Ali A'l Khan - Congresso DespertarPESQUISAVEL - OCR
Ali A'l Khan - Congresso DespertarPESQUISAVEL - OCR
Ali A'l Khan - Congresso DespertarPESQUISAVEL - OCR
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XAJJBATxA TBÚRGTCA
Clavis Secretorum
Religião e Filosofia Oculta
M I Helvécio de Resende Urbano Júnior 33°
G/.I..G.. do Sup. . Cons. . do Gr. . 33 do R. .E.. A.. A..
AIiA'I Khan S I
SECRETUM
MANUAL PRÁTICO
DE
KABBALA TEÚRGICA
ISBN: 978-85-8189-049-4
Proibida a reprodução total ou parcial desta obra, de qualquer forma ou por qualquer
meio seja eletrônico ou mecânico, inclusive por meio de processos xerográficos, in
cluindo ainda o uso da internet sem a permissão expressa da Editora Isis, na pessoa
de seu editor (Lei n° 9.610, de 19.02.1998).
1 Para não profanar o nome do Eterno e não o pronunciar em vão, a letra (e), sempre será
substituída com (-).
Agradecimentos
Invocação................................................................................................................... 5
Agradecimentos......................................................................................................... 7
Prefácio.................................................................................................................... 15
Introdução................................................................................................................ 18
Parte I
I - Religião e Mito................................................................................................. 33
Técnicas e Práticas para elevação mental e ascensão espiritual, com os aplicativos
da Kabbala, Filosofia e da Arte Mágicka................................................................................... 33
O Abismo(Poesia)................................................................................................................ 33
Do Universo-D-us e seu Culto ............................................................................................ 34
Das relações dos homens entre si e suas extensões Nikolaus Lenau (Poesia)................... 40
Sobre a Religião; o que é Religião........................................................................................41
II - Depois da Cristandade........................................................................................45
O significado de fé e razão.......................................................................................................... 49
De como D-us não pode ser encontrado pelos sentidos exteriores nem pelo sentido
interior Solilóquios - Santo Agostinho........................................................................................ 54
Uma Parábola............................................................................................................................. 70
IV - A Magia.......................................................................................................... 78
A Magia através do tempo........................................................................................................... 78
O problema da razão...................................................................................................................84
O mito e a ideia geral........................................................................................................... 92
Parte II
I - Kabbala................................................................................................................99
Dogma, Mística e Prática............................................................................................................ 99
Prefácio......................................................................................................................................100
O que é Kabbala?............................................................................................................... 102
O Sagrado Anjo Guardião................................................................................................. 102
Kabbala e Misticismo.................................................................................................................106
Ciclos e Ritmos.......................................................................................................................... 113
A Alquimia da oração............................................................................................................... 115
Dados historiais, a linha do Tempo.................................................................................. 122
II - O Kabbalismo.................................................................................................. 133
O Simbolismo da Gênesi............................................................................................................ 137
IX-O Rito...............................................................................................................331
O Pentagrama............................................................................................................................335
A Coroa do Mago............................................................................................................... 342
Simbolismo - A Esfinge e os Evangelistas................................................................................. 347
A Maçonaria e o Ocultismo....................................................................................................... 350
Parte III
IV - A Prática da Teurgia.....................................................................................424
Definição....................................................................................................................................424
A Preparação...................................................................................................................... 432
Oração ao Sagrado Anjo Guardião para Abertura dos Trabalhos de Teurgia................ 432
A Semana do Magista........................................................................................................ 434
As Sete Orações Misteriosas do Enchiridião............................................................................. 434
O Sétimo dia............................................................................................................................... 439
Ação de Graças................................................................................................................... 440
V - Rituais do Fogo.................................................................................................441
Ritual para transformar o curso de um destino maleficiado:
Distanciamento da desgraça e do fracasso............................................................................... 443
Salmos para Transformar o curso de um destino maleficiado.................................................. 447
Ritual para atrair com urgência dinheiro..................................................................................451
Salmos para atrair com urgência o dinheiro.............................................................................455
Ritual de Apelo à Prosperidade................................................................................................. 457
Salmos de apelo à prosperidade................................................................................................ 459
Ritual para obter o sucesso........................................................................................................461
Salmos para obter Sucesso.........................................................................................................464
Ritual para Atrair o Amor..........................................................................................................466
Salmos para atrair o amor......................................................................................................... 468
Ritual para Reunir um Casal em Discórdia.............................................................................. 471
Salmos para reunir um casal em discórdia............................................................................... 473
Ritual para Trazer a Harmonia em um Lar Perturbado........................................................... 476
Salmos para trazer a harmonia em um lar perturbado............................................................. 479
Ritual para Encontrar uma Habitação...................................................................................... 481
Salmos para encontrar uma habitação...................................................................................... 485
Aplicação do salmo 87............................................................................................................... 485
Ritual de Grande Proteção Contra as Forças do Mal...............................................................486
Salmos de Grande Proteção Contra as Forças do Mal.............................................................489
Palavras finais........................................................................................................533
Biografia................................................................................................................ 536
Notas sobre o Autor............................................................................................... 538
Bibliografia............................................................................................................ 539
Prefácio
Este livro é o corolário gigantesco de anos de trabalho realizado por Ali A’l
Khan para trazer aos sinceros buscadores da verdade o fruto de suas pesquisas mais
profundas junto às diversas Escolas verdadeiramente Iniciáticas onde pontificaram,
com sua sabedoria transcendente, alguns Irmãos Maiores que abrigaram como es
copo de vida a conquista unicamente de valores que pudessem levar a humanidade
ao seu verdadeiro destino.
Esta obra culmina sua trajetória como autor de preciosos livros, sempre de
dicados a revelar o conhecimento mágico da Kabbala, sem receio da afronta dos
pseudo-ocultistas que costumam fazer da sabedoria Mágicka um feudo rendoso,
porém saturado de iniquidades que visa somente um palco para exibirem suas
compilações muitas vezes sem o correto direcionamento para a conquista de uma
consciência superior.
A má fama que hoje envolve as Artes Mágickas em muitos países tem origem
exatamente na ausência de um trabalho sério neste assunto para direcionar o pes
quisador na formação de uma consciência oniabarcante capaz de lhe proporcionar
as ferramentas corretas para sua superação humana. A ignorância e a deturpação
16 | Secretum - Manual Prático de Kabbala Teúrgica
Seu conteúdo não é produto de fantasia, mas exige cautela e devoção para aqueles
que buscam a magia apenas com o intuito de obter poder.
Sirva-se leitor do mesmo como de um amigo, com confiança, com carinho
e respeito.
vida social lhe impõe. Evolui de um estado selvagem, próximo ao do animal, até o
homem dócil, educado e integrado nos princípios maiores da Mãe Natureza. Torna-
se belo, inteligente, criador perfeito nos planos mais sutis da vida sem que tenha
ocorrido qualquer privilégio ou quebra das leis naturais de evolução. Transforma-se
no filósofo, no arauto dos valores mais elevados do espírito capaz de compreender
a perfeição existente nas Leis universais. Sua crença extrapola as convenções mun
danas e faz dele um panteísta integrado na compreensão de um universo perfeito
da qual participa como criador-criatura, tudo isto acontecendo somente depois de
haver tomado conhecimento das performances evolutivas da vida no plano físico
e adquirido a consciência do plano de vida universal.
Assim aconteceu com Augusto Comte, tido como louco pelos seus primeiros
discípulos, porque havia evoluído naturalmente para o misticismo perquiridor,
acolhendo intuitivamente as ideias que antes combatia num ato de profunda hu
mildade saturada de sabedoria.
Verificamos que o misticismo é tratado pelos filósofos críticos que não con
seguem lograr alcançar seus ensinamentos como o panteísmo é tratado superfi
cialmente pelos materialistas, ou seja, como uma forma de loucura mansa. Porém,
somente os místicos podem compreender a grandeza do caminho que percorrem
procurando indicar, através das conquistas que lhes embelezam a vida e suas rela
ções com o social, as vias de acesso a um estado de consciência pleno e tranquilo
que deveria servir como porto de salvação para aqueles que ainda digladiam com
sua própria interioridade.
Quando a Entidade humana consegue o despertar quase completo de seus
valores racionais, torna-se consciente da existência de outros órgãos complemen
tares de sua percepção do mundo externo localizados em seus centros simpáticos
e mentais. Seu plexo cardíaco, cujas ramificações chegam até os centros de força
mais potentes do cérebro passam, então, a exercer faculdades bem diversas das
meramente cerebrais, cujos efeitos são conhecidos pelo ser humano evoluído e
atuam sobrepondo-se visão objetiva e a colocam no reino da intuição quando então
passa a não depender somente de sua razão escravizante e, através de “insights”
constantes abandona os pressentimentos e passa para a certeza que acompanha o
verdadeiro sábio.
O caminho mental ou cerebral tem seu ponto de desenvolvimento final na
magia cerimonial, que necessita de treinamento e conhecimento exclusivamente
intelectual e não chega a perceber que existe outro Caminho denominado Cardí
aco que se concentra e se aprende na Ciência Teúrgica. No primeiro Caminho, ou
Helvécio de Resende Urbano Júnior | 21
de amor próprio, desde que pague algumas missas ou algumas orações ao sacerdó
cio profissionalizado, encarregado de desembaraçá-lo de seus temores póstumos.
Por outro lado estão as forças abrasadoras do amor e da caridade que o impelem
a considerar-se apenas um servidor do Grande Coração Universal não usando os
bens conquistados com seu esforço próprio a não ser para ajudar os menos desafor
tunados como simples caixa, embora seja possuidor físico de tais bens realizando as
dádivas como veículo dos seres do plano invisível superior, estabelecendo contato
com os verdadeiros intermediários entre esta vida e a seguinte.
A decisão tomada pelo Ser humano entre esses dois caminhos pode levá-lo
para uma segunda queda ou então para “primeira reintegração”. Sua experiência na
matéria, por meio de uma involução de muitas etapas o faz viver quase um ani
quilamento e total dissolução nas forças caóticas dos mundos que o cercam que,
entretanto, objetivam reerguê-lo para a divinização, mas se não aproveitada devi
damente, como dissemos antes podem levá-lo para o que constituiria esta “segunda
queda” simbolizada pela condenação eterna de que falam as religiões; porém, se o
processo for de ascensão espiritualizante terá alcançado a sua “primeira reintegração”.
Entretanto, mesmo naquele que não soube aproveitar totalmente cada etapa
da evolução nos mundos inferiores fica enquistada em sua Alma as revelações
mais sagradas que pode obter ou perceber durante seus desvarios, percepções ou
conquistas estas que tendem sempre para levá-lo a uma reintegração, sobretudo
quando se trata das revelações práticas da Mãe Celeste, ou do Amor.
O Amor tem o poder de afastar e destruir todas as barreiras erigidas pelos
pequenos interesses emocionais do ser humano e infelizmente consagradas pelas
grandes civilizações e representa o grande chamado do Criador às suas criaturas.
Platão fez uma revelação bem profunda ao demonstrar que o amor do homem à
mulher, que desperta o sentido da Vida Universal nos corações mais endurecidos,
nada mais é que o primeiro despertar do homem para seu D-us. Por isso todo ser que
amou, participou da vida superior. Dizia o Mestre Jesus: “Muito lhe será perdoado,
porque muito amou” referindo à Madalena, aquela que foi prostituta.
Podemos ainda afirmar que mesmo para o mais repugnante dos egoístas, o
amor é o chamado para a vida em comum, que lhe assinala o caminho conducente
ao aprendizado do sacrifício próprio em benefício de seus semelhantes; caminho
este que sempre é estruturado pelo amor e coroado pelo exercício da Caridade.
Se o Ser humano escolhe o caminho acima citado, todas as chamadas reali
dades materiais desaparecerão para ele. O dinheiro, a posição social e as honras
exercerão apenas fracos atrativos para aquele que aspira à percepção das forças
Helvécio de Resende Urbano Júnior | 27
E tudo isto não só está escrito no livro terrestre dos evangelhos, tal qual o ex
pressou Papus e também se acha em inefáveis imagens nas páginas do livro eterno
e sempre vivo, no qual o Mestre o fez balbuciar dizendo às suas próprias imagens:
“fui indigno de ler” Se ao Filósofo Incógnito, bastou levantar um véu para passar
de um mundo a outro, graças aos guias proporcionados pelo Reparador que lhe
ensinaram o caminho correto, então também podemos exclamar: Ó Sepulcro! Onde
está tua vitória! Ó Morte! Onde está teu aguilhão?
Depois de haver percorrido as diversas matérias contidas nestas linhas, uma
pergunta pode ser formulada por aquele que deseja ir mais além a fim de compreen
der por si mesmo as vantagens, e talvez as inconveniências das ciências ocultas:
como penetrar no Templo de que os livros apenas assinalam a antecâmara? Como?
As linhas deste livro estariam incompletas se não puséssemos à disposição
do interessado recém-iniciado nestes estudos a experiência adquirida por adeptos
mais adiantados. Para isso, começaremos por comentar sobre os Três Caminhos
principais, partindo do Umbral do Templo que conduz até o Santuário, por entre
perigos e múltiplos labirintos. Estes três caminhos são:
1. ° O caminho instintivo, ou experimental; (Yod)
2. ° O caminho cerebral, ou mental; (He)
3.° O caminho cardíaco, ou sentimental; (Vau)
E o caminho Unitivo, síntese dos anteriores (He)
Antes de tudo, porém, façamos ao interessado a pergunta principal que lhe
permitirá aquilatar sobre o caráter de cada um deles:
Por que tem interesse no ocultismo?
a) por acaso será para aprofundar-se no conhecimento do ser humano nas suas
relações sociais?
Então as artes divinatórias elementares e o estudo dos temperamentos (pla
netários) apoiados em algumas noções de fisiologia bastarão.
b) Será então para penetrar na existência do plano invisível e aprender sobre a
continuação da vida além do túmulo?
O caminho experimental, com seu acompanhamento de terríveis ilusões e
emboscadas lhe serão mais indicados.
c) Será por acaso para adquirir conhecimentos novos acerca da história da hu
manidade, suas doutrinas religiosas visíveis ou secretas, sobre as filosofias e
sistemas que explicam ou pretendem explicar a constituição e a razão de ser
de D-us, do homem e da Natureza?
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Religião e Mito
I 33 |
34 | Secretum - Manual Prático de Kabbala Teúrgica
“Logo, as pesadas e lentas formas dos séculos escuros e sombrios que cobriram
com os suas capas de morcego os olhos do homem, devem se dispersar pelos
ventos correntes dos deuses que retornam. Pois o homem implorava e se
ajoelhava muito tempo antes dos fantasmas sem sangue em decomposição, a
época doglamour não se pode manter viva para o florescimento da aspiração;
então os deuses retornavam para trazer uma nova melodia, nova arte e novo
entendimento. Através das ondas crescentes e asas emaranhadas da Terra,
que rodeiam o firmamento e o infinito horizonte, brilham fracamente no
momento, um esplendor crescente, então de repente as penas enevoadas dos
pássaros desabam, e ali, na realeza pantanosa, se elevam os suaves cavalos
com arreios prateados, arreados às carruagens brilhantes onde estão as
jovens e virgens deusas, com elmos dourados e armaduras nas pernas, das
quais as armaduras cintilantes não podem ser golpeadas ou sujas.
Elas são as dinastias celestiais e crianças etéreas nascidas da divina e eterna
mãe, Fogo, cujos seios são as estrelas e amamentaram essas crianças com um
leite ígneo. Logo devemos escutar o som agudo dos relinchos dos cavalos e as
tempestades em coro de suas crinas agitantes. As carruagens deixam um ras
tro de esforço no ar, conforme mergulham nas cristas brancas das montanhas.
Enquanto os raios dos deuses, soltos, devem ser os emissários das verdades
cantando como triunfantes trompetes, mais uma vez acordados conforme eles
irrompiam através dos séculos obscuros, para libertar as mentes prisioneiras”1
M.J.
1 JUSTE Michael - Lhe White Brother, An Occult AutoBiography - Ed. Ryder & Co. Paster-
noster House Inc. - London 1927. p. 173
Helvécio de Resende Urbano Júnior | 35
Assim fala o maior filósofo e o mais sábio dos naturalistas antigos. Entende
ele dever dar ao mundo e ao céu o nome de causa suprema e de D-us. Segundo
ele, o mundo trabalha eternamente em si e sobre si mesmo; é simultaneamente
operário e obra, a causa universal de todos os efeitos que encerra. Nada existe fora
dele é tudo o que foi, tudo o que é, tudo o que há de ser, isto é, a própria natureza
ou D-us, porquê D-us, entendemos nós o Ser eterno, imenso e sagrado que, como
causa, contêm em si tudo o que é produto. Tal é o caráter que Plínio dá ao mundo,
a que chama o de grande D-us, fora do qual outro não se deve procurar.
Esta doutrina remonta, no Egito e na índia, a mais alta Antiguidade. Tinham
os egípcios o seu grande Pan, que reunia todos os caracteres da natureza universal
e que, originariamente, era simples expressão simbólica da sua força fecunda. Os
hindus tinham o seu deus Vixnu, que frequentemente confundem com o próprio
mundo, embora, às vezes, o considere uma fração da tríplice força de que se compõe
a força universal.
Eles dizem que o Universo apenas é a forma de Vixnu, que o traz no seio, que
tudo o que existiu, existe e existirá, se encontra nele; que é ele o princípio e o fim de
todas as coisas, que ele é tudo - ser único e supremo que aos nossos olhos se produz
sob mil formas. É um ser infinito, acrescenta o Bagawadam,3 inseparável do Univer
so, essencialmente uno com ele; porque, dizem os hindus, Vixnu é tudo, e tudo está
nele - expressão perfeitamente semelhante à que Plínio se serviu para caracterizar
o Universo-D-us ou o mundo, causa suprema de todos os efeitos produzidos.
No parecer dos Brâmanes, como no de Plínio, o obreiro ou o grande Demiurgo
não está separado nem é distinto da sua obra. O mundo não é máquina estranha
à divindade, criada e movida por ela e de fora dela É o desenvolvimento da subs
tância divina, é uma das formas sob as quais D-us se produz aos nossos olhos. A
essência do mundo é una e indivisível com a de Brahma que o organiza. Quem vê
o mundo vê D-us, tanto quanto o homem pode vê-lo. Como quem vê o corpo do
homem e os seus movimentos, vê o homem tanto quanto pode ser visto, embora o
princípio dos seus movimentos, da sua vida e da sua inteligência fique oculto sob
o invólucro que a mão toca e os olhos distinguem. Dá-se o mesmo com o corpo
sagrado da divindade ou do Universo-D-us. Quanto existe, existe Nele e por Ele;
fora Dele, nada ou abstração.
3. Uma das partes dos poemas sagrados dos Hindus. Pertencem ao sistema filosófico-religioso
dos pantxáratas que, juntamente com os dos djainas, budas, txárvacas e sivistas, constituem
a classe heterodoxa dos sistemas filosóficos da índia.
Helvécio de Resende Urbano Júnior | 37
bens, haja sido esquecida para só lembrarmos-nos de alguns mortais que desses
bens nos tenham ensinado a fazer uso? Pensá-lo é conhecer muito pouco o império
que a natureza sempre exerceu no homem, cujas atenções ela ininterruptamente lhe
atrai pelo sentimento da sua independência e das suas necessidades.
Houve mortais, é certo, bastante audaciosos para tentarem disputar aos deuses
o seu incenso e partilhá-lo com eles, mas esse culto forçado só durou enquanto a
lisonja ou o medo teve interesse em o conservar. Domiciano não passava de um
monstro no tempo de Trajano. O próprio Augusto foi esquecido depressa. Mas
Júpiter ficou de posse do Capitólio. O velho Saturno foi sempre respeitado pelos
descendentes das antigas povoações da Itália, que reverenciavam nele o deus do
tempo, assim como Jano ou o gênio que lhe mostra a sucessão das estações. Pomona
e Flora conservaram os seus altares e os diferentes astros continuaram as festas do
calendário sagrado, porque eram as festas da natureza.
A razão dos obstáculos ao estabelecimento e manutenção do culto de um
homem entre seus semelhantes, está no próprio homem comparado com o grande
ser a que chamamos de Universo. Tudo é fraqueza no homem, no Universo, tudo
é grandeza, tudo é força, tudo é poder. O homem nasce, cresce e morre, e durante
um momento apenas toma parte na duração eterna do mundo, no qual ocupa um
lugar infinitamente pequeno, saído do pó, inteiramente volta ao pó, enquanto a
natureza, e só ela, permanece com as suas formas e com o seu poder, e com os restos
dos seres mortais, recompõe novos seres. Não conhece velhice nem alteração nas
suas forças. Os nossos pais não a viram nascer, a posteridade não a verá morrer.
Descendo ao túmulo, deixá-la-emos tão nova como ao sairmos do seu seio. A mais
remota posteridade verá o Sol nascer tão brilhante como nós o vemos e como
viram nossos ancestrais. Nascer, crescer, envelhecer e morrer exprimem ideias
estranhas à natureza universal e só pertencentes ao homem e aos outros efeitos
naturais. “O Universo, diz Ocello da Lucânia, considerado na sua totalidade, nada
nos anuncia que descubra uma origem ou pressagie uma destruição: ninguém o viu
nascer, nem crescer, nem melhorar-se; é sempre o mesmo, da mesma maneira, sempre
igual e semelhante a si próprio”4 Assim falava um dos mais antigos filósofos cujos
escritos chegaram até nós, e depois dele as nossas observações não são de molde a
que tenhamos outra opinião. O Universo parece-nos hoje como então lhe parecia
a ele. E não é a perpetuidade inalterável o característico da divindade ou causa
suprema? Que seria então D-us se ele não fosse precisamente o que nos parecem
ser a natureza e a força interna que a move? Havemos de procurar fora do mundo
esse ser eterno e improduzido, de cuja essência nada nos dá testemunho? Teremos
de colocar na classe dos efeitos produzidos essa imensa causa para além da qual só
vemos os fantasmas que a nossa imaginação se compraz em criar?
Sabemos bem que o espírito humano, que nada detém nos seus desvarios,
se lançou para além do que a sua vista alcança e transpôs a barreira sagrada que a
natureza havia posto a vedar o ingresso no seu santuário, substituiu a causa que via
agir, por uma outra que ele não via, estranha e superior a natureza, sem se preocupar
com os meios de demonstrar a sua realidade. Perguntou quem fez o mundo, como
se houvera sido demonstrado que o mundo tinha sido feito; mas não perguntou
que fez o seu D-us, estranho ao mundo, bem convencido de que se podia existir
sem ter sido feito, como a respeito do mundo ou da causa universal e visível, os
filósofos efetivamente pensaram.
imaginar um D-us abstrato num mundo que não via. Este abuso do espírito, este
requinte da metafísica é de data muito recente na história das opiniões religiosas, e
pode considerar-se uma exceção à religião universal, que teve por objeto a natureza
visível e a força ativa e inteligente que parece espalhada em todas as suas partes.
Como é fácil verificar pelos testemunhos dos historiadores, e pelos monumentos
políticos e religiosos de todos os povos antigos.
seja, quando que eu iria começar a Trabalhar na senda da caridade. Ele olhou-me
com muita seriedade e paciência e disse-me: “Aguarde até que batam à sua Porta”.
Eu faço essas as minhas palavras. Não fiquem preocupados em fazer algo que
até mesmo não sabe se estaria correto, ou seja, seguida dos impulsos aleatórios que
em vez de ajudar irão atrapalhar as pessoas, e àqueles poderão até mesmo estar
necessitando de cumprir o que chamamos de Karma.
Através das técnicas da Kabbala e das práticas da Magick (A Magick de
Crowley nada tem a ver com aquilo que vulgarmente se entende por Magia. Está
profundamente baseada em um sistema, firmando-se no Poder Gerativo para atingir
a Consecução Espiritual por meio desse Poder. Não é, portanto, de se admirar ter
sido ele tão combatido pelos pseudos pudicos. O “K” final da palavra Magick é a
décima letra do alfabeto mágico. “K” também é KHz, Khou ou Queue, simbolizando
a cauda ou vagina, venerada no Egito Antigo como a fonte do Grande Poder Má
gico. Lembre-se de que a Magick é a Arte da Vida, portanto, de causar mudança de
acordo com a Vontade; portanto, sua lei é amor sob vontade, e todo seu movimento
é um ato de amor).
Poderemos enfrentar e vencer o grande desafio de encontrar a resposta para
essas indagações para cumprir nossa missão como homem de desejo e alavancar
nossa reintegração em direção à ascensão espiritual pelo trabalho de lapidação
pessoal e humanitário (social).
Sobre a religião
O que é Religião?
Religião (do latim religare, significando religação com o divino) é um conjun
to de sistemas culturais e de crenças, além de visões de mundo, que estabelece os
símbolos que relacionam a humanidade com a espiritualidade e os valores morais.
Muitas religiões têm narrativas, símbolos, tradições e histórias sagradas que se
destinam a dar sentido à vida ou explicar a sua origem e do Universo. As religiões
tendem a derivar a moralidade, a ética, as leis religiosas ou um estilo de vida pre
ferido de suas ideias sobre o cosmos e a natureza humana.
A palavra religião é muitas vezes usada como sinônimo de fé ou sistema de
crença, mas a religião difere da crença privada na medida em que tem um aspecto
público. A maioria das religiões têm comportamentos organizados, incluindo
hierarquias clericais. Uma definição seria o que constitui a adesão ou filiação,
42 | Secretum - Manual Prático de Kabbala Teúrgica
Tudo o que surgiu com a atividade humana (adornos, linguagem, etc.) quan
do o homem desaparecer também desaparecerá. As coisas culturais que foram
descobertas, no entanto, aparecem aos nossos olhos como se fossem naturais pelo
processo de reificação, ou, como prefere Rubem Alves, coisificação. Isso se aplica
de maneira peculiar aos símbolos. De tanto serem repetidos e compartilhados com
sucesso nós os reificamos, passamos a tratá-los como se fossem coisas. Os símbolos
que se mantêm vitoriosos recebem o nome de verdade, enquanto os derrotados são
ridicularizados como superstições ou perseguidos como heresias.
O Universo religioso encantado não poderia ser manipulado ou controlado
pela burguesia, que encontrou na previsibilidade da Matemática, instrumento ideal
para a construção de um mundo vazio de mistérios e dominado pela razão. O mun
do religioso e seus símbolos foram lançados nas chamas. Alinhada aos interesses
da burguesia, a Ciência se apresenta vitoriosa. Determina que o conhecimento só
pode ser alcançado através do método científico. E o discurso religioso? Só pode
ser classificado como engodo consciente. Estabeleceu-se um quadro simbólico no
qual não havia lugar para a religião. D-us ficou confinado aos céus, dividindo-se
áreas de influência: aos comerciantes e políticos foram entregues a terra, os mares,
as fábricas e até os corpos das pessoas.
A religião foi aquinhoada com a administração do mundo invisível, o cui
dado da salvação, a cura das almas aflitas. No entanto, os julgamentos de verdade
e de falsidade não podem ser aplicados à religião, pois no mundo dos homens
podem ser encontrados dois tipos de coisas: as coisas/símbolo, aquelas que sig
nificam outras e as coisas que são elas mesmas, não significam outras. Enquanto
os símbolos carecem que comprovação, as coisas que são elas mesmas, que não
precisam passar pelo crivo de falso ou verdadeiro. A religião se apresenta como
coisa e sua realidade não pode ser negada. As religiões se estabelecem e subsistem
a partir da divisão bipartida do Universo entre o sagrado e o profano. Sagrado e
profano não são propriedades das coisas. Eles se estabelecem pelas atitudes dos
homens perante coisas, espaços, tempos, pessoas, ações. Enquanto o mundo pro
fano se resume ao círculo do utilitário, o sagrado avança para o ideal. Se o homem
é senhor do mundo utilitário, no sagrado ele é servo. O sagrado é apresentado
como centro do mundo, a origem da ordem, a fonte das normas, a garantia da
harmonia que se manifesta na e pela sociedade.
A religião como fato social não está completamente à mercê da análise so
ciológica, pois os sentimentos religiosos se encontram numa esfera de experiência
indiferente à análise sociológica, por ser íntima, subjetiva e existencial.
44 | Secretum - Manual Prático de Kabbala Teúrgica
Depois da Cristandade
I 45 |
46 | Secretum - Manual Prático de Kabbala Teúrgica
O significado de fé e razão
Para o homem moderno a fé é assunto de difícil compreensão, mais raro ainda
é o homem vivenciá-la. Hoje o homem dificilmente se encontra só e está sempre
entretido com alguma atividade que dificulta sua possibilidade de introspecção,
além de estar mergulhado num ambiente ruidoso e ao mesmo tempo artificial.
Absorto em distrações distanciá-se de sua realidade interior; faltando-lhe a paz,
na qual, unicamente poderá expressar-se a voz silenciosa da fé.
Muitas pessoas, ao tentarem analisar o significado da fé, encontram uma di
ficuldade principalmente intelectual, em que os reclamos dela parecem contradizer
as descobertas da razão e sentem que não poderão aceitar suas proposições sem
renunciar à sua integridade intelectual. O conflito entre a fé e a razão, há muito vem
sendo objeto de vastas discussões desde que emergiu na Idade Média, sob a influ
ência da filosofia grega. As três religiões monoteístas foram unânimes ao definir a fé
como uma origem especial da verdade, como uma fonte de conhecimento objetivo a
complementar a razão humana, mantendo-se, porém, distinta desta e independente
da mesma. A fé e o raciocínio foram concebidos como fontes separadas da verdade e
do conhecimento. Porém, esta definição provocava mais perguntas do que as resolvia.
O que é a verdade e quais são suas origens? É a razão a priori que Hume diz
existir um único meio para resolver: “...De sermos libertos da obscuridade: investigar
seriamente a natureza do entendimento humano e mostrar, mediante uma análise
exata de seus poderes e capacidade, de que ele não se ajusta de modo algum a assuntos
tão abstrusos e remotos. O raciocínio exato e justo é o único antídoto da humanidade,
apropriado a todas as pessoas, e só ele pode modificar essa filosofia abstrusa difícil”10 A
razão é impotente para descobrir a verdade revelada pela fé? Ou será demonstrável
esta verdade, - passível de verificação através da razão? Logicamente, poderá algo
ser considerado verdadeiro, a menos que seja demonstrado e verificado pela razão?
Cada uma das respostas gerava novas perguntas.
Somente poderemos compreender a verdadeira natureza da fé - em se tratan
do de fé bíblica - se reconhecermos o fato fundamental de que qualquer definição
que a considere como fonte especial de verdade será inadequada. Podemos inferir
que a fé não é uma fonte especial de verdade, independente da razão, ou contrária
a esta. O termo fé, delimitado dentro do âmbito bíblico, designa uma atitude de
10 HUME, David - Investigação Sobre o Entendimento Humano; Série Filosofar - Ed. Escala
Educacional, São Paulo, 2006.
50 | Secretum - Manual Prático de Kabbala Teúrgica
confiança entre o homem e D-us. Ter fé não é afirmar que uma certa proposição seja
logicamente verdadeira, porém, antes, é confiar-se a D-us, sentido-se seguro nessa
confiança. Aquele que crê, ou que acredita que crê, não necessariamente acredita
em D-us; mas dá crédito a D-us. Martin Buber expressa o mesmo pensamento ao
afirmar que o homem bíblico nunca duvida da existência de D-us. Ao professar a
sua fé simplesmente expressa a sua confiança em que o D-us vivo está tão próximo
como estivera de Abraão, e a Ele confiantemente se entrega.
René Descartes no famoso argumento ontológico sobre D-us: “D-us é um ente
perfeitíssimo (isto é, contém todas as perfeições); ora, a existência é uma perfeição;
logo D-us existe”Todavia, muitos argumentos - talvez a maior parte desses - apre
sentam infinitas premissas axiomáticas tão simples e ao mesmo tempo complexas,
como é o caso do argumento da aposta, do filósofo Blaise Pascal: “Ou há um D-us
cristão ou não há um D-us cristão. Suponha que você acredita na existência Dele e
que observa uma vida cristã. Então, se Ele realmente existir, você gozará da felicidade
eterna. Se Ele não existir, você perderá muito pouco. Mas suponha que você não acre
dita na existência d’Ele e que não observa uma vida cristã. Se Ele não existir, você não
perderá nada; mas, se Ele existir, você será condenado por toda a eternidade! Então
é racional e prudente acreditar na existência de D-us e observar uma vida cristã”11.
Essa certeza imediata não se limita ao terreno da fé religiosa. Cada um de nós
possui certeza imediata da existência do seu próximo. Um encontro com alguma
outra pessoa, um discurso ou aperto de mão me assegura, com imediata segurança,
de que não estou sozinho no mundo. Poderá constituir problema filosófico imediato
se indagar se posso provar a existência de alguém, além de mim mesmo.
Certamente, na história da filosofia podem ser mencionados os solipsistas,
aqueles pensadores que, com toda sinceridade, colocaram em dúvida ou negaram a
existência do Tu, afirmando ser o Eu o único ser existente, apenas capaz de conhecer
suas próprias modificações e estados. A celeuma pode apresentar interesse filosófico e
provavelmente não será solucionável. O busílis, no entanto, é que quando tomo a mão
que o amigo me oferece, não me relaciono com ele no plano da discussão filosófica
ou análise objetiva abstrata; entro numa relação de certeza, confiança e fé imediatas.
A fé é uma relação de caráter imediato ao que existe entre o Eu e o Tu. Aquele
que acredita buscar a D-us o encontra. Sabe que D-us tem para ele a mão estendida.
Fala a D-us e recebe uma resposta. Ora a D-us, com tanta certeza da sua existência,
11 PASCAL, Blaise - Pensées sur VHomme et Dieu. - Chez Jacques Klein - Editions de la Ci-
gogne, Marrocos, 1950. p. 275.
Helvécio de Resende Urbano Júnior | 51
como da sua própria, ou a do próximo. Não exige provas para essa certeza suprema;
porém se alguém solicitasse provas, não poderia apresentar. Não pode fornecer evi
dência objetiva para o que, em seu coração, conhece como absolutamente verdadeiro
e real. Gandhi definia a fé como um encontro, do mesmo modo, quando mencionava
a íntima voz silênciosa que o acompanhara pela existência e a qual, por meio de exer
cícios mentais e físicos, se adestrava a ouvir: “Não disponho de meios para convencer os
céticos da existência desta voz; ele poderá afirmar tratar-se de uma ilusão ou alucinação.
Pode ser assim. Não me é possível provar a sua existência. Porém, o que posso declarar
é que a contradição do mundo inteiro não enfraquecerá a minha fé em que ouço a voz
de D-us. Para mim esta voz é mais real do que a minha própria existência.”12
O ato de fé baseia-se na experiência direta e na certeza do crente em que
tenha sido D-us quem lhe haja falado. No entanto, o crente deverá enfrentar difi
culdades. Os outros podem exigir prova objetiva para sua afirmação de que uma
experiência real, e que o encontro existira. Ele próprio poderá, momentos depois,
vir a duvidar da realidade daquele encontro - pois a graça do momento abençoado
não se prolonga além daquele momento. A vida da fé é intermitente. Raros são os
momentos dessa iluminação direta, como indicava Maimonides na introdução do
seu Guia para o Perplexo13-.
“As vezes a verdade brilha com fulgor tão intenso que a percebemos, clara
como o dia. A seguir, a nossa natureza e hábitos descem um véu, sobre a
nossa percepção, e nos vemos novamente numa escuridão quase tão densa
quanto a de momentos antes. Somos como os que, diante da luz de frequen
tes relâmpagos, ainda se encontram nas mais densas trevas. Em alguns,
a luz brilha rapidamente, em momentos sucessivos, de modo a aparecer
que se encontram continuamente iluminados... a sua noite é clara como o
dia. Em outros, apenas uma vez, durante a noite inteira, é percebido um
clarão. E existem também aqueles para os quais a iluminação brilha em
intervalos variáveis”.
“D-us criou todas as coisas com número, medida e peso; por isso dizem
os kabbalistas que cada número contém um mistério e um atributo que
se refere a uma divindade ou a alguma inteligência. Tudo que existe na
natureza forma uma unidade pelo encadeamento de causas e efeitos, que se
multiplicam ao infinito; e cada uma dessas causas referem-se a número”14.
E Valdomiro Lorenz
Não existe uma fórmula de simplificação, pela qual esta síntese entre a fé e a
razão possa realizar-se. Não pode existir distinção entre um cientista que crê e um
que não creia, porque como cientista ambos devem aceitar as regras da objetivi
dade científica, isto é, da verificação e controle. Quando um homem tenta reunir
e harmonizar os dois grandes pólos da existência humana, ou seja, a certeza da
sua confiança em D-us, derivada da sua fé, e a certeza da pesquisa e indagação
desprendida com que, como pensador responsável, deve sujeitar as suas próprias
hipóteses a escrutínio constantemente renovado. A possibilidade de nós, sejamos
judeus ou cristãos, harmonizarmos a fé e a razão, pode ser melhor ilustrada pelo
pensamento e experiências de alguns homens notável inteligência, como pensadores
e homens de fé.
Fulge esta luz sem recinto que a receba, soa esta voz sem vento que a dissipe,
recende este aroma sem aragem que o propague, deleita este sabor sem intem
perança que o produza, cinge este abraço sem perigo de separação violenta.
Este é meu D-us, que para mim está acima de toda a estimação e de todo o
paralelo. É a este Ser que procuro quando procuro D-us: é a este que amo
quando amo o meu Criador.
4. Tarde vos amei, beleza sempre antiga e sempre nova, tarde vos amei...
Vós estáveis em mim e eu rebuscava-vos por fora de mim.
Meu pobre coração, disforme nos seus afetos, encontrava ocasião de queda
naquelas mesmas formosuras que criastes por minha causa. Estáveis comigo
sem eu estar convosco e conservavam-me longe de Vós aquelas mesmas coisas
que só em Vós possuíam o fundamento da sua existência. Dirigia-me a todas
elas em busca de Vós e por elas abandonava-vos.
Perguntei à terra se era o meu D-us, e respondeu-me que não, e no mesmo
sentido me respondeu quanto ela encerra. Perguntei ao mar e aos seus abismos
e aos peixes que neles se contém se eram eles o meu D-us, e responderam-me:
“Não o somos. Procura-o acima de nós”
Interroguei o ar sutil com todos os habitantes aéreos que o povoam: Sois vós
o meu D-us? Responderam-me que não, e que Anaxímenes (Filósofo grego
da escola jónica, que opinava ser o ar o princípio dos seres) se enganara a
tal respeito.
Interroguei o Céu, o Sol, a Lua e as estrelas: “Não, não somos nós o teu D-us”,
tornaram-me.
5. E disse a todas estas criaturas, que me são exteriores: respondestes-me que
não sois o meu D-us; mas dai-me ao menos alguma notícia dele; e clamaram
todas gritando: “Foi ele quem nos fez”.
Interroguei a mole imensa do nosso globo: “Dize-me se és ou não o meu D-us”.
E replicou-me com voz forte: “Não; não o sou, porém sou (ou existo) por Aquele
que em mim procuras. Foi ele que me criou. Procura acima de mim esse Senhor
supremo que me rege”.
Interrogar as criaturas já é estudá-las e a sua resposta um atestado fidedigno
pelo qual confessam e bradam ser D-us o seu autor. Observa com razão o
Apóstolo São Paulo que as coisas invisíveis de D-us nos são conhecidas pelas
suas obras visíveis.
6. E dobrei-me sobre mim mesmo e entrei em mim, e disse comigo: Quem és tu?
E respondi-me que sou um homem mortal e racional. E pus-me a deslindar o
56 | Secretum - Manual Prático de Kabbala Teúrgica
que isto queria dizer: donde me proveio ser eu um animal racional, ó D-us?
Não foi de Vós? Fostes Vós que me criastes e não eu a mim mesmo.
Quem sois? Por quem é que vivo? Quem sois, Senhor, por quem todas as
coisas vivem?
Sois o meu D-us, o verdadeiro D-us, único onipotente e eterno, incompreen
sível e imenso, que sempre viveis, não havendo nada em Vós, que pague tri
buto à morte: ente imortal, que sois inenarrável, imperscrutável, inominável:
D-us vivo e verdadeiro, terrível e forte, sem princípio nem fim, e que sois o
princípio e o fim de tudo o que é; que existem antes que existissem os séculos
e as origens dos séculos.
Sim, Vós só sois o meu D-us e o Senhor de todas as criaturas. Em Vós perma
nece a causa primeira de tudo que tem estabilidade; em Vós assenta a origem
imutável de tudo quanto é mutável, e em Vós vivem as razões eternas de tudo
o que é racional, irracional e temporal.
7. Dizei, Senhor, ao vosso servo suplicante, dizei, ó misericordioso, ao mísero,
donde é que proveio o meu ser animal e racional senão de Vós? Pois pode
dinamar de alguém a não ser de Vós o existir e o viver? Não sereis Vós, acaso,
a entidade soberana donde deriva toda a existência? Nada existiria sem Vós.
Não sereis Vós a fonte da vida donde desliza toda a vida? Por Vós vive tudo
que vive. Tudo criastes, ó D-us!
Ainda examinarei quem foi que me criou? Vós fostes por certo! Sou obra de
vossas mãos.
Graças vos dou, ó meu Criador, por semelhante benefício; graças vos dou,
porque foram as vossas mãos que me fizeram e me fabricaram; graças vos dou
porque me iluminastes, e porque achando-vos, me achei.
Lá onde vos conheci e achei, aí me achei e me conheci. E lá onde vos conheci,
aí me iluminastes.
Graças por vos terdes dignado iluminar-me, ó minha luz.
8. Mas como é que ouso dizer que cheguei a conhecer-vos, se sois incompreen
sível e imenso, como Rei dos reis e Senhor dos senhores? Se só Vós possuís a
imortalidade e habitais uma luz inacessível, que nenhum homem, portanto,
jamais viu nem pode ver? Se só Vós sois o D-us escondido e a Majestade
imperscrutável, único conhecedor e contemplador de Vós mesmo?
Quem pode conhecer o que nunca viu?
Dissestes um dia, na verdade da vossa palavra: “Nenhum homem me verá e
poderá continuar a viver”.
Helvécio de Resende Urbano Júnior | 57
Disse também um dos vossos arautos, por Vós inspirado: "Ninguém, até hoje,
viu a D-us”.
Outrossim dissestes na vossa veracidade infalível: "Ninguém conhece o Filho
senão o Pai, e ninguém conhece o Pai senão o Filho”.
A só augusta Trindade, que excede todo o conhecimento, é perfeitamente
conhecida de si própria.
9. Como é, pois, que eu, homem não néscio, afirmei que vos conhecia? Quem vos
conhecerá senão Vós a Vós só? Porquanto, só Vós sois cognominado o D-us
todo-poderoso, sobre-louvável, e sobre-glorioso, sobre-exaltado e altíssimo,
e sobre-essencial, nos elóquios santíssimos dos espíritos celestes.
Sois considerado, Senhor, assim no século presente como no futuro, por su
perior a toda a essência inteligível, intelectual e sensível, porque nesse vosso
Ser divino, oculto e sobranceiro a toda a essência criada, além de toda razão,
de todo o entendimento, inacessivelmente e inadiavelmente habitais em Vós,
onde cremos existir, como no seu foco, a luz incompreensível, inenarrável,
incontemplável, absolutamente fora da própria visão angélica, quanto mais
da humana!
E este é o vosso céu, o céu que vela o esplendor dessa vossa luz misteriosa,
sobre-inteligível, sobrerracional e sobre-essencial, da qual está escrito: "O céu
do céu pertence ao Senhor”. (Em face destas noções da Divindade, tão verda
deiras, profundas e sublimes, tão precisas, filosóficas e dignas da Divindade
na sua mais alta e ideal concepção, a que prodigiosa distância não fica de tudo
o que disseram de D-us os maiores sábios do paganismo, desde Patandjali até
Pitágoras e desde Platão até Séneca!).
10. Para este céu do céu, o resto do mesmo céu é como se fora a terra, porque
admiravelmente paira acima de todo o céu. Este é propriamente o céu de D-us,
pois a ninguém é conhecido senão a D-us; ao qual ninguém subiu senão o
que de lá desceu, o Filho de D-us. Porquanto ninguém conhece o Pai senão
o Filho e o Espírito de ambos, assim como ninguém conhece o Filho senão o
Pai e o Espírito de ambos.
Só a Vós, ó D-us, é conhecido este altíssimo mistério da Trindade, Trindade
santa, admirável, inenarrável, imperscrutável, inacessível, incompreensível,
sobre-inteligível, sobressencial, que sobreleva infinitamente a todo o co
nhecimento, a toda a razão, a todo o intelecto, a toda a essência dos espírito
celestes, e que a ninguém é possível exprimir, nem simplesmente conceber,
nem contemplar, mesmo aos olhos dos anjos, que de contínuo veem a D-us.
58 | Secretum - Manual Prático de Kabbala Teúrgica
11. Como foi, pois, que vos conheci, altíssimo Senhor, que nem os querubins
nem os serafins conhecem perfeitamente, cobrindo-se com suas asas, por não
poderem comportar o candor da luz divina d Aquele que está assentado sobre
o sólio excelso, e que clamam e proclamam: “Santo, santo, santo, é o Senhor
D-us dos exércitos; toda a terra está cheia da vossa glória?”
Temeu o profeta e disse: “Ai de mim, porque calei, e porque sou um homem de
lábios manchados”. E também o meu coração se sentiu transido de pavor e
disse: “Ai de mim, porque não calei, porque sou um homem de lábios impuros e
ousei proferir esta palavra - conheci-vos, - Todavia, ai dos que se calam a vosso
respeito, ó D-us, porque até os loquazes emudecem sem Vós”.
Não me calarei, pois, Senhor, que me formastes e me iluminastes e me achas
tes, quando eu andava perdido; e, se cheguei a conhecer-vos, foi porque me
abristes os olhos e me inundastes de luz.
12. Porém, de que modo foi que vos conheci? Conheci-vos em Vós, não como sois
em relação a Vós próprio, mas como sois em relação a mim, e não sem Vós
mas em Vós e convosco; pois como sois em relação a Vós, só Vós o sabeis; e,
como sois em relação a mim também eu o sei, mediante a vossa graça.
Mas que sois Vós para mim? Dizei-o ao vosso servo miserável, dizei-me pela
vossa misericórdia indizível.
Dizei à minha alma: “Sou a tua salvação”. Não me escondais a vossa face, que
seria para mim a morte.
Permite que vos fale, embora seja terra e cinza; permiti que me dirija à vossa mise
ricórdia, já que em mim repousam as grandes manifestações da vossa misericórdia.
Falarei, pois ao meu D-us, como terra e cinza. Pela vossa infinita clemência,
dignai-vos ensinar ao vosso servo suplicante quem sois para mim.
Eis que fizestes soar a vossa voz altíloqua ao ouvido interno do meu coração, e
quebrastes a minha surdez, e entrei a ouvir-vos a voz suavíssima, e alumiastes-
me esta cegueira, e vi a vossa luz, e conheci, enfim, que sois o meu D-us. Por
isso, disse que vos conheço.
13. Conheço, sim, que sois D-us, único verdadeiro D-us, e a Jesus Cristo, que
enviastes à Terra.
Tempo houve em que vos não conhecia. Ai desse tempo em que vos não
conhecia! Ai da cegueira que não me deixava ver-vos! Ai da surdez que não
me deixava ouvir-vos!
Ah! Cego e surdo, que cai na deformidade moral, pelas belas formas que crias
tes na vossa bondade e não para minha ruína. Estáveis já então comigo, mas
Helvécio de Resende Urbano Júnior | 59
15 PESSOA, Fernando, Poesia Inédita -1919-1930 - Editora Ática, Belo Horizonte, MG, 1956.
60 | Secretum - Manual Prático de Kabbala Teúrgica
processa como num culto do templo: “mas o ritual a que assisto é sempre um ritual
de relembrar” A alma é imortal, pois contém nela, tira do seu fundo, as verdades
que conheceu na eternidade; a vida presente é uma queda neste mundo. Abismo
de que quem sou em D-us, do meu Ser anterior a mim... Isso, de certa forma, nos
remete a uma visão do Mito da Caverna de Platão.
CAPÍTULO III
O Rito e o Sagrado
I 61 |
62 | Secretum - Manual Prático de Kabbala Teúrgica
tem por objeto provocar certas emoções; este seria o caso da emoção religiosa. Nos
extratos mais elementais de uma cultura, a emoção é suscitada artificialmente pelo
rito. Daí sua eficácia operativa. É uma técnica espiritual, uma pedagogia rudimentar
ao nível de uma religiosidade simples.
Nas formas mais evoluídas da religião, encontramos o momento de racio
nalização. Nesta etapa o rito perde todo significado porque a religião assume um
caráter individual. A relação do homem com o sagrado não está fixada pelas pautas
fortemente socializadas do rito. Trata-se de um comportamento que o homem
decide em sua intimidade, no mais recôndito do seu ser. Neste ponto entendemos
que o indivíduo faz a religião com sua própria solidão.
O movimento repetitivo do rito religioso não pode ser isolado, no sentido que
transcende os estreitos limites entre o indivíduo e o ato ritualístico propriamente
dito. Creio que as formas religiosas superiores ao valor do rito subsiste. Pela repeti
ção ritual se quer atualizar um conteúdo divino, encontramos nelas um elaborado e
rico cerimonial, cujo valor simbólico transcende a materialidade de uma mecânica
repetitiva de gestos.
Não somente se trata aqui de permanecer fiéis às regras e de cumprir atos
de acordo com uma sucessão fixada de antemão; no sentido genuíno do ritual se
manifestar somente quando estas ações criam o âmbito no qual tem lugar uma ex
periência religiosa. Creio que a similaridade com a ação teatral é útil para entender
essa relação.
O rito quer ser uma representação dramática e dentro de cujo espaço acon
tece realmente aquilo que há sido disposto formalmente. Ou também podemos ter
esta similaridade com a dança. O rito tem por objeto criar uma atmosfera na qual
devemos nos entregar para sermos conquistados pelo seu ritmo interior. Provoca
um modo de inebriamento circular que nos atrai para o centro do sagrado.
Se ao entregarmo-nos à dança, perdermo-nos nela com o objetivo de dançar
bem, assim ocorre com o rito religioso. Nós nunca poderemos compreendê-lo sem
tomar parte dele. O rito aqui é compreendido como um conjunto de movimentos,
gestos, sons, fórmulas verbais, distribuídos todos dentro de uma estrutura rítmica
global. Fundidos nele, o partícipe não pode deixar de senti-lo como algo mais que
um hábito, como outra coisa que uma rotina escrupulosamente executada.
O parentesco do rito com o teatro ou a dança pode ser aceito ou não. Porém é
certo que em seu exercício repetitivo tudo parece novidade, toda referência subjetiva
deve ser desejada como um elemento profano. Também é certo que o mistério da
ação ritual - o encontro do homem com o sagrado - não se produzirá quando o
Helvécio de Resende Urbano Júnior | 63
Esses ritos não se preservam do numinoso declarando-o impuro (como nos ritos
sociais), nem sacrificam o humano para deixar subsistente nas potências (como nos ritos
mágicos). Este terceiro grupo de ritos supera os dois anteriores e constitui uma síntese.
Um testemunho submetido a comprovações empíricas confirma a existência
de ritos que marcam o momento em que se origina a verdadeira religiosidade ritual.
Ademais acreditamos entrever que os passos que vão de um grupo a outro grupo
implicam um desenvolvimento rigoroso e por isso chega a falar de uma dialética do
rito. Na primeira solução o numinoso deveria ser eliminado como uma impureza;
na segunda deveria ser manejado como um princípio de potência mágica, e na
terceira, finalmente, se apresenta com o caráter supra-humano no qual é sagrado,
daquele que está no coração das religiões.
A Egrégora
Algumas definições são bastante enfáticas: “Palavra que se tornou popular entre
os espiritualistas, significa a aura de um local onde há reuniões de grupo, e também
a aura de um grupo de trabalho”.
Outras definições são mais exóticas: “Egrégoras são entidades autônomas,
semelhantes a uma classe de “devas” que se formam pela persistência e a intensidade
das correntes mentais realizadas nos centros verdadeiramente espiritualistas; pois nos
falsos tais criações psico-mentais se transformam em autênticos monstros, que passam
a perseguir seus próprios criadores, bem como os frequentadores desses centros”.
Entretanto temos uma definição um pouco mais clássica: “Egrégora provém do
grego egrégoro e designa a força gerada pelo somatório de energias físicas, emocionais e
mentais de duas ou mais pessoas, quando se reúnem com qualquer finalidade, A egrégora
acumula a energia de várias frequências Assim, quanto mais poderoso for o indivíduo,
mais força estará emprestando a egrégora para que ela incorpore às dos demais”.
Na média temos que: Egrégora é a somatória de energias mentais, criadas
por grupos ou agrupamentos, que se concentram em virtude da força vibratória
gerada ser harmônica.
Se considerarmos esta como sendo uma definição mais ou menos válida,
podemos tecer algumas conclusões.
Se a Egrégora é a somatória de energias, não há limites para que nível de fre
quência seja a sua fonte criadora, assim pode existir em potêncialidade Egrégoras
com frequências elevadas e egrégoras com frequências vibratórias menos elevadas
ou se preferirem negativas.
66 | Secretum - Manual Prático de Kabbala Teúrgica
Religiosidade Ritual
Sabemos que os ritos como o sacrifício, a oração e a comida sacramental têm
uma significação que ultrapassa a mera função cultural, a coletividade e a neuras
tenia. Eles falam de um puro comportamento do indivíduo e a comunicação ante
os deuses. Estes ritos estabelecem a autêntica comunicação entre o condicionado
Helvécio de Resende Urbano Júnior | 67
Digamos que há ritos que o homem cumpre não para resguardar mesqui
nhamente sua fortaleza, o cerco de sua condição humana. Tais ritos exaltam sua
audácia e põe o homem em posse de uma aventura que é de proclamar o sagrado,
compactuar com Ele, outorgar-lhe um rosto pessoal, penetrar no mistério.
Mediante estes ritos o homem coloniza a terra incógnita do divino. Mediante
estes mesmos ritos, transformados já em experiência pessoal, em vivência íntima, o
homem regressa modestamente da aventura prodigiosa, sem orgulho; se reconhece
a si mesmo um nada, apenas pó e cinza, e não obstante rende tributo, transborda
gratidão, dá a oferenda de seus frutos, de seus pertences, de si mesmo. Isto é o que
chamamos de rito do sacrifício; [Do lat. sacrificiu]. O sacrifício tem, aqui, os ca
racteres próprios da magia, onde o sacrifício aparece como uma fase da fisiologia
da energia sagrada, como um momento da circulação da energia sobrenatural. O
sacrifício é uma operação mágica: este é seu sentido originário. Logo, quando o
homem separou o sagrado do profano, o sacrifício aparece como uma tentativa de
retorno à unidade perdida. Ou seja, que nesta segunda acepção, o sacrifício quer
ser uma reatualização daquela estrutura indiferenciada na qual o homem sentia a
proximidade das forças cósmicas e podia gravitar magicamente sobre elas. Em suma,
o sacrifício religioso aparece valorizado como um recurso mágico, como a possibi
lidade do retorno a um mundo mítico, mais que religioso; como uma recuperação
da aliança perdida. Resulta fundamentalmente em duas vertentes, a primeira uma
visão religiosa e a segunda numa interpretação mítica.
No próprio centro da atividade perceptiva, descubro um substrato de funções
anônimas e pré-pessoais, que constituem a minha naturalidade e facticidade. Um
núcleo irredutível de generalidade ainda me envia de volta aos momentos mais
pessoais e mais específicos da existência individual: a partir do nascimento eu me
encontro no mundo com certa constituição psicofísica, com um conjunto de funções
perceptivas, de atitudes e de montagens que eu não constituí e, nem escolhi, mas
que simplesmente me são dados e continuam a formar o terreno natural e anônimo
sob o qual se fundamentará toda a construção pessoal.
Correlativamente, no entanto, aponta-se para o movimento intencional da
subjetividade, que impregna de significados antropológicos o mundo natural e que,
portanto, permite a constituição de um mundo cultural. Cada ato mágico se sedi
menta na exterioridade, isto é, de dentro para fora, se institui e, como tal, começa
a fazer parte de um patrimônio comum em que a presença do outro se oferece sob
um véu de anonimato, onde o ego é minimizado e o Eu exaltado. E é nesse ponto
que se entra no problema da intersubjetividade.
Helvécio de Resende Urbano Júnior | 69
16 Fenomenologia (do grego phainesthai, aquilo que se apresenta ou que se mostra, e logos,
explicação, estudo) afirma a importância dos fenômenos da consciência os quais devem
ser estudados em si mesmos - tudo que podemos saber do mundo resume-se a esses
fenômenos, a esses objetos ideais que existem na mente, cada um designado por uma pa
lavra que representa a sua essência, sua “significação”. Os objetos da Fenomenologia são
dados absolutos apreendidos em intuição pura, com o propósito de descobrir estruturas
essenciais dos atos (noesis) e as entidades objetivas que correspondem a elas (noema). A
Fenomenologia representou uma reação à pretensão dos cientistas de eliminar a metafísica.
70 | Secretum - Manual Prático de Kabbala Teúrgica
ouve, como vê o Sol erguer-se e deitar-se; como ouve uma explosão, como toca uma
flor ou um fruto. Tudo se realiza neste mundo. A doutrina da criação que os judeus
elaboraram partindo de sua fé no Senhor da História, partindo de sua experiência da
Aliança, é um prosseguimento do mundo da percepção e não do mundo da ciência; é
o mundo onde o Sol se ergue e se põe, onde os animais suspiram pela água das fontes;
é esse mundo primordial que se transfigura em Palavra criadora. Ê nesse sentido que
o mundo-de-minha-vida é o húmus de todos os meus atos, o solo de todas as minhas
atitudes, a camada primordial, anterior, a toda multiplicidade cultural”17.
Isso significa que - Essa unidade também não a posso aprender, dominar,
entendê-la e expressá-la em um discurso coerente. Pois essa camada primordial de
toda experiência é a realidade prévia de todas as circunstâncias; ela é sempre-já-antes
e chego tarde demais para exprimir. O mundo é a palavra que tenho na ponta da
língua e que jamais pronunciarei; está presente, mas apenas começo a proferi-la, já
se tornou mundo do cientista, mundo do artista e mundo de tal artista: mundo de
Van Gogh, de Cézanne, de Matice, de Picasso. A unidade do mundo é por demais
preliminar para poder ser possuída, por demais vivida para ser sabida. Desaparece,
mal é reconhecida. É talvez por isso que uma fenomenologia da percepção, que
aspirasse a dar-nos a filosofia de nosso-estar-no-mundo, é algo tão difícil quanto
a, busca do paraíso. A unidade do mundo a partir da qual se desdobrará todas as
atitudes é apenas um horizonte de todas essas atitudes.
Uma Parábola
Era uma vez um Cristão devoto que acreditou ter ouvido o Cristo mencionar
certa palavra e após ter viajado durante toda a vida, recorreu aos irmãos de uma
igreja para que o ajudassem a encontrar sua resposta. Eles
lhe responderam que o Salvador tinha querido dizer o
contrário do que ele entendeu. No princípio foram com
placentes nos argumentos e o trataram educadamente, a
fim de que as pessoas de bem nunca discutam. Porém,
depois, porque este bom irmão ainda acreditava que o
Cristo teria mencionado aquela palavra, eles se desespe
raram por sua alma e o viram possuído de muita maldade
- embora ele fosse um Cristão.
17 RICOEUR, Paul - Conflito das Interpretações - Editora Imago, Rio de Janeiro, 1978.
Helvécio de Resende Urbano Júnior | 71
cheias de amor, eles colocaram o crucifixo sobre as ruínas do que tinha sido sua
face; pois muito dela tinha sido destruído pelos pregos pontiagudos e no meio de
um pungente choro, os corações dos encapuzados irmãos se apresentavam cheios
de angústias, porque o diabo tinha entrado e causado extravio da mente e da alma
daquele irmão; por isso, prepararam a quarta prova para salvação de sua Alma.
Então eles o levantaram numa engenhosa construção: um instrumento de
rodas, cordas e nós fortes, e dentro do confuso ouvido deste amante extático de
Cristo fez-se ouvir o clangor imponente de metal e hinos adicionais do melancólico
coro desta outra igreja.
Em seguida, com muito trabalho e ofegantes, eles enlaçaram as cordas sobre as
maltratadas carnes do devoto, num esforço determinado para contrariar o fixo pro
pósito do demônio, que espreitava obstinadamente dentro das brechas de sua Alma.
Esticaram as cordas com tanto empenho que chegaram a gemer; porém o
esforço para retirar o astuto fantasma que morava dentro da vítima foi em vão.
Os arcos escuros das abóbadas chegaram a ranger sob os sons das rodas com a
tensão das cordas, contudo vejam! Quando eles colocaram seus ouvidos na boca
chamuscada e lábios contraídos do devoto eles ouviram débeis gritos de Aleluia!.
Então os religiosos se desesperaram, pois a alma dele ainda não tinha vindo
para o reino divino. Na mesma hora deixaram de girar as rodas e esticar as cordas,
e sentaram-se para conferenciar. Ato contínuo moveram aquele corpo incomodo
de seu lugar, e, com grande cuidado, começaram a preparar o quinto tormento,
quando, um grito de Hosanas, se fez ouvir e o devoto expirou.
Porém os laços do arrebatado ser desprenderam-se com facilidade, e as vestes
membranosas de sua alma transformaram-se em asas nas quais ele dirigiu-se, com
grande regozijo, em direção aos céus.
Agora desfrutava de um mar de luz; sua imaginação havia se expandido asse
melhando-se a uma árvore com muitas frutas; sua visão engalanada preenchia todo
o espaço, porém, não tinha ele morrido por seu Senhor? Não tinha ele passado por
quatro tormentos terríveis que chegaram ao requinte dos detalhes para causar lhe
sofrimento? Não tinha resistido a tais agressões por causa de seu Redentor?
Assim seu espírito estava embevecido, e os elementos mais sutis de seu corpo
rodopiavam com profunda alegria sobre os limites de sua percepção sensorial. E
imaginou o trono adornado com jóias no qual se sentaria; ouviu os anjos baterem
palmas e o órgão formado pelas estrelas lhe darem boas-vindas com uma nova can
ção, em elogio ao seu martírio. Arremessado dentro das profundezas do Universo,
imaginou os dedos delicados do Senhor que apertavam os seus e sua fulgurante
Helvécio de Resende Urbano Júnior | 73
face dando-lhe boas-vindas com imenso carinho; porém ele não tinha despedaçado
seu corpo para manter a luz chamejante das palavras do Senhor? Não tinha ele se
deixado cativar por ele? Por que deste ônix, desta prata, deste ouro e deste marfim
não poderia receber uma mansão de coisas preciosas?
Desta forma ele se regozijou com sua substância intangível mergulhada nas
muitas camadas de vida celestial; porém sua mente continuava fortemente fixa no
Senhor e nem os jardins do Universo conseguiram atraí-lo a divagações com o fito
de descansar no meio do Paraiso Eterno. Foi nessas condições que ele chegou ao
lugar de habitação do Cristo.
Diante dos enfeitados portões do Paraíso deteve-se, pois estes estavam fecha
dos. Fugazmente vislumbrou entre as barras graciosamente recurvadas do portão, os
semblantes de uma multidão de querubins, que, com suas asas de penas reluzentes,
flutuavam, cantando com maviosas vozes que enchiam o ar de suaves chamas. Então
contemplou com grande orgulho a delicada beleza que estampavam e pensou: não
eram Eles os servos do Senhor, e não iria Ele comandá-los?
Neste momento, através das finas varas de cristal e lápis lazúli e metais pre
ciosos percebeu um homem vestido simplesmente que caminhava com grande
dignidade para os portões; reconheceu-o como São Pedro, pois segurava uma chave
que resplandecia como cetro e estava ricamente incrustada com pedras preciosas.
E São Pedro acenou gravemente e seriamente com a cabeça para ele, deslizando a
chave nas misteriosas custódias da fechadura; pois eram de concepção Divina, e as
menores coisas feitas no Céu não são possuídas de beleza e admiração?
São Pedro cumprimentou a triunfante figura em um tom de voz muito baixo
e com palavras frias, de tal forma que o peregrino sentiu que um frio intenso tinha
penetrado no Paraíso, soprando friamente no êxtase dos seus desejos. Olhou para
cima e viu que os olhos São Pedro pareciam duas estrelas severas de desagradável
aspecto cinzento. A surpresa e o desânimo fizeram desmoronar de forma desalen-
tadora as essências espirituais do Peregrino, que esperou humildemente enquanto o
portão deslizava calmamente para trás, dando-lhe liberdade para entrar. Foi assim
que ele entrou no Paraíso; extremamente confuso e com a exaltação em queda,
como se fosse uma estrela cadente.
Agora sim, ele estava andando no chão encantado de Céu - um chão de su
perfícies estranhas que eram como um fluxo de águas calmas que cantavam suave
música. Embora ainda estivesse deprimido e amedrontado, novamente sentiu
benignos raios solares que se refletiam em sua alma como se fossem o brilho do
74 | Secretum - Manual Prático de Kabbala Teúrgica
repousava sobre a cama, estava deitado um Homem muito doente. Suas sobrancelhas
estavam umedecidas com o empuxe de alguma agonia interior; os dedos de suas
brilhantes mâos eram nodosos como se tivessem passando por grande sofrimento;
as cavidades onde repousavam seus olhos estavam inflamadas devido a algum açoite
profundamente infligido.
Em torno d’Ele estavam arcanjos austeros que entoavam palavras mágicas que
caíam como flores refrescantes sobre a cama; no ar pequenos querubins flutuavam
desditosamente e proferiam gritos estridentes e aflitos. E os arcanjos abriram ca
minho para o modesto espírito que tinha entrado, retirando-se em seguida com
desdém quando ele se aproximou do lado da cama. Um querubim arremeteu-se
abaixo e assobiou furiosamente em seus ouvidos quando ele adorou o Senhor Jesus
Cristo que novamente parecia crucificado numa cruz não percebida.
Este momento encerrava o maior mistério de tudo; um mistério acima de
todos os mistérios; um fato nunca registrado pelos sábios e santos da Igreja. Des
temidamente ele aventurou-se dentro do círculo do halo do Senhor; pois ouviu
sons ofegantes de lábios ressequidos como se o Senhor tivesse entrado num divino
delírio. Ainda agora os lamentos lhe eram familiares. Tanto prestou atenção nos
mesmos que lembrou-se dos sons, lembrou-se.... Eles eram os mesmos sons, estes
gritos..., como os gritos que ele mesmo tinha proferido, quando infligiu, os mesmos
tormentos, em diversas pessoas na face terra.18
M.
A Magia
I 76 |
Helvécio de Resende Urbano Júnior | 77
E ainda a crença naquele mágico cósmico que vigia nossos sofrimentos e vem resgatar
as vítimas que caíram no redemoinho do mal e da dor, nesse momento psicológico,
tem dado ao homem força para lutar contra problemas aparentemente insolúveis.
Pois muitos até hoje acreditam em magia, na magia das orações e na crença de que o
Mago Supremo têm as respostas para seus clamores desesperados. E se estudarmos
cuidadosamente os dons e a ajuda que vem repentinamente àqueles que estão afun
dando pela última vez nas águas da derrota, ficaremos surpresos de descobrir o quão
numerosos são estes resgates. Eu investiguei este assunto muito atentamente e descobri
que é quase uma lei, e embora seja inexplicável de qualquer ponto de vista científico,
ainda sim diria que esta é uma forma de magia que possivelmente ocorre diariamente.
Eu não definiria magia como sendo a ação de leis sobrenaturais, mas como
a ação de leis naturais de outros planos afetando nosso mundo, e o romance é o
resultado para o indivíduo que é pego pelas redes coloridas destas leis que entrela
çam sua beleza e maravilha em muitas pessoas hoje em dia, ou devo dizer, em todas
elas. Pois nós vivemos em um mundo de efeitos, e desse modo podemos verdadei
ramente constatar que tudo é magia; pois nós desconhecemos o espírito e o poder
que protege, auxilia, e até algumas vezes fala conosco destes reinos invisíveis. Mas
estamos absortos demais nas nebulosas loucuras de hoje que derretem quando são
encontradas, para observar estas linhas brilhantes de encantamento que se espalham
em nossas almas e ações. Esses clamores e leis de outros mundos são aceitas como
coisas naturais e passadas desapercebidas, embora quando um indivíduo lê um conto
de fadas, deseja que tais acontecimentos, resgates e encantamentos sejam verdade.
Há magos que caminham entre nós hoje em dia, que conhecem as causas do
mundo e caminham por esses reinos com tanta familiaridade como se caminhassem
por entre as ruas e campos deste planeta. Essas pessoas são anônimas, ainda que
possuam poderes para fazerem de si mesmos os governadores deste mundo; homens
e mulheres que possivelmente levam vidas pacatas, mas que ainda sim vêem seus
irmãos de consciência de outros planetas, e que ajudam a levar adiante o plano e
propósito de seu trabalho nesta encarnação, e se opõem às forças sombrias que
tentam enganar e impedí-lo de continuar com seus trabalhos particulares nesta vida.
Ainda, poderíamos receber a resposta de que a magia dos contos de fada não
existe. Onde está o tapete mágico, a capa da invisibilidade, o gênio e as fadas, os
gigantes e os deuses, as ilhas encantadas? Nas minhas palavras a seguir, tentarei
ilustrar a maneira com que essas coisas existem.
O homem é um capitão que fechou seus olhos. Eles não estão vendados, mas
ele não fará esforço algum para abri-los. E vai lentamente boiando, seu corpo sendo
78 | Secretum - Manual Prático de Kabbala Teúrgica
seu navio, cujas velas são sopradas por uma miríade perversa, de modo que vaga por
regiões estranhas e desconhecidas. Algumas governadas por monarquias destrutivas
e proibidoras que se deleitam em mandar tempestades, em levar o navio na direção de
pedras submergidas e contra despenhadeiros encouraçados de granito; e outras gover
nadas por gentis e humildes príncipes de D-us, que buscam conduzir o navio à baías
plácidas e enseadas dos imensos continentes da Verdade e da Beleza. E de acordo com
os desejos do capitão seguem as brisas ou os furacões. E é somente quando o capitão
se encontra perto das pedras ou do porto é que abre seus olhos repentinamente, e vê
por qual tipo de região andou viajando. Ele também descobre que toda a sua carga
era de tesouros inimagináveis, dentre os quais havia dons que poderiam tê-lo ajudado
a ter tornado sua jornada mais rápida e muito mais interessante.
mesma noção foi fragmentada em muitas expressões, seu número é indefinido. Desde
os pré-socráticos a natureza da substância foi motivo de surpreendentes ilações. Ora,
não há nenhuma coisa da qual conheçamos tantos atributos como de nosso espírito,
porque tanto quanto conhecemos nas outras coisas, tanto podemos contar no espírito
daquele que as conhece. E, portanto, sua natureza é mais conhecida do que aquela de
todas as outras coisas, apesar de pouco de falar nelas.
Porém, temos outra réplica de mais à crítica de Jevons. Não é indispensável
que um fenômeno social alcance expressão verbal para sê-lo. O que um idioma diz
em uma palavra, outros nos dizem em muitas. Tampouco é necessário que estes os
expressem: a noção de causa não é transitivo explicito no verbo em que indubitavel
mente se encontra. Para que seja inquestionável a existência de um certo princípio
de operações mentais é preciso e basta que essas operações somente possam ex
plicar-se por meio dele. Não se acredita prudente controverter a universalidade de
noção de sagrado, e sem dúvida, seria muito difícil citar em sânscrito ou em grego
uma palavra que corresponda ao saber dos latinos. Dir-se-á: aqui, puro (medhya),
sacrifical (yajniya), divino (devya), terrível (ghora), allá, santo, venerável, justo,
respeitável. Por acaso os gregos e os hindus não tem tido uma consciência muito
justa e penetrante do sagrado?
Não se tem esperado este suplemento de provas para dar crédito ao que temos
dito sobre a noção de mana. Sidney Hartland, Frazer, Marrett e até mesmo autores
mais modernos aderiram a ela. Provavelmente nos contentamos ao ler estes autores
e convencidos passamos esta ideia quase integralmente.
Não temos publicado mais que alguns fragmentos sobre este assunto em
nossas obras anteriores (Manual Mágico de Kabbala Prática e Maçonaria, Simbolo-
gia e Kabbala.) sobre a magia, o que nos importa terminar para prosseguir nossas
investigações. Sem dúvida, nos bastava haver demonstrado que os fenômenos da
magia se explicam como os da religião. Como temos exposto, todavia, na parte de
nossa teoria que se refere às relações entre a magia e a religião, esta circunstância
tem dado lugar a alguns mal entendidos, mas vamos costurando e remendando
para clarear esses conceitos e práticas.
Formulamos uma distinção de ritos positivos e negativos, pegamos essa
ideia de Durkheim “Émile Durkheim” (Épinal, 15 de abril de 1858 - Paris, 15 de
novembro de 1917) é considerado um dos pais da sociologia moderna. Durkheim
foi o fundador da escola francesa de sociologia, posterior a Marx, que combinava a
pesquisa empírica com a teoria sociológica. É amplamente reconhecido como um
dos melhores teóricos do conceito da coesão social. Podemos também encontrar
82 | Secretum - Manual Prático de Kabbala Teúrgica
19 FRAZER, Sir James George - Lectures on the early history ofthe kingship - Ed. MacMillan,
Londres - 1905, p. 26.
Helvécio de Resende Urbano Júnior | 83
O problema da razão
“Existem muitas pétalas numa rosa, porém poucas exalam o perfume de
seu coração. Buscai, pois, no íntimo, para que sua fragrância possa adoçar
epurificar a mente”
Sabedoria Rosa t Cruz
Não precisamos nos esforçar muito para aceitar que dois mais dois são quatro,
pois desde criança fomos acostumados a respeitar os resultados das cifras matemáti
cas sem questionar. Mas, por outro lado, quando se trata de metafísica ou sabedoria
ontológica tudo passa a ser questionado e dificilmente temos argumentos suficientes
Helvécio de Resende Urbano Júnior | 85
para explicar aquilo que está claro dentro de cada um de nós, mesmo que nada seja
dito; talvez pela forma habitual e cartesiana de compreendermos o mundo moderno
nos impede de ir além do literal e com perguntas, às vezes pueris, somos interpela
dos, até com indignação, por expor os produtos de nossas reflexões mais íntimas;
mas, que por conveniência, ou preguiça, de pensar vemos nossas verdades, que é
imanente a todo ser humano, serem refutadas sem a mínima tolerância; porém, no
fundo de cada ser humano, se colocarem a cabeça para pensar corretamente não
se decepcionarão, e certamente irão chegar ao mesmo ponto de entendimento. Ou
seja, depois de lerem ou ouvirem comedidamente essas reflexões, e meditarem sobre
tudo isso ontologicamente, provavelmente verificarão que não estamos enganados.
Por outro lado, se continuarem enganando a si mesmos (de fora para fora), ou seja,
da boca para fora, talvez nunca entenderão o que são em realidade.
“Agora uma maldição sobre Porque e sua parentela! Possa Porque ser
amaldiçoado para sempre! Se Vontade pára e grita Por Que, invocando
Porque, então Vontade pára e nada faz. Se Poder pergunta por que, então
Poder é fraqueza. Também razão é uma mentira; pois há um fator infinito
e desconhecido; e todas as suas palavras são intrigas. Basta de Porque! Seja
ele danado para um cão!”
Aleister Crowley
constantes. A verdade é que estas decisões e estas ideias dos grupos estão feitas de
elementos contraditórios, porém elas os conciliam. É o que se adverte em todos os
partidos e em todas as igrejas. Estas contradições são tão inevitáveis quanto úteis.
Por exemplo, para poder conceber ao encantamento como atuando por sua vez a
distância e por contato, há necessidade de constituir a ideia de um mana estendido
e contraído por sua vez.
O morto se encontra ao mesmo tempo em outro mundo e em sua tumba, onde
se lhe rende culto. Noções semelhantes, viciosas para nós, são sínteses indispen
sáveis nas quais se equilibram sentimentos e sensações igualmente naturais ainda
que contraditórias. As contradições provêm da riqueza do conteúdo dessas noções
e não impedem aos místicos os caracteres do empírico e do racional.
É por isso que as religiões e as magias têm subsistido e vem se desenvolvendo
sem cessar, seja em ciências, filosofias e técnicas por uma parte, e em leis e mitos
por outro lado. Deste modo, vem contribuído poderosamente na formação e no
amadurecimento do espírito humano.
Para que os juízos e razoamentos da magia sejam válidos é preciso que tenham
um princípio submetido ao exame. Pode-se discutir sobre a presença do mana em
um ou outro lugar porém não sobre sua existência. Pois bem, estes princípios de
juízos e os razoamentos, sem os quais não se acredita possível, constituem aquilo
que em filosofia se denominam categorias. Constantemente presentes na linguagem,
sem que sejam necessariamente explicitas, estas categorias existem de ordinário e
com preferência sob a forma de costumes regentes da consciência, inconscientes
nelas mesmas. A noção de mana é um desses princípios: aparece na linguagem;
está implícita em toda uma série de juízos e razoamentos que ostentam atributos
que são aqueles do próprio mana. Por isso dizemos que o mana é uma categoria.
Porém, o mana não é somente uma categoria especial da mentalidade primitiva e
da atualidade, em vias de redução, é todavia a forma primeira que tem revestido
outras categorias que funcionam sempre em nossas consciências: as de substância
e de causa. O que sabemos delas nos permite conceber como se apresentam as
categorias no espírito dos povos primitivos.
Outra categoria, a de gênero, havia sido submetida a análises sociológica por
Marcei Mauss e Émile Durkheim num escopo intitulado Classificações primitivas.
Este estudo de classificações das noções em algumas sociedades demonstrou que o
gênero tem por modelo a família humana. Do mesmo modo que se organiza em suas
sociedades é como os homens ordenam e classificam as coisas em gênero e espécies
mais ou menos gerais. As classes em que se repartem as imagens e os conceitos são
88 | Secretum - Manual Prático de Kabbala Teúrgica
movimento circular que vai recapitulando e repetindo o percorrido cada coisa já foi
o que atualmente é. Sem dúvida a este sido já não é possível pensá-lo como simples
passado, porque ele também está no futuro. Neste retorno de um movimento cuja
origem coincide com sua meta, o sido é presente, porém não somente presente; é
passado, porém não somente passado; é futuro, porém não somente futuro. No sido
não se anulam e sim que se reúnem os três êxtases do tempo e naquele se encontra
sua essência. Compreende-se, então, que Heidegger pode dizer que no sido mora
a essência do tempo e do Ser.
A eternidade que, segundo vimos, não pode ser pensada como contrário do
tempo, está no sido que é aonde mora a essência daquele. Este estar em - instare
- da eternidade em cada momento do tempo, ou seja, no sido, faz deste ente sido
um instante da eternidade. A eternidade insiste em cada instante em ser eternidade.
Pensar é certamente pensar o Ser. Sem dúvida a este já não é possível conce-
bê-lo sem ir-se entificando temporalmente, quer dizer, sem sua íntima e essencial
vinculação com o tempo. E por esta vinculação com o tempo pensar é um modo
de espera. Porém, a espera do que virá e o que virá não é senão o sido. Pensar este
advir do sido é pensar a relação de tempo e eternidade. É então quando o pensa
mento desemboca numa inevitável, iniludível e insuperável aporia: Pode afirma-se
que este sido há sido já faticamente e, ainda, que infinitamente se tenha repetido
em um eterno retorno?
Enfrentar este pensamento não é resultado de nenhum artifício do dele mesmo
nem de nenhuma premeditada vontade de querer chegar a ele. É simplesmente a re
sultante de chegar a suas últimas consequências o qual desde si mesmo exige. Haver
assumido esta iniludível situação limite, haver ascendido a este ápice de meditação,
é a importância que tem para o Ocidente a presença de Nietzsche.
Frente ao eterno retorno o pensamento não pode deixar de perguntar-se pelo
sentido, ou melhor, pela niilidade de sentido e de finalidade deste eterno repetir-se.
Porém, aceitar o eterno retorno supõe, ademais, não só testemunhar que o Ser vai
entificando-se e temporalizando-se como também admitir que um coerente sistema
de essências - a essência é o sido - pode esgotar a infinitude do Ser. É uma forma
de fazer deste um Ente.
92 | Secretum - Manual Prático de Kabbala Teúrgica
O pensamento não deve retroceder ante estas dificuldades que ele não tenha
buscado senão que tenha vindo ao seu encontro. Deve-se, pelo contrário, assumi-las
e dar testemunho dessas. Porém, ao fazê-lo dá testemunho de algo mais grave: do
inevitável e essencial fracasso do pensar. Pensar é pensar que é, já há sido\ porém saber
se este sido se tenha repetido eternamente suas possibilidades. Pensar não é saber.
O nome da filosofia não é tão extravagante como, às vezes, tenha-se dito.
Filosofia é desejar e amar um saber que, devido a sua própria finitude, o homem
reconhece que não lhe pertence.
Podemos voltar agora aos caracteres desses juízos de valor que se encontram
na origem do entendimento humano. Temos reconhecido com os empiristas que
os juízos não eram possíveis mais que depois de alcançado um mínimo de expe
riências sobre as coisas, sobre os objetos materiais ou concebidos como materiais.
Reconhecemos com os nominalistas a onipotência da palavra, também esta de
origem social. Com os racionalistas reconhecemos que estes juízos de valor estão
coordenados de acordo com regras constantes e incessantemente aperfeiçoados.
Porém, no entanto, que para eles a que dita essas regras é uma entidade, a razão, para
nós são as forças sociais, a tradição, a linguagem, as que as impõem ao indivíduo.
Para tanto, admitimos a teoria do juízo de valor que haja inventado os teólogos
pietistas. Porém, enquanto que os filósofos, discípulos desses teólogos, não vêm
nestes juízos mais que os produtos da razão prática, da liberdade monumental ou
do sentido religioso ou estético do indivíduo. Para nós estes juízos se fundamentam
em valores primários, que não são nem individuais nem exclusivamente voluntários,
muito menos puramente sentimentais e sim valores sociais detrás dos quais tem
sensações, necessidades coletivas, movimentos dos grupos humanos.
ter a ideia de uma qualidade para fazer dela um atributo (H. Hõffding, La relativité
philosophique. Totalité et relation, vol. L, pág. 172. O conceito de D-us, a categoria
de religião estão submetidos a mesma regra que os demais conceitos e categorias;
devem servir de predicado antes de figurar como sujeito). Por conseguinte, temos
boas razões para colocar a noção de mana antes do espírito.
Porém, se nos dirá, pondo assim o predicado antes do sujeito, o mana antes da
alma, vocês invertem a ordem psicológica dos fatos. Vocês colocam ao impessoal
antes que o pessoal. Sem dúvida. Em primeiro lugar, se deve abrir entre a ideia geral
e a ideia de uma pessoa uma espécie de abismo. O pessoal só se concebe em relação
com o impessoal. O indivíduo não se distingue mais que um clã. Está representado
como uma parte do sangue que corre por todo o clã, incluindo aos animais de seu
totem. Não tem linguagem nem pensamento sem uma certa porção de generalização
e de abstração. Supor que o espírito humano só esteve provado em seus começos por
noções puramente individuais é uma hipóteses gratuita, inverossímil e inverificável.
Por outro lado, as noções primitivas cujo tipo é a de mana não são tão abstra
tas como se diz, seu conteúdo concreto é muito abundante. Coordenam múltiplas
representações; qualidades, objetos, sensações, emoções, desejos, necessidades,
volições. Sua elaboração não exigia um grande trabalho intelectual. São sínteses
efetuadas quase espontaneamente por espíritos brumosos. Entretanto, não é que
houve um momento em que a magia e a religião só haviam comportado a ideia
impessoal de mana e mais adiante noutro momento em que havia nascido das ideias
pessoais de deus, espírito, espectro, duplo. Pensamento simplesmente que a ideia
geral é a condição lógica e cronológica das ideias míticas, do mesmo modo que
os tempos marcados de um ritmo são as condições de ritmo, o qual comporta os
tempos débeis. Em alguns casos a noção geral de mana se apresenta sob sua forma
impessoal integral; em outros se especializa, porém fica algo em geral: potência do
querer, perigo do mal olhado, eficácia da voz; em outros casos, enfim, para entrar
na prática, o mana se reveste imediatamente de formas concretas e individuais: se
converte em totem, astro, sopro, erva, homem, feiticeiro, coisa, espírito. No fundo
segue sendo idêntico, porém, não por isso a metamorfose é menos natural e fatal.
Da premissa maior, que é o mana, se deduz por uma necessidade lógica e psicológica
na conclusão, que são a alma e o mito.
Nestes três estados de representação o equilíbrio é sempre instável. Oscila
sem cessar a noção de um fenômeno ou de uma coisa a do agente impessoal ou
pessoal que coloca por detrás. Zeus é por sua vez um homem e o céu, sem contar
a diversos animais. A justaposição é contraditória, porém, a razão de ser de uma
Helvécio de Resende Urbano Júnior | 95
Kabbala
I 99 |
100 | Secretum - Manual Prático de Kabbala Teúrgica
sabendo que sobre este Planeta moram Irmãos que estão desejosos e ansiosos para
ajudar aqueles que procuram um conhecimento das coisas divinas!1
M.J.
Prefácio
“O conhecimento sempre se apresenta como uma caminhada rumo à
unidade, seja para a aparição, no seio de uma multiplicidade de seres, de
um sistema racional onde esses seres seriam apenas objetos e nos quais
eles encontrariam seu ser, seja para a conquista brutal dos seres, fora de
todo sistema, pela violência. Quer seja no pensamento científico ou no
objeto da ciência, quer seja, finalmente, na História, entendida como
manifestação da razão e onde a violência se revela a ela mesma como
razão, a filosofia se apresenta como uma realização do ser, isto é, como
sua libertação por meio da supressão da multiplicidade. O conhecimento
seria a supressão do outro pela apreensão ou pela visão que apreende
antes da apreensão.”
E. Lévinas, Totalité et Infini
O que é Kabbala?
“Todos os caminhos são circulares! Para cada um o seu caminho, que é uma
senda de enganos em permanente construção. Todos os caminhos convergem
no ponto ALFA e no ponto ÓMEGA e os percursos fazem-se na equidistân-
cia do centro. Caminhar é um enigma e todos os enigmas são invenções da
labiríntica mente humana. Segredo é sentar-se o caminhante à sombra da
Árvore Baniana. Abandonar as sandálias. Abandonar o labirinto. Pôr fim
aos processos ilusórios. Mistério é a atração do Centro. Morte é acreditar-
se na caminhada, na periferia e no fim do caminho, sem cuidar de que a
busca é desejar o centro e merecer a alma, enquanto caminhar é apenas
cansaço e pés doridos. Encontra a tua figueira e colhe a tua serenidade”
A.A.K.
Kabbala e Misticismo
Se buscarmos a palavra Misticismo num dicionário encontraremos: do grego
pvoriKÓç, transliterado mystikos, um iniciado em uma religião de mistérios é a busca
da comunhão com uma derradeira realidade, divindade, verdade espiritual ou D-us
através da experiência direta ou intuitiva. No livro de Jakob Bõhme “O Príncipe dos
Filósofos Divinos” o misticismo se define como um tipo de religião que enfatiza a
atenção imediata da relação direta e íntima com D-us, ou com a espiritualidade,
com a consciência da Divina Presença. É a religião em seu mais apurado e intenso
estágio de vida.
O iniciado que alcançou o segredo é chamado místico. Os antigos cristãos
empregavam a palavra contemplação para designar a experiência mística. O místico
é aquele que aspira a uma união pessoal ou a unidade com o Absoluto, que ele pode
chamar de D-us, Cósmico, Mente Universal, Ser Supremo etc.
Neste sentido uma das práticas mais remotas está na senda da Kabbala, e que
brevemente podemos expor da seguinte maneira: conforme a tradição possui uma
origem divina, já que se diz que D-us no Sinai comunicou a Moisés, junto a Lei
outra sabedoria oral que só era transmitida aos iniciados, o que agora é a filosofia
esotérica dos hebreus. Mas não obstante que sua teosofia comunica através de
chaves e doutrinas judaicas seus ensinamentos evidenciam que algumas delas são
obra dos primeiros patriarcas e outras eram patrimônio dos babilónicos e egípcios
dedicados à Astrologia e a magia. A Kabbala, a alma do Talmud, segundo se afirma
busca um conhecimento secreto e simbólico além das palavras do antigo testamento.
Por isto mesmo, para os kabbalistas, a escritura é a expressão das forças divinas,
sob cujas figuras o céu se revela na terra. De tal modo que cada termo da lei possui
uma significação e contém um mistério que são como uma vestimenta, e seria um
erro interpretar as roupagens da lei, como a lei em si.
primeira Sephirah, que contêm outras nove, ou seja, Coroa de onde surgiu Chokmah
(Sabedoria), princípio ativo masculino, e Binah (Inteligência), princípio feminino.
Dessa primeira tríade em continuação procede Hesed (Misericórdia), Geburah
(Justiça), de cuja união nasce Tiphereth (Beleza). Da segunda tríade coletivamente
se origina Nestzah (Firmeza), Hoã (Esplendor), e Yesod (Fundação). Das citadas
tríades, a primeira simboliza o mundo mental; a segunda o mundo perceptivo; e a
terceira o mundo material.
Em outras palavras, as três Sephiroth são metafisicamente intelectuais que
expressam o pensamento; o segundo grupo sinala o bem, a sabedoria e a beleza da
Criação. A terceira categoria de emanações identifica o supremo Artificie, com a
beleza que gera em sua essência o mundo natural. O que efetivamente supõe uma
circulação universal no mundo, quer dizer, uma radiação em todo espaço com o
auxílio de infinito número de canais, da substância primitiva, que por sua vez de
senvolvem em seus imensos circuitos todos os mundos possíveis, suas propriedades,
suas simpatias, atributos e faculdades de produzir em uma unidade ilimitada.
A Kabbala cujas especulações esotéricas não cabem num só livro, continuamos
para sua melhor compreensão com as seguintes explicações: o homem é composto
de sete elementos, a saber:
• Tzaddi (Tz) número 90, manifesta luz refletida, elementos, sugestão, término,
formas materiais, vontade, etc.
• Qoph (Q) número 100, expressa compreensão, cabeça, dano, voz, lei, letra, os
mistos, etc.
• Resh (R) número 200, designa unidade psíquica, o ternário da vida humana,
sentir, pensar repetir etc.
• Shin (Sh) número 300, expressa renovação das coisas, o sensitivo, a carne,
vida material, existência, transformação, vegetação, etc.
• Tau (T,Th) número 400, simboliza a cruz, perfeição, Microcosmo, abundância,
resistência, proteção e reciprocidade, etc.
Ainda podemos dizer que a Kabbala, em suas doutrinas, segundo o Zohar, D-us,
segue um processo de evolução assumindo as formas sucessivas das dez Sephiroth,
ou esferas, que é a Árvore Kabbalística indicando as qualidades atribuídas a D-us,
que conjuntamente encarna no ser humano, ideal e também divino. Por outro lado,
estas noções esotéricas reconhecem três planos misteriosos: 1) Ain (Negatividade); 2)
Ain-Soph (o Ilimitado); e 3) Ain Soph Aur (a Luz Ilimitada). Ademais traçam quatro
estradas de manifestação, ou substância universal, a saber: a) Atziluth: Região Divina
Arquetípica das Emanações, esfera natural das Sephiroth e atributos divinos, que é o
mundo das ideias; b) Briah: Plano da Criação, ou dos tronos, (Khorsia). Esfera dos
espíritos superiores iluminados pelas faculdades de D-us, é onde Ele mesmo atua
por intermédio dos arcanjos; c) Yetzirah: Senda da formação (região astral), mundo
angelical, das potências fluídicas, onde ao Altíssimo trabalha por intermédio das
hostes angelicais; e d) Assiah: Campo da ação, plano material, dos corpos, e elementos
inferiores, onde o Feitor opera por meio dos planetas e do zodíaco.
A Kabbala também estabelece o seguinte sobre os números: Número 1, é a
Natureza Naturante, seu centro se chama Coroa, representa o Verbo Divino, ani
mando nossa unidade. Se expressa através de todos os centros (números) com quais
continuamos. Contém o plano arquetípico e angélico.
Número 2. É a Natureza Naturante. Seu centro se chama sabedoria. Possui 32
caminhos e em cada um 50 portas que os fecham. Contém a Lei Eterna.
Número 3. É o Espírito manifestado. Possui 50 portas de acesso e 50 luzes.
Contém a Lei de Moisés.
Número 4. É a realidade palpável e inteligível. Seu centro se chama Magni
ficência. Possui 72 pontos, para impor justiça, administrado por 35 princípios de
misericórdia.
Helvécio de Resende Urbano Júnior | 111
palavra melah, o sal, está formada pelas mesmas letras que lehem, pão. Também, e
fora do judaísmo, o Cristianismo primitivo via na palavra Icthis, Peixe, o anagrama
do Messias, ademais de ser a figura um de seus símbolos mais conhecidos; cada
inicial constrói em grego a frase: “J(I)esus Cristo F(H)ilho de D-us Salvador" (vale
lembrar que as letras J, I e Y têm o mesmo valor numérico).
A Temurá é um ramo do Tsiruf que combina ambas as possibilidades literais e
numéricas, sem limitar-se a seguir uma ordem lógica nas permutações. Inverte, substitui
e separa letras de palavras para formar outras distintas. Substituindo, por exemplo, a
vau (letra V) do nome avir, éter, fica aor, a luz. Também inverter a leitura normal para
encontrar um novo significado na palavra é uma forma de Temurá, como ocorre em
português com Roma, que lida ao revés é Amor; ou na língua hebraica em exemplo
poderia ser osso, etsem, que ao revés nos dá o verbo matso, que significa estar no meio.
A luz destas poucas premissas já se pode advertir que há inesgotáveis possi
bilidades dentro desta ciência simbólica, ainda que tenhamos que fazer um inciso.
Muitos eruditos da Kabbala sustentam que para aprofundar nesta ciência (Kabba-
lística) é imprescindível conhecer a língua e a gramática hebraica, isto é, falar e ler
corretamente, o que nos parece um exagero, sobretudo se temos em conta o valor
eminentemente simbólico das letras. Sem dúvida tem que se admitir que pouco longe
se pode ir com estes métodos que citamos sem um conhecimento básico do alfabeto
hebreu, mas isto não pode nos privar da possibilidade de utilizar as letras como su
porte de mediação, pois de fato são ideogramas como podemos observar. Na verdade
da Kabbala rabínica estritamente judaica pouco poderíamos falar, já que não somos
judeus. Porém, temos que lembrar que há cinco séculos do êxodo da Espanha, se no
Ocidente a Kabbala não se tivesse cristianizado através do importante movimento
esotérico e hermético chamado Kabbala Cristã (o qual se perpetuou a nível iniciático,
até nossos dias, integrando as diferentes cosmologias dessas duas tradições), nada ou
quase nada saberíamos dela atualmente. Para aqueles mestres, como também para
nós, não existe ruptura tampouco entre o Cristianismo e o judaísmo. Como o próprio
Jesus Cristo nos disse que ele não veio para abolir a lei mosáica, senão a cumpri-la, o
qual lhe outorga uma dimensão ao judaísmo que, como sempre, os mais literalistas
não podem compreender, apegados como estão nas formas fixas.
Os modelos simbólicos da Kabbala são, na verdade, universais, as mesmas
vinte e duas letras do alfabeto, não servem unicamente para falar e comunicar-se
entre as pessoas, senão, sobretudo, para meditar seu simbolismo, o qual dificil
mente poderia permitindo-o uma língua não sagrada, isto é, profana. Além disto,
no Ocidente não temos outra língua sagrada, além da hebraica, exceto, talvez, o
Helvécio de Resende Urbano Júnior | 113
árabe, língua que foi majoritariamente falada e escrita na península ibérica durante
grande parte da Idade Média, e com a qual o hebreu tem profundas relações em
muitos níveis. Efetivamente ainda que o latim serviu como língua religiosa na litur
gia católica, não significa que seja uma língua sagrada, como tampouco é o grego,
utilizado majoritariamente no Cristianismo ortodoxo.
Por outro lado, vimos que a rotação das letras, articulando e gerando tecidos
simbólicos de nomes, ideias e números, é uma imagem da própria rotação do mundo
e dos seres, um símbolo da vida interna dos arquétipos do Verbo, e um modelo de
nossas mais íntimas realidades. Os 32 Caminhos da Sabedoria são nesta tradição as
22 letras mais as 10 sephiroth, nomes, aspectos ou atributos da Unidade. E segundo
estes caminhos, diz o Sepher Yetsirah: “que o Senhor dos exércitos (D-us vivo e Rei do
Universo, D-us de Misericórdia e de Graça, D-us sublime residindo na eternidade),
tem formado e criado o Universo”.
Nem todas sem dúvida, mas se algumas possibilidades desta ciência combi
natória as encontrariam também em outras línguas como a nossa, se, por exemplo,
tivéssemos em conta o significado etimológico das palavras e dos nomes, seu sentido
mais original e verdadeiro, pois tal e como o pensamento, a linguagem se degrada
também quando cai na pura literalidade vulgar e utilitária, perdendo-se sua frescura
original e seus significados mais profundos.
Sem dúvida, toda verdadeira linguagem encerra uma metalinguagem. O
mesmo que na Kabbala, no Hinduísmo nos encontramos também com a ciência
das letras, o Nirukta, muito parecido com o Tsiruf. O Nirukta contempla também
algo que não temos falado e que nesta relação e assimilação fonética das palavras,
inclusive entre línguas diferentes, a qual nos amplia muito o panorama das analogias.
Ciclos e Ritmos
A parte da ciência das permutações, a Kabbala possui outros métodos espiri
tuais não menos importantes e eficazes na hora de fomentar a unificação total do ser,
métodos que não estão inteiramente desligados uns dos outros, por isto dizemos que
a ciência tem ciclos e ritmos em seu fundamento. Temos visto que esta unificação
ou reintegração na Unidade é possível pela relação constante entre o cósmico e o
humano, entre o Ser universal e o ser particular, quer dizer, entre os grandes ciclos
de existência e os pequenos, pois uma mesma pauta os move e os sinalam. E isto
é válido tanto para os ciclos e os ritmos da natureza (sejam genéticos, atômicos e
siderais), como para os cósmicos, os quais estão incluídos os da própria psique
114 | Secretum - Manual Prático de Kabbala Teúrgica
humana, como diferentes camadas de uma cebola, ou rodas dentro de rodas. Isto
mesmo faz do homem uma espécie de instrumento musical em que ressoam, ainda
que de modo desigual, todas as vibrações cósmicas, e que ele mesmo sintetiza em
sua qualidade de Microcosmo. Esta mesma ideia está contida na teoria platónica
da Harmonia das Esferas cuja aplicação esotérica e iniciática revela a necessidade
de um ordenamento das potências internas do homem com base nas pautas desta
Harmonia universal que em Kabbala recebe também o nome de Beleza, Tiphereth,
sendo uma das Sephiroth axiais da Árvore da Vida.
Se cada ideia (plasmada no símbolo) corresponder com um estado especial de
compreensão, assim como um nível de realidade cósmica, a vivência deste símbolo
fará ressoar ou reviver esta mesma ideia em nós, nos fecundará a consciência com
sua energia e a fará vibrar numa mesma sintonia. Esta correspondência simbólica,
musical ou rítmica entre o espiritual, o anímico e o corporal, está também na base
de toda a medicina sagrada. Temos dito que referir-se às técnicas espirituais da
Kabbala é desenvolver alguns aspectos da ciência das correspondências simbólicas,
dos ciclos e dos ritmos universais, na qual estão fundamentadas todas as normas
e métodos de meditação como de práxis científica e artística. Expressão direta e
imediata disso é a ciência da invocação ou encantação, uma forma de teurgia es
piritual e cosmológica, ligada à memória espiritual. Também inclui as técnicas de
respiração e a poesia, que é palavra ritmada, e a caligrafia é a ciência das letras, que
é a palavra escrita de forma visível. E muitas outras ciências que não necessitamos
referir neste momento. Naturalmente, a própria ideia de ciclo dá uma noção de
pauta do tempo e na natureza distinta da qual estamos acostumados.
A ciência moderna nos fez conceber o tempo e aos ritmos temporais como
uma sucessão linear, uniforme, monótona e quantitativa, como uma linha in
definida, como uma continuidade homogênea e horizontal. Porém não é esta a
imagem que o tempo tem na tradição, que o considera como algo vivo e orgânico,
circular, heterogêneo e marcado com diferentes qualidades ou estados dele mesmo.
Falar de um tempo vivo, é falar também de uma sincronicidade fundamental e
universal, que é a que permite a possibilidade de predizer o futuro ou o destino
temporal das coisas, e interpretar o passado à luz do presente, ou seja, a função
oracular dos próprios módulos simbólicos. Esta organização do tempo também
nos dá uma perspectiva vertical e não exclusivamente horizontal dele mesmo,
quer dizer, a ideia de diferentes modalidades não somente da sucessão ou dura
ção (como está claro nas quatro estações do ano, ou do ciclo diário, ou da vida
humana) e sim uma simultaneidade, pois, na verdade, o tempo, segundo a visão
Helvécio de Resende Urbano Júnior | 115
A Alquimia da oração
“O propósito essencial do ritual mágico é a união do Macrocosmo com o
Microcosmo, a qual não se realiza senão por meio do Eu superior. Ao invocar
uma deidade ou energia superior, o Mago deverá ter um perfeito conheci
mento do Universo e de si mesmo, pois ele não é mais que um reflexo desse
Macrocosmo. Na invocação, O Mago se torna uno com D-us: o Eu superior,
chispa divida, se converte no que é: um pequeno deus, com todas as quali
dades e poderes possíveis, pois de certa maneira é onipotente e onisciente...”
A.A.K.
da vontade divina, e sim um círculo vicioso e sem saída possível. Mas só é para a
mente caída e dualista que este paradoxo aparece, como o maniqueísmo de ver o
mal e o bem como termos de uma dualidade insolúvel.
Por meio da relembrança do santo Nome, e através da concentração de forças
no coração que se faz presente no espaço interior, a Criação se torna consciente
do Criador através do homem. O de cima desceu e o que está embaixo se elevou
até coincidir; é àquilo que em alquimia designa como as bodas alquímicas entre a
alma e o espírito. Este princípio se fundamenta na realidade unitária e ontológica
daquele que invoca o invocado e a invocação ou ato de invocar. Segundo a metafísica
Kabbalística, como também em São Paulo, somente Ele se recorda de si mesmo,
e esta “re-cordação” (àquilo que passa pelo coração mais de uma vez) pressupõe
uma intuição pura e imediata do Ser, que não é mental nem sucessiva. A oração
do coração é, pois, mais uma expectativa interior, um estado de alma, muito mais
que um simples movimento de lábios.
Sendo o ser, dentro deste víeis, tudo o que ele mesmo conhece, tem também
como advertia Aristóteles, o poder de converter-se em tudo que conhece. A força
do pensamento ou logos humano, tem também poder de assimilar e converter-se
naquilo que assimila, no objeto de sua atenção, seja para o bem ou para o mal;
quer dizer, para elevar-se ao suprarracional, ou para descer ao infrarracional. Isto,
por um lado, supõe uma continuidade essencial entre os diferentes estados do ser,
hierarquizados e articulados pela lei universal de correspondência. E por outro
lado, estabelece uma possibilidade de que certas vibrações rítmicas repercutam por
simpatia nestes estados, instaurando uma harmonia e, portanto, uma identidade
comum entre eles. Esta doutrina abarca todas as modalidades do som e da encan-
tação dos Nomes, que em tantas vibrações concretas estimulam por simpatia os
diferentes centros sutis do ser, cada um determinado também por uma qualidade
vibratória específica, como é o caso dos chacras no hinduísmo, igualmente implí
citos no desenho do esquema sephirótico. A música sagrada não seria senão uma
aplicação dela mesma, mas, se deter-se aí, os sons e as vozes tomam forma visual e
se convertem em imagens, ideogramas e gestos, os ritmos tomam corpo, e os corpos,
como fenômenos materiais, se reduzem a proporções ou ritmos espaciais, estando
essa mútua relação na mesma base do simbolismo numérico.
Na Ciência Sagrada dos ciclos dá ideia de repetição e circularidade e tem uma
especial importância, pois se sabe que toda vibração (harmônica ou desarmônica),
ou ritmo, se expande em forma circular, em forma de redemoinhos que giram
ao redor de um centro, ponto ou vórtice de energia. Este movimento é universal,
Helvécio de Resende Urbano Júnior | 117
O maço de 40 naipes (10X4), nos fala da ação das dez Sephiroth em cada um
dos quatro mundos. Assim, por exemplo, o 3 de Espadas nos remete a sephirah n°
3, Binahy em Briah. O cinco de Ouros a Geburah em Assiah, e assim sucessivamente.
Portanto, o baralho do Taro sintetiza todo o jogo interno de relações da
Árvore da Vida, esquema fundamental da Kabbala e Mapa Mundi do Universo e
do homem. E os jogos chamados de azar como este que estamos vendo, escondem
uma sabedoria universal da qual são veículos mágicos, códigos do conhecimento
esotérico e do despertar espiritual, o que não quer dizer que a maioria dos que os
utilizam, que são legiões, sejam conscientes disto, pois muitas são também, como
temos visto, as leituras que contém. O riquíssimo tecido de relações e contrastes
que propõe o Taro, vistas suas indefinidas correspondências e possibilidades,
dilata nossa compreensão da realidade e de nós mesmos, dando-nos as pautas da
ordem cósmica e as relações precisas entre a existência individual e a universal,
quer dizer, uma compreensão orgânica e unitária da totalidade, desse Todo que
em realidade não tem partes. A estrutura da vida se assemelha, com efeito, mais
num jogo versátil, aberto e inteligente que a um mecanismo monótono, cego e
fechado sobre si mesmo.
Alertamos também que as técnicas kabbalísticas que disporemos nesta obra
foram escolhidas dentro de um critério onde em primeiro lugar tiveram que ser
testadas por nós e por alguns Irmãos que se dispuseram a colaborar trazendo
informações de suas experiências e resultados que corroboraram nestas seleções.
Em segundo lugar estas práticas foram escolhidas dentro de um marco sagrado
tradicional, que nunca puderam separar-se de um processo espiritual donde prima
sempre o conhecimento e a contemplação acima da ação e do interesse por bene
fícios particulares. Qualquer método espiritual está sempre arraigado à função de
uma doutrina e de sua correta assimilação, e não tem como outro objetivo senão
o despertar espiritual. Do mesmo modo, na realidade não se trata simplesmente
técnicas, pois este objetivo descarta qualquer tipo de receita infalível, ou o que é o
mesmo, que a ignorância interna pudesse dissipar-se simplesmente executando uma
série de ações puramente mecânicas. A importância do método radicaliza em seu
íntimo parentesco com seu princípio, a ideia, e seu fim, a atualização na constância
de seus conteúdos, quer dizer, a realização das possibilidades mais elevadas do ser,
ou seja, o trabalho sempre com o fiindo altruísta e nunca com fins egoístas. Além das
técnicas está o rito, já que o rito ou o gesto ritual consciente não é, como poderemos
observar, senão uma dinâmica do símbolo (do ideograma), do Conhecimento, sua
plasmação e recreação correta. Arte e rito são a mesma coisa no contexto sagrado:
122 | Secretum - Manual Prático de Kabbala Teúrgica
tudo o que se efetua segundo a Norma universal, a lei perene pela qual tudo entra
sempre na harmonia com tudo.
Tendo a Kabbala um modelo cosmológico e metafísico sagrado e universal, como
são os números e a geometria em todas as tradições, não seria correto limitá-lo no
tempo e no espaço, nem vê-lo como uma propriedade exclusiva do povo judeu, ou
como o produto historial e particular do pensamento de uma etnia. Os ensinamentos
que contém é redundantemente atual e invariável em todos os tempos e lugares, assim
como seus métodos, artes e ciências, estão na mesma medida que seu objeto intrínseco;
o D-us eterno e infinito que, como ela, revelam todas as tradições autênticas, quer
dizer, a Sabedoria unânime e perene. São certamente nossas próprias limitações os
véus que criam obstáculos à claridade das ideias propostas pelos modelos de conhe
cimento. A obscuridade e a complexidade, não residem neles, muito pelo contrário,
em nossa própria mente carregada por um sem fim de tópicos, a maioria dos quais
nem sequer temos revisado conscientemente, como exemplo o progressismo ou o
evolucionismo histórico, entre muitos outros. Sem dúvidas, tampouco são ideias
comuns nem familiares à linguagem corrente. Necessitamos conhecer a linguagem
dos símbolos, ou seja, o sentido dos símbolos fundamentais, os quais são acessíveis a
qualquer mente desperta e bem intencionada. Em suma, se a decadência dos tempos
é algo inexorável, produzido por uma progressiva fossilização do pensamento e do
ser, também podemos afirmar que a persistência da memória espiritual, ritos e mitos
das tradições ainda vivas, como a hermética-cristã-kabbalística, cumprindo como
elas uma função regeneradora, libertadora e orientadora das possibilidades mais
elevadas e universais do ser humano, templo do Espírito Santo. Segundo a Kabbala,
o Cristianismo e todas as tradições sagradas da humanidade são expressões históricas
de um único Conhecimento e Sabedoria, àqueles que amam contemplam e os que
buscam encontram. Então busquemos com determinação este tesouro que nos espera,
tornemos nossas vidas um pátio de luz, paz e amor, e nunca se esqueçam da máxima
do Ocultismo: Saber, Querer, Ousar e Calar.
Pico delia Mirandola. A grande questão certamente: Que é a kabbala para os cristãos
que se interessam pela kabbala? E quem são, para maior precisão, os cristãos que se
interessam pela kabbala? Questão esta que desborda amplamente o marco do Renas
cimento: A. Franck haveria levado o estudo até Francisco-Mercúrio Van Helmont,
Blau o havia conduzido até a publicação, em 1677, por Christian Knorr de Rosenroth
(1631-1689), autor da famosa Kabbale Dévoilé, que se prolongou sendo traduzida e
publicada até nossos dias. A tradução francesa do Zohar, feita pelo curioso Jean de
Pauly, data de 1911. Assim, pois, antes de tratar de abarcar um território tão vasto,
intentaremos responder a esta questão fundamental.
Dos diferentes trabalhos e especialmente a publicação das obras de kabbala
Cristã, que ficaram manuscritas, foi do cardeal Egidio de Viterbo, personagem
central do Renascimento, tem sinalado a necessidade de pacientes estudos mono
gráficos. De nossa parte, vemos a necessidade de buscar nestas obras fontes e ma
nuscritos, para melhor entendermos a Arte e geometrizar uma possível perspectiva
de trabalho mais próximo da excelência. Prioritariamente limitamos nosso interesse
nas obras cujo período vai da Idade Média, em que faz sua aparição, até o final da
primeira parte do século XVII. Trata-se de um recorte evidentemente artificial, e
puramente aspectado em interesse pessoal, porém, ao período que nós fixamos
lhe dá um selo de unidade a publicação das Poliglotas de Alcalá do começo do séc.
XVI, de Amberes, em 1572, e de Paris, em 1645.
A Kabbala desenvolveu-se, efetivamente, no século das Poliglotas nos colé
gios trilingues, daqueles que o ex-libris, desenhado por A. Durer para o humanista
Willibald Pirkheimer é um feliz sinal de que esses temos seriam profícuos. O
versículo 10 do Salmo CX, escolhido como divisa: “O temor de D-us é o princípio
da sabedoria”, está escrito em hebraico, no grego e no latim, segundo a ordem do
“títulus” da Cruz, e representa o ideal que deixou na herança de São Jerônimo, onde
o hebraico, a “língua santa”; língua da criação e da revelação ocupa o primeiro e
principal lugar. Sabe-se muito bem que isto não foi o ideal de todos os humanistas,
e que Erasmo, que também formula, ainda que alentou a cultura do hebreu, sem
dúvida, jamais fez esforço para aprendê-la. Por outro lado, Michelet, que havia
lido com entusiasmo o livro de Franck, agregou a um de seus capítulos sobre a
Renascimento: “Com o italiano Pico delia Mirandola, o alemão Reuchlin, o francês
Guilherme Postei (tradutor do Libro de la creación e dei Zohar), aponta a primeira
hora da alvorada...” Seja qual fosse a intenção de Michelet, essa bateu na tecla certa.
A. Humbert definiu com mais precisão o lugar que ocupa a Kabbala Cristã, com
Pico delia Mirandola e Reuchlin, no primeiro marco da “ciência nova”, segundo
Helvécio de Resende Urbano Júnior | 125
a expressão empregada por Leão X para designar o estudo, a partir dos originais,
do Antigo e do Novo Testamento, no Renascimento. O estudo do texto original da
Bíblia instigava à literatura hebraica, que é e quanto as suas intenções últimas, intei
ramente religiosas. E o filho de Lourenço, o Magnífico, patrocinou, entre outros, a
primeira edição completa do Talmud da Babilônia, impressa por Daniel Bomberg,
seu editor cristão, em Veneza, entre 1520 e 1523.
O catálogo dos livros hebreus, especialmente os da imprensa de Bomberg,
realizado pelo bibliógrafo de Basiléia Conrad Gesner, em 1547, nos dá uma ideia
do novo mundo que lhes abriria se lhes abrisse aos cristãos. Ademais a Bíblia com
o Targum, a Massorah e diversos comentários rabínicos, como os de Salomón ben
Isaac, de Tróia (t 1105), chamado também, segundo as iniciais de seu título, Rabbi
Salomon..., Raschi ou Yarchi, de Abraham ibn Ezra (1092-1167), de David Kimhi
(1160-1232), não menos célebre por sua gramática, o Sepher Michlol e seus Sora-
sim ou raízes, os de Rabbi Moisés ben Nahaman (1200-1272), chamado também
Ramban ou Gerundí, pelo nome de sua cidade natal, os de Ralbag ou Rabbi ben
Gerson (1288-1344), filósofos como Saadia (882-942), autor das Emunoth we Deoth),
crenças e opiniões, Maimonides (1135-1204), autor do Guia de la Descarriados, o
Hasdai Cresças (cerca de 1340-1410), se podia também encontrar obras litúrgicas,
tratados filosóficos e morais, e os inumeráveis tratados de Misnah e os Midrashin,
os Rabboth, intitulados segundo os correspondentes livros bíblicos. Beresith rabba,
sobre o Gênesis; Semoth Rabba, sobre o Êxodo, etc....
É também conhecido o posto que teve, dentro dessa literatura, a Kabbala no
século XII, no qual este terminou, por muito tempo havia designado a tradição em
geral, veio significar de uma maneira mais especial a tradição esotérica. Recordemos
como em uma primeira fase, a mais longa, desde o século I até o X, se desenvolveram
especulações sobre o problema da criação, chamado, segundo o capítulo primeiro
do Gênesis, Maaseh Berêsith, e sobre àqueles intermediários possíveis entre a trans
cendência de D-us e o mundo, chamado, segundo o capítulo primeiro de Ezequiel,
Mdase Merkhaba (o carro). Os tratados mais célebres foram os de Hekhalot ou palácios
celestiais, do Sepher Yezirah, o livro da criação, o Raziel, que é o nome do anjo que
revelou a Adão os segredos perdidos depois da queda, os Pirke de Rabbi Eliezer. Es
tas especulações que se propagaram pela Alemanha, sul da França e Espanha, com
características muito particularizadas - Hassidismo em torno do grande nome de
Eleazar de Worms, Kabbala profética com Abraham Abuláfia (1240-1292), que foi a
Roma para discutir com o papa em nome dos judeus - prepararam a publicação do
Zohar, em aramaico, sob o nome do prestigioso Rabbi Simeón bar Yochai, discípulo
126 | Secretum - Manual Prático de Kabbala Teúrgica
que o ensino secreto confiado a Moisés a setenta eleitos se perdesse com a dispersão
do povo judeu; traduziu-lhe os textos que extraia do Zohar pretendendo que eram
excertos desses livros. Pico delia Mirandola trabalhava tão intensamente que, neste
mesmo ano, escreveu a Marsílio Ficino: “Depois de um mês inteiro consagrado dia e
noite ao hebraico, entreguei-me inteiramente ao estudo do árabe e do caldaico. Não tenho
dúvidas de que faço nestes tantos progressos como no hebraico, no qual posso ditar uma
carta, se não na perfeição, pelo menos sem cometer erros” (Citado por François Secret
em Les Kabbalistes Chrétiens de la Renaissaince (Paris, Dunod, 1964).
Inspirando-se em diversos manuscritos hebreus ou armênios, como o comen
tário de Menahem Recanati sobre o Pentateuco, Pico delia Mirandola redigiu as suas
Conclusiones philosophicae, cabalistae e theologicae, que apareceram em Dezembro
de 1486, compreendendo uma série de quarenta e sete conclusões sobre a Kabbala
segundo o que dela diziam os israelitas, e uma série de setenta e uma conclusões
sobre o que ele mesmo pensava. A sua tese era a de que a Kabbala permitia esclarecer
alguns mistérios do Cristianismo; a incarnação do Verbo, a Trindade, a divindade
do Messias, a Jerusalém Celeste, as hierarquias angélicas, o pecado original, e, ao
mesmo tempo, compreender que os filósofos de Pitágoras a Platão, com os quais
ela tinha as maiores afinidades, eram compatíveis com a fé cristã.
Querendo provar que possuía um saber universal, Pico delia Mirandola diri
giu-se a Roma e desafiou os sábios propondo-se defender publicamente novecentas
proposições das suas Conclusiones; ofereceu-se para pagar a viagem de especialistas
que habitavam longe e para suportar os custos da sua estada na cidade. Mas treze
proposições foram denunciadas como heréticas ao papa Inocêncio VIII, especial
mente a que declarava que a magia e a Kabbala são meios de provar a divindade
de Cristo, e Pico delia Mirandola teve de assinar uma retratação a 31 de Março de
1487. Redigiu imediatamente a sua Apologia; terminada em 31 de Maio, para se
justificar: nela contava que um dos juíses, a quem perguntaram em que consistia a
Kabbala, tinha respondido que era um homem, chefe de uma seita diabólica, dessa
forma, era ignorada no mundo cristão a filosofia dos hebreus. O papa, tendo sabido
da Apologia, desencadeou contra o seu autor um processo por heresia e condenou-o
numa pastoral de 4 de agosto. Pico delia Mirandola, que se refugiara na França, foi
preso em Lyon em Janeiro de 1488; conseguiu regressar a Florença em virtude de
Médicis ter ficado como seu fiador perante o papa. Vê-se bem como era perigoso
ser judaizante nessa época.
Pico delia Mirandola continuou a estudar a Kabbala comprando permanente
mente manuscritos e correspondendo-se com eruditos judeus. O seu tratado sobre
128 | Secretum - Manual Prático de Kabbala Teúrgica
Reuchlin, comentou De Verbo Mirífico no seu curso em Dôle, o que causou a sua
expulsão da cidade: tratava-se de um livro essencialmente escandaloso, apesar do
seu cuidado em esclarecer o Cristianismo.
Por alturas de uma nova estada em Roma, Johann Reuchlin comprou uma
Bíblia hebraica e aperfeiçoou-se em filosofia com o rabino Obadia Sporno. Pode
assim publicar a primeira gramática hebraica feita por um cristão, de Rudimentis
Hebraicis (1506). Tendo-se uma autoridade como jurista hebraizante, Reuchlin foi
chamado a arbitrar quando o imperador Maximiliano, a pedido do judeu convertido
Pfefferkorn, publicou um édito, em 19 de Agosto de 1509, no qual decidia fazer
queimar todas as obras em hebraico contrárias à religião cristã. Quando pergun
taram a Reuchlin se era justo tirar dos judeus todos os seus livros, exceptuando a
Bíblia, ele opôs-se a isso em nome dos direitos de propriedade, no seu parecer de
6 de Outubro de 1510. Logo em seguida, Reuchlin foi censurado pelos teólogos
de Colónia, o caso azedou-se e o grande Inquisidor de Mogúncia, o dominicano
Hoogstraten, notificou-o sumariamente para que comparecesse perante o tribunal
da Inquisição. Reuchlin publicou a sua defesa contra as acusações, Defensio con
tra calumniatores (1513), mas foi preciso que cinquenta e três cidades da Suábia
interviessem a seu favor para que escapasse da prisão. A comunidade judaica de
Pforzheim, reconhecida, facilitou-lhe as suas pesquisas sobre o judaísmo e, graças
aos documentos rabínicos fornecidos, Reuchlin escreveu De Arte Cabalística (1616),
que um historiador apelidou de “Bíblia da Cabala Cristã” por ter sido a principal
referência dos kabbalistas dos séculos XVI e XVII.
Para se proteger dos seus inimigos, Reuchlin dedicou este livro ao papa Leão
X, filho de Lourenço de Medieis, lembrando-lhe que este se interessava por Pitágoras
ao ponto de ter feito reunir fragmentos pitagóricos na Academia Laurentina. Ora,
Pitágoras tinha-se inspirado na Kabbala, e se quisesse reconstituir o seu ensina
mento perdido era necessário procurar entre as obras dos kabbalistas. Reuchlin
utilizou este postulado por precausão, talvez sem nele acreditar verdadeiramente;
mas pretendendo que o estudo da Kabbala conduzia à filosofia pitagórica, ele saía
do plano religioso e entrava, enfim, no domínio filosófico das ideias comparadas.
A De Arte Cabalística é mais um diálogo, desta vez em Frankfurt, no qual
o pitagórico Filolaus e o maometano Marrano procuraram o judeu Simeon bem
Eliezer, a fim de que este lhes explique a Kabbala. Depois de lhes ter dito que era
preciso distinguir entre os Cabalici (os primeiros a receber a Tradição), e os Cabalaei
(os seus discípulos), e os Cabalistae (os seus imitadores), ensina-lhes que “a Kabbala
não deve ser procurada nem por meio do contato grosseiro dos sentidos nem com os
130 | Secretum - Manual Prático de Kabbala Teúrgica
Ainda sobre Pico delia Mirandola, este evocou ademais uma atmosfera de
reforma e profecia, cuja grande figura foi Savonarola, e Reuchlin, o herói da disputa
dos homens escuros, abre a Reforma. Enquanto Guilherme Postei, cuja vida cobre o
século (1510-1581), apresenta, no seu mesmo iluminismo, o espelho deste complexo
século. Mais que um espécime daqueles iluminados menores “a qual a Kabbala acabou
de perder” segundo a fórmula de Bayle, e que não faltaram certamente, ou daqueles
iluminados e espiritualistas, que pulularam tanto na Itália como na Espanha ou em
países do Norte, Postei, no mito que constituiu e viveu do Renascimento, traduz a pro
funda necessidade que seus tempos sentiam de uma “Restitutio” e de uma “Renovatio”
Este personagem de primeira magnitude, que foi um dos primeiros leitores
reais e favorito de Francisco I, pai das letras, que foi um dos primeiros a unir-se à
nascente Companhia de Jesus, colaborador da primeira edição do Novo Testamento,
da Poliglota de Amberes, que escreveu tanto a Mélanchton como aos cardeais do
Concilio de Trento, tanto aos diferentes reis da França como ao imperador Fernan
do, que se fez leitor da Universidade de Viena, que foi defensor de Servet, amigo
de S. Castellion - um de seus discípulos escreveu que havia circundado a orbe do
mundo -. É o mundo do Renascimento, aquele que os descobrimentos geográficos
agregam terras e civilizações novas num momento em que a Europa, em pleno
desenvolvimento político e econômico, intelectual e espiritual, se debate com os
turcos. Ao território humanista que se enriqueceu com os pensamentos gregos,
judeus e árabes, Postei, cosmógrafo, matemático, helenista, hebraísta, que publicará
em Paris, em Basiléia, em Veneza, em francês, em latim, em italiano, em hebraico
e ainda em árabe, aporta sua contribuição: o alfabeto de doze línguas, a primeira
gramática árabe, uma antologia do Corão, as traduções do Livro de la Creación e
do Zohar, e uma inumerável quantidade de manuscritos gregos e sobretudo árabes
que versam sobre geografia, matemáticas, medicina e botânica.
O descobrimento do mundo do Islã, que cobre, segundo uma fórmula inces
santemente repetida, as 10/12 partes do mundo, lhe induz a tomar consciência do
estado religioso da cristandade, onde se enfrentam com intolerância católicos e
reformados. Sensível a reforma de Lutero, assim como na vida em pobreza, desprezo
e dor, dos primeiros jesuítas, que estendem as missões aos confins do mundo, válido
do valor da razão, que os ateus voltam-se contra a autoridade da revelação, assim
como do valor da tradição judaica. Postei acreditou no primogênito das restitui
ções que restaurariam na humanidade em seu estado anterior a queda. Herdeiro
do sonho unitário da Idade Média e da perspectiva escatológica sustentada pelas
correntes joaquinistas, o apóstolo da concórdia universal acreditou que era o papa
132 | Secretum - Manual Prático de Kabbala Teúrgica
O Kabbalismo
I 133 I
134 | Secretum - Manual Prático de Kabbala Teúrgica
Na natureza inteira o método analógico vai descobrir três termos. É assim que
se encontram as mesmas partes componentes, quer no Homem, quer no Universo,
quer em D-us; e é por isso que, assim como chamam o Universo de Macrocosmo,
isto é, grande mundo, - chamam o homem de Microcosmo, isto é, pequeno mundo.
O Ocultismo ensina que tudo vive, desde a matéria mais sólida até D-us.
Uma troca perpétua fazendo-se entre todos os seres, a matéria envolve através dos
reinos da Natureza e das raças humanas para o espírito; e reciprocamente, o espírito
envolve para a matéria em condições determinadas.
Esta evolução nunca se dá sobre o mesmo planeta numa mesma idade; assim,
pois, o animal é um vegetal envoluído, porém nunca se poderá ver sobre a Terra um
vegetal tornar-se animal, porque esta transformação se opera no mundo invisível,
entre os grandes ciclos, não sobre o próprio corpo, mas sobre o que fabricará o
novo corpo material.
Assim como o homem, cada sistema solar nasce, vive, pensa e morre, comple
tando as idades que estão matematicamente determinadas pelos brahmanes Hindus
De acordo com a lei da analogia, vai o Ocultismo descobrir a lei dos ternários. Os
seres, quaisquer que sejam, são formados de três partes que se podem analógica
mente chamar, corpo, a vida (ou alma) e o espírito. E como na Natureza tudo é
reprodução, isto é, a ínfima célula não é mais que um Universo pequeno, a cada
uma das partes ao seu turno pode-se aplicar a lei do ternário. Daí a existência de
três mundos no Universo, penetrando-se reciprocamente, unidos, mas ao mesmo
Helvécio de Resende Urbano Júnior | 135
tempo distintos: o mundo físico ou dos fatos, o mundo astral ou das leis e o mundo
espiritual ou dos princípios. O homem que tem a noção dos três mundos e os sente
em si, é um Iniciado; aquele cuja noção não passa da sua astralidade é um Mago;
o que tem apenas uma noção do mundo físico, não pode ser mais que um Sábio.
Portanto, o Iniciado é senhor dos fatos, das leis e dos princípios; o Mago só conhece
os fatos e as leis; o Sábio limita-se aos fatos.
Seja-nos permitido intercalar aqui um conhecimento de Jules Lermina: “O
homem pode elevar-se ao plano astral, subtraindo-lhe alguns segredos; mas, se não
tiver consciência das forças que se acham ao seu alcance, será apenas instintivo, não
chegará a ser sábio”22.
Um cão atormentado por espancamento, e junto a ele se acha um revolver
que há pouco farejou, não cuidará nunca em se utilizar a arma em sua defesa. Há
homens que assim farejam o astral. Em resumo, o mundo físico é o dos fenômenos;
o astral é o das forças; e o espiritual é o mundo das causas. Para atingir às alturas
hiper-naturais, é necessário antes de tudo que cada qual saiba em si distinguir o
que pertence aos três mundos. O que acabamos de expor é um pálido resumo das
generalidades sobre o Macrocosmo.
Quanto ao Microcosmo, ensina a Kabbala que ele é composto de três princípios:
O homem vem de D-us e para ele volta, devendo-se considerar nesta evolução
três fases:
Io- Partida;
2o- Chegada;
3o- Fase intermediária entre uma e outra.
22 LERMINA, Jules - La Science Occulte Magie Pratique: Révélation des Mysteres de la Vie et
de la Mort - Ernest Kolb, Paris, França, 1890.
136 | Secretum - Manual Prático de Kabbala Teúrgica
cada versículo, cada palavra, cada letra, contêm ao menos duas acepções: a direta e
a figurada. Por três modos a Kabbala interpreta uma palavra: Io-, conforme o valor
numeral ou aritmético das letras que a compõem; 2o conforme a significação de
cada letra, constituindo neste caso a palavra uma sentença inteira; 3o-, conforme
certas transposições de letras. O primeiro processo chama-se Gematria-, o segundo,
Notaricun, que no latim é Notaricum-, o terceiro, o mais antigo, recebeu o nome de Temurá,
que em hebraico significa permutação. Assim, pois o conhecimento da língua hebraica é
indispensável para o estudo da Kabbala; em nossa obra Manual Mágico de Kabbala
Prática dedicamos um capítulo a essas práticas.
O Simbolismo do Gênesis
O Sepher (livro) de Moisés constitui uma parte de suma importância e mais original
da Bíblia, essa vasta compilação dos livros “sagrados”. O Sepher é o Gênesis propriamente
dito, a Cosmogonia, cujo principal autor foi Moisés, sacerdote judeu iniciado nos mistérios
egípcios, que lhe adaptou ao seu gênio semita.
O Sepher ou Cosmogonia de Moisés, tratado profundo, misterioso, dos Prin
cípios, possui um sentido teúrgico, metafísico e científico, conforme a tríplice chave
hieroglífica da linguagem egípcia pura, idioma em que foi escrito o Sepher Bereshith.
É um Gênesis simbólico admirável, inspirada na tradição atlante-egípcia (chamada
raça vermelha). Mas, para compreendê-la, cumpre saber decifrar o sentido oculto,
único, verdadeiro, da língua egípcia, da qual cada letra tem significado tríplice na
sua expressão literal da Vulgata, e ficareis desgostosos pelo que vos revela; não há
coisa mais errônea, mais retrógada e mais anti-religiosa.
Felizmente, isso é um simples tecido de fábulas imaginadas por tradutores
infiéis, ignorantes ou suspeitos, que assim personificaram os princípios cósmicos,
as ideias e os fenômenos, atribuindo-lhes uma história humana. Se aprofundar neste
invólucro ficarás admirado com as luzes que daí se desprendem.
O Sepher Bereshith, isto é, o Livro dos Princípios, a Cosmogonia ou Gênesis
(o único importante, sob o ponto de vista científico, de todo Pentateuco, porque os
outros contam simplesmente a história mais ou menos fabulosa do povo de Israel),
foi composto 1500 anos a.C., em grande parte por Moisés, inspirado pelos livros
sagrados egípcios, e escrito em hebraico primitivo, também chamado de Hebraico
puro (o hebraico puro era a linguagem dos Iniciados nos templos de Tebas e Mem-
phis); com três sentidos em cada letra e em cada palavra. Este livro se perdeu, do
mesmo modo que desapareceu pouco a pouco o idioma hebraico puro, durante as
138 | Secretum - Manual Prático de Kabbala Teúrgica
vicissitudes que se conhece do povo judeu. Por acaso encontrou-se cinco séculos
mais tarde, em exemplar do Sepher num velho cofre, coberto de poeira, mas con
servado. O sacerdote judeu Esdras, pressentindo a renovação possível do seu povo,
apoderou-se desse Sepher, mudou-lhe os caracteres, e publicou-o em hebraico po
pular, porque os hebreus desse tempo já não entendiam o hebraico arcaico.
Os samaritanos tinham o Sepher também, mas simplesmente o Sepher, no
entanto Esdras passou aos judeus uma espécie de tradução já semi-popular, au
mentada com suas próprias elucubrações e adições (livros suplementares, ditos
do Pentateuco; Hexateuco, seria mais apropriado). A datar do sexto século a.C o
hebraico puro já não era mais compreendido pelos judeus.
O Sepher era para eles letra morta, exceto para os essênios, que conservaram a
lei oral e secreta de Moisés (Sepher hebraico). Os samaritanos tinham um Sepher em
língua vulgar aproximando-se do hebraico. A versão dos setenta, feita em grego, foi
ordenada no Egito, onde se achavam os judeus, por Ptolomeu de Alexandria, que
recorreu à intervenção do pontífice Eleazer (247 a.C). Os essênios incumbiram-se
dessa tradução. Obedeceram ao Princípio, sem desobedecerem a sua consciência
nem ao seu pensamento de iniciados, que os impedia de divulgar o sentido superior
do Livro Sagrado. Deram, portanto, a tradução verbal do Sepher, o sentido literal,
corporal, e não o sentido do espírito. Além disso, serviram-se da tradução samari-
tana, muito mais que da hebraica, para aumentar a obscuridade.
Só foram traduzidos os cinco livros ditos de Moisés, abandonando-se às adi
ções de Esdras. Essa tradução foi feita por cinco essênios. O nome de Versão dos
Setenta, justifica-se por ter sido aprovada em conjunto (como os livros de Esdras,
traduzidos depois para o grego), pelo Sanhedrin (Sinédrio) dos judeus da Grécia e do
Egito, formando uma assembleia de setenta membros. A Bíblia é portanto uma cópia,
em língua grega, das escrituras hebraicas, onde somente foram bem conservadas as
formas materiais do Sepher de Moisés. E não esqueçamos que nesta época o povo
judeu não entendia a língua hebraica primitiva, mesmo na sua acepção mais restrita.
São Jerônimo (ano 631 da Era Cristã) procurou em vão compreender o texto
hebraico primitivo. Os judeus o ignoram totalmente, e os essênios não o querem
revelar. Reconhece que só lhe podia servir a tradução grega, que ele naquele mo
mento desejava! Portanto, São Jerônimo refez uma tradução latina, menos grosseira
que as precedentes, baseando-se no texto grego, comparado, confrontado com o
texto hebraico. (O texto grego era falso e, quanto ao hebraico, absolutamente incom
preensível). Esta tradução grega dos Setenta e a de São Jerônimo, em latim, foram
decretadas, pela Igreja Romana, como inspiração divina.
Helvécio de Resende Urbano Júnior | 139
As Ciências Secretas e
os três tipos de Ocultismo
I 140 |
Helvécio de Resende Urbano Júnior | 141
Os enigmas da Vida
e o aperfeiçoamento do homem
Doce é o nascer
Da mais doce Terra;
Limpa, acalma e gela os céus.
Para maiores poderes
Mande-lhes as suas flores
As quais o perfume purifica. í
A alma do homem
Move para um plano,
Guiado por D-us e deuses,
Que certamente lideram
Cada cavaleiro cansado
De períodos escuros.
Imutáveis,
Cravadas,
Onde todas as estradas do velho,
Agora todo sinal
É cristalino,
E todo caminho é ouro.
A.A.K.
Múltiplos são os problemas que agitam a humanidade. Cada ser, cada homem,
tem ante si um ou muitos desafios a cumprir. A vida humana se complica à medida
que o homem aspira a conquistar novos estados, novas posições na escala dos se
res e das coisas. Na mesma proporção em que aumenta o número das aspirações,
aumentam também os incômodos e os sofrimentos.
A luta é inevitável, dadas as circunstâncias de cada época, e o crescente poder
das aspirações. - Há alguma maneira de escapar do sofrimento? - Sim, claro que
tem. E isto é algo que todos deveríamos saber. Antes de tudo, devemos ter em
conta que a causa única do sofrimento se deve a nossa ignorância a respeito do
que é em si a Vida. Nós nos identificamos demasiadamente com as circunstân
cias e por isso elas adquirem poder sobre nós e nos abatem. O homem, para ser
feliz, deve trabalhar dia-a-dia pela conquista de sua independência moral (ética)
e de seu progresso espiritual. Antes de tudo há que saber que a felicidade não
Helvécio de Resende Urbano Júnior | 145
depende, de maneira alguma, das circunstâncias, nem das coisas relativas, que
por todas as partes nos rodeiam. A verdadeira felicidade consiste no equilíbrio
potêncial das energias que nos servem como meios condutores de expressão no
mundo sensível das formas.
Tem-se uma ideia incerta e imprecisa do que é em si o homem. O homem não
é este ser de forma que se faça sensível para nós neste mundo de relatividade, como
um animal qualquer. O homem verdadeiro é o ser de consciência de pensamento
e razão, que atua atrás desta forma transitória que chamamos homem. Em muitos
idiomas a palavra homem entranha em si o verdadeiro sentido de pensador. Em
alemão teremos a palavra Mann, em inglês, a palavra Man, em sânscrito se chama
Manu, ao que poderíamos considerar como o regente no mundo do pensamento,
ou seja, ao desenvolvimento mental que em uma época alcança a raça; e Manas,
entre outras coisas, se chama a mente nesse mesmo idioma. Platão chama ao ho
mem de alma pensante.
O homem, pois, o pensador, é esse ser de consciência que se desenvolve e
evolui constantemente, permanentemente por meio das experiências relativas que
a vida humana lhe propõe. No frontispício dos antigos templos de iniciação nos
mistérios da vida, se encontrava sempre uma frase característica, que era como o
fundamente sólido daquelas instituições, “Conhece-te a ti mesmo”. Este é o verda
deiro princípio que nos deveria reger a vida; porém, devido às circunstâncias da
época em que vivémos, o homem não se preocupa já senão unicamente no aspecto
material da vida, conjuga-se muito o verbo ter e raramente o verbo ser, havendo
abandonado por completo a parte ideal ou espiritual da mesma. E ainda quando
muitos declaram com ênfase que a eles não interessa nada além do material, das
honrarias, da vaidade, do luxo e da luxuria. Há que advertir que esta declaração é
superficial e em nenhum caso é sincera. Na vida de cada um e na de todos os ho
mens, há momentos de abstração, de sentimento, de intuição que nos chama desde
o interno a buscar a razão e do porque desta vida.
Neste mundo de agitações múltiplas, há almas sensitivas que levam em si
uma aspiração ideal que os coloca em estado intermediário entre o mundo da
forma e o mundo supra-sensível, ou espiritual. Essas almas que buscam o orien
te da verdadeira luz costuma encontra-se em seu caminho com seres de maior
elevação, os quais lhes ajuda a resolver os problemas que lhes afligem ou que
agitam em sua alma. Esses super-seres são homens como nós mesmos, porém,
se encontram num estado de maior compreensão dos transcendentais problemas
que agitam o espírito humano.
146 | Secretum - Manual Prático de Kabbala Teúrgica
A Origem do mal
Os problemas do mal, de sua origem e seu
fim, da queda e da reintegração da alma humana,
da distinção dos atributos divinos e das relações
de D-us com a Natureza, foram o objeto quase
exclusivo das pesquisas dos grandes místicos da
escola ocultista: Jacob Boehme, Martinez de Pas-
qually, Louis-Claude de Saint-Martin (o filósofo
desconhecido), e, na transcrição das ideias de
Moisés a este respeito, Fabre d’Olivet. Eis o resumo
das ideias desses autores.
Helvécio de Resende Urbano Júnior | 147
A origem do mal deve ser procurada no ser humano e não fora. Hoêne
Wronski, no seu messianismo, dá os maiores detalhes sobre este ponto. A causa do
mal é a queda, e o fim do mal pela reintegração do homem em D-us, sem o primei
ro perder sua personalidade. Tais são os pontos que vamos tratar de desenvolver.
Para os ocultistas, Adão não representa um homem individual, e sim o conjun
to de todos os homens e de todas as mulheres ulteriormente diferenciadas (parece
racional que Adão seja uma alegoria personificando as primeiras idades do mundo.
Segundo Pasqually, parece que os Noachitas Sem, Cam e Jafet estiveram senhores das
terras que tomaram os seus nomes: Sião, China e Japão, ficando a Io ao Oeste, a 2o
ao Sul e a 3o ao Norte, de acordo com a polaridade da Terra nessa época. Quanto à
discordância do calendário dessas nações orientais, motiva-se por causas diversas).
Esse homem universal ocupava todo espaço infra, ou melhor, inter-zodiacal,
sobre o qual reinava como soberano. Assim era por ocasião da queda e punição
do anjo rebelde, transformando em princípio animador da matéria, que ainda não
se mostrava como realização, pois só existia em germe como o fruto no grão ou o
filho no ovo materno.
A imaginação de Adão, a qual Moisés chamou Aisha, incitada pelo anjo rebelde
(o anjo rebelde é o raciocínio nas trevas ou a luz (lúcifer) percebida pelo afastamento
para a sombra ou nada imaginário de tudo quanto a vaidade do espírito humano
o obrigue conceber como não sendo obra do Criador ou como podendo dirigir
melhor; e que só serve para salientar as belezas dessa obra, como as sombras ou
tons de um quadro que as necessite ver de longe; - é o espírito dos considerados
sobre o não-ser, ideia que implica logicamente a imersão ou extensão na matéria.
Poder-se-ia ainda dizer: a Verdade (D-us), tendo no Bem (Filho, Verbo, Som) o Belo
(Espírito Santo Luz, Amor), e pela sua ação ou involuir positivo, tirou do corolário
(Sombra, Nada, Negativo) do Belo a Matéria (4o princípio representado pelo cone
sem rotação ou pirâmide de 4 cantos, resultando disso o espírito diferenciado ou
multiplicado (o ser humano tem cinco sentidos espirituais correspondendo aos 5 da
matéria, para evoluir (n° 6), gozar da perfeição ou nirvana (n° 7). A sombra sendo
produto humano, não tem um número; mas é corporificada pela matéria, assim
com o Espírito-Santo é corporificado pelo espírito do humano.
Como está na natureza da matéria só pode realizar-se por uma forma seja
qual for, segue-se que a essa forma devia ter preexistido sua concepção ou ideia, e
portanto um espírito indistinto, - consistindo nisto o homem universal ou Adão),
apresentou ao Espírito do homem universal um raciocínio que provocou quase
todas as quedas, não só universais, porém mesmo individuais e em todas as épocas.
148 | Secretum - Manual Prático de Kabbala Teúrgica
homem deve trabalhar, não só pela sua própria salvação ou reintegração, como diz
Martinez, mas também pela reintegração dos outros seres criados. Para alcançarem
este objetivo, os teósofos formaram associações, algumas das quais ainda existem.
Esta história da queda e da reintegração é permanente, e recomeça em suas linhas
gerais para cada alma humana. A encarnação no corpo físico representa de fato a
primeira queda, e a resistência ou submissão da alma humana às atrações apaixo-
nantes do plano físico destrói ou constitui a segunda queda.
O Cerimonial do Iniciado
“Que meus servidores sejam poucos e secretos:
eles regerão os muitos e os conhecidos”
AL I § 10
23. A mente do homem é fraca. Pode atingir pelo passo a passo a verdade, assimilar, um por um,
um número x de fases. Forçar seu movimento natural, a fim de torná-lo o progresso não é o
150 | Secretum - Manual Prático de Kabbala Teúrgica
1494 - 1553), que possuindo o conhecimento de todas as ciências do seu tempo, não
podia ignorar a magia.
Vamos aqui levantar um pouco o véu dos mistérios da iniciação.
O destino do homem é fazer ou criar a si mesmo; é e será filho de suas obras
para o tempo e para a eternidade. Todos os homens são chamados a concorrer; mas
o número dos eleitos, isto é, dos que alcançam bom êxito, é sempre pequeno. Por
outro lado, os homens desejosos de ser alguma coisa são em grande número, e os
homens de elite são sempre raros. Ora, o governo do mundo pertence de direito
aos homens de elite, quando um mecanismo ou usurpação impede que lhe pertença
de fato, opera-se um cataclisma político ou social. Os homens que são senhores de
si próprios tornam-se facilmente senhores dos outros; mas podem mutuamente se
importunar, se não reconhecerem as leis de uma disciplina e de uma hierarquia
universal. Para se ficar submetido a mesma disciplina cumpre estar em harmonia
de ideias e desejos, e só pode alcançar esta concordância por uma religião comum
fundada sobre as próprias bases da inteligência e da razão.
Esta religião existiu no mundo e é a única que pode ser chamada una, infalível,
indefectível e verdadeiramente católica, isto é, universal. Esta religião, da qual todas
as outras têm sido sucessivamente véus e sombras é a que demonstra o ser pelo ser, a
verdade pela razão, a razão pela evidência e o sentido comum. É ela que prova pelas
realidades a razão de ser das hipóteses independentemente e fora das realidades. É
ela que tem por base o dogma das analogias universais, porém, que nunca confunde
as coisas da ciência com as da fé. Não pode haver fé de que dois e um façam mais ou
menos que três; que, em física, o conteúdo seja maior que aquilo que o contém; que um
corpo sólido possa comportar-se como fluídico ou gasoso; que um corpo humano, por
exemplo, possa passar através de uma porta fechada sem operar solução nem abertura.
Dizer que se crê em tal coisa é falar como criança ou louco; mas não é menos insensato
definir o desconhecido e raciocinar hipóteses, até negar a priori a evidência, para afir
mar suposições temerárias. O sábio afirma o que sabe, e não crê no que ignora senão
segundo a natureza das necessidades racionais e conhecidas da hipótese.
Mas esta religião não poderia ser a da multidão, a qual se tornam necessárias
fábulas, mistérios, esperanças definidas e terrores materialmente motivados. É por
melhor caminho. Os resultados são obtidos, agindo discretamente, sob nenhuma circuns
tância, de uma forma significativa, como declaração de Rabelais: “ire Noli, fac venire”. Não
empurre para cima os últimos, para obrigá-los ir contra o seu próprio desejo, é o suficiente
para estar um passo à frente deles para incentivá-los: eles certamente vão segui-lo.
Helvécio de Resende Urbano Júnior | 151
Musset trabalhava no seu quarto, à luz de uma vela mesmo durante o dia,
porque tinha o hábito de fechar as venezianas para escrever. Igual sistema era
adotado mais tarde por Crebillon, pois gostava também de escrever durante o
dia à luz de velas. Dumas Filho, escrevendo, gostava de inspirar-se ao som de um
instrumento; seu pai, pelo contrário, queria o silêncio. Nerval compunha seus
trabalhos peregrinando de café em café, de botequim em botequim, e às mesas
dos diversos lugares eram suas mesas de estudo. Villier de flsle Adam tinha uma
vida desordenada; passeava em companhia de amigas, vagando pelas ruas até o
amanhecer. Deitava-se então, dormia até meio dia; e a esta hora, sentado sobre o
leito, escrevia ininterruptamente até a noite. Verlaine abusava do anis, e o bebia
até a noite; quando mudo e silênciosos, punha-se a trabalhar sobre as mesas das
espeluncas parisienses.
Hoffmann bebia desmesuradamente toda espécie de vinhos e licores; e,
devido a estes excessos, morreu jovem e paralítico. Buffon, pelo contrário, tinha
uma vida exemplar; saía raramente de casa e distribuía seu trabalho quotidiano
com muito método. Goethe trabalhava somente de manhã. Victor Hugo também
trabalhava com muito método e este salutar sistema foi adotado durante toda sua
vida. Gostava de interromper seus trabalhos para conversar um pouco com seus
amigos e fazê-los ouvir seus escritos.
Nas práticas da Kabbala e Arte Mágicka, que veremos a seguir, teremos que nos
ater aos conceitos que ficam na fronteira do racional com o místico, filosoficamente
um paradoxo, mas para o buscador sincero e resoluto um lugar comum de pura inter-
subjetividade, onde os adeptos, poucos e secretos, encontrarão o perfume da acácia.
CAPITULO IV
A Kabbala Dogmática
“Para ser um vencedor o homem deve aceitar que sempre existe algo
mais além que nossos sentidos possam perceber, ou que nossa inteligência
humana seja capaz de compreender, em outras palavras, o homem está
limitado por sua própria existência física, limitação que paradoxalmente
ele pode superar quando assume seus próprios limites. Então se abre ante
seus olhos um mundo desconhecido, um mundo sem igual, através do qual
pode vislumbrar o sentido da existência”.
A.A.K
I 154 |
Helvécio de Resende Urbano Júnior | 155
24. A palavra “manifestação” recebe aqui seu sentido habitual: manifestar, mostrar algo de si
mesmo. “Antes da Manifestação” é então uma expressão que significa um momento, ou um
“estado” - a linguagem humana está inapta a veicular estes conceitos - em que a Divindade
Eterna não exprime nada ainda d’Ela mesma.
25 Esta Existência Única de “antes da Manifestação” não é o nada. Ela parece à nós, seres
criados, ser o nada mas Ela não o é. Esta Eternidade carrega tudo latente riEla. Isso é muito
importante, pois crer que se trata do nada equivale a dar a este (o nada) a capacidade de se
exprimir e de mostrar algo de si mesmo. É a Existência Una, Pura e Absoluta, um Ponto Que
não é ainda um, segundo nossa representação mental... o Inconcebível em Seu Absoluto.
156 | Secretum - Manual Prático de Kabbala Teúrgica
no meio do que Ela emanou d’Ela-Mesma (as duas Sephiroth que nomeamos),
e se fará o que é, a bem dizer, “a Criação'} é somente neste estado que pode
mos verdadeiramente falar de criação; antes desta, não existe ainda senão a
Manifestação, isto é, a aplicação das Energias diante do criar.
II - Premissas da Manifestação:
O Triângulo Latente
A Existência-Una, a Divindade Eterna, exterioriza Sua Tripla Natureza gerando
outra Triplicidade que a Kabbala chama “os Três Véus" da Divindade Não Manifestada:
• A Sabedoria Absoluta, Consciência Absoluta: expressão da Eternidade. É o
‘AhTda Kabbala cujo conceito é mal tomado pelo nada habitualmente relacio
nado a esta palavra.
• A Sabedoria sem Limites: expressão do Espaço ou Globalidade Eterna. É “Ain
Soph” da Kabbala.
• A Sabedoria Sem Limites Iluminada: expressão do Movimento Eterno, Sopro
Primordial em si mesmo e Essência da Vida. É “Ain Soph Aur” da Kabbala.
30 Tratando-se de nossa evolução terrestre, a Luz aproximada, é, então, Aquela que irradia nosso
Logos Planetário, e depois nosso Logos Solar... Quanto ao Esplendor restante e que banha o
Universo... Ela releva de uma Vastidão que nossa estrutura atual não permite mesmo imaginar...
158 | Secretum - Manual Prático de Kabbala Teúrgica
Estes Três Véus ou outra Expressão Trinitária da Divindade Eterna são a Raiz
do que aqui se tornará - mas atenção, isto não o é ainda - a Manifestação Divina, “O
Primeiro Ternário ou Ternário manifestado”dos Pitagóricos, “a Tríade Superior”
dos Kabbalistas, “a Trimúrti” dos Hinduístas e “a Santa Trindade” dos Cristãos.
31 Simbolizada pelo azul noite, o azul escuro atribuído à Akasha. Nenhuma conotação maléfica
deve ser relacionada a este conceito de Luz Obscura... É a Luz não ainda manifestada e dife
rindo daquela que “nós” concebemos. Fazer a relação com o signo zodiacal do Capricórnio,
signo que é a Porta em torno desta Dissolução no Espírito e que domina o céu no inverno,
enquanto que o sol físico, portador da vida carnal, se torna impotente. Este está ligado ao
Solstício de Inverno em que as Forças Espirituais penetram em nossa Esfera Terrestre e que
simboliza o nascimento do Espírito (o nascimento dos Deuses Solares neste Solstício, retomado
pelo Cristianismo para representar o nascimento do Cristo).
32 E não será, então, inteiramente manifestado. Épor isso que é dito que Sephirah é representada
por um Rosto do qual não podemos apreender senão uma Face, aquela que está orientada
em direção à Manifestação (Face que irradia a Luz Branca), a outra Face dá em direção ao
Não Manifestado (a Luz Obscura). É o Io Logos, a Força Destruidora, porque ela engendra a
Vida e absorve aquela em Si. “Shiva” na terminologia hindu; “o Pai” na terminologia cristã.
Helvécio de Resende Urbano Júnior | 159
IV - A Manifestação da Divindade
1 - A Arvore da Vida Universal: um glifo pedagógico*
Aln S«ph.
THE WITHPUTF.ND.
2 - A Tríade Superior
A - “Sephirah” Kether
Este Ponto, este Um irradiante, é o que a Kabbala chama Kether (“a Coroa”,
em hebraico). Kether é 1ÇI3
34 Corpus hermeticum.
Helvécio de Resende Urbano Júnior | 161
Espiritual OSÍRIS*
Sopro Divino
Pai Divino
OSÍRIS*/
CHOKMAH Eletricidade
+ IIIoLogos A MÃE Cósmica THOTH
Fogo por Cósmica
Força Construtora Inteligência BRAHMA (ou Santo
fricção Mãe Divina
Ativa Espírito)
BINAH Magnetismo ÍSIS
Cósmico
Círculo Fim do Primeiro
DAATH
Intransponível Quaternário
CRIAÇÃO
As 7
Emanações IIo Logos Amor
inferiores Força Conservadora Consciência VISHNOU Fogo Solar 0 Filho 0 Filho HÓRUS
orquestradas Sabedoria
por Tiphereth
Não esquecer a complexidade da classificação dos Deuses Egípcios.
Helvécio de Resende Urbano Júnior | 163
B - Chokmah: “a Sabedoria”39 40
C - Binah: “A compreensão”42
37 No Ocidente, escreve-se tradicionalmente esta palavra com a inicial “ch”. Todavia, esta não
se pronuncia com o som sibilante que encontramos na palavra “chaffgato, em francês], por
exemplo, mas como um sopro rude que ouvimos no momento de uma expiração forte.
38 O “h” final deve ser ouvido na pronunciação com um sopro rude.
39 Em Hebraico.
40 Não esquecer que se trata do Universo “manifestado”.
41 O IIo Logos. “O Verbo se fez carne...” segundo o Prólogo do Apóstolo João; isto significa que
o Verbo (Chokmah) Se exprime pelo Universo que ele vai criar, o qual será Tiphereth e sua
Sêxtupla Manifestação.
42 Em Hebraico.
164 | Secretum - Manual Prático de Kabbala Teúrgica
• O dos Taoístas.
• Considerada como a Mãe Divina pois Ela é a Matriz da qual emergirão os Mun
dos e todos os seres criados, isto é, a Fonte da Substância43 na Criação, a Mãe que
engendrará os corpos, todos os corpos ou formas com as quais se revestirá tudo
aquilo que evoluirá na Criação: nós, seres humanos, por exemplo, que evoluímos
em um corpo físico, um corpo astral, um corpo mental, etc... ou então, nosso
planeta que é o corpo físico de um Ser que evolui igualmente em meio a outros
corpos: um corpo astral, um corpo mental (ditos planetários então), etc...
• A plena expressão da Inteligência Divina*, também carrega inscritas em Si as
“condições necessárias” para a eclosão da Vida no Universo. Isto significa que
ríEla reside, como que gravados, “os circuitos” que devem ser inelutavelmente
seguidos por tudo o que existe na Criação para que esta possa permanecer
como tal e realizar o Programa Divino. Esta Organização das Forças forma o
conjunto das “Leis Universais”. É por isso que se diz que Binah é “a Guardiã
da Lei” e, que sob este título, Ela reajusta as Energias que se exprimem na
Criação em ações e reações, em causas e em efeitos; o que chamamos “o Karma”.
43 A qual, em sua gradação que vai do mais sutil ao mais denso, é a expressão de diversos estados
da Consciência.
Helvécio de Resende Urbano Júnior | 165
46 Lembrai-vos da Lição do Padre Egípcio: quando vemos a folha de papiro, podemos separá-la
de suas duas faces? Vemos tudo ao mesmo tempo, isto é, Três. O Um permanece, então, um
conceito, o conceito da folha, por exemplo, mas uma folha vista imediatamente como Três.
47 Épor isso que a Shekinah, a Criação, é também a única Sephirah, Kether.
Helvécio de Resende Urbano Júnior | 167
48 Mesmo esta Manifestação pela Tríade Superior permanece velada, pois a Luz Branca de
Kether após Chokmah e Binah constituem já um Triplo Véu.
49 Cujo Germe está em Chokmah.
50 A Emanação do Filho, a Consciência de Tiphereth, resulta do Ternário ativo, Daath, Chesed,
Geburah, que governa o segundo Quaternário, Daath, Chesed, Geburah, Tiphereth.
51 Quando o Fogo inerente ao Io Logos se une ao Fogo latente no 111° Logos, nasce a Cons
ciência, o IT Logos.
52 IIo Logos. “Vishnou” na terminologia hindu; o Filho, na terminologia cristã.
53 É por isso que o IIo e o IIIo Logos são absorvidos pelo Primeiro. O Um, Que Se exprimiu em
Três, o qual se multiplicou em seguida para gerar a Criação, se tornou novamente Um.
168 | Secretum - Manual Prático de Kabbala Teúrgica
VI - A Densificação da Energia
1 - Processo
também, assim como explicitamos, toda a matéria densa perceptível no espaço com
nossos sentidos físicos (ou com ajuda de nossos telescópios).
Equilíbrio
Saber combinar estas Vinte e Duas Letras, que são, na verdade, Vinte e Dois
Sons de Poder, equivale a conhecer a manipulação das Energias Cósmicas. Está aí o
segredo e a realidade da Verdadeira Kabbala.S6
56 As Letras hebraicas ou Sons que elas emitem são correspondentes e, às vezes, simbióticos
com os Sons Universais (os Sons verdadeiramente Criadores). Estes - com suas diferentes
Helvécio de Resende Urbano Júnior | 171
- A À A ÁÀ -
A - O Pilar da Direita.
KUHMU
PASSII ACTIF
rfc------------------------ s
U__ _______ 4
EQUILIBRE
UNITÉ
B - O Pilar da Esquerda.
C - O Pilar do Meio.
• Ele veicula a Força Divina Equilibrada e Equilibrante, assim como é o Sopro
Divino, expresso pelo Elemento Ar. Nenhum excesso reside aí, o jogo do ele-
tromagnetismo Universal é perfeito. Ele constitui, então, a Via perfeita para
aceder ao Divino.
• Ele é governado, segundo a Kabbala, pela Letra “Aleph”.
• A Força Divina Suprema (Kether) se manifesta em Daath, depois em Tiphereth,
em seguida em Yesod e por fim, em Sua Globalidade, em Malkuth.
Todas essas explicações se justificam pela prática mágica; veremos, com efeito,
como fazer descer corretamente essas Forças durante um Ritual de Teurgia.
Esta visão geral sobre a Organização das Forças que emanam da Única Força
Divina tem um alcance Universal e por esta razão concerne a formação do Uni
verso, o qual inclui os milhares de Mundos existentes: Estrelas, Galáxias, Sistemas
solares... Mas já que “O que está no Alto é como o que está em Baixo”, nosso Sistema
Solar, nosso sistema terrestre e nossa própria estrutura individual de ser humano
são regidos, assim como veremos, por este Esquema Cósmico.
174 | Secretum - Manual Prático de Kabbala Teúrgica
57 Não confundir Planos Cósmicos (aqueles onde nosso Sistema Solar evolui) com Planos
Universais (os Planos de todo o Universo criado... bem além do que pode ser concebido já
que os planos Cósmicos são inconcebíveis para nós...). Nosso Sistema Solar (ou Logos Solar)
evolui sobre o último Plano Universal, o Plano mais denso, o mais material (o etéreo-físico
universal), subdividido em 7graus de densidade; estas subdivisões são, para Ele, Seus Planos
Cósmicos, os planos de Sua Evolução; entre estes, ‘bs três mais elevados são somente atin
gidos pelos Grandes Adeptos em Samadhi” [...] “O Grande Adepto começa seu Samadhi
sobre o 4o plano do Sistema Solar e não pode ultrapassar os limites deste Sistema...” (H. P.
Blavatsky, Coll. Wr. T.XII, p. 657,659)
Helvécio de Resende Urbano Júnior | 175
58 Mas também outros Sistemas planetários que dependem de nosso Logos Solar.
59 É dito que Ela canaliza a Energia “do Coração” de um Ser Maior que o nosso Logos Solar,
Energia Que estrutura todo nosso sistema.
60 O “ch” inicial de “Chesed” não se pronuncia como na palavra francesa “chemin”(caminho),
mas como um sopro rude.
61 Cada Emanação é, na verdade, bipolar, eletromagnética, mas, por comparação às outras
Emanações, ela está ora em dominante magnética, ora em dominante elétrica.
176 | Secretum - Manual Prático de Kabbala Teúrgica
67 O yu inicial se pronuncia como a palavra "ya” e o “5” é aquele de “saber” e não um “z” (Tal
como sua posição entre duas vogais poderia sugerir).
178 | Secretum - Manual Prático de Kabbala Teúrgica
Uma última precisão revela-se importante: quando se trata, para nós, de evocar
uma Emanação Divina, por exemplo, “Tiphereth” (a Beleza em Hebraico), isto não
será a Tiphereth Universal a ser contatada,71 mas o Reservatório Energético (ou
Sephirah) - de uma frequência infinitamente mais baixa - que lhe corresponde na
68 Mais Um.
69 Pronuncia-se “Malkout”.[o som “ou” do francês equivale ao “u” no português]
70 As Energias de Malkuth são conceitualizadas em Netzach e dirigidas a partir de Netzach.
Tratando-se de nosso Sistema Solar, não podemos nos estender aqui sobre o papel representado
por Netzach quanto à organização dos Elementos sobre Malkuth e, logo, sobre a Terra, mas
lembremos que Auriel, o Arcanjo que governa o Elemento Terra, isto é, o Eletromagnetismo
Quadripolar, o faz a partir da Esfera de Netzach e o Arcanjo Sandalphon age em seu Nome.
Na Teurgia, veneramo-Lo ao Norte - dito pólo do Elemento Terra, mas aquilo que chamamos
“Terra” é, na verdade, “a porta de entrada” do Fogo, tal como o projeta Netzach. Isto explica
certa Teurgia que trabalha face ao Norte (depois de ter reverenciado o Leste, onde penetra
o Sopro da Vida) para estar em ligação direta com o Fogo. Advertimos aquele que gostaria
“tentar para ver o que isto faz” efetuando certos Rituais, sem explicações precisas nem diretivas,
face ao Norte e trocando a posição dos Elementos.
71 Isto é literalmente inconcebível... no estado atual da evolução não somente humana mas
daquela de nossos Adeptos Maiores...
Helvécio de Resende Urbano Júnior | 179
Árvore Terrestre, isto é, a densidade extrema de nosso Sistema Solar (Energia que
passará antes por esta mesma correspondência na Árvore Sistêmica).
No Universo, é preciso repetir, “Tudo o que está No Alto é como o que está Em
Baixo”. Isto significa que a menor das criaturas funciona sobre o mesmo Esquema
que aquele que constitui a trama do Universo.
O ser humano é, logo, a réplica exata do Esquema Cósmico, “D-usfez o homem
à Sua Imagem...”. No ser humano circulam, então, as mesmas energias que riscam o
Espaço Cósmico, mas em uma taxa vibratória infinitamente menos elevada.
Estas energias devem seguir, no homem, o mesmo percurso que aquele que
delas tomam emprestado no Universo e, quando o circuito humano não está em
harmonia com o Esquema Universal, resultam para o homem, então, no sofrimento,
na doença, na pobreza, na solidão e em toda espécie de aflição.
Qual é, no ser humano, o sítio das Dez Emanações? Um esquema será mais
explícito que toda descrição. (Ver a ilustração na página 180).
Todas as Energias Cósmicas captadas pelos seres humanos regem esferas de
atividade sobre nosso Planeta. Lembremos que cada Planeta não é senão a ma
nifestação densa de uma Emanação, mas utilizaremos o nome desta para fazer a
repartição por Esfera (Emanação) destas atividades.
IX - Os Elementos
A palavra elemento foi diversas vezes mencionada. Contudo, não é necessá
rio crer que os Elementos (Fogo-Ar-Água-Terra) só existem sobre a Terra com a
aparência sob a qual os conhecemos. Na realidade, os Quatro Elementos circulam
no Universo inteiro, eles constituem a sua textura, mesmo se sua manifestação é
muito mais sutil e, logo, invisível para nós.
Assim o Elemento Fogo, que se manifesta por nossa flama terrestre ou o fogo
de nossas chaminés, é, em um grau menos denso, a Eletricidade. Esta é sempre o
Elemento Fogo, mas em um estado vibratório mais elevado.
Remontando assim os Planos Cósmicos, consideramos, então, a Essência mesmo
do Fogo que, para nós, é inconcebível. Dá-se o mesmo para o Ar, que é a manifestação do
Sopro Divino em nosso Universo, e para a Água, que exprime o Magnetismo Cósmico.
Quanto à Terra, é preciso saber que ela não é um Elemento no sentido próprio
do termo. Ela é, na verdade, a expressão unificada dos três outros.
Foi indicado que os Quatro Elementos, unidos ao Espírito, constituem a
Textura Sistêmica.
Até o momento, reportamos somente quatro Elementos. Na realidade, Sete
Elementos regem o Universo, os Três primeiros dentre eles (os mais sutis) constituem
o Akasha (subdividido em três fases vibratórias) e os Quatro outros, aqueles que
mencionamos sempre, sendo a expressão diferenciada, sobre planos progressivamente
mais densos, potêncialidades (ou ideações) contidas no Akasha. Em outros termos,
o Ternário (as três fases do Akasha) engendra o Quaternário (os quatro Elementos).
72 O Akasha é o princípio original, espaço cósmico, o éter dos antigos, o quinto elemento
cósmico (quintessência), a quinta ponta do pentagrama. É o substrato espiritual primordial,
aquele que pode se diferenciar. Segundo a teosofia relaciona-se com uma força chamada
Kundalini. Eliphas Levi o chamou de luz astral. No paganismo, o Akasha, também cha
mado de Princípio Etérico, corresponde ao espírito, à força dos Deuses. É representado
no Hermetismo, segundo Franz Bardon, pelo Ovo negro, sendo um dos cinco Tattwas
constituintes do Universo.
182 | Secretum - Manual Prático de Kabbala Teúrgica
qual ele se distinguirá sobre Esferas mais densas, mesmo se estas são, para nós
humanos, de uma textura muito sutil.
O Akasha recepta, em consequência, tudo o que sustenta a vida de todos os
seres: sua Vontade “de ser” que se exprime em Amor - que é Vida e Consciência -
na organização “Inteligente” do mundo.73 Todo Poder neste mundo, e em todos os
mundos, reside, logo, em Akasha.
Levando em conta os Quatro Elementos, Akasha é igualmente chamado na
Tradição Ocidental “Quintessência”, a Quinta Essência, ou “Espírito”, sem distinção
de sua tripla estrutura. É por isso que falamos de Cinco Elementos: os Quatro (Fogo,
Ar, Água, Terra, que são somente diferenciações de Akasha) e o Espírito (palavra
que sintetiza a tripla estrutura akashica).
2-0 Fogo
O Fogo, no sentido absoluto, é a Energia Divina Manifestada e, enquanto
tal, é inerente à todas as coisas, visíveis ou invisíveis, pois ele constitui a trama de
Akasha. Também podemos dizer com justeza que “tudo é Fogo” mesmo se este Fogo
se revestir, para se manifestar de maneira mais densa, de expressões aparentemente
opostas entre elas ou que diferem das características que atribuímos ao fogo. E na
verdade, quem pensaria que a Água é, sob uma forma extrema, Fogo?
O Fogo, ou Eletricidade que jorra de Akasha, enquanto tal, não tem ainda o
aspecto denso da flama tangível que conhecemos, mas ele existe em uma frequên
cia vibratória inconcebível e infinitamente elevada. A forma mais sutil do Fogo
(enquanto Elemento) que podemos identificar sobre a Terra é a eletricidade. (A
Energia mental é “Fogo” também, então um aspecto da eletricidade).
Também é preciso fixar isto: a Eletricidade é, na Terra, o poder manifestado
do Elemento Fogo.
3-0 Ar
Somente o Sopro Divino, portador do equilíbrio organizador entre os dois Ele
mentos opostos, o Fogo e a Água, permite a interação destes. O Ar surge de Akasha
depois do Fogo (akáshico) e antes da Água (se, repetimos, uma temporalidade pode
ser concebida...). Em consequência, o Ar porta a Segunda Letra do Nome Divino,
“He” (e não a Água) e a Água porta a Terceira Letra, “Vau”.
O Ar representa, então, o Sopro Divino aqui e logo que ele se ausenta, a união
entre o Fogo e a Água se torna impossível: é a morte; e é bem aquilo que é observado
na cessação da respiração.
O Ar constitui também o veículo da liberdade, da agilidade, o motor do
“Movimento”, da Vida..,
4 - A Água
Quando o Fogo surge do Espírito Divino, ele chama imediatamente o seu
oposto, a Água. A água de nossas torneiras, de nossos rios e de nossos oceanos, é
a forma mais densa do Elemento Água sobre nossa Terra. Na escala mais elevada
de vibrações a Água é, à semelhança do Fogo, inconcebível para nós. A forma mais
sutil da Água que podemos apreender é o Magnetismo (os sentimentos, ligados ao
Elemento Água, são também um aspecto do magnetismo).
Devemos, então, fixar: o Magentismo é, na Terra, o mais alto poder mani
festado do Elemento Água.
Esta ligação entre o Fogo e a Água parece tão evidente que, ao longo dos sé
culos, certos Kabbalistas atribuíram à Água a posição imediata de sucessão ao Fogo
e a Segunda Letra Hebraica do nome de D-us, “He”. Isto é inexato.
Se é verdade, com efeito, que o Fogo chama a Água e que a Água chama o
Fogo, estes dois Elementos não podem se comunicar juntos. Sua antinomia é tal
que um Mediador é necessário para que sua interação recíproco possa se exercer e
produzir tudo o que existe no Universo, em um Plano que seja. Este mediador é o
Ar, manifestação do Sopro Divino, presente em todas as coisas.
Foi atribuída à Terra a Quarta Letra Hebraica do Nome de D-us, o último “He”.
Os Quatro Elementos são, então, Aspectos da Divindade; eles constituem
todas as Qualidades que existem no Universo.
Em resumo:
“A ciência esotérica ensina que todo som do mundo visível desperta seu
som correspondente nos reinos invisíveis, e põe em ação alguma força
oculta da natureza. E mais, cada som corresponde-se com uma cor, um
número e uma sensação em um ou outro plano. Todos os sons têm seu eco
nos elementos superiores e, ainda no plano físico, põem em ação as vidas
que formigueiam na atmosfera terrestre.”
H.P. Blavatsky
74 Trata-se dos Cinco Sons que elaboraram o precedente Sistema Solar, regido pelo IIIo Logos.
75 Ou “Yéhéouvé” segundo os Kabbalistas.
186 | Secretum - Manual Prático de Kabbala Teúrgica
A - A Circulação Elemental
• Cada Número - isto é, o estado de uma Força sobre um plano dado - é bipolar,
mas possui uma polaridade dominante.
• Quando esta polaridade dominante se exprime, ela desperta, por reação, a
ação da polaridade em sobdominante. Esta faz, então, transferir o Número
(ou a expressão da Força) que gera o Número seguinte.
• O ímpar é criativo, ele engendra “a impulsão” da ação, a qual se reduz e gera
o Par seguinte.
• O Par recebe a impulsão criadora do ímpar e a estabiliza se tornando o suporte
da manifestação. Mas esta estabilização mesmo incita, enfim, por reação, a
subdominante ativa inerente ao Par que se coloca em movimento, o processo
engendra, então, o ímpar seguinte.
• Este amplia, nesta manifestação cada vez mais densa, a impulsão inicial -
inerente ao ímpar superior - e o jogo prossegue assim: o ímpar se renovará
no ímpar seguinte e o Par veiculará e estabilizará este fluxo.
Em resumo:
77 Não esquecer que se trata da Correspondência destas Emanações em Malkuth, nossa Esfera
de existência.
Helvécio de Resende Urbano Júnior | 189
Esta visão geral mais que restrita sobre a Kabbala permitirá compreender
como se opera um verdadeiro Ritual de Teurgia: o oficiante age como a Divinda
de age em Seu Universo; isto significa que ele chama as Energias Cósmicas em
sua própria esfera de existência (na Terra, em seu quarto ou em um dado lugar)
reproduzindo exatamente o Esquema Cósmico no meio do Ritual. Assim será para
cada Cerimônia Teúrgica explicada neste livro.
Aqui termina esta rápida exposição sobre a Formação do Universo e dos Mun
dos explicada pela Kabbala. Uma apresentação mais exaustiva nos teria conduzido
em direção a uma abstração que poderia indispor o leitor que descobre a Teurgia.
Porém, tratava-se somente de mostrar o fundamento desta sobre a Organização das
Forças Universais a fim de incitar todos aqueles e aquelas que queiram verdadeira
mente mudar sua vida abordando este “aspecto essencial” do Ensino Tradicional.
CAPÍTULO V
A Kabbala Prática
I 190 |
Helvécio de Resende Urbano Júnior | 191
“Ninguém acredita mais firmemente que eu, que tudo que nossos sentidos
conhecem como “nosso mundo” não é senão uma parte que nos circunda
e forma o objeto de nossa mente. Mas como constitui a parte primeira, é
a condição sine qua non de todo o resto. Se consegues abarcar fortemente
todos os fatos desta porção mais próxima, podereis elevar-se comodamen
te as regiões mais elevadas. Mas como queira que temos de passar pouco
tempo juntos, prefiro não passar de elemental e resultar completo, epor isso
eu proponho que os atenhais estritamente ao ponto de vista mais sensível.
As funções verdadeiramente mentais que não se referem diretamente ao
ambiente deste mundo, as utopias éticas, as visões estéticas, os olhares
dirigidos aos campos da verdade eterna e as fantásticas combinações ló
gicas não poderiam, seguramente, ser concebidas e desenvolvidas por um
indivíduo humano cuja mente fosse incapaz de dar produtos praticamente
mais úteis. Estes últimos são, portanto, os resultados mais essenciais ou,
pelo menos, os mais primordiais.
Nenhuma verdade, ainda que seja abstrata, pode ser percebida de tal ma
neira que alguma vez não influa em ações terrenas. Não falar, não mover-
se, é, em certas contingências práticas da existência, um dos deveres mais
importantes. Deves refrear-te, renunciar, abster-se! Isto reclama sempre um
grande esforço que considerado psicologicamente é uma função nervosa tão
positiva como o movimento.”
A.A.K
afirma ter sido composta sob a influência direta do Eterno, ou sob a inspiração das
grandes hierarquias Celestiais, que colocaram neste alfabeto todos os Mistérios do
Universo e as relações Homem-Divindade em todos seus aspectos.
Nas letras hebraicas nota-se a correspondência entre o micro e o Macrocosmo
e o próprio simbolismo da Unidade Cósmica que o plano superior e a esfera inferior
revelam. As letras hebraicas fundamentam-se e representam com seu simbolismo
os reflexos de todos os princípios imutáveis, na multiplicação de suas formas e na
presença das ideias divinas contidas nas inumeráveis variedades da criação.
Desta forma, meditar sobre seus aspectos equivale a procurar seu verdadeiro
significado, alargando a compreensão das forças e das Leis Cósmicas, que regem
os seres e os Mundos. Os símbolos desse antigo alfabeto contêm na sua origem,
os mistérios do Gênesis e os segredos do Apocalipse; a Queda e a Reintegração do
homem; as chaves, enfim, da definitiva regeneração deste, com a natureza envolvente
e com o próprio Senhor do Mundo.
Entretanto, não é muito fácil compreender os mistérios que esta reflexão encerra,
mais difícil ainda é tentar revelá-los através de palavras que não são originais; uma vez
que toda expressão é originária de um processo interior de preparação e desobstrução
dos canais receptivos, que tem por sua vez, por origem a vontade de compreender e
o irresistível desejo de partilhar da harmonia celestial em toda sua extensão.
O entendimento destes aspectos mais profundos representa um dos Grandes
Arcanos do Hermetismo e seria equivalente à tentativa de reproduzir o perfume de
uma flor que deleitou o apreciador, mas que através das simples palavras do narrador
poderá igualmente impressionar àqueles que não sentiram o aroma e a fragrância.
Relacionamento com as origens dos grupos dos quais cada letra faz parte,
nos remetem aos diversos Mundos da Criação. As analogias que de passagem
sugerimos com outras ciências, como a Astrologia Hermética, a Ciências dos Tat-
twas, a Kabbala Judaica e ao próprio Taro, sem esquecer do Yoga, tudo isto significa
que há uma interdependência entre essas disciplinas com todos os Conhecimentos
Tradicionais, onde tem sabedorias ocultas em suas escolas e obras, a espera dos
buscadores da Verdade.
As Letras Hebraicas Pronúncia Letra/Pronúncia em As Letras Hebraicas e os Planeta/ ou
Valor Simbolismo Arcanjos
em Ordem Crescente em Hebraico Português Arcanos Maiores do Tarô Signo
1 Kaph 500
a Mem 600
1 Nun 700
n Pe 800
r Tzaddi 900
Podem-se fazer várias correlações com o alfabeto hebraico, desde ideias mo
rais, até mesmo conexões com as Sephiroth da Árvore da Vida. Os nomes das letras
indicam vagamente o glifo pictórico sugerido nos corpos das letras e ao mesmo
tempo, escondem um significado secundário detrás do valor numérico e das cartas
do Taro, que corresponde a cada uma. O valor do nome de cada letra modifica o que
significa. Por exemplo: enquanto Aleph significa principalmente a Zero e a Unidade,
explica-se a mesma pelo número 111, o valor das letras ALP. Isto quer dizer que
uma análise do número 111 implica num estudo do número 1. Que indica, por
exemplo, a equação trina de 1=3.
Helvécio de Resende Urbano Júnior | 197
Tal como sabemos, o primeiro ato do Criador, ao que se refere ao Gênesis e nos
documentos egípcios foi o desdobramento. Assim, mais uma vez, vemos que a letra
Beth, que representa a cifra dois, ocupa o lugar que lhe corresponde como inicial
do livro da Criação, e demonstra o primeiro ato dessa ideia, ato de desdobramento.
O arcano maior que corresponde a esta letra é o da Porta do Templo, onde
o Templo simboliza a Sabedoria Universal. Aquele que se encontra no umbral da
porta do Templo está pronto para contemplar a sabedoria Suprema.
• Estar acima de todas as aflições.
Guimel - é a terceira letra do alfabeto - dupla - cuja cifra é três e que cor
responde a Vénus no mundo dos astros e a orelha direita no homem. Esta letra
expressa a envoltura orgânica de onde deriva todas as ideias relacionadas com os
órgãos corporais e com seu papel fisiológico. Como se sabe, o hieróglifo desta letra
é moderno e foi criado para diferenciar os sons G e C. Antigamente, esses dois
sonidos eram representados por meio de uma só letra.
O nome Divino que correspondente á o de Gadol, que atua por meio das for
ças Aralin, correspondente aos Tronos dos cristãos. Essas forças permitem a D-us
- Tetragrammaton - conservar a forma material da Natureza criada.
O nome da Sephirah da qual depende está letra é Binah, que significa com
preensão (ratio). Sua qualidade é a prudência e sua ação se desenvolve no domínio
do conhecimento (cognitio). É o terceiro ângulo superior Sephirótico, do Iev, equi
librado em seu nascimento por Kether, o qual se distingue de todos os ternários
ulteriores que se equilibram segundo as manifestações resultantes dos encontros
recíprocos. O arcano maior correspondente é o de ísis» Urânia, a Mãe Universal.
• Reinar no mundo espiritual e fazer-se servir em qualquer plano.
Daleth - É a quarta letra do alfabeto, dupla, cuja cifra é quatro, e que cor
responde no mundo dos astros a Júpiter, no homem universal esta corresponde
à fossa nasal direita. Esta letra é o emblema do quaternário universal, quer
Helvécio de Resende Urbano Júnior | 199
dizer, da fonte de toda existência física. Por isso, expressa o abandono nascido
da divisão. “Eu sou dois, eu sou quatro”. É o símbolo da natureza dividida e
divisível. Tal como a vida do Universo criado resultava da divisão progressiva
da Unidade-princípio.
O nome Divino que corresponde é Dagul, o mais elevado, o glorioso. As
forças pelas quais se produz a penetração desse nome são chamadas Chochmalim,
Dominações do Cristianismo. Tem por função formar as imagens dos corpos nas
diversas manifestações da matéria. A Sephirah correspondente se chama Chesed,
bondade. Seu atributo é Gedulah, a qualidade do juízo superior (judico superius).
Sua ação se desenvolve na região de amor. Amor ideal, derivado da união sagrada
dos sexos. A manifestação Divina é da Misericórdia. O arcano que corresponde é
de uma Pedra Cúbica, a realização dos princípios pelas formas no mundo físico.
Pertencente ao domínio da segunda He no nome Tetragrammaton. É o fruto que
leva Ísis-Urânia engendrado pelo princípio vital. O filho do homem, idealmente
representado por Jesus Cristo.
• Saber dispor da sua vida e da dos outros.
Cheth - A oitava letra do alfabeto, simples, tem por valor o número oito.
Corresponde a Câncer no Macrocosmo e ao braço direito no Microcosmo. Governa
a vista. O caráter desta letra tem o mesmo sentido que o de He, porém, num plano
inferior. Deste ponto de vista, representa o signo da aspiração vital, da existência
Elemental. Por outro lado, esta mesma letra expressa o trabalho do homem, aque
le que demanda um esforço de parte deste. Simboliza a vida fisiológica com suas
manifestações e seu dinamismo.
O nome Divino que corresponde é Chesed, misericórdia. Este nome se mani
festa na vida pelas forças Ben-Elohim, que significa os “Filhos de D-us”, os Arcanjos
dos cristãos. Os animais foram criados por eles. A Sephirah que lhe corresponde é
Hod, glorificação. Sua qualidade é a da humildade (humilitas) e sua ação se desen
volve na multiplicação (frequentia). No homem, essas forças provocam os sentidos
exteriores (sensus externus). O arcano correspondente a Cheth é Themis, a Justiça.
• Achar a pedra filosofal.
202 | Secretum - Manual Prático de Kabbala Teúrgica
Teth - Nona letra do alfabeto, simples, e tem o nove como cifra. Corresponde
a Leão no Macrocosmo e a narina esquerda no Microcosmo. Governa a audição.
Simboliza tudo o que serve de proteção ao homem (por exemplo, um teto). Serve
de laço entre as letras Daleth e Tau, cujas propriedades compartilha, porém, num
grau inferior. O nome Divino relacionado com esta letra é Tehor (mudus Purus),
que se manifesta pelos Anjos da nona categoria. Esses Anjos presidem o nascimento
dos humanos (Anjos Guardiães dos cristãos).
A Sephirah desta letra é Yesod, o fundamento. A qualidade desta Sephirah é a
temperança (temperentia). É a estabilização em equilíbrio de toda Criação mani
festada em seus dias e expressada pelas seis Sephiroth de construção. Ê o final da
penetração, o fim criador e numérico, seu desenvolvimento máximo expressado
pela cifra nove. O arcano desta letra é de uma “Lamparina velada”
• Ter a medicina universal.
• Possuir os segredos das riquezas. Ser delas senhor, mas nunca escravo. Saber
gozar na pobreza. Nunca cair na objeção nem na miséria.
Como temos visto, as dez Sephiroth, que forma a Árvore da Vida emanaram de
uma Luz Infinita ao Mundo Primordial de Adão Kadmon e daí os Quatro Mundos
dos kabbalistas. A Sephirah Reino (Malkuth) que é a mais densa de todas as Sephi-
roth e na qual a Luz Divina está mais restringida, é a fonte de cada um dos mundos
que a seguem. Assim vemos que a Sephirah Reino de Adão Kadmon, emanou das
dez Sephiroth do Mundo da Emanação e a Sephirah Reino do Mundo da Emanação,
emitiu as dez Sephiroth do Mundo da Criação, etc., até que emanara o Mundo da
Ação. No Mundo da Emanação, D-us atua diretamente; no Mundo da Criação Ele
atua através dos arcanjos, e no Mundo da Formação atua através dos anjos e no
Mundo da Ação atua através das forças elementais da Natureza.
Os Quatro Mundos, por conseguinte, formam um
A.DONAI
vasto sistema de classificação que expressa todos os aspectos
da Essência Cósmica em qualquer nível.
As mais importantes divisões classificadas nos “Quatro
Mundos” são os quatro elementos dos alquimistas, as qua
tro estações e as quatro triplicidades astrológicas. Também
existe uma escala de cores (onde veremos num quadro a
seguir), atribuída a cada Sephirah em cada um dos Quatro
As Sephiroth com seus Atributos das Nome em Hebraico Membros
Nome de D-us Arcanjos Ordem dos Anjos
números correspondentes Sephiroth das Sephiroth Místicos
7- Netzah A Vitória nsi lhoah Zebaoth - Jehovah Sabaoth Principados Haniel Elohim
8- Hod A Eternidade th Elohim Zebaoth - Elohim Sabaoth Arcanjos Michael Beni- Elohim
10- Malkuth 0 Reino mzfrn Adonay Meleck - 0 Senhor Rei Almas Sandalphon Ischim
212 | Secretum - Manual Prático de Kabbala Teúrgica
Mundos, o que tem um grande significado para a Kabbala Prática. Cada mundo
está sob a supervisão de uma das letras do Tetragrammaton, YHVH, da seguinte
maneira: a primeira letra I, é o Mundo da Emanação; a segunda letra H, é o Mundo
da Criação; V representa o Mundo da Formação e a última letra H, é o Mundo da
Ação. O Tetragrammaton, também conhecido sob o nome Divino de Jehovah, é
o nome Divino assinado na segunda esfera, Chokmah. A primeira Sephirah está
presidida por outro nome de quatro letras: EHEIEH (AHIH). Graças ao simbolismo
dos nomes vemos de que maneira AHYH, é o aspecto da Força latente de D-us,
todavia não manifestada. Transmuta em YHVH trocando Sua primeira e Sua ter
ceira letra de A (Aleph) em I (Yod), e de I (Yod) em V (Vau). Como já temos visto
na análise das vinte e duas letras do alfabeto hebreu, Aleph é o princípio duplo que
representa a vida e a morte, a existência; e efetivamente, existência é a significação
do nome AHIH. Yod, por outro lado, é o oposto de Aleph; é continuidade, a mani
festação da existência. Assim, nesta primeira transmutação, a Energia Cósmica se
transforma de pura existência em uma existência contínua, um estado estável. A
segunda transmutação concerne a troca de Yod (Y) em Vau (V). como temos visto,
Vau é o arquétipo de todas as substâncias fecundadoras, é a substância plástica da
qual surgiu o Universo.
Através desta transmutação, AHYH, puro ser, se transforma em YHVH, no
veículo da existência. Nesta transformação radica a essência dos ensinamentos
kabbalísticos.
Portanto, o Tetragrammaton é a pulsação contínua (Y) da energia cósmica (H)
evolutiva (V) no Universo criado (H). Segundo os astrofísicos, estas eram condições
existentes no tempo do “big-bang”.
O Tetragrammaton e os Quatro Mundos são também associados aos Quatro
Querubins da visão de Ezequiel e a revelação bíblica de São João o Divino. Uma vez
mais, existe uma correlação com os quatro elementos e as triplicidades astrológicas,
da seguinte maneira:
Conclusão
Em São João como em Ezequiel, esses quatro animais, ou seja, estas quatro
“criaturas viventes” são o epítome da criação, porque de todas as criaturas são as
mais nobres. Devemos ver a seguir como o Homem, o Leão, o Boi (ou Touro) e a
Águia foram levadas a representar simbolicamente o Cristo e como as artes cristãs
os dispuseram ao seu redor para representar os quatro evangelistas que nos trans
mitiram sua história e seu ensinamento.
A Kabbala
Para Eliphas Levi, os tetramorfos sãos as quatro formas hieroglíficas da Esfinge.
Em sua Oração Kabbalística ele associa essas figuras ao Chaiot Ha-Quodesh, ChIVTh
HQDSh, sagradas criaturas vivas, representadas pelos quatro signos: Touro, Leão,
Águia e Homem, correspondentes a Touro, Leão, Escorpião e Aquário. Os animais
também são associados ao nome sagrado e aos evangelistas:
nirr
Yod (*>) - Pai - Fogo - Leão - São Marcos
He (n) - Mãe - Água - Touro- São Lucas
Vau (l) - Filho - Ar - Águia -São João
He (n) - Filha - Terra -Homem -São Mateus
8- Hod Violeta Laranja Vermelho ladrilho Negro amarelado com tons de branco
9- Yesod índigo Violeta Roxo escuro Citrino com tons de azul celeste, negro, raiado de amarelo
s
$
bü
<_n
216 | Secretum - Manual Prático de Kabbala Teúrgica
O caro leitor, que já se encontra no caminho, deve ter observado que todas as
leis que regem o Universo estão expressas na estrutura do “alfabeto sagrado” Uma
noção desenvolvida dentro de uma trilogia que se resume na Unidade, sua divisão
primordial; o “sim e o não”, equilibrados, que representam o ternário; a escala uni
versal, lei dos setênios; quadro em que se desenvolve a vida de toda criação, lei das
doze; e finalmente, a lei decimal, das Sephiroth.
Helvécio de Resende Urbano Júnior | 217
Tudo isso está contido nas 22 letras do alfabeto; mas se tomarmos a numeração
como elemento separadamente, obtém-se o número 32 (22 mais 10) que representa
as 32 vias da sabedoria. Para compreender como se as obtêm, recordemos o Sepher
Yetzirah, capítulo IV, 15, 16: “As sete duplas: Beth, Guimel, Daleth, Kaph, Pe> Resh
e Tau. Gravados nelas estão os sete mundos, firmamentos, terras e mares, sete rios,
desertos, dias e semanas, sete anos, períodos de sete anos, períodos de cinquenta anos
e a Câmara Central do Templo. Sete é então amado sob todos os céus.”. Mishnáh 16:
“Duas pedras constroem duas casas, três pedras constroem seis casas, quatro constroem
24 casas, cinco constroem 120 casas, seis constroem 720 casas, e sete constroem 5040
casas. A partir daí, anda e calcula aquilo que a boca não pode dizer e o ouvido não
pode escutar.” Este texto define a regra das transposições de letras segundo o sistema
Tsiruf (veja Moisés Cordovero, Pardés Rimonim).
Assim, as duas letras dão duas transposições, três dão seis, quatro dão vinte
e quatro e assim sucessivamente. As 231 fileiras que menciona o Sepher Yetzirah
(capítulo II, 5) segundo Guillaume Postei, da seguinte maneira: se multiplicar as
22 letras por onze (as dez Sephiroth e o indefinido Ain-Soph), se obtêm 242, e essa
se lhes subtrai o mesmo número 11 para obter finalmente 231.
Muito bem, o sistema analítico do Sepher Yetzirah, que parte da ideia de D-us,
que aquele sistema que desenvolve na criação servindo-se das combinações das
letras-forças é chamado pelos kabbalistas “As trinta e duas vias da sabedoria”. A
este sistema se opõe a outro, dedutivo, que parte do estudo dos fenômenos naturais
para chegar, por analogia, à compreensão de D-us. Se chama “Cinquenta Portas
da Razão”. O primeiro sistema, baseado sobre a fé, desenvolve a evolução religiosa,
enquanto que o segundo se apóia sobre a observação, por parte dos homens, dos
fenômenos da natureza, e representa uma evolução que se apóia sobre a ciência.
Essas duas vias completam-se entre si. Assim, define o ponto de vista dos Antigos,
que confundiam o Sábio e o Sacerdote. Segundo a Kabbala esses dois sistemas se
relacionam com duas Sephiroth do triângulo superior: as trinta e duas vias emanam
da Sephirah Chokmah, e as cinquenta da Sabedoria sem, contudo, haver atravessado
as “portas da razão”.
Antes de abordar o estudo das 32 vias, exporemos o sistema das “Cinquenta
Portas da Razão”. Essas cinquenta portas estão divididas em seis grupos corres
pondendo as seis Sephiroth de construção, aos seis dias da criação, e aos seis des
dobramentos da unidade, segundo o ensinamento tradicional (veja em nossa obra
Maçonaria, Simbologia e Kabbala, Parte II, capítulos III e IV).
218 | Secretum - Manual Prático de Kabbala Teúrgica
1. Matéria prima, é caos, o lesch (palavra obtida pela transposição das letras da
palavra Bereshit e que significa matéria primeira que deu início a toda criação):
2. O vazio, o que não tem vida, nem forma, o frio.
3. A atração, o abismo, acima do qual discernia o espírito de D-us (Gênesis).
4. Primeira divisão, princípio dos elementos. “Vèm para mim”, disse Atum a si
mesmo (veja Sepher Yetzirah) A Balança que estava no antigo dos dias (Zohar).
Primeiro dia da criação Yod - Yin-Yang.
5. Princípio da água (hieróglifo Mem, mãe), segundo dia da criação.
6. Princípio do ar, evaporação da água, He, princípio passivo.
7. Princípio do fogo, regido por Shin, senhor do terceiro septenário (quente, vivi
ficante), ação do princípio ativo Yod sobre o princípio passivo He, expressado
hieroglificamente pela letra Aleph.
8. Princípio da terra “árida e sem vida”, o Geb egípcio, começo do terceiro dia.
Separação entre o seco e o úmido.
9. Princípio das qualidades de diferenciação desses elementos.
10. Princípio de suas mutações (mescla).
Segundo Grupo
As Dez Mutações (mesclas)
11. Diferenciações dos minerais pela divisão do princípio da terra, regido pela
letra Qoph.
12. As cores e os elementos necessários para a produção dos metais, regido pela
letra Vau.
13. As fontes e as veias que se encontram nas células da terra.
14. Nascimento da vida vegetativa. Fim do terceiro dia regido por Zayn.
15. As forças vivificantes e reprodutoras da vida vegetal cujos signos estão escritos
no firmamento. Quarto dia. Criação de Nephesh no Cosmos.
Helvécio de Resende Urbano Júnior | 219
16. Primeira individualização do princípio vital nas diferentes espécies, cada uma
das quais possuem suas qualidades definidas e diferenciadas “segundo sua
espécie” (Gênesis).
17. Os répteis e os insetos. Quinto dia regido por Cheth.
18. Os peixes. Quinto dia, regido por Cheth.
19. Os pássaros. Quinto dia regido por Cheth
20. Criação da vida animal, “alma vivente” do Gênesis. O Ruach do Cosmos,
regido pela letra Shin. Começo do sexto dia. Individualização e mutação dos
elementos até o máximo desenvolvimento.
Terceiro Grupo
A Década do Homem
O indefinido Ain-Soph, o Uno refletido em Adão, o “nove” que reúne em sua
pessoa todos os elementos da criação prévia.
21. Criação do homem Adão, sexto dia, símbolo do homem, letra Tau. Seu de
senvolvimento consecutivo.
22. Substância adâmica, matéria que o identifica com toda criação dos elementos
que acabamos de mencionar. Esta substância deve ser considerada como um
extrato.
23. O sopro divino. Neshamah.
24. Adão-Eva. Aish-Aisha. Razão, livre arbítrio.
25. O homem universal que representa o Microcosmos, reflexo do Macrocosmo
do qual é imagem.
26. As cinco potências exteriores que, reunidas com a razão e o livre arbítrio,
representam, no homem, a escala das sete letras duplas.
27. As cinco forças interiores, os cinco sentidos do homem.
28. O homem, reflexo do céu (correspondências astrológicas).
29. O homem ideal, reflexo das qualidades angélicas.
30. O homem terminado; imagem de D-us, fim do sexto dia.
Quarto Grupo
A Ordem do Desenvolvimento do Céu em Relação com a Terra
As Esferas - Esse grupo se relaciona com a criação do quarto dia.
Quinto Grupo
O Mundo das forças superiores, chamado: Mundo das nove Dignidades dos Anjos.
41. Querubins relacionado com a letra Teth e que preside o nascimento do homem.
42. Ben Elohim ou os filhos de D-us, relacionados com a letra Cheth e produtores
da vida animal.
43. Elohins, relacionados com a letra Zayn e criadores da vida vegetal.
44. Malachins, relacionados com a letra Vau, presidem a formação dos metais.
45. Serafins, relacionados com a letra He e são governadores dos quatro elementos.
46. Chochmalins, regidos pela letra Daleth, presidem a diferenciação das formas
da matéria.
47. Aralins ou anjos poderosos e grandes regidos pela letra Guimel. Governam o
princípio das forma material.
48. Ophanins ou as “rodas celestiais” regidos pela letra Beth.
49. Haioth Ha Kadosch ou os “Santos animais”, regidos pela letra Aleph.
Helvécio de Resende Urbano Júnior | 221
Sexto Grupo
Ain-Soph - O Indefinido
50. A nenhum homem é dado o poder de ver ou compreender a D-us. O homem
só pode ter uma vaga ideia d’Ele através das manifestações do Ser na natureza.
Quanto mais elevado é o homem, mais profundamente percebe esses reflexos.
O homem primitivo deifica os elementos cujos efeitos aprecia: o fogo, a água, o
vento, etc. Segundo a tradição, Moisés, esse grande iniciado, recebeu revelações
que serviram de base para religião que instituiu: religião de Metatrom, reflexo
de D-us na letra Kaph. O cristão, na base de cuja religião se encontra a Santa
Trindade, expressada no ensinamento sagrado pelas três primeiras Sephiroth,
acredita, mas não pode compreendê-la. O que precede define as cinquenta
portas pelas quais deve passar o Sábio para compreender a estrada que passa
pelas “Trinta e duas Vias da Sabedoria \ O estudo dessas Vias, como o expressa
Athanasius Kircher S.J. demanda um considerável esforço e longos anos de
meditação. Então, podemos deduzir que somente os homens reputadamente
santos, marcados por D-us, são iluminados pela Luz emanada do centro.
Luz, que é empregada nesta frase possui um valor de 55. Aqui há, por con
seguinte uma segunda chave nessa palavra. O He final (do Tetragrammaton)
troca o Trigrammaton dando-lhe a significação de Filha do Rei - A Esposa,
que são os títulos de Malkuth. A palavra KLH nos dá, portanto não somente
55 em Gematria, mas também a palavra jovem casada. Muitos capítulos do
Eccleslastes e da Sabedoria de Salomão falam sobre este duplo valor da jovem
casada e a Luz da sabedoria. Devemos, portanto partir de 55 para chegar a
49+1, uma frase do Zohar completamente obscura, se não se começa com a
chave da Gematria, mas que indica que pelas Portas da Luz pode se entrar na
compreensão da Sabedoria Divina.
3. Se diz ainda: Pelas Portas de Binah, o Messias entrará na Glória de D-us.
Temos ainda relação com a Gematria. O Messias quer dizer Tiphereth (6 - a
sexta Sephira) seja VAU (6 - sexta letra do alfabeto). As 50 Portas da Luz nos
dão 50 + 6 ou 50 x 6. Vemos facilmente que é este último cálculo que está
indicado, porque Shin a letra Messiânica, também chamada A Glória de D-us
(a primeira letra da Shekinah) possui um valor de 300 (50 x 6). Mas Binah é
também He (5) e multiplicado por Yod (10) (a origem da forma, ou a arquite
tônica do Alfabeto) nos dá ainda para BINAH o valor de 50, em relação com
as 50 Portas da Luz. Não é necessário levar mais longe estas relações com a
Gematria. Achamos oportuno dar um exemplo onde o emprego deste sistema
Kabbalístico é não somente útil, mas obrigatório.
4. Tendo terminado o elemento teórico nas Emanações dos Sephiroth, será útil
permitir ao aluno de se dar conta de que alguns métodos de aplicação práticas
do sistema Sephirótica. Será mais lógico começar com as Cinquenta Portas da
Luz, não somente porque o Zohar diz que elas formam uma chave a toda com
preensão dos Sephiroth, mas também porque elas foram - desde numerosos
séculos - umas introduções escolásticas às Trinta e Duas Vias da Sabedoria.
5. As Cinquenta Portas (estritamente as 49 Portas mais Uma) são as seguintes:
6. Porta 1. A Matéria Primordial. Um Midrasch do Talmud (Beresch Rab. 12)
nos informa que a Criação teve lugar por um processo duplo. A citação que
damos é tomada de Karppe:
“Os seis dias da Criação foram um desenvolvimento, como uma maneira de
fazer a colheita dos figos maduros. Cada fruto maduro na sua hora, isto é toda
substância das coisas foi criada num só lance, depois em seguida cada coisa veio
a seu todo”.
Helvécio de Resende Urbano Júnior | 223
16. Porta 11. Os Minerais. No centro da Terá, nos diz o Zohar, se encontra uma
pedra fundamental, da qual, os minerais próximo da superfície da Terra são
formas degeneradas e misturadas.
224 | Secretum - Manual Prático de Kabbala Teúrgica
17. Porta 12. Os Metais. A palavra “flores”, aplicadas aos metais, indica o elemento
do crescimento. O Zohar: “Os Quatro Elementos são o mistério primeiro de
toda coisa e deles são saídos o ouro (fogo e terra); a prata (água e terra), o
bronze (água e terra); a terra só pela mistura do seco e frio, produz o ferro.
Quando a terra é em seguida misturada com os outros metais, produz metais
de outras misturas”. Isto nos conduz à Alquimia do Zohar.
18. Porta 13. As Águas e as Plantas Aquáticas. A ciência no nosso sentido da
palavra, não entra no sistema da Kabbala, que é anti-aristotélica. Segundo a
base mística: “A vida sai das Águas”. O que a ciência confirma.
19. Porta 14. As Ervas e as Árvores. A Botânica do Zohar é sumária. Mas estas
Portas da Luz exigem que o Filho da Doutrina aprenda tudo o que é possível
sobre a Natureza, mesmo pelos estudos materiais. Todavia, é dito: “Se um ser
vive assim, é essa a Vontade do Eterno. Não percas a Lei na coisa”.
20. Porta 15. As Sementes. Sem outro conhecimento da botânica científica, data de
após a invenção do microscópio, o Zohar se contentava em ensinar que todo
grão continha em minúsculo a forma que germinaria; “Embora invisível para
nós, esta forma já existe no Alto” (protótipo). Os frutos tendo suas sementes
(como as maçãs e as Romãs) despertam sempre em Israel um fervor místico.
21. Porta 16. A Natureza. A Criação é uma Obra da Divina Sabedoria; a Natureza
é sua manifestação. O perfume de uma flor simboliza o perfume de D-us que
exala a Natureza. Não devemos comer uma noz ou um fruto sem agradecer
a D-us “Por seu pensamento”. É útil lembrar que o judeu piedoso pensa em
D-us em todo o momento do dia; Cada ato de sua vida é uma lembrança.
22. Porta 17. Os Insetos e os Répteis. As observações da Kabbala sobre os insetos
seguem a maneira fabulista. A indústria da abelha e da formiga, a maldade
do escorpião, “a pele da salamandra feita de vestimenta não inflamáveis”. A
serpente é frequentemente interpretada de maneira mitológica.
23. Porta 18. Os Peixes. Como o povo pouco marítimo, os Hebreus ignoravam a
maioria das espécies de peixes. Seus comentários discorrem sobre os monstros
marinhos principalmente o Leviatã. O “peixe de Jonas” é “Sheol” ou o inferno.
24. Porta 19. Os Pássaros. Podemos julgar a ornitologia do Zohar lembrando que ele
ensina que certos pássaros nascem das árvores, entre eles, os gansos. (Isto é do
“folclore” medieval). Os conhecimentos do Zohar sobre os Querubins são muito
mais exatos, e o galo do Messias, um cinzel celeste, é descrito em grande detalhe.
Helvécio de Resende Urbano Júnior | 225
33. Porta 28. Adão - Adão. Esta Porta se ocupa da natureza de Adão no Paraíso
Terrestre, sua vida, sua sabedoria e seu pecado.
34. Porta 29. Adão Microposopus. O mesmo que Adão - Adão pertence ao Mundo
de Assiah, Adão Microposopus é do Mundo de Yetzirah, ele é às vezes chama
do-o Homem Anjo. É necessário ter conhecimento do Mundo de Yetzirah.
35. Porta 30. Adão - Kadmon. Chegamos aqui ao Mundo de Briah. Este é o Homem
Celeste, “a vestimenta reflexa”, ou “o Homem à imagem e semelhança de D-us”.
Este estudo necessita de todas as correspondências entre os Sephiroth e o Homem.
36. Porta 31. A Lua. O Calendário Hebraico das festas é parcialmente lunar. A
Lua “guarda os palácios onde as preces são recebidas durante a noite. Num
sentido místico a Lua reflete a piedade, e Abn Ezra coloca as almas dos Ishim,
os santos (ver YESOD) na esfera da Lua. Astrologicamente, aquele que nasce
na hora da Lua, hora planetária, será um parasita”.
37. Porta 32. Mercúrio. A Astrologia da Kabbala é baseada sobre as horas plane
tárias. Assim se diz: “Aquele que nasce na hora de Mercúrio será um homem
de memória e de ciência, porque este astro é o escriba do Sol”.
38. Porta 33. Vénus. O Talmud diz: “Aquele que nasce na hora de Vénus será um
homem rico e voluptuoso, porque com este astro nasce a luz”. Há uma refe
rência aqui à crença que a pré existência das almas se faz sobre Vénus.
39. Porta 34. O Sol. Aquele que nasce na hora do Sol será um homem do qual
todos os desejos estarão a descoberto, e que viverá de seus próprios bens. O
Sol guarda os Sete Palácios da Prece durante o dia.
40. Porta 35. Marte. Aquele que nasce na hora de Marte será um homem de fi
bra, terrível à vista, entregue sem descanso à guerra e à pilhagem. Todavia o
guerreiro não está desprezado, mas tido em separado.
41. Porta 36. Júpiter. “Aqui habitarão os justos, que guardarão suas mãos longe
de todas as corrupções e seus olhos longe do mal”. Esta frase não indica que
após a morte, as almas viverão nos planetas, mas nas esferas prototípicas.
42. Porta 37. Saturno. Aquele que nasce na hora de Saturno será um homem do qual
os planos serão frustrados, embora seja astucioso e pareça frustrar os planos dos
outros. A astúcia é duramente atacada por todos os sábios doutores da Kabbala.
43. Porta 38. Os Céus. O Talmud e o Zohar falam correntemente do Zodíaco.
Segndo o Talmud: Sião diz: “D-us me abandonou”. “Minha filha, lhe respondeu
D-us.” “Como podes tu falar assim, visto que doze signos do Zodíaco foram
Helvécio de Resende Urbano Júnior | 227
lançados pro Mim no Universo! A cada um dei trinta chefes (graus) - Teu
destino está regulado pela influência dos astros inumeráveis e o Céu vela so
bre ti”. A Astrologia Adivinhatória dos Hebreus consiste na leitura das letras
hebraicas formadas pelas estrelas.
44. Porta 39. As Regiões Celestes. O Zohar diz: “Há sete regiões situadas uma por
cima da outra, nas quais permanecem os Anjos Superiores. Estas Sete Regiões
estão unidas à nossa Terra e só subsistem por ela”. Ligada a esta Porta vem o
estudo da aura da Terra.
45. Porta 40. A Permanência da Shekinah. Esta região é o Empireo, quer dizer o
que está por cima de todas as coisas criadas sem estar no Absoluto nem no
infinito; ela está aberta pelas asas da Shekinah. “Este estudo está além dos
poderes do homem. “Nenhum homem” diz o Zohar: Pode vencer quarenta,
mas a Glória de D-us (Shekinah) lhe dará a vitória se ele a pede”
46. Porta 41. Os Querubins. Ver nosso estudo sobre Yesod.
47. Porta 42. Os Beni Elohins. Ver nosso estudo sobre Hod.
48. Porta 43. Os Elohins. Ver nosso estudo sobre Netzach.
49. Porta 44. Os Melachins. Ver nosso estudo sobre Tiphereth.
50. Porta 45. Os Seraphins. Ver nosso estudo sobre Geburah.
51. Porta 46. Os Hashmalins. Ver nosso estudo sobre Chesed.
52. Porta 47. Os Aralins. Ver nosso estudo sobre Binah.
53. Porta 48. Os Ophanins. Ver nosso estudo Chokmah.
54. Porta 49. Os Hayyoth há Kadosh. Ver nosso estudo sobre Kether.
55. Porta 50. “Aquela que foi fechada a Moisés”. Esta porta conduz ao mistério de
Ain Soph Aur, de Ain Soph e de Ain. Ver nossos estudos sobre o assunto das
Três Essências das Trindades Kabbalísticas. Lembramos que Moisés morreu
sobre o Monte Nevo. Foi lhe proibido entrar na Terra prometida.
Duas Árvores. O equilíbrio perfeito, tal como se encontra na Árvore Elíptica, será
restabelecido após a Restituição dos Vasos, quando o Messias será unido à Shekinah.
Tendo assim indicado o ponto de equilíbrio (o centro superior) ocupado por
Daath na Árvore antes da Queda, estamos em posição de indicar o lugar das Trinta
e Duas Vias da Sabedoria no esquema de Iniciação Sephirótica, seguindo, muito
exatamente, as indicações dadas pelo Zohar e as outras obras da literatura Kabba-
lística. A chave se encontra nas significações especiais e as atribuições particulares
que são dadas a Daath, Binah, Chokmah e Kether, o losango da Árvore em Briah
Segundo a iniciação Kabbalística, o dever do homem é de suportar as in
fluências das Sephiroth, de fazer suas experiências sobre cada esfera e de passar
as provas que pertencem a cada esfera e de passar as provas que pertencem a cada
Sephirah da Criação, quer dizer de Malkuth a Chesed. A iniciação dos Altos Planos
começa com Daath.
Vimos na tradição kabbalística que a Daath (associada à Ruach no Mundo
antes da Queda) é atribuída à Razão Razoável, à Ciência, à observação da Criação e
das coisas criadas, acrescentando-lhe a intenção e a operação da Criação e das coisas
criadas. Isto está por cima das Sephiroth e da Criação, estando equilibrado e sintético.
Subindo um degrau, até Binah, que possui o título da Compreensão da Sabedo
ria, ultrapassamos o Abismo e entramos no domínio dos princípios da metafísica. É
a Binah que as Cinquenta Portas da Luz são atribuídas; segundo a Kabbala iniciática,
é necessário saber abrir todas as portas antes de poder entrever as Trinta e Duas
Vias da Sabedoria. O trabalho de Binah e das 50 Portas da Luz é de compreender
a Obra do Eterno em Sua Criação e de tomar sua parte nela.
Tomando a Via Recíproca, que conduz de Binah a Chokmah, passamos do
domínio da Compreensão da Sabedoria ao domínio da própria Sabedoria; do estado
receptivo ao estado ativo. É a Chokmah que as Trinta e Duas Vias da Sabedoria são
atribuídas, elas nos permitem entrar no Pensamento do Eterno.
Finalmente, é dito que a Compreensão do Eterno em si mesmo tanto quanto
isso é possível a um Ser criado, só se pode realizar entrando no Paraíso Celeste em
Atziluth, quer dizer, em Kether. Aquele que é eleito para alcançar estas alturas - o
que não se faz no corpo físico Terrestre, mas somente quando o espírito está sepa
rado do corpo - não voltará jamais.
Notemos o contraste entre as 50 Portas da Luz (também chamadas de 50
Portas da Razão) e as 32 Vias da Sabedoria. Este contraste está naturalmente em
correspondência com a diferença entre Binah e Chokmah. Nós dissemos que Bi
nah é receptiva e que Chokmah é ativa, mas a diferença entre as duas Sephiroth é
Helvécio de Resende Urbano Júnior | 231
Nós começamos nosso estudo das 32 Vias da Sabedoria com as 10 Vias que
estão associadas às Dez Sephiroth. As 22 vias que seguem, e que estão associadas
com as vinte e duas letras do alfabeto, nós já vimos anteriormente.
232 | Secretum - Manual Prático de Kabbala Teúrgica
Seu simbolismo está aliado com o Dez, nos quatro mundos de Atziluth, Briah,
Yetzirah e Assiah. Sua atribuição cósmica é Os Mundos Físicos e Materiais, ou A
Matéria Densa, que seria despida de alma, se não fosse pela presença de Shekinah,
e privada de vida não fosse pelo poder de Adonay. A personificação é Sandalphon,
um segundo aspecto de Metatron, é permitido pedir ajuda e o apoio dos Ischlim, as
almas dos justos, não no sentido do espiritismo - que é proibido no Kabbalismo -
nem no sentido da Tesouraria dos Santos - ideia também estranha ao Kabbalismo
- mas no sentido da união de Israel visível e invisível. Sua Operação em Imanência
é O Sopro da Vida que Jehovah deu a Adão e a todos seus descendentes, também
o Olho do Grande Rosto que jamais se fecha, porque uma doutrina do Kabbalis
mo diz que só o Sopro de D-us permite que a vida continue, e que se o Olhar de
D-us fosse retirado durante uma fração de segundo, toda a Manifestação cairia
em desagregação imediata, contendo as Dez Emanações vindas de Ain-Soph. Sua
Experiência Espiritual é A Aproximação do Homem para D-us pelo Trabalho e a
Obediência à Lei; isto exige as oferendas e os holocaustos, ou no Judaísmo (tal como
se desenvolveu após a destruição do Templo), os sacrifícios pessoais. O Elo Místico
é O Desejo de Consagrar a Vida ao Estudo das Coisas Divinas. O Pensamento se
dirige para a Atividade Terrestre segundo o Exemplo dos Justos. Na Ordem Moral, é
A Bondade Divina. Na Ordem Física, é A Perpetuação pela Reprodução. Na Ordem
Humana, é O Justo, ou, em termos modernos, O Postulante ou O Aspirante (uma
linha iniciática emprega a palavra “Neófito”).
cuja significação é A Força Moral. A personificação é Adão, com quem o Eterno fez
aliança com toda a humanidade. Sua operação em Imanência é a vibração do alto de
A Compreensão da Causa das Causas. Notemos que, desde a Décima Primeira Via,
as operações se relacionam com o Mundo Manifestado. Seu símbolo geométrico é a
Pirâmide Estrelada, que é construída por um losango inscrito perpendicularmente
no hexágono de uma estrela de cinco pontas. Sua experiência Espiritual é A Visão
do Véu. Seu Impulso Místico é de Ver o Eterno na Criação. O pensamento se dirige
para A Causalidade. Na Ordem Moral é a Causa das Causas. Na Ordem Física é a
Causa. Na Ordem Humana é o Teólogo. No Alfabeto Criptográfico de Ain Becar,
é a Posição I com um ponto.
L, U, I, C etc. sem pontos; Malkuth por um quadrado (como Geburah), com
um pequeno quadrado no centro. As letras estão representadas pelos mesmos qua
drados, mas com um, dois ou três pontos aqui indicados, segundo a letra.
A Tabela de Ain Becar forma um alfabeto oculto das Trinta e Duas Vias da
Sabedoria. Esta Tabela consiste de uma grade de nove espaços formados de duas
linhas paralelas horizontais que cruzam duas linhas verticais de modo que as quatro
linhas sejam divididas em três partes iguais. As Posições I a IX vão de esquerda
à direita horizontalmente, começando pela linha do alto. Sem ponto, estas nove
posições indicam as nove primeiras Sephiroth. Malkuth está indicado por um
pequeno quadrado no meio do quadrado central. As letras Aleph a Teth ocupam
as nove posições com um ponto, as letras Yod a Tzaddi, as nove posições com dois
pontos, as letras Qoph a Tau, as Posições I, II, III e IV com três pontos; as últimas
cinco posições com três pontos são ocupadas pelas cinco letras finais.
A Décima Quarta Via. O Nome desta Via é A Inteligência Santa (também cha
mada A Razão Esclarecedora), tendo por título o Mestre dos Mistérios. “É a Instrutora
dos Arcanos, o fundamento da Santidade”. Seu ponto de partida é Chokmah, seu ponto
de chegada é Binah, assim no domínio do Triângulo Supremo, ela une o Pai Cósmico à
Mãe Cósmica, subindo a escada da prece (portanto de Binah à Chokmah) é dito: “As 50
242 | Secretum - Manual Prático de Kabbala Teúrgica
Portas da Luz abrem as 32 Vias da Sabedoria”. O Nome da Invocação é Diah, “D-us das
Portas da Luz”. Esta Via é atribuída à letra Daleth, sobre os dois planos, cuja aplicação
é uma Porta ou A Matriz. Seu simbolismo está aliado com o Quatorze em Atziluth.
O Infinito; em Briah, o Incomensurável; em Yetzirah, A Transformação, em Assiah,
A Experiência. A Personificação é Noé, durante a vida do qual patriarca a Terra foi
transformada pelo Dilúvio. Sua Operação em Imanência é A relação Recíproca entre
a Divindade e a Humanidade. Seu simbolismo geométrico é O Equilíbrio Solis-Lunae,
composto de uma dupla série de sete círculos emaranhados, os dois menores se tocan
do, os dois maiores tocam a circunferência oposta do círculo oposto. Sua Experiência
Espiritual é A Aceitação sobre o Plano Espiritual das Provas sofridas sobre a Terra. Seu
Impulso Místico é A Oferenda da Experiência. O Pensamento se dirige para A Lei da
Conservação da Energia. Na Ordem Moral, é Matrona, a senhora dos Nascimentos.
Na Ordem Física, é o Nascimento Individual. Na Ordem Humana, é o Pai. No alfabeto
criptográfico de Ain Becar, é a Posição IV com um ponto.
exteriores (de cinco pontos cada uma) são juntas por uma linha para formar um
triângulo exterior; as três do meio são juntas para formar o triângulo interior. Sua
Experiência Espiritual é A Utilização dos Obstáculos para o progresso. Seu Impulso
Místico é O Arrependimento. O Pensamento se dirige para A Reparação. Na Ordem
Moral é O Espírito Divino que vence as trevas. Na Ordem Física, é A Eliminação.
Na Ordem Humana é A Penitência. No alfabeto criptográfico de Ain Becar, é a
Posição V com um ponto.
Bem. O Pensamento se dirige para O Livro Arbítrio. Na Ordem Moral, é A Luz so
bre o Caminho. Na Ordem Física é A Independência de todas as coisas. Na Ordem
Humana é O Homem Livre. No alfabeto Ain Becar é A Posição I com dois pontos.
Letras, formada por um triângulo (as pontas não fechadas, melhor de três linhas
em forma de triângulo) tendo as sete letras do alfabeto sobre a diagonal de direita,
as oito letras seguintes (Yod excluído) sobre a base, e as últimas sete letras sobre a
linha diagonal da esquerda; Yod, a letra arquitetônica está inscrita no meio. A Ex
periência Espiritual é O Sentido de Perdão. O Impulso Místico é A Necessidade de
Perdão. O Pensamento se dirige para O Exame de Consciência. Na Ordem Moral,
é A Contrição. Na Ordem Física, é A Mudança de Direção. Na Ordem Humana,
é O Fiel. No alfabeto criptográfico de Ain Becar, é a Posição III com dois pontos.
da formação dos seres dos Céus e a Vigésima Oitava Via está em relação com sua
natureza. Aquele que trabalha estas Vias deve observar a distinção. O ponto de
partida desta Via é Netzach (domínio dos altos elementais), o ponto de chegada é
Yesod (domínio dos elementais e dos espíritos); subindo a Escada da Prece, é dito:
“Pelos sonhos de Yesod chega-se às visões de Netzach”. O Nome de Invocação é
Tziah, D-us Animador. Esta Via é atribuída à letra Tzaddi sobre os dois planos, cuja
aplicação é a nutrição. Seu simbolismo está aliado com o Vinte E Oito; em Atziluth,
O Apoio; em Briah, O Princípio do Apoio Mútuo; em Yetzirah, A Interdependên
cia das Entidades Materiais; em Assiah, A Manutenção pelo Eterno de tudo o que
vive em todos os Mundos. A Personificação é com Simeon (uma das Doze Tribos),
mas a exegese pela Gematria é complicada e não nos dá nenhuma interpretação de
valor. Sua Operação em Imanência é A Harmonia dos Seres Celestes e Terrestres. O
simbolismo geométrico é Os Dois Círculos Iguais, com a estrela de oito pontas na
dupla ogiva. A Experiência Espiritual é A Associação com as Entidades Celestes e os
Espíritos Animados por D-us. O Impulso Místico é A Participação no Coro Seráfico.
O Pensamento se dirige para O Despertar do Subconsciente. Na Ordem Moral, é
As Hierarquias. Na Ordem Física, é os Mundos Elementais. Na Ordem Humana,
é O dente Esclarecido. No alfabeto de Ain Becar é a Posição IX com dois pontos.
com a Realização que cada ser criado tem sua razão de ser e de dever. O Impulso
Místico é A Bondade para com todo ser vivente. O Pensamento se dirige para O
Hylozoismo. Na Ordem Moral, é A Divindade em tudo; na Ordem Física, é A To
talidade dos Organismos; no homem é o Biologista ou o Sábio. No alfabeto de Ain
Becar, é A Posição I, com três pontos.
17. A razão preparatória guia para a fé e assim prepara a recepção pelo fervor do
espírito santo.
18. A razão ou a casa da abundância oferece a explicação dos mistérios e do sentido
oculto das coisas.
19. A razão do mistério é a revelação dos segredos da natureza.
20. A razão do livre arbítrio ensina a todos os seres o sentimento da existência da
Sabedoria suprema.
21. A razão provocadora do investigador recebe as diretrizes do Princípio que
irradia sobre os investigadores julgados dignos.
22. A razão da fidelidade concentra qualidades espirituais, aumentando a medida
que são aceitas pelo homem.
23. A razão estável é a causa da constância das Sephiroth.
24. A razão da imaginação dá a similitude das coisas cumpridas, segundo o modelo.
25. A razão da prova é a primeira tentação pelo meio da qual o homem é provado.
26. A razão da renovação é por onde são renovadas todas as coisas da criação.
27. A razão excitante cria os princípios dos diversos movimentos de todas as
formas criadas (ritmo, vibração).
28. A razão natural, que termina e melhora a criação do sistema solar.
29. A razão corporal que compõe todo corpo nas diferentes órbitas e governa seu
crescimento.
30. A razão coletiva é de onde a Astrologia extrai seu juízo sobre os astros e suas
influências.
31. A razão ininterrupta governa o movimento dos dois luminares no mundo
com suas respectivas forças de gravidade.
32. A razão auxiliar governa os movimentos dos sete planetas com suas qualidades
respectivas.
O que precede é uma breve exposição das duas partes essenciais da Kabbala
Prática. Trabalhando sobre essas questões, os Kabbalistas chegam a predições ines
peradas e de um alto valor espiritual.
Helvécio de Resende Urbano Júnior | 255
1
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Sephiroth Planeta Imagem Mágica Virtude Vício
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Física
Primeiros Rei barbudo de
1- Kether Crânio Ponto, suástica Logro
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Lado esquerdo do
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Zodíaco Falo, linha reta Devoção
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cada um em sua devida trajetória.
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espada carro
260 | Secretum - Manual Prático de Kabbala Teúrgica
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menino trabalho
Dorso, quadris, Rosa, lâmpada e Formosa mulher
7- Netzah Vénus Generosidade Luxúria
pernas cintura nua
Nomes, versículos Falta de
8- Hod Mercúrio Dorso, pernas Hermafrodita Veracidade
e avental honradez
Aparelho Perfumes,, Homem nu
o
Lua Independência Ociosidade
Ch
■O
Reprodutor sandálias formoso
</>
Caminho 32 - (Vincula Yesoã a Malkuth)
Mulher jovem,
Terra 4 Cruz de braços
10-Malkuth Pés, anus coroada e Discriminação Inércia
elementos iguais
entronada
Quadro de correspondência da Árvore da Vida
“O caminho Trinta e Dois é a Inteligência Administrativa e assim se chama
porque dirige e associa aos sete planetas em todas suas operações, os nivelando a
CAPÍTULO VI
As Chaves da
Arvore da Vida
Todo aquele que aspire a ser um Mago, deve compreender o seguinte ensinamento:
“O reino de D-us está dentro de ti, e em todas as coisas ao seu redor; não
em edifícios de madeira e pedra. Parta uma madeira e me encontrarás
dentro, levanta uma pedra e ali estarei...”
Pergaminho de Nag Hamadi
I 261 |
262 | Secretum - Manual Prático de Kabbala Teúrgica
Vimos na Bíblia que o Eterno que protegia o povo eleito chamava-se Jehovah,
este é um dos Nomes de Binah, da Kabbalística Árvore da Vida, a sephirah que
preside a formação do Universo material. É necessário que nos dediquemos a es
tudar esse nome, porque representa um conjunto de forças através das quais se tem
instituído tudo que foi criado. Desvela uma das principais chaves para compreender
o desenvolvimento de nosso Universo, já que ela delimita os tempos aos quais está
sujeito qualquer movimento da Terra.
O nome Jehovah é composto de quatro letras do código hebraico (com ele a
Bíblia foi escrita): o Yod, o He, o Vau e um segundo He. Cada uma dessas letras
representa uma força ativa num determinado período, tanto no que se refere à
Criação como em nosso cotidiano terrestre em particular.
O Yod representa a semente, a potencialidade que cada coisa deve ter se preten
der ser portadora de algo. Representa o Pai, o gérmen de Tudo, a semente humana,
o impulso fundamental, a Vontade, o ponto de partida. É a décima letra, do alfabeto
Helvécio de Resende Urbano Júnior | 265
O ciclo zodiacal:
Os signos do Fogo (Áries, Leão e Sagitário) serão signos de Yod.
Os signos da Água (Câncer, Escorpião e Peixes) serão signos de He.
Os signos do Ar (Libra, Aquário e Gêmeos) serão signos de Vau.
E finalmente os signos da Terra (Capricórnio, Touro e Virgem) serão signos do
segundo He.
No interior de cada um dos elementos, Áries será o Yod do ciclo, Leão o He e Sagi
tário o Vau. Em Água: Câncer será o Yod, Escorpião o He e Peixes o Vau. Na Terra:
Capricórnio será o Yod, Touro o He e Virgem o Vau.
Assim teremos:
Signos Yod: Áries, Câncer, Libra e Capricórnio.
Signos He: Leão, Escorpião, Aquário e Touro.
Signos Vau: Sagitário, Peixes, Gêmeos e Virgem.
No jogo do Taro e nos Arcanos Menores: o paus em Yod, as copas em He, as espa
das em Vau e os ouros o segundo He. Nas figuras: os reis o Yod, as rainhas o He, os
valetes o Vau as damas o segundo He.
No ciclo da vida:
de 0 a 21 anos é período Yod;
de 21 a 42 anos, período He;
de 42 a 63 anos, período Vau, e
de 63 a 84 anos, período segundo He.
No ciclo anual:
a primavera é o Yod,
o Verão o He,
o Outono o Vau, e
o Inverno o segundo He.
Helvécio de Resende Urbano Júnior | 269
Qualquer ciclo de atividade que seja objeto de estudo, qualquer trabalho, jogo,
lapso de tempo que tenhamos de viver, está submetido à ação dessas quatro forças,
de maneira que dividindo entre quatro o tempo de duração do assunto teremos
como resultado o lapso de tempo regido pelo Yod, o He, o Vau e o segundo He.
O Nome de Jehovah expressa a chave da construção do Universo. Tudo foi
realizado nesses quatro tempos, e se em nossas ações humanas respeitarmos esse
paradigma, se deixarmos que em nossos assuntos transcorram esses quatro tempos,
nossas obras serão tão sólidas como as do Universo. Antes, a Lei se encontrava inte
riorizada nos costumes dos noivos que aguardavam três anos para casar-se, um para
o Yod, àquele em que o enamorado conhecia uma ação inconsciente sobre a amada
sem revelar-lhe seus sentimentos; um para o He, no qual seus sentimentos eram
desvelados; um para o Vau, no qual se procedia a um ensaio de vida comum, e outro
para o segundo He, no qual se formalizava a união. Na Antiguidade os Aprendizes
esperavam três anos para ser oficiais, etc. Atualmente tudo se faz aceleradamente
sem respeitar os preceitos dos mestres passados, e haja vista que tudo se deformou,
perdendo a qualidade na formação dos nossos Obreiros.
270 | Secretum - Manual Prático de Kabbala Teúrgica
O Nome
“Cada coisa tem um nome que lhe é próprio e que lhe convêm por natureza.
Esse nome não é um símbolo convencional firmado por sons articulados,
e sim que apresenta uma propriedade de termos naturais que identifica ao
ser ou ao objeto nomeado”
Platão
Conhecer o nome de uma coisa é conhecer a coisa em si. Esta afirmação não
é nova para o leitor de obras como esta, onde temos mostrado a maneira como os
Antigos articulavam com as letras e o valor que lhes davam, pois sabiam que tudo
no Universo tinha uma tríplice importância, ou seja, o literal, o figurado e secreto.
É importante lembrar que em nossas línguas, puramente fonéticas, as maiores
partes das denominações das coisas foram perdidas; toda significação construtiva
e somente apresentam uma reunião de sonidos convencionais. As palavras com
postas derivadas de raízes gregas ou latinas, tais como: automóvel (movimento
por si mesmo), aeroplano (que se sustenta no ar), hidroterapia, etc., representam
uma tentativa de composição de um nome segundo seus elementos construtivos.
Porém, os sábios da Antiguidade, aqueles que possuíam o conhecimento da
língua sagrada e que era formada por 22 letras, correspondentes as 22 forças da cria
ção, compunham os nomes das coisas de uma maneira que correspondia exatamente
a uma combinação determinada de forças para criar a manifestação em questão.
Vemos aqui a importância que atribuíam ao estudo do nome. Naturalmente,
era preciso compreender, em primeiro lugar, a composição do nome de D-us, prin
cípio de toda manifestação no mundo criado e cujo reflexo se encontra em todas
as coisas. Estamos, mais uma vez, nos referindo ao nome sagrado e misterioso do
Tetragrammaton. Em nossas obras precedentes abordamos esse assunto, de forma
teórica e de maneira prática, dada a importância que entendemos ser este assunto
para o leitor que deseja conhecer os mistérios da Kabbala. Sabe-se que cada uma
das 22 letras está coroada por um nome Divino, nome que expressa uma faculdade
e particular característica de uma manifestação determinada. Com o propósito de
dar uma ideia da composição de um nome em geral, vou expor brevemente como
está constituído cada nome Divino relacionado com cada uma das 22 letras.
Para começar, tomemos os nomes mais simples que servem de terminação
para os 72 nomes desenvolvidos pela Shem hammephorasch. Quero falar de Yah e
El. O primeiro está composto por duas letras: Yod, princípio ativo, fonte misteriosa
Helvécio de Resende Urbano Júnior | 271
Terceiro nome, relacionado com Guimel: Ghedul, que, procedendo como des
crito anteriormente, dará a chave para letra Vau, situada entre Daleth, manifestação
no quaternário, vida física, e Lamed, prova suprema, sacrifício, por meio do qual o
homem pode libertar-se da matéria. Por outro lado, Vau, situada no nome em relação
com a terceira letra e junto a quarta (Daleth) constitui a união-separação do ternário
e do quaternário, a passagem de IEV ao IEVE. Finalmente, tomando a raiz Dul, como
tal, se obtêm o significado de dor, angústia, que sente o ser perfeito do ternário ao
submergir-se no quaternário com vistas ao sacrifício. Um se recorda da dor sentida
pelo Jesus Cristo ante a proximidade da morte, quando dizia: “Senhor, afaste de mim
este cálice de amargura”. Neste sentido de dor e tristeza próprio da raiz tem conservado
em diferentes línguas da atualidade: “dulf triste, em inglês; “dolor” em espanhol, etc.
É na agústia do ser ante a encarnação, quando sabe que irá submergir-se nos sofri
mentos e as seduções da matéria e ignora se sairá dela vencedor.
Quarto nome, relacionado com Daleth: Dagul, cuja chave é a mesma letra
Vau, situada entre Guimel, a terceira, e Lamed. Como vimos no terceiro nome, este,
por analogia, está construído da mesma maneira; e, assim, une o quaternária-ma
nifestação com o ternário, o IEVE, com o IEV. A raiz Gul expressa a evolução, a
liberação do quaternário, a promessa, para o ser fundido na agústia do quaternário,
de poder retomar a paz e a felicidade do ternário.
Sexto nome: Vezio, cuja letra chave é Yod-Vau, a qual está unida na letra Zayin
para demonstrar à continuidade do desenvolvimento da manifestação, porque por
esta letra ele se unirá a letra seguinte. Como raiz, Zayin, Yod, Vau, dá uma ideia do
corpo que revive, de vida animal, de ser que reflete a luz da vida.
Helvécio de Resende Urbano Júnior | 273
Oitavo nome: Hésid, cuja chave também é Yod situada entre Samekh, o mal
que desenvolve na manifestação do quaternário Daleth pelo homem e que o funde
no mais profundo da matéria. A raiz Sid expressa uma curvatura que o encarnado
seguiu em sua involução (Queda), que o levou conduzindo-o até ao mais profundo
lugar de trevas, leva também em si a esperança de um retorno evolutivo até a luz.
É a promessa formulada ao homem depois do pecado original: “O fruto (Nun) da
mulher (Mem) pisoteará a cabeça da serpente (Samekh)” (Gênesis).
Nono nome: Techor tem como chave a letra He e como terminação Resch,
cuja explicação já demos no segundo nome. A raiz He-Resch expressa toda classe
de acrescentamentos. No sentido abstrato, é o desenvolvimento da raiz precedente:
o homem, a seguir a curva da involução (Queda), acrescenta o mal. Põem, para
restabelecer o equilíbrio, deverá acrescentar assim mesmo o bem no curso de
sua evolução.
Décimo nome: Yah, cuja chave é He. Mais acima explicamos o significado desse
nome que conduz a última letra dos dez princípios para a Unidade. Aqui termina
o primeiro grupo de letras chamadas Sephiróticas ou do Princípio.
Vimos que nas chaves desse grupo está cada letra do nome IEV que se repete
quatro vezes. Tem quatro Yod, quatro He e quatro Vau, o qual dá movimento, isto
é, manifestação do Ternário no Quaternário.
Décimo quarto nome: Nora, cuja chave é a mesma que a precedente, e que
precisa aquilo que foi dito para a letra Mem: é o fruto da união cujo signo é Vau, que
recebe a benção do princípio Aleph. Ê a vida separada desse filho do homem saído
da União, ou, em outras palavras, é o resultado do trabalho do homem, resultado
objetivamente julgado por ele mesmo.
Décimo quinto nome: Somek, cuja chave é a letra Mem, no sentido de matéria
-princípio indispensável para a manifestação física. Esta matéria leva em si o germe
do mal ao que está ligada por Vau. Por outro lado, também pode ser formada no
molde Kaph. A raiz que sai daí expressa, por um lado, a dependência a respeito da
matéria; e, por outro lado, sua plasticidade, sua submissão, e a escolha dependem
do livre arbítrio do homem.
Décimo sexto nome: Azaz, cuja chave é a letra Zayn, que expressa um movi
mento orientado para um fim. A repetição da mesma letra como terminação forma
uma raiz que expressa uma vibração, uma refração. No último nome do grupo onde
se refrata o Nome Sagrado na segunda ordem de inserção.
Décimo sétimo nome: Phode, cuja chave é a letra Daleth. A raiz dupla que
surge é, em parte, a satisfação, a suficiência, que continua o primeiro significado.
Décimo oitavo nome: Tzadek, cuja chave é a mesma (D), a raiz DK é muito
curiosa, porque expressa o estado temporal da matéria, a instabilidade da felicidade
terrestre, a fratura, a ruptura, a perda, etc.
Décimo nono nome: Kodesh, cuja chave é a mesma (D). A raiz DSH expressa
a ideia de vegetação, de propagação Elemental.
Vigésimo primeiro nome: Schaday (chave D). A raiz Dl dá uma ideia de força
emanada do princípio que, penetrando no quaternário, o orienta para a evolução
predestinada; daí a alegria da liberação próxima.
Vigésimo segundo nome: Techinah, cuja chave é a letra Nun, fruto do trabalho
do homem no campo da vida, Resh iluminada pelo sopro divino He. Destaquemos
que os dois últimos nomes terminam, o primeiro com um Yod, e o segundo com
um He, o que nos dá uma vez mais o nome Yah, que está ligado ao décimo nome, o
do retorno da Unidade-Princípio. A raiz Chenh tem um duplo significado. Por um
lado, é a existência individual e particular do homem, cujo símbolo é a letra Tau; por
outro, é a graça prometida e acordada ao homem depois das tentações do pecado
e o trabalho com “pena e suor” na matéria para recuperar o paraíso perdido, que
Tau (fim do ciclo) expressa por meio de um número que não pode ser senão o zero.
Desta forma apresentamos, mesmo que de forma superficial, uma ideia geral
da composição de um Nome e sua adaptação a uma letra que não se limita necessa
riamente a que comece com a letra a que está relacionado. Ao estudar a composição
de cada um desses nomes, se obtêm luzes que se projetam na direção do quadro
esotérico das letras do alfabeto como também nas forças criadoras da natureza.
Os 72 nomes da Shem hammephorasch podem ser estudados da mesma ma
neira para se obter desses ensinamentos relações com a natureza das forças que
reinam sobre cada quinário do círculo zodiacal.
Recomendamos especialmente este estudo àqueles que se interessam pela
Astrologia e querem praticar a medicina hermética. O que compreende a disposição
dos nomes da Shem hammephorasch se chama Baal-Schem, o qual possui o nome
revelado, porque se diz na Escritura: “Meu anjo marchará diante de ti; olha-o, porque
leva sobre ele meu grande Nome”
Para “possuir” o nome do anjo ou de um daimon relacionado com um planeta
ou aquele que rege as horas, etc., se utiliza o mesmo procedimento.
Finalmente, para definir a individualidade de um encarnado é indispensável
“possuir” seu nome. Este se relaciona com a Astrologia (em Ocultismo, o mago
que não conhece a astrologia é cego) onomântica. Porém, como se diz, para se
compreender a natureza de um homem e conhecer os acontecimentos de sua vida,
é preciso trocar os dados obtidos mediante o estudo do tema natal com aqueles
276 | Secretum - Manual Prático de Kabbala Teúrgica
Tsaphkiel, a Contemplação
Binah ARALIM Tronos Satariel
de D-us
Sandolphon, é a 29 face de
Malkuth Lilith
Metatrom
Helvécio de Resende Urbano Júnior | 279
Sobre os Arquidiabos
• Thaumiek o que quis ser igual a D-us, também tem o nome de Satanás ou Moloch
• Chaigidiel, o que desvia a influência de D-us
• Satariel, o que transforma a misericórdia de D-us
• Gamchicoth, o Demônio que enleia todas as coisas
• Golab, o Demônio incendiário
• Tagarini, o Demônio da guerra
• Harab Serap, o Demônio do fracasso
• Samael, o Demônio da confusão
• Gamaliel, o Demônio da obscenidade
• Lilith, o Demônio da impureza
Portanto, deve entender-se que os planetas têm seu domínio sobre o dia que
lhe é atribuído. Por exemplo: Saturno sobre o Sábado; Júpiter sobre quinta-feira;
Marte sobre terça-feira; o Sol sobre Domingo; Vénus sobre sexta-feira; Mercúrio
sobre quarta-feira e a Lua sobre a segunda-feira.
Os planetas regem sobre cada hora começando na queda do Sol e terminando
a saída no dia em que toma o nome de tal planeta que lhe segue na ordem rege sobre
a hora seguinte. Desta maneira no sábado a primeira hora é regida por Saturno, en
quanto a segunda hora é regida por Júpiter, a terceira por Marte, a quarta pelo Sol, a
quinta por Vénus, a sexta por Mercúrio e a sétima pela Lua, e Saturno volta a reger a
oitava e os outros na mesma ordem novamente, mantendo sempre esta mesma ordem.
Deve-se notar que cada experimento ou operação mágica deve acontecer sob
o planeta e geralmente sob a hora que se relaciona com tal operação; por exemplo:
Os dias e horas de Saturno podem levar a efeito experimentos para invocar
as almas do Hades (em grego antigo ASqç, transi. Hádês), na mitologia grega, é o
deus do Mundo Inferior e dos mortos), porém, somente aquelas que tenham tido o
morto uma morte natural. Também nestes dias e horas se pode operar para atrair
boa ou má fortuna. Para ter espíritos familiares que cuidem do sono, para causar
êxito ou fracasso nos negócios, empossar propriedades, bens, sementes, frutas
e coisas similares e para adquirir conhecimento, para atrair destruição e causar
morte, e para semear ódio e discórdia. Os dias e horas de Júpiter são próprios para
obter honras e adquirir riquezas, fazer amizade, preservar a saúde e conseguir tudo
aquilo que se deseja.
Os dias e horas de Marte se pode levar a cabo operações concernentes a
guerra, lograr honrar militares, adquirir valores, vencer inimigos, causar ruínas,
assassinatos, crueldade, discórdia, ferir e causar morte.
Os dias e horas do Sol são muito bons para levar a cabo operações relacio
nadas com o bem-estar mundano, esperança, benefícios, fortuna, adivinhações,
obter favores de príncipes, dissolverem sentimentos hostis e conseguir amizades.
Os dias e horas de Vénus são bons para fazer amizades, para o amor, para
feitos joviais agradáveis, e também para viagens.
Os dias e horas de Mercúrio são bons para operações de oratória e inteligência,
diligência nos negócios, ciência e adivinhação, maravilhas, aparições e perguntas
relacionadas com o futuro. Também se pode operar sob este planeta em coisas como
roubo, escritos, mercadorias, etc.
Os dias e horas da Luz são bons para embaixadas, viagens, envios, mensagens,
navegação, reconciliações, amor e aquisições de mercadorias por água.
Helvécio de Resende Urbano Júnior | 281
21/04-20/05
9 e Firmeza, Produtividade e
Rodocrosita
Fertilidade
Câncer Sensibilidade.
Lua Emotividade. Instinto Opala Pedra
Água Prata Branco
21/06-21/07
D Maternal, União Familiar, da-Lua
Vida Psíquica Profunda.
Força do Ego, Soberania.
Sol Autoconfiança, Diamante
Leão Fogo Ouro Laranja
22/07-22/08 O Refinamento, Bondade e Citrino
Proteção.
Inteligência Ativamente
Virgem
Lógica e Racional,
Mercúrio Turquesa
Ml $
Terra Precisão e Meticulosidade,
Amazonita
Mercúrio Cinza
Clareza e Objetividade,
23/08-22/09
Apoio e Generosidade.
Escorpião Criatividade,
Plutão
Regeneração, Intuição e Topázio
Marte Água Feno Escarlate
¥ Mistério, Sexualidade, Granada
23/10-21/11 Busca da Fusão.
Honestidade e Coragem,
Sagitário
Magnanimidade,
Júpiter Lápis-Lazúli
Fogo Generosidade, Capacidade Estanho Azul-Anil
w
22/11-21/12
4 de Ensinar e Julgar, Busca
Sodalita
da Verdade.
Capricórnio
Sabedoria, Prudência, Ônix
Saturno
Terra Autodisciplina, Turmalina- Chumbo Preto
& í Persistências, Realização Verde
22/12-20/01
Altruísmo, Imaginação
Netuno Ampla, Intensas
Fluorita
Peixes Júpiter Água Aspirações Espirituais, Alumínio Verde-Mar
Ametista
21/01-19/02 ¥2- Intuição Desenvolvida,
Amor Universal.
282 | Secretum - Manual Prático de Kabbala Teúrgica
Óleos Essenciais,
Instrumentos Mágicos
I 285 |
286 | Secretum - Manual Prático de Kabbala Teúrgica
criar uma aura mágica, como uma espécie de nuvem sútil de uma fragrância muito
personalizada, com a qual te identifiquem sempre. Este perfume que te envolve,
que te preceda sempre que chegues a algum lugar.
Uma vez de posse desta aura, as pessoas do sexo oposto te cercarão a ficarão
atraídos por teu perfume, mesmo que não se proponham, porque o ambiente ao teu
redor se tornará sensual, misterioso, atraente e não poderão diminuir a influência
deste fator embriagante e sútil.
Criar a aura mágica é uma arte que utilizaram as cortesãs gregas e romanas
para conquistar seus pares. Contam-se que chegaram ao extremo de perfumarem-se
todas com óleos, até formar uma nuvem vibracional ao seu redor, impregnando a
habitação e todos os objetos ali presentes.
Jasmim Folhas Libera a energia para realizar-se. Dispersar ao vento a erva em pó.
Parte superior da Para cortar ciúmes, inveja e mur Preparar infusão e regar a habita
Urtiga
planta murações. ção e as pessoas envolvidas.
O segredo de criar uma atmosfera única e deixar um rastro de teu passo, sejas
homem ou mulher, é perfumar-se em camadas. Trata-se de uma técnica muito
popular na Europa, em especial na França, é um ritual especial, a medida do que
se transcorre durante do dia depois de perfumar-se, ao desvanecer-se a capa de
perfume, imediatamente surge a outra camada, assim terá uma nuvem sutil e con
tínua ao teu redor, que te manterá perfumado todo o tempo, o segredo é retocar-se
várias vezes ao dia.
Helvécio de Resende Urbano Júnior | 289
Água Mar Lance a flor no mar e peça o que deseja materializar na sua vida.
Exercícios Práticos
Preparação respiratória
Antes de fazer os exercícios Kabbalísticos a seguir, o estudante deverá fazer a
prática respiratória que descreveremos abaixo, para que esteja receptivo e preparado
para os exercícios que disponibilizaremos adiante.
Sente-se em posição confortável, de frente para o Sol nascente, cerre os olhos,
e calmamente respire profundamente, por oito vezes...
Agora você irá fazer respirações da seguinte forma:
Coloque os dedos polegar e indicador da mão direita sobre as narinas e co
mece respirando pela narina esquerda e solte o ar pela narina direita, com calma,
sem pressa... repita esta operação! Respirando pela narina esquerda e soltando o
ar pela narina direita.
Repita por um total de oito vezes, calmamente.
Depois de terminada esta série inverta o procedimento, isto é: ainda com
os dois dedos sobre as narinas, respire pela narina direita e solte o ar pela narina
esquerda, por oito vezes. Com calma, vagarosamente.
Depois de terminado este exercício, visualize uma imagem de sua escolha,
com tudo aquilo que você verdadeiramente quer realizar e construa um Mantra,
criado por você mesmo (uma frase sintética que contenha tudo que você precisa
para suplicar ao “deus do teu coração e da tua compreensão”), e repita este Mantra
com os olhos fechados até ter vontade de parar... Depois de alguns segundos abra
os olhos calmamente. Sinta-se forte, realizado, e determinado a vencer toda e
qualquer dificuldade.
Sinta-se feliz a alegre, independente de qualquer coisa ou situação.
Exemplo de um Mantra: "Minha vida flui, pois eu e D-us somos um. Meu cérebro
leva luz a todo meu organismo... raios de luz curadora e restauradora do meu corpo.”
Siga sempre com o otimismo e a certeza do seu objetivo rondando seus pensa
mentos e já vendo tudo isto na forma passada realizada. Veja sua forma física com
saúde, alegria e prosperidade. Nunca perca de sua visão os conceitos que o levarão
a vitória e a realização de sua Vontade.
dos equinócios, ou seja, o número de anos que o Sol gasta para percorrer todo o
zodíaco, começando no Ponto Vernal.
A força de atração do imã está no fato de que suas moléculas estão todas
orientadas num só sentido.
A respiração rítmica completa tende a orientar uniforme e devidamente as
moléculas do corpo, transformando-nos em potentes imãs, verdadeiros centros de
atração das forças benéficas e acumuladoras de energia e saúde.
As energias positivas, negativas e neutras assimiladas inconscientemente
durante o processo respiratório comum, são importantíssimas para o organismo
humano. Estas energias são captadas por intermédio de uma das ações do nervo
trigêmeo (5o par de nervos cerebrais - o mais grosso e volumoso) do qual procedem
3 ramais principais, conhecidos como:
a. nervo oftálmico (com o gânglio ciliar)
b. nervo maxilar superior (com o gânglio esfenopalatino)
c. nervo maxilar inferior (com os gânglios ótico e submaxilar)
Svara
Quinzena Luminosa Quinzena Luminosa
Respiração através da narina esquerda a saída do Sol. Respiração pela narina direita a saída do Sol.
Respiração através da narina direita a saída do Sol. Respiração pela narina esquerda a saída do Sol.
Observar:
1) No Almanaque do Pensamento, o dia de duração de cada Lua.
2) Que a Lua ao entrar em signos ímpares, a respiração passa à direita, se já não estiver
ali; e passa para a esquerda quando entra em signos pares, da mesma forma.
Observações importantes:
As Sephiroth e suas
correspondências planetárias
1. Kether corresponde a Netuno
2. Chokmah corresponde a Urano
3. Binah corresponde a Saturno
4. Chesed corresponde a Júpiter
5. Geburah corresponde a Marte
6. Tiphereth corresponde ao Sol
7. Netzah corresponde a Vénus
8. Hod corresponde a Mercúrio
9. Yesod corresponde a Lua
10. Malkuth corresponde a Terra
Helvécio de Resende Urbano Júnior | 305
Kether, derrama sobre mim, Pai eterno, o fogo de tua vontade, para que queime
em mim os desígnios que me separam de tua órbita. Faz com que tua vontade e a
minha se fundam e se sincronizem pelo bem da jornada que inicia.
Chokmah, que a fonte de teu divino amor derrame as águas puras em minha
costa direita, dando a minha direita o poder de infundir saúde, e que todo aquele que
em minha mão tocar se converta em objeto de amor.
Binah, mãe do mundo, derrama sobre minha costa esquerda a força coaguladora
que torna as coisas consistentes e duradouras, de maneira que apareça nelas o sentido,
a lição que há de permitir que eu compreenda.
Chesed, de ti espero bondade que há de transformar o mal em bem. Dê-me
poderes, Senhor, para adocicara vida daqueles que estão próximo de mim e ajuda-me
a levá-los para o caminho da alegria e do otimismo.
Geburah, faz de mim o braço justo, ajuda-me a ser quem restitua a verdade
aos que caíram no erro, aquele que poderá ensinar os trabalhos que conduziram as
almas da fonte de tua justiça.
Tiphereth, permita que minha alma alcance a contemplação da unidade. Que
meus corpos encontrem o caminho para integrar deforma harmônica as correntes da
direita e as da esquerda. Que de mim se desprenda a suprema harmonia.
Netzah, de ti espero que embeleças minha vida e que tua harmonia impregne
minha alma, e impregne-as em palavras e gestos. Dai-me, Senhor, o dom de comunicar
com meus semelhantes com delicadeza.
Hod, te peço, Senhor, que me concedas a faculdade de poder expressar a palavra
justa. Quero ser, com tua ajuda, o anunciador da lei, aquele que percebe o caminho e
o revela aos peregrinos. Ponha em mim a alma que desejo de ter como um exemplo.
Yesod, espero que me ajudes e que meus impulsos se expressem com força, para
que meus irmãos compreendam o sentido de meus atos, sem que com isso possa com
ele fomentar a dúvida ou a ambiguidade.
Malkuth, tu que transporta sobre teu dorso o reino material, tu que nos permite
sustentar a aprisionar a vida divina, receba minha gratidão, meu amor, e a promessa
de acordar com meus esforços no tempo em que fique por viver aprisionado na Terra.
Amém (Aleph - Mem - Nun).
306 | Secretum - Manual Prático de Kabbala Teúrgica
proteção, que corra tudo em paz e que ele tenha pleno sucesso em seus trabalhos,
e que retorne com saúde, feliz e em paz.”
Os Nomes Divinos,
As palavras de poder na Árvore da Vida
Sephirah Nome de D-us Arcanjo Ordem dos Anjos
Salmo 51
Ao mestre do canto um “Salmo de Davi” para o músico-mor, quando o profeta
Natã veio a ele, depois dele ter possuído a Bat-Shéva. Tem misericórdia de mim, ó
D-us, segundo a tua benignidade; apaga as minhas transgressões, segundo a mul
tidão das tuas misericórdias.
1. D-us de nossos pais, e Senhor de misericórdia, que todas as coisas criastes pela
vossa palavra,
2. e que, por vossa sabedoria, formastes o homem para ser o senhor de todas as
vossas criaturas,
3. governar o mundo na santidade e na justiça, e proferir seu julgamento na retidão
de sua alma,
4. dai-me a Sabedoria que partilha do vosso trono, e não me rejeiteis como indigno
de ser um de vossos filhos.
5. Sou, com efeito, vosso servo e filho de vossa serva, um homem fraco, cuja exis
tência é breve, incapaz de compreender vosso julgamento e vossas leis;
6. porque qualquer homem, mesmo perfeito, entre os homens, não será nada, se
lhe falta a Sabedoria que vem de vós.
7. Ora, vós me escolhestes para ser rei de vosso povo ejuiz de vossos filhos e vossas
filhas.
8. Vós me ordenastes construir um templo na vossa montanha santa e um altar na
cidade em que habitais: imagem da sagrada habitação que preparastes desde
o princípio.
9. Mas, ao lado de vós está a Sabedoria que conhece vossas obras; ela estava presente
quando fizestes o mundo, ela sabe o que vos é agradável, e o que se conforma às
vossas ordens.
10. Fazei-a, pois, descer de vosso santo céu, e enviai-a do trono de vossa glória, para
que, junto de mim, tome parte em meus trabalhos, e para que eu saiba o que
vos agrada.
11. Com efeito, ela sabe e conhece todas as coisas; prudentemente guiará meus
passos, e me protegerá no brilho de sua glória.
12. Assim, minhas obras vos serão agradáveis; governarei vosso povo com justiça,
e serei digno do trono de meu pai.
312 | Secretum - Manual Prático de Kabbala Teúrgica
Geburah Um guerreiro em pé conduzindo seu carro de batalha, com dois cavalos brancos
• De meia-noite à 1 da manhã
• De 7 às 8 da manhã
• De 14 às 15 horas
• De 21 às 22 horas.
314 | Secretum - Manual Prático de Kabbala Teúrgica
AUM
tt Saúde em geral
Nota: RE natural
CAPÍTULO VIII
Os Setenta e Dois
Nomes de D-us
nrr tnn b» wx
03 Spes 39 Adjutor
21 Fortis 57 Protector
22 w Dexter 58 b» Animus
29 Senator 65 Deprecabilis
35 Deprecatio 71 Multus
Prática
Toma-se cada letra do Nome e vocalize-a com uma longa expiração. Não respire
entre duas letras, apenas segure a respiração o quanto possa, e depois repouse durante
uma respiração. Faça isso com cada uma das letras. Deve haver duas respirações para
cada letra: uma para mantê-la durante a vocalização que movimenta a letra e uma
para descansar no intervalo entre cada letra... Cada respiração é formada de inala
ção e exalação. Não pronuncie a palavra com os lábios entre a exalação e a inalação,
mas deixe que a respiração e a vocalização ocorram enquanto você estiver exalando.
Visualize as narinas e a boca na forma do segol (ponto vocálico para o som eh.). É
necessário conhecer as letras de cor para realizar este exercício. Basta permutar as
letras rapidamente para frente e para trás na sua boca para evocar os “pensamentos”
do coração que produzem percepções elevadas... Você irá então entender o conceito
das essências “Superiores” e “Inferiores” dentro de si mesmo e não mais precisará
preocupar-se tanto em procurar livros ou mestres para ensinar-lhe o que lhe falta de
entendimento e sabedoria; pois o seu mestre está no seu coração, e o seu D-us está
dentro de você. Peça-Lhe tudo e Ele irá responder a tudo corretamente.
Helvécio de Resende Urbano Júnior | 321
córdias e das suas benignidades, porque são desde a eternidade.” (Salmo XXV,
vers. 6) - Para o favor dos grandes, favorece a sinceridade e o perdão.
10 Que sua Misericórdia, ALADIEL, seja então, sobre nós segundo o que espe
ramos em Ti. D-us propício - “Seja a sua misericórdia, SENHOR, sobre nós,
como em ti esperamos” (Salmo XXXIII, vers. 22) - Para guardar os segredos,
favorável à saúde e aos empreendimentos.
11 LOVIAH vive! E bendito seja meu D-us! Que o D-us do meu Cumprimento seja
exaltado! D-us louvado e exaltado - “Pois engrandece a salvação do seu rei, e usa
de benignidade com o seu ungido, com Davi, e com a sua semente para sempre”
(Salmo XVIII, vers. 50) - Contra o raio; favorece a vitória e o renome.
12 Porque, ó HAHAIAH, mantenha-se afastado e se furte no tempo da Aflição?
D-us refúgio - “Para fazer justiça ao órfão e ao oprimido, afim de que o homem
da terra não prossiga mais em usar da violência” (Salmo X, vers. 18) - Contra
as adversidades; domina sobre os sonhos.
13 Daí gritos de alegria para IEZABEL; ó toda Terra, cantai e exultai, e tocai o
saltério! D-us glorificado sobre todas as coisas - “Com trombetas e som de
cornetas, exultai perante a face do SENHOR, do Rei”! (Salmo XCVIII, vers.
6) - Favorece a reconciliação dá uma boa memória.
14 Pois MEBAHEL se fez o Refúgio do pobre, seu auxílio no tempo da necessi
dade, na tribulação. D-us conservador - “O SENHOR será também um alto
refúgio para o oprimido; um alto refúgio em tempos de angústia.” (Salmo IX,
vers. 9) - Contra os usurpadores de fortuna, protege a inocência.
15 Mas HARIEL se tornou para mim um Refúgio, e D-us é o auxílio de minha
esperança. D-us criador - “Mas o SENHOR é a minha defesa; e o meu D-us é
a rocha do meu refúgio.” (Salmo XCVI, vers. 22) - Contra os ímpios; favorece
as descobertas científicas.
16 HAKAMIAH, D-us do meu Cumprimento, dia e noite eu grito! Que minha
oração penetre, então, em tua presença. D-us que erige o Universo - “SENHOR
D-us da minha salvação, diante de ti tenho clamado de dia e de noite.” (Salmo
LXXXVIII, vers. 1) Contra os opressores; favorável à vida militar e às honras.
17 LAUVIAH, meu Senhor, como teu Nome é admirável por toda a Terra! D-us
admirável - “O SENHOR, Senhor nosso, quão admirável é o teu nome em toda
a terra, pois puseste a tua glória sobre os céus!” (Salmo VIII, vers. 1) - Contra
a tristeza; favorece um bom sono e revelação em sonho.
324 | Secretum - Manual Prático de Kabbala Teúrgica
O Rito
I 331 I
332 | Secretum - Manual Prático de Kabbala Teúrgica
que repetiram os mesmos gestos e as mesmas práticas consagradas pelo tempo e pelo
Eterno, o homem penetra, por meio de pregações, na cadeia espiritual.
Une a força de sua súplica às forças somadas de todos aqueles que o imita
ram no passado e o seguem imitando no presente. Reforça o aço de seu culto e ao
mesmo tempo recebe ele mesmo, as graças de sua fé, uma irradiação de força desse
mesmo acervo que dá, inclusive, uma débil pregação, dita com fé e segundo o rito,
a força de elevação que esta jamais houvera alcançado se estivesse isolada. Desde
ponto de vista se compreende que é absolutamente indispensável respeitar o ritual
da própria religião, cujos menores detalhes foram instituídos e consagrados através
dos tempos pelos praticantes.
As religiões antigas, fundadas por iniciados, repousavam sobre mesmos
princípios comuns do Cristianismo, porém, eram de certa forma, aristocratas, quer
dizer, para o uso de certos escolhidos, os Magos, cuja fé se havia transformado em
certeza e a Sabedoria equilibrada no Princípio.
A multidão, cujo desenvolvimento mental pertencia a um nível inferior, não
podia desenvolver-se nas trevas e, para poder compreender, devia adorar coisas
concretas, únicas compreensíveis para elas. Seus deuses deviam ser tangíveis e
materiais, tais como o Sol, a Lua, o trovão, etc., e a representação convencional
desses sob a forma de ídolos não simbolizavam uma ideia abstrata, senão uma
encarnação de um deus mesmo. A diferença entre ídolo e a imagem cristã consiste
em que esta última não é mais que um modo de concentrar o pensamento para
facilitar a pregação; porém, por si mesma, não representava nenhuma força. Esse
meio permite que a fé se exteriorize até o ponto de provocar milagres. Um pagão
que adora a um ídolo e lhe oferece sacrifícios, crê que se dirige diretamente ao
deus que escutará sua pregação. Concebe-se que ante alguns seres chegados a um
estado de evolução tão primitivo, resultaria tempo perdido dedicar-se a explicar-
lhes abstrações metafísicas e espirituais. Os ritos que haviam estabelecido para o
povo serviam para constituir uma cadeia espiritual por meio da qual continuavam
sua evolução. Ê por isso que levaram-nos a compreender que as religiões antigas
eram aristocratas.
O Cristianismo, pelo contrário, é uma religião democrática, onde o mistério
está parcialmente desvelado e onde cada crente pode pretender alcançar a finalidade
suprema. Ao dizer que amor de D-us é o mesmo que dizer, a fé e o amor ao próxi
mo, bastavam para obter a vida eterna, Jesus Cristo abriu amplamente a porta da
salvação a todos aqueles que aceitaram seu ensinamento e a praticaram. Nenhuma
erudição, nenhum saber particular são necessários. A lei misteriosa do equilíbrio
Helvécio de Resende Urbano Júnior | 335
foi expressada pela Santíssima Trindade, na qual se deve crer, porém, cuja compre
ensão é inútil e inclusive daninha, porque pode perturbar os espíritos simples. Sem
dúvida, não há do que duvidar que este mesmo princípio fundamental constitua,
sob várias formas, a base de todas as religiões desenvolvidas na Antiguidade. Os
“três em um” unidos indissoluvelmente estavam expressados na Balança da Anti
guidade do D-us do Zohar, na oposição de Ormuz e Ahriman, as famílias divinas
das religiões pagãs: Osíris-Ísis-Hórus; Brahma-Vischnu-Shiva; Zeus-Hera-Apoio, etc.
Todas estas divindades não são mais que diversas formas que expressam a mesma
ideia do princípio do desdobramento em elementos que se equilibram, ou dito de
outra maneira, o princípio da vida. Finalmente, o sacrifício das religiões antigas
não era uma oferenda à divindade como o entendia as massas “do ut dês”, senão um
ato puramente simbólico. Isto foi revelado pelo Cristianismo em seu aspecto real
como a segunda lei fundamental da evolução, o sacrifício pessoal por uma ideia, o
sacrifício pelo próximo sem o qual nenhuma evolução é possível.
O Pentagrama
em todos os seus atos, procurando beneficiar as pessoas, cada uma segundo sua
capacidade, fornecendo-lhes tudo que puder com sua sabedoria e não permitindo
que nada o impeça de agir.”
A.A.K
A Coroa do Mago
enlevo, para manifestar-se como sendo os muitos, para que os muitos se possam tornar
o Uno imanifestado. Mas, esse ponto transcende um compêndio elementar de magia.
A serpente que envolve a coroa designa muita coisa, ou antes, uma coisa, de muitos
modos. E o símbolo da dignidade real e da iniciação, pois o mago é rei ungido e sacerdote.
Representa ainda Hadit, da qual só o seguinte se poderá dizer aqui: “Eu sou a
secreta Serpente enroscada aponto de saltar: nos meus anéis há alegria. Se eu levanto
minha cabeça, Eu e minha Nuit somos um. Se eu abaixo minha cabeça, e lanço veneno,
então há êxtase da terra, e eu e a terra somos um”.
A serpente é também a serpe Kundalini, a própria força mágica, a parte rele
vante da divindade do magista, cuja parte não revelada é paz e silêncio, para o que
não há símbolo.
No sistema hindu, a grande obra está representada do modo que se diz que essa
serpente, normalmente enrolada na base da coluna vertebral, se ergue com seu capuz
até a cabeça do Iogue e aí une ao senhor do Todo.
A serpente é também a que envenena. É a força que destrói o Universo mani
festado. É, mais, a serpe esmeraldina que circunda o Universo. Esse assunto deve ser
estudado em LiberLXV, onde se disserta de modo incomparável. No capuz da serpente,
estão as seis jóias, três de cada lado, rubi, esmeralda, safira, os três elementos sagrados,
tornados perfeitos, de ambos os lados, em equilíbrio.”
Mestre Therion
Por outro lado, a religião prescreve crer em um Ser superior, adora-o segundo
certas formas ritualísticas. Proíbe ao homem a busca das causas primeiras, buscas
susceptíveis de fazer germinar na dúvida que quebraria sua fé e o desviaria de
práticas cujo sentido e valor desconhece. Até mesmo o sacerdote é incapaz de re
montar-se as leis criadoras. Portanto, é aqui que o homem encontra-se entre duas
correntes que parecem oporem-se irreconciliavelmente. Sem dúvida, antigamente
não era assim. A religião e a ciência caminhavam de mãos dadas, sempre juntas,
complementando-se mutuamente. Poderíamos dizer que a religião era científica
e a Ciência sagrada. Entre ambas formavam um só corpo indivisível, e esse corpo
se chamava Alta Magia. Porém, enquanto que a religião ensina a crer cegamente, a
Magia ensina o saber. Esta parte da dúvida e chega na certeza depois de uma série
de investigações as quais é guiada pela luz superior. A diferença entre a magia e a
ciência contemporânea consiste em que a última estuda as formas aparentes das
coisas, esforçando-se por encontrar sua razão de ser no plano físico, iludindo, na
origem das coisas, a hipóteses de um plano superior. Pelo contrário, a magia estuda
as causas dos fenômenos, as combinações de forças que determinaram tal ou qual
manifestação, tal ou qual forma. Sua ação a situa no plano das forças, e o plano
astral, e para resolver seus problemas recebe diretivas do plano superior.
No ano passado (2010) tive a oportunidade de ouvir uma das maiores au
toridades de física quântica (FQ) da atualidade, o Dr. Stuart Hameroff, médico e
pesquisador da University Medicai Center, Califórnia, USA, em nossa Universidade
(UFJF), onde proferira uma palestra sobre os níveis de consciência do ser humano,
e daí fez uma reflexão dentro dos parâmetros científicos da física quântica. Foi
de um brilhantismo impar, além de trazer a tona este assunto tão novo, no meio
acadêmico, teve a humildade de confessar sua ignorância, e a do mundo científi
co, dizendo que nada, ou quase nada sabem sobre a FQ e, fez sua argumentação
científica ancorada na teoria de Platão, o grego; no mundo das ideias. Daí, vimos o
quanto ainda caminha o ser humano na lentidão e num possível labirinto de ideias
pré-concebidas. Porém, como a magia é a mãe de toda ciência e de toda religião,
estas últimas tiveram que se plagiar forçosamente em alguns princípios e métodos.
Assim, o ritual religioso, as pregações, as fumigações, os cantos, são imitados na
magia. Porém, é muito raro que um representante de um culto qualquer tenha
consciência que põem em movimento mediante essas práticas. Por outro lado, o
cálculo, base e partida de todas as ciências materiais, tais como a Astronomia, a
Física, a Química, a Medicina, etc. pertencem assim mesmo à magia. Refiro-me à
Alta Magia, ciência sagrada desconhecida para o homem de uma maneira geral.
Helvécio de Resende Urbano Júnior | 345
Para ele, a magia é uma superstição, herdada dos povos primitivos. É um bruxo
vulgar, aquele que tira as cartas, o feiticeiro, os prestidigitadores... trapaceiros, que
são os adeptos desta igreja nociva e desprezível.
Esta opinião, compartilhada pela maioria das pessoas, se apoia sobre razões
sérias, entre os sábios quase sempre se encontram charlatães. A magia não é uma
exceção a esta regra. O estudo da magia não está ao alcance de todo o mundo. Muito
pelo contrário, exige um trabalho assíduo e penoso, profundos estudos, e, sobretudo,
uma tenacidade, uma concentração e determinação no treinamento de sua vontade
chamada a vencer duras provas em cada degrau da escala evolutiva. Somente aquele
que é digno torna-se maduro e pode pretender a um certo grau de elevação. A maioria
dos candidatos abandona a Arte no princípio, porque são muitos os que tratam de
compreender com o mínimo esforço e o mais rapidamente possível, a fim de utilizar-se
da ciência com fins egoístas. A verdadeira magia não é nada disso. Não dá glória nem
bem estar material e sua única recompensa consiste em trabalhar sobre um plano
superior onde o horizonte se amplia ante o iniciado. Então começa-se a perceber a
finalidade da vida e compreende, finalmente, que a estrada que havia seguido peno
samente não tem nada de comparável com a que deve recorrer no infinito. Medite
sobre estas palavras do Evangelho: “Muitos são chamados e poucos os escolhidos”.
E há quem havendo abandonado o áspero caminho da evolução depois de haver ar
rancado alguns segredos na natureza no curso de seus estudos, puseram em prática
seus conhecimentos ocultos - assim nasceu a Magia Negra.
Assim como o verdadeiro Mago não tende senão a aproximar-se da Fonte
Luminosa para cumprir sua obrigação, o bruxo, falso mago, não aponta mais que
ganhar dinheiro com seus escassos conhecimentos. Subjuga as forças naturais e
inclusive a certas entidades, cujos nomes possui para prejudicar a seu próximo,
sem suspeitar dos terríveis laços que cria para sua alma nas existências por vir. A
Alta Magia é a Sabedoria - Religião
O verdadeiro Mago deve ser puro em todas suas intenções, sua finalidade
é a evolução predestinada, porém, esta evolução não deve conceber-se para fins
pessoais. Apesar de guardar o segredo, ele pode e deve prestar ajuda a seus ir
mãos extraviados nas trevas. Pode e deve guiá-lo para sair do labirinto no qual se
meteu. Sem dúvida, dependerá do homem assistido seguir esta luz ou continuar
a descida até o final. O esforço é imposto, e deve originar-se do próprio homem.
Não teria nenhum mérito se lhe adulasse os seus cabelos e se conduzisse a força
pelo caminho da evolução. O homem possui a razão e o livre arbítrio. É possível
346 | Secretum - Manual Prático de Kabbala Teúrgica
fazer um chamado a esta razão, porém, a ele lhe toca concretizar em ato o que há
compreendido, é livre mesmo.
Quem se entrega ao estudo da magia harmoniza nos dois caminhos e na reli
gião. Assim encaminha pelas 32 vias da Sabedoria passando pelas 50 portas da razão.
Detenhamos sobre esta questão que apresenta certa obscuridade. O trabalho das 50
portas constitui uma ascensão para as regiões superiores; parte desde a dúvida, desde
os fenômenos da Natureza até a certeza e a fé. É o labor do Sábio que ocorre crescen
te. É o movimento de evolução. Pelo contrário, a descida ao longo das 32 vias é um
trabalho de cima para baixo. A partida se baseia sobre a fé e a chegada é o saber. É o
trabalho do sacerdote que se transformou em Sábio, é o movimento de involução. Esses
movimentos estão coordenados e formam o ciclo de vida que apresenta um continuo
intercâmbio entre o princípio e a realização, ou simbolicamente, entre Alfa e Omega,
Aleph e Tau, através das “vinte e duas” manifestações expressadas pelas letras da língua
Sagrada. Esta é a polarização incessante, cujo reflexo percebe a ciência humana em
toda sua manifestação da vida da natureza. A evolução-involução, a análises-sínteses
forma uma espiral infinita cujas espiras se continuam, repetindo-se indefinidamente.
O movimento da terra sobre sua órbita, que não é uma elipsóide fechada, e sim uma
de curvas espiral infinita que pode servir como exemplo. As encarnações sucessivas
do homem seguem a mesma lei e a morte segue da vida, apesar de existir outra forma
de vida. Assim, um nascimento aqui embaixo é uma morte no plano superior e os que
assistem a este fim gemem por esta perda com muito mais razão que aqueles que, na
Terra, choram pelos seus mortos. Sabemos que o espírito vai encarnar-se na matéria
para sofrer novas provas; será suficientemente forte como para resistir as tentações
e não sucumbir sob os duros golpes do destino? Tal é a angustiosa pergunta que se
formula para aqueles que acompanham a descida de um espírito para a matéria.
Pelo contrário, a morte sobre esta Terra é um nascimento no mundo superior, onde
o espírito liberado regressa depois das provas para repousar, meditar sobre as ações
passadas e sofrer suas consequências.
Com estas reflexões deixamos o leitor livre para colher o que melhor lhe
aprouver, esta é a grande lei, o livre arbítrio, e não existe nada mais forte em que
“Faz o que tu queres, há de ser o tudo da Lei; Amor é a Lei, amor sob vontade".
Helvécio de Resende Urbano Júnior | 347
O simbolismo constitui uma das sessões em que o Ocultismo tem tido maior
influência, guiando não só os escultores e pintores iniciados na tradição secreta,
mas ainda os petas e historiadores, desde a mais remota Antiguidade até ao século
XVI da nossa era. Assinalemos este traço característico dos historiadores instru
ídos segundo o método ocultista: nunca sobre a história dos indivíduos, e sim na
dos princípios encarnados nesses indivíduos. Era o método exclusivo dos antigos,
também seguido pelos profetas: escreviam o desenvolvimento da ciência iniciante
de todos os tempos sob o nome de Hermes. Quando os escritores modernos quise
ram aplicar seus processos atuais a este simbolismo histórico, ficaram surpresos de
ver que Hermes era autor de vinte mil volumes, o que é muito para um só homem,
mas bastante normal para a Universidade Central do Egito, de que Hermes era o
nome coletivo. Acontece o mesmo com Zoroastro ou
Buddha, que designam os princípios encarnados numa
série de homens e não simples indivíduos. Quando os
contemporâneos se aperceberam do erro, dizem os
ocultistas, cometeram outro erro negando toda exis
tência pessoal aos indivíduos que tinham manifestado
o mesmo princípio em diversas épocas, e atribuíram as
coletividades de homens do mesmo tempo as obras de
Homero ou as de Moisés. A verdade, para o ocultista,
348 | Secretum - Manual Prático de Kabbala Teúrgica
está entre essas teorias extremas. A Ilíada, a Eneida, O Asno de Ouro, a Divina Co
média, são histórias escritas de acordo com as chaves do Ocultismo e que descrevem
os mistérios da iniciação física ou astral.
Todas as catedrais góticas são também símbolos de pedra, palavras de gra
nito, assim como os templos antigos e modernos da índia e da China. Daremos
apenas um exemplo bem nítido da aplicação do oculto a estética, que ajudará a
compreender o resto. Escolhemos o símbolo da Esfinge, segundo a tradição oculta,
estava pouco distante das pirâmides e servia de entrada secreta, devido a uma porta
situada entre suas patas.
Notas:
A Maçonaria e o Ocultismo
Os antigos magos traziam a Rosa t Cruz suspensa ao pescoço por uma corrente
de ouro; mas, para não deixarem aos profanos a palavra sagrada INRI, substituíram
352 | Secretum - Manual Prático de Kabbala Teúrgica
estas quatro letras pelas quatro figuras de que se compõe a Esfinge: o Homem, o
Touro, o Leão e a Águia, cuja significação é uma forma de conduta.
Compare com esta explicação a farsa inserida nos vossos rituais que, para ex
plicar a palavra INRI, faz dizer aos vossos pretendidos iniciados: “Venho da Judeia,
passei por Nazareth, conduzido pelo Raphael, e sou da Tribo de Judá.” O que admira,
senhores, é que semelhante tolices tenham podido alojar-se em espíritos franceses!...
Se quiserdes ressuscitar entre vós a majestade das doutrinas que iluminaram o
antigo mundo, e ascender nas culminâncias da inteligência humana o farol das divinas
luzes, cumpre antes de tudo atirar ao fogo a lenda de Hiram e os vossos rituais insensatos.
Cumpre renunciar a esses cordões de cavalaria irrisória, a esses títulos de Su
blimes Príncipes, de Soberanos Comendadores, aos quais quatro tábuas, sob alguns
palmos de terra, fazem tanta justiça como qualquer plebeu.
A assembléia fremia sob este altivo discurso de Cagliostro. Mas enfim, excla
mou Cour de Gébelin, é suficiente destruir tudo para nos tornarmos superiores?...
Se a Maçonaria é apenas uma fantasmagoria, onde os sinais pelos quais poderemos
reconhecer que a luz que nos é recusada brota dos mistérios de que tendes a chave?...
Se sois herdeiro da antiga Magia dê-nos uma prova, uma só prova do vosso poder...
Se sois o Gênio do passado, que trazeis para o Futuro?...
- Eu vo-lo revelarei - respondeu friamente Cagliostro - e sob o selo do sigilo
maçónico, se jurardes guardar segredo sobre a fé da vossa honra, vou provar o que
acabo de dizer.
- Nós juramos segredo - exclamaram todas as vozes a um só tempo. Todos
levantaram os braços confirmando a palavra.
- Senhores - continuou o siciliano passando pelo auditório seu olhar magnético
- na hora em que nasce uma criança, já alguma coisa precedeu-a na vida. Essa alguma
coisa é o Nome. O nome vem completar sua geração; porque, antes de ser nomeado, o
filho de um rei, como o de um camponês, é apenas um pouco de matéria organizada,
da mesma maneira que o cadáver do mais poderoso senhor, depois de despojado das
pompas dos funerais, não se distingue dos restos do
mais vil escravo. Há, nas sociedades modernas, três
espécies de nome: o de família, o pré-nome, e o sobre
nome. O nome de família é o selo comum da raça, que
se transmite de ser em ser. O pré-nome é o sinal que
caracteriza a pessoa e distingue o sexo. O sobre-nome
é uma qualificação secundária, aplicada a tal ou qual
individuo da família, em casos particulares. O nome
Helvécio de Resende Urbano Júnior | 353
familiar é imposto pela ordem civil. O pré-nome é escolhido pelas intenções afetuosas
do pai e da mãe. O sobrenome é um título acidental, ora passageiro, ora hereditário.
Há, enfim, o título social, tal como príncipe, conde, duque, etc. Ora, eu leio
no conjunto dessas designações pessoais os traços mais salientes de um destino
qualquer; e, quanto mais numerosas são essas designações, tanto mais se acentua,
se desenvolve e se completa o oráculo que delas emana. Minha convicção a este
respeito apóia-se sobre experiências numerosas e sobretudo bem evidentes. De
fato, cada um de nós é nomeado nos céus ao mesmo tempo que na Terra, isto é,
predestinado, votado, pelas leis ocultas da Sabedoria incriada, a uma série de provas
mais, ou menos fatais, antes mesmo que tentemos um primeiro passo para o futuro
desconhecido.
Não me dizei que uma tal certeza, se pudesse existir, seria desesperante. Não
me dizei que tornaria inerte a inteligência, sem alvo a atividade, inútil a vontade,
e que o homem, despojado das suas faculdades morais, apenas seria uma roda do
Universo. A predestinação é um fato, e o nome um sinal. A mais alta Antiguidade
acreditava nesta aliança misteriosa do nome e do ser que o reveste como um talismã
divino ou infernal, para esclarecer sua passagem sobre a Terra ou para incendiá-la.
Os magos do Egito tinham confiado este segredo a Pitágoras, que o transmitiu
aos gregos. No alfabeto sagrado do magismo cada letra liga-se a um número, cada nú
mero corresponde a um arcano, cada arcano é o significador de uma potência oculta.
As 22 letras de que se compõe a linguagem formam todos os nomes que, segundo o
acordo ou o combate das forças secretas, figuradas pelas letras, votam o homem assim
nomeado às vicissitudes que definimos pelos termos vulgares de felicidade e infortúnio.
Que relação pode existir de perto ou de longe, entre letras mudas, números
abstratos e coisas tangíveis da vida real? Haverá necessidade de que, por exemplo, o
impenetrável mistério da geração seja revelado, para que se possa pensar caminhar,
querer e agir?... D-us nos esclarece pelos meios que convém a sua sabedoria, e os
mais simples são sempre os que ele prefere. Aqui é o Verbo (a palavra), obra de D-us,
que é o instrumento da revelação fatídica. Uma experiência vai fazer compreender.
Resumamos a tese e a vossa dúvida numa questão séria e rigorosamente formulada
nos seguintes termos:
É possível ao espírito humano procurar e descobrir os segredos do futuro no
enunciado literal do acontecimento que acaba de cumprir-se ou na definição de uma
pessoa pelos nomes, títulos e atos que constituem sua individualidade?
354 | Secretum - Manual Prático de Kabbala Teúrgica
sentido que se disse no Gênesis de Moisés, obra de inspiração egípcia, que D-us
fez passar diante do primeiro homem todos os seres vivos, para que desse a cada
um o nome conveniente: nomear é definir.
Observando os elementos do texto oculto, verifica-se que restam sobre o
círculo 10 letras. Estas letras são mudas, isto é, não podem formar palavras. Para
tirar-lhes o sentido, cumpre proceder a maneira das sibilas que profetizavam nos
antigos Templos da Fortuna Romana, em Prenesto ou no Athium, e fazer de algum
modo brotar de cada inicial uma palavra fatídica, um Verbo humano. É o resultado
de alguns instantes de recolhimento. E, para imitar inteiramente os oráculos de
outrora, vou pensar em linguagem latina, tem-se os seguintes termos: “Tecentes
Casus Denuntiat Nomen; Decreta Dei Per Numeros Proefantur;” o que significa:
“O nome anuncia os acontecimentos que repousam ainda no silêncio do futuro, e os
decretos divinos são preditos pelos números.” Os Nomes e os Números, eis, portanto,
os fundamentos e as chaves do santuário dos Oráculos.
Nada é mais simples e inocente que esta pequena operação. Os velhos magos
traduziam dessas combinações, do Verbo humano, fortuitas em aparência, ora
respostas filosóficas, ora revelações do futuro.
Após alguns momentos de silêncio, em que se sentia a curiosidade do audi
tório, Cagliostro retomou a palavra nos seguintes termos:
É a história da França que aplicarei estas provas, pois seu estudo interessa bas
tante, foi narrado pelo historiador Mézeray, se bem me recordo, que um astrólogo
italiano predissera a Catarina de Médici que Saint-Germain a veria morrer. Esta
rainha teve desde logo grande receio da festa anual deste santo, e fugia de todos
os lugares que tinha seu nome; terror vão, precauções falsas, porque o oráculo era
desses cujo sentido só se esclarece depois do seu cumprimento. Por ocasião da sua
morte, a lembrança dessa predição, que intrigara bastante a corte, fez notar que o
confessor da rainha expirante se chamava Saint-Germain, bispo de Nazareth.
Eis em poucas palavras, a narrativa de Mézeray:
Catarina de Médici, rainha mãe, tornara-se regente em Dezembro de 1560,
no advento de Carlos IX, seu filho, apenas com a idade de dez anos. Esta mulher
ambiciosa, egoísta e má, escreveu então a Luc Gaurie, astrólogo muito notável nessa
época, para interrogá-lo sobre o futuro do seu poderio.
Luc Gaurie traçou em linha francesa, e neste termos, o enunciado da regência
que começava: “Catarina de Médici, rainha mãe, feita regente da França por seu filho
Carlos Nono, no mês de Dezembro de mil quinhentos e sessenta”. A operação sibilina
é absolutamente a mesma que no exemplo precedente, e por isso podeis nela ler, tão
356 | Secretum - Manual Prático de Kabbala Teúrgica
que elas ornassem as festas da religião, mas não lhes abriam a carreira dos Grandes
Mistérios. Como eu poderia, aliás, dizer a Senhora de Lamballe que ela própria
teria de ser massacrada?...
Era grande a surpresa dos dignitários da Maçonaria. Sem dar fé a estes orá
culos, que entretanto se realizaram muitos anos depois com a maior exatidão e
em todas as minúcias, eles contemplavam o estranho personagem que se achava
na sua frente. Court de Gébelin, apaixonado pelas ciências ocultas, e que deixou
esta narrativa nas suas Memórias manuscritas, declarou-se francamente a favor
de uma aliança maçónica com o mago siciliano. Mas os nobres, que formavam a
maioria do auditório, temiam comprometer-se pelas relações seguidas com tão bi
zarro profeta, que poderia estar ao menos impulsionado por temeridade perigosa.
O próprio Duque de Rochefofoucald, apenas de ser partidário quase fanático de
Cagliostro, acreditando mesmo que ela tinha o poder de fazer ouro, colocou-se por
previdência à frente dessa oposição. Cagliostro não teria porém aceito a aliança,
senão sob a condição de ser nomeado Grão Mestre de todos os ritos e investido
de um poder absoluto de reforma. Com isto, a Maçonaria perdeu sua coroa de
pretensões científicas.
Prática
Magia e Teurgia
I 361 |
362 | Secretum - Manual Prático de Kabbala Teúrgica
“Grande é a mente que pode deixar todas as outras mentes em paz. Ninguém
tem o direito de usar seus poderes para questionar os afazeres dos outros sem a
permissão da pessoa, pois a alma não deseja que as leis superiores sejam quebradas.
O estudante avançado deve falar somente das coisas que o Eu Superior do questio-
nador deseja que sua personalidade saiba, e o estudante deve contatar seu próprio
Eu Superior antes de contatar o Eu Superior do questionador. Se o estudante dá
informações e conhecimento que limita a liberdade de expressão da outra alma, ele
deve estar preparado para suportar o Karma do questionador. No que diz respeito
aos criminosos mentais, há leis que governam os planos mentais tanto quanto o
físico, e o criminoso também será punido por encarcerar a si mesmo quando ultra
passar os limites da moral e da ética.Porém o ocultista não é somente um estudante
de religião, pois seu interesse é sobre todas as coisas, embora eu tenha mencionado
em algum lugar que ele geralmente é um especialista em um aspecto particular da
vida. Ele é tão interessado na última descoberta científica quanto o cientista seria,
no desenvolvimento da situação política, ou na última fase da arte, pois nele todo
o conhecimento e eventos do mundo se encaixam harmoniosa e perfeitamente,
como uma peça de um gabinete de trabalho. Ele deve estar preparado para se des
locar em todas as formas da sociedade, e escutar bebês e sábios de coração aberto,
pois sabe que todos os homens são instrumentos usados pelos deuses, e verdades
podem inconscientemente ser transmitidas à ele através deles. Assim o estudante
de Ocultismo que pesquisa profundamente os verdadeiros sentidos da religião pode
entender e simpatizar com essas crenças aparentemente contraditórias, encontradas
em quase todos os países do mundo. Como M. diz: “Cada religião é uma página
de um enorme livro”, e desde o selvagem que adora o seu pequeno ídolo até o mís
tico que adora todo o Universo, todos lêem as verdades de D-us de acordo com a
inteligência dada a eles por Ele. E eu arrisco dizer que nem uma delas está errada,
até que o veneno do fanatismo torne-as possessas de fúria homicida, e ataquem
aqueles que adoram outros deuses. E aqui está a importância de um treinamento
ocultista, para que o estudante, sabendo e realizando as diferentes leis ocultas que
comandam a humanidade, tragam para todas as coisas uma avaliação diferente e
Helvécio de Resende Urbano Júnior | 363
mais tolerante, apesar de sua avaliação não ser estendida para os agentes destrutivos.
Seus olhos têm uma forma diferente de ver as coisas, pois ele entrou num mundo
mais filosófico, no qual não julga os homens, mas tenta discernir os motivos secretos
que compelem os homens a tomar atitudes que podem machucá-los ou ajudá-los.
Os ocultistas são psicanalistas, e os têm sido por eras. Ele pode seguir e separar os
pensamentos confusos além das regiões da mente, e onde os psicanalistas modernos
descontinuam", ele continua, “pois pode funcionar conscientemente no plano mental
do mundo se sua própria mente, ou o mundo mental onde os pensamentos-ação são
tão reais para ele quanto as emoções físicas são para aqueles que se movem sobre
este planeta. Ele pode examinar no corpo mental as manchas enfermas da mente
tão facilmente quanto um médico diagnostica o corpo físico”.
A.A.K
364 | Secretum - Manual Prático de Kabbala Teúrgica
LIBER LBR/E
S VB FIGVRA XXX
A ..Az.
Publicação em Classe B
Imprimatur
N+ Fra* A.'. A.’.
0. Aprende primeiro- Ô tu que aspiras a nossa antiga Ordem! - Que o Equi
líbrio é a base do Trabalho. Se tu mesmo não tens um alicerce, sobre o que irás tu
estar para comandar as forças da Natureza?
1. Saiba, então, que como o homem nasce neste mundo em meio às Trevas da
Matéria, e à luta de forças rivais; seu primeiro esforço deve, portanto, ser o de
procurar a Luz através da reconciliação delas.
2. Tu então que tens provas e problemas, regozija-te por causa deles, pois neles
está a Força, e por meio deles é aberta uma trilha àquela Luz.
3. Como poderia ser de outro modo, Ó homem, cuja vida é apenas um dia na Eter
nidade, uma gota no Oceano do tempo; como poderias tu, não fossem muitas
as tuas provas, purgar tua alma da escória da terra? É apenas agora que a Vida
Mais Elevada é assediada com perigos e dificuldades; não tem sido sempre assim
com os Sábios e Hierofantes do passado? Eles foram perseguidos e ultrajados,
eles foram atormentados por homens; ainda assim sua Glória crescera.
4. Regozija, portanto, Ó iniciado, pois quanto maior for tua prova, maior teu
triunfo. Quando os homens te ultrajarem, e falarem contra ti falsamente, não
tem dito o Mestre, “Sagrados sois vós”?
5. Ainda assim, Ó aspirante, deixa que tuas vitórias tragam a ti não a Vaidade,
pois com o aumento do conhecimento acompanharia o aumento da Sabedoria.
Helvécio de Resende Urbano Júnior | 365
Ele que sabe pouco, pensa que sabe muito; mas o que sabe muito descobrira
sua própria ignorância. Tu vês um homem sábio em sua própria presunção?
Não há mais probabilidade de existir um tolo, do que ele.
6. Não sejas apressado em condenar outros; como conheces aquilo no lugar deles,
tu poderias ter resistido a tentação? E mesmo se fosse assim, Porque deverias
tu menosprezar aquele que é mais fraco do que tu mesmo?
7. Tu, portanto, que desejas Dons Mágicos, estejas seguro de que tua alma é
firme e inabalável; pois é lisonjeando tuas fraquezas que os Fracos ganharão
poder sobre ti. Rebaixa-te ante teu Selfi contudo, não temas nem homem nem
espírito. O Temor é o fracasso, e o precursor do fracasso; e a coragem é o início
da virtude.
8. Portanto, não temas os Espíritos, mas sê firme e cortês com eles; pois tu não tens
direito a desprezá-los ou a injuriá-los; e isto também pode induzir-te ao erro.
Domina e bane-os, amaldiçoa-os pelos Grandes Nomes se necessário for; mas
nem zombes nem os insultes, pois assim, certamente, tu serás levado ao erro.
9. Um homem é aquilo que ele faz de si mesmo dentro dos limites fixados por seu
destino herdado; ele é uma parte da humanidade; suas ações afetam não somente
o que ele denomina de si mesmo, mas também a totalidade do Universo.
10. Venera, e não negues o corpo físico que é tua conexão temporária com o mun
do externo e material. Portanto, que teu Equilíbrio mental esteja acima dos
distúrbios dos fatos materiais; vigora e controla as paixões animais, disciplina
as emoções e a razão, alimenta as Aspirações Mais Elevadas.
11. Faze o bem aos outros para teu próprio bem, não por recompensa, não pela
gratidão deles, não por compaixão. Se tu és generoso, tu não ansiarás que teus
ouvidos sejam deliciados com expressões de gratidão.
12. Lembra que a força desequilibrada é perniciosa; que a severidade desequi
librada é apenas crueldade e opressão; mas que também a misericórdia de
sequilibrada é apenas fraqueza que consentiria e incitaria o Mal. Obra com
paixão; pensa com razão; sê Tu mesmo.
13. O Verdadeiro ritual é tanto ação quanto palavra; é Vontade.
14. Lembra que esta terra é apenas um átomo no Universo, e que tu mesmo és
apenas um átomo disto, e que mesmo tu poderias tornar te o D-us desta terra
na qual tu rastejas e te arrastas, que tu serias, mesmo então, apenas um átomo,
e um dentre muitos.
15. Contudo, tem o maior auto-respeito, e para este fim não peques contra ti
mesmo. O pecado que é imperdoável é rejeitar consciente e intencionalmente
366 | Secretum - Manual Prático de Kabbala Teúrgica
óleos medicinais das plantas e preparar o ópio, de fazer a cerveja, o açúcar de cana
e muitos unguentos; sabiam destilar, e conheciam os álcalis e ácidos. Em Plutarco,
Herótodo, Sêneca, Quinto Curcio, Plínio e Pausanias, encontram-se indicações dos
atuais ácidos, bases, sais, álcool, éter, enfim os vestígios de uma química orgânica e
inorgânica, cuja chave esses autores não possuíam ou não quiseram revelar.
Serviam-se também de canhões e pólvora. Porfírio, no seu livro sobre a Admi
nistração do Império, descreve a artilharia de Constantino Porphyrogenta. Valerianus,
na sua Vida de Alexandre, mostra os canhões de bronze dos indianos. Em Ctesias,
encontra-se o famoso fogo greguez, mistura de nitro, enxofre, e de um hidrocarbo-
neto, aplicado muito antes de Ninus, na Caldeia, no Irã e nas índias, sob o nome de
fogo de Bharawa. Este nome, fazendo alusão ao sacerdote da raça vermelha, primeiro
legislador dos negros na índia, denota por si só uma grande Antiguidade. Herótodo,
Justino, Pausanias, falam das minas que afogavam, num aluvião de pedras e projéteis
envolvidos em chamas, os persas e gauleses invasores de Delfos.
Em outro nicho de conhecimentos vemos as pretendidas descobertas medici
nais modernas, tais como a circulação do sangue, a antropologia e a biologia geral,
perfeitamente conhecidas da Antiguidade, e sobretudo de Hipócrates.
Existe ainda uma infinidade de descobertas que estão perdidas para nós, entre
as quais a produção artificial das pedras preciosas, a arte de tornar o vidro maleável,
a de conservar as múmias, pintar de uma maneira inalterável mergulhando uma
tela untada de diversos vernizes numa só solução de onde saía revestida de variá
veis cores. Sem falar dos produtos aplicados pelos romanos na arquitetura. Enfim,
o manuscrito de um monge de Athos, Panselanus, revela, segundo antigos autores
iònios, a aplicação da química à fotografia. Este fato foi reconhecido a propósito
dos processos de Niepce e Daguerre. A câmara escura, os aparelhos de ótica, a
sensibilidade das chapas, aí se acham bem descritos.
A educação e a instrução elementar eram, segundo a calipédia, dadas pela famí
lia. A educação e a instrução profissionais ministravam-se pela tribo, - estudos mais
completos, análogos aos da atual instrução secundária, eram fornecidas pelos templos
sob o nome de Pequenos Mistérios. Os que conseguiam adquirir os conhecimentos
naturais e humanos dos Pequenos Mistérios tomavam o título de Filho da Mulher, Filho
de Herói, Filho do Homem, e possuíam certos poderes, como a terapêutica em todos
os ramos, a mediação junto aos governantes, a magistratura arbitrai, etc.
Os Grandes Mistérios, completavam esses ensinos com uma hierarquia de
ciências e artes, cuja posse dava ao iniciado o título de Filho dos Deuses, Filho de
D-us, conforme o templo fosse ou não metropolitano, e além disso certos poderes
Helvécio de Resende Urbano Júnior | 369
potência incrível de um D-us santo e justo, que tudo conhece e tudo faz; e que tem
por corpo místico a humanidade que tanto ama.
O estudo das ciências secretas convém sob dois pontos de vista: esclarece o
passado com uma nova luz, e permite que o historiador reconstitua a Antiguidade
por uma feição ainda pouco conhecida. Daí também resulta para o experimentador
contemporâneo um sistema sintético de afirmações verificáveis pela ciência e de
ideias sobre forças ainda pouco conhecidas.
3
Helvécio de Resende Urbano Júnior | 371
A Iniciação
Não dormes sob o ciprestes,
Pois não há sono no mundo.
Fernando Pessoa
à cripta subterrânea. A porta estava dissimulada por uma estátua de ísis em tamanho
natural. A deusa, sentada, tinha um livro fechado sobre os joelhos, na atitude de
meditação e recolhimento. Seu rosto achava-se velado, e lia-se na base da estátua:
Nenhum mortal levantou-me o véu.
sinistra avenida, a qual atravessava sem dizer palavra, existia uma múmia e, defronte,
um esqueleto humano em pé. Com um gesto mudo, os dois neócoros mostravam ao
noviço um buraco no muro a sua frente. Era a entrada de um corredor, tào baixo
que não se podia penetrá-lo senão de cócoras.
- Podes ainda voltar sobre teus passos - dizia um dos assistentes - a porta do
santuário ainda não está fechada. Do contrário, deverá continuar o caminho por
ali, sem retorno. Eu fico - dizia o noviço reunindo toda coragem.
Entregava-lhe então uma lâmpada acessa. Os neócoros retiravam-se, e fecha
vam com fracasso a porta do santuário. Não havia que hesitar: tinha de entrar no
corredor. Quando aí se introduzisse rastejando-se de joelhos, com a lâmpada na
mão, ouvia uma voz dizer do fundo do subterrâneo: “Aqui perecem os loucos que
cobiçam a ciência e o poder? Graças ao maravilhoso efeito acústico, esta sentença
era repetida sete vezes por ecos distanciados. Entretanto, tornava-se necessário
avançar. O corredor alargava-se, descia em declive cada vez mais rápido. Enfim, o
viajante ousado achava-se diante de um funil terminando num buraco. Uma escada
de ferro aí se perdia, e o noviço nela se arriscava. No último degrau da escada, seu
olhar sobressaltado mergulhava num poço pavoroso. A lâmpada de nafta, que ele
agarrava convulsivamente na mão projetava vaga claridade nas trevas insondáveis.
Que fazer? Em cima, o retorno era impossível; em baixo, a queda na escuridão, a
noite medonha.
Nessa agústia, percebia uma abertura a esquerda. Agarrado com uma mão à
escada, e estendendo a lâmpada com a outra, percebia degraus. Uma escada! Era
a salvação. Atirava-se nela, subia, e escaparia a voragem! A escada, introduzida na
rocha como um parafuso, subia em espiral. Enfim, o aspirante achava-se diante de
um portão de bronze dando para larga galeria sustida por cariátides. Nos intervalos,
sobre a parede, via duas fileiras de pinturas simbólicas, onze de cada lado, doce
mente iluminadas por lâmpadas de cristal, sustidas pelas mãos das belas cariátides.
manifestar a verdade e operar a justiça, entra para esta vida na participação do poder
divino sobre os seres e sobre as coisas, recompensa eterna dos espíritos libertos.”
Escutando o mestre, o neófito sentia um misto de surpresa, temor e encantamento.
Eram as primeiras luzes do santuário, e a verdade entrevista parecia-lhe a aurora
de uma relembrança divina. Mas as provas não estavam terminadas. Acabando de
falar, o pastóforo abria uma porta dando acesso para uma nova abóboda estreita e
longa, em cuja extremidade crepitava uma fornalha ardente.
- Mas é a Morte! - dizia o noviço olhando tremulo para o seu guia.
- Meu filho - respondia o pastóforo - a morte só atemoriza os pusilânimes.
Atravessei outrora estas chamas, como a um campo de rosas.
A grade da galeria dos arcanos fechava-se atrás do postulante. Aproximando-
se da barreira de fogo, notava que a fornalha era uma simples ilusão óptica criada
por entrelaçamentos de madeiras resinosas, dispostas sobre grades. Um caminho
aparecia-lhe no meio, para permitir passar rapidamente. Aprova do fogo sucedia
a prova da água. O aspirante era forçado a atravessar uma água morta e negra, ao
clarão de um nafta, que ficava-lhe atrás na câmara do fogo. Em seguida, dois assis
tentes o conduziam, ainda todo trêmulo, a uma gruta onde se via uma cama macia,
misteriosamente iluminada pela meia luz de uma lâmpada de bronze suspensa na
abóboda. Enxugavam-no, esparziam seu corpo com essências esquisitas, vestiam-no
com linho fino, e o deixavam só, depois de dizerem: “Repousa, e espera o hierofante.”
sua imaginação. Entretanto, porque razão uma dessas pinturas voltava-lhe como
alucinação? Revia obstinadamente o arcano X, representado por uma roda sobre
eixo entre duas colunas. De um lado Hermanubis, o gênio do Bem, belo como um
jovem efebo; do outro, Tifão, o gênio do Mal, de cabeça para baixo precipitando-se
no abismo. Entre os dois, sobre a alto da roda, sentava-se uma esfinge tendo uma
espada nas garras.
Um vago sussurro de uma música lasciva, que parecia sair do fundo da grota,
fazia dissipar essa imagem. Eram sons leves e indefiníveis de um langor triste e
incisivo. Um sonido metálico vinha deitar-lhe os ouvidos, misturado a tremuras de
harpa, suspiros arquejantes como um hálito apaixonado. Envolvido num sonho de
fogo, o estrangeiro fechava os olhos. Ao abri-los, via a alguns passos do leito uma
aparição confusa de vida e infernal sedução. Uma mulher da Núbia, vestida com
gaze de púrpura transparente, e um colar de amuletos ao pescoço, semelhante às
sacerdotisas dos Mistérios de Mylitta, aí estava em pé, cobrindo-o com o olhar e
tendo na mão esquerda uma taça coroada de rosas. Era esse tipo núbio, cuja sen
sualidade intensa e capitosa concentra todos os poderes do animal feminino: pomas
salientes, narinas dilatadas, lábios espessos como um fruto vermelho e saboroso.
Seus olhos negros brilhavam na penumbra.
O noviço punha-se de pé e, surpreso, não sabendo se devia temer ou alegrar-
se, cruzava instintivamente as mãos sobre o peito. Mas a escrava avançava a passos
lentos e, baixando os olhos, murmurava em voz baixa: - tens medo de mim, belo
estrangeiro? Trago-te a recompensa dos vencedores, o esquecimento das privações,
a taça da felicidade...”
O noviço hesitava. Então, como tomada de lassidão, a núbia sentava-se sobre
o leito, e envolvia o estrangeiro com olhar suplicante, como longa chama úmida.
Desgraçado, se ousasse tocá-la, inclinar-se sobre essa boca, embriagar-se com os
perfumes densos que desprendiam-se das suas espáduas bronzeadas. Logo que
tocasse nessa mão e metesse os lábios nessa taça, ficaria perdido... rolaria sobre
o leito, enlaçado numa cadeia ardente. E, após a satisfação selvagem do desejo, o
líquido que tinha bebido mergulhava-o num sono pesado. Ao despertar, se acharia
só, agústiado. A lâmpada projetava um clarão fúnebre sobre o leito em desordem.
Um homem estava em pé diante de si; era o hierofante, e dizia-lhe:
- Venceste as primeiras provas. Triunfaste da morte, do fogo e da água; mas
não soubeste vencer a ti mesmo. Tu, que aspiras as alturas do espírito e do saber,
sucumbiste a primeira tentação dos sentidos e caíste no abismo da matéria. Quem
vive escravo dos sentidos, vive nas trevas. Preferiste as trevas a luz, e portanto fica
Helvécio de Resende Urbano Júnior | 379
nas trevas. Avisei-o dos perigos a que o exporias. Salvaste tua vida; mas perdeste
tua liberdade. Sob pena de morte, ficarás escravo do templo.
Ao contrário, se o aspirante entornasse a taça e repelisse a tentadora, doze
neócoros armados de fachos vinham conduzi-lo triunfalmente ao santuário de ísis,
onde os magos, dispostos em semi-círculo e vestidos de branco o esperavam em
assembleia plenária. No fundo do templo esplendidamente iluminado, percebia a
estatua colossal de ísis em metal fundido, com uma rosa de ouro ao peito e coroa
da por um diadema de sete círculos. Tinha nos braços seu filho Hórus. Diante da
deusa, o hierofante, revestido de púrpura, recebia o recipiendário e fazia-lhe prestar,
sob as imprecações mais terríveis, o juramento do silêncio e o da submissão. Então
saudava-o em nome de toda assembléia como irmão e futuro iniciado. Diante desses
mestres augustos, o discípulo de ísis acreditava-se na presença de deuses. Assim
engrandecido, entrava pela primeira vez no círculo da Verdade. Entretanto, só estava
ainda no seu limiar, pois começavam então longos anos de estudo e aprendizagem.
Antes de elevar-se à ísis - Urânia, devia conhecer a ísis - terrestre, instruir-se nas
ciências físicas e androgônicas. Seu tempo partilhava-se entre as meditações em cela,
o estudo dos hieróglifos nas salas e pátios do templo, tão vasto como uma cidade,
e as lições dos mestres. Aprendia a ciência dos minerais e das plantas, a história
do homem e dos povos, a medicina, a arquitetura e a música sagrada. Nessa longa
aprendizagem, não devia somente conhecer, mas ainda tornar-se a própria Verdade!
Ganhar a força pela renunciação, isto é, pela submissão de sua Vontade. Os antigos
sábios acreditavam que o homem só possui a Verdade quando esta se torna uma
parte do seu ser íntimo, um ato espontâneo da sua alma. Nesse profundo trabalho de
assimilação, deixavam o discípulo entregue a si mesmo. Os mestres não o ajudavam,
e ele admirava-se sempre da sua frieza, da sua indiferença. Vigiavam-no porém com
atenção; submetiam-no a regras inflexíveis; exigiam-lhe obediência absoluta; mas
nada lhe revelavam, além de certos limites. As suas inquietações, as suas perguntas,
respondiam-lhe: - Espera e trabalha -. Vinham-lhe então revoltas súbitas, pesares
amargos, suspeitas terríveis. Ter-se-ia tornado escravo de impostores audaciosos ou
de magistas negros que subjugavam sua vontade com intenções infames? A Verdade
fugia-lhe; os deuses abandonavam-no; e ele ficava só e prisioneiro do templo. A
Verdade aparecia-lhe então sob a figura de uma esfinge, que dizia: “Eu sou a Dúvida”
E o animal de asas, com cabeça de mulher impassível, e garras de leão, arrebatava-o
para despedaçá-lo nos areais escaldantes do deserto...
Mas esses pesadelos sucediam horas de calmaria e pressentimento divino.
Compreendia então, o sentido simbólico das provas que atravessara ao entrar no
380 | Secretum - Manual Prático de Kabbala Teúrgica
Após uma dessas preces, o discípulo via em pé, junto de si, como visão saída
do solo, o hierofante envolvido nos vislumbres róseos do poente. O mestre parecia
ler todos os pensamentos do discípulo, penetrar toda trama da sua vida íntima.
- Meu filho, dizia-lhe, aproxima-se a hora em que a Verdade lhe será revelada.
Já a pressentiste descendo ao fundo de ti mesmo e encontrando aí a vida divina. Vais
entrar na grande, na inefável comunhão dos iniciados. Sois digno dela pela pureza
do teu coração, pelo amor da Verdade e pela força da renunciação. Mas ninguém
franqueia o limiar de Osíris, sem passar pela morte e a renunciação. Vamos acom
panhar-te à cripta. Não tenhas medo; já é nosso irmão.
Ao crepúsculo, os sacerdotes de Osíris, segurando fachos, acompanhavam o
novo adepto a cripta baixa, sustentada por quatro pilares sobre esfinges. A um canto
achava-se um sarcófago aberto, de mármore (Aos arqueólogos pareceu muito tempo
que o sarcófago da grande pirâmide de Gizé era o túmulo do rei Sesóstris, mas a
estrutura interna e bizarra da pirâmide prova que ela devia servir às cerimônias da
iniciação e as práticas secretas dos sacerdotes do templo de Osíris. Ali se encontra
o poço da verdade, a escada subinte à sala dos arcanos... A câmara dita do rei, que
encerra o sarcófago, era aonde se conduzia o adepto na véspera da sua grande
iniciação. Estas mesmas disposições estavam reproduzidas nos grandes templos
ou universidades do médio e do alto Egito). - Nenhum homem, dizia o hierofante,
escapa à morte, e toda alma viva é destinada à ressurreição.
O adepto passa vivo pelo túmulo, a fim de entrar desde esta vida na luz de
Osíris. Deita-te pois no esquife, e espera a luz. Esta noite franquearás a porta do
Pavor, e esperarás no umbral do Magistério. O adepto deitava-se no sarcófago aberto,
o hierofante estendia a mão para abençoá-lo, e o cortejo dos iniciados afastava-se
em silêncio da sepultura. Uma pequena lâmpada no chão iluminava ainda tremula
mente as quatro esfinges que suportavam as grossas colunas da cripta. Um coro de
vozes fazia-se ouvir baixo e veladamente. Donde vinha? O cântico dos funerais!...
Ele expira, a lâmpada dá ainda um último clarão, e depois se extingue. O adepto
fica sozinho nas trevas; o frio do sepulcro gela seus membros. Passa gradualmente
pelas sensações dolorosas da morte, e cai em letargia. A vida desfila diante de si
como irrealidade, e sua consciência terrestre torna-se cada vez mais vaga e difusa.
A medida, porém, que imagina seu corpo dissolver-se, a parte etérea, fluídica, do
seu ser, se desprende. Entra em êxtase...
“Aqui o neófito renasce, depurado para outra vida, nessa caverna rege
neradora, centro das forças do mundo e do eu, da energia primeira: sua
382 | Secretum - Manual Prático de Kabbala Teúrgica
Que ponto brilhante e longínquo é esse que aparece sobre o fundo negro das
trevas? Aproxima-se, aumenta e torna-se uma estrela de cinco pontas, cujos raios
têm todas as cores do arco-íris, e que lança nas trevas descargas de luz magnética.
Agora é um Sol que o atrai na alvura do seu centro incandescente. É a magia dos
mestres que produz essa visão? É o invisível que se torna visível? É o presságio da
Verdade celeste, a estrela flamejante da esperança e da imortalidade? Ela desaparece
e, no seu lugar, um botão de rosa vem desabrochar na noite, uma flor imaterial, mas
sensível e dotada de uma alma. Abre-se diante de si como uma rosa branca; estende
suas pétalas; ele vê tremer suas folhas vivas, avermelhar seu cálice inflamado. - É a
flor de ísis, a Rosa-Mística da sabedoria que encerra o amor no seu coração? - Mas
eis que se evapora como nuvem de perfume. O extático sente-se inundado de um
sopro quente e acariciador. Depois de ter tomado formas caprichosas, a nuvem
condensa-se e torna-se figura humana. É a de uma mulher, a ísis do santuário ocul
to, porém, mais jovem, sorridente e luminosa. Um véu transparente enrola-se em
espiral ao seu redor, e seu corpo brilha através deste. Na mão tem um rolo de papiros.
Aproxima-se docemente, inclina-se sobre o iniciado deitado no túmulo, e diz-lhe:
- Sou tua irmã invisível, sou tua alma divina, e este é o livro da tua vida.
Encerra as páginas cheias das tuas existências passadas e as páginas das tuas vidas
futuras. Um dia as desenrolarei todas diante de ti. Tu me conheces agora. Chama-
me, e eu virei! - E, enquanto falava, um raio de ternura brotava de seus olhos... ó
presença de um duplo angélico, promessa inefável do divino, fusão maravilhosa
no impalpável do Além!
Mas tudo acaba e a visão esvai-se. Uma dor terrível faz o adepto precipitar-se
no corpo, semelhante a um cadáver. Volta ao estado de letargia consciente; círculos
de ferro retêm-lhe os membros; um peso terrível oprime-lhe o cérebro. Desperta... e
em pé, diante de si, vê o hierofante acompanhado dos magos. Rodeiam-no, fazem-
lhe beber um cordial (bebida estimulante), e ele se levanta.
Helvécio de Resende Urbano Júnior | 383
Eis-te ressuscitado, diz o profeta, acabas de celebrar conosco a boda dos ini
ciados, e conta-nos tua viagem na luz de Osíris.
do poder supremo, que é a inteligência Divina. Nos limites, enfim, sob os signos
do zodíaco, Saturno tem o globo da sabedoria universal.
- Vejo - disse Hermes - as sete regiões que compreendem os mundos visí
veis e invisíveis; vejo os sete raios do Verbo Luz, do D-us único que as atravessa e
governa por seu intermédio. Porém, meu mestre, como se executa a viagem das
almas através de todos esses mundos?
- Vês - disse Osíris - uma semente luminosa cair das regiões da via-láctea
no sétimo círculo? São germes de almas. Vivem como vapores leves na região de
Saturno, felizes, tranquilos, e desconhecendo a infelicidade. Mas, caindo de cír
culo em círculo, revestem invólucros sempre mais densos. Em cada encarnação,
adquirem novo sentido corporal, conforme o meio que habitam. Sua energia vital
aumenta; porém, à medida que entram em corpos mais espessos, perdem a lem
brança, aqueles que vêm do éter divino. Cada vez mais cativas pela matéria, cada
vez mais embriagada pela vida, precipitam-se como chuva de fogo, com tremuras
de volúpia, através das regiões da dor, do amor e da morte, até sua prisão terrestre,
onde tu mesmo gemes retido pelo centro ígneo da Terra, e onde a vida divina te
parece um sonho vão.
- As almas podem morrer? - Perguntou Hermes.
- Sim - respondeu a voz de Osíris - muitas perecem na descida fatal. A alma é
filha do céu, e sua viagem é uma prova. Sem amor imoderado pela matéria, perder
a lembrança da sua origem, a centelha divina, que existia nela e poderia tornar-se
mais brilhante que uma estrela, volta à região etérea, átomo sem vida, e a alma se
desagrega no turbilhão dos elementos grosseiros (O Ocultismo considera alma ao
subliminal, ao anjo da guarda que vai com o escol do desagregado para um mundo
inicial ou região etérea em que fará esse escol recomeçar a vida sob outras condições,
isto é, com um novo subliminal. O subliminal pervertido tem, como tudo quando
se degrada, de perecer fatalmente, e isto equivale as penas eternas ensinadas pelo
catolicismo).
Ante essas palavras, Hermes estremeceu. Uma tempestade envolveu-o em
nuvem negra. Os sete círculos desapareceram sob espessos vapores. Viu espectros
humanos dando gritos estranhos, arrebatados e esfacelados por fantasmas de
monstros e animais, no meio de gemidos e blasfêmias sem nome.
- Tal é - disse Osíris - o destino das almas irremediavelmente baixas e más.
Sua tortura só acaba com a destruição ou morte de toda consciência. Mas os vapores
se dissipam, e as sete esferas reaparecem sob o firmamento. Olha deste lado. Vês este
enxame de almas que procuram subir à região lunar? Umas são rebatidas para a Terra,
386 | Secretum - Manual Prático de Kabbala Teúrgica
será o primeiro a ser largado: o material, o terrestre, aquele que aqui usou
como instrumento para cumprir a missão a que foi mandado nesta vida.
Esse que agora é deixado na Sorte, como não mais utilizável”.
A.A.K
dissimula-a aos fracos que ela pudesse tornar loucos; e ocultai-a aos maus, que só
podem tirar-lhe fragmentos dos quais fariam armas de destruição. Guarda a Verdade
no teu coração, e que só fale pela tua obra. “A Ciência será tua força, a Fé tua espada
e o Silêncio tua armadura infrangível (que não se pode quebrar).”
As revelações do profeta de Ammon-Rá, que abriam ao novo iniciado tão
vastos horizontes sobre si mesmo e sobre o Universo, produziam sem dúvida uma
impressão profunda quando eram ditas sobre o observatório do templo de Tebas,
na calma lúcida de uma noite egípcia. Os portais, os telhados e os terraços dos
templos dormiam a seus pés, entre os maciços negros dos cactos e tamarindeiros.
À distância, grandes monólitos, estátuas colossais dos deuses, estavam sentadas,
como juízes incorruptíveis, sobre o lago silêncioso. Tais pirâmides, figuras geomé
tricas do tetragrama e do septenário sagrado, perdiam-se no horizonte, espaçando
seus triângulos no azulado da atmosfera. O insondável firmamento formigava de
estrelas. Com que perspectivas novas o iniciado olhava os astros que lhe designa
vam como futuras moradas! Quando, enfim, o esquife dourado da lua emergia do
espelho sombrio do Nilo, que se perdia no horizonte como longa serpente azula
da, o neófito acreditava ser a barca de ísis que navegava sobre o rio das almas e as
conduzia ao Sol de Osíris. Lembrava-se do Livro dos Mortos, e os sentidos de todos
esses símbolos desvendavam-se então ao seu espírito. Depois do que tinha visto e
aprendido, podia acreditar no reino crepuscular do Amenti, misterioso interregno
entre a vida terrestre e a vida celeste, onde os finados, primeiro sem vista e sem
palavra, recuperavam pouco a pouco o olhar e a voz. Também ele ia empreender a
grande viagem, a viagem do infinito, através dos mundos e das existências. Hermes
já o absolvera e o julgara digno. Tinha-lhe dito o mote do grande enigma: “Uma
só alma, a grande alma do Todo criou, ao repartir-se, todas as almas que existem
no Universo”. Armado do grande segredo subia à barca de ísis, e ela partia pelos
espaços etéreos, flutuando nas regiões intersiderais. Nas largas radiações de uma
imensa aurora que penetravam os véus azulados dos horizontes celestes, o coro dos
espíritos gloriosos, dos Akhimou-Sekou que chegaram ao eterno repouso, cantava:
- Levanta-te Ammon-Ra Hermakouti! Sol dos espíritos! Os que se acham na barca
estão em exaltação! Dão exclamações na barca dos milhões de anos. O Grande ciclo divino
está acumulado de alegria, rendendo glória à grande barca sagrada. Fazem-se festanças
na capela misteriosa. Ó ergue-te, Ammon-Ra Hermakouti! Sol que se cria a si mesmo!”
E o iniciado respondia por estas palavras:
- Atingi o círculo da Verdade e da Justificação. Ressuscito como um deus vivo, e
irradio como um coro dos deuses que habitam o céu, pois sou da sua casta.
Helvécio de Resende Urbano Júnior | 389
78. Envotamento: O verbo francês envoúter, quer dizer: praticar, sobre uma imagem de cera
representando a pessoa a quem se queira prejudicar, ferimentos que a própria pessoa
deveria sofrer. É uma das várias aplicações da Magia Negra, muito praticada antigamente.
390 | Secretum - Manual Prático de Kabbala Teúrgica
O termo envoútement (do latim vultus, efígie, retrato) não tem correspondente em por
tuguês. Preferimos adotar o galicismo - envultamento - porquanto as expressões feitiço,
embruxamento ou sortilégio não exprimem com precisão o que o autor quer dizer. Nós
entendemos que a palavra correta, e que mais se aproxima do ato, é envotamento, uma
vez que nos sentimos à vontade para criar outro galicismo, até mesmo por uma questão
de semântica - do verbo “envolver” algo.
CAPÍTULO II
Magia
I 391 |
392 | Secretum - Manual Prático de Kabbala Teúrgica
ouvem falar daquilo que lhes pintaram com tão sinistras cores, ou que o mistério
do desconhecido lhes tenha arraigado quando para consecução de particulares fins,
sentem a necessidade de um auxiliar muito mais potente que suas forças e as que
consideram gozam seus coetâneos, pela sensível razão de que medem as desses com
a própria medida com que as suas medem.
Nada disso é magia. O dicionário diz dela que é a “Ciência ou arte que ensina a
fazer coisas extraordinárias e admiráveis”. Extraordinárias por não estar ao alcance
dos homens comuns; admiráveis porque sempre causa admiração a presença de
um feito cujo princípio se desconhece. O mistério, esse desconhecido que a Magia
tanto fascina, tanto subjuga ou tanto repele, segundo se encontre predisposto o
ânimo para uma e outra coisa, é o que mais se observa na humanidade inteira.
Misterioso é para ela o fato de viver: nada se há dado conta exata até o presente
do que venha a ser a vida, nada há podido aprisioná-la, nada há podido dizer isto
é. Mistérios semelhantes são a luz, o calor, a eletricidade, a isomeria, a polimeria,
etc. Porém todos estes mistérios são tão absolutos, tão universais, que sua mesma
universalidade e magnitude os fazem inapreciáveis. Nada se preocupa (ideia fixa
e antecipada, preconceito) de seus extraordinários e admiráveis, admirabilíssimos
fenômenos, pelo fato mesmo que são comuns e correntes. Nada se pode refletir
por comparações acerca do porque deles, porque a continuidade não interrompida
dos mistérios não deixa lugar a comparações. Por outro lado, preocupa e fascina
a todos o fato insólito, livre, desconhecido nas generalidades de seus princípios e
consequências; e esta preocupação e fascinação, são as que tecem todo o tempo as
coroas de espinho e de abrolhos com que se enganam as sereias dos gênios. O que
conduziu ao tormento ao Giordano Bruno, ao Galileu, ao Servet, ao Palissy, senão
um fato insólito, prodigioso, de seus inventos ou descobrimentos, que enchendo
de estupor aos seus coetâneos (contemporâneos) - e mais aos que se consideravam
possuidores da humana sabedoria - acabou por obsedar-lhes com a ideia supers
ticiosa do sobrenatural e por arrastar-lhes na feroz intransigência, que desvanecia
de seu coração toda piedade e os enchia dos instintos da besta?
Desta forma temos que a Magia, na verdadeira acepção da palavra, é sabedoria;
e a sabedoria - se diz - ensina o modo de fazer “coisas extraordinárias e admiráveis”
para o vulgo, sequer estas coisas nada tenham de sobrenatural nem de sobre-hu
mano. Nada mais corrente em química orgânica, por exemplo, que produzir ácido
fórmico (HCO-OH). Leva um ignorante a um laboratório, e diga-lhe que destilando
amido, bióxido de manganês, água e ácido sulfúrico, obterás aquele produto; ficar-
lhe-á olhando estupefato. Faça mais: triturai em sua presença formigas vermelhas,
Helvécio de Resende Urbano Júnior | 393
ponha-as em maceração com duas vezes seu peso de água, e destila o composto,
dizendo-lhe que ao passo que com aquelas formigas e estas manipulações, vais obter
também o mesmo produto; e já não o olhará estupefato, já os olhará com terror,
com soberano terror, e estará a dois dedos de admitir que sois o diabo em pessoa,
e que tudo quanto fazeis é arte de bruxaria. Porém explica-lhe a esse ignorante a
composição da química de cada um desses elementos que haveis colocado em vosso
alambique, dar-lhe alguma ideia do que são e como se operam as transformações,
faça-lhe assistir ao vosso lado a esse sublime fiat que se opera ao infinito do calor,
e rasgando o véu que obscurece a luz de sua inteligência trocarás radicalmente
seu modo de pensar, e lhes farás mago, tão mago como vós mesmo. Fazendo um
paralelo entre a metáfora da caverna da Politéia de Platão e a Magia e colocando a
sociologia do saber na caverna, entre os prisioneiros que só conseguem observar o
jogo de sombras na parede e não podem enxergar nem os objetos reais nem o Sol
que tudo ilumina. Quem fosse libertado da caverna para a luz da verdade, e depois
retornasse para a escuridão para libertar seus antigos colegas de prisão, não seria
bem recebido por eles. Diriam que ele é parcial, que, chegando de algum outro
lugar, aos olhos deles tem um ponto de vista parcial; e possivelmente, sim com
certeza, eles ali embaixo têm uma chamada sociologia do saber com ajuda da qual
lhe dirão que ele trabalha com certas premissas de concepção do mundo, o que
naturalmente incomoda muito a opinião da comunidade da caverna e, por, isso
deve ser rejeitada. Mas o verdadeiro filósofo, assim como o mago, que contemplou
a luz, não dará grande importância a essa tagarelice da caverna, mas há de agarrar
energicamente alguns que valem a pena, e os tirará de lá, e tentará em uma longa
história conduzi-los para fora da caverna. Além disso, o verdadeiro adepto sabe
que a máxima do Ocultismo não deve ser subestimada, que é Saber, Querer, Ousar
e Calar, tudo no seu devido lugar e tempo.
A Goécia, como ciência que mais ao objetivo que ao subjetivo, ao material que
o transcendental, nem requer de seus iniciados tantas provas, nem impõe para sua
realização tantos sacrifícios. A força operante é a mesma: só a aplicação e resultados
são diferentes. E, para valermos de um exemplo, o que a água de um barranco, que o
mesmo pode servir para fertilizar uma plantação e ser motor de potentes máquinas
industriais, que para arrastar uma comarca e reduzir a miséria a numerosas famílias.
E o exemplo cabal em todas suas partes, posto que se no primeiro caso representa
a Teurgia, por que a chispa divina da razão se vê refletida nas canalizações e nos
saltos, no segundo está de acordo com a Goécia, na imprevisão com que se deixam
as forças naturais trabalhando cegamente.
Há pois, entre a Magia Branca e a Magia Negra, a mesma diferenciação que
entre a chispa elétrica que se objetiva num arco voltaico e a que derruba um edifício:
aquela é a luz e a vida, esta confusão e morte.
vindouros. O progresso é lei, e por sê-lo, têm desenvolvimentos infinitos, que nada,
absolutamente nada poderá abarcar nem ainda na eternidade, porque sempre lhe
farão falta dois fatores: o infinito intenso perceptivo e o infinito extenso manifesto.
Resulta, por conseguinte, ainda que a verdade seja una e imutável, em cada época
coletiva e em cada indivíduo de modo particular, as manifestações dessa verdade
tem sido, são e serão sempre múltiplas e gradativas.
Falar hoje dos quatro elementos em que os alquimistas dividiam a natureza,
e falar do três, sete ou vinte e um mundos que constituíam a Cosmogonia dos
astrólogos, seria falar de coisas infantis, seria falar daquilo que até as crianças en
tendem por errado; porém, remontemo-nos com o pensamento à época em que tais
doutrinas eram correntes, surpreendamos ao vulgo ignorando em absoluto tudo o
que concerne à mecânica celeste e a física-química, e compreenderemos a impor
tância, a transcendência capital de tais doutrinas, e o que seriam e representariam
aqueles homens que em meio da universal cegueira, viam, ao menos, que a terra
era distinta do ar, dá água e do fogo; que o mundo moral era distinto do físico e do
intelectual, e que por próprio esforço, mediante transmutações materiais e morais,
podia converter-se o lodo em ouro, o diabo em anjo. Que nosso pensamento faça
essa viagem e esta análise retrospectiva, e em verdade aqueles homens nos parece
riam gigantes, incomensuráveis gênios.
Não nos parecerão o mesmo, aqueles que se dedicavam a Magia Negra, a
Goécia, porque nunca produzem o mesmo efeito o raio aprisionado irradiando luz,
que o raio solto originando escombros. Entre ambos se interpõe o sentido moral,
esse sentido que inquire sempre os meios para julgar os fins. Nunca pode ser bom o
fim quando os meios são perversos, mal que pese a quantos opinam que estes ficam
justificados por aqueles. A Goécia, já temos dito, é a sombra da Teurgia, e se esta
se empregava em buscar a verdade e o bem, aquela dirigia suas afanes em estender
o mal e o erro. Ambas bebiam na mesma fonte, na Magia; porém ato contínuo bi
furcavam, e não tinham comum outra coisa que a origem, o que tem de comum o
aço de um punhal e a pena de um poeta. A vida e a morte são sempre o anverso e o
reverso de uma mesma medalha. E isto, como se compreende, se refere no mais que
os iniciados, aos que verdadeiramente sabiam o que faziam e como faziam; porém, à
parte desses, os verdadeiros anônimos do Sabá, que trabalhando inconscientemente
sobre as forças que se lhes vinham às mãos, produziam hecatombes inesperadas
pela mesma força das consequências inevitáveis.
Aparentemente implica numa contradição que a Goécia, sendo um aspecto
da Magia, possa ser patrimônio das gentes ignorantes. Sem dúvida não é assim. A
Helvécio de Resende Urbano Júnior | 397
O Véu do Mistério
Felizmente, diga-se de passagem, compreenderam desde o primeiro momento,
tanto os iniciados em Teurgia como os iniciados em Goécia, que convinha a seus
particulares interesses, ocultar sob o véu do mistério suas tendências e seus pro
cedimentos. Daí um acúmulo de símbolos empregados por uns e outros; desde as
sombras com que sempre se rodeavam.
E uma coisa digna de se notar: jamais
os iniciados em um ou outro aspecto da
Magia confundiram suas fórmulas nem
suas figuras simbólicas, jamais o círculo
goético teve semelhança com o das trans
mutações nem com o duplo triângulo
de Salomão. Temos dito que felizmente
os magos ocultaram suas tendências e
procedimentos, e vamos dizer por que
qualificamos de auspiciosa sua determi
nação. Os teúrgicos, estudando as forças
ocultas e aplicando seus estudos aos
mundos físico, moral e supra-físico, tinham forçosamente que chocar com as ideias
correntes e ser vítimas da ignorância supersticiosa. Prontamente conheciam em
parte o poder de sua vontade reagindo sobre outra vontade e sobre alguns agentes
físicos, e isto bastava para despertar contra eles certo receio, que ao menor motivo
podia converter-se em implacável ódio. De outra parte, a obra da transmutação
exigia se rodearem de retortas, filtros, alambiques, redomas, fornilhos, etc., em
geral coisas totalmente fora de uso e cuja figura - temos de convir nele, - basta e
sobra para sobressaltar a imaginação supersticiosa. E, por último, não disse Jesus
que não devia dar-se aos porcos o sagrado?
Usaram, pois, do símbolo, primeiro, para preservar
dos olhares profanos o teor esotérico de seus estudos e as
suas práticas, e segundo, para prevenir-se contra qualquer
atentado das turbas ignorantes e mal aconselhadas. Igual
são feitos e fazem ainda em nossos dias todas as sociedades
secretas - exemplo a franco-maçonaria, ainda quando suas
tendências e aspirações sejam, como diz a própria institui
ção, tendências e aspirações de paz, de fraternidade e de
Helvécio de Resende Urbano Júnior | 399
progresso. Não se termina um trabalho sem que todos jurem o maior silêncio sobre
tudo que se falara e fizera naquela reunião. A superstição somente pode servir da
própria superstição, como a força cega somente pode conter outra força de idêntica
natureza. Daí que todos os símbolos dos magos, como o de todas as sociedades
secretas que conhecemos, tenham uma marcada tinta supersticiosa. O bode macho
do sabá, por exemplo, é uma figura, como se verá, capaz de engendrar o terror em
qualquer que um que não tenha bem assentados os pés. O diabo está nela de corpo
presente; os signos que fazem com suas mãos parecem a ameaçar algo de sinistro;
sua cabeça, seu peito, seu ventre, tudo nele pressagia não se sabe o que, porém indu
bitavelmente algo fatídico; causa horror: com isso se diz tudo. E, sem dúvida, quão
diferente é a expressão esotérica deste símbolo! Representa a Magia, a sabedoria
do absoluto. A chama colocada entre seus dois cornos é o reflexo da inteligência
equilibrante do ternário; sua cabeça - cabeça sintética que tem algo de um cão, de
um touro e de um asno - representa a responsabilidade da matéria e a expiação das
faltas corporais; suas mãos humanas recordam a santidade do trabalho, e fazendo
o signo do esoterismo no alto e abaixo, recomendam o mistério aos iniciados e lhes
sinalam dos quartos lunares, um branco e outro negro, para indicar-lhes as relações
do bem e do mal, da misericórdia e da justiça; tem o baixo ventre velado, imagem
dos mistérios da geração universal, expressada somente pelo símbolo do caduceu;
seu ventre escamoso reflete os apetites desordenados da carne; o semicírculo que lhe
separa o peito é o emblema de diferenciação entre o mundo físico, moral e intelectual,
entre o mundo dos feitos, e aquele das leis e dos princípios; as penas que cobrem
desde os peitos até a região umbilical, que hão de ser de diversas cores, expressam
misticamente os diferentes sentimentos; os peitos de mulher que exibe são os signos
da maternidade, e estes, com os do trabalho, os da única redenção possível; e final
mente o pentáculo que leva em sua frente, emblema da vontade consciente dirigindo
as quatro forças elementares, revela por uma ponta que tem no alto a inteligência
humana, e a inspiração divina por estar perpendicularmente por baixo da chama
que lhe serve de coroa. Este, e não outro, é o sentido mítico e kabbalístico do bode
macho do sabá: veja-se se existe notória diferença entre ele e o que em sua presença
interpretaria qualquer não iniciado nos mistérios. Maiores informação sobre este
símbolo vejam em nossa obra Maçonaria, Simbologia e Kabbala.
Quando os adeptos queriam referir-se a ideias puramente abstratas, puramente
metafísicas, usavam também outros hieroglíficos mais abstrusos, como por exem
plo, as Sephiroth ou os Sete selos de São João; porém, tanto estes símbolos, como
alguns anteriormente descritos por nós ou como aqueles que aplicavam às coisas
400 | Secretum - Manual Prático de Kabbala Teúrgica
concretas, estavam baseados na ideia que referiam que eram formados por figuras
geométricas, astrológicas e números, e que constituíam uma linguagem completa
e perfeita para seus particulares fins.
Desta forma:
O ponto (•) ou o (1) representava a unidade e o princípio.
O dois (2) ou a linha (—) ao antagonismo, a dualidade.
O três (3) ou o triângulo (A ) à ideia.
O quatro (4) ou o quadrilátero (□) formado com duas linhas verticais repre
sentantes do ativo e outras duas horizontais representantes do passivo, da forma,
da adaptação.
O cinco (5) ou a estrela de cinco pontas (★) à inteligência humana dirigindo
as quatro forças dementais.
O seis (6) ou os dois ternários (AV) o equilíbrio das ideias ou o Macro-
cosmo e Microcosmo.
O sete (7) ou o quadrilátero e o triângulo (A ) à realização, ou seja, a aliança
da ideia e da forma.
O oito (8) ou dois quadriláteros (□ = *) ao equilíbrio das formas.
Zk O nove (9)
X^X (AVA) à perfeição das ideias.
E o dez (10) ou o círculo (O) a eternidade, ou o absoluto se este círculo tivesse
um ponto no centro (®).
contra os mencionados espíritos, e segundo tiveram ou não que impetrar para nela
o auxílio dos mesmos. Por isto se dizia que todo poder do mago resumia-se em
saber subjugar aos elementais. Para as deprecações ou conjuros a qualquer dessas
classes de espíritos, começava por traçar um grande círculo mágico as evocações no
pantáculo que já conhecemos. Porém, cuidando muito de colocar-se o evocador ou
conjurador na base ou na cúspide do mesmo. Assim, si se evocava aos gnomos, por
exemplo, para auxiliar na obra de transmutação, se colocava o operador na cúspide
do pentáculo (*), e punha o altar as fumigações na base (**); e pelo contrário, si se
conjurava aos mesmos elementais por uma má colheita, colocava-se o operador na
base e o altar na cúspide: tem que advertir que serviam sempre para determinar
o lugar da cúspide e da base os quatro pontos cardeais, e que se crê que do Norte
vinham os espíritos celestes e do Sul os espíritos infernais.
do espírito e a consagrá-las a um único objeto. Pois estes mesmos eram efeitos que
buscavam e conseguiam os antigos magos com suas operações cerimoniais.
um augúrio fatídico para ele. Federico da Prússia ficava aterrorizado quando via
desprender-se de uma árvore uma maçã. Rousseau considerava certa e imediata sua
prisão, quando arrojando uma pedra sobre uma árvore, fazia branco o local que to
mava por objetivo. Diderot, estando encerrado em Vincennes, pretendia descobrir o
dia que seria posto em liberdade pelo modo que ficava a página do livro que abria ao
azar. Napoleão, o grande Napoleão, era supersticioso até em excesso, e quase sempre
acertava. “A Itália está perdida para a França. Dizem meus pressentimentos”, disse
em certa ocasião a seu secretário Bourrienne, e de fato, naquele mesmo dia ficou
apressado e foi colocado a pique pelos turcos na pequena embarcação de flotilha do
Nilo, que levava aquele nome. “Jamais começo alguma empresa na sexta-feira sem
encher-me de terror - dizia: sempre me saem mal. Recorda um magista, que uma
noite partindo de Saint-Cloud para a Campanha da Rússia, era uma sexta-feira”.
Era para ele esse dia da semana bem funesto por desgraça. Também pertencem a
ele esta confissão: “Os que me conhecem, sabem o pouco que me cuido do perigo.
Acostumado desde a idade de dezoito anos às balas dos combates, sei o inútil que
é querer precaver-se delas: me abandonou a meu destino, e minha estrela é a que
se encarrega de concluir algo”.79
Á idêntica maneira pensaram outros muitos homens, em quem, de não faltar a
verdade, não pode deixar de reconhecer grande ilustração, grande valor ou presença
de ânimo para afrontar os perigos, e grande tato e prudência para sair vitoriosos
de seus cometidos. Isto preconiza, por conseguinte, que no fundo de seus receios
ou superstições, tem algo digno de ter-se em conta. Que pode ser este algo? Uma
coisa muito sensível. Quando o augúrio não é efeito de uma observação paciente,
ainda mal referida ao objeto que se utiliza como ponto de observação, é efeito da
imaginação, que se pode fazer germinar rosas em meio do deserto, assim pode fazer
retumbar o trono e surgir o raio da atmosfera mais diáfana. Este é o segredo da
magia. A esperança, a cólera, a desesperança, o amor, o terror, todos os sentimen
tos da alma, enfim, se transformam em forças físicas e produzem os conseguintes
resultados. A vontade é o eterno fator do Universo sensível.
( 9 + 7 = 16 ) = 7 (16+9 = 25 ) = 7 (25 + 9 = 34 ) = 7
(9+4 = 13)-4 (13 + 9 = 22) = 4
09=0+9=9
99=9+9=18=1+8=9
18=1+8=9
108=1+0+8=9
27=2+7=9
117=1+1+7=9
36=3+6=9
126=1+2+6=9
45=4+5=9
144=1+4+4=9
63=6+3=9
153=1+5+3=9
72=7+2=9
162=1+6+2=9
81=8+1=9
171=1+7+1=9
90=9+0=9
180=1+8+0=9.
Todavia poderíamos deduzir que a adição das cifras de cada um dos produtos
água (11+88) e ar (33+66) dão 99, e que aos 99° a água entra em ebulição, que o
mercúrio gasificado é 99 vezes mais denso que o hidrogênio, que na Europa central
412 | Secretum - Manual Prático de Kabbala Teúrgica
62
1-09
E com esta chave, que como se pode ver, não é mais que o ternário multi
plicado por si mesmo e por seus fatores ao infinito, no qual joga o número nove o
principal papel. Quase poderíamos dizer, o único papel, ficam acertados, si estudar
bem, todas estas tábuas kabbalísticas, se conhece a geração e origem dos números
em seu sentido místico e positivo, e se pode fazer a oportuna aplicação deles na
ordem como melhor lhes aprouver.
Helvécio de Resende Urbano Júnior | 413
A Goécia
Pouco ou quase nada exporemos sobre este lado da Magia. As generalidades
que dela podemos dizer em um livro de Teurgia e propostas luminosas como as
presentes, as temos referido já em momentos precedentes. Da maneira que vemos
não entraríamos nestes sítios por não gerar nada positivo. Dessa forma estaríamos
penetrando no terreno da Magia Negra. Sem dúvida, e não com o propósito de
que o leitor se envolva nesta estrada e sim com o objetivo de preveni-lo contra
este caminho, daremos ainda algumas ligeiras pinceladas sobre o tema fornecendo
algumas informações para que o mesmo não trilhe este caminho.
Nas práticas da Goécia, ou seja, da Magia Negra, nos revela, por um lado,
o poder da Magia Branca de que já temos feito mérito, e a consideração de que a
Magia Negra, como também temos dito, não é o caminho senão da sombra sar
cástica, a sombra degenerada da primeira: o mais claro, uma malvada aplicação
da Magia única, e nos revela também, por outro lado, esse mal-estar que a cada
qual proporciona sua consciência, quando, separando-se da lei, sabe bem que tem
faltado a seus deveres de pai, de esposo, de filho, de amigo ou de cidadão simples
mente, ainda quando essa falta haja sido somente em pensamento. Aparentemente
nada mais ordinário (grotesco) que desejar o mal alheio sem por em prática meio
algum ostensível, direto ou indireto, para produzi-lo. Porém na realidade, nada
mais terrível que essa ideia fixa de nossa mente e de nosso coração que, como um
punhal de duplo fio, fere impiamente ao sujeito a quem queremos ferir, e nos fere
ao próprio tempo a nós mesmos. E aqui, como em ocasiões precedentes, fazemos
ponto final a respeito das considerações que se nos
vêm na ponta de uma pena, remetendo ao leitor que
queira interar-se nelas e do porque das afirmações
que levamos feitas.
Não seria a Goécia a sombra degenerada
da Teurgia, se não tivesse, como esta, seus ritos e
cerimônias. Se recordará que ao tratar da magia
cerimonial e seus efeitos, falamos do círculo das
evocações. Pois bem, a Goécia também tem o seu,
que é este, como tem suas evocações, seus instru
mentos mágicos, suas vestimentas, seus conjuros. A
que Gênios invoca? Ah! Isto se tem uma ideia muito
clara: uma obra de destruição, de trevas e enganos,
414 | Secretum - Manual Prático de Kabbala Teúrgica
Preparatórios para
Arte Mágica
I 415 |
416 | Secretum - Manual Prático de Kabbala Teúrgica
sua ciência: o mito da Gênesis é eternamente verdadeiro, pois D-us só deixa que
se aproximem da árvore da ciência os homens assaz abstinentes e fortes para não
cobiçarem-lhe os frutos.
O magista deve, portanto, ser impassível, impenetrável e inacessível a preconcei
tos ou temores. Deve estar à prova de todas as contradições e sofrimentos. A primeira
e a maior das obras mágicas é atingir esta rara superioridade. O homem pode ser
modificado pelo hábito, que se torna, segundo o provérbio, uma segunda natureza em
si. Por meio desta ginástica perseverante e graduada, as forças e a agilidade do corpo
se desenvolvem ou se produzem numa proporção extraordinária. Acontece o mesmo
com os poderes da alma. Quereis reinar sobre vós mesmos e sobre a natureza? Então
aprendeis a querer verdadeiramente, “vontade pura livre de dissipações”
Como se pode aprender a querer? Tal é o primeiro arcano da iniciação mágica;
e, para fazê-lo compreender, os antigos depositários da arte sacerdotal rodeavam
de terror e prestigio o acesso ao santuário. Não acreditavam em desejos do candi
dato, senão quando este tinha dado provas que tinha muito mais que um simples
desejo, que tinha mesmo era uma Vontade Verdadeira. A força só se pode afirmar
por meio de vitórias.
A preguiça e o esquecimento são inimigos da vontade; e é por isso que todas
as religiões multiplicaram as práticas e tornou minucioso e difícil o culto. Quanto
mais se trabalha por uma ideia, tanto mais força se adquire no sentido dessa ideia.
As mães não têm maior predileção pelos filhos que lhes causam maiores dores ou
cuidados? Por isso, a força das religiões está inteiramente inserida na inflexível von
tade daqueles que a praticam. Enquanto houver um fiel crente no santo sacrifício
da missa, haverá padre para dizê-la; e, enquanto houver padre dizendo todos os
dias o seu breviário, haverá papa no mundo.
As práticas mais insignificantes e estranhas em aparência conduzem, pela
educação e o exercício da vontade, ao fim que se tem em vista. Um camponês que
se levantasse sempre às duas ou três horas da madrugada, e fosse longe da sua casa
colher todos os dias um pedacinho da mesma planta antes do Sol estar levantando,
poderia, trazendo em si esta planta, operar numerosos prodígios. Esta planta seria
o sinal da sua vontade, e se tornaria tudo o que ele quisesse no interesse dos seus
desejos. Uma pessoa que faz caridade ou atos altruístas também se transforma ela
própria em talismã, pois a verdadeira caridade é sempre proporcional ao sacrifício,
tal como foi ensinado pelo homem de Nazaré ao comparar a esmolinha da viúva
pobre com a grande dádiva do que é supérfluo no ricaço. Em Ocultismo, o valor
material das coisas só existe por acordância pensante tácita da coletividade, e,
Helvécio de Resende Urbano Júnior | 417
porque a teme, vem tentar o futuro senhor do mundo, dizendo-lhe: “Se és filho de
D-us, manda que estas pedras se transformem em pães”. Os homens do dinheiro
buscam então humilhar o príncipe da ciência estorvando-o ou explorando mise
ravelmente seu trabalho. O magista não desdenha sorrir desta inépcia, e prossegue
com calma e resoluto na sua obra.
Dar-se ao respeito e olhar-se como soberano que consente em passar por
desconhecido, a fim de reconquistar sua coroa. Ser afável e digno para com todo
mundo; mas, nas relações sociais, nunca se deixe absorver, e retirar-se dos círculos
onde não se tiver uma iniciativa qualquer.
Enfim, podem-se cumprir as obrigações e praticar os ritos do culto ao qual
se pertença. Ora, de todos os cultos, o mais mágico é aquele que realiza mais mila
gres, que apoia sobre sábias razões os mais inconcebíveis mistérios, que tem luzes
iguais às sombras, que populariza os milagres e encarna D-us nos homens pela fé.
Esta religião sempre existiu e sempre foi no mundo, sob diversos nomes, a religião
única e dominante. Têm agora, os povos da Terra, três formas hostis em aparência
uma a outra, porém, que em breve se reunirão para constituírem uma só Igreja
universal; estamos falando de ortodoxia russa, do catolicismo romano, e da última
transfiguração da religião de Buda.
Desta forma compreendemos que a nossa magia verdadeira é oposta a dos
goéticos e nicromantes (pessoa que invoca os mortos. [Var.: nigromante.]). Nossa
magia é ao mesmo tempo a ciência e a religião absolutas, que não deve destruir
nem absorver todas as opiniões e todos os cultos, mas regenerá-los e dirigi-los,
reconstituindo o círculo dos iniciados, e dando assim, às massas cegas, condutores
sábios e clarividentes.
420 | Secretum - Manual Prático de Kabbala Teúrgica
Os Instrumentos Mágicos
Os principais instrumentos mágicos são: a vara (baqueta), a lâmpada, a taça
e o trípode. Nas operações da alta e divina magia emprega-se a lâmpada, a vara e
a taça. A vara mágica não deve ser confundida com a simples vara adivinhatória
nem com o forcado dos necromantes ou o tridente de Paracelso.
A verdadeira vara mágica deve ser feita de amendoeira, nogueira ou aveleira,
de um só pedaço, perfeitamente reto, cortada por um só golpe com a foice mágica
ou de ouro, antes do raiar dos primeiros raios de Sol e no momento em que a árvore
estiver prestes a florir. Cumpre perfurá-la em toda extensão sem fendê-la, e intro
duzir nesse furo um vergalhão de ferro imantado que ocupe-a em toda extensão.
Depois, adapta-se a uma das extremidades um prisma poliedro talhado triangu
larmente, e na outra extremidade uma igual figura, mas de resina preta. No meio
da vara colocam-se dois anéis, um de cobre vermelho, e o outro de zinco; depois
a vara deve ser dourada do lado do prisma, até os anéis do mesmo, e reveste-a de
seda até as extremidades excluindo o prisma. A consagração da vara deve durar
sete dias começando na lua nova, o que deve ser feito pelo próprio magista. (Sobre
a “Consagração” sugerimos que leiam o capítulo sobre este assunto no nosso livro
Manual Mágico de Kabbala Prática).
A vara entre todos os outros instrumentos (armas) mágicos deve estar cui
dadosamente oculta, e sob nenhum pretexto o magista deverá deixá-la à vista de
curiosos ou ser tocada por outros; pois do contrário perderiam suas virtudes. O
comprimento da vara mágica nunca deve exceder o do braço do operador. O magista
deve servir-se dela apenas quando estiver sozinho, e nunca tocá-la sem necessidade.
O cardeal de Richelieu (Armand Jean du Plessis, Cardeal de Richelieu, duque
e político francês (França, 1585 - 1642), que ambicionava todos os poderes, pro
curou em toda sua vida, sem poder encontrar alguém que pudesse transmitir-lhe
os mistérios da imantação da vara mágica, pois este, apesar de ter ao seu lado um
kabbalista (Gaffarel) não se sentia possuidor da força para consagrar e imantar
sua própria arma e seu conselheiro Gaffarel somente podia dar-lhe a espada e os
talismãs; talvez seja pelo motivo secreto do seu ódio contra Urbano Grandier, que
sabia alguma coisa das fraquezas do Cardeal. As entrevistas secretas e prolongadas
de Laubardemont com o infeliz cardeal, e as palavras de um amigo e confidente
deste último, quando ele estava no leito de morte: “Senhor, sois um homem hábil;
não vos percais”. Sobre isso há muito que pensar.
Helvécio de Resende Urbano Júnior | 421
A vara mágica é o verendum do mago; este não deve a seu respeito falar de um
modo claro e preciso; ninguém deve gabar-se de possuí-la; e só deve transmitir sua
consagração nas condições de uma discrição e confiança absoluta.
Cumpre que seja de aço puro, com um punho de cobre em forma de cruz e
tendo três pomos, tal como está representada no Enchiridion de Leão III, ou tendo
por guarda dois crescentes. Sobre o nó central da guarda, que deve ser revestida de
uma placa de ouro, deve-se gravar de um lado o sinal do Macrocosmo, e no outro
o do Microcosmo. E o punho deve estar devidamente coberto por seda pura de
cores vermelho e negro entrelaçadas. A consagração da espada deve ser feita num
domingo, na hora do Sol, sob a invocação de Michael (Veja sobre este assunto no
nosso livro Manual Mágico de Kabbala Prática). Põe-se a lâmina da espada num
fogo de loureiro e cipreste; depois limpa-se, e faz-se o polimento da lâmina com
cinzas do fogo sagrado, umedecidas com resina de breu vermelho e sangue de
serpente. E diz-se: “Sis mihi gladius Michaelis, in virtute Elohin Sabaoth fugiant a
te spiritus tenebrarum et reptilia terrae”. Depois asperge-a com perfume do Sol, e
passará na seda uma maceração de flores de verbena, aos quais deverão manter-se
ali até o sétimo dia.
A lâmpada mágica deve ser feita de quatro metais: ouro
prata, latão e ferro. O pé será de ferro; o nó, de latão; a taça de
prata; e o triângulo central de ouro. Terá dois braços compostos
de três metais torcidos entre si, de maneira a deixar para o óleo
um triplo conduto. Terá nove mechas, três no meio e três em
cada braço. Sobre o pé se grava o selo de Hermes, e por cima o
Andrógeno de duas cabeças de Khunrath.
À borda inferior do pé da taça ou do recipiente do óleo grava-se o selo de
Salomão. A esta lâmpada adaptam-se dois globos: um ornado de pinturas transpa
rentes representando os sete gênios; o outro, maior e duplo, podendo conter nos
quatro compartimentos, entre dois vidros, água com diversas cores. O todo será
encerrado numa coluna de madeira sobre si mesma e podendo escapar à vontade
um dos raios da lâmpada, que se dirigirá sobre a fumaça do altar no momento
das invocações. Esta lâmpada é de um grande socorro para auxiliar nas operações
intuitivas das imaginações lentas, e criar imediatamente, diante das pessoas mag
netizadas, forma de uma realidade assombrosa e que, multiplicadas pelos espelhos,
transformarão, numa sala imensa cheia de figuras telesmáticas, o gabinete do
422 | Secretum - Manual Prático de Kabbala Teúrgica
re-destruído antes de ser digno de abrigar essa lua. Daí parecer, muitas vezes, ser o
melhor conselho do mestre ao discípulo este: destruir o templo.
O que tens e que és são véus ante essa luz. Por isso, em tão alto assunto, ser
vão qualquer conselho. Não há mestre, por maior que seja, capaz de ler, claramen
te, todo o caráter de qualquer discípulo. O que, no passado, o ajudou, talvez seja
impedido a outro no porvir.
Porém, tendo o Mestre voto de servir, pode executar o serviço com as seguintes
regras simples. Sendo todo pensamento véu ante essa luz, pode aconselhar o arraso
de todos os pensamentos e, para isso, ensinar as práticas mais conducentes, clara
e certamente, a tal destruição. Essas práticas estão agora felizmente, por ordem da
A ..A.’. descritas na linguagem clara.
Nestas instruções, ensina-se a relatividade e limite de cada prática e evitaram-
se cuidadosamente as explicações dogmáticas, Cada prática, em si, é um demônio
que deve ser destruído, mas para destruí-lo, cumpre, antes, evitá-lo.
O Mestre que fugir a qualquer desses exercícios, por desagradável ou para si
inútil, deve envergonhar-se. Pois, no conhecimento das particularidades deles, só
percebíveis pela experiência, jaz, talvez, a ocasião de prestar ao discípulo decisiva
ajuda. Por muito fastidiosa que seja tal estafa, deveríamos passar por ela. Se fora
possível chorar algo na vida, o que felizmente não sucede, seriam as horas gastas
em práticas frutíferas, e que muito mais lucros obteriam com as infrutíferas. Pois,
quando Nemo80 trata do jardim, não tenta achar a flor que, após ele, Nemo será. E
não nos foi dita que Nemo poderia ter empregado outras coisas do que as realmente
empregadas. Parece possível que, não tendo ele o ácido ou o punhal ou o fogo ou
o óleo, pudesse ter descurado da flor, após ele, Nemo seria.
80. Nemo é o mestre do templo, cujo mister é desenvolver os neófitos. Ver Liber CDXVIII,
Eter XIII.
CAPÍTULO IV
A Prática da Teurgia
L Definição
A Teurgia (do grego theos: D-us, e ergon: obra), é o aspecto mais elevado, mais
puro, e também o mais sábio, daquilo que popularmente designa a Magia. Definir
a segunda, em seguida não reter dela senão a sua essência e o seu aspecto mais
purificados, é voltar à primeira.
Porém, segundo E Charles Barlet, “A Magia Cerimonial é uma operação pela
qual o homem procura pressionar, pelo próprio jogo das Forças Naturais, as Potências
Invisíveis de diversas ordens a agir segundo o que ele reivindica delas. Tendo isso
em vista, ele as arrebata, surpreende-as, por assim dizer, projetando pelo efeito das
“correspondências” (analógicas que supõe a Unidade da Criação). Forças das quais
ele mesmo não é o mestre, mas pode abrir vias extraordinárias, no seio mesmo da
Natureza. Em consequência, os Pantáculos, esses Objetos especiais, essas condições
I 424 |
Helvécio de Resende Urbano Júnior | 425
rigorosas de Tempos e Espaço, é preciso observar sob pena dos mais graves perigos.
Pois, se a direção buscada for um pouco fracassada, o audacioso é exposto à ação
de “Potências” junto das quais ele é somente um grão de poeira...” (Charles Barlet:
a Iniciação, número de janeiro de 1897)81.
Então, A Magia é somente, vemos isso, uma Física transcendental.
Desta definição, a Teurgia não retém senão uma aplicação prática: a da lei de
“correspondências” analógicas, subentendendo:
Por que estes não farão senão exprimir a realidade do Mal arquetípico e ali
colaborar. Desta realidade ninguém duvida; e esta colaboração lhe é bem inútil...
A Magia nos demonstra, então, que nada se perde, que tudo se reencontra,
e retoma seu lugar. “Cada um semeia o que recolherá, e recolhe o que semeou”,
diz-nos a Escritura.
A mago negro, no fundo, é um ignorante que joga um jogo de tolos!
Seus desejos ou seus ódios envenenam seus dias, e representam o tempo perdido
para o Conhecimento verdadeiro. Na noite de sua vida, ele poderá fazer o ponto. Nem
o Amor, nem a Fortuna, nem a Juventude, nem a Beleza, estarão à sua frente para
justificar as Horas desperdiçadas. Não lhe restará senão uma única coisa: uma dívida a
pagar, nesta vida ou em outra, e que nenhuma criatura no Mundo poderá soldar por ele.
Pois, querendo encurvar “Forças” tão potentes quanto desconhecidas, tão mis
teriosas quanto temíveis, a seus desejos e a suas fantasias passageiras, ele será talvez
feito seu escravo inconsciente, mas nunca seu mestre!... Sem o saber, ele as terá servido...
“Quando mentimos e enganamos, diz Mefistófeles, damos aquilo que é nosso!..”
pela voz de Goethe, é a multidão anônima dos Iniciados de todos os tempos que
nos adverte!
Estes princípios que D-US conserva, por que Ele os deseja, por toda eternidade,
ele os emana. Eles se individualizam então, depois se exprimem, por sua vez, e segun
do sua natureza própria que é a Ideia Inicial divina. O conjunto dessas emanações
constitui o Plano Divino ou Atziluth. Cada um deles é um Atributo Metafísico. Há
assim a Justiça, o Rigor, a Misericórdia, a Doçura, a Força, a Sabedoria, etc...
Como elas são de essência divina, concebe-se que os metafísicos orientais, após
tê-las nomeado e dotado de um nome próprio, tenham aí ajuntado os terminais
“El” ou “Yah”, que significa D-US, feminino ou masculino. Obtêm-se, então, estas
denominações convencionais: “Justiça-de-D-us”, “Rigor-de-D-us”, “Misericórdia-
de-D-us”, etc...
Cada uma destas Emanações, posto que são elas mesmas partes constituintes
da DIVINDADE-UNA, emana por sua vez modalidades secundárias de sua própria
essência. E assim continuamente.
Assim se constituem estes seres particulares que nomeamos os Anjos, os Gê
nios ou os Deuses, seres que as teodiceias agruparam em dez divisões convencionais.
São os nove coros angélicos, ao qual se ajunta aquele das “almas glorificadas”, da
Teologia judaico-cristã e da Kabbala.
428 | Secretum - Manual Prático de Kabbala Teúrgica
Roda Eterna, todas as almas passam sucessivamente por todos os estados. (Ver a
“Revolução das Almas” do rabino Isaac Luria). Nesta subida sobre a escada, uma
alma é o “suplantador” enquanto outra é o degrau...
Pois, chegado uma primeira vez no “Palácio Celeste”, mundo da Plenitude, no
qual ele encontra enfim o conjunto de suas lembranças e de suas faculdades, o Ser
poder descer novamente voluntariamente sobre a “Terra”, em Aretz, e alí se reen-
carnar, seja para fins de experiências novas e do benefício que disso decorre, seja
com o objetivo altruísta de ajudar os outros seres a se liberar do Abismo, a sair do
Sheol (“Sepulcro”). E isso tantas vezes que ele desejar, protegido pelo Esquecimento.
Pode-se conceber o inferno mental que seria a Vida se nós nos lembrássemos
de tudo o que fomos? Imagine nosso eu imortal animando, por exemplo, uma
aranha? Nós nos vemos aranha no nosso tamanho, tapete em um buraco infecto,
dançando sobre uma teia, receptáculo de todas os pus e poeiras, e mordendo à
plenas mandíbulas cadáveres de moscas decompostas?...
“O Esquecimento das vidas precedentes é um benefício de D-US...” diz-nos a
tradição lamaica!
E por que a Eternidade e a Infinidade Divinas fazem que o ABSOLUTO per
maneça sempre inacessível ao SER, mesmo chegado ao Palácio dos Céus, eternas
em duração, infinitas em possibilidades, são as experiências da Criatura, e assim, a
Sabedoria e o Amor Divinos a fazem participar de uma eternidade e de um infini
dade relativas, imagens e reflexos da eternidade e da infinidade divinas, e, por isso
mesmo, geradoras de um eterno devir.
D-US-UM ALMA-UNA
Pai Pensamento
Filho Palavra
Enfim, o Teurgo não pretende submeter, mas sim obter: o que é muito dife
rente! Para o Mágico, o rito sujeita inexoravelmente as Forças para as quais ele se
dirige. Possuir seu “nome”, conhecer os “encantos”, é poder acorrentar os invisíveis,
afirmam as tradições mágicas universais.
Mas a lógica não admite, nesta pretensão, senão três hipóteses justificativas:
Para o Teurgo, nenhuma explicação atenuante de seus poderes não deve ser
temida, pois ele afasta à primeira tentativa todo fator material dotado de uma virtude
oculta qualquer, toda força aprisionada ou infundida por ritos em seus auxiliares
materiais. Somente a Simbologia deve uni-lo ao Divino com o impulso de sua alma
como veículo. À primeira tentativa, põe-se um problema: dirigindo-se a D-US
pelo canal do Espírito e do Coração, nenhuma defloração do grande arcano deve
ser temida, e, ainda que advenha em suas diversas realizações, o Mistério destas
últimas permanece inteiro.
O que o Mágico pagará pela continuação em dores, o Teurgo o completará
em alegrias. E como diz a Escritura, o Teurgo se acumula de tesouros inalteráveis,
enquanto que o mágico faz um mal investimento...
A Preparação
“O adepto deve tornar a sua palavra toda poderosa. Para tal deve pronun-
ciá-la a partir do SAG”.
“Ó Senhor D-us de misericórdia, paciente e benigno, que dispensas tua
graça em mil formas a todas as gerações; que esquece as iniquidades, as
transgressões de seus filhos; ante e cuja presença nada se encontra inocen
te, que transmite as transgressões dos pais aos filhos, aos sobrinhos, aos
netos, até a terceira e quarta geração; conheço minhas maldades e não sou
digno de aparecer ante tua divina majestade nem de implorar e pedir tua
bondade e misericórdia nem a menor graça! Mas oh Senhor dos Senhores!
A fonte de tua bondade é tão grande, que por si mesma abraça àqueles
que sentem vergonha por causa de seus pecados e os convida a beber de
tua graça. Por isso, oh Senhor meu D-us! Tem piedade de mim e afasta de
mim toda iniquidade e malícia, limpa toda minha alma de toda mancha
do pecado, renova meu espírito e conforta-o, para que se torne forte e possa
compreender o mistério de tua graça e os tesouros de tua divina sabedoria.
Consagra-me com o óleo de tua santificação, com o qual ungiu a todos seus
Helvécio de Resende Urbano Júnior | 433
profetas; purifica tudo que em mim existe para que seja digno da conver
sação com teus santos anjos e de receber tua divina sabedoria, conceda-me
o poder que deu a teus profetas sobre todos os Espíritos. Amém. Amém”.
A Semana do Magista
A imantação das forças psíquicas deve ser feita no silêncio. É pela perseverança,
pela calma e, sobretudo, pela investigação exclusiva da verdade por si mesma e não
por fim material e vil, que se chega pouco a pouco, à intuição do astral e à posse
da prática. O dia do magista deve ser consagrado à prece sob estas três formas: a
palavra, o trabalho e a meditação. Ao levantar-se dirá, depois de ter purificado
fisicamente o mais possível pela água, a oração do dia diante do altar. Em seguida
se entregará ao trabalho que é a mais útil e eficaz das preces.
A noite, finalmente,consagrar-se-á alguns instantes à meditação relativamente
às observações e aos ensinamentos que se pode recolher durante o dia que acaba
de transcorrer.
Cordeiro de D-us, pelo qual todos os fiéis são salvos, dai-me vossa paz, que deve
durar sempre, tanto nesta como na outra vida. Assim seja.
Ó grande D-us pelo qual todas as coisas foram libertadas! Livrai-me também
de todo mal.
Ô grande D-us que destes vossa consolação a todos os seres! Dai-me também.
Ó grande D-us que socorrestes e assististes a todas as coisas! Ajudai-me e socor
rei-me em todas as minhas necessidades, minhas misérias, minhas empresas, meus
perigos. Livrai-me de todas as oposições e laços dos meus inimigos, tanto visíveis como
invisíveis, em nome do Pai que criou o mundo inteiro (sinal da cruz), em nome do
Filho que o resgatou (sinal da cruz), em nome do Espírito Santo que realizou a lei em
toda sua perfeição. Lanço-me totalmente em vossos braços e ponho-me inteiramente
debaixo de vossa proteção. Assim seja. Que a benção de D-us, o Pai Todo-Poderoso,
do Filho e do Espírito Santo, esteja sempre comigo. Assim seja (sinal da cruz). Que a
bênção de D-us Pai, que só por sua palavra fez todas as coisas, esteja sempre comigo
(sinal da cruz). Que a bênção de Nosso Senhor Jesus Cristo, filho do grande D-us vivo,
esteja sempre comigo (sinal da cruz). Assim seja. Que a bênção do Espírito Santo,
com seus sete dons, esteja sempre comigo (sinal da cruz), Assim seja. Que a bênção
da Virgem Maria, com seu Filho esteja sempre comigo. Assim seja.
Terça-feira
Que a bênção e a consagração do pão e do vinho que Nosso Senhor Jesus Cristo
fez quando os deu aos seus apóstolos, dizendo-lhes: “Tomai e comei isto; este é o
meu corpo que será entregue por vós, em memória minha e para remissão de todos
os pecados”, esteja sempre comigo (sinal da cruz). Que a bênção dos santos, anjos,
arcanjos, virtudes, potências, tronos, dominações, querubins, serafins, sempre esteja
comigo (sinal da cruz). Assim seja. Que a bênção dos patriarcas e profetas, apóstolos,
mártires, confessores, virgens e de todos os santos de D-us, esteja sempre comigo
(sinal da cruz). Assim seja. Que a bênção de todos os céus de D-us esteja sempre
comigo (sinal da cruz). Assim seja. Que a Majestade de D-us Todo poderoso me
ampare e me proteja; que a sua bondade eterna me guie. Que a sua caridade sem
limites me inflame; que a sua divindade suprema me dirija; que o poder do Pai me
conserve; que a sabedoria do Filho me vivifique; que a virtude do Espírito Santo
esteja sempre entre mim e meus inimigos tanto visíveis como invisíveis. Poder do
436 | Secretum - Manual Prático de Kabbala Teúrgica
Quartafeira
Ó Emanuel! Defendei-me contra o inimigo maligno e contra todos os meus
inimigos visíveis e invisíveis, e livrai-me do mal. Jesus Cristo veio em paz, D-us
feito homem, que sofreu com paciência por nós. Que Jesus Cristo, rei clemente,
esteja sempre entre mim e meus inimigos para defender-me. Assim seja. Jesus
Cristo triunfa, Jesus Cristo reina, Jesus Cristo manda. Que Jesus Cristo me livre
continuamente do mal. Assim seja. Que Jesus Cristo se digne dar-me a graça de
triunfar sobre todos os meus adversários. Assim seja. Eis a cruz de Nosso Senhor
Jesus Cristo. Fugi à sua vista, inimigos meus. O leão da tribo de Judá triunfou. Raça
de Davi, Aleluia, Aleluia, Aleluia.
Salvador do mundo, salvai-me e socorrei-me. Vós que me resgatastes pela vossa
cruz e vosso preciosíssimo sangue, socorrei-me, conjuro-vos para isso, meu D-us, ó
Agios! Ó Theos! Agios Ischyros, Agios Athanatos, Eleison Himas, D-us santo, D-us
forte, D-us misericordioso e imortal, tende piedade de mim, vossa criatura (nome
da pessoa), sede meu amparo, Senhor. Não me abandoneis, não rejeiteis minhas
súplicas, D-us da minha salvação; sede meu auxílio, D-us da minha salvação.
Quintafeira
Iluminai meus olhos com a verdadeira luz, afim de que não fiquem fechados
com um sono eterno, para que meu inimigo não diga que o ultrapassei. Enquanto
o Senhor estiver comigo não temerei a malícia dos meus inimigos. Ó Dulcíssimo
Jesus! Conservai-me, ajudai-me, salvai-me; que só com a pronunciação do nome de
Jesus todo joelho se dobre, tanto celeste, como terrestre e infernal, e que toda língua
publique que Nosso Senhor Jesus Cristo goza da glória de seu Pai. Assim seja. Sei,
sem nunca por em dúvida, que apenas invoque o Senhor em qualquer dia ou hora
que seja, serei salvo. Dulcíssimo Senhor Jesus Cristo, Filho do grande D-us vivo,
que fizestes tão grandes milagres pela única força do vosso preciosíssimo nome e
enriquecestes tão abundantemente os indigentes, pois que pela sua força os demô
nios fugiam, os cegos viam, os surdos ouviam, os coxos andavam direito, os mudos
Helvécio de Resende Urbano Júnior | 437
Sexta-feira
O Doce nome! Nome que fortifica o coração do homem, nome de vida, de
salvação, de alegria, nome precioso, irradiante, glorioso e agradável, nome que
fortifica o pecador nome que salva, guia, conserva e governa tudo, fazei, pois, pre
ciosíssimo Jesus, pela força deste mesmo .Jesus, que o demônio se afaste de mim;
iluminai-me, Senhor, a mim que sou cego, tirai minha surdez, endireitai-me, a mim
que sou coxo; dai-me a palavra, a mim que sou mudo; curai minha lepra, dai-me a
saúde, a mim que sou doente e ressuscitai-me, a mim que sou morto; dai-me a vida
e rodeai-me em toda parte, tanto por dentro como por fora, a fim de que, estando
munido e fortificado com este santo nome, viva sempre em vós e louvando-vos,
honrando-vos, porque tudo vos é devido, porque sois o mais digno de glória, o
Senhor e o Filho eterno de D-us pelo qual todas as coisas estão em alegria e são
governadas. Louvor, honra e glória vos sejam dadas para sempre, para todos os
séculos dos séculos. Assim seja.
Que Jesus sempre esteja em meu coração, nas minhas entranhas. Assim seja.
Que Nosso Senhor Jesus Cristo esteja sempre dentro de mim, que Ele me cure.
Que sempre esteja ao redor de mim, que me conserve.
Que esteja adiante de mim, que me guie.
Que esteja atrás de mim para guardar-me.
Que esteja sobre mim para abençoar-me.
Que esteja em mim para vivificar-me.
Que esteja junto a mim para governar-me; que esteja em cima de mim para
fortificar-me; que sempre esteja comigo para libertar-me de todas as penas da morte
eterna, Ele que vive e reina por todos os séculos dos séculos. Assim seja.
438 | Secretum - Manual Prático de Kabbala Teúrgica
Sábado
Jesus, filho de Maria, salvador, do mundo, que o Senhor me seja favorável,
bondoso e propicio, que me conceda um espírito são e voluntário para lhe dar a
honra e o respeito que são devidos a Ele que é o libertador do mundo. Ninguém
pode por a mão Nele porque a sua hora ainda não tinha chegado, Ele que é, que
era e será sempre, foi D-us e homem, começo e fim. Que esta oração que lhe faço
me garanta eternamente contra meus inimigos. Assim seja. Jesus de Nazaré, rei
dos Judeus, título honroso, Filho da Virgem Maria, tende piedade de mim, pobre
pecador, e guiai-me conforme a vossa doçura no caminho da salvação eterna.
Assim seja. Ora, Jesus sabendo as coisas que deviam acontecer-lhe, adiantou-se
e lhes disse:
- A quem buscais?
Eles responderam-lhe:
- A Jesus de Nazaré.
Jesus lhes disse:
- Sou eu.
Ora, Judas, que devia entregá-lo, estava com eles. Apenas lhes disse que era
Ele, caíram por terra. Ora, Jesus lhes perguntou de novo:
- A quem buscais?
Eles disseram ainda:
- A Jesus de Nazaré.
Jesus lhes respondeu:
- Já vos disse que Sou eu. Se é a mim que buscais, deixai que estes se vão
(falando de seus discípulos).
Á lança, os cravos, à cruz (sinal da cruz), os espinhos, a morte que sofrestes
provam que apagastes e expiastes os crimes dos miseráveis; preservai-me, Senhor
Jesus Cristo, de todas as chagas da pobreza e dos laços de meus inimigos; que as
cinco chagas de Nosso Senhor me sirvam continuamente de remédio. Jesus é o
caminho (sinal da cruz), Jesus é a vida (sinal da cruz), Jesus é a Verdade (sinal
da cruz), Jesus sofreu (sinal da cruz), Jesus foi crucificado(sinal da cruz). Jesus
filho de D-us, tende piedade de mim (sinal da cruz). Ora, Jesus passou pelo
meio deles, e ninguém pôs sua mão ímpia sobre Jesus, porque sua hora ainda
não tinha chegado.
Helvécio de Resende Urbano Júnior | 439
O sétimo dia
O dia do Sol deve ser, tanto quanto possível, consagrado unicamente à ocu
pação e não à profissão.
Não nos esqueçamos de que o único repouso verdadeiro sob o ponto de vista
intelectual, é o exercício desta ocupação preferida, porque a cessação absoluta de
todo trabalho físico ou intelectual pode constituir o ideal do bruto, porém não o
de um homem suficientemente desenvolvido.
A prece deverá ser feita, naquele dia, completa e tão solene quanto possível,
quer no quarto mágico, quer em qualquer outro lugar, basta que reuna condições
apropriadas para fazer as práticas em paz.
No inverno e durante o mau tempo, a primeira parte da manhã deverá ser
consagrada a esta cerimônia. Na bela estação, convém substituir o templo, obra dos
homens, pela manifestação direta da natureza, e a prece em plena floresta ou em
pleno campo é particularmente indicada.
A tarde dos domingos será consagrada ou ao preparo dos objetos mágicos
fornecidos pela natureza e, por conseguinte, à adaptação das ciências naturais, ou à
educação estética da sensação nos museus ou nos concertos sinfônicos, ou, ainda, à
realização das pequenas operações de magia cerimonial, conforme o tempo, o lugar
e as disposições tomadas. A noite será, enfim, consagrada a recapitular e a classificar
os resultados obtidos durante a semana, no que se relacione com as ocupações, ou
à leitura, à cópia das fórmulas e das obras preferidas, ou ainda ao teatro, sempre
conforme as épocas e as disposições.
Voltando ao seu laboratório, o magista terminará o dia por uma longa meditação,
seguida de uma prece diante do altar ou no círculo mágico. É neste momento que o
emprego dos isolantes, como o vidro ou a lã, deverá ser particularmente estudado.
De resto, a adaptação da meditação ao meio e ao indivíduo não pode ser in
dicada em todos os seus detalhes em um tratado tão elementar; esperamos que os
exemplos enunciados acima servirão para guiar o estudante, e que o exercício e a
prática ativarão facilmente a obra começada por seu desejo e sua aplicação.
É pelo exercício progressivo da meditação que se chega, pouco a pouco, ao
desenvolvimento das faculdades psíquicas superiores, de onde derivam três ordens
de fenômenos dos mais importantes, classificados pelos autores antigos sob os nomes
de arroubo, êxtase e sonho profético.
Extraído do livro Tratado Elementar de Magia - Papus
440 | Secretum - Manual Prático de Kabbala Teúrgica
Ação de Graças
“D-us Onipotente, que criou todas as coisas para o serviço e conveniência dos
homens, te damos as mais humildes graças pelos benefícios que em tua infinita bon
dade tem derramado sobre nós, por teus inestimáveis favores que nos tem outorgado
aos nossos desejos, ó poderoso D-us! Realizado tudo de acordo com tuas promessas
que fizeste quando nos comunicastes: “Busca e encontrarás, toca e lhe abrirá”. Como
nos ordenou ajudar e socorrer o necessitado, te prometemos, em presença do grande
Adonay, Elohim, Ariel e Jehovah, que seremos caritativos com o pobre e derramaremos
sobre todos os benefícios do Sol com os quais essas quatro divindades poderosas nos
tem enriquecido. Que assim seja. Amém”.
CAPÍTULO V
Rituais do Fogo
I 441 |
442 | Secretum - Manual Prático de Kabbala Teúrgica
Algumas instruções que devem ser aplicadas para todos os Rituais do Fogo:
* Todas as velas (pessoais e intencionais) deverão ser acesas com o Fogo da Vela
Divina n.° 2. Para este fim tomar-se-á este Fogo, com a ajuda de um fósforo,
e se inflamará em seguida a vela desejada;
* O esquema do Altar desenhado, para cada Ritual, representa a posição inicial
das velas, antes que uma delas avance;
* Os Nomes dos Arcanjos, Anjos e quaisquer outras Inteligências dados como
exemplo no primeiro Ritual, onde se lê “Yod-He-Vau-He Elohim e Tsaphkiel”
deverão ser trocados por aqueles Nomes que correspondem às Inteligências
pertinentes a cada um; verifiquem estas informações na parte 1, capítulos I,
II, III e IV, do nosso livro, Manual Mágico de Kabbala Prática.
* Não sopreis nunca sobre uma vela para apagá-la; utilizai para este efeito um
apagador ou um objeto qualquer.
* Se desejais acelerar os resultados do Ritual escolhido, e que isto não seja indicado,
utilizai uma vela de cor carmim; acendei esta chamando a Graça da Mãe. Ela
deverá ser colocada, se possível, entre o incensório (ao lado) e o conjunto das
velas postas um pouco mais abaixo sobre o Altar. Ela representa o chamado
à Divina Mãe, à Força Kármica que rege tudo.
Helvécio de Resende Urbano Júnior | 443
Io Instruções preliminares.
Antes de empreender um dos seguintes Rituais destinados geralmente a cha
mar à vossa direção aquilo que desejais (dinheiro, amor, trabalho...) deveis efetuar
este Ritual cujo efeito é o de limpar vossa vida: por ele, vós vos dirigis de uma certa
maneira aos Senhores do Karma, aos Juízes de nosso Universo Que ordenaram aquilo
que, até aqui, vos atingiu. Vós pedireis: Graça e Misericórdia, e então o alívio da
penosidade de vossas condições atuais de existência.
Preparai este Ritual “melhor que qualquer outro...”, isto é, com a plena consci
ência de que ireis comparecer diante do Tribunal que vos condenou e cuja existência
ignorais. Não esqueçais que vossa vida é o resultado de vossos pensamentos, de vossos
sentimentos e de vossas ações, ligados à vidas passadas das quais não tendes, certa-
mente, nenhuma lembrança, mas que “tecem”, contudo, vosso presente. Sabeis que
não ter consciência de algo não impede este algo de existir. O cego de nascença nunca
viu o Sol, ele poderia, então, negar sua existência, mas esta negação não impediria o
Sol de existir. É o mesmo para todos nós que não temos a memória de nosso passado
anterior na vida presente, mas que colhemos dela, entretanto, todos os frutos.
Este Ritual deve ser efetuado em Lua Descendente. Ele dura nove dias. Ele deve
ser começado em um Sábado. Deve ser empreendido mais de nove dias antes da Lua
Nova (Lua Negra) a fim de terminar um, dois ou três dias antes desta posição lunar.
As velas deste Ritual são as seguintes:
A carga das velas se faz assim: as Velas Divinas, as três velas laranjas e aquela que
representa uma pessoa devem ser carregadas em apelo (unção de cima para baixo). A
vela negra e a vela cinza devem ser carregadas em reenvio (unção de baixo para cima).
Os Governadores deste Ritual são as Potências da Esfera de Saturno, Binah,
terceira Emanação Divina. São chamadas, de maneira subsequente, as Esferas de
Chesed e Netzach a fim de orientar - se isso for concedido - um pouco a Força
Divina em direção ao Pilar da Misericórdia. Os Nomes de Poder são principalmente
YOD-HE-VAU-HE ELOHIM e TSAPHKIEL; e conforme dissemos anteriormente
poderão, ou melhor, deverão serem substituídos por aqueles Nomes que mais se
adequam a cada pessoa. Recopiai então, com tinta violeta, sobre um cartão limpo
de cor branca, estes dois Nomes Sagrados tais como eles são dados aqui em hebreu:
Imagem
Centelha Divina da divindade Centelha Divina
Helvécio de Resende Urbano Júnior | 445
2o Ritual
Fazei sobre vós o Sinal da Cruz dos Elementos, vos purificando e abrindo
assim o Ritual.
Acendei as Velas Divinas, o carvão e o incenso seguindo o processo e indica
ções descritos no capítulo I, parte IV do Manual Mágico de Kabbala Prática.
Se possuirdes um Pantáculo pessoal, pegai o fogo na Vela Divina n° 2 e man
tende o fósforo alguns segundos sobre este Pantáculo dizendo: “este é o objeto que
realizará minha Verdadeira Vontade’.
Dizei então, com os braços levantados, palmas das mãos tendidas em direção
ao Altar e virai o rosto para o céu: “Em nome de YOD-HE-VAU-HE ELOHIM, eu abro
este RITUAL. Senhor TSAPHKIEL, conceda-me Tua ajuda e Tua proteção durante
toda esta Cerimônia. Possam Tuas Legiões, por Tua ordem e pelo Nome sagrado de
YOD-HE-VAU-HE ELOHIM, aliviar-me de todo mal. Tu, Que reina sobra a Esfera de
BINAH e governa os Destinos, afaste de mim, eu Te suplico, a desgraça e o sofrimento
que até agora marcaram minha vida. (Enumerai aqui aquilo que vos atinge: lutos,
fracassos, pobreza, doença, etc...). AS PROVAS ERAM MERECIDAS ainda que eu
ignore conscientemente sua causa real, mas eu peço que, pela GRAÇA DIVINA, seja
colocado um fim neste curso doloroso de meu destino. É por isso que eu solicito, pelo
Nome de AL, a Clemência do Divino TSADKIEL, Aquele Que reina sobra a Esfera
da Misericórdia, CHESED, afim de que sejam apagados as lágrimas e os sofrimentos.
Possam os Senhores do Karma me conceder sua Indulgência e deixar livre, doravante,
o caminho para a alegria, a saúde, a abundância, o sucesso e a paz. Amem’.
Permanecei em silêncio e deixai-vos penetrar pela Força invocada. Se um calor
descer de repente sobre a cabeça e sobre os ombros, não temei nada. Sentai-vos e
continuai o Ritual assentado se puderdes, se não, levantai-vos.
Tomai então o Fogo da Vela Divina da direita (n.° 2) ali inflamando um fósforo;
acendei a vela que vos representa e dizei fixando-a bem: “Esta vela representa (dizei
vosso nome) ou... (o nome da pessoa em proveito de quem fazeis este Ritual). Ela
está (dizei o nome) em todas as coisas. A vida e o desejo de (dizei o nome) queimam
sobre este Altar tão forte quanto queima esta flama.” Pensai fortemente no sentido
de vossas palavras. Repeti.
Acendei as três velas laranja 1-2-3 pensando fortemente que elas representam
a felicidade e a sorte (além disso, elas foram carregadas neste sentido quando da
unção...). Dizei: “A Força, a Coragem e a Sorte acompanham... (dizei o nome) e que
446 | Secretum - Manual Prático de Kabbala Teúrgica
o Sucesso esteja doravante sempre perto dele, pois seu destino muda”. Concentrai-
vos. Repeti várias vezes essas palavras com convicção. Pegai o Fogo na Vela Divina
da direita (n° 2), acendei a vela negra e depois dizei: “Aqui se condensam todo o
sofrimento, todas as desgraças, todos os fracassos que preencheram a vida de... (dizei
vosso nome ou o nome apropriado), tudo aquilo que ele sofreu assim como todos os
obstáculos que barraram sua estrada estão aqui”.
Pensai fortemente em vossas desilusões; em vossas desgraças e em tudo o
que desejais afastar para sempre. Se se trata de uma outra pessoa à qual destinais
o benefício deste Ritual, pensai então em tudo o que pôde fazê-la sofrer. É preciso
exprimir o que pesa sobre o coração.
Acendei a vela cinza pegando o Fogo da Vela Divina n.° 2 e dizei: “Esta vela
neutraliza o mal. Que ela aja durante todo o Ritual com a mesma intensidade vibrando
em todas essas flamas e com a mesma força contida no fogo vivo. Que o mal cesse e
desapareça para sempre da vida de... (dizei vosso nome ou o nome apropriado)”.
Depois dizei: “O vós, entidades Divinas que constituis o Fogo, vinde a meu
socorro e, pelo Nome de YOD-HE-VAU-HE TZABAOTH, Senhor do Fogo, livrai-me
de todo mal. Fazei uma barreira de Fogo e de Luz em torno de mim afim de que os
golpes da sorte não possam mais me atingir. Por MICHAEL, Amém”.
Pensai fortemente que vosso destino está mudando, que a felicidade chega
acompanhada da Alegria, do sucesso e da paz. Contemplai bem as chamas e segui
com o olhar o papel de cada uma delas.
Depois, com certeza, confiança e um intensa emoção dizei: “Até quando vós
vos arremessareis sobre um homem e o abatereis, como uma muralha que pende,
como uma cidadela que se desmorona? Seus projetos são enganos, seu prazer é o de
seduzir; a mentira na boca, eles abençoam, mas dentro, maldizem. O Senhor falou
uma vez e eu, eu O ouvi duas vezes. A Ti pertence o Poder, a Ti pertence o Amor. Tu
pagas o homem segundo suas obras”.
Apagai somente a vela negra. Permanecei meditativo alguns minutos. (Podereis
estar assentado tanto para recitar esta prece quanto para meditar).
Acendei novamente a vela negra (pegando o Fogo da Vela Divina n° 2) e redizei
esta prece: “Até quando vós vos arremessareis...”
Apagai ainda uma vez somente a vela negra. Meditai alguns minutos.
Acendei novamente a vela negra e dizei ainda uma vez a mesma prece:
“Até quando...”
Concentrei-vos então sobre a Sorte, a Felicidade, o Sucesso.
Helvécio de Resende Urbano Júnior | 447
8. Das suas narinas subiu fumaça, e da sua boca saiu fogo devorador; dele saíram
brasas ardentes.
9. Ele abaixou os céus e desceu; trevas espessas havia debaixo de seus pés.
10. Montou num querubim, e voou. Sim, voou sobre as asas do vento.
11. Fez das trevas o seu retiro secreto; o pavilhão que o cercava era a escuridão
das águas e as espessas nuvens do céu.
12. Do resplendor da sua presença saíram, pelas suas espessas nuvens, saraiva e
brasas de fogo.
13. O Senhor trovejou a sua voz; e havia saraiva e brasas de fogo.
14. Despediu as suas setas, e os espalhou; multiplicou raios, e os perturbou.
15. Então foram vistos os leitos das águas, e foram descobertos os fundamentos
do mundo, à tua repreensão, Senhor, ao sopro do vento das tuas narinas.
16. Do alto estendeu o braço e me tomou; tirou-me das muitas águas.
17. Livrou-me do meu inimigo forte e daqueles que me odiavam; pois eram mais
poderosos do que eu.
18. Surpreenderam-me eles no dia da minha calamidade, mas o Senhor foi o meu
amparo.
19. Trouxe-me para um lugar espaçoso; livrou-me, porque tinha prazer em mim.
20. Recompensou-me o Senhor conforme a minha justiça, retribuiu-me conforme
a pureza das minhas mãos.
21. Pois tenho guardado os caminhos do Senhor, e não me apartei impiamente
do meu D-us.
22. Porque todas as suas ordenanças estão diante de mim, e nunca afastei de mim
os seus estatutos.
23. Também fui irrepreensível diante dele, e me guardei da iniquidade.
24. Pelo que o Senhor me recompensou conforme a minha justiça, conforme a
pureza de minhas mãos perante os seus olhos.
25. Para com o benigno te mostras benigno, e para com o homem perfeito te
mostras perfeito.
26. Para com o puro te mostras puro, e para com o perverso te mostras contrário.
27. Porque tu livras o povo aflito, mas os olhos altivos tu os abates.
28. Sim, tu acendes a minha candeia; o Senhor meu D-us alumia as minhas trevas.
29. Com o teu auxílio dou numa tropa; com o meu D-us salto uma muralha.
30. Quanto a D-us, o seu caminho é perfeito; a promessa do Senhor é provada;
ele é um escudo para todos os que nele confiam.
31. Pois, quem é D-us senão o Senhor? Quem é rochedo senão o nosso D-us?
Helvécio de Resende Urbano Júnior | 449
32. Ele é o D-us que me cinge de força e torna perfeito o meu caminho;
33. Faz os meus pés como os das corças, e me coloca em segurança nos meus
lugares altos.
34. Adestra as minhas mãos para a peleja, de sorte que os meus braços vergam
um arco de bronze.
35. Também me deste o escudo da tua salvação; a tua mão direita me sustém, e a
tua clemência me engrandece.
36. Alargas o caminho diante de mim, e os meus pés não resvalam.
37. Persigo os meus inimigos, e os alcanço; não volto senão depois de os ter consumido.
38. Atravesso-os, de modo que nunca mais se podem levantar; caem debaixo dos
meus pés.
39. Pois me cinges de força para a peleja; prostras debaixo de mim aqueles que
contra mim se levