As Memórias de Charles G. Finney

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AS MEMÓRIAS DE CHARLES G.

FINNEY
PREFÁCIO
POR James H. Fairchild
Presidente da Faculdade Oberlin, 1876

O autor da narrativa a seguir explica suficientemente sua origem e propósito nas


páginas iniciais. Ele deixou os manuscritos à disposição de sua família, sem nunca ter
decidido por si só se valia a pena publicá-los. Muitos de seus amigos, ao saberem de
sua existência, ansiaram pela publicação, e seus filhos, cedendo à exigência geral,
entregaram o manuscrito para a Faculdade Oberlin com esse propósito.
Ao disponibilizá-lo para o público, é extremamente necessário que o apresentemos
essencialmente como foi encontrado. Nenhuma liberdade pode ser tomada com ele
para modificar as visões ou declarações que podem às vezes parecer extremadas ou
parciais, ou mesmo para seguir um estilo que, embora às vezes áspero, é sempre
dramático e eloqüente. Poucos homens mereceram mais o direito de exprimir seus
próprios pensamentos, em suas próprias palavras. Esses pensamentos e palavras são
o que os muitos amigos do Sr. Finney desejarão. As únicas mudanças que pareceram
aceitáveis foram omissões ocasionais, para evitarmos repetições desnecessárias, ou
detalhes por demais minuciosos, ou, às vezes, referências que possam parecer
distintamente muito pessoais. A narrativa é, em sua própria natureza, pessoal,
envolvendo experiências de ambos o autor e daqueles que tiveram envolvimentos com
as mesmas. O manuscrito deve seu valor e interesse, em grande parte, a essas
experiências pessoais. Sendo que a narrativa apresenta as memórias e anseios de um
pastor veterano, com uma paixão por ganhar almas, espera-se e acredita-se que, em
suas referências pessoais, o conteúdo não será considerado como além dos limites
cristãos apropriados. Para quase tudo, a idade do texto descarta todas as perguntas.
Em uma ou outra parte, talvez, as declarações podem parecer inadequadas, como se
envolvessem apenas uma visão parcial dos fatos. Será lembrado que tais pontos de
vista são parte de uma observação e opinião totalmente pessoal, e cada uma terá
naturalmente a correção que parece necessária.
J. H. F. FACULDADE OBERLIN, Janeiro, 1876.
A VERDADE DO EVANGÉLHO
MEMÓRIAS DE CHARLES G. FINNEY
CAPÍTULO I.
NASCIMENTO E EDUCAÇÃO INFANTIL
DEUS tem se aprazido em ligar meu nome e meus trabalhos a um grande movimento
na igreja de Cristo, considerado por alguns como uma nova era em seu progresso,
especialmente em relação a avivamentos religiosos. Sendo que esse movimento
envolve consideravelmente o desenvolvimento de visões da doutrina cristã não muito
comuns, e apareceu por mudanças nos meios de transmitir o trabalho de
evangelização, era natural que alguns receios desnecessários permanecessem a
respeito dessas declarações modificadas de doutrina e do uso desses novos meios; e
que conseqüentemente, todos os bons homens devem questionar, até certo ponto, a
sabedoria de tais meios e a solidez dessas declarações teológicas; e que homens que
não são de Deus deveriam irritar-se, e por algum tempo deveriam se opor arduamente
a esses grandes movimentos.
Já me referi a mim mesmo como ligado a esses movimentos; mas apenas como um
dos muitos ministros e outros servos de Cristo, que têm compartilhado
proeminentemente na realização dos mesmos. Tenho consciência de que tenho sido
considerado um inovador por uma certa porção da igreja, tanto em relação às doutrinas
quanto aos meios; e que muitos têm olhado para mim como um tanto proeminente,
especialmente por enfrentar algumas das velhas formas teológicas de pensamento e
expressão, e por declarar as doutrinas do Evangélho e muitos assuntos que dizem
respeito a ele em uma nova linguagem.
Fui especialmente importunado, por vários anos, por amigos que conhecera naqueles
avivamentos que envolveram meu nome e trabalho, para que escrevesse a história
deles. Sendo que tantos temores desnecessários permaneceram em relação a esses
movimentos, acredita-se que a verdade da história exige uma declaração de minha
parte das doutrinas que foram pregadas, até onde eu sabia; dos meios usados, e dos
resultados da pregação dessas doutrinas e do uso desses meios.
Minha mente parece instintivamente recuar de falar tanto sobre mim mesmo quanto se
faz necessário, se eu falar honestamente sobre tais avivamentos e sobre minha relação
com eles. Por este motivo, recusei, até o presente momento, aceitar tal trabalho. Há
pouco tempo, os membros do conselho diretor da Faculdade Oberlin expuseram a mim
esse assunto mais uma vez, insistindo que eu aceitasse. Eles, juntamente com
inúmeros amigos neste país e na Inglaterra, insistiam que isso era pela causa de Cristo,
que um entendimento melhor do que o que então havia, deveria existir na igreja,
principalmente no que dizia respeito aos avivamentos que aconteceram no centro de
Nova Iorque e demais lugares, de 1821 em diante, por vários ano, pois tais
avivamentos tiveram muita oposição e errôneas representações.
Abordo o assunto, devo dizer, com relutância, por muitas razões. Não mantive nenhum
tipo de diário, conseqüentemente, devo depender de minha memória. É verdade que
minha memória e naturalmente muito tenaz, e que os eventos que testemunhei nos
avivamentos religiosos ficaram fortemente marcados em minha mente; lembro-me
também, detalhadamente, muitos mais do que os que terei tempo para comunicar.
Todos que já testemunharam avivamentos poderosos têm a consciência de que muitos
casos de conversão e convicção acontecem diariamente, de grande interesse para o
povo no meio de quem eles ocorrem. Onde todos os fatos e circunstâncias são
conhecidos, por vezes, um efeito empolgante é produzido; e tais casos são
freqüentemente tão numerosos que se todos os fatos altamente interessantes de um
mesmo avivamento, em uma única localidade, fosse narrado, preencheria incontáveis
páginas.
Não proponho seguir este curso no que estou prestes a escrever. Farei tao somente um
desenho de contorno tal que, num todo, dará uma idéia clara e tolerável do tipo que
esses avivamentos assumiram; e que relatará apenas algumas das específicas
situações de conversão que ocorreram em diferentes lugares.
Devo também empenhar-me para dar conta das doutrinas que foram pregadas, e dos
meios que foram utilizados, e mencionar tais fatos em linhas gerais, de maneira a
possibilitar que a igreja de agora em diante, pelo menos parcialmente, estime o poder a
pureza daqueles grandes trabalhos de Deus.
Mas hesito em escrever uma narrativa daqueles avivamentos, pois por muitas vezes me
surpreendo com o quanto minhas próprias lembranças dos fatos diferem das de outras
pessoas que estavam em meio à tais cenas. Claro que devo declarar os fatos como
lembro-me deles. Vários daqueles eventos já foram usados por mim como referência
em pregações, como ilustrações da verdade que eu estivesse apresentado ao povo. Já
fui tão lembrado deles e já me referi tanto a eles ao longo de todos os meus anos de
ministério que não posso não ter uma forte confiança de que lembro-me
substancialmente deles como ocorreram. Se por qualquer motivo eu falhar da descrição
desses fatos, ou se em algum momento minhas memórias em muito se distanciarem
das dos outros, creio que a igreja acreditará que minhas declarações estão inteiramente
de acordo com a minha lembrança de tais fatos. Eu tenho hoje (1867-68) setenta e
cinco anos de idade. É claro que me lembro de coisas que se passaram há mais tempo
mais definidamente do que de eventos recentes. No que diz respeito às doutrinas
pregadas, até onde sei, e aos meios usados para promover os avivamentos, não creio
que eu possa estar errado.
Para dar conta de forma inteligível das partes para as quais fui chamado para agir em
tais cenas, é necessário que eu conte um pouco da história da maneira pela qual
acabei por adotar as visões doutrinárias que há tanto tempo tenho e prego, e que têm
sido consideradas por muitas pessoas como censuráveis.
Devo começar contando rapidamente sobre meu nascimento, primeiras condições e
educação, minha conversão a Cristo, meu estudo de teologia e o ingresso no trabalho
ministerial. Que seja lembrado que não estou prestes a escrever uma autobiografia; e
não entrarei com mais detalhes relacionados a minha vida pessoal do que o que
parecer necessário para dar conta de forma inteligível, da maneira em que fui levado,
no que diz respeito a esses grandes movimentos da igreja.
Nasci em Warren, no condado de Litchfield, Connecticut, em 29 de agosto de 1792. Por
volta de meus dois anos de idade, meu pai mudou-se para o condado de Oneida, em
Nova Iorque, que era, na época, em grande parte uma floresta. O povo não gozava de
nenhum privilégio religioso. Havia pouquíssimos livros religiosos. Os novos
estabelecidos, sendo a maioria vinda da Nova Inglaterra, estabeleceram quase que
imediatamente escolas públicas; mas tinham entre si pouquíssima pregação inteligente
do Evangélho. Eu gozei dos privilégios de um colégio público, do verão e do inverno até
meus dezesseis anos, creio eu; e avancei até ser considerado capaz de lecionar em
uma escola pública, nas normas em que eram então conduzidas.
Nenhum de meus pais era professor de religião e, eu creio que, entre nossos vizinhos,
haviam poucas pessoas religiosas. Eu raramente ouvia um sermão, a menos que fosse
um ocasional, de algum ministro viajante, ou de alguma posse miserável de um
pregador ignorante que por vezes podia-se encontrar naquele país. Lembro-me tão
bem que a ignorância dos pregadores que ouvia era tanta, que as pessoas ao voltarem
da reunião gastavam um tempo considerável com gargalhadas irrepreensíveis dos
estranhos erros cometidos e os absurdos expostos.
Na vizihança da casa de meu pai, tinhamos acabado de erguer um local para reuniões
e estabelecer um ministério quando meu pai foi levado a mudar-se novamente para um
local inexplorado, nas proximidades da margem sul do Lago Ontario, pouco mais ao sul
do porto de Sacketts. Aqui vivi novamente vários anos com privilégios religiosos não
diferentes dos que eu gozava no condado de Oneida.
Quando eu tinha aproximadamente vinte anos de idade, voltei para Connecticut, e de lá
fui para Nova Jersey, perto da cidade de Nova Iorque, e comecei a lecionar. Eu
lecionava e estudava fazendo meu melhor, e duas vezes retornei à Nova Inglaterra para
lecionar em um colégio por um ano letivo. Enquanto trabalhava para o colégio,
meditava sobre ir para a faculdade de Yale. Meu mentor era formado em Yale, mas
aconselhou-me a não ir. Disse-me que seria uma perda de tempo, pois eu conseguiria
facilmente cumprir toda a grade curricular ensinada naquela instituição em apenas dois
anos, enquanto que em Yale, levaria quatro anos para me formar. As considerações
que ele apresentou marcaram-me de tal forma que desisti de prosseguir com minha
educação a partir de então. Contudo, mais adiante adqüiri algum conhecimento de
latim, grego e hebraico. Mas nunca fui um estudante tradicional, e nunca tive
conhecimento suficiente das línguas antigas a ponto de achar-me capaz de criticar
independentemente nossa tradução para o inglês da Bíblia.
O professor a quem me referi me convidou a unir-me a ele na direção de uma academia
em um dos estados do sul. Estava disposto a aceitar sua proposta, com o plano de
prosseguir e completar minha educação sob sua tutela. Mas quando transmiti notícia a
de uma possível mudança para o sul a meus pais, que já não via há quatro anos,
ambos vieram imediatamente a meu encontro, e convenceram-me a ir para casa com
eles, no condado de Jefferson, em Nova Iorque. Depois de fazer uma visita a eles,
decidi ingressar, como estudante, no escritório de advocacia Do Juiz W, em Adams,
naquele mesmo condado. Isso ocorreu em 1818.
Até esse momento, eu nunca havia desfrutado do que se pode chamar de privilégios
religiosos. Nunca tinha vivido em uma comunidade de oração, exceto pelos períodos
nos quais trabalhei no colégio na Nova Inglaterra; e a religião naquele lugar era de um
tipo que de maneira nenhuma conseguia me prender a atenção. A pregação era feita
por um velho senhor do clero, um homem excelente, muito amado e venerado por seu
rebanho, mas ele lia seus sermões de maneira que não marcavam de maneira alguma
minha mente. Ele tinha um meio monótono e enfadonho o que ele havia escrito
provavemente anos antes.
Para dar uma idéia do que ele pregava, deixe-me dizer que seus manuscritos eram
grandes o suficiente para completarem uma pequena bíblia. Eu me sentava no
mesanino, e observava que ele colocava seus manuscritos no meio de sua bíblia, e
colocava seus dedos nos lugares onde as passagens eram encontradas nas Escrituras,
a fim de que fossem mencionadas durante a leitura de seu sermão. Para isso, era
necessário que ele segurasse a bíblia com ambas as mãos, fazendo qualquer
gesticulação impossível. Conforme prosseguia, ele lia as passagens das Escrituras
onde seus dedos marcavam, liberando assim um dedo de cada vez, até que ambas as
mãos estivessem livres. Quando já tivesse “lido todos os dedos”, ele estava perto do
final do sermão. Sua leitura era toda monótona e sem paixão; e apesar de as pessoas
assistirem atentamente e com reverência, ainda assim devo confessar, para mim não
era muito bem uma pregação.
Quando saíamos da reunião, por vezes ouvia as pessoas falarem bem de seu sermão,
e algumas vezes até se perguntavam sobre a possibilidade de uma alusão ao que
ocorria no meio deles ter sido feita pelo que ele dissera. Parecia sempre uma
curiosidade comum saber qual era o objetivo dele, especialmente se havia alguma
coisa a mais em seu sermão do que uma discussão seca sobre doutrina. E isso era de
fato o melhor que eu já tinha ouvido, em termos de pregações, do que em qualquer
outro lugar. Mas qualquer um pode julgar se tais pregações eram feitas para instruir ou
chamar o interesse de um jovem que não sabia nem se importava em nada quanto à
religião.
Quando eu lecionava em Nova Jersey, as pregações nas redondezas eram mormente
feitas em alemão. Creio que não cheguei a escutar meia dúzia de sermões em inglês
durante todo o tempo que estive em Nova Jersey, que foi aproximadamente três anos.
Assim, quando fui para Adams para estudar direito, era quase tão ignorante em religião
quanto um gentio. Praticamente cresci em lugares inexplorados. Não tinha quase que
consideração alguma pelo guardar o sábado, e não tinha nenhum conhecimento
definido sobre a verdade religiosa.
Em Adams, pela primeira vez, sentei e ouvi com atenção, por um bom tempo, um
ministro culto. Reverendo George W. Gale, de Princeton, Nova Jersey, tornou-se, logo
após minha chegada lá, o pastor da Igreja Presbiteriana local. Suas pregações eram
pelo método antigo, isto é, eram detalhadamente Calvinistas, e sempre que ele falava
sobre as doutrinas, o que raramente fazia, ele pregava aquilo que se tem chamdo de
hiper-Calvinismo. Ele era, é claro, considerado altamente ortodoxo, mas eu não
consegui obter muita instrução por suas pregações. Como algumas vezes disse a ele,
para mim, ele parecia começar pelo meio de seu discurso, e presumia muitas coisas
que para a minha mente, ainda precisavam ser provadas. Ele parecia presumir que
seus ouvintes eram teólogos, e que portanto ele podia presumir que conhecessem
todas as grandes e fundamentais doutrinas do evangélho. Mas eu devo dizer que ficava
mais perplexo do que edificado por suas pregações.
Eu nunca, até esse momento, tinha vivido em um lugar onde pudesse participar de uma
reunião de oração fixa. Já que uma dessas reuniões acontecia toda semana em uma
igreja próxima a nosso escritório, eu costumava ir e escutar as orações, sempre que
conseguia ser liberado do trabalho naquela hora.
No estudo da lei elementar, encontrei antigos autores que freqüentemente
mencionavam as Escrituras, e referindo-se especialmente às Instituições de Moisés,
como autoridade para muitos dos grandes princípios da lei comum. Isso instigou tanto
minha curiosidade que foi comprar uma bíblia, a primeira que já tive; e sempre que eu
encontrava uma referência à bíblia pelos autores da lei, ia até a passagem e a
consultava em suas conexões. Isso logo me levou a ter um novo interesse pela bíblia, e
comecei a ler e meditar sobre ela muito mais do que jamais havia feito em uma vida.
Entretando, não compreendia muito dela.
Sr. Gale tinha o hábito de aparecer freqüentemente em nosso escritório, e parecia
ansioso para saber qual fora a impressão de seus sermões em minha mente. Eu
costumava conversar abertamente com ele, e agora penso que algumas vezes o
critiquei sem pena. Eu levantava objeções contra seus positionamentos conforme os
forçava sob minha própria atenção.
Ao conversar com ele e questioná-lo, percebi que sua mente era, como eu pensava,
mistificada, e que ele não definia com exatidão, para si mesmo, o que queria dizer com
muitos dos termos importantes que usava. De fato achei impossível dar qualquer
significado a muitos dos termos que ele usava com grande formalidade e freqüência. O
que ele queria dizer com repetância? Será que era um mero sentimento de culpa pelo
pecado? Será que era um estado absoluto de passividade da mente, ou será que
evolvia algum elemento voluntário? Se fosse uma mudança de mente, seria uma
mudança a respeito de quê? O que ele queria dizer com o termo regeneração? O que
tal linguagem significava quando se tratava de uma mudança espiritual? O que ele
quiria dizer com fé? Será que era meramente um estado intelectual? Meramente uma
convicçao, ou persuasão, de que as coisas declaradas no Evangélho eram verdade? O
que ele queria dizer com santificação? Será que alguma mudança física estava
envolvida no assunto, ou alguma influência física da parte de Deus? Eu não sabia, e
nem ele parecia conseguir entender para si mesmo o sentido no qual usava esses e
outros termos similares.
Tivemos muitas conversas interessantes, mas elas pareciam mais estimular minha
mente à questionar do que me satisfazer a respeito da verdade.
Mas conforme eu lia minha bíblia e ia às reuniões de oração, ouvia o Sr. Gale pregar e
conversava com ele, com os presbíteros da igreja, e com outros de tempos em tempos,
tornei-me incansável. Uma pequena consideração convencera-me de que de maneira
alguma eu tinha uma mente pronta para ir para o céu caso eu morresse. Para mim,
parecia haver algo na religião de importância infinita, e logo tive a convicção de que se
a alma é imortal, eu precisava de uma grande mudança no meu estado introspectivo
para poder estar preparado para a felicidade no céu. Mas ainda assim, minha mente
não estava convencida quanto à veracidade ou falsidade do Evangélho e do
Cristianismo. A dúvida, no entanto, era importante demais para me permitir descansar
enquanto ainda havia qualquer incerteza no assunto.
Eu tinha receio em especial em virtude do fato de que as orações que eu ouvia toda
semana, não eram, que eu pudesse ver, respondidas. De fato, eu conseguia entender
pela maneira com que se expressavam nas orações, e por outros detalhes em suas
reuniões, que aqueles que declaravam tais orações não as consideravam como
respondidas.
Quando eu li minha bíblia aprendi o que Cristo disse em relação à oração, e às
repostas às orações. Ele disse “Pedí e dar-se-vos-á, buscai e achareis, batei e abrir-se-
vos-á. Porque aquele que pede, recebe; e, o que busca, encontra; e, ao que bate, se
abre.” Também li que Cristo afirma, que Deus está mais desejoso de dar o Seu Santo
Espírito àqueles que pedem a Ele, do que pais humanos estão de darem bons
presentes a seus filhos. Eu os ouvi orando continuamente pelo derramamento do
Espírito Santo, e não muitas vezes confessarem que não haviam recebido o que
pediram.
Eles exortavam uns aos outros a acordarem e se comprometerem, e a orar
sinceramente por um avivamento religioso, pensando que se fizessem seus deveres,
orassem pelo derramamento do Espírito, e fossem sinceros, que o Espírito de Deus
seria derramado, que eles teriam um avivamento, e que os não arrepedidos seriam
convertidos. Mas em suas orações e reuniões de conferência eles confessavam
continuamente, consideravelmente, que não tinham feito nenhum progresso no
alcançar de um avivamento.
Essa inconsistência, o fato que oravam tanto e não eram respondidos, era uma triste
pedra de tropeço para mim. Eu não sabia o que fazer dela. Era uma pergunta em minha
mente se eu devia compreender
que estas pessoas não eram verdadeiramente cristãs, e conseqüentemente não
permaneciam com Deus; ou será que entendi mal as promessas e os ensinos do bíblia
nesse assunto, ou deveira eu concluir que a bíblia não era verdadeira? Havia algo
inexplicável para mim; e pareceu, uma vez, que isso me quase me levou ao ceticismo.
Parecia-me que os ensinamentos da bíblia não concordavam em nada com os fatos
que estavam diante de meus olhos.
Em uma ocasião, quando eu estava em uma das reuniões de oração, perguntaram-me
se eu não desejava que orassem por mim! Eu lhes disse que não, porque não via que
Deus respondia a suas orações. Eu disse, "suponho que eu necessito de oração,
porque tenho consciência de que sou um pecador; mas não vejo que será bom que
vocês orem por mim; pois vocês estão continuamente pedindo, mas não recebem.
Vocês têm orado por um avivamente desde que estou em Adams, no entanto vocês
não o tem. Vocês têm orado para que o Espírito santo desça sobre vós, e contudo
queixam-se de sua escasses." Recordo-me de ter usado essa expressão naquela hora:
"vocês já oraram o suficiente desde que assisto essas reuniões para terem banido o
diabo para fora de Adams à base de oração, se houvesse alguma virtude em suas
orações. Mas aqui estão vocês, continuam orando, e ainda se queixando." Eu fui
completamente sério no que eu disse, e não estava nem um pouco irritado, eu penso
que em conseqüência de ter sido trazido assim, continuamente, a cara à cara com a
verdade religiosa; o que era um estado novo das coisas para mim.
Mas em uma leitura mais adiante de minha bíblia, entendi que a razão porque suas
orações não eram respondidas, era porque eles não viviam de acordo com as
circunstâncias reveladas, sob as quais Deus tinha prometido responder às orações; que
eles não oravam na fé, no sentido de esperar que Deus lhes desse as coisas que
pediram.
Esse pensamento, por algum tempo, ficou em minha mente como um questionamento
confuso, ao invéz de alguma forma definitivo que poderia ser posta em palavras.
Entretanto, isso me aliviou, no que dizia respeito à verdade do evangélho; e após
esforçar-se nessa maneira por uns dois ou três anos, minha mente tornou-se certa de
que apesar de qualquer mistificação que pudesse haver na minha mente, na mente do
meu pastor, ou na mente da igreja, a bíblia era, não obstante, a verdadeira palavra de
Deus.
Isto estabelecido, dei-me cara à cara com a pergunta se eu aceitaria Cristo como
apresentado no evangélho, ou se seguiria um percurso mais racional na vida. Nesse
período, minha mente, desde que me lembro, estava tão impressionada pelo Espírito
Santo, que eu não poderia deixar essa pergunta sem resposta, nem poderia hesitar por
muito tempo entre os dois cursos de vida apresentados a mim.
A VERDADE DO EVANGÉLHO
MEMÓRIAS DE CHARLES G. FINNEY
CAPÍTULO II.
CONVERSÃO A CRISTO
Numa noite de sábado, no outono de 1821, tinha decidido resolver a questão da
salvação da minha alma imediatamente, que se fosse possível, eu faria as pazes com
Deus. Mas à medida que estava muito ocupado com os assuntos do escritório, eu sabia
que sem uma grande firmeza de propósito, eu nunca resolveria efetivamente o assunto.
Eu portanto, lá e então resolvi, na medida do possível, evitar todo negócio, e tudo que
divergiria minha atenção, e dar me dedicar completamente ao trabalho de assegurar a
salvação da minha alma. Eu executei essa decisão o mais austera e totalmente que
pude. Eu era , no entanto, obrigado a ser um bom funcionário no escritório. Mas à
medida que a providência de Deus age, eu estive pouco ocupado tanto na segunda
quanto na terça-feira ; e tive a oportunidade de ler minha bíblia e ficar em oração a
maior parte do tempo.
Mas eu era muito orgulhoso sem sabê-lo. Eu tinha suposto que eu não tinha muita
consideração pela opinião dos outros, se pensavam isso ou aquilo a respeito de mim; e
eu tinha de fato sido bastante singular em ir às reuniões de oração, e na atenção que
eu tinha prestado à religião, quando em Adams. Neste respeito eu não tinha sido assim
único, como acabei por conduzir à igreja às vezes a pensar que que eu devia ser um
ansioso questionador. Mas eu descobri, quando enfrentei a questão, que não era
disposto que qualquer um soubesse que eu procurava a salvação de minha alma.
Quando eu orava eu apenas sussurrava minha oração, após ter fechado o buraco da
fechadura na porta, a fim de que ninguém descobrisse que eu estava em oração. Antes
disso, eu tinha minha bíblia sobre a mesa, junto com os livros de direito; e nunca tinha-
me ocorrido de envergonhar-me por ter sido encontrado lendo a bíblia, da mesma
maneira que era encontrado lendo alguns de meus outros livros.
Mas depois que eu tinha decidido ser sério no assunto de minha própria salvação,
mantive minha bíblia, tanto quanto pude, fora de vista. Se eu estivesse lendo quando
qualquer um entrasse, eu jogaria meus livros de direito por cima dela, para criar a
impressão que eu não a tinha tido em minha mão. Em vez de ser extrovertido e de
querer falar com todos e qualquer um sobre esse assunto como antes, encontrei-me
sem vontade de conversar com ninguém. Eu não queria ver meu pastor, porque não
queria que ele soubesse o que sentia, e não tinha confiança alguma de que ele
compreenderia meu caso, e daria as respostas que eu precisava. Pelas mesmas razões
eu evitei conversar com os presbíteros da igreja, ou com qualquer cristão. Por um lado
eu tinha vergonha que eles soubessem como eu me sentia; e por outro, eu tinha medo
que me mostrassem a direção errada. Senti-me limitado à bíblia.
Durante segunda e terça-feira minhas convicções aumentaram; mas ainda parecia que
meu coração se endurecia. Eu não podia verter uma lágrima; eu não poderia orar. Eu
não tive nenhuma oportunidade de orar por meu próprio fôlego; e freqüentemente senti,
que se pudesse estar sozinho num lugar onde pudesse usar minha voz e me soltar, eu
encontraria alívio na oração. Eu era tímido, e evitava tanto quanto eu podia, falar a
qualquer sobre qualquer assunto. Esforcei-me, entretanto, para fazer isso de uma
maneira que não levantasse nenhuma suspeita, para ninguém, que eu procurava a
salvação da minha alma.
Naquela noite de terça-feira eu fiquei muito nervoso; e durante a noite um sentimento
estranho veio sobre mim como se eu estivesse a ponto de morrer. Eu sabia que se
morresse iria direto para o inferno; mas aquietei-me o máximo que pude até a manhã.
Bem cedo parti para o escritório. Mas logo antes de chegar lá, algo pareceu confrontar-
me com perguntas como essas: De fato, parecia que o inquérito estava dentro de mim,
como se uma voz interna me dissesse, "que você está esperando? Você não prometeu
dar seu coração a Deus? E que você está tentando fazer? Está se esforçando para
criar uma justiça própria?"
Nesse exato momento todo o assunto da salvação do evangélho se abriu na minha
mente de uma maneira mais que maravilhosa para mim. Eu penso que então vi, tão
claro como jamais em minha vida, a realidade e totalidade da remissão de Cristo. Eu vi
que seu trabalho era um trabalho terminado; e em vez de ter, ou de necessitar, justiça
minha para recomendar-me a Deus, eu tinha que submeter-se à justiça de Deus
através de Cristo. A salvação do evangélho pareceu-me ser uma oferta de algo ser
aceitado; e que estava inteira e completa; e que tudo que era necessário em minha
parte, era meu próprio consentimento de desistir de meus pecados, e aceitar Cristo.
Salvação, pareceu-me, em vez de ser algo a ser feito para fora, por minhas próprias
obras, era algo a ser encontrado inteiramente no Senhor Jesus Cristo, que se
apresentou diante de mim como meu Deus e meu salvador.
Sem estar plenamente ciente, eu tinha parado na rua bem onde a voz interna pareceu
me cativar. Quanto tempo fiquei naquela posição não posso dizer. Mas depois que essa
distinta revelação tinha ficado por algum tempo diante da minha mente, a pergunta
pareceu ser colocada, "você aceita agora, hoje?" Eu respondi, "sim; eu aceito hoje, ou
morrerei tentando."
Ao norte da vila, depois de um monte, ficava uma parte de floresta, na qual eu tinha o
hábito quase que diário de caminhar, mais ou mais menos, quando a temperatura era
agradável. Era então outubro, e o tempo de minhas freqüentes caminhadas lá já
passara. Não obstante, em vez de ir ao escritório, eu virei e mudei meu percurso para a
mata, sentindo que eu devia estar sozinho, e afastado de todos os olhos e ouvidos
humanos, de modo que eu pudesse derramar minha oração a Deus.
Mas meu orgulho ainda devia mostrar-se. Enquanto eu ia por sobre o monte, ocorreu-
me que alguém pudesse me ver e supôr que eu estava indo orar. Contudo
provavelmente não havia uma pessoa sequer na Terra que suspeitaria tal coisa, mesmo
que me tivesse visto. Mas meu orgulho era tão grande, e eu estava tão possuído pelo
medo dos homens, que recordo que esgueirei-me ao longo da cerca, até que ficar tão
longe de vista que nenhuma pessoa da vila poderia me ver. Eu então entrei na mata,
penso que, uns quartocentos metros, passei para o outro lado do monte, e encontrei um
lugar onde algumas árvores grandes tinham caído uma sobre a outra, deixando um
lugar aberto no meio. Ali eu vi que poderia fazer um tipo do salinha. Eu rastejei para
aquele lugar e ajoelhei-me para oração. Conforme eu ia entrando na floresta, recordo-
me de ter dito, "eu darei a meu coração a Deus, ou nunca voltarei de lá." Lembro-me
repetir isso conforme subia: "Eu darei meu coração para Deus antes que eu desça outra
vez."
Mas quando eu tentei, vi que meu coração não ia. Eu tinha suposto que se eu podesse
somente estar onde eu pudesse falar alto, sem ser ouvido, poderia orar livremente. Mas
não! quando tentei, fui bobo; isto é, eu não tinha nada a dizer para Deus; ou ao menos
eu poderia dizer algumas poucas palavras, e palavras sem coração. Na tentativa de
orar eu ouvia um barulho entre as folhas, ou pensava que ouvia, e parava para ver se
alguém não estava vindo. Isso eu fiz diversas vezes.
Por fim me encontrei chegando rápido à beira do desespero. Eu disse a mim mesmo,
"Eu não posso orar. Meu coração está morto para Deus, e não orará." Então repreendi
a mesmo mim por ter prometido dar meu coração a Deus antes que deixasse aquele
lugar. Quando tentei, vi que não poderia dar meu coração a Deus. Minha alma resistia,
e meu coração não saia até Deus. Comecei a sentir profundamente que era tarde
demais; que Deus devia ter desistido de mim e já se fora a esperança.
O pensamento da impetuosidade de minha promessa me pressionava, que eu daria
meu coração a Deus naquele dia ou morreria tentando. Parecia-me que aquilo se
grudava à minha alma, e ainda assim, estava prestes a quebrar meu voto. Um enorme
desânimo tomou conta de mim, sentí-me quase que fraco demais para ficar de pé.
Nesse exato momento, pensei novamente ter ouvido alguém se aproximar, e abri meus
olhos para ver se era isso mesmo. Mas logo aí, a revelação do meu coração orgulhoso,
como sendo a grande dificuldade no meu caminho, foi mostrada a mim. Sucumbiu-me
uma noção da iniqüidade de sentir-me envergonhado por ser visto de joelhos perante
Deus por outro ser humano, e possuiu-me de tal forma que gritei com todas as minhas
forças e exlcamei que não deixaria aquele lugar mesmo se todos os homens da terra e
todos os demônios do inferno me rodeassem. “O que!” eu disse, “tão degradante
pecador que sou, de joelhos, confessando meus pecados ao grande e santo Deus; e
envergonhado de ser achado por outro ser humano, pecador como eu, de joelhos,
esforçando-me para fazer as pazes com meu ofendido Deus!" O pecado parecia
terrível, infinito. Ele me quebrou diante do Senhor.
Nesse instante, essa passagem das Escrituras pareceu invadir minha mente com um
dilúvio de luz: “Então me invocareis, e ireis, e orareis a mim, e eu vos ouvirei. E buscar-
me-eis, e me achareis, quando me buscardes de todo o vosso coração." Apeguei-me
nisso imediatamente com todo meu coração. Acreditava racionalmente na bíblia antes,
mas minha mente nunca havia percebido que na verdade a fé é uma confiança
voluntária, e não uma posição intelectual. Naquele momento tive confiança na
veracidade de Deus, tanto quanto tenho consciência de que existo. De alguma forma eu
sabia que aquilo era uma passagem das Escrituras, apesar de que creio nunca a ter
lido antes. Eu sabia que era a palavra de Deus e a voz de Deus, assim como era, que
falara comigo. Eu clamei “Senhor, eu tomo a Ti e a Tua palavra. Agora sabes que de
fato procuro por Ti de tod meu coração e que vim aqui para orar a Ti, e Tu prometeste
me ouvir."
Isso parecia resolver a questão que eu poderia então, naquele dia, cumprir meu voto. O
Espírito parecia destacar a idéia do texto “Quando me buscardes de todo o teu
coração”. A questão do quanto, que era do momento presente, parecia cair fortemente
no meu coração. Eu disse ao Senhor que eu deveria tomá-lO conforme a Sua palavra,
que Ele não podia mentir, e que portanto eu tinha certeza que Ele escutara minha
oração, e que seria achado meu.
Ele então deu minhas muitas outras promessas, de ambos Velho e Novo Testamento,
especialmente algumas das mais preciosas, em relação ao nosso Senhor Jesus Cristo.
Eu nunca poderei, em palavras, fazer qualquer ser humano entender quão preciosas
aquelas promessas se mostraram a mim. Tomei-as, uma após a outra, como verdade
infalível, as assertações de Deus, que não podia mentir. Elas não pareciam tanto entrar
em meu intelecto, mas sim em meu coração, para serem colocadas dentro do domínio
dos poderes voluntários da minha mente; e eu apeguei-me a elas, apropriei-me delas, e
amarrei-me a elas com a vontade de alguém que se afoga e luta pela vida.
Eu continuei assim a orar, e a receber e me apropriar das promessas por um longo
período, não sei quanto tempo. Orei até que minha mente estivesse tão cheia que,
antes que eu percebesse, estava de pé e cambaleando na subida a caminho da
estrada. A dúvida sobre eu estar convertido ou não sequer ficou na minha mente, mas
conforme eu atravessava as folhas e arbustros, lembro-me de dizer enfaticamente “Se
algum dia eu me converter, vou pregar o Evangélho."
Logo eu cheguei à estrada que levava à vila, e comecei a refletir no que havia ocorrido;
e percebi que minha mente tornara-se maravilhosamente quieta e calma. Eu disse a
mim mesmo, “O que é isso? Devo ter espantato todalmente o Espírito Santo. Perdi toda
minha convicção. Não tenho nenhuma partícula de preocupação sobre minha alma, e
deve ser porque o Espírito me deixou”. Por quê! Eu pensei. Jamais estive tão distante
das preocupações obre minha própria salvação em minha vida.
Então lembrei-me do que havia dito a Deus enquanto estava de joelhos, que eu O
tomaria conforme a Sua palavra, e de fato, lembrei-me de muitas das coisas que eu
dissera, e concluí que não era de se duvidar que o Espírito me havia deixado, que para
um pecador como eu, tomar a Palavra de Deus daquela maneira, era no mínimo
presunção, se não fosse blasfêmia. Eu concluí que em minha empolgação, eu tinha
afastado o Espírito Santo, e talvez cometido o pecado sem perdão.
Eu caminhei calmamente para o vilarejo, e minha mente estava tão perfeitamente
quieta que parecia toda natureza escutar. Era dia 10 de outubro, um dia muito
agradável. Eu tinha ido para a mata imediatamente um café da manhã bem cedinho, e
quando voltei para a cidade, descobri que era hora do jantar. Mesmo estando
totalmente consciente do tempo que se passara, parecia a mim que estive longe por
apenas alguns instantes.
Mas como eu podia compreender a quietude de minha mente? Tentei lembrar-me de
minhas convicções, a retomar a carga de pecados sob a qual vinha trabalhando. Mas
todo sentido de pecado, toda consciência disso presente ou de culpa haviam me
deixado. Disse a mim mesmo, “O que é isso, que não posso sentir culpa nenhuma em
minha alma, sendo tão pecador como sou?” Tentei em vão fazer-me ansioso sobre meu
estado. Eu estava tão calmo e quieto que tentei sentir-me preocupado com isso, para
que isso não fosse um resultado de eu ter afastado o Espírito. Mas sob qualquer ponto
de vista que eu visse, não conseguia ficar ansioso quanto à minha alma e meu estado
espiritual. O descanso de minha mente era inexplicavelmente grande. Nunca poderei
descrever em palavras. O pensamento de Deus era doce para minha mente, e a mais
profunda tranquilidade espiritual se apossara de mim. Isso era um grande mistério, mas
não me preocupava nem me deixava perplexo.
Fui jantar, e descobri que não tinha apetite algum. Então fui ao escritório e descobri que
O Juiz W tinha ido jantar. Peguei meu baixo e, como costumava fazer, comecei a tocar
e cantar algumas peças de música sacra. Mas assim que comecei a cantar aquelas
palavras sagradas, comecei a chorar. Meu coração parecia totalmente líquido, e meus
sentimentos tinham um estado que não me era possível escutar minha própria voz sem
causar um transbordar de minha sensibilidade. Maravilhei-me com isso e tentei conter
minhas lágrimas, mas não consegui. Após tentar em vão para de chorar, guardei
novamente meu instrumento e parei de cantar.
Após o jantar, estávamos preocupados em mudar nossos livros e mobília para outro
escritório. Estávamos muito ocupados com isso, e não tínhamos conversado muito
durante toda a tarde. Minha mente, no entanto, continuava naquele profunto estado de
tranqüilidade. Havia grande doçura e gentileza em meus pensamentos e sentimentos.
Tudo parecia estar dando certo e nada parecia me encomodar ou irritar.
No final da tarde, tomou conta da minha mente o pensamento de que logo que
estivesse sozinho no novo escritório, tentaria orar novamente... que eu não iria
abandonar o assundo religião e desistir, a qualquer custo, e portanto, apesar de não ter
mais nenhuma preocupação sobre minha alma, eu ainda continuaria a orar.
No começo da noite já tinhamos arrumado os livros e mobília, e eu começei um bom
fogo em uma lareira que estava aberta, na esperança de passar a noite sozinho. Assim
que escureceu, O Juiz W, vendo que tudo estava em seu lugar, deu-me boa noite e foi
para casa. Eu o tinha acompanhado até a saída, e conforme eu fechava a porta e me
virava, meu coração parecia como líquido dentro de mim. Todos os meus sentimentos
pareciam surgir e fluir e a expressão do meu coração era “Quero derramar toda a minha
alma para Deus." Minha alma se levantava de tal forma que corri para a sala ao fundo
do escritório da frente para orar.
Não havia fogo nem luz naquela sala, no entanto, parecia-me perfeitamente clara. Ao
fechar a porta, parecia que me encontrara com o Senhor Jesus Cristo face a face. Não
pensei então, nem durante um bom tempo, que aquilo era um completamente parte de
um estado mental. Pelo contrário, a mim parecia que eu O podia ver, assim como podia
ver qualquer outro homem. Ele não disse nada, mas olhor para mim de maneira a fazer-
me cair a Seus pés. Eu sempre considerei isso como um memorável estado mental,
pois para mim parecia realidade, que Ele colocou-se diante de mim, e eu caí a seus pés
derramando a Ele minha alma. Eu chorava alto como uma criança, e confessei tudo que
pude em meio a meus soluços. Parecia-me que eu lavara Seus pés com minhas
lágrimas, e ainda assim, não tinha a distinta impressão de tê-lO tocado, que eu me
lembre.
Devo ter permanecido nesse estado por um bom tempo, mas minha mente estava por
demais absorvida com a visita para lembrar qualquer coisa que eu disse. Mas eu sei
que, logo que minha mente se aquietou o suficiente para sair do confronto, retornei ao
escritório da frente e vi que o fogo que eu tinha feito com um grande pedaço de madeira
já estava praticamente se apagando. Mas conforme eu me virei e fui sentar perto do
fogo, eu recebi um poderoso batismo do Espírito Santo. Sem expectativa alguma disso,
sem jamais ter pensado que havia algo assim para mim, sem lembrança nenhuma de já
ter ouvido alguma menção sobre isso de ninguém no mundo, o Espírito Santo veio
sobre mim de uma maneira que parecia me atravessar, corpo e alma. Eu podia sentir,
como uma onda de eletricidade passando e passando por mim. De fato, parecia vir em
ondas e mais ondas de amor líquido, pois não consigo explicar de nenhuma outra
maneira. Parecia a respiração do próprio Deus. Lembro-me distintamente que sentia
uma brisa, um vento como de imensas asas.
Não há palavras que possam expressar o maravilhoso amor que foi entornado por todo
meu coração. Eu chorava alto com alegria e amor, e eu não sei, mas devo dizer, eu
literalmente berrei, uivei o inexpressável arrebatamento do meu coração.
Essas ondas vinham sobre mim, e sobre mim, e uma após a outra, até que me recordo
ter dito, “Senhor, eu morrerei se essas ondas continuarem a vir sobre mim”. Eu disse
“Senhor, não posso agüentar mais”, no entanto, eu não tinha medo algum da morte.
Quanto tempo eu continuei nesse estado, com o batismo a continuar passando sobre
mim e por mim eu não sei. Mas eu sei que era bem tarde da noite quando um membro
do meu coral (pois eu era o regente do coral) veio ao escritório me ver. Ele era um
membro da igreja. Encontrou-me nesse estado de choro alto e disse-me: “Sr. Finney, o
que lhe aflige?”. Não consegui respondê-lo por algum tempo, então ele disse “O senhor
está sentindo alguma dor?”. Recompus-me o máximo que pude e respondi “Não, mas
uma felicidade tamanha que não posso mais viver.”
Ele se virou e deixou o escritório, e depois de alguns minutos voltou com um dos
presbíteros da igreja, que tinha uma loja do outro lado da rua. Esse ancião era um
homem muito sério, e perto de mim havia sido sempre muito atento, e eu o tinha visto
rir pouquíssimas vezes. Quando ele entrou, eu estava praticamente no mesmo estado
que fiquei quando o jovem saíra para chamá-lo. Ele me perguntou como eu estava me
sentindo e eu comecei a contar. Em vez de falar alguma coisa, ele caiu numa
gargalhada quase que convulsiva. Parecia que era impossível para ele para de rir do
fundo de seu coração.
Havia um jovem na vizinhança que se preparava para ingressar na faculdade, de quem
eu era bastante íntimo. Nosso pastor, como vim a saber mais tarde, tinha conversado
várias vezes com ele sobre religião, e o avisara para não ser enganado por mim. Ele
lhe disse que eu era um jovem muito descuidado quanto à religião, e ele pensava que
se aproximasse muito de mim, sua mente sua mente seria divergida e ele não seria
convertido.
Depois que eu me converti, e que esse jovem se converteu, ele me disse que havia dito
ao Sr. Gale várias vezes, quando ele o admoestava sobre aproximar-se muito de mim,
que minhas conversas por vezes o afetaram mais, religiosamente, do que as pregações
dele. Eu tinha, de fato, exposto boa parte de meus sentimentos àquele rapaz.
Mas exatamente no momento em que eu dava conta de meus sentimentos a esse
presbítero da igreja, e ao outro membro que estava com ele, esse jovem entrou no
escritório. Eu estava sentado de costas para a porta, e mal observei que ele entrou. Ele
ouvia com espanto o que eu dizia, e pela primeira vez o vi caindo no chão, e gritando
com grande agonia de mente “Orem por mim!” O ancião da igreja e o outro membro
ajoelharam-se e começaram a orar por ele, e quando ele oraram, eu orei por ele
também. Logo após isso, todos eles se retiraram e me deixaram sozinho.
A pergunta então veio à minha mente “Por quê o presbítero B riu tanto? Será que ele
pensou que eu estivesse tendo alguma ilusão ou que estivesse louco?” Essa sugestão
trouxe uma certa escuridão sobre a minha mente e eu comecei a me questionar sobre
se era certo que eu, tal pecador tinha sido, orasse por aquele rapaz. Uma nuvem
parecia ter se fechado sobre mim. Fui dormir, não com uma mente distraída, mas ainda
perdido quanto à o quê fazer com meu presente estado. Apesar do batismo que
recebera, essa tentação obscureceu minha visão de tal forma que foi para a cama sem
sentir a certeza de que tinha feito as pazes com Deus.
Eu logo peguei no sono, mas quase fui acordado novamente com o grande fluir do
amor de Deus que estava em meu coração. Eu estava tão cheio de amor que não
conseguia dormir. Mas logo, peguei no sono novamente, e acordei da mesma maneira.
Quando eu acordava, essa tentação voltava sobre mim, e o amor que parecia estar em
meu coração se abatia, mas logo que eu adormecia era tão reconfortante dentro de
mim que eu imediatamente acordava. Assim eu continuei, até que bem tarde da noite,
obtive um bom repouso.
Quando acordei de manhã o sol já havia nascido, e uma forte luz entrava em meu
quarto. Palavras não podem expressar a impressão que essa luz do sol me causou. No
mesmo instante, o batismo que recebera na noite anterior voltou sobre mim da mesma
maneira. Ajoelhei-me na cama e chorei alto com alegria, e permaneci por algum tempo
envolvido demais pelo batismo do Espírito para fazer qualquer outra coisa senão
derramar meu minha alma para Deus. Parecia que o batismo daquela manhã vinha
acompanhado de uma gentil prova, e o Espírito parecia dizer para mim “Você vai
duvidar? Você vai duvidar?” Eu clamei “Não! Eu não vou duvidar! Eu não posso
duvidar.” Ele então clareou tanto o assunto em minha mente que era de fato impossível
para mim, duvidar que o Espírito de Deus se apossara de minha alma.
Nesse estado aprendi a doutrina de justificação pela fé como uma experiência presente.
Essa doutrina nunca se apossara de tal maneira de minha mente que eu a visse
distintamente como uma doutrina fundamental do Evangélho. Na verdade, eu não sabia
qual era o significado dela em seu sentido apropriado. Mas eu podia agora ver e
entender o que queria dizer a passagem “Sendo pois justificados pela fé, temos paz
com Deus, por nosso Senhor Jesus Cristo." Eu pude ver que naquele momento eu cri,
enquanto estava lá na mata, todo o sentimento de condenação deixara completamente
minha mente, e que a partir daquele momento, eu não conseguiria mais sentir culpa ou
condenação mesmo que me esforçasse. Minha culpa foi embora, meus pecados foram
embora, e acredito que não me senti culpado, como se jamais tivesse pecado.
Essa era exatamente a revelação que eu precisava. Senti-me justificado pela fé, e até
onde podia ver, eu estava num estado no qual eu não tinha pecado. Ao invés de sentir
que eu estava pecando o tempo todo, meu coração estava tão cheio de amor que
transbordava. Meu cálice transbordava com benção e amor, e eu não conseguia sentir
que estava pecando contra Deus. Nem conseguia sentir a menor culpa por meus
pecados passados. Sobre essa experiência, não disse nada, que me lembre, a ninguém
na época, isto é, dessa experiência de justificação.
A VERDADE DO EVANGÉLHO
MEMÓRIAS DE CHARLES G. FINNEY
CAPÍTULO III.
O COMEÇO DE SUA OBRA
Nessa manhã que falei, desci para o escritório, e lá estava eu recebendo o renovo
dessas poderosas ondas de amor e salvação a fluir sobre mim quando O Juiz W entrou
na sala. Eu disse algumas poucas palavras a ele sobre a sua salvação. Ele me olhou
com espanto, mas não deu nenhuma resposta, que eu me recorde. Ele baixou a cabeça
e após ficar ali alguns minutos deixou o escritório. Não pensei mais no assunto, porém
mais tarde descobri que o comentário que fizera o cortou como uma espada, e que ele
não se recuperou disso até sua conversão.
Logo após o Sr. W ter saído do escritório, o diácono B entrou em minha sala e disse
“Sr. Finney, o senhor está lembrado que minha causa vai a julgamento às dez horas
dessa manhã? Suponho que esteja pronto?” Eu havia sido designado para cuidar desse
processo como seu advogado. Respondi-lhe “Diácono B, fui designado pelo Senhor
Jesus Cristo para defender a causa dEle, e não posso pleitear a sua”. Ele olhou
assustado para mim e disse “O que você quer dizer?” Eu disse a ele em poucas
palavras que tinha me alistado à causa de Cristo, então repeti que tinha sido designado
por Ele para defender e pleitear a Sua causa, e que ele deveria conseguir outra pessoa
para cuidade de seu processo, eu não poderia fazê-lo. Ele baixou sua cabeça e sem
dar resposta alguma, saiu. Alguns momentos depois, ao passar pela janela, observei
que o Diácono B estava parado na rua, aparentemente perdido em profunda meditação.
Ele foi embora, como fiquei sabendo depois, e imediatamente resolveu seu processo.
Ele então levou-se a oração, e logo chegou a um estado espiritual muito mais elevado
do que jamais teve.
Eu logo saí do escritório para ir conversar com aqueles com quem deveria falar sobre
suas almas. Eu tive a impressão, que nunca mais deixou minha mente, que Deus
queria que eu pregasse o Evangélho, e que deveria começar imediatamente. De
alguma forma eu sabia disso. Se você me perguntar como eu sabia, não sei te dizer,
assim como não sei dizer que sabia que era o amor de Deus e o batismo do Espírito
Santo que recebera. Eu sabia com uma certeza que ultrapassava qualquer
possibilidade de dúvida. E então eu parecia saber que o Senhor me designara para
pregar o Evangélho.
Logo que me convenci, veio-me o pensamento de que se algum dia me convertesse,
seria obrigado a deixar minha profissão, da qual gostava muito, e sair a pregar o
Evangélho. Isso no começo me atrapalhou. Eu achava que tinha agüentado muita dor,
e gastado muito tempo com estudo na minha profissão para pensar agora em me tornar
um cristão, se ao fazer isso, eu seria obrigado a pregar o Evangélho. Contudo, eu
finalmente cheguei a conclusão de que deveria fazer essa pergunta a Deus, que eu
nunca tinha começado a estudar direito por uma ordem de Deus, e que eu não tinha o
direito de impor condições a Ele, e eu portanto deixei de lado minha idéia de tornar-me
um pastor, até que ela nasceu novamente em minha mente, como já relatei, quando
estava a caminho de meu lugar de oração na mata.
Mas agora após receber esses batismos do Espírito, eu estava muito desejoso de
pregar o Evangélho. Não, na verdade descobri que não tinha vontade de fazer outra
coisa além disso. Não tinha mais o desejo de advogar. Tudo nessa direção foi desfeito,
e já não mais me atraía. Não tinha vontade de ganhar dinheiro. Não tinha fome nem
sede de prazeres e diversões descritíveis de qualquer natureza. Minha mente estava
completamente tomada por Jesus e por Sua salvação; e o mundo me parecia de
poucas conseqüências. Nada, a meus olhos, poderia comparar-se com o valor das
almas, e trabalho algum, para mim, poderia ser mais doce, e emprego nenhum tão
exaltado quanto mostrar Cristo para um mundo à beira da morte.
Com esse sentimento, como disse, saí rapidamente do escritório para conversar com
qualquer um que encontrasse. Primeiro parei na loja de um sapateiro, que era um
homem devoto, e um dos cristão que mais orava, pensava eu, na igreja. Encontrei-o
conversando com um filho de um dos presbíteros da igreja, e o jovem estava a
defender o Universalismo. Sr W, o sapateiro, virou-se para mim e disse “Sr. Finney, o
que o senhor acha do argumento desse jovem?”; então ele declarou o que vinha
dizendo em defesa do Universalismo. A resposta apareceu para mim tão certa que em
um instante eu fui capaz de mandar seu argumento pelos ares. O jovem viu que seu
argumento se fora de vez, e levantou, sem dar resposta, saido de repente. Mas eu logo
observei, ficando de pé no meio da loja, que o jovem, ao invés de sair andando pela
rua, tinha dado a volta na loja e pulado a cerca, e olhava fixamente os campos, em
direção à floresta. Não pensei mais nisso até a noite, quando o jovem voltou e parecia
ser um recém-convertido, relatando sua experiência. Ele foi até a mata e lá, como ele
mesmo disse, deu seu coração a Deus.
Falei com muitas pessoas aquele dia, e acredito que o Espírito de Deus causou
impressões duradouras sobre cada uma delas. Não me lembro de nenhuma das
pessoas com quem falei não ter se convertido pouco depois. No começo da noite, liguei
para a casa de um amigo, onde um jovem, empregado para destilar whisky, vivia. A
família soubera que eu me tornara um cristão, e quando estavam prestes a se sentar
para o chá, insistiram para que eu me unisse a eles. Ambos o homem da casa e sua
esposa eram professores de religião, mas a irmã da senhora, que estava presente, não
era uma garota convertida. E este jovem de quem falei, parente distante da família, era
um Universalista assumido. Era um Universalista um tanto quanto falador e
extrovertido, e um jovem com muita energia e caráter.
Sentei-me com eles para tomar chá, e eles solicitaram que eu pedisse por uma benção.
Nunca tinha feito isso, mas não hesitei nem por um instante, e comecei a pedir a
benção de Deus conforme nos sentávamos à mesa. Eu acabara de começar quando o
estado desses jovens me veio à mente e me moveu com tanta compaixão que comecei
a chorar, não podendo mais prosseguir. Todos ao redor da mesa ficaram mudos por
algum tempo, enquanto eu continuava a chorar. Diretamente, o jovem afastou-se da
mesa e saiu às pressas da sala. Ele fugiu para seu quarto e lá se trancou, e não foi
visto novamente até a manhã seguinte, quando saiu expressando uma abençoada
esperança em Cristo. Por muitos anos, ele tem sido um hábil ministro do Evangélho.
Durante o dia, uma grande agitação foi criada na cidade em virtude de se espalhar a
notícia do que o Senhor fizera por minha alma. Alguns pensavam uma coisa, outros
outra. Ao anoitecer, sem nada marcado, que eu soubesse, notei que as pessoas
estavam indo para o lugar onde geralmente aconteciam as conferências e reuniões de
oração. Minha conversão tinha causado um considerável espanto na vila. Mais tarde
vim a saber que antes de tudo isso, alguns membros da igreja haviam proposto que eu
fosse colocado como um assunto específico de oração, e que o Sr. Gale os
desencorajou, dizendo que ele não acreditava que eu jamais poderia me converter, que
por nossas conversas ele percebera que eu tinha conhecimento demais do assunto
religião, e era muito duro. E além disso, ele dissera estar quase totalmente
desencorajado, pois já que eu regia o coral e ensinava música sacra aos jovens, eles
estavam por demasiado sob minha influência e que ele não cria que, enquanto eu
estivesse em Adams, os jovem poderiam se converter.
Descobri depois de convertido, que alguns dos homens iníquos da cidade escondiam-
se em mim. Um homem em específico, um Sr. C, cuja esposa era devota, constante
mente dizia a ela “Se a religião é verdadeira, por quê vocês não convertem o Finney?
Se os cristãos puderem converter o Finney, eu acreditarei na religião”.
Um velho advogado de nome M, que vivia em Adams, ao escutar naquele dia o rumor
de que eu me convertera, disse que era tudo brincadeira, que eu só estava tentando ver
no quê eu poderia fazer o povo cristão acreditar.
Contudo, o povo parecia apressar-se para o local de adoração em unanimidade. Eu
também fui para lá. O pastor estava lá e praticamente todas as personalidades da
cidade. Ninguém parecia preparado para iniciar a reunião, mas a casa estava lotada até
quase sua capacidade máxima. Eu não esperei por ninguém, mas levantei-me e
comecei a dizer que eu agora sabia que a religião procedia de Deus. Eu prossegui e
contei partes de minha experiência que me pareceram importantes contar. Esse tal Sr.
C, que prometera a sua mulher que se eu me convertesse ele acreditaria em religião,
estava lá. O sr. M, o velho advogado, também estava presente. O que o Senhor
capacitou-me a dizer pareceu envolver de forma maravilhosa as pessoas. O Sr. C se
levantou, empurrou a multidão, e foi para casa, deixando para trás seu chapéu. Sr. M
também foi embora para casa, dizendo que eu estava louco. “Ele está sendo sincero”
disse ele, “não há erro, mas ele está claramente perturbado”.
Assim que eu terminei de falar, o Sr. Gale, o pastor, levantou-se e fez uma confissão.
Ele disse que acritava que estivesse no meio do caminho, atrapalhando a igreja, e
então confessou que desencorajara a igreja quando propuseram que orassem por mim.
Disse também que naquele dia quando ouvira que eu me convertera, não dissera de
prontidão que não acreditava. Disse que não tinha alguma. Ele falou de uma forma
muito humilde.
Eu nunca tinha orado em público. Mas logo que o Sr. Gale terminou de falar, ele me
pediu para orar. Eu orei, e creio que tive bastante liberdade e abrangência na oração.
Tivemos uma reunião maravilhosa naquela noite, e daquele dia em diante, tivemos
reuniões todas as noites por um bom tempo. O trabalho expandiu-se para todos os
lados.
Sendo que eu já era um líder entre os jovens, imediatamente agendei uma reunião para
eles, à qual todos compareceram, isso é, todos da minha classe. Eu utilizava meu
próprio tempo para trabalhar por suas conversões, e o Senhor abençoôu cada esforço
que foi feito, de maneira maravilhosa. Eles se converteram um após o outro, muito
rapidamente, e esse trabalho continuou no meio deles até que nenhum permanecesse
sem se converter.
Esse trabalho abrangiu todas as classes, e acabou por extender-se, não somente na
cidade, mas para fora da cidade em todas as direções. Meu coração estava tão cheio
que, por mais de uma semana, não tinha a mínima vontade de dormir ou comer. Eu
parecia literalmente ter uma carne para comer da qual o mundo nada sabia. Eu não
sentia necessidade de comida ou descanso. Minha mente estava cheia do amor de
Deus e transbordava. Continuei dessa forma por alguns bons dias, até que descobri
que precisava descansar e dormir, ou acabaria me tornando louco. A partir de então, fui
mais cauteloso com meus trabalhos, comia regularmente e dormia o quanto podia.
A Palavra de Deus tinha um poder maravilhoso, e todos os dias eu me supreendia ao
descobrir que as poucas palavras ditas a um indivíduo, atingiam seu coração como uma
flecha.
Pouco tempo depois, eu fui a Henderson, onde meu pai vivia, para visitá-lo. Ele não era
um homem convertido, e meu irmão caçula era o único da família a proferir uma
religião. Meu pai recebeu-me no portão e disse “Como vai, Charles?” Eu respondi
“Estou bem, pai, corpo e alma. Mas pai, o senhor é um homem velhor, todos os seus
filhos já cresceram e deixaram a sua casa, e eu nunca ouvi uma oração sequer na casa
de meu pai.” Ele baixou a cabeça e caiu em lágrimas, respondendo “Eu sei, Charles,
entre e ore você mesmo”.
Eu entrei e começei a orar. Meu pai e minha mãe estavam grandemente comovidos, e
pouquíssimo tempo depois, ambos com certeza se converteram. Eu não sei com
certeza, mas minha mãe já esperava isso em secreto, mas ninguém da família, creio
eu, sabia disso.
Eu permaneci naquele bairro, creio eu, por dois ou três dias, e conversei mais ou
menos tantas pessoas quanto pude encontrar. Acredito que foi na noite da segunda-
feira seguinte, eles tinham uma reunião mensal de oração naquela cidade. Havia uma
igreja Batista que tinha um pastor, e uma pequena igreja Congregacional sem um
pastor. A cidade no entanto, era praticamente sem moral, e naquele tempo a religião
estava totalmente em decadência.
Meu irmão mais novo participava dessa reunião mensal que mencionei, e depois
contou-me sobre ela. Os Batistas e os Congregacionais tinham o hábito de fazer essa
reunião mensal em conjunto. Mas poucos compareciam, e portanto ela era realizada na
casa de alguém. Nessa ocasião haviam-se reunido, como de costume na sala de uma
casa. Alguns poucos membros da igreja Batista e alguns poucos Congregacionais
estavam presentes.
O diácono da igreja Congregacional era um homem velho, magro e frágil, de nome M.
Ele era discreto em seus modos, e tinha uma boa reputação pela devoção, mas
raramente falava sobre o assunto. Ele era um bom exemplo de um diácono da Nova
Inglaterra. Ele estava presente e solicitaram que liderasse a reunião. Ele leu uma
passagem das Escrituras, como de costume. Cantaram um hino, o Diácono M ficou de
pé atrás de sua cadeira e liderou em oração. As outras pessoas presentes, todas elas
mestres de religião, e os mais jovens, ajoelharam-se pela sala.
Meu irmão disse que o diácono M começara a oração como de costume, com uma voz
baixa e fraca, mas logo começou a esquentar-se e a levantar sua voz, que tornou-se
trêmula de emoção. Ele prosseguia e orava com mais e mais sinceridade, até que logo
começou a ficar na ponta de seus pés, e voltava a apoiar-se no calcanhar, então ficava
na ponta dos pés, e voltava-se para o calcanhar, de maneira que podiam sentir a
vibração na sala. Ele continuou a erguer sua voz, e erguer-se nas pontas dos pés e de
volta aos calcanhares com mais empolgação. E conforme o espírito de oração o
continuava a levá-lo ele começou a levantar a cadeira junto com seus calcanhares, e
deixá-la de volta no chão, e logo levantava um pouco mais, e levava ao chão com mais
ênfase. Ele continuou a fazer isso, e ficou mais e mais envolvido, até que batia a
cadeira no chão como se fosse quebrá-la em pedaços.
Durante isso, os irmãos e irmãs que estavam de joelhos começaram a gemer, e a
suspirar, e a chorar, e agonizar em oração. O diácono continuou sua luta até ficar
exausto, e quando ele parou, meu irmão disse que ninguém na sala conseguia se
levantar. Conseguiam apenas chorar e confessar, e derreterem-se diante do Senhor. A
partir dessa reunião, a obra de Deus espalhou-se por todos os lados da cidade. E
assim, espalhou-se naquele tempo a partir de Adams, como centro, para praticamente
todas as cidades naquele condado.
Eu já falei da convicção do Juiz W, em cujo escritório estudei direito. Também já falei
que quando me converti, foi num bosque onde fui orar. Logo depois de minha
conversão, muitos outros casos de conversão foram relatados como ocorridos em
circunstâncias similares, isto é, pessoas que foram até a mata para orar e fizeram as
pazes com Deus.
Quando o Juiz W os ouviu contando suas experiências, uma atrás da outra, em nossas
reuniões, ele pensou que tinha uma sala para orar, e que não iria subir até o bosque,
para ter a mesma história que já tinha ouvido tantas vezes, para contar. A isso ele
aparentemente comprometeu-se com seriedade. Apesar de isso ser algo inteiramente
não material, ainda assim era um ponto no qual seu orgulho se comprometera, e
portanto não poderia entrar no reino de Deus.
Em minha experiência ministerial, encontrei muitos casos como este, nos quais em uma
questão, talvez não material em si, o orgulho de um pecador o acometia. Em todos
esses casos, a disputa deve se render, ou o pecador jamais entrará no reino. Já
conheci pessoas que permaneceram por semanas com uma grande tribulação na
mente, pressionadas pelo Espírito, mas não podiam fazer progresso algum até o ponto
de se entregarem. O Sr. W foi o primeiro caso desse tipo que notei.
Depois que ele se converteu, disse que essa questão freqüentemente surgia quando
estava em oração; e que ele foi levado a ver que fora o orgulho que o tinha feito tomar
aquela posição, e o manteve fora do reino de Deus. Mas ainda assim ele não estava
disposto a admitir isso, nem para si mesmo. Ele tentou de todas as maneira se fazer
acreditar, e fazer Deus acreditar, que ele não era orgulhoso. Certa noite, disse ele, orou
a noite inteira em sua sala para que Deus tivesse misericódia dele, mas pela manhã,
ele sentia-se mais angustiado que nunca. Ele por fim tinha certeza que Deus não ouvia
sua oração, e ficou tentado a suicidar-se. Então estava tão a usar um canivete para
isso, que ele acabou por jogá-lo longe, de maneira que se perdesse, para que essa
tentação não prevalecesse. Ele disse que uma noite, quando voltava da reunião, ele
teve tanta noção de seu orgulho, e de que isso o impedia de subir ao bosque para orar,
que ele estava decidido a fazer-se acreditar, e fazer Deus acreditar que ele não era
orgulhoso, que procurou em volta uma poça de lama, na qual ele ajoelhou para
demonstrar que não era orgulho que o impedia de ir para a mata. E assim ele continuou
nessa luta por várias semanas.
Mas numa tarde eu estava sentado em nosso escritório, e dois presbíteros da igreja
estavam comigo, quando o jovem que eu conhecera na loja do sapateiro, exclamou
enquanto entrava correndo “O Juiz W se converteu!” e continuou dizendo: “eu fui até o
bosque orar, e ouvi alguém lá no vale gritando muito alto. Eu subi até o topo do monte,
de onde eu pude ver, e vi o Juiz W de um lado para o outro, cantando o mais alto que
podia, e a toda hora ele parava e batia palmas com toda sua força, e gritava ‘Eu
regozijarei no Deus da minha salvação!’ Então ele voltava a marchar e a cantar, e então
parava, e gritava, e batia palmas!”. Enquanto o jovem nos estava contando isso, eis que
vemos o Juiz W, vindo por sobre o monte. Conforme ele descia, encontrou com o Padre
T, como chamávamos um velho irmão metodista. Ele correu para ele e o pegou no colo.
Depois de colocá-lo no chão e conversar por um momento, ele veio rapidamente em
direção ao escritório. Quando ele entrou, estava com uma respiração ofegante – ele era
um homem pesado, e gritava “Eu entendi! Eu consegui! Eu tenho!”, batia palmas com
toda sua força e caiu de joelhos, e começou a agradecer a Deus. Ele então nos contou
o que passava em sua mente, e porquê ele não tinha obtido essa esperança antes. Ele
disse que assim que desistiu daquilo e foi até o bosque, sua mente foi liberta, e quando
ele se ajoelhou para orar, o Espírito do Senhor veio sobre ele e o encheu com uma
alegria não indescritível que resultou na cena que o jovem havia testemunhado. É claro
que a partir de então, o Juiz W decidiu-se por Deus.
Perto da primavera, os membros mais velhos da igreja começaram a perder seu
entusiasmo. Eu tinha criado o hábito de levantar bem cedo de manhã e passar um
período em oração sozinho na casa de reunião, e eu finalmente convencera alguns
irmãos a me encontrarem lá pela manhã para uma reunião de oração. Isso acontecia
muito cedo, e geralmente já estavamos reunidos muito antes de estar claro o suficiente
para enxergar e ler. Eu convenci meu pastor a comparecer a essas reuniões matinais.
Mas logo eles começaram a descuidar, e foi quando eu comecei a levantar a tempo de
passar na casa de todos e acordá-los. Muitas vezes eu ia pela vila e chamava os
irmãos que, cria eu, seriam os mais prováveis a comparecer, e nós teríamos um
período precioso de oração. Mas mesmo assim, descobri que os irmãos compareciam
com mais e mais relutância, fato esse que me provou grandemente.
Certa manhã, tinha ido chamar os irmãos, e quando retornei à casa de reunião, apenas
alguns poucos estavam lá. O Sr. Gale, o pastor, estava de pé na porta da igreja e
conforme eu me aproximava, a glória de Deus brilhou sobre mim e ao meu redor de
uma forma maravilhosa. O dia estava começando a raiar, mas como um único raio, uma
luz perfeitamente inexprimível brilhou em minha alma que quase prostrei-me ao chão.
Nessa luz, eu parecia poder ver que toda a natureza louvava e adorava a Deus, exceto
o homem. Essa luz parecia o brilho do sol em todas as direções. Era muito intensa para
meus olhos. Lembro-me de baixar meus olhos e cair numa inundação de lágrimas, em
vista do fato que a humanidade não louvava a Deus. Acho que alí entendi algo, por
experiência real, daquela luz que fez Paulo se prostrar em seu caminho a Damasco.
Era com certeza uma luz tal que eu não agüentaria por muito tempo.
Quando eu comecei com esse choro tão alto, o Sr. Gale disse “Qual é o problema,
irmão Finney?” Eu não conseguia dizer a ele. Descobri que ele não tinha visto luz
alguma, e que ele não via o motivo para minha mente estar em tal estado. Eu portanto
não disse muito. Acredito que mal respondi, que tinha visto a glória de Deus, e que eu
não agüentaria pensar na maneira que Ele era tratado pelos homens. De fato, naquele
momento não me parecia que a visão que tivera de Sua glória poderia ser decrita com
palavras. Eu chorei. E a visão, se é que posso chamá-la assim, passou, deixando
minha mente calma.
Eu costumava ter, quando era um jovem cristão, muitos períodos de comunhão com
Deus que não podem ser descritos em palavras. E não raro, esses períodos
terminavam deixando uma impressão como essa em minha mente: “Olhai para que
ninguém o saiba”. Eu não entendia isso na época, e muitas vezes não prestei atenção a
essa imposição, mas tentava contar a meus irmãos em Cristo o quê o Senhor
comunicara a mim, ou sobre os períodos de comunhão que eu tivera com Ele. Mas logo
descobri que não deveria contar aos irmãos o que se passava entre o Senhor e a minha
alma. Eles não poderiam entender. Eles ficavam surpresos e, às vezes, penso eu, com
incredulidade. Então logo aprendi a guardar em segredo tais manifestações divinas,
falando pouco sobre elas.
Eu passava muito tempo em oração. Algumas vezes, eu achava, literalmente orando
sem cessar. Também descobri bastante proveitável e sentia-me inclinado a fazer vários
dias de jejum em particular. Nesses dias, eu procurava ficar totalmente a sós com
Deus, e geralmente entrava pelo bosque, ou ficava na casa de oração, ou algum lugar
distante, totalmente isolado.
Algumas vezes jejuava de maneira errada, e tentava examinar a mim mesmo de acordo
com as idéias de auto-avaliação então defendidas por meu pastor e pela igreja. Eu
tentava olhar para meu próprio coração, no sentido de examinar meus sentimentos, e
voltava minha atenção em especial para meus motivos e meu estado mental. Quando
eu seguia esses passos, invariavelmente percebia que o dia chegava ao fim sem que
nenhum avanço fosse feito. Depois vi claramente porquê isso acontecia. Tirando minha
atenção, como eu fazia, do Senhor Jesus Cristo, e olhando para mim mesmo,
examinando meus motivos e meus sentimentos, esses se abatiam, é claro. Mas sempre
que eu jejuava e deixava o Espírito me guiar, e desistia de mim mesmo para deixá-lo
instruir-me, eu sempre via que tirava o máximo de proveito disso. Descobri que não
podia viver sem gozar da presença de Deus, e que se em qualquer momento uma
nuvem me sobreviesse, eu não conseguia descansar, não conseguia estudar, não
podia fazer nada com o mínimo de satisfação ou benefício, até que o caminho estivesse
limpo novamente entre minha alma e Deus.
Eu gostava muito da minha profissão. Mas como já disse, quando me converti, tudo
nessa direção se tornara obscuro e eu não tinha mais prazer algum em fazer parte do
mundo dos negócios jurídicos. Eu havia recebido muitos convites insistentes para
cuidar de processos legais, mas recusei uniformemente. Eu não ousava confiar em mim
mesmo na agitação de um processo contestado, além do que, em si, o negócio de
conduzir as controvérsias de outras pessoas parecia-me odioso e ofensivo.
O Senhor me ensinou, naqueles primeiros dias de minha experiência cristã, muitas
verdades importantes relacionadas ao espírito de oração. Não muito tempo depois de
me converter, uma mulher que me hospedara como pensionista, apesar de já não mais
morar lá nessa época, ficou muito doente. Ele não era uma mulher cristã, mas seu
marido era professor de religião. Ele entrou em nosso escritório numa noite, sendo um
irmão do Juiz W, e disse para mim: “Minha mulher não sobreviverá esta noite”. Isso caiu
como uma flecha no meu coração. Veio sobre mim num sentido de júgo que acabou
comigo, cuja natureza não conseguia entender, mas com isso veio também um intenso
desejo de orar por aquela mulher. O fardo era tão grande que deixei o escritório quase
que imediatamente, e fui até a casa de reunião, para orar por ela. Alí eu lutava, mas
não conseguia falar muita coisa. Eu podia apenas gemer com gemidos altos e
profundos.
Eu fiquei na igreja por um tempo considerável, com minha mente nesse estado, sem
conseguir nenhum alívio. Retornei ao escritório, mas não conseguia ficar sentado,
quieto. Eu só conseguia ficar andando de um lado para o outro em minha sala,
agonizando. Voltei novamente para a casa de reunião, e passei pelo mesmo processo
de peleja. Por um longo período, eu tentava colocar minha oração diante do Senhor,
mas de alguma forma as palavras não conseguiam expressar. Eu só conseguia gemer
e chorar, sem conseguir expressar o que queria em palavras. Voltei de novo para o
escritório, e descobri que ainda era incapaz de descansar, então voltei uma terceira vez
para a igreja. Nessa vez, o Senhor deu-me o poder de prevalecer. Fui capaz de colocar
esse fardo sobre Ele, e tive a certeza de que aquela mulher não morreria naquela noite,
e de fato, ela jamais morreria em pecado.
Retornei ao escritório. Minha mente estava perfeitamente quieta, e logo retirei-me para
descansar. Bem cedo na manhã seguinte, o marido dessa mulher veio ao escritório.
Perguntei como sua esposa estava. Ele, sorrindo, disse “Ela está viva, e ao que parece,
melhor esta manhã”. Eu respondi “Irmão W, ela não morrerá com essa doença, pode
confiar nisso. E ela jamais morrerá em pecado.” Eu não sei como tive certeza disso,
mas de alguma forma estava tão claro para mim, que eu não tinha nenhuma dúvida que
ela iria se recuperar. E de fato isso aconteceu, pouco depois de ela ter encontrado
esperança em Cristo.
A princípio eu não entendia o que esse exercício mental pelo qual eu passara, era. Mas
logo depois, relatando o acontecimento ao um irmão cristão, disse-me: “Ora, isso foram
as dores de parto da sua alma”. Alguns minutos de conversa e ao mostrar-me certas
passagens da bíblia, pude compreender o que isso queria dizer.
Outra experiência que tive pouco tempo depois dessa, ilustra a mesma verdade. Já
mencionei uma jovem que pertencia à minha classe de jovens, que continuava sem se
converter. Isso chamava bastante atenção, e havia muitos comentários entre os
cristãos sobre seu caso. Ela era uma menina encantadora por natureza e muito
esclarecida no assunto religião, porém, permanecia em seus pecados.
Um dos presbíteros da igreja e eu, concordamos em colocá-la diariamente em nossas
orações, a continuamente apresentar seu caso no trono de graça, de manhã, à tarde e
à noite, até que ela se convertesse ou morresse, ou por algum motivo fossemos
incapacitados de cumprir nosso acordo. Percebi que minha mente trabalhava muito
sobre ela, e mais e mais, conforme por ela orava. Logo descobri, porém, que o
presbítero que entrara nesse propósito comigo, estava perdendo seu espírito de oração
por ela. Mas isso não me desanimou. Continuei firme com crescente importunismo. Eu
também me aproveitava de todas as oportunidades que tinha para conversar clara e
longamente com ela sobre sua salvação.
Depois de continuar agindo assim por algum tempo, fui vistá-la num fim de tarde, perto
do pôr-do-sol. Conforme me aproximava da porta, ouvi gritos de uma voz feminina,
passos e uma confusão do lado de dentro. Parei e esperei até que a confusão
acabasse. A senhora da casa logo veio abrir a porta e tinha na mão um pedaço de um
livro, que obviamente fora partido em dois. Ela estava pálida e muito agitada. Ela
mostrou a parte do livro que estava em sua mão e disse “Sr. Finney, o senhor não acha
que minha irmã tornou-se uma Universalista?”. Era um livro sobre a defesa do
Universalismo. Sua irmã a encontrara lendo em particular, e tentou tirá-lo dela, o que
causou a briga que ouvi, a começar.
Recebi essa informação à porta, quando declinei o convite para entrar. Aquilo atingira-
me da mesma maneira que o fizera a notícia de que a mulher doente, já mencionada,
estava prestes a morrer. Enchi-me de grande agonia. Enquanto voltava para meu
quarto, a uma certa distância daquela casa, senti-me quase como se cambaleasse sob
o fardo que estava em minha mente, e eu pelejei, e gemi, e agonizei, mas não
conseguia apresentar esse caso a Deus em palavras, mas somente em gemidos e
lágrimas.
Parecia-me que a descoberta de que aquela jovem, ao invés de se converter, estava se
tornando uma Universalista tanto me espantou, que não conseguiu acabar com minha
fé, mas sim apegar-me a Deus com relação a seu caso. Parecia haver uma certa
escuridão sobre essa questão, como se uma nuvem se tivesse colocado entre mim e
Deus, no que dizia respeito a prevalecer sua salvação. Mas ainda assim o Espírito
lutava dentro de mim com gemidos que não podiam ser descritos.
Contudo, fui obrigado a retirar-me naquela noite sem ter prevalecido. Mas logo que era
dia, acordei, e o primeiro pensamento que tive foi de rogar ao Deus de graça
novamente por aquela jovem. Eu imediatamente levantei e caí de joelhos. Assim que
ajoelhei-me, a escuridão foi embora, e todo o assunto ficou muito aberto em minha
mente. Logo que pedi por ela, Deus disse a mim “Sim! Sim!”. Se Ele falasse com uma
voz audível, não teria sido mais distintamente entendido que essa palavra foi dentro de
minh’alma. Imediatamente recebi alívio sobre tudo que pedira. Minha mente tornara-se
cheia de grande paz e gozo, e tive certeza absoluta que sua salvação era segura.
Tive uma falsa idéia, no entanto, em relação ao tempo, que de fato não foi algo
marcado em especial na minha mente no momento da oração. Ainda assim, eu
esperava que ela se convertesse imediatamente, mas não foi assim. Ela permaneceu
em seus pecados por vários meses. No momento apropriado, terei a oportunidade de
falar sobre sua conversão. Senti-me decepcionado na época, que ela não se convertera
de vez, e fiquei um pouco confuso quanto ao fato de ter prevalecido ou não junto a
Deus em favor dela.
Logo depois que eu me converti, um homem com quem me hospedava como
pensionista por algum tempo, que era um magistrado e um dos principais homens do
local, estava profundamente convencido do pecado. Ele havia sido eleito um membro
da legislação do estado. Eu orava diariamente por ele, e insistia com ele para que
entregasse seu coração a Deus. Sua convicção tornou-se muito profunda, mas ainda
assim, ele adiava sua entrega e não conseguia a esperança. Meu encargo por ele
aumentou.
Certa tarde vários de seus amigos políticos tiveram uma prolongada entrevista com ele.
Na noite do mesmo dia tentei levar mais uma vez seu caso diante de Deus, pois a
ansiedade em minha mente por sua conversão tornara-se muito grande. Em minha
oração, eu havia-me aproximado muito de Deus. Não me lembro de jamais estar em
comunhão mais íntima com o Senhor Jesus Cristo do que estava naquele momento. Na
verdade Sua presença era tão real que banhei-me em lágrimas de alegria, gratidão e
amor, e nesse pensamento, tentei orar por esse amigo. Mas no instante que tentei,
minha boca se fechou. Vi que era impossível orar uma palavra se quer por ele. O
Senhor parecia dizer-me “Não, eu não ouvirei”. Uma angústia tomou conta de mim.
Achei a princípio que fosse uma tentação, mas a porta foi batida em minha cara.
Parecia que o Senhor estava dizendo para mim “Não fale mais comigo sobre esse
assunto”. Isso machucava-me inexplicavelmente. Não sabia o que fazer.
Na manhã seguinte encontrei com ele, e logo que toquei no assunto de submissão a
Deus, ele me disse: “Sr. Finney, não tratarei mais disso até que retorne da legislatura.
Estou comprometido com meus amigos da política a cumprir certas medidas da
legislatura, que são incompatíveis com tornar-me um cristão. E prometi não mais tratar
sobre esse assunto até que retorne de Albany”.
Desde o que acontecera na noite anterior, eu não tinha mais nenhum espírito de oração
por ele. Logo que ele me contou o que tinha feito, eu compreendi o porquê. Pude ver
que todas as suas convicções desapareceram, e que o Espírito de Deus o deixara. A
partir de então, ele tornou-se menos cuidadoso e mais duro do que nunca.
Quando chegou a hora, ele foi para a legislatura, e quando retornou, na primavera, era
um Universalista quase que insano. Digo quase que insano, pois, ou invés de formar
suas opiniões a partir de alguma prova ou curso de argumento, ele me disse isso:
“Cheguei a essa conclusão, não porque achei explicado na bíblia, mas porque tal
doutrina é tão oposta à mente carnal. É uma doutrina no geral tão rejeitada e contradita,
que a prova intragável à mente carnal ou não convertida.” Isso era espantoso para mim.
Ele permanecia em seus pecados, finalmente entrou em decadência, e por fim morreu,
ao que me disseram, um homem dilapidado, e totalmente crente de seu Universalismo.
A VERDADE DO EVANGÉLHO
AS MEMÓRIAS DE CHARLES G. FINNEY
CAPÍTULO IV.
SUA EDUCAÇÃO DOUTRINÁRIA E OUTRAS EXPERIÊNCIAS EM ADAMS
Logo após de me converter, fiz uma visita a meu pastor e tive uma longa conversa som
ele sobre a remissão. Ele era um estudante de Princeton, e é claro, tinha uma visão
limitada da remissão, que ela fora feita para os eleitos e não estava disponível para
mais ninguém. Nossa conversa durou quase metade de um dia. Ele acreditava que
Jesus havia sofrido pelos eleitos a pena literal da lei divina, que Ele sofrera apenas o
que era destinado a cada um dos eleitos passar como resultado da justiça de
retribuição. Não concordei dizendo que isso era absurdo, pois se esse fosse o caso, Ele
sofrera o equivalente à miséria sem fim multiplicada pelo número total dos eleitos. Meu
pastor insistia que isso era verdade. Ele afirmava que Jesus literalmente pagou a dívida
dos eleitos, e cumpriu completamente a lei de retribuição. Pelo contrário, a mim parecia
que Jesus cumprira apenas a justiça pública, e isso era tudo que o governo de Deus
podia exigir.
Eu, no entanto, não passava de uma criança em teologia. Era um neófito em religião e
aprendizado bíblico, mas eu não achava que ele baseava seus pontos de vista na bíblia
e disse isso para ele. Eu nunca tinha lido nada sobre o assunto, exceto pela minha
bíblia, e o que encontrara lá sobre o assunto, tinha interpretado como entenderia a
mesma passagem ou um texto semelhante num livro de direito. Eu pensei que ele
evidentemente tinha interpretado aqueles textos em conformidade com uma teoria
estabelecida sobre a remissão. Eu nunca o tinha ouvido pregar sobre os pontos de vista
que defendia naquela discussão. Fiquei surpreso em vista de suas posições, e aceitei-
as da melhor maneira que pude.
Ele estava espantado, ouso dizer, com o que para ele parecia ser uma obstinação
minha. Eu achava que minha bíblia ensinava claramente que a remissão fora feita para
todos os homens. Ele a limitava a uma parte. Eu não podia aceitar esse ponto de vista,
pois não consguia entender que ele pobremente provava a partir da bíblia. Suas regras
de interpretação não eram de acordo com meus pontos de vista. Elas eram muito
menos definidas e inteligíveis do que aquelas com as quais estava acostumado em
meus estudos sobre as leis. Para as objeções que eu levantava, ele não conseguia dar
respostas satisfatórias. Perguntei-lhe se a bíblia não pedia para que todos quantos
ouvissem o evangélho, se arependessem, acreditassem e fossem salvos. Ele admitiu
que pedia a todos que acreditassem e fossem salvos. Mas como poderiam acreditar e
aceitar uma salvação que não fora destinada a eles?
Cobrimos todos os assuntos debatendo sobre as divinas maneiras de ver, antiga e
nova, o assunto da remissão, conforme aprendi com meus estudos teológicos
subseqüentes. Não me recordo de ter jamais lido uma página sequer sobre o assunto
exceto pelo que encontrei na bíblia. Nunca tinha ouvido, que me lembrasse, um sermão
ou qualquer discussão sobre o assunto.
Essa discussão era por vezes retomada, e continuou durante todo meu curso de
estudos teológicos sob sua tutela. Mostrou-se preocupado por temer que eu não
aceitasse a fé ortodoxa. Creio que ele tinha a plena convicção de que verdadeiramente
me convertera, mas também tinha um grande desejo de manter-me sob as estritas
linhas da teologia de Princeton.
Ele tinha a idéia fixa em sua mente de que eu deveria ser um pastor, e ficou temeroso
ao dizer-me que se eu de fato me tornasse um pastor, o Senhor não abençoaria minhas
obras, e Seu Espírito não seria testemunha de minhas pregações, a menos que eu
pregasse a verdade. Eu também cria nisso. Mas para mim isso não era um argumento
muito forte a favor de seus pontos de vista, pois ele me havia dito, não nessa conversa
em específico, que não sabia se jamais fora usado como instrumento na conversão de
um pecador.
Eu nunca o tinha ouvido pregar em específico sobre o assunto da redenção. Acredito
que ele tinha medo de apresentar seus próprios pontos de vista para o povo. Sua igreja,
tenho certeza, não apoiava sua idéia de remissão limitada.
Depois disso divemos conversas freqüentes, não somente sobre a redenção, mas
sobre várias questões teológicas, sobre as quais terei a oportunidade de comentar
mais, mais adiante.
Eu já disse que na primavera desse ano, os membros mais velhos da igreja começaram
a perder seu entusiasmo e zelo por Deus. Isso muito me oprimiu, tanto a mim quanto
aos novos convertidos, num geral. Na mesma época, li um artigo em um jornal sob a
manchete “Um Avivamento Restaurado”. Seu conteúdo dizia que em um certo lugar um
avivamento acontecera durante o inverno, e esfriara na primavera, e que diante de
sinceras orações feitas para o contínuo derramar do Espírito, o avivamento foi
poderosamente restaurado. Esse artigo levou-me a um rio de lágrimas.
Nessa época eu estava sendo hospedado leo Sr. Gale, e levei o artigo até ele. Eu
estava tão tomado de um senso de bondade divina quanto à escutar e enviar respostas
de oração, e com uma certeza de que Ele ouviria e responderia a oração pelo
avivamento de Sua obra em Adams, que atravessei a casa chorando alto como uma
criança. O Sr. Gale pareceu surpreso com meus sentimentos, e minha explícita
confiança que Deus avivaria Sua obra. Esse artigo não causou a mesma impressão
nele.
Na próxima reunião de jovens, propus que deveríamos realizar uma reunião fechada de
oração pelo avivamento da obra de Deus; que deveríamos orar de manhã, à tarde e à
noite, em nossos quartos, e continuar com isso por uma semana, quando novamente
nos reuniríamos e veríamos o que seria feito dalí por diante. Nenhum outro método foi
usado para o avivamento da obra de Deus. Mas o espírito de oração foi imediatamente
derramado de forma maravilhosa sobre os jovens convertidos. Antes que terminasse a
semana, soube que alguns deles, quanto tentavam entrar em oração nesse período,
perdiam todas as suas forças e eram incapazes de ficar de pé, ou até mesmo de
joelhos em seus quartos, e que alguns prostravam-se no chão, e oravam com gemidos
inexprimíveis pelo derramar do Espírito de Deus.
O Espírito foi derramado, antes que a semana terminasse, todas as reuniões estavam
aglomeradas, e havia tanto interesse pela religião, creio eu, quanto havia durante todo
o tempo do avivamento.
E foi então que, sinto dizer, um erro foi feito, ou talvez eu devesse dizer, um pecado foi
cometido, por alguns dos membros mais velhos da igreja, que resultou em um grande
mal. Como vim a saber depois, um número considerável dos mais velhos resistiu a esse
novo movimento em meio aos jovens convertidos. Tinham inveja. Não sabiam o que
fazer com isso, e sentiam que os jovens estavam fora do que lhes era devido, ao serem
tão proativos e tão insistentes com os senhores e senhoras da igreja. Essa mentalidade
finalmente afligiu o Espírito de Deus. Não demorou muito até que alienações
começaram a se levantar em meio a esses irmãos mais velhos, o que por fim resultou
em um grande mal àqueles que se permitiram resistir a esse avivamento mais recente.
Os jovens resistiram bem. Os que se converteram, até onde sei, foram quase todos
totalmente sérios, e têm sido cristãos minuiosamente eficientes.
Na primavera desse ano, 1822, coloquei-me sob os cuidados do Presbitério como um
candidato a ministro do Evangélho. Alguns dos pastores insistiram para que eu
ingressasse em Priceton para estudar teologia, mas recusei. Quando me perguntaram
por que eu não iria a Princeton, disse-lhes que minha situação financeira não me
permitia ir. Isso era verdade, mas a isso eles disseram que assegurariam que todas as
minhas despesas fossem pagas. Ainda assim, recusei-me a ir, e quando pressionaram-
me a dar-lhes minhas razões, eu claramente disse a eles que não me colocaria sob a
mesma influência que eles tiveram, que eu estava certo de que haviam sido
erroneamente ensinados, e que não eram pastores que se encaixavam em meus ideais
sobre o quê um ministro de Cristo deveria ser. Contei-lhes isso com relutância, mas não
podia honestamente não contar. Eles designaram meu pastor para supervisionar meus
estudos. Ele me ofereceu o uso de sua biblioteca, e disse que iria ajudar-me no que
precisasse para meus estudos de teologia.
Mas meus estudos, até onde ele via como professor, eram um tanto controversos. Ele
defendia a velha metodologia doutrinária de pecado original, ou que a constituição
humana estava moralmente depravada. Ele defendia também que, quando os homens
eram expressivamente incapazes de concordar com os termos do Evangélho, de se
arrepender, de acreditar, ou de fazer qualquer coisa que Deus lhes pedia que fizessem,
que enquanto eles estivessem livres para todo mau, no sentido de serem capazes de
cometer todos os pecados, ainda assim não eram livres para fazer nada de bom, que
Deus condenara o homem por sua natureza pecaminosa, e que por isso, bem como por
causa de suas transgressões, eles mereciam a morte eterna.
Ele também acreditava que as influências do Espírito de Deus nas mentes dos homens
eram físicas, agindo diretamente sobre a substância da alma, que os homens eram
passivos na regeneração, e em resumo, acreditava em todas aquelas doutrinas que
logicamente vinham em si, do fato de uma natureza pecaminosa.
Eu não podia aceitar essas doutrinas. Eu não podia aceitar seus pontos de vista na
questão da remissão, da regeneração, fé, arrependimento, a escravidão da vondade,
ou qualquer outra doutrina relacionada. Mas ele era um tanto quando tenaz nesses
pontos de vista, e parecia às vezes nem um pouco impaciente porque eu não as
recebia sem questionar.
Ele costumava insistir que se eu racionalizasse o assunto, acabaria provavemente
caindo na infidelidade. Então ele me lembrava de alguns dos estudantes que
ingressaram em Princeton e deixaram como infiéis, porque racionalizavam o assunto, e
não aceitavam a Confissão de Fé e os ensinamentos dos doutores naquela escola.
Sobre tudo isso, ele repetidamente avisava-me, com muita sinceridade, que como
pastor eu nunca sería útil, a menos que aceitasse a verdade, isto é, a verdade como ele
via e ensinava.
Eu tenho certeza que estava muito disposto a acreditar no que eu encontrasse na
bíblia, e assim o disse. Costumávamos ter muitas discussões prolongadas, e muitas
vezes eu saía de seus estudos muito deprimido e desencorajado, dizendo a mim
mesmo “Não posso aceitar que essas visões sejam assim. Não posso acreditar que
sejam ensinadas na bíblia." E muitas vezes estive prestes a desistir do estudo para o
ministério para sempre.
Havia somente um membro na igreja para quem eu abria minha mente com liberdade
sobre esse assunto, e ele era o Presbítero H, um homem de Deus, homem de oração.
Ele fora ensinado segundo as visões de Princeton, e defendia muito as mais altas
doutrinas do Calvinismo. Contudo, conforme tínhamos longas e freqüentes conversas,
ele passou a acreditar que eu estava certo, e visitava-me freqüentemente para que
orássemos juntos, para que eu me fortalecesse em meus estudos e em minhas
discussões com o Sr. Gale, e para que eu me decidisse com mais firmeza de que, não
importa o que houvesse, eu pregaria o Evangélho.
Várias vezes ele se unia a mim quando eu estava grandemente deprimido, ao retornar
dos estudos com o Sr. Gale. Nessas ocasiões, ele ia comigo para meu quarto, e às
vezes ficávamos até tarde da noite clamando a Deus por luz e força, e por fé para
aceitar e cumprir Sua vontade perfeita. Ele vivia a quase cinco quilômetros da vila, e
freqüentemente ficava comigo até dez ou onze horas da noite, e depois ia andando
para casa. Aquele senhor querido! Tenho razões para acreditar que orou por mim todos
os dias de sua vida.
Depois que ingressei no ministério e que grande oposição se levantara contra minhas
pregações, encontrei uma vez com o Presbítero H, e ele mencionou as oposições e
disse “Ah! Minha alma está tão aflita que oro por você dia e noite. Mas tenho certeza
que Deus o ajudará. Vá em frente” ele disse “vá em frente, irmão Finney, o Senhor lhe
dará libertação”.
Certa tarde, Sr. Gale e eu conversávamos longamente sobre a redenção, e chegou a
hora de irmos para a reunião de oração. Continuamos nossa conversa sobre o assunto
até entrarmos na igreja. Como tinhamos chegado cedo e ainda poucas pessoas
estavam lá, continuamos a conversar. As pessoas continuavam entrando, sentavam-se
e escutavam com grande atenção o que falávamos. Nossa discussão era muito sincera,
e creio que conduzida de forma cristã. As pessoas ficaram cada vez mais interessadas
em ouvir nossa discussão, e quando propusemos que parássemos para dar início à
reunião, imploravam-nos com sinceridade que continuássemos para que aquela fosse
nossa reunião. Assim o fizemos, e passamos a noite inteira, creio que em grande parte
para a satisfação dos presentes, e também para sua edificação.
Após estar estudando teologia por alguns meses, e a saúde do Sr. Gale não o permitia
mais pregar, um pregador Universalista veio e começou a promulgar suas doutrinas
desagradáveis. Os membros da comunidade que não se haviam arrependido pareciam
muito dispostos a ouvi-lo, e por fim as pessoas ficaram tão interessadas que muitas
delas começaram a titubiar em suas mentes, quanto às visões da bíblia comumente
recebidas.
Nessa situação, o Sr. Gale, juntamente com alguns dos presbíteros de sua igreja,
pediram que eu falasse ao povo sobre esse assunto, e ver se eu não poderia responder
aos argumentos do Universalista. O grande esforço deste era, claro, mostrar que o
pecado não merecia punição sem fim. Ele acusava a punição eterna de injusta,
infinitamente cruel e absurda. Deus era amor, como poderia um Deus de amor punir o
homem eternamente?
Levantei-me em uma de nossas reuniões vespertinas e disse “Esse pregador
Universalista defende doutrinas que são novas para mim, e não creio que elas sejam
ensinadas na bíblia. Mas vou examinar o assunto, e se não puder provar que seus
pontos de vista são falsos, eu mesmo hei de me tornar um Universalista”. Então sugeri
uma reunião na semana seguinte, onde prometi apresentar uma palestra em oposição a
seus pontos de vista. O povo cristão estava um tanto quanto chocado com minha
ousadia em dizer que tornar-me-ia um Universalista, se não pudesse provar que suas
doutrinas eram falsas. Entretanto, eu tinha certeza que podia.
Quando chegou a noite de minha palestra, a casa estava lotada. Eu tomei a questão da
justiça da punição eterna, e dissertei naquela noite, bem como na noite seguinte. Havia
uma satisfação geral em relação à apresentação.
O próprio Universalista viu que o povo estava convencido de que ele estava errado,
então adotou outra política. Sr. Gale, junto com sua escola de teologia, continuavam a
defender que a redenção de Cristo era o pagamento literal da dívida dos eleitos, um
sofrimento de apenas o quê eles mereciam sofrer, de maneira que os eleitos fossem
salvos sob princípios de justiça exata: Cristo, até onde eles viam, tendo cumprido
completamente as exigências da lei. O Universalista aderiu a essa visão, presumindo
que essa era a real natureza da remissão. Ele apenas tinha que provar que a remissão
fora feita para todos os homens, e então ele poderia mostrar que todos os homens
seriam salvos, pois a dívida da humanidade fora literalmente paga pelo Senhor Jesus
Cristo, e o Universalismo seguiria baseado na justiça, pois Deus não poderia punir
justamente aqueles cujas dívidas já foram pagas.
Eu vi, e as pessoas viram, aquelas que compreendiam a posição do Sr. Gale, que o
Universalista colocara-se em uma situação justa. Pois era fácil provar que a redenção
fora feita para toda a humanidade, e se a natureza e valor da redenção eram aqueles
que o Sr. Gale defendia, a salvação universal era um resultado inevitável.
Isso mais uma vez afastou o povo. Sr. Gale me mandou chamar e pediu para que eu
fosse e novamente respondesse a ele. Ele disse que entendia que a questão baseada
na lei estava acertada, mas agora eu deveria responder a seu argumento baseado no
Evangélho. Eu disse a ele “Sr. Gale, não posso fazer isso sem contradizer seus pontos
de vista no assunto e colocá-los de lado. Com suas opiniões sobre a redenção, ele não
pode ser respondido. Pois se o senhor tem a visão correta da redenção, as pessoas
podem ver facilmente que Cristo morreu por todos os homens, pelo mundo inteiro de
pecadores, e portanto a menos que o senhor permita-me descartar seus pontos de vista
sobre o assunto, nada posso dizer para qualquer fim.” “Bem” o Sr. Gale disse, “não será
possível deixar a situação do jeito que está. Você pode dizer o que quiser, apenas vá e
responda-lhe de seu própria maneira. Se eu achar necessário pregar sobre o assunto
da redenção, serei obrigado a contradizer você”. “Muito bem” eu disse, “deixe-me
apenas mostrar meus pontos de vista, e posso responder ao Universalista, e depois o
senhor pode dizer ao povo o que quiser.”
Eu então disse que falaria sobre o argumento do Universalista baseado no Evangélho.
Dei duas palestras sobre a redenção. Nelas, creio que consegui mostrar plenamente
que a remissão não consistia em um pagamento literal da dívida dos pecadores, no
sentido que o Universalista acreditava, mas sim que ela simplesmente tornava possível
a salvação de todos os homens, e que por si, não colocava Deus na obrigação de
salvar ninguém, que não era verdade que Cristo sofrera somente aquilo que aqueles
por quem morreu mereciam sofrer, que tal ensinamento não estava na bíblia, e que não
era verdade, pelo contrário, que Cristo morrera simplesmente para remover um
obstáculo intransponível do caminho do perdão de Deus aos pecadores, para que fosse
possível a Ele proclamar uma anistia universal, convidando todos os homens a se
arrepender, a acreditar em Cristo, e a aceitar a salvação; que ao invés de ter satisfeito
apenas uma justiça de retribuição e ter sofrido apenas o que os pecadores mereciam,
Cristo cumprira uma justiça pública, ao honrar a lei, tanto na obediência do Senhor
quanto na morte, tornando possível que Deus perdoasse o pecado, perdoasse os
pecados de qualquer homem e de todo homem que se arrependesse e acreditasse
nEle. Eu defendi que Cristo, em sua redenção, fez meramente aquilo que era
necessário como condição para perdão dos pecados, e não aquilo que cancelava os
pecados, no sentido de literalmente pagar as dívidas dos pecadores.
Isso respondeu ao Universalista, e pôs um fim a qualquer agitação que poderia vir a se
levantar sobre o assunto. Mas o que foi muito inesperado, foi que essas palestras
asseguraram a conversão daquela jovem por quem, como já contei, orações tão
sinceras e agonizantes foram feitas. Isso foi muito espantoso para o Sr. Gale, pois era
evidente que o Espírito de Deus abençoara minhas visões da redenção. Eu creio que
isso o deixou consideravelmente confuso quanto à veracidade de seus pontos de vista.
Eu podia ver, ao conversar com ele, que ele ficara por demais surpreso que essa
opinião quanto à remissão seria instrumento para a conversão de uma jovem.
Depois de muitas discussões com o Sr. Gale ao longo de meus estudos teológicos, o
presbitério foi finalmente chamado para meu exame, e se concordassem em assim o
fazer, licenciar-me para pregar o Evangélho. Isso foi em março de 1824. Eu esperava
por uma severa peleja com eles em meu exame, mas os encontrei bastante flexíveis. A
benção manifesta que se apresentara em minhas conversas, e meus ensinamentos nas
reuniões de oração e palavra, e nesssas palestras das quais falei, fizeram-nos, creio
eu, mais cautelosos do que seriam antes em entrar em assuntos controversos comigo.
Durante o exame eles evitaram citar tais questõs que naturalmente levariam minhas
opiniões de encontro com as suas.
Quando fui examinado, foram unânimes nos votos para licenciarem-me a pregar. Eu
mesmo fiquei surpreso e eles perguntaram se eu havia recebido a Confissão de Fé da
Igreja Presbiteriana. Eu não havia examinado, isto é, o grande trabalho contendo o
credo e a confissão. Isso não fizera parte de meu estudo. Respondi que até onde
entendi, eu a havia recebido como substância de doutrina. Porém falei de uma maneira
que claramente sugeria, eu acho, que não fingia saber muito sobre ela. Contudo,
respondi honestamente, segundo meu entendimento sobre ela naquela época. Eles
ouviram os exemplos que havia escrito para um ou outro sermão, sobre textos
indicados a mim pelo presbitério, e prosseguiram com todos os detalhes normais de um
exame como esse.
Nessa reunião do presbitério, o primeiro que vi foi o Reverendo Daniel Nash, que era
em geral conhecido com “Padre Nash”. Ele era um membro do presbitério. Muita gente
estava reunida para assistir meu exame. Eu cheguei um pouco atrasado, e um homem
no púlpito falado ao povo, presumi no momento. Observei que ele olhava para mim
conforme eu entrava, e olhava para os outros conforme eles passavam pelos
corredores.
Assim que cheguei a meu lugar e ouvi, percebi que ele estava orando. Fiquei surpreso
ao vê-lo olhar por toda a igreja, como se estivesse falando com as pessoas, enquanto
na verdade ele estava orando a Deus. Claro que para mim, aquilo não soava muito
como uma oração, e ele estava na verdade em um estado muito frio e errôneo. Terei
muitas oportunidades de mencioná-lo mais adiante.
No primeiro domingo seguinte à minha lincença, preguei pelo Sr. Gale. Quando desci
do púlpito ele disse para mim “Sr. Finney, hei de ficar muito envergonhado que se
saiba, onde quer que senhor vá, que estudou teologia comigo.” Isso era muito típico
dele, e como tudo que ele repetidamente dizia para mim, quase não dei nenhuma
resposta. Baixei minha cabeça, senti-me desencorajado, e segui meu caminho.
Mais tarde ele via esse assunto de maneira bastante diferente, e disse-me que bendizia
ao Senhor pois em todas as nossas discussões, e em tudo que ele falara a mim, não
havia tido a menor influência sequer em mudar meus pontos de vista. Ele confessou de
maneira muito franca seus erros na forma em que lidava comigo, e disse que se eu o
tivesse escutado, teria sido arruinado como pastor.
O fato é que a educação do Sr. Gale para o ministério fora inteiramente defeituosa.
Foram-lhe impostas uma série de opiniões, tanto teológicas quanto práticas, que eram
uma camisa de força para ele. Ele conseguiria realizar muito pouco ou nada se
seguisse seus próprios princípios. Eu tinha livre acesso à sua biblioteca, e pesquisei
minuciosamente sobre todas as questões de teologia que seriam usadas na avaliação,
e quanto mais eu examinava os livros, mais eu ficava insatisfeito.
Eu tinha sido usado para fechar julgamentos lógicos dos juízes, como encontrei
relatado em nossos livros de direito, mas quando fui à biblioteca de velha metodologia
do Sr. Gale, não encontrei quase nenhuma prova suficiente à minha satisfação. Tenho
certeza que isso não era porque eu estava contrariando a verdade, mas eu estava
satisfeito porque os posicionamentos desses autores teológicos não eram sólidas nem
suficientemente baseadas. Várias vezes parecia-me que eles diziam uma coisa e
provavam outra, e frequentemente deixavam a desejar nas provas lógicas de qualquer
coisa.
Eu finalmente disse ao Sr. Gale: “Se não houver nada melhor que eu possa encontrar
na sua biblioteca para sustentar as doutrinas ensinadas pela nossa igreja, devo ser um
infiel.” E eu sempre acreditei que se o Senhor não me levasse a ver a falácia em tais
argumentos, e a ver a real verdade como apresentada nas escrituras, e em especial Ele
Mesmo não se revelasse a mim pessoalmente de forma que eu não pudesse duvidar a
verdade do Cristianismo, eu seria forçado a ser um infiel.
A priori, não sendo nenhum teólogo, minha atitude em relação à suas visões tão
peculiares era mais de negação do que de oposição a qualquer um de seus positivos
pontos de vista. Eu dizia “Suas posições não são comprovadas”. Eu freqüentemente
dizia “Elas não são sucetíveis de prova”. Era assim que eu pensava e continuo
pensando. Mas mesmo com tudo isso, ele insistia em dizer que eu deveria diferir das
opiniões dos grandes e bons homens que, depois de muita consulta e deliberação,
haviam chegado àquelas conclusões, e não era certo que eu, um jovem, treinado para
ser um advogado, sem nenhuma formação teológica, opusesse minhas visões àquelas
de grandes homens e profundos teólogos, cujas opiniões encontrei em sua biblioteca.
Ele insistia que se eu persistisse em satisfazer meu intelecto em tais pontos, com
argumentos, eu acabaria me tornando um infiel. Ele acreditava que as decisões da
igreja deveriam ser respeitadas por um jovem como eu, e que eu deveria render meu
próprio julgamento ao de outros de maior sabedoria.
Agora, não posso negar que havia uma porção considerável de força nisso tudo, mas
ainda assim achava-me totalmente incapaz de aceitar doutrinas com base na
autoridade. Se eu tentasse aceitar tais doutrinas como meros dogmas, não conseguiria.
Não conseguiria fazê-lo com honestidade. Não respeitaria a mim mesmo se o fizesse.
Muitas vezes ao deixar o Sr. Gale, eu ia para meu quarto e passava um longo período
de joelhos, sobre minha bíblia. Na verdade, eu lia minha bíblia de joelhos muitas vezes
durante aqueles dias de conflito, implorando ao Senhor que me desse Sua própria
mente nesses assuntos. Eu não tinha para onde ir a não ser diretamente para a bíblia,
e para as filosofias ou obras de minha própria mente, como reveladas conscientemente.
Meus pontos de vista tomaram uma forma positiva, mas bem devagar. A princípio
percebi que eu era incapaz de aceitar suas visões peculiares, e então gradualmente
formei minhas próprias opiniões opostas às dele, segundo o que a mim parecia estar
inequivocadamente ensinado na bíblia.
Mas como se não bastasse que as visões teológicas do Sr. Gale eram tais que
anulavam sua própria utilidade, suas visões práticas eram igualmente errôneas. Por
tudo isso ele declarava, sobre os meus pontos de vista, todo tipo de mau. Ele me
assegurara que o Espírito de Deus não cooperaria com minhas obras, que se eu
falasse aos homens como dissera a ele que pretendia, eles não me ouviriam, que se
eles viessem por algum tempo, logo ficariam ofendidos, e minha congregação desfazer-
se-ia, que a menos que eu escrevesse meus sermões, eu imediatamente me tornaria
desinteressante e desgastado, não sendo mais capaz de satisfazer o povo, que eu
acabaria dividindo e dispersando a congregação ao invés de edificá-la sempre que eu
pregasse. De fato percebi que seus pontos de vista eram praticamente reversos aos
que eu tinha em todas as questões praticas quanto a meus deveres como pastor,
Eu não me espanto, e nem me espantei na época, que ele estivesse tão chocado com
minhas idéias e propostas em relação a pregar o Evangélho. Com sua formação, não
poderia ser diferente. Ele seguia seus ideais com pouquíssimos resultados práticos. Eu
seguia os meus, e pela benção de Deus os resultados eram opostos aos que ele havia
previsto. Quando esse fato foi exposto claramente, abateram completamente suas
idéias práticas e teológicas como pastor. Esse resultado, conforme hei de comentar no
momento certo, aniquilou sua esperança como cristão, e finalmente o transformou
como pastor.
Mas havia outro defeito na educação do Irmão Gale que eu considerava fundamental.
Se ele em algum momento se convertera a Cristo, falhara em receber a unção divina do
Espírito Santo que o faria um poder no púlpito e na sociedade, para a conversão de
almas. Ele não chegou a alcançar o batismo do Espírito Santo, que é indispensável
para o sucesso ministerial.
Quando Cristo enviou Seus apóstolos para irem e pregarem, Ele lhes disse para que
esperassem em Jerusalém até que fossem revestidos com o poder vindo do alto. Esse
poder, como todos sabem, era o batismo do Espírito Santo derramado sobre eles no dia
de Pentecoste. Essa era uma qualificação indispensável para que fossem bem-
sucedidos em seus ministérios. Na época eu não achava, e agora também não acho,
que esse batismo era simplesmente o poder de fazer milagres. O poder de realizar
milagres e o dom de línguas foram dados como sinais para provar a realidade de sua
incumbência divina. Mas o batismo em si era uma purificação divina, uma unção,
conferindo a eles uma luz divina, enchendo-os de fé e amor, de paz e poder, para que
suas palavras fossem afiadas em atingir o coração dos inimigos de Deus, de forma
rápida e poderosa, como uma espada de dois gumes. Isso é uma qualificação
indispensável para um ministério bem-sucedido, e eu muitas vezes fico supresso e
magoado pois até o dia de hoje, tão pouca importância se dá a essa qualificação para a
pregação de Cristo a um mundo cheio de pecados. Sem o ensinamento direto do
Espírito Santo, um homem jamais progredirá na pregação do evangélho. O fato é que, a
menos que ele consiga pregar o evangélho como sendo uma experiência, apresente a
religião à humaninadade como uma questão de consciência, suas especulações e
teorias serão muito menores do que a pregação do Evangélho.
Eu já disse que o Sr. Gale depois veio a concluir que não era convertido. Que ele era
um homem bom e sincero, no sentido de defender honestamente suas opiniões, eu não
tenho dúvidas. Mas fora infelizmente educado, teológica, filosófica e praticamente, e até
onde puder perceber sobre seu estado espiritual, ele não tinha a paz do Evangélho,
durante o tempo que fiz parte de seu rebanho.
Que o leitor não suponha, de nada que eu disse, que eu não amava o Sr. Gale, e que
não o respeitasse. Pois o amava e respeitava muitíssimo. Eu e ele permanecemos
como melhores amigos, a meu saber, até o dia de sua morte. Eu disse o que disse com
relação a seus pontos de vista pois acho que é cabível, temo dizer, a muitos ministros
do Evangélho ainda hoje. E creio que suas visões práticas de pregar o evangélho,
independentes de suas visões teológicas, são de fato defeituosas, e que sua
necessidade de unção, e de poder do Espírito Santo, é um defeito radical em sua
preparação para o ministério. Não digo isso com censura, mas recordo-me disso como
um fato que há muito tempo estabeleceu-se em minha mente, e pelo qual tenho tido
muitas oportunidades de lamentar. E conforme tornei-me mais e mais familiarizado com
o ministério nesses outros países, tenho certeza de que, com todo seu treinamento,
disciplina, educação, há uma falha nos pontos de vista práticos de como apresentar o
evangélho aos homens, e em adaptar os meios para garantir os fins, e em especial em
sua necessidade do poder do Espírito Santo.
Falei por um tempo considerável sobre minha prolongada controvérsia com meu
professor de teologia, Sr. Gale. Depois de refletir, creio que devo declarar com um
pouco mais de definição alguns dos pontos sobre os quais tivemos tantas discussões.
Eu não podia aceitar aquela ficção teológica de atribuição. Descreverei, da melhor
maneira que puder, as bases exatas que ele mantinha e nas quais insistia. Primeiro, ele
defendia que a culpa da primeira transgressão de Adão fora literalmente imputada a
toda sua posteridade, de forma que eles estão justamente sentenciados e expostos à
eterna condenação por causa do pecado de Adão. Em segundo lugar, ele acreditava
que nós recebemos de Adão, por geração natural, uma natureza completamente
pecadora e moralmente corrompida em todas as faculdades do corpo e da alma,
portanto somos totalmente incapazes de realizar qualquer ato aceitável a Deus, e
necessitamos, por causa de nossa natureza pecaminosa, transgredir Suas leis, em
todos os atos de nossas vidas. E esse, ele insistia, é o estado no qual todos os homens
ficaram por causa do primeiro pecado e Adão. Em virtude dessa natureza pecaminosa,
então recebida de Adão pela geração natural, toda a humanidade está também
sentenciada a, e merece, a condenação eterna. Portanto, em terceiro lugar, além de
tudo isso, ele acreditava que todos nós estavamos condenados e sentenciados à
condenação eterna por nossa própria e inevitável transgressão da lei. Então
encontramo-nos justamente sujeitos a uma triplha condenação eterna.
O segundo tópico dessa atribuição maravilhosa é conforme o seguinte: o pecado de
todos os eleitos, tanto o original quanto os de fato, isto é, a culpa do pecado de Adão,
junto com a culpa de sua natureza pecaminosa e a culpa por suas transgressões
pessoais, são literalmente imputadas a Cristo, e portanto o governo divino O considerou
como a personificação de todos os pecados e culpa dos eleitos, e tratou de acordo
com isso, ou seja, o Pai puniu o Filho precisamente tanto quanto todos os eleitos
mereciam. Por isso suas dívidas foram assim totalmente quitadas pela punição de
Cristo, eles foram salvos sob princípios de justiça exata.
O outro tópico dessa maravilhosa ficção teológica era: primeiro, a obediência de Cristo
à lei divina é literalmente imputada aos eleitos, de maneira que nEle, eles são
considerados como se sempre tivessem obedecido perfeitamente à lei. Segundo, Sua
morte por ele também é atribuida aos eleitos, de maneira que nEle, eles são vistos
como se já tivessem sofrido por completo tudo o que mereciam por causa da culpa do
pecado de Adão imputada a eles, por causa de sua natureza pecaminosa, e também
por causa de todas as suas transgressões pessoais. Terceiro, assim por meio do Fiador
os eleitos já obedeceram perfeitamente à lei, depois também por meio de seu Fiador, já
sofreram a total punição à qual estavam sujeitos em conseqüência da culpa do pecado
de Adão imputada a eles, pela culpa de sua natureza pecaminosa, junto com merecida
culpa por suas transgressões pessoais. Eles portanto sofreram em Cristo, da mesma
maneira como se não tivessem obedecido nEle. Ele, primeiro, obedece perfeitamente
por eles, obediência essa que é estritamente imputada aos eleitos, de forma que são
considerados pelo governo de Deus como tendo obedecido plenamente por meio de
seu Fiador; depois, Ele sofreu por eles a punição da lei, como se nenhuma obediência
fora cumprida, então, após as leis haverem sido duplamente cumpridas, os eleitos
devem se arrepender como se nenhum cumprimento fora feito, e por fim, tendo sido o
pagamento feito duas vezes a mais, a remissão dos eleitos é considerada um ato de
infinita graça. Assim, os eleitos foram salvos pela graça baseada em princípios de
justiça, de maneira que não há estritamente nenhuma graça ou misericórdia em nosso
perdão, mas toda a graça de nossa salvação é encontrada na obediência e sofrimento
de Cristo.
Ela diz que os eleitos podem exigir sua remissão baseados nos resultados da justiça
exata. Eles não precisavam orar por perdão, é um erro fazer isso. Essa é uma
inferência pessoal minha, mas procede, como todos podem ver, sem resistência, do
que a Confissão de fé em si declara, que os eleitos foram salvos com base em
princípios de justiça perfeita e exata.
Vi que era impossível concordar com o Sr. Gale nesses pontos. Eu não podia fazer
outra coisa a não ser considerar e tratar toda essa questão da atribuição como uma
ficção teológica. Sobre esses assuntos, tivemos discussões constantes, de alguma
forma, durante todo o tempo que estudei.
Não me recordo de o Sr. Gale ter insistido nenhuma vez em que a Confissão de Fé
ensinava esses princípios, como vim a aprender quando a estudei. Eu não sabia que as
regras do presbitério exigiam que eles perguntassem ao candidato se ele aceitava o
Confissão de Fé Presbiteriana. Assim que aprendi quais eram os ensinamentos
ambíguos da Confissão sobre esses pontos, não hesitei em declarar minha divergência
deles. Eu os repudiava e expunha. Sempre que eu via que qualquer classe de pessoas
estava se escondendo sob esses dogmas, eu não hesitava em demolí-los, da melhor
maneira que podia.
Eu não caricaturizei essas posições do Sr Gale, mas declarei-as, o mais próximo que
consegui, da mesma linguagem na qual ele as defenderia, quando eu as apresentava
para ele em controvérsia. Ele não fingia que elas eram racionais, ou que elas
aguentariam argumentação. Por isso ele insistia em dizer que minha argumentação
acabaria por me levar à infidelidade. Mas eu insistia em dizer que nosso intelecto nos
fora dado com o propósito de nos capacitar a justificar os meios de Deus, e que tal
ficção de imputação não poderia de maneira alguma ser verdade.
É claro que haviam muitos outros pontos tão relacionados a esses que
necessariamente eram discutidos, e sobre os quais eramos bastante controversos, mas
nossas controvérsias sempre tinham isso como fundamento. Se o homem tem uma
natureza pecaminosa, então a regeneração deve consistir em uma mudança de
natureza. Se a natureza de um homem é pecaminosa, a influência do Espírito Santo
deve regenerá-lo, deve ser física, e não moral. Se o homem tem uma natureza
pecaminosa, não há adaptação no evangélho para mudar sua natureza, e
conseqüentemente, nenhuma relação, na religião, entre meios e fim.
Isso, o Irmão Gale defendia severamente, e por conseqüência em suas pregações ele
nunca parecia esperar e nem procurar converter ninguém, em nenhum sermão que já
ouvi. Ainda assim, ele era um pregador muito capaz, do que se conhecia de pregações
até então. O fato é que, esses dogmas eram uma camisa de força perfeita para ele. Se
ele pregasse sobre arrependimento, ele precisava ter certeza antes de terminar, que
deixara a impressão em todos de seu rebanho, que ele não podiam se arrepender. Se
ele os chamasse a crer, ele precisava com certeza informá-los que, até que sua
natureza fosse transformada pelo Espírito Santo, a fé era impossível para eles. Então
sua ortodoxia era uma armadilha perfeita para ele mesmo e para seus ouvintes. Eu não
podia aceitar. Não era assim que eu entendia minha bíblia, nem ele conseguia fazer-me
ver que isso era ensinado na bíblia.
Quando eu li a Confissão de Fé, e vi as passagens que eles mencionavam para
sustentar esses posicionamentos peculiares, fiquei totalmente envergonhado. Não
podia ter respeito algum por um documento que era elvado a impor à humanidade
dogmas tais como aqueles, sustentados, em sua maioria, por passagens das Escrituras
que eram totalmente irrelevantes, e nenhuma vez sequer sustentados por passagens
que, em uma corte de julgamento, teriam sido consideradas no mínimo conclusivas.
Mas o presbitério, até onde sei, tinha somente um pensamento naquela época. Mais
tarde no entanto, todos cederam, acredito, e quando o Sr. Gale mudou suas opiniões,
não ouvi mais nada de nenhum dos membros do presbitério em defesa dessas visões.
A VERDADE DO EVANGÉLHO
AS MEMÓRIAS DE CHARLES G. FINNEY
CAPÍTULO V.
PREGANDO COMO UM MISSIONÁRIO
EM FUNÇÃO de não ter tido nenhum treinamento regular para o ministério, eu não
esperava nem desejava trabalhar em grandes cidades, ou ministrar a congregações
cultivadas. Eu pretendia ir para os novos vilarejos que surgiam e pregar nas escolas,
celeiros e bosques, o melhor que pudesse. De acordo com isso, logo após ter sido
licenciado para pregar, a fim de que fosse apresentado à região na qual me propus
trabalhar, aceitei uma incumbência por seis meses, de uma sociedade missionária
feminina do condado de Oneida. Fui para a parte norte do condado de Jefferson, e
comecei a trabalhar em Evan’s Mills, na cidade de Le Ray.
Nesse local eu encontrei duas igrejas, uma pequena igreja Congregacional sem pastor,
e uma igreja Batista com um pastor. Apresentei minhas credenciais aos diáconos da
igreja. Eles ficaram muito felizes em me ver, e eu logo comecei a trabalhar. Eles não
tinham uma casa de reunião, mas as duas igrejas adoravam alternadamente em um
grande edifício que era a escola, grande o suficiente acredito, para acomodar todas as
crianças do vilarejo. Os Batistas ocupavam o local em um domingo, os Congregacionais
no próximo, então eu teria o local domingo sim, domingo não, mas podia usá-lo sempre
que quisesse à noite. Portanto, dividi meus domingos entre Evans’ Mills e Antwerp, um
vilarejo a mais ou menos vinte e cinco, trinta quilômetros ainda mais ao norte.
Relatarei primeiro alguns fatos que ocorreram em Evans’ Mills durante aquele período,
e depois uma breve narrativa dos acontecimentos em Antwerp. Mas sendo que eu
pregava alternadamente nesses dois lugares, esses fatos ocorreram de semana a
semana em uma ou em outra dessas localidades. Eu comecei, como já disse, a pregar
no prédio da escola em Evans’ Mills. As pessoas estavam muito interessadas, e
aglomeravam-se no lugar para ouvir-me pregar. Eles elogiavam a minha pregação e a
pequena igreja Congregacional interessou-se muito, na esperança de que crecessem e
que houvesse um avivamento. Algumas poucas ou várias convicções eram geradas a
cada sermão que pregava, mas ainda assim, nenhuma convicção geral aparecia na
opinião pública.
Eu estava muito insatisfeito com essa situação, e em um de meus cultos vespertinos,
depois de ter pregado lá dois ou três domingos, e várias noites na semana, eu disse ao
povo no encerramento de meu sermão, que eu tinha ido lá para assegurar a salvação
de suas almas, que minhas pregações, eu sabia, era muito elogiada por eles, mas que,
afinal, eu não tinha ido para lá para agradá-los mas sim para levá-los ao
arrependimento, que a mim não importava o quanto eles gostassem da minha
pregação, se no fim eles rejeitassem meu Mestre, que havia algo de errado em mim ou
neles, que o tipo de interesse que eles manifestavam em minhas pregações não os
estava edificando em nada, e que eu não podia gastar meu tempo com eles a não ser
que eles recebessem o Evangélho. Então, citando as palavras do servo de Abraão, eu
lhes disse: “Agora, pois, se vós haveis de mostrar beneficência e verdade a meu
senhor, fazei-mo saber; e, se não, também mo fazei saber, para que eu olhe à mão
direita ou à esquerda.” Eu passei essa questão para eles, e insisti que precisava saber
qual direção eles queriam seguir. Se não quisessem se tornar cristãos, e se alistar no
serviço ao Salvador, eu precisava saber imediatamente, para que não trabalhasse com
eles em vão. Eu disse a eles: “Vocês admitem que o que eu prego é o evangélho.
Voces dizem acreditar nele. Agora querem recebê-lo? Querem recebê-lo ou pretendem
rejeitá-lo? Vocês devem ter uma opinião sobre isso. E agora eu tenho direito de
presumir, sendo que vocês admitem que o que prego é a verdade, que vocês têm
consciência de sua obrigação de tornarem-se cristãos de uma vez por todas. Essa
obrigação vocês não contratiam, mas cumpri-la-ão? Ou apenas descartarão? Vocês
farão o que admitem que tem que fazer? Fazei-mo saber; e, se não, também mo fazei
saber, para que eu olhe à mão direita ou à esquerda”
Depois de apresentar isso até que vi que eles compreendiam bem o que dizia, e
estavam muito surpresos com minha maneira de demonstrar, disse-lhes: “Agora, eu
devo saber o que pensam, e quero que vocês que decidiram-se por tornarem-se
cristãos e darão de sua parte uma garantia para fazer as pazes com Deus
imediatamente, fiquem de pé, mas que aqueles de você que, pelo contrário, resolveram
que não se tornarão cristãos, e quiserem que eu assim o entenda, e quiserem que
Cristo assim o entenda, permaneçam sentados.” Após deixar isso bem claro, e ter
certeza que todos compreenderam, eu disse: “Vocês que querem demonstrar a mim e a
Cristo que farão imediatamente as pazes com Deus, por favor, levantem-se. Pelo
contrário, vocês que querem que eu compreenda que se comprometem a permanecer
em sua postura atual de não aceitar a Cristo, podem permanecer sentados”.
Entreolharam-se e olharam para mim, e ficaram todos sentados, como eu já esperava.
Depois de olhar para eles por alguns momentos, eu disse “Portanto estão
comprometidos. Tomaram sua decisão. Rejeitaram a Cristo e ao Seu evangélho; e
todos são testemunhas uns dos outros, e Deus é testemunha de todos. Isso é explícito
e vocês podem lembrar-se por toda vida, que assim publicamente comprometeram-se
contra o Salvador, e disseram ‘não teremos esse homem, Cristo Jesus, reinando sobre
nós’”. Esse é o teor do que insisti para com eles, nas palavras tão exatas quanto me
recordo.
Quando eu os pressionei assim, aborreceram-se, levantaram-se em massa e foram em
direção à porta. Quando eles começaram a andar, parei de falar. Logo que me calei,
viraram-se para ver porque eu não continuara falando. Eu disse “Tenho pena de vocês,
e pregarei mais uma vez, se assim o Senhor quiser, amanhã à noite.”
Todos deixaram o local exceto pelo Diácono McC, que era um diácono da igreja Batista
naquele lugar. Eu vi que os Congregacionais estavam desconcertados. Eles eram
poucos em número e muito fracos na fé. Eu presumi que todos os membros de ambas
as igrejas que estavam presentes, exceto pelo Diácono McC, estavam confusos, e
concluí que a situação estava totalmente acabada, que por minha imprudência eu havia
atacado e destruido todas as aparências de esperança. O Diácono McC veio até mim,
tomou-me pela mão e sorrindo disse: “Irmão Finney, você os conquistou. Eles não
podem descansar isso, apoiarem-se nisso. Todos os irmãos estão desencorajados”
dizia “mas eu não estou. Eu acredito que você fez exatamente o que precisava ser feito,
e que nós veremos os resultados”. Eu também pensava assim, é claro. Eu pretendia
colocá-los numa posição em que, com reflexão, os faria tremer em vista do que já
haviam feito. Mas por aquela noite e durante o dia seguinte eles estavam cheios de ira.
Eu e o Diácono McC concordamos imediatamente em passar o dia seguinte em jejum e
oração separadamente de manhã, e juntos pela tarde. Descobri no decorrer do dia que
as pessoas me ameaçavam – ameaçavam banir-me da comunidade, a cobrir-me com
alcatrão e penas, a dar-me o bilhete azul, como diziam. Alguns maldiziam-me, e diziam
que eu os colcara sob juramento, e os fizera jurar que eles nào serviriam a Deus, que
levara-os a uma admissão pública e solene de rejeição a Cristo e a Seu Evangélho.
Isso não era nada além do que eu esperava. À tarde, eu e o Diácono McC fomos a um
bosque juntos e passamos a tarde inteira em oração. Já no anoitecer, o Senhor nos deu
grande amplitude, e promessa de vitória. Ambos nos sentíamos seguros que havíamos
prevalecido com Deus, e que, naquela noite, o poder de Deus seria revelado em meio
ao povo.
Ao chegar a hora da reunião, deixamos a mata e fomos para o vilarejo. As pessoas já
se aglomeravam no lugar de adoração, e aqueles que ainda não tinham ido, vendo-nos
passar pela vila fecharam suas lojas e locais de negócios, deixaram suas bolas nos
clubes onde jogavam sobre a grama, e lotaram a casa até sua capacidade máxima.
Eu não havia pensado nem uma vez sobre o que eu deveria pregar. Na verdade, isso
era comum para mim na época. O Espírito Santo estava sobre mim, e eu estava
confiante de que quanto chegasse o momento de agir, eu saberia o quê pregar. Assim
que vi que a casa estava lotada, de forma que ninguém mais podia entrar, levantei-me,
e acredito que, sem nenhuma introdução formal de cantorias, abri o discurso para eles
com essas palavras: “Dizei aos justos que bem lhes irá, porque comerão do fruto das
suas obras. Ai do ímpio! Mal lhe irá, porque a recompensa das suas mãos se lhe dará”.
O Espírito de Deus veio sobre mim com tal poder, que parecia como se lançasse uma
carga elétrica sobre eles. Por mais de uma hora, ou talvez por uma hora e meia, a
Palavra de Deus veio através de mim para eles de uma maneira que eu podia ver que
levava tudo sobre si. Era um fogo e um martelo a quebrar a pedra, e como uma espada
tão afiada a ponto de dividir alma e espírito. Eu vi que uma convicção geral se
espalhava sobre toda a congregação. Muitos não conseguiam manter suas cabeças
erguidas. Naquela noite, não chamei ninguém para que revertessem a ação que tinham
feito na noite anterior, nem para nenhum comprometimento de sua parte em nenhum
sentido, mas presumi no decorrer de todo o sermão, que eles estavam comprometidos
contra o Senhor. Então eu marquei outra reunião, e dispensei a congregação.
Conforme o povo saía, observei uma mulher nos braços de algumas de suas amigas
que a sustentavam em uma parte da casa, e fui ver o que se passava, supondo que ela
estivese quase desmaiando. Porém logo vi que ela não estava para desmaiar, mas sim
que não conseguia falar. Havia nela um semblante de grande angústia, e ela me fez
entender que não conseguia falar. Aconselhei as mulheres a levarem-na para casa e
orarem por ela, e ver o que o Senhor haveria de fazer. Disseram-me que ela era a Srta.
G, irmã de um famoso missionário, e que ela era uma membra da igreja de boa índole,
e que assim o fora por muitos anos.
Naquela noite, ao invés de ir para meu alojamento, aceitei um convite, e fui para a casa
de uma família onde ainda não passara a noite até então. Bem cedo pela manhã
descobri que eu fora enviado ao lugar onde deveria estar, várias vezes durante a noite,
visitar famílias onde haviam pessoas sob terrível infortúnio de mente. Isso me levou a
tomar a sair em meio ao povo, e em todos os lugares eu encontrava uma convicção
maravilhosa dos pecados e temor por suas almas.
Depois de ficar muda por quase dezesseis horas, a boca da Srta. G foi aberta, e um
cântico novo foi-lhe dado. Ela fora tirada de um largo horrível de lodo, e seus pés foram
firmados sobre uma rocha, e foi verdade que muitos viram e temeram. Isso ocasionou
uma grande busca entre os membros da igreja. Ela declarou que estava totalmente
enganada, que por oito anos fora parte da igreja, e pensava ser cristã, mas durante o
sermão da noite anterior, ela viu que jamais conhecera o verdadeiro Deus, e que
quando Ele surgiu diante de sua mente como fora então apresentado, sua esperança
pereceu, ela mesma disse, como a traça. Ela disse que uma visão tal da santidade de
Deus foi apresentada, que como uma grande onda a derrubou, e aniquilou sua
esperança em um instante.
Encontrei nesse lugar um número de deístas, alguns deles, homens de grande
expressão na comunidade. Um deles era o dono de um hotel no vilarejo, e outros
homens respeitáveis e muitíssimo inteligentes. Mas eles pareciam unir-se para resistir
ao avivamento. Quando avaliei exatamente seus princípios, dei um sermão que ia
exatamente ao encontro de suas necessidades, pois aos domingos, compareciam às
minhas pregações. Peguei esse texto: “Espera-me um pouco, e mostrar-te-ei que ainda
há razões a favor de Deus. Desde longe repetirei a minha opinião; e ao meu Criador
atribuirei a justiça.” Cobri todo o terreno, até onde podia compreender seu
posicionamento, e Deus me capacitou a esclarecer tudo. Assim que dei por encerrada a
reunião, o dono do hotel, que era o líder entre eles, veio francamente até mim, tomou-
me pela mão e disse “Sr. Finney, estou convencido. O senhor respondeu a todas as
minhas dificuldades. Agora quero que vá para casa comigo, pois quero conversar com
o senhor”. Não ouvi mais falar sobre a infidelidade deles, e se me lembro bem, aquele
grupo de homens foi quase, ou de fato, todo convertido.
Havia um velho senhor naquele lugar, que não apenas não era um fiel, mas também
um grande repreendedor da religião. Ele estava muito bravo com o mover de
avivamento. Todo dia eu escutava sobre seus resmungos e blasfêmias, mas não
comentava publicamente sobre isso. Ele se recusava irremediavelmente em participar
das reuniões. Mas no meio de sua oposição, e quando sua agitação era grande,
enquanto estava sentado à mesa numa certa manhã, ele de repente caiu de sua
cadeira num estado de apoplexia. Um médico foi imediatamente chamado e, depois de
um breve exame, disse-lhe que ele não tinha mais muito tempo de vida, e que se ele
tivesse alguma coisa a dizer, que dissesse logo. Ele apenas teve tempo e força o
suficiente, como depois vim a saber, de exclamar “Não deixem que o Finney ore sobre
meu corpo!”. Essa foi sua última oposição naquele lugar.
Durante aquele avivamento, chamou-me a atenção uma mulher doente naquela
comunidade, que era membra da igreja batista, e bem conhecida naquele lugar, mas as
pessoas não tinham certeza de sua devoção. Ela estava desfalecendo rapidamente, e
imploraram-me para que fosse visitá-la. Eu fui e tive uma longa conversa com ela.
Contou-me sobre um sonho que tivera quando criança que a fizera pensar que seus
pecados já estavam perdoados. Nisso formou sua mente, e nenhum argumento faria
com que ela mudasse. Tentei persuadí-la de que não havia prova alguma de sua
conversão naquele sonho. Eu disse claramente que seus conhecidos afirmavam que
ela nunca vivera uma vida cristã, e que nunca demonstrara uma índole cristã, e que
estava ali para tentar convencê-la de desistir das falsas esperanças e fazer com que ela
aceitasse Jesus Cristo para que fosse salva. Lidei com ela da forma mais gentil que
consegui, mas não deixei de fazê-la entender o que queria dizer. Ainda assim, ela ficou
muito ofendida, e depois que fui embora, reclamou dizendo que eu havia tentado
roubar-lhe a esperança e angustiar-lhe a mente, que eu tinha sido cruel ao tentar
angustiar uma mulher tão doente como ela estava, dessa maneira, tentando perturbar o
descanso de sua mente. Ela morreu não muito tempo depois. Mas sua morte muitas
vezes me lembra do livro do Dr. Nelson chamado “A Causa e a Cura da Infidelidade”.
Quando essa mulher extava morrendo de fato, seus olhos foram abertos, e antes que
deixasse esse mundo, ela pareceu ter uma tamanha visão do caráter de Deus, e do que
de fato era o céu, e da santidade que era necessária para habitar lá, que gritou com
agonia, e exclamou que estava indo para o inferno. Dessa maneira, disseram-me, ela
faleceu.
Enquanto eu estava naquele lugar, certa tarde, um irmão em Cristo veio até meu
alojamento e pediu que eu fosse visitar sua irmã que, como ele me informou,
rapidamente desfalecia, e era uma Universalista. Disse-me que seu marido era
Universalista, e que levara-a a tornar-se uma. Ele disse que não me pedia para ir visitá-
la enquando seu marido estivesse em casa, pois temia o que ele pudesse fazer comigo.
O marido estava determinado de que a mente de sua esposa não deveria ser
perturbada quanto à questão da salvação universal. Eu fui, e percebi que ela não tinha
nem um pouco de paz em suas visões do Universalismo, e durante nossa conversa, ela
desistiu inteiramente dessas idéias e pareceu tomar posse do Evangélho de Cristo.
Acredito que apoiou-se firmemente nessa esperança em Cristo até morrer.
À noite seu marido retornou, e ouvi dela mesma o que acontecera. Ele ficou muito irado
e jurou que “mataria o Finney”. Como vim a saber depois, ele se armou com uma
pistola carregada, e naquela noite foi à reunião na qual eu pregaria. No dia, entretanto,
eu não sabia nada sobre isso. A reunião naquela noite foi em uma escola fora do
vilarejo. A casa estava tão lotada que era quase sufocante. Comecei a pregar com meu
melhor, e quase no meio de meu discurso, vi um homem aparentemente forte, mais ou
menos no meio da congregação, cair de seu lugar. Conforme ele caia, gemia, e então
chorava ou berrava, dizendo que iria para o inferno. Ele repetiu isso várias vezes. As
pessoas sabiam quem ele era, mas para mim era um estranho. Creio que nunca o tinha
visto antes.
É claro que isso gerou uma grande agitação. Interrompeu minha pregação, e sua
angústia era tão grande que passamos o resto de nosso tempo orando por ele. Quando
a reunião foi encerrada, seu amigos levaram-no para casa. Na manhã seguinte,
perguntei por ele, e descobri que ele passara a noite em claro, em grande agonia de
mente, e que ao amanhecer saíra, e ninguém sabia para onde. Não se ouviu mais dele
até as dez horas da manhã. Eu estava passando pela rua e o avistei, aparentemente
vindo de um bosque a uma certa distância do vilarejo. Ele estava do outro lado da rua
quando o vi pela primeira vez, vindo em minha direção. Quando me reconheceu,
atravessou a rua para encontrar-me. Quando ele se aproximou o suficiente, vi que seu
semblante todo brilhava. Disse-lhe “Bom dia, Sr. C.” “Bom dia.” ele respondeu.
Perguntei “E como está sua mente esta manhã?” “Ah, não sei dizer” respondeu ele “tive
uma noite terrível e penosa. Mas não conseguia orar em casa, e pensei que se
conseguisse ficar sozinho, onde pudesse levantar minha voz com meu coração, então
eu poderia orar. De manhã fui para a mata, mas quando cheguei lá, descobri que não
conseguia orar. Eu pensei que podia me entregar a Deus, mas não consegui. Eu tentei
e tentei até desanimar” continuava ele “Por fim eu vi que era inútil, e disse ao Senhor
que me achava perdido e condenado, que não tinha um coração para orar a Ele, não
tinha um coração para arrepender-me, que descobri que endurecera tanto a mim
mesmo que era incapaz de dar-Lhe meu coração, e portanto deixo tudo à mercê dEle.
Eu estava à Sua disposição, e não podia me opor ao que Ele tinha para mim, da
maneira que fosse melhor aos Seus olhos, pois eu não tinha direito nenhum à Sua
graça. Deixei a questão da minha salvação ou condenação inteiramente com o Senhor.”
“Bem, e o que aconteceu a seguir?” Eu perguntei. Ele respondeu: “Bem, eu descobri
que havia perdido toda minha convicção. Levantei-me e vim embora, e minha mente
estava tão quieta que percebi que o Espírito de Deus foi afligido, e perdi toda a minha
convicção. Mas quando vi você, meu coração se aqueceu e começou a queimar dentro
de mim, e ao invés dos sentimentos de querer evitar-lhe, senti-me tão atraído que
atravessei a rua para encontrar-lhe.” Mas eu deveria ter contado que quando ele se
aproximou de mim, saltou, pegou-me no colo, deu duas voltas, e depois colocou-me
novamente no chão. Isso precedeu a conversa que acabei de relatar. Depois de mais
alguns minutos de conversa, fui embora. Ele logo chegou a um estado de mente que o
levou a obter uma esperancá. Nunca mais ouvimos falar de sua oposição.
Naquele lugar vi mais uma vez o Padre Nash, aquele homem que orava com os olhos
abertos, na reunião de presbitério, quando fui licenciado. Depois daquela reunião do
presbitério, ele pegou uma inflamação nos olhos e foi mantido por várias semanas em
um quarto escuro. Ele não podia ler nem escrever e, como eu vim a saber, dedicou-se
quase que inteiramente à oração. Ele teve um terrível recondicionamento em toda sua
experiência cristã, e assim que voltou a enxergar, com um duplo véu negro sobre seu
rosto, saiu a pelejar por almas.
Quando ele chegou a Evans’ Mills ele estava cheio de poder de oração. Ele era um
homem completamente diferente do que jamais fora em qualquer momento de sua vida
cristã. Descobri que ele tinha uma lista de oração, como ele chamava, com os nomes
das pessoas por quem ele orava diariamente, e de vez em quando, várias vezes em um
dia. E ao orar com ele, e ao escutá-lo orar nas reuniões, descobri que seu dom de
oração era maravilhoso, e sua fé quase miraculosa.
Havia um homem de nome D, que tinha uma pequena taverna em uma esquina do
vilarejo, cuja casa era um clube para todos os que se opunham ao avivamento. O bar
era um lugar de blasfêmia, e ele mesmo era um homem muito profano, abusivo, sem
Deus. Ele passava resmungando nas ruas a respeito do avivamento, e tomava dores
específicas para praguejar e maldizer sempre que via um cristão. Um dos jovens
convertidos vivia praticamente do outro lado da rua, em frente a ele, e disse-me que
pretendia vender sua casa e sair daquela vizinhança, pois toda vez que ele estava do
lado de fora e D o via, também saía e começava a praguejar e maldizer, e falar tudo
que podia para machucar seus sentimentos. D nunca tinha participado de nenhuma de
nossas reuniões, creio eu. É claro que ele era um ignorante quanto às grandes
verdades da religião, e despresava toda a organização cristã.
O Padre Nash escutou-nos falando sobre esse tal Sr. D como sendo um caso difícil, e
imediatamente colocou o nome dele em sua lista de oração. Ele ficou na cidade por um
ou dois dias, depois seguiu seu caminho, tendo em vista outra região para trabalhar.
Não muitos dias depois, enquanto tínhamos uma reunião muito lotada numa certa noite,
quem não entra, senão o notável D? Sua entrada gerou um movimento considerável na
congregação. As pessoas temiam que ele tivesse entrado para causar um tumulto.
Creio que o temor e aborrecimento quanto à ele tornara-se comum em meio aos
cristãos, que quando ele entrou, algumas das pessoas levantaram-se e retiraram-se. Eu
conhecia sua personalidade, e fiquei de olho nele. Logo percebi que ele não tinha vindo
para se opor, e que estava em grande agonia de mente. Sentado, contorcia-se em seu
lugar, muito inquieto. Logo se levantou e tremendo, perguntou-me se permitia-lhe que
dissesse algumas poucas palavras. Disse-lhe que poderia. Ele então começou a fazer
uma das confissões mais sinceras de um coração quebrantado que jamais vi em minha
vida. Sua confissão parecia abranger tudo sobre seu tratamento para com Deus, para
com os cristãos, para com o avivamento e para com tudo que é bom.
Isso desfez o terreno sem cultivo de muitos corações. Foi o meio mais poderoso que
podia ter sido usado, então, para dar um incentivo ao trabalho. D logo assumiu e
professou uma esperança, aboliu toda revolta e profanação de sua taverna, e a partir
de então, e durante toda minha estadia lá, não sei muito bem por quanto tempo, uma
reunião de oração era realizada quase todas as noites em sua taverna.
A VERDADE DO EVANGÉLHO
AS MEMÓRIAS DE CHARLES G. FINNEY
CAPÍTULO VI.
O AVIVAMENTO EM EVANS' MILLS E SEUS RESULTADOS
POUCO distante do vilarejo de Evans’ Mills, havia uma aldeia de alemães, onde havia
uma igreja Alemã com muitos presbíteros, e um corpo de membros considerável, mas
sem pastor e sem reuniões periódicas regulares. Uma vez por ano, eles tinham o hábito
de ter um pastor convidado, vindo de Mohawk Valley, para administrar as ordenanças
de batismo e realizar a ceia do Senhor. Ele ensinava as crianças, e recebia deles todos
aqueles que tinham alcançado o conhecimento necessário. Essa foi a maneira na qual
tornaram-se cristãos. Exigia-se que se comprometessem a memorizar os
ensinamentos, e que fossem capazes de responder a certas questões doutrinárias,
diante das quais eram admitidos em comunhão plena com a igreja. Após receber sua
comunhão, presumiam que fossem cristãos, e que tudo era segudo pois já estavam
salvos. Essa era a maneira na qual aquela igreja fora organizada e assim continuava.
Mas misturando-se, como mais ou menos faziam, com os fatos que se passavam no
vilarejo, pediram-me que fosse até lá pregar. Eu fui, e a primeira vez que preguei, tomei
essa passagem: “Sem santificação ninguém verá o Senhor”
A aldeia compareceu em massa, e a escola onde adoravam estava cheia até quase sua
capacidade máxima. Eles compreendiam bem o inglês. Eu comecei mostrando o que
não é santificação. Sob esse tópico, peguei tudo que eles consideravam ser religião, e
mostrei que aquilo não era nem de perto santidade. Depois, mostrei o que é santidade.
Eu então mostrei o que era pretendido ao se ver o Senhor, e por quê aqueles que não
tinham santificação não poderiam vê-lO, por quê jamais poderiam estar em Sua
presença, e ser aceitos por Ele. Por fim concluí com tópicos tão destacados, com a
intenção de que o assunto fosse profundamente marcado neles. E realmente foi
marcado pelo poder do Espírito Santo. A espada do Senhor atravessou-lhes na mão
direita e na esquerda.
Dentro de poucos dias soube-se que toda a aldeia estava convicta, os presbíteros da
igreja e todos estavam por demais temerosos, sentindo que não tinham santidade
alguma. A pedido deles, marquei uma reunião para tirar as dúvidas daqueles que as
tinham. Isso foi em sua época de colheita. Marquei a reunião para a uma hora da tarde,
e encontrei o lugar literalmente lotado. As pessoas tinham deixado utensílios com os
quais faziam sua colheita, e vindo para a reunião. Tantos quantos cabiam na casa
estavam lá.
Posicionei-me no centro do salão, de maneira que não podia mover-me no meio eles.
Fiz perguntas e encorajei-os a fazerem-me perguntas também. Eles ficaram muito
interessados e à vontade para fazer perguntas, e para responder as que eu fazia a eles.
Pouquíssimas vezes participei de uma reunião mais interessante ou edificante do que
aquela.
Recordo-me que uma mulher chegou atrasada e sentou-se perto da porta. Quando fui
falar com ela eu disse “A senhora não parece muito bem”. “Sim,” ela respondeu “estou
muito doente. Estava na cama até vir para a reunião. Mas não posso ler, e queria tanto
ouvir a palavra de Deus que levantei e vim para a reunião.” “Como a senhora veio?”
perguntei. Ela disse “Vim à pé.” Minha próxima pergunta foi “Qual é a distância daqui?”
“Dizemos que é a uns cinco quilômetros” ela disse. Ao questioná-la, descobri que ela
tinha convicção de seus pecados, e estava notoriamente apreensiva quanto a seu
caráter diante de Deus. Converteu-se logo depois, e foi uma cristã notável. Minha
esposa disse que ela foi uma das mais impressionantes mulheres de oração que ela já
tinha ouvido orar, e que citava mais as Escrituras em suas orações do que qualquer
outra pessoa que já tinha visto.
Dirigi-me a outra mulher, alta e com aparência digna, e perguntei-lhe qual era a
situação de sua mente. Ela respondeu imediatamente que entregara seu coração a
Deus, e continuou dizendo que o Senhor a ensinara a ler, desde que ela aprendera a
orar. Perguntei o que queria dizer com aquilo. Ela disse que nunca tinha lido, não
conhecia as letras. Mas quando entregou seu coração a Deus, estava muito angustiada
pois não podia ler a Palavra de Deus. “Mas eu pensei que Jesus podia me ensinar a ler,
e pedi a Ele se por favor não me poderia ensinar a ler a Sua Palavra. Quando orei,
achei que já podia ler. As crianças têm um Testamento, então fui e peguei-o, e vi que
podia ler o que os tinha escutado ler. Então fui até a professora da escola e perguntei
para ela se eu estava lendo direito, e ela disse que sim. Desde então, posso ler a
Palavra de Deus por mim mesma.” disse ela. Eu não falei mais nada, mas achei que
deveria ter algum erro nisso tudo, pois a mulher parecia na verdade, ser muito
inteligente no que disse. Tomei as dores e mais tarde perguntei sobre ela a seus
vizinhos. Todos disseram-na de excelente caráter, e todos confirmaram que era público
e notório que ela não podia ler uma sílaba sequer até se converter. Deixo que esse fato
explique-se a si mesmo, é inútil conjecturar sobre isso. Esses, creio eu, eram os fatos
inquestionáveis.
Mas o avivamento entre os alemães resultou na conversão de toda a igreja, creio eu, e
de quase toda a sua comunidade. Foi um dos avivamentos mais interessantes que já
testemunhei.
Enquanto eu trabalhava nesse lugar, o presbitério foi chamado para me ordenar, como
fizeram. Ambas as igrejas estavam tão fortalecidas, e tinham crescido tanto, que logo
partiram a construir para cada uma, seus próprios e amplos edifícios de concreto, e
acredito que têm tido uma vida religiosa saudável desde aquele tempo. Não fiquei lá por
muitos anos.
Narrei apenas alguns dos principais fatos que me lembro em relação a esse
avivamento. Mas diria também a respeito dele, que um maravilhoso espírito de oração
permaneceu entre os cristãos, e um grande sentimento de unidade. A pequena igreja
Congregacional, recuperou-se logo que viu os resultados da pregação da noite
seguinte, pois tinham sido dispersos, desanimados e confundidos na noite anterior.
Uniram-se e adotaram a obra da melhor maneira que puderam, e apesar de um grupo
fraco e ineficiente, com uma ou duas exceções, eles continuavam a crescer em graça, e
em sabedoria do Senhor Jesus Cristo, durante aquele avivamento.
A mulher alemã de quem falei como sendo doente quando foi à reunião de dúvidas,
uniu-se à igreja Congregacional. Eu fui apresentado e a recebi na igreja. Recordo-me
de um incidente muito comovente que aconteceu quando ela contava sobre sua
experiência cristã. Havia uma mãe de Israel que pertencia àquela igreja, que se
chamava S. Uma mulher de Deus, uma senhora madura e devota. Já estávamos ali há
bastante tempo, escutando as experiências de um após o outro, que vinham como
candidatos a serem admitidos na igreja. Foi quando essa mulher alemã levantou-se e
relatou sua experiência. Foi uma das experiências cristãs mais tocantes, interessantes
e infantis que já tinha ouvido. Conforme ela seguia com sua narrativa, percebi que a
Sra. S levantou-se de seu lugar, e como a casa estava cheia, expremeu-se para passar
como podia. A princípio achei que ela estivesse indo embora. Eu prestava tanta
atenção na narrativa da mulher que mal percebi que a Sra. S estava indo naquela
direção. Assim que ela chegou perto de onde a mulher estava de pé relatando sua
experiência, deu mais um passo adiante, e jogou seu braços ao redor do pescoço dela,
e caindo em lágrimas disse “Deus te abençoe, minha querida irmã! Deus te abençõe!” A
mulher reagiu com todo seu coração, e aquela cena continuou, de forma tão imprevista,
tão natural, tão infantil, tão transbordante de amor, que toda a congregação derreteu-se
em lágrimas. Eles choravam nos ombros uns dos outros. Era uma cena comovente
demais para ser descrita em palavras.
O pastor batista e eu raramente nos encontrávamos, porém algumas vezes eramos
capazes de participar de uma reunião juntos. Ele pregava lá não mais do que a metade
do tempo, e eu a outra metade; conseqüentemente, eu estava quase sempre fora
quando ele estava lá, e ele geralmente ausente quando eu estava lá. Ele era um
homem bom, e trabalhou da melhor maneira que pôde para promover o avivamento.
As doutrinas pregadas eram aquelas que eu sempre preguei como o Evangélhode
Cristo. Eu insistia na total depravação moral voluntária dos não regenerados, e na
imutável necessidade de uma mudança radical de coração pelo Espírito Santo, e por
meio da verdade.
Eu destacava por demais a oração como uma condição indispensável para promover o
avivamento. A remissão de Jesus Cristo, Sua divindade, Sua missão divina, Sua vida
perfeita, Sua morte vicária, Sua ressurreição, arrependimento, fé, justificação pela fé, e
todas as doutrinas relacionadas eram expostas tão minuciosamente quanto eu podia, e
marcadas, e notoriamente feitas eficazes pelo poder do Espírito Santo.
Os meios usados eram simplesmente pregação, oração e reuniões de conferênci, muita
oração particular, muitas conversas pessoais, e reuniões para tirar dúvidas. Esses, e
nenhum outro método, foram usados para a promoção dessa obra. Não havia
aparência alguma de fanatismo, nenhum espírito mau, nenhuma divisão, nenhuma
heresia, nenhuma cisma. Nem naquela época, nem com certeza durante todo o tempo
que estive lá, houve algum resultado do avivamento que fosse lamentável, nem
nenhuma de suas características que fossem de efeito questionável.
Falei sobre casos de oposição intensificada a esse avivamento. Descobri que uma
situação preparara as pessoas para essa oposição, e a fizera grandemente
amargurada. Vi que aquela região do país era o que seria chamada por pessoas do
oeste de um “distrito queimado”. Alguns anos antes, havia passado uma grande
agitação por aquela região, que fora chamada por eles de um avivamento religioso,
mas que acabou por ser igual na aparência, mas diferente na estrutura. Não posso dar
conta desse acontecimento, a não ser pelo que ouvi dos cristãos e dos outros sobre
ele. Foi relatado como uma agitação muito extravagante, e resultou em uma reação tão
extensiva e profunda, que deixou na mente de muitos, a impressão de que a religião
era uma mera ilusão. Muitos homens pareciam firmados nessa convicção.
Considerando o que haviam visto como um exemplo de avivamento, sentiam-se justos
ao se oporem a tudo que ia na direção de promover um avivamento.
Descobri que isso deixara algumas praticas ofensivas em meio aos cristãos, e levava
apenas a incitar o ridículo ao invés de qualquer convicção séria sobre a verdade da
religião. Por exemplo, em todas as suas reuniões de oração, encontrei um costume
como esse: todos os mestres de religião sentiam-se no dever de testemunhar por
Cristo. Eles deviam “tomar a cruz”, e dizer alguma coisa na reunião. Um deles se
levantava e dizia consistentemente: “Eu tenho o dever de fazer o que ninguém mais
pode fazer por mim. Levanto-me para testemunhar que a religião é boa, porém devo
confessar que não aproveito bem no momento. Não tenho nada em particular para
dizer, apenas para levar meu testemunho, e espero que orem por mim”. Isto posto,
aquela pessoa voltava a sentar e outra se levantava e dizia, para o mesmo efeito: “A
religião é boa, eu não gosto muito, não tenho mais nada a dizer, mas devo cumprir meu
dever. Espero que orem por mim”. Assim, o tempo seria ocupado e a reunião acabava
com pouca coisa mais interessante do que essas citações. É claro que os que não
eram de Deus faziam disso seu esporte predileto.
Era na verdade ridículo e repulsivo. Mas a impressão de que essa era a maneira de se
conduzir uma reunião de conferência ou de oração, e de que era dever de cada
professor de religião, sempre que se apresentasse uma oportunidade, dar um
testemunho como esse por Deus estava tão enraizada na mente do povo, que fui
obrigado, com o propósito de acabar com isso, a não ter mais tais reuniões. Marquei
todas as reuniões, por conseqüência, para pregações. Quando reuniamo-nos, eu
começava pelos cânticos, então eu mesmo orava. Então eu chamava nominalmente
mais um ou dois irmãos para orar. Então eu mencionava um texto, e falava por algum
tempo. Então, quando vi que uma impressão fora feita, eu parava e pedia para que uma
ou duas pessoas orassem pedindo a Deus que marcasse aquilo em suas mentes. Eu
então continuava falando, e depois de um tempo parava novamente, e pedia para que
uma ou duas pessoas orassem. Assim eu prosseguia, não abrindo espaço para
comentários da parte dos irmãos. Eles então iam embora sem estarem em serviço,
sentindo que haviam negligenciado seu dever ao não darem destemunho de Deus.
Dessa forma, a maioria de nossas reuniões de oração não foram assim chamadas.
Sendo realizadas para pregações, não se esperava que fossem abertas para que todos
falassem, e dessa maneira fui capaz de superar aquele método bobo de realizar
reuniões, que era tão hilário e ridículo da parte daqueles que não eram de Deus.
O avivamento foi minucioso nesse lugar, e conforme esses fatos que mencionei
ocorriam, a oposição cessou inteiramente pelo que pude saber. Passei mais de seis
meses naquele lugar e em Antwerp, trabalhando entre os dois lugares, e no final desse
período não ouvi mais nada sobre oposição explícita.
Já falei das doutrinas pregadas. Devo dizer também que fui obrigado a passar por maus
bocados na instrução durante reuniões para tirar dúvidas. A prática tem sido, creio eu,
universal, de fazer com que pecadores ansiosos orem por um novo coração, e utilizem
meios para suas próprias conversões. As instruções que recebiam sempre presumiam
ou indicavam que eles estavam muito dispostos a se tornarem cristãos, e muito
suplicavam a Deus que os convertesse. Eu tentei fazê-los entender que Deus utilizava
os meios para com eles, e não eles para com Deus, que Deus estava disposto, e eles
não, que Deus estava pronto e eles não. Em suma, tentei fazer com que se calassem e
apresentar a fé e o arrependimento como sendo o que Deus queria deles, submissão
presente e imediata à Sua vontade, aceitação presente e imediata de Cristo. Tentei
mostrar a eles que toda a demora era apenas um subterfúgio do dever presente, que
toda oração por um novo coração estava apenas tentando jogar a responsabilidade de
sua conversão sobre Deus, e que todos os esforços para cumprir o dever, enquanto
eles não entregassem seus corações a Deus, eram hipócritas e ilusionais.
Durante todos os seis meses que trabalhei naquela região, ia cavalgando de cidade em
cidade, e de aldeia em aldeia, em várias direções, e pregava o evangélho sempre que
tinha oportunidade. Quando saí de Adams minha saúde estava consideravelmente
ruim. Eu estava tossindo sangue, e na época que recebi minha licença, meu amigos
achavam que eu tinha pouco tempo de vida. O Sr. Gale me incumbiu, quando saí de
Adams, a não tentar pregar mais do que uma vez por semana, e mesmo assim,
assegurar-me que não falasse por mais de meia hora. Mas ao invés disso, eu fazia
visits de casa em casa, participava de reuniões de oração, e pregava e trabalhava
todos os dias, e quase todas as noites, durante todo aquele período. Antes que os seis
meses terminassem, minha saúde estava completamente restaurada, meus pulmões
estavam saudáveis, e eu conseguia pregar por duas horas, duas horas e meia ou até
mais, sem sentir o mínimo de fadiga. Acho que em média meus sermões duravam duas
horas. Eu pregava ao ar livre, pregava em celeiros, pregava em escolas, e um glorioso
avivamento se espalhou por toda aquela nova região do país.
Especialmente durante toda a primeira parte de meu ministério, costumava encontrar
muita recusa e reprova de pastores, em particular no que dizia respeito à minha
maneira de pregar. Já comentei que o Sr. Gale, quando preguei por ele imediatamente
depois de obter minha licença, dissera-me que ficaria envergonhado quando qualquer
um soubesse que fui um de seus pupilos. O fato é que, a formação deles tinha sito tão
inteiramente diferente da minha, que eles muito reprovavam minha maneira de pregar.
Reprovavam-me por ilustrar minhas idéias usando referências a assuntos comuns aos
homens, a diferentes atividades ao meu redor, como eu tinha o hábito de fazer. Em
meio a fazendeiros e mecânicos, e outras classes sociais, utilizava-me de ilustrações
de suas várias ocupações. Também tentava utilizar-me de uma linguagem tal que eles
compreendessem. Dirigia-me a eles na linguagem das pessoas comuns. Eu procurava
expressar todas as minhas idéias em poucas palavras, e em palavras que eram de uso
comum.
Antes de me converter, eu tinha uma tendência diferente. Ao escrever e ao falar, havia-
me permitido algumas vezes utilizar uma linguagem ornamentada. Mas quando vim a
pregar o Evangélho, minha mente estava tão ansiosa por ser completamente entendida,
que estudei da maneira mais franca, para evitar que por um lado se tornasse vulgar, e
por outro expressar meus pensamentos com grande simplicidade na linguagem.
Isso era extramamente contrário às noções que prevaleciam entre os pastores naquela
época, e até hoje permanecem em grande parte. Em relação a minhas ilustrações eles
diziam: “Por que o senhor não faz ilustrações com eventos históricos, e ilustra suas
idéias de maneira mais digna?”. A isso, é claro, eu respondia dizendo que se minhas
ilustrações trouxessem consigo qualquer coisa que fosse nova e impactante, que elas
em si ocupariam as mentes das pessoas, e não a verdade que eu desejara ilustrar. E
quanto à simplicidade de minha linguagem, defendia-me dizendo que meu objetivo não
era cultivar um tipo de oratória que voaria por sobre a cabeça das pessoas, mas sim de
fazer-me entender, e que portanto eu utilizaria qualquer linguagem adaptada para esse
fim, e que não envolvia grosserias nem vulgaridades.
Na época que saí de Evans’ Mills nosso presbitério se reuniu, e eu compareci à
reunião. Deixei a obra do avivamento a pedido especial de alguns irmãos, e fui até o
presbitério. Os irmãos haviam ouvido falar sobre minhas pregações, aqueles que ainda
não me tinham ouvido pregar. O presbitério se reuniu de manhã, e prosseguiu com as
transações de negócios, e depois de nosso recesso para o almoço, ao reunirmo-nos
durante a tarde, a massa popular veio junto conosco e encheu a casa. Eu não tinha a
mais remota ideia do que se passava na mente dos irmãos do presbitério. Eu portanto,
sentei-me em meio à multidão e esperei pelo início da reunião.
Logo que a congregação estava reunida em grande parte, um dos irmãos levantou-se e
disse: “As pessoas evidentemente se reuniram para ouvir uma pregação, e eu sugiro
que o Sr. Finney dê um sermão.” Isso foi apoiado e unanimemente aprovado. Vi num
momento que era plano dos irmãos do presbitério que eu fosse testado, para que
vissem se eu realmente podia fazer como haviam escutado que fazia, levantando e
pregando impulsivamente, sem qualquer preparação anterior. Não fiz nenhuma
desculpa ou objeção a pregar, porque devo dizer que meu coração estava cheio da
palavra, e que eu queria pregar. Levantei e saí para o corredor e olhando para cima, vi
que era um púlpito pequeno e alto, junto à parede. Portanto coloquei-me no corredor e
disse minha passagem: “Sem santificação ninguém verá o Senhor”. O Senhor ajudou-
me a pregar. Eu andava para cima e para baixo naquele amplo corredor, e as pessoas
estavam evidentemente muito comovidas.
Mas ao final da reunião, um dos irmãos veio até mim e disse: “Irmão Finney, se o
senhor vier para nossa região, gostaria muito que pregasse em algumas de nossas
escolas. Não gostaria que pregasse em nossa igreja, mas temos escolas em alguns
dos distritos, fora do vilarejo. Eu gostaria que o senhor pregasse em algumas delas.” Eu
menciono isso para mostrar qual era a idéia que eles tinham quanto à minhas
pregações. Mas como estavam completamente cegos em consideração aos resultados
daquele método de falar para as pessoas! Eles costumavam reclamar dizendo que eu
decepcionara a dignidade do púlpito, que eu era uma disgraça para a profissão
ministerial, que eu falava como um advogado na corte, que eu falava com as pessoas
de maneira coloquial, que eu dizia “você”, ao invés de pregar sobre pecado e
pecadores e falar “eles”, que eu falava “inferno” com tanta ênfase que chegava a chocar
as pessoas, sobretudo, que eu insistia às pessoas com tal veemência como se elas não
tivessem mais nenhum momento de vida, e algumas vezes eles reclamavam que eu
culpava demais as pessoas. Um doutor em divindade disse-me que sentia que devia
muito mais chorar pelos pecadores do que culpá-los. Respondí-lhe que não me
espantava, pois se ele acreditava que tivessem uma natureza pecaminosa, que o
pecado então estava enraizado neles, e não podiam evitar.
Depois de eu estar pregando por algum tempo, e o Senhor abençoara em todos os
lugares, eu costumava dizer aos pastores, sempre que viessem discutir comigo sobre
minha maneira de pregar, desejando que eu adotasse suas idéias e as pregasse da
forma que eles faziam, que eu ousava não fazer a mudança que eles queriam. Eu dizia
“Mostrem-me uma maneira mais excelente. Mostrem-me os frutos de seus ministérios,
e se até agora excederam os meus, de forma a provarem para mim que vocês
encontraram um caminho mais excelente, eu adotarei suas visões. Mas vocês esperam
que eu deixe minhas visões e minhas práticas, e adote as suas, quando vocês mesmos
não podem negar que, seja lá os erros nos quais caíram, ou seja lá quais imperfeições
hajam em minhas pregações, no meu estilo ou em qualquer outra coisa, que os
resultados justificam meus métodos?”. Eu dizia a eles: “Pretendo melhorar o quanto
puder, mas não posso adotar sua maneira de pregar até ter prova maior de que vocês
estão certos e eu errado”.
Eles muitas vezes reclamavam dizendo que eu era repetitivo em minhas pregações.
Que pegava um pensamento e o colocava sob vários ângulos, ilustrando de várias
maneiras. Assegurei-lhes que eu achava necessário fazer isso, para fazer-me entender,
e que eu não poderia ser persuadido a deixar de lado essa prática por quaisquer de
seus argumentos. Então eles diziam, você não trará o interesse da parte culta da
congregação. Mas os fatos logo calaram-nos nesse ponto. Eles descobriram que, sob
minhas pregações, juizes, advogados, e homens formados convertiam-se aos montes,
enquanto sob seus métodos, isso raramente ocorria.
A VERDADE DO EVANGÉLHO
AS MEMÓRIAS DE CHARLES G. FINNEY
CAPÍTULO VII.
COMENTÁRIOS SOBRE A EDUCAÇÃO MINISTERIAL
ESPERO que meus irmão não atribuam a mim nenhum outro motivo a não ser uma
gentil e benevolente consideração pela grande utilidade do que direi sobre esse
assunto. Sempre aceitei gentilmente suas críticas, acreditando que suas intenções
eram boas. Agora sou velho, e muitos dos resultados de minhas visões e métodos são
conhecidos ao público. Não seria certo que eu falasse livremente ao ministério sobre
esse assunto? Em resposta às suas objeções, algumas vezes eu lhes disse o que um
juiz da suprema corte uma vez comentara a mim sobre esse assunto. Ele disse
“Pastores não exercem bom senso ao se dirigirem às pessoas. Eles têm medo da
repetição. Usam uma liguagem que não é bem compreendida pelas pessoas comuns.
Suas ilustrações não são tiradas das atividades comuns da vida. Escrevem em um
estilo muito elaborado, sem repetições, e não são compreendidos pelo povo. Agora, se
advogados seguissem os mesmos passos, arruinariam a si mesmos e à causa que
defendem. Quando eu advogava, sempre presumia que, quando tinha diante de mim
um juri de homens respeitáveis, não precisava repetir muitas vezes meus principais
posicionamentos para os jurados. Mas aprendi que a menos que fizesse isso, repetisse,
ilustrasse e esgotasse os principais pontos, os pontos principais da lei e das provas, eu
perderia a causa. Nosso objetivo” ele continuou “ao falarmos ao juri, é formar sua
opinião antes que eles saiam da bancada, não fazer um discurso em uma linguagem
parcialmente compreendida por eles, não nos deixar levar por ilustrações totalmente
fora de sua compreensão, não mostrar nossas habilidades de oratória e deixá-los ir.
Temos o objetivo de conseguir um veredito. Portanto, procuramos ser compreendidos.
Queremos convencê-los, e se tiverem dúvidas quanto à lei, fazemo-lhes endenter, e
fixar em suas mentes. Em suma, esperamos conseguir um veredito, e consegui-lo logo,
de maneira que quando entrarem na sala do juri, perceber-se-á que nos entenderam, e
que foram convencidos pelos fatos e argumentos. Se não nos preocuparmos assim em
fazer com sejam marcados em sua mente que cada pensamento, cada palavra e cada
ponto, de maneira que se instalem em suas convicções, com certeza perderemos a
causa. Devemos superar seus preconceitos, devemos superar sua ignorância, devemos
tentar superar até mesmo seus interesses, se os tiverem, contra nosso cliente.
Portanto, se pastores fizessem isso, os efeitos de suas pregações seriam
indiscritivelmente diferentes do que são. Eles entram em seus escritórios e escrevem
um sermão, sobem ao púlpito e lêem, e aqueles que escutam pouco compreendem.
Muitas palavras usadas não serão entendidas por eles até que cheguem em casa e
consultem o dicionário. Eles não falam ao povo esperando convencê-los e conseguir
seu veredito a favor de Cristo imediatamente. Não têm objetivo. Parecem mais procurar
fazer ótimas produções literais, demonstrar grande eloqüência e um uso ornamentado
da linguagem.” É claro que não transcrevo, tanto tempo depois, as palavras exatas
usadas pelo juiz, mas relatei seus comentários substancialmente, como ficaram em
mim naquela época.
Nunca guardei ressentimento algum em relação a meus irmãos pela dureza com que
freqüentemente me tratavam. Eu sabia que estavam ansiosos para que eu fizesse o
bem, e de verdade supunham que eu estaria fazendo muito mais bem, e bem menos
mau, se adotasse suas idéias. Mas eu tinha outra opinião.
Eu poderia mencionar muitos fatos ilustrativos das idéias de pastores, e da maneira
com que algumas vezes me tratavam. Quando eu estava pregando na Filadélfia, por
exemplo, o Dr. --, o célebre palestrante sobre temperamento de Connecticut, foi até lá e
escutou minha pregação. Ele estava furioso com a maneira na qual eu “decepcionei a
dignidade do púlpito”. Sua conversa principal, no entanto, era com o Sr. Patterson, com
quem eu trabalhava na época. Ele insistia em dizer que eu não deveria ser permitido de
pregar até que tivesse uma educação ministerial, que eu deveria parar de pregar e
ingressar em Princeton para aprender teologia, e conseguir ver melhor a maneira com
que o Evangélho devia ser pregado.
Que nada dito por mim sobre esse assunto cause a impressão em mente alguma, que
eu considerava minhas idéias ou métodos perfeitos, pois não pensava assim. Eu tinha
consciência de que ainda era uma criança. Eu não havia desfrutado das vantagens de
uma educação superior, e fui sempre tão consciente de que não tinha essas
qualificações que poderiam tornar-me aceitável, especialmente aos pastores, e temo
em dizer, às pessoas nos grandes centros, que nunca tive qualquer outra ambição ou
intenção do que a de ir para novas aldeias e lugares onde não se conhecia o
Evangélho. Na verdade fiquei muito surpreso no primeiro ano de meu ministério, em
descobrir que as pessoas mais cultas achavam minhas pregações tão edificantes e
aceitáveis. Isso era mais do que eu esperava, e muito mais do que meus irmãos
esperavam, e mais do que eu mesmo ousava imaginar. Desafiei-me a melhorar em
todas as coisas nas quais encontrava-me em erro. Mas quanto mais eu pregava, menos
razões tinha para pensar que meus erros estavam na direção em que deveriam estar,
segundo meus irmãos pastores.
Quanto mais experiência eu tinha, mas eu via os resultados de meus métodos de
pregação. Quanto mais eu conversava com todas as classes sociais, alta e baixa,
cultos e incultos, mais eu tinha certeza do fato que Deus me havia guiado, ensinado,
dado as concepções certas em relação à melhor maneira de ganhar almas. Eu digo que
Deus me ensinou, e sei que deve ter sido assim, pois com certeza nunca obtive essas
noções dos homens. Por muitas vezes pensei que pudesse dizer com perfeita verdade,
como Paulo disse, que o Evangélho não me fora ensinado pelo homem, mas pelo
Espírito do próprio Cristo. E isso me fora ensinado pelo Espírito do Senhor de uma
maneira tão clara e eficaz, que nenhum argumento de meus irmãos do ministério, com
os quais fui tão confrontado e durante tão tempo, não tinham a menor importância para
mim.
Falo disso por questão de dever. Pois ainda tenho a solene convicção impressa em
minha mente, de que as escolas estão estragando consideravelmente os ministros.
Pastores hoje em dia têm grande facilidade para obter informações sobre qualquer
questão teológica, e têm muito mais estudo no que diz respeito ao aprendizado
teológico, histórico e bíblico, do que talvez jamais tivem em qualquer época da história
mundial. Mas mesmo com todo seu conhecimento, eles não sabem como usá-lo. Eles
são, afinal, em grande parte, como Davi na armadura de Saul. Um homem nunca
aprenderá a pregar a não ser que pregue.
Mas há algo que pastores precisam mais do que todos, unidade na visão. Se
preocuparem-se demais com sua reputação, não farão muito além do bem necessário.
Há muitos anos um amado pastor que conheci, deixou sua casa por motivos de saúde,
e contratou um jovem, recém formado no seminário, para preencher seu lugar no
púlpito em sua ausência. Esse jovem escrevia e pregava os mais esplêndidos sermões
que podia. A esposa do pastor um dia finalmente ousou dizer-lhe: “Você prega além do
entendimento de nosso povo. Eles não compreendem sua linguagem nem suas
ilustrações. Você traz muito de sua formação para o púlpito”. A isso ele respondeu: “Eu
sou um homem jovem. Estou cultivando um estilo. Tenho o objetivo de preparar-me
para ocupar um púlpito e rodear-me com uma congregação cultivada. Não posso
descer ao nível de seu povo. Devo cultivar um estilo elevado.” Desde então sempre
pensei e mantive meus olhos nesse homem. Não sei se já faleceu, mas nunca vi seu
nome ligado a qualquer avivamento, apesar de todos os grandes avivamentos que já
tivemos, de no em ano, e não espero encontrar, a menos que suas visões foram
radicalmente mudadas, e a menos que ele fale ao público de uma maneira inteiramente
diferente, e por motivos inteiramente diferentes.
Eu poderia mencionar os nomes de pastores que ainda estão vivos, velhos senhores
como eu, que muito se envergonharam de mim quando comecei a pregar, pois eu era
tão indigno no púlpito, usava uma linguagem tão popular, dirigia-me tão diretamente ao
povo, e porque não procurava o mínimo de ornamentação, nem apoiar a dignidade do
púlpito.
Irmãos queridos eles eram, e sempre tive muito apreço a eles, e não me recordo de
jamais ter ficado irritado ou bravo com o que me diziam. Desde o princípio eu sabia que
encontraria tais oposições, e que havia esse enorme precipício entre nossos pontos de
vista, e que assim seria também na prática entre eu e os outros pastores. Raramente
me sentia como um deles, ou que realmente me considerassem como parte da
irmandade. Eu era um advogado. Saíra do escritório direto para o púlpito, e falava com
as pessoas como se falasse a um juri.
Logo descobri que entre os pastores, em meus primeiros anos de ministério, havia a
opinião comum de que se eu fosse bem-sucedido no ministério, que acabaria por
desonrar as escolas, e os homens começariam a questionar se valia mesmo a pena
sustentá-los com seus fundos, se um alguém pudesse ser aceito como um pastor bem-
sucedido sem eles. Agora, jamas tive a intenção de subestimar a educação fornecida
delas faculdades ou seminários teológicos, apesar de pensar, até hoje, que em certos
aspectos tais instituições estão tremendamente equivocadas no treinamento de seus
alunos. Esses não são incentivados a falar com as pessoas, nem acostumados a
improvisar ao dirigirem-se às pessoas pelo país, enquanto concluem seus estudos. Um
homem não pode aprender a pregar com estudo sem prática. Os alunos deveriam ser
encorajados a exercitar, a provar e improisar seus dons e chamado de Deus, saindo a
quaisquer lugares abertos a eles, e expondo Cristo às pessoas em conversas sinceras.
Eles devem aprender a pregar. Mas ao invés disso, exige-se que os alunos escrevam o
que eles chamam de sermão, e apresentem-nos para críticas, para pregar, ou melhor,
lê-los para a classe e para o professor. Assim fingem pregar. Ninguém pode pregar
dessa maneira. Esses assim chamados ‘sermões’ depois das críticas que receberem, é
claro, tornar-se-ão trabalhos literários, não é para suas pregações. Esses artigos são
agradáveis ao gosto literário, mas não espiritualmente edificantes. Não responde às
necessidades da alma. Não tem a intenção de ganhar almas para Cristo. Os alunos são
ensinados a cultivarem um estilo culto e elevado de escrever. Quanto à real eloqüência,
aquela oratória que jorra, persuasiva e impressionante, fluindo naturalmente de um
homem estudado cuja alma arde com o que defende, e que tem a liberdade de abrir o
coração para um povo ansioso e sincero, eles nada têm.
Uma mente reflectiva há de se sentir totalmente deslocada ao apresentar no púlpito
para almas imortais, à beira da morte eterna, tais exemplos de aprendizado e retórica.
Eles sabem que os homens não agem assim quando são realmente sinceros. O capitão
de um corpo de bombeiros, quando uma cidade está pegando fogo, não lê um artigo ou
dá um belo exemplo de retórica quando grita e comanda seus movimentos. É uma
questão de urgência, e ele pretende que cada palavra sua seja entendida. Ele é
inteiramente honesto com eles, e eles sentem que críticas à liguagem que ele usa não
seria cabível.
Então é sempre que as pessoas são inteiramente honestas. Sua linguagem é direta e
simples. Suas frases são curtas, convincentes, poderosas. O apelo é feito diretamente
para ação, e dessa forma tais discursos sempre surtem efeito. É por essa razão que,
antigamente, os pastores Metodistas incultos, e os pastores Batistas sinceros
produziam muito mais resultado do que nossos mais estudados teólogos e divinistas.
Hoje em dia eles fazem assim. As expressões apaixonadas de um exortante comum na
maioria das vezes levará a congregação muito mais além do que aquelas exibições
explêndidas de retórica poderiam. Belos sermões levam as pessoas a louvarem o
pregador. Boa pregação leva as pessoas a louvarem o Salvador.
Nossas escolas teológicas teriam muito mais valor do que têm, se fossem muito mais
práticas. Ouvi um professor de teologia ler um sermão sobre a importância da
improvisação na pregação. Suas opiniões sobre o assunto estavam corretas, mas sua
prática o contradizia inteiramente. Ele parecia ter estudado o assunto, e ter entendido
as visões práticas mais importantes. Mesmo assim nunca soube de nenhum de seus
estudantes que, na prática, adotou tais visões. Eu soube que ele dizia que se fosse
começar novamente sua vida como pregador, agiria de acordo com suas idéias atuais,
e que lamentava que sua educação fora errada sob esse aspecto, e conseqüentemente
sua prática também fora errada.
Em nossa escola em Oberlin, nossos alunos foram ensinados, não por mim, devo dizer,
a acreditarem que deviam escrever seus sermões, e poucos dentre eles, independente
de tudo que eu lhes pudesse dizer, tiveram a coragem de descartar esse ensinamento,
e dedicar-se à pregação de improviso. Foram repetidamente ensinados “Vocês não
devem procurar imitar o Sr. Finney. Vocês não podem ser Finneys.”
Pastores não gostam de se levantar e conversar da melhor maneira que podem com as
pessoas, e forçarem-se de uma vez por todas ao hábito de conersar com as pessoas.
Eles devem pregar, e se devem pregar na aceitação comum do termo, devem escrever.
Dessa forma, de acordo com essa visão, eu nunca preguei. De fato, muitas vezes as
pessoas disseram: “Por quê o senhor não prega? O senhor conversa com as pessoas.”
Um homem em Londres voltou para casa depois de uma de nossas reuniões muito
convencido. Ele até então era um cético, e sua esposa, vendo-o tão animado, disse
“Esposo, por acaso esteve ouvido o Sr. Finney pregar?” Ele respondeu: “Eu estive na
reunião do Sr. Finney. Ele não prega, ele só explica o que as outras pessoas pregam.”
Isso eu ouvi substancialmente, várias e várias vezes. Eles diziam “Oras, qualquer um
pode pregar como o senhor prega. O senhor só fala com as pessoas. Fala como se
estivesse sentado na sala de casa.” Outros diziam “Não parece uma pregação, mas
parece que o Sr. Finney estava conversando só comigo, cara a cara.”
Pastores geralmente evitam pregar sobre algo que as pessoas diante dele entenderão
como dirigido diretamente a elas. Pregam sobre outras pessoas, e sobre os pecados de
outras pessoas, no lugar de falar diretamente com eles, dizendo “Você é culpado por
esses pecados, e o Senhor quer isso de você.” Eles muitas vezes pregam sobre o
Evangélho, ao invés de pregar o Evangélho. Muitas vezes pregam sobre pecadores, ao
invés de pregar para eles. Cuidadosamente evitam ser pessoais, no sentido de causar
a impressão em qualquer um dos presentes, que ele também é homem. Já eu pensava
que era meu dever seguir outro caminho. Eu dizia muitas vezes: “Não pense que eu
estou falando de outras pessoas. Estou falando de você, de você e de você.”
A princípio, pastores disseram-me que as pessoas não aceitariam isso, que iriam
embora e nunca mais voltariam para me escutar. Mas todos estavam errados. Na
verdade, tanto isso quanto todas as outras coisas, depende muito do espírito no qual é
dito. Se as pessoas virem que tudo é dito com amor, com um desejo ardente de fazer-
lhes bem, se não puderem chamar de uma ebulição de hostilidade pessoal, mas se
virem, e não puderem negar que isso é falar a verdade em amor, que é certo a eles
para salvá-los individualmente, poucos continuarão a resistir. Se no momento sentirem-
se acusados e censurados, ainda assim a convicção que precisam está neles, e com
certeza leva-los-á a um grande bem.
Muitas vezes disse às pessoas, quando via que pareciam ofendidas “Agora você se
ofende com isso e irá embora, dizendo que nunca mais voltará aqui, mas voltará. Suas
próprias convicções estão do meu lado. Você sabe que o que lhe digo é verdade, e que
digo apenas para seu próprio bem, e que você não pode continuar resistindo.” E vi que
isso era sempre verdade.
Tenho a experiência de que, mesmo no que diz respeito à popularidade pessoal, a
honestidade é a melhor característica em um pastor; que se ele procura conquistar
confiança, respeito, afeição de qualquer povo, ele deve ser fiel à suas almas. Ele deve
deixá-los ver que não os corteja para obter popularidade, mas que está tentando salvar
suas almas. Os homens não são tolos. Eles não têm respeito de verdade por um
homem que sobe ao púlpito e prega sermões delicados. Eles cordialmente despresam
essas palavras no íntimo de suas almas. E que homem nenhum pense que ganhará
respeito permanente, que será permanentemente honrado por seu povo, a menos que
como um embaixador de Criso ele lide fielmente com suas almas.
O maior argumento em oposição à minhas idéias de pregar o Evangélho era que, eu
não dava tar tanta instrução ao povo como conseguiria, se escrevesse meus sermões.
Eles diziam que eu não estudava, e conseqüentemente, embora talvez fosse um
evangelista de sucesso quando trabalhasse por algumas semanas ou meses em
determinado lugar, não seria adequado para um pastor pregar espontaneamente.
Mas tenho as melhores razões para acreditar que pregadores que usam sermões
escritos não instruem tanto o povo como acham que o fazem. As pessoas não se
lembram de suas palavras. Ouvi em muitas situações as pessoas reclamarem que não
conseguiam levar para casa consigo nada do que escutaram do púlpito. Disseram-me
em centenas de ocasiões: “Sempre lembramos do que ouvimos o senhor pregar.
Lembramos de sua passagem, e da maneira com a qual lidou com ela, mas não
conseguimos recordar de sermões escritos.”
Hoje, de fato já sou pastor há muitos anos, desde 1832, e jamais ouvi nenhuma
reclamação dizendo que eu não instruia as pessoas. Não creio que seja verdade que
meu povo não é tão bem instruído, dentro do que é considerado instrução do púlpito,
quanto àqueles que ouvem a sermões escritos. É verdade que um homem pode
escrever seu sermão sem estudar muito, assim como é verdade que ele pode pregar
improvisadamente sem muito estudo ou meditação. Muitos sermões escritos, ouvi dizer,
não manifestavam nada além de pensamentos profundos e precisos.
Sempre tive o hábito de estudar o Evangélho, e sua melhor aplicação, em todo tempo.
Não me confino a horas e dias escrevendo sermões, mas minha mente está sempre
ponderando as verdades do Evangélho, e a melhor maneira de utilizá-las. Vou por entre
as pessoas e descubro suas necessidades. Então, sob a direção do Espírito Santo,
pego um assunto que acredito responder a suas necessidades atuais. Medito
intensamente sobre ele, e oro muito sobre o assunto na manhã do domingo, por
exemplo, e encho minha mente dele, então vou derramo-o sobre o povo. O que
também é uma grande dificuldade com um sermão escrito é que, depois que um
homem o escreveu, ele não precisa mais pensar muito sobre o assunto. Não precisa
orar muito. Ele talvez releia seu manuscrito na noite de sábado, ou no domingo de
manhã, mas não sente a necessidade de estar poderosamente ungido, para que sua
boca possa se encher de argumentos, e que ele possa ser capaz de pregar a partir de
um coração cheio. Ele fica bastante descansado. Precisa somente usar seus olhos e
sua voz, e pode pregar de seu jeito. Pode ser até um sermão que foi escrito há anos,
pode ser um sermão que ele mesmo escreveu, palavra por palavra, durante a semana.
Mas no dia de domingo nada haverá de novo nele. Não vem necessariamente como
novo, e como uma mensagem ungida de Deus para seu coração, e de seu coração
para o povo.
Estou prondo a dizer, com certeza, que creio ter estudado ainda mais por não ter
escrito meus sermões. Fui obrigado a familiarizar meus pensamentos com os assuntos
que pregava, a encher minha mente com eles, para então ir e mostrá-los às pessoas.
Eu simplesmente anoto o título sobre o qual desejo expressar-me de forma mais breve
o possível e na linguagem nenhuma palavra que eu use, talvez, na pregação. Anoto
somente a ordem de minhas proposições, e as petições que espero fazer, e em suma,
desenho o contorno dos comentários e inferências com os quais concluirei.
Mas a menos que os homens tentem, a menos que comecem a falar com as pessosas,
na melhor maneira que puderem, nunca serão pregadores espontâneos. Acredito que
meia hora de conversa honesta com as pessoas, toda semana, se a conversa for
direcionada, direta, sincera e lógica, instruiria mais as pessoas do que os dois sermões
elaborados que, aqueles que escrevem, dão ao seu povo no domingo. Creio que as
pessoas hão de se lembrar mais do que é dito, hão de se interessar mais, e guardariam
consigo para ponderar, muito mais do que o fazem com o que recebem de elaborados
sermões escritos.
Falei sobre meu método de preparação para o púlpito nos últimos anos. Quando
comecei a pregar e pelos quase doze primeiros anos de meu ministério, não escrevia
nenhuma palavra sequer, e era comumente obrigado a pregar sem qualquer
preparação, exceto pelo que recebera em oração. Muitas vezes subi ao púlpito sem
saber sobre que texto deveria falar, ou mesmo uma só palavra que devesse dizer. Fico
na dependência do Espírito Santo para mostrar-me o texto, e para fazer-me plenamente
compreender o assunto, e certamente em parte alguma de meu ministério jamais
preguei com mais sucesso e poder do que isso. Se não era a partir de inspiração, eu
não sei como pregava. Era uma experiência comum para mim, e tem sido assim ao
longo de toda minha vida ministerial, que o assunto era-me aberto à mente de uma
maneira supreendente a mim mesmo. Parecia-me que eu podia ver com uma clareza
intuitiva exatamente o que eu devia dizer, e um batalhào de pensamentos, palavras e
ilustrações vinham a mim tão rápido quanto os expunha. Quando comecei a fazer
esboços, eu fazia depois, e não antes de pregar. Era para preservar o contorno do
pensamento que me fora dado, em ocasiões como essa que acabei de mencionar.
Descobri que quando o Espírito de Deus dava a mim uma visão muito clara de um
assunto, eu não conseguia retê-la, para ser utilizada em outra ocasião, a menos que
anotasse a linha de pensamentos. Mas no final, nunca fui capaz de usar antigos
esboços em pregações, de forma relevante, sem remodelá-los, e ter uma nova visão do
assunto dado a mim pelo Espírito Santo. Eu quase sempre recebo meus temas de
joelhos em oração, e ao receber um tema da parte do Espírito Santo, sempre foi
comum para mim que tal tema causasse uma impressão tão forte em minha mente que
me fizesse tremer, de maneira que tinha muita dificuldade para escrever. Quando os
temas vêm de maneira que parecem me atravessar, corpo e alma, posso em apenas
alguns instantes fazer um esboço que permitirá que eu retenha a visão apresentada
pelo Espírito, e vejo que tais sermões sempre falam com grande poder ao povo.
Alguns dos sermões mais expressivos que já preguei em Oberlin, recebi dessa forma
depois de tocarem os sinos da igreja, e era obrigado a ir e derramar a eles de meu
coração transbordante, sem ter anotado mais do que o menor esboço possível, e que
algumas vezes, não cobria nem metade do assunto que eu abordava no sermão.
Não conto isso para orgulhar-me, mas sim porque é um fato, e para louvor a Deus, e
não para nenhum talento de minha parte. Que homem nenhum pense que aqueles
sermões que foram chamados de tão poderosos, foram produções de meu próprio
cérebro, ou de meu próprio coração, sem assistência do Espírito Santo. Eles não eram
meus, mas sim do Espírito Santo em mim.
E que homem nenhum diga que isso é declarar uma inspiração maior do que a que é
prometida aos pastores, ou a que pastores têm o direito de esperar. Pois eu acredito
que todos os ministros, chamados por Cristo para pregar o Evangélho, devem ser, e
podem ser, inspirados nesse sentido, de pregar o Evangélho com o Espírito Santo
enviado dos céus. O que mais Cristo quis dizer quando falou “Portanto, ide, ensinai
todas as nações; -- e eis que eu estou convosco todos os dias, até à consumação dos
séculos.”? O que Ele quis dizer quando falou acerca do Espírito Santo-- “Ele vos
ensinará todas
as coisas e vos fará lembrar de tudo quanto vos tenho dito.”? E o que Ele quis dizer ao
falar: “Quem crê em mim, rios de água viva correrão do seu ventre. E isso disse ele do
Espírito, que haviam de receber os que nele cressem”? Todos os ministros podem ser,
e devem ser, tão cheios do Espírito Santo que todos aqueles que os escutarem fiquem
impressionados com a convicção de que Deus é neles verdade.
A VERDADE DO EVANGÉLHO
AS MEMÓRIAS DE CHARLES G. FINNEY
CAPÍTULO VIII.
O AVIVAMENTO EM ANTWERP
DEVO agora dar conta de alguns de meus trabalhos, e seus resultados, em Antwerp,
um vilarejo ao norte de Evans' mills.
Cheguei lá pela primeira vez em abril, e descobri que nenhum tipo de culto religioso
acontecia na cidade. As terras daquela cidade pertenciam a um Sr. P, um rico
proprietário que residia em Ogdensburgh. Para encorajar o estabelecimento da cidade,
ele construira uma casa de concreto para reuniões. Mas as pessoas não estavam
interessadas na adoração pública e portando o templo estava trancado, e a chave
ficava em poder de um Sr. C, dono do hotel local.
Logo soube que havia uma igreja Presbiteriana naquele lugar, que tinha pouquíssimos
membros. Alguns anos antes, eles haviam tentado estabelecer uma reunião aos
domingos. Mas um dos presbíteros que conduzia as reuniões, vivia a quase oito
quilômetros dali, e era obrigado, a caminho do vilarejo, a passar por uma aldeia
Universalista. Os Universalistas haviam acabado com as reuniões na vila, impedindo
que o Diácono R, como o chamavam, passasse por sua aldeia para chegar à reunião.
Chegavam até a tirar as rodas de sua carroça, e finamente levarão sua oposição tão
longe, ao ponto de fazê-lo desistir de participar das reuniões no vilarejo, e todos os
serviços religiosos e cultos naquela cidadela, até onde pude saber, foram terminados.
Descobri que a Sra. C, a senhoria, era uma mulher devota. Havia outras duas mulheres
devotas no vilarejo, uma Sra. H, esposa de um mercante, e uma Sra. R, esposa de um
médico. Foi em uma sexta-feira, se bem me recordo, que cheguei lá. Fui visitar essas
senhoras e perguntei se elas não gostariam que fizessemos uma reunião. Elas
disseram que gostariam, mas não sabiam se seria possível. A Sra. H concordou em
abrir a sala de sua casa naquela noite para uma reunião, se eu conseguisse mais
alguém para participar. Eu saí a convidar as pessoas e assegurei a participação de,
creio eu, umas treze pessoas. Preguei para eles, e então disse que se eu pudesse usar
a escola local, pregaria no domingo. Tive o consentimento dos credores, e no dia
seguinte foi circulado o compromisso em meio ao povo de que haveria uma reunião na
escola no domingo de manhã.
Ao passar pelo vilarejo, ouvi uma grande quantidade de profanação. Achei que nunca
tinha ouvido tanto em lugar algum que já visitara. Parecia que os homens, ao jogarem
bola sobre a grama, e em todos os comércios nos quais eu entrava, estavam todos
xingando, maldizendo e condenando uns aos outros. Senti-me como se tivesse
chegado às fronteiras do inferno. Tive um tipo de sentimento terrível, recordo-me,
conforme passava pelas ruas no sábado. A própria atmosfera parecia-me como
veneno, um tipo de terror tomou conta de mim.
Entreguei-me à oração no sábado, e finalmente ansiei meu desejo até que essa
resposta veio: “Não temas, mas fala e não te cales; porque eu sou contigo, e ninguém
lançará mão de ti para te fazer mal, pois tenho muito povo nesta cidade.” Isso libertou-
me completamente de todo medo. Descobri, no entanto, que os cristãos de lá tinham
muito medo de que algo sério acontecesse, se reuniões religiosas fossem novamente
estabelecidas naquele lugar. Passei praticamente o sábado inteiro em oração, mas
andei pelas ruas o suficiente para perceber que o anúncio de que uma pregação seria
feita na escola estava causando grande agitação.
Domingo de manhã levantei e deixei minhas acomodações no hotel, e a fim de ficar
sozinho, onde pudesse elevar minha voz assim como meu coração, subi ao bosque que
era um pouco distante do vilarejo, e continuei em oração por um tempo considerável.
Mas contudo, não consegui alívio, e subi uma segunda vez, mas a carga sobre minha
mente crescia, e eu não encontrava alívio. Subi uma terceira vez, e então a resposta
veio a mim. Vi que era hora da reunião e fui imediatamente para a escola. Encontrei o
lugar lotado em sua capacidade máxima. Eu tinha minha bíblia de bolso na mão e li
esse texto para eles: “Deus amou o mundo de tal maneira, que deu seu filho unigênito,
para que todo aquele que nele crê, não pereça, mas tenha a vida eterna.” Não consigo
me lembrar de muitas coisas que falei, mas sei que o ponto sobre o qual minha mente
mais trabalhou, foi o tratamento que Deus recebia em troca de Seu amor. O tema
afetou muito minha própria mente, e preguei derramando minha alma juntamente com
minhas lágrimas.
Vi lá muitos dos homens de quem tinha ouvido, no dia anterior, as mais terríveis
profanidades. Apontei-os na reunião, e disse o que haviam falado, e como diziam para
que Deus amaldiçoasse uns aos outros. De fato, abri todo meu coração para eles.
Disse-lhes que eles pareciam gritar blasfêmias pelas ruas como amantes do inferno, e a
mim me parecia que eu chegara no limite do inferno. Todos sabiam que o que eu dizia
era verdade, e se encaixavam nisso. Não ficaram ofendidos, mas as pessoas choravam
tanto quanto eu. Creio que quase não havia olhos secos no lugar.
O Sr. C, o senhorio, tinha-se recusado a abrir a casa de reunião de manhã. Mas logo
que esse primeiro culto terminou, ele se levantou e disse que abriria o prédio à tarde. O
povo se dispersou, levando consigo essas informações em todas as direções, e na
reunião da tarde, a casa estava praticamente tão lotada quanto estivera a escola pela
manhã. Todos estavam na reunião, e o Senhor deixou-me livre sobre eles de uma
maneira maravilhosa. Minhas pregações pareciam algo novo para eles. Na verdade a
mim mesmo parecia que eu pudesse fazer chover saraivas e amor sobre eles ao
mesmo tempo, ou em outras palavras, que eu pudesse derramar exortação sobre eles,
com amor. Parecia que meu amor a Deus, em vista do abuso que faziam a Ele, afiara
minha mente à mais intensa agonia. Eu censurava-os com todo meu coração, mas com
uma compaixão tão que eles não podiam deixar de entender. Nunca ouvi dizer que
acusaram-me de severidade, apesar de achar que jamais falei tão severamente, talves,
em toda minha vida.
Mas as obras desse dia foram efetivas para a convicção da grande massa da
população. A partir daquele dia, quando e onde quer que eu marcasse uma reunião, as
pessoas iam e se aglomeravam para ouvir. A obra imediatamente começou e avançou
com grande poder. Eu pregava duas vezes no domingo na igreja do vilarejo, participava
de uma reunião de oração no intervalo, e geralmente pregava em algum lugar, numa
escola da vizinhança, às cinco da tarde.
No terceiro domingo que preguei lá, um senhor de idade veio até mim conforme eu ia
para o púlpito, e perguntou-me se eu não poderia ir pregar em uma escola de sua
vizinhança, a mais ou menos cinco quilômetros dalí, dizendo que eles jamais tinham
tido nenhum culto por lá. Pediu-me para ir o mais breve que pudesse. Marquei para o
próximo dia, segunda-feira, às cinco da tarde. Foi um dia quente. Deixei meu cavalo no
vilarejo, e pensei em ir andando, para que pudesse não ter problemas em passar
visitando as pessoas, nos arredores da escola. No entanto, antes de chegar lá, tendo
trabalhado tanto no domigo, encontrei-me muito extausto, sentei-me à beira da estrada,
sentindo que quase não conseguiria continuar. Culpei-me por não ter levado meu
cavalo.
Mas ao chegar a hora, encontrei a escola lotada, e pude apenas conseguir um lugar de
pé perto da porta aberta. Li um hineo, não posso chamar aquilo de cantar, pois parecia
que eles jamais tiveram qualquer música cristã naquele local. Contudo, as pessoas
fingiam cantar. Mas era mais ou menos isso: cada um gritava de seu próprio jeito. Meus
ouvidos estavam tão acostumados a ensinar música cristã, e sua desafinação irritou-me
tanto que, a princípio pensei, eu preciso sair. Eu por fim coloquei ambas as minhas
mãos sobre meus ouvidos, e apertei com toda minha força, então caí de joelhos, quase
num estado de desespero, e comecei a orar. O Senhor abriu as janelas dos céus, e o
espírito de oração desceu, e eu abri todo meu coração em oração.
Eu não havia pensado em uma passagem para pregar, mas esperei para ver a
congregação. Logo que terminei de orar, levantei-me e dise: “Levantai-vos, saí deste
lugar, pois o Senhor há de destruir a cidade”. Eu disse que não me lembrava onde se
encontrava aquela passagem, mas disse onde aproximadamente encontrariam, e
comecei a explicar. Contei-lhes que houve um homem chamado Abraão, e quem fora
ela, e que houve um homem chamado Ló, e quem fora ele, seu relacionamento um com
o outro, sua separação por conta de diferenças entre seus pastores, e que Abraão
escolheu o lado alto do campo, enquanto Ló se estabeleceu no vale de Sodoma. Então
contei-lhes como Sodoma tornara-se tão grandemente ímpia, e como caíram em
práticas tão abomináveis. Disse-lhes que o Senhor decidira destruir Sodoma, e visitou
Abraão, e informou-lhe o que estava prestes a fazer, que Abraão orou ao Senhor,
rogando-lhe que poupasse Sodoma, se ali houvesse tantos justos, e o Senhor
prometera assim o fazer pelo bem deles, e que então Abraão rogou-lhe se houvessem
ali menos justos do que aquele número, e o Senhor prometeu que pouparia o lugar pelo
bem deles, e assim ele continuou reduzindo o número até que chegou à quantidade de
dez justos, e Deus prometeu a ele que se encontrasse dez justos naquela cidade,
poupá-la-ia. Abraão não fez nenhum outro pedido, e Jeová o deixou. Mas foi visto que
não havia mais do que apenas um justo ali, e esse era Ló, sobrinho de Abraão. E os
homens disseram a Ló “Tens alguém mais aqui? Teu genro, e teus filhos, e tuas filhas,
e todos quantos tens nesta cidade, tira-os fora deste lugar; pois nós vamos destruir este
lugar, porque o seu clamor tem engrossado diante da face do Senhor, e o Senhor nos
enviou a destruí-lo.”
Enquanto relatava esses fatos, observei que as pessoas pareciam ficar bravas. Muitos
dos homens de lá eram rústicos e simples, eles entreolharam-se e olharam para mim,
como se estivessem prontos a vir para cima de mim e me castigar em um instante. Vi
seus incontáveis olhares estranhos, e não conseguia entender o que eu estava dizendo
que poderia ofendê-los. Contudo, sua raiva parecia-me crescer mais e mais conforme
eu continuava a narrativa. Logo que terminei de contar a história, virei-me para eles e
disse que sabia que ele nunca haviam tido uma reunião religiosa naquele lugar, e
portando tinha o direito de presumir, e fui compelido a presumir que não eram um povo
de Deus. Destaquei essa impressào com mais energia sobre eles, com um coração
cheio ao ponto de estourar.
Não estava falando dessa maneira tão direta com eles, creio eu, há mais de quinze
minutos, quando de uma vez uma terrível solenidade parecia tomar conta deles, a
congregação começou a cair de seus lugares para todas as direções, e clamava por
misericórdia. Tivera eu uma espada em cada mão, não poderia tê-los cortado de seus
lugares tão rápido quanto caíram. De fato creio que todos da congregação estavam de
joelhos ou prostratos, em menos de dois minutos a partir desse primeio choque que
lhes sobreveio. Todos oravam por si mesmo, pelo menos aqueles que conseguiam falar
alguma coisa.
Claro que fui obrigado a parar de pregar, pois eles não prestavam mais atenção. Vi o
senhor que convidara-me a pregar lá, sentado mais ou menos no meio do salão e
olhando em volta com indiscritível surpresa. Levantei minha voz a quase que um grito,
para fazê-lo ouvir, e apontando para ele, disse “Você não sabe orar?” Ele
imediatamente caiu de joelhos, e com uma voz estenórica derramou-se diante do
Senhor, mas ele não conseguiu a atenção de todo o povo. Então eu falei o mais alto
que pude, e tentei fazer com que prestassem atenção em mim. Disse-lhes “Vocês ainda
não estão no inferno, agora deixem-me levá-los a Cristo”. Por alguns momentos eu
tentei mostrar-lhes o Evangélho, mas quase não prestaram nenhuma atenção a mim.
Meu coração transbordava tanto de alegria ao ver tal cena que mal podia me conter. Foi
com muita dificuldade que parei de gritar, dando glórias a Deus.
Assim que pude controlar suficientemente meus sentimentos, virei-me para um jovem
que estava próximo a mim, em oração por si mesmo, coloquei minha mão em seu
ombro, conseguindo assim a sua atenção, e preguei Jesus ao seu ouvido. Logo que
chamei sua atenção para a cruz de Cristo, ele creu, ficou calmo e quieto por um ou dois
minutos, e então começou a orar pelos outros. Então virei-me para outro, e fiz a mesma
coisa com ele, com o mesmo resultado, e depois com outro, e com outro.
Continuei fazendo isso até que chegou o momento em que vi que deveria deixá-los,
para comparecer a um compromisso no vilarejo. Disse-lhes isso, e pedi ao senhor que
me convidara a ir até lá para continuar ali e assumir a reunião, enquanto eu ia a esse
compromisso. Assim ele o fez. Mas havia interesse demais e almas feridas demais para
que a reunião fosse terminada, então, ela continuou por toda a noite. Já de manhã
ainda havia aqueles que não conseguiam ir embora, e foram levados para uma casa
particular na vizinhança, para liberar o espaço da escola. Pela parte foram chamar-me,
pois ainda não conseguiam acabar a reunião.
Na segunda vez que fui até lá, consegui uma explicação quanto à raiva manifestada
pela congregação durante a introdução de meu sermão no dia anterior. Descobri que o
nome do lugar era Sodoma, mas eu não sabia, e havia no local somente um homem
devoto, e seu nome era Ló. Esse era o senhor que me convidara para ir lá. As pessoas
acharam que eu havia escolhido o tema e que havia pregado a eles daquela maneira
porque eram tão ímpios ao ponto de serem chamados de Sodoma. Isso foi uma
coincidência arrebatadora, até onde eu sabia, havia sido tudo acidental.
Não fiquei naquele lugar por muitos anos. Depois de alguns anos, eu estava
trabalhando em Syracuse, no estado de Nova Iorque. Dois homens visitaram-me um
ida, um deles um senhor, o outro por volta de seus cinqüenta anos de idade. O mais
jovem apresentou-me o senhor como Diácono W, presbítero em sua igreja, dizendo que
visitara-me para dar cem dólares à Faculdade Oberlin. O senhor, por sua vez,
apresentou o mais jovem dizendo “Este é o meu pastor, Reverendo Sr. Cross. Ele se
converteu por seu ministério”. Foi então que o Sr. Cross disse “O senhor se lembra de
pregar certa vez em Antwerp, em uma parte assim da cidade, numa escola, numa
tarde, e que essa cena (descrevendo-a), aconteceu lá?” Eu disse “Lembro-me muito
bem, e nunca poderia esquecer enquanto tiver alguma memória.” “Bem” ele disse “na
época eu era apenas um jovem, e converti-me naquela reunião.” Ele tem sido um
pastor muito bem sucedido por anos. Muitos de seus filhos estudam em nossa
faculdade em Oberlin.
Sei muito bem que, embora o avivamento tenha vindo sobre eles tão inesperadamente,
e de uma maneira tão poderosa, os convertidos eram firmes, e a obra genuína e
permanente. Jamais soube de nenhuma reação desastrosa que tivesse acontecido.
Já falei aqui sobre os Universalistas que impediam o Diácono R de participar das
reuniões religiosas no domingo, no vilarejo de Antwerp, tirando as rodas de sua
carroça. Quando o avivamento estava com força total, ele me pediu que fosse pregar
naquela vizinhança. De acordo, marquei para pregar numa certa tarde em sua escola.
Quando cheguei, encontrei a escola lotada, e o Diácono R sentado perto de uma janela,
e de uma estante sobre a qual havia uma bíblia e um hinário. Sentei-me ao lado dele,
depois levantei-me e li um hino, que depois cantaram segundo uma moda. Eu então
comecei a orar, e tive tremendo acesso ao trono de graça. Então levantei-me e li essa
passagem: “Serpentes, raça de víboras! Como escapareis da condenação do inferno?”
Vi que o Diácono R ficou muito desconfortável, ele logo se levantou e ficou de pé à
porta aberta. Sendo que havia alguns meninos próximo à porta, supus, na hora, que ele
havia ido até lá para fazer-lhes calados. Mas depois vim a saber que fora por causa do
medo. Ele pensou que se viessem para cima de mim, ele teria como fugir. Por causa da
passagem que li, ele concluiu que eu trataria muito claramente com o povo, e estava
muito nervoso por causa da oposição que já encontrara antes da parte deles, e queria
ficar fora de seu alcance. Continuei a derramar-me inteiramente a eles com todas as
minhas forças, e antes que eu terminasse, as bases mais fundamentais do
Universalismo foram pelos ares, eu creio, naquele lugar. Foi uma cena quase igual à
que descrevi, em Sodoma. Assim, o avivamento penetrou em cada parte da cidade, e
algumas cidades vizinhas participaram da benção. A obra foi muito preciosa naquele
lugar.
Quando viemos a receber os convertidos, depois de muitos já haverem sido
examinados, e conforme se aproximava o dia de sua admissão, descobri que muitos
deles haviam sido criados em famílias Batistas, e perguntei-lhes se não preferiam
passar pela imersão. Eles disseram que não tinham escolha, mas sim que seus pais
gostariam que passassem pela imersão. Eu disse que não tinha objeção alguma em
batizá-los, se isso fosse agradá-los, assim como a seus amigos. De acordo com isso,
quando chegou o domigo, organizei para que fossem batizados por imersão, durante o
intervalo. Descemos a um riacho que atravessa o lugar, e ali batizei, acredito, doze ou
mais.
Quando chegou a hora para o culto da tarde, fomos para a casa de reunião, e ali batizei
um grande número de pessoas pegando água em minha mão e derramando na testa de
cada um. A administração da ordenança na igreja foi tão claramente tomada e
abençoada por Deus, a ponto de convencer as pessoas que aquele meio de batismo
era aceitável a Ele.
Entre os convertidos havia também um número considerável que crescera em meio aos
Metodistas. No sábado eu soube que alguns Metodistas diziam aos convertidos “O Sr.
Finney é um Presbiteriano. Ele acredita na doutrina da eleição e da predestinação, mas
não pregou sobre isso aqui. Ele não ousa pregá-las, pois se o fizesse, os convertidos
não se uniriam à sua igreja.” Isso fez com que decidice-me por pregar sobre a doutrina
da eleição na manhã do domingo anterior à sua admissão na igreja. Peguei minha
passagem para mostrar, primeiro, o que não é a doutrina da eleição; segundo, o que
ela é de fato; terceiro, que ela é uma doutrina da bíblia; quarto, que é uma doutrina de
razão; quinto, que negá-la é negar os atributos do próprio Deus; sexto, que ela não
coloca nenhum obstáculo no caminho da salvação dos não-eleitos; sétimo, que todos
os homens podem ser salvos se quiserem; e finalmente, que ela é a única esperança
de que qualquer um pode ser salvo, e concluí com meus comentários.
O Senhor fez isso tão excessivamente claro em minha própria mente, e tão claro para o
povo que, acredito, até os próprios Metodistas foram convencidos. Nunca ouvi uma
palavra contrária ou de insatisfação com os argumentos. Enquanto eu estava pregando,
observei uma irmã metodista que já conhecia, e que considerava uma excelente cristã,
chorando, conforme sentava-se próximo às escadas do púlpito. Temi que eu a
estivesse magoando. Depois do término da reunião, ela permaneceu sentada chorando,
então fui até ela e disse: “Irmã, espero não ter magoado seus sentimentos”. “Não, ela
disse “não me magoou, sr. Finney, mas eu pequei. Ontem à noite, meu marido, que não
é convertido, discutia esse assunto comigo, defendendo ao máximo que pudesse, a
doutrina da eleição. Eu resisti, e disse a ele que não era verdade. E agora, hoje, o
senhor me convenceu de que é verdade, e ao invés de ser uma desculpa para meu
marido, ou qualquer outra pessoa, ela é a única esperança que posso ter de que ele
será salvo, ou qualquer outra pessoa.” Não escutei mais nenhuma objeção à admissão
dos convertidos em uma igreja que acredita na doutrina da eleição.
Houveram muitos casos interessantes de conversão naquele local, e houveram dois
impactantes casos de recuperação instantânea de insanidade durante esse
avivamento. Chegando para a reunião na tarde de um domingo, vi várias damas
sentadas em um dos bancos da igreja, com uma senhora vestida de preto que parecia
estar com a mente muito conturbada, e elas a abraçavam, impedindo-a de sair.
Conforme eu entrava, uma das senhoras veio a mim e disse-me que ela era uma
mulher louca, que ela havia sido uma Metodista mas, supunha-se, tinha caído da graça,
o que levara-a ao desespero, e por fim à insanidade. Seu marido era um homem
imoderado, e ele a havia trazido e deixado na reunião, depois fora para a taverna.
Troquei algumas palavras com ela, mas respondeu-me que precisava ir embora, que
não podia ouvir nenhuma oração, pregação ou música, que o inferno era sua porção, e
que não podia suportar nada que a fizesse pensar nos céus.
Avisei às senhoras, em particular, para mantê-la em seu lugar, se conseguissem, sem
que ela atrapalhasse a reunião. Então fui ao púlpito e li um hino. Logo que a cantoria
começou, ela lutou bastante para sair. Mas as mulheres obstruíram sua passagem, e
gentil mas persistentemente, impediram-na de fugir. Momentos depois, aquietou-se,
mas parecia evitar ouvir e prestar atenção em tudo que era cantado. Então orei. Por
alguns instantes, escutei-a tentando sair, mas antes que eu terminasse, aquietou-se, e
a congregação estava quieta. O Senhor deu a mim um grande espírito e oração, e uma
passagem, pois não havia recebido a passagem até então. Peguei meu texto de
Hebreus: “Cheguemos pois com confiança ao trono da graça, para que possamos
alcançar misericórdia e graça, a fim de sermos ajudados em tempo oportuno.”
Meu objetivo era encorajar a fé, em nós mesmos, e nela, e em nós por ela. Quando eu
comecei a orar, a princípio ela fez um grande esforço para sair. Mas as mulheres
resistiram gentilmente, e ela acabou por sentar-se quieta, mas ficou de cabeça muito
baixa, e parecia determinada a não prestar atenção no que eu dizia. Mas conforme eu
continuava, ela começou a levantar a cabeça aos poucos, e a olhar para mim. Ela
vestia uma capa preta com gorro. Levantava mais e mais a cabeça até estar
corretamente erguida, e olhava-me nos olhos com intensa honestidade. Confome eu
continuava a insistir com o povo para que fossem confiantes em sua fé, para darem um
passo à frente, e para se comprometerem com a total fidelidade de Deus, por meio do
ungido sacrifício de nosso grande Sumo Sacerdote, ela de repente chocou a
congregação com um grito inexplicável. Ela então lançou-se de seu assento, abaixou
muito sua cabeça, e eu pude ver que ela tremia muito. As mulheres que estavam no
mesmo banco com ela, abraçavam-na em parte, e olhavam para ela com clara empatia
e oração. Enquanto eu continuava, ela começou a olhar para cima novamente, e logo
sentou-se direito, com um rosto maravilhosamente transformado, mostrando uma
alegria e paz triunfante. Havia tanto brilho em seu semblanto quanto raramente já vi em
qualquer rosto humano. Seu gozo era tão grande que ela quase não conseguia conter-
se até que a reunião terminasse, e então ela logo fez com que todos ao seu redor
entendessem, que ela fora liberta. Ela glorificou a Deus, e regozijou com incrível triúnfo.
Cerca de dois anos depois, quando a encontrei novamente, achei-a ainda repleta de
alegria e paz.
O outro caso de recuperação foi o de uma mulher que também havia caído em
desespero e loucura. Eu não estava presente quando ela foi restaurada, mas disseram-
me que isso aconteceu quase que instantaneamente, por meio de um batismo do
Espírito Santo. Avivamentos religiosos são por vezes acusados de enlouquecerem as
pessoas. Mas o fato é que os homens são naturalmente loucos no assunto religião, e o
avivamento mais os restaura do que enlouquece.
Durante esse avivamento, ouvimos muita oposição da cidade de Gouverneur, que
ficava a quase vinte quilometros, eu acho, ao norte. Soubemos que os ímpios
ameaçavam descer e atacar-nos, e acabar com nossas reuniões. No entanto, é claro,
não prestávamos atenção para isso, e menciono isso aqui somente porque logo terei a
oportunidade de contar sobre um avivamento ocorrido lá. Tendo recebido os
convertidos, e trabalhado na obra em Antwerp juntamente com Evans’ Mills, até o
outono daquele ano, busquei por eles, um jovem chamado Denning, que foi por eles
estabelecido como pastor. Eu então, suspendi minhas obras em Antwerp.
A VERDADE DO EVANGÉLHO
AS MEMÓRIAS DE CHARLES G. FINNEY
CAPÍTULO IX.
O RETORNO A EVANS' MILLS
NESSA época, eu estava sinceramente inclinado a permanecer em Evans’ Mills, e
finalmente comuniquei ao povo que moraria com eles por, pelo menos um ano. Eu
estava noivo, então fui para Whitestown, no condado de Oneida, e casei-me em
outubro de 1824. Minha esposa havia preparado tudo para a casa, e um ou dois dias
depois de nosso casamento eu a deixei, e retornei para Evans’ Mills, para conseguir um
meio de transportar toda a nossa mudança para aquele lugar. Disse-lhe que poderia
esperar-me de volta em uma semana.
No outono anterior a esse, eu havia pregado algumas poucas vezes, à noite, em um
lugar chamado Perch River, ainda mais a noroeste de Evans’ Mills, aproximadamente
vinte quilometros. Passei um domingo em Evans’ Mills, e pretendia retornar para minha
esposa lá pelo meio da semana. Mas um mensageiro de Perch River chegou ali
naquele domingo, e disse que havia um avivamento acontecendo lentamente em meio
ao povo desde quando eu pregara lá, e implorou-me para que fosse até lá e pregasse,
pelo menos uma vez mais. Eu por fim marquei de estar lá na noite de terça-feira. Mas vi
que o interesse do povo era tão grande que permaneci ali e preguei na noite de quarta-
feira, e na noite de quinta-feira. Acabei desistindo de retornar para minha esposa
naquela mesma semana, e continuei a pregar naquela vizinhança.
O avivamento logo espalhou-se em direção a Brownville, um vilarejo considerável a
várias milhas, creio eu, a sudoeste daquele lugar. Finalmente, sob insistente convite do
pastor e da igreja de Brownville, fui para lá e ali passei o inverno, tendo escrito para
minha esposa que tais eram as circunstâncias, e que eu deveria adiar minha volta, até
que Deus abrisse os caminhos.
Em Brownville havia uma obra muito interessante. Mas ainda assim, a igreja estava em
tal situação que foi muito dificil envolvê-los na obra. Não conseguia encontrar muito que
parecesse-me devoção de coração sincero, e a política de trabalho do pastos era tal
que proibia qualquer coisa como um movimento geral impetuoso de um avivamento.
Trabalhei lá naquele inverno com muitas dificuldades, e tinha serios obstáculos para
superar. Algumas vezes eu descobria que o pastor e sua esposa não estavam
presentes em nossas reuniões, e depois vim a saber que não tinham comparecido para
irem a uma festa.
Naquele lugar eu era o convidado de um Sr. B, um dos presbíteros da igreja, e o amigo
mais íntimo e de maior influência do pastor. Um dia quando descia de meu quarto, e
estava saindo para visitar algumas pessoas que tinham dúvidas, encontrei com Sr. B na
sala e ele me disse: “Sr. Finney, o que o senhor pensaria de um homem que estivesse
orando semana após semana pelo Espírito Santo, e não conseguisse resposta?” Eu
disse que pensaria que ele estava orando por motivos falsos. Ele perguntou “Mas por
quais motivos um homem deve orar? Se ele quiser ser feliz, isso é um motivo falso?” Eu
respondi “Satanáz pode orar por um motivo tão bom quanto esse” então citei as
palavras do salmista “Sustém-me com um espírito voluntário. Então, ensinarei aos
transgressores os teus caminhos, e os pecadores a ti se converterão.” “Veja!” eu disse
“O salmista não orou pelo Espírito Santo para que pudesse ser feliz, mas para que
pudesse ser usado, e que pecadores pudessem se converter a Cristo.” Eu disse isso e
saí imediatamente, ele ficou muito quieto, e voltou para seu quarto.
Eu fiquei fora até a hora do jantar, e quando retornei ele veio me encontrar, e
imediatamente começou a confessar. Ele dizia “Sr. Finney, devo-lhe uma confissão. Eu
fiquei bravo quando o senhor me disse aquilo, e devo confessar que esperava nunca
mais vê-lo novamente. O que o senhor disse reforçou-me a convicção de que jamais
fora convertido, que jamais tinha tido nenhum motivo maior do que o mero dessejo
egoísta por minha própria felicidade. Eu fui embora, depois que o senhor deixou a casa,
e orei para que Deus tomasse minha vida. Eu não poderia suportar que soubessem que
sempre fui enganado. Tenho sido muito íntimo de nosso pastor. Já viajei, dormi,
conversei com ele, e tenho sido mais íntimo dele do que qualquer outro membro de
nossa igreja, e ainda assim vi que sempre fui um hipócrita errado. A mortificação era
intolerável, e eu queria morrer, e orei para que o Senhor tomasse minha vida” concluiu.
No entanto, ele estava então totalmente quebrantado, e daquele tempo em diante,
tornou-se um novo homem.
Aquela conversa fez muito bem. Posso relatar muitos outros fatos interessantes
relacionados a esse avivamento, mas sendo que tantas coisas haviam que
machucavam-me, no que diz respeito à relação do pastor com esse movimento, e em
especial, de sua esposa à esse avivamento, abster-me-ei.
No começo da primavera de 1825, saí Brownville, com meu cavalo e carroça, para ir
atrás de minha esposa. Já estava ausente há seis meses desde nosso casamento, e
com os correios que haviam entre nós naquela época, raramente pudemos trocar
cartas. Diriji por quase vinte e cinco quilômetros, e as estradas estavam muito
escorregadias. As ferraduras de meu cavalo já estavam lisas, e descobri que deveria
trocá-las. Parei em Le Rayville, uma pequena cidade a cerca de cinco quilômetros ao
sul de Evans’ Mills. Enquanto as ferraduras de meu cavalo ficavam prontas, o povo,
descobrindo que eu estava lá, correu para mim e perguntaram se eu não poderia
pregar, à uma hora, na escola, pois eles não tinham uma igreja.
À uma hora o lugar estava lotado, e enquanto eu pregava, o Espírito de Deus veio com
grande poder sobre o povo. Tão grande e manifesto foi o derramar do Espírito, que por
causa de seus pedidos tão insistentes e sinceros, decidi passar a noite lá, e pregar
mais uma vez ao entardecer. Mas a obra crescia mais e mais, e à tarde, marquei outra
reunião para a manhã, e de manhã, marquei outra reunião para a tarde, e logo eu vi
que não conseguiria prosseguir para minha esposa. Eu disse a um irmão que se ele
pegasse meu cavalo e carroça e fosse atrás de minha esposa, eu permaneceria. Assim
ele o fez, e eu continuei pregando, dia após dia, noite após noite, e houve um poderoso
avivamento.
Eu deveria ter dito que, enquanto eu estava em Brownville, Deus revelou a mim, de
uma só vez, de uma maneira muito inesperada, o fato de que ele iria derramar Seu
Espírito em Gouverneur, e que eu deveria ir para lá pregar. Eu não sabia nada sobre o
lugar, exceto que, naquela cidade houvera tanta oposição manifestada contra o
avivamento em Antwerp, no ano anterior. Nunca soube dizer como, ou porque, o
Espírito de Deus me deu aquela revelação. Mas na época eu sabia, e agora não tenho
dúvidas, que foi uma revelação direta de Deus para mim. Eu não tinha pensado
naquele lugar, que eu saiba, em meses, mas em oração tudo me foi mostrado, claro
como a luz, que eu deveria ir pregar em Gouverneur, e que Deus derramaria de Seu
Espírito naquele lugar.
Logo em seguida disso, vi um dos membros da igreja de Gouverneur, que passava por
Brownville. Contei-lhe o que Deus me revelara. Ele encarou-me como se achasse que
fosse louco. Mas encarreguei-o de ir para casa, e contar aos irmãos o que eu havia
dito, para que pudessem se preparar para minha vinda, e para o derramamento do
Espírito do Senhor. Por ele eu soube que eles estavam sem pastore, que havia duas
igrejas e duas congregações na cidade, próximas uma da outra, que os Batistas tinham
um pastor, e os Presbiterianos não, que um velho ministro que vivia lá e fora antes seu
pastor, havia sido dispensado, e que não tinham cultos de domingo regulares na igreja
Presbiteriana. Das palavras dele, concluí que a religião estava muito em baixa, e até ele
mesmo estava tão frio como um iceberg.
Mas agora volto a minhas obras em La Rayville. Depois de algumas semanas de
trabalho, a grande massa da população havia se convertido, e entre os restantes estava
o Juiz C, um homem influente, que se colocava superior a todos os que o rodeavam.
Minha esposa chegou, é claro, alguns dias depois de eu ter enviado um irmão para
buscá-la, e nós aceitamos o convite do Juiz C e sua esposa, para sermos seus
hóspedes. Mas poucas semanas depois, as pessoas insistiam para que eu fosse pregar
em uma igreja Batista na cidade de Rutland, na divisa com Le Ray. Marquei de ir pregar
lá numa tarde. O clima já estava morno, e caminhei até lá, atravassando um arvoredo
de pinheiros, por mais ou menos cinco quilômetros até o lugar de adoração. Cheguei
cedo e encontrei a casa aberta, mas ninguém por lá. Eu estava com calor por ter
andado tanto, então entrei e assentei-me perto do largo corredor, no centro da casa.
Em seguida o povo começou a chegar e a tomar seus lugares, espalhados pelo templo.
Logo o número cresceu tanto que entravam continuamente. Eu fiquei sentado, e sendo
um completo estranho lá, ninguém que eu conhecesse apareceu por lá, e eu presumo
que ninguém que compareceu conhecesse a mim.
Foi então que entrou uma jovem, que tinha duas ou três altas plumas em sua capa, e
estava vestida de forma um tanto jovial. Ela era esbelta, alta, de aparência digna, e
decididamente bonita. Observei logo que ela entrou que balançava sua cabeça, dando
um gracioso movimento às plumas. Ela vinha andando levemente, pelo corredor onde
eu estava sentado, elegantemente, a cada passo, balançando suas grandes plumas de
forma mais graciosa, olhando ao redor o suficiente para ver a impressão que estava
causando. Tudo aquilo era tão peculiar para um lugar daqueles, que deixou-me
impactado. Ela entrou na fileira imediatamente atrás de mim, na qual, no momento,
ninguém estava sentado. Assim estávamos próximos um do outro, mas casa um
ocupando uma fileira separada. Virei-me um pouco para trás e observei-a dos pés à
cabeça. Ela viu que eu a olhava criticamente, e ficou um pouco desconcertada. Com
uma voz muito baixa eu disse a ela, com muita sinceridade: “Você veio para dividir a
adoração na casa de Deus, para fazer as pessoas adorarem você, para tirar a atenção
de Deus e de Sua adoração?” Isso a fez contorcer-se, e eu continuei a falar com ela,
com uma voz tão baixa que ninguém mais conseguia ouvir-me, mas que ela escutava
distintamente. Ela fraquejou diante da repreensão, e não conseguia manter a cabeça
erguida. Começou a tremer, e quando eu já tinha dito o suficiente para marcar o
pensamento de sua insofrível vaidade em sua mente, levantei-me e fui para o púpito.
Assim que ela viu que eu ia para o púlpito, que eu era o pastor que estava prestes a
pregar, sua agitação aumentou tanto que chamou a atenção dos que estavam à sua
volta. A casa logo estava lotada e eu peguei uma passagem e comecei a pregar.
O Espírito do Senhor estava evidentemente derramado na congregação, e no término
do sermão, fiz algo que não sei se jamais tinha feito antes, chamei a todos quantos
gostariam e dar seus corações para Deus para viem à frente e tomarem o primeiro
banco. No momento que eu fiz o apelo, essa jovem foi a primeira a levantar. Lançou-se
no corredor e veio à frente, como uma pessoa em desespero. Ela parecia ter perdido a
noção da presença de todos, exceto de Deus. Ela veio correndo para os primeiros
bancos, até que finalmente caiu no corredor, e gritou com agonia. Um grande número
de pessoas se levantou em todas as partes da igreja e veio à frente, e muitos deles
pareciam entregar seus corações para Deus no mesmo instante, entre eles, essa
jovem. Perguntando depois, soube que ela era a bela da cidade, que era uma moça
agradável, mas considerada por todos como vã e exagerada em suas roupas.
Muitos anos depois, vi um homem que lembrou-me daquela reunião. Perguntei sobre
essa jovem. Ele me disse que a conhecia bem, que ela ainda vivia lá, estava casada, e
era uma mulher muito usada, e que sempre foi, desde aquele dia, uma sincera cristã.
Eu preguei algumas vezes nesse lugar, e então a questão de Gouverneur surgiu
novamente, e Deus parecia dizer-me “Vá para Gouverneur, é chegada a hora.” O Irmão
Nash tinha chegado poucos dias antes disso e estava passando algum tempo comigo.
No momento dessa última chamada para Gouverneur, eu ainda tinha dois ou três
compromissos para cumprir, naquela parte de Rutland. Disse portanto ao Irmão Nash
“Você deve ir a Gouverneur e ver o que acontece por lá, volte e faça seu relato.”
Ele foi na manhã seguinte, e depois de dois ou três dias, retornou, dizendo que
encontrara muitos professores de religião, sob exercício mental considerável, e que
estava confiante de que havia bastante do Espírito do Senhor em meio ao povo, mas
que eles não tinham consciência do real estado das coisas. Eu então informei ao povo
do lugar onde estava pregando, que fora chamado a Gouverneur, e não podia assumir
mais nenhum compromisso para pregar naquele lugar. Pedi ao Irmão Nash que
retornasse imediatamente, informando ao povo que poderiam esperar-me num certo dia
daquela semana.
A VERDADE DO EVANGÉLHO
AS MEMÓRIAS DE CHARLES G. FINNEY
CAPÍTULO X.
O AVIVAMENTO EM GOUVERNEUR
De acordo com isso, o Irmão Nash retornou no dia seguinte, e marcou a reunião como
lhe pedi. Eu tinha que cavalgar aproximadamente cinqüenta quilômetros, acredito, para
chegar ao lugar. Pela manhã chovia muito forte, mas a chuva parou a tempo de eu ir
até Antwerp. Enquanto eu jantava por lá, a chuva veio de novo, e literalmente
tempestuou, até o final da tarde. Na manhã anterior a que comecei a viajar, e ao meio
dia, parecia que eu não seria capaz de chegar a tempo em meu compromisso.
Contudo, a chuva cessou novamente, em tempo para que eu cavalgasse rapidamente
para Gouverneur. Descobri que as pessoas haviam desistido de esperar por mim
naquele dia, em conseqüência da grande chuva.
Antes de chegar ao vilarejo, conheci um Sr. S, um dos principais membros da igreja,
voltando da casa de reunião para sua casa, pela qual eu acabara de passar. Ele parou
sua carroça e, dirigindo-se a mim, disse “O senhor é o Sr. Finney?” Depois de minha
resposta afirmativa, ele disse: “Por favor, volte até a minha casa, pois insisto que o
senhor seja meu hóspede. O senhor está cansado da longa viagem e das estradas
estão tão ruins, o senhor não terá nenhuma reunião esta noite.” Respondi que devia
cumprir meu compromisso, e perguntei-lhe se a reunião da igreja havia sido transferida.
Ele disse que não, quando ele saiu de lá, e que achava que era possível que eu
alcançasse o vilarejo antes que fossem dispensados.
Cavalguei rapidamente, desci do cavalo à porta da casa de reunião e entrei com
pressa. O Irmão Nash estava de pé frente ao púlpito, acabara de se levantar para
dispensar a congregação. Ao ver-me, levantou suas mãos, e esperou que eu chegasse
perto do púlpito, então abraçou-me. Depois disso, apresentou-me à congregação. Com
uma palavra, informei-lhes que havia vindo para cumprir meu compromisso, e se o
Senhor quisesse, pregaria a uma certa hora que então marquei.
Quando a hora chegou, a casa estava cheia. As pessoas já tinham ouvido o suficiente,
a meu favor e contra mim, para que sua curiosidade estivesse aguçada, e havia um
comparecimento geral. O Senhor me deu uma passagem, e eu subi ao púlpito e abri
meu coração ao povo. A Palavra teve efeito poderoso. Isso estava muito claro a todos,
eu acho. Encerrei a reunião, e naquela noite consegui um pouco de descanso.
O hotel da cidade era naquela época de um Dr. S, um Universalista devotado. Na
manhã seguinte eu saí, como de costume, para visitar as pessoas, e conversar com
elas sobre a conversão de suas almas, e percebi que a cidade estava agitada. Depois
de algumas visitas, passei pela loja do alfaiate, onde encontrei um algumas pessoas
discutindo sobre o sermão da noite anterior.
Nunca tinha ouvido falar do Dr. S, na época, mas escontrei-o em meio a esse grupo na
alfaiataria, defendendo seus sentimentos Universalistas. Conforme entrei, os
comentários que foram feitos imediatamente iniciaram a conversa, e Dr. S tomou a
frente, obviamente apoiado por toda a influência de seus companheiros, para disputar
as idéias que eu apresentada, e defender, em oposição a elas, a doutrina da salvação
universal. Alguém mo apresentou, então eu lhe disse “Doutor, gostaria muito de
conversar com o senhor sobre seus pontos de vista, mas se teremos essa conversa,
devemos concordar quanto a um método de discussão.” Eu estava muito acostumado a
discutir com Universalistas, então não esperava que nada de bom saísse disso, a
menos que concordássemos com certos termos e os adotássemos para a discussão.
Então eu propus, em primeiro lugar, de pegássemos um ponto por vez, e discutíssemos
até chegar a um acordo, o não ter mais nada a falar sobre ele, depois outro, e depois
mais outro, limitando-nos ao tópico em debate no momento. Em segundo lugar, que
não deveriamos interromper um ao outro, mas ambos teriam a liberdade de expor seus
pontos de vista sobre o assunto, sem interrupções. E por último, não haveriam críticas
nem meras zombarias, mas que deveríamos manter a franqueza e cortesia, e dar a
todos os argumentos seu devido valor, não importando o lado pelo qual foi
apresentado. Eu sabia que todos eles pensavam de uma mesma maneira, e via
facilmente que estavam unidos, e reuniram-se naquela manhã pelo bem de apoiar os
pontos de vista uns dos outros.
Tendo estabelecido as preliminares, começamos a discussão. Não demorei para
demolir todas as idéias que ele defendia. Ele realmente conhecia pouco da bíblia. Ele
tinha um jeito de expor as principais passagens, como as lembrava, que são num geral
arranjadas contra a doutrina do Universalismo. Mas, como os Universalistas sempre
fazem, apoiava-se principalmente na infinita injustiça do castigo eterno.
Logo mostrei a ele, e a todos ao seu redor, que ele não tinha muito no que se basear,
no que diz respeito à bíblia, e ele logo assumiu a idéia de que, independente do que a
bíblia diz sobre isso, o castigo eterno era injusto, e portanto, se a bíblia ameça o
homem com isso, não podia ser verdade. Isso encerrou o assunto, no que dizia respeito
à bíblia. Na verdade, eu pude logo ver que todos eram céticos, e jamais desistiriam pois
viam que a bíblia contradizia seus pontos de vsta. Então encerrei com ele o assunto da
punição eterna. Vi que seus amigos começaram a agitar-se, sentindo que suas bases
estavam cedendo sob seus pés. Logo um deles saiu, e conforme eu continuava, saiu
outro, e por fim todos o tinham deixado, percebendo, como devem ter feito, um após o
outro, que ele estava completamente errado.
Ele era seu líder, e Deus assim me deu uma oportunidade para acabar completamente
com ele, na presença de seus seguidores. Quando ele não tinha mais nada a dizer,
insisti para com ele, gentilmente, sobre a questão de atenção imediata para sua
salvação, muito educadamente desejei-lhe um bom dia, e fui embora, tendo certeza de
que em breve ouviria novamente sobre aquela conversa.
A esposa do doutor era uma mulher cristã, e parte da igreja. Ela me disse um ou dois
dias depois, que o doutor chegara em casa depois daquela conversa aparentemente
muito agitado, porém ela não sabia onde ele havia estado. Ele andava pela sala, depois
sentava-se, mas não conseguia permanecer sentado. Ele então andava e se assentava
alternadamente, e ela podia ver em seu semblante que ele estava muito atribulado. Ela
perguntou “Doutor, qual é o problema?” “Nada.” foi a resposta dele. Mas sua agitação
aumentou, e ela perguntou-lhe novamente “Doutor, conte-me qual é o problema.” Ela
suspeitou que ele me tivesse encontrado em algum lugar, então disse a ele “Doutor, o
senhor viu o Sr. Finney essa manhã?” Isso fez com que ele parasse, e caindo em
lágrimas, exclamou “Sim! E ele virou minha arma contra minha própria cabeça!” Sua
agonia tornou-se grande, e logo que coneguiu falar novamente, rendeu-se às suas
convicções, e logo depois expressou sua esperança em Cristo. Dentro de poucos dias
vieram seus companheiros, um após o outro, até que creio eu, o avivamento envolveu a
todos.
Já disse que nesse lugar havia uma igreja Batista e uma Presbiteriana, cada uma com
seu próprio prédio, não muito distante do centro, e que a igreja Batista tinha um pastor,
mas a Presbiteriana não. Logo que o avivamento rompeu e chamou a atenção geral, os
irmãos Batistas começaram a se opor. Eles falavam contra o movimento e usavam
meios, de fato questionáveis, para impedir seu progresso. Isso encorajou um grupo de
jovens rapazes a darem as mãos, a fim de fortalecerem-se na oposição da obra. A
igreja Batista tinha bastante influência, e a posição que assumiram deu muita confiança
para a oposição, e parecia dar-lhe uma força e amargura peculiar, como já era de se
esperar. Aqueles jovens pareciam colocar-se como baluarte no caminho do progresso
da obra.
Nessa situação, o Irmão Nash e eu, depois de uma conversa, chegamos à conclusão
de que isso deveria ser superado pela oração, e não seria conquistado de nenhuma
outra forma. Então retiramo-nos para um arvoredo e entregamo-nos a oração até que
prevalecemos, e sentimo-nos confiantes de que nenhum poder que a Terra ou o inferno
pudesse levantar, seria capaz de parar permanentemente o avivamento.
No domingo seguinte, depois de eu mesmo ter pregado de manhã e à tarde – porque
eu fazia todas as pregações, e o Irmão Nash entregava-se quase que continuamente à
oração – encontramo-nos às cinco horas na igreja para uma reunião de oração. A casa
estava cheia. Perto do término da reunião, o Irmão Nash levantou-se e falou àquele
grupo de jovens que haviam-se unido para resistir ao avivamento. Creio que todos eles
estavam lá, e controlavam-se contra o Espírito de Deus. Era de fato tudo muito solene
para que eles ridicularizassem o que viram e ouviram, mas ainda assim sua descaração
e teimosia eram evidentes a todos.
O Irmão Nash dirigiu-se a eles com muita honestidade, e apontou a culpa e perigo do
caminho que estavam tomando. Perto do fechamento de seu discurso, falou-lhes com
veemência, e dizendo “Agora, marquem minhas palavras, rapazes! Deus trará a baixo
suas posições em menos de uma semna, seja convertendo alguns de vocês, ou
mandando alguns de vocês para o inferno. Ele fará isso tão certo quanto o Senhor é
meu Deus!” Ele estava de pé apoiando a mão no banco à sua frente, de maneira que o
fazia tremer por inteiro. Ele imediatamente se assentou, baixou a cabeça, e gemeu com
grande dor.
Havia um silêncio mórbido no lugar, e a maioria das pessoas estava de cabeça baixa.
Eu podia ver que aqueles rapazes estavam agitados. De minha parte, sentia muito que
o Irmão Nash tivesse ido tão longe. Convencera-se de que Deus tomaria a vida de
alguns deles e os mandaria para o inferno, ou então, converteria alguns deles, dentro
de uma semana. Entretanto, na terça-feira da mesma semana, o líder desses jovens
veio falar comigo, com grande agonia em sua mente. Ele estava totalmente preparado
para se submeter, e logo que comecei a pressioná-lo, ele chorou como uma criança,
confessou, e manifestadamente entregou-se a Cristo. Ele então disse “O que devo
fazer, Sr. Finney?” Eu respondi “Vá imediatamente até seus companheiros e ore com
eles. Exorte-os a voltarem-se para o Senhor de uma vez por todas.” Assim ele o fez, e
antes que a semana terminasse quase todos, senão de fato todos daquele grupo,
converteram-se a Cristo.
Havia um mercante de nome S vivendo na vidade. Ele era um homem amável, um
cavalheiro, mas um deísta. Sua esposa era a filha de um ministro Presbiteriano. Essa
era sua segunda mulher, e a primeira também fora a filha de um ministro Presbiteriano.
Ele então já fora parte de duas famílias Presbiterianas. Seus sogros passaram por
muitas dores para assegurar sua conversão a Cristo. Ele era um homem de leitura e
reflexão. Ambos seus sogros eram Presbiterianos adeptos da antiga metodologia, e
colocaram em suas mãos a classe de livros que apresentava suas visões tão
peculiares. Isso o havia confundido muito, e quanto mais ele lia, mas convencia-se de
que a bíblia era uma fábula.
Sua esposa com urgência pediu-me para que eu fosse conversar com seu marido. Ela
me informou sobre seus pontos de vista, e dos esforços que já haviam sido feitos para
levá-lo a aderir ao cristianismo. Mas ela disse que ele era tão convicto de suas idéias,
que não sabia se qualquer conversa resolveria o caso. Mesmo assim, prometi visitá-los
para vê-lo, e assim o fiz. A loja dele ficava na parte da frente do prédio onde moravam.
Ela foi até a loja e pediu a ele que entrasse. Ele se recusou. Disse que não adiantaria,
que já tinha falado com pastores demais, que sabia exatamente o que eu diria de
antemão, e que ele não tinha tempo para perder, além do que, isso era repulsivo a seus
sentimentos. Ela respondeu “Sr. S, o senhor nunca teve o hábito de conversar com
pastores que vieram visitar-lhe dessa maneira. Convidei o Sr. Finney para fazer uma
visita e falar com o senhor, para conversar sobre religião, e ficarei muito magoada e
mortificada se recusar-se a vê-lo.”
Ele amava e respeitava muito sua esposa, e ela era de fato uma preciosidade de
mulher. Para agradá-la, ele concordou em entrar. A Sra. S apesentou-me a ele e saiu
da sala. Então eu lhe disse “Sr. S, não vim aqui para ter qualquer tipo de disputa com o
senhor, mas se o senhor estiver disposto a conversar, é possivel que eu sugira algo
que possa ajudá-lo a superar algumas de suas dificuldades, no que diz respeito ao
Cristianismo, sendo que provavelmente já as tive todas.” Dirigi-me a ele com muita
gentileza, ele imediatamente pareceu sentir-se à vontade comigo. Sentou-se perto de
mim e disse “Agora, Sr. Finney, não há necessidade de termos uma longa conversa
sobre esse assunto. Ambos estamos tão familiarizados com os argumentos, de ambos
os lados, que posso declarar ao senhor, em poucos minutos, somente as objeções nas
quais me apoio contra o Cristianismo, e que sou absolutamente incapaz de superar.
Acredito que já sei de antemão como o senhor responderá a cada uma, e que as
respostas não serão satisfatórias para mim. Mas se assim quiser, declara-las-ei.”
Pedi que o fizesse, então ele começou, pelo que posso recordar, dessa maneira: “O
senhor e eu concordamos em acreditar na existência de Deus.” “Sim.” “Bem,
concordamos que Ele é infinitamente sábio, e bom, e poderoso.” “Sim.” “Concordamos
que Ele nos deu, no momento de nossa criação, certas convicções irresistíveis de certo
e errado, justo e injusto.” “Sim.” “Bem, concordamos então que tudo que contradiz
essas convicções não pode vir de Deus.” “Sim.” “Tudo que, de acordo com nossas
convicções, não é sábio nem bom, não pode vir de Deus.” “Sim,” eu disse
“concordamos nisso.” “Bem agora,” ele disse “a bíblia nos ensina que Deus nos criou
com uma natureza pecaminosa, ou que viemos a exitistir como totais pecadores e
incapazes de fazer o bem, e isso, de acordo com certas leis pré-estabelecidas, cujo
autor é Deus, que sem considerar essa natureza pecaminosa, que é completamente
incapaz de fazer o bem, Deus nos ordena a obedecê-lo, e a sermos bons, sendo que
fazer isso é totalmente impossível para nós, e ele ordena isso sob ameaça de morte
eterna.”
Respondi: “Sr. S, o senhor tem uma bíblia? Poderia por favor abrir na passagem que
ensina isso, por favor?” “Ora, não há necessidade para isso,” ele disse; “o senhor
admite que a bíblia ensina isso.” “Não,” diss eu “não acredito nisso.” “Então,” ele
continuou “a bíblia ensina que Deus imputou o pecado de Adão a toda sua posteridade,
que nós herdamos a culpa do pecado por natureza, e estamos expostos à condenação
eterna por culpa do pecado de Adão. Agora,” disse ele “não sei quem diz, ou que livros
eninam tal coisa, só sei que tal ensinamento não pode vir de Deus. Isso é uma
contradição direta de minhas convições de certo e justo.” “Sim,” eu respondi “da mesma
forma uma contradição direta de minhas também. Mas agora,” continuei “onde isso está
ensinado na bíblia?”
Ele começou a citar o catecismo, como fizera antes. Eu respondi “Mas isso é
catecismo, não bíblia.” “Ora, o senhor é um pastor Presbiteriano, não? Pensei que o
catecismo fosse uma boa autoridade para o senhor.” “Não,” eu disse; “estamos falando
sobre a bíblia agora, se ela de fato é verdade. O senhor pode dizer que essa doutrina
está na bíblia?” Ele disse “Ah, se o senhor negar que isso está ensinado na bíblia, oras,
isso é tomar uma posição que nunca vi um pastor Presbiteriano tomar.” Ele então
prosseguiu dizendo que a bíblia exigia que os homens se arrependessem, mas ao
mesmo tempo ensinava-os que não podiam se arrepender, ela exigia que
obedecessem e acreditassem, mas ao mesmo tempo ensinava que isso era impossível.
É claro que eu encerrei também esse assunto com ele, e perguntei onde estavam tais
coisas ensinadas na bíblia. Ele citou o catecismo, mas eu não aceitei.
Ele continou dizendo que a bíblia também ensinava que Cristo morreu somente pelos
eleitos, mas ao mesmo tempo ordenava a todos os homens, em todos os lugares,
eleitos ou não, a acreditar, sob ameaça de morte eterna. “O fato é que,” disse ele “a
bíblia, em seus mandamentos e ensinamentos, vem de encontro a meu senso inato de
justiça em todos os passos. Eu não posso e não vou aceitar!” Ele ficou muito agitado e
firme no que disse. Porém eu falei: “Sr. S, há um erro nisso. Esses não são
ensinamentos da bíblia, mas sim tradições de homens.” Então ele disse “Bem então, Sr.
Finney, diga-me em quê acreditar!” Disse isso com um grau considerável de
impaciência. Eu respondi “Se o senhor me der ouvidos por alguns momentos, contarei
no que eu acredito.” Então comecei a contar-lhe quais eram minhas visões a respeito
tanto da Lei quanto do Evangelho. Ele era inteligente o bastante para compreender-me
fácil e rapidamente. Dentro de uma hora, acredito, passei por cada uma de suas
objeções. Ele ficou muito interessado, e viu que as visões que eu apresentava eram
novas para ele.
Quando falei sobre a remissão, e mostrei que fora feita para todos os homens, falei
sobre sua natureza, seu projeto, sua extenção, e a liberdade de salvação através de
Cristo, vi seus sentimentos levantarem-se, até que por fim colocou ambas as mãos por
sobre o rost, jogou sua cabeça sobre os joelhos, e estremeceu com emoção. Eu vi que
o sangue corria para sua cabeça, e as lágrimas começavam a cair naturalmente.
Levantei-me rápido e deixei a sala sem dizer mais nenhuma palavra. Vi que uma flecha
o transpassara, e esperei que se convertesse imediatamente. A verdade é que ele se
convertera antes mesmo que eu deixasse a sala.
Logo depois, os sinos da igreja chamavam para uma reunião de oração e conferência.
Entrei na reunião e logo depois do início, entraram o Sr. r a Sra. S. O semblante dele
mostrava que fora grandemente tocado. As pessoas olharam em volta e pareciam
surpresas ao verem o Sr. S entrar numa reunião de oração. Creio que ele sempre teve
o hábito de participar da adoração no domingo, mas vir a uma reunião de oração, e
aquela durante o dia, era novidade. Para o bem dele, gastei bastante tempo naquela
reunião com comentários, aos quais ele prestou muita atenção.
Sua esposa depois me contou, que enquanto caminhavam para casa depois da reunião
de oração, ele disse “Minha querida, para onde foi toda minha infidelidade? Não
consigo lembrar. Não consigo ver qualquer sentido naquilo. Parece-me que isso sempre
foi algo sem nexo. E como posso já ter visto o assunto como via, ou ter respeitado
meus próprios argumentos como respeitava, não posso imaginar. Parece-me que fui
chamado a julgar uma esplêndida obra aquitetônica, e que assim que vi um lado da
estrutura, não gostei, dei as costas e recusei-me a inspecionar mais. Condenei o todo,
sem considerar em nada suas proporções. É assim que tenho tratado o governo de
Deus ate agora.” Ela disse que ele sempre foi especialmente contra a doutrina do
castigo eterno. Mas nessa ocasião, enquanto caminhavam para casa, ele disse que,
por causa da maneira na qual vinha tratando a Deus, ele merecia a condenação sem
fim.
Sua conversão foi muito clara e decidida. Ele abraçou carinhosamente a caus de Cristo,
e engajou-se de coração na promoção do avivamento. Entrou para a igreja, e pouco
tempo depois tornou-se um diácono, e até o dia de sua morte, disseram-me, foi um
homem muito usado.
Depois da conversão do Sr. S, e daquele grupo de jovens que mencionei, pensei que já
era tempo, se possível, de colocar um fim na oposição da igreja e do pastor Batista.
Tive portanto primeiro uma conversa com um diácono da igreja Batista, que era até
então muito áspero em sua oposição, e disse a ele “Agora vocês já levaram essa
oposição longe demais. Devem ficar satisfeitos por essa é a obra de Deus. Não fiz
alusão em público à sua oposição, e não pretendo fazer, nem parecer que sei da
existência de tal coisa, mas vocês já foram longe demais, e se não pararem
imediatamente, serei obrigado a pegá-los na mão e expor sua oposição do púlpito.” As
coisas tinham chegado a um estado tal que eu tinha certeza que tando Deus quanto o
povo apoiar-me-iam se eu tivesse que tomar a atitude que propus.
Ele confessou e disse que sentia muito, e prometeu que faria uma confissão, e não
mais se oporia à obra. Ele disse que fizera um grande erro, e estava enganado, mas
que também fora muito ímpio em relação a isso. Ele então foi atrás de seu pastor, e eu
tive uma longa conversa com os dois juntos. O pastor confessou que estava totalmente
errado, que estava enganado e fora ímpio, e que seu sentimento sectário levara-o longe
demais. Ele esperava que eu o perdoasse, e orou para que Deus o perdoasse também.
Eu disse que não faria comentário algum sobre a oposição de sua igreja, desde que
parassem com isso. Assim eles o prometeram.
Então eu disse a ele: “Agora, um número considerável de jovens, cujos pais pertecem à
sua igreja, se converteu.” Se recordo direito, quase quarenta de seus jovens se
converteram naquele avivamento. Eu disse “Agora, se o senhor tomar partidos, isso
criará um sentimento sectário em ambas as igrejas, e será pior do que qualquer
oposição que poderia oferecer. Apesar de sua oposição, a obra tem continuado, porque
os irmãos Presbiterianos têm se mantido distantes de um espírito sectário, e têm tido
um Espírito de oração. Mas se o senhor tomar partido, isso destuirá o espírito de
oração, e parará imediatamente o avivamento.” Ele disse que sabia disso, e portanto
não falaria nada sobre receber nenhum dos novos convertidos, e não abriria as portas
da igreja para sua recepção, até que o avivamento terminasse, e então, sem qualquer
proselitismo, deixaria que os convertidos se unissem à igreja que escolhessem.
Isso aconteceu na sexta-feira. O dia seguinte, sábado, era o dia de sua reunião mensal
conjunta. Quando eles se reuníram, ao invés de manter sua palavra, ele escancarou as
portas da igreja e convidou os convertidos a irem à frente para contar suas experiências
e arrolarem-se à igreja. Tantos quantos foram persuadidos a assim o fazer, contaram
suas experiências, e no dia seguinte houve uma grande festa para o batismo dos
mesmos. O pastor imediatamente mandou chamar, e assegurou a ajuda de um dos
pastores Batistais mais prosélitos que eu já conheci. Ele veio e começou a pregar sobre
o batismo.
Eles vasculharam a cidade a procura de convertidos em todas as direções, e sempre
que encontravam alguém que pudesse unir-se a eles, organizavam uma grande
procissão e marchavam, e cantavam, e faziam uma grande festa a caminho das águas
para batizá-los. Isso logo aborreceu a igreja Presbiteriana, a ponto de destruir seu
espírito de oração e fé, e a obra ficou paralizada. Por seis semanas não houve nem
sequer uma conversão. Todos, tanto santos quanto pecadores, discutiam a questão do
batismo.
Havia um número considerável de homens, alguns deles proeminentes, no vilarejo, que
estavam sob uma forte convicção e pareciam estar próximos da conversão, que ficaram
inteiramente distraídos por essa discussão do batismo, e de fato, isso parecia ser o
efeito universal. Todos podiam ver que o avivamento havia parado, e os Batistas,
apesar de terem-se oposto ao avivamento desde o começo, estavam empenhados em
fazer com que todos os convertidos entrassem para sua igreja. No entanto, acho que a
maioria dos convertidos não pode ser persuadida a passar pela imersão, mesmo que
nada fora dito a eles pelo outro lado.
Eu finalmente disse ao povo no domingo: “Vocês vêem como é que a obra de
conversão está suspensa, e não sabemos de uma conversão que tenha acontecido em
seis semanas, e vocês sabem o por quê.” Eu não falei nada sobre como o pastor
Batista havia quebrado sua palavra, nem sequer fiz alusão a isso, pois eu saiba que
isso não faria bem algum, mas sim machucaria muito, se informasse as pessoas que
ele era culpado de seguir tal caminho. Mas eu disse “Agora, eu não quero gastar um
domingo pregando sobre isso, mas se vocês vierem na quarta-feira, à uma hora, e
trouxerem suas bíblias, e suas canetas para marcarem as passagens, lerei para vocês
todas as passagens da bíblia relacionadas ao modo de batismo, e passarei a vocês, tão
bem como posso entendê-las, as visões de nossos irmãos Batistas sobre todas essas
passagens, juntamente com as minhas, e vocês mesmos julgarão onde está a
verdade.”
Quando chegou a quarta-feira, a casa estava lotada. Vi muitos dos irmãos Batistas
presentes. Eu comecei e li, primeiro no Velho Testamento, e depois no Novo, todas as
passagens que tinham alguma referência ao modo de batismo, até onde eu sabia.
Passei a visão que os Batistas tinham em relação àqueles textos, e as razões para
suas visões. Então dei minhas próprias visões, e as razões para elas. Vi que a
impressão causada foi boa e decidida, e que nenhum espírito mau prevalecera, e as
pessoas pareciam satisfeitas no que diz respeito ao modo de batismo. Os irmãos
Batistas, pelo que sei, ficaram muito satisfeitos pois expus fielmente seus pontos de
vista, tão certo quanto eles mesmos poderiam fazer, bem como suas razões para eles.
Antes de terminar a reunião, eu disse “Se vocês vierem amanhã, no mesmo horário, à
uma hora, lerei para vocês todas as passagens na bíblia relacionadas ao assunto do
batismo, e seguirei o mesmo caminho de hoje.”
No dia seguinte a casa estava mais lotada, se possível, do que no dia anterior. Um
grande número dos principais irmãos Batistas estavam presentes, e observei que o
velho presbítero, o grande prosélito, estava sentado na congregação. Depois de dar
início ao culto, levantei-me e comecei minha leitura. Nesse momento o presbítero
levantou-se e disse “Sr. Finney, eu tenho um compromisso, e não posso ficar para ouvir
suas leituras. Mas quero responder-lhe, e como saberei que caminho o senhor
seguirá?” Respondi-lhe “Presbítero, tenho diante de mim um pequeno esboço, no qual
citei todas as passagens que lerei, e anotei a ordem na qual discutirei o assunto. O
senhor pode ficar com meu esboço, se desejar, e responder a ele.” Ele então saiu, e
suponho eu, foi para seu compromisso.
Então eu peguei a aliança feita com Abraão, e li tudo no Antigo Testamento que caía
diretamente sobre a questão da relação das famílias e filhos com aquela aliança. Dei o
ponto de vista Batista das passagens que li, junto com o meu, e as razões para ambos
os lados, como fizera um dia antes. Então eu peguei o Novo Testamento, e passei por
todas as passagens nele, referindo-se ao assunto. As pessoas tornaram-se muito
brandas, e as lágrimas caíram com muita naturalidade quando mostrei aquela aliança
como sendo a aliança que Deus faz om os pais em suas casas. A congregação ficou
muito tocada e comovida.
Pouco antes que eu terminasse, o diácono da igreja Presbiteriana teve de sair, com
uma criança que sentara a seu lado durante toda a reunião. Ele me contou depois que,
conforme ele passava pelo hall de entrada da igreja, encontou o velho presbítero
sentado ali com a porta entreaberta, e escutando o que eu dizia, totalmente em prantos.
Quando terminei, as pessoas aglomeravam-se ao meu redor por todos os lados, e com
lágrimas agradeciam-me por uma exposição tão completa e satisfatória do assunto. Eu
deveria ter dito que a reunião não foi atendida somente pelos membros da igreja, mas
sim pela comunidade em geral. A questão foi resolvida inteligentemente, e logo as
pessoas pararam de falar sobre o assunto. Dentro de poucos dias, o espírito de oração
voltou, e o avivamento renasceu, e saiu novamente com grande poder. Não muito
tempo depois, as ordenanças foram administradas, e um grande número de convertidos
uniu-se à igreja.
Eu já disse que era um hóspede do Sr. S. Ele tinha uma família muito interessante. Ele
e sua esposa, chamada por todos de “Tia Lucy”, não tinham gerado filhos, mas tinham,
de tempos em tempos, pelo anseio de seus corações, adotado uma criança após a
outra, até que tinham dez, e tinham idades tão próximas que, nessa época, sua família
era composta por ele, Tia Lucy, sua esposa, e dez jovens, creio que igualmente
divididos entre rapazes e moças. Logo todos se converteram, e suas conversões foram
muito impactantes. Eram novos convertidos e jovens muito inteligentes, e jamais vi uma
família mais feliz e amorosa do que eles eram, quando já todos se haviam convertido.
Mas Tia Lucy convertera-se sob outras circunstâncias, quando ainda não havia
avivamento, e ela jamais vira a novidade, e força, e alegria dos convetidos em um
avivamento poderoso. A fé e o amor, a alegria e a paz deles, confundiam-na
completamente. Ela começou a pensar que nunca fora realmente convertida, e apesar
de ter-se dado, alma e coração, para promover a obra, ainda assim, bem no meio dela,
caiu em desespero, apesar de tudo que se pudesse dizer ou fazer. Ela concluiu que
jamais fora convertida e, é claro, que nunca poderia ser.
Ela trouxe para a família uma questão de grande dor e preocupação. Seu marido
pensou que ela estava enlouquecendo. Todos os jovens, que a consideravam como
mãe, encheram-se de preocupação para com ela, e de fato a casa ficou sob lamentos.
O Sr. S gastava seu tempo para conversar e orar com ela, tentando reaver sua
esperança. Eu tive muitas conversas com ela, mas à luz da experiência daqueles
jovens convertidos, que ela ouvia diariamente, não podia ser persuadida a acreditar,
nem que já fora convetida, nem que poderia ser.
Essa situação continuou por dias, até que eu mesmo comecei a achar que ela estava
enlouquecendo. A rua na qual eles viviam era uma rua muito larga, quase um vilarejo,
de mais ou menos cinco quilômetros e extensão. A obra estendera-se naquela rua até
que ninguém mais além de um adulto restava sem se converter. Ele era um jovem, de
nome B H, e era quase frenético em sua oposição à obra. A vizinhança quase inteira
entregou-se a orar por esse jovem, e seu caso estava na boca de todos.
Certo dia entrei, e encontrei Tia Lucy preocupando-se muito com esse B H. “Ó meu
Deus! O que será dele? Ora, Sr. S, ele certamente perderá sua alma! O que será dele?”
Ela parecia estar em tremenda agonia, por quê o jovem não perdesse sua alma.
Escutei-a por alguns momentos, então olhei seriamente para ela e disse: “Tia Lucy,
quando a senhora e o B H morrerem, Deus terá de fazer uma divisão no inferno, e dar
um quarto só para a senhora.” Ela arregalou seus grandes olhos azuis e olhou-me com
um olhar de reprovação. “Ora, Sr. Finney!” disse ela. “É isso mesmo. Ou a senhora
acha que Deus será culpado de algo tão impróprio quanto colocar-lhe no mesmo lugar
com B H? Aqui está ele, esbravejando contra Deus, e a senhora está quase louca em
sentir o abuso que ele faz de Deus, com medo de que ele perderá sua alma e irá para o
inferno. Agora, a senhora acha de duas pessoas com mentes tão diferentes podem ser
enviadas para o mesmo lugar?” Calmamente cruzei com seu olhar de reprovação e
olhei fixamente em seus olhos. Em alguns instantes seus traços relaxaram, e ela sorriu,
pela primeira vez em muitos dias. “É assim mesmo, minha querida,” disse o Sr. S
“assim mesmo. Como você poderia ir para o mesmo lugar que B H?” Ela riu e disse
“Não podemos.” A partir daquele momento, seu desespero acabou, ela estava limpa, e
tão feliz quanto qualquer um dos jovens convertidos. Esse rapaz B H converteu-me
mais tarde.
A mais ou menos cento e cinqüenta metros da casa do Sr. S, vivia um Sr. M, que era
um forte Universalista, e por um tempo considerável, manteve-se distante de nossas
reuniões. Certa manhã, Padre Nash, que na época também era hóspede do Sr. S,
levantou-se, como era de seu costume, muito cedo, e foi até um arvoredo que ficava
uns duzendos e cinqüenta metros, talvez, distante da estrada, para ter um período de
oração sozinho. Isso foi antes do nascer do sol, e o Irmão Nash, como sempre,
envolvia-se muito na oração. Era uma daquelas claras manhãs, nas quais é possivel
escutar sons muito distantes. O Sr. M havia levantado, e estava do lado de fora já tão
cedo, e ouviu a voz de alguém que orava. Ele ouviu, e podia escutar distintamente a
voz do Padre Nash. Ele sabia que aquilo era uma oração, disse depois, apesar de não
conseguir entender muito do que ele dizia. Ele disse que aquilo trouxe sobre ele um
senso de realidade da religião, como jamais experimentara antes. A flecha acertara. Ele
não conseguiu alívio, até encontrá-lo na fé em Jesus.
Não sei o número de pessoas que se converteram naquele avivamento, era uma cidade
grande e com muitas fazendas, estabelecida por habitantes de bem. Sua grande
maioria, tenho certeza, converteu-se a Cristo naquele avivamento.
Não vou àquele lugar há muitos anos. Mas sempre tenho notícias de lá, e sempre
soube que a religião tem estado muito saudável naquele local, e que nunca mais
tiveram algo tal como uma discussão no assunto de batismo desde então.
As doutrinas pregadas para promover o avivamento, eram aquelas que já preguei em
todo lugar. A moral total, a depravação voluntária do homem não regenerado, a
necessidade de uma mudança radical de coração, por meio da verdade, do agir do
Espírito Santo, a divindade e humanidade de nosso Senhor Jesus Cristo, sua redenção
vicária, igual para as necessidades de toda a humanidade, o dom, divindade e ação do
Espírito Santo, arrependimento, fé, justificação pela fé, santificação pela fé, persistência
na santidade como condição para salvação, na verdade, todas as distintas doutrinas do
Evangélho foram declaradas e expostas com tanta clareza, foco e poder quanto me era
possível diante das circunstâncias. Um grande espírito de oração prevaleceu, e depois
da discussão sobre o batismo, um espírito de unidade muito interessante, amor
fraternal, e sociedade cristã prevaleceu. Eu não tive oportunidade finalmente, de
repreender publicamente a oposição dos irmãos Batistas. Em minhas leituras sobre o
batismo, o Senhor me capacitou a manter tal espírito que não causou o início de
nenhuma controvérsia, e nenhum espírito de discória prevaleceu. A discussão não
produziu nenhum resultado mau, mas um grande bem, e até onde pude ver, somente
bem.
A VERDADE DO EVANGÉLHO
AS MEMÓRIAS DE CHARLES G. FINNEY
CAPÍTULO XI.
O AVIVAMENTO EM DE KALB
DE Gouverneur eu fui para De Kalb, outro vilarejo ainda mais ao norte,
aproximadamente vinte e cinco quilômetros, creio eu. Aqui havia uma igreja
Presbiteriana, com um pastor, mas a igreja era pequena, e o pastor parecia não ter
muita influência junto ao povo. Contudo, creio que ele era um homem decicidademente
bom. Eu comecei a realizar reuniões em De Kalb, em diferentes partes da cidade. O
vilarejo era pequeno e as pessoas ficavam bastante espalhadas. A região era nova, e
as estradas novas e ruins. Mas um avivamento comecou imediatamente, e prosseguiu
com bastante poder, para um lugar onde os habitantes estivessem tão dispersos.
Alguns anos antes, acontecera um avivamento sob o labor dos Metodistas. Esse
movimento foi tratado com bastante agitação, e muitos casos de “quedas debaixo do
poder de Deus”, nas palavras dos Metodistas, aconteceram. Esses presbiterianos
resistiram ao avivamento, e conseqüentemente, fortes ressentimentos nasceram entre
Metodistas e Presbiterianos. Os Metodistas acusando os Presbiterianos de se oporem
ao avivamento entre eles por causa dessas quedas. Até onde pude saber, havia
bastante verdade nisso, e os Presbiterianos estavam decididamente errados.
Eu não havia pregado por muito tempo antes que, em uma certa noite, logo que
terminava meu sermão, vi um homem cair de seu assento próximo à porta, e as
pessoas ajuntaram-se ao seu redor para cuidar dele. Pelo que vi, tive certeza de que
ele caira sob o poder de Deus, como diriam os Metodistas, e supus que ele era um
deles. Devo dizer que tive um pouco de medo que aquilo reproduzisse aquela divisão e
alienação que existia antes. Mas perguntando depois, descobri que foi um dos
principais membros da igreja Presbiteriana que caiu. E foi impressionante que durante
esse avivamento, vários casos como esse aconteceram em meio aos Presbiterianos, e
nenhum em meio aos Metodistas. Isso levou a muitas confissões e explicações entre os
membros das diferentes igrejas, o que assegurou uma situação de grande cordialidade
e bons sentimentos entre eles.
Enquanto trabalhava em De Kalb, familiarizei-me primeiro com Sr. F, de Ogdensburgh.
Ele escutou sobre o avivamento em De Kalb e veio de sua cidade, a mais ou menos
vinte e cinco quilômetros dali, para ver. Ele era rico e muito benevolente. Ele se propôs
a contratar-me como seu missionário, para trabalhar nas cidades em todo aquele
condado, e pagar-me um salário. No entanto, recusei comprometer-me a pregar em
qualquer lugar em particular, ou a limitar minhas obras a quaisquer linhas impostas.
O Sr. F passou muitos dias comigo, nas visitas de casa em casa, e participando de
nossas reuniões. Ele fora educado na Filadélfia, um Presbiteriano tradicional, e era um
presbítero em sua igreja em Ogdensburgh. Ao ir embora, deixou-me uma carta,
contendo três notas de dez dólares. Poucos dias depois ele apareceu de novo, passou
mais uns dois ou três dias, participou de nossas reuniões e ficou muito interessado na
obra. Quando ele foi embora, deixou-me outra carta, contento, como antes, três notas
de dez dólares. Assim, tinha em minhas mãos sessenta dólares, com os quais
imediatamente comprei uma carroça. Antes disso, apesar de ter um cavalo, eu não
tinha uma carroça, e minha jovem esposa e eu costumávamos ir bastante à pé para as
reuniões.
O avivamento foi muito forte com a igreja naquele lugar, e entre outros, um dos
presbíteros da igreja, de nome B, foi minuciosamente quebrantado, e tornou-se um
homem muito diferente. A impressão estava cada dia mais profunda na opinião pública.
Certo sábado, num final de tarde, um alfaiate mercante alemão, vindo de Ogdensburgh,
de nome F, veio visitarme, e disse-me que o Juiz F o havia enviado desde lá para tirar
minhas medidas para um terno. Eu começava a precisar de roupas, e uma vez, não
muito antes disso, falei sobre isso com o Senhor, que minhas roupas estavam ficando
surradas, mas nunca mais tinha pensado nisso. O Sr. F, no entanto, observou isso, e
enviou esse homem, que era um Católico Romano, para tirar minhas medidas.
Perguntei-lhe se ele não poderia passar o domingo por lá, e tirar minhas medidas na
segunda-feira pela manhã. Eu disse “Já é muito tarde para o senhor retornar esta noite,
e se eu permitir que o senhor tire minhas medidas hoje, voltará para casa amanhã.” Ele
admitiu que esperava fazer isso. Eu disse “Então não vai tirá-las. Se o senhor não ficar
aqui até segunda-feira de manhã, não tirará minhas medidas para o terno.” Ele
permaneceu.
Na mesma tarde, outras pessoas chegaram de Ogdensburgh, e entre elas estava um
Presbítero S, que era um irmão presbítero na mesma igreja que freqüentava o Sr. F. O
filho do Sr. S, um jovem não convertido, veio com ele.
O Presbítero S participou da reunião pela manhã, e no intervalo foi convidado pelo
Presbítero B para ir para casa com ele, e refrescar-se um pouco. O Presbítero B era
cheio do Espírito Santo, e no caminho para casa ele pregou para o Presbítero S, que na
época estava muito frio e retrocedendo na religião. Ele ficou muito impactado com suas
palavras.
Logo que chegaram na casa, a mesa estava posta, e eles foram convidados a
sentarem-se para repor as energias. Conforme sentavam-se à mesa, o Presbítero S
perguntou ao Presbítero B “Como o senhor conseguiu essa benção?” Ele respondeu
“Eu parei de mentir para Deus. Por toda minha vida cristã sempre fiz de conta, pedindo
a Deus coisas que eu não queria ter, não completamente, e eu continuava e orava
como as outras pessoas oravam, e muitas vezes não fui sincero, realmente mentia para
Deus. Logo que me decidi a nunca mais dizer nada em oração para Deus que não
fosse de coração, Deus respondeu, e o Espírito desceu, e fui cheio do Espírito Santo.”
Nesse momento o Sr. S, que ainda não havia começado a comer, afastou sua cadeira
da mesa, caiu de joelhos e começou a confessar como mentira para Deus, e como
havia sido um hipócrita em suas orações, bem como em sua vida. O Espírito Santo veio
sobre ele imediatamente, e encheu-o até o máximo que ele podia suportar.
À tarde, o povo reunira-se para adoração, e eu estava de pé no púlpito lendo um hino.
Escutei alguém falando muito alto, aproximando-se da casa, pois as janelas e porta
estavam abertas. Dois homens entraram direto. O Presbítero B eu conhecia, o outro era
um estranho. Logo que entrou pela porta, levantou os olhos para mim, veio direto para
o púlpito, pegou-me em seus braços e disse “Deus lhe abençõe! Deus lhe abençõe!”
Ele então começou a me contar, e contar para toda a congregação, o que o Senhor
acabara de fazer por sua alma.
Seu semblante brilhava, e ele estava tão mudado em sua aparência, que aqueles que o
conheciam estavam totamente pasmos com a mudança. Seu filho não sabia dessa
mudança em seu pai. Quando ele o viu e ouviu, levantou-se e apressava-se para sair
da igreja. Seu pai gritou “Não saia daqui, meu filho, pois até agora eu nunca amei
você.” Ele continuou falando, e o poder com que falava era perfeitamente
surpreendente. As pessoas quebrantaram-se por todos os lados, e seu filho caiu em
prantos quase que imediatamente.
Logo o alfaiate Católico Romano, Sr. F, levantou-se e disse “Devo contar-lhes o quê o
Senhor tem feito pela minha alma. Fui criado, um Católico Romano, e nunca ousei ler
minha bíblia. Fui ensinado que se eu lesse, o diabo levaria-me para fora do meu corpo.
Algumas vezes, quando ousava folheá-la, parecia-me que o diabo estava olhando por
sobre meu ombro, e tinha vindo para levar-me embora. Mas eu vejo que isso é tudo
uma ilusão.” E ele continuou falando o que o Senhor fizera por ele ali, naquele mesmo
instante – que visões o Senhor lhe dera sobre o caminho de salvação por Jesus Cristo.
Era evidente a todos que ele se convertera.
Isso causou um grande impacto na congregação. Eu não consegui pregar. A reunião
seguia o caminho que o Senhor dera. Eu permaneci sentado e vi a salvação de Deus.
Durante toda a tarde, conversões multiplicaram-se por todos os lados da congregação.
Conforme levantavam-se um após o outro, e contavam o que o Senhor havia feito, e
estava fazendo, por suas almas, o impacto aumentava, e era um mover tão espontâneo
do Espírito Santo no convencer e converter de pecadores como poucas vezes já vi.
No dia seguinte esse Presbítero S retornou a Ogdensburgh. Mas pelo que entendo ele
fez muitas visitas no caminho, e conversou e orou com muitas famílias, e assim o
avivamento extendeu-se até Ogdensburgh.
No começo de outubro, o sínodo ao qual eu pertencia, reuniu-se em Utica. Peguei
minha esposa e fui até Utica para participar da reunião, e para visitar a família de seu
pai, que vivia perto dalí.
Sr. Gale, meu professor de teologia, deixara Adams não muito tempo depois de mim, e
mudara-se para uma fazenda na cidade do condado de Oneida D’Oeste, onde estava
empenhado em recuperar sua saúde, era empregado como professor de alguns jovens,
que dispuseram-se a preparação para pregarem o Evangélho. Passei alguns dias no
sínodo em Utica, então parti retornando a meu antigo campo de trabalho, no condado
de Saint Lawrence.
Não estávamos viajando há mais de vinte quilômetros quando cruzamos com o Sr. Gale
em sua carroça, a caminho de Utica. Ele saltou de seu carro e disse “Deus o abençõe,
Irmão Finney! Eu estava a caminho do sínodo para vê-lo. Você deve vir para casa
comigo, não aceito não como resposta. Eu não acho que jamais fora convertido, e outro
dia escrevi para Adams, perguntando para onde deveria mandar uma carta para você,
pois queria abrir minhas idéias para você sobre o assunto.” Ele insistiu tanto que
concordei, e dirigimo-nos imediatamente para o oeste.
Ao refletir sobre o que já disse sobre os avivamentos religiosos nos condados de
Jefferson e St. Lawrence, não tenho certeza se ressaltei tanto quanto pretendia a
manifesta ação do Espírito Santo naqueles movimentos. Quero ser distintamente
compreendido, em tudo que direi, em minha narativa dos avivamentos que testemunhei,
que eu sempre, tanto em minha mente quanto praticamente, dei muita atenção a esse
fato, destacando, apontando, e dando crédito aos meios, sem os quais nada seria
conquistado.
Já disse mais de uma vez, que o espírito de oração que prevaleceu naqueles
avivamentos era uma característica muito marcante deles. Era comum para os jovens
convertidos exercitarem muito suas orações, e em alguns exemplos isso era tanto, que
eram constrangidos a orarem por noites inteiras, e até que suas forças estivessem
quase acabadas, pela conversão das almas ao seu redor. Havia uma grande pressão
do Espírito Santo sobre as mentes dos cristãos, e eles pareciam carregar por aí sobre
si o fardo de almas imortais. Eles manifestavam uma grande solenidade mental, um
grande cuidado em todas as suas palavras e ações. Era muito comum encontrar
cristãos, sempre que se encontravam em qualquer lugar, que ao invés de começarem a
orar, caíam de joelhos em oração.
Não apenas as reuniões de oração foram grandemente multiplicadas e atendidas, não
apenas havia grande solenidade naquelas reuniões, mas também havia um grande
espírito de orações em secreto. Os cristãos oravam muito, muitos deles gastando
muitas horas em orações particulares. Também era o caso de dois, ou mais, tomarem
posse da promessa “se dois de vós concordarem na terra acerca de qualquer coisa que
pedirem, isso lhes será feito por meu Pai, que está nos céus,” e fazerem de alguma
pessoa em especial um objeto de oração, e era maravilhoso ver como prevaleciam. As
respostas a orações multiplicavam-se tanto por todos os lados, que ninguém escapava
a convicção de que Deus as respondia todo dia, a toda hora.
Se qualquer coisa acontecesse que ameaçasse danificar a obra, se houvesse qualquer
pontinha de amargura surgindo, ou de tendencialismo, ou fanatismo, ou desordem, os
cristãos ficariam atentos, e entregar-se-iam a Deus em oração para que ele tomasse a
direção e o controle de todas as coisas, e era supreendente ver até onde, e como, Deus
removia os obstáculos do caminho, em resposta as orações.
Em consideração à minha própria experiência, digo que a menos que eu tivesse o
espírito de oração, não conseguiria fazer nada. Se mesmo por um dia ou uma hora, eu
perdesse o espírito de graça e súplica, e encontrar-me-ia incapaz de pregar com poder
e eficiência, ou de ganhar almas por conversas pessoais. Essa era e sempre foi minha
experiência a esse respeito.
Por várias semanas, antes que eu deixasse De Kalb para ir ao sínodo, estava
fortemente engajado em oração, e tive uma experiência que foi de fato nova para mim.
Encontrei-me tão envolvido, e sentindo o tão pesado fardo de almas imortais, que fui
constrangido a orar sem cessar. Algumas de minhas experiências de fato, assustaram-
me. Um espirito de insistência por vezes vinha sobre mim, e eu falava para Deus que
Ele havia feito uma promessa de responder às orações, e então eu não podia, não seria
negado a uma resposta. Tive tanta certeza que Ele me ouviria, e que uma fidelidade a
Suas promessas, e a Si Mesmo, tornava impossível que Ele não ouvisse e
respondesse, que freqüentemente via-me dizendo-lhe “Espero que não penses que
posso ser negado. Venho a Ti com tuas fieis promessas em minhas mãos, e não posso
ser negado.” Não posso expressar o quão absurdo a falta de fé me parecia, e quão
certo era, em minha mente, que Deus responderia a oração – aquelas orações que, dia
após dia, hora após ora, encontrava-me oferecendo com tanta agonia e fé. Eu não tinha
idéia de qual seria a resposta, a localidade na qual as orações seriam respondidas,
nem o momento exato da resposta. Minha impressão era que a resposta estava
próxima, até mesmo à porta, e sentia-me fortalecido na vida divina, coloquei a
armadura pra um grande conflito com os poderes das trevas, e esperei por logo ver um
derramamento mais poderoso do Espírito de Deus, naquela nova região onde eu vinha
trabalhando.
A VERDADE DO EVANGÉLHO
AS MEMÓRIAS DE CHARLES G. FINNEY
CAPÍTULO XII.
O AVIVAMENTO EM D’OESTE
JÁ falei de minha mudança de direção com destino a D’Oeste, quando estava voltando
do sínodo em Utica. Nesse lugar começou aquela série de vivamentos, depois
chamados de avivamentos ocidentais. Até onde sei, esses avivamentos chamaram a
atenção e instigaram de certos pastores proeminentes do Leste, e levantou o pedido de
“Novas Medidas”.
A maioria das igrejas naquela região eram Presbiterianas. Havia naquele condado, no
entanto, três pastores Congregacionais que se auto-denominavam “A Associação
Oneita”, que na época publicava um panfleto contra aqueles avivamentos. Sabíamos
disso, mas sendo que os panfletos não causavam muita influência no público, nunca
foram mencionados de púlpito, até onde sei. Pensávamos que era provável que aquela
associação tinha muito a ver com a oposição que se levantara no Leste. Seu líder, o
Rev. William R Weeks, como era conhecido, defendia e propagava as doutrinas
peculiares do Dr. Emmons, e insistia muito no que chamava de “O esquema de
eficiência divina.” Suas visões peculiares sobre o assunto naturalmente levaram-no a
suspeitar de tudo que não era ligado a elas, nas pregações e nos meios utilizados para
promover o avivamento. Ele parecia ter pouca ou nenhuma confiança nas conversas
que não levassem os homens a adotar seus pontos de vista de uma eficiência e
soberania divina, e sendo que nós que trabalhamos naqueles avivamentos não
tínhamos empatia alguma por suas idéias a esse respeito, era muito natural que ele não
tivesse muita confiança na genuinidade dos avivamentos. Mas nunca imaginávamos
que toda a oposição poderia ter-se originado nas representações feitas por qualquer um
dos membros daquela associação.
Nenhuma réplica pública foi feita às cartas que encontravam seus caminhos para a
imprensa, nem a nada do que foi puplicado em oposição aos avivamentos. Nós que
estavamos envolvidos nos mesmos, estavamos ocupados demais, mãos e corações,
para prestar atenção em responder cartas, relatórios ou publicações que
manifestadamente representavam de forma errônea o caráter da obra.
O fato que nenhuma resposta foi dada na época, fez com que o público exterior, de fora
do alcançe daqueles avivamentos, e nos lugares onde os fatos não eram conhecidos,
compreendesse mal seu caráter. Tanta apreensão chegou a existir, que era comum a
homens de bem presumirem, em relação a esse mover, ainda que fossem num geral
avivamentos religiosos, que os movimentos eram conduzidos de forma que grandes
desordens manifestavam-se no meio deles, e que havia muito a se lamentar em seus
resultados.
Agora, tudo isso é um grande erro. Relatarei da melhor maneira que puder, as
características desses avivamentos, os meios utilizados para promovê-los, e expor,
com todas as minhas habilidades, seus verdadeiros resultados e caráter,
compreendendo bem como faço, que existem multidões de testemunhas vivas, que
podem atestar a verdade no que digo ou, se estou errado, corrigir-me.
E agora voltarei a D’Oeste, onde esses avivamentos começaram, no condado de
Oneida. Eu já disse que o Sr. Gale estabelecera-se em uma fazenda em D’Oeste,
empregava alguns jovens para o ajudarem a cultivar a fazenda, estava envolvido em
ensinar-lhes, e empenhado em recuperar sua própria saúde. Fui direto para sua casa, e
por várias semanas, fui seu hóspede. Creio que chegamos lá numa quinta-feira, e
naquela tarde haveria uma reunião de oração na escola, perto da igreja. A igreja não
tinha um pastor fixo, e o Sr. Gale estava impossibilitado de pregar, e de fato não ia até
lá pregar, mas isso só por causa de sua saúde. Acredito que geralmente eles tinham
um pastor, mas só em período parcial, e já há algum tempo não tinham ninguém na
igrja Presbiteriana quando cheguei. A igreja tinha três presbíteros e poucos membros,
mas a igreja era muito pequena e a maré da religião estava muito baixa. Parecia não
haver vida, nem coragem, nem organização por parte dos cristãos, e nada era feito
para assegurar a conversão de pecadores, ou a santificação da igreja.
À tarde, o Sr. Gale convidou-me para a reunião de oração, e eu fui. Pediram-me para
assumir a liderança da reunião, mas não aceitei, esperando ficar por lá somente aquele
dia, e preferindo escutá-los orar e falar, do que participar ativamente da reunião. A
reunião foi aberta por um dos presbíteros, que leu um capítulo da bíblia, depois um
hino, que foi cantado em seguida. Depois disso ele fez uma longa oração, ou talvez eu
deva dizer uma exortação, ou uma narrativa... não sei bem como chamar aquilo. Ele
disse ao Senhor há quantos anos mantinham aquela reunião semanal de oração, e que
ainda não haviam recebido resposta alguma. Ele deu tais declarações e confissões que
chocaram-me muito. Quando ele acabou, outro presbítero continuou com o mesmo
tema. Ele leu um hino, e depois de cantar, começou a orar longamente, e passou por
praticamente todos os mesmos assuntos, fazendo algumas declarações que haviam
sido omitidas pelo primeiro. Então veio o terceiro presbítero, seguindo o mesmo
caminho. A essa altura eu poderia dizer como Paulo, que meu espírito agitava-se
dentro de mim. Eles haviam terminado e estavam prestes a dispensar a reunião, mas
um dos presbíteros perguntou-me se eu gostaria de fazer algum comentário antes de
encerrassem. Levantei-me e tomei suas declarações e confissões como base, e
parecia-me, no momento, que Deus inspirava-me a dar-lhes uma terrível golpe como a
ponta de uma espada.
Quando me levantei, não tinha idéia do que diria, mas o Espírito de Deus veio sobre
mim, e eu peguei suas orações, declarações e confissões, e dissequei-as. Mostrei-as e
perguntei se aquela reunião de oração era de fato uma reunião de gozação ou se
haviam-se reunido para abertamente zombar de Deus, ao insinuarem que toda a culpa
pelo que vinha acontecendo naqueles dias, deveria ser designada a Sua soberania?
A princípio observei que todos pareciam bravos. Alguns deles depois disseram, que
estavam prestes a levantarem-se para sair. Mas passei com eles por todos os pontos
de suas orações e confissões, até que o presbítero que era o principal homem entre
eles, e que iniciara a reunião, caindo em lágrimas, exclamou “Irmão Finney, isso tudo é
verdade!” Ele caiu de joelhos e chorou alto. Esse foi o estopim de um colapso geral.
Todos os homens e mulheres ficaram de joelhos. Provavelmente não havia mais do que
doze pessoas presentes, mas eles eram os principais membros da igreja. Todos
choraram e confessaram e quebraram seus corações diante de Deus. Essa cena
continuou, presumo, por uma hora, e raramente testemunhei um choro e confissão tão
fiel.
Logo que se recuperaram, imploraram-me para que eu permanecesse aí e pregasse
para eles no domingo. Considerei isso como a voz do Senhor, e concordei em fazê-lo.
Isso foi na quinta à noite. Na sexta-feira, minha mente estava muito agitada. Eu ia
freqüentemente até a igreja, para orar em secreto, e tive um envolvimento poderoso
com Deus. A notícia foi espalhada, e no domingo, a igreja estava repleta de ouvintes.
Eu preguei o dia inteiro, e Deus desceu com grande poder sobre o povo. Era óbvio a
todos que a obra da graça começara. Marquei de pregar em diferentes partes da
cidade, em escolas, no centro, durante a semana, e a obra crescia dia-a-dia.
Enquanto isso, minha próprima mente estava muito envolvida em oração, e descobri
que o espírito de intercessão estava prevalecendo, especialmente entre as mulheres da
igreja. Descobri que a Sra. B e a Sra. H, esposas de dois dos presbíteros da igreja,
foram quase que imediatamente muito envolvidas em oração. Ambas tinham famílias
com filhos não convertidos, e apresentavam suas orações com tanta sinceridade que,
para mim, acabou por trazer a promessa de que suas famílias converter-se-iam. A Sra.
H, no entanto, era uma mulher de saúde frágil, e não saía há muito tempo, para ir a
qualquer reunião. Mas sendo que o dia estava agradável, ela estava na reunião de
oração que mencionei, e pareceu levar aquela inspiração para casa consigo.
Foi na semana seguinte, creio eu, que fui visitar o Sr. H, e encontrei-o pálido de
agitado. Ele disse para mim “Irmão Finney, acho que minha esposa via morrer. Ela está
com uma mente tão agitada que não consegue descansar dia e noite, mas entregou-se
inteiramente à oração. Ela esteve a manhã inteira em seu quarto, gemendo e pelejando
em oração, e temo que isso superará todas as suas forças.” Ao escutar minha voz na
sala, ela saiu de seu quarto, e em seu rosto havia um brilho quase celestial. Seu
semblante estava iluminado com uma esperança e uma alegria que vinham diretamente
do céu. Ela exclamou “Irmão Finney, o Senhor já chegou! Essa obra há de espalhar-se
por toda essa região! Uma nuvem de misericória está sobre todos nós, e veremos tal
obra de graça como jamais vimos antes.” Seu esposo parecia surpreso, confuso, e não
sabia o que dizer. Isso era novidade para ele, mas não para mim. Eu já havia
testemunhado cenas como essas antes, e acreditava que a oração havia prevalecido,
acreditava não, tinha certeza dentro de minha própria alma.
A obra continuou, espalhou-se, e prevaleceu, até que começou a exibir indicações
inconfundíveis da direção que o Espírito de Deus tomava a partir daquele lugar. A
distância para casa era de aproximadamente quinze quilômetros, acredito. Mais ou
menos no meio do caminho havia uma pequena vila, chamada de Elmer’s Hill. Lá havia
uma escola grande, onde eu dava palestras semanais, e logo tornou-se óbvio que a
obra extendia-se em direção a Roma e Utica. Havia uma aldeia a mais ou menos cinco
quilômetros ao nordeste de Roma, chamada e aldeia Wright’s. Muitas pessoas vinham
de Roma e de Wright’s para participar das reuniões em Elmer’s Hill, e logo a obra
começou a ter efeito sobre eles.
Mas eu devo relatar alguns incidentes que ocorreram no avivamento em D’Oeste. A
Sra. B, a quem já fiz alusão, tinha uma família grande de filhos não convertidos. Um dos
filho era, creio eu, um professor de religião, e vivia em Utica, o resto da família morava
em casa. Eram uma família muito amável, e a filha mais velha, em especial, era
abertamente considerada pela família como quase perfeita. Fui várias vezes conversar
com ela, mas descobri que a família era tão sucetível a seus sentimentos que eu não
poderia jamais dissuadí-la de sua justiça pessoal. Ela fora evidentemente levada a
acreditar que era quase, se não de fato, uma cristã. Sua vida tinha sido tão
irrepreensível, que era muito difícil convencê-la de seus pecados. A segunda filha
também era uma menina muito amável, mas não se considerava digna de ser
comparada à irmã mais velha, no que dizia respeito à doçura e excelência de caráter.
Um dia, quando eu estava conversando com S, a mais velha, e tentava convencê-la a
enxergar-se como uma grnde pecadora, independentemente de sua moral, C, a
segunda filha, disse-me “Sr. Finney, eu acho que o senhor é muito duro com a S. Se o
senhor falasse assim comigo, eu saberia que merecia, mas não acho que ela merece.”
Depois de ter sido derrotado muitas vezes em minhas tentativas de assegurar a
convicção e conversão de S, tomei a decisão de esperar minha hora, e aproveitar uma
oportunidade em que pudesse encontrá-la longe de casa, ou sozinha. Não demorou
muito a essa oportunidade aparecer. Comecei uma conversa com ela, e o conselho de
Deus impediu-a de cobrir seu coração, e veio sobre ela uma poderosa convicção do
pecado. O Espírito a persuadiu com grande poder. A família estava surpresa e muito
confusa com S, mas Deus firmou essa questão em sua mente até que, depois de
alguns dias de peleja, ela foi totalmente quebrantada, e veio para o reino, talvez com a
conversão mais bonita que já vi. Suas convicções eram tão plenas que, quando veio,
era mito forte na fé, entendida em sua apreensão do dever e da verdade, e
imediatamente tornou-se fonte em seu poder para o bem entre seus amigos e
familiares.
Enquanto isso, C, a segunda filha, temeu muito por si mesma, e ansiava demais por
sua própria salvação. A mãe parecia em grande agonia de alma dia e noite. Eu visitava
aquela família quase que diariamente, e às vezes, duas ou três vezes em um mesmo
dia. Os filhos converteram-se um após o outro, e esperávamos todos os dias ver C
converter-se de vez. Mas por alguma razão, ela parecia resistir. Estava claro que o
Espírito era resistido, e em um dia fui visitá-la, encontrei-a sentada sozinha na sala.
Perguntei como ela estava e ela respondeu: “Sr. Finney, estou perdendo minha
convicção. Não estou nem de perto tão preocupada comigo mesma como já estive.”
Nesse exato momento uma porta se abriu e a Sra. B veio para a sala, então disse-lhe o
que C dissera. Isso a chocou tanto que ela gemeu alto, e caiu prostrana no chão. Ela
não conseguia se levantar, e pelejava e gemia suas orações, de um modo que indicou
imediatamente para mim que C deveria se converter. Ela não conseguia dizer muitas
palavras, mas seus gemidos e lágrimas davam o testemunho de sua extrema agonia
mental. Logo que essa cena ocorreu, o Espírito de Deus veio manifestadamente sobre
C. ela caiu de joelhos e tornou-se aos olhos de todos, uma convertida tão plena quando
S. Os filhos da família B converteram-se todos naquela época, acredito eu, exceto pelo
mais jovem, que era então uma criança. Um dos filhos tem pregado o Evangélho por
muitos anos.
Entre outros incidentes, lembro-me do caso de uma jovem, de uma parte distante da
cidade, que vinha para a reunião no centro da cidade quase que todos os dias. Eu
conversara com ela várias vezes, e a encontrei profundamente convencida, quase em
desespero. Eu esperava todos os dias escutar que ela se convertera, mas ela
estacionou, e ao invés disso, seu desespero aumentava. Isso levou-me a suspeitar que
havia algo de errado em sua casa. Pergutei a ela se seus pais eram cristãos. Ela disse
que eles eram membros da igreja. Perguntei se eles participavam das reuniões. Ela
disse “Sim, aos domingos” “Seus pais não participam de nenhuma outra reunião?”
“Não.” foi a resposta. “Vocês oram em família em casa?” “Não senhor. Costumávamos
fazer isso, mas já não oramos em família há um bom tempo.” Isso revelou-me a pedra
de tropeço de uma vez só. Perguntei quando que poderia encontrar seus pais em casa.
Ela disse “praticamente a qualquer hora”, pois eles raramente saíam de casa. Sentindo
que era muito perigoso deixar esse caso como estava, fui visitar essa família no dia
seguinte.
Essa moça era, creio eu, filha única, e sempre fora a única criança em casa. Encontrei-
a prostrada, afundada em desespero. Eu disse para sua mãe “O Espírito do Senhor
está lutando com sua filha.” Ela disse “Sim, não sei porquê, mas Ele está.” Perguntei se
ela estava orando pela moça. Ela respondeu-me de forma a fazer-me entender que não
sabia o que era orar por ela. Perguntei por seu marido. Ela disse que ele estava no
campo, trabalhando. Pedi para chamá-lo. Ele veio, e conforme entrava eu disse “O
senhor vê o estado em que se encontra sua filha?” Ele respondeu que pensava que ela
estivesse passando mal. “O senhor tem se empenhado em orar por ela?” Sua resposta
revelou que se ele em algum momento já fora convencido, era um apóstata miserável, e
não tinha nenhum compromisso com Deus. E falei “E vocês nunca oram em família.”
“Não, senhor.” Então eu disse “Agora, tenho visto sua filha, dia após dia, curvando-se
em convicção, e descobri que o problema está aqui em casa. Vocês bloquearam o reino
dos céus sobre sua filha. Vocês não entram, nem permitem-na a entrar. Sua falta de fé
e mente fechada impossibilitam a conversão de sua filha, e vocês arruinarão sua alma.
Agora vocês precisam se arrepender. Não pretendo sair dessa casa enquanto o senhor
e sua esposa não se arrependerem, e sairem do caminho de sua filha. Devem
estabelecer orações familiares, e reconstruir o altar que foi destruido. Agora, meu
prezado senhor, poderia ajoelhar-se aqui, juntamente com sua esposa, e começar a
orar? E prometem, que a partir desse momento, cumprirão seu dever, reconstruirão o
altar familiar, e retornarão para Deus?”
Fui tão honesto com eles, que ambos começaram a chorar. Minha fé era tão forte, que
não titubiei quando disse-lhes que não sairia daquela casa, até que eles se
arrependessem e erguessem seu altar familiar. Senti que a obra deveria ser feita, e
deveria ser naquela hora. Coloquei-me de joelhos e comecei a orar, e eles se
ajoelharam e choravam penosamente. Confessei-me a eles, da melhor maneira que
pude, e tentei levá-los a Deus, e pelejar com Deus em sua defesa. Era uma cena
comovente. Ambos quebrantaram seus corações e confessaram seus pecados. Ela se
levantou regozijando-se em Cristo. Muitas respostas a orações, e muitas cenas de
grande interesse foram apresentadas nesse avivamento.
Houve uma situação de minha própria experiência que, para a honra de Deus, não
posso omitir ao relatar essa conexão. Eu vinha pregando e orando quase sem parar
durante o tempo em que estive com o Sr. Gale. Sendo que eu estava acostumado a
usar minha voz em minhas orações particulares, por conveniência, para que seu não
fosse ouvido por outros, eu tinha esticado uma manta de pele de búfalo no celeiro, onde
costumava passar uma grande parte de meu tempo, quando não estava fazendo visitas
ou pregando, orando em secreto a Deus. O Sr. Gale admoestara-me várias vezes que
se eu não tomasse cuidado, iria além de meus limites e entraria em colapso. Mas o
Espírito de oração estava sobre mim, eu não podia resistir a Ele, mas sim deixá-lo agir,
liberando livremente minhas forças no derramar de minha alma para Deus. Era
novembro, e o clima começava a ficar frio. O Sr. Gale e eu estávamos com sua carroça,
visitando aqueles que tínham dúvidas, para conversar. Nós viemos para casa e fomos
para o estábulo, para soltar o cavalo. Em vez de entrar para casa, eu fui para o celeiro
para derramar minha pesada canção a Deus em oração. Orei até aquele fardo me
deixar. Eu estava tão exausto que caí, e quase me perdi no sono. Devo ter adormecido
quase que instantaneamente, acredito, por não me lembrar de ter se passado nenhum
tempo, depois que a luta dentro de minha alma terminou. A primeira coisa que me
lembro depois disso é do Sr. Gale subindo para o celeiro e perguntando “Irmão Finney,
está morto?” Eu acordei e a princípio não pude explicar por quê estava lá dormindo, e
não podia ter idéia de há quanto tempo estava lá. Mas eu sabia de uma coisa, que
minha mente estava calma e minha fé inabalável. A obra continuaria, disso eu tinha
certeza.
Eu já mencionei que fui ordenado ao ministério por um presbitério. Isso foi anos antes
da divisão da igreja Presbiteriana no que ficou conhecido como igrejas Tradicionais e
Renovadas. A tão conhecida doutrina da habilidade e inabilidade moral e natural, era
defendida pela igreja Presbiteriana, de forma quase universal, na região onde comecei
meu ministério. Devo também repetir aqui que o Sr. Gale que, por ordem do presbitério,
supervisionou parte de meus estudos teológicos, defendia firmemente a doutrina da
impossibilidade de um pecador obedecer a Deus, e o assunto tal como ele apresentava
em suas pregações, como era o caso de muitos pastores Presbiterianos daquela
época, dava a impressão às pessoas de que elas deveriam esperar o tempo de Deus.
Se fossem eleitos, no tempo devido o Espírito convertê-los-ia, se não fossem eleitos,
nada que pudessem fazer por si mesmos, ou que qualquer um pudesse fazer por eles,
jamais lhes traria o benefício da salvação.
Eles defendiam a doutrina que a depravação moral era constitucional, e fazia parte da
própria natureza, que a vontade, apesar de livre para fazer o mal, era totalmente
incapaz de fazer qualquer bem, que o trabalho do Espírito Santo na mudança dos
corações era uma operação física na substância ou essência da alma, que o pecador
era passivo na regeneração, até que o Espírito Santo implantasse um novo princípio em
sua natureza, e que todos os esforços de sua parte eram completamente inúteis, e que
falando francamente, não havia meios de regeneração, sendo que isso era uma
recriação física da alma por meio de ação direta do Espírito Santo; que a redenção era
limitada aos eleitos, e que para aqueles que não foram eleitos a serem salvos, a
impossibilidade era absoluta.
Em meus estudos e controvérsias com Sr. Gale, eu defendia o oposto disso. Acreditava
que a depravação moral é, e deve ser, uma atitude voluntária da mente, e consiste,
deve consistir, no comprometimento da vontade em cumprir os desejos, ou como a
bíblia coloca, os prazeres da carne, em oposto ao que a lei de Deus exige. De acordo
com isso, eu defendia que a influência do Espírito de Deus sobre a alma é moral, que é
persuasiva; que Cristo apresentava-se como Mestre; que seu trabalho era convencer e
converter o pecador, por meio dos ensinamentos divinos e da persuasão divina.
Também defendia que existem meios de regeneração, e que as verdades da bíblia são,
em sua natureza, desenhadas para levar o pecador a abandonar sua impiedade e
voltar-se para Deus. Também sempre falei que os meios devem ser adaptados, para
assegurar o fim, ou seja, que a inteligência deve ser iluminada, e que falta de razão da
depravação moral deve ser colocada diante pecador, sua impiedade e mérito de
punição claramente reveladas a ele; que depois que isso fosse feito, a missão de Cristo
poderia ser apresentada com força, e seria entendida por ele; que seguir esse caminho
com o pecador tinha a tendência de convertê-lo a Cristo; que quando isso era feito com
muita fé e poder, tínhamos o direito de esperar que o Espírito Santo cooperasse
conosco, dando efeito a nosso pequeno e frágil esforço.
Além disso, sempre defendi que o Espírito Santo opera no pregador, revelando
claramente essas verdades na ordem apropriada a ele, capacitando-o a colocá-las
diante do povo, numa proporção tal e numa ordem tal que fora desenhada para
convertê-los. Eu compreendia na época, e compreendo até hoje, que a função e
promessa que Cristo dera aos apóstolos e à igreja, aplica-se no dia de hoje: “Portanto,
ide, ensinai todas as nações, batizando-as em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito
Santo; ensinando-as a guardar todas as coisas que eu vos tenho mandado; e eis que
eu estou convosco todos os dias, até à consumação dos séculos.”
Isso eu considerava como tarefa designada a mim, a todos os ministros, e para a igreja;
com a promessa clara de que quando formos adiante com essa obra, com uma só
visão, com um coração cheio de clamor, Cristo estará conosco através do Espírito
Santo, fazendo com que nossa obra para salvar almas funcione. Desde aquela época,
parece-me que a grande falha do ministério e da igreja na divulgação da religião,
consiste em grande parte, na necessidade de adaptações cabíveis dos meios para
aquele fim. Escutei a pregação do Sr. Gale por anos, e jamais pude ver qualquer
adaptação em sua pregação para converter ninguém. Eu não achava que isso era seu
objetivo. Vi que isso era verdade em todos os sermões que já ouvira em qualquer lugar.
Eu havia conversado sobre isso com o Sr. Gale em uma certa ocasião, e disse a ele
que, de todas as causas jamais pleiteadas, a causa da religião era a que, em minha
opinião, tinha o menor número advogados capazes; e que se os advogados seguissem
o mesmo caminho na defesa da causa de seus cliente na corte, que pastores seguiam
ao pleitear a causa de Cristo com os pecadores, jamais ganhariam nenhum caso.
Mas naquela época, o Sr. Gale não conseguia enxergar isso; pois afinal que conexão
podia haver entre meios e fins, mediante sua idéia do que era a regeneração, e a
maneira na qual o Espírito Santo mudava o coração?
Como uma ilustração, logo depois que eu comecei a pregar, no meio de um avivamento
poderoso, um jovem aluno de um seminário teológico em Priceton, chegou ao lugar. O
antigo pastor da igreja, um senhor de idade, vivia lá, e tinha uma grande curiosidade em
ouvir este jovem pregar. A igreja não tinha um pastor no momento, portanto eu tinha
total responsabilidade pelo púlpito, e conduzia as coisas de acordo com minha própria
discrição. Ele disse que conhecera o jovem antes que fosse para a faculdade, e
desejava muito ver o progresso que ele fizera, e pediu-me para que deixasse-o pregar.
Eu disse que temia deixá-lo pregar, a fim de que ele não prejudicasse a obra, não
pregando o que era necessário no momento. O senhor disse “Ah, ele pregará a
verdade; e não há ligação alguma na religião, o senhor sabe, entre meios e fins, e
portanto não há perigo que ele prejudique a obra.” Eu respondi “Essa não é minha
doutrina. Creio que há tanta ligação entre meios e fins na religião quanto há na
natureza; e portanto não posso permitir que ele pregue.”
Muitas vezes vi que era necessário que eu seguisse esse mesmo caminho em
avivamentos religiosos; e algumas vezes ao fazer isso, descobri que fora ofensivo, mas
não ousava fazer de outro jeito. No meio de um avivamento, e quando as almas
precisam de ensinamentos peculiares, adaptados a suas condições e necessidades
presentes, eu não ousava colocar um estranho no púlpito, se a responsabilidade fosse
minha, para pregar qualquer um de seus grandes sermões, que também eram via de
regra, sermões nem um pouco adaptados às necessidades do povo. E confesso que eu
acreditava que podia suprir as necessiades das pessoas, mais do que aqueles que
sabiam menos sobre elas, ou do que aqueles que pregariam seus velhos sermões já
escritos; e eu acreditava que Cristo colocara a obra em minhas mãos de uma maneira
tal, que eu era obrigado a adaptar os meios para os fins, e não chamar outros que
sabiam pouca coisa sobre a situação, para tentar instruir o povo. Agi nesses casos
exatamente como agiria comigo mesmo. Eu não me permitiria entrar, onde outro
homem estivesse trabalhando para promover um avivamento, e oferecer-me para ser
colocado em seu lugar, quando sabia pouco ou não sabia nada sobre a situação
daquele povo.
Falei que em D’Oeste eu era um hóspede do Sr. Gale, e que ele chegara a conclusão
de que jamais fora convertido. Ele me contou o progresso de sua mente; que ele
acreditava firmemente, como tantas vezes insistiu comigo, que Deus não abençoaria
minhas obras, porque eu não pregava o que ele consideravacomo as verdades do
Evangélho. Mas quando ele descobriu que o Espírito de Deus de fato acompanhava
meus trabalhos, chegou à conclusão de que estivera errado; e isso o levou a rever
todas as suas opiniões e idéias, sua mente como um pregador, o que resultou na
conclusão de que jamais fora convertido, e não entendia o Evangélho. Durante o
aviamento em D’Oeste, ele participou de praticamente todas as reuniões, e em algumas
semanas, disse-me que tivera sua mente totalmente transformada no que se tratava de
sua alma, e que mudara suas visões do Evangélho, acreditando que eu estava certo.
Ele disse que agradecia a Deus por não ter conseguido influenciar-me, levar-me a
adotar seus pontos de vista; que eu teria sido arruinado como pastor se ele tivesse
prevalecido. Desde então, tornou-se um obreiro muito eficiente, até onde sua saúde o
permitia, no avivamento naquela região do país.
A doutrina na qual eu insistia, que o mandamento de obedecer implicava na capacidade
de assim o fazer, gerava a princípio, uma oposição considerável em alguns lugares.
Negando também, como eu fazia, que a depravação moral é física, ou a depravaçào da
natureza, e defendendo, como também fazia, que tudo é voluntário, e que portanto a
influência do Espírito é a de ensinar, persuadir, convencer e, é claro, uma influência
moral, muitos consideravam que eu ensinava novas e estranhas doutrinas. De fato, já
em 1982, quando eu trabalhava em Boston pela primeira vez, o Dr. Beecher disse que
jamais tinha escutado aquela doutrina antes, que a influência do Espírito é moral, e não
física. Portanto, um número considerável de pastores e cristãos consideravam essa
doutrina como uma negação virtual da ação do Espírito na convicção e regeneração,
em qualquer exercício cristão; ainda assim, passou-se um longo tempo até que não
mais se ouvia dizer que eu negava o agir do Espírito Santo na regeneração e
conversão. Dizia-se que eu ensinava auto-conversão, auto-regeneração; e não raro fui
repreendido por dirigir-me ao pecador, e não ao pecado, como se a culpa por sua
impenitência pertencesse toda a ele, e por insistir que ele se submetesse
imediatamente. Contudo, persisti nesse caminho, e ministros e cristãos viram que Deus
tinha nele Suas verdade, e o abençoou para a salvação de milhares de almas.
Falei sobre as reuniões em Elmer’s Hill, e disse que as pessoas de Roma e da aldeia
Wright começaram a vir em peso; e que o efeito manifesto da Palavra sobre os que
vinham, indicava claramente que a obra extendia-se naquela direção.
A VERDADE DO EVANGÉLHO
AS MEMÓRIAS DE CHARLES G. FINNEY
CAPÍTULO XIII.
O AVIVAMENTO EM ROMA
NESSA época, o Rev. Moses Gillet, pastor da Igreja Congregacional em Roma, tendo
ouvido sobre o que o Senhor estava operando em D’Oeste, foi até, na companhia de
uma Srta. H, uma das integrantes mais proeminentes de sua igreja, para ver o que
estava acontecendo. Ambos ficaram muito impressionados com a obra de Deus. Eu
podia ver que o Espírito de Deus estava tocando nas mais profundas fundações de
suas mentes. Depois de poucos dias, o Sr. Gillett e a Srta. H apareceram novamente. A
Srta. H era uma moça cristã muito devota e sincera. Em sua segunda visita, o Sr. Gillett
me disse “Irmão Finney, parece-me que eu tenho uma bíblia nova. Nunca entendi as
promessas como entendo agora, nunca havia tomado posse delas; não consigo parar,
minha mente está transbordando do assunto, e as promessas são novas para mim.”
Essa conversa, prolongada como foi por algum tempo, deu-me a entender que o
Senhor o estava preparando para uma grande obra em sua própria congregação.
Logo após isso, quando o avivamento estava com força total em D’Oeste, o Sr. Gillett
me convenceu em trocar um dia com ele. Concordei relutantemente.
O sábado anterior ao dia de nossa troca, quando eu estava a caminho de Roma, fiquei
muito arrependido de ter concordado em fazer aquilo. Senti que isso prejudicaria muito
a obra em D’Oeste, pois o Sr. Gillett pregaria um de seus velhos sermões, que eu sabia
muito bem que não podiam ser adaptados à situação. Contudo, as pessoas estavam
orando, e isso não pararia a obra, mesmo que pudesse atrasá-la. Fui para Roma e
preguei três vezes naquele domingo. Para mim, estava muito claro que a Palavra tivera
grande efeito. Pude ver durante o dia que muitas cabeças estavam baixas, e que um
grande número delas curvava-se em profunda convicção de pecado. De manhã,
preguei sobre a passagem: “Porquanto a inclinação da carne é inimizade contra Deus;”
e prossegui com algo nessa mesma direção à tarde e à noite. Esperei na segunda de
manhã até que o Sr. Gillett retornasse de D’Oeste. Disse-lhe qual era minha impressão
em relação ao povo. Ele parecia não compreender que a obra estava começando com
tanto poder quanto eu supunha. Mas ele queria falar a quem tivesse dúvidas, se
houvesse alguém na igreja que as tivesse, e pediu-me para estar presente na reunião.
Eu já disse antes que os meios que eu sempre usei para promover os avivamento, até
então, eram muita oração, em particular e em público, pregações públicas, conversas
pessoais e visitas de casa em casa; e quando ad dúvidas multiplicavam-se no meio do
povo, eu marcava reuniões para instruí-los, de acordo com suas necessidades. Esses
eram os meios e os únicos meios que até então eu havia usado, na tentativa de
assegurar a conversão das almas.
O Sr. Gillett pediu para que eu estivesse presente nessa reunião de perguntas e
resposatas. Eu disse que estaria, e que ele podia passar a informação para o vilarejo
que haveria uma reunião, na segunda à noite. Eu iria até D’Oete e voltaria em tempo,
mas ficou entendido que ele não deveria deixar que as pessoas soubessem que ele
espera que eu estivesse presente. A reunião foi marcada na casa de um de seus
diáconos. Quando chegamos, encontramos uma grande sala de estar lotada ao
máximo. O Sr. Gillett olhou em volta surpreso e claramente agitado, pois viu que muitos
dos mais inteligentes e influentes membros da congregação estavam presentes na
reunião, e em especial, também compareceram muitos dos rapazes mais proeminentes
da cidade. Passamos algum tempo tentando conversar com eles, e eu logo vi que o
sentimento era tão profundo, que uma explosão incontrolável de sentimentos podia
ocorrer a qualquer momento. Então eu disse ao Sr. Gillett “Continuar a reunião dessa
forma não será bom. Eu farei alguns comentários, que precisam ouvir, e então
dispensamo-los.”
Nada tinha sido dito ou feito para gerar qualquer agitação na reunião. O sentimento era
totalmente espontâneo. A obra estava com tanto poder, que até mesmo a troca de
poucas palavras fazia com que os homens mais robustos contorcerem-se em seus
lugares, como se uma espada fosse enfiada em seus corações. Provavelmente não
seria possível para alguém que nunca testemunhou uma cena como essas,
compreender o que é a força da verdade de vez em quando, sob o poder do Espírito
Santo. Era de fato uma espada, e uma espada de dois gumes. A dor que produzia
quando apresentada de forma penetrante em algumas palavras, gerava uma
perturbação que parecia insuportável.
O Sr. Gillett ficou muito conturbado. Ficou pálido, e com grande agitação disse “O que
faremos? O que faremos?” Coloquei minha mão em seu ombro, e sussurando disse-lhe
“Acalme-se, acalme-se Irmão Gillett.” Então falei a todos da forma mais gentil e direta
que pude; chamando sua atenção de uma vez para sua única solução, e assegurando-
lhes que isso seria um socorro presente e suficiente. Mostrei-lhes Cristo, como
Salvador do mundo, e segui nessa linha durante todo o tempo que puderam aguentar, o
que na verdade, não passou de alguns momentos.
O Sr. Gillett ficou tão agitado que fui até ele, e pegando-o pelo braço, disse “Oremos.”
Ajoelhamo-nos no meio da sala onde estávamos de pé. Liderei a oração com uma voz
baixa e inalterada, mas intercedi com o Salvador para que derramasse Seu sangue,
naquela hora e momento, e levasse todos aqueles pecadores a aceitarem a salvação
que Ele oferecia, e a acreditarem na salvação de suas almas. A agitação era mais
profunda a cada momento, e como eu podia escutar os soluços e suspiros, encerrei
minha oração e levantei-me de repente. Todos se levantaram e eu disse “Agora por
favor, vão para casa sem trocarem nenhuma palavra entre si. Tentem ficar em silêncio
e não caírem em nenhuma manifestação impetuosa de sentimentos, mas sigam para
seus quartos sem dizer palavra alguma.”
Nesse momento, um jovem de nome W, balconista na loja do Sr. H, sendo um dos
primeiros rapazes no lugar, quase desmaiou, caindo sobre alguns dos jovens que
estavam próximos a ele, e todos quase desfaleceram, e caíram juntos. Isso quase
produziu um grito, mas silenciei-os e disse-lhes “Por favor, abram bem a porta e saiam,
e que todos se retirem em silêncio.” Eles assim o fizeram. Não gritaram, mas saíram
soluçando e suspirando, e seus soluços e suspiros podiam ser ouvidos até chegarem
na rua.
Ess Sr. W, a quem fiz alusão, ficou em silêncio até entrar pela porta de onde morava,
mas então não conseguiu mais se conter. Ele fechou a porta, caiu no chão, e entregou-
se a uma agonizante lamentação, em vista de sua terrível condição: isso fez com que
sua família chegasse ao seu redor, e trouxe convicção a todos eles.
Mais tarde vim a saber que cenas similares ocorreram em outras famílias. Muitos, como
mais tarde averiguou-se, converteram-se naquela reuião, e foram para casa cheios de
alegria, mal conseguindo se conter.
Na manhã seguinte, logo que o dia raiou, as pessoas começaram a vir até a casa do Sr.
Gillett, para que fossemos visitar os membros de suas famílias, que elas diziam estar
sob grande convicção. Tomamos um rápido café da manhã e saímos. Logo que
colocamos chegamos na rua, as pessoas vinham correndo de suas casas, implorando
para que entrássemos em seus lares. Sendo que só conseguiamos visitar um lugar por
vez, quando entrávamos em uma casa, os vizinhos vinham correndo e lotavam a sala
maior. Ficávamos e instruíamos o povo por um curto tempo, então íamos para outra
casa, e as pessoas nos seguiam.
Encontramos uma situação totalmente extraordinária. As convicções eram tão
profundas e abrangentes, que por vezes entrávamos em uma casa e encontrávamos
alguns ajoelhados, e outros prostrados no chão. Visitamos, conversamos e oramos
dessa maneira, de lar em lar, até meio-dia. Então disse ao Sr. Gillett “Isso não vai
adiantar, devemos fazer uma reunião. Não podemos ir de casa em casa, e não estamos
suprindo em nada as necessidades do povo.” Ele concordou comigo, mas uma questão
surgiu: onde realizaríamos a reunião?
Sr. F, um homem religioso, tinha um hotel na época, na esquina, no centro da cidade.
Ele tinha um grande restaurante, e o Sr. Gillet disse “Vou entrar e ver se posso marcar
a reunião nesse local.” Sem qualquer dificuldade, ele teve o consentimento, e então foi
imediatamente até as escolas públicas para informar que à uma hora havieria uma
reunião para dúvidas no restaurante do hotel do Sr. F. Fomos para casa, jantamos, e
fomos para a reunião. Víamos as pessoas se apressando, algumas até mesmo
correndo para a reunião. Vinham de todas as direções. Na hora em que chegamos lá, o
salão estava lodato ao máximo de sua capacidade. Homens, mulheres e crianças
enchiam o cômodo.
Essa reunião foi muito parecida com a que tivemos na noite anterior. O sentimento era
envolvente. Alguns dos mais sérios homens ficaram tão tocados pelos comentários
feitos, que eram incapazes dede conter, e precisaram ser levados para casa por seus
amigos. Essa reunião durou até quase a noite. Resultou em um grande número de
conversões, e foi o meio pelo qual a obra extendeu-se grandemente em todas as
direções.
Eu preguei naquela noite, e o Sr. Gillett marcou outra reunião para a manhã seguinte,
no tribunal. Esse era um local muito maior do que o restaurante, apesar de não ser tão
no centro da cidade. Contudo, no horário marcado, o tribunal estava lotado; e
passamos boa parte do dia instruindo, e a obra continuou com poder maravilhoso.
Preguei novamente naquela noite, e o Sr. Gillett marcou uma reunião para a manhã
seguinte, na igreja, pois nenhum outro lugar no vilarejo era grande o suficiente para
comportar todos aqueles que tinham dúvidas.
No final da tarde, se recordo corretamente a ordem das coisas, realizamos uma reunião
de conferência e oração em uma grande escola. Mas a reunião mal acabara de
começar quando a agitação tornou-se tão profunda que, para evitar uma explosão
indesejável de sentimentos esmagadores, propus ao Sr. Gillett que dispensássemos o
povo, pedindo que se retirassem em silêncio, e que os cristãos passassem a noite
orando em secreto ou em família, como desejássem. Aos pecadores, exortamos que
não dormissem até que entregassem seus corações a Deus. Depois disso a obra
tornou-se tão abrangente que preguei todas as noites por, acredito, vinte noites
consecutivas, e duas vezes no domingo. Nossas reuniões de oração durante esse
tempo eram realizadas na igreja, durante o dia. A reunião de oração era realizada em
uma parte do dia e a reunião para perguntas e respostas na outra parte. Todos os dias,
se me lembro direito, depois de a obra ter começado assim, tínhamos uma reunião de
oração, uma de perguntas e respostas e pregação à noite. Havia uma soleninade no
lugar inteiro, e uma reverência que fazia com que todos sentissem que Deus estava ali.
Pastores vieram de cidades vizinhas, e expressavam grande espanto com o que viram
e ouviram, da melhor maneira que podiam. Conversões multiplicaram-se tão
rapidamente, que não tinhamos como saber quem estava se convertendo.
Portanto, ao encerrar meu sermão, eu pedia a todos que haviam se convertido naquele
dia, para irem à frente e se apresentarem diante do púlpito, para que tivessemos uma
breve conversa com eles. Surpreendiamo-nos todas as noites pelo número e classes
sociais das pessoas que vinham à frente.
Em uma de nossas reuniões matutinas de oração, a parte de baixo da igreja estava
cheia. Levantei-me e estava tecendo alguns comentários para o povo, quando um
homem não convertido, um mercante, entrou na reunião. Veio andando até que
encontrou um assento em frente a mim, perto de onde eu estava de pé, falando. Ele
estava sentado há poucos minutos quando caiu de seu lugar como se levara um tiro.
Contorcia-se e gemia de maneira terrível. Fui até proximo ao banco onde ele estava, e
vi que era uma mente em grande agonia.
Um sético médico estava sentado perto dele. Ele saiu de sua fileira, veio e examinou
esse homem que estava tão conturbado. Ele sentiu seu pulso, e examinou o caso por
alguns instantes. Não disse nada, mas afastou-se, e apoiou sua cabeça em um pilar
que sustentava a galeria, demonstrando grande agitação.
Ele disse mais tarde que logo viu que aquilo era uma perturbação mental, e isso levou
todo seu seticismo embora. Pouco tempo depois, converteu-se. Começamos a orar por
aquele homem que caíra do banco, e antes que ele fosse embora, creio eu, sua
angústia havia passado, e ele rejubilava em Cristo.
Outro médico, um homem muito amável mas sético, tinha uma filhinha e uma esposa
que era uma mulher de oração. A pequena H, uma menina de oito, talvez nove anos de
idade, estava fortemente convicta do pecado, e sua mãe estava muito interessada no
estado de sua mente. Mas seu pai era, a princípio, bastante indignado. Ele disse a sua
esposa “O assunto da religião é intenso demais para mim. Eu nunca conseguiria
entender. E você me diz que uma criança entende isso tão bem a ponto de estar
racionalmente convicta do pecado? Eu não acredito. Tenho juízo. Não posso agüentar
isso. Isso é fanatismo, é loucura.” Ainda assim, a mãe da menina continuava firme em
oração. O doutor fez esses comentário, como depois vim a saber, com bondade de
espírito. Imediatamente ele tomou seu cavalo e percorreu vários quilômetros para ver
um paciente. Durante o caminho, ele depois comentou, que o assunto apoderou-se de
sua mente de forma tal, que tudo foi aberto ao seu entendimento, e todo o plano de
salvação de Cristo era tão claro que ele viu que até uma criança podia entender.
Perguntava-se a sim mesmo porque antes parecia-lhe tão misterioso. Arrependeu-se
muito de ter dito o que disse a sua esposa sobre a pequena H, e teve pressa em chegar
em casa para que pudesse voltar atrás. Ele logo voltou para casa, um outro homem, e
contou a sua mulher o que se passara em sua mente. Encorajou a querida pequena H a
vir para Cristo, e ambos, pai e filha, têm sido sinceros cristãos desde então, e têm
vivido muito, fazendo em muito o bem.
Mas nesse avivamento, como nos outros que já vi, Deus fez algumas coisas terríveis
pela justiça. Certo domingo quando eu estava lá, conforme descíamos do púlpito e
estavamos a sair da igreja, um homem veio correndo até o Sr. Gillett e eu, pedindo-nos
que fossemos a um certo lugar, dizendo que um homem havia caído morto lá. Eu
estava no meio de uma conversa, então o Sr. Gillett foi sozinho. Quando terminei a
conversa, fui até a casa do Sr. Gillett, e ele logo voltou e relatou esse fato. Três homens
que se opunham ao mover, haviam-se encontrado naquele domingo, e passaram o dia
bebendo e ridicularizando a obra. Continuaram dessa forma até que um deles de
repente caiu morto. Quando o Sr. Gillett chegou à casa e as circunstâncias foram
relatadas a ele, disse-lhes “Não há... não há dúvidas que esse homem foi ceifado por
Deus, e foi enviado para o inferno.” Seus companheiros estavam sem palavras. Não
podiam dizer nada, pois era evidente a eles que sua conduta trouxera sobre ele um
terrível golpe da indignação divina.
A obra continuava, e atingiu quase toda a população. Quase todos os advogados,
mercantes, médicos e quase todos os principais homens, na verdade, quase toda a
população adulta da cidade foi atingida, em especial queles que pertenciam à
congregação do Sr. Gillett. Ele me disse antes que eu viesse embora “No que diz
respeito à minha congregação, já estamos no novo milênio. Todo meu povo converteu-
se. De todos os meus trabalhos passados não tenho nenhum sermão que sirva a toda
minha igreja, pois são todos cristãos.” Mais tarde o Sr. Gillett reportou que, durante os
vinte dias que estive em Roma, aconteceram quinhentas conversões naquela cidade.
Durante o desenrolar desse trabalho, muita empolgação espalhou-se em Utica, e
algumas pessoas lá, dispuseram-se a ridicularizar a obra em Roma. O Sr. E, que vivia
em Roma, era um cidadão muito proeminente, e era considerado como parte da alta
sociedade lá, por sua riqueza e inteliência. Mas era um sético, ou talvez eu devesse
dizer que ele defendia as idéias do Unitarismo. Ele era um homem de moral e respeito,
e defendia suas idéias peculiares de forma discreta, dizendo muito pouco sobre elas a
qualquer um. No primeiro domingo em que preguei lá, o Sr. H estava presente, e estava
tão pasmo com minha pregação, como contou-me depois, que decidira-se a nunca mais
comparecer. Ele foi para casa e disse para sua família: “Esse homem é louco, e não me
supreenderia se ateasse fogo na cidade.” Ele ficou longe das reuniões por umas duas
semanas. Enquanto isso a obra tornou-se tão grande a ponto de confundir seu
seticismo, e deixálo profundamente perplexo.
Ele era presidente de um banco em Utica, e costumava ir até lá para participar da
reunião mensal dos diretores. Em uma dessas ocasiões, um dos diretores começou a
zombar dele em função da situação de Roma, como se todos tivessem enlouquecido
naquela cidade. O Sr. H comentou “Cavalheiros, digam o que quiserem, há algo muito
extraordinário na situação em Roma. Certamente nenhum poder humano ou eloqüência
produziu o que vemos ali. Eu não compreendo. Os senhores dizem que isso logo
passará. Sem dúvidas a intensidade dos sentimentos que está agora em Roma passará
em breve, ou o povo enlouquecerá. Mas, senhores, não há explicação para tais
circunstâncias e sentimentos em qualquer filosofia, a menos que nela haja algo de
divino.”
Depois de o Sr. H estar afastado das reuniões por mais ou menos duas semanas,
alguns de nós reunimo-nos certa tarde, para orar especialmente por ele. O Senhor nos
deu uma fé muito forte para orar por ele, e tivemos a convicção de que o Senhor estava
trabalhando em sua alma. Naquela noite ele veio para a reunião. Quando ele entrou na
casa, o Sr. Gillett sussurou para mim desde o púlpito “Imão Finney, o Sr. H veio. Espero
que o senhor não diga nada que possa ofendê-lo.” “Não,” eu disse “mas não vou
poupá-lo.” Naqueles dias fui obrigado a pregar sem premeditação alguma, pois não
havia tido uma hora sequer em uma semana, para organizar meus pensamentos de
antemão.
Escolhi meu tema e preguei. A Palavra tomou conta de forma poderosa, e conforme eu
esperava e pretendia, tomou conta do próprio Sr. H. Creio que foi naquela noite mesmo,
quando pedi, ao encerrar o sermão, que todos os que haviam se convertido naquele dia
fossem à frente para se apresentarem, o Sr. H foi um que veio deliberadamente, com
solenidade à frente, declarando ter dado seu coração a Deus. Veio penitente e
humildemente, e sempre achei que ali, realmente converteu-se a Cristo.
A situação naquela cidade e na circunvizinhança era tal, que ninguém podia entrar no
vilarejo sem se sentir atingido por reverência, com a impressão de que Deus estava ali,
de uma maneira maravilhosa e peculiar. Como ilustração a isso, relatarei um incidente.
O xerife do condado morava em Utica. Haviam dois tribunais naquela condado, um em
Roma, e o outro em Utica, conseqüentemente o xerife, de nome B, tinha muitos
negócios em Roma. Mais tarde ele me contou que escutara sobre a situação em Roma,
e que ele, junto com outros, riram muito do que ouviram, no hotel onde ele ficava.
Mas um dia, foi necessário que ele fosse até Roma. Ele disse que ficara feliz por ter
negócios a resolver por lá, pois queria ver com seus próprios olhos sobre o quê as
pessoas tanto falavam, e qual era a real situação em Roma. Ele ia em sua carroça,
como disse-me, sem nenhuma impressão em particular em sua mente, até que
atravessou o que era chamado de ‘o velho canal’, um lugar a mais ou menos um
quilômetro e meio, eu acho, da cidade. Ele disse que assim que cruzou o velho canal,
um sentimento estranho veio sobre ele, uma reverência tão profunda que ele não podia
ingnorar. Ele sentia como se Deus impregnasse toda a atmosfera. Disse que isso
aumentou por todo o caminho, até chegar no vilarejo. Ele parou no hotel do Sr. F, e o
cavalariço saiu e levou seu cavalo. Ele observou, disse-me, que o cavalariço parecia
sentir-se da mesma maneira que ele, como se estivesse com medo de falar. Ele entrou
na casa e lá encontrou os cavalheiros com quem tinha negócios a tratar. Ele disse que
todos estavam tão claramente impressionados, que mal conseguiam prestar atenção
aos negócios. Ele disse que várias vezes durante o curto período que esteve lá, tinha
que levantar-se da mesa abruptamente e ir até a janela, tentando distrair sua atenção,
para evitar o choro. Disse que observou que todos parciam sentir-se como ele. Tal
reverência, tal solenidade, tal situação, como jamais concebera antes. Apressou-se em
resolver seus negócios, e retornou a Utica, mas como ele mesmo disse, nunca mais
zombou da obra em Roma novamente. Poucas semanas depois, em Utica, ele se
converteu, sob circunstâncias que relatarei no momento oportuno.
Já mencionei a aldeia Wright, um vilarejo a três ou quatro quilômetros ao nordeste de
Roma. O avivamento teve um efeito poderoso ali, e converteu a grande massa dos
habitantes.
Os métodos utilizados em Roma foram os mesmos que eu já utilizara antes, e nenhum
outro: pregações, orações públicas, socias e particulares, exortações e conversas
pessoais. É difícil conceber um estado tão abrangente e profundo de sentimento
religioso, sem qualquer exemplo de desordem, ou tumulto, ou fanatismo, ou qualquer
coisa que fosse repreensível, como aconteceu em Roma. Há muitos dos convertidos
daquele avivamento, espalhados pelo país, vivos hoje em dia; e eles podem testificar
que naquelas reuniões, a mais pura solenidade e ordem prevalecia, e eram tomadas
todas as dores contra tudo aquilo que fosse lamentável.
A obra do Espírito era tão espontânea, tão poderosa e tão esmagadora, que fazia-se
necessário o exercício do maior cuidado e sabedoria, na condução de todas as
reuniões, a fim de evitar uma explosão indesejável de sentimentos, que logo acabariam
por extingüir a sensibilidade do povo, e causar uma reação. Mas não houve nenhuma
reação, como bem sabem todos aqueles que conhecem os fatos. Eles mantiveram uma
reunião oração, no raiar da aurora, por vários meses, e creio que mesmo mais de um
ano depois, em todas as estações do ano, aquela foi uma reunião tão grandemente
assistida, e com tanto interesse quanto uma reunião de oração podia ser. A moral das
pessoas estava tão mudada, que o Sr. Gillett sempre comentava que não parecia o
mesmo lugar. Os pecados que ainda haviam eram obrigados a se esconder. Nenhuma
imoralidade explicita poda ser tolerada nem por um instante. Eu relatei somente um
leve contorno do que aconteceu em Roma. Uma descrição fiel de todos os incidentes
comoventes que lotaram aquele avivamento seria um livro inteiro por si só.
Devo falar algumas poucas palavras sobre o espírito de oração que prevalecia sobre
Roma nessa época. Creio que foi no sábado que vim de D’Oeste para trocar com o Sr.
Gillett, que encontrei a igreja à tarde em uma reunião de oração, em sua casa de
adoração. Esforcei-me para fazê-los entender que Deus responderia suas orações
imediatamente, contanto que eles cumprissem as condições sob as quais Ele prometeu
respondê-las, e especialmente se acreditassem, no sentido de esperarem que Ele
responda seus pedidos. Percebi que a igreja estava muito interessada com meus
comentários, e seus semblantes manifestaram um grande desejo em ver a resposta de
suas orações. Próximo ao término da reunião, lembro-me de fazer esse comentário: “Eu
realmente acredito, que se vocês se unirem nessa tarde em oração de fé em Deus, pelo
derramamento imediato de Seu Espírito, que vocês receberão uma resposta dos céus,
mais rápido do que receberiam uma mensagem de Albany, pelo correio mais rápido que
existe.”
Eu senti disse isso com muita ênfase; e percebi que as pessoas estavam com minha
expressão de honestidade e fé a respeito de uma resposta imediata à oração. O fato é
que, eu já tinha visto tantas vezes esse resultado em resposta de oração, que fiz o
comentário sem qualquer dúvida sobre ele. Nada foi dito por nenhum dos membros da
igreja na hora, mas eu soube depois que a obra começara, que três ou quatro membros
da igreja reuniram-se no escritório do Sr. Gillett, e e sentiram-se tão impressionados
com o que fora dito sobre respostas rápidas à oração, que determinaram que trariam
Deus à Sua palavra, e veriam se Ele responderia enquanto ainda estavam falando. Um
deles disse-me depois que receberam uma maravilhosa fé do Espírito de Deus, para
orarem por uma resposta imediata, e disse ainda “A resposta veio de fato mais rápida
do que qualquer resposta que pudessemos receber de Albany, pelo correio mais rápido
que existe.”
De fato, a cidade estava repleta de oração. Onde quer que você fosse, ouviria vozes
em oração. Passando pela rua, se dois ou três cristãos estivessem reunidos, estariam
em oração. Onde quer que se encontrassem, oravam. Onde quer que houvesse um
pecador não convertido, especialmente se ele manifestasse qualquer oposição, você
encontraria dois ou três irmãos ou irmãs concordando em fazê-lo alvo de oração.
Havia a esposa de um oficial do exército dos Estados Unidos residindo em Roma, a
filha de um proeminente cidadão daquele lugar. A senhora manifestava muita oposição
à obra, e como soube-se mais tarde, disse algumas coisas muito fortes contra o
movimento, o que levou-a a tornar-se um alvo específico de oração. Isso chegou a meu
conhecimento pouco tempo antes de o evento que estou prestes a relatar, acontecer.
Eu acredito, nesse caso, que algumas das principais mulheres fizeram dessa senhora
um alvo de oração, sendo que ela era uma pessoa de proeminente influência no lugar.
Era uma senhora culta, de forte caráter e força de vontade; e é claro, fazia clara sua
oposição. Mas tão logo isso tornou-se conhecido, e o espírito de oração por ela em
específico, foi dado, o Espírito de Deus tomou seu caso em Suas mãos. Certa noite,
quase de imediato após escutar sobre seu caso, talvez na noite daqule mesmo dia em
que soube dos fatos, depois de terminada a reunião e as pessoas terem ido embora, o
Sr. Gillett e eu permanecemos até o fim, conversando com algumas pessoas que
curvavam-se profundamente em convicção. Conforme eles iam embora e nós
estavamos prestes a nos retirar, o sacristão veio rapidamente enquanto saíamos e
disse “Há uma senhora naquele banco distante que não consegue sair, não há jeito.
Será que poderiam vir vê-la?” Voltamos, e eis que aos pés do banco estava essa
senhora de quem falei, totalmente sucumbida em convicção. O banco antes estava
cheio, e ela tentara retirar-se com os outros que saíram, mas como ela era a última a
sair, viu que era incapaz de se levantar, e afundou-se para o chão, e fez isso sem que
fosse notada pelos que iam adiante dela. Conversamos um pouco com ela, e
descobrimos que o Senhor a atingira com uma indescritível convicção de pecado.
Depois de orar com ela e dar-lhe a tarefa solene de entregar seu coração imediamente
a Cristo, deixei-a, e o Sr. Gillet, creio eu, ajudou-a até em casa. Sua casa ficava a
apenas alguns metros dali. Depois soubemos que quando ela chegou em casa, entrou
sozinha em um dos aposentos e passou a noite ali. Era uma noite fria de inverno.
Trancou-se e passou a noite sozinha. No dia seguinte ela expressou sua esperança em
Cristo, e até onde sei, provou ser sinceramente convertida.
Creio que também devo mencionar a conversão da Sra. Gillett, durante esse
avivamento. Ela era uma irmã dos missionário Mills, que era um dos rapazes cuja
paixão e entusiasmo levaram à organização da American Board. Ela era uma linda
mulher, consideravelmente mais jovem do que o marido, e sua segunda esposa. Ela
estivera, antes de casar-se com o Sr. Gillett, sob forte convicção por várias semanas e
quase enlouqueceu. Tinha a impressão, se bem me lembro, de que não era um dos
eleitos, e que não havia salvação para ela. Logo depois que o avivamento começou em
Roma, ela foi poderosamente convencida pelo Espírito do Senhor.
Era uma mulher refinada, e muito fã de moda, e como é muito comum, usava sobre a
cabeça alguns ornamentos fúteis, nada, no entanto, que pudesse ser considerado como
uma pedra de tropeço em seu caminho. Sendo seu hóspede, eu conversava
repedidamente com ela conforme suas convicções aumentavam, mas nunca passou
pela minha mente que seu gosto pelo vestuário pudesse ficar no caminho de sua
conversão a Deus. Mas à medida em que a obra tornava-se tão poderosa, sua
perturbação era alarmante; e o Sr. Gillett, sabendo do que já ocorrera em seu caso,
ficou de prontidão, a fim de ela voltasse ao mesmo estado de abatimento no qual
estivera alguns anos antes. Jogava-se para cima de mim buscando instrução. Quase
todas as vezes que eu entrava em casa, ela vinha até mim, implorando-me que orasse
por ela, contando-me que sua perturbação já era mais do que podia suportar. Ela
estava evidentemente caindo rápido em desespero, mas eu pude ver que ela começara
a depender demais de mim, portanto, tentava evitá-la.
Isso continuou assim, até que um dia eu entrei na casa e fui em direção ao escritório.
Depois de alguns momentos, com de costume, ela estava diante de mim, pedindo para
que orasse por ela, e reclamando que não havia salvação para si. Levantei
abruptamente e saí, sem orar com ela, dizendo que era inútil que eu orasse por ela, que
ela estava dependendo de minhas orações. Quando fiz isso, ela caiu no chão como se
fosse desmaiar. Deixei-a sozinha, sem considerar esse fato, e fui rapidamente do
escritório para a sala. Em alguns instantes ela veio correndo pelo corredor até a sala,
com seu rosto brilhando, exlamando “Ó Sr. Finney! Encontrei o Salvador! Encontrei o
Salvador! O senhor não acha que eram os ornamentos em minha cabeça que impediam
minha conversão? Descobri que quando eu estava orando eles apareciam diante de
mim, e eu ficava tentada, suponho, a desistir deles. Mas pensava que eram
insignificantes, e que Deus não se importava com coisas assim. Isso era uma tentação
de Satanáz. Mas os ornamentos que eu usava ficavam aparecendo continuamente em
minha mente, sempre que eu tentava dar meu coração a Deus. Quando o senhor me
deixou tão de repente, caí em desespero, joguei-me ao chão, e eis que esses
ornamentos aparecem novamente, então eu disse ‘não aceito que essas coisas
apareçam novamente, coloca-las-ei de lado para sempre. Renunciei-as e as odiei como
coisas que se colocavam no caminho de minha salvação. Assim que prometi desistir
delas, o Senhor revelou-Se à minha alma, e ah! Pergunto-me por que nunca entendi
isso antes. Isso era realmente minha grande dificuldade antes, quando eu estava
convicta, meu gosto pela moda, e eu não sabia.”
A VERDADE DO EVANGÉLHO
AS MEMÓRIAS DE CHARLES G. FINNEY
CAPÍTULO XIV.
O AVIVAMENTO EM UTICA, NOVA IORQUE
PASSADOS quase vinte dias de minha estadia em Roma, um dos presbíteros da igreja
do Sr. Aiken, um homem muito usado, faleceu, então fui até lá para seu funeral. O Sr.
Aiken conduziu o funeral, e soube por ele que o espírito de oração já era manifesto em
sua congregação, naquela cidade. Ele disse que uma das principais senhoras estivera
tão profundamente preocupada com a situação na igreja, e dos ímpios daquela cidade,
que orou por dois dias e duas noites, praticamente sem cessar, até que suas forças se
acabarem; que tivera uma batalha literal de alma, ao ponto de suas forças físicas
extingüirem-se, e ela não podia suportar o fardo que estava em sua mente, a menos
que alguém se engajasse em oração com ela, para que ela tivesse apoio – alguém que
pudesse expressar os desejos dela para Deus.
Eu compreendi isso, e disse ao Sr. Aiken que a obra já havia começado no coração
dela. Ele reconheceu isso, é claro, e desejava que eu começasse a trabalhar com ele e
com seu povo imediatamente. Logo fiz isso, e tenha certeza, a obra começou de
repente. A Palavra teve efeito imediato, e o lugar foi cheio da influência manifesta do
Espírito Santo. Nossas reuniões eram lotadas todas as noites, a obra espalhou-se e
progrediu poderosamente, em especial nas duas congregações Presbiterianas, das
quais uma tinha o Sr. Aiken como pastor, e a outra, o Sr. Brace. Eu dividia meu trabalho
entre as duas igrejas.
Logo depois que comecei em Utica, percebi e comentei com o Sr. Aiken que o Sr. B, o
xerife de quem falei, não participava das reuniões. Mas poucas noites depois, quando
eu estava prestes a começar meu sermão, o Sr. Aiken sussurrou para mim que o Sr. B
acabara de entrar. Mostrou-me onde ele estava enquanto ainda entrava pelo corredor
em direção a seu lugar. Peguei meu texto e continuei a dirigir-me à congregação. Eu
não estava falando há mais de alguns minutos quando percebi que o Sr. B levantou-se,
virou-se de costas, colocou seu casaco sobre si e ajoelhou-se. Percebi que isso
chamou a atenção daqueles que estavam próximos e o conheciam, e gerou uma
sensação considerável naquela parte do templo. O xerife continuou de joelhos durante
todo o culto. Então retirou-se para o hotel onde estava hospedado. Ele era um homem,
talvez com seus cinqüenta anos, e solteiro.
Ele depois me contou que sua mente estava muito pesada quando foi para casa, e
mencionou o assunto do qual escutara. Eu havia pressionado a congregação a aceitar
a Cristo, como Ele era apresentado no Evangélho. A questão da presente aceitação de
Cristo, e toda a situação no que diz respeito à relação do pecador com Ele, e Sua
relação com o pecador, foram o tema do discurso. Ele disse que reunira em sua mente
todos os pontos apresentados, e que apresentou-os solenemente a si mesmo, dizendo
“Minh’alma, você concorda com isso? Aceita a Cristo, desistindo do pecado, e
desistindo de si mesma? E fará isso agora?” Ele disse que, na agonia de sua mente,
jogou-se em sua cama. Disse isso a si mesmo e pressionou sua alma a aceitar,
naquela hora e instante. Foi então, ele disse, que a perturbação o deixou, e adormeceu
tão rapidamente, acordando só horas depois. Quando acordou, viu que sua mente
estava cheia e paz e descanso em cristo, e a partir desse momento, tornou-se um
sincero obreiro de Cristo entre seus conhecidos e familiares.
O hotel no qual ele se hospedava era, na época, de um Sr. S. O Espírito tomou aquela
casa de forma poderosa. O próprio Sr. S logo foi alvo de oração, e converteu-se, bem
como muitos de sua família e hóspedes. De fato o maior hotel da cidade tornou-se um
centro de influência espiritual, e muitos se converteram lá. As diligências, conforme
passavam, paravam no hotel, e a impressão era tão poderosa sobre a comunidade, que
eu soube de vários casos de pessoas que pararam apenas para uma refeição, ou para
passar a noite, serem poderosamente convencidas e convertidas antes que pudessem
sair da cidade. É verdade, tanto nesse lugar quanto em Roma, era um diferencial em
comum, que ninguém conseguia estar na cidade, o passar por ela, sem ter consciência
da presença de Deus; que uma influência divina parecia tomar conta do lugar, e toda a
atmosfera marcada com uma vida divina.
Um mercante de Lowville veio a Utica, para tratar de alguns de seus negócios. Ele
parou no hotel onde o Sr. B estava hospedado. Ele viu que toda a conversa na cidade
era muito irritante para si, sendo que era um homem não convertido. Aborreceu-se,
disse que não tinha como fazer negócios ali, que tudo era religião, e decidiu ir para
casa. Ele não podia entrar em uma loja sequer, sem que a religião fosse mostrada a
ele, e não podia fazer negócios com eles. Naquela mesma noite, iria para casa.
Esses comentários foram feitos na presença de alguns jovens convertidos que
hospedavam-se no hotel, e creio que especialmente na presença do Sr. B. Como a
diligência deveria ir embora bem tarde naquela noite, ele foi visto indo para o bas,
pouco antes de retirar-se, para pagar sua conta, dizendo que o Sr. S. provavelmente
não estaria acordado quando a diligência passasse, e portanto ele gostaria de acertar
sua conta antes de se retirar. O Sr. S disse que percebeu, enquanto acertava sua
conta, que sua mente estava muito perturbada, e sugeriu a vários dos senhores
hóspedes que fizessem dele um alvo de oração. Levaram-no, creio eu, para o quarto do
Sr. B, conversaram e oraram com ele, e antes que a diligência chegasse, ele era um
homem convertido. E ficou imediatamente tão preocupado com as pessoas de sua
própria terra, que quando a diligência chegou ele tomou passagem, e foi direto para
casa. Logo que chegou lá, contou sua experiência a sua família, chamou a todos e orou
com eles. Sendo que ele era um cidadão muito proeminente e muito extrovertido, e
proclamava em todos os lugarres o que o Senhor fizera por sua alma, uma impressão
muito solene foi gerada em Lowville, e logo resultou em um grande avivamento naquele
lugar.
Foi no meio do avivamento em Utica que escutamos pela primeira vez sobre a oposição
àqueles movimentos, que se espalhava pelo Leste. O Sr. Nettleton escreveu algumas
cartas para o Sr. Aiken, com quem eu trabalhava, nas quais estava manifesto o quanto
ele se enganara sobre o caráter daqueles avivamentos. O Sr. Aiken mostrou-me essas
cartas, e elas foram passadas para os pastores da vizinhança, como deveriam ser.
Entre elas estava uma na qual o Sr. Nettleton declarava totalmente o que ele
considerava como não aceitável na condução desses avivamentos, mas sendo que
nada do que ele reclamava acontecia nos avivamentos, nem aconteceram, não fizemos
mais nada com as cartas a não ser lê-las e passá-las adiante. O Sr. Aiken, no entanto,
respondeu em particular a uma ou duas delas, assegurando ao Sr. Nettleton que nada
daquilo havia sido feito. Não me lembro agora se o Sr. Nettleton reclamou do fato que
mulheres oravam algumas vezes nas reuniões sociais. Mas era verdade, contudo, que
em algumas poucas situações, algumas mulheres muito proeminentes, que estavam
fortemente envolvidas no espírito, lideravam orações nas reuniões sociais que
realizávamos diariamente de casa em casa. Nenhuma oposição, que eu saiba, foi
colocada a isso, nem em Utica, nem em Roma. Não fiz nada para introduzir essa
prática em meio ao povo, e não sei se já existia antes ali ou não. De fato não era um
assunto no qual se pensava ou comentava muito, até onde sei, na vizinhança onde
ocorria.
Eu já mencionai que o Sr. Weeks, que defentia doutrinas altamente ofensivas na
questão de eficiência divina, era conhecido por ser contra esses avivamentos. Para o
conhecimento daqueles que podem não saber que tais doutrinas já foram defendidas,
eu diria que o Sr. Weeks, e aquels que concordavam com ele, defendiam que tanto o
pecado quanto a santidade eram produzidos na mente por ação direta de um poder
supremo; que Deus fazia dos homens pecadores ou santos, segundo Seu soberano
querer, mas em ambos os casos por uma ação direta de Seu poder, como um ato
irresistível como o da própria criação; que na verdade Deus era o único agente real no
universo, e que todas as criaturas agiam somente conforme eram movidas e
compelidas a agir, pela ação direta e irresistível da parte de Deus. Eles tentavam provar
isso a partir da bíblia.
A idéia do Sr. Week sobre conversão, ou regeneração, era que Deus, que fez dos
homens pecadores, também os levava, ao regenerá-los, a admitir que Ele tinha o direito
de fazê-los pecadores, por Sua glória, e de mandá-los para o inferno pelos pecados
que Ele criara diretamente neles, ou levara-os a cometer pela força da onipotência. Na
conversão, que não levasse os pecadores a aceitarem esse ponto de vista do assunto,
ele não confiava. Aqueles que já leram os nove sermões do Sr. Week sobre o assunto,
verão que não apresentei de forma errada suas visões. E considerando que essa idéia
do Sr. Week era adotada, consideravelmente, por ministros e professores de religião
naquela região, sua conhecida oposição, juntamente com a de alguns outros pastores,
encorajava e aumentava muito a oposição de outros.
Obra, no entanto, continuava com grande poder, convertendo todas as classes sociais,
até o Sr. Aiken reportar a maravilhosa conversão de quinhentas pessoas, no curso de
poucas semanas, a maioria delas, acredito, de sua própria congregação. Os
avivamentos eram algo relativamente novo naquela região, e a grande massa do povo
não fora convencida de que eles eram a obra de Deus. Não tinham a reverência, que
depois vieram a ter, por eles. A impressão de que esses movimentos logo passariam, e
provariam não ter sido nada além de mera empolgação de sentimentos animais,
parecia muito grande. Não quero dizer que aqueles que eram interessados na obra
tinham essa mentalidade.
Uma circunstância ocorreu, no meio daquele avivamento, que causou grande impacto.
O presbitério de Oneida reuniu-se ali, enquanto o avivamento acontecia com força total.
Entre outros, havia um clérigo, um estranho para mim, que estava muito irritado pelo
calor e fervor do avivamento. Ele encontrou a opinião pública toda voltada para o
assunto religião, e que havia oração e conversa sobre religião em todo lugar, até
mesmo nas lojas e lugares públicos. Ele nunca havia visto um avivamento, e nunca
escutara o que escutou ali. Era escocês e, eu creio, que não vivia há muito tempo neste
país.
Na sexta-feira à tarde, antes que o presbitério fosse dispensado, ele se levantou e fez
um violento discurso contra o avivamento, como acontecia. O que ele disse chocou e
entristeceu muito os cristãos que estavam presentes. Eles caíram de rosto em terra
diante do Senhor, clamando a Ele que evitasse que o que ele havia dito causasse
qualquer dano.
A reunião do presbitério terminou no final da tarde. Alguns dos membros foram para
casa, e outros passaram a noite por lá. Os cristãos entregaram-se à oração. Houve um
grande clamor a Deus naquela noite, para que Ele reagisse a qualquer influência
maligna que pudesse reultar daquele discurso. Na manhã seguinte, esse homem foi
encontrado morto em sua cama.
No curso desses avivamentos, pessoas à distância, em quase todas as direções,
ouvido o que o Senhor estava fazendo, ou sendo atraídas por curiosiade sobre o que
ouviam, vinham ver com seus próprios olhos, e muitas convertiam-se a Cristo. Entre
esses visitates, o Dr. Garnet Judd, que pouco tempo depois foi para as Ilhas Sandwich
como missionário, e é bastante conhecido dos amantes das missões há muitos anos.
Ele pertencia à congregação do Sr. Weeks, a quem me referi. Seu pai, o velho Dr.
Judd, era um sincero homem cristão. Ele veio até Utica e simpatizou muito com o
avivamento.
Na mesma época uma moça, a Srta. F T, de alguma parte da Nova Inglaterra, veio para
Utica nas següintes circunstâncias: ela estava lecionando em um colégio, no bairro de
Newburgh, Nova Iorque. Sendo que tanto foi dito nos jornais sobre o avivamento em
Utica, a Srta. T, entre outros, ficou maravilhada e espantada, com o desejo de ver com
por si mesma o que era aquilo. Ela dispensou sua escola por dez dias, e pegou uma
diligência até Utica. Ao passar pela rua Genesee a caminho do hotel, ela observeu em
um dos letreiros o nome B T. Ela era totalmente estranha em Utica, e não sabia que
tinha qualquer conhecido ou familiar por ali. Mas depois de ficar um ou dois dias no
hotel, e perguntar quem era B T, enviou-lhe uma mensagem, dizendo que a filha de um
Sr. T, dando o nome de seu pai, estava no hotel, e gostaria de vê-lo. O Sr. T foi visitá-
la, e descobriu que ela era uma parente distante, convidando-a imediatamente para sua
casa. Ela aceitou esse convite, e ele, sendo um verdadeiro cristão, levou-a a todas as
reuniões, e tentou aumentar seu interesse na religião. Ela ficou muito supresa com o
que viu, e bastante incomodada.
Era era uma jovem enérgica, muito culta e orgulhosa, e a maneira na qual as pessoas
conversavam com ela, e a pressionavam com a necessidade de dar imediatamente seu
coração para Deus, deixava-a muito conturbada. As pregações que ele ouvia, noite
após noite, tomaram conta de sua mente. A culpa dos pecadores era muito relembrada,
e o merecimento e perigo da condenação eterna aumentavam em sua mente. Isso
incitou sua oposição, mas ainda assim a obra da convicção continuou poderosamente
em seu coração.
Enquanto isso eu não a tinha visto, para conversar com ela, mas ouvi do Sr. T sobre
sua situação. Depois de tentar resistir à verdade por alguns dias, ela foi visitar-me.
Sentou-se no sofá da sala de visitas. Coloquei minha cadeira em frente a ela, e
comecei a falar com ela sobre os mandamentos de Deus. Ela mencionou minha
pregação sobre como os pecadores merecem ser enviados para sempre para o inferno,
e disse que não podia aceitar isso, que não acreditava que Deus era assim. Eu
respondi “E a senhorita também ainda não entende o que é um pecado, em sua real
natureza doentia, se entendesse, não reclamaria que Deus enviasse os pecadores para
sempre para o inferno.” Então eu abri o assunto diante dela na conversa, da forma mais
clara que pude. Por mais que ela odiasse acreditar nisso, a convicção de que era
verdadeiro pouco a pouco tornava-se irresistível. Conversamos nessa linha por algum
tempo, até que vi que ela estava pronta a desabar em uma madura convicção; então eu
disse algumas palavras sobre o que Jesus reserva, e qual é a real situação dos fatos,
no que diz respeito à salvação daqueles que mereciam ser condenados.
Seu semblante empalideceu, em um momento ela jogou suas mãos para cima e gritou,
e então caiu para frente, sobre o braço do sofá, deixando seu coração se quebrantar.
Creio que ela não tinha chorado nenhuma vez antes. Seus olhos eram secos, sua
fisionomia abatida e pálida, sua sentibilidade totalmente trancada. Mas agora as
comportas haviam sido abertas, e ela colocou todo seu coração derramar-se diante de
Deus. Não tive mais chance de falar-lhe mais nada. Ela logo se levantou e foi para seus
aposentos. Desistiu de sua escola quase que imediatamente, e ofereceu-se como
missionária. Casou-se com um Sr. Gulick, e foi para as Ilhas Sandwich, creio eu, na
mesma época em que foi o Dr. Judd. Sua história como missionária é bem conhecida.
Ela tem sido uma missionária muito usada, teve e criou muitos filhos, que também são
missionários.
Enquanto morava em Utica, pregava freqüentemente em New Hartford, um vilarejo a
pouco mais de seis quilômetros ao sul da cidade. Havia uma preciosa e poderosa obra
de graça, e o pastor da igreja Presbiteriana na época era um Sr. Coe. Preguei também
em Whitesboro, outro lindo vilarejo, pouco mais de seis quilômetros a oeste de Utica,
onde também houve um avivamento poderoso. O pastor, Sr. John Frost, era um obreiro
muito eficiente.
Uma situação ocorreu naquela vizinhança que não posso deixar de relatar. Havia uma
fábrica de algodão no riacho de Oriskany, um pouco acima de Whitesboro, um local
hoje chamado de New York Mills. Pertencia a um Sr. W, um homem não convertido,
mas cavalheiro de alta posição social e boa moral. Meu cunhado, Sr. G A, era
superintendente da fábrica na época. Eu fui convidado a ir pregar naquele lugar. Subi
até lá certa noite e preguei na escola do vilarejo, que era grande e estava lotada de
ouvintes. A Palavra, eu pude ver, teve um efeito poderoso em meio as pessoas,
especialmente entre os jovens que trabalhavam na fábrica.
Na manhã seguinte, depois do café da manhã, fui até a fábrica para conhecer.
Conforme passava por ela, observei que havia bastante agitação entre aqueles que
estavam ocupados com seus teares, suas máquinas de fiar, e outras ferramentas de
trabalho. Ao pasar por uma das salas, onde havia um grande número de mulheres
ocupadas tecendo, percebi algumas delas olhando para mim, e falando com muita
sinceridade uma com a outra, e pude ver que estavam muito agitadas, apesar de
ambas estarem rindo. Fui devagar em sua direção. Viram-me chegando e estavam
claramente muito empolgadas. Uma delas tentava emendar uma trama quebrada, e
percebi que suas mãos tremiam tanto que ela não conseguia. Aproximei-me devagar,
olhando para o maquinário em ambos os lados conforme passava, mas percebi que
essa moça ficava cada vez mais agitada, e não conseguia continuar com seu trabalho.
Quando cheguei a uns dois ou três metros dela, encarei-a solenemente. Ela percebeu,
não conseguiu mais segurar-se, foi ao chão e caiu em lágrimas. O impacto veio quase
como mágica, e em alguns instantes praticamente todas naquela sala estavam em
lágrimas. Esse sentimento espalhou-se pela fábrica. Sr. W, o dono do estabelecimento,
estava presente, e vendo a situação disse ao superintendente “Pare as máquinas, e
deixe que as pessoas prestem atenção à religião, pois é mais importante que nossas
almas sejam salvas do que essa fábrica funcione.” O portão foi fechado imediatamente
e a fábrica parou, mas onde nos reuniríamos? O superintendente sugeriu que nos
reuníssemos na sala das máquinas de fiar, pois era grande e as máquinas estavam
paradas. Fizemos isso, e foi uma reunião tão poderosa quanto poucas que já participei.
Aconteceu com grande poder. O prédio era grande, e havia muitas pessoas ali dentro,
do sótão ao porão. O avivamento atravessou a fábrica com poder supreendente, e no
curso de alguns dias praticamente todos ali se converteram.
Considerando que muito foi dito sobre a conversão de Theodore D. Weld, em Utica,
pode ser certo para mim, dar o relato correto dos fatos.ele tinha uma tia, Sra. C, que
morava em Utica e era uma mulher de Deus, mulher de oração. Era filho de um
eminente clérigo da Nova Inglaterra, e sua tia achava que ele era cristão. Ele
costumava liderar a família dela na adoração. Antes do início do avivamento, ele
tornara-se um membro da Faculdade Hamilton, em Clinton. A obra em Utica atraíra
tanta atenção que muitas pessoas de Clinton, entre as quais estavam alguns dos
professores da faculdade, estiveram em Utica, e contaram o que acontecia por lá, o que
resultou em bastante empolgação. Weld tinha uma posição muito proeminente entre os
alunos da Faculdade Hamilton, e era muito inluente. Ouvindo sobre o que se passava
em Utica, ficou muito agitado, e sua oposição levantou-se fortemente. Tornou-se um
tanto abusivo em suas expressões de oposição à obra, como vim a saber.
Esse fato ficou conhecido em Utica, e sua tia, com quem ele se hosperada, ficou muito
ansiosa por ele. Para mim ele era um completo estranho. Sua tia escreveu-lhe,
pedindo-lhe para que viesse para casa e passasse um domingo, para ouvir a pregação
e interessar-se na obra. A princípio ele não aceitou, mas por fim reuniu alguns dos
alunos e disse-lhes que havia decidido ir até Utica, que sabia que não passava de
fanatismo e entusiasmo, que sabia que isso não o afetaria, e eles veriam que não. Ele
estava totalmente oposto, e sua tia logo soube que ele não pretendia escutar minha
pregação. O Sr. Aiken costumava ocupar o púlpito pela manhã, e eu, à tarde e à noite.
Sua tia soube que ele pretendia ir à igreja pela manhã, esperando que o Sr. Aiken
pregasse, mas não iria à tarde nem à noite, porque estava determinado a não me ouvir.
Em vista disso, o Sr. Aiken sugeriu que eu pregasse de manhã. Eu concordei e fui para
a reunião. O Sr. Aiken abriu culto, como de costume. A Sra. C veio para a reunião com
sua família, e entre eles, o Sr. Weld. Ela fez questão de fazer com que ele sentasse em
um lugar do qual não poderia sair, sem que ela e mais um ou dois membros da família
saíssem também. Pois ela temia, como disse, que ele saíria quando visse que eu iria
pregar. Eu sabia que a influência dele entre os jovens de Utica era muito grande, e que
sua ida ali teria uma poderosa influência em fazê-los reunirem-se em oposição à obra.
O Sr. Aiken mostrou-me quem era o rapaz, conforme ele ia para seu lugar.
Depois dos protocolos iniciais, levantei-me e li essa passagem: “Um só pecador destrói
muitos bens.” Eu nunca tinha pregado sobre essa pasagem, nem escutado nenhuma
pregação sobre ela, mas ela veio com tanto muito em minha mente, e esse fato decidiu
a escolha do texto. Comecei a pregar, e a mostras em muitos exemplos, como um
pecador pode destruir muitos bens, e como a influência de um homem pode destruir
várias almas. Suponho que descrevi Weld muito bem, e o que era sua influência, e que
danos poderia causar. Uma ou duas vezes ele tentou sair, mas sua tia, percebendo
isso, inclinava-se, apoiava-se no banco da frente, e começava a orar silenciosamente, e
ele conseguiria sair sem se levantar e perturbá-la; por isso ele permaneceu em seu
lugar até que a reunião terminasse.
No dia seguinte fui até uma loja na rua Genesee, para conversar com algumas pessoas
lá, como era meu costume ir de lugar em lugar para conversar. E quem encontro lá,
senão Weld? Ele veio para cima de mim sem cerimônia alguma, e creio que, por quase
uma hora, falou comigo de maneira mais abusiva. Eu jamais escutara nada igual. Não
tive oportunidade de falar quase nada para ele, pois sua língua trabalhava
incessantemente. Ele era muito eloqüente. Aquilo logo chamou a atenção de todos que
estavam na loja e a notícia correu pelas ruas, e os balconistas das lojas vizinhas
reuniram-se para ouvir o que ele tinha a dizer. A loja parou, e todos prestavam atenção
em sua vituperação. Mas por fim eu apelei a ele e disse “Sr. Weld, se o senhor é o filho
de um ministro de Cristo, essa é a maneira correta de se comportar?” Eu disse algumas
palavras sobre isso, e vi que o afligiu; e vomitando algo muito severo, ele
imediatamente deixou a loja.
Eu também saí, e retonei à casa do Sr. Aiken, onde estava hospedado na época. Eu
estava lá há alguns instantes quando alguém chegou à porta, e como nenhum
empregado estava por perto, eu mesmo atendi. E quem entra, senão o Sr. Weld? Ele
parecia estar prestes a afundar. Começou imediatamente a fazer a mais humilde
confissão e pedir desculpas pela maneira com que tratara-me, e expressou-se nos mais
fortes termos de auto-condenação. Peguei-o gentilmente pela mão e tive uma pequena
conversa, assegurando-lhe que eu não tinha nada contra ele, e exortei-o honestamente
a entregar seu coração para Deus. Acredito que orei com ele antes que fosse embora.
Ele saiu, e não tive mais notícias suas naquele dia.
Naquela noite preguei, eu acho, em New Hartford, e retornei muito tarde. Na manhã
seguinte eu soube que ele fora para a casa de sua tia muito impactado. Ela pediu-lhe
que orasse com a família. Ele disse que a princípio ficou chocado com a idéia. Mas seu
ódio aumentou tanto, que ele pensou que aquela era uma maneira na qual ele ainda
não havia expressado sua oposição, e portanto concordaria com seu pedido. Ajoelhou-
se e começou, e seguiu com o que sua tia esperava que fosse uma oração, mas de sua
parte, era a mais blasfema vituperação que podia ser expressada. Ele continuou de
uma maneira maravilhosa, até que todos convulsionassem e ficassem alarmados; e ele
falou por tanto tempo que o dia virou noite antes que terminasse. Sua tia tentou
conversar e orar com ele, mas a oposição em seu coração era terrível. Ela ficou
assustada com as opiniões que ele apresentava. Depois de orar com ele e dizer-lhe
para entregar seu coração a Deus, ela se retirou.
Ele foi para o seu quarto, e ficava andando de um lado para o outro, às vezes,
deitando-se no chão. Continuou a noite inteira com esse terrível estado mental, com
raiva, rebelde, e ao mesmo tempo tão convicto que mal conseguia viver. No raiar da
aurora, enquanto ainda andava para lá e para cá em seu quarto, contou, uma pressão
veio sobre ele e levou-o ao chão, e com ela uma voz que parecia ordená-lo a
arrepender-se, a arrepender-se agora. Ele disse que foi derrubado ao chão, e ali ficou,
até que, no final da manhã, sua tia subiu e o encontrou caído, chamando-se a si mesmo
de tolo e idiota, e aos olhos humanos, com seu coração quebrado em mil pedaços.
Na noite seguinte ele se levantou na reunião, e perguntou se poderia fazer uma
confissão. Eu respondi que sim, e ele fez uma confissão públia diante de toda a
congregação. Disse que cabia a ele mesmo remover a pedra de tropeço que colocara
perante todas as pessoas, e queria uma oporutnidade para fazer a confissão mais
pública que pudesse. Ele fez uma confissão muito humilde, honesta e quebrantada.
A partir de então, ele se tornou um voluntário muito usado na obra. Trabalhava
diligentemente, e sendo um poderoso discursista, com um grande dom de oração e
trabalho, foi instrumento, por muitos anos, na obra do bem, e na conversão de muitas
almas. Com o tempo, sua saúde tornou-se frágil por tanto trabalho. Ele foi obrigado a
deixar a faculdade, e embarcou em uma excursão de pescadores para a costa do
Labrador. Voltou o mesmo obreiro honesto de antes, com a saúde renovada. Tive nele,
por um tempo considerável, um ajudador eficiente, nos lugares onde trabalhei.
Eu falei que nenhuma resposta pública foi feita às coisas que foram publicadas, em
oposição a esses avivamentos; isto é, a nada que foi escrito pelo Dr. Beecher ou pelo
Sr. Nettleton. Eu também disse que foi publicado um panfleto pelos pastores que
compunham a Associação Oneida, em oposição à essa obra. A isso, creio eu, nenhuma
resposta pública foi dada. Lembro-me que um pastor Unitário, que vivia em Trenton,
naquele condado, publicou um panfleto abusivo, no qual apresentava a obra de forma
totalmente errônea, e fazia um ataque pessoal à minha pessoa. A isso o Rev. Sr.
Wetmore, um dos membros do Presbitério de Oneida, publicou uma resposta.
Esse avivamento ocorreu no inverno e primavera de 1826. Quando os convertidos já
haviam sido recebidos pelas igrejas por todo o condado, o Rev. John Frost, pastor da
Igreja Presbiteriana em Whitesboro, publicou um panfleto contanto algumas coisas
sobre o aviamento e declarou, se me lembro direito, que dentro dos limites daquele
presbitério, os convertidos eram um total de três mil. Eu não tenho cópias de nenhum
desses panfletos. Falei que a obra espalhou-se a partir de Roma e Utica, como se de
um centro, para todas as direções. Pastores vinham de distâncias consideráveis, e
passavam mais ou menos dias participando das reuniões, e ajudando de várias
maneiras a levar a obra adiante. Eu mesmo trabalhei na maior área que pude,
trabalhando mais ou menos dentro dos limites do presbitério. Não posso lembrar-me
agora dos lugares onde passei mais ou menos tempo. Os pastores de todas aquelas
igrejas simpatizavam profundamente com a obra, e como homens bons e verdadeiros,
colocavam-se aos pés do altar, e faziam tudo que podiam para levar adiante o grande e
glorioso movimento, e Deus deu-lhes uma rica recompensa.
As doutrinas pregadas nesses avivamentos foram as mesmas que já foram
apresentadas. Ao invés de falar para os pecadores usarem os meios da graça e orarem
por um novo coração, nós os chamávamos a fazerem de si mesmos um novo coração e
um novo espírito, e insistíamos no dever de rendição imediata a Deus. Dissemo-lhes
que o Espírito estava lutando com eles para induzí-los agora a entregar seu coração a
Ele, a acreditar agora, e a entrar de uma vez por todas em uma vida de devoção a
Cristo, de fé, amor, e obediência cristã. Ensinamos a eles que enquanto oravam pelo
Espírito Santo, resistiam-nO constantemente; que se de uma vez por todas se
entregassem a suas próprias convicções de deveres, seriam cristãos. Tentamos
mostrar-lhes que tudo que eles haviam dito ou feito antes de se submeter, acreditar,
entregar seu coração a Deus, era pecado, não era o que Deus queria que fizessem,
mas simplesmente o adiamento do arrependimento e da resistência ao Espírito Santo.
É claro que ensinamentos como esses tinham muita oposição, mas mesmo assim era
muito abençoado pelo Espírito de Deus. Antes, supunha-se que era necessário que um
pecador permanecesse um longo tempo sob convicção, e não era raro ouvir velhos
professores de religião dizendo que ficaram sob convicção há muitos meses, ou anos,
antes de encontrarem alívio; e eles evidentemente tinham a impressão de que quanto
mais tempo ficassem sob convicção, maior era a prova de que realmente haviam-se
convertido. Nós ensinávamos o oposto disso. Eu insistia que se ficassem muito tempo
sob convicção, corriam um grande risco de se auto-justificarem, no sentido de que
pensariam ter orado bastante, e feito muita coisa para persuadir Deus a salvá-los; e que
por fim acalmar-se-iam com uma falsa esperança. Dissemos a eles que sob essa
prolongada convicção, corriam o risco de afastar o Espírito de Deus, e quando a
angústia de suas mentes cessasse, uma reação aconteceria naturalmente, sentir-se-
iam menos angustiados, e talvez até um certo grau de conforto, pelo qual corriam o
risco de acreditar que haviam-se convertido; que o mero pensamento que
possivelmente haviam-se convertido podia criar um grau de alegria, a qual confundiriam
com a alegria e a paz de Cristo; e que esse estado de mente ainda podia desiludí-los
mais adiante, se fosse tomado como prova de que realmente converteram-se.
Tentamos descartar minuciosamente esses falsos ensinamentos. Insistimos na época,
como sempre fiz desde então, na submissão imediata, como a única coisa que Deus
aceitaria de suas mãos; e que toda demora, por qualquer pretexto, era uma rebelição
contra Deus. Tornou-se muito comum sob esses ensinamentos, que as pessoas se
convertessem no curso de algumas horas, e algumas vezes, em alguns minutos. Tais
conversões repentinas eram alarmantes para muitas pessoas de bem, e é claro, eles
previam que esses convertidos afastar-se-iam, provando não serem converditos de
fato. Mas o tempo provou que em meio a essas conversões repentinas, estavam alguns
dos mais influentes cristão já conhecidos naquela região do país; e vi isso também por
experiência própria, durante todo meu ministério.
Já mencionei que o Sr. Aiken respondeu em particular algumas cartas do Sr. Nettleton
e do Dr. Beecher. Algumas das cartas do doutro, na época, foram publicadas, mas não
causaram nenhum impacto público. As respostas do Sr. Aiken, que ele enviava por
correio, pareciam não fazer diferença alguma com a oposição de nenhum dos dois. Por
uma carta que o Dr. Beecher escreveu, nessa mesma época, ao Dr. Taylor de New
Haven, parecia que alguém causara-lhe a impressão de que os irmãos envolvidos em
promover esses avivamentos faltavam com a verdade. Nessa carta, ele dizia que o
espírito da mentira era tão predominante naqueles movimentos, que não se podia
acreditar em nada nos irmãos que os promoviam. Essa carta do Dr. Beecher para o Dr.
Taylor achou seu caminho para a imprensa. Se fosse republicada hoje, as pessoas da
região onde esses avivamentos prevaleceram achariam muito estranho que o Dr.
Beecher, em uma carta particular, escreveria tais coisas sobre os pastores e cristãos
envolvidos em promover aqueles grandes e maravilhosos movimentos.
A VERDADE DO EVANGÉLHO
AS MEMÓRIAS DE CHARLES G. FINNEY
CAPÍTULO XV.
O AVIVAMENTO EM AUBURN EM 1826
DR. LANSING, o pastor da Primeira Igreja Presbiteriana em Auburn, veio a Utica para
testemunhar o avivamento ali, e insistiu para que eu fosse trabalhar com ele por um
tempo. No verão de 1826, concordei com seu pedido, e fui para lá trabalhar com ele por
uma estação. Logo depois de ir para Auburn, descobri que alguns dos professores do
seminário teológico naquele lugar tinham uma atitude hostil para com o avivamento. Eu
soube antes que pastores ao leste de Utica estavam, em grande número,
correspondendo-se em referência a esses avivamentos, e adotando uma postura de
hostilidade a eles.
No entanto, até chegar em Auburn, não tinha noção da quantidade de oposição que
deveria encontrar, por parte do ministério; não o ministério da região onde trabalhei,
mas de pastores de lugares onde não trabalhei, que não sabiam nada sobre mim,
pessoalmente, mas eram influenciados pelos falsos relatos que escutavam. Mas logo
depois que cheguei em Auburn, soube de várias fontes que um sistema de espionagem
estava sendo executado, e que era destinado a resultar, fora desenhado para resultar,
em uma grande união de pastores e igrejas para confinar-me, e evitar que esses
movimentos se espalhassem por minhas obras.
Nessa época fui informado que o Sr. Nettleton disse que eu não poderia ir mais ao
Leste; que todas as igrejas, especialmente da Nova Inglaterra, estavam fechadas para
mim. O Sr. Nettleton foi até Albany e fez uma manifestação, e uma carta do Dr. Beecher
caiu em minhas mãos, na qual ele exortava o Sr. Nettleton a fazer uma grande
manifestação contra mim e contra os avivamentos no centro de Nova Iorque,
prometendo que quando os magistrados, como os chamava, da Nova Inglaterra se
encontrassem, todos declarariam, e apoia-lo-iam em sua oposição.
Mas por agora devo retornar a o que aconteceu em Auburn. Minha mente ficou, logo
que cheguei ali, muito impressionada com o trabalho extensivo daquele sistema de
espionagem que mencionei. O Sr. Frost, de Whitesboro, soubera dos fatos até certo
ponto, e comunicou-lhes a mim. Eu não disse nada publicamente, nem em particular, se
bem me lembro, para ninguém sobre o assunto, mas entreguei-me em oração. Olhava
para Deus com muita sinceridade dia após dia, buscando direção, pedindo-lhe que me
mostrasse o caminho devido, dando-me graça para passar pela tempestade.
Jamais esquecerei que situação passei um dia em meu quarto na casa do Dr. Lansing.
O Senhor mostrou-me como que em uma visão o que estava diante de mim. Ele
aproximou-se tanto de mim, enquanto eu orava, que meu corpo literalmente tremia até
os ossos. Eu tremia da cabeça aos pés, sob a noção plena da presença de Deus. A
princípio, e por algum tempo, aquilo pareceu-me mais como estar no topo do Sinai, em
meio a todos os seus trovões, do que na presença da cruz de Cristo.
Nunca em minha vida, eu eu possa recordar, estive tão reverente e humilhado diante de
Deus quanto naquele momento. Ainda assim, ao invés de ter vontade de fugir, eu
parecia atraído mais e mais perto e Deus – parecia atraído cada vez mais à Presença
que enchera-me com tal inexplicável reverência e tremor. Depoi de um período de
grande humilhação diante dEle, houve uma grande exltação. Deus me assegurou que
Ele estaria comigo e sustentar-me-ia; que oposição alguma prevaleceria contra mim;
que eu não tinha nada a fazer, a respeito desse assunto, a não ser continuar meu
trabalho, e esperar por Sua salvação.
O sentido de presença de Deus, e tudo que se passou entre Deus e minha alma
naquela hora, nunca poderei descrever. Levou-me a ficar perfeitamente confiante,
perfeitamente calmo, e a não ter nada a não ser os sentimentos mais perfeitamente
doces por todos aqueles irmãos que estavam enganados e organizavam-se contra mim.
Tive certeza de que tudo terminaria bem, que minha verdadeira tarefa era deixar tudo
pra Deus, e continuar com meu trabalho; e conforme a tempestade se formava e a
oposição aumentava, eu jamais, por nenhum momento, duvidei do resultado. Nunca me
preocupei com ele, nunca gastei uma hora de meu tempo pensando nele; quando para
todos os olhos parecia que todas as igrejas do país, exceto aquelas onde eu já havia
trabalhado, unir-se-iam para excluir-me de seus púlpitos. Isso era de fato uma
determinação pessoal, como eu via, dos homens que lideravam a oposição. Estavam
tão enganados que pensaram não haver outra maneira eficiente a não ser se unirem, e,
como eles mesmos diziam, derrubá-lo. Mas Deus me garantiu que eles não
conseguiriam derrubar-me.
Uma passagem no capítulo vinte de Jeremias vinha repetidamente sobre mim com
grande poder. É assim: “Iludiste-me, ó Senhor, e iludido fiquei [no rodapé diz
‘seduzido’]; mais forte foste do que eu e prevaleceste; sirvo de escárnio todo o dia; cada
um deles zomba de mim. Porque, desde que falo, grito e clamo: Violência e destruição!
Porque se tornou a palavra do Senhor um opróbrio para mim e um ludíbrio todo o dia.
Então, disse eu: Não me lembrarei dele e não falarei mais no seu nome; mas isso foi no
meu coração como fogo ardente, encerrado nos meus ossos; e estou fatigado de sofrer
e não posso. Porque ouvi a murmuração de muitos: Há terror de todos os lados!
Denunciai, e o denunciaremos! Todos os que têm paz comigo aguardam o meu
manquejar, dizendo: Bem pode ser que se deixe persuadir; então, prevaleceremos
contra ele e nos vingaremos dele. Mas o Senhor está comigo como um valente terrível;
por isso, tropeçarão os meus perseguidores e não prevalecerão; ficarão mui
confundidos; como não se houveram prudentemente, terão uma confusão perpétua,
que nunca se esquecerá. Tu, pois, ó Senhor dos Exércitos, que provas o justo e vês os
pensamentos e o coração, veja eu a tua vingança sobre eles, pois te descobri a minha
causa.” Jeremias 20:7-12.
Não quero dizer que essa passagem descrevia literalmente meu caso, ou expressava
meus sentimentos, mas havia tanta similariade nesse caso, que essa passagem foi
muitas vezes um apoio para minha alma. O Senhor não me permitia que essa oposição
ficasse no coração, posso sinceramente dizer, até onde posso me lembrar, que nunca
tive nenhum tipo de ressentimento em relação ao Sr. Nettleton ou ao Dr. Beecher, ou a
qualquer líder da oposição à obra, durante todo o tempo que foram opostos.
Lembro-me de ter tido um sentimento peculiar de horror a respeito do panfleto
publicado, e do caminho seguido por William R. Weeks, a quem já fiz alusão. Aqueles
que conhecem a história do Sr. Weeks, lembram-se que logo depois disso, ele
começou a escrever um livro, ao qual deu o nome de “O progresso do peregrino no
século dezenove.” Isso foi publicado em capítulos, e por fim como um único volume,
com o qual muitos dos leitores dessa narrativa podem ser familiares. Ele era um
homem de talento considerável, e devo esperar que fosse um homem bom; mas creio
que muito desiludido em sua filosofia, e excessivamente errado em sua teologia. Não
menciono porque desejo falar mal dele, ou de seu livro, mas somente para dizer que ele
nunca parou, até onde sei, de oferecer mais ou menos oposição, direta ou
indiretamente, aos avivamentos que não favorecessem suas visões peculiares. Ele
tomou dores, sem mencioná-lo, para defender o caminho tomado pelo Sr. Nettleton, ao
colocar-se à frente da oposição a esses avivamentos. Mas Deus descartou toda aquela
influência. Já não escuto sobre isso há muitos anos.
Sem considerar a postura que alguns dos professores em Aubur adotavam, em
conexão a tantos pastores pelo país, o Senhor logo avivou sua obra em Auburn. O Sr.
Lansing tinha uma grande congregação, de pessoas muito cultas. O avivamento logo
começou a afetar as pessoas, e tornou-se poderoso.
Foi nessa época que o Dr. S de Auburn, que ainda mora lá, foi tão grandemente
abençoado em sua alma, a ponto de tornar-se um homem por inteiro diferente. Dr. S
era um presbítero na igreja Presbiteriana quando eu cheguei lá. Ele era um cristão
muito tímido e senil, e quase não tinha eficiência alguma, pois tinha pouca fé. Logo, no
entanto, tornou-se profundamente convicto do pecado, e desceu ao fundo da
humilhação e angústia, quase ao desespero. Continuou nessa situação por semanas,
até que uma noite, numa reunião de oração, foi sucumbido por seus sentimentos, e
afundou-se inevitavelmente para o chão. Então Deus abriu seus olhos para a realidade
de sua salvação em Cristo. Isso ocorreu logo depois que saí de Auburn e fui para Tróia,
em Nova Iorque, para trabalhar. Dr. S logo foi atrás de mim em Tróia, e na primeira vez
em que o vi naquele lugar, ele exclamou com uma ênfase que lhe era peculiar “Irmão
Finney, eles enterram o Salvador, mas Cristo ressucitou.” Ele recebeu um batismo tão
maravilhoso do Espírito Santo, que desde então tem sido motivo para júbilo e maravilha
para o povo de Deus.
Em parte como conseqüência da sabida reprovação de minhas obras por parte de
muitos pastores, bastante oposição espalhou-se por Auburn, e um número dos líderes
daquele grande vilarejo estabeleceu-se fortemente contra a obra. Mas o Espírito do
Senhor estava em meio ao povo com grande poder.
Recordo que em uma manhã de domingo, enquanto pregava, eu estava descrevendo a
maneira na qual alguns homens às vezes opõem-se a suas famílias, e se possivel
fosse, evitava que se convertessem. Dei uma discrição tão vívida de um caso como
esse que disse “Provavelmente se eu os conhecesse melhor, chamaria alguns de vocês
pelo nome, que tratam a família dessa maneira.” Nesse momento um homem gritou no
meio da congregação “Chame a mim!”, então jogou sua cabeça adiante, para o banco à
sua frente, e estava claro que ele tremia muito emocionado. Acontece que ele estava
tratando sua família daquela maneira, e naquela manhã fizera as mesmas coisas que
eu havia dito. Ele disse que seu grito “Chame a mim!” fora tão espontâneo e irresistível
que ele não pode segurar. Mas temo que ele jamais converteu-se a Cristo.
Havia um chapeleiro de nome H, morando em Auburn nessa época. Sua esposa era
uma mulher cristã, mas ele era um Universalista, e era contra o avivamento. Ele levou
sua oposição tão longe ao ponto de proibir sua mulher de participar de nossas reuniões,
e por muitas noites consecutivas, ela permaneceu em casa. Certa noite, quando o sino
tocou para anunciar a reunião, meia hora antes da assembléia reunir-se, a Sra. H
estava tão envolvia em preocupar-se por seu esposo que retirara-se para orar, e
passou aquela meio hora derramando sua alma diante de Deus. Ela contou ao Senhor
como seu marido se comportava, que ele não a deixava participar de reunião, e ela
aproximou-se muito de Deus.
Conforme o sino soava para que as pessoas se reunissem, ela saiu de seu closet,
como depois eu vim a saber, e viu que seu esposo havia vindo de sua loja, e ao entrar
na sala de estar, ela perguntou-lhe se poderia ir à reunião. Então ele disse que se ela
fosse, ele a acompanharia. Ele depois me contou que havia decidido participar da
reunião naquela noite, para ver se conseguiria alguma coisa para justificar sua oposição
para sua esposa; ou pelo menos, algo de que poderia rir, sustentando sua
ridicularização da obra. Quando se propôs a acompanhar sua esposa, ela ficou muito
supresa, mas foi arrumar-se, pois viriam à reunião.
Eu não sabia de nada disso na época, é claro. Estivera visitando e trabalhando com as
pessoas que tinham dúvidas o dia todo, e não tive tempo algum para organizar meus
pensamentos, nem mesmo para escolher um texto. Durante a abetura do culto, uma
passagem veio à minha mente. Eram as palavras dos homens com o espírito imundo,
que gritavam “Não nos atormente.” Peguei aquelas palavras e comecei a pregar, e
empenhei-me para mostrar a conduta daqueles pecadores que queriam ser deixados
em paz, que não queriam se envolver de maneira nenhuma com Cristo.
O Senhor deu-me a capacidade de dar uma discrição muito vívida do caminho que
aquele tipo de homens estava seguindo. No meio de meu discurso, observei uma
pessoa cair de seu lugar próximo ao largo corredor, gritando de maineira mais terrível.
A congregação estava muito chocada, e o grito do homem era tão grande que calei-me
e fiquei parado. Depois de alguns minutos, pedi que a congregação permanecesse
sentada, enquanto eu decia para falar com aquele homem. Descobri que era o Sr. E, de
quem tenho falado. O Espírito do Senhor o havia convencido de forma tão poderosa,
que fora incapaz de permanecer sentado. Quando aproximei-me dele, ele havia
recuperado forças o suficiente para estar de joelhos, com a cabeça sobre o colo de sua
esposa. Ele chorava alto como uma criança confessando seus pecados, e acusando-se
de maneira terrível. Disse-lhe algumas palavas, às quais ele pareceu não prestar muita
atenção. O Espírito de Deus tinha sua atenção tão presa, que logo desisti de todos os
esforços para fazê-lo escutar o que dizia. Quando eu disse à congregação quem era
ele, todos, conhecendo seu caráter, começaram a chorar e soluçar por todos os lados.
Fiquei ali algum tempo, para ver se ele ficaria quieto o suficiente para que eu
continuasse com meu sermão, mas seu choro alto fazia isso impossível. Jamais posso
esquecer o semblante de sua esposa, enquanto estava ali sentada, com o rosto dele
em suas mãos sobre seu colo. Em seu rosto havia uma alegria santa e um triunfo que
palavras não podem expressar.
Tivemos muitas orações, e então encerrei a reunião. Algumas pessoas ajudaram o Sr.
H até sua casa. Ele pediu imediatamente que fossem chamar alguns de seus
companheiros, com quem tinha o hábito de ridicularizar a obra de Deus naquele lugar.
Ele não pode descansar até que chamou muitos deles, e fez-lhes uma confissão, a qual
fez com um coração muito quebrantado.
Ele estava tão abalado que por dois ou três dias não conseguia sair pela cidade, e
continuou a chamar os homens que desejava ver, para que pudesse confessar a eles, e
avisá-los para fugir da ira vindoura. Logo que foi capaz de sair, ele abraçou a obra com
muita humildade e simplicidade de caráter, e com muita sinceridade. Pouco tempo
depois, tornou-se um presbítero, ou diácono, e tem sido desde então um cristão muito
usado e exemplar. Sua conversão foi tão marcada e tão poderosa, e os resultados tão
manifestos, e silenciou muito a oposição.
Havia muitos homens ricos naquela cidade que ficavam ofendidos com o Dr. Lansing e
comigo, e com os obreiros naquele avivamento, e depois que eu fui embora, eles se
reuniram e formaram uma nova congregação. A maioria deles era, na época, homens
não convertidos. Que o leitor guarde isso em mente, pois na ocasião apropriada, terei a
oportunidade de contar os resultados dessa oposição e da formação de uma nova
congregação, e da subseqüente conversão de quase todos os opositores.
Enquanto estava em Auburn, preguei mais ou menos nas igrejas vizinhas dos
arredores, e o avivamento espalhou-se em várias direções, para Cayuga, e para
Skeneateles. Isso aconteceu no verão e outono de 1826.
Logo depois de minha chegada a Auburn, uma situação ocorreu, de caráter tão
impactante que devo fazer um relato breve. Eu e minha esposa éramos hóspedes do
Dr. Lansing, o pastor da igreja. A igreja estava muito conformada ao mundo, e era
acusada pelos ímpios de serem líderes nas vestimentas, moda, e mundanismo. Como
de costume, direcionei minha pregação para reformar a igreja, e levá-los a um estado
de avivamento. Certo domingo eu havia pregado, da forma mais minuciosa que
consegui, para a igreja, sobre sua atitude diante do mundo. A Palavra atingiu
profundamente as pessoas.
No final de meu discurso, chamei, como sempre, o pastor para orar. Ele estava muito
impressionado com o sermão, e ao invés de começar imediatamente a orar, falou
algumas poucas mas honestas palavras à igreja, confirmando o que eu lhes havia dito.
Nesse momento, um homem levantou-se na galeria, e disse de forma bastante
deliberada e distinda “Sr. Lansing, não creio que tais comentários vindos do senhor
possam adiantar em alguma coisa, sendo que o senhor usa uma camisa ostentativa e
um anel de ouro, e sendo que sua esposa e as senhoras de sua família ficam sentadas,
como fazem, diante da congregação, vestidas como as líderes da moda no dia.”
Parecia que isso iria matar o Dr. Lansing como um só golpe. Ele não deu resposta
alguma, mas colocou-se de lado no púlpito e chorou como criança. A congregação
estava quase tão chocada e afetada quanto ele. Quase todos baixaram suas frontes, e
muitos choravam em silêncio. Com a exceção dos suspiros e soluços, a casa estava
em profundo silêncio. Eu esperei por alguns momentos, e já que o Dr. Lansing não se
movia, levantei-me, fiz uma breve oração e dispensei a congregação.
Fui para casa com o querido, ferido pastor, e quando toda a família havia retornado da
igreja, ele tirou o anel de seu dedo – era um esguio anel de ouro que mal chamava
atenção – e disse que sua primeira mulher, em seu leito de morte, tirou de seu próprio
dedo e colocou no dele, pedindo-lhe que usasse por ela. Assim ele o fez, sem pensar
que pudesse ser uma pedra de tropeço. Dos ornamentos em suas vestes, disse que
usava-os desde a infância, e não achava que fosse nada impróprio. De fato, ele sequer
se lembrada de quando comecara a usá-los, e é claro, nem pensava neles. “Mas,” disse
ele, “se essas coisas são ofensivas a qualquer pessoa, não as usarei.” Ele era um
precioso homem cristão, e um excelente pastor.
Quase que imediatamente depois disso, a igreja estava disposta a fazer uma confissão
pública para o mundo de suas transgressões, e da necessidade de um espírito cristão.
De acordo com isso, uma confissão foi preparada, cobrindo todos os pontos. Foi
submetida à aprovação da igreja, e então lida diante da congregação. A igreja ficou de
pé, muitos chorando enquando a confissão era lida. A partir desse momento, a obra
caminhou, com muito mais poder.
A confissão foi evidentemente uma obra de coração, e não armada, e Deus aceitou-a
de forma graciosa e manifesta, e a voz dos contestadores foi calada. O fato é que, em
grande parte, as igrejas e pastores estavam em um baixo estado de graça, e aqueles
poderosos avivamentos pegaram-lhes de surpresa. Não fiquei muito espantado na
época, nem desde então, que tais obras maravilhosas de Deus não eam bem
entendidas e recebidas por aqueles que não estavam preparados para um avivamento.
Houve muitas conversões interessantes em Auburn e em seus arredores, e também em
todas as cidades vizinhas, por toda aquela parte do estado, conforme a obra espalhava-
se em todas as direções. Na primavera de 1831, estive novamente em Auburn e vi
outro poderoso avivamento lá. As circunstâncias foram peculiares, e muito
interessantes, e serão relatadas no momento apropriado nessa narrativa.
A VERDADE DO EVANGÉLHO
AS MEMÓRIAS DE CHARLES G. FINNEY
CAPÍTULO XVI.
O AVIVAMENTO EM TRÓIA E NO NOVO LÍBANO
NO COMEÇO do outuno desse ano, 1826, aceitei o convite do Rev. Dr. Beman e sua
comunidade para trabalhar em Tróia, pelo avivamento daquela região. Em Tróia, passei o outono
e o inverno, e o avivamento foi poderoso naquela cidade. Eu já falei que o Sr. Nettleton fora
enviado pelo Dr. Beecher, ao meu ver, para Albany, para fazer uma manifestação contra os
avivamentos que se espalhavam no centro de Nova Iorque. Eu acreditava muito no Sr. Nettleton,
apesar de nunca o ter visto. Tinha muito desejo de vê-lo, tanto que sonhei freqüentemente que o
estava visitando, e obtendo informações de sua parte sobre as melhores maneiras de promover o
avivamento. Tinha vontade de assentar-me a seus pés, quase como um apóstolo, por causa do que
escutara sobre seu sucesso em promover avivamentos. Na época, minha fé nele era tão grande
que creio que ele me poderia levar, quase ou completamente, à sua escolha.
Logo depois de meu avivamento em Tróia, fui até Albani para vê-lo. Ele era hóspede de uma
família conhecida minha. Passei uma parte da tarde com ele, e conversamos sobre suas visões
doutrinárias, especialmente sobre as visões defendidas pelas igrejas Holandesas e Presbiterianas
no que diz respeito à natureza da depravação moral. Descobri que ele concordava plenamente
comigo, até onde tive chance de conversar com ele, em todos os pontos da teologia que
discutimos. De fato, não houve reclamação alguma do Dr. Beecher ou do Sr. Nettleton sobre
nossos ensinamentos nos avivamentos. Não reclamaram nem uma vez que o que ensinávamos
não seria o verdadeiro Evangélho. Eles reclamavam de algo altamente questionável nos meios
utilizados.
Nossa conversa foi breve, sobre todos os pontos que tratamos. Percebi que ele evitava falar sobre
a promoção dos avivamentos. Quando eu lhe disse que pretendia permanecer em Albany, e
escutá-lo pregar uma noite, ele ficou desconfortável, e comentou que eu não poderia ser visto
com ele. Portanto o Juiz C, que acompanhara-me desde Tróia, e que estivera na faculdade com o
Sr. Nettleton, foi comigo para a reunião, e sentamos juntos na galeria. Vi o suficiente para ter
certeza de que não poderia esperar qualquer tipo de conselho ou instrução da parte dele, que ele
estava lá para fazer oposição a mim. Logo descobri que eu não estava enganado.
Escrevendo o último parágrafo, minha atenção foi chamada para uma declaração na biografia do
Sr. Nettleton, para o efeito de que ele tentou em vão mudar minhas visões e práticas na promoção
de avivamentos religiosos. Não creio que o Sr. Nettleton possa ter autorizado tal declaração, pois
de certo jamais tentou fazer isso. Como eu já disse, naquela época, ele poderia ter-me moldado ao
seu bel prazer, mas não me disse nenhuma palavra sobre minha maneira de conduzir
avivamentos, nem jamais escreveu-me palavra alguma sobre o assunto. Ele me mantinha a uma
distância considerável, e apesar de termos conversado, como disse, sobre alguns assuntos
teológicos então muito discutidos, era claro que ele não estava disposto a dizer qualquer coisa a
respeito de avivamentos, e não me permitira acompanhá-lo à reunião. Essa foi a única vez em que
o vi até encontrá-lo na convenção no Novo Líbano. Em momento algum o Sr. Nettleton tentou
corrigir minhas visões em relação aos avivamentos.
Logo começamos a sentir, em Tróia, a influência das cartas do Dr. Beecher, sobre alguns dos
principais membros da igreja do Dr. Beman. Essa oposição aumentou, e foi sem dúvida
fomentada por uma influência externa, até que por fim foi determinada uma reclamação sobre o
Dr. Beman, e seu caso foi apresentado ao presbitério. Por várias semanas o presbitério reuniu-se e
examinou as queixas contra ele.
Enquanto isso, eu continuava com minhas obras no avivamento. Os cristãos continuavam orando
poderosamente a Deus. Eu continuei pregando e orando sem cessar, e o avivamento prossegiu
com um poder cada vez maior. O Dr. Beman, enquanto isso, tinha a necessidade de dar quase
toda sua atenção a seu caso diante do presbitério. Quando o presbitério terminou de examinar as
queixas e especificações, creio que foram quase, se não de fato unânimes em descartar todo o
assunto, e justificar o caminho que ele escolhera seguir. Nem a queixa nem as especificações
eram por heresia, creio eu, mas por coisas conspiradas pelos inimigos do avivamento, e por
aqueles que foram enganados por uma influência externa.
No meio do avivamento foi necessário que eu deixasse Tróia por uma ou duas semanas e fosse
visitar minha família em Whitesboro. Enquanto estive fora, o Rev. Horatio Foote foi convidado
pelo Dr. Beman para pregar. Não sei quão freqüentemente ele pregou, mas lembro-me disso, que
ofendeu muito os membos já descontentes da igreja. Ele falou à comunidade com discursos muito
agudos e minuciosos, pelo que ouvi. Alguns deles finalmente decidiram deixar a congregação.
Fizeram isso e estabeleceram uma outra igreja; mas isso aconteceu depois de saí de Tróia, não sei
quanto tempo.
A falha desse esforço para derrumar o Dr. Beman frustrou consideravelmente o movimento
exterior, de oposição ao avivamento. Muitos incidentes interessantíssimos ocorreram durante esse
avivamento, que devo passar em silêncio, a fim de que não pareçam refletir muito severamente
nos opositores da obra.
Nesse avivamento, como nos anteriores, havia um espírito muito sincero de oração. Tínhamos
uma reunião diária de oração, de casa em casa, às onze horas. Em uma dessas reuniões lembro-
me que um Sr. S, caixa de um banco naquela cidade, estava tão envolvido pelo espírito de oração,
que quando a reunião terminou ele não conseguia se levantar, pois tinhamos todos ajoelhado em
oração. Ele pemaneceu de joelhos e gritava e gemia em agonia. Ele disse “Orem pelo Sr. –”,
presidente do banco no qual ele era um caixa. Esse presidente era um homem rico e não
convertido. Quando vimos que sua alma estava em batalha por aquele homem, as pessoas de
oração ajoelharam-se pelejaram em oração por sua conversão. Logo que a mente do Sr. S estava
tão aliviada que ele poderia ir para casa, todos nos retiramos, e logo depois o presidente do
banco, por quem oramos, expressou esperança em Cristo. Antes disso, creio que ele não havia
participado de nenhuma reunião, e ninguém sabia se estava preocupado com sua salvação. Mas a
oração prevaleceu, e Deus logo tomou seu caso nas mãos.
O pai do Juiz C que estava em Albany comigo, vivia com seu filho, de quem eu era hóspede na
época. O velho senhor fora um juiz em Vermont. Ele era admiravelmente correto em sua vida
secular, um homem respeitável, cuja casa em Vermont havia sido o lar de pastores que visitavam
o lugar, e ele estava, ao que parecia a todos, bastante satisfeito com sua vida amável e auto-
justificada. Sua esposa contara-me sobre sua ansiedade pela conversão dele, e seu filho
expressara repeditamente temor que a auto-justiça de seu pai jamais seria superada, e sua
amabilidade natural arruinaria sua alma.
Numa manhã de domingo, o Espírito Santo abriu o caso ao meu entendimento, e mostrou-me
como cuidar disso. Em poucos instantes eu tinha tudo em minha mente. Desci e contei à senhora
e seu filho o que estava prestes a fazer, e exortei-os a orar de coração por ele. Saí a seguir a
ordem divina, e a Palavra apoderou-se dele de forma tão poderosa que passou uma noite em
claro. Sua esposa me contou que ele passara uma noite de angústia, que sua auto-justiça fora
aniquilada por completo, e que estava quase em desespero. Seu filho havia-me contado que por
muito tempo ele se orgulhara de ser melhor do que os membros da igreja. Ele logo tornou-se
claramente convertido, e teve uma vida cristã até o fim.
Antes que eu deixasse Tróia, uma moça, Srta. S, do Novo Líbano, no condado de Columbia, que
era filha única de um dos diáconos ou presbíteros da igreja lá, veio até a cidade, ao que pude
saber, para comprar um vestido para um baile ao qual desejava ir. Ela tinha uma moça que era
sua parente em Tróia, que era uma dos jovens convertidos, e uma cristã muito zelosa. Ela
convidou a Srta. S para participar de todas as reuniões. Isso fez levantar-se a inimizade em seu
coração. Ela resistiu muito, mas sua prima pelejava com ela para que ficasse dia após dia, e
participasse das reuniões, até que, antes de ir embora, estava completamente convertida a Cristo.
Logo que seu olhos se abriram e ela fez as pazes com Deus, foi imediatamente para casa, e
começou a trabalhar por um avivamento naquele lugar. A religião no Novo Líbano estava,
naquela época, muito decadente. Os jovens eram praticamente todos ímpios, e os velhos
membros da igreja estavam em uma situação muito fria e ineficiente. O pai da Srta. S tornara-se
muito formal, e por um longo tempo assuntos religiosos haviam sido muito negligenciados
naquele lugar. Eles tinham um pastor de idade, um homem bom, eu creio, mas um homem que
parecia não saber como realizar uma obra de avivamento.
A Srta. S começou primeiro em casa, rogando a seu pai que esquecesse sua velha oração, como
ela mesma disse, e acordasse, engajando-se na religião. Como ela era a queridinha da família, e
em especial de seu pai, sua conversão e suas palavras afetaram-no grandemente. Logo ele se
levantou, e tornou-se outro homem, com o forte sentimento de que deveriam ter um avivamento
religioso. A filha foi também até a casa de seu pastor, e começou com uma filha dele que estava
em pecado. Ela logo se converteu, e ambas uniram-se em oração por um avivamento, e
começaram a trabalhar, de casa em casa, comovendo as pessoas.
No curso de uma ou duas semanas, tanto interesse fora incitado que a própria Srta. S foi até
Tróia, para implorar-me que fosse até lá pregar. O pastor e os membros da igreja haviam pedido-
lhe para fazer isso. Eu fui e preguei. O Espírito do Senhor foi derramado, e o avivamento logo
prosseguiu com grande poder. Muitos casos interessantes ocorreram quase todos os dias.
Conversões repentinas multiplicavam-se, e uma grande e abençoada mudança veio sobre o
aspecto religioso do lugar inteiro.
Aqui estávamos fora da região envenenada pela influência da oposição levantada pelo Dr.
Beecher e pelo Sr. Nettleton; conseqüentemente ouvimos muito pouco sobre oposições nesse
lugar durante o avivamento, especialmente da parte de professores de religião. Tudo parecia
caminhar em harmonia, até onde eu sei, na igreja. Em pouco tempo sentiram que precisavam
muito de um avivamento, e pareciam estar muito gratos a Deus por visitá-los. A maioria dos
homens proeminentes da comunidade se converteu.
Entre esses havia um Dr. W, que era conhecido como um infiel. A princípio, manifestou bastante
hostilidade com o avivamento, e disse que as pessoas estavam loucas. Mas ele foi feito um alvo
especial de oração pela Srta. S, e mais algumas pessoas que compadeciam-se de seu caso, e que
tinham muita fé que, mesmo com sua inflamada oposição, ele em pouco tempo seria convertido.
Certo domingo de manhã, ele foi à reunião, e eu pude ver o encardo daqueles que oravam por ele.
Ficaram de cabeça baixa e intercedendo durante praticamente todo o sermão. Estava claro,
entretanto, antes que chegasse a noite, que a oposição do doutor começava a ceder. Durante o dia
ouviu, a aquela noite passou com sua mente muito agitada. Na manhã seguinte veio visitar-me,
quebrantado como uma criança, e confessou que estivera totalmente errado. Ele foi muito franco
em abrir seu coração, e ao declarar a mudança que viera sobre ele. Estava claro que ele era outro
homem, e apartir daquele dia abraçou a obra, e prosseguiu com todas as suas forças.
Havia também um Sr. T, um mercante, provavelmente o cidadão mais rico e proeminente da
cidade naquela época, mas um sético. Recordo-me de certa noite ter pregado sobre o texto:
“Porquanto a inclinação da carne é inimizade contra Deus”. Ele estava presente. Era um homem
de ótima moral, para os padrões comuns; e era muito difícil fazer com que qualquer coisa ficasse
presa à sua mente para convencê-lo do pecado. Sua esposa era uma mulher cristã, e o Senhor
convertera sua filha. A situação na cidade e em sua família o interessara tanto, que ele vinha para
a reunião escutar o que era dito. No dia seguinte a esse sermão sobre depravação moral,
confessou-se convencido. Disse-me que o atingira com um poder irresistível. Viu que era tudo
verdade, e assegurou-me que sua mente estava decidida a servir o Senhor pelo resto de sua vida.
Recordo-me também que John T. Avery, um reconhecido evangelista, que já trabalhara em
muitos lugares por muitos anos, estava presente naquela reunião. Sua família vivia no Novo
Líbano. Ele nascera e fora criado lá, e nessa época era um rapaz, de talvez quinze ou dezessei
anos de idade. Na manhã seguinte da pregação dquele sermão, ele veio até mim, um dos mais
interessantes jovens convertidos que jamais tinha visto. Ele começou a contar-me o que estava
por sua mente há vários dias, e entào disse “Eu estava totalmente envolvido no sermão, e foi
levado jundo com ele. Eu pude entender. Deu desisti, entreguei tudo para Cristo.” Isso ele disse
de uma maneira que não posso esquecer. Mas por quê devo multiplicar os casos? Poderia gastar
horas relatando incidentes, e a conversão de alguns indivíduos específicos. Mas não devo entrar
muito em particulares.
Mas devo mencionar um pequeno incidente, que teve uma certa conexão com a oposição que fora
manifestada em Tróia. O presbitério de Columbia teve uma reunião, em algum lugar dentro do
limite de sua região, enquanto eu estava no Novo Líbano, e sendo informados que eu estava
trabalhando em uma de suas igrejas, nomearam um comitê para visitar o local e pesquisar sobre o
estado das coisas, pois tinham sido levados a acreditar, por Tróia e por outros lugares, e pela
oposição do Sr. Nettleton e as cartas do Dr. Beecher, que meu método de conduzir avivamentos
era tão questionável, que seria dever do presbitério verificar. Nomearam dois de seus membros,
como depois vim a saber, para visitar o lugar, e assim o fizeram. Depois eu soube, apesar de não
recordar ter escutado nada sobre isso na época, que as notícias dessa ação do presbitério
chegaram ao Novo Líbano, e temia-se que isso criasse alguma divisão, ou perturbação, caso esse
comitê realmente viesse. Alguns dos mais fervorosos cristãos fizeram disso um alvo particular de
oração; por um ou dois dias antes do dia esperado de sua chegada, oraram muito para que o
Senhor tivesse controle sobre isso, e não permitisse que isso dividisse a igreja ou introduzisse
nenhum elemento de discórdia. Esperava-se que o comitê chegasse no domingo e participasse das
reuniões. Mas um dia antes, uma violenta nevasca veio, e a neve ficou tão alta que eles viram que
seria impossível chegar até lá, ficaram detidos no domingo, e na segunda-feira, conseguiram
voltar para suas próprias congregações. Aqueles irmãos eram o Rev. J B e o Rev. Sr. C. O Sr. C
era pastor da igreja presbiteriana em Hudson, Nova Iorque, e o Sr. B era pastor da igreja
presbiteriana em Chatham, um vilarejo a mais ou menos vinte e cinco quilômetros abaixo de
Albany.
Pouco tempo depois disso, recebi uma carta do Sr. B, informando-me que o presbitério o havia
indicado como parte de um comitê para me visitar, e fazer perguntas à população sobre meu
modo de conduzir avivamentos, e convidando-me para ir passar um domingo com ele, e pregar
para ele. Assim eu fiz. Como depois eu soube, seu relatório para o presbitério dizia que não havia
razão e era desnecessário que tomassem qualquer outra ação quanto ao caso; que o Senhor estava
na obra, e que deveriam cuidar para que não fossem achados em peleja contra Deus. Não soube
de mais nenhuma oposição vinda dalí. Jamais duvidei que o presbitério de Columbia estivesse
honestamente alarmado com o que tinham escutado. Jamais questionei se o curso que tomaram
fora apropriado ou não, e sempre admirei sua manifesta honestidade, ao aceitar o testemunho de
suas próprias fontes. Até onde sei, eles depois simpatizaram-se com a obra que estava
acontecendo.
Nessa época, uma proposta foi feita por alguém, não sei quem, que se realizasse uma convenção
ou conferência sobre o assunto da condução de avivamentos.
A troca de correspondências começou entre os irmãos do Oeste que haviam-se envolvido
naqueles avivamentos, e do Leste, que opunham-se a eles. Finalmente foi acertado que a
convenção seria realizada num certo dia, creio que em julho, de 1827, no Novo Líbano, onde
estivera trabalhando. Eu tinha saído do Novo Líbano e estava passando um curto período em um
vilarejo de Little Falls, em Mohawk, perto de Utica. Alguns casos muito interessantes ocorreram
lá em minha breve estadia, mas nada tão admirável para que encontrasse lugar nesta narrativa,
pois fui obrigado a deixar o lugar depois de pouquíssimo tempo e retornar para o Novo Líbano,
para participar da convenção.
Parecia que o objetivo dessa reunião sempre foi mal entendido por muitos. Descobri que a
impressão geral do público era que alguma reclamação fora alegada contra mi, e que essa reunião
seria um julgamento meu, diante de um conselho. Mas de maneira nenhuma esse era o caso. Não
me envolvi em nada com a organização da convenção. Nem estava mais particularmente
preocupado com seus resultados do que os outros membros que dela participavam. O objetivo era
tratar dos fatos daqueles avivamentos que haviam recebido tanta oposição, conversar em
referência a eles, comparar pontos de vista, e ver se não podíamos chegar a um entendimento
melhor do que o que existia, entre os opositores dos avivamentos vindos do Leste, e os irmãos
que vinham sendo usados como instrumento para promovê-los.
Cheguei no Novo Líbano um ou dois dias antes do início da convenção. No dia marcado, os
membros convidados chegaram. Não eram homens que foram indicados por nenhum corpo
eclesiástico, mas haviam sido convidados pelos irmãos mais preocupados, do Leste e do Oeste,
para reunirem-se e chegarem a um consenso. Nenhum de nós homens estávamos lá como
representantes de quaisquer igrejas ou corpos eclesiásticos. Reunímo-nos sem qualquer
autoridade de agir pela igreja, ou qualquer área dela, mas simplesmente, como já disse, para
consultar, comparar visões, ver se havia algo errado de fato, e se houvesse, concordar em corrigir
os erros, em ambos os lados. De minha parte, supunha que quandos os irmãos se reunissem e
expusessem suas idéias, e os fatos fossem entendidos, os irmãos do Leste que se opunham ao
avivamento, especialmente o Dr. Beecher e o Sr. Nettleton, veriam seus erros e que estavam
enganados, e que a convenção seria dispensada, pois eu estava certo de que as coisas das quais
eles reclamavam em suas cartas não tinham fundamento algum na verdade.
Dos irmãos que participavam dessa convenção, lembro-me do seguinte: do Leste, estavam o Dr.
Beecher e o Sr. Nettleton, Dr. Joel Hawes de Hartford, Dr. Dutton de New Haven, Dr.
Humphrey, presidente da Faculdade Amherst, Rev. Justin Edwards de Andover, e um número
considerável de outros membros cujos nomes não me recordo. Do Oeste, isto é, da área central de
Nova Iorque, onde os avivamentos aconteciam no momento, estavam: Dr. Beman de Troy, Dr.
Lansing de Auburn, Sr. Aiken de Utica, Sr. Frost de Whitesboro, Sr. Gillett de Roma, Sr. Coe de
New Hartford, Sr. Gale de D’Oeste, Sr. Weeks de Paris Hill, e talvez alguns outros cujos nomes
não me recordo agora, e eu.
Logo descobrimos que algumas políticas foram impulsionadas na organização da convenção, da
parte do Dr. Beecher. No entanto, não prestamos atenção. A convenção foi organizada, e creio
que o Dr. Humphrey presidiu como moderador. Não havia sequer o menor ressentimento, que eu
saiba, entre os membros da convenção. É verdade que os irmãos do Oeste olhavam com um
pouco de suspeita para o Sr. Weeks, como já comentei antes, como sendo o homem que fora
responsável, em um grau considerável, pela inútil apreensão dos irmãos do Leste. Logo que a
convenção estava devidamente organizada, e os assuntos a serem tratados declarados e
entendidos, foi levantado o questionamento ao Dr. Beecher e ao Sr. Nettleton quando à fonte das
informações que haviam recebido. Fomos particularmente solícitos para descobrir o que estava
enganando aqueles irmãos e dando-lhes tal idéia dos avivamentos a ponto de fazê-los sentirem-se
certos nas posturas que adotavam. Queríamos saber como e quando toda essa misteriosa oposição
começara. Então perguntamos de uma vez, e pedimos para saber da parte dos irmãos de qual
fonte haviam recebido suas informações, no que dizia respeito aos avivamentos. Descobriu-se
logo de cara que era uma questão embaraçosa.
Eu deveria ter mencionado antes, e agora desejo ser distintamente compreendido ao dizer, que
nenhuma oposição fora manifestada da parte dos pastores do Leste, que participavam da
convenção, exceto pelo Dr. Beecher e pelo Sr. Nettleton. Não era difícil ver a partir de um outro
ponto de vista que o Dr. Beecher sentia-se ameaçado, e que sua reputação estava em jogo; que
suas cartas, algumas delas, haviam chegado à imprensa, e ele seria considerado responsável por
elas, caso não houvesse provas de que haviam sido necessárias. Estava muito claro que ambos ele
e o Sr. Nettleton estavam muito sensibilizados. Também era óbvio que o Dr. Beecher havia
assegurado a participaçãos dos mais influentes pastores da Nova Inglaterra, a fim de apoiá-lo
diante do público, e justificar-se a si mesmo pelo caminho seguido. Quanto ao Sr. Nettleton, o
Dr. Beecher assegurara-lhe que seria apoiado pela Nova Inglaterra, e que todos os judicatórios
das igrejas da Nova Inglaterra sairiam em seu favor, apoiando-o.
Quando levantou-se a questão das fontes da informação, o Dr. Beecher respondeu: “Não viemos
aqui para sermos catequisados, e nossa dignidade espiritual nos proíbe de responder a tais
questões.” De minha parte, achei estranho, sendo que tais cartas haviam sido escritas e publicadas
aparentemente em oposição aos avivamentos; que tais coisas haviam sido afirmadas como fatos,
sendo que não o eram; que tamanha tempestade de oposição fora levantada país a fora; que
haviamo-nos reunido para considerar toda a questão, que não nos seria permitido saber qual era a
fonte de suas informações. Mas vimos que éramos completamente incapazes de saber qualquer
coisa sobre isso.
A congregação reuniu-se por vários dias; mas conforme os fatos em relação aos avivamentos
apareciam, o Sr. Nettleton ficou muito nervoso pois não conseguia participar de muitas de nossas
sessões. Ele viu claramente que estava perdendo terreno, e que nada poderia ser determinado que
pudesse justificar a postura que adotara. Isso deve ter sido muito visível também para o Dr.
Beecher.
Eu deveria ter dito antes, que quando toda a questão apareceu, como os fatos foram sabidos sobre
os avivamentos, que o Dr. Beecher disse que o testemunho daqueles irmãos do Oeste, que
haviam-se envolvido na promoção dos movimentos, não deveria ser aceito; porque já que éramos,
em certo sentido, de partidos diferentes em uma mesma questão, e éramos em pessoa, o objeto de
sua censura, seria como testemunhar em nosso próprio julgamento, que não éramos portanto
admissíveis como testemunhas, e os fatos não deveriam ser recebidos de nossa parte. Mas os
irmãos do Leste não escutaram nem por um segundo. O Dr. Humphrey firmemente comentou que
éramos as melhores testemunhas que poderiam existir; que sabíamos o que havíamos feito, e o
que havia sido feito naqueles avivamentos religiosos; que éramos portanto as testemunhas mais
competentes e dignas de crédito; que nossas declarações deveriam ser aceitas sem hesitação pela
convenção. A isso, até onde sei, houve uma concordância geral, com a exceção do Dr. Beecher e
do Sr. Nettleton.
Essa decisão, contudo, era muito claro na hora, afetou grandemente ambos. Eles viram que se os
fatos fossem expostos, dos irmãos que testemunharam os avivamentos, que estiveram presentes e
sabiam tudo sobre eles, todos os enganos, dúvidas e erros sobre o assunto poderiam ser
inteiramente superados. Nossa reunião foi muito fraterna até o fim; não houve manifestação de
disputa ou ressentimentos; mas, com a exceção dos irmão que já mencionei, Dr. Beecher e Sr.
Nettleton, os irmãos do Leste pareciam muito sinceros, desejosos para saber a verdade, e felizem
em saberem dos detalhes sobre os avivamentos do Oeste.
Muitos pontos foram discutidos durante a convenção, um em especial sobre a propriedade de
mulheres terem qualquer participação em reuniões sociais. O Dr. Beecher mencionou essa
objeção, e discutiu extensivamente, insistindo nela, dizendo que tal prática ia de encontro com as
Escrituras e eram inadmissíveis. Dr. Beman respondeu-lhe com um curto comentário, mostranto
conclusivamente, que essa prática era comum aos apóstolos; que no capítulo onze de Coríntios, o
apóstolo chamou a atenção da igreja para o fato que mulheres cristãs haviam chocado as idéias
orientais, por sua prática de participarem e orarem em suas reuniões religiosas, sem seus véus.
Ele mostrou claramente que o apóstolo não estava reclamando de suas participações, mas do fato
de deixarem de lado seus véus; o que causara um choque na opinião predominante, e ocasionara a
desgraça de opositores gentios. O apóstolo não reprovava a sua prática de oração, mas
simplesmente as admoestava a usarem seus véus quando o fizessem. A essa réplica do Dr.
Beman, nenhuma resposta foi feita ou mesmo tentada. Era conclusiva demais para admtir
qualquer refutação.
Perto do final da convenção, o Sr. Nettleton entrou, claramente muito agitado, e disse que agora
explicaria para a convenção as razões que tivera para seguir o caminho que seguiu. Ele tinha algo
que chamava de uma carta histórica, na qual declarava dar as razões e declarar os fatos sobre os
quais apoiava sua oposição. Fiquei feliz em ouvir que ele desejava ler sua carta para a convenção.
Uma cópia dela fora enviada para o Sr. Aiken, quando eu ainda trabalhava com ele em Utica, e
ele ma havia entregue. Eu a tinha em minhas mãos na convenção, e mostra-la-ia no tempo certo,
caso o Sr. Nettleton não o tivesse feito.
Ele prosseguiu a ler sua carta. Era uma declaração, sob tópicos definidos, das coisas de que ele
reclamava, e que fora informado que eram praticadas por nós, especialmente por mim, naqueles
avivamentos. Era evidente que a carta era direcionada para mim, em particular, apesar de ter sido
poucas vezes mencionado nela, nominalmente. Ainda assim as coisas reclamadas foram de tal
forma apresentadas, que não havia como não entender o objetivo. A convenção escutou
atentamente toda a carta, que era um longo sermão. O Sr. Nettleton então comentou que a
convenção tinha diante de si os fatos sobre os quais ele agira, e que supunha terem exigido e
justificado suas ações.
Quando assentou-se, eu levantei, expressei minha satisfação por aquela carta ter sido lida,
comentei que tinha uma cópia dela, e leria no momento certo, se o Sr. Nettleton não o tivesse
feito. Então afirmei que até onde ia meu conhecimento pessoal, nenhum dos fatos ali
mencionados e reclamados era verdade. E adicionei “Todos os irmãos com quem fiz essass obras
estão aqui, e eles sabem se taia acusações são cabíveis a mim ou não, em todas as suas
congregações. Se eles souberem ou acreditarem que qualquer dessas coisas é verdade sobre mim,
que falem aqui e agora.”
Todos de uma vez confirmaram, seja por dizer, ou por manifestar consentimento, que não sabiam
de nada disso. O Sr. Weeks estava presente, e portanto eu esperava que, se qualquer coisa fosse
dita para contrariar minha explícita negação de todos os fatos acusados pela carta do Dr.
Nettleton, a meu respeito, viria dele. Eu supunha que se ele tivesse escrito para o Dr. Beecher ou
para o Sr. Nettleton, confirmando tais fatos, que senti-se-ia na obrigação de falar, naquela hora e
lugar, para justificar o que escrevera. Mas ele não disse nenhuma palavra. Ninguém ali fingia
justificar uma frase sequer da carta histórica do Sr. Nettleton que dizia respeito a mim. Isso, é
claro, foi estarrecedor para o Sr. Nettleton e para o Dr. Beecher. Se qualquer um de seus supostos
fatos fossem recebidos do Sr. Weeks, sem dúvida esperavam que ele falasse, justificando o que
escrevera. Mas ele não disse nada comentando que tinha qualquer conhecimento dos fatos que o
Sr. Nettleton apresentara em sua carta. A leitura dessa e o que seguiu, prepararam o caminho para
o encerramento da convenção.
E agora seguem algumas coisas que sinto muito ser obrigado a mencionar. O Sr. Justin Edwards
estivera presente durante todas as discussões, e participara, creio eu, de todas as sessões da
convenção. Ele era um amigo muito íntimo do Dr. Beecher e do Sr. Nettleton, e deve ter visto
claramente como tudo foi apresentado. Não sei pela sugestão de quem, perto do encerramento da
convenção, ele apresentou uma série de resoluções, na qual, passo a passo, ele resolvia
desaprovar tal, tal e tal medidas na promoção dos avivamentos. Ele abrangiu, em suas resoluções,
quase, senão todas as especificações contidas na carta histórica do Sr. Nettleton, desaprovando
todas as coisas das quais ele reclamara.
Quando terminou de ler, imediatamente vários irmãos do Oeste disseram “Aprovamos essas
resoluções, mas qual é o objetivo delas? É claro que seu objetivo é fazer com que o povo pense
que tais coisas foram praticadas; que esta convenção, condenando tais práticas, condena os
irmãos que envolveram-se nesses avivamentos; e que essa convenção justifica, portanto, a
oposição feita.” O Dr. Beecher insistia que o objetivo das resoluções era inteiramente
prospectivo, que nada estava dito ou implícito em respeito ao passado, mas que deveriam servir
meramente como diretrizes, para que fosse sabido a convenção desaprovava tais coisas, caso
viessem a existir, sem implicação alguma que tais coisas jamais haviam sido feitas.
A réplica foi imediata, de que a partir do fato de tais reclamações terem sido expostas, e que era
público e notório que tais acusações haviam sido feitas, era evidente que tais resoluções tinham o
objetivo de apoiar os irmãos que fizeram a oposição, e de causar a impressão que tais coisas
condenadas ali, haviam sido realizadas nos avivamentos. De fato estava perfeitamente claro que
aquele era o objetivo daquelas resoluções da parte do Sr. Beecher e do Sr. Nettleton.
Os irmãos do Oeste disseram “Claro que votaremos por essas resoluções. Acreditamos nessas
coisas tanto quanto vocês, e desaprovamos as práticas condenadas nessas resoluções tanto quanto
vocês, portanto não podemos evitar de votar por elas. Mas acreditamos que elas têm o objetivo de
justificar essa oposição, tendo uma aplicação retrospectiva, e não prospectiva.” Contudo,
aprovamos as resoluções, creio que por unanimidade; e recordo-me de dizer que, de minha parte,
estava disposto a passar tais resoluções adiante, e que todos os fatos deveriam ser deixados para a
publicação e adjudicação do julgamento solene. Eu então propus que, antes que terminássemos,
aprovássemos uma resolução contra toda mornidão em religião, condenando-a tão fortemente
quanto qualquer uma das práticas mencionadas na resolução. Dr. Beecher declarou que não havia
perigo algum de mornião; sobre o quê a convenção foi adiada por tempo indeterminado.
Como a publicação de todos os procedimentos foi recebia pelo público, não preciso dizer. No
segundo volume da biografia do Dr. Beecher, página 101, encontro a seguinte nota do editor. Ele
diz “Uma leitura cuidadosa das minutas dessa convenção convenceu-nos de que não havia
diferenças radicais de opiniões entre os irmãos do Oeste e aqueles da Nova Inglaterra, e que pela
influência de apenas um indivíduo, o mesmo acordo pode ter sido estabelecido ali, que veio a ser
efetivo mais tarde, na Filadélfia.” Isso é sem dúvida, verdade. O fato é que se o Sr. Nettleton não
tivesse dado ouvidos a falsos testemunhos, e não se comprometesse contra os avivamentos,
nenhuma convenção sobre o assunto seria realizada ou imaginada. Foi afinal maravilhoso que ele
tenha acreditado em tais relatórios, pois já fora tantas vezes objeto de incontáveis representações
erradas. Mas ele estava quase esgotado, tornara-se excessivamente nervoso, e é claro, temeroso,
facilmente agitado, e ademais tinha a fraqueza, atribuida a ele pelo Dr. Beecher em sua biografia,
de nunca desistir de sua própria vontade. Tenho certeza que digo isso com sentimentos
inteiramente gentis em relação ao Sr. Nettleton, pois jamais tive outros.
Depois dessa convenção, a reação do público foi surpreendente. No final do verão desse mesmo
ano, encontrei o Sr. Nettleton na cidade de Nova Iorque. Ele me disse que estava lá para dar suas
cartas contra os avivamentos do Oeste ao público, na forma de panfletos. Perguntei-lhe se ele iria
publicar sua carta histórica que havia lido diante da convenção. Ele disse que devia publicar suas
cartas, para justificar o que fizera. Eu lhe disse que se publicasse aquela carta, seria negativa para
ele mesmo, pois todos os que participaram dos avivamentos veriam que ele não tinha razão
alguma. Ele respondeu que precisava publicar suas cartas, e arriscaria a reação. Publicou muitas
outras cartas, mas aquela, não, até onde pude saber. Se fosse verdade, sua publicação causaria a
impressão de que sua oposição fora necessária. Mas sendo que nada foi verdade, fez bem em não
publicá-la.
Aqui devo fazer uma pequena menção a algumas coisas que encontro na biografia do Dr.
Beecher, sobre as quais creio que houveram alguns mal-entendidos. A biografia o apresenta como
tendo justificado sua oposição aos avivamentos – isto é, à maneira na qual foram conduzidos –
até o dia de sua morte; e como tendo provado que os maus dos quais reclamava foram reais e
corrigidos pela oposição. Se essa foi sua opinião depois daquela convenção, ele ainda deve ter
acreditado que os irmãos que testemunharam que tais coisas não haviam sido feitas, eram um
bando de mentirosos; e deve ter rejeitado completamente nosso testemunho único. Mas sendo que
ele e o Sr. Nettleton estavam extremamente ansiosos para justificar sua oposição, se ainda
acreditavam que aquelas declarações na carta história eram verdade, por que não a publicaram, e
apelaram àqueles que estavam na região e que testemunharam os avivamentos? Se a carta fosse
verdade, sua publicação seria sua justificação. Se ainda acreditavam que ela fosse verdade, por
quê ela não foi publicada com as outras cartas do Sr. Nettleton? Concluí que os desenvolvimentos
feitos naquela convenção abalaram a confiaça do Dr. Beecher na sabedoria e justiça da oposição
do Sr. Nettleton pelo fato de tê-lo escutado comentar, enquanto eu trabalhava em Boston, um ano
e meio depois da convenção, e depois da publicação das cartas, que depois daquilo, não enviaria
o Sr. Nettleton a Boston nem por mil dólares. Será que é possível que, até sua morte, Dr. Beecher
continuou a acreditar que os pastores daquelas igrejasonde os avivamentos ocorreram eram
mentirosos, e não eram dignos de crédito no que dizia respeito aos fatos que deveriam estar
dentro de seu conhecimento particular?
Encontro nas biografias do Dr. Beecher e do Sr. Nettleton, muitas reclamações sobre o espírito
mal que prevalecia naqueles avivamentos. O erro deles está em atribuir um espírito de denúncia
ao lado errado. Jamais ouvi o nome de nenhum dos dois mencionado, durante aqueles
avivamentos, em público, que me recorde, e certamente não com um sentido de censura. Eles
nunca, nem mesmo em conversas particulares, mencionados, ao que sei, com ressentimento. Os
amigos e promotores desses avivamentos tinham um doce espírito cristão, e o mais distante
possível de serem denunciantes. Se esse fosse o caso, tais abençoados avivamentos jamais
poderiam ter sido promovidos por eles, e jamais teriam sido tão gloriosos quanto foram. Não, a
denúncia estava no lado da oposição. Uma citação da biografia do Dr. Beecher ilutrará o ânimo
da oposição. No segundo volume, página 101, ele é representado como se falando a mim, na
convenção no Novo Líbano “Finney, eu sei do seu plano, e você sabe que sei; você pretende vir
para Connecticut, e levar um raio de fogo para Boston. Mas se você tentar fazer isso, como vivo
está o Senhor, digo que encontrarei contigo na fronteira do estado, e chamarei a artilharia, e
lutarei por cada centímetro do caminho para Boston, e então lutarei ali com você.” Eu não me
lembro disso, mas se o Dr. Beecher se lembra, deixe que ilustre o espírito de sua oposição. O fato
é que, ele estava grosseiramente enganado em todos os passos do caminho. Eu não tinha o
objetivo nem o desejo de ir até Connecticut, nem a Boston. O sobrescrito, e muitas outras coisas
que encontro em sua biografia, mostram como ele estava completamente enganado, e quão
inteiramente ignorante era sobre o caráter, motivos e ações daqueles que haviam trabalhado
nesses gloriosos avivamentos. Escrevo essas coisas sem nenhum prazer. Encontro muito que me
surpreende nessas biografias, e que me leva à conclusão que, por algum erro, o Dr. Beecher foi
mal entendido e representado. Mas passo a outros assuntos.
Depois dessa convenção não ouvi mais nada sobre a oposição do Dr. Beecher e do Sr. Nettleton.
A oposição naquela forma gastara-se a si mesma. Os resultados dos avivamentos foram tais a
ponto de calar a boca dos maldizentes, e convencer a todos que eram de fato gloriosos e puros
avivamentos religiosos, e tão distante de qualquer coisa questionável quanto qualquer avivamento
já visto nesse mundo. Que qualquer um que leia Atos dos Apóstolos, e os registros dos
avivamentos de seus dias; então que leiam o que dizem em suas epístolas, sobre a reação,
deslizes, e apostasias que seguiram. Que descubram a verdade a respeito dos gloriosos
avivamentos sobre os quais tenho escrito, seu início, progresso, e resultados, que têm sido cada
vez mais manifestos por quase quarenta anos, e não poderão deixar de ver que esses avivamentos
foram tão verdadeiramente de Deus quanto aqueles.
Avivamentos devem crescer em pureza e poder, como a inteligência aumenta. Os convertidos nos
tempos apostólicos ou eram judeus, com todo seu preconceito e ignorância, ou gentios
desgraçados. A arte da impressão ainda não fora descoberta. Cópias do Antigo Testamento
palavra escrita de Deus não existiam, senão em poder dos ricos que podiam comprar cópias
manuscritas. O Cristianismo não tinha nenhuma literatura acessível às massas. Os meios de
instrução não estavam à mão. Com tanta escuridão e ignorância, com tantas falsas noções de
religião, com tanto para enganar e degradar, e tão poucas facilidades para sustentar a reforma
religiosa, não era de se esperar que os avivamentos religiosos fossem puros e livres de erros.
Nós temos e pregamos o mesmo Evangélho daqueles apóstolos. Temos todas as facilidades de
previnir erros na doutrina e na prática, e de assegurar uma religião Evangélica sólida e sincera.
As pessoas em meio as quais esses grandes avivamentos prevaleceram eram cultas e inteligentes.
Não tinham apenas a educação secular, mas também a religiosa, abundando em meio de si.
Praticamente todas as igrejas tinham um pastor estudado, capaz e cheio de fé. Esses pastores
eram perfeitamente capazes de julgar a solidez e discrição de um evangelisa, cujos trabalhos
desejava aproveitar. Eram capazes de julgar quais os métodos apropriados a serem empregados.
Deus colocou Seu selo sobre as doutrinas que foram pregadas, e nos meios que foram utilizados
para levar adiante essa grande obra, de uma maneira absolutamente impactante e admirável. Os
resultados são agora encontrados por todo país. Os convertidos daqueles avivamentos ainda
vivem hoje, e trabalham na obra de Cristo por almas, em quase, senão em todos os Estados desta
União. Isso é apenas para dizer que eles estão entre os cristãos mais usados e inteligentes neste,
ou em qualquer outro país.
Considerando que já trabalhei extensivamente neste país, e na Grã-Bretanha, e que nenhuma
atitude foi tomada quanto à meus métodos, concluiu-se e declarou-se que desde a oposição feita
pelo Sr. Nettleton e pelo Dr. Beecher, eu havia sido reformado, e desistira dos métodos dos quais
eles reclamavam. Isso é um grande erro. Sempre e em todos os lugares, utilizei todas as mesmas
medidas que foram usadas naqueles avivamentos e muitas vezes introduzi novos meios, sempre
que achei oportuno. Nunca vi a necessidade de reforma nesse aspecto. Vivesse eu toda minha
vida novamente, creio que, com a experiência de mais de quarenta anos em obras de avivamento,
usaria, sob as mesmas circunstâncias, substancialmente os mesmos métodos que utilizei.
E que não se entenda que tomo para mim o crédito. De fato não. Não era sabedoria alguma de
minha parte que me direcionava. Senti minha ignorância e dependência, e fui levado a olhar para
Deus continuamente buscando Sua liderança. Eu não tinha dúvidas na época, nem tenho agora,
que o Senhor me guiava por Seu Espírito, para seguir o caminho que segui. Ele me guiou tão
claramente dia após dia, que jamais pude duvidar de ser divinamente dirigido.
Que os irmão que se opunham àqueles avivamentos eram homens bons, não tenho dúvida. Que
estavam enganados, grosseira e injuriosamente errados, também não. Se morreram acreditando
que tinham razões justas para terem feito o que fizeram, escreveram, disseram, e que corrigiram
os maus dos quais reclamavam, morreram grosseiramente enganados a esse respeito. Não é pela
segurança da igreja, pela honra dos avivamentos ou pela glóra de Cristo que a posteridade deve
acreditar que tais maus existiram e foram corrigidos, por um espírito tal, e de uma maneira tal
como foi representado. Permaneceria eu em silêncio, se um esforço tão destacado não tivesse
sido feito para perpetuar e confirmar a ilusão de que a oposição àqueles avivamentos fora
justificável e bem-sucedida, pois de fato, não era nenhum dos dois.
Não tenho dúvidas que de Dr. Beecher foi levado, por alguém, a acreditar que sua oposição era
necessária. Com base em sua biografia, parece que na Filadélfia, na primavera seguinte à
convenção, houve um acordo entre ele, o Dr. Beman e outros, de esquecerem o assunto, e não
mais publicar nada sobre esses avivamentos. A verdade é que, toda a controvérsia e todas as
publicações foram feitas do lado da oposição. Antes da reunião na Filadélfia, o Sr. Nettleton
publicara suas cartas, e não vi mais nada publicado sobre o assunto.
Eu não era parte do acordo firmado na Filadélfia, não obstante, se a biografia do Dr. Beecher não
reabrisse esse assunto com o claro objetivo de justificar a postura que adotara, revivendo a
impressão sobre a mente das pessoas que ao fazer a oposição ele executara uma grande e boa
obra, não me sentiria obrigado a dizer, o que agora não posso justificar calar. Escrevo por
experiência própria, e para mim não importa quem possa ter dado ao Dr. Beecher os supostos
fatos sobre os quais ele agia. Aqueles fatos declarados não eram fatos, como declarei antes da
convenção; declaração a qual fora confirmada por todos os irmãos com quem já trabalhara. Isso
era prova, se qualquer coisa pode ser provada pelo testemunho humano. Nesse testemunho, ao
que parecia, o Dr. Beecher não acreditava, caso seu biógrafo não o tenha mal-interpretado. E o
que dirão as igrejas no condado de Oneida quanto a isso? Será que podem, que acreditarão que
um homens como o Rev. Dr. Aiken, o Rev. John Frost, Rev. Moses Gillett, Rev. Sr. Coe, e os
outros homens daquele condado, que participaram da convenção, mentiram deliberadamente
sobre um assunto que era de seu conhecimento pessoal? Não importa quem eram os informantes
do Dr. Beecher; certamente nenhum dos pastores daqueles lugares onde prevaleceram os
avivamentos jamais deu-lhe qualquer informação que justificasse sua conduta; e homem nenhum
entendia o assunto tão bem quanto eles. Concordo que, como a convenção decidira, eles eram as
melhores testemunhas que podiam existir do que foi dito e feito em suas próprias congregações, e
seus testemunhos foram unânimes em dizer que tais acusações jamais foram fundadas em fatos.
Eu tinha lido as fortes, e mesmo terríveis acusações contra os irmão que trabalhavam naqueles
avivamentos, contidas na carta do Dr. Beecher para o Dr. Taylor, na qual ele declara que sua
correspondência justificará sua conduta e o que escrevia contra aqueles irmãos. Quando eu soube
que esse assunto seria aberto ao público na biografia do Dr. Beecher, esperei que, pelo menos,
chegaríamos aos autores daqueles relatórios, pela publicação de sua correspondência. Mas não
vejo nada em sua correspondência para justificar sua atitude. Será que essas acusações devem ser
virtualmente repetidas e estereotipadas, e a correspondência pela qual foi considerada justificada,
ocultada? Se, como parece, o Dr. Beecher, até o dia de sua morte, continuou a rejeitar nosso
unido testemunho, não é nosso direito saber de quem é o testemunho que impede o nosso?
Na página 103 do segundo volume da auto-biografia do Dr. Beecher, lemos o seguinte: “Na
primavera de 1828, disse o Dr. Beecher em conversa sobre o assunto, eu descobri que os amigos
do Sr. Finney estavam alinhando seus planos para causar uma impressão na assembléia geral, que
foi realizada na Filadélfia, e para colocar um de seus homens no lugar do Sr. Skinner. A igreja do
Skinner acabara de convidar-me para pregar para eles, e escrevi respondendo que supriria, se
assim desejassem, enquanto a assembléia estava em sessão. Isso bloqueou as rodas de alguém. Eu
fiquei até o final, quando Beman pregou por metade de um dia. Isso derrotou seus planos. Eles
falharam.” O quê isso significa, não sei dizer. Ao ler o sobrescrito, e o que segue até o fim do
capítulo, junto com o que encontro em outras partes sobre o assunto nessa biografia, fico
estarrecido em vista das suspeitas e ilusões sob as quais a mente do Dr. Beecher estava
trabalhando. Se qualquer um dos meus amigos estivesse tentando tomar o lugar no púlpito do Dr.
Skineer, que acabara de ficar vago, não me lembro de ouvir nenhum comentário. Eu era, naquela
época, um ministro na igreja Presbiteriana, e estava pregando na Filadélfia quando a assembléia
estava em sessão, e enquanto o Dr. Beecher estava lá. Eu era tão ignorante quanto uma criança
sobre todo esse planejamento revelado na biografia. Eu não compartilhava de nenhum dos
terrores e distrações que pareciam perturbar tanto o Dr. Beecher e o Sr. Nettleton. Se qualquer um
de meus amigos compartilhava do estado mental desses irmãos, eu não sabia.
Os registros fiéis de minhas obras até o momento da convenção, e dalí por diante, mostrarão quão
pouco eu sabia ou me importava com o que o Dr. Beecher e o Sr. Nettleton faziam ou falavam
sobre mim. Bendigo o Senhor pois fui guardado de ser distraído de minha obra por sua oposição,
e nunca fiquei de modo algum desconfortável sobre isso. Quando ainda estava em Auburn, como
já relatei, Deus havia-me dado a certeza de que Ele sucumbiria toda oposição, sem que eu me
desviasse para responder a meus opositores. Disso jamais me esqueci. Sob essa segurança divina
fui adiante com uma só visão, e um espírito confiante; e hoje quando leio das agitações, suspeitas
e apreensões errôneas que possuiam as mentes desses irmãos, fico pasmo com sua ilusão e
conseqüente ansiedade, a respeito de mim e de minhas obras. Na mesma época em que o Dr.
Beecher estava na Filadélfia, lidando com membros da assembléia geral, como relatado em sua
biogravia, eu trabalhava naquela cidade, já há vários meses, em diferentes igrejas, no meio de um
poderoso avivamento religioso, perfeitamente ignorante quanto à pequena missão do Dr. Beecher
ali. Não posso ser grato o suficiente a Deus por ter-me guardado da agitação, e de mudanças em
meu espírito, ou visões da obra, por toda a oposição daqueles dias.

A VERDADE DO EVANGÉLHO
AS MEMÓRIAS DE CHARLES G. FINNEY
CAPÍTULO XVII.
O AVIVAMENTO EM STEPHENTOWN
DEPOIS dessa convenção, permaneci um curto tempo no Novo Líbano. Não creio que a
convenção tenha prejudicado o estado religioso das pessoas naquele lugar. Isso teria acontecido,
se qualquer um dos fatos fosse exposto para justificar a oposição que já era conhecida contra os
avivamentos que foram o assunto discutido. Mas no final, a igreja no Novo Líbano foi, creio eu,
edificada e fortalecida pelo que soube da convenção. De fato, tudo fora conduzido em um espírito
que tendia a edificar ao invés de fazer com que o povo tropeçasse.
Depois do adiamento da convenção, no domingo, conforme eu saía do púlpito, uma jovem
senhora de nome S, vinda de Stephentown, foi-me apresentada. Ela me perguntou se eu não
poderia ir pregar em sua cidade. Respondi que estava muitíssimo ocupado, e não teria como. Vi
que sua pronúcia estava engasgada com profundos sentimentos, mas como não tinha tempo para
conversar com ela no momento, fui para meus aposentos.
Depois fiz algumas perguntas às pessoas sobre Stephentown, um lugar ao norte, na divisa do
Novo Líbano. Há muitos anos, um rico indivíduo havia falecido, e deixado à igreja presbiteriana
naquele lugar um fundo, cujos juros eram suficientes para sustentar um pastor. Logo depois
disso, um Sr. B, que fora um capelão no exército Revolucionário, foi estabelecido ali como pastor
da igreja. Ele permaneceu ali até a igreja acabar, e por fim tornou-se um infiel assumido. Isso
produzira a mais desastrosa influência naquela cidade. Ele continuou no meio deles, abertamente
hostil à religião cristã.
Depois que ele deixou de ser o pastor da igreja, eles tiveram mais um ou dois pastores. Contudo,
a igreja decaiu, e o situação da religião ficava cada vez pior, até que, finalmente, deixaram sua
casa de reunião, pois tão poucos compareciam, e realizavam seus cultos aos domingos, em uma
pequena escola que ficava perto da igreja.
O último pastor que tiveram, afirmou que ficaria até que não mais de meia dúzia de pessoas
passaram a participar dos domingos, e apesar de ter fundos para seu sustento, e ter seu salário
regularmente em pago, ele ainda não conseguia pensar que era seu dever gastar tempo
trabalhando em tal lugar. Ele fora, portanto, dispensado. Nenhuma outra denominação havia
tomado posse da área, para incitar qualquer interesse público, e a cidade inteira era um completo
lixo moral. Três presbíteros da igreja Presbiteriana permaneceram, e mais ou menos vinte
membros. A única pessoa solteira na igreja era essa Srta. S, de quem falei. Praticamente toda a
cidade estava em uma situação de impiedade. Era uma cidade grande, rica e feita de fazendas,
sem nenhum vilarejo considerável.
No domingo seguinte, a Srta. S encontrou-me novamente, quando descia do púlpito, e implorou-
me para que fosse lá pregar. Perguntou-me se eu sabia qual era a situação daquele lugar.
Informei-lhe que sabia, mas não via como poderia ir para lá. Ela parecia muito afetada, demais
para conversar, pois não conseguia controlar seus sentimentos. Esses fatos, junto com o que
escutara, começaram a me envolver, e minha mente começou a ficar profundamente comovida
em relação à situação de Stephentown. Por fim eu lhe disse que se os presbíteros da igreja
desejavam que eu fosse, ela podia dar-lhes a notícia de que eu iria até lá, se o Senhor quisesse,
para pregar em sua igreja no domingo seguinte, às cinco horas da tarde. Com isso eu conseguiria
pregar duas vezes no Novo Líbano, para depois subir até Stephentown e pregar no horário
marcado. Isso pareceu iluminar sua fisionomia e tirar um fardo de seu coração. Ela foi para casa e
deu a notícia.
De acordo com isso no domingo seguinte, depois de pregar pela segunda vez, um dos jovens
convertidos do Novo Líbano ofereceu-se para levar-me até Stephentown em sua carroça. Quando
ele veio me pegar, perguntei “Você tem um cavalo firme?” “Ah, sim!” ele respondeu
“perfeitamente;” e sorrindo, perguntou “O que o faz perguntar isso?” Eu respondi “Porque se o
Senhor quer que eu vá a Stephentown, o diabo impedirá se puder; e se seu cavalo não for firme,
ele tentará fazê-lo me matar.” Ele sorriu e continuou. E é estranho dizer, mas duas vezes antes de
chegarmos lá, aquele cavalo disparou duas vezes, quase chegando a nos matar. Seu dono ficou
estupefado, e disse que jamais havia visto algo assim antes.
Contudo, chegamos em tempo e segurança à casa do Sr. S, o pai da Srta. S que mencionei. Ele
vivia a mais ou menos oitocentos metros da igreja, na direção do Novo Líbano. Ao entrarmos,
conhecemos Maria – pois esse era o nome dela – que em lágrimas, porém com alegria nos
recebeu, e levou-me a um quarto onde poderia ficar sozinho, sendo que anda não era a hora da
reunião. Pouco tempo depois, escutei-a orando em um quarto sobre minha cabeça. Quando
chegou a hora da reunião, fomos todos, e encontramos um grande número de pessoas. A
congregação estava solene e atenta, mas nada muito especial aconteceu naquela tarde. Passei a
noite na casa do Sr. S, e Maria parecia estar orando no quarto sobre o meu quase a noite inteira.
Eu podia ouvir sua voz baixa e trêmula, freqüentemente interrompida por soluços e choro. Eu não
havia marcado de vir novamente, mas quando fui embora pela manhã ela suplicou tanto, que
concordei em marcar uma nova reunião para o domingo seguinte, às cinco horas.
Quando subi no próximo domingo, praticamente as mesmas coisas ocorreram, mas a congregação
estava mais lotada, e como a casa era velha, pelo medo de que as galerias cedessem, elas haviam
sido fortemente escoradas durante a semana. Eu podia ver um claro aumento de solenidade e
interesse na segunda vez que preguei lá. Então fui embora com o compromisso de pregar
novamente. No terceiro culto, o Espírito de Deus foi derramado sobre a congregação.
Havia um Juiz P, que vivia em um pequeno vilarejo em uma parte da cidade, e tinha uma grande
família de filhos não convertidos. No final do culto, enquanto eu saía do púlpito, a Srta. S veio
até mim e mostrou-me um banco – a casa tinha velhos bancos quadrados – no qual estava uma
jovem sucumbida em seus sentimentos. Fui falar com ela, e descobri que era uma das filhas desse
tal Juiz P. Suas convicções eram muito profundas. Sentei-me perto dela e dei-lhe instruções, e
creio que, antes que saísse dali, converteu-se. Ela era uma moça muito inteligente e honesta, e
tornou-se uma cristã muito usada. Mais tarde casou-se com o evangelista Underwood, que é tão
bem conhecido em muitas das igrejas em Nova Jersey em especial, e na Nova Inglaterra. Ela e a
Srta. S pareceram imediatamente unir suas orações. Mas eu ainda não conseguia ver muito
movimento entre os membros mais velhos da igreja. Eles tinham um relacionamento tal uns com
os outros, que muito arrependimento e confissão ainda tinha que acontecer em seu meio, como
uma condição para ingressarem na obra.
A situação em Stephentown agora exigia que eu deixasse o Novo Líbano e mudasse para lá. Fiz
isso. O espírito de oração enquanto isso tinha vindo poderosamente sobre mim, como já era o
caso há algum tempo com a Stra. S. O poder da oração tão manifestadamente epalhava-se e
aumentava, a obra logo adquiriu uma forma muito poderosa, tanto que a Palavra do Senhor trazia
abaixo os homens mais fortes, fazendo-os totalmente indefesos. Eu poderia citar vários casos
desse tipo.
Um dos primeiros que me recordo foi num domingo, quando eu estava pregando sobre o texto
“Deus é amor.” Havia um homem de nome J, um homem de nervos fortes e proeminência
considerável como um fazendeiro na cidade. Ele sentava-se quase que imediatamente à minha
frente, perto do púlpito. A primeira coisa que observei foi que ele caiu, e contorceu-se em agonia
por alguns instantes; mas depois aquietou-se, quase que paralisado, mas inteiramente indefeso.
Ele permaneceu nesse estado até o final da reunião, quando foi levado para casa. Logo converteu-
se, e tornou-se um eficiente obreiro, trazendo seus amigos par Cristo.
Durante esse avivamento, Zebulon R. Shipherd, um célebre advogado do condado de
Washington, Nova Iorque, estando ao dispor da corte em Albany, escutou sobre o avivamento em
Stephenton, então afastou-se de seus negócios para vir trabalhar comigo no avivamento. Ele era
um sincero homem cristão, participava de todas as reuniões, e gostava muito de todas. Ele estava
lá quando as eleições de novembro aconteceram em todo o Estado. Eu estava ansioso pelo dia da
eleição com uma considerável preocupação, temendo que toda a empolgação daquele dia
retardaria a obra. Exortei os cristãos a orarem e vigiarem muito, para que a obra não fosse
atrasada por nenhuma empolgação que ocorresse naquele dia.
No final da tarde do dia da eleição eu preguei. Quando saí do púlpito depois de pregar, o Sr.
Shipherd – que a propósito, foi o pai do Rev. J. J. Shipherd que mais tarde estabeleceu Oberlin –
acenou para mim do banco onde estava para que fosse até ele. Era um banco no canto da casa, do
lado esquerdo do púlpito. Fui até ele, e encontrei um dos cavalheiros que fizera parte da mesa
para receber os votos durante o dia tão saturado com a convicção de pecados, que era incapaz de
sair de seu lugar. Fui até lá e conversei um pouco com ele, orei por ele, e ele claramente se
converteu. Uma porção consider’vel da igreja, enquanto isso, sentou-se. Conforme eu saía do
banco, e estava prestes a me retirar, minha atenção foi chamada para outro banco, do lado direito
do púlpito, onde estava outro daqueles homens que haviam sido proeminentes na eleição, e
recebera votos, precisamente na mesma condição. Ele estava sucumbido demais pelo estado de
seus sentimentos para deixar a casa. Fui e conversei com ele também, e se me recordo, converteu-
se antes de ir embora. Menciono esses casos como exemplos do tipo de obra que foi feita naquele
lugar.
Já comentei que a família do Sr. P era grande. Recordo-me que houveram dezesseis membros
daquela família, filhos e netos, que se converteram; todos os quais, creio eu, arrolaram-se à igreja
antes que eu fosse embora. Havia outra família na cidade de nome M, que também era muito
grande e muito influente, talvez a mais de todas na cidade. A maioria das pessoas vivia espalhada
ao longo de uma rua que tinha, se não me falha a memória, quase oito quilômetros de
comprimento. Perguntando, descobri que não havia nem uma família religiosa em toda aquela
rua, nem sequer uma casa onde mantinha-se a oração familiar.
Marquei de ir pregar em uma escola naquela rua, e quando cheguei encontrei o prédio lotado.
Peguei como texto: “A maldição do Senhor habita na casa do ímpio.” O Senhor me deu uma
visão muito clara do assunto, e fui capaz de expor efetivamente a verdade. Eu disse a todos que
eu sabia que não havia nem sequer uma família de oração em todo aquele distrito. O fato é que, a
cidade inteira estava em uma situação terrível. A influência do Sr. B, o último pastor, agora um
infiel, gerara seu fruto legitimo, e havia somente pouca convicção da verdade e realidade
religiosa, em meio aos ímpios daquela cidade. Essa reunião de que falei, resultou na convicção de
quase todos os presentes, acredito. O avivamento espalhou-se naquela vizinhança, e eu me
lembro que nessa família M, aconteceram dezessete conversões.
Mas havia muitas famílias na cidade que eram bastante proeminentes em influência, e que não
participavam das reuniões. Parecia que estavam sob tanta influência do Sr. B, que estavam
determinados a não participar. Contudo, no meio do avivamento, esse Sr. B teve uma morte
terrível, e isso pôs um fim em sai oposição.
Eu disse que haviam muitas famílias na cidade que não participavam das reuniões, e não pude
encontrar meio algum para que fossem induzidos a participar. A Srta. S do Novo Líbano, que
convertera-se em Tróia, escutou que essas famílias não participavam, e foi até Stephentown;
sendo que seu pai era um homem muito conhecido e respeitado, ela era recebida com respeito e
deferência em todas as famílias que desejava visitar. Ela foi e visitou uma dessas famílias. Creio
que era conhecida de suas filhas, e induziu-as a acompanhá-la à reunião. Elas logo ficaram tão
interessadas que não precisavam mais de influência para persuadí-las a participar. Ela então
visitou outra, com o mesmo resultado, e outra; por fim, eu acredito, assegurou a participação de
todas aquelas famílias que tinham-se mantido afastadas. Essas famílias quase todas, senão todas
de fato, converteram-se antes que eu deixasse a cidade. De fato, quase todos os principais
habitantes da cidade foram reunidos na igreja, e a cidade foi moralmente renovada. Nunca mais
voltei para lá depois disso, que foi no outono de 1827. Mas sempre tenho notícias de lá, e o
avivamento produziu resultados permanentes. Os convertidos eram firmes, e a igreja tem mantido
um bom nível de vigor espiritual.
Como em todos os lugares, as características mais marcantes desse avivamento eram, um
poderoso espírito prevalecente de oração; impactante convicção de pecado, conversões repentinas
e poderosas a Cristo; grande amor a alegria abundante dos convertidos, e sua grande sinceridade,
atividade, e utilidade em suas orações e obras pelos outros. Esse avivamento aconteceu na cidade
que fazia divisa com o Novo Líbano, e imediatamente após a convenção. A oposição tinha,
naquela convenção, recebido seu sopro de morte. Raramente já trabalhei em um avivamento com
maior conforto para mim mesmo, ou com menos oposição do quem em Stephentown. A
princípio, as pessoas aborreceram-se um pouco diante das pregações, mas fora marcada com
tanto poder pelo Espírito Santo, que logo não ouvi mais reclamação alguma.
AVERDADE DO EVANGÉLHO
AS MEMÓRIAS DE CHARLES G. FINNEY
CAPÍTULO XVIII.
OS AVIVAMENTOS EM WILMINGTON E NA FILADÉLFIA.
ENQUANTO eu estava trabalhando no Novo Líbano, no verão anterior, o Rev. Sr. Gilbert de
Wilmington, Delaware, cujo pai morava no Novo Líbano, foi até lá para uma visita. O Sr. Gilbert
era muito tradicional em suas visões teológicas, mas um homem bom e honesto. Seu amor pelas
almas superava qualquer dificuldade em questões de diferenças teológicas, entre eu e ele. Ouviu-
me pregar no Novo Líbano e viu os resultados, e foi muito sincero em dizer que eu deveira ir
ajudá-lo em Wilmington.
Logo que pude ver que meu caminho estava aberto para sair de Stephentonw, então, fui para
Wilmington e comecei na obra com o Sr. Gilbert. Em pouco tempo percebi que seus
ensinamentos haviam colocado a igreja em uma posição que impossibilitava a promoção de um
avivamento em seu meio, até que suas visões pudessem ser corrigidas. Eles pareciam ter medo de
fazer qualquer esforço, temendo tirar a obra das mãos de Deus. Tinham as mais antigas das
visões doutrinárias, conseqüentemente sua teoria era que Deus converteria os pecadores a Seu
tempo; e portanto insistir que se arrependessem imediatamente, e em suma tentar promover um
avivamento, era tentar fazer cristãos por ações humanas, e forças humanas, desonrando assim a
Deus, ao tirar a obra de Suas mãos. Percebi também que em suas orações não havia urgência pelo
derramamento do Espírito, e que tudo isso estava de acordo com as idéias nas quais foram
instruídos.
Estava claro que nada poderia ser feito, a menos que as visões do Sr. Gilbert fossem mudadas a
respeito do assunto. Portanto eu passei horas todos os dias conversando com ele sobre suas visões
peculiares. Falamos sobre todo o assunto de uma maneira fraternal, e depois de trabalhas assim
com ele por duas ou três semanas, vi que sua mente estava preparada para ter meus pontos de
vista apresentados a seu povo. No domingo seguinte, tomei como texto “Criai em vós um coração
novo e um espírito novo; pois por que razão morreríeis?” Entrei com detalhes no assunto da
responsabilidade do pecador, mostrei o que não é um novo coração, e o que é. Preguei por mais
ou menos duas horas, e não assentei-me até ter sido minucioso em todo o assunto, da maneira
mais rápida que pude, falando rápido naquele período de tempo.
A congregação ficou intensamente interessada, e muitos levantavam-se e ficavam de pé em todas
as partes da casa. A casa estava completamente cheia, e havia olhares estranhos na assembléia.
Alguns pareciam angustiados e ofendidos, outros muito interessados. Não raro, quando eu
apresentava o forte contraste entre minhas próprias visões, e as visões nas quais haviam sido
instruídos, alguns riam, alguns choravam, outros ficavam abertamente bravos, mas não me
recordo de ninguém ter saído do lugar. Era uma estranha agitação.
Enquanto isso, o Sr. Gilbert passou de uma ponta do sofá para a outra, no púlpito atrás de mim.
Eu podia ouví-lo respirando e suspirando, e não pude deixar de observar que também estava
muito ansioso. Contudo, eu sabia que o tinha, em suas convicções, rápido, mas se ele se decidia a
considerar o que favala por causa de seu povo, eu não sei. Mas eu estava pregando para agradar
ao Senhor, e não o homem. Pensei que pudesse ser a última vez que pregaria lá, mas sempre me
propus, em todas as circunstâncias, a falar-lhes a verdade, toda a verdade, sobre aquele assunto,
fosse qual fosse o resultado.
Esforcei-me para mostrar que se o homem fosse tão indefeso quando seus pontos de vista o
apresentavam, não deveria ser culpado por seus pecados. Se perdera em Adão toda a capacidade
de obediência, de forma a tornar-se impossível para ele, não por sua ação ou consentimento, mas
por causa da ação da Adão, era meramente falta de juízo dizer que ele poderia ser culpado por
algo que não poderia evitar. Esforcei-me também para mostrar que, nesse caso, a redenção não
era graça nenhuma, mas na verdade um pagamento de dívida para a humanidade, da parte de
Deus por tê-la colocado em uma condição tão deplorável e desafortunada. De fato, o Senhor me
ajudou a mostrar, creio que com uma clareza irresistível, os dogmas peculiares do tradicionalismo
e seus resultados inevitáveis.
Quando terminei, não chamei o Sr. Gilbert para orar, não ousei fazer isso, mas eu mesmo orei
para que o Senhor reforçasse a Palavra, fizesse-a ser compreendida, e desse uma mente pura para
pesar o que fora dito, para receber a verdade, e rejeitar que pudesse ser errado. Então dispensei a
assembléia, e desci do púlpido, com o Sr. Gilber a me seguir. A congregação retirou-se muito
devagar, e muitos pareciam estar esperando por alguma coisa, em todas as partes da casa. Os
corredores estavam quase vazios, e o resto da congregação parecia permanecer em uma posição
de espera, como se esperassem ouvir o Sr. Gilbert comentar o que fora dito. A Sra. Gilbert, no
entanto, saiu imediatamente.
Conforme desci do púlpito, observei duas senhoras a quem fora apresentado, e que sabia que
eram amigas particulares e partidárias do Sr. Gilbert, sentadas do lado esquerdo do corredor por
onde tínhamos que passar. Vi que pareciam muito aflitas, um pouco ofendidas, e grandemente
estarrecidas. A primeira que alcançamos, que estava perto das escadas do púlpito, chamou a
atenção do Sr. Gilbert que vinha atrás de mim, e disse-lhe “Sr. Gilbert, o que o senhor acha
disso?” Ela falou com uma voz baixa. Ele respondeu da mesma maneira “Vale quinhentos
dólares.” Isso me gratificou grandemente, e afetou-me muito. Ela replicou “Então o senhor nunca
pregou o Evangélho.” “Bem,” disse ele, “sinto dizer que nunca preguei.” Continuamos e então a
outra senhora disse-lhe quase as mesmas coisas, e recebeu uma resposta parecida. Aquilo foi
suficiente para mim. Abri meu caminho até a porta e saí. Muitos daqueles que haviam saído
estavam parados na frente da igreja, discutindo veementemente o que fora dito. Conforme passei
pelas ruas, a caminho da casa do Sr. Gilbert, onde estava hospedado, encontrei as ruas cheias de
agitação e discução. As pessoas estavam comparando os pontos de vista, e das poucas palavras
que escaparam daqueles que não percebiam que eu passava, vi que a impressão era claramente
favorável ao que dissera.
Quando cheguei na casa do Sr. Gilber, sua esposa dirigiu-se a mim logo que entrei, dizendo “Sr.
Finney, como ousou pregar tais coisas em nosso púlpito?” Eu respondi “Sra. Gilbert, eu não
ousaria pregar nada mais; isso é a verdade de Deus.” Ela replicou “Bem, é verdade que Deus
estava dedicado à justiça ao fazer a remissão para a humanidade. Sempre senti isso, apesar de
jamais ousar dizê-lo. Eu acreditava que se a doutrina pregada pelo Sr. Gilbert fosse verdade,
Deus tinha a obrigação, como uma questão de justiça, de fazer uma remissão, e de me salvar
daquelas circunstâncias nas quais era-me impossível controlar a mim mesma, e de uma
condenação que eu não merecia.”
Nesse exato momento, o Sr. Gilbert entrou. “Pronto,” disse eu “irmão Gilbert, o senhor vê os
resultados de sua pregação aqui em sua própria família.” e então repeti para ele o que sua esposa
acabara de dizer. Ele respondeu “Eu algumas vezes pensei que minha esposa fosse a mulher mais
devota que já conheci, e outras vezes, pensei que não tivesse religião alguma.” Eu exclamei
“Oras! Ela sempre pensou que Deus lhe devia, como uma questão de justiça, a salvação oferecida
em Cristo; como pode ser uma cristã?” Tudo isso foi dito por cada um de nós com grande
solenidade e honestidade. Depois de meu último comentário, ela se levantou e saiu da sala. A
casa estava muito solene, e por dois dias, creio eu, não a vi. Ela então assumiu, não somente em
verdade, mas no estado de sua própria mente, ter passado por uma completa revolução de visões
e experiência.
A partir disso, a obra progrediu. A verdade foi trabalhada de forma admirável pelo Espírito
Santo. As idéias do Sr. Gilbert foram totalmente mudadas, bem como seu estilo de pregar e
maneira de apresentar o Evangélho. Até onde sei, até o dia de sua more, suas visões
permaneceram corretas, renovadas em relação às tradicionais que antes defendia.
O efeito desse sermão sobre muitos dos membros da igreja do Sr. Gilbert foi muito peculiar. Já
falei da senhora que perguntou-lhe o que ele achava daquilo. Ela depois me disse que ficara tão
ofendida ao pensar que todos os seus pontos de vista foram tão descartados, que prometera a si
mesma jamais orar novamente. Ela tinha o hábito de até então justificar-se por causa de sua
natureza pecaminosa, e tomara em sua própria emte, a mesma oposição da Sra. Gilbert, que
minha pregação sobre aquele assunto subvertera completamente suas visões, sua religião e tudo
mais. Ela permaneceu nesse estado de rebelião, se bem me lembro, por umas seis semanas, antes
que conseguisse orar novamente. Ela então quebrantou-se e foi plenamente transformada em suas
visões e experiência religiosa. E esse, creio eu, foi o caso de vários membros daquela igreja.
Enquanto isso eu havia sido induzido a subir e pregar pelo Sr. Patterson, na Filadélfia, duas vezes
por semana. Eu ia até lá no barco a vapor e pregava ao anoitecer, retornava no dia seguinte e
pregava em Wilmington, alternando assim meus cultos vespertinos entre Wilmington e Filadélfia.
A distância era de mais ou menos sessenta e cinco quilômetros. A Palavra teve tanto efeito na
Filadélfia a ponto de convencer-me que era meu dever deixar a cargo do Sr. Gilbert que
continuasse com a obra em Willmington, para dedicar-me em tempo integral à obra na Filadélfia.
O Rev. James Patterson, com quem a princípio trabalhei lá, defendia as visões de teologia na
época defendidas em Princeton, desde então conhecida como a teologia dos Presbiterianos
tradicionais. Mas ele era um homem de Deus, e importava-se muito mais com a salvação das
almas do que com belas questões de habilidade e incapacidade, ou qualquer um dos pontos da
doutrina sobre os quais os tradicionais e os renovados discordavam. Sua esposa defendia as
visões teológicas da Nova Inglaterra, isso té, ela acreditava em uma remissão geral, e não restrita,
e concordava com o que era chamado de ortodoxia da Nova Inglaterra, diferente da ortodoxia de
Princeton.
Deve ser lembrado que nessa época eu também fazia parte da igreja Presbiteriana. Fui licenciado
e ordenado por um presbitério, composto em sua maioria de homens formados em Princeton.
Também já comentei que quando fui licenciado para pregar o Evangélho, perguntaram-me se
aceitava a Confissão de Fé Presbiteriana, como contendo a substância da doutrina cristã.
Respondi que sim, até onde pude entendê-la. Mas como não esperava que me perguntassem isso,
nunca a examinara com muita atenção, e creio que não havia lido por completo. Mas quando
cheguei a ler a Confissão de Fé e ponderar sobre ela, vi que apesar de poder aceitá-la, como sei
que fazem hoje multidões de Presbiterianos, como contendo a substância da doutrina cristã, ainda
assim havia vários pontos sobre os quais eu não poderia colocar a mesma construção que era
colocada sobre eles em Princeton, e de acordo com isso, em todos os lugares, eu dava a entender
que não aceitava aquela construção, ou se aquela era a verdadeira construção, eu então diferia
inteiramente da Confissão de Fé. Creio que o Sr. Patterson já entendia isso antes de eu fosse
trabalhar com ele, pois quando segui essa conduta em seu púlpito ele não expressou surpresa
alguma. Na verdade, não fez nenhuma objeção.
O avivamento envolveu tanto sua congregação que o interessou grandemente, pois viu que era
Deus que estava abençoando a Palavra como eu apresentava. Permaneceu firme ao meu lado e
nunca, em momento algum, fez uma objeção sequer a qualquer coisa que apresentei. Algumas
vezes quando voltávamos da reunião, a Sra. Patterson comentava sorrindo “Agora o senhor vê,
Sr. Patterson, que o Sr. Finney não concorda com o senhor naqueles pontos sobre os quais tanto
conversamos.” Ele sempre, na grandeza de sua fé e de seu amor cristão, respondia “Bem, o
Senhor abençoa isso.”
O interesse tornou-se tão grande que nossas congregações estavam lotadas em todas as reuniões.
Certo dia o Sr. Patterson disse para mim “Irmão Finney, se os pastores Presbiterianos nesta
cidade descobrirem suas idéias, e o que o senhor tem pregado ao povo, caçar-lhe-ão como lobos,
até o expulsarem da cidade.” Eu respondi “Não posso evitar. Não posso pregar nenhuma outra
doutrina, e se devem banir-me da cidade, que o façam, e assumam a responsabilidade. Mas não
acredito que consigam me tirar daqui.”
No entanto, os pastores não tiveram a conduta que ele previu, de maneira alguma; mas
praticamente todos me receberam em seus púlpitos. Quando souberam do que acontecia na igreja
do Sr. Patterson e que muitos mebros de suas próprias igrejas estavam bastante interessados,
convidaram-me a pregar para eles, e se bem me recordo, preguei em todas as igrejas
Presbiterianas, exceto na da rua Arch.
A Filadélfia era, na época, quase uma unidade, em relação às visões teológicas defendidas em
Princeton. O Dr. Skinner defendia, até certo ponto, o que desde então é conhecido como visões
renovadas, e diferenciava-se o suficiente do tom da teologia que o rodeava, para que fosse
suspeito de não ser correto, segundo a ortodoxia prevalecente. Sempre considerei algo admirável,
que, até onde sei, minhas visões doutrinárias não foram uma pedra de tropeço naquela cidade;
então minha ortodoxia fora abertamente citada, por qualquer um dos pastores ou igrejas. Preguei
na igreja Holandesa para a congregação do Dr. Linvingston, e descobri que ele simpatizava com
minhas visões, e encorajou-me, com toda sua influência, a continuar pregando aquilo que o
Senhor me ordenara. Eu não hesitava em qualquer lugar, em todas as ocasiões, apresentar minhas
próprias idéias de teologia, e aquelas que havia apresentado em todos os lugares, às igrejas.
O próprio Sr. Patterson estava, creio eu, muito supreso de eu não encontrar nenhuma oposição
aberta da parte dos pastores ou igrejas, em função de minhas visões teológicas. De fato, eu não as
apresentava de maneira nenhuma de forma controversa, mas simplesmente as empregava em
minhas intruções aso santos, e pecadores, de uma forma tão natural que talvez, não chamasse
muita atenção, exceto pelos teólogos discrimináveis. Mas muitas coisas que eu dizia eram novas
ao povo. Por exemplo, certa noite preguei sobre esse texto: “Porque há um só Deus e um só
mediador entre Deus e os homens, Jesus Cristo, homem, o qual se deu a si mesmo em preço de
redenção por todos, para servir de testemunho a seu tempo.” Esse foi um sermão sobre a
remissão, no qual tomei a visão que sempre defendi, de sua natureza e sua universalidade, de
declarei, o mais forte que pude, os pontos de diferença entre meus próprios pontos de vista e
aqueles de remissão limitada defendidos pelos teólogos. Esse sermão chamou tanta atenção, e
incitou tanto interesse, que fui solicitado a pregar sobre o mesmo assunto em outras igrejas.
Quanto mais eu pregava sobre isso, mas as pessoas queriam ouvir, e a empolgação tornou-se tão
geral, que preguei sobre assunto por sete noites consecutivas, em sete igrejas diferentes.
Parecia que o povo escutara muitas coisas contra o que era chamado de Hopkinsianismo; cujos
dois principais pontos que deviam ser entendidos eram, que o homem deveria estar disposto a ser
condenado pela glória de Deus, e que Deus era o autor do pecado. Ao pregar, eu às vezes
mencionava esses pontos, e aproveitava para denunciar o Hopkinsianismo, e dizer que pareciam
ter muito disso na Filadélfia, que seu tratamento negligente quanto à salvação de suas almas em
muito passava a impressão de que estavam dispostos a serem condenados, e que deveriam
acreditar que Deus era o autor do pecado, pois defendiam que sua natureza era pecaminosa.
Discuti isso sob vários prismas, e insisti nestes dois pontos. Ouvi várias vezes que as pessoas
diziam “Bem, ele realmente não é Hopkinsinista.” De fato, sentia que era meu dever expor todos
os esconderijos dos pecadores, e caçá-los até tirá-los de sob aquelas visões peculiares de
ortodoxia, nas quais encontrava-os entrincheirados.
O avivamento se espalhou, poderosamente. Todas as nossas reuniões para pregações, orações e
dúvidas estavam lotadas. Havia muito mais pessoas que gostariam de participar das reuniões de
perguntas e repostas do que as que conseguiam. Já era o final do outono quando mudei-me para a
Filadélfia, e continuei a trabalhar lá sem qualquer intervalo até o agosto seguinte, em 1828.
Como em outros lugares, existiam alguns casos de amarga oposição da parte de indivíduos. Em
um caso, um homem cuja esposa estava profundamente convencida, ficou tão irado que entrou e
tirou sua esposa da reunião à força. Outro caso que me recordo foi um muito impactante, de um
alemão cujo nome não me lembro agora. Ele era um negociante de tabaco. Tinha uma esposa
muito amável e inteligente, e também era, como vim a saber mais tarde quando familiarizei-me
com ele, um homem muito inteligente. Ele era, no entanto, um sético, e não tinha confiança
alguma na religião. Sua esposa, contudo, vinha a nossas reuniões, e ficou muito preocupada com
sua alma; e depois de uma severa peleja que durou muitos dias, converteu-se plenamente. Como
ela participava freqüentemente das reuniões, e tornara-se muito interessada, isso logo chamou a
atenção de seu esposo, então ele começou a se opor a ela ser uma cristã. Ele tinha, como vim a
saber, um temperamento impetuoso, e era um homem de porte atlético, de muita atitude e firmeza
de propósito. Quanto mais sua esposa se interessava, mais sua oposição aumentava, até
finalmente proibí-la de participar das reuniões.
Ela então veio visitar-me, e pediu meu conselho sobre o que deveria fazer. Eu disse que sua
primeira obrigação era para com Deus; que tinha sem dúvidas a obrigação de obedecer Seus
mandamentos, mesmo se entrassem em conflito com os mandamentos de seu marido, e que,
enquanto eu a aconselhava a evitar ofendê-lo se pudesse, e a cumprir seu dever para com Deus,
de maneira nenhuma deveria omitir o que considerava suas obrigações para com Deus, com a
finalidade de realizar os desejos dele. Disse-lhe que, já que ele era um infiel, suas opiniões em
assuntos religiosos não deveriam ser respeitadas, e que não podia seguir com segurança seus
conselhos. Ela estava bem ciente disso. Ele era um homem que não prestava atenção alguma para
a religião, exceto para opor-se a ela.
De acordo com meus conselhos, ela participava das reuniões quanto tinha chance, recebia as
instruções; e logo conseguiu a liberdade do Evangélho, tinha muita fé e paz de espírito, e gozava
muito da presença de Deus. Isso aborrecia muito seu marido, e ele acabou indo tão longe a ponto
de ameaçá-la de morte, caso fosse novamente a uma reunião. Ela já o havia visto bravo tantas
vezes, que não acreditava que ele fosse capaz de cumprir sua ameaça. Calmamente disse a ele
que custasse o que custasse, sua mente estava decidida a cumprir seu dever para com Deus, que
sentia que era seu dever dar-se a oportunidade de receber as instruções que precisava, e que devia
participar das reuniões, sempre que pudesse fazê-lo sem negligenciar seus deveres para com sua
família.
Certa noite de domingo, quando ele descobriu que ela estava indo para a reunião, reforçou sua
ameaça de que se ela fosse, tiraria sua vida. Mais tarde ela me contou que pensava que aquilo não
passava de uma ameaça em vão. Calmamente respondeu a seu esposo que seu dever estava claro;
que não havia razão para que permanecesse em casa naquela hora, a não ser simplesmente
cumprir seu desejo irracional, e que ficar em casa sob tais circunstâncias seria inteiramente
inconsistente com seus deveres para com Deus e consigo mesma. Então foi para a reunião.
Quando voltou para casa, encontrou-o extremamente irado. Logo que ela entrou pela porta ele a
trancou, tirou a chave, e puxou uma adaga e jurou que tiraria sua vida. Ela correu para as escadas.
Ele pegou uma vela para seguí-la. A criada assoprou apagando a vela quando ele passava perto
dela. Isso deixou-os ambos na escuridão. Ela correu e atravessou os quartos no segundo andar,
desceu novamente para a cozinha e foi até o porão. Ele não conseguia seguí-la no escuro, então
ela saiu pela janela do porão e foi para a casa de uma amiga, onde passou a noite.
Presumindo que ele etaria muito envergonhado por sua ira antes de amanhecer, ela foi para casa
bem cedo, e ao entrar na casa, encontrou tudo em uma grade desordem. Ele quebrara alguns
móveis e agira como um homem louco. Novamente ele trancou a porta logo que ela entrou na
casa, e puxando a adaga, caiu de joelhos e levantou suas mãos, jurando da maneira mais terrível
que tiraria ali a vida dela. Ela olhou para ele com espanto e fugiu. Subiu as escadas, mas era dia,
e ele a seguiu. Ela correu de quarto para quarto até que chegou no último, do qual não tinha como
escapar. Virou-se e o encarou. Ela caiu de joelhos, enquanto ele estava prestes a atingí-la com sua
adaga, e levantou suas mãos para os céus, gritando por misericória de si mesma e dele. Neste
instante Deus o deteve. Ela disse que ele a olhou por um momento, largou sua adaga, e caiu sobre
o chão, gritando por misericórdia. Então quebrantou-se naquele exato momento e lugar,
confessou seus pecados a Deus e a ela, e implorou a Deus, implorou a ela, que fosse perdoado.
A partir daquele momento ele foi um homem maravilhosamente transformado. Tornou-se um dos
mais sinceros cristãos. Apegou-se muito a mim, e um ou dois anos depois disso, ao saber que eu
viria à Filadéfia em um certo barco a vapor, foi o primeiro homem a me encontrar e
cumprimentar. Admiti-o com sua esposa na igreja, antes de deixar a Filadélfia, e batizei seus
filhos. Não os vejo nem tenho notícias suas há muitos anos.
Mas enquanto haviam casos individuais de amargura singular e oposição à religião, eu ainda não
havia sido perturbado nem atrapalhado por nada como uma oposição pública. Os pastores
receberam-me gentilmente, e em momento algum, que eu me lembre, falaram publicamente, se é
que falavam em particular, contra a obra que acontecia.
Depois de pregar na igreja do Sr. Patterson por vários meses, e em praticamente todas as igrejas
Presbiterianas na cidade, viu-se que seria melhor que eu tomasse uma posição central, e pregasse
somente em um lugar. Na rua Race havia uma grande igreja alemã, cujo pastor era o Sr.
Helfenstein. Os presbíteros da congregação, juntamente com seu pastor, pediram-me para que
ocupasse seu púlpito. Sua casa era na época, creio eu, a maior casa de adoração da cidade. Estava
sempre lotada; e dizia-se que comportava três mil pessoas, quando ficava lotada com os
corredores cheios. Preguei somente ali por muitos meses. Tive a oportunidade de pregar para
muitos professores de escola dominical. De fato dizia-se que professores de escola dominical de
toda a cidade assistiam meu ministério.
Mais ou menos no meio do verão de 1829, saí de lá por um curto período, para visitar os pais de
minha esposa no condado de Oneida, então voltei e trabalhei na Filadélvia até mais ou menos a
metade do inverno. Não me recordo de datas exatas, mas acredito que no geral, trabalhei naquela
cidade por quase um ano e meio. Em todo esse tempo não houve abatimento algum no
avivamento, que eu pude perceber. Os convertidos eram numerosos em todas as partes da cidade,
mas nunca soube nem pude formar uma estimativa do número exato. Jamais havia trabalhado em
lugar nenhum onde fora recebido com mais cordialidade, e onde cristãos, especialmente novos
convertidos, parecessem ser melhor do que eram ali. Não havia nenhuma cisma ou birra entre
eles, que eu soubesse, e nunca ouvi de nenhuma influência desastrosa que resultada daquele
avivamento.
Muitos fatos interessantes ligados a esse avivamento, aconteceram. Lembro-me que uma jovem
que era a filha de um pastor tradicional, assistia minhas ministrações na igreja do Sr. Patterson, e
ficou terrivelmente convencida. Suas convicções eram tão profundas, que ela quase acabou
caindo em sofrível desespero. Ela me contou que fora ensinada desde criança por seu pai que, se
ela fosse um dos eleitos, converter-se-ia no tempo devido, e que até que se convertesse, e tivesse
sua natureza mudada pelo Espírito de Deus, nada podia fazer por si mesma, a não ser ler sua
bíblia e orar por um novo coração.
Ela era bastante jovem e estava muito convicta de seus pecados, mas seguira as instruções de seu
pai, e lia sua bíblia, orava por um novo coração, acreditando que isso era tudo que lhe cabia fazer.
Esperava ser convertida, esperando assim por uma prova de que era um dos eleitos. No meio de
sua grande peleja de alma sobre o assunto de sua salvação, algo havia aparecido em relação à
questão de casamento; e ela prometera a Deus que jamais daria sua mão a homem algum até que
fosse uma cristã. Quando fez a promessa, disse que esperava que Deus logo a convertesse. Mas
suas convicções passaram. Ela não foi convertida, e aquela promessa a Deus ainda estava em sua
alma, e não ousava quebrá-la.
Por volta de seus dezoito anos de idade, um jovem rapaz propôs fazê-la sua esposa. Ela aceitou,
mas como tinha um voto, não podia consentir no casamento até que fosse uma cristã. Ela disse
que eles se amavam muito, e que ele insistia em casar-se com ela sem demora. Mas sem dizer-lhe
a verdadeira razão, ela continuava adiando de tempos em tempos, por quase cinco anos se bem
me lembro, esperando que Deus a convertesse. Por fim, certo dia ao andar com sua carroça, o
rapaz foi jogado para fora do carro e morreu na hora. Isso gerou uma grande inimizade em seu
coração contra Deus. Acusava-O de lidar duramente com ela. Ela dizia que estivera esperando
que Ele a convertesse, e fora fiel em sua promessa de não se casar até que fosse convertida; que
mantivera seu amado esperando por anos até que estivesse pronta, e agora, eis que Deus o levara,
e ela ainda não fora convertida.
Ela descobrira que o jovem era um Universalista, e agora estava muito interessada em acreditar
que o Universalismo era verdadeiro, e não acreditava que Deus o tivesse mandando para o
inferno, e se Ele o tivesse mandado para o inferno, ela não poderia reconciliar-se com isso de
maneira alguma. Assim, ela vinha guerreando com Deus por bastante tempo, antes de vir a nossas
reuniões, supondo que a culpa por não ser convertida era devida a Deus, e não a ela mesma.
Quando ela ouviu minha pregação, descobriu que todos os seus falsos refúgios foram
despedaçados, viu que deveria ter entregue seu coração a Deus há muito tempo, e tudo estaria
bem, viu que a culpa era toda sua, e que os ensinamentos de seu pai em todos aqueles tópicos
estavam totalmente errados, ao lembrar-se de como culpara Deus, e da blasfema atitude que
mantinha diante Dele, ela naturalmente desesperou-se por misericórdia. Conversei com ela, e
tentei mostrar-lhe o longo sofrimento de Deus, encorajando-a a ter esperança, a acreditar, e
confiar na vida eterna. Mas seu senso de pecado era tão grande, que parecia incapaz de receber a
promessa, e afundava-se mais e mais em desespero, dia após dia.
Depois de trabalhar bastante com ela, fiquei muito angustiado com seu caso. Depois de cada
sermão ela me seguia até em casa, com suas desesperadoras reclamações, e deixava-me exausto
com apelos à minha simpatia e compaixão cristã por sua alma. Depois de essa situação prolongar-
se por muitas semanas, certa manhã veio visitar-me na companhia de uma tia sua, que estava
muito preocupada, e que pensava que ela estava no limiar de uma insanidade desesperadora. Eu
mesmo compartilhava dessa opinião, achando que esse seria o resultado, se ela não passasse a
acreditar. Catharine – pois esse era seu nome – entrou em meus aposentos em sua maneira
desesperada usual, mas com um olhar quase selvagem em seu rosto que indicava que seu estado
mental estava insuportável, e na hora, creio que foi o Espírito de Deus que sugeriu em minha
mente, adotar uma conduta interamente diferente com ela do que já fizera antes.
Eu disse a ela “Catharine, você diz acreditar que Deus é bom.” “Oh, sim!” ela dise “eu acredito
nisso.” “Bem, você já me disse várias vezes que a bondadade Dele O proíbe de ter misericórida
de você – que seus pecados foram tão grandes que seria uma desonra para Ele perdoar-lhe e
salvar-lhe. Você já me disse várias vezes que acredita que Deus a perdoaria, se sabiamente
pudesse, mas que o seu perdão seria uma injúria para Ele, para Seu governo, para Seu universo, e
que portanto Ele não pode perdoar você.” “Sim,” ela disse “eu acredito nisso.” Eu respondi
“Então seu problema é que espera que Deus peque, que aja sem sabedoria e prejudique-se a Si
mesmo e ao universo pelo bem de salvar você.” Ela abriu e fixou seus grandes olhos azuis sobre
mim, parecendo em parte surpresa e em parte indignada. Mas seu continuei: “Sim! Você está com
a mente tão angustiada e atribulada porque Deus não fará nada de errado, porque Ele continuará
sendo bom, sejá lá o que aconteça com você. Você fica com o maior sofrimento em sua mente,
porque Deus não será convencido a violar Seu próprio senso de propriedade e dever, e salvar-lhe
prejudicando-se a Si mesmo, e a todo o universo. Pensa que é mais importante que Deus e
universo inteiro, e não pode ser feliz a menos que Deus faça a Si mesmo e a todas as outras
pessoas infelizes, para fazer você feliz.”
Insisti nisso com ela. Olhava-me totalmente estarrecida, e depois de alguns momentos, submeteu-
se. Parecia estar quase instantaneamente sujeita, como uma criancinha. Ela disse “Eu aceito. Que
Deus me mande para o inferno, se achar que é a melhor coisa a se fazer. Não quero que me salve
custando-se a Si mesmo, e ao custo do universo. Que Ele faça o que for melhor a Seus olhos.”
Levantei-me e saí imediatamente do quarto, e para afastar-me inteiramente dela, peguei uma
carroça e saí. Quando voltei, é claro que ela havia ido embora, mas à tarde, ela e sua tia
retornaram, para contar o que Deus fizera por sua alma. Estava cheia de gozo e paz, e tornou-se
uma das mais submissas, humildes e lindas convertidas que já conheci.
Outra jovem, lembro-me, uma moça muito bonita, de talvez vinte anos de idade, veio visitar-me
sob grande convicção de pecado. Perguntei-lhe, entre outras coisas, se estava convencida de que
havia sido tão ímpia que Deus poderia, com justiça, enviá-la para o inferno. Ela respondeu com
uma linguagem forte “Sim! Mereço mil infernos.” Ela estava alegre e ricamente vestida, creio eu.
Tive uma longa conversa com ela. Ela abriu seu coração e entregou-se a Cristo. Foi uma
conversão muito humilde e quebrantada. Eu soube que ela foi para casa e ajuntou muitas de suas
flores artificiais e ornamentos, com os quais enfeitava-se, e dos quais era muito vaidosa, e passou
pelo quarto com eles nas mãos. Perguntaram-lhe o que faria com aquilo. Ela disse que estava
indo queimá-los. Disse “Nunca mais os usarei de novo.” “Bem,” disseram-lhe “se não vai usá-
los, pode vendê-los, não queime.” Mas ela respondeu “Se eu vender, outra pessoa será tão
vaidosa com eles quanto eu mesma tenho sido. Vou queimá-los.” E ela realmente ateou fogo em
tudo.
Poucos dias depois disso, ela veio me visitar, e disse que tinha observado uma senhora muito bem
vestida enquanto passava pelo mercado, creio que naquela mesma manhã. Teve tanta compaixão
que foi até ela e perguntou se poderia falar-lhe por um instante. A senhora disse que sim. Então
disse-lhe “Minha querida madame, será que a senhora não tem orgulho de seu vestido, será que
não é vaidosa e negligencia a salvação de sua alma?” Contou que ela mesma caiu em lágrimas
enquanto dizia isso, e contou para a senhora um pouco de sua própria experiência, de como fora
tão apegada ao vestuário, e de como isso quase arruinou sua alma. “Agora,” disse ela, “a senhora
é uma linda mulher, e está muito bem vestida, será que não tem a mesma mente que eu tinha?”
Ela disse que a senhora chorou, e confessou que aquilo vinha sendo sua armadilha, e que tinha
medo que seu amor pela moda e pela sociedade arruinasse sua alma. Confessou que
negligenciava a salvação de sua alma, porque não sabia como libertar-se do círculo no qual vivia.
A jovem queria saber se eu achava que o que fizera foi errado, no que falou àquela senhora.
Disse-lhe que não! Que quem dera todos os cristãos fossem tão cheios de fé quanto ela, e que
esperava que ela jamais parasse de previnir as mulheres contra aquilo que quase arruinara sua
alma.
Na primavera de 1829, quando o Delaware estava alto, os lenhadores desceram com suas
jangadas da parte mais alta das terras, de onde estiveram extraindo a lenha durante o inverno.
Naquela época havia uma grande faixa de terra, ao longo na região norte da Pensilvânia, chamada
por muitos de região da lenha, que se extendia até a nascente do rio Delaware. Muitas pessoas
estavam envolvidas em extrair lenha ali, no verão e no inverno. Muita dessa lenha era levada na
primavera, quando as águas do rio estavam altas, para a Filadélfia. Eles iam para aquela região
quando o rio estava baixo, e quando a neve ia embora, e vinham as chuvas de primavera,
jogavam a lenha no rio, flutuando-as até um lugar onde pudessem construir jangadas, ou senão,
despachavam-nas para o mercado da Filadélfia.
Muitos dos lenhadores criavam famílias naquela região, e havia uma grande faixa de terra lá
ainda deserta e desocupada, exceto por esses lenhadores. Eles não tinham nenhuma escola, e
naquela época, nenhuma igreja ou privilégios religiosos alguns. Eu conhecia um pastor que me
contou ter nascido naquela região da lenha, e que quando tinha vinte anos de idade, nunca tinha
ido a uma reunião religiosa, e era analfabeto.
Esses homens que desceram com as lenhas participaram de nossas reuniões, e um bom número
deles se converteu. Voltaram para a mata, e começaram a orar pelo derramamento do Espírito
Santo, e a contar para as pessoas ao seu redor o que tinham visto na Filadélfia, e a exortá-los a
buscarem sua salvação. Seus esforços foram imediatamente abençoados, e o avivamento
começou a acontecer, e a se espalhar em meio àqueles lenhadores. Ele continuou de maneira mais
poderosa e admirável. Espalhou-se a tal ponto que em muitos casos pessoas que não haviam
participado de nenhuma reunião, e que eram quase tão ignorantes quanto selvagens, convenciam-
se e convertiam-se. Homens que estavam extraindo lenha, e viviam sozinhos em pequenos
casebres, ou em dois ou três juntos, eram tomados de uma tal convicção a ponto de serem levados
a divagar e perguntar a outros o que deveriam fazer, e convertiam-se, e assim espalhou-se o
avivamento. Havia muita simplicidade entre os convertidos.
Um velho pastor que estava bastante familiarizado com a situação, relatou-me como um exemplo
do que estava acontecendo lá, o seguinte fato. Ele disse que um homem em um certo lugar, tinha
um casebre onde passava as noites sozinho, e estava a extrair suas ripas durante o dia. Ele
começou a sentir que era um pecador, e suas convicções aumentaram sobre ele até que não pode
mais resistir, confessou seus pecados e se arrependeu, e o Espírito de Deus revelou-lhe o caminho
da salvação de tal forma, que ele claramente conheceu o Salvador. Mas ele jamais participara de
uma reunião de oração, ou escurata uma oração, que pudesse se lembrar, em sua vida. Mas seus
sentimentos eram tais, que sentiu-se constrangido a ir contar para alguns de seus conhecidos, que
estavam a extrair lenha em outro lugar, como estava se sentindo. Mas quando ele chegou
descobriu que vários deles sentiam-se da mesma forma; e que estavam realizando reuniões de
oração. Ele participou de suas reuniões, e escutou-lhes orar, e por fim acabou orando também. E
foi assim sua oração: “Senhor, o Senhor me derrubou, e espero que me mantenha no chão. E já
que o Senhor teve tanta sorte somigo, espero que tente fazer o mesmo com outros pecadores.”
Eu já disse que essa obra começou na primavera de 1829. Na primavera de 1831, eu estava mais
uma vez em Auburn. Dois ou três homens dessa região da lenha foram até lá para me ver, e
perguntar como conseguiriam levar alguns pastores para lá. Disseram que não menos do que
cinco mil pessoas haviam-se convertido naquela região da lenha, e que o avivamento extendera-
se por quase cento e trinta quilômetros, e que não havia nem um único pastor do Evangélho ali.
Nunca estive naquela região, mas de tudo que já ouvi sobre ela, considero aquele como um dos
mais admiráveis avivamentos que já ocorreram nesse país. Ele foi adiante quase que
independentemente do ministério, em meio a um grupo de pessoas muito ignorantes, no que diz
respeito a qualquer instrução comum, e ainda assim os ensinamentos de Deus eram tão claros e
maravilhosos, que sempre vi porque o avivamento era tão admiravelmente livre de fanatismos,
selvageria, ou qualquer coisa questionável. Posso estar mal-informado em alguns aspectos, mas
relato o assunto como o entendi. Vejam quão grande o resultado de um pequeno fogo causou! A
faísca que atingiu o coração daqueles poucos lenhadores que vieram até a Filadélfia, espalhou-se
por aquela floresta, e resultou na salvação de uma multidão de almas.
Creio que o Sr. Patterson é um dos homens mais verdadeiros e santos com quem já trabalhei. Sua
pregação era bastante admirável. Ele pregava com muita sinceridade, mas muitas vezes não havia
nenhuma ligação nas coisas que dizia, e pouco estava relacionado à passagem que escolhera.
Disse-me várias vezes “Quando eu prego, prego de Gênesis a Apocalipse.” Ele pegava um texto,
e depois de fazer alguns cometários sobre ele, ou às vezes comentário nenhum, algum outro texto
lhe era sugerido, sobre o qual ele faria cometários muito pertinentes e impactante, e então outro
texto; e assim seus sermões eram feitos de enérgicos e diretos comentários sobre muitos textos,
conforme surgiam em sua mente.
Ele era um homem alto, de aparência forte e voz poderosa. Ele pregava com as lágrimas
escorrendo por seu rosto, e com uma sinceridade e comoção que eram muito impactantes. Era
impossível ouví-lo pregar sem ficar impressionado com um senso de sua intensa sinceridade e
sua grande honestidade. Escutei-o pregar apenas algumas vezes, e na primeira delas, preocupei-
me, achando que sua pregação era tão divagante por natureza, que não poderia ter efeito.
Contudo, vi que estava errado. Descobri que apesar dessa natureza, sua grande honestidade e
unção marcavam a verdade no coração de seus ouvintes, e acho que nunca o escutei pregar sem
saber que algumas pessoas foram profundamente convencidas pelo que ele havia dito.
Ele costumava ter um avivamento religioso todo inverno, e na época que trabalhei com ele, creio
que me contou que tivera quatorze avivamentos em invernos sucessivos. Ele tinha um povo de
oração. Quando eu estava trabalhando com ele, lembro-me que por dois ou três dias, certa feita,
parecia haver algo no caminho. A obra parecia meio suspensa, e comecei a temer que algo
pudesse ter afastado o Espírito Santo. Uma noite, na reunião de oração, quando essa situação
começava a se manifestar, um de seus presbíteros levantou-se e fez uma confissão. Ele disse
“Irmãos, o Espírito de Deus foi afastado, e fui eu que O afastei. Tenho tido o hábito de orar pelo
Irmão Patterson, e pela pregação, no sábado à noite, até a meia-noite. Esse tem sido um hábito
meu por muitos anos, passar a noite de sábado, até a meia-noite, implorando pela benção de Deus
sobre as obras do domingo. No sábado passado,” ele continuou “eu estava cansado, e me omiti.
Pensei que a obra caminhava tão prazerosa e poderosamente, que podia ir para a cama sem olhar
para Deus e pedir por uma benção nas obras do domingo. No domingo, fiquei impressionado com
a convicção de ter afastado o Espírito, e vi que não houve a manifestação usual da influência do
Espírito sobre a congregação. Convenci-me desde então, e senti que era meu dever fazer essa
confissão pública. Eu não sei quem mais além de mim tem afastado o Espírito de Deus, mas eu
com certeza fiz isso.”
Eu já falei sobre a ortodoxia do Sr. Patterson. Quando comecei a trabalhar com ele, senti-me
consideravelmente testado, em algumas situações, com o que ele diria a pecadores convictos. Por
exemplo: na primeira reunião que tivemos para perguntas e repostas, o número de participantes
era muito grande. Gastamos algum tempo conversando com diferentes pessoas, e passando de um
lugar para o outro, dando instruções. Quando vi, o Sr. Patterson se levantou de maneira muito
agitada e disse “Meus amigos, vocês começaram a olhar para frente, e agora exorto-os a seguirem
adiante.” Ele continuou com uma exortação por alguns instantes, na qual deixou, distintamente, a
impressão de que agora estavam no caminho certo, e que somente tinham que continuar seguindo
adiante como estavam fazendo, e seriam salvos. Seus comentários preocuparam-me muito; pois
pareciam tender para a auto-justificação – causar a impressão de que estavam indo muito bem, e
que se continuassem a fazer seu dever, como faziam, seriam salvos.
Essa não era minha idéia de sua situação, e preocupei-me ao escutar tais instruções, e fiquei
perplexo com a questão de como reagir a isso. Contudo, no encerramento na reunião, quando,
como já era de meu costume, eu resumia os resultados de nossas conversas, e dirigia-me às
pessoas, fiz alusão ao que o Sr. Patterson dissera, e comentei que eles não deveriam compreendê-
lo de forma errada; que o que ele havia dito era a realidade daqueles que realmente haviam-se
voltado para Deus, com os olhos fixos na direção de Sião, ao entregarem seus corações para
Deus. Mas não deveriam pensar em aplicar isso àqueles que estavam convencidos, mas que ainda
não se arrependeram, acreditaram, e entregaram seus corações a Deus; e ao invés de estarem com
seus olhos voltados para Sião, estavam na verdade dando as costas para Cristo; que ainda
resistiam ao Espírito Santo; que ainda estavam a caminho do inferno; que a cada momento que
resistiam, ficavam piores; e que a cada momento que permaeciam não arrependidos, sem
submissão e fé, aumentavam sua condenação. O Senhor me deu uma visão muito clara do
assunto. O Sr. Patterson ouviu com a maior atenção possível. Jamais esquecerei a sinceridade
com que me olhava, e o interesse com o qual via o detalhamento que fiz.
Continuei falando até que pude ver e sentir, que a impressão causada pelo que fora dito não
somente havia sido corrigida, mas que também uma grande pressão fora colocada sobre eles para
que se submetessem imediatamente. Então convidei-lhes a ajoelharem-se, e entregarem-se
naquela hora e lugar, para sempre com fé no Senhor Jesus Cristo. Expliquei-lhes, da forma mais
clara que pude, e tenho razões para acreditar que muitos deles converteram-se de imediato.
Depois disso nunca mais ouvi nada da parte do Sr. Patterson que pudesse ser questionável, ao dar
instrução aos pecadores duvidosos. De fato, descobri que era um mestre admirável, com a mente
aberta a discriminações justas. Ele parecia particularmente rápido em assimilar as verdades que
precisavam ser apresentadas a tais pecadores, e presumo que até o dia de sua morte, ele nunca
mais apresentou tal visão do assunto como a que mencionei. Eu respeito e reverencio seu nome.
Ele era um amável homem cristão, e fiel ministro de Jesus Cristo.

A VERDADE DO EVANGÉLHO
AS MEMÓRIAS DE CHARLES G. FINNEY
CAPÍTULO XIX.
O AVIVAMENTO EM READING
SENDO que encontrava-me na Filadélfia, no coração da igreja Presbiteriana, e onde as visões de
Princeton eram quase unanimemente defendidas, devo dizer com mais ênfase do que tenho dito,
se possível for, que a maior dificuldade que encontrei na promoção de avivamentos religiosos foi
a falsa instrução dada às pessoas, e especialmente a pecadores que tinham dúvidas. De fato, em
toda minha vida ministerial, de todos os lugares e países em que já trabalhei, essa sempre foi a
maior dificuldade, de forma mais, ou menos intensa. E tenho certeza de que multidões que vivem
em pecado converter-se-iam imediatamente se recebessem instruções verdadeiras. A base do erro
de que falo, é o dogma de que a natureza humana é pecaminosa por si só, e que, portanto,
pecadores são completamente incapazes de se tornarem cristãos. Admite-se, explícita ou
implicitamente, que pecadores podem desejar se converter, de fato desejam se tornarem cristãos,
e muitas vezes tentam fazê-lo, ainda assim, falham por algum motivo.
Era prática comum, e ainda é até certo ponto, quando os pastores estavam pregando sobre
arrependimento, e insistindo para que as pessoas se arrependam, que proteger sua ortodoxia ao
dizer-lhes que não poderiam se arrepender, da mesma forma que não eram capazes de criar um
mundo. Mas o pecador deve ser designado a fazer alguma coisa, e com toda sua ortodoxia, não
suportavam dizer-lhes que não tinham nada a fazer. Deviam, portanto, designá-los a orar com sua
auto-justiça, por um novo coração. Algumas vezes diziam-lhes para cuprirem seus deveres, para
lerem a bíblia, usarem os meios da graça; em suma, para fazerem toda e qualquer coisa, exceto
pela única coisa que Deus ordena. Deus ordena a arrependerem-se agora, a acreditarem agora, a
transformarem seus corações agora. Mas temiam demonstrar as exigências de Deus desta forma,
pois falavam continuamente aos pecadores que eles não tinham habilidade alguma para fazer tais
coisas.
Como uma ilustração do que encontrei em outros países, mais ou menos, desde estou no
ministério, farei referência a um sermão que ouvi do Rev. Baptist Noel, na Inglaterra, um homem
bom, e ortodoxo no sentido comum da palavra. Seu texto foi: “Arrependei-vos, pois, e convertei-
vos, para que sejam apagados os vossos pecados, e venham, assim, os tempos do refrigério pela
presença do Senhor.” Em primeiro lugar, ele apresentou o arrependimento não como algo
voluntário, mas sim uma mudança involuntária, como se consistisse em culpa pelo pecado, um
mero estado de sensibilidade. Então ele insistiu em dizer que era dever do pecador arrepender-se,
e pressionava sobre eles as exigências de Deus. Mas ele estava pregando para uma congregação
ortodoxa, e não podia, e realmente não falhava em lembra-lhes que eles não eram capazes de se
arrependerem, a não ser que Ele lhes desse o arrependimento. “Então vocês perguntam o que
devem fazer. Devem ir para suas casas” disse ele, já dando a resposta, “e orem pelo
arrependimento. Se ele não vier, orem novamente pelo arrependimento; se ainda não vier,
continuem orando até que venha.” Aqui ele os deixava. A congregação era grande, e as pessoas
muito atenciosas. Na verdade eu quase não consegui me segurar, queria gritar para as pessoas
para que se arrependessem, e para não pensarem que estavam fazendo seu dever ao meramente
orar pelo arrependimento.
Tais instruções sempre me preocuparam muito, e muito de meu trabalho no ministério consitiu
em corrigir essas visões, e em pressionar o pecador a fazer imediatamente só o que Deus ordena
que ele faça. Quando perguntavam-me se o Espírito de Deus não tinha nada a ver com isso, eu
dizia “Sim, a bem da verdade você não fará isso sozinho. Mas o Espírito de Deus está nesse
momento pelejando contigo para levá-lo a fazer somente o que Ele precisa que você faça. Ele
peleja para levá-lo ao arrependimento, para levá-lo a acreditar, e peleja com você, não para
assegurar a performance de meros atos exteriores, mas para mudar seu coração.” A igreja, em
grande parte, instruira os pecadores a começarem pelo lado de fora na religião, e pelo que
chamavam de uma performance exterior de dever, para assegurar uma mudança interior de suas
vontades e afeições.
Mas eu sempre achei isso totalmente errado, não-ortodoxo, e muito perigoso. Situações quase
inumeráveis ocorreram, nas quais vi que os resultados desses ensinamentos, dos quais reclamei,
eram um entendimento errado de dever da parte dos pecadores; e creio que posso dizer que
encontrei milhares de pecadores, de todas as idades, que vivem sob essa ilusão, e jamais sentir-
se-iam chamados a fazer nada além de meramente orar por um novo coração, viver uma vira
moral, ler a bíblia, participar das reuniões, usar os meios da graça, e deixar toda a
responsabilidade de sua conversão e salvação para Deus.
Da Filadélfia, no inverno de 1829-30, fui para Reading, uma cidade a mais ou menos sessenta e
cinco quilômetros para o Oeste dali. Nesse lugar, um incidente ocorreu, que mencionarei na
oportunidade certa, e foi uma impactante ilustração dos ensinamentos aos quais fiz alusão, e de
seus resultados naturais. Em Reading haviam muitas igrejas alemãs, e uma igreja Presbiteriana. O
pastor dessa era o Rev. Dr. Greer. Por um pedido seu, e dos presbíteros da igreja, fui para lá
trabalhar por algum tempo na obra.
Logo descobri, no entanto, que nem o Dr. Greer, nem ninguém de seu povo, sabiam ao certo do
que precisavam, ou o que era de fato um avivamento. Nenhum deles jamais vira um avivamento,
até onde pude saber. Além disso, todos os esforços pelo avivamento, naquele inverno, haviam
sido impedidos, por um acordo de ter um baile a cada duas semanas, do qual participavam muitos
dos membros da igreja, e que tinha um dos líderes dos presbíteros da igreja do Dr. Greer como
um dos organizadores. Nunca ouvi falar que o Dr. Greer jamais disse alguma coisa contra isso.
Eles não tinham pregações durante a semana, e creio que nenhuma reunião religiosa também.
Quando descobri qual era a situação das coisas, achei que era meu dever dizer ao Dr. Greer que
aqueles bailes deveriam acabar em breve, ou eu não poderia ocupar seu púlpito; que aqueles
bailes, assistidos pelos membros de sua igreja, e organizados por um de seus presbíteros, não
consistiriam com minha pregação. Mas ele disse “Vá em frente; siga seu próprio caminho.”
Assim o fiz; e preguei ali três vezes aos domingos, e quatro vezes, eu acho, durante a semana, por
quase três semanas, antes de dizer qualquer coisa sobre qualquer outra reunião. Não tínhamos
reuniões de oração, creio eu, em função de que os membros presentes nunca tiveram o hábito de
participar de reuniões assim.
Contudo, no terceiro domingo, creio eu, avisei que uma reunião para perguntas e respostas seria
realizada na sala de palestras, no subsolo da igreja, na segunda-feira, no final da tarde. Declarei
da forma mais clara possível, o objetivo da reunião, e mencionei que tipo de pessoas eu gostaria
que comparecessem, convidando aqueles, e somente aqueles, que estivessem seriamente
impressionados com a situação de suas almas, haviam-se decidido a atentar imediatamente ao
assunto, e que desejavam receber instruções sobre a questão específica do quê deveriam fazer
para serem salvos. O Dr. Greer não fez objeção nenhuma a isso, e havia deixado tudo sob minha
responsabilidade e juízo. Mas acho que ele não pensava que muitos, ou qualquer um, fosse
participar de uma reunião dessas, mediante a um convite desses, pois fazê-lo seria admitir
publicamente que estavam ansiosos pela salvação de suas almas, e que haviam decidido atentar
de uma vez por todas ao assunto.
A segunda-feira foi um dia de bastante neve e frio. Acho que percebi que a convicção começava
a ser gerada na congregação, mas ainda assim estava duvidoso sobre quantos compareceriam à
reunião da noite. Entretando, quando a noite chegou, fui para a reunião. O Dr. Greer entrou e eis
que a sala de palestras, um grande salão, creio que quase do mesmo tamanho da nave da igreja
acima, estava cheia; e ao olhar em volta, o Dr. Greer percebeu que alguns das pessoas mais
ímpias de sua congregação estavam presentes, e no meio delas, aquelas que eram consideradas
muito respeitáveis e influentes.
Ele não disse nada publicamente, mas disse para mim “Eu não sei nada sobre uma reunião como
essa, tome em suas mãos e lidere do seu jeito.” Abri a reunião com um breve discurso, no qual
expliquei o que desejava, e isso era ter alguns momentos de conversa com cada um deles, e que
declarassem francamente para mim como sentiam-se sobre o assunto, quais eram suas
convicções, suas determinações e suas dificuldades.
Eu lhes disse que se estivessem doentes e chamassem um médico, ele precisaria conhecer seus
sintomas, e deveriam contar-lhe quais eram, e como eram. Disse para eles “Eu não posso dar
instrução quanto à situação atual de sua mente, a menos que a revelem para mim. Portanto o que
quero é que contem, com suas próprias palavras, qual é a situação exata de sua mente neste
momento. Agora passarei pelo meio de vocês, e darei a cada um a oportunidade de falar, com o
mínimo de palavras, qual é a situação de sua mente.” O Dr. Greer não disse uma palavra, mas
seguiu-me pelo salão, e ficava próximo, sentado ou de pé, escutando tudo que eu tinha a dizer.
Ele ficava bem perto de mim, pois eu falava com todos em voz baixa, para que não fosse ouvido
por outros que não os que estavam imediatamente próximos. Encontrei muita convicção e
sentimento na reunião. Estavam grandemente impactados com convicção. A convicção
apoderara-se de todas as classes sociais, a alta e a baixa, os ricos e os pobres.
O Dr. Greer ficou muito comovido. Apesar de não dizer nada, ainda assim era evidente para mim
que seu interesse era grande. Ver sua congregação num estado como esse era algo que jamais
imaginara. Vi que com dificuldade, às vezes, ele controlava suas emoções.
Depois de passar o máximo de tempo que pude nas conversas pessoais, voltei para a mesa e falei
a todos, de acordo com meu costume, resumindo os resultados do que achava que fosse
interessante das comunicações feitas a mim. Evitando qualquer personalidade, peguei os casos
mais representativos, dissequei, corrigi, e ensinei. Tentei acabar com todo mal-entedido e todo
erro, corrigir a impressão de que tinham, que deviam usar os meios e simplesmente esperar que
Deus os convertesse. Falei por talvez meia hora ou quarenta e cinco minutos, e apresentei-lhes
toda a situação da forma mais clara que pude. Depois de orar com eles, chamei os que sentiam-se
preparados a se submeterem, e que estavam dispostos a entregarem-se inteiramente, naquela hora
e lugar, a Deus, que estavam dispostos a se comprometerem e se renderem à misericórdia de
Deus em Cristo Jesus, que estavam dispostos a desistir de todo pecado, e a renunciá-lo para
sempre, a ajoelharem-se, e enquanto eu orava, entregarem-se a Cristo, e exortei-os a fazer isso de
forma introspectiva. Convidei somente esses a se ajoelharem, que estivessem dispostos a fazer o
que Deus pedia deles, e o que eu lhes havia apresentado. O Dr. Greer ficou muito supreso com o
teste apresentei, e com a maneira como eu pressionava a todos por imediata submissão.
Logo que vi que compreenderam-me plenamente, chamei-lhes a ficarem de joelhos, e ajoelhei-
me também. O Dr. Greer ajoelhou-se ao meu lado, mas não disse nada. Apresentei o caso em
oração a Deus, e fui direto ao ponto da submissão imediata, da fé, e da consagração deles a Deus.
Havia uma terrível solenidade invadindo a congregação, e a frieza da morte, com a exceção de
minha própria voz em oração, e os soluços, e suspiros, e choros que mais ou menos se ouviam
pela igreja.
Depois de abrir o caso diante de Deus, levantamo-nos, e sem dizer mais nada, proferi a benção e
os dispensei. O Dr. Greer estendeu-me cordialmente a mão, e sorrindo, disse “Verei você pela
manhã”. Ele seguiu seu caminho, e eu fui para meus aposentos. Por volta de onze da noite, creio
eu, um mensageiro veio correndo até meus aposentos e me chamou, dizendo que o Dr. Greer
estava morto. Perguntei o que ele queria dizer. Ele disse que o doutor acabara de se retirar, e fora
tomado por um momento de apoplexia, morrendo imediatamente. Ele era muito amado e
respeitado por seu povo, e tenho certeza que merecia isso. Era um homem de educação
impecável, e creio que de devoção sincera. Ms sua formação teológica não serviram de maneira
nenhuma para a obra do ministério, que é ganhar almas para Cristo. Além disso ele era um
homem bastante tímido. Não gostava de encarar seu povo e resistia as transgressões do pecado
como devia. Sua morte repentina foi um grande choque, e virou assunto de conversa constante
por toda a cidade.
Embora eu tivesse achado que um bom número tinha, aos olhos humanos, se convertido na
reunião de segunda-feira à noite, a mote do Dr. Greer, sob circunstâncias tão extraordinárias,
mostrou uma grande digressão na opinião pública por uma semana ou mais. Mas depois que seu
funeral terminou, quando os cultos voltaram a sua periodicidade, a obra tornou-se poderosa, e
proseguiu da forma mais encorajadora.
Várias situações muito interessantes ocorreram nesse avivamento. Lembro de uma noite em que
nevava muito, quando a neve já estava bem alta, e continuava caindo de uma forma terrível sob
um violento vendaval, em que fui chamado por volta da meia noite, para visitar um homem que,
conforme fui informado, estava sob uma convicção tão terrível que não podia mais viver, a
menos que alguma coisa fosse feita por ele. O nome do homem ere B. Ele era um homem
robusto, muito musculoso, um homem de grande força de vontade e nervos, fisicamente um
ótimo espécime de humanidade. Sua esposa era uma professora de religião, mas ele não se
importava com nada disso.
Ele estivera na reunião naquela noite, e o sermão o rasgara em pedaços. Foi para casa
terrivelmente perturbado, suas convições e angústias aumentando até superarem sua força física,
e sua família temia que ele fosse morrer. Embora isso tenha contecido no meio de uma
tempestare tão horrível, enviaram-me um mensageiro. Tivemos que enfrentar a tempestade e
andar, talvez, duzentos e cinqüenta, trezentos metros. Escutei seu gemidos, ou melhor, gritos,
antes de chegar perto da casa. Quando entrei, encontrei-o sentado no chão, sua esposa, creio eu,
apoiando sua cabeça e que expressão em seu rosto! Era indescritível. Por mais acostumado que
eu estivesse a ver pessoas sob grandes convicções, devo confessar que sua aparência chocou-me
tremendamente. Ele se contorcia em agonia, rangia os dentes, e literalmente mastigava sua língua
pela dor. Ele gritou para mim “Ó Sr. Finney! Estou perdido! Sou uma alma perdida!” Eu estava
muito chocado e exclamei “Se isso é convição, o que será o inferno?” Contudo logo me
recuperei, e sentei-me ao seu lado. A princípio ele teve dificuldades em prestar atenção, mas eu
logo levei seus pensamentos para o caminho da salvação por meio de Cristo. Chamei sua atenção
para o Salvador e para que O aceitasse. Seu fardo logo foi removido. Ele foi persuadido a confiar
no Salvador, e terminou livre e cheio de alegria em esperança.
Claro, dia a dia, eu tinha minhas mãos, minha mente e meu coração inteiramente ocupados. Não
havia nenhum pastor para me ajudar, e a obra espalhava-se em todas as direções. O presbítero da
igreja a quem fiz alusão como sendo um dos organizadores de seus bailes logo rasgou seu
coração diante do Senhor, e entrou na obra, e como conseqüência, sua família logo se converteru.
O avivamento fez uma varredura detalhada nas famílias daqueles membros da igreja que haviam
ingressado na obra.
Eu disse que uma situação ocorrera nesse lugar, que ilustrava a influência dos ensinamentos
tradicionais dos quais reclamei. Certa manhã bem cedo um advogado, parte de uma das mais
respeitáveis famílias da cidade, veio até meu quarto, com sua mente muito agitada. Vi que era um
homem muito inteligente, e um cavalheiro; mas não o havia visto antes, para que o conhecesse.
Ele entrou, se apresentou, e disse que era um pecador perdido – que tinha certeza de que não
havia esperança para si. Ele então me informou que quando estava na Faculdade de Princeton, ele
e dois de seus colegas de classe ficaram muito ansiosos quanto à suas almas. Foram juntos até o
Dr. Ashbel Green, que era o presidente da faculdade, e perguntaram-lhe o que deviam fazer para
serem salvos. Ele disse que o doutor falara-lhes que estava muito feliz por terem ido fazer aquela
pergunta, e então disse-lhes para manterem-se afastados de toda má companhia, lerem
firmemente suas bíblias, e orarem a Deus por um novo coração. Ele dizia “Continuem a fazer
isso, prossigam em seu dever e o Espírito de Deus converte-los-á; ou senão Ele os deixará, e
vocês voltarão a seus pecados.” “Bem,” eu perguntei “como isso terminou?” “Ora,” disse ele,
“fizemos exatamente o que ele nos dissera. Ficamos longe das más companhias, e oramos para
que Deus nos desse um novo coração. Mas depois de algum tempo nossas convicções foram
embora, e não nos importávamos em orar mais. Perdemos todo o interesse no assunto;” e então,
caindo em lágrimas, ele disse “Meus dois companheiros foram para a sepultura como beberrões,
e se eu não conseguir me arrepender, logo estarei em uma também.” Esse comentário levou-me a
perceber que ele tinha indicações de ser um homem que fizera muito uso de espíritos ardentes.
No entanto, ainda era bem cedo de manhã, e ele estava totalmente sóbrio, em profunda ansiedade
por sua alma.
Tentei instruí-lo e mostrar-lhe o erro no qual havia caído, sob as instruções que recebera, e que na
verdade resistia e afastara o Espírito, ao esperar que Deus lhe dissesse o que fazer. Tentei
mostrar-lhe que, na essência do caso, que Deus não podia fazer por ele o que Ele exigia que
fizesse. Deus exigia que ele se arrependesse, e Deus não podia arrepender-se por ele; que
acreditasse, mas não podia acreditar por ele; que se submetesse, mas não podia submeter-se por
ele. Então tentei fazê-lo entender a ação que o Espírito de Deus tem em dar o arrependimento e
um novo coração ao pecador; que isso é uma persuasão divina; que o Espírito o leva a ver seus
pecados, urge-o para que desista deles e fuja da ira vindoura. Apresenta-lhe o Salvador, a
remissão, o plano de salvação, e urge-o a aceitar.
Perguntei-lhe se ele não sentia essa insistência sobre si, nessas verdades reveladas em sua própria
mente; e um chamado para submeter-se agora, acreditar, e transformar seu próprio coração. “Ah,
sim!” ele disse, “Ah, sim! Eu vejo e sinto tudo isso. Mas Deus não desistiu de mim? Já não se foi
meu dia de graça?” Eu lhe disse “Não! Está claro que o Espírito de Deus o está chamando, ainda
insistindo que se arrependa. Você reconhece que sente essa urgência em sua própria mente.” Ele
perguntou “É isso, então, o que o Espírito de Deus está fazendo, para mostrar-me tudo isso?”
Assegurei-lhe que era, e que ele deveria ver isso como um chamado divino, e como uma prova
conclusiva de que não fora abandonado, e não havia perdido em pecado seu dia de graça, mas que
Deus ainda estava lutando para salvá-lo. Então perguntei-lhe se ele responderia ao chamado, se
viria para Jesus, se abraçaria a vida eterna naquele exato momento e lugar.
Ele era um homem inteligente, e o Espírito de Deus estava sobre ele, ensinando-o e fazendo-o
entender cada palavar que eu dizia. Quando vi que o caminho estava totalmente aberto, convidei-
o a se ajoelhar e sumbeter, ele assim o fez, e ao que tudo indica, converteu-se completa e
imediatamente. Então disse “Ah, se o Dr. Green nos tivesse dito isso que o senhor me disse, todos
nos converteríamos imediatamente. Mas meus amigos e companheiros estão perdidos, e que
maravilha de misericórdia é essa que me salvou!”
Lembro-me de uma situação muito interesante no caso de um mercante em Reading, que tinha
como um de seus negócios a fabricação de whiskey. Ele acabara de montar uma grande distilaria
com muita despesa. Construíra com as melhores máquinas, em grande escala, e entrava a fundo
no negócio. Mas logo que ele se converteu, desistiu de todo pensamento de continuar com aquela
empresa. Foi uma conclusão espontânea de sua própria mente. Ele disse um vez “Não terei nada a
ver com isso. Vou desmontar minha distilaria. Não trabalharei nela, nem venderei para que outros
o façam.”
Sua esposa era uma bora mulher, e irmã do Sr. B, cuja conversa mencionei que ocorreu naquela
noite de tempestade. O nome do mercante era OB. O avivamento apoderou-se poderosamente de
sua família, e muitos deles se converteram. Não me recordo agora em quantos eram, mas acho
que todos os ímpios de sua casa foram convertidos. Seu irmão também, e sua cunhada, e não sei
quantos, mas um bom círculo de seus parentes estavam entre os convertidos. Mas o Sr. OB tinha
uma saúde frágil, e consumia-se rapidamente. Eu o visitava freqüentemente, e encontrava-o cheio
de alegria.
Examinávamos os candidatos para admissão na igreja, e muitos seriam admitidos em um
determinado domingo. Entre eles estavam esses membros de sua família e os parentes que
haviam-se convertido. A manhã de domingo chegou. Logo soube-se que o Sr. OB não
sobrevivera. Ele chamara sua esposa para seu lado da cama e dissera “Minha querida, eu vou
passar o domingo no céu. Que toda a família vá, e todos os amigos, e unam-se à igreja aqui em
baixo; e eu me unirei à igreja lá em cima.” Antes da hora da reunião ele estava morto. Amigos
foram chamados para cobrí-lo em sua mortalha; seus parentes e família reuniram-se em volta de
seu corpo, então viraram-se e vieram para a reunião, e como ele havia desejado, uniram-se com a
igreja militante, enquanto ele se unia com a igreja triunfante.
Seu pastor acabara de partir, e creio que foi naquela manhã que eu disse ao Sr. OB “Mande meu
amor ao Irmão Greer, quando você chegar no céu.” Ele sorriu e com santa alegria disse-me “O
senhor acha que vou reconhecê-lo?” Eu disse “Sim, sem dúvida vai reconhecê-lo. Mande-lhe meu
amor, e diga-lhe que a obra caminha gloriosamente.” “Farei isso, farei isso.” disse ele. Sua esposa
e família sentavam-se à mesa, mostrando em seu semblante uma mistura de alegria e tristeza.
Havia um tipo de triunfo santo manifestado, e atentaram-se ao fato de que o marido, pai, irmão e
amigo, estaria sentado à mesa com Jesus no alto, naquele mesmo dia, enquanto se reuniam ao
redor de Sua mesa na Terra.
Muitas coisas foram comoventes e interessantes naquele avivamento, em muitos aspectos. Ele
aconteceu em meio a uma população que nunca tivera a concepção de avivamentos religiosos. Os
alemães achavam que haviam-se tornado cristãos pelo batismo, e especialmente por receberem a
comunhão. Quase todos, se questionados sobre quando haviam-se convertido, responderiam que
haviam recebido a comunhão em tal época, pelo Dr. B ou algum outro mestre de religião. Quando
eu perguntava se eles achavam que aquilo era religião, respondiam que sim, achavam que era. De
fato essa era a idéria do próprio Dr. M. Ao caminhar com ele para a sepultura do Dr. Greer, por
ocasião de seu funeral, ele me disse que fizera seiscentos cristãos pelo batismo, e dando-lhes a
comunhão, desde que tornara-se pastor daquela igreja. Ele parecia não ter outra idéia de tornar-se
um cristão a não ser simplesmente aprender o catecismo, ser batizado e participar da comunhão.
O avivamento precisou encontrar essa visão das coisas; e a influência era a princípio, quase toda
nessa direção. Defendia-se, como fui informado e não duvido, que para começarem a pensar em
serem religiosos ao se converterem, estabelecerem orações familiares e entregarem-se a orações
particulares, não era somente fanatismo, mas também praticamente admitir que todos seus
antecessores haviam ido para o inferno, por não haviam feito nada disso. Esses pastores
germânicos pregavam contra todas essas coisas, como fui informado por aqueles que os ouviam,
e falavam severamente daqueles que abandonavam os caminhos de seus ancestrais, e julgavam
necessário serem convertidos, ter orações em família e em secreto.
A grande maioria da congregação do Dr. Greer, creio eu, converteu-se nesse avivamento. No
começo tive uma dificuldade considerável em me livrar da influência da imprensa diária. Acho
que dois ou três jornais diários eram publicados na época. Descobri que os editores eram homens
alcólatras, e não-raro, eram carregados para suas casas, publicamente, em um estado de
embriaguez. As pessoas estavam bastante influenciadas pela imprensa diária. Quero dizer, a
população alemã em específico. Esses editores começaram a dar conselhos religiosos ao povo, e a
falar contra o avivamento e a pregação. Isso levou as pessoas a um estado de perplexidade. Isso
continuou dia após dia, semana após semana, até que a sitação finalmente chegou a tal ponto que
achei que era meu dever falar sobre isso. Então subi ao púlpito quando a casa estava lotada, e
peguei como texto: “Vós tendes por pai ao diabo e quereis satisfazer os desejos de vosso pai.” E
então prossegui a mostrar como os pecadores faziam os desejos do diabo, apontanto muitas das
maneiras nas quais eles faziam seu trabalho sujo, e faziam por ele o que ele não podia fazer
sozinho.
Depois de ter apresentado bem o assunto ao povo, apliquei-o à conduta seguida pelos editores
daqueles jornais diários. Perguntei ao povo se eles não pensavam que aqueles editores estavam
cumprindo os desejos do diabo, e se não acreditavam que o diabo queria que fizessem exatamente
aquilo? Então perguntei-lhes se era cabível e decente, a um homem de caráter como o deles,
tentar dar instruções religiosas às pessoas? Disse ao povo o que achava do caráter deles, e
coloquei minha mão pesadamente sobre eles, pois tais homens não deveriam tentar instruir as
pessoas no que diz respeito a seus deveres para com Deus e com os próximos. Eu disse “Se eu
tivesse uma família aqui não teria um jornal desses em casa, temeria ter algo assim sob meu teto,
consideraria imundo demais para que fosse tocado por meus dedos, e pegaria a pinça para jogá-lo
para a rua.” De alguma forma os jornais foram parar nas ruas na manhã seguinte, em grande
quantidade, e eu não vi nem ouvi mais nada de sua oposição.
Permaneci em Reading até o final da primavera. Muitas conversões repentinas e impactantes
aconteceram, e até onde sei, a congregação do Dr. Greer foi continuou muito unida, encorajada e
fortalecida, com muitas somas feitas a seu número. Nunca mais voltei àquele lugar.
De Reading fui para Lancaster, Pensilvânia, que era na época e foi até o dia de sua morte, o lar do
falecido Presidente Buchanan. A igreja Presbiteriana em Lancaster não tinha pastor, e encontrei a
religião em uma situação deplorável. Ele jamais haviam tido um avivamento religioso, e
obviamente não tinham idéia do que era isso, ou dos métodos apropriados para realizá-lo. Eu
fiquei em Lancaster por um curto período. Contudo a obra de Deus foi imediatamente avivada, o
Espírito de Deus derramado praticamente de uma só vez sobre o povo. Eu era hóspede de um
senhor de idade chamado K, que era um dos presbíteros da igreja, e de fato um de seus líderes.
Um fato ocorreu em relação a ele, enquanto eu estava com sua família, que revelou o verdadeiro
estado das coisas, de um ponto de vista religioso, naquela igreja. Um antigo pastor de lá
convidara o Sr. K a unir-se à igreja e assumir o cargo de presbítero. Devo dizer que os fatos que
estou prestes a comunicar sobre esse evento foram relatados a mim pelo Próprio Sr. K. Certo
domingo à noite, depois de ouvir dois minuciosos sermões, o velho senhor não podia dormir. Sua
mente estava tão agitada que não pôde agüentar até de manhã. Ele me chamou chamou no meio
da noite e declarou quais eram suas convicções, e então disse que sabia que jamais fora
convertido. Ele disse que fora convidado a unir-se à igreja e tornar-se um presbítero, ele sabia
que não era um homem convertido. Mas insistiram tanto nesse assunto com ele até que
finalmente foi consultar o Rev. Dr. C, um velho pastor de uma igreja Presbiteriana não muito
distante de Lancaster. Ele declarou-lhe o fato de nunca haver-se convertido, mas ainda assim,
desejava unir-se à igreja e que poderia tornar-se um presbítero. Dr. C, em vista das
circunstâncias, aconselhou-o a uni-se e aceitar o cargo, ele assim o fez.
Suas convicções no momento de que falei, eram muito profundas. Eu o instruí da forma que achei
necessário, pressionei-o a aceitar o Salvador, e lidei com ele da mesma forma que lidaria com
qualquer outro pecador. Foi um momento muito solene. Ele professou naquela hora aceitar e
submeter-se ao Salvador. De sua história subseqüente, nada sei. Ele era certamente um homem de
muito caráter, e jamais, pelo que sei, fez nada fora dos padrões, para desgraçar a posição que
ocupava. Aqueles que têm conhecimento do estado da igreja cujo pastor era o Dr. C,
considerando o presbitério naquela época, não se espantarão com o conselho que ele deu ao Sr.
K.
Entre os incidentes que ocorreram, durante minha breve estadia em Lancaster, lembro-me do
seguinte. Certa noite preguei sobre um assunto que levou-me a insistir na aceitação imediata de
Cristo. A casa estava muito cheia, literalmente lotada. No encerramento de meu sermão fiz um
forte apelo às pessoas para que decidicem de uma vez, acho que convidei aqueles cujas mentes
estavam decididas, e que então aceitariam o Salvador, a ficarem de pé, para que soubéssemos
quem eram, e pudéssemos fazê-los alvos de oração. No dia seguinte eu soube que dois homens
estavam sentados próximos à porta da igreja, um dos quais estava muito afetado com o apelo que
fora feito, e não podia evitar manifestar uma forte emoção, que foi percebida por seu vizinho.
Porém, o homem não se levantou, nem entregou seu coração a Deus. Eu havia dito que aquela
poderia ser a última oportunidade que alguns ali teriam para encararem e decidirem essa questão;
que em uma congregação tão grande, não seria espantoso que houvesse alguns ali que decidiriam
naquele momento seu destino eterno, de uma forma ou de outra. Não seria espantoso que Deus
aceitasse a decisão de alguns, feita naquela hora.
Depois que a reunião foi dispensada, como soube no dia seguinte, esses dois homens saíram
juntos, e um disse ao outro “Vi que você ficou muito tocado com os apelos que o Sr. Finney fez.”
“Fiquei,” o outro respondeu “jamais havia-me sentido assim antes em minha vida, e
especialmente quando ele nos lembrou que aquela poderia ser a última vez que teríamos uma
oportunidade para aceitar a oferta de misericórdia.” Continuaram conversando dessa maneira até
uma certa distância, então separaram-se, cada um indo para sua própria casa. Era uma noite
escura, e aquele que fora tão tocado, que estava tão incomodado com a convicção de que poderia
estar rejeitado sua última oferta, tropeçou sobre a guia e quebrou seu pescoço. Isso foi relatado a
mim no dia seguinte.
Eu estabeleci reuniões de oração em Lancaster, e insisti que os presbíteros da igreja participassem
delas. Eles fizeram isso em resposta a meu sincero pedido, porém, como soube depois, nunca
foram acostumados a fazer isso antes. O interesse parecia aumentar da após dia, e as conversões
multiplicavam-se. Não me recordo agora porquê não permaneci por mais tempo ali, mas fui
embora tão cedo que não tenho como dar conta detalhadamente sobre a obra naquele lugar.

A VERDADE DO EVANGÉLHO
AS MEMÓRIAS DE CHARLES G. FINNEY
CAPÍTULO XX.
OS AVIVAMENTOS EM COLUMBIA, E NA CIDADE DE NOVA IORQUE
DE Lancaster, em meados do verão de 1830, retornei para o condado de Oneida, Nova Iorque, e
passei algum tempo na casa de meu sogro. Creio que foi nessa época, durante minha estada em
Whitestown, que ocorreu uma situação muito interessante, e que relatarei. Um mensageiro veio
da cidade de Columbia, no condado de Herkimer, solicitando que eu fosse ajudar na obra da
graça naquele lugar, que já havia começado. Tudo me foi apresentado de tal forma que fui
induzido a ir. Contudo, não esperava permanecer ali na época, eu tinha outros convites, convites
com mais pressão para trabalhar. Fui até lá, no entanto, para ver, e para ajudar como podia por
um curto tempo.
Em Columbia havia uma grande igreja Alemã, cujos membros haviam cido aceitos, como dita
seu costume, mediante exame de seus conhecimentos doutrinários, ao invés de sua experiência
cristã. Por conseqüência, a igreja formara-se em sua maioria, como fui informado, de pessoas não
convertidas. Tanto a igreja quanto a congregação eram muito grandes. Seu pastor era um homem
jovem de nome H. Ele era descendente de alemães, natural da Pensilvânia.
Expôs-me a situação em Columbia e a si mesmo da seguinte forma. Ele disse que estudara
teologia com um alemão doutor em divindade, no lugar onde vivia, alguém que não encorajava
de forma alguma a religião experimental. Ele disse que um de seus colegas estudantes tinha uma
inclinação religiosa, e costumava orar em seu quarto. Seu professor suspeitou disso, e de alguma
maneira veio a saber do fato. Então aconselhou o jovem a parar, pois era uma prática muito
perigosa, e ficaria louco se persistisse nela, e que depois ele seria o culpado por deixar que um
aluno seguisse tal caminho. O Sr. H assumia que ele mesmo não tinha religião alguma. Ingressara
na igreja pelo maio comum, e não achava que nada mais era necessário, no que diz respeito à
devoção, para tornar-se um pastor. Mas sua mãe era uma mulher devota. Ela sabia da verdade, e
ficava muito angustiada ao ver que um filho seu entraria no ministério sem jamais ter-se
convertido. Quando ele recebeu um chamado para a igreja em Columbia, e estava prestes a sair
de casa, sua mãe teve uma conversa muito séria com ele, pressionou sobre ele o fato de sua
responsabilidade, e algumas coisas que ela disse causaram poderoso impacto em sua consciência.
Ele disse que não conseguia esquecer essa conversa com sua mãe; que mantinha-se com peso em
sua mente, e suas convicções de pecado aprofundavam-se até quase levá-lo ao desespero.
Isso extendeu-se por meses. Ele não tinha ninguém com quem se aconselhar, e não abria seu
coração para nenhuma pessoa. Mas depois de uma severa e prolongada peleja, ele se converteu,
veio para a luz, viu onde estava e onde havia estado, viu a condição de todas aquelas igrejas que
tinham admitido seus membros da forma em que ele mesmo fora admitido. Sua esposa não era
convertida. Ele imediatamente entregou-se a trabalhar para que ela se convertesse, e por Deus,
logo conseguiu. Sua alma estava tomada por esse assunto, ele lia sua bíblia, orava e pregava com
todas as suas forças. Mas ele era um jovem convertido, e não tivera a instrução necessária, então
sentiu-se perdido quanto ao quê fazer. Ele ia pela cidade, conversava com os presbíteros da
igreja, conversava com os principais membros, e convencera-se a si mesmo de que um dos dois
dos líderes entre os presbíteros, e muitas das senhoras de sua igreja eram convertidos de fato.
Depois de muita oração e consideração, ele decidiu o que tinha que fazer. No domingo ele
anunciou a todos que haveria uma reunião da igreja, certo dia durante a semana, para a transação
de negócios, e queria que todos os membros, em especial, estivessem presentes. Sua própria
conversão, pregação, visitas e conversas pela cidade já tinham criado bastante agitação, de forma
que a religião tornara-se um tópico comum de discussão; e seu chamado para uma reunião da
igreja foi atendido, de modo que no dia marcado, quase todos estavam presentes.
Ele então falou-lhes a respeito da verdadeira situação da igreja, e o erro no qual haviam caído
quanto às condições sob as quais os membros eram admitidos. Ele fez um discurso, parte em
alemão, parte em inglês, para que todas as classes o entendessem; depois de falar até que
estivessem bastante comovidos, ele propôs desengajar a igreja e formar uma nova, insistindo que
isso era essencial para a prosperidade da religião. Ele tinha um acordo com aqueles membros da
igreja que acreditava serem realmente convertidos, para que liderassem a votação a favor de
desmanchar a igreja. Isso foi movido para votação, mediante ao pedido feito por esses membros
convertidos. Eles eram membros muito influentes, e as pessoas ao olharem em volta e vê-los de
pé, levantaram-se, e por fim continuaram colocando-se de pé até quase a unanimidade. O pastor
então disse “Agora não existe nenhuma igreja em Columbia.”; e propôs para que formassem uma
de cristãos, pessoas que haviam-se convertido.
Então, diante da congregação, ele relatou sua própria experiência, chamou sua esposa, e ela fez o
mesmo. Então seguiram os presbíteros e membros que eram convertidos, um após o outro,
prosseguindo enquanto todos que pudessem relatar uma experiência cristã tivessem vindo à
frente. Esses prossguiram para formar uma igreja. Ele então disse para os outros “Suas relações
com a igreja estão terminadas. Vocês estão no mundo; e até que se convertam, e voltem para a
igreja, não poderão batizar seus filhos, e não poderão participar das ordenanças da igreja.” Isso
gerou um grande pânico, pois de acordo com suas visões, era algo terrível não participar do
sacramento, ou não batizar os filhos, porque essa era a maneira pela qual eles mesmos haviam-se
tornado cristãos.
O Sr. H então trabalhou com todas as suas forças. Ele visitava, pregava, orava, realizava reuniões,
e o interesse aumentava. Dessa forma a obra já vinha acontecendo por algum tempo, quando ele
escutou falar que eu estava no condado de Oneida, e enviou-me um mensageiro. Encontrei nele
um jovem conertido de coração ardente. Ele escutava minhas pregações com uma alegria quase
incontrolável. Encontrei uma congregação grande e interessada, e até onde pude julgar, a obra
estava num estado muito próspero e saudável. O avivamento continuou a se espalhar até alcançar
e converter quase todos os habitantes da cidade. Galesburg, em Illinois, fora fundada por uma
colônia de Colubia, e quase todos ali foram convertidos, eu acredito, pelo avivamento. O
fundador da colônia e da Faculdade Knox, localizada ali, era o Sr. Gale, meu antigo pastor em
Adams.
Contei os fatos, como me lembro deles, como relatados a mim pelo Sr. H. Eu achava que suas
visões eram evangélicas, e seu coração ardente, e ele estava rodeado por uma congregação tão
interessada em religião quanto se podia desejar.
Eles fixavam sua atenção, conforme eu apresentava a eles o Evangélho de Cristo, com um
interesse e paciência tal, que afetava e muito, sendo bastante interessante. O próprio Sr. H era
como uma criancinha, ensinável, humilde e sincero. Essa obra continuou por mais de um ano,
como vim a saber, espalhando-se por toda aquela grande e interessante população de fazendeiros.
Depois que retornei de Whitestown, fui convidado a visitar a cidade de Nova Iorque. Anson G
Phelps, desde que conhecido como um grande colaborador voluntário das principais instituições
benevolentes de nosso país, sabendo que eu não havia sido convidado aos púlpitos daquela
cidade, alugou uma igreja vazia na rua Vandewater, e enviou-me um pedido urgente para que
fosse pregar lá. Eu fiz isso, e um poderoso avivamento aconteceu. Encontrei o Dr. Phelps muito
engajado na obra, e não hesitando promovê-la a qualquer custo. A igreja que alugara só poderia
ser ocupada por três meses. Por isso o Sr. Phelps, antes que os três meses acabassem, comprou
uma igreja na rua Prince, perto da Broadway. Essa igreja havia sido construída pelos
Universalistas, e foi vendida ao Sr. Phelps, que comprou e pagou por ela de seu próprio bolso. Da
rua Vandewater, formos portanto, para a rua Prince, e ali formamos uma igreja, em sua maioria
de pessoas que haviam-se convertido durante nossas reuniões na rua Vandewater. Continuem
meus trabalhos na rua Prince por alguns meses, creio que até bem no final do verão.
Eu fiquei muito impactado, durante minhas obras ali, com a devoção do Sr. Phelps. Enquanto
estávamos na rua Vandewater, eu, minha esposa e nosso único filho éramos hóspedes de sua
família. Eu percebi que, enquanto o Sr. Phelps era um homem literalmente carregado de
negócios, de alguma forma ele preservava um elevado estado de espírito e mente, e que vinha
diretamente do trabalho para nossas reuniões de oração, entrando nelas com tal espírito, que
demonstrava claramente que sua mente não estivera tão absorta nos negócios a ponto de excluir
as coisas espirituais. Ao observá-lo dia após dia, fiquei cada vez mais interessado em sua vida
interior, e como ela era manifestada em sua vida exterior. Certa noite tive que ir até lá embaixo,
creio que por volta da meia-noite, para pegal alguma coisa para nosso bebê. Eu supunha que toda
a família estaria dormindo, mas para minha surpresa, encontrei o Sr. Phelps sentado perto da
lareira, de pijamas, e vi que havia interrompido seu devocional particular. Desculpei-me dizendo
que havia suposto que ele estaria dormindo. Ele respondeu “Irmão Finney, tenho muitos negócios
me pressionando durante o dia, e tenho pouquíssimo tempo para meu devocional particular, e
meu hábito é, depois de tirar um cochilo à noite, levantar-me para ter um período de comunhão
com Deus.” Depois de sua morte, que ocorreu há poucos anos, descobri que ele mantinha um
diário durante essas horas da noite, totalizando vários livros manuscritos. Esse diário revelava as
obras secretas de sua mente, e o real progresso de sua vida interior
Eu nunca soube o número de pessoas que se converteram enquanto eu estava nas ruas Prince e
Vandewater; mas deve ter sido grande. Houve um caso de conversão que não posso omitir. Uma
jovem visitou-me certo dia, grandemente convicta do pecado. Conversando com ela, vi que tinha
muitas coisas em sua consciência. Ela tinha o hábito de furtar coisas de pouco valor, como me
disse, desde a infância. Ela era filha, única, eu acho, de uma senhora viúva, e tinha o hábito de
pegar de seus colegas de escola e outros, lencinhos, broches, lápis, e qualquer coisa que tivesse a
oportunidade de roubar. Ela fez uma confissão a respeito dessas coisas para mim, e perguntou-me
o que deveria fazer sobre isso. Eu disse que ela deveria ir e devolver tudo, confessando àqueles
de quem furtara.
É claro que isso foi um grande teste para ela, mas ainda assim suas convicções eram tão
profundas que não podia continuar com aquelas coisas, então começou a tarefa de confessar e
restituir. Mas conforme ela continuava com isso, continuava a lembrar de mais e mais
circunstâncias como essas, e continuava a visitar-me com freqüência, confessando a mim seus
roubos de quase todo o tipo de objetos que uma jovem pode usar. Perguntei-lhe se sua mãe sabia
dessas coisas. Ela disse que sim, mas ela sempre dissera a sua mãe que havia ganhado tudo. Ele
me disse numa certa ocasião “Sr. Finney, eu acho que roubei um milhão de vezes. Descobri que
tenho muitas coisas que sei que roubei, mas não me lembro de quem.” Recusei-me a aceitar que
ela parasse, e insisti que continuasse a fazer sua restituição de todos os casos nos quais pudesse se
lembrar corretamente. De tempos em tempos ela vinha até mim e contava o que fizera. Eu
perguntei a ela o que as pessoas diziam quando ela devolvia os artigos. Ela respondeu “Alguns
dizem que eu sou louca, alguns dizem que sou tola, outros ficam muito comovidos.”
“Todos lhe perdoam?” Eu perguntei. “Ah, sim!” disse ela, “todos me perdoam, mas alguns acham
que eu não deveria estar fazendo isso.”
Um dia ela me contou que tinha um xale que roubara de uma filha do Bispo Hobart, então Bispo
de Nova Iorque, que morava na praça St. John, próximo à igreja St. John. Como de costume,
disse-lhe que ela tinha que devolver. Poucos dias depois, fez-me uma visita e relatou-me o
resultado. Ela disse que embrulhou o xale em um papel, foi com ele até lá, tocou a campainha da
casa do Bispo, e quando o empregado veio, ela entregou-lhe o pacote, dizendo que era para o
Bispo. Não deu nenhuma explicação, mas foi imediatamente embora, e correu virando a esquina
para outra rua, a fim de que ninguém visse para onde ela foi e descobrisse quem ela era. Mas
depois de dobrar a esquina, sua consciência pesou, e ela disse a si mesma “Eu não fiz isso direito.
Podem suspeitar que outra pessoa roubou o xale, a menos que eu vá até o Bispo e deixe claro
quem o fez.”
Ela virou, voltou imediatamente, e perguntou se poderia falar com o Bispo. Sendo informada que
poderia, foi conduzida até seu escritório. Ela então confessoua ele, contando sobre o xale e tudo
que se passara. “Bem,” disse eu, “e como o Bispo a recebeu?” “Ah,” ela disse “quando eu contei,
ele chorou, colocou sua mão sobre minha cabeça e disse que me perdoava, orando a Deus que me
perdoasse também.” “E tem estado em paz com sua mente sobre isso desde então?” eu perguntei.
Ela respondeu “Ah, sim!” Esse processo continuou por semanas, e acho que até por meses. Essa
jovem ia de lugar em lugar, em todas as partes da cidade, restituindo as coisas que roubara, e
confessando. Às vezes suas convicções eram tão terríveis, que ela parecia enlouquecer.
Certa manhã ela mandou chamar-me para ir até a casa de sua mãe. Eu fiz isso, e quando cheguei
lá fui levado ao quarto dela, e encontei-a com seu cabelo caído sobre os ombos, suas roupas
dessarumadas, andando de um lado para o outro em agonia e desepero, e com um olhar que era
assustador, porque indicava que ela estava à beira da loucura. Eu disse “Minha filha querida, qual
é o problema?” Ela segurava em suas mãos enquanto andava, um pequeno Testamento. Virou-se
para mim e disse “Sr. Finney, eu roubei esse testamento. Eu roubei a palavra de Deus; será que
Deus algum dia vai me perdoar? Não consigo me lembrar de qual das meninas roubei. Eu roubei
de uma de minhas colegas da escola, e faz tanto tempo que realmente havia me esquecido de tê-lo
roubado. Lembre-me disso esta manhã, e sinto que Deus jamais poderá perdoar-me por roubar
Sua palavra.” Assegurei-lhe que não havia razões para seu desespero. “Mas, o que devo fazer?
Não consigo me lembrar de quem peguei.” ela disse. Então eu falei “Guarde como um lembrete
constante de seus antigos pecados, e use para o bem que pode agora tirar dele.”
Ela disse “Ah, se ao menos pudesse me lembrar de onde peguei, devolveria no mesmo instante.”
“Bem.” Disse eu, “se algum dia se lembrar, faça uma restituição na hora, seja ao devolver esse ou
dando um novo.” “Farei isso.”
Todo esse processo era muito preocupante para mim, mas conforme prosseguiu, o final dessas
transações resultou em uma transformação realmente maravilhosa de sua mente. Uma
profundidade de humildade, um conhecimento profundo de si mesma e de suas transgressões, um
coração quebrantado, um espírito contrito, e por fim uma fé, alegria, amor e paz, como um rio,
aconteciam, e ela se tornou uma das mais fascinantes jovens convertidas que já conheci.
Quando se aproximou o tempo em que eu esperava deixar Nova Iorque, pensei que alguém na
igreja pudesse ser seu conhecido, e poderia cuidar dela. Até essa época, tudo que se passara entre
nós era segredo, mantido assim por mim mesmo. Mas como eu estava prestes a ir embora, contei
o fato para o Sr. Phelps e a narração afetou-o grandemente. Ele disse “Irmão Finney, apresente-
ma. Eu serei seu amigo, cuidarei do bem dela.” Ele fez isso, como eu soube depois. Já não vejo
essa jovem há muitos anos, creio de desde que relatei tudo ao Sr. Phelps. Mas quando voltei da
Inglaterra da última vez, em visita a uma das filhas do Sr. Phelps, no meio da conversa esse caso
foi mencionado. Eu então perguntei “Seu pai apresentou-lhes essa jovem?” “Ah, sim!” ela
respondeu, “nós todas a conhecíamos” querendo dizer, eu suponho, todas as filhas da família. Eu
disse “Bem, o que você sabe dela?” Ela respondeu “Ah, ela é uma cristã muito sincera. É casada
e seu marido tem negócios nesta cidade. Ela faz parte da igreja e mora naquela rua.” apontando
para o lugar, não muito longe de onde estávamos. Então perguntei “Ela sempre manteve um
caráter cristão consistente?” “Ah, sim!” foi a resposta, “é uma mulher excelente, mulher de
oração.” De alguma maneira fui informado, não me recordo agora da fonte dessa informação, de
que a jovem dissera que jamais teve a tentação de furtar, desde sua conversão, que nunca mais
soubera o que era ter o desejo de fazer isso.
Esse avivamento preparou o caminho, em Nova Iorque, para a organização das igrejas
Presbiterianas Livres na cidade. Essas igrejas eram mais tarde compostas, na maior parte, pelos
que se converteram no avivamento. Muitos deles haviam sido parte da igreja na rua Prince.
A essa altura de minha narrativa, a fim de que sejam compreendidas muitas coisas que devo dizer
de agora em diante, devo dar conta de algumas coisas sobre as circunstâncias ligadas à conversão
do Sr. Lewis Tappan, e sua conexão posterior com minhas próprias obras. Esse relato recebi dele
mesmo. Sua conversão ocorreu antes que sermos apresentados, sob as seguintes circunstâncias:
Ele era um Unitário, e vivia em Boston. Seu irmão Arthur, na época um dos maiores mercantes
em Nova Iorque, era um homem cristão sincero e ortodoxo. Os avivamentos na área central de
Nova Iorque haviam criado bastante agitação entre os Unitários, e seus jornais publicavam muitas
coisas contra esses movimentos. Em especial haviam histórias estranhas sobre mim, que
apresentavam-me como um fanático meio louco. Essas histórias haviam sido relatadas à Lewis
Tappan pelo Sr. W, um dos principais ministros Unitários de Boston, e ele acreditou nelas. Elas
eram aceitas por muitos dos Unitários na Nova Inglaterra, e por todo o Estado de Nova Iorque.
Enquanto essas histórias circulavam, Lewis Tappan visitou seu irmão Arthur em Nova Iorque, e
um dia começaram a conversar sobre esses avivamentos. Lewis chamou a atenção de Arthur para
o estranho fanatismo ligado à esses avivamentos, especialmente para o que se dizia sobre mim.
Ele acreditava que eu declarava publicamente ser o general da brigada de Jesus Cristo. Isso, e
outras histórias parecidas estavam em circulação, e Lewis insistia em sua veracidade. Arthur não
acreditava de forma alguma e disse a Lewis que eram todas sem sentido e falsas, e que ele não
deveria acreditar em nenhuma delas. Lewis, apoiando-se nas declarações do Sr. W, propôs uma
aposta de quinhentos dólares, dizendo que podia provar que os artigos eram verdadeiros;
especialmente o já mencionado. Arthur respondeu “Lewis, você sabe que eu não faço apostas;
mas vou dizer o que farei. Se você puder provar por um testemunho digno de crédito, que aquilo
é verdade, e que os artigos sobre o Sr. Finney são verdade, eu lhe darei quinhentos dólares. Faço
essa oferta para levá-lo a inverstigar. Quero que você veja que essas histórias são falsas e que a
fonte de onde vêm é totalmente indigna de confiança.” Lewis, não duvidando que conseguiria a
prova, pois tais coisas haviam sido não confiantemente acreditadas pelos Unitários, escreveu uma
carta para o Rev. Sr. P, um pastor Unitário em Trenton Falls, Nova Iorque, a quem o Sr. W
referira-se, e autorizou-o a gastar quinhentos dólares, se necessário fosse, para conseguir
tentemunhos suficientes para provar que a história era verdade; testemunhos tais que levariam a
convencer um juri de corte. O Sr. P, de acordo com isso, começou a procurar testemunhos, mas
depois de muito sofrer, não conseguiu nenhum, exceto pelo que havia em um pequeno jornal
Universalista, publicado em Buffalo, no qual havia sido declarado que o Sr. Finney clamava ser o
general da brigada de Jesus Cristo. Em lugar nenhum ele conseguia sequer a menor prova de que
o artigo era verdadeiro. Muitas pessoa haviam escutado, e acreditado, que eu dissera essas coisas
em algum lugar, mas conforme ele seguia os artigos de cidade em cidade, por seus
correspondentes, pode ver que tais coisas não haviam sido ditas em lugar nenhum.
Isso, junto com outros problemas, ele disse, levou-o a refletir seriamente sobre a natureza da
oposição, e sobre a fonte de onde viera. Sabendo da ênfase dada a essas histórias pelos Unitários,
e do uso que fizeram delas para se oporem aos avivamentos em Nova Iorque e em outros lugares,
sua confiança neles ficou extremamente abalada. Assim, seu preconceito contra os avivamentos e
contra o povo ortodoxo diminuiu. Ele foi levado a rever as escritas teológicas dos Ortodoxos e
Unitários com grande seriedade, e o resultado foi que adotou as visões ortodoxas. A mãe dos
Tappans era uma mulher de muita oração, mulher de Deus. Ela jamais tivera nenhuma simpatia
pelo Unitarismo. Ela tinha vivido uma vida deoração, e deixara uma forte impressão sobre seus
filhos.
Logo que Lewis Tappan se converteu, tornou-se tão firme e zeloso em seu apoio às visões
ortodoxas e avivamentos religiosos, quanto fora em sua oposição a eles. Na época em que saí de
Nova Iorque, depois de minha sobras nas ruas Vandewater e Prince, o Sr. Tappan e alguns outros
bons irmãos ficaram insatisfeitos com a situação em Nova Iorque, e depois de muita oração e
consideração, decidiram organizar uma nova congregação, e introduzir novos métodos para a
conversão dos homens. Conseguiram um lugar para adorar, e chamaram o Rev. Joel Parker, que
então era pastor da Terceira Igreja Presbiteriana em Rochester, para vir ajudá-los. O Sr. Parker
chegou em Nova Iorque e começou sua obra, creio que na mesma época em que encerrei as
minhas na rua Prince. A Primeira Igreja Presbiteriana Livre foi formada em Nova Iorque nessa
época, e o Sr. Parker tornou-se seu pastor. Eles trabalhavam especialmente em meio àquele grupo
da população que não tinha o costume de participar de reuniões em lugar nenhum, e foram muito
bem-sucedidos. Acabaram por erguer o segundo piso de alguns armazéns na rua Dey, que
comportavam uma boa congregação, a ali continuaram com suas obras.

A VERDADE DO EVANGÉLHO
AS MEMÓRIAS DE CHARLES G. FINNEY
CAPÍTULO XXI.
O AVIVAMENTO EM ROCHESTER, 1830
SAINDO de Nova Iorque, passei algumas semanas em Whitestown, e como já era comum, sendo
pressionado a ir para vários lugares, não sabia o que deveria fazer. Mas entre outros, um convite
urgente foi recebido da parte da Terceira Igreja Presbiteriana em Rochester, da qual o Sr. Parker
fora pastor, para ir até lá ajudá-los por uma temporada.
Pesquisei sobre as circunstâncias, e vi que sob muitos aspectos, era um campo de trabalho sem
grandes possibilidades ou promessas. Mas haviam três igrejas presbiterianas em Rochester. A
Terceira igreja, que fizera o convite, não tinha pastor, e a religião estava em um péssimo estado.
A Segunda igreja, ou a Igreja do Tijolo, como era chamada, tinha um pastor, um homem
excelente, mas a respeito de sua pregação, havia uma considerável divisão na igreja, e ele estava
impaciente, prestes a ir embora. Existia uma controvérsia entre um presbítero da Terceira igreja e
o pastor da Primeira, à vesperas de ser examinado pelo presbitério. Esse e outros problemas
haviam levantado sentimentos não cristãos, até certo ponto, em todas as igrejas, e em uma visão
geral, parecia um péssimo campo de trabalho na época. Os amigos em Rochester estavam
extremamente ansiosos por minha ida – quero dizer, os membros da Terceira igreja. Tendo sido
deixados sem um pastor, sentiam que havia um grande risco de dispersarem-se, e talvez fossem
aniliquados como igreja, a menos que algo pudesse ser feito para avivar a religião em meio deles.
Com esses convites pressionados a mim, senti-me, como já várias vezes, muito perplexo.
Permeneci na casa de meu sogro, e considerei o assunto, até sentir que deveria dedicar-me a
algum lugar. Por isso, fizemos as malas e fomos para Utica, a uns onze quilômetros de distância,
onde eu tinha muitos amigos de oração. Chegamos ali à tarde, e pela noite um grande número dos
líderes, em cujas orações e sabedoria eu tinha muita confiança, a pedido meu, reuniram-se para
conselho e oração, a respeito de meu próximo campo de trabalho. Expus todos os fatos a eles, a
respeito de todos os convites que recebera. Rochestes parecia ser o menos convidativo de todos.
Depois de discutir muito o assunto, e ter muitos períodos de oração, intercalados com conversas,
os irmãos deram suas opiniões, um após o outro, em relação ao que achavam melhor que eu
fizesse. Eram uniânimes na opinião de que Rochester era realmente o menos convidativo campo
de trabalho, e não poderia competir com Nova Iorque ou com a Filadélfia, e alguns outros
campos para os quais eu havia sido convidado. Tinham a firme convicção de que eu deveria
seguir para o leste de Utica, e não para o oeste. Na época, essa era também a minha impressão e
convicção; então retirei-me dessa reunião, como supunha, decidido a não ir para Rochester, mas
sim para Nova Iorque ou para a Filadélfia. Mas isso foi antes das estradas de ferro existirem, e
quando fomos embora naquela noite, eu esperava pegar o barco pelo canal, pois era a maneira
mais conveniente para uma família viajar, e seguir para Nova Iorque pela manhã.
Mas depois de me retirar para meus aposentos, a questão foi apresentada a minha mente sob um
aspecto diferente. Algo parecia perguntar-me: “Quais são os motivos que te impedem de ir para
Rochester?” Pude enumerá-los prontamente, mas então a pergunta voltou: “Mas será que esses
são bons motivos? Certamente Rochester precisa ainda mais de você por todas essas dificuldades.
Você se esquiva do campo por que há tantas coisas que precisam ser corrigidas, por que há tantas
coisas erradas? Mas se tudo estivesse bem, você não seria necessário.” Logo cheguei à conclusão
de que todos estávamos errados; que todos os motivos que haviam-nos determinado contra minha
ida para Rochester eram as razões mais coerentes para que eu fosse. Fiquei envergonhado de
evitar assumir a obra por causa de suas dificuldades, e tinha a clara sensação de que o Senhor
estaria comigo, e que aquele era meu campo. Minha mente ficou plenamente decidida, antes que
me retirasse para descansar de que Rochester era o lugar para o qual o Senhor queria eu fosse.
Informei minha esposa sobre minha decisão, e segundo isso, bem cedo de manhã, antes que as
pessoas estivessem se movimentando num geral na cidade, o paquête veio, e nós embarcamos em
direção ao oeste, ao invés do leste.
Os irmãos em Utica ficaram muito surpresos quando souberam dessa mudança em nosso destino,
e esperaram pelos resultados com bastante preocupação.
Chegamos em Rochester de manhã bem cedo, e fomos convidados a ficar hospedados por hora
com o Sr. Josiah Bissell, que era o líder dos presbíteros da Terceira igreja, e que era quem havia
reclamado para o presbitério sobre o Dr. Penny. Quando cheguei, encontrei meu primo, Sr. S, na
rua, que convidou-me a ir até sua casa. Ele era um presbítero na Primeira igreja, e ao saber que eu
era esperado em Rochester, estava muito ansioso para que seu pastor, Dr. Penny, encontrasse-me
e conversasse comigo, e estivesse para cooperar com minhas obras. Recusei gentilmente seu
convite, informando-o que seria um hóspede do Sr. Bissell. Mas ele me visitou novamente depois
do café da manhã, e informou-me que havia agendado um encontro entre o Dr. Penny e eu, em
sua casa. Apressei-me parar encontrar o doutor, e tivemos um alegre e cristão encontro. Quando
comecei minhas obras, o Dr. Penny participou de nossas reuniões, e logo convidou-me ao seu
púlpito. O Sr. S muito se esforçou para que um bom entendimento fosse estabelecido entre os
pastores e as igrejas, e uma grande mudança logo se manifestou no estado espiritual das igrejas.
Em pouquíssimo tempo aconteceram muitas notáveis conversões. A esposa de um proeminente
advogado naquela cidade, foi uma das primeiras convertidas. Ela era uma mulher de alta posição,
uma senhora de cultura e muita influência. Sua conversão foi muito notável. A primeira vez em
que a vi foi quando uma amiga sua entrou com ela em minha sala, e apresentou-ma. A amiga que
apresentara-lhe era uma mulher cristã, havia encontrado-a em grande perturbação de mente, e
convencera-lhe a vir falar comigo.
A Sra. M fora uma mulher alegre e faladora, e muito apegada à sociedade. Mais tarde ela me
contou que logo quando eu cheguei ali, ela ficou muito chateada, e temeu que houvesse um
avivamento, e um avivamento interferiria muito nos prazeres e diversões que havia prometido a si
mesma naquele inverno. Conversando com ela vi que o Espírito de Deus estava de fato lidando
com sua alma, de uma maneira impiedosa. Ela estava prostrada com uma grande convicção de
pecado. Depois de uma considerável conversa com ela, pressionei-a a renunciar de coração ao
pecado, ao mundo, a si mesma, e a tudo por Cristo. Vi que ela era uma mulher muito orgulhosa, e
isso era, a meus olhos, a principal característica de sua personalidade. Na conclusão de nossa
conversa, ajoelhamo-nos para orar, minha mente muito preocupada com o orgulho de seu
coração, como demonstrava-se, então logo introduzi o texto: “A menos que vos convertam, e vos
tornem como criancinhas A menos que vos convertam, e vos tornem como criancinhas.” Percebi
que sua mente fora atingida com isso, e o Espírito de Deus estava pressionando isso em seu
coração. Eu então continuei a orar, mantendo esse assunto diante dela, e mantendo-a diante de
Deus como tendo aquela específica necessidade para que se convertesse – tornar-se como uma
criancinha.
Senti que o Senhor estava respondendo à oração. Tive certeza que Ele estava fazendo a obra que
pedira. Seu coração foi quebrantado, sua sensibilidade começou a jorrar, e antes que nos
levantássemos, ela era de fato uma criança. Quando parei de orar, abri meus olhos e olhei para
ela, seu rosto estava voltado para o céu, e as lágrimas caindo; ela estava orando para que fosse
feita como uma criança. Levantou-se, estava em paz, com uma fé cheia de alegria, e retirou-se. A
partir daquele momento, tornou-se muito explícita sobre suas convicções religiosas, e zelosa pela
conversão de suas amigas. Sua conversão, é claro, gerou uma grande agitação em meio à classe
de pessoas a qual ela pertencia.
Creio que até ir para Rochester, com raras exceções, eu nunca tinha usado o que desde então é
chamado de ‘o assento ansioso’ como um meio de promover avivamentos. Algumas vezes eu já
havia convidado pessoas a ficarem de pé na congregação, mas isso não fora feito freqüentemente.
Contudo, ao estudar sobre o assunto, eu muitas vezes senti a necessidade de alguma medida que
levasse os pecadores a tomar uma posição. De minha própria experiência e observação,
descobrira que espercialmente com as classes sociais mais altas, o maior obstáculo a ser superado
era o medo de serem conhecidos como pessoas ansiosas e cheias de dúvidas. Eles eram muito
orgulhosos para tomar qualquer posição que pudesse revelá-los aos outros como pessoas ansiosas
por suas almas.
Também descobri que algo era necessário, para causar-lhes a impressão que esperava-se que
entregassem seus corações de uma vez por todas; algo que os chamasse a agir, e agir
publicamente diante do mundo, da mesma forma que fizeram em seus pecados; algo que os
fizesse assumir um compromisso público de servir a Cristo. Quando eu os chamava para
simplesmente ficarem de pé nas congregações públicas, descobri que isso tinha um ótimo efeito,
e até onde ia, respondia ao propósito para o qual fora intencionado. Mas depois, eu vinha
sentindo por algum tempo, que algo mais era necessário para fazê-los sair do meio da multidão
sem Deus, para uma renúncia pública de seus caminhos pecaminosos, e um comprometimento de
si mesmos para Deus.
Em Rochester, se bem me lembro, foi que comecei a usar esse método; isso foi anos depois de o
pedido por novos meios ter sido levantado. Poucos dias depois da conversão da Sra. M, eu fiz
uma visita, creio que pela primeira vez, a toda aquele grupo de pessoas cujas convicções estavam
tão maduras que estavam dispostos a renunciar seus pecados e entregarem-se a Deus, para virem
à frente para alguns lugares que eu pedia que fossem mantidos vazios, e oferecerem-se a Deus,
enquanto faziamos deles, alvos de oração. Um número muito maior do que o que eu esperava
veio à frente, e entre eles estava outra senhora proeminente, e vários conhecidos seus, que
pertenciam ao mesmo círculo social, vieram à frente também. Isso aumentou o interesse em meio
às pessoas dessa classe social, e logo pôde ser visto que o Senhor estava trabalhando na
conversão das classes mais altas. Minhas reuniões logo ficaram lotadas com pessoas como essas.
Os médicos, advogados, mercantes, e na verdade todas as pessoas mais inteligentes, ficavam mais
e mais interessadas, e cada vez mais facilmente influenciadas.
Em breve a obra teve efeito, extensivamente, entre os advogados da cidade. Sempre houve um
grande número dos principais advogados do estado, morando em Rochester. A obra logo
envolveu vários deles. Eles ficaram muito ansiosos, e vinham livremente a nossas reuniões de
perguntas e respostas, e muitos deles vinham à frente para o assento ansioso, como é chamado
desde então, e davam seus corações publicamente para Deus. Recordo-me de uma noite depois de
pregar, em que três deles seguiram-me até meus aposentos, todos profundamente convictos do
pecado, e todos estavam, creio eu, nos assentos ansiosos, mas não compreendiam muito bem, e
sentiam que não podiam ir para casa até que estivessem convencidos de que suas pazes foram
feitas com Deus. Eu conversei e orei por eles, e acredito que antes de irem embora, todos
acharam a paz em crer no Senhor Jesus Cristo.
Eu deveria ter dito que logo depois que a obra começou, as dificuldades entre o Sr. Bissell e o Dr.
Penny foram sanadas, e todas as distrações e desentendimentos que tinham existido ali foram
ajustados, de forma que um espírito de gentileza e irmandade prevaleceu em todas as igrejas.
Certa feita, eu tinha um compromisso na Primeira igreja. Um desfile militar acontecera na cidade
naquele dia. A milícia fora chamada, e eu temia que a empolgação do desfile pudesse distrair a
atenção do povo, e prejudicaar a obra do Senhor. A casa estava cheia por todos os lados. O Dr.
Penny começara o culto e realizava a primeira oração, quando eu ouvi algo que supus ser um tiro
de arma e o estilhaçar de vidros, como se uma janela tivesse sido quebrada. Meu pensamento foi
que alguma pessoa descuidada no desfile militar do lado de fora, atirara tão próximo à janela a
ponto de quebrar uma vidraça. Mas antes que eu tivesse tempo de pensar novamente, o Dr. Penny
saltara do púlpito quase que sobre mim, pois eu estava ajoelhado perto do sofá atrás dele. O
púlpito ficava na frente da igreja, entre as duas portas. A parede de trás da igreja dava para a
margem do canal. A congregação, em um instante, entrou em completo desespero, e corria para
as janelas e portas, como se todos estivessem distraídos. Uma senhora ergueu uma janela nos
fundos da igreja, por onde vários, como depois eu vim a saber, pularam para o canal. A correria
era terrível. Alguns saltavam das galerias para os corredores abaixo; todos corriam uns sobre os
outros nos corredores.
Fiquei de pé no púlpito, não sabendo o que se passara, ergui minhas mãos e gritei o mais alto que
pude “Aquietem-se! Aquietem-se!” Na hora, duas mulheres que corriam para o púlpito, uma de
cada lado, pegaram-me, muito agitadas. O Dr. Penny correu para as ruas, e as pessoas saíam para
todas as direções, o mais rápido possível. Como eu não sabia que havia algum perigo, a cena
parecia tão lunática para mim, que mal pude me conter de dar risada. Corriam uns sobre os outros
nos corredores, tanto que em vários momentos observei homens que haviam sido esmagados
levantando-se e empurrando aqueles que haviam corrido sobre eles. Afinal todos saíram.
Muitos ficaram consideravelmente machucados, mas ninguém morreu. Mas por todos os lados da
casa haviam pertences femininos. Capas, xales, luvas, lenços, e partes de seus vestidos estavam
espalhados em todas as direções. A maioria dos homens saíra com seus chapéus, eu acho; e
muitas pessoas ficaram seriamente machucadas na terrível correria.
Depois eu soube que as paredes da igreja estavam cedendo a algum tempo, tendo um terreno tão
viçoso devido à dus proximidade ao canal. Comentava-se, na congregação, que o estado dessas
coisas não era satisfatório, e alguns temiam que a torre caísse, ou o teto, ou que as paredes do
edifício viriam ao chão. Eu não havia escutado nada sobre isso. O alarme fora gerado por uma
viga do telhado, que caiu desde sua extremidade, e atravessou o teto bem acima do lustre em
frente ao órgão.
Ao examinar a casa, descobriu-se que as paredes haviam-se separado de tal forma, que havia de
fato o perigo de o telhado cair. A pressão na galeria naquela noite fora tão grande a ponto de
separar as paredes para os lados, até haver perigo real. Quando isso aconteceu, eu fiquei com
muito medo, e suponho que outros também ficaram, que a atenção do povo fosse dispersa, e a
obra fosse grandemente prejudicada. Mas o Espírito do Senhor havia tomado plenamente o
controle da obra, e nada parecia impedí-la.
A igreja do Tijolo foi aberta para nós, e a partir de então nossas reuniões alternavam-se entre a
Segunda e a Terceira igreja, as pessoas que faziam parte da Primeira igreja e que conseguiam um
lugar na congregação, participavam. Todas as três igrejas, e na verdade cristãos de todas as
denominações num geral, pareciam ter uma causa em comum, e foram à obra com vontade, para
tirar os pecadores do fogo. Fomos obrigados a ter reuniões quase que contínuas. Eu pregava
quase todas as noites, e três vezes aos domingos. Nossas reuniões para respostas a dúvidas,
depois que a obra tornou-se tão poderosas, eram freqüentemente realizadas pela manhã.
Certa manhã, lembro-me que estávamos em uma dessas reuniões, e um cavalheiro que estava
presente converteu-se ali, ele era o genro de uma mulher muito devota, de oração, que fazia parte
da Terceira igreja. Ela andava muito ansiosa e gastara muito tempo orando por ele. Quando ele
voltou da reunião, estava cheio de alegria, paz e esperança. Ela gastara o tempo em sincera
oração para que Deus o convertesse naquela reunião. Logo que ela o encontrou e ele declarou-lhe
sua conversão, e por seu semblante ela via que era verdade, sucumbiu, desfaleceu e caiu morta.
Na época havia um colégio em Rochester, dirigido por um senhor de nome B, filho de A B, então
pastor da igreja em Brighton, perto de Rochester. O Sr. B era um sético, mas estava na direção de
uma escola muito grande e próspera. Sendo que a escola era para ambos os sexos, uma Srta. A
era sua assistente, e sócia da escola na época. A Srta. A era uma mulher cristã. Os alunos
participavam dos cultos religiosos, e muitos deles logo ficaram muito ansiosos por suas almas.
Certa manhã o Sr. B viu que sua classe não conseguia responder às perguntas. Quando encontrou
com eles, todos estavam tão preocupados com suas almas que choravam, e ele viu que estavam
em tal estado que ficou muito confuso. Chamou sua sócia, a Srta. A, e contou-lhe que os jovens
estavam tão preocupados com suas almas que não podiam sequer responder a perguntas na aula,
perguntando-lhe se não seria melhor que mandassem chamar o Sr. Finney para instruí-los. Ela me
contou sobre isso mais tarde, e disse a ele que ficaria muito feliz que ele realizasse essa reunião
para instruções, aconselhando-o cordialmente a mandar chamar-me. Assim ele o fez, e o
avivamento apoderou-se tremendamente daquela escola. O próprio Sr. B logo se converteu, e
quase todas as pessoas que ali estavam. Poucos anos depois, a Srta. A me informou que mais de
quarenta pessoas, que haviam-se convertido naquela escola, tornaram-se ministros do Senhor.
Isso era um fato que eu não sabia antes. Ela citou o nome de vários nessa ocasião. Muitos deles
tornaram-se missionários no exterior.
Depois de permanecer algumas semanas com Josiah Bissell, hospedamo-nos em uma localização
mais central, na casa do Sr. B, um advogado da cidade, que era um homem assumidamente
cristão. A irmã de sua esposa estava com eles, e era uma moça ímpia. Ela era uma jovem de
ótima aparência, uma cantora excepcional, e uma dama de cultura, e logo soubemos que estava
noiva para casar-se com um homem que era na época um juiz do supremo tribunal do estado. Ele
eraum homem muito orgulhoso, e resistia ao assento ansioso, falando sempre contra ele.
Ausentava-se bastante da cidade, para realizar julgamentos, e não se converteu naquele inverno.
Menciono isso porque o Juiz depois casou-se com ela, o que sem dúvida levou-o a sua conversão
em um avivamento que ocorreu uns dez anos depois, cujos principais pontos mencionarei depois,
em outra parte de minha narrativa.
Esse avivamento fez uma grande mudança no estado moral e subseqüente história de Rochester.
A grande maioria dos principais homens e mulheres da cidade foram convertidos. Muitas
situações impactantes ocorreram, dos quais não me esquecerei tão cedo. Certo dia a senhora que
foi a primeira a me visitar e cuja conversão já mencionei, veio ver-me acompanhada de uma
amiga, com quem desejava que eu converssasse. Eu conversei, mas logo vi que para todos os
efeitos, ela estava com um coração muito endurecido, e não levava o assunto a sério. Seu marido
era um mercante, e ambos eram pessoas de uma alta posição na comunidade. Quando pressionei-
a a atentar para o assunto, ela não correspondia, pois seu marido não se atentava a isso, e ela não
o deixaria. Perguntei-lhe se estava disposta a perder-se porque seu marido não preocupava-se
com o assunto, e se não seria insensatez de sua parte negligenciar sua própria alma porque seu
esposo assim fazia. Ela prontamente respondeu “Se ele for para o inferno, eu quero ir. Quero ir
para onde quer que ele vá. Não quero me separar dele, custe o que custar.” Pareceu-me que não
pude causar nenhum impacto sobre ela. Mas noite após noite eu fazia apelos à congregação,
chamando à frente aqueles que estivessem preparados para dar seus corações a Deus, e muitos
convertiam-se todos os dias.
Mais tarde eu soube que quando essa mulher foi para casa, seu marido lhe disse “Minha querida,
eu pretendo ir à frente esta noite, e entregar meu coração a Deus.” “O que?!” disse ela, “Hoje eu
disse ao Sr. Finney que não me tornaria uma cristã, nem nada parecido, que você não tinha se
convertido, então eu não me converteria, e que se você fosse para o inferno, eu iria com você.
Bem” continuou, “então eu não irei para a reunião, e não quero ver. E se afinal você tem a
decisão de tornar-se um cristão, vá em frente, eu não irei.” Quando chegou a hora, ele foi para a
reunião sozinho. O púlpito ficava entre as portas, em frente a igreja. A casa estava bastante
lotada, mas ele finalmente conseguiu um lugar perto de um dos corredores, bem no fundo da
igreja. No final da reunião, como eu já havia feito outras vezes, chamei aqueles que estavam
ansiosos e que haviam tomado uma decisão, para virem à frente e ocupar certos lugares e um
pequeno espaço sobre o púpito, onde pudéssemos orar a Deus por eles. Pareceu depois que a
esposa também fora a reunião, entrara pelo outro corredor e estava sentada no outro extremo da
casa, oposta a ele. Quando fiz o apelo, ele veio imediatamente. Ela estava observando, e logo que
o viu de pé, abrindo caminho pelo corredor tão lotado, ela também a ir pelo outro corredor.
Encontraram-se em frente ao púlpito e ajoelharam-se juntos como alvos de oração.
Muitos obtiveram sua esperança no ato, mas esse casal não. Foram para casa, orgulhosos demais
para falarem muito um com o outro sobre o que haviam feito, e passaram uma noite muito ruim.
No dia seguinte, por volta das dez horas, ele veio visitar-me, e foi levado até meu quarto. Minha
esposa ocupara um quarto na parte da frente no segundo piso, e eu, um na parte de trás do mesmo
andar. Enquanto eu conversava com ele, a criada informou-me que uma senhora aguardava no
quarto da Sra. Finney para falar comigo. Descobri que era a mulher que no dia anterior fora tão
teimosa, que era também a esposa do homem que estava no momento em meu quarto. Nenhum
dos dois sabia que o outro viera visitar-me. Conversei com ela e descobri que ela estava prestes a
submeter-se a Cristo. Descobrira que ele também estava, ao que tudo indicava, na mesma
situação. Retornei para ele e disse “Eu vou orar com uma senhora no quarto da Sra. Finney. Nós
entraremos lá, se o senhor assim desejar, e oraremos todos juntos.” Ele me seguiu , e encontrou
sua própria esposa. Olharam-se com surpresa, mas estavam ambos muito afetados por
encontrarem um ao outro ali. Ajoelhamo-nos para orar. Eu não estava orando há muito tempo
antes que ela começasse a chorar, e a orar audivelmente por seu marido. Parei e ouvi, e percebi
que ela havia perdido toda a preocupação por si mesma, e pelejava em agonia de oração pela
conversão dele. O coração dele pareceu quebrar e abrir caminho, e nesse exato momento, o sinal
tocou para nosso jantar. Pensei que seria bom deixá-los sós. Portanto toquei minha esposa, e
levantamo-nos em silêncio, descendo para jantar, deixando-os em oração. Jantamos rapidamente
e voltamos, encontrando-os tão carinhosos, humildes e amáveis quanto se pode desejar.
Ainda não falei muito, até agora, sobre o espírito de oração que prevalecia nesse avivamento, que
não devo omitir. Quando eu estava a caminho de Rochester, ao passarmos por uma vila, a uns
cinqüenta quilômetros ao leste de lá, um irmão pastor que eu conhecia, vendo-me no barco, pulou
abordo para conversar um pouco comigo, com a intenção de navegar comigo somente um pouco,
e depois retornar. No entanto, ele ficou interessado em nossa conversa, e ao descobrir para onde
eu estava indo, decidiu continuar e ir comigo até Rochester. Estávamos lá há poucos dias quando
esse pastor ficoutão convicto que não conseguia evitar de chorar alto, certa vez, quando passava
pela rua. O Senhor dera-lhe um poderoso espírito de oração, e seu coração estava quebrantado.
Como nós orávamos muito juntos, eu estava impactado com sua fé, a respeito do que o Senhor
faria naquele lugar. Lembro-me que ele dizia “Senhor, não sei como é isso, mas pareço saber que
Tu farás uma grande obra nesta cidade.” O espírito de oração foi poderosamente derramado, tanto
que, algumas das pessoas não iam aos cultos para poderem orar, já que eram incapazes de conter
seus sentimentos diante da pregação.
E agora devo apresentar o nome de um homem, que devo ter a oportunidade de mencionar
freqüentemente, o Sr. Abel Clary. Ele era o filho de um homem excelente, e um presbítero da
igreja onde eu me converti. Ele se converteu no mesmo avivamento que eu. Ele fora licenciado
para pregar, mas seu espírito de oração era tamanho, ele tinha tamanho jugo pelas almas dos
homens, que não era capaz de pregar muito, entregando todo seu tempo e força para orações. O
fardo de sua alma freqüentemente era tão grande que não conseguia ficar de pé, e gritava e gemia
em agonia. Eu o conhecia bem, e sabia alguma coisa do maravilhoso espírito de oração que
estava sobre ele. Ele era um homem muito quieto, como eram quase todos que tinham esse
poderoso espírito de oração.
Eu soube que ele estava em Rochester quando um cavalheiro que vivia um quilômetro e meio a
oeste da cidade, visitou-me um dia perguntando se eu conhecia um Sr. Abel Clary, um pastor. Eu
disse que o conhecia bem. “Bem” disse ele “ele está em minha casa, já há algum tempo, e não sei
o que pensar dele.” Eu disse “Eu não o vi em nenhuma de nossas reuniões” “Não,” ele respondeu
“ele não pode ir para a reunião. Ele hora praticamente o tempo todo, dia e noite, e com tal agonia
de mente que não sei mais o que fazer. Algumas vezes ele não consegue sequer ficar de joelhos,
mas fica prostrado no chão, gemendo e orando de uma maneira que me deixa bastante pasmo.”
Eu disse a esse irmão “Eu compreendo, por favor fique calmo. Tudo dará certo, ele prevalecerá
com certeza.”
Na época eu conhecia um número considerável de homens que estavam incomodados da mesma
maneira. Um Diácono P, de Camden, condado de Oneida; um Diácono T, de Rodman, condado
de Jefferson; Diácono B, de Adams, no mesmo condado; esse Sr. Clary e muitos outros entre os
homens, e várias mulheres, compartilhavam do mesmo espírito, e passavam grande parte de seu
tempo em oração. O Padre Nash, como o chamávamos, quem em vários de meus campos de
trabalho veio ajudar-me, era mais um desses homens que tinham tal espírito de oração
prevalecente. Este sr. Clary continuou em Rochester pelo mesmo tempo que eu, e não foi embora
até que eu tivesse ido. Ele nunca apareceu em público, até onde eu soube, mas entregou-e
inteiramente a oração.
Eu falei que o aspecto moral das coisas foi grandemente mudado por esse avivamento. Era uma
cidade nova, cheia de economia e empresas, e cheia de pecado. Os habitantes eram inteligentes e
empresários, do mais alto nível, mas o avivamento varreu a cidade, e converteu a grande massa
das pessoas mais influentes, tanto homens quanto mulheres, a mudança na ordem, sobriedade, e
moralidade da cidade eram maravilhosas.
Num momento subseqüente, que mencionarei na hora certa, eu conversava com um advogado,
que convertera-se nesse avivamento do qual tenho falado, e que logo depois tornara-se promotor
público da cidade. Seu trabalho era supervisionar o processo de criminosos. Por sua posição, ele
conhecia detalhadamente a história dos crimes naquela cidade. Ao falar sobre o avivamento no
qual ele se converteu, ele me disse, muitos anos depois: “Tenho examinado os registros dos
julgamentos criminais, e descobri esse fato impactante, que nossa cidade cresceu desde aquele
avivamento, três vezes mais, mas não há nem um terço da quantidade de processos criminais
quanto havia até aquela época. Isto é” continuou “a maravilhosa influência do avivamento na
comunidade. Realmente pelo poder daquele avivamento, a mente pública foi moldada. Os cargos
públicos da cidade estão, em grande parte, nas mãos de homens cristãos, e as influências
controladoras da comunidade têm estado do lado de Cristo.”
Entre outras conversões não devo esquecer de mencionar a do Sr. P, um proeminente cidadão
daquele lugar, vendedor de livros. O Sr. P era um infiel, não um ateu, mas não acreditava na
autoridade divina da bíblia. Ele era um homem de leitura e reflexão, um homem com uma mente
perspicaz, astuta, grande força de vontade, e caráter muito decidido. Ele era, acredito, um homem
de boas morais, e disse-me “Sr. Finney, há um grande movimento aqui sobre o assunto da
religião, mas eu sou um sético, e quero que o senhor me prove que a bíblia é verdade.” O Senhor
capacitou-me a discernir de uma vez o estado de sua mente, para que decidisse qual caminho
seguir com ele. Eu disse a ele “O senhor acredita na existência de Deus?” “Ah sim!” ele disse
“Não sou ateu.” “Bem, o senhor acredita que tem tratado Deus como deveria? Tem respeitado
Sua autoridade? Tem O amado? Tem feio o que acha que poderá agradá-lo, e com o objetivo de
agradá-lo? O senhor não admite que deve amá-lo, adorá-lo e obedecê-lo de acordo com seu
melhor entendimento?” “Ah sim!” disse ele “Admito tudo isso” “Mas tem feito isso?” perguntei.
“Bem, não. Não posso dizer que tenho.” ele respondeu. “Muito bem então, por quê eu deveria
dar-lhe mais informações, mais luz, se o senhor não cumpre seu dever e obedece o entendimento
que já tem? Agora,” continuei “quando o senhor decidir viver de acordo com suas convicções, a
obedecer Deus de acordo com sua melhor luz; quando decidir se arrepender por sua negligência
até agora, e a agradar a Deus da melhor maneira que puder, para o resto de sua vida, eu tentarei
mostrar-lhe que a bíblia vem de Deus. Até lá é inútil que eu faça qualquer coisa assim.” Eu não
me sentei, e creio que não o convidei a sentar-se. Ele respondeu “Não sei se isso é justo” e se
retirou.
Não tive mais notícias dele até a manhã seguinte. Logo que me levantei, ele veio novamente a
meus aposentos, e logo que ele entrou, bateu palmas e disse “Sr. Finney, Deus fez um milagre!
Eu desci para minha loja depois de sair de seu querto, pensando sobre o que o senhor dissera, e
decidi que arrepender-me-ia de tudo que sabia estar errado em minha relação com Deus, e que
daqui por diante viveria de acordo com meu melhor entendimento. E quando decidi isso”
continuou “meus sentimentos sobrevieram de tal forma que caí, e não sei como mas eu deveria
ter morrido, se não fosse pelo Sr. –, que estava comigo na loja.” Desde então ele tem sido, como
todos os que o conhecem sabem, um honesto cristão e homem de oração. Por muitos anos tem
sido um dos curadores da Faculdade Oberlin, tem estado ao nosso lado em todas as provações, e
tem nos ajudado com seus meios e com toda sua influência.
Durante esse avivamento, pessoas mandavam cartas de Rochester para seus amigos em outros
lugares, contando um pouco sobre a obra, que lemos em diferentes igrejas em vários estados, e
que foram instrumentos na geração de grandes avivamentos religiosos. Muitas pessoas vieram de
fora para testemunhar a grande obra de Deus, e foram convertidas. Recordo-me que um médico
estava tão atraído pelo que escutara sobre a obra que veio de Newark, Nova Jersey, para
Rochester, para ver o que o Senhor estava fazendo, e acabou convertendo-se ali. Ele era um
homem de muitos talentos e cultíssimo, e tem sido por muitos anos um ardente obreiro cristão
por almas imortais.
Certa noite, lembro-me, quando fiz o apelo para que os ansiosos viessem à frente para se
submeter, um homem influente de uma cidade vizinha veio, junto com muitos membros de sua
família, e entregaram-se a Deus. De fato, a obra espalhava-se como ondas em todas as direções.
Eu pregava em tantos lugares nos arredores quanto tinha tempo e forçar para pregar, enquanto
minhas obras estavam em Rochester. Eu fui para Canadaigua e preguei várias vezes. Ali a
Palavra teve efeito, e muitos se converteram. O pastor, Rev. Ansel Eddy, entrou de coração na
obra. Um antigo pastor, senhor de idade, nascido na Inglaterra, também fez o que pôde para levar
a obra adiante. Sempre que eu ia, a Palavra de Deus tinha efeito imediato, e parecia que era
necessário apresentar somente a lei de Deus e as ordens de Cristo, em tais relações e proporções
calculadas para assegurar a conversão dos homens, e eles se convertiam aos montes.
A grandeza da obra em Rochester, na época, atraiu tanto a atenção dos pastores e cristãos por
todo o estado de Nova Iorque, por toda Nova Inglaterra, e em muitas partes dos Estados Unidos,
que até mesmo sua fama era um eficiente instrumento nas mãos do Espírito de Deus ao promover
o maior avivamento religioso por toda terra, que esse país jamais testemunhara. Anos depois
disso, ao conversar com o Dr. Beecher sobre esse poderoso avivamento e seus resultados, ele
comentou “Aquele foi a maior obra de Deus, e o maior avivamento religioso que o mundo já
tinha visto em tão pouco tempo. Cem mil foi o número relatado de pessoas que ligaram-se às
igrejas como resultado daquele grande avivamento. Isto” ele disse “não tem paralelos na história
da igreja, e do progresso da religião.” Ele falou sobre isso ter sido realizado em um ano, e disse
que em ano algum durante a era cristã, houvera um avivamento religioso tão grande.
Desde a época da convenção no Novo Líbano, da qual falei, oposição pública e aberta aos
avivamentos era cada vez menos manifesta, e eu encontrava em especial cada vez menos
oposição pessoal do que encontrara antes. Aquietou-se aos poucos, mas quase que totalmente.
Em Rochester não senti nada disso. Na verdade as águas da salvação fluiam tão altas, os
avivamentos tornavam-se tão poderosos e extensivos, e as pessoas tinham tempo de se
familiarizar com eles e com seus resultados de tal forma, que as pessoas tinham medo de se
oporem a eles como antes. Os pastores os entendiam melhor, e os pecadores mais ímpios foram
convencidos que esses movimentos eram de fato a obra de Deus. A grande massa de conversões
era tão explicitamente sólida, os convertidos realmente regenerados e transformados em novas
criaturas, tão plenamente indivíduos e comunidades inteiras foram reformadas, e tão permanentes
e inquestionáveis eram os resultados, que a convicção tornou-se quase que absoluta, que esses
movimentos eram a obra de Deus.
A VERDADE DO EVANGELHO
AS MEMÓRIAS DE CHARLES G. FINNEY
CAPÍTULO XXII.
O AVIVAMENTO EM AUBURN, BUFFALO, PROVIDENCE E BOSTON.
DURANTE o período final do tempo que estive em Rochester, minha saúde estava ruim. Eu
estava esgotado, e alguns dos principais médicos, como eu soube, tinham certeza de que eu nunca
mais pregaria. Minhas obras em Rochester na época, continuaram por seis meses, e próximo ao
final desse período, o Rev. Dr. Wisner, de Ithaca, foi até lá passar algum tempo, testemunhando e
ajudando a obra a progredir. Enquanto isso, fui convidado a trabalhar em vários campos, e entre
outros, o Dr. Nott, presidente da Faculdade Union, em Schenectady, urgia-me para que fosse
trabalhar com ele, e se possível, assegurasse a conversão de inúmeros estudantes. Decidi-me a
aceitar seu pedido.
Acompanhado pelo Dr. Wisner e Josiah Bissell, embarquei na diligência, na primavera do ano de
1831, quando a ida era extremamente ruim. Deixei minha esposa e filhos por hora em Rochester,
pois a viagem era muito perigosa, e a jornada cansativa demais para eles. Quand chegamos em
Geneva, Dr. Wisner insistiu para que eu fosse para casa com ele, descansar um pouco. Não
aceitei, e disse que deveria continuar meu trabalho. Ele pressionou muito para que eu fosse, e por
fim acabou dizendo que os médicos em Rochester haviam-lhe dito para que levasse-me para casa
com ele, pois eu estava prestes a morrer, que eu nunca mais trabalharia em avivamentos, pois
estava consumido, e tinha pouco tempo de vida. Eu respondi que já tinha escutado isso antes, mas
que era um erro, que os médicos não entendiam meu caso; eu estava apenas fatigado, e um pouco
de descanso me renovaria.
Dr. Wisner finalmente desistiu de ser tão importuno, e eu continuei na diligência até Auburn. A
viagem estava tão ruim, que algumas vezes não conseguíamos ir a mais de três quilômetros por
hora, e já estávamos a dois ou três dias indo de Rochester para Auburn. Como eu tinha muitos
amigos em Auburn, e estava cansado demais, decidi parar ali, e descansar até a próxima
diligência. Pagara minha passagem para chegar até Schenectady, mas poderia parar, se quisesse,
por um ou mais dias. Eu parei na casa do Sr. T S, filho do Presidente do Supremo Tribunal S. Ele
era um sincero homem cristão, e um querido amigo meu, conseqüentemente fui para sua casa, ao
invés de parar no hotel, e decidi descansar ali até que viesse a próxima diligência.
Pela manhã, depois de dormir tranqüilamente em sua casa, levantei, e estava me preparando para
pegar a diligência, que deveria chegar ainda naquela manhã, quando um cavalheiro entrou com
um pedido para que eu ficasse – um pedido por escrito, assinado por um grande número de
homens influentes, de quem já falei antes, como resistentes ao avivamento naquele lugar em
1826. Esses homens haviam-se organizado contra o avivamento, na ocasião anterior, e levaram
sua oposição tão longe a ponto de sairem da congregação do Dr. Lansing e formar uma outra.
Enquanto isso, o Dr. Lansing fora chamado para outro campo de trabalho, e o Rev. Josiah
Hopkins, de Vermont, fora estabelecido como pastor da Primeira igreja. O papel que mencionei
continha um sincero apelo a que eu parasse e trabalhase por sua salvação, assinado por uma longa
lista de homens não convertidos, em sua maioria, proeminentes cidadãos da cidade. Isso foi muito
impactante para mim. Nesse papel eles falavam sobre a oposição que haviam feito antes a minhas
obras, e imploravam-me para que esquecesse, parasse e pregasse a eles o evangélho.
Esse pedido não veio do pastor, nem de sua igreja, mas daqueles que antes lideravam a oposição
à obra. Mas o pastor e membros de sua igreja pressionaram-me com toda sua influência para que
permanecesse e pregasse, aceitando o pedido desses homens. Eles pareciam tão surpresos quanto
eu, com a atitude deles. Fui para meu quarto, apresentei o assunto para Deus, e logo tomei a
decisão do que fazer. Disse ao pastor e a seus presbíteros que estava muito cansado, e quase
esgotado, mas com certas condições, permaneceria ali. Eu pregaria duas vezes no domingo, e
duas noites durante a semana, mas que eles deveriam tomar todo o resto do trabalho em suas
próprias mãos, que não esperassem que eu participasse de nenhuma outra reunião a não ser
aquelas nas quais eu pregaria, e que assumiriam o trabalho de instruir aqueles que tivessem
dúvidas, e de conduzir as reuniões de oração. Que eu sabia que eles entendiam como trabalhar
com pecadores, e poderia confiar bem neles para realizar essa parte do trabalho. Também
estipulei que nem eles nem outras pessoas deveriam visitar-me, exceto em casos extremos, em
meus aposentos, pois eu precisava ter meus dias, menos domingos, para descansar, assim como
minhas noites, com a exceção daquelas nas quais pregaria. Haviam três cultos no domingo, um
dos quais era realizado pelo Sr. Hopkins. Eu pregava de manhã e à noite, creio eu, e ele à tarde.
A Palavra teve efeito imediato. Na primeira ou segunda noite de domingo que preguei, vi que a
Palavra estava trabalhando de forma tão poderosa que ao encerrar, chamei aqueles que tinham
tomado uma decisão para virem à frente, e publicamente renunciar seus pecados, entregando-se a
Cristo. Para minha grande surpresa, e muito para a surpresa do pastor e de muitos membros da
igreja, o primeiro homem que observei vindo à frente e liderando o caminho, foi aquele homem
que liderara, e influenciara muito mais do que qualquer outro, a oposição ao avivamento anterior.
Ele veio à frente de imediato, seguido por um grande número das pessoas que haviam assinado
aquele papel, e naquela noite tal demonstração foi feita que produziu um interesse geral por todo
lugar.
Eu já falei do Sr. Clary, que estava em Rochester, como sendo um homem de oração. Ele tinha
um irmão, um médico, que morava em Auburn. Creio que foi no segundo domingo desta minha
estadia em Auburn, que observei na congregação o rosto solene desse Sr. Clary. Ele parecia
carregado com uma agonia de oração. Conhecendo-o bem, e sabendo do grande dom que Deus
colocara sobre ele, o espírito de oração, fiquei muito feliz em vê-lo ali. Ele estava sentado no
banco com seu irmão, o médico, que também era um professor de religião, mas que não conhecia
nada por experiência, devo concluir, do grande poder de seu irmão Abel com Deus.
No intervalo, logo que eu desci do púlpito, o Sr. Clary encontrou-me, com seu irmão, nas escadas
do palco, e o doutor convidou-me para ir até sua casa para o intervalo, renovando minhas forças.
Assim o fiz.
Depois de chegar em sua casa, logo reunimo-nos ao redor da mesa de jantar. Então o Dr. Clary
virou-se para seu irmão e disse “Irmão Abel, poderia pedir a benção?” Ele então curvou sua
cabeça e começou, audivelmente, a pedir pela benção de Deus. Ele não falara mais de duas frases
quando imediatamente caiu em prantos, afastou-se na mesma hora da mesa, e correu para seu
quarto. O doutor, supondo que ele ficara doente de repente, levantou-se e o seguiu. Depois de
alguns momentos ele desceu e disse “Sr. Finney, Abel quer vê-lo.” Eu perguntei “O que o
aflige?” Ele respondeu “Eu não sei, mas ele diz que o senhor sabe. Ele parece muito angustiado,
mas acho que é o estado de sua mente.” Eu entendi na hora, e fui para seu quarto. Ele estava
deitado em sua cama gemendo, o Espírito intercedendo por ele, e nele, com gemidos que não
podiam ser explicados. Eu acabara de entrar no quarto quando ele conseguiu dizer “Ore, Irmão
Finney.” Ajoelhei-me e ajudei-o em oração, levando sua alma pela conversão de pecadores.
Continuei a orar até que sua angústia passou, e então voltamos para a mesa.
Eu compreendi que essa era a voz de Deus. Vi que o Espírito de oração estava sobre ele, senti
Sua influência sobre mim, e tive certeza de que a obra continuaria poderosamente. E continuou.
Creio, mas não tenho certeza, que todos os homens que assinaram aquele papel, fazendo uma
longa lista de nomes, converteram-se durante aquele avivamento. Mas poucos anos depois, o Dr.
S, de Auburn, escreveu-me para saber se eu havia guardado aquele papel, desejando, como ele
mesmo disse, saber se todos os homens que o assinaram, na época não eram convertidos. O papel
fora perdido, e apesar de estar provavelmente em meio a meus inúmeros papéis e cartas, e possa
algum dia ser encontrado, ainda assim eu não poderia, naquela hora, responder sua pergunta.
Fiquei em Auburn dessa vez por seis semanas, pregando, como já disse, duas vezes aos domingos
e duas vezes durante a semana, deixando o restante do trabalho para o pastor e membros da
igreja. Aqui, assim como em Rocheser, havia, dessa vez, pouca ou até nenhuma oposição
explícita. Patores e cristãos abraçaram a obra, e todos os que estavam dispostos, encontravam
trabalho para fazer, e tiveram sucesso na obra.
O Pastor me contou depois, que ele descobriu que nas seis semanas que eu estive lá, quinhentas
almas se sonverteram. Os meios utilizados foram os mesmos que haviam sido usados em
Rochester. Esse avivamento pareceu ser apenas uma onda de poder divino, alcançando Auburn a
partir do centro em Rochester, de onde tão poderosa influência saira para todo o país.
Perto do final de meu trabalho ali, um mensageiro chegou de Buffalo, com um honesto pedido
que eu fosse visitar aquela cidade. O avivamento em Rochester preparara o caminho em Auburn,
assim como em todos os outros lugares dos nos arredores, também preparara o caminho em
Buffalo. Lá, o mensageiro informou-me, a obra começara, e algumas poucas almas haviam-se
convertido, mas sentiam que outros meios precisavam ser usados, então rogavam-me tanto, que
de Auburn, voltei, passando por Rochester, e fui para Buffalo. Passei mais ou menos um mês,
acredito, em Buffalo, tempo durante o qual um grande número de pessoas se converteu.
A obra em Buffalo, bem como em Auburn e Rochester, teve muito efeito sobre as classes mais
influentes. O Rev. Dr. Lord, na época um advogado, converteu-se nesse período, creio eu; assim
também o Sr. H, pai do Rev. Dr. H, de Buffalo. De muitas circunstâncias ligadas à sua conversão,
eu jamais me esqueci. Ele era um dos homens mais ricos e influentes em Buffalo, e um homem
de boa moral, caráter justo, alta posição social como cidadão, mas um ímpio pecador. Sua esposa
era uma mulher cristã, e há muito tempo orava por ele, esperando que se convertesse. Mas
quando eu comecei a pregar lá, e insisti que o “não poder” do pecador é de fato seu “não querer”,
que a dificuldade a ser superada era a impiedade voluntária dos pecadores, e que não estavam
dispostos a tornarem-se cristãos, o Sr. H rebelou-se de forma muito decidida contra tais
ensinamentos. Ele insistia que esse não era seu caso, pois tinha consciência de que desejava ser
um cristão, e que desejava há muito tempo.
Como sua esposa informou-me da posição que ele assumira, não o poupei, mas dia a dia caçava-o
em seus refúgios, e respondia a todas as suas objeções, indo de encontro a todas as suas
desculpas. Ele ficava cada vez mais agitado. Ele era um homem de temperamento forte, e
declarou que não acreditava nem acreditaria em tal ensinamento. Falou tantas coisas em oposição
a isso a ponto de atrair para perto de si alguns homens com quem não tinha simpatia alguma,
exceto por sua oposição à obra. Mas eu não hesitava em pressioná-lo em todos os sermões, de
uma forma ou de outra, por sua falta de vontade de tornar-se um cristão.
Depois de sua conversão, ele me contou que ficou chocado e envergonhado quando descobriu
que alguns escarnecedores refugiaram-se sob ele. Certa noite, contou-me, sentou-se do outro lado
do corredor, diretamente em oposto a um notório escarnecedor. Ele disse que várias vezes
enquanto eu pregava, esse homem, com quem ele não tinha simpatia alguma em outros assuntos,
olhava para ele e sorria, dando grandes indícios de seu companherismo ao Sr. H em sua oposição
ao avivamento. Ele disse que ao descobrir isso, seu coração levantou-se com indignação, e disse a
si mesmo “Não terei nenhuma afinidade com essa classe de homens; não terei nenhum
envolvimento com eles.”
Contudo, naquela mesma noite, ao encerrar meu sermão, pressionei tanto a consciência dos
pecadores, e fiz tão forte apelo para que desistissem de sua oposição voluntária e viessem para
Cristo, que ele não pôde se conter. Logo que a reunião acabou, totalmente contrário a seu
costume, ele começou a resistir, e a falar contra o que fora dito, antes que saísse da casa. Os
corredores estavam cheios e as pessoas amontoavam-se ao redor dele. De fato ele disse alguma
expressão profana, como sua esposa depois de me contou, que muito a perturbou, e ela sentia que
por sua oposição era muito provável que ele afastasse o Espírito de Deus e perdesse sua alma.
Naquela noite ele não conseguiu dormir. Sua mente estava tão agitada que ele se levantou logo na
aurora, deixou sua casa e foi consideravelmente longe, para onde na época havia um bosque,
perto de um lugar onde ele tinha algumas máquinas de água que ele chamava de hidráulica. Lá no
bosque, ajoelhou-se para orar. Ele disse que sentiu, durante a noite, que precisava ficar sozinho,
para que pudesse falar em voz alta e de coração, pois estava mais pressionado do que se podia
suportar com a convicção de seus pecados, e com a necessidade de fazer imediatamente as pazes
com Deus. Mas para sua surpresa e mortificação, quando ele se ajoelhou e tentou orar, descobriu
que seu coração não conseguia. Ele não tinha palavras, não tinha desejos que pudesse expressar
com palavras. Ele disse que parecia-lhe que seu coração era como uma pedra, e que não tinha
nenhum sentimento sobre o assunto. Ele ficou de pé, decepcionado e confuso, e descobriu que se
abrisse sua boca para orar, não tinha nada que pudesse sinceramente expressar na forma de
oração.
Nesse instante, ocorreu-lhe que poderia fazer a oração do Senhor. Então começou “Pai nosso que
estás nos céus.” Logo que proferiu as palavras, ficou convencido de sua hipocrisia ao chamar
Deus de seu Pai. Quando falou também a petição “Santificado seja o teu nome”, disse que ficou
quase chocado. Viu que não era sincero, que suas palavas não expressavam em nada seu estado
de espírito. Ele não se importava em santificar o nome de Deus. Então continuou “Venha o teu
reino”. Nisso, ele disse, quase engasgou. Ele viu que não queria que o reino de Deus viesse, que
era muito hipócrita de sua parte dizer isso, e que não podia dizê-lo como expressão sincera do
desejo de seu coração. E então veio a parte “Seja feita a tua vontade, assim na Terra como nos
céus.” Ele disse que seu coração levantou-se contra isso, e não conseguia dizer. Ali estava ele,
cara a cara com a vontade de Deus. Ele escutara, dia após dia, que opunha-se a essa vontade, que
não estava disposto a aceitá-la, que sua oposição voluntária a Deus, a Sua lei e a Sua vontade, era
o único obstáculo no caminho de sua conversão. Ele havia lutado e resistido a essa consideração
com desespero. Mas ali, de joelhos, com a oração do Senhor em seus lábios, foi colocado cara a
cara com essa questão, e viu com perfeita clareza que o que fora-lhe dito, era verdade: ele não
queria que a vontade de Deus fosse feita, e que não se convertia porque não queria.
Toda a sua rebelião, em sua própria natureza e extensão, foi apresentada tão fortemente a seus
olhos, que ele viu que seria uma tremenda peleja desistir de sua oposição voluntária a Deus.
Então, ele disse, que reuniu toda sua força de vontade e gritou “Seja feita a tua vontade, assim na
terra como nos ceus!” Ele disse que tinha plena consciência de que sua vontade foi com suas
palavras, que ele aceitou a vontade de Deus, e toda a vontade de Deus; que rendeu-se
completamente a Deus, e aceitou a Cristo, como ele é apresentado no evangélho. Ele desistiu de
seus pecados, e abraçou a vontade de Deus como sua regra de vida. A linguagem de seu coração
era “Senhor, faça comigo o que pacere bom a ti. Que tua vontade seja feita comigo, e com todas
as criaturas da terra, como é feita nos céus.” Ele disse que orou livremente, logo que sua vontade
se rendeu, e seu coração se derramou como um dilúvio. Toda sua rebeldia foi embora, seus
sentimentos submeteram-se a uma grande calma, e uma doce paz parecia encher toda sua alma.
Levantou-se e foi para casa, e contou para sua ansiosa esposa, que estivera orando tão
honestamente por ele, o que o Senhor fizera por sua alma, confessou que estivera totalmente
errado em sua oposição, e por inteiro enganado no que dizia respeito a sua vontade de tornar-se
um cristão. Desde então, tornou-se um sincero obreiro na promoção da obra de Deus. Sua vida
dalí por diante atestou a realidade da mudança, e ele viveu e morreu como um cristão muito
usado por Deus. De Buffalo eu fui, em junho, acredito, para a casa de meu sogro, em
Whitestown. Passei uma parte do verão viajando por recreação e pela restauração de minha saúde
e força.
No começo do outono de 1831, aceitei um convite para realizar o que era então chamado de uma
reunião prolongada, ou uma série de reuniões, em Providence. Trabalhei mais na igreja cujo
pastor era o Rev. Dr. Wilson, na época. Creio que permaneci ali por quase três semanas,
realizando reuniões todas as noites, e pregando três vezes aos domingos. O Senhor derramou Seu
Espírito imediatemente sobre o povo, e a obra da graça começou e prosseguiu de maneira muito
interessante. No entanto, minha estadia foi muito curta para assegurar uma obra muito abrangente
naquele lugar, que na verdade ocorreu depois, em 1842, quando passei uns dois meses ali, e cujos
detalhes relatarei em momento apropriado.
Muitas conversões interessantes ocorreram naquela época, e muitos dos homens que têm tido
uma liderança na influência cristã naquela cidade, desde aquela época até hoje, converteram-se.
Isso também aconteceu com as mulheres, muitos cassos interessantes de conversões ocorreram
entre elas. Lembro-me com grande distinção da conversão de uma jovem, que resumidamente
relatarei. Eu havia percebido na congregação, no domingo, uma jovem de muita beleza, sentada
em um banco com um jovem que depois vim a saber que era seu irmão. Ela tinha uma aparência
muito intelectual e honesta, e parecia ouvir cada palavra que eu dizia, com absoluta atenção e
seriedade.
Eu era hóspede do Sr. Josiah Chapin, e ao voltar da igreja para sua casa, acompanhado dele,
observei esses jovens irmãos vindo pela mesma rua. Apontei-os para o Sr. Chapin, e perguntei
quem eram. Ele me disse que eram o Sr. e Srta. A, irmãos, e comentou que ela era considerada a
moça mais bonita de Providence. Perguntei-lhe se ela era professora de religião, e ele disse que
não. Disse-lhe que achei-a muito séria e impressionada, e perguntei-lhe se ele não acharia por
bem que eu fosse visitá-la. Desencorajando-me, ele disse que achava que seria uma perda de
tempo, que talvez que não fosse cordialmente recebido. Ele pensava que ela era uma menina tão
mimada e elogiada, e que tudo que a rodeava tinha um tom tal, que provavelmente não tinha
nenhum pensamento sério a respeito da salvação de sua alma. Mas ele estava errado, e eu estava
certo ao supor que o Espírito do Senhor pelejava com ela.
Não fui visitá-la, mas alguns dias depois disso, ela veio me ver. Reconheci-a de imediato, e
perguntei-lhe sobre o estado de sua alma. Ela estava plenamente consciente, mas suas reais
convicções de pecado não estavam tão amadurecidas quanto eu gostaria que estivessem, quanto
eu achava que era necessário, antes que ela pudesse ser realmente trazida por sua razão e intelecto
a aceitar a justiça de Cristo. Então passei uma ou duas horas, pois sua visita foi
consideravelmente longa, tentando mostrar-lhe a depravação de seu coração. A princípio ela se
esquivava de minhas perguntas tão minuciosas. Mas suas convicções pareciam amadurecer
conforme eu conversava com ela, e ela tornava-se cada vez mais profundamente séria.
Quando eu lhe disse o que achava necessário para assegurar uma conversão madura e plena, sob a
influência do Espírito de Deus, ela se levantou com um claro sentimento de insatisfação, e foi
embora. Eu tinha confiança de que o Espírito de Deus tinha tomado seu caso inteiramente em
Suas mãos, que o que eu havia-lhe dito não seria esquecido, mas ao contrário, geraria a convicção
que eu havia planejado.
Dois ou três dias depois ela veio novamente visitar-me. Pude ver logo que ela tinha uma grande
reverência em seu espírito. Logo que ela entrou, sentou-se, e abriu seu coração para mim. Com
muita franqueza, disse-me “Sr. Finney, eu pensei, quando estive aqui antes, que suas perguntas e
a forma com que me tratou foram muito severas. Mas, agora vejo que sou tudo aquilo que o
senhor achou que eu fosse. De fato,” disse ela, “se não fosse por meu orgulho e consideração por
minha reputação, eu seria tão ímpia quanto qualquer garota que possa haver em Providence.
Posso ver claramente que minha vida tem sido regida por meu orgulho, e por uma preocupação
com minha reputação, e não por qualquer consideração a Deus, Sua lei ou Seu Evagélho. Posso
ver que Deus tem usado meu orgulho e ambição para manter-me afastada de desgraçadas
iniqüidades. Fui elogiada e mimada, apoiei-me em minha própria dignidade, e tenho mantido
minha reputação por motivos puramente egoístas.” Ela continou espontaneamente, confessou, e
mostrou que suas convicções eram plenas e permanentes. Ela não parecia agitada, mas calma,
muito racional, em tudo que disse. Era evidente, no entanto, que ela tinha uma natureza
fervorosa, um temperamento forte, e um intelecto excepcionalmente equilibrado e culto.
Depois de conversar com ela por algum tempo, e dar-lhe as instruções que pude, curvamo-nos
diante do Senhor em oração, e ela, ao que tudo indica, entregou-se sem reservas a Cristo. Sua
mente era tal a esse ponto, que parecia-lhe ser fácil renunciar ao mundo. Ele sempre foi uma
cristã muito interessante. Não muitos anos depois de sua conversão, casou-se com um rico
cavalheiro da cidade de Nova Iorque. Por muitos anos não me correspondi diretamente com ela.
Seu marido a levou para círculos da sociedade com os quais eu não era familiar, e até depois da
morte dele, não tive mais contato com ela. Desde então tenho muita correspondência cristã com
ela, e jamais deixei de estar muito interessado em sua vida religiosa. Menciono este caso porque
sempre o considerei como um maravilhoso triunfo da graça de deus sobre as fascinações do
mundo. A graça de Deus é forte demais para o mundo, até mesmo em um caso como este, no qual
todos os encantos mundanos a rodeavam.
Enquanto eu estava em Providence, a questão de minha ida para Boston foi agitada pelos pastores
e diáconos das várias igrejas Congregacionais daquela cidade. Eu mesmo não tinha consciência
do que eles estavam fazendo lá, mas o Dr. Wisner, então pastor da igreja do Velho Sul, veio até
Providence e participou de nossas reuniões. Mais tarde eu soube que ele fora enviado pelos
pastores para espionar, voltar e dar um relatório. Tive muitas conversas com ele, e ele manifestou
um interesse quase que entusiasmado no que ouviu e viu em Providence. Na mesma época em
que ele estava lá, algumas conversões muito repentinas aconteceram.
A obra em Providence era de um carater peculiarmente detalhoso, no que dizia respeito aos
professores de religião. Velhas esperanças foram terrivelmente abaladas, e houve um grande
tremor em meio aos ossos secos das diferentes igrejas. Um diácono de uma das igrejas ficou tão
terrivelmente atingido em certa ocasião, que disse-me enquanto eu descia do púlpito “Sr. Finney,
não creio que haja nem dez cristãos verdadeiros em Providence. Estamos todos errados, temos
estado enganados.” O Dr. Wisner, acredito, estava plenamente convencido de que a obra era
genuina, e na época, extensa; que não havia indício algum de influências ou resultados que
pudessem ser deplorados.
Depois que o Dr. Wisner retornou a Boston, eu logo recebi um pedido das igrejas e pastores
Congregacionais para ir trabalhar naquela cidade. O Dr. Lyman Beecher era na época o pastor da
igreja da rua Bowdoin. Seu filho, Edward Beecher, era pastou ou suplente na rua Park; um Sr.
Green era o pastor da igreja da rua Essex, mas tinha ido para a Europa para cuidar de sua saúde, e
aquela igreja estava sem nenhum suplente por hora. Dr. Fay era o pastor da igreja Congregacional
em Charlestown, e o Dr. Jenks, da igreja na rua Green. Não me recordo quem eram os pastores
das outras igrejas naquela época.
Comecei minhas obras pregando em diferentes igrejas aos domingos, e durante a semana à noite,
pregava na rua Park. Logo vi que a Palavra de Deus estava tendo efeito, e que o interesse crescia
a cada dia. Mas percebi também a necessidade de uma grande penetração entre os que se
professavam cristãos. Não ouvi dizer que houvesse entre eles nada parecido com o espírito de
oração que prevalecera nos avivamentos no Oeste e na cidade de Nova Iorque. Parecia haver um
tipo peculiar de religião ali, que não exibia aquela liberdade e força de fé que eu estava
acostumado a ver em Nova Iorque.
Eu portanto comecei a pregar alguns sermões para cristãos. De fato, no domingo eu havia dito
que pregaria uma série de sermões destinados aos cristãos, na rua Park, em certas noites da
semana. Mas logo descobri que os cristãos de Boston não interessavam minimamente nesses
sermões. Era algo que eles não tinham o costume de fazer, e a audiência na rua Park tornou-se
cada vez menor, especialmente naquelas noites nas quais eu pregava diretamente para cristãos.
Isso era novo para mim. Eu nunca tinha visto pessoas que já se professavam cristãs recuarem,
como fizeram dessa vez em Boston, de sermões penetrantes. Mas eu escutava várias vezes
comentários como “O que dirão os Unitários, se tais coisas forem verdade sobre nós, ortodoxos?
Se o Sr. Finney prega a nós dessa maneira, os Unitários triunfarão sobre nós, e dirão no mínimo,
que os ortodoxos não são mais cristãos que os Unitarios.” Era evidente que eles não gostavam
muito de minha maneira direta de lidar, e que meus sermões tão diretos surpreenderam, e até
mesmo ofenderam, muitos deles. Contudo, conforme a obra prosseguia, essa situação mudava
muito, e poucas semanas depois eles ouviam essas pregações e apreciavam-nas.
Vi que em Boston, como já percebera em todos os outros lugares, que havia um método para lidar
com os pecadores que tinham dúvidas, que era muito útil para mim. Eu costumava algumas
vezes, realizar reuniões para perguntas e respostas com o Dr. Beecher, no subsolo de sua igreja.
Certa noite quando ouve um grande público presente, e um grande sentimento de penetrante
solenidade entre os questionadores, no encerramento, como costumava, dirigi-me com palavras a
todos, tentando mostrar-lhes exatamente o que o Senhor queria deles. Meu objetivo era levá-los a
renunciar totalmente a si mesmos, e entregarem-se a si, e a tudo que possuiam, para Cristo.
Tentei mostrar-lhes que não pertenciam a si mesmos, mas que foram compratos por um preço; e
indiquei-lhes o sentido no qual esperava-se que abandonassem tudo que tinham, entregando tudo
para Cristo, pois pertencia a Ele.
Deixei isso tão claro quanto pude, e vi que o impacto sobre aqueles que vieram para fazer
perguntar parecia ser muito profundo. Eu estava prestes a convidá-los para se ajoelharem,
enquanto apresentávamo-lhes em oração a Deus, quando o Dr. Beecher se levantou e disse
“Vocês não precisam ter medo de entregar tudo para Cristo, seus bens e tudo mais, pois Ele
devolverá tudo a vocês.” Sem dar nenhuma justificativa ou explicação, quanto ao sentido no qual
deveriam entregar seus bens, e o sentido no qual o Senhor permitiria que eles os mantivessem, ele
simplesmente os exortou a não terem medo de entregar tudo, como haviam sido urgidos a fazer,
pois o Senhor devolver-lhes-ia tudo. Vi que ele estava causando uma falsa impressão, e fiquei
muito agoniado. Vi que suas palavras tinham o objetivo de causar uma impressão, o oposto direto
da verdade.
Depois que ele terminou seus comentários, levei-os a ver, da maneira mais sábia e cuidadosa que
pude, que no sentido no qual Deus esperava que eles entregassem seus bens, ele jamais os daria
de volta, e eles não deviam ter em mente tal pensamento. Tentei dizer o que disse de uma tal
maneira, para que não parecesse que estava contradizendo o Dr. Beecher, porém corrigindo
completamente a impressão que vi que ele fizera. Disse-lhes que o Senhor não esperava que
abandonassem todas as suas propriedades, que saíssem de seus negócios, empregos, casas ou
bens, e que jamais possuissem mais nada, mas Ele queria que eles renunciassem a propriedade de
tudo isso, que entendessem e percebessem que aquelas coisas não eram deles, mas do Senhor,
que Sua posse era absoluta, Sua propriedade deles e de tudo mais, tão plenamente sobre o direito
de qualquer outro ser no universo, que o que Ele esperava deles era que usassem a si mesmos e a
todas as outras coisas como sendo dEle, e que jamais pensassem que tinham o direito de usar de
seu tempo, sua força, sua substância, sua influência, ou qualquer outra coisa que possuíam, como
se fosse somente deles, e não do Senhor.
O Dr. Beecher não fez objeção alguma ao que eu disse, nem na época, nem depois, até onde sei, e
não é provável que ele tenha tido qualquer intensão inconsistente com isso, no que disse. Porém,
suas palavras acabaram causando a impressão de que Deus restituiria seus bens, como se que
tivessem abandonado tudo, e dado a Ele.
Acredito que nessa época, os membros das igrejas ortodoxas em Boston recebiam minhas visões
doutrinárias, num geral, sem questionamentos. Sei que o Dr. Beecher recebia assim, pois ele me
disse que jamais vira um homem cujas visões teológicas eram tão de acordo com as suas, como
as minhas. Havia um aspecto de minha ortodoxia, entretanto, ao qual muitos resistiam. Havia um
Sr. Rand, que publicava um periódico em Boston na época, creio eu, e que escreveu um sincero
artigo contra minhas visões sobre o assunto da ação divina na regeneração. Eu pregava que a ação
divina era a do ensinamento e persuasão, que a influência era moral, e não física. O Presidente
Edwards defendia o contrário, e o Sr. Rand concordava com o ele, que a ação divina exercida na
regeneração era física, que ela produzia uma mudança de natureza, ao invés de uma mudança na
atitude voluntária e preferência da alma. O Sr. Rand considerava minhas idéias sobre este assunto
como muito erradas.
Haviam alguns outros pontos doutrinários com os quais ele lidava de maneira crítica; como por
exemplo, minhas idéias sobre a natureza voluntária da depravação moral, e a atividade do
pecador na regeneração.
O Dr. Wisner escreveu uma resposta, e justificou meus pontos de vista, com a exceção daqueles
que eu defendia sobre a influência moral e persuasiva do Espírito Santo. Naquele momento ele
não estava preparado para levantar-se contra o Presidente Edwards, e a visão ortodoxa geral da
Nova Inglaterra, ao dizer que a ação do Espírito não era física, mas somente moral. O Dr. Woods,
de Andover, também publicou um artigo em um dos periódicos, creio que no que era publicado
ali, sob esse título: “Espírito Santo o autor da regeneração.” Esse era, eu acho, o título; seja como
for, seu objetivo era provar que a regeneração era obra de Deus. Ele citava, é claro, aquelas partes
das escrituras que declaravam a ação divina, na obra da transformação dos corações.
A isso eu não dei resposta por escrito, mas em minhas pregações disse que era apenas uma meia-
verdade; que a bíblia também declara de forma tão clara quanto, que a regeneração é obra dos
homens, e citei as passagens que afirmam isso. Paulo disse a uma das igrejas, que ele os havia
gerado, isto é, os havia regenerado; pois a mesma palavra é usada em outras passagens, onde a
regeneração é atribuida a Deus. É fácil mostrar, portanto, que Deus age na regeneração, e que Sua
ação e a de ensinar ou persuadir. Também é fácil mostrar que o indivíduo tem uma ação, que os
atos de arrependimento, fé e amor são ele mesmo; e que o Espírito o convence a prosseguir com
essas ações, apresentando-lhe a verdade. Se a verdade é o instrumento, o Espírito Santo deve ser
um dos agentes, e um pregador, ou algum agente humano, inteligente, geralmente também
coopera com a obra. Não havia nada de não cristão, que eu me recorde, em nenhuma das
discussões que tivemos, na época; nada que afastasse o Espírito ou que gerasse qualquer
ressentimento entre os irmãos.
Depois de passar algumas semanas pregando em diferentes congregações, aceitei cuidar da igreja
do Sr. Green na rua Essex, por algum tempo. Portanto concentrei minhas obras naquela região.
Tivemos uma abençoada obra de graça, e um grande número de pessoas converteu-se em
diferentes partes da cidade.
Eu estava fatigado, e já trabalhava a quase dez anos como evangelista, sem nada além de poucos
dias ou semanas de descanso, durante todo esse período. Os irmãos do ministério eram homens
verdadeiros, cuidavam da obra da melhor forma que sabiam, e trabalhavam fiel e eficientemente
para assegurar bons resultados.
A essa altura, uma segunda igreja livre formara-se na cidade de Nova Iorque. A igreja do Sr. Joel
Parker, a primeira igreja livre, crescera tanto que multiplicou-se, e formou uma segunda igreja,
para a qual o Rev. Sr. Barrows, professor nos últimos anos em Andover, estava pregando. Alguns
dos mais sinceros irmãos de Nova Iorque escreveram-me, propondo alugarem um teatro, e
reformá-lo para uma igreja, sob a condição de que eu fosse pregar ali. Eles propunham conseguir
o que era chamado de teatro da rua Chatham, no coração da população mais ímpia de Nova
Iorque. Os proprietários eram homens que estavam muito dispostos a transformá-lo em uma
igreja. Nessa época tinhamos três filhos, e eu não podia ficar levando minha família por aí,
enquanto trabalhava como um evangelista. Minhas forças, também, estavam bastante esgotadas, e
ao orar e analisar o assunto, conclui que deveria aceitar o convite da Segunda Igreja Livre, e
trabalhar, pelo menos por um tempo, em Nova Iorque.

A VERDADE DO EVANGÉLHO
AS MEMÓRIAS DE CHARLES G. FINNEY
CAPÍTULO XXIII.
AS OBRAS NA CIDADE DE NOVA IORQUE, DE 1832 EM DIANTE
O SR. LEWIS TAPPAN, junto com outros irmãos, alugou o teatro da rua Chatham, e adequou-o
para uma igreja, fazendo um lugar adequado também para acomodar as várias sociedades
caridosas, para realizarem suas comemorações. Chamaram-me, e aceitei pastorear a segunda
igreja Presbiteriana Livre. Saí de Boston em abril de 1832, e comecei minhas obras naquele teatro
nessa época. O Espírito do Senhor foi imediatamente derramado sobre nós, e tivemos um extenso
avivamento naquela primavera e verão.
Mais ou menos no meio do verão, a cólera apareceu em Nova Iorque pela primeira vez. O pânico
era grande, e muitos cristãos da cidade fugiram para o campo. A cólera foi muito severa naquela
cidade naquele verão, mais do que jamais foi desde então; e foi particularmente fatal na parte da
cidade onde eu morava. Lembro-me de ter contado, da porta de nossa casa, cinco carros fúnebres
passando ao mesmo tempo, vindo de diferentes casas até onde alcançavam nossos olhos.
Permaneci em Nova Iorque até o final do verão, não querendo deixar a cidade enquanto a
mortalidade estava tão alta. Mas descobri que a influência estava minando minha saúde, então na
última parte do verão fui para o campo, por duas ou três semanas. Quando voltei, fui estabelecido
como pastor da igreja. Durante os cultos de inauguração, fiquei doente, e logo que cheguei em
casa, ficou claro que eu estava com cólera. O senhor que morava na casa ao lado contagiou-se em
paralelo comigo, e antes que chegasse a manhã do outro dia, estava morto. Os meios usados para
minha recuperação causaram um terrível choque em meu sistema, do qual demorei a me
recuperar. Contudo, perto da primavera eu já era capaz de pregar novamente. Convidei dois
irmãos de ministério para ajudarem-me a realizar uma série de reuniões. Pregávamos em turnos
por duas ou três semanas, mas pouco foi alcançado. Vi que aquela não era a maneira de se
promover um avivamento ali, e encerrei as reuniões naquele formato.
No domingo seguinte, marquei de pregar todas as noites dutante a semana, e um avivamento
começou imediatamente, tornando-se muito poderoso. Continuei a pregar por vinte noites
consecutivas, além de pregar aos domingos. Minha saúde ainda não estava vigorosa, e depois de
pregar vinte vezes, suspendi aquele forma de trabalho. Soubemos que quinhentas pessoas se
converteram, e nossa igreja tornara-se tão grande, que em breve multiplicou-se para formar outra
igreja; e um prédio apropriado para esse fim foi erquido na esquina das ruas Catharine e Madison.
A obra continuou a prosseguir de forma muito interessante. Realizávamos reuniões para dúvidas
uma ou duas vezes por semana, e as vezes até mais, e descobrimos que toda semana, um bom
número de conversões era relatado. A igreja tinha um povo de trabalho e oração. Eram
absolutamente unidos, e foram bem treinados no que diz respeito à obrar para a conversão de
pecadores. Eram uma igreja muito eficiente e devota a Cristo. Eles saíam às estradas e fronteiras,
e traziam as pessoas para ouvirem as pregações, sempre que eram convocados a fazerem isso.
Tanto homens quanto mulheres submetiam-se a essa obra. Quando desejávamos avisar sobre
qualquer reunião extra, pequenos pedaços de papel, nos quais estavam impressos convites para
participação nos cultos seriam levados de casa em casa, por todas as direções, pelos membros da
igreja; especialmente naquela parte da cidade onde a capela da rua Chatham, como a
chamávamos, localizava-se. Pela distribuição desses papéis, e por convites orais, a casa podia ser
cheia, em qualquer noite da semana. Nossas senhoras não tinham medo de reunir todas as classes,
do bairro e arredores. Era algo novo, realizar cultos religiosos naquele teatro, ao invés dos atos
que antes eram encenadas ali.
Haviam três salões, ligadas com a parte frontal do teatro, salões grandes e cumpridos, que foram
adequados para reuniões de oração, e para uma sala de palestras. Mas esses salões haviam sido
usados para fins muito diferentes, enquanto o edifício funcionava como um teatro. Mas, quando
foram adequados para nosso objetivo, eram extremamente convenientes. Haviam três andares de
calerias, e esses salões estavam ligados com as galerias, respectivamente, um sobre o outro.
Instruí os membros de minha igreja a sentare-se espalhados por toda a casa, e para manterem seus
olhos abertos, em consideração a qualquer um que estivesse profundamente afetado pelo sermão,
e se possível, detê-los de virem conversar comigo depois da pregação para pedir oração. Eles
eram fieis a seus ensinamentos, e estavam vigiando em todas as reuniões para ver com quem
Deus estava trabalhando; e tinham fé o suficiente para descartar seus medos, e para falar com
aqueles que viam estar tocados pela Palavra. Dessa forma a conversão de muitas almas foi
assegurada. Eles os convidavam para irem até aqueles salões, e ali podíamos conversar e orar
com eles, reunindo assim, os resultados de cada sermão.
Um caso do qual me lembro nesse momento, ilustrará a maneira na qual os membros
trabalhavam. A firma Naylor & Cia, que era uma grande fabricante de cutelos em Sheffield, na
Inglaterra, tinham uma filial em Nova Iorque, e um sócio de nome H. O Sr. H era um homem
falante, já tinha viajado muito, e resistira o avivamento em várias das principais cidades da
Europa. Um dos atendentes daquele estabelecimento viera a nossas reuniões e convertera-se,
ficando muito ansioso pela conversão do Sr. H. O jovem, por algum tempo, teve receio de
convidá-lo para participar de nossas reuniões, mas finalmente ousou fazê-lo, e para atender a seu
tão sincero convite, o Sr. H veio numa noite para o culto.
Aconteceu que, ele se sentou perto do grande corredor, na mesma direção onde estava o Sr.
Tappan, do outro lado. O Sr. Tappan viu que durante o sermão ele manifestava-se bastante
emocionado, e parecia desconfortável às vezes, como se estivesse a ponto de sair. O Sr. H depois
me contou que muitas vezes esteve a ponto de sair, pois estava muito afetado pelo sermão. Mas
permaneceu até que a benção foi proferida. O Sr. Tappan ficou de olho nele, e logo que a benção
foi dada, apresentou-se como Sr. Tappan, um sócio da Arthur Tappan & Cia, uma firma muito
conhecida a todos em Nova Iorque.
Escutei o próprio Sr. H relatar esses fatos com grande emoção. Ele disse que o Sr. Tappan foi até
ele, e pegando-o gentilmente pela lapela de seu casaco, falou docemente com ele, perguntando-
lhe se não poderia permanecer para uma conversa e oração. Ele tentou dar uma desculpa para ir
embora, mas o Sr. Tappan foi tão cavalheiro e tão gentil, que ele não pôde nem mesmo esquivar-
se dele. Ele foi importuno, e como o próprio Sr. H disse “Ele segurou firme minha lapela, de
forma que um pequeno puxão em meu casaco foi o meio de salvação para minha alma.” As
pessoas saíram, e o Sr. H, entre outros, foi convencido a ficar. De acordo com nosso costume,
tivemos uma minuciosa conversa, e o Sr. H converteu-se ali mesmo, ou pouquíssimo tempo
depois.
Quando eu cheguei na capela da rua Chatham, informei a todos que não desejava encher a casa
com cristãos de outras igrejas, que meu objetivo era trazer pessoas do mundo. Eu queria
assegurar a salvação dos que não tinham Deus, ao máximo que pudesse. Entregamo-nos portanto,
a trabalhar por esse grupo de pessoas, e pela benção de Deus, com sucesso. As conversões eram
tantas, que nossa igreja em pouco tempo crescia e multiplicava-se, e quando eu saí de Nova
Iorque, creio que já eram sete as igrejas livres, cujos membros trabalhavam com todas suas forças
para assegurar a salvação das almas. Elas eram sustentadas mais pelas ofertas, tiradas de domingo
em domingo. Sempre que havia alguma falta na tesouraria, havia um número de irmãos de muitas
posses, que cobriam os gastos de seu próprio bolso, de forma que jamais tivemos a menor
dificuldade em cumprir as necessidades financeiras.
Nunca conheci um povo mais harmonioso, eficiente, de oração, do que os membros daquelas
igrejas livres. Eles não estavam entre os ricos, apesar de haver muitos homens de posses entre
seus membros. Em geral, vinham das classes média e baixa. Esse era o nosso objetivo, pregar o
Evangélho especialmente par aos pobres.
Quando eu cheguei em Nova Iorque, tinha opinião formada sobre a escravidão, e estava muito
ansioso para chamar a atenção pública ao assunto. No entanto, não fiz disso um hobby, nem
desviei a atenção das pessoas da obra de converter almas. Ainda assim, em minhas orações e
pregações, eu fazia tanta alusão à escravidão, e tanto a denunciava, que uma agitação
considerável começou a ser gerada no meio do povo.
Enquanto eu trabalhava na capela da rua Chatham, alguns eventos ligados ao presbitério
aconteceram, e levaram à formação de uma igreja Congregacional, da qual tornei-me pastor. Um
membro de uma das velhas igrejas veio até nós, e logo fomos informados que, antes que ele
viesse, cometera uma ofensa pela qual deveria ser disciplinado. Eu supus que, já que ele nos
havia sido recomendado como um membro de outra igreja em boa posição, e já que a ofesa fora
feita antes que ele deixasse aquela igreja, cabia a eles discipliná-lo. O caso foi trazido diante do
Terceiro Presbitério de Nova Iorque, ao qual eu pertencia na época, e eles decidiram que ele
estava sob nossa jurisdição, e que cabia a nós tomar o caso nas mãos e discipliná-lo. Assim o
fizemos.
Mas logo outro caso ocorreu, no qual uma mulher veio de uma das igrejas, uniu-se a nós, e
descobrimos que ela fora culpada de uma ofensa, antes que viesse, uma ofensa que precisava de
disciplina. De acordo com o estabelecido pelo presbitério no outro caso, prosseguimos e ela foi
excomungada. Ela apelou contra esse decisão ao presbitério, e eles decidiram que a ofensa não
fora cometida sob nossa jurisdição, estabelecendo uma sentença diretamente oposta à anterior. Eu
expostulei, e disse-lhes que não sabiam como agir; que os dois casos eram precisamente
parecidos, e que suas decisões em ambos eram completamente inconsistentes e opostas. O Dr.
Cox respondeu que não seriam governados por seus próprios precedentes, ou por qualquer outro
precedente. E ele falava tão fervorosamente, e pressionou tanto o caso que o presbitério o seguiu.
Pouco tempo depois disse surgiu a questão da construção do Tabernáculo na Broadway. O
homem que o construíra, e os principais membros que formavam a igreja ali, construíram-no com
o entendimento que eu deveria ser seu pastor, e formaram ali uma igreja Congregacional. Então
peguei minha dispensa do presbitério, e tornei-me pastor daquela igreja.
Mas eu deveria ter dito que em janeiro de 1834, fui obrigado a sair por conta de minha saúde, e
fazer uma viagem marítima. Portanto, fui até o Mediterrâneo, num pequeno navio de guerra, no
meio do inverno. Tivemos uma turbulenta viagem. Minha cabine era muito pequena, eu estava
completamente, muito desconfortável, e a viagem não melhorou muito minha saúde. Passei
algumas semanas em Malta, e também na Sicília. Fiquei longe por mais ou menos seis meses. Ao
retornar, descobri que havia uma grande agitação em Nova Iorque. Os membros de minha igreja,
junto com os abolicionistas da cidade, haviam realizado uma reunião no quatro de julho, e
discutiram sobre o assunto da escravidão. Uma turba foi instigada, e esse foi o início de uma série
de turbas que espalhou-se por todas as direções, em qualquer lugar ou momento em que houvesse
uma reunião abolicionista, ou em que uma voz se levantasse contra a abominável instituição da
escravidão.
Contudo, prossegui com minhas obras na rua Chatham. A obra de Deus foi imediatamente
avivada e prosseguiu com grande interesse, várias pessoas convertendo-se em todas as reuniões.
Continuei a trabalhar assim na rua Chatham, e a igreja continuou a florescer, e a extender sua
influência e suas obras por todas as direções, até que o Tarbernáculo na Broadway estivesse
completo.
O plano do interior da casa era de minha autoria. Eu havia observado os defeitos das igrejas a
respeito do som; e tinha certeza de que podia dar o plano de uma igreja, na qual pudesse falar
facilmente a uma congregação muito maior do que qualquer outra casa que eu jamais tivesse
visto, comportava. Um arquiteto foi consultado, e dei-lhe meu plano. Ele fez objeções, disse que
não ficaria bom aos olhos, e temeu que prejudicasse sua reputação, construir uma igreja com um
interior como aquele. Eu lhe disse que se ele não fosse contruir de acordo com aquele plano, ele
não era o homem certo para supervisionar a construção. Finalmente o prédio foi erguido de
acordo com minhas idéias, e era o lugar mais cômodo e confortável para se falar.
Em conexão a isto, devo relatar a origem do Evangelista de Nova Iorque. Quando fui pela
primeira vez para a cidade de Nova Iorque, e antes que eu fosse para lá, o Observador de Nova
Iorque, nas mãos do Sr. Morse, tinha entrado em controvérsia, resultando na oposição do Sr.
Nettleton aos avivamentos na área central da cidade. O Observadr apoiada a conduta do Sr.
Nettleton, e recusava-se a publicar qualquer coisa da outra parte. O Sr. Morse publicava no
Observador os textos do Sr. Nettleton e de seus amigos, mas se qualquer réplica fosse feita, por
simpatizantes desses avivamentos, ele não publicava. Nessa situação, nossos amigos não tinham
um meio pelo qual pudessem se comunicar com o público e corrigir as impressões e apreensões
erradas.
O Juiz Jonas Platt, do supremo tribunal, morava em Nova Iorque na época, e era um amigo meu.
Seu filho e sua filha haviam-se convertido no avivamento em Utica. Um considerável esforço
fora feito, pelos simpatizantes desses avivamentos, para conseguir uma audiência sobre o assunto
em questão, mas tudo em vão. O Juiz Platt encontrou um dia, colado da parte de dentro de um de
seus livros de direito, uma carta escrita por um dos pastores de Nova Iorque, contra Whitefield,
que na época estava neste país. A carta desse pastor impactou o Juiz, por ser tão semelhante à
oposição feita pelo Sr. Nettleton, que ele a enviou para o Observador, desejando que fosse
publicada como uma curiosidade literária, tendo sido escrita quase cem anos antes. O Sr. Morse
recusou-se a publicá-la, dando como razão, que o povo a consideraria como oposição ao Sr.
Nettleton.
A essa altura, alguns amigos dos avivamentos em Nova Iorque, reuníram-se e discutiram o
assunto, de estabelecer um novo periódico que lidaria honestamente com esses assuntos. Eles
finalmente abriram a empresa. Auxiliei-os na publicação do primeiro número, no qual eu
convidava os pastores e leigos a considerarem e discutirem várias questões teológicas, e também
questões relacionadas aos melhores métodos para a promoção de avivamentos religiosos.
O primeiro editor do jornal foi um Sr. Saxton, um jovem que antes havia trabalhado bastante com
o Sr. Nettleton, mas que sempre foi fortemente contra a conduta que ele tomava, ao opor-se a o
que ele chamava de avivamentos ocidentais. Esse jovem continuou como editor por quase um
ano, e discutia, com uma habilidade considerável, muitas das questões que eram propostas para
discussão. O jornal trocou de editor duas ou três vezes, talvez, ao longo de muitos anos; por fim,
o Rev. Joshua Leavitt foi chamado, e aceitou o cargo de editor. Ele, como todos sabem, era um
excelente editor. O jornal logo teve uma extensa circulação, e provou ser um meio pelo qual os
simpatizantes dos avivamentos, como então existiam, podiam comunicar seus pensamentos para
o público.
Comentei sobre a construção do Tabernáculo, e da agitação em Nova Iorque sobre o assunto da
escravidão. Quando o Tabernáculo estava no processo de conclusão, com paredes e teto erguidos,
uma história foi colocada em circulação, que essa seria uma igreja de amalgamação, na qual
pessoas brancas e de cor seriam levadas a sentarem indiscriminadamente, por toda a casa. A
situação da opinião pública era tal em Nova Iorque, na época, que esse relato gerou grande
agitação, e alguém ateou fogo no prédio. Os bombeiros tinham tal estado de mente que
recusaram-se a apagar o fogo, deixando que o inteiror e o teto fossem consumidos. Contudo, os
senhores que haviam assumido a construção, continuaram e o completaram.
Conforme a empolgação aumentava sobre o assunto da escravidão, o Sr. Leavitt adotou a causa
dos escravos, e advogou por ela no Evangelista de Nova Iorque. Eu assistia a discussão com
bastante atenção e ansiedade, e quando estava prestes a ir embora, na viagem marítima a qual me
referi, admoestei o Sr. Leavitt a ser cuidados e não ir muito rápido, na discussão da questão anti-
escravatura, a fim de que não destruísse seu jornal. No caminho de volta para casa minha mente
ficou extremamente preocupada com a questão dos avivamentos. Temi que eles decaíssem pelo
país a fora. Temi que a oposição que fora feita a eles afastasse o Espírito Santo. Minha própria
saúde, ao que me parecia, estava totalmente acabada, e eu não sabia de nenhum outro evangelista
que pudesse assumir aquele campo e ajudar os pastores na obra do avivamento. Essa visão do
assunto angustiou-me tanto que um dia vi que era incapaz de descansar. Minha alma estava numa
agonia inexprimível. Passei quase o dia inteiro em oração em minha cabine, ou andando pelo
convés em intensa agonia, em vista da situação. Na verdade senti-me esmagado com o fardo que
estava em minha alma. Não havia ninguém a bordo com quem pudesse conversar e abrir meu
coração, ou sequer dizer uma palavra.
Era o espírito de oração que estava sobre mim; aquele que eu já experienciara antes, mas talvez
nunca com tanta intensidade, nem por tanto tempo. Supliquei ao Senhor que continuasse com Sua
obra, e que providenciasse para Si mesmo os instrumentos necessários. Era um longo dia de
verão, no começo de julho. Depois de um dia de inexplicável peleja e agonia em minha alma, ao
anoitecer, a questão abriu-se em minha mente. O Espírito levou-me a acreditar que tudo daria
certo, e que Deus ainda tinha uma obra para eu fazer, que eu podia ficar descansado, que o
Senhor continuaria com sua obra e dar-me-ia forças para assumir qualquer parte dela que Ele
desejasse. Mas eu não tinha a menor idéia de qual seria sua providência.
Ao chegar em Nova Iorque, como disse antes, descobri a intensa empolgação das turbas, sobre o
assunto da escravidão. Fiquei em Nova Iorque por não mais de um ou dois dias, então fui para o
campo, para o lugar onde minha família estava passando o verão. Em meu retorno para a cidade,
no outono, o Sr. Leavitt veio até mim e disse “Irmão Finney, eu arruinei o Evangelista. Não tenho
sido tão prudente quanto o senhor avisou-me para ser, fui tão além da inteligência e sentimento
do público sobre o assunto, que minha lista de assinaturas está rapidamente acabando, e não
conseguiremos continuar com as publicações depois de primeiro de janeiro, a menos que o senhor
possa fazer alguma coisa para trazer o jornal novamente para as graças do povo.” Disse-lhe que
minha saúde estava tão mal que não sabia o que poderia fazer, mas faria disso um alvo de oração.
Ele disse que se eu pudesse escrever uma série de artigos sobre os avivamentos, não tinha
dúvidas de que isso traria novamente a atenção do público. Depois de ponderar por um ou dois
dias, propus pregar uma série de sermões para meu povo, sobre avivamentos religiosos, os quais
ele poderia reportar em seu jornal. Ele aceitou na hora. Ele disse “É exatamente isso.” e no
número seguinte de seu jornal, anunciou a série de sermões. Isso teve o efeito que ele desejava, e
pouco tempo depois disse-me que a lista de assinaturas crescia rapidamente, e abrindo seus
longos braços, disse “Tenho tantos novos assinantes por dia que encheria meus braços com os
jornais para poder entregar um único exemplar a cada um deles.” Ele havia-me dito antes que sua
lista de assinaturas estava abaixo de sessenta por dia. Mas agora dizia que aumentava mais
rapidamente do que jamais diminuíra.
Comecei imediatamente a série de palestras, e continuei com elas por todo o inverno, pregando
uma por semana. O Sr. Leavitt não conseguia taquigrafar, mas sentava-se e tomava notas,
abreviando o que escrevia de forma que ele mesmo pudesse entender, e então no dia seguinte
sentava-se, completava suas anotações, e enviava para as prensas. Eu não via o que ele havia
relatado, até ver publicado no jornal. Eu mesmo também não escrevia os semões, é claro. Eram
totalmente espontâneos. Às vezes eu não me decidia sobre qual seria a palestra seguinte até ver
seu artigo sobre a última. Então eu poderia ver qual seria a questão a ser naturalmente discutida.
Os artigos do Sr. Leavitt eram pobres, no que diz respeito ao conteúdo dos sermões. Eles
duravam em média, se me lembro bem, não menos que uma hora e quarenta e cinco minutos.
Mas tudo o que ele conseguia absorver e relatar podia ser lido provavelmente em trinta minutos.
Essas palestras foram publicadas mais tarde em um livro chamado “As palestras de Finney sobre
avivamentos.” Doze mil cópias foram vendidas, tão rápido quanto podiam ser impressas. E aqui,
para a glória de Cristo, digo que foram re-impressas na Inglaterra e França, foram traduzidas para
o galês, e no continente, para o francês, e creio eu, para o alemão. Circularam extensivamente
pela Europa, e pelas colônias da Grâ-Bretanha. Eram encontradas, presumo, em qualquer lugar
onde se fala o idioma inglês. Depois de terem sido impressas em galês, os pastores
congregacionais do País de Gales, em uma de suas reuniões públicas, nomeou um comite para
informar-me sobre o grande avivamento que resultada da tradução daquelas palestras para o
idioma galês. Fizeram isso por carta. Um editor de Londres informou-me que seu pai havia
publicado oito mil volumes. Essas palestras sobre o avivamento, sendo um relato tão pobre e
frágil por si mesmos, têm sido instrumento, pelo que soube, na realização de avivamentos na
Inglaterra, Escócia e Gales, e em vários lugares no continente, no Leste e Oeste do Canadá, na
Nova Escócia, e em algumas ilhas do mar.
Na Inglaterra e Escócia, muitas vezes renovei-me ao encontrar numerosos pastores e leigos que
haviam-se convertido, direta ou indiretamente, pela instrumentação dessas palestras. Recordo que
da última vez em que estive fora do país, certa noite, três proeminentes ministros do Evangélho
apresentaram-se a mim, depois do sermão, e disseram que quando estavam na faculdade
conheceram minhas palestras sobre o avivamento, o que acabou levando-os a se tornarem
pastores. Encontrei pessoas na Inglaterra, em todas as diferentes denominações, que não apenas
tinham lido aquelas palestras, mas também foram grandemente abençoadas com a leitura.
Quando foram publicadas pela primeira vez no Evangelista de Nova Iorque, a leitura resultou em
avivamentos religiosos, em milhares de lugares neste país a fora.
Mas isso não vinha de sabedoria humana. Que o leitor se lembre daquele longo dia de agonia e
oração no mar, que Deus faria algo para levar adiante a obra dos avivamentos, e capacitar-me-ia,
como quisesse, a seguir o caminho adequado para ajudar o trabalho a prosseguir. Tive certeza ali
que minhas orações seriam respondidas; e considero tudo que tenho sido capaz de alcançar desde
então, de uma maneira muito importante, como uma resposta às orações daquele dia. O espírito
de oração veio sobre mim como uma graça soberana, depositando-se sobre mim sem mérito
algum, e apesar de todo meu pecado. Ele pressionou minha alma em oração até que fui incapaz
de prevalecer, e pelas riquezas infinitas da graça em Cristo Jesus, tenho testemunhado por muitos
anos os maravilhosos resultados daquele dia de luta com Deus. Em resposta à agonia daquele dia,
Ele continuou a dar-me o espírito de oração.
Pouco tempo depois retornei para Nova Iorque e comecei minhas obras no Tabernáculo. O
Espírito do Senhor foi derramado sobre nós, e tivemos um precioso avivamento, durante todo o
tempo em que fui pastor daquela igreja. Enquanto estava em Nova Iorque, tinha muitos pedidos
de jovens rapazes para que me tornasse seu tutor de teologia. Contudo, eu já tinha muitas coisas
em minhas mãos para assumir um trabalho como esses. Mas os irmãos que construíram o
Tabernáculo tinham isso em mente, e prepararam uma sala sob o coral, que esperavam utilizar
para as reuniões de oração, mas em especial para palestras teológicas. O número de solicitações
era tão grande que decidi oferecer um curso de palestras teológicas naquela sala todo ano, e os
estudantes escolhidos participavam gratuitamente.
Mas nessa época, antes que eu iniciasse minhas aulas em Nova Iorque, aconteceu o encerramento
do Seminário Lake, por conta da proibição dos membros da diretoria, da discussão sobre a
questão da escravatura entre os estudantes. Quando isso aconteceu, o Sr. Arthur Tappan fez uma
proposta a mim, para que eu fosse para algum lugar em Ohio, e tomar salas onde pudesse reunir
esses rapazes, para dar-lhes minhas visões sobre teologia, e preparar-lhes para o trabalho de
pregar no Oeste, ele cobriria todas as despesas do processo. Ele foi muito sincero em sua
proposta. Mas eu não via como poderia sair de Nova Iorque, e não via como poderia alcançar os
objetivos desejados pelo Sr. Tappan, apesar de simpatizar muito com eles ao desejar ajudar
aqueles jovens homens. Em sua maioria, haviam-se convertido naqueles grandes avivamentos,
dos quais participei em parte.
Enquanto esse assunto era ponderado, creio que em janeiro de 1835, o Rev. John Jay Shiphered,
de Oberlin, e o Rev. Asa Mahan, de Cincinnati, chegaram em Nova Iorque, para me persuadirem
a ir para Oberlin, como professor de teologia. O Sr. Mahan era um dos diretores do Seminário
Lane – creio que o único que resistira à proibição de discussão livre. O Sr. Shiphered fundara
uma colônia, o organizara uma escola em Oberlin, mais ou menos um ano antes desta ocasião, e
obtivera um caráter grande o suficiente para uma universidade. O Sr. Mahan nunca estivera em
Oberlin. As árvores haviam sido removidas da praça da faculdade, alguns alojamentos e um
prédio de classes foram erguidos, e aproximadamente cem pupilos haviam sido reunidos, no
departamento preparatório ou acadêmico da instituição.
A proposta que me apresentavam era para ir, e assumir aqueles alunos que deixaram o Seminário
Lane, lecionando-lhes teologia. Esses alunos propuseram-se a ir para Oberlin, caso eu aceitasse o
convite. Esta proposta atendia as visões dos irmãos Arthur e Lewis Tappan, e muitos dos amigos
dos escravos, simpatizavam com o Sr. Tappan em seu desejo que esses jovens fossem instruídos e
trazidos para o ministério. Tivemos muitos debates sobre o assunto. Os irmãos em Nova Iorque
que estavam interessados na questão, sugeriram que eu fosse e passasse seis meses por ano em
Oberlin, para dotar a instituição no que se referia ao corpo docente, e que fosse imediatamente.
Pelo que eu entendia, os membros da diretoria do Seminário Lane passaram por cima dos reitores
da faculdade, e na ausência de vários deles, aprovaram a resolução ofensiva que levara os alunos
a irem embora. Eu disse, portanto, ao Sr. Shiphered, que não iria de forma alguma, a menos que
dois pontos fossem aceitos pelos diretores. Um era que eles jamais interfeririam com os
regulamentos internos da escola, mas deixariam isso inteiramente a cargo dos mestres. O outro,
era que seria-nos permitido receber pessoas de cor sob as mesmas condições que recebíamos
pessoas brancas, que não havieria discriminação em função de cor.
Quando essas condições foram passadas para Oberlin, os diretores foram convocados, e depois de
muita relutância para superarem seus próprios preconceitos, e o preconceito da comunidade,
aprovaram as resoluções concordando com as condições que propus. Essa dificuldade removida,
os amigos em Nova Iorque foram convocados, para ver o que podiam fazer para dotar a
instituição. Dentro de uma ou duas horas, tinham uma proposta preenchida para a contratação de
oito mestrados, tantos quanto supunha-se que a instituição precisaria por vários anos.
Mas depois que essa proposta foi enviada, senti uma tremenda dificuldade em desistir daquele
lugar admirável para pregação do Evangélho, onde tantas multidões reuniam-se sob o som de
minha voz. Também sentia-me seguro que nessa nova instituição, teríamos teríamos muita
oposição, de muitas pessoas. Então disse a Arthur Tappan que minha mente não estava calma
sobre esse assunto, que encontraríamos uma grande oposição por causa dos princípios
abolicionistas, e que podíamos esperar conseguir fundos muito escassos para a construção de
nossos prédios, e para a geração de todo o aparato necessário para uma faculdade, que portanto
eu não via que meu caminho estava aberto, afinal, para comprometer-me, a menos que algo fosse
feito para garantir-nos os fundos que eram indispensáveis.
O coração de Arthur Tappan era tão grante quanto Nova Iorque inteira, e posso até dizer, tão
grande quanto o mundo. Quando apresentei-lhe o caso dessa forma diante dele, ele disse “Irmão
Finney, minha renda pessoal média é de cem mil dólares por ano. Agora, se o senhor for para
Oberlin, e adotar aquela obra, prosseguir, cuidar para que os prédios sejam erguidos, uma
biblioteca e tudo mais seja providenciado, passarei a você toda minha renda, com a exceção do
que preciso para sustentar minha família, até que o senhor esteja além de suas necessidades
pecuniares.” Tendo absoluta confiança no irmão Tappan, eu disse “Isso eu farei. Dessa forma as
dificuldades não estão mais no caminho.”
Mas ainda assim houve uma grande dificuldade em deixar minha igreja em Nova Iorque. Nunca
tinha pensado em deixar com que meu trabalho em Oberlin interferisse com minhas obras de
avivamento e pregação. Foi acordado portanto entre eu e a igreja, que passaria meus invernos em
Nova Iorque, e meus verões em Oberlin, e que a igreja suportaria o custo de minhas idas e vindas.
Quando isso foi arranjado, peguei minha família, e cheguei em Oberlin no início de verão de
1835.
A VERDADE DO EVANGÉLHO
AS MEMÓRIAS DE CHARLES G. FINNEY
CAPÍTULO XXIV.
O INÍCIO DO TRABALHO EM OBERLIN
OS alunos do Seminário Lane vieram para Oberlin, e os diretores mandaram erguer tendas, nas
quais ficaram alojados, e outros estudantes vinham até nós de todas as direções. Depois que
comprometi-me a ir, os irmãos de Oberlin escreveram-pe, pedido que eu levasse uma grande
tenda, sob a qual realizaria minhas reuniões, já que não havia sala grande o suficiente naquele
lugar para acomodar as pessoas. Fiz esse pedido a alguns irmãos conhecidos meus, que disseram-
me para mandar fazer a tenda, pois fornecer-me-iam o dinheiro. Solicitei a tenda, e entregaram-
me o dinheiro para pagar por ela. Era uma tendar circular, de cem metros de diâmetro, fornecida
com todo o equipamento necessário para erguê-la. No topo do pilar central que sustentava a
tenda, ficava uma bandeira, sobre a qual estava escrita em letras garrafais “Santidade ao Senhor”
Essa tenda nos foi muito útil. Quando o clima permitia, erguiamo-na na praça todo domingo, e
realizávamos cultos abertos ao público, e muitos de nossos cultos iniciais foram realizados nela.
Era usada, também até certo ponto, para realizar reuniões prolongadas na região e vizinhança,
onde não haviam igrejas grandes o suficiente para a acomodação do povo.
Falei sobre a promessa de Arthur Tappan de sustentar-nos com suas finanças, com toda sua
renda, até que estivéssemos além das necessidades financeiras. Mediante a esse acordo com ele,
ingressei no trabalho. Mas mais adiante foi acordado entre nós que sua oferta não deveria ser
conhecida aos diretores, a menos que falhassem em fazer os esforços necessários, como ele
desejava, não meramente coletar fundos, mas fazer as necessidades e objetivos da instituição
conhecidos pelo país a fora. De acordo com esse entendimento, a obra qui foi levada até onde
pôde ser, considerando que estávamos no coração de uma grande floresta, e numa localização,
indesejável sob muitos aspectos, na época.
Acabávamos de começar as obras de construção de nossos edifícios, e já precisávamos de uma
grande quantia de dinheiro, quando a grande depressão comercial atingiu o Sr. Tappan, e quase
todos os homens que haviam prometido fundos para o sustento dos professores. A depressão
atravessou o país, e abalou uma grande massa de homens ricos. Deixou-nos não somente sem
nenhum fundo para o sustento do corpo docente, mas também com uma dívida de trinta mil
dólares, sem qualquer esperança, que pudéssemos ver, de obter o capital dos amigos da faculdade
neste país. O Sr. Tappan escreveu-me nessa época, reconhecendo abertamente a promessa que
fizera, e expressando a mais profunda angústia por estar quase falido, e totalmente incapaz de
cumprir sua oferta. Nossas necessidades eram então muito grandes, e aos olhos humanos a
faculade parecia ser uma derrota.
A grande maioria do povo em Ohio era totalmente oposta a nossa instituição, por causa de seu
caráter abolicionista. As cidades ao nosso redor eram hostis a nossa movimentação, e em alguns
lugares ameaças de destruição de nossos prédios foram feitas. Uma legislação democrática
estava, enquanto isso, esforçando-se para abraçar alguns de nós, o que permitiria-lhes abrogar
nosso caráter. Nessa situação havia, é claro, um grande clamor a Deus em meio ao povo.
Enquanto isso, minhas palestras sobre o avivamento circulavam extensivamente na Inglaterra, e
sabíamos que o público britânico simpatizaria muito conosco se soubessem de nossos objetivos,
nossas esperanças, e nossa condição. Enviamos portanto um comitê para a Inglaterra, composto
pelo Rev. John Keep e o Sr. William Dawes, obtendo para eles cartas de recomendação, e
expressões de confiança em nossa empresa, de alguns dos principais abolicionistas do país. Eles
foram para a Europa, e apresentaram nossos objetivos e necessidades ao povo britânico, que
respondeu generosamente, dando-nos seis mil libras esterlinas. Isso praticamente quitou nossas
dívidas.
Nossos amigos, espalhados pelos estados do norte, que eram abolicionistas e simpatizantes dos
avivamentos, generosamente ajudaram-nos dentro de suas possibilidades. Mas tivemos que
pelejar com a pobreza e muitas provas, ao longo de muitos anos. Algumas vezes não sabíamos,
dia após dia, como seríamos sustentados. Mas com a benção de Deus, servimo-nos a nós mesmos,
com o melhor que podíamos.
Certa vez, vi que não tinha recurso algum para sustentar minha família durante o inverno. O dia
de Ação de Graças chegou, e vimo-nos tão pobres que fui obrigado a vender meu baú de viagens,
que usara em minhas obras evangelísticas, para suprir no lugar de uma vaca que eu havia perdido.
Levantei-me na manhã daquele dia, e apresentei nossas necessidades diante do Senhor. Concluí
dizendo que, se a ajuda não viesse, eu entenderia que deveria ser assim, e ficaria completamente
satisfeito com qualquer caminho que o Senhor sabiamente seguisse. Saí e fui pregar, e aproveitei
minha própria pregação, creio eu, como jamais havia antes. Tive um dia abençoado para minha
própria alma, e pude ver que as pessoas gostaram muito.
Depois de reunião, fiquei ainda um tempo entretido na conversa com alguns irmãos, e minha
esposa voltou para casa. Quando cheguei ao portão, ela estava de pé com a porta aberta, com uma
carta em sua mão. Conforme aproximei-me, ela disse sorrindo “A resposta veio, meu querido” e
entregou-me a carta, contendo um cheque do Sr. Josiah Chapin de Providence, um cheque de
duzentos dólares. Ele estivera aqui no último verão, com sua esposa. Eu não havia dito nada
sobre minhas necessidades, pois não tinha o hábito de mencioná-las para ninguém. Mas na carta
que tinha o cheque, ele dizia que soubera sobre a falência do fundo dos professores, e que eu
precisava de ajuda. Contou também que eu poderia esperar por mais, de tempos em tempos. Ele
continuou a me enviar seiscentos dólares por ano, por muitos anos, e com esse dinheiro,
conseguimos sobreviver.
Eu deveria ter dito que, de acordo com meu arranjo em Nova Iorque, eu passava meus verões em
Oberlin, e invernos em Nova Iorque, por dois ou três anos. Tínhamos um abençoado avivamento,
sempre que eu voltava para pregar ali. Também tínhamos um avivamento contínuo aqui.
Pouquíssimos estudantes ficaram sem se converter na época. Mas em virtude de minha saúde,
logo descobri que deveria desistir de um desses campos de trabalho. Mas os interesses
relacionados à faculdade pareciam proibir-me totalmente de deixar Oberlin. Pedi, portanto,
dispensa de minha igreja em Nova Iorque, e os meses de inverno que deveria passar naquela
cidade, comecei a passar em vários lugares, para promover avivamentos religiosos.
As palestras sobre avivamentos religiosos foram pregadas enquanto eu ainda era pastor da igreja
Presbiteriana na capela da rua Chatham. Nos dois invernos seguintes, dei palestras para cristãos
no Tabernáculo da Broadway, as quais também foram relatadas pelo Sr. Leavitt e publicadas no
Evangelista de Nova Iorque. Essas também foram publicadas em um livro neste país e na Europa.
Aqueles sermões para cristãos foram basicamente o resultado de uma pesquisa que se passava
dentro de minha própria mente. Quero dizer que o Espírito de Deus mostrava-me muitas coisas,
no que diz respeito à questão da santificação, que levaram-me a pregar tais sermões específicos
para cristãos.
Muitos irmãos consideraram aquelas pregações mais como uma exibição da Lei, do que do
Evangélho. Mas eu não as considerava, e não as considero, assim. Para mim a Lei e o Evangélho
têm apenas uma regra de vida, e qualque violação do espírito da Lei é também uma violação do
espírito do Evangélho. Mas há muito tempo sou convencido de que as mais altas formas de
experiência cristã são alcançadas somente como um resultado de uma terrível e minuciosa
aplicação da Lei de Deus à consciência e ao coração humanos. Os resultados de minhas obras até
então, mostravam-me de forma mais clara do que nunca, a grande impiedade dos cristãos, e que
os membos mais velhos da igreja, em geral, progrediam muito pouco na graça. Vi que eles
sairíam do estado de avivamento, até mesmo antes dos convertidos mais novos. Foi assim no
avivamento em que eu me converti. Vi claramente que isso devia-se a seus primeiros
ensinamentos, ou seja, às visões nas quais foram levados a acreditar quando eram jovens
convertidos.
Também fui levado a uma grande insatisfação com minha própria necessidade de estabilidade na
fé e no amor. Para ser transparente, e contar a verdade, devo dizer, para o louvor da graça de
Deus, que Ele não me permitiu recair, não da mesma forma, que cristãos manifestadamente
recaíam. Mas muitas vezes senti-me fraco diante da tentação, e precisei freqüentemente realizar
dias de jejum e oração, e gastar muito tempo examinando minha própria vida religiosa, a fim de
manter aquela comunhão com Deus, e apegar-me à força divina, que capacitar-me-ia a trabalhar
com eficiência na promoção de avivamentos religosos.
Ao contemplar o estado da igreja cristã, como me fora revelado em minhas obras de avivamento,
fui levado a questionar sinceramente sobre a possibilidade de haver algo maior e mais durável do
que aquilo que a igreja cristã tinha consciência, se não haviam promessas e meios apresentados
no Evangélho, para o estabelecimento dos cristãos em uma forma mais elevada de vida cristã. Eu
sabia algumas coisas sobre a visão de santificação defendida por nossos irmãos metodistas. Mas
como a idéia deles de santificação a mim parecia relacionar-se sempre com estados de
sensibilidade, eu não podia aceitar seu ensinamento. Contudo, entreguei-me a uma pesquisa
minuciosa das Escrituras, e a ler tudo que viesse parar em minhas mãos sobre o assunto, até
minha mente estar convencida de que uma forma mas alta e estável de vida cristã era alcançável,
e era privilégio de todos os cristãos.
Isso me levou a pregar no Tabernáculo da Broadway, dois sermões sobre a perfeição cristã. Esses
sermões estão agora incluídos no livro de palestras pregadas para cristãos. Neles, eu defini o que
é a perfeição cristã, e esforcei-me para mostrar que é algo alcançável nesta vida, e o sentido no
qual podemos alcançá-la. Nessa época, a questão da perfeição cristã, no sentido antinomio do
termo, trouxe bastante agitação à New Haven, Albany, e até mesmo na cidade de Nova Iorque.
Eu examinei essas opiniões, como foram publicadas no periódico entitulado “O Perfeccionista”.
Mas não pude aceitá-las. Ainda assim, estava convencido de que a doutrina de santificação nesta
vida, e santificação plena, no sentido de que era privilégio do cristão viver sem pecado
conhecido, era uma doutrina ensinada pela bíblia, e que abundantes meios eram oferecidos para
assegurar que conseguíssemos isso.
No último inverno que passei em Nova Iorque, o Senhor agradou-se em visitar minha alma com
um grande refrigério. Depois de um período de busca de coração, Ele me levou, como já o fez
várias vezes, a um lugar maior, dando-me muito daquela divina doçura em minha alma, da qual o
Presidente Edwards fala por experiência própria. Naquele inverno eu tive um quebrantamento
absoluto, tanto que às vezes, por um período considerável, eu não conseguia parar de chorar alto,
em vista de meus próprios pecados, e do amor de Deus em Cristo. Momentos como esse foram
freqüentes naquele inverno, e resultaram numa grande renovação de minhas forças espirituais, e
na ampliação de minhas visões no que diz respeito aos privilégios dos cristãos, e da abundância
da graça de Deus.
É sabido que minhas visões sobre a questão da santificação têm sido alvo de muitas críticas. Para
ser fiel à história, devo dizer algumas coisas que em outras circunstâncias deixaria passar em
silêncio. A Faculdade Oberlin foi estabelecida pelo Sr. Shipherd, grandemente contra os
sentimentos e desejos dos homens mais preocupados em construir a Faculdade da Reserva
D’Oeste, em Hudson. O Sr. Shipherd certa vez informou-me que o principal agente fincanceiro
da faculdade, assegurou-lhe que iria fazer tudo que pudesse para derrubar esta faculdade. Logo
que souberam, em Hudson, que eu havia recebido um convite de Oberlin, como professor de
teologia, a diretoria elegeu-me como professor de teologia pastoral e eleqüência sagrada, na
Faculdade da Reserva D’Oeste, de forma que eu tinha dois convites ao mesmo tempo. Não me
comprometi, por escrito, com nenhuma das duas, mas fui conhecer o território, para então me
decidir.
Naquela primavera, a assembléia geral da igreja Presbiteriana reuniu-se em Petesburgo. Quando
eu cheguei a Cleveland, fui informado de que dois dos professores de Hudson, esperavam por
minha chegada naquela cidade, planejando que eu fosse primeiro, a qualquer custo, para Hudson.
Mas atrasei-me no Lago Erie por causa de ventos adversos, e os irmãos que esperavam por mim
em Cleveland haviam partido para estarem na abertura da assembléia geral, deixando um recado
com um irmão, para que encontrasse-me quando eu chegasse, e a qualquer custo, levasse-me para
Hudson. Mas em Cleveland, encontrei uma carta a minha espera, do Sr. Arthur Tappan, de Nova
Iorque. De alguma forma, ele soubera do fato de que muitos esforços estavam sendo feitos para
que eu fosse induzido a ir para Hudson, ao invés de Oberlin.
A faculdade em Hudson, na época, tinha seus edifícios e aparatos, reputação e influência, e já
estava estabalecedida como uma faculdade. Oberlin não tinha nada. Não tinha prédios
permanentes, e era composta por uma pequena colônia assentada no meio da mata, e apenas
começara a construir suas próprias casas, e a derrubar a imensa floresta, para abrir espaço para
uma faculdade. Ela tinha, com certeza, seu alvará, e talvez cem alunos na região, mas tudo ainda
tinha que ser feito. Essa carta do irmão Tappan fora escrita para alertar-me para que não
supusesse que seria um intrumento em Hudson, para assegurar o que desejávamos fazer em
Oberlin.
Deixei minha família em Cleveland, aluguei um cavalo e carroça, e fui para Oberlin, sem ir a
Hudson. Pensei que poderia pelo menos ver Oberlin primeiro. Quando cheguei a Elyria, encontrei
alguns velhos conhecidos ali, de Nova Iorque. Eles me contaram que a diretoria da Faculdade da
Reserva D’Oeste pensava que, se pudesse assegurar minha presença em Hudson, isso pelo menos
prejudicaria bastante Oberlin, e que em Hudson havia uma influência tradicionalista forte o
suficiente para compelir-me à submissão a suas visões e métodos de ação. Isso estava
precisamente de acordo com a informação que eu havia recebido do Sr. Tappan.
Fui para Oberlin e vi que não havia nada que impedisse a construção de uma faculdade, nos
princípios que a mim pareciam não apenas se basearem na fundação de todo o sucesso no
estabelecimento de uma faculdade aqui no Oeste, mas também em princípios de reforma, tais
quais eu sabia que eram guardados nos corações daqueles que haviam-se comprometido a apoiar
a construção da Faculdade Oberlin. Os irmãos da região eram fervorosamente a favor da
construção de uma escola de princípios radicais sobre a reforma. Então, escrevi uma cara para a
diretoria de Hudson, recusando seu convite, e mudei-me para Oberlin. Não tive nada de mau a
dizer sobre Hudson, e não soube de nada mau sobre eles.
Depois de um ou dois anos, o grito de perfeccionismo antonimio foi ouvido, e isso trouxe
acusações sobre nós. Cartas foram escritas, corpos eclesiásticos foram visitados, e muitos
esforços foram feitos para que nossas visões aqui fossem apresentadas como hereges. Tais
apresentações foram feitas a corpos eclesiásticos por todo o país, levando muitos deles a
aprovarem resoluções, previnindo as igrejas contra a influência teológica de Oberlin. Parecia
haver uma união geral de influência ministerial contra nós. Aqui, entendíamos muito bem o que
começara tudo isso, e como toda essa agitação levantara-se. Mas nada dissemos. Não tivemos
controvérsia alguma com aqueles irmão que, tinhamos consciência, esforçavam-se para gerar um
sentimento público tão grande contra nós. Não devo entrar em detalhs, mas cabe dizer que as
armas formadas contra nós, reagiram de forma mais desastrosa contra aqueles que as geraram, até
o ponto de haver uma mudança em quase todos os membros da diretoria e dos professores, em
Hudson, e a administração geral da faculdade caiu em outras mãos.
Eu raramente ouvi dizer qualquer coisa em Oberlin, naquela época, contra Hudson, ou em
qualquer outra época depois. Concentravamo-nos em nossos próprios negócios, e sentíamos que
em respeito à oposição daquele quadrante, nossa força estava em ficarmos quietos em nosso
canto, e não seríamos confundidos. Tínhamos confiança de que não era plano de Deus que a
oposição prevalecesse. Quero ser distintamente entendido, que não tenho consciência alguma de
que qualquer um dos atuais líderes e administradores daquela faculdade, simpatizaram o que foi
feito naquela época, ou mesmo que saibam o curso que foi tomado naquela ocasião.
Os ministros, de longe e de perto, levaram sua oposição ao extremo. Naquela época, uma
convenção foi chamada para reunir-se em Cleveland, para discutir o assunto da educação no
Oeste, e o apoio às faculdades do Oeste. O chamado fora tão comentado que saímos de Oberlin,
esperando participar dos procedimentos da convenção. Quando chegamos lá, encontramos o Dr.
Beecher, e logo vimos que alguns dos procedimentos caminhavam para que os irmãos de Oberlin
e todos aqueles que com eles simpatizassem, fossem excluídos da convenção. Então, eu fui
proibido de assistir à convenção como membro, mas mesmo assim, participei de muitas de suas
sessões. Recordo-me de ter escutado distintamente um dos pastores dos arredores dizer que ele
considerava as influências das doutrinas de Oberlin piores do que as do Catolicismo Romano.
Aquele foi um discurso representativo, e parecia ser sobre o ponto de vista defendido por aquela
instituição. Mas de maneira nenhuma, generalizada. Alguns de seus membros, que haviam sido
educados em teologia em Oberlin estavam tão relacionados com as igrejas e com a convenção,
que foram admitidos como participantes, vindos de todas as partes do país. Tais irmãos
defenderam grandemente os princípios e práticas de Oberlin, sempre que eram questionadas. O
objetivo da convenção era evidentemente encurralar e esmagar-nos, por um sentimento público
que nos privaria de todo apoio. Mas deixe-me ser distintamente claro ao dizer que não culpo em
nada os membros daquela convenção, talvez apenas alguns deles, pois eu sabia que haviam sido
levados a isso, e agiam sob uma terrível má compreensão dos fatos. O líder daquela convenção
era o Dr. Lyman Beecher.
A política que adotamos foi a de deixar a oposição em paz. Preocupávamo-nos com nossos
próprios negócios, e sempre tivemos tantos alunos quanto pudemos. Estávamos sempre ocupados
com o trabalho, e sempre muito encorajados em nossos esforços.
Poucos anos depois da reunião dessa convenção, um dos principais pastores que ali estavam, veio
passar um ou dois dias em nossa casa. Entre outras coisas, ele me disse “Irmão Finney, Oberlin é
para nós uma maravilha admirável. Há muitos anos estou ligado a uma faculdade como um de
seus professores. A vida e princípios universitários, e as condições sob as quais as faculdades são
erguidas são muito familiares para mim. Sempre pensamos que as faculdades não pudessem
existir a menos que fossem protegidas pelo ministério. Sabíamos que jovens prestes a irem para a
universidade geralmente consultariam seus pastores para que ajudassem na escolha, e guiar-se-
iam por seus julgamentos. Agora,” disse ele, “quase todos os pastores uniram-se contra Oberlin.
Foram enganados pelo clamor do perfeccionismo antonímio, e no que diz respeito à suas visões
de reforma; e por isso os corpos eclesiásticos se uniram, de todas as partes, Congregacionais,
Presbiterianos, e de todas as denominações. Alertaram suas igrejas contra vocês, desencorajaram
todos os jovens a virem para Oberlin, e ainda assim o Senhor os tem levantado. Vocês têm sido
sustentados com fundos monetários mais do que qualquer outra faculdade no Oeste, têm tido de
longe muito mais alunos, e a benção de Deus tem estado sobre vocês, para que seu sucesso seja
maravilhoso. Agora, isso é uma perfeita anomalia na história das faculdades. Os opositores a
Oberlin não têm sido apoiados, e Deus está ao seu lado, sustentando-os ao atravessar toda essa
oposição, de maneira que quase não a sentiram.”
É difícil agora para as pessoas, idealizar a oposição que enfrentamos, logo que estabelecemos
esta faculdade. Como ilustração, e como um caso representante, relatarei um caso hilário que
ocorreu na mesma época desses outros fatos sobre os quais tenho comentado. Tive a
oportunidade de ir para Akron, para pregar num domingo. Fui com um cavalo e carroça. No
caminho, depois da vila de Medina, observei na estrada diante de mim, uma mulher andando com
um pequeno fardo em suas mãos. Conforme aproximei-me, percebi que era uma senhora, bem
vestida, mas andando com uma certa dificuldade, creio eu que por causa de sua idade. Quando
cheguei até ela parei o cavalo e perguntei-lhe até onde iria na estrada. Ela me disse, então
perguntei se ela não aceitaria uma carona em minha carroça. Ela respondeu “Ó, ficaria muito
grata por uma carona, pois ainda tenho uma longa caminhada pela frente”.Ajudei-a a subir na
carroça e prossegui. Descobri que ela era uma senhora muito inteligente, muito livre e à vontade
ao conversar.
Depois de cavalgar por uma certa distância, ela disse “Poderia saber a quem devo este favor?” Eu
disse a ela quem era. Ela então perguntou de onde eu vinha. Disse-lhe que vinha de Oberlin. Essa
notícia a chocou. Ela fez um movimento como se afastasse de mim o máximo que pudesse e
olhando seriamente para mim disse “De Oberlin! Oras, nosso pastor disse que preferiria mandar
seu filho para a prisão estadual do que para Oberlin!” É claro que eu sorri e aliviei os temores
daquela senhora, se é que tinha algum, e a fiz compreender que não corria perigo algum comigo.
Relato isso simplesmente como uma ilustração do espírito que prevalecia por todos os lados
quando esta faculdade foi estabelecida. Falsas representações e temores abundavam país a fora,
por quase todos os cantos dos Estados Unidos.
No entanto, havia um grande número de leigos, e um considerável número de pastores, num
geral, em diferentes partes do país, que não tinham confiança alguma nessa oposição, que
simpatizavam com nossas metas, visões, esforços, e que apoiaram-nos forte e firmemente; e ao
saber, como souberam, das dificuldades pelas quais passávamos em função dessa oposição,
doavam de seu dinheiro e influência para ajudar-nos a prosseguir.
Já comentei sobre o Sr. Chapin, de Providence, sobre como enviou-me seiscentos dólares por
ano, durante vários anos; dinheiro que sustentou minha família. Quando já fizera por tanto tempo
quanto achava que era seu dever, e de fato, ele o fizera até que dificuldades financeiras fizeram
com que essa prática fosse inconveniente, o Sr. Willard Sears, de Boston, assumiu seu lugar, e
por vários anos supriu-me com a mesma quantia, anual, que o Sr. Chapin enviava. Enquanto isso,
esforços contínuos eram feitos para conseguir o sustento dos outros membros do corpo docente, e
pela graça de Deus, superamos a tribulação. Depois de poucos anos o medo, em certo nível,
esvaiu-se.
O Presidente Mahan, Prof. Cowles, Prof. Morgan e eu, lançamos uma publicação sobre o assunto
da santificação. Estabelecemos um periódico, o Evangelista de Oberlin, e mais tarde, O
Trimestral de Oberlin, nos quais esclarecíamos ao público, em grande parte, quais eram nossas
reais visões. Em 1846, publiquei dois livros sobre Teologia Sistemática, e nessa obra, discuti o
assunto de santificação plena, de forma mais ampla. Depois de esta obra ter sido publicada, ela
foi revisada por um comitê do Presbitério de Tróia, em Nova Iorque. Então o Dr. Hodge, de
Princeton, publicou no Repertório Bíblico, uma extensiva crítica à minha teologia. A partir dos
pontos de vista dos tradicionais. Então o Dr. Duffield, da Igreja Presbiteriana Renovada, que
morava em Detroit, também fez uma crítica, abertamente do ponto de vista renovado. A essas
diferentes revisões, publiquei réplicas, conforme apareciam, e por muitos anos passados, até onde
sei, nenhuma disposição tem se mostrado para que nossa ortodoxia seja contestada.
Até aqui, narrei os principais fatos ligados ao estabelecimento e lutas da escola em Oberlin, até
onde são de meu conhecimento. E por ser o professor de teologia, a oposição teológica era
direcionada, é claro, principalmente para mim, o que levou-me, pela necessidade, a falar mais
livremente de minhas relações com o todo, algo que em outras circunstâncias, eu não teria feito.
Mas que eu não seja mal entendido. Não digo que os irmãos que assim se opuseram foram vis em
sua oposição. Sem dúvidas, a grande maioria deles foi erroneamente levada a isso, e agiram de
acordo com suas visões do que era certo, de acordo com seu entendimento.
Devo dizer, pela honra da graça de Deus, que nenhuma oposição que encontramos abalou nosso
espírito aqui, ou nos perturbou, a ponto de levar-nos a um espírito de controvérsia ou
ressentimentos. Estávamos bem conscientes das dores que haviam sido tomadas para que tais
mal-entendidos acontecessem, e compreendíamos facilmente como era, que éramos o oposto, em
espírito e maneiras, do que éramos acusados.
Durante esses anos de fumaça e poeira, de apreensões e oposições vindas de fora, o Senhor
abençoava-nos ricamente aqui dentro. Prosperamos não somente em nossas próprias almas aqui,
como uma igreja, mas tínhamos um avivamento contínuo, ou vivíamos, no que pode ser
devidamente considerado como um estado de avivamento. Nossos alunos convertiam-se às
pencas, e o Senhor nos escondia continuamente à sombra de Sua nuvem de misericórdia. Um
vendaval de influência divina varria nosso meio de ano em ano, produzindo abundantemente o
fruto do Espírito, amor, gozo, paz, longanimidade, benignidade, bondade, fé, mansidão,
temperança.
Sempre atribuí nosso sucesso nesta boa obra inteiramente à graça de Deus. Não foi sabedoria ou
bondade alguma de nossa parte que alcançou este sucesso. Nada além de uma contínua influência
divina, infiltrando-se na comunidade, sustentando-nos sob nossas provações, e mantendo-nos em
uma atitude mental que fez-nos capazes de sermos eficientes nas responsabilidades que havíamos
assumido. Sentimos sempre que se o Senhor nos houvesse privado de Seu Espírito, nenhuma
circunstância exterior poderia nos dar verdadeira prosperidade.
Mesmo em nosso meio tivemos provas. Assuntos freqüentes de discussão pública surgiram, e
algumas vezes passamos dias, e até mesmo semanas, discutindo grandes questões de dever e
expediência, nas quais não absolutamente não concordávamos. Mas nenhuma dessas questões
chegou a causar uma divisão entre nós. Nosso princípio sempre foi o de concordar em discordar
em nossos julgamentos particulares. Geralmente alcançamos uma concordância substancial em
assuntos nos quais discordávamos, e quando víamos que não haveria acordo algum, a minoria
submetia-se ao julgamento da maioria e a mera idéia de dividir a igreja por causa de nossas
visões diferenciadas jamais foi considerada por nós. Preservamos extensivamente a unidade do
Espírito na união da paz, e talvez não haja uma comunidade que exista a tanto tempo, que tenha
passado por tantas mudanças e desafios quanto passamos, que tenha num geral mantido um
espírito maior de harmonia, paciência cristã e amor fraternal.
Quando a questão da santificação plena surgiu pela primeira vez aqui para discussão pública, e
quando o assunto atraiu pela primeira vez a atenção da igreja, estávamos no meio de um poderoso
avivamento. Quando esse caminhava cheio de esperança, certo dia o Presidente Mahan pregava
com um minucioso discurso. Percebi que no desenrolar de sua palestra, deixara um ponto sem ser
mencionado, que a mim parecia ser muito importante nesse assunto. Ele sempre perguntava-me,
ao encerrar seu sermão, se eu tinha algum comentário a fazer, e assim o fez nesta ocasião.
Levantei-me e apontei o aspecto que ele omitira. Era a distinção entre o desejo e a vontade. A
partir da linha de raciocínio que ele havia apresentado, e pela atitude que percebi em meio à
congregação naquele momento, vi, ou achei que tivesse visto, que a apresentação dessa diferença,
nesse exato instante, traria muita luz à questão de que eram ou não cristãos, se eram pessoas
realmente consagradas, ou se apenas tinham meros desejos e não vontade de fato de obedecer a
Deus.
Quando essa diferença foi esclarecida, naquela exata conexão, recordo-me que o Espírito Santo
derramou-se sobre a congregação de forma admirável. Um grande número de pessoas abaixou a
cabeça, e alguns gemiam de forma a serem ouvidos por todo o templo. Isso cortou as falsas
esperanças de professores por todos os lados. Muitos se levantaram imediatamente, dizendo que
até então estavam enganados, e que agora podiam ver. Isso se estendeu de tal forma que me
espantei grandemente, e de fato, gerou uma grande surpresa, creio eu, na congregação.
A obra continuou com poder, e velhos professores ganharam novas esperanças, ou converteram-
se novamente, e eram tantos que uma mudança muito grande e importante veio sobre toda a
comunidade. O Presidente Mahan fora grandemente abençoado, entre outros, com alguns de
nossos professores. Ele claramente entrou em uma forma plenamente nova de experiência cristã,
naquela época.
Em uma reunião poucos dias depois disso, um de nossos alunos de teologia se levantou e lançou
a pergunta se o evangelho não fornecia aos cristãos, todas as condições de uma estabelecida fé,
esperança e amor, se não havia algo melhor e maior do que os cristãos haviam experimentado em
geral, em suma, se a santificação não seria inatingível nesta vida, ou seja, a santificação no
sentido de que os cristãos teriam uma paz inabalável, e não cairiam em condenação, ou não
teriam o sentimento de condenação ou uma consciência de pecado. O Irmão Mahan respondeu
imediatamente “Sim”. O que aconteceu nessa reunião trouxe a questão da santificação de forma
proeminente diante de nós, como uma questão prática. Não tínhamos teorias sobre o assunto,
nenhuma filosofia a defender, mas simplesmente considerávamos como uma questão bíblica.
Nesta forma ela existiu entre nós, como uma verdade experimental, a qual não tentávamos
reduzis a uma fórmula teológica, nem sequer tentávamos explicar sua filosofia, até muitos anos
mais tarde. Mas a discussão dessa questão nos foi uma grande benção, e também para um grande
número de alunos nossos, que hoje encontram-se espalhados em várias partes do país, ou fora
como missionários em diferentes partes do mundo.

A VERDADE DO EVANGELHO
AS MEMÓRIAS DE CHARLES G. FINNEY
CAPÍTULO XXV.
OBRAS EM BOSTON E PROVIDENCE
ANTES de voltar a minhas recordações de avivamentos, a fim de dar uma noção da relação das
coisas, devo falar um pouco mais sobre o progresso do movimento anti-escravatura, ou
abolicionista, não somente em Oberlin, mas também em outros lugares, conforme ligados às
obras das quais participei. Já falei sobre o estado da opinião pública sobre esse assunto, por todos
os lados ao nosso redor, e mencionei que até a legislação do estado, naquela época democrático,
esforçava-se para encontrar algum pretexto para reclamar nosso alvará, por causa de nossos
sentimentos e atos abolicionistas. Primeiro declararam por todos os lados que pretendíamos
encorajar casamentos entre alunos negros e brancos, e até mesmo compeli-los a uniões inter-
raciais, e que nosso objetivo era introduzir um sistema universal de miscigenação. Um pequeno
fato ilustrará o sentimento que havia entre as pessoas da vizinhança. Tive a oportunidade de
cavalgar por alguns quilômetros, logo que chegamos, para ir visitar um fazendeiro por um certo
motivo. Ele parecia muito desconfiado e mal-humorado, quando descobriu quem eu era e de onde
vinha, e confessou-me que não queria nenhum envolvimento com as pessoas de Oberlin, que
nosso objetivo era trazer a amalgamação das raças, e compelir estudantes brancos e negros a
casarem uns com os outros, que também pretendíamos unificar a igreja e o Estado, e que nossas
idéias e projetos eram todos revolucionários e abomináveis. Ele realmente acreditava nisso. Mas
a coisa era tão ridícula, que eu sabia que se tentasse responder seriamente, acabaria gargalhando
em sua cara.
Tivemos motivos, nos primeiros dias, para temer que uma gang de uma cidade vizinha viria e
destruiria nossos prédios. Mas não muito tempo depois de chegarmos, ocorreram situações que
geraram uma reação na opinião pública. Este lugar tornou-se um dos pontos da linha de ferro
subterrânea, como é chamada desde então, onde escravos fugitivos, a caminho do Canadá,
refugiavam-se por um ou dois dias, até que o caminho estivesse livre para que prosseguissem.
Muitos casos ocorreram nos quais esses fugitivos eram perseguidos por donos de escravos, e um
clamor público foi levantado, não somente nesta vizinhança, mas também nas cidades próximas,
por suas tentativas de levarem os escravos de volta à escravidão. Os caçadores de escravos não
tinham a simpatia do povo, e cenas como essas logo causaram ressentimento nas cidades
circunvizinhas, começando, e começaram a gerar reações. Isso levou fazendeiros e pessoas ao
nosso redor a estudar mais de perto nossos objetivos e pontos de vista, e nossa escola logo
tornou-se conhecida e querida, o que resultou em um estado de confiança total e sentimentos
bons entre Oberlin e toda a região.
Enquanto isso, a agitação sobre o assunto da escravidão era grande nas cidades do Leste, bem
como no Oeste e no Sul. Nosso amigo, o Sr. Willard Sears, de Boston, enfrentava uma
tempestade de oposição lá. E a fim de abrir caminho para uma discussão livre sobre esse assunto
em Boston, e para o estabelecimento de uma adoração religiosa, onde um púlpito estaria aberto
para a livre discussão de todas as grandes questões da reforma, ele havia comprado o hotel
Marlborough na rua Washington, e ligara a ele uma grande capela para adoração pública e
reuniões sobre a reforma, que não conseguiam encontrar abertura em nenhum outro lugar. Isso,
ele fizera com muito custo. Em 1842, fui fortemente pressionado a ir ocupar a capela
Marlborough, pregando por alguns meses. Fui e comecei minhas obras, pregando com todas as
minhas forças por dois meses. O Espírito do Senhor foi imediatamente derramado e havia uma
agitação geral em meio aos ossos secos. Eu recebia visitas em meus aposentos quase que
constantemente, durante todos os dias da semana, da parte de pessoas que tinham dúvidas, vindas
de todos os cantos da cidade, e muitos ganhavam esperança a cada dia.
Nessa época, o Presbítero Knapp, o famoso promotor batista de avivamentos, estava trabalhando
em Providence, sob forte oposição. Ele foi convidado pelos irmãos batistas em Boston para ir
trabalhar ali. Portanto, ele deixou Providence e foi para Boston. Na mesma época, o Sr. Josiah
Chapin e muitos outros insistiam muito para que eu fosse realizar reuniões em Providence.
Sentia-me muito endividado com o Sr. Chapin pelo que ele fizera por Oberlin, e por mim em
particular. Era uma grande prova para mim, deixar Boston, nesse momento. Contudo, depois de
encontrar-me com o irmão Knapp e informa-lo sobre toda a situação, fui embora, para
Providence. Esse foi o momento do grande avivamento em Boston. Um avivamento que
prevaleceu de forma maravilhosa, especialmente em meio aos batistas, e mais ou menos por toda
a cidade. Os pastores batistas abraçaram a causa juntamente com o irmão Knapp, e muitos irmãos
congregacionais foram grandemente abençoados, e a obra foi muito grande.
Enquanto isso, comecei meus trabalhos em Providence. A obra começou quase que
imediatamente, e o interesse crescia visivelmente dia após dia. Muitos casos de conversões
impactantes aconteceram, entre eles, havia um senhor de idade cujo nome não me recordo. Seu
pai fora um Juiz do supremo tribunal em Massachusetts, se não me engano, muitos anos antes.
Este velho senhor morava não muito longe da igreja onde eu realizava as reuniões, na rua High.
Depois de algum tempo de funcionamento da obra, observei um cavalheiro de aparência distinta
entrar na reunião, e prestar muita atenção na pregação. Meu amigo, o Sr. Chapin, notou-o
imediatamente, informou-me quem ele era, e quais eram suas visões religiosas. Ele disse que o
senhor jamais tivera o hábito de participar de reuniões religiosas, e expressou grande interesse
nele e no fato de ter comparecido à nossa reunião. Percebi que ele continuava a vir, noite após
noite, e pude facilmente observar, como já imaginava, que sua mente estava muito agitada, e
profundamente interessada no assunto da religião.
Certa noite a encerrar meu sermão, esse cavalheiro se levantou, e perguntou-me se poderia dizer
algumas palavras à congregação. Respondi que sim. Ele então falou conforme segue: “Meus
amigos e vizinhos, vocês estão provavelmente surpresos ao verem-me participar dessas reuniões.
Vocês sabem de minhas céticas idéias, e que não tenho o hábito de participar de reuniões
religiosas há muito tempo. Mas ao escutar sobre a situação nesta congregação, vim até aqui, e
desejo tornar sabido a meus amigos e vizinhos que acredito que a pregação que temos ouvido,
noite após noite, é o evangelho. Mudei minha mente, acredito que isso seja a verdade, e o
verdadeiro caminho para a salvação. Digo isso para que vocês entendam minha real motivação
para vir aqui, que não é a de criticar e encontrar falhas, mas de atentar para a grande questão da
salvação, e encorajar outros a também atentarem a ela.” Isso, ele disse com muita emoção, e
assentou-se.
Havia uma sala muito grande de escola dominical no porão da igreja. O número de pessoas com
dúvidas sobre a salvação também cresceu muito, e a congregação estava lotada demais para que
esses fossem chamados à frente, como eu já havia feito em outros lugares, portanto, pedi-lhes que
descessem, após a benção ter sido proferida, para a classe no andar inferior. A classe era quase
tão grande quanto a nave da igreja, e comportava aproximadamente o mesmo número de pessoas,
sem contar a galeria. A obra cresceu, e espalhou-se por todos os lados da cidade, até que o
número de questionadores tornou-se tão grande, juntamente com os jovens convertidos que
estavam sempre prontos a descer com eles, a ponto de lotar aquele salão. A cada noite, depois da
pregação, aquela sala enchia-se de regozijantes jovens convertidos, e temerosos pecadores e
questionadores. Esta situação estendeu-se por dois meses. Eu então estava, ou imaginava estar,
completamente esgotado, tendo trabalhado incessantemente por quatro meses, dois em Boston, e
dois em Providence. Além disso, chegara, ou estava para chegar, a época do ano em que
começariam as aulas em Oberlin. Portanto, peguei minha dispensa de Providence, e parti para
casa.
Houve um fato ocorrido em Boston que, creio eu, é meu dever relatar. Uma mulher Unitária que
convertera-se naquela cidade, que era conhecida do Rev. Dr. C. Sabendo de sua conversão, o Dr.
C, como mais tarde ele me contou, convidou-lhe a visitá-lo, pois seu estado de saúde era frágil, e
ele não poderia ir até ela. Ela aceitou seu convite, e ele disse-lhe que contasse sobre todas as
imaginações de sua mente, sobre sua experiência cristã, e sobre as circunstâncias de sua
conversão. Assim ela o fez. O doutor manifestou grande interesse na transformação de sua mente,
e perguntou-lhe se ela tinha alguma coisa que eu tivesse escrito e publicado, para que ele pudesse
ler. Ela disse que tinha uma pequena obra minha, a qual fora publicada sobre o assunto da
santificação. Ele emprestou a obra, e disse-lhe que leria, e se ela o visitasse novamente na semana
seguinte, ficaria muito feliz em discutir o assunto mais a fundo. Depois de uma semana, ela
voltou para buscar seu livro, e o doutor lhe disse: “Estou muito interessado neste livro e nas
visões apresentadas aqui. Entendo que o objetivo ortodoxo dessa visão de santificação, como
apresentada pelo Sr. Finney, mas não consigo compreender, se Cristo é divino e verdadeiramente
Deus, por quê essa visão deve ser contrariada; nem posso ver nenhuma inconsistência em
defender isso como parte da fé ortodoxa. Mesmo assim, gostaria de conhecer o Sr. Finney. Você
não pode convencê-lo a vir visitar-me? Pois não posso ir até ele.” Ela foi até meu alojamento,
mas eu havia deixado Boston para ir a Providence. Depois de uma ausência de dois meses, eu
estava em Boston novamente, e essa senhora veio imediatamente ver-me, informando-me disso
que acabei de relatar. Mas a essa altura, ele fora para o campo, por conta de sua saúde. Senti
muito por não ter tido a oportunidade de vê-lo. Mas ele faleceu pouco tempo depois, e do resto de
sua história religiosa, não sei mais nada. Nem posso assegurar a veracidade do que essa senhora
disse. Ela foi claramente honesta ao comunicar-me isso, e pessoalmente não tenho dúvidas de que
cada palavra que me disse era verdade. Mas era uma estranha para mim, e depois de tanto tempo,
não me recordo mais de seu nome. Em meu encontro seguinte com o Dr. Beecher, o nome do Dr.
C foi mencionado, e eu relatei-lhe esse fato. As lágrimas começaram a encher-lhe os olhos em
um instante, e ele disse muito emocionado “Eu creio que ele foi para o céu!”

A VERDADE DO EVANGELHO
AS MEMORIAS DE CHARLES G. FINNEY
CAPÍTULO XXVI.
O AVIVAMENTO EM ROCHESTER EM 1842
DEPOIS de descansar um ou dois dias em Boston, parti para casa. Por estar muito exausto de
trabalho e viagens, fiz uma visita a um amigo em Rochester, para ter um dia de descanso antes de
prosseguir. Logo que a notícia de minha estada em Rochester se espalhou, o Juiz G veio visitar-
me, e com muita insistência, pediu que eu ficasse ali mais um tempo e pregasse. Alguns dos
pastores também insistiam que eu pregasse para eles. Informei-lhes que estava esgotado, e já era
chegado o tempo de ir para csa. No entanto, eles foram muito urgentes, em especial um dos
pastores, cuja esposa era uma de minhas filhas espirituais, a Sarah B, de quem falei ter se
convertido em D’Oeste. Por fim, concordei em ficar por ali e pregar um ou dois sermões. Mais
isso trouxe sobre mim um convite ainda mais inoportuno, para permanecer a realizar uma série de
reuniões. Decidi ficar, e apesar de exausto, continuei com a obra.
O Sr. George S. Boardman era pastor da então chamada Bethel, ou igreja da rua Washington, e o
Sr. Shaw, da Segunda Igreja do Tijolo. O Sr. Shaw estava muito ansioso para unir-se ao Sr.
Boardman e realizar reuniões alternadas em suas igrejas. O Sr. Boadman não estava disposto a
seguir esse caminho, dizendo que sua congregação era fraca, e precisava da concentração de
minhas obras naquele ponto. Senti muito por isso, mas ainda assim não pude passar por cima de
tal decisão, e continuei com a obra na Bethel, ou igreja da rua Washington. Pouco tempo depois,
o Dr. Shaw conseguiu as obras do Rev. Jedediah Burchard para sua igreja, e assumiu um
prolongado trabalho ali.
Enquanto isso, o Juiz G unira-se com outros membros da Ordem dos Advogados, para fazer-me
um pedido por escrito, para que pregasse uma série de sermões para advogados, adaptados à sua
maneira de pensar. Na época, o Juiz G era um dos juízes das cortes de apelação do estado, e tinha
uma alta e posição estimada por toda a profissão. Concordei em dar as palestras. Tinha
consciência da mentalidade semicética daqueles membros da Ordem, ou de pelo menos muitos
deles, que ainda não haviam se convertido. Ainda havia na cidade um bom número de bons e
devotos advogados, que se converteram no avivamento de 1830 e 31.
Comecei minha série de palestras para advogados fazendo esta pergunta: Vocês sabem alguma
coisa? e segui o questionamento dissertando, noite após noite. Minha congregação era muito
seleta. As reuniões do irmão Burchard abriram um lugar interessante para uma classe da
comunidade, e deu mais espaço para os advogados, e para aqueles especialmente atraídos por
minhas palestras, na casa onde pregava. As noites eram todas lotadas. Conforme prossegui com
meus sermões, a cada noite, observei o interesse constantemente se aprofundando.
Sendo que a esposa do Juiz G era uma amiga pessoal minha, tinha a chance de vê-lo
freqüentemente, e tinha certeza de que a Palavra apoderava-se fortemente dele. Ele comentou
comigo, depois de várias palestras: “Sr. Finney, estou satisfeito com seus esclarecimentos até
agora, mas quando chegar na questão do castigo eterno dos ímpios, o senhor vai tropeçar, falhará
ao tentar convencer-nos neste assunto.” Eu respondi “Espere e verá, Juiz.” Essa dica fez-me mais
cuidadoso quando cheguei a essa questão, para que a discutisse minuciosamente. No dia seguinte
encontrei-me com ele e de pronto comentou “Sr. Finney, estou convencido. Sua maneira de lidar
com esse assunto foi um sucesso, nada pode ser contestado.” A maneira na qual ele disse isso
indicava que o assunto não apenas convencera seu intelecto, mas impressionara-o profundamente.
Eu ia de noite em noite, mas não achava que minha platéia, um tanto quanto nova e seleta já
estivesse preparada para ser chamada a tomar uma decisão, por causa dos questionadores. Mas
logo cheguei ao ponto em que vi que era necessário puxar a rede da praia. Eu estava
cuidadosamente espalhando-a por todo o grupo de advogados, atraindo-os, supunha eu, com uma
série de argumentos que eles não podiam resistir. Eu tinha consciência de que eles estavam
acostumados a ouvir argumentos, a sentir o peso de uma verdade apresentada de maneira lógica,
e não tinha dúvidas de que sua grande maioria estava plenamente convencida, em tudo que eu
dissera até ali, por conseqüência, eu havia preparado um discurso com a intenção de levá-los ao
ponto, e se surtisse efeito, eu pretendia chamá-los a se comprometerem.
Quando estive em Rochester antes, quando a esposa do Juiz G se converteu, ele se opusera ao
assento ansioso. Eu esperava que ele fizesse isso novamente, pois sabia que ele havia se
comprometido fortemente, no que ele dizia, a ser contra o assento ansioso. Quando preguei o
sermão do qual falei, percebi que ele não estava no lugar que geralmente ocupava, e ao olhar em
volta, não pude encontrá-lo em meio aos outros advogados e juízes. Fiquei preocupado com isso,
pois me havia preparado com referência a seu caso. Eu sabia que ele tinha grande influência, e
que se ele decidisse tomar uma posição, isso causaria uma grande influência sobre toda a
profissão jurídica na cidade. Contudo, logo percebi que ele entrara pela galeria, e encontrara um
lugar para sentar-se junto às escadas, onde assentou-se ainda cobrindo-se com seu casaco.
Prossegui com meu discurso, mas perto do fechamento do que eu programara dizer, percebi que o
Juiz G não estava mais em seu lugar. Fiquei perturbado, pois concluí que, por ser frio o lugar
onde ele estava, e talvez porque houvesse alguma confusão por ser perto das escadas, ele teria ido
para casa, e assim o sermão que eu havia preparado com meu olho nele, falhara em seu efeito.
Do salão no porão da igreja, havia uma escada estreita que levava à nave superior, com saída ao
lado, um pouco para trás do púlpito. Eu estava para encerrar o sermão, com meu coração quase
afundando com o medo de falhar no que eu tinha esperanças de conseguir naquela noite, quando
senti alguém puxando a barra de meu paletó. Olhei, e ali estava o Juiz G. Ele descera e
atravessara o salão inferior, subira a escada estreita, e alguns degraus do púlpito, até estar perto o
suficiente de mim, e puxar-me pelo casaco. Quando me virei para ele, e contemplei-o com grande
surpresa, ele me disse “Sr. Finney, o senhor não poderia orar por mim, pelo meu nome, e eu
tomarei lugar à frente, no assento ansioso.” Eu ainda não havia dito nada sobre o assento ansioso.
A congregação observara esse movimento da parte do Juiz G, conforme ele subia às escadas do
púlpito, e quando eu anunciei-lhes o que ele dissera, um maravilhoso choque foi gerado. Havia
uma grande jorrar de sentimentos, por todos os lados do templo. Muitos abaixaram a cabeça e
choraram, outros pareciam estar engajados em sinceras orações. Ele foi até à frente do púlpito e
ajoelhou-se imediatamente. Os advogados levantaram-se quase que em massa, e amontoaram-se
no corredor, enchendo o espaço vago à frente, ajoelhando-se onde quer que pudessem. Houve um
grande movimento. Nós oramos, e então encerrei a reunião.
Já que eu pregava todas as noites, e não podia abrir mão de uma delas para uma reunião de
perguntas e respostas, marquei uma reunião para instrução daqueles que tivessem dúvidas para o
dia seguinte, às duas horas, no salão inferior da igreja. Quando fui para lá, fiquei surpreso ao
encontrar o salão quase cheio, e com um público composto praticamente só de cidadãos dos mais
proeminentes. Continuei com essa reunião diariamente, tendo a oportunidade de conversar
livremente, com muitas pessoas, pois eram ensináveis como crianças. Jamais participei de uma
reunião mais efetiva e interessante do que essa, eu acho. Muitos dos advogados se converteram, o
Juiz G, devo dizer, foi seu líder, pois foi o primeiro a vir para o lado de Cristo.
Permaneci ali, dessa vez, por dois meses. O avivamento tornou-se maravilhosamente interessante
e poderoso, e resultou na conversão de centenas. Apoderou-se de forma poderosa de uma das
igrejas Episcopais, a igreja de St. Luke, da qual o Dr. Whitehouse, bispo presidente de Illinois,
era o pastor. Quando eu estava em Reading, na Pensilvânia, vários anos antes, o Dr. Whitehouse
estava a pregar para uma igreja Episcopal naquela mesma cidade, e, como fui informado por uma
das mais inteligentes senhoras dali, fora tremendamente abençoado em sua alma, naquele
avivamento. Quando vim para Rochester, em 1830, ele era o pastor da igreja de St. Luke, e fui
informado que ele encorajava seu povo a participar de nossas reuniões, e que muitos deles
converteram-se naquela época. Assim também nesse avivamento, em 1842, fui informado de que
ele encorajava e aconselhava seu rebanho a participar de nossas reuniões. Ele mesmo era um
pastor muito bem sucedido, e tinha muita influência em Rochester. Soube que nesse avivamento
de 1842, não menos que setenta, dos principais membros de sua congregação, converteram-se, e
foram confirmados em sua igreja.
Um incidente de impacto, devo mencionar. Eu havia insistido muito, em minhas instruções, na
consagração plena a Deus, entregando tudo a Ele, corpo, alma, posses, e todas as coisas, para
serem para todo o sempre, usadas para Sua glória, como uma condição de aceitação com Deus.
Como era de meu costume em avivamentos, deixei isso tão claro quanto pude. Certo dia
conforme eu entrava na reunião, um dos advogados com quem já estava familiarizado, que
andava profundamente agoniado em sua mente, estava esperando na porta da igreja. Conforme
entrei, ele tirou de seu bolso um papel, e entregou a mim, comentando “Entrego isso ao senhor
como o servo do Senhor Jesus Cristo”. Deixei o papel em meu bolso até depois da reunião. Ao
examiná-lo, vi que era um termo de posse, redigido regularmente, no qual ele passava a posse de
si mesmo e de tudo que ele possuía para o Senhor Jesus Cristo. O termo estava de acordo com a
lei, com todas as peculiaridades e formalidades de tais contratos. Creio que ainda o tenho em
meio a meus papéis. Ele parecia ser solenemente sincero, e até onde pude ver, inteiramente
consciente do que fizera. Mas não devo entrar em mais detalhes.
No que diz respeito aos métodos usados neste avivamento, diria que as doutrinas pregadas eram
as mesmas que eu já havia pregado em todos os lugares. O governo moral de Deus foi
proeminentemente apresentada, e a necessidade de uma aceitação universal da vontade de Deus
como uma regra de vida, a aceitação pela fé, do Senhor Jesus Cristo como o Salvador do mundo,
e em todas as suas relações e obras, e a santificação da alma por meio da verdade, essas e outras
doutrinas relacionadas a elas eram trabalhadas de acordo com o tempo que tínhamos, e conforme
as necessidades do povo pareciam requerer.
As medidas eram simplesmente a pregação do evangelho, e orações abundantes, em secreto, em
círculos sociais, e em reuniões públicas; muita importância sempre foi dada à oração, como sendo
um dos principais métodos para a promoção de um avivamento. Pecadores não eram incentivados
a esperar que o Espírito Santo os convertesse enquanto fossem passivos; e não deveriam esperar o
tempo de Deus, mas ensinávamos, sem equívocos, que seu primeiro e imediato dever era
submeterem-se a Deus, renunciar suas próprias vontades, seus próprios caminhos, e a si mesmos,
entregando no mesmo instante tudo que eram, e tudo que tinham a seu verdadeiro ano, o Senhor
Jesus Cristo. Elas eram ensinadas aqui, da mesma forma que foram ensinadas em todos os outros
avivamentos, em todos os outros lugares, mostrando que o único obstáculo no caminho era sua
própria teimosia; que Deus estava tentando ganhar seu consentimento desqualificados de desistir
de seus pecados, e aceitar o Senhor Jesus Cristo como sua justiça e salvação. Insistíamos
freqüentemente para que consentissem assim; e ensinávamos que sua única dificuldade era
realmente consentir de forma sincera e honesta como os termos sob os quais Cristo os salvaria.
Reuniões para perguntas e respostas foram realizadas, como o propósito de adaptar a instrução
àqueles que estavam em diferentes estágios de convicção; depois de conversar com eles, sempre
que eu tinha tempo e forças para fazê-lo, tinha o hábito de fazer um resumo final, tomando casos
representativos, e respondendo a todas as suas objeções, todas as suas perguntas, corrigindo seus
erros, e seguindo um caminho de comentários, com a intenção de anular qualquer desculpa, e
trazê-los face e face com a grande decisão da imediata, irrestrita, total aceitação da vontade de
Deus em Cristo Jesus. A fé em Deus, e Deus em Cristo era sempre apresentado como
proeminente. Eles eram informados de que essa fé não era um assunto meramente intelectual,
mas sim o consentimento ou confiança do coração, uma confiança voluntária e consciente em
Deus, como sendo revelado no Senhor Jesus Cristo.
Insistia-se plenamente na doutrina da justiça da punição eterna; não somente em sua justiça, mas
também na certeza de que pecadores seriam eternamente punidos, se morressem em pecado, era
fortemente apresentada. Em todos esses pontos, o evangelho era apresentado de maneira a não
deixar nenhuma dúvida. Esse era, pelo menos, meu constante objetivo, e o objetivo de todos que
davam instruções. A natureza da dependência do pecador da influência divina era explicada,
reforçada, e apresentada proeminentemente. Os pecadores eram ensinados que, sem o
ensinamento e influência divinos, é certo que, a partir de seu estado de depravação, jamais se
reconciliariam com Deus; e que ainda assim, sua necessidade de reconciliação devia-se
simplesmente à sua dureza de coração, ou à teimosia de sua própria vontade, portanto sua
dependência do Espírito de Deus não era desculpa para que não se tornassem cristãos de vez.
Esses pontos que relatei, e outros que por lógica, os seguiam, eram apresentados e discutidos sob
todos os aspectos, sempre que havia tempo hábil para fazê-lo.
Nunca ensinávamos aos pecadores, naqueles avivamentos, que precisavam esperar pela
conversão, como resposta de suas orações. Ensinávamos que enquanto guardassem a iniqüidade
em seus corações, o Senhor não os ouviria, e que enquanto permanecessem na impiedade,
guardariam a iniqüidade em seus corações. Não quero dizer que eram exortados a não orar. Eram
informados de que Deus queria que eles orassem, mas orassem em fé, orassem em espírito de
arrependimento, e que quando pedissem a Deus que os perdoasse, deveriam se comprometer
plenamente com Sua vontade. Eram ensinados, expressivamente, que a mera oração ímpia e sem
fé é uma abominação a Deus, mas que se realmente estivessem dispostos a oferecer oração
aceitável a Deus, poderiam fazê-lo, pois não havia nada além de sua própria obstinação no
caminho de sua oferta. Nunca foram levados a pensar que poderiam cumprir seus deveres a
respeito de qualquer coisa, a menos que entregassem seus corações a Deus. Acreditar,
arrepender-se, submeter-se, como atos interiores, eram os primeiros deveres a serem cumpridos, e
até que esses fossem realizados, nenhum ato exterior seria a realização de seus deveres; e toda
sua falta de fé era apenas uma blasfema e mentirosa queixa contra Deus. Em suma, tomamos as
dores para que os pecadores fossem levados a aceitar a Cristo, toda a Sua vontade, a redenção, as
relações e obras oficiais, cordialmente e com um propósito firmado no coração, renunciando a
todo pecado, todas as desculpas, toda a falta de fé, toda a dureza de coração, e todas as coisas
ímpias, no coração, na vida, aqui, agora, e para sempre.
Sempre fui especialmente interessado na salvação de advogados, e de todos os homens na
profissão legal. Eu mesmo já havia sido parte dessa classe profissional. Compreendia muito bem
seus hábitos de leitura e pensamentos, e sabia que eles eram com certeza mais controlados por
argumentos, provas, e declarações lógicas do que qualquer outra classe social ou profissional.
Sempre descobri, todas as vezes que trabalhei, que quando o evangelho era propriamente
apresentado, eles eram os profissionais mais acessíveis; e creio que seja verdade que, na
proporção em relação a seu número, em todas as comunidades, mas advogados se converteram do
que quaisquer outros profissionais. Sempre fui especialmente interessado na maneira com a qual
uma apresentação clara da Lei e do evangelho de Deus envolve a inteligência de juízes, homens
que estão acostumados a sentar e ouvir testemunhos, e pesar argumentos em ambos os lados.
Jamais, desde que me lembro, vi um caso no qual juízes não foram convencidos da verdade do
evangelho, em lugares onde participavam das reuniões, nos avivamentos que testemunhei. Fui
várias vezes muito tocado, ao conversar com membros da profissão jurídica, pela maneira que
consentiam com as proposições, às quais outras pessoas, cujas mentes não fossem tão
disciplinadas, fariam objeções.
Havia um juiz do tribunal de apelação morando em Rochester, que parecia estar possuído por um
ceticismo crônico. Ele era um pensador, lia muito, homem muito refinado e de grande
honestidade intelectual. Sua esposa experienciara a religião sob meu ministério, e era uma de
minhas amigas pessoais. Eu conversei muito com aquele homem. Ele sempre confessava
livremente para mim que os argumentos eram conclusivos, e que seu intelecto estava preocupado
por causa da pregação e das conversas. Disse-me: “Sr. Finney, sempre fico extremamente
envolvido com seus discursos públicos, mas enquanto penso na verdade de tudo o que o senhor
diz, sinto que há algo de errado, de alguma forma meu coração não responde.” Ele era um dos
mais amáveis homens não-convertidos que já conheci, e era sempre um prazer e pesar conversar
com ele. Sua franqueza e inteligência faziam da conversa com ele, sobre assuntos religiosos, um
grande prazer, mas sua crônica falta de fé as tornava excessivamente dolorosas. Conversei com
ele mais de uma vez, quando sua mente parecia estar profundamente agitada. E ainda assim, até
onde sei, ele jamais se converteu. Sua esposa, idolatrada mulher de oração, já foi para seu
descanso eterno. Seu único filho afogara-se diante de seus olhos. Depois dessas tragédias o terem
atingido, mandei-lhe uma carta, falando sobre algumas das conversas que tivera com ele,
tentando ganhá-lo para uma fonte de onde ele conseguiria grande consolo. Ele respondeu com
toda gentileza, mas falando sobre suas perdas, disse que não havia consolo que poderia suprir um
caso como esse. Ele estava verdadeiramente cego para toda a consolação que poderia achar em
Cristo. Ele não concebia como jamais poderia aceitar essa situação, e ser feliz. Ele morou em
Rochester e vivenciou vários grandes avivamentos, e apesar de sua boca estar calada, pois não
havia mais desculpa alguma que pudesse dar, e refúgio nenhum em que pudesse se esconder,
ainda assim, até onde sei, ele misteriosamente permaneceu descrente. Menciono seu caso como
uma ilustração da maneira na qual a inteligência da profissão jurídica pode ser levada, pela força
da verdade. Quando eu falar do próximo avivamento em Rochester, do qual participei, terei a
oportunidade de mencionar outros exemplos que ilustrarão o mesmo ponto.
Vários dos advogados que se converteram em Rochester nessa época largaram suas profissões e
entraram no ministério. Entre eles, um dos filhos do Chanceler W, na época um jovem advogado
na cidade, que parecia firmemente convertido. Por alguma razão, a qual eu desconheço, ele foi
para a Europa e para Roma, e acabou por se tornar um padre Católico Romano. Há anos ele
trabalha zelosamente para promover avivamentos religiosos no meio deles, realizando
prolongadas reuniões e, como ele mesmo me contou quando nos encontramos na Inglaterra,
tentando alcançar na igreja Católica Romana o mesmo que eu me esforçava para conseguir na
igreja Protestante. O Sr. W parece ser um honesto ministro de Jesus, de coração e alma entregues
pela salvação dos Católicos Romanos. Não sei dizer o quanto ele concorda com suas visões.
Quando eu estive na Inglaterra, ele estava lá, e veio visitar-me, tivemos um encontro muito
agradável e afetuoso, tanto quanto teríamos, creio eu, se ambos fôssemos Protestantes. Ele não
disse nada sobre suas visões peculiares, mas somente que estava trabalhando em meio aos
Católicos Romanos, para promover avivamentos religiosos. Muitos pastores têm sido frutos dos
grandes avivamentos em Rochester.
Um fato que muito me interessou, quando eu trabalhava naquela cidade, era que advogados
vinham até meus aposentos, quando eram pressionados e estavam prestes a se submeterem, para
conversarem e esclarecerem alguns pontos que não haviam compreendido claramente; percebi
então, uma e outra vez, que quando tais pontos eram esclarecidos, eles estavam prontos a se
submeterem de imediato. De fato, como regra geral, eles obtém uma visão mais inteligente de
todo o plano da salvação do que outros homens de quaisquer outras classes profissionais para as
quais já preguei, ou com quem já conversei.
Muitos medicos também se converteram nos grandes avivamentos que presenciei. Creio que seu
estudo os inclina ao ceticismo, ou a alguma forma de materialismo. Porém, sendo inteligentes
como são, se o evangelho lhes é apresentado de forma completa, despido daquelas características
peculiares incorporadas ao hiper-Calvinismo, são facilmente convencidos, e prontamente se
convertem, como quaisquer outras pessoas. Seus estudos, como regra geral, não os preparou para
compreender tão prontamente o governo moral de Deus, como foram preparados aqueles que
tinham a lei como profissão. Mas ainda assim, encontrei-os abertos à convicção, e de maneira
alguma podem ser considerados pessoas difíceis de se lidar, no que diz respeito à questão da
salvação.
Descobri que em todos os lugares, as peculiaridades do hiper-Calvinismo têm sido uma grande
pedra de tropeço tanto para a igreja quanto para o mundo. Uma natureza pecaminosa em si, a
total inabilidade de aceitar a Cristo e de obedecer a Deus, a condenação à morte eterna pelo
pecado de Adão, e por uma natureza pecaminosa, e todos os dogmas relacionados e resultantes
dessa tradição peculiar, têm sido pedras de tropeço para crentes e a ruína para pecadores.
Universalismo, Unitarismo, e na verdade todas as formas de erro fundamental, abriram caminho e
sucumbiram na presença desses grandes avivamentos. Eu aprendi, mais de uma vez, que o
homem precisa somente ser plenamente convencido do pecado pelo Espírito Santo, para desistir
de uma vez por todas, com alegria, do Universalismo e do Unitarismo. Quando eu falar sobre o
próximo grande avivamento em Rochester, terei a oportunidade de falar com mais detalhes da
maneira na qual céticos podem ser calados quanto à condenação, se o caminho certo for seguido
com eles, de acordo com suas próprias convicções irresistíveis; assim sendo, alegrar-se-ão ao
encontrarem uma porta de misericórdia aberta por meio das revelações que são feitas nas
Escrituras. Mas deixo isso para ser apresentado no momento apropriado.

A VERDADE DO EVANGÉLHO
AS MEMÓRIAS DE CHARLES G. FINNEY
CAPÍTULO XXVII.
MAIS UM INVERNO EM BOSTON
NO outono de 1843, fui chamado novamente a Boston. Em minha última visita, uma grande
agitação sobre a segunda vinda de Cristo tomara conta de Boston. O Sr. Miller, que estava à
frente do movimento, dava palestras e aulas bíblicas diárias, nas quais ele dava instruções e
inseria suas idéias tão peculiares; seus ensinamentos geraram uma grande agitação um tanto
quanto selvagem e irracional. Assisti à aula do Sr. Miller uma ou duas vezes, depois disso,
convidei-o até meus aposentos e tentei convence-lo de que aquilo era um erro. Chamei sua
atenção para a construção que ele dava às profecias e, pensei ter-lhe mostrado que estava
inteiramente errado em algumas de suas visões mais fundamentais. Ele respondeu que eu adotara
um curso a seguir na investigação que detectaria seus erros, se ele tivesse algum. Tentei mostrar-
lhe que seu erro fundamental já havia sido detectado.
Na última vez que participei de sua aula bíblica, ele estava ensinando a doutrina de que Cristo
viria pessoalmente, e destruiria seus inimigos, em 1843. Ele deu o que ele mesmo chamou de
‘uma exposição da profecia de Daniel’ sobre o assunto. Ele disse que a pedra cortada do monte,
sem mãos, que rolara abaixo e destruíra a imagem aqui mencionada, era Cristo. Quando ele veio
até meu quarto, chamei-lhe a atenção para o fato de que o profeta afirmara expressamente que a
pedra não era Cristo, mas sim o reino de Deus; que o profeta ali apresentava a igreja, ou o reino
de Deus, como sendo quem destruía a imagem. Isso estava tão claro que o Sr. Miller foi obrigado
a reconhecer que era de fato a verdade, que não era Cristo que destruiria aquelas nações, mas sim
o reino de Deus. Perguntei-lhe então se ele achava que o reino de Deus iria destruir aquelas
nações, no sentido em que ele ensinara que seriam destruídas, pela espada, ou declarando guerra
contra elas? Ele disse que não, não podia acreditar que seria assim. Então eu perguntei “Não seria
a substituição do governo o objetivo, e não a destruição do povo? E não deve isso ser feito pela
influência da igreja de Deus, ao trazer-lhes luz a suas mentes em relação ao evangelho? E se esse
é o significado, onde está o fundamento para seus ensinamentos de que, em certo momento,
Cristo virá em pessoa destruir todos os povos da terra? Agora, isso é fundamental para seus
ensinamentos. Isso é o grande ponto para o qual você chama atenção em suas aulas, e aqui há um
claro erro. As próprias palavras do profeta ensinam o direto oposto do que você tem ensinado.”
Mas em vão era argumentar com ele e com seus seguidores naquela época. Acreditando, como
eles com certeza faziam, que a vinda de Cristo estava próxima, não era de se admirar que
estivessem muito agitados com ansiedade para que fossem convencidos do contrário.
Quando eu cheguei lá, no outono de 1843, descobri que uma forma particular de agitação
estourara, mas muitas formas errôneas permaneceram no meio do povo. De fato, descobri que era
verdade algo sobre Boston que o Dr. Beecher assegurara-me no primeiro inverno que trabalhei lá.
Ele me disse “Sr. Finney, o senhor não pode trabalhar aqui da mesma forma que trabalha em
qualquer outro lugar. O senhor deve seguir um caminho diferente de ensino, e começar pelos
mais básicos fundamentos, pois o Unitarismo é um sistema de negações, e sob os ensinamentos
deles, os fundamentos do Cristianismo estão esmorecendo. O senhor não pode negligenciar nada,
pois os Unitários e os Universalistas destruíram as fundações, e as pessoas estão boiando, sendo
levadas pelo fluxo. A massa popular não tem uma opinião concreta, qualquer um consegue uma
platéia para escutar o que tem a dizer, e quase todas as formas de erros convencíveis conseguem
espaço e seguidores.”
Desde então, vi que isso era verdade, e uma verdade que dominava uma área muito maior do que
qualquer outro campo de trabalho onde já estivera. O povo em Boston não tinha posicionamento
algum em suas convicções religiosas, menos do que todos os lugares onde já trabalhei, sem levar
em consideração sua inteligência, pois são com certeza um povo muito inteligente em todos os
assuntos, exceto no assunto da religião. É extremamente difícil fazer com que as verdades
religiosas sejam enraizadas em suas mentes, por que a influência dos ensinamentos do
Unitarismo tem sido de fazê-los questionar todas as principais doutrinas da bíblia. Seu sistema é
um sistema de negações. Sua teologia é negativa. Eles negam praticamente tudo, e afirmam quase
nada. Em um campo como esse, os erros encontram ouvidos populares abertos, e os pontos de
vista mais irracionais sobre assuntos religiosos passam a ser defendidos por um grande número
de pessoas.
Comecei minhas obras na capela Marlborough nessa mesma época, e ali encontrei uma situação
bastante singular. Uma igreja havia se formado, composta em sua maioria por radicais, e a maior
parte dos membros defendia pontos de vista extremos, sobre vários assuntos. Eles vinham de
outras igrejas ortodoxas, e uniram-se em uma só comunidade, na capela Marlborough. Eles eram
fieis e muito consistentes, adeptos à reforma; pessoas muito boas, mas eu não posso dizer que
eram um povo unido. Seu extremismo parecia ser um elemento de repelência mútua entre eles.
Alguns deles eram extremamente contra a resistência, e defendiam que seria errado o uso de
qualquer força física, ou qualquer outro meio físico, até mesmo para controlar seus próprios
filhos. Tudo deve ser feito pela persuasão moral. No geral, contudo, eram um povo honesto, de
oração, um povo cristão. Não tive muitas dificuldades em conviver bem com eles, mas na época,
a agitação do caso Miller, e de muitos outros casos, começara a gerar bastante confusão em seu
meio. Como igreja, sua situação estava longe de ser próspera.
Um jovem rapaz de nome S levantara-se no meio deles, e dizia-se um profeta. Conversei muitas
vezes com ele, e tentei convencê-lo de que ele estava errado; trabalhei com seus seguidores,
tentando fazê-los enxergar que ele estava errado. No entanto, vi que seria impossível fazer
qualquer coisa com ele, ou com eles, até que por fim, ele acabou se comprometendo em vários
pontos, e previu que certas coisas aconteceriam em certas datas. Uma delas era que seu pai
morreria em um certo dia. Então eu lhe disse: “Agora o provaremos. Agora a veracidade de suas
pretensões será testada. Se essas coisas que você previu vierem a acontecer, da forma que disse,
nas datas que disse, então teremos razões para acreditar que você é um profeta. Mas se elas não
acontecerem, será provado que você está enganado.” Isso ele não podia negar. Segundo a boa
providência de Deus, esses eventos relacionados às suas previsões foram descartados, em poucas
semanas, pois nenhum ocorreu. Ele apostara sua reputação como profeta em tais previsões, e
esperava por seu cumprimento. É claro que todas elas falharam, ele falhou, e nunca mais ouvi
falar sobre suas previsões novamente. Mas ele confundiu muitas mentes, e acabou por neutralizar
seus esforços. Não sei de nenhum de seus seguidores que tenha chegado a recuperar suas antigas
influências como cristãos.
Durante esse inverno, o Senhor sucumbiu minha própria alma, e recebi um novo batismo de Seu
Espírito. Eu me hospedava no hotel Marlborough, e meu quarto e escritório ficavam do lado do
edifício da capela. Minha mente era muito levada a orar, por muito tempo, como de fato sempre
foi, todas as vezes que trabalhei em Boston. Eu havia sido favorecido ali, uniformemente, com
um forte espírito de oração. Mas nesse inverno, em particular, minha mente estava em extremo
tomada pela questão da santidade pessoal, e a respeito da situação da igreja, sua necessidade de
poder de Deus, a fraqueza das igrejas ortodoxas em Boston, a fraqueza de sua fé, e sua
necessidade de poder em meio a tal comunidade. O fato de que eles alcançavam um pequeno ou
quase nulo progresso em superar os erros daquela cidade afetava muito minha mente.
Entreguei-me grandemente à oração. Depois de meus cultos noturnos, retirava-me tão cedo
quanto podia, mas levantava-me às quatro horas da manhã, porque não conseguia mais dormir, ia
imediatamente para o escritório, e começava a orar. Minha mente envolvia-se tanto com a oração,
que muitas vezes eu continuava a orar do momento em que levantava, às quatro horas, até que o
sino tocasse para o café da manhã, às oito. Gastava meus dias pesquisando as Escrituras, o
máximo que pudesse. Durante todo o inverno, não li nada além de minha bíblia, e muito dela
parecia ser novo aos meus olhos. Mais uma vez o Senhor me levou de Gênesis a Apocalipse.
Levou-me a ver a conexão entre as coisas, as promessas, ameaças, as profecias e seu
cumprimento, e de fato, toda a Palavra parecia-me reluzir, mas não era somente luz; parecia que a
Palavra de Deus tinha incutida em si a própria vida de Deus.
Depois de orar dessa forma por semanas e meses, certa manhã enquanto orava, ocorreu-me um
pensamento. E se, depois de todo esse ensinamento divino, minha vontade não tiver sido levada e
esses ensinamentos surtam efeito apenas em minha sensibilidade? Será que não foi a minha
sensibilidade que foi na verdade afetada por essas revelações da bíblia, e meu coração não está de
fato subjugado a elas? Nesse momento, várias passagens das escrituras vieram à minha mente,
tais como essa: “Assim, pois, a palavra do Senhor lhes será mandamento sobre mandamento,
mandamento e mais mandamento, regra sobre regra, regra e mais regra: um pouco aqui, um
pouco ali; para que vão, e caiam para trás, e se quebrantem, e se enlacem, e sejam presos.”
Quando o pensamento de que eu pudesse estar enganando a mim mesmo passou pela primeira
vez em minha mente, abateu-me quase que como uma serpente. Gerou uma aflição que não posso
descrever. As passagens das Escrituras que me ocorreram, nessa direção, por alguns momentos
aumentaram e muito minha aflição. Mas fui diretamente levado a apoiar-me na vontade perfeita
de Deus. Eu disse ao Senhor que se Ele visse que era sábio e bom, e que se a Sua honra exigisse
que eu fosse levado à desilusão, e enviado para o inferno, eu aceitava Sua vontade, e disse-lhe
“Faça comigo o que a Ti parecer bom”.
Pouco tempo antes disso, eu havia pelejado grandemente para consagrar-me a Deus, num sentido
mais alto do que jamais havia imaginado como meu dever, ou concebera como possível. Muitas
vezes já havia colocado minha família inteira sobre o altar de Deus, deixando-os à Sua mercê e
disposição. Mas nesta vez da qual falo agora, tive uma grande peleja para entregar minha esposa
à vontade de Deus. Ela estava com uma saúde muito frágil, e era evidente que não viveria por
muito mais tempo. Eu jamais vira tão claramente, em que implicava deixa-la, com tudo mais que
tinha, sobre o altar de Deus; e por horas pelejei de joelhos, para entrega-la, plenamente, à vontade
de Deus. Porém, vi que era incapaz de fazê-lo. Fiquei tão chocado e surpreso com isso que suava
frio de agonia. Pelejei e orei até a exaustão, e descobri que era completamente incapaz de
entregá-la plenamente à vontade de Deus, a ponto de não fazer objeção alguma à o que Ele
pudesse fazer com ela, de acordo com Sua vontade.
Isso muito me atribulou. Escrevi para minha esposa, contando-lhe da luta que tivera, e da
preocupação que tinha por não estar disposto a entregá-la, sem reservas, à perfeita vontade do
Senhor. Isso foi pouco tempo antes de ter essa tentação, como agora me recordo, da qual tenho
falado, quando aquelas passagens das Escrituras vieram agonizantes sobre minha mente, e
quando a amargura, quase de morte, parecia por alguns instantes, possuir-me, ao pensar que
minha religião pudesse ser apenas de emoções, e que os ensinamentos de Deus pudessem afetar
nada além de minha alma. Mas como já disse, depois de pelejar por alguns momentos com esse
desencorajamento e amargura, que atribuo desde então ao dardo inflamado de Satanás, fui levado
a apoiar-me, de forma mais profunda do que nunca, na infinita benção e perfeita vontade de
Deus. Então eu disse ao Senhor que tinha tamanha confiança nEle, que sentia-me perfeitamente
disposto, a entregar a mim mesmo, minha esposa e minha família, por inteiro à sua disposição
para que fossem tomados de acordo com Sua sabedoria.
Então tive uma visão mais ampla do quê implicava na consagração a Deus. Passei bastante tempo
de joelhos, considerando e examinando o assunto, e entregando tudo à Sua vontade; os interesses
da igreja, o progresso religioso, a conversão do mundo, e a salvação ou condenação de minha
própria alma, conforme Sua vontade decidisse. De fato, lembro-me que fui tão longe a ponto de
dizer ao Senhor, de todo coração, que ele podia fazer qualquer coisa comigo ou com tudo que era
meu, de acordo com Sua bendita vontade; que eu tinha tamanha confiança em Sua bondade e
amor, que acreditava que nada que Ele fizesse, teria minha objeção. Senti um tipo de ousadia ao
dizer-lhe para fazer comigo o que a Ele parecesse bom; que não poderia fazer nada que não fosse
perfeitamente sábio e bom, e que, portanto, eu teria o melhor em aceitar o fosse o que fosse que
Ele pudesse escolher, no que dizia respeito a mim e aos meus. Um descanso tão profundo e
perfeito na vontade de Deus, jamais conheci.
O que parecia estranho para mim era que eu não conseguia sentir minha antiga esperança, nem
conseguia lembrar, de forma clara, de nenhum dos períodos de comunhão e segurança divina que
experienciara. Posso dizer que abandonei minha esperança e descansei sobre uma nova fundação.
Quero dizer, abandonei minha esperança de qualquer experiência passada, e lembro-me de ter
dito ao Senhor que não sabia se Ele pretendia me salvar ou não. Nem estava preocupado em
saber. Eu estava disposto a sujeitar-me ao meu destino. Eu disse que sabia que Ele me guardara, e
trabalhara em mim por Seu Espírito, e estava me preparando para o céu, trabalhando santidade e
vida eterna em minha alma, então eu deveria concluir que Ele pretendia me salvar; que se, por
outro lado, eu me visse vazio e sem força, amor e luz divina, eu poderia concluir que Ele via que
era sábio e funcional que fosse para o inferno; e que em ambas as situações, eu aceitaria Sua
vontade. Minha mente firmara-se em um perfeito estado de aceitação.
Isso começou bem cedo de manhã, e continuou por todo aquele dia, eu parecia estar num perfeito
estado de descanso, corpo e alma. Uma pergunta veio à minha mente muitas vezes durante o dia
“Você ainda adere à sua consagração, e permanece na vontade de Deus?” Sem hesitar, eu dizia
“Sim, não volto atrás em nada. Não tenho motivos para voltar atrás; não fui além do razoável em
pedidos e profissões. Não tenho motivos para voltar atrás. Não quero voltar atrás.” O pensamento
de que eu pudesse estar perdido não mais me perturbava. De fato, posso crer que durante todo
aquele dia, eu não pude encontrar em minha mente o menor medo sequer, nenhuma emoção
perturbadora. Nada me perturbava. Eu não estava animado nem deprimido; não estava alegre nem
triste, pelo que podia ver. Minha confiança em Deus era perfeita, minha aceitação de Sua vontade
era perfeita, e minha mente estava tão calma quando os céus.
No cair da noite, uma pergunta veio à minha mente, “E se Deus me mandar para o inferno?”
“Oras, eu não faria objeção nenhuma.” “Mas pode Ele mandar uma pessoa para o inferno, se essa
pessoa aceita Sua vontade, da maneira que você o faz?” foi a próxima pergunta. Essa pergunta,
tão logo surgiu em minha mente, foi respondida. Eu disse “Não, é impossível. O inferno não
poderia ser inferno para mim, se eu aceitei a perfeita vontade de Deus.” Isso injetou uma veia de
alegria em minha mente, que continuou a crescer cada vez mais, por semanas e meses, e de fato,
devo dizer, por anos. Por anos minha mente estava muito cheia de alegria para que se enchesse de
ansiedade sobre qualquer assunto. Minha oração que fora tão fervorosa e tão prolongada durante
um período tão longo, parecia em tudo desembocar em “Seja feita a Tua vontade”. Parecia que
todos os meus desejos haviam sido atendidos. Tudo pelo que eu orava, para mim mesmo, eu
havia recebido da forma em que menos esperava. “Santidade ao Senhor” parecia estar inserida
em todos os pensamentos de minha mente. Eu tinha tão grande fé que Deus cumpriria toda a Sua
perfeita vontade, que não me preocupava com nada. As grandes ansiedades sobre as quais minha
mente tanto se perturbara por longos períodos de agonizante oração, pareciam ficar de lado; de
maneira que por muito tempo, quando eu me achegava a Deus para ter comunhão com Ele como
fazia com muita freqüência, caía sobre meus joelhos, e achava impossível pedir por qualquer
coisa, com um mínimo de sinceridade, exceto para que Sua vontade fosse feita na Terra como é
feita nos céus. Minhas orações eram mergulhadas nisso, e por muitas vezes encontrei-me
sorrindo, diante da face do Senhor, e dizendo que eu não queria mais nada. Eu tinha muita certeza
de que Ele cumpriria Seu sábio e bom prazer, e que com isso, minha alma ficaria plenamente
satisfeita.
Aqui, perdi aquela grande peleja na qual estivera por tanto tempo engajado, e comecei a pregar
para a congregação de acordo com isso, minha nova e ampliada experiência. Havia um número
considerável de pessoas na igreja, que compareciam às minhas pregações, que compreendiam, e
viram a partir de meus sermões o que se passava em minha mente. Presumo que as pessoas
perceberam mais do que eu mesmo, a mudança em minha forma de pregar. É claro, minha mente
estava muito cheia do assunto para que pregasse sobre qualquer outra coisa que não a presente
salvação no Senhor Jesus Cristo.
Nesse momento, parecia que minha mente estava casada com Cristo, num sentido em que jamais
tivera idéia ou concepção antes. A linguagem de Cantares de Salomão era tão natural para mim
quanto minha respiração. Eu pensava que podia compreender muito bem o estado de espírito no
qual Ele se encontrava, quando escreveu aquelas palavras, e então concluí, como tenho pensado
desde então, que tal poesia fora não escrita por ele, depois de ter sido regenerado de sua grande
queda. Não somente eu tinha todo o refrigério de meu primeiro amor, mas também uma vasta
ascensão a ele. De fato, o Senhor me levantou muito além do que qualquer coisa que já
experimentara antes, e ensinou-me tanto sobre o significado da bíblia, das relações de Cristo, e
poder, e vontade, que muitas vezes via-me dizendo a Ele “Eu não sabia nem concebia que tal
coisa era verdade”. Foi então que eu percebi o que significa dizer que Ele “é poderoso para fazer
tudo muito mais abundantemente além daquilo que pedimos ou pensamos”. E naquele momento
Ele me ensinou, infinitamente mais do que eu jamais poderia pensar ou pedir. Eu não tinha
consciência do comprimento e largura, da altura e da profundidade, e da eficiência de Sua graça.
A mim, parecia que aquela passagem “A minha graça te basta” significava tanto, que era
maravilhoso que eu jamais compreendera antes. Encontrava-me exclamando “Maravilhoso!
Maravilhoso! Maravilhoso!” conforme essas revelações eram feitas a mim. Eu pude então
entender o que o profeta queria dizer quando falou “ seu nome será Maravilhoso Conselheiro,
Deus Forte, Pai da Eternidade, Príncipe da Paz.” Passei praticamente o resto do inverno, até que
fui obrigado a voltar para casa, instruindo as pessoas a respeito da plenitude que há em Cristo.
Mas descobri que falava acima do entendimento da maioria do povo. Eles não compreendiam.
Havia, é verdade, um bom número que conseguia entender, e esses foram maravilhosamente
abençoados em suas almas, e tenho motivos para acreditar que progrediram ainda mais na vida
divida, do que jamais antes fizeram.
Mas a pequena igreja que se formara ali não tinha recursos que pudessem, de forma considerável,
funcionar de forma saudável e eficiente. A oposição externa a eles era muito grande. A massa, até
mesmo de professores de religião da cidade, não simpatizava com eles. As pessoas das igrejas
geralmente não estavam dispostas a receberem minhas idéias de santificação, e apesar de existir
alguns indivíduos em praticamente todas as igrejas que estavam profundamente interessados e
grandemente abençoados, ainda assim, como regra geral, o testemunho que eu levava não era
inteligível a eles.
Alguns deles conseguiam ver onde eu estava. Certa noite, recordo-me que o Diácono P e o
Diácono S, depois de escutar minha pregação, e vendo o efeito que ela causara na congregação,
vieram até mim depois que desci do púlpito e disseram “Oras, o senhor está muito à frente de nós
nessa cidade, e muito à frente de nossos pastores. Posso podemos fazer com que pastores venham
ouvir essas verdades?” Eu respondi “Não sei. Mas gostaria que eles pudessem ver as coisas como
vejo; pois a mim parece de extrema importância que haja um padrão mais alto de santidade em
Boston.” Eles pareciam muito ansiosos para que aquelas verdades fossem expostas diante do
povo em geral. Eram bons homens, como o povo de Boston bem o sabe; mas quais as dores que
tomaram de fato para que os pastores pudessem participar, não sei dizer.
Naquele inverno, trabalhei mais para um avivamento religioso entre cristãos. O Senhor preparou-
me para fazer isso, pela grande obra que Ele fez em minha própria alma. Apesar de ter muito da
vida divina trabalhando dentro de mim, ainda assim, como eu disse, o que experimentei naquele
inverno excedeu tanto o que eu já havia vivenciado antes, que às vezes eu não conseguia perceber
se antes já estivera de fato alguma vez em verdadeira comunhão com Deus. Para ter certeza de
que estivera, muitas vezes e por muito tempo, refleti sobre o assunto, e recordei de tudo pelo que
passei tantas vezes. Parecia-me, naquele inverno, que provavelmente quando chegarmos no céu,
nossas visões e alegrias, e santos pensamentos ultrapassarão em muito tudo o que já
experimentamos nesta vida, a ponto de quase não reconhecermos o fato de que tínhamos alguma
religião enquanto estávamos neste mundo. De fato eu havia experimentado por várias vezes
alegrias indescritíveis, e profunda comunhão com Deus; mas tudo isso tornara-se tão fosco diante
de minha nova experiência, que eu freqüentemente dizia ao Senhor que antes jamais tivera a
concepção das coisas tão maravilhosas reveladas em Seu bendito evangelho, e da maravilhosa
graça que há em Cristo Jesus. Essa linguagem, aprendi quando refleti sobre ela, era comparativa;
mas ainda assim todas as minhas antigas experiências, até então, pareciam seladas, e quase fora
de meu campo de visão.
Conforme a grande agitação da temporada se esvaecia, e minha mente se acalmava, vi mais
claramente os diferentes estágios de minha experiência cristã, e comecei a reconhecer a conexão
de tudo, como tendo sido escrito por Deus do começo ao fim. Mas desde então nunca mais tive
pelejas tão grandes como aquelas, e prolongados períodos de agonizante oração que tantas vezes
vivera. É algo bem diferente prevalecer com Deus, em minha própria experiência, do que era
antes. Posso achegar-me a Deus com mais calma, por causa da mais perfeita confiança. Ele me
faz descansar nEle, e deixar tudo seguir de acordo com Sua perfeita vontade, com muito mais
prontidão do que em qualquer momento antes da experiência daquele inverno.
Sinto desde então uma liberdade religiosa, uma leveza religiosa e gozo em Deus, e em Sua
Palavra, uma firmeza de fé, uma liberdade cristã e transbordante amor; isso experimentara apenas
ocasionalmente antes, devo dizer. Não digo que tais pensamentos eram raros para mim antes, pois
eram freqüentes e sempre se repetiam, mas nunca permaneciam como o fazem desde então. Meu
cativeiro parecia, naquele momento, completamente quebrado; e desde aquela época, tenho tido a
liberdade de uma criança para com um pai amoroso. Parecia que eu podia encontrar a Deus
dentro de mim, de tal maneira, que podia descansar nele, e ficar quieto, depositar meu coração
em Suas mãos, e aninhar-me em Sua perfeita vontade, sem qualquer preocupação ou ansiedade.
Falo de tais exercícios como sendo habituais, desde aquele período, mas não posso afirmar que
jamais tenham sido quebrados, pois em 1860, durante um período de doença, tive uma temporada
de grande depressão e maravilhosa humilhação. Mas o Senhor me tirou de tal vale, para um
descanso e paz estabelecidos.
Poucos anos depois desse período de refrigério, aquela amada esposa, de quem falei, faleceu.
Para mim isso foi uma grande aflição. Contudo, não senti nenhuma murmuração, nem a menor
resistência sequer à vontade de Deus. Entreguei-a a Deus totalmente sem reservas, que possa me
lembrar. Mas isso foi para mim uma grande tristeza. Na noite em que ela faleceu, eu estava
deitado sozinho em meu quarto, e alguns amigos cristãos estavam sentados na varanda,
admirando a noite. Eu estava dormindo há pouco tempo, e ao acordar, o pensamento de minha
consternação passou como um flash em minha mente com imenso poder! Minha esposa se fora!
Jamais escutaria sua voz novamente, nem veria seu rosto! Seus filhos estavam órfãos! O que eu
faria agora? Meu cérebro parecia cambalear, conforme minha mente divagava. Levantei-me no
mesmo instante de minha cama, exclamando, ficarei louco se não conseguir descansar no Deus.
O Senhor logo acalmou minha mente, por aquela noite; mas ainda assim, momentos de tristeza
sobrevinham-me, de forma a quase me sucumbir.
Certo dia eu estava de joelhos, em compartilhando com Deus sobre esse assunto, e de uma vez
por todas Ele parecia dizer-me “Você amava sua esposa?” “Sim.” eu disse. “Ora, amava-a pelo
bem dela, ou por teu próprio bem? Amava-a ou amava a ti mesmo? Se a amava pelo bem dela,
porque te entristeces por ela estar aqui Comigo? Sua alegria aqui Comigo não te deveria fazer
regozijar ao invés de prantear, se a amava por seu bem? Amava-a” Ele parecia dizer-me “por
amor a Mim? Se a amava por amor a Mim, com certeza não ficarias triste por ela estar aqui
Comigo. Por que pensas em tua perda e dás tanta importância para isso, ao invés de pensar no
que ela ganhou? Podes ficar triste quando ela está cheia de alegria e felicidade? Se a amava pelo
bem dela, será que não se alegrará em sua alegria, e ficará feliz com sua felicidade?”
Jamais poderei descrever os sentimentos que me sobrevieram, quando fui assim dirigido. Isso
gerou uma mudança instantânea em meu estado mental. A partir daquele momento, a tristeza, em
razão de minha perda, foi embora para sempre. Eu não mais pensava em minha esposa como
morta, mas sim viva, e em meio a todas as glórias dos céus. Minha fé, nesse momento, era tão
forte e minha mente tão iluminada, que eu parecia ser capaz de entrar no mesmo estado de
espírito em que ela estava, nos céus; e se houvesse algo parecido com a comunhão com um
espírito ausente, ou com alguém que está no céu, eu parecia estar em comunhão com ela. Não que
eu jamais tenha suposto que ela estivesse presente, de maneira que pudesse ter uma comunhão
pessoal com ela. Mas eu parecia saber em que estado sua mente se encontrava, que profundo,
irrestrito descanso, na perfeita vontade de Deus. Pude ver que era o céu, e experimentei em minha
própria alma. Eu nunca mais, até hoje, perdi a benção dessas visões. Elas freqüentemente
recorrem a minha mente, como o estado mental em que se encontram os próprios habitantes do
céu, e posso ver por quê eles estão em tamanha bem-aventurança.
Minha esposa falecera com uma mente celestial. Seu descanso em Deus era tão perfeito, que a
mim parecia que, ao deixar esse mundo, ela simplesmente entrou em uma compreensão mais
abrangente do amor e fidelidade de Deus, de forma a confirmar e aperfeiçoar para sempre, sua
confiança em Deus, e sua união com Sua vontade. Essas são experiências nas quais tenho vivido,
grande parte do tempo, desde aquela época. Mas ao pregar, descobri que não posso falar essas
verdades em lugar algum, nas quais minha própria alma deleita-se para viver, e ser
compreendido, exceto por um restrito número de pessoas. Jamais encontrei mais do que alguns
poucos, até mesmo de meu próprio rebanho, que apreciasse e recebesse aquelas visões de Deus e
Cristo, e a plenitude de Sua gratuita salvação, sobre a qual minha própria alma deleita-se para se
alimentar. Em todos os lugares, sou obrigado a descer ao nível no qual as pessoas estão, a fim de
fazer-me entender; e em todos os lugares onde preguei, por muitos anos, encontrei igrejas em
níveis tão baixos, a ponto de serem completamente incapazes de absorver e apreciar, o que eu
considero como as verdades mais preciosas do evangelho.
Quando prego a pecadores não arrependidos, sou obrigado, é claro, a voltar aos primeiros
princípios. Em minha própria experiência, já passei há tanto tempo de tais primeiros princípios,
que não posso viver sobre tais verdades tão somente. Contudo, devo pregá-las aos ímpios, para
assegurar sua conversão. Quando prego o evangelho, posso pregar sobre a redenção, conversão, e
muitas das proeminentes visões do evangelho, que podem ser apreciadas e aceitas, pelos jovens
na vida religiosa; e também por aqueles que há muito tempo estão na igreja de Deus, porém não
avançaram muito em seu conhecimento de Cristo. Mas é somente de vez em quando, que vejo ser
realmente proveitoso ao povo de Deus, apresentar-lhes a plenitude que minha própria alma vê em
Cristo. Neste lugar, há um número muito maior de pessoas, que me entendem, e devoram tais
verdades, do que já encontrei em qualquer outro lugar; mas até mesmo aqui, a maioria dos
professores de religião não abraça essas verdades com pleno entendimento. Eles não fazem
objeções, tampouco se opõem, e até onde compreendem, são convencidos. Mas como uma
questão de experiência, são ignorantes no poder das mais altas e preciosas verdades do evangelho
da salvação, em Cristo Jesus.
Já comentei que esse inverno em Boston foi gasto em grande parte, com pregações àqueles que se
professavam cristãos, e que muitos deles foram grandemente abençoados em suas almas. Eu tinha
uma grande certeza de que, a menos que os cristãos de Boston assumissem um estilo de vida com
padrões cristãos mais altos, jamais prevaleceriam contra o Unitarismo. Eu sabia que os pastores
ortodoxos pregavam a ortodoxia em oposição ao Unitarismo, por muitos anos; e que tudo que
pudesse ser conquistado por discussão, havia sido conquistado. Mas eu sentia que o que os
Unitários precisavam, era ver os cristãos vivendo do mais puro evangelho de Cristo. Eles
precisavam ouvi-los dizer, e provar o que diziam com suas vidas, que Jesus Cristo era um divino
Salvador, e capaz de salvá-los de todo pecado. Suas profissões de fé em Cristo, não estavam de
acordo som suas experiências. Eles não podiam dizer que encontravam Cristo, como O
pregavam, em sua experiência. Havia uma necessidade de testemunho vivo de Deus, testemunho
de experiências, para convencer os Unitários, e meros debates, argumentos, ainda que
conclusivos, jamais superariam seus erros e preconceitos.
As igrejas ortodoxas ali são muito formais; são cativas em certos caminhos, têm medo de novas
medidas, medo de avançarem em total liberdade, no uso de novos métodos para salvar almas. A
mim, sempre pareceram estar presos em suas orações, tanto que posso dizer que o espírito de
oração, foi por mim testemunhado muitas vezes em Boston. Os pastores e diáconos das igrejas,
embora fossem bons homens, têm medo do que os Unitários dirão, se, em seus métodos para
promover a religião, eles avancem de forma a acordar o povo. Tudo deve ser feito em uma certa
seqüência. O Espírito Santo foi afastado por sua rendição a tal prisão.
Trabalhei em Boston em cinco poderosos avivamentos religiosos; e devo expressar como minha
sincera convicção, que a maior dificuldade na maneira de superar o Unitarismo, e todas as formas
de erro ali, é graças à timidez dos cristãos e das igrejas. Sabendo, como sabem, que são
constantemente expostos a críticas dos Unitários, tornaram-se cuidadosos demais. Sua fé foi
deprimida. E eu temo sim que o prevalecimento do Unitarismo e do Universalismo naquele lugar,
os impediu de pregar, e de anunciar o perigo da impiedade, da maneira como o Presidente
Edwards apresentava. A doutrina da condenação eterna, a necessidade de santificação completa,
ou a abstinência total do pecado, como uma condição de salvação; de fato as doutrinas que são
calculadas para incitar os homens não são, temo eu, apresentadas com a freqüência e poder que
são indispensáveis para a salvação daquela cidade.
A pequena igreja na capela Marlborough estava muito desejosa para que eu me tornasse seu
pastor; então saí de Boston, e vim para casa, com essa pergunta em minha mente. Mais tarde o
Irmão Sears veio, com um pedido formal em seu bolso, para persuadir-me a ir e assumir minha
residência lá. Mas quando ele chegou a Oberlin e consultou os irmãos aqui, sobre a possibilidade
de minha ida, foi tão desencorajado, que sequer chegou a apresentar-me o convite.
A VERDADE DO EVANGELHO
AS MEMÓRIAS DE CHARLES G. FINNEY
CAPÍTULO XXVIII.
A PRIMEIRA VISITA À INGLATERRA
TENDO repetidos convites urgentes para visitar a Inglaterra, e trabalhar pela promoção de
avivamentos naquele país, embarquei com minha esposa (o Sr. Finney casara-se novamente,
como sua segunda esposa, a Sra. Elizabeth F. Atkinson, de Rochester), no outono de 1849, e
depois de uma atribulada viagem, chegamos a Southampton, no início de novembro. Lá
conhecemos o pastor da igreja de Houghton, um vilarejo situado no meio do caminho entre as
cidades de Huntington e Saint Ives. O Sr. Potto Brown, um homem muito benevolente, de quem
terei oportunidade de falar com mais freqüência, enviara o Sr. James Harcourt, seu pastor, para
encontrar-nos em Southampton.
O Sr. Potto Brown era, por herança e educação, um quacre. Ele tinha um sócio, e estava no
mercado de milho, pertencia a uma congregação de Independentes, em Saint Ives. Eles ficaram
muito preocupados em vista da situação em sua vizinhança. A Igreja, como é chamada na
Inglaterra, parecia-lhes ter pouquíssimo efeito para a salvação das almas. Não havia escolas, além
das escolas eclesiásticas, para a educação dos pobres; e a grande massa das pessoas era muito
negligenciada. Depois de muita oração e discussão uns com os outros, eles concordaram em
adotar métodos para a educação das crianças, no vilarejo em que viviam, e nos vilarejos vizinhos,
e entender essa influência até onde conseguissem. Também concordaram em aplicar seus
métodos, para a melhor vantagem, para estabelecer a adoração, e na construção de igrejas
independentes do Estabelecimento.
Não muito tempo depois desse empreendimento começar, o sócio do Sr. Brown faleceu. Sua
esposa, crio eu, falecera antes dele; e seu sócio comprometeu sua família, que consistia de vários
filhos e filhas, ao cuidado fraternal do Sr. Brown, que os comprometeu ao treinamento de uma
sábia viúva, em um dos vilarejos vizinhos. O sócio do Sr. Brown, em seu leito de morte,
implorou-lhe para que não abandonasse o trabalho que haviam projetado, mas para que
continuasse a trabalhar com vigor e singeleza. O coração do Sr. Brown estava na obra. Seu sócio
deixara uma grande propriedade para seus filhos. O próprio Sr. Brown tinha apenas dois filhos,
homens. Ele era um homem de hábitos simples, e não gastava quase nenhum dinheiro consigo
nem com sua família. Empregava um professor, no vilarejo onde morava, e construiu uma capela
para cultos abertos ao público. Eles chamaram um homem que defendia o hiper-Calvinismo para
trabalhar como pastor, e por conseqüência ele trabalhou ano após ano sem resultados que
respondessem às expectativas do Sr. Brown.
Ele tinha freqüentes conversas com seu pastor, sobre a necessidade de bons resultados. Pagava
seu salário e dispunha de seu dinheiro de várias maneiras, para promover a religião, através da
escola dominical, professores e obreiros; mas poucas pessoas, ou às vezes nenhuma se convertia.
Ele apresentava esse problema a seu pastor tão freqüentemente, que por fim ele respondeu “Sr.
Brown, por acaso eu sou Deus e posso converter as almas? Prego a eles o evangelho, e se Deus
não os converte, devo ser culpado?” O Sr. Brown respondeu “Sendo você Deus ou não,
precisamos de conversões. As pessoas precisam se converter.” Então esse pastor foi dispensado.
O Rev. James Harcourt foi chamado para assumir a igreja. Ele era um Batista aberto à comunhão,
um homem talentoso, empolgado pregador, e honesto obreiro de almas. Sob sua pregação,
conversões começaram a aparecer, e a palavra prosperava cheia de esperança. Sua pequena igreja
cresceu em número e em fé; e o céus se estendiam aos poucos, mas de forma bastante perceptível,
para todos os lados.
Eles logo estenderam suas obras para os vilarejos vizinhos, com bons resultados. Mas ainda não
sabiam como promover avivamentos religiosos. Os filhos de seu sócio, que haviam sido deixados
sob seus cuidados, cresceram e tornaram-se jovens rapazes e moças, mas ainda não eram
convertidos. Havia três filhos e três filhas, uma ótima família, com muitas propriedades, mas
ainda não eram convertidos. O Sr. Brown tinha muitos amigos interessantes e influentes, naquele
país, por cuja salvação tinha um profundo interesse. Ele também estava muito ansioso pelos
filhos de seu falecido sócio, para que eles também fossem convertidos. Para a educação de seus
filhos, ele contratara um professor para sua família; e um número considerável de rapazes, de
famílias respeitáveis, das cidades vizinhas, haviam estudado com seus filhos. Essa pequena
escola familiar, para a qual os rapazes filhos de seus amigos, de várias partes do país haviam sido
convidados, criara um laço de interesses muito forte entre o Sr. Brown e essas famílias. As obras
do Sr. Harcourt, por alguma razão, não alcançava essas famílias. Ele era muito bem-sucedido em
meio às classes mais baixas e mais pobres, era muito zeloso e devoto, e pregava o evangelho.
Como o próprio Sr. Brown disse, ele era um poderoso ministro de Jesus Cristo. Mas ainda assim
ele queria experiência, para atingir as classes sociais que o Sr. Brown tinha dentro de seu coração.
Esses irmãos freqüentemente discutiam o assunto, e questionavam como poderiam atingir tais
pessoas e atraí-las a Cristo. O Sr. Harcourt disse que fizera tudo que podia, e que algo mais
deveria ser feito, ou ele não via como tais pessoas pudessem ser alcançadas.
Ele havia lido minhas palestras sobre o avivamento, e finalmente sugeriu ao Sr. Brown a
possibilidade de escrever-me, para ver se não poderia vir trabalhar com eles. Isso levou a meu
recebimento de um pedido muito sincero do Sr. Brown, para que fosse visitá-los. Ele também
conversou com muitas pessoas, e com alguns pastores, o que resultou em muitas cartas recebidas
por mim, com pressionados convites para visitar a Inglaterra.
No começo, tais cartas não me causaram muito impacto, pois eu não via como poderia ir para a
Inglaterra. Aos poucos, o caminho parecia se abrir para que eu deixasse minha terra, pelo menos
por uma temporada, e como já disse, no outono de 1849, eu e minha esposa fomos para a
Inglaterra. Quando chegamos lá, e depois de descansar por alguns dias, comecei minhas obras na
capela do vilarejo. Logo descobri que o Sr. Brown era um homem completamente admirável.
Apesar de criado como um quacre, ele era inteiramente católico em suas idéias, e estava
trabalhando de forma independente, diretamente para a salvação das pessoas ao seu redor. Tinha
riqueza, e suas propriedades aumentavam constante e rapidamente. Sua história me lembrou
muitas vezes do provérbio: “Há o que espalha e ainda assim aumenta; há o que retém mais do que
precisa, e tende à pobreza”. Para fins religiosos, ele gastava seu dinheiro como um príncipe, e
quanto mais ele gastava, mas tinha para gastar.
Enquanto estávamos lá, ele abria sua casa, manhã, tarde e noite, para seus amigos e convidados,
de longe e de perto, para que lhe viessem fazer uma visita. Eles vinham em grandes números, de
forma que sua mesa estava repleta em quase todas as refeições, com várias pessoas que ele
convidara, para que eu pudesse conversar com elas, e para que elas pudessem participar de nossas
reuniões.
Um avivamento começou imediatamente, e espalhou-se em meio ao povo. Os filhos de seu sócio
logo se interessaram em religião, e converteram-se a Cristo. A obra se espalhou para aqueles que
vinham de vilarejos vizinhos. Eles ouviam e recebiam alegremente a Palavra. E o trabalho era tão
extenso e minucioso entre os amigos pessoais do Sr. Brown, por cuja conversão ele há muito
esperava e orava, que antes que eu fosse embora, ele disse que cada um deles se convertera, que o
Senhor não deixara nenhum deles de fora, daqueles por quem ele estivera tão ansioso, e por cuja
conversão tanto havia orado.
A conversão desse grande número de pessoas, espalhadas pelo país, causou uma impressão
bastante favorável onde eles eram conhecidos. A casa de adoração em Houghton era pequena,
mas estava lotada em todas as reuniões, e a devoção e engajamento do Sr. Brown e de sua esposa
era muito interessante e tocante. Parecia não haver limites em sua hospitalidade. O diretor de sua
escola era um homem religioso, que vinha compartilhar conosco de quase todas as refeições, para
aproveitar a conversa. Cavalheiros vinham de cidades vizinhas, de muitas milhas de distância,
cedo o suficiente para estarem lá para o desjejum. Os jovens que haviam sido educados com seus
filhos eram convidados, e vinham, e creio que cada um deles se converteu. Assim, seus maiores
desejos em relação a eles foram atendidos; e muito mais em meio à massa popular foi feito, do
que era esperado. O Sr. Harcourt tinha naquela época vários pontos de pregação, além de
Houghton, nos vilarejos vizinhos. Seu trabalho em Houghton continuou por anos. Ele me
informou que pregava em uma atmosfera de oração, e encontrava tal situação ao seu redor
sempre que esteve em Houghton.
Não permaneci em Houghton por muito tempo dessa vez… no entanto foram várias semanas.
Entre os irmão que me escreveram, urgindo para que eu fosse para a Inglaterra, estava um Sr.
Roe, um pastor Batista de Birmingham. Logo que soube que eu estava na Inglaterra, ele veio a
Houghton, e passou vários dias participando das reuniões e testemunhando os resultados.
Mais ou menos no meio de dezembo, saí de Houghton e fui para Birminghan, para trabalhar na
congregação do Sr. Roe. Aqui, pouco depois de nosso avivamento, fomos apresentados ao Rev.
John Angell James, que era o principal pastor de Birmingham. Ele era um bom e grande homem,
e tinha uma grande influência na cidade, e de fato em toda a Inglaterra.
Quando minhas palestras de avivamento começaram a ser publicadas na Inglaterra, o Sr. James
escreveu uma introdução a elas, elogiando muito. Mas quando eu cheguei a Birmingham, fui
informado de que, depois de terem sido publicamente recomendadas pelo Sr. James, em reuniões
pastorais, e por sua publicação, ele fora informado, por homens pertencentes a certos círculos
deste lado do Atlântico, que tais avivamentos que ocorreram, especialmente sob meu ministério,
haviam acabado de forma mais desastrosa; e tais apresentações foram-lhe feitas a tal ponto, que
chegou a retirar o que dissera publicamente, a favor de tais palestras.
Entretanto, quando ele me viu em Birmingham, chamou os pastores Independentes para um café-
da-manhã em sua casa, e convidou a mim também. Esse é o hábito de se fazer as coisas na
Inglaterra. Quando nos reunimos em sua casa, depois do desjejum, ele disse a seus irmãos de
ministério que tinha a impressão de que eles estavam muito aquém dos resultados esperados para
seus ministérios; que estavam acomodados demais tendo pessoas participando de suas reuniões,
pagando seu salário pastoral, mantendo a escola dominical, e prosseguindo com prosperidade,
enquanto as conversões, na maioria das igrejas, eram pouquíssimas, e afinal, as pessoas estavam
indo para a destruição. Eu havia sido informado pelo Sr. Roe, com quem começara a trabalhar
nessa época, que havia, na própria congregação do Sr. James, não menos do que mil que
quinhentos pecadores impenitentes. Durante aquele café-da-manhã, ele se expressou de forma
bastante compadecida, e disse que algo deveria ser feito.
Por fim, os pastores concordaram em realizar reuniões, tão logo eu pudesse atender a seus
pedidos, em igrejas Independentes diferentes, sucessivamente. Mas por algumas semanas,
confinei minhas obras à congregação do Sr. Roe, e houve um poderoso avivamento, tal mover
como eu jamais havia visto. O avivamento varreu a congregação com grande poder, e uma grande
porção dos ímpios voltou-se para Cristo. O Sr. Roe entrou na obra de coração e alma. Percebi que
ele era um homem bom e verdadeiro. De forma alguma era sectário ou preconceituoso em suas
visões, mas abria seu coração para a influência divina, e derramava-se em sua labuta por almas,
com muita sinceridade. Dia após dia ele se assentava na sacristia de sua igreja para conversar
com aqueles que tinham dúvidas, conforme esses vinham visitá-lo, e direcionava-os a Cristo. Seu
tempo era praticamente todo tomado com essa obra, por muitos dias. Sua igreja era, naquela
época, uma das poucas comunidades fechadas na Inglaterra, pois praticamente todas as igrejas
Batistas naquele país eram abertas a outras denominações.
Depois do número de conversões crescer, as igrejas começaram a examinar os convertidos para
admissão. Eles avaliaram um grande número e estavam prestes a realizar uma comunhão. Eu
preguei pela manhã e eles deveriam realizar a comunhão à tarde. Quando o culto da manhã foi
encerrado, o Sr. Roe pediu para que a igreja permanecesse ali por alguns momentos. Minha
esposa e eu nos retiramos, e fomos para nossos aposentos na casa do Sr. Roe, onde estávamos
hospedados. Depois de pouco tempo, o Sr. Roe veio para casa, entrou em nosso quarto e com um
sorriso em seu rosto, dise “O que você acha que nossa igreja fez?” Eu não sabia dizer, pois
realmente não havia me ocorrido de perguntar o que eles fariam, quando pediram para ficar. Ele
respondeu “Eles votaram unanimemente para que você e a Sra. Finney fossem convidados para a
nossa comunhão, esta tarde.” Sua comunhão fechada era mais do que podiam sustentar, em uma
ocasião como aquela. Contudo, ao refletir, concluímos que seria melhor não aceitar o convite,
pois se houvessem votado sob pressão, isso geraria uma certa reação e arrependimento entre eles
mais tarde, e como estávamos realmente exaustos, pedimos desculpas e ficamos em casa.
Sendo que eu pregaria novamente à noite, fiquei feliz de ter aquele descanso. Logo aceitei os
convites dos pastores para trabalhar em seus vários púlpitos. As congregações em todos os
lugares estavam lotadas; um grande interesse fora levantado; e o número de pessoas que se reunia
nas sacristias depois das pregações, mediante a convites para tirar dúvidas, era grande. Suas
maiores salas ficavam cheias de pessoas com dúvidas, sempre que um convite como esse era
feito. Quanto aos métodos, utilizei os mesmos lá que utilizara neste país. Pregações, orações,
conversas, reuniões para perguntas e respostas, eram os meios utilizados.
Mas eu logo descobri que o Sr. James estava recebendo cartas de vários lugares, alertando-o
contra a influência de minhas obras. Ele tinha conhecidos neste lado do Atlântico, e alguns deles,
como compreendi dele, haviam enviado-lhe cartas, alertando-o contra minhas influências. Além
disso, de várias partes de seu próprio país, a mesma pressão era imposta a ele. Ele era muito
franco comigo, e disse-me como a situação se encontrava, e eu fui muito franco com ele também.
Eu disse “Irmão James, sua responsabilidade é grande. Tenho consciência de que sua influência é
grande, e essas cartas demonstram tanto sua influência quanto sua responsabilidade, em relação a
essas obras. O senhor é levado a pensar que sou herege em minhas idéias. O senhor escuta
minhas pregações sempre que prego, e sabe se prego o evangelho ou não.”
Eu havia levado comigo meus dois livros publicados sobre Teologia Sistemática. Disse-lhe “O
senhor já me ouviu pregar qualquer coisa além do evangelho?” ele disse “Não, nada além disso.”
“Bem,” disse eu “agora, eu tenho aqui minha Teologia Sistemática, que ensino a meus alunos nos
Estados Unidos, e que prego em todos os lugares, e quero que o senhor leia.” Ele foi muito
sincero em fazê-lo. Eu logo percebi que havia um senhor de aparência muito elegante com ele,
todas as noites, em nossas reuniões. Eles iam para as reuniões juntos, e quando eu chamava
aqueles que tinham perguntas, eles também iam até a sacristia, e onde conseguissem um lugar,
ficariam, ouvindo tudo que era dito. Quem era esse cavalheiro, eu não sabia. Por várias noites
sucessivas, eles entravam assim, mas o Sr. James não me apresentou àquela pessoa que estava
com ele, nem se aproximava para falar comigo, naquelas reuniões.
Depois disso prosseguir por uma ou duas semanas, o Sr. James e seu amigo fizeram uma visita a
nossos aposentos. Ele me apresentou ao Dr. Redford, informando-me ao mesmo tempo, que ele
era um de seus mais proeminentes teólogos, que ele tinha mais confiança na perspicácia teológica
do Dr. Redford do que em sua própria, e que ele lhe solicitara uma visita a Birmingham, para que
participasse das reuniões, e em especial para que se unisse a ele na leitura de minha Teologia. Ele
disse que estavam lendo, dia após dia, e que o Dr. Redford gostaria de ter uma conversa comigoo,
sobre certos pontos da teologia. Conversamos com bastante liberdade sobre todos os assuntos
para os quais o Dr. Redford queria chamar minha atenção; e ele mesmo disse com muita
franqueza “Irmão James, não vejo nenhum motivo para considerar o Sr. Finney como infundado.
Ele tem sua própria maneira de defender proposições teológicas, mas não consigo ver que
discorde, em qualquer um dos pontos essências, de nós.”
Eles tinham consigo um pequeno manual, preparado pela União Congregacional da Inglaterra e
País de Gales, no qual foi encontrado uma breve declaração de suas visões teológicas. Eles leram
para mim certas partes desse manual, e quando chegou minha vez, questionei sobre eles. Ouvi
suas explicações, e fiquei satisfeito pelo nível de concordância que houve entre nós.
O Dr. Redford permaneceu ainda por mais um tempo em Birmingham. Ele foi embora, e, com
meu consentimento, levou consigo minha Teologia Sistemática; dizendo que leria com cuidado e
minuciosamente, então escrever-me-ia com seus pontos de vista a respeito dela. Percebi que de
fato, em sua terra natal, estava envolvido com a teologia, era professor e cristão, e um teólogo
plenamente educado. Fiquei, portanto, ansioso por receber suas críticas de minha teologia, para
que se houvesse qualquer coisa que precisasse ser retratada ou adicionada, ele pudesse indicar.
Pedi-lhe que assim o fizesse, minuciosa e francamente. Ele levou os livros para casa, entregou-se
a uma detalhada análise, lendo os volumes paciente e criticamente várias vezes. Então recebi uma
carta dele, expressando sua forte aprovação de minhas visões teológicas, dizendo que havia
poucos pontos sobre os quais ele gostaria de fazer algumas perguntas, e gostaria que, assim que
eu pudesse me afastar de Birmingham, fosse pregar para ele.
Continuei ali, creio eu, por mais ou menos três meses. Muitas conversões interessantes
aconteceram naquela cidade, e mesmo assim os pastores não estavam preparados para se
comprometerem de coração com o uso dos meios necessários, para que o avivamento se
espalhasse por toda a cidade.
Houve um caso de caráter tão interessante, que deve receber atenção. Suponho que num geral,
saiba-se neste país, que o Unitarismo na Inglaterra, começou seu desenvolvimento e promulgação
em Birmingham. Era a cidade natal do velho Dr. Priestley, que era um dos principais, senão um
dos primeiros pastores Unitários naquele país. Encontrei sua congregação ainda em
funcionamento em Birmingham. Certa noite, antes de deixar a cidade, preguei sobre a passagem
“Homens de dura cerviz e incircuncisos de coração e ouvido, vós sempre resistis ao Espírito
Santo.” Falei primeiro da divindade e da personalidade do Espírito Santo. Então esforcei-me para
mostrar de quantas maneiras, e em quantos pontos, o homem resiste aos ensinamentos divinos,
que quando convencidos pelo Espírito Santo, ainda insistem em seguir seu próprio caminho, e
que em todos os casos, estão resistindo ao Espírito Santo. O Senhor me deu liberdade naquela
noite, para pregar um sermão bastante detalhado. Meu objetivo era mostrar que, enquanto os
homens defendem sua dependência do Espírito Santo, estão constantemente resistindo-o.
Encontrei em Birmingham, assim como em todo lugar na Inglaterra, que muita importância era
dada à influência do Espírito Santo. Mas em nenhum lugar encontrei uma discriminação clara
entre a influência física do Espírito, exercida diretamente sobre a alma, e a influência moral e
persuasiva, que Ele de fato exerce sobre a mente do homem. Por conseqüência, via que era
freqüentemente necessário chamar a atenção das pessoas para a obra em que o Espírito Santo está
de fato engajado, explicar-lhes que eles não deviam esperar pela influência física, mas que
deviam se entregar a Sua influência persuasiva, e obedecer a Seus ensinamentos. Esse foi o
objetivo de meu discurso naquela noite.
Depois de chegar a nossa vizinhança, uma senhora que estava presente na reunião e que veio para
a família que nos hospedava, comentou que observara um pastor Unitário presente na
congregação. Eu comentei que aquilo deveria ter soado estranho aos ouvidos de um Unitário. Ela
respondeu que esperava que o fizesse bem. Não muito tempo depois disso, quando eu trabalhava
em Londres, recebi uma carta desse pastor, dando conta da grande mudança que acontecera em
sua experiência religiosa, por causa daquele sermão. Dou essa carta, conforme segue:
“06 de agosto de 1850. Rev. e querido senhor: Sabendo pelo British Banner que o senhor está
prestes a deixar a Inglaterra, sinto que seria extremamente ingrato de minha parte, permitir que o
senhor vá, sem expressar a obrigação que sinto para com o senhor, pelo benefício que recebi de
um de seus sermões, realizado na Rua Steelhouse, em Birmingham. Creio que foi o último
sermão que pregou, e foi sobre resistir ao Espírito Santo; mas nunca consegui encontrar o texto.
Na verdade, sobre os pontos com os quais mais me identifiquei, não maquinei por mais de dois
ou três dias sobre o texto. Para que o senhor possa compreender o benefício que recebi de seu
sermão, é necessário que eu de conta, em poucas palavras, de minha posição naquela época.
Fui educado em uma de nossas faculdades mais divergentes, para o ministério em meio aos
Independentes. Ingressei no ministério e continuei a me preocupar sobre ele por sete anos.
Durante aquele tempo, gradualmente passei por uma grande mudança em minhas visões
teológicas. A mudança foi gerada, creio eu, em parte pelas especulações filosóficas, e em parte
pela deterioração que se alojara em minha condição espiritual. Diria com grande pesar que minha
devoção jamais recuperou o tom que perdera em minha passagem pela faculdade. Atribuo todas
as minhas tristezas especialmente a isso. Minhas especulações me levaram, sem jamais ter lido o
livro do Dr. William sobre a soberania divina e a igualdade, a adotar suas visões
fundamentalistas. A leitura de seu livro aperfeiçoou completamente meu sistema. O pecado é um
defeito, que surge da deficiência necessária de uma criatura, quando não suprida com a graça de
Deus. A queda do homem, portanto, não expressa nada além da inevitável imperfeição original da
raça humana. O grande fim do governo moral de Deus é corrigir essa imperfeição por educação e
revelação, e por fim aperfeiçoar a condição do homem. Eu já havia, muito tempo antes disso,
adotado as visões de influência espiritual do Dr. Jenkyn.
Sob o direcionamento de tais princípios, o senhor compreenderá, sem que eu explique como, que
o pecado se tornou uma mera infelicidade, permitida por um tempo determinado, ou então um
mau necessário, para ser remediado pela infinita sabedoria e bondade; como a condenação eterna
se tornou uma crueldade, que não deveria ser considerada sequer por um momento, na
dispensação de um bom ser, e como a redenção se tornou um perfeito absurdo, fundado em
visões não filosóficas do pecado. Tornei-me plenamente Unitário, e no início do ano de 1848,
professei meu Unitarismo, e tornei-me pastor de uma igreja. As tendências de minha mente, no
entanto, eram felizmente lógicas demais, e não pude descansar por muito tempo no Unitarismo.
Forcei minhas conclusões ao simples deismo, e então vi que deveria ir ainda além. Eu não estava
preparado para isso. Toda a minha alma ficou horrorizada. Revi meus princípios. Uma revolução
começou a acontecer em todo meu sistema de filosofia. A doutrina da responsabilidade foi
restabelecida a mim, em seu sentido mais estrito e literal, e com ela, uma profunda consciência de
pecado. Não preciso entrar em maiores detalhes, no que diz respeito a minhas pelejas e
sofrimentos mentais.
Aproximadamente duas semanas antes de escutar o senhor, vi claramente que deveria algum dia,
mais cedo ou mais tarde, adotar novamente o sistema evangélico. Jamais duvidara que esse era o
sistema da bíblia. Tornei-me um Unitário com bases puramente racionais. Mas agora via que
precisava aceitar a bíblia, ou pereceria na escuridão. O senhor pode imaginar as agonias de
espírito que tive que suportar. Por um lado tinha minhas convicções, fortalecendo-se a cada dia, a
noção de pecado, e necessidade de Cristo, apoderando-se cada vez mais de meu coração, e a
condição miserável de reter a verdade que eu conhecia, das pessoas que buscavam instrução em
mim. Por outro lado, se me professar, arruíno instantaneamente meu caráter por minha aparente
fraqueza, aos olhos de todos os lados, especialmente aos olhos da grande maioria que em nada
simpatiza com tais pelejas, jogando a mim mesmo e toda minha família para o mundo. Eu não
podia escolher essa alternativa. Eu havia decidido esperar e preparar a mente das pessoas
gradualmente para a mudança, e ao exercer uma economia mais rígida, por alguns meses, para ter
provisão para nossas necessidades temporárias, durante o período de transição. Com minha mente
nesse estado, ouvi seu sermão. O senhor há de se lembrar dele, e poderá facilmente compreender
o efeito que surtiu. Senti a verdade de seus argumentos. Seus apelos avassalaram meu coração de
forma irresistível, e naquela noite, a caminho de casa, fiz um voto diante de Deus, que
independente do que houvesse, consagrar-me-ia de uma vez por todas ao Salvador, cujo sangue
aprendi o valor tão recentemente, e cujo valor tanto desonrei.
O resultado é, pela gentil influência do Sr.---, recentemente me tornei o pastor da igreja nesta
cidade. A paz que gozo hoje em minha mente, de fato excede todo entendimento. Jamais antes
encontrei tanto prazer em ser absorvido pela obra do ministério. Entro plenamente na
significância do que Paulo diz “Todo aquele que está em Cristo, nova criatura é.” Não posso
dizer-lhe portanto, com quantos sentimentos de gratidão seu nome está associado a minha alma.
Louvo a Deus pela gentil providência que me levou a ouví-lo. Parece-me agora mais do que
provável, que se não o tivesse ouvido, minha recém nascida vida religiosa logo teria sido
destruída, pela contínua resistência a minhas profundas convicções. Minha consciência mais uma
vez endurecer-se-ia, e eu morreria em meus pecados. Através da graça de Deus, atribuirei ao
senhor, qualquer utilidade que Deus possa de agora em diante possa coroar em minhas obras, e
sinto que não seria justo reter do senhor a consciência desse fruto de seu trabalho. Que Deus, em
sua infinita misericórdia e graça, conceda-lhe uma longa vida de ainda maior utilidade, do que já
tem lhe dado como benção. Esse será a minha constante oração.
Querido senhor, mais do que sinceramente seu,---”
Quando recebi essa carta, eu estava trabalhando com o Rev. John Campbell no velho
Tebernáculo de Whitefield, em Londres. Entreguei-lha para que lesse. Ele manifestadamente
emocionado, e exclamou “Pronto, por isso já valeu a pena vir para a Inglaterra!”
De Birmingam fui para Worcester, creio que no meio de março, para trabalhar com o Dr.
Redford. Já comentei que ele havia lido minha Teologia Sistemática, e me escrevera convidando-
me para uma conversa sobre certos assuntos. Eu tinha comigo minhas resposta a várias críticas
que haviam sido publicadas, e as entreguei ao Dr. Redford. Ele leu, então veio me ver, dizendo
“Aquelas repostas esclareceram todas as questões sobre as quais eu queria conversar; portanto,
estou plenamente satisfeito de que o senhor está certo.” Depois disso, em momento algum, que eu
me lembre, ele fez alguma crítica a qualquer parte de minha Teologia. Aqueles que já viram a
edição inglesa daquela obra têm consciência de que ele escreveu um prefácio para ela, no qual ele
a recomendava ao público cristão.
Na época a qual me refiro, quando ele lera minhas respostas às perguntas, ele expressou um forte
desejo de que a obra deveria ser imediatamente publicada na Inglaterra; e disse que acreditava
que essa obra era muito necessária lá, e que seria muito bom a todos. Sua opinião tinha muito
peso na Inglaterra, sobre questões teológicas. Lembro-me que o Dr. Campbell afirmou em seu
jornal, que o Dr. Redford era o maior teólogo da Europa. Permaneci em Worceter por várias
semanas, preguei para o Dr. Redford, e também para uma congregação Batista naquela cidade.
Muitas conversões impactantes aconteceram, e a obra foi de fato muito interessante.
Alguns ricos cavalheiros de Worcester apresentaram-me uma proposta para esse efeito. Eles
propuseram erguer um tabernáculo, ou casa de adoração; um que seria desmontado e transportado
de um lugar para o outro sobre a estrada de ferro, e com pouco custo, erguido novamente, com
todos os seus assentos, e toda a mobília de uma casa de adoração. Sua proposta era de construí-lo
com quinhentos metros quadrados, com assentos construídos de forma a comportar cinco ou seis
mil pessoas. Eles disseram que se eu aceitasse usá-lo, e pregar nele de um lugar para o outro,
conforme as circunstâncias exigissem, por seis meses, eles assumiriam as despesas da construção.
Mas ao consultar os pastores daquele lugar, eles me aconselharam a não fazê-lo. Eles acharam
que seria mais útil que eu ocupasse os púlpitos, nas congregações já estabelecidas, em diferentes
partes da Inglaterra, do que ir país a fora pregando de forma independente, tal como foi proposto
por aqueles cavalheiros.
Como eu tinha razões para acreditar que os pastores num geral desaprovariam um caminho na
época tão original, declinei o convide de ocupar o tabernáculo. Desde então eu penso que
provavelmente cometi um erro, pois quando vim a conhecer as congregações e lugares de
adoração pública das igrejas Independentes, descobri que eram geralmente muito pequenos, e tão
mal ventilados, tão fechados na circunferência da igreja – claro que falo do prédio em si – que
desde então parece-me duvidoso se eu realmente tomei a atitude correta; pois tenho a opinião de
que poderia, numa avaliação geral, ter alcançado muito mais na Inglaterra se carregasse comigo
meu próprio lugar de adoração, indo para onde quisesse, e oferecendo abrigo para as reuniões das
massas, independentes de denominações. Se minhas forças hoje fossem o que eram naquela
época, ficaria fortemente inclinado a visitar a Inglaterra mais uma vez, e tentar uma experiência
desse gênero. O Dr. Redford foi muito afetado pela obra em Worcester; e no aniversário em
maio, em Londres, ele falou à união Congregacional da Inglaterra e País de Gales, dando conta de
forma muito interessante de seu trabalho. Eu participei dessas reuniões de maio, estando prestes a
começar minhas obras com o Dr. John Campbell, em Londres.
O Dr. Campbell era um successor de Whitefield, e era pastor da igreja no Tabernáculo em
Finsbury, na cidade de Londres, e também da capela que ficava na Tottenham Court Road.
Ambos esses templos se localizam em Londres, a aproximadamente cinco quilômetros de
distância um do outro. Foram construídos pelo Sr. Whitefield, e ocupados por ele por muitos
anos.
Na época, o Dr. Campbell também era o editor do British Banner, do Christian Witness, e de
mais um ou dois outros periódicos. Tal era sua voz que ele não pregava, mas dedicava seu tempo
para a edição desses jornais. Ele vivia no presbitério onde Whitefield residira, e usava a mesma
biblioteca, creio eu, que Whitefield usara. Seu retrato estava pendurado em seu escritório no
Tabernáculo. Os vestígios de seu nome ainda estavam lá; ainda assim devo dizer que o espírito
que estivera sobre ele não era muito aparente na igreja, na época que fui para lá. Eu comentei que
o Dr. Campbell não pregava. Ele ainda tinha o pastorado, morava no presbitério, e recebia seu
salário, mas ele supria seu púlpito empregando, de poucas em poucas semanas, os ministros mais
populares que pudessem ser empregados, para pregar para seu povo. Eu comecei minhas obras ali
no início de maio. Aqueles que familiarizados com uma obra de tão constantes mudanças no
ministério, como acontecia no Tabernáculo, não teriam expectativas de que a religião na igreja
estivesse em uma condição muito lisonjeira.
A casa de adoração do Dr. Campbell era grande. Os assentos eram compactos, e tinham uma
lotação de três mil pessoas. Um amigo meu teve muito trabalho para verificar qual acomodava o
maior número de pessoas, o Tabernáculo em Moorfields (ou Finsbury), ou o grande Dexter Hall,
do qual todos já tinham ouvido falar. Foi verificado que o Tabernáculo acomodava algumas
centenas de pessoas a mais do que o Dexter Hall.
A VERDADE DO EVANGELHO
AS MEMÓRIAS DE CHARLES G. FINNEY
CAPÍTULO XXIX.
AS OBRAS NO TABERNÁCULO, EM MOORFIELDS, LONDRES
EU TINHA aceitado o convite cordial do Dr. Campbell para suprir seu púlpito por algum tempo,
e de acordo com isso, depois das reuniões de maio comecei a trabalhar, honestamente, por um
avivamento; apesar de não ter mencionado isso para o Dr. Campbell nem para ninguém, por
algumas semanas. Preguei uma série de sermões com o objetivo de convencer as pessoas do
pecado, quão profunda e plenamente fosse possível. Eu via de domingo em domingo, e noite após
noite, que a Palavra começava a ter grande efeito. No dia de domingo, eu pregava pela manhã e à
noite, e também pregava nas noites de terça, quarta, quinta e sexta-feira. Nas noites de segunda-
feira, tínhamos uma reunião geral de oração no Tabernáculo. Em cada uma daquelas reuniões, eu
falava ao povo sobre o assunto da oração. Nossas congregações eram muito grandes, e sempre no
domingo, a casa ficava lotada.
A religião declinara de tal forma em Londres, naquela época, que pouquíssimos sermões
semanais eram pregados, e me recordo de uma vez em que o Dr. Campbell me disse que
acreditava que eu pregava para mais pessoas, durante as noites da semana, do que todo o resto
dos pastores em Londres juntos. Já comentei que o Dr. Campbell tinha o salário pastoral, em sua
congregação. Mas ele não utilizava esse salário para si mesmo, não mais do que uma parte dele,
pois ele arcava com as despesas de suprir o púlpito, enquanto realizava os deveres paroquiais, que
conseguia dentro de suas possibilidades, mediante a tantas pressões do trabalho editorial. Vi que
o Dr. Campbell era um homem honesto, mas muito beligerante. Entrava sempre em controvérsias
e discussões. Como diz a expressão americana, ele costumava atacar com vigor todos e tudo que
não correspondesse a suas visões. Dessa forma ele fez muito bem, e ocasionalmente, temo, algum
mal.
Depois de pregar por várias semanas, na maneira que descrevi, eu sabia que era hora de chamar
aqueles que tinham dúvidas. Mas percebi que o Dr. Campbell não tinha essa idéia em mente. De
fato ele não se assentava num lugar de onde pudesse ver o que se passava na congregação, assim
como eu conseguia ver a partir do púlpito, e mesmo se assim o fizesse, provavelmente não
entenderia o que se passava. A prática naquela igreja era realizar um culto de comunhão a cada
quinze dias, no domingo à noite. Nessas ocasiões, eles tinham um sermão curto, e dispensavam a
congregação; todos se retiravam, exceto aqueles que tinham ingressos para o culto de comunhão,
que permaneciam enquanto aquela ordenança era celebrada.
Na manhã de Domingo à qual me referi, disse ao Dr. Campbell “Você tem um culto de comunhão
hoje à noite, e eu devo realizar uma reunião para perguntas e respostas no mesmo horário. Há
alguma sala, algum lugar nas proximidades para onde eu possa convidar o povo após a
pregação?” Ele hesitou, e expressou duvidar que qualquer um compareceria a uma reunião como
essa. Contudo, pressionei o assunto e ele respondeu “Sim, há a sala da escola infantil, para a qual
você pode convidá-los.” Perguntei quantas pessoas poderiam ser acomodadas ali. Ele respondeu
“De vinte a trinta, ou talvez quarenta.” Então eu disse “Ah, mas não é grande o suficiente. Você
não teria uma sala maior?” Com isso ele ficou estarrecido; e perguntou-me se eu achava que
havia interesse o suficiente na congregação para garantir o convite que eu pretendia fazer. Disse-
lhe que havia centenas de pessoas na congregação que viriam à reunião para tirar suas dúvidas.
Mas disso ele deu risada, dizendo que era impossível. Perguntei-lhe se ele não tinha uma sala
maior. “Bem, sim” ele respondeu, “temos a sala de aula da escola Britânica. Mas ela comporta
mil e quinhentas ou mil e seiscentas pessoas, é claro que você não vai querer.” “Sim, é essa sala
mesmo! Onde fica?” perguntei. “Ah, com certeza o senhor não se arriscará a marcar uma reunião
ali. Nem a metade comparecerá, eu presumo, do que poderia lotar a sala da escola infantil.” Ele
continuou dizendo “Sr. Finney, lembre-se de que está na Inglaterra, em Londres, e de que não
está familiarizado com nosso povo. O senhor pode conseguir com que pessoas compareçam a
uma reunião como essa que está disposto a fazer, nos Estados Unidos, mas aqui o povo não
comparecerá. Lembre-se que nosso culto da noite acaba antes do pôr do sol, nessa época do ano.
E o senhor supõe que no meio de Londres, diante de um convite àqueles que buscam a salvação
de suas almas, e que estão ansiosos por isso, as pessoas se indicarão, à luz do dia, e diante de um
convite como esse, dado publicamente, para participarem de tal reunião?” Eu lhe respondi “Dr.
Campbell, sei melhor do que o senhor o estado no qual essas pessoas se encontram. O Evangelho
adapta-se ao povo inglês tão bem quanto se adapta ao povo americano, não tenho temor algum de
que o orgulho do povo impeça-os de responder ao chamado, da mesma forma que aconteceria
com as pessoas nos Estados Unidos.”
Pedi para que ele me dissesse onde era a sala, e para especificar de tal forma que eu pudesse
mostrar o caminho às pessoas e fazer o apelo que pretendia. Depois de bastante discussão, o
doutor consentiu relutantemente, mas me disse expressamente, que eu deveria assumir toda a
responsabilidade, que ele não compartilharia indicações em particular sobre o caminho até o
local, que ficava a uma pequena distância do Tabernáculo. As pessoas tinham que passar pela rua
Cowper, no sentido da estrada da cidade, alguns metros, e fazer a curva numa passagem estreita,
para chegar ao prédio da escola Britânica. Então fomos para a reunião. Eu preguei de manhã e à
noite, isto é, às seis da tarde, se bem me lembro. Preguei um curto sermão, e então informei ao
povo o que desejava. Chamei aqueles que estavam ansiosos por suas almas, e que estavam
dispostos a fazer imediatamente as pazes com Deus, para que viessem àquela reunião de
instrução, adaptada a seu estado de espírito. Fui muito específico quanto ao grupo de pessoas que
convidei. Disse “Professores de religião não estão convidados a participar desta reunião. Aqueles,
e somente aqueles que não são cristãos mas estão ansiosos pela salvação de sua alma, e que
desejam receber instruções diretas sobre a questão de seu dever atual com Deus, são esperados.”
Repeti isso algumas vezes, de forma a não ser mal-compreendido. O Dr. Campbell escutou com
muita atenção, e presumo que ele esperava, já que eu havia restringido meu apelo a tal classe, que
pouquíssimos, se é que alguém fosse comparecer de fato. Eu estava determinado a não ter a
grande massa das pessoas naquele local, e que aqueles que fossem, deveriam ter a consciência de
que eram pecadores confusos em busca de respostas. Fui veemente nesse ponto, não apenas pelo
bem dos resultados da reunião, mas também para convencer o Dr. Campbell que sua visão do
assunto estava errada. Sentia-me inteiramente confiante que havia muita convicção na
congregação, e que centenas estavam preparados para responder a tal chamado, de uma vez. Eu
tinha plena convicção de que não estava sendo prematuro em fazer tal apelo. Prossegui então em
apontar claramente o grupo de pessoas que eu gostaria que participassem, e como poderiam
chegar até o local. Então dispensei a reunião, e a congregação se retirou.
O Dr. Campbell olhou pela janela, nervoso e ansioso, para ver a direção na qual o povo ia, e para
seu total espanto, a rua Cowper estava lotada de pessoas, apertando o passo para chegar à escola
Britânica. Eu saí e caminhei com a multidão, esperando à entrada do prédio até que todos
entrassem. Quando eu entrei, encontrei o lugar lotado. O Dr. Campbell tinha a impressão de que
não havia menos do que mil e quinhentas ou mil e seiscentas pessoas presentes. Era uma sala
grande, com bancos e carteiras, como eram usados nas escolas.
Havia, perto da entrada, uma plataforma, na qual os palestrantes ficavam, sempre que tinham
reuniões públicas, o que freqüentemente ocorria. Logo descobri que a congregação estava
plenamente convicta, e de tal forma que foi preciso que tomássemos certas precauções, para
evitar uma explosão irrepreensível de sentimentos. Pouco tempo depois o próprio Dr. Campbell
entrou. Observando tamanha reunião de pessoas, ele estava extremamente ansioso para estar
presente, e em função disso, terminou rapidamente o culto de comunhão, para vir para essa
reunião. Ele olhava maravilhado para a multidão reunida, e especialmente espantado com o
sentimento explícito em meio ao povo. Dirigi a palavra a eles por um curto período de tempo,
falando sobre a questão de nosso dever imediato para com Deus; e esforcei-me, como sempre
faço, para fazê-los compreender que Deus esperava que eles se rendessem inteiramente à Sua
vontade, abaixassem suas armas de rebelião, submetessem suas vidas a Ele como seu soberano
por direito, e aceitassem a Jesus como seu único Redentor.
Eu já estava na Inglaterra há tempo suficiente para sentir a necessidade de ser muito direto, ao
dar-lhes tais instruções para descartar sua idéia esperar pelo tempo de Deus. Londres é, e tem
sido há muito tempo, amaldiçoada com pregações hiper-calvinistas. Eu portanto teci meus
comentários com o objetivo de subverter tais idéias, nas quais eu supunha que muitos ali haviam
sido educados; exceto poucas pessoas presentes que, creio eu, faziam parte da congregação do
Dr. Campbell. Na verdade, ele mesmo havia me dito que a congregação que ele via dia após dia,
era nova; que as multidões que lotavam a igreja eram tão desconhecidas para ele quanto para
mim. Então, tentei em minhas instruções, por um lado, guardá-los contra o hiper-calvinismo, e
por outro, contra o baixo arminianismo no qual eu supunha que muitos haviam sido educados.
Portanto, depois de apresentar o evangelho minuciosamente e de lançar a rede, preparei-me para
puxá-la para a praia. Quando eu estava prestes a convidá-los a se ajoelharem e se entregarem
completa e eternamente a Cristo, um homem gritou no meio da congregação, na mais profunda
agonia mental, dizendo que de tanto pecar, já havia perdido seu dia de graça. Eu vi que havia o
risco de um reboliço, abafei a situação da melhor maneira que pude, e convidei o povo a se
ajoelhar, mas também para ficarem tão quietos, se possível, a ponto de escutarem cada palavra da
oração que eu começava naquele momento. Com um claro esforço, assim o fizeram, para que
pudessem ouvir o que era dito, apesar de tanto choro e soluço que enchia todas as partes da casa.
Então eu dispensei a reunião. Depois disso, realizei reuniões similares, com resultados similares,
freqüentemente nas noites de domingo, durante todos os nove meses que permaneci com aquela
congregação. O interesse tornou-se tão extenso, que as reuniões para perguntas e respostas não
cabiam mais no grande prédio da escola Britânica, e sempre que eu percebia que a impressão
sobre a congregação era bastante profunda e generalizada, depois de instruir-lhes
apropriadamente, e de colocá-los face a face com a questão da rendição plena e irrestrita a Cristo,
chamava aqueles que estavam com a mente preparada para isso, para que se levantassem em seus
lugares, enquanto eram entregues a Deus em oração. Os corredores naquele lugar eram tão
estreitos e lotados que era impossível usar o que chamo de assento ansioso, ou as pessoas se
mexerem pela congregação.
Muitas vezes, quando eu fazia esse apelo para que as pessoas se levantassem e se entregassem em
oração, centenas se colocavam de pé, e em algumas ocasiões, se a casa de fato comportava tantos
quantos era calculado, não menos do que duas mil pessoas se levantavam, em resposta ao apelo.
De fato, a partir do púlpito, parecia que toda a congregação ficava de pé. E eu não chamava os
membros da igreja, mas simplesmente pecadores a se colocarem em pé e se comprometerem com
Deus.
No meio da obra, uma situação ocorreu, que ilustrará a extensão do interesse religioso ligado
àquela congregação naquela época. A situação à qual faço alusão foi esta: os dissensores na
Inglaterra já se esforçavam por algum tempo para persuadir o governo a ter mais respeito por
suas ações, do que estavam dispostos a ter, para a dissensão do interesse naquele país. Mas
sempre obtinham uma resposta que indicava que a dissensão de interesse era pequena, se
comparada com a de uma igreja já estabelecida. Tanto havia sido dito sobre o assunto, que o
governo determinou a tomada de medidas para o equilíbrio de forças entre os dois lados, ou seja,
entre os dissensores e a igreja da Inglaterra. Certa noite de sábado, sem qualquer aviso prévio que
levaria as pessoas quem qualquer lugar a compreender ou até mesmo suspeitar do movimento,
uma mensagem foi enviada secretamente para todos os lugares de adoração no reino, solicitando
que indivíduos fossem selecionados para ficarem à porta de todas as igrejas, capelas e lugares de
adoração, na próxima manhã de domingo, para fazer o censo de todos aqueles que entravam nas
casas de todas as denominações. Tal aviso foi enviado ao Dr. Campbell, mas só fiquei sabendo
depois. Em obediência às ordens, ele colocou um homem em cada entrada do Tabernáculo, com a
instrução de contar cada pessoa que entreva, durante o culto da manhã. Isso foi feito, pelo que
entendi, por toda a Grã-Bretanha. Dessa forma mediram a força relativa de ambas as partes, em
outras palavras, qual tinha o maior número de adoradores no domingo, os dissensores ou a igreja
já estabelecida. Creio que esse censo provou que os dissensores eram a maioria. Mas seja lá como
for, o Dr. Campbell me disse que os homens colocados em cada porta do Tabernáculo reportaram
um número de milhares a mais do que poderiam de fato entrar na casa. Isso mostrou o fato de que
as multidões entravam, e não encontrando lugar para sentar ou ficar em pé, cediam seus lugares
para outros. O interesse era tão grande que um lugar de adoração que comportava milhares de
pessoas ficava tão lotado quanto o Tabernáculo.
Como ou quando todos vinham, o Dr. Campbell não sabia, e de fato ninguém poderia dizer, mas
que centenas e milhares se convertiam, não havia motivos para se duvidar. Na verdade, eu
mesmo vi e conversei com um grande número de pessoas, e trabalhei dessa forma até o limite de
minhas forças.
Na noite de sábado, pessoas com dúvidas e agonia, bem como recém-convertidos, vinham até
meu escritório para conversar. Várias pessoas vinham todas as semanas, e as conversões se
multiplicavam. Vinham, como depois vim a saber, de todas as partes da cidade. Muitos andavam
vários quilômetros todo domingo para participar das reuniões. Logo comecei a ser abordado nas
ruas, em diferentes partes da cidade, por pessoas que me conheciam, e que haviam sido
grandemente abençoadas ao participar de nossas reuniões. De fato, a Palavra de Deus era
abençoada, e muito abençoou Londres naquela época.
Certo dia o Dr. Campbell me convidou para entrar, e fazer alguns comentários aos professores da
escola Britânica. Eu fiz isso, e comecei perguntando-lhes o que eles propunham que fizéssemos
com sua educação, falando um pouco sobre sua responsabilidade a respeito disso. Tentei mostrar-
lhes todo o bem que poderiam fazer, e que benção seria sua educação para eles mesmos e para o
mundo, se a usassem da forma correta, e que perdição seria também para eles mesmos e para o
mundo se a usassem de forma egoísta. Meu discurso foi curto, mas esse ponto foi fortemente
pressionado sobre eles. Mais tarde o Dr. Campbell comentou comigo que um bom número deles,
não me recordo agora precisamente quantos, haviam sido recebidos na igreja, que acordaram e
foram levados a buscar a salvação de suas almas. Ele mencionou isso como um fato admirável
pois não tinha expectativa alguma de obter um resultado como esse.
O fato é que, pastores na Inglaterra, bem como aqui nos Estados Unidos, haviam perdido a visão
num geral, da necessidade de pressionar as obrigações presentes na mente do povo. Quando me
contou sobre isso, o Dr. Campbell disse “Oras, não entendo. Você não disse nada além do que
outras pessoas já haviam dito.” “Sim,” eu respondi, “eles podem ter dito, mas diriam dessa
forma? Teriam feito um apelo tão direto e explícito para a consciência daqueles jovens como eu
fiz?” Essa é a dificuldade. Pastores falam sobre pecadores; e não geram a impressão de que Deus
os ordena ao arrependimento imediato; desperdiçando seu ministério desta forma.
De fato raramente escuto um sermão que parece ser construído com a intenção de trazer os
pecadores, de uma vez por todas, a encarar seu dever para com Deus. Era difícil extrair a idéia, a
partir dos sermões que ouvíamos, tanto nos Estados Unidos quanto na Inglaterra, que os pastores
esperavam ou pretendiam ser utilizados como instrumentos para a conversão de qualquer um,
naquela época.
Um fato que foi ligado à minha pessoa há algum tempo ilustrará bem o que acabo de dizer. Dois
rapazes conhecidos um do outro mas com visões muito diferentes acerca da pregação do
evangelho faziam parte de duas igrejas, não muito distante uma da outra. Um deles teve um
poderoso avivamento em sua congregação, e o outro não teve nada. Um tinha ascensões
contínuas em sua igreja, e o outro não tinha nada. Certo dia, encontraram-se, e aquele que não
havia vivenciado nada em sua igreja perguntou a seu irmão qual seria a causa da diferença entre
eles, e pediu-lhe um de seus sermões, para que pudesse pregar a seu próprio rebanho e ver se
surtiria algum efeito diferenciado. O acordo foi feito, e ele pregou o sermão emprestado para seu
povo. Era um sermão, que apesar de transcrito, fora construído com o propósito de trazer
pecadores face a face com seu dever para com Deus. No encerramento do culto, ele viu que
muitos estavam grandemente afetados, e permaneciam em seus lugares, chorando. Ele então
pediu desculpas profundamente, dizendo que esperava não ter ferido seus sentimentos, pois não
era sua intenção.
Minha mente também estava muito agitada, em vista da desolação moral da vasta cidade de
Londres. Os lugares de adoração naquela cidade, como depois vim a saber, eram suficientes
apenas para acomodar uma pequena parte dos habitantes. Mas eu estava muito interessado em um
movimento que se espalhava entre os episcopais. Muitos de seus pastores vieram e participaram
de nossas reuniões. Um dos reitores, um Sr. Allen, envolveu-se profundamente, e decidiu que
tentaria promover um avivamento em sua própria paróquia. Mais tarde ele me informou que
estabeleceu em diferentes pontos de sua paróquia, vinte reuniões de oração. Ele começou a pregar
com todas as suas forças, falando diretamente ao povo. O Senhor abençoou grandemente seus
trabalho, e antes que eu fosse embora, ele me informou que não menos que mil e quinhentas
pessoas haviam-se convertido em sua paróquia. Muitos outros ministros episcopais foram
impulsionados, e com grande agitação em suas almas, realizavam cultos contínuos e prolongados.
Quando fui embora de Londres, haviam quatro ou cinco igrejas episcopais diferentes realizando
reuniões diárias, e esforçando-se para promover um avivamento. Em todas as circunstâncias, eu
creio, eles foram muito abençoados e renovados. Dez anos se passaram antes que eu visitasse
Londres novamente para trabalhar na obra, e fui informado que aquele trabalho jamais cessou,
que continuava e alargava suas tendas, espalhando-se por diferentes direções. Encontrei muitos
dos convertidos, na segunda vez em que estive lá, trabalhando em diferentes partes de Londres,
de várias formas, com muito sucesso.
Comentei que minha mente estava muito agitada por causa do estado em que se encontrava
Londres. Raras vezes fui levado a orar mais por uma cidade em qualquer outro lugar do que em
Londres. Algumas vezes, quando orava, especialmente em público, com as multidões diante de
mim, parecia que não conseguia parar, e que o espírito de oração quase me fazia sair de meu
corpo, em súplicas pelo povo, e por aquela cidade num todo. Eu havia acabado de chegar na
Inglaterra e comecei a receber vários convites para pregar, com o propósito de tirar ofertas para
diferentes objetivos: para pagar o salário do pastor, para ajudar a pagar pela capela ou para ajudar
a levantar fundos para a escola dominical. Eu havia concordado com seus pedidos, e não podia
fazer nada mais. Mas decidi não ir, não atender mais a tais chamados. Disse-lhes que não tinha
vindo à Inglaterra para ganhar dinheiro para mim mesmo ou para eles. Meu objetivo era ganhar
almas para Cristo.
Depois de ter pregado para o Dr. Campbell por quase quatro meses e meio, fiquei muito cansado,
e a saúde de minha esposa estava muito afetada por causa do clima, e por nosso intenso trabalho.
E aqui devo começar de forma mais particular, a descrever o que Deus fez por meio dela.
Até esse momento ela participara e assistira apenas reuniões para mulheres; e tais reuniões eram
uma novidade tão grande na Inglaterra que ela havia trabalhado muito pouco nessa direção. Mas
enquanto estávamos hospedados com o Dr. Campbell, ela recebeu um convite para participar de
um chá, para mulheres pobres, sem escolaridade ou religião. Esses chás, como são chamados, são
realizados na Inglaterra para reunir as pessoas por qualquer motivo em especial. Tal chá foi
organizado por alguns dos cavalheiros e damas cristãos benevolentes, e minha esposa foi urgida a
comparecer. Ela consentiu em ir, não imaginando que os cavalheiros permaneceriam na reunião
enquanto ela fizesse seu discurso. No entanto, ao chegar lá, encontrou o lugar lotado, e com as
mulheres, um número considerável de senhores, muito interessados nos resultados do chá. Ela
aguardou um pouco, esperando que eles se retirassem. Mas como eles permaneciam e esperavam
que ela assumisse a reunião, ela se levantou e, creio eu, desculpou-se por ter sido chamada para
falar em público, sendo que não tinha o hábito de fazê-lo. Na época, ela era minha esposa há
pouco mais de um ano, e nunca tinha viajado para o exterior comigo para trabalhar em
avivamentos, até irmos para a Inglaterra. Ela fez um discurso nessa reunião, como depois me
contou ao voltar para nossos aposentos, de mais ou menos quarenta e cinco minutos ou uma hora
de duração, com ótimos e claros resultados. As mulheres desfavorecidas presentes pareciam estar
muito tocadas e interessadas, e quando ela terminou de falar, alguns dos cavalheiros presentes se
levantaram, e expressaram sua grande satisfação com o que acabaram de ouvir. Eles disseram que
tinham preconceito com mulheres falando em público, mas não conseguiam ver objeções em uma
situação como essa, e viam que aquilo claramente traria um bem tremendo. Então eles a
convidaram a participar de outras reuniões similares, e ela o fez. Quando ela retornava, contava-
me o que fizera, e dizia que não sabia como, mas que aquilo incitaria o preconceito do povo na
Inglaterra, e talvez até causasse mais mal do que bem. Eu mesmo tinha esse mesmo temor, e
expressei-me assim para ela. Ainda assim, creio que não a aconselhei a ficar parada e não mais
participar de tais reuniões, mas depois de um pouco mais de reflexão, encorajei-a. daí por diante
ela ficou cada vez mais acostumada, enquanto permanecemos na Inglaterra, com esse tipo de
trabalho, e depois que voltamos para casa, ela continuou a trabalhar com as mulheres, onde quer
que fôssemos. Disso falarei mais em outra ocasião, quando falar sobre os avivamentos nos quais
ela teve uma participação muito proeminente.
Muitos outros casos de interessantíssimas conversões aconteceram em Londres nessa época, em
quase todas as classes sociais. Muito preguei sobre confissão e restituição, o que gerou resultados
verdadeiramente maravilhosos. Quase todas as formas de crime foram denunciadas e
confessadas. Centenas, e creio até que milhares de libras esterlinas foram pagas em restituições.
Todos que conhecem Londres sabem que de novembro a março, a cidade é muito gelada, e tem
uma atmosfera na qual é quase impossível se falar ou respirar. Fomos para lá no começo de maio.
Em setembro, meu amigo Brown, de Houghton, visitou-nos, e vendo o estado de saúde em que
ambos estávamos, ele disse “Isso não dará certo. Vocês devem ir para a França, ou algum outro
lugar no continente onde as pessoas não compreendam seu idioma, pois não haverá descanso para
vocês aqui na Inglaterra enquanto vocês conseguirem falar alguma coisa.” Depois de conversar
sobre o assunto, decidimos seguir seu conselho, e fomos para a França por um tempo. Ele me
entregou cinqüenta libras esterlinas, para cobrir nossas despesas. Fomos para Paris e vários outros
lugares na França. Cuidamos para não fazer amizades e mantivemo-nos o mais em silêncio
possível. A influência da mudança de clima na saúde de minha esposa foi notável. Ela recuperou
toda sua força e voz rapidamente. Eu recuperei gradualmente minha vivacidade, e depois de uma
ausência de mais ou menos seis semanas, voltamos para nossas obras no Tabernáculo, onde
continuamos a trabalhar até o início do próximo mês de abril, quando voltamos para casa. Eu
deixei a Inglaterra com grande relutância, mas a prosperidade de nossa faculdade parecia exigir
que eu retornasse. Havíamo-nos interessado grandemente pelo povo da Inglaterra, e gostaríamos
muito de permanecer por lá, prolongando nossas obras. Viajamos em um grande navio, o
Southampton, que saiu de Londres. No dia em que zarpamos, uma multidão de pessoas, que
estavam interessadas em nosso trabalho, reuniu-se no cais. A grande maioria era de jovens
convertidos. O navio teve que esperar pela maré, e por várias horas o povo continuou ali, no
espaço perto do navio, esperando para dizer adeus. A despedida de um povo com um coração tão
amoroso tomou por completo as forças de minha esposa. Logo que o navio partiu, ela se retirou
para nossa cabina. Eu permaneci no convés, olhando os lenços que eram acenados até que
estivéssemos rio abaixo, fora de seu campo de visão. Assim foram encerradas as nossas obras na
Inglaterra, em nossa primeira visita àquele país.

A VERDADE DO EVANGELHO
AS MEMÓRIAS DE CHARLES G. FINNEY
CAPÍTULO XXX.
AS OBRAS EM HARTFORD E EM SYRACUSE
CHEGAMOS a Oberlin em maio de 1851, depois dos costumeiros trabalhos de verão, partimos
para a cidade de Nova Iorque no outono, esperando passar o inverno trabalhando com a igreja do
Rev. Dr. Thompson, no velho Tabernáculo da Broadway, conforme eu fora convidado. No
entanto, depois de pregar ali por um curto período, encontrei muitos empecilhos no caminho de
nosso trabalho, especialmente a constante interrupção de nossos cultos noturnos, por causa do
costume de emprestar o Tabernáculo para palestras públicas, nas quais falhei em obter sucesso,
no esforço para promover um avivamento geral. Então fui embora, e aceitei o convite para ir para
Hartford e realizar uma série de reuniões. Fui convidado pelo Rev. William W. Patton, que na
época era pastor de uma das igrejas congregacionais daquela cidade.
Logo que comecei minhas obras ali, uma poderosa influência avivadora se manifestou no meio
do povo. Mas nessa época, uma infeliz discórdia existia entre o Dr. Hawes e o Dr. Bushnell. A
ortodoxia do Dr. Bushnell, como já se sabe, foi questionada. O próprio Dr. Hawes era da opinião
de que as visões e idéias do Dr. Bushnell eram altamente objecionáveis. Contudo, ambos
participavam de nossas reuniões e manifestavam um grande interesse em nosso trabalho, que eles
podiam ver, acabara de começar. Eles me convidaram a pregar em suas igrejas, e assim o fiz.
Ainda assim os irmãos sentiam, por toda cidade, que o desentendimento entre os pastores era uma
pedra de tropeço, e havia uma clara urgência para que os ministros se relacionassem de forma
mais fraternal, e se unissem diante do povo, para promover a obra. As pessoas num geral não
simpatizavam com as fortes opiniões do Dr. Hawes a respeito da ortodoxia do Dr. Bushnell. Ao
saber disso, tive uma amigável conversa com o Dr. Hawes, e disse-lhe que ele estava em tinha
um posicionamento errado, e que as pessoas se sentiam testadas ao vê-lo dar tanta importância ao
que ele chamava de erros do Dr. Bushnell, e que num geral, creio eu, não eram justificáveis à
posição que ele ocupava. O Dr. Hawes era um bom homem, e claramente tinha profunda
consciência de sua responsabilidade.
Certa noite eu estava pregando, acredito, para o Irmão Patton, e os três pastores congregacionais
estavam presentes. Depois da reunião, eles foram comigo para meus aposentos, e o Dr. Hawes
disse “Irmão Finney, estamos satisfeitos com o que o Espírito do Senhor tem derramado aqui, e
agora, o que podemos fazer como pastores para promover essa obra?” Disse-lhes sem restrições o
que pensava; que uma grande responsabilidade estava sobre eles, e que a mim me parecia que
caberia a eles dizer se a obra se tornaria geral e abrangente por toda a cidade ou não; que se eles
pudessem se reconciliar e superar suas diferenças, e diante de suas igrejas, unirem-se pela causa
da obra, um grande obstáculo seria removido; e que então poderíamos esperar que a obra se
espalhasse rapidamente por todas as direções. Eles viram sua posição; Hawes e Bushnell
chegaram a um acordo para deixar de lado as dificuldades e avançar na promoção da obra. Devo
dizer aqui que acredito que o Irmão Patton nunca simpatizou com as fortes opiniões defendidas
pelo Dr. Hawes; e devo dizer também que o próprio Dr. Bushnell parecia não ter nada contra o
Dr. Hawes; e o empecilho a ser removido diante do povo parecia ser, principalmente, a falta de
vontade do Dr. Hawes em cooperar cordialmente com outros pastores na obra.
Ele era um homem bom demais para persistir em fazer qualquer coisa que impediria sua ação
consistente para promover a obra. Portanto, a partir daquela época, parecíamos trabalhar juntos,
com muita cordialidade. A obra se espalhou por todas as congregações, e prosperou cheia de
esperança, por várias semanas. Mas havia uma peculiaridade sobre aquele trabalho que jamais
esquecei. Creio que todos os domingos que estive naquela cidade, foram tempestuosos. Uma
sucessão tal de tempestades que jamais vivenciei. Contudo, nossas reuniões eram sempre lotadas,
e para um lugar como Hartford, a obra se tornou poderosa e abrangente.
Quem conhece Hartford sabe o quão meticuloso e preciso é aquele povo, em tudo que fazem.
Tinham medo de qualquer outro método além de reuniões de oração, de pregação e de perguntas
e respostas. Em outras palavras, estava fora de cogitação chamar pecadores para virem à frente, e
romperem com o temor dos homens, entregando-se publicamente a Deus. Em especial o Dr.
Hawes tinha muito medo de medidas como essa. Conseqüentemente eu não podia fazer isso ali.
De fato, o Dr. Hawes tinha tanto medo dessas medidas, que eu me lembro de certa noite, que ao
participar de uma reunião para perguntas e respostas em sua sacristia, o número de irmãos
presentes era grande, e no encerramento da reunião, convidei aqueles que estavam dispostos a
entregar suas vidas para Deus, a se ajoelharem. Isso espantou o Dr. Hawes, e ele comentou antes
que eles se ajoelhassem que ninguém era obrigado a faze-lo, a menos que com alegria, assim
desejassem. Enfim, ajoelharam-se, e oramos com eles. Conforme aqueles novos irmãos se
levantavam e eram dispensados, o Dr. Hawes comentou comigo “Sempre senti a necessidade de
uma medida como essa, mas sempre temi em fazê-lo. Sempre vi que havia a necessidade de algo
mais para trazer as pessoas a uma decisão, e para induzi-los a agir de acordo com suas
convicções, mas nunca tive a coragem de propor algo do tipo.” Eu lhe disse que descobrira que
tal medida era indispensável, para trazer os pecadores ao ponto da submissão.
Nesse avivamento houve muita oração. Os jovens convertidos em especial, entregavam-se demais
à oração. Certa noite, eu soube, depois do culto, um dos jovens convidou outro para ir até sua
casa com ele e ter um período de oração em comunhão. O Senhor estava com eles, e na noite
seguinte eles convidaram outros, e na noite seguinte, mais ainda, até que a reunião se tornou tão
grande que foi necessário dividi-la. Essas reuniões eram realizadas depois do culto. A segunda
reunião logo se tornou grande demais para a sala onde era realizada, e foi mais uma vez dividida.
E pelo que entendo, essas reuniões se multiplicaram até que todos os jovens convertidos
adquirissem o hábito de realizar reuniões de oração, em diferentes lugares, depois do culto. Isso
levou a um esforço bastante organizado, entre os jovens, pela salvação de almas.
Uma situação muito interessante aconteceu nessa época nas escolas públicas. Fui informado que
os pastores não visitariam as escolas, nem fariam esforços religiosos ali, pois isso incitaria inveja
em diferentes denominações. Eu soube que certa manhã vários rapazes, ao se reunirem, estavam
tão agitados que não conseguiam estudar, então pediram para seu professor que orasse por eles.
Ele não era professor de religião, então mandou chamar um dos pastores, informando-lhe da
situação, e pedindo-lhe que viesse realizar algum tipo de reunião religiosa com eles. Mas ele
recusou, dizendo que havia um acordo entre os pastores de não ir à escolas públicas para realizar
eventos religiosos. Ele chamou outro, e outro, mas todos lhe disseram que ele mesmo deveria
orar pelos alunos. Isso gerou uma imensa pressão sobre ele, mas resultou, creio eu, na entrega de
seu próprio coração a Deus, e em seu envolvimento para que toda a escola se convertesse. Até
onde sei, boa parte dos alunos, em muitas das escolas públicas, foram convertidos naquela época.
Todos que conhecem a cidade de Hartford sabem que seus habitantes são pessoas muito
inteligentes, que todas as classes sociais têm educação, e que não há, talvez em todo o mundo,
uma cidade com uma educação tão organizada quanto Hartford. Quando os convertidos foram
admitidos, creio que por volta de seiscentas pessoas uniram-se a suas igrejas. Antes de ir embora,
o Dr. Hawes me disse “O que devemos fazer com esses jovens convertidos? Se deles
formássemos uma igreja, tornar-se-iam admiráveis obreiros pela salvação de almas. No entanto,
se os recebermos em nossas igrejas, nas quais temos tantos senhores e senhoras de idade, de
quem sempre se espera a liderança, sua modéstia os fará ficar para trás desses irmãos, e viverão
como têm vivido, e serão tão ineficientes como têm sido.” Contudo, os jovens convertidos de
ambos os sexos formaram por si mesmos um tipo de sociedade missionária na cidade, e se
organizaram com o propósito de realizar esforços diretos para converter almas por toda a cidade.
Tais esforços como esse, por exemplo, foram feitos por vários deles. Uma das principais moças,
talvez tão conhecida e respeitada quanto qualquer senhora da cidade, assumiu a responsabilidade
de clamar por, e se possível converter, um grupo de jovens rapazes que pertenciam à ricas e
proeminentes famílias, mas que tinham adquirido maus hábitos, caído na imoralidade, e perdido o
respeito pelas outras pessoas.
A posição e caráter dessa jovem tornaram possível e próprio que ela realizasse tal tarefa sem
gerar suspeita de comportamento impróprio de sua parte. Ela viu uma oportunidade para
conversar com esse grupo de rapazes, e até onde sei, reuniu-os para oração e conversa sobre
religião, tendo sucesso no clamor por vários deles. Se bem fui informado, os que se converteram
nesse avivamento tornaram-se uma grande força para o bem naquela cidade; e muitos deles ainda
permanecem lá, trabalhando ativamente na promoção da religião.
A Sra. Finney estabeleceu reuniões de oração para as mulheres, que eram realizadas na sacristia
das igrejas. Essas reuniões tinham um público muito grande, e se tornaram muito interessantes.
As mulheres estavam muito unidas, e sinceramente envolvidas, tornando-se assim uma das
principais forças, sob o poder de Deus, para levar adiante Sua obra.
Saímos de lá por volta do dia primeiro de abril, indo para Nova Iorque a caminho de casa. Ali,
preguei algumas vezes para o Rev. Henry Ward Beecher, no Brooklyn, onde crescia uma
profunda influência religiosa no meio do povo tanto quando cheguei, quanto quando fui embora.
Mas preguei apenas algumas poucas vezes, pois minha saúde já não mais suportava, e fui
obrigado a parar. Chegando em casa, continuamos com nossas obras como sempre, com o
resultado quase que uniforme de um alto nível de influência religiosa entre nossos alunos, que se
estendia de uma forma meio generalizada aos outros cidadãos.
No inverno seguinte saímos de Oberlin na época de costume, e fomos para o Leste, trabalhar num
campo para o qual fôramos convidados. Enquanto estávamos em Hartford, no inverno anterior,
fomos urgidos a ir para obrar em Syracuse. O pastor da igreja Congregacional viera até Hartford
para me persuadir, se possível, a retornar com ele. Eu não via que era meu dever ir até lá naquele
momento, e não pensei mais no assunto. Mas desta vez, a caminho do Leste, encontramos esse
pastor em Rochester. Nesse momento ele não era mais o pastor da igreja Congregacional da
cidade de Syracuse. Mas tinha tanto apreço por eles, que finalmente induziu-me a prometer que
faria uma parada ali, para passar pelo menos um domingo. Assim o fizemos, e encontramos uma
igreja muito pequena e desencorajada. Eram poucos membros. A igreja era composta em sua
maioria de pessoas com visões radicais, no que dizia respeito às grandes questões da reforma. As
igrejas Presbiterianas, e outras igrejas no geral, não simpatizavam com eles, e parecia que a igreja
Congregacional deveria ser extinta.
Preguei ali num Domingo, e a situação da igreja tornou-se tão clara para mim, que fui induzido a
permanecer mais uma semana. Logo comecei a perceber um movimento em meio aos ossos
secos. Alguns dos principais membros da igreja Congregacional começaram a fazer confissões
uns aos outros, e confissões públicas de suas idéias sobre Deus, e sobre outras coisas que criaram
preconceito contra eles na cidade. Isso conciliou as pessoas a seu redor, e eles começaram a vir, e
logo sua casa de adoração era pequena demais para o povo; e embora eu não esperasse
permanecer mais do que um domingo, não via que meu caminho estivesse aberto para ir embora,
e continuei ali, semana após semana. O interesse continuava a aumentar e se espalhar. O Senhor
removia os obstáculos, e aproximava mais o povo cristão. As igrejas Presbiterianas foram abertas
às nossas reuniões, e as conversões se multiplicavam por todo lado. Nunca existira muita
simpatia entre eles, e uma tremenda obra era necessária entre os professores de religião, antes que
os caminhos pudessem ser preparados fora das igrejas. Assim eu continuei a trabalhar em cada
uma, até que a Segunda Igreja Presbiteriana ficou sem pastor; a partir de então, concentramos
muitas de nossas reuniões ali, uma medida que foi seguida durante todo o inverno.
Aqui a Sra. Finney estabeleceu novamente sua reunião de senhoras com muito sucesso. Ela
geralmente as realizava na sala de palestras da Primeira Igreja Presbiteriana, que creio eu, era
uma sala cômoda e conveniente para tais reuniões. Muitos fatos interessantes aconteceram em
suas reuniões naquele inverno. Cristãos de diferentes denominações pareciam fluir juntos depois
de um certo tempo, e todas as dificuldades que existiram entre eles pareciam ter sido desfeitas.
As igrejas Presbiterianas e Congregacional ficaram todas sem pastores enquanto eu estava lá, e
portanto, nenhuma delas abriu suas portas para receber os novos convertidos. Eu tinha um grande
desejo que isso acontecesse, mas sabia que havia um grande risco, que se começassem a receber
os novos convertidos, a inveja se espalharia e prejudicaria a obra.
Quando estávamos prestes a ir embora, na primavera, anunciei de púlpito, sob minha própria
responsabilidade, que no domingo seguinte, teríamos um culto de comunhão, ao qual todos os
cristãos, que realmente amavam ao Senhor Jesus Cristo, e demonstravam isso em suas vidas,
estavam convidados. Aquele foi um dos períodos de comunhão mais interessantes que jamais
presenciei. A igreja estava cheia de comungantes. Dois ministros muito idosos, os padres Waldo
e Brainard, participaram e ajudaram no culto de comunhão. Havia um grande amor na
congregação, e uma comunhão mais apaixonada e alegre do povo de Deus, creio que nunca vi.
Depois que fui embora, todas as igrejas estabeleceram pastores. Fui informado de que aquele
avivamento resultou em um grande e permanente bem. A igreja Congregacional construiu para si
um templo maior, e tem sido desde então, acredito, uma igreja e congregação saudável. As igrejas
Presbiterianas, e creio que as Batistas também, foram muito fortalecidas em sua fé, e cresceram
em seu número.
A obra foi muito profunda entre os professores de religião. Um fato muito impactante ocorreu,
que devo mencionar. Havia uma senhora de nome C, a esposa cristã de um marido não
convertido. Ela era uma senhora muito refinada, muito bela e de ótimo caráter. Seu marido era
um mercante, um homem de boa moral e caráter. Ela participava de nossas reuniões, e tornou-se
muito ansiosa por uma obra mais profunda da graça em sua alma. Ao visitar-me certo dia, ela
estava muito ansiosa e cheia de dúvidas. Conversei com ela por alguns momentos, e chamei sua
atenção especialmente para a necessidade de uma consagração plena e universal dela, por inteiro,
a Cristo. Disse-lhe que quando fizesse isso, deveria crer num selo do Espírito Santo. Ela escutara
da doutrina da santificação, e isso muito a interessava; e sua dúvida era como poderia obtê-la?
Orientei-lhe da forma que mencionei, ela se levantou rapidamente e me deixou. Tamanha pressão
estava sobre sua mente, que ela parecia com pressa para apropriar-se da plenitude que havia em
Cristo. Creio que ela não esteve em meus aposentos por mais de cinco ou dez minutos, e deixou-
me como alguém que tem negócios urgentes a resolver. À tarde ela voltou, aos olhos humanos,
tão cheia do Espírito Santo quanto pudesse estar. Ela disse que apressou-se para casa pela manhã,
ao sair de nossa reunião, e foi imediatamente à seus aposentos, jogando-se aos pés do Senhor,
consagrando-se totalmente, e tudo que tinha, a Ele. Ela disse que compreendia muito melhor o
que aquilo significava, e fez uma entrega completa às mãos de Cristo. Sua mente acalmou-se de
uma só vez, e ela sentia que começava a receber a plenitude do Espírito Santo. Em pouquíssimo
tempo ela parecia ser erguida acima de si mesma, e sua alegria era tão grande que mal conseguia
segurar os brados.
Conversei um pouco com ela, e vi que ela corria o risco de estar empolgada demais. Falei tanto
quanto ousei falar para colocá-la em alerta a respeito disso, e ela foi para casa.
Poucos dias depois, seu marido veio visitar-me numa manhã com sua charrete, e convidou-me a
dar uma volta com ele. Eu fui, e vi que seu objetivo era falar comigo sobre sua esposa. Ele disse
que ela fora criada entre amigos, e quando se casou com ela, pensava que ela fosse uma das mais
perfeitas mulheres que já conhecera. Mas por fim, ele disse, ela se converteu e ele então percebeu
uma mudança tão grande nela, maior do que jamais pudesse imaginar; pois antes ele a via como
perfeita, em sua moral, em sua vida exterior. Ainda assim, a mudança em seu espírito e essência,
na época de sua conversão era tão manifesta, ele disse, que não havia como duvidar. “Desde
então, eu a tenho como praticamente perfeita. Mas, agora ela passou por uma mudança maior do
que nunca. Vejo isso em tudo. Tal espírito existe nela, tamanha mudança, tamanha energia em
sua religião, tamanha plenitude de alegria, paz e amor!” E perguntou “O que farei com isso?
Como posso entender? Tais mudanças realmente ocorrem em pessoas cristãs?”
Expliquei-lhe da melhor forma que pude. Tentei faze-lo entender o que ela era por sua educação
como uma quaker, e o que sua conversão havia feito por ela; então lhe disse que um novo
bastismo no Espírito Santo realizara tamanha mudança nela, naquela época. Ela já partiu para o
céu; mas o sabor daquela unção do Espírito permaneceu com ela, como mais tarde fui informado,
até o dia de sua morte.
Há uma circunstância que já ouvi a Sra. Finney relatar várias vezes, que ocorreu em suas
reuniões, que vale ser mencionada aqui. Sua reunião de senhoras era composta das mais
inteligentes senhoras nas diferentes igrejas. Muitas delas provavelmente fastidiosas. Mas havia
uma senhora de idade, sem escolaridade, que participava das reuniões, e que costumava falar, de
vez em quando, aparentemente para irritar as outras mulheres. De alguma forma ela achava que
era seu dever falar em todas as reuniões, e algumas vezes ela se levantava e clamava ao Senhor
para que Ele derramasse sobre ela o que ela deveria falar na reunião, enquanto tantas senhoras
cultas tinham a permissão de participar mas não de falar coisa alguma. Ela se perguntava por quê
Deus lhe havia dado o dever de falar, enquanto aquelas finas senhoras, que poderiam falar tanto
para a edificação, tinham a permissão de participar e “não questionar”, como ela descrevia
“engolir”. Ela parecia sempre falar de forma chorosa e reclamona. O fato de que ela achava que
era seu dever falar em todas as reuniões desencorajava e irritava bastante minha esposa. Ela via
que as senhoras não se interessavam, mas isso para ela não passava de um elemento de
perturbação.
Mas depois das coisas continuarem assim por algum tempo, um dia essa mesma senhora se
levantou na reunião, e um novo espírito estava sobre ela. Logo que abriu sua boca ficou claro a
todos que uma grande mudança viera sobre ela. Ela viera para a reunião cheia do Espírito Santo,
e compartilhou de sua nova experiência, para espanto de todas. As mulheres ficaram muito
interessadas no que aquela senhora dizia; e ela continuava a contar com grande sinceridade o que
o Senhor fizera por ela, que cativou a atenção de todas as mentes. Todas se voltaram para ela,
para ouvir cada palavra que ela dizia; as lágrimas começaram a cair, e um grande mover do
Espírito era claro e visível naquela reunião. Uma mudança tão admirável trouxe um bem imenso,
e aquela senhora tornou-se muito querida. Depois disso, elas aguardavam o momento em que ela
falaria alguma coisa, e muito se deliciavam nas reuniões, ao ouví-la contar o que o Senhor fizera,
e estava fazendo por sua alma.
Em Syracuse, encontrei uma mulher cristã, a quem chamavam de Madre Austin, uma mulher de
fé admirável. Ela era pobre e totalmente dependente da caridade das pessoas para sobreviver. Não
era uma mulher culta, e fora criada em uma família de pouquíssima educação. Mas ela tinha uma
fé tamanha que assegurava a confiança de todos que a conheciam. Parecia haver uma convicção
universal entre crentes e ímpios, que a madre Austin era uma santa. Creio que jamais conheci
uma fé maior em sua simplicidade do que a manifestada por aquela mulher. Muitos fatos foram
relatados a mim, relacionados a ela, que mostravam que ela confiava em Deus, e a maneira
admirável que Deus provia o suprimento de suas necessidades dia após dia. Ela me disse numa
certa ocasião, “Irmão Finney, é impossível para mim sofrer qualquer necessidades da vida,
porque Deus me disse ‘Confia no Senhor e faze o bem; habitarás na terra, e verdadeiramente
serás alimentado.’” Ela me contou muitos fatos de sua história, e muitos outros me foram
contados por outras pessoas, como ilustração ao poder de sua fé.
Ela disse que certa noite de sábado, um amigo seu, mas homem impenitente, foi visitá-la, e
depois de conversar um pouco, ofereceu-lhe uma nota de cinco dólares, antes de ir embora. Ela
disse que sentira uma admoestação interior para que não aceitasse. Sentia que aquilo seria um ato
de justiça própria para aquele homem, e poderia prejudicá-lo mais do que poderia ajudá-la. Então
ela recusou, e ele foi embora. Ela disse que tinha lenha e comida em casa o suficiente para durar
até o domingo, e só isso; e não tinha como obter mais nada. Mas ainda assim, não teve medo de
confiar em Deus diante das circunstâncias, como fizera por tantos anos.
Do dia de domingo, veio uma violenta nevasca. Na manhã de segunda, a neve tinha alguns
metros de altura, e as ruas estavam bloqueadas, de maneira que não havia como sair sem limpar o
caminho. Ela tinha um filho ainda jovem, que vivia com ela, e os dois eram sua família inteira.
Eles levantaram de manhã e se encontraram rodeados pela neve, por todos os lados. Eles
conseguiram juntar combustível suficiente para um pouco de fogo, e logo o menino começou a
perguntar o quê eles teriam para o desjejum. Ela disse “Eu não sei, meu filho, mas o Senhor
proverá.” Ela olhou para fora, e ninguém conseguia passar pelas ruas. O rapaz começou a chorar
amargamente, e concluiu que eles morreriam de fome e frio. Contudo, ela prosseguiu e preparou-
se para o café, caso viesse. Acho que ela disse que pôs a mesa, e fez as preparações para seu
desjejum, acreditando que chegaria no momento apropriado. Logo ela ouviu um falatório na rua,
e foi até a janela ver o que era, e observou um homem com uma charrete, e mais alguns homens
que vinham removendo a neve, para que o cavalo pudesse passar. Eles vieram até sua porta, e
eia! Eis que haviam trazido combustível e provisões, tudo necessário para que ela passasse
muitos dias de forma confortável. Mas o tempo me faltaria em contar os exemplos nos quais ela
foi ajudada de forma tão marcante como essa. De fato, era notório por toda cidade, até onde pude
entender, que a fé da madre Austin era como um banco, e que ela jamais sofrera por falta nas
necessidades da vida, porque se apoiava em Deus.
Eu nunca soube quantas pessoas se converteram em Syracuse naquela época. Na verdade nunca
tive o hábito de contar as pessoas que se convertiam de fato.

A VERDADE DO EVANGELHO
AS MEMÓRIAS DE CHARLES G. FINNEY
CAPÍTULO XXXI.
OBRAS EM D’OESTE E EM ROMA, 1854-5
NO inverno seguinte, perto do natal, fomos novamente para D’Oeste, no condado de Oneida,
onde como já relatei, iniciei minhas obras no outono de 1825. O povo estava nessa época
novamente sem um pastor; e passamos várias semanas ali num trabalho muito interessante, e com
resultados muito claros.
Entre tantas coisas interessantes que aconteceram no avivamento dessa vez, falarei sobre o caso
de um jovem rapaz. Ele era o filho de pais devotos, e há muito tempo era alvo de oração. Seus
pais eram membros proeminentes da igreja. Na verdade, seu pai era um dos presbíteros da igreja,
e sua mãe uma mulher de Deus, mulher de oração. Quando comecei minhas obras ali, para grande
surpresa e tristeza de seus pais, e do povo cristão num geral, ele se tornou muito amargo contra as
pregações e contra as reuniões num geral, e contra tudo que era feito pela promoção do
avivamento. Ele se comprometeu com toda sua força e vontade contra esse movimento; e
afirmou, como depois eu vim a saber, que nem o Finney nem o inferno poderiam convertê-lo. Ele
dizia muitas coisas com ódio e profanação, até que seus pais estavam profundamente
amargurados, mas nunca soube que ele era suspeito de qualquer tipo de imoralidade.
Mas a palavra de Deus o pressionava dia após dia, até que ele não pôde mais suportar. Ele veio
até meu quarto certa manhã. Sua aparência era realmente chocante. Não tenho palavras para
descrever. Raramente vi uma pessoa cuja mente causava tamanha impressão em seu semblante.
Ele parecia estar quase louco, e tremia de tal forma que quando se assentou, a mobília do quarto
sentia seu tremer. Percebi, quando peguei sua mão, que estava muito fria. Seus lábios estavam
azuis, e toda sua aparência era bastante alarmante. O fato é que ele tinha ido contra suas
convicções tanto tempo quando pôde. Quando se assentou, eu lhe disse “Meu querido jovem, o
que está acontecendo com você?” Ele disse “Ah, cometi um pecado imperdoável.” Eu respondi
“Por quê você diz isso?” E ele disse “Oras, o senhor sabe que o fiz; e fiz de propósito.”
Então ele relatou esse fato sobre si. Disse “Há muitos anos, um livro foi colocado em minhas
mãos, chamado ‘O livro dos piratas’. Eu li, e ele gerou um efeito extraordinário em minha mente.
Ele me inspirou com um tipo de terrível ambição infernal de me tornar o maior pirata de todos os
tempos. Decidi-me a ser o cabeça de todos os assaltantes, bandidos e piratas que jamais tiveram
suas histórias relatadas. Mas minha educação religiosa estava no meu caminho. Os ensinamentos
e orações de meus pais pareciam se levantar diante de mim, impedindo-me de avançar. Mas eu
ouvi dizer que era possível afastar o Espírito de Deus, e reprimir Sua influência a ponto de não
mais sentí-la. Eu também havia lido que era possível cauterizar minha consciência, para que não
mais me incomodasse; e depois de tomar essa decisão, minha primeira atitude foi me livrar de
minhas convicções religiosas, para que fosse capaz de perpetrar todas as formas de assaltos e
assassinatos, sem qualquer compunção de consciência. Portanto, comecei a blasfemar
deliberadamente contra o Espírito Santo. Ele então me contou a maneira na qual fez isso, e o que
dizia ao Espírito Santo, mas era blasfemo demais para ser repetido.
Ele continuou: “Então eu senti que o Espírito de Deus me deixaria, e que minha consciência não
me incomodaria mais. Depois de algum tempo, decidi cometer algum crime, para ver qual seria o
efeito sobre mim. Havia uma escola do outro lado da rua de nossa casa; e numa noite, fui até lá e
ateei fogo. Então voltei para meu quarto e fui para cama. Contudo, logo o fogo foi descoberto.
Levantei-me e misturei-me com a multidão que se reunia pra apagar o fogo; mas todos os
esforços foram em vão, e a escola ficou em cinzas.” Queimar um prédio daquela forma era
considerado crime para prisão naquele estado. Ele tinha consciência disso. Perguntei-lhe se ele
tinha feito mais alguma coisa, cometido mais algum crime. Ele respondeu “Não.” E creio que
acrescentou que não teve uma consciência tranqüila depois isso, como esperava. Perguntei-lhe se
já haviam suspeitado dele por ter queimado aquele prédio. Ele disse que não sabia se isso tinha
acontecido, mas outros jovens foram suspeitos, e falavam sobre isso. Perguntei o que ele pensava
em fazer a respeito disso. Ele respondeu que iria até os diretores confessar, e pediu-me que o
acompanhasse.
Fui com ele até um dos diretores, que vivia ali perto, e o jovem me pediu para contar-lhe os fatos.
Fiz isso. O diretor era um homem bom, e grande amigo dos pais desse jovem. A notícia o afetou
profundamente. O jovem estava diante dele, sem palavras. Depois de conversar um pouco com o
diretor, eu disse “Falaremos com os outros diretores.” E o cavalheiro respondeu “Não, vocês não
precisam ir, eu mesmo falarei com eles e contarei toda a história.” Ele assegurou ao jovem que
ele mesmo o perdoava espontaneamente, e tinha certeza de que os outros fariam o mesmo, e as
pessoas da cidade também o perdoariam, e não o sujeitariam, nem a seus pais, a passar por nada
em virtude do acontecido.
Retornei a meu quarto, e o jovem foi para casa. Ele ainda não estava em paz. Conforme eu ia para
a reunião à noite, ele me encontrou à porta e disse “Eu preciso confessar publicamente. Vários
jovens foram suspeitos de terem feito isso, e quero que as pessoas saibam que eu fiz, e que não
tive nenhum cúmplice, que ninguém além de mim e Deus sabia sobre isso.” E acrescentou: “Sr.
Finney, o senhor poderia contar ao povo? Estarei presente e direi tudo que for necessário, se
qualquer um perguntar alguma coisa, mas não sei se conseguirei abrir minha boca. O senhor pode
contar-lhes?”
Quando o povo estava reunido, levantei-me e relatei os fatos. A família era tão conhecida e
amada na comunidade, que a declaração causou um grande impacto. As pessoas soluçavam e
choravam por toda congregação. Depois de fazer essa confissão total, ele obteve paz. De sua
história religiosa desde então, não sei muito. Contudo, há pouco tempo soube que ele manteve
sua fé em Cristo, e não mais caiu. Ele foi para o exército durante a rebelião, e foi morto na
batalha do Forte Fisher.
Dando minha narrativa dos avivamentos até agora, deixei de lado um grande número de casos de
crime, cometidos por pessoas que vinham até mim para aconselhamento, contando-me os fatos.
Em muitos momentos nesses avivamentos, restituições, algumas vezes de milhares de dólares,
foram feitas por aqueles cujas consciências os perturbavam, ou porquê tinham obtido o dinheiro
diretamente por fraude, ou por alguma estratégia egoísta em suas relações comerciais.
O primeiro inverno que passei em Boston resultou em muitas revelações como essa. Eu havia
pregado ali numa manhã de domingo sobre esse texto: “O que encobre suas transgressões nunca
prosperará;” e à tarde, preguei sobre a parte “b” do versículo: “Mas o que as confessa e deixa,
alcançará misericórdia.” Recordo-me que os resultados desses dois sermões foram
extraordinários. Durante semanas depois disso, pessoas de quase todas as idades, e de ambos os
sexos, vieram a mim em busca de conselhos espirituais, confessando que haviam cometido várias
fraudes, e pecados de quase todas as naturezas. Alguns jovens rapazes haviam defraudado seus
patrões; e algumas mulheres haviam roubado relógios e quase todo tipo de artigos femininos. De
fato, a Palavra do Senhor caíra em terra fértil com tal poder naquele momento na cidade, a ponto
de descortinar um antro de impiedade. Certamente eu levaria horas para mencionar todos os
crimes que chegaram a meu conhecimento pelas confissões daqueles que os haviam cometido.
Mas em todas as circunstâncias as pessoas pareciam estar plenamente arrependidas, e desejosas
de restituírem tudo, até onde pudessem.
Mas retornando dessa digressão, a D’Oeste. O avivamento teve um caráter muito interessante; e
houve um bom número de pessoas que nasceram de novo. Lembro-me da conversão de uma
moça com bastante interesse. Ela era professora na escola do vilarejo. Seu pai era, creio eu, um
cético, e até onde sei, ela era filha única, e muito querida de seu pai. Ele era um homem de
considerável influência na cidade, se bem fui informado, mas não participava de nenhuma de
nossas reuniões. Vivia numa fazenda afastada da cidade. De fato, o vilarejo era bem pequeno, e
os habitantes estavam espalhados pelo vale do Mohawk, e pelas montanhas em ambos os lados;
de forma que a maior parte dos habitantes vinha de uma distância considerável para participar da
reunião.
Eu havia ouvido dizer que essa jovem não participava muito de nossas reuniões, e que
manifestava uma certa oposição à obra. Ao passar pela escola certo dia, entrei para conversar
com ela. A princípio, ela pareceu surpresa de ver-me entrar. Eu não havia sido apresentado a ela,
e não a conheceria se não a tivesse encontrado naquele lugar. Entretanto, ela me conhecia, e a
priori parecia querer evitar minha presença. Peguei-a gentilmente pela mão, e disse-lhe que havia
parado ali para falar com ela sobre sua alma. “Minha filha, como você está? Já entregou seu
coração a Deus?” Disse isso enquanto segurava sua mão. Ela baixou sua cabeça, e não fez
esforço algum para soltar minha mão. Vi num instante que uma forte influência viera sobre ela,
uma influência tão profunda e perceptível, que tive quase certeza de que ela se submeteria a Deus
imediatamente.
Quando entrei, o máximo que esperava era trocar algumas palavras com ela, na esperança de
fazê-la pensar, e marcar um horário para conversar com ela mais calmamente. Mas a impressão
foi tão manifesta e imediata, que ela parecia ter seu coração quebrantado num minuto, e que com
algumas poucas frases ditas de forma calma e doce, ela desistiria de sua oposição, e estaria pronta
a render-se ao Senhor Jesus Cristo. Eu então perguntei-lhe se deveria dizer algumas palavras aos
alunos, e ela disse que sim. Fiz isso, e depois perguntei se deveria apresentar-lhe, com seus
alunos, a Deus em oração. Ela disse que gostaria que eu o fizesse, e ficou muito afetada com a
presença da escola. Começamos a orar, e era um momento muito solene e de contrição. A partir
daquele momento, aquela jovem parecia estar submersa, ter passado da morte para a vida. Ela
não viveu ainda muito tempo, creio eu, antes de passar para os céus.
Essas duas temporadas de minhas passagens por D’Oeste tiveram um intervalo de quase trinta
anos entre si. Outra geração vivia no lugar daquela que vivia ali no primeiro avivamento no qual
trabalhei. Encontrei no entanto, alguns dos antigos membros ali. Mas a congregação era nova em
sua maioria, e composta principalmente por jovens que cresceram depois do primeiro
avivamento.
Assim como no primeiro avivamento, o povo de Roma escutou do que se passava em D’Oeste, e
vinha em grandes grupos participar de nossas reuniões. Isso me levou a, depois de algumas
semanas, ir passar algum tempo em Roma.
A situação da religião em D’Oeste, acredito, melhorou muito desde este último avivamento. As
ordenanças do Evangelho tem sido mantidas, e creio que um progresso considerável foi
alcançado na direção certa.
A família B inteira foi-se embora de D’Oeste, com a exceção de um filho com sua respectiva
família. Aquela grande e interessante família se desfez; mas um deles permaneceu em D’Oeste,
um em Utica, e um filho que se convertera no primeiro avivamento ali, e que já há muitos anos é
pastor da Primeira Igreja Presbiteriana em Watertown, em Nova Iorque.
Quando estive em Roma pela primeira vez, e por muitos anos depois disso, a igreja ali era
Congregacional. Mas poucos anos antes de minha última visita ali, eles haviam estabelecido um
pastor Presbiteriano, um jovem, que sentira que a igreja deveria ser Presbiteriana ao invés de
Congregacional. Ele propôs e recomendou isso para a igreja, e obteve sucesso na realização do
processo, para a grande insatisfação de muitas das mais influentes pessoas da igreja. Isso criou
uma situação bastante indesejável em Roma; quando cheguei ali de D’Oeste, deparei-me, pela
primeira vez, com esse sério sentimento de divisão na igreja. Seu pastor perdera a confiança e
afeição de muitos dos membros mais influenciais de sua igreja.
Quando soube da situação, tive certeza de que pouco poderia ser feito para promover um
avivamento geral, a menos que aquela dificuldade fosse sanada. Mas o assunto fora esgotado de
tal forma, e as pessoas envolvidas estavam tão comprometidas que trabalhei em vão na tentativa
de trazer reconciliação. Não era algo que deveria ser pregado, mas em conversas privadas tentei
arrancar aquela raiz de amargura. Vi que as partes não viam os fatos da mesma maneira.
Continuei pregando, contudo, e o Espírito do Senhor foi derramado, conversões ocorriam com
freqüência, e creio que um bem imenso foi alcançado.
Mas depois de me esforçar em vão para assegurar uma união de sentimentos num esforço tal que
seria aprovado por Deus, decidi-me por deixá-los. Mais tarde soube que alguns dos membros
mais desgostosos da igreja saíram de uma vez por todas de Roma e foram para D’Oeste, unindo-
se à igreja ali. Presumo que o Pastor tenha feito o que cria ser seu dever em meio àquela
controvérsia, mas as divisões conseqüentes foram dolorosas demais para mim, pois tinha um
interesse peculiar por aquela igreja.
A VERDADE DO EVANGELHO
AS MEMÓRIAS DE CHARLES G. FINNEY
CAPÍTULO XXXII.
O AVIVAMENTO EM ROCHESTER EM 1855
NO outono de 1855, fomos novamente chamados à cidade de Rochester para trabalhar por almas.
A priori eu não tinha idéia de ir para lá, mas um mensageiro chegou com um pedido urgente, com
as assinaturas de muitas pessoas, tanto professores quanto não-professores de religião. Depois de
muita deliberação e oração, consenti. Começamos nossas obras ali, e em pouco tempo já era
aparente que o Espírito de Deus estava trabalhando no meio do povo. Alguns cristãos naquele
lugar, em especial o irmão que veio atrás de mim, haviam orado todo o verão por um
derramamento genuíno do Espírito. Algumas poucas almas estavam a pelejar com Deus até
sentirem que estavam à beira de um grande avivamento.
Quando declarei minhas objeções a ir trabalhar em Rochester novamente, o irmão que veio atrás
de mim colocou tudo de lado dizendo “O Senhor te enviará para Rochester, e você irá para
Rochester neste inverno, e teremos um grande avivamento.” Decidi-me afinal, com muita
hesitação. Mas logo que cheguei ali, fui convencido de que era de Deus. Comecei a pregar em
diferentes igrejas. A Primeira Igreja Presbiteriana naquela cidade era Tradicional, e não abriu
suas portas para nossas reuniões. Mas a igreja Congregacional e as outras duas igrejas
Presbiterianas, com seus pastores, abraçaram a obra e engajaram-se com espírito e sucesso. As
igrejas Batistas também se engajaram na obra dessa vez; e as Metodistas trabalharam de sua
própria forma para estender a obra. Realizávamos reuniões diárias de oração ao meio-dia, às
quais muitos compareciam, e nas quais um espírito mais do que excelente prevalecia.
Logo depois de iniciar minhas obras ali, recebi um pedido, assinado pelos membros da Ordem e
por muitos juízes – dois juízes da corte de apelos, e acredito que um ou dois juízes do supremo
tribunal que viviam ali – solicitando que eu pregasse novamente uma série de palestras para
advogados, sobre a moral do governo de Deus. Atendi seu pedido. Comecei a tal série de
palestras para advogados, dessa vez pregando na primeira delas sobre o texto: “Recomendamo-
nos à consciência de todo homem, na presença de Deus.” Comecei comentando que o texto
presumia que todo homem tem uma consciência. Então, dei a definição do que é consciência, e
prossegui mostrando o que a consciência de cada homem verdadeiramente afirma; que todo
homem sabe que é um pecador contra Deus; e que, portanto Deus deve condena-lo como
pecador; que todo homem sabe que sua própria consciência o condena como pecador. Eu sabia
que entre os advogados havia alguns céticos. Na verdade um deles tinha declarado alguns meses
antes que nunca mais participaria de uma reunião cristã, que ele não acreditava na religião cristã,
e não acreditaria; que ela o colocava numa posição falsa, e sua mente estava decidia a não mais
respeitar as instituições do cristianismo.
Moldei minhas palestras noite após noite com o objetivo de convencê-los de que, se a bíblia não
fosse verdade, não havia esperança para eles. Esforcei-me para mostrar que eles não podiam
inferir que Deus os perdoaria porque Ele é Bom, pois Sua bondade poderia impedi-lo de perdoar-
lhes. Num geral, pode não ser bom e sábio perdoar tal mundo de pecadores como somos; que se
formos deixados sem a bíblia para trazer luz a essa questão, seria impossível para a razão humana
chegar à conclusão que os pecadores poderiam ser salvos. Admitindo que Deus era infinitamente
benevolente, não podíamos inferir a partir disso, que qualquer pecador seria perdoado, mas sim
que, pelo contrário, ímpios pecadores não seriam perdoados. Esforcei-me para deixar tudo tão
claro a ponto de calar-lhes para o fato de que a bíblia revelava a única maneira racional pela qual
eles poderiam esperar a salvação.
No encerramento de minha primeira palestra, ouvi o advogado que mencionei, que dissera que
nunca mais iria a uma reunião cristã, comentar com um amigo conforme ia para casa que ele
estivera errado, que havia mais no cristianismo do que ele havia suposto, e ele não via nenhuma
maneira de escapar dos argumentos que acabara e ouvir; e ainda que ele participaria de todas
aquelas palestras, para decidir-se em vista dos fatos e argumentos que seriam ali apresentados.
Continuei a pressionar esse ponto em suas mente, até sentir que eles estavam efetivamente
encerrados em Cristo, e que as revelações feitas no evangelho eram sua única esperança. Mas até
então, eu não havia apresentado Cristo, mas deixado-os sob a lei, condenados por suas próprias
consciências, e sentenciados à morte eterna. Isso, como eu já esperava, efetivamente preparou o
caminho para uma recepção cordial de um evangelho abençoado. Quando eu finalmente trouxe o
evangelho como a única maneira possível ou concebível de salvação para os pecadores, eles
cederam, assim como acontecera nos outros cursos de palestras, nos anos anteriores. Começaram
a se quebrantar, e muitos deles foram convertidos.
Algo muito admirável nos três avivamentos que presenciei em Rochester, foi que todos
começaram a progredir em meio às classes sociais mais altas. Isso favoreceu muito o alcance
geral da obra, e a superação da oposição.
Muitos casos de impactantes conversões aconteceram nesse avivamento, bem como no anterior.
A obra se espalhava e incitava tamanho interesse, que se tornou um tópico comum nas conversas
por toda a cidade e arredores. Mercantes faziam arranjos para que seus negócios fossem
realizados em dois ou mais dias. O trabalho se tornou tão abrangente na cidade que em todos os
lugares públicos, lojas, clubes, bancos, nas ruas e em todos os lugares, a obra de salvação era o
assunto mais comentado.
Dos homens que se opuseram nos avivamentos anteriores, muitos se prostraram a Cristo dessa
vez. Alguns homens que abertamente não guardavam o dia do Senhor, outros que foram
deliberadamente profanos, e de fato pessoas de todas as classes sociais, da mais alta à mais baixa,
do mais rico ao mais pobre, todos foram visitados pelo poder desse avivamento e trazidos à
Cristo. Continuei ali por todo o inverno, e o avivamento cresceu continuamente até o final. O
Rev. Dr. Anderson, presidente da Universidade, engajou-se na obra com grande cordialidade, e
pelo que sei, muitos alunos da Universidade se converteram naquela época. Os pastores das duas
igrejas Batistas abraçaram o movimento, e preguei várias vezes em suas igrejas.
A Sra. Finney era bastante conhecida em Rochester, pois viveu ali por muitos anos, e
testemunhou os dois grandes avivamentos nos quais eu trabalhei, que precederam este. Ela se
envolveu profundamente neste avivamento, e trabalhou, como sempre, com grande zelo e
sucesso. Como em ocasiões anteriores, encontrei o povo de Rochester, como os nobres Bereans,
prontos para ouvir a Palavra, com a mente completamente aberta para ler as escrituras
diariamente, se assim fosse solicitado. Muitas das senhoras em Rochester exerceram toda sua
influência para trazer todas as classes sociais para as reuniões e para Cristo. Algumas delas
visitavam as lojas e lugares de negócios, e usavam de toda sua influência para assegurar o
comparecimento de todos em nossas reuniões. Muitos homens ligados às operações da estrada de
ferro se converteram, e por fim, muitos dos negócios que aconteciam aos domingos nas estradas
foram suspensos, por causa do grande movimento religioso naquela cidade em meio às pessoas
que trabalhavam nas estradas.
A abençoada obra da graça se estendeu e aumentou até que parecia que toda a cidade seria
convertida. Como nos avivamentos anteriores, a obra se espalhou a partir desse centro para as
cidades e vilarejos vizinhos. É de fato admirável que os avivamentos em Rochester têm tão
grande influência sobre outras cidades e vilas, de perto e de longe.
Os meios utilizados para promover esse avivamento foram os mesmos utilizados nos grandes
avivamentos precedentes. As mesmas doutrinas foram pregadas. As mesmas medidas foram
usadas, com resultados similares em todos os aspectos do que havia sido alcançado nos outros
movimentos. Havia uma manifesta e cândida atenção à Palavra pregada, assim como havia sido
antes; um questionário muito inteligente depois de apresentada a verdade como realmente é
ensinada na Bíblia. Jamais preguei com tanto prazer em outro lugar como em Rochester. É uma
população muito inteligente, e sempre manifestaram um ardor, uma sinceridade e uma apreciação
da verdade que excede tudo que já vi, numa escala tão grande, em outros lugares. Já trabalhei em
outras cidades onde as pessoas eram até mais cultas do que em Rochester. Mas naquelas cidades,
as visões e hábitos das pessoas eram mais estereotipados, as pessoas eram mais entediantes,
tinham mais medo de novas medidas do que em Rochester. Na Nova Inglaterra encontrei um alto
nível de educação num geral, mas havia uma timidez, uma dureza, uma formalidade, e uma
maneira estereotipada de fazer as coisas que tornava impossível que o Espírito Santo trabalhasse
com liberdade e poder.
Quando eu estava trabalhando em Hartford, um pastor da região central de Nova Iorque que
testemunhara os gloriosos avivamentos naquela região veio visitar-me. Ele participou de nossas
reuniões e observou o tipo de trabalho e progresso ali. Não disse nada a ele sobre a formalidade
de nossas reuniões de oração, ou sobre o temor das pessoas em utilizar novas medidas, mas ele
comentou comigo “Ora, Irmão Finney, suas mãos estão atadas, o senhor está preso por seus
temores e estereótipos. Eles até colocaram o Espírito Santo numa camisa de força.” Isso era forte,
e para alguns pode até parecer irreverente e profano, mas essa não era sua intenção. Ele era um
bom, honesto e humilde ministro de Jesus Cristo, e expressava somente o que via e sentia, e o que
eu também via e sentia, que o Espírito Santo estava restrito em sua grande obra pelos medos e
sabedoria própria do povo. Na verdade devo dizer que não creio que o povo da Nova Inglaterra
percebe as ataduras que impõe ao Espírito Santo, no trabalhar pela salvação de suas almas. Nem
conseguem apreciar o poder e pureza dos avivamentos nos lugares onde esses temores,
preconceitos, restrições e sabedoria humana não existem.
Em uma comunidade inteligente e culta, uma grande liberdade pode ser dada no uso desses
meios, sem perigo de desordem.
É fato que a idéia errada do quê constitui desordem, prevalece. Muitas igrejas chamam tudo à que
não estão acostumadas de desordem. Seus métodos estereotipados são a ordem de Deus, em seu
ponto de vista, e tudo que difere disso é desordem e choca suas idéias de propriedade. Mas na
verdade nada que supre as necessidades do povo é desordem. Na religião como em tudo mais, o
bom senso e uma sólida discrição, de tempos em tempos, adaptar os meios para os fins. As
medidas necessárias serão sugeridas naturalmente àqueles que presenciam a situação, e se usadas
de forma cautelosa, e com muita oração, que seja dada uma grande liberdade às influências do
Espírito Santo em todos os corações.
A VERDADE DO EVANGELHO
AS MEMÓRIAS DE CHARLES G. FINNEY
CAPÍTULO XXXIII.
OS AVIVAMENTOS EM BOSTON, EM 1856-57-58
NO outono seguinte aceitamos um convite para trabalhar novamente em Boston. Começamos
nossas obras na rua Park, e o Espírito de Deus manifestou imediatamente seu desejo por salvar
almas. O primeiro sermão que preguei foi direcionado à análise da igreja; pois sempre começava
tentando incitar um interesse minucioso entre os professores de religião, para assegurar a volta
dos que haviam caído, e procurar por aqueles que estavam enganados, para se possível, trazê-los
de volta a Cristo.
Depois que a congregação foi dispensada, o pastor estava comigo no púlpito e disse “Irmão
Finney, desejo que o senhor entenda que preciso ouvir essas pregações tanto quanto qualquer
membro dessa igreja. Tenho estado insatisfeito com minha vida espiritual há bastante tempo, e
mandei chamar-lhe por minha conta, pelo bem de minha própria alma, bem como pelo bem da
alma do povo.” Em momentos diferentes, tínhamos conversas longas e muito interessantes. Ele
parecia entregar seu coração plenamente a Deus. Certa noite numa reunião de conferência e
oração, pelo que sei, ele relatou sua experiência ao povo, e disse-lhes que havia se convertido
naquele mesmo dia.
É claro que isso causou uma profunda impressão na igreja e na congregação, e também em boa
parte da cidade. Alguns dos pastores achavam que era uma injúria eu ele tornasse público algo
dessa natureza. Mas eu não considerava assim. Era claramente a melhor maneira que ele poderia
usar para assegurar a salvação de seu povo, e calmamente calculada para gerar entre os
professores de religião, um exame profundo de seus corações.
A obra foi bastante extensiva em Boston naquele inverno, e muitos casos de súbitas conversões
aconteceram. Trabalhamos ali até a primavera, então achamos que era necessário retornar para
nossas obras em casa. Mas era muito claro que a obra naquela cidade estava longe de ser
terminada, e saímos dali com a promessa de que, se Deus quisesse, retornaríamos para obrar
novamente no próximo inverno. Dessa forma, voltamos para Boston no ano seguinte.
Enquanto isso, um dos pastores daquela cidade, que estivera na Europa no inverno anterior,
estava escrevendo alguns artigos, que foram publicados pelo Congregacionalista, em oposição a
nosso retorno para lá. Ele considerava minha teologia, especialmente sobre o assunto da
santificação, como infundada. Essa oposição surtiu um certo efeito, e sentimos de imediato que
havia um sentimento de irritação em meio ao povo cristão. Alguns dos principais membros de sua
igreja, que no inverno anterior envolveram-se de corpo e alma na obra, mantiveram-se à
distância, e nem sequer passavam perto de nossas reuniões. Era evidente que toda sua influência,
que era considerável naquela época na cidade, era contra a obra. Isso deixou algumas boas
pessoas entre seu povo, muito tristes.
Esse inverno de 1857-58 será lembrado como o tempo em que um grande avivamento prevaleceu
por todos os estados do norte. Ele varreu a terra com tanto poder, que na época estimou-se que
não menos que cinqüenta mil conversões ocorreram em uma única semana. Esse avivamento teve
algumas características peculiarmente muito interessantes. Foi levado a uma grande extensão
através de influências, tanto que os pastores quase foram desnecessários. Há muitos anos havia
uma reunião diária de oração em Boston, e no outono anterior à grande explosão, a reunião diária
de oração fora estabelecida na rua Fulton, em Nova Iorque, e continua até hoje. De fato, reuniões
diárias de oração foram estabelecidas por todos os estados do norte. Lembro-me que em uma de
nossas reuniões de oração em Boston naquele inverno, um cavalheiro se levantou e disse “Eu sou
de Omaha, no estado de Nebraska. Em minha viagem para o leste, encontrei uma reunião
contínua de oração por todo o caminho. Contamos que haja mais ou menos três mil quilômetros
entre Omaha e Boston, e aqui estamos, numa reunião de oração com mais de três mil quilômetros
de extensão.”
Em Boston tivemos que pelejar, como já compartilhei, contra a influência divisiva, que retraíra e
muito o interesse religioso de onde havíamos parado na primavera anterior. Contudo, a obra
continuou a crescer continuamente, em meio a essas condições desfavoráveis. Estava claro que o
Senhor pretendia chacoalhar Boston. Finalmente foi sugerido o estabelecimento de uma reunião
de oração para executivos, ao meio dia, na capela da igreja do Velho Sul, que era de fácil acesso
para os homens de negócios. O amigo cristão que nos hospedava assegurou o uso do local e fez
propaganda da reunião. Mas se uma reunião como essa seria bem sucedida em Boston, naquela
época, não era certo. No entanto, esse irmão convocou a reunião, e para a surpresa de quase
todos, o lugar não somente estava lotado, mas multidões foram deixadas do lado de fora, não
conseguindo entrar. Essa reunião continuou, dia após dia, com resultados maravilhosos. O local
era, já de início, muito pequeno para eles, e outras reuniões diárias foram estabelecidas em outras
partes da cidade.
A Sra. Finney também realizava suas reuniões de mulheres na grande sacristia da rua Park. Essas
reuniões se tornaram tão lotadas que as senhoras enchiam a sala, e ainda ficavam em pé do lado
de fora da porta, até onde pudessem ouvir, por todos os lados.
Uma de nossas reuniões diárias era realizada na igreja da rua Park, que ficava cheia sempre que
estava aberta para oração, e esse também era o caso de muitas outras reuniões em diferentes
partes da cidade. A população, tão grande era, que parecia estar totalmente movida. Logo o
avivamento se tornou abrangente demais para manter qualquer cálculo de número de pessoas
convertidas, ou para permitir qualquer estimativa que se aproximasse da verdade. Todas as
classes sociais participavam das reuniões para perguntas e respostas, em todos os lugares. Muitos
dos Unitários ficaram grandemente interessados, e participavam largamente de nossas reuniões.
Esse avivamento é tão recente que não preciso falar muito sobre ele, e também porque se tornou
quase que pleno sobre os estados do norte. As pessoas ali estavam em uma situação de tanta
irritação, vexação e comprometimento com suas instituições peculiares, as quais vieram a ser
criticadas por todos os lados, que o Espírito de Deus parecia ter sido afastado deles. Parecia não
haver lugar para Ele nos corações das pessoas do Sul naquela época. Estimou-se que durante esse
avivamento não menos que quinhentas mil almas se converteram neste país.
Como eu já disse, esse movimento foi alimentado em muito pela instrumentalidade de nossas
reuniões de oração, visitas e conversas pessoais, pela distribuição de tratos e pelos enérgicos
esforços dos homens e mulheres da sociedade. Até onde sei, pastores jamais se opuseram a tais
esforços e creio até que simpatizavam com os mesmos. Mas havia uma confiança tão grande de
que a oração prevaleceria, que grande parte das pessoas parecia preferir reuniões de oração a
reuniões de pregação. A impressão geral parecia ser “Já tivemos instrução o suficiente, é tempo
de orarmos.” As respostas a orações eram constantes, e tão impactantes a ponto de chamarem a
atenção das pessoas por todo o país. Era evidente que em resposta à oração, as janelas dos céus
foram abertas e o Espírito de Deus era derramado como um dilúvio. A Tribuna de Nova Iorque
publicou naquela época várias edições extras, dando conta dos progressos do avivamento em
diferentes partes dos Estados Unidos.
Comentei que alguns exemplos de conversões repentinas aconteceram em Boston nesse
avivamento. Certo dia recebi uma carta anônima, de uma senhora, pedindo-me conselho sobre a
situação de sua alma. Geralmente eu não prestava atenção a cartas anônimas, mas a caligrafia, o
claro talento manifesto na composição, juntamente com a indiscutível sinceridade da escritora,
levaram-me a dar-lhe uma atenção nada habitual. Ela concluía pedindo-me para responder,
endereçando a resposta para a Sra. M, e para deixar com o sacristão da igreja onde eu pregaria
naquela noite, que ela pegaria depois. Nessa época, eu pregava cada noite em uma igreja
diferente. Respondi essa carta anônima, dizendo que eu não poderia dar-lhe o conselho que ela
buscava, pois não conhecia o suficiente sua história, nem a real situação de sua mente. Mas
ousaria chamar sua atenção a um fato que estava muito aparente, não somente em sua carta, mas
também no fato de não colocar seu nome ali, de que ela era uma mulher orgulhosa, e que isso ela
deveria considerar minuciosamente.
Deixei minha resposta com o sacristão, como ela solicitara, e na manhã seguinte uma senhora
veio visitar-me. Logo que entrou, ela disse que era a mulher que escrevera a carta anônima, e
havia vindo me visitar para dizer-me que eu estava errado ao pensar que ela era orgulhosa. Ela
disse que estava bem longe disso, mas era parte da igreja Episcopal, e não queria desgraçar sua
igreja ao revelar que não era convertida. Respondi “Foi orgulho de sua igreja, então, que lhe
impediu de revelar seu nome.” Isso a tocou tão profundamente que levantou-se, e
manifestadamente agitada, saiu da sala. Não esperava vê-la de novo, mas naquela noite,
encontrei-a entre as pessoas na sacristia, depois da pregação, para a reunião de perguntas e
respostas. Observei essa senhora. Ela era claramente uma mulher inteligente e de educação
superior, e pude perceber que ela pertencia a uma sociedade culta. Mas ainda não sabia seu nome,
pois nossa conversa naquela manhã durara não mais que um ou dois minutos, antes que ela
deixasse a sala, como relatei. Conforme eu a observava, comentei baixinho com ela “E você
aqui?” “Sim,” ela respondeu, e baixou sua cabeça como se estivesse profundamente tocada.
Conversei um pouco com ela, numa conversa calma e gentil, e aquela noite passou.
Nessas reuniões de perguntas e respostas, sempre destaquei a necessidade de submissão imediata
a Cristo, levando-os face a face com esse dever, então chamava os que estavam preparados para
se comprometerem de forma irrestrita a Cristo, para se ajoelharem. Percebi, quando fiz esse
apelo, que ela foi uma das primeiras a fazer isso. Na manhã seguinte veio novamente visitar-me
bem cedo. Logo que ficamos sozinhos, ela abriu seu coração para mim e disse “Vejo, Sr. Finney,
que tenho sido muito orgulhosa. Vim contar-lhe quem sou, e contar-lhe fatos a respeito de minha
história, para que o senhor saiba o que dizer para mim.” Ela era, como eu havia suposto, uma
mulher da alta sociedade, esposa de um rico cavalheiro, que era um cético. Ela se tornara
professora de religião, mas não era convertida. Foi muito franca nessa conversa, e abriu
cordialmente sua mente para instruções, e naquele mesmo momento, ou talvez imediatamente
depois, ela expressou sua esperança em Cristo, tornando-se uma genuína cristã. Ela é uma
escritora admirável, e conseguia transcrever meus sermões com maior precisão do que qualquer
pessoa que já conheci. Ela costumava sentar e escrever meus sermões com uma rapidez e
precisão que eram surpreendentes. Ela enviava cópias de suas anotações para muitos de seus
amigos, e dedicou-se ao máximo para assegurar a conversão de seus amigos em Boston e em
outros lugares. Já me correspondi muito com essa senhora, e ela sempre manifestou a mesma
sinceridade em sua religião, desde aquela época. Sempre tem uma boa obra em suas mãos, e
trabalha muito pelos pobres, e por todas as classes sociais que precisam de sua instrução, sua
simpatia e sua ajuda. Já passou por muitas pelejas em sua mente, sendo tão rodeada pelas
tentações deste mundo. Mas creio que ela tem sido, e continuará sendo, um lindo ornamento para
a igreja de Cristo.
O avivamento se estendeu de Boston para Charlestown e Chelsea. Em pouco tempo, espalhou-se
por todos os lados. Preguei na região leste de Boston e em Charlestown, e em Chelsea, onde o
avivamento tornou-se muito abrangente e precioso, por um tempo considerável. Continuamos a
trabalhar em Boston naquele inverno, até que era tempo de voltarmos para nossas obras em casa,
na primavera. Quando saímos de lá, a obra estava em sua força total, sem qualquer abatimento
aparente.
A igreja e o ministério neste país haviam se tornado tão envolvidos na promoção do avivamento,
e o favor de Deus era tamanho em participar dos esforços de leigos e pastores, que decidi retornar
à Inglaterra e passar mais uma temporada ali, para ver se a mesma influência não prevaleceria
naquele país.

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