Thais Vinciprova

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FUNDAÇÃO OSWALDO ARANHA

CENTRO UNIVERSITÁRIO DE VOLTA REDONDA


PRÓ-REITORIA DE PESQUISA PÓS-GRADUAÇÃO E EXTENSÃO
MESTRADO PROFISSIONAL EM ENSINO EM CIÊNCIAS DA SAÚDE
E DO MEIO AMBIENTE

THAIS VINCIPROVA CHIESSE DE ANDRADE

ENSINO DA GINÁSTICA ARTÍSTICA NO COTIDIANO ESCOLAR:


PROPOSTA DE FORMAÇÃO CONTINUADA PARA PROFESSORES

VOLTA REDONDA
2016
FUNDAÇÃO OSWALDO ARANHA
CENTRO UNIVERSITÁRIO DE VOLTA REDONDA
PRÓ-REITORIA DE PESQUISA PÓS-GRADUAÇÃO E EXTENSÃO
MESTRADO PROFISSIONAL EM ENSINO EM CIÊNCIAS DA SAÚDE
E DO MEIO AMBIENTE

ENSINO DA GINÁSTICA ARTÍSTICA NO COTIDIANO ESCOLAR:


PROPOSTA DE FORMAÇÃO CONTINUADA PARA PROFESSORES

Dissertação apresentada ao Programa de


Mestrado Profissional em Ensino em
Ciências da Saúde e do Meio Ambiente do
UniFOA como parte dos requisitos para a
obtenção do título de Mestre.

Aluna:
Thais Vinciprova Chiesse de Andrade

Orientador:
Prof. Dr. Marcelo Paraíso Alves

VOLTA REDONDA
2016
FICHA CATALOGRÁFICA
Bibliotecária: Alice Tacão Wagner - CRB 7/RJ 4316

A554e Andrade, Thais Vinciprova Chiesse de.


Ensino da ginástica artística no cotidiano escolar: proposta de
formação continuada para professores. / Thais Vinciprova Chiesse de
Andrade - Volta Redonda: UniFOA, 2016.

76 p. : Il

Orientador(a): Marcelo Paraíso Alves

Dissertação (Mestrado) – UniFOA / Mestrado Profissional em Ensino


em Ciências da Saúde e do Meio Ambiente, 2016.

1. Ciências da saúde - dissertação. 2. Ginástica Artística. 3.


Educação física escolar. I. Alves, Marcelo Paraíso. II. Centro
Universitário de Volta Redonda. III. Título.

CDD – 610
À minha família pelo incentivo, amor e apoio
de sempre.
Agradeço a Deus por iluminar e guiar o meu
caminho.

Ao professor Dr. Marcelo Paraíso Alves pоr


seus ensinamentos, paciência е confiança
ао longo dа orientação deste trabalho.

Às professoras Paula Sampaio Rodrigues e


Ana Paula Ferreira Viveiros pela amizade,
incentivo e companheirismo profissional.

A todos os meus alunos(as), que me


motivam a buscar sempre o melhor e me
ensinam a cada dia, aumentando meu amor
pela profissão.

A todos que estiveram comigo durante essa


caminhada, me incentivando e me apoiando.
“Ninguém é tão sábio que não tenha algo pra
aprender e nem tão tolo que não tenha algo
pra ensinar”.

Blaise Pascal
RESUMO

A Ginástica Artística (GA) é reconhecida como um esporte de alto nível de


rendimento e difícil acesso, o que faz sua presença nas aulas de Educação Física
Escolar restrita. Porém, a referida prática é um dos esportes com maior diversidade
de experiências motoras, possibilitando um trabalho de corpo de forma global. O
presente trabalho tem como objetivo investigar o ensino da Ginástica Artística nas
aulas de Educação Física na rede municipal de Resende. As ações se
desenvolveram na seguinte perspectiva: discutir as relações entre o corpo, a
Educação Física e a escola; refletir sobre a Educação Física e a forma como a
escola se apropria do esporte; mapear as práticas de GA nas escolas do município
de Resende; e criar um curso de formação continuada em Ginástica Artística para
professores de Educação Física que atuam na Educação Básica (Ensino
Fundamental – anos iniciais). A metodologia foi desenvolvida a partir de três ações
complementares: a revisão da literatura, a aplicação de questionário com perguntas
fechadas e abertas (semiestruturadas) aos docentes da rede municipal de Resende
- RJ, que atuam nos Anos Iniciais do Ensino Fundamental, na intenção de mapear o
perfil dos docentes em relação ao processo de ensino e aprendizagem, mais
especificamente sobre o uso da Ginástica Artística como conteúdo das aulas de
Educação Física e o aprofundamento, por intermédio de entrevista, na tentativa de
captar as ações educativas dos docentes que usam GA como um conteúdo em suas
aulas. A relevância deste estudo é fundada em duas vertentes: conhecer a realidade
do município de Resende e discutir, em outro momento, possibilidades de
intervenção educacional para além do treinamento de alto nível, ampliando o
potencial de aplicação da GA para o desenvolvimento da criança no cotidiano
escolar. Foram encontrados docentes que mencionam trabalhar a GA nas aulas,
apesar de todas as dificuldades (ausência de recursos materiais, falta de formação
específica para GA, instalações precárias), o que nos permite afirmar que o produto
proposto - Curso de Formação Continuada em Ginástica Artística para os Anos
Iniciais do Ensino Fundamental - atende às demandas dos profissionais que
almejam desenvolver ações educativas com a modalidade esportiva preconizada
nos níveis de escolaridade mencionado (Anos iniciais).

Palavras-chave: Ginástica Artística; Ensino Fundamental; Educação Física Escolar.


ABSTRACT

Artistic Gymnastics (AG) is recognized as a high level of performance sport and


difficult to access, which makes its presence in physical education classes restricted.
However, it is one of the sports with the greatest diversity of motor experiences,
enabling body work I a global way. This study aims to investigate the teaching of
Artistic Gymnastics in Physical Education classes government schools in Resende,
RJ. The actions developed in the following perspective: discussion the relationship
between the body, physical education and school; reflection on Physical Education
and how the school appropriates the sport; AG mapping of the practice in schools in
the municipality of Resende; creation of a continuing education course in Artistic
Gymnastics for Physical Education teachers working in basic education (elementary
education - early years). The methodology was developed based on three
complementary actions: a literature review, a questionnaire with open and closed
questions (semi-structured) to teachers, working in Early Years of primary school,
with the intention of mapping the profile of teachers in relation to teaching and
learning, more specifically on the use of Artistic Gymnastics as content of Physical
Education classes, and deepening, through an interview, trying to capture the
educational activities of teachers who use AG as a content in their classes. The
relevance of this study is founded on two fronts: to know the reality of the city of
Resende and discussing, educational intervention possibilities beyond the high-level
training, expanding the AG application potential for the development of children in
daily school life. There were found teachers who mentioned working AG in class,
despite all difficulties (lack of material resources, lack of training specific to AG, poor
facilities), which allows us to state that the proposed product - Continuing Education
Course in Artistic Gymnastics for Years Elementary School initials - meets the
demands of professionals who wish to develop educational activities with the sport
from the early years of school education.

Key Words: Artistic Gymnastics, elementary school, school physical education.


SUMÁRIO

1 APRESENTAÇÃO ............................................................................................ 8
2 INTRODUÇÃO ............................................................................................... 11
3 METODOLOGIA ............................................................................................. 14
3.1 Descrição local da pesquisa ........................................................................ 14
3.2 Sujeitos da Pesquisa .................................................................................... 15
3.3 Procedimentos e Instrumentos Metodológicos ......................................... 15
4 REVISÃO DA LITERATURA.......................................................................... 17
4.1 Educação e Escola Moderna: Um Olhar Foucaultiano .............................. 17
4.2 A Educação Física Escolar e o Corpo: o Esporte na/da Escola ............... 22
4.3 Conhecendo a Ginástica Artística ............................................................... 26
4.3.1 Ensino da Ginástica Artística na escola .......................................................... 29
4.3.2 Formação de Professores de Educação Física .............................................. 33
4.4 Ginástica da Escola, Cultura e Corporeidade ............................................ 38
5 DISCUSSÃO DE RESULTADOS ................................................................... 41
6 PRODUTO: CURSO DE FORMAÇÃO CONTINUADA EM GINÁSTICA
ARTÍSTICA..................................................................................................... 53
6.1 Metodologia do Produto............................................................................... 54
6.2 Objetivo do curso ......................................................................................... 55
6.3 Justificativa ................................................................................................... 55
6.4 Público-alvo .................................................................................................. 56
6.5 Materiais didáticos ....................................................................................... 56
6.5.1 Livro eletrônico ............................................................................................... 56
6.5.2 Slides .............................................................................................................. 56
7 CONSIDERAÇÕES FINAIS ........................................................................... 57
8 CONTRIBUIÇÕES DO ESTUDO ................................................................... 59
REFERÊNCIAS......................................................................................................... 60
APÊNDICE A ............................................................................................................ 66
APÊNDICE B ............................................................................................................ 68
APENDICE C ............................................................................................................ 72
APENDICE D ............................................................................................................ 73
ANEXO A .................................................................................................................. 74
8

1 APRESENTAÇÃO

Ao longo dos últimos vinte anos venho desenvolvendo ações vinculadas à


Ginástica Artística (GA). Dentre as diferentes práticas que cercam a esfera da
cultura corporal de movimento, foi ela a modalidade escolhida para ser
desempenhada durante a minha infância e adolescência.

Devido a falta de recursos destinados a GA na cidade em que residia, não


cheguei a participar de campeonatos de nível estadual e nacional, mas pratiquei a
GA por mais de dez anos participando de apresentações e Copas Regionais pelo
prazer que a prática me oferecia.

A identificação com a modalidade era tanta que eu, ainda nova, já dizia com
certa convicção o que queria como profissão no futuro: ser professora de Ginástica
Artística. O esporte me trouxe muitos benefícios (autonomia, segurança, autoestima,
melhora no desenvolvimento motor, afetivo, cognitivo e social) e minha vontade era
estar ligada a ele para sempre e passar aquilo para outras pessoas.

Terminei os estudos da formação inicial e ingressei no curso de Licenciatura


Plena em Educação Física. Nesse momento, aos 17 anos, tive que parar de fazer
GA, pois já não conseguia conciliar os estudos, os estágios e os treinos.

A GA passou a estar presente na forma de estágio ao longo de minha


formação docente. Tais estágios foram desenvolvidos em múltiplas instituições de
ginástica (Clube de Regatas Flamengo, secretarias municipais de esporte,
academias), o que me permitiu acompanhar o trabalho de professores diferenciados,
oportunizando o contato com práticas e linhas de trabalho com objetivos distintos:
treinamento de alto nível, escolinhas e iniciação esportiva. Além disso, fiz cursos na
área em diferentes cidades e estados.

No final da faculdade, pesquisei para o trabalho de conclusão de curso sobre


a GA, o desenvolvimento motor e psicomotor. Realizei uma pesquisa de campo em
que apliquei um pré-teste e um pós-teste em crianças que praticavam GA e
alunos(as) que não faziam atividade física fora a Educação Física Escolar, a fim de
comparar os resultados obtidos. Foi possível perceber com o estudo que a Ginástica
Artística pode ser realizada para diferentes fins, além disso, foi comprovado, por
9

meio da pesquisa de campo, que a prática de GA proporciona um melhor


desenvolvimento motor e psicomotor. Essa pesquisa foi intitulada “Um outro olhar
sobre a Ginástica Artística”.

Ao concluir a graduação, já sabia o que queria para minha trajetória


profissional: trabalhar com Ginástica Artística, com Educação Física Escolar e me
tornar docente no ensino superior. Procurei um curso de pós-graduação lacto-sensu
em GA, e não havia nenhum em todo o país. Fiz então a especialização em
Educação Física Escolar, quando tive a oportunidade de aumentar a minha visão
acerca do esporte utilizado como conteúdo nas aulas de Educação Física, aplicado
como meio e não com finalidade em si mesmo. Pesquisei também a realidade da GA
na escola e sua relação com a Educação Infantil, o que se tornou meu trabalho de
conclusão de curso e posteriormente um artigo científico intitulado “A Ginástica
Artística na Educação Infantil”. Ao concluir o curso, surgiu uma pós-graduação lacto-
sensu em GA e fui para minha segunda especialização.

Paralelamente aos estudos, trabalhava com GA em umas das instituições na


qual havia sido estagiária e onde continuei após me formar na função de professora.
Lá tive a oportunidade de trabalhar com escolinha e iniciação desportiva, ou seja,
tinha como objetivo tanto o bem estar físico, mental e social (escolinha) quanto a
preparação para Copas e campeonatos (iniciação desportiva).

Trabalhei também em um projeto municipal, como professora de GA. Ali


atendia mais de duzentas crianças e adolescentes com a intensão de ampliar a
prática do esporte. Chegamos a participar de Copas Regionais.

Iniciei o trabalho de professora de Educação Física em dois colégios


particulares da região, onde pude aplicar o conteúdo GA nas aulas de Educação
Física e desmistificar a impossibilidade de inserir essa cultura corporal de movimento
nas aulas.

No ensino superior, iniciei minha trajetória como docente no ano de 2010, o


que me movimentou a refletir sobre as práticas dos profissionais de Educação Física
nas escolas. Por estar diretamente ligada a muitos estudantes no curso de
Educação Física e também a docentes que trabalham na área escolar, tenho
procurado realizar investigações assistemáticas, o que me possibilitou perceber a
10

lacuna existente entre os planejamentos dos professores e as aulas de Educação


Física Escolar cujo conteúdo tenha como direcionamento a GA.

Algumas observações realizadas, como aluna, estagiária, professora e


pesquisadora, suscitaram-me indagações como: a Ginástica Artística está inserida
no planejamento da Secretaria Municipal de Educação de Resende? Os professores
de Educação Física Escolar trabalham com a GA em suas aulas? Quais os
problemas que atualmente entravam a divulgação desta prática corporal nas
escolas?

Assim, trazer à tona o debate das questões supracitadas torna-se relevante


pela tentativa de superação de pesquisas anteriores, pois para além da necessidade
de apontar diversas razões ou dificuldades que movimentam os docentes a não
desenvolver suas ações pedagógicas com a GA, é preciso propor ações de
intervenção para tal problema. Portanto, este trabalho, intenciona criar um curso de
formação continuada para professores de Educação Física que atuam na Educação
Básica, de forma a deixar esse curso – produto – acessível a todos os interessados.
11

2 INTRODUÇÃO

A Educação Física possui um rico e diversificado conteúdo, como as


diferentes modalidades de jogos coletivos e individuais, lutas, dança e ginástica. Em
cada escola esse conteúdo é reestruturado singularmente, pois sofre alterações e
adaptações de acordo com as características, necessidades, demandas e anseios
da realidade do grupo social em questão (GAIO; BATISTA, 2006; MARCO, 2006).

Dentre as inúmeras propostas ou abordagens para o campo da Educação


Física, a temática da Ginástica é mencionada como um conteúdo possível, sendo a
Ginástica Artística uma das suas manifestações (DARIDO; SOUZA JR, 2007). Os
autores apresentam exemplos de conteúdos da Educação Física nas três
dimensões: conceitual, procedimental e atitudinal, e defendem a importância de
tratar os conteúdos nas três dimensões, mostrando que, para garantir um ensino de
qualidade, além de diversificar os conteúdos na escola, é preciso aprofundar os
conhecimentos, abordando os diferentes aspectos que compõem as suas
significações (DARIDO; SOUZA JR, 2007).

