Este documento descreve os princípios fundamentais do liberalismo, incluindo o individualismo, liberdade, propriedade e igualdade. Defende que os indivíduos devem ser livres para perseguir seus próprios interesses e talentos sem interferência do Estado, e que a propriedade privada é um direito natural. A igualdade significa igualdade perante a lei, não necessariamente igualdade de riqueza ou condição.
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Este documento descreve os princípios fundamentais do liberalismo, incluindo o individualismo, liberdade, propriedade e igualdade. Defende que os indivíduos devem ser livres para perseguir seus próprios interesses e talentos sem interferência do Estado, e que a propriedade privada é um direito natural. A igualdade significa igualdade perante a lei, não necessariamente igualdade de riqueza ou condição.
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Para isso será necessário examinarmos, nas suas origens, as formulações do
liberalismo, suas premissas ou princípios teóricos gerais, seus pressupostos
fundamentais e, finalmente, o que pensam seus ideólogos a respeito da educação.
1.1 – Os princípios gerais do liberalismo
O liberalismo é um sistema de crenças e convicções, isto é, uma
ideologia. Todo sistema de convicções tem como base um conjunto de princípios ou verdades, aceitas sem discussão, que formam o corpo de sua doutrina ou o corpo de idéias nas quais ele se fundamenta. Abordaremos alguns desses princípios, os mais gerais, os que constituem os axiomas básicos ou os valores máximos da doutrina liberal. São eles: o individualismo, a liberdade, a propriedade, a igualdade c a democracia.
(i) o individualismo é o principio que considera o individuo enquanto
sujeito que deve ser respeitado por possuir aptidões e talentos próprios, atualizados ou em potencial. Um dos maiores expoentes do Iiberalismo foi John Locke. Suas idéias baseiam-se na crença dos "direitos natura is do individuo". Segundo Locke, todos os homens viviam originalrnente num estado natural em que prevaleciam a liberdade e a igualdade absolutas e não existia governo de espécie alguma. A única lei era a lei da natureza, que cada individuo punha em execução por sua própria conta, a fim de proteger seus direitos naturais a vida, a liberdade e a propriedade. Os homens não tardaram, porém, a perceber os inconvenientes do estado natural. Como cada um tentava impor os seus próprios direitos, os resultados inevitáveis foram a confusão e a insegurança. Conseqüentemente, os indivíduos convieram instituir um governo e ceder-Ihe certos poderes. Esse governo não era, entretanto, absoluto. O único poder que se the conferia era o de executar a lei natural, isto e, a defesa dos direitos individuais naturais. A função social da autoridade (do governo) e a de permitir a cada indivíduo o desenvolvimento de seus talentos, em competição com os demais, ao máximo da sua capacidade. O individualismo acredita terem os diferentes indivíduos atributos diversos e é de acordo com eles que atingem uma posição social vantajosa ou não. Daí o fato de o individualismo presumir que os indivíduos tenham escolhido voluntariamente (no sentido de fazerem aquilo que lhes interessa e de que são capazes) o curso que os conduziu a um certo estágio de pobreza ou riqueza. Se a autoridade não limita nem tolhe os indivíduos, mas, ao contrário, permite a todos o desenvolvimento de suas potencialidades, o único responsável pelo sucesso ou fracasso social de cada um e o próprio indivíduo e não a organização social. Com este princípio (o individualismo), a doutrina liberal não só aceita a sociedade de classes, como fornece argumentos que legitimam e sancionam essa sociedade. E verdade que ela rejeita os estratos sociais "congelados" ou "cristalizados", mas não a divisão da sociedade em classes. Locke cuida muito mais de proteger a liberdade e a segurança individual do que promover o progresso social, posto que o progresso individual resultaria benéfico para a sociedade em geral. Este, entretanto, não e o pensamento de Rousseau, teórico liberal da democracia, como veremos adiante, que visava' a proteção dos direitos da maioria, a proteção do indivíduo coletivo, do cidadão político. (ii) Vejamos agora, um outro principio da doutrina liberal que the empresta o próprio nome: a liberdade. Este princípio esta profundamente associado ao individualismo. Pleiteia-se, antes de tudo, a liberdade individual, dela decorrendo todas as outras: liberdade econômica, intelectual, religiosa e política. Para essa doutrina, a liberdade e condição necessária para a defesa da ação das potencialidades individuais, enquanto a nao-liberdade e um desrespeito a personalidade de cada um. O liberalismo usa do principio da liberdade para combater os privilégios conferidos a certos indivíduos em virtude de nascimento ou credo. O princípio da liberdade presume que um indivíduo seja tão livre quanto outro para atingir uma posição social vantajosa, em virtude de seus talentos e aptidões. "Liberdade para o indivíduo significa que a este deveria ser permitido, ao menos em teoria, conseguir, para si próprio, o maior progresso, e que este progresso redundaria no maior beneficio para a sociedade". Assim, o progresso geral da sociedade como um todo esta condicionado ao progresso de cada individuo que obtém êxito econômico e, em última instância, a classe (grupo de indivíduos) que alcança maior sucesso material. Com relação as liberdades intelectual, religiosa e política o liberalismo, "(...) sempre viu com maus olhos e desconfiança o controle sobre o pensamento e, na verdade, todo e qualquer esforço da autoridade do governo para impedir a livre atividade do individuo".
Influenciado pela Reforma, que incentivou o livre pensamento na esfera
religiosa (livre interpretação da Bíblia), o liberalismo defende a tolerância religiosa contra as perseguições do Estado. Por isso, quanta menos poder o Estado possuir, Menor será sua esfera de ação e maior será a liberdade que o individuo poderá desfrutar. (iii) Outro elemento fundamental da doutrina liberal e a propriedade. Esta e entendida como um direito natural do individuo, e os liberais negam autoridade a qualquer agente político para usurpar seus direitos naturais. Na "Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão", da Revolução Francesa, a propriedade aparece imediatamente após a liberdade entre os "direitos naturais imprescritíveis". Ainda que a grande maioria dos representantes do povo reclamasse, naquela época, o confisco e a redistribuição da propriedade, tal coisa não se poderia fazer legalmente, pois se estaria desrespeitando o principio da liberdade individual. Se, por outro lado, o confisco e a redistribuição fossem feitos ilegalmente, seria justificada a adoção de medidas eficazes de resistência por parte dos proprietários. Por isso o liberalismo, "(...) quase desde o primeiro momento de sua história, almejou limitar o âmbito da autoridade política, confinar os negócios do governo ao quadro dos princípios constitucionais e, portanto, tentou sistematicamente descobrir um sistema de direitos fundamentais que o Estado não fosse autorizado a violar. Tentou, sempre que pode, impor aos governos o dever de proceder, em suas ações, pelo espírito da lei e não do arbítrio".
Locke considera que o Estado existe para proteger os interesses do
homem que, pelo seu próprio esforço, acumulou bens e propriedades, pois como disse ele, Deus fizera o mundo para "uso dos industriosos e racionais", e o Estado existe para protege-Ios em sua exploração do mundo. Uma vez que a doutrina liberal repudia qualquer privilegio decorrente do nascimento e sustenta que o trabalho e o talento são os instrumentos legítimos de ascensão social e de aquisição de riquezas, qualquer individuo pobre, mas que trabalha e tenha talento, pode adquirir propriedade e riquezas. (iv) A igualdade, outro valor importante para a compreensão da doutrina liberal, não significa igualdade de condições materiais. Assim como os homens não são tidos como iguais em talentos e capacidades, também não podem ser iguais em riquezas. "Não temos todos talento igual e a propriedade e, em geral, uma retribuição ao talento. A propriedade igual para todos e um simples quimera só poderia ser obtida por espoliação injusta. É impossível, em nosso feliz mundo, que os homens que vivem em sociedade não se dividam em duas classes: os ricos e os pobres".
Assim, para a doutrina liberal, como os homens não são individualmente
iguais, e impossível querer que sejam socialmente iguais. Pelo contrario, a igualdade social e nociva, pois provoca uma padronização, uma uniformização entre os indivíduos, o que e um desrespeito à individualidade de cada um. "O liberalismo vê na igualdade social o fruto da intervenção autoritária, cujo resultado final e, em seu ponto de vista, uma restrição à personalidade individual".
A verdadeira posição liberal exige a "igualdade perante a lei", igualdade
de direitos entre os homens, igualdade civil. Tal posição defende que todos têm, par lei, iguais direitos a vida, a liberdade, a propriedade, à proteção das leis. Assim diz Rousseau: "(...) em lugar de destruir a igualdade natural, o pacto fundamental (o Estado) substitui, ao contrario, por uma igualdade moral e legitima, o que a natureza tinha podido pôr de desigualdade física entre os homens, para que, podendo ser desiguais em força e em gênio, todos se tornassem iguais por convenção e de direito". Dai não se pode concluir, entretanto, que o princípio da igualdade implique na eliminação das desigualdades sociais entre os homens, principalmente das diferenças de riqueza. O próprio Rousseau deixa isso hem claro: "(...) a respeito da igualdade, e preciso não entender por esta palavra que os graus de poder e de riquezas sejam absolutamente os mesmos mas que, quanto ao poder, ele se encontra abaixo de toda violência, e nunca se exerce senão em virtude da posição social e das leis e, quanto a riqueza, que nenhum cidadão seja suficientemente opulento para poder comprar outro, e que nenhum seja tão pobre que seja coagido a vender-se (...)".
Na sociedade pensada por Rousseau, trava-se uma luta entre a
tendência espontânea a desigualdade entre os homens, pela própria "força das coisas", e a força regulamentadora do Estado na direção oposta, a da equalização. "Precisamente porque a força das coisas tende sempre a destruir a igualdade, e que a força da legislação deve sempre tender a mantê-Ia".
Mas como se resolve a contradição entre a igualdade desejada a
igualdade de direito, e a desigualdade consentida - a desigualdade de fato? Resolve-se, ao nível das idéias, pelo estabelecimento de regras jurídicas que permitam a cada individuo a disputa de posições privilegiadas, sem distinção. Ainda e Rousseau quem esclarece esse ponto: "Quando afirmo que o objetivo das leis e sempre geral, entendo que a lei considera os súditos em conjunto e as suas ações como abstratas, nunca um homem como individuo nem uma ação particular. Assim, a lei bem pode estatuir que haverá privilégios, mas não pode dá-Ios nominalmente a ninguém pode estabelecer varias classes de cidadãos, designar as qualidades' que darão direito a tais classes, mas não pode nomear tais ou tais pessoas para que nelas sejam admitidas (...): numa palavra, toda função que se refere a um direito individual não pertence ao poder legislativo" . Dessa forma, a doutrina liberal reconhece as desigualdades sociais e o direito que os indivíduos mais talentosos têm de ser materialmente recompensados. (v) Os princípios do individualismo, da propriedade, da liberdade e da igualdade exigem a democracia, outro importante principio da doutrina liberal. Consiste no igual direito de todos de participarem do governo através de representantes de sua própria escolha. Cada indivíduo, agindo livremente, e capaz de buscar seus interesses próprios e, em conseqüência, os de toda a sociedade. "A democracia liberal e o método de governo que se propõe a assegurar a comunidade nacional que todos os indivíduos se atenham as regras do jogo da competição política, assim como competem pela riqueza disponível da nação".
È verdade que nem todos os teóricos do Iiberalismo são democratas,
como e o caso de Voltaire, que faz restrições a participação popular no governo. Seu interesse reside mais na garantia da segurança dos interesses dos indivíduos bem sucedidos do que na dos interesses gerais. Rousseau, o fundador da moderna doutrina democrática, ao contrario, da especial importância a instauração de um governo popular, um governo da maioria. Mas o próprio Rousseau via dificuldades práticas para a existência de um governo da maioria dos cidadãos. "Tomando o termo em rigorosa acepção, nunca existiu, e nunca existirá, verdadeira democracia. È contra a ordem natural que o grande número governe e que o pequeno seja governado. Não se pode imaginar que o povo permaneça incessantemente reunido para dar despacho aos negócios públicos, e com facilidade se vê que para esse efeito não poderia estabelecer comissões, sem mudar a forma de administração".
Aparece, então, uma contradição entre a proposta de um governo da
maioria e a sua impossibilidade pratica. Essa contradição e resolvida através da instituição da representação parlamentar, que é uma maneira da maioria estar presente no Estado. Pelo exposto, percebe-se a ligação estreita entre os cinco princípios da doutrina liberal: o individualismo, a liberdade, a propriedade, a igualdade e a democracia. A não realização de um só deles implica na impossibilidade de todos os outros. Mas a sua realização resultaria numa sociedade aberta, onde todos os homens teriam iguais oportunidades de ocupação das posições nela existentes. Passamos, agora, a comentar a papel atribuído pela doutrina liberal a educação escolar na construção dessa sociedade.
1.2 – O papel social da educação
O exame de vários teóricos liberais possibilitou-nos sintetizar uma
posição que e mais ou menos comum entre eles. O principal ideal liberal de educação e a de que a escola não deve estar a serviço de nenhuma classe, de nenhum privilégio dc herança ou dinheiro, de nenhum credo religioso ou político. A instrução não deve estar reservada as elites ou classes superiores. Nem ser um instrumento aristocrático para servir a quem possui tempo e dinheiro. A educação deve estar a serviço do indivíduo, do "homem total", liberado e pleno. A escola assim preocupada com a Homem, independente da família, classe ou religião a que pertença, irá revelar e desenvolver, em cada um, seus dotes inatos, seus valores intrínsecos, suas aptidões, talentos e vocações. Para o pensamento liberal, a realização da vocação individual não tem a significado que a Reforma Protestante (mais precisamente a seita puritana) Ihe deu, onde possivelmente a liberalismo buscou inspiração. Os puritanos afirmavam que todo homem deveria dedicar-se com devoção a execução da sua vocação (que era um chamado divino) a fim de contribuir com Deus na Sua obra de construção do mundo. Evoluindo desta noção para uma posição mais secular e utilitária, a liberalismo afirma que a vocação e a realização individual para a construção do progresso geral. È, pois, a partir dos talentos ou vocações individuais (que a escola tem capacidade de despertar e desenvolver) que o individuo