Capítulo 2
Capítulo 2
Capítulo 2
Definição 2.1. Sejam A, B ⊂ R. Uma função f definida em A e com valores em B é uma regra que
associa a cada elemento x ∈ A um único elemento y ∈ B.
Exemplo 2.1.
[1] A seguinte tabela, que mostra a vazão semanal de água de uma represa, representa uma
função:
Dia 1 2 3 4 5 6 7
3
m /seg 360 510 870 870 950 497 510
De fato, a tabela representa uma função, pois a cada dia fica associada uma única quantidade de
vazão. Note que, possivelmente, não existe uma fórmula matemática para expressar a função
do exemplo, mas, a definição de função é satisfeita.
[2] Foi feita uma pesquisa de preços (em R$) de produtos da cesta básica em três supermercados
de um determinado bairro, obtendo-se a seguinte tabela:
35
36 CAPÍTULO 2. FUNÇÕES DE UMA VARIÁVEL REAL
Esta tabela não representa uma função, pois a cada produto corresponde mais de um preço.
[4] Um tanque para estocagem de oxigênio líquido num hospital deve ter a forma de um cilin-
dro circular reto de 8 m (m =metros) de altura, com um hemisfério em cada extremidade. O
volume do tanque é descrito em função do raio r.
4 r3 π 3
O volume do cilindro é 8 r 2 π m3 e o dos dois hemisférios é m ; logo, o volume total é:
3
4 r 2 (r + 6) π 3
V (r) = m .
3
28 π 3
Por exemplo, se o raio for r = 1 m, o volume é V (1) = m .
3
[5] Dois satélites artificiais estão circulando ao redor do Equador em uma órbita de raio igual a
4.23 × 107 km. O comprimento s que separa os satélites, se eles tiverem uma separação angular
de θ (em radianos), é s = r θ, onde r é o raio.
s
θ
C C
P = f (V ) = , ou o volume em função da pressão: V = f (P ) = .
V P
[7] Lei do fluxo laminar de Poiseuille: (Fluxo sanguíneo através de um vaso, como artérias
ou veias). Como as quantidades envolvidas são pequenas, podemos considerar que vasos tem
formato cilíndrico não elástico.
Denotemos por R o raio e l o comprimento. Devido a fricção nas paredes do vaso, a velocidade
v do sangue é maior ao longo do eixo central do vaso e decresce se a distância d do eixo à
parede cresce e é zero na parede. A relação entre a velocidade da circulação e d é dada por:
P (R2 − d2 )
v(d) = ,
4lη
[8] Temos 1000 metros de arame para fazer um curral de formato retangular. Podemos escrever
a área do curral em função de um dos lados. De fato, se x e y são os lados do curral, seu
perímetro é 2 (x + y) = 1000 e a área do retângulo é A = x y; logo:
[9] Fisiologistas desenvolveram uma fórmula para determinar a superfície corporal de animais
em função de seu peso. Se denotamos por S a superfície corporal, então:
p
3
S(p) = k p2 ,
onde p é o peso em quilos do animal e k > 0 é uma constante que depende do animal. Experi-
mentalmente, é conhecido que k = 0.11 para humanos e k = 0.118 para primatas. Por exemplo,
um homem de 70 quilos tem uma superfície corporal aproximada de:
√
702 = 1.868439 m2 ;
3
S(70) = 0.11 ×
p
3
p S(p) = 0.11 × p2
√
20
3
0.11 × √202 ∼
= 0.81048 m2
54
3
0.11 × √542 ∼
= 1.57152 m2
70
3
0.11 × √702 ∼
= 1.86839 m2
86
3
0.11 × √862 ∼
= 2.14317 m2
90
3
0.11 ×√ 902 ∼
= 2.20912 m2
120
3
0.11 × 1202 ∼
= 2.67616 m2
[10] Considere A = R e f a regra que associa a cada número real x ∈ A, o seu cubo, isto é:
y = f (x) = x3 .
Por exemplo, ao número −1 associamos o número
√ f (−1) = (−1)3 = −1;
√ ao número
√ 2 associa-
3
mos o número f (2) = (2) = 8; ao número 2 associamos o número f ( 2) = 2 2, ao número
t4 + 1 associamos o número f (t4 + 1) = (t4 + 1)3 , etc.
x f (x) = x3
-1 (−1)3 = −1
3
√2 √ 3(2) = √8
2 ( 2) = 2 2
t t3
t4 + 1 (t + 1)3
4
t−1/4 t−3/4
√
√
6
m √ m1/2
(t − 4 t + 1)5
4
(t4 − 4 t + 1)15
7 7
[11] Seja A = [0, +∞) e f a regra que associa a cada número real x ≥ 0 sua√raiz quadrada, isto é:
√
y = f (x) = x. Por exemplo, √ ao número 0 associamos o número f (0) = 0 = 0; ao número t4
4
associamos√o número f (t ) = t4 = t2 e ao número −4 não podemos associar nenhum número
real, pois, −4 não é um número real.
√
x f (x) = x
0 √0
2 2
4 2
-4 indefinido
t4 p t2
4
t √+1 t4 √
+1
6 12
√ m √ m
(t + 4 t + 1)10
4
(t4 + 4 t + 1)5
8 8
√ √
x 0 -1 -3 2 3 5
2 2 3
√
f (x) 0 (−1) = 1 (−3) = 9 (2) = 8 3 5 5
Nos exemplos [3], [4], [5], [6],[7], [8], [9], [10], [11] e [12] as funções são definidas por fórmulas
(que fornecem y quando são atribuidos valores a x). No exemplo [13], a função não é dada
por uma fórmula, mas, a definição de função é satisfeita. Em geral, nem todas as funções são
necessariamente, definidas de maneira explícita. Por exemplo:
[14] Se, durante o verão de 2006, no Rio de Janeiro, registrássemos a temperatura máxima
ocorrida em cada dia, obteríamos uma função. De fato, a cada dia, está associado uma única
temperatura máxima, isto é, a temperatura é função do dia. Embora não exista uma fórmula
explícita para expressar a função do exemplo, a definição de função é satisfeita.
Em geral, a maioria das funções usadas nas aplicações são dadas por fórmulas ou equações.
Mas é preciso ter um pouco de cuidado, pois nem toda equação de duas variáveis define uma
função. Por exemplo, a equação y 2 = x não define uma função, pois para x = 1 temos dois
√
valores para y, a saber: y = ±1; mas y 2 = x dá origem a duas funções: y = f1 (x) = x e
√
y = f2 (x) = − x.
Podemos imaginar uma função como uma máquina que utiliza uma certa matéria prima (input)
para elaborar algum produto final (output) e o conjunto dos números reais como um depósito
de matérias primas. Fica evidente que é fundamental determinar, exatamente, neste depósito,
qual matéria prima faz funcionar nossa máquina; caso contrário, com certeza, a estragaremos.
x f(x)
Figura 2.4:
Definição 2.2.
É claro que Dom(f ) ⊂ R, Im(f ) ⊂ R, e que Dom(f ) é o conjunto dos valores da variável in-
dependente para os quais f é definida; Im(f ) é o conjunto dos valores da variável dependente
calculados a partir dos elementos do domínio. Duas funções f e g são ditas idênticas se tem o
mesmo domínio D e f (x) = g(x), para todo x ∈ D; por exemplo as funções f (x) = x2 , x > 0 e
g(x) = x2 , x ∈ R são diferentes pois seus domínios são diferentes. Antes de ver alguns exem-
plos, voltamos a insistir que para estudar qualquer função, devemos sempre determinar os
conjuntos Dom(f ) e Im(f ).
Exemplo 2.2.
[1] A área de um círculo de raio r é A(r) = π r 2 ; r sendo o raio, temos: r > 0; logo,
[2] Considere a função y = f (x) = x2 ; é claro que não existem restrições para o número real x;
logo, temos que:
Dom(f ) = R
e y = x2 ≥ 0, para todo x ∈ R; então Im(f ) ⊂ [0, +∞). Como todo número real não negativo
possui raiz quadrada real; então:
Im(f ) = [0, +∞).
√
[3] Considere a função y = f (x) = x. Uma raiz quadrada existe somente se x ≥ 0; então:
Dom(f ) = (−∞, −1] ∪ [1, +∞) e, novamente, temos: Im(f ) = [0, +∞).
1
[5] Considere a função y = f (x) = ; é claro que f é definida se e somente se x 6= 0; logo temos
x
que:
Dom(f ) = R − {0} = (−∞, 0) ∪ (0, +∞);
por outro lado, uma fração é nula se e somente se o numerador é nulo; então
Im(f ) = R − {0}.
1
[6] Considere a função y = f (x) = ; como no caso anterior o denominador da fração não
x2
−1
2
pode ser nulo; logo x − 1 6= 0; então, x 6= ±1 e:
Dom(f ) = Im(f ) = R.
2.2. GRÁFICOS DE FUNÇÕES 41
√ √
[8] Considere a função y = f (x) = x + x2 − 1. A função é definida se x ≥ 0 e x2 − 1 ≥ 0
simultaneamente. Resolvendo as inequações, obtemos x ≥ 1; logo,
Agora que determinamos nos exemplos os domínios e imagens das funções, podemos avaliar,
sem perigo, estas funções.
√ √ √ √
[9] Se f (x) = x, então f (5) = 5, f (π) = π e f (x2 + 1) = x2 + 1, pois x2 + 1 é sempre
positivo.
1 1 1
[10] Se g(x) = , calculamos g = t, se t 6= 0 e g(x4 + 4) = 4 .
x t x +4
Geometricamente G(f ) é, em geral, uma curva no plano. Nos exemplos [1], [13] e [14] da seção
2.1, G(f ) não é uma curva. Nos casos em que G(f ) é uma curva, intuitivamente podemos
pensar que os conjuntos Dom(f ) e Im(f ) representam a “largura” e “altura” máxima da curva,
respectivamente. Inicialmente, a construção dos gráficos será realizada fazendo uma tabela,
onde as entradas da tabela são os elementos do domínio e as saídas, as respectivas imagens.
Este processo é demorado e ineficiente e será abandonado nos capítulos seguintes, quando
serão dadas técnicas mais eficientes para fazer o gráfico. É importante não confundir a função
com seu gráfico, pois o gráfico é um subconjunto do plano.
Exemplo 2.3.
[1] Esboce o gráfico da função dada pela seguinte tabela, que mostra a vazão semanal de água
de uma represa:
Dia m3 /seg
1 360
2 510
3 870
4 870
5 950
6 497
7 510
O gráfico desta função não representa uma curva. A primeira coluna da tabela representa a
abscissa e a segunda coluna as respectivas ordenadas; logo, obtemos:
42 CAPÍTULO 2. FUNÇÕES DE UMA VARIÁVEL REAL
1000
800
600
400
200
1 2 3 4 5 6 7
[2] Esboce o gráfico da função f (x) = x2 . Note que Dom(f ) = R e Im(f ) = [0, ∞). Fazendo a
tabela:
x f (x) = x2
0 0
±1/4 1/16
±1/3 1/9
±1/2 1/4
±1 1
±2 4
±3 9
0.8
0.6
0.4
0.2
-1 -0.5 0.5 1
[3] Esboce o gráfico da função f (x) = x3 . Note que Dom(f ) = Im(f ) = R. Fazendo a tabela:
x f (x) = x3
0 0
±1/4 ±1/64
±1/3 ±1/27
±1/2 ±1/8
±1 ±1
±2 ±8
Se x ≥ 0, então y ≥ 0 e se x < 0, então y < 0. Logo, o gráfico está situado no primeiro e terceiro
quadrantes. Observando a tabela, vemos que quando x > 0 e x cresce, os valores correspon-
dentes da ordenada y também crescem e mais rapidamente. Quando x < 0 e x decresce, os
valores correspondentes da ordenada y decrescem e mais rapidamente. O gráfico de f é:
0.75
0.5
0.25
-1 -0.5 0.5 1
-0.25
-0.5
-0.75
-1
1
[4] Esboce o gráfico da função f (x) = x. Note que Dom(f ) = Im(f ) = R − {0}. Fazendo a
tabela:
1
x f (x) =
x
±1/100 ±100
±1/4 ±4
±1/3 ±3
±1/2 ±2
±1 ±1
±2 ±1/2
±3 ±1/3
Se x > 0, então y > 0 e se x < 0, então y < 0. Logo, o gráfico está situado no primeiro e terceiro
quadrantes. Observando a tabela, vemos que quando x > 0 e x cresce, os valores correspon-
dentes da ordenada y aproximam-se de zero e à medida que x aproxima-se de zero, os valores
correspondentes da ordenada y aumentam muito. Quando x < 0 e x cresce, os valores corres-
pondentes da ordenada y decrescem e à medida que x decresce, os valores correspondentes da
ordenada y aproximam-se de zero. O gráfico de f é:
44 CAPÍTULO 2. FUNÇÕES DE UMA VARIÁVEL REAL
-3 -2 -1 1 2 3
-1
-2
-3
x − x
2 se x ≥ 12
[5] Esboce o gráfico da seguinte função : f (x) = x se − 12 < x < 1
2
se x < − 12 .
2
x +x
0.4
0.2
-0.2
-0.4
-1 1 2 3 5
Figura 2.10:
(2, 2) é y = 2 (x − 1). A equação da reta que passa por (2, 2) e (3, 0) é y = −2 (x − 3); então:
0 se x<1
se
2 (x − 1) 1≤x<2
f (x) = .
−2 (x − 3)
se 2≤x≤3
se
0 3<x
Observação 2.1.
Exemplo 2.4.
8
y
5
4
4
2 3
-3 -2 -1 1 2 3 2
-2
-4
-6 -3 -2 -1 0 1 2 3
x
10
-2 -1 1 2
-5
-10
A seguir daremos vários exemplos de funções, com seus respectivos domínios, imagens e grá-
ficos. A idéia é formar um "catálogo"das funções mais usadas, as quais serão utilizadas nos
exemplos e exercícios.
