,oçw, ÇD
,oçw, ÇD
,oçw, ÇD
MACROECONOMIA
A Economia, de uma forma geral, lida com o problema da escassez, pois trata de recursos finitos
e desejos que são, do ponto de vista material, infinitos e ilimitados. Enquanto a Microeconomia
lida com a questão da escassez no plano individual – pessoas e empresas –, a Macroeconomia
estuda o problema da escassez no âmbito agregado, coletivo – no âmbito dos países.
CONTABILIDADE NACIONAL
PIB pode ser visto como o somatório da produção de bens e serviços finais (que não são usados
na produção de outros bens) numa economia, durante um período determinado de tempo.
Existem dois tipos de bens: os bens intermediários e os bens finais. Os bens intermediários não
são contabilizados no cálculo do PIB, pois já têm seu valor embutido no valor dos bens finais.
2) PIB = ∑ Rendas
PIB também pode ser considerado como o somatório das rendas de todos os agentes
econômicos em um determinado período de tempo.
Importante ressaltar que PIB mede renda e não riqueza. Riqueza é estoque (patrimônio
acumulado), enquanto renda é fluxo.
3) PIB = ∑ Demandas
PIB também pode ser visto como o somatório das demandas por bens e serviços finais numa
economia em um determinado período de tempo.
Idealmente, se o PIB for calculado por meio de qualquer uma dessas três formas, chegaremos
ao mesmo resultado. Para que a economia de um país cresça, gerando um aumento do PIB, os
três resultados (P; R; D) precisam estar aumentando.
Aumento do ∑ Produção
Aumento do ∑ Demandas
A demanda pode crescer por meio do consumo das famílias, do investimento das empresas
(compra de fatores de produção), dos gastos do governo e do setor externo (exportações
líquidas).
Idealmente, para que possa crescer, um país precisa apresentar equilíbrio entre o crescimento
da capacidade produtiva e o crescimento da demanda. Trata-se de um equilíbrio delicado e
nem sempre simples.
Portanto, para que haja crescimento na renda das pessoas, produção e demanda precisam
crescer juntas. Não adianta que haja apenas crescimento da produção, o que pode
eventualmente gerar uma crise de superprodução, não permitindo o crescimento do PIB.
Tampouco basta apenas o crescimento da demanda, pois preços irão subir, prejudicando
também o crescimento.
Aumento do ∑ Rendas
O Brasil é um país que acaba sendo muito impactado pelo consumo das famílias e pelos gastos
do governo (ambos chegam a representar mais de 80% do PIB). Nosso país tem, usualmente,
uma pressão de demanda muito forte que não é acompanhada por uma capacidade de
produção que se expanda na mesma velocidade.
CELSO FURTADO:
“Brasil tem problema estrutural de irregularidade na expansão da oferta agregada”
*Descrição acima explica a dificuldade que Brasil tem para crescer de forma sustentada e veloz.
PIB =
→ Consumo das famílias (C) +
→ Investimentos das empresas (I) +
→ Gastos do governo (G) +
→ Exportações de bens e serviços (x) menos importações de bens e serviços (m) → (x – m)
- Quando há um aumento da RD, considerando tudo mais constante, C irá aumentar também.
- Quando a RD diminui, considerando tudo mais constante, a tendência é que C diminua também.
Investimento das empresas (I) em função da taxa de juros (r) – do inglês rate.
→ I (r)
- Quanto maior a taxa de juros (r), considerando tudo mais constante, menor será o
investimento (I), pois é maior o incentivo para deixar o dinheiro parado no banco.
- Quanto a menor a taxa de juros (r), considerando tudo mais constante, maior será o
investimento (I).
➢ Governo brasileiro é grande captador de poupança. Déficit nominal das contas públicas
(que inclui gastos com juros) está em meio trilhão de reais. Governo vai a mercado vender
títulos do Tesouro Direto, a fim de captar recursos para cobrir esse déficit expressivo,
absorvendo a pouca poupança disponível no país. País deixa de ter poupança para
investimentos na expansão da oferta agregada.
➢ Mais da metade do crédito no Brasil está nas mãos de bancos públicos (BNDES, BB, Caixa),
o que significa que o governo decidirá quem poderá ter acesso a esse crédito mais barato. O
pouco crédito disponível ao correntista – pessoa física – acaba tendo juros altíssimos.
➢ Juros do cheque especial são altíssimos porque bancos nada podem fazer contra
inadimplência. Mesmo que correntistas inadimplentes sejam negativados em órgãos de
proteção ao crédito, em 5 anos seus nomes estarão limpos, pois dívidas prescrevem. Bancos,
não podendo reaver legalmente dinheiro emprestado e não pago, recuperam todo o prejuízo
decorrente dessas operações com os bons pagadores.
- Se nível de preços internos (P) estiver maior, considerando tudo mais constante, inclusive o
câmbio, país perde competitividade e acaba tendo exportações líquidas (EL) menores.
- Se nível de preços internos (P) estiver menor, considerando tudo mais constante, inclusive o
câmbio, país torna-se mais competitivo e acaba tendo exportações líquidas (EL) maiores.
*RELAÇÃO NEGATIVA entre essas duas variáveis. - -
- Se nível de preços externos (P*) estiver maior, considerando tudo mais constante, inclusive o
câmbio, país torna-se mais competitivo e acaba tendo exportações líquidas (EL) maiores.
- Se nível de preços internos (P) estiver menor, considerando tudo mais constante, inclusive o
câmbio, país perde competitividade e acaba tendo exportações líquidas (EL) menores.
*RELAÇÃO POSITIVA entre essas duas variáveis. ++
- Se taxa de câmbio (TC) estiver mais alta, o país torna-se mais competitivo, pois produtos
brasileiros em dólar ficam mais baratos, estimulando as exportações. As importações serão
desestimuladas, pois produtos estrangeiros ficarão mais caros. Considerando tudo mais
constante, serão maiores as exportações líquidas (EL).
- Se taxa de câmbio (TC) estiver mais baixa, país perde competitividade, pois produtos
brasileiros em dólar ficam mais caros, desestimulando as exportações. As importações serão
estimuladas, pois produtos estrangeiros ficarão mais baratos. Considerando tudo mais
constante, serão menores as exportações líquidas (EL).
*RELAÇÃO POSITIVA entre essas duas variáveis. ++
➢ Exportações líquidas (EL) em função do crescimento doméstico (PIB) → EL (PIB)
Obs.: Essa lógica não impede que um país cresça muito e também exporte muito, pois outros
vetores da economia podem mitigar esse efeito e, eventualmente, mais do que compensá-lo.
- Se crescimento mundial (PIB*) estiver mais forte, país terá exportações líquidas (EL) maiores.
- Se crescimento mundial (PIB*) estiver mais fraco, país terá exportações líquidas (EL) menores.
*RELAÇÃO POSITIVA entre essas duas variáveis. ++
→ No caso do Brasil em particular, o crescimento mundial está cada vez mais atrelado ao
conceito de crescimento chinês – principal parceiro comercial brasileiro, essencial para nossos
resultados comerciais. A China tem expressivo déficit comercial com o Brasil, pois importa de
nós os recursos naturais que não tem (maior vulnerabilidade chinesa).
Com praticamente todo o resto do planeta, a China tem superávits comerciais, sendo o maior
deles com os EUA (mais de US$ 300 bilhões, em 2017, quase metade do déficit comercial total
dos EUA), o que explica a recente “guerra comercial” entre chineses e estadunidenses.
Obs.: Exportações líquidas no Brasil não têm grande peso sobre o seu PIB (apenas 13%).
MODELOS DE CRESCIMENTO ECONÔMICO – CHINA x BRASIL
CHINA:
Nos anos 1970, a China era um país miserável e fechado para o resto do mundo. Governo chinês
criou as ZEEs (zonas econômicas exclusivas), para que empresas estrangeiras usassem o
território chinês como plataforma de exportação.
A China atraiu grande quantidade de IED (investimento estrangeiro direto), dólares que
entravam para abrir fábricas e negócios no território chinês. Esse investimento notadamente
industrial vai ampliar as exportações líquidas (EL) do país, que vai se tornar a alavanca de
crescimento do PIB chinês.
Esse modelo vai se retroalimentar e atrair cada vez mais IED para a China, o que vai significar
um significativo aumento na demanda por trabalho. Cada vez mais pessoas vão sendo
empregadas e mais partes do território chinês serão usados como plataforma de exportação.
Uma parte desse crescimento do PIB e da renda na China começa a ser poupada, convertendo-
se em capacidade de investimento dos próprios chineses (tanto do governo como de cidadãos).
Com o passar dos anos, quanto mais a demanda por trabalho vai aumentando, os salários
também sofrem aumento. No caso chinês, como existe uma abundância enorme de mão-de-
obra, esse aumento dos salários foi acontecendo de forma lenta e gradual.
Esse movimento representa uma transição, pois o crescimento, que antes era alavancado pelo
setor externo, começa a ser cada vez mais alavancado pelo setor interno. Nos últimos anos, esse
movimento ficou ainda mais claro na China, com medidas como a concessão da propriedade
privada a agricultores e a desestatização (e aumento da concorrência) do sistema bancário.
Esse fomento ao mercado interno ocorre dentro de uma perspectiva de perda de relevância do
setor externo como alavanca de crescimento do PIB chinês. Consequentemente, também se
inicia um processo de gradativa desaceleração da economia chinesa. Há um enorme cuidado, na
China, para que esse processo se mantenha gradativo, sempre com incentivos à formação de
poupança.
MODELOS DE CRESCIMENTO ECONÔMICO – CHINA x BRASIL
BRASIL:
O Brasil adotou um modelo de crescimento baseado em seu mercado interno, por meio do
fechamento de sua economia. A partir do governo Vargas (1930-1945), o eixo dinâmico da
economia brasileira passa a ser o seu mercado interno, com a indústria nacional responsável
pelo abastecimento do país.
Segundo esse modelo, a indústria nacional abastecerá o mercado interno, numa economia
muito fechada, inclusive de tarifas de importação muito elevadas.
Obs.: o Brasil continua com grande parte desse modelo ainda vigente, exceto o controle cambial.
Esse modelo fazia ainda muito sentido até os anos 1960. Até então, o crescimento mundial era
maior do que o crescimento do comércio internacional. Cresciam acima da média aqueles países
cujas economias estavam ancoradas no mercado interno.
Essa lógica inverteu-se dos anos 1970 para cá, quando o comércio mundial passou a crescer mais
do que o PIB mundial. Isso significa dizer que passaram a crescer acima da média aqueles países
que faziam mais comércio. O Brasil passou então a crescer abaixo da média mundial, o que se
mantém até os dias de hoje.
A manutenção desse modelo econômico pelo Brasil faz com que o país esteja desacoplado de
cadeias mundiais de valor, apresentando uma baixa corrente de comércio. Além dessas
consequências, o Brasil também mantém um lobby muito forte do setor industrial, que luta para
manter esquemas de proteção e de desoneração.
RENDA NACIONAL BRUTA (RNB)
➢ Subtraindo do PIB:
- Renda enviada ao exterior de forma primária (REEP).
➢ Acrescentando ao PIB:
- Renda recebida do exterior de forma primária (RREP).
➢ Subtraindo da RNB:
- Renda enviada ao exterior de forma secundária (REES).
➢ Acrescentando ao PIB:
- Renda recebida do exterior de forma secundária (RRES).
➢ Renda Privada Disponível (RPD) pode tornar-se Consumo (C) ou Poupança Privada (SP):
→ RPD = C + SP
➢ Renda Líquida do Governo (RLG) pode tornar-se Gasto do Governo (G) ou Poupança do Governo (SG):
→ RLG = G + SG
INVESTIMENTO (I):
Investimento (I) produtivo pode ser marcado como igual a Poupança (S), que pode ser
desmembrada em Poupança Privada (SP), Poupança do Governo (SG) e Poupança Externa (SEXT).
→ I = S = SP + SG + SEXT
Poupança Privada (SP) é Renda Privada Disponível (RPD) menos o Consumo (C):
→ SP = (RPD – C)
Poupança do governo (SG) é Renda Líquida do Governo (RLG) menos os Gastos do Governo (G):
→ SG = (RLG – G)
Poupança Externa (SEXT) é o Saldo de Transações Correntes (STC), com o sinal invertido:
→ SEXT = (- STC)
A Poupança Privada (SP) acrescida da Poupança do Governo (SG) também pode ser chamada de
Poupança Nacional (SN) ou de Poupança Doméstica (SD):
→ SP + SG = SN ou SD
→ Essa tendência à igualdade entre Investimento (I) e Poupança (S) acaba sendo garantida pela
flutuação da taxa de juros. Como funciona isso?
Se houver uma desigualdade entre esses indicadores, sendo o Investimento (I) maior do que a
Poupança (S), juros acabam subindo. Essa alta dos juros desestimulará o investimento e
estimulará a poupança, fazendo com que se restabeleça a igualdade.
Se houver uma desigualdade entre esses indicadores, sendo o Investimento (I) menor do que a
Poupança (S), juros acabam caindo. Essa queda dos juros estimulará o investimento e
desestimulará a poupança, fazendo com que se restabeleça a igualdade.
→ I = SP + SG + SEXT
SP → Brasil tem poupança privada muito pequena e propensão ao consumo muito alta.
SG → poupança do governo é negativa, pois seus gastos são superiores à renda líquida do governo.
SEXT → poupança externa tem papel muito importante como alavanca de investimento no Brasil.
Quando um país tem um déficit fiscal, ou seja, quando ele gasta mais do que tributa (t < G), isso
acaba contaminando o lado comercial, fazendo com que as importações sejam maiores do que
as exportações (m > x). Por que isso ocorre?
→ Análise coeteris paribus (considerando que todos os demais fatores estão constantes):
Se gastos do governo aumentam (G > t), haverá, na prática, uma diminuição da poupança do
governo (SG). Nesse caso, a situação de equilíbrio acabará e teremos investimentos em níveis
maiores do que a poupança (I > S), ocasionando aumento de juros.
Essa valorização cambial vai diminuir as exportações e aumentar as importações, fazendo com
que, na prática, as exportações sejam menores do que as importações (x < m).
Portanto, segundo a Teoria dos Déficits Gêmeos, o desequilíbrio fiscal afetará os resultados
comerciais de um país. No Brasil, se não houvesse um desequilíbrio fiscal tão expressivo (meio
trilhão de reais de déficit nominal), juros seriam menores e, consequentemente, os resultados
comerciais brasileiros seriam mais significativos.
Diplomacia 360o – Módulo Atena – Economia – Aula 02
Prof. Daniel Sousa – 08.08.2018
MACROECONOMIA
Na aula passada, foi feita uma comparação entre o modelo brasileiro de crescimento, muito
ancorado no mercado interno (ou absorção interna), e o modelo chinês de crescimento, que
vem sendo pautado pelas exportações líquidas (ou absorção externa).
No caso do Brasil, tem sido verificado um modelo baseado numa economia fechada, com:
- Tarifas médias de importação altas.
- Subsídios ao produtor local (desonerações).
- Crédito por meio dos bancos públicos (com juros menores do que os praticados no mercado).
- Controle cambial (que hoje já não existe mais).
*A China, por sua vez, tem sim a capacidade de superar a economia dos EUA, pois a taxa de
crescimento chinesa segue com uma taxa considerável. Grande parte das barreiras comerciais
impostas à China pelos EUA advém do pavor que os americanos têm de que a China ultrapasse
a economia dos EUA.
6o lugar: Índia
- Taxas de produtividade em ascensão veloz.
- Desenvolvimento expressivo do setor de serviços.
- Aumento acelerado do mercado consumidor interno.
- Organização macroeconômica (metas de inflação, metas fiscais).
- Estabilidade política (maior democracia do mundo, com eleições livres e diretas há décadas).
7o lugar: França
8o lugar: Brasil - PIB anual 9 vezes menor do que o americano.
WORLD ECONOMIC OUTLOOK – APRIL 2018
→ Perspectivas para o crescimento mundial em 2018
http://www.imf.org/external/datamapper/NGDP_RPCH@WEO/OEMDC/ADVEC/WEOWORLD
*América do Sul é a região que menos crescerá este ano, segundo o FMI. Brasil tem previsão
oficial de crescer 2,3%, mas, de fato, deve crescer só 1,5%. O mundo crescerá 3,9% em 2018.
→ Por que o Brasil tem tido recentemente tanta dificuldade em crescer acima da média mundial?
O Brasil é um país que faz pouco comércio. Suas exportações líquidas são o indicador que está
se comportando melhor atualmente (em 2017, o Brasil teve o maior superávit de sua história),
sobretudo por causa da alta nos preços das commodities, mas isso tem um impacto pequeno
no PIB (cerca de 12%).
No que se refere aos gastos do governo (situação fiscal), União, Estados e municípios tiveram
um déficit de R$ 513 bilhões em 2017 (resultado completo e não apenas primário), não sendo
possível qualquer expansão de gastos. O governo terá que vender R$ 1,2 trilhões em títulos do
Tesouro Direto para pagar esse déficit e os títulos que estão vencendo. Isso significa que o
governo irá retirar esses R$ 1,2 trilhões da economia, poupança que poderia financiar
investimentos e, até mesmo, consumo.
*A venda de títulos só pode legalmente acontecer para pagar títulos que estão vencendo, para
pagar juros da dívida; ou para financiar obras, por exemplo. A regra de ouro é uma regra da
legislação brasileira que proíbe o governo de vender títulos para pagar despesas de custeio
(como salários do funcionalismo, por exemplo), mas isso já está quase ocorrendo.
Os investimentos no Brasil são muito dependentes das empresas estatais, mas elas estão,
atualmente, sem capacidade de investimento por causa de seu endividamento. As empresas
nacionais também estão com as expectativas muito deterioradas, tanto pelo ambiente político
de muita imprevisibilidade quanto pela falta de demanda. Níveis de confiança do empresariado
estão muito ruins.
Em relação ao consumo das famílias, temos ainda uma taxa de desemprego muito alta, que
trava os resultados positivos nesse sentido. As famílias estão ainda relativamente endividadas
e consumidores com expectativas muito pessimistas para o futuro.
→ O crescimento do PIB brasileiro apresenta extrema irregularidade.
O Brasil tem, tradicionalmente, uma tendência de expansão da demanda agregada mais veloz
do que a expansão da oferta agregada. O Brasil tem muita dificuldade de expandir sua oferta
agregada, aumentando a dotação de fatores de produção. A oferta agregada depende da
quantidade de capital, tecnologia, poupança, recursos naturais, produtividade da mão-de-obra.
Quando o Brasil consegue expandir a oferta de forma mais forte, isso normalmente ocorre
mediante captação de poupança externa, como ferramenta para alavancar investimentos. Isso,
entretanto, não ocorre de forma contínua. Em geral, a demanda agregada cresce muito mais do
que a oferta agregada e, por isso, o Brasil não consegue apresentar crescimento sustentável.
Entre 1984 e 1989, a economia brasileira terá alguma recuperação, devido aos bons resultados
na balança comercial. Essa melhora nos resultados comerciais brasileiros foi fruto dos
investimentos realizados durante o II PND. O país teve uma queda expressiva das importações
e um crescimento considerável da exportação de produtos de maior valor agregado (máquinas
e equipamentos).
Depois de uma recuperação econômica ao longo dos anos 2000, o Brasil sentiu os efeitos da
crise de 2008. Houve recuperação a partir de 2010, influenciada pelas commodities e por altas
taxas de investimento estrangeiro direto. Há uma crise econômica do final do governo Dilma,
que inviabilizou politicamente seu governo, culminando, em 2016, no impeachment.
THE WORLD FACTBOOK (CIA) – BRASIL / 2017
→ De 2015 para cá, o PIB per capita vem diminuindo, devido à variação negativa do PIB.
→ 2017:
- Poupança nacional em torno de 14,8% (SP + SG)
- Consumo representou 63,4% do PIB.
- Gastos do governo foram de 20% do PIB.
- Investimentos foram 15,6% do PIB
- Exportações de bens e serviços foram 12,6% do PIB
- Importação de bens e serviços representaram -11,6%.
→ (x – m) foi positivo em 2017.
*Investimentos podem ser definidos como formação bruta de capitais fixos mais a variação de
estoques (I = FBCF + VE). Variação de estoques é uma forma de investimento. Se você produziu e
ninguém comprou, é como se você tivesse comprado de sua empresa através de variação de
estoques.
EXERCÍCIOS DE 1a FASE:
Diplomacia 360o – Módulo Atena – Economia – Aula 03
Prof. Daniel Sousa – 15.08.2018
INSTRUMENTOS:
TARIFA DE IMPORTAÇÃO:
Com o produtor ocorreu algo semelhante, pois ele estava disposto a receber menos pelo
produto e acabou recebendo mais. Esse Excedente do Produtor é tudo o que ele não estava
disposto a receber, mas recebeu (região listrada em azul).
*Preço internacional é aquele praticado no mundo, em geral, para esse produto hipotético. Se o
produtor local não adotar esse preço internacional, numa economia aberta, o consumidor
doméstico irá preferir um produto importado. Assim, o produtor local tender a adaptar o preço
de seu produto para um patamar mais compatível com o preço internacional.
Obs.: no CACD, o enunciado das questões costuma informar que se trata de uma economia
pequena, que, aberta ou fechada, não consegue influenciar nos preços internacionais.
Sob a influência do preço internacional, que tende a ser mais baixo que o doméstico, a
quantidade oferta costuma cair, já que o preço também caiu e o produtor é desestimulado a
produzir e vender. Por outro lado, a demanda aumentará bastante. Essa diferença entre a
quantidade demandada e a quantidade ofertada – em outras palavras, o excesso de demanda
gerado pelo livre-comércio – será suprida pelas importações.
VANTAGENS DA TARIFA
*Aumento da produção nacional
*Crescimento da renda e do emprego
*Queda nas importações
*Proteção e viabilização de uma indústria nascente
DESVANTAGENS DA TARIFA
*PESO-MORTO (diminuição do excedente de mercado).
*Diminuição do bem-estar geral.
*Aumento dos preços (inflação).
*Ineficiência.
Geralmente se argumenta que tarifa é temporária, até que o setor de desenvolva e se torne
mais competitivo. Também há argumentos políticos, tanto internos quanto externos.
INDÚSTRIA NASCENTE:
*Tarifa (temporária)
→ Estimula produção nacional
→ Aumento das economias de escala (custo médio reduz com a expansão da produção)
→ Redução de custos
→ Know-how
Proteção tarifária temporária para estimular setores que têm potencial. Um dos pontos de
fragilidade nesse argumento é sobre a definição do que seria uma indústria nascente. E, em
segundo lugar, até quando essa indústria será considerada nascente.
SUBSÍDIOS:
*Renúncia fiscal
*Aporte financeiro em empresas
- São proibidos pela OMC, a não ser que existam para aumentar eficiência tecnológica.
Com os subsídios, o país, que no livre-comércio era importador, torna-se exportador, causando
uma possível distorção no comércio.
MERCANTILISMO
Num primeiro momento, havia uma visão primitiva: comércio servia para acumular metais
preciosos (ouro e prata) para os Estados.
→ Metalismo: acumulação de riquezas naqueles países com acesso primário a minas de metais
preciosos, como Portugal e Espanha.
→ Balança comercial favorável: estratégia adotada para acumular metais aos quais alguns
Estados não tinham acesso de forma primária, como Inglaterra e França.
FISIOCRACIA
Os fisiocratas defenderão a ideia de que a riqueza vem de Deus. Segundo os fisiocratas, o setor
agrícola seria o único setor capaz de criar riquezas. As demais atividades econômicas seriam
estéreis. O comércio seria uma forma de transbordamento dessa riqueza.
A economia seria regida por leis naturais. Os fisiocratas eram influenciados pelas descobertas
da Física. Economia se autorregularia segundo leis naturais definidas por Deus (primeira vez em
que se falou do não intervencionismo estatal – laissez-faire, laissez-passer).
Seres humanos são egoístas e, sendo assim, a melhora maneira de organizar a economia seria
usar o egoísmo das pessoas para beneficiar o coletivo. A busca do interesse individual pode
contribuir para o atingimento do interesse coletivo. Pessoas devem ser autorizadas a acumular
riquezas e seu enriquecimento também deve ser protegido. A propriedade privada e a livre
iniciativa devem ser protegidas.
Ex.: cervejeiro não faz cerveja porque é seu amigo, mas porque quer ganhar dinheiro.
A competição deve ser sempre protegida e estimulada, pois faz com que produtos sejam mais
baratos, melhores e faz com que a sociedade tenha mais bem-estar. De fato, após a ascensão
do pensamento liberal clássico, a renda per capita mundial cresceu significativamente a partir
do século XVIII.
Assim como não deve haver interferência na economia em nível local e nacional, países também
não devem interferir no mercado global. Essa divisão do trabalho também ocorreria em nível
internacional.
- Se o país X produz tecidos mais baratos que o país Y, terá vantagem absoluta nesse produto e
será mais especializado na produção de tecidos, vendendo-os ao país Y.
- Se o país Y produz alimentos mais baratos que o país X, terá vantagem absoluta nesse produto
e será mais especializado na produção de alimentos, vendendo-o ao país X.
*Ambos os países terão acesso a tecidos e alimentos, com preços menores e qualidade superior.
Equivalência Ricardiana: quando o governo aumenta gastos, para estimular economia, sem
aumentar os respectivos impostos, pessoas vão retrair o seu consumo como forma de se
prepararem para um aumento futuro de impostos. Assim, governo, por meio de sua política de
tributação, não consegue gerar nem mais e nem menos crescimento econômico.
Enquanto Smith se concentrou mais na investigação da origem da riqueza, Ricardo dará mais
importância à questão da distribuição. Nesse sentido, Ricardo irá argumentar que todos os
setores tendem a ter uma lucratividade igual.
Se a agricultura tem, momentaneamente, lucro menor do que a manufatura, pessoas vão migrar
para a manufatura. Porém, com mais gente na manufatura, lucros reduzirão e agricultura voltará
a ter mais lucros. Refinamento do argumento da mão invisível: interesses individuais vão
autorregulando a economia, mas isso também se aplicaria para os diferentes setores.
Ao longo do século XX, países agrícolas deixam de dar preferência ao setor agrícola, pois
indústrias estavam dando mais lucro. Porém, agricultura passa a ter lucros maiores.
1) Terras mais férteis, renda da terra baixa e abundância de terras – LUCRO ALTO
2) Terras menos férteis, renda da terra fica mais alta, escassez de terras – LUCRO MENOR
Com lucros menores no setor agrícola, empresas vão migrar para o setor manufatureiro. Com o
crescimento desse setor, lucro também irá cair. Crescimento também cairá, pois está baseado
nos lucros. Com isso, se entende que economias mais desenvolvidas tendem a crescer menos.
Não seriam apenas as vantagens absolutas que determinariam o comércio. Embora alguém
tenha vantagens absolutas em relação a outro, o que vale é a vantagem comparativa.
Ricardo desafia a ideia de Smith de que o livre-comércio será bom para todos os países.
Vantagem absoluta seria uma parte da explicação. Vantagens absolutas estão dentro das
vantagens comparativas.
MODELO HECKSHER-OHLIN
→ É uma teoria neoclássica.
Mão de obra:
- 2 países passam a praticar livre-comércio entre si.
- 1 país que tem abundância de mão de obra e outro que tem escassez de mão de obra.
Um desses países exporta produtos de alta intensividade de mão de obra. País com escassez de
mão de obra acaba parando de usar a sua mão de obra.
Em seu discurso de posse, o ministro das Relações Exteriores, José Serra, afirmou: “Nas
políticas de comércio exterior, o governo terá sempre presente a advertência que vem da
boa análise econômica”. À luz dessa afirmação e das teorias de comércio internacional,
julgue (C ou E) os itens subsecutivos.
1. David Ricardo aperfeiçoou as ideias de Adam Smith e desenvolveu a chamada Teoria das
Vantagens Comparativas. No livro Sobre os Princípios da Economia Política e da Tributação,
Ricardo defende que o comércio internacional é benéfico a todos os países que mantêm
vínculos comerciais entre si, pois o importante, segundo ele, são as vantagens
comparativas, não as absolutas, de todos os fatores de produção de uma economia.
Gabarito: ERRADO – vantagens comparativas são relativas a um produto, não a todos os
fatores de produção.
4. Uma das críticas da Comissão Econômica para a América Latina (CEPAL) à teoria clássica
é que a sua análise do comércio internacional é estática, não dinâmica, de modo que as
elevadas elasticidades-renda e preço dos produtos básicos tendem a produzir deterioração
nos termos de intercâmbio ao longo do tempo, o que é desfavorável aos países
exportadores de bens primários.
Gabarito: ERRADO. A demanda por produtos básicos tem baixa elasticidade-renda.
1. A introdução de uma tarifa alfandegária causará efeitos de longo prazo sobre a balança
comercial se houver livre mobilidade de capital e regime cambial flexível.
Gabarito: ERRADO. Tarifas não surtem efeitos a longo prazo. Esse efeito se dissipa a longo
prazo. Apreciação posterior do câmbio vai ...XXXXOUVIR
∑ = somatório
Premissa:
∑ Produção = ∑ Demandas = PIB
→
→ A mão invisível do mercado (Adam Smith) aloca melhor os fatores de produção do que a
intervenção do Estado.
Toda vez que o governo interfere nos setores produtivos, são criadas distorções. Os problemas
causados por essas distorções geram a necessidade de mais interferência para corrigi-las, e
assim por diante.
Segundo o pensamento clássico, cada um desses fatores de produção deve ser livremente
negociado no seu mercado próprio e particular.
Análise do mercado de mão de obra (fator de produção)
Se governo não interferir, o mercado de mão de obra tenderá ao equilíbrio. Haverá um salário
de equilíbrio, de tal maneira a igualar a quantidade ofertada de trabalho e a quantidade
demandada (situação de pleno emprego do fator), o que significa que toda a mão de obra que
aceita a remuneração paga pelo mercado está empregada.
Quando o governo estabelece um salário mínimo, a quantidade demanda de mão de obra pelas
empresas será menor do que a quantidade ofertada de mão de obra pelos trabalhadores. Ocorre
situação de desemprego.
Número de pessoas trabalhando acaba sendo menor do que no cenário em que não há
intervenção. Trabalhadores que estão protegidos pelo salário mínimo estão recebendo esse
benefício em detrimento daqueles que estão desempregados.
Segundo a lógica classicista, é necessário respeitar a flexibilidade dos preços dos fatores de
produção. Na prática, sendo respeitada essa flutuação (sem intervenção do Estado), haverá
sempre uma tendência ao pleno emprego (equivalência entre a quantidade ofertada e a
quantidade demandada).
P = preço
Y (∑ q) = PIB
Y Pot = PIB potencial (de pleno emprego)
Os preços não terão nenhuma influência sobre o PIB potencial, pois ele é dado pela quantidade
de fatores de produção que sua economia possui. Ao se expandir os fatores de produção, haverá
um deslocamento da oferta agregada para a direita (e um PIB potencial mais alto).
Ex.: se todos os preços e todos os salários aumentam 20%, nada muda em relação ao PIB.
→ ANÁLISE DE LONGO PRAZO (tendência garantida pela flexibilidade)
Há uma oferta agregada vertical que é definida pelo Y Pot. Se juntarmos a oferta agregada à
demanda agregada (curvatura comum), a economia vai atingir seu equilíbrio num ponto
definido pelo Y Pot e por um determinado nível de preços (P0).
Segundo a lógica classicista, essa estrutura de longo prazo, a oferta agregada é o mais
importante, pois é ela quem dá a quantidade (PIB). Não adianta ter mais demanda, sem ter
expansão dos fatores de produção para atender a essa demanda.
Se demanda agregada expandir, os preços sobem, mas o PIB permanece igual (oferta agregada
vertical). Estratégias de aumentar o PIB por meio da expansão ou da contenção da demanda não
fazem sentido (não são sustentáveis).
A oferta agregada tem primazia sobre a demanda agregada na definição do PIB (apesar de que
o PIB se dá com a igualdade entre oferta e demanda agregada). É a oferta quem dita os rumos
e limites do crescimento de uma economia. Isso porque a demanda é potencialmente infinita,
mas a oferta não. Oferta depende de capacidade produtiva e fatores de produção.
→ Oscilações da demanda agregada terão impacto nominal (inflação), mas não têm impacto
real (poder de compra, etc.)
Num horizonte de curto prazo (que não deve ser referencial decisório), é possível que a
flexibilidade não tenha ocorrido em sua plenitude e tenha ocorrido “desemprego de fatores”.
Se estimularmos a demanda agregada (crédito, gastos do governo), pode haver crescimento nos
próximos meses. Preços ficarão pressionados, devido à expansão da demanda agregada. Isso,
segundo classicistas, seria estúpido. O crescimento em algum momento vai parar e fica a inflação
(assim como outros desajustes e desequilíbrios) para ser resolvida pelo governo.
Estratégias de contenção da demanda (corte de gastos e de crédito) são desejáveis para conter
a inflação, com efeitos de curto prazo. Os classicistas negam, entretanto, que esse efeito seja
permanente. A economia, em médio prazo, deverá convergir para situação de mesmo PIB, mas
com inflação mais baixa. A estratégia mais eficiente é controlar a demanda, pois excesso de
demanda vai trazer pressões inflacionárias.
Ao expandir a demanda agregada, preços irão subir. Com a alta de preços, empresas são
estimuladas a contratar fatores de produção que estão desempregados e produzir mais.
Da mesma forma, se houver uma política de contenção da demanda agregada (a fim de manter
a inflação baixa), empresas passam a produzir menos e os fatores de produção, desempregados,
baixam de preço. Com isso, as empresas voltam a contratar e a economia se recupera, mas com
um nível de preços mais baixo.
MACROECONOMIA → KEYNESIANISMO
→ Crise de 1929:
- Excesso de oferta (sem ajuste automático).
- Expansão da oferta agregada ACIMA da expansão da demanda agregada.
- Excesso de oferta: desestimulou a produção e o crescimento – QUEDA DE PREÇOS.
Apesar da queda de preços, houve ainda menos crescimento, com um agravamento da crise
mundial, devido ao ambiente de falta de demanda. Menos produção significa contratar menos
pessoas e, consequentemente, menos demanda. Com a queda da demanda, o quadro se tornou
ainda mais agudo.
Com o excesso de oferta, empresas começam a produzir e investir menos (I). Pessoas serão
dispensadas e param de consumir (C). Com isso, o investimento irá recuar ainda mais, por faltar
ainda mais demanda. Esse processo se retroalimenta, formando um CICLO RECESSIVO, no qual
a crise vai se agravando, sem qualquer tipo de ajuste automático.
Não ocorre o ajustamento, pois, apesar de haver queda de preços, a produção não se recupera,
pois falta demanda. Esse é o diagnóstico da Teoria Keynesiana, segundo a qual a flexibilidade
de preços não é suficiente para o autoajustamento da economia.
Segundo a visão classicista, com a queda dos preços, a produção aumentava e a economia
voltava para o patamar de equilíbrio. Já de acordo com Keynes, com a queda de preços, a
tendência é que a produção caia ainda mais e, com ainda menos consumo, a queda progressiva
na produção leve a um ciclo recessivo.
Porém, Keynes vai além, afirmando que não existe, na prática, uma flexibilidade de preços,
nem no curto e nem no longo prazo. No mundo real, temos um mercado imperfeito, no qual
agentes econômicos resistem, o tempo inteiro, a possíveis quedas na sua arrecadação.
Ponto de partida da teoria keynesiana → Não existe flexibilidade nos preços dos fatores de
produção. O longo prazo classicista não chegaria nunca.
Portanto, toda a racionalidade da teoria clássica está assentada em bases erradas. Se não há
tendência ao pleno emprego, então observa-se, de maneira empírica, que o desemprego de
fatores é a regra. Desemprego que acaba sendo ainda mais agudo em momentos de ciclo
recessivo, como no período da Grande Depressão.
A situação de pleno emprego é exceção. A flexibilidade de preços não garante o pleno emprego,
porque essa flexibilidade NÃO EXISTE. A Teoria Keynesiana parte, portanto, de bases
antagônicas ao que havia sido proposto pelos classicistas. Keynes evitava realizar análises de
longo prazo, pois a economia estaria sempre no curto prazo e não chegaríamos nunca a esse
longo prazo.
Numa ótica keynesiana segundo a qual o desemprego é a regra, qual seria a melhor maneira
de se organizar a economia, de se enxergar o processo de igualdade entre a oferta agregada e
a demanda agregada?
DEMANDA EFETIVA
→ Ponto da demanda agregada que se efetiva.
→ Inversão de raciocínio: demanda é que gera a oferta e não o contrário.
Inversão da lógica: demanda vai criar a oferta e o indutor do crescimento é a demanda efetiva
EXPECTATIVAS
Se há mais otimismo em relação ao futuro, consumidor consome mais e empresa investe mais.
→ Há um crescimento da demanda efetiva.
CONSUMO não é afetado somente pela renda disponível, mas também pelas expectativas.
→ Com renda disponível constante, se expectativas estiverem positivas, consumo irá aumentar.
→ Com renda disponível constante, se expectativas estiverem deterioradas, consumo irá cair.
INVESTIMENTO não é afetado apenas pela taxa de juros, mas também pelas expectativas.
→ Se taxa de juros for constante, com empresas otimistas, haverá ampliação do investimento.
→ Se taxa de juros for constante, com empresas pessimistas, haverá queda do investimento.
O monitoramento de expectativas passa a ser muito importante. O papel das expectativas ganha
uma maior centralidade com a Teoria Keynesiana. Segundo o argumento classicista, as
expectativas não são capazes de mudar a realidade, uma vez que as pessoas vão ajustando suas
expectativas à realidade, conforme as coisas vão acontecendo.
Profecia autorrealizável (visão keynesiana) – se todos pensam que a economia vai crescer, ela
crescerá, mas também vale no sentido contrário.
Questionamento: como ampliar / reduzir investimento se taxa de juros está no mesmo lugar?
Pode-se financiar o investimento, em momentos de otimismo, por meio da poupança ociosa
(poupança desempregada). A lógica de que o desemprego dos fatores de produção é a regra
vale para todos os fatores, inclusive para a poupança. Assim, a flutuação das taxas de juros (que
são o custo da poupança) não garante a igualdade entre poupança e investimento. Não
garante a igualdade entre oferta e demanda por poupança. Isso, na prática, causa, na prática, o
desemprego da poupança.
Porém, o argumento keynesiano é de que isso não necessariamente é verdade. A taxa de juros
pode estar caindo e as empresas podem eventualmente investir ainda menos, e as pessoas
podem poupar ainda mais, se elas estiverem pessimistas em relação ao futuro. Ou seja, a queda
da taxa de juros não necessariamente leva ao aumento dos investimentos e à diminuição da
poupança.
Via de regra, a poupança está desempregada (como fator de produção). O emprego dos fatores
de produção será proporcional à demanda efetiva. A demanda efetiva acaba sendo o elemento
que impulsiona o crescimento da economia e não a oferta. A preocupação dos governos,
portanto, deve ser manter a demanda efetiva estimulada.
No que diz respeito à formação de processo de crise (ciclo recessivo), tinha-se a queda do
investimento que fazia com que pessoas fossem demitidas e houvesse interrupção do consumo,
num processo que se retroalimenta.
A expansão dos gastos públicos pode quebrar o ciclo recessivo (política anticíclica). Nesse caso,
os gastos do governo agem para aumentar a demanda efetiva, com a realização de obras,
contratação de pessoas, compra de produtos de empresas. Governo empurra a roda da
economia no sentido contrário, fazendo com que a economia volte a se expandir .
Se a raiz da crise é a falta de demanda efetiva, resolve-se a crise aumentando a demanda efetiva.
Efeito multiplicador → Política anticíclica como uma maneira eficaz de quebrar o ciclo recessivo,
por meio do aumento dos gastos do governo.
Ao se falar em política anticíclica, pode-se pensar que a expansão da demanda efetiva, de forma
mais veloz do que a capacidade produtiva, acaba sendo, na prática, um elemento que pressiona
a inflação.
Na visão keynesiana, ter alguma inflação é algo até saudável (não uma inflação fora do controle,
obviamente). Se o crescimento econômico é puxado pela demanda, a demanda vai,
inevitavelmente, pressionar a inflação, que estimulará as empresas a empregar mais fatores de
produção, a produzir mais e estimulará a economia a crescer.
O argumento keynesiano é de que não há crescimento sem inflação: tolerar inflação é tolerar o
próprio crescimento. Como a economia depende de demanda efetiva em expansão para crescer,
haverá pressão sobre a inflação. O pior cenário possível seria de deflação (inflação negativa), no
qual empresas param de investir, pois rentabilidade está caindo, o consumidor para de
consumir, pois ele é estimulado a retardar seu consumo para consumir mais barato, e a
economia mergulha num quadro recessivo.
INFLAÇÃO
→ Demanda
Se há mais demanda efetiva do que produção, haverá mais inflação, mas haverá mais emprego
dos fatores de produção e mais crescimento.
→ Custos
- Contração da oferta.
- Rigidez de preços.
- Efeito do aumento de custos permanece.
→ BEM-ESTAR SOCIAL
*Estimula o consumo → Desestimula a poupança
- Educação
- Saúde
- Leis trabalhistas
- Previdência social
→ Políticas de Vargas está associada à visão keynesiana. CLT, por exemplo. Salário mínimo
(acima do salário de equilíbrio). Estímulo ao consumo. Ao contrário do pensamento classicista,
salário mínimo aumenta o emprego, pois aumenta a demanda efetiva.
1776-------------------------------------1929---------1936----------------------1980------------------------2008
Smith Crise Teoria KEYNES Crise Neoclássico Crise
Geral
2008------------------------→ HOJE
Crise Keynes no
Combate
à Crise
CLÁSSICO – mais usado em momentos normais – clássicos teriam medo de BOOM (auge)
KEYNES – mais usado em momentos de CRISE – keynesianos teriam medo de BUST (crise).
1a FASE – 2017
QUESTÃO 70
Na década de 30, durante a Grande Depressão, a teoria econômica debatia, entre outros
temas, as causas do persistente desemprego, que assolava grandes contingentes
populacionais. Uma das publicações que ganhou maior destaque nesse debate foi a Teoria
geral do emprego, do juro e da moeda (1936), de John Maynard Keynes. Nessa obra, Keynes
marcou os princípios teóricos que revolucionaram o pensamento econômico e até hoje é
referência nas discussões sobre os determinantes do emprego, da renda e da produção
agregados.
1. Na Conferência de Bretton Woods, Keynes, como representante do Reino Unido, teve papel
ativo e central na construção de uma governança financeira global. Nessa conferência, Keynes
sugeriu um regime de taxas de câmbio flutuantes como forma de apoiar o crescimento do
comércio internacional, que foi fundamental para a recuperação econômica do pós-guerra.
Gabarito: ERRADO. Keynes defendia que mercado cambial devia sofrer interferência do
governo, com o estabelecimento de taxas de câmbio fixas. Classicistas é que defendiam câmbio
flutuante (livre mercado – flexibilidade).
2. Conforme Keynes, o nível de emprego agregado não se define meramente como um ponto
de equilíbrio parcial, dado no encontro de curvas agregadas de oferta e de demanda por
trabalho. Para ele, em uma dada estrutura produtiva, o nível de emprego resulta da decisão dos
empresários de empregar a força de trabalho em função das expectativas de consumo e de
investimento na economia. Assim, poderá persistir o desemprego involuntário enquanto o nível
de demanda efetiva for demasiadamente baixo.
3. A suposição feita por Keynes de que os salários nominais e outros elementos de custo
permanecem constantes altera a natureza do raciocínio que ele desenvolveu para explicar os
determinantes do volume de emprego agregado.
Gabarito: ERRADO. Keynes, na verdade, diz que salários são rígidos (resistentes a mudança) e
não exatamente constantes.
4. Para um quadro de crise, uma proposição de política econômica keynesiana seria o governo
ampliar os gastos públicos como forma de elevar a demanda agregada e recuperar o nível de
emprego, ao passo que, para um momento de superaquecimento, a recomendação keynesiana
seria reduzir gastos.
Gabarito: CERTO. Keynes não nega o conceito de pleno emprego, mas nega a tendência ao pleno
emprego.
3a FASE - 2005
Explique por que a hipótese de flexibilidade – tanto de preços como de salários – desempenha
um papel crucial na controvérsia entre os economistas clássicos e keynesianos.
KEYNESIANOS – não existe flexibilidade de preços e salários, mas sim rigidez – não existe
tendência ao pleno emprego – oferta agregada positivamente inclinada – demanda efetiva
determina emprego de fatores de produção – produção e crescimento também – expectativas
passa a ter papel importante na expansão de demanda efetiva – existe inflação da demanda,
mas também a inflação de custos.
Diplomacia 360o – Módulo Atena – Economia – Aula 07
Prof. Daniel Sousa – 12.09.2018
MOEDA
A moeda é, acima de tudo, uma convenção social. As pessoas conhecem as funções da moeda
e, consequentemente, ela acaba funcionando no âmbito de uma sociedade, cumprindo todas
essas funções. A moeda é uma convenção social para qualquer padrão monetário que se utilize,
até para ouro e prata.
O ouro foi usado, durante séculos como padrão monetário, mas não há utilidade para o ouro
senão a função de adorno. Da mesma forma, se pensarmos no padrão monetário
contemporâneo, o papel-moeda não passa de pedaços de papel colorido. Trata-se de uma
convenção social capaz de cumprir 3 (três) funções, a saber:
i) MEIO DE TROCA:
A moeda é capaz de mediar e viabilizar trocas. Caso a moeda não tivesse essa função, a
sociedade teria que viver na base do escambo, e, consequentemente, todos os dias teríamos
que encontrar quem tivesse mercadorias para trocar conosco por outras, sem o intermédio da
moeda. Isso dificultaria muito a vida em sociedade, com um número de trocas muito menor e
um nível de bem-estar reduzido.
Grupos sociais ao redor do planeta, mesmo aqueles que nunca tiveram contato entre si,
desenvolveram algum tipo de padrão monetário, alguns mais sofisticados e outros mais
rudimentares. Todas as sociedades naturalmente evoluíam para a troca e, além de evoluir para
a troca, passavam para algum padrão monetário. Nenhum grupo é totalmente autossuficiente,
capaz de produzir todo, o que torna a troca algo natural. O padrão monetário é, de fato, algo
que facilita as trocas, pois é meio de troca.
Moeda também é unidade de conta porque ela cota o valor das mercadorias. Para se realizar
comércio, é necessário haver um referencial que cote o valor dos produtos vendidos.
Até hoje, há quem acredite que imprimir dinheiro seria uma solução. Trata-se de algo antigo,
tentado pelos fenícios, pelo Império Romano, mas isso nunca acabou bem. Mesmo assim, ainda
há quem insista nessa medida, achando que, “desta vez vai dar certo”.
Importante notar que essas funções da moeda são demandadas pelas pessoas. Se a moeda não
estiver desempenhando uma ou mais dessas funções, as pessoas, na prática, irão buscar outra
moeda para cumpri-las.
M1 = MP = PMPP + DV
A moeda do tipo 1 (M1) é chamada também de meio de pagamento (MP). Só existem 2 (dois)
tipos de meio de pagamento: (i) papel moeda em poder do público (PMPP), que é o dinheiro
vivo nas mãos das pessoas, e (ii) depósitos à vista (DV), o dinheiro em contas correntes que
pode ser usado como forma de pagamento, passando um cheque, usando o cartão de débito,
pagando um boleto ou fazendo uma transferência bancária, por exemplo.
Obs.: o cartão de crédito não é um meio de pagamento, e sim uma promessa de pagar no futuro.
A moeda do tipo 2 (M2) é a moeda do tipo 1 (M1), acrescida dos depósitos de curto prazo, que,
conforme exemplo dado pelo Banco Central (BACEN), é a caderneta de poupança, que tem o
prazo de apenas 1 mês, renovável.
O papel moeda em poder do público (PMPP) é igual ao papel moeda em circulação (PMC)
menos o caixa dos bancos comerciais. Na prática, o PMC está nas mãos das pessoas ou nas mãos
dos bancos.
BM = PMPP + ET
A base monetária (BM) é o papel moeda em poder do público (PMPP) acrescido dos encaixes
totais dos bancos comerciais (ET), ou seja, o dinheiro que os bancos têm em caixa. Esses encaixes
totais dos bancos podem ser desmembrados em:
(i) Caixa do próprio banco comercial;
(ii) Depósitos feitos pelo banco comercial voluntariamente junto ao BACEN; e
(iii) Depósitos que o banco comercial faz compulsoriamente junto ao BACEN.
Considera-se o BACEN como o “Banco dos bancos”. Ele tanto concede empréstimos aos bancos
comerciais como recebe depósitos desses bancos.
MP = PMPP + DV
BM = PMPP + ET
Qual é o maior numa economia? Os MP ou a BM? Pode-se dizer que a resposta está numa
comparação entre o DV e os ET de uma economia, já que ambos os conceitos têm em comum o
PMPP.
O que é maior? O valor dos depósitos feitos pelas pessoas nos bancos comerciais (DV) ou a
quantidade de dinheiro que os bancos têm em caixa (ET)?
Resposta: DV – os bancos têm muito mais depósitos à vista do que dinheiro em caixa. Os bancos
são, na sua essência, alavancados. Essa alavancagem é a própria essência dos bancos.
Esses comerciantes italianos acumulavam, portanto, a moeda internacional, que era feita de
metais preciosos, fundamentalmente o ouro, e, cada vez que alguém ia se aventurar numa
empreitada comercial, era necessário guardar aquele ouro em algum lugar. Escolhiam as casas
dos ourives locais, pois já tinham todo um aparato de segurança para proteger o ouro dos graves
perigos de segurança dessas cidades italianas.
Esses ourives concediam recibos para esses depósitos de ouro feitos, originalmente, por
comerciantes. Começaram a perceber o óbvio: nem todos apareciam ao mesmo tempo para
recolher o ouro que estava guardado. Os ourives passaram então a emprestar parte desse ouro
a juros, mas na forma de um outro recibo.
Em pouco tempo, já havia mais recibos em circulação do que o ouro propriamente dito nessas
casas, que se tornaram casas bancárias. Esses recibos são o que conhecemos até hoje como
papel moeda. Até hoje, o papel moeda tem o formato de recibo, sendo que muitas moedas
ainda preservam nomes associados ao peso dos metais preciosos depositados na casa bancária:
o PESO e a LIBRA.
Aos poucos, as pessoas passaram a usar esses recibos – o papel moeda – como a moeda, pois
eram mais seguros, portáteis, divisíveis (podendo ter diversos valores para troco) e não
perecíveis, mas valendo ouro e podendo ser sacados na casa bancária que os emitiu. Até tempos
recentes, circulavam num único país, vários papéis moeda, oriundos de diferentes casas
bancárias, pois estavam lastreados no ouro que havia em depósito nesses bancos.
Ex.: no Brasil-Império, o Banco do Barão de Mauá emitia seu próprio papel moeda. Mauá chegou
a obter empréstimo em ouro de bancos ingleses a fim de garantir o valor de seu papel moeda
quando ocorreu uma enorme corrida de correntistas a seus caixas, após um boato espalhado na
corte de que seu banco era inseguro.
ATIVO PASSIVO
Empréstimo de 1000 Depósito de 1000
Empréstimo de 400 Depósito de 400
Empréstimo de 100 Depósito de 100
Em realidade, o caixa do banco tem 1500 reais que foram depositados à vista (DV = 1500), mas
como encaixes totais tem apenas 1000 (ET = 1000).
→ CRISE DE LIQUIDEZ
- Quando o banco não tem liquidez para oferecer aos seus clientes todos ao mesmo tempo.
- Aconteceu com o Banco do Barão de Mauá – seu banco entrou em processo de liquidação.
m= 1 .
1 – d x (1 – r)
d = % DV / MP
→ Porcentagem que os depósitos à vista (DV) representam nos meios de pagamento (MP).
Se 80% dos meios de pagamento forem depósitos à vista, d será 0,8.
r = % Reservas / Depósitos
→ Porcentagem que os bancos guardam dos depósitos na forma de reservas (encaixes).
Se os bancos têm 30% dos depósitos na forma de reserva, o r será 0,3.
m = 7,14
→ meios de pagamento dessa economia são 7,14 vezes maiores do que a base monetária.
I) TAXA DE REDESCONTO: taxa cobrada pelo BACEN para bancos realizarem operações de
redesconto (empréstimo do BACEN aos bancos comerciais).
A taxa de redesconto é um instrumento é irrelevante no Brasil, pois bancos comerciais não têm
o hábito de obter empréstimos do BACEN, mas sim de realizar depósitos no BACEN. Isso ocorre
porque os juros no Brasil são muito altos e, depositado no BACEN, esse dinheiro rende SELIC
(historicamente alta no Brasil).
Além disso, no Brasil, o recurso à operação de redesconto é visto como algo característico de
bancos comerciais em processo pré-falimentar. Aqui bancos só recorrem ao redesconto em
situações de emergência. Já no exterior, o redesconto é extremamente comum.
II) DEPÓSITO COMPULSÓRIO: depósito obrigatório que bancos devem realizar no BACEN.
Se BACEN vende títulos para a sociedade, está tirando moeda de circulação, “enxugando” a base
monetária (política contracionista – contração da oferta de moeda).
Se BACEN compra títulos da sociedade, está injetando moeda na economia, ampliando a base
monetária (política expansionista – expansão da oferta de moeda).
→ Instrumento usado hoje pelo Banco Central Europeu – quantative easing – injeção de euros
na economia com a retirada de títulos do mercado, com o objetivo de estimular a economia.
A compra e a venda de títulos pelo BACEN é uma forma de manipulação da taxa de juros.
Quando o BACEN vende mais títulos, ele empurra os juros para cima.
Quando o BACEN vende menos títulos, ele empurra os juros para baixo.
QUADRO DE AULA:
Diplomacia 360o – Módulo Atena – Economia – Aula 08
Prof. Daniel Sousa – 19.09.2018
→ Quando for realizada uma política monetária expansionista, a oferta de fundos emprestáveis
irá aumentar, a taxa de juros de equilíbrio vai cair e a quantidade de equilíbrio vai aumentar.
→ Quando for realizada uma política monetária contracionista, a oferta de fundos emprestáveis
irá se contrair, a taxa de juros de equilíbrio vai aumentar e a quantidade de equilíbrio vai cair.
Tem-se um PIB (Y) e um nível de preços (P). A oferta agregada (OA), que é vertical, define um
PIB potencial (YPot), de pleno emprego. Há também a demanda agregada (DA), que é
negativamente inclinada como qualquer demanda.
O ponto de equilíbrio entre a oferta agregada e a demanda agregada definirá um nível de preços
denominado (P0) e o PIB potencial (YPot).
Como consequência, ocorrerá uma expansão da demanda agregada, que vai gerar mais
inflação, já que os preços irão subir devido à expansão da demanda. Essa expansão da demanda
agregada vai levar, momentaneamente, em um ambiente de curto prazo, a um maior emprego
dos fatores de produção, gerando mais crescimento. Nesse cenário de mais emprego e mais
crescimento, vai-se chegar a um PIB potencial que vai estabilizar nesse patamar.
Com os preços mais baixos, haverá menos emprego e menos produção, que representará
menos crescimento. Nesse cenário de menos emprego dos fatores de produção e menos
crescimento, haverá uma redução de custos, que levará a uma recuperação da economia e do
crescimento. Chegaremos também a um PIB potencial, de pleno emprego, que também irá se
estabilizar nesse patamar.
Conclui-se, segundo a lógica classicista, que moeda não gera nada além de inflação. A política
monetária nada mais é do que uma política de administração de demanda, de tal maneira que
ela não venha a gerar inflação. Política monetária não gera empregos ou crescimento do PIB,
apenas mais ou menos inflação no horizonte de longo prazo, que é aquele que nos interessa.
O argumento classicista é que, num horizonte de longo prazo, tanto o PIB, que atinge seu
potencial (patamar de pleno emprego), quanto a velocidade de circulação da moeda são
constantes. Dessa forma, aumentos na oferta de moeda terão como consequência direta
aumentos proporcionais no nível de preços – e apenas isso.
De acordo com essa lógica, a política monetária serve exclusivamente como instrumento de
controle da inflação. Uma política monetária classicista implantará um regime de metas de
inflação, que é adotado por quase 100 países, e também pelo Brasil, desde 1999.
REGIME DE METAS DE INFLAÇÃO
Para cumprir a meta de inflação, o BACEN tem reuniões periódicas (a cada 45 dias) do COPOM
(Conselho de Política Monetária) para avaliar o cumprimento da meta de inflação.
2010: inflação dispara devido ao forte crescimento do PIB, causado pelos incentivos do governo.
2011: Dilma reduziu a taxa SELIC em ambiente de alta da inflação. Promoveu também o
represamento de reajustes de tarifas de serviços públicos, como eletricidade.
2015: após a reeleição de Dilma, o aumento de tarifas que estava represado foi liberado, e os
preços dispararam, descumprindo a meta de inflação.
2016: a recessão ajudou, juntamente com os juros muito altos, na derrubada da inflação.
Com a nomeação de Ilan Goldfajn para a presidência do BACEN, foram estabelecidas margens
de tolerância menores e reduzidas as metas de inflação para os anos seguintes. Há hoje uma
expectativa de autonomia do BACEN.
VISÃO DE KEYNES
O aumento da demanda efetiva pode pressionar a inflação, mas faz parte do processo. O
governo está disposto a tolerar mais inflação para abrir espaço a mais crescimento econômico.
A expansão da demanda efetiva causará, na prática, uma alta nos preços, que fará com que
empresas empreguem mais fatores de produção, gerando mais crescimento econômico.
Na visão keynesiana, a política monetária não deve, necessariamente, estar comprometida com
o combate à inflação. O governo pode, nesse contexto, criar alguma política de contenção de
demanda quando a economia estiver próxima do pleno emprego. Keynes não nega a existência
do conceito de pleno emprego. Ele nega, em verdade, que exista uma convergência em direção
ao pleno emprego, garantida pela flexibilidade de preços. Keynes alega que só é possível
aproximar-se do pleno emprego com a expansão da demanda efetiva.
Segundo Keynes, a moeda não é neutra, pois existe uma preferência pela liquidez (“teoria da
preferência pela liquidez”). Quando se coloca mais moeda em circulação, uma parte dessa
moeda será entesourada e não existe impacto proporcional sobre os preços. As pessoas têm
preferência pela liquidez e retêm um pouco de moeda por precaução, para as transações que
precisam ser feitas e para a especulação (aproveitar as oscilações do mercado).
ÍNDICES DE PREÇO:
A inflação é medida pelos chamados índices de preço, sendo que o mais famoso deles, no Brasil,
é o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que é calculado pelo IBGE e serve
de referência para o regime de metas de inflação.
TIPOS DE INFLAÇÃO:
A) Inflação de demanda:
→ Classicismo:
Na visão clássica, toda inflação é resultado do excesso de demanda e ela deve ser combatida,
não é tolerável (horizonte de longo prazo).
→ Keynes:
Na visão keynesiana, a inflação de demanda não é o único tipo de inflação e ela pode ser
tolerada. Uma maior tolerância em relação à inflação pode trazer mais crescimento e um maior
emprego dos fatores.
→ Classicismo:
A inflação de custos é causada pela contração da oferta e não existe na teoria clássica, pois a
flexibilidade de preços absorverá qualquer aumento de custos. No longo prazo, a oferta estará
onde ela deve estar, no pleno emprego dos fatores de produção e PIB potencial. Portanto, não
se pode argumentar que há pressão inflacionária permanente causada por aumento de custos.
→ Keynes:
Segundo a visão keynesiana, a inflação de custos existe, pois não há flexibilidade de preços e, na
prática, o efeito do aumento de custos permanece. Há, portanto, um efeito permanente
causado pelo aumento de custos. Idealmente, a inflação de custos deveria ser combatida por
meio da redução de custos.
Porém, expandir a oferta (movimento contrário à inflação de custos) por meio da redução de
custos é algo que demanda tempo. Por isso, recorre-se, muitas vezes, a uma contenção de
demanda para conter essa inflação de custos, devido à excessiva demora em obter resultados
satisfatórios pela redução de custos.
C) Inflação inercial:
*Referência à Lei de Newton.
A inflação inercial é aquela alimentada pela indexação, quando os preços são corrigidos
automaticamente por índices de preços (ex.: contratos de aluguel estipulam correção por
determinados índices de inflação). A inflação do ano que passou, medida pelo índice escolhido
contaminará a inflação do ano seguinte.
Isso explica por que, no Brasil, historicamente, os chamados preços administrados sobem mais
do que os preços livres. Os preços livres, como o próprio nome sugere, são aqueles que possuem
precificação totalmente livre.
Combater inflação no Brasil é ainda muito difícil por conta da quantidade ainda considerável de
preços indexados, que refletem a inflação passada no momento presente. Os preços livres
precisam cair consideravelmente, puxando a média para baixo, se quisermos ter um aumento
menor dos preços administrados.
Em 2008, devido à crise mundial, a taxa de juros de redesconto nos EUA foi estabelecida em
apenas 0,25% a.a. (seu menor patamar histórico). Paralelamente a isso, o governo americano
implantou o quantitative easing (ou “afrouxamento monetário”), realizando a emissão de
dezenas de bilhões de dólares por mês, lançados em circulação a fim de estimular a economia.
O Federal Reserve (FED) retirou títulos privados e públicos do mercado, utilizando-se de papel
moeda recém-emitido. Essa injeção de dólares na economia retirava-se títulos muitas vezes
“podres” do mercado (sem valor), com o objetivo de aquecer a economia estadunidense, em
um contexto de crise. Entre 2008 e 2014, os EUA tiveram a política monetária mais expansionista
de sua história.
Foram muitos os efeitos positivos dessa política. Houve grande estímulo ao multiplicador
bancário, com mais concessão de crédito (gerando mais consumo e mais investimentos). Além
disso, com esse expansionismo monetário, o dólar se enfraqueceu, tornando os produtos
americanos “Made in the USA” mais competitivos. Isso significou uma melhora considerável das
contas externas dos EUA, devido à melhora dos números da balança comercial americana. O
Brasil, assim como muitos outros países, criticou essa política monetária dos EUA, pois ela
estaria fomentando o início de uma guerra cambial, que nos atingiria como um “tsunami
monetário” (expressão criada pela presidente Dilma Rousseff).
Esse risco de um “tsunami monetário” é verdadeiro, pois a liquidez disponível no sistema
financeiro internacional, num cenário de política monetária tão expansionista pelos EUA, fica
muito elevada. Criou-se, portanto, ambiente de altíssima liquidez dentro dos EUA e, por tabela,
no sistema financeiro internacional (devido ao enorme peso dos EUA na economia mundial).
Por outro lado, essa alta liquidez ajudava o Brasil, estimulando a expansão da demanda por
commodities. Essa política teve grande êxito em fomentar a expansão da demanda efetiva nos
EUA, levando, paralelamente, a uma desvalorização do dólar. Portanto, a valorização do Real
verificada nos anos de 2010 e 2011, por exemplo, não teve influência das políticas internas
brasileiras, mas sim da desvalorização do dólar causada pelo quantitative easing nos EUA.
Essa política expansionista começou a ser desmontada em 2014, com a gradativa redução do
quantitative easing e com o aumento dos juros iniciando em dezembro de 2014. Isso porque a
economia crescia com bons índices, mas com muito endividamento e aumento da inflação. Isso
ocorreu dentro de um contexto de muita liquidez no sistema financeiro internacional. Ao mesmo
tempo, o preço do petróleo aumentou, gerando pressão inflacionária.
A política expansionista que vinha sendo feita desde 2008 foi revertida, com o aumento muito
gradual da taxa de juros de 2014 até hoje. Esse aumento de juros tem sido feito lentamente, a
“passos de tartaruga”, para não repetirem o que foi feito em 2008, quando os juros foram
elevados muito velozmente, fazendo com que o endividamento das famílias ficasse impagável.
De lá para cá, a taxa de juros dos EUA foi de 0,25% a.a. para 1,75% a.a., o que, entretanto, não
significa que a política monetária dos EUA seja necessariamente contracionista, mas é, de fato,
mais contracionista do que em outros momentos da história.
Com o aumento de juros nos EUA, a tendência é que investidores estrangeiros levem seu
dinheiro para os EUA, o que afeta justamente os países emergentes como o Brasil. A simples
expectativa de que haja aumento de juros nos EUA já faz com que aconteça essa transferência
de investimentos dos emergentes para o mercado americano.
Ao mesmo tempo, é muito mais fácil fazer política macroeconômica no Brasil quando os EUA
estão fazendo uma política expansionista. Captar a poupança externa de que o Brasil tanto
precisa é muito mais fácil, devido à enorme liquidez no sistema financeiro internacional (levando
a um maior acúmulo de reservas em moeda estrangeira). Controlar a inflação também é mais
fácil, pois o dólar mais desvalorizado permite que os custos em geral sejam contidos.
Daqui para frente, o Brasil terá um cenário mais difícil, pois a janela de oportunidade que
tivemos no passado está gradualmente se fechando (política monetária dos EUA ainda é
bastante expansionista). Com o aumento de juros nos EUA, aumentam também os juros no
Brasil, pois mais títulos do Tesouro Americano são comprados. Consequentemente, menos
títulos do Tesouro Brasileiro são comprados. Diante disso, o valor de arremate dos títulos
brasileiros cai e os juros, que são a diferença entre o valor de arremate e o valor de face,
aumentam.
Conclui-se, assim, que o espaço para a redução da SELIC diminui consideravelmente, dentro
de um contexto de alta de juros nos EUA. Os juros no Brasil não continuarão caindo, pois:
(i) a inflação está muito próxima da meta;
(ii) porque existem pressões adicionais à inflação causadas pelo dólar e pelo petróleo; e
(iii) porque os juros americanos ainda estão subindo.
POLÍTICA MONETÁRIA DOS PAÍSES DA ZONA DO EURO
A política monetária da Zona do Euro, após um contexto de crise (Grécia, Portugal, Chipre),
caracterizou-se como consideravelmente expansionista. O quantitative easing emissionista na
Zona do Euro começou apenas em 2015, quando o emissionismo dos EUA já estava sendo
interrompido e o do Japão já estava a pleno vapor.
O quantitative easing emissionista na Zona do Euro só foi ter início em 2015, porque a Alemanha
sempre foi contra, considerando o potencial inflacionário que tal medida poderia acarretar.
Títulos
BCE Países
→
€
→ Crescimento do endividamento.
→ Alta do preço de imóveis.
→ Alta do consumo.
→ Mais investimento.
❖ Quantitative easing europeu foi feito num contexto de risco de recessão + deflação.
❖ Vendas sucessivas de títulos pelos países-membros para financiar seu déficit.
❖ Crescimento veloz do endividamento, acima do crescimento da renda.
1. CERTO.
→ Na visão keynesiana há 3 motivos para entesouramento da moeda – precaução,
especulação e transação.
2. ERRADO.
→ A expansão dos meios de pagamento não é exercida exclusivamente pela autoridade
monetária, mas também pelos bancos comerciais, via empréstimos.
3. ERRADO.
→ Há décadas, não há mais padrão-ouro. Em 1973, acabou o padrão dólar-ouro.
4. CERTO.
Diplomacia 360o – Módulo Atena – Economia – Aula 10
Prof. Daniel Sousa – 03.10.2018
*Tamanho do governo
→ Pequeno: gasta pouco e tributa pouco.
→ Grande: gastos elevados e tributos elevados.
*Disciplina Fiscal
→ Equilíbrio das contas públicas.
*ESTADO MÍNIMO
→ Tributa pouco: para não desincentivar a produção, o emprego, a renda e o crescimento.
→ Gasta pouco: para evitar o “efeito deslocamento” (crowding out ou “efeito expulsão”).
Quando o governo resolve gastar mais, há um impacto sobre a taxa de juros, que aumenta, pois
a poupança do governo diminuiu (e ficou mais cara). Governo tem que vender mais títulos e
por um preço menor, então o valor do arremate cai. A diferença entre o valor de arremate e o
valor de face desses títulos do governo aumenta. Essa diferença é a taxa de juros.
Portanto, o aumento dos gastos públicos gera um aumento da taxa de juros, levando a um
desestímulo dos investimentos produtivos e um estímulo à poupança, que, na prática, é um
desestímulo ao consumo. No final das contas, trata-se de um processo em que o aumento do
tamanho no governo acaba gerando um deslocamento, expulsão ou constrangimento da
iniciativa privada.
*DISCIPLINA FISCAL
→ Muito importante!
O desequilíbrio causado pela indisciplina fiscal (quando o poder público gasta mais do que
arrecada) tem como consequência o aumento do endividamento do governo, que acaba
captando poupança para si, a fim de financiar o seu déficit. Com isso, há menos poupança
disponível para investimentos produtivos privados, que são, efetivamente, o que impacta
positivamente a economia, gerando crescimento econômico. No futuro, essa dívida terá que ser
paga por meio do aumento de impostos, o que atrapalhará os investimentos e o consumo.
Fazer política fiscal é mexer na demanda e não na oferta. Mexer na oferta é aumentar a
capacidade produtiva, a quantidade de fatores de produção. Se o governo gastar mais, a
poupança (que é um fator de produção) cai, atrapalhando o crescimento e o atingimento de um
PIB potencial mais alto.
Y = PIB
P = nível de preços
Oferta agregada (OA) vertical → sobre PIB potencial (Ypot)
Demanda agregada (DA) negativamente inclinada
Na prática, o PIB continua no mesmo lugar, pois esse aumento de gastos pelo governo diminuirá
o consumo, devido ao aumento da poupança, e os investimentos. A pressão inflacionária pode
ser explicada pelo excesso de demanda que é resultado de uma política fiscal expansionista.
O Classicismo não nega que haja um efeito positivo oriundo da politica fiscal, mas sim que
esse efeito positivo permaneça.
Y = PIB
P = nível de preços
Oferta agregada (OA) positivamente inclinada
Demanda agregada (DA) negativamente inclinada
O problema é que esse crescimento começa a se esgotar, na medida em que, empregando mais
fatores de produção (utilização de mais insumos), os preços desses fatores começam a subir.
Verifica-se, devido a esse aumento de preços, uma estabilização do emprego e da produção, e,
consequentemente, também, uma estabilização do crescimento econômico. Atinge-se o PIB
potencial dessa economia.
A política fiscal expansionista, num horizonte de longo prazo, levará a preços maiores e
estabilização do PIB. Porém, mesmo que no curto prazo haja algum aumento do crescimento
econômico, esse crescimento será efêmero (durando poucos anos), não sustentável no longo
prazo. Se essa expansão dos gastos, for acompanhada de indisciplina fiscal, o crescimento não
se sustentará e ficará a inflação e o desequilíbrio das contas públicas. Esse alto endividamento
levará inevitavelmente ao aumento de impostos, atrapalhando o crescimento em longo prazo.
A expansão da demanda agregada por meio de política fiscal expansionista ocorre de forma mais
acelerada que a expansão da oferta agregada, causando esse desequilíbrio e a estagnação da
economia. Para haver crescimento econômico, a demanda agregada deve crescer no mesmo
ritmo que a oferta agregada. A política fiscal deve andar junta com a política monetária, que
deve ser usada para conter os efeitos da expansão da demanda agregada. O Banco Central não
deve permitir o aumento dos juros num cenário de aumento excessivo dos gastos públicos. O
governo é obrigado a vender uma grande quantidade de títulos do Tesouro para financiar o
crescimento desse endividamento, o que impede a alta dos juros.
Segundo a visão classicista, o Estado deve ser mínimo, gastando e tributando pouco para que a
economia possa avançar de forma mais acelerada. Também há uma recomendação de que o
Estado seja disciplinado. Política fiscal não gera crescimento sustentável a longo prazo. A
expansão da oferta agregada, com a expansão da quantidade de dotação de fatores de
produção, é que gera crescimento.
POLÍTICA FISCAL – BRASIL
Com a Lei de Responsabilidade Fiscal, o Brasil passou a ter a disciplina fiscal como princípio
legal. Os governos passaram a ter um compromisso legal com a responsabilidade fiscal, com
metas que deverão ser cumpridas. O Brasil vem apresentando superávit primário todos os anos
desde a Lei de Responsabilidade Fiscal, mas, desde 2013, os resultados têm sido negativos.
Durante o segundo mandato do governo FHC, o Brasil teve leves superávits. Ao longo da gestão
de Palocci na Fazenda, durante o primeiro mandato de Lula, o superávit primário brasileiro
atingiu recordes. Já no segundo governo Lula, durante a gestão de Guido Mantega, os superávits
foram caindo. Caíram ainda mais ao longo do primeiro governo Dilma.
Para o ano de 2018, o Brasil tem uma meta de déficit primário de R$ 159 bilhões. Caso o
governo tenha que gastar mais do que o necessário para atingir essa meta, terá que pedir
autorização ao Congresso Nacional. Caso contrário, incorrerá em crime de responsabilidade.
Se for considerado o gasto do governo com juros (déficit nominal), o resultado é muito pior. O
déficit nominal do Brasil no ano de 2017 foi de R$ 511 bilhões. Isso significa que o governo teve
de ir ao mercado para vender títulos nesse montante, a fim de cobrir esse déficit nominal. Isso
sem contar os títulos que o Tesouro teve que vender para pagar os títulos que estavam
vencendo. No ano de 2018, o Tesouro tem a expectativa de vender por volta de R$ 1 trilhão e
300 bilhões em títulos.
O Brasil tem hoje uma dívida no tamanho de 78% do PIB. O maior problema, entretanto, não
é a relação dívida-PIB em si, que é muito maior em diversos países, mas sim o tamanho do déficit
e o seu ritmo acelerado de crescimento sem qualquer medida concreta para contê-lo. Segundo
projeções do governo, se nada for feito em relação ao aumento da dívida pública brasileira, até
2022, poderemos ter uma relação dívida-PIB de 100%.
No ano de 2017, o Brasil teve um déficit nominal em proporção do PIB que só não foi maior do
que o da Arábia Saudita, equivalente a 8% do PIB. O Brasil tem um déficit gigantesco e o
crescimento desse endividamento ocorre num ritmo insustentável – esse é o maior perigo, e
não o tamanho da dívida em si. O Brasil está numa situação relativamente delicada do ponto de
vista fiscal.
Durante o governo Dilma, teve início o que se chamou de NOVA MATRIZ ECONÔMICA, em que
se deixou de focar o centro da meta de inflação, focando no topo da margem de tolerância. No
que se refere à política fiscal, houve mudança na metodologia de cálculo do superávit primário.
O governo passou a desconsiderar certos gastos:
Considerou no cálculo a arrecadação, menos as despesas (exceto juros), mas excluindo desse
cálculo das despesas os seguintes gastos públicos:
Essa “contabilidade criativa” foi feita para inflar os resultados fiscais, no intuito de criar espaço
para o governo gastar mais. Foram feitos outros “malabarismos fiscais” (também chamados de
“pedaladas fiscais”), como:
→ Gastos com o seguro-desemprego, apenas pagos pela Caixa Econômica Federal, que
funcionava como intermediário, deviam ter sido realizados com recursos do Tesouro, mas o
governo ordenou que a Caixa realizasse esses pagamentos, atrasando o repasse desses recursos
pelo Tesouro.
→ Gastos com o Plano Safra, que concede subsídios a agricultores, intermediados pelo Banco
do Brasil, foram cobertos pelo Tesouro com atraso.
Apesar da crise fiscal, o Brasil não está falido, pois ainda tem crédito. O governo realiza,
portanto, sucessivas vendas de títulos, a fim de refinanciar sua dívida e pagar títulos que
vencem. Entretanto, a crise fiscal realmente se materializa quando o governo apresenta um lote
de títulos para vender, a fim de pagar os títulos que estão vencendo, e ninguém quer comprar.
É difícil prever quando isso pode ocorrer, pois envolve questões relacionadas à credibilidade de
um país. A relação dívida-PIB do Brasil, como já foi dito anteriormente, está em 0,78 (dívida é
78% do PIB). Porém, o maior problema é o ritmo acelerado de crescimento que essa dívida vem
apresentando e a expectativa de que ela continuará crescendo nos próximos anos, sem nada ser
feito para frear esse processo.
Há muitos países bem mais endividados que o Brasil, uns em crise e outros não. A Grécia é um
exemplo de país com relação dívida-PIB de 180% que recentemente viveu uma crise fiscal, tendo
dificuldades de vender títulos de seu Tesouro. O mercado considerava que o governo grego não
teria capacidade de honrar o pagamento desses títulos no futuro. Já o governo do Japão, que é
muito mais endividado do que o governo grego, devendo quase 230% de seu PIB, consegue
vender títulos sem problemas. O governo do Japão tem enorme credibilidade perante a sua
população e perante os investidores.
Obs.: o quadro acima não inclui despesas financeiras (com juros da dívida).
46,5% do orçamento público brasileiro é gasto com Previdência, seja com benefícios
continuados ou com aposentadorias. É algo preocupante, sobretudo quando se considera que o
Brasil ainda não é um país idoso e estamos gastando uma quantidade tão expressiva com o INSS.
Esse percentual só vem aumentando a cada ano. Esses recursos usados cada vez mais na
Previdência representam menos investimentos em outras áreas. Qualquer governo que vier,
será obrigado a realizar uma reforma da Previdência, pois o aumento sucessivo dos gastos com
seguridade social tende a inviabilizar o governo.
22% do orçamento público brasileiro é gasto com pessoal. Somando esses gastos com pessoal
às despesas com Previdência, já se chega a quase 70% do orçamento. Com essas despesas
crescendo sem parar, cada vez mais sobram menos recursos para investimentos. Também vale
dizer que esses 70% são gastos sobretudo com poucas pessoas. E pouco é gasto para a massa
da população.
11% do orçamento público brasileiro é gasto com despesas obrigatórias. São despesas que
estão estabelecidas em lei e que o governo não pode deixar de realizar.
11,3% do orçamento público brasileiro é gasto com despesas discricionárias com vinculação.
São gastos com Saúde (7,8%), com Educação (2,6%) e com os Poderes Legislativo, Judiciário e
com o Ministério Público da União (0,9%).
Os 9% que sobram no orçamento são gastos com despesas discricionárias sem vinculação. São
as despesas que o governo ainda tem alguma margem para mexer. Porém, esse percentual vem
encolhendo, ano a ano, pois tem sido engolido pelas demais despesas. Aqui estão inseridas as
obras públicas, programas sociais, despesas de custeio, tudo que não está “carimbado”,
vinculado.
Cada vez mais, esses gastos vêm desaparecendo, com o aumento das demais despesas, com
sérios riscos de que o governo fique paralisado. As discussões do Congresso em torno do
orçamento limitam-se a emendas e reajustes. É necessária, de forma emergencial, uma reforma
da Previdência e o adiamento dos reajustes do funcionalismo.
Para o ano de 2019, a depender de quem vencerá as eleições presidenciais, haverá duas
opções: RASGAR ou MANTER a PEC do Teto.
Ao que tudo indica, independentemente de quem for o Presidente da República, a PEC do Teto
cairá de qualquer jeito, pela simples inviabilização da estratégia que foi desenhada
originalmente. Isso é algo dramático para a situação fiscal do país, que já não está nada bem.
Uma boa parte dessas despesas primárias já está sendo coberta pela venda de títulos, sobretudo
aquelas discricionárias sem vinculação. Em um dado momento, com o ritmo do aumento do
endividamento cada vez mais acelerado, o governo precisará vender títulos para cobrir até
mesmo as despesas obrigatórias, o que é ilegal. Essa vedação é conhecida como “regra de ouro”.
Já se fala, no Congresso Nacional, das chamadas “férias para a regra de ouro”. Durante esse
período, o governo poderia cobrir despesas obrigatórias com a venda de títulos do Tesouro,
enquanto seriam adotadas medidas de ajuste das contas públicas para quando essas “férias”
deixassem de vigorar.
*POLÍTICA FISCAL:
O Estado não tem que ser mínimo. Deve ter tamanho capaz de influenciar a demanda efetiva,
com seus gastos, deve ser capaz de coordenar expectativas e de fazer política anticíclica. Deve,
também, corrigir falhas de mercado.
*EFEITO MULTIPLICADOR:
Se o governo aumentar seus GASTOS (com obras públicas, por exemplo), haverá um impacto
positivo sobre os demais agregados macroeconômicos. Isso estimulará os INVESTIMENTOS
(empresas serão contratadas para realizar essas obras) e o CONSUMO irá se expandir (pessoas
empregadas nessas obras passarão a ter renda).
Segundo a visão keynesiana, o efeito dos gastos públicos sobre o PIB é multiplicado (“efeito
multiplicador” – exatamente o contrário do “efeito deslocamento”). Enquanto os classicistas
diziam que o aumento de gastos públicos reduziria os investimentos e o consumo, Keynes afirma
que é exatamente o contrário.
Com o aumento dos gastos, investimentos e consumo serão estimulados, fazendo com que a
própria economia cresça mais rápido do que o aumento dos gastos públicos. Para se calcular o
impacto que a política fiscal terá sobre uma economia, deve-se encontrar o efeito multiplicador.
O EFEITO MULTIPLICADOR será tão maior ou tão mais eficaz quanto maior for a propensão
marginal a consumir das pessoas. O efeito multiplicador se calcula da seguinte forma:
→ Para quebrar o ciclo recessivo, o governo pode recorrer a uma política fiscal expansionista:
- Aumentando os gastos do governo, esse ciclo recessivo pode ser quebrado.
*A política fiscal não pode ser esquecida e o Estado não pode ser mínimo. Precisa ter o
tamanho proporcional à sua importância, o seu peso na economia.
A criação de uma rede de proteção social, tutelada pelo Estado, levará as pessoas a consumir
mais e poupar menos, com a segurança de que o Estado irá acolhê-las no futuro. Há, portanto,
na visão keynesiana, uma centralidade da política fiscal e do governo em si.
*ARMADILHA DE LIQUIDEZ:
- Empresa A tem uma queda nas vendas e passa a entesourar dinheiro em torno de si.
- Empresa A demite trabalhador, que é o Consumidor B
- Consumidor B, desempregado e com medo do futuro, vai entesourar mais moeda.
- Consumidor B entesourando, para de comprar da Empresa C
- Empresa C começa a entesourar moeda em torno de si e para de comprar da Empresa A.
→ Processo recomeça...
Não adianta colocar mais moeda na mão das pessoas. Com uma política monetária
expansionista, essa moeda adicional será entesourada pelas pessoas da mesma forma. Já uma
política fiscal pode surtir efeitos. Se o governo expandir seus gastos, contratando pessoas para
fazer parte de uma obra pública, esses trabalhadores vão consumir das empresas, que
contratarão mais...assim, a roda da economia volta a girar, em função de uma política anticíclica
feita pelo governo.
→ Estado não deve ser mínimo. Precisa ter um tamanho proporcional a seu peso na economia.
→ Estado não precisa ser, necessariamente, disciplinado. Em alguns momentos, é até desejável
que o Estado não o seja, pois poderá ser capaz de impulsionar o crescimento econômico.
Em 2009, o governo Lula resolveu fazer uma política anticíclica para enfrentar os efeitos da crise
de 2008. O governo brasileiro reduziu os impostos, aumentou os gastos e reduziu a meta de
superávit primário. Isso não gerou um impacto expressivo sobre a taxa de juros no Brasil, pois,
naquela época, o Brasil tinha resultados primários elevadíssimos e tinha grau de investimento,
ou seja, era considerado um país seguro.
Em 2015, o governo Dilma tentou fazer o mesmo. Porém, não era um momento propício para
uma política expansionista. Havia um déficit primário enorme, o país já não tinha grau de
investimento e a inflação estava em aceleração.
Conclusão: ambas as teorias (classicista e keynesiana) são estáticas, mas o mundo real é
dinâmico. O que às vezes é recomendável para um país pode não ser recomendável para outro.
Cada realidade momentânea pode exigir um ou outro tipo de política fiscal.
Diplomacia 360o – Módulo Atena – Economia – Aula 11
Prof. Daniel Sousa – 10.10.2018
Num passado recente, até o fim do governo de Bill Clinton (1993-2001), os EUA apresentavam
superávit fiscal nominal (sempre que forem feitas análises fiscais internacionais, serão
mencionados os resultados em termos nominais e não primários). Era um período de muito
crescimento na economia americana, quando cresceu consideravelmente a arrecadação e as
despesas eram bastante controladas.
Durante o governo de Barack Obama (2009-2017), houve a continuidade do uso do déficit como
política anticíclica, havendo, porém, uma pequena melhora ao final do governo. O déficit era um
elemento anticíclico, pois havia um cenário de crise financeira. Depois, houve queda no déficit
e uma melhora da economia americana, com aumento também da arrecadação.
No governo de Donald Trump (2017-hoje), houve uma extensa reforma tributária, com redução
agressiva de impostos cobrados de empresas. A lógica era de que empresas com a Apple
obtinham lucros fora dos EUA, que não eram repatriados, devido à alta carga tributária
americana. Esses recursos eram mantidos em paraísos fiscais, o que diminuía a arrecadação do
governo americano e causava efeitos negativos nas contas públicas. A intenção era incentivar o
retorno de capitais para os EUA, incentivando investimentos.
O aumento da taxa de juros nos EUA não tem ocorrido apenas devido ao endividamento, mas
também como forma de conter a pressão inflacionária. O governo americano ainda continuou
tendo muita facilidade para refinanciar suas dívidas, ainda têm prazos maiores para o
vencimento de seus títulos, que ainda têm juros baixos. A situação está sob controle, mas esse
endividamento representa, inegavelmente, um risco para o futuro.
POLÍTICA FISCAL DA ZONA DO EURO
Os países da Zona do Euro não podem emitir moeda individualmente como forma de conter
suas crises fiscais, pois há uma moeda única que só pode ser emitida com a autorização do Banco
Central Europeu. Em 1992, no Tratado de Maastricht, ficou estabelecido que o máximo de
endividamento aceitável para os países da Zona de Euro seria de 60% do PIB. Nenhum país
conseguiu até hoje atingir essa meta.
Na Zona do Euro, os países apresentam baixo crescimento, no máximo até 2%, pois já são
economias maduras, onde existem menos oportunidades de novos negócios e investimentos e
custos muito elevados. O crescimento dentro da Zona do Euro é baixo e continuará sendo baixo.
O grande problema é que o crescimento de grande parte desses países foi associado a déficits
elevados.
A crise de 2008 colocou em xeque uma série de princípios e dogmas que estavam até então
estabelecidos. A crise foi enfrentada por meio de políticas anticíclicas, o que tornou os déficits
ainda maiores. O aumento do endividamento levou a uma crise fiscal. O primeiro país da Zona
do Euro que teve dificuldades de financiar suas dívidas foi a Grécia, que não conseguiu vender
seus títulos. Para sair dessa situação, a Grécia teve de implementar medidas de austeridade, a
fim de diminuir seu déficit (causador da crise), mas também como medida punitiva e exemplar,
para prevenir que isso ocorresse em outros países.
Mesmo assim, houve um recuo no apetite por títulos de países periféricos da Zona do Euro
(como Portugal, Chipre, Irlanda e Itália). Não demorou para que a Zona do Euro tivesse que
socorrer esses países, exigindo deles também a adoção de medidas austeras. O “pacote de
maldades” era um receituário que demandava, sobretudo aumento de impostos e redução de
despesas com seguridade social (reforma da previdência, com aumento da idade mínima e
redução dos benefícios mais altos). Essas medidas geravam tensões nesses países, mas também
nos países centrais da Zona do Euro que estavam ajudando os periféricos.
Em 2015, o governo grego resolveu realizar um plebiscito para consultar a população para saber
se queriam que continuassem as medidas de austeridade. A população escolheu que não
continuasse a austeridade, mas o Banco Central Europeu não deu importância para essa decisão
popular da população local. O governo grego, em razão desse impasse, entrou em default com
a Zona do Euro. A Grécia parou de receber Euros do Banco Central Europeu e houve carestia de
Euros em circulação no mercado europeu.
Diante desse impasse, o governo grego chegou a cogitar o retorno a sua antiga moeda, o
Dracma, o que seria um problema, já que a dívida continuaria sendo em Euros, ficando cada vez
mais cara, já que o Dracma iria rapidamente se desvalorizar. Outro problema é que seria uma
medida extremamente impopular, pois o patrimônio dos gregos, que é totalmente em Euros,
sofreria enorme desvalorização ao ser convertido para o Dracma. Esses possíveis problemas
fizeram com que o governo grego voltasse atrás e concordasse em adotar o pacote de medidas
impopulares exigidas do Banco Central Europeu.
Desde 2015, o Banco Central Europeu tem adotado o quantitative easing, emitindo Euros em
maior quantidade. As economias da Zona do Euro não têm tido dificuldades para refinanciar
suas dívidas desde então. A própria Grécia recentemente saiu da supervisão do Banco Central
Europeu, passando a andar com as próprias pernas, pois não tem tido dificuldades em vender
títulos para refinanciar sua dívida. O próprio Banco Central Europeu tem comprado esses títulos
gregos por meio da emissão de moeda.
Esse quantitative easing pôde ser feito naquele momento, pois o barril de petróleo havia sofrido
uma expressiva queda, o que representava um risco de deflação da economia europeia,
associada à recessão. Para evitar isso, o Banco Central começou a imprimir Euros. De lá para cá,
o cenário mudou e a economia europeia se recuperou, devido a essa política expansionista e
também por conta do recente aumento do preço do barril de petróleo.
Esses fatores estão gerando pressão inflacionária sobre a Zona do Euro, o que denota que o
quantitave easing deverá parar, o que poderá fazer com que os países periféricos da Zona do
Euro voltem a ter problemas de financiamento de suas dívidas. Desde 2015, a relação dívida-PIB
nesses países vem aumentando – devagar, mas aumentando – o que muito perigoso.
Atualmente, os governos de Portugal e Itália têm uma relação dívida-PIB de 130%; o governo
grego 180%. Governos importantes da Zona do Euro, como Espanha, França e Alemanha, já têm
uma relação dívida-PIB de 100%.
Se o Banco Central Europeu emitisse os títulos públicos, assumindo as dívidas dos países, seria
ainda mais fácil financiar a dívida dos países da Zona do Euro. Parece ser uma solução definitiva
para essa dificuldade de financiamento, mas é algo a ser decidido pela política. Isso aumenta
tensões nos países da Zona do Euro, que não aceitariam ficar subordinados ao Banco Central
Europeu, sem terem a liberdade de emitir seus próprios títulos.
É uma escolha que tem ônus e bônus, vantagens e desvantagens. O trade-off mais conhecido é
aquele entre inflação e desemprego. Se você quiser ter desemprego mais baixo, terá que tolerar
uma inflação mais alta. Se você quiser inflação mais baixa, terá que tolerar um desemprego mais
alto. Seria necessário escolher uma ou outra situação.
→ A primeira vez que essa ideia aparece é na chamada Curva de Phillips (1958):
A crítica dos classicistas em relação à Curva de Philips é de que se trata de uma análise de curto
prazo; não é permanente, valendo para um período relativamente curto. Ao se pensar em um
horizonte de longo prazo, esse argumento proposto por Phillips não se sustentaria. Surge,
portanto, uma resposta classicista à Curva de Phillips, o Modelo Friedman-Phelps (1968).
VISÃO CLÁSSICA
Na versão criada em 1968 por Milton Friedman (1912-2006) e Edmund Phelps (1933-*), em um
horizonte de longo prazo, a Curva de Philips não seria negativa inclinada, mas sim vertical. Essa
curva vertical definiria uma taxa de desemprego natural, que envolve dois outros conceitos:
(i) Desemprego voluntário, quando pessoas ou fatores de produção não aceitam a remuneração
oferecida pelo mercado, ficando voluntariamente desempregados; e
(ii) Desemprego friccional, quando pessoas estão procurando um novo emprego ou trocando
de um emprego para o outro.
Quando a taxa de desemprego está no seu patamar natural, a economia está no pleno
emprego. Pleno emprego não significa inexistência de desemprego, mas sim inexistência de
desemprego involuntário.
Numa economia em que o desemprego natural seja de 5%, pode-se escolher um ponto A ou um
ponto B, pode-se escolher entre uma inflação de 10% (ponto A) ou de 3% (ponto B).
Para passar do ponto A para o ponto B, é preciso realizar uma política econômica contracionista
(tanto monetária quanto fiscal). Para passar do ponto B para o ponto A, é preciso realizar uma
política econômica expansionista (tanto monetária quanto fiscal). A política econômica
expansionista não faz sentido, pois trará mais inflação, sem nenhuma alteração da taxa de
desemprego.
Conclusão: não existe, no longo prazo, uma escolha (trade-off) entre inflação e desemprego.
Não importa se há um cenário de inflação mais alta ou mais baixa. Haverá, em ambos os casos,
o mesmo desemprego natural (cenário de pleno emprego).
Esse debate acadêmico surgiu, ao final da década de 1960, porque, durante a hegemonia do
pensamento keynesiano, a inflação passou a subir de forma acentuada. Questionava-se se o
papel da inflação na economia seria mesmo aquele proposto por Keynes. Nos anos 1970, esse
debate ganha ainda mais força, com a ascensão da ideia de que inflação não é mais capaz de
gerar crescimento econômico, colocando a teoria keynesiana em xeque.
RESUMO DE POLÍTICA FISCAL
❖ CLASSICISMO
Na teoria Clássica, verifica-se a existência da flexibilidade nos preços dos fatores de produção,
garantindo a tendência ao pleno emprego. Com isso, a oferta agregada fica vertical, e as
variações na demanda agregada passa a ter impacto nominal nos preços, mas não real.
Política Monetária:
O único objetivo da política monetária deve ser o combate à inflação, afinal ela vai mexer na
demanda, não tendo impactos sobre variáveis nominais, mas apenas em variáveis reais. Por isso
recomenda-se o regime de metas de inflação, mas não um regime de meta de crescimento
econômico. Há também a ideia da neutralidade da moeda.
Política Fiscal:
→ Estado mínimo (efeito deslocamento / desestímulo à produção);
→ Disciplina fiscal; e
→ Não existe um trade-off entre inflação e desemprego.
❖ KEYNESIANISMO
Não há flexibilidade nos preços dos fatores de produção e não existe tendência ao pleno
emprego (apesar de existir o pleno emprego como conceito). A demanda efetiva faz com que a
economia se aproxime do pleno emprego, influenciada pelas expectativas, que determinam o
emprego dos fatores e o crescimento.
Política Monetária:
Aumentar a demanda efetiva, gerando mais inflação e mais emprego.
Política Fiscal:
O governo deve ter um tamanho proporcional à sua importância (capaz de corrigir falhas de
mercado, coordenar expectativas, aumentar a demanda efetiva e fazer a economia crescer).
Deve haver uma certa tolerância com a indisciplina fiscal; em cenários de crise, indisciplina fiscal
torna-se uma recomendação.
O resultado do Balanço de Pagamentos (BP) não representa apenas as contas do governo, mas
o país como um todo. O governo, as empresas e os cidadãos terão impacto sobre o BP. O BP é
um registro das relações econômicas de um país com o resto do mundo. Um país como o Brasil
precisa ter um BP equilibrado, pois operacionaliza suas relações com o setor externo
majoritariamente em dólares, uma moeda que o país não emite.
→ Sistema BPM6: Brasil adotou essa nova metodologia do FMI, a partir de 2015.
Obs.: embora sejam 2 contas separadas, a conta capital e a conta financeira são às vezes
analisadas em conjunto.
A) BALANÇA COMERCIAL:
→ Exportações de bens e mercadorias (X) – sinal positivo.
→ Importações de bens e mercadorias (M) – sinal positivo.
Saldo da balança comercial = X – M
B) BALANÇA DE SERVIÇOS:
→ Exportações de serviços (X) – sinal positivo.
→ Importações de serviços (M) – sinal positivo.
Saldo da balança de serviços = X – M
O Brasil é um país tradicionalmente deficitário na balança de serviços, pois entram nessa conta
o turismo, fretes, seguros, alugueis de equipamentos, setores em que o Brasil não é competitivo.
C) BALANÇA DE RENDA PRIMÁRIA
→ Renda primária recebida do exterior (RREP): sinal positivo.
→ Renda primária enviada ao exterior (REEP): sinal positivo.
Saldo da conta de renda primária = RREP - REEP
Essa conta registra lucros, juros e salários. O Brasil é um país tradicionalmente deficitário nesta
conta, pois envia mais do que recebe (principalmente lucros, enviados ao exterior por filiais ou
sucursais de empresas estrangeiras).
Essa conta registra doações feitas por pessoas, empresas e governos. O Brasil é um país
tradicionalmente superavitário, mas é um superávit muito pequeno de até US$ 2 bilhões no
máximo. Em verdade, ser muito superavitário em doações não é algo exatamente positivo.
O Brasil tem tido, historicamente, um dos maiores déficits em transações correntes no mundo.
No ano passado, o Brasil teve uma ligeira melhora nesse ranking, devido ao superávit recorde
da balança comercial (US$ 60 bilhões).
Os países que figuram em primeiro e segundo lugar no ranking mundial de déficit em transações
correntes são os EUA e o Reino Unido, respectivamente. Isso ocorre devido aos seus enormes
déficits na balança comercial. Para os EUA, esse resultado negativo não é tão grave assim e não
traz tanta fragilidade, já que são os emissores do dólar, que é a hegemônica.
Por outro lado, o altíssimo déficit em transações correntes traz grande fragilidade para o Brasil,
pois precisamos financiar esse déficit o tempo inteiro, por meio de poupança externa. Não por
acaso, a poupança externa é definida com o resultado do saldo em transações correntes com
o sinal invertido.
SEXT = - STC
Países do TIPO 2: saldo em transações correntes positivo e poupança externa negativa, ou seja,
países que podem enviar poupança externa para financiar o déficit de outros países (ex.: China).
I = S = SP + SG + SEXT
Se um país tem uma SEXT positiva, ela será somada à SP e à SG, para alavancar o investimento.
É o caso do Brasil, que tem o saldo em transações correntes negativo e, consequentemente,
uma poupança externa positiva, que aumenta o nível de poupança da economia brasileira. É
um país que recebe poupança do exterior para financiar o seu déficit em transações correntes.
Há países, como o Japão, a China e a Alemanha, que têm saldo em transações correntes
positivo, e enviam poupança para outros países, diminuindo os investimentos nas suas
economias domésticas.
→ PIB = BC + BS
→ RREP – REEP = balança de renda primária (BRP).
Ou seja, se o PIB considera apenas BC e BS, a renda nacional bruta considera BC, BS e BRP.
→ RNB = BC + BS + BRP
→ RRES – REES = BRS
Ou seja, a renda nacional disponível é definida pela soma das 4 contas usadas para o cálculo do
saldo em transações correntes (BC + BS + BRP + BRS).
Portanto, se um país tem o saldo em transações correntes negativo, significa que ele gasta mais
do que sua renda permite. A absorção (consumo de bens e serviços) do Brasil acaba sendo
maior do que sua renda disponível.
❖ CONTA CAPITAL
A conta capital não tem quase importância, pois os valores envolvidos nela são muito pequenos.
Ela registra a transferência de propriedade de ativos não financeiros e não produzidos.
Ex.: venda de passe de um jogador de futebol, transferência de propriedade intelectual).
SALDO = valores recebidos por essas transferências MENOS valores gastos / enviados com elas.
Superávit → vendas de ativos não financeiros e não produzidos forem maiores que as compras.
Déficit → vendas de ativos não financeiros e não produzidos forem menores que as compras.
Obs.: devido à irrelevância da conta capital, ela muitas vezes é mesclada com a conta financeira,
sendo chamadas, em conjunto, genericamente, de “conta capital e financeira”.
❖ CONTA FINANCEIRA
→ Investimentos em Carteira:
É o capital especulativo, recursos que entram para compras ações, títulos do governo. A
importância da conta financeira para o balanço de pagamento faz com que o Brasil não reduza
demais os juros, pois os juros relativamente altos atraem mais capital especulativo.
→ Empréstimos.
→ Derivativos.
→ Outros investimentos.
Ativos líquidos = tudo o que brasileiros investiram no exterior, menos o que desinvestiram.
Passivos líquidos = tudo o que estrangeiros investiram no Brasil, menos o que desinvestiram.
Brasil tem déficit na conta financeira pois passivos líquidos são maiores do que ativos líquidos.
→ BRASIL: US$ 380 bilhões em reservas internacionais, uma das maiores do mundo.
Diplomacia 360o – Módulo Atena – Economia – Aula 13
Prof. Daniel Sousa – 24.10.2018
→ Balança comercial;
→ Balança de serviços;
→ Renda Primária; e
→ Renda Secundária.
STC = – SEXT
❖ PAÍSES TIPO A:
❖ PAÍSES TIPO B:
→ MAIORES SUPERÁVITS:
(...)
A Crise de 2008 foi causada por excesso de liquidez (aumento do endividamento, bolhas no
mercado de subprimes, etc.), mas, mesmo assim, foi enfrentada pelos países centrais por meio
da oferta ainda maior de liquidez no sistema. Nunca houve tanta liquidez no Sistema Financeiro
internacional em tão pouco tempo, o que explica o enorme acúmulo de reservas internacionais
pelo Brasil (atualmente de quase US$ 380 bilhões). É claro que a taxa de juros relativamente alta
do Brasil ajuda a atrair esses recursos, mas é preciso que esses recursos estejam disponíveis.
Conforme esses dólares vão entrando no país, vão sendo colocados pelo Banco Central Brasileiro
(BACEN) nas reservas. O BACEN realiza leilões de compras de dólares, vendendo-os para quem
pagar mais barato. O BACEN paga por esses dólares em reais, tirando moeda nacional de
circulação e aumentando a reserva em moeda estrangeira. Para que esses reais que são
colocados em circulação na provoquem alta da inflação, o BACEN emite títulos públicos para
retirar reais de circulação (chamada de “operação de esterilização”). As altas reservas
internacionais do Brasil são extremamente importantes, pois oferecem estabilidade ao país no
que tange suas contas externas. O Brasil não tem um problema em suas contas externas.
Em comparação com a Argentina, o déficit fiscal do Brasil em proporção do PIB chega a ser o
dobro. Porém, a ineficiência do governo argentino em aprovar no Congresso medidas para
equilibrar suas contas públicas, gerou um clima de incerteza. Isso levou investidores a tirar
dólares da Argentina, fazendo com que os nossos vizinhos tivessem que pedir ajuda ao FMI, pois
não têm reservas internacionais para manter a estabilidade macroeconômica. No Brasil,
acontecendo algo semelhante, o BACEN pode jogar dólares das reservas no mercado, segurando
a oscilação. Isso ajuda a explicar por que o peso argentino se desvalorizou 120% no ano de 2018
e o real apenas 25%.
A maior parte das reservas internacionais do Brasil são colocadas em títulos do tesouro
americano, que rendem juros muito pequenos. O acumulo de reservas internacionais não é
gratuito, tem um custo financeiro que não pode ser ignorado. Na gestão de Henrique Meirelles
no BACEN, momento em que o país começou a acumular reservas de forma mais forte, os
críticos diziam que estávamos trocando dívida externa por dívida interna. O BACEN contra-
argumentava dizendo que era mais fácil lidar com a dívida em nossa moeda local.
(...)
Se, numa data, com 1 dólar é possível comprar 3 reais, e, em outra data, o mesmo dólar compra
4 reais, o que flutua é a quantidade de reais necessários para comprar uma unidade da moeda
americana. Isso faz com que a nossa taxa de cambio seja invertida, pois a referência acaba sendo
a moeda estrangeira, e não a moeda nacional.
O Brasil usa essa taxa de câmbio invertida, utilizando como referência a moeda estrangeira,
desde 1942, quando foi introduzido o cruzeiro na economia brasileira. Isso causa uma certa
confusão. Quando há aumento da taxa de câmbio, está ocorrendo, na prática, uma
desvalorização cambial, com depreciação da taxa de câmbio. O contrário também é verdadeiro.
Quando há uma diminuição da taxa de câmbio, ocorre valorização cambial, com apreciação da
taxa de câmbio.
→ DÓLAR TURISMO:
Cotação utilizada quando se quer comprar pequenas quantidades de papel moeda para fazer
turismo no exterior. A cotação é um pouco maior do que aquela do dólar comercial, justamente
porque envolve o manuseio da moeda estrangeira em pequenas quantidades.
→ DÓLAR PARALELO:
Na época em que era necessária a autorização do BACEN para a compra de dólares, as pessoas
recorriam ao mercado paralelo, já que o mercado oficial não supria as necessidades de quem
queria comprar dólares. Muita gente não conseguia a autorização do BACEN e havia, portanto,
uma demanda reprimida. É, entretanto, um crime, mas que era tolerado, tendo inclusive suas
cotações anunciadas no noticiário. Essa tolerância se deve ao fato de que, em dado momento,
o mercado paralelo havia se tornado muito maior do que o mercado oficial, que era incapaz de
suprir as pessoas com moeda estrangeira.
→ DÓLAR FUTURO:
É aquele que se promete comprar ou vender em data futura, mas com a cotação estabelecida
hoje. Se um contrato de câmbio futuro é fechado hoje, com promessa de compra com a cotação
em R$ 3,90, independe o valor da cotação no momento do pagamento da obrigação. A cotação
já foi pré-definida em contrato.
MERCADO CAMBIAL
Oferta de dólares:
- Exportadores;
- Investidores estrangeiras;
- Empresas brasileiras que captam recursos ou recebem lucro no exterior; e
- Brasileiros que têm parentes no exterior e recebem recursos vindos do exterior.
Uma grande vantagem da flutuação do preço da moeda estrangeira é que, na prática, temos
uma tendência ao equilíbrio. A flutuação cambial acaba equilibrando oferta com demanda. Se
há oferta demais, o preço do dólar cai, desincentivando a oferta. Se há demanda demais, o preço
do dólar sobe, desincentivando a demanda.
❖ REGIME DE CÂMBIO FIXO
O regime de câmbio fixo acontece quando a taxa de câmbio é definida pelo Banco Central de
um país, que fica obrigado a comprar e vender dólares de tal maneira a equilibrar o mercado.
Se houver mais gente querendo vender dólares do que gente querendo comprar dólares, o
Banco Central precisa comprar dólares para evitar a queda da taxa de câmbio, o que faria com
que o câmbio deixasse de ser fixo.
Se houver mais gente querendo comprar dólares do que gente querendo vender dólares, o
Banco Central precisa vender dólares para evitar a alta da taxa de câmbio, fazendo também
com que o câmbio deixe de ser fixo.
Num regime de câmbio fixo, a política monetária perde a eficácia. Se é implementada uma
política monetária contracionista, que tem como consequência o aumento de juros, o juro
doméstico ficará momentaneamente maior do que o juro internacional. Nesse cenário, entrarão
dólares no país, atraídos por esse juro doméstico mais alto, ou seja, pessoas estarão trocando
dólares por reais. Isso acaba fazendo com que a quantidade de moeda nacional em circulação
aumente e os juros domésticos voltem a cair. Essa política monetária contracionista não surtirá,
portanto, o efeito esperado.
O mercado, atraído por uma taxa de câmbio fixa muito atraente, começa a comprar dólares e,
se houver mais gente comprando do que vendendo dólares, o Banco Central terá que vender
dólares a fim de manter a taxa fixa. Consequentemente, teremos um processo em que estarão
sendo queimadas reservas internacionais.
Ataques especulativos são uma aposta de parte do mercado de que o Banco Central não será
capaz de segurar a taxa de câmbio que ele mesmo definiu. Se isso realmente ocorrer, o câmbio
pode ser solto pelo Banco Central, fazendo com que o preço do dólar dispare e os especuladores,
que compraram muitos dólares baratos apostando nesse aumento, obtenham lucros oriundos
dessa nova taxa mais alta.
Com tanto dólar entrando e pouco dólar saindo, o Banco Central chinês é obrigado a comprar
dólares em enormes quantidades, a fim de reforçar as reservas internacionais, que vão
aumentando.
Havia na época um sistema de flutuação em bandas, que eram limites para a taxa de câmbio
estabelecidos pelo BACEN. Na época do abandono do regime de câmbio fixo, a banda inferior
estava na casa de 1 real para 1 dólar e a banda superior em 1,20 real para 1 dólar.
A taxa de câmbio podia flutuar livremente dentro desses parâmetros. Quando ela batia no teto,
o BACEN vendia dólares e a cotação caía. Quando ela batia no piso, o BACEN comprava dólares,
e assim sucessivamente. Nessa época, o BACEN brasileiros sofria ataques especulativos
constantes e tinha que vender dólares com muita frequência, com a consequente diminuição
das reservas internacionais.
Com tantos ataques especulativos, o BACEN decidiu soltar a taxa fixa e a cotação subiu
significativamente, até aproximadamente 1,70 real, num período de tempo relativamente curto.
Aqueles especuladores que compraram muitos dólares em preços tão baratos acabaram
obtendo lucros enormes com isso.
O câmbio estava artificialmente valorizado, com o real muito forte e com a entrada de produtos
importados com preços muito baratos. Nesse cenário de câmbio muito valorizado, o objetivo
macroeconômico era o combate à inflação, pois os insumos importados entravam muito baratos
e abriam espaço para um processo em que não se podiam aumentar preços no Brasil, pois era
muito difícil para os produtos brasileiros competirem com os produtos estrangeiros.
❖ REGIME DE CÂMBIO FLUTUANTE
No regime de câmbio flutuante (ou de câmbio flexível), a taxa de câmbio é determinada pelo
mercado, ou seja, pela livre interação entre oferta de dólares e demanda por dólares.
Se há entrada de dólares na economia maior do que a saída de dólares, a taxa de câmbio vai
cair, estimulando a saída e desestimulando a entrada de dólares.
Se há entrada de dólares na economia menor do que a saída de dólares, a taxa de câmbio vai
subir, desestimulando a saída e estimulando a entrada de dólares.
No regime de câmbio flutuante, a política fiscal perde força e eficácia. Se for feita uma política
fiscal expansionista com o aumento dos gastos públicos, haverá aumento na taxa de juros.
Esse aumento dos juros incentiva a entrada de dólares na economia. Essa entrada de dólares
levará a uma apreciação do câmbio, que diminuirá as exportações e aumentará as
importações.
Se, de um lado, o governo tentará gerar crescimento por meio do aumento dos gastos, do outro,
a diminuição das exportações líquidas estará mitigando esse efeito positivo dos gastos sobre o
PIB. Trata-se de um processo no qual, ao tentar gerar crescimento com o aumento dos gastos,
o câmbio trabalhou contra o país. Haverá uma apreciação cambial causada pelo aumento desses
gastos públicos.
→ No câmbio flutuante...
- Há menos chances de ataques especulativos.
- Há uma maior imprevisibilidade. O câmbio é uma variável de difícil previsão.
- Essa imprevisibilidade, chamada de risco cambial, gera incertezas.
- Essas incertezas podem ser mitigadas por operações no mercado futuro.
→ “FLUTUAÇÃO SUJA”:
Chama-se de “flutuação suja” quando o BACEN atua no mercado cambial, para interferir na
flutuação da taxa de câmbio. Se o preço do dólar estiver subindo rápido demais, o BACEN
venderá muitos dólares, a fim de conter a escalada da moeda americana. O contrário também
é verdadeiro. Se o BACEN considerar que o preço do dólar está caindo demais, entrará
comprando dólares, para empurrar a taxa de câmbio para cima. A taxa de câmbio continua
sendo definida pelo mercado, mas o BACEN está interferindo na flutuação.
TRIPÉ MACROECONÔMICO
→ Política monetária – regime de metas de inflação.
→ Política fiscal – regime de metas de superávit primário.
→ Política cambial – regime de câmbio flutuante.
O tripé macroeconômico tem sido respeitado, desde seu início em 1999, tendo sido flexibilizado
apenas durante o governo Dilma Rousseff, trazendo problemas para a economia. Essa
flexibilização se deu por meio da NOVA MATRIZ MACROECONÔMICA:
→ Regime de metas de inflação: tolerância à inflação acima do centro da meta. Foco na margem
de tolerância. Mais inflação traria mais crescimento.
→ Regime de câmbio flutuante: BACEN atuou de forma mais forte a fim de gerar maior
desvalorização do real, no intuito de aumentar a competitividade dos produtos brasileiros e
defender a indústria nacional. Isso foi feito num momento em que havia muita liquidez no
sistema financeiro internacional. Apesar das atuações muito fortes do BACEN, o Brasil
experimentou um câmbio muito apreciado.
De lá para cá, o Brasil conseguiu recuperar o regime de câmbio flutuante e o regime de metas
de superávit primário, mas ainda não conseguiu solucionar seus problemas fiscais.
Há uma tendência a acreditar que o dólar é mais forte do que o real, pois ele pode comprar uma
quantidade grande de reais com apenas uma unidade. Isso não é verdade. O valor nominal da
taxa de câmbio não quer dizer absolutamente nada.
Podemos ter uma taxa de câmbio de 1 para 100, como já ocorreu com o yen, mas, mesmo assim,
não havia nenhuma dúvida em dizer que o yen era mais forte e tinha mais poder de compra do
que o dólar. Ou seja, o valor nominal da taxa de câmbio não significa poder de compra.
Se o preço de um produto no Brasil estiver igual ao preço de um produto nos EUA corrigido pela
respectiva taxa de câmbio, significa que a paridade cambial está sendo respeitada e que as duas
moedas estão com o mesmo poder de compra. Na prática, com as flutuações e desequilíbrios
que ocorrem, uma moeda pode estar mais forte do que a outra. Estará sempre mais forte a
moeda cujo produto estiver mais caro em dólares, usando a cotação cambial em vigor.
A revista The Economist tem um índice chamado ÍNDICE DO BIG MAC, que ajuda a ilustrar as
diferenças na paridade do poder de compra de um país para o outro.
Diplomacia 360o – Módulo Atena – Economia – Aula 15
Prof. Daniel Sousa – 14.11.2018
ALEMANHA tinha o marco alemão, uma moeda muito mais valorizada do que o euro.
X
ITÁLIA – lira ]
PORTUGAL – escudo ] → moedas menos valorizadas do que o euro.
ESPANHA – peseta ]
GRÉCIA – dracma ]
A moeda alemã puxou o euro para cima e as moedas desses países mediterrâneos puxaram o
euro para baixo. O euro acabou sendo criado como uma moeda mais fraca do que o marco, mas
muito mais forte do que as moedas dos países europeus periféricos.
A zona do euro tem vivido anos relativamente tranquilos, pois tem sido praticada recentemente
uma política monetária expansionista, o quantitative easing, que consiste no emissionismo de
euros e na compra de títulos da dívida de países da zona do euro pelo Banco Central Europeu
(BCE). Os governos dos países que adotam o euro não têm tido, portanto, dificuldades em
financiar seus endividamentos. Esse excesso de liquidez disponível não deverá durar mais tanto
tempo, pois os alemães, que controlam o BCE, poderão recuar tendo em vista que as pressões
inflacionárias podem arriscar a estabilidade macroeconômica da zona do euro.
Essa provável mudança de política monetária comum poderá criar tensões dentro da zona do
euro, pois países não podem monetizar suas dívidas, ou seja, imprimir euros para financiar seu
endividamento. Somente o BCE pode fazê-lo. Os países mais endividados em proporção do PIB
na zona do euro não têm conseguido diminuir suas dívidas. Talvez seja necessário que as
políticas fiscais sejam efetivamente unificadas na zona do euro.
A unificação monetária completa só ocorreria se apenas o BCE pudesse emitir títulos da dívida,
extinguindo os títulos dos países da zona do euro. O BCE assumiria as dívidas públicas nacionais,
substituindo os papéis desses países com seus credores por papéis do BCE. Os países passariam
a dever para o BCE e não mais para o público. Esse projeto é chamado de EURO BOND.
EFEITOS DE POLÍTICAS MACROECONÔMICAS SOBRE OS REGIMES CAMBIAIS
→ Juros domésticos (rD) ficarão momentaneamente menores do que juros internacionais (rI).
Juros externos mais altos incentivarão a fuga de capitais, ou seja, reais estarão sendo trocados
por dólares, que sairão do país. Se há mais gente trocando reais por dólares, num regime de
câmbio fixo, o Banco Central (BACEN) terá que oferecer a contrapartida, vendendo os dólares e
comprando os reais.
Toda a oferta monetária que havia se expandido, começará a se contrair. Como o BACEN
começará a comprar os reais todos de volta, a curva LM retornará para o mesmo exato ponto
original (ponto 3 coincidirá com o ponto 1).
ATENÇÃO:
*O contrário também é verdadeiro, caso seja adotada uma política monetária contracionista.
REGIME DE CÂMBIO FIXO – EFEITOS DA POLÍTICA FISCAL
POLÍTICA FISCAL SEMPRE DESLOCA A CURVA IS. Ocorrerá a expansão da curva IS, fazendo com
que o equilíbrio entre a curva IS e a curva LM saia do ponto preto (1) e vá para o ponto azul (2).
Haverá, portanto, uma expansão do mercado de bens e serviços como resultado de uma política
fiscal expansionista.
→ Juros domésticos (rD) ficarão momentaneamente maiores do que juros internacionais (rI).
Juros domésticos mais altos incentivarão a entrada de capitais, ou seja, pessoas estarão
trocando dólares por reais, atraídas por esse juro doméstico mais alto. Se há mais gente
trocando dólares por reais, num regime de câmbio fixo, o Banco Central (BACEN) terá que
oferecer a contrapartida, comprando os dólares e entregando os reais.
Como há mais reais em circulação, ocorrerá uma expansão da oferta monetária, com o
deslocamento da curva LM, que encontrará um novo ponto de equilíbrio com a curva IS: o
ponto vermelho (3).
ATENÇÃO:
*O contrário também é verdadeiro, caso seja adotada uma política fiscal contracionista.
REGIME DE CÂMBIO FLUTUANTE – EFEITOS DA POLÍTICA FISCAL
POLÍTICA FISCAL SEMPRE DESLOCA A CURVA IS. Ocorrerá a expansão da curva IS, fazendo com
que o equilíbrio entre a curva IS e a curva LM saia do ponto preto (1) e vá para o ponto azul (2).
Haverá, portanto, uma expansão do mercado de bens e serviços, como resultado de uma política
fiscal expansionista.
→ Juros domésticos (rD) ficarão momentaneamente maiores do que juros internacionais (rI).
Juros domésticos mais altos incentivarão a entrada de capitais, ou seja, pessoas estarão
trocando dólares por reais, atraídas por esse juro doméstico mais alto. A taxa de câmbio cairá,
pois o câmbio é flutuante (BACEN não fará nada). Ocorrerá uma apreciação cambial, pois haverá
mais dólares em circulação.
Como o câmbio apreciado afeta negativamente as exportações líquidas do país, ocorrerá uma
contração da curva IS (ponto 1 coincidirá com o ponto 3).
Conclusão: a política fiscal num regime de câmbio flutuante não tem efeito, se a mobilidade de
capitais for perfeita (retorno completo da curva IS). Se a mobilidade de capitais for imperfeita,
o retorno da curva IS não será completo, e, portanto, a política fiscal terá alguma eficácia, tão
maior quanto mais imperfeita for a mobilidade de capitais.
ATENÇÃO:
*O contrário também é verdadeiro, caso seja adotada uma política fiscal contracionista.
REGIME DE CÂMBIO FLUTUANTE – EFEITOS DA POLÍTICA MONETÁRIA
POLÍTICA MONETÁRIA SEMPRE DESLOCA A CURVA LM. Ocorrerá a expansão da curva LM, com
o equilíbrio entre a curva IS e a curva LM saindo do ponto preto (1) e indo para o ponto azul (2).
Haverá, portanto, uma expansão do mercado monetário como resultado de uma política
monetária expansionista.
→ Juros domésticos (rD) ficarão momentaneamente menores do que juros internacionais (rI).
Juros externos mais altos incentivarão a fuga de capitais, ou seja, pessoas estarão trocando reais
por dólares, que sairão do país. A taxa de câmbio aumentará, pois o câmbio é flutuante (BACEN
não fará nada). Ocorrerá uma depreciação da moeda local, pois haverá menos dólares em
circulação.
Como o câmbio depreciado afeta positivamente as exportações líquidas do país, ocorrerá uma
expansão do mercado de bens e serviços, com o deslocamento da curva IS, que encontrará um
novo ponto de equilíbrio com a curva LM: o ponto vermelho (3), onde o PIB é maior.
ATENÇÃO:
*O contrário também é verdadeiro, caso seja adotada uma política monetária contracionista.
A maior parte dos países relevantes em termos de fluxo financeiro tem uma mobilidade de
capitais muito próxima da perfeição. O Brasil, por exemplo, não tem uma perfeita mobilidade
de capitais, mas está muito próximo. Há, no Brasil, pequenos impostos e taxas sobre o fluxo de
capitais. A perfeita mobilidade de capitais ocorre apenas quando não há NENHUMA restrição,
como na Suíça (e em outros paraísos fiscais).
No regime de câmbio flutuante, política fiscal e câmbio caminham em sentidos opostos, mas
política monetária e câmbio caminham no mesmo sentido. Não é possível ter as 3 políticas
macroeconômicas todas sempre “amarradas” – é uma trindade impossível. É necessário que
uma dessas políticas sirva como válvula de escape.
❖ PARIDADE DO PODER DE COMPRA – ÍNDICE DO BIG MAC
→ Não usa uma metodologia muito precisa, mas dá uma noção do poder de compra em países.
https://www.statista.com/statistics/274326/big-mac-index-global-prices-for-a-big-mac/
Não se pode deixar confundir pelo valor nominal da taxa de câmbio. Há que se entender o poder
de compra de cada país, que é definido por diversos outros fatores.
Diplomacia 360o – Módulo Atena – Economia – Aula 16
Prof. Daniel Sousa – 21.11.2018
1. Para não cometer o erro denominado “ilusão monetária”, o diplomata deve informar, em
seu relatório, o PIB real do país, em vez do nominal, dos últimos cinco anos. Para deflacionar
esses números, o diplomata deve utilizar o deflator (implícito) do PIB, que é calculado pelo
quociente entre o PIB real, medido a preços constantes, e o PIB nominal.
Gabarito: ERRADO.
2. Considere que o referido país esteja em recessão e seja uma economia aberta, com câmbio
flutuante e mobilidade de capitais forte, porém não perfeita. Nesse caso, de acordo com o
modelo IS-LM-BP, a implementação de uma política fiscal expansionista, para tentar
impulsionar a atividade econômica, seria ineficaz.
Gabarito: ERRADO. Quando a mobilidade de capitais não é perfeita, a política fiscal acaba
tendo alguma eficácia, porque o retorno da curva IS não é completo.
3. Considere que o referido país esteja em recessão e seja uma economia aberta, com câmbio
fixo e fraca mobilidade de capitais. Nesse caso, de acordo com o modelo IS-LM-BP, a
implementação de uma política fiscal expansionista, para tentar impulsionar a atividade
econômica, seria ineficaz.
Gabarito: ERRADO. No regime de câmbio fixo, a política fiscal expansionista tem efeito.
4. Considere que, no referido país, os níveis de inflação sejam elevados e o regime de câmbio
seja fixo. Nesse caso, é correto afirmar que a inflação alta provoca, geralmente, efeitos
nocivos sobre a economia, uma vez que reduz o poder de compra dos indivíduos, tende a
gerar concentração de renda e pode contribuir para aumentar os déficits na balança
comercial do balanço de pagamentos.
Gabarito: CERTO.
TPS 2015 – Questão 70
2. No sistema conhecido como crawling band, fixa-se uma faixa dentro da qual a cotação da
moeda pode flutuar livremente; o piso e o teto não podem ser alterados durante todo o
período em que o sistema for adotado.
3. Ao se adotar como moeda local uma moeda comum com outros países, abre-se mão da
política cambial própria. Nesse caso, a administração monetária e cambial passa a ser exercida
conjuntamente, como no caso da união monetária europeia.
Gabarito: CERTO.
4. O chamado currency board, considerado muito severo, foi bastante utilizado no final do
século XX, associado aos planos de estabilização, como no caso argentino, e caracteriza-se
por uma vinculação com a política monetária.
Gabarito: CERTO. O chamado currency board está associado ao padrão ouro. Era muito
severo, pois estava lastreado no ouro ou outros metais preciosos. A política monetária fica
amarrada ao lastro da moeda em metal.
TPS 2014 – Questão 72
Acerca dos fluxos internacionais de bens e capital, dos regimes de câmbio e da relação
câmbio-juros, julgue (C ou E) os itens a seguir.
1. Os fluxos financeiros são impactados por expectativas e políticas cambiais e monetárias das
diferentes economias; assim, se a taxa de juros de um país for superior à de outro país, espera-
se um fluxo positivo de recursos em direção ao país com taxa de juros mais elevada, com
mesmo perfil de risco.
Gabarito: CERTO.
Gabarito: CERTO.
Gabarito: ERRADO. No câmbio flutuante, não há ônus para o Banco Central. O mercado
resolve.
FLUXO DE CAPITAIS
O fluxo de capitais é o fluxo de poupança não consumida pelas pessoas ou pelos governos. Pode
ter origem em agentes privados ou em governos. A poupança está preocupada com:
i) Rentabilidade;
ii) Risco (imprevisibilidade); e
iii) Liquidez (facilidade de converter um ativo em dinheiro vivo).
Diante de um risco maior, exige-se uma rentabilidade maior. Se o investidor não estiver disposto
a correr riscos, terá que se contentar com uma rentabilidade menor.
- Títulos públicos; ou
- Debêntures (privados).
O governo brasileiro pode vender um título, com um valor de face de 10 mil reais, com
vencimento numa data futura. Alguém pode arrematar esse título em leilão por 7 mil reais, mas
irá receber 10 mil numa data futura. Essa diferença são os juros.
Se o governo brasileiro começa a oferecer riscos maiores, o valor de arremate de seus títulos
sofrerá queda, pois há menos interessados em comprar um título brasileiro – juros aumentarão.
Se houver, no futuro próximo, a aprovação de uma Reforma da Previdência, com impacto
substantivo de economia de recursos públicos, aumentará a quantidade de investidores
interessados em comprar o título brasileiro. Os juros cairão, pois haverá uma expectativa de que
as contas públicas serão sustentáveis. Os impactos da reforma sobre os juros seriam imediatos.
No Brasil, o mercado de renda fixa é desproporcionalmente elevado, pois tem baixo risco e
rentabilidade alta. O mercado de renda variável no Brasil acaba ficando menor, já que o governo
brasileiro paga juros muito altos, atraindo a preferência dos investidores. Os juros são muito
altos porque há pouca poupança interna para financiar a economia. O mercado de capitais só
não é menor no Brasil devido aos números da poupança externa. Além disso, o governo
brasileiro já deu calote inúmeras vezes e tem pouca estabilidade institucional.
No Brasil, quando empresas querem vender debêntures, devem oferecer juros mais altos do
que os do governo. Afinal, se o governo brasileiro estiver pagando 6,5%, não faz sentido que se
empreste dinheiro a uma empresa com os mesmos juros. Empresas são mais arriscadas do que
o governo, pois não têm como imprimir dinheiro ou aumentar impostos para pagar a dívida.
❖ PARIDADE DE JUROS:
Existe uma tendência à igualdade entre juros domésticos e juros internacionais, que seria
garantida pela livre mobilidade de capitais.
A livre mobilidade de capitais acabaria gerando uma tendência à igualdade entre o juro
doméstico e o juro internacional. Se for adotada a libre mobilidade de capitais, não há como a
taxa de juros domésticos ser menor do que a taxa internacional.
O Brasil, em particular, adota a livre mobilidade de capitais, há algumas décadas, pois precisa de
poupança externa para financiar seu crescimento. O governo e as empresas vão ao mercado de
capitais para captar recursos para financiar seus déficits e suas operações.
A taxa de juros de equilíbrio no Brasil tem sempre como base a taxa de juros paga pelos EUA,
pois, em tese, nenhuma aplicação é mais segura do que o título do Tesouro Americano.
Se há uma expectativa de que o real vai se valorizar, os juros podem ser um pouco mais baixos.
Se há uma expectativa inversa, de que o real vai se desvalorizar, os juros precisam ser um pouco
mais altos para compensar essa desvalorização.
→ Se a taxa americana sobe, é natural que a taxa brasileira também tenha que subir.
→ Se a taxa americana desce, é natural que a taxa brasileira também tenha que descer.
A taxa de juros americana esteve, entre 2008 e 2014, em seu menor patamar histórico. O Brasil
perdeu essa janela de oportunidade para colocar a casa em ordem. Ela tem se fechado
lentamente, pois o Federal Reserve tem aumentado a taxa de juros gradativamente.
→ Se o Risco Brasil for mais baixo, juros brasileiros serão mais altos.
→ Se o Risco Brasil for mais alto, juros brasileiros serão mais baixos.
→ Mercado de ações;
→ Moedas;
→ Commodities;
→ Imóveis; e
→ Derivativos.
Capitais podem entrar e sair do país sem maiores constrangimentos. Em tese, há maior
eficiência, pois recursos vão para países que mais precisam deles. Passa a haver mais
transparência e mais informações sobre o que está acontecendo. Esse regime representa um
incentivo à poupança externa, que pode virar mais investimentos e mais crescimento. Há,
entretanto, um maior risco envolvido. É um sistema em que se está sujeito a mais oscilações
externas. O país fica mais suscetível a crises externas.
Diplomacia 360o – Módulo Atena – Economia – Aula 17
Prof. Daniel Sousa – 28.11.2018
Gabarito: CERTO. O IOF é cobrado, no Brasil, quando se realiza remessa de capitais para o
exterior. Se for uma remessa para a mesma pessoa física, é cobrado 1% de IOF. Se for por
meio do cartão de crédito usado no exterior, são cobrados 6,38% de IOF. O aumento do IOF
em 2011 (ano deste TPS) ocorreu devido à existência de um “tsunami monetário”. Devido à
política fortemente expansionista dos EUA – o quantitative easing – o preço das commodities
no mercado internacional estava num patamar muito elevado e o Brasil estava sendo
inundado por dólares, tanto em sua conta financeira, devido à altíssima liquidez disponível no
sistema financeiro internacional, quanto na balança comercial, por conta dos enormes
superávits. Uma maneira encontrada pelo governo brasileiro para desincentivar a entrada de
dólares, controlar o fluxo de capitais e diminuir a volatilidade, foi esse aumento do IOF.
Gabarito: CERTO. Os consumidores estão pagando a tarifa, que é arrecadada pelo governo.
Há, portanto, uma transferência de recursos dos consumidores para o governo. Isso conduz
ao aumento nos preços dos bens domésticos (preço internacional acrescido da tarifa), que
será o valor também cobrado pelo produto importado. Eleva-se a ineficiência na economia
com a formação de peso morto.
Gabarito: ERRADO. A política monetária não é eficaz no regime de câmbio fixo (a curva LM
retorna e se há perfeita mobilidade de capitais o efeito é zero). O efeito deslocamento faz
referência à política fiscal e não à política monetária.
4. Por elevar o custo de oportunidade do consumo, a especialização constitui uma das bases
do comércio internacional, o que contradiz a lei das vantagens comparativas.
Gabarito: ERRADO. O CRA é um arranjo no qual os países BRICS podem disponibilizar reservas
internacionais entre si, em momentos de dificuldades no balanço de pagamentos. Seria uma
forma de evitar pedidos de ajuda ao FMI, que seria muito mais invasivo e exigente. O NBD é
uma importante fonte alternativa de financiamento, com a disponibilização de poupança
externa. Os diferentes membros contribuem em quantias diferentes, sendo a China o que
mais contribui e a África do Sul o que menos contribui. Esse arcabouço nunca teria surgido
sem que a liquidez mundial estivesse tão alta, com a China acumulando reservas brutais.
Gabarito: CERTO.
3. Em meio às turbulências da crise financeira global eclodida em 2008, a Cúpula do G20
emitiu declaração em 2009, na qual seus líderes se comprometeram com reformas na
governança do Fundo Monetário Internacional (FMI) e do Banco Mundial. No primeiro, por
meio de mudança na quota de participação no FMI de, no mínimo, 5% em favor dos
mercados emergentes e países em desenvolvimento; no segundo, pela adoção de uma
fórmula que refletisse o peso econômico dos países em desenvolvimento e que acarretasse
o aumento de seu poder de voto em pelo menos 3%, neles incluídos os países em transição.
Gabarito: CERTO. O FMI estava refletindo uma distribuição de poder que não refletia o peso
dos países emergentes e sua capacidade de financiamento na atualidade.
Gabarito: ERRADO. Houve sim muitas críticas às agências de risco, nas reuniões do G-20, com
a sugestão de que fossem criadas agências de risco dos BRICS ou da União Europeia, a fim de
evitar a dependência de agências de risco dos EUA.
SISTEMA FINANCEIRO INTERNACIONAL
A alta liquidez é uma importante característica do Sistema Financeiro Internacional (SFI), o que
acaba facilitando o trabalho de países como o Brasil, pois leva os juros internacionais a
patamares mais baixos. Nos EUA, a política monetária fortemente expansionista dos últimos
anos tem sido desacelerada, mas os juros reais americanos (valor dos juros nominais menos a
inflação) continuam muito baixos, bem próximos a zero. Ou seja, ainda não se pode dizer que
há, hoje, uma política monetária contracionista nos EUA.
Parece razoável e correto que o Federal Reserve – FED (Banco Central americano) esteja
aumentando gradualmente a taxa de juros. Não faz sentido manter uma política monetária
fortemente expansionista numa economia que está tão próxima do pleno emprego como a
americana. Isso pode acarretar riscos de (i) pressão inflacionária, (ii) excesso de
endividamento e (iii) excesso de concessão de crédito.
Veremos, daqui para frente, um cenário da alta de juros nos EUA e de alta nas taxas de juros
internacionais. Isso criará dificuldades para o Brasil por conta da lógica de que, internamente, a
taxa de juros de equilíbrio tem como base a taxa de juros americana. A taxa de juros do Brasil
tem que ser necessariamente mais alta, em termos reais, do que a taxa de juros americana.
A chance de o Brasil reduzir sua taxa de juros nos próximos meses é zero, pois a inflação para
2018 está próxima do centro da meta e porque existe a previsão de que haja mais elevações na
taxa de juros dos EUA. O Brasil também terá que evitar a redução de juros pois terá que manter
sua inflação ainda mais baixa em 2019, já que foi definida meta menor do que a deste ano.
Outro elemento a se levar em consideração é a pressão inflacionária que o dólar tem gerado. O
Brasil tem uma economia que é muito influenciada pelo preço do dólar e a alta do dólar que
aconteceu ao longo do ano de 2018 acabou pressionando a inflação no Brasil. Essa alta do dólar
reflete uma tendência global de valorização da moeda americana em relação a praticamente
todas as moedas do mundo.
Não faz sentido o Brasil adotar um mecanismo de controle de capitais para conter uma situação
como esta, pois, como foi visto anteriormente, o Brasil tem déficit de transações correntes.
Precisa de um influxo de dólares na conta financeira para compensar esse déficit. O Brasil
também precisa manter a taxa doméstica um pouco acima da paridade de juros, pois isso
funciona para atrair recursos externos. Se o Brasil estiver respeitando essa paridade de juros, os
investidores estrangeiros ficam indiferentes a aplicar recursos no Brasil ou fora, não havendo a
entrada desses capitais e a compensação do déficit em transações correntes que o Brasil precisa
para manter a sua economia e as suas contas externas equilibradas.
Um ponto importante que tem sido discutido atualmente pela equipe econômica do futuro
governo Bolsonaro é a ideia de se diminuir o volume de reservas internacionais do Brasil. O
argumento é que o Brasil teria reservas internacionais grandes demais. Já vimos anteriormente
que acumular reservas não é algo gratuito. A ideia aventada pelo próximo governo é de diminuir
um pouco o volume dessas reservas para abater dívida.
A questão é que, ao implementar esse movimento, não estaríamos atacando a raiz do problema,
mas sim a consequência. Além disso, estaríamos apenas desfazendo a dívida que foi gerada no
acúmulo de reservas internacionais. Finalmente, podemos dizer que reduzir as reservas
internacionais, num momento de tendência da redução de liquidez no SFI por conta das altas
dos juros americanos, não parece o movimento mais oportuno.
Esses arranjos, como o NBD e o aumento da quota do Brasil no FMI, nunca teriam acontecido
sem a grande robustez das reservas internacionais do Brasil. Pudemos alocar esses recursos
nessas instituições para aumentar nosso peso político no SFI.
Importante ressaltar a importância do papel dos paraísos fiscais, lugares onde não há qualquer
tipo de restrição ao fluxo de capitais ou cobrança de impostos. Há perfeita mobilidade de
capitais e, em geral, são países que se notabilizaram por não oferecer informações financeiras a
autoridades estrangeiras quando solicitado. Acontece, frequentemente, que nesses paraísos
fiscais tendem a ser escondidos recursos provenientes de corrupção, tráfico de drogas, tráfico
de armas e outras ilegalidades.
O mais conhecido e tradicional paraíso fiscal sempre foi a Suíça. Porém, tem ocorrido, cada vez
mais, ao longo dos últimos 30 anos, maior cooperação da Suíça com as autoridades
internacionais, como resultado de fortes pressões mundialmente. A partir do ano de 2019, os
bancos suíços passarão a prestar informações às autoridades dos países de origem dos
depositantes, para os depósitos a partir de um determinado valor. Consequentemente, muita
gente está fechando suas contas na Suíça e levando seu dinheiro para outros paraísos fiscais.
Países pequenos como as Ilhas Cayman e o Panamá não podem fazer o mesmo que a Suíça, pois
dependem fortemente desses depósitos. Excepcionalmente, como no caso dos Panama Papers,
alguns desses países realizaram a divulgação de informações quando foram obrigados a isso.
Não é um crime ter conta em paraísos fiscais, e sim não informar às autoridades tributárias do
país de origem. No Brasil, não há problema nenhum em se colocar na declaração do IRPF a
existência de recursos em contas em paraísos fiscais.
1) Políticos corruptos têm contas em paraíso fiscal, abertas pessoalmente ou por doleiro.
2) Empresas brasileiras que prestam serviços ao governo também têm contas em paraíso fiscal.
3) Esses políticos e essas empresas têm suas contas também no Brasil.
4) Em esquemas de corrupção, empresas que corrompem políticos pagam-lhes no paraíso fiscal.
5) Esses políticos não podem desfrutar do dinheiro no Brasil e têm luxuosas viagens ao exterior.
6) O Banco Central do Brasil não receberá informações desses enormes gastos feitos no exterior.
7) A fim de desfrutar desse dinheiro no Brasil, esses políticos abrem consultorias e institutos.
8) Essas consultorias são contratadas no Brasil por essas empresas que praticaram corrupção.
9) Quando essas consultorias são contratadas, recebem recursos dessas empresas no Brasil.
10) Esses políticos corruptos então devolvem esses recursos às empresas no paraíso fiscal.
11) Como autoridades locais não veem a movimentação, faz-se a compensação desses recursos.
12) Esses políticos alegam a competência como consultores para justificar o enriquecimento.
13) Há um custo para essa lavagem de dinheiro, pois essas transações pagam taxas no Brasil.
14) O segredo está no fato de que essas consultorias podem ser livremente precificadas.
Essas transações costumam evitar a passagem pelo sistema financeiro americano, pois os EUA
são o país mais sofisticado em relação às investigações sobre crimes financeiros, contando com
a expertise do Federal Bureau of Investigation (FBI). O combate a crimes financeiros tem
melhorado muito no Brasil, com a “Lei das Delações”, o que facilita rastrear esses recursos.
EVOLUÇÃO DO SISTEMA FINANCEIRO INTERNACIONAL
Isso pôde ser aferido como verdadeiro quando da descoberta de enormes jazidas de metais
preciosos nas Américas pelos espanhóis. Essas descobertas geraram enorme inflação no sistema
financeiro mundial àquela época, pois funcionaram como emissionismo, aumentando
inacreditavelmente a quantidade de moeda em circulação. Quando os portugueses descobriram
o ouro no Brasil também houve um forte efeito sobre a inflação mundial.
Alguns dizem que isso permitiu a acumulação primitiva de capital necessária para a Revolução
Industrial, pois monetizou a economia mundial. É válida a ideia de que se precisava de moeda
circulando para que as transações pudessem acontecer. Rui Barbosa, quando ministro da
Fazenda do governo de Deodoro da Fonseca, promoveu o “encilhamento”, baseando-se na ideia
de que o Brasil não se desenvolvia porque não havia acumulação primitiva de capital já que
também não havia moeda para realizar as transações e trocas comerciais.
As reservas dos diferentes países acabaram sendo em metais preciosos, como referenciais
monetários. Há uma discussão importante sobre o período da Era dos Metais e o sistema de
balança comercial favorável. Se o objetivo de um país, nesse período, era acumular metais
preciosos e esse mesmo país tinha acesso a jazidas de ouro e prata, ele podia praticar o
“Metalismo”.
Se um país não tinha acesso a jazidas de ouro e prata, que eram a referência do SFI, era
necessário que esse país tivesse uma balança comercial favorável com os países que tinham
acesso a essas jazidas de forma primária. Não faria nenhum sentido, hoje, que um país tivesse a
preocupação de acumular ouro, que é apenas um ativo entre muitos outros, mas fazia sentido
em outras épocas, ocorrendo até o século XVIII.
❖ SURGIMENTO DO PAPEL-MOEDA:
No território europeu, havia, cada vez mais, diferentes papéis-moeda em circulação, lastreados
em metais preciosos. No século XIX, surgiu um arranjo para tentar organizar esse sistema: o
“padrão-ouro”. Cada país tinha o compromisso de manter suas moedas lastreadas nesse metal
precioso. Até o século XIX, alguns países chegaram a ter mais de uma moeda, inclusive o Brasil.
Não existiam, necessariamente, autoridades monetárias centralizadas e cada banco era
responsável por dar lastro ao seu papel-moeda.
❖ SISTEMA DO PADRÃO-OURO
O sistema do padrão-ouro surgiu, portanto, no início no século XIX, como uma tentativa de
organizar todas essas moedas em circulação, lastreadas em ouro, particularmente no continente
europeu, mas também em países como os EUA e o Brasil.
Nesse sistema, os países assumiram o compromisso de que suas moedas teriam o lastro fixo
em ouro, resolvendo vários problemas:
- Credibilidade ao papel-moeda;
- Estabilidade monetária;
- Adoção de um regime de câmbio fixo;
- Aprofundamento do fluxo de comércio e do fluxo de capitais;
- SFI mais integrado do ponto de vista comercial e financeiro; e
- Circulação em escala global.
Se um país é superavitário (X > M), ele se torna importador de ouro, recebendo esse metal dos
países com quem é superavitário. Ocorre um aumento de oferta de moeda doméstica e um
aumento dos preços domésticos, que, num ambiente de câmbio fixo, desestimulam as
exportações e estimulam as importações, corrigindo o superávit comercial.
Se um país é deficitário (X < M), ele se torna exportador de ouro, entregando esse metal aos
países com quem é deficitário. Ocorre uma queda de oferta de moeda doméstica e uma queda
dos preços domésticos, que, num ambiente de câmbio fixo, estimulam as exportações e
desestimulam as importações, corrigindo o déficit comercial.
O padrão-ouro pode trazer credibilidade, estabilidade e um aumento dos fluxos de capitais, mas,
não haverá equilíbrio comercial, considerando-se que o único elemento que afeta a
competitividade de um país é a oferta de moeda local. Na verdade, não.
Um país como a Inglaterra tinha forte tendência inflacionária em função de seus superávits e da
oferta de moeda local, mas, por outro lado, como havia constantes inovações tecnológicas que
reduziam os custos da produção, a pressão de alta nos preços pôde ser compensada por uma
pressão de baixa nos preços. Mantendo constante seu aumento de produtividade, em um
cenário permanentemente superavitário do ponto de vista comercial, a Inglaterra pôde se
manter superavitária. Ou seja: competitividade não se dá apenas pela oferta de moeda.
Outro problema é o das jazidas de ouro, que, no século XIX, estavam, particularmente, na África,
sobretudo em colônias inglesas, que serviam de fontes primárias de metais preciosos. Como
ninguém tinha mais reservas de ouro do que os ingleses, a libra tornou-se a principal moeda em
circulação naquele período.
Tudo era cotado e precificado em libras. Era a moeda com maior quantidade em circulação com
lastro, pois nenhum país tinha mais reservas de ouro que a Inglaterra. Em meados do século XIX,
a Inglaterra crescia com taxas de dois dígitos, o que se aprofundou com o aumento do fluxo de
comércio e de capitais no mundo.
No padrão-ouro, existe uma lógica de “jogo de soma zero”. Como a quantidade de ouro no
mundo é finita e a quantidade de papel-moeda, por tabela, também é, para que eu acumule,
alguém terá que desacumular. Se alguém tem +2, alguém vai ter -2, e as relações comerciais
acabam sendo mais tensas.
As disputas por colônias e por mercados, no final século XIX, foram potencializadas pelo padrão-
ouro. Alguém que ficasse de fora poderia estar exportando e não estava. Essa disputa foi algo
agressivo e foi se tornando crescentemente tenso com o passar dos anos. Uma das causas da
Primeira Guerra Mundial foi a disputa por mercados, o que foi potencializado pelo padrão-ouro.
Após a Primeira Guerra Mundial, o padrão-ouro foi interrompido, pois os países passaram a
emitir papel-moeda sem lastro para financiar o esforço de guerra. Havia duas alternativas:
adotar o padrão ouro ou não.
Analisando esse cenário segundo a Teoria dos Jogos, se ambos os adversários na guerra
abandonassem o padrão-ouro, tudo ficaria empatado. Se um abandonasse e o outro não, quem
abandonasse ficaria à frente, com vantagem econômica sobre seu inimigo. Se um país
abandonasse o padrão-ouro, ele poderia empatar ou vencer a guerra. Se não abandonasse o
padrão-ouro, poderia empatar ou perder a guerra. Por isso, durante a Primeira Guerra, os países
abandonaram o padrão-ouro, na intenção de vencer a guerra.
Ao final da Primeira Guerra, durante a década de 1920, houve uma tentativa de reconstrução
do padrão-ouro que teve até algum êxito momentâneo. Porém, a Crise de 1929 foi fatal para o
padrão-ouro, com o surgimento das ideias keynesianas. Durante o período da Grande
Depressão, começou-se a usar a moeda sem lastro como forma de estimular a economia.
❖ O BRASIL NO PADRÃO-OURO
→ IMPÉRIO: sempre que pôde, o Brasil Imperial foi fiel ao padrão-ouro. Sempre que as
exportações de café iam mal, o lastro em ouro era suspenso, sendo depois retomado quando
tudo melhorava. O Visconde de Ouro Preto pensava ser um erro o lastro no ouro, já que o Brasil
não tinha reservas em ouro suficientes para ter papel-moeda que financiasse sua economia.
→ 1890-1906: o Brasil está fora do padrão-ouro, embora, já no governo de Campos Sales, tivesse
ocorrido uma tentativa de retomar o que ocorrera no passado – o funding loan, que foi uma
renegociação da dívida, feita com a promessa de retomar o padrão-ouro, que tirou moeda local
de circulação. Em 1906, o Brasil estabeleceu a Caixa de Conversão, voltando ao câmbio fixo e ao
padrão-ouro.
→ 1931: Vargas sai do padrão-ouro para emitir moeda que seria usada para comprar café.
Nos anos de 1930 e no período da Segunda Guerra Mundial, não haverá padrão (“vale tudo”). O
que havia eram negociações caso a caso, sem um padrão previamente organizado para o SFI.
Com isso, muitas transações simplesmente não aconteceram. Foi um período caracterizado por
uma forte queda no comércio mundial.
Países se fecharam e esse fechamento das economias foi propício e fértil para a eclosão de uma
guerra. Do ponto de vista econômico, a Segunda Guerra Mundial foi facilitada pela
desintegração financeira e comercial que o mundo experimentara nos anos de 1930, devido à
ausência de um padrão que organizasse o SFI.
O Brasil, na Primeira República, era uma economia muito aberta. Houve um crescimento
violento, pois a integração economia mundial fazia com que houvesse crescimento econômico.
Na década de 1930, o Brasil se fechou e também cresceu muito, pois o mundo também estava
fechado. Da década de 1970 para cá, o mundo passou a crescer baseado no comércio, mas o
Brasil não faz tanto comércio e tem perdido oportunidades de crescimento econômico.
Diplomacia 360o – Módulo Atena – Economia – Aula 18
Prof. Daniel Sousa – 05.12.2018
MACROECONOMIA:
O Fundo Monetário Internacional (FMI) foi criado, em 1945, para socorrer com recursos os
países que estivessem com problemas para manter as taxas de câmbio fixadas na Conferência
de Bretton Woods. O câmbio fixo não oferece a possibilidade de ajuste automático do balanço
de pagamentos como no regime de câmbio flutuante. Até hoje, o FMI representa a distribuição
de poder ao fim da Segunda Guerra Mundial, momento em que ele havia sido formado.
Ao longo dos últimos anos, os BRICS têm se esforçado para criar arranjos paralelos e alternativos
ao FMI, justamente porque hoje os países emergentes – particularmente a China – têm um
volume de reservas internacionais muito elevado, podem colocar parte dessas reservas num
fundo ou banco, que pode socorrer países em dificuldades no que tange seu balanço de
pagamentos.
A coisa vai relativamente bem até os anos 1960, até o início da Guerra do Vietnã, quando os
EUA tentaram impedir o avanço do comunismo na metade Sul desse país. Essa guerra alongou-
se de forma imprevista, o que fez com que os gastos militares dos EUA crescessem de forma
exponencial.
Os EUA começam a emitir dólares sem lastro em ouro, o que aumenta significativamente a
liquidez no SFI. Vários países passam, ao mesmo tempo, a acumular mais reservas internacionais
em dólar. Foi nessa época que aconteceu o Milagre Econômico no Brasil, que não teria ocorrido
sem essa política monetária emissionista dos EUA. A entrada de dólares no Brasil foi muito forte
nesse período, o que permitiu a ampliação do crescimento econômico brasileiro.
O primeiro país central a pedir ouro em troca de dólares foi a França de Charles de Gaulle, que
anteriormente havia criticado duramente o padrão de Bretton Woods. A França queria uma
parte desse poder que havia sido apropriado pelos EUA, assim como outros países europeus,
que se incomodavam com a predominância dos EUA nessa agenda. Criou-se uma crise
diplomática entre França e EUA, pois os americanos ficaram ofendidos devido à desconfiança
francesa, justamente em relação àqueles que socorreram os franceses na Segunda Guerra.
Não havia mais como os EUA esconderem o fato de que a quantidade de dólares em circulação
estava muito maior do que as reservas americanas de ouro. Em 1971, o Presidente Nixon
recebe um informe da CIA de que os principais bancos centrais da Europa Ocidental estavam
organizando uma grande troca de reservas internacionais do dólar para o ouro. Porém, não
havia ouro suficiente no Tesouro americano para fazer frente a esses saques.
Em agosto de 1971, Nixon anuncia que o dólar está sofrendo um ataque dos especuladores
internacionais e, para proteger a moeda do cidadão americano comum, que estaria
suspendendo, temporariamente, a conversão de dólares para ouro. Teria sido o maior calote da
história, pois havia, desde Bretton Woods, o compromisso dos EUA de trocarem esses dólares
por ouro. De uma hora para a outra, os EUA decidiram, unilateralmente, que o Acordo de
Bretton Woods não valia mais.
O temporário, entretanto, se tornou permanente. Até hoje, o dólar nunca mais foi conversível
em outra coisa que não fosse o próprio dólar. Os EUA apostaram que o dólar continuaria sendo
a moeda hegemônica, apesar de não valer mais ouro, pois os EUA eram a maior potência militar
e a maior economia. De fato, o dólar continua sendo, até hoje, a moeda usada como referência
para investimentos e comércio.
❖ PERÍODO DÓLAR-DÓLAR:
O lastro na credibilidade do emissor, o governo dos EUA. No período dólar-dólar, que dura até
hoje, a hegemonia do dólar não foi linear. Trata-se de uma hegemonia subjetiva. Até então, era
um fator objetivo que tornava o dólar hegemônico: o lastro em ouro.
➢ SUBPERÍODOS:
→ 1979-1982:
- Paul Volcker: presidente do Banco Central americano (Federal Reserve – FED).
- FED independente precisa proteger o valor e o poder de compra do dólar.
- Diminuir o desequilíbrio causado pelo excesso de dólares em circulação.
- Política brutalmente contracionista, emitindo e vendendo muito títulos do Tesouro.
- Disparada da taxa de juros nos EUA (“choque de juros”).
- Período de recessão nos EUA, com reflexos no mundo.
- Volcker diz que os EUA iriam ressurgir economicamente, com o dólar protegido.
Países como o Brasil que havia aproveitado para promover seu crescimento com base em
endividamento, ficariam em maus lençóis. O Brasil, ao final da década de 1970, tinha a maior
dívida externa do mundo, na qual incidiam os maiores juros da história. O Brasil estava
virtualmente quebrado em 1979, quebrando literalmente em 1982, pois não tinha como obter
dólares (por meio de empréstimos ou exportações) num cenário de recessão mundial.
O Brasil foi o caso mais grave, mas não foi um caso isolado. Dezenas de países que aproveitaram
esse período de dólar barato e juros baixos também passaram por problemas graves. As reservas
internacionais do Brasil esgotaram-se muito rapidamente, a fim de cobrir os déficits enormes
no balanço de pagamentos. O FMI veio em socorro ao Brasil, impondo uma agenda
extremamente restritiva, por influência dos credores brasileiros, como o Chase Manhattan
Bank, o maior deles.
O Brasil entra num dos momentos mais delicados de sua história. Os militares pensavam que os
desafios de desenvolvimento eram muito mais importantes do que o controle da inflação. Esse
aperto monetário feito pelo FED, e o desequilíbrio sobre o balanço de pagamentos que
acarretou no Brasil, levou o governo brasileiro a desvalorizar o câmbio. Em dezembro de 1979,
ocorre uma maxidesvalorização do cruzeiro, fazendo com que a inflação, que já era alta, fique
ainda maior e, em breve, fora de controle.
*2008: 1 EURO = 1.64 US$ (reservas europeias em dólares dobram de valor, em euro).
➢ QUESTIONAMENTOS:
→ Dólar começa a ser questionado como unidade de conta:
- Euro começa a ser visto como uma moeda mais estável.
→ Dólar começa a ser questionado como meio de troca:
- Comércio internacional começa a utilizar outras moedas como meio de troca.
→ Dólar começa a ser questionado como reserva de valor:
- Reservas em dólares trocadas por outras moedas.
- Há uma tendência de que o dólar deixe de ser a moeda hegemônica.
Com a Crise de 2008, países vão se refugiar na segurança do dólar, devido à confiança na moeda
americana, mesmo que a crise tenha tido estopim nos EUA. Crises em países periféricos da
Europa fazem com que o euro comece a perder sua credibilidade. Há uma recuperação da
hegemonia do dólar, que não volta a ser como era nos anos 1990, mas continua hegemônica.
A China também não parece querer que isso ocorra. Enquanto o Banco Central chinês decretar
o valor da moeda, isso não ocorrerá, pois câmbio que não flutua não permitirá que moeda seja
hegemônica. O SFI ainda não confia na China e chineses ainda não têm feito nenhum movimento
para que essa confiança ocorra.
→ Antecedentes:
- Excesso de liquidez no SFI em ultimas décadas, alimentada por política monetária frouxa (EUA).
- Aumento da dívida externa em países periféricos: mais crescimento, com indústrias.
→ ALTERNATIVAS:
1979/1980: desvalorização cambial com o objetivo de estimular exportações e desestimular
importações. É uma alternativa possível, com uma desvalorização que equilibra o balanço de
pagamentos e que também evita um impacto recessivo. Essa estratégia se mostrou insuficiente
e continuamos a perder reservas internacionais, piorando a situação externa do Brasil.
TPS 2017 – Questão 70:
Na década de 30, durante a Grande Depressão, a teoria econômica debatia, entre outros temas,
as causas do persistente desemprego, que assolava grandes contingentes populacionais. Uma
das publicações que ganhou maior destaque nesse debate foi a Teoria geral do emprego, do juro
e da moeda (1936), de John Maynard Keynes. Nessa obra, Keynes marcou os princípios teóricos
que revolucionaram o pensamento econômico e até hoje é referência nas discussões sobre os
determinantes do emprego, da renda e da produção agregados. Acerca das contribuições de
Keynes à teoria macroeconômica e das deliberações produzidas durante a Conferência de
Bretton Woods (1944), da qual Keynes participou ativamente, julgue (C ou E) os itens seguintes.
1. Na Conferência de Bretton Woods, Keynes, como representante do Reino Unido, teve papel
ativo e central na construção de uma governança financeira global. Nessa conferência, Keynes
sugeriu um regime de taxas de câmbio flutuantes como forma de apoiar o crescimento do
comércio internacional, que foi fundamental para a recuperação econômica do pós-guerra.
2. Conforme Keynes, o nível de emprego agregado não se define meramente como um ponto
de equilíbrio parcial, dado no encontro de curvas agregadas de oferta e de demanda por
trabalho. Para ele, em uma dada estrutura produtiva, o nível de emprego resulta da decisão dos
empresários de empregar a força de trabalho em função das expectativas de consumo e de
investimento na economia. Assim, poderá persistir o desemprego involuntário enquanto o nível
de demanda efetiva for demasiadamente baixo.
Gabarito: CERTO. Essa é a essência da teoria keynesiana. O que determina o nível de emprego
na economia é a demanda efetiva.
3. A suposição feita por Keynes de que os salários nominais e outros elementos de custo
permanecem constantes altera a natureza do raciocínio que ele desenvolveu para explicar os
determinantes do volume de emprego agregado.
Gabarito: ERRADO. Keynes nunca disse que salário nominais permanecem constantes. Disse
que são resistentes a queda, que há flexibilidade nos preços dos fatores de produção.
4. Para um quadro de crise, uma proposição de política econômica keynesiana seria o governo
ampliar os gastos públicos como forma de elevar a demanda agregada e recuperar o nível de
emprego, ao passo que, para um momento de superaquecimento, a recomendação keynesiana
seria reduzir gastos.
Gabarito: CERTO. Keynes não despreza o conceito de pleno emprego. Diz que se aproxima ao
pleno emprego. Se a economia estiver próxima do pleno emprego, recomenda que se
diminuam os gastos. Não concorda, entretanto, que exista uma tendência ao pleno emprego.
TPS 2016 – Questão 68:
Gabarito: CERTO. Demanda por moeda – 3 tipos – para fins de transação, para fins de
precaução e para fins especulativos. Todos esses tipos são influenciados pela taxa de juros; é
variável central.
Gabarito: ERRADO. Meios de pagamento são o papel moeda em poder do público, acrescidos
dos depósitos à vista (MP = PMPP + DV). Os bancos privados também concedem empréstimos,
criando depósitos à vista, não apenas a autoridade monetária.
3. Na atualidade, para que uma moeda seja aceita como meio de troca, o país que a emite deve
ter reservas em ouro em quantidades suficientes, de acordo com o denominado padrão-ouro.
4. As três funções principais de uma moeda em um sistema econômico são a de meio de troca,
a de unidade de conta e a de reserva de valor.
Gabarito: CERTO.
Diplomacia 360o – Módulo Atena – Economia – Aula 19
Prof. Daniel Sousa – 12.12.2018
A crise da dívida externa brasileira, causada pelo excesso de endividamento externo do Brasil
nas décadas de 1960 e 1970, teve como estopim o aperto monetário feito pelo FED, que levou
ao desequilíbrio do balanço de pagamentos no Brasil. O desequilíbrio do balanço de pagamentos
é finito, pois as reservas internacionais chegam ao fim, levando a um colapso nas contas
externas. Essa crise não se restringiu ao Brasil, atingindo dezenas de países.
Em um primeiro momento, entre 1979 e 1980, o governo brasileiro tentou realizar uma
maxidesvalorização do câmbio a fim de estimular as exportações e desestimular as
importações, reequilibrando assim o balanço de pagamentos. No início do governo Figueiredo,
realizou-se também um programa de estímulo às exportações agrícolas. Entretanto, essa
estratégia mostrou-se insuficiente, pois as reservas internacionais continuaram sangrando.
No biênio 1981-1982, o Brasil acabou sendo forçado a recorrer ao ajuste recessivo, que significa
colocar o país propositalmente em recessão, diminuindo a absorção interna (consumo de bens
e serviços, gastos públicos e investimentos). Isso acaba estimulando as exportações, pois, com
a economia interna em recessão, não há para quem vender e a busca pelo mercado externo
acaba sendo uma alternativa. Diminuem também as importações, pois num ambiente recessivo
ninguém importa nada.
Não é difícil colocar um país em ajuste recessivo. Basta adotar uma política monetária
brutalmente contracionista, aumentando juros, contraindo violentamente o crédito e cortando
investimentos das empresas estatais e aumentando impostos. O peso do Estado na economia
brasileira nessa época era ainda maior do que hoje e o governo tinha um efeito brutal no
crescimento econômico.
Em 1982, o Brasil foi socorrido pelo Fundo Monetário Internacional (FMI) com quase US$ 5
bilhões, para equilibrar o balanço de pagamentos e recompor as reservas em moeda
estrangeira. Há, portanto, uma melhora discreta da situação. Em 1983 e 1984, houve
recuperação nas contas externas e no crescimento econômico, puxada pelo fim do aperto
monetário do FED (que ocorreu até 1982), que acarretou a retomada do crescimento mundial.
O Plano Brady consistia no alongamento do prazo das dívidas, no perdão aos atrasos nos
pagamentos e em abatimentos. Em troca, o país deveria aderir a uma agenda de reformas
baseada no Consenso de Washington, para que esse tipo de situação não voltasse a ocorrer. Os
devedores se comprometeram a promover privatizações, a liberalizar o comércio e o fluxo de
capitais, a buscar a disciplina fiscal e a austeridade das contas públicas e a controlar a inflação.
O Brasil concluiu a renegociação de sua dívida externa, em 1993. A negociação brasileira foi
muito bem-feita, conseguindo termos melhores do que os demais países latino-americanos. A
dívida foi sendo paga ao longo dos anos, até que, desde 2006, o Brasil tem sido, até hoje, credor
externo líquido, o que significa que o valor de suas reservas internacionais supera o montante
de sua dívida externa.
Desde 2006, tem ocorrido algo singular. Quando o câmbio se desvaloriza, o resultado das contas
públicas melhora. Curiosamente, o que tem ocorrido recentemente é que a desvalorização
cambial acaba ajudando, pois o Brasil tem mais a receber em dólares do que a pagar. É o
contrário do que ocorre com a Argentina, que é um devedor externo líquido, pois tem mais a
pagar em dólares do que a receber em dólares.
Entre 1993 e 2006, o Brasil foi gradativamente abatendo sua dívida externa. Em alguns
momentos, a dívida chegou a aumentar, devido a novos empréstimos com o FMI, mas aquela
dívida negociada em 1993 foi sendo progressivamente abatida.
Hoje, qualquer cenário de crise em relação à dívida externa parece muito distante, pois as
reservas internacionais do país estão muito elevadas, acima dos padrões recomendados
internacionalmente. O histórico caótico do Brasil em sua relação com o setor externo explica
por que o Brasil tem muita resistência em relação a reduzir o seu volume de reservas
internacionais.
❖ CRISE DO MÉXICO (1994):
→ Antecedentes:
O México irá adotar um câmbio fixo e valorizado, com a finalidade de atrair investimentos
estrangeiros no contexto de um processo de abertura, já que, sem oscilação cambial, é mais
seguro aplicar recursos em um país. Outro objetivo desse câmbio valorizado era de asfixiar a
inflação, pois produtos estrangeiros passariam a entrar no país com preços muito baixos,
reduzindo os custos para as empresas mexicanas. Essa medida também ajudaria a aumentar a
concorrência, pois os produtos importados entrariam no país com preços muito competitivos.
O problema desse tipo de estratégia é que, no câmbio fixo, não é possível equilibrar o balanço
de pagamentos. Esse modelo é insustentável, pois, se o câmbio está valorizado, o Saldo em
Transações Correntes (STC) tende a ficar cada vez mais deficitário, porque a Balança Comercial
(BC) tem também essa tendência deficitária.
A Conta Capital e Financeira (SKF) precisa de cada vez mais recursos, com mais Investimentos
Estrangeiros Diretos (IED) e mais capital especulativo. Porém, há um limite para esse modelo,
pois não há como atrair crescentes somas de IED e de capital especulativo para compensar os
crescentes déficits no STC em função de um câmbio fixo e valorizado de forma incessante. Em
algum momento, esse modelo irá se esgotar.
Em 1994, diante de uma crise política, houve uma grande fuga de capitais, com grande procura
por dólares. O México, que era totalmente dependente do capital estrangeiro para compensar
seus crescentes déficits no STC, ficou com seu Balanço de Pagamentos (BP) extremamente
desequilibrado. Diante dessa crise, o governo mexicano decidiu desvalorizar o câmbio em 15%,
a fim de desestimular as importações e estimular exportações, equilibrando o .
Na gestão do presidente Bill Clinton, o México foi socorrido pelo Tesouro dos EUA no total de
US$ 15 bilhões, para a recomposição das reservas internacionais, com a possibilidade de mais
US$ 50 bilhões. A ideia era garantir que o México não quebrasse, por sua relevância como
vizinho, devido às pressões relativas à imigração, e porque acabava de ser criado o NAFTA.
❖ CRISE ASIÁTICA (1997):
→ Antecedentes:
No início dos anos 1990, o Japão tinha a maior poupança do mundo, tendo sido o país que mais
crescera desde a década de 1950. Na década de 1990, o Japão parou de crescer, pois teria,
segundo os classicistas, atingido o seu PIB potencial (como país pequeno que é) e, segundo os
keynesianos, devido à falta de consumo, e de demanda efetiva, e ao excesso de poupança. Num
contexto de recessão, os bancos japoneses não tinham para quem emprestar e deslocaram seus
recursos para países vizinhos. Os Tigres Asiáticos já apresentavam razoáveis taxas de
crescimento e o capital japonês serviu para financiar oportunidades de negócio nesses países
que não existiam no Japão.
Esses países estavam passando por processos de abertura e de flexibilização no fluxo financeiro
e no mercado de capitais. Não havia, portanto, grande supervisão ou controle sobre o mercado
de capitais desses países. De uma hora para a outra, passa a haver um boom de crédito nos
Tigres Asiáticos, com taxas de juros muito baixas. Cada vez mais, esses empréstimos foram
sendo feitos para projetos que não teriam condições de retorno, por não serem ideias boas ou
sustentáveis. Havia um enorme excesso de liquidez, mas esses empréstimos começaram a
sofrer com a inadimplência dos devedores.
Com a falência dos bancos na região, o crédito desaparece e começam a cair o consumo e os
investimentos, afetando a economia real. Formou-se um quadro recessivo que levou à fuga de
capitais, desequilibrando o BP desses países. Foi uma crise causada pelo excesso de moeda.
Formaram-se bolhas, com preços de ativos descolados da realidade, pois há muito dinheiro
sendo oferecido. Em 1997, esses países foram socorridos pelo FMI.
❖ CRISE DO BRASIL (1999):
*Trata-se de crise relacionada ao desequilíbrio do BP causada pelo câmbio fixo e valorizado.
→ Antecedentes:
- Privatizações;
- Liberalização do fluxo de capitais; e
- Liberalização do comércio.
Inicialmente, a taxa de câmbio fixa era 1:1, mas, em um segundo momento, essa taxa de câmbio
fixa virou um teto. A taxa poderia flutuar livremente abaixo desse teto. Em um terceiro
momento, passou a existir também um piso. Esses valores de teto e piso foram sendo
progressivamente alterados
Em 1999, quando esse sistema foi abandonado, o teto era de R$ 1,20 e o piso de R$ 1,00. Havia
liberdade para a flutuação da taxa dentro desses parâmetros. Quando a taxa batia no teto, o
BACEN vendia dólares e quando batia no piso, o BACEN comprava dólares.
Aos poucos, a taxa de câmbio passou a bater no teto sucessivamente, já que esse modelo era
absolutamente insustentável, com o real muito valorizado a fim de asfixiar a inflação e atrair
IED. O Brasil necessitava cada vez mais de IED e de capital especulativo para compensar os
crescentes déficits em transações correntes causados pela valorização do câmbio, que
desestimulava as exportações e estimulava as importações.
A cada crise em países emergentes, o Brasil aumentava sua taxa de juros, a fim de evitar a fuga
de capitais. Havia o temor no Brasil de que, quando fosse abandonado o controle cambial,
pudesse haver o retorno da inflação. Os custos das empresas aumentariam e haveria menos
concorrência, já que os produtos importados entrariam em condições menos competitivas.
Em 1998, a situação chegou a seu limite, pois o governo brasileiro já não tinha mais reservas
internacionais suficientes para manter a taxa de câmbio controlada dentro da flutuação
estabelecida. Nesse ano, o Brasil obteve US$ 30 bilhões emprestados do FMI para recompor
suas reservas internacionais, pois a fuga de capitais havia se intensificado após a Crise da Ásia
(1997) e a Crise da Rússia (1998).
Foi proposto, em 1998, o sistema de bandas diagonais, com a taxa de câmbio gradativamente
subindo, de forma administrada pelo BACEN. Porém, se o BACEN já avisa de antemão que o
preço do dólar irá subir, a tendência é que mais dólar seja comprado. Se todos compram dólares
ao mesmo tempo, não haverá dólares suficientes para vender.
→ Antecedentes:
- Liberalização comercial;
- Privatizações; e
- Liberalização dos fluxos de capitais.
O Ministro da Economia, Domingo Cavallo, argumentava que a Argentina devia se preparar para
uma enxurrada de dólares que inundaria o país, afinal, a Argentina oferecia o que ninguém mais
oferecia: a conversibilidade plena. Porém, isso colocava a Argentina numa camisa de força. A
conversibilidade plena funciona em países pequenos como o Panamá, pois é um paraíso fiscal,
tem o Canal do Panamá e a Copa Airlines, que garantem receitas interessantes em dólar.
A Argentina, por outro lado, era uma das 20 maiores economias do mundo, que vivia, há séculos
da sua produção agrícola – sobretudo exportando grãos e carne – e de um importante setor
industrial. Esses segmentos produtivos serão duramente afetados pelo câmbio valorizado, pois
será mais barato importar para a Argentina do que produzir na Argentina.
Esse cenário piorava a cada ano, pois a inflação na Argentina era maior do que no resto do
mundo. Criava-se um ambiente de absoluta insustentabilidade em relação ao resto do mundo
não havendo como essa conversibilidade plena ser mantida. Os resultados em transações
correntes serão cada vez piores, com o governo obtendo empréstimos com o FMI ou
aumentando a taxa de juros para manter o investimento estrangeiro no país.
O governo também emitiu grande quantidade de títulos da dívida pública, e os vendeu nos EUA,
para trazer dólares para o país. Isso gerou uma sensação de prosperidade muito grande na
Argentina, mas a deterioração dessa situação se acelera em 1999, com a maxidesvalorização do
real. Houve uma inundação de produtos brasileiros na Argentina e o Brasil, que exigia dólares
nessas transações, começou a drenar as reservas internacionais argentinas, acelerando a crise.
→ Antecedentes:
- Desregulamentação (Clinton-Bush);
- Política monetária expansionista (taxa de juros em menor patamar da história – FED – 1% a.a.).
O objetivo era estimular o crescimento americano, que havia sido afetado pela crise da NASDAQ
(excessiva valorização dos mercados de empresas “.com” – bolha estourou em 2000) e pelo 11
de setembro.
Houve grande exploração do mercado de crédito subprime, que são os clientes de baixa renda,
que pagam juros mais altos. Devido à centralidade do mercado imobiliário nos EUA, já que os
financiamentos são feitos por meio das hipotecas sucessivas de imóveis, o valor dos imóveis
subiu muito, incentivando, por sua vez, mais e mais hipotecas.
O FED socorreu os bancos, emprestando US$ 700 bilhões para que não quebrassem.
Diplomacia 360o – Módulo Atena – Economia – Aula 20
Prof. Daniel Sousa – 14.12.2018
→ Os dois efeitos primários de uma crise externa sobre a economia brasileira são:
(i) diminuição das exportações líquidas devido à queda da demanda externa por commodities.
(ii) declínio da poupança externa e, consequentemente, do investimento.
Além disso, naquele momento, o risco-Brasil era baixo, pois acabara de receber o grau de
investimento das agências de risco. Isso desincentivava a fuga de capitais, tendo em vista que o
país tinha um selo de bom pagador (perdido depois em 2015). O relevante mercado interno do
Brasil também serviu de válvula de escape durante a crise.
O Brasil adotava o regime de metas de inflação, que vinham sendo cumpridas. Também
conseguia cumprir com suas metas de superávit primário, tendo inclusive resultados
suficientemente bons para implementar políticas expansionistas.
O governo brasileiro pôde implementar uma política monetária anticíclica porque o Brasil tinha
a inflação sob controle. Havia margem para medidas que visavam a estimular o crédito, como a
redução da SELIC e do compulsório e com o aumento do crédito de bancos públicos. O governo
pôde implementar uma política fiscal anticíclica, pois o Brasil tinha resultados primários muito
bons. Houve espaço para a redução de impostos, para o aumento dos gastos com o PAC, com o
Bolsa-família e para o aumento do seguro-desemprego.
Em 2015, ano em que o PIB brasileiro retraiu, não foi possível realizar política monetária
anticíclica, pois a inflação não estava exatamente sob controle. No que se refere à situação fiscal,
já havia um déficit primária que alcançava R$ 100 bilhões, o que impedia uma redução ainda
maior da meta de déficit primário. Não era possível cortar impostos ou aumentar gastos em um
cenário de tamanha fragilidade.
Em 2015, as reservas internacionais do Brasil eram de US$ 400 bilhões, devido à altíssima
liquidez no SFI desde 2008 e o governo estava conseguindo manter o câmbio flutuante. Porém,
o risco-Brasil estava muito alto (perda do grau de investimento) e o mercado interno andava
muito fraco, devido à alta do desemprego. As metas de inflação e de superávit primário já
vinham sendo descumpridas, com atualização para metas de déficit.
RELATÓRIO FOCUS – BANCO CENTRAL – 07/12/2018
https://www.bcb.gov.br/publicacoes/focus
→ A previsão do IPCA para 2018 está em 3,71 % a.a., abaixo do centro da meta (4,5 % a.a.).
→ A previsão do IPCA para 2019 está em 4,09 % a.a., abaixo do centro da meta (4,25 % a.a.*).
*O centro da meta de inflação para 2019 foi definido em 4,25 % a.a.
*A taxa SELIC foi mantida em 6,5 % a.a., na última reunião do COPOM de 2018, pois a previsão
do IPCA para 2019 não está muito distante do centro da meta.
→ PIB
A previsão para o crescimento do PIB brasileiro em 2018 está em 1,3 %. Este ano, o crescimento
foi muito comprometido por uma série de incertezas na área econômica relacionadas ao cenário
eleitoral. Para 2019, é esperado um leve aquecimento da economia, com uma previsão de alta
de 2,5 % do PIB. Essa pequena recuperação se deve à melhora do ambiente de expectativas. Os
maiores riscos ao crescimento brasileiro em 2019 são a questão fiscal (necessidade de uma
reforma da previdência) e o risco de uma recessão nos EUA, por conta do superaquecimento da
economia americana.
→ Câmbio
A taxa de câmbio prevista para 2019 é de R$ 3,80, podendo ser ainda maior caso haja mesmo
uma recessão nos EUA.
→ SELIC
A meta para a taxa SELIC em 2019 é de 7,50 % a.a. A SELIC pode ser pressionada pela leve
aceleração do crescimento brasileiro, que tende a aumentar a inflação, e pela provável alta dos
juros nos EUA, que levam o Brasil a aumentar seus juros a fim de manter capital no país.
→ STC
Está previsto um aumento do déficit no saldo de transações correntes de 2018 para 2019, de
US$ 15 bilhões para US$ 27 bilhões. Esse resultado é fortemente influenciado pela balança
comercial, que deve ter resultados piores em 2019, devido à queda prevista na safra brasileira
e ao aumento das importações causado pela desaceleração do crescimento.
→ IED
Espera-se que o investimento estrangeiro direto tenha um crescimento de 10% de 2018 para
2019, por conta da maior previsibilidade que um novo governo tende a propiciar.
Para 2019, o resultado primário deve melhorar, com o país apresentando déficits nominais e
primários um pouco menores, por causa da aceleração da atividade econômica e do provável
aumento de impostos pelo novo governo.
❖ TRIPÉ MACROECONÔMICO
No que diz respeito às despesas públicas, os problemas de maior peso do Brasil são a
previdência, a folha salarial e as despesas vinculadas. Só a previdência representa 50% das
despesas totais do governo.
EUA: crescimento expressivo, de 2,9%, em 2018, com desaceleração prevista para 2019, tendo
em vista que existe um temor de superaquecimento da economia americana.
Zona do Euro: desaceleração prevista para 2019 devido a preocupações na área fiscal, com o
crescimento do endividamento em proporção do PIB em países como a Itália (e o efeito dominó
que isso pode acarretar).
Japão: o crescimento japonês é cada vez mais desacelerado. Para classicistas, teria atingido o
seu PIB potencial. Para keynesianos, é devido à baixa demanda efetiva.
Rússia: crescimento fraco devido a uma série de embargos econômicos vigentes.
China: continua seu processo de desaceleração, um pouco mais forte do que o previsto, gerando
impacto nos preços das commodities, o que é ruim para o comércio exterior do Brasil.
Há alguns anos, o fluxo de comércio internacional vem crescendo com taxas superiores ao PIB
mundial. Isso explica por que os países que fazem mais comércio têm tido mais crescimento
econômico.
Há uma expectativa de alta expressivas nas taxas de juros internacionais (sobretudo nos EUA),
em um momento que o Brasil terá um déficit maior em sua conta corrente e precisará de mais
poupança externa.
O Federal Reserve tem demonstrado hesitação em mexer nas taxas de juros dos EUA, pois, se
aumentar rápido demais, pode colocar o país num quadro recessivo, mas, se aumentar devagar
demais, pode permitir um superaquecimento da economia americana, que, chegando no seu
PIB potencial, poderá entrar num quadro recessivo de qualquer maneira. Com o aumento da
taxa de juros americana, a tendência é a valorização do dólar em relação às demais moedas.