LIVRO - Fisioterapia Na Saude Da Mulher
LIVRO - Fisioterapia Na Saude Da Mulher
LIVRO - Fisioterapia Na Saude Da Mulher
saúde da mulher
Adélia Correia Lúcio Girardi
Gabriela Carolina Carozi Cristofani Maioral
© 2019 por Editora e Distribuidora Educacional S.A.
Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida
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Presidente
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Conselho Acadêmico
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Danielly Nunes Andrade Noé
Grasiele Aparecida Lourenço
Isabel Cristina Chagas Barbin
Thatiane Cristina dos Santos de Carvalho Ribeiro
Revisão Técnica
Roberta de Melo Roiz
Silvana Pasetto
Editorial
Elmir Carvalho da Silva (Coordenador)
Renata Jéssica Galdino (Coordenadora)
ISBN 978-85-522-1393-2
2019
Editora e Distribuidora Educacional S.A.
Avenida Paris, 675 – Parque Residencial João Piza
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e-mail: editora.educacional@kroton.com.br
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Sumário
Unidade 1
Fisioterapia em uroginecologia e disfunções pélvicas femininas�������� 7
Seção 1.1
Disfunções pélvicas e urinárias na mulher.................................. 9
Seção 1.2
Avaliação fisioterapêutica nas disfunções pélvicas e urinárias
na mulher�������������������������������������������������������������������������������������� 21
Avaliação Fisioterapêutica na Saúde da Mulher....................... 22
Seção 1.3
Reabilitação das disfunções pélvicas em uroginecologia������� 33
Unidade 2
Fisioterapia na gestação, parto e pós-parto����������������������������������������� 49
Seção 2.1
Fisiologia e fisiopatologia na gestação�������������������������������������� 51
Seção 2.2
Avaliação e atuação fisioterapêutica na gestação��������������������� 61
Seção 2.3
Avaliação e atuação fisioterapêutica no trabalho de parto e
puerpério�������������������������������������������������������������������������������������� 72
Unidade 3
Fisioterapia em mastologia������������������������������������������������������������������� 88
Seção 3.1
Câncer de mama�������������������������������������������������������������������������� 90
Seção 3.2
Avaliação fisioterapêutica em mastectomia���������������������������107
Seção 3.3
Conduta fisioterapêutica no pós-operatório da mastectomia
������������������������������������������������������������������������������������������������������121
Unidade 4
Fisioterapia no climatério e qualidade de vida na saúde da mulher
����������������������������������������������������������������������������������������������������������������138
Seção 4.1
Climatério�����������������������������������������������������������������������������������140
Seção 4.2
Abordagem fisioterapêutica no climatério�����������������������������154
Seção 4.3
Qualidade de vida e saúde da mulher�������������������������������������171
Palavras do autor
A
lgumas singularidades no corpo da mulher – como a gestação, o parto
e a anatomia feminina – fizeram surgir uma área de estudo chamada
“Ciências da Saúde da Mulher”, e a fisioterapia faz parte desta ciência
como opção de tratamento conservador na promoção à saúde feminina. Esta
área da fisioterapia teve início com o tratamento de disfunções urinárias após
o parto – ficando a área de trabalho voltada somente para a região genital –,
porém o campo de atuação se expandiu e hoje abrange um contingente extenso
de técnicas voltadas para todo o corpo da mulher, como a diminuição dos
desconfortos musculoesqueléticos, que podem ser causados pela gestação, a
preparação para o parto, a atenção ao pós-cirúrgico oncológico, além da área
de estética. Os conceitos que você aprenderá nesta disciplina vão prepará-lo
para os mais diferentes locais de atuação que esta área engloba, como mater-
nidades, centros obstétricos e atendimentos ambulatoriais, e vão auxiliá-lo a
conhecer e atuar nas principais disfunções urinárias e pélvicas da saúde da
mulher, bem como nas formas de prevenção e promoção da saúde no ciclo
gravídico-puerperal, atuação em pacientes em tratamento para o câncer de
mama e alterações dermatofuncionais. Para atingir esses objetivos, a Unidade 1
abordará conceitos relacionados às principais disfunções pélvicas que atingem
as mulheres, e ao final desta unidade você será capaz de classificar, avaliar
e lançar mão de recursos fisioterapêuticos para tratar essas alterações. Na
Unidade 2, você aprenderá como atender uma mulher em todo o ciclo graví-
dico-puerperal, entendendo que a mulher grávida está sob a ação de diversos
hormônios gestacionais, além de apresentar mudanças anatômicas que devem
ser consideradas na prescrição de exercícios a ela. Além disso, você aprenderá
a proporcionar bem-estar físico durante o parto normal e a promover saúde
no puerpério, que é o período vivido pela mulher após o parto. A Unidade 3
vai lhe apresentar conceitos sobre câncer de mama, e então você aprenderá a
avaliar e tratar as pacientes submetidas à cirurgia para remoção da mama. Na
Unidade 4, você aprenderá sobre como avaliar e tratar alterações dermatofun-
cionais nas mulheres. Portanto, querido aluno, bem-vindo a esta cativante e
importante área da fisioterapia. Espero que mais esta etapa da sua formação
profissional seja uma jornada prazerosa. Vamos começar!
Unidade 1
Convite ao estudo
Prezado aluno, nesta unidade você iniciará seus estudos na área de
fisioterapia na saúde da mulher. As disfunções que serão aqui apresentadas
estão relacionadas ao funcionamento incorreto dos músculos do assoalho
pélvico que serão chamados durante toda a unidade de MAP. Você conse-
guirá entender a importância do treinamento dos MAP nas mulheres e quais
recursos fisioterapêuticos poderão ajudá-lo a tratar estas mulheres. Após o
estudo dessas seções, você olhará com outros olhos mulheres que reclamam
de “bexiga solta” ou “bexiga caída” e vai entender que não somente as famosas
cirurgias de períneo são necessárias para resolver estas queixas, mas que a
fisioterapia tem uma contribuição muito importante nesse cenário. Além
disso, você será capaz de conhecer e atuar nas principais disfunções urinárias
e pélvicas da saúde da mulher, conhecerá a fisiopatologia da IU feminina e
prolapsos dos órgãos pélvicos e se sentirá confortável em avaliar e traçar um
plano de tratamento para estas mulheres.
Para início do nosso estudo nesta área e auxílio da compreensão dos
conteúdos teóricos, teremos uma situação hipotética. Dona Mariana, 59
anos, foi encaminhada para o serviço de fisioterapia do centro de especiali-
dades médicas da prefeitura de sua cidade. O fisioterapeuta eleito pelo setor
para ser o responsável pela avaliação e tratamento da paciente foi você. A
primeira pergunta que você faz à paciente é o que a levou a procurar o serviço
de fisioterapia. E, então, a paciente começa a contar sua história: “Doutor,
há 15 anos, após o nascimento da minha filha mais nova, percebi que todas
as vezes que eu tossia, espirrava ou dava uma gargalhada, saiam algumas
gotinhas de urina, sendo que algumas vezes até precisei trocar minha roupa
íntima por conta disso. Durante esses 15 anos percebi que os escapes de urina
começaram a ser cada vez mais frequentes e ocorriam com mais facilidade,
até que hoje em dia chego a perder urina até quando estou andando e quando
passo da posição sentada para em pé. Há cerca de um ano comecei a sentir
uma sensação de peso na vagina e quando olhei meu órgão genital com um
espelho percebi a presença de uma bolinha bem na entrada. Outra situação
que me deixa muito incomodada é o fato de eu ter uma vontade repentina de
urinar, sem aviso prévio, sabe? E se não houver banheiros disponíveis onde
eu estou, eu acabo perdendo toda a urina na roupa. Por conta disso estou
evitando sair de casa, pois não tenho garantia de que os locais que irei terão
banheiros ou que eu poderei usá-los prontamente”. Claramente a qualidade
de vida de Dona Mariana está prejudicada pelas disfunções relatadas por ela.
Pensando nesse contexto, você se perguntaria: qual o tipo de incontinência
urinária apresentada por ela? Como realizar a avaliação de uma paciente
incontinente? Quais as técnicas fisioterapêuticas mais adequadas para o
tratamento de Dona Mariana?
Para que você possa compreender todo o contexto que envolve a urogi-
necologia e as disfunções pélvicas femininas, nessa unidade você aprenderá
sobre as disfunções pélvicas e urinárias, avaliação fisioterapêutica nas disfun-
ções pélvicas e urinárias e a reabilitação das disfunções pélvicas em urogine-
cologia. Vamos começar?
Seção 1.1
Diálogo aberto
Você deve estar relembrando conceitos estudados nas disciplinas
Cinesioterapia Aplicada, Recursos Terapêuticos Manuais e Recursos
Terapêuticos Bioelétricos/Térmicos/Mecânicos para tentar responder à
pergunta que lhe foi feita no Convite ao estudo, e você está no caminho
certo. A escolha do tratamento deve ser refletida, e os recursos fisiotera-
pêuticos, selecionados com cautela para atender às necessidades de seu
paciente. Vamos retomar a situação hipotética de Dona Mariana: você se
lembra de que ela se queixou de incontinência urinária e o quanto isso
a estava prejudicando. Percebendo o quanto esta paciente estava incomo-
dada em relatar sua história, você resolve interrompê-la para, na tentativa
de fazê-la se sentir mais confortável, explicar sobre a anatomia e função
dos músculos do assoalho pélvico (MAP) e sistema urinário, afinal você
aprendeu o quanto é importante para o sucesso do tratamento o conhe-
cimento, por parte da paciente, das estruturas que estão envolvidas nos
sintomas apresentados por ela. Ao final da sua explicação a paciente lhe
pergunta qual a relação do enfraquecimento dos MAP com as perdas de
urina que apresenta quando se esforça e com essa sensação de peso na
vagina. Qual seria sua explicação para ela?
Para que você inicie a construção do conhecimento em saúde da mulher
e compreenda as disfunções pélvicas e urinárias, abordaremos a anatomia e
fisiologia do sistema genitourinário feminino, fisiopatologia da incontinência
urinária feminina, incontinência urinária de esforço, bexiga hiperativa e neuro-
gênica e, por fim, prolapsos dos órgãos pélvicos. Esses assuntos são primordiais
para que você realize uma avaliação fisioterapêutica de excelência e, conse-
quentemente, uma conduta fisioterapêutica ideal. Bons estudos!
Túber isquiático
Reto
Espinha isquiática
Fonte: iStock.
Orifícios
Ureterais
Músculo Músculo
Detrusor Detrusor
Urina Relaxado Urina Contraído
Esfíncter Esfíncter
urinário urinário
contraído relaxado
Centro pontino
da micção
Simpático
Região
torácica
Nervo hipogástricos
Região
sacral S2-S4
Nervo pélvico
Parassimpático
Nervo pudendo
Somático
Reflita
Preste atenção ao parágrafo que versa sobre a contração dos MAP inibir a
atividade da bexiga. Alguma vez você já pensou que o funcionamento de
algum músculo do corpo poderia influenciar o funcionamento de um órgão?
Assimile
Tendo a compreensão de que os MAP trabalham ativamente nas fases
de micção e que, estando no assoalho da pelve, fazem a sustentação dos
órgãos pélvicos, fica fácil assimilar as consequências decorrentes de seu
enfraquecimento e mau funcionamento.
Esforço
Bexiga Bexiga
Exemplificando
Você se já ouviu a expressão “rir até fazer xixi”? Esta expressão exempli-
fica o quanto a incontinência urinária de esforço está presente no nosso
dia a dia, pois a pessoa que perdeu urina porque riu apresenta inconti-
nência urinária de esforço. É importante lembrar que nunca é normal
perder urina, nem em pequena quantidade.
Descrição da situação-problema
Valéria, 27 anos, é sua amiga. Certo dia, ela a convida para tomar um café
e, sabendo que sua área de atuação é fisioterapia na saúde da mulher, decide
se abrir com você sobre algo que a tem incomodado muito. Ela começou a
praticar crossfit e, em alguns exercícios, ela perde urina; disse que usa absor-
vente durante as aulas e que, ao final, ele está molhado. Ela pensa em parar a
prática de exercícios físicos, pois este fato é algo que a tem constrangido muito.
Então, ela pergunta se você tem alguma ideia do que está acontecendo com ela.
Explique para Valéria o tipo de incontinência urinária que ela apresenta e
porque isto está acontecendo.
Resolução da situação-problema
Valéria apresenta incontinência urinária de esforço. Este tipo de inconti-
nência urinária ocorre porque esforços físicos, no geral, causam aumento da
pressão intra-abdominal, levando ao aumento de pressão na parte externa
da bexiga, empurrando urina em direção à uretra. Se os esfíncteres uretrais
interno e externo não estiverem colabados o suficiente para suportar esta
pressão exercida, a perda urinária ocorre.
Assinale a alternativa correta em que o músculo listado faz parte do grupo muscular
levantador do ânus.
a) Pubococcígeo.
b) Bulboesponjoso.
c) Isquiocavernoso.
d) Coccígeo.
e) Piriforme.
Após análise das afirmativas sobre o funcionamento dos MAP e disfunções causadas
pelo seu funcionamento inadequado, é correto apenas o que se afirma em:
Diálogo aberto
Caro aluno, agora que você já sabe a fisiopatologia das principais disfun-
ções pélvicas, chegou a hora de aprender a avaliá-las. Nesta sessão, você
aprenderá a entrevistar sua paciente extraindo o máximo de informações,
depois verá como realizar uma avaliação física acurada que vai ajudá-lo
não somente a traçar o melhor tratamento como também a acompanhar o
efeito do seu tratamento pela comparação com a avaliação final. Para que
você possa entender como será realizada esta avaliação, vamos retomar o
caso hipotético de dona Mariana, que chegou ao seu setor queixando-se
de perda urinária, sintomas de prolapso de órgãos pélvicos e com a quali-
dade de vida bem prejudicada por esta situação. Ao analisar o prontuário da
paciente, você percebeu que o médico, recentemente, havia solicitado o teste
do absorvente de 24 horas, cujo resultado foi de 84 gramas. Ela também já
havia realizado o diário miccional de três dias, cujo resultado da frequência
média foi: urgência miccional, quatro vezes; urge-incontinência, duas vezes;
frequência urinária, 12.5 vezes; noctúria, três vezes, e os seguintes volumes
urinados: mínimo - 50 ml, médio – 233.3 ml e máximo, 400 ml. Ao continuar
a anamnese, a paciente também relata enurese noturna esporádica, sensação
de esvaziamento incompleto, continência de fezes e gases, porém com consti-
pação. Finalizando a história pregressa, você explica para a paciente que
realizará uma avaliação física e que, para isto, ela deverá despir-se da cintura
para baixo, cobrir a região pélvica com um lençol e deitar-se na maca. Diante
do quadro de dona Mariana, como você realizará a inspeção e a avaliação
funcional dos músculos do assoalho pélvico (MAP)?
Para responder a esta pergunta, nesta seção você conhecerá mais aspectos
da avaliação da mulher com disfunções pélvicas e urinárias, e para isso é
importante que você continue sua leitura nesta interessante seção que foi
preparada pensando em enriquecer seu conhecimento. Bons estudos!
Exemplificando
Observe o resultado desta avaliação funcional dos MAP: reflexos
de tosse, bulbocavernoso e anal superficial presentes, P-3, E-5, R-7,
F-4; Tônus +1.
Esta avaliação indica que esta paciente apresenta integridade
neurológica na região, força dos MAP grau 3, consegue segurar
essa força por 5 segundos, realizou 7 contrações segurando a força
por 5 segundos, realizou 4 contrações rápidas e apresenta tônus
levemente aumentado.
Assimile
Fica a critério do fisioterapeuta classificar o grau de incontinência
urinária do teste do absorvente de uma ou 24 horas que será apresen-
tado a seguir. Caso você queira ser mais detalhista nesta avaliação,
poderá classificar a incontinência em leve, se o valor obtido variar de 1,3
a 20 gramas; moderada, se o valor variar de 21 a 74 gramas; ou severa,
se o valor obtido for igual ou maior do que 75 gramas.
