Dos Bastidores Vol1
Dos Bastidores Vol1
Dos Bastidores Vol1
vejo o mundo:
cenografia,
figurino,
maquiagem
e mais
Fausto Viana e
Carolina Bassi de Moura
(org.)
Fausto Viana e Carolina Bassi de Moura (org.)
DOI: 10.11606/9788564842342
São Paulo
Escola de Artes, Ciências e Humanidades
2017
UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO
DOI: 10.11606/9788564842342
Introdução .................................................................................. 3
Fausto Viana e Carolina Bassi de Moura
| Hoje |
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| Entre hoje e ontem |
| Ontem |
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Introdução
Há um universo por trás de cada cena que o espectador contempla.
Seja ela na rua, no teatro ou em um site specific, de maneira
geral sempre há alguém que planeja a cena junto com os atores
e/ou performers.
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Entre hoje e ontem traz a rica pesquisa feita por Ana Carolina
Ramos sobre o guarda roupa da Escola de Comunicações e Artes,
com profissionais que trabalharam com ele ao longo da sua
história: José Carlos de Andrade, Márcio Tadeu e Cláudio
Lucchesi.
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Ao prazer, leitor!
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| Hoje |
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Entrevista com
Judite Lima
costureira
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Nome dado às dançarinas do programa do Chacrinha, já referido nesta
entrevista, comandado por Abelardo Barbosa.
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E desses trabalhos todos que você já fez, qual você diria que
foi o mais incrível? Tem um?
E agora? É difícil... Assim, eu não sei... Tem coisas que
marcam... Por exemplo, tem um figurino que eu fiz para uma
menina chamada Rosangela, esqueci o sobrenome, para uma ópera
chamada Chapéu de Palha, e eu não sei porque me marcou tanto...
Eu adorei fazer aquele figurino, achei tão lindo! Ela não faz
figurino sempre, ela trabalha muito com produção, mas esse daí
foi um que marcou. O Drácula também marcou muito! Inclusive, eu
estava aqui na (rua) Frei Caneca, 400, numa sala pequena, e
levaram o figurino para fazer. Era da Kalma Murtinho, uma seda
preta de uma capa do Raul Cortez, e eu tinha um balcão pequeno
onde eu cortei a seda e deixei cortada. Tinha uma gatinha preta
que me adorava, eu gostava dela e a gatinha entrou e eu não vi.
Quando eu saí, fechei a sala e fui embora. No outro dia, quando
eu cheguei, abri a sala, a seda estava toda suja, ela tinha
vomitado em cima... Olha o sufoco! A prova estava marcada e eu
tive que lavar, com medo de manchar e aquilo fedia... Foi o
maior sufoco da minha vida, aquilo lá! Esse marcou porque
pesou... E tem vários que marcaram. Esse Feliz Ano Novo marcou
muito porque foi um dos primeiros, foi um figurino grande, aí
marca. Tem figurino que a gente não esquece... Já fiz roupa de
filme...
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Em termos de figurino, tem alguma coisa que você ainda não fez
e gostaria de fazer?
Ah, sempre tem. Tem coisas “de época”, mas de época antiga
mesmo, que a gente nunca faz. Mas teria que a gente estudar, se
aprofundar mesmo para poder fazer igual. Eu tenho curiosidade,
eu tenho vontade de fazer...
Isso é uma dificuldade para você, não ter onde pesquisar quando
tem algo desse tipo para fazer?
É complicado porque tem gente que não sabe muito e eu fico
perguntando. Às vezes, a pessoa não sabe dar uma orientação. E
tem figurinistas, desses mais novos que até em relação a
figurinos mais novos se enrolam... O Teodoro, filho da Marília
Gabriela, ele é ótimo, eu adoro, mas ele fica inseguro na hora
de fazer esses figurinos. Porque é novo, está começando e eu
nunca ouvi falar que ele tivesse estudado para isso.
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roupa, seria mais fácil... Tem gente que fica explicando, isso
aqui, isso ali, mas para mim isso não vai adiantar nada... Eu
fico ouvindo, mas é perda de tempo. Por exemplo, um vestido que
tem um bolero, o melhor seria fazer o desenho do vestido e o
bolero à parte. Agora, eles já estão melhorando, trazem o
desenho da frente e das costas do vestido. Senão como faço para
adivinhar as costas? Não é possível, não é?
Você diria que é raro que cheguem com um desenho, assim,
tecnicamente explicado?
Muita gente não traz. Os que não sabem muito desenhar,
geralmente trazem referências. Aí, quando vem para provar o
figurino, dizem: “Ah, mas eu não queria assim...” Então porque
trazem a referência? Porque se só falarem, falarem, e não
marcarem, escreverem, às vezes, eu esqueço... É muito difícil
trazerem um desenho técnico com todas as medidas e
particularidades do modelo... E a costureira sofre. É difícil.
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Agora eles vão lançar um com modelagem do século 18. Para quando
a gente for fazer um figurino dessa época, a gente tenha onde
pesquisar.
Porque é diferente... Uma vez eu fiz um figurino para o José
Rubens Siqueira, acho que era Os Lusíadas... Não me lembro bem
se era esse... Ele trouxe um figurino muito bonito, mas era
diferente, e ele sabia me explicar. Pena que ele não seguiu como
figurinista, porque acho que ele agora só dá aula. Foi muito
legal! Cada trabalho a gente aprende uma coisa diferente. Por
isso é que a gente adquire experiência. O Marcelo Marques, do
Rio de Janeiro, que eu conheci lá em Manaus, no Festival, ele
me disse assim: Olha, Ju, essa roupa para ficar bonita tem que
ter um forro de brim... A roupa fica uma beleza! Até aí, eu não
sabia, aprendi com ele. Por exemplo, o Pedro Moreno, que é um
espanhol, que também conheci lá em Manaus, ele me ensinou uns
modelos que são cortados abaixo do busto, a gente sempre quer
subir a parte de trás, ele faz o contrário, atrás ele baixa. Dá
um desenho muito bonito. Fica bonito, você olha assim de lado,
a mulher fica bonita. É igual aos italianos também que vem,
sempre eu acabo aprendendo alguma coisa.
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pessoa. Se você não levar a sério, não for uma pessoa que observa
tudo, que presta atenção, você não aprende muito. Você não se
torna um bom profissional. Porque mesmo se eu souber que eu não
sou uma costureira fantástica, a gente tem que ter muita
perseverança e não pode desistir na primeira dificuldade. Você
tem que ter muita dor de cabeça, passar muito nervoso, pensar
muito para conseguir solucionar o problema e fazer a roupa cair
bem. Porque tem roupa que o visual é bonito assim, de longe. Aí
você olha de perto, está feio, caindo mal. É complicado, é bem
complicado. E leva anos, ninguém aprende de um dia para outro,
de um ano para o outro. São muitos anos de dedicação, de levar
com afinco mesmo, senão... E não ser medrosa, a pessoa não pode
ser medrosa. Se for medrosa, você não faz. Por exemplo, tinha
um figurinista muito bom, Domingos Foschini, já morreu, ele
trabalhava muito bem, e eu perdi o medo de cortar roupa no corpo
com ele. Ele era muito malucão, quando a gente ia provar roupa,
ele falava: “Corta aqui”! Eu dizia: “Mas Domingos, eu vou cortar
assim a roupa, na pessoa”? E ele: “Pare de medo”! E eu aprendi
e fui fazendo. E faço mesmo quando não podem me pagar bem, com
o mesmo capricho. E fico muito brava se perceber que meus
auxiliares fazem de má vontade. Não quero saber de negatividade.
Tem que ficar lindo! Se falam que vai ficar feio, digo que vai
ficar lindo mesmo os destruídos, degradados. Eu gosto tanto, é
uma realidade de um acontecimento, de uma fase da vida. Diz
algo. Tudo tem o seu valor.
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Entrevista com
Olintho Malaquias
figurinista
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ele é bicho, então tem que ser uma criatura. Foi aí que eu
pensei nos elásticos, na coisa que desse mobilidade e cada um
tinha uma forma, cada um tinha um desenho, e era uma roupa feita
de camadas de elástico, porque na A Terra falava-se de camadas
o tempo todo, então a coisa para mim veio em camadas de elástico,
do mais fininho costurado ao mais largo, enfim, cada um tinha
um desenho e uma forma. Então, um era meio regata, bermuda, o
outro era calça inteira, o outro era só top, de acordo com o
corpo de cada um e aí cada ator foi me ajudando a dar o desenho
da roupa dele, e essa que a gente chama de roupa base, completava
com os assessórios de cada uma das sequencias, do momento terra,
momento vegetação, momento animal e o homem você só tem o esboço
lá no fim, porque já dá entrada para O Homem que seria a segunda
peça. Então, a A Terra foi um espetáculo que foi assim, um bruta
tempo de ensaio, de elaboração para que a coisa ficasse...
entendível... a gente mesmo as vezes não entendia enquanto
estava fazendo. Porque é bem difícil você teatralizar a
descrição do solo e ele se aventurou e ele fez e eu acho que
foi o espetáculo que mais recebeu prêmio... Foi para ele [Zé
Celso], foi para a música... Eu fui indicado para figurino. Foi
lindo. Era lindo, era tudo novo e assim uma bruta
responsabilidade pelo que veio a seguir, que era O Homem I, que
eu comecei nas leituras. Porque tudo vinha a partir da leitura
em livro, transformar em dramaturgia... não foi “pá” de uma vez
fez tudo. Primeiro toda A Terra, então foi um ano tratando A
Terra, dramaturgia, conceito de tudo, conceituando tudo o que
vai ser transformado em música, o que permanece texto, o que
vira coro, o que é solo... Então, é um rio, é um solo de um
ator, as aves é um coro de atrizes, porque tem essa necessidade
tem essa energia. E aí vai fazendo aquelas associações, que no
princípio eu... ficava... o que ele está falando? Daí eu virava
pra Silvia, a gente era muito cumplice, falava “Silvia, como
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Ah, são essas referências... é muito bom isso! Como ele junta
pessoas do decorrer de um século em uma figura só!
Tudo em uma só, em uma pessoa só. Então, imagina isso enquanto
está em formação!
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Pelo histórico...
Pelo histórico e tudo mais. E não tem essa visão de empresa,
sabe, de... eu acho que essa coisa do rito acaba confundindo
muito, talvez não passe uma coisa séria para empresário. Porque
tudo é muito ritual.
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Tem um museu...
Exatamente, que tem todo um respeito. Tem todo um material eles
também...
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roupa” de elástico e era lavar com terra, para tudo ficar mais
escuro. Porque elas chegavam branquinhas... Na estreia foi...
Na estreia, como a grana saiu muito em cima da hora, foi ficando
pronto muito em cima da hora, então teve um primeiro ensaio,
uma primeira prova que já era quase geral, pré-geral, assim, em
que passou com a roupa de elástico, aí arrebentou o que
arrebentava, e coisa e tal. Só que os concertos foram tão
demorados que fiquei de pegar no dia da estreia. Lá na Saúde!
Só que estreia no Oficina é marcado para as seis da tarde,
imagina, eu chego com as roupas seis e quinze. Então, eles
começaram o espetáculo pontualmente as seis horas, com roupa de
ensaio. E aí conforme passava um, eu passava o conjunto, cada
folga que ele tinha... foi lindo! Quase chorei no final do
espetáculo, porque no final estava todo mundo vestido, no início
estava todo mundo com roupa de ensaio, cada um foi mudando a
sua (risos), no final estava todo mundo com a roupa nova e aí
foi que eu consegui ver o figurino pronto.
Então teve isso com esses... eu chamo de seres elásticos...
Isso! Se bobear eu tenho até o piloto aqui. Que é essa branca
com a costurinha preta, que essa é...
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Nossa!
Seria uma trabalheira, né? Tiveram dois conjuntos que acabaram
virando reserva e depois passaram para as crianças que eram
essas roupas que o látex tirava a mobilidade, a elasticidade,
que era o que a gente precisava. Então, consegui a linha de
elastano, que é a linha de confecção de maiô, que não arrebenta
de jeito nenhum. É mais cara, bem mais cara que a linha de
overloque normal. Então, passar elastano, e costura dupla, em
tudo, fez atrasar a entrega de tudo. Mas depois, era uma reforma
a cada... um mês, sabe assim? Pegava tudo, ah abriu um
pouquinho... mas aí abria na movimentação, tinha aqueles que
subiam a estrutura toda, então a roupa ralava. Porque ali tudo
é pontiagudo, é aparente. Então, estragava muita coisa ali. E,
as modificações que eles iam fazendo... Ah, “eu quero calça
comprida”, mas depois via que a bermuda dava mais mobilidade,
então, “vou cortar para bermuda”, só que aí cortava e a coisa
começava a desfiar e virava shortinho, enfim, tinha que refazer
a roupa toda.
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Sim.
Sabe, tem ator que respeita, sabe como tratar o figurino, sabe
como deve cuidar. E tem desde aquele adolescente, a criança que
está entrando, está começando. Acha que é “camisa e calça
jeans”, acabou o espetáculo joga e aí a camareira vai encontrar
o conjunto dois três, dias depois, o suor já tinha detonado a
roupa, então, assim... foi uma solução muito bonita (risos).
Hoje eu sei que não muito prática, hoje eu pensaria, sabe tentar
reproduzir com lycra, dar os mesmos efeitos de costura,
entendeu? Ficaria com mais cara de dança...
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vegetação, animal e... Uma música linda pra caramba, cada uma
num ritmo. Você chegou a assistir A Terra?
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Isso, com terno branco. Você tem ideia como ela foi parar lá,
como ela retornou...
Deixa eu lembrar o momento... porque tem um personagem... estou
tentando lembrar o momento em que ela entra...
Ela entra e comenta a cena, tem um olhar de comentário...
Porque ali não é a vida do Euclides, é do Conselheiro, quando
ele ainda é conselheiro. Porque ele casa com a Brasilina e aí
ele começa, dizem, né? Que ele começa a se prostituir, vender o
corpo por dinheiro e tem aquela passagem “é homem? É mulher?”
Porque ele larga da vida dele para seguir essa mulher e depois
vai com... Então, se não me engano ela é um desses personagens.
Se eu não estiver enganado, porque é o que eu estou te falando,
O Homem I eu refiz, então a coisa já estava pronta, então eu
assisto e coisa e tal mas... eu lembro da Adriana entrando de
terno branco, que tem... na verdade a homenagem... é Heloísa de
Lesbos mas tem uma ligação também com o Luís, irmão do Zé. Eu
estou tentando lembra o porquê... Porque não fica claro para
mim, porque Homem I e Homem II são aqueles que eu fui fazendo
no soco, quase que no supetão, porque eu preparei as remontagens
quando fomos apresentar todas e para as viagens. Então, como
chegou a esse conceito de cada personagem...
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Sim.
Porque como todo processo lá, é bem coletivo, então, o Zé abre
a coisa para o grupo, então a cena vai se formando e cada um
contribuindo com o que acha legal. Às vezes eu tenho um trabalho
muito grande de limpeza. De um certo convencimento, sabe,
psicológico do tipo “olha, isso não fica tão legal, você acha
que compõem com o personagem, mas vai depor, porque esse fulano
era assim assim... ele era mais clássico... esse tipo de brilho
não cabe aí”. Entendeu? Porque tem muito do gosto pessoal. E o
Zé não é um diretor que interfere, sabe, na individualidade
porque esse todo, esse grupo de estranhos forma um grupo até...
homogêneo, não são todos iguais, cada um tem sua característica
física, psicológica... Com certeza! E até com isso o Zé lida!
(risos).
Não.
Isso é rubrica! Ele coloca nominalmente o personagem, quando a
coisa está muito bem desenhada para ele... Olha eu tenho um
[texto] aqui. A Luta. Se você der uma olhada, em uma rubrica do
Zé ele fala desde os sons até como as pessoas entram.
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Ótimo. Como é essa relação da moda com o seu trabalho, você teve
uma formação ali... como é que funciona?
Intensa! (risos)
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Olha isso, [mostra desenhos feitos pelo elenco] tem uma coisa
de “como cada um vê seu personagem”. Então, olha isso. A Silvia
desenha lindamente, olha a Guigui que ela me faz! Tem os desenhos
de maquiagem. Tinha um grande amigo que era maquiador. O
problema é que por essa falta de estrutura e grana, as pessoas
vão, mas depois não tem uma continuidade... Olha um desenho do
Zé, a Jaqueline/Maria Luísa [personagem]: “hipóteses: véu que
foi à missa do”... Geisel... não, à missa de gazela. Na verdade,
ele queria aquele voilette, aquilo no olho. “Não sei se é esse
o nome, mas não é tule, com alguns brilhos.” “Ela com plumas,
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Ah, os parangolés.
Os parangolés. Para mim era uma camiseta, dobrava, não dobrava
e depois fazer isso em tela...
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Se transformando em rio.
O Vaza Barris, que é um rio vermelho, depois se transformou em
um ator nu com uma mangueira enorme que saia lá da parede, uma
mangueira com um líquido vermelho dentro, um líquido com
anilina. Porque o Zé criou a ação para que a plateia acompanhasse
o Vaza Barris, então o ator faz o contorno com o rio, vai puxando
essa mangueira e vai levando a plateia. Então, quando vai
agregando movimento... Eu parto de um princípio estático, o
texto e depois a solução em cena. Ele até poderia ter essa base,
mas daí o Zé preferiu os atores nus e só o tecido... a solução
acabou sendo o tecido na cor que simbolizasse cada uma das
camadas.
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Sim, as cabaninhas.
Essa ideia eu tinha achado genial, está nas costas e aquilo
vira, sabe, olha... e que não vai para a moda, é de uma companhia
que só faz roupa com nylon de paraquedas, são italianos é...
J.C... Eu amo o trabalho deles, mas não consigo colocar para
ninguém (risos), porque é muito experimental mesmo. Essa é a
minha forma de ser antropofágico, eu vejo, eu como... para mim
vira uma outra coisa...