Apesar de alguns estudos (GAIO; BATISTA, 2006; SAWASATO; CASTRO,


2006; SCHIAVON; NISTA-PICCOLO, 2006; DA SILVA et al, 2009) mostrarem a
grande contribuição da GA no desenvolvimento da criança, sua presença na escola
é quase inexistente (BEZERRA; FERREIRA FILHO; FELICIANO, 2006; CUNHA,
2010, WEIERS; MUELLER; COSTA, 2014).

Nesta mesma direção Matos et al (2013) em sua pesquisa, revelam que dos
146 artigos estudados e que trazem em seu bojo o ensino da Educação Física
Escolar, o esporte ocupa o lugar central nos conteúdos utilizados pelos docentes,
conforme podemos visualizar: 42 tratam sobre Esportes (29%), 32 sobre Jogos e
Brincadeiras (22%), 25 Dança (17%), 16 Ginástica (11%), 4 Capoeira (3%), 3 Lutas
(2%) e 24 abordam vários conteúdos (16%).

Outro aspecto importante a ser considerado no estudo supracitado é que, dos


11 artigos sobre Ginástica, apenas um faz referência a GA, conforme disposto a
seguir: 2 sobre Ginástica Geral, 1 sobre Ginástica Acrobática, 5 sobre Ginástica
Circense, 2 sobre Ginástica Rítmica e 1 sobre Ginástica Artística. Desta maneira,
12

os autores concluíram que “embora haja uma leitura sobre a necessidade da


ampliação do debate sobre conteúdos de ensino, o Esporte continua sendo
privilegiado pelos autores” (p.131).

Thomazzo (2006) reforça tal perspectiva mencionando que as aulas de


Educação Física estão se limitando as modalidades esportivas, como por exemplo:
futebol, voleibol, basquetebol. A autora menciona que esse tipo de seleção
privilegiando algumas atividades quando comparadas a outras, restringe o
conhecimento do aluno(a) sobre a cultura corporal.

A GA configura-se como conteúdo importante para a Educação Física no


Ensino Fundamental ao considerarmos as diversas possibilidades de vivências e
exploração de suas capacidades motoras: equilíbrio, agilidade, coordenação, entre
outros. Permite, por intermédio dos exercícios, dos aparelhos e dos movimentos, a
experimentação de diferentes planos (alto, baixo, estreito, grosso) e posições. Além
disso, possibilita vivências singulares por meio de um diálogo com o movimento,
com o outro e consigo mesmo. Uma forma de se ver e existir no mundo.

Leguet (1987), autor renomado e citado constantemente em artigos por


apresentar ações motoras que permanecem presentes na modalidade, aponta
múltiplas ações motoras que são inevitavelmente executadas durante a realização
das figuras ginásticas. Estas ações são o ponto de partida para o aprendizado da
modalidade, e por meio delas o indivíduo se familiariza com os movimentos que
posteriormente se transformarão em elementos acrobáticos: aterrissar, equilibrar-se,
girar sobre si mesmo, balancear em apoio, balancear em suspensão, passar pelo
apoio invertido, passar pela suspensão invertida, deslocar-se bipedicamente,
passagem pelo solo (ou trave), (abertura e fechamento), volteio, saltar. Podem ser
executadas isoladamente ou coordenadas entre si e apresentar variações. Muitas
destas ações são mencionadas por Gallahue e Ozmun (2013), que fazem um
esquema mostrando a sequência de desenvolvimento de diversos movimentos
fundamentais desenvolvidos na fase da infância: movimentos axiais, rolamento do
corpo, equilíbrio em um só pé, caminhada direcionada, apoios invertidos, corrida,
salto de uma determinada altura, salto vertical, saltito, entre outros.
13

Percebendo a relação direta entre os movimentos propostos por Gallahue e


Ozmun (2013) e as aulas de GA, o referido trabalho se justifica por propor um
estudo que procura investigar as práticas pedagógicas de Educação Física no
âmbito de Resende-RJ, para que se possa propor alternativas, trazendo à tona o
debate em torno da GA e sua potencialidade como conteúdo educativo no cotidiano
escolar.

Alguns estudos já foram realizados a fim de buscar respostas para a pouca


prática desse conteúdo de ensino na Educação Física Escolar (NISTA-PICCOLO,
1988; POLITTO, 1998; SCHIAVON, 2003; SCHIAVON; NISTA-PICCOLO, 2006;
THOMMAZO, 2006; WEIERS; MUELLER; COSTA, 2014) a intenção era conhecer
as dificuldades de aplicação da GA nas aulas de Educação Física. Os resultados
das pesquisas são semelhantes, a falta de material, o medo de acidentes e
predominantemente o desconhecimento dos processos pedagógicos para ensinar a
ginástica se destacam entre as alegações dos docentes.

Diante do exposto, o objetivo desta pesquisa é investigar o ensino da


Ginástica Artística nas aulas de Educação Física na rede municipal de Resende/ RJ,
no intuito de criar como produto um curso de formação continuada em Ginástica
Artística para docentes que atuam nos anos iniciais do Ensino Fundamental. Ou
seja, além de investigar ensino da GA, buscamos uma ação de intervenção – Curso
de formação continuada em GA. Especificamente, as ações se desenvolveram na
seguinte perspectiva: discutir as relações entre o corpo, a Educação Física e a
escola; refletir sobre a Educação Física e a forma como a escola se apropria do
esporte; mapear as práticas de GA nas escolas do município de Resende; e criar um
curso de formação continuada em Ginástica Artística para professores de Educação
Física que atuam na Educação Básica (Ensino Fundamental – anos iniciais).
14

3 METODOLOGIA

3.1 Descrição local da pesquisa

Inicialmente optamos pelo desenvolvimento da pesquisa na rede municipal de


Volta Redonda – RJ, pois considerávamos que, por ser a maior cidade em número
de habitantes e consequentemente uma das maiores redes de ensino municipal do
Sul do estado, poderíamos obter um número significativo de sujeitos participando do
estudo.

No entanto, ao entrarmos em contato com a responsável pelos professores de


Educação Física do Ensino fundamental (anos iniciais), obtivemos o número de
docentes formados em Educação Física: 04. No caso específico deste município, os
docentes que atuam com a recreação nos anos iniciais possuem apenas o curso de
nível médio (Curso Normal).

Ao nos depararmos com a referida problemática, optamos em modificar o


campo de pesquisa para o município de Resende – RJ, pois ao buscarmos
informações sobre o referido município descobrimos que os professores que
atuavam nos Anos Iniciais eram formados em Educação Física (EF). O município
possui 63 unidades – 13.000 alunos(as). Destas, 47 possuem os Anos Iniciais do
Ensino Fundamental totalizando 5.846 alunos(as). O número total de professores de
EF da rede municipal é 53, sendo que 24 atuam nos Anos Iniciais.

Resende está localizada às margens do Rio Paraíba do Sul e é atravessada


pela Rodovia Presidente Dutra. Seu município é o último do estado percorrido pela
rodovia antes da divisa com São Paulo. Com uma população estimada em 124.316
habitantes (IBGE, 2015), é o vigésimo terceiro município mais populoso do
estado (em 2012), sendo o quarto município com mais habitantes da Mesorregião do
Sul Fluminense, depois de Volta Redonda, Barra Mansa e Angra dos Reis. É o
município mais antigo de sua região. Resende é um importante polo industrial,
automotivo, metalúrgico, de energia nuclear, turístico e sede do segundo maior
complexo militar do mundo, a Academia Militar das Agulhas Negras, a única na
formação de oficiais combatentes do exército no país, cuja área total é de 67 km².
Resende tem importância nacional e é conhecida internacionalmente por abrigar
15

a Fábrica de Combustível Nuclear, complexo das Indústrias Nucleares do Brasil,


única capaz de promover o enriquecimento de urânio no país (IBGE, 2015).

3.2 Sujeitos da Pesquisa

A pesquisa obteve a participação de 13 professores que atuam nos Anos


Iniciais do Ensino Fundamental do município de Resende. É relevante salientar que
os professores apresentaram faixa etária diversificada entre vinte e cinco e sessenta
e dois anos de idade. Outro aspecto a se destacar foi o tempo de formação que
também se apresenta diversificado, entre quatro e quarenta anos de prática
profissional. Mais uma questão que consideramos relevante foi o número de
professores com especialização: sete docentes. No entanto, apenas dois
professores mencionaram as áreas dos referidos cursos, sendo estes em
Psicomotricidade e Supervisão Escolar.

3.3 Procedimentos e Instrumentos Metodológicos

Na intenção de atingir os objetivos propostos optamos pela pesquisa


descritiva com abordagem qualitativa (GIL, 2009), pois tem como objetivo a
“descrição das características de determinada população ou fenômeno ou o
estabelecimento de relações entre variáveis” (p. 28). No caso específico deste
estudo, a relação entre a Ginástica Artística, a Educação Física Escolar e os
docentes que atuam nos Anos Iniciais do Ensino Fundamental. Tal intenção emerge
da possibilidade de conceber a GA como um conteúdo para a Educação Física da
escola e a formação continuada para docentes.

Considerando que as pesquisas descritivas, como as pesquisas exploratórias,


são vertentes que habitualmente procuram estudar as práticas de grupos sociais,
GIL (2009) considera que estas também são as mais utilizadas em organizações
educacionais.

Assim, optamos em realizar dois procedimentos de investigação: primeiro, a


aplicação de questionário com perguntas fechadas e abertas (semiestruturadas) aos
docentes da rede municipal de Resende - RJ, que atuam nos Anos Iniciais do
Ensino Fundamental, na intenção de mapear o perfil dos docentes em relação ao
processo de ensino e aprendizagem, mais especificamente sobre o uso da Ginástica
16

Artística como conteúdos das aulas de Educação Física. No segundo momento, o


aprofundamento, por intermédio de entrevista, na tentativa de captar as ações
educativas dos docentes que usam GA como um conteúdo em suas aulas.

O uso dos instrumentos mencionados se deve por considerarmos as


vantagens e limitações de tais procedimentos. Se por um lado o questionário permite
atingir um número maior de pessoas e não expõe os pesquisados à influência do
pesquisador, por outro lado, impede o auxílio ao pesquisado quando este não
entende a pergunta e, em decorrência, não oferece a garantia de que os informantes
devolvam o material devidamente preenchido, ocasionado lacunas em questões
significativas para o pesquisador (GIL, 2009). Portanto, utilizamos o questionário
para atingir um número maior de docentes e identificar os professores que utilizam a
GA como um conteúdo de ensino.

Cabe salientar que o uso da entrevista apenas com os docentes que abordam
a GA em suas aulas se deve pela necessidade do aprofundamento no conhecimento
sobre as suas práticas educativas. Neste sentido, optamos pela entrevista
focalizada, pois “tem como objetivo, explorar a fundo alguma experiência vivida em
condições precisas” (GIL, 2009, p. 112). Tal opção se deve pela necessidade de
desdobramentos de questões e dúvidas salientadas no questionário sobre a maneira
como a GA é ensinada.

O projeto de pesquisa foi enviado ao Comitê de Ética do Centro Universitário


de Volta Redonda (Pró-reitoria de Pós-graduação, Pesquisa e Extensão - Prédio 3,
sala 5, Campus Olezio Galotte Av. Paulo Erlei Alves Abrantes, nº 1325, Três Poços,
Volta Redonda/RJ, Cep: 27240-560) tendo sido aprovado sob o número:
37604514.8.0000.5237.
17

4 REVISÃO DA LITERATURA

4.1 Educação e Escola Moderna: Um Olhar Foucaultiano

Fazer uma abordagem da Educação Física Escolar e, em decorrência do


esporte desenvolvido no âmbito escolar, considerar a concepção de corpo que se
apresenta enredada em seu bojo, é uma tentativa de fugir a uma constituição a-
histórica que esteve presente na constituição da referida disciplina ao longo de sua
trajetória.

Pensando nessa reflexão cabe esclarecer que este estudo apresenta como
ponto de partida a concepção de corpo presente na escola moderna, onde o corpo
como máquina constituiu parte deste imaginário. Para tanto, utilizamos como marco
teórico Foucault (2015) pois o autor faz uma crítica à escola moderna, afirmando
que, como o quartel, o hospital e a prisão, a instituição escolar se configurou a partir
de condutas de vigilância e adestramento do corpo, concebendo o homem como um
objeto, podendo ser moldado, modificado e docilizado (CACIANO; SILVA, 2012).

Para Foucault (2015) essas instituições denominadas “instituições de


sequestro”, moldam o pensamento e a conduta dos sujeitos. O autor define o ato de
disciplinamento do corpo como sendo um instrumento de controle e dominação que
objetiva domesticar e suprimir diferentes comportamentos.

Ao abordar a temática que trata do poder exercido sobre o corpo, Foucault


(2015) menciona ainda que tal dispositivo buscava a docilização e o disciplinamento
corporal.

No entanto, antes de adentrarmos na fabricação do poder na segunda metade


do século XVIII, é relevante compreendermos as três maneiras de organizar o poder
de punir: a primeira forma de organização do poder emerge do “velho direito
monárquico” (FOUCAULT, 2015, p. 115). Tal forma de poder se estruturava a partir
de um espetáculo cênico, no intuito de espargir a lógica de punição para o
condenado.

A segunda forma de organização de poder se configura a partir das marcas e


sinais que ritualizavam a vingança do soberano e estabeleciam a sua presença
18

física no corpo julgado criminoso. Nessa ótica, a sociedade codifica os sinais como
representações dos castigos.

Por fim, o autor menciona que a terceira forma de organização do poder se


configura por meio de técnicas de coerção dos indivíduos, as instituições panópticas
e seus processos de treinamento do corpo - escola, prisão, exército e manicômio
resumindo, “O soberano e sua força, o corpo social, o aparelho administrativo. A
marca, o sinal, o traço. A cerimonia, a representação, o exercício” (FOUCAULT,
2015, p. 116). O autor explicita que as instituições panópticas, ao utilizarem as
estratégias e dispositivos militares, buscavam métrica dos soldados, reconhecidos
de longe, pois carregavam sinais naturais de seu vigor e coragem, por possuírem
características específicas que os distinguiam dos demais (posturas e atitudes).

A partir da metade do século XVIII, o soldado passou a ser algo que se


fabrica. Do corpo inapto fez-se uma máquina que o corrige aos poucos até torná-lo
habilitado. O corpo passou a ser manipulado, modelado, treinado, obediente, passou
a responder, tornando-se hábil, cujas forças se multiplicam (FOUCAULT, 2015).

Emerge então o conceito de docilidade, que une ao corpo analisável o corpo


manipulável. “É dócil um corpo que pode ser submetido, que pode ser utilizado, que
pode ser transformado e aperfeiçoado” (FOUCAULT, 2015, p.126).

O que diferencia os esquemas de docilidade do século XVIII é a escala do


controle, em que o objetivo foi além de cuidar do corpo. Foram criados métodos que
permitem o controle minucioso do corpo, chamados de disciplinas. As disciplinas
tornaram-se fórmulas gerais de dominação no decorrer dos séculos XVII e XVIII.

O momento histórico das disciplinas é o momento em que nasce uma arte


do corpo humano, que visa não unicamente o aumento de suas habilidades,
nem tampouco aprofundar sua sujeição, mas a formação de uma relação
que no mesmo mecanismo o torna tanto mais obediente quanto é mais útil,
e inversamente. Forma-se então uma política das coerções que são um
trabalho sobre o corpo, uma manipulação calculada de seus elementos, de
seus gestos, de seus comportamentos. O corpo humano entra numa
maquinária de poder que o esquadrinha, o desarticula e o recompõe.
(FOULCAULT, 2015, p. 127).

Neste sentido, cabe perguntar: qual a diferença desta forma de poder com as
duas anteriores mencionadas? O poder disciplinar é o que diferencia as três formas
19

de poder? Neste contexto histórico, o poder disciplinar fabrica assim corpos


submissos e exercitados, com que intenção?

Na ótica de Foucault (2015), a disciplina potencializa o caráter utilitário do


corpo, pois este passa a ser concebido em termos econômicos e como força
produtiva. De outra forma, ainda minimiza o corpo em termos políticos, tornando-o
dócil e obediente.

Em uma palavra: ela dissocia o poder do corpo; faz dele por um lado uma
aptidão, uma capacidade que ela procura aumentar; e inverte por outro lado
a energia, a potência que poderia resultar disso, e faz dela uma relação de
sujeição estrita. Se a exploração econômica separa a força e o produto do
trabalho, digamos que a coerção disciplinar estabelece no corpo o elo
coercitivo entre uma aptidão aumentada e uma dominação acentuada
(FOULCAULT, 2015, p. 127).

Pensando nas considerações explicitadas, buscamos a perspectiva do autor


para refletir sobre o cenário escolar. No que diz respeito a tal espaço educativo, a
disciplina possui procedimentos, como a distribuição dos indivíduos no espaço
(carteiras em fila) e o controle da atividade (horários específicos para diferentes
atividades). Esses procedimentos estão presentes até hoje em nossa sociedade. A
escola continua adotando o modelo criticado séculos atrás por Foucault. Os
alunos(as) possuem lugares específicos, em muitos casos pré-determinados
(mapeamento) para sentar, momentos controlados para lanchar, brincar, aprender a
matéria, entre outros.

Foulcault (2015) aponta a questão disciplinar como um processo de


adestramento. Diz ainda que o sucesso do poder disciplinar depende de
instrumentos simples: o olhar hierárquico (o olhar como elemento disciplinador de
poder), a sanção normalizadora (o mecanismo penal se faz presente em todos os
sistemas disciplinares) e o exame (permite, qualificar, classificar e punir): “A escola
torna-se uma espécie de aparelho de exame ininterrupto que acompanha em todo o
seu comprimento a operação do ensino” (FOULCAULT, 2015, p.166).

Para Veiga-Neto (2007), de todas as instituições estudadas por Foucault


(1987), a escola é a que detém o maior potencial de ação, visto que é nela que o
indivíduo passa a maior parte de sua formação. Neste sentido, é relevante salientar
que a disciplina no âmbito escolar não restringe sua ação de controle corporal
20

apenas à dimensão dos espaços e da arquitetura, mas se estende e submete a esse


dispositivo de controle, à construção do conhecimento e, em decorrência aos
campos de saber e os conteúdos ministrados: o processo de ensino e
aprendizagem.

Na escola, o sujeito fica confinado e é disciplinado individualmente, pois as


regras homogeneizadoras possuem a função de domesticar e docilizar os
indivíduos: como e onde sentar, a quem responder e quando responder, o que
vestir, quando comer e brincar, como se comportar. Tudo segue uma rotina que
serve para adestrar os corpos para o mercado de trabalho. O indivíduo se
transforma em uma máquina apta que obedece a comandos (FOULCAULT, 2015).

Para um melhor entendimento do pensamento foulcaultiano, faz-se


necessário compreender alguns conceitos apresentados pelo autor. O primeiro deles
é sobre as relações de poder, visto que para o filósofo, o poder não é algo estático,
hierarquizado como em uma estrutura fixa de poder, mas em sua concepção, o
poder se caracteriza por uma perspectiva circular, ou seja, é uma relação que se
espraia por todo o tecido social, indo a todas as direções. Não está concentrado
apenas em uma classe que oprime a outra ou no estado que oprime o cidadão
(FOUCAULT, 2014). O autor ainda menciona que:

em uma sociedade como a nossa, mas no fundo em qualquer sociedade,


existem relações de poder múltiplas que atravessam, caracterizam e
constituem o corpo social e que estas relações de poder não podem se
dissociar, se estabelecer nem funcionar sem uma produção, uma
acumulação, uma circulação e um funcionamento do discurso (FOUCAULT,
2014, p. 179).

Para o autor, tal estrutura de poder emerge do Panóptico, um modelo


arquitetônico que privilegia o controle e o disciplinamento corporal. Para Foucault
(2015), consiste em uma estrutura ou dispositivo de poder que se instaura no
indivíduo de modo a um sentinela de vigia que controla e dociliza as suas ações,
sem a necessidade da presença do controlador.

Assim, o indivíduo ao internalizar tais dispositivos de controle, se torna dócil e


incapaz de reagir ou resistir ao controle estabelecido: docilização dos corpos. A
disciplina se interiorizou de tal forma que a própria consciência lhe impede de fazer
alguma coisa ou outra porque você mesmo está se vigiando e se punindo. Assim,
21

cabe perguntar: quais as consequências destes dispositivos no corpo e na


corporeidade?

Probst e Kraemer (2011) fazem uma reflexão sobre as formas pelas quais,
historicamente, os dispositivos disciplinares e biopolíticos se naturalizaram nas
instituições escolares, que funcionam como mecanismos de controle sobre os
corpos. Analisam o uso do corpo e seu lugar nas práticas pedagógicas. Para as
autoras, do Renascimento ao século XIX, é possível perceber que o modelo
disciplinar, utilizado para moldar corpos, ainda permanece na maioria dos espaços
escolares. Mesmo existindo estudos sobre corpo e corporeidade, indicando a
necessidade de mudança desse modelo, ele é pouco questionado.

Freitas (1999), citando Foucault (1979), discute a arqueologia do corpo e as


possíveis intervenções na corporeidade. A autora reitera que a anatomia política
estabelecida pelas instituições de sequestro (escola, fábrica, manicômio, hospital)
manipula e esquadrinha os corpos, tornando-os submissos, exercitados e
produtivos.

Romani e Rajobac (2012), buscando tematizar o lugar do corpo nos


processos educacionais na atualidade para além dos processos disciplinares e
controladores, de forma a pensar uma educação do corpo centrada na
expressividade, sensibilidade, liberdade e criatividade necessárias ao
desenvolvimento integral dos educandos, fazem uma análise crítica da relação entre
corpo, saber e poder na escola. A intenção é ressignificar a prática docente na
instituição escolar para além da reprodução de ideologias dominantes, as quais
retiram do corpo sensibilidades e expressividades necessárias ao processo
educativo.

A partir da crítica ao modelo foulcautiano – panóptico -, os autores estimulam


uma reflexão acerca da nossa prática como professores e da instituição escolar,
trazendo à tona uma possível reprodução histórica de um ideal de educação do
corpo baseado na disciplina. Diante desta reflexão, incentivam a repensar a
estrutura escolar de forma a tornar o sujeito um transgressor das estratégias de
controle desenvolvidas pela escola.
22

Para Coutinho (2010), ao usar o termo transgressão, Foucault se refere a


uma experiência de pensamento permitindo ir além da dialética, ultrapassando a
dicotomia exterioridade e interioridade, sujeito e objeto. Ao se reportar à relação
entre limites e transgressão, a autora tece o seguinte comentário:

Tudo que é interditado pode ser transgredido e é para isso mesmo que
existe a interdição; é transgredindo os limites necessários à sua
conservação como ser finito que o homem se afirma. No entanto, a
transgressão, a violação da lei é limitada, é uma licença relativa, uma
desordem organizada, regularizada (COUTINHO, 2010, p. 274).

Pensando nesta possibilidade de transgredir ao imposto pela ordem


dominante, é que buscamos Certeau (2014) e a noção de táticas para propor outras
possibilidades educativas para o cotidiano escolar.

As táticas neste trabalho são entendidas como a arte do fraco (CERTEAU,


2014), a possibilidade de jogar com o poder no campo do inimigo, burlando as
estratégias de poder nas suas fissuras, nas brechas deixadas pelo inimigo.

De modo a usar as práticas dos sujeitos pensantes (CERTEAU, 2014) do


cotidiano da escola, trabalhamos com a noção de bricolagem, de usar aquilo que
nos chega por intermédio da ordem dominante, reinventando tais produtos segundo
os anseios, interesses e necessidade dos sujeitos que vivem determinados espaços
e tempos (cotidiano escolar). Diante de tal pensamento cabe questionar as práticas
de Educação Física: os esportes convencionais trabalhados na perspectiva
performática atendem as demandas das crianças na fase escolar? Os valores que
emergem do esporte de competição são os que pretendemos desenvolver em
nossas escolas? Tais esportes, trabalhados hegemonicamente na escola,
contemplam a diversidade de movimento proposta pela cultura corporal de
movimento? Partindo de tais questões, buscaremos ao longo do trabalho outras
possibilidades pedagógicas para Educação Física, mais especificamente propondo
intervenções por meio da Ginástica Artística.

4.2 A Educação Física Escolar e o Corpo: o Esporte na/da Escola

Considerando a discussão desenvolvida no capítulo inicial, onde buscamos


como referência o pensamento foucaultiano e as noções de disciplinamento
fundadas no panóptico, retomaremos neste capítulo o enredamento ao pensamento
23

de Foucault, na tentativa de estabelecermos uma relação com corpo e a Educação


Física Escolar, para posteriormente articularmos o estudo à Ginástica Artística.

Freire (1993), ao discutir o sistema escolar, mais especificamente a Educação


Física, tece críticas à escola atual que se aproxima da escola moderna. O autor
discute metaforicamente a escola por meio dos métodos de confinamento e engorda
que podem ser indiferentemente aplicados a porcos, galinhas, vacas e crianças: os
alunos(as) ficam imóveis, confinados, em carteiras e salas como “se para aprender
fosse necessário o contato permanente do traseiro na carteira” (p.114).

Para que as ideias sejam controladas, é necessário que o corpo se conforme


com os métodos de controle. O sistema escolar sabe que ações corporais e ideias
são as mesmas coisas e, para controlar as ideias, basta controlar os corpos
(FREIRE, 1993).

Polo e Freire (2009) fazem um ensaio sobre o que é corpo na Educação


Física, questionando principalmente a concepção dualista cartesiana de ser humano
(divisão corpo/alma) e a sua influência na Educação Física. Utilizam argumentações
que buscam um entendimento integral do ser humano e tendem para um maior
reconhecimento da condição corpórea. Neste sentido, para os autores, a Educação
Física deveria ser como disciplina pedagógica:

[...] um conjunto de atividades que atua para educar. Portanto, ela tem que
fazer suas opções e, por trás das opções, estão os conceitos. Talvez ela
deva educar as pessoas para compreenderem o que são, para terem uma
consciência melhor sobre elas mesmas. Talvez não se trate de fazer
atividades para melhorar a consciência corporal, mas para desenvolver a
consciência de si, pois não temos um corpo do qual devemos ter
consciência; somos corpo, a consciência deve ser sobre nós mesmos
(POLO; FREIRE, 2009, p. 12).

Diante do exposto, cabe perguntar: o que ensinar? Como ensinar? Qual a


finalidade da Educação Física para diversas faixas etárias presentes no cotidiano
escolar? Quais as metodologias e estratégias de ensino?

Os questionamentos expostos neste estudo nos permitem pensar o esporte e


a relação que estabelece com a Educação Física Escolar e, em decorrência a forma
como este é concebido neste espaço de atuação.
24

Concordamos com Vago (1996) quando diz ser inquestionável o fato do


esporte ter tido um desenvolvimento mundial, transformando-se em uma prática
corporal de movimento hegemônica, cuja ação se aproxima da perspectiva
panóptica, inclusive no espaço escolar. Para o autor, a Educação Física, ao se
apropriar do esporte e utilizá-lo como uma ação centralizadora, reduz o seu papel e
sua finalidade ao gesto esportivo.

Vago (1996) acredita numa escola que possua autonomia para produzir a sua
cultura, com seus próprios códigos e critérios, transgredindo a ordem dominante.
Defende a ideia do esporte “da” escola e não o esporte “na” escola.

O Esporte “na” escola é um prolongamento da instituição esportiva que


emerge como um modelo, um padrão a ser seguido, pois é concebido como uma
referência única e totalizante. Tal perspectiva prioriza o princípio do rendimento
atlético-desportivo, a competição, a comparação de rendimentos e recordes, a
regulamentação rígida, o sucesso esportivo e sinônimo de vitória, a racionalização
de meios e técnicas. Tais parâmetros (performance) impactam a Educação Física
Escolar, transplantando códigos para o seu cotidiano e excluindo práticas e sujeitos,
à maneira determinada pelo panóptico de Foucault (2015).

O Esporte “da” escola trabalha com a centralidade nas práticas singulares dos
praticantes do seu cotidiano. O que buscamos salientar é que o esporte da escola
emerge como prática, uma ação centrada na cultura local, incorporando valores
sociais, culturais, econômicos e estéticos de um local específico, portanto assume a
identidade destes sujeitos que a compõem, ocupando um lugar importante nas
relações sociais.

Bracht (1986), ao discutir o esporte, menciona a dificuldade de desenvolver


aulas de Educação Física na perspectiva dos interesses locais, pois o autor acredita
que o esporte na escola, ao estar presente, prejudica a ampliação da noção de
esporte da escola. Já Vago defende a ideia de que a escola, ao invés de reproduzir
as práticas de esporte hegemônicas na sociedade, deve produzir uma cultura
escolar de esporte que estabeleça com elas uma relação de tensão permanente,
num movimento de intervenção na história cultural da sociedade.
25

Segundo Betti e Zuliani (2002), a Educação Física como componente


curricular da Educação Básica deve:

Introduzir e integrar o aluno(a) na cultura corporal de movimento, formando


o cidadão que vai produzi-la, reproduzi-la e transformá-la,
instrumentalizando-o para usufruir do jogo, do esporte, das atividades
rítmicas e dança, das ginásticas e práticas de aptidão física, em benefício
da qualidade da vida. (BETTI; ZULIANI, 2002, p. 75).

Não é suficiente, embora necessária, a aprendizagem das habilidades


motoras e o desenvolvimento das capacidades físicas. Da mesma forma como o
aluno(a) aprende os fundamentos técnicos e táticos de um esporte coletivo, ele
precisa aprender a organizar-se socialmente para praticá-lo, compreender as regras
para que o jogo seja possível, aprender a respeitar o adversário como colega e não
inimigo, sabendo que sem ele não há competição esportiva:

É tarefa da Educação Física preparar o aluno(a) para ser um praticante


lúcido e ativo, que incorpore o esporte e os demais componentes da cultura
corporal em sua vida, para deles tirar o melhor proveito possível (BETTI;
ZULIANI, 2002, p. 75).

Em relação à Educação Física Escolar, voltada para a formação cultural da


infância e da juventude, Vago (2009) apresenta para reflexão cinco maneiras de
pensar a Educação Física:

Pensar o lugar da Educação Física, a escola; pensar os humanos que


produzem a escola e a Educação Física; pensar professores e estudantes
como sujeitos praticantes de uma experiência cultural; pensar o humano
direito ao corpo e os desafios postos à Educação Física e então pensar a
Educação Física na educação básica como projeto de formação cultural da
infância e da juventude. (VAGO, 2009, p. 26).

Para o autor, a escola é um lugar de/das/entre culturas, local onde há


transmissão, produção, estimulação, reinvenção e circulação da prática da cultura.

Bracht (2009) explica que quem critica o esporte não é contra o mesmo, na
verdade o que se pretende é modificá-lo, é tratá-lo pedagogicamente, contrariando a
perspectiva conservadora de educação. Da mesma forma, tratar criticamente o
esporte na escola não significa ser contra a técnica esportiva. O que muda é a
finalidade, a técnica deixa de ser o objetivo final e passa a ser meio para permitir aos
sujeitos uma forma de se expressar e estabelecer uma relação com o meio e com
outras pessoas.
26

O esporte de modo geral e a Ginástica Artística (GA) em específico, vistos


com caráter de alto rendimento, exigem disciplina, treinamento específico e uma
série de condições físicas e psicológicas para se alcançar o objetivo, podendo ser,
por analogia, comparados na perspectiva foucaultiana, às maquinarias de construir
corpos docilizados. Porém, se desenvolvidos no contexto escolar como parte dos
conteúdos propostos na Educação Física, podem e devem fazer uma aproximação
dos anseios, desejos, interesses e significados dos sujeitos que habitam a realidade
vivida.

Nesta ótica, a GA deve ser vista como um meio para o desenvolvimento do


educando e não como um fim no gesto técnico; mais importante do que o
aprendizado de certo movimento gímnico está o processo percorrido até o
movimento possível de ser alcançado por cada praticante, as reflexões, as
descobertas, a criatividade utilizada para se chegar à experiência da cultura corporal
de movimento: o trabalho coletivo, a solidariedade, a participação, o respeito pela
individualidade, dentre outros.

4.3 Conhecendo a Ginástica Artística

A Ginástica Artística (GA) foi criada no século XIX e evoluiu bastante até
chegar aos nossos dias (NUNOMURA, 2008). Muitos ainda a conhecem como
Ginástica Olímpica (GO). A mudança de nome veio em 2006 através de uma
assembleia da Confederação Brasileira de Ginástica (NUNOMURA et al, 2009),
seguindo a definição da Federação Internacional de Ginástica (FIG), que considera
“Ginástica Olímpica” todas as modalidades incluídas no Programa Olímpico, sendo
elas Ginástica Artística Feminina e Masculina, Ginástica Rítmica e Trampolim
Acrobático (NUNOMURA; NISTA-PICCOLO, 2005).

No Brasil, a chegada da GA ocorreu com a colonização Alemã no Rio Grande


do Sul, em 1824, e foi oficializada em 1951, ano em que aconteceu o primeiro
Campeonato Brasileiro de Ginástica (PUBLIO, 2002).

Atualmente, os atletas da Ginástica Artística vêm obtendo resultados


internacionais expressivos, chegando a ganhar sua primeira medalha Olímpica com
o ouro de Arthur Zanetti nas argolas, em 2012, 05 medalhas no pan-americano de
27

2015 (bronze de Caio Souza no salto, prata por equipe no masculino e bronze no
feminino, um bronze no Individual Geral com Flávia Saraiva e um ouro nas argolas
com Arthur Zanetti). Sua exposição na mídia também aumentou, contribuindo para a
popularização do esporte e crescimento de sua presença em projetos sociais, clubes
e escolas.

A visão que a maioria das pessoas tem da GA é a de uma modalidade


esportiva competitiva, de difícil acesso, que exige especialização precoce, diversas
habilidades motoras específicas e um biotipo próprio para a sua prática. Poucos
sabem que a referida prática esportiva pode ser praticada por qualquer pessoa, de
qualquer faixa etária, peso, sexo e que tudo depende do objetivo que se deseja
alcançar (NUNOMURA et al, 2009).

Nessa perspectiva, é possível perceber a existência de divisões distintas da


Ginástica Artística, uma apresentada por Gaio (2006), outra por Sawasato e Castro
(2006) e uma por Paoliello (2011). É importante frisar que apesar da diferença de
nomenclatura utilizada pelos autores, o significado de ambos se aproxima.

Gaio (2006) divide a Ginástica em dois tipos: Ginástica competitiva,


representada pelas ginásticas consideradas esportes, estabelecidas pela Federação
Internacional de Ginástica (FIG) e Ginástica não competitiva, apontando as
atividades gímnicas pedagógicas, terapêuticas, corretivas, de condicionamento, de
apresentação, de lazer, como alguns dos diversos objetivos e interesses que podem
ser encontrados a partir da experiência em ginástica não-competitiva.

Mas seja a GA competitiva ou não, ela sempre ocasiona constantes


momentos de superação que proporcionam prazer e satisfação ao praticante. A
alegria de um ginasta de alto nível ao executar um duplo twist carpado é similar à de
uma criança que após algumas aulas aprende a executar uma estrela. Nos dois
casos há superação e desafio; assim é a GA, uma modalidade de superações e
desafios constantes e diários, pois a cada dia o praticante tem uma nova meta e a
progressão é essencial.

A GA é um esporte que ocasiona sensações atípicas, pois possui movimentos


diferentes dos realizados no dia a dia que, se forem experimentados em um
ambiente rico em estímulos, podem contribuir para um desenvolvimento ainda maior
28

da capacidade de criar e de agir corporalmente sobre determinada situação (NISTA-


PICCOLO, 2005).

Paoliello (2011) apresenta uma classificação de acordo com os campos de


atuação da ginástica: Ginásticas de Condicionamento Físico, Ginásticas de
Competição, Ginásticas Fisioterápicas, Ginásticas de Conscientização Corporal e
Ginásticas de Demonstração, com o objetivo de ampliar a compreensão desta
manifestação da cultura corporal. A intenção foi demonstrar a abrangência da
Ginástica no cenário da atividade física, ao invés de estabelecer um conceito único,
que certamente restringe o entendimento deste imenso universo.

Com relação à ótica de Sawasato e Castro (2006), um enfoque mais


abrangente pode ser dado a essa modalidade, como uma atividade física de base,
que ajuda na formação e na educação, dando continuidade à necessidade de
movimentos do ser humano, devendo ser estimulada e difundida devido a sua
importância dentro de uma perspectiva pedagógica de vivência e experiência
motora. Elas defendem e dividem a GA em dois grupos de atividade: GA – atividade
física e GA – esporte.

A GA vista com caráter de atividade física foi subdividida em: formativa,


preparação física e ao alcance de todos, pois favorece a diversidade de experiências
motoras, assim como possibilita um trabalho do corpo de forma global,
desenvolvendo as capacidades físicas, ampliando o repertório motor e possibilitando
melhora na prática de diferentes modalidades esportivas. Além disso, promove
grande satisfação pessoal, proporcionando experiências motoras, cognitivas e sócio-
afetivas por meio da utilização de materiais em situações diversificadas, o que
possibilita o enriquecimento da consciência corporal nas ações vivenciadas
individualmente e em grupo (SAWASATO; CASTRO, 2006). Em especial, crianças
na fase de conhecimento corporal só vêm beneficiando-se e auxiliando-se nas
conquistas corpóreas. A relação do aluno(a) com os colegas que estão ao seu lado
é de fundamental importância em sua vida diária, uma vez que aprende a se
socializar e compartilhar as dificuldades e acertos no processo de aprendizagem.

Tendo em vista o caráter esportivo, a GA - esporte, possui certos fatores que


colaboram para o êxito, tais como: características morfológicas, antropométricas e
29

nutricionais. A baixa estatura das ginastas de alto nível costuma ser motivo de
preconceito à modalidade, o que pode ser encarado como um mito, pois os estudos
não são conclusivos em relação à influência do treinamento de GA sobre o
crescimento e a maturação dos atletas, não existindo evidências para condenar a
prática da modalidade (TSUKAMOTO; NUNOMURA, 2005). Uma justificativa para a
baixa estatura é a seleção natural do esporte, uma vez que quanto mais baixa a
pessoa, mais seu centro de gravidade se aproxima do solo, o que facilita as
acrobacias no ar.

Além disso, o esporte de alto rendimento se caracteriza pela apresentação


precisa de altas performances de dificuldade dos elementos nas provas oficiais.
Essas provas se distinguem no feminino e masculino, sendo 6 provas para os
homens (solo, cavalo com alças, argolas, salto sobre a mesa, barras paralelas
simétricas e barra fixa) e 4 provas para as mulheres (salto sobre a mesa, barras
paralelas assimétricas, trave de equilíbrio e solo) (SAWASATO; CASTRO, 2006).

4.3.1 Ensino da Ginástica Artística na escola

A Educação Física possui um rico e diversificado conteúdo, como as diferentes


modalidades de jogos coletivos e individuais, lutas, dança e ginástica. Em cada escola
esse conteúdo é estruturado singularmente, pois sofre alterações e adaptações de
acordo com as necessidades e realidade do grupo social, porém construir um ser
humano integral é objetivo de todas elas (GAIO; BATISTA, 2006; MARCO, 2006). Ainda
assim, essa disciplina muitas vezes é vista como o binômio esporte/bola, e a pouca
utilização de outras modalidades esportivas é uma realidade. Novas propostas, que
visam não apenas a prática esportiva, mas a reflexão do aluno(a) acerca de sua
importância para uma melhor qualidade de vida e desenvolvimento devem ser
estimuladas. A conduta do profissional na área de Educação Física torna-se
fundamental nessa construção (NASCIMENTO; NOGUEIRA, 2010).

A Educação Física Escolar precisa ser compreendida, não apenas como


uma simples atividade de praticar algo, mas sim, como um componente
curricular na condição de propiciar ao aluno(a) uma aprendizagem na qual
ele possa reconhecer sua importância como qualidade de vida saudável.
Atender melhor a disposição desses conhecimentos, e na sequência, deve
fazer parte na construção do currículo escolar como prioridade;
contextualizando o conceito de saúde e suas relações com a atividade
corporal (NASCIMENTO; NOGUEIRA, 2010, p. 238).
30

Seguindo a linha de pensamento de Freire, que diz: “ensinar não é transferir


conhecimento, mas criar possibilidades para sua produção ou sua construção”
(FREIRE, 2011, p. 47), a busca é por uma Educação Física Escolar Reflexiva, que
busca um aluno(a) autônomo e crítico.

Apesar de a GA ser vista pela maior parte da população como um esporte de


difícil acesso com características próprias, como já foi mencionado, existe um grupo
de autores que procura mostrar a GA como uma cultura corporal de movimento que
deve ser aplicada nas escolas por suas enormes contribuições ao aluno(a). Essa
preocupação já era vista em Nista-Piccolo (1988), que ao realizar uma pesquisa em
escolas municipais, estaduais e particulares, buscando conhecer as dificuldades de
aplicação da ginástica nas aulas de Educação Física, encontrou as seguintes
respostas: a falta de material, o medo de acidentes e, predominantemente, o
desconhecimento dos processos pedagógicos para ensinar a ginástica foram as
alegações mais encontradas no discurso dos docentes. Politto (1998) fez a mesma
pesquisa, para verificar os resultados após dez anos. As dificuldades encontradas
pela autora foram muito semelhantes às de 1988, sendo a falta de conhecimento
dos professores a respeito da Ginástica a justificativa mais encontrada.

Schiavon e Nista-Piccolo (2007) realizaram uma pesquisa que buscou atender


diretamente os profissionais que atuam nas escolas. Para isso, além de buscar
respostas em livros, elas foram concretizá-las nas próprias aulas de GA e GR,
visando compreender e analisar tanto as dificuldades como a realidade escolar, e
encontrar alternativas viáveis para as aulas de GA e GR no ambiente da escola. As
autoras perceberam que “mais importante do que solucionar o problema de falta de
material é capacitar e trocar conhecimentos com os professores” (p. 147). Elas
reforçam que as modalidades gímnicas, em geral, não foram praticadas pelos
docentes durante a trajetória acadêmica, sendo necessário não só oferecer
conhecimentos técnicos relacionados à GA como também criar possibilidades de
transformação dos conhecimentos para as escolas, de acordo com suas realidades.

Pereira, Andrade e Cesário (2012) investigaram a produção do conhecimento


na área de Educação Física, especificamente em Ginástica, tendo como referência
as dissertações de mestrado e as teses de doutorado produzidas em nível nacional,
que se encontram disponíveis nas bases de dados da Biblioteca Digital de Teses e
31

Dissertações (BDTD), da Biblioteca Digital da UNICAMP, do Sistema de Publicação


Eletrônica de Teses e Dissertações NUTESES, e também, da Biblioteca Digital de
Teses e Dissertações da USP.

As autoras realizaram um levantamento das produções teóricas na área, bem


como a ordenação dos estudos de Ginástica produzidos e disseminados na primeira
década do século XXI. Das 49 dissertações de mestrado, 08 fazem referência a
escola e das 06 teses de doutorado, apenas 01.

Na categoria escolar, a autoras notaram a preocupação dos pesquisadores


com a questão que afeta a GA como conteúdo curricular das aulas de Educação
Física. Os estudos pesquisados defendem a GA como conteúdo relevante a ser
ensinado nas aulas de Educação Física nos diferentes níveis da educação básica.
As pesquisas ainda revelam preocupações com o desenvolvimento humano e
valores éticos. As autoras constataram a predominância de temáticas relacionadas à
saúde, fitness e esporte.

Silva e Sampaio (2012) buscaram analisar o que os estudos revelam sobre os


conteúdos trabalhados nas aulas de Educação Física no Ensino Fundamental (EF).
Tiveram como objeto de análise 24 artigos publicados em periódicos nacionais, no
período de janeiro de 1997 a junho de 2010, tendo como fonte de pesquisa as bases
de dados on-line Lilacs, Scielo, PubMed, Bireme e Google acadêmico. Concluíram
que há uma tendência monocultura corporal (esportes), limitando o acesso e
conhecimento de outras manifestações da cultura corporal do movimento.

O fato de a Ginástica Artística ser conhecida como um esporte olímpico de


alto nível de rendimento que exige especialização precoce, treinamento e dedicação
excessivos, disciplina e aprimoramento de diversas capacidades físicas objetivando
a competição, também é apontado como mais um inibidor da sua implantação nas
aulas de Educação Física Escolar, pois muitos professores ainda têm dificuldade em
perceber a ginástica além de sua forma desportivizada (AYOUB, 2003).

Schiavon e Nista-Piccolo (2006) reiteram tal perspectiva mencionando que


alguns docentes desconhecem a contribuição que os movimentos básicos da
ginástica oferecem para o desenvolvimento motor de seus alunos(as). Alguns
professores possuem “uma visão limitada e pouco criativa das possibilidades de
32

adequação dos conhecimentos gímnicos numa perspectiva pedagógica e de


vivência desses conhecimentos pelo aluno(a)” (PAOLIELLO, 2001, p. 25).

Assim, é importante ressaltar que a Educação Física, na perspectiva da


tendência pedagógica Cultura Corporal de Movimento, não tem como objetivo
ensinar o esporte e sua execução perfeita, mas sim oportunizar a vivência de
diferentes práticas corporais, ampliando o repertório motor do aluno(a) (VAGO,
2009). E para que isso seja atingido, é fundamental que o professor ofereça o
máximo de movimentos possíveis, fazendo com que a criança experimente, crie e
imite, podendo utilizá-los no dia a dia (SCHIAVON; NISTA-PICCOLO, 2006).