Estágio Descrição
0 Ausência de prolapso
I O ponto de maior prolapso está localizado até 1 cm acima do hímen (- 1 cm)
O ponto de maior prolapso está entre 1 cm acima e 1 cm abaixo do hímen
II
( -1 cm a + 1 cm)
O ponto de maior prolapso está entre 1 cm abaixo do hímen (+ 1 cm), porém
III
não se desloca mais do que o comprimento da vagina menos 2 cm
Inversão completa – O ponto de maior prolapso desloca-se no
IV
mínimo, o comprimento total da vagina menos 2 cm.”
Fonte: Palma et al. (2014, p. 395).
Avançando na prática
Colocando em prática seus conhecimentos sobre
diário miccional e teste do absorvente
Descrição da situação-problema
Ana, 50 anos, é uma paciente que retorna ao seu consultório com os testes que
você solicitou na avaliação na semana anterior e, como ela apresentou sintomas de
bexiga hiperativa, você solicitou o teste do absorvente e o diário miccional de três
dias. A média dos três dias do diário mostrou frequência urinária de 11.3, urgência
urinária de cinco vezes, urge-incontinência de cinco vezes, volume mínimo
urinado de 30 ml, volume médio 250 ml e máximo de 450 ml. Qual teste do absor-
vente seria ideal para o caso de Ana e por quê? Interprete os resultados do diário
miccional comparando com valores normais.
Resolução da situação-problema
O teste do absorvente ideal para o caso de Ana seria o de 24 horas, por ela
apresentar urge-incontinência e, como não se sabe a hora que a urgência aconte-
cerá, o ideal é um teste realizado durante as atividades de vida diária dela.
No diário miccional, Ana apresenta frequência urinária aumentada e o
ideal é que o número de micções/dia fosse no máximo de oito vezes. Ela
também apresenta urgência e urge-incontinência, e o ideal seria que não
apresentasse esses sintomas. O volume mínimo urinado de 30 ml aponta
para alguma anormalidade, pois a capacidade normal da bexiga varia de
350 a 550 ml e o desejo miccional com apenas 30 ml pode estar relacionado
com a presença de urgência urinária. O volume máximo urinado de 450 ml
mostra que a capacidade normal da bexiga está preservada.
Após análise das afirmativas sobre a avaliação dos prolapsos de órgãos pélvicos, é
correto apenas o que se afirma em:
a) V-F-V.
b) F-F-F.
c) F-V-F.
d) V-V-V.
e) V-V-F.
Diálogo aberto
Querido aluno, parabéns por ter chegado até a última seção da Unidade
1! Olhe para trás e veja o quanto seu conhecimento cresceu desde que
começou o estudo desta unidade. Nesta seção você aprenderá sobre como se
faz o treinamento dos músculos do assoalho pélvico, com ou sem o uso de
biofeedback; exercícios para uroginecologia e disfunções pélvicas femininas;
mudanças comportamentais e no estilo de vida; e sobre a eletroestimulação.
Portanto, você aprenderá a traçar um plano de tratamento para as disfunções
pélvicas que aprendeu. Para ajudá-lo a fazer uma conexão entre a avaliação
e o plano de tratamento vamos retomar o caso hipotético de dona Mariana,
que procurou tratamento fisioterapêutico queixando-se de incontinência
urinária de esforço, sensação de presença de prolapso e urgência urinária.
Ao ler o prontuário dela você observou os registros do diário miccional
que, além da urgência e urge-incontinência já relatadas, também apresentou
frequência urinária aumentada, noctúria e volumes urinados abaixo da capaci-
dade vesical normal. Na avaliação funcional dos músculos do assoalho pélvico
(MAP) a paciente apresentou P-1, E-0, R-2, F-0, segundo o esquema PERFECT,
tônus grau 0 e relaxamento total dos músculos após tentativa de contração
voluntária máxima, além de apresentar cistocele grau 2 durante manobra de
valsalva. Em seu plano de tratamento você decide usar os seguintes recursos
fisioterapêuticos para esta paciente: eletroestimulação intravaginal, mudanças
comportamentais, treinamento dos MAP e fortalecimento da cintura pélvica.
Quais parâmetros de eletroestimulação você escolherá no tratamento desta
paciente? Quais mudanças comportamentais serão essenciais para esta paciente
diante de todo o quadro relatado por ela e demonstrado no diário miccional?
Esta seção foi desenvolvida para te ajudar a responder essas perguntas!
Desejamos-lhe uma boa leitura e que esta seção ajude-o a enriquecer seus
conhecimentos nesta área tão fascinante que é a área de saúde da mulher!
Biofeedback
A consciência da contração Figura 1.10 | Aparelho de biofeedback
muscular é essencial no sucesso manométrico
da reabilitação por meio do treina-
mento dos MAP. O biofeedback
é uma ferramenta que permite a
conscientização de uma função
fisiológica que muitas vezes era
realizada de forma automática,
fornece informação sobre uma
dada tarefa que o paciente tem
dificuldade de realizar e o objetivo
de seu uso é promover o controle Fonte: acervo da autora.
voluntário dessas funções. Na
reabilitação dos MAP existem várias formas de se promover um biofeedback
ao paciente sobre sua contração e incentivá-lo a melhorar esta tarefa:
- Espelho: algumas vezes quando a contração é solicitada, algumas
pacientes relatam não sentir que estão contraindo, quando na verdade estão.
O uso do espelho permite que estas pacientes visualizem tanto a contração
dos MAP como a capacidade de mantê-la.
- Biofeedback manométrico ou de pressão: é um aparelho que fornece uma
informação luminosa à paciente sobre sua força de contração e a manutenção
da mesma. Para utilizá-la o fisioterapeuta recobre a sonda de silicone com
um preservativo não lubrificado, introduz na vagina da paciente e o insufla
até a paciente relatar que a pressão está confortável, e então o treino pode ser
iniciado e a paciente deve ser orientada a manter o sinal luminoso no mesmo
local desde o início ao fim da contração.
- Biofeedback eletromiográfico: todo músculo produz energia durante
uma contração muscular. O biofeedback eletromiográfico é capaz de captar
esta atividade elétrica, que é muito pequena e é medida em µV (microvolts),
processar e transformar em um gráfico que pode ser visto na tela de um
computador. Quanto maior a força de um músculo, maior será a atividade
Reflita
Você já parou para pensar que temos vários biofeedbacks no nosso dia
a dia? Quando nos vestimos e nos olhamos no espelho, estamos confe-
rindo se está tudo certo com a nossa aparência, certo? Este é um tipo de
biofeedback. Quais outros biofeedbacks você seria capaz de identificar
no seu dia a dia?
Figura 1.11 | Tela produzida pelo biofeedback eletromiográfico durante o treino de fibras rápidas
Assimile
A contração voluntária e sustentada dos MAP é capaz de evitar a perda
urinária nos dois tipos de incontinência, sendo que na incontinência
urinária de esforço a contração reforça a pressão do esfíncter uretral
externo, e na incontinência urinária por urgência inibe a forte e repen-
tina vontade de ir ao banheiro.
Exemplificando
Tente se lembrar da última pessoa que estava ao seu lado queixan-
do-se de muita vontade de urinar. Provavelmente ela estava
Eletroestimulação
Os parâmetros escolhidos para Figura 1.13 | Eletroestimulação intravaginal
a eletroestimulação dependem do
tipo de incontinência urinária a ser
tratada. No caso da incontinência
urinária por esforço, o objetivo de
seu uso é auxiliar o fortalecimento
dos MAP, e no caso da bexiga
hiperativa e bexiga neurogênica
modular os mecanismos excita-
tórios e inibitórios do sistema
nervoso central no controle
urinário devem ser utilizados. Fonte: Perez (2011, p. 23).
Avançando na prática
Descrição da situação-problema
Vamos retomar a situação-problema do Avançando na prática da
Seção 1.2, em que você foi questionado sobre como proceder com as
avaliações. Agora você precisa tratar os sintomas da paciente Ana, e para
isto vamos retomar as avaliações do diário miccional que ela trouxe para
você. A média dos três dias do diário mostrou frequência urinária de
11.3, urgência urinária de 5 vezes, urge-incontinência de 5 vezes, volume
mínimo urinado de 30 ml, volume médio de 250 ml e máximo de 450 ml.
Na avaliação física você notou que Ana conseguia contrair os MAP, mas
Resolução da situação-problema
A mudança comportamental está, sim, indicada para o caso de Ana. O
ideal seria que ela realizasse o treinamento vesical na tentativa de diminuir
a frequência miccional e tentasse manter as micções com uma capacidade
vesical entre 350 a 550 ml, que são os valores normais de urina durante uma
micção. Além disso, ela deve ser orientada a contrair seus MAP todas as
vezes que apresentar episódios de urgência urinária.
Como Ana não apresenta consciência da contração dos MAP, o ideal seria
que ela pudesse visualizar a contração deles. Por esse motivo é que existe a
indicação do biofeedback, sendo o mais indicado para o caso, o espelho, para
que ela possa ver seus MAP contraindo e para que possa tentar manter a
contração orientada pelo fisioterapeuta.
Após análise das afirmativas sobre o treinamento dos MAP, é correta apenas a alternativa:
a) V – F – V.
b) F – V – V.
c) F – V – F.
d) V – V – F.
e) F – F – V.
Convite ao estudo
Prezado aluno, vamos estudar agora o ciclo gravídico puerperal, que dá
origem à vida humana. Nesta seção você conhecerá as principais modifi-
cações hormonais e anatômicas que acontecem no corpo de uma mulher
quando gera um ser humano. O conhecimento dessas modificações deve
ser apreendido pelo fisioterapeuta para que ele possa atuar com eficiência
e responsabilidade na assistência à gestante no período pré-parto, durante o
parto e no pós-parto. Como resultado do aprendizado da unidade, você se
sentirá apto a atuar nas formas de prevenção e promoção da saúde no ciclo
gravídico-puerperal e poderá criar um plano de exercícios para gestantes
para cada um dos três trimestres gestacionais. Para começarmos a explorar
esse tema, vamos conhecer uma situação hipotética: Vanessa, de 37 anos, está
grávida de 27 semanas do segundo filho. Durante consulta de rotina com o
obstetra, queixa-se de dores em diferentes locais do corpo: “Doutor, eu sinto
uma ‘fisgada’ aqui no quadril quando ando, e aqui na frente, perto da vagina,
dói muito, especialmente ao final do dia. Também sinto dores nas costas,
especialmente se fico muito tempo em pé. Meus pés estão muito inchados,
e por isso tenho muita dificuldade de usar sapatos fechados. Além disso,
estou perdendo urina quando tusso ou espirro e sinto vergonha por isso;
tenho medo que as pessoas sintam cheiro de urina em mim”. Percebendo que
as queixas de Vanessa se referiam a alterações musculoesqueléticas decor-
rentes da gestação, sabendo da preferência da gestante pelo parto normal e
deduzindo que todas as dores relatadas por ela poderiam gerar uma experi-
ência desagradável durante o parto, o médico recomendou que ela procu-
rasse um fisioterapeuta para tratar tais alterações. Finalmente, a gestante
chega em seu consultório com um encaminhamento médico solicitando
acompanhamento fisioterapêutico em todo ciclo gravídico puerperal. Diante
do quadro apresentado por essa gestante, o que você supõe que está aconte-
cendo com sua parte musculoesquelética? Como os hormônios gestacionais
podem influenciar este quadro?
Você, como fisioterapeuta, trabalhará com essa gestante e, para que possa
fazê-lo com segurança, convidamos ao estudo desta unidade, que apresentará
a fisiologia e fisiopatologia na gestação e a avaliação e atuação fisioterapêutica
durante este período, bem como a avaliação e atuação fisioterapêutica no
trabalho de parto e no puerpério. Para realizar esse acompanhamento, você
terá que considerar as peculiaridades dessa fase tão importante na vida de
uma mulher. Bons estudos!
Seção 2.1
Diálogo aberto
Caro aluno, vamos começar a estudar o ciclo gravídico puerperal. Para
tratar disfunções musculoesqueléticas na gestante ou prevenir o desenvol-
vimento de patologias, você precisa tomar conhecimento das mudanças que
ocorrem no corpo da mulher durante a gestação. Para isso, vamos retomar a
situação hipotética apresentada no convite ao estudo. Você se lembra de que
a gestante se queixava de dores em vários lugares do corpo? Antes de iniciar
o tratamento de Vanessa, você deve explicar a ela as alterações mecânicas
acarretadas pela gestação e as consequências decorrentes dessas alterações,
como membros inferiores inchados e dor na sínfise púbica. Considerando
que é de extrema importância para o profissional de saúde que presta atendi-
mento a uma gestante o conhecimento das alterações fisiológicas causadas
pela gestação, responda: quais as principais alterações mecânicas que
ocorrem na gestação, e como os hormônios gestacionais e o crescimento do
útero gravídico influenciam essas alterações?
Para que você consiga responder a esses questionamentos, leia atenta-
mente a seção, pois ela te apresentará as alterações anatômicas, fisiológicas,
mecânicas e musculoesqueléticas na gravidez. Você também aprenderá
porque os sintomas urinários são tão prevalentes na gestação, e quais são os
riscos decorrentes do desenvolvimento da obesidade nesse período, informa-
ções muito importantes para o seu desenvolvimento profissional.
Pulmão
Diafragma
Fígado
Estômago
Placenta
Líquido
amniótico
Útero
Bexiga
Vagina
Exemplificando
Você já percebeu que geralmente as grávidas estão com falta de ar?
Essa falta de ar é chamada de dispnéia fisiológica, e é necessária para
que haja o aumento do aporte de oxigênio no corpo da gestante. Dessa
forma, o transporte de oxigênio para o feto é garantido.
Reflita
A próxima vez que você vir uma grávida caminhando pela rua, preste
atenção em todas essas alterações biomecânicas descritas. Tente se
lembrar da última vez que presenciou queixas de uma gestante: você
consegue relacionar essas queixas com os conceitos que apresentados
nesta seção?
Obesidade na gestação
Segundo a Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e da
Síndrome Metabólica – ABESO (MELO, 2009), a gestação está incluída na
lista de fatores que desencadeiam a obesidade; apesar disso, devemos consi-
derar que a gestante tem um ganho de peso fisiológico por conta dos tecidos
gestacionais produzidos durante o período, como aumento das mamas, o
peso do bebê, da placenta, etc. Além desses tecidos gestacionais, o aumento
de depósitos de tecido adiposo na gestante é comum, porém este, frequente-
mente, é produzido em excesso, e isso é motivo de preocupação, pois pode
levar ao desenvolvimento de patologias e alterações importantes na mãe e
no feto. O ideal é que a mulher não obesa ganhe até 16 quilos na gestação,
mas 2/3 das mulheres acabam ganhando mais do que o recomendado, o que
contribui para a retenção de peso após a gestação, podendo levar à obesidade.
Assimile
Você já pensou em quantos quilos (kg) a mulher grávida pode ganhar
somente com os tecidos maternos produzidos pela gestação? Ao final da
gestação, o feto pesa em torno de 3,5 kg; o líquido amniótico, por volta
de 1,5 kg; a placenta, até 1,5 kg; o aumento do volume sanguíneo e do
volume extracelular por conta da gestação juntos somam até 3,5 kg; o
útero chega a 1,8 kg; as mamas podem somar a esta conta até 1 kg, além
do aumento de tecido adiposo, inerente ao processo de gestação, que
pode chegar a 4,5 kg.
Obesidade na gestação
Descrição da situação-problema
Caroline está grávida de 12 semanas e, por orientação médica, procura
seu consultório para iniciar um plano de exercícios. Você a orienta a procurar
uma nutricionista a fim de evitar ganho excessivo de peso na gestação. Ela
responde dizendo que não entende o porquê de tanta preocupação com o
ganho de peso, uma vez que sua mãe teve três filhos e ganhou 32 kg em cada
gestação. Como você orientaria Caroline sobre os riscos do excesso de ganho
de peso no período gestacional?
Resolução da situação-problema
Explique à Caroline que o ideal é que ao final da gestação o peso
corporal aumente em até 16 kg, pois a gestante que ganha muito peso e se
torna obesa pode desenvolver diabetes mellitus gestacional e pré-eclâmpsia,
doenças que podem causar graves consequências à saúde da mãe e do bebê.
Por isso a importância de um acompanhamento com nutricionista logo no
início da gestação.
Diálogo aberto
Caro aluno, agora que você já conhece os conceitos básicos sobre
as mudanças causadas pela gestação no corpo da mulher, poderá dar
o próximo passo na construção do seu conhecimento sobre a atenção
fisioterapêutica no ciclo gravídico puerperal. Para isso, nesta seção você
aprenderá a avaliar essa gestante e entenderá a importância da ativi-
dade física na gravidez, além de aprender como atuar no preparo para o
parto normal. Para te ajudar a entender todos esses conceitos que serão
explanados aqui, vamos retomar o caso hipotético de Vanessa, aquela
gestante do segundo filho que lhe procurou queixando-se de dores em
diferentes locais do corpo. Ela relatou sentir uma “fisgada” no quadril
quando andava e na região da sínfise púbica, além de dores nas costas,
inchaço nos pés e perda de urina quando tosse ou espirra. Como as
queixas de Vanessa eram sobre alterações musculoesqueléticas decor-
rentes da gestação, sabendo que a preferência da gestante era pelo parto
normal e que todas estas dores relatadas por ela poderiam gerar uma
experiência desagradável durante o parto, o médico recomendou que
ela procurasse um fisioterapeuta para acompanhamento durante todo
ciclo gravídico-puerperal. Ela começou o acompanhamento fisiotera-
pêutico e no decorrer do tratamento já não sentia mais dores no corpo;
as perdas urinárias se tornaram cada vez mais raras e ela relatou menos
cansaço ao realizar suas atividades de vida diária. Como a gravidez já
está em um estágio avançado, a preparação para o parto precisa ser
iniciada. Pensando no final do último trimestre gestacional responda:
podemos avaliar os MAP (músculos do assoalho pélvico) de gestantes
com toque vaginal? Como é realizada a massagem perineal? Descreva
a técnica incluindo idade gestacional de início, frequência semanal
e tempo de aplicação da técnica. A leitura desta seção o auxiliará a
responder estas perguntas. Lembre-se de que estes conhecimentos são
muito importantes para seu futuro profissional. Bom estudo!
Exemplificando
Caso você leia em um prontuário a seguinte descrição: G-3, PN-1, PC-2,
A-0, significa que a mulher em questão engravidou três vezes, teve um
parto normal, duas cesarianas e nenhum aborto.
Caso ela sinta dor, pergunte o histórico dessa dor, ou seja, se antes de engra-
vidar ela já havia sentido algo parecido ou se realmente coincidiu com o início da
gestação. Pergunte se existe um horário de início ou se piora quando adota alguma
posição ou quando realiza alguma atividade. Questione também se existem fatores
que melhorem ou piorem essa dor e se ela está realizando alguma medida para
tentar reduzi-la, como usar compressas quentes ou frias ou alongar-se. Pergunte se
ela apresenta perdas urinárias quando tosse, espirra ou quando faz algum esforço,
e se apresentava essa perda antes da gestação.
Após colher todo o histórico da gestante realize a avaliação física: primeiro
analise a postura dela em pé e veja se ela apresenta alterações posturais nas
posições anterior, lateral e posterior, observando a posição da cabeça, pescoço,
ombros, cintura, nível das espinhas ilíacas da pelve, joelhos, tornozelos e pés. Peça
à gestante que caminhe e observe se ela apresenta marcha antálgica, ou seja, se ela
compensa a marcha por dor. Caso ela relate dor, avalie o local relatado por ela e
aplique testes ortopédicos específicos, caso necessário.
Para realizar a avaliação dos músculos do assoalho pélvico (MAP) da mulher
grávida, a avaliação intravaginal não é recomendada, pelo risco de infecção, ainda
que muito pequeno. Peça para que a mulher se deite em decúbito dorsal, afaste
os pequenos lábios da vagina com os dedos enluvados e peça para que realize
a manobra de valsalva, para investigar a presença de prolapsos e perda urinária
ao esforço. Para avaliar a contração dos MAP, diga a ela para imaginar seu dedo
dentro da vagina dela, e peça para ela apertar seu dedo. Observe se há movimento
do corpo perineal para dentro e para cima, conte o tempo – no máximo dez
segundos – que ela consegue manter a contração e o número de vezes – no
máximo dez vezes – que ela consegue realizar esta contração.
Fonte: iStock.
Assimile
Intensidade moderada de exercícios é quando se mantém a frequência
cardíaca (FC) entre 60 a 80% da FC máxima, que é calculada a partir da
fórmula: 220 - idade. Por exemplo: uma mulher de 32 anos deve manter
sua frequência cardíaca em torno de 112,8 bpm e 150,4 bpm.
Avançando na prática
Hidroterapia na gestação
Descrição da situação-problema
Como você é fisioterapeuta especializado em saúde da mulher, com experi-
ência em gestantes, Teura teve indicação em procurá-lo para iniciar o trata-
mento fisioterapêutico. Ela está na 30a semana gestacional e seus membros
inferiores estão muito inchados. Durante a avaliação, ela perguntou a você
por que a água poderia influenciar o edema de seus membros inferiores. O
que você responderia a ela?
2. Para avaliar os MAP da gestante, peça para que ela se deite em decúbito
__________ e avalie se ela consegue realizar uma contração. Avalie também a
presença de ____________ e _______.
Sobre a avaliação dos MAP na gestante assinale a alternativa correta que completa
corretamente as lacunas:
a) ventral, prolapsos, incontinência urinária.
b) dorsal, pelos, arranhões.
c) ventral, pelos, incontinência urinária.
d) dorsal, prolapsos, incontinência urinária.
e) lateral, pequenos lábios, grandes lábios.
Após análise das afirmativas sobre a preparação para o parto normal, assinale a alter-
nativa que contém a sequência correta:
a) V - F - V - F.
b) V - V - V - V.
c) F - V - F - V.
d) F - F - F - F.
e) V - F - F - V.
Diálogo aberto
Querido aluno, chegamos ao final de mais uma unidade e você acumulou
bastante conhecimento até aqui, pois aprendeu a cuidar da mulher grávida
em toda a sua gestação. Agora chegou a hora de você prestar assistência ao
parto e ao puerpério. Para te ajudar a fixar o que aprenderá nesta seção,
vamos retomar o caso hipotético da gestante Vanessa: ela teve algumas
disfunções musculoesqueléticas e respondeu muito bem ao tratamento fisio-
terapêutico, e você estava preparando-a para o parto normal. Enfim, chegou
o grande dia do nascimento do bebê. Vanessa te liga às três horas da madru-
gada para falar que a bolsa rompeu, que ela está a caminho do hospital e
solicita seu acompanhamento. Você, fisioterapeuta, vai ao seu encontro e
aplica todo seu conhecimento em técnicas de analgesia não medicamentosa
para o primeiro estágio do trabalho de parto, estimula a posição vertical e
promove segurança, enquanto profissional da saúde, para a parturiente. Em
poucas horas o bebê nasce. A partir deste momento a mulher, que até ontem
era chamada de gestante, hoje é uma puérpera. Qual a atuação da fisioterapia
no pós-parto imediato? Quais as orientações a serem dadas para a nova mãe
sobre amamentação e sobre o retorno à atividade física?
A leitura do conteúdo desta seção te ajudará não somente a atuar durante
o trabalho de parto como também a avaliar e aplicar técnicas fisioterapêuticas
à nova mãe, que a partir do nascimento do bebê será chamada de puérpera,
bem como auxiliá-la a ter sucesso na amamentação e a retornar à atividade
física. Bom estudo!
Avaliação da puérpera
Logo após o nascimento do bebê, a antes parturiente passa a ser chamada
de puérpera. O puerpério corresponde ao período entre a expulsão do feto
e termina quando cessa o estado involutivo dos fenômenos gerados pela
gravidez. É dividido em três estágios: pós-parto imediato, que vai do 1° ao
10° dia após o parto; pós-parto tardio, que corresponde do 11° ao 40° dia
após o parto; e pós-parto remoto, do 41° dia em diante. Neste período, a
mulher se preocupa mais com seu bebê e seu corpo fica em segundo plano, e
Assimile
A história obstétrica é o preenchimento das siglas G, PN, PC e A apresen-
tadas na seção anterior. G corresponde ao número de gestações, PN, ao
número de partos normais, PC, ao número de cesarianas e A, ao número
de abortos.
Assimile
Algumas vezes a diástase de reto abdominal pode ser observada durante
um esforço abdominal sem a necessidade de palpação. Ao solicitar à
mulher que realize um abdominal convencional, o fisioterapeuta observa
um abaulamento entre os dois ventres musculares, como exemplificado
na figura a seguir.
Exemplificando
Os mamilos podem ser classificados como protuso, plano ou invertido,
conforme observado na figura a seguir:
Reflita
Faça uma reflexão sobre seu aprendizado nestas duas unidades e
responda: quais conceitos estudados na Unidade 1 você pode aplicar na
Unidade 2?
Descrição da situação-problema
Priscila, uma gestante de 35 semanas, procura você para iniciar a prepa-
ração para o parto normal. Ela relata que tem muito medo da dor do parto
e que gostaria de contratar um anestesista para este momento, e pede sua
opinião. Você diz a ela que a analgesia medicamentosa deve ser utilizada
somente como última alternativa pelo risco do desenvolvimento de algumas
alterações indesejáveis no processo do parto, e então ela te pergunta que
alterações são essas. Com base na leitura desta seção responda à Priscila
quais são os efeitos indesejáveis que podem ser causados pela anestesia
medicamentosa.
Resolução da situação-problema
O uso da analgesia medicamentosa aumenta as chances de cesárea, pois
pode diminuir os batimentos cardíacos do bebê, prolongar o segundo estágio
do trabalho de parto, inibindo os puxos espontâneos necessários para a
expulsão do bebê, e muitas vezes há a necessidade do uso de extração instru-
mental do feto, além do risco de hipotensão materna.
Fisioterapia em mastologia
Convite ao estudo
Caro aluno, seja bem-vindo à Unidade 3 da disciplina de Fisioterapia na
Saúde da Mulher. Convidamos você a conhecer aspectos fundamentais do
câncer de mama, que é uma patologia temida entre as mulheres, tanto pela
alta frequência quanto por seus efeitos psicológicos, que acabam interferindo
diretamente na sexualidade e na imagem corporal feminina.
Conhecer os recursos utilizados em mastologia irá capacitá-lo na elabo-
ração de um plano de tratamento fisioterapêutico com o objetivo de reabilitar
as atividades de vida diária de mulheres submetidas à cirurgia de mastec-
tomia, e/ou em outros estágios do tratamento do câncer de mama.
A história familiar é um grande fator de risco, pois representa 10% dos
casos confirmados, principalmente se algum parente de primeiro grau teve a
doença antes dos 50 anos.
Outros fatores de risco de fundamental importância são: exposição a
radiações ionizantes, menarca precoce, menopausa tardia, primeira gravidez
após os 30 anos e a nuliparidade (nunca ter gerado filhos). As formas mais
eficazes de detecção precoce do câncer de mama são o exame clínico e a
mamografia.
O Instituto Nacional de Câncer (INCA) recomenda que o autoexame faça
parte das ações de educação para a promoção de saúde, mas não deve ser
aplicado de forma isolada, pois, não substitui o exame físico realizado por
profissionais de saúde qualificados para essa atividade.
Para facilitar sua compreensão, acompanhe o caso de Maria do Rosário,
49 anos de idade, tabagista e sem filhos. Após realizar uma mamografia de
rotina, seguida por ultrassom e punção do nódulo de 1,3 cm descoberto em
sua mama direita, foi diagnosticada com câncer de mama. Foi submetida à
mastectomia direita e quimioterapia, pois, linfonodos axilares haviam sido
comprometidos. Neste caso, a paciente tinha opção de realizar a reconstrução
mamária com prótese de silicone simultaneamente com a mastectomia, pois,
a quantidade de tecido removido, qualidade da pele, entre outros aspectos na
avaliação, contribuíam para o sucesso do procedimento, portanto, as cirur-
gias assim foram realizadas, minimizando alguns aspectos socioemocionais
e possibilitando a reabilitação precoce.
Atualmente, é possível afirmar, que após os 35 anos de idade, a incidência
cresce progressivamente, representando assim, uma das principais causas
de morte entre as mulheres, você teria alguma hipótese para esse índice
crescente?
Você pode imaginar a importância da atuação da fisioterapia diante das
mulheres mastectomizadas para a retomada das capacidades funcionais e
consequentemente para a recuperação socioemocional dessas mulheres?
Para que você consiga compreender o universo da fisioterapia, associado
ao câncer de mama e mastectomia, serão apresentados nesta unidade conte-
údos referentes ao câncer de mama, desde os tipos de câncer até as cirur-
gias e alterações pós-cirúrgicas; e também trataremos da avaliação e conduta
fisioterapêutica após mastectomia diante do pós-operatório, além de poder
acompanhar alguns casos clínicos para melhor conhecimento.
Bons estudos!
Seção 3.1
Câncer de mama
Diálogo aberto
Você já deve estar curioso para conhecer mais sobre os assuntos desta
seção e animado para utilizar os recursos terapêuticos da fisioterapia em
suas futuras pacientes de mastologia. Caso ainda esteja refletindo sobre as
perguntas do Convite ao estudo, está corretíssimo, pois o verdadeiro profis-
sional se preocupa com o atendimento humanizado, principalmente em
situações delicadas como as que serão apresentadas adiante.
Para ajudar no exercício contínuo de desenvolvimento de algumas estra-
tégias de prevenção e tratamento fisioterapêutico, é primordial ter conheci-
mento amplo sobre a doença, portanto, iremos relembrar a situação hipoté-
tica desta seção:
Cláudia, aluna de estágio da disciplina de Fisioterapia Aplicada à Saúde
da Mulher, irá atender a paciente Maria do Rosário que realizou uma mastec-
tomia e também a reconstrução da mama direita devido ao câncer de mama.
Carolina, que é a professora e supervisora de estágio, acompanha o primeiro
atendimento em ambiente hospitalar. Durante a avaliação, foram identifi-
cadas alterações circulatórias e também múltiplas queixas de dor. Ao final, a
supervisora Carolina perguntou para Cláudia quais são os principais fatores
de risco para desenvolver câncer de mama? Quais possíveis alterações circu-
latórias após a cirurgia de mastectomia e reconstrução da mama? E por quê?
Vamos ajudar a estagiária Cláudia a resolver essas questões?
Para responder aos questionamentos, de agora em diante, aprofun-
daremos os conhecimentos sobre o câncer de mama, sua epidemiologia,
oncogênese, fatores de risco; tipos de câncer de mama e estadiamento;
prevenção e diagnóstico precoce; tratamento não cirúrgico, cirúrgico e
reconstrução; alterações pós-mastectomia: edema, linfedema, seroma, dor
crônica, deiscência da ferida operatória e necrose da pele.
Vamos continuar nesta jornada incrível da saúde da mulher e entender
que a fisioterapia também faz parte do tema câncer de mama e mastectomia?
90 - U3 / Fisioterapia em mastologia
Não pode faltar
- Epidemiologia, oncogênese e fatores de risco:
Caro aluno,
O câncer de mama corresponde a 25,2% de todos os tumores malignos
femininos, é o tipo mais comum entre as mulheres no mundo todo. No
Brasil, calcula-se 59.700 casos novos de câncer de mama, para cada ano do
biênio 2018-2019, com um risco estimado de 56,33% de casos a cada 100 mil
mulheres. A raça branca é ligeiramente mais acometida pela doença, porém
em idade jovem, as mulheres negras são mais propensas. Já no sexo mascu-
lino, o câncer de mama pode também existir, porém com incidência extre-
mamente baixa (1%) (INCA, 2018).
Ele é resultado de uma mutação e de um crescimento, e de uma infil-
tração celular desordenada, que pode ser originado de mutação genética, de
fator hereditário ou simplesmente adquirido.
Embora a incidência do câncer de mama continue aumentando, obser-
vou-se que nas duas últimas décadas, a mortalidade por essa doença declinou
cerca de 30%. Esse importante fato deveu-se quase que exclusivamente aos
programas de rastreamento mamográfico, que permitiram sua detecção em
fases iniciais.
Reflita
Você já parou para pensar os motivos de algumas doenças, como o
câncer de mama, estarem aumentando suas incidências mesmo com os
avanços das pesquisas em saúde? Alguns hábitos da mulher moderna
estariam contribuindo para o índice crescente dessa doença?
1- Músculo platisma; 2- Clávícula; 3- Músculo deltoide; 4- Músculo peitoral maior; 5- Sulco deltopeitoral
e veia cefálica; 6- Músculo grande dorsal; 7- Ramos mamários mediais dos nervos intercostais; 8- Tecido
mamário; 9- Aréola; 10- Papila mamária; 11- Arco costal.
Fonte: adaptada de Rohen, Yokochi e Lutjen-Drecoll, (1998, p. 245).
92 - U3 / Fisioterapia em mastologia
Figura 3.2 | Glândula mamária (secção sagital, mulher grávida), à esquerda da imagem e Galac-
tografia da glândula mamária, à direita da imagem
4- Músculo peitoral maior; 9- Aréola; 10- Papila mamária; 12- Fáscia peitoral; 13- Glândula mamária; 14-
Músculo serrátil anterior; 15- Seio lactífero; 16- Ductos lactíferos.
Fonte: adaptada de Rohen, Yokochi e Lutjen-Drecoll (1998, p. 245).
Oncogênese
Oncogênese ou carcinogênese são os nomes dados ao processo de trans-
formação celular a partir de uma mutação genética, passando por vários
estágios até o resultado final ser um tumor.
No estágio de iniciação, as células sofrem a ação de um agente provo-
cador da mutação genética, mas o tumor não é detectável clinicamente; no
estágio de promoção, as células alteradas geneticamente sofrem ação dos
agentes promotores e são transformadas gradualmente em células malignas,
especialmente se há um forte contato com o agente cancerígeno promotor
(o processo pode ser interrompido se for feita a suspensão do contato com o
agente promotor); já no estágio de progressão ocorre a multiplicação descon-
trolada das células mutadas.
Durante toda a vida de um indivíduo, são produzidas células que podem
sofrer mutações, mas o organismo possui mecanismos de defesa que atuam
na interrupção da oncogênese e eliminação da célula alterada, e, em algum
momento, essa defesa pode falhar ou estar ausente.
O câncer de mama possui alguns fatores de risco classificados em alguns
subgrupos:
1. Fatores ambientais e comportamentais: obesidade e sobrepeso pós-me-
nopausa; sedentarismo; consumo de álcool; radiações ionizantes (raios
X).
94 - U3 / Fisioterapia em mastologia
- Prevenção e diagnóstico precoce:
É possível prevenir 30% dos casos de câncer de mama apenas adotando
hábitos saudáveis como: prática de atividade física regularmente; alimentação
saudável; manutenção do peso adequado; amamentação e evitar ingestão de
bebidas alcoólicas.
Assimile
Estudos demonstraram em mulheres que perderam 5% ou mais de
seu peso antes e após a menopausa apresentaram redução do risco de
desenvolvimento do câncer de mama na pós-menopausa de 40 e 25%,
respectivamente. O Nurses Health Study (NHS) verificou que mulheres
que perderam no mínimo 10 kg após a menopausa têm uma redução de
risco de câncer de mama de 56% (TIEZZI, 2009).
Fonte: iStock.
96 - U3 / Fisioterapia em mastologia
excelente prognóstico na grande maioria dos casos e redução da letalidade.
Alguns pontos negativos também são apontados como falso positivo,
falso negativo, ansiedade e estresse. Geralmente, a mamografia de rastre-
amento não é solicitada para mulheres jovens, pois possuem mamas mais
densas e o exame pode apresentar muitos resultados incorretos.
Já a mamografia diagnóstica e os outros exames complementares como
o ultrassom com punção aspirativa e biópsia são necessários para investi-
gações de lesões suspeitas na mama, estes podem ser solicitados a qualquer
momento e idade, a depender da indicação médica.
Figura 3.5 | Realização do exame de mamografia
Fonte: iStock.
Exemplificando
Vimos que a informação e o fácil acesso aos métodos de prevenção e
tratamento são grandes armas para combater o câncer de mama. O
Outubro Rosa é uma campanha poderosa que lembra e reforça a impor-
tância anual dos exames preventivos para o rastreamento precoce da
doença. Muitas unidades de saúde, meios de comunicações e escolas
fazem mobilizações e divulgações para ampliar a conscientização das
98 - U3 / Fisioterapia em mastologia
Em 2013, a terapia com anticorpo monoclonal ou terapia-alvo começou
a ser oferecida pelo SUS, que é utilizado para atingir alvos específicos como
algum subtipo de câncer de mama. Em 20% dos casos de tumor mamário, a
presença de amplificação ou superexpressão do gene HER-2 é encontrada.
Um exemplo de medicamento monoclonal é o trastuzumabe, que é
bloqueador do receptor da membrana do HER-2. A introdução do trastuzu-
mabe e outros anticorpos anti-HER-2 aumentam a sobrevida de pacientes,
pois diminuem a velocidade de crescimento do tumor e metástase.
A cirurgia conservadora, que consiste na remoção da lesão tumoral e
uma parte de tecido sadio ao seu redor, mantendo a margem de segurança,
mas preservando o restante da mama, denominadas tumorectomia, mastec-
tomia segmentar ou mastectomia parcial são muito utilizadas atualmente,
sempre que possível, gerando ótimos resultados, preservando a estética, sem
comprometer o controle da doença.
Durante a cirurgia, é realizada a biópsia do linfonodo sentinela, o proce-
dimento se dá por uma substância radioativa e/ou corante azul injetado
próximo ao tumor e até o primeiro linfonodo. Este primeiro linfonodo
marcado é analisado para verificar a presença ou não de células cancerí-
genas, assim é possível avaliar o comprometimento do primeiro linfonodo da
axila. Caso não apresentem células cancerígenas, não são retirados os demais
linfonodos axilares, evitando assim complicações, como edema (inchaço) no
braço e infecções de repetição. A técnica é essencial para a definição do trata-
mento posterior.
A identificação do câncer de mama nas fases iniciais geralmente garante
um tratamento com cirurgias mais conservadoras, podendo ser associadas
ou não com a radioterapia e agentes antiestrogênicos. Já nas fases mais
avançadas, as terapias necessitam ser mais agressivas, cirurgias mais radicais,
maior tempo de permanência hospitalar, radioterapia mais amplificada e uso
de quimioterapia (alto custo, maior morbidade).
A mutilação ocorrida na mastectomia e os prejuízos da autoimagem são
aspectos complicadores, portanto, a cirurgia de reconstrução da mama é uma
das fases mais gratificantes do processo de tratamento. Desde abril de 2013,
é previsto pela Lei no 12.802/2013 que mulheres mastectomizadas possuam o
direito de realizar a cirurgia reparadora imediata.
Para o tratamento do câncer de mama nos estádios 0 e I, II, III e IV as
modalidades mais utilizadas foram: cirurgia, radioterapia e quimioterapia
(23,1%); cirurgia isolada (16%); cirurgia e quimioterapia (14,5%) e quimiote-
rapia isolada (10,2 %) (KEMP C. et al., 2005). Os estadiamentos determinam
o melhor tratamento para cada caso.
100 U3
- / Fisioterapia em mastologia
o acúmulo de líquido no espaço intersticial, rico em proteínas, sendo assim,
uma comum complicação do tratamento do câncer de mama como conse-
quência da retirada dos gânglios linfáticos axilares, comprometendo assim a
atividade do sistema de drenagem linfática do membro superior envolvido.
O linfedema de braço afeta aproximadamente 30% dos pacientes com câncer
de mama. Apesar do uso de técnicas cirúrgicas menos invasivas, ainda existe
um risco relevante para o desenvolvimento do linfedema.
Algumas consequências do linfedema são muito preocupantes, como as
infecções frequentes nos braços, que geram hospitalização e uso de antibió-
ticos frequentes. Os membros linfedematosos causam enorme desconforto,
pois são pesados, inchados e duros, com pele áspera e espessa decorrentes
da inflamação crônica e fibrose, além da diminuição na Amplitude de
Movimento (ADM) e, consequentemente, diminuição da função do membro
superior envolvido.
A maioria dos linfedemas de membro superior desenvolve-se entre o
primeiro e o segundo ano pós-cirurgia, no entanto, há observações clínicas
de aparecimento tardio (mais de 10 anos após a terapêutica inicial). Alguns
estudos apresentam um aumento na frequência de linfedema de membro
superior relacionados com a idade, podendo esta atingir os 25% acima dos
60 anos. Outros não encontram a relação (VEIROS et al., 2007).
Após o aprimoramento da técnica de biópsia do linfonodo sentinela, foi
reduzida drasticamente a necessidade da linfonodectomia axilar, possibili-
tando a realização de cirurgias menos agressivas, ou seja, com maior preser-
vação dos linfonodos e redução do risco para formação de linfedemas.
Recentemente, estudos demonstraram a relação do agravamento dos
linfedemas com fatores clínicos como massa corpórea elevada (IMC), hiper-
tensão arterial, histórico de infecções ou inflamações, atividade excessiva
do membro, ambientes com altas temperaturas, traumas locais, seroma,
formação de edema precoce (pós-cirurgia), alterações circulatórias sanguí-
neas arteriais e venosas.
O seroma é outra complicação encontrada em pacientes submetidas à
mastectomia, ele é formado por extravasamento de plasma sanguíneo ou
linfa sob a pele, causado por traumas na região operada, como a secção
de microvasos, descolamento de pele e área esvaziada pela retirada de
tecidos acometidos. Sua formação se dá no pós-operatório, ou seja, logo
nas primeiras semanas, deixando a área da cicatriz alta. A formação do
seroma pode ser prevenida pelo uso de bisturi elétrico que cauteriza a lesão
no mesmo momento pela colocação de drenos e pela diminuição do espaço
vazio sob a pele com uso de roupas levemente compressivas.
102 U3
- / Fisioterapia em mastologia
Sem medo de errar
Caro aluno, vamos recordar de Cláudia, aluna de estágio da disciplina de
Fisioterapia Aplicada à Saúde da Mulher, que irá atender a paciente Maria do
Rosário que realizou uma mastectomia e também a reconstrução da mama
direita devido ao câncer de mama. Carolina, que é sua professora e supervisora
de estágio, acompanha o primeiro atendimento em ambiente hospitalar. Durante
a avaliação, foram identificadas alterações circulatórias e também múltiplas
queixas de dor. Ao final, a supervisora Carolina perguntou para Cláudia quais
são os principais fatores de risco para desenvolver câncer de mama.
São eles: obesidade e sobrepeso pós-menopausa; sedentarismo; consumo
de álcool; radiações ionizantes (Raios X); menarca (primeira menstruação)
antes de 12 anos; nuliparidade (nunca ter gerado filhos); primeira gestação
somente após 30 anos de idade; não ter amamentado; menopausa (parar de
menstruar) após os 55 anos; uso prolongado de contraceptivos (estrogênio-
-progesterona); reposição hormonal prolongada pós-menopausa, (mais de
5 anos); histórico familiar de câncer de ovário; câncer de mama na família
(parente de primeiro grau), antes dos 50 anos; câncer de mama em homens
da família; alteração genética nos genes BRCA1 e BRCA2.
A supervisora Carolina ainda perguntou para Cláudia quais as possíveis
alterações circulatórias após a cirurgia de mastectomia e reconstrução da
mama e o porquê de ocorrerem.
As possíveis complicações circulatórias pós-cirúrgicas do câncer de mama
são: linfedema, devido à necessidade de retirada dos linfonodos acometidos
em alguns casos a capacidade de drenagem do líquido intersticial extravasado
fica ineficiente, causando o acúmulo deste no membro acometido; seroma,
complicação gerada pelo acúmulo de líquido sob a pele durante o pós-ope-
ratório, deixando a área da cicatriz mais alta que o normal, é formado devido
ao extravasamento de plasma sanguíneo ou linfa provocados pela lesão cirúr-
gica; hematoma, rupturas de vasos sanguíneos durante a ressecção do tumor
e margem, com extravasamento de sangue na região; necrose de pele, devido
à necessidade de retirada de tecidos em determinadas regiões vascularizadas
por capilares sanguíneos, os quais são oriundos de artérias importantes ou
retalhos com falhas de irrigação.
Descrição da situação-problema
A fisioterapeuta Fernanda, contratada de um grande hospital de
referência no tratamento de câncer em São Paulo, especialista em mastologia,
irá acompanhar a senhora Inês, de 65 anos, mãe de um filho que gerou após
os 40 anos, porém nunca amamentou, não é fumante e faz atividade física
moderada no grupo de idosas no clube esportivo que frequenta.
Fernanda fará o primeiro contato com a paciente, ainda na fase pré-ope-
ratória no mesmo hospital onde a mastectomia está marcada para a mesma
tarde. Durante o atendimento, a paciente se sente muito confortável com a
abordagem da fisioterapeuta e faz algumas perguntas, uma delas é:
- Doutora, quais são as possíveis complicações dessa cirurgia e como a
fisioterapia pode me ajudar?
Se você estivesse no lugar da fisioterapeuta Fernanda, o que responderia
para a paciente?
Resolução da situação-problema
“Dona Inês, fique tranquila, pois hoje em dia temos como prevenir ou
solucionar as complicações que possam acontecer. A senhora tem aspectos
muito positivos, por exemplo, estar dentro do peso, não ser fumante, fazer
atividades físicas e se alimentar bem. Isso tudo favorecerá muito a sua
recuperação!
Mas algumas complicações que podem ocorrer são: edema e linfedema,
devido à dificuldade do retorno linfático, seu braço pode inchar, mas só se
tiver necessidade de retirar gânglios na cirurgia, o seroma, que é um acúmulo
de líquido extravasado sob a cicatriz, hematoma que pode ocorrer devido
ao extravasamento de sangue na ruptura de algum vaso, abertura de algum
ponto e se a ferida abrir, ou necrose.
Caso a aparência da ferida fique inflamada, com saída de secreção ou
algum ponto se rompa, por favor, volte ao hospital para o médico analisar.
Pode ter necessidade de aspirar o líquido e prescrever nova medicação.
A fisioterapia irá ajudar na prevenção e no controle dessas complicações
104 U3
- / Fisioterapia em mastologia
orientando a senhora em algumas atitudes, auxiliando na recuperação dos
movimentos com calma, retomada das atividades de vida diária, respeitando
sempre o limite da dor e o tempo de cicatrização. Iremos entregar um folheto
explicativo muito fácil, no qual as orientações importantes serão reforçadas,
como posturas que devem ser adotadas, cuidados básicos com o braço do
lado acometido, exercícios leves, etc.”
1. O INCA recomenda que o autoexame faça parte das ações de educação para a
promoção de saúde, mas não deve ser aplicado de forma isolada, pois, não substitui
os exames físicos e laboratoriais realizados por profissionais de saúde qualificados
para essa atividade. Os exames físicos podem detectar nódulos maiores, acima de
1 centímetro, já a mamografia, pode identificar o início milimétrico do câncer de
mama, promovendo assim o diagnóstico precoce, o que otimiza muito o prognóstico.
106 U3
- / Fisioterapia em mastologia
Seção 3.2
Diálogo aberto
Caro aluno, seja bem-vindo à Seção 3.2, na qual iremos abordar a respeito
das avaliações fisioterapêuticas no pós-operatório das cirurgias utilizadas
para o tratamento do câncer de mama, tanto na atenção terciária quanto na
secundária, assim como identificar e quantificar as principais consequências
cirúrgicas, tais como linfedema, alterações posturais, distorções de consci-
ência corporal e as interferências nas atividades diárias.
Iremos nos aproximar ainda mais da realidade de uma pessoa que convive
com um linfedema de membro superior, despertar o sentimento humani-
zado e fixar todo o conteúdo aprendido até aqui.
Agora que você já conhece alguns aspectos fundamentais do câncer
de mama, como incidência, fatores de risco, importância da prevenção e
detecção precoce, os tratamentos e as suas principais alterações, iremos
retomar a história da paciente Maria do Rosário, de 49 anos, que foi subme-
tida à mastectomia direita, quimioterapia e reconstrução mamária com
prótese de silicone. Após sua alta hospitalar, retorna para dar sequência em
seu tratamento no centro de reabilitação. Lá ela reencontra Cláudia, a aluna
do estágio, que agora já está no ambulatório de fisioterapia aplicada à saúde
da mulher. A paciente fica muito aliviada e entusiasmada ao saber que a
mesma aluna irá atendê-la novamente, pois o tratamento humanizado dado
por ela, desde o primeiro contato, eliminava diversas barreiras de aspectos
emocionais. As duas seguem juntas e conversando para maca correspon-
dente, e imediatamente a aluna inicia sua avaliação. Ela colhe todos os dados
importantes para direcionar o melhor tratamento de reabilitação para a
paciente operada e alguns itens são de total importância e não poderão faltar
nessa avaliação feita pela aluna, que ao final do dia terá uma discussão com
a professora supervisora de estágio e junto aos demais alunos em sala de
reunião, que irão expor todos os dados colhidos. Imagine então que você está
em situação similar da aluna do estágio. Vamos ajudá-la a construir uma lista
dos principais pontos da avaliação fisioterapêutica que não poderão faltar e
justificar brevemente a importância de cada uma?
Os conteúdos que serão tratados e aprofundados nesta seção capaci-
tarão você, futuro profissional e fisioterapeuta dedicado, a realizar excelentes
avaliações de:
Pós-Operatório da Mastectomia na Atenção Secundária; Pós-Operatório
Reflita
Você percebe o quanto a recuperação no pós-operatório das cirurgias
de mama está intimamente ligada aos fatores psíquicos? Concorda que
alguns bloqueios emocionais podem dificultar o progresso na reabili-
tação dessas pacientes?
108 U3
- / Fisioterapia em mastologia
Outra complicação que pode ocorrer entre um e seis meses do pós-opera-
tório e está associada ao processo inicial de cicatrização, é a chamada síndrome
do cordão axilar (AWS), que é o resultado da dissecção de linfonodos, nas
quais, adesões são formadas ao redor dos vasos linfáticos, causando muita
dor e incapacidade. Na inspeção e na palpação são identificados os cordões,
que são visíveis na região cirúrgica.
A lesão do nervo intercostobraquial é outra morbidade comum relacio-
nada ao tratamento do câncer de mama. Para este, existe um alto risco de
queimaduras na pele devido à redução da sensibilidade na área. Já no trata-
mento por terapia hormonal, alguns efeitos adversos são comumente encon-
trados, como a perda da densidade óssea, dores articulares, além de doença
cardiovascular. Reforçamos ainda que, os hábitos de vida inadequados como
o sedentarismo, má alimentação, tabagismo e etilismo podem comprometer
o ritmo e sucesso dos tratamentos.
A fisioterapia é fundamental para a reabilitação das mulheres submetidas
às cirurgias mamárias decorrentes do tratamento do câncer.
No Brasil, a atenção básica de saúde está dividida em 3 níveis para o
melhor direcionamento dos casos específicos, e segundo suas caracterís-
ticas um tipo de apoio à saúde é melhor indicado. A fisioterapia na saúde da
mulher engloba os três níveis: primário, secundário e terciário.
O nível primário consiste nos postos ou Unidades Básicas de Saúde
(UBS), onde consultas, procedimentos simples e exames de baixa comple-
xidade são realizados; também engloba ações em escolas, comunidades e
visitas domiciliares, considerado como porta de entrada no SUS, aqui são
promovidas algumas ações de conscientização da doença e prevenção, por
exemplo, palestras educativas abertas ao público-alvo e entrega de folder com
informações sobre câncer de mama e como realizar o autoexame das mamas.
O nível secundário é composto pelas Unidades de Pronto Atendimento
(UPAs), ambulatórios, clínicas, hospitais de média complexidade, hospitais
escolas, unidades voltadas para tratamentos das especialidades e algumas
emergências. A fisioterapia tem o papel de orientar, avaliar e tratar possí-
veis complicações respiratórias, articulares, musculares e neurológicas nesta
etapa desde o pré-operatório até o pós-operatório. O fisioterapeuta traba-
lhará, por exemplo, com a cinesioterapia para a manutenção e ganho de
ADM e força muscular, técnicas para o controle de linfedema, ajustes postu-
rais e propriocepção.
O nível terciário corresponde aos hospitais de grande porte, com atendi-
mentos de alta complexidade, com foco na preservação da vida e manutenção
dos sinais vitais. A fisioterapia atua na reabilitação e manutenção respiratória
110 U3
- / Fisioterapia em mastologia
e Schmitz (1993), sendo 0 (zero) ausência de contração muscular palpável
ou observável, 1 contração perceptível à palpação, sem movimento articular;
2 movimento parcialmente realizado, sem vencer a ação da gravidade; 3
movimento completo realizado contra a ação da gravidade; 4 movimento
completo realizado contra a ação da gravidade com pequena resistência;
5 movimento realizado contra a ação da gravidade com máximo de resis-
tência ou escala de Oxford onde 0 é contração ausente, 1 contração mínima,
2 contração fraca, 3 contração regular, 4 contração boa e 5 contração normal.
Alguns exercícios devem ser explicados e demonstrados pelo fisiotera-
peuta e repetidos pelos pacientes, com o manual de orientação preparado
para consulta no domicílio também entregue.
Quando a paciente sai do centro cirúrgico, o procedimento na mama já
foi realizado e a recuperação da anestesia está totalmente finalizada, um fisio-
terapeuta pode iniciar o chamado atendimento imediato, ou seja, logo nos
primeiros dias de pós-operatório mesmo ainda em ambiente hospitalar.
A avaliação feita pela fisioterapia nessa etapa consiste em realizar inspeção
da área operada e suas adjacências, atenção especial à aparência da sutura,
presença de rubor ou secreção; palpação da região muscular e articular
próximas à área operada, verificando a temperatura, edema e dor à palpação;
cirtometria ou perimetria para verificar a circunferência do membro superior
em centímetros; goniometria do ombro homolateral à cirurgia, verificar a
amplitude de movimento (ADM) e intensidade de dor pela Escala Analógica
Visual (EAV), movimentação ativo-livre do ombro.
Estudos como de Petito et al. (2012) e Gouveia et al. (2008) sugerem que
a realização da cinesioterapia logo no pós-operatório imediato melhorou
consideravelmente a amplitude de movimento e reduziu a dor no membro
superior homolateral à cirurgia, e a avaliação prévia pôde direcionar o trata-
mento inicial.
A avaliação fisioterapêutica no pós-operatório imediato da mastectomia
feita na atenção terciária geralmente deve ser realizada nos primeiros dias da
cirurgia. É reconhecido que o fisioterapeuta deve estar inserido nos hospi-
tais logo no primeiro dia da pós-mastectomia, pois, o início do tratamento
cuidadoso durante o pós-operatório imediato, respeitando os limites da dor,
contribuem para a manutenção da mobilidade articular, do sistema imuno-
lógico, do condicionamento físico, aumentando a resistência à fadiga, preve-
nindo restrições motoras, favorecendo a propriocepção, promovendo relaxa-
mento e motivação pela vida.
- Avaliação fisioterapêutica no pós-operatório da mastectomia na
atenção secundária (atendimento ambulatorial):
112 U3
- / Fisioterapia em mastologia
abaixo do olécrano; 5 cm abaixo do olécrano; 5 cm acima do olécrano; 10 cm
acima do olécrano.
Figura 3.6 | Perimetria do membro superior
Fonte: iStock.
Exemplificando
Imagine que você trabalha em uma UBS e precisa desenvolver uma
cartilha de orientações para que a paciente possa levar para casa no
pré-operatório e no pós-operatório. Lembre-se que deve ser de fácil
compreensão e abordar as principais dúvidas, orientações práticas e
exercícios para re
Assimile
A imunidade é uma das diversas funções do sistema linfático, portanto,
o membro com comprometimento nesse sistema está desprotegido.
Algumas medidas preventivas são fundamentais, como:
114 U3
- / Fisioterapia em mastologia
- Avaliação das alterações posturais e consciência corporal:
As mulheres submetidas à retirada radical da mama, com ou sem esvazia-
mento axilar, apresentam uma tendência de compensação postural devido
ao quadro assimétrico apresentado, o padrão mais comum encontrado é
de ombros anteriorizados com alinhamento irregular das escápulas devido
à mudança súbita no peso tóraco-lateral na retirada de uma das mamas,
redução da amplitude de movimentos de flexão, abdução e rotação externa
do ombro, causada pela dor e/ou por medo, escápulas aladas bilaterais. Para
compensação da dor, as pacientes acabam por adotar uma postura hipercifó-
tica e apresentam distúrbios de sensibilidade nas regiões superiores e poste-
riores do braço e também axila.
Uma perfeita execução do movimento de flexão e abdução do ombro
requerem um funcionamento adequado dos músculos peitoral maior e
menor, grande dorsal, redondo maior, subescapular e romboide. Para a
rotação ascendente da escápula, é preciso ter preservada a função do músculo
serrátil anterior. E no movimento de rotação externa, o músculo peitoral
maior, grande dorsal, redondo maior e subescapular precisam estar em seus
comprimentos naturais e terem capacidade funcional íntegra.
Durante a cirurgia e/ou radioterapia do câncer de mama, alguns músculos
podem ser afetados pela proximidade de suas estruturas anatômicas e possí-
veis fibroses, como os músculos peitorais e serrátil anterior.
Para a avaliação postural, a paciente deve estar despida, ser posicionada
posteriormente a um simetrógrafo, e os desvios de eixos, desequilíbrios
musculares e desalinhamentos de estruturas anatômicas de referências, tanto
na visão ântero-posterior quanto na visão látero-lateral, devem ser analisados.
Reflita
De forma inconsciente o corpo humano tenta compensar a falta da
mama de um dos lados (peso, volume, sensibilidade, autoimagem) com
um equivocado reajuste proprioceptivo, desencadeando novas altera-
ções posturais. Pense como a fisioterapia pode ajudar nesta nova reali-
116 U3
- / Fisioterapia em mastologia
dade para reorganizar o cérebro, os músculos e as articulações para uma
mulher que não fará a reconstrução mamária, mas optou por utilizar
uma prótese externa.
Caro aluno, agora que finalizamos esta seção, você entendeu o quão é
importante a presença do fisioterapeuta para essas pacientes, portanto,
anime-se e busque novos conhecimentos, debata com seus amigos e
professores.
Avançando na prática
Descrição da situação-problema
Dona Marina, de 65 anos, é uma paciente atendida no ambulatório da
faculdade e apresenta um linfedema instalado há 6 meses e sua cirurgia foi
realizada há 8 meses. Lá ela faz o acompanhamento e controle do tamanho do
membro. Já foi atendida por alguns alunos que passaram por esse campo de
estágio e agora é a primeira vez que Cláudia irá atendê-la, mas antes, terá que
reavaliá-la. A aluna pega o prontuário da paciente, no qual consta o histórico
da evolução do linfedema. Vamos ajudar a aluna nessa etapa? Como você
faria essa reavaliação?
Resolução da situação-problema
Inicialmente deve ser lido o histórico do prontuário, e a aluna deve
apenas contextualizar alguns pontos que julgar importante e perguntar sobre
a evolução do quadro nas funções diárias da paciente. Depois é realizada
a inspeção do membro superior homolateral à cirurgia e comparação com
o membro contralateral, além da palpação com verificação da presença
ou ausência de fóvea (sinal de Gadet, cacifo ou pitting) e espessamento de
pele. A aluna não pode esquecer de medir a circunferência do braço com
a utilização de fita métrica flexível e comparar os achados com a primeira
avaliação. A paciente é colocada na postura em pé, com a área de avaliação
118 U3
- / Fisioterapia em mastologia
despida, com os braços relaxados ao lado do corpo, e utilizando do mesmo
ponto inicial predeterminado pelos colegas estagiários que atenderam essa
paciente nos meses anteriores (consta em prontuário), a aluna deve iniciar
sua perimetria, a cada nível de cinco em cinco centímetros de comprimento,
até completar toda a área do membro superior, anotar novos dados em
prontuário e comparar a evolução.
A avaliação da função do membro superior, da força e amplitude
articular, dos movimentos finos, simples e combinados, da sensibilidade e
da realização das atividades de vida diária, são de extrema importância para
determinar uma conduta fisioterapêutica individualizada para cada ganho
de função identificada, registrada e reformulada, quando julgar necessário.
De acordo com o texto-base marque a alternativa correta que condiz com a inserção
da fisioterapia na reabilitação pós-mastectomia:
a) Nos primeiros dias pós-mastectomia.
b) No vigésimo dia pós-mastectomia.
c) No décimo sexto dia pós-mastectomia.
d) No trigésimo dia pós-mastectomia.
e) No décimo dia pós-mastectomia.
Após a análise das afirmativas quais são os músculos flexores e abdutores do ombro
120 U3
- / Fisioterapia em mastologia
Seção 3.3
Diálogo aberto
Caro aluno, agora que você conhece mais profundamente sobre os aspectos
do câncer de mama, tipos de tratamentos e suas complicações, deve estar
muito curioso e entusiasmado para contribuir na reabilitação e retomada de
vida dessas mulheres, pois sabe que a fisioterapia terá papel fundamental.
Os prejuízos do câncer de mama são enormes, pois a necessidade cirúrgica afeta
a mulher em muitas funções básicas de sua rotina, sem contar seus efeitos psico-
lógicos, que interferem diretamente na sexualidade e imagem corporal feminina.
Então, você deve agora relembrar do caso clínico da Maria do Rosário,
49 anos de idade, tabagista e sem filhos, que devido a um nódulo de 1,3 cm
descoberto em sua mama direita, foi diagnosticada com câncer de mama. Foi
submetida à mastectomia e quimioterapia, além dos linfonodos comprome-
tidos. A reconstrução da mama foi realizada na sequência, com prótese de
silicone, minimizando alguns aspectos socioemocionais e possibilitando a
reabilitação precoce.
Após a fase cirúrgica e fase hospitalar, a paciente foi submetida a uma
avaliação fisioterapêutica no estágio ambulatorial da faculdade, em que
foram identificadas pela aluna Cláudia algumas alterações importantes,
como: dor, parestesia e linfedema em membro superior direito, diminuição
da amplitude de movimento da articulação do ombro direito, diminuição de
força muscular em membro superior direito, aderência em coluna cervical,
redução da expansão torácica e fadiga, alterações posturais e imagem corporal
distorcida. Como a fisioterapia pode contribuir no pós-operatório precoce?
Qual melhor conduta fisioterapêutica poderia ser definida e aplicada pela
aluna Cláudia para tratar os problemas citados e promover a reabilitação da
paciente após a fase aguda? Quais orientações sobre as atividades de vida
diária poderão ser indicadas?
Vamos descobrir adiante como a fisioterapia irá contribuir na promoção
da saúde com atendimento humanizado em mastectomia, na prevenção e
no tratamento da dor no pós-operatório em ambiente hospitalar e ambula-
torial, na prevenção e no tratamento do edema e linfedema, na prevenção
e no tratamento das restrições de mobilidade e das alterações posturais, na
reabilitação e orientações das atividades de vida diária?
122 U3
- / Fisioterapia em mastologia
Já na avaliação do pré-operatório algumas medidas importantes são
colhidas como peso da paciente, amplitude de movimento ADM (goniome-
tria) da articulação do ombro e cervical, testes de força muscular e perimetria
dos membros superiores (homolateral e contralateral da cirurgia), escalas de
dor e fadiga, funções nas Atividades de Vida Diária (AVDs), etc.
As referências inicias do pré-operatório irão guiar a evolução da paciente
quando comparadas com as métricas futuras em reavaliações regulares, além
disso, também proporcionam uma perspectiva nas abordagens e nos trata-
mentos futuros, além de orientar medidas preventivas domiciliares de prová-
veis complicações, como em atitudes alimentares, movimentos funcionais,
cuidados com a cicatriz, prevenção de linfedema e lesões que possam evoluir
para infecções no membro homolateral da cirurgia.
Neste momento do pré-operatório, costuma-se entregar uma cartilha
para a mulher levar para casa, pois a educação e conscientização nessa fase
irá reforçar os cuidados básicos de prevenção e tratamento de algumas
complicações do pós-operatório, na cartilha deve-se abordar certas dúvidas
frequentes, orientação de exercícios e alongamentos leves com a intenção de
manter a função de suas AVD’s, orientações de posturas, como a elevação
do membro homolateral a cirurgia em momentos de repouso, fará o favore-
cimento do retorno linfático pela força da gravidade, entre outros cuidados
com lesões por perfuração, queimaduras ou cortes no membro superior
atingido, com foco na prevenção de complicações do linfedema, que guiarão
e estimularão o contínuo processo de reabilitação.
A cartilha não substitui a reabilitação presencial acompanhada por um
fisioterapeuta e uma equipe multidisciplinar, é utilizada como apoio para
promoção de saúde e prevenção de complicações, serve também para gerar
responsabilidade ao paciente diante do seu tratamento, além de acrescentar
resultados nas atividades que serão feitas em ambulatório.
Prevenção e tratamento da dor no pós-operatório em ambiente hospi-
talar e ambulatorial
Prevenção e tratamento da dor no pós-operatório em ambiente hospi-
talar: o atendimento fisioterapêutico no pós-operatório imediato, ou seja,
logo nos primeiros 7 dias após a cirurgia, tem mostrado grandes resultados
na manutenção das funções do indivíduo, na amplitude de movimento, força
e tônus muscular, redução de dores e edema, promovendo assim, a mais
rápida recuperação e retorno às atividades.
Alguns testes e algumas medidas realizados no pré-operatório são
repetidos no pós-operatório imediato, respeitando o limite da dor e restrin-
gindo as amplitudes de movimento do ombro inferiores a 90º, por medida de
124 U3
- / Fisioterapia em mastologia
Assimile
A radioterapia requer posicionamento da paciente com ângulo de 90º na
articulação do ombro nos movimentos de flexão e abdução, o que exige
o início da fisioterapia já no pós-operatório imediato, assim, o objetivo
de atingir a ADM necessária para o tratamento é alcançado.
126 U3
- / Fisioterapia em mastologia
O linfedema não possui cura, portanto a prevenção de sua formação é o
principal objetivo da fisioterapia para esta complicação. Quanto mais cedo
for as intervenções, maior será o controle do lindedema.
Um dos métodos contra o linfedema é a fisioterapia complexa desconges-
tiva que é feita em dois tempos:
Fase 1: realiza drenagem linfática manual, bandagem compressiva
funcional (pressão distal), exercícios de contrações musculares favoráveis ao
retorno linfático (linfomiocinéticas), massagem e cuidados com a pele. Para
mobilizar o líquido em excesso e regredir a fibrose, que ocorrem de 1 a 2 vezes
na semana, o fisioterapeuta realiza geralmente em ambiente ambulatorial.
Fase 2: contenção elástica diária, exercícios de contrações musculares
favoráveis ao retorno linfático (linfomiocinéticas), automassagem e cuidados
com a pele. Para impedir o acúmulo de líquido no interstício e contribuir na
diminuição da fibrose, a frequência deve ser diária, feita em casa pela própria
paciente, mas previamente orientada pelo fisioterapeuta.
O laser de baixa intensidade é outra ferramenta importante, pois estimula
a motricidade linfática, reduz a fibrose no processo de cicatrização e aumenta
a resposta imunológica, reduzindo o risco de infecções.
Reflita
Você imaginava que em apenas 7 dias de pós-operatório, a redução dos
movimentos da articulação do ombro diminuiria o fluxo linfático em 40%?
É uma diferença muito grande em relação às mulheres que iniciaram os
exercícios logo no pós-operatório imediato. Você tem dúvidas sobre a
eficácia dessa prática?
128 U3
- / Fisioterapia em mastologia
Reabilitação e orientações nas atividades de vida diária
Uma ação muito eficaz em resultados de reabilitação de mulheres mastec-
tomizada é a atividade em grupo, nesta etapa, as pacientes utilizam de bola,
bastão, polias, pêndulos, música, dança, exercícios rítmicos e muita descontração
para mobilizar as regiões afetadas pela cirurgia, além de um apoio emocional
e reintrodução no meio social. Sintomas como desânimo, tristeza, frustração e
solidão são substituídos por amizades, alegria, motivação e colaboração.
Essa terapia de apoio formada por grupo de mulheres em situações
semelhantes, é acompanhada por uma equipe multidisciplinar (psicólogos,
fisioterapeutas, nutricionistas, médicos, etc.) com objetivo curativo e também
preventivo de complicações e da funcionalidade do indivíduo, proporcio-
nando, assim, melhor capacidade de execução das atividades, melhor quali-
dade de vida e apoio emocional.
São exercitados nessas rodas de mulheres as atividades de vida prática
(AVP’s), como cozinhar (por meio de oficinas de culinária), reforço aos
cuidados com o membro homolateral à cirurgia para prevenção de infecção
e linfedema, além de pentear os cabelos, escovar os dentes, tomar banho,
escada de dedos, cuidados com a beleza sem provocar ferimentos (ex:
empurrar as cutículas, não cortar), tratamento de autoestima, imagem
corporal e reajustes posturais.
A motivação de realizar os exercícios em grupo otimiza a frequência,
aumenta a adesão ao programa e a evolução é muito positiva na grande
maioria dos casos. Destaca-se o baixo custo para a implementação desse tipo
de programa na rede pública.
Exemplificando
Imagine que você irá conduzir o grupo de mulheres em tratamento do
câncer de mama, elas passaram pelos procedimentos cirúrgicos e já
estão na fase ambulatorial há quase um mês. Pense alguns exercícios
coletivos que trabalharão os pontos afetados no tratamento (cervical,
tronco, membros superiores ativos, resistidos, aeróbicos e metabólicos).
O que despertaria interesse no grupo para incentivar a frequência das
participantes? Seja criativo e torne a sessão de fisioterapia um lazer para
essas mulheres.
130 U3
- / Fisioterapia em mastologia
Avançando na prática
Descrição da situação-problema
Ana está chegando agora no grupo de mulheres mastectomizadas da sua
cidade natal, ela passou por uma cirurgia radical na mama direita e não fez
reconstrução. A falta do volume e peso da mama está acarretando alguns
padrões posturais involuntários, como escápulas aladas, ombros protusos,
rotação interna do ombro e cabeça anteriorizada. O aluno Fernando, que já
avaliou a paciente, irá iniciar um tratamento humanizado durante a terapia
em grupo. Quais exercícios você recomendaria se estivesse na posição de
Fernando?
Resolução da situação-problema
Na posição de Fernando, iniciaria a atividade em grupo, apresentando
o folder explicativo com as devidas orientações diárias para posturas, trans-
ferências, peso, etc. Depois, diante do espelho para trabalhar o feedback
visual e consciência corporal, faria alongamentos da coluna cervical (flexão,
extensão, inclinação lateral e rotação), depois com alongamento de músculos
antagonistas (peitoral maior e menor), trabalharia a correção da postura
na marcha, faria exercícios para fortalecer músculos agonistas (trapézio e
romboides), trabalharia a abdução do ombro, passando um instrumento
(bola ou bastão) para a colega ao lado sem girar o tronco, dentre outros.
Qual região anatômica tem maiores sequelas em suas funções após as cirurgias da
mama?
a) Ombro
b) Cotovelo
c) Punho
d) Coluna torácica
e) Coluna lombar
132 U3
- / Fisioterapia em mastologia
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Convite ao estudo
Caro aluno, seja bem-vindo à Unidade 4 da disciplina de Fisioterapia
na Saúde da Mulher. Convido você a aprofundar seus conhecimentos em
uma fase feminina muito delicada, cercada de questionamentos e conflitos,
o climatério, a fim de promover maior qualidade de vida através da fisiote-
rapia. Você conhecerá a importância dos hormônios sexuais na manutenção
do organismo feminino como um todo, e após a redução desses hormônios,
especialmente do estrogênio, que ocorre gradativamente na fase do climatério
até a inatividade total dos ovários, irá afetar diversas áreas do corpo humano,
como ossos, cartilagens, sistema vascular, órgão sexual, cérebro, em especial
as emoções que acabam acarretando em problemas socioemocionais.
Nesta unidade, através do conhecimento sobre fisioterapia no climatério
e qualidade de vida na saúde da mulher, estará apto a construir uma lista com
itens sobre as alterações do climatério e conduta fisioterapêutica associada à
qualidade de vida na saúde da mulher.
A fisioterapia no climatério atua em diversos aspectos físicos e emocio-
nais. Antigamente não era dada tanta importância, pois a expectativa de
vida não permitia que as mulheres alcançassem a faixa etária acometida pela
menopausa em plena atividade como é atualmente. Analisando mais profun-
damente, existe forte relação com disfunções hormonais, morfofuncionais,
psicológicas e sociais. A busca pela qualidade de vida e bem-estar está cada
dia mais destacada nos meios de comunicação, embora seja um paradoxo
com os reflexos dos tempos modernos, onde os alimentos industrializados, o
sedentarismo e o stress acentuam muitos esses problemas.
As abordagens da fisioterapia no climatério são importantes, tanto na
prevenção quanto no tratamento das diversas afecções que serão estudadas
a diante.
Como no caso da dona Inês, que tem 52 anos, 3 filhos, é sedentária e está
no período do climatério, ela possui 18 meses consecutivos sem apresentar
ciclos menstruais, portanto, há 6 meses passou pela menopausa, antes disso,
já apresentava ciclos menstruais irregulares, fogachos e transtornos do
sono. Seu exame de densitometria óssea aponta osteopenia leve e exames
de imagem identificaram desgastes articulares. Hoje está iniciando um
programa multidisciplinar, com foco em minimizar os sinais e sintomas da
menopausa, assim como prevenir complicações futuras.
A seguir, convido você a conhecer e aprofundar seus conhecimentos a
respeito do ciclo ovariano e uterino, dos hormônios sexuais, da fisiologia e
da sintomatologia da menopausa.
Paula é aluna de fisioterapia e irá atender a paciente Inês no ambulatório
da faculdade.
Vamos, então, ajudar a aluna Paula neste caso?
Seção 4.1
Climatério
Diálogo aberto
Caro aluno,
A seguir você irá conhecer as características da fase climatérica e seus
prejuízos funcionais para a mulher. Através do aprofundamento de conceitos
básicos sobre as alterações fisiológicas que ocorrem no período de transição
da fase reprodutiva até o encerramento total dos ciclos ovarianos, verá que
diversos órgãos e sistemas são diretamente influenciados, principalmente,
pela diminuição gradativa do estrogênio.
Veja o caso de Inês, ela tem 52 anos e está no período do climatério,
possui 18 meses consecutivos sem apresentar ciclos menstruais, portanto, há
6 meses passou pela menopausa, antes disso, já apresentava ciclos menstruais
irregulares, fogachos e transtornos do sono. Seu exame de densitometria
óssea aponta osteopenia leve e exames de imagem identificaram desgastes
articulares. Hoje está iniciando um programa multidisciplinar, com foco em
minimizar os sinais e sintomas da menopausa, assim como prevenir compli-
cações futuras.
Diante deste contexto, vamos ver uma situação hipotética:
Inês está muito desanimada, relata que desde que sua menstruação
começou a desregular, ficando cada vez mais espaçada, há aproximada-
mente um ano e meio, não tem mais qualidade no sono, vive irritada, sente
os fogachos e uma sudorese exagerada, principalmente em região de tronco,
cabeça e pescoço, não tem interesse em ter relação sexual com seu esposo,
pois sente muitas dores e a vagina não fica mais lubrificada, sente que escapa
a urina ao espirrar ou tossir, sente dores musculares e articulares, cefaleias e
seu exame de densitometria óssea aponta osteopenia.
Hoje essa paciente está iniciando um programa multidisciplinar com
foco em minimizar os sinais e sintomas da menopausa, assim como prevenir
complicações futuras.
Paula é aluna de fisioterapia e irá atender a paciente Inês no ambulatório
da faculdade, ela realizou uma avaliação da paciente, colhendo anamnese,
exame físico e testes funcionais. Paula sabia que o climatério traz muitas
alterações, mas não imagina a dimensão delas. Ao final, se questionou quais
seriam os motivos prováveis para as queixas dessa paciente? Seria apenas a
questão hormonal? Qual seria a fisiologia da menoupausa?
140 U4
- / Fisioterapia no climatério e qualidade de vida na saúde da mulher
A seguir, convido você a conhecer e aprofundar seus conhecimentos a
respeito do ciclo ovariano e uterino, dos hormônios sexuais, da fisiologia e da
sintomatologia da menopausa, pois o conhecimento básico desses aspectos
irá guiar as futuras condutas fisioterapêuticas que irá aplicar para as mulheres
no período do climatério.
Vamos começar a jornada de estudos, com o anseio de melhorar a vida
dessas mulheres que estão a nossa volta o tempo todo e que refletirão suas
aflições e também suas alegrias com as pessoas que as cercam.
Irá se surpreender com tantos benefícios que a fisioterapia, ou seja, o seu
trabalho pode proporcionar! Vamos lá!
142 U4
- / Fisioterapia no climatério e qualidade de vida na saúde da mulher
Figura 4.1 | Ciclo ovariano
144 U4
- / Fisioterapia no climatério e qualidade de vida na saúde da mulher
desprendimento, a denominada menstruação. A baixa de estrogênio e de
progesterona faz, então, com que a produção do hormônio folículo estimu-
lante (FSH) recomece, iniciando assim o novo ciclo.
Já a prolactina, que antes era conhecida apenas por controlar a secreção
láctea, atualmente tem importância sistêmica reconhecida como sua ação em
funções reprodutivas, inclusive com ações no endométrio.
Após a menopausa, ocorre uma síntese diminuída dos hormônios
ovarianos, causando uma involução dos órgãos reprodutores. Na figura
abaixo é possível visualizar a ação dos hormônios ovarianos ao longo da vida,
no epitélio vaginal e no endométrio (Figura 4.3).
Figura 4.3 | Ação dos hormonal no epitélio vaginal e no endométrio, ao longo da vida
146 U4
- / Fisioterapia no climatério e qualidade de vida na saúde da mulher
em hormônios femininos. O estradiol é oriundo do colesterol, uma porção
de androstenediona é convertida em testosterona e depois em estradiol por
uma enzima denominada aromatase.
O estrogênio interfere no metabolismo ósseo durante toda a vida da
mulher. Através da terapia hormonal com os estrogênios (estradiol e dieti-
lestilbestrol) é inibida a reabsorção óssea, o que previne perdas ósseas em
mulheres no periodo pós-menopausa.
Mudanças hormonais nas mulheres podem provocar doenças degenera-
tivas articulares e ósseas, ocasionadas por disfunções na síntese da matriz
óssea, redução da secreção, ações de enzimas de degradação no tecido carti-
laginoso e carência de vitamina A, reduzindo a quantidade de osteoblastos
e aumentando os osteoclastos, gerando perda óssea e de cartilagem. Essas
alterações resultam em dores, deformidades e limitações na amplitude de
movimento (ADM) das articulações.
Os esteroides sexuais (estrogênios, progestagênios e androgênios) estão
relacionados com a manutenção dos tecidos cartilaginoso e ósseo, assim, em
mulheres na pós-menopausa ou com osteoartrite, a administração desses
hormônios deve ser avaliada (Wolff, et al. 2012).
Reflita
Imagine que está em situação semelhante da aluna do estágio citada na
situação problema e precisa elaborar algumas estratégias para prevenir
o avanço da osteopenia que a paciente apresenta, poderia pensar em
alguma linha de conduta?
- Fisiologia da menopausa
A diminuição gradativa do estrogênio é um resultado natural do envelhe-
cimento feminino, além disso, o estrogênio possui papéis importantes no
metabolismo dos carboidratos e dos lipídios, no sistema reprodutivo, sistema
vascular, sistema urogenital, sistema musculoesquelético e no sistema neuro-
lógico, portanto, na sua redução ou ausência, causa alterações funcionais
nesses sistemas. Já as gonadotrofinas – hormônio foliculoestimulante (FSH)
e hormônio luteinizante (LH) – e o estradiol, principal estrogênio natural
feminino, apresentam alto grau de variabilidade nos seus níveis circulantes.
Comumente, um ano após o final do período menstrual, os níveis de
FSH e LH são elevados, enquanto que os níveis de estradiol são baixos ou
ausentes. Após a menopausa, a estrona (considerada um tipo mais fraco de
estrogênio) é secretada no corpo feminino, já os níveis séricos de testoste-
rona diminuem moderadamente.
- Sintomatologia da menopausa
Para mensurar os sinais e sintomas da menopausa, alguns questionários
específicos podem ser aplicados, pois os sintomas variam muito em inten-
sidade e frequências devido algumas interferências de fatores psicossociais,
além das alterações fisiológicas propriamente ditas.
Alguns sinais e sintomas mais comuns são os fogachos, cefaleias, trans-
tornos do sono, perda de memória, depressão, alterações de humor, ansie-
dade, irritabilidade, sudorese, secura e atrofia vaginal, dores na relação sexual,
incontinência urinária, fadiga muscular, artralgias, osteopenia e osteoporose
e fatores ocupacionais.
O fogacho é um sintoma vasomotor, caracterizado por repentina
sensação de calor, localizada principalmente em regiões de rosto, pescoço
e tórax, geralmente possuem duração de 4 minutos. Este sintoma costuma
desencadear a sudorese e sensação de frio posterior.
O hipotálamo, responsável pela termorregulação, sofre interferências da
redução de estrogênio no organismo e desencadeia as ondas de calor. Alguns
fatores aumentam as ocorrências de fogachos, como o tabagismo, sobrepeso
e obesidade. De 10 a 15% das mulheres sofrem com esses sintomas, mesmo
após anos de menopausa.
O ressecamento e atrofia da vagina são sintomas presentes em cerca de
30 a 50% das mulheres, que acarretam dores e desconforto na relação sexual,
além do aumento de ph que favorece o desenvolvimento de infecções. O pH
vaginal saudável é de 3,8 a 4,5 (ácido).
A incontinência urinária e a urgência estão presentes, pois a redução do
estrogênio altera a coaptação da mucosa da uretra, dificultando o controle
urinário.
Já os transtornos emocionais e do sono são causados pela alteração
hormonal e também pela redução de qualidade de vida.
As alterações como fadiga muscular, artralgias, cefaléias e ganho de
peso estão relacionadas tanto aos fatores hormonais quanto ao processo de
148 U4
- / Fisioterapia no climatério e qualidade de vida na saúde da mulher
envelhecimento e seus efeitos na qualidade de vida.
A osteopenia e osteoporose estão presentes devido a redução do estro-
gênio ser causa da deficiência na formação e reabsorção óssea, aumentando,
assim, o risco de fraturas.
Algumas mulheres podem ter contraindicações para reposição hormonal
e a acupuntura tem mostrado excelentes resultados para aliviar os sinais e
sintomas no período do climatério.
Exemplificando
Fátima, de 53 anos, está sofrendo muito com os fogachos, e este
sintoma tem prejudicado sua vida drasticamente, principalmente
pela interferência na qualidade do sono, gerando maior irritabi-
lidade, fadiga física e mental. Por conta disso, após indicação de
reposição hormonal pelo médico, a paciente foi encaminhada para
a fisioterapia.
O profissional que atendeu dona Fátima, após sua avaliação, elaborou
um programa de exercícios físicos com hidroterapia, exercícios ativos
livres e resistidos, atividades de impacto e equilíbrio para minimizar os
sintomas de fogachos, alterações do sono e fatores emocionais, além
de prevenir distúrbios musculoesqueléticos. Os recursos terapêu-
ticos manuais também foram indicados, como a massagem clássica,
pompage e reflexologia podal, pois possuem amplos efeitos relaxantes
que complementam e otimizam o tratamento. Já os exercícios de MAP
podem ser indicados para prevenção de alterações do sistema vesical/
anal e sexualidade, afetando, assim, a qualidade de vida, fechando,
assim, o programa de tratamento de forma mais completa.
Agora que está mais familiarizado com o assunto, deve estar refletindo
sobre quanto a fisioterapia poderá atuar para minimizar, tratar e prevenir
algumas ações desconfortáveis do período do climatério e da menopausa.
Continue pesquisando e não perca a chance de conversar sobre o assunto
com os colegas de classe.
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- / Fisioterapia no climatério e qualidade de vida na saúde da mulher
é secretado no corpo feminino, já os níveis séricos de testosterona diminuem
moderadamente.
Conhecer os principais sinais e sintomas do climatério irá facilitar para
elaboração da conduta fisioterapêutica associada à qualidade de vida na
saúde da mulher.
Avançando na prática
Descrição da situação-problema
Joelma tem 58 anos e chega ao ambulatório para ser atendida por você.
Ela se queixa de incontinência urinária e já passou pela menopausa há 4 anos,
mas ainda apresenta sinais e sintomas do período do climatério, como distúr-
bios do sono, sudorese noturna e, agora, devido a incontinência urinária, está
preferindo não sair mais de casa. Joelma tem algumas dúvidas e lhe questiona
qual seria a relação da menoupausa com a incontinência urinária?
Resolução da situação-problema
Você, prontamente, explica para Joelma que existe uma deficiência do
estrogênio, um hormônio que atua no organismo feminino, e que há uma
redução gradativa na fase do climatério até a inatividade total dos ovários,
afetando diversas áreas do corpo humano, como ossos, cartilagens, sistema
vascular, órgão sexual, cérebro, em especial as emoções que acabam acarre-
tando em problemas socioemocionais. Causa também redução (atrofia)
genital, fraqueza muscular do assoalho pélvico e diminuição da coaptação da
mucosa da uretra, gerando incontinência urinária, portanto nosso trabalho
será prevenir e reduzir esses efeitos incômodos que podem trazer algum
constrangimento social, podendo inibir a paciente a realizar suas atividades.
152 U4
- / Fisioterapia no climatério e qualidade de vida na saúde da mulher
Marque a alternativa onde todos sinais e sintomas do climatério estão corretos:
Diálogo aberto
Caro aluno,
Vamos retomar o caso da dona Inês, de 52 anos?
Ela é uma mulher com 3 filhos, sedentária, no período do climatério que
há 6 meses passou pela menopausa, mas um ano antes já apresentava ciclos
menstruais irregulares, fogachos e transtornos do sono. Seu exame de densi-
tometria óssea aponta osteopenia leve e exames de imagem identificaram
desgastes articulares.
Inês, que está muito desanimada, relata que desde que sua menstruação
começou a desregular, não tem mais qualidade no sono, vive irritada, sente
os fogachos e uma sudorese exagerada, principalmente em região de tronco,
cabeça e pescoço, não tem interesse em ter relação sexual com seu esposo,
pois sente muitas dores e a vagina não fica mais lubrificada, sente que escapa
a urina ao espirrar ou tossir, sente dores musculares e articulares, cefaleias e
seu exame de densitometria óssea aponta osteopenia.
A paciente iniciou o programa multidisciplinar para minimizar os sinais
e sintomas da menopausa, assim como prevenir complicações futuras.
Paula, que é a aluna de fisioterapia, atende Inês no ambulatório da facul-
dade e deverá elaborar algumas condutas fisioterapêuticas direcionadas aos
problemas do climatério. O foco maior será tanto para prevenção quanto
para o tratamento das disfunções do assoalho pélvico, disfunções sexuais,
osteoporose, perda de massa óssea e alterações emocionais. Vamos ajudá-la
a montar esse programa fisioterapêutico? Ao final, faça a associação com a
importância do trabalho em equipe multidisciplinar e sua relação com os
recursos utilizados pela fisioterapia.
Após o aprofundamento em conhecimento sobre condutas fisioterapêu-
ticas nas disfunções do assoalho pélvico, nas disfunções sexuais, na osteopo-
rose e perda de massa óssea no climatério, você verá alguns recursos fisiotera-
pêuticos utilizados e a importância da equipe multidisciplinar no climatério.
Lembre-se de que o domínio dos assuntos citados acima proporcionará
maior sucesso em suas condutas escolhidas para tratar as pacientes na fase do
climatério, vamos conhecer mais?
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- / Fisioterapia no climatério e qualidade de vida na saúde da mulher
Não pode faltar
Caro aluno,
Como foi visto na Seção 4.1, o climatério é o período na vida da mulher
onde ocorre a transição do período reprodutivo para o período não reprodu-
tivo, passando pelo marco da menopausa que só é determinado após um ano
de suspensão total dos ciclos menstruais.
A interrupção dos ciclos menstruais é causada pela diminuição grada-
tiva de produção dos hormônios pelos ovários, principalmente o estrogênio.
A redução do estrogênio, por sua vez, trará alguns prejuízos para a vida da
mulher na fase do climatério, que pode durar até 10 anos (5 anos antes e 5
anos depois da menopausa), como disfunções do assoalho pélvico, alterações
sexuais, complicações musculoesqueléticas, como hipotrofia e osteoporose,
alterações cardiovasculares, distúrbios emocionais e consequentemente,
diminuição da qualidade de vida (QV).
É possível mensurar os sinais e sintomas do climatério pelo Índice
Menopausal de Blatt-Kupperman (IMBK), este instrumento é amplamente
empregado tanto para uso clínico quanto para pesquisas, o objetivo é
monitorar os efeitos de diversos tratamentos usados na fase do climatério
com grande precisão.
Sua composição é dada pelos seguintes sintomas: ondas de calor, pares-
tesia, insônia, nervosismo, depressão, fadiga, atralgia/mialgia, cefaleia,
palpitação e zumbido no ouvido, aos quais a paciente deve atribuir pontos
segundo cada intensidade: 1, 2 e 3, que apresentam sintomas leve, moderado
e acentuado, respectivamente.
O escore final é definido pela soma das pontuações desses sintomas
supracitados, após multiplicação por fatores de conversão, com objetivo de
mensurar quantitativamente a intensidade da sintomatologia climatérica. Os
resultados da soma até 19 são considerados leves, de 20 a 35 são moderados
e mais de 35 são classificados como intensos (Figura 4.6).
156 U4
- / Fisioterapia no climatério e qualidade de vida na saúde da mulher
do assoalho pélvico (PFMT). Os objetivos desse tratamento são aumentar a
função esfincteriana em torno da uretra, o apoio dos órgãos pélvicos, circu-
lação sanguínea local, reeducação e hipertrofia da MAP, bem como contri-
buir para a melhoria da saúde sexual. O PFMT pode estar associado a outros
recursos, como cirurgias e medicamentos, biofeedback e cones vaginais, bem
como mudanças de hábitos.
Estudo feito por Lisboa et al. (2015) com mulheres nigerianas na fase do
climatério, com objetivo de investigar o efeito de um programa de 12 semanas
de exercícios físicos e de fortalecimento do assoalho pélvico, mostrou que a
intervenção fisioterapêutica proporcionou melhoras significativa na quali-
dade de vida em geral.
A literatura sugere que ao tratar a IU causada por fraqueza muscular, a
utilização de eletroestimulação, as frequências mais utilizadas são 65 Hz ou
70 Hz, que estimulam fibras de contração rápida; 50 Hz é mais comumente
usada para propriocepção de contrações PFM ou quando se prepara músculos
para receber uma maior frequência. A continência urinária depende não
somente da integridade do esfíncter interno e do mecanismo uretral passivo,
mas também do esfíncter uretral externo, que depende da integridade das
fibras musculares estriadas de contração rápida. A associação da estimulação
elétrica com exercícios de MAP não aumentou a continência urinária mais
do que os exercícios de MAP isolados, mas a decisão clínica deve ser anali-
sada com cautela, pois separadamente ambas demonstraram eficácia similar.
A eficácia do tratamento depende da correta avaliação por um fisiotera-
peuta para elaborar a correta prescrição dos exercícios, intensidade, repetição
e sustentação das contrações da MAP.
Sessões de cinesioterapia do assoalho pélvico proporcionam melhorias
significativas na qualidade de vida de mulheres com disfunções no assoalho
pélvico, incontinências urinarias e fecais. Exemplos de exercícios aplicados
pela fisioterapia são os treinamentos de contrações da MAP, que podem
iniciar com 10 contrações rápidas, aumentado gradativamente a frequência
conforme a evolução do tratamento, seguidos por repetições de contrações
de duração longa, podendo iniciar com 5 segundos e aumentando o tempo
de contração ao longo da evolução do tratamento. A paciente pode iniciar os
exercícios em decúbito dorsal, anulando a força gravitacional, evoluir para
a postura sentada em superfície estável e aumentar o grau de dificuldade
conforme o progresso do tratamento, como a utilização da bola (Figura 4.7).
Fonte: iStock.
158 U4
- / Fisioterapia no climatério e qualidade de vida na saúde da mulher
A fisioterapia com exercícios de cinesioterapia para o assoalho pélvico
melhoraram a sintomatologia climatérica, proporcionam melhorias signifi-
cativas na qualidade de vida, saúde ocupacional, emocional e sexual.
A função sexual pode ser avaliada por meio do questionário do Quociente
Sexual versão feminina (QS-F), construído e validado na língua portuguesa
por Abdo (2009), ele possui perguntas sobre vários domínios da atividade
sexual da mulher, como desejo, excitação, orgasmo e seus respectivos corre-
latos psicofísicos graduados de 0 a 100, em que quanto mais próximo de 100,
melhor é a função sexual.
A cinesioterapia do assoalho pélvico em mulheres na fase do climatério é
capaz de melhorar a qualidade de vida, função sexual e sintomatologia clima-
térica. As disfunções sexuais, sinais e sintomas climatéricos e repercussão
negativa da qualidade de vida em mulheres são frequentes, mas estudos
mostram os efeitos positivos da cinesioterapia do assoalho pélvico para
minimizar essas queixas.
Assimile
A musculatura do assoalho pélvico possui fibras de contração rápida e
fibras de contração lenta, portanto treinamentos que trabalhem ambas
as formas de contrações irão fortalecer por completo a região pélvica e
trarão benefícios para o tratamento das disfunções sexuais e também
incontinências urinárias e fecais.
Fonte: iStock.
Reflita
Caro aluno, projete sua mente ao futuro, imagine que terá que elaborar
um programa fisioterapêutico abrangente para cobrir as diversas altera-
ções desenvolvidas no decorrer desta seção. Já consegue construir o passo
a passo de um tratamento para suas futuras pacientes no climatério?
160 U4
- / Fisioterapia no climatério e qualidade de vida na saúde da mulher
são trabalhados no tratamento da osteoporose, principalmente por diminu-
írem os riscos de quedas e fraturas, além de reforçarem o ganho de força
muscular e da massa óssea.
Os exercícios físicos aeróbios de alta intensidade e de impacto como
atividade física habitual geram contração muscular, que transmitem carga
aos ossos, o que aumenta a absorção mineral do cálcio pelo intestino e
reabsorção óssea. A exposição à luz solar faz com que os raios ultravioletas
convertam a vitamina D em sua forma ativa no organismo. Portanto, a prática
de exercícios físicos combinados com a suplementação de cálcio e vitamina
D melhoram a densidade mineral óssea.
Os exercícios como corridas de velocidade e musculação são eficientes
na melhoria da composição óssea e também de fatores, como lipídios circu-
lantes, aptidão física, além de diminuir os efeitos da menopausa.
Os exercícios aeróbios têm grandes efeitos na prevenção da osteoporose
se combinados com exercícios de força, como treino resistido de membros
superiores (ver Figura 4.9), de alta resistência e complementados com
a ingestão de cálcio e vitamina D. Quando são praticados isoladamente e
regularmente não apresentam eficiência na prevenção da perda da massa
óssea. Já os exercícios de alto impacto são bastante eficientes na prevenção
da perda óssea, pois exigem maior resistência óssea, colocando os ossos em
situações de estresse.
Figura 4.9 | Treinamento resistido
Fonte: iStock.
Exemplificando
Como exemplo, temos o estudo de Chagas et al. 2015, que aplicou
exercícios físicos em vinte semanas e teve resultados satisfatórios
em mulheres obesas no climatério pós-menopausa, reduzindo a
gordura corporal, a pressão arterial sistólica, os valores de trigli-
cerídeos e glicemia de jejum. Suas atividades foram realizadas em
três sessões semanais de 90 minutos, em dias intercalados, com
total de 270 minutos de exercícios semanais compostos da seguinte
maneira: 1) inicial (10 minutos) para o aquecimento; 2) principal (75
minutos), atividades aeróbias (50 minutos) e de força, resistência e
alongamento muscular (25 minutos); e 3) final (5 minutos), para as
atividades de volta à calma.
O treinamento resistido foi realizado com exercícios isométricos e
dinâmicos, executados de quatro a seis exercícios em quatro séries
com 4 segundos de contração, sendo a progressão da carga a cada
4 semanas com aumento do número de exercícios. Foram realizados
três a seis exercícios dinâmicos, sem sobrecarga, em quatro séries,
com 10 repetições, sendo a progressão da carga a cada 4 semanas
pelo aumento do número de exercícios.
162 U4
- / Fisioterapia no climatério e qualidade de vida na saúde da mulher
fibromialgia podem ser confundidos com os da síndrome climatérica.
Portanto, analisando a associação entre ambas, resultados têm sugerido que
os distúrbios hormonais do climatério podem estar diretamente envolvidos
na gênese de sintomas associados à fibromialgia em mulheres de meia-idade.
A cinesioterapia do assoalho pélvico tem se mostrado eficiente na qualidade
de vida, na função sexual e na sintomatologia climatérica de mulheres com e
sem fibromialgia na fase do climatério.
A hidroterapia é outro recurso importante, principalmente para tratar
e prevenir problemas cardiovasculares, pois é considerado um exercício
aeróbio, trabalha a resistência muscular e embora o impacto mecânico ser
ausente na piscina, anulando parte do estímulo da fixação do cálcio nos ossos,
a contração muscular contra a resistência da água promove algum estimulo,
além de possibilitar a manutenção da independência física para realização
das atividades de vida diária e melhora da qualidade de vida, pelo preparo
físico geral oferecido pela atividade.
Alguns recursos terapêuticos manuais podem auxiliar na redução dos
sintomas emocionais, reduzindo o estresse e a ansiedade da paciente, como,
por exemplo, a massagem clássica.
Segundo estudo de Dedicação et al. (2017), as dores articulares e muscu-
loesqueléticas são sintomas altamente prevalentes, estão presentes em 82%
das mulheres climatéricas e as áreas mais afetadas são região lombar, joelhos
e ombros, com intensidades de moderada a intensa.
Uma possível explicação para a dor musculoesquelética no período
do climatério está relacionada com alterações hormonais, especialmente
o hipoestrogenismo, que provoca o desgaste da cartilagem. Outro aspecto
importante dos hormônios sexuais é a interferência na modulação da dor,
causando maior predisposição do sintoma nas mulheres climatéricas.
A dor, que pode ser até incapacitante, afeta toda a vida de uma pessoa,
gerando problemas interpessoais, familiares e interferências na capacidade
de realizar atividades de vida diária e vida social. Dedicação et al. (2017)
verificaram que a maioria das mulheres climatéricas estudadas apresentavam
dor crônica, gerando impacto importante na vida profissional e social, bem
como sobre a QV.
A acupuntura, que é uma especialidade da fisioterapia, tem demonstrado
uma grande melhora dos sintomas vasomotores, psicológicos e musculoes-
queléticos. Estudos mostram a hipótese de que a acupuntura proporcione
uma redução da frequência de fogachos, melhorando a qualidade de vida da
mulher no climatério.
Fonte: iStock.
164 U4
- / Fisioterapia no climatério e qualidade de vida na saúde da mulher
reposição do estrogênio (inhame, soja, folha de amora) e alimentos que contri-
buem para o tratamento dos sintomas emocionais (nozes, castanhas, banana)
e a restrição de alimentos que desfavoreçam sua absorção (cafeína, refrige-
rantes). E também orientar a retirada dos alimentos maléficos que intensificam
os sinais e sintomas já citados (cafeína, refrigerante, açúcares, frituras).
A psicologia irá trabalhar a parte emocional e social, geralmente alteradas
pelos conflitos que a fase proporciona na dificuldade de aceitação do processo
de envelhecimento, além dos desajustes de humor de fundo hormonal e das
dificuldades apresentadas, como as disfunções supracitadas.
A fisioterapia irá se beneficiar das contribuições das outras áreas e a
paciente terá melhores resultados em seu programa de reabilitação como um
todo, pois estará mais animada, com energia e satisfação para realizar todas
terapias propostas pelos profissionais da equipe multidisciplinar.
Cada membro da equipe multidisciplinar terá papel de grande impor-
tância focados em suas especialidades, porém, com o mesmo objetivo, gerar
os resultados finais excelentes para o tratamento das pacientes, como mostra
a Figura 4.11.
Figura 4.11 | Membros da equipe multidisciplinar
Fonte: iStock.
Exemplificando
Pense em dois contextos diferentes, no primeiro, uma mulher na
fase do climatério possui desde sempre hábitos de vida saudáveis
(alimentação, exercícios, atividades sociais); depois, imagine uma
mulher na mesma fase, mas que ao longo da vida não se preocupou
em desenvolver bons hábitos, você consegue perceber os prejuízos
físicos, emocionais e sociais de cada uma e traçar uma comparação?
166 U4
- / Fisioterapia no climatério e qualidade de vida na saúde da mulher
Faria exercícios de fortalecimento muscular com carga e impacto
moderado, trabalhos proprioceptivos, de equilíbrio e de postura para
prevenir e tratar o sintoma de perda de massa óssea, prevenir quedas e conse-
quentemente evitar fraturas, exercícios de extensão isométrica de tronco,
atividades em cadeia cinética aberta, corridas e caminhadas e exercícios de
equilíbrio e coordenação. Para tratar os sintomas emocionais, a massagem
clássica trará resultados. A acupuntura é uma excelente ferramenta, porém,
para ser aplicada, o profissional de fisioterapia necessita fazer uma especia-
lização, portanto, no contexto do estágio não é possível. Também encami-
nharia a paciente para os alunos do estágio de psicologia e nutrição.
Conhecer as alterações do climatério e as condutas fisioterapêuticas que
podem ser usadas em cada uma delas irá contribuir no aumento da quali-
dade de vida na saúde da mulher.
Caro aluno, agora falta pouco para que você possa construir uma lista com
itens sobre as alterações do climatério e conduta fisioterapêutica associada à
qualidade de vida na saúde da mulher. Então, vamos para a última seção
desta Unidade 4. Bom estudo!
Avançando na prática
Descrição da situação-problema
Marli tem 59 anos, é obesa e está no climatério pós-menopausa, atual-
mente está com os exames muito alterados, apresentado hipertensão arterial,
triglicérides altos e glicemia de jejum descompensada. Você, aluno(a) de
estágio em fisioterapia na saúde da mulher, percebe que estes fatores têm
relação com a fase hormonal em que a paciente se encontra, principalmente
pela falta da produção do estrogênio. Quais condutas você indicaria para
minimizar os prejuízos cardiovasculares dessa paciente?
Resolução da situação-problema
Incluiria atividades em três sessões semanais de 90 minutos, em dias
intercalados, com total de 270 minutos de exercícios semanais, compostos da
seguinte maneira: 1) inicial (10 minutos) para aquecimento; 2) principal (75
minutos), dividida em: atividades aeróbias (50 minutos) e força, resistência
1. A fisioterapia tem sido muito eficaz para prevenir, minimizar e tratar as complica-
ções na fase climatérica. É possível mensurar os sinais e sintomas do climatério pelo
Índice Menopausal de Blatt-Kupperman (IMBK), este instrumento é amplamente
empregado tanto para uso clínico quanto para pesquisas, o objetivo é monitorar os
efeitos de diversos tratamentos usados na fase do climatério com grande precisão.
168 U4
- / Fisioterapia no climatério e qualidade de vida na saúde da mulher
mulheres entre 35 e 65 anos (32% da população feminina) estão na faixa etária em que
ocorre o climatério e com o aumento da expectativa de vida mundial, essa porcen-
tagem tende a aumentar.
A fisioterapia tem utilizado alguns padrões de treinamentos de MAPs para minimizar
as complicações para as mulheres no climatério.
a) I e II, apenas.
b) I e III, apenas.
c) II e III, apenas.
d) II e IV, apenas.
e) I, II, III e IV.
170 U4
- / Fisioterapia no climatério e qualidade de vida na saúde da mulher
Seção 4.3
Diálogo aberto
Você deve estar feliz em conhecer mais sobre os assuntos desta seção e
aposto que está animado para utilizar os recursos terapêuticos da fisioterapia
em suas futuras pacientes na fase do climatério, não é mesmo?
Nos dias atuais, a mulher tem desempenhado diversos papéis na socie-
dade, nos quais a Qualidade de vida (QV) é determinada pela satisfação
da própria pessoa em desempenhá-los com maior excelência. Com a vida
moderna e os avanços tecnológicos, as mulheres têm sofrido com estresses,
sedentarismos, má alimentação, falta de lazer, o que cada vez mais contribui
para o desenvolvimento de doenças relacionadas aos novos hábitos.
Para elaborar estratégias corretas da fisioterapia, tanto na prevenção
quanto no tratamento dos efeitos indesejados desta fase climatérica, aborda-
remos avaliação e qualidade de vida das mulheres nesta fase para preservar e
otimizar a QV. Para tanto, iremos relembrar a situação hipotética desta seção:
Retomando brevemente o caso da dona Inês, com 52 anos, 3 filhos,
sedentária e que passa pelo período do climatério, há 6 meses passou pela
menopausa, mas antes já apresentava ciclos menstruais irregulares, fogachos
e transtornos do sono. Apresenta osteopenia leve e desgastes articulares.
Assim, iniciou um programa multidisciplinar com o foco em minimizar os
sinais e sintomas da menopausa, assim como prevenir complicações futuras.
A supervisora do estágio em fisioterapia aplicada à saúde da mulher
solicitou uma pesquisa sobre as interferências do climatério na QV dessas
mulheres e pediu um relatório com os seguintes itens sobre o tema “QV das
mulheres no climatério’’: definição, relação com o estado de saúde geral, tipos
de avaliação (questionários), relação com a incontinência urinária, impor-
tância de trabalho em equipe multidisciplinar.
A partir de agora, iremos conhecer a definição e os conceitos de QV, a QV
relacionada à saúde, avaliação da QV e saúde, avaliação da QV em mulheres
com incontinência urinária e climatério e importância da equipe multidisci-
plinar na QV na saúde da mulher.
Vamos aprender outras abordagens importantíssimas da nossa profissão?
Você irá se surpreender!
Fonte: iStock.
172 U4
- / Fisioterapia no climatério e qualidade de vida na saúde da mulher
- Qualidade de vida relacionada à saúde
A QV e a saúde estão intimamente relacionadas, pois a saúde auxilia para
melhorar a QV e também a QV proporciona melhor saúde.
Considerando a QV relacionada à saúde, destaca-se o crescente interesse
dos pesquisadores desta área pela melhoria da QV dos indivíduos, principal-
mente daqueles acometidos por alguma doença.
Algumas modalidades de tratamentos de doenças comuns em mulheres,
por exemplo, no câncer de colo de útero, causam sequelas ao assoalho pélvico,
levando a disfunções associadas aos sistemas urinário e genital, assim como a
uma interferência na vida sexual.
No tratamento do câncer de mama, já abordado na Unidade 3, foi possível
perceber a enorme relação com a QV, tanto pela interferência direta da área
operada quanto nas regiões próximas como a região de axila, ombro, coluna
cervical, braço e antebraço, comprometendo a mobilidade do membro
superior e alterações posturais, gerando distúrbios funcionais, emocionais e
sociais que interferem na QV.
O impacto psicossocial juntamente ao dano físico leva a uma deterio-
ração da QV.
- Avaliação da qualidade de vida e saúde
A menopausa é o marco biológico da cessação permanente da menstru�-
ação e faz parte da fase do climatério, com interferencia direta na QV das
mulheres, pois suas manifestações mais comuns são dores articulares, distúr-
bios do sono, mudanças de humor, irritabilidade ou ansiedade, problemas
sexuais, disfunção da bexiga e secura vaginal, entre outras manifestações já
descritas anteriormente.
As ondas de calor podem ser mensuradas através de um instrumento
denominado Escala Cervantes (CE), nele foi possível explorar a demons-
tração das ondas de calor por três questões: “logo se percebe que começa a
suar sem qualquer esforço”, “nota-se quente de repente” e “produção de suor
sem ter feito qualquer esforço”
Alguns questionários são amplamente utilizados como métodos cientí-
ficos para mensurar a QV das pessoas de diferentes grupos sociais, países
e culturas. Eles foram determinados pela Organização Mundial da Saúde
(OMS).
174 U4
- / Fisioterapia no climatério e qualidade de vida na saúde da mulher
Figura 4.13 | Mulheres realizando atividades físicas em grupo
Fonte: iStock.
176 U4
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Figura 4.14 | Mulher bebendo água
Fonte: iStock.
Exemplificando
Em uma unidade básica de saúde a equipe multidisciplinar atua em conjunto
em diversas frentes, geralmente se inicia pela triagem com a equipe de enfer-
magem, seguida pela avaliação e condutas médicas de controle e ajustes
hormonais (reposição), depois segue com encaminhamento para nutricio-
nista, psicólogo e fisioterapeuta. Esse último, refere-se à área que conhe-
cemos profundamente e que abordará desde a avaliação, prevenção e trata-
mentos das alterações estudadas sobre a saúde da mulher e a fase climatérica.
Reflita
Imagine-se no papel do fisioterapeuta responsável pela QV de mulheres
climatéricas. Já consegue pensar algumas estratégias de tratamento
para a manutenção e melhora da QV? Tenho certeza que sim!
178 U4
- / Fisioterapia no climatério e qualidade de vida na saúde da mulher
Avançando na prática
Equipe multidisciplinar na QV
Descrição da situação-problema
Ester está no climatério e tem muitas queixas quanto sua QV, ela relata
que o calor excessivo não a deixa dormir e que vive esgotada fisicamente e
extremamente irritada, seu convívio familiar está péssimo e não entende a
grande implicância que tem com todos que a cercam. Você, como fisiotera-
peuta, e se seus colegas da área da saúde poderão ajudá-la em retomar a QV?
Descreva brevemente como você conduziria sua conduta?
Resolução da situação-problema
Sim, como fisioterapeuta aplicaria o questionário de qualidade de vida,
em seguida traçaria condutas com foco na prevenção da incontinência
urinária, disfunção sexual, cinesioterapia em MMII e MMSS, hidroterapia,
acupuntura e recursos terapêuticos manuais também seriam efetivos, princi-
palmente para os sintomas vasomotores e emocionais, além dos benefícios
musculoesqueléticos. O médico realizaria a reposição hormonal melhor
indicada, a nutricionista, indicaria a dieta para a manutenção de um peso
adequado, o psicólogo atuaria na parte emocional e o educador físico colabo-
raria com o acompanhamento de atividades físicas regulares.
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- / Fisioterapia no climatério e qualidade de vida na saúde da mulher
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