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Levei minha mãe para ver As Bacantes! Quer saber o que estou
estudado? Então, vamos. Foi uma delícia, ela ficou... (risos).
As Bacantes é uma delícia! Eu digo que nas Bacantes foi meu
batismo. Logo depois de O Boca de Ouro teve a Petrobrás, a
documentação das peças dos anos 90 do Oficina. É o Festival
Petrobrás... Filmaram O Boca de Ouro, Bacantes, Cacilda e
Hamlet. Eu fiz a remontagem de O Boca de Ouro, Bacantes e
Cacilda. Porque o Hamlet quem fez foi o Caio da Rocha, ele que
fez tudo, enfim, só não fiz da última, dos quatro DVDs. Eu nunca
tinha visto Bacantes! Imagina, tinham apresentado lá no começo
dos anos 90... não antes...
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Entrevista com
Rosana Rached
Figurinista
com a participação de
Kaio Pezzutti
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Tem que ser uma pessoa registrada com a cidade, com a prefeitura?
Rosana: Não, não...
Cartaz do espetáculo
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E queriam o que?
Rosana: A noiva chorando, “ah, eu tropecei no vestido, porque
esse véu está caindo, eu fiquei sem o véu no final, porque
estava tropeçando em tudo, eles não pegam, porque essa roupa é
assim...” Aí eu falei, “fique calma, tudo vai se resolver, vai
dar tudo certo”. Então eu tirei de letra, porque se eu estivesse
lá como atriz eu estaria nervosa, mas eu estava tranquila. “Não,
está tudo bem”.
Kaio: Ela estava focada nos trinta atores principais, eu estava
com os figurantes, mas tinha alguns personagens secundários e
tinha uma figura, o seu Castor. Ele vive disso, ele tem cabelo
comprido, barba longa bem branca e ele vive disso. Ele é um
modelo diferenciado nas agências, é bem conhecido. E aí o que
aconteceu é que tinha um véu dentro do aparato que ele tinha
que identificava como sacerdote, que era branco. Aí ele chegou
e disse “não, branco não dá, porque branco vai ficar homogêneo
com a minha barba e eu fui extremamente compreensivo ao ponto
de tirar, colocar um diferenciado lilás, tive o tato de
valorizá-lo e na verdade no momento parecia um extremo capricho,
as meninas da minha equipe acharam que “cara mais fresco,
metido”, mas para a gente que trabalha com isso entendeu a
legitimidade da reivindicação dele. No momento que eu troquei o
tecido branco por um lilás realmente valorizou a barba dele e a
barba dele era real e sustentava a imagem dos outros dois que
não tinham barbas reais. Então ele dava verossimilhança e
sustentação aos outros dois.
Rosana: O outro problema foi com a Salomé. Ela viu a roupa aqui,
provou aqui e ela falou que estava muito fechado, eu queria aqui
aberto... aquela visão de que Salomé, roupa de dança do ventre.
Eu queria fazer uma coisa diferente... “Não, eu quero essa saia
mais fechada, mais elegante, de longe vai ficar mais bonita”,
“Não, mas eu queria abrir”. Aí eu disse não, não pode abrir.
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Não, porque pode com o vento você vai ficar muito exposta.
Então, deixa fechada.” Aí eu fui um pouco mais dura, mas sem
ela se melindrar. Maria também foi um problema porque ela tinha
dois trajes e ela se trocava sozinha, ela ficava sozinha numa
casinha no meio de toda aquela cenografia imensa e não tinha
ninguém para ajudá-la. Não dava para eu passar por trás porque
eu iria aparecer no espetáculo. Então o Edmilson disse que ela
teria que ter um figurino só. Ou colocasse o outro por baixo,
aquela coisa de pôr coisas por baixo e ir tirando, mas eu falei:
“não vai ficar bacana, vai ficar muito cheia de volume”. Então
na hora tive que reformular o figurino dela, trocar. Ela tinha
duas trocas. Reformulamos e deixamos uma troca só, que ela
tirava o sobretudo e ficava bem.
Kaio: O que eu gostaria de destacar é que no figurino da Maria
ela solucionou a questão da aura, que é um padrão cultural,
católico e ortodoxo, com o turbante, que era uma verdadeira
aura. Muito bonito.
Rosana: Essa roupa (da Maria) que está por baixo, não era assim,
era de quando ela aparecia toda de azul, tons de azul, azul
claro, azul escuro, azul celeste, azul bebê. Está estranho
porque é muita roupa por baixo. Aqui já foi no camarim, foi no
local. Aqui você tem uma ideia, para você ter uma ideia eu
estava longe, na arquibancada. E uma coisa muito grande,
assusta.
Kaio: Sabe o que me lembrou? No dia que eu assisti da cabine de
som, parecia uma maquete que cria vida...
Rosana: Aqui o povo, a cavalaria, era um espaço muito grande
que a gente tinha que circular, os camarins eram atrás, tudo
escuro, a gente tinha que usar a lanterna do celular...
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Como que é a visão da produção, como é que você sabe o que você
vai gastar, quanto você pode gastar? Como que é que você faz a
produção? Você vai lá e compra, alguém tem que liberar essa
verba?
Rosana: Eu fui com a diretora de eventos fazer a compra dos
tecidos, a Laura. Eu fiz o apanhado do que iria precisar e eu
falei, “eu vou com você, você não vai saber comprar esses
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atenção era marrom verde e cru (bege). Então não dá para usar
nem marrom nem verde e o cru muito pouco. Tem que usar azul
turquesa, laranja, salmão, ocre, cores... o que foi bom foi eu
ser artista plástica, porque na hora que você vê, você sabe que
essa cor com essa vai ficar perfeito. E com aquele fundo
facilitou muito na hora de compor os figurinos, fazer os
desenhos e colocar as cores. Foi uma coisa bacana.
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que acontece para nós como artistas? A gente é uma parte disso
(ou a parte disso?), a gente acaba ficando refém de uma...
Rosana: De uma engrenagem...
Caio: De uma engrenagem da qual nós não fazemos parte e que em
algum aspecto nos libera e em outro nos limita, por exemplo.
Tem uma coisa política neste aspecto rural da política de
Santana do Parnaíba, uma coisa de “compadre”. Porque nós não
somos daqui. Eu sou, por exemplo, integrante do CPT, eu faço
parte do efetivo do Centro de Pesquisa Teatral; ela é uma artista
plástica que tem o ateliê dela aqui mas tem uma posição péssima
politicamente. A Paixão faz parte do calendário da cidade, entre
outros eventos, como o Carnaval...
Rosana: E também tem o elo de confiança. Quando eu cheguei aqui
na cidade, estou há três anos aqui, senti uma certa resistência.
Mas devagarinho o povo vai chegando, você vai conhecendo. Hoje
eu conheço todo mundo aqui, a vizinhança toda; no meu setor,
todo mundo, o pessoal na prefeitura. Então demorou para eles
confiarem em mim, demorou, demorou, inclusive o diretor chegar
lá em você no trabalho. Confiar no meu trabalho, que ele tinha
uma afinidade porque tem muito do teatro. Tem que ter uma
afinidade com quem vai trabalhar, que vai produzir o seu
espetáculo.
Na relação com os atores, o que que fica para o ano que vem? O
que você mudaria, no seu trato, no lidar com os atores?
Rosana: Para mim foi maravilhoso, não tive nenhum problema. Com
nenhum ator. Tirei de letra.
Kaio: Como funciona isso... Nós tínhamos as medidas de 350
figurantes e conseguimos dar conta de 200, mas ficaram cento e
cinquenta. Tive três semanas para resolver isso. Esses cento e
cinquenta foram despejados na minha mão na quarta-feira, que
era o dia corrido geral com figurino. Eu tive contato pessoal
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Entrevista com
Fabiane Monteiro
peruqueira
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A Adriana Produtora?
Não, a Adriana peruqueira... Essa Adriana falou assim, “Ai, eu
estou gostando, é algo diferente, a gente faz peruca”... “Mas
como assim peruca?” Ela: “Faz a peruca e coloca no ator, o ator
entra em cena e parará parará”... Aí, passou.
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Miss Saigon..
Não, eu já tinha saído do Teatro Abril...depois... As Bruxas de
Eastwick...
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Como assim?
Diariamente. Assim, a gente não desmonta, tenta manter
direitinho, em ordem. A gente usa spray, grampo. Aí despenteou
aquela parte, a gente refaz. Porque tem perucas imensas.
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De segunda a sexta?
Segunda a sexta.
E o aquecimento?
Não, eles chegam duas horas antes. Porque eles fazem aquecimento
corporal e aquecimento vocal em meia hora. Aí eles dão meia hora
para eles jantarem, almoçarem, o que for. Essa uma hora é para
eles se prepararem.
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Me fala uma coisa, qual o trabalho mais legal que você já fez
até hoje?
De peruca?
É, aquilo que você pensou: “Nossa, como ficou bem feito isso”...
Eu acho que o primeiro, porque foi uma coisa que eu não imaginava
que tivesse capacidade de fazer aquilo. Quando eu vi aquela
peruca pensei que nunca ia fazer um penteado daqueles. E depois
de realizar aquilo, ver aquilo pronto, não acredito que ficou
assim. Foi um trabalho muito gratificante; foi muito difícil no
começo, mas foi muito gratificante. Tem uma memória muito
bacana.
E depois?
Ah, depois...
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ao Sumário
Agora um conselho para uma pessoa que quer ser peruqueiro. Não
um jovem começando, não, qualquer pessoa que queira ser
peruqueiro.
Bem, como eu entrei assim de supetão, eu acho importante a
pessoa conhecer a anatomia do penteado: como começaram as
perucas, eu acho muito legal isso. Porque depois eu vim
pesquisando isso, você pesquisa, você ver penteados, ter
habilidades... não precisa ser cabeleireiro, mas você tem que
ter o jeito. Se você não tiver o jeito...
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Entrevista com
Thanara Schonardie
figurinista
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Aí, quando eu vim do Sul para cá, para poder me sustentar aqui
no início, eu trouxe umas bolsas que eu fiz com retalhos de
tecido - não investi em nada de confecção. Que era um projeto
que eu tinha na faculdade já, de trabalhar com reaproveitamento
de tecidos e de fazer novas superfícies têxteis em cima daquilo,
do que é lixo. E aí, essas bolsas, eu comecei a vender na feira
Hype lá do Jóquei. Conheci alguns clientes, aí então a partir
daí eu comecei a fazer camisetinhas, e tudo eu mesma
confeccionando, porque também não daria para cobrir a feira, se
eu fosse pagar outras pessoas para fazer. Aí, eu fui avançando
tanto nisso, que eu estou com um atelier hoje – antes agora de
me dedicar ao figurino inteiramente, eu estava com um atelier
de noive, estava atendendo o mercado de luxo carioca. (risos).
Está senso maravilhoso, assim... Porque é criação de peças
únicas, aí comecei a trazer material de fora, comecei a
trabalhar com sedas importadas, fitas, material de aviamentos
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Entrevista com
Sally Jacobs
figurinista
2
English Stage Company (ESC): companhia teatral residente no Royal Court
Theatre na Sloane Square, em Londres. <
http://www.vam.ac.uk/vastatic/theatre/archives/thm-273f.html>.
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entusiasmo, meu novo entusiasmo por teatro, que eu não era muito
interessada antes, com minha habilidade para desenhar, com meu
interesse por roupas. Eu não sabia que eu seria uma boa cenógrafa
naquela época... E pensei, “tenho que trabalhar no teatro, o
que eu posso fazer para fazer parte disso?”. Então eu fui de
férias para Veneza, e em um dos maravilhosos palácios onde tem
uma daquelas coleções de fantasias históricas, o Mocenigo, que
ainda visito regularmente, e vi essas roupas do século XVIII, e
elas não eram figurinos, eram roupas, e eu pensei, “Porque não
temos isso no palco?”... Porque a maioria dos figurinos de época
parecem com fantasias, muitas joias, muita decoração. E nós
tínhamos visto a companhia3 do Brecht em 1956, que tinha vindo
para Londres, e foi absolutamente parte da nossa revolução,
porque nós fomos apresentados a uma forma totalmente nova de
ver o palco, e certamente as roupas que nós vimos ali eram
reais, e eu pensei, “isso é o que quero fazer”. Então, eu voltei
para a escola por três anos, fiz cenografia, e nas primeiras
semanas, meses, lá percebi que eu era mais velha que os outros
estudantes. Eu já havia estado fora, já conhecia teatro e outras
coisas. Os alunos tinham 18 e eu 20 e poucos anos. Eu vi o que
eles estavam fazendo e eu pensei, “eu posso fazer isso também!”.
As coisas eram bem fluidas e abertas naqueles tempos, nós não
precisávamos preencher centenas de formulários para mudar de
curso, eu podia ir até o departamento responsável e dizer, “eu
gostaria de fazer tal coisa no próximo projeto, posso?”, e eles
diziam: “Sim”. Então eu comecei a fazer cenografia e figurino
na Central School of Art4, e eu estudei os três anos, e comecei
do começo... Meu primeiro trabalho foi como pintora de cenário5,
3
É provável que seja a Companhia Teatral do Brecht, que em 1956 foi ao Royal
Court Theatre. Brecht já havia falecido e a companhia era liderada por Helene
Weigel <http://www.overthefootlights.co.uk/1956.pdf>.
4
Central School of Art and Design – London (1896-1987)
<http://www.aim25.ac.uk/cats/56/6247.htm>
5
Scene painting.
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E o primeiro trabalho?
O primeiro trabalho foi uma coleção de peças que representavam
uma revisão de vários materiais, que poderiam nos dar a
oportunidade de explorar o modo de usá-los, como colocá-los
juntos. Ao final mostramos um trabalho de pesquisa em andamento
que foi vagamente chamado de Teatro da Crueldade. Uma grande
influência naquela época era Artaud, e a vanguarda de Nova
Iorque, que já estava aflorando, muito à frente de nós, como os
happenings e performances sem roteiro. Novamente Peter sabia
tudo sobre isso, e eu não. Então, ele me deu dois livros para
ler, do Artaud, “O Teatro e Seu Duplo”, e o outro era uma
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Mas naquela época o risco era muito grande. Peter tinha essa
autoconfiança incrível para fazer uma bagunça. Ele foi o único
diretor que disse para mim: “Eu não sei!”. Se eu perguntasse
alguma coisa, ele dizia: “Eu não sei, ainda é muito cedo!” E
aquilo era tão maravilhoso para mim. Ele era seguro suficiente
para dizer aquilo. E aprendi a dizer isso também! Anos depois
trabalhei com outros diretores, eles me perguntavam: “O que você
fará aqui?” E eu dizia, “eu não sei ainda!” Perfeitamente feliz
em dizer isso! “Não cheguei lá ainda, há ainda outras coisas
para eu fazer antes de chegar lá!”, respondia. Então, o processo
é o que te direciona, inevitavelmente. Se você estiver
trabalhando com o processo certo, não qualquer processo. Quando
eu vejo diretores somente experimentando qualquer coisa, e isso
não leva nada, porque eles não iniciaram o experimento correto,
num primeiro momento. Quer dizer, todo esse processo de fazer
exercícios, e improvisação. Eu já vi diretores brincando com
isso, e eles não chegam a lugar nenhum, pois eles não sabem o
que estão fazendo. Então, é preciso uma grande dose de
inteligência, paciência e autoconfiança. Mas, o que você tira
disso é: alguns talentos que se juntaram para explorar o
material, e pretendem ter um resultado único ao final, que é
uma dessas partes, se você muda uma dessas partes durante o
ensaio terá uma solução diferente. Então, usamos todos os
recursos desde o início, e nada deve ser desperdiçado. Todos
têm que colaborar com o processo, explorando cada item. Não
deixando nada. Assim, você escolhe o que você irá usar, e você
faz isso em conjunto, e algo começa... Não é mágica, é trabalho,
alguma coisa emerge daquilo, algo substancioso, que te leva para
a frente e é inevitável. Você sabe o que quero dizer? O que eu
estou falando é sobre o método do Peter, com quem eu trabalhei
todos aqueles anos, e que naturalmente eram meus métodos também.
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6
Peter Hall: Diretor artístico da Royal Shakespeare Company entre 1960 e
1968. < http://www.imdb.com/name/nm0355991/>.
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7
Hospício Charenton, o qual Marat havia sido internado.
<http://www.portalentretextos.com.br/colunas/recontando-estorias-do-
dominio-publico/marat-sade-e-a-tragedia-da-revolucao,236,4479.html>.
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embaixo, de modo que desse para entrar, era no vão onde fica a
orquestra. E naquele tempo, todos os teatros antigos que tinham
esse espaço para a orquestra, fechavam esse vão para que
pudessem usar o espaço como proscênio. Aumentar o proscênio para
quebrar a moldura da imagem e permitir um contato mais direto
com a plateia. Então, nós não tínhamos como usar aquela
profundidade no vão da orquestra, portanto o único lugar que
conseguiríamos colocar a banheira seria na frente. Um dia eu
estava lá - já contei tantas vezes essa anedota - estava lá
vendo um daqueles alçapões velhos no chão do palco, que ia desde
o palco até uma área alagada debaixo do palco. A água que passava
ali por baixo vinha do rio Thames até o palco e o alçapão já
estava todo mofado. Não dava para usá-lo, era muito inseguro. E
eu estava olhando os de fora, toda a água foi removida. E eles
encontraram tampa envelhecido. Todas as tampas haviam sido
retiradas, o barranco com a água estava aparecendo e tinha uma
queda, porque havia o palco básico. Havia uma inclinação
colocada pelo Emille Littler, quando houve uma grande peça
musical, e tinha uma outra inclinação que a Royal Shakespeare
havia colocado para que a peça ficasse com mesma inclinação que
tinha em Stratford. Então, eles podiam transportar as produções
utilizando sempre a mesma inclinação. Deste modo, tinha uma
profundidade por cima do palco, e outra para baixo do palco com
tamanhos distintos. Então, eu pensei: ali estão as nossas
banheiras! E foi assim que eu criei as banheiras centrais, e as
coloquei entre as vigas e usei um material que parecia com um
chão de pedra e as intituladas banheiras, que foram colocadas
entre vigas, e se você subisse no palco você poderia ficar de
pé numa banheira, numa profundidade até o peito, sem água. Então
como cobri-las? Eu as cobri com um tipo de deck que é usado em
piscinas, feito de ripas. Então disse: “como eles abrem e
fecham?” Coloquei dobradiças neles. Assim, podíamos abri-los e
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Madeira?
