As Memórias de Charles G. Finney
As Memórias de Charles G. Finney
As Memórias de Charles G. Finney
FINNEY
PREFÁCIO
POR James H. Fairchild
Presidente da Faculdade Oberlin, 1876
A VERDADE DO EVANGÉLHO
AS MEMÓRIAS DE CHARLES G. FINNEY
CAPÍTULO XVII.
O AVIVAMENTO EM STEPHENTOWN
DEPOIS dessa convenção, permaneci um curto tempo no Novo Líbano. Não creio que a
convenção tenha prejudicado o estado religioso das pessoas naquele lugar. Isso teria acontecido,
se qualquer um dos fatos fosse exposto para justificar a oposição que já era conhecida contra os
avivamentos que foram o assunto discutido. Mas no final, a igreja no Novo Líbano foi, creio eu,
edificada e fortalecida pelo que soube da convenção. De fato, tudo fora conduzido em um espírito
que tendia a edificar ao invés de fazer com que o povo tropeçasse.
Depois do adiamento da convenção, no domingo, conforme eu saía do púlpito, uma jovem
senhora de nome S, vinda de Stephentown, foi-me apresentada. Ela me perguntou se eu não
poderia ir pregar em sua cidade. Respondi que estava muitíssimo ocupado, e não teria como. Vi
que sua pronúcia estava engasgada com profundos sentimentos, mas como não tinha tempo para
conversar com ela no momento, fui para meus aposentos.
Depois fiz algumas perguntas às pessoas sobre Stephentown, um lugar ao norte, na divisa do
Novo Líbano. Há muitos anos, um rico indivíduo havia falecido, e deixado à igreja presbiteriana
naquele lugar um fundo, cujos juros eram suficientes para sustentar um pastor. Logo depois
disso, um Sr. B, que fora um capelão no exército Revolucionário, foi estabelecido ali como pastor
da igreja. Ele permaneceu ali até a igreja acabar, e por fim tornou-se um infiel assumido. Isso
produzira a mais desastrosa influência naquela cidade. Ele continuou no meio deles, abertamente
hostil à religião cristã.
Depois que ele deixou de ser o pastor da igreja, eles tiveram mais um ou dois pastores. Contudo,
a igreja decaiu, e o situação da religião ficava cada vez pior, até que, finalmente, deixaram sua
casa de reunião, pois tão poucos compareciam, e realizavam seus cultos aos domingos, em uma
pequena escola que ficava perto da igreja.
O último pastor que tiveram, afirmou que ficaria até que não mais de meia dúzia de pessoas
passaram a participar dos domingos, e apesar de ter fundos para seu sustento, e ter seu salário
regularmente em pago, ele ainda não conseguia pensar que era seu dever gastar tempo
trabalhando em tal lugar. Ele fora, portanto, dispensado. Nenhuma outra denominação havia
tomado posse da área, para incitar qualquer interesse público, e a cidade inteira era um completo
lixo moral. Três presbíteros da igreja Presbiteriana permaneceram, e mais ou menos vinte
membros. A única pessoa solteira na igreja era essa Srta. S, de quem falei. Praticamente toda a
cidade estava em uma situação de impiedade. Era uma cidade grande, rica e feita de fazendas,
sem nenhum vilarejo considerável.
No domingo seguinte, a Srta. S encontrou-me novamente, quando descia do púlpito, e implorou-
me para que fosse lá pregar. Perguntou-me se eu sabia qual era a situação daquele lugar.
Informei-lhe que sabia, mas não via como poderia ir para lá. Ela parecia muito afetada, demais
para conversar, pois não conseguia controlar seus sentimentos. Esses fatos, junto com o que
escutara, começaram a me envolver, e minha mente começou a ficar profundamente comovida
em relação à situação de Stephentown. Por fim eu lhe disse que se os presbíteros da igreja
desejavam que eu fosse, ela podia dar-lhes a notícia de que eu iria até lá, se o Senhor quisesse,
para pregar em sua igreja no domingo seguinte, às cinco horas da tarde. Com isso eu conseguiria
pregar duas vezes no Novo Líbano, para depois subir até Stephentown e pregar no horário
marcado. Isso pareceu iluminar sua fisionomia e tirar um fardo de seu coração. Ela foi para casa e
deu a notícia.
De acordo com isso no domingo seguinte, depois de pregar pela segunda vez, um dos jovens
convertidos do Novo Líbano ofereceu-se para levar-me até Stephentown em sua carroça. Quando
ele veio me pegar, perguntei “Você tem um cavalo firme?” “Ah, sim!” ele respondeu
“perfeitamente;” e sorrindo, perguntou “O que o faz perguntar isso?” Eu respondi “Porque se o
Senhor quer que eu vá a Stephentown, o diabo impedirá se puder; e se seu cavalo não for firme,
ele tentará fazê-lo me matar.” Ele sorriu e continuou. E é estranho dizer, mas duas vezes antes de
chegarmos lá, aquele cavalo disparou duas vezes, quase chegando a nos matar. Seu dono ficou
estupefado, e disse que jamais havia visto algo assim antes.
Contudo, chegamos em tempo e segurança à casa do Sr. S, o pai da Srta. S que mencionei. Ele
vivia a mais ou menos oitocentos metros da igreja, na direção do Novo Líbano. Ao entrarmos,
conhecemos Maria – pois esse era o nome dela – que em lágrimas, porém com alegria nos
recebeu, e levou-me a um quarto onde poderia ficar sozinho, sendo que anda não era a hora da
reunião. Pouco tempo depois, escutei-a orando em um quarto sobre minha cabeça. Quando
chegou a hora da reunião, fomos todos, e encontramos um grande número de pessoas. A
congregação estava solene e atenta, mas nada muito especial aconteceu naquela tarde. Passei a
noite na casa do Sr. S, e Maria parecia estar orando no quarto sobre o meu quase a noite inteira.
Eu podia ouvir sua voz baixa e trêmula, freqüentemente interrompida por soluços e choro. Eu não
havia marcado de vir novamente, mas quando fui embora pela manhã ela suplicou tanto, que
concordei em marcar uma nova reunião para o domingo seguinte, às cinco horas.
Quando subi no próximo domingo, praticamente as mesmas coisas ocorreram, mas a congregação
estava mais lotada, e como a casa era velha, pelo medo de que as galerias cedessem, elas haviam
sido fortemente escoradas durante a semana. Eu podia ver um claro aumento de solenidade e
interesse na segunda vez que preguei lá. Então fui embora com o compromisso de pregar
novamente. No terceiro culto, o Espírito de Deus foi derramado sobre a congregação.
Havia um Juiz P, que vivia em um pequeno vilarejo em uma parte da cidade, e tinha uma grande
família de filhos não convertidos. No final do culto, enquanto eu saía do púlpito, a Srta. S veio
até mim e mostrou-me um banco – a casa tinha velhos bancos quadrados – no qual estava uma
jovem sucumbida em seus sentimentos. Fui falar com ela, e descobri que era uma das filhas desse
tal Juiz P. Suas convicções eram muito profundas. Sentei-me perto dela e dei-lhe instruções, e
creio que, antes que saísse dali, converteu-se. Ela era uma moça muito inteligente e honesta, e
tornou-se uma cristã muito usada. Mais tarde casou-se com o evangelista Underwood, que é tão
bem conhecido em muitas das igrejas em Nova Jersey em especial, e na Nova Inglaterra. Ela e a
Srta. S pareceram imediatamente unir suas orações. Mas eu ainda não conseguia ver muito
movimento entre os membros mais velhos da igreja. Eles tinham um relacionamento tal uns com
os outros, que muito arrependimento e confissão ainda tinha que acontecer em seu meio, como
uma condição para ingressarem na obra.
A situação em Stephentown agora exigia que eu deixasse o Novo Líbano e mudasse para lá. Fiz
isso. O espírito de oração enquanto isso tinha vindo poderosamente sobre mim, como já era o
caso há algum tempo com a Stra. S. O poder da oração tão manifestadamente epalhava-se e
aumentava, a obra logo adquiriu uma forma muito poderosa, tanto que a Palavra do Senhor trazia
abaixo os homens mais fortes, fazendo-os totalmente indefesos. Eu poderia citar vários casos
desse tipo.
Um dos primeiros que me recordo foi num domingo, quando eu estava pregando sobre o texto
“Deus é amor.” Havia um homem de nome J, um homem de nervos fortes e proeminência
considerável como um fazendeiro na cidade. Ele sentava-se quase que imediatamente à minha
frente, perto do púlpito. A primeira coisa que observei foi que ele caiu, e contorceu-se em agonia
por alguns instantes; mas depois aquietou-se, quase que paralisado, mas inteiramente indefeso.
Ele permaneceu nesse estado até o final da reunião, quando foi levado para casa. Logo converteu-
se, e tornou-se um eficiente obreiro, trazendo seus amigos par Cristo.
Durante esse avivamento, Zebulon R. Shipherd, um célebre advogado do condado de
Washington, Nova Iorque, estando ao dispor da corte em Albany, escutou sobre o avivamento em
Stephenton, então afastou-se de seus negócios para vir trabalhar comigo no avivamento. Ele era
um sincero homem cristão, participava de todas as reuniões, e gostava muito de todas. Ele estava
lá quando as eleições de novembro aconteceram em todo o Estado. Eu estava ansioso pelo dia da
eleição com uma considerável preocupação, temendo que toda a empolgação daquele dia
retardaria a obra. Exortei os cristãos a orarem e vigiarem muito, para que a obra não fosse
atrasada por nenhuma empolgação que ocorresse naquele dia.
No final da tarde do dia da eleição eu preguei. Quando saí do púlpito depois de pregar, o Sr.
Shipherd – que a propósito, foi o pai do Rev. J. J. Shipherd que mais tarde estabeleceu Oberlin –
acenou para mim do banco onde estava para que fosse até ele. Era um banco no canto da casa, do
lado esquerdo do púlpito. Fui até ele, e encontrei um dos cavalheiros que fizera parte da mesa
para receber os votos durante o dia tão saturado com a convicção de pecados, que era incapaz de
sair de seu lugar. Fui até lá e conversei um pouco com ele, orei por ele, e ele claramente se
converteu. Uma porção consider’vel da igreja, enquanto isso, sentou-se. Conforme eu saía do
banco, e estava prestes a me retirar, minha atenção foi chamada para outro banco, do lado direito
do púlpito, onde estava outro daqueles homens que haviam sido proeminentes na eleição, e
recebera votos, precisamente na mesma condição. Ele estava sucumbido demais pelo estado de
seus sentimentos para deixar a casa. Fui e conversei com ele também, e se me recordo, converteu-
se antes de ir embora. Menciono esses casos como exemplos do tipo de obra que foi feita naquele
lugar.
Já comentei que a família do Sr. P era grande. Recordo-me que houveram dezesseis membros
daquela família, filhos e netos, que se converteram; todos os quais, creio eu, arrolaram-se à igreja
antes que eu fosse embora. Havia outra família na cidade de nome M, que também era muito
grande e muito influente, talvez a mais de todas na cidade. A maioria das pessoas vivia espalhada
ao longo de uma rua que tinha, se não me falha a memória, quase oito quilômetros de
comprimento. Perguntando, descobri que não havia nem uma família religiosa em toda aquela
rua, nem sequer uma casa onde mantinha-se a oração familiar.
Marquei de ir pregar em uma escola naquela rua, e quando cheguei encontrei o prédio lotado.
Peguei como texto: “A maldição do Senhor habita na casa do ímpio.” O Senhor me deu uma
visão muito clara do assunto, e fui capaz de expor efetivamente a verdade. Eu disse a todos que
eu sabia que não havia nem sequer uma família de oração em todo aquele distrito. O fato é que, a
cidade inteira estava em uma situação terrível. A influência do Sr. B, o último pastor, agora um
infiel, gerara seu fruto legitimo, e havia somente pouca convicção da verdade e realidade
religiosa, em meio aos ímpios daquela cidade. Essa reunião de que falei, resultou na convicção de
quase todos os presentes, acredito. O avivamento espalhou-se naquela vizinhança, e eu me
lembro que nessa família M, aconteceram dezessete conversões.
Mas havia muitas famílias na cidade que eram bastante proeminentes em influência, e que não
participavam das reuniões. Parecia que estavam sob tanta influência do Sr. B, que estavam
determinados a não participar. Contudo, no meio do avivamento, esse Sr. B teve uma morte
terrível, e isso pôs um fim em sai oposição.
Eu disse que haviam muitas famílias na cidade que não participavam das reuniões, e não pude
encontrar meio algum para que fossem induzidos a participar. A Srta. S do Novo Líbano, que
convertera-se em Tróia, escutou que essas famílias não participavam, e foi até Stephentown;
sendo que seu pai era um homem muito conhecido e respeitado, ela era recebida com respeito e
deferência em todas as famílias que desejava visitar. Ela foi e visitou uma dessas famílias. Creio
que era conhecida de suas filhas, e induziu-as a acompanhá-la à reunião. Elas logo ficaram tão
interessadas que não precisavam mais de influência para persuadí-las a participar. Ela então
visitou outra, com o mesmo resultado, e outra; por fim, eu acredito, assegurou a participação de
todas aquelas famílias que tinham-se mantido afastadas. Essas famílias quase todas, senão todas
de fato, converteram-se antes que eu deixasse a cidade. De fato, quase todos os principais
habitantes da cidade foram reunidos na igreja, e a cidade foi moralmente renovada. Nunca mais
voltei para lá depois disso, que foi no outono de 1827. Mas sempre tenho notícias de lá, e o
avivamento produziu resultados permanentes. Os convertidos eram firmes, e a igreja tem mantido
um bom nível de vigor espiritual.
Como em todos os lugares, as características mais marcantes desse avivamento eram, um
poderoso espírito prevalecente de oração; impactante convicção de pecado, conversões repentinas
e poderosas a Cristo; grande amor a alegria abundante dos convertidos, e sua grande sinceridade,
atividade, e utilidade em suas orações e obras pelos outros. Esse avivamento aconteceu na cidade
que fazia divisa com o Novo Líbano, e imediatamente após a convenção. A oposição tinha,
naquela convenção, recebido seu sopro de morte. Raramente já trabalhei em um avivamento com
maior conforto para mim mesmo, ou com menos oposição do quem em Stephentown. A
princípio, as pessoas aborreceram-se um pouco diante das pregações, mas fora marcada com
tanto poder pelo Espírito Santo, que logo não ouvi mais reclamação alguma.
AVERDADE DO EVANGÉLHO
AS MEMÓRIAS DE CHARLES G. FINNEY
CAPÍTULO XVIII.
OS AVIVAMENTOS EM WILMINGTON E NA FILADÉLFIA.
ENQUANTO eu estava trabalhando no Novo Líbano, no verão anterior, o Rev. Sr. Gilbert de
Wilmington, Delaware, cujo pai morava no Novo Líbano, foi até lá para uma visita. O Sr. Gilbert
era muito tradicional em suas visões teológicas, mas um homem bom e honesto. Seu amor pelas
almas superava qualquer dificuldade em questões de diferenças teológicas, entre eu e ele. Ouviu-
me pregar no Novo Líbano e viu os resultados, e foi muito sincero em dizer que eu deveira ir
ajudá-lo em Wilmington.
Logo que pude ver que meu caminho estava aberto para sair de Stephentonw, então, fui para
Wilmington e comecei na obra com o Sr. Gilbert. Em pouco tempo percebi que seus
ensinamentos haviam colocado a igreja em uma posição que impossibilitava a promoção de um
avivamento em seu meio, até que suas visões pudessem ser corrigidas. Eles pareciam ter medo de
fazer qualquer esforço, temendo tirar a obra das mãos de Deus. Tinham as mais antigas das
visões doutrinárias, conseqüentemente sua teoria era que Deus converteria os pecadores a Seu
tempo; e portanto insistir que se arrependessem imediatamente, e em suma tentar promover um
avivamento, era tentar fazer cristãos por ações humanas, e forças humanas, desonrando assim a
Deus, ao tirar a obra de Suas mãos. Percebi também que em suas orações não havia urgência pelo
derramamento do Espírito, e que tudo isso estava de acordo com as idéias nas quais foram
instruídos.
Estava claro que nada poderia ser feito, a menos que as visões do Sr. Gilbert fossem mudadas a
respeito do assunto. Portanto eu passei horas todos os dias conversando com ele sobre suas visões
peculiares. Falamos sobre todo o assunto de uma maneira fraternal, e depois de trabalhas assim
com ele por duas ou três semanas, vi que sua mente estava preparada para ter meus pontos de
vista apresentados a seu povo. No domingo seguinte, tomei como texto “Criai em vós um coração
novo e um espírito novo; pois por que razão morreríeis?” Entrei com detalhes no assunto da
responsabilidade do pecador, mostrei o que não é um novo coração, e o que é. Preguei por mais
ou menos duas horas, e não assentei-me até ter sido minucioso em todo o assunto, da maneira
mais rápida que pude, falando rápido naquele período de tempo.
A congregação ficou intensamente interessada, e muitos levantavam-se e ficavam de pé em todas
as partes da casa. A casa estava completamente cheia, e havia olhares estranhos na assembléia.
Alguns pareciam angustiados e ofendidos, outros muito interessados. Não raro, quando eu
apresentava o forte contraste entre minhas próprias visões, e as visões nas quais haviam sido
instruídos, alguns riam, alguns choravam, outros ficavam abertamente bravos, mas não me
recordo de ninguém ter saído do lugar. Era uma estranha agitação.
Enquanto isso, o Sr. Gilbert passou de uma ponta do sofá para a outra, no púlpito atrás de mim.
Eu podia ouví-lo respirando e suspirando, e não pude deixar de observar que também estava
muito ansioso. Contudo, eu sabia que o tinha, em suas convicções, rápido, mas se ele se decidia a
considerar o que favala por causa de seu povo, eu não sei. Mas eu estava pregando para agradar
ao Senhor, e não o homem. Pensei que pudesse ser a última vez que pregaria lá, mas sempre me
propus, em todas as circunstâncias, a falar-lhes a verdade, toda a verdade, sobre aquele assunto,
fosse qual fosse o resultado.
Esforcei-me para mostrar que se o homem fosse tão indefeso quando seus pontos de vista o
apresentavam, não deveria ser culpado por seus pecados. Se perdera em Adão toda a capacidade
de obediência, de forma a tornar-se impossível para ele, não por sua ação ou consentimento, mas
por causa da ação da Adão, era meramente falta de juízo dizer que ele poderia ser culpado por
algo que não poderia evitar. Esforcei-me também para mostrar que, nesse caso, a redenção não
era graça nenhuma, mas na verdade um pagamento de dívida para a humanidade, da parte de
Deus por tê-la colocado em uma condição tão deplorável e desafortunada. De fato, o Senhor me
ajudou a mostrar, creio que com uma clareza irresistível, os dogmas peculiares do tradicionalismo
e seus resultados inevitáveis.
Quando terminei, não chamei o Sr. Gilbert para orar, não ousei fazer isso, mas eu mesmo orei
para que o Senhor reforçasse a Palavra, fizesse-a ser compreendida, e desse uma mente pura para
pesar o que fora dito, para receber a verdade, e rejeitar que pudesse ser errado. Então dispensei a
assembléia, e desci do púlpido, com o Sr. Gilber a me seguir. A congregação retirou-se muito
devagar, e muitos pareciam estar esperando por alguma coisa, em todas as partes da casa. Os
corredores estavam quase vazios, e o resto da congregação parecia permanecer em uma posição
de espera, como se esperassem ouvir o Sr. Gilbert comentar o que fora dito. A Sra. Gilbert, no
entanto, saiu imediatamente.
Conforme desci do púlpito, observei duas senhoras a quem fora apresentado, e que sabia que
eram amigas particulares e partidárias do Sr. Gilbert, sentadas do lado esquerdo do corredor por
onde tínhamos que passar. Vi que pareciam muito aflitas, um pouco ofendidas, e grandemente
estarrecidas. A primeira que alcançamos, que estava perto das escadas do púlpito, chamou a
atenção do Sr. Gilbert que vinha atrás de mim, e disse-lhe “Sr. Gilbert, o que o senhor acha
disso?” Ela falou com uma voz baixa. Ele respondeu da mesma maneira “Vale quinhentos
dólares.” Isso me gratificou grandemente, e afetou-me muito. Ela replicou “Então o senhor nunca
pregou o Evangélho.” “Bem,” disse ele, “sinto dizer que nunca preguei.” Continuamos e então a
outra senhora disse-lhe quase as mesmas coisas, e recebeu uma resposta parecida. Aquilo foi
suficiente para mim. Abri meu caminho até a porta e saí. Muitos daqueles que haviam saído
estavam parados na frente da igreja, discutindo veementemente o que fora dito. Conforme passei
pelas ruas, a caminho da casa do Sr. Gilbert, onde estava hospedado, encontrei as ruas cheias de
agitação e discução. As pessoas estavam comparando os pontos de vista, e das poucas palavras
que escaparam daqueles que não percebiam que eu passava, vi que a impressão era claramente
favorável ao que dissera.
Quando cheguei na casa do Sr. Gilber, sua esposa dirigiu-se a mim logo que entrei, dizendo “Sr.
Finney, como ousou pregar tais coisas em nosso púlpito?” Eu respondi “Sra. Gilbert, eu não
ousaria pregar nada mais; isso é a verdade de Deus.” Ela replicou “Bem, é verdade que Deus
estava dedicado à justiça ao fazer a remissão para a humanidade. Sempre senti isso, apesar de
jamais ousar dizê-lo. Eu acreditava que se a doutrina pregada pelo Sr. Gilbert fosse verdade,
Deus tinha a obrigação, como uma questão de justiça, de fazer uma remissão, e de me salvar
daquelas circunstâncias nas quais era-me impossível controlar a mim mesma, e de uma
condenação que eu não merecia.”
Nesse exato momento, o Sr. Gilbert entrou. “Pronto,” disse eu “irmão Gilbert, o senhor vê os
resultados de sua pregação aqui em sua própria família.” e então repeti para ele o que sua esposa
acabara de dizer. Ele respondeu “Eu algumas vezes pensei que minha esposa fosse a mulher mais
devota que já conheci, e outras vezes, pensei que não tivesse religião alguma.” Eu exclamei
“Oras! Ela sempre pensou que Deus lhe devia, como uma questão de justiça, a salvação oferecida
em Cristo; como pode ser uma cristã?” Tudo isso foi dito por cada um de nós com grande
solenidade e honestidade. Depois de meu último comentário, ela se levantou e saiu da sala. A
casa estava muito solene, e por dois dias, creio eu, não a vi. Ela então assumiu, não somente em
verdade, mas no estado de sua própria mente, ter passado por uma completa revolução de visões
e experiência.
A partir disso, a obra progrediu. A verdade foi trabalhada de forma admirável pelo Espírito
Santo. As idéias do Sr. Gilbert foram totalmente mudadas, bem como seu estilo de pregar e
maneira de apresentar o Evangélho. Até onde sei, até o dia de sua more, suas visões
permaneceram corretas, renovadas em relação às tradicionais que antes defendia.
O efeito desse sermão sobre muitos dos membros da igreja do Sr. Gilbert foi muito peculiar. Já
falei da senhora que perguntou-lhe o que ele achava daquilo. Ela depois me disse que ficara tão
ofendida ao pensar que todos os seus pontos de vista foram tão descartados, que prometera a si
mesma jamais orar novamente. Ela tinha o hábito de até então justificar-se por causa de sua
natureza pecaminosa, e tomara em sua própria emte, a mesma oposição da Sra. Gilbert, que
minha pregação sobre aquele assunto subvertera completamente suas visões, sua religião e tudo
mais. Ela permaneceu nesse estado de rebelião, se bem me lembro, por umas seis semanas, antes
que conseguisse orar novamente. Ela então quebrantou-se e foi plenamente transformada em suas
visões e experiência religiosa. E esse, creio eu, foi o caso de vários membros daquela igreja.
Enquanto isso eu havia sido induzido a subir e pregar pelo Sr. Patterson, na Filadélfia, duas vezes
por semana. Eu ia até lá no barco a vapor e pregava ao anoitecer, retornava no dia seguinte e
pregava em Wilmington, alternando assim meus cultos vespertinos entre Wilmington e Filadélfia.
A distância era de mais ou menos sessenta e cinco quilômetros. A Palavra teve tanto efeito na
Filadélfia a ponto de convencer-me que era meu dever deixar a cargo do Sr. Gilbert que
continuasse com a obra em Willmington, para dedicar-me em tempo integral à obra na Filadélfia.
O Rev. James Patterson, com quem a princípio trabalhei lá, defendia as visões de teologia na
época defendidas em Princeton, desde então conhecida como a teologia dos Presbiterianos
tradicionais. Mas ele era um homem de Deus, e importava-se muito mais com a salvação das
almas do que com belas questões de habilidade e incapacidade, ou qualquer um dos pontos da
doutrina sobre os quais os tradicionais e os renovados discordavam. Sua esposa defendia as
visões teológicas da Nova Inglaterra, isso té, ela acreditava em uma remissão geral, e não restrita,
e concordava com o que era chamado de ortodoxia da Nova Inglaterra, diferente da ortodoxia de
Princeton.
Deve ser lembrado que nessa época eu também fazia parte da igreja Presbiteriana. Fui licenciado
e ordenado por um presbitério, composto em sua maioria de homens formados em Princeton.
Também já comentei que quando fui licenciado para pregar o Evangélho, perguntaram-me se
aceitava a Confissão de Fé Presbiteriana, como contendo a substância da doutrina cristã.
Respondi que sim, até onde pude entendê-la. Mas como não esperava que me perguntassem isso,
nunca a examinara com muita atenção, e creio que não havia lido por completo. Mas quando
cheguei a ler a Confissão de Fé e ponderar sobre ela, vi que apesar de poder aceitá-la, como sei
que fazem hoje multidões de Presbiterianos, como contendo a substância da doutrina cristã, ainda
assim havia vários pontos sobre os quais eu não poderia colocar a mesma construção que era
colocada sobre eles em Princeton, e de acordo com isso, em todos os lugares, eu dava a entender
que não aceitava aquela construção, ou se aquela era a verdadeira construção, eu então diferia
inteiramente da Confissão de Fé. Creio que o Sr. Patterson já entendia isso antes de eu fosse
trabalhar com ele, pois quando segui essa conduta em seu púlpito ele não expressou surpresa
alguma. Na verdade, não fez nenhuma objeção.
O avivamento envolveu tanto sua congregação que o interessou grandemente, pois viu que era
Deus que estava abençoando a Palavra como eu apresentava. Permaneceu firme ao meu lado e
nunca, em momento algum, fez uma objeção sequer a qualquer coisa que apresentei. Algumas
vezes quando voltávamos da reunião, a Sra. Patterson comentava sorrindo “Agora o senhor vê,
Sr. Patterson, que o Sr. Finney não concorda com o senhor naqueles pontos sobre os quais tanto
conversamos.” Ele sempre, na grandeza de sua fé e de seu amor cristão, respondia “Bem, o
Senhor abençoa isso.”
O interesse tornou-se tão grande que nossas congregações estavam lotadas em todas as reuniões.
Certo dia o Sr. Patterson disse para mim “Irmão Finney, se os pastores Presbiterianos nesta
cidade descobrirem suas idéias, e o que o senhor tem pregado ao povo, caçar-lhe-ão como lobos,
até o expulsarem da cidade.” Eu respondi “Não posso evitar. Não posso pregar nenhuma outra
doutrina, e se devem banir-me da cidade, que o façam, e assumam a responsabilidade. Mas não
acredito que consigam me tirar daqui.”
No entanto, os pastores não tiveram a conduta que ele previu, de maneira alguma; mas
praticamente todos me receberam em seus púlpitos. Quando souberam do que acontecia na igreja
do Sr. Patterson e que muitos mebros de suas próprias igrejas estavam bastante interessados,
convidaram-me a pregar para eles, e se bem me recordo, preguei em todas as igrejas
Presbiterianas, exceto na da rua Arch.
A Filadélfia era, na época, quase uma unidade, em relação às visões teológicas defendidas em
Princeton. O Dr. Skinner defendia, até certo ponto, o que desde então é conhecido como visões
renovadas, e diferenciava-se o suficiente do tom da teologia que o rodeava, para que fosse
suspeito de não ser correto, segundo a ortodoxia prevalecente. Sempre considerei algo admirável,
que, até onde sei, minhas visões doutrinárias não foram uma pedra de tropeço naquela cidade;
então minha ortodoxia fora abertamente citada, por qualquer um dos pastores ou igrejas. Preguei
na igreja Holandesa para a congregação do Dr. Linvingston, e descobri que ele simpatizava com
minhas visões, e encorajou-me, com toda sua influência, a continuar pregando aquilo que o
Senhor me ordenara. Eu não hesitava em qualquer lugar, em todas as ocasiões, apresentar minhas
próprias idéias de teologia, e aquelas que havia apresentado em todos os lugares, às igrejas.
O próprio Sr. Patterson estava, creio eu, muito supreso de eu não encontrar nenhuma oposição
aberta da parte dos pastores ou igrejas, em função de minhas visões teológicas. De fato, eu não as
apresentava de maneira nenhuma de forma controversa, mas simplesmente as empregava em
minhas intruções aso santos, e pecadores, de uma forma tão natural que talvez, não chamasse
muita atenção, exceto pelos teólogos discrimináveis. Mas muitas coisas que eu dizia eram novas
ao povo. Por exemplo, certa noite preguei sobre esse texto: “Porque há um só Deus e um só
mediador entre Deus e os homens, Jesus Cristo, homem, o qual se deu a si mesmo em preço de
redenção por todos, para servir de testemunho a seu tempo.” Esse foi um sermão sobre a
remissão, no qual tomei a visão que sempre defendi, de sua natureza e sua universalidade, de
declarei, o mais forte que pude, os pontos de diferença entre meus próprios pontos de vista e
aqueles de remissão limitada defendidos pelos teólogos. Esse sermão chamou tanta atenção, e
incitou tanto interesse, que fui solicitado a pregar sobre o mesmo assunto em outras igrejas.
Quanto mais eu pregava sobre isso, mas as pessoas queriam ouvir, e a empolgação tornou-se tão
geral, que preguei sobre assunto por sete noites consecutivas, em sete igrejas diferentes.
Parecia que o povo escutara muitas coisas contra o que era chamado de Hopkinsianismo; cujos
dois principais pontos que deviam ser entendidos eram, que o homem deveria estar disposto a ser
condenado pela glória de Deus, e que Deus era o autor do pecado. Ao pregar, eu às vezes
mencionava esses pontos, e aproveitava para denunciar o Hopkinsianismo, e dizer que pareciam
ter muito disso na Filadélfia, que seu tratamento negligente quanto à salvação de suas almas em
muito passava a impressão de que estavam dispostos a serem condenados, e que deveriam
acreditar que Deus era o autor do pecado, pois defendiam que sua natureza era pecaminosa.
Discuti isso sob vários prismas, e insisti nestes dois pontos. Ouvi várias vezes que as pessoas
diziam “Bem, ele realmente não é Hopkinsinista.” De fato, sentia que era meu dever expor todos
os esconderijos dos pecadores, e caçá-los até tirá-los de sob aquelas visões peculiares de
ortodoxia, nas quais encontrava-os entrincheirados.
O avivamento se espalhou, poderosamente. Todas as nossas reuniões para pregações, orações e
dúvidas estavam lotadas. Havia muito mais pessoas que gostariam de participar das reuniões de
perguntas e repostas do que as que conseguiam. Já era o final do outono quando mudei-me para a
Filadélfia, e continuei a trabalhar lá sem qualquer intervalo até o agosto seguinte, em 1828.
Como em outros lugares, existiam alguns casos de amarga oposição da parte de indivíduos. Em
um caso, um homem cuja esposa estava profundamente convencida, ficou tão irado que entrou e
tirou sua esposa da reunião à força. Outro caso que me recordo foi um muito impactante, de um
alemão cujo nome não me lembro agora. Ele era um negociante de tabaco. Tinha uma esposa
muito amável e inteligente, e também era, como vim a saber mais tarde quando familiarizei-me
com ele, um homem muito inteligente. Ele era, no entanto, um sético, e não tinha confiança
alguma na religião. Sua esposa, contudo, vinha a nossas reuniões, e ficou muito preocupada com
sua alma; e depois de uma severa peleja que durou muitos dias, converteu-se plenamente. Como
ela participava freqüentemente das reuniões, e tornara-se muito interessada, isso logo chamou a
atenção de seu esposo, então ele começou a se opor a ela ser uma cristã. Ele tinha, como vim a
saber, um temperamento impetuoso, e era um homem de porte atlético, de muita atitude e firmeza
de propósito. Quanto mais sua esposa se interessava, mais sua oposição aumentava, até
finalmente proibí-la de participar das reuniões.
Ela então veio visitar-me, e pediu meu conselho sobre o que deveria fazer. Eu disse que sua
primeira obrigação era para com Deus; que tinha sem dúvidas a obrigação de obedecer Seus
mandamentos, mesmo se entrassem em conflito com os mandamentos de seu marido, e que,
enquanto eu a aconselhava a evitar ofendê-lo se pudesse, e a cumprir seu dever para com Deus,
de maneira nenhuma deveria omitir o que considerava suas obrigações para com Deus, com a
finalidade de realizar os desejos dele. Disse-lhe que, já que ele era um infiel, suas opiniões em
assuntos religiosos não deveriam ser respeitadas, e que não podia seguir com segurança seus
conselhos. Ela estava bem ciente disso. Ele era um homem que não prestava atenção alguma para
a religião, exceto para opor-se a ela.
De acordo com meus conselhos, ela participava das reuniões quanto tinha chance, recebia as
instruções; e logo conseguiu a liberdade do Evangélho, tinha muita fé e paz de espírito, e gozava
muito da presença de Deus. Isso aborrecia muito seu marido, e ele acabou indo tão longe a ponto
de ameaçá-la de morte, caso fosse novamente a uma reunião. Ela já o havia visto bravo tantas
vezes, que não acreditava que ele fosse capaz de cumprir sua ameaça. Calmamente disse a ele
que custasse o que custasse, sua mente estava decidida a cumprir seu dever para com Deus, que
sentia que era seu dever dar-se a oportunidade de receber as instruções que precisava, e que devia
participar das reuniões, sempre que pudesse fazê-lo sem negligenciar seus deveres para com sua
família.
Certa noite de domingo, quando ele descobriu que ela estava indo para a reunião, reforçou sua
ameaça de que se ela fosse, tiraria sua vida. Mais tarde ela me contou que pensava que aquilo não
passava de uma ameaça em vão. Calmamente respondeu a seu esposo que seu dever estava claro;
que não havia razão para que permanecesse em casa naquela hora, a não ser simplesmente
cumprir seu desejo irracional, e que ficar em casa sob tais circunstâncias seria inteiramente
inconsistente com seus deveres para com Deus e consigo mesma. Então foi para a reunião.
Quando voltou para casa, encontrou-o extremamente irado. Logo que ela entrou pela porta ele a
trancou, tirou a chave, e puxou uma adaga e jurou que tiraria sua vida. Ela correu para as escadas.
Ele pegou uma vela para seguí-la. A criada assoprou apagando a vela quando ele passava perto
dela. Isso deixou-os ambos na escuridão. Ela correu e atravessou os quartos no segundo andar,
desceu novamente para a cozinha e foi até o porão. Ele não conseguia seguí-la no escuro, então
ela saiu pela janela do porão e foi para a casa de uma amiga, onde passou a noite.
Presumindo que ele etaria muito envergonhado por sua ira antes de amanhecer, ela foi para casa
bem cedo, e ao entrar na casa, encontrou tudo em uma grade desordem. Ele quebrara alguns
móveis e agira como um homem louco. Novamente ele trancou a porta logo que ela entrou na
casa, e puxando a adaga, caiu de joelhos e levantou suas mãos, jurando da maneira mais terrível
que tiraria ali a vida dela. Ela olhou para ele com espanto e fugiu. Subiu as escadas, mas era dia,
e ele a seguiu. Ela correu de quarto para quarto até que chegou no último, do qual não tinha como
escapar. Virou-se e o encarou. Ela caiu de joelhos, enquanto ele estava prestes a atingí-la com sua
adaga, e levantou suas mãos para os céus, gritando por misericória de si mesma e dele. Neste
instante Deus o deteve. Ela disse que ele a olhou por um momento, largou sua adaga, e caiu sobre
o chão, gritando por misericórdia. Então quebrantou-se naquele exato momento e lugar,
confessou seus pecados a Deus e a ela, e implorou a Deus, implorou a ela, que fosse perdoado.
A partir daquele momento ele foi um homem maravilhosamente transformado. Tornou-se um dos
mais sinceros cristãos. Apegou-se muito a mim, e um ou dois anos depois disso, ao saber que eu
viria à Filadéfia em um certo barco a vapor, foi o primeiro homem a me encontrar e
cumprimentar. Admiti-o com sua esposa na igreja, antes de deixar a Filadélfia, e batizei seus
filhos. Não os vejo nem tenho notícias suas há muitos anos.
Mas enquanto haviam casos individuais de amargura singular e oposição à religião, eu ainda não
havia sido perturbado nem atrapalhado por nada como uma oposição pública. Os pastores
receberam-me gentilmente, e em momento algum, que eu me lembre, falaram publicamente, se é
que falavam em particular, contra a obra que acontecia.
Depois de pregar na igreja do Sr. Patterson por vários meses, e em praticamente todas as igrejas
Presbiterianas na cidade, viu-se que seria melhor que eu tomasse uma posição central, e pregasse
somente em um lugar. Na rua Race havia uma grande igreja alemã, cujo pastor era o Sr.
Helfenstein. Os presbíteros da congregação, juntamente com seu pastor, pediram-me para que
ocupasse seu púlpito. Sua casa era na época, creio eu, a maior casa de adoração da cidade. Estava
sempre lotada; e dizia-se que comportava três mil pessoas, quando ficava lotada com os
corredores cheios. Preguei somente ali por muitos meses. Tive a oportunidade de pregar para
muitos professores de escola dominical. De fato dizia-se que professores de escola dominical de
toda a cidade assistiam meu ministério.
Mais ou menos no meio do verão de 1829, saí de lá por um curto período, para visitar os pais de
minha esposa no condado de Oneida, então voltei e trabalhei na Filadélvia até mais ou menos a
metade do inverno. Não me recordo de datas exatas, mas acredito que no geral, trabalhei naquela
cidade por quase um ano e meio. Em todo esse tempo não houve abatimento algum no
avivamento, que eu pude perceber. Os convertidos eram numerosos em todas as partes da cidade,
mas nunca soube nem pude formar uma estimativa do número exato. Jamais havia trabalhado em
lugar nenhum onde fora recebido com mais cordialidade, e onde cristãos, especialmente novos
convertidos, parecessem ser melhor do que eram ali. Não havia nenhuma cisma ou birra entre
eles, que eu soubesse, e nunca ouvi de nenhuma influência desastrosa que resultada daquele
avivamento.
Muitos fatos interessantes ligados a esse avivamento, aconteceram. Lembro-me que uma jovem
que era a filha de um pastor tradicional, assistia minhas ministrações na igreja do Sr. Patterson, e
ficou terrivelmente convencida. Suas convicções eram tão profundas, que ela quase acabou
caindo em sofrível desespero. Ela me contou que fora ensinada desde criança por seu pai que, se
ela fosse um dos eleitos, converter-se-ia no tempo devido, e que até que se convertesse, e tivesse
sua natureza mudada pelo Espírito de Deus, nada podia fazer por si mesma, a não ser ler sua
bíblia e orar por um novo coração.
Ela era bastante jovem e estava muito convicta de seus pecados, mas seguira as instruções de seu
pai, e lia sua bíblia, orava por um novo coração, acreditando que isso era tudo que lhe cabia fazer.
Esperava ser convertida, esperando assim por uma prova de que era um dos eleitos. No meio de
sua grande peleja de alma sobre o assunto de sua salvação, algo havia aparecido em relação à
questão de casamento; e ela prometera a Deus que jamais daria sua mão a homem algum até que
fosse uma cristã. Quando fez a promessa, disse que esperava que Deus logo a convertesse. Mas
suas convicções passaram. Ela não foi convertida, e aquela promessa a Deus ainda estava em sua
alma, e não ousava quebrá-la.
Por volta de seus dezoito anos de idade, um jovem rapaz propôs fazê-la sua esposa. Ela aceitou,
mas como tinha um voto, não podia consentir no casamento até que fosse uma cristã. Ela disse
que eles se amavam muito, e que ele insistia em casar-se com ela sem demora. Mas sem dizer-lhe
a verdadeira razão, ela continuava adiando de tempos em tempos, por quase cinco anos se bem
me lembro, esperando que Deus a convertesse. Por fim, certo dia ao andar com sua carroça, o
rapaz foi jogado para fora do carro e morreu na hora. Isso gerou uma grande inimizade em seu
coração contra Deus. Acusava-O de lidar duramente com ela. Ela dizia que estivera esperando
que Ele a convertesse, e fora fiel em sua promessa de não se casar até que fosse convertida; que
mantivera seu amado esperando por anos até que estivesse pronta, e agora, eis que Deus o levara,
e ela ainda não fora convertida.
Ela descobrira que o jovem era um Universalista, e agora estava muito interessada em acreditar
que o Universalismo era verdadeiro, e não acreditava que Deus o tivesse mandando para o
inferno, e se Ele o tivesse mandado para o inferno, ela não poderia reconciliar-se com isso de
maneira alguma. Assim, ela vinha guerreando com Deus por bastante tempo, antes de vir a nossas
reuniões, supondo que a culpa por não ser convertida era devida a Deus, e não a ela mesma.
Quando ela ouviu minha pregação, descobriu que todos os seus falsos refúgios foram
despedaçados, viu que deveria ter entregue seu coração a Deus há muito tempo, e tudo estaria
bem, viu que a culpa era toda sua, e que os ensinamentos de seu pai em todos aqueles tópicos
estavam totalmente errados, ao lembrar-se de como culpara Deus, e da blasfema atitude que
mantinha diante Dele, ela naturalmente desesperou-se por misericórdia. Conversei com ela, e
tentei mostrar-lhe o longo sofrimento de Deus, encorajando-a a ter esperança, a acreditar, e
confiar na vida eterna. Mas seu senso de pecado era tão grande, que parecia incapaz de receber a
promessa, e afundava-se mais e mais em desespero, dia após dia.
Depois de trabalhar bastante com ela, fiquei muito angustiado com seu caso. Depois de cada
sermão ela me seguia até em casa, com suas desesperadoras reclamações, e deixava-me exausto
com apelos à minha simpatia e compaixão cristã por sua alma. Depois de essa situação prolongar-
se por muitas semanas, certa manhã veio visitar-me na companhia de uma tia sua, que estava
muito preocupada, e que pensava que ela estava no limiar de uma insanidade desesperadora. Eu
mesmo compartilhava dessa opinião, achando que esse seria o resultado, se ela não passasse a
acreditar. Catharine – pois esse era seu nome – entrou em meus aposentos em sua maneira
desesperada usual, mas com um olhar quase selvagem em seu rosto que indicava que seu estado
mental estava insuportável, e na hora, creio que foi o Espírito de Deus que sugeriu em minha
mente, adotar uma conduta interamente diferente com ela do que já fizera antes.
Eu disse a ela “Catharine, você diz acreditar que Deus é bom.” “Oh, sim!” ela dise “eu acredito
nisso.” “Bem, você já me disse várias vezes que a bondadade Dele O proíbe de ter misericórida
de você – que seus pecados foram tão grandes que seria uma desonra para Ele perdoar-lhe e
salvar-lhe. Você já me disse várias vezes que acredita que Deus a perdoaria, se sabiamente
pudesse, mas que o seu perdão seria uma injúria para Ele, para Seu governo, para Seu universo, e
que portanto Ele não pode perdoar você.” “Sim,” ela disse “eu acredito nisso.” Eu respondi
“Então seu problema é que espera que Deus peque, que aja sem sabedoria e prejudique-se a Si
mesmo e ao universo pelo bem de salvar você.” Ela abriu e fixou seus grandes olhos azuis sobre
mim, parecendo em parte surpresa e em parte indignada. Mas seu continuei: “Sim! Você está com
a mente tão angustiada e atribulada porque Deus não fará nada de errado, porque Ele continuará
sendo bom, sejá lá o que aconteça com você. Você fica com o maior sofrimento em sua mente,
porque Deus não será convencido a violar Seu próprio senso de propriedade e dever, e salvar-lhe
prejudicando-se a Si mesmo, e a todo o universo. Pensa que é mais importante que Deus e
universo inteiro, e não pode ser feliz a menos que Deus faça a Si mesmo e a todas as outras
pessoas infelizes, para fazer você feliz.”
Insisti nisso com ela. Olhava-me totalmente estarrecida, e depois de alguns momentos, submeteu-
se. Parecia estar quase instantaneamente sujeita, como uma criancinha. Ela disse “Eu aceito. Que
Deus me mande para o inferno, se achar que é a melhor coisa a se fazer. Não quero que me salve
custando-se a Si mesmo, e ao custo do universo. Que Ele faça o que for melhor a Seus olhos.”
Levantei-me e saí imediatamente do quarto, e para afastar-me inteiramente dela, peguei uma
carroça e saí. Quando voltei, é claro que ela havia ido embora, mas à tarde, ela e sua tia
retornaram, para contar o que Deus fizera por sua alma. Estava cheia de gozo e paz, e tornou-se
uma das mais submissas, humildes e lindas convertidas que já conheci.
Outra jovem, lembro-me, uma moça muito bonita, de talvez vinte anos de idade, veio visitar-me
sob grande convicção de pecado. Perguntei-lhe, entre outras coisas, se estava convencida de que
havia sido tão ímpia que Deus poderia, com justiça, enviá-la para o inferno. Ela respondeu com
uma linguagem forte “Sim! Mereço mil infernos.” Ela estava alegre e ricamente vestida, creio eu.
Tive uma longa conversa com ela. Ela abriu seu coração e entregou-se a Cristo. Foi uma
conversão muito humilde e quebrantada. Eu soube que ela foi para casa e ajuntou muitas de suas
flores artificiais e ornamentos, com os quais enfeitava-se, e dos quais era muito vaidosa, e passou
pelo quarto com eles nas mãos. Perguntaram-lhe o que faria com aquilo. Ela disse que estava
indo queimá-los. Disse “Nunca mais os usarei de novo.” “Bem,” disseram-lhe “se não vai usá-
los, pode vendê-los, não queime.” Mas ela respondeu “Se eu vender, outra pessoa será tão
vaidosa com eles quanto eu mesma tenho sido. Vou queimá-los.” E ela realmente ateou fogo em
tudo.
Poucos dias depois disso, ela veio me visitar, e disse que tinha observado uma senhora muito bem
vestida enquanto passava pelo mercado, creio que naquela mesma manhã. Teve tanta compaixão
que foi até ela e perguntou se poderia falar-lhe por um instante. A senhora disse que sim. Então
disse-lhe “Minha querida madame, será que a senhora não tem orgulho de seu vestido, será que
não é vaidosa e negligencia a salvação de sua alma?” Contou que ela mesma caiu em lágrimas
enquanto dizia isso, e contou para a senhora um pouco de sua própria experiência, de como fora
tão apegada ao vestuário, e de como isso quase arruinou sua alma. “Agora,” disse ela, “a senhora
é uma linda mulher, e está muito bem vestida, será que não tem a mesma mente que eu tinha?”
Ela disse que a senhora chorou, e confessou que aquilo vinha sendo sua armadilha, e que tinha
medo que seu amor pela moda e pela sociedade arruinasse sua alma. Confessou que
negligenciava a salvação de sua alma, porque não sabia como libertar-se do círculo no qual vivia.
A jovem queria saber se eu achava que o que fizera foi errado, no que falou àquela senhora.
Disse-lhe que não! Que quem dera todos os cristãos fossem tão cheios de fé quanto ela, e que
esperava que ela jamais parasse de previnir as mulheres contra aquilo que quase arruinara sua
alma.
Na primavera de 1829, quando o Delaware estava alto, os lenhadores desceram com suas
jangadas da parte mais alta das terras, de onde estiveram extraindo a lenha durante o inverno.
Naquela época havia uma grande faixa de terra, ao longo na região norte da Pensilvânia, chamada
por muitos de região da lenha, que se extendia até a nascente do rio Delaware. Muitas pessoas
estavam envolvidas em extrair lenha ali, no verão e no inverno. Muita dessa lenha era levada na
primavera, quando as águas do rio estavam altas, para a Filadélfia. Eles iam para aquela região
quando o rio estava baixo, e quando a neve ia embora, e vinham as chuvas de primavera,
jogavam a lenha no rio, flutuando-as até um lugar onde pudessem construir jangadas, ou senão,
despachavam-nas para o mercado da Filadélfia.
Muitos dos lenhadores criavam famílias naquela região, e havia uma grande faixa de terra lá
ainda deserta e desocupada, exceto por esses lenhadores. Eles não tinham nenhuma escola, e
naquela época, nenhuma igreja ou privilégios religiosos alguns. Eu conhecia um pastor que me
contou ter nascido naquela região da lenha, e que quando tinha vinte anos de idade, nunca tinha
ido a uma reunião religiosa, e era analfabeto.
Esses homens que desceram com as lenhas participaram de nossas reuniões, e um bom número
deles se converteu. Voltaram para a mata, e começaram a orar pelo derramamento do Espírito
Santo, e a contar para as pessoas ao seu redor o que tinham visto na Filadélfia, e a exortá-los a
buscarem sua salvação. Seus esforços foram imediatamente abençoados, e o avivamento
começou a acontecer, e a se espalhar em meio àqueles lenhadores. Ele continuou de maneira mais
poderosa e admirável. Espalhou-se a tal ponto que em muitos casos pessoas que não haviam
participado de nenhuma reunião, e que eram quase tão ignorantes quanto selvagens, convenciam-
se e convertiam-se. Homens que estavam extraindo lenha, e viviam sozinhos em pequenos
casebres, ou em dois ou três juntos, eram tomados de uma tal convicção a ponto de serem levados
a divagar e perguntar a outros o que deveriam fazer, e convertiam-se, e assim espalhou-se o
avivamento. Havia muita simplicidade entre os convertidos.
Um velho pastor que estava bastante familiarizado com a situação, relatou-me como um exemplo
do que estava acontecendo lá, o seguinte fato. Ele disse que um homem em um certo lugar, tinha
um casebre onde passava as noites sozinho, e estava a extrair suas ripas durante o dia. Ele
começou a sentir que era um pecador, e suas convicções aumentaram sobre ele até que não pode
mais resistir, confessou seus pecados e se arrependeu, e o Espírito de Deus revelou-lhe o caminho
da salvação de tal forma, que ele claramente conheceu o Salvador. Mas ele jamais participara de
uma reunião de oração, ou escurata uma oração, que pudesse se lembrar, em sua vida. Mas seus
sentimentos eram tais, que sentiu-se constrangido a ir contar para alguns de seus conhecidos, que
estavam a extrair lenha em outro lugar, como estava se sentindo. Mas quando ele chegou
descobriu que vários deles sentiam-se da mesma forma; e que estavam realizando reuniões de
oração. Ele participou de suas reuniões, e escutou-lhes orar, e por fim acabou orando também. E
foi assim sua oração: “Senhor, o Senhor me derrubou, e espero que me mantenha no chão. E já
que o Senhor teve tanta sorte somigo, espero que tente fazer o mesmo com outros pecadores.”
Eu já disse que essa obra começou na primavera de 1829. Na primavera de 1831, eu estava mais
uma vez em Auburn. Dois ou três homens dessa região da lenha foram até lá para me ver, e
perguntar como conseguiriam levar alguns pastores para lá. Disseram que não menos do que
cinco mil pessoas haviam-se convertido naquela região da lenha, e que o avivamento extendera-
se por quase cento e trinta quilômetros, e que não havia nem um único pastor do Evangélho ali.
Nunca estive naquela região, mas de tudo que já ouvi sobre ela, considero aquele como um dos
mais admiráveis avivamentos que já ocorreram nesse país. Ele foi adiante quase que
independentemente do ministério, em meio a um grupo de pessoas muito ignorantes, no que diz
respeito a qualquer instrução comum, e ainda assim os ensinamentos de Deus eram tão claros e
maravilhosos, que sempre vi porque o avivamento era tão admiravelmente livre de fanatismos,
selvageria, ou qualquer coisa questionável. Posso estar mal-informado em alguns aspectos, mas
relato o assunto como o entendi. Vejam quão grande o resultado de um pequeno fogo causou! A
faísca que atingiu o coração daqueles poucos lenhadores que vieram até a Filadélfia, espalhou-se
por aquela floresta, e resultou na salvação de uma multidão de almas.
Creio que o Sr. Patterson é um dos homens mais verdadeiros e santos com quem já trabalhei. Sua
pregação era bastante admirável. Ele pregava com muita sinceridade, mas muitas vezes não havia
nenhuma ligação nas coisas que dizia, e pouco estava relacionado à passagem que escolhera.
Disse-me várias vezes “Quando eu prego, prego de Gênesis a Apocalipse.” Ele pegava um texto,
e depois de fazer alguns cometários sobre ele, ou às vezes comentário nenhum, algum outro texto
lhe era sugerido, sobre o qual ele faria cometários muito pertinentes e impactante, e então outro
texto; e assim seus sermões eram feitos de enérgicos e diretos comentários sobre muitos textos,
conforme surgiam em sua mente.
Ele era um homem alto, de aparência forte e voz poderosa. Ele pregava com as lágrimas
escorrendo por seu rosto, e com uma sinceridade e comoção que eram muito impactantes. Era
impossível ouví-lo pregar sem ficar impressionado com um senso de sua intensa sinceridade e
sua grande honestidade. Escutei-o pregar apenas algumas vezes, e na primeira delas, preocupei-
me, achando que sua pregação era tão divagante por natureza, que não poderia ter efeito.
Contudo, vi que estava errado. Descobri que apesar dessa natureza, sua grande honestidade e
unção marcavam a verdade no coração de seus ouvintes, e acho que nunca o escutei pregar sem
saber que algumas pessoas foram profundamente convencidas pelo que ele havia dito.
Ele costumava ter um avivamento religioso todo inverno, e na época que trabalhei com ele, creio
que me contou que tivera quatorze avivamentos em invernos sucessivos. Ele tinha um povo de
oração. Quando eu estava trabalhando com ele, lembro-me que por dois ou três dias, certa feita,
parecia haver algo no caminho. A obra parecia meio suspensa, e comecei a temer que algo
pudesse ter afastado o Espírito Santo. Uma noite, na reunião de oração, quando essa situação
começava a se manifestar, um de seus presbíteros levantou-se e fez uma confissão. Ele disse
“Irmãos, o Espírito de Deus foi afastado, e fui eu que O afastei. Tenho tido o hábito de orar pelo
Irmão Patterson, e pela pregação, no sábado à noite, até a meia-noite. Esse tem sido um hábito
meu por muitos anos, passar a noite de sábado, até a meia-noite, implorando pela benção de Deus
sobre as obras do domingo. No sábado passado,” ele continuou “eu estava cansado, e me omiti.
Pensei que a obra caminhava tão prazerosa e poderosamente, que podia ir para a cama sem olhar
para Deus e pedir por uma benção nas obras do domingo. No domingo, fiquei impressionado com
a convicção de ter afastado o Espírito, e vi que não houve a manifestação usual da influência do
Espírito sobre a congregação. Convenci-me desde então, e senti que era meu dever fazer essa
confissão pública. Eu não sei quem mais além de mim tem afastado o Espírito de Deus, mas eu
com certeza fiz isso.”
Eu já falei sobre a ortodoxia do Sr. Patterson. Quando comecei a trabalhar com ele, senti-me
consideravelmente testado, em algumas situações, com o que ele diria a pecadores convictos. Por
exemplo: na primeira reunião que tivemos para perguntas e repostas, o número de participantes
era muito grande. Gastamos algum tempo conversando com diferentes pessoas, e passando de um
lugar para o outro, dando instruções. Quando vi, o Sr. Patterson se levantou de maneira muito
agitada e disse “Meus amigos, vocês começaram a olhar para frente, e agora exorto-os a seguirem
adiante.” Ele continuou com uma exortação por alguns instantes, na qual deixou, distintamente, a
impressão de que agora estavam no caminho certo, e que somente tinham que continuar seguindo
adiante como estavam fazendo, e seriam salvos. Seus comentários preocuparam-me muito; pois
pareciam tender para a auto-justificação – causar a impressão de que estavam indo muito bem, e
que se continuassem a fazer seu dever, como faziam, seriam salvos.
Essa não era minha idéia de sua situação, e preocupei-me ao escutar tais instruções, e fiquei
perplexo com a questão de como reagir a isso. Contudo, no encerramento na reunião, quando,
como já era de meu costume, eu resumia os resultados de nossas conversas, e dirigia-me às
pessoas, fiz alusão ao que o Sr. Patterson dissera, e comentei que eles não deveriam compreendê-
lo de forma errada; que o que ele havia dito era a realidade daqueles que realmente haviam-se
voltado para Deus, com os olhos fixos na direção de Sião, ao entregarem seus corações para
Deus. Mas não deveriam pensar em aplicar isso àqueles que estavam convencidos, mas que ainda
não se arrependeram, acreditaram, e entregaram seus corações a Deus; e ao invés de estarem com
seus olhos voltados para Sião, estavam na verdade dando as costas para Cristo; que ainda
resistiam ao Espírito Santo; que ainda estavam a caminho do inferno; que a cada momento que
resistiam, ficavam piores; e que a cada momento que permaeciam não arrependidos, sem
submissão e fé, aumentavam sua condenação. O Senhor me deu uma visão muito clara do
assunto. O Sr. Patterson ouviu com a maior atenção possível. Jamais esquecerei a sinceridade
com que me olhava, e o interesse com o qual via o detalhamento que fiz.
Continuei falando até que pude ver e sentir, que a impressão causada pelo que fora dito não
somente havia sido corrigida, mas que também uma grande pressão fora colocada sobre eles para
que se submetessem imediatamente. Então convidei-lhes a ajoelharem-se, e entregarem-se
naquela hora e lugar, para sempre com fé no Senhor Jesus Cristo. Expliquei-lhes, da forma mais
clara que pude, e tenho razões para acreditar que muitos deles converteram-se de imediato.
Depois disso nunca mais ouvi nada da parte do Sr. Patterson que pudesse ser questionável, ao dar
instrução aos pecadores duvidosos. De fato, descobri que era um mestre admirável, com a mente
aberta a discriminações justas. Ele parecia particularmente rápido em assimilar as verdades que
precisavam ser apresentadas a tais pecadores, e presumo que até o dia de sua morte, ele nunca
mais apresentou tal visão do assunto como a que mencionei. Eu respeito e reverencio seu nome.
Ele era um amável homem cristão, e fiel ministro de Jesus Cristo.
A VERDADE DO EVANGÉLHO
AS MEMÓRIAS DE CHARLES G. FINNEY
CAPÍTULO XIX.
O AVIVAMENTO EM READING
SENDO que encontrava-me na Filadélfia, no coração da igreja Presbiteriana, e onde as visões de
Princeton eram quase unanimemente defendidas, devo dizer com mais ênfase do que tenho dito,
se possível for, que a maior dificuldade que encontrei na promoção de avivamentos religiosos foi
a falsa instrução dada às pessoas, e especialmente a pecadores que tinham dúvidas. De fato, em
toda minha vida ministerial, de todos os lugares e países em que já trabalhei, essa sempre foi a
maior dificuldade, de forma mais, ou menos intensa. E tenho certeza de que multidões que vivem
em pecado converter-se-iam imediatamente se recebessem instruções verdadeiras. A base do erro
de que falo, é o dogma de que a natureza humana é pecaminosa por si só, e que, portanto,
pecadores são completamente incapazes de se tornarem cristãos. Admite-se, explícita ou
implicitamente, que pecadores podem desejar se converter, de fato desejam se tornarem cristãos,
e muitas vezes tentam fazê-lo, ainda assim, falham por algum motivo.
Era prática comum, e ainda é até certo ponto, quando os pastores estavam pregando sobre
arrependimento, e insistindo para que as pessoas se arrependam, que proteger sua ortodoxia ao
dizer-lhes que não poderiam se arrepender, da mesma forma que não eram capazes de criar um
mundo. Mas o pecador deve ser designado a fazer alguma coisa, e com toda sua ortodoxia, não
suportavam dizer-lhes que não tinham nada a fazer. Deviam, portanto, designá-los a orar com sua
auto-justiça, por um novo coração. Algumas vezes diziam-lhes para cuprirem seus deveres, para
lerem a bíblia, usarem os meios da graça; em suma, para fazerem toda e qualquer coisa, exceto
pela única coisa que Deus ordena. Deus ordena a arrependerem-se agora, a acreditarem agora, a
transformarem seus corações agora. Mas temiam demonstrar as exigências de Deus desta forma,
pois falavam continuamente aos pecadores que eles não tinham habilidade alguma para fazer tais
coisas.
Como uma ilustração do que encontrei em outros países, mais ou menos, desde estou no
ministério, farei referência a um sermão que ouvi do Rev. Baptist Noel, na Inglaterra, um homem
bom, e ortodoxo no sentido comum da palavra. Seu texto foi: “Arrependei-vos, pois, e convertei-
vos, para que sejam apagados os vossos pecados, e venham, assim, os tempos do refrigério pela
presença do Senhor.” Em primeiro lugar, ele apresentou o arrependimento não como algo
voluntário, mas sim uma mudança involuntária, como se consistisse em culpa pelo pecado, um
mero estado de sensibilidade. Então ele insistiu em dizer que era dever do pecador arrepender-se,
e pressionava sobre eles as exigências de Deus. Mas ele estava pregando para uma congregação
ortodoxa, e não podia, e realmente não falhava em lembra-lhes que eles não eram capazes de se
arrependerem, a não ser que Ele lhes desse o arrependimento. “Então vocês perguntam o que
devem fazer. Devem ir para suas casas” disse ele, já dando a resposta, “e orem pelo
arrependimento. Se ele não vier, orem novamente pelo arrependimento; se ainda não vier,
continuem orando até que venha.” Aqui ele os deixava. A congregação era grande, e as pessoas
muito atenciosas. Na verdade eu quase não consegui me segurar, queria gritar para as pessoas
para que se arrependessem, e para não pensarem que estavam fazendo seu dever ao meramente
orar pelo arrependimento.
Tais instruções sempre me preocuparam muito, e muito de meu trabalho no ministério consitiu
em corrigir essas visões, e em pressionar o pecador a fazer imediatamente só o que Deus ordena
que ele faça. Quando perguntavam-me se o Espírito de Deus não tinha nada a ver com isso, eu
dizia “Sim, a bem da verdade você não fará isso sozinho. Mas o Espírito de Deus está nesse
momento pelejando contigo para levá-lo a fazer somente o que Ele precisa que você faça. Ele
peleja para levá-lo ao arrependimento, para levá-lo a acreditar, e peleja com você, não para
assegurar a performance de meros atos exteriores, mas para mudar seu coração.” A igreja, em
grande parte, instruira os pecadores a começarem pelo lado de fora na religião, e pelo que
chamavam de uma performance exterior de dever, para assegurar uma mudança interior de suas
vontades e afeições.
Mas eu sempre achei isso totalmente errado, não-ortodoxo, e muito perigoso. Situações quase
inumeráveis ocorreram, nas quais vi que os resultados desses ensinamentos, dos quais reclamei,
eram um entendimento errado de dever da parte dos pecadores; e creio que posso dizer que
encontrei milhares de pecadores, de todas as idades, que vivem sob essa ilusão, e jamais sentir-
se-iam chamados a fazer nada além de meramente orar por um novo coração, viver uma vira
moral, ler a bíblia, participar das reuniões, usar os meios da graça, e deixar toda a
responsabilidade de sua conversão e salvação para Deus.
Da Filadélfia, no inverno de 1829-30, fui para Reading, uma cidade a mais ou menos sessenta e
cinco quilômetros para o Oeste dali. Nesse lugar, um incidente ocorreu, que mencionarei na
oportunidade certa, e foi uma impactante ilustração dos ensinamentos aos quais fiz alusão, e de
seus resultados naturais. Em Reading haviam muitas igrejas alemãs, e uma igreja Presbiteriana. O
pastor dessa era o Rev. Dr. Greer. Por um pedido seu, e dos presbíteros da igreja, fui para lá
trabalhar por algum tempo na obra.
Logo descobri, no entanto, que nem o Dr. Greer, nem ninguém de seu povo, sabiam ao certo do
que precisavam, ou o que era de fato um avivamento. Nenhum deles jamais vira um avivamento,
até onde pude saber. Além disso, todos os esforços pelo avivamento, naquele inverno, haviam
sido impedidos, por um acordo de ter um baile a cada duas semanas, do qual participavam muitos
dos membros da igreja, e que tinha um dos líderes dos presbíteros da igreja do Dr. Greer como
um dos organizadores. Nunca ouvi falar que o Dr. Greer jamais disse alguma coisa contra isso.
Eles não tinham pregações durante a semana, e creio que nenhuma reunião religiosa também.
Quando descobri qual era a situação das coisas, achei que era meu dever dizer ao Dr. Greer que
aqueles bailes deveriam acabar em breve, ou eu não poderia ocupar seu púlpito; que aqueles
bailes, assistidos pelos membros de sua igreja, e organizados por um de seus presbíteros, não
consistiriam com minha pregação. Mas ele disse “Vá em frente; siga seu próprio caminho.”
Assim o fiz; e preguei ali três vezes aos domingos, e quatro vezes, eu acho, durante a semana, por
quase três semanas, antes de dizer qualquer coisa sobre qualquer outra reunião. Não tínhamos
reuniões de oração, creio eu, em função de que os membros presentes nunca tiveram o hábito de
participar de reuniões assim.
Contudo, no terceiro domingo, creio eu, avisei que uma reunião para perguntas e respostas seria
realizada na sala de palestras, no subsolo da igreja, na segunda-feira, no final da tarde. Declarei
da forma mais clara possível, o objetivo da reunião, e mencionei que tipo de pessoas eu gostaria
que comparecessem, convidando aqueles, e somente aqueles, que estivessem seriamente
impressionados com a situação de suas almas, haviam-se decidido a atentar imediatamente ao
assunto, e que desejavam receber instruções sobre a questão específica do quê deveriam fazer
para serem salvos. O Dr. Greer não fez objeção nenhuma a isso, e havia deixado tudo sob minha
responsabilidade e juízo. Mas acho que ele não pensava que muitos, ou qualquer um, fosse
participar de uma reunião dessas, mediante a um convite desses, pois fazê-lo seria admitir
publicamente que estavam ansiosos pela salvação de suas almas, e que haviam decidido atentar
de uma vez por todas ao assunto.
A segunda-feira foi um dia de bastante neve e frio. Acho que percebi que a convicção começava
a ser gerada na congregação, mas ainda assim estava duvidoso sobre quantos compareceriam à
reunião da noite. Entretando, quando a noite chegou, fui para a reunião. O Dr. Greer entrou e eis
que a sala de palestras, um grande salão, creio que quase do mesmo tamanho da nave da igreja
acima, estava cheia; e ao olhar em volta, o Dr. Greer percebeu que alguns das pessoas mais
ímpias de sua congregação estavam presentes, e no meio delas, aquelas que eram consideradas
muito respeitáveis e influentes.
Ele não disse nada publicamente, mas disse para mim “Eu não sei nada sobre uma reunião como
essa, tome em suas mãos e lidere do seu jeito.” Abri a reunião com um breve discurso, no qual
expliquei o que desejava, e isso era ter alguns momentos de conversa com cada um deles, e que
declarassem francamente para mim como sentiam-se sobre o assunto, quais eram suas
convicções, suas determinações e suas dificuldades.
Eu lhes disse que se estivessem doentes e chamassem um médico, ele precisaria conhecer seus
sintomas, e deveriam contar-lhe quais eram, e como eram. Disse para eles “Eu não posso dar
instrução quanto à situação atual de sua mente, a menos que a revelem para mim. Portanto o que
quero é que contem, com suas próprias palavras, qual é a situação exata de sua mente neste
momento. Agora passarei pelo meio de vocês, e darei a cada um a oportunidade de falar, com o
mínimo de palavras, qual é a situação de sua mente.” O Dr. Greer não disse uma palavra, mas
seguiu-me pelo salão, e ficava próximo, sentado ou de pé, escutando tudo que eu tinha a dizer.
Ele ficava bem perto de mim, pois eu falava com todos em voz baixa, para que não fosse ouvido
por outros que não os que estavam imediatamente próximos. Encontrei muita convicção e
sentimento na reunião. Estavam grandemente impactados com convicção. A convicção
apoderara-se de todas as classes sociais, a alta e a baixa, os ricos e os pobres.
O Dr. Greer ficou muito comovido. Apesar de não dizer nada, ainda assim era evidente para mim
que seu interesse era grande. Ver sua congregação num estado como esse era algo que jamais
imaginara. Vi que com dificuldade, às vezes, ele controlava suas emoções.
Depois de passar o máximo de tempo que pude nas conversas pessoais, voltei para a mesa e falei
a todos, de acordo com meu costume, resumindo os resultados do que achava que fosse
interessante das comunicações feitas a mim. Evitando qualquer personalidade, peguei os casos
mais representativos, dissequei, corrigi, e ensinei. Tentei acabar com todo mal-entedido e todo
erro, corrigir a impressão de que tinham, que deviam usar os meios e simplesmente esperar que
Deus os convertesse. Falei por talvez meia hora ou quarenta e cinco minutos, e apresentei-lhes
toda a situação da forma mais clara que pude. Depois de orar com eles, chamei os que sentiam-se
preparados a se submeterem, e que estavam dispostos a entregarem-se inteiramente, naquela hora
e lugar, a Deus, que estavam dispostos a se comprometerem e se renderem à misericórdia de
Deus em Cristo Jesus, que estavam dispostos a desistir de todo pecado, e a renunciá-lo para
sempre, a ajoelharem-se, e enquanto eu orava, entregarem-se a Cristo, e exortei-os a fazer isso de
forma introspectiva. Convidei somente esses a se ajoelharem, que estivessem dispostos a fazer o
que Deus pedia deles, e o que eu lhes havia apresentado. O Dr. Greer ficou muito supreso com o
teste apresentei, e com a maneira como eu pressionava a todos por imediata submissão.
Logo que vi que compreenderam-me plenamente, chamei-lhes a ficarem de joelhos, e ajoelhei-
me também. O Dr. Greer ajoelhou-se ao meu lado, mas não disse nada. Apresentei o caso em
oração a Deus, e fui direto ao ponto da submissão imediata, da fé, e da consagração deles a Deus.
Havia uma terrível solenidade invadindo a congregação, e a frieza da morte, com a exceção de
minha própria voz em oração, e os soluços, e suspiros, e choros que mais ou menos se ouviam
pela igreja.
Depois de abrir o caso diante de Deus, levantamo-nos, e sem dizer mais nada, proferi a benção e
os dispensei. O Dr. Greer estendeu-me cordialmente a mão, e sorrindo, disse “Verei você pela
manhã”. Ele seguiu seu caminho, e eu fui para meus aposentos. Por volta de onze da noite, creio
eu, um mensageiro veio correndo até meus aposentos e me chamou, dizendo que o Dr. Greer
estava morto. Perguntei o que ele queria dizer. Ele disse que o doutor acabara de se retirar, e fora
tomado por um momento de apoplexia, morrendo imediatamente. Ele era muito amado e
respeitado por seu povo, e tenho certeza que merecia isso. Era um homem de educação
impecável, e creio que de devoção sincera. Ms sua formação teológica não serviram de maneira
nenhuma para a obra do ministério, que é ganhar almas para Cristo. Além disso ele era um
homem bastante tímido. Não gostava de encarar seu povo e resistia as transgressões do pecado
como devia. Sua morte repentina foi um grande choque, e virou assunto de conversa constante
por toda a cidade.
Embora eu tivesse achado que um bom número tinha, aos olhos humanos, se convertido na
reunião de segunda-feira à noite, a mote do Dr. Greer, sob circunstâncias tão extraordinárias,
mostrou uma grande digressão na opinião pública por uma semana ou mais. Mas depois que seu
funeral terminou, quando os cultos voltaram a sua periodicidade, a obra tornou-se poderosa, e
proseguiu da forma mais encorajadora.
Várias situações muito interessantes ocorreram nesse avivamento. Lembro de uma noite em que
nevava muito, quando a neve já estava bem alta, e continuava caindo de uma forma terrível sob
um violento vendaval, em que fui chamado por volta da meia noite, para visitar um homem que,
conforme fui informado, estava sob uma convicção tão terrível que não podia mais viver, a
menos que alguma coisa fosse feita por ele. O nome do homem ere B. Ele era um homem
robusto, muito musculoso, um homem de grande força de vontade e nervos, fisicamente um
ótimo espécime de humanidade. Sua esposa era uma professora de religião, mas ele não se
importava com nada disso.
Ele estivera na reunião naquela noite, e o sermão o rasgara em pedaços. Foi para casa
terrivelmente perturbado, suas convições e angústias aumentando até superarem sua força física,
e sua família temia que ele fosse morrer. Embora isso tenha contecido no meio de uma
tempestare tão horrível, enviaram-me um mensageiro. Tivemos que enfrentar a tempestade e
andar, talvez, duzentos e cinqüenta, trezentos metros. Escutei seu gemidos, ou melhor, gritos,
antes de chegar perto da casa. Quando entrei, encontrei-o sentado no chão, sua esposa, creio eu,
apoiando sua cabeça e que expressão em seu rosto! Era indescritível. Por mais acostumado que
eu estivesse a ver pessoas sob grandes convicções, devo confessar que sua aparência chocou-me
tremendamente. Ele se contorcia em agonia, rangia os dentes, e literalmente mastigava sua língua
pela dor. Ele gritou para mim “Ó Sr. Finney! Estou perdido! Sou uma alma perdida!” Eu estava
muito chocado e exclamei “Se isso é convição, o que será o inferno?” Contudo logo me
recuperei, e sentei-me ao seu lado. A princípio ele teve dificuldades em prestar atenção, mas eu
logo levei seus pensamentos para o caminho da salvação por meio de Cristo. Chamei sua atenção
para o Salvador e para que O aceitasse. Seu fardo logo foi removido. Ele foi persuadido a confiar
no Salvador, e terminou livre e cheio de alegria em esperança.
Claro, dia a dia, eu tinha minhas mãos, minha mente e meu coração inteiramente ocupados. Não
havia nenhum pastor para me ajudar, e a obra espalhava-se em todas as direções. O presbítero da
igreja a quem fiz alusão como sendo um dos organizadores de seus bailes logo rasgou seu
coração diante do Senhor, e entrou na obra, e como conseqüência, sua família logo se converteru.
O avivamento fez uma varredura detalhada nas famílias daqueles membros da igreja que haviam
ingressado na obra.
Eu disse que uma situação ocorrera nesse lugar, que ilustrava a influência dos ensinamentos
tradicionais dos quais reclamei. Certa manhã bem cedo um advogado, parte de uma das mais
respeitáveis famílias da cidade, veio até meu quarto, com sua mente muito agitada. Vi que era um
homem muito inteligente, e um cavalheiro; mas não o havia visto antes, para que o conhecesse.
Ele entrou, se apresentou, e disse que era um pecador perdido – que tinha certeza de que não
havia esperança para si. Ele então me informou que quando estava na Faculdade de Princeton, ele
e dois de seus colegas de classe ficaram muito ansiosos quanto à suas almas. Foram juntos até o
Dr. Ashbel Green, que era o presidente da faculdade, e perguntaram-lhe o que deviam fazer para
serem salvos. Ele disse que o doutor falara-lhes que estava muito feliz por terem ido fazer aquela
pergunta, e então disse-lhes para manterem-se afastados de toda má companhia, lerem
firmemente suas bíblias, e orarem a Deus por um novo coração. Ele dizia “Continuem a fazer
isso, prossigam em seu dever e o Espírito de Deus converte-los-á; ou senão Ele os deixará, e
vocês voltarão a seus pecados.” “Bem,” eu perguntei “como isso terminou?” “Ora,” disse ele,
“fizemos exatamente o que ele nos dissera. Ficamos longe das más companhias, e oramos para
que Deus nos desse um novo coração. Mas depois de algum tempo nossas convicções foram
embora, e não nos importávamos em orar mais. Perdemos todo o interesse no assunto;” e então,
caindo em lágrimas, ele disse “Meus dois companheiros foram para a sepultura como beberrões,
e se eu não conseguir me arrepender, logo estarei em uma também.” Esse comentário levou-me a
perceber que ele tinha indicações de ser um homem que fizera muito uso de espíritos ardentes.
No entanto, ainda era bem cedo de manhã, e ele estava totalmente sóbrio, em profunda ansiedade
por sua alma.
Tentei instruí-lo e mostrar-lhe o erro no qual havia caído, sob as instruções que recebera, e que na
verdade resistia e afastara o Espírito, ao esperar que Deus lhe dissesse o que fazer. Tentei
mostrar-lhe que, na essência do caso, que Deus não podia fazer por ele o que Ele exigia que
fizesse. Deus exigia que ele se arrependesse, e Deus não podia arrepender-se por ele; que
acreditasse, mas não podia acreditar por ele; que se submetesse, mas não podia submeter-se por
ele. Então tentei fazê-lo entender a ação que o Espírito de Deus tem em dar o arrependimento e
um novo coração ao pecador; que isso é uma persuasão divina; que o Espírito o leva a ver seus
pecados, urge-o para que desista deles e fuja da ira vindoura. Apresenta-lhe o Salvador, a
remissão, o plano de salvação, e urge-o a aceitar.
Perguntei-lhe se ele não sentia essa insistência sobre si, nessas verdades reveladas em sua própria
mente; e um chamado para submeter-se agora, acreditar, e transformar seu próprio coração. “Ah,
sim!” ele disse, “Ah, sim! Eu vejo e sinto tudo isso. Mas Deus não desistiu de mim? Já não se foi
meu dia de graça?” Eu lhe disse “Não! Está claro que o Espírito de Deus o está chamando, ainda
insistindo que se arrependa. Você reconhece que sente essa urgência em sua própria mente.” Ele
perguntou “É isso, então, o que o Espírito de Deus está fazendo, para mostrar-me tudo isso?”
Assegurei-lhe que era, e que ele deveria ver isso como um chamado divino, e como uma prova
conclusiva de que não fora abandonado, e não havia perdido em pecado seu dia de graça, mas que
Deus ainda estava lutando para salvá-lo. Então perguntei-lhe se ele responderia ao chamado, se
viria para Jesus, se abraçaria a vida eterna naquele exato momento e lugar.
Ele era um homem inteligente, e o Espírito de Deus estava sobre ele, ensinando-o e fazendo-o
entender cada palavar que eu dizia. Quando vi que o caminho estava totalmente aberto, convidei-
o a se ajoelhar e sumbeter, ele assim o fez, e ao que tudo indica, converteu-se completa e
imediatamente. Então disse “Ah, se o Dr. Green nos tivesse dito isso que o senhor me disse, todos
nos converteríamos imediatamente. Mas meus amigos e companheiros estão perdidos, e que
maravilha de misericórdia é essa que me salvou!”
Lembro-me de uma situação muito interesante no caso de um mercante em Reading, que tinha
como um de seus negócios a fabricação de whiskey. Ele acabara de montar uma grande distilaria
com muita despesa. Construíra com as melhores máquinas, em grande escala, e entrava a fundo
no negócio. Mas logo que ele se converteu, desistiu de todo pensamento de continuar com aquela
empresa. Foi uma conclusão espontânea de sua própria mente. Ele disse um vez “Não terei nada a
ver com isso. Vou desmontar minha distilaria. Não trabalharei nela, nem venderei para que outros
o façam.”
Sua esposa era uma bora mulher, e irmã do Sr. B, cuja conversa mencionei que ocorreu naquela
noite de tempestade. O nome do mercante era OB. O avivamento apoderou-se poderosamente de
sua família, e muitos deles se converteram. Não me recordo agora em quantos eram, mas acho
que todos os ímpios de sua casa foram convertidos. Seu irmão também, e sua cunhada, e não sei
quantos, mas um bom círculo de seus parentes estavam entre os convertidos. Mas o Sr. OB tinha
uma saúde frágil, e consumia-se rapidamente. Eu o visitava freqüentemente, e encontrava-o cheio
de alegria.
Examinávamos os candidatos para admissão na igreja, e muitos seriam admitidos em um
determinado domingo. Entre eles estavam esses membros de sua família e os parentes que
haviam-se convertido. A manhã de domingo chegou. Logo soube-se que o Sr. OB não
sobrevivera. Ele chamara sua esposa para seu lado da cama e dissera “Minha querida, eu vou
passar o domingo no céu. Que toda a família vá, e todos os amigos, e unam-se à igreja aqui em
baixo; e eu me unirei à igreja lá em cima.” Antes da hora da reunião ele estava morto. Amigos
foram chamados para cobrí-lo em sua mortalha; seus parentes e família reuniram-se em volta de
seu corpo, então viraram-se e vieram para a reunião, e como ele havia desejado, uniram-se com a
igreja militante, enquanto ele se unia com a igreja triunfante.
Seu pastor acabara de partir, e creio que foi naquela manhã que eu disse ao Sr. OB “Mande meu
amor ao Irmão Greer, quando você chegar no céu.” Ele sorriu e com santa alegria disse-me “O
senhor acha que vou reconhecê-lo?” Eu disse “Sim, sem dúvida vai reconhecê-lo. Mande-lhe meu
amor, e diga-lhe que a obra caminha gloriosamente.” “Farei isso, farei isso.” disse ele. Sua esposa
e família sentavam-se à mesa, mostrando em seu semblante uma mistura de alegria e tristeza.
Havia um tipo de triunfo santo manifestado, e atentaram-se ao fato de que o marido, pai, irmão e
amigo, estaria sentado à mesa com Jesus no alto, naquele mesmo dia, enquanto se reuniam ao
redor de Sua mesa na Terra.
Muitas coisas foram comoventes e interessantes naquele avivamento, em muitos aspectos. Ele
aconteceu em meio a uma população que nunca tivera a concepção de avivamentos religiosos. Os
alemães achavam que haviam-se tornado cristãos pelo batismo, e especialmente por receberem a
comunhão. Quase todos, se questionados sobre quando haviam-se convertido, responderiam que
haviam recebido a comunhão em tal época, pelo Dr. B ou algum outro mestre de religião. Quando
eu perguntava se eles achavam que aquilo era religião, respondiam que sim, achavam que era. De
fato essa era a idéria do próprio Dr. M. Ao caminhar com ele para a sepultura do Dr. Greer, por
ocasião de seu funeral, ele me disse que fizera seiscentos cristãos pelo batismo, e dando-lhes a
comunhão, desde que tornara-se pastor daquela igreja. Ele parecia não ter outra idéia de tornar-se
um cristão a não ser simplesmente aprender o catecismo, ser batizado e participar da comunhão.
O avivamento precisou encontrar essa visão das coisas; e a influência era a princípio, quase toda
nessa direção. Defendia-se, como fui informado e não duvido, que para começarem a pensar em
serem religiosos ao se converterem, estabelecerem orações familiares e entregarem-se a orações
particulares, não era somente fanatismo, mas também praticamente admitir que todos seus
antecessores haviam ido para o inferno, por não haviam feito nada disso. Esses pastores
germânicos pregavam contra todas essas coisas, como fui informado por aqueles que os ouviam,
e falavam severamente daqueles que abandonavam os caminhos de seus ancestrais, e julgavam
necessário serem convertidos, ter orações em família e em secreto.
A grande maioria da congregação do Dr. Greer, creio eu, converteu-se nesse avivamento. No
começo tive uma dificuldade considerável em me livrar da influência da imprensa diária. Acho
que dois ou três jornais diários eram publicados na época. Descobri que os editores eram homens
alcólatras, e não-raro, eram carregados para suas casas, publicamente, em um estado de
embriaguez. As pessoas estavam bastante influenciadas pela imprensa diária. Quero dizer, a
população alemã em específico. Esses editores começaram a dar conselhos religiosos ao povo, e a
falar contra o avivamento e a pregação. Isso levou as pessoas a um estado de perplexidade. Isso
continuou dia após dia, semana após semana, até que a sitação finalmente chegou a tal ponto que
achei que era meu dever falar sobre isso. Então subi ao púlpito quando a casa estava lotada, e
peguei como texto: “Vós tendes por pai ao diabo e quereis satisfazer os desejos de vosso pai.” E
então prossegui a mostrar como os pecadores faziam os desejos do diabo, apontanto muitas das
maneiras nas quais eles faziam seu trabalho sujo, e faziam por ele o que ele não podia fazer
sozinho.
Depois de ter apresentado bem o assunto ao povo, apliquei-o à conduta seguida pelos editores
daqueles jornais diários. Perguntei ao povo se eles não pensavam que aqueles editores estavam
cumprindo os desejos do diabo, e se não acreditavam que o diabo queria que fizessem exatamente
aquilo? Então perguntei-lhes se era cabível e decente, a um homem de caráter como o deles,
tentar dar instruções religiosas às pessoas? Disse ao povo o que achava do caráter deles, e
coloquei minha mão pesadamente sobre eles, pois tais homens não deveriam tentar instruir as
pessoas no que diz respeito a seus deveres para com Deus e com os próximos. Eu disse “Se eu
tivesse uma família aqui não teria um jornal desses em casa, temeria ter algo assim sob meu teto,
consideraria imundo demais para que fosse tocado por meus dedos, e pegaria a pinça para jogá-lo
para a rua.” De alguma forma os jornais foram parar nas ruas na manhã seguinte, em grande
quantidade, e eu não vi nem ouvi mais nada de sua oposição.
Permaneci em Reading até o final da primavera. Muitas conversões repentinas e impactantes
aconteceram, e até onde sei, a congregação do Dr. Greer foi continuou muito unida, encorajada e
fortalecida, com muitas somas feitas a seu número. Nunca mais voltei àquele lugar.
De Reading fui para Lancaster, Pensilvânia, que era na época e foi até o dia de sua morte, o lar do
falecido Presidente Buchanan. A igreja Presbiteriana em Lancaster não tinha pastor, e encontrei a
religião em uma situação deplorável. Ele jamais haviam tido um avivamento religioso, e
obviamente não tinham idéia do que era isso, ou dos métodos apropriados para realizá-lo. Eu
fiquei em Lancaster por um curto período. Contudo a obra de Deus foi imediatamente avivada, o
Espírito de Deus derramado praticamente de uma só vez sobre o povo. Eu era hóspede de um
senhor de idade chamado K, que era um dos presbíteros da igreja, e de fato um de seus líderes.
Um fato ocorreu em relação a ele, enquanto eu estava com sua família, que revelou o verdadeiro
estado das coisas, de um ponto de vista religioso, naquela igreja. Um antigo pastor de lá
convidara o Sr. K a unir-se à igreja e assumir o cargo de presbítero. Devo dizer que os fatos que
estou prestes a comunicar sobre esse evento foram relatados a mim pelo Próprio Sr. K. Certo
domingo à noite, depois de ouvir dois minuciosos sermões, o velho senhor não podia dormir. Sua
mente estava tão agitada que não pôde agüentar até de manhã. Ele me chamou chamou no meio
da noite e declarou quais eram suas convicções, e então disse que sabia que jamais fora
convertido. Ele disse que fora convidado a unir-se à igreja e tornar-se um presbítero, ele sabia
que não era um homem convertido. Mas insistiram tanto nesse assunto com ele até que
finalmente foi consultar o Rev. Dr. C, um velho pastor de uma igreja Presbiteriana não muito
distante de Lancaster. Ele declarou-lhe o fato de nunca haver-se convertido, mas ainda assim,
desejava unir-se à igreja e que poderia tornar-se um presbítero. Dr. C, em vista das
circunstâncias, aconselhou-o a uni-se e aceitar o cargo, ele assim o fez.
Suas convicções no momento de que falei, eram muito profundas. Eu o instruí da forma que achei
necessário, pressionei-o a aceitar o Salvador, e lidei com ele da mesma forma que lidaria com
qualquer outro pecador. Foi um momento muito solene. Ele professou naquela hora aceitar e
submeter-se ao Salvador. De sua história subseqüente, nada sei. Ele era certamente um homem de
muito caráter, e jamais, pelo que sei, fez nada fora dos padrões, para desgraçar a posição que
ocupava. Aqueles que têm conhecimento do estado da igreja cujo pastor era o Dr. C,
considerando o presbitério naquela época, não se espantarão com o conselho que ele deu ao Sr.
K.
Entre os incidentes que ocorreram, durante minha breve estadia em Lancaster, lembro-me do
seguinte. Certa noite preguei sobre um assunto que levou-me a insistir na aceitação imediata de
Cristo. A casa estava muito cheia, literalmente lotada. No encerramento de meu sermão fiz um
forte apelo às pessoas para que decidicem de uma vez, acho que convidei aqueles cujas mentes
estavam decididas, e que então aceitariam o Salvador, a ficarem de pé, para que soubéssemos
quem eram, e pudéssemos fazê-los alvos de oração. No dia seguinte eu soube que dois homens
estavam sentados próximos à porta da igreja, um dos quais estava muito afetado com o apelo que
fora feito, e não podia evitar manifestar uma forte emoção, que foi percebida por seu vizinho.
Porém, o homem não se levantou, nem entregou seu coração a Deus. Eu havia dito que aquela
poderia ser a última oportunidade que alguns ali teriam para encararem e decidirem essa questão;
que em uma congregação tão grande, não seria espantoso que houvesse alguns ali que decidiriam
naquele momento seu destino eterno, de uma forma ou de outra. Não seria espantoso que Deus
aceitasse a decisão de alguns, feita naquela hora.
Depois que a reunião foi dispensada, como soube no dia seguinte, esses dois homens saíram
juntos, e um disse ao outro “Vi que você ficou muito tocado com os apelos que o Sr. Finney fez.”
“Fiquei,” o outro respondeu “jamais havia-me sentido assim antes em minha vida, e
especialmente quando ele nos lembrou que aquela poderia ser a última vez que teríamos uma
oportunidade para aceitar a oferta de misericórdia.” Continuaram conversando dessa maneira até
uma certa distância, então separaram-se, cada um indo para sua própria casa. Era uma noite
escura, e aquele que fora tão tocado, que estava tão incomodado com a convicção de que poderia
estar rejeitado sua última oferta, tropeçou sobre a guia e quebrou seu pescoço. Isso foi relatado a
mim no dia seguinte.
Eu estabeleci reuniões de oração em Lancaster, e insisti que os presbíteros da igreja participassem
delas. Eles fizeram isso em resposta a meu sincero pedido, porém, como soube depois, nunca
foram acostumados a fazer isso antes. O interesse parecia aumentar da após dia, e as conversões
multiplicavam-se. Não me recordo agora porquê não permaneci por mais tempo ali, mas fui
embora tão cedo que não tenho como dar conta detalhadamente sobre a obra naquele lugar.
A VERDADE DO EVANGÉLHO
AS MEMÓRIAS DE CHARLES G. FINNEY
CAPÍTULO XX.
OS AVIVAMENTOS EM COLUMBIA, E NA CIDADE DE NOVA IORQUE
DE Lancaster, em meados do verão de 1830, retornei para o condado de Oneida, Nova Iorque, e
passei algum tempo na casa de meu sogro. Creio que foi nessa época, durante minha estada em
Whitestown, que ocorreu uma situação muito interessante, e que relatarei. Um mensageiro veio
da cidade de Columbia, no condado de Herkimer, solicitando que eu fosse ajudar na obra da
graça naquele lugar, que já havia começado. Tudo me foi apresentado de tal forma que fui
induzido a ir. Contudo, não esperava permanecer ali na época, eu tinha outros convites, convites
com mais pressão para trabalhar. Fui até lá, no entanto, para ver, e para ajudar como podia por
um curto tempo.
Em Columbia havia uma grande igreja Alemã, cujos membros haviam cido aceitos, como dita
seu costume, mediante exame de seus conhecimentos doutrinários, ao invés de sua experiência
cristã. Por conseqüência, a igreja formara-se em sua maioria, como fui informado, de pessoas não
convertidas. Tanto a igreja quanto a congregação eram muito grandes. Seu pastor era um homem
jovem de nome H. Ele era descendente de alemães, natural da Pensilvânia.
Expôs-me a situação em Columbia e a si mesmo da seguinte forma. Ele disse que estudara
teologia com um alemão doutor em divindade, no lugar onde vivia, alguém que não encorajava
de forma alguma a religião experimental. Ele disse que um de seus colegas estudantes tinha uma
inclinação religiosa, e costumava orar em seu quarto. Seu professor suspeitou disso, e de alguma
maneira veio a saber do fato. Então aconselhou o jovem a parar, pois era uma prática muito
perigosa, e ficaria louco se persistisse nela, e que depois ele seria o culpado por deixar que um
aluno seguisse tal caminho. O Sr. H assumia que ele mesmo não tinha religião alguma. Ingressara
na igreja pelo maio comum, e não achava que nada mais era necessário, no que diz respeito à
devoção, para tornar-se um pastor. Mas sua mãe era uma mulher devota. Ela sabia da verdade, e
ficava muito angustiada ao ver que um filho seu entraria no ministério sem jamais ter-se
convertido. Quando ele recebeu um chamado para a igreja em Columbia, e estava prestes a sair
de casa, sua mãe teve uma conversa muito séria com ele, pressionou sobre ele o fato de sua
responsabilidade, e algumas coisas que ela disse causaram poderoso impacto em sua consciência.
Ele disse que não conseguia esquecer essa conversa com sua mãe; que mantinha-se com peso em
sua mente, e suas convicções de pecado aprofundavam-se até quase levá-lo ao desespero.
Isso extendeu-se por meses. Ele não tinha ninguém com quem se aconselhar, e não abria seu
coração para nenhuma pessoa. Mas depois de uma severa e prolongada peleja, ele se converteu,
veio para a luz, viu onde estava e onde havia estado, viu a condição de todas aquelas igrejas que
tinham admitido seus membros da forma em que ele mesmo fora admitido. Sua esposa não era
convertida. Ele imediatamente entregou-se a trabalhar para que ela se convertesse, e por Deus,
logo conseguiu. Sua alma estava tomada por esse assunto, ele lia sua bíblia, orava e pregava com
todas as suas forças. Mas ele era um jovem convertido, e não tivera a instrução necessária, então
sentiu-se perdido quanto ao quê fazer. Ele ia pela cidade, conversava com os presbíteros da
igreja, conversava com os principais membros, e convencera-se a si mesmo de que um dos dois
dos líderes entre os presbíteros, e muitas das senhoras de sua igreja eram convertidos de fato.
Depois de muita oração e consideração, ele decidiu o que tinha que fazer. No domingo ele
anunciou a todos que haveria uma reunião da igreja, certo dia durante a semana, para a transação
de negócios, e queria que todos os membros, em especial, estivessem presentes. Sua própria
conversão, pregação, visitas e conversas pela cidade já tinham criado bastante agitação, de forma
que a religião tornara-se um tópico comum de discussão; e seu chamado para uma reunião da
igreja foi atendido, de modo que no dia marcado, quase todos estavam presentes.
Ele então falou-lhes a respeito da verdadeira situação da igreja, e o erro no qual haviam caído
quanto às condições sob as quais os membros eram admitidos. Ele fez um discurso, parte em
alemão, parte em inglês, para que todas as classes o entendessem; depois de falar até que
estivessem bastante comovidos, ele propôs desengajar a igreja e formar uma nova, insistindo que
isso era essencial para a prosperidade da religião. Ele tinha um acordo com aqueles membros da
igreja que acreditava serem realmente convertidos, para que liderassem a votação a favor de
desmanchar a igreja. Isso foi movido para votação, mediante ao pedido feito por esses membros
convertidos. Eles eram membros muito influentes, e as pessoas ao olharem em volta e vê-los de
pé, levantaram-se, e por fim continuaram colocando-se de pé até quase a unanimidade. O pastor
então disse “Agora não existe nenhuma igreja em Columbia.”; e propôs para que formassem uma
de cristãos, pessoas que haviam-se convertido.
Então, diante da congregação, ele relatou sua própria experiência, chamou sua esposa, e ela fez o
mesmo. Então seguiram os presbíteros e membros que eram convertidos, um após o outro,
prosseguindo enquanto todos que pudessem relatar uma experiência cristã tivessem vindo à
frente. Esses prossguiram para formar uma igreja. Ele então disse para os outros “Suas relações
com a igreja estão terminadas. Vocês estão no mundo; e até que se convertam, e voltem para a
igreja, não poderão batizar seus filhos, e não poderão participar das ordenanças da igreja.” Isso
gerou um grande pânico, pois de acordo com suas visões, era algo terrível não participar do
sacramento, ou não batizar os filhos, porque essa era a maneira pela qual eles mesmos haviam-se
tornado cristãos.
O Sr. H então trabalhou com todas as suas forças. Ele visitava, pregava, orava, realizava reuniões,
e o interesse aumentava. Dessa forma a obra já vinha acontecendo por algum tempo, quando ele
escutou falar que eu estava no condado de Oneida, e enviou-me um mensageiro. Encontrei nele
um jovem conertido de coração ardente. Ele escutava minhas pregações com uma alegria quase
incontrolável. Encontrei uma congregação grande e interessada, e até onde pude julgar, a obra
estava num estado muito próspero e saudável. O avivamento continuou a se espalhar até alcançar
e converter quase todos os habitantes da cidade. Galesburg, em Illinois, fora fundada por uma
colônia de Colubia, e quase todos ali foram convertidos, eu acredito, pelo avivamento. O
fundador da colônia e da Faculdade Knox, localizada ali, era o Sr. Gale, meu antigo pastor em
Adams.
Contei os fatos, como me lembro deles, como relatados a mim pelo Sr. H. Eu achava que suas
visões eram evangélicas, e seu coração ardente, e ele estava rodeado por uma congregação tão
interessada em religião quanto se podia desejar.
Eles fixavam sua atenção, conforme eu apresentava a eles o Evangélho de Cristo, com um
interesse e paciência tal, que afetava e muito, sendo bastante interessante. O próprio Sr. H era
como uma criancinha, ensinável, humilde e sincero. Essa obra continuou por mais de um ano,
como vim a saber, espalhando-se por toda aquela grande e interessante população de fazendeiros.
Depois que retornei de Whitestown, fui convidado a visitar a cidade de Nova Iorque. Anson G
Phelps, desde que conhecido como um grande colaborador voluntário das principais instituições
benevolentes de nosso país, sabendo que eu não havia sido convidado aos púlpitos daquela
cidade, alugou uma igreja vazia na rua Vandewater, e enviou-me um pedido urgente para que
fosse pregar lá. Eu fiz isso, e um poderoso avivamento aconteceu. Encontrei o Dr. Phelps muito
engajado na obra, e não hesitando promovê-la a qualquer custo. A igreja que alugara só poderia
ser ocupada por três meses. Por isso o Sr. Phelps, antes que os três meses acabassem, comprou
uma igreja na rua Prince, perto da Broadway. Essa igreja havia sido construída pelos
Universalistas, e foi vendida ao Sr. Phelps, que comprou e pagou por ela de seu próprio bolso. Da
rua Vandewater, formos portanto, para a rua Prince, e ali formamos uma igreja, em sua maioria
de pessoas que haviam-se convertido durante nossas reuniões na rua Vandewater. Continuem
meus trabalhos na rua Prince por alguns meses, creio que até bem no final do verão.
Eu fiquei muito impactado, durante minhas obras ali, com a devoção do Sr. Phelps. Enquanto
estávamos na rua Vandewater, eu, minha esposa e nosso único filho éramos hóspedes de sua
família. Eu percebi que, enquanto o Sr. Phelps era um homem literalmente carregado de
negócios, de alguma forma ele preservava um elevado estado de espírito e mente, e que vinha
diretamente do trabalho para nossas reuniões de oração, entrando nelas com tal espírito, que
demonstrava claramente que sua mente não estivera tão absorta nos negócios a ponto de excluir
as coisas espirituais. Ao observá-lo dia após dia, fiquei cada vez mais interessado em sua vida
interior, e como ela era manifestada em sua vida exterior. Certa noite tive que ir até lá embaixo,
creio que por volta da meia-noite, para pegal alguma coisa para nosso bebê. Eu supunha que toda
a família estaria dormindo, mas para minha surpresa, encontrei o Sr. Phelps sentado perto da
lareira, de pijamas, e vi que havia interrompido seu devocional particular. Desculpei-me dizendo
que havia suposto que ele estaria dormindo. Ele respondeu “Irmão Finney, tenho muitos negócios
me pressionando durante o dia, e tenho pouquíssimo tempo para meu devocional particular, e
meu hábito é, depois de tirar um cochilo à noite, levantar-me para ter um período de comunhão
com Deus.” Depois de sua morte, que ocorreu há poucos anos, descobri que ele mantinha um
diário durante essas horas da noite, totalizando vários livros manuscritos. Esse diário revelava as
obras secretas de sua mente, e o real progresso de sua vida interior
Eu nunca soube o número de pessoas que se converteram enquanto eu estava nas ruas Prince e
Vandewater; mas deve ter sido grande. Houve um caso de conversão que não posso omitir. Uma
jovem visitou-me certo dia, grandemente convicta do pecado. Conversando com ela, vi que tinha
muitas coisas em sua consciência. Ela tinha o hábito de furtar coisas de pouco valor, como me
disse, desde a infância. Ela era filha, única, eu acho, de uma senhora viúva, e tinha o hábito de
pegar de seus colegas de escola e outros, lencinhos, broches, lápis, e qualquer coisa que tivesse a
oportunidade de roubar. Ela fez uma confissão a respeito dessas coisas para mim, e perguntou-me
o que deveria fazer sobre isso. Eu disse que ela deveria ir e devolver tudo, confessando àqueles
de quem furtara.
É claro que isso foi um grande teste para ela, mas ainda assim suas convicções eram tão
profundas que não podia continuar com aquelas coisas, então começou a tarefa de confessar e
restituir. Mas conforme ela continuava com isso, continuava a lembrar de mais e mais
circunstâncias como essas, e continuava a visitar-me com freqüência, confessando a mim seus
roubos de quase todo o tipo de objetos que uma jovem pode usar. Perguntei-lhe se sua mãe sabia
dessas coisas. Ela disse que sim, mas ela sempre dissera a sua mãe que havia ganhado tudo. Ele
me disse numa certa ocasião “Sr. Finney, eu acho que roubei um milhão de vezes. Descobri que
tenho muitas coisas que sei que roubei, mas não me lembro de quem.” Recusei-me a aceitar que
ela parasse, e insisti que continuasse a fazer sua restituição de todos os casos nos quais pudesse se
lembrar corretamente. De tempos em tempos ela vinha até mim e contava o que fizera. Eu
perguntei a ela o que as pessoas diziam quando ela devolvia os artigos. Ela respondeu “Alguns
dizem que eu sou louca, alguns dizem que sou tola, outros ficam muito comovidos.”
“Todos lhe perdoam?” Eu perguntei. “Ah, sim!” disse ela, “todos me perdoam, mas alguns acham
que eu não deveria estar fazendo isso.”
Um dia ela me contou que tinha um xale que roubara de uma filha do Bispo Hobart, então Bispo
de Nova Iorque, que morava na praça St. John, próximo à igreja St. John. Como de costume,
disse-lhe que ela tinha que devolver. Poucos dias depois, fez-me uma visita e relatou-me o
resultado. Ela disse que embrulhou o xale em um papel, foi com ele até lá, tocou a campainha da
casa do Bispo, e quando o empregado veio, ela entregou-lhe o pacote, dizendo que era para o
Bispo. Não deu nenhuma explicação, mas foi imediatamente embora, e correu virando a esquina
para outra rua, a fim de que ninguém visse para onde ela foi e descobrisse quem ela era. Mas
depois de dobrar a esquina, sua consciência pesou, e ela disse a si mesma “Eu não fiz isso direito.
Podem suspeitar que outra pessoa roubou o xale, a menos que eu vá até o Bispo e deixe claro
quem o fez.”
Ela virou, voltou imediatamente, e perguntou se poderia falar com o Bispo. Sendo informada que
poderia, foi conduzida até seu escritório. Ela então confessoua ele, contando sobre o xale e tudo
que se passara. “Bem,” disse eu, “e como o Bispo a recebeu?” “Ah,” ela disse “quando eu contei,
ele chorou, colocou sua mão sobre minha cabeça e disse que me perdoava, orando a Deus que me
perdoasse também.” “E tem estado em paz com sua mente sobre isso desde então?” eu perguntei.
Ela respondeu “Ah, sim!” Esse processo continuou por semanas, e acho que até por meses. Essa
jovem ia de lugar em lugar, em todas as partes da cidade, restituindo as coisas que roubara, e
confessando. Às vezes suas convicções eram tão terríveis, que ela parecia enlouquecer.
Certa manhã ela mandou chamar-me para ir até a casa de sua mãe. Eu fiz isso, e quando cheguei
lá fui levado ao quarto dela, e encontei-a com seu cabelo caído sobre os ombos, suas roupas
dessarumadas, andando de um lado para o outro em agonia e desepero, e com um olhar que era
assustador, porque indicava que ela estava à beira da loucura. Eu disse “Minha filha querida, qual
é o problema?” Ela segurava em suas mãos enquanto andava, um pequeno Testamento. Virou-se
para mim e disse “Sr. Finney, eu roubei esse testamento. Eu roubei a palavra de Deus; será que
Deus algum dia vai me perdoar? Não consigo me lembrar de qual das meninas roubei. Eu roubei
de uma de minhas colegas da escola, e faz tanto tempo que realmente havia me esquecido de tê-lo
roubado. Lembre-me disso esta manhã, e sinto que Deus jamais poderá perdoar-me por roubar
Sua palavra.” Assegurei-lhe que não havia razões para seu desespero. “Mas, o que devo fazer?
Não consigo me lembrar de quem peguei.” ela disse. Então eu falei “Guarde como um lembrete
constante de seus antigos pecados, e use para o bem que pode agora tirar dele.”
Ela disse “Ah, se ao menos pudesse me lembrar de onde peguei, devolveria no mesmo instante.”
“Bem.” Disse eu, “se algum dia se lembrar, faça uma restituição na hora, seja ao devolver esse ou
dando um novo.” “Farei isso.”
Todo esse processo era muito preocupante para mim, mas conforme prosseguiu, o final dessas
transações resultou em uma transformação realmente maravilhosa de sua mente. Uma
profundidade de humildade, um conhecimento profundo de si mesma e de suas transgressões, um
coração quebrantado, um espírito contrito, e por fim uma fé, alegria, amor e paz, como um rio,
aconteciam, e ela se tornou uma das mais fascinantes jovens convertidas que já conheci.
Quando se aproximou o tempo em que eu esperava deixar Nova Iorque, pensei que alguém na
igreja pudesse ser seu conhecido, e poderia cuidar dela. Até essa época, tudo que se passara entre
nós era segredo, mantido assim por mim mesmo. Mas como eu estava prestes a ir embora, contei
o fato para o Sr. Phelps e a narração afetou-o grandemente. Ele disse “Irmão Finney, apresente-
ma. Eu serei seu amigo, cuidarei do bem dela.” Ele fez isso, como eu soube depois. Já não vejo
essa jovem há muitos anos, creio de desde que relatei tudo ao Sr. Phelps. Mas quando voltei da
Inglaterra da última vez, em visita a uma das filhas do Sr. Phelps, no meio da conversa esse caso
foi mencionado. Eu então perguntei “Seu pai apresentou-lhes essa jovem?” “Ah, sim!” ela
respondeu, “nós todas a conhecíamos” querendo dizer, eu suponho, todas as filhas da família. Eu
disse “Bem, o que você sabe dela?” Ela respondeu “Ah, ela é uma cristã muito sincera. É casada
e seu marido tem negócios nesta cidade. Ela faz parte da igreja e mora naquela rua.” apontando
para o lugar, não muito longe de onde estávamos. Então perguntei “Ela sempre manteve um
caráter cristão consistente?” “Ah, sim!” foi a resposta, “é uma mulher excelente, mulher de
oração.” De alguma maneira fui informado, não me recordo agora da fonte dessa informação, de
que a jovem dissera que jamais teve a tentação de furtar, desde sua conversão, que nunca mais
soubera o que era ter o desejo de fazer isso.