Exemplos de Funções
-3 -2 -1 0 1 2 3
x
Observe que os gráficos de |f (x)| e de f (|x|) podem ser obtidos do gráfico de f (x). De fato,
g(x) = |f (x)| é obtido refletindo através do eixo dos x, no primeiro e segundo quadrantes a
porção do gráfico de f que esteja no terceiro e quarto quadrantes. Como exercício, diga como
pode ser obtido o gráfico de f (|x|).
Exemplo 2.5.
Esboce os gráficos de:
[1] g(x) = |x − 1| + 2.
[2] h(x) = |x3 |.
Seja f (x) = |x|; logo, g(x) = f (x − 1) + 2; então, o gráfico de g é obtido a partir do gráfico
da função f transladando-o ao longo do eixo dos x em 1 unidade para a direita e 2 unidades
2.4. FUNÇÕES POLINOMIAIS 47
para cima. O gráfico é constituido de dois segmentos de retas de coeficientes angulares 1 e −1,
passando por (1,2) e (0,3), respectivamente.
0.2
4
3 0.15
2 0.1
1 0.05
-2 -1 1 2 3 4 -1 -0.5 0.5 1
Exemplo 2.6.
3 3
2 2
1 1
-2 -1 1 2 -2 -1 1 2
-1 -1
-2 -2
Figura 2.15:
e é modelo matemático para resolver problemas que envolvem proporcionalidade. Seu gráfico
é uma reta de coeficiente angular m passando pela origem.
3. Quando m = 1, temos:
f (x) = x,
que é chamada função identidade. Seu gráfico é uma reta de coeficiente angular 1.
Exemplo 2.7.
[1] Suponha que os seguintes dados foram coletados num experimento. Se a teoria subjacente
à experiência indica que os dados tem uma correlação afim, ache tal função afim.
y
20
10
-10 -5 5 10
x
-10
-20
Note que como o gráfico de uma função afim é uma reta, podemos tomar qualquer par de
pontos e obtemos a mesma função; por exemplo:
[2] Sabemos que a pressão da água do mar é função da profundidade. Denotemos por P a
pressão e H a profundidade relativa ao nível do mar. Experimentalmente verifica-se que a
pressão da água ao nível do mar é de 1 atm, (atm =atmosfera) e que acréscimos iguais na
profundidade correspondem a acréscimos iguais na pressão. Logo, ao passar de um ponto do
mar para outro situado a 1 m (m =metro) de profundidade, haverá um aumento da pressão
de aproximadamente 1 atm. Passando do nível do mar a uma profundidade de H m, a pressão
aumentará H × 0.1. A pressão da água, em atmosferas, é dada pela função polinomial do
primeiro grau:
P = f (H) = 0.1 H + 1.
10
20 40 60 80 100
x
grau:
35 x 70
35 x + 26 y = 70 =⇒ f (x) = − + .
26 26
y
2.5
2.0
1.5
1.0
0.5
[4] (Lei de Hooke): Se um peso de x unidades for pendurado em uma mola esta se alonga em
um valor y que é diretamente proporcional a x, isto é,
f (x) = k x.
A constante k depende da rigidez da mola (quanto mais rígida for a mola, menor será o valor
de k).
y = f (x) = a x2 + b x + c
Exemplo 2.8.
[1] A área de uma esfera é função quadrática de seu raio. De fato, S(r) = 4 π r 2 .
[2] (Lei do fluxo laminar de Poiseuille): Fluxo sanguíneo através de um vaso, como artérias ou
veias. É uma função quadrática em d:
P (R2 − d2 )
v(d) = .
4lη
[3] A trajetória de um corpo lançado obliquamente, desprezando a resitência do ar, é dada por
uma função polinomial do segundo grau. A partir de seu deslocamento horizontal (ao longo
do eixo dos x), obtemos sua altura y. Por exemplo, um objeto é lançado no ar. Se sua altura,
em metros, t segundos após o lançamento é dada por y = f (t) = 20 t − 10 t2 , qual é a altura
máxima atingida pelo objeto e em que instante ele a atinge?
10
4 x 16 x2
[4] Pelas observações 2.1, os gráficos de y = f (x) = x2 (azul), y = f − = (vermelha)
3 9
e y = f (2 x) = 4 x2 (verde), são:
4
-2 -1 0 1 2
0.5
-1 1
-0.5
-1 1
Exemplo 2.9.
O faturamento de uma empresa, num certo período, foi expresso em função do número x de
vendedores por f (x) = x3 − 3 x2 − 18 x reais por dia. Quantos eram os vendedores no dia em
que o faturamento atingiu 70 mil reais?
Estudemos as raizes inteiras de f (x) = 70, isto é, x3 − 3 x2 − 18 x − 70 = 0. Não é difícil ver que
7 é uma raiz do polinômio; de fato:
x3 − 3 x2 − 18 x − 70 = (x − 7) (x2 + 4 x + 10);
70
2 4 6 8 10
1. Uma função f é dita par se, para todo x ∈ Dom(f ) então −x ∈ Dom(f ) e
f (−x) = f (x)
2. Uma função f é dita ímpar se, para todo x ∈ Dom(f ) então −x ∈ Dom(f ) e
f (−x) = −f (x)
Pelas definições de função par e de função ímpar é fácil ver que o gráfico de uma função par
é simétrico em relação ao eixo dos y e o gráfico de uma função ímpar é simétrico em relação à
origem.
Exemplo 2.10.
1
[1] Seja y = f (x) = x2 + .
x2
Dom(f ) = R − {0}, a primeira parte das definições é verificada e:
1 1
f (−x) = (−x)2 + 2
= x2 + 2 = f (x);
(−x) x
4
0.1
-0.1
1
-1 1 -0.2
-1 1
Algumas vezes, para esboçar o gráfico de uma função é conveniente verificar se a função é par
ou ímpar, pois a simetria presente nos gráficos destas funções facilitará o desenho. Note que
existem muitas funções que não são pares e nem ímpares.
Por exemplo, seja f (x) = x2 + x; como Dom(f ) = R e f (−x) = x2 − x; logo, f (−x) 6= f (x) e
f (−x) 6= −f (x); então, f não é função par nem ímpar.
Achar os x tais que f (x) > b é equivalente a determinar os elementos do Dom(f ) tal que os
pontos do gráfico de f , estão acima da reta y = b. Achar os x tais que f (x) < b é equivalente
a determinar os elementos do Dom(f ) tal que os pontos do gráfico de f , estão abaixo da reta
y = b.
2.4. FUNÇÕES POLINOMIAIS 55
Exemplo 2.11.
[1] Se f (x) = x2 , então, achar x tal que f (x) > 1 é equivalente a determinar os elementos do
Dom(f ) tal que os pontos do gráfico de f , estão acima da reta y = 1.
[2] f (x) = x2 (x − 1); então, achar x tal que f (x) < 0 é equivalente a determinar os elementos
do Dom(f ) tal que os pontos do gráfico de f , estão abaixo da reta y = 0.