Sim... quer dizer, o chão era feito de tábuas, decks modulados,
o cenário para as paredes pintado, nada fora do normal. Os
materiais para os adereços e coisas usadas nas cenas eram
baseados na ideia de que tudo que se visse ali fossem elementos
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8
O termo utilizado foi rostrums.
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em algum lugar! Mas como faríamos aquilo sem estar em lugar que
nós reconhecêssemos?” Por que eu queria que fosse um espaço
aberto, como uma caixa de mágica, que pudéssemos fazer qualquer
coisa. Mas, sem criar nenhuma expectativa de que algo poderia
ser criado ali. Sem revelar qualquer sinal de que iriamos
representar colunas gregas, ou árvores ou qualquer outra coisa,
ainda. Então, peguei um pedaço de papel e comecei a esboçar e
quando eu vi eu já havia criado uma caixa com 3 folhas. E Brook
disse: “É isso! Estamos prontos!”. Mas, naquele tempo ele estava
sempre trabalhando com a hipótese: toda a companhia deveria
contribuir como um grupo para a encenação. Então, voltamos nossa
atenção ao trabalho em grupo. Não havia nenhuma parte que não
pudesse contribuir, sem parar. Do início ao final. Quer seja no
palco ou fora dele. Aquela energia estava completa. O conjunto
de trabalhos que ele fez com Marat/Sade e U.S. foram muito
importantes para ele. Então, era fundamental decidir aonde a
companhia deveria estar. A partir disso, eu disse: “Podemos
colocar uma galeria no topo, e eles poderão interagir, ou
simplesmente assistir. Eles podem ir e vir da galeria, como
também das pernas laterais.”. Brook levou um... Veja uma das
minhas kachinas. Eu tinha levado comigo uma bobina de arame,
porque ele disse que o lugar deveria desdobrar uma “bobina de
sonhos”. Assim, pensei: “uma bobina de sonhos”. Levei uma bobina
de arame, uma boneca kachina e alguns pontos. Alguns modelos de
mandalas que eu havia feito – sabe nós todos estávamos na fase
hippie, olhando para mandalas indianas e contemplando. Trouxe
uma delas comigo. Tinham algumas penas vermelhas... Peter tirou
a pena vermelha e colocou direto na caixa branca, absolutamente
lindo. Esse caramanchão da Titânia. “E o que faríamos, então?”.
“Vamos fazer voar.” Portanto, ela poderá ficar ali, e não
precisaria entrar e sair toda hora. Então, nós a elevaríamos e
ela estaria ali durante toda a peça. Levei isso comigo para Los
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E as cores?
Ah, as cores... Inspirados nessas mandalas que nós fizemos, com
umas palavras cruzadas, com pontos de diferentes cores, com
linhas pretas e pontos fluorescentes – estes eram meus cartões
de natal daquele ano... Então, atentando para aqueles pontos,
com as cores fluorescentes, eu pensei “como diferenciar as
fadas?”. Elas tinham que ser diferentes. Com as mesmas roupas
simples, mas com alguma diferenciação para Titânia, Oberon e
Puck. Achei que tinha que ser algo fluorescente. Então Puck
tinha uma cor amarela fluorescente, com uma forma folgada e
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fazê-la aqui e lá. Então, eu tive uma relação dentro e fora com
o Bouffes.
Sério?
E a ideia começou a evoluir e eu não estava lá. Ele já havia
feito algum trabalho com Chloe, e ela fez um trabalho magnífico.
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9
Toshi Tsushitori.
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Entrevista com
Mestre Nato
figurinista
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o boi bumbá pra gente brincar aqui na rua. Esse figurino fui eu
que fiz, foi o primeiro figurino de boi que eu fiz. A gente
fazia vaquinha, comprava cetim e eu fazia as fantasias e aí todo
mundo participava. Pé de sapo é um contador de causos do tempo
da infância, do tempo que a gente era do boi bumbá, ele era o
vaqueiro. Era todo mundo novinho com uns 12, 13 anos. O Olímpio
vira porco foi homenageado na barraquinha do sapateiro que fala
do bairro (Obra selecionada para o Salão Arte Pará). Muitas
coisas que eu faço na minha obra eu vou tirando daqui mesmo, do
meu espaço, da minha história. Casa do seu Carlos, ele era um
português alugava a casa da esquina em frente a da minha família
era conhecida como “canto do bacuri” e lá tinha uma taberna e
um bacurizeiro, o pessoal dizia que no bacurizeiro tinha muita
visagem.
Você acha que o teu talento tem a ver com o sangue? Com a tua
descendência? Com a tua família?
Eu acho, sabe por que eu te falo? Porque eu nunca tinha sido na
vida entalhador e eu não conheci meus avós paternos e meus avós
maternos conhecia pouca coisa, conhecia só as duas avós. E eu
conhecia pouca coisa deles. E quando eu viajei, que eu fui ser
hippie, eu fui andando e vi um cara entalhando e achei que já
sabia fazer aquilo. Embora eu nunca tivesse feito, eu sabia
fazer aquilo, eu sabia que eu era capaz de fazer aquilo. E aí
eu falei com um amigo meu que tinha ferro que era entalhador, a
gente tinha pegado umas camas velhas de cedro, de madeira, e eu
peguei os pedaços e comecei a fazer os entalhos. E eu fiz belos
entalhos indianos pra vender.
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Eu fui direto pro Rio só que eu fui para trabalhar, saí daqui
com um amigo e fui trabalhar na Alfaiataria São Cristóvão,
trabalhava só com artistas e era oficial de paletó, que era
muito difícil no Rio, só quem ia do Nordeste fazia esse trabalho
naquela época, hoje os profissionais da alfaiataria estão
desaparecendo. Na alfaiataria quase você não encontra
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Tinha um amigo meu que era pai de santo. Era um senhor que já
tinha uns 60 anos, tinha sido trapezista de circo e começou a
me ajudar. Disse a ele que queria fazer um curso lá na Sociedade
Brasileira de Belas Artes, aprender a pintar, fazer um curso de
pintura, e lá que eu conheci esse cara que fazia os entalhos, o
Baianinho ele me deu o material de entalho, então eu ganhei o
“formão” e consegui um espaço na general Osório para vender
artesanato. Esse senhor me ajudou a conseguir uma vaga na casa
de estudantes e na casa dele ele tinha um espaço que trabalhava
só pra ele, que se comunicava com os orixás, como eu tinha feito
esse trabalho com entalho ele colocou na mesa dele, fez umas
orações e com esse trabalho participei de um salão dos correios,
correios não, da estação central do Brasil, que estava fazendo
um negócio com artes plásticas e aí eu ganhei, meu trabalho foi
premiado, mas eu não tenho documento nenhum que comprove.
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Eu acho assim, tem uma coisa que é muito assim do artista. Quem
é o artista na verdade? Artista é aquela pessoa que faz as suas
coisas bem feitas. Por exemplo, eu tenho um barbeiro e ele é um
verdadeiro artista. Eu não troco meu barbeiro, pelo menos pro
homem é assim: o alfaiate é o alfaiate, o barbeiro é o barbeiro,
ele é mais fiel que a mulher. O homem é assim, pra fazer uma
calça, ele faz uma de ano em ano. A mulher faz toda semana, mas
quando ele faz, ele só faz contigo. Ele pode passar um ano sem
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ao Sumário
fazer uma calça, mas quando ele faz ele faz contigo, então quer
dizer que outro alfaiate não acerta fazer pra ele a mesma coisa
que ele já está acostumado. A mesma coisa é o barbeiro.
Hoje pra mim, tudo o que eu tinha que fazer na vida em matéria
de malandragem eu já fiz, eu tô vivendo muito o momento
espiritual. Eu tô tentando me purificar. Eu tô na terceira fase,
eu vivi intensamente os primeiros momentos da minha vida, depois
eu fui mendigo, eu fui que nem Sidarta. Eu sempre li muito, na
época que eu era maluco. Pra polícia não me pegar eu costumava
entrar naquele gabinete português, que é uma biblioteca, e eu
lia muito filosofia indiana, li muito Krishna Murti, Herman
Hesse eu gosto de filosofia, fui Hare Krishna, budista. Tudo
isso foi associado, li muito sobre umbanda, comecei a pesquisar
os orixás, e isso tá se aproximando daquilo que eu quero. A
gente tá aqui de passagem pra fazer nosso trabalho, não sei se
todo esse caminho que eu percorri, tortuoso, eu não gostaria de
ser rico. Não me arrependo. Eu nunca sonhei ter um carro, por
exemplo. Eu quero sair daqui e única coisa que eu quero deixar
é a minha arte.
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Dossiê
Helô Cardoso
Fausto Viana
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Entrevista com
Helô Cardoso
Cenógrafa e figurinista
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Esse é recente...
Esse é recente, até hoje, não dá para parar. Fiz curso de tudo
que é tipo! Fiz no MIS, trabalhava com tapeçaria. Eu trabalhei
com a Iolanda Penteado, conhece?
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aqui: http://lattes.cnpq.br/7078445025351247)
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coisa suja sem ser jogar uma xícara de café no chão, que muita
gente faz mas fica feio. Pintura de arte é isso.
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Isso aqui que eu trouxe para lhe mostrar, eu fiz pra Beth
Filipecki. A Beth me pediu para fazer, a primeira ideia que ela
tinha do Matraga, o filme, era trabalhar com as coisas de estilo
do Gruber e daí ela me mandou isso. Eu desenvolvi para ela essas
coisas, em tecido, ficou bem bonito. Mas aí chegou na hora e o
diretor não queria mais: “Não, a gente não quer, a gente quer a
cara disso, dessa coisa de Diamantina que tem, os escuros do
cinza, do marrom, cinza do verde. Quero isso." Daí a gente
começou a fazer, são fotos que eu tirei no local para estudar
cor e daí a gente fez isso daqui que tem algumas bem legais. As
cores das roupas já pintadas...
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Até tem umas fotos aqui que é de envelhecimento mesmo, mas não
é isso só que é importante. É um monte de coisas e é muito
trabalhoso. Isso que eu não quero fazer mais.
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forma que ele conseguiu fazer. Então isso que eu acho que é
legal, isso que é importante.
A máscara que você fez, a que você acha que foi a mais...
A que eu gosto mais foi a primeira máscara que fiz com o Sartori.
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ao Sumário
fazendo isso.
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comecei a chorar.
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Não, fui para lugares bem legais. Lugares na China que estavam
fora da rota turística e são impressionantes também. Fui para
lugares na China que os caras contratam pintores de arte da
Austrália para ir lá ensinar fazer pintura. A escola de artes
cênicas tinha seis andares. Tudo acarpetado, você pensa: “Nossa,
de onde sai tanto dinheiro”? É o Estado que paga. Helô, como
foi sua entrada pra Unicamp?
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trabalhos que eu fiz por aí, viajando, tem muita coisa. Mesmo
cidades menores, fui pra Itália...
E qual foi a viagem que foi importante, que você disse, mudou
minha vida?
Bali. Faz três anos que eu fui... porque... porque é uma cultura
totalmente diferente da tua, você leva um choque a cada momento,
muita informação, uma língua totalmente impossível. Eles também
mal falam inglês, é impossível, eles falavam pior que eu. Mas
você consegue.
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ao Sumário
Você vai vendo como a gente é pobre mesmo. Para você fazer um
curso bom mesmo de cenografia você tem que dispor de muita
coisa. Eu dou um semestre de cenografia lá na Unicamp! O que
que é um semestre? Os alunos mesmo falam: “Helô, não dá para
quase nada”! Você vai falar do espaço cênico, eu dou três aulas
de espaço cênico. O que são três aulas de espaço cênico? Para
falar de espaço cênico você tem que falar de cenografia, não
tem como pular porque tem gente que nunca viu. O ator ainda sabe
um pouco, mas e os outros que vem para mim, alunos de midialogia,
de dança, de artes visuais, como que eu vou falar de espaço
cênico? Você tem que começar daí. Nem eu sou uma grande
professora disso, mas eu dou o básico, mas tem que fazer.
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que era do Primus e a Verônica que era outra menina que era
aluna. Fiquei muito mais com os alunos que com o pessoal que
era professor. Da outra vez que eu fui, fui com o Marcio Tadeu,
com a Tereza Lima que é uma historiadora, que é uma amiga lá da
USP, e o Jorge Uruguaio, o cenotécnico. Depois a outra, que eu
fui várias, foi a primeira vez que teve a Scenofest, que a
Pamela Howard tinha criado.
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Dessa vez eu achei, que primeiro, aumentou muito: não era mais
cenografia e figurino, virou outra coisa maravilhosa de
conhecer, do design da cena. Eu acho legal. Só que eu acho que
dispersou um pouco. Acho que teve coisa que perdeu, teve coisa
que ganhou. Mais liberdade? Eu acho, mas eu não consegui
aproveitar como conseguia aproveitar nas outras.
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Eu, para falar com o Márcio Tadeu, ligo para você, Helô.
Porque o Márcio tirou a tecnologia. Ele tirou o celular, não
tem computador, não tem e-mail. Conclusão...
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Lá na Unicamp?
Não, ele não vai mais lá. Ele conversa com a pessoa, é muito
difícil dele ir, ele não quer ir. Mas na Escola Livre ele me
levou, ficamos quase três anos lá. E depois na São Paulo, eu
não sei se ele me indicou, mas eu fui chamada para trabalhar
lá. Também me dou bem com todo mundo. E estamos os dois lá.
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Dossiê
Teatro de animação
Dalmir Rogerio Pereira
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Entrevista com
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Professora Doutora Ana Maria Abreu de Amaral é graduada em Biblioteconomia
pela Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo (1956), graduação
em Filosofia pela Universidade de São Paulo (1952), mestrado em Arte pela
Universidade de São Paulo (1983) e doutorado em Artes Cênicas pela
Universidade de São Paulo (1989). Diretora da companhia de teatro “O CASULO:
BonecObjeto” que tem em seu repertório os espetáculos: Dicotomias-Fragmentos
Skizofrê, Zé da Vaca e A Benfazeja. Autora de “Teatro de Formas Animadas”
(EDUSP), “Teatro de Animação” (Ed. Ateliê), “O Ator e seus Duplos” (Ed.
SENAC), referências de grande relevância na área de teatro de animação.
11
Referente ao bonequeiro que atua no seguimento de teatro popular chamado
Mamulengo realizado com boneco de luva típico do nordeste brasileiro,
especialmente do estado de Pernambuco. Praticado desde a época colonial,
retrata situações cotidianas do povo nordestino, geralmente, em estrutura
satírica. É considerado desde o ano de 2015 como patrimônio imaterial do
Brasil.
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De volta
ao Sumário
12
Empanada é a estrutura típica utilizada no tradicional teatro de bonecos
de luva, e pode apresentar formas e materiais variados em sua estrutura de
composição. É utilizada para omitir visualmente o ator-manipulador ou
bonequeiro durante a manipulação dos bonecos sobre a estrutura. A
nomenclatura "empanada" tem sua origem no fato de que a estrutura é
normalmente coberta por um pano. Esse sistema de palco móvel viabiliza sua
utilização em tempo reduzido de montagem em uma grande variedade de espaços.
(Notas do autor).
13
Neste caso a autora refere-se ao traje de cena na cor preta, muito utilizado
para estabelecer a neutralidade do ator manipulador em relação ao boneco ou
objeto na cena.
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14
O conto “A Benfazeja” integra as vinte e uma histórias de “Primeiras”
Estórias publicado em 1962, pelo autor mineiro João Guimarães Rosa (1908-
1967). Publicação literária que está inserida no terceiro período do
modernismo brasileiro.
15
Neste espetáculo, os atores-manipuladores estão vestidos de preto tendo
apenas o rosto aparente. Os bonecos têm escala de 1:1 do corpo humano e são
manipulados junto ao corpo do ator, pois, os atores vestem partes dos bonecos
compondo um híbrido de boneco e ator. Esse tipo de boneco também é chamado
de máscara de corpo inteiro.
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18
Refere-se ao conto de fadas de origem inglesa “João e o Pé de Feijão”. A
versão conhecida mais antiga é a de Benjamin Tabart, publicada em 1807, e
popularizada por Joseph Jacobs em 1890, com a publicação de English Fairy
Tales. A versão de Jacobs é mais comumente publicada atualmente e acredita-
se que seja mais próxima e fiel às versões orais.
19
O que Ana Maria quer dizer, é que o ator não exercia uma função visual na
cena pelo fato desta contar apenas com a visualidade da figura do boneco em
sua composição, na qual o ator exerce a função de manipulador do interior
do mesmo, o que impede o contato visual do público com este. Desta forma, a
figura visual do ator não compõe a visualidade da cena.
20
Mencionando um trabalho de restauração e manutenção e organização de boneco
de espetáculos do “Casulo”, realizados no primeiro semestre de 2015,
atividade que será retomada no próximo ano com o propósito de expor esse
material ao público.
200
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21
Nesta passagem Ana Maria refere-se a um boneco que foi confeccionado
durante o período em que ela viveu nos Estados Unidos e que após seu retorno
ao Brasil foi utilizado em “Fantoches e Fantolixos” (1977) experimento
voltado para o público infanto-juvenil antes da montagem de “Palomares”
(1978) e que teve sua figura resinificada através da vestimenta.
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22
Entrevista realizada durante a participação na montagem da exposição
“Gepetos de Praga” (2012) no Espaço Caixa Cultural de São Paulo na qual
Truller era responsável e construtor de grande parte dos bonecos.