Segundo Schmitt et al. (2012):

Não importa o que a criança venha a ser quando adulta, ela tem que
adquirir recursos para viver com dignidade. Isso supõe oportunidades para
desenvolver a inteligência prática, a inteligência conceitual, as relações com
os outros, os sentimentos, a motricidade. (SCHMITT et al., 2012, p. 111).

Além disso, é necessário que o profissional saiba diferenciar as


características e necessidades de cada etapa do desenvolvimento humano, sabendo
dosar a intensidade dos exercícios e entendendo o aluno(a) como um todo. Em se
tratando de ações escolares, a aula deve ser preparada para o alcance de todos, de
modo que em uma turma heterogênea todos possam vivenciar o movimento
(COLETIVO DE AUTORES, 2012).

Neste sentido, é por meio da exploração dos movimentos que a criança


desenvolve a consciência de si mesma e do mundo exterior (GO TANI et al., 2005),
o que fortalece a importância de uma Educação Física Escolar que estimula
diferentes vivências.

De acordo com Leguet (1987), alguns aspectos da GA também podem ser


encontrados em outros tipos de práticas, porém, há um que é específico desta
modalidade: realizar as ações motoras num meio particular: os aparelhos. Para o
autor, os aparelhos proporcionam uma vasta possibilidade de vivência de
movimentos que auxiliam o desenvolvimento motor e psicomotor.
33

Com relação aos aparelhos, eles podem ser classificados como: oficiais,
alternativos e adaptados. Os aparelhos oficiais são estabelecidos pelas regras
oficiais do esporte.

Já os aparelhos alternativos e adaptados aumentam a possibilidade da prática


de GA, cabendo ao professor fazer as adaptações necessárias para a realidade da
sua escola.

Schiavon (2003), ao discutir a realidade escolar e os recursos materiais,


desenvolve uma proposta de materiais alternativos para a GA, a fim de melhorar o
acesso da mesma no contexto educacional, pois devido ao alto custo dos materiais
oficiais e à falta de espaço apropriado, muitos profissionais não tem a oportunidade
de utilizar este recurso, que teriam com os materiais alternativos.

Weiers, Mueller e Costa (2014, p. 1) ressaltam que o professor de Educação


Física “carece aprender as inúmeras interpretações da Ginástica e seus significados,
para poder criar novas possibilidades de expressão gímnica em suas aulas
escolares”.

Com base nos apontamentos supracitados, podemos perceber que a GA não


deve ser vista apenas como esporte, mas também como uma atividade física de
base, formativa e educativa, que faz parte da diversidade da cultura corporal inserida
no currículo da Educação Física, podendo ser mais utilizada no contexto escolar.

4.3.2 Formação de Professores de Educação Física

Pensar o processo de ensino da Ginástica Artística na escola requer debater,


no primeiro momento, o perfil do profissional de Educação Física responsável pela
referida prática pedagógica, resguardando os pressupostos da Educação Física e o
Esporte da escola, conforme apresentado nos parágrafos anteriores.

Assim, é possível afirmar que a formação continuada de professores é de


grande importância para que a referida prática pedagógica seja significativa para o
discente, pois por meio dela o professor aperfeiçoa seus conhecimentos teóricos,
suas práticas pedagógicas, valorizando os saberes presentes nos processos
educativos (CARDOSO, 2006).
34

Rosário e Darido (2005) citam alguns autores clássicos que buscam discutir
questões relacionadas à formação do profissional na área de Educação Física
Escolar: Medina (1983), Costa (1985), Carmo (1985), Moreira (1991) e Daólio (1993)
e mostram em seu estudo que apesar de terem muitos trabalhos discutindo o tema,
a formação se dá de maneira acrítica e existe uma ênfase na formação esportiva,
relacionada ao alto rendimento e à seleção dos mais habilidosos. Os professores
possuem a sua formação na perspectiva do saber fazer para ensinar.

Partindo dessa afirmativa, nos questionamos a respeito de que formação


docente queremos e o que vem a ser competência docente.

A formação docente deve ser pensada tendo o professor como ator central do
processo educativo. Não deve ser vista de modo fragmentado, “mas como um
processo e como tal não se inicia nem se esgota na formação inicial”. (CALDEIRA,
2001, p. 89).

Sabemos que as ideias, atitudes e comportamentos adquiridos no processo


de formação inicial, articulam-se e influenciam a prática profissional do docente
(CALDEIRA, 2001). Para o autor, o mesmo processo ocorre após os cursos de
formação continuada em que o aprendizado não cessa, pois possui um caráter
dinâmico.

Outro aspecto a salientar é a perspectiva que concebe a experiência cotidiana


em sala de aula como um processo formador, valorizando as experiências e
reflexões oriundas deste espaço e tempo. Portanto, a escola é um espaço
privilegiado de formação profissional e, lembrando Freire (2011) cabe ressaltar que o
homem é um ser inacabado que se constrói na sua relação com os outros homens e
com o meio em que está inserido.

Caldeira (2001) ressalta que as finalidades político-sociais da educação e do


ensino não têm sido discutidas. Os cursos de formação, de uma maneira geral, têm
se preocupado mais com o “como fazer”, esquecendo-se de discutir o mais relevante
que é o “para que ensinar”. Considerando a ótica do autor, percebemos que há uma
redução quanto o papel do professor.
35

Justo (2009, p. 113) reforça o pensamento supracitado ao dizer que “não


podemos reduzir o papel do professor apenas ao de técnico, mas precisamos
igualmente discutir questões relativas às finalidades político-sociais”. A autora
pesquisou a formação docente na perspectiva do acadêmico do curso de Educação
Física e percebeu o quanto os alunos têm dificuldade de aplicar a teoria na prática,
de organizar os conteúdos planejados no seu fazer pedagógico diário, bem como a
utilização de metodologias adequadas para a execução das práticas. Nessa
perspectiva, a autora enfatiza que transmitir conhecimento não é suficiente para
inteirar a formação para planejamento e organização dos conteúdos. Existe a
necessidade de refletir, discutir, questionar e dialogar, para pensar no futuro
profissional de Educação Física no seu papel e na sua relevância no trabalho
pedagógico dentro das escolas.

Se pensarmos na história da Educação Física, especificamente nas últimas


décadas, vamos perceber que o caráter esportivista privilegiava o “saber fazer”, em
que a maioria das vezes um bom professor era aquele que já havia sido atleta, e a
condição desta avaliação resguardava meramente o gesto técnico desportivo.

Portanto, educar para autonomia exige sensibilizar a criança, oportunizar


escolhas e propiciar momentos de construção e reinvenção de regras. Não se
formam pessoas autônomas apenas com discursos, mas sim a partir de um
ambiente que estimule trocas entre os indivíduos (SANTANA; REIS, 2010).

Fusari (1992) afirma que o conceito de competência docente apresenta cinco


aspectos essenciais: domínio competente e crítico do conteúdo a ser ensinado;
clareza dos objetivos a serem atingidos; domínio competente dos meios de
comunicação a serem utilizados para a mediação eficaz entre o aluno(a) e os
conteúdos do ensino; visão articulada do funcionamento da Escola, como um todo;
percepção nítida e crítica das complexas relações entre educação escolar e
sociedade.

O autor insiste ainda que a competência docente não é inata ("dom") e neutra,
mas sim construída e inserida num tempo e num espaço.

A competência docente é, portanto, uma elaboração histórica continuada.


Um eterno processo de desenvolvimento, no qual o educador, no cotidiano
36

do seu trabalho, no exercício consciente de sua prática social pedagógica,


vai revendo, criticamente, analisando e reorientando sua competência
("saber fazer bem"), de acordo com as exigências do momento histórico, do
trabalho pedagógico e dos seus compromissos sociais, enquanto cidadão -
profissional – educador (FUSARI, 1992, p. 27-28).

Nessa mesma linha de raciocínio Justo (2009, p. 121) ressalta que “a


construção da prática se dá por meio da teoria e das experiências que ao longo das
nossas vidas vamos adquirindo”.

Pensando nas questões apresentadas, a criação do curso proposto neste


trabalho de dissertação, visando a formação continuada em Ginástica Artística na
escola, tem como centralidade a escola e a realidade em que está inserida, portanto
não possui a pretensão de servir com um modelo único, mas como uma proposta de
ação.

Assim, o objetivo do curso proposto por esta dissertação é oferecer um


espaço de reflexão onde o professor possa pensar sobre o seu trabalho docente,
com suas demandas, dificuldades, necessidades e singularidades, visualizando a
ginástica “da” escola, como por exemplo: a ausência de materiais, de espaço, de
técnica, de habilidades dos alunos(as), dentre outros.

Acreditamos que o professor que fica satisfeito quando o aluno(a) aprende a


executar determinado movimento, está diminuindo o papel do profissional de
Educação Física. Hoje, sabemos que a disciplina vai muito além de trabalhar apenas
o gesto técnico, mas no entrelaçamento das questões cognitivas, afetivas, motora,
sociais, políticas e culturais. Portanto devemos nos preocupar com a complexidade
que envolve cada uma das dimensões supracitadas no decorrer da aula. O professor
precisa se conscientizar de que é um mediador e que é por meio de suas
interferências e direcionamentos que o aluno(a) aprende. Os diálogos e
questionamentos estimulados pelo docente fazem toda a diferença.

Nesta mesma linha Fusari (1992) e Justo (2009) reiteram que:

Os alunos(as) que têm acesso (e todos devem tê-lo) e permanecem (e


todos devem permanecer) na Escola devem, ao final de sua educação
escolar, apresentar diferenças significativas na forma de perceber e atuar
no mundo (FUSARI, 1992, p. 26).
37

A formação do Profissional de Educação Física tem que garantir a


apropriação do conhecimento, do processo pedagógico para a
compreensão, da teoria e da prática, entender porque tal jogo é importante
para aquela faixa etária e porque essa prática é significativa (JUSTO, 2009,
p. 115).

Desta maneira, a Educação Física vista como componente curricular da


escola é componente da formação para a cidadania e deve se preocupar em
oferecer subsídios para que o cidadão usufrua, conheça e desfrute da Cultura
Corporal de Movimento, “consciente de seus direitos ao lazer, a alimentação
saudável, ao hábito de práticas corporais com respeito aos próprios limites e aos dos
outros” (GASPARI et al., 2006, p. 133-134).

Pensando na problemática da formação continuada mais especificamente à


Ginástica Artística, a realidade fica ainda mais preocupante. Segundo Carbinatto et
al. (2010), das inúmeras faculdades brasileiras com graduação em Educação Física,
apenas duas delas pensaram em um curso de especialização voltado para a
Ginástica.

Apesar de o Brasil apresentar resultados significativos nos campeonatos de


GA, ainda existem muitos fatores que dificultam a popularização da prática do
referido desporto. Um dos aspectos que contribuem para a problemática enunciada
é a falta de profissionais qualificados (LUZ; MIRANDA, 2010).

Outro aspecto relevante que contribui para a discussão mencionada, é a


ambiguidade nos cursos de pós-graduação: se por um lado, o docente opta por um
curso de Educação Física Escolar, a especificidade da Ginástica Artística
desaparece diante das múltiplas possibilidades da cultura corporal de movimento, ou
seja, as várias formas de ginásticas, as diversas práticas esportivas, os inúmeros
jogos, dentre outras. Por outro lado, os cursos específicos de Ginástica Artística
contemplam a performance e o alto rendimento, deixando a escola na
marginalidade.

Schiavon e Nista-Piccolo (2007) a partir de diversos estudos (NISTA-


PICCOLO, 1988; POLITO, 1998; BARBOSA, 1999; PAOLIELLO, 2001; AYOUB,
2003) que tiveram como foco de investigação as razões da ausência da prática da
Ginástica na escola, realizaram uma pesquisa em instituições de ensino formal da
Diretoria de Ensino de Campinas (SP), para verificar até que ponto o quadro
38

diagnóstico encontrado é o mesmo desenhado pelas conclusões apresentadas


nesses estudos. O desconhecimento sobre como aplicar a Ginástica, por parte dos
professores, é a principal razão apresentada. As autoras sugerem a existência de
falhas na formação do profissional de Educação Física “relacionadas ao
conhecimento da Ginástica como um fenômeno cultural que não se limita ao aspecto
competitivo” (p. 132). Acreditam que os conteúdos gímnicos desenvolvidos na
graduação não traduzem a realidade das escolas. Ao analisarem as grades
curriculares dos cursos de Educação Física, em diferentes Faculdades, as autoras
perceberam que falta um olhar pedagógico sobre essa modalidade esportiva.

Assim, a intenção deste estudo, é propor um curso de formação continuada


para professores do Ensino Fundamental I, tendo como conteúdo principal a
Ginástica Artística, utilizando como ponto de partida a Educação Física da Escola,
compreendendo-a como uma cultura corporal de movimento, não nos interessando
apenas pelo gesto técnico, mas pela valorização do seu processo de ensino e
aprendizagem.

4.4 Ginástica da Escola, Cultura e Corporeidade

Sabemos que a noção de corporeidade rompe com a concepção moderna de


corpo (FOUCAULT, 2015), que emerge da dicotomia corpo-mente, portanto, o corpo
neste estudo é concebido a partir da noção de enação (NAJMANOVICH, 2001). O
corpo pensado nesta ótica supera o modelo linear, que supõe uma hierarquização
sujeito-objeto, “a enação permite pensar na emersão sincrônica do sujeito e do
mundo na experiência contextualizada, corporalizada e histórica” (p. 27). Partindo
desta premissa, o corpo se constitui na relação que estabelece com o ambiente, pois
o mundo não se constrói anteriormente à experiência, mas na sua relação, sujeito e
mundo se definem mutuamente. Assim, para a Najmanovich (2001), como o mundo
vivido não possui uma existência independente, pois se constitui no processo de co-
criação por estar dinamicamente em interação e configurado na
multidimensionalidade das experiências, este corpo pode ser concebido como
sujeito encarnado.

Para a autora, perceber o corpo nesta ótica requer a ruptura com a


racionalidade que compreende o corpo na perspectiva dicotômica (corpo e mente) e
39

com os modelos epistemológicos positivistas, que concebem o conhecimento como


um produto acabado, pronto para ser consumido. Esse pensamento entende que as
verdades são absolutas e divididas em parcelas menores – disciplinas – sendo
possível ensiná-las e transmiti-las independentemente uma da outra: paradigma
moderno.

Nesta perspectiva, Najmanovich (2001) propõe que o meio ambiente seja


considerado pelo contexto educativo e incidindo na maneira como o conhecimento é
produzido: “não é aquilo que está fora, e sim o que atravessa e constitui a trama da
aprendizagem” (p. 122). Nesta ótica, requer pensar nas dimensões tempo e espaço
como pontos relevantes e centrais no processo de tessitura de conhecimentos e
relações educativas.

Tavares, Ferreira e Alonso (2011, p. 42) reforçam o pensamento supracitado


ao dizerem:

[...] a Educação Física não deve organizar programas que compreendam os


indivíduos como seres dualistas, pois não pode haver uma educação
corporal sem a participação do intelecto, assim como não se pode
compreender a educação intelectual sem a participação corporal.

Diante de toda a discussão feita anteriormente (corpo segundo o olhar


foulcaultiano), é importante ressaltar que o presente estudo busca os pressupostos
teóricos estabelecidos pela Cultura Corporal de Movimento (BRACHT, 1992; VAGO,
2006) para fundar as propostas de intervenção no âmbito escolar, mais
especificamente com a Ginástica Artística.

A proposta da cultura corporal do movimento surgiu a partir dos movimentos


renovadores da Educação Física (COLETIVO DE AUTORES, 2012) na década de
1980, e a preocupação com os processos de ensino no referido campo do saber.
Seus conteúdos são os historicamente propostos pela Educação Física Escolar no
Brasil (jogos, esportes, ginásticas, danças, lutas), porém o objetivo ultrapassa as
regras, técnicas e táticas de cada conteúdo, e o que se pretende é valorizar o
contexto em que a prática acontece. Existe uma preocupação com a
contextualização dos conteúdos, bem como a sua elaboração em todas as
dimensões: conceitos, procedimentos e atitudes. “Os alunos(as) devem saber
conceitos sobre os conteúdos e também procedimentos e atitudes acerca de como
40

fazer quaisquer atividades propostas, respeitando sua individualidade e o grupo”.


(GALVÃO; RODRIGUES; NETO; 2005, p. 34)

Acreditamos que a escola deva ser concebida como um local de produção


cultural e que não devemos limitar a Educação Física a ensinar esporte, mas sim
ensinar por meio do esporte. No caso específico da Ginástica Artística, e fazendo
uma analogia ao esporte na/da escola apresentado por Vago (1999), o objetivo é
construir a ginástica da escola, aquela em que muito mais do que a execução de
certo movimento, irá valorizar o processo de aprendizagem para se chegar no
mesmo. O professor é um mediador, que incentiva a criatividade dos alunos(as) e
direciona seu caminho. Nada chega pronto, tudo é construído coletivamente.

Vago (2006) apresenta premissas para um projeto cultural de formação


humana em Educação Física, em que diz que devemos reconhecer o homem como
ser de cultura (s), reconhecer nos corpos humanos a(s) cultura(s), compreender a
escola como lugar de cultura. O autor defende a ideia de que “escola é lugar de
circular, de reinventar, de estimular, de transmitir, de produzir, enfim, de praticar
cultura” (p. 7). Partindo desse pensamento, o autor ressalta a responsabilidade
social que a escola tem de transmitir cultura a todos, devendo fazer esse movimento
em três dimensões: ao mesmo tempo em que se transmite cultura, ser crítico à
cultura e produzir a mesma.

O ensino de esporte na Educação Física não dever ser aprisionado (nem


asfixiado) a critérios como os de seleção, exclusão, performance,
rendimento, vitória, dentre outros. Critérios que não devem ter lugar na
escola, se queremos respeitar o princípio de que ela (e tudo o que nela se
pratica) é um direito (VAGO, 2006, p. 18).

Assim, o esporte que deve ser trabalhado na escola não é o esporte de


rendimento, que segue suas técnicas e regras e estimula a competição. O autor
utiliza a expressão “vontade de abrangência”, do geógrafo Milton Santos, e diz que o
desafio é superar essa monocultura do esporte na Educação Física e construir um
projeto cultural de Educação Física com “vontade de abrangência”. Ou seja, pensar
na construção de outras formas de praticar e organizar o esporte na escola, tendo
como orientação pedagógica a própria escola e seu público.
41

5 DISCUSSÃO DE RESULTADOS

Neste momento vamos nos deter na apresentação e discussão dos


resultados. Na intenção de problematizar os dados, optamos por apresentar as
questões do questionário realizado com os treze docentes, entrelaçadas às
entrevistas dos quatro professores que atuam com GA.

A primeira questão do questionário - Você já praticou ou teve algum


contato com a Ginástica artística para além do âmbito de sua formação inicial?
- tinha como propósito estabelecer uma relação entre os conteúdos ministrados
pelos docentes e sua afinidade com um determinado esporte.

Ao serem questionados se já haviam praticado ou estabelecido contato com a


Ginástica Artística obtivemos três docentes (P1, P4, P6) que haviam estabelecido
contato com a GA e dez que estiveram em contato com a referida modalidade
apenas em seu processo de formação inicial.

Dados significativos da pesquisa que se tornam necessários ressaltar são os


espaços de formação para além dos muros institucionais: vivências como atletas,
como estágio livre, telespectador. Um exemplo que evidencia tal espaço de
formação foi o relato de uma das professoras (P4) que, por intermédio da irmã, que
foi ginasta, teve a experiência de acompanhá-la em suas competições.

Outro docente revela que sua experiência com a ginástica se estabeleceu por
meio da Secretaria Municipal de Esporte e Lazer de Volta Redonda (P6), onde teve
a oportunidade de atuar como professor. Por fim, o último docente (P1) disse que
nas aulas de Educação Física em sua infância teve o conteúdo, porém apenas o
solo.

Com relação à segunda pergunta - Você trabalha com o conteúdo de


Ginástica Artística em suas aulas? - ao serem questionados sobre o uso da GA
como um conteúdo para as suas aulas, apenas quatro (P2, P3, P4, P5)
mencionaram a utilização da referida prática corporal.

Cabe ressaltar que dos quatro professores, apenas um (P4) teve contato com
a GA para além da formação inicial, conforme exposto na primeira pergunta. Os
42

docentes que disseram não utilizar a GA como conteúdo para suas aulas,
apontaram questões como a falta de conhecimento, falta de material, insegurança
com relação a acidentes e a ausência de espaço adequada para a prática da GA.

O que nos chamou atenção, nestes dados, foi o fato de que dois professores
(P1 e P6) que já haviam tido contato com a GA disseram não trabalhar o conteúdo
em suas aulas, sendo que P6 não justificou e P1 deu indícios de que já trabalhou o
conteúdo, porém atualmente não utiliza mais, apontando a organização da escola e
a burocracia para o uso do material como um entrave para o ensino da GA,
conforme explicitado nos excertos a seguir, que estão apresentados sem correções;

P1: Atualmente não, pois a burocracia para pegar os colchões, etc e o


tempo curto das aulas desanimam.

Com relação ao depoimento supracitado, percebemos uma relação de poder


emergir entre o professor e a escola (burocracia). Se para Foucault (2005, p. 9), toda
sociedade possui um discurso segundo o qual é ao “mesmo tempo controlada,
selecionada, organizada, e redistribuída por certo número de procedimentos que têm
por função conjurar seus poderes e perigos, dominar seu acontecimento, esquivar
sua pesada e temível materialidade”, a fala do professor revela pistas (GINZBURG,
1989) de um procedimento de poder: interdição.

Para Foucault (2005) o interdito decorre de um jogo, que não é estático, mas
dinâmico, pois se modifica, não se resume a uma única forma ou direção, pois o
poder circula, inclusive no interior do próprio sistema hierárquico:

Sabe-se que não se tem o direito de dizer tudo, que não se pode dizer tudo,
que não se pode falar de tudo em qualquer circunstância, que qualquer um,
enfim, não pode falar de qualquer coisa (FOUCAULT, 2005, p. 9).

Partindo do exposto, é importante salientar o jogo de poder estabelecido no


discurso do docente, pois ao mesmo tempo em que ele responsabiliza a escola pela
dificuldade de retirada do material de GA, ele se isenta da responsabilidade
mencionando o pouco tempo para aula, se considerarmos o tempo gasto com a
burocracia da escola.

Considerando o pensamento de Foucault (2005) e a narrativa do docente,


percebemos que o professor deixa na obscuridade, no não dito, a dificuldade que a
43

escola cria com as questões de ordem material e, posteriormente cita o pouco tempo
da aula para se isentar da possibilidade do uso do conteúdo GA na aula de
Educação Física.

Em entrevista os docentes que trabalham com GA explicaram porque fizeram


a escolha do conteúdo:

P3: É porque assim, eu gosto de trabalhar com a Educação Física de uma


forma bem ampla né? Sair desse foco do voleibol, handebol, basquetebol,
então eu acho que tem muita coisa a ser trabalhada que hoje em dia os
professores deixam passar. E a GA é um excelente meio de você trabalhar
vários conceitos psicomotores e como é novidade as crianças adoram. É
uma aula bem dinâmica, bem divertida, eles gostam bastante (grifos do
autor).

P4: Nessa escola foi por causa da necessidade de espaço que eu não tinha.
Então não precisava ficar correndo quando estava trabalhando com GA,
eles ficavam sentadinhos e eu ensinava o movimento que deveria ser
executado no colchonete. Eu fazia um aquecimento direitinho com eles e
depois os deixava sentadinhos e ia fazendo os educativos e mostrando,
assim eu não precisava falar tanto com eles por causa do barulho.

P5: Experiência pessoal, vivência pessoal, por reconhecer que é algo


importante, e também eu já trabalhei com musculação em academia e a
gente vê que os esportes e os jogos têm movimentos que não atendem.
Então é preciso algo localizado pra poder desenvolver o aluno(a).

Considerando as narrativas dos docentes (P3, P4 e P5), optamos por discuti-


las separadamente, por considerar a especificidade de cada resposta: O P3 revela
indícios da hegemonia dos esportes de quadra e com bola no cotidiano escolar, pois
se considerarmos que a GA é tão antiga como os esportes convencionais (voleibol,
handebol, basquetebol, futsal), a referida modalidade não deveria ser concebida
como uma novidade.

Com relação ao P4, observamos que a narrativa se aproxima do conceito de


educação da escola moderna criticado por Foucault (2015), a docente revela a
opção pela GA em decorrência da manutenção do controle corporal dos alunos(as):
ordem e disciplina.

Por fim, na narrativa de P5, fica evidenciada a relação da GA com os


pressupostos de uma tendência da Educação Física que preconiza o
condicionamento físico e não uma prática na vertente da cultura corporal de
movimento (VAGO, 2009).
44

Outro dado interessante na pergunta dois do questionário emerge da docente


P8, que revela que o conteúdo (GA) foi retirado do planejamento por falta de
material. Cabe ressaltar que esse e outros entraves são mencionados desde a
década de 1980 (NISTA-PICCOLO, 1988; POLITO, 1998), revelando a possibilidade
de construção de materiais alternativos para a referida disciplina (SCHIAVON,
2003).

A falta de material foi novamente citada na terceira questão - Quais as


maiores dificuldades encontradas para inserir esse conteúdo nas aulas? - que
teve a intenção de conhecer os entraves para a inserção da GA nas aulas de
Educação Física.

Uma resposta nos chamou a atenção, por ser divergente de todas as outras
dos demais docentes. O P2 disse não encontrar nenhuma dificuldade para inserir a
GA nas aulas. Porém, o que nos deixa inquietos é o fato do docente não explicitar
posteriormente, como desenvolve suas ações. Cabe esclarecer que o professor
referido (P2) não participou da etapa de entrevistas. Ele estava de licença médica e
não se disponibilizou.

Todos os demais docentes apresentaram questões como falta de material,


falta de conhecimento, falta de tempo, espaço inadequado, medo da não
participação dos alunos(as), falta de interesse dos alunos(as). Estas questões
também se aproximam de pesquisas realizadas anteriormente e já mencionadas
neste trabalho (NISTA-PICCOLO, 1988; POLITO, 1998).

Com relação à menção dos docentes sobre a falta de conhecimento para


atuar com a GA, é importante frisar que esse trabalho busca esse cenário como
justificativa para a elaboração do produto pretendido: curso de formação continuada
de GA.

Ao realizarmos um recorte de 26 anos - 1988 a 2015 -, por meio dos estudos


mencionados (NISTA-PICCOLO, 1988; POLITO, 1998), o que encontramos foram os
mesmos entraves. Os professores reconhecem ter pouco conhecimento, ao fazerem
referência a sua formação universitária, pois dizem que os conteúdos não foram
suficientes para prepará-los para o desenvolvimento de aulas em que a GA fosse a
centralidade.
45

Cabe ressaltar que ao longo da trajetória como docente fizemos diversos


cursos de GA como formação continuada e o cenário é contraditório, pois conforme
mencionado nos parágrafos anteriores, a GA de alto rendimento é privilegiada em
detrimento do espaço destinado a Educação Física Escolar. Isso nos estimulou a
pensar na proposta de curso voltado para a escola como produto desta dissertação.

A quarta pergunta - Sua escola possui material adequado para o ensino


da Ginástica Artística? - teve a intenção de investigar os recursos materiais de GA
disponíveis para os professores ministrarem suas aulas.

Os dados que emergem desta pergunta revelam indícios (GINZBURG, 1989)


sobre o uso do material utilizado nas aulas. Essa foi a única questão em que todos
os docentes deram a mesma resposta. Os treze professores disseram não ter
material adequado para o ensino da modalidade.

Conforme já mencionado no capítulo 6 deste trabalho, Schiavon (2003) fez


uma proposta de materiais adaptados para a prática da GA com a intenção de
diminuir a falta desse conteúdo nas aulas de Educação Física. Os materiais oficiais
tem alto custo e a confecção de materiais adaptados com objetivos similares passou
a ser uma opção interessante.

Considerando que um número significativo dos docentes que atuam com


Anos Iniciais do Ensino Fundamental não possui a possibilidade de uma formação
de GA, tendo como centralidade a escola, esse conteúdo torna-se relevante para
compor um dos módulos do curso pretendido por este trabalho.

A quinta pergunta - Marque um X nas opções que constam material


existente na escola - teve a intenção de identificar se os professores possuíam em
suas escolas materiais que não são específicos da Ginástica Artística, porém que
poderiam servir para a iniciação de um trabalho desse conteúdo nas aulas de
Educação Física.

Materiais como: corda, giz, colchonete, plinto e bambolê foram assinalados


pela maioria dos docentes e apenas um professor disse não possuir nenhum
material em suas aulas.
46

As respostas das questões quatro e cinco nos deixam com uma dúvida: a
falta de material é realmente um motivo para a exclusão da GA nas aulas de
Educação Física?

Alguns autores (SCHIAVON, 2003; SCHIAVON; NISTA-PICCOLO, 2007;


THOMMAZO, 2006) mencionam a possibilidade de trabalho desse conteúdo sem a
necessidade dos aparelhos oficiais da modalidade, pois como mencionado no
capítulo quatro (SCHIAVON, 2003), esses aparelhos oficiais são caros e podem ser
adaptados por outros materiais. Um exemplo seria a trave de equilíbrio, que pode
ser substituída por um banco sueco, pelas linhas da quadra ou por um meio fio.

Um dado interessante para o curso emergiu na sexta pergunta - Se trabalha


com GA, fale sobre as suas aulas de Educação Física e a relação com a
referida modalidade -, pois algumas respostas nos fizeram perceber, que a GA está
sendo desenvolvida apenas por intermédio do aparelho solo. Sabemos que a GA
possui os seguintes aparelhos: solo, salto sobre a mesa, paralelas simétricas e
assimétricas, cavalo com alça, argola, trave de equilíbrio e barra fixa, além, da
multiplicidade de deslocamentos, saltos e saltitos.

Diante do exposto, emergem pistas e sinais que nos servem como indícios de
conhecimentos necessários a serem desenvolvidos no produto desta dissertação
(Curso de Ginástica Artística para a escola): a GA e suas possibilidades de
intervenção e a necessidade de se considerar a perspectiva da cultura corporal de
movimento contemporizando a GA da escola. Um dado significativo são as falas dos
docentes mencionando a prática diferenciada para o ensino de GA:

P2: Aproveito para trabalhar no momento em que estou dando ênfase na


Psicomotricidade;

P3: Trabalho com movimentos simples como ponte, rolo para frente, para
trás, vela. Improviso o material [...]. Uso os mais variados como circuitos,
jogos motores e de raciocínio, linguagem, brincadeiras populares, dentre
outros...de forma lúdica.

Percebemos que os docentes que atuam com GA no município de Resende-


RJ apresentam uma diversidade em seu fazer cotidiano (CERTEAU, 2012), pois a
prática no chão da escola se apresenta de acordo com as subjetividades e as
experiências dos docentes, bem como das singularidades dos alunos(as).
47

Ao buscarmos o aprofundamento dos dados apreendidos no questionário,


percebemos que o gesto técnico não emerge como finalidade de todas as aulas. O
processo de ensino realizado caminha em direção a diferentes percursos, como por
exemplo, a Psicomotricidade e a ludicidade.

Considerando que o desenvolvimento da GA associado a Psicomotricidade


desenvolve as funções psicomotoras (esquema corporal, equilíbrio, orientação
espacial e temporal, ritmo, dentre outros), e que isso não retira do docente a
necessidade de domínio da técnica, ressaltamos que o docente ao atuar nesta
perspectiva não trabalha na ótica da performance e do alto nível (SCHIAVON;
NISTA-PICCOLO, 2006).

Portanto, ao analisar as narrativas obtidas por meio do questionário, nos


parece que os docentes rompem com a ênfase no gesto repetitivo e mecânico, por
intermédio da ludicidade. No entanto, sabendo que o questionário é um instrumento
limitador (GIL, 2009), pois não permite o aprofundamento no/do cotidiano das aulas
de Educação Física, realizamos entrevistas com os docentes (que disseram
trabalhar com GA em suas aulas) na tentativa de captar a diversidade de práticas no
modo de ensinar a GA, conforme as narrativas a seguir:

P3: No caso eu mostrava como era o movimento, depois eu fazia de dupla,


um auxiliando o outro. A ponte, com aquele movimento de puxar, a vela,
com o apoio do colega...

P4: Bom, depois de aquecidos, eu colocava os colchonetes em forma de


quadrado e deixa de dois em dois fazendo. E eu preferia que eles
ficassem sentados, esperando a vez de fazer, porque se não eles ficavam
fazendo coisas sem ajuda. E podiam se machucar...

P5: Eles fazem uma fila, fazem o rolamento, mas depois já querem fazer
outra coisa.

Os excertos da pesquisa produzidos por meio de entrevistas revelam pistas e


indícios (GINZBURG, 1989) da contradição no discurso dos docentes, se
compararmos a os dados do questionário, pois no questionário dizem que trabalham
com a ênfase na ludicidade e na psicomotricidade. Porém foi possível perceber, nas
narrativas da entrevista, que os docentes P4 e P5 se utilizam de filas, utilizando
gestos repetitivos e mecânicos, além da ausência de diversidade de atividades. Isso
não foi observando em P3, pois este docente desenvolve suas ações diversificando
48

em grupos, atividades e privilegiando a ludicidade e a cultura corporal de


movimento.

Outro aspecto importante a ser mencionado, e que emerge dos dados


produzidos na entrevista, parece justificar a contradição supracitada, pois ao
perguntarmos aos docentes sobre a satisfação dos alunos, obtivemos as seguintes
respostas:

P3: Quando eu falei que ia trabalhar com a GA, alguns meninos saíram,
disseram que isso era besteira e coisa de menina e que não iam fazer. Teve
um que foi embora, entrou na sala e ficou olhando. Aí daqui a pouco ele
voltou dizendo: tia eu quero fazer também. Se interessou... porque até
então ele não conhecia, achou que fosse coisa de menina, mas depois que
ele viu, curtiu.

P4: A maioria não. Meninas sim, meninos não. Porque eles amam
futebol, né? Mas quando eles faziam, eles gostavam, mas pra iniciar que
era complicado...”ai tia hoje não vai ter futebol não?”, aí eu falava que
mesmo que fosse ter o futebol, tinha que ter um aquecimento antes, não
pode ser assim, pra jogar futebol não pode sair sem alongar, sem aquecer
(... fazia explicação sobre a importância de aquecer contextualizando... pra
convencer os aluno(a)s). Aí quando faltavam 10 minutinhos eu os deixava
jogarem o futebol deles. Dessa forma eu os ganhava. Eu passava o
conteúdo por bimestre, do segundo ao quinto ano, era por etapa, por
exemplo: essa etapa eu vou trabalhar o vôlei, iniciação e tal, atletismo
também... então eu passava o conteúdo e no final eu dava o futebol. Se não
minha aula seria chata demais pra eles. E as meninas gostam muito de
queimada, elas são viciadas em queimada, e eu não dou sempre isso. Eu
dou tudo um pouquinho, mas o principal eu trabalho sempre no meio da
minha aula, o que eu quero.

P5: Não, eles não se interessam muito. Eles fazem porque eu peço,
fazem uma ou duas vezes e acabou. Não é uma brincadeira pra eles
ficarem 5, 10 minutos fazendo.

As contradições que buscamos salientar, a partir das narrativas, revelam as


insatisfações dos alunos diante da proposta de aula dos(as) docentes (P4 e P5), ao
mencionarem que as crianças não se interessam pelas aulas de GA. Ao contrário,
os alunos de P3 se sentem motivados com a aula da professora. Este dado
revelador da pesquisa nos leva à percepção de que um conteúdo pode se tornar
interessante ao olhar dos discentes em decorrência da forma como ele é abordado.

Outro dado que emerge das respostas dos docentes, nos encaminha para
uma questão que permeia o universo da Ginástica: as questões de gênero. As
narrativas de P3 e P4 apontam o pré-julgamento que os meninos têm com a
modalidade.
49

Tsukamoto e Knijnik (2008, p. 112) mencionam que o gênero é uma


hierarquização “determinada social e culturalmente, relacionada às expectativas que
determinados grupos sociais atribuem aos homens e às mulheres, em relação aos
papéis que devem desempenhar no dia-a-dia”.

Os autores mencionam que existe um afastamento do público masculino de


atividades que envolvam a GA:

Pois as pressões das representações de gênero sobre esta atividade são


enormes: por ser considerada socialmente uma prática feminina, o
estereótipo e mesmo o preconceito sobre os garotos que a praticam muitas
vezes os afastam da atividade – os próprios professores e professoras
muitas vezes são veículos destas posições rígidas, que refletem uma
descabida, do nosso ponto de vista, visão sobre a modalidade
(TSUKAMOTO; KNIJNIK, 2008, p. 116)

Essa questão não acontece apenas com a GA. Muitos profissionais de


Educação Física separam seus alunos(as) por gênero, algumas escolas ainda
possuem professores homens para os meninos e professoras mulheres para as
meninas e aulas completamente separadas e distintas.

Nas escolas, clubes, academias, nos centros esportivos, nas praças, e em


outros locais nos quais as práticas corporais se desenvolvem, podemos
constatar a afirmação das construções de gênero hegemônicas, anteriormente
expostas. Durante as aulas ou momentos de prática, é comum observarmos a
divisão de meninos e meninas em suas atividades, cada grupo envolvido com
aquelas que socialmente são aceitas para o seu sexo. É por meio das
atividades corporais que a construção social do gênero se manifesta de forma
viva (TSUKAMOTO; KNIJNIK, 2008, p. 113).

Se considerarmos as questões supracitadas, podemos compreender a razão


pela qual dois docentes entrevistados disseram separar os alunos(as) por gênero
(P4 e P5). Os dados apresentam pistas de que os docentes acreditam que existem
conteúdos mais apropriados para um determinado sexo ou outro, como podemos ver
nas narrativas:

P4: Eu acho isso muito difícil. Eu acho que os meninos deveriam trabalhar
mais com os professores, porque eles falam a mesma língua. Por isso
que está assim, as meninas estão muito masculinizadas, só jogam
futebol, ou só queimada, está tudo muito misturado, eles nem sabem o que
eles querem. (...)

P5: por conta da genética do desenvolvimento dos meninos, ou então se a


atividade tem um caráter educativo pros meninos o que cabe ao homem e
que cabe a menina existe a separação.
50

Outra contradição que emerge a partir das nossas percepções, e se revelam


como dados significativos da pesquisa, são os objetivos explicitados pelos docentes
quando questionados sobre qual objetivo pretendem alcançar ao trabalhar com a GA
em suas aulas.

P3: Aqueles objetivos dentro da psicomotricidade mesmo, coordenação,


equilíbrio, ritmo, tudo isso. Além de dar base pra socialização, diversão, o
lúdico.

P4: Eu queria trabalhar a coordenação, de uma forma que eles não


percebessem que estavam fazendo os exercícios. Então colocava música,
porque deixava mais agradável. A música incentiva a gente a fazer alguma
coisa.

P5: O desenvolvimento corporal, o equilíbrio, postura. Sinto uma deficiência


grande na ginastica na musculatura abdominal, o abdômen das crianças em
geral é pouco desenvolvido... e isso certamente vai refletir depois na
questão postural.

Os docentes apresentam como objetivos as seguintes ações: o


desenvolvimento motor, a psicomotricidade, o lúdico e a socialização. Assim, cabe
ressaltar que a contradição por nós percebida se revela pelo fato destes objetivos
serem comuns a meninas e meninos.

Outro dado relevante foi o fato de dois professores (P4 e P5) darem indícios
de que confundem a GA com a Ginástica Rítmica (GR), pois eles disseram, no
questionário, trabalhar a ginástica com bambolês, fazendo lançamentos e isso se
aplica a GR e não a GA. Durante a entrevista, P5 confirmou tal indício:

P5: Artística... no máximo um movimento com bambolê, de mandar um para


o outro. Artística só.

P4 mencionou movimentos específicos da GA, e em alguns momentos da


entrevista usou o termo “Ginástica Rítmica”, o que nos faz pensar que a docente não
diferencia muito as modalidades e se utiliza dos dois conteúdos simultaneamente
sem a compreensão de suas distinções.

Ainda referente à pergunta 6, outro dado relevante a ser considerado é que


durante a entrevista a professora P3 menciona que improvisa o material. Os dados
revelam tal produção:
51

P3: Por exemplo, eu coloco um colchão dobrado e depois um tatame pra


ficar com uma inclinação tipo o plinto, sabe? Aí a criança rola ali, pra frente,
pra trás, com aquela posição do rolamento, encaixa o pé, a cabeça... e
depois eu vou tirando a inclinação e eles fazem apenas com o colchão.

Segundo Daólio (2005), o fazer pedagógico emerge das experiências de vida


e em decorrência da forma como tecemos e produzimos, coletivamente, os
consumos que nos chegam. O que buscamos ressaltar é a diferença na formação
inicial e continuada de tais professores: P3 formou-se em 2009 e atualmente
desenvolve suas ações em creche; P4 formou-se em 1985 e está aposentada; P5
formou-se em 2008 e atua em uma escola de periferia de difícil acesso e com
problemas sociais significativos.

A questão 7 - Você teria interesse em participar de um curso de formação


continuada em ginástica Artística na escola? - buscou saber o interesse dos
docentes em participar de um curso de GA na escola.

Dez docentes disseram que têm interesse, dois disseram que não e um disse
que talvez, dependendo do horário proposto. A justificativa para a participação no
curso envolve desde o enriquecimento de conhecimentos, passando pela
diversidade de ações que poderia promover aos seus alunos(as), até a afinidade de
alguns docentes pela GA, chegando a dois docentes que não se interessam pelo
curso, pois estão em fase de aposentadoria, não havendo interesse em participar.

Durante a entrevista com os docentes (P3, P4, P5) os professores


demonstraram bastante interesse em participar do curso e a professora P4 que se
aposentou, disse o quanto acredita que o curso contribuirá para os docentes em
ação.

A pergunta 8 - Quais os conteúdos desenvolvidos em sua aula de


Educação Física? - parece reforçar o uso da ludicidade. 10 docentes mencionaram
atividades lúdicas como conteúdo desenvolvido. Além delas, foram citados: Futsal,
Voleibol, Handebol e Basquetebol, Atletismo, Psicomotricidade, jogos recreativos e
cooperativos, circuitos, jogos motores e de raciocínio, brincadeiras populares,
conhecimento do corpo, temas transversais, ginástica e atletismo.

Outra questão relevante a ser considerada, inclusive para elaboração do


curso, emerge do nível de escolaridade dos alunos(as). É a pergunta 9 - Os
52

conteúdos são modificados de acordo com o ano de escolaridade? -. Dos treze


professores investigados, oito docentes disseram que os conteúdos são
modificados, três disseram que não, pois o que se modifica são as atividades e não
os conteúdos e, por fim, um docente menciona que talvez, e que depende do
desenvolvimento da turma.

O Coletivo de Autores (2012) destaca a relevância social do conteúdo como


um princípio importante para o processo de seleção dos conteúdos de ensino. É
necessário compreender o sentido e o significado do mesmo para a reflexão
pedagógica escolar. Outro aspecto relevante é o da espiralidade da incorporação
das referências do pensamento, que significa que os mesmos conteúdos podem ser
aplicados em diferentes fases escolares, porém “o conhecimento (a representação
do real no pensamento) sobre eles vai se construindo à medida que as referências
do pensamento vão se ampliando” (p. 33).

Por fim, a pergunta 10 - Como você desenvolve os conteúdos e Educação


Física em sua aula? - mostrou que os docentes em sua maioria enfatizam a
ludicidade em suas aulas. Brincadeiras, atividades recreativas, jogos, atividades
lúdicas, foram citados por diversos professores. A questão dos conteúdos práticos e
teóricos foi citada por dois professores e a dinâmica da aula (aquecimento,
desenvolvimento e finalização) por um.

Contrariando ao discurso dos docentes, após a aplicação dos questionários e


das entrevistas, notamos que ao fazer referência a GA, existe uma dificuldade em
pensar na aplicação desse conteúdo de forma lúdica: o gesto técnico prevalece. Por
esse motivo um dos módulos do curso apontará atividades lúdicas para a inserção
da GA na escola.
53

6 PRODUTO: CURSO DE FORMAÇÃO CONTINUADA EM GINÁSTICA


ARTÍSTICA

Na intenção de aumentar a inserção da Ginástica Artística dentro do cotidiano


escolar, mais especificamente como conteúdo nas aulas de Educação Física
Escolar, apresentaremos como produto um Curso de Formação Continuada em
Ginástica Artística para os professores do Ensino Fundamental I. O curso terá como
conteúdo principal a Ginástica Artística, mas não somente o esporte ginástica, e sim
uma reflexão acerca do papel do esporte na Educação Física Escolar.

É relevante salientar que este trabalho busca a Cultura Corporal de


Movimento como referência no desenvolvimento das ações pedagógicas. Cabe
ainda ressaltar que tal abordagem pedagógica se compromete com a cultura, capaz
de promover a difusão e a socialização dos bens culturais.

Acreditamos que este será o grande diferencial do curso, visto que


geralmente, quando são promovidos cursos e capacitações, o que se vê são
modelos acabados que devem ser seguidos como referência, isto é, não buscam a
articulação com as necessidades e características da realidade em que serão
implementados.

Dar ênfase a uma abordagem reflexiva é fundamental, e esse tipo de trabalho


pode ser empregado a qualquer esporte aplicado nas aulas de Educação Física.
Desta forma, o curso, além de possibilitar o trabalho da GA nas aulas, amplia a visão
dos professores acerca das possibilidades dentro da EFE.

Pensar na Ginástica “da” escola é o que interessa neste momento. Uma


ginástica que não tem fim nela mesma, mas que serve como ferramenta para
objetivos maiores.

As atividades educativas foram organizadas a partir dos resultados


apresentados na pesquisa de campo (questionário e entrevista), com o objetivo de
preparar e incentivar os professores do Ensino Fundamental I a inserirem a
Ginástica Artística em seus conteúdos, mostrando a contribuição que a mesma tem
para os educandos.
54

Para que as referidas mudanças de práticas ocorram no cotidiano escolar,


mas especificamente nas aulas de Educação Física, é fundamental que haja uma
mudança nos sentidos e significados dos conteúdos, buscando uma visão que
permeie no imaginário social e busque contribuição na formação dos docentes
(TAVARES; FERREIRA; ALONSO, 2011).

6.1 Metodologia do Produto

A construção do conteúdo para a proposta de formação ocorreu mediante a


pesquisa de revisão bibliográfica e da pesquisa de campo realizada no município de
Resende-RJ, que além de garantir a fundamentação científica, buscou conhecer os
entraves apontados pelos professores para não trabalhar com a GA em suas aulas.

A partir dessa ação, foi possível identificar que os problemas apontados são
os mesmos há mais de 20 anos: a falta de material, o medo de acidentes e,
predominantemente, o desconhecimento dos processos pedagógicos para ensinar a
ginástica foram as alegações mais encontradas no discurso dos docentes (AYOUB,
2003; TOLEDO, 1999; NISTA-PICCOLO, 1988; POLITTO, 1998; PAOLIELLO, 2001;
SCHIAVON, NISTA-PICCOLO, 2006).

Os módulos do curso foram desenvolvidos a partir da identificação dos


principais problemas apontados, mas especificamente o desconhecimento dos
processos pedagógicos para ensinar a ginástica, visto que a falta de material já foi
tema de pesquisas anteriores, que já criaram um material de baixo custo objetivando
diminuir esse problema (SCHIAVON, 2003).

A intenção é mostrar que é possível trabalhar com a GA dentro das aulas de


EFE, portanto será utilizado o mínimo material possível.

Para a seleção do conteúdo da formação, foi feito um estudo a fim de definir


os objetivos, o assunto a ser contemplado, a mensagem a ser transmitida e o
público-alvo a ser atingido. Pesquisas em bases de dados foram realizadas para o
aprofundamento do conhecimento na temática abordada.

O produto final deste estudo foi uma proposta de um Curso de Formação


Continuada em Ginástica Artística para professores do Ensino Fundamental I. O
55

curso é dividido em dois módulos de 4 horas cada, totalizando uma carga horária de
8 horas e os módulos são subdivididos em etapas. O curso será ministrado no
sábado nos períodos matutino e vespertino. Segue abaixo quadro com os módulos,
suas etapas e seus respectivos objetivos.

Quadro 1 - Módulos, etapas e objetivos do curso

(4 hs)

(4 hs)

Fonte: dos autores.

6.2 Objetivo do curso

O objetivo deste curso de formação continuada em Ginástica Artística para


professores dos anos iniciais do Ensino Fundamental é ampliar os conhecimentos
dos docentes sobre o processo de ensino e aprendizagem da Ginástica Artística no
cotidiano escolar.

6.3 Justificativa

Justifica-se pela dificuldade dos docentes do Ensino Fundamental - anos


iniciais - em inserir a Ginástica Artística como um conteúdo pedagógico para a
Educação Física Escolar. Mesmo os professores que utilizam a modalidade como
56

conteúdo possuem dificuldade em transmiti-la de forma lúdica e o gesto técnico


acaba prevalecendo, desestimulando os alunos nas aulas e reduzindo o papel da
referida cultura corporal dentro das aulas. Torna-se importante por oferecer um
espaço de reflexão onde o professor possa pensar sobre o seu trabalho docente,
com suas demandas, dificuldades, necessidades e singularidades, visualizando a
ginástica “da” escola, como por exemplo, a ausência de materiais, de espaço, de
técnica, de habilidades dos alunos(as), dentre outros. É uma ação de intervenção
pedagógica, que concebe a GA como um conteúdo possível, relevante e aplicável
nas aulas de Educação Física Escolar.

6.4 Público-alvo

Docentes do Ensino Fundamental – anos iniciais.

6.5 Materiais didáticos

6.5.1 Livro eletrônico

O livro eletrônico é um material didático de apoio que serve tanto para o


docente que ministrará o curso quanto para o discente que fará o curso.

6.5.2 Slides

Os slides servem para o docente que ministrará o curso. Auxiliam no


desenvolvimento, direcionando a ordem dos conteúdos.
57

7 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Considerando o debate estabelecido entre os autores em relação às questões


do corpo, da Educação Física Escolar, da Ginástica Artística como um possível
conteúdo para o referido espaço, bem como a formação continuada para docentes
que atuam nos Anos Iniciais do Ensino Fundamental, e em decorrência, a pesquisa
de campo, realizada com a rede de Ensino Fundamental do município de Resende,
foi possível constatar que após discutir as relações entre o corpo, a Educação Física
e a escola, percebemos que a crítica de Foucault (1987) a escola moderna, que
confere às instituições escolares uma configuração a partir de condutas de vigilância
e adestramento do corpo, concebendo o homem como um objeto, podendo ser
moldado, modificado e docilizado, ainda é uma critica atual, pois tais instituições
educativas dispõem dos dispositivos de poder e disciplina. A referida ótica de
controle propicia uma proposta pedagógica na Educação Física que privilegia a
técnica como um produto acabado: a Educação Física na Escola. A consequência
deste modelo acaba por impactar negativamente na GA, promovendo um esporte
em busca de resultados, colocando à margem professores e alunos(as) que não
possuem as referidas habilidades e conhecimentos.

Assim, o trabalho procurou outra perspectiva de intervenção pedagógica, que


concebe uma Educação Física forjada em outros parâmetros: as demandas dos
alunos(as), as necessidades locais, o interesse dos praticantes e suas
possibilidades, em suma, uma Educação Física da Escola. Portanto, concordamos
com Romani e Rajobac (2012), que buscam tematizar o lugar do corpo nos
processos educacionais na atualidade para além dos processos disciplinares e
controladores, de forma a pensar uma educação do corpo centrada na
expressividade, sensibilidade, liberdade e criatividade necessárias ao
desenvolvimento integral dos educandos, aproximando-se da Educação Física da
Escola, conforme proposto nessa dissertação.

Nesta direção, é relevante salientar que buscamos um caminho que nos


aproxime de uma GA da Escola, que contemple as possibilidades de movimentos
dos alunos(as), bem como as necessidades de recursos materiais e instalações da
escola.
58

Por fim, cabe considerar que a pesquisa de campo revela que em uma rede
municipal de ensino, com um número significativo de docentes e discentes, é
possível realizar trabalhos a partir da GA, pois visibilizamos relatos de docentes que
mencionam o desenvolvimento de tais ações educativas apesar de todas as
dificuldades encontradas: desde a ausência de recursos materiais, passando pelas
instalações precárias, até a falta de formação específica para GA, o que nos permite
afirmar que o produto proposto - Curso de Formação Continuada em Ginástica
Artística para os Anos Iniciais do Ensino Fundamental - atende às demandas dos
profissionais que almejam desenvolver ações educativas com a modalidade
esportiva preconizada nos níveis de escolaridade mencionado - Anos Iniciais.
59

8 CONTRIBUIÇÕES DO ESTUDO

Esse trabalho é um ponto de partida na busca da inserção da Ginástica


Artística de forma significativa nas aulas de Educação Física Escolar. Ensejamos
que esta estratégia de ensino seja utilizada por outros profissionais. O curso será
disseminado em ambientes de ensino de Educação Física a partir de propostas em
redes de ensino municipal e privada, publicações em eventos, entre outros.
Acreditamos que com a aplicação do curso novas ideias apareçam, permitindo o
aprimoramento do trabalho, assim como novas pesquisas. Pretende-se que o
trabalho atual seja utilizado por professores de Educação Física que atuam no
Ensino Fundamental – anos iniciais, ampliando os conhecimentos dos docentes
sobre o processo de ensino e aprendizagem da Ginástica Artística no cotidiano
escolar.

Cabe ressaltar, como já foi mencionado no capítulo 7, que a formação não


cessa, ou seja, o curso aqui pretendido serve como um estímulo para que os
docentes se sintam encorajados a trabalhar com a GA nas aulas de EFE. A partir
dessa ação, novos conhecimentos serão adquiridos e a formação será sempre
contínua, realizada através de cursos e de experiências e vivências profissionais.
60

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66

APÊNDICE A

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO (TCLE)

Comitê de Ética em Pesquisa em Seres Humanos – CoEPS/UniFOA

1- Identificação do responsável pela execução da pesquisa:

Título do Projeto: ENSINO DA GINÁSTICA ARTÍSTICA NO COTIDIANO


ESCOLAR: PROPOSTA DE FORMAÇÃO CONTINUADA PARA PROFESSORES

Coordenador do Projeto: Thais Vinciprova Chiesse de Andrade

Telefones de contato do Coordenador do Projeto: (24) 98817-4971

Endereço do Comitê de Ética em Pesquisa: UniFOA - Campus Universitário


Olezio Galott i- Prédio 1 – Av. Paulo Erlei Alves Abrantes, nº 1325, Três Poços, Volta
Redonda- RJ. CEP: 27240-560 ou pelo telefone 3340-8400, ramal 8540.

2- Informações ao participante ou responsável:

(a) Você está sendo convidado a participar de uma pesquisa que tem como
Objetivo Geral: Compreender o desenvolvimento das práticas pedagógicas, mais
especificamente em relação a Ginástica Artística, na rede Municipal de ensino em
Resende. E, em decorrência, propõe desdobrar-se nas seguintes ações específicas:
- Realizar levantamento bibliográfico referente a GA na escola nos últimos dez anos;
Investigar o ensino da GA nas aulas de Educação Física no município de Resende;
Identificar as principais dificuldades dos professores de Educação Física no ensino
da GA no município investigado.

(b) Antes de aceitar participar da pesquisa, leia atentamente as explicações abaixo


que informam sobre o procedimento de coleta de dados:

• Serão aplicados como instrumentos de coleta de dados um questionário com


perguntas fechadas e abertas (semiestruturadas) sobre o processo ensino-
aprendizagem e seus desdobramentos.
67

(c) Você poderá recusar a participar da pesquisa e poderá abandonar o


procedimento em qualquer momento, sem nenhuma penalização ou prejuízo.
Durante o procedimento de preenchimento do questionário, você poderá recusar a
responder qualquer pergunta que por ventura lhe causar algum constrangimento.

(d) A sua participação como voluntário, não auferirá nenhum privilégio, seja ele de
caráter financeiro ou de qualquer natureza, podendo se retirar do projeto em
qualquer momento sem prejuízo a V.Sa.

(e) A participação na pesquisa não envolve nenhum risco a sua integridade física ou
moral.

(f) Serão garantidos o sigilo e privacidade, sendo reservado ao participante ou seu


responsável o direito de omissão de sua identificação ou de dados que possam
comprometê-lo.

(g) Na apresentação dos resultados não serão citados os nomes dos participantes.

(h) Confirmo ter conhecimento do conteúdo deste termo. A minha assinatura abaixo
indica que concordo em participar desta pesquisa e por isso dou meu
consentimento.

Resende, _____de ___________________ de 2015.

Participante: _________________________________________________
68

APÊNDICE B

FUNDAÇÃO OSWALDO ARANHA


CENTRO UNIVERSITÁRIO DE VOLTA REDONDA
PRÓ-REITORIA DE PESQUISA PÓS-GRADUAÇÃO E EXTENSÃO
MESTRADO PROFISSIONAL EM ENSINO EM CIÊNCIAS DA SAÚDE
E DO MEIO AMBIENTE

QUESTIONÁRIO DE PESQUISA

Prezado (a) Professor (a), este questionário destina-se a uma pesquisa de


cunho acadêmico-científico, para elaboração da dissertação de Mestrado
Profissional em Ensino da Saúde e do Meio Ambiente da professora Thais
Vinciprova Chiesse de Andrade. O referido instrumento visa investigar a realidade da
ginástica artística como conteúdo nas aulas de Educação Física no município de
Resende.

A sua participação é muito importante para a realização completa da


pesquisa.

Dados do professor

Sexo
( ) Masculino
( ) Feminino

Idade _______

Tempo de formado ________


Graduação:
Pós Graduação:
69

Questionário

1. Você já praticou ou já teve algum contato com a Ginástica Artística fora a


Faculdade?

( ) Sim

( ) Não

Justifique:

__________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________

2. Você trabalha o conteúdo Ginástica Artística em suas aulas?

( ) Sim

( ) Não

Justifique:

__________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________

3. Quais as maiores dificuldades encontradas para inserir esse conteúdo nas


aulas?

__________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________
70

4. Sua escola possui material adequado para o ensino da ginástica artística?

( ) sim

( ) não

Quais?
__________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________

5. Marque um X no parêntese em que conte material existente na escola

( ) Corda

( ) Giz

( ) Colchonete

( ) Banco sueco

( ) Plinto

( ) Bambolê

( )Outros

6. Se trabalha com GA, fale sobre as suas aulas de Educação Física e a relação
com a GA.

__________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________

7. Você teria interesse em participar de um curso de formação continuada em


Ginástica Artística na escola?

( ) Sim

( ) Não
71

Justifique:
__________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________

8. Quais os conteúdos desenvolvidos em sua aula de EF?

__________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________

9. Os conteúdos são modificados de acordo com o ano de escolaridade?

__________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________

10. Como você desenvolve os conteúdos de EF em sua aula?

__________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________
72

APENDICE C

TERMO DE CONSENTIMENTO INFORMADO

Declaro que estou informado de que este questionário se refere à pesquisa


elaborada pela mestranda Thais Vinciprova Chiesse de Andrade, para preparo de
sua dissertação de mestrado profissional em ensino da ciência da saúde e do meio
ambiente junto ao Centro Universitário de Volta Redonda - UniFOA, pelo que estou
datando e assinando este Termo de autorização, inclusive para a publicação dos
resultados deste seu trabalho.

Data:_____/_____/_______

_________________________________________
Assinatura
73

APENDICE D

ROTEIRO DE ENTREVISTA

1. Qual a escola em que você atua?


2. Quantas turmas você possui na escola?
3. Quantos alunos em média por turma?
4. As aulas são mistas?
5. Como é a dinâmica da sua aula?
6. Como você escolhe os conteúdos para suas aulas de Educação Física? Existe
um planejamento da Secretaria de Educação?
7. Fale-me como você ensina os movimentos de ginástica Artística.
8. Ao trabalhar com a GA, qual o objetivo que você pretende atingir com as
crianças?
9. O que te levou a trabalhar com a GA?
10. Você desenvolve suas aulas a partir de qual abordagem da EF?
11. Explique como você estabelece essa relação de modo concreto em suas aulas.
74

ANEXO A
75
76

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