Esse avivamento preparou o caminho, em Nova Iorque, para a organização das igrejas
Presbiterianas Livres na cidade. Essas igrejas eram mais tarde compostas, na maior parte, pelos
que se converteram no avivamento. Muitos deles haviam sido parte da igreja na rua Prince.
A essa altura de minha narrativa, a fim de que sejam compreendidas muitas coisas que devo dizer
de agora em diante, devo dar conta de algumas coisas sobre as circunstâncias ligadas à conversão
do Sr. Lewis Tappan, e sua conexão posterior com minhas próprias obras. Esse relato recebi dele
mesmo. Sua conversão ocorreu antes que sermos apresentados, sob as seguintes circunstâncias:
Ele era um Unitário, e vivia em Boston. Seu irmão Arthur, na época um dos maiores mercantes
em Nova Iorque, era um homem cristão sincero e ortodoxo. Os avivamentos na área central de
Nova Iorque haviam criado bastante agitação entre os Unitários, e seus jornais publicavam muitas
coisas contra esses movimentos. Em especial haviam histórias estranhas sobre mim, que
apresentavam-me como um fanático meio louco. Essas histórias haviam sido relatadas à Lewis
Tappan pelo Sr. W, um dos principais ministros Unitários de Boston, e ele acreditou nelas. Elas
eram aceitas por muitos dos Unitários na Nova Inglaterra, e por todo o Estado de Nova Iorque.
Enquanto essas histórias circulavam, Lewis Tappan visitou seu irmão Arthur em Nova Iorque, e
um dia começaram a conversar sobre esses avivamentos. Lewis chamou a atenção de Arthur para
o estranho fanatismo ligado à esses avivamentos, especialmente para o que se dizia sobre mim.
Ele acreditava que eu declarava publicamente ser o general da brigada de Jesus Cristo. Isso, e
outras histórias parecidas estavam em circulação, e Lewis insistia em sua veracidade. Arthur não
acreditava de forma alguma e disse a Lewis que eram todas sem sentido e falsas, e que ele não
deveria acreditar em nenhuma delas. Lewis, apoiando-se nas declarações do Sr. W, propôs uma
aposta de quinhentos dólares, dizendo que podia provar que os artigos eram verdadeiros;
especialmente o já mencionado. Arthur respondeu “Lewis, você sabe que eu não faço apostas;
mas vou dizer o que farei. Se você puder provar por um testemunho digno de crédito, que aquilo
é verdade, e que os artigos sobre o Sr. Finney são verdade, eu lhe darei quinhentos dólares. Faço
essa oferta para levá-lo a inverstigar. Quero que você veja que essas histórias são falsas e que a
fonte de onde vêm é totalmente indigna de confiança.” Lewis, não duvidando que conseguiria a
prova, pois tais coisas haviam sido não confiantemente acreditadas pelos Unitários, escreveu uma
carta para o Rev. Sr. P, um pastor Unitário em Trenton Falls, Nova Iorque, a quem o Sr. W
referira-se, e autorizou-o a gastar quinhentos dólares, se necessário fosse, para conseguir
tentemunhos suficientes para provar que a história era verdade; testemunhos tais que levariam a
convencer um juri de corte. O Sr. P, de acordo com isso, começou a procurar testemunhos, mas
depois de muito sofrer, não conseguiu nenhum, exceto pelo que havia em um pequeno jornal
Universalista, publicado em Buffalo, no qual havia sido declarado que o Sr. Finney clamava ser o
general da brigada de Jesus Cristo. Em lugar nenhum ele conseguia sequer a menor prova de que
o artigo era verdadeiro. Muitas pessoa haviam escutado, e acreditado, que eu dissera essas coisas
em algum lugar, mas conforme ele seguia os artigos de cidade em cidade, por seus
correspondentes, pode ver que tais coisas não haviam sido ditas em lugar nenhum.
Isso, junto com outros problemas, ele disse, levou-o a refletir seriamente sobre a natureza da
oposição, e sobre a fonte de onde viera. Sabendo da ênfase dada a essas histórias pelos Unitários,
e do uso que fizeram delas para se oporem aos avivamentos em Nova Iorque e em outros lugares,
sua confiança neles ficou extremamente abalada. Assim, seu preconceito contra os avivamentos e
contra o povo ortodoxo diminuiu. Ele foi levado a rever as escritas teológicas dos Ortodoxos e
Unitários com grande seriedade, e o resultado foi que adotou as visões ortodoxas. A mãe dos
Tappans era uma mulher de muita oração, mulher de Deus. Ela jamais tivera nenhuma simpatia
pelo Unitarismo. Ela tinha vivido uma vida deoração, e deixara uma forte impressão sobre seus
filhos.
Logo que Lewis Tappan se converteu, tornou-se tão firme e zeloso em seu apoio às visões
ortodoxas e avivamentos religiosos, quanto fora em sua oposição a eles. Na época em que saí de
Nova Iorque, depois de minha sobras nas ruas Vandewater e Prince, o Sr. Tappan e alguns outros
bons irmãos ficaram insatisfeitos com a situação em Nova Iorque, e depois de muita oração e
consideração, decidiram organizar uma nova congregação, e introduzir novos métodos para a
conversão dos homens. Conseguiram um lugar para adorar, e chamaram o Rev. Joel Parker, que
então era pastor da Terceira Igreja Presbiteriana em Rochester, para vir ajudá-los. O Sr. Parker
chegou em Nova Iorque e começou sua obra, creio que na mesma época em que encerrei as
minhas na rua Prince. A Primeira Igreja Presbiteriana Livre foi formada em Nova Iorque nessa
época, e o Sr. Parker tornou-se seu pastor. Eles trabalhavam especialmente em meio àquele grupo
da população que não tinha o costume de participar de reuniões em lugar nenhum, e foram muito
bem-sucedidos. Acabaram por erguer o segundo piso de alguns armazéns na rua Dey, que
comportavam uma boa congregação, a ali continuaram com suas obras.
A VERDADE DO EVANGÉLHO
AS MEMÓRIAS DE CHARLES G. FINNEY
CAPÍTULO XXI.
O AVIVAMENTO EM ROCHESTER, 1830
SAINDO de Nova Iorque, passei algumas semanas em Whitestown, e como já era comum, sendo
pressionado a ir para vários lugares, não sabia o que deveria fazer. Mas entre outros, um convite
urgente foi recebido da parte da Terceira Igreja Presbiteriana em Rochester, da qual o Sr. Parker
fora pastor, para ir até lá ajudá-los por uma temporada.
Pesquisei sobre as circunstâncias, e vi que sob muitos aspectos, era um campo de trabalho sem
grandes possibilidades ou promessas. Mas haviam três igrejas presbiterianas em Rochester. A
Terceira igreja, que fizera o convite, não tinha pastor, e a religião estava em um péssimo estado.
A Segunda igreja, ou a Igreja do Tijolo, como era chamada, tinha um pastor, um homem
excelente, mas a respeito de sua pregação, havia uma considerável divisão na igreja, e ele estava
impaciente, prestes a ir embora. Existia uma controvérsia entre um presbítero da Terceira igreja e
o pastor da Primeira, à vesperas de ser examinado pelo presbitério. Esse e outros problemas
haviam levantado sentimentos não cristãos, até certo ponto, em todas as igrejas, e em uma visão
geral, parecia um péssimo campo de trabalho na época. Os amigos em Rochester estavam
extremamente ansiosos por minha ida – quero dizer, os membros da Terceira igreja. Tendo sido
deixados sem um pastor, sentiam que havia um grande risco de dispersarem-se, e talvez fossem
aniliquados como igreja, a menos que algo pudesse ser feito para avivar a religião em meio deles.
Com esses convites pressionados a mim, senti-me, como já várias vezes, muito perplexo.
Permeneci na casa de meu sogro, e considerei o assunto, até sentir que deveria dedicar-me a
algum lugar. Por isso, fizemos as malas e fomos para Utica, a uns onze quilômetros de distância,
onde eu tinha muitos amigos de oração. Chegamos ali à tarde, e pela noite um grande número dos
líderes, em cujas orações e sabedoria eu tinha muita confiança, a pedido meu, reuniram-se para
conselho e oração, a respeito de meu próximo campo de trabalho. Expus todos os fatos a eles, a
respeito de todos os convites que recebera. Rochestes parecia ser o menos convidativo de todos.
Depois de discutir muito o assunto, e ter muitos períodos de oração, intercalados com conversas,
os irmãos deram suas opiniões, um após o outro, em relação ao que achavam melhor que eu
fizesse. Eram uniânimes na opinião de que Rochester era realmente o menos convidativo campo
de trabalho, e não poderia competir com Nova Iorque ou com a Filadélfia, e alguns outros
campos para os quais eu havia sido convidado. Tinham a firme convicção de que eu deveria
seguir para o leste de Utica, e não para o oeste. Na época, essa era também a minha impressão e
convicção; então retirei-me dessa reunião, como supunha, decidido a não ir para Rochester, mas
sim para Nova Iorque ou para a Filadélfia. Mas isso foi antes das estradas de ferro existirem, e
quando fomos embora naquela noite, eu esperava pegar o barco pelo canal, pois era a maneira
mais conveniente para uma família viajar, e seguir para Nova Iorque pela manhã.
Mas depois de me retirar para meus aposentos, a questão foi apresentada a minha mente sob um
aspecto diferente. Algo parecia perguntar-me: “Quais são os motivos que te impedem de ir para
Rochester?” Pude enumerá-los prontamente, mas então a pergunta voltou: “Mas será que esses
são bons motivos? Certamente Rochester precisa ainda mais de você por todas essas dificuldades.
Você se esquiva do campo por que há tantas coisas que precisam ser corrigidas, por que há tantas
coisas erradas? Mas se tudo estivesse bem, você não seria necessário.” Logo cheguei à conclusão
de que todos estávamos errados; que todos os motivos que haviam-nos determinado contra minha
ida para Rochester eram as razões mais coerentes para que eu fosse. Fiquei envergonhado de
evitar assumir a obra por causa de suas dificuldades, e tinha a clara sensação de que o Senhor
estaria comigo, e que aquele era meu campo. Minha mente ficou plenamente decidida, antes que
me retirasse para descansar de que Rochester era o lugar para o qual o Senhor queria eu fosse.
Informei minha esposa sobre minha decisão, e segundo isso, bem cedo de manhã, antes que as
pessoas estivessem se movimentando num geral na cidade, o paquête veio, e nós embarcamos em
direção ao oeste, ao invés do leste.
Os irmãos em Utica ficaram muito surpresos quando souberam dessa mudança em nosso destino,
e esperaram pelos resultados com bastante preocupação.
Chegamos em Rochester de manhã bem cedo, e fomos convidados a ficar hospedados por hora
com o Sr. Josiah Bissell, que era o líder dos presbíteros da Terceira igreja, e que era quem havia
reclamado para o presbitério sobre o Dr. Penny. Quando cheguei, encontrei meu primo, Sr. S, na
rua, que convidou-me a ir até sua casa. Ele era um presbítero na Primeira igreja, e ao saber que eu
era esperado em Rochester, estava muito ansioso para que seu pastor, Dr. Penny, encontrasse-me
e conversasse comigo, e estivesse para cooperar com minhas obras. Recusei gentilmente seu
convite, informando-o que seria um hóspede do Sr. Bissell. Mas ele me visitou novamente depois
do café da manhã, e informou-me que havia agendado um encontro entre o Dr. Penny e eu, em
sua casa. Apressei-me parar encontrar o doutor, e tivemos um alegre e cristão encontro. Quando
comecei minhas obras, o Dr. Penny participou de nossas reuniões, e logo convidou-me ao seu
púlpito. O Sr. S muito se esforçou para que um bom entendimento fosse estabelecido entre os
pastores e as igrejas, e uma grande mudança logo se manifestou no estado espiritual das igrejas.
Em pouquíssimo tempo aconteceram muitas notáveis conversões. A esposa de um proeminente
advogado naquela cidade, foi uma das primeiras convertidas. Ela era uma mulher de alta posição,
uma senhora de cultura e muita influência. Sua conversão foi muito notável. A primeira vez em
que a vi foi quando uma amiga sua entrou com ela em minha sala, e apresentou-ma. A amiga que
apresentara-lhe era uma mulher cristã, havia encontrado-a em grande perturbação de mente, e
convencera-lhe a vir falar comigo.
A Sra. M fora uma mulher alegre e faladora, e muito apegada à sociedade. Mais tarde ela me
contou que logo quando eu cheguei ali, ela ficou muito chateada, e temeu que houvesse um
avivamento, e um avivamento interferiria muito nos prazeres e diversões que havia prometido a si
mesma naquele inverno. Conversando com ela vi que o Espírito de Deus estava de fato lidando
com sua alma, de uma maneira impiedosa. Ela estava prostrada com uma grande convicção de
pecado. Depois de uma considerável conversa com ela, pressionei-a a renunciar de coração ao
pecado, ao mundo, a si mesma, e a tudo por Cristo. Vi que ela era uma mulher muito orgulhosa, e
isso era, a meus olhos, a principal característica de sua personalidade. Na conclusão de nossa
conversa, ajoelhamo-nos para orar, minha mente muito preocupada com o orgulho de seu
coração, como demonstrava-se, então logo introduzi o texto: “A menos que vos convertam, e vos
tornem como criancinhas A menos que vos convertam, e vos tornem como criancinhas.” Percebi
que sua mente fora atingida com isso, e o Espírito de Deus estava pressionando isso em seu
coração. Eu então continuei a orar, mantendo esse assunto diante dela, e mantendo-a diante de
Deus como tendo aquela específica necessidade para que se convertesse – tornar-se como uma
criancinha.
Senti que o Senhor estava respondendo à oração. Tive certeza que Ele estava fazendo a obra que
pedira. Seu coração foi quebrantado, sua sensibilidade começou a jorrar, e antes que nos
levantássemos, ela era de fato uma criança. Quando parei de orar, abri meus olhos e olhei para
ela, seu rosto estava voltado para o céu, e as lágrimas caindo; ela estava orando para que fosse
feita como uma criança. Levantou-se, estava em paz, com uma fé cheia de alegria, e retirou-se. A
partir daquele momento, tornou-se muito explícita sobre suas convicções religiosas, e zelosa pela
conversão de suas amigas. Sua conversão, é claro, gerou uma grande agitação em meio à classe
de pessoas a qual ela pertencia.
Creio que até ir para Rochester, com raras exceções, eu nunca tinha usado o que desde então é
chamado de ‘o assento ansioso’ como um meio de promover avivamentos. Algumas vezes eu já
havia convidado pessoas a ficarem de pé na congregação, mas isso não fora feito freqüentemente.
Contudo, ao estudar sobre o assunto, eu muitas vezes senti a necessidade de alguma medida que
levasse os pecadores a tomar uma posição. De minha própria experiência e observação,
descobrira que espercialmente com as classes sociais mais altas, o maior obstáculo a ser superado
era o medo de serem conhecidos como pessoas ansiosas e cheias de dúvidas. Eles eram muito
orgulhosos para tomar qualquer posição que pudesse revelá-los aos outros como pessoas ansiosas
por suas almas.
Também descobri que algo era necessário, para causar-lhes a impressão que esperava-se que
entregassem seus corações de uma vez por todas; algo que os chamasse a agir, e agir
publicamente diante do mundo, da mesma forma que fizeram em seus pecados; algo que os
fizesse assumir um compromisso público de servir a Cristo. Quando eu os chamava para
simplesmente ficarem de pé nas congregações públicas, descobri que isso tinha um ótimo efeito,
e até onde ia, respondia ao propósito para o qual fora intencionado. Mas depois, eu vinha
sentindo por algum tempo, que algo mais era necessário para fazê-los sair do meio da multidão
sem Deus, para uma renúncia pública de seus caminhos pecaminosos, e um comprometimento de
si mesmos para Deus.
Em Rochester, se bem me lembro, foi que comecei a usar esse método; isso foi anos depois de o
pedido por novos meios ter sido levantado. Poucos dias depois da conversão da Sra. M, eu fiz
uma visita, creio que pela primeira vez, a toda aquele grupo de pessoas cujas convicções estavam
tão maduras que estavam dispostos a renunciar seus pecados e entregarem-se a Deus, para virem
à frente para alguns lugares que eu pedia que fossem mantidos vazios, e oferecerem-se a Deus,
enquanto faziamos deles, alvos de oração. Um número muito maior do que o que eu esperava
veio à frente, e entre eles estava outra senhora proeminente, e vários conhecidos seus, que
pertenciam ao mesmo círculo social, vieram à frente também. Isso aumentou o interesse em meio
às pessoas dessa classe social, e logo pôde ser visto que o Senhor estava trabalhando na
conversão das classes mais altas. Minhas reuniões logo ficaram lotadas com pessoas como essas.
Os médicos, advogados, mercantes, e na verdade todas as pessoas mais inteligentes, ficavam mais
e mais interessadas, e cada vez mais facilmente influenciadas.
Em breve a obra teve efeito, extensivamente, entre os advogados da cidade. Sempre houve um
grande número dos principais advogados do estado, morando em Rochester. A obra logo
envolveu vários deles. Eles ficaram muito ansiosos, e vinham livremente a nossas reuniões de
perguntas e respostas, e muitos deles vinham à frente para o assento ansioso, como é chamado
desde então, e davam seus corações publicamente para Deus. Recordo-me de uma noite depois de
pregar, em que três deles seguiram-me até meus aposentos, todos profundamente convictos do
pecado, e todos estavam, creio eu, nos assentos ansiosos, mas não compreendiam muito bem, e
sentiam que não podiam ir para casa até que estivessem convencidos de que suas pazes foram
feitas com Deus. Eu conversei e orei por eles, e acredito que antes de irem embora, todos
acharam a paz em crer no Senhor Jesus Cristo.
Eu deveria ter dito que logo depois que a obra começou, as dificuldades entre o Sr. Bissell e o Dr.
Penny foram sanadas, e todas as distrações e desentendimentos que tinham existido ali foram
ajustados, de forma que um espírito de gentileza e irmandade prevaleceu em todas as igrejas.
Certa feita, eu tinha um compromisso na Primeira igreja. Um desfile militar acontecera na cidade
naquele dia. A milícia fora chamada, e eu temia que a empolgação do desfile pudesse distrair a
atenção do povo, e prejudicaar a obra do Senhor. A casa estava cheia por todos os lados. O Dr.
Penny começara o culto e realizava a primeira oração, quando eu ouvi algo que supus ser um tiro
de arma e o estilhaçar de vidros, como se uma janela tivesse sido quebrada. Meu pensamento foi
que alguma pessoa descuidada no desfile militar do lado de fora, atirara tão próximo à janela a
ponto de quebrar uma vidraça. Mas antes que eu tivesse tempo de pensar novamente, o Dr. Penny
saltara do púlpito quase que sobre mim, pois eu estava ajoelhado perto do sofá atrás dele. O
púlpito ficava na frente da igreja, entre as duas portas. A parede de trás da igreja dava para a
margem do canal. A congregação, em um instante, entrou em completo desespero, e corria para
as janelas e portas, como se todos estivessem distraídos. Uma senhora ergueu uma janela nos
fundos da igreja, por onde vários, como depois eu vim a saber, pularam para o canal. A correria
era terrível. Alguns saltavam das galerias para os corredores abaixo; todos corriam uns sobre os
outros nos corredores.
Fiquei de pé no púlpito, não sabendo o que se passara, ergui minhas mãos e gritei o mais alto que
pude “Aquietem-se! Aquietem-se!” Na hora, duas mulheres que corriam para o púlpito, uma de
cada lado, pegaram-me, muito agitadas. O Dr. Penny correu para as ruas, e as pessoas saíam para
todas as direções, o mais rápido possível. Como eu não sabia que havia algum perigo, a cena
parecia tão lunática para mim, que mal pude me conter de dar risada. Corriam uns sobre os outros
nos corredores, tanto que em vários momentos observei homens que haviam sido esmagados
levantando-se e empurrando aqueles que haviam corrido sobre eles. Afinal todos saíram.
Muitos ficaram consideravelmente machucados, mas ninguém morreu. Mas por todos os lados da
casa haviam pertences femininos. Capas, xales, luvas, lenços, e partes de seus vestidos estavam
espalhados em todas as direções. A maioria dos homens saíra com seus chapéus, eu acho; e
muitas pessoas ficaram seriamente machucadas na terrível correria.
Depois eu soube que as paredes da igreja estavam cedendo a algum tempo, tendo um terreno tão
viçoso devido à dus proximidade ao canal. Comentava-se, na congregação, que o estado dessas
coisas não era satisfatório, e alguns temiam que a torre caísse, ou o teto, ou que as paredes do
edifício viriam ao chão. Eu não havia escutado nada sobre isso. O alarme fora gerado por uma
viga do telhado, que caiu desde sua extremidade, e atravessou o teto bem acima do lustre em
frente ao órgão.
Ao examinar a casa, descobriu-se que as paredes haviam-se separado de tal forma, que havia de
fato o perigo de o telhado cair. A pressão na galeria naquela noite fora tão grande a ponto de
separar as paredes para os lados, até haver perigo real. Quando isso aconteceu, eu fiquei com
muito medo, e suponho que outros também ficaram, que a atenção do povo fosse dispersa, e a
obra fosse grandemente prejudicada. Mas o Espírito do Senhor havia tomado plenamente o
controle da obra, e nada parecia impedí-la.
A igreja do Tijolo foi aberta para nós, e a partir de então nossas reuniões alternavam-se entre a
Segunda e a Terceira igreja, as pessoas que faziam parte da Primeira igreja e que conseguiam um
lugar na congregação, participavam. Todas as três igrejas, e na verdade cristãos de todas as
denominações num geral, pareciam ter uma causa em comum, e foram à obra com vontade, para
tirar os pecadores do fogo. Fomos obrigados a ter reuniões quase que contínuas. Eu pregava
quase todas as noites, e três vezes aos domingos. Nossas reuniões para respostas a dúvidas,
depois que a obra tornou-se tão poderosas, eram freqüentemente realizadas pela manhã.
Certa manhã, lembro-me que estávamos em uma dessas reuniões, e um cavalheiro que estava
presente converteu-se ali, ele era o genro de uma mulher muito devota, de oração, que fazia parte
da Terceira igreja. Ela andava muito ansiosa e gastara muito tempo orando por ele. Quando ele
voltou da reunião, estava cheio de alegria, paz e esperança. Ela gastara o tempo em sincera
oração para que Deus o convertesse naquela reunião. Logo que ela o encontrou e ele declarou-lhe
sua conversão, e por seu semblante ela via que era verdade, sucumbiu, desfaleceu e caiu morta.
Na época havia um colégio em Rochester, dirigido por um senhor de nome B, filho de A B, então
pastor da igreja em Brighton, perto de Rochester. O Sr. B era um sético, mas estava na direção de
uma escola muito grande e próspera. Sendo que a escola era para ambos os sexos, uma Srta. A
era sua assistente, e sócia da escola na época. A Srta. A era uma mulher cristã. Os alunos
participavam dos cultos religiosos, e muitos deles logo ficaram muito ansiosos por suas almas.
Certa manhã o Sr. B viu que sua classe não conseguia responder às perguntas. Quando encontrou
com eles, todos estavam tão preocupados com suas almas que choravam, e ele viu que estavam
em tal estado que ficou muito confuso. Chamou sua sócia, a Srta. A, e contou-lhe que os jovens
estavam tão preocupados com suas almas que não podiam sequer responder a perguntas na aula,
perguntando-lhe se não seria melhor que mandassem chamar o Sr. Finney para instruí-los. Ela me
contou sobre isso mais tarde, e disse a ele que ficaria muito feliz que ele realizasse essa reunião
para instruções, aconselhando-o cordialmente a mandar chamar-me. Assim ele o fez, e o
avivamento apoderou-se tremendamente daquela escola. O próprio Sr. B logo se converteu, e
quase todas as pessoas que ali estavam. Poucos anos depois, a Srta. A me informou que mais de
quarenta pessoas, que haviam-se convertido naquela escola, tornaram-se ministros do Senhor.
Isso era um fato que eu não sabia antes. Ela citou o nome de vários nessa ocasião. Muitos deles
tornaram-se missionários no exterior.
Depois de permanecer algumas semanas com Josiah Bissell, hospedamo-nos em uma localização
mais central, na casa do Sr. B, um advogado da cidade, que era um homem assumidamente
cristão. A irmã de sua esposa estava com eles, e era uma moça ímpia. Ela era uma jovem de
ótima aparência, uma cantora excepcional, e uma dama de cultura, e logo soubemos que estava
noiva para casar-se com um homem que era na época um juiz do supremo tribunal do estado. Ele
eraum homem muito orgulhoso, e resistia ao assento ansioso, falando sempre contra ele.
Ausentava-se bastante da cidade, para realizar julgamentos, e não se converteu naquele inverno.
Menciono isso porque o Juiz depois casou-se com ela, o que sem dúvida levou-o a sua conversão
em um avivamento que ocorreu uns dez anos depois, cujos principais pontos mencionarei depois,
em outra parte de minha narrativa.
Esse avivamento fez uma grande mudança no estado moral e subseqüente história de Rochester.
A grande maioria dos principais homens e mulheres da cidade foram convertidos. Muitas
situações impactantes ocorreram, dos quais não me esquecerei tão cedo. Certo dia a senhora que
foi a primeira a me visitar e cuja conversão já mencionei, veio ver-me acompanhada de uma
amiga, com quem desejava que eu converssasse. Eu conversei, mas logo vi que para todos os
efeitos, ela estava com um coração muito endurecido, e não levava o assunto a sério. Seu marido
era um mercante, e ambos eram pessoas de uma alta posição na comunidade. Quando pressionei-
a a atentar para o assunto, ela não correspondia, pois seu marido não se atentava a isso, e ela não
o deixaria. Perguntei-lhe se estava disposta a perder-se porque seu marido não preocupava-se
com o assunto, e se não seria insensatez de sua parte negligenciar sua própria alma porque seu
esposo assim fazia. Ela prontamente respondeu “Se ele for para o inferno, eu quero ir. Quero ir
para onde quer que ele vá. Não quero me separar dele, custe o que custar.” Pareceu-me que não
pude causar nenhum impacto sobre ela. Mas noite após noite eu fazia apelos à congregação,
chamando à frente aqueles que estivessem preparados para dar seus corações a Deus, e muitos
convertiam-se todos os dias.
Mais tarde eu soube que quando essa mulher foi para casa, seu marido lhe disse “Minha querida,
eu pretendo ir à frente esta noite, e entregar meu coração a Deus.” “O que?!” disse ela, “Hoje eu
disse ao Sr. Finney que não me tornaria uma cristã, nem nada parecido, que você não tinha se
convertido, então eu não me converteria, e que se você fosse para o inferno, eu iria com você.
Bem” continuou, “então eu não irei para a reunião, e não quero ver. E se afinal você tem a
decisão de tornar-se um cristão, vá em frente, eu não irei.” Quando chegou a hora, ele foi para a
reunião sozinho. O púlpito ficava entre as portas, em frente a igreja. A casa estava bastante
lotada, mas ele finalmente conseguiu um lugar perto de um dos corredores, bem no fundo da
igreja. No final da reunião, como eu já havia feito outras vezes, chamei aqueles que estavam
ansiosos e que haviam tomado uma decisão, para virem à frente e ocupar certos lugares e um
pequeno espaço sobre o púpito, onde pudéssemos orar a Deus por eles. Pareceu depois que a
esposa também fora a reunião, entrara pelo outro corredor e estava sentada no outro extremo da
casa, oposta a ele. Quando fiz o apelo, ele veio imediatamente. Ela estava observando, e logo que
o viu de pé, abrindo caminho pelo corredor tão lotado, ela também a ir pelo outro corredor.
Encontraram-se em frente ao púlpito e ajoelharam-se juntos como alvos de oração.
Muitos obtiveram sua esperança no ato, mas esse casal não. Foram para casa, orgulhosos demais
para falarem muito um com o outro sobre o que haviam feito, e passaram uma noite muito ruim.
No dia seguinte, por volta das dez horas, ele veio visitar-me, e foi levado até meu quarto. Minha
esposa ocupara um quarto na parte da frente no segundo piso, e eu, um na parte de trás do mesmo
andar. Enquanto eu conversava com ele, a criada informou-me que uma senhora aguardava no
quarto da Sra. Finney para falar comigo. Descobri que era a mulher que no dia anterior fora tão
teimosa, que era também a esposa do homem que estava no momento em meu quarto. Nenhum
dos dois sabia que o outro viera visitar-me. Conversei com ela e descobri que ela estava prestes a
submeter-se a Cristo. Descobrira que ele também estava, ao que tudo indicava, na mesma
situação. Retornei para ele e disse “Eu vou orar com uma senhora no quarto da Sra. Finney. Nós
entraremos lá, se o senhor assim desejar, e oraremos todos juntos.” Ele me seguiu , e encontrou
sua própria esposa. Olharam-se com surpresa, mas estavam ambos muito afetados por
encontrarem um ao outro ali. Ajoelhamo-nos para orar. Eu não estava orando há muito tempo
antes que ela começasse a chorar, e a orar audivelmente por seu marido. Parei e ouvi, e percebi
que ela havia perdido toda a preocupação por si mesma, e pelejava em agonia de oração pela
conversão dele. O coração dele pareceu quebrar e abrir caminho, e nesse exato momento, o sinal
tocou para nosso jantar. Pensei que seria bom deixá-los sós. Portanto toquei minha esposa, e
levantamo-nos em silêncio, descendo para jantar, deixando-os em oração. Jantamos rapidamente
e voltamos, encontrando-os tão carinhosos, humildes e amáveis quanto se pode desejar.
Ainda não falei muito, até agora, sobre o espírito de oração que prevalecia nesse avivamento, que
não devo omitir. Quando eu estava a caminho de Rochester, ao passarmos por uma vila, a uns
cinqüenta quilômetros ao leste de lá, um irmão pastor que eu conhecia, vendo-me no barco, pulou
abordo para conversar um pouco comigo, com a intenção de navegar comigo somente um pouco,
e depois retornar. No entanto, ele ficou interessado em nossa conversa, e ao descobrir para onde
eu estava indo, decidiu continuar e ir comigo até Rochester. Estávamos lá há poucos dias quando
esse pastor ficoutão convicto que não conseguia evitar de chorar alto, certa vez, quando passava
pela rua. O Senhor dera-lhe um poderoso espírito de oração, e seu coração estava quebrantado.
Como nós orávamos muito juntos, eu estava impactado com sua fé, a respeito do que o Senhor
faria naquele lugar. Lembro-me que ele dizia “Senhor, não sei como é isso, mas pareço saber que
Tu farás uma grande obra nesta cidade.” O espírito de oração foi poderosamente derramado, tanto
que, algumas das pessoas não iam aos cultos para poderem orar, já que eram incapazes de conter
seus sentimentos diante da pregação.
E agora devo apresentar o nome de um homem, que devo ter a oportunidade de mencionar
freqüentemente, o Sr. Abel Clary. Ele era o filho de um homem excelente, e um presbítero da
igreja onde eu me converti. Ele se converteu no mesmo avivamento que eu. Ele fora licenciado
para pregar, mas seu espírito de oração era tamanho, ele tinha tamanho jugo pelas almas dos
homens, que não era capaz de pregar muito, entregando todo seu tempo e força para orações. O
fardo de sua alma freqüentemente era tão grande que não conseguia ficar de pé, e gritava e gemia
em agonia. Eu o conhecia bem, e sabia alguma coisa do maravilhoso espírito de oração que
estava sobre ele. Ele era um homem muito quieto, como eram quase todos que tinham esse
poderoso espírito de oração.
Eu soube que ele estava em Rochester quando um cavalheiro que vivia um quilômetro e meio a
oeste da cidade, visitou-me um dia perguntando se eu conhecia um Sr. Abel Clary, um pastor. Eu
disse que o conhecia bem. “Bem” disse ele “ele está em minha casa, já há algum tempo, e não sei
o que pensar dele.” Eu disse “Eu não o vi em nenhuma de nossas reuniões” “Não,” ele respondeu
“ele não pode ir para a reunião. Ele hora praticamente o tempo todo, dia e noite, e com tal agonia
de mente que não sei mais o que fazer. Algumas vezes ele não consegue sequer ficar de joelhos,
mas fica prostrado no chão, gemendo e orando de uma maneira que me deixa bastante pasmo.”
Eu disse a esse irmão “Eu compreendo, por favor fique calmo. Tudo dará certo, ele prevalecerá
com certeza.”
Na época eu conhecia um número considerável de homens que estavam incomodados da mesma
maneira. Um Diácono P, de Camden, condado de Oneida; um Diácono T, de Rodman, condado
de Jefferson; Diácono B, de Adams, no mesmo condado; esse Sr. Clary e muitos outros entre os
homens, e várias mulheres, compartilhavam do mesmo espírito, e passavam grande parte de seu
tempo em oração. O Padre Nash, como o chamávamos, quem em vários de meus campos de
trabalho veio ajudar-me, era mais um desses homens que tinham tal espírito de oração
prevalecente. Este sr. Clary continuou em Rochester pelo mesmo tempo que eu, e não foi embora
até que eu tivesse ido. Ele nunca apareceu em público, até onde eu soube, mas entregou-e
inteiramente a oração.
Eu falei que o aspecto moral das coisas foi grandemente mudado por esse avivamento. Era uma
cidade nova, cheia de economia e empresas, e cheia de pecado. Os habitantes eram inteligentes e
empresários, do mais alto nível, mas o avivamento varreu a cidade, e converteu a grande massa
das pessoas mais influentes, tanto homens quanto mulheres, a mudança na ordem, sobriedade, e
moralidade da cidade eram maravilhosas.
Num momento subseqüente, que mencionarei na hora certa, eu conversava com um advogado,
que convertera-se nesse avivamento do qual tenho falado, e que logo depois tornara-se promotor
público da cidade. Seu trabalho era supervisionar o processo de criminosos. Por sua posição, ele
conhecia detalhadamente a história dos crimes naquela cidade. Ao falar sobre o avivamento no
qual ele se converteu, ele me disse, muitos anos depois: “Tenho examinado os registros dos
julgamentos criminais, e descobri esse fato impactante, que nossa cidade cresceu desde aquele
avivamento, três vezes mais, mas não há nem um terço da quantidade de processos criminais
quanto havia até aquela época. Isto é” continuou “a maravilhosa influência do avivamento na
comunidade. Realmente pelo poder daquele avivamento, a mente pública foi moldada. Os cargos
públicos da cidade estão, em grande parte, nas mãos de homens cristãos, e as influências
controladoras da comunidade têm estado do lado de Cristo.”
Entre outras conversões não devo esquecer de mencionar a do Sr. P, um proeminente cidadão
daquele lugar, vendedor de livros. O Sr. P era um infiel, não um ateu, mas não acreditava na
autoridade divina da bíblia. Ele era um homem de leitura e reflexão, um homem com uma mente
perspicaz, astuta, grande força de vontade, e caráter muito decidido. Ele era, acredito, um homem
de boas morais, e disse-me “Sr. Finney, há um grande movimento aqui sobre o assunto da
religião, mas eu sou um sético, e quero que o senhor me prove que a bíblia é verdade.” O Senhor
capacitou-me a discernir de uma vez o estado de sua mente, para que decidisse qual caminho
seguir com ele. Eu disse a ele “O senhor acredita na existência de Deus?” “Ah sim!” ele disse
“Não sou ateu.” “Bem, o senhor acredita que tem tratado Deus como deveria? Tem respeitado
Sua autoridade? Tem O amado? Tem feio o que acha que poderá agradá-lo, e com o objetivo de
agradá-lo? O senhor não admite que deve amá-lo, adorá-lo e obedecê-lo de acordo com seu
melhor entendimento?” “Ah sim!” disse ele “Admito tudo isso” “Mas tem feito isso?” perguntei.
“Bem, não. Não posso dizer que tenho.” ele respondeu. “Muito bem então, por quê eu deveria
dar-lhe mais informações, mais luz, se o senhor não cumpre seu dever e obedece o entendimento
que já tem? Agora,” continuei “quando o senhor decidir viver de acordo com suas convicções, a
obedecer Deus de acordo com sua melhor luz; quando decidir se arrepender por sua negligência
até agora, e a agradar a Deus da melhor maneira que puder, para o resto de sua vida, eu tentarei
mostrar-lhe que a bíblia vem de Deus. Até lá é inútil que eu faça qualquer coisa assim.” Eu não
me sentei, e creio que não o convidei a sentar-se. Ele respondeu “Não sei se isso é justo” e se
retirou.
Não tive mais notícias dele até a manhã seguinte. Logo que me levantei, ele veio novamente a
meus aposentos, e logo que ele entrou, bateu palmas e disse “Sr. Finney, Deus fez um milagre!
Eu desci para minha loja depois de sair de seu querto, pensando sobre o que o senhor dissera, e
decidi que arrepender-me-ia de tudo que sabia estar errado em minha relação com Deus, e que
daqui por diante viveria de acordo com meu melhor entendimento. E quando decidi isso”
continuou “meus sentimentos sobrevieram de tal forma que caí, e não sei como mas eu deveria
ter morrido, se não fosse pelo Sr. –, que estava comigo na loja.” Desde então ele tem sido, como
todos os que o conhecem sabem, um honesto cristão e homem de oração. Por muitos anos tem
sido um dos curadores da Faculdade Oberlin, tem estado ao nosso lado em todas as provações, e
tem nos ajudado com seus meios e com toda sua influência.
Durante esse avivamento, pessoas mandavam cartas de Rochester para seus amigos em outros
lugares, contando um pouco sobre a obra, que lemos em diferentes igrejas em vários estados, e
que foram instrumentos na geração de grandes avivamentos religiosos. Muitas pessoas vieram de
fora para testemunhar a grande obra de Deus, e foram convertidas. Recordo-me que um médico
estava tão atraído pelo que escutara sobre a obra que veio de Newark, Nova Jersey, para
Rochester, para ver o que o Senhor estava fazendo, e acabou convertendo-se ali. Ele era um
homem de muitos talentos e cultíssimo, e tem sido por muitos anos um ardente obreiro cristão
por almas imortais.
Certa noite, lembro-me, quando fiz o apelo para que os ansiosos viessem à frente para se
submeter, um homem influente de uma cidade vizinha veio, junto com muitos membros de sua
família, e entregaram-se a Deus. De fato, a obra espalhava-se como ondas em todas as direções.
Eu pregava em tantos lugares nos arredores quanto tinha tempo e forçar para pregar, enquanto
minhas obras estavam em Rochester. Eu fui para Canadaigua e preguei várias vezes. Ali a
Palavra teve efeito, e muitos se converteram. O pastor, Rev. Ansel Eddy, entrou de coração na
obra. Um antigo pastor, senhor de idade, nascido na Inglaterra, também fez o que pôde para levar
a obra adiante. Sempre que eu ia, a Palavra de Deus tinha efeito imediato, e parecia que era
necessário apresentar somente a lei de Deus e as ordens de Cristo, em tais relações e proporções
calculadas para assegurar a conversão dos homens, e eles se convertiam aos montes.
A grandeza da obra em Rochester, na época, atraiu tanto a atenção dos pastores e cristãos por
todo o estado de Nova Iorque, por toda Nova Inglaterra, e em muitas partes dos Estados Unidos,
que até mesmo sua fama era um eficiente instrumento nas mãos do Espírito de Deus ao promover
o maior avivamento religioso por toda terra, que esse país jamais testemunhara. Anos depois
disso, ao conversar com o Dr. Beecher sobre esse poderoso avivamento e seus resultados, ele
comentou “Aquele foi a maior obra de Deus, e o maior avivamento religioso que o mundo já
tinha visto em tão pouco tempo. Cem mil foi o número relatado de pessoas que ligaram-se às
igrejas como resultado daquele grande avivamento. Isto” ele disse “não tem paralelos na história
da igreja, e do progresso da religião.” Ele falou sobre isso ter sido realizado em um ano, e disse
que em ano algum durante a era cristã, houvera um avivamento religioso tão grande.
Desde a época da convenção no Novo Líbano, da qual falei, oposição pública e aberta aos
avivamentos era cada vez menos manifesta, e eu encontrava em especial cada vez menos
oposição pessoal do que encontrara antes. Aquietou-se aos poucos, mas quase que totalmente.
Em Rochester não senti nada disso. Na verdade as águas da salvação fluiam tão altas, os
avivamentos tornavam-se tão poderosos e extensivos, e as pessoas tinham tempo de se
familiarizar com eles e com seus resultados de tal forma, que as pessoas tinham medo de se
oporem a eles como antes. Os pastores os entendiam melhor, e os pecadores mais ímpios foram
convencidos que esses movimentos eram de fato a obra de Deus. A grande massa de conversões
era tão explicitamente sólida, os convertidos realmente regenerados e transformados em novas
criaturas, tão plenamente indivíduos e comunidades inteiras foram reformadas, e tão permanentes
e inquestionáveis eram os resultados, que a convicção tornou-se quase que absoluta, que esses
movimentos eram a obra de Deus.
A VERDADE DO EVANGELHO
AS MEMÓRIAS DE CHARLES G. FINNEY
CAPÍTULO XXII.
O AVIVAMENTO EM AUBURN, BUFFALO, PROVIDENCE E BOSTON.
DURANTE o período final do tempo que estive em Rochester, minha saúde estava ruim. Eu
estava esgotado, e alguns dos principais médicos, como eu soube, tinham certeza de que eu nunca
mais pregaria. Minhas obras em Rochester na época, continuaram por seis meses, e próximo ao
final desse período, o Rev. Dr. Wisner, de Ithaca, foi até lá passar algum tempo, testemunhando e
ajudando a obra a progredir. Enquanto isso, fui convidado a trabalhar em vários campos, e entre
outros, o Dr. Nott, presidente da Faculdade Union, em Schenectady, urgia-me para que fosse
trabalhar com ele, e se possível, assegurasse a conversão de inúmeros estudantes. Decidi-me a
aceitar seu pedido.
Acompanhado pelo Dr. Wisner e Josiah Bissell, embarquei na diligência, na primavera do ano de
1831, quando a ida era extremamente ruim. Deixei minha esposa e filhos por hora em Rochester,
pois a viagem era muito perigosa, e a jornada cansativa demais para eles. Quand chegamos em
Geneva, Dr. Wisner insistiu para que eu fosse para casa com ele, descansar um pouco. Não
aceitei, e disse que deveria continuar meu trabalho. Ele pressionou muito para que eu fosse, e por
fim acabou dizendo que os médicos em Rochester haviam-lhe dito para que levasse-me para casa
com ele, pois eu estava prestes a morrer, que eu nunca mais trabalharia em avivamentos, pois
estava consumido, e tinha pouco tempo de vida. Eu respondi que já tinha escutado isso antes, mas
que era um erro, que os médicos não entendiam meu caso; eu estava apenas fatigado, e um pouco
de descanso me renovaria.
Dr. Wisner finalmente desistiu de ser tão importuno, e eu continuei na diligência até Auburn. A
viagem estava tão ruim, que algumas vezes não conseguíamos ir a mais de três quilômetros por
hora, e já estávamos a dois ou três dias indo de Rochester para Auburn. Como eu tinha muitos
amigos em Auburn, e estava cansado demais, decidi parar ali, e descansar até a próxima
diligência. Pagara minha passagem para chegar até Schenectady, mas poderia parar, se quisesse,
por um ou mais dias. Eu parei na casa do Sr. T S, filho do Presidente do Supremo Tribunal S. Ele
era um sincero homem cristão, e um querido amigo meu, conseqüentemente fui para sua casa, ao
invés de parar no hotel, e decidi descansar ali até que viesse a próxima diligência.
Pela manhã, depois de dormir tranqüilamente em sua casa, levantei, e estava me preparando para
pegar a diligência, que deveria chegar ainda naquela manhã, quando um cavalheiro entrou com
um pedido para que eu ficasse – um pedido por escrito, assinado por um grande número de
homens influentes, de quem já falei antes, como resistentes ao avivamento naquele lugar em
1826. Esses homens haviam-se organizado contra o avivamento, na ocasião anterior, e levaram
sua oposição tão longe a ponto de sairem da congregação do Dr. Lansing e formar uma outra.
Enquanto isso, o Dr. Lansing fora chamado para outro campo de trabalho, e o Rev. Josiah
Hopkins, de Vermont, fora estabelecido como pastor da Primeira igreja. O papel que mencionei
continha um sincero apelo a que eu parasse e trabalhase por sua salvação, assinado por uma longa
lista de homens não convertidos, em sua maioria, proeminentes cidadãos da cidade. Isso foi muito
impactante para mim. Nesse papel eles falavam sobre a oposição que haviam feito antes a minhas
obras, e imploravam-me para que esquecesse, parasse e pregasse a eles o evangélho.
Esse pedido não veio do pastor, nem de sua igreja, mas daqueles que antes lideravam a oposição
à obra. Mas o pastor e membros de sua igreja pressionaram-me com toda sua influência para que
permanecesse e pregasse, aceitando o pedido desses homens. Eles pareciam tão surpresos quanto
eu, com a atitude deles. Fui para meu quarto, apresentei o assunto para Deus, e logo tomei a
decisão do que fazer. Disse ao pastor e a seus presbíteros que estava muito cansado, e quase
esgotado, mas com certas condições, permaneceria ali. Eu pregaria duas vezes no domingo, e
duas noites durante a semana, mas que eles deveriam tomar todo o resto do trabalho em suas
próprias mãos, que não esperassem que eu participasse de nenhuma outra reunião a não ser
aquelas nas quais eu pregaria, e que assumiriam o trabalho de instruir aqueles que tivessem
dúvidas, e de conduzir as reuniões de oração. Que eu sabia que eles entendiam como trabalhar
com pecadores, e poderia confiar bem neles para realizar essa parte do trabalho. Também
estipulei que nem eles nem outras pessoas deveriam visitar-me, exceto em casos extremos, em
meus aposentos, pois eu precisava ter meus dias, menos domingos, para descansar, assim como
minhas noites, com a exceção daquelas nas quais pregaria. Haviam três cultos no domingo, um
dos quais era realizado pelo Sr. Hopkins. Eu pregava de manhã e à noite, creio eu, e ele à tarde.
A Palavra teve efeito imediato. Na primeira ou segunda noite de domingo que preguei, vi que a
Palavra estava trabalhando de forma tão poderosa que ao encerrar, chamei aqueles que tinham
tomado uma decisão para virem à frente, e publicamente renunciar seus pecados, entregando-se a
Cristo. Para minha grande surpresa, e muito para a surpresa do pastor e de muitos membros da
igreja, o primeiro homem que observei vindo à frente e liderando o caminho, foi aquele homem
que liderara, e influenciara muito mais do que qualquer outro, a oposição ao avivamento anterior.
Ele veio à frente de imediato, seguido por um grande número das pessoas que haviam assinado
aquele papel, e naquela noite tal demonstração foi feita que produziu um interesse geral por todo
lugar.
Eu já falei do Sr. Clary, que estava em Rochester, como sendo um homem de oração. Ele tinha
um irmão, um médico, que morava em Auburn. Creio que foi no segundo domingo desta minha
estadia em Auburn, que observei na congregação o rosto solene desse Sr. Clary. Ele parecia
carregado com uma agonia de oração. Conhecendo-o bem, e sabendo do grande dom que Deus
colocara sobre ele, o espírito de oração, fiquei muito feliz em vê-lo ali. Ele estava sentado no
banco com seu irmão, o médico, que também era um professor de religião, mas que não conhecia
nada por experiência, devo concluir, do grande poder de seu irmão Abel com Deus.
No intervalo, logo que eu desci do púlpito, o Sr. Clary encontrou-me, com seu irmão, nas escadas
do palco, e o doutor convidou-me para ir até sua casa para o intervalo, renovando minhas forças.
Assim o fiz.
Depois de chegar em sua casa, logo reunimo-nos ao redor da mesa de jantar. Então o Dr. Clary
virou-se para seu irmão e disse “Irmão Abel, poderia pedir a benção?” Ele então curvou sua
cabeça e começou, audivelmente, a pedir pela benção de Deus. Ele não falara mais de duas frases
quando imediatamente caiu em prantos, afastou-se na mesma hora da mesa, e correu para seu
quarto. O doutor, supondo que ele ficara doente de repente, levantou-se e o seguiu. Depois de
alguns momentos ele desceu e disse “Sr. Finney, Abel quer vê-lo.” Eu perguntei “O que o
aflige?” Ele respondeu “Eu não sei, mas ele diz que o senhor sabe. Ele parece muito angustiado,
mas acho que é o estado de sua mente.” Eu entendi na hora, e fui para seu quarto. Ele estava
deitado em sua cama gemendo, o Espírito intercedendo por ele, e nele, com gemidos que não
podiam ser explicados. Eu acabara de entrar no quarto quando ele conseguiu dizer “Ore, Irmão
Finney.” Ajoelhei-me e ajudei-o em oração, levando sua alma pela conversão de pecadores.
Continuei a orar até que sua angústia passou, e então voltamos para a mesa.
Eu compreendi que essa era a voz de Deus. Vi que o Espírito de oração estava sobre ele, senti
Sua influência sobre mim, e tive certeza de que a obra continuaria poderosamente. E continuou.
Creio, mas não tenho certeza, que todos os homens que assinaram aquele papel, fazendo uma
longa lista de nomes, converteram-se durante aquele avivamento. Mas poucos anos depois, o Dr.
S, de Auburn, escreveu-me para saber se eu havia guardado aquele papel, desejando, como ele
mesmo disse, saber se todos os homens que o assinaram, na época não eram convertidos. O papel
fora perdido, e apesar de estar provavelmente em meio a meus inúmeros papéis e cartas, e possa
algum dia ser encontrado, ainda assim eu não poderia, naquela hora, responder sua pergunta.
Fiquei em Auburn dessa vez por seis semanas, pregando, como já disse, duas vezes aos domingos
e duas vezes durante a semana, deixando o restante do trabalho para o pastor e membros da
igreja. Aqui, assim como em Rocheser, havia, dessa vez, pouca ou até nenhuma oposição
explícita. Patores e cristãos abraçaram a obra, e todos os que estavam dispostos, encontravam
trabalho para fazer, e tiveram sucesso na obra.
O Pastor me contou depois, que ele descobriu que nas seis semanas que eu estive lá, quinhentas
almas se sonverteram. Os meios utilizados foram os mesmos que haviam sido usados em
Rochester. Esse avivamento pareceu ser apenas uma onda de poder divino, alcançando Auburn a
partir do centro em Rochester, de onde tão poderosa influência saira para todo o país.
Perto do final de meu trabalho ali, um mensageiro chegou de Buffalo, com um honesto pedido
que eu fosse visitar aquela cidade. O avivamento em Rochester preparara o caminho em Auburn,
assim como em todos os outros lugares dos nos arredores, também preparara o caminho em
Buffalo. Lá, o mensageiro informou-me, a obra começara, e algumas poucas almas haviam-se
convertido, mas sentiam que outros meios precisavam ser usados, então rogavam-me tanto, que
de Auburn, voltei, passando por Rochester, e fui para Buffalo. Passei mais ou menos um mês,
acredito, em Buffalo, tempo durante o qual um grande número de pessoas se converteu.
A obra em Buffalo, bem como em Auburn e Rochester, teve muito efeito sobre as classes mais
influentes. O Rev. Dr. Lord, na época um advogado, converteu-se nesse período, creio eu; assim
também o Sr. H, pai do Rev. Dr. H, de Buffalo. De muitas circunstâncias ligadas à sua conversão,
eu jamais me esqueci. Ele era um dos homens mais ricos e influentes em Buffalo, e um homem
de boa moral, caráter justo, alta posição social como cidadão, mas um ímpio pecador. Sua esposa
era uma mulher cristã, e há muito tempo orava por ele, esperando que se convertesse. Mas
quando eu comecei a pregar lá, e insisti que o “não poder” do pecador é de fato seu “não querer”,
que a dificuldade a ser superada era a impiedade voluntária dos pecadores, e que não estavam
dispostos a tornarem-se cristãos, o Sr. H rebelou-se de forma muito decidida contra tais
ensinamentos. Ele insistia que esse não era seu caso, pois tinha consciência de que desejava ser
um cristão, e que desejava há muito tempo.
Como sua esposa informou-me da posição que ele assumira, não o poupei, mas dia a dia caçava-o
em seus refúgios, e respondia a todas as suas objeções, indo de encontro a todas as suas
desculpas. Ele ficava cada vez mais agitado. Ele era um homem de temperamento forte, e
declarou que não acreditava nem acreditaria em tal ensinamento. Falou tantas coisas em oposição
a isso a ponto de atrair para perto de si alguns homens com quem não tinha simpatia alguma,
exceto por sua oposição à obra. Mas eu não hesitava em pressioná-lo em todos os sermões, de
uma forma ou de outra, por sua falta de vontade de tornar-se um cristão.
Depois de sua conversão, ele me contou que ficou chocado e envergonhado quando descobriu
que alguns escarnecedores refugiaram-se sob ele. Certa noite, contou-me, sentou-se do outro lado
do corredor, diretamente em oposto a um notório escarnecedor. Ele disse que várias vezes
enquanto eu pregava, esse homem, com quem ele não tinha simpatia alguma em outros assuntos,
olhava para ele e sorria, dando grandes indícios de seu companherismo ao Sr. H em sua oposição
ao avivamento. Ele disse que ao descobrir isso, seu coração levantou-se com indignação, e disse a
si mesmo “Não terei nenhuma afinidade com essa classe de homens; não terei nenhum
envolvimento com eles.”
Contudo, naquela mesma noite, ao encerrar meu sermão, pressionei tanto a consciência dos
pecadores, e fiz tão forte apelo para que desistissem de sua oposição voluntária e viessem para
Cristo, que ele não pôde se conter. Logo que a reunião acabou, totalmente contrário a seu
costume, ele começou a resistir, e a falar contra o que fora dito, antes que saísse da casa. Os
corredores estavam cheios e as pessoas amontoavam-se ao redor dele. De fato ele disse alguma
expressão profana, como sua esposa depois de me contou, que muito a perturbou, e ela sentia que
por sua oposição era muito provável que ele afastasse o Espírito de Deus e perdesse sua alma.
Naquela noite ele não conseguiu dormir. Sua mente estava tão agitada que ele se levantou logo na
aurora, deixou sua casa e foi consideravelmente longe, para onde na época havia um bosque,
perto de um lugar onde ele tinha algumas máquinas de água que ele chamava de hidráulica. Lá no
bosque, ajoelhou-se para orar. Ele disse que sentiu, durante a noite, que precisava ficar sozinho,
para que pudesse falar em voz alta e de coração, pois estava mais pressionado do que se podia
suportar com a convicção de seus pecados, e com a necessidade de fazer imediatamente as pazes
com Deus. Mas para sua surpresa e mortificação, quando ele se ajoelhou e tentou orar, descobriu
que seu coração não conseguia. Ele não tinha palavras, não tinha desejos que pudesse expressar
com palavras. Ele disse que parecia-lhe que seu coração era como uma pedra, e que não tinha
nenhum sentimento sobre o assunto. Ele ficou de pé, decepcionado e confuso, e descobriu que se
abrisse sua boca para orar, não tinha nada que pudesse sinceramente expressar na forma de
oração.
Nesse instante, ocorreu-lhe que poderia fazer a oração do Senhor. Então começou “Pai nosso que
estás nos céus.” Logo que proferiu as palavras, ficou convencido de sua hipocrisia ao chamar
Deus de seu Pai. Quando falou também a petição “Santificado seja o teu nome”, disse que ficou
quase chocado. Viu que não era sincero, que suas palavas não expressavam em nada seu estado
de espírito. Ele não se importava em santificar o nome de Deus. Então continuou “Venha o teu
reino”. Nisso, ele disse, quase engasgou. Ele viu que não queria que o reino de Deus viesse, que
era muito hipócrita de sua parte dizer isso, e que não podia dizê-lo como expressão sincera do
desejo de seu coração. E então veio a parte “Seja feita a tua vontade, assim na Terra como nos
céus.” Ele disse que seu coração levantou-se contra isso, e não conseguia dizer. Ali estava ele,
cara a cara com a vontade de Deus. Ele escutara, dia após dia, que opunha-se a essa vontade, que
não estava disposto a aceitá-la, que sua oposição voluntária a Deus, a Sua lei e a Sua vontade, era
o único obstáculo no caminho de sua conversão. Ele havia lutado e resistido a essa consideração
com desespero. Mas ali, de joelhos, com a oração do Senhor em seus lábios, foi colocado cara a
cara com essa questão, e viu com perfeita clareza que o que fora-lhe dito, era verdade: ele não
queria que a vontade de Deus fosse feita, e que não se convertia porque não queria.
Toda a sua rebelião, em sua própria natureza e extensão, foi apresentada tão fortemente a seus
olhos, que ele viu que seria uma tremenda peleja desistir de sua oposição voluntária a Deus.
Então, ele disse, que reuniu toda sua força de vontade e gritou “Seja feita a tua vontade, assim na
terra como nos ceus!” Ele disse que tinha plena consciência de que sua vontade foi com suas
palavras, que ele aceitou a vontade de Deus, e toda a vontade de Deus; que rendeu-se
completamente a Deus, e aceitou a Cristo, como ele é apresentado no evangélho. Ele desistiu de
seus pecados, e abraçou a vontade de Deus como sua regra de vida. A linguagem de seu coração
era “Senhor, faça comigo o que pacere bom a ti. Que tua vontade seja feita comigo, e com todas
as criaturas da terra, como é feita nos céus.” Ele disse que orou livremente, logo que sua vontade
se rendeu, e seu coração se derramou como um dilúvio. Toda sua rebeldia foi embora, seus
sentimentos submeteram-se a uma grande calma, e uma doce paz parecia encher toda sua alma.
Levantou-se e foi para casa, e contou para sua ansiosa esposa, que estivera orando tão
honestamente por ele, o que o Senhor fizera por sua alma, confessou que estivera totalmente
errado em sua oposição, e por inteiro enganado no que dizia respeito a sua vontade de tornar-se
um cristão. Desde então, tornou-se um sincero obreiro na promoção da obra de Deus. Sua vida
dalí por diante atestou a realidade da mudança, e ele viveu e morreu como um cristão muito
usado por Deus. De Buffalo eu fui, em junho, acredito, para a casa de meu sogro, em
Whitestown. Passei uma parte do verão viajando por recreação e pela restauração de minha saúde
e força.
No começo do outono de 1831, aceitei um convite para realizar o que era então chamado de uma
reunião prolongada, ou uma série de reuniões, em Providence. Trabalhei mais na igreja cujo
pastor era o Rev. Dr. Wilson, na época. Creio que permaneci ali por quase três semanas,
realizando reuniões todas as noites, e pregando três vezes aos domingos. O Senhor derramou Seu
Espírito imediatemente sobre o povo, e a obra da graça começou e prosseguiu de maneira muito
interessante. No entanto, minha estadia foi muito curta para assegurar uma obra muito abrangente
naquele lugar, que na verdade ocorreu depois, em 1842, quando passei uns dois meses ali, e cujos
detalhes relatarei em momento apropriado.
Muitas conversões interessantes ocorreram naquela época, e muitos dos homens que têm tido
uma liderança na influência cristã naquela cidade, desde aquela época até hoje, converteram-se.
Isso também aconteceu com as mulheres, muitos cassos interessantes de conversões ocorreram
entre elas. Lembro-me com grande distinção da conversão de uma jovem, que resumidamente
relatarei. Eu havia percebido na congregação, no domingo, uma jovem de muita beleza, sentada
em um banco com um jovem que depois vim a saber que era seu irmão. Ela tinha uma aparência
muito intelectual e honesta, e parecia ouvir cada palavra que eu dizia, com absoluta atenção e
seriedade.
Eu era hóspede do Sr. Josiah Chapin, e ao voltar da igreja para sua casa, acompanhado dele,
observei esses jovens irmãos vindo pela mesma rua. Apontei-os para o Sr. Chapin, e perguntei
quem eram. Ele me disse que eram o Sr. e Srta. A, irmãos, e comentou que ela era considerada a
moça mais bonita de Providence. Perguntei-lhe se ela era professora de religião, e ele disse que
não. Disse-lhe que achei-a muito séria e impressionada, e perguntei-lhe se ele não acharia por
bem que eu fosse visitá-la. Desencorajando-me, ele disse que achava que seria uma perda de
tempo, que talvez que não fosse cordialmente recebido. Ele pensava que ela era uma menina tão
mimada e elogiada, e que tudo que a rodeava tinha um tom tal, que provavelmente não tinha
nenhum pensamento sério a respeito da salvação de sua alma. Mas ele estava errado, e eu estava
certo ao supor que o Espírito do Senhor pelejava com ela.
Não fui visitá-la, mas alguns dias depois disso, ela veio me ver. Reconheci-a de imediato, e
perguntei-lhe sobre o estado de sua alma. Ela estava plenamente consciente, mas suas reais
convicções de pecado não estavam tão amadurecidas quanto eu gostaria que estivessem, quanto
eu achava que era necessário, antes que ela pudesse ser realmente trazida por sua razão e intelecto
a aceitar a justiça de Cristo. Então passei uma ou duas horas, pois sua visita foi
consideravelmente longa, tentando mostrar-lhe a depravação de seu coração. A princípio ela se
esquivava de minhas perguntas tão minuciosas. Mas suas convicções pareciam amadurecer
conforme eu conversava com ela, e ela tornava-se cada vez mais profundamente séria.
Quando eu lhe disse o que achava necessário para assegurar uma conversão madura e plena, sob a
influência do Espírito de Deus, ela se levantou com um claro sentimento de insatisfação, e foi
embora. Eu tinha confiança de que o Espírito de Deus tinha tomado seu caso inteiramente em
Suas mãos, que o que eu havia-lhe dito não seria esquecido, mas ao contrário, geraria a convicção
que eu havia planejado.
Dois ou três dias depois ela veio novamente visitar-me. Pude ver logo que ela tinha uma grande
reverência em seu espírito. Logo que ela entrou, sentou-se, e abriu seu coração para mim. Com
muita franqueza, disse-me “Sr. Finney, eu pensei, quando estive aqui antes, que suas perguntas e
a forma com que me tratou foram muito severas. Mas, agora vejo que sou tudo aquilo que o
senhor achou que eu fosse. De fato,” disse ela, “se não fosse por meu orgulho e consideração por
minha reputação, eu seria tão ímpia quanto qualquer garota que possa haver em Providence.
Posso ver claramente que minha vida tem sido regida por meu orgulho, e por uma preocupação
com minha reputação, e não por qualquer consideração a Deus, Sua lei ou Seu Evagélho. Posso
ver que Deus tem usado meu orgulho e ambição para manter-me afastada de desgraçadas
iniqüidades. Fui elogiada e mimada, apoiei-me em minha própria dignidade, e tenho mantido
minha reputação por motivos puramente egoístas.” Ela continou espontaneamente, confessou, e
mostrou que suas convicções eram plenas e permanentes. Ela não parecia agitada, mas calma,
muito racional, em tudo que disse. Era evidente, no entanto, que ela tinha uma natureza
fervorosa, um temperamento forte, e um intelecto excepcionalmente equilibrado e culto.
Depois de conversar com ela por algum tempo, e dar-lhe as instruções que pude, curvamo-nos
diante do Senhor em oração, e ela, ao que tudo indica, entregou-se sem reservas a Cristo. Sua
mente era tal a esse ponto, que parecia-lhe ser fácil renunciar ao mundo. Ele sempre foi uma
cristã muito interessante. Não muitos anos depois de sua conversão, casou-se com um rico
cavalheiro da cidade de Nova Iorque. Por muitos anos não me correspondi diretamente com ela.
Seu marido a levou para círculos da sociedade com os quais eu não era familiar, e até depois da
morte dele, não tive mais contato com ela. Desde então tenho muita correspondência cristã com
ela, e jamais deixei de estar muito interessado em sua vida religiosa. Menciono este caso porque
sempre o considerei como um maravilhoso triunfo da graça de deus sobre as fascinações do
mundo. A graça de Deus é forte demais para o mundo, até mesmo em um caso como este, no qual
todos os encantos mundanos a rodeavam.
Enquanto eu estava em Providence, a questão de minha ida para Boston foi agitada pelos pastores
e diáconos das várias igrejas Congregacionais daquela cidade. Eu mesmo não tinha consciência
do que eles estavam fazendo lá, mas o Dr. Wisner, então pastor da igreja do Velho Sul, veio até
Providence e participou de nossas reuniões. Mais tarde eu soube que ele fora enviado pelos
pastores para espionar, voltar e dar um relatório. Tive muitas conversas com ele, e ele manifestou
um interesse quase que entusiasmado no que ouviu e viu em Providence. Na mesma época em
que ele estava lá, algumas conversões muito repentinas aconteceram.
A obra em Providence era de um carater peculiarmente detalhoso, no que dizia respeito aos
professores de religião. Velhas esperanças foram terrivelmente abaladas, e houve um grande
tremor em meio aos ossos secos das diferentes igrejas. Um diácono de uma das igrejas ficou tão
terrivelmente atingido em certa ocasião, que disse-me enquanto eu descia do púlpito “Sr. Finney,
não creio que haja nem dez cristãos verdadeiros em Providence. Estamos todos errados, temos
estado enganados.” O Dr. Wisner, acredito, estava plenamente convencido de que a obra era
genuina, e na época, extensa; que não havia indício algum de influências ou resultados que
pudessem ser deplorados.
Depois que o Dr. Wisner retornou a Boston, eu logo recebi um pedido das igrejas e pastores
Congregacionais para ir trabalhar naquela cidade. O Dr. Lyman Beecher era na época o pastor da
igreja da rua Bowdoin. Seu filho, Edward Beecher, era pastou ou suplente na rua Park; um Sr.
Green era o pastor da igreja da rua Essex, mas tinha ido para a Europa para cuidar de sua saúde, e
aquela igreja estava sem nenhum suplente por hora. Dr. Fay era o pastor da igreja Congregacional
em Charlestown, e o Dr. Jenks, da igreja na rua Green. Não me recordo quem eram os pastores
das outras igrejas naquela época.
Comecei minhas obras pregando em diferentes igrejas aos domingos, e durante a semana à noite,
pregava na rua Park. Logo vi que a Palavra de Deus estava tendo efeito, e que o interesse crescia
a cada dia. Mas percebi também a necessidade de uma grande penetração entre os que se
professavam cristãos. Não ouvi dizer que houvesse entre eles nada parecido com o espírito de
oração que prevalecera nos avivamentos no Oeste e na cidade de Nova Iorque. Parecia haver um
tipo peculiar de religião ali, que não exibia aquela liberdade e força de fé que eu estava
acostumado a ver em Nova Iorque.
Eu portanto comecei a pregar alguns sermões para cristãos. De fato, no domingo eu havia dito
que pregaria uma série de sermões destinados aos cristãos, na rua Park, em certas noites da
semana. Mas logo descobri que os cristãos de Boston não interessavam minimamente nesses
sermões. Era algo que eles não tinham o costume de fazer, e a audiência na rua Park tornou-se
cada vez menor, especialmente naquelas noites nas quais eu pregava diretamente para cristãos.
Isso era novo para mim. Eu nunca tinha visto pessoas que já se professavam cristãs recuarem,
como fizeram dessa vez em Boston, de sermões penetrantes. Mas eu escutava várias vezes
comentários como “O que dirão os Unitários, se tais coisas forem verdade sobre nós, ortodoxos?
Se o Sr. Finney prega a nós dessa maneira, os Unitários triunfarão sobre nós, e dirão no mínimo,
que os ortodoxos não são mais cristãos que os Unitarios.” Era evidente que eles não gostavam
muito de minha maneira direta de lidar, e que meus sermões tão diretos surpreenderam, e até
mesmo ofenderam, muitos deles. Contudo, conforme a obra prosseguia, essa situação mudava
muito, e poucas semanas depois eles ouviam essas pregações e apreciavam-nas.
Vi que em Boston, como já percebera em todos os outros lugares, que havia um método para lidar
com os pecadores que tinham dúvidas, que era muito útil para mim. Eu costumava algumas
vezes, realizar reuniões para perguntas e respostas com o Dr. Beecher, no subsolo de sua igreja.
Certa noite quando ouve um grande público presente, e um grande sentimento de penetrante
solenidade entre os questionadores, no encerramento, como costumava, dirigi-me com palavras a
todos, tentando mostrar-lhes exatamente o que o Senhor queria deles. Meu objetivo era levá-los a
renunciar totalmente a si mesmos, e entregarem-se a si, e a tudo que possuiam, para Cristo.
Tentei mostrar-lhes que não pertenciam a si mesmos, mas que foram compratos por um preço; e
indiquei-lhes o sentido no qual esperava-se que abandonassem tudo que tinham, entregando tudo
para Cristo, pois pertencia a Ele.
Deixei isso tão claro quanto pude, e vi que o impacto sobre aqueles que vieram para fazer
perguntar parecia ser muito profundo. Eu estava prestes a convidá-los para se ajoelharem,
enquanto apresentávamo-lhes em oração a Deus, quando o Dr. Beecher se levantou e disse
“Vocês não precisam ter medo de entregar tudo para Cristo, seus bens e tudo mais, pois Ele
devolverá tudo a vocês.” Sem dar nenhuma justificativa ou explicação, quanto ao sentido no qual
deveriam entregar seus bens, e o sentido no qual o Senhor permitiria que eles os mantivessem, ele
simplesmente os exortou a não terem medo de entregar tudo, como haviam sido urgidos a fazer,
pois o Senhor devolver-lhes-ia tudo. Vi que ele estava causando uma falsa impressão, e fiquei
muito agoniado. Vi que suas palavras tinham o objetivo de causar uma impressão, o oposto direto
da verdade.
Depois que ele terminou seus comentários, levei-os a ver, da maneira mais sábia e cuidadosa que
pude, que no sentido no qual Deus esperava que eles entregassem seus bens, ele jamais os daria
de volta, e eles não deviam ter em mente tal pensamento. Tentei dizer o que disse de uma tal
maneira, para que não parecesse que estava contradizendo o Dr. Beecher, porém corrigindo
completamente a impressão que vi que ele fizera. Disse-lhes que o Senhor não esperava que
abandonassem todas as suas propriedades, que saíssem de seus negócios, empregos, casas ou
bens, e que jamais possuissem mais nada, mas Ele queria que eles renunciassem a propriedade de
tudo isso, que entendessem e percebessem que aquelas coisas não eram deles, mas do Senhor,
que Sua posse era absoluta, Sua propriedade deles e de tudo mais, tão plenamente sobre o direito
de qualquer outro ser no universo, que o que Ele esperava deles era que usassem a si mesmos e a
todas as outras coisas como sendo dEle, e que jamais pensassem que tinham o direito de usar de
seu tempo, sua força, sua substância, sua influência, ou qualquer outra coisa que possuíam, como
se fosse somente deles, e não do Senhor.
O Dr. Beecher não fez objeção alguma ao que eu disse, nem na época, nem depois, até onde sei, e
não é provável que ele tenha tido qualquer intensão inconsistente com isso, no que disse. Porém,
suas palavras acabaram causando a impressão de que Deus restituiria seus bens, como se que
tivessem abandonado tudo, e dado a Ele.
Acredito que nessa época, os membros das igrejas ortodoxas em Boston recebiam minhas visões
doutrinárias, num geral, sem questionamentos. Sei que o Dr. Beecher recebia assim, pois ele me
disse que jamais vira um homem cujas visões teológicas eram tão de acordo com as suas, como
as minhas. Havia um aspecto de minha ortodoxia, entretanto, ao qual muitos resistiam. Havia um
Sr. Rand, que publicava um periódico em Boston na época, creio eu, e que escreveu um sincero
artigo contra minhas visões sobre o assunto da ação divina na regeneração. Eu pregava que a ação
divina era a do ensinamento e persuasão, que a influência era moral, e não física. O Presidente
Edwards defendia o contrário, e o Sr. Rand concordava com o ele, que a ação divina exercida na
regeneração era física, que ela produzia uma mudança de natureza, ao invés de uma mudança na
atitude voluntária e preferência da alma. O Sr. Rand considerava minhas idéias sobre este assunto
como muito erradas.
Haviam alguns outros pontos doutrinários com os quais ele lidava de maneira crítica; como por
exemplo, minhas idéias sobre a natureza voluntária da depravação moral, e a atividade do
pecador na regeneração.
O Dr. Wisner escreveu uma resposta, e justificou meus pontos de vista, com a exceção daqueles
que eu defendia sobre a influência moral e persuasiva do Espírito Santo. Naquele momento ele
não estava preparado para levantar-se contra o Presidente Edwards, e a visão ortodoxa geral da
Nova Inglaterra, ao dizer que a ação do Espírito não era física, mas somente moral. O Dr. Woods,
de Andover, também publicou um artigo em um dos periódicos, creio que no que era publicado
ali, sob esse título: “Espírito Santo o autor da regeneração.” Esse era, eu acho, o título; seja como
for, seu objetivo era provar que a regeneração era obra de Deus. Ele citava, é claro, aquelas partes
das escrituras que declaravam a ação divina, na obra da transformação dos corações.
A isso eu não dei resposta por escrito, mas em minhas pregações disse que era apenas uma meia-
verdade; que a bíblia também declara de forma tão clara quanto, que a regeneração é obra dos
homens, e citei as passagens que afirmam isso. Paulo disse a uma das igrejas, que ele os havia
gerado, isto é, os havia regenerado; pois a mesma palavra é usada em outras passagens, onde a
regeneração é atribuida a Deus. É fácil mostrar, portanto, que Deus age na regeneração, e que Sua
ação e a de ensinar ou persuadir. Também é fácil mostrar que o indivíduo tem uma ação, que os
atos de arrependimento, fé e amor são ele mesmo; e que o Espírito o convence a prosseguir com
essas ações, apresentando-lhe a verdade. Se a verdade é o instrumento, o Espírito Santo deve ser
um dos agentes, e um pregador, ou algum agente humano, inteligente, geralmente também
coopera com a obra. Não havia nada de não cristão, que eu me recorde, em nenhuma das
discussões que tivemos, na época; nada que afastasse o Espírito ou que gerasse qualquer
ressentimento entre os irmãos.
Depois de passar algumas semanas pregando em diferentes congregações, aceitei cuidar da igreja
do Sr. Green na rua Essex, por algum tempo. Portanto concentrei minhas obras naquela região.
Tivemos uma abençoada obra de graça, e um grande número de pessoas converteu-se em
diferentes partes da cidade.
Eu estava fatigado, e já trabalhava a quase dez anos como evangelista, sem nada além de poucos
dias ou semanas de descanso, durante todo esse período. Os irmãos do ministério eram homens
verdadeiros, cuidavam da obra da melhor forma que sabiam, e trabalhavam fiel e eficientemente
para assegurar bons resultados.
A essa altura, uma segunda igreja livre formara-se na cidade de Nova Iorque. A igreja do Sr. Joel
Parker, a primeira igreja livre, crescera tanto que multiplicou-se, e formou uma segunda igreja,
para a qual o Rev. Sr. Barrows, professor nos últimos anos em Andover, estava pregando. Alguns
dos mais sinceros irmãos de Nova Iorque escreveram-me, propondo alugarem um teatro, e
reformá-lo para uma igreja, sob a condição de que eu fosse pregar ali. Eles propunham conseguir
o que era chamado de teatro da rua Chatham, no coração da população mais ímpia de Nova
Iorque. Os proprietários eram homens que estavam muito dispostos a transformá-lo em uma
igreja. Nessa época tinhamos três filhos, e eu não podia ficar levando minha família por aí,
enquanto trabalhava como um evangelista. Minhas forças, também, estavam bastante esgotadas, e
ao orar e analisar o assunto, conclui que deveria aceitar o convite da Segunda Igreja Livre, e
trabalhar, pelo menos por um tempo, em Nova Iorque.
A VERDADE DO EVANGÉLHO
AS MEMÓRIAS DE CHARLES G. FINNEY
CAPÍTULO XXIII.
AS OBRAS NA CIDADE DE NOVA IORQUE, DE 1832 EM DIANTE
O SR. LEWIS TAPPAN, junto com outros irmãos, alugou o teatro da rua Chatham, e adequou-o
para uma igreja, fazendo um lugar adequado também para acomodar as várias sociedades
caridosas, para realizarem suas comemorações. Chamaram-me, e aceitei pastorear a segunda
igreja Presbiteriana Livre. Saí de Boston em abril de 1832, e comecei minhas obras naquele teatro
nessa época. O Espírito do Senhor foi imediatamente derramado sobre nós, e tivemos um extenso
avivamento naquela primavera e verão.
Mais ou menos no meio do verão, a cólera apareceu em Nova Iorque pela primeira vez. O pânico
era grande, e muitos cristãos da cidade fugiram para o campo. A cólera foi muito severa naquela
cidade naquele verão, mais do que jamais foi desde então; e foi particularmente fatal na parte da
cidade onde eu morava. Lembro-me de ter contado, da porta de nossa casa, cinco carros fúnebres
passando ao mesmo tempo, vindo de diferentes casas até onde alcançavam nossos olhos.
Permaneci em Nova Iorque até o final do verão, não querendo deixar a cidade enquanto a
mortalidade estava tão alta. Mas descobri que a influência estava minando minha saúde, então na
última parte do verão fui para o campo, por duas ou três semanas. Quando voltei, fui estabelecido
como pastor da igreja. Durante os cultos de inauguração, fiquei doente, e logo que cheguei em
casa, ficou claro que eu estava com cólera. O senhor que morava na casa ao lado contagiou-se em
paralelo comigo, e antes que chegasse a manhã do outro dia, estava morto. Os meios usados para
minha recuperação causaram um terrível choque em meu sistema, do qual demorei a me
recuperar. Contudo, perto da primavera eu já era capaz de pregar novamente. Convidei dois
irmãos de ministério para ajudarem-me a realizar uma série de reuniões. Pregávamos em turnos
por duas ou três semanas, mas pouco foi alcançado. Vi que aquela não era a maneira de se
promover um avivamento ali, e encerrei as reuniões naquele formato.
No domingo seguinte, marquei de pregar todas as noites dutante a semana, e um avivamento
começou imediatamente, tornando-se muito poderoso. Continuei a pregar por vinte noites
consecutivas, além de pregar aos domingos. Minha saúde ainda não estava vigorosa, e depois de
pregar vinte vezes, suspendi aquele forma de trabalho. Soubemos que quinhentas pessoas se
converteram, e nossa igreja tornara-se tão grande, que em breve multiplicou-se para formar outra
igreja; e um prédio apropriado para esse fim foi erquido na esquina das ruas Catharine e Madison.
A obra continuou a prosseguir de forma muito interessante. Realizávamos reuniões para dúvidas
uma ou duas vezes por semana, e as vezes até mais, e descobrimos que toda semana, um bom
número de conversões era relatado. A igreja tinha um povo de trabalho e oração. Eram
absolutamente unidos, e foram bem treinados no que diz respeito à obrar para a conversão de
pecadores. Eram uma igreja muito eficiente e devota a Cristo. Eles saíam às estradas e fronteiras,
e traziam as pessoas para ouvirem as pregações, sempre que eram convocados a fazerem isso.
Tanto homens quanto mulheres submetiam-se a essa obra. Quando desejávamos avisar sobre
qualquer reunião extra, pequenos pedaços de papel, nos quais estavam impressos convites para
participação nos cultos seriam levados de casa em casa, por todas as direções, pelos membros da
igreja; especialmente naquela parte da cidade onde a capela da rua Chatham, como a
chamávamos, localizava-se. Pela distribuição desses papéis, e por convites orais, a casa podia ser
cheia, em qualquer noite da semana. Nossas senhoras não tinham medo de reunir todas as classes,
do bairro e arredores. Era algo novo, realizar cultos religiosos naquele teatro, ao invés dos atos
que antes eram encenadas ali.
Haviam três salões, ligadas com a parte frontal do teatro, salões grandes e cumpridos, que foram
adequados para reuniões de oração, e para uma sala de palestras. Mas esses salões haviam sido
usados para fins muito diferentes, enquanto o edifício funcionava como um teatro. Mas, quando
foram adequados para nosso objetivo, eram extremamente convenientes. Haviam três andares de
calerias, e esses salões estavam ligados com as galerias, respectivamente, um sobre o outro.
Instruí os membros de minha igreja a sentare-se espalhados por toda a casa, e para manterem seus
olhos abertos, em consideração a qualquer um que estivesse profundamente afetado pelo sermão,
e se possível, detê-los de virem conversar comigo depois da pregação para pedir oração. Eles
eram fieis a seus ensinamentos, e estavam vigiando em todas as reuniões para ver com quem
Deus estava trabalhando; e tinham fé o suficiente para descartar seus medos, e para falar com
aqueles que viam estar tocados pela Palavra. Dessa forma a conversão de muitas almas foi
assegurada. Eles os convidavam para irem até aqueles salões, e ali podíamos conversar e orar
com eles, reunindo assim, os resultados de cada sermão.
Um caso do qual me lembro nesse momento, ilustrará a maneira na qual os membros
trabalhavam. A firma Naylor & Cia, que era uma grande fabricante de cutelos em Sheffield, na
Inglaterra, tinham uma filial em Nova Iorque, e um sócio de nome H. O Sr. H era um homem
falante, já tinha viajado muito, e resistira o avivamento em várias das principais cidades da
Europa. Um dos atendentes daquele estabelecimento viera a nossas reuniões e convertera-se,
ficando muito ansioso pela conversão do Sr. H. O jovem, por algum tempo, teve receio de
convidá-lo para participar de nossas reuniões, mas finalmente ousou fazê-lo, e para atender a seu
tão sincero convite, o Sr. H veio numa noite para o culto.
Aconteceu que, ele se sentou perto do grande corredor, na mesma direção onde estava o Sr.
Tappan, do outro lado. O Sr. Tappan viu que durante o sermão ele manifestava-se bastante
emocionado, e parecia desconfortável às vezes, como se estivesse a ponto de sair. O Sr. H depois
me contou que muitas vezes esteve a ponto de sair, pois estava muito afetado pelo sermão. Mas
permaneceu até que a benção foi proferida. O Sr. Tappan ficou de olho nele, e logo que a benção
foi dada, apresentou-se como Sr. Tappan, um sócio da Arthur Tappan & Cia, uma firma muito
conhecida a todos em Nova Iorque.
Escutei o próprio Sr. H relatar esses fatos com grande emoção. Ele disse que o Sr. Tappan foi até
ele, e pegando-o gentilmente pela lapela de seu casaco, falou docemente com ele, perguntando-
lhe se não poderia permanecer para uma conversa e oração. Ele tentou dar uma desculpa para ir
embora, mas o Sr. Tappan foi tão cavalheiro e tão gentil, que ele não pôde nem mesmo esquivar-
se dele. Ele foi importuno, e como o próprio Sr. H disse “Ele segurou firme minha lapela, de
forma que um pequeno puxão em meu casaco foi o meio de salvação para minha alma.” As
pessoas saíram, e o Sr. H, entre outros, foi convencido a ficar. De acordo com nosso costume,
tivemos uma minuciosa conversa, e o Sr. H converteu-se ali mesmo, ou pouquíssimo tempo
depois.
Quando eu cheguei na capela da rua Chatham, informei a todos que não desejava encher a casa
com cristãos de outras igrejas, que meu objetivo era trazer pessoas do mundo. Eu queria
assegurar a salvação dos que não tinham Deus, ao máximo que pudesse. Entregamo-nos portanto,
a trabalhar por esse grupo de pessoas, e pela benção de Deus, com sucesso. As conversões eram
tantas, que nossa igreja em pouco tempo crescia e multiplicava-se, e quando eu saí de Nova
Iorque, creio que já eram sete as igrejas livres, cujos membros trabalhavam com todas suas forças
para assegurar a salvação das almas. Elas eram sustentadas mais pelas ofertas, tiradas de domingo
em domingo. Sempre que havia alguma falta na tesouraria, havia um número de irmãos de muitas
posses, que cobriam os gastos de seu próprio bolso, de forma que jamais tivemos a menor
dificuldade em cumprir as necessidades financeiras.
Nunca conheci um povo mais harmonioso, eficiente, de oração, do que os membros daquelas
igrejas livres. Eles não estavam entre os ricos, apesar de haver muitos homens de posses entre
seus membros. Em geral, vinham das classes média e baixa. Esse era o nosso objetivo, pregar o
Evangélho especialmente par aos pobres.
Quando eu cheguei em Nova Iorque, tinha opinião formada sobre a escravidão, e estava muito
ansioso para chamar a atenção pública ao assunto. No entanto, não fiz disso um hobby, nem
desviei a atenção das pessoas da obra de converter almas. Ainda assim, em minhas orações e
pregações, eu fazia tanta alusão à escravidão, e tanto a denunciava, que uma agitação
considerável começou a ser gerada no meio do povo.
Enquanto eu trabalhava na capela da rua Chatham, alguns eventos ligados ao presbitério
aconteceram, e levaram à formação de uma igreja Congregacional, da qual tornei-me pastor. Um
membro de uma das velhas igrejas veio até nós, e logo fomos informados que, antes que ele
viesse, cometera uma ofensa pela qual deveria ser disciplinado. Eu supus que, já que ele nos
havia sido recomendado como um membro de outra igreja em boa posição, e já que a ofesa fora
feita antes que ele deixasse aquela igreja, cabia a eles discipliná-lo. O caso foi trazido diante do
Terceiro Presbitério de Nova Iorque, ao qual eu pertencia na época, e eles decidiram que ele
estava sob nossa jurisdição, e que cabia a nós tomar o caso nas mãos e discipliná-lo. Assim o
fizemos.
Mas logo outro caso ocorreu, no qual uma mulher veio de uma das igrejas, uniu-se a nós, e
descobrimos que ela fora culpada de uma ofensa, antes que viesse, uma ofensa que precisava de
disciplina. De acordo com o estabelecido pelo presbitério no outro caso, prosseguimos e ela foi
excomungada. Ela apelou contra esse decisão ao presbitério, e eles decidiram que a ofensa não
fora cometida sob nossa jurisdição, estabelecendo uma sentença diretamente oposta à anterior. Eu
expostulei, e disse-lhes que não sabiam como agir; que os dois casos eram precisamente
parecidos, e que suas decisões em ambos eram completamente inconsistentes e opostas. O Dr.
Cox respondeu que não seriam governados por seus próprios precedentes, ou por qualquer outro
precedente. E ele falava tão fervorosamente, e pressionou tanto o caso que o presbitério o seguiu.
Pouco tempo depois disse surgiu a questão da construção do Tabernáculo na Broadway. O
homem que o construíra, e os principais membros que formavam a igreja ali, construíram-no com
o entendimento que eu deveria ser seu pastor, e formaram ali uma igreja Congregacional. Então
peguei minha dispensa do presbitério, e tornei-me pastor daquela igreja.
Mas eu deveria ter dito que em janeiro de 1834, fui obrigado a sair por conta de minha saúde, e
fazer uma viagem marítima. Portanto, fui até o Mediterrâneo, num pequeno navio de guerra, no
meio do inverno. Tivemos uma turbulenta viagem. Minha cabine era muito pequena, eu estava
completamente, muito desconfortável, e a viagem não melhorou muito minha saúde. Passei
algumas semanas em Malta, e também na Sicília. Fiquei longe por mais ou menos seis meses. Ao
retornar, descobri que havia uma grande agitação em Nova Iorque. Os membros de minha igreja,
junto com os abolicionistas da cidade, haviam realizado uma reunião no quatro de julho, e
discutiram sobre o assunto da escravidão. Uma turba foi instigada, e esse foi o início de uma série
de turbas que espalhou-se por todas as direções, em qualquer lugar ou momento em que houvesse
uma reunião abolicionista, ou em que uma voz se levantasse contra a abominável instituição da
escravidão.
Contudo, prossegui com minhas obras na rua Chatham. A obra de Deus foi imediatamente
avivada e prosseguiu com grande interesse, várias pessoas convertendo-se em todas as reuniões.
Continuei a trabalhar assim na rua Chatham, e a igreja continuou a florescer, e a extender sua
influência e suas obras por todas as direções, até que o Tarbernáculo na Broadway estivesse
completo.
O plano do interior da casa era de minha autoria. Eu havia observado os defeitos das igrejas a
respeito do som; e tinha certeza de que podia dar o plano de uma igreja, na qual pudesse falar
facilmente a uma congregação muito maior do que qualquer outra casa que eu jamais tivesse
visto, comportava. Um arquiteto foi consultado, e dei-lhe meu plano. Ele fez objeções, disse que
não ficaria bom aos olhos, e temeu que prejudicasse sua reputação, construir uma igreja com um
interior como aquele. Eu lhe disse que se ele não fosse contruir de acordo com aquele plano, ele
não era o homem certo para supervisionar a construção. Finalmente o prédio foi erguido de
acordo com minhas idéias, e era o lugar mais cômodo e confortável para se falar.
Em conexão a isto, devo relatar a origem do Evangelista de Nova Iorque. Quando fui pela
primeira vez para a cidade de Nova Iorque, e antes que eu fosse para lá, o Observador de Nova
Iorque, nas mãos do Sr. Morse, tinha entrado em controvérsia, resultando na oposição do Sr.
Nettleton aos avivamentos na área central da cidade. O Observadr apoiada a conduta do Sr.
Nettleton, e recusava-se a publicar qualquer coisa da outra parte. O Sr. Morse publicava no
Observador os textos do Sr. Nettleton e de seus amigos, mas se qualquer réplica fosse feita, por
simpatizantes desses avivamentos, ele não publicava. Nessa situação, nossos amigos não tinham
um meio pelo qual pudessem se comunicar com o público e corrigir as impressões e apreensões
erradas.
O Juiz Jonas Platt, do supremo tribunal, morava em Nova Iorque na época, e era um amigo meu.
Seu filho e sua filha haviam-se convertido no avivamento em Utica. Um considerável esforço
fora feito, pelos simpatizantes desses avivamentos, para conseguir uma audiência sobre o assunto
em questão, mas tudo em vão. O Juiz Platt encontrou um dia, colado da parte de dentro de um de
seus livros de direito, uma carta escrita por um dos pastores de Nova Iorque, contra Whitefield,
que na época estava neste país. A carta desse pastor impactou o Juiz, por ser tão semelhante à
oposição feita pelo Sr. Nettleton, que ele a enviou para o Observador, desejando que fosse
publicada como uma curiosidade literária, tendo sido escrita quase cem anos antes. O Sr. Morse
recusou-se a publicá-la, dando como razão, que o povo a consideraria como oposição ao Sr.
Nettleton.
A essa altura, alguns amigos dos avivamentos em Nova Iorque, reuníram-se e discutiram o
assunto, de estabelecer um novo periódico que lidaria honestamente com esses assuntos. Eles
finalmente abriram a empresa. Auxiliei-os na publicação do primeiro número, no qual eu
convidava os pastores e leigos a considerarem e discutirem várias questões teológicas, e também
questões relacionadas aos melhores métodos para a promoção de avivamentos religiosos.
O primeiro editor do jornal foi um Sr. Saxton, um jovem que antes havia trabalhado bastante com
o Sr. Nettleton, mas que sempre foi fortemente contra a conduta que ele tomava, ao opor-se a o
que ele chamava de avivamentos ocidentais. Esse jovem continuou como editor por quase um
ano, e discutia, com uma habilidade considerável, muitas das questões que eram propostas para
discussão. O jornal trocou de editor duas ou três vezes, talvez, ao longo de muitos anos; por fim,
o Rev. Joshua Leavitt foi chamado, e aceitou o cargo de editor. Ele, como todos sabem, era um
excelente editor. O jornal logo teve uma extensa circulação, e provou ser um meio pelo qual os
simpatizantes dos avivamentos, como então existiam, podiam comunicar seus pensamentos para
o público.
Comentei sobre a construção do Tabernáculo, e da agitação em Nova Iorque sobre o assunto da
escravidão. Quando o Tabernáculo estava no processo de conclusão, com paredes e teto erguidos,
uma história foi colocada em circulação, que essa seria uma igreja de amalgamação, na qual
pessoas brancas e de cor seriam levadas a sentarem indiscriminadamente, por toda a casa. A
situação da opinião pública era tal em Nova Iorque, na época, que esse relato gerou grande
agitação, e alguém ateou fogo no prédio. Os bombeiros tinham tal estado de mente que
recusaram-se a apagar o fogo, deixando que o inteiror e o teto fossem consumidos. Contudo, os
senhores que haviam assumido a construção, continuaram e o completaram.
Conforme a empolgação aumentava sobre o assunto da escravidão, o Sr. Leavitt adotou a causa
dos escravos, e advogou por ela no Evangelista de Nova Iorque. Eu assistia a discussão com
bastante atenção e ansiedade, e quando estava prestes a ir embora, na viagem marítima a qual me
referi, admoestei o Sr. Leavitt a ser cuidados e não ir muito rápido, na discussão da questão anti-
escravatura, a fim de que não destruísse seu jornal. No caminho de volta para casa minha mente
ficou extremamente preocupada com a questão dos avivamentos. Temi que eles decaíssem pelo
país a fora. Temi que a oposição que fora feita a eles afastasse o Espírito Santo. Minha própria
saúde, ao que me parecia, estava totalmente acabada, e eu não sabia de nenhum outro evangelista
que pudesse assumir aquele campo e ajudar os pastores na obra do avivamento. Essa visão do
assunto angustiou-me tanto que um dia vi que era incapaz de descansar. Minha alma estava numa
agonia inexprimível. Passei quase o dia inteiro em oração em minha cabine, ou andando pelo
convés em intensa agonia, em vista da situação. Na verdade senti-me esmagado com o fardo que
estava em minha alma. Não havia ninguém a bordo com quem pudesse conversar e abrir meu
coração, ou sequer dizer uma palavra.
Era o espírito de oração que estava sobre mim; aquele que eu já experienciara antes, mas talvez
nunca com tanta intensidade, nem por tanto tempo. Supliquei ao Senhor que continuasse com Sua
obra, e que providenciasse para Si mesmo os instrumentos necessários. Era um longo dia de
verão, no começo de julho. Depois de um dia de inexplicável peleja e agonia em minha alma, ao
anoitecer, a questão abriu-se em minha mente. O Espírito levou-me a acreditar que tudo daria
certo, e que Deus ainda tinha uma obra para eu fazer, que eu podia ficar descansado, que o
Senhor continuaria com sua obra e dar-me-ia forças para assumir qualquer parte dela que Ele
desejasse. Mas eu não tinha a menor idéia de qual seria sua providência.
Ao chegar em Nova Iorque, como disse antes, descobri a intensa empolgação das turbas, sobre o
assunto da escravidão. Fiquei em Nova Iorque por não mais de um ou dois dias, então fui para o
campo, para o lugar onde minha família estava passando o verão. Em meu retorno para a cidade,
no outono, o Sr. Leavitt veio até mim e disse “Irmão Finney, eu arruinei o Evangelista. Não tenho
sido tão prudente quanto o senhor avisou-me para ser, fui tão além da inteligência e sentimento
do público sobre o assunto, que minha lista de assinaturas está rapidamente acabando, e não
conseguiremos continuar com as publicações depois de primeiro de janeiro, a menos que o senhor
possa fazer alguma coisa para trazer o jornal novamente para as graças do povo.” Disse-lhe que
minha saúde estava tão mal que não sabia o que poderia fazer, mas faria disso um alvo de oração.
Ele disse que se eu pudesse escrever uma série de artigos sobre os avivamentos, não tinha
dúvidas de que isso traria novamente a atenção do público. Depois de ponderar por um ou dois
dias, propus pregar uma série de sermões para meu povo, sobre avivamentos religiosos, os quais
ele poderia reportar em seu jornal. Ele aceitou na hora. Ele disse “É exatamente isso.” e no
número seguinte de seu jornal, anunciou a série de sermões. Isso teve o efeito que ele desejava, e
pouco tempo depois disse-me que a lista de assinaturas crescia rapidamente, e abrindo seus
longos braços, disse “Tenho tantos novos assinantes por dia que encheria meus braços com os
jornais para poder entregar um único exemplar a cada um deles.” Ele havia-me dito antes que sua
lista de assinaturas estava abaixo de sessenta por dia. Mas agora dizia que aumentava mais
rapidamente do que jamais diminuíra.
Comecei imediatamente a série de palestras, e continuei com elas por todo o inverno, pregando
uma por semana. O Sr. Leavitt não conseguia taquigrafar, mas sentava-se e tomava notas,
abreviando o que escrevia de forma que ele mesmo pudesse entender, e então no dia seguinte
sentava-se, completava suas anotações, e enviava para as prensas. Eu não via o que ele havia
relatado, até ver publicado no jornal. Eu mesmo também não escrevia os semões, é claro. Eram
totalmente espontâneos. Às vezes eu não me decidia sobre qual seria a palestra seguinte até ver
seu artigo sobre a última. Então eu poderia ver qual seria a questão a ser naturalmente discutida.
Os artigos do Sr. Leavitt eram pobres, no que diz respeito ao conteúdo dos sermões. Eles
duravam em média, se me lembro bem, não menos que uma hora e quarenta e cinco minutos.
Mas tudo o que ele conseguia absorver e relatar podia ser lido provavelmente em trinta minutos.
Essas palestras foram publicadas mais tarde em um livro chamado “As palestras de Finney sobre
avivamentos.” Doze mil cópias foram vendidas, tão rápido quanto podiam ser impressas. E aqui,
para a glória de Cristo, digo que foram re-impressas na Inglaterra e França, foram traduzidas para
o galês, e no continente, para o francês, e creio eu, para o alemão. Circularam extensivamente
pela Europa, e pelas colônias da Grâ-Bretanha. Eram encontradas, presumo, em qualquer lugar
onde se fala o idioma inglês. Depois de terem sido impressas em galês, os pastores
congregacionais do País de Gales, em uma de suas reuniões públicas, nomeou um comite para
informar-me sobre o grande avivamento que resultada da tradução daquelas palestras para o
idioma galês. Fizeram isso por carta. Um editor de Londres informou-me que seu pai havia
publicado oito mil volumes. Essas palestras sobre o avivamento, sendo um relato tão pobre e
frágil por si mesmos, têm sido instrumento, pelo que soube, na realização de avivamentos na
Inglaterra, Escócia e Gales, e em vários lugares no continente, no Leste e Oeste do Canadá, na
Nova Escócia, e em algumas ilhas do mar.
Na Inglaterra e Escócia, muitas vezes renovei-me ao encontrar numerosos pastores e leigos que
haviam-se convertido, direta ou indiretamente, pela instrumentação dessas palestras. Recordo que
da última vez em que estive fora do país, certa noite, três proeminentes ministros do Evangélho
apresentaram-se a mim, depois do sermão, e disseram que quando estavam na faculdade
conheceram minhas palestras sobre o avivamento, o que acabou levando-os a se tornarem
pastores. Encontrei pessoas na Inglaterra, em todas as diferentes denominações, que não apenas
tinham lido aquelas palestras, mas também foram grandemente abençoadas com a leitura.
Quando foram publicadas pela primeira vez no Evangelista de Nova Iorque, a leitura resultou em
avivamentos religiosos, em milhares de lugares neste país a fora.
Mas isso não vinha de sabedoria humana. Que o leitor se lembre daquele longo dia de agonia e
oração no mar, que Deus faria algo para levar adiante a obra dos avivamentos, e capacitar-me-ia,
como quisesse, a seguir o caminho adequado para ajudar o trabalho a prosseguir. Tive certeza ali
que minhas orações seriam respondidas; e considero tudo que tenho sido capaz de alcançar desde
então, de uma maneira muito importante, como uma resposta às orações daquele dia. O espírito
de oração veio sobre mim como uma graça soberana, depositando-se sobre mim sem mérito
algum, e apesar de todo meu pecado. Ele pressionou minha alma em oração até que fui incapaz
de prevalecer, e pelas riquezas infinitas da graça em Cristo Jesus, tenho testemunhado por muitos
anos os maravilhosos resultados daquele dia de luta com Deus. Em resposta à agonia daquele dia,
Ele continuou a dar-me o espírito de oração.
Pouco tempo depois retornei para Nova Iorque e comecei minhas obras no Tabernáculo. O
Espírito do Senhor foi derramado sobre nós, e tivemos um precioso avivamento, durante todo o
tempo em que fui pastor daquela igreja. Enquanto estava em Nova Iorque, tinha muitos pedidos
de jovens rapazes para que me tornasse seu tutor de teologia. Contudo, eu já tinha muitas coisas
em minhas mãos para assumir um trabalho como esses. Mas os irmãos que construíram o
Tabernáculo tinham isso em mente, e prepararam uma sala sob o coral, que esperavam utilizar
para as reuniões de oração, mas em especial para palestras teológicas. O número de solicitações
era tão grande que decidi oferecer um curso de palestras teológicas naquela sala todo ano, e os
estudantes escolhidos participavam gratuitamente.
Mas nessa época, antes que eu iniciasse minhas aulas em Nova Iorque, aconteceu o encerramento
do Seminário Lake, por conta da proibição dos membros da diretoria, da discussão sobre a
questão da escravatura entre os estudantes. Quando isso aconteceu, o Sr. Arthur Tappan fez uma
proposta a mim, para que eu fosse para algum lugar em Ohio, e tomar salas onde pudesse reunir
esses rapazes, para dar-lhes minhas visões sobre teologia, e preparar-lhes para o trabalho de
pregar no Oeste, ele cobriria todas as despesas do processo. Ele foi muito sincero em sua
proposta. Mas eu não via como poderia sair de Nova Iorque, e não via como poderia alcançar os
objetivos desejados pelo Sr. Tappan, apesar de simpatizar muito com eles ao desejar ajudar
aqueles jovens homens. Em sua maioria, haviam-se convertido naqueles grandes avivamentos,
dos quais participei em parte.
Enquanto esse assunto era ponderado, creio que em janeiro de 1835, o Rev. John Jay Shiphered,
de Oberlin, e o Rev. Asa Mahan, de Cincinnati, chegaram em Nova Iorque, para me persuadirem
a ir para Oberlin, como professor de teologia. O Sr. Mahan era um dos diretores do Seminário
Lane – creio que o único que resistira à proibição de discussão livre. O Sr. Shiphered fundara
uma colônia, o organizara uma escola em Oberlin, mais ou menos um ano antes desta ocasião, e
obtivera um caráter grande o suficiente para uma universidade. O Sr. Mahan nunca estivera em
Oberlin. As árvores haviam sido removidas da praça da faculdade, alguns alojamentos e um
prédio de classes foram erguidos, e aproximadamente cem pupilos haviam sido reunidos, no
departamento preparatório ou acadêmico da instituição.
A proposta que me apresentavam era para ir, e assumir aqueles alunos que deixaram o Seminário
Lane, lecionando-lhes teologia. Esses alunos propuseram-se a ir para Oberlin, caso eu aceitasse o
convite. Esta proposta atendia as visões dos irmãos Arthur e Lewis Tappan, e muitos dos amigos
dos escravos, simpatizavam com o Sr. Tappan em seu desejo que esses jovens fossem instruídos e
trazidos para o ministério. Tivemos muitos debates sobre o assunto. Os irmãos em Nova Iorque
que estavam interessados na questão, sugeriram que eu fosse e passasse seis meses por ano em
Oberlin, para dotar a instituição no que se referia ao corpo docente, e que fosse imediatamente.
Pelo que eu entendia, os membros da diretoria do Seminário Lane passaram por cima dos reitores
da faculdade, e na ausência de vários deles, aprovaram a resolução ofensiva que levara os alunos
a irem embora. Eu disse, portanto, ao Sr. Shiphered, que não iria de forma alguma, a menos que
dois pontos fossem aceitos pelos diretores. Um era que eles jamais interfeririam com os
regulamentos internos da escola, mas deixariam isso inteiramente a cargo dos mestres. O outro,
era que seria-nos permitido receber pessoas de cor sob as mesmas condições que recebíamos
pessoas brancas, que não havieria discriminação em função de cor.
Quando essas condições foram passadas para Oberlin, os diretores foram convocados, e depois de
muita relutância para superarem seus próprios preconceitos, e o preconceito da comunidade,
aprovaram as resoluções concordando com as condições que propus. Essa dificuldade removida,
os amigos em Nova Iorque foram convocados, para ver o que podiam fazer para dotar a
instituição. Dentro de uma ou duas horas, tinham uma proposta preenchida para a contratação de
oito mestrados, tantos quanto supunha-se que a instituição precisaria por vários anos.
Mas depois que essa proposta foi enviada, senti uma tremenda dificuldade em desistir daquele
lugar admirável para pregação do Evangélho, onde tantas multidões reuniam-se sob o som de
minha voz. Também sentia-me seguro que nessa nova instituição, teríamos teríamos muita
oposição, de muitas pessoas. Então disse a Arthur Tappan que minha mente não estava calma
sobre esse assunto, que encontraríamos uma grande oposição por causa dos princípios
abolicionistas, e que podíamos esperar conseguir fundos muito escassos para a construção de
nossos prédios, e para a geração de todo o aparato necessário para uma faculdade, que portanto
eu não via que meu caminho estava aberto, afinal, para comprometer-me, a menos que algo fosse
feito para garantir-nos os fundos que eram indispensáveis.
O coração de Arthur Tappan era tão grante quanto Nova Iorque inteira, e posso até dizer, tão
grande quanto o mundo. Quando apresentei-lhe o caso dessa forma diante dele, ele disse “Irmão
Finney, minha renda pessoal média é de cem mil dólares por ano. Agora, se o senhor for para
Oberlin, e adotar aquela obra, prosseguir, cuidar para que os prédios sejam erguidos, uma
biblioteca e tudo mais seja providenciado, passarei a você toda minha renda, com a exceção do
que preciso para sustentar minha família, até que o senhor esteja além de suas necessidades
pecuniares.” Tendo absoluta confiança no irmão Tappan, eu disse “Isso eu farei. Dessa forma as
dificuldades não estão mais no caminho.”
Mas ainda assim houve uma grande dificuldade em deixar minha igreja em Nova Iorque. Nunca
tinha pensado em deixar com que meu trabalho em Oberlin interferisse com minhas obras de
avivamento e pregação. Foi acordado portanto entre eu e a igreja, que passaria meus invernos em
Nova Iorque, e meus verões em Oberlin, e que a igreja suportaria o custo de minhas idas e vindas.
Quando isso foi arranjado, peguei minha família, e cheguei em Oberlin no início de verão de
1835.
A VERDADE DO EVANGÉLHO
AS MEMÓRIAS DE CHARLES G. FINNEY
CAPÍTULO XXIV.
O INÍCIO DO TRABALHO EM OBERLIN
OS alunos do Seminário Lane vieram para Oberlin, e os diretores mandaram erguer tendas, nas
quais ficaram alojados, e outros estudantes vinham até nós de todas as direções. Depois que
comprometi-me a ir, os irmãos de Oberlin escreveram-pe, pedido que eu levasse uma grande
tenda, sob a qual realizaria minhas reuniões, já que não havia sala grande o suficiente naquele
lugar para acomodar as pessoas. Fiz esse pedido a alguns irmãos conhecidos meus, que disseram-
me para mandar fazer a tenda, pois fornecer-me-iam o dinheiro. Solicitei a tenda, e entregaram-
me o dinheiro para pagar por ela. Era uma tendar circular, de cem metros de diâmetro, fornecida
com todo o equipamento necessário para erguê-la. No topo do pilar central que sustentava a
tenda, ficava uma bandeira, sobre a qual estava escrita em letras garrafais “Santidade ao Senhor”
Essa tenda nos foi muito útil. Quando o clima permitia, erguiamo-na na praça todo domingo, e
realizávamos cultos abertos ao público, e muitos de nossos cultos iniciais foram realizados nela.
Era usada, também até certo ponto, para realizar reuniões prolongadas na região e vizinhança,
onde não haviam igrejas grandes o suficiente para a acomodação do povo.
Falei sobre a promessa de Arthur Tappan de sustentar-nos com suas finanças, com toda sua
renda, até que estivéssemos além das necessidades financeiras. Mediante a esse acordo com ele,
ingressei no trabalho. Mas mais adiante foi acordado entre nós que sua oferta não deveria ser
conhecida aos diretores, a menos que falhassem em fazer os esforços necessários, como ele
desejava, não meramente coletar fundos, mas fazer as necessidades e objetivos da instituição
conhecidos pelo país a fora. De acordo com esse entendimento, a obra qui foi levada até onde
pôde ser, considerando que estávamos no coração de uma grande floresta, e numa localização,
indesejável sob muitos aspectos, na época.