-1 1
Podemos afirmar que o gráfico de uma função é, em geral, uma curva no plano coordenado; a
recíproca nem sempre é verdadeira, isto é, nem toda curva no plano coordenado (ou conjunto
do plano) é o gráfico de alguma função. Geometricamente uma curva no plano coordenado é
o gráfico de uma função se toda reta paralela ao eixo dos y intersecta a curva no máximo num
ponto (por que?). Por exemplo, a seguinte curva não representa uma função:
Figura 2.28:
[3] O conjunto
√ A = {(x, y) ∈ R2 / x2 + y 2 = 1} não é o gráfico de uma função. De fato, temos
y = ± 1 − x2 ; logo, para todo x ∈ (−1, 1) existe mais de um y tal que (x, y) ∈ A.
1
-1 1
-1
-1 1
Figura 2.30:
0.4
-1 1
Figura 2.31:
[3] Os níveis de dois reservatórios de água são expressos em função do tempo t pelas seguintes
funções: h1 (t) = 100 t3 + 5 t − 1.8 e h2 (t) = 50 t3 + 2 t − 0.8. Determine os instantes em que cada
um dos níveis se reduz a zero, sabendo que alguma vez isto acontece simultaneamente.
Como existe t0 tal que h1 (t0 ) = 0 e h2 (t0 ) = 0, devemos resolver o sistema
( (
h1 (t0 ) = 0 (1) 100 t30 + 5 t0 − 1.8 = 0
⇐⇒
h2 (t0 ) = 0 (2) 50 t30 + 2 t0 − 0.8 =0
2.6. ÁLGEBRA DE FUNÇÕES 57
Multiplicando (2) por 2 e subtraindo de (1), temos que t0 = 0.2 é a raiz comum.
10
-2
-4
Dividindo os polinômios (1) e (2), verificamos que não possuem outras raızes reais. Logo, o
único instante em quecada um dos níveis descem a zero é em 0.2 u.t. (u.t.=unidades de tempo).
2. Multiplicação de funções:
3. Divisão de funções:
f f (x)
(x) = , se g(x) 6= 0
g g(x)
f
Dom = (Dom(f ) ∩ Dom(g)) − {x ∈ Dom(g)/g(x) = 0}.
g
Exemplo 2.13.
[1] A adição e a subtração de funções afins são funções afins. De fato, se f (x) = m1 x + b1 e
g(x) = m2 x + b2 ; então:
-2 -1 1 2
-5
-10
[2] A adição e a subtração de funções polinomiais quadráticas são, em geral, funções polinomi-
ais quadráticas. De fato, se f (x) = a1 x2 + b1 x + c1 e g(x) = a2 x2 + b2 x + c2 tais que a1 6= a2 ;
então:
-4 -2 2 4
-2
-4
P (x)
f (x) =
Q(x)
Exemplo 2.14.
k
[1] A função f (x) = , k ∈ R é modelo matemático de problemas que envolvem quantidades
x
inversamente proporcionais. Por exemplo, a lei de Boyle.
x2 + 1
[2] Seja f (x) = .
x4 + x3 + 4x2 − x − 5
Fatorando Q(x) = x4 + x3 + 4x2 − x − 5 = (x2 − 1)(x2 + x + 5), tem-se: Q(x) = 0 se x = ±1;
logo, Dom(f ) = R − {−1, 1}.
x+8
[3] Seja f (x) = .
x5 − 4x3 − x2 + 4
Fatorando Q(x) = x5 − 4x3 − x2 + 4 = (x3 − 1)(x2 − 4), tem-se: Q(x) = 0 se x = 1, x = 2 ou
x = −2; logo, Dom(f ) = R − {−2, 1, 2}.
x4 + 6
[4] Seja f (x) = .
x4 + 4x2 + 3
Fatorando Q(x) = x4 + 4x2 + 3 = (x2 + 1)(x2 + 3), tem-se: Q(x) não possui raízes reais; logo
Dom(f ) = R.
Observe que a definição faz sentido, pois f (x) ∈ Dom(g). Por outro lado:
Esta definição produz, a partir de funções conhecidas, novas funções, como veremos mais adi-
ante. A definição de composta de funções é de fácil manejo, como veremos nos exemplos.
Exemplo 2.15.
-6 4
-6 4
Im(g) = R e Dom(f ) = (−∞, −1] ∪ [1, +∞); logo, não podemos calcular f ◦ g a menos que
consideremos um domínio menor para g depmodo que Im(g) √⊂ Dom(f ).
De fato: (f ◦ g)(x) = f (g(x)) = f (x + 1) = (x + 1)2 − 1 = x2 + 2 x. Temos:
Dom(g ◦ g ◦ g) = R.
√
(f ◦ f ◦ f ◦ f )(x) = f (f (f (f (x)))) = x2 − 4.
(f ◦ g)(x) 6= (g ◦ f )(x)
[3] Suponha que uma mancha de poluente que contamina uma lagoa tem a forma de um disco
de raio r (em cm) e sua área A (em cm2 ) é função do raio. Se o raio cresce em função do tempo
t (em min) pela lei r = r(t) = (10 t + 0.5) cm, determine a área da mancha em função do tempo.
A área é A(r) = π r 2 ; devemos calcular A(t), por outro lado A(t) = (A ◦ r)(t) = A(r(t)); logo,
A(t) = A(r(t)) = A(10 t + 0.5) = π (10 t + 0.5)2 cm2 .
1
[4] A função h(x) = √ pode ser escrita como a composta de duas outras funções.
x4+ x2 + 1
1
De fato, h(x) = (g ◦ f )(x), onde f (x) = x4 + x2 + 1 e g(x) = √ .
x
2.7. COMPOSTA DE FUNÇÕES 61
-2 -1 1 2
[5] Esboce o gráfico de y = |x2 − 1|. A função h(x) = x2 − 1 pode ser escrita como a composta
das funções f (x) = x2 − 1 e g(x) = |x|; logo, h = g ◦ f . Pelas observações 2.1, o gráfico de
h(x) = |f (x)| é
-1 1
-1
1 1 2−x
f1 (x) = (f0 ◦ f0 )(x) = f0 (f0 (x)) = f0 ( )= 1 = ,
2−x 2 − 2−x 3 − 2x
2−x 1 3 − 2x
f2 (x) = (f0 ◦ f1 )(x) = f0 ( )= 2−x = 4 − 3 x ,
3 − 2x 2 − 3−2 x
3 − 2x 4 − 3x
f3 (x) = (f0 ◦ f2 )(x) = f0 ( )= .
4 − 3x 5 − 4x
Observando as expressões anteriores podemos afirmar que:
(n + 1) − n x
fn (x) = .
(n + 2) − (n + 1) x
a B = B(a) B a = a(B)
0 25 25 0
1 28 28 1
2 31 31 2
3 35 35 3
4 38 38 4
5 41 41 5
6 44 44 6
A primeira tabela foi obtida num estudo sobre a população de baleias corcundas num certo
setor costeiro utilizado como ponto de reprodução pela espécie. O tamanho da população de
baleias é medido anualmente, durante 6 anos. O número B de baleias é função do ano a em
que é realizada a medição: B = B(a). Suponha que, em certo instante, os biológos mudam o
ponto de vista e ficam interessados no tempo estimado para que a população de baleias atinja
um certo número de indivíduos B, ou seja, desejam obter a em função de B: a = a(B). Tal
função é chamada de inversa de B = B(a). Veja a segunda tabela.
50
6
40 5
4
30
3
20
2
10
1
1 2 3 4 5 6 10 20 30 40
2. Para todo x ∈ Dom(g), (f ◦ g)(x) = x e para todo x ∈ Dom(f ), (g ◦ f )(x) = x. Em tal caso f
é dita invertível.
2.8. INVERSA DE UMA FUNÇÃO 63
Exemplo 2.16.
√
[2] f (x) = x, x ≥ 0 e g(x) = x2 , x ≥ 0 são inversas.
√
(f ◦ g)(x) = f (g(x)) = f (x2 ) = x, (g ◦ f )(x) = g(f (x)) = g( x) = x.
Escreva a equação y = f (x) que define a função f . Resolva a equação y = f (x), para x em
função de y para obter x = f −1 (y) e, a seguir, permute x por y. A equação obtida define f −1 .
Note que, a rigor, a função f −1 toma valores nos y ∈ Im(f ). É possível determinar geometrica-
mente se uma função possui ou não função inversa. Para isto, desenhe qualquer reta paralela
ao eixo dos x; se a reta intersecta o gráfico da função no máximo num ponto, então a função
possui inversa.
64 CAPÍTULO 2. FUNÇÕES DE UMA VARIÁVEL REAL
Exemplo 2.17.
[1] Funcionamento de um termômetro: O volume de uma quantidade de mercúrio é função
da sua temperartura. Usando a função inversa, determinamos a temperatura através de seu
volume.
[2] A inversa de uma função afim não constante é afim. De fato, se y = f (x) = m x + b; então,
1 1
f −1 (y) = (y − b). Permutando x por y, y = f −1 (x) = (x − b).
m m
[3] Seja f (x) = xn , n ∈ N. Sabemos que se n é par a função é par e se n é ímpar a função é
ímpar. Logo f possui inversa para x ≥ 0 se n é par:
-1 1
-1
ax + b ax + b
[4] Seja f (x) = , a d − b c 6= 0; fazendo: y = e resolvendo a equação em relação a
cx + d cx + d
x, temos,
dy − b
x= ;
a − cy
dy − b a
logo f −1 (y) = se y 6= c ou, equivalentemente,
a − cy
dx − b
f −1 (x) =
a − cx
se x 6= ac , que é a inversa de f .
[5] Uma bola de borracha está sendo inflada e seu volume V é função do tempo t (em min)
sendo V (t) = (4 t + 5) cm3 . Quanto tempo demora a bola até atingir o volume de 45 cm3 ?
V −5
Devemos determinar a função inversa de V . Como V = 4 t + 5 então t = e
4
V −5
t = V −1 (V ) = e t = V −1 (45) = 10 min.
4
[6] É comum, em diferentes Ciências da Natureza, utilizar duas escalas para medir temperatu-
ras, Fahrenheit e Celsius.
ii) Determine f −1 .
i) Se o gráfico é uma reta a função deve ser do tipo: y = f (x) = m x+b. Por outro lado, sabemos
que: y = f (32) = 0, pois a água se congela a 0 graus Celsius. y = f (212) = 100, pois a água
ferve a 100 graus Celsius. Portanto:
5 (x − 32)
logo f (x) = .
9
5 9y 9x
ii) Seja y = (x − 32); então, x = + 32 e f −1 (x) = + 32. Logo, estas são as regras de
9 5 5
conversão entre temperaturas dadas em graus Celsius e graus Fahrenheit.
66 CAPÍTULO 2. FUNÇÕES DE UMA VARIÁVEL REAL
Funções Elementares
A seguir apresentamos uma classe importante de funções que tem um papel fundamental nas
aplicações que serão tratadas nos capítulos posteriores.
Exemplo 2.18.
Suponha que após 7 meses de observação foram obtidos os seguintes dados de uma população
de formigas:
M Q V
1 150000
2 159000 9000
3 168540 9540
4 178652 10112
5 189371 10719
6 200733 11362
7 212777 12044
2.9. FUNÇÃO EXPONENCIAL 67
Em geral, decorridos x meses após a primeira observação, a população de formigas é dada por:
200000
150000
100000
50000
1 2 3 4 5 6 7
Definição 2.8. Seja a ∈ R tal que 0 < a 6= 1. A função exponencial de base a é denotada e definida
por:
y = f (x) = ax
Dom(f ) = R, Im(f ) = (0, +∞), f (0) = 1, f (1) = a e seu gráfico depende de ser a > 1 ou
0 < a < 1.
1 p
Se n ∈ N, então an = a × a × . . . × a, n vezes. Se n ∈ N, então a−n = n
. Se x ∈ Q, então x = ,
a q
onde p ∈ Z e q ∈ Z − {0}, e:
p √
ax = a q =
ap . q
√ √
/ Q, isto é, x é um número irracional como π, 3, que sentido tem a expresão aπ e a 3 ?
Se x ∈
A resposta rigorosa a esta pergunta será respondida em níveis de estudos mais elevados que o
destas notas introdutórias. Por enquanto, vejamos uma idéia intuitiva:
Exemplo 2.19.
√ √ √
Considere 2 3 ; o número irracional 3 é aproximadamente 3 ∼ = 1.732050807568 . . . Por outro
lado, os seguintes números são racionais: 1.7, 1.73, 1.732, 1.73205 =, etc. Logo, pela observação
anterior sabemos calcular 21.7 , 21.73 , 21.732 , 21.73205 , . . . e podemos obter um valor aproximado
68 CAPÍTULO 2. FUNÇÕES DE UMA VARIÁVEL REAL
√
para 2 3. Observe a tabela:
x 2x
1.7 3.249009
1.73 3.317278
1.732 3.321880
1.73205 3.321995
.. ..
. .
√ √
3
3 2
para todo x1 , x2 ∈ R.
b x
2. f (b x) = f (x) = f (b) . Isto é:
ab x = (ax )b = (ab )x ,
para todo x, b ∈ R.
Dada uma função exponencial f (x) = ax , os valores f (1), f (2), f (3), . . . . . . formam uma pro-
gressão geométrica (P.G.) de razâo a. Na verdade, para toda função exponencial f (x) = ax , as
razões
f (x + h)
= ah
f (x)
dependem apendas de h e não de x. Esta é uma propriedade característica das funções expo-
nenciais e significa que se consideramos a progressão aritmética de razão h:
x, x + h, x + 2 h, x + 3 h, x + 3 h, . . . . . .
