça,
Juiz Federal, Defensor Público, Procuradores diversos, verificou-se que a disciplina de Direito
Constitucional possui grande recorrência. Através destes dados, identificou-se quais os temas
mais cobrados na disciplina de Direito Constitucional.
2% 2% 2%
2% 1%
3%
22%
3%
5%
6%
13%
9%
9% 11%
10%
5
TEMAS RECORRÊNCIA
Dos Direitos e Garantias Fundamentais
Constituição
6
Assim, os assuntos de Direito Constitucional estão distribuídos da seguinte forma:
CAPÍTULOS
7
SOBRE ESTE CAPÍTULO
O presente capítulo irá tratar do tópico mais basilar e introdutório de todo o Direito
Por último, mas não menos importante, será discutido o tema da interpretação das normas
constitucionais, assunto tão atual nas discussões das Cortes Superiores e que é recorrente nos
concursos públicos.
A importância deste capítulo para as carreiras jurídicas é o de que na maioria das provas virá
pelo menos uma questão relacionada a este ponto. As carreiras que mais vão cobrar serão as
las. Recomenda-se, para a fixação, a resolução de inúmeras questões, bem como a leitura
reiterada deste capítulo.
A pergunta que você deve estar se fazendo é: - Mas esse tema é muito longo? Na verdade,
apesar de muitos livros tratarem do assunto de forma extensa e complicada, este material vai
simplificar o seu trabalho. Então, fique tranquilo.
8
SUMÁRIO
Capítulo 1 ................................................................................................................................................ 12
1. Constituição ..................................................................................................................................... 14
1.1.2.4.Concepção Culturalista................................................................................................................................... 18
1.1.3.2.Quanto ao conteúdo....................................................................................................................................... 19
9
1.1.4. Elementos da Constituição ............................................................................................................................ 26
JURISPRUDÊNCIA................................................................................................................................ 133
11
DIREITO CONSTITUCIONAL
Capítulo 1
para concurso público. A orientação será útil tanto para aquele que já vem desenvolvendo
um estudo, quanto para quem acaba de começar a vida de concurseiro. Vamos a elas!
12
natural na sua cabeça. Às vezes você pode prestar a prova sem o “peso psicológico” e acabar
passando. Depois, caberá a ti decidir se vai ou não assumir. 😉
13
1. Constituição
Constituição é a mais importante lei de um Estado, que rege a sua configuração jurídico-
política. Nessa linha, as normas da constituição tratarão da organização do Estado, dos órgãos
que o integram, das competências, da forma de exercício do Poder. Além do mais, limitará o
Estado por meio da separação dos Poderes e, também, pelos direitos e garantias fundamentais.
Pode-se dizer que a Constituição é o objeto de estudo do Direito Constitucional, sendo ela
a lei fundamental e suprema do Estado, criada pela vontade soberana do povo. Ela que
determina a organização político-jurídica do Estado, dispondo sobre a sua forma, os órgãos que
o integram e as competências destes e, finalmente, a aquisição e o exercício do poder.
fundamentais.
14
1.1.2. Concepções sobre a Constituição
Nesta obra, ele entende que a Constituição escrita é apenas uma “folha de papel”. Para ele,
De acordo com esta concepção, a Constituição é tida como fato social, e não propriamente
como norma. O texto positivo da Constituição seria resultado da realidade social do País, das
formal, documento este que· só teria eficácia se correspondesse aos valores presentes na
sociedade1.
real, efetiva, que corresponde à soma dos fatores reais de poder que regem esse País, e uma
Constituição escrita, por ele denominada "folha de papel". Esta, a Constituição escrita ("folha de
papel"), só teria validade se correspondesse à Constituição real, isto é, se tivesse suas raízes nos
fatores reais de poder. Em caso de conflito entre a Constituição real (soma dos fatores reais de
poder) e a Constituição escrita ("folha de papel"), esta sempre sucumbiria àquela.
Seu nome referencial é Carl Schmitt, cuja obra essencial é “Teoria da Constituição”. Para ele,
1
Vide questão 3 desse material.
15
Para Schmitt, a validade de uma Constituição não se apoia na justiça de suas normas, mas
na decisão política que lhe dá existência. O poder constituinte equivale, assim, à vontade política,
cuja força ou autoridade é capaz de adotar a concreta decisão de conjunto sobre modo e forma
Nessa concepção política, Schmitt estabeleceu uma distinção entre Constituição e leis
O grande expoente desta concepção é Hans Kelsen, cuja obra essencial é a Teoria Pura do
Direito. Ele posiciona a Constituição no mundo do dever-ser, e não no mundo do ser,
caracterizando-a como fruto da vontade racional do homem, e não das leis naturais.
Em outras palavras, para Kelsen, a Constituição é considerada como norma, e norma pura,
como puro dever-ser, sem qualquer consideração de cunho sociológico, político ou filosófico.
Embora reconheça a relevância dos fatores sociais numa dada sociedade, Kelsen sempre
defendeu que seu estudo não compete ao jurista como tal, mas ao sociólogo e ao filósofo.
jurídico-positivo.
16
ainda, corresponde a certo documento solene que contém um conjunto de normas jurídicas
CONSTITUIÇÃO
LEIS
ATOS INFRALEGAIS
respectivamente, nos sentidos: Alternativa tida como correta: “sociológico, político e jurídico”.
Essa questão demonstra que o assunto em análise é cobrado a partir da mistura das diferentes
concepções sobre a Constituição e seus respectivos autores. Portanto, é importante ficar atento
17
ao pensamento defendido em cada uma delas, inclusive, no que tange ao autor e à obra a elas
vinculados.
Esta concepção afirma que a Constituição é produto de um fato cultural, produzido pela
sociedade e que nela pode influir. J. H. Meirelles Teixeira é o seu principal expoente.
Segundo ele, a Constituição é uma formação objetiva de cultura que encerra, ao mesmo
tempo, elementos históricos, sociais e racionais, aí intervindo, portanto, não apenas fatores
reais (natureza humana, necessidades individuais e sociais concretas, raça, geografia, uso,
costumes, tradições, economia, técnicas), mas também espirituais (sentimentos, ideias morais,
políticas e religiosas, valores), ou ainda elementos puramente racionais (técnicas jurídicas, formas
políticas, instituições, formas e conceitos jurídicos a priori), e finalmente elementos voluntaristas,
pois não é possível negar-se o papel de vontade humana, da livre adesão, da vontade política
das comunidades sociais na adoção desta ou daquela forma de convivência política e social, e
de organização do Direito e do Estado.
Existem inúmeros critérios a partir dos quais é possível realizar a classificação das
Constituições2. Qualquer classificação depende de critérios escolhidos pelos estudiosos, não se
2
Vide questões 1, 2
18
podendo dizer que um é mais acertado que o outro. Vejamos os critérios classificatórios mais
Já quanto ao seu conteúdo, a Constituição pode ser classificada como: formal ou material.
Vejamos.
3
Vide questão 14 desse material.
4
Vide questões 9 e 10 desse material.
19
1) Formal: leva em conta, para identificar o que é ou não Constituição, apenas
escrita.
No que diz respeito à forma, a Constituição pode ser classificada como escrita ou não escrita 6.
em apenas um documento.
2) Não-escrita: é aquela que não está pautada em apenas um único texto, mas
sim em textos esparsos, em usos, costumes, convenções, e na própria
5
Vide questão 2 desse material.
6
Vide questões 1, 13 e 14 desse material.
7
Vide questão 6
20
3) Flexível: poderá ser alterada da mesma maneira que se produz uma lei
torna rígida.
6) Silenciosa: é aquela que nada prevê sobre sua mudança formal, sendo
alterada somente pelo próprio poder originário. Definição dada por Kildare
Gonçalves.
21
Na ADI 3.105/DF e ADI 3.128/DF, o STF admitiu a alteração de matéria contida no art. 60, § 4º,
no caso da reforma da previdência que admitiu a taxação dos inativos, mitigando, destarte,
históricas.
8
Vide questão 10
22
emendas nesse tipo de constituição, já que está em permanente construção,
grau de abstração;
1) Ortodoxa: é aquela que toma partido de uma ideologia política, prestigia essa
ideologia em detrimento das demais. É relacionada a governos autoritários.
23
1.1.3.10. Quanto à finalidade
24
1) Normativa: é a Constituição que consegue regular a vida política
do Estado, uma vez que ela está em perfeita harmonia com a realidade social.
Correspondem à realidade política e social e limitam o poder
poder nas mãos das elites políticas, traduzindo o simples reflexo da realidade
política. Não têm o objetivo de regular a política estatal9.
escrita, quanto à forma; rígida, quanto à alterabilidade; analítica, quanto à extensão; dogmática,
quanto ao modo de elaboração; eclética, quanto à ideologia; dirigente, quanto à finalidade e
Veja como a temática da classificação que envolve a Constituição de 1988 foi cobrada no
concurso de Outorga de Delegações do TJMG em 2018 pela banca CONSULPLAN: A atual
Constituição da República Federativa do Brasil pode ser classificada como:
Alternativa correta: Promulgada, dogmática e analítica.
9
Vide questões 11 e 12
25
Além disso, a prova da DPE/PR de 2017, cuja banca foi a FCC considerou errada a alternativa
que indicava que a CF/88 seria ortodoxa. Veja a alternativa errada: ”a Constituição Brasileira de
1988 é democrática, rígida (ou super rígida), prolixa e ortodoxa”. A CF não é ortodoxa, que
adota apenas uma ideologia política, e sim é eclética (compromissória, compósitas ou
heterogênea), pois procura conciliar ideologias opostas.
Poder.
ambos da CF/88).
26
1.1.5. Estrutura das Constituições
não é norma constitucional e, por isso, não serve de paradigma para controle de
constitucionalidade e nem serve de limite para o poder constituinte derivado.
3) Parte Transitória (ADCT): visa integrar a ordem jurídica antiga à nova. São normas
Amigo concurseiro, seguindo nessas perspectivas doutrinárias, temos agora que examinar
esta interessante temática do constitucionalismo e do neoconstitucionalismo. Trata-se de um
tema um pouco mais histórico e que costuma ser muito cobrado nos concursos públicos.
1.2.1. Constitucionalismo
O que é o Constitucionalismo?
fundamental e suprema.
O constitucionalismo, segundo José Gomes Canotilho, é uma teoria (ou ideologia) que ergue
o princípio do governo limitado indispensável à garantia dos direitos em dimensão estruturante
da organização político-social de uma comunidade.
27
Segundo Pedro Lenza, Canotilho prefere chamar a matéria de “movimentos constitucionais”
garantia de direitos. Seria, então, uma técnica específica de limitação do poder (teoria
normativa política) visando fins garantísticos.
veria quatro sentidos a este movimento: limitar o poder arbitrário, imposição de constituições
escritas, propósitos atuais da função da constituição em diversas sociedades e como a evolução
um claro juízo de valor. É, no fundo, uma teoria normativa da política, tal como a teoria da
democracia ou a teoria do liberalismo.
André Ramos Tavares estabelece quatro sentidos para o constitucionalismo: “numa primeira
terceira acepção possível, para indicar os propósitos mais latentes e atuais da função e posição
das constituições nas diversas sociedades. Numa vertente mais restrita, o constitucionalismo é
Partindo, então, da ideia de que todo Estado deva possuir uma Constituição, avança-se no
sentido de que os textos constitucionais contêm regras de limitação ao poder autoritário e de
ligado aos processos revolucionários ocorridos na França e nos Estados Unidos no final do
28
séc. XVIII. Apesar disso, as ideias centrais do Constitucionalismo são bem mais antigas,
Constituição Francesa de em 1791. Os dois textos marcaram a origem deste movimento político-
jurídico.
utilização do termo no vocabulário político e jurídico do mundo ocidental data de pouco mais
de duzentos anos, associando-se aos processos revolucionários francês e soviético do século
XVIII”.
Como já se havia dito, para tratar da presente temática é preciso abordar um pouco da
Até o século V (ano 476 d.C), em que ocorreu a tomada do Império Romano do Ocidente
pelos bárbaros.
29
Do século V até o século XV, quando do fim do Império Romano do Oriente, com a “queda
de Constantinopla”
conforme as escrituras. No Antigo Testamento havia vários exemplos dos profetas que criticavam
os reis. O mais famoso dos profetas é o João Batista, que criticava o rei por ter casado com a
esposa do seu falecido irmão. Eram questionados os atos do poder público com base nos textos
bíblicos.
Já na Grécia antiga (Atenas), berço da democracia, havia ações públicas (graphe) que
Na Idade Média tivemos a famosa “Magna Carta Libertatum” de 1215. Ela foi outorgada
pelo Rei Inglês João I (João Sem Terra), previa uma série de direitos ao “povo inglês” (na
verdade para atender aos interesses dos poderosos), limitando os poderes do Rei 10.
10
Vide questão 9
30
Joao era conhecido como um dos reis que mais tributou. Houve, por isso, uma revolta dos
barões ingleses que, com o apoio do rei da França, obrigaram o rei a assinar esse documento.
A Magna Carta não teve eficácia prática, pois foi descumprida pelo Rei João e seus sucessores.
O documento, contudo, tem grande valor histórico, pois é a origem de vários direitos, como
do inglês do “due process of law”. A expressão usada na Magna Carta era “Lei da Terra”, “Law
of the land”: “ninguém será privado de sua liberdade, nem dos seus bens, senão de acordo
Com essas três constituições, o movimento constitucionalista se espalhou pelo mundo inteiro.
Constituição da Córsega
Ela é muito pouco falada. A Córsega não é mais país, é uma pequena ilha que fica no mar
entre a Itália e França. Essa ilha é famosa por ser o local onde nasceu Napoleão. Historicamente
ela fazia parte da Itália.
A Córsega foi um país independente entre os anos de 1755 e 1769 (14 anos). Declarada a
A maior inovação foi ser a primeira constituição do mundo a prever a separação dos
Em 1769 o território da Córsega foi invadido pela França e se incorporou ao território francês.
Deixou de ser uma república independente.
31
Houve a independência dos EUA em 04.07.1776, na cidade da Filadélfia. Foi criada uma
A partir deste ano de 1776, houve um movimento federalista para tentar unir esses Estados
num só país. A federação surgiu com a Constituição de 1787. O movimento federalista durou
11 anos. Nasceram os Estados Unidos da América.
• A supremacia da Constituição: está acima das outras leis. O controle difuso surgiu
poucos anos depois (Marbury vs Madison);11
• Federação: Estados com uma parcela de autonomia (inclusive maior do que o Brasil, já
• Presidencialismo
• Não previu direitos fundamentais (lista). Isso logo acabou com as Emendas. São vinte
emendas.
Não durou muito tempo. Foi um período turbulento na França. Ela decorre da Revolução
Francesa de 1789.
A finalidade da constituição era acabar com o “Regime Antigo” (Ancien Regime) do rei
autoritário. Tanto que rei se autointitulava o rei Sol.
11
Vide questão 4
32
Veja como a questão do “constitucionalismo moderno” foi cobrada no 186º concurso de Juiz
de Direito do estado de São Paulo, do ano de 2015, banca VUNESP. A alternativa entendida
como correta apontava que o seu surgimento se deu a partir das revoluções americana e
francesa.
seja utilizado desde a Antiguidade, as condições sociais, políticas e históricas que tornaram
possível a universalização, durante os séculos XIX e XX, da ideia de supremacia constitucional
surgiram somente a partir do século XVIII”. Certo! Como visto, a ideia de supremacia
constitucional surgiu a partir do século XVIII com a Revolução Francesa e a independência norte-
americana.
33
cumprir aquilo que prometem, não podem prever algo que não possam cumprir. A CF
é em parte, pois prevê saúde igualitária e solidariedade.
Constitucionalismo Whing: tem sua origem na Inglaterra e tem como característica
a mudança paulatina, lenta.
1.2.2. Neoconstitucionalismo
34
A doutrina passa a desenvolver, a partir do início do século XXI, uma nova perspectiva em
Direito e a Moral. Ocorre que, a barbárie nazista colocou em cheque o formalismo jurídico e a
neutralidade em relação aos aspectos morais. Operou-se uma mudança na qual o direito
cumprindo as leis vigentes em seu país, do outro lado, o nazismo desprezou muitas premissas
teóricas do positivismo jurídico. Há quem defenda na doutrina que o nazismo era anti-positivista.
Assim, o positivismo jurídico como um todo entrou em declínio, se passou a buscar uma
legitimidade do direito não mais em um procedimento prévio, e sim em valores morais. Essa
busca culminou no Neoconstitucionalismo ou Constitucionalismo Contemporâneo.
Visa-se, dentro dessa nova realidade, não mais apenas atrelar o constitucionalismo à ideia
Nas palavras de Walber de Moura Agra, o neoconstitucionalismo tem como uma de suas
marcas a concretização das prestações materiais prometidas pela sociedade, servindo como
ferramenta para a implantação de um Estado Democrático Social de Direito. Ele pode ser
considerado como um movimento caudatário do pós-modernismo12.
12
Vide questão 5 desse material.
35
1.2.3. Principais características do Neoconstitucionalismo
A lei e, de modo geral, os Poderes Públicos, então, devem não só observar a forma prescrita
na Constituição, mas, acima de tudo, estar em consonância com o seu espírito, o seu caráter
sobretudo no que diz respeito à promoção da dignidade humana e dos direitos fundamentais.
36
1.2.3.3. Concretização dos valores constitucionais e garantia de
condições dignas mínimas
as constituições mais longas, prolixas, dirigentes. Alguns autores chamam de Constituição Total.
Há uma convivência de muitos valores diferentes na constituição, inclusive, valores contraditórios
Há um destaque para os princípios (que são tidos como espécies de normas) e para a
técnica da ponderação de interesses. O processo de interpretação do Direito passa a ser menos
Segundo o Constitucionalismo moderno, como visto no tópico anterior, não há que se falar
Como regra geral, todas as normas constitucionais apresentam eficácia, algumas jurídica e
social e outras apenas jurídica. A eficácia social se verifica na hipótese de a norma vigente, isto
37
é, com potencialidade para regular determinadas relações, ser efetivamente aplicada a casos
concretos. Eficácia jurídica, por sua vez, significa que a norma está apta a produzir efeitos na
ocorrência de relações concretas; mas já produz efeitos jurídicos na medida em que a sua
simples edição resulta na revogação de todas as normas anteriores que com ela conflitam.
Já a classificação das normas cunhada pelo professor José Afonso da Silva é de imensa
encaixa, propriamente, em nenhum dos dois grupos idealizados pela doutrina americana.
Vejamos.
José Afonso da Silva destaca que as normas constitucionais de eficácia plena são as que
providência normativa ulterior para sua aplicação. Criam situações subjetivas de vantagem ou
de vínculo, desde logo exigíveis13.
13
Vide questão 7 desse material.
38
A seguinte assertiva foi considerada INCORRETA no concurso de outorga de delegações do
Estado de Minas Gerais: "As normas definidoras dos direitos e garantias fundamentais têm
imediata, mas possivelmente não integral, pois estão sujeitas a restrições que limitem sua
eficácia e aplicabilidade.
determinada matéria, mas deixou margem à restrição. Enquanto não materializado o fator de
restrição, a norma tem eficácia plena.
39
Em regra, as normas de eficácia contida exigem a atuação do legislador ordinário, fazendo
expressa remissão a uma legislação futura. Entretanto, a atuação do legislador ordinário não
será para tornar exercitável o direito nelas previsto (este já é exercitável desde a promulgação
do texto constitucional), tampouco para ampliar o âmbito de sua eficácia (que já é plena, desde
sua entrada em vigor), mas sim para restringir, para impor limitações ao exercício desse direito 15.
Concurseiro, quando pensarmos em normas de eficácia contida, a primeira coisa que tem que
vir em mente é o exame de ordem. Veja como essa questão foi cobrada na prova de escrivão
da polícia civil do Maranhão aplicada pelo CESPE em 2018: Enunciado: “O art. 5o, inciso XIII, da
Constituição Federal de 1988 (CF) assegura ser livre o exercício de qualquer trabalho, ofício ou
profissão, atendidas as qualificações profissionais que a lei estabelecer. Com base nisso, o
Estatuto da Ordem dos Advogados do Brasil estabelece que, para exercer a advocacia, é
necessária a aprovação no exame de ordem. A norma constitucional mencionada, portanto, é
Elas não produzem, com a simples entrada em vigor, os seus efeitos essenciais, porque o
legislador constituinte, por qualquer motivo, não estabeleceu, sobre a matéria, uma
15
Vide questão 8 desse material.
40
normatividade para isso bastante, deixando essa tarefa ao legislador ordinário ou a outro órgão
do Estado.
jurídicos pretendidos pelo legislador após a emissão de atos normativos previstos por ela.
Possuem ainda, eficácia negativa: não recepciona a legislação anterior incompatível e de impedir
Veja como a FCC cobrou este aspecto na prova do MPE da Paraíba para o cargo de Promotor
de Justiça em 2018: Enunciado tido como correto: “Normas constitucionais de eficácia limitada
A prova de Agente de Polícia da PC-AL, da banca CESPE de 2012 também exigiu conhecimentos
acerca da norma constitucional de eficácia limitada: Enunciado: “As normas constitucionais de
eficácia limitada dependem da intervenção legislativa para produzirem seus principais efeitos,
ou seja, necessitam de norma infraconstitucional integradora para sua aplicação ”. Correta!
41
uma obrigação, mas se limitam a dar ao legislador ordinário a possibilidade de
instituir ou regular a situação nelas delineada.
Note-se que, mesmo as normas de eficácia limitada, que não são exequíveis de imediato,
possuem uma eficácia mínima, na medida em que, mesmo sem serem regulamentadas,
produzem os seguintes efeitos: a) revogam a legislação ordinária que seja contrária à mesma;
b) impedem a edição de leis contendo dispositivos contrários ao mandamento constitucional; c)
42
1.4.1. Constituição de 1824
Outorgada em março de 1824 por Dom Pedro I, a primeira Constituição do Brasil foi
imposta após a dissolução da Assembleia Constituinte. Composta por 179 artigos, a Carta criou
o Poder Moderador, superior ao Legislativo, Executivo e Judiciário, fortalecendo a figura do
imperador, que também ditava os presidentes das províncias.
Quanto ao último aspecto, entretanto, impende anotar que, além dos três poderes
propugnados por Montesquieu - Legislativo, Executivo e Judiciário-, foi acrescentado um
poder denominado Moderador, concentrado nas mãos do Imperador.
16
Vide questão 13 desse material.
43
Veja como a prova de Promotor de Justiça de Goiás cobrou esta temática em 2019: “A
constituição de 1824 foi marcada por forte centralização político-administrativa, tendo como
forma de governo a monarquia hereditária constitucional; a religião católica era adotada como
oficial; as eleições eram indiretas e censitárias e, dentre todas as constituições da história
nacional, foi a que vigorou por mais tempo (1824/1891)”. Correta!
declarou, as províncias, agora como estados integrantes de uma federação, formaram os Estados
Unidos do Brasil.
Este texto foi inspirado na Constituição dos Estados Unidos e data de fevereiro de 1891.
Ele garantia o presidencialismo e o federalismo no País, com autonomia dos estados, a separação
entre Estado e Igreja e a liberdade partidária e das eleições diretas para a Câmara, o Senado e
Presidência com mandato de quatro anos17.
Apesar de ter sido ampliado para homens acima de 21 anos, o direito ao voto continuou
17
Vide questão 15 desse material.
44
Adotou a forma rígida, considerando constitucionais todas as suas disposições, as quais
somente poderiam ser alteradas mediante procedimento especial, mais difícil do que o exigido
para a criação e modificação do direito ordinário.
Foi uma Constituição nominativa, pois suas disposições não encontraram eco na realidade
Esta Constituição vigorou por 39 anos. Em 1926, sofreu uma profunda reforma, de cunho
marcadamente centralizador e autoritário, que acabou por precipitar a sua derrocada, ocorrida
Veja que a prova do MPE de Goiás insistiu na temática do histórico das constituições. Enunciado:
Promulgada em julho de 1934 por Getúlio Vargas, o texto previa um maior poder ao
governo federal, a criação do salário mínimo e algumas mudanças no sistema eleitoral, como o
voto secreto, liberado às mulheres e obrigatório a partir dos 18 anos — porém ainda restrito a
analfabetos e mendigos.
segurança e também as leis trabalhistas, com os conceitos de jornada de trabalho de oito horas
e férias remuneradas.
45
Esses direitos, quase todos traduzidos em normas constitucionais programáticas, tiveram
Por ter vigorado por um diminuto período de tempo, pouco relevantes foram seus reflexos
práticos, uma vez que não houve tempo para que a implementação de suas normas influenciasse
a realidade social.
Por fim, um breve resumo dessa constituição: Constitucionalismo Social; Enumerou direitos
fundamentais sociais; Forma de Governo: República; Sistema de governo: presidencialista; Forma
de Estado: Federativo; três poderes: Legislativo, Judiciário, Executivo; Mantido o controle difuso
de constitucionalidade; Instituição do Mandado de Segurança e da Ação Popular na Constituição;
Constituição faz referência ao MP e ao TCU; Vigência por 3 anos; Criação da Justiça Eleitoral;
Sufrágio feminino; Determinação de assistência aos necessitados; Surgimento da representação
interventiva (ADI interventiva), inaugurando o controle concentrado no Brasil; Surge a cláusula
de reserva de plenário; Senado poderia dar efeito erga omnes as decisões em controle difuso
realizadas pelo STF.
Mais uma vez a prova do MPE de Goiás. Essa alternativa foi considerada correta: “A constituição
de 1934 preocupou-se em enumerar direitos fundamentais sociais; manteve a república, a
federação, a divisão de poderes, o presidencialismo e o regime representativo”.
46
1.4.4. Constituição de 1937
Durante o período ditatorial do Estado Novo, esta Carta extinguiu as liberdades políticas,
a independência dos Três Poderes, a autonomia dos estados e também o cargo de vice-
presidente.
A eleição para presidente passou a ser indireta com mandato de seis anos, e foi liberada
a pena de morte, o exílio de opositores, a cassação da imunidade parlamentar e a censura dos
meios de comunicação.
Foi uma Carta outorgada, fruto de um golpe de Estado. Era Carta de inspiração fascista, de
caráter marcadamente autoritário e com forte concentração de poderes nas mãos do
Presidente da República.
Na verdade, a Constituição de 1937 não teve como prioridade assegurar direitos, mas sim
de São Paulo: "a Constituição Federal de 1937 é classificada como semântica, pois atuou como
simples instrumento de estabilização do Poder, sem o escopo de organizá-lo ou limitá-lo."
47
1.4.5. Constituição de 1946
A Constituição de 1946 adota a federação como forma de Estado - com autonomia política
para os estados e, acentuadamente, para os municípios -, estabelece a república como forma
de governo, o sistema presidencialista, e o regime democrático representativo, com eleições
primeira vez, dos partidos políticos, instituindo o princípio da liberdade de criação e organização
partidárias.
presidencialismo, em 1963, fato que precipitou o golpe militar de 1964, inaugurando mais um
período de ditadura em nossa história constitucional.
48
Veja que aspecto da Constituição de 1946 foi cobrado pela banca FCC, no ano de 2018, no
concurso da DPE-RS: “Vedava-se, consoante a Constituição brasileira de 1946, o registro de
qualquer partido político cujo programa ou ação contrariasse o regime democrático.”. Correta!
Para oficializar o regime militar, uma nova Carta foi outorgada em janeiro de 1967. Nela,
ficavam estabelecidos o bipartidarismo e as eleições indiretas para presidente, com quatro anos
de mandato. Por meio de atos institucionais (AIs), o texto foi emendado diversas vezes: segundo
o Senado, foram 17 atos institucionais, regulamentados por 104 atos complementares, entre
1964 e 1969.
Apresentava rol de direitos fundamentais, com redução dos direitos individuais, mas com
maior definição dos direitos dos trabalhadores. Limitou o direito de propriedade, possibilitando
18
Vide questão 16 desse material.
49
uma emenda à Constituição de 1967 formalmente, é considerada por muitos constitucionalistas
como, em verdade, uma nova Constituição outorgada, tendo em vista que o seu extenso texto
foi elaborado e unilateralmente imposto pelos ministros militares, que então estavam no poder.
Entretanto, pretendeu-se, na época, propalar a ideia de que se estava promulgando uma emenda
à Constituição de 1967, e não outorgando uma nova Constituição antidemocrática.
A Constituição de 1969 sofreu diversas emendas, até que, com a EC 26, de 27 de novembro
prestações positivas, passíveis, em tese, de serem exigidas pela população em geral, muitas
como verdadeiros direitos subjetivos.
50
alargamento dos direitos fundamentais de todas as dimensões e o robustecimento dos
É importante saber que diversos aspectos costumam ser cobrados da nossa história da
Constituição de 1988. Entre eles é possível indicar o momento da inserção do controle das
omissões, o momento do surgimento da ADC, do princípio da eficiência e o contexto do
surgimento da CF. Nesse sentido uma questão do concurso de Outorga de Delegações do
TJPR de 2019. Foram consideradas corretas as seguintes assertivas: 1. A ação de
inconstitucionalidade por omissão foi instituída pela Constituição da República de 1988; e 2. A
EC 3, de 1993, fez surgir no cenário brasileiro a ação declaratória de constitucionalidade. Por
outro lado, foram consideradas incorretas as seguintes: 3. O princípio constitucional da eficiência
foi adotado como princípio geral da Administração Pública brasileira por força da redação
inovadora surgida em 1988; e 4. A Constituição de 1988 é fruto de uma Assembleia Nacional
Constituinte exclusiva, cujos integrantes foram eleitos para assumirem como constituintes
especiais e não também como deputados e senadores regulares.
51
1.5.1. Métodos de Interpretação Constitucional
como uma lei e, assim, todos os métodos tradicionais de hermenêutica deverão ser utilizados
na tarefa interpretativa.
princípios.
Constituição deve ser interpretada como algo dinâmico e que se renova constantemente, no
compasso das modificações da vida em sociedade 19.
à luz da concretização da norma em sua realidade social. A norma terá de ser concretizada não
só pela atividade do legislador, mas, também, pela atividade do Judiciário, da administração, do
governo etc.
19
Vide questão 19 desse material.
52
comunicação entre as várias Constituições. Partindo dos 4 métodos ou elementos desenvolvidos
por Savigny (gramatical, lógico, histórico e sistemático), Peter Häberle sustenta a canonização
da comparação constitucional como um quinto método de interpretação.
As normas deverão ser vistas como preceitos integrados em um sistema unitário de regras
e princípios.
ele, leciona Canotilho que na resolução dos problemas jurídico-constitucionais deve dar-se
primazia aos critérios ou pontos de vista que favoreçam a integração política e social e o
reforço da unidade política.
interpretação efetiva, deve ser entendido no sentido de a norma constitucional ter a mais ampla
efetividade social.
53
repartição de funções constitucionalmente estabelecidas pelo constituinte originário, como
O seu intérprete final não pode chegar a um resultado que subverta ou perturbe o
esquema organizatório-funcional constitucionalmente estabelecido. Nos momentos de crise,
Veja como costuma ser cobrado pelo CESPE a questão da interpretação constitucional. A
presente alternativa foi considerada INCORRETA: “Na hipótese de eventual conflito aparente
de normas constitucionais decorrente da implantação de um empreendimento empresarial que
possa vir a causar danos ao meio ambiente, aplica-se o princípio da unidade constitucional, pelo
qual as normas que consagram princípios - como o da livre iniciativa, inserido no capítulo dos
princípios gerais da ordem econômica - devem prevalecer sobre as que disponham sobre
interesses de ordem prática, como os relacionados à defesa da fauna e da flora”.
20
Vide questão 17
54
acordo com Canotilho, “na solução dos problemas jurídico-constitucionais deve dar-se
e permanência”.
preferir a exegese que mais se aproxime da Constituição e, portanto, que não seja contrária
ao texto constitucional, daí surgirem várias dimensões a serem consideradas, seja pela doutrina,
seja pela jurisprudência, destacando-se que a interpretação conforme será implementada pelo
Judiciário e, em última instância, de maneira final, pela Suprema Corte:
Conservação de normas: percebendo o intérprete que uma lei pode ser interpretada
em conformidade com a Constituição, ele deve assim aplica-la para evitar a sua não
continuidade;
21
Vide questão 18
55
Intérprete não pode atuar como legislador positivo: não se aceita a interpretação
conforme a Constituição quando, pelo processo de hermenêutica, se obtiver uma
regra nova e distinta daquela objetivada pelo legislador e com ela contraditória, em
seu sentido literal ou objetivo. Deve-se, portanto, afastar qualquer interpretação em
contradição com os objetivos pretendidos pelo legislador.
56
O princípio da proporcionalidade pode ser abordado também em outras esferas do direito.
Veja como o CESPE cobrou essa temática em 2019 na prova da DPE-DF: “Consagrado na
esfera criminal, o princípio constitucional da proibição do excesso consiste na vedação ao Estado
de descriminalizar ou atenuar a tutela penal de certas condutas ofensivas a direitos
fundamentais”. Errada!
Em importante julgado de relatoria do Ministro Edson Fachin, informativo 933 do STF, proferido
em março de 2019, o Plenário da Suprema Corte aferiu a questão da proporcionalidade, bem
como adotou a técnica da interpretação conforme em relação a uma lei estadual do Rio de
Janeiro que exigia que a perícia feita em vítimas do sexo feminino se desse por legista sexo
feminino. Na oportunidade entendeu-se que Lei estadual pode exigir que a perícia realizada
em vítima do sexo feminino menor se dê por legista mulher, desde que isso não importe
retardamento ou prejuízo da diligência. Em MC a Corte deu interpretação conforme a
constituição, conciliando a proteção de crianças e adolescente do sexo feminino e o acesso à
justiça. Isso porque, embora a Lei visasse proteger tais sujeitos vulneráveis, tinha o efeito
contrário, de impedir que as investigações tivessem prosseguimento. Ademais, entendeu-se que
o Estado Membro tinha competência legislativa concorrente para editar tal texto normativo, pois
se trata de procedimento em matéria processual e não direito processual penal.
57
1.5.3. Limites da Interpretação Constitucional
jurídica.
Nesse sentido, o texto constitucional apresenta-se como porto seguro para os necessários
limites da interpretação, destacando-se a interpretação conforme a Constituição como
Nas palavras de Inocêncio Mártires Coelho, a atual realidade “... parece condenar ao
esquecimento a concepção kelseniana de legislador negativo, tantas têm sido as decisões das
Cortes Constitucionais — e.g. as diversas espécies de sentenças normativas — por via das quais,
a pretexto de otimizar e/ou realizar a Constituição, esses supertribunais assumem nítida postura
legislativa, criando normas de caráter geral e vinculante, como atestam a jurisprudência nacional
e a estrangeira, esta em maior expressão”.
sobre o fornecimento de informações pelos órgãos da SISBIN para a ABIN (art. 4º, parágrafo
único, da L. 9.883/99). Na ocasião foram fixados quatro critérios para que tal dispositivo seja
considerado constitucional:
58
iii) dados de comunicações telefônica e outros dados sujeitos à reserva de jurisdição
Vale ressaltar que no contexto da pandemia covid-19 diversas leis, medidas provisórias
e atos normativos infralegais foram editados e ensejaram a manifestação do STF acerca da
interpretação correta a seu respeito.
Em recente decisão do STF, publicada no informativo 978 de maio de 2020, foi adotada
a técnica de interpretação conforme a constituição abordando a temática da responsabilização
de agentes públicos por atos relacionados com a pandemia COVID-19. Tratou-se de julgado em
sede de ADI MC, proferido pelo Plenário, de relatoria do Ministro Roberto Barroso, na qual se
discutiu a medida provisória 966/2020 do Presidente da República que dispõe sobre esse tema.
o ato administrativo que ensejar violação ao direito à vida, à saúde, ao meio ambiente
equilibrado ou impactos adversos à economia, por inobservância: i) de normas e critérios
59
direitos. OBS: A MP não trata de crime ou de ato ilícito. Qualquer interpretação que dê
imunidade a agentes públicos quanto a ato ilícito ou de improbidade deve ser excluída.
pelo Min. Alexandre de Moraes, em sede do informativo 976, outro julgado no qual adotou a
interpretação conforme a Constituição a certos dispositivos e a outros decretou a suspensão
parcial, sem redução de texto. Na ocasião entendeu-se que não é possível exigir que os
Estados Membros e os Municípios se vinculem a autorizações e decisões de órgãos federais
para atitudes de combate à pandemia. Eis que uma Lei editada em 2020 previu um rol
exemplificativo de oito medidas que podem ser adotadas pelo poder público para o combate
ou de sua observância, bem como deu interpretação conforme aos dispositivos para que as
medidas nele previstas sejam precedidas de recomendação técnica e fundamentada, devendo,
ainda, ser resguardada a locomoção de produtos e serviços essenciais definidos por decreto,
respeitadas as definições no âmbito da competência constitucional de cada ente. Os entes
intermunicipal em rodovias, portos ou aeroportos. Os entes não podem, por outro lado, fechar
fronteiras, pois sairiam de suas competências constitucionais. Medidas restritivas relativas à
locomoção devem estar embasadas em recomendação técnica fundamentada de órgãos de
vigilância sanitária e têm que preservar o transporte de produtos e serviços essenciais, definidos
em decreto da autoridade federativa competente.
constituição pelo STF relacionada à COVID-19. Tal decisão foi proferida em abril de 2020 e
publicada no informativo 973 do Pretório Excelso, em sede de medida cautelar em ADI. Fixou-
se, na oportunidade, que é concorrente a competência para a adoção de medidas de combate
ao coronavírus, pois se trata da proteção da saúde. O Presidente até pode definir atividades
60
essenciais, mas deve ser preservada a autonomia dos entes. No contexto, a Lei previu algumas
medidas, sendo que uma MP alterou e acrescentou outros dispositivos. Assim, foi ajuizada uma
ADI, sendo que o Plenário do STF confirmou a decisão monocrática cautelar no sentido de
Distrito Federal e Municípios. Assim, foi dada interpretação conforme a constituição para
explicitar que o Presidente pode dispor, por decreto, sobre serviços públicos e atividades
61
QUADRO SINÓTICO
62
CLASSIFICAÇÃO DAS CONSTITUIÇÕES
Classificação quanto à:
63
Centro do sistema
Carga valorativa/axiológica:
dignidade da pessoa humana e
direitos fundamentais
NO
NEOCONSTITUCIONALISMO,
A CONSTITUIÇÃO É:
Eficácia irradiante em relação
aos Poderes e aos particulares
64
Aplicabilidade direta,
PLENA
imediata e integral
Conceitos ético-
jurídicos consagrados
Declaratórias de
princípios institutivos
ou organizativos
Aplicabilidade indireta,
LIMITADA
mediata e reduzida
Declaratórias de
princípios
programáticos
65
Classificação
1824 1891 1934 1937 1946 1967 1988
quanto ao:
Semi-
Estabilidade Rígida Rígida Rígida Rígida Rígida Rígida
rígida
Federaçã
Federaçã Federaçã o
Federaçã Federaçã
Forma de o com o de Federaçã (inclusão
Unitário o o
Estado intervenç cooperaç o dos
(aberta) (fechada)
ão ão municípi
os)
66
Forma de Monarqu Repúblic Repúblic Repúblic Repúblic Repúblic Repúblic
Governo ia a a a a a a
Parlame- Presiden
Sistema de tarismo Presiden Presiden cia-lismo Presiden Presiden Presiden
Governo em cia-lismo cia-lismo centraliza cia-lismo cia-lismo cia-lismo
branco do
President
e Criação
Eleição Eleição
Forte e legislava da
do vice indireta
Executivo - - centraliza por Medida
feita (colégio
do decreto- Provisóri
separada eleitoral)
legislativ a
o
Criação
Garantias
Controle da
Não do
de Justiça
apreciava magistra Criação
Judiciário - Constituc do
atos do dos do STJ
io- Trabalho
Executivo suspensa
nalidade e
s
Eleitoral
Ministros
Câmara Bipartida Poder
Bicamera Bicamera prestam
classista Fechado ris-mo terminati
l l com contas
Legislativo e Senado por oito Congress vo às
aristocrát casa ao
colaborat anos o Comissõ
ico revisora parlamen
ivo fechado es
to
67
MÉTODOS DE
INTERPRETAÇÃO CONSTITUCIONAL
Método jurídico ou Constituição deve ser encarada como uma lei e, assim, todos
hermenêutico os métodos tradicionais de hermenêutica deverão ser
clássico utilizados na tarefa interpretativa.
68
PRINCÍPIOS DA
INTERPRETAÇÃO CONSTITUCIONAL
22
Vide questão 20
69
QUESTÕES COMENTADAS
Questão 1
(FGV - 2016 - OAB - Exame de Ordem Unificado - XXI) A Constituição de determinado país
veiculou os seguintes artigos:
Art. X. As normas desta Constituição poderão ser alteradas mediante processo legislativo próprio,
com a aprovação da maioria qualificada de três quintos dos membros das respectivas Casas
Legislativas, em dois turnos de votação, exceto as normas constitucionais que não versarem
sobre a estrutura do Estado ou sobre os direitos e garantias fundamentais, que poderão ser
deverá ser submetida à consulta popular, por meio de plebiscito, visando à sua aprovação
definitiva.
Art. Z. A ordem econômica será fundada na livre iniciativa e na valorização do trabalho humano,
devendo seguir os princípios reitores da democracia liberal e da social democracia, bem como
o respeito aos direitos fundamentais de primeira dimensão (direitos civis e políticos) e de
Com base no fragmento acima, é certo afirmar que a classificação da Constituição do referido
país seria
70
Comentário:
Olá concurseiro! Para facilitar a sua vida, nós vamos a analisar cada item (artigo) da questão e,
depois, veremos alternativa por alternativa.
“Art. X. As normas desta Constituição poderão ser alteradas mediante processo legislativo
próprio, com a aprovação da maioria qualificada de três quintos dos membros das respectivas
Casas Legislativas, em dois turnos de votação, exceto as normas constitucionais que não
versarem sobre a estrutura do Estado ou sobre os direitos e garantias fundamentais, que
poderão ser alteradas por intermédio de lei infraconstitucional.”
podem ser modificadas com procedimento qualificado e outras que podem ser modificadas por
leis infraconstitucionais.
“Art. Y. A presente Constituição, concebida diretamente pelo Exmo. Sr. Presidente da República,
deverá ser submetida à consulta popular, por meio de plebiscito, visando à sua aprovação
definitiva.”
Já o “Art. Y” aponta que a Constituição será concebida diretamente pelo Presidente da República
e submetida à consulta popular, por meio de plebiscito, visando a sua aprovação definitiva. Em
verdade, a consulta popular indicada seria um referendo, pois se dá “a posteriori”. Contudo,
parte da doutrina costuma tratar desse caso como plebiscito, por não fazer diferença entre a
consulta anterior e a posterior. De todo modo, trata-se de uma Constituição
Cesarista/Bonapartista, ou seja, elaborada unilateralmente e posta, posteriormente, à consulta
(ratificação) popular.
“Art. Z. A ordem econômica será fundada na livre iniciativa e na valorização do trabalho humano,
devendo seguir os princípios reitores da democracia liberal e da social democracia, bem como
71
o respeito aos direitos fundamentais de primeira dimensão (direitos civis e políticos) e de
segunda dimensão (direitos sociais, econômicos, culturais e trabalhistas).”
Por fim, o “Art. Z” trata da Constituição dirigente/compromissória, por ser aquela que traça os
objetivos a serem perseguidos pelo Estado. Além de prever os direitos fundamentais, fixa metas
Com isso, a alternativa “A” está errada. Em relação à origem, as Constituições podem ser
uma.
A alternativa “B” está errada. Não se trata de constituição flexível, ou seja, a que pode ser
modificada pelo procedimento legislativo ordinário, que é o mesmo processo legislativo usado
para modificar as leis comuns. O “art. X” apontou a necessidade de maioria qualificada. Além
disso, não é outorgada (aquela imposta unilateralmente).
A alternativa “C” está errada. Não se trata de constituição rígida, ou seja, aquela em que o
procedimento para mudar a Constituição é mais rígido que o de uma norma comum. Como
visto, parte dela pode ser modificada por intermédio de lei infraconstitucional. Também não se
trata de Constituição ortodoxa, como referido no comentário à alternativa “A”.
72
A alternativa “D” está certa, conforme a explicação que demos no começo do comentário.
Questão 2
A) material.
B) ideal.
C) formal.
D) normativa.
E) rígida.
Comentário:
Essa questão seria passível de anulação ou de mudança! O gabarito apontado pela banca como
correto seria a “alternativa C”, mas nós entendemos que o correto seria a alternativa “E”. É triste
concurseiro, mas isso acontece muitas vezes. Por isso, dizem que o recurso em face do gabarito
preliminar seria mais uma “fase da prova”. Assim, temos que recorrer diante de erros para
tentarmos modificar o gabarito, apesar de nem sempre a banca examinadora “dar o braço a
torcer”. Só tomemos cuidado para não “forçarmos demais a barra” na hora de recorrer, pois isso
pode, em tese, até nos prejudicar, principalmente em provas escritas, em que se permite que o
examinador corrija “de ofício” a sua nota, inclusive para diminuí-la. Lamentações à parte,
passemos à análise das alternativas.
“A) material”
A alternativa “A” está errada. Na classificação da Constituição quanto ao conteúdo, ela pode
ser material ou formal. Constituição material é aquela que possui apenas conteúdo
73
constitucional. Só trata de temas constitucionais como direitos fundamentais, organização do
Estado, aquisição do poder e separação dos poderes. Assim, não estamos falando desta
classificação.
“B) ideal”
A alternativa “B” está errada. Constituição ideal, segundo Canotilho, seria um conceito que
parte de uma concepção cultural da constituição. Ela deve consagrar um sistema de garantia da
liberdade, reconhecendo direitos individuais e a participação do cidadão nos atos do poder
legislativo através dos Parlamentos. Ademais, contém o princípio da divisão de poderes e, por
fim, deve ser escrita.
“C) formal”
formal, pois não importa o seu conteúdo, mas a forma por meio da qual foi aprovada (mais
solene). A CRFB/88, nesse aspecto, é formal. Por outro lado, o fato de ser um documento dotado
de superior hierarquia jurídica, não está relacionado ao conteúdo da constituição e sim à sua
rigidez. Assim, para nós, a presente alternativa estaria errada. Supremacia formal da constituição
“D) Normativa”
Por sua vez, a alternativa “D” está errada. Segundo Karl Lowenstein, a Constituição, quanto à
essência (classificação “ontológica”), seria normativa quando reflete a realidade atual do país.
“E) Rígida”
74
difícil de mudar. Conforme ensina Marcelo Novelino, supremacia formal é um atributo específico
das Constituições rígidas que possuem normas com um processo de elaboração mais solene e
completo que o ordinário. No plano dogmático, manifesta-se na superioridade hierárquica das
Questão 3
Dentre elas, podem ser mencionadas, as seguintes: (i) “A Constituição seria a somatória dos
fatores reais do poder dentro de uma sociedade” e (ii) “Constituição representa a decisão política
do titular do poder constituinte.”. Assim sendo, assinale a alternativa que indica, correta e
Comentário:
Em linhas gerais, a presente questão aborda a temática dos “Conceitos de Constituição”. Nesse
sentido, a doutrina indica os seus sentidos sociológico, político e jurídico.
O sentido sociológico associa-se ao alemão Ferdinand Lassale, que em sua obra “A essência
da Constituição”, na qual sustentou que esta seria o produto da soma dos fatores reais de poder
que regem a sociedade.
75
Já o sentido político é a concepção de Carl Schmitt, elaborada na clássica obra “Teoria da
Constituição”. O autor é conhecido por ser o jurista do Nazismo. Foi o braço direito de Hitler.
Constituição não é uma lei (nesse ponto parece com Lassale), mas uma decisão política
fundamental. Essa posição recebe o nome de posição decisionista. Para Schmitt, direito é a
força. Tanto isso é verdade que Hitler descumpriu a Constituição de 1919 (Weimar). Ventila-se
política fundamental” que o Poder Constituinte reconhece e declara ao impor uma política.
Por fim, o sentido jurídico sentido vem do austríaco Hans Kelsen (um dos pais do positivismo
jurídico). O livro que fundamenta essa ideia é a “Teoria Pura do Direito”. Para Kelsen constituição
é uma lei. É a lei mais importante de todo o ordenamento jurídico. Constituição é o pressuposto
de validade de todas as leis, ou seja, para uma lei ser válida, precisa ser compatível com a
Constituição. Para Kelsen, o direito é um sistema hierárquico de normas (a norma inferior obtém
sua validade na norma superior). Uma figura desenha a forma do ordenamento, uma pirâmide,
e a Constituição está no topo. Não tem nada a ver com quórum, mas porque a norma de baixo
As alternativas “B” e “D” estão erradas, como dito, não é o caso da concepção jurídica.
76
Por fim, a alternativa “E” está errada. Konrad Hesse é lembrado por abordar a ideia de força
Questão 4
C) no Estado que adota uma Constituição do tipo flexível, existe supremacia formal da
Constituição, porque há distinção entre os processos legislativos de elaboração das normas.
D) a constituição não se coloca no vértice do sistema jurídico do país e os poderes estatais são
legítimos independentemente de quem os estruture.
Comentário:
que integram o bloco de constitucionalidade, motivo pelo qual não se admite, inclusive, a teoria
da inconstitucionalidade de normas originárias, defendidas por Otto Von Bachof. Isso não
77
significa, porém, que determinadas normas inseridas na CR não possuam, materialmente, maior
“B) para assegurar essa supremacia, basta um sistema jurídico escalonado, não sendo
necessário um controle de constitucionalidade sobre as leis e os atos normativos.”
A alternativa “B” está errada! Para assegurar a supremacia formal da Constituição não se basta,
sendo é necessário o controle de constitucionalidade sobre as leis e os atos normativos. Ambos
aspectos devem andar juntos, de modo a demonstrar que existe hierarquia entre as normas
constitucionais e infraconstitucionais.
“C) no Estado que adota uma Constituição do tipo flexível, existe supremacia formal da
Constituição, porque há distinção entre os processos legislativos de elaboração das normas.”
A alternativa “C” está errada! No Estado em que se adota uma Constituição do tipo flexível
não existe a supremacia formal da Constituição. Basta o procedimento legislativo ordinário,
“D) a constituição não se coloca no vértice do sistema jurídico do país e os poderes estatais são
legítimos independentemente de quem os estruture.”
vértice do sistema jurídico do país e os poderes estatais são legítimos em decorrência da Lei
Maior.
A alternativa “E” está errada! As Constituições costumeiras são flexíveis, não há supremacia
formal.
78
Questão 5
Comentário:
“A) O neoconstitucionalismo é uma teoria francesa, importada pelo STF com o objetivo de
flexibilizar o princípio da legalidade.”
Com relação à alternativa “A”, não é correto dizer que o neoconstitucionalismo é uma teoria
francesa. A teoria surgiu após a 2ª guerra mundial. A origem vem de dois países, Alemanha e
Itália. O marco histórico é a Alemanha, na constituição conhecida como Lei Fundamental de
Bonn de 1949 e Itália, na Constituição italiana de 1947. Nessa linha, Luís Roberto Barroso
assevera que o surgimento do fenômeno possui três marcos fundamentais. Além do marco
histórico, o marco filosófico, sendo o pós-positivismo, com a consagração da importância dos
direitos fundamentais e a reaproximação entre direito e ética. O debate acerca de sua
79
caracterização situa-se na confluência das duas grandes correntes de pensamento que oferecem
e ainda inacabado de reflexões acerca do Direito, sua função social e sua interpretação. O pós-
positivismo busca ir além da legalidade estrita, mas não despreza o direito posto; procura
empreender uma leitura moral do Direito, mas sem recorrer a categorias metafísicas. Por fim, o
marco teórico. No plano teórico, três grandes transformações subverteram o conhecimento
Dworkin e Alexy são adeptos do substancialismo, que reconhece um papel de guardião ao Poder
Judiciário na concretização de valores e garantias fundamentais, juristas pertencentes ao
procedimentalismo, como Habermas (teoria do discurso) e John Hart Ely entendem que a
jurisdição constitucional deve exercer um papel de controle da democracia representativa,
A alternativa “B” está correta! De fato, um dos temas recorrentes para o entendimento do
tensão entre a democracia, que se pauta pela vontade da maioria, e as necessidades das
minorias. Eis que nem sempre a vontade da maioria equivale aos ensejos das minorias. Entra
80
A alternativa “C” está errada! Ao contrário do que indica a alternativa, não se supera o dogma
“D) Em julgamento recente, com repercussão geral, o Supremo Tribunal Federal entendeu
inaplicável no Brasil a teoria neoconstitucional”
que reconheceu a união civil das pessoas do mesmo sexo (RE 477544 Agr).
“E) O neoconstitucionalismo é uma teorização que se reporta à interpretação dos direitos sociais,
e não dos direitos políticos”
Questão 6
81
D) Constituições rígidas são aquelas em que há impossibilidade ou maior dificuldade de
alteração do conteúdo normativo; constituições flexíveis, por sua vez, são aquelas em que, apesar
da existência do texto constitucional expresso, os dispositivos podem ser flexibilizados mediante
Comentário:
“A) Constituição costumeira é aquela que, mesmo existindo um texto constitucional expresso, é
derrogada pelos costumes praticados pelas instituições políticas.”
A alternativa “A” está errada! A Constituição costumeira não é derrogada pelos costumes
praticados pelas instituições políticas, mas por costumes da sociedade. Ex: Inglaterra. A Inglaterra
tem muitas leis escritas, todavia, nem tudo que rege o Estado Inglês está regulamentado em lei,
como no Brasil.
A alternativa “B” está correta! Supremacia da Constituição pode ser compreendida como a
ideia de que as normas constitucionais se encontram acima de todo o ordenamento jurídico,
A alternativa “C” está errada! De fato, os Tratados de Direito Internacional de Direitos Humanos
estão abrangidos pelo bloco de constitucionalidade, contudo, eles não têm o condão de revogar
normas constitucionais. Pelo contrário, tais Tratados devem observância ao texto constitucional.
82
“D) Constituições rígidas são aquelas em que há impossibilidade ou maior dificuldade de
alteração do conteúdo normativo; constituições flexíveis, por sua vez, são aquelas em que, apesar
da existência do texto constitucional expresso, os dispositivos podem ser flexibilizados mediante
interpretação da Corte Superior.”
A alternativa “D” está errada! Não há impossibilidade de alteração do conteúdo normativo das
Constituições rígidas, mas a maior dificuldade. As constituições flexíveis, por sua vez, podem ser
“E) O conteúdo das constituições, considerado o parâmetro teórico mais recente, deve-se pautar
por normas mais objetivas, descartadas normas programáticas de direitos sociais.”
A alternativa “E” está errada! Não é correto dizer que as normas programáticas de direitos
sociais, quanto ao conteúdo, são “mais objetivas”. Pelo contrário, tal espécie de normas
programáticas costumam possuir conteúdo mais aberto e genérico. As Constituições têm, cada
vez mais, sido orientadas por critérios principiológicos. O exemplo da nossa é a inclusão do
Questão 7
(CESPE - 2019 - TCE-RO - Procurador do Ministério Público de Contas) De acordo com o art.
128, § 5.º, da Constituição Federal de 1988 (CF), “Leis complementares da União e dos Estados,
cuja iniciativa é facultada aos respectivos Procuradores-Gerais, estabelecerão a organização, as
atribuições e o estatuto de cada Ministério Público (...)”. Tal norma constitucional é de eficácia
83
Comentário:
É preciso observar que o dispositivo trazido pela questão trata da futura regulamentação, por
lei complementar, da organização, das atribuições e do estatuto de cada Ministério Público. É
Com este entendimento se verá que uma alternativa elimina todas as outras.
Assim, as normas podem ser divididas, quanto a sua eficácia e aplicabilidade em normas de
eficácia plena, contida ou limitada.
regulamentação.
Por fim, as normas de eficácia limitada não possuem aplicabilidade fática. Podem ser subdividas
As normas de princípio institutivo são aquelas que traçam esquemas gerais de estruturação e
atribuições de órgãos, entidades ou institutos. O legislador infraconstitucional estruturará e
conferirá atribuições.
Portanto, a norma que foi posta à apreciação se trata de norma de eficácia limitada, da espécie
84
Questão 8
(VUNESP - 2019 - IPREMM - SP - Procurador Jurídico) A doutrina clássica estabelece que são
normas de eficácia
Comentário:
“A) plena as que não dependem de atos normativos da legislação infraconstitucional, entretanto
podem ser por eles restringidas.”
“B) contida aquelas que, enquanto não restringidas, são iguais às normas constitucionais de
eficácia plena, porém não produzem os mesmos efeitos.”
Errada! Enquanto as normas de eficácia contida não forem restringidas, produzem os mesmos
“C) limitada as que possuem aplicabilidade imediata e indireta, porque podem, ou não, necessitar
da interposição do legislador através de uma norma infraconstitucional.”
85
Errada! As normas de eficácia limitada possuem aplicabilidade imediata e necessitam da
regulamentação infraconstitucional.
“D) limitada aquelas que não dependem de lei posterior para dar corpo a institutos jurídicos e
aos órgãos ou entidades do Estado previstos na Constituição.”
Errada! As normas de eficácia limitada podem depender de lei para dar corpo a institutos
jurídicos e aos órgãos ou entidades do Estado previstos na Constituição. São as normas de
princípio institutivo.
“E) contida aquelas dotadas de aplicabilidade direta, imediata, mas não integral porque o
podem ser restringidas através de normas infraconstitucionais.”
Correta! As normas de eficácia contida são também conhecidas por serem “restringíveis”, sendo
eis que sujeitas à imposição de restrições. Já as normas constitucionais de eficácia limitada têm
a sua aplicabilidade indireta, mediata e diferida (postergada, pois somente a partir de uma
norma posterior poderão produzir eficácia). Assim, é preciso dizer que a diferença principal entre
as de eficácia contida e as de eficácia limitada é que a primeira produz efeitos desde logo (direta
“regulamentadas”.
Questão 9
86
C) As dogmáticas são as Constituições resultantes de um lento e contínuo processo de formação,
Comentário:
Correta! A constituição pactuada/dualista, quanto à origem, é fruto do acordo entre duas forças
políticas de um país, por isso é assim chamada. O típico exemplo é o da Magna Carta de 1215,
em que houve um acordo entre o Rei João e os Barões Ingleses aliados ao rei da França. Em
verdade, estes pressionaram aquele.
inexiste como documento formal. Tem por base a tradição e o costume legal. O exemplo clássico
é o sistema britânico, onde a jurisprudência exerce grande influência e as leis raramente descem
a detalhes, sendo, por vezes, "lacônicas". Veja-se que na prova de Juiz Federal do TRF3 de 2013
se considerou correta a alternativa que assim dispunha: “Considera-se não escrita a constituição
em que suas normas são esparsas, localizáveis em mais de um diploma legal, baseada nos
filme que vai mostrando a história. É estática. Todas as constituições brasileiras foram
dogmáticas. Ex: O art. 5º da CF tem uma previsão a respeito da ordem dos incisos. O primeiro
é igualdade, depois vem a legalidade e depois a proibição da tortura. Tal projeção se deu em
razão do rompimento com a ditadura militar, em que a tortura é uma realidade. É um retrato
da sociedade brasileira do final da década de 80. Veja que uma questão da prova de Juiz Federal
do TRF-1 de 2015 considerou correta a alternativa que assim dispunha: “Quanto ao modo de
elaboração, a CF é uma Constituição dogmática, na medida em que se apresenta como produto
escrito e sistematizado por um órgão constituinte, a partir de valores predominantes em
determinado momento histórico”.
“D) A Constituição brasileira de 1988 é mista na sua alterabilidade, contendo uma parte plástica,
outra parte rígida e um núcleo super-rígido.”
Nessa linha, Constituição plástica é a que permite a sua ampliação e complementação por meio
de lei infraconstitucional. É o caso da CF/88. A CF diz “na forma da lei”, “nos termos da lei”. Já
a Constituição expansiva (a título de curiosidade, pois não foi indagada na questão) é a que
além de tratar de novos temas, amplia temas antes tratados. Ex: na CF/88 o HD, o MI, a ADPF,
Por outro lado, com relação à alterabilidade, segundo a doutrina, a CF/88 é extremamente rígida,
tanto que a chama de super-rígida. Então, a CF brasileira não é apenas rígida, é também super-
rígida. Para ser uma constituição rígida, não são necessárias cláusulas pétreas, basta ser de difícil
alteração. A CF brasileira é super-rígida porque, além de possuir um processo mais rigoroso de
alteração, possui um conjunto de matérias que não podem ser suprimidas. Essas matérias são
denominadas de cláusulas pétreas.
88
“E) Nas Constituições semânticas, a limitação do poder estatal se implementa na prática,
havendo correspondência da sua pretensão com a realidade dos fatos.”
apenas para conferir legitimidade formal aos detentores desse poder. Por isso, a constituição
semântica é característica de regimes autoritários. Desta feita, não há limitação do poder estatal
Questão 10
A) Constituições pactuadas são aquelas cuja origem revela um compromisso entre a monarquia
e o povo.
B) Constituição chapa-branca é aquela que se limita a garantir os direitos individuais e limitar a
Comentário:
Gabarito letra D!
“A) Constituições pactuadas são aquelas cuja origem revela um compromisso entre a monarquia
e o povo.”
89
O típico exemplo é o da Magna Carta de 1215, em que houve um acordo entre o Rei João e os
Errada! A Constituição chapa-branca, segundo Sundfeld, seria aquela que tem como finalidade
tutelar interesses e privilégios tradicionalmente reconhecidos aos integrantes e dirigentes do
setor público. Assegura posições de poder a corporações e organismos estatais ou paraestatais.
Errada! Quanto à ideologia a CF não é classificada como ortodoxa, e sim como eclética.
Ortodoxa é a Constituição que prevê uma única ideologia estatal. Ex: Constituição da China.
Eclética é a que permite a coexistência de ideologias diversas, como a CF/88.
Correta! Daniel Sarmento traz essa classificação indicando que o direito constitucional
Constituição fixa metas estatais, um plano de ação para o Estado, uma direção para o Estado
seguir. Elas são comuns após a 2GM. Ex: art. 3º da CF fala dos objetivos da república.
90
Questão 11
(CESPE - 2019 - TJ-SC - Juiz Substituto) A respeito das constituições classificadas como
comportamento.
B) São aquelas cujas normas dominam o processo político; e nelas ocorrem adaptação e
Comentário:
Para responder a essa questão é preciso conhecer a classificação das Constituições quanto à
essência.
Nessa linha, quando Karl Lowenstein classifica a constituição quanto à essência (ontologia), ele
a subdivide em três: i) Constituição Semântica; ii) Constituição Nominal/Nominalista; iii)
Constituição Normativa.
A Constituição Semântica é aquela “mentirosa”, ou seja, que esconde a realidade do país. Ela
é adotada em regimes ditatoriais e se presta à perpetuação do poder e a sua legitimação pelos
detentores. Ela funciona como uma “camisa que esconde as cicatrizes”. Ex: a Constituição
Brasileira de 1824 falava em liberdade, contudo, o Brasil adotava a escravidão, sem previsão
constitucional. Tanto isso é verdade que a Lei Áurea foi uma lei ordinária.
91
A Constituição Nominal/Nominalista é aquela que não reflete a realidade atual do país, pois
se preocupa com o futuro. Ela tem pretensão de conformar a realidade, sem conseguir
conformar integralmente o processo político. Seria como “uma camisa comprada
A Constituição Normativa é a que reflete atual realidade do país. É a “camisa que veste bem”.
Possui normas capazes de efetivamente dominar o processo político. A realidade circundante se
comportamento.
“B) São aquelas cujas normas dominam o processo político; e nelas ocorrem adaptação e
submissão do poder político à constituição escrita.”
Errada! Esta alternativa tem maior proximidade conceitual com a Constituição Normativa.
92
Errada! Esta alternativa tem maior proximidade conceitual com a Constituição Normativa.
Questão 12
(CESPE - 2019 - TJ-BA - Juiz de Direito Substituto) A concepção que compreende o texto da
Constituição como não acabado nem findo, mas como um conjunto de materiais de construção
a partir dos quais a política constitucional viabiliza a realização de princípios e valores da vida
comunitária de uma sociedade plural, caracteriza o conceito de Constituição
A) em branco.
B) semântica.
C) simbólica.
D) dúctil.
E) dirigente.
Comentário:
Constituição dúctil é entende que o texto da Constituição não está acabado, mas como um
conjunto de materiais de construção a partir dos quais a política constitucional viabiliza a
realização de princípios e valores da vida comunitária de uma sociedade plural, caracteriza o
“A) Em branco”
É aquela que não veicula limitações explícitas ao poder de reforma, que fará as suas próprias
regras de atuação. O poder de reforma é muito amplo. Em outras palavras, a constituição que
não prevê as regras de reforma constitucional. Nenhuma constituição brasileira foi assim. O
“B) Semântica.”
93
Não têm por objetivo regular a política estatal. Visam apenas a formalizar a situação existente
“C) Simbólica”
“E) Dirigente”
Além de prever os direitos fundamentais, fixa metas estatais. Fixa um plano de ação para o
Estado. Fixa uma direção para o Estado seguir. Ex: A Constituição brasileira e a portuguesa são
assim. Elas são comuns após a 2GM. Ex: art. 3º da CF fala dos objetivos da república. Confere
atenção especial à implementação de programas pelo Estado, ou seja, é aquela que traça
diretrizes que devem nortear a ação estatal, prevendo, para isso, as chamadas normas
programáticas.
Questão 13
A) admitia ser alterada em parte por lei comum e em parte por emenda constitucional.
B) era composta menos por normas escritas e mais por normas costumeiras.
94
E) não previa cláusulas pétreas.
Comentário:
A Constituição de 1824 era semirrígida. Parte dela é rígida e parte dela é flexível. Algumas
normas possuem um procedimento mais dificultoso, outras normas possuem o mesmo
procedimento de alteração da legislação ordinária. Nos primeiros 4 anos, era imutável. Depois
dos primeiros 4 anos, a Constituição tornou-se semirrígida.
D. Pedro I fez a seguinte divisão: a parte rígida era a parte que tratava da organização do
Veja o texto do art. 178 da Constituição de 1824: “Art. 178, Constituição de 1824. E' só
Constitucional o que diz respeito aos limites, e attribuições respectivas dos Poderes Politicos, e
aos Direitos Politicos, e individuaes dos Cidadãos. Tudo, o que não é Constitucional, póde ser
alterado sem as formalidades referidas, pelas Legislaturas ordinarias.”
constitucional.
“B) era composta menos por normas escritas e mais por normas costumeiras.”
Errada! Na Constituição semirrígida parte das normas possuem procedimento mais dificultoso
e parte delas procedimento mais simples.
95
Errada! Na verdade, a modificação das normas materialmente constitucionais se dava por
Errada! Não prever cláusulas pétreas nada tem a ver com o conceito de constituição semirrígida.
Questão 14
(FGV - 2018 - AL-RO - Advogado) O grupo que tomou o poder, após um golpe de estado,
constituiu uma comissão de notáveis para elaborar um projeto de Constituição, o qual foi
submetido à apreciação popular, tendo a população liberdade para escolher entre as opções
sim e não. Com a aprovação popular, a nova Constituição entrou em vigor com a edição de
decreto da junta de governo.
Para facilitar a atualização do texto constitucional, foi previsto que parte de suas normas poderia
ser alterada com observância do processo legislativo regular, enquanto a alteração das normas
96
Comentário:
“O grupo que tomou o poder, após um golpe de estado, constituiu uma comissão de notáveis
para elaborar um projeto de Constituição, o qual foi submetido à apreciação popular, tendo a
população liberdade para escolher entre as opções sim e não. Com a aprovação popular, a nova
Constituição entrou em vigor com a edição de decreto da junta de governo.”
Veja-se a Constituição foi feita pelos governantes (grupo que tomou o poder, após um golpe
“Para facilitar a atualização do texto constitucional, foi previsto que parte de suas normas
poderia ser alterada com observância do processo legislativo regular, enquanto a alteração
das normas restantes exigiria um processo legislativo qualificado.”
É de se notar que, quanto à rigidez constitucional, é feita referência a parte das normas possuir
processo legislativo regular e parte delas seguir processo legislativo qualificado. Assim, esta é
uma Constituição semirrígida.
“A Constituição, além disso, buscou encampar distintas concepções ideológicas, como a livre
97
mas não as ideologicamente neutras. Ortodoxas são aquelas que adotam apenas uma forma de
b. 1934; c. 1946; d. 1988. Já a constituição formal, Além de possuir matéria constitucional, possui
outros assuntos. Chama-se constituição “formal”, pois não importa o seu conteúdo, mas a forma
Quanto ao conteúdo ideológico, segundo André Ramos Tavares, a Constituição pode ser Liberal
ou Social.
Liberal é a que prevê apenas direitos individuais. São as chamadas liberdades públicas. Ex: vida,
liberdade, propriedade, etc. No Brasil foram liberais as constituições de 1824 e a de 1891. Só
dimensão). No Brasil, todas as constituições a partir de 1934. OBS: fora do Brasil os marcos são
México 1917 e Weimar 1919.
Quanto à origem, a Constituição outorgada é aquela imposta ao povo pelo governante. Não há
o caráter democrático. O Brasil já teve as seguintes: a. 1824 (outorgada por D. Pedro I); b. 1937
(GV- Polaca); c. 1967 (outorgada pelos Militares).
Polêmica: alguns falam da Constituição de 1969, outorgada pelos militares. Há dúvida se esta
era mesmo uma constituição. Alguns chamam de “Constituição de 1969” a Emenda nº1 de 1969,
98
“E) cesarista, flexível e dirigente.”
Errada! Não se trata de Constituição flexível, nem dirigente.
A Constituição dirigente teve seu comentário na alternativa D. Passemos à Constituição flexível.
Quanto à rigidez, esta Constituição possui o mesmo processo de alteração que o destinado às
demais leis. Países que adotam a constituição flexível não possuem controle de
Questão 15
que:
como oficial; as eleições eram indiretas e censitárias e, dentre todas as constituições da história
nacional, foi a que vigorou por mais tempo (1824/1891).
B) A constituição de 1891 consagrou o sistema de governo “presidencialista”; instituiu o
federalismo e adotou como forma de governo a república. A religião católica foi mantida como
oficial da nova República.
Comentário:
Para responder a esta questão o concurseiro tem que estar afiado na temática da História da
Constituição Brasileira. Além disso, vale uma dica muito importante sobre a resolução de
questões que exigem que o candidato assinale a alternativa INCORRETA. Antes de começar a
99
resolver, preste muita atenção, faça uma marca, grife a palavra “incorreta”. Isso vai te ajudar
a evitar de marcar a alternativa “correta” e perder um ponto. Ademais, agora o “bizu” que vai
te colocar na frente dos outros candidatos: muita, mas muita atenção com a alternativa “A”.
Geralmente, o examinador que pegar o candidato desatento e, por isso, coloca uma alternativa
que notadamente está correta logo de cara. Qualquer um saberia que a alternativa está correta.
Assim, quem não percebeu que a questão exige a alternativa “INCORRETA” pode ser que assinale
aquela assertiva e já pule para a próxima questão, sem nem mesmo ler as demais alternativas.
Na Constituição de 1824, além dos três poderes propugnados por Montesquieu (Legislativo,
100
concentrado no Brasil; Surge a cláusula de reserva de plenário; Senado poderia dar efeito erga
Acerca da Constituição de 1967: Para oficializar o regime militar, uma nova Carta foi outorgada
em janeiro de 1967. Nela, ficavam estabelecidos o bipartidarismo e as eleições indiretas para
presidente, com quatro anos de mandato. Por meio de atos institucionais (AIs), o texto foi
emendado diversas vezes: segundo o Senado, foram 17 atos institucionais, regulamentados por
Questão 16
(VUNESP - 2018 - TJ-SP - Juiz Substituto) A Carta Constitucional de 1967, o Ato Institucional
D) a Carta de 1967, cujo projeto foi elaborado pelo Governo e que muitos consideram outorgada
e não promulgada, manteve a prerrogativa que a Carta de 1946 conferiu ao Presidente da
República para expedir Decretos-leis.
Comentário:
101
“A) a Emenda Constitucional n° 1 restaurou as garantias constitucionais cuja suspensão
caracterizou o regime de exceção e revogou a prerrogativa do Presidente da República de
decretar o recesso do Congresso Nacional.”
Errado! Não houve restauração das garantias constitucionais. Pelo contrário, foi constitucionaliza
a utilização dos “atos institucionais”, mantendo-os em vigor, inclusive o famoso “AI-5”.
Constituição “.
“C) o Ato Institucional n° 5 suspendeu as garantias constitucionais e legais da vitaliciedade,
inamovibilidade e estabilidade e excluiu da apreciação judicial os atos nele fundados.”
Correta! Trata-se de art. 6º do AI-5: “Ficam suspensas as garantias constitucionais ou legais de:
“D) a Carta de 1967, cujo projeto foi elaborado pelo Governo e que muitos consideram
outorgada e não promulgada, manteve a prerrogativa que a Carta de 1946 conferiu ao
Presidente da República para expedir Decretos-leis.”
Questão 17
102
propostas pelo intérprete não pode implicar alteração na estrutura de repartição de poderes e
A) da harmonização.
B) da justeza.
C) da força normativa da Constituição.
D) do efeito integrador.
E) do normativo-estruturante.
Comentário:
“A) da harmonização”
do conflito entre bens jurídicos, deve haver coordenação para evitar o sacrifício completo de
um em detrimento dos demais.
“B) da Justeza.”
Correta! O princípio da conformidade funcional (justeza) indica que não poderá ser subvertido
o esquema organizatório-funcional estabelecido na Constituição. Assim, a aplicação das normas
constitucionais propostas pelo intérprete não pode implicar alteração na estrutura de repartição
Errada! Tal princípio estabelece ao intérprete que dê prioridade às perspectivas que contribuam
para uma ótima eficácia da Constituição, por ter caráter normativo. Precisam ser enaltecidas as
respostas que indiquem a atualização normativa, a eficácia e a permanência da Constituição.
103
D) do efeito integrador.
Errada! O princípio do efeito integrador estabelece que o intérprete deve dar prioridade a
perspectivas que favoreçam a integração política e social e o reforço da unidade política.
E) do normativo-estruturante.
concebido por Müller. Em sua teoria, o texto não se confunde com a norma jurídica. O texto é
apenas o ponto inicial do programa normativo, a “ponta do iceberg”. A norma jurídica é
Questão 18
metódica normativo-estruturante.
B) O método de interpretação científico-espiritual é aquele que orienta o intérprete a identificar
Comentário:
104
“A) A busca das pré-compreensões do intérprete para definir o sentido da norma caracteriza a
metódica normativo-estruturante. “
Errada! Nota-se que essa alternativa se aproxima mais da ideia do “círculo hermenêutico” de
Gadamer. Por outro lado, a metódica normativo-estruturante traz a concepção de que a norma
jurídica não é a mesma coisa que o seu texto expresso. O texto não possui a normatividade,
mas meramente a validade. Texto é a “ponta do iceberg”. A norma, por outro lado, é o resultado
de um processo de concretização.
“C) A interpretação conforme a constituição não pode ser aplicada em decisões sobre
constitucionalidade de emendas constitucionais. “
Errada! Inexiste essa limitação, sendo possível aplicar a interpretação conforme sobre a
constitucionalidade de emendas constitucionais.
Correta! Situações constitucionais imperfeitas são relacionadas a normas que possuem diversas
“E) A interpretação conforme a constituição é admitida ainda que o sentido da norma seja
unívoco, pois cabe ao STF fazer incidir o conteúdo normativo adequado ao texto constitucional.”
105
Errada! Para haver interpretação conforme a constituição é preciso que o sentido da norma seja
equívoco (e não unívoco). Em outras palavras, é preciso que a norma tenha mais de uma
interpretação, seja polissêmica, tenha mais de um significado.
Questão 19
(CESPE - 2019 - MPE-PI - Promotor de Justiça Substituto) Assinale a opção que apresenta o
método conforme o qual a leitura do texto constitucional inicia-se pela pré-compreensão do
aplicador do direito, a quem compete efetivar a norma a partir de uma situação histórica para
que a lide seja resolvida à luz da Constituição, e não de acordo com critérios subjetivos de
justiça.
A) hermenêutico-clássico
B) hermenêutico-concretizador
C) científico-espiritual
D) normativo-estruturante
E) hermenêutico-comparativo
Comentário:
Correta a letra B!
“A) hermenêutico-clássico”
Errada! O método hermenêutico-clássico é aquele que adota as fórmulas tradicionais de
106
Correta! É possível dizer que o método hermenêutico-concretizador é aquele em que a leitura
Constituição. Em outras palavras, se parte do dispositivo para o fato, contudo, o fato é levado
em consideração. Parte-se da Constituição para o problema. É realizado um círculo hermenêutico
(movimento de ir e vir) até que se possa chegar à compreensão da norma. O intérprete vai se
valer de suas pré-compreensões sobre o tema e servirá de mediador entre a norma e a situação
concreta. Na primeira leitura deve extrair do texto o seu conteúdo, que será comparado com a
realidade. A partir desse choque entre o conteúdo e a realidade se resulta uma reformulação
da própria pré-compreensão do aplicador do direito. Tal reformulação visa harmonizar os
conceitos preconcebidos àquilo que deflui do texto constitucional com base na observação da
realidade social. Tal reformulação deve ser repetida sucessivamente até que se chegue à solução
“D) normativo-estruturante”
Errada! O método normativo-estruturante traz a concepção de que a norma jurídica não é a
mesma coisa que o seu texto expresso. O texto não possui a normatividade, mas meramente a
validade. Texto é a “ponta do iceberg”. A norma, por outro lado, é o resultado de um processo
de concretização.
“E) hermenêutico-comparativo”
Errada! Nessa fórmula de interpretação é estabelecida uma comunicação (ou comparação) entre
107
Questão 20
A) máxima efetividade.
B) interpretação conforme a Constituição.
C) concordância prática.
D) eficácia integradora.
E) correção funcional.
Comentário:
dela, extrair maior efetividade, evitando soluções que acarretem a não aplicabilidade da
Constituição.
“B) interpretação conforme a Constituição.”
Errada! O princípio da interpretação conforme a constituição é aquele que, diante de normas
plurissignificativas ou polissêmicas, aponta que se deve preferir a interpretação que mais se
aproxime da constituição.
“C) concordância prática.”
Errada! Esse princípio, também conhecido como princípio da harmonização, parte da ideia de
unidade da Constituição e prevê que os bens jurídicos constitucionalizados deverão coexistir de
forma harmônica na hipótese de eventual conflito ou concorrência entre eles, buscando, assim,
108
evitar o sacrifício (total) de um princípio em relação a outro em choque. Inexiste hierarquia entre
os princípios.
“D) eficácia integradora.”
Errada! O princípio da eficácia integradora aponta que na resolução dos problemas jurídico-
constitucionais deve ser dada primazia aos critérios ou pontos de vista que favoreçam a
integração política e social e o reforço da unidade política. Este preceito é muitas vezes
associado ao princípio da unidade.
constitucionais propostas pelo intérprete não pode implicar alteração na estrutura de repartição
de poderes e exercício das competências constitucionais estabelecidas pelo constituinte
originário
Questão 21
(CESPE/CEBRASPE – MPE/CE – 2020 – Promotor de Justiça) Art. 5.º. (...) LVIII – o civilmente
identificado não será submetido a identificação criminal, salvo nas hipóteses previstas em lei;
Art. 18. (...) § 1.º Brasília é a Capital Federal. Art. 153. Compete à União instituir impostos sobre:
(...) VII – grandes fortunas, nos termos de lei complementar. Brasil. Constituição (1988).
Constituição da República. Federativa do Brasil. Brasília – DF: Senado Federal, 1988.
109
Comentário:
“Art. 5.º. (...) LVIII – o civilmente identificado não será submetido a identificação criminal, salvo
nas hipóteses previstas em lei;”
características das normas de eficácia plena, mas que guardam a peculiaridade de poderem ter
sua eficácia restringida.
Trata-se de norma de eficácia plena, eis que a sua aplicação se dá de forma direta, imediata e
integral. Produzem ou estão aptas a produzir, desde sua entrada em vigor, todos os efeitos
“Art. 153. Compete à União instituir impostos sobre: (...) VII – grandes fortunas, nos termos de
lei complementar”.
Questão 22
Errada! A Constituição Brasileira é promulgada e social, eis que elaborada pelos representantes
do povo e prevê direitos individuais e sociais.
Errada! Quanto à essência, é possível afirmar que a CRFB está entre as classificações nominal e
normativa, eis que em certos pontos não reflete a realidade atual do país, se preocupando com
o futuro e em outros reflete. Quanto à extensão, a CF/88 é analítica.
Errada! Além de não ser completamente normativa ou sintética, a CF/88 não é cesarista, mas
promulgada.
Questão 23
FCC - 2017 – DPE/PR: Quanto às classificações das constituições, é correto afirmar que
111
A) as constituições-garantia se caracterizam por conterem em seu corpo um conjunto de normas
que visam garantir aos cidadãos direitos econômicos, sociais e culturais, estabelecendo metas
de ações para o Estado.
B) a Constituição Brasileira de 1988 é democrática, rígida (ou super rígida), prolixa e ortodoxa.
Comentário:
constituição dirigente que, além de serem previstos direitos fundamentais, são estabelecidas
metas de ações para o Estado. Portanto, a presente alternativa trata da constituição dirigente (e
“B) a Constituição Brasileira de 1988 é democrática, rígida (ou super rígida), prolixa e ortodoxa.”
Errada! A CF não é ortodoxa, que adota apenas uma ideologia política, e sim é eclética
(compromissória, compósitas ou heterogênea), pois procura conciliar ideologias opostas.
112
“C) as constituições cesaristas, normalmente autoritárias, partem de teorias preconcebidas, de
planos e sistemas prévios e de ideologias bem declaradas.”
Errada! A assertiva não descreve a constituição cesarista, pois o seu conceito é o daquela
produzida unilateralmente pelo governante e submetida a referendo na tentativa de aparentar
legitimidade.
“D) as constituições escritas são caracterizadas por um conjunto de normas de direito positivo”.
Correta! De acordo com Marcelo Novelino (2016) as constituições escritas são formadas por um
Errada! As constituições históricas são formadas lentamente por meio do tempo, usos e
costumes que vão se incorporando à vida estatal. A alternativa traz um conceito mais
aproximado ao de constituição dogmática.
Questão 24
a) Não obstante seu uso recente, as ideias centrais abrigadas em seu conteúdo remontam
à Antiguidade Clássica, mais notadamente ao ambiente da polis grega, por volta do
século V a.C.
b) A efetiva utilização do termo no vocabulário político e jurídico do mundo ocidental data
de pouco mais de duzentos anos, associando-se aos processos revolucionários francês e
soviético do século XVIII.
c) Constitucionalismo e democracia são termos que, apesar de sua proximidade e usual
superposição, não se confundem. Para muitos autores, pode até haver tensão entre eles.
113
Por exemplo, direitos fundamentais, frequentemente, apresentam-se como limites ao
princípio majoritário no processo político democrático.
d) Traduz o ideal de limitação do poder e de supremacia da lei. (Estado de Direito, rule of
law, Rechtsstaat).
e) O ideal constitucionalista pode estar presente sem a existência de uma Constituição
escrita - como no exemplo da tradição político-jurídica do Reino Unido; por outro lado,
em inúmeros outros exemplos, apesar da vigência formal e solene de Cartas escritas, o
ideal não se concretiza - como nas ditaduras latino-americanas das últimas décadas do
século XX, e no caso da Constituição de Weimar, durante o predomínio do Nacional
Socialismo na Alemanha de 1933 a 1945.
Comentário:
Questão 25
escritas como forma de limitar o Poder Estatal. “Dois são os marcos históricos e formais do
constitucionalismo moderno: a Constituição norte-americana de 1787 e a francesa de 1791 (que
teve como preâmbulo a Declaração Universal dos Direitos do Homem e do Cidadão de 1789),
movimento este deflagrado durante o Iluminismo e concretizado como uma contraposição ao
absolutismo reinante, por meio do qual se elegeu o povo como titular legítimo do poder”.
(LENZA, Pedro. Direito Constitucional Esquematizado. 18. ed. São Paulo: Saraiva, 2014, pg.68).
114
(A) a partir das Constituições do México e de Weimar, ao estabelecer o denominado
“constitucionalismo social”.
(D) com o advento do “Estado Constitucional de Direito”, com uma Constituição rígida,
Comentário:
Correta a letra B!
Errada! Essas são as Constituições Sociais. O constitucionalismo moderno foi inaugurado com
as Constituições dos EUA de (1787) e da França (1791).
Correta!
“D) com o advento do “Estado Constitucional de Direito”, com uma Constituição rígida,
estabelecendo limites e deveres aos legisladores e administradores.”
Questão 26
115
Embora o termo Constituição seja utilizado desde a Antiguidade, as condições sociais, políticas
e históricas que tornaram possível a universalização, durante os séculos XIX e XX, da ideia de
( ) Certo
( ) Errado
Comentário:
Certo! Como visto, a ideia de supremacia constitucional surgiu a partir do século XVIII com a
Revolução Francesa e a independência norte-americana.
Questão 27
(CESPE - 2018 – PC-MA – Escrivão de Polícia Civil) O art. 5o, inciso XIII, da Constituição Federal
de 1988 (CF) assegura ser livre o exercício de qualquer trabalho, ofício ou profissão, atendidas
as qualificações profissionais que a lei estabelecer. Com base nisso, o Estatuto da Ordem dos
Advogados do Brasil estabelece que, para exercer a advocacia, é necessária a aprovação no
A) Contida.
B) Programática.
C) Plena.
D) Limitada.
E) Diferida.
Comentário:
116
“A) Contida”.
Correta! As normas constitucionais de eficácia contida são autoaplicáveis, mas podem ser
restringidas se houver lei regulamentadora. Nessa linha, o artigo 5o, XIII da Constituição Federal
indica que é livre o exercício de qualquer trabalho, ofício ou profissão. No entanto, o EOAB
estabelece restrições ao exercício da advocacia, tornando essa norma de eficácia contida.
“B) Programática”.
Errada! As normas de eficácia limitada podem, ainda, ser divididas em dois grupos, quais sejam,
“C) Plena”.
“D) Limitada”.
lei regulamentadora.
“E) Diferida”.
Errada! As normas de eficácia limitada podem, ainda, ser divididas em dois grupos, quais
legislador traça em linhas gerais o seu conteúdo normativo e refere que a lei irá estabelecer
posteriormente as regras para que ocorra a sua aplicabilidade. São exemplos os seguintes
artigos do texto constitucional: “Art. 33. A lei disporá sobre a organização administrativa e
117
judiciária dos Territórios”; “Art. 88. A lei disporá sobre a criação e extinção de Ministérios e
Questão 28
( ) Certo
( ) Errado.
Comentário:
Certo! A eficácia negativa das normas de eficácia limitada faz com que não se recepcione a
legislação anterior com elas incompatível e que se impeça a edição de normas em sentido
Questão 29
( ) Certo
( ) Errado.
Comentário:
118
Certo! Novamente temos uma questão que avalia o conhecimento do candidato no que toca à
classificação realizada por José Afonso da Silva. De fato, nos termos da lição de José Afonso da
Silva, as normas constitucionais de eficácia limitada dependem de uma lei infraconstitucional
Questão 30
FCC - 2018 - DPE-RS: Sobre a evolução histórica das constituições brasileiras, considere:
II. A Constituição brasileira de 1934, resultado dos trabalhos de uma assembleia nacional
constituinte, previa a existência da Justiça Eleitoral.
III. Vedava-se, consoante a Constituição brasileira de 1946, o registro de qualquer partido político
cujo programa ou ação contrariasse o regime democrático.
A) II.
B) III.
C) I e II.
D) I e III.
E) II e III.
Comentário:
119
A assertiva I está errada. Principais definições da constituição de 1824: A existência de
4 poderes: o Legislativo, o Executivo, o Judiciário e o Poder Moderador, este acima dos demais
poderes, exercido pelo Imperador.
Constituição de 1934: instituiu o voto secreto, estabeleceu o voto obrigatório para maiores de
18 anos, propiciou o voto feminino, direito há muito reivindicado, que já havia sido instituído
em 1932 pelo Código Eleitoral do mesmo ano, previu a criação da Justiça do Trabalho, previu a
criação da Justiça Eleitoral, nacionalizou as riquezas do subsolo e quedas d'água no país.
A assertiva III está correta, pois, o artigo 141, § 13, da Constituição Federal de 1946
Questão 30
120
Assinale a alternativa que apresenta a sequência correta, de cima para baixo.
A) V – V – V – V.
B) V – V – F – F.
C) V – F – V – F.
D) F – V – F – V.
E) F – F – V – V.
Comentário:
A questão trata do histórico das constituições brasileiras. Vejamos assertiva por assertiva:
mandado de injunção (controle difuso), seja pela ADI por omissão (controle concentrado).
Falsa! O princípio da eficiência, enquanto princípio geral da Administração Pública, está previsto
no art. 37, da CF/88, entretanto, a sua redação inovadora não surgiu em 1988, mas com redação
Falsa! A CF/88 não foi fruto de uma Assembleia Constituinte exclusiva, eis que a Assembleia
Nacional Constituinte se deu pelos 559 parlamentares eleitos no pleito de 1986, no processo
de redemocratização do Brasil, que se deu com forte participação social. Nessa linha, ela
121
convocada pela EC n° 26, de 1985, sendo que a sua instalação ocorreu em 01/02/1987 e resultou,
Questão 31
( ) Certo
( ) Errado.
Comentário:
Questão 32
122
Na hipótese de eventual conflito aparente de normas constitucionais decorrente da implantação
de um empreendimento empresarial que possa vir a causar danos ao meio ambiente, aplica-se
o princípio da unidade constitucional, pelo qual as normas que consagram princípios - como o
da livre iniciativa, inserido no capítulo dos princípios gerais da ordem econômica - devem
prevalecer sobre as que disponham sobre interesses de ordem prática, como os relacionados à
( ) Certo
( ) Errado.
Comentário:
outros. Por outro lado, o princípio da unidade da constituição indica que se deve interpretar a
CF em sua globalidade para se evitar contradições (antinomias).
Questão 33
( ) Certo
( ) Errado.
123
Comentário:
deixando-o desguarnecido.
Questão 34
Comentário:
aponta no sentido de que tais atos deverão ser considerados constitucionais, válidos, legítimos
até que venham a ser formalmente declarados inconstitucionais por um órgão competente.
125
GABARITO
Questão 1 - D
Questão 2 - C
Questão 3 - C
Questão 4 - A
Questão 5 - B
Questão 6 - B
Questão 7 - E
Questão 8 - E
Questão 9 - A
Questão 10 - D
Questão 11 - D
Questão 12 - D
Questão 13 - A
Questão 14 - B
Questão 15 - B
Questão 16 - C
Questão 17 - B
Questão 18 - D
Questão 19 - B
Questão 20 – A
Questão 21 – E
126
Questão 22 - D
Questão 23 - D
Questão 24 - B
Questão 25 - B
Questão 26 - Certo
Questão 27 - A
Questão 28 - Certo
Questão 29 - Certo
Questão 30 - B
Questão 31 - Errada
Questão 32 - Errada
Questão 33 - Errada
Questão 34 - B
127
QUESTÃO DESAFIO
128
GABARITO QUESTÃO DESAFIO
poder constituinte.
Nesta obra, ele entende que a Constituição escrita é apenas uma “folha de papel”. Para
ele, a verdadeira constituição de um Estado é a soma dos fatores reais do poder.
129
Segundo Lassalle, convivem em um país, paralelamente, duas Constituições: uma
Constituição real, efetiva, que corresponde à soma dos fatores reais de poder que regem esse
País, e uma Constituição escrita, por ele denominada "folha de papel". Esta, a Constituição
escrita ("folha de papel"), só teria validade se correspondesse à Constituição real, isto é, se
tivesse suas raízes nos fatores reais de poder. Em caso de conflito entre a Constituição real
(soma dos fatores reais de poder) e a Constituição escrita ("folha de papel"), esta sempre
sucumbiria àquela.
O nome referencial da concepção política é Carl Schmitt. Sua obra essencial é “Teoria da
Constituição”. Para ele, a constituição é a decisão política fundamental do titular do poder
constituinte. Há diferença entre constituição e lei constitucional (natureza jurídica de lei, mas
tem forma de constituição). A decisão política fundamental, decorrente de um ato de vontade
do constituinte.
existência política.
aos fatores reais de poder, o importante é que ela se apresente enquanto o produto de uma
decisão de vontade que se impõe, que ela resulte de uma decisão política fundamental oriunda
de um Poder Constituinte capaz de criar uma existência política concreta, tendo por base uma
normatividade escolhida.
vista material os dispositivos integrantes da Constituição variam: enquanto uns são cruciais para
a comunidade (porque referem-se à estruturação do Estado ou aos direitos fundamentais),
outros só estão ali para se protegerem de uma modificação por lei ordinária, pois não trazem
conteúdo de grande relevância jurídica e política.
A leitura que o autor faz dessa diversidade de normas na Constituição cria uma dicotomia
que as divide em "constitucionais" (aquelas normas vinculadas à decisão política fundamental)
e em "leis constitucionais" (aquelas que muito embora integrem o texto da Constituição, sejam
absolutamente dispensáveis por não comporem a decisão política fundamental daquele Estado).
Desta forma, constitucionais são somente aquelas normas que fazem referência à decisão
política fundamental, constituindo o que hoje denominamos de "normas materialmente
constitucionais". Todos os demais dispositivos inseridos na Constituição, mas estranhos a esses
temas, são meramente leis constitucionais, isto é, nos dizeres atuais: somente formalmente
constitucionais, conforme ensina Nathalia Masson.
131
LEGISLAÇÃO COMPILADA
CONSTITUIÇÃO
Constituição Federal de 1988: art. 3º; art. 5º, incisos XIII, XXXV, LI e §§ 1ºe 2º; art. 8º,
IV; art. 33/36; art. 37, XI; art. 60, §4º; art. 88; art.128, §5º; art. 134, §2º; art. 178; art.
196; art. 187; art. 196; art. 230, §2º;
ADCT: art. 17
Constituição de 1824: arts. 8º e 178
Constituição Federal de 1946: art. 141, §13
AI-5: artigos 3º e 6º
Caro aluno, todos os artigos indicados já caíram em provas de concurso. Vale destacar, contudo,
que apesar da importância dos dispositivos elencados, neste capítulo o grande destaque fica
para as classificações doutrinárias.
132
JURISPRUDÊNCIA
Ação direta de inconstitucionalidade: art. 2.º, inciso IV, ‘c’, da Lei n. 12.755, de 22 de março de 2005, do Estado de
Pernambuco, que estabelece a vinculação da Defensoria Pública estadual à Secretaria de Justiça e Direitos Humanos:
violação do art. 134, § 2.º, da Constituição Federal, com a redação da EC 45/04: inconstitucionalidade declarada. A
EC 45/04 outorgou expressamente autonomia funcional e administrativa às defensorias públicas estaduais, além da
iniciativa para a propositura de seus orçamentos (art. 134, § 2.º): donde, ser inconstitucional a norma local que
estabelece a vinculação da Defensoria Pública a Secretaria de Estado. A norma de autonomia inscrita no art. 134,
§ 2.º, da Constituição Federal pela EC 45/04 é de eficácia plena e aplicabilidade imediata, dado ser a Defensoria
Pública um instrumento de efetivação dos direitos humanos. Defensoria Pública: vinculação à Secretaria de
Justiça, por força da LC est. (PE) 20/98: revogação, dada a incompatibilidade com o novo texto constitucional. É da
jurisprudência do Supremo Tribunal — malgrado o dissenso do Relator — que a antinomia entre norma ordinária
anterior e a Constituição superveniente se resolve em mera revogação da primeira, a cuja declaração não se presta
a ação direta. O mesmo raciocínio é aplicado quando, por força de emenda à Constituição, a lei ordinária ou
complementar anterior se torna incompatível com o texto constitucional modificado: precedentes.
Comentário: este julgado merece atenção especial para os candidatos a Defensores Públicos! Muita atenção!
Nem todos os ofícios ou profissões podem ser condicionados ao cumprimento de condições legais para o seu
exercício. A regra é a liberdade. Apenas quando houver potencial lesivo na atividade é que pode ser exigida
inscrição em conselho de fiscalização profissional. A atividade de músico prescinde de controle. Constitui,
ademais, manifestação artística protegida pela garantia da liberdade de expressão.
133
Comentário: vale conhecer o conteúdo deste julgado, pois é um excelente exemplo de normas de eficácia contida.
ADI 3.105/DF e ADI 3.128/DF, Rel. orig. Min. Ellen Gracie, 18.08.2004.
O Supremo Tribunal Federal, ao julgar as ADIs 3105/DF e 3128/DF, que tratam da taxação dos inativos, entendeu
que é possível emenda constitucional que verse sobre direito individual, desde que ela não tenda a aboli-lo.
Justificada essa modificação para atender a coletividade de acordo com o princípio da solidariedade. A cláusula
pétrea pode ser modificada, desde que a emenda não tenda a abolir o direito e exista algo que justifique a
alteração.
ADPF 130 — Rel. Min. Carlos Britto, j. 30.04.2009, Plenário, DJE de 06.11.2009
Mesmo diante do reconhecimento da não recepção da Lei de Imprensa (Lei n. 5.250/67), o STF entendeu que o
artigo 5.º, V, “se qualifica como regra de suficiente densidade normativa, podendo ser aplicada imediatamente,
sem necessidade de regulamentação legal.
Comentário: veja concurseiro este excelente exemplo do tratamento dado pelo STF às normas de eficácia plena.
Ext. 934- QO, Rel. Min. Eros Grau, j. 09.09.2004, Plenário, DJ de 12.11.2004
Ao princípio geral de inextraditabilidade do brasileiro, incluído o naturalizado, a Constituição admitiu, no art. 5.º,
LI, duas exceções: a primeira, de eficácia plena e aplicabilidade imediata, se a naturalização é posterior ao crime
comum pelo qual procurado; a segunda, no caso de naturalização anterior ao fato, se se cuida de tráfico de
entorpecentes: aí, porém, admitida, não como a de qualquer estrangeiro, mas, sim, ‘na forma da lei’, e por
‘comprovado envolvimento’ no crime: a essas exigências de caráter excepcional não basta a concorrência dos
requisitos formais de toda extradição, quais sejam, a dúplice incriminação do fato imputado e o juízo estrangeiro
134
sobre a seriedade da suspeita. (...); para a extradição do brasileiro naturalizado antes do fato, porém, que só a
autoriza no caso de seu ‘comprovado envolvimento’ no tráfico de drogas, a Constituição impõe à lei ordinária a
criação de um procedimento específico, que comporte a cognição mais ampla da acusação na medida necessária
à aferição da concorrência do pressuposto de mérito, a que excepcionalmente subordinou a procedência do pedido
extraditório: por isso, a norma final do art. 5.º, LI, CF, não é regra de eficácia plena, nem de aplicabilidade imediata”
Comentário: este julgado é importante porquanto o STF aborda expressamente a classificação das normas
constitucionais quanto à alterabilidade.
Sindicato: contribuição confederativa instituída pela assembleia geral: eficácia plena e aplicabilidade imediata da
regra constitucional que a previu (CF, art. 8.º, IV). Coerente com a sua jurisprudência no sentido do caráter não
tributário da contribuição confederativa, o STF tem afirmado a eficácia plena e imediata da norma constitucional
que a previu.
Comentário: importante ter o conhecimento de que as contribuições de assembleia tiveram importante julgado
no ano de 2018 no sentido de que é constitucional a lei que extinguiu a contribuição sindical obrigatória (STF.
Plenário. ADI 5794/DF, Rel. Min. Edson Fachin, red. p/ o ac. Min. Luiz Fux, julgado em 29/6/2018 - Info 908).
Segundo o STF, a norma infraconstitucional “... apenas repete o que dispõe o § 2.º do art. 230 da Constituição do
Brasil. A norma constitucional é de eficácia plena e aplicabilidade imediata, pelo que não há eiva de invalidade
jurídica na norma legal que repete os seus termos e determina que se concretize o quanto constitucionalmente
disposto. Ação direta de inconstitucionalidade julgada improcedente. RE 285.706, Rel. Min. Sepúlveda Pertence, j.
26.03.2002, DJ de 26.04.2002 Vencimentos e proventos: redução imediata aos limites constitucionais (ADCT, art.
17): eficácia plena e aplicabilidade imediata: vinculação direta do órgão administrador competente, desnecessária,
portanto, a interposição de lei ordinária ou ato normativo equivalente: interpretação conjugada do art. 17 do ADCT
e do art. 37, XI, da Constituição.
135
Comentário: O presente julgado apontou que a é de eficácia plena a norma constitucional que dispõe que aos
maiores de sessenta e cinco anos é garantida a gratuidade dos transportes coletivos urbanos.
MI 6.113- AgR, Rel. Min. Cármen Lúcia, j. 22.05.2014, Plenário, DJE de 13.06.2014
O art. 5.º, XIII, da CR é norma de aplicação imediata e eficácia contida que pode ser restringida pela legislação
infraconstitucional. Inexistindo lei regulamentando o exercício da atividade profissional dos substituídos, é livre o
seu exercício.
Comentário: o presente julgado traz importante exemplo de norma de eficácia contida atinente à liberdade do
exercício de trabalho, ofício ou profissão.
ADI 1.330- MC, Rel. Min. Francisco Rezek, j. 10.08.1995, Plenário, DJ de 20.09.2002
O art. 187 é norma programática, na medida em que prevê especificações em lei ordinária. Isso porque, de acordo
com a referida regra, a política agrícola será planejada e executada na forma da lei, com a participação efetiva do
setor de produção, envolvendo produtores e trabalhadores rurais, bem como dos setores de comercialização, de
armazenamento e de transportes, levando em conta diversos preceitos indicados no referido dispositivo.
AI 734.487-AgR, Rel. Min. Ellen Gracie, j. 03.08.2010, 2.ª Turma, DJE de 20.08.2010
O direito público subjetivo à saúde representa prerrogativa jurídica indisponível assegurada à generalidade das
pessoas pela própria Constituição da República (art. 196). Traduz bem jurídico constitucionalmente tutelado, por
cuja integridade deve velar, de maneira responsável, o Poder Público, a quem incumbe formular — e implementar
— políticas sociais e econômicas idôneas que visem a garantir, aos cidadãos, inclusive àqueles portadores do vírus
136
HIV, o acesso universal e igualitário à assistência farmacêutica e médico-hospitalar. O direito à saúde — além de
qualificar-se como direito fundamental que assiste a todas as pessoas — representa consequência constitucional
indissociável do direito à vida. O Poder Público, qualquer que seja a esfera institucional de sua atuação no plano
da organização federativa brasileira, não pode mostrar-se indiferente ao problema da saúde da população, sob
pena de incidir, ainda que por censurável omissão, em grave comportamento inconstitucional. A interpretação da
norma programática não pode transformá-la em promessa constitucional inconsequente. O caráter
programático da regra inscrita no art. 196 da Carta Política — que tem por destinatários todos os entes políticos
que compõem, no plano institucional, a organização federativa do Estado brasileiro — não pode converter-se em
promessa constitucional inconsequente, sob pena de o Poder Público, fraudando justas expectativas nele
depositadas pela coletividade, substituir, de maneira ilegítima, o cumprimento de seu impostergável dever, por um
gesto irresponsável de infidelidade governamental ao que determina a própria Lei Fundamental do Estado. (...) O
reconhecimento judicial da validade jurídica de programas de distribuição gratuita de medicamentos a pessoas
carentes, inclusive àquelas portadoras do vírus HIV/Aids, dá efetividade a preceitos fundamentais da Constituição
da República (arts. 5.º, caput, e 196) e representa, na concreção do seu alcance, um gesto reverente e solidário de
apreço à vida e à saúde das pessoas, especialmente daquelas que nada têm e nada possuem, a não ser a consciência
de sua própria humanidade e de sua essencial dignidade.
Comentário: o presente julgado além de trazer exemplo de normas programáticas, aponta importante referência
jurisprudencial acerca do direito à saúde.
ADI 2238. Rel. Min. Alexandre de Moraes. Tribunal Pleno. j. 24.06.2020. j. 31-08-2020 Dje.
01.09.2020
Comentário: este julgado é recentíssimo e nele foi feita uma releitura atual da Lei de Responsabilidade Fiscal. Tal
precedente é muito importante e deve ser cobrado nas provas que estão por vir. Fica o destaque para a carreira
da magistratura federal e de procuradorias.
ADI 6421, 6422, 6424, 6425, 2427, 6428 e 6431 MC/DF. rel. Min. Roberto Barroso, j 21.5.2020.
138
(MP) 966/2020 (1), no sentido de estabelecer que, na caracterização de erro grosseiro, deve-se levar em
consideração a observância, pelas autoridades: (i) de standards, normas e critérios científicos e técnicos, tal como
estabelecidos por organizações e entidades internacional e nacionalmente conhecidas; bem como (ii) dos princípios
constitucionais da precaução e da prevenção; e b) conferir, ainda, interpretação conforme à Constituição ao art.
1º da MP 966/2020 (2), para explicitar que, para os fins de tal dispositivo, a autoridade à qual compete a decisão
deve exigir que a opinião técnica trate expressamente: (i) das normas e critérios científicos e técnicos aplicáveis à
matéria, tal como estabelecidos por organizações e entidades reconhecidas nacional e internacionalmente; (ii) da
observância dos princípios constitucionais da precaução e da prevenção. Foram firmadas as seguintes teses: “1.
Configura erro grosseiro o ato administrativo que ensejar violação ao direito à vida, à saúde, ao meio ambiente
equilibrado ou impactos adversos à economia, por inobservância: (i) de normas e critérios científicos e técnicos; ou
(ii) dos princípios constitucionais da precaução e da prevenção. 2. A autoridade a quem compete decidir deve exigir
que as opiniões técnicas em que baseará sua decisão tratem expressamente: (i) das normas e critérios científicos e
técnicos aplicáveis à matéria, tal como estabelecidos por organizações e entidades internacional e nacionalmente
reconhecidas; e (ii) da observância dos princípios constitucionais da precaução e da prevenção, sob pena de se
tornarem corresponsáveis por eventuais violações a direitos”. Preliminarmente, o colegiado, por maioria, deliberou
por proceder à análise das medidas acauteladoras. Quanto a esse tópico, considerou que o tema tratado na MP é
revestido de relevância e urgência. No que se refere à plausibilidade do direito, observou que o novo coronavírus
representa problemas em várias dimensões. Na dimensão sanitária, trata-se de uma crise de saúde pública, pois a
doença se propagou sem que haja remédio eficaz ou vacina descoberta. A única medida preventiva eficaz que as
autoridades de saúde têm recomendado é o isolamento social em toda parte do mundo. Na dimensão econômica,
está ocorrendo uma recessão mundial. Na dimensão social, existe uma grande parcela da população nacional que
trabalha na informalidade; e/ou que não consta em qualquer tipo de cadastro oficial, de modo que há grande
dificuldade em encontrar essas pessoas e oferecer a ajuda necessária. Por fim, há a dimensão fiscal da crise, que
consiste na pressão existente sobre os cofres públicos para manter os serviços, principalmente de saúde, em
funcionamento. Vencido, no ponto, o ministro Marco Aurélio, que entendeu inadequada a via eleita. No mérito,
explicitou que as ações diretas têm por objeto a MP 966/2020, o art. 28 do Decreto-Lei 4.657/2018 (Lei de
Introdução às Normas do Direito Brasileiro ou LINDB), com a redação dada pela Lei 13.655/2018 e, ainda, os arts.
12 e 14 do Decreto 9.830/2019, que regulamentam o referido art. 28. No que se refere ao art. 28 da LINDB, o
Plenário anotou que a lei é de 2018, portanto em vigor há mais de dois anos, sem que se tenha detectado algum
tipo de malefício ou de transtorno decorrente de sua aplicação. É uma lei que contém normas gerais, de direito
intertemporal, de Direito Internacional Privado, de hermenêutica e de cooperação jurídica internacional. Assim, seu
caráter abstrato, aliado à sua vigência por tempo considerável, tornam inoportuna sua análise em medida
acauteladora nesse momento. Por isso, o colegiado se limitou a analisar, exclusivamente, a MP 966/2020, no que
se refere especificamente à responsabilidade civil e administrativa de agentes públicos no enfrentamento da
pandemia e no combate a seus efeitos econômicos. O propósito dessa MP foi dar segurança aos agentes públicos
que têm competências decisórias, minimizando suas responsabilidades no tratamento da doença e no combate
139
aos seus efeitos econômicos. Entretanto, há razões pelas quais ela não eleva a segurança dos agentes públicos.
Isso porque um dos problemas do Brasil é que o controle dos atos da Administração Pública sobrevém muitos
anos depois dos fatos relevantes, quando, muitas vezes, já não se tem mais nenhum registro, na memória, da
situação de urgência, das incertezas e indefinições que levaram o administrador a decidir. Portanto, a segurança
viria se existisse desde logo um monitoramento quanto à aplicação desses recursos, por via idônea, no tempo real
ou pouco tempo depois dos eventos. Não obstante, o que se previu na MP não é o caso. Situações como corrupção,
superfaturamento ou favorecimentos indevidos são condutas ilegítimas independentemente da situação de
pandemia. A MP não trata de crime ou de ato ilícito. Assim, qualquer interpretação do texto impugnado que dê
imunidade a agentes públicos quanto a ato ilícito ou de improbidade deve ser excluída. O alcance da MP é distinto.
No tocante à saúde e à proteção da vida, a jurisprudência do Tribunal se move por dois parâmetros: o primeiro
deles é o de que devem ser observados padrões técnicos e evidências científicas sobre a matéria. O segundo é
que essas questões se sujeitam ao princípio da prevenção e ao princípio da precaução, ou seja, se existir alguma
dúvida quanto aos efeitos de alguma medida, ela não deve ser aplicada, a Administração deve se pautar pela
autocontenção. Feitas essas considerações, é preciso ponderar a existência de agentes públicos incorretos, que se
aproveitam da situação para obter vantagem apesar das mortes que vêm ocorrendo; e a de administradores
corretos que podem temer retaliações duras por causa de seus atos. Nesse sentido, o texto impugnado limita
corretamente a responsabilização do agente pelo erro estritamente grosseiro. O problema é qualificar o que se
entende por “grosseiro”. Para tanto, além de excluir da incidência da norma a ocorrência de improbidade
administrativa, que já é tratada em legislação própria, é necessário estabelecer que, na análise do sentido e alcance
do que isso signifique — erro “grosseiro” —, deve se levar em consideração a observância pelas autoridades, pelos
agentes públicos, daqueles dois parâmetros: os standards, normas e critérios científicos e técnicos, tal como
estabelecidos por organizações e entidades médicas e sanitárias nacional e internacionalmente reconhecidas, bem
como a observância dos princípios constitucionais da precaução e da prevenção. Além disso, a autoridade
competente deve exigir que a opinião técnica, com base na qual decidirá, trate expressamente das normas e
critérios científicos e técnicos aplicáveis à matéria, tal como estabelecido por organizações e entidades médicas e
sanitárias, reconhecidas nacional e internacionalmente, e a observância dos princípios constitucionais da precaução
e da prevenção. Vencidos os ministros Alexandre de Moraes e Cármen Lúcia, que concederam a medida cautelar
em maior extensão, para suspender parcialmente a eficácia do art. 1º da MP 966/2020 e integralmente a eficácia
do inciso II desse artigo. Vencido, também, o ministro Marco Aurélio, que concedeu a medida acauteladora para
suspender integralmente a eficácia da MP 966/2020. (1) MP 966/2020: “Art. 2º. Para fins do disposto nesta Medida
Provisória, considera-se erro grosseiro o erro manifesto, evidente e inescusável praticado com culpa grave,
caracterizado por ação ou omissão com elevado grau de negligência, imprudência ou imperícia.”(2) MP 966/2020:
“Art. 1º Os agentes públicos somente poderão ser responsabilizados nas esferas civil e administrativa se agirem ou
se omitirem com dolo ou erro grosseiro pela prática de atos relacionados, direta ou indiretamente, com as medidas
de: I – enfrentamento da emergência de saúde pública decorrente da pandemia da covid-19; e II – combate aos
efeitos econômicos e sociais decorrentes da pandemia da covid-19. § 1º A responsabilização pela opinião técnica
140
não se estenderá de forma automática ao decisor que a houver adotado como fundamento de decidir e somente
se configurará: I – se estiverem presentes elementos suficientes para o decisor aferir o dolo ou o erro grosseiro da
opinião técnica; ou II – se houver conluio entre os agentes.”
Comentário: o presente julgado é muito recente e traça parâmetros para a responsabilização de agentes públicos
por atos praticados durante a pandemia COVID-19. Além da temática da interpretação das normas constitucionais,
fica o destaque para o aspecto sanitário do problema, que deve ser cobrado, principalmente, nas provas do
Ministério Público.
ADI 6343 MC-Ref/DF. Re. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min. Alexandre de Moraes, j.
6.5.2020
141
constitucionais. Além disso, firmou que os Poderes, nos três níveis da Federação, devem se unir e se coordenar
para tentar diminuir os efeitos nefastos da pandemia. Em seguida, salientou não ser possível exigir que estados-
membros e municípios se vinculem a autorizações e decisões de órgãos federais para tomar atitudes de combate
à pandemia. Contudo, no enfrentamento da emergência de saúde, há critérios mínimos baseados em evidências
científicas para serem impostas medidas restritivas, especialmente as mais graves, como a restrição de locomoção.
A competência dos estados e municípios, assim como a da União, não lhes confere carta branca para limitar a
circulação de pessoas e mercadorias com base unicamente na conveniência e na oportunidade do ato. A emergência
internacional não implica nem muito menos autoriza a outorga de discricionariedade sem controle ou sem
contrapesos típicos do Estado Democrático de Direito. O colegiado compreendeu que o inciso VI do art. 3º da
mencionada lei precisa ser lido em conjunto com o Decreto 10.282/2020. Assim, as medidas de restrição devem
ser precedidas de recomendação técnica e fundamentada do respectivo órgão de vigilância sanitária ou equivalente.
Ao final, consignou que se impende resguardar a locomoção dos produtos e serviços essenciais definidos pelos
entes federados no âmbito do exercício das correspondentes competências constitucionais. Vencido o ministro
Marco Aurélio (relator), que referendou o indeferimento da medida liminar. Para o relator, as alterações adversadas
promovidas pelas Medidas Provisórias 926/2020 e 927/2020 devem ser mantidas até o crivo do Congresso Nacional.
Salientou que o tratamento da locomoção de pessoas tinha de se dar de forma linear. Quanto ao § 1º do art. 3º
da referida lei (2), entendeu que tudo recomenda a tomada de providências a partir de dados científicos, e não
conforme critério que se eleja para a situação. Sobre o art. 3º, § 7º, II, o ministro Marco Aurélio avaliou inexistir
situação suficiente à glosa precária e efêmera, no que esta poderia provocar consequências danosas, nefastas em
relação ao interesse coletivo. Vencidos, em parte, os ministros Edson Fachin e Rosa Weber, que deferiram
parcialmente a medida cautelar, para conferir interpretação conforme ao inciso II do § 7º do art. 3º da Lei
13.979/2020, que condiciona a atuação dos gestores locais à autorização do Ministério da Saúde, a fim de explicitar
que, nos termos da regra constitucional que preconiza a descentralização do Sistema Único de Saúde, e desde que
amparados em evidências científicas e nas recomendações da Organização Mundial da Saúde, estados, municípios
e DF podem determinar as medidas sanitárias de isolamento, quarentena, exumação, necropsia, cremação e manejo
de cadáveres. (1) Lei 13.979/2020: “Art. 3º Para enfrentamento da emergência de saúde pública de importância
internacional decorrente do coronavírus, as autoridades poderão adotar, no âmbito de suas competências, dentre
outras, as seguintes medidas: (...) VI – restrição excepcional e temporária, conforme recomendação técnica e
fundamentada da Agência Nacional de Vigilância Sanitária, por rodovias, portos ou aeroportos de: (...) b) locomoção
interestadual e intermunicipal; (...) § 6º Ato conjunto dos Ministros de Estado da Saúde, da Justiça e Segurança
Pública e da Infraestrutura disporá sobre a medida prevista no inciso VI do caput. (...) § 7º As medidas previstas
neste artigo poderão ser adotadas: (...) II – pelos gestores locais de saúde, desde que autorizados pelo Ministério
da Saúde, nas hipóteses dos incisos I, II, V, VI e VIII do caput deste artigo; ou (...)”(2) Lei 13.979/2020: “Art. 3º (...) §
1º As medidas previstas neste artigo somente poderão ser determinadas com base em evidências científicas e em
análises sobre as informações estratégicas em saúde e deverão ser limitadas no tempo e no espaço ao mínimo
indispensável à promoção e à preservação da saúde pública.”
142
Comentário: este é outro julgado muito relevante que trata não só da interpretação das normas constitucionais,
como também de direitos sociais como o direito ao transporte. Fiquem atentos, essa temática deve ser indagada
em concursos.
ADI 6341 MC-Ref/DF, rel. Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min. Edson Fachin, julgamento em
15.4.2020. (ADI-6341)
144
VI - restrição excepcional e temporária, conforme recomendação técnica e fundamentada da Agência Nacional de
Vigilância Sanitária, por rodovias, portos ou aeroportos de: a) entrada e saída do País; b) locomoção interestadual
e intermunicipal; (…) § 8º As medidas previstas neste artigo, quando adotadas, deverão resguardar o exercício e o
funcionamento de serviços públicos e atividades essenciais. 9º O Presidente da República disporá, mediante decreto,
sobre os serviços públicos e atividades essenciais a que se referem o § 8º. § 10. As medidas a que se referem os
incisos I, II e VI do caput, quando afetarem a execução de serviços públicos e atividades essenciais, inclusive as
reguladas, concedidas ou autorizadas, somente poderão ser adotadas em ato específico e desde que em articulação
prévia com o órgão regulador ou o Poder concedente ou autorizador. § 11. É vedada a restrição à circulação de
trabalhadores que possa afetar o funcionamento de serviços públicos e atividades essenciais, definidas nos termos
do disposto no § 9º, e cargas de qualquer espécie que possam acarretar desabastecimento de gêneros necessários
à população.”(3) CF: “Art. 23. É competência comum da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios:
(...) II - cuidar da saúde e assistência pública, da proteção e garantia das pessoas portadoras de deficiência;”
Comentário: O presente julgado também trata da pandemia COVID-19 e sobre técnicas de interpretação
constitucional. O aspecto a ser destacado é o da competência concorrente para tratar do tema da saúde.
Comentário: O presente julgado trata não só de técnicas de interpretação, como também de aspectos atinentes
aos direitos das mulheres e das crianças e adolescentes.
146
ADI 4277, Rel. Min. Ayres Britto. J. 05.05.2011. Plenário. DJ de 14.10.2011
Comentário: é importante conhecer o teor do presente julgado, pois é referência no que toca ao reconhecimento
da união homoafetiva enquanto instituto jurídico.
147
ADI 1.289-EI, Rel. Min. Gilmar Mendes, j. 03.04.2003, Plenário, DJ de 27.02.2004
EMENTA: (...). Cargos vagos de juízes do TRT. Composição de lista. Requisitos dos arts. 94 e 115 da Constituição:
quinto constitucional e lista sêxtupla. Ato normativo que menos se distancia do sistema constitucional, ao assegurar
aos órgãos participantes do processo a margem de escolha necessária. Salvaguarda simultânea de princípios
constitucionais em lugar da prevalência de um sobre o outro. Interpretação constitucional aberta que tem como
pressuposto e limite o chamado ‘pensamento jurídico do possível’. Lacuna constitucional. Embargos acolhidos para
que seja reformado o acórdão e julgada improcedente a ADI 1.289, declarando-se a constitucionalidade da norma
impugnada.
Comentário: o presente julgado aborda aspecto relevante do princípio da concordância prática, também conhecido
como princípio da harmonização.
148
MAPA MENTAL
149
150
151
152
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BARROSO, Luis Roberto. Curso de Direito Constitucional. 4 ed. São Paulo – Saraiva. 2013.
BULOS, Uadi Lammêgo. Constituição Federal Anotada. 7ª ed. São Paulo: Saraiva, 2007.
CANOTILHO, J. J. Gomes. Direito Constitucional. 6 ed. rev. Coimbra: Livraria Almedina, 1993.
LENZA, Pedro. Direito constitucional esquematizado. 22. ed. ed. São Paulo: Saraiva, 2018.
PAULO, Vicente; ALEXANDRINO, Marcelo. Direito Constitucional Descomplicado - 16ª Ed. atual.
SILVA, Jose Afonso. Curso De Direito Constitucional Positivo - 42ª Ed. 2019; Curso De Direito
Constitucional Positivo - 41ª Ed. 2018.
CAVALCANTE, Márcio André Lopes. Buscador Dizer o Direito, Manaus. Disponível em:
153
MA
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CARREIRA JURÍDICA
DIREITO PENAL
CAPÍTULO 1
Olá, aluno!
garantindo que você terá em mãos um conteúdo direcionado e distribuído de forma inteligente.
Para isso, estamos constantemente analisando o histórico de provas anteriores com fins
de entender como cada Banca e cada Carreira costuma cobrar os assuntos do edital. Afinal,
queremos que sua atenção esteja focada nos assuntos que lhe trarão maior aproveitamento,
pois o tempo é escasso e o cronograma é extenso. Conte conosco para otimizar seu estudo
sempre!
estrutura do CERS Book foi feita em capítulos, de modo que você possa consultar
especificamente os assuntos que estiver estudando no dia ou na semana. Ao final de cada
capítulo você tem a oportunidade de revisar, praticar, identificar erros e aprofundar o assunto
com a leitura de jurisprudência selecionada.
E mesmo você gostando muito de tudo isso, acreditamos que o PDF sempre pode ser
aperfeiçoado! Portanto pedimos gentilmente que, caso tenha quaisquer sugestões ou
comentários, entre em contato através do email pdf@cers.com.br. Sua opinião vale ouro para
a gente!
Acreditamos que com esses recursos você estará munido com tudo que precisa para alcançar
a sua aprovação de maneira eficaz. Racionalizar a preparação dos nossos alunos é mais que
um objetivo para o CERS, trata-se de uma obsessão. Sem mais delongas, partiremos agora para
o estudo da disciplina.
Bons estudos
2
SOBRE ESTA DISCIPLINA
Daremos início ao estudo da disciplina Direito Penal. Via de regra, nos concursos das
Carreiras Jurídicas, esta disciplina é extremamente cobrada, tanto na primeira fase, quanto em
fases subjetivas e orais. A título de exemplo, nos últimos concursos das carreiras jurídicas, tais
Vale lembrar que, as notas de corte, na fase inicial dos concursos, são altas, então, cada
ponto e questão são de extrema importância. O bloco composto pelas disciplinas de Direito
Penal e Processual Penal tem sido um diferencial. Bons candidatos, que, todavia, desprezam o
estudo dessas matérias, são eliminados por não atingirem o mínimo no bloco dessas disciplinas.
Não bastasse, as Bancas são compostas por membros do Ministério Público, então, na
prova oral da carreira, inevitavelmente, a disciplina é cobrada de forma bastante contundente,
já que afeta à rotina de trabalho do examinador, por isso, seu estudo, em uma preparação
completa do candidato, não pode ser renegado.
Vale acrescentar, por fim, que, como se constatará ao longo dos capítulos, os
Examinadores dos concursos de carreiras jurídicas, vem cobrando a disciplina de modo
abrangente. Deste modo, em que pese alguns temas sejam mais recorrentes, nenhum capítulo
deste material deve ser negligenciado.
3
RECORRÊNCIA DA DISCIPLINA
A partir da análise das últimas provas das carreiras jurídicas, verificou-se que a disciplina de Direito
Penal possui grande recorrência. Através destes dados, identificou-se quais os temas mais cobrados na
disciplina de Direito Penal.
2% 2%
1%
1%
3%
3%
3% 25%
4%
5%
6%
7%
20%
8%
10%
4
TEMAS RECORRÊNCIA
Crime e Imputabilidade Penal
Bem jurídico-penal
Ação Penal
Disposições Finais
5
Assim, os assuntos de Direito Penal estão distribuídos da seguinte forma:
CAPÍTULOS
6
Capítulo 24 – Dos crimes contra o sentimento religioso e contra o
respeito aos mortos
Capítulo 25 – Dos crimes contra a dignidade sexual
Capítulo 26 – Dos crimes contra a família
Capítulo 27 – Dos crimes contra a incolumidade pública
Capítulo 28 – Dos crimes contra a paz pública
Capítulo 29 – Dos crimes contra a fé pública
Capítulo 30 – Dos crimes contra a administração Pública
7
SOBRE ESTE CAPÍTULO
Neste capítulo, iremos tratar do macrotema: Noções Gerais do Direito Penal. Dentre eles,
abordaremos microtemas como: Escola Clássica e seus principais expoentes; Características do
Neokantismo; Características do Funcionalismo, inclusive sua relação com a Imputação Objetiva;
do Inimigo.
O candidato deve ficar atento ao respectivo capítulo. Perceba que tem grande incidência
em provas de Carreiras Jurídicas, tais como: Promotor de Justiça, Juiz Substituto, Procuradoria,
Delegado, Defensor Público e Juiz Federal. É notório que 90% das questões cobram doutrina e
jurisprudência. Todavia, é importante sempre estudar o tema relacionando com a lei seca.
O Direito Penal para concursos de carreiras jurídicas tem as suas peculiaridades e, assim
como as demais matérias, precisa que o seu estudo seja estrategicamente planejado e
8
SUMÁRIO
Capítulo 1 ................................................................................................................................................ 11
9
1.4.3 Correcionalismo Penal ..................................................................................................................................... 19
1.7.6 Breves comentários sobre a relação do funcionalismo com a Imputação Objetiva ............ 32
GABARITO ............................................................................................................................................... 56
10
DIREITO PENAL
Capítulo 1
Neste capítulo, iremos tratar do macrotema: Noções Gerais do Direito Penal. Dentre eles,
abordaremos diversos microtemas, tais como: Escola Clássica e seus principais expoentes;
1.1.1 Definição
Destaca-se que pena e medida de segurança são espécies de sanção penal. Assim, afirma-
se que a pena é a primeira via do Direito Penal, sendo a medida de segurança sua segunda via.
Para o autor Rogério Sanches, conceito de Direito Penal perpassa por três aspectos:
É ramo de direito público, sendo o Estado titular exclusivo do direito de punir, figurando
como sujeito passivo constante nas relações jurídico-penais. Suas normas são indisponíveis,
impostas e dirigidas a todas as pessoas.
1.1.3 Nomenclatura
A expressão “direito criminal” é mais abrangente, pois coloca em destaque o direito relativo
No passado, por volta de 1.830, havia o Código Criminal do Império, o qual alegava a
insuficiência da denominação “Direito Penal”, uma vez que não abrangeria a medida de
segurança, destacando-se, dessa forma, o direito criminal.
Entretanto, atualmente, o correto é falar-se em direito penal, tendo em vista que a nossa
codificação é o Código Penal, Decreto-Lei 2.848/1940, recepcionado pela CF/88 como lei
ordinária. Além do mais, a Constituição Federal, em seu art. 22, I, também adotou a expressão
Direito Penal, ao prevê a competência da União para legislar sobre a matéria.
12
1.1.4 Características do Direito Penal
13
vulnerabilidade, pois há forte tendência de ser o poder punitivo exercido sobre
pessoas previamente escolhidas em face de suas fraquezas, a exemplo dos moradores
de rua, prostitutas e usuários de drogas. Esse fenômeno guarda relação com o
movimento criminológico Labeling approach (teoria da reação social, da rotulação
social ou do etiquetamento social), ou seja, aqueles que integram a população
criminosa são estigmatizados, rotulados e etiquetados.
Assim, ao lado do Direito Penal e da Ciência do Direito Penal, encontra-se o gênero “ciências
penais”, integrado pelo grupo da Dogmática Penal, Criminologia e a Política Criminal.
A dogmática penal tem a função de conhecer o sentido das normas e princípios jurídico-
penais positivos e desenvolver de modo sistemático o conteúdo do Direito Penal. É a
Nas lições de Rogério Sanches, a Política Criminal, por sua vez, a finalidade de trabalhar as
estratégias e meios de controle social da criminalidade (caráter teleológico). É característica da
Política Criminal a posição de vanguarda em relação ao direito vigente, vez que, enquanto
ciência de fins e meios, sugere e orienta reformas à legislação positivada.
14
É a ciência independente, que tem por objeto a apresentação de críticas e propostas para
Segundo Cleber Masson, a melhor palavra para designar política criminal é “filtro”. Filtro
entre a letra fria da lei e a realidade social, aos interesses da coletividade. Em outras palavras, a
política criminal permite adaptar uma lei feita no século passado aos dias atuais.
1.2.3 Criminologia
Não se trata de uma ciência teleológica, que analisa as raízes do crime para discipliná-lo,
mas de uma ciência causal explicativa, que retrata o delito enquanto fato, perquirindo as suas
Criminal.
15
O direito penal define o A criminologia A política criminal estuda
crime de homicídio. estuda o fenômeno as formas de diminuir
do homicídio, o homicídio.
Exemplo agente homicida, a
vítima e o
comportamento da
sociedade.
É a função mais importante do Direito Penal. Apenas os interesses mais relevantes são
O legislador penal realiza uma tarefa seletiva, ou seja, faz um juízo de valor positivo ao criar
É o dever de preservar a paz pública, compreendida como a ordem que deve existir em
determinada coletividade. O direito penal dirige-se a todas as pessoas, mas apenas uma minoria
pratica infração penal.
16
1.3.3 Direito Penal como garantia
Franz Von Liszt dispõe que o Código Penal é a magna carta do delinquente. Assim, antes
mesmo de punir, o Código Penal serve para proteger contra o arbítrio do Estado, seria um
Ficou conhecida como função criadora ou configuradora dos costumes. Busca-se o efeito
moralizador, visando assegurar um “mínimo ético” que deve reinar em toda a comunidade. Os
Essa função tem grande incidência em concursos públicos. Muita atenção nesse tópico.
Inerente a todas as leis, não dizendo respeito somente às de cunho penal. Não produz efeitos
externos, mas efeitos internos. Somente na mente dos governantes, trazendo a sensação de
terem feito algo para proteção da paz pública, e dos cidadãos.
Está ligada no direito penal do terror, que se verifica com a inflação legislativa (Direito penal
Essa função deve ser afastada, pois cumpre funções educativas e promocionais dos
programas de governo, tarefa que não pode ser atribuída ao Direito Penal.
17
1.4 Escolas Penais
Diante dessas informações, cabe-nos entender melhor cada escola, seus fundamentos e
percussores.
18
"criminoso nato", indivíduo essencialmente voltado à delinquência e passível de identificação
anatômica.
características antropológicas.
Chamou-se de Escola Correcionalista, surgiu na Alemanha, amparada por Karl David August
Roeder. A pena tem a finalidade de corrigir a injusta e perversa vontade do criminoso e, dessa
forma, não pode ser fixa e determinada. Ao contrário, a sanção penal deve ser indeterminada
e passível de cessação de sua execução quando se tornar prescindível.
19
Lançou no Direito Penal a semente da sentença indeterminada.
A finalidade da pena não era a repressão ou punição, muito menos seria a prevenção geral.
Mas, tão somente, a prevenção especial.
Arturo Rocco delimitou o método de estudo do Direito Penal como o positivo, restrito às
leis vigentes, cujo objeto é o estudo da norma jurídica em vigor. Representou um movimento
de restauração metodológico sobre o estudo do Direito Penal. Dessa forma, NÃO constituiu
uma nova escola penal. O Direito Penal tem conteúdo dogmático.
direito natural, sustentando ser a sanção penal mero meio de defesa do Estado contra a
periculosidade do agente.
Todavia, em uma segunda etapa, mais moderna, o tecnicismo jurídico acabou acolhendo a
A verdadeira ideia de defesa social surgiu no início do século XX, em decorrência dos
pensamentos da Escola Positiva do Direito Penal. Em outras palavras, não é possível conceber
uma teoria da defesa social sem considerar a revolta positivista. Todavia, a defesa social não se
confunde com a doutrina positivista e, como teoria autônoma, não se inclui nos ensinamentos
do Positivismo.
Essa teoria trouxe as seguintes conclusões: o Estado não deve punir, pois sua função é
melhorar o indivíduo. A causa da antissocialidade está na organização social. Contra ela o Estado
deve operar preventivamente e não somente pela repressão. Os cárceres são inúteis e
20
prejudiciais, devendo ser abolidos. As penas devem ser substituídas por medidas educativas e
curativas. O violador da lei não perigoso pode ser perdoado, não necessitando sanção. A pena,
como medida de defesa social, deve ser fixa ou dosada, não na base do dano, mas segundo a
personalidade do agente.
Seu criador e principal defensor é o alemão Winfried Hassemer. Para ele, o Direito Penal
não oferece resposta satisfatória para a criminalidade oriunda das sociedades modernas.
Além disso, o poder punitivo estatal deveria limitar-se ao núcleo do Direito Penal, isto é, a
estrutura clássica dessa disciplina formada pelos crimes de dano e de perigo contra bens
jurídicos individuais.1
A noção de "velocidades do Direito Penal" foi idealizada por Jesús-María Silva Sánchez.
Trabalha com o tempo que o Estado leva para punir o autor de uma infração penal, mais ou
menos grave.
Traremos aqui as quatro velocidades do direito penal. O Aluno deve ficar atento as diferenças
entre elas, eis que é tema recorrente nas provas.
1
Vide questão 5 do material
2
Vide questão 6 do material
21
3ª velocidade: compatível com o Direito penal do inimigo - Gunther Jakobs. Mistura
das características acima, utilizando-se da pena privativa de liberdade, mas permitindo a
flexibilização de direitos e garantias.
4ª velocidade: Neopunitivismo (ou Panpenalismo): Daniel Pastor. Há restrição e
supressão de garantias penais e processuais penais de réus que foram chefes de Estado.
É um Direito Penal mais arbitrário que o Direito Penal do inimigo, vai além, pois ignora
os princípios da reserva legal e da anterioridade. Aqui, o crime é criado após a prática da
conduta. Criou-se, em outras palavras, um direito penal absoluto.3
perdem o estado de cidadania e, por conseguinte, não podem usufruir dos mesmos benefícios
processuais concedidos às demais pessoas.
resume a um mero movimento corporal que produz uma modificação no mundo exterior. A
conduta, portanto, era meramente objetiva, vinculada ao resultado pela relação de causalidade.
Esse sistema teve como principais representantes Rudolf Stammler e Gustav Radbruch.
Possuía as bases idênticas às do Positivismo, surgindo no fim do século XIX.
lesão produzida. A conduta passou a ter um significado social, e já não mais era considerada
como mero movimento corporal.
3
Vide questão 10 do material
22
Permitiu, ainda, a introdução de elementos normativos e subjetivos nos tipos penais. Adotou-
demonstrou que toda realidade traz em seu bojo um valor preestabelecido (cultura),
permitindo a constatação de que o Direito positivo não contém em si mesmo um sentido
objetivo que deve ser, simplesmente, “descoberto” pelo intérprete. Ao contrário, as normas
jurídicas, como um produto cultural, têm como pressupostos valores prévios, e o próprio
intérprete que, por mais que procure adotar certa neutralidade, não estará imune a maior ou
menor influência desses valores. 4
(Ano: 2019. Banca: MPE-PR Órgão: MPE-PR Prova: MPE-PR - 2019 - MPE-PR - Promotor
Substituto). A forma pela qual ocorreu a estruturação da teoria do delito nem sempre foi
uniforme, sendo variável segundo um perfil de evolução de conceitos do que é o direito. Assim,
na medida em que ocorreram mudanças nas teorias basilares que influenciaram a estruturação
do Direito Penal, a forma de apresentação e de estudo do delito igualmente foram mudando.
Tendo isto em mente, a afirmação de que “o direito positivo não possui uma valoração intrínseca
e objetiva, sendo que as normas jurídicas aparecem determinadas por valores prévios e que
contaminam, além de sua edição, também os próprios autores de sua elaboração, sendo que
uma pretensa ‘verdade jurídica’ vem influenciada pela cultura”, se mostra ajustada à definição
de: Neokantismo.
4
Vide questão 1 do material
23
1.7.3 Garantismo penal
Conduzida por Luigi Ferrajoli, surgiu com a obra “Direito e a razão” – assentado em 10
Esses princípios, de índole penal e processual penal, compõem um modelo limite, capazes
de atender todos os direitos e garantias do ser humano.
Além disso, a doutrina moderna divide o Garantismo Penal em: Garantismo penal monocular
5
Vide questão 5 do material
24
Garantismo penal monocular preocupa-se unicamente com os interesses do
acusado. Em casos de favorecimento exagerado, é rotulado como hiperbólico
monocular.
Garantismo penal binocular (integral) volta sua atenção às pretensões do acusado
e da sociedade.
É tema recorrente em provas objetivas das carreiras jurídicas. O aluno deve ficar atento.
Também chamado de pós-finalismo, iniciou-se na Alemanha, a partir dos idos de 1970, uma
forte revolução entre os penalistas, com o intuito de submeter a dogmática penal aos fins
específicos do Direito Penal.
possibilitando ao tipo penal desempenhar sua efetiva função de mantenedor da paz social e
aplicador da política criminal. Essa é a razão do nome desse sistema: funcional.
Busca o desempenho pelo direito penal de sua tarefa primordial, qual seja, possibilitar o
adequado funcionamento da sociedade, considerando mais importante, do que seguir à risca a
letra fria da lei. Entretanto, essa mitigação do texto legal encontra limites e, neste ponto, o
funcionalismo apresenta duas concepções: Funcionalismo moderado, dualista ou de política
criminal e Funcionalismo radical, monista ou sistêmico.
É extremamente importante termos cuidado para não confundir essas duas concepções
do funcionalismo. Desse modo, qual seria a diferença entre eles?
25
1. Funcionalismo moderado, dualista ou de política criminal – Claus Roxin, escola de
Munique – preocupa-se com os fins do Direito penal. Sua vertente norteia-se por
finalidades políticos-criminais, priorizando valores e princípios garantistas.
A função do Direito Penal é assegurar bens jurídicos, assim considerados aqueles valores
Para Roxin, não é possível extrair de dados pré-jurídicos soluções para problemas jurídicos,
de modo que a teoria do delito tem de ser construída sobre fundamentos normativos, referidos
aos fins da pena e aos fins do direito penal, isto é, a política criminal. O autor afirma que “O
A responsabilização penal não pode ser verificada, tão somente, a partir dos elementos ação,
6
Vide questão 9 do material
26
(Banca: MPE-SC - 2019 - Promotor de Justiça - Matutina) O merecimento de pena, ou
dignidade penal, é um critério alternativo para a consideração da afetação do bem jurídico, cuja
utilização substitui a tipicidade material e a antijuridicidade concreta. (CORRETA).
Claus Roxin privilegia um conceito bipartido do delito, em que se consideram seus elementos
fundamentais dois juízos de valor: o injusto penal (fato típico + ilicitude) e a responsabilidade,
Jakobs adota a Teoria dos Sistema, de Luhmann, considerando o Direito Penal um sistema
autônomo (independe dos demais ramos do direito), autorreferente (todos os conceitos e
referencias que precisa busca no próprio DP) e autopoiético (renova-se por conta própria).
7
Vide questão 8 do material
8
Vide questão 3 do material
27
O Direito Penal possui como finalidade a proteção da norma, ou seja, serve para proteger o
próprio Direito Penal, pois só passará a ser respeitado quando for aplicado de forma rígida,
severa, punindo os seus infratores. Direito Penal máximo.9
Quando o Direito Penal é chamado a atuar, o bem jurídico protegido já foi violado, de modo
que sua função primordial não pode ser a segurança de bens jurídicos, mas sim a garantia de
validade do sistema. Nesta linha de raciocínio, para JAKOBS:
"aquele que se desvia da norma por princípio não oferece qualquer garantia
de que se comportará como pessoa; por isso, não pode ser tratado como
cidadão, mas deve ser combatido como inimigo".
Surge assim o Direito Penal do Inimigo, cuidando de maneira própria o infiel ao sistema,
aplicando-se-lhe não o Direito, "vínculo entre pessoas que, por sua vez, são titulares de direitos
e deveres", mas sim a coação, repressão necessária àqueles que perderam o seu status de
cidadão.
9
Vide questão 4 do material
28
A teoria do Direito Penal do inimigo foi desenvolvida por Günther Jakobs. Na década de
1980, Jakobs traçou os primeiros lineamentos da teoria em análise, voltando ao seu estudo no
final dos anos 1990, mas, em 2003, de maneira corajosa, assumiu postura inequívoca na defesa
da adoção do Direito Penal do inimigo, justificando com toda uma obra doutrinária a
necessidade de revolucionar conceitos clássicos arraigados na mente dos doutrinadores.
Inimigo, para ele, é o indivíduo que afronta a estrutura do Estado, pretendendo desestabilizar
a ordem nele reinante ou, quiçá, destruí-lo. É a pessoa que revela um modo de vida contrário
às normas jurídicas, não aceitando as regras impostas pelo Direito para a manutenção da
coletividade. Agindo assim, demonstra não ser um cidadão e, por consequência, todas as
garantias inerentes às pessoas de bem não podem ser a ele aplicadas.
Nesse contexto, nota-se que Jakobs abraça um Direito Penal do autor, rotulando indivíduos,
29
Efeitos da aplicação da teoria do Direito Penal do inimigo
O Estado não reconhece os direitos do inimigo, por ele não se enquadrar no conceito de
cidadão. Nessa linha, não pode ser tratado como pessoa, pois entendimento diverso colocaria
Desse modo, o inimigo não goza de direitos processuais, tais como, ampla defesa,
possibilidade de constituir defensor. Como representa grande perigo à sociedade, deixa-se de
Trata-se de um Direito Penal prospectivo, com visão para o futuro, encontrando amparo
no positivismo criminológico de Cesare Lombroso, Enrico Ferri e Rafael Garofalo, que clamava
por um sistema penal em consonância com a real necessidade de defesa social, mormente
pessoal, não se pode esperar que o inimigo pratique infrações penais para, posteriormente,
cobrar-se repressão pelo Estado, como se dá com cidadãos comuns. Os crimes de perigo
abstrato, que são modalidades de tutela antecipada de bens jurídicos, podem ser considerados
exemplos “Direito Penal do Inimigo” descrita por Jakobs.10
Direito Penal do Inimigo de Gunther Jakobs (ex: lei de crimes hediondos, lei de terrorismo, etc).
O Direito Penal do inimigo também prevê a punição a partir de atos preparatórios. É possível a
10
Vide questão 7 do material
11
Vide questão 2 do material
30
Por outro lado, o inimigo arrependido, disposto a auxiliar o Estado no combate de seus
antigos companheiros, contudo, deve receber benefícios, desde que os delate, permitindo o
desmantelamento de quadrilhas, prisões em massa e recuperação dos produtos e proveitos dos
crimes.
Direito Penal do inimigo, no qual o seu sujeito deve ser enfrentado como fonte de perigo e,
portanto, a sua eliminação da sociedade é o fim último do Estado.
31
agente vão interferir na de uma ampla defesa; não terá acesso ao duplo grau
dosimetria da pena, mas não de jurisdição; pode ficar incomunicável; para ele se
caracterizarão o crime. admitem penas indeterminadas. Se o Inimigo não
respeita as regras do Estado, o Estado não precisa
respeitar as regras, então, as regras postas para os
cidadãos (Direito Penal do Cidadão), havendo, assim
2 Direitos Penais, merecendo o Inimigo as durezas
do Direito Penal do Inimigo.
O funcionalismo no Direito Penal tem como premissa básica o seguinte: o direito em geral
e o direito penal em particular, é instrumento que se destina a garantir a funcionalidade e a
32
reais, entre outros), mas sim se orientar exclusivamente aos fins do direito penal. Entretanto,
como já explicado em tópico acima, não seria correta a afirmação de que existe apenas um
funcionalismo, vez que na essência, distingue-se basicamente duas orientações teleológico-
norma/culpabilidade), que, por sua vez, deriva da função da pena. Estabelece quem deve ser
punido para a estabilidade normativa: o agente é punido porque agiu de modo contrário à
norma e cupavelmente.
Deste ponto de vista, a visão correta da teoria da imputação objetiva se trata de definir a
conduta típica, normativamente como conduta com significado (objetivo) típico. Nesta análise,
a teoria da pena de jakobs se enquadra na chamada prevenção geral positiva, em que a
"finalidade da pena é manter a vigência da norma como modelo de contrato social". (Callegari,
2005, p. 12).
"Um ato penalmente relevante (...) não se pode definir como lesão de bens,
mas somente como lesão de juridicidade. A lesão da norma é o elemento
decisivo do ato penalmente relevante, como nos ensina a punibilidade da
tentativa, e não a lesão de um bem". (Jakobs, 2003, p. 51).
Assim, a imputação objetiva para Jakobs não tem como finalidade garantir que alguém
cumprirá positivamente seu papel. Ele concerne que o Direito Penal não pode prestar tal
garantia, pois não reage ante a violação de papeis especiais. Por suas colocações, poderíamos
comparar o modelo doutrinário de Jakobs (2003, p. 34) como sendo um protótipo, uma máquina
humanização por meio da Política-Criminal, sendo ainda uma meta do funcionalismo moderado
a proteção dos bens jurídicos como fim do Direito Penal. Destarte, o modelo funcional de Roxin
sob nosso ponto de vista é mais aceitável e realístico, embora possa ainda ser questionado sob
alguns aspectos.
Roxin (2002, p. 11) busca demonstrar que, a Teoria da Imputação Objetiva faz é relegar o
tipo subjetivo e a finalidade a uma posição secundário e recolocar o tipo objetivo no centro das
atenções. Este tipo objetivo não pode, porém, se esgotar na mera causação de um resultado, é
necessário algo mais para fazer desta causação uma causação objetivamente típica. E este algo
a mais se compõe, fundamentalmente em duas ideias: a criação de um risco juridicamente
desaprovado e a realização deste risco no resultado e que este resultado esteja no âmbito de
proteção da norma.
Por fim, a orientação passada por Roxin (2002) é que segundo a Teoria da Imputação
Objetiva, "o injusto típico deixa de ser um acontecimento primariamente causal ou final, para
tornar-se à realização de um risco não permitido dentro do âmbito (isto é, do fim de proteção)
do respectivo tipo".
34
QUADRO SINÓTICO
35
Criminalização primária: é o ato de sancionar uma lei primária material, na
qual incrimina ou permite a punição de determinadas pessoas.
CRIMINALIZAÇÃO
Criminalização secundária: Para Zaffaroni, a criminalização secundária
PRIMÁRIA E
possui duas características: seletividade e vulnerabilidade, pois há forte
CRIMINALIZAÇÃO
tendência de ser o poder punitivo exercido sobre pessoas previamente
SECUNDÁRIA.
escolhidas em face de suas fraquezas, a exemplo dos moradores de rua,
prostitutas e usuários de drogas.
Dogmática penal: É a interpretação, sistematização e aplicação lógico-
racional do Direito Penal.
Política criminal: É a ciência independente, que tem por objeto a
CIÊNCIA DO
apresentação de críticas e propostas para a reforma do Direito Penal em
DIREITO PENAL
vigor.
Criminologia: É a ciência independente, que tem por objeto a apresentação
de críticas e propostas para a reforma do Direito Penal em vigor.
36
ESCOLAS PENAIS
Seus fundamentos tiveram origem nos estudos de
Beccaria e foram lapidados e desenvolvidos, pelos
italianos Francesco Carrara, Pellegrino Rossi e Giovanni
Carmignani.
ESCOLA CLÁSSICA
Utilizavam o método racionalista e dedutivo (lógico) e
eram, em regra, jusnaturalistas, ou seja, aceitavam que
normas absolutas e naturais prevalecessem sobre as
normas do direito posto.
37
Tem por objetivo principal o aprimoramento da
A DEFESA SOCIAL sociedade, com a prevenção do crime, tratamento
do menor delinquente e a reforma penitenciária.
38
portanto, era meramente objetiva, vinculada ao
resultado pela relação de causalidade.
Esse sistema teve como principais representantes
Rudolf Stammler e Gustav Radbruch. Possuía as
bases idênticas às do Positivismo, surgindo no fim
do século XIX.
NEOKANTISMO
A prioridade é o dever ser. Permitiu a graduação do
PENAL
injusto de acordo com a gravidade da lesão
produzida. A conduta passou a ter um significado
social, e já não mais era considerada como mero
movimento corporal.
A doutrina moderna divide o Garantismo Penal em:
Garantismo penal monocular e Garantismo penal
binocular.
Garantismo penal monocular preocupa-se
unicamente com os interesses do acusado.
GARANTISMO
Em casos de favorecimento exagerado, é
PENAL
rotulado como hiperbólico monocular.
Garantismo penal binocular (integral) volta
sua atenção às pretensões do acusado e da
sociedade.
40
QUESTÕES COMENTADAS
Questão 1
(Banca: MPE-PR – 2019 - MPE-PR - Promotor Substituto). A forma pela qual ocorreu a
estruturação da teoria do delito nem sempre foi uniforme, sendo variável segundo um perfil de
evolução de conceitos do que é o direito. Assim, na medida em que ocorreram mudanças nas
teorias basilares que influenciaram a estruturação do Direito Penal, a forma de apresentação e
de estudo do delito igualmente foram mudando. Tendo isto em mente, a afirmação de que “o
direito positivo não possui uma valoração intrínseca e objetiva, sendo que as normas jurídicas
aparecem determinadas por valores prévios e que contaminam, além de sua edição, também os
próprios autores de sua elaboração, sendo que uma pretensa ‘verdade jurídica’ vem influenciada
pela cultura”, se mostra ajustada à definição de:
A) CAUSALISMO.
B) NEOKANTISMO.
C) FINALISMO.
D) PÓS-FINALISMO.
E) FUNCIONALISMO
Comentário:
41
b) Correta. Neokantista. A ciência do Direito, ao contrário da ciência natural, preocupa-se com
os fins e não com as causas (teoria causalista), por isso há uma independência entre elas. Assim,
ao lado das ciências naturais, mas separadamente delas, o Direito deve promover e construir
c) Errada. O finalismo tem como ponto de partida a concepção do homem como ser livre e
responsável pelos seus atos. Consequentemente, as regras do Direito não podem ordenar ou
proibir meros processos causais, mas apenas atos dirigidos finalisticamente (...). Para essa teoria,
a conduta é comportamento humano, consciente e voluntário, dirigido a um fim.
d) Errada. Masson associa Funcionalismo e pós- finalismo como o mesmo sistema. Pós-finalismo
e aplicador da política criminal. (...) Busca -se o desempenho pelo Direito Penal de sua tarefa
primordial, qual seja, possibilitar o adequado funcionamento da sociedade. Isso é mais
importante do que seguir a risca a letra fria de lei, sem desconsidera-la totalmente (...). O
intérprete deve almejar a real vontade da lei e emprega-la de forma máxima(...).
Questão 2
(Banca: CESPE - 2019 - TJ-SC - Juiz Substituto) Constitui uma das características do direito
penal do inimigo:
A) A LEGISLAÇÃO DIFERENCIADA.
B) A PUNIÇÃO A PARTIR DE ATOS EXECUTÓRIOS.
Comentário:
42
a) Correta. De fato, a legislação diferenciada para aqueles considerados “inimigos” é uma das
características do Direito Penal do Inimigo de Gunther Jakobs (ex: lei de crimes hediondos, lei
de terrorismo, etc).
b) Errada. O Direito Penal do inimigo também prevê a punição a partir de atos preparatórios.
e) Errada. O criminoso, para Jakobs, é considerado inimigo da sociedade, assim, deve ser
eliminado dela.
Questão 3
43
Comentário:
a) Errada. Esse é o conceito de ação para a teoria Causalista (como explicado mais a frente) e
não para a teoria finalista. Welzel, precursor da teoria finalista, tinha como ação a conduta
b) Errada. A assertiva tratou do conceito de CONDUTA para a teoria causalista (Von Liszt). A
conduta, para essa teoria, é o movimento corpóreo tido com causa de um efeito ou de uma
consequência que, por sua vez, produz um resultado no mundo exterior/resultado naturalístico.
c) Errada. Na teoria causalista, o dolo e a culpa estão na culpabilidade e não na conduta como
afirma o item.
d) Correta. Para, Jackobs o direito penal forma um conjunto de normas, vale dizer, um sistema
de normas que ao ser violado, enseja a aplicação do direito penal tanto para manter a sua
validade quanto para garantir a coesão desse ramo do direito, permitindo a confiança da
sociedade no Estado.
e) Errada. Essa assertiva possui dois erros. Primeiro, o funcionalismo sistêmico é do Jackobs. Em
sua obra, Roxin trata do funcionalismo teleológico que é aquele que visa tutelar e manter seguro
os bens jurídicos penais protegidos pelo direito penal. O segundo erro, reside na descrição da
teoria, ou seja, a assertiva não descreveu a teoria funcionalista, mas sim o conceito de ação na
Questão 4
dos condenados.
44
Comentário:
Errado. Para Jakobs a finalidade do Direito Penal não é de proteger bens jurídicos, mas manter
a segurança que as pessoas têm no sistema de normas, isto é, o objetivo central é a busca pela
estabilização da norma. Logo, a sanção penal serve para reforçar a confiança da população na
vigência da norma que foi desafiada. Diante da violação da norma, estabelece-se um conflito
entre a atitude individual e a expectativa social. Nesse momento, a pena surge para reafirmar à
sociedade a confiança que seus membros podem depositar na norma. A norma é reafirmada e,
consequentemente, a sociedade volta a ter confiança.
Questão 5
marcado por 10 axiomas fundamentais. Assinale a alternativa que indica princípios pertinentes
ao indigitado sistema.
Comentário:
A) Errada. Nem todos os princípios inclusos na alternativa não estão incluídos nos 10 axiomas
fundamentais do sistema penal garantista.
45
B) Errada. Os princípios inclusos na alternativa não estão incluídos nos 10 axiomas fundamentais
C) Errada. Os princípios inclusos na alternativa não estão incluídos nos 10 axiomas fundamentais
do sistema penal garantista.
E) Errada. Nem todos os princípios inclusos na alternativa não estão incluídos nos 10 axiomas
Questão 6
I - Jesús-María Silva Sánchez fala em Direito Penal de “duas velocidades”. Segundo o referido
autor, há um a primeira velocidade, representada pelo Direito Penal “da prisão” , na qual haver-
46
se-iam de manter rigidamente os princípios político-criminais clássicos, as regras de imputação
e os princípios processuais. A segunda velocidade, por sua vez, estaria relacionada aos casos em
que, por não se tratar de prisão, mas de penas de privação de direitos ou pecuniárias, aqueles
II - Na medida em que o Direito Penal nazista era entendido como um instrumento de luta
contra os infiéis à com unidade do povo e que a violação de um dever era o conteúdo material
do crime, era lógico que o centro de gravidade para o exercício do poder punitivo tinha de
passar a ser a “vontade contrária ao Direito” , e não mais o “ resultado proibido” . Nesse contexto
foi concebido o “Direito Penal da vontade” , construção teórica marcante do Direito Penal
nazista, sendo Roland Freisler um de seus principais expoentes. Essa concepção baseada na
vontade permitiu a expansão do poder punitivo a níveis que um a dogmática atrelada a
resultados de dano a bens jurídicos não admitia, já que ensejou uma profusa criminalização dos
perigos abstratos. Além do mais, tal concepção também defendia que a tentativa tivesse a
infrator comete um crime ele rompe com as expectativas normativas. A pena, assim, tem como
função restabelecer a vigência da norma e demonstrar para a sociedade que ela pode seguir
confiando no sistema normativo (estabilização das expectativas normativas).
IV - Winfried Hassemer, da chamada “Escola Penal de Frankfurt”, observa que o Direito Penal
Moderno, procurando minimizar a insegurança oriunda de uma sociedade de riscos, tem se
tornado um instrumento em busca do controle dos grandes problemas da sociedade atual,
como a proteção ao meio ambiente, da saúde pública, da ordem econômica, dentre outros.
Assim, com o intuito de frear essa tendência de expansão do Direito Penal e com o objetivo de
permitir a atuação do Direito Penal em relação aos tipos penais tradicionais, consubstanciados
pelo núcleo básico de bens jurídicos individuais, propõe um “Direito de Intervenção”, situado
entre o Direito Penal e o Direito Administrativo, que teria por finalidade controlar e inibir os
riscos oriundos das novas tecnologias e do desenvolvimento econômico contemporâneo, por
meio da proibição de condutas perigosas e da proteção de bens jurídicos coletivos. Esse “Direito
de Intervenção”, segundo Hassemer, poderia contar com garantias e foram alidades mais
47
flexíveis e menos exigentes, mas também seria provido com sanções menos intensas contra o
indivíduo.
Comentário:
I - Afirmativa I está correta. As duas primeiras velocidades do Direito Penal são de autoria de
Jesús-María S. Sánchez. A primeira velocidade tem como características a aplicação de penas
privativas de liberdade (direito penal da "prisão"), procedimento mais lento, salvaguardando o
do procedimento.
II - Afirmativa II está certa. Roland Freisler foi um jurista alemão à época da ditadura nazista e
presidia o Tribunal Popular. O jurista foi responsável por milhares de sentenças de morte. O
tribunal do povo construiu sua pauta de decisão com base em princípio que exigia do intérprete
uma total lealdade às orientações do partido e do líder, e não de um Direito composto por
regras gerais e abstratas. A pauta de decisão não era a lei escrita; era a aplicação da vontade
do Chefe na aplicação das leis com as quais se contava. Ocorre a subversão do positivismo
jurídico, para um Direito Penal da vontade, sendo este caracterizado pela certeza da imposição
do Direito com base no pensamento jurídico da comunidade do povo, isto é, a norma não seria
48
a fonte do direito, abrindo-se mão da taxatividade e da proibição de analogia in malam partem.
Assim, a analogia, o costume e a consciência popular seriam as fontes do Direito Penal alemão.
III - Afirmativa III está certa. Pilares do funcionalismo radical (monista ou sistêmico) de Gunther
Jakobs: a) Elevado valor a norma jurídica. Norma jurídica como fator de proteção social; b)
Aplicação do direito penal de maneira rígida e incisiva, como forma de proteção ao próprio
ordenamento jurídico, a fim de garantir a efetividade das normas; c) Função preventiva geral da
pena (por meio da punição eficaz daquele que viola a norma); d) O direito penal é autônomo,
autorreferente (busca estabilidade/segurança jurídica) e autopoiético (capacidade de produzir a
si próprio).; e) O indivíduo que descumpre sua função na sociedade deve ser eficazmente punido
(direito penal do inimigo).
Winfried Hassemer. O poder punitivo Estatal deve limitar-se ao núcleo do direito penal, já os
problemas resultantes de risco da modernidade devem ser resolvidos pelo direito de
intervenção. Ademais, o direito penal deve cuidar apenas de lesões de bens jurídicos individuais
e de perigo de lesões concretas a bens jurídicos. Há um verdadeiro discurso da resistência à
tutela penal de bens jurídicos difusos e coletivo. Dotado de garantias menos amplas das que
regem o direito penal clássico, com a consequente imposição de sanções menos drásticas. Se
situaria na vizinhança do direito administrativo. Não se destina a ampliar a intervenção punitiva
Questão 7
(Banca: MPE-SC - 2019 - Promotor de Justiça - Matutina) Os crimes de perigo abstrato, que
são modalidades de tutela antecipada de bens jurídicos, podem ser considerados exemplos da
forma de intervenção penal denominada: “Direito Penal do Inimigo” descrita por Jakobs. Esta
49
( ) Certo
( ) Errado
Comentário:
Certa. De acordo com Luiz Regis Prado, em seu Curso de Direito Penal Brasileiro, para que se
configure os delitos de perigo, "basta a existência de uma situação de perigo– lesão
potencial". Segundo o autor, na obra mencionada: "Dividem-se em: delito de perigo concreto:
o perigo integra o tipo como elemento normativo, de modo que o delito só se consuma com
a sua real ocorrência para o bem jurídico, isto é, o perigo deve ser efetivamente
comprovado (v.g. art. 134 – exposição ou abandono de recém-nascido, CP); e delito de
perigo abstrato: o perigo constitui unicamente a ratio legis, o motivo que dá lugar à
vedação legal de determinada conduta.
Com efeito, nos crimes de perigo abstrato, não se exige sequer a existência real de perigo ao
bem jurídico que se quer tutelar, antecipando a aplicação da norma à prática de uma conduta
possui as seguintes características elencadas por Rogério Sanches Cunha, em seu Manual de
Direito Penal, Parte Geral, senão vejamos:
50
Restrição de garantias penais e processuais, característica do Direito Penal de Terceira
Velocidade".
Saliente-se que o STJ vem entendendo que os crimes ambientais tipificados na Lei nº 9.605/1998
exige prova do dano ambiental, sendo certo que a conduta ilícita se configura com a mera
inobservância ou descumprimento da norma, pois o dispositivo em questão pune a conduta do
porquanto para a sua configuração basta ao sujeito ativo do delito "Descumprir decisão judicial
que defere medidas protetivas de urgência previstas nesta Lei", ainda que não se perquira acerca
verdadeira.
Questão 8
(Banca: VUNESP - 2016 - TJM-SP - Juiz de Direito Substituto) A corrente/teoria penal que se
funda na ideia de que as normas jurídicas devem ser protegidas por si mesmas, pouco
A) Errada. Direito penal garantista - modelo de Luigi Ferrajoli: O garantismo estabelece critérios
de racionalidade e civilidade à intervenção penal, deslegitimando normas ou formas de controle
social que se sobreponham aos direitos e garantias individuais. Assim, o garantismo exerce a
função de estabelecer o objeto e os limites do direito penal nas sociedades democráticas,
utilizando-se dos direitos fundamentais, que adquirem status de intangibilidade. (Fonte:
criminal.
c) Correta. Funcionalismo sistêmico (ou radical), defendido por Gunther Jakobs, a função do
Direito Penal é de assegurar o império da norma, ou seja, resguardar o sistema, mostrando que
o direito posto existe e não pode ser violado. Quando o Direito Penal é chamado a atuar, o
bem jurídico protegido já foi violado, de modo que sua função primordial não pode ser a
bases constitucionais. Em suma, essa teoria entende que as finalidades do direito penal são
52
condicionadas aos valores, princípios e regras estabelecidas pela Constituição, ou seja, o modelo
de Estado vigente, que no caso do Brasil é o Estado constitucional e democrático de direito está
diretamente direcionado à teoria do delito. Nas palavras do professor Luiz Flávio Gomes uma
das consequências mais notáveis dessa visão constitucionalista consiste em admitir que o delito
só pode ter existência quando o bem jurídico protegido pela norma (que, além de imperativa,
é também valorativa) for concretamente afetado (lesado ou posto em perigo). Já não basta, para
a tipicidade penal, somente sua concretização formal (que se esgota nas clássicas categorias da
conduta, resultado naturalístico nos crimes materiais -, nexo de causalidade e adequação típica
formal).
Questão 9
(Banca: MPE-GO - 2019 - MPE-GO - Promotor de Justiça) A clássica frase a seguir inaugurou
uma nova fase na dogmática jurídico-penal: " O caminho correto só pode ser deixar as decisões
Comentário:
A) Errada. Entende que o direito positivo não possui uma valoração intrínseca e objetiva, sendo
que as normas jurídicas aparecem determinadas por valores prévios e que contaminam, além
53
de sua edição, também os próprios autores de sua elaboração, sendo que uma pretensa ‘verdade
n. 7, p. 97-123, maio.-ago. 2011, p. 107, “Para Roxin, não é possível extrair de dados pré-jurídicos
soluções para problemas jurídicos, de modo que a teoria do delito tem de ser construída sobre
fundamentos normativos, referidos aos fins da pena e aos fins do direito penal, isto é, a política
criminal. ‘O caminho correto só pode ser deixar as decisões valorativas político-criminais
introduzirem-se no sistema do direito penal (…)’. Com isso, Roxin delineia as bases de sua
concepção funcional ou teleológico-racional da teoria do delito, que obteve vários adeptos
dentro e fora da Alemanha e encontrou, em seu posterior Tratado, sua versão mais elaborada.”
C) Errada. Funcionalismo sistêmico (ou radical), defendido por Gunther Jakobs, a função do
Direito Penal é de assegurar o império da norma, ou seja, resguardar o sistema, mostrando que
o direito posto existe e não pode ser violado. Quando o Direito Penal é chamado a atuar, o
bem jurídico protegido já foi violado, de modo que sua função primordial não pode ser a
Questão 10
9.099/1995.
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C) A QUARTA VELOCIDADE DO DIREITO PENAL REFERE-SE AO NEOPUNITIVISMO,
Comentário:
A) Errada. A letra A está incorreta porque o Direito do Inimigo, como chama Günther Jakobs, é
entendido como um direito de exceção, de emergência, portanto, há de fato uma restrição aos
direitos, onde os mesmos são relativizados ou até mesmo suprimidos pelo Estado. Porém, é
considerado um direito penal de terceira velocidade e não de segunda.
trata do Direito do Inimigo, uma restrição de direitos. É a segunda velocidade que é responsável
por trazer um afastamento das penas que restrinjam a liberdade, com maior celeridade do
processo e relativização das regras processuais.
C) Correta. A velocidade quatro está ligada ao Direito Penal Internacional e na resolução mundial
de conflitos. Aqui figura o Tribunal Penal Internacional (TPI).
D) Errada. A opção D também está incorreta porque apesar da primeira velocidade do direito
penal ter uma preocupação com as garantias fundamentais, ela é marcada pela aplicação da
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GABARITO
Questão 1 - B
Questão 2 - A
Questão 3 - D
Questão 4 - ERRADA
Questão 5 - D
Questão 6 - A
Questão 7 - CERTA
Questão 8 - C
Questão 9 - B
Questão 10 - C
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QUESTÃO DESAFIO
Máximo de 5 linhas
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GABARITO QUESTÃO DESAFIO
No Direito Penal do Inimigo, o inimigo não pode gozar de direitos processuais, adiantando
a tutela penal. Na terceira velocidade do DP, explicado por Silva Sánchez, há a privação da
liberdade com a eliminação de direitos e garantias fundamentais.
O direito penal do inimigo parte do pressuposto de que o Estado não deve reconhecer os
direitos do inimigo, por ele não se enquadrar no conceito de cidadão.
O inimigo, assim, não pode gozar de direitos processuais, como o da ampla defesa e o de
constituir defensor, haja vista que, sendo uma ameaça à ordem pública, desconsidera-se sua
posição de sujeito na relação jurídico processual. possível, inclusive, a sua incomunicabilidade.
Em uma guerra, o importante é vencer, ainda que para isso haja deslealdade com adversário.
Deve ainda o direito penal do inimigo antecipar a esfera de proteção da norma jurídica,
adiantando a tutela penal para atingir inclusive atos preparatórios, sem redução quantitativa da
punição. (MASSON, Cleber; Direito Penal - Parte Geral; 13 ed.; Rio de Janeiro: Forense; São Paulo:
Método, 2019, p.92).
Não existe punição que se sustente na suposta personalidade do agente, não interessando ao
Direito Penal a imagem que o policial construiu de sua pessoa. O direito penal do autor revela
a face de um direito penal do inimigo, o qual contraria todas as garantias fundamentais trazidas
pela Constituição da República de 1988. Afinal, o relevante para o meio jurídico, conforme os
princípios constitucionais, principalmente, o devido processo legal, é o produzido em
contraditório e provado pela acusação. Por tais considerações, para além da palavra da vítima,
não há qualquer outra prova suficiente a atestar a contundência do alegado, fato que obsta um
posicionamento desfavorável ao réu. À luz da Constituição da República de 1988, a presunção
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de inocência é o principio norteador do Direito Processual Penal, o qual tem significativa
Em parcela menor e restrita a grupos determinados, coexiste com direito penal do cidadão, o
direito penal do inimigo, no qual o seu sujeito deve ser enfrentado como fonte de perigo e,
portanto, a sua eliminação da sociedade é o fim último do Estado.
Nesse contexto, o direito penal do inimigo seria definido por Silva Sánchez como a terceira
velocidade do Direito Penal: privação da liberdade e suavização ou eliminação de direitos e
garantias penais e processuais. (MASSON, Cleber; Direito Penal - Parte Geral; 13 ed.; Rio de
Janeiro: Forense; São Paulo: Método, 2019, p.94).
No caso em tela, a perturbação social causada pela hipotética conduta do paciente é mínima e
tolerável, mormente sob o prisma do princípio da ofensividade, tão caro ao Direito Penal, sob
pena de dar azo a sistemas penais totalitários e autoritários, do tipo opressivo, fundados em
axiomas ideológicos ou políticos radicais, fortalecendo o abominável Direito Penal do inimigo
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MAPA MENTAL
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
CUNHA, Rogério Sanches. Manual de direito penal: parte geral (arts. 1º ao 120). 4. ed. Salvador: JusPodivm, 2016.
Masson, Cleber. Direito Penal: parte geral (arts. 1º a 120) – vol. 1 / Cleber Masson. – 14. ed. – Rio de Janeiro:
Forense; São Paulo: MÉTODO, 2020.
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