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23
No sentido de clownesco.
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desenvolvido para a cena. Mas, que necessariamente não deixa de ser uma
vestimenta escolhida e ordenada para o uso durante o evento, como pode
ocorrer com o bonequeiro popular. E mesmo nesse caso trata-se de traje de
cena, o que a entrevistada não discorda.
205
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26
Fala a respeito do objeto de pesquisa do doutorado ao qual esta entrevista
é parte. No qual, o estudo do traje de cena, como já foi esclarecido
inicialmente, é desenvolvido a partir da companhia mineira de teatro de
animação Giramundo e da companhia francesa de teatro de rua Royal de Luxe.
27
Espetáculo montado no ano de 1988 e remontado em 2008, mantendo a mesma
estrutura estética na cor branca dos bonecos e trajes de cena dos atores,
desenvolvida pelo diretor Álvaro Apocalipse (1937-2003) na primeira
montagem, entretanto, na remontagem contou pequenas alterações de volume e
material propostas pelo estilista Ronaldo Fraga, mas sem alterar a concepção
original nos trajes dos atores-manipuladores.
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ao Sumário
Mas você acha que isso que estamos chamando de roupa do boneco
é um elemento que o veste?
Mas é claro, ela foi feita para ele. Agora se você pegar um pano
de chão e pôr no boneco ele também virou um boneco com um pano
de chão. Então, a roupa, você não precisa desenhar nada. Você
pega aqui o pano de chão ele ficou caracterizado porque ele está
com uma roupa assim. Agora se pegar uma coisa cheia de
lantejoulas do carnaval do Rio, alguma coisa assim, já fez o
boneco. Então é determinante para o boneco. E tem mais uma
coisa. Hoje em dia todo mundo se veste mais ou menos igual, mas
tem determinantes. Na multidão tem ou no dia a dia você vê tem
pessoas que, pela roupa, você vê o que são.
Então você acha que o traje do boneco deve ser criado a partir
do sistema da vestimenta social humana?
Eu acho que sim, porque se você quiser características
específicas como de um médico ou bandido a roupa já tem. Cada
ser humano tem.... Hoje a moda é igual, as classes sociais estão
208
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28
Exemplificando com um recipiente com água que estava sobre a mesa durante
a entrevista.
29
E agora manipulando um pano de prato para exemplificar a diferença material
do pano para o jarro e de que maneira isso implica na visualidade do objeto
e de sua diferença em relação ao boneco, considerando que ambos integram o
teatro de animação junto com a máscara.
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porque ele pode ser pequenininho, mas pode crescer na cena. Ele
cresce, se separa, o outro não faz nada disso.
Nesse caso não tem vestimenta?
A vestimenta é o visual dele. Se você pegar uma vassoura ou uma
escova e botar olhinhos ou lacinho nela, não virou nada porque
nem é a vassoura... se a vassoura é um personagem, tem que
respeitar a “vassourice”30 dela... quando mais pega e faz o
personagem que você quer, não bota olhinho na vassoura. Pega a
vassoura na vassourice porque ela já é, ela já tem um cabo, ela
tem vida em si.
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Entrevista com
Wagner Cintra
Professor e pesquisador
211
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isso, ele faz isso no papel antes de levar isso, de dar forma,
dar materialidade ao boneco. No meu caso, a maneira como eu
trabalho com os alunos, já que nenhum deles, nenhum de nós é
artista plástico, eles seguem muito o princípio com o qual eu
me relaciono que é muito na tentativa e erro.
34
Refere-se ao teatro do encenador alemão Bertolt Brecht (1898-1956) do
século XX que propõe um teatro épico em contraposição à cena dramática
desdobrando o signo teatral em camadas de significado. Sobre o traje de cena
214
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36
Benedito é personagem do Mamulengo, tradicional teatro de luvas, fantoche
típico do nordeste brasileiro, especialmente do estado de Pernambuco.
37
Tradicional teatro de bonecos da cultura popular japonesa que se
desenvolveu, principalmente, durante o período Edo (1600 a 1868), e que se
utiliza da técnica de manipulação direta onde são necessários três atores-
manipuladores para cada boneco. Os atores vestem trajes na cor preta para
intensificar sua neutralidade em relação aos bonecos, que são compostos por
um complexo mecanismo interno de articulação e detalhados trajes típicos
japoneses armazenados separadamente da cabeça do boneco quando não utilizado
em cena.
38
Refere-se à marionete tipo de boneco manipulado através de mecanismos de
fios.
39
Refere-se ao traje de cena preto da personagem Hamlet relacionado ao luto
de seu pai Rei da Dinamarca.
216
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40
Espetáculo realizado em 2012 no laboratório de Teatro Didático da UNESP a
partir do poema “O Rio ” (1953) do escritor pernambucano João Cabral de
Melo Neto (1920-1999).
41
Forma de teatro japonês do período de 1673 a 1841, conhecida pela
estilização do drama e pela elaborada técnica e estilo de maquiagem
utilizada pelos seus atores-dançarinos.
42
O butoh é uma modalidade de teatro-dança surgido no Japão no final dos
anos de 1950.
217
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43
Este é um termo cunhado pelo encenador alemão para nomear a potencialidade
representativa de determinadas expressões humanas em cena, propondo um
afastamento da gestualidade cotidiana com o propósito de viabilizar a criação
e o desenvolvimento de atitudes simbólicas que os gestos podem imprimir em
cena. Neste sentido, o professor Wagner refere-se ao traje de cena enquanto
gestus devido a sua capacidade simbólica de comunicar em cena e por se tratar
de um elemento de teatralidade atrelado ao corpo do ator.
44
Aluna do curso de Artes Cênicas e integrante do grupo de pesquisa.
218
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crepe e papel de coador de pó que não traz nenhum signo de vestimenta social.
Entretanto, essa afirmação do professor Wagner pode ser aplicada ao boneco,
em geral, porque mesmo que haja a representação de uma vestimenta humana na
materialidade e visualidade do boneco este elemento é parte indissociável
do objeto – boneco enquanto signo a ser manipulado, a partir da condição de
sua totalidade material.
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Entrevista com
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mesmo, acho que o traje entra ali sem muito essa perspectiva de
um planejamento detalhado.
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50
Espetáculo grego Still Life (Natureza-Morta) do encenador, coreógrafo e
artista visual, Dimitris Papaioannou apresentado na 3° Edição da Mostra
Internacional de Teatro de São Paulo (MIT-SP) em fevereiro de 2016.
51
O Professor Doutor Felisberto da Costa levanta aqui uma questão importante
para a compreensão de seu raciocínio propondo uma análise comparada entre
vertentes teatrais anunciando em forma de ensaio um movimento ainda tímido
do teatro de animação em relação a outras manifestações cênicas e aponta
para a possibilidade de um possível alargamento na dilatação entre as
linguagens cênicas, performativas e visuais. E que de fato, talvez o teatro
de animação caminhe em direção a um deslocamento para dentro deste território
de fronteiras borradas onde a teatralidade se contrai em função da expansão
da performatividade podendo atuar em pleno vigor das potencialidades
materiais e visuais dos elementos que o caracterizam (o boneco, o objeto e
a máscara) na relação com a figura do ator. O discurso do professor Felisberto
sobre o traje de cena registrado nessa breve entrevista pairou sempre sobre
essa questão. È realmente um tópico que permeia todo o seu raciocínio neste
diálogo.
225
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52
Um dos mais importantes nomes do teatro contemporâneo Robert Wilson (1941)
é encenador, coreógrafo, escultor, pintor e dramaturgo norte-americano.
53
Gerald Thomas Sievers (1954) é um autor e diretor de teatro brasileiro,
suas montagens são realizadas principalmente no Brasil, na Inglaterra, na
Alemanha e nos Estados Unidos.
54
Peter Greenaway (1942) é cineasta e autor britânico.
55
Referindo-se ao teatro dramático.
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A gente estacionou.
A gente veio daqueles grupos antigos da década de 1980, quando
era o XPTO57 aquela coisa toda...E essa coisa... não é questão
de idade. A própria Ana Maria58 que é uma pessoa antenada, você
pode ver que agora ela já está em outro processo de pensamento,
com a construção desse outro trabalho, fazendo experimentações
com vídeo, buscando outras possibilidades, investigação. E aí
tem outra questão que a gente não pode deixar de considerar que
é a questão da sobrevivência das pessoas. Tem muita gente que
faz teatro e tem que sobreviver com o dinheiro de venda dos
espetáculos, para que isso seja possível tem que apresentar em
escolas, espaços do Sesc, que de certa forma dependem desse
mercado, do produto, do mercado, do ter que vender, ter que
sobreviver, então isso também é um fator decisivo.
57
Grupo de teatro da cidade de São Paulo atuante desde 1984, dirigido por
Osvaldo Gabrieli (Buenos Aires/AR, 1958) também responsável pela cenografia
e figurino dos espetáculos da companhia.
58
Ana Maria Amaral diretora do Casulo-BonecObjeto. Ver entrevista.
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Entrevista com
Catin Nardi
marionetista
231
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61
Nome popular utilizado para nomear o fruto de uma planta do gênero botânico
que pertencente à família Cucurbitacea. Muito utilizado como recipiente
devido a sua leveza, resistência e forma anatômica que remete a uma garrafa
rústica. Características aproveitadas por Catin na confecção de bonecos.
62
“Hoje é Dia de Maria” é uma minissérie brasileira, adaptada da obra de
Carlos Alberto Soffredini, dirigida por Luiz Fernando Carvalho, exibida em
2005 pela emissora de televisão Rede Globo. Além dos bonecos desenvolvidos
por Catin, a minissérie também contou com bonecos e manipulação do Grupo
Giramundo de teatro e com o trabalho do estilista Jun Nakao, que desenvolveu
trajes de cena confeccionados em papel para diversos personagens. A
colaboração destes criadores contribuiu para compor uma estética de artesania
na visualidade proposta pelo diretor para esta minissérie.
232
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E todas essas roupas têm algo em comum, todas elas são compridas,
são roupas que por baixo veste uma calça, e por cima da calça
uma roupa comprida. Qual é a motivação disso? Olha, a motivação
disso é uma única e, para mim, uma preocupante motivação, que é
63
Catin refere-se aqui a estrutura em comum do traje de cena de cobrir as
pernas proposta com o avental e com a túnica.
64
O espetáculo “O Organista- Cenários Históricos de Minas” (2014) é resultado
do processo de profissionalização de 15 alunos da Escola de Teatro de Bonecos
realizado pela Cia. Navegantes Teatro de Marionetes. Durante todo o processo,
estiveram envolvidos uma equipe de criação e construção de cenários e
marionetes projetados por Catin Nardin e um núcleo de dramaturgia que, em
colaboração, desenvolveu pesquisa e textos. A história fictícia acompanha o
organista da Catedral da Sé de Mariana, na época da sua inauguração, em sua
busca por uma peça inspirada no maior instrumento musical da América Latina.
Em sua jornada ele encontra personalidades históricas do estado de Minas
Gerais.
65
A imigração de povos árabes para Minas Gerais se fez notar no início do
século XX. Embora chamados de turcos, eram provenientes da Síria e Líbano
e, segundo o censo de 1920, 8.684 sírio-libaneses viviam em Minas. Entretanto
supõe-se que Catin esteja se referindo ao aspecto alongado da vestimenta
Sírio Libanesa, as casacas do século XVIII, rendas e babados portugueses.
234
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66
Diferente do tradicional teatro de marionetes onde o ator é omitido
visualmente da cena através da utilização de uma estrutura de palco
específica para que o ator manipule a marionete (boneco de fios), posicionado
em uma área nivelada acima e ligeiramente recuada da área de cena do boneco,
o que inviabiliza qualquer interferência do manipulador humano na composição
visual da cena, neste caso, da altura dos pés à cintura devido à escala
destes bonecos que pode variar. Especificamente no caso da Cia. dos
Navegantes, o diretor e marionetista Catin agrega a figura do ator à
visualidade da cena e utiliza o traje de cena do ator-manipulador na função
de uma empanada móvel com o propósito de omitir e neutralizar parte do corpo
do ator.
67
Trata-se de um cortejo-espetáculo realizado desde 2012, com bonecos anões-
gigantes compondo o "Bloconeco” com a banda Navegante na cidade de Mariana
e Ouro Preto (Minas gerais). E que, em alguns momentos, contou com a
participação do tradicional Bloco Zé Pereira, realizado com bonecos gigantes
que, segundo a presidente do Bloco Zé Pereira da Chácara, Maria José Chaves
Batista, ganhou força por volta do ano de 1846.
235
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boneco ficasse com uma perna com uma dobra, um joelho para que
não ficasse apenas um pezinho aparecendo embaixo, mas uma perna
fundida a um corpo que ele começa um pouco acima da cintura do
manipulador e termina um pouco acima do joelho, o corpo é
relativamente curto e tudo isso ainda se fundia com a parte de
cima, que é a cabeça do boneco, assim eu pelejei um pouco pra
chegar nessa fórmula, mas ficou uma coisa bastante funcional.
Para concluir isso, vou falar dos figurinos dos manipuladores.
237
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Todos esses bonecos gigantes aos quais Catin se refere são bonecos de
68
folguedo que têm sua origem vinculada ao carnaval, e que mantém basicamente
a mesma estrutura (com algumas variações de matérias) dos bonecos gigantes
utilizados nestas manifestações populares em diversas regiões do Brasil até
os dias atuais.
238
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ator norte-americano.
239
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E quando começou?
Começou em fevereiro de 2008 como bloco, mas o boneco Amendoim
foi feito em 2005. Em fevereiro de 2006 já fui para a rua com
ele. E vendo o resultado e o encantamento que que aconteceu
pensei, vou fazer um bloco com muitos bonecos. E ficou esse
conceito de um apresentador que vai acompanhar de dois
estandartes, um grande, outro mais simples que vai atrás e que
se unem e fazem um par a mais além dos doze pares de bonecos
que vão fazer suas intervenções e suas brincadeiras. Esses
figurinos passaram por dois momentos. No primeiro instante, era
tudo azul e laranja, de cores mais fortes. Com o tempo, eu
acabei optando por usar um figurino preto, vermelho e branco.
E, nesse segundo momento, aquele chapéu que era baixo deu lugar
a uma cartola que era elegante, mais para cima.
240
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através do desenho.
243
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Entendi. Então é isso, Catin, quero agradecer mais uma vez sua
colaboração e o seu ponto de vista que é bem importante como eu
disse, um ponto de vista específico que trata do teatro de
marionetes, que é o boneco de fios. Até o momento, pelo que sei
são poucos os profissionais que estudam a fundo e que trabalham
com esse tipo de boneco no País.
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Dossiê
LUME
Laura Françozo
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Laura Françozo
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Entrevista com
No caso do “Você”, como foi com o Tadashi 71, ele tem esse olhar
muito do aproveitamento das coisas, não tinha uma verba e nada
que fosse específico para compra de figurino para o espetáculo.
71
Tadashi Endo, mestre de butô e diretor de Sopro, Você e Shi-zen, 7
cuias.
249
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Prático.
Prático mesmo (risos), exatamente. E como as figuras estão em
outro contexto, não tinha também dentro do sentido poético
também não tinha sentido. E eu também não queria, como a gente
normalmente faz demonstração do trabalho com roupa de trabalho,
também não queria isso, porque eu já fiz uma costura, mesmo
72
Silvana Nascimento, figurinista de SerEstando e Alphonsus.
251
De volta
ao Sumário
Aí, bárbaro, ela criou esse vestido base de uma maneira que eu
pudesse estar tirando; para cada figura foi criada uma saia que
tinha relação, então, sei lá, a Maroquinha73, que é uma coisa
mais interior, tímida, é um tecidinho florido... isso a gente
foi junto até uma casa de tecidos e ficamos lá provando “ah,
será que esse tem a ver, será que esse tem a ver”. Texturas para
a gente era interessante, a estampa, maneiras práticas de
colocar e tirar ele, então como se fossem camadas também de
figuras.
252
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76
Luis Otavio Burnier, fundador do Lume e diretor de Taucoauaa panhé mondo
pé;
253
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Claro.
Se você vê as mulheres hoje com os peitos e com as bundas que
tem... [risos]... é essa deformidade, né? Aceita socialmente,
mas é um tipo de deformidade também que está começando. Então
ela ia nessa linha, aí o figurino para mim foi... passou por
desde um vestidinho florido, que cabia o peito ali dentro, esse
peito estava no figurino também grandão, e depois o Jesser [de
Souza] que disse que ele que tinha feito, que usava, que eu nem
sabia quando peguei. Tudo, né? Coisinhas que estavam por ali. E
depois é que foi sofisticando, no decorrer, né? Para ela entrar
no espetáculo, a peruca ganhou um super outro olhar, já de mais,
né? Muito mais bom gosto. O figurino ao invés de rosa virou
dourado, então ela foi se requintando ao longo do processo.
[...]
256
De volta
ao Sumário
No “Shi-Zen”, passou por isso, mas a gente passou por uma grande
reciclagem também proposta pela gente. Mas, sei lá, uma sunga,
também, ela é muito básica, mas, sei lá, os figurinos que eu
tenho, que é as twins, por exemplo, a gente foi junto à
costureira “temos essa saia, que pode reciclar esse tecido”, o
Fernando Grecco já tinha falecido, mas a costureira dele
permanecia, então foi ela que fez os figurinos de algumas cenas,
que precisava de uma costura assim. Então isso já ajudou muito,
ela foi alguém que “como é que faz isso dessas twins estarem
grudadas e ao mesmo [tempo] cada uma ter uma liberdade de
movimento que não era pra estar totalmente grudada, não era uma
77
Fernando Grecco, figurinista de Tacoauaa panhé mondo pé e Café com
Queijo.
257
De volta
ao Sumário
Tem mais alguma coisa que você lembra, que você acha que é
curioso? Tem uma, enfim... ou, não sei, dependendo da linha de
pesquisa, você sente que a relação com o figurino é um pouco
diferente, ou é sempre a partir das necessidades?
Eu acho que sempre a partir das necessidades. Mas se eu penso
no “Bem-intencionados”, é que tem espetáculo em que a coisa
visual é mais intensa, mais forte. Então aí eu sinto que o
figurino ganha um peso maior. Sei lá, no “Café com queijo” ele
quase que tem que desaparecer, e no outro, num “Bem-
Intencionados” ele tem que ser um dos focos de frente. Então
mudam essas intensidades. Eu acho que no “Café” ele tem de ser
muito mais... Desaparecer no sentido de ser camaleônico, né,
de poder olhar e eu ver um homem, ver uma mulher, ver cor nele,
ver... Independente daquilo estar materializado. Já num “Bem-
Intencionados” você dá todas as informações, eu vou ter todos
os colares possíveis, as pulseiras possíveis, o anel, lalalá,
ele já vai para o over, né? É o extremo oposto na minha cabeça.
Sei lá, acho que isso está, né? Ligado à estética do espetáculo,
à própria figura...
258
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Sapato é...
Porque, eu falando “nossa, quase todos os espetáculos eu faço
descalça”
Olha só!
Quase todos. Olha, se eu mapeio, sei lá, a Pau 78 é descalça, o
“Café com queijo” tem aquele sapatinho ali, né? No “Você” é
descalço, só tem o tênis no finalzinho...
“Shi-Zen” é descalço...
A “Demonstração” é descalço, só ganho um sapatinho só lá no
finalzinho... “Shi-Zen” é descalço. Outro dia eu estava
pensando: “gente...”. Por isso que a Nataly é um desafio, né?
78
Pau é o nome da personagem de Ana Cristina Colla no espetáculo O que
seria de nós sem as coisas que não existem.
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Sei.
E fazer isso num sapato muda totalmente a...
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Entrevista com
Jesser de Souza
Ator
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De iluminação?
De iluminação, tipo uma lamparina.
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Mas isso foi mais de vocês, partiu mais de vocês do que dele?
Eu acho que não, acho que foi junto. Mas eu me lembro dele
querer esses tons também, ele queria algo que fosse quente, mais
festivo.
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79
Personagem de Jesser em “Os Bem Intencionados”
268
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final não foi aquele, mas esse caráter que o figurino tinha se
mantém.
269
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80
Nome do personagem de Ricardo Puccetti em Os Bem intencionados.
270
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o estímulo para que a gente criasse, não era a busca. Pelo menos
a minha maneira de entender e a minha maneira de criar é isso,
qualquer estímulo ele é o estímulo, ele não é o fim. O estímulo
é só para começar algo que não se sabe onde vai dar.
81
Grace Passô, diretora do espetáculo.
82
Warner “Buke” Reis, figurinista do espetáculo.
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Aquilo que surge mais de uma vez, num dia surgiu isso, no outro
surgiu de novo, depois de três meses surgiu de novo, isso vai
se configurando como material permanente, codificado, conhecido
e aí vai permanecendo, tem coisas que são experiências que a
gente vive um dia na sala e depois nunca mais volta e depois
ficou lá, como parte do processo entende? Como trampolim para
acessar outra coisa, eu acho que os figurinos, as maquiagens,
essa metodologia, ou esse procedimento ele está em todas as
instâncias do próprio trabalho, até isso, você pega “Taucoaua
panhé mondo Pé” é que deu origem a “Contadores de histórias”
que permitiu chegar no “Afastem-se vacas,” que deu “Café com
Queijo”. Na verdade, isso tudo porque a gente não nega nada
disso; então tem coisa no “Café com Queijo,” textos inclusive,
que eram do “Taucoaua panhé mondo pé,” personagem que eu fazia
no “Taucoaua panhé mondo pé” está ali, não na íntegra, numa
risada ou numa fala, hoje no “Café com Queijo”. Ao mesmo tempo
em que não tem um apego, também não tem pudor de usar o material
que já foi usado num outro contexto, com outra roupagem.
276
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ao Sumário
277
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ao Sumário
Acho que sim, né? Pela variedade de coisas que vocês produziram
nesses anos todos eu acho que realmente o processo é fundamental
para vocês e o resultado do processo mostra que o trabalho é
muito sólido, eu diria.
Até pensando “Café com Queijo” e “O que seria de nós.” Para
chegar no “O que seria de nós,” que é uma estética completamente
diferente daquele que a gente transitou de “Taucoaua” até “Café
com Queijo.” “O que seria de nós” é também uma deriva do que
foi o “Café com Queijo,” só que por um outro caminho. É como se
a gente tivesse uma linha reta que vem: aqui é “Taucoaua panhé
mondo pé,” aqui é “Contadores de Histórias”, aqui é “Café com
Queijo” e aqui é “O que seria de nós,” que ele não segue nessa
mesma linha, mas ele está derivando disso aqui também porque
agora tem uma interferência do Norberto, tem a gente muito mais
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Entrevista com
Naomi Silman
Atriz
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Aí você vai varrendo e ele vai olhando, aí ele fala para você
parar, na hora que você para com a vassoura, você olha para o
público, aí ele dá uma figura. Essa figura é para o figurino,
ou seja, não é que ele acha que você tem... essa figura não é o
palhaço, não é que você vai ter que interpretar essa figura,
mas é o que ele vê no seu corpo ou na sua pessoa, etc. Vou dar
exemplos de outras pessoas. Parou assim: escoteira. Aí fica
aquela coisa ridícula, sei lá. Tinha uma na minha classe que
era muito gorda e tinha muitos pelos, que ela não depilava, e
vinha e tinha um rosto assim meio de meio certinha, e aí ela
vinha com aquela roupa de escoteira com uns shorts e a meia até
o joelho, e ficava muito ridícula. Aí outro que era a rainha da
Inglaterra, então ela vinha com um vestidão, coroa, com bolsa,
e já te dá um jogo, na verdade é um ponto de partida, mas você
não vai interpretar, não é que você é a rainha da Inglaterra,
mas ele viu algo ali. Policial. O Ricardo deve ter contado, não
sei se você já
281
De volta
ao Sumário
Mas eu mantive esse figurino, minha amiga fez uma saia depois
que era bem mais circense assim, com bolinhas, era vermelho com
bolinha e tinha um rabo de pelúcia no lado da saia, aí eu fiz
um jogo assim de entrar segurando essa saia e tal. E comecei a
fazer experiências de tentar apresentar, sem noção mesmo, em
cabarés e fazer coisas de laboratório com amigos e experimentar.
Bom, aí já aqui no Lume eu.
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ao Sumário
283
De volta
ao Sumário
Ah! Teve uma que era muito bom, porque teve um dia que todo
mundo por um acaso, foi a consciência coletiva, sei lá, todo
mundo tinha muito super-herói. Eu era uma tartaruga ninja, e aí
a gente tinha um monte de collant verde, aí era assim o máximo
aquele collant verde era perfeito para a tartaruga ninja! Uma
saia verde e sei lá o que tinha na cabeça. Aí a Cris [Ana
Cristina Colla] era um outro tipo de herói, a gente na época
284
De volta
ao Sumário
Aí depois que a gente teve tudo isso, ela fazia exercício que
era já tentando chegar mais no, porque ela fala que o palhaço é
o 7, é a sétima máscara que é o nariz vermelho, que não é nenhum
desses, é tudo e nada. Então você pode ser qualquer uma dessas
qualidades a qualquer momento, eles são todos acessíveis aí, e
o palhaço vive entre essas coisas. Quando ela começou a
trabalhar esse estado de que tudo é possível a qualquer momento,
você tinha que escolher. Você podia pegar dos doze figurinos um
elemento ou outro e viajava. Tinha uma época depois que eu fiz
o trabalho de máscaras, que eu ficava muito esquizofrênica
porque eu não sabia o que é que era esse figurino né? Aí eu
usava uma vez um vestido de uma, depois o macacão do outro, da
máscara né? Mas me deu assim um tempo muito grande de
experimentações, aí vi que isso não tinha nada a ver.
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ao Sumário
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Eu acho que você precisa também de algo que vai te dar uma coisa
também mais pesado”. E aí ela falou: “eu peguei esse paletó
porque me lembrava dos uniformes dos judeus no campo de
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289
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83
Iben Nagen Rasmunssen, atriz do Odin Theatret.
290
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ao Sumário
que eu fazia era ruim então sempre tinha esse problema né? Mas
eu adorava, então eu tinha um conflito.
Mas alguém que falava para mim que achava tão interessante a
maneira que eu não tinha nenhuma inibição nessas situações e
por que que eu não conseguia trazer essa brincadeira, que para
mim era uma brincadeira, para a situação de estar cena, que eu
ficava mais tímida na verdade. Então eu sempre tinha essa coisa
da roupa, do figurino e eu acho que depois que eu consegui
quebrar esse outro muro da insegurança, continua tendo muita
insegurança, mas com o trabalho e tudo, e você tem uma base mais
sólida e você descobre o seu jeito de fazer tudo, eu continuo
aproveitando muito desse gosto pelos figurinos.
291
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ao Sumário
84
Espaço em Barão Geraldo usado por vários grupos teatrais e onde
acontecia uma vez por mês um show de variedades chamado cabaré.
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Entrevista com
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Cris em muitos momentos ela tem uma figura um pouco mais vigorosa
comparando com a minha, a minha é mais infantil, a minha se
ferra mais na mão.
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E como ele tem várias fotos em que ele está com um lenço, então
esse lenço podia ser uma coisa mais feminina e aí o terno eu
optei também por uma coisa mais justa. Eu gostava da ideia da
calça escura mas eu procurei uma calça mais justa também. Então
eu comecei por aí, mas sempre com algum babado, alguma coisa
porque dava para mim a sensação desse lenço que estava sempre
no pescoço dele. Então a figura começou por aí. Eu gostava muito
também da história de ser preto e branco também, a calça era
preta e a blusa era branca daí o paletó preto, me parecia que
eu não ia trabalhar com cores muito. Aí à medida que foi, que
as outras coisas foram aparecendo, apareceu a figura da criança.
E apareceu esse desejo dessa criança que vestia o bisavô.
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300
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ao Sumário
Pastéis?
...cores mais pastéis assim. Nada muito, cores muito vivas. E o
figurino do final que para gente antes também era isso, era uma
capinha assim, grudada no corpo, a gente queria que fosse uma
coisa muito neutra, por isso que a gente teve essa ideia, eu e
a Cris, e aí ela trouxe a ideia de um vestido bem fininho assim,
cor da pele, que a gente deu até uma mudadinha daquele último
que você viu, ficou muito transparente, não era a ideia que
ficasse transparente, então a gente já fez outro, um pouquinho
mais fechado com essa ideia de que é a Raquel, não é a Raquel
nua mas é quase nua, é a Raquel sem nada.
Neutra?
Neutra, bem neutra.... e só.
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ao Sumário
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ao Sumário
figurino do “Café com Queijo”. O “Café com Queijo” foi ele que
fez também e a gente partiu das fotografias, assim, como cada
um de nós, embora a gente passeie por várias figuras, né? Cada
um de nós tem uma figura que é aquela que fica mais tempo falando
que é como se fosse a principal, assim, de cada um.
Ele demorou a ficar com essa cara, porque ele era muito novinho
o tecido, mesmo, né? Então ele dava um certo desconforto assim,
eu acho, internamente, e a gente ouvia também das pessoas, né?
Parece que aquelas pessoas vestiram uma roupinha que deram para
elas. E hoje não, hoje a roupa é dela. O desgaste foi ótimo.
304
De volta
ao Sumário
Pegamos tecidos, ele sacava muito, mas ele também não comprava
sem o nosso aval. "Oh, pega nesse tecido, sente. Oh, esse vai
dar um caimento assim". Então isso era muito gostoso a gente
comprava junto com ele. É, mas no " Taucoauaa" aí eu já não vou
saber te dizer isso tão bem, porque era muito, sei lá, o Luís
Otávio era muito potente, né? Nós éramos os alunos ali, naquela
situação. Eu me lembro mais é dessas, sabe, desses momentos que
era assim "hoje o Fernando vem aqui!
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ao Sumário
Ah, realmente tem coisas que se vocês não contam, a gente não
tem como saber como surgiu, né?
É, não sei o quanto isso tem que rever depois com alguém, mas
pelos registros em vídeo não dá para perceber
Não, não dá. E agora eu queria partir para o "O que seria de
nós"...
Como é que foi esse processo com o Norberto 85, com a Sandra 86
enfim, o que você... como foi? Partiu de vocês, enfim...
Como as coisas, elas são tão misturadas, assim, né? A gente teve
tanta coisa junto que não tem muito um que impõe, né? É, mas o
“O que seria”, ele... acho que muita coisa já estava na cabeça
do Norberto assim, né? Tanto é que um dos impulsos para a gente
começar a trabalhar foi o cenário. O primeiro que ele trouxe
foi o cenário. Ele já tinha tudo na cabeça dele e assim, né,
ele já foi construindo porque queria essa coisa dos cabides com
os chapéus, ele quis que fosse um espaço pequeno.
É, essa ideia dessa mini fábrica, dos objetos com cabo, objetos
da fábrica, mas eram pequenos, então tudo ele tinha já muito na
cabeça dele. Então a gente já partiu muito para cima. E os
figurinos se não me engano ele também já tinha um cetro olhar
para o figurino. É, algumas coisas assim, né? Que a gente quando
convidou a Sandra, essas coisas eram ditas para ela, né, isso
que eu estou dizendo, erma coisas que já eram claras para o
Norberto e foram ficando claras para a gente também.
85
Norberto Presta, diretor de O que seria de nós sem as coisas que não
existem.
86
Sandra Pestana, figurinista desse mesmo espetáculo.
87
Pau é o nome da personagem de Ana Cristina Cola no espetáculo.
307
De volta
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E a Cris que é essa figura que o Norberto criou que é, pode ser
meio menino de rua, sabe? É uma criança meio abandonada, mesmo,
308
De volta
ao Sumário
que apareceu ali e foi acolhida pelos outros, né, então ela
também tem um pouco esse... meio bermuda, camisa, meio um
pouquinho suja, também, ela até suja um pouquinho o rosto assim,
então, né, descalço, assim, isso para parecer que foi catado
ali na rua. Então também as histórias deles já estavam muito
claras, os figurinos um pouco que iam a partir disso, dessa
história que já estava contada. [...]
88
Rouca e Dante são os nomes dos personagens de Raquel Scotti Hirson e
Renato Ferracini respectivamente.
309
De volta
ao Sumário
E ela que criou essa técnica dessa sunga que é feito com tipo
uma malha, né, e ela é amarrada com fio de nylon. Então a gente
fez aqui mesmo no atelier de costura, conseguimos achar o tecido
e o Tadashi ia ensinando. É um pouco diferente o das mulheres e
dos homens, o dos homens tem que ter um elástico e é um pouquinho
maior para poder segurar, né as partes lá deles, a nossa é mais
fininha. E ele que ensinou, e tudo, cada um fez o seu, cada um
cortou e tudo, mas ele que ia ensinando todo o processo, como
costurar e como prender. É, então foi isso, né? A saia foi isso,
os vestidinhos, a sunga.
[...]
89
Bailarino de Butô.
310
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ao Sumário
311
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Gente!
Recorde. E o espetáculo é igual estreou. Não é que tipo assim,
três semanas e depois ficou em processo mais um tempão, não!
312
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Sete cores.
Também de arco-íris, então tudo ele chegou, também de elementos
da natureza, tudo o que tinha o sete. Então ele queria trabalhar
com alguma coisa a partir daí, mas também não tinha o espetáculo
claramente. Ele tinha muito essa coisa da família, que ele via
muito a gente como família, então a gente fez algumas
improvisações que até hoje a gente morre de rir quando a gente
lembra, que era uma família. Mas deu tempo de tudo, desde
improvisar a família, de experimentar isso e aquilo, dizer não,
isso não, isso sim, isso não, incrível.
313
De volta
ao Sumário
qualidade mais suave, eu quero que vocês sejam mais duras, então
ele ia dando isso, mas ninguém tinha a sensação de...
Impositivo.
Impositivo, manipulado pelo diretor. Ele foi muito orgânico em
todo o processo e muito rápido ao mesmo tempo.
314
De volta
ao Sumário
Entrevista com
Renato Ferracini
Ator
90
Luis Otavio Burnier, fundador do Lume Teatro.
315
De volta
ao Sumário
Claro que a gente nunca fez isso com microscópio, mas a gente
já vinha fazendo no nosso processo de mímesis corpórea uma ideia
de observação, como a gente recria essa observação no nosso
corpo com pessoas com fotos, etc. então a gente achou que iria
ser um mote, tanto que a gente ganhou esse projeto FAPESP
justamente porque era um encontro de metodologias parecidas,
mas diferentes, singularidades diferentes, então deveria uma
ajudar a outra. Isso seria realizado dentro de uma montagem
espetacular que seria o Cem anos de solidão, então ganhamos o
projeto, foi ótimo, foi o primeiro projeto temático que a FAPESP
deu para um grupo de teatro, para um núcleo de teatro. Foi o
primeiro projeto na área de teatro, projeto temático, então foi
bem interessante esse projeto.
316
De volta
ao Sumário
Nunca foi, com nenhum outro direto de fora. É claro que não dá
para dizer que não foi um aprendizado, claro a gente teve que
deixar de lado um pouco as coisas que a gente fez. Todo o
material do amazonas que a gente fez, ela olhou, mas ela quase
não usou nada, tem algumas coisas que ela usou, mas não tudo,
ela usava coisas muito pontuais, e aplicou na gente uma
coreografia que para gente foi muito interessante fisicamente
porque a gente não conhecia aquela linguagem, a gente teve que
se adaptar, a gente quase morreu fisicamente, mas foi um
espetáculo que justamente por isso, foi um espetáculo que foi
feito quatro vezes [foi apresentado apenas 4 vezes] por que?
Porque ficou um gosto amargo na boca, não do espetáculo em si
que foi um dos espetáculos mais bonitos que o Lume já fez, a
questão não era estética, esteticamente foi um dos espetáculos
mais bonitos, foi um dos espetáculos fisicamente mais potente
que a gente tem, mas foi um espetáculo que no processo não tinha
um processo que a gente acreditava enquanto processo de troca
de informações e troca de metodologias e trocas de técnicas e
etc, foi um espetáculo bonito, mas não era a nossa cara,
basicamente é isso.
317
De volta
ao Sumário
Incorporados, né?
Incorporados em outros espetáculos, como, por exemplo, as ações,
como a viagem do Amazonas tão mais incorporados no Café com
queijo do que no próprio espetáculo Afastem-se vacas, pensando
bem hoje, e eu estou pensando isso agora alto com você, o
Afastem-se vacas foi case um aglutinador para uma explosão
posterior, o que é muito interessante, isso tanto em termos de
ação física como em termos do figurino. Seu foco é o figurino
né?
318
De volta
ao Sumário
91
Ricardo Puccetti.
319
De volta
ao Sumário
Sem o óbvio?
É, sem o óbvio. E acho que a gente conseguiu de certa forma,
porque ficou uns seres meio esquisitos assim.
92
Kai Bredthold, diretor de Parada de rua.
320
De volta
ao Sumário
chegou e “é esse o figurino”, mas isso foi de, acho, não sei
exatamente na história, mas foram uns 4 ou 5 anos para a gente
chegar nesse figurino.
Foi um processo
Foi um processo.
Ele nos deu alguns escritos dizendo o que é que era cada um
deles e agente montou a figura encima disso, então quando a
gente chamou a Sandra, a gente já tinha as figuras, não prontas,
porque elas nunca estão prontas, mas pelo menos delineadas,
então também já tinha uma lógica de cada um deles. A minha
figura, por exemplo, era um senhor, são quatro velhos, a Cris
não, porque a Cris tinha que ser uma coisa meio híbrida, meio
homem-mulher, menino-menina, mas nós três, eu, o Jesser e a
Raquel tínhamos já uma figura delineada.
93
Sandra Pestana, figurinista de O que seria de nós sem as coisas que não
existem.
94
Norberto Preta, diretor do espetáculo.
321
De volta
ao Sumário
ele usa camisa social, mas tênis, porque é bom ele andar de
tênis, sapato não... e ele já tem quase oitenta anos então você
não vai falar para ele “não, usa sapato porque..” não, vai de
tênis mesmo! Eu vou bem vestido, mas tênis é melhor!
Então essa coisa de você andar de tênis com uma calça social
vem muito de uma certa idade que você já não liga para algumas
coisas [risos], não precisa mais ligar para se combina ou não
combina, o mais importante é a coisa estar confortável. Então
quando eu falei isso, ela [Sandra Pestana] montou um figurino
muito interessante, que eu gosto muito, que é uma camisa social,
uma gravatinha borboleta, uma calça social e um tênis. E foi
exatamente inspirado um poço no meu pai, assim, sabe?
Claro, meu pai não usa gravatinha borboleta, mas casa muito com
as figuras dos Bem Intencionados que usam chapéu, que tem toda
uma questão de viver o passado, gravatinha borboleta, ao mesmo
tempo com esse toque de usar um tênis, então nesse sentido a
lógica de construção dos figurinos dos Bem Intencionados é um
pouco parecida com o do O que seria de nós. No sentido que nós
tínhamos uma figura e a figurinista veio, ou o figurinista veio,
vieram, para tentar vestir essa figura dentro da lógica dele,
que é um pouco o que a gente sempre trabalha, no fundo é uma
característica nossa de quando a gente chama os profissionais,
por exemplo quando a gente chamou a Grace95 a gente já tinha o
material, a gente queria que esse material fosse usado e fosse
redimensionado pela diretora porque ela traz as partes dela e
aí surge deste embate, surge o espetáculo, por isso que quando
eu falo que com a Anzu não aconteceu, o Afastem-se, porque não
aconteceu isso. A gente tinha um material, mas ela não usou
nada.
95
Grace Passô, diretora de Os bem intencionados.
322
De volta
ao Sumário
Mas quem trouxe eu acho que foi o Jesser, do que ele contou.
Então acho que foi ele sim, mas assim, aí, porque aí quando ela
viu aqueles vestidos ela falou “eu quero usar esses vestidos
para alguma coisa”, aí é ao contrário, é o próprio, naquela
cena, por exemplo, você já assistiu à cena do Galo Capão?
Já.
Aquela cena basicamente é usando os vestidos, são os vestidos a
cena, a cena é uma coisa boba que é uma brincadeira infantil
que a gente brinca em cima, mas o que faz a cena são os
figurinos. A gente sempre sonha em retomar aquela cena lá, eu
não sei se esses figurinos estão aí ainda?
323
De volta
ao Sumário
Se ele quer aquele quadro com corpos e saia, então ele vai
pensar na saia, ou quando a gente corre, aquela cena
praticamente são, eu lembro dele falar assim “eu quero figurinos
amarrotados, velhos” quase homeless, sabe? Então é um pouco essa
ideia dessas figuras que estão usando qualquer coisa e correndo
para a vida e correndo pela vida, correndo para a vida, é um
pouco essa imagem, aí ele trabalha as imagens, então os
figurinos são bem trabalhados a partir das imagens que ele quer.
Então por isso que ele assina luz e assina figurino. Porque
ele compõe um quadro, ele compõe uma cena, ele compõe uma imagem
que ele quer trabalhar, essa imagem é comporta dos atores, da
luz e dos figurinos e dos objetos.
Então ele vai pintando um quadro, então por isso que essas
questões visuais ficam muito na mão dele, porque ele pinta um
quadro e aí ele precisa ter o figurino na mão dele para ele
pintar o quadro, não dá para ele pintar o quadro sem os figurinos
porque se não fica... é como se você falasse assim “o azul você
pinta, o resto eu pinto”, não tem muito sentido. Então por isso
que ele assina a luz, assina o som e ele assina, porque é quadro
96
Tadashi Endo, mestre de butô e diretor dos espetáculos Shi-zen, 7 cuias
e Você.
324
De volta
ao Sumário
325
De volta
ao Sumário
Entrevista com
Ricardo Puccetti
Ator
A minha ideia era perguntar primeiro para você como é que foi o
retiro de Clown com o Burnier97 , se teve alguma atividade ligada
a figurino, como que foi?
Bom, figurino especificamente do palhaço, do clown, ele é um
trabalho bem... que ele vai junto com a construção do próprio
palhaço, né? Então no retiro, sim, tem um momento, né, dedicado
a isso, quando as pessoas vão começando a ter noção um pouco,
é, da lógica dela, do corpo, como é que ela reage e age frente
àquela situação do retiro que é uma situação de ser aprendiz na
frente de um monte de pessoas, então uma situação meia
desconfortável, à medida que ela vai se entendendo e isso não
se fecha em um retiro, é um início, né?
Então é um processo longo, que não é num curso, né, assim, daí
a pessoa tem que continuar buscando. Então um exemplo, por
exemplo, é o Oliver Hardy, o Gordo, né, que é um palhaço, os
dois, o magro também, o [Stan] Laurel. O gordo ele é muito gordo
e muito grande. Então os figurinos dele são menores, então aí
isso realça o tamanho dele. E o magro o oposto, você vê que
97
Luis Otávio Bernier, fundador do Lume Teatro.
326
De volta
ao Sumário
todos aqueles figurinos estão caindo, né? Então ele fica menor
dentro do figurino, então um pouco essa é lógica.
Então comigo, então quando eu vinha era muita coisa, sabe? Mas
já tinha alguma coisa, por exemplo, a minha calça, que eu usava
era essa calça que eu uso no “La Scarpetta” até hoje. Então ela
já estava. Tinha um pouco da lógica, também, de eu ser muito
magro e alto, já nem tão magro, assim, pode se dizer mais forte,
98
Nome do palhaço de Ricardo Puccetti.
327
De volta
ao Sumário
Porque era coisas que eu uso também, agora já não uso porque
ela rasgou inteira, mas era uma camisa de manga comprida, também
justa, um coletinho. Então tinha algumas coisas e outras que
escondiam. Por que aí é muito, o processo é muito esse, mesmo,
a gente acaba colocando muita coisa que é, que fica na frente,
fica entre, né? Depois vai tirando aos poucos.
Entendi.
Mas é um processo muito lúdico, essa maneira do retiro, e depois
também que ficou a maneira, que depois eu também fui continuando
para trabalhar com aluno, então é muito lúdico, mesmo. Eu sempre
falo: no momento em que chega para mexer com figurino, então as
pessoas vêm muito com uma concepção muito pronta: o palhaço, o
palhaço é isso, é aquilo, o MEU palhaço é assim, né? Então em
um trabalho com aluno você vai tirando isso um pouco, mostrando
que a coisa é mais aberta, é mais simples, é mais conectado com
eles.
328
De volta
ao Sumário
Começam a botar do jeito que vem. Tem uma relação, é uma relação
lúdica de se divertir e não “ah, eu pareço isso, eu pareço
aquilo”, né? Então, eles criam coisas interessantíssimas que
depois também você vai limpando e o embrião da lógica está por
baixo, sabe? Então no início muitos, não vou dizer todos porque
depende do grupo, às vezes é todos, às vezes não, né? Mas o que
eu brinco é que eles tendem a vir como uma árvore de natal,
assim enfeitados, bota óculos sem lente, bota uma meia de cada
cor, bota três gravatas, bota, sabe?
329
De volta
ao Sumário
por cima da camisa mais baixa, então ele fica com uma perninha
de trinta centímetros e com um corpão.
Então, claro, a gente busca o riso, né, mas o riso calcado nisso
que é muito de cada um, mesmo, então não é uma fórmula “todo
mundo bota o sapato grande porque o sapato grande...” o que eu
uso, que eu adoro, ah, isso é uma coisa interessante, por que?
Primeiro é afetiva a minha relação com o palhaço, o palhaço
tradicional, de circo, de criança pequena, então isso eu já
adoro. Mas o meu sapato de palhaço, ele foi feito, desenhado
para mim, eu desenhei, fazendo ele semelhante às botinhas
ortopédicas que eu usava quando era criança, que eu usei
bastante porque eu tinha pé chato. Então foi aquela botinha,
com a minha lembrança ampliada virou um botão imenso, né? Então
essa conexão: então não é só botar o, né?
99
Clown francês.
330
De volta
ao Sumário
E aos poucos vai descobrindo a lógica. Então para mim ele deu o
boxeador. Então era o que, ele falou assim “você é o boxeador”,
daí a única coisa que ele falou “você vai estar de boxeador”,
né, o que que o boxeador precisa, então a gente, todos saímos,
a gente no final de semana num mercado de rua em Londres catando
coisa, comprando, e ele falou “você usa para fazer aquela coisa
que eles usam para tapar o dente, você usa casca de laranja”.
Falei, “tá bom, né”.
331
De volta
ao Sumário
Figurino, é assim, porque ele sempre falava “você tem que estar
com o corpo exposto, sempre”, então é isso, porque com o figurino
muito justo é o corpo quase que vira uma pela, né? Até ele
elogiou no final porque ele falou que já tinha dado o boxeador
para algum, também, para alguns, assim, ele falou “foi o único
que fez do início ao fim e não desistiu da casca de laranja,
porque todos usam uma vez, um dia, é horrível, joga”. Ele falou
“não, você descobriu um monte de coisa com essa casca de
laranja...” A Naomi viu, né? A casca de laranja. Eu estou
entrevistando aqui... meu café chegou. Então é um pouco isso,
né?
Daí com o Nani100 , ele não mexeu muito no figurino. Porque também
quando eu fui com ele já estava tão afinado com a lógica, ele,
eu sinto que ele fez o teste da minha lógica enquanto palhaço,
100
Nani Colombaioni, clown e diretor de La Scarpetta.
332
De volta
ao Sumário
Ele falou “oh, tem que trocar a lâmpada, está queimada, você me
ajuda?” “ajudo”. “Então troca para mim. A escada está lá, troca
pra mim”. Então uma escada, uns giros praticamente, aquele
imensa, e eu sozinho, ele bem velhinho, era para mim. Na verdade,
ele estava usando para me ver, ver o que que eu fazia. Então
até eu carregar a escada, e eu não consigo, eu pego direito, eu
vou levar, a escada abre, mil confusões, aí finalmente eu ponho
a escada, aí subo, esqueço a lâmpada, fiz o coiso e cai, nãnãnã,
essa confusão para fazer uma coisa, que é justamente o que eu
trabalho enquanto palhaço. “Ah, legal, então está bom, vamos
agora ver mais um número lá, vamos fazer um intervalo, vamos
333
De volta
ao Sumário
tomar café” sei lá. E foi assim o final de semana inteiro. Uma
outra coisa que ele me pediu para fazer foi trocar, apertar um
parafuso, que ele tinha um carrinho desses bem pequenininhos
assim de três rodas, uma roda na frente e duas atrás, porque
ele não podia mais dirigir carro normal, proibiram ele porque
ele era muito velho, e porque ele tinha uma perna quase
paralisada, e um braço também, por causa de ferimento de guerra.
Então ele, caçaram a carta dele, mas aquele lá ele podia, ele
era muito bravo por causa disso.
334
De volta
ao Sumário
Você pode ver que nos filmes eles têm o figurino básico deles,
aquele terno, tal. Mas dependendo do que eles fazem no filme
eles trocam. Eles são os caras que trabalham não sei aonde,
então eles têm o macacão, mas sempre você vê a lógica dos dois
é a mesma. Então para o palhaço funciona muito assim. Então para
o Nani foi assim. Para Sue Morrison101 , que ela tem muito, porque
ela trabalha as máscaras, então é como se, é um treinamento
forte, um treinamento lúdico, um treinamento muito esquisito
que ela faz com as... também não vou entrar nisso para falar, é
complicado, mas ela trabalha cores de cada uma, muitas, são, na
verdade são seis básicas com duas variantes cada uma, então são
doze, que são as máscaras, seis máscaras e experiência e
inocência de cada máscara.
101
Clown Canadense e diretora de O não Lugar de Ágada Tchainik.
335
De volta
ao Sumário
Já, já entrevistei.
É uma mistura disso. Ela cata uma coisa de uma máscara, não sei
o que da outra, porque tudo veio dela, você entende?
Entendo.
Então eu acho que a maneira de trabalhar o figurino, nessas
linhas de trabalho para o palhaço que buscam essa coisa, isso
do pessoal, mesmo, de não ser O palhaço generalizado, o
arquétipo, mas é o SEU palhaço, né, em busca dessa identidade,
vai por aí um pouco, no geral.
336
De volta
ao Sumário
Você pode ter o outro lado da moeda que eles ficam ridículos
também. Então você brinca com esse lado do poder, da autoridade,
e ao mesmo tempo você ri deles. Bom, sei lá, o “Cnossos”, por
337
De volta
ao Sumário
Interessante. Tem mais alguma coisa que você lembra? Que chama
a atenção?
De figurino...
do ator.
338
De volta
ao Sumário
com isso, quando ele bota uma coisa ele fica a cara da mãe. Você
entende, é muito louco. Tá, e daí tá bom. No “Valef ormos” eu
não me vestia de mulher. Mas no “Cravo”, quando a gente foi
trabalhar, já não tinha o Luis, eu falei, “eu também vou”. Só
que daí como o augusto de veste é completamente atrapalhado,
né? Então o augusto tentando ficar elegante, por exemplo, ele
não vai ficar. Ele vai se vestir... pode estar até de fraque.
Você viu o Groc você viu muitas vezes, não é?
Vi.
Ele de fraque é um... e o outro violinista junto com ele, o
violinista super elegante, ele querendo ser igual ao violinista,
ele não consegue. Então tem essas coisas interessantes que
acontecem.
339
De volta
ao Sumário
Entrevista com
Carlos Simioni
ator
340
De volta
ao Sumário
fazer com isso?”. Aí eu fiz como saia, entende? Tanto é que tem
toda uma cena no Kelbilim hoje que tem esse véu que se transforma
em saia, que se transforma em fogo, nesse sentido.
Ele começa com isso depois (gesto de remover roupa) Tipo assim,
construímos, aí chamamos o figurinista, aí o véu, por exemplo,
ele pegou um tecido enorme de seda nesse sentido, esses trapos
e tudo mais ele comprou um tecido de algodão e tingiu de cores
de sujeira e ele mesmo rasgou os trapos, então ficou a ponto
de, daí teve toda uma dança de como eu me desvencilhava desses
trapos. Santo Agostinho se convertia, como se fosse tirar a
roupa velha para criar né? Então tem toda uma dança, sabe? Então
esses trapos são todos entrelaçados milimetricamente para eu
saber, então desenrosca aqui, desatarraxa ali, tudo mais.
341
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ao Sumário
mesmo tempo, como era Santo Agostinho, o Luís Otávio era amigo
do pároco lá da catedral, que nos abriu o guarda roupa da
catedral e pediu para a gente escolher uma capa, então eu escolhi
uma capa toda bordada a ouro, linda, que no momento em que eu
fazia a saia de tecido, eu faço com essa capa e no final ela se
transforma em capa de bispo, mas durante o espetáculo ninguém
vê, só vê o lado de fora que é vermelho. Eu faço saia, faço a
brincadeira de nenê, mas no final que ela se transforma que
aparece aquele dourado bordado. Nesse sentido então, Kelbilim é
isso.
Nunca, né?
Nunca, ele nunca fez.
342
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ao Sumário
Só em DVD.
É que aonde a presença do ator ela é completamente etérea no
sentido de que não tem movimento é mais emanação de energia,
né? Que daí eu chamei o Tadashi e disse: olha eu tenho isso, o
que nós fazemos com isso? “Simioni, é muito puro, vamos ver,
mexe ali, deita aqui” Sabe? Ele foi experimentando, aí ele falou
o seguinte, é tão puro que dá vontade de, parece, é tão frágil,
era como se fosse de papel.
Se desfazendo.
Se desfazendo, exato, na pele. Só que a gente começou, chamamos
a Adelvane Néia que é uma amiga aminha, chamamos para fazer um
primeiro esboço do que seria uma coisa em papel. Aí como a
montagem, o processo foi se desenvolvendo ele viu que não
ficaria legal eu ficar parado o tempo todo, também né? É
104
Tadashi Endo, mestre do butô e diretor de Sopro, Shi-zen 7 cuias e Você
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ao Sumário
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Com aquele desenho que você falou que foi descoberto no processo
[no retiro de clowns]?
Exato. Os coletivos né? Bom agora depende.
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ao Sumário
Mas aquilo foi ideia delas, ou foi o próprio Tadashi que falou
“ah tô pensando em mais ou menos...”
Ideia delas. Elas vieram com a roupa e o Tadashi disse “ah, que
bom!”
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ao Sumário
Sim.
Então, já tinha nos papeizinhos às vezes até tipo de traje, como
seria. Se não e engano a Cris amavam cor de rosa ou dourado,
não lembro direito. O papelzinho meu era veste-se como hippie,
que era ridículo, cá entre nós né, Naomi? [A atriz Naomi Silman
estava na outra ponta da mesa onde estávamos fazendo a
entrevista] como é que é, adora, como é a famosa?
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ao Sumário
Fez sentido.
Exato.
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ao Sumário
Isso eu não sei se a gente tem gravação aqui, você acha que tem?
Só tem fotos do Macário, dele com fraque e com roupa de menino.
105
Clown feminina de Carlos Simioni.
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ao Sumário
Eu tive que fazer para o espetáculo Valef Ormos, que daí foi o
Fernando Grecco fez o mesmo modelo, aí agora já ficou 25 anos
com o mesmo vestido agora tive que fazer um outro, mas é o mesmo
modelo e para a cantora de ópera lá, sempre barriguda, mas era
o sonho dela assim na ópera de dourado, com cauda, vestido de
cauda, mas é sempre com aquelas alcinhas. Entende?
Mesmo o Ric nos vídeos eu pude ver que ele usava óculos no
começo, que depois ele não usava mais.
É, era os óculos do avô dele.
Glossário
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Dossiê
Memória do Traje
Ana Carolina Ramos
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Entrevista com
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Você deve estar como José Carlos Andrade, porque tem essa
diferença.
O de Andrade, essa preposição 'de' não existe, eu só botei
porque num determinado momento tinha essa história da
numerologia, e aí [risos] com 'de' ficava ótimo, então entrou o
'de'. Mas quem me batizou artisticamente foi a Miriam Muniz,
que foi a minha primeira experiência profissional. O meu
primeiro trabalho quando terminei a EAD foi “Fala baixo senão
eu grito”, com direção do Sylvio Zilber e da Miriam, na segunda
montagem do “Fala baixo”. Esse José Carlos não sou eu!
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Ah! Então esse faz parte do que o Prof. Cláudio separou como
Tragédia Guzik.
Esse é um figurino meu! Só que não tinha essa camisa por baixo,
de jeito nenhum. E isso era uma roupa feminina. Aqui havia uns
pingentes de sisal. Tinha essa grande pala e depois tinha um
vestido que saia daqui. E a roupa masculina parecia um kaftã
árabe.
[…]
Essa eu me lembro. Essa eu cheguei a usar em “Os Namorados” do
Goldoni. Mas essa já existia, era pré-existente.
[…]
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ao Sumário
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ao Sumário
Bom, então eu falei: “Não, D. Maria José, não vai dar para ver
nada, porque a gente vai jogar uma luz escura e ainda vai
projetar as bolas em cima, vai ficar uma coisa toda borrada,
vai ficar muito interessante!” E ela muito preocupada porque as
cores não tinham nada que ver com nada, insistiu para que a
gente usasse essas roupas no ensaio porque ela queria ver, com
muita propriedade! E em São Luís do Maranhão, um calor, e nós
com aquela roupa e fazendo uma coisa toda em cima de uma coisa
de expressão corporal. Claro que nós ficamos lavados!
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Não morri porque não era para morrer. E foram três anos de
cirurgias, fisioterapia, e etc. e tal. Eu tenho haste, eu tenho
parafuso, eu tenho pino. Aí eu tive que dar uma parada. Como
ator eu parei definitivamente, e depois como cenógrafo e
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Entrevista com
Márcio Tadeu
Cenógrafo e figurinista
Então as peças que você fez foi você quem desenhou o figurino?
A gente que desenhava. Às vezes tinha no acervo alguma ou outra
roupa que serviam, mas era um momento em que, o guarda-roupa lá
sempre foi muito lindo, então tinha um tipo de roupa que você
tinha até um medo de pegar, de estragar, de acontecer alguma
coisa. Da mesma maneira tinha também muita gente com uns valores
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Tem muitas peças sempre lá, porque ele é muito grande o acervo.
É difícil não ter opções, às vezes você quer uma roupa específica
e alguém levou. Porém, sempre dá para substituir porque tem
bastante coisa. Mas ele tem esse déficit de controle. E sempre
estão entrando coisas novas. Tanto é que o espaço dele é muito
pequeno pela quantidade.
Essa questão de espaço é crucial. Eu dou aula na UNICAMP. O
nosso grupo que saiu da EAD é que depois fundou o departamento
de Artes Cênicas da UNICAMP. E lá também, até pela minha
influência, pela Helô Cardoso, que é outra professora que
trabalha com cenografia, a gente acabou tendo costureira, uma
coisa nos moldes, claro, da EAD, que eu levei essa coisa para
lá. Conseguimos uma costureira, mas você não tem espaço! E não
tem muito como organizar essa coisa. Agora está se tentando
fazer uma catalogação quase como biblioteca: apita quando sai
alguma coisa, e tem a ficha, se não devolveu. Mas isso também
vira um exército. É muito complicado!
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um negócio que você saia e pisava na terra com a roupa, era tudo
bem promíscuo, então tinha que ter esse cuidado que nem sempre
se conseguia. E tem coisas assim, na época que eu estava, tinha
uma menina, da turma, acho, do José Carlos, e que ela mandava
fazer os vestidos dela, que às vezes não tinha nada com o correto
da estética do resto, entrava ela de Branca de Neve no Tchekhov.
Então tinha umas coisas assim chocantes que você não conseguia
controlar porque não tinha, também, uma pessoa que dizia: “Você
não vai entrar com essa roupa!”
Você falou que eles ficavam guardados em uma sala. Como que era?
Eram araras?
Não, eram armários. Por exemplo, do jeito que está lá hoje, que
são araras e plásticos, não é?
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De volta
ao Sumário
Eu acho que depende do traje. Tem uns que eu acho bem inviáveis
de serem reutilizados, pela praticidade mesmo, alguns são
extremamente pesados, feito de tecidos de tapeçaria. Esses eu
acho que deveriam servir de modelo para novas criações, com
tecidos um pouco mais leves, não sei. Pensando na dinâmica do
ator de hoje. Mas eu também acho que, depois que catalogar,
muitos figurinos ali podem continuar sendo utilizados. E eu acho
legal essa coisa de usar um vestido que você sabe que foi da
Aracy Balabanian, da Cacilda Becker.
É, mas isso tem uma outra coisa que é assim, por exemplo, o
vestido que foi da Aracy Balabanian, mas a Aracy Balabanian tem
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A EAD também fazia muitas viagens aqui? Como que era a questão
do figurino?
Essa peça do “Pessoal do Victor”, como ela era uma coisa mais
contemporânea, isso praticamente foi feito na EAD, mas a gente
que comprou o pano. Então como tinha essa viagem, eles falaram
“Olha, leva, e depois que terminar todo o processo, o que sobrar,
devolve”. Eu tinha uma roupinha de criança, que era de
marinheiro, e já estava tão sambada que ninguém ia usar esse
material. Então, até tenho lá em casa, guardadinho. Essas coisas
380
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ao Sumário
que eram da EAD, eram mais assim, alguns paletós, algumas coisas
assim, que depois da montagem, se entregou, se devolveu tudo. E
a gente fez várias vezes a peça. Depois que voltamos, a gente
fez temporada aqui. Depois uma temporada no Rio de Janeiro.
[…] A gente futucava muito esse guarda-roupa. A gente falava:
“Vestido de Shakespeare”, aí a “tia” abria aquela, aquela, e
aquela porta dos armários para a gente olhar. […] A montagem do
Processo de Joana D'arc, como era um Brecht, então tinha
misturas de roupas comuns, então se usava esse acervo. E era
uma coisa toda simbólica. A fogueira eram duas tiras de pano
vermelho, e eu e um outro soldado, a gente ia embalando,
encapando a Joana D'arc, que era a Selma Egrei.
[…]
O Kusnet já para morrer, foi pra EAD para passar seu
conhecimento. E teve sérios problemas com aquela turma, porque
ninguém queria, porque eles queriam fazer uma coisa
contemporânea, com o Soffredini, e não queriam o Kusnet. Foi
muito complicada a montagem. E daí cria essas coisas, gente que
fala: “não, eu não vou usar isso, vou fazer meu próprio
figurino”.
[…]
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Entrevista com
Cláudio Lucchesi
Diretor
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Era uma visão do Dr. Alfredo que os alunos pudessem ter esse
ensino completo, não é?
Ele possibilitava isso. Se você só quisesse fazer interpretação,
ponto final para ele. Agora quando ele achava uma pessoa que se
interessava por outras áreas, ele era a primeira pessoa a
estimular.
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Alguma outra coisa que o sr. fez na sua gestão, além de trancar
o figurino?
Eu separei o acervo em três partes: uma parte era tudo aquilo
que eu considerava porcaria, que eu podia soltar para qualquer
aula de improvisação. “Ah, quer usar, quer inventar, quer não
sei o que”, “Essa peruca tá podre? Põe pra lá. Deixa brincar
com isso, deixa ter material pra isso também.” Então todas as
coisas improvisadas, ou para ensaios simples de cena, era esse
acervo. Depois tinha um acervo melhor, mediano, digamos, para
pequenos espetáculos, pequenas cenas, finais de cursos. E o
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ao Sumário
E o que que o sr. acha que foi mais difícil para preservar esses
trajes? Foi segurar dos alunos?
Foi enfrentar os alunos! Enfrentar os alunos e enfrentar os
funcionários. Porque quando eu cheguei na EAD era um período em
que tudo estava sumindo na EAD, o guarda-roupa, o dinheiro da
própria Escola. A Escola havia parado de receber verba da ECA,
ela não recebia verbas oficiais da ECA porque ela estava
abandonada, para morrer mesmo. E os alunos fizeram os
espetáculos do semestre e conseguiram um teatro na cidade, que
foi o Pascoal Carlos Magno, embaixo do Sérgio Cardoso e ficaram
apresentando Laços, que casualmente foi um grande sucesso, tanto
na Escola como depois no teatro. Então eles pegavam o dinheiro
da renda do espetáculo para eles, coisa que não podia acontecer
porque na verdade era uma coisa gerada pela USP, porque foi
dirigida por um professor da USP. Você só tem condições de criar
o espetáculo porque você tem todos os professores da Escola te
instrumentando, você tem uma secretaria funcionando, você tem
salas à disposição, nem que você não tenha verba para produzir,
você tem o guarda-roupa da Escola para usar, você tem os
refletores, você tem a sonoplastia. Mesmo sendo naquela época,
quando nós começamos em 1982, nós não tínhamos, do material
elétrico, nós teríamos no máximo 10% do que temos hoje, no
máximo. Então eram tempos muito mais modestos.
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ao Sumário
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ao Sumário
Você acredita que tem outros trajes dessa época ainda no guarda-
roupa?
Eu precisava voltar a andar lá. Eu até me disponho se você
quiser, e tiver gente para pegar carregar, porque a gente passou
tudo aquilo lá para cima, para as pessoas não mexerem. Quer usar
aquilo? Precisa um professor, um diretor estar assinando
embaixo.
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Então, ela não quis. Ela falou que ia ser muito triste rever os
figurinos, porque eles foram destruídos, ninguém teve cuidado.
Ela tem razão no que ela fala. E a USP foi muito safada com a
Maria Thereza. Porque ela veio para a USP e trabalhou dois anos
a três com o Clóvis Garcia organizando tudo. A USP não reconheceu
como funcionária. Ela tentou processar, processou, processou,
até eu dei cartas testemunhando, pegando catálogos, coisas onde
tinha assinatura dela, documentos e coisas, mandando para a
reitoria e entregando cópias para ela, para ela poder entregar
para o advogado dela, e não deu em nada. Não conseguiu. […]
O Dr. Alfredo foi uma pessoa incrível, maravilhosa. Eu tive a
sorte de ter sido aluno dele. Eu vim do interior e ganhava um
salário mínimo para estudar, mas não dava nem para comer. Aí eu
arranjei um emprego de office-boy em São Paulo e virei
balconista da livraria Herber. Quando eu passei para o segundo
ano, ele falou: “Você não quer lecionar? Você faz o que Cláudio?”
- “Trabalho numa livraria!” - “Você não quer lecionar, meu
filho? Ah, eu tenho um colégio, você vai lecionar para
adolescentes, não sei o que, você dá essas coisas que a gente
faz aqui no primeiro ano, preparatório, faz ceninhas, faz
pecinhas curtas.” Sabe para onde ele me levou? Colégio Madre
Alix, na frente da casa dele. Foi meu primeiro emprego como
professor. Foi um homem muito positivo, em tudo. E ele não fez
isso só comigo, fez com outras pessoas em outros sentidos, em
ajudar as pessoas, porque viver de teatro, até hoje é uma
barbaridade, imagine então na década de 60 e 70 como não era.
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| Ontem |
400
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Dossiê
Campello Neto
Fausto Viana
401
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O Prof. Campello posando na carruagem do teleteatro O Grande Amor de Maria Valeska, 1968.
106
Ver VIANA, Fausto. Campello Neto: uma vida dedicada à cenografia. São
Paulo: Fausto Viana, 2010. Disponível em:
<https://tramasdocafecomleite.files.wordpress.com/2009/08/campello-
neto.pdf>. Acesso em 01 fev. 2017.
402
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107
Idem.
108
Idem.
403
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As atividades didáticas
404
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109
Este trecho a seguir foi adaptado da obra já citada de Viana, Fausto.
Campello Neto: uma vida dedicada à cenografia.
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110
RDIDP quer dizer Regime de Dedicação Integral à Docência e à pesquisa.
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Entrevista com
Aldo Calvo
Figurinista
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Sempre no Rio.
Aqui em São Paulo, nada. Agora, o campo era aberto a todo mundo.
Não era que a gente evitava. Aliás, com o TBC a gente procurava
criar novos cenógrafos. Então, tinha um ou outro que fazia um
cenário e depois nunca mais aparecia. Agora, isto foi um dos
problemas sérios do teatro brasileiro, da cenografia do teatro
brasileiro. Então, o que acontece? A atividade do cenógrafo
ficou limitada. É pouco remunerada também.
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Uma pessoa com a sua formação tem esta familiaridade. Qual foi
o ano em que você chegou ao Brasil?
Bom, eu cheguei ao Brasil em 1947, mês de outubro. No dia 06 de
outubro, que é meu aniversário; neste dia, cortei o Equador.
Minha ideia era ficar no Brasil cinco meses, mas depois disse:
"Acho que vou ficar muito mais." Agora, não fui eu que decidi
cortar o Equador n dia 6 de outubro. Foi o navio, a velocidade
do navio que deu isso, não?
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O Borges.
Borges. 20 mil, 25 mil dólares. Ele recebeu um prêmio na época.
Qual é outro prêmio para escritor, de 25 mil dólares?
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ao Sumário
Uma concorrência?
Não. Especialmente no Scala, a cenografia era a reprodução da
natureza. Então, um bosque devia ser um bosque, mas sem nenhuma
criatividade. O bosque usado em Parsifal era o mesmo bosque
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Miró.
Miró. Todos eles funcionaram muito bem. Nós, não temos Picasso,
mas temos pintores que poderiam ser muito bem usados. Por que
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ao Sumário
É Gianni.
Não. Era... Como é que se chamava? Ele pagava. Eu pedi tanto e
ele me pagou.
Essa fase da cenografia, nos anos 70, foi um momento em que nós
estávamos numa posição interessante. A gente via Wladimir
Pereira Cardoso, Flávio Império...Eu digo aqui em São Paulo,
não me reportando ao Rio de Janeiro...
Houve um momento em que São Paulo estava acima do Rio, tinha
melhor atividade do que o Rio de Janeiro. Na época do TBC, nós
conseguimos esta coisa. Na época do Balé, nós conseguimos também
porque o Rio de Janeiro nunca conseguiu montar balé como foi
montado o Balé do IV Centenário. Tanto que quando eu levei o
material para o Rio de Janeiro, neste teatro, os maquinistas
ficaram apavorados de ver como era complicado o cenário. Tinha
um cenário do Burle Marx que era de Petrushka que era
verdadeiramente complicado. Eles nunca tinham feito algo com a
dimensão do nosso cenário. Nós usamos aqui para o nosso, mas lá
a boca de cena era menor. O Teatro Municipal do Rio de Janeiro
agora tem o ciclorama previsto, colocado no mesmo ponto onde
está São Paulo, 16 metros, porque antes era 14 metros. Mas
mesmo o espaço cênico era menos fundo do que o de São Paulo.
Mais largo. Lá era 14 metros, São Paulo tem 12,75. Agora, São
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ao Sumário
É, sim. Porque nós nos queremos tanto bem, mas vivemos correndo
tanto que nunca nos encontramos.
Ah, você agora conhece o caminho.
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ao Sumário
Entrevista com
Arlindo Rodrigues
Cenógrafo
ENTREVISTADOR: CAMPELLO NETO
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ao Sumário
Qual foi aquele enredo que você fazia que foi uma homenagem à
Ana D’Áustria?
Ana D’Áustria? Foi quando eu ainda estava no Salgueiro, foi
Chico Rei.
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ao Sumário
Do Villa-Lobos.
Do Villa-Iobos. A primeira versão foi do Gianni Ratto com a
Feodorova e a Tatiana Leskova, mas mais tarde quando o Itamarati
precisava de um espetáculo aqui no Rio de Janeiro para receber
o presidente de Portugal, o presidente Médici pediu que se
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ao Sumário
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ao Sumário
E depois em 28 dias.
É. Exatamente. Agora, nos anos 70 que você perguntou
inicialmente...
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ao Sumário
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A outra peça dos anos 70, que eu fiz... Então foi uma peça mais
sem compromisso cultural que era O Freud explica, um
bouleverzinho francês. Eu consegui fazer um cenário bem ao
espírito da peça e foi bom o resultado.
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ao Sumário
que... graças a Deus foi Arlindo que acabou com isso! Por que
eu ia ficar numa angústia tremenda e ficava cheio de
histórias... Então Arlindo conseguiu fazer a Imperatriz Carlota,
do México, nos veludos, nas joias verdadeiras de H.Stern, e todo
um posicionamento que ele vai com aquele negócio dele e arranca
mesmo, ele faz! Então eu estou muito contente, embora eu
estivesse nessa proposta inicialmente. Os cenários também foram
de Eli Celano.
É. Exatamente.
E... era uma beleza aquilo tudo, não é, toda aquela questão, me
lembro, das capelines, dos toucados da Imperatriz, que era da
época da Imperatriz Eugênia, nouveau rococó, o grande balão da
Imperatriz Eugênia que você fez como sempre com o seu extremo
bom gosto. Porque nesse ano, no Carnaval, eu dei um telefonema
para você, para contar como eu tinha ficado encantado com aquele
degradé, que você tinha feito em certos azuis, em certos tons
de bordô e toda essa coisa que significa um profundo
conhecimento de métier. Fora uma sensibilidade muito grande,
porque tem muita gente que tem um determinado conhecimento do
métier, mas não vai a essa coisa que é internacional de todo o
seu trabalho. Mas então isso eu registrei como sendo uma coisa
importante, porque foi a primeira vez que a Globo fez externas
internacionais mesmo.
É, e uma coisa de tanta responsabilidade.
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fazer O Guarani, que não tem coisa pior que vestir um cantor de
ópera de índio. Então, o que sobra para nós, de modo geral, é
isso.
Não sei, quando você vê que Maria Callas fez aquela revolução,
não é, da prima donna emagrecendo daquela maneira e ficando
aquela figura belíssima e não perdendo a voz.
É, mas aí, são exceções mínimas. A Maria Callas eu acho que
mesmo lindíssima como é, eu não sei se ela ficaria bem de índia.
(ri) De repente de Phedra, de Traviata, de Bohéme, todas são
ótimas, até mesmo as gorduchas, mas agora de índia é fogo, viu?
Tem que vestir de índio só a escola de samba no carnaval porque
vale tudo, porque aí é carnaval e é brilhareco mesmo. Agora,
para fazer índio para o público acreditar que é índio é muito
difícil.
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ao Sumário
Da Universidade?
Da Universidade. Ele é... O cargo dele eu não me lembro, mas é
importante, de planejamento de grandes trabalhos.
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ao Sumário
Eu me lembro muito da sua mostra por causa dos painéis que eram
muito grandes e eram muito bonitos. Então eu acho que... Como
você está tendo que partir para um compromisso...
É, na escola de samba.
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Mas... Você vai a uma escola de samba, (ri) então eu não vou
mais tomar o seu tempo. Você já foi extraordinário em me atender
quando estava tão ocupado.
Não. Mas eu espero que tenha... Te valido alguma coisa.
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Entrevista com
Gianni Ratto
Cenógrafo e diretor
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Hypocrite...
Tem que ser! Se ele não engana...e por engano você não precisa
entender trapacear, fazer cambalacho. Enganar significa criar
climas que te envolve, que te seduz. O engano é uma sedução.
Cristo é um sedutor. Então, de certa maneira, deixando cada um
nas suas devidas posições, a cenografia é um elemento de sedução
para que o espectador se introduza num clima dentro do qual
determinadas personagens que precisam daquele clima possam
existir. (ri)
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ao Sumário
Foi sim.
Foi feito isso no Teatro Maison de France, que não era o teatro
ideal para isto, mas de qualquer maneira foi realizado lá...
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ao Sumário
Era o ...
Maria Della Costa.
Era o Teatro Maria Della Costa, mas antes era o Teatro Popular...
Antes era o Teatro Popular, depois se transformou então no
Teatro Maria Della Costa como edifício e como companhia.
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pobre, você coloca um trono, está num palácio real, você não
bota nada, está num espaço vazio, infinito. Você joga um foco
de luz, cria um mistério, você ilumina tudo, você diz: “Não me
interessa o espaço, quero ver o indivíduo”. Então esta mágica,
esta magia que o teatro tem, a gente tentou colocar no Cyrano,
numa polivalência. Se eu tivesse tido um outro tipo de teatro,
por exemplo, e aí é que intervêm as condições limitativas, eu
teria ido mais longe. Aquele cenário se transformaria muito
mais, sem perder as suas características.
461
De volta
ao Sumário
462
De volta
ao Sumário
Porque você teve esse contato com Gordon Graig a quem eu tanto
admiro, que foi tão importante. Uma figura genial mesmo. Essa
palavra está um pouco banal mas se aplica esplendidamente a
Gordon Graig. Ele esteve no Brasil, acho que passou no Rio de
Janeiro se não me engano na década de 60, fim da década de
60...Não. Porque eu tenho a impressão que não faz tantos anos
assim.
Quem passou naquele tempo foi o Svoboda.
Não. Mas ele não ficou no Brasil não. Quando ele passou no
Brasil. Ele não veio para o Brasil. Foi uma passagem pelo Brasil,
mas eu não estou lembrado também do ano, mas agora me lembro
muito bem que fiquei extremamente curioso porque também a gente
não pode desligar de Gordon Craig a figura de Isadora Duncan.
Ele ficou muito marcante, não é? Aquele incidente do Rosmersholm
em Florença com a Eleonora Duse. E, aliás, a base dessa minha
pesquisa é uma resenha da história da cenografia e eu transcrevo
do livro da Isadora Duncan toda aquela estória que eu acho
extremamente engraçada, a briga dele com a Duse, dele dizer:-
“Diga a essa mulherzinha” e a Isadora traduzia para a Duse “ele
acata o seu gênio, etc.” ela dizendo que não ia ser perdoada
por aquelas mentiras porque se ela contasse a verdade nunca se
iria chegar ao final da grande obra que ela já sentia que estava
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Pintores de telão...
De telão. Pintores de cenografia clássica, cenografia
paisagística, cenografia de pintura realmente. Aquela que exige
trabalho de palheta.
E quem é?
É o meu assistente, o Luís e...
Luis de que?
Luis Frugali. Ele fez a ECA. E ele é um rapaz que tem o instinto
da pintura teatral. O Drácula, eu fiz os croquis todos, as
maquetes todas e ele realizou, copiou maravilhosamente bem. Mas
aqui, por exemplo, no Brasil, eu forneço planta baixa,
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Irreparável!
É irreparável, mesmo irreparável porque ele é realmente uma
figura maravilhosa tanto como homem como técnico. E o Carlos
não é um homem que ame especialmente trabalhar em pintura
teatral. É um homem que tem a sua visão política, devido a sua
postura diante da vida.
E hoje não tem mais ninguém para fazer este trabalho. O Luis se
quiser poderá chegar lá, mas com muito tempo de trabalho porque
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Aqui você, por exemplo, tem que dirigir muito mais as suas
atenções sobre as possibilidades de construção, de estruturas
para pensar o seu cenário mais do que no palco combinado, às
vezes, de pintura, escultura, mas enfim...
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É, ele tinha um toque assim, era uma coisa muito nova, muito
moderna, muito inovadora. Era o que você acabou de dizer, um
musical.
Era um musical, tudo movimentado dentro do compasso musical,
não havia um gesto, não havia uma ação, não havia uma postura
que não fosse contida dentro de um compasso dentro de um
desenvolvimento musical, dentro de um ritmo. Foi um trabalho
muito difícil de fazer, mas a gente conseguiu. Eu tirei o coro
do palco e botei no fosso e substitui o coro pelos bailarinos
com os quais eu podia fazer este tipo de trabalho. Então resultou
num espetáculo extremamente dinâmico, divertido.
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último grande êxito com o Drácula que eu ainda não fui ver por
causa de tempo. Mas você tem mais alguma coisa que se lembrar,
se você pudesse me dizer.,,
Do teu interesse não sei porque sempre em relação à década de
70... Não sei te dizer. Do meu trabalho é como eu digo, eu não
lembro. Você lembrou com muito mais facilidade do que eu do que
aconteceu. Não há dúvida nenhuma. Este período foi um período
de bastante trabalho em termos políticos também, não?
Foi um espetáculo que não teve grande êxito, mas para mim foi
importante porque foi uma espécie de participação real dentro
da problemática. E outros textos que a gente fez, fizemos Frank
V que foi dirigido pelo Fernando Peixoto, fizemos... O que mais
lá no São Pedro? Vários espetáculos! Estou esquecendo, depois
fizemos um espetáculo sempre com o Fernando também, no TAIB,
fizemos Pequenos Burgueses. Não – Pequenos Burgueses, desculpe,
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foi feito com o Renato Borghi. Fizemos ... o que com o Fernando
Peixoto?
Ah! Sim! Uma peça importantíssima que é do Guarnieri, uma peça
belíssima, talvez uma das mais belas senão a mais bela, Ponto
de Partida.
No Teatro TAIB?
É, no TAIB Era uma peça que se passava em volta de um casal de
tiranos numa aldeia imaginária onde o tema da liberdade e do
terror da tirania estava colocado. Era um texto escrito em forma
de parábola, de uma carga poética maravilhosa. O Guarnieri
participava, Othon Bastos, Marta Overbeck, Sergio Ricardo,
cantor e compositor que participava também como ator fazendo o
papel do ferreiro e a cenografia, no caso, foi uma cenografia
também muito pensada em termos dramáticos, em termos de síntese.
Era um lugar onde a morte estava presente e, então, eu tentei
modificar isto através de uma imagem... Eu me lembro que fui
chamado em cima da hora, quem devia ter feito a cenografia era
a Maria Bonomi que não pôde fazer e aí o Fernando me telefonou
e - "Olha, por favor, eu estou aflito, você não se incomoda..."
E fui lá, conversamos rapidamente e dois dias depois eu tinha a
ideia em projeto.
Que recorde!
É.
48 horas!
É. 48 horas. O tempo de pensar e realizar a ideia, Então, eu
fiquei pensando, pensando, pensando, pensei muito nessas imagens
que permanecem no tempo e que carregam dimensões que você não
consegue avaliar porque elas são cheias de mistério, cheias de
magia... Pensei nos dolmens, pensei nas cores egípcias e, de
repente, eu me lembrei da Ilha da Páscoa, aquelas cabeças
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Uma amazona?
Uma amazona, vestida de preto, com echarpe, com chapéu coco para
mulher que tinha um grande pano que caía e vestida a rigor, mas
toda de couro, couro preto, então, queria um pouco a
identificação da dominação que é industrial, da dominação da
alta finança, da alta indústria econômica, identificada em duas
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imagens, em duas roupas, mas realmente eu acho que foi uma das
ideias boas que eu tive.
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Entrevista com
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Para mim que sou pernambucano foi muito importante fazer esse
trabalho histórico de um dos fatos maiores da história do Brasil
que foi a expulsão dos Holandeses. O filme foi dirigido por
Paulo Tiago e a direção de fotografia foi de Mário Carneiro. O
grande ator Jardel Filho interpretou Maurício de Nassau. Renée
de Vielmond fazia D. Ana Paes e José Wilker fazia o papel de
Fernando Vieira. Os figurinos também foram muito bem executados
e até hoje eu mostro o filme para os meus alunos, estudando-o
cenicamente, em detalhes.
O outro trabalho foi Natan, o Sábio onde eu fui muito feliz nos
figurinos, expressando bem essa obra de Lessing. Eu acompanhei
diversos trabalhos na USP, nesses anos todos de magistério.
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Entrevista com
Helena Ignez
Atriz
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[Risos]... E era uma roupa só? Como que fez aquela parte do
sangue no final? Quando ela morre? Vocês deixaram por último,
para fazer aquela cena? Porque hoje em dia a gente teria um
figurino duplo, né?
Isso, foi a minha última cena no filme...
Que legal, que bacana! E a figuração era filmada como ela vinha
ou ele também pedia pra essa figuração trazer as roupas?
Pedia, pedia.
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“Briefava”?
Sim, ia bem direto. Entrava mesmo no figurino. Era engraçado
isso, né? E na vida, Rogério também era assim. Isso também era
muito interessante. Eu ia sair com ele e tal, e ele: “Tá faltando
um colarzinho...” [risos]
Que ótimo!
E eu botava um colarzinho, e ficava bom! [risos]
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E as botinhas?
Do Paulo, né? As botinhas do Paulo eu não sei... Mas Paulo
sempre foi muito chique, então, talvez fosse dele mesmo. Era
uma curtição quando eles saiam para comprar coisas, eu me lembro
que Rogério ria muito de tudo, ele achava muito engraçado as
roupas que o Paulo tava comprando...
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Ele é vivo?
Não... Ele faleceu de Aids um pouco depois... Ele era uma pessoa
muito bacana... Tadeu... Mas eu não lembro mais....
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Estas fotos são lindas! E você como atriz do filme e uma das
personalidades mais representativas do Cinema Marginal, como
enxerga a importância do figurino para compor a personagem?
Muito importante, no teatro, no cinema. O figurino é a segunda
pele, não é? Ela lhe dá informações diretas e imediatas sobre o
personagem. É um contato visual forte, o figurino. Ele pode
liquidar, acabar e também levantar. Felizmente nós temos bons
figurinistas no Brasil, o pessoal tá bem vestido... [risos]
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Eu fui numa palestra do Ismail Xavier, e ele fala que você seria
uma caricatura da femme fatale do filme noir americano. Como
foi construída esta imagem? Foi acontecendo ou existia esta
ideia de construir esta femme fatale? Ou você não enxerga assim?
Sim... Eu acho que existe sim ali uma vamp. Uma femme fatale.
Mas com uma restruturação disto, e humor também. Humor... Tinha
uma percepção paródica um pouco, ela não é realista. E não é
uma caricatura porque ela não vai ao extremo desta imagem de
femme fatale. Ela se desvia para um outro lado e sai do realismo.
Ela morde, ela queima... Ela trouxe características na “Mulher
de Todos”, que é o momento que este personagem mais se
desenvolve, ela já é uma outra coisa, ela já é uma criação
brasileira “Sganzerliana”, e o modelo já não existe mais...
Aquele modelo talvez tenha vindo no “Bandido”, mas na “Mulher
de Todos” não...
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Sei... Tem, tem uma relação com o figurino sim. Inclusive é uma
reação oposta... Mas isto, pensando depois, filosofando, porque
na verdade aquilo é aquilo! Mas existia um comportamento
masculino, você pode observar até hoje, uma reação de ciúmes às
mulheres, que o cara destrói as roupas dela (faz o gesto de
picotar), né? Então, você falando isto agora, será que não foi
uma reação oposta em que ela... Porque ali existe uma inversão,
na verdade foram as primeiras personagens femininas que se
assumem feministas de uma maneira muito especial neste cinema,
né? Então ela tem uma conotação política também neste sentido.
Ela que faz o jogo, que seria o dele normalmente, desta
destruição das roupas (faz o gesto de rasgar, jogar). Porque
ela assume um papel masculino. Não é uma heroína positiva,
porque ela se dá mal, ela rompe com os códigos, mas ela se dá
muito mal sempre... Então, eu acho que é por aí, tem que ver
isso... Mas é sim, é uma reação com o figurino. Dito por você
agora, fica muito claro! [risos] Porque é o figurino que ela
rasga!
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Em Brasília?
Em Brasília... Ganhou melhor figurino.
Que máximo!
Festival, como sempre muito bem prestigiado, pago, são prêmios
pagos.
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Não?
Não, de forma alguma! Não com esse nome... Apesar do Marginal,
também ser muito legal também como expressão... Outro dia eu vi
uma coisa linda sobre Marginal, será que foi Nijinsky? Uma
dessas grandes figuras magníficas e trágicas, falando que na
margem é que você descansa e vê, você tem esta perspectiva de
ver todo o horizonte. Então, tem esse lado. Tem também “Seja
Marginal, seja Herói” que também é interessante. Mas este
cinema, primeiro lugar é um cinema que se pagou sempre, nunca
deu prejuízo. Economicamente não há porque ser marginal foi bem,
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É verdade...
É porque autores como ele fora do Brasil não são chamados de
Marginal...
Não...
Não... Cinema Marginal francês... Não existe, não é? [risos]
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Tem uma linha que diz que depois do filme “A Margem”, alguns
estudiosos dizem que este período se inicia aí. E por causa
deste título, virou Marginal.
Mas “A Margem” apesar de ser um filme lindo, não tem nada a ver,
não pode definir outros filmes como no caso dos filmes do Júlio
(Bressane) e do Rogério.
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Sim...
Ele escreveu bastante coisa sobre o “Bandido”, né? Mas story-
board...
Uns desenhos...
Isso tem, estava na Mostra “Ocupação Rogério Sganzerla” no Itaú
Cultural (2010), alguma coisa foi mostrada neste sentido...
Então é isso, não sei se você quer falar mais alguma coisa...
Desejar boa sorte!
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Endereços úteis
Fausto Viana
https://tramasdocafecomleite.files.wordpress.com/2009/08/cenografia.pdf
Laura Françozo
http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/27/27156/tde-13112015-101124/pt-
br.php
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