Pelas propriedades anteriores, cada vez que a abscissa aumenta uma unidade a ordenada é
multiplicada por a e cada vez que a abscissa diminui uma unidade a ordenada é multiplicada
por a1 . Se a > 1, então, a distância da curva ao eixo dos x cresce quando x cresce e decresce
quando x decresce. Se a < 1 ocorre o contrário. Um caso particular e importante de função
exponencial é quando a é a constante de Euler e ≃ 2, 718281.
Gráficos para 0 < a < 1:
2.10. APLICAÇÕES 69
1 1 1
Figura 2.46: a = 2 (negro), a = 4 (azul) e a = 3 (vermelho).
2.10 Aplicações
As funções exponenciais ou compostas de exponenciais tem um importante papel em Matemá-
tica Aplicada. A seguir, apresentamos algumas destas aplicações.
r mt
A = A0 1 + .
m
Por exemplo, suponha que 1000 reais são investidos a uma taxa de juros compostos de 7% ao
ano, o montante acumulado após 5 anos, se os juros forem capitalizados semestralmente é de
0.07
A = 1000 1 + 10,
2
logo A ∼
= 1410.59 reais.
70 CAPÍTULO 2. FUNÇÕES DE UMA VARIÁVEL REAL
Exemplo 2.20.
[1] Projeta-se que em t anos, a população de um estado será de P (t) = 10 e0.02t milhões de
habitantes. Qual é a população atual? Qual será a população em 20 anos, se a população
continuar crescendo nesta proporção?
A população atual é P (0) = 10 milhões e:
P (20) = 10 e0.4 ∼
= 14.918 milhões.
[2] Biólogos determinaram que em condições ideais uma colônia de bactérias cresce exponen-
cialmente. Se, inicialmente existem 3000 bactérias e após 30 minutos estão presentes 9000,
quantas bactérias estarão presentes após uma hora?
Note que Q(t) = 3000 ekt , pois Q(0) = 3000; por outro lado 9000 = Q(30) = 3000 e30k e e30k = 3.
Logo,
2
Q(60) = 3000 e60k = 3000 e30k = 3000 × 9 = 27000 bactérias.
50
30 000
40 25 000
30 20 000
15 000
20
10 000
10
5000
-20 20 40 60 10 20 30 40 50 60
Uma quantidade que decresce de acordo com a lei Q(t) = Q0 e−kt ; Q0 , k > 0 é dita que experi-
menta um decrescimento exponencial com valor inicial Q(0) = Q0 .
[3] Em Farmacologia, sabe-se que a concentração de penicilina e outras drogas tem um decres-
cimento exponencial, em relação ao tempo da aplicação da droga.
O modelo utilizado é Q(t) = Q0 e−kt , onde k > 0 é uma constante que depende da droga.
Outras aplicações serão vistas nos próximos parágrafos.
sustentar, sem a extinção da espécie. Um ótimo modelo para o estudo deste tipo de situação é
a função logística, definida por:
A
L(t) = ,
1 + B e−Ct
onde A, B, e C são constantes positivas. Este modelo também é usado no estudo da propaga-
ção de epidemias, da propagação de doenças infecciosas e na propagação de boatos ou notícias.
Exemplo 2.21.
[1] Uma população de moscas drosófilas num ambiente limitado é dada por:
400
L1 (t) = ,
1 + 39 e−0.4t
onde t denota o número de dias transcorridos. Qual é a população inicial? Qual é a população
no 10o dia?
Note que inicialmente, temos L1 (0) = 10 moscas; L1 (10) = 233.33; aproximadamente 233
moscas.
[2] Durante uma epidemia de dengue, o número de pessoas que adoeceram após t dias, num
certo bairro, é dada por:
10000
L2 (t) = .
1 + 99 e−0.2t
Quantas pessoas ficaram doentes após o primeiro dia? Quantas pessoas ficaram doentes após
25 dias?
Note que inicialmente, temos L2 (1) = 121.87; aproximadamente 121 doentes e L2 (25) = 5998.6;
aproximadamente 5998 doentes.
400 10000
8000
300
6000
200
4000
100
2000
5 10 15 20 25 30 10 20 30 40 50
2 1 1
Figura 2.50: a = 3 (negro), a = 3 (azul) e a = 4 (vermelho).
Usando novamente o fato de y = loga (x) ser a inversa da exponencial temos as seguintes
identidades: loga (ax ) = x, para todo x ∈ R e aloga (x) = x para todo x ∈ (0, +∞).
loga (x1 · x2 ) = loga (x1 ) + loga (x2 ), para todo x1 , x2 ∈ (0, +∞).
1
x
A relação entre ax e ex é:
x
ax = eln(a) = ek x
onde k = ln(a).
Exemplo 2.22.
[1] Determine o domínio da função f (x) = ln(ln(x)).
Note que ln(u) é definido se u > 0; logo, para que f (x) = ln(ln(x)) esteja definido é necessário
que ln(x) > 0; logo x > 1 e Dom(f ) = (1, +∞).
0.5
2 4 6 8 10
-0.5
-1.0
Denotemos por f (t) = 24000 × 1.035t e g(t) = 48000 × 1.035t as funções exponenciais que
modelam cada floresta. Então:
(a) Devemos ter f (t) = 48000; logo, 24000 × 1.035t = 48000, então 1.035t = 2. Aplicando
logaritmo natural a ambos os lados:
ln(2) ∼
t= = 20.14 anos.
ln(1.035)
(b) Devemos ter f (t0 ) = 72000 e g(t1 ) = 144000, então 1.035t0 = 3 e 1.035t1 = 3. . Aplicando
logaritmo natural a ambos os lados: :
ln(3) ∼
t = t0 = t1 = = 31.93 anos.
ln(1.035)
t
1 5730
C(t) = C0 .
2
t
1 h
Q(t) = Q0 ,
2
C(t) = C0 e−0.0001216 t .
2.11. FUNÇÃO LOGARÍTMICA 75
Exemplo 2.23.
[1] Se uma amostra de carvão vegetal achada contem 63 % de Carbono-14, em relação a uma
amostra atual de igual massa, determine a idade da amostra achada.
ln(0.63) ∼
t=− = 3799.63,
0.0001216
Q(t) = 20 e−kt ; como a meia-vida do polônio-210 é de 140 dias, então, Q(140) = 10; logo,
ln(2) ∼
20 e−140k = 10 e k = = 0.004951; portanto,
140
Q(t) = 20 e−0.004951t
[3] A população de uma cidade é de 20000 habitantes, de acordo com um censo realizado em
1990 e 25000 habitantes de acordo de um censo realizado em 1995. Sabendo que a população
tem um crescimento exponencial, pergunta-se:
40 000
30 000
20 000
10 000
[4] Se a população de uma certa espécie de peixes num ambiente limitado é dada por:
50000
L(t) = ,
1 + 199 e−t
onde t denota o número de semanas transcorridas, quanto tempo será necessário para a popu-
lação atingir 20000 peixes?
199 y
Devemos determinar t = L−1 (y), onde y = L(t); logo, t = L−1 (y) = ln . Então,
50000 − y
398 ∼
para y = 20000, temos t = ln = 4.88 semanas.
3
50 000
10
30 000
6
10 000
2
Definição 2.9. Uma função f é periódica de período t, t > 0, quando para todo x ∈ Dom(f ), x + t ∈
Dom(f ) e f (x) = f (x + t).
Se 0 < x < 2 π, partimos de A e percorremos o círculo no sentido positivo até obter um arco
cujo comprimento seja x. O ponto onde o arco termina é P .
Se x > 2 π será necessario dar mais uma volta no círculo, no sentido positivo, para atingir a
extremidade P do arco. Idem para x < −2 π. Assim a cada número da forma x + 2 k π (k ∈ Z)
corresponderá um ponto do círculo. Veja seção 1.8.
Definição 2.10.
f (x) = cos(x) .
Por exemplo sen(2003) indica que estamos calculando o seno de 2003 radianos. Veja a seção
1.8. Nas duas funções temos que Dom(f ) = R e Im(f ) = [−1, 1]; seno é uma função ímpar e
co-seno é uma função par; ambas são periódicas de período 2π.
y
1
-1
π
Observe que se f (x) = sen(x), então f x + = cos(x); logo, o gráfico do co-seno é uma
2
π
translação de do gráfico do seno.
2
78 CAPÍTULO 2. FUNÇÕES DE UMA VARIÁVEL REAL
y
1
-1
1. Função Tangente :
sen(x)
f (x) = tg(x) =
cos(x)
2. Função Secante :
1
f (x) = sec(x) =
cos(x)
π
Veja a seção 1.8. Nas duas funções temos que Dom(f ) = {x ∈ R/x 6= + n π, n inteiro},
2
Im(tg) = R e Im(sec) = (−∞, −1] ∪ [1, +∞); tangente é uma função ímpar e secante é uma
função par; ambas são periódicas de períodos π e 2π, respectivamente. Seus gráficos são:
x
-4 -2 2 4
-2
-4
-4 -2 2 4
x
-1
-2
-3
-4
1. Função Co-tangente :
cos(x)
f (x) = cotg(x) =
sen(x)
2. Função Co-secante :
1
f (x) = cosec(x) =
sen(x)
Veja seção 1.8. Nas duas funções temos que Dom(f ) = {x ∈ R/x 6= nπ, n inteiro}. Im(cotg) =
R e Im(cosec) = (−∞, −1] ∪ [1, +∞); co-tangente e co-secante são funções ímpares; ambas são
periódicas de períodos π e 2π, respectivamente.
-6 -4 -2 2 4 6
x
-2
-4
-6 -4 -2 2 4 6
-1
-2
-3
-4
y y
2
2
1
1
x x
1 2 3 4 5 6 1 2 3 4 5 6
-1 -1
-2 -2
Figura 2.63:
Tangente e co-tangente:
2
1 2 3
-1
-2
Figura 2.64:
Exemplo 2.24.
-1
-2
[2] O ritmo oscilatório dos braços durante uma corrida pode ser representado por:
π 8π 3 π 8 π x
y = f (x) = sen x− = sen ,
9 3 4 9 3
onde y é o ângulo compreendido entre a posição do braço e o eixo vertical e x é o tempo medido
em segundos. O período é 34 segundos por ciclo, isto é, uma oscilação completa, obtida quando
o braço descreve o ciclo para frente e para trás, é concluida em 34 segundos.
0.3
1 2 3 4
-0.3
π
Figura 2.66: Gráfico de f (x) = 9 sen( 8 π3 x ) para x ∈ [0, 4].
[3] O movimento harmônico simples descreve a posição das oscilações regulares em torno de
uma posição de equilíbrio e que variam suavemente, como um pêndulo que oscila continua-
mente na vertical sem nehum tipo de restrição, como por exemplo, a fricção. Estas posições são
muito bem descritas pelas funções:
2π
onde k, b ∈ R e w > 0. O período é o tempo necessário para uma oscilação completa e
w
w
a frequência é o número de oscilações por unidade de tempo. O movimento harmônico
2π
amortecido descreve fenômenos de oscilação onde são impostas restrições, como por exemplo,
um pêndulo que oscila com fricção. Tal tipo de movimento é descrito por:
0.8
0.4
1 2 3 4
-0.4
-0.8
[4] Se f é uma função periódica de período l, então a função definida por g(x) = f (k x + m) é
periódica de período kl , se k > 0.
De fato:
l l
g x+ =f k x+ + m = f (k x + m + l) = f (k x + m) = g(x).
k k
2π
Por exemplo, as funções f (x) = sen(k x) e g(x) = cos(k x) são periódicas de período .
k
π
Determinemos o período da função g(x) = sen 2 x + . Seja f (x) = sen(2 x) que é periódica
3
π π π
de período π; g(x) = sen 2 x + = sen 2 x + = f x + ; logo, a função g é periódica
3 6 6
de período π.
1.0
0.5
-4 -2 2 4
-0.5
-1.0
0.8
0.6
0.4
0.2
-6 -4 -2 2 4 6
-10 -5 5 10
Dom(f ) = Im(f ) = R; a função f não é periódica. Por outro lado, f é ímpar; f (0) = 0,
f (k π) = k π, k ∈ Z e Dom(g) = Im(g) = R; a função g não é periódica. Por outro lado, g é par,
g(k π) = 0, k ∈ Z e
(2 k + 1)π (2 k + 1)π
g( ) = (−1)k
2 2
se k ∈ Z. Utilizando a observação 2.1, temos que os respectivos gráficos são:
4
10
5 2
-10 -5 5 10 -6 -4 -2 2 4 6
-5 -2
-10 -4
3 x
[8] Também pela observação 2.1, os gráficos das funções y = sen(x) (azul), y = sen
2
x
(vermelho) e y = sen (negro) são:
2
y = arcsen(x) ⇐⇒ sen(y) = x
1.5
-1 1
-1.5
O domínio usado para definir a função arco-seno, poderia ser substituido por qualquer dos
π 3π 3π 5π
intervalos seguintes: , , , , ..., etc.; esta observação também será válida para as
2 2 2 2
outras funções trigonométricas.
Exemplo 2.25.
√
2
[1] Calcule arcsen .
2
√ √
2 2
Devemos resolver a equação y = arcsen , que é equivalente a calcular sen(y) = . A
2 √ 2
π 2 π
solução desta equação é y = ; então arcsen = 4.
4 2
2.13. FUNÇÕES TRIGONOMÉTRICAS INVERSAS 85
13π
[2] Calcule arcsen sen .
6
13π π π
Observe primeiramente que / [− , ]; então, não podemos escrever
∈
6 2 2
13π 13π
arcsen sen = .
6 6
13π π π π π π
Mas sen = sen 2π + = sen e ∈ [− , ]; então,
6 6 6 6 2 2
13π π π
arcsen sen = arcsen sen = ,
6 6 6
pois sen e arcsen são inversas.
√
[3] Verifique que cos(arcsen(x)) = 1 − x2 , |x| ≤ 1.
π π
Se y = arcsen(x), então sen(y) = x, y ∈ − , ; de sen2 (y) + cos2 (y) = 1, segue que
2 √2 π π
cos2 (y) = 1 − sen2 (y) = 1 − x2 ; logo, cos(y) = 1 − x2 , pois y ∈ − , e
2 2
p
cos(arcsen(x)) = 1 − x2 .
y = arccos(x) ⇐⇒ cos(y) = x
1.5
-1 1
O domínio usado para definir a função arco co-seno poderia ser substituido por qualquer dos
intervalos seguintes: [π, 2π], [2π, 3π], ..., etc.
86 CAPÍTULO 2. FUNÇÕES DE UMA VARIÁVEL REAL
Exemplo 2.26.
[1] Calcule arccos(−1).
Devemos resolver a equação y = arccos(−1), que é equivalente a calcular cos(y) = −1. A
solução desta equação é y = π; logo arccos(−1) = π.
√
2
[2] Calcule arccos .
2
√ √
2 2
Devemos resolver a equação y = arccos , que é equivalente a calcular cos(y) = . A
2√ 2
π 2 π
solução desta equação é y = ; logo, arccos = .
4 2 4
2x
[3] Determine o domínio da função f (x) = arccos .
x+1
2x
A função arccos(u) é definido se, e somente se u ∈ [−1, 1], logo para que arccos esteja
x+1
2x 2x
definido é necessário que ∈ [−1, 1]. Então: −1 ≤ ≤ 1; resolvendo as inequações
x+1 x+1
1 1
temos que x ≤ 1 e x ≥ − ; logo, Dom(f ) = − , 1 .
3 3
π
[4] Verifique que arcsen(x) + arccos(x) = 2 .
π π
Como cos − y = sen(y). Logo, cos − arcsen(x) = sen arcsen(x) = x; logo temos que
2 2
π π
arccos(x) = − arcsen(x); então, arcsen(x) + arccos(x) = .
2 2
y = arctg(x) ⇐⇒ tg(y) = x
y
2
-4 -2 2 4
x
-1
-2
Exemplo 2.27.
√
[1] Calcule arctg(− 3).
√ √
Devemos resolver a equação y = arctg(− 3), que é equivalente a calcular tg(y) = − 3. A
π √ π
solução desta equação é y = − ; logo, arctg(− 3) = − .
3 3
√
3
[2] Calcule sen arctg .
3
√ √
3 3
Resolvamos a equação y = arctg , que é equivalente a calcular tg(y) = . A solução
3 3
π
desta equação é y = ; logo:
6
√
3 π 1
sen arctg = sen = .
3 6 2
x+y
[3] Se f (x) = arctg(x), verifique que : f (x) + f (y) = f .
1 − xy
x+y x+y
Sejam v = f ( ) = arctg , z = f (x) e w = f (y); pelas definições temos:
1 − xy 1 − xy
x+y
tg(v) = , tg(z) = x, tg(w) = y.
1 − xy
tg(z) + tg(w)
Logo, tg(v) = = tg(z + w); então, v = z + w.
1 − tg(z) tg(w)
Arco co-tangente:
π
f −1 (x) = arccotg(x) = − arctg(x).
2
Note que Dom(f −1 ) = R e Im(f −1 ) = (0, π).
Arco secante:
1
f −1 (x) = arcsec(x) = arccos.
x
Note que Dom(f −1 ) = (−∞, −1] ∪ [1, +∞) e Im(f −1 ) = 0, π2 ∪ π
.
2,π
Arco co-secante:
1
f −1 (x) = arccosec(x) = arcsen.
x
Note que Dom(f −1 ) = (−∞, −1] ∪ [1, +∞) e Im(f −1 ) = − π2 , 0 ∪ 0, π2 .
y y
3
2
2 -2 0 2 4
x
1 1
-4 -2 2 4
x
-4 -2 2 4
x
-1
Exemplo 2.28.
[1] Calcule arccotg(1).
Devemos resolver a equação y = arctg(1), que é equivalente a calcular tg(y) = 1. A solução
π π π π π
desta equação é y = ; arccotg(1) = − arctg(1) = − = .
4 2 2 4 4
[2] Calcule arcsec(2).
1 1
Como arcsec(2) = arccos , devemos resolver a equação y = arccos , que é equivalente a
2 2
1 π π
calcular cos(y) = . A solução desta equação é y = ; logo, arcsec(2) = .
2 3 3
√
2 3
[3] Calcule arccosec .
3
√ √ √
2 3 3 3
Como arccosec = arcsen , devemos resolver a equação y = arcsen , que é
3 √ 2 2
3 π
equivalente a calcular sen(y) = . A solução desta equação é y = ; logo:
2 3
√
2 3 π
arccosec = .
3 3
ex − e−x
Seno hiperbólico: f (x) = senh(x) = .
2
ex + e−x
Co-seno hiperbólico: f (x) = cosh(x) = .
2
Note que Dom(senh) = Dom(cosh) = Im(senh) = R e Im(cosh) = [1, +∞); seus gráficos
respectivos são:
6 5
4 4
2
3
-3 -2 -1 1 2 3
2
-2
1
-4
-6 -2 -1 1 2
Usando as definições, é fácil verificar que cosh2 (x) − senh2 (x) = 1, “análoga” à identidade
trigonométrica cos2 (x) + sen2 (x) = 1. A diferença é que se fizermos u = cosh(x) e v = senh(x),
temos u2 − v 2 = 1, que é a equação de uma hipérbole no plano uv, o que “justifica”, de alguma
forma, o nome de hiperbólico.
As outras funções hiperbólicas são denotadas e definidas, respectivamente, como:
ex − e−x
Tangente hiperbólica: f (x) = tgh(x) = .
ex + e−x
ex + e−x
Co-tangente hiperbólica: f (x) = cotgh(x) = .
ex − e−x
2
Secante hiperbólica: f (x) = sech(x) = .
ex + e−x
2
Co-secante hiperbólica: f (x) = cosech(x) = .
ex − e−x
Note que Dom(tgh) = Dom(sech) = R, Dom(cotgh) = Dom(cosech) = Im(cosech) = R −
{0}, Im(tgh) = (−1, 1), Im(sech) = (0, 1] e Im(cotgh) = (−∞, −1) ∪ (1, ∞); seus respectivos
gráficos são:
1
3
2
0.5
1
-2 -1 1 2 -3 -2 -1 1 2 3
-1
-0.5
-2
-3
-1
Figura 2.79:
90 CAPÍTULO 2. FUNÇÕES DE UMA VARIÁVEL REAL
1
3
0.5
-3 -2 -1 1 2 3
-1
-2
-3
-3 -2 -1 1 2 3
Figura 2.80:
Exemplo 2.29.
[1] A velocidade de uma onda marinha de comprimento L, onde o solo marinho está a uma
profundidade de h metros é descrita por:
p
V (h) = k tgh(p h),
gL 2π
onde g é a constante gravitacional, k = ep= . O desenho descreve a velocidade de uma
2π L
onda de 100 metros de comprimento; note que a velocidade aumenta quando a profundidade
aumenta:
12
10
Figura 2.81: