Dos Tubassauros Aos Modernos Tubaroes Historia Evolutiva

Fazer download em pdf ou txt
Fazer download em pdf ou txt
Você está na página 1de 17

Capítulo 1

DOS TUBAROSSAUROS AOS


MODERNOS TUBARÕES:
HISTÓRIA EVOLUTIVA
Jorge Luiz Silva Nunes1
Nayara Barbosa Santos2

Os primeiros registros fósseis duas vezes mais antigos que os


dos peixes cartilaginosos datam de dinossauros e 100 vezes mais anti-
aproximadamente 425 milhões de gos que o homem. E que apesar das
anos atrás, início do Período inúmeras modificações ocorridas nas
Devoniano, quando esses peixes condições ambientais do planeta,
dominavam os mares e oceanos esses testemunhas da evolução con-
primitivos. Seus ancestrais habitavam seguiram se adaptar e continuam na-
o planeta muito antes dos dando nos mares e oceanos atuais.
dinossauros, a cerca de 200 milhões Os tubarões podem ser conside-
de anos antes desses répteis. rados fósseis vivos, merecendo por
Portanto, os peixes cartilaginosos são isso, “respeito e uma atenção especial”.

1
Biólogo (UFMA), mestre em Oceanografia (UFPE), doutorando em Oceanografia (UFPE).
2
Bióloga (UEMA), mestranda em Ciência Animal (UFPA).

11
Elasmobrânquios Da Costa Maranhense

ELASMOBRÂNQUIOS, QUEM SÃO E COMO EVOLUIRAM?

Os elasmobrânquios são pei-


xes que possuem seu corpo quase
totalmente composto de cartilagem, COMO ERAM OS ANCESTRAIS?
com exceção dos dentes que são
ósseos. Neste grupo de peixes
encontraremos os tubarões , as raias
No decorrer dessa longa his-
e as quimeras.
tória evolutiva, os tubarões sofreram
A evolução dos elasmobrân- três irradiações adaptativas principais
quios se reflete na imensidão do que são representadas, pelo apareci-
tempo geológico que agiu direta- mento de novas linhagens de tuba-
mente na biologia e na ecologia rões que se expandiram em diversos
desses peixes que buscando nichos. Isso permitiu que esses animais
acompanhar as modificações ocor- suportassem as radicais transformações
ridas no planeta, também se de seu ambiente e sobrevivessem a
cinco extinções em massa.
modificaram e aperfeiçoaram alguns
aspectos morfológicos, como seus Muitos foram os antecessores
dos atuais tubarões, e muitas linha-
sistemas sensoriais, que são bem
gens desses peixes habitaram os
refinados e raramente superados por
mares do planeta. Algumas não
outros grupos de animais viventes.
conseguiram acompanhar a evolução,
Muitas das suas características
mas outras conseguiram melhor
primitivas foram conservadas, permi-
adaptação, o que as permitiu evoluir
tindo que se adaptassem com e deixar sucessores que se
sucesso, a uma grande variedade multiplicaram e dominam os mares
de ecossistemas, e explorassem da atualidade. Entre elas pode-se
vários habitats e hábitos, favorecen- destacar os gêneros Cladoselache,
do com isso, a diversidade de Orthocanthus, Xenacanthus,
espécies compreendida por esse Stethacanthus, Helicoprion e
grupo de peixes. Hybodus.

12
Dos Tubarossauros Aos Tubarões Modernos: História Evolutiva

O Cladoselache já tinha
muitas características de seus primos
atuais, tais como: um corpo em for-
ma de torpedo, pele recoberta por
poucos dentículos dérmicos (escamas
em forma de dentes), barbatanas tri-
angulares e dentes que podiam se
renovar conforme se desgastavam ou
mesmo caíam. Possuía ainda espi-
nhos anteriores às suas barbatanas
dorsais cuja função ainda é desco-
nhecida. Foi uma dos mais
Cladoselache.
poderosos predadores dos mares
norte-americanos há aproxima-
damente 375 milhões de anos.
Outro ancestral dos atuais tu-
barões foi o Orthacanthus que
pertencia a uma linhagem muito bem-
sucedida de tubarões de água doce.
Essa linhagem apareceu há 400 mi-
lhões de anos e se extinguiu antes
mesmo do início da Era dos Orthocanthus.
Dinossauros, há cerca de 235 milhões
de anos. Esse Gênero aterrorizou os
pântanos europeus e norte-america-
nos há cerca de 260 milhões de anos.
O Xenacanthus era uma
criatura semelhante a uma mistura
de tubarão e enguia. Seu corpo era
serpentiforme e possuía uma nada-
deira contínua que se estendia Xenacanthus.

13
Elasmobrânquios Da Costa Maranhense

sobre seu dorso até a ponta da cau-


da afilada. Também como outros tu-
barões ancestrais possuía um enor-
me espinho na cabeça.
O Stethacanthus era uma
estranha forma de tubarão que
possuía uma estrutura no lugar da
primeira nadadeira dorsal. Era sus-
Stethacanthus.
tentada por um pedúnculo cilíndrico
e terminava em uma área achatada e
munida de centenas de pequenos
espinhos. É como se o tubarão carre-
gasse uma tábua de passar roupas no
dorso. A função dessa estrutura ainda
é desconhecida, mas acredita-se que
estava relacionada à defesa.
O Helicoprion era uma
espécie com a mandíbula inferior
alongada e em forma de espiral.
Helicoprion.
Nenhum pesquisador conseguiu
ainda desvendar a função de tão
bizarra estrutura.
O Hybodus foi um tubarão de
mais de 2m que viveu durante os
períodos Jurássico e Cretáceo, nos
mares do mundo todo. Alimentava-
se de pequenos peixes, moluscos,
crustáceos, e, ocasionalmente de
pequenos ictiossauros e plesios-
sauros. Possuía espinhos longos no Hybodus

dorso provavelmente para defesa.

14
Dos Tubarossauros Aos Tubarões Modernos: História Evolutiva

O Scapanorhynchus foi um dos primeiros representantes do grupo dos


tubarões-duendes, conhecidos por seus longos focinhos. Esses animais eram
encontrados em todas as partes do mundo durante o Mesozóico. O
Scapanorhynchus viveu há 110 milhões de anos. Atualmente ainda existe um
gênero remanescente desse grupo, que não difere quase nada dos ancestrais
extintos. É o Mitsukurina, que ocorre em águas profundas das áreas tropicais e
subtropicais. Exemplares desse gênero já foram encontrados na África do Sul,
norte da América do Sul, Austrália, Japão e Nova Zelândia.

Scapanorhynchus.

O Megalodonte ou Megalodon
cujo nome significa “dente enorme”,
era um dos maiores tubarões que já
existiram e viveu há aproximadamen-
te 20 milhões de anos atrás durante
o Mioceno. Esse gigantesco tubarão
chegava a medir 20 metros de com-
primento e pesar 4 toneladas. O
Megalodon é um parente do atual tu-
barão-branco, embora fosse três ve-
zes maior que seu parente atual. Megalodonte

15
Elasmobrânquios Da Costa Maranhense

OS PRIMEIROS ANCESTRAIS O aspecto geral do corpo dos


Cladoselache consistia em duas na-
dadeiras dorsais triangulares, geral-
Um ponto de irradiação inicial
mente com um espinho na primeira
ou de primeira irradiação que se pode
nadadeira, e às vezes na segunda
considerar foram as transformações
nadadeira; um par de nadadeiras
ocorridas nos dentes, nas mandíbula
peitorais (as maiores do corpo); e um
e nas nadadeiras. Onde os primeiros
par de nadadeiras pélvicas (as me-
Elasmobrânquios foram identificados
nores do corpo). Além disso, havia
pela forma dos dentes que geralmen- uma nadadeira caudal bem
te eram tricúspides e com pequeno desenvolvida, não totalmente
desenvolvimento na raiz. Os bifurcada, externamente simétricas
Cladoselache aparentemente foram mas internamente assimétricas por
os primeiros ancestrais dos tubarões apresentarem diferentes estruturas
atuais. Eles podiam alcançar 2 metros dos elementos de sustentação.
de comprimento, possuíam as Poucas escamas semelhantes aos
nadadeiras largas, apresentavam 5 dentes, revestiam o corpo desses
pares de fendas branquiais, sua boca animais e se localizavam ao redor dos
era larga em forma de fenda e olhos, nas nadadeiras e dentro da
terminal, como em muitos peixes boca entre os dentes.
ósseos atuais. Os seus poderosos
dentes tricuspidados eram utilizados
para capturar peixes que podiam ser
engolidos inteiros ou dilacerados pe-
las cúspides laminares muito afiadas,
porém esses dentes eram sujeitos a
um desgaste rápido. E para solucio-
nar este problema esses animais de-
senvolveram dentes funcionais segui-
dos internamente por uma fileira de
dentes em desenvolvimento um atrás
do outro, estando esse mecanismo
ainda presente nas espécies atuais.

16
Dos Tubarossauros Aos Tubarões Modernos: História Evolutiva

A SEGUNDA GERAÇÃO DE dando um formato bifurcado à cauda,


ANCESTRAIS configurando assim, a cauda
heterocerca dos tubarões que
A segunda irradiação desse propiciou uma maior dinâmica e
grupo ocorreu no período que durou flexibilidade comportamental.
cerca de 70 milhões de anos, entre o
Carbonífero inferior e superior, OS ÚLTIMOS ANCESTRAIS E A
quando os tubarões sofreram novas ATUAL GERAÇÃO
modificações nos sistemas alimentar
e locomotor. Um gênero que reteve O início da irradiação dos
estas novas adaptações é o gênero Elasmobrânquios modernos ou tercei-
Hybodus. Esse gênero possuía, os ra irradiação é registrado no come-
dentes anteriores cuspidados ço do Triássico, porém durante o
possivelmente utilizados para Jurássico era comum encontrar tu-
segurar, furar e cortar alimentos barões com aparência das formas
moles; e os posteriores achatados atuais e no Cretáceo surgiam os pri-
que serviam provavelmente para meiros gêneros que ocorrem atual-
triturar alimentos mais duros como mente. Possivelmente a linhagem
conchas. Esse tipo de dentição pode dos Elasmobrânquios modernos
ser considerado um importante fator (Neoselachii) teve origem a partir de
para o sucesso evolutivo. Ele amplia formas do gênero Cladoselache, que
va o nicho alimentar permitindo que desenvolveram características para-
esses animais se alimentassem de lelas com os Hybodus. Ou então,
um variado grupo de itens talvez, tenha havido um ancestral em
alimentares. Quanto à locomoção, as comum para os Hybodus e os
transformações se concentraram nas Neoselachii. A real origem dos
nadadeiras, para maior estabilidade tubarões modernos é muito confusa
natatória, os Hybodus desenvolveram e controversa, devido à dificuldade
modificações nas cinturas escapular de se encontrar fósseis desses animais
e pélvica. Para uma maior motilidade, em conseqüência de seu corpo
a porção distal da nadadeira caudal cartilaginoso ser de difícil
sofreu uma redução no lobo inferior, fossilização.

17
Elasmobrânquios Da Costa Maranhense

Foi também durante a explo- isso, podem achar peixes escondidos


são inicial do Jurássico que as raias na areia. Segundo acreditam alguns
tiveram sua origem, derivadas de um cientistas, também percebem o cam-
antepassado denominado Batoides po magnético da Terra. Usam essas
adaptados ao ambiente bentônico. informações para se localizar e nave-
Atualmente na margem da últi- gar pelos oceanos. Várias espécies
ma irradiação, os Elasmobrânquios nadam milhares de quilômetros e
exibem características locomotoras, voltam às mesmas regiões em deter-
sensoriais, comportamentais e minadas épocas. “Isso mostra que
tróficas que evoluíram juntas desde eles têm senso de tempo e espaço”,
a era Mesozóica, e produziram diz o professor Vooren. “Só isso já de-
formas que ocupam o topo da ca- veria ser um motivo para preservá-los.”
deia trófica marinha, atingindo,
ainda, dimensões de grande porte QUAL A ATUAL SITUAÇÃO DOS
que os deixaram ainda mais PEIXES CARTILAGINOSOS ?
onipotentes.
Os tubarões sobreviveram a Na atualidade estão cataloga-
tantas eras porque são praticamente das cerca de 370 espécies de tuba-
perfeitos como predadores. Tudo ne- rões e 500 espécies de raias, adapta-
les parece ser feito para a caça, a das à vida demersal ou pelágica, dis-
morte e a digestão das presas: a for- tribuída desde zonas tropicais até zonas
ma de torpedo do corpo, o esqueleto polares em todos os mares e oceanos.
de cartilagem, que por ser mais leve
Hoje no Maranhão há uma
e flexível do que o osso lhe dá maior
grande diversidade das famílias
agilidade. Seus dentes, sua visão e
Carcharhinidae e Sphyrnidae, de-
seu olfato são capazes de detectar
monstrando o caráter moderno da
odores a 100 metros de distância e
condrofauna, visto que os
perceber uma gota de sangue em 100
Carcharhiniformes e os Lamniformes
litros de água. Seus sensores elétri-
aumentaram numericamente duran-
cos, um “sexto sentido” apurado,
te o Cretáceo e o Terciário,
lhes permitem ainda detectar sinais contabilizando dois terços das espé-
elétricos de baixíssima potência. Com cies de tubarões recentes.

18
Dos Tubarossauros Aos Tubarões Modernos: História Evolutiva

populacional (etária e de tamanhos),


ELASMOBRÂNQUIOS
além da distribuição e abundância,
MARANHENSES
porém, pouco se sabe sobre o
conhecimento do tamanho dos
O Estado do Maranhão se des- estoques e estado de conservação dos
taca nacionalmente pela presença de
espécimes que compõem a
um estoque de elasmobrânquios bas-
condrofauna maranhense.
tante diversificado. Em sua zona
costeira já foram catalogadas 16 es-
pécies de raias pertencentes a 8 fa- QUE FAMÍLIAS SÃO ESSAS?
mílias, e 19 espécies de tubarões
pertencentes a 4 famílias. O motivo
Mostraremos algumas das fa-
da exuberante diversidade desses
mílias mais importantes e expressi-
peixes no litoral maranhense é atri-
vas do nosso Estado. São elas:
buído à abundância de recursos ali-
mentares, provenientes das altas FAMÍLIA CARCHARHINIDAE
densidades de biomassa marinha que Essa é a família mais expressiva
são sustentadas pela alta produtivi- no Maranhão, sendo uma das maiores
dade da sua plataforma continental,
e mais importantes sob vários
que é abastecida pelos nutrientes
aspectos. São conhecidas mundial-
transportados pelos inúmeros rios e
mente cerca de 50 espécies,
por uma longa faixa de manguezais
profundamente recortada. pertencentes a 12 gêneros, distribuí-
dos por todos os oceanos, sendo o

O QUE SE CONHECE DESSES grupo dominante em número de


PEIXES EM NOSSO ESTADO? espécies, e possivelmente de indiví-
duos. Esses tubarões vivem em
Existe atualmente um conjun- ambientes distintos como estuários,
to de informações sobre os elas- baias, ilhas, mar aberto, zona
mobrânquios resultantes de estudos intertidal, sobre fundos de areia, ro-
realizados sobre sua biologia, que chas e recifes de coral.
abordam diversos aspectos tais
Nessa família encontram-se
como: morfometria, hábito alimen-
casos de representantes com uma
tar, biologia reprodutiva, estrutura

19
Elasmobrânquios Da Costa Maranhense

ampla capacidade osmorregulatória, salobras (estuário). Alguns espécimes


como é o caso da espécie conhecida de rabo-seco podem viver a mais de
como boca-redonda (Carcharhinus 100 m de profundidade, embora se-
leucas) que apesar de ser uma espé- jam mais comuns em águas rasas.
cie marinha pode penetrar em rios Os adultos realizam migrações
ou lagos. Indivíduos dessa espécie reprodutivas e/ou tróficas para am-
foram encontrados a 4000 Km da foz
bientes mais profundos, no verão que
do rio Amazonas. No Lago Nicarágua
é a época de pouca incidência de
na América Central, pode-se
chuvas, e para regiões mais rasas no
encontrar uma população fixa de
inverno, época de alta incidência de
bocas-redonda. No entanto não
chuvas. Uma outra espécie do gênero
existem tubarões exclusivos de água
doce, apesar de existir uma Rhizoprionodon, R. lalandii, que é fa-
espécie de bagre, a piraíba, cilmente confundida com sua co-ge-
(Brachyplatystoma filamentosum ) nérica existente no litoral maranhense.
erroneamente chamados de
“tubarões de água-doce”.
Outro caso de confusão com tuba-
rões ocorre com o cação-de-escama
(Rachycentron canadum) que na rea-
lidade é um peixe ósseo marinho, mas
é apontado frequentemente como tu-
barão pelos pescadores que o chamam
de “cação”.
Exemplar de Piraíba.
No Maranhão essa família é re-
presentada por 12 espécies. Dentre
as espécies de pequeno porte, Apesar das espécies de peque-
pertencente a essa família, as que no porte dominarem as capturas em
mais se destacam são: Os cações águas rasas maranhenses é notória
Rabo-seco (Rhizoprionodon porosus) a presença de tubarões de grande
e Junteiro (Carcharhinus porosus), porte neste litoral. As áreas da Pla-
que são as espécies mais abundan- taforma Continental com profundida-
tes do litoral maranhense. São tuba- des superiores a 30m são
rões costeiros que habitam baías, identificadas como os locais de pre-
enseadas, passagens de ilhas e águas sença constante das espécies

20
Dos Tubarossauros Aos Tubarões Modernos: História Evolutiva

Carcharhinus limbatus (sacuri da O panã-branco (S. lewini), uma


galha preta), C. obscurus (fidalgo), espécie de grande porte, e a mais
C. leucas (boca redonda) e abundante da família Sphynidae,
Galeocerdo cuvier (tubarão tigre), das sendo que os indivíduos juvenis, de
quais podemos destacar as duas ambos os sexos, dominam as
últimas como as responsáveis por ata- capturas dessa espécie, enquanto os
ques ao longo do litoral brasileiro. machos adultos são capturados
Um Carcarinídeo que merece apenas no verão. Temos ainda o
uma atenção especial é o tubarão panã-amarelo (S. tudes), uma outra
quati ou tapogi (Isogomphodon espécie também pertencente a essa
oxyrhynchus), que é uma espécie de família é o panã-preto (S. mokarran)
tubarão, endêmica da região norte
que participam discretamente nas
da América do Sul. Possui o focinho
capturas dos tubarões no Estado. Esta
extremamente longo, e vive em am-
última espécie citada e S lewini são
bientes de águas com grande
espécies de grande porte.
turbidez. A espécie sofrendo muito
com as capturas acidentais, o que FAMÍLIA GINGLYMOSTOMIDAE
resultou em grande declínio da Temos também, a família,
população desta espécie, já incluída Ginglymostomidae representada pelo
na lista de animais ameaçados de tubarão lixa, ( Ginglymostoma
extinção. A maior abundância dessa cirratum) também conhecido no Es-
espécie ocorre em águas costeiras tado como urumaru, que é um cação
durante os meses de chuva. comum em águas tropicais e
FAMÍLIA SPHYRNIDAE subtropicais do Oceano Atlântico.
Essa é outra família que possui Apesar do tamanho que podem
grande expressividade no Estado. atingir são considerados dóceis. Sua
Apresenta como característica captura é muito comum em
diagnóstico a cabeça expandida late- espinhéis de fundo, podendo ocorrer
ralmente, em formato de martelo, o raramente em redes de espera devido
que caracteriza os seus repre- ao seu hábito bentônico.
sentantes, os famosos tubarões
FAMÍLIA TRIAKIDAE
martelo que estão divididos em 5
Essa família é representada pe-
espécies, sendo elas: Sirizeira
(Sphyrna tiburo), uma espécie muito los cações canejo (Mustelus canis) e
comum nas águas rasas do diabo ( M. higmani), que se
Maranhão. distribuem ao longo da plataforma
continental do Estado.

21
Elasmobrânquios Da Costa Maranhense

E AS RAIAS ? As espécies Urotrygon


venezuelae e U. microphthalmum re-
centemente tiveram uma ampliação
da sua área de distribuição, sendo
Quanto às raias, a bicuda
encontradas além da Foz do Rio
(Dasyatis guttata) é a espécie mais
Orinoco e do Rio Amazonas, sendo
abundante seguida pelas raias de
que a primeira ocorre até o Maranhão
fogo (Urotrygon microphthalmum). e a segunda até a Paraíba, registrado
As primeiras apresentam uma por Almeida et al. (2000). No litoral
distribuição muito comum no litoral maranhense essas raias recebem o
maranhense, devido às condições nome de raia fogo ou foguinho devi-
ambientais perfeitas da área para seu do aos freqüentes encontros com
desenvolvimento, tais como: águas pescadores, principalmente quando
tropicais rasas, fundo arenosos e/ou vão despescar os currais ou arrastar
lamosos e estuários, além da grande a rede. Estas raias vivem em fundos
oferta de alimentos, já que a espécie arenosos ou lamosos cobertos de
sedimento e ao pressentir o perigo
é considerada predadora oportunista.
elas colocam sua cauda sobre o dis-
Existem mais 4 espécies de raias
co alçando seu ferrão, de modo a
pertencentes ao gênero Dasyatis, que
deixá-lo perpendicular ao plano do
são: raia da pedra (D. say), D. ame-
corpo, aguardando o momento de
ricana, raia morcego (D. geijskesi) e
serem pisadas pelos pescadores.
D. marianae, esta última foi descrita
As raias da família Pristidae,
no ano de 2000, sendo a mais nova
comumente denominadas de espa-
espécie de raia conhecida, darte podem atingir o comprimento
distribuindo-se do Maranhão até extremo de 9,0m, e são facilmente
o sul da Bahia. reconhecidas pelo seu rostro que é
As raias do gênero Dasyatis que bastante desenvolvido com uma
ocorrem no Maranhão apresentam grande lâmina e poderosos dentes
transversais. Assim podem atacar
distribuição restrita ao Oceano Atlân-
cardumes com violentos golpes late-
tico podendo migrar por longas dis-
rais do rostro. Este animal é bastan-
tâncias, como exemplo, D. americana te confundido com os tubarões, de-
que se distribui de New Jersey (EUA) vido ao formato de seu corpo ser
até o sul do Brasil. fusiforme, porém sua característica

22
Dos Tubarossauros Aos Tubarões Modernos: História Evolutiva

distintiva é o posicionamento ventral As raias elétricas ou treme-tre-


das fendas branquiais, e a ausência me também ocorrem no litoral
de barbilhões na porção mediana do maranhense, sendo representadas
rostro, o que os diferenciam dos tu- pela espécie Narcine brasiliensis, que
barões da família Pristiophoridae. No está amplamente distribuída na cos-
Maranhão ocorrem as duas espécies
ta brasileira até uma profundidade de
da família Pristidae, a espécie Pristis
20m, embora sua distribuição envol-
perotteti e P. pectinata (espadarte).
va áreas tropicais e temperadas do
A primeira habita águas tropicais do
Oceano Atlântico, enquanto a Oceano Atlântico. Sua principal ca-
segunda é cosmopolita de distri- racterística é a presença de um ór-
buição circunglobal. No Atlântico gão com formato de feijão que
distribuem-se de New York até a corresponde a 1/6 de seu peso total,
Argentina, possivelmente. A popu- localizado em cada lado da porção
lação dessas raias não só no Estado ventral do disco sendo composto por
mas em todo mundo encontra-se em vários eletrócitos (células produtoras
declínio, o que levou a inclusão de eletricidade) que produzem descar-
dessas espécies nas listas de animais gas elétricas que oscilam entre 14 e
ameaçados de extinção. 37 volts. A função da eletricidade está
Outra espécie de raia ocorrente relacionada com sua defesa, predação
no Estado é raia gaveta ou jamanta e identificação de parceiros sexuais ou
(Mobula hypostoma) que pode atin- indivíduos da mesma espécie.
gir até 7,0m de envergadura e
Até o presente momento só fo-
algumas toneladas de peso. Apesar
do seu imenso tamanho, estas raias ram identificadas essas espécies de
são planctófagas, ou seja, elasmobrânquios na costa Norte,
alimentam-se de plâncton. Essas devido aos estudos se concentrarem
raias migram por longas distâncias, apenas na área da plataforma
estando distribuídas por todo o continental, pois, o acesso a essa área
Oceano Atlântico em regiões é mais fácil. Contudo esse número
tropicais. Sua morfologia apresenta aumentaria se houvesse a oportu-
nadadeiras peitorais expandidas nidade de explorarmos nossas águas
lateralmente, lembrando asas, e sua mais profundas, mas para isso, faz-
cauda é muito distinta do corpo
se necessário investimentos em
afilando gradualmente. Essas caracte-
equipamentos apropriados para que
rísticas são compartilhadas com as raias
se possa ampliar os estudos sobre
pintadas (Aetobatos narinari) e as raias
esses peixes tão temidos, mais
jaburanas (Rhinoptera bonasus), apesar
destas últimas possuírem ferrão. inquestionavelmente importantes.

23
Elasmobrânquios Da Costa Maranhense

TAXONOMIA DAS ESPÉCIES DE RAIAS


QUE OCORREM NO MARANHÃO

TAXONOMIA AUTOR NOME VULGAR

Ordem Rajiformes

Família Dasyatidae
Dasyatis guttata (Bloch, 1801) Raia bicuda
Dasyatis say (Le Suer, 1917) Raia da pedra
Dasyatis americana Hildebrand & Schoeder, 1928 Raia prego
Dasyatis geijskesi Boeseman, 1948 Raia morcego
Dasyatis marianae (Gomes, Rosa & Gadig, 2000) Raia amarela ou Olhuda

Família Gymnuridae
Gymnura micrura (Bloch, 1801) Raia bate / manteiga

Família Mobulidae
Mobula hypostoma (Bancroft, 1831) Raia gaveta / Jamanta

Família Myliobatidae
Aetobatus narinari (Euphrasen, 1790) Raia pintada
Rhinoptera bonasus (Mitchill, 1815) Jaburana

Família Narcinidae
Narcine brasiliensis (Olfers, 1831) Raia elétrica / treme-treme

Família Pristidae
Pristis pectinata Latham,1794 Cação espadarte
Pristis perotteti Müller & Henle, 1841 Cação espadarte

Família Rhinobatidae
Rhinobatos percellens (Walbaum, 1792) Raia viola
Rhinobatos lentiginosus Garman, 1792 Raia viola

Família Urolophidae
Urotrygon microphthalmum Delsman, 1941 Raia de fogo
Urolophus sp Raia gereba

24
Dos Tubarossauros Aos Tubarões Modernos: História Evolutiva

TAXONOMIA DAS ESPÉCIES DE TUBARÕES


QUE OCORREM NO MARANHÃO

TAXONOMIA AUTOR NOME VULGAR

Ordem Carcharhiniformes

Família Carcharhinidae
Carcharhinus porosus (Ranzani, 1839) Cação junteiro
Carcharhinus leucas (Valenciennes, 1839) Boca- redonda / Cabeça- chata
Carcharhinus limbatus (Valenciennes, 1839) Sacuri da galha preta
Carcharhinus falciformis (Bibron,1939) Lombo preto
Carcharhinus obscurus (Le Suer, 1818) Fidalgo
Carcharhinus acronotus (Poey, 1860) Flamengo
Carcharhinus perezi (Poey, 1876) Cabeça de cesto
Carcharhinus plumbeus (Nardo, 1827) Galhudo / Abudo
Isogomphodon oxyrhynchus (Müller & Henle,1839) Tapogi / Quati
Rhizoprionodon porosus (Poey, 1861) Figuinho / Rabo-seco
Rhizoprionodon lalandii (Valenciennes, 1839) Cação frango
Galeocerdo curvier (Peron & Le Suer, 1822) Tubarão tigre / Tintureira

Família
Triakidae
Mustelus canis Mitchill, 1815 Canejo / Sebastião
Mustelus higmani Springer &Lowe, 1963 Cação diabo / Sebastião / canejo

Família Ginglymostomonidae
Ginglymostoma cirratum (Bonnaterre, 1788 Cação lixa / Urumaru

Família Sphyrnidae
Sphyrna lewini (Griffith & Smith) Panã- branco
Sphyrna tiburo (Linnaeus, 1758) Sirizeira
Sphyrna tudes (Valenciennes, 1822) Panã- amarelo
Sphyrna mokarran (Ruppel, 1837) Panã- preto

25
Elasmobrânquios Da Costa Maranhense

A PERFEIÇÃO AMEAÇADA

26
Dos Tubarossauros Aos Tubarões Modernos: História Evolutiva

ATIVIDADE – EVOLUÇÃO E DIVERSIDADE

Agora teste os seus conhecimentos sobre a evolução e a diversidade dos


elasmobrânquios, resolvendo as charadas abaixo, e complete os vazios do quadro
de acordo com as seguintes questões abaixo.
1) Peixes que vivem junto ao fundo do mar?
2) Bagre que é chamado de tubarão de água doce?
3) Processo pelo qual passaram os tubarões e as raias, até darem origem as
espécies atuais?
4) Peixe ósseo marinho conhecido como cação?
5) Peixe cartilaginoso parente do tubarão?
6) Grupo a qual pertence os tubarões e raias?
7) Raia que pode dar choques elétricos?
8) Tubarão que pode adentrar em rios de água doce?
9) Peixes que vivem na coluna d’água?
10) Qual o ancestral do tubarão branco?
11) Raia que é confundida com tubarão?

1 D
2 I
3 V
4 - - E
5 R
6 S
7 - I
8 D
9 A
10 D
11 E

27

Você também pode gostar