Acabávamos de começar as obras de construção de nossos edifícios, e já precisávamos de uma
grande quantia de dinheiro, quando a grande depressão comercial atingiu o Sr. Tappan, e quase
todos os homens que haviam prometido fundos para o sustento dos professores. A depressão
atravessou o país, e abalou uma grande massa de homens ricos. Deixou-nos não somente sem
nenhum fundo para o sustento do corpo docente, mas também com uma dívida de trinta mil
dólares, sem qualquer esperança, que pudéssemos ver, de obter o capital dos amigos da faculdade
neste país. O Sr. Tappan escreveu-me nessa época, reconhecendo abertamente a promessa que
fizera, e expressando a mais profunda angústia por estar quase falido, e totalmente incapaz de
cumprir sua oferta. Nossas necessidades eram então muito grandes, e aos olhos humanos a
faculade parecia ser uma derrota.
A grande maioria do povo em Ohio era totalmente oposta a nossa instituição, por causa de seu
caráter abolicionista. As cidades ao nosso redor eram hostis a nossa movimentação, e em alguns
lugares ameaças de destruição de nossos prédios foram feitas. Uma legislação democrática
estava, enquanto isso, esforçando-se para abraçar alguns de nós, o que permitiria-lhes abrogar
nosso caráter. Nessa situação havia, é claro, um grande clamor a Deus em meio ao povo.
Enquanto isso, minhas palestras sobre o avivamento circulavam extensivamente na Inglaterra, e
sabíamos que o público britânico simpatizaria muito conosco se soubessem de nossos objetivos,
nossas esperanças, e nossa condição. Enviamos portanto um comitê para a Inglaterra, composto
pelo Rev. John Keep e o Sr. William Dawes, obtendo para eles cartas de recomendação, e
expressões de confiança em nossa empresa, de alguns dos principais abolicionistas do país. Eles
foram para a Europa, e apresentaram nossos objetivos e necessidades ao povo britânico, que
respondeu generosamente, dando-nos seis mil libras esterlinas. Isso praticamente quitou nossas
dívidas.
Nossos amigos, espalhados pelos estados do norte, que eram abolicionistas e simpatizantes dos
avivamentos, generosamente ajudaram-nos dentro de suas possibilidades. Mas tivemos que
pelejar com a pobreza e muitas provas, ao longo de muitos anos. Algumas vezes não sabíamos,
dia após dia, como seríamos sustentados. Mas com a benção de Deus, servimo-nos a nós mesmos,
com o melhor que podíamos.
Certa vez, vi que não tinha recurso algum para sustentar minha família durante o inverno. O dia
de Ação de Graças chegou, e vimo-nos tão pobres que fui obrigado a vender meu baú de viagens,
que usara em minhas obras evangelísticas, para suprir no lugar de uma vaca que eu havia perdido.
Levantei-me na manhã daquele dia, e apresentei nossas necessidades diante do Senhor. Concluí
dizendo que, se a ajuda não viesse, eu entenderia que deveria ser assim, e ficaria completamente
satisfeito com qualquer caminho que o Senhor sabiamente seguisse. Saí e fui pregar, e aproveitei
minha própria pregação, creio eu, como jamais havia antes. Tive um dia abençoado para minha
própria alma, e pude ver que as pessoas gostaram muito.
Depois de reunião, fiquei ainda um tempo entretido na conversa com alguns irmãos, e minha
esposa voltou para casa. Quando cheguei ao portão, ela estava de pé com a porta aberta, com uma
carta em sua mão. Conforme aproximei-me, ela disse sorrindo “A resposta veio, meu querido” e
entregou-me a carta, contendo um cheque do Sr. Josiah Chapin de Providence, um cheque de
duzentos dólares. Ele estivera aqui no último verão, com sua esposa. Eu não havia dito nada
sobre minhas necessidades, pois não tinha o hábito de mencioná-las para ninguém. Mas na carta
que tinha o cheque, ele dizia que soubera sobre a falência do fundo dos professores, e que eu
precisava de ajuda. Contou também que eu poderia esperar por mais, de tempos em tempos. Ele
continuou a me enviar seiscentos dólares por ano, por muitos anos, e com esse dinheiro,
conseguimos sobreviver.
Eu deveria ter dito que, de acordo com meu arranjo em Nova Iorque, eu passava meus verões em
Oberlin, e invernos em Nova Iorque, por dois ou três anos. Tínhamos um abençoado avivamento,
sempre que eu voltava para pregar ali. Também tínhamos um avivamento contínuo aqui.
Pouquíssimos estudantes ficaram sem se converter na época. Mas em virtude de minha saúde,
logo descobri que deveria desistir de um desses campos de trabalho. Mas os interesses
relacionados à faculdade pareciam proibir-me totalmente de deixar Oberlin. Pedi, portanto,
dispensa de minha igreja em Nova Iorque, e os meses de inverno que deveria passar naquela
cidade, comecei a passar em vários lugares, para promover avivamentos religiosos.
As palestras sobre avivamentos religiosos foram pregadas enquanto eu ainda era pastor da igreja
Presbiteriana na capela da rua Chatham. Nos dois invernos seguintes, dei palestras para cristãos
no Tabernáculo da Broadway, as quais também foram relatadas pelo Sr. Leavitt e publicadas no
Evangelista de Nova Iorque. Essas também foram publicadas em um livro neste país e na Europa.
Aqueles sermões para cristãos foram basicamente o resultado de uma pesquisa que se passava
dentro de minha própria mente. Quero dizer que o Espírito de Deus mostrava-me muitas coisas,
no que diz respeito à questão da santificação, que levaram-me a pregar tais sermões específicos
para cristãos.
Muitos irmãos consideraram aquelas pregações mais como uma exibição da Lei, do que do
Evangélho. Mas eu não as considerava, e não as considero, assim. Para mim a Lei e o Evangélho
têm apenas uma regra de vida, e qualque violação do espírito da Lei é também uma violação do
espírito do Evangélho. Mas há muito tempo sou convencido de que as mais altas formas de
experiência cristã são alcançadas somente como um resultado de uma terrível e minuciosa
aplicação da Lei de Deus à consciência e ao coração humanos. Os resultados de minhas obras até
então, mostravam-me de forma mais clara do que nunca, a grande impiedade dos cristãos, e que
os membos mais velhos da igreja, em geral, progrediam muito pouco na graça. Vi que eles
sairíam do estado de avivamento, até mesmo antes dos convertidos mais novos. Foi assim no
avivamento em que eu me converti. Vi claramente que isso devia-se a seus primeiros
ensinamentos, ou seja, às visões nas quais foram levados a acreditar quando eram jovens
convertidos.
Também fui levado a uma grande insatisfação com minha própria necessidade de estabilidade na
fé e no amor. Para ser transparente, e contar a verdade, devo dizer, para o louvor da graça de
Deus, que Ele não me permitiu recair, não da mesma forma, que cristãos manifestadamente
recaíam. Mas muitas vezes senti-me fraco diante da tentação, e precisei freqüentemente realizar
dias de jejum e oração, e gastar muito tempo examinando minha própria vida religiosa, a fim de
manter aquela comunhão com Deus, e apegar-me à força divina, que capacitar-me-ia a trabalhar
com eficiência na promoção de avivamentos religosos.
Ao contemplar o estado da igreja cristã, como me fora revelado em minhas obras de avivamento,
fui levado a questionar sinceramente sobre a possibilidade de haver algo maior e mais durável do
que aquilo que a igreja cristã tinha consciência, se não haviam promessas e meios apresentados
no Evangélho, para o estabelecimento dos cristãos em uma forma mais elevada de vida cristã. Eu
sabia algumas coisas sobre a visão de santificação defendida por nossos irmãos metodistas. Mas
como a idéia deles de santificação a mim parecia relacionar-se sempre com estados de
sensibilidade, eu não podia aceitar seu ensinamento. Contudo, entreguei-me a uma pesquisa
minuciosa das Escrituras, e a ler tudo que viesse parar em minhas mãos sobre o assunto, até
minha mente estar convencida de que uma forma mas alta e estável de vida cristã era alcançável,
e era privilégio de todos os cristãos.
Isso me levou a pregar no Tabernáculo da Broadway, dois sermões sobre a perfeição cristã. Esses
sermões estão agora incluídos no livro de palestras pregadas para cristãos. Neles, eu defini o que
é a perfeição cristã, e esforcei-me para mostrar que é algo alcançável nesta vida, e o sentido no
qual podemos alcançá-la. Nessa época, a questão da perfeição cristã, no sentido antinomio do
termo, trouxe bastante agitação à New Haven, Albany, e até mesmo na cidade de Nova Iorque.
Eu examinei essas opiniões, como foram publicadas no periódico entitulado “O Perfeccionista”.
Mas não pude aceitá-las. Ainda assim, estava convencido de que a doutrina de santificação nesta
vida, e santificação plena, no sentido de que era privilégio do cristão viver sem pecado
conhecido, era uma doutrina ensinada pela bíblia, e que abundantes meios eram oferecidos para
assegurar que conseguíssemos isso.
No último inverno que passei em Nova Iorque, o Senhor agradou-se em visitar minha alma com
um grande refrigério. Depois de um período de busca de coração, Ele me levou, como já o fez
várias vezes, a um lugar maior, dando-me muito daquela divina doçura em minha alma, da qual o
Presidente Edwards fala por experiência própria. Naquele inverno eu tive um quebrantamento
absoluto, tanto que às vezes, por um período considerável, eu não conseguia parar de chorar alto,
em vista de meus próprios pecados, e do amor de Deus em Cristo. Momentos como esse foram
freqüentes naquele inverno, e resultaram numa grande renovação de minhas forças espirituais, e
na ampliação de minhas visões no que diz respeito aos privilégios dos cristãos, e da abundância
da graça de Deus.
É sabido que minhas visões sobre a questão da santificação têm sido alvo de muitas críticas. Para
ser fiel à história, devo dizer algumas coisas que em outras circunstâncias deixaria passar em
silêncio. A Faculdade Oberlin foi estabelecida pelo Sr. Shipherd, grandemente contra os
sentimentos e desejos dos homens mais preocupados em construir a Faculdade da Reserva
D’Oeste, em Hudson. O Sr. Shipherd certa vez informou-me que o principal agente fincanceiro
da faculdade, assegurou-lhe que iria fazer tudo que pudesse para derrubar esta faculdade. Logo
que souberam, em Hudson, que eu havia recebido um convite de Oberlin, como professor de
teologia, a diretoria elegeu-me como professor de teologia pastoral e eleqüência sagrada, na
Faculdade da Reserva D’Oeste, de forma que eu tinha dois convites ao mesmo tempo. Não me
comprometi, por escrito, com nenhuma das duas, mas fui conhecer o território, para então me
decidir.
Naquela primavera, a assembléia geral da igreja Presbiteriana reuniu-se em Petesburgo. Quando
eu cheguei a Cleveland, fui informado de que dois dos professores de Hudson, esperavam por
minha chegada naquela cidade, planejando que eu fosse primeiro, a qualquer custo, para Hudson.
Mas atrasei-me no Lago Erie por causa de ventos adversos, e os irmãos que esperavam por mim
em Cleveland haviam partido para estarem na abertura da assembléia geral, deixando um recado
com um irmão, para que encontrasse-me quando eu chegasse, e a qualquer custo, levasse-me para
Hudson. Mas em Cleveland, encontrei uma carta a minha espera, do Sr. Arthur Tappan, de Nova
Iorque. De alguma forma, ele soubera do fato de que muitos esforços estavam sendo feitos para
que eu fosse induzido a ir para Hudson, ao invés de Oberlin.
A faculdade em Hudson, na época, tinha seus edifícios e aparatos, reputação e influência, e já
estava estabalecedida como uma faculdade. Oberlin não tinha nada. Não tinha prédios
permanentes, e era composta por uma pequena colônia assentada no meio da mata, e apenas
começara a construir suas próprias casas, e a derrubar a imensa floresta, para abrir espaço para
uma faculdade. Ela tinha, com certeza, seu alvará, e talvez cem alunos na região, mas tudo ainda
tinha que ser feito. Essa carta do irmão Tappan fora escrita para alertar-me para que não
supusesse que seria um intrumento em Hudson, para assegurar o que desejávamos fazer em
Oberlin.
Deixei minha família em Cleveland, aluguei um cavalo e carroça, e fui para Oberlin, sem ir a
Hudson. Pensei que poderia pelo menos ver Oberlin primeiro. Quando cheguei a Elyria, encontrei
alguns velhos conhecidos ali, de Nova Iorque. Eles me contaram que a diretoria da Faculdade da
Reserva D’Oeste pensava que, se pudesse assegurar minha presença em Hudson, isso pelo menos
prejudicaria bastante Oberlin, e que em Hudson havia uma influência tradicionalista forte o
suficiente para compelir-me à submissão a suas visões e métodos de ação. Isso estava
precisamente de acordo com a informação que eu havia recebido do Sr. Tappan.
Fui para Oberlin e vi que não havia nada que impedisse a construção de uma faculdade, nos
princípios que a mim pareciam não apenas se basearem na fundação de todo o sucesso no
estabelecimento de uma faculdade aqui no Oeste, mas também em princípios de reforma, tais
quais eu sabia que eram guardados nos corações daqueles que haviam-se comprometido a apoiar
a construção da Faculdade Oberlin. Os irmãos da região eram fervorosamente a favor da
construção de uma escola de princípios radicais sobre a reforma. Então, escrevi uma cara para a
diretoria de Hudson, recusando seu convite, e mudei-me para Oberlin. Não tive nada de mau a
dizer sobre Hudson, e não soube de nada mau sobre eles.
Depois de um ou dois anos, o grito de perfeccionismo antonimio foi ouvido, e isso trouxe
acusações sobre nós. Cartas foram escritas, corpos eclesiásticos foram visitados, e muitos
esforços foram feitos para que nossas visões aqui fossem apresentadas como hereges. Tais
apresentações foram feitas a corpos eclesiásticos por todo o país, levando muitos deles a
aprovarem resoluções, previnindo as igrejas contra a influência teológica de Oberlin. Parecia
haver uma união geral de influência ministerial contra nós. Aqui, entendíamos muito bem o que
começara tudo isso, e como toda essa agitação levantara-se. Mas nada dissemos. Não tivemos
controvérsia alguma com aqueles irmão que, tinhamos consciência, esforçavam-se para gerar um
sentimento público tão grande contra nós. Não devo entrar em detalhs, mas cabe dizer que as
armas formadas contra nós, reagiram de forma mais desastrosa contra aqueles que as geraram, até
o ponto de haver uma mudança em quase todos os membros da diretoria e dos professores, em
Hudson, e a administração geral da faculdade caiu em outras mãos.
Eu raramente ouvi dizer qualquer coisa em Oberlin, naquela época, contra Hudson, ou em
qualquer outra época depois. Concentravamo-nos em nossos próprios negócios, e sentíamos que
em respeito à oposição daquele quadrante, nossa força estava em ficarmos quietos em nosso
canto, e não seríamos confundidos. Tínhamos confiança de que não era plano de Deus que a
oposição prevalecesse. Quero ser distintamente entendido, que não tenho consciência alguma de
que qualquer um dos atuais líderes e administradores daquela faculdade, simpatizaram o que foi
feito naquela época, ou mesmo que saibam o curso que foi tomado naquela ocasião.
Os ministros, de longe e de perto, levaram sua oposição ao extremo. Naquela época, uma
convenção foi chamada para reunir-se em Cleveland, para discutir o assunto da educação no
Oeste, e o apoio às faculdades do Oeste. O chamado fora tão comentado que saímos de Oberlin,
esperando participar dos procedimentos da convenção. Quando chegamos lá, encontramos o Dr.
Beecher, e logo vimos que alguns dos procedimentos caminhavam para que os irmãos de Oberlin
e todos aqueles que com eles simpatizassem, fossem excluídos da convenção. Então, eu fui
proibido de assistir à convenção como membro, mas mesmo assim, participei de muitas de suas
sessões. Recordo-me de ter escutado distintamente um dos pastores dos arredores dizer que ele
considerava as influências das doutrinas de Oberlin piores do que as do Catolicismo Romano.
Aquele foi um discurso representativo, e parecia ser sobre o ponto de vista defendido por aquela
instituição. Mas de maneira nenhuma, generalizada. Alguns de seus membros, que haviam sido
educados em teologia em Oberlin estavam tão relacionados com as igrejas e com a convenção,
que foram admitidos como participantes, vindos de todas as partes do país. Tais irmãos
defenderam grandemente os princípios e práticas de Oberlin, sempre que eram questionadas. O
objetivo da convenção era evidentemente encurralar e esmagar-nos, por um sentimento público
que nos privaria de todo apoio. Mas deixe-me ser distintamente claro ao dizer que não culpo em
nada os membros daquela convenção, talvez apenas alguns deles, pois eu sabia que haviam sido
levados a isso, e agiam sob uma terrível má compreensão dos fatos. O líder daquela convenção
era o Dr. Lyman Beecher.
A política que adotamos foi a de deixar a oposição em paz. Preocupávamo-nos com nossos
próprios negócios, e sempre tivemos tantos alunos quanto pudemos. Estávamos sempre ocupados
com o trabalho, e sempre muito encorajados em nossos esforços.
Poucos anos depois da reunião dessa convenção, um dos principais pastores que ali estavam, veio
passar um ou dois dias em nossa casa. Entre outras coisas, ele me disse “Irmão Finney, Oberlin é
para nós uma maravilha admirável. Há muitos anos estou ligado a uma faculdade como um de
seus professores. A vida e princípios universitários, e as condições sob as quais as faculdades são
erguidas são muito familiares para mim. Sempre pensamos que as faculdades não pudessem
existir a menos que fossem protegidas pelo ministério. Sabíamos que jovens prestes a irem para a
universidade geralmente consultariam seus pastores para que ajudassem na escolha, e guiar-se-
iam por seus julgamentos. Agora,” disse ele, “quase todos os pastores uniram-se contra Oberlin.
Foram enganados pelo clamor do perfeccionismo antonímio, e no que diz respeito à suas visões
de reforma; e por isso os corpos eclesiásticos se uniram, de todas as partes, Congregacionais,
Presbiterianos, e de todas as denominações. Alertaram suas igrejas contra vocês, desencorajaram
todos os jovens a virem para Oberlin, e ainda assim o Senhor os tem levantado. Vocês têm sido
sustentados com fundos monetários mais do que qualquer outra faculdade no Oeste, têm tido de
longe muito mais alunos, e a benção de Deus tem estado sobre vocês, para que seu sucesso seja
maravilhoso. Agora, isso é uma perfeita anomalia na história das faculdades. Os opositores a
Oberlin não têm sido apoiados, e Deus está ao seu lado, sustentando-os ao atravessar toda essa
oposição, de maneira que quase não a sentiram.”
É difícil agora para as pessoas, idealizar a oposição que enfrentamos, logo que estabelecemos
esta faculdade. Como ilustração, e como um caso representante, relatarei um caso hilário que
ocorreu na mesma época desses outros fatos sobre os quais tenho comentado. Tive a
oportunidade de ir para Akron, para pregar num domingo. Fui com um cavalo e carroça. No
caminho, depois da vila de Medina, observei na estrada diante de mim, uma mulher andando com
um pequeno fardo em suas mãos. Conforme aproximei-me, percebi que era uma senhora, bem
vestida, mas andando com uma certa dificuldade, creio eu que por causa de sua idade. Quando
cheguei até ela parei o cavalo e perguntei-lhe até onde iria na estrada. Ela me disse, então
perguntei se ela não aceitaria uma carona em minha carroça. Ela respondeu “Ó, ficaria muito
grata por uma carona, pois ainda tenho uma longa caminhada pela frente”.Ajudei-a a subir na
carroça e prossegui. Descobri que ela era uma senhora muito inteligente, muito livre e à vontade
ao conversar.
Depois de cavalgar por uma certa distância, ela disse “Poderia saber a quem devo este favor?” Eu
disse a ela quem era. Ela então perguntou de onde eu vinha. Disse-lhe que vinha de Oberlin. Essa
notícia a chocou. Ela fez um movimento como se afastasse de mim o máximo que pudesse e
olhando seriamente para mim disse “De Oberlin! Oras, nosso pastor disse que preferiria mandar
seu filho para a prisão estadual do que para Oberlin!” É claro que eu sorri e aliviei os temores
daquela senhora, se é que tinha algum, e a fiz compreender que não corria perigo algum comigo.
Relato isso simplesmente como uma ilustração do espírito que prevalecia por todos os lados
quando esta faculdade foi estabelecida. Falsas representações e temores abundavam país a fora,
por quase todos os cantos dos Estados Unidos.
No entanto, havia um grande número de leigos, e um considerável número de pastores, num
geral, em diferentes partes do país, que não tinham confiança alguma nessa oposição, que
simpatizavam com nossas metas, visões, esforços, e que apoiaram-nos forte e firmemente; e ao
saber, como souberam, das dificuldades pelas quais passávamos em função dessa oposição,
doavam de seu dinheiro e influência para ajudar-nos a prosseguir.
Já comentei sobre o Sr. Chapin, de Providence, sobre como enviou-me seiscentos dólares por
ano, durante vários anos; dinheiro que sustentou minha família. Quando já fizera por tanto tempo
quanto achava que era seu dever, e de fato, ele o fizera até que dificuldades financeiras fizeram
com que essa prática fosse inconveniente, o Sr. Willard Sears, de Boston, assumiu seu lugar, e
por vários anos supriu-me com a mesma quantia, anual, que o Sr. Chapin enviava. Enquanto isso,
esforços contínuos eram feitos para conseguir o sustento dos outros membros do corpo docente, e
pela graça de Deus, superamos a tribulação. Depois de poucos anos o medo, em certo nível,
esvaiu-se.
O Presidente Mahan, Prof. Cowles, Prof. Morgan e eu, lançamos uma publicação sobre o assunto
da santificação. Estabelecemos um periódico, o Evangelista de Oberlin, e mais tarde, O
Trimestral de Oberlin, nos quais esclarecíamos ao público, em grande parte, quais eram nossas
reais visões. Em 1846, publiquei dois livros sobre Teologia Sistemática, e nessa obra, discuti o
assunto de santificação plena, de forma mais ampla. Depois de esta obra ter sido publicada, ela
foi revisada por um comitê do Presbitério de Tróia, em Nova Iorque. Então o Dr. Hodge, de
Princeton, publicou no Repertório Bíblico, uma extensiva crítica à minha teologia. A partir dos
pontos de vista dos tradicionais. Então o Dr. Duffield, da Igreja Presbiteriana Renovada, que
morava em Detroit, também fez uma crítica, abertamente do ponto de vista renovado. A essas
diferentes revisões, publiquei réplicas, conforme apareciam, e por muitos anos passados, até onde
sei, nenhuma disposição tem se mostrado para que nossa ortodoxia seja contestada.
Até aqui, narrei os principais fatos ligados ao estabelecimento e lutas da escola em Oberlin, até
onde são de meu conhecimento. E por ser o professor de teologia, a oposição teológica era
direcionada, é claro, principalmente para mim, o que levou-me, pela necessidade, a falar mais
livremente de minhas relações com o todo, algo que em outras circunstâncias, eu não teria feito.
Mas que eu não seja mal entendido. Não digo que os irmãos que assim se opuseram foram vis em
sua oposição. Sem dúvidas, a grande maioria deles foi erroneamente levada a isso, e agiram de
acordo com suas visões do que era certo, de acordo com seu entendimento.
Devo dizer, pela honra da graça de Deus, que nenhuma oposição que encontramos abalou nosso
espírito aqui, ou nos perturbou, a ponto de levar-nos a um espírito de controvérsia ou
ressentimentos. Estávamos bem conscientes das dores que haviam sido tomadas para que tais
mal-entendidos acontecessem, e compreendíamos facilmente como era, que éramos o oposto, em
espírito e maneiras, do que éramos acusados.
Durante esses anos de fumaça e poeira, de apreensões e oposições vindas de fora, o Senhor
abençoava-nos ricamente aqui dentro. Prosperamos não somente em nossas próprias almas aqui,
como uma igreja, mas tínhamos um avivamento contínuo, ou vivíamos, no que pode ser
devidamente considerado como um estado de avivamento. Nossos alunos convertiam-se às
pencas, e o Senhor nos escondia continuamente à sombra de Sua nuvem de misericórdia. Um
vendaval de influência divina varria nosso meio de ano em ano, produzindo abundantemente o
fruto do Espírito, amor, gozo, paz, longanimidade, benignidade, bondade, fé, mansidão,
temperança.
Sempre atribuí nosso sucesso nesta boa obra inteiramente à graça de Deus. Não foi sabedoria ou
bondade alguma de nossa parte que alcançou este sucesso. Nada além de uma contínua influência
divina, infiltrando-se na comunidade, sustentando-nos sob nossas provações, e mantendo-nos em
uma atitude mental que fez-nos capazes de sermos eficientes nas responsabilidades que havíamos
assumido. Sentimos sempre que se o Senhor nos houvesse privado de Seu Espírito, nenhuma
circunstância exterior poderia nos dar verdadeira prosperidade.
Mesmo em nosso meio tivemos provas. Assuntos freqüentes de discussão pública surgiram, e
algumas vezes passamos dias, e até mesmo semanas, discutindo grandes questões de dever e
expediência, nas quais não absolutamente não concordávamos. Mas nenhuma dessas questões
chegou a causar uma divisão entre nós. Nosso princípio sempre foi o de concordar em discordar
em nossos julgamentos particulares. Geralmente alcançamos uma concordância substancial em
assuntos nos quais discordávamos, e quando víamos que não haveria acordo algum, a minoria
submetia-se ao julgamento da maioria e a mera idéia de dividir a igreja por causa de nossas
visões diferenciadas jamais foi considerada por nós. Preservamos extensivamente a unidade do
Espírito na união da paz, e talvez não haja uma comunidade que exista a tanto tempo, que tenha
passado por tantas mudanças e desafios quanto passamos, que tenha num geral mantido um
espírito maior de harmonia, paciência cristã e amor fraternal.
Quando a questão da santificação plena surgiu pela primeira vez aqui para discussão pública, e
quando o assunto atraiu pela primeira vez a atenção da igreja, estávamos no meio de um poderoso
avivamento. Quando esse caminhava cheio de esperança, certo dia o Presidente Mahan pregava
com um minucioso discurso. Percebi que no desenrolar de sua palestra, deixara um ponto sem ser
mencionado, que a mim parecia ser muito importante nesse assunto. Ele sempre perguntava-me,
ao encerrar seu sermão, se eu tinha algum comentário a fazer, e assim o fez nesta ocasião.
Levantei-me e apontei o aspecto que ele omitira. Era a distinção entre o desejo e a vontade. A
partir da linha de raciocínio que ele havia apresentado, e pela atitude que percebi em meio à
congregação naquele momento, vi, ou achei que tivesse visto, que a apresentação dessa diferença,
nesse exato instante, traria muita luz à questão de que eram ou não cristãos, se eram pessoas
realmente consagradas, ou se apenas tinham meros desejos e não vontade de fato de obedecer a
Deus.
Quando essa diferença foi esclarecida, naquela exata conexão, recordo-me que o Espírito Santo
derramou-se sobre a congregação de forma admirável. Um grande número de pessoas abaixou a
cabeça, e alguns gemiam de forma a serem ouvidos por todo o templo. Isso cortou as falsas
esperanças de professores por todos os lados. Muitos se levantaram imediatamente, dizendo que
até então estavam enganados, e que agora podiam ver. Isso se estendeu de tal forma que me
espantei grandemente, e de fato, gerou uma grande surpresa, creio eu, na congregação.
A obra continuou com poder, e velhos professores ganharam novas esperanças, ou converteram-
se novamente, e eram tantos que uma mudança muito grande e importante veio sobre toda a
comunidade. O Presidente Mahan fora grandemente abençoado, entre outros, com alguns de
nossos professores. Ele claramente entrou em uma forma plenamente nova de experiência cristã,
naquela época.
Em uma reunião poucos dias depois disso, um de nossos alunos de teologia se levantou e lançou
a pergunta se o evangelho não fornecia aos cristãos, todas as condições de uma estabelecida fé,
esperança e amor, se não havia algo melhor e maior do que os cristãos haviam experimentado em
geral, em suma, se a santificação não seria inatingível nesta vida, ou seja, a santificação no
sentido de que os cristãos teriam uma paz inabalável, e não cairiam em condenação, ou não
teriam o sentimento de condenação ou uma consciência de pecado. O Irmão Mahan respondeu
imediatamente “Sim”. O que aconteceu nessa reunião trouxe a questão da santificação de forma
proeminente diante de nós, como uma questão prática. Não tínhamos teorias sobre o assunto,
nenhuma filosofia a defender, mas simplesmente considerávamos como uma questão bíblica.
Nesta forma ela existiu entre nós, como uma verdade experimental, a qual não tentávamos
reduzis a uma fórmula teológica, nem sequer tentávamos explicar sua filosofia, até muitos anos
mais tarde. Mas a discussão dessa questão nos foi uma grande benção, e também para um grande
número de alunos nossos, que hoje encontram-se espalhados em várias partes do país, ou fora
como missionários em diferentes partes do mundo.
A VERDADE DO EVANGELHO
AS MEMÓRIAS DE CHARLES G. FINNEY
CAPÍTULO XXV.
OBRAS EM BOSTON E PROVIDENCE
ANTES de voltar a minhas recordações de avivamentos, a fim de dar uma noção da relação das
coisas, devo falar um pouco mais sobre o progresso do movimento anti-escravatura, ou
abolicionista, não somente em Oberlin, mas também em outros lugares, conforme ligados às
obras das quais participei. Já falei sobre o estado da opinião pública sobre esse assunto, por todos
os lados ao nosso redor, e mencionei que até a legislação do estado, naquela época democrático,
esforçava-se para encontrar algum pretexto para reclamar nosso alvará, por causa de nossos
sentimentos e atos abolicionistas. Primeiro declararam por todos os lados que pretendíamos
encorajar casamentos entre alunos negros e brancos, e até mesmo compeli-los a uniões inter-
raciais, e que nosso objetivo era introduzir um sistema universal de miscigenação. Um pequeno
fato ilustrará o sentimento que havia entre as pessoas da vizinhança. Tive a oportunidade de
cavalgar por alguns quilômetros, logo que chegamos, para ir visitar um fazendeiro por um certo
motivo. Ele parecia muito desconfiado e mal-humorado, quando descobriu quem eu era e de onde
vinha, e confessou-me que não queria nenhum envolvimento com as pessoas de Oberlin, que
nosso objetivo era trazer a amalgamação das raças, e compelir estudantes brancos e negros a
casarem uns com os outros, que também pretendíamos unificar a igreja e o Estado, e que nossas
idéias e projetos eram todos revolucionários e abomináveis. Ele realmente acreditava nisso. Mas
a coisa era tão ridícula, que eu sabia que se tentasse responder seriamente, acabaria gargalhando
em sua cara.
Tivemos motivos, nos primeiros dias, para temer que uma gang de uma cidade vizinha viria e
destruiria nossos prédios. Mas não muito tempo depois de chegarmos, ocorreram situações que
geraram uma reação na opinião pública. Este lugar tornou-se um dos pontos da linha de ferro
subterrânea, como é chamada desde então, onde escravos fugitivos, a caminho do Canadá,
refugiavam-se por um ou dois dias, até que o caminho estivesse livre para que prosseguissem.
Muitos casos ocorreram nos quais esses fugitivos eram perseguidos por donos de escravos, e um
clamor público foi levantado, não somente nesta vizinhança, mas também nas cidades próximas,
por suas tentativas de levarem os escravos de volta à escravidão. Os caçadores de escravos não
tinham a simpatia do povo, e cenas como essas logo causaram ressentimento nas cidades
circunvizinhas, começando, e começaram a gerar reações. Isso levou fazendeiros e pessoas ao
nosso redor a estudar mais de perto nossos objetivos e pontos de vista, e nossa escola logo
tornou-se conhecida e querida, o que resultou em um estado de confiança total e sentimentos
bons entre Oberlin e toda a região.
Enquanto isso, a agitação sobre o assunto da escravidão era grande nas cidades do Leste, bem
como no Oeste e no Sul. Nosso amigo, o Sr. Willard Sears, de Boston, enfrentava uma
tempestade de oposição lá. E a fim de abrir caminho para uma discussão livre sobre esse assunto
em Boston, e para o estabelecimento de uma adoração religiosa, onde um púlpito estaria aberto
para a livre discussão de todas as grandes questões da reforma, ele havia comprado o hotel
Marlborough na rua Washington, e ligara a ele uma grande capela para adoração pública e
reuniões sobre a reforma, que não conseguiam encontrar abertura em nenhum outro lugar. Isso,
ele fizera com muito custo. Em 1842, fui fortemente pressionado a ir ocupar a capela
Marlborough, pregando por alguns meses. Fui e comecei minhas obras, pregando com todas as
minhas forças por dois meses. O Espírito do Senhor foi imediatamente derramado e havia uma
agitação geral em meio aos ossos secos. Eu recebia visitas em meus aposentos quase que
constantemente, durante todos os dias da semana, da parte de pessoas que tinham dúvidas, vindas
de todos os cantos da cidade, e muitos ganhavam esperança a cada dia.
Nessa época, o Presbítero Knapp, o famoso promotor batista de avivamentos, estava trabalhando
em Providence, sob forte oposição. Ele foi convidado pelos irmãos batistas em Boston para ir
trabalhar ali. Portanto, ele deixou Providence e foi para Boston. Na mesma época, o Sr. Josiah
Chapin e muitos outros insistiam muito para que eu fosse realizar reuniões em Providence.
Sentia-me muito endividado com o Sr. Chapin pelo que ele fizera por Oberlin, e por mim em
particular. Era uma grande prova para mim, deixar Boston, nesse momento. Contudo, depois de
encontrar-me com o irmão Knapp e informa-lo sobre toda a situação, fui embora, para
Providence. Esse foi o momento do grande avivamento em Boston. Um avivamento que
prevaleceu de forma maravilhosa, especialmente em meio aos batistas, e mais ou menos por toda
a cidade. Os pastores batistas abraçaram a causa juntamente com o irmão Knapp, e muitos irmãos
congregacionais foram grandemente abençoados, e a obra foi muito grande.
Enquanto isso, comecei meus trabalhos em Providence. A obra começou quase que
imediatamente, e o interesse crescia visivelmente dia após dia. Muitos casos de conversões
impactantes aconteceram, entre eles, havia um senhor de idade cujo nome não me recordo. Seu
pai fora um Juiz do supremo tribunal em Massachusetts, se não me engano, muitos anos antes.
Este velho senhor morava não muito longe da igreja onde eu realizava as reuniões, na rua High.
Depois de algum tempo de funcionamento da obra, observei um cavalheiro de aparência distinta
entrar na reunião, e prestar muita atenção na pregação. Meu amigo, o Sr. Chapin, notou-o
imediatamente, informou-me quem ele era, e quais eram suas visões religiosas. Ele disse que o
senhor jamais tivera o hábito de participar de reuniões religiosas, e expressou grande interesse
nele e no fato de ter comparecido à nossa reunião. Percebi que ele continuava a vir, noite após
noite, e pude facilmente observar, como já imaginava, que sua mente estava muito agitada, e
profundamente interessada no assunto da religião.
Certa noite a encerrar meu sermão, esse cavalheiro se levantou, e perguntou-me se poderia dizer
algumas palavras à congregação. Respondi que sim. Ele então falou conforme segue: “Meus
amigos e vizinhos, vocês estão provavelmente surpresos ao verem-me participar dessas reuniões.
Vocês sabem de minhas céticas idéias, e que não tenho o hábito de participar de reuniões
religiosas há muito tempo. Mas ao escutar sobre a situação nesta congregação, vim até aqui, e
desejo tornar sabido a meus amigos e vizinhos que acredito que a pregação que temos ouvido,
noite após noite, é o evangelho. Mudei minha mente, acredito que isso seja a verdade, e o
verdadeiro caminho para a salvação. Digo isso para que vocês entendam minha real motivação
para vir aqui, que não é a de criticar e encontrar falhas, mas de atentar para a grande questão da
salvação, e encorajar outros a também atentarem a ela.” Isso, ele disse com muita emoção, e
assentou-se.
Havia uma sala muito grande de escola dominical no porão da igreja. O número de pessoas com
dúvidas sobre a salvação também cresceu muito, e a congregação estava lotada demais para que
esses fossem chamados à frente, como eu já havia feito em outros lugares, portanto, pedi-lhes que
descessem, após a benção ter sido proferida, para a classe no andar inferior. A classe era quase
tão grande quanto a nave da igreja, e comportava aproximadamente o mesmo número de pessoas,
sem contar a galeria. A obra cresceu, e espalhou-se por todos os lados da cidade, até que o
número de questionadores tornou-se tão grande, juntamente com os jovens convertidos que
estavam sempre prontos a descer com eles, a ponto de lotar aquele salão. A cada noite, depois da
pregação, aquela sala enchia-se de regozijantes jovens convertidos, e temerosos pecadores e
questionadores. Esta situação estendeu-se por dois meses. Eu então estava, ou imaginava estar,
completamente esgotado, tendo trabalhado incessantemente por quatro meses, dois em Boston, e
dois em Providence. Além disso, chegara, ou estava para chegar, a época do ano em que
começariam as aulas em Oberlin. Portanto, peguei minha dispensa de Providence, e parti para
casa.
Houve um fato ocorrido em Boston que, creio eu, é meu dever relatar. Uma mulher Unitária que
convertera-se naquela cidade, que era conhecida do Rev. Dr. C. Sabendo de sua conversão, o Dr.
C, como mais tarde ele me contou, convidou-lhe a visitá-lo, pois seu estado de saúde era frágil, e
ele não poderia ir até ela. Ela aceitou seu convite, e ele disse-lhe que contasse sobre todas as
imaginações de sua mente, sobre sua experiência cristã, e sobre as circunstâncias de sua
conversão. Assim ela o fez. O doutor manifestou grande interesse na transformação de sua mente,
e perguntou-lhe se ela tinha alguma coisa que eu tivesse escrito e publicado, para que ele pudesse
ler. Ela disse que tinha uma pequena obra minha, a qual fora publicada sobre o assunto da
santificação. Ele emprestou a obra, e disse-lhe que leria, e se ela o visitasse novamente na semana
seguinte, ficaria muito feliz em discutir o assunto mais a fundo. Depois de uma semana, ela
voltou para buscar seu livro, e o doutor lhe disse: “Estou muito interessado neste livro e nas
visões apresentadas aqui. Entendo que o objetivo ortodoxo dessa visão de santificação, como
apresentada pelo Sr. Finney, mas não consigo compreender, se Cristo é divino e verdadeiramente
Deus, por quê essa visão deve ser contrariada; nem posso ver nenhuma inconsistência em
defender isso como parte da fé ortodoxa. Mesmo assim, gostaria de conhecer o Sr. Finney. Você
não pode convencê-lo a vir visitar-me? Pois não posso ir até ele.” Ela foi até meu alojamento,
mas eu havia deixado Boston para ir a Providence. Depois de uma ausência de dois meses, eu
estava em Boston novamente, e essa senhora veio imediatamente ver-me, informando-me disso
que acabei de relatar. Mas a essa altura, ele fora para o campo, por conta de sua saúde. Senti
muito por não ter tido a oportunidade de vê-lo. Mas ele faleceu pouco tempo depois, e do resto de
sua história religiosa, não sei mais nada. Nem posso assegurar a veracidade do que essa senhora
disse. Ela foi claramente honesta ao comunicar-me isso, e pessoalmente não tenho dúvidas de que
cada palavra que me disse era verdade. Mas era uma estranha para mim, e depois de tanto tempo,
não me recordo mais de seu nome. Em meu encontro seguinte com o Dr. Beecher, o nome do Dr.
C foi mencionado, e eu relatei-lhe esse fato. As lágrimas começaram a encher-lhe os olhos em
um instante, e ele disse muito emocionado “Eu creio que ele foi para o céu!”
A VERDADE DO EVANGELHO
AS MEMORIAS DE CHARLES G. FINNEY
CAPÍTULO XXVI.
O AVIVAMENTO EM ROCHESTER EM 1842
DEPOIS de descansar um ou dois dias em Boston, parti para casa. Por estar muito exausto de
trabalho e viagens, fiz uma visita a um amigo em Rochester, para ter um dia de descanso antes de
prosseguir. Logo que a notícia de minha estada em Rochester se espalhou, o Juiz G veio visitar-
me, e com muita insistência, pediu que eu ficasse ali mais um tempo e pregasse. Alguns dos
pastores também insistiam que eu pregasse para eles. Informei-lhes que estava esgotado, e já era
chegado o tempo de ir para csa. No entanto, eles foram muito urgentes, em especial um dos
pastores, cuja esposa era uma de minhas filhas espirituais, a Sarah B, de quem falei ter se
convertido em D’Oeste. Por fim, concordei em ficar por ali e pregar um ou dois sermões. Mais
isso trouxe sobre mim um convite ainda mais inoportuno, para permanecer a realizar uma série de
reuniões. Decidi ficar, e apesar de exausto, continuei com a obra.
O Sr. George S. Boardman era pastor da então chamada Bethel, ou igreja da rua Washington, e o
Sr. Shaw, da Segunda Igreja do Tijolo. O Sr. Shaw estava muito ansioso para unir-se ao Sr.
Boardman e realizar reuniões alternadas em suas igrejas. O Sr. Boadman não estava disposto a
seguir esse caminho, dizendo que sua congregação era fraca, e precisava da concentração de
minhas obras naquele ponto. Senti muito por isso, mas ainda assim não pude passar por cima de
tal decisão, e continuei com a obra na Bethel, ou igreja da rua Washington. Pouco tempo depois,
o Dr. Shaw conseguiu as obras do Rev. Jedediah Burchard para sua igreja, e assumiu um
prolongado trabalho ali.
Enquanto isso, o Juiz G unira-se com outros membros da Ordem dos Advogados, para fazer-me
um pedido por escrito, para que pregasse uma série de sermões para advogados, adaptados à sua
maneira de pensar. Na época, o Juiz G era um dos juízes das cortes de apelação do estado, e tinha
uma alta e posição estimada por toda a profissão. Concordei em dar as palestras. Tinha
consciência da mentalidade semicética daqueles membros da Ordem, ou de pelo menos muitos
deles, que ainda não haviam se convertido. Ainda havia na cidade um bom número de bons e
devotos advogados, que se converteram no avivamento de 1830 e 31.
Comecei minha série de palestras para advogados fazendo esta pergunta: Vocês sabem alguma
coisa? e segui o questionamento dissertando, noite após noite. Minha congregação era muito
seleta. As reuniões do irmão Burchard abriram um lugar interessante para uma classe da
comunidade, e deu mais espaço para os advogados, e para aqueles especialmente atraídos por
minhas palestras, na casa onde pregava. As noites eram todas lotadas. Conforme prossegui com
meus sermões, a cada noite, observei o interesse constantemente se aprofundando.
Sendo que a esposa do Juiz G era uma amiga pessoal minha, tinha a chance de vê-lo
freqüentemente, e tinha certeza de que a Palavra apoderava-se fortemente dele. Ele comentou
comigo, depois de várias palestras: “Sr. Finney, estou satisfeito com seus esclarecimentos até
agora, mas quando chegar na questão do castigo eterno dos ímpios, o senhor vai tropeçar, falhará
ao tentar convencer-nos neste assunto.” Eu respondi “Espere e verá, Juiz.” Essa dica fez-me mais
cuidadoso quando cheguei a essa questão, para que a discutisse minuciosamente. No dia seguinte
encontrei-me com ele e de pronto comentou “Sr. Finney, estou convencido. Sua maneira de lidar
com esse assunto foi um sucesso, nada pode ser contestado.” A maneira na qual ele disse isso
indicava que o assunto não apenas convencera seu intelecto, mas impressionara-o profundamente.
Eu ia de noite em noite, mas não achava que minha platéia, um tanto quanto nova e seleta já
estivesse preparada para ser chamada a tomar uma decisão, por causa dos questionadores. Mas
logo cheguei ao ponto em que vi que era necessário puxar a rede da praia. Eu estava
cuidadosamente espalhando-a por todo o grupo de advogados, atraindo-os, supunha eu, com uma
série de argumentos que eles não podiam resistir. Eu tinha consciência de que eles estavam
acostumados a ouvir argumentos, a sentir o peso de uma verdade apresentada de maneira lógica,
e não tinha dúvidas de que sua grande maioria estava plenamente convencida, em tudo que eu
dissera até ali, por conseqüência, eu havia preparado um discurso com a intenção de levá-los ao
ponto, e se surtisse efeito, eu pretendia chamá-los a se comprometerem.
Quando estive em Rochester antes, quando a esposa do Juiz G se converteu, ele se opusera ao
assento ansioso. Eu esperava que ele fizesse isso novamente, pois sabia que ele havia se
comprometido fortemente, no que ele dizia, a ser contra o assento ansioso. Quando preguei o
sermão do qual falei, percebi que ele não estava no lugar que geralmente ocupava, e ao olhar em
volta, não pude encontrá-lo em meio aos outros advogados e juízes. Fiquei preocupado com isso,
pois me havia preparado com referência a seu caso. Eu sabia que ele tinha grande influência, e
que se ele decidisse tomar uma posição, isso causaria uma grande influência sobre toda a
profissão jurídica na cidade. Contudo, logo percebi que ele entrara pela galeria, e encontrara um
lugar para sentar-se junto às escadas, onde assentou-se ainda cobrindo-se com seu casaco.
Prossegui com meu discurso, mas perto do fechamento do que eu programara dizer, percebi que o
Juiz G não estava mais em seu lugar. Fiquei perturbado, pois concluí que, por ser frio o lugar
onde ele estava, e talvez porque houvesse alguma confusão por ser perto das escadas, ele teria ido
para casa, e assim o sermão que eu havia preparado com meu olho nele, falhara em seu efeito.
Do salão no porão da igreja, havia uma escada estreita que levava à nave superior, com saída ao
lado, um pouco para trás do púlpito. Eu estava para encerrar o sermão, com meu coração quase
afundando com o medo de falhar no que eu tinha esperanças de conseguir naquela noite, quando
senti alguém puxando a barra de meu paletó. Olhei, e ali estava o Juiz G. Ele descera e
atravessara o salão inferior, subira a escada estreita, e alguns degraus do púlpito, até estar perto o
suficiente de mim, e puxar-me pelo casaco. Quando me virei para ele, e contemplei-o com grande
surpresa, ele me disse “Sr. Finney, o senhor não poderia orar por mim, pelo meu nome, e eu
tomarei lugar à frente, no assento ansioso.” Eu ainda não havia dito nada sobre o assento ansioso.
A congregação observara esse movimento da parte do Juiz G, conforme ele subia às escadas do
púlpito, e quando eu anunciei-lhes o que ele dissera, um maravilhoso choque foi gerado. Havia
uma grande jorrar de sentimentos, por todos os lados do templo. Muitos abaixaram a cabeça e
choraram, outros pareciam estar engajados em sinceras orações. Ele foi até à frente do púlpito e
ajoelhou-se imediatamente. Os advogados levantaram-se quase que em massa, e amontoaram-se
no corredor, enchendo o espaço vago à frente, ajoelhando-se onde quer que pudessem. Houve um
grande movimento. Nós oramos, e então encerrei a reunião.
Já que eu pregava todas as noites, e não podia abrir mão de uma delas para uma reunião de
perguntas e respostas, marquei uma reunião para instrução daqueles que tivessem dúvidas para o
dia seguinte, às duas horas, no salão inferior da igreja. Quando fui para lá, fiquei surpreso ao
encontrar o salão quase cheio, e com um público composto praticamente só de cidadãos dos mais
proeminentes. Continuei com essa reunião diariamente, tendo a oportunidade de conversar
livremente, com muitas pessoas, pois eram ensináveis como crianças. Jamais participei de uma
reunião mais efetiva e interessante do que essa, eu acho. Muitos dos advogados se converteram, o
Juiz G, devo dizer, foi seu líder, pois foi o primeiro a vir para o lado de Cristo.
Permaneci ali, dessa vez, por dois meses. O avivamento tornou-se maravilhosamente interessante
e poderoso, e resultou na conversão de centenas. Apoderou-se de forma poderosa de uma das
igrejas Episcopais, a igreja de St. Luke, da qual o Dr. Whitehouse, bispo presidente de Illinois,
era o pastor. Quando eu estava em Reading, na Pensilvânia, vários anos antes, o Dr. Whitehouse
estava a pregar para uma igreja Episcopal naquela mesma cidade, e, como fui informado por uma
das mais inteligentes senhoras dali, fora tremendamente abençoado em sua alma, naquele
avivamento. Quando vim para Rochester, em 1830, ele era o pastor da igreja de St. Luke, e fui
informado que ele encorajava seu povo a participar de nossas reuniões, e que muitos deles
converteram-se naquela época. Assim também nesse avivamento, em 1842, fui informado de que
ele encorajava e aconselhava seu rebanho a participar de nossas reuniões. Ele mesmo era um
pastor muito bem sucedido, e tinha muita influência em Rochester. Soube que nesse avivamento
de 1842, não menos que setenta, dos principais membros de sua congregação, converteram-se, e
foram confirmados em sua igreja.
Um incidente de impacto, devo mencionar. Eu havia insistido muito, em minhas instruções, na
consagração plena a Deus, entregando tudo a Ele, corpo, alma, posses, e todas as coisas, para
serem para todo o sempre, usadas para Sua glória, como uma condição de aceitação com Deus.
Como era de meu costume em avivamentos, deixei isso tão claro quanto pude. Certo dia
conforme eu entrava na reunião, um dos advogados com quem já estava familiarizado, que
andava profundamente agoniado em sua mente, estava esperando na porta da igreja. Conforme
entrei, ele tirou de seu bolso um papel, e entregou a mim, comentando “Entrego isso ao senhor
como o servo do Senhor Jesus Cristo”. Deixei o papel em meu bolso até depois da reunião. Ao
examiná-lo, vi que era um termo de posse, redigido regularmente, no qual ele passava a posse de
si mesmo e de tudo que ele possuía para o Senhor Jesus Cristo. O termo estava de acordo com a
lei, com todas as peculiaridades e formalidades de tais contratos. Creio que ainda o tenho em
meio a meus papéis. Ele parecia ser solenemente sincero, e até onde pude ver, inteiramente
consciente do que fizera. Mas não devo entrar em mais detalhes.
No que diz respeito aos métodos usados neste avivamento, diria que as doutrinas pregadas eram
as mesmas que eu já havia pregado em todos os lugares. O governo moral de Deus foi
proeminentemente apresentada, e a necessidade de uma aceitação universal da vontade de Deus
como uma regra de vida, a aceitação pela fé, do Senhor Jesus Cristo como o Salvador do mundo,
e em todas as suas relações e obras, e a santificação da alma por meio da verdade, essas e outras
doutrinas relacionadas a elas eram trabalhadas de acordo com o tempo que tínhamos, e conforme
as necessidades do povo pareciam requerer.
As medidas eram simplesmente a pregação do evangelho, e orações abundantes, em secreto, em
círculos sociais, e em reuniões públicas; muita importância sempre foi dada à oração, como sendo
um dos principais métodos para a promoção de um avivamento. Pecadores não eram incentivados
a esperar que o Espírito Santo os convertesse enquanto fossem passivos; e não deveriam esperar o
tempo de Deus, mas ensinávamos, sem equívocos, que seu primeiro e imediato dever era
submeterem-se a Deus, renunciar suas próprias vontades, seus próprios caminhos, e a si mesmos,
entregando no mesmo instante tudo que eram, e tudo que tinham a seu verdadeiro ano, o Senhor
Jesus Cristo. Elas eram ensinadas aqui, da mesma forma que foram ensinadas em todos os outros
avivamentos, em todos os outros lugares, mostrando que o único obstáculo no caminho era sua
própria teimosia; que Deus estava tentando ganhar seu consentimento desqualificados de desistir
de seus pecados, e aceitar o Senhor Jesus Cristo como sua justiça e salvação. Insistíamos
freqüentemente para que consentissem assim; e ensinávamos que sua única dificuldade era
realmente consentir de forma sincera e honesta como os termos sob os quais Cristo os salvaria.
Reuniões para perguntas e respostas foram realizadas, como o propósito de adaptar a instrução
àqueles que estavam em diferentes estágios de convicção; depois de conversar com eles, sempre
que eu tinha tempo e forças para fazê-lo, tinha o hábito de fazer um resumo final, tomando casos
representativos, e respondendo a todas as suas objeções, todas as suas perguntas, corrigindo seus
erros, e seguindo um caminho de comentários, com a intenção de anular qualquer desculpa, e
trazê-los face e face com a grande decisão da imediata, irrestrita, total aceitação da vontade de
Deus em Cristo Jesus. A fé em Deus, e Deus em Cristo era sempre apresentado como
proeminente. Eles eram informados de que essa fé não era um assunto meramente intelectual,
mas sim o consentimento ou confiança do coração, uma confiança voluntária e consciente em
Deus, como sendo revelado no Senhor Jesus Cristo.
Insistia-se plenamente na doutrina da justiça da punição eterna; não somente em sua justiça, mas
também na certeza de que pecadores seriam eternamente punidos, se morressem em pecado, era
fortemente apresentada. Em todos esses pontos, o evangelho era apresentado de maneira a não
deixar nenhuma dúvida. Esse era, pelo menos, meu constante objetivo, e o objetivo de todos que
davam instruções. A natureza da dependência do pecador da influência divina era explicada,
reforçada, e apresentada proeminentemente. Os pecadores eram ensinados que, sem o
ensinamento e influência divinos, é certo que, a partir de seu estado de depravação, jamais se
reconciliariam com Deus; e que ainda assim, sua necessidade de reconciliação devia-se
simplesmente à sua dureza de coração, ou à teimosia de sua própria vontade, portanto sua
dependência do Espírito de Deus não era desculpa para que não se tornassem cristãos de vez.
Esses pontos que relatei, e outros que por lógica, os seguiam, eram apresentados e discutidos sob
todos os aspectos, sempre que havia tempo hábil para fazê-lo.
Nunca ensinávamos aos pecadores, naqueles avivamentos, que precisavam esperar pela
conversão, como resposta de suas orações. Ensinávamos que enquanto guardassem a iniqüidade
em seus corações, o Senhor não os ouviria, e que enquanto permanecessem na impiedade,
guardariam a iniqüidade em seus corações. Não quero dizer que eram exortados a não orar. Eram
informados de que Deus queria que eles orassem, mas orassem em fé, orassem em espírito de
arrependimento, e que quando pedissem a Deus que os perdoasse, deveriam se comprometer
plenamente com Sua vontade. Eram ensinados, expressivamente, que a mera oração ímpia e sem
fé é uma abominação a Deus, mas que se realmente estivessem dispostos a oferecer oração
aceitável a Deus, poderiam fazê-lo, pois não havia nada além de sua própria obstinação no
caminho de sua oferta. Nunca foram levados a pensar que poderiam cumprir seus deveres a
respeito de qualquer coisa, a menos que entregassem seus corações a Deus. Acreditar,
arrepender-se, submeter-se, como atos interiores, eram os primeiros deveres a serem cumpridos, e
até que esses fossem realizados, nenhum ato exterior seria a realização de seus deveres; e toda
sua falta de fé era apenas uma blasfema e mentirosa queixa contra Deus. Em suma, tomamos as
dores para que os pecadores fossem levados a aceitar a Cristo, toda a Sua vontade, a redenção, as
relações e obras oficiais, cordialmente e com um propósito firmado no coração, renunciando a
todo pecado, todas as desculpas, toda a falta de fé, toda a dureza de coração, e todas as coisas
ímpias, no coração, na vida, aqui, agora, e para sempre.
Sempre fui especialmente interessado na salvação de advogados, e de todos os homens na
profissão legal. Eu mesmo já havia sido parte dessa classe profissional. Compreendia muito bem
seus hábitos de leitura e pensamentos, e sabia que eles eram com certeza mais controlados por
argumentos, provas, e declarações lógicas do que qualquer outra classe social ou profissional.
Sempre descobri, todas as vezes que trabalhei, que quando o evangelho era propriamente
apresentado, eles eram os profissionais mais acessíveis; e creio que seja verdade que, na
proporção em relação a seu número, em todas as comunidades, mas advogados se converteram do
que quaisquer outros profissionais. Sempre fui especialmente interessado na maneira com a qual
uma apresentação clara da Lei e do evangelho de Deus envolve a inteligência de juízes, homens
que estão acostumados a sentar e ouvir testemunhos, e pesar argumentos em ambos os lados.
Jamais, desde que me lembro, vi um caso no qual juízes não foram convencidos da verdade do
evangelho, em lugares onde participavam das reuniões, nos avivamentos que testemunhei. Fui
várias vezes muito tocado, ao conversar com membros da profissão jurídica, pela maneira que
consentiam com as proposições, às quais outras pessoas, cujas mentes não fossem tão
disciplinadas, fariam objeções.
Havia um juiz do tribunal de apelação morando em Rochester, que parecia estar possuído por um
ceticismo crônico. Ele era um pensador, lia muito, homem muito refinado e de grande
honestidade intelectual. Sua esposa experienciara a religião sob meu ministério, e era uma de
minhas amigas pessoais. Eu conversei muito com aquele homem. Ele sempre confessava
livremente para mim que os argumentos eram conclusivos, e que seu intelecto estava preocupado
por causa da pregação e das conversas. Disse-me: “Sr. Finney, sempre fico extremamente
envolvido com seus discursos públicos, mas enquanto penso na verdade de tudo o que o senhor
diz, sinto que há algo de errado, de alguma forma meu coração não responde.” Ele era um dos
mais amáveis homens não-convertidos que já conheci, e era sempre um prazer e pesar conversar
com ele. Sua franqueza e inteligência faziam da conversa com ele, sobre assuntos religiosos, um
grande prazer, mas sua crônica falta de fé as tornava excessivamente dolorosas. Conversei com
ele mais de uma vez, quando sua mente parecia estar profundamente agitada. E ainda assim, até
onde sei, ele jamais se converteu. Sua esposa, idolatrada mulher de oração, já foi para seu
descanso eterno. Seu único filho afogara-se diante de seus olhos. Depois dessas tragédias o terem
atingido, mandei-lhe uma carta, falando sobre algumas das conversas que tivera com ele,
tentando ganhá-lo para uma fonte de onde ele conseguiria grande consolo. Ele respondeu com
toda gentileza, mas falando sobre suas perdas, disse que não havia consolo que poderia suprir um
caso como esse. Ele estava verdadeiramente cego para toda a consolação que poderia achar em
Cristo. Ele não concebia como jamais poderia aceitar essa situação, e ser feliz. Ele morou em
Rochester e vivenciou vários grandes avivamentos, e apesar de sua boca estar calada, pois não
havia mais desculpa alguma que pudesse dar, e refúgio nenhum em que pudesse se esconder,
ainda assim, até onde sei, ele misteriosamente permaneceu descrente. Menciono seu caso como
uma ilustração da maneira na qual a inteligência da profissão jurídica pode ser levada, pela força
da verdade. Quando eu falar do próximo avivamento em Rochester, do qual participei, terei a
oportunidade de mencionar outros exemplos que ilustrarão o mesmo ponto.
Vários dos advogados que se converteram em Rochester nessa época largaram suas profissões e
entraram no ministério. Entre eles, um dos filhos do Chanceler W, na época um jovem advogado
na cidade, que parecia firmemente convertido. Por alguma razão, a qual eu desconheço, ele foi
para a Europa e para Roma, e acabou por se tornar um padre Católico Romano. Há anos ele
trabalha zelosamente para promover avivamentos religiosos no meio deles, realizando
prolongadas reuniões e, como ele mesmo me contou quando nos encontramos na Inglaterra,
tentando alcançar na igreja Católica Romana o mesmo que eu me esforçava para conseguir na
igreja Protestante. O Sr. W parece ser um honesto ministro de Jesus, de coração e alma entregues
pela salvação dos Católicos Romanos. Não sei dizer o quanto ele concorda com suas visões.
Quando eu estive na Inglaterra, ele estava lá, e veio visitar-me, tivemos um encontro muito
agradável e afetuoso, tanto quanto teríamos, creio eu, se ambos fôssemos Protestantes. Ele não
disse nada sobre suas visões peculiares, mas somente que estava trabalhando em meio aos
Católicos Romanos, para promover avivamentos religiosos. Muitos pastores têm sido frutos dos
grandes avivamentos em Rochester.
Um fato que muito me interessou, quando eu trabalhava naquela cidade, era que advogados
vinham até meus aposentos, quando eram pressionados e estavam prestes a se submeterem, para
conversarem e esclarecerem alguns pontos que não haviam compreendido claramente; percebi
então, uma e outra vez, que quando tais pontos eram esclarecidos, eles estavam prontos a se
submeterem de imediato. De fato, como regra geral, eles obtém uma visão mais inteligente de
todo o plano da salvação do que outros homens de quaisquer outras classes profissionais para as
quais já preguei, ou com quem já conversei.
Muitos medicos também se converteram nos grandes avivamentos que presenciei. Creio que seu
estudo os inclina ao ceticismo, ou a alguma forma de materialismo. Porém, sendo inteligentes
como são, se o evangelho lhes é apresentado de forma completa, despido daquelas características
peculiares incorporadas ao hiper-Calvinismo, são facilmente convencidos, e prontamente se
convertem, como quaisquer outras pessoas. Seus estudos, como regra geral, não os preparou para
compreender tão prontamente o governo moral de Deus, como foram preparados aqueles que
tinham a lei como profissão. Mas ainda assim, encontrei-os abertos à convicção, e de maneira
alguma podem ser considerados pessoas difíceis de se lidar, no que diz respeito à questão da
salvação.
Descobri que em todos os lugares, as peculiaridades do hiper-Calvinismo têm sido uma grande
pedra de tropeço tanto para a igreja quanto para o mundo. Uma natureza pecaminosa em si, a
total inabilidade de aceitar a Cristo e de obedecer a Deus, a condenação à morte eterna pelo
pecado de Adão, e por uma natureza pecaminosa, e todos os dogmas relacionados e resultantes
dessa tradição peculiar, têm sido pedras de tropeço para crentes e a ruína para pecadores.
Universalismo, Unitarismo, e na verdade todas as formas de erro fundamental, abriram caminho e
sucumbiram na presença desses grandes avivamentos. Eu aprendi, mais de uma vez, que o
homem precisa somente ser plenamente convencido do pecado pelo Espírito Santo, para desistir
de uma vez por todas, com alegria, do Universalismo e do Unitarismo. Quando eu falar sobre o
próximo grande avivamento em Rochester, terei a oportunidade de falar com mais detalhes da
maneira na qual céticos podem ser calados quanto à condenação, se o caminho certo for seguido
com eles, de acordo com suas próprias convicções irresistíveis; assim sendo, alegrar-se-ão ao
encontrarem uma porta de misericórdia aberta por meio das revelações que são feitas nas
Escrituras. Mas deixo isso para ser apresentado no momento apropriado.
A VERDADE DO EVANGÉLHO
AS MEMÓRIAS DE CHARLES G. FINNEY
CAPÍTULO XXVII.
MAIS UM INVERNO EM BOSTON
NO outono de 1843, fui chamado novamente a Boston. Em minha última visita, uma grande
agitação sobre a segunda vinda de Cristo tomara conta de Boston. O Sr. Miller, que estava à
frente do movimento, dava palestras e aulas bíblicas diárias, nas quais ele dava instruções e
inseria suas idéias tão peculiares; seus ensinamentos geraram uma grande agitação um tanto
quanto selvagem e irracional. Assisti à aula do Sr. Miller uma ou duas vezes, depois disso,
convidei-o até meus aposentos e tentei convence-lo de que aquilo era um erro. Chamei sua
atenção para a construção que ele dava às profecias e, pensei ter-lhe mostrado que estava
inteiramente errado em algumas de suas visões mais fundamentais. Ele respondeu que eu adotara
um curso a seguir na investigação que detectaria seus erros, se ele tivesse algum. Tentei mostrar-
lhe que seu erro fundamental já havia sido detectado.
Na última vez que participei de sua aula bíblica, ele estava ensinando a doutrina de que Cristo
viria pessoalmente, e destruiria seus inimigos, em 1843. Ele deu o que ele mesmo chamou de
‘uma exposição da profecia de Daniel’ sobre o assunto. Ele disse que a pedra cortada do monte,
sem mãos, que rolara abaixo e destruíra a imagem aqui mencionada, era Cristo. Quando ele veio
até meu quarto, chamei-lhe a atenção para o fato de que o profeta afirmara expressamente que a
pedra não era Cristo, mas sim o reino de Deus; que o profeta ali apresentava a igreja, ou o reino
de Deus, como sendo quem destruía a imagem. Isso estava tão claro que o Sr. Miller foi obrigado
a reconhecer que era de fato a verdade, que não era Cristo que destruiria aquelas nações, mas sim
o reino de Deus. Perguntei-lhe então se ele achava que o reino de Deus iria destruir aquelas
nações, no sentido em que ele ensinara que seriam destruídas, pela espada, ou declarando guerra
contra elas? Ele disse que não, não podia acreditar que seria assim. Então eu perguntei “Não seria
a substituição do governo o objetivo, e não a destruição do povo? E não deve isso ser feito pela
influência da igreja de Deus, ao trazer-lhes luz a suas mentes em relação ao evangelho? E se esse
é o significado, onde está o fundamento para seus ensinamentos de que, em certo momento,
Cristo virá em pessoa destruir todos os povos da terra? Agora, isso é fundamental para seus
ensinamentos. Isso é o grande ponto para o qual você chama atenção em suas aulas, e aqui há um
claro erro. As próprias palavras do profeta ensinam o direto oposto do que você tem ensinado.”
Mas em vão era argumentar com ele e com seus seguidores naquela época. Acreditando, como
eles com certeza faziam, que a vinda de Cristo estava próxima, não era de se admirar que
estivessem muito agitados com ansiedade para que fossem convencidos do contrário.
Quando eu cheguei lá, no outono de 1843, descobri que uma forma particular de agitação
estourara, mas muitas formas errôneas permaneceram no meio do povo. De fato, descobri que era
verdade algo sobre Boston que o Dr. Beecher assegurara-me no primeiro inverno que trabalhei lá.
Ele me disse “Sr. Finney, o senhor não pode trabalhar aqui da mesma forma que trabalha em
qualquer outro lugar. O senhor deve seguir um caminho diferente de ensino, e começar pelos
mais básicos fundamentos, pois o Unitarismo é um sistema de negações, e sob os ensinamentos
deles, os fundamentos do Cristianismo estão esmorecendo. O senhor não pode negligenciar nada,
pois os Unitários e os Universalistas destruíram as fundações, e as pessoas estão boiando, sendo
levadas pelo fluxo. A massa popular não tem uma opinião concreta, qualquer um consegue uma
platéia para escutar o que tem a dizer, e quase todas as formas de erros convencíveis conseguem
espaço e seguidores.”
Desde então, vi que isso era verdade, e uma verdade que dominava uma área muito maior do que
qualquer outro campo de trabalho onde já estivera. O povo em Boston não tinha posicionamento
algum em suas convicções religiosas, menos do que todos os lugares onde já trabalhei, sem levar
em consideração sua inteligência, pois são com certeza um povo muito inteligente em todos os
assuntos, exceto no assunto da religião. É extremamente difícil fazer com que as verdades
religiosas sejam enraizadas em suas mentes, por que a influência dos ensinamentos do
Unitarismo tem sido de fazê-los questionar todas as principais doutrinas da bíblia. Seu sistema é
um sistema de negações. Sua teologia é negativa. Eles negam praticamente tudo, e afirmam quase
nada. Em um campo como esse, os erros encontram ouvidos populares abertos, e os pontos de
vista mais irracionais sobre assuntos religiosos passam a ser defendidos por um grande número
de pessoas.
Comecei minhas obras na capela Marlborough nessa mesma época, e ali encontrei uma situação
bastante singular. Uma igreja havia se formado, composta em sua maioria por radicais, e a maior
parte dos membros defendia pontos de vista extremos, sobre vários assuntos. Eles vinham de
outras igrejas ortodoxas, e uniram-se em uma só comunidade, na capela Marlborough. Eles eram
fieis e muito consistentes, adeptos à reforma; pessoas muito boas, mas eu não posso dizer que
eram um povo unido. Seu extremismo parecia ser um elemento de repelência mútua entre eles.
Alguns deles eram extremamente contra a resistência, e defendiam que seria errado o uso de
qualquer força física, ou qualquer outro meio físico, até mesmo para controlar seus próprios
filhos. Tudo deve ser feito pela persuasão moral. No geral, contudo, eram um povo honesto, de
oração, um povo cristão. Não tive muitas dificuldades em conviver bem com eles, mas na época,
a agitação do caso Miller, e de muitos outros casos, começara a gerar bastante confusão em seu
meio. Como igreja, sua situação estava longe de ser próspera.
Um jovem rapaz de nome S levantara-se no meio deles, e dizia-se um profeta. Conversei muitas
vezes com ele, e tentei convencê-lo de que ele estava errado; trabalhei com seus seguidores,
tentando fazê-los enxergar que ele estava errado. No entanto, vi que seria impossível fazer
qualquer coisa com ele, ou com eles, até que por fim, ele acabou se comprometendo em vários
pontos, e previu que certas coisas aconteceriam em certas datas. Uma delas era que seu pai
morreria em um certo dia. Então eu lhe disse: “Agora o provaremos. Agora a veracidade de suas
pretensões será testada. Se essas coisas que você previu vierem a acontecer, da forma que disse,
nas datas que disse, então teremos razões para acreditar que você é um profeta. Mas se elas não
acontecerem, será provado que você está enganado.” Isso ele não podia negar. Segundo a boa
providência de Deus, esses eventos relacionados às suas previsões foram descartados, em poucas
semanas, pois nenhum ocorreu. Ele apostara sua reputação como profeta em tais previsões, e
esperava por seu cumprimento. É claro que todas elas falharam, ele falhou, e nunca mais ouvi
falar sobre suas previsões novamente. Mas ele confundiu muitas mentes, e acabou por neutralizar
seus esforços. Não sei de nenhum de seus seguidores que tenha chegado a recuperar suas antigas
influências como cristãos.
Durante esse inverno, o Senhor sucumbiu minha própria alma, e recebi um novo batismo de Seu
Espírito. Eu me hospedava no hotel Marlborough, e meu quarto e escritório ficavam do lado do
edifício da capela. Minha mente era muito levada a orar, por muito tempo, como de fato sempre
foi, todas as vezes que trabalhei em Boston. Eu havia sido favorecido ali, uniformemente, com
um forte espírito de oração. Mas nesse inverno, em particular, minha mente estava em extremo
tomada pela questão da santidade pessoal, e a respeito da situação da igreja, sua necessidade de
poder de Deus, a fraqueza das igrejas ortodoxas em Boston, a fraqueza de sua fé, e sua
necessidade de poder em meio a tal comunidade. O fato de que eles alcançavam um pequeno ou
quase nulo progresso em superar os erros daquela cidade afetava muito minha mente.
Entreguei-me grandemente à oração. Depois de meus cultos noturnos, retirava-me tão cedo
quanto podia, mas levantava-me às quatro horas da manhã, porque não conseguia mais dormir, ia
imediatamente para o escritório, e começava a orar. Minha mente envolvia-se tanto com a oração,
que muitas vezes eu continuava a orar do momento em que levantava, às quatro horas, até que o
sino tocasse para o café da manhã, às oito. Gastava meus dias pesquisando as Escrituras, o
máximo que pudesse. Durante todo o inverno, não li nada além de minha bíblia, e muito dela
parecia ser novo aos meus olhos. Mais uma vez o Senhor me levou de Gênesis a Apocalipse.
Levou-me a ver a conexão entre as coisas, as promessas, ameaças, as profecias e seu
cumprimento, e de fato, toda a Palavra parecia-me reluzir, mas não era somente luz; parecia que a
Palavra de Deus tinha incutida em si a própria vida de Deus.
Depois de orar dessa forma por semanas e meses, certa manhã enquanto orava, ocorreu-me um
pensamento. E se, depois de todo esse ensinamento divino, minha vontade não tiver sido levada e
esses ensinamentos surtam efeito apenas em minha sensibilidade? Será que não foi a minha
sensibilidade que foi na verdade afetada por essas revelações da bíblia, e meu coração não está de
fato subjugado a elas? Nesse momento, várias passagens das escrituras vieram à minha mente,
tais como essa: “Assim, pois, a palavra do Senhor lhes será mandamento sobre mandamento,
mandamento e mais mandamento, regra sobre regra, regra e mais regra: um pouco aqui, um
pouco ali; para que vão, e caiam para trás, e se quebrantem, e se enlacem, e sejam presos.”
Quando o pensamento de que eu pudesse estar enganando a mim mesmo passou pela primeira
vez em minha mente, abateu-me quase que como uma serpente. Gerou uma aflição que não posso
descrever. As passagens das Escrituras que me ocorreram, nessa direção, por alguns momentos
aumentaram e muito minha aflição. Mas fui diretamente levado a apoiar-me na vontade perfeita
de Deus. Eu disse ao Senhor que se Ele visse que era sábio e bom, e que se a Sua honra exigisse
que eu fosse levado à desilusão, e enviado para o inferno, eu aceitava Sua vontade, e disse-lhe
“Faça comigo o que a Ti parecer bom”.
Pouco tempo antes disso, eu havia pelejado grandemente para consagrar-me a Deus, num sentido
mais alto do que jamais havia imaginado como meu dever, ou concebera como possível. Muitas
vezes já havia colocado minha família inteira sobre o altar de Deus, deixando-os à Sua mercê e
disposição. Mas nesta vez da qual falo agora, tive uma grande peleja para entregar minha esposa
à vontade de Deus. Ela estava com uma saúde muito frágil, e era evidente que não viveria por
muito mais tempo. Eu jamais vira tão claramente, em que implicava deixa-la, com tudo mais que
tinha, sobre o altar de Deus; e por horas pelejei de joelhos, para entrega-la, plenamente, à vontade
de Deus. Porém, vi que era incapaz de fazê-lo. Fiquei tão chocado e surpreso com isso que suava
frio de agonia. Pelejei e orei até a exaustão, e descobri que era completamente incapaz de
entregá-la plenamente à vontade de Deus, a ponto de não fazer objeção alguma à o que Ele
pudesse fazer com ela, de acordo com Sua vontade.
Isso muito me atribulou. Escrevi para minha esposa, contando-lhe da luta que tivera, e da
preocupação que tinha por não estar disposto a entregá-la, sem reservas, à perfeita vontade do
Senhor. Isso foi pouco tempo antes de ter essa tentação, como agora me recordo, da qual tenho
falado, quando aquelas passagens das Escrituras vieram agonizantes sobre minha mente, e
quando a amargura, quase de morte, parecia por alguns instantes, possuir-me, ao pensar que
minha religião pudesse ser apenas de emoções, e que os ensinamentos de Deus pudessem afetar
nada além de minha alma. Mas como já disse, depois de pelejar por alguns momentos com esse
desencorajamento e amargura, que atribuo desde então ao dardo inflamado de Satanás, fui levado
a apoiar-me, de forma mais profunda do que nunca, na infinita benção e perfeita vontade de
Deus. Então eu disse ao Senhor que tinha tamanha confiança nEle, que sentia-me perfeitamente
disposto, a entregar a mim mesmo, minha esposa e minha família, por inteiro à sua disposição
para que fossem tomados de acordo com Sua sabedoria.
Então tive uma visão mais ampla do quê implicava na consagração a Deus. Passei bastante tempo
de joelhos, considerando e examinando o assunto, e entregando tudo à Sua vontade; os interesses
da igreja, o progresso religioso, a conversão do mundo, e a salvação ou condenação de minha
própria alma, conforme Sua vontade decidisse. De fato, lembro-me que fui tão longe a ponto de
dizer ao Senhor, de todo coração, que ele podia fazer qualquer coisa comigo ou com tudo que era
meu, de acordo com Sua bendita vontade; que eu tinha tamanha confiança em Sua bondade e
amor, que acreditava que nada que Ele fizesse, teria minha objeção. Senti um tipo de ousadia ao
dizer-lhe para fazer comigo o que a Ele parecesse bom; que não poderia fazer nada que não fosse
perfeitamente sábio e bom, e que, portanto, eu teria o melhor em aceitar o fosse o que fosse que
Ele pudesse escolher, no que dizia respeito a mim e aos meus. Um descanso tão profundo e
perfeito na vontade de Deus, jamais conheci.
O que parecia estranho para mim era que eu não conseguia sentir minha antiga esperança, nem
conseguia lembrar, de forma clara, de nenhum dos períodos de comunhão e segurança divina que
experienciara. Posso dizer que abandonei minha esperança e descansei sobre uma nova fundação.
Quero dizer, abandonei minha esperança de qualquer experiência passada, e lembro-me de ter
dito ao Senhor que não sabia se Ele pretendia me salvar ou não. Nem estava preocupado em
saber. Eu estava disposto a sujeitar-me ao meu destino. Eu disse que sabia que Ele me guardara, e
trabalhara em mim por Seu Espírito, e estava me preparando para o céu, trabalhando santidade e
vida eterna em minha alma, então eu deveria concluir que Ele pretendia me salvar; que se, por
outro lado, eu me visse vazio e sem força, amor e luz divina, eu poderia concluir que Ele via que
era sábio e funcional que fosse para o inferno; e que em ambas as situações, eu aceitaria Sua
vontade. Minha mente firmara-se em um perfeito estado de aceitação.
Isso começou bem cedo de manhã, e continuou por todo aquele dia, eu parecia estar num perfeito
estado de descanso, corpo e alma. Uma pergunta veio à minha mente muitas vezes durante o dia
“Você ainda adere à sua consagração, e permanece na vontade de Deus?” Sem hesitar, eu dizia
“Sim, não volto atrás em nada. Não tenho motivos para voltar atrás; não fui além do razoável em
pedidos e profissões. Não tenho motivos para voltar atrás. Não quero voltar atrás.” O pensamento
de que eu pudesse estar perdido não mais me perturbava. De fato, posso crer que durante todo
aquele dia, eu não pude encontrar em minha mente o menor medo sequer, nenhuma emoção
perturbadora. Nada me perturbava. Eu não estava animado nem deprimido; não estava alegre nem
triste, pelo que podia ver. Minha confiança em Deus era perfeita, minha aceitação de Sua vontade
era perfeita, e minha mente estava tão calma quando os céus.
No cair da noite, uma pergunta veio à minha mente, “E se Deus me mandar para o inferno?”
“Oras, eu não faria objeção nenhuma.” “Mas pode Ele mandar uma pessoa para o inferno, se essa
pessoa aceita Sua vontade, da maneira que você o faz?” foi a próxima pergunta. Essa pergunta,
tão logo surgiu em minha mente, foi respondida. Eu disse “Não, é impossível. O inferno não
poderia ser inferno para mim, se eu aceitei a perfeita vontade de Deus.” Isso injetou uma veia de
alegria em minha mente, que continuou a crescer cada vez mais, por semanas e meses, e de fato,
devo dizer, por anos. Por anos minha mente estava muito cheia de alegria para que se enchesse de
ansiedade sobre qualquer assunto. Minha oração que fora tão fervorosa e tão prolongada durante
um período tão longo, parecia em tudo desembocar em “Seja feita a Tua vontade”. Parecia que
todos os meus desejos haviam sido atendidos. Tudo pelo que eu orava, para mim mesmo, eu
havia recebido da forma em que menos esperava. “Santidade ao Senhor” parecia estar inserida
em todos os pensamentos de minha mente. Eu tinha tão grande fé que Deus cumpriria toda a Sua
perfeita vontade, que não me preocupava com nada. As grandes ansiedades sobre as quais minha
mente tanto se perturbara por longos períodos de agonizante oração, pareciam ficar de lado; de
maneira que por muito tempo, quando eu me achegava a Deus para ter comunhão com Ele como
fazia com muita freqüência, caía sobre meus joelhos, e achava impossível pedir por qualquer
coisa, com um mínimo de sinceridade, exceto para que Sua vontade fosse feita na Terra como é
feita nos céus. Minhas orações eram mergulhadas nisso, e por muitas vezes encontrei-me
sorrindo, diante da face do Senhor, e dizendo que eu não queria mais nada. Eu tinha muita certeza
de que Ele cumpriria Seu sábio e bom prazer, e que com isso, minha alma ficaria plenamente
satisfeita.
Aqui, perdi aquela grande peleja na qual estivera por tanto tempo engajado, e comecei a pregar
para a congregação de acordo com isso, minha nova e ampliada experiência. Havia um número
considerável de pessoas na igreja, que compareciam às minhas pregações, que compreendiam, e
viram a partir de meus sermões o que se passava em minha mente. Presumo que as pessoas
perceberam mais do que eu mesmo, a mudança em minha forma de pregar. É claro, minha mente
estava muito cheia do assunto para que pregasse sobre qualquer outra coisa que não a presente
salvação no Senhor Jesus Cristo.
Nesse momento, parecia que minha mente estava casada com Cristo, num sentido em que jamais
tivera idéia ou concepção antes. A linguagem de Cantares de Salomão era tão natural para mim
quanto minha respiração. Eu pensava que podia compreender muito bem o estado de espírito no
qual Ele se encontrava, quando escreveu aquelas palavras, e então concluí, como tenho pensado
desde então, que tal poesia fora não escrita por ele, depois de ter sido regenerado de sua grande
queda. Não somente eu tinha todo o refrigério de meu primeiro amor, mas também uma vasta
ascensão a ele. De fato, o Senhor me levantou muito além do que qualquer coisa que já
experimentara antes, e ensinou-me tanto sobre o significado da bíblia, das relações de Cristo, e
poder, e vontade, que muitas vezes via-me dizendo a Ele “Eu não sabia nem concebia que tal
coisa era verdade”. Foi então que eu percebi o que significa dizer que Ele “é poderoso para fazer
tudo muito mais abundantemente além daquilo que pedimos ou pensamos”. E naquele momento
Ele me ensinou, infinitamente mais do que eu jamais poderia pensar ou pedir. Eu não tinha
consciência do comprimento e largura, da altura e da profundidade, e da eficiência de Sua graça.
A mim, parecia que aquela passagem “A minha graça te basta” significava tanto, que era
maravilhoso que eu jamais compreendera antes. Encontrava-me exclamando “Maravilhoso!
Maravilhoso! Maravilhoso!” conforme essas revelações eram feitas a mim. Eu pude então
entender o que o profeta queria dizer quando falou “ seu nome será Maravilhoso Conselheiro,
Deus Forte, Pai da Eternidade, Príncipe da Paz.” Passei praticamente o resto do inverno, até que
fui obrigado a voltar para casa, instruindo as pessoas a respeito da plenitude que há em Cristo.
Mas descobri que falava acima do entendimento da maioria do povo. Eles não compreendiam.
Havia, é verdade, um bom número que conseguia entender, e esses foram maravilhosamente
abençoados em suas almas, e tenho motivos para acreditar que progrediram ainda mais na vida
divida, do que jamais antes fizeram.
Mas a pequena igreja que se formara ali não tinha recursos que pudessem, de forma considerável,
funcionar de forma saudável e eficiente. A oposição externa a eles era muito grande. A massa, até
mesmo de professores de religião da cidade, não simpatizava com eles. As pessoas das igrejas
geralmente não estavam dispostas a receberem minhas idéias de santificação, e apesar de existir
alguns indivíduos em praticamente todas as igrejas que estavam profundamente interessados e
grandemente abençoados, ainda assim, como regra geral, o testemunho que eu levava não era
inteligível a eles.
Alguns deles conseguiam ver onde eu estava. Certa noite, recordo-me que o Diácono P e o
Diácono S, depois de escutar minha pregação, e vendo o efeito que ela causara na congregação,
vieram até mim depois que desci do púlpito e disseram “Oras, o senhor está muito à frente de nós
nessa cidade, e muito à frente de nossos pastores. Posso podemos fazer com que pastores venham
ouvir essas verdades?” Eu respondi “Não sei. Mas gostaria que eles pudessem ver as coisas como
vejo; pois a mim parece de extrema importância que haja um padrão mais alto de santidade em
Boston.” Eles pareciam muito ansiosos para que aquelas verdades fossem expostas diante do
povo em geral. Eram bons homens, como o povo de Boston bem o sabe; mas quais as dores que
tomaram de fato para que os pastores pudessem participar, não sei dizer.
Naquele inverno, trabalhei mais para um avivamento religioso entre cristãos. O Senhor preparou-
me para fazer isso, pela grande obra que Ele fez em minha própria alma. Apesar de ter muito da
vida divina trabalhando dentro de mim, ainda assim, como eu disse, o que experimentei naquele
inverno excedeu tanto o que eu já havia vivenciado antes, que às vezes eu não conseguia perceber
se antes já estivera de fato alguma vez em verdadeira comunhão com Deus. Para ter certeza de
que estivera, muitas vezes e por muito tempo, refleti sobre o assunto, e recordei de tudo pelo que
passei tantas vezes. Parecia-me, naquele inverno, que provavelmente quando chegarmos no céu,
nossas visões e alegrias, e santos pensamentos ultrapassarão em muito tudo o que já
experimentamos nesta vida, a ponto de quase não reconhecermos o fato de que tínhamos alguma
religião enquanto estávamos neste mundo. De fato eu havia experimentado por várias vezes
alegrias indescritíveis, e profunda comunhão com Deus; mas tudo isso tornara-se tão fosco diante
de minha nova experiência, que eu freqüentemente dizia ao Senhor que antes jamais tivera a
concepção das coisas tão maravilhosas reveladas em Seu bendito evangelho, e da maravilhosa
graça que há em Cristo Jesus. Essa linguagem, aprendi quando refleti sobre ela, era comparativa;
mas ainda assim todas as minhas antigas experiências, até então, pareciam seladas, e quase fora
de meu campo de visão.
Conforme a grande agitação da temporada se esvaecia, e minha mente se acalmava, vi mais
claramente os diferentes estágios de minha experiência cristã, e comecei a reconhecer a conexão
de tudo, como tendo sido escrito por Deus do começo ao fim. Mas desde então nunca mais tive
pelejas tão grandes como aquelas, e prolongados períodos de agonizante oração que tantas vezes
vivera. É algo bem diferente prevalecer com Deus, em minha própria experiência, do que era
antes. Posso achegar-me a Deus com mais calma, por causa da mais perfeita confiança. Ele me
faz descansar nEle, e deixar tudo seguir de acordo com Sua perfeita vontade, com muito mais
prontidão do que em qualquer momento antes da experiência daquele inverno.
Sinto desde então uma liberdade religiosa, uma leveza religiosa e gozo em Deus, e em Sua
Palavra, uma firmeza de fé, uma liberdade cristã e transbordante amor; isso experimentara apenas
ocasionalmente antes, devo dizer. Não digo que tais pensamentos eram raros para mim antes, pois
eram freqüentes e sempre se repetiam, mas nunca permaneciam como o fazem desde então. Meu
cativeiro parecia, naquele momento, completamente quebrado; e desde aquela época, tenho tido a
liberdade de uma criança para com um pai amoroso. Parecia que eu podia encontrar a Deus
dentro de mim, de tal maneira, que podia descansar nele, e ficar quieto, depositar meu coração
em Suas mãos, e aninhar-me em Sua perfeita vontade, sem qualquer preocupação ou ansiedade.
Falo de tais exercícios como sendo habituais, desde aquele período, mas não posso afirmar que
jamais tenham sido quebrados, pois em 1860, durante um período de doença, tive uma temporada
de grande depressão e maravilhosa humilhação. Mas o Senhor me tirou de tal vale, para um
descanso e paz estabelecidos.
Poucos anos depois desse período de refrigério, aquela amada esposa, de quem falei, faleceu.
Para mim isso foi uma grande aflição. Contudo, não senti nenhuma murmuração, nem a menor
resistência sequer à vontade de Deus. Entreguei-a a Deus totalmente sem reservas, que possa me
lembrar. Mas isso foi para mim uma grande tristeza. Na noite em que ela faleceu, eu estava
deitado sozinho em meu quarto, e alguns amigos cristãos estavam sentados na varanda,
admirando a noite. Eu estava dormindo há pouco tempo, e ao acordar, o pensamento de minha
consternação passou como um flash em minha mente com imenso poder! Minha esposa se fora!
Jamais escutaria sua voz novamente, nem veria seu rosto! Seus filhos estavam órfãos! O que eu
faria agora? Meu cérebro parecia cambalear, conforme minha mente divagava. Levantei-me no
mesmo instante de minha cama, exclamando, ficarei louco se não conseguir descansar no Deus.
O Senhor logo acalmou minha mente, por aquela noite; mas ainda assim, momentos de tristeza
sobrevinham-me, de forma a quase me sucumbir.
Certo dia eu estava de joelhos, em compartilhando com Deus sobre esse assunto, e de uma vez
por todas Ele parecia dizer-me “Você amava sua esposa?” “Sim.” eu disse. “Ora, amava-a pelo
bem dela, ou por teu próprio bem? Amava-a ou amava a ti mesmo? Se a amava pelo bem dela,
porque te entristeces por ela estar aqui Comigo? Sua alegria aqui Comigo não te deveria fazer
regozijar ao invés de prantear, se a amava por seu bem? Amava-a” Ele parecia dizer-me “por
amor a Mim? Se a amava por amor a Mim, com certeza não ficarias triste por ela estar aqui
Comigo. Por que pensas em tua perda e dás tanta importância para isso, ao invés de pensar no
que ela ganhou? Podes ficar triste quando ela está cheia de alegria e felicidade? Se a amava pelo
bem dela, será que não se alegrará em sua alegria, e ficará feliz com sua felicidade?”
Jamais poderei descrever os sentimentos que me sobrevieram, quando fui assim dirigido. Isso
gerou uma mudança instantânea em meu estado mental. A partir daquele momento, a tristeza, em
razão de minha perda, foi embora para sempre. Eu não mais pensava em minha esposa como
morta, mas sim viva, e em meio a todas as glórias dos céus. Minha fé, nesse momento, era tão
forte e minha mente tão iluminada, que eu parecia ser capaz de entrar no mesmo estado de
espírito em que ela estava, nos céus; e se houvesse algo parecido com a comunhão com um
espírito ausente, ou com alguém que está no céu, eu parecia estar em comunhão com ela. Não que
eu jamais tenha suposto que ela estivesse presente, de maneira que pudesse ter uma comunhão
pessoal com ela. Mas eu parecia saber em que estado sua mente se encontrava, que profundo,
irrestrito descanso, na perfeita vontade de Deus. Pude ver que era o céu, e experimentei em minha
própria alma. Eu nunca mais, até hoje, perdi a benção dessas visões. Elas freqüentemente
recorrem a minha mente, como o estado mental em que se encontram os próprios habitantes do
céu, e posso ver por quê eles estão em tamanha bem-aventurança.
Minha esposa falecera com uma mente celestial. Seu descanso em Deus era tão perfeito, que a
mim parecia que, ao deixar esse mundo, ela simplesmente entrou em uma compreensão mais
abrangente do amor e fidelidade de Deus, de forma a confirmar e aperfeiçoar para sempre, sua
confiança em Deus, e sua união com Sua vontade. Essas são experiências nas quais tenho vivido,
grande parte do tempo, desde aquela época. Mas ao pregar, descobri que não posso falar essas
verdades em lugar algum, nas quais minha própria alma deleita-se para viver, e ser
compreendido, exceto por um restrito número de pessoas. Jamais encontrei mais do que alguns
poucos, até mesmo de meu próprio rebanho, que apreciasse e recebesse aquelas visões de Deus e
Cristo, e a plenitude de Sua gratuita salvação, sobre a qual minha própria alma deleita-se para se
alimentar. Em todos os lugares, sou obrigado a descer ao nível no qual as pessoas estão, a fim de
fazer-me entender; e em todos os lugares onde preguei, por muitos anos, encontrei igrejas em
níveis tão baixos, a ponto de serem completamente incapazes de absorver e apreciar, o que eu
considero como as verdades mais preciosas do evangelho.
Quando prego a pecadores não arrependidos, sou obrigado, é claro, a voltar aos primeiros
princípios. Em minha própria experiência, já passei há tanto tempo de tais primeiros princípios,
que não posso viver sobre tais verdades tão somente. Contudo, devo pregá-las aos ímpios, para
assegurar sua conversão. Quando prego o evangelho, posso pregar sobre a redenção, conversão, e
muitas das proeminentes visões do evangelho, que podem ser apreciadas e aceitas, pelos jovens
na vida religiosa; e também por aqueles que há muito tempo estão na igreja de Deus, porém não
avançaram muito em seu conhecimento de Cristo. Mas é somente de vez em quando, que vejo ser
realmente proveitoso ao povo de Deus, apresentar-lhes a plenitude que minha própria alma vê em
Cristo. Neste lugar, há um número muito maior de pessoas, que me entendem, e devoram tais
verdades, do que já encontrei em qualquer outro lugar; mas até mesmo aqui, a maioria dos
professores de religião não abraça essas verdades com pleno entendimento. Eles não fazem
objeções, tampouco se opõem, e até onde compreendem, são convencidos. Mas como uma
questão de experiência, são ignorantes no poder das mais altas e preciosas verdades do evangelho
da salvação, em Cristo Jesus.
Já comentei que esse inverno em Boston foi gasto em grande parte, com pregações àqueles que se
professavam cristãos, e que muitos deles foram grandemente abençoados em suas almas. Eu tinha
uma grande certeza de que, a menos que os cristãos de Boston assumissem um estilo de vida com
padrões cristãos mais altos, jamais prevaleceriam contra o Unitarismo. Eu sabia que os pastores
ortodoxos pregavam a ortodoxia em oposição ao Unitarismo, por muitos anos; e que tudo que
pudesse ser conquistado por discussão, havia sido conquistado. Mas eu sentia que o que os
Unitários precisavam, era ver os cristãos vivendo do mais puro evangelho de Cristo. Eles
precisavam ouvi-los dizer, e provar o que diziam com suas vidas, que Jesus Cristo era um divino
Salvador, e capaz de salvá-los de todo pecado. Suas profissões de fé em Cristo, não estavam de
acordo som suas experiências. Eles não podiam dizer que encontravam Cristo, como O
pregavam, em sua experiência. Havia uma necessidade de testemunho vivo de Deus, testemunho
de experiências, para convencer os Unitários, e meros debates, argumentos, ainda que
conclusivos, jamais superariam seus erros e preconceitos.
As igrejas ortodoxas ali são muito formais; são cativas em certos caminhos, têm medo de novas
medidas, medo de avançarem em total liberdade, no uso de novos métodos para salvar almas. A
mim, sempre pareceram estar presos em suas orações, tanto que posso dizer que o espírito de
oração, foi por mim testemunhado muitas vezes em Boston. Os pastores e diáconos das igrejas,
embora fossem bons homens, têm medo do que os Unitários dirão, se, em seus métodos para
promover a religião, eles avancem de forma a acordar o povo. Tudo deve ser feito em uma certa
seqüência. O Espírito Santo foi afastado por sua rendição a tal prisão.
Trabalhei em Boston em cinco poderosos avivamentos religiosos; e devo expressar como minha
sincera convicção, que a maior dificuldade na maneira de superar o Unitarismo, e todas as formas
de erro ali, é graças à timidez dos cristãos e das igrejas. Sabendo, como sabem, que são
constantemente expostos a críticas dos Unitários, tornaram-se cuidadosos demais. Sua fé foi
deprimida. E eu temo sim que o prevalecimento do Unitarismo e do Universalismo naquele lugar,
os impediu de pregar, e de anunciar o perigo da impiedade, da maneira como o Presidente
Edwards apresentava. A doutrina da condenação eterna, a necessidade de santificação completa,
ou a abstinência total do pecado, como uma condição de salvação; de fato as doutrinas que são
calculadas para incitar os homens não são, temo eu, apresentadas com a freqüência e poder que
são indispensáveis para a salvação daquela cidade.
A pequena igreja na capela Marlborough estava muito desejosa para que eu me tornasse seu
pastor; então saí de Boston, e vim para casa, com essa pergunta em minha mente. Mais tarde o
Irmão Sears veio, com um pedido formal em seu bolso, para persuadir-me a ir e assumir minha
residência lá. Mas quando ele chegou a Oberlin e consultou os irmãos aqui, sobre a possibilidade
de minha ida, foi tão desencorajado, que sequer chegou a apresentar-me o convite.
A VERDADE DO EVANGELHO
AS MEMÓRIAS DE CHARLES G. FINNEY
CAPÍTULO XXVIII.
A PRIMEIRA VISITA À INGLATERRA
TENDO repetidos convites urgentes para visitar a Inglaterra, e trabalhar pela promoção de
avivamentos naquele país, embarquei com minha esposa (o Sr. Finney casara-se novamente,
como sua segunda esposa, a Sra. Elizabeth F. Atkinson, de Rochester), no outono de 1849, e
depois de uma atribulada viagem, chegamos a Southampton, no início de novembro. Lá
conhecemos o pastor da igreja de Houghton, um vilarejo situado no meio do caminho entre as
cidades de Huntington e Saint Ives. O Sr. Potto Brown, um homem muito benevolente, de quem
terei oportunidade de falar com mais freqüência, enviara o Sr. James Harcourt, seu pastor, para
encontrar-nos em Southampton.
O Sr. Potto Brown era, por herança e educação, um quacre. Ele tinha um sócio, e estava no
mercado de milho, pertencia a uma congregação de Independentes, em Saint Ives. Eles ficaram
muito preocupados em vista da situação em sua vizinhança. A Igreja, como é chamada na
Inglaterra, parecia-lhes ter pouquíssimo efeito para a salvação das almas. Não havia escolas, além
das escolas eclesiásticas, para a educação dos pobres; e a grande massa das pessoas era muito
negligenciada. Depois de muita oração e discussão uns com os outros, eles concordaram em
adotar métodos para a educação das crianças, no vilarejo em que viviam, e nos vilarejos vizinhos,
e entender essa influência até onde conseguissem. Também concordaram em aplicar seus
métodos, para a melhor vantagem, para estabelecer a adoração, e na construção de igrejas
independentes do Estabelecimento.
Não muito tempo depois desse empreendimento começar, o sócio do Sr. Brown faleceu. Sua
esposa, crio eu, falecera antes dele; e seu sócio comprometeu sua família, que consistia de vários
filhos e filhas, ao cuidado fraternal do Sr. Brown, que os comprometeu ao treinamento de uma
sábia viúva, em um dos vilarejos vizinhos. O sócio do Sr. Brown, em seu leito de morte,
implorou-lhe para que não abandonasse o trabalho que haviam projetado, mas para que
continuasse a trabalhar com vigor e singeleza. O coração do Sr. Brown estava na obra. Seu sócio
deixara uma grande propriedade para seus filhos. O próprio Sr. Brown tinha apenas dois filhos,
homens. Ele era um homem de hábitos simples, e não gastava quase nenhum dinheiro consigo
nem com sua família. Empregava um professor, no vilarejo onde morava, e construiu uma capela
para cultos abertos ao público. Eles chamaram um homem que defendia o hiper-Calvinismo para
trabalhar como pastor, e por conseqüência ele trabalhou ano após ano sem resultados que
respondessem às expectativas do Sr. Brown.
Ele tinha freqüentes conversas com seu pastor, sobre a necessidade de bons resultados. Pagava
seu salário e dispunha de seu dinheiro de várias maneiras, para promover a religião, através da
escola dominical, professores e obreiros; mas poucas pessoas, ou às vezes nenhuma se convertia.
Ele apresentava esse problema a seu pastor tão freqüentemente, que por fim ele respondeu “Sr.
Brown, por acaso eu sou Deus e posso converter as almas? Prego a eles o evangelho, e se Deus
não os converte, devo ser culpado?” O Sr. Brown respondeu “Sendo você Deus ou não,
precisamos de conversões. As pessoas precisam se converter.” Então esse pastor foi dispensado.
O Rev. James Harcourt foi chamado para assumir a igreja. Ele era um Batista aberto à comunhão,
um homem talentoso, empolgado pregador, e honesto obreiro de almas. Sob sua pregação,
conversões começaram a aparecer, e a palavra prosperava cheia de esperança. Sua pequena igreja
cresceu em número e em fé; e o céus se estendiam aos poucos, mas de forma bastante perceptível,
para todos os lados.
Eles logo estenderam suas obras para os vilarejos vizinhos, com bons resultados. Mas ainda não
sabiam como promover avivamentos religiosos. Os filhos de seu sócio, que haviam sido deixados
sob seus cuidados, cresceram e tornaram-se jovens rapazes e moças, mas ainda não eram
convertidos. Havia três filhos e três filhas, uma ótima família, com muitas propriedades, mas
ainda não eram convertidos. O Sr. Brown tinha muitos amigos interessantes e influentes, naquele
país, por cuja salvação tinha um profundo interesse. Ele também estava muito ansioso pelos
filhos de seu falecido sócio, para que eles também fossem convertidos. Para a educação de seus
filhos, ele contratara um professor para sua família; e um número considerável de rapazes, de
famílias respeitáveis, das cidades vizinhas, haviam estudado com seus filhos. Essa pequena
escola familiar, para a qual os rapazes filhos de seus amigos, de várias partes do país haviam sido
convidados, criara um laço de interesses muito forte entre o Sr. Brown e essas famílias. As obras
do Sr. Harcourt, por alguma razão, não alcançava essas famílias. Ele era muito bem-sucedido em
meio às classes mais baixas e mais pobres, era muito zeloso e devoto, e pregava o evangelho.
Como o próprio Sr. Brown disse, ele era um poderoso ministro de Jesus Cristo. Mas ainda assim
ele queria experiência, para atingir as classes sociais que o Sr. Brown tinha dentro de seu coração.
Esses irmãos freqüentemente discutiam o assunto, e questionavam como poderiam atingir tais
pessoas e atraí-las a Cristo. O Sr. Harcourt disse que fizera tudo que podia, e que algo mais
deveria ser feito, ou ele não via como tais pessoas pudessem ser alcançadas.
Ele havia lido minhas palestras sobre o avivamento, e finalmente sugeriu ao Sr. Brown a
possibilidade de escrever-me, para ver se não poderia vir trabalhar com eles. Isso levou a meu
recebimento de um pedido muito sincero do Sr. Brown, para que fosse visitá-los. Ele também
conversou com muitas pessoas, e com alguns pastores, o que resultou em muitas cartas recebidas
por mim, com pressionados convites para visitar a Inglaterra.
No começo, tais cartas não me causaram muito impacto, pois eu não via como poderia ir para a
Inglaterra. Aos poucos, o caminho parecia se abrir para que eu deixasse minha terra, pelo menos
por uma temporada, e como já disse, no outono de 1849, eu e minha esposa fomos para a
Inglaterra. Quando chegamos lá, e depois de descansar por alguns dias, comecei minhas obras na
capela do vilarejo. Logo descobri que o Sr. Brown era um homem completamente admirável.
Apesar de criado como um quacre, ele era inteiramente católico em suas idéias, e estava
trabalhando de forma independente, diretamente para a salvação das pessoas ao seu redor. Tinha
riqueza, e suas propriedades aumentavam constante e rapidamente. Sua história me lembrou
muitas vezes do provérbio: “Há o que espalha e ainda assim aumenta; há o que retém mais do que
precisa, e tende à pobreza”. Para fins religiosos, ele gastava seu dinheiro como um príncipe, e
quanto mais ele gastava, mas tinha para gastar.
Enquanto estávamos lá, ele abria sua casa, manhã, tarde e noite, para seus amigos e convidados,
de longe e de perto, para que lhe viessem fazer uma visita. Eles vinham em grandes números, de
forma que sua mesa estava repleta em quase todas as refeições, com várias pessoas que ele
convidara, para que eu pudesse conversar com elas, e para que elas pudessem participar de nossas
reuniões.
Um avivamento começou imediatamente, e espalhou-se em meio ao povo. Os filhos de seu sócio
logo se interessaram em religião, e converteram-se a Cristo. A obra se espalhou para aqueles que
vinham de vilarejos vizinhos. Eles ouviam e recebiam alegremente a Palavra. E o trabalho era tão
extenso e minucioso entre os amigos pessoais do Sr. Brown, por cuja conversão ele há muito
esperava e orava, que antes que eu fosse embora, ele disse que cada um deles se convertera, que o
Senhor não deixara nenhum deles de fora, daqueles por quem ele estivera tão ansioso, e por cuja
conversão tanto havia orado.
A conversão desse grande número de pessoas, espalhadas pelo país, causou uma impressão
bastante favorável onde eles eram conhecidos. A casa de adoração em Houghton era pequena,
mas estava lotada em todas as reuniões, e a devoção e engajamento do Sr. Brown e de sua esposa
era muito interessante e tocante. Parecia não haver limites em sua hospitalidade. O diretor de sua
escola era um homem religioso, que vinha compartilhar conosco de quase todas as refeições, para
aproveitar a conversa. Cavalheiros vinham de cidades vizinhas, de muitas milhas de distância,
cedo o suficiente para estarem lá para o desjejum. Os jovens que haviam sido educados com seus
filhos eram convidados, e vinham, e creio que cada um deles se converteu. Assim, seus maiores
desejos em relação a eles foram atendidos; e muito mais em meio à massa popular foi feito, do
que era esperado. O Sr. Harcourt tinha naquela época vários pontos de pregação, além de
Houghton, nos vilarejos vizinhos. Seu trabalho em Houghton continuou por anos. Ele me
informou que pregava em uma atmosfera de oração, e encontrava tal situação ao seu redor
sempre que esteve em Houghton.
Não permaneci em Houghton por muito tempo dessa vez… no entanto foram várias semanas.
Entre os irmão que me escreveram, urgindo para que eu fosse para a Inglaterra, estava um Sr.
Roe, um pastor Batista de Birmingham. Logo que soube que eu estava na Inglaterra, ele veio a
Houghton, e passou vários dias participando das reuniões e testemunhando os resultados.
Mais ou menos no meio de dezembo, saí de Houghton e fui para Birminghan, para trabalhar na
congregação do Sr. Roe. Aqui, pouco depois de nosso avivamento, fomos apresentados ao Rev.
John Angell James, que era o principal pastor de Birmingham. Ele era um bom e grande homem,
e tinha uma grande influência na cidade, e de fato em toda a Inglaterra.
Quando minhas palestras de avivamento começaram a ser publicadas na Inglaterra, o Sr. James
escreveu uma introdução a elas, elogiando muito. Mas quando eu cheguei a Birmingham, fui
informado de que, depois de terem sido publicamente recomendadas pelo Sr. James, em reuniões
pastorais, e por sua publicação, ele fora informado, por homens pertencentes a certos círculos
deste lado do Atlântico, que tais avivamentos que ocorreram, especialmente sob meu ministério,
haviam acabado de forma mais desastrosa; e tais apresentações foram-lhe feitas a tal ponto, que
chegou a retirar o que dissera publicamente, a favor de tais palestras.
Entretanto, quando ele me viu em Birmingham, chamou os pastores Independentes para um café-
da-manhã em sua casa, e convidou a mim também. Esse é o hábito de se fazer as coisas na
Inglaterra. Quando nos reunimos em sua casa, depois do desjejum, ele disse a seus irmãos de
ministério que tinha a impressão de que eles estavam muito aquém dos resultados esperados para
seus ministérios; que estavam acomodados demais tendo pessoas participando de suas reuniões,
pagando seu salário pastoral, mantendo a escola dominical, e prosseguindo com prosperidade,
enquanto as conversões, na maioria das igrejas, eram pouquíssimas, e afinal, as pessoas estavam
indo para a destruição. Eu havia sido informado pelo Sr. Roe, com quem começara a trabalhar
nessa época, que havia, na própria congregação do Sr. James, não menos do que mil que
quinhentos pecadores impenitentes. Durante aquele café-da-manhã, ele se expressou de forma
bastante compadecida, e disse que algo deveria ser feito.
Por fim, os pastores concordaram em realizar reuniões, tão logo eu pudesse atender a seus
pedidos, em igrejas Independentes diferentes, sucessivamente. Mas por algumas semanas,
confinei minhas obras à congregação do Sr. Roe, e houve um poderoso avivamento, tal mover
como eu jamais havia visto. O avivamento varreu a congregação com grande poder, e uma grande
porção dos ímpios voltou-se para Cristo. O Sr. Roe entrou na obra de coração e alma. Percebi que
ele era um homem bom e verdadeiro. De forma alguma era sectário ou preconceituoso em suas
visões, mas abria seu coração para a influência divina, e derramava-se em sua labuta por almas,
com muita sinceridade. Dia após dia ele se assentava na sacristia de sua igreja para conversar
com aqueles que tinham dúvidas, conforme esses vinham visitá-lo, e direcionava-os a Cristo. Seu
tempo era praticamente todo tomado com essa obra, por muitos dias. Sua igreja era, naquela
época, uma das poucas comunidades fechadas na Inglaterra, pois praticamente todas as igrejas
Batistas naquele país eram abertas a outras denominações.
Depois do número de conversões crescer, as igrejas começaram a examinar os convertidos para
admissão. Eles avaliaram um grande número e estavam prestes a realizar uma comunhão. Eu
preguei pela manhã e eles deveriam realizar a comunhão à tarde. Quando o culto da manhã foi
encerrado, o Sr. Roe pediu para que a igreja permanecesse ali por alguns momentos. Minha
esposa e eu nos retiramos, e fomos para nossos aposentos na casa do Sr. Roe, onde estávamos
hospedados. Depois de pouco tempo, o Sr. Roe veio para casa, entrou em nosso quarto e com um
sorriso em seu rosto, dise “O que você acha que nossa igreja fez?” Eu não sabia dizer, pois
realmente não havia me ocorrido de perguntar o que eles fariam, quando pediram para ficar. Ele
respondeu “Eles votaram unanimemente para que você e a Sra. Finney fossem convidados para a
nossa comunhão, esta tarde.” Sua comunhão fechada era mais do que podiam sustentar, em uma
ocasião como aquela. Contudo, ao refletir, concluímos que seria melhor não aceitar o convite,
pois se houvessem votado sob pressão, isso geraria uma certa reação e arrependimento entre eles
mais tarde, e como estávamos realmente exaustos, pedimos desculpas e ficamos em casa.
Sendo que eu pregaria novamente à noite, fiquei feliz de ter aquele descanso. Logo aceitei os
convites dos pastores para trabalhar em seus vários púlpitos. As congregações em todos os
lugares estavam lotadas; um grande interesse fora levantado; e o número de pessoas que se reunia
nas sacristias depois das pregações, mediante a convites para tirar dúvidas, era grande. Suas
maiores salas ficavam cheias de pessoas com dúvidas, sempre que um convite como esse era
feito. Quanto aos métodos, utilizei os mesmos lá que utilizara neste país. Pregações, orações,
conversas, reuniões para perguntas e respostas, eram os meios utilizados.
Mas eu logo descobri que o Sr. James estava recebendo cartas de vários lugares, alertando-o
contra a influência de minhas obras. Ele tinha conhecidos neste lado do Atlântico, e alguns deles,
como compreendi dele, haviam enviado-lhe cartas, alertando-o contra minhas influências. Além
disso, de várias partes de seu próprio país, a mesma pressão era imposta a ele. Ele era muito
franco comigo, e disse-me como a situação se encontrava, e eu fui muito franco com ele também.
Eu disse “Irmão James, sua responsabilidade é grande. Tenho consciência de que sua influência é
grande, e essas cartas demonstram tanto sua influência quanto sua responsabilidade, em relação a
essas obras. O senhor é levado a pensar que sou herege em minhas idéias. O senhor escuta
minhas pregações sempre que prego, e sabe se prego o evangelho ou não.”
Eu havia levado comigo meus dois livros publicados sobre Teologia Sistemática. Disse-lhe “O
senhor já me ouviu pregar qualquer coisa além do evangelho?” ele disse “Não, nada além disso.”
“Bem,” disse eu “agora, eu tenho aqui minha Teologia Sistemática, que ensino a meus alunos nos
Estados Unidos, e que prego em todos os lugares, e quero que o senhor leia.” Ele foi muito
sincero em fazê-lo. Eu logo percebi que havia um senhor de aparência muito elegante com ele,
todas as noites, em nossas reuniões. Eles iam para as reuniões juntos, e quando eu chamava
aqueles que tinham perguntas, eles também iam até a sacristia, e onde conseguissem um lugar,
ficariam, ouvindo tudo que era dito. Quem era esse cavalheiro, eu não sabia. Por várias noites
sucessivas, eles entravam assim, mas o Sr. James não me apresentou àquela pessoa que estava
com ele, nem se aproximava para falar comigo, naquelas reuniões.
Depois disso prosseguir por uma ou duas semanas, o Sr. James e seu amigo fizeram uma visita a
nossos aposentos. Ele me apresentou ao Dr. Redford, informando-me ao mesmo tempo, que ele
era um de seus mais proeminentes teólogos, que ele tinha mais confiança na perspicácia teológica
do Dr. Redford do que em sua própria, e que ele lhe solicitara uma visita a Birmingham, para que
participasse das reuniões, e em especial para que se unisse a ele na leitura de minha Teologia. Ele
disse que estavam lendo, dia após dia, e que o Dr. Redford gostaria de ter uma conversa comigoo,
sobre certos pontos da teologia. Conversamos com bastante liberdade sobre todos os assuntos
para os quais o Dr. Redford queria chamar minha atenção; e ele mesmo disse com muita
franqueza “Irmão James, não vejo nenhum motivo para considerar o Sr. Finney como infundado.
Ele tem sua própria maneira de defender proposições teológicas, mas não consigo ver que
discorde, em qualquer um dos pontos essências, de nós.”
Eles tinham consigo um pequeno manual, preparado pela União Congregacional da Inglaterra e
País de Gales, no qual foi encontrado uma breve declaração de suas visões teológicas. Eles leram
para mim certas partes desse manual, e quando chegou minha vez, questionei sobre eles. Ouvi
suas explicações, e fiquei satisfeito pelo nível de concordância que houve entre nós.
O Dr. Redford permaneceu ainda por mais um tempo em Birmingham. Ele foi embora, e, com
meu consentimento, levou consigo minha Teologia Sistemática; dizendo que leria com cuidado e
minuciosamente, então escrever-me-ia com seus pontos de vista a respeito dela. Percebi que de
fato, em sua terra natal, estava envolvido com a teologia, era professor e cristão, e um teólogo
plenamente educado. Fiquei, portanto, ansioso por receber suas críticas de minha teologia, para
que se houvesse qualquer coisa que precisasse ser retratada ou adicionada, ele pudesse indicar.
Pedi-lhe que assim o fizesse, minuciosa e francamente. Ele levou os livros para casa, entregou-se
a uma detalhada análise, lendo os volumes paciente e criticamente várias vezes. Então recebi uma
carta dele, expressando sua forte aprovação de minhas visões teológicas, dizendo que havia
poucos pontos sobre os quais ele gostaria de fazer algumas perguntas, e gostaria que, assim que
eu pudesse me afastar de Birmingham, fosse pregar para ele.
Continuei ali, creio eu, por mais ou menos três meses. Muitas conversões interessantes
aconteceram naquela cidade, e mesmo assim os pastores não estavam preparados para se
comprometerem de coração com o uso dos meios necessários, para que o avivamento se
espalhasse por toda a cidade.
Houve um caso de caráter tão interessante, que deve receber atenção. Suponho que num geral,
saiba-se neste país, que o Unitarismo na Inglaterra, começou seu desenvolvimento e promulgação
em Birmingham. Era a cidade natal do velho Dr. Priestley, que era um dos principais, senão um
dos primeiros pastores Unitários naquele país. Encontrei sua congregação ainda em
funcionamento em Birmingham. Certa noite, antes de deixar a cidade, preguei sobre a passagem
“Homens de dura cerviz e incircuncisos de coração e ouvido, vós sempre resistis ao Espírito
Santo.” Falei primeiro da divindade e da personalidade do Espírito Santo. Então esforcei-me para
mostrar de quantas maneiras, e em quantos pontos, o homem resiste aos ensinamentos divinos,
que quando convencidos pelo Espírito Santo, ainda insistem em seguir seu próprio caminho, e
que em todos os casos, estão resistindo ao Espírito Santo. O Senhor me deu liberdade naquela
noite, para pregar um sermão bastante detalhado. Meu objetivo era mostrar que, enquanto os
homens defendem sua dependência do Espírito Santo, estão constantemente resistindo-o.
Encontrei em Birmingham, assim como em todo lugar na Inglaterra, que muita importância era
dada à influência do Espírito Santo. Mas em nenhum lugar encontrei uma discriminação clara
entre a influência física do Espírito, exercida diretamente sobre a alma, e a influência moral e
persuasiva, que Ele de fato exerce sobre a mente do homem. Por conseqüência, via que era
freqüentemente necessário chamar a atenção das pessoas para a obra em que o Espírito Santo está
de fato engajado, explicar-lhes que eles não deviam esperar pela influência física, mas que
deviam se entregar a Sua influência persuasiva, e obedecer a Seus ensinamentos. Esse foi o
objetivo de meu discurso naquela noite.
Depois de chegar a nossa vizinhança, uma senhora que estava presente na reunião e que veio para
a família que nos hospedava, comentou que observara um pastor Unitário presente na
congregação. Eu comentei que aquilo deveria ter soado estranho aos ouvidos de um Unitário. Ela
respondeu que esperava que o fizesse bem. Não muito tempo depois disso, quando eu trabalhava
em Londres, recebi uma carta desse pastor, dando conta da grande mudança que acontecera em
sua experiência religiosa, por causa daquele sermão. Dou essa carta, conforme segue:
“06 de agosto de 1850. Rev. e querido senhor: Sabendo pelo British Banner que o senhor está
prestes a deixar a Inglaterra, sinto que seria extremamente ingrato de minha parte, permitir que o
senhor vá, sem expressar a obrigação que sinto para com o senhor, pelo benefício que recebi de
um de seus sermões, realizado na Rua Steelhouse, em Birmingham. Creio que foi o último
sermão que pregou, e foi sobre resistir ao Espírito Santo; mas nunca consegui encontrar o texto.
Na verdade, sobre os pontos com os quais mais me identifiquei, não maquinei por mais de dois
ou três dias sobre o texto. Para que o senhor possa compreender o benefício que recebi de seu
sermão, é necessário que eu de conta, em poucas palavras, de minha posição naquela época.
Fui educado em uma de nossas faculdades mais divergentes, para o ministério em meio aos
Independentes. Ingressei no ministério e continuei a me preocupar sobre ele por sete anos.
Durante aquele tempo, gradualmente passei por uma grande mudança em minhas visões
teológicas. A mudança foi gerada, creio eu, em parte pelas especulações filosóficas, e em parte
pela deterioração que se alojara em minha condição espiritual. Diria com grande pesar que minha
devoção jamais recuperou o tom que perdera em minha passagem pela faculdade. Atribuo todas
as minhas tristezas especialmente a isso. Minhas especulações me levaram, sem jamais ter lido o
livro do Dr. William sobre a soberania divina e a igualdade, a adotar suas visões
fundamentalistas. A leitura de seu livro aperfeiçoou completamente meu sistema. O pecado é um
defeito, que surge da deficiência necessária de uma criatura, quando não suprida com a graça de
Deus. A queda do homem, portanto, não expressa nada além da inevitável imperfeição original da
raça humana. O grande fim do governo moral de Deus é corrigir essa imperfeição por educação e
revelação, e por fim aperfeiçoar a condição do homem. Eu já havia, muito tempo antes disso,
adotado as visões de influência espiritual do Dr. Jenkyn.
Sob o direcionamento de tais princípios, o senhor compreenderá, sem que eu explique como, que
o pecado se tornou uma mera infelicidade, permitida por um tempo determinado, ou então um
mau necessário, para ser remediado pela infinita sabedoria e bondade; como a condenação eterna
se tornou uma crueldade, que não deveria ser considerada sequer por um momento, na
dispensação de um bom ser, e como a redenção se tornou um perfeito absurdo, fundado em
visões não filosóficas do pecado. Tornei-me plenamente Unitário, e no início do ano de 1848,
professei meu Unitarismo, e tornei-me pastor de uma igreja. As tendências de minha mente, no
entanto, eram felizmente lógicas demais, e não pude descansar por muito tempo no Unitarismo.
Forcei minhas conclusões ao simples deismo, e então vi que deveria ir ainda além. Eu não estava
preparado para isso. Toda a minha alma ficou horrorizada. Revi meus princípios. Uma revolução
começou a acontecer em todo meu sistema de filosofia. A doutrina da responsabilidade foi
restabelecida a mim, em seu sentido mais estrito e literal, e com ela, uma profunda consciência de
pecado. Não preciso entrar em maiores detalhes, no que diz respeito a minhas pelejas e
sofrimentos mentais.
Aproximadamente duas semanas antes de escutar o senhor, vi claramente que deveria algum dia,
mais cedo ou mais tarde, adotar novamente o sistema evangélico. Jamais duvidara que esse era o
sistema da bíblia. Tornei-me um Unitário com bases puramente racionais. Mas agora via que
precisava aceitar a bíblia, ou pereceria na escuridão. O senhor pode imaginar as agonias de
espírito que tive que suportar. Por um lado tinha minhas convicções, fortalecendo-se a cada dia, a
noção de pecado, e necessidade de Cristo, apoderando-se cada vez mais de meu coração, e a
condição miserável de reter a verdade que eu conhecia, das pessoas que buscavam instrução em
mim. Por outro lado, se me professar, arruíno instantaneamente meu caráter por minha aparente
fraqueza, aos olhos de todos os lados, especialmente aos olhos da grande maioria que em nada
simpatiza com tais pelejas, jogando a mim mesmo e toda minha família para o mundo. Eu não
podia escolher essa alternativa. Eu havia decidido esperar e preparar a mente das pessoas
gradualmente para a mudança, e ao exercer uma economia mais rígida, por alguns meses, para ter
provisão para nossas necessidades temporárias, durante o período de transição. Com minha mente
nesse estado, ouvi seu sermão. O senhor há de se lembrar dele, e poderá facilmente compreender
o efeito que surtiu. Senti a verdade de seus argumentos. Seus apelos avassalaram meu coração de
forma irresistível, e naquela noite, a caminho de casa, fiz um voto diante de Deus, que
independente do que houvesse, consagrar-me-ia de uma vez por todas ao Salvador, cujo sangue
aprendi o valor tão recentemente, e cujo valor tanto desonrei.
O resultado é, pela gentil influência do Sr.---, recentemente me tornei o pastor da igreja nesta
cidade. A paz que gozo hoje em minha mente, de fato excede todo entendimento. Jamais antes
encontrei tanto prazer em ser absorvido pela obra do ministério. Entro plenamente na
significância do que Paulo diz “Todo aquele que está em Cristo, nova criatura é.” Não posso
dizer-lhe portanto, com quantos sentimentos de gratidão seu nome está associado a minha alma.
Louvo a Deus pela gentil providência que me levou a ouví-lo. Parece-me agora mais do que
provável, que se não o tivesse ouvido, minha recém nascida vida religiosa logo teria sido
destruída, pela contínua resistência a minhas profundas convicções. Minha consciência mais uma
vez endurecer-se-ia, e eu morreria em meus pecados. Através da graça de Deus, atribuirei ao
senhor, qualquer utilidade que Deus possa de agora em diante possa coroar em minhas obras, e
sinto que não seria justo reter do senhor a consciência desse fruto de seu trabalho. Que Deus, em
sua infinita misericórdia e graça, conceda-lhe uma longa vida de ainda maior utilidade, do que já
tem lhe dado como benção. Esse será a minha constante oração.
Querido senhor, mais do que sinceramente seu,---”
Quando recebi essa carta, eu estava trabalhando com o Rev. John Campbell no velho
Tebernáculo de Whitefield, em Londres. Entreguei-lha para que lesse. Ele manifestadamente
emocionado, e exclamou “Pronto, por isso já valeu a pena vir para a Inglaterra!”
De Birmingam fui para Worcester, creio que no meio de março, para trabalhar com o Dr.
Redford. Já comentei que ele havia lido minha Teologia Sistemática, e me escrevera convidando-
me para uma conversa sobre certos assuntos. Eu tinha comigo minhas resposta a várias críticas
que haviam sido publicadas, e as entreguei ao Dr. Redford. Ele leu, então veio me ver, dizendo
“Aquelas repostas esclareceram todas as questões sobre as quais eu queria conversar; portanto,
estou plenamente satisfeito de que o senhor está certo.” Depois disso, em momento algum, que eu
me lembre, ele fez alguma crítica a qualquer parte de minha Teologia. Aqueles que já viram a
edição inglesa daquela obra têm consciência de que ele escreveu um prefácio para ela, no qual ele
a recomendava ao público cristão.
Na época a qual me refiro, quando ele lera minhas respostas às perguntas, ele expressou um forte
desejo de que a obra deveria ser imediatamente publicada na Inglaterra; e disse que acreditava
que essa obra era muito necessária lá, e que seria muito bom a todos. Sua opinião tinha muito
peso na Inglaterra, sobre questões teológicas. Lembro-me que o Dr. Campbell afirmou em seu
jornal, que o Dr. Redford era o maior teólogo da Europa. Permaneci em Worceter por várias
semanas, preguei para o Dr. Redford, e também para uma congregação Batista naquela cidade.
Muitas conversões impactantes aconteceram, e a obra foi de fato muito interessante.
Alguns ricos cavalheiros de Worcester apresentaram-me uma proposta para esse efeito. Eles
propuseram erguer um tabernáculo, ou casa de adoração; um que seria desmontado e transportado
de um lugar para o outro sobre a estrada de ferro, e com pouco custo, erguido novamente, com
todos os seus assentos, e toda a mobília de uma casa de adoração. Sua proposta era de construí-lo
com quinhentos metros quadrados, com assentos construídos de forma a comportar cinco ou seis
mil pessoas. Eles disseram que se eu aceitasse usá-lo, e pregar nele de um lugar para o outro,
conforme as circunstâncias exigissem, por seis meses, eles assumiriam as despesas da construção.
Mas ao consultar os pastores daquele lugar, eles me aconselharam a não fazê-lo. Eles acharam
que seria mais útil que eu ocupasse os púlpitos, nas congregações já estabelecidas, em diferentes
partes da Inglaterra, do que ir país a fora pregando de forma independente, tal como foi proposto
por aqueles cavalheiros.
Como eu tinha razões para acreditar que os pastores num geral desaprovariam um caminho na
época tão original, declinei o convide de ocupar o tabernáculo. Desde então eu penso que
provavelmente cometi um erro, pois quando vim a conhecer as congregações e lugares de
adoração pública das igrejas Independentes, descobri que eram geralmente muito pequenos, e tão
mal ventilados, tão fechados na circunferência da igreja – claro que falo do prédio em si – que
desde então parece-me duvidoso se eu realmente tomei a atitude correta; pois tenho a opinião de
que poderia, numa avaliação geral, ter alcançado muito mais na Inglaterra se carregasse comigo
meu próprio lugar de adoração, indo para onde quisesse, e oferecendo abrigo para as reuniões das
massas, independentes de denominações. Se minhas forças hoje fossem o que eram naquela
época, ficaria fortemente inclinado a visitar a Inglaterra mais uma vez, e tentar uma experiência
desse gênero. O Dr. Redford foi muito afetado pela obra em Worcester; e no aniversário em
maio, em Londres, ele falou à união Congregacional da Inglaterra e País de Gales, dando conta de
forma muito interessante de seu trabalho. Eu participei dessas reuniões de maio, estando prestes a
começar minhas obras com o Dr. John Campbell, em Londres.
O Dr. Campbell era um successor de Whitefield, e era pastor da igreja no Tabernáculo em
Finsbury, na cidade de Londres, e também da capela que ficava na Tottenham Court Road.
Ambos esses templos se localizam em Londres, a aproximadamente cinco quilômetros de
distância um do outro. Foram construídos pelo Sr. Whitefield, e ocupados por ele por muitos
anos.
Na época, o Dr. Campbell também era o editor do British Banner, do Christian Witness, e de
mais um ou dois outros periódicos. Tal era sua voz que ele não pregava, mas dedicava seu tempo
para a edição desses jornais. Ele vivia no presbitério onde Whitefield residira, e usava a mesma
biblioteca, creio eu, que Whitefield usara. Seu retrato estava pendurado em seu escritório no
Tabernáculo. Os vestígios de seu nome ainda estavam lá; ainda assim devo dizer que o espírito
que estivera sobre ele não era muito aparente na igreja, na época que fui para lá. Eu comentei que
o Dr. Campbell não pregava. Ele ainda tinha o pastorado, morava no presbitério, e recebia seu
salário, mas ele supria seu púlpito empregando, de poucas em poucas semanas, os ministros mais
populares que pudessem ser empregados, para pregar para seu povo. Eu comecei minhas obras ali
no início de maio. Aqueles que familiarizados com uma obra de tão constantes mudanças no
ministério, como acontecia no Tabernáculo, não teriam expectativas de que a religião na igreja
estivesse em uma condição muito lisonjeira.
A casa de adoração do Dr. Campbell era grande. Os assentos eram compactos, e tinham uma
lotação de três mil pessoas. Um amigo meu teve muito trabalho para verificar qual acomodava o
maior número de pessoas, o Tabernáculo em Moorfields (ou Finsbury), ou o grande Dexter Hall,
do qual todos já tinham ouvido falar. Foi verificado que o Tabernáculo acomodava algumas
centenas de pessoas a mais do que o Dexter Hall.
A VERDADE DO EVANGELHO
AS MEMÓRIAS DE CHARLES G. FINNEY
CAPÍTULO XXIX.
AS OBRAS NO TABERNÁCULO, EM MOORFIELDS, LONDRES
EU TINHA aceitado o convite cordial do Dr. Campbell para suprir seu púlpito por algum tempo,
e de acordo com isso, depois das reuniões de maio comecei a trabalhar, honestamente, por um
avivamento; apesar de não ter mencionado isso para o Dr. Campbell nem para ninguém, por
algumas semanas. Preguei uma série de sermões com o objetivo de convencer as pessoas do
pecado, quão profunda e plenamente fosse possível. Eu via de domingo em domingo, e noite após
noite, que a Palavra começava a ter grande efeito. No dia de domingo, eu pregava pela manhã e à
noite, e também pregava nas noites de terça, quarta, quinta e sexta-feira. Nas noites de segunda-
feira, tínhamos uma reunião geral de oração no Tabernáculo. Em cada uma daquelas reuniões, eu
falava ao povo sobre o assunto da oração. Nossas congregações eram muito grandes, e sempre no
domingo, a casa ficava lotada.
A religião declinara de tal forma em Londres, naquela época, que pouquíssimos sermões
semanais eram pregados, e me recordo de uma vez em que o Dr. Campbell me disse que
acreditava que eu pregava para mais pessoas, durante as noites da semana, do que todo o resto
dos pastores em Londres juntos. Já comentei que o Dr. Campbell tinha o salário pastoral, em sua
congregação. Mas ele não utilizava esse salário para si mesmo, não mais do que uma parte dele,
pois ele arcava com as despesas de suprir o púlpito, enquanto realizava os deveres paroquiais, que
conseguia dentro de suas possibilidades, mediante a tantas pressões do trabalho editorial. Vi que
o Dr. Campbell era um homem honesto, mas muito beligerante. Entrava sempre em controvérsias
e discussões. Como diz a expressão americana, ele costumava atacar com vigor todos e tudo que
não correspondesse a suas visões. Dessa forma ele fez muito bem, e ocasionalmente, temo, algum
mal.
Depois de pregar por várias semanas, na maneira que descrevi, eu sabia que era hora de chamar
aqueles que tinham dúvidas. Mas percebi que o Dr. Campbell não tinha essa idéia em mente. De
fato ele não se assentava num lugar de onde pudesse ver o que se passava na congregação, assim
como eu conseguia ver a partir do púlpito, e mesmo se assim o fizesse, provavelmente não
entenderia o que se passava. A prática naquela igreja era realizar um culto de comunhão a cada
quinze dias, no domingo à noite. Nessas ocasiões, eles tinham um sermão curto, e dispensavam a
congregação; todos se retiravam, exceto aqueles que tinham ingressos para o culto de comunhão,
que permaneciam enquanto aquela ordenança era celebrada.
Na manhã de Domingo à qual me referi, disse ao Dr. Campbell “Você tem um culto de comunhão
hoje à noite, e eu devo realizar uma reunião para perguntas e respostas no mesmo horário. Há
alguma sala, algum lugar nas proximidades para onde eu possa convidar o povo após a
pregação?” Ele hesitou, e expressou duvidar que qualquer um compareceria a uma reunião como
essa. Contudo, pressionei o assunto e ele respondeu “Sim, há a sala da escola infantil, para a qual
você pode convidá-los.” Perguntei quantas pessoas poderiam ser acomodadas ali. Ele respondeu
“De vinte a trinta, ou talvez quarenta.” Então eu disse “Ah, mas não é grande o suficiente. Você
não teria uma sala maior?” Com isso ele ficou estarrecido; e perguntou-me se eu achava que
havia interesse o suficiente na congregação para garantir o convite que eu pretendia fazer. Disse-
lhe que havia centenas de pessoas na congregação que viriam à reunião para tirar suas dúvidas.
Mas disso ele deu risada, dizendo que era impossível. Perguntei-lhe se ele não tinha uma sala
maior. “Bem, sim” ele respondeu, “temos a sala de aula da escola Britânica. Mas ela comporta
mil e quinhentas ou mil e seiscentas pessoas, é claro que você não vai querer.” “Sim, é essa sala
mesmo! Onde fica?” perguntei. “Ah, com certeza o senhor não se arriscará a marcar uma reunião
ali. Nem a metade comparecerá, eu presumo, do que poderia lotar a sala da escola infantil.” Ele
continuou dizendo “Sr. Finney, lembre-se de que está na Inglaterra, em Londres, e de que não
está familiarizado com nosso povo. O senhor pode conseguir com que pessoas compareçam a
uma reunião como essa que está disposto a fazer, nos Estados Unidos, mas aqui o povo não
comparecerá. Lembre-se que nosso culto da noite acaba antes do pôr do sol, nessa época do ano.
E o senhor supõe que no meio de Londres, diante de um convite àqueles que buscam a salvação
de suas almas, e que estão ansiosos por isso, as pessoas se indicarão, à luz do dia, e diante de um
convite como esse, dado publicamente, para participarem de tal reunião?” Eu lhe respondi “Dr.
Campbell, sei melhor do que o senhor o estado no qual essas pessoas se encontram. O Evangelho
adapta-se ao povo inglês tão bem quanto se adapta ao povo americano, não tenho temor algum de
que o orgulho do povo impeça-os de responder ao chamado, da mesma forma que aconteceria
com as pessoas nos Estados Unidos.”
Pedi para que ele me dissesse onde era a sala, e para especificar de tal forma que eu pudesse
mostrar o caminho às pessoas e fazer o apelo que pretendia. Depois de bastante discussão, o
doutor consentiu relutantemente, mas me disse expressamente, que eu deveria assumir toda a
responsabilidade, que ele não compartilharia indicações em particular sobre o caminho até o
local, que ficava a uma pequena distância do Tabernáculo. As pessoas tinham que passar pela rua
Cowper, no sentido da estrada da cidade, alguns metros, e fazer a curva numa passagem estreita,
para chegar ao prédio da escola Britânica. Então fomos para a reunião. Eu preguei de manhã e à
noite, isto é, às seis da tarde, se bem me lembro. Preguei um curto sermão, e então informei ao
povo o que desejava. Chamei aqueles que estavam ansiosos por suas almas, e que estavam
dispostos a fazer imediatamente as pazes com Deus, para que viessem àquela reunião de
instrução, adaptada a seu estado de espírito. Fui muito específico quanto ao grupo de pessoas que
convidei. Disse “Professores de religião não estão convidados a participar desta reunião. Aqueles,
e somente aqueles que não são cristãos mas estão ansiosos pela salvação de sua alma, e que
desejam receber instruções diretas sobre a questão de seu dever atual com Deus, são esperados.”
Repeti isso algumas vezes, de forma a não ser mal-compreendido. O Dr. Campbell escutou com
muita atenção, e presumo que ele esperava, já que eu havia restringido meu apelo a tal classe, que
pouquíssimos, se é que alguém fosse comparecer de fato. Eu estava determinado a não ter a
grande massa das pessoas naquele local, e que aqueles que fossem, deveriam ter a consciência de
que eram pecadores confusos em busca de respostas. Fui veemente nesse ponto, não apenas pelo
bem dos resultados da reunião, mas também para convencer o Dr. Campbell que sua visão do
assunto estava errada. Sentia-me inteiramente confiante que havia muita convicção na
congregação, e que centenas estavam preparados para responder a tal chamado, de uma vez. Eu
tinha plena convicção de que não estava sendo prematuro em fazer tal apelo. Prossegui então em
apontar claramente o grupo de pessoas que eu gostaria que participassem, e como poderiam
chegar até o local. Então dispensei a reunião, e a congregação se retirou.
O Dr. Campbell olhou pela janela, nervoso e ansioso, para ver a direção na qual o povo ia, e para
seu total espanto, a rua Cowper estava lotada de pessoas, apertando o passo para chegar à escola
Britânica. Eu saí e caminhei com a multidão, esperando à entrada do prédio até que todos
entrassem. Quando eu entrei, encontrei o lugar lotado. O Dr. Campbell tinha a impressão de que
não havia menos do que mil e quinhentas ou mil e seiscentas pessoas presentes. Era uma sala
grande, com bancos e carteiras, como eram usados nas escolas.
Havia, perto da entrada, uma plataforma, na qual os palestrantes ficavam, sempre que tinham
reuniões públicas, o que freqüentemente ocorria. Logo descobri que a congregação estava
plenamente convicta, e de tal forma que foi preciso que tomássemos certas precauções, para
evitar uma explosão irrepreensível de sentimentos. Pouco tempo depois o próprio Dr. Campbell
entrou. Observando tamanha reunião de pessoas, ele estava extremamente ansioso para estar
presente, e em função disso, terminou rapidamente o culto de comunhão, para vir para essa
reunião. Ele olhava maravilhado para a multidão reunida, e especialmente espantado com o
sentimento explícito em meio ao povo. Dirigi a palavra a eles por um curto período de tempo,
falando sobre a questão de nosso dever imediato para com Deus; e esforcei-me, como sempre
faço, para fazê-los compreender que Deus esperava que eles se rendessem inteiramente à Sua
vontade, abaixassem suas armas de rebelião, submetessem suas vidas a Ele como seu soberano
por direito, e aceitassem a Jesus como seu único Redentor.
Eu já estava na Inglaterra há tempo suficiente para sentir a necessidade de ser muito direto, ao
dar-lhes tais instruções para descartar sua idéia esperar pelo tempo de Deus. Londres é, e tem
sido há muito tempo, amaldiçoada com pregações hiper-calvinistas. Eu portanto teci meus
comentários com o objetivo de subverter tais idéias, nas quais eu supunha que muitos ali haviam
sido educados; exceto poucas pessoas presentes que, creio eu, faziam parte da congregação do
Dr. Campbell. Na verdade, ele mesmo havia me dito que a congregação que ele via dia após dia,
era nova; que as multidões que lotavam a igreja eram tão desconhecidas para ele quanto para
mim. Então, tentei em minhas instruções, por um lado, guardá-los contra o hiper-calvinismo, e
por outro, contra o baixo arminianismo no qual eu supunha que muitos haviam sido educados.
Portanto, depois de apresentar o evangelho minuciosamente e de lançar a rede, preparei-me para
puxá-la para a praia. Quando eu estava prestes a convidá-los a se ajoelharem e se entregarem
completa e eternamente a Cristo, um homem gritou no meio da congregação, na mais profunda
agonia mental, dizendo que de tanto pecar, já havia perdido seu dia de graça. Eu vi que havia o
risco de um reboliço, abafei a situação da melhor maneira que pude, e convidei o povo a se
ajoelhar, mas também para ficarem tão quietos, se possível, a ponto de escutarem cada palavra da
oração que eu começava naquele momento. Com um claro esforço, assim o fizeram, para que
pudessem ouvir o que era dito, apesar de tanto choro e soluço que enchia todas as partes da casa.
Então eu dispensei a reunião. Depois disso, realizei reuniões similares, com resultados similares,
freqüentemente nas noites de domingo, durante todos os nove meses que permaneci com aquela
congregação. O interesse tornou-se tão extenso, que as reuniões para perguntas e respostas não
cabiam mais no grande prédio da escola Britânica, e sempre que eu percebia que a impressão
sobre a congregação era bastante profunda e generalizada, depois de instruir-lhes
apropriadamente, e de colocá-los face a face com a questão da rendição plena e irrestrita a Cristo,
chamava aqueles que estavam com a mente preparada para isso, para que se levantassem em seus
lugares, enquanto eram entregues a Deus em oração. Os corredores naquele lugar eram tão
estreitos e lotados que era impossível usar o que chamo de assento ansioso, ou as pessoas se
mexerem pela congregação.
Muitas vezes, quando eu fazia esse apelo para que as pessoas se levantassem e se entregassem em
oração, centenas se colocavam de pé, e em algumas ocasiões, se a casa de fato comportava tantos
quantos era calculado, não menos do que duas mil pessoas se levantavam, em resposta ao apelo.
De fato, a partir do púlpito, parecia que toda a congregação ficava de pé. E eu não chamava os
membros da igreja, mas simplesmente pecadores a se colocarem em pé e se comprometerem com
Deus.
No meio da obra, uma situação ocorreu, que ilustrará a extensão do interesse religioso ligado
àquela congregação naquela época. A situação à qual faço alusão foi esta: os dissensores na
Inglaterra já se esforçavam por algum tempo para persuadir o governo a ter mais respeito por
suas ações, do que estavam dispostos a ter, para a dissensão do interesse naquele país. Mas
sempre obtinham uma resposta que indicava que a dissensão de interesse era pequena, se
comparada com a de uma igreja já estabelecida. Tanto havia sido dito sobre o assunto, que o
governo determinou a tomada de medidas para o equilíbrio de forças entre os dois lados, ou seja,
entre os dissensores e a igreja da Inglaterra. Certa noite de sábado, sem qualquer aviso prévio que
levaria as pessoas quem qualquer lugar a compreender ou até mesmo suspeitar do movimento,
uma mensagem foi enviada secretamente para todos os lugares de adoração no reino, solicitando
que indivíduos fossem selecionados para ficarem à porta de todas as igrejas, capelas e lugares de
adoração, na próxima manhã de domingo, para fazer o censo de todos aqueles que entravam nas
casas de todas as denominações. Tal aviso foi enviado ao Dr. Campbell, mas só fiquei sabendo
depois. Em obediência às ordens, ele colocou um homem em cada entrada do Tabernáculo, com a
instrução de contar cada pessoa que entreva, durante o culto da manhã. Isso foi feito, pelo que
entendi, por toda a Grã-Bretanha. Dessa forma mediram a força relativa de ambas as partes, em
outras palavras, qual tinha o maior número de adoradores no domingo, os dissensores ou a igreja
já estabelecida. Creio que esse censo provou que os dissensores eram a maioria. Mas seja lá como
for, o Dr. Campbell me disse que os homens colocados em cada porta do Tabernáculo reportaram
um número de milhares a mais do que poderiam de fato entrar na casa. Isso mostrou o fato de que
as multidões entravam, e não encontrando lugar para sentar ou ficar em pé, cediam seus lugares
para outros. O interesse era tão grande que um lugar de adoração que comportava milhares de
pessoas ficava tão lotado quanto o Tabernáculo.
Como ou quando todos vinham, o Dr. Campbell não sabia, e de fato ninguém poderia dizer, mas
que centenas e milhares se convertiam, não havia motivos para se duvidar. Na verdade, eu
mesmo vi e conversei com um grande número de pessoas, e trabalhei dessa forma até o limite de
minhas forças.
Na noite de sábado, pessoas com dúvidas e agonia, bem como recém-convertidos, vinham até
meu escritório para conversar. Várias pessoas vinham todas as semanas, e as conversões se
multiplicavam. Vinham, como depois vim a saber, de todas as partes da cidade. Muitos andavam
vários quilômetros todo domingo para participar das reuniões. Logo comecei a ser abordado nas
ruas, em diferentes partes da cidade, por pessoas que me conheciam, e que haviam sido
grandemente abençoadas ao participar de nossas reuniões. De fato, a Palavra de Deus era
abençoada, e muito abençoou Londres naquela época.
Certo dia o Dr. Campbell me convidou para entrar, e fazer alguns comentários aos professores da
escola Britânica. Eu fiz isso, e comecei perguntando-lhes o que eles propunham que fizéssemos
com sua educação, falando um pouco sobre sua responsabilidade a respeito disso. Tentei mostrar-
lhes todo o bem que poderiam fazer, e que benção seria sua educação para eles mesmos e para o
mundo, se a usassem da forma correta, e que perdição seria também para eles mesmos e para o
mundo se a usassem de forma egoísta. Meu discurso foi curto, mas esse ponto foi fortemente
pressionado sobre eles. Mais tarde o Dr. Campbell comentou comigo que um bom número deles,
não me recordo agora precisamente quantos, haviam sido recebidos na igreja, que acordaram e
foram levados a buscar a salvação de suas almas. Ele mencionou isso como um fato admirável
pois não tinha expectativa alguma de obter um resultado como esse.
O fato é que, pastores na Inglaterra, bem como aqui nos Estados Unidos, haviam perdido a visão
num geral, da necessidade de pressionar as obrigações presentes na mente do povo. Quando me
contou sobre isso, o Dr. Campbell disse “Oras, não entendo. Você não disse nada além do que
outras pessoas já haviam dito.” “Sim,” eu respondi, “eles podem ter dito, mas diriam dessa
forma? Teriam feito um apelo tão direto e explícito para a consciência daqueles jovens como eu
fiz?” Essa é a dificuldade. Pastores falam sobre pecadores; e não geram a impressão de que Deus
os ordena ao arrependimento imediato; desperdiçando seu ministério desta forma.
De fato raramente escuto um sermão que parece ser construído com a intenção de trazer os
pecadores, de uma vez por todas, a encarar seu dever para com Deus. Era difícil extrair a idéia, a
partir dos sermões que ouvíamos, tanto nos Estados Unidos quanto na Inglaterra, que os pastores
esperavam ou pretendiam ser utilizados como instrumentos para a conversão de qualquer um,
naquela época.
Um fato que foi ligado à minha pessoa há algum tempo ilustrará bem o que acabo de dizer. Dois
rapazes conhecidos um do outro mas com visões muito diferentes acerca da pregação do
evangelho faziam parte de duas igrejas, não muito distante uma da outra. Um deles teve um
poderoso avivamento em sua congregação, e o outro não teve nada. Um tinha ascensões
contínuas em sua igreja, e o outro não tinha nada. Certo dia, encontraram-se, e aquele que não
havia vivenciado nada em sua igreja perguntou a seu irmão qual seria a causa da diferença entre
eles, e pediu-lhe um de seus sermões, para que pudesse pregar a seu próprio rebanho e ver se
surtiria algum efeito diferenciado. O acordo foi feito, e ele pregou o sermão emprestado para seu
povo. Era um sermão, que apesar de transcrito, fora construído com o propósito de trazer
pecadores face a face com seu dever para com Deus. No encerramento do culto, ele viu que
muitos estavam grandemente afetados, e permaneciam em seus lugares, chorando. Ele então
pediu desculpas profundamente, dizendo que esperava não ter ferido seus sentimentos, pois não
era sua intenção.
Minha mente também estava muito agitada, em vista da desolação moral da vasta cidade de
Londres. Os lugares de adoração naquela cidade, como depois vim a saber, eram suficientes
apenas para acomodar uma pequena parte dos habitantes. Mas eu estava muito interessado em um
movimento que se espalhava entre os episcopais. Muitos de seus pastores vieram e participaram
de nossas reuniões. Um dos reitores, um Sr. Allen, envolveu-se profundamente, e decidiu que
tentaria promover um avivamento em sua própria paróquia. Mais tarde ele me informou que
estabeleceu em diferentes pontos de sua paróquia, vinte reuniões de oração. Ele começou a pregar
com todas as suas forças, falando diretamente ao povo. O Senhor abençoou grandemente seus
trabalho, e antes que eu fosse embora, ele me informou que não menos que mil e quinhentas
pessoas haviam-se convertido em sua paróquia. Muitos outros ministros episcopais foram
impulsionados, e com grande agitação em suas almas, realizavam cultos contínuos e prolongados.
Quando fui embora de Londres, haviam quatro ou cinco igrejas episcopais diferentes realizando
reuniões diárias, e esforçando-se para promover um avivamento. Em todas as circunstâncias, eu
creio, eles foram muito abençoados e renovados. Dez anos se passaram antes que eu visitasse
Londres novamente para trabalhar na obra, e fui informado que aquele trabalho jamais cessou,
que continuava e alargava suas tendas, espalhando-se por diferentes direções. Encontrei muitos
dos convertidos, na segunda vez em que estive lá, trabalhando em diferentes partes de Londres,
de várias formas, com muito sucesso.
Comentei que minha mente estava muito agitada por causa do estado em que se encontrava
Londres. Raras vezes fui levado a orar mais por uma cidade em qualquer outro lugar do que em
Londres. Algumas vezes, quando orava, especialmente em público, com as multidões diante de
mim, parecia que não conseguia parar, e que o espírito de oração quase me fazia sair de meu
corpo, em súplicas pelo povo, e por aquela cidade num todo. Eu havia acabado de chegar na
Inglaterra e comecei a receber vários convites para pregar, com o propósito de tirar ofertas para
diferentes objetivos: para pagar o salário do pastor, para ajudar a pagar pela capela ou para ajudar
a levantar fundos para a escola dominical. Eu havia concordado com seus pedidos, e não podia
fazer nada mais. Mas decidi não ir, não atender mais a tais chamados. Disse-lhes que não tinha
vindo à Inglaterra para ganhar dinheiro para mim mesmo ou para eles. Meu objetivo era ganhar
almas para Cristo.
Depois de ter pregado para o Dr. Campbell por quase quatro meses e meio, fiquei muito cansado,
e a saúde de minha esposa estava muito afetada por causa do clima, e por nosso intenso trabalho.
E aqui devo começar de forma mais particular, a descrever o que Deus fez por meio dela.
Até esse momento ela participara e assistira apenas reuniões para mulheres; e tais reuniões eram
uma novidade tão grande na Inglaterra que ela havia trabalhado muito pouco nessa direção. Mas
enquanto estávamos hospedados com o Dr. Campbell, ela recebeu um convite para participar de
um chá, para mulheres pobres, sem escolaridade ou religião. Esses chás, como são chamados, são
realizados na Inglaterra para reunir as pessoas por qualquer motivo em especial. Tal chá foi
organizado por alguns dos cavalheiros e damas cristãos benevolentes, e minha esposa foi urgida a
comparecer. Ela consentiu em ir, não imaginando que os cavalheiros permaneceriam na reunião
enquanto ela fizesse seu discurso. No entanto, ao chegar lá, encontrou o lugar lotado, e com as
mulheres, um número considerável de senhores, muito interessados nos resultados do chá. Ela
aguardou um pouco, esperando que eles se retirassem. Mas como eles permaneciam e esperavam
que ela assumisse a reunião, ela se levantou e, creio eu, desculpou-se por ter sido chamada para
falar em público, sendo que não tinha o hábito de fazê-lo. Na época, ela era minha esposa há
pouco mais de um ano, e nunca tinha viajado para o exterior comigo para trabalhar em
avivamentos, até irmos para a Inglaterra. Ela fez um discurso nessa reunião, como depois me
contou ao voltar para nossos aposentos, de mais ou menos quarenta e cinco minutos ou uma hora
de duração, com ótimos e claros resultados. As mulheres desfavorecidas presentes pareciam estar
muito tocadas e interessadas, e quando ela terminou de falar, alguns dos cavalheiros presentes se
levantaram, e expressaram sua grande satisfação com o que acabaram de ouvir. Eles disseram que
tinham preconceito com mulheres falando em público, mas não conseguiam ver objeções em uma
situação como essa, e viam que aquilo claramente traria um bem tremendo. Então eles a
convidaram a participar de outras reuniões similares, e ela o fez. Quando ela retornava, contava-
me o que fizera, e dizia que não sabia como, mas que aquilo incitaria o preconceito do povo na
Inglaterra, e talvez até causasse mais mal do que bem. Eu mesmo tinha esse mesmo temor, e
expressei-me assim para ela. Ainda assim, creio que não a aconselhei a ficar parada e não mais
participar de tais reuniões, mas depois de um pouco mais de reflexão, encorajei-a. daí por diante
ela ficou cada vez mais acostumada, enquanto permanecemos na Inglaterra, com esse tipo de
trabalho, e depois que voltamos para casa, ela continuou a trabalhar com as mulheres, onde quer
que fôssemos. Disso falarei mais em outra ocasião, quando falar sobre os avivamentos nos quais
ela teve uma participação muito proeminente.
Muitos outros casos de interessantíssimas conversões aconteceram em Londres nessa época, em
quase todas as classes sociais. Muito preguei sobre confissão e restituição, o que gerou resultados
verdadeiramente maravilhosos. Quase todas as formas de crime foram denunciadas e
confessadas. Centenas, e creio até que milhares de libras esterlinas foram pagas em restituições.
Todos que conhecem Londres sabem que de novembro a março, a cidade é muito gelada, e tem
uma atmosfera na qual é quase impossível se falar ou respirar. Fomos para lá no começo de maio.
Em setembro, meu amigo Brown, de Houghton, visitou-nos, e vendo o estado de saúde em que
ambos estávamos, ele disse “Isso não dará certo. Vocês devem ir para a França, ou algum outro
lugar no continente onde as pessoas não compreendam seu idioma, pois não haverá descanso para
vocês aqui na Inglaterra enquanto vocês conseguirem falar alguma coisa.” Depois de conversar
sobre o assunto, decidimos seguir seu conselho, e fomos para a França por um tempo. Ele me
entregou cinqüenta libras esterlinas, para cobrir nossas despesas. Fomos para Paris e vários outros
lugares na França. Cuidamos para não fazer amizades e mantivemo-nos o mais em silêncio
possível. A influência da mudança de clima na saúde de minha esposa foi notável. Ela recuperou
toda sua força e voz rapidamente. Eu recuperei gradualmente minha vivacidade, e depois de uma
ausência de mais ou menos seis semanas, voltamos para nossas obras no Tabernáculo, onde
continuamos a trabalhar até o início do próximo mês de abril, quando voltamos para casa. Eu
deixei a Inglaterra com grande relutância, mas a prosperidade de nossa faculdade parecia exigir
que eu retornasse. Havíamo-nos interessado grandemente pelo povo da Inglaterra, e gostaríamos
muito de permanecer por lá, prolongando nossas obras. Viajamos em um grande navio, o
Southampton, que saiu de Londres. No dia em que zarpamos, uma multidão de pessoas, que
estavam interessadas em nosso trabalho, reuniu-se no cais. A grande maioria era de jovens
convertidos. O navio teve que esperar pela maré, e por várias horas o povo continuou ali, no
espaço perto do navio, esperando para dizer adeus. A despedida de um povo com um coração tão
amoroso tomou por completo as forças de minha esposa. Logo que o navio partiu, ela se retirou
para nossa cabina. Eu permaneci no convés, olhando os lenços que eram acenados até que
estivéssemos rio abaixo, fora de seu campo de visão. Assim foram encerradas as nossas obras na
Inglaterra, em nossa primeira visita àquele país.
A VERDADE DO EVANGELHO
AS MEMÓRIAS DE CHARLES G. FINNEY
CAPÍTULO XXX.
AS OBRAS EM HARTFORD E EM SYRACUSE
CHEGAMOS a Oberlin em maio de 1851, depois dos costumeiros trabalhos de verão, partimos
para a cidade de Nova Iorque no outono, esperando passar o inverno trabalhando com a igreja do
Rev. Dr. Thompson, no velho Tabernáculo da Broadway, conforme eu fora convidado. No
entanto, depois de pregar ali por um curto período, encontrei muitos empecilhos no caminho de
nosso trabalho, especialmente a constante interrupção de nossos cultos noturnos, por causa do
costume de emprestar o Tabernáculo para palestras públicas, nas quais falhei em obter sucesso,
no esforço para promover um avivamento geral. Então fui embora, e aceitei o convite para ir para
Hartford e realizar uma série de reuniões. Fui convidado pelo Rev. William W. Patton, que na
época era pastor de uma das igrejas congregacionais daquela cidade.
Logo que comecei minhas obras ali, uma poderosa influência avivadora se manifestou no meio
do povo. Mas nessa época, uma infeliz discórdia existia entre o Dr. Hawes e o Dr. Bushnell. A
ortodoxia do Dr. Bushnell, como já se sabe, foi questionada. O próprio Dr. Hawes era da opinião
de que as visões e idéias do Dr. Bushnell eram altamente objecionáveis. Contudo, ambos
participavam de nossas reuniões e manifestavam um grande interesse em nosso trabalho, que eles
podiam ver, acabara de começar. Eles me convidaram a pregar em suas igrejas, e assim o fiz.
Ainda assim os irmãos sentiam, por toda cidade, que o desentendimento entre os pastores era uma
pedra de tropeço, e havia uma clara urgência para que os ministros se relacionassem de forma
mais fraternal, e se unissem diante do povo, para promover a obra. As pessoas num geral não
simpatizavam com as fortes opiniões do Dr. Hawes a respeito da ortodoxia do Dr. Bushnell. Ao
saber disso, tive uma amigável conversa com o Dr. Hawes, e disse-lhe que ele estava em tinha
um posicionamento errado, e que as pessoas se sentiam testadas ao vê-lo dar tanta importância ao
que ele chamava de erros do Dr. Bushnell, e que num geral, creio eu, não eram justificáveis à
posição que ele ocupava. O Dr. Hawes era um bom homem, e claramente tinha profunda
consciência de sua responsabilidade.
Certa noite eu estava pregando, acredito, para o Irmão Patton, e os três pastores congregacionais
estavam presentes. Depois da reunião, eles foram comigo para meus aposentos, e o Dr. Hawes
disse “Irmão Finney, estamos satisfeitos com o que o Espírito do Senhor tem derramado aqui, e
agora, o que podemos fazer como pastores para promover essa obra?” Disse-lhes sem restrições o
que pensava; que uma grande responsabilidade estava sobre eles, e que a mim me parecia que
caberia a eles dizer se a obra se tornaria geral e abrangente por toda a cidade ou não; que se eles
pudessem se reconciliar e superar suas diferenças, e diante de suas igrejas, unirem-se pela causa
da obra, um grande obstáculo seria removido; e que então poderíamos esperar que a obra se
espalhasse rapidamente por todas as direções. Eles viram sua posição; Hawes e Bushnell
chegaram a um acordo para deixar de lado as dificuldades e avançar na promoção da obra. Devo
dizer aqui que acredito que o Irmão Patton nunca simpatizou com as fortes opiniões defendidas
pelo Dr. Hawes; e devo dizer também que o próprio Dr. Bushnell parecia não ter nada contra o
Dr. Hawes; e o empecilho a ser removido diante do povo parecia ser, principalmente, a falta de
vontade do Dr. Hawes em cooperar cordialmente com outros pastores na obra.
Ele era um homem bom demais para persistir em fazer qualquer coisa que impediria sua ação
consistente para promover a obra. Portanto, a partir daquela época, parecíamos trabalhar juntos,
com muita cordialidade. A obra se espalhou por todas as congregações, e prosperou cheia de
esperança, por várias semanas. Mas havia uma peculiaridade sobre aquele trabalho que jamais
esquecei. Creio que todos os domingos que estive naquela cidade, foram tempestuosos. Uma
sucessão tal de tempestades que jamais vivenciei. Contudo, nossas reuniões eram sempre lotadas,
e para um lugar como Hartford, a obra se tornou poderosa e abrangente.
Quem conhece Hartford sabe o quão meticuloso e preciso é aquele povo, em tudo que fazem.
Tinham medo de qualquer outro método além de reuniões de oração, de pregação e de perguntas
e respostas. Em outras palavras, estava fora de cogitação chamar pecadores para virem à frente, e
romperem com o temor dos homens, entregando-se publicamente a Deus. Em especial o Dr.
Hawes tinha muito medo de medidas como essa. Conseqüentemente eu não podia fazer isso ali.
De fato, o Dr. Hawes tinha tanto medo dessas medidas, que eu me lembro de certa noite, que ao
participar de uma reunião para perguntas e respostas em sua sacristia, o número de irmãos
presentes era grande, e no encerramento da reunião, convidei aqueles que estavam dispostos a
entregar suas vidas para Deus, a se ajoelharem. Isso espantou o Dr. Hawes, e ele comentou antes
que eles se ajoelhassem que ninguém era obrigado a faze-lo, a menos que com alegria, assim
desejassem. Enfim, ajoelharam-se, e oramos com eles. Conforme aqueles novos irmãos se
levantavam e eram dispensados, o Dr. Hawes comentou comigo “Sempre senti a necessidade de
uma medida como essa, mas sempre temi em fazê-lo. Sempre vi que havia a necessidade de algo
mais para trazer as pessoas a uma decisão, e para induzi-los a agir de acordo com suas
convicções, mas nunca tive a coragem de propor algo do tipo.” Eu lhe disse que descobrira que
tal medida era indispensável, para trazer os pecadores ao ponto da submissão.
Nesse avivamento houve muita oração. Os jovens convertidos em especial, entregavam-se demais
à oração. Certa noite, eu soube, depois do culto, um dos jovens convidou outro para ir até sua
casa com ele e ter um período de oração em comunhão. O Senhor estava com eles, e na noite
seguinte eles convidaram outros, e na noite seguinte, mais ainda, até que a reunião se tornou tão
grande que foi necessário dividi-la. Essas reuniões eram realizadas depois do culto. A segunda
reunião logo se tornou grande demais para a sala onde era realizada, e foi mais uma vez dividida.
E pelo que entendo, essas reuniões se multiplicaram até que todos os jovens convertidos
adquirissem o hábito de realizar reuniões de oração, em diferentes lugares, depois do culto. Isso
levou a um esforço bastante organizado, entre os jovens, pela salvação de almas.
Uma situação muito interessante aconteceu nessa época nas escolas públicas. Fui informado que
os pastores não visitariam as escolas, nem fariam esforços religiosos ali, pois isso incitaria inveja
em diferentes denominações. Eu soube que certa manhã vários rapazes, ao se reunirem, estavam
tão agitados que não conseguiam estudar, então pediram para seu professor que orasse por eles.
Ele não era professor de religião, então mandou chamar um dos pastores, informando-lhe da
situação, e pedindo-lhe que viesse realizar algum tipo de reunião religiosa com eles. Mas ele
recusou, dizendo que havia um acordo entre os pastores de não ir à escolas públicas para realizar
eventos religiosos. Ele chamou outro, e outro, mas todos lhe disseram que ele mesmo deveria
orar pelos alunos. Isso gerou uma imensa pressão sobre ele, mas resultou, creio eu, na entrega de
seu próprio coração a Deus, e em seu envolvimento para que toda a escola se convertesse. Até
onde sei, boa parte dos alunos, em muitas das escolas públicas, foram convertidos naquela época.
Todos que conhecem a cidade de Hartford sabem que seus habitantes são pessoas muito
inteligentes, que todas as classes sociais têm educação, e que não há, talvez em todo o mundo,
uma cidade com uma educação tão organizada quanto Hartford. Quando os convertidos foram
admitidos, creio que por volta de seiscentas pessoas uniram-se a suas igrejas. Antes de ir embora,
o Dr. Hawes me disse “O que devemos fazer com esses jovens convertidos? Se deles
formássemos uma igreja, tornar-se-iam admiráveis obreiros pela salvação de almas. No entanto,
se os recebermos em nossas igrejas, nas quais temos tantos senhores e senhoras de idade, de
quem sempre se espera a liderança, sua modéstia os fará ficar para trás desses irmãos, e viverão
como têm vivido, e serão tão ineficientes como têm sido.” Contudo, os jovens convertidos de
ambos os sexos formaram por si mesmos um tipo de sociedade missionária na cidade, e se
organizaram com o propósito de realizar esforços diretos para converter almas por toda a cidade.
Tais esforços como esse, por exemplo, foram feitos por vários deles. Uma das principais moças,
talvez tão conhecida e respeitada quanto qualquer senhora da cidade, assumiu a responsabilidade
de clamar por, e se possível converter, um grupo de jovens rapazes que pertenciam à ricas e
proeminentes famílias, mas que tinham adquirido maus hábitos, caído na imoralidade, e perdido o
respeito pelas outras pessoas.
A posição e caráter dessa jovem tornaram possível e próprio que ela realizasse tal tarefa sem
gerar suspeita de comportamento impróprio de sua parte. Ela viu uma oportunidade para
conversar com esse grupo de rapazes, e até onde sei, reuniu-os para oração e conversa sobre
religião, tendo sucesso no clamor por vários deles. Se bem fui informado, os que se converteram
nesse avivamento tornaram-se uma grande força para o bem naquela cidade; e muitos deles ainda
permanecem lá, trabalhando ativamente na promoção da religião.
A Sra. Finney estabeleceu reuniões de oração para as mulheres, que eram realizadas na sacristia
das igrejas. Essas reuniões tinham um público muito grande, e se tornaram muito interessantes.
As mulheres estavam muito unidas, e sinceramente envolvidas, tornando-se assim uma das
principais forças, sob o poder de Deus, para levar adiante Sua obra.
Saímos de lá por volta do dia primeiro de abril, indo para Nova Iorque a caminho de casa. Ali,
preguei algumas vezes para o Rev. Henry Ward Beecher, no Brooklyn, onde crescia uma
profunda influência religiosa no meio do povo tanto quando cheguei, quanto quando fui embora.
Mas preguei apenas algumas poucas vezes, pois minha saúde já não mais suportava, e fui
obrigado a parar. Chegando em casa, continuamos com nossas obras como sempre, com o
resultado quase que uniforme de um alto nível de influência religiosa entre nossos alunos, que se
estendia de uma forma meio generalizada aos outros cidadãos.
No inverno seguinte saímos de Oberlin na época de costume, e fomos para o Leste, trabalhar num
campo para o qual fôramos convidados. Enquanto estávamos em Hartford, no inverno anterior,
fomos urgidos a ir para obrar em Syracuse. O pastor da igreja Congregacional viera até Hartford
para me persuadir, se possível, a retornar com ele. Eu não via que era meu dever ir até lá naquele
momento, e não pensei mais no assunto. Mas desta vez, a caminho do Leste, encontramos esse
pastor em Rochester. Nesse momento ele não era mais o pastor da igreja Congregacional da
cidade de Syracuse. Mas tinha tanto apreço por eles, que finalmente induziu-me a prometer que
faria uma parada ali, para passar pelo menos um domingo. Assim o fizemos, e encontramos uma
igreja muito pequena e desencorajada. Eram poucos membros. A igreja era composta em sua
maioria de pessoas com visões radicais, no que dizia respeito às grandes questões da reforma. As
igrejas Presbiterianas, e outras igrejas no geral, não simpatizavam com eles, e parecia que a igreja
Congregacional deveria ser extinta.
Preguei ali num Domingo, e a situação da igreja tornou-se tão clara para mim, que fui induzido a
permanecer mais uma semana. Logo comecei a perceber um movimento em meio aos ossos
secos. Alguns dos principais membros da igreja Congregacional começaram a fazer confissões
uns aos outros, e confissões públicas de suas idéias sobre Deus, e sobre outras coisas que criaram
preconceito contra eles na cidade. Isso conciliou as pessoas a seu redor, e eles começaram a vir, e
logo sua casa de adoração era pequena demais para o povo; e embora eu não esperasse
permanecer mais do que um domingo, não via que meu caminho estivesse aberto para ir embora,
e continuei ali, semana após semana. O interesse continuava a aumentar e se espalhar. O Senhor
removia os obstáculos, e aproximava mais o povo cristão. As igrejas Presbiterianas foram abertas
às nossas reuniões, e as conversões se multiplicavam por todo lado. Nunca existira muita
simpatia entre eles, e uma tremenda obra era necessária entre os professores de religião, antes que
os caminhos pudessem ser preparados fora das igrejas. Assim eu continuei a trabalhar em cada
uma, até que a Segunda Igreja Presbiteriana ficou sem pastor; a partir de então, concentramos
muitas de nossas reuniões ali, uma medida que foi seguida durante todo o inverno.
Aqui a Sra. Finney estabeleceu novamente sua reunião de senhoras com muito sucesso. Ela
geralmente as realizava na sala de palestras da Primeira Igreja Presbiteriana, que creio eu, era
uma sala cômoda e conveniente para tais reuniões. Muitos fatos interessantes aconteceram em
suas reuniões naquele inverno. Cristãos de diferentes denominações pareciam fluir juntos depois
de um certo tempo, e todas as dificuldades que existiram entre eles pareciam ter sido desfeitas.
As igrejas Presbiterianas e Congregacional ficaram todas sem pastores enquanto eu estava lá, e
portanto, nenhuma delas abriu suas portas para receber os novos convertidos. Eu tinha um grande
desejo que isso acontecesse, mas sabia que havia um grande risco, que se começassem a receber
os novos convertidos, a inveja se espalharia e prejudicaria a obra.
Quando estávamos prestes a ir embora, na primavera, anunciei de púlpito, sob minha própria
responsabilidade, que no domingo seguinte, teríamos um culto de comunhão, ao qual todos os
cristãos, que realmente amavam ao Senhor Jesus Cristo, e demonstravam isso em suas vidas,
estavam convidados. Aquele foi um dos períodos de comunhão mais interessantes que jamais
presenciei. A igreja estava cheia de comungantes. Dois ministros muito idosos, os padres Waldo
e Brainard, participaram e ajudaram no culto de comunhão. Havia um grande amor na
congregação, e uma comunhão mais apaixonada e alegre do povo de Deus, creio que nunca vi.
Depois que fui embora, todas as igrejas estabeleceram pastores. Fui informado de que aquele
avivamento resultou em um grande e permanente bem. A igreja Congregacional construiu para si
um templo maior, e tem sido desde então, acredito, uma igreja e congregação saudável. As igrejas
Presbiterianas, e creio que as Batistas também, foram muito fortalecidas em sua fé, e cresceram
em seu número.
A obra foi muito profunda entre os professores de religião. Um fato muito impactante ocorreu,
que devo mencionar. Havia uma senhora de nome C, a esposa cristã de um marido não
convertido. Ela era uma senhora muito refinada, muito bela e de ótimo caráter. Seu marido era
um mercante, um homem de boa moral e caráter. Ela participava de nossas reuniões, e tornou-se
muito ansiosa por uma obra mais profunda da graça em sua alma. Ao visitar-me certo dia, ela
estava muito ansiosa e cheia de dúvidas. Conversei com ela por alguns momentos, e chamei sua
atenção especialmente para a necessidade de uma consagração plena e universal dela, por inteiro,
a Cristo. Disse-lhe que quando fizesse isso, deveria crer num selo do Espírito Santo. Ela escutara
da doutrina da santificação, e isso muito a interessava; e sua dúvida era como poderia obtê-la?
Orientei-lhe da forma que mencionei, ela se levantou rapidamente e me deixou. Tamanha pressão
estava sobre sua mente, que ela parecia com pressa para apropriar-se da plenitude que havia em
Cristo. Creio que ela não esteve em meus aposentos por mais de cinco ou dez minutos, e deixou-
me como alguém que tem negócios urgentes a resolver. À tarde ela voltou, aos olhos humanos,
tão cheia do Espírito Santo quanto pudesse estar. Ela disse que apressou-se para casa pela manhã,
ao sair de nossa reunião, e foi imediatamente à seus aposentos, jogando-se aos pés do Senhor,
consagrando-se totalmente, e tudo que tinha, a Ele. Ela disse que compreendia muito melhor o
que aquilo significava, e fez uma entrega completa às mãos de Cristo. Sua mente acalmou-se de
uma só vez, e ela sentia que começava a receber a plenitude do Espírito Santo. Em pouquíssimo
tempo ela parecia ser erguida acima de si mesma, e sua alegria era tão grande que mal conseguia
segurar os brados.
Conversei um pouco com ela, e vi que ela corria o risco de estar empolgada demais. Falei tanto
quanto ousei falar para colocá-la em alerta a respeito disso, e ela foi para casa.
Poucos dias depois, seu marido veio visitar-me numa manhã com sua charrete, e convidou-me a
dar uma volta com ele. Eu fui, e vi que seu objetivo era falar comigo sobre sua esposa. Ele disse
que ela fora criada entre amigos, e quando se casou com ela, pensava que ela fosse uma das mais
perfeitas mulheres que já conhecera. Mas por fim, ele disse, ela se converteu e ele então percebeu
uma mudança tão grande nela, maior do que jamais pudesse imaginar; pois antes ele a via como
perfeita, em sua moral, em sua vida exterior. Ainda assim, a mudança em seu espírito e essência,
na época de sua conversão era tão manifesta, ele disse, que não havia como duvidar. “Desde
então, eu a tenho como praticamente perfeita. Mas, agora ela passou por uma mudança maior do
que nunca. Vejo isso em tudo. Tal espírito existe nela, tamanha mudança, tamanha energia em
sua religião, tamanha plenitude de alegria, paz e amor!” E perguntou “O que farei com isso?
Como posso entender? Tais mudanças realmente ocorrem em pessoas cristãs?”
Expliquei-lhe da melhor forma que pude. Tentei faze-lo entender o que ela era por sua educação
como uma quaker, e o que sua conversão havia feito por ela; então lhe disse que um novo
bastismo no Espírito Santo realizara tamanha mudança nela, naquela época. Ela já partiu para o
céu; mas o sabor daquela unção do Espírito permaneceu com ela, como mais tarde fui informado,
até o dia de sua morte.
Há uma circunstância que já ouvi a Sra. Finney relatar várias vezes, que ocorreu em suas
reuniões, que vale ser mencionada aqui. Sua reunião de senhoras era composta das mais
inteligentes senhoras nas diferentes igrejas. Muitas delas provavelmente fastidiosas. Mas havia
uma senhora de idade, sem escolaridade, que participava das reuniões, e que costumava falar, de
vez em quando, aparentemente para irritar as outras mulheres. De alguma forma ela achava que
era seu dever falar em todas as reuniões, e algumas vezes ela se levantava e clamava ao Senhor
para que Ele derramasse sobre ela o que ela deveria falar na reunião, enquanto tantas senhoras
cultas tinham a permissão de participar mas não de falar coisa alguma. Ela se perguntava por quê
Deus lhe havia dado o dever de falar, enquanto aquelas finas senhoras, que poderiam falar tanto
para a edificação, tinham a permissão de participar e “não questionar”, como ela descrevia
“engolir”. Ela parecia sempre falar de forma chorosa e reclamona. O fato de que ela achava que
era seu dever falar em todas as reuniões desencorajava e irritava bastante minha esposa. Ela via
que as senhoras não se interessavam, mas isso para ela não passava de um elemento de
perturbação.
Mas depois das coisas continuarem assim por algum tempo, um dia essa mesma senhora se
levantou na reunião, e um novo espírito estava sobre ela. Logo que abriu sua boca ficou claro a
todos que uma grande mudança viera sobre ela. Ela viera para a reunião cheia do Espírito Santo,
e compartilhou de sua nova experiência, para espanto de todas. As mulheres ficaram muito
interessadas no que aquela senhora dizia; e ela continuava a contar com grande sinceridade o que
o Senhor fizera por ela, que cativou a atenção de todas as mentes. Todas se voltaram para ela,
para ouvir cada palavra que ela dizia; as lágrimas começaram a cair, e um grande mover do
Espírito era claro e visível naquela reunião. Uma mudança tão admirável trouxe um bem imenso,
e aquela senhora tornou-se muito querida. Depois disso, elas aguardavam o momento em que ela
falaria alguma coisa, e muito se deliciavam nas reuniões, ao ouví-la contar o que o Senhor fizera,
e estava fazendo por sua alma.
Em Syracuse, encontrei uma mulher cristã, a quem chamavam de Madre Austin, uma mulher de
fé admirável. Ela era pobre e totalmente dependente da caridade das pessoas para sobreviver. Não
era uma mulher culta, e fora criada em uma família de pouquíssima educação. Mas ela tinha uma
fé tamanha que assegurava a confiança de todos que a conheciam. Parecia haver uma convicção
universal entre crentes e ímpios, que a madre Austin era uma santa. Creio que jamais conheci
uma fé maior em sua simplicidade do que a manifestada por aquela mulher. Muitos fatos foram
relatados a mim, relacionados a ela, que mostravam que ela confiava em Deus, e a maneira
admirável que Deus provia o suprimento de suas necessidades dia após dia. Ela me disse numa
certa ocasião, “Irmão Finney, é impossível para mim sofrer qualquer necessidades da vida,
porque Deus me disse ‘Confia no Senhor e faze o bem; habitarás na terra, e verdadeiramente
serás alimentado.’” Ela me contou muitos fatos de sua história, e muitos outros me foram
contados por outras pessoas, como ilustração ao poder de sua fé.
Ela disse que certa noite de sábado, um amigo seu, mas homem impenitente, foi visitá-la, e
depois de conversar um pouco, ofereceu-lhe uma nota de cinco dólares, antes de ir embora. Ela
disse que sentira uma admoestação interior para que não aceitasse. Sentia que aquilo seria um ato
de justiça própria para aquele homem, e poderia prejudicá-lo mais do que poderia ajudá-la. Então
ela recusou, e ele foi embora. Ela disse que tinha lenha e comida em casa o suficiente para durar
até o domingo, e só isso; e não tinha como obter mais nada. Mas ainda assim, não teve medo de
confiar em Deus diante das circunstâncias, como fizera por tantos anos.
Do dia de domingo, veio uma violenta nevasca. Na manhã de segunda, a neve tinha alguns
metros de altura, e as ruas estavam bloqueadas, de maneira que não havia como sair sem limpar o
caminho. Ela tinha um filho ainda jovem, que vivia com ela, e os dois eram sua família inteira.
Eles levantaram de manhã e se encontraram rodeados pela neve, por todos os lados. Eles
conseguiram juntar combustível suficiente para um pouco de fogo, e logo o menino começou a
perguntar o quê eles teriam para o desjejum. Ela disse “Eu não sei, meu filho, mas o Senhor
proverá.” Ela olhou para fora, e ninguém conseguia passar pelas ruas. O rapaz começou a chorar
amargamente, e concluiu que eles morreriam de fome e frio. Contudo, ela prosseguiu e preparou-
se para o café, caso viesse. Acho que ela disse que pôs a mesa, e fez as preparações para seu
desjejum, acreditando que chegaria no momento apropriado. Logo ela ouviu um falatório na rua,
e foi até a janela ver o que era, e observou um homem com uma charrete, e mais alguns homens
que vinham removendo a neve, para que o cavalo pudesse passar. Eles vieram até sua porta, e
eia! Eis que haviam trazido combustível e provisões, tudo necessário para que ela passasse
muitos dias de forma confortável. Mas o tempo me faltaria em contar os exemplos nos quais ela
foi ajudada de forma tão marcante como essa. De fato, era notório por toda cidade, até onde pude
entender, que a fé da madre Austin era como um banco, e que ela jamais sofrera por falta nas
necessidades da vida, porque se apoiava em Deus.
Eu nunca soube quantas pessoas se converteram em Syracuse naquela época. Na verdade nunca
tive o hábito de contar as pessoas que se convertiam de fato.
A VERDADE DO EVANGELHO
AS MEMÓRIAS DE CHARLES G. FINNEY
CAPÍTULO XXXI.
OBRAS EM D’OESTE E EM ROMA, 1854-5
NO inverno seguinte, perto do natal, fomos novamente para D’Oeste, no condado de Oneida,
onde como já relatei, iniciei minhas obras no outono de 1825. O povo estava nessa época
novamente sem um pastor; e passamos várias semanas ali num trabalho muito interessante, e com
resultados muito claros.
Entre tantas coisas interessantes que aconteceram no avivamento dessa vez, falarei sobre o caso
de um jovem rapaz. Ele era o filho de pais devotos, e há muito tempo era alvo de oração. Seus
pais eram membros proeminentes da igreja. Na verdade, seu pai era um dos presbíteros da igreja,
e sua mãe uma mulher de Deus, mulher de oração. Quando comecei minhas obras ali, para grande
surpresa e tristeza de seus pais, e do povo cristão num geral, ele se tornou muito amargo contra as
pregações e contra as reuniões num geral, e contra tudo que era feito pela promoção do
avivamento. Ele se comprometeu com toda sua força e vontade contra esse movimento; e
afirmou, como depois eu vim a saber, que nem o Finney nem o inferno poderiam convertê-lo. Ele
dizia muitas coisas com ódio e profanação, até que seus pais estavam profundamente
amargurados, mas nunca soube que ele era suspeito de qualquer tipo de imoralidade.
Mas a palavra de Deus o pressionava dia após dia, até que ele não pôde mais suportar. Ele veio
até meu quarto certa manhã. Sua aparência era realmente chocante. Não tenho palavras para
descrever. Raramente vi uma pessoa cuja mente causava tamanha impressão em seu semblante.
Ele parecia estar quase louco, e tremia de tal forma que quando se assentou, a mobília do quarto
sentia seu tremer. Percebi, quando peguei sua mão, que estava muito fria. Seus lábios estavam
azuis, e toda sua aparência era bastante alarmante. O fato é que ele tinha ido contra suas
convicções tanto tempo quando pôde. Quando se assentou, eu lhe disse “Meu querido jovem, o
que está acontecendo com você?” Ele disse “Ah, cometi um pecado imperdoável.” Eu respondi
“Por quê você diz isso?” E ele disse “Oras, o senhor sabe que o fiz; e fiz de propósito.”
Então ele relatou esse fato sobre si. Disse “Há muitos anos, um livro foi colocado em minhas
mãos, chamado ‘O livro dos piratas’. Eu li, e ele gerou um efeito extraordinário em minha mente.
Ele me inspirou com um tipo de terrível ambição infernal de me tornar o maior pirata de todos os
tempos. Decidi-me a ser o cabeça de todos os assaltantes, bandidos e piratas que jamais tiveram
suas histórias relatadas. Mas minha educação religiosa estava no meu caminho. Os ensinamentos
e orações de meus pais pareciam se levantar diante de mim, impedindo-me de avançar. Mas eu
ouvi dizer que era possível afastar o Espírito de Deus, e reprimir Sua influência a ponto de não
mais sentí-la. Eu também havia lido que era possível cauterizar minha consciência, para que não
mais me incomodasse; e depois de tomar essa decisão, minha primeira atitude foi me livrar de
minhas convicções religiosas, para que fosse capaz de perpetrar todas as formas de assaltos e
assassinatos, sem qualquer compunção de consciência. Portanto, comecei a blasfemar
deliberadamente contra o Espírito Santo. Ele então me contou a maneira na qual fez isso, e o que
dizia ao Espírito Santo, mas era blasfemo demais para ser repetido.
Ele continuou: “Então eu senti que o Espírito de Deus me deixaria, e que minha consciência não
me incomodaria mais. Depois de algum tempo, decidi cometer algum crime, para ver qual seria o
efeito sobre mim. Havia uma escola do outro lado da rua de nossa casa; e numa noite, fui até lá e
ateei fogo. Então voltei para meu quarto e fui para cama. Contudo, logo o fogo foi descoberto.
Levantei-me e misturei-me com a multidão que se reunia pra apagar o fogo; mas todos os
esforços foram em vão, e a escola ficou em cinzas.” Queimar um prédio daquela forma era
considerado crime para prisão naquele estado. Ele tinha consciência disso. Perguntei-lhe se ele
tinha feito mais alguma coisa, cometido mais algum crime. Ele respondeu “Não.” E creio que
acrescentou que não teve uma consciência tranqüila depois isso, como esperava. Perguntei-lhe se
já haviam suspeitado dele por ter queimado aquele prédio. Ele disse que não sabia se isso tinha
acontecido, mas outros jovens foram suspeitos, e falavam sobre isso. Perguntei o que ele pensava
em fazer a respeito disso. Ele respondeu que iria até os diretores confessar, e pediu-me que o
acompanhasse.
Fui com ele até um dos diretores, que vivia ali perto, e o jovem me pediu para contar-lhe os fatos.
Fiz isso. O diretor era um homem bom, e grande amigo dos pais desse jovem. A notícia o afetou
profundamente. O jovem estava diante dele, sem palavras. Depois de conversar um pouco com o
diretor, eu disse “Falaremos com os outros diretores.” E o cavalheiro respondeu “Não, vocês não
precisam ir, eu mesmo falarei com eles e contarei toda a história.” Ele assegurou ao jovem que
ele mesmo o perdoava espontaneamente, e tinha certeza de que os outros fariam o mesmo, e as
pessoas da cidade também o perdoariam, e não o sujeitariam, nem a seus pais, a passar por nada
em virtude do acontecido.
Retornei a meu quarto, e o jovem foi para casa. Ele ainda não estava em paz. Conforme eu ia para
a reunião à noite, ele me encontrou à porta e disse “Eu preciso confessar publicamente. Vários
jovens foram suspeitos de terem feito isso, e quero que as pessoas saibam que eu fiz, e que não
tive nenhum cúmplice, que ninguém além de mim e Deus sabia sobre isso.” E acrescentou: “Sr.
Finney, o senhor poderia contar ao povo? Estarei presente e direi tudo que for necessário, se
qualquer um perguntar alguma coisa, mas não sei se conseguirei abrir minha boca. O senhor pode
contar-lhes?”
Quando o povo estava reunido, levantei-me e relatei os fatos. A família era tão conhecida e
amada na comunidade, que a declaração causou um grande impacto. As pessoas soluçavam e
choravam por toda congregação. Depois de fazer essa confissão total, ele obteve paz. De sua
história religiosa desde então, não sei muito. Contudo, há pouco tempo soube que ele manteve
sua fé em Cristo, e não mais caiu. Ele foi para o exército durante a rebelião, e foi morto na
batalha do Forte Fisher.
Dando minha narrativa dos avivamentos até agora, deixei de lado um grande número de casos de
crime, cometidos por pessoas que vinham até mim para aconselhamento, contando-me os fatos.
Em muitos momentos nesses avivamentos, restituições, algumas vezes de milhares de dólares,
foram feitas por aqueles cujas consciências os perturbavam, ou porquê tinham obtido o dinheiro
diretamente por fraude, ou por alguma estratégia egoísta em suas relações comerciais.
O primeiro inverno que passei em Boston resultou em muitas revelações como essa. Eu havia
pregado ali numa manhã de domingo sobre esse texto: “O que encobre suas transgressões nunca
prosperará;” e à tarde, preguei sobre a parte “b” do versículo: “Mas o que as confessa e deixa,
alcançará misericórdia.” Recordo-me que os resultados desses dois sermões foram
extraordinários. Durante semanas depois disso, pessoas de quase todas as idades, e de ambos os
sexos, vieram a mim em busca de conselhos espirituais, confessando que haviam cometido várias
fraudes, e pecados de quase todas as naturezas. Alguns jovens rapazes haviam defraudado seus
patrões; e algumas mulheres haviam roubado relógios e quase todo tipo de artigos femininos. De
fato, a Palavra do Senhor caíra em terra fértil com tal poder naquele momento na cidade, a ponto
de descortinar um antro de impiedade. Certamente eu levaria horas para mencionar todos os
crimes que chegaram a meu conhecimento pelas confissões daqueles que os haviam cometido.
Mas em todas as circunstâncias as pessoas pareciam estar plenamente arrependidas, e desejosas
de restituírem tudo, até onde pudessem.
Mas retornando dessa digressão, a D’Oeste. O avivamento teve um caráter muito interessante; e
houve um bom número de pessoas que nasceram de novo. Lembro-me da conversão de uma
moça com bastante interesse. Ela era professora na escola do vilarejo. Seu pai era, creio eu, um
cético, e até onde sei, ela era filha única, e muito querida de seu pai. Ele era um homem de
considerável influência na cidade, se bem fui informado, mas não participava de nenhuma de
nossas reuniões. Vivia numa fazenda afastada da cidade. De fato, o vilarejo era bem pequeno, e
os habitantes estavam espalhados pelo vale do Mohawk, e pelas montanhas em ambos os lados;
de forma que a maior parte dos habitantes vinha de uma distância considerável para participar da
reunião.
Eu havia ouvido dizer que essa jovem não participava muito de nossas reuniões, e que
manifestava uma certa oposição à obra. Ao passar pela escola certo dia, entrei para conversar
com ela. A princípio, ela pareceu surpresa de ver-me entrar. Eu não havia sido apresentado a ela,
e não a conheceria se não a tivesse encontrado naquele lugar. Entretanto, ela me conhecia, e a
priori parecia querer evitar minha presença. Peguei-a gentilmente pela mão, e disse-lhe que havia
parado ali para falar com ela sobre sua alma. “Minha filha, como você está? Já entregou seu
coração a Deus?” Disse isso enquanto segurava sua mão. Ela baixou sua cabeça, e não fez
esforço algum para soltar minha mão. Vi num instante que uma forte influência viera sobre ela,
uma influência tão profunda e perceptível, que tive quase certeza de que ela se submeteria a Deus
imediatamente.
Quando entrei, o máximo que esperava era trocar algumas palavras com ela, na esperança de
fazê-la pensar, e marcar um horário para conversar com ela mais calmamente. Mas a impressão
foi tão manifesta e imediata, que ela parecia ter seu coração quebrantado num minuto, e que com
algumas poucas frases ditas de forma calma e doce, ela desistiria de sua oposição, e estaria pronta
a render-se ao Senhor Jesus Cristo. Eu então perguntei-lhe se deveria dizer algumas palavras aos
alunos, e ela disse que sim. Fiz isso, e depois perguntei se deveria apresentar-lhe, com seus
alunos, a Deus em oração. Ela disse que gostaria que eu o fizesse, e ficou muito afetada com a
presença da escola. Começamos a orar, e era um momento muito solene e de contrição. A partir
daquele momento, aquela jovem parecia estar submersa, ter passado da morte para a vida. Ela
não viveu ainda muito tempo, creio eu, antes de passar para os céus.
Essas duas temporadas de minhas passagens por D’Oeste tiveram um intervalo de quase trinta
anos entre si. Outra geração vivia no lugar daquela que vivia ali no primeiro avivamento no qual
trabalhei. Encontrei no entanto, alguns dos antigos membros ali. Mas a congregação era nova em
sua maioria, e composta principalmente por jovens que cresceram depois do primeiro
avivamento.
Assim como no primeiro avivamento, o povo de Roma escutou do que se passava em D’Oeste, e
vinha em grandes grupos participar de nossas reuniões. Isso me levou a, depois de algumas
semanas, ir passar algum tempo em Roma.
A situação da religião em D’Oeste, acredito, melhorou muito desde este último avivamento. As
ordenanças do Evangelho tem sido mantidas, e creio que um progresso considerável foi
alcançado na direção certa.
A família B inteira foi-se embora de D’Oeste, com a exceção de um filho com sua respectiva
família. Aquela grande e interessante família se desfez; mas um deles permaneceu em D’Oeste,
um em Utica, e um filho que se convertera no primeiro avivamento ali, e que já há muitos anos é
pastor da Primeira Igreja Presbiteriana em Watertown, em Nova Iorque.
Quando estive em Roma pela primeira vez, e por muitos anos depois disso, a igreja ali era
Congregacional. Mas poucos anos antes de minha última visita ali, eles haviam estabelecido um
pastor Presbiteriano, um jovem, que sentira que a igreja deveria ser Presbiteriana ao invés de
Congregacional. Ele propôs e recomendou isso para a igreja, e obteve sucesso na realização do
processo, para a grande insatisfação de muitas das mais influentes pessoas da igreja. Isso criou
uma situação bastante indesejável em Roma; quando cheguei ali de D’Oeste, deparei-me, pela
primeira vez, com esse sério sentimento de divisão na igreja. Seu pastor perdera a confiança e
afeição de muitos dos membros mais influenciais de sua igreja.
Quando soube da situação, tive certeza de que pouco poderia ser feito para promover um
avivamento geral, a menos que aquela dificuldade fosse sanada. Mas o assunto fora esgotado de
tal forma, e as pessoas envolvidas estavam tão comprometidas que trabalhei em vão na tentativa
de trazer reconciliação. Não era algo que deveria ser pregado, mas em conversas privadas tentei
arrancar aquela raiz de amargura. Vi que as partes não viam os fatos da mesma maneira.
Continuei pregando, contudo, e o Espírito do Senhor foi derramado, conversões ocorriam com
freqüência, e creio que um bem imenso foi alcançado.
Mas depois de me esforçar em vão para assegurar uma união de sentimentos num esforço tal que
seria aprovado por Deus, decidi-me por deixá-los. Mais tarde soube que alguns dos membros
mais desgostosos da igreja saíram de uma vez por todas de Roma e foram para D’Oeste, unindo-
se à igreja ali. Presumo que o Pastor tenha feito o que cria ser seu dever em meio àquela
controvérsia, mas as divisões conseqüentes foram dolorosas demais para mim, pois tinha um
interesse peculiar por aquela igreja.
A VERDADE DO EVANGELHO
AS MEMÓRIAS DE CHARLES G. FINNEY
CAPÍTULO XXXII.
O AVIVAMENTO EM ROCHESTER EM 1855
NO outono de 1855, fomos novamente chamados à cidade de Rochester para trabalhar por almas.
A priori eu não tinha idéia de ir para lá, mas um mensageiro chegou com um pedido urgente, com
as assinaturas de muitas pessoas, tanto professores quanto não-professores de religião. Depois de
muita deliberação e oração, consenti. Começamos nossas obras ali, e em pouco tempo já era
aparente que o Espírito de Deus estava trabalhando no meio do povo. Alguns cristãos naquele
lugar, em especial o irmão que veio atrás de mim, haviam orado todo o verão por um
derramamento genuíno do Espírito. Algumas poucas almas estavam a pelejar com Deus até
sentirem que estavam à beira de um grande avivamento.
Quando declarei minhas objeções a ir trabalhar em Rochester novamente, o irmão que veio atrás
de mim colocou tudo de lado dizendo “O Senhor te enviará para Rochester, e você irá para
Rochester neste inverno, e teremos um grande avivamento.” Decidi-me afinal, com muita
hesitação. Mas logo que cheguei ali, fui convencido de que era de Deus. Comecei a pregar em
diferentes igrejas. A Primeira Igreja Presbiteriana naquela cidade era Tradicional, e não abriu
suas portas para nossas reuniões. Mas a igreja Congregacional e as outras duas igrejas
Presbiterianas, com seus pastores, abraçaram a obra e engajaram-se com espírito e sucesso. As
igrejas Batistas também se engajaram na obra dessa vez; e as Metodistas trabalharam de sua
própria forma para estender a obra. Realizávamos reuniões diárias de oração ao meio-dia, às
quais muitos compareciam, e nas quais um espírito mais do que excelente prevalecia.
Logo depois de iniciar minhas obras ali, recebi um pedido, assinado pelos membros da Ordem e
por muitos juízes – dois juízes da corte de apelos, e acredito que um ou dois juízes do supremo
tribunal que viviam ali – solicitando que eu pregasse novamente uma série de palestras para
advogados, sobre a moral do governo de Deus. Atendi seu pedido. Comecei a tal série de
palestras para advogados, dessa vez pregando na primeira delas sobre o texto: “Recomendamo-
nos à consciência de todo homem, na presença de Deus.” Comecei comentando que o texto
presumia que todo homem tem uma consciência. Então, dei a definição do que é consciência, e
prossegui mostrando o que a consciência de cada homem verdadeiramente afirma; que todo
homem sabe que é um pecador contra Deus; e que, portanto Deus deve condena-lo como
pecador; que todo homem sabe que sua própria consciência o condena como pecador. Eu sabia
que entre os advogados havia alguns céticos. Na verdade um deles tinha declarado alguns meses
antes que nunca mais participaria de uma reunião cristã, que ele não acreditava na religião cristã,
e não acreditaria; que ela o colocava numa posição falsa, e sua mente estava decidia a não mais
respeitar as instituições do cristianismo.
Moldei minhas palestras noite após noite com o objetivo de convencê-los de que, se a bíblia não
fosse verdade, não havia esperança para eles. Esforcei-me para mostrar que eles não podiam
inferir que Deus os perdoaria porque Ele é Bom, pois Sua bondade poderia impedi-lo de perdoar-
lhes. Num geral, pode não ser bom e sábio perdoar tal mundo de pecadores como somos; que se
formos deixados sem a bíblia para trazer luz a essa questão, seria impossível para a razão humana
chegar à conclusão que os pecadores poderiam ser salvos. Admitindo que Deus era infinitamente
benevolente, não podíamos inferir a partir disso, que qualquer pecador seria perdoado, mas sim
que, pelo contrário, ímpios pecadores não seriam perdoados. Esforcei-me para deixar tudo tão
claro a ponto de calar-lhes para o fato de que a bíblia revelava a única maneira racional pela qual
eles poderiam esperar a salvação.
No encerramento de minha primeira palestra, ouvi o advogado que mencionei, que dissera que
nunca mais iria a uma reunião cristã, comentar com um amigo conforme ia para casa que ele
estivera errado, que havia mais no cristianismo do que ele havia suposto, e ele não via nenhuma
maneira de escapar dos argumentos que acabara e ouvir; e ainda que ele participaria de todas
aquelas palestras, para decidir-se em vista dos fatos e argumentos que seriam ali apresentados.
Continuei a pressionar esse ponto em suas mente, até sentir que eles estavam efetivamente
encerrados em Cristo, e que as revelações feitas no evangelho eram sua única esperança. Mas até
então, eu não havia apresentado Cristo, mas deixado-os sob a lei, condenados por suas próprias
consciências, e sentenciados à morte eterna. Isso, como eu já esperava, efetivamente preparou o
caminho para uma recepção cordial de um evangelho abençoado. Quando eu finalmente trouxe o
evangelho como a única maneira possível ou concebível de salvação para os pecadores, eles
cederam, assim como acontecera nos outros cursos de palestras, nos anos anteriores. Começaram
a se quebrantar, e muitos deles foram convertidos.
Algo muito admirável nos três avivamentos que presenciei em Rochester, foi que todos
começaram a progredir em meio às classes sociais mais altas. Isso favoreceu muito o alcance
geral da obra, e a superação da oposição.
Muitos casos de impactantes conversões aconteceram nesse avivamento, bem como no anterior.
A obra se espalhava e incitava tamanho interesse, que se tornou um tópico comum nas conversas
por toda a cidade e arredores. Mercantes faziam arranjos para que seus negócios fossem
realizados em dois ou mais dias. O trabalho se tornou tão abrangente na cidade que em todos os
lugares públicos, lojas, clubes, bancos, nas ruas e em todos os lugares, a obra de salvação era o
assunto mais comentado.
Dos homens que se opuseram nos avivamentos anteriores, muitos se prostraram a Cristo dessa
vez. Alguns homens que abertamente não guardavam o dia do Senhor, outros que foram
deliberadamente profanos, e de fato pessoas de todas as classes sociais, da mais alta à mais baixa,
do mais rico ao mais pobre, todos foram visitados pelo poder desse avivamento e trazidos à
Cristo. Continuei ali por todo o inverno, e o avivamento cresceu continuamente até o final. O
Rev. Dr. Anderson, presidente da Universidade, engajou-se na obra com grande cordialidade, e
pelo que sei, muitos alunos da Universidade se converteram naquela época. Os pastores das duas
igrejas Batistas abraçaram o movimento, e preguei várias vezes em suas igrejas.
A Sra. Finney era bastante conhecida em Rochester, pois viveu ali por muitos anos, e
testemunhou os dois grandes avivamentos nos quais eu trabalhei, que precederam este. Ela se
envolveu profundamente neste avivamento, e trabalhou, como sempre, com grande zelo e
sucesso. Como em ocasiões anteriores, encontrei o povo de Rochester, como os nobres Bereans,
prontos para ouvir a Palavra, com a mente completamente aberta para ler as escrituras
diariamente, se assim fosse solicitado. Muitas das senhoras em Rochester exerceram toda sua
influência para trazer todas as classes sociais para as reuniões e para Cristo. Algumas delas
visitavam as lojas e lugares de negócios, e usavam de toda sua influência para assegurar o
comparecimento de todos em nossas reuniões. Muitos homens ligados às operações da estrada de
ferro se converteram, e por fim, muitos dos negócios que aconteciam aos domingos nas estradas
foram suspensos, por causa do grande movimento religioso naquela cidade em meio às pessoas
que trabalhavam nas estradas.
A abençoada obra da graça se estendeu e aumentou até que parecia que toda a cidade seria
convertida. Como nos avivamentos anteriores, a obra se espalhou a partir desse centro para as
cidades e vilarejos vizinhos. É de fato admirável que os avivamentos em Rochester têm tão
grande influência sobre outras cidades e vilas, de perto e de longe.
Os meios utilizados para promover esse avivamento foram os mesmos utilizados nos grandes
avivamentos precedentes. As mesmas doutrinas foram pregadas. As mesmas medidas foram
usadas, com resultados similares em todos os aspectos do que havia sido alcançado nos outros
movimentos. Havia uma manifesta e cândida atenção à Palavra pregada, assim como havia sido
antes; um questionário muito inteligente depois de apresentada a verdade como realmente é
ensinada na Bíblia. Jamais preguei com tanto prazer em outro lugar como em Rochester. É uma
população muito inteligente, e sempre manifestaram um ardor, uma sinceridade e uma apreciação
da verdade que excede tudo que já vi, numa escala tão grande, em outros lugares. Já trabalhei em
outras cidades onde as pessoas eram até mais cultas do que em Rochester. Mas naquelas cidades,
as visões e hábitos das pessoas eram mais estereotipados, as pessoas eram mais entediantes,
tinham mais medo de novas medidas do que em Rochester. Na Nova Inglaterra encontrei um alto
nível de educação num geral, mas havia uma timidez, uma dureza, uma formalidade, e uma
maneira estereotipada de fazer as coisas que tornava impossível que o Espírito Santo trabalhasse
com liberdade e poder.
Quando eu estava trabalhando em Hartford, um pastor da região central de Nova Iorque que
testemunhara os gloriosos avivamentos naquela região veio visitar-me. Ele participou de nossas
reuniões e observou o tipo de trabalho e progresso ali. Não disse nada a ele sobre a formalidade
de nossas reuniões de oração, ou sobre o temor das pessoas em utilizar novas medidas, mas ele
comentou comigo “Ora, Irmão Finney, suas mãos estão atadas, o senhor está preso por seus
temores e estereótipos. Eles até colocaram o Espírito Santo numa camisa de força.” Isso era forte,
e para alguns pode até parecer irreverente e profano, mas essa não era sua intenção. Ele era um
bom, honesto e humilde ministro de Jesus Cristo, e expressava somente o que via e sentia, e o que
eu também via e sentia, que o Espírito Santo estava restrito em sua grande obra pelos medos e
sabedoria própria do povo. Na verdade devo dizer que não creio que o povo da Nova Inglaterra
percebe as ataduras que impõe ao Espírito Santo, no trabalhar pela salvação de suas almas. Nem
conseguem apreciar o poder e pureza dos avivamentos nos lugares onde esses temores,
preconceitos, restrições e sabedoria humana não existem.
Em uma comunidade inteligente e culta, uma grande liberdade pode ser dada no uso desses
meios, sem perigo de desordem.
É fato que a idéia errada do quê constitui desordem, prevalece. Muitas igrejas chamam tudo à que
não estão acostumadas de desordem. Seus métodos estereotipados são a ordem de Deus, em seu
ponto de vista, e tudo que difere disso é desordem e choca suas idéias de propriedade. Mas na
verdade nada que supre as necessidades do povo é desordem. Na religião como em tudo mais, o
bom senso e uma sólida discrição, de tempos em tempos, adaptar os meios para os fins. As
medidas necessárias serão sugeridas naturalmente àqueles que presenciam a situação, e se usadas
de forma cautelosa, e com muita oração, que seja dada uma grande liberdade às influências do
Espírito Santo em todos os corações.
A VERDADE DO EVANGELHO
AS MEMÓRIAS DE CHARLES G. FINNEY
CAPÍTULO XXXIII.
OS AVIVAMENTOS EM BOSTON, EM 1856-57-58
NO outono seguinte aceitamos um convite para trabalhar novamente em Boston. Começamos
nossas obras na rua Park, e o Espírito de Deus manifestou imediatamente seu desejo por salvar
almas. O primeiro sermão que preguei foi direcionado à análise da igreja; pois sempre começava
tentando incitar um interesse minucioso entre os professores de religião, para assegurar a volta
dos que haviam caído, e procurar por aqueles que estavam enganados, para se possível, trazê-los
de volta a Cristo.
Depois que a congregação foi dispensada, o pastor estava comigo no púlpito e disse “Irmão
Finney, desejo que o senhor entenda que preciso ouvir essas pregações tanto quanto qualquer
membro dessa igreja. Tenho estado insatisfeito com minha vida espiritual há bastante tempo, e
mandei chamar-lhe por minha conta, pelo bem de minha própria alma, bem como pelo bem da
alma do povo.” Em momentos diferentes, tínhamos conversas longas e muito interessantes. Ele
parecia entregar seu coração plenamente a Deus. Certa noite numa reunião de conferência e
oração, pelo que sei, ele relatou sua experiência ao povo, e disse-lhes que havia se convertido
naquele mesmo dia.
É claro que isso causou uma profunda impressão na igreja e na congregação, e também em boa
parte da cidade. Alguns dos pastores achavam que era uma injúria eu ele tornasse público algo
dessa natureza. Mas eu não considerava assim. Era claramente a melhor maneira que ele poderia
usar para assegurar a salvação de seu povo, e calmamente calculada para gerar entre os
professores de religião, um exame profundo de seus corações.
A obra foi bastante extensiva em Boston naquele inverno, e muitos casos de súbitas conversões
aconteceram. Trabalhamos ali até a primavera, então achamos que era necessário retornar para
nossas obras em casa. Mas era muito claro que a obra naquela cidade estava longe de ser
terminada, e saímos dali com a promessa de que, se Deus quisesse, retornaríamos para obrar
novamente no próximo inverno. Dessa forma, voltamos para Boston no ano seguinte.
Enquanto isso, um dos pastores daquela cidade, que estivera na Europa no inverno anterior,
estava escrevendo alguns artigos, que foram publicados pelo Congregacionalista, em oposição a
nosso retorno para lá. Ele considerava minha teologia, especialmente sobre o assunto da
santificação, como infundada. Essa oposição surtiu um certo efeito, e sentimos de imediato que
havia um sentimento de irritação em meio ao povo cristão. Alguns dos principais membros de sua
igreja, que no inverno anterior envolveram-se de corpo e alma na obra, mantiveram-se à
distância, e nem sequer passavam perto de nossas reuniões. Era evidente que toda sua influência,
que era considerável naquela época na cidade, era contra a obra. Isso deixou algumas boas
pessoas entre seu povo, muito tristes.
Esse inverno de 1857-58 será lembrado como o tempo em que um grande avivamento prevaleceu
por todos os estados do norte. Ele varreu a terra com tanto poder, que na época estimou-se que
não menos que cinqüenta mil conversões ocorreram em uma única semana. Esse avivamento teve
algumas características peculiarmente muito interessantes. Foi levado a uma grande extensão
através de influências, tanto que os pastores quase foram desnecessários. Há muitos anos havia
uma reunião diária de oração em Boston, e no outono anterior à grande explosão, a reunião diária
de oração fora estabelecida na rua Fulton, em Nova Iorque, e continua até hoje. De fato, reuniões
diárias de oração foram estabelecidas por todos os estados do norte. Lembro-me que em uma de
nossas reuniões de oração em Boston naquele inverno, um cavalheiro se levantou e disse “Eu sou
de Omaha, no estado de Nebraska. Em minha viagem para o leste, encontrei uma reunião
contínua de oração por todo o caminho. Contamos que haja mais ou menos três mil quilômetros
entre Omaha e Boston, e aqui estamos, numa reunião de oração com mais de três mil quilômetros
de extensão.”
Em Boston tivemos que pelejar, como já compartilhei, contra a influência divisiva, que retraíra e
muito o interesse religioso de onde havíamos parado na primavera anterior. Contudo, a obra
continuou a crescer continuamente, em meio a essas condições desfavoráveis. Estava claro que o
Senhor pretendia chacoalhar Boston. Finalmente foi sugerido o estabelecimento de uma reunião
de oração para executivos, ao meio dia, na capela da igreja do Velho Sul, que era de fácil acesso
para os homens de negócios. O amigo cristão que nos hospedava assegurou o uso do local e fez
propaganda da reunião. Mas se uma reunião como essa seria bem sucedida em Boston, naquela
época, não era certo. No entanto, esse irmão convocou a reunião, e para a surpresa de quase
todos, o lugar não somente estava lotado, mas multidões foram deixadas do lado de fora, não
conseguindo entrar. Essa reunião continuou, dia após dia, com resultados maravilhosos. O local
era, já de início, muito pequeno para eles, e outras reuniões diárias foram estabelecidas em outras
partes da cidade.
A Sra. Finney também realizava suas reuniões de mulheres na grande sacristia da rua Park. Essas
reuniões se tornaram tão lotadas que as senhoras enchiam a sala, e ainda ficavam em pé do lado
de fora da porta, até onde pudessem ouvir, por todos os lados.
Uma de nossas reuniões diárias era realizada na igreja da rua Park, que ficava cheia sempre que
estava aberta para oração, e esse também era o caso de muitas outras reuniões em diferentes
partes da cidade. A população, tão grande era, que parecia estar totalmente movida. Logo o
avivamento se tornou abrangente demais para manter qualquer cálculo de número de pessoas
convertidas, ou para permitir qualquer estimativa que se aproximasse da verdade. Todas as
classes sociais participavam das reuniões para perguntas e respostas, em todos os lugares. Muitos
dos Unitários ficaram grandemente interessados, e participavam largamente de nossas reuniões.
Esse avivamento é tão recente que não preciso falar muito sobre ele, e também porque se tornou
quase que pleno sobre os estados do norte. As pessoas ali estavam em uma situação de tanta
irritação, vexação e comprometimento com suas instituições peculiares, as quais vieram a ser
criticadas por todos os lados, que o Espírito de Deus parecia ter sido afastado deles. Parecia não
haver lugar para Ele nos corações das pessoas do Sul naquela época. Estimou-se que durante esse
avivamento não menos que quinhentas mil almas se converteram neste país.
Como eu já disse, esse movimento foi alimentado em muito pela instrumentalidade de nossas
reuniões de oração, visitas e conversas pessoais, pela distribuição de tratos e pelos enérgicos
esforços dos homens e mulheres da sociedade. Até onde sei, pastores jamais se opuseram a tais
esforços e creio até que simpatizavam com os mesmos. Mas havia uma confiança tão grande de
que a oração prevaleceria, que grande parte das pessoas parecia preferir reuniões de oração a
reuniões de pregação. A impressão geral parecia ser “Já tivemos instrução o suficiente, é tempo
de orarmos.” As respostas a orações eram constantes, e tão impactantes a ponto de chamarem a
atenção das pessoas por todo o país. Era evidente que em resposta à oração, as janelas dos céus
foram abertas e o Espírito de Deus era derramado como um dilúvio. A Tribuna de Nova Iorque
publicou naquela época várias edições extras, dando conta dos progressos do avivamento em
diferentes partes dos Estados Unidos.
Comentei que alguns exemplos de conversões repentinas aconteceram em Boston nesse
avivamento. Certo dia recebi uma carta anônima, de uma senhora, pedindo-me conselho sobre a
situação de sua alma. Geralmente eu não prestava atenção a cartas anônimas, mas a caligrafia, o
claro talento manifesto na composição, juntamente com a indiscutível sinceridade da escritora,
levaram-me a dar-lhe uma atenção nada habitual. Ela concluía pedindo-me para responder,
endereçando a resposta para a Sra. M, e para deixar com o sacristão da igreja onde eu pregaria
naquela noite, que ela pegaria depois. Nessa época, eu pregava cada noite em uma igreja
diferente. Respondi essa carta anônima, dizendo que eu não poderia dar-lhe o conselho que ela
buscava, pois não conhecia o suficiente sua história, nem a real situação de sua mente. Mas
ousaria chamar sua atenção a um fato que estava muito aparente, não somente em sua carta, mas
também no fato de não colocar seu nome ali, de que ela era uma mulher orgulhosa, e que isso ela
deveria considerar minuciosamente.
Deixei minha resposta com o sacristão, como ela solicitara, e na manhã seguinte uma senhora
veio visitar-me. Logo que entrou, ela disse que era a mulher que escrevera a carta anônima, e
havia vindo me visitar para dizer-me que eu estava errado ao pensar que ela era orgulhosa. Ela
disse que estava bem longe disso, mas era parte da igreja Episcopal, e não queria desgraçar sua
igreja ao revelar que não era convertida. Respondi “Foi orgulho de sua igreja, então, que lhe
impediu de revelar seu nome.” Isso a tocou tão profundamente que levantou-se, e
manifestadamente agitada, saiu da sala. Não esperava vê-la de novo, mas naquela noite,
encontrei-a entre as pessoas na sacristia, depois da pregação, para a reunião de perguntas e
respostas. Observei essa senhora. Ela era claramente uma mulher inteligente e de educação
superior, e pude perceber que ela pertencia a uma sociedade culta. Mas ainda não sabia seu nome,
pois nossa conversa naquela manhã durara não mais que um ou dois minutos, antes que ela
deixasse a sala, como relatei. Conforme eu a observava, comentei baixinho com ela “E você
aqui?” “Sim,” ela respondeu, e baixou sua cabeça como se estivesse profundamente tocada.
Conversei um pouco com ela, numa conversa calma e gentil, e aquela noite passou.
Nessas reuniões de perguntas e respostas, sempre destaquei a necessidade de submissão imediata
a Cristo, levando-os face a face com esse dever, então chamava os que estavam preparados para
se comprometerem de forma irrestrita a Cristo, para se ajoelharem. Percebi, quando fiz esse
apelo, que ela foi uma das primeiras a fazer isso. Na manhã seguinte veio novamente visitar-me
bem cedo. Logo que ficamos sozinhos, ela abriu seu coração para mim e disse “Vejo, Sr. Finney,
que tenho sido muito orgulhosa. Vim contar-lhe quem sou, e contar-lhe fatos a respeito de minha
história, para que o senhor saiba o que dizer para mim.” Ela era, como eu havia suposto, uma
mulher da alta sociedade, esposa de um rico cavalheiro, que era um cético. Ela se tornara
professora de religião, mas não era convertida. Foi muito franca nessa conversa, e abriu
cordialmente sua mente para instruções, e naquele mesmo momento, ou talvez imediatamente
depois, ela expressou sua esperança em Cristo, tornando-se uma genuína cristã. Ela é uma
escritora admirável, e conseguia transcrever meus sermões com maior precisão do que qualquer
pessoa que já conheci. Ela costumava sentar e escrever meus sermões com uma rapidez e
precisão que eram surpreendentes. Ela enviava cópias de suas anotações para muitos de seus
amigos, e dedicou-se ao máximo para assegurar a conversão de seus amigos em Boston e em
outros lugares. Já me correspondi muito com essa senhora, e ela sempre manifestou a mesma
sinceridade em sua religião, desde aquela época. Sempre tem uma boa obra em suas mãos, e
trabalha muito pelos pobres, e por todas as classes sociais que precisam de sua instrução, sua
simpatia e sua ajuda. Já passou por muitas pelejas em sua mente, sendo tão rodeada pelas
tentações deste mundo. Mas creio que ela tem sido, e continuará sendo, um lindo ornamento para
a igreja de Cristo.
O avivamento se estendeu de Boston para Charlestown e Chelsea. Em pouco tempo, espalhou-se
por todos os lados. Preguei na região leste de Boston e em Charlestown, e em Chelsea, onde o
avivamento tornou-se muito abrangente e precioso, por um tempo considerável. Continuamos a
trabalhar em Boston naquele inverno, até que era tempo de voltarmos para nossas obras em casa,
na primavera. Quando saímos de lá, a obra estava em sua força total, sem qualquer abatimento
aparente.
A igreja e o ministério neste país haviam se tornado tão envolvidos na promoção do avivamento,
e o favor de Deus era tamanho em participar dos esforços de leigos e pastores, que decidi retornar
à Inglaterra e passar mais uma temporada ali, para ver se a mesma influência não prevaleceria
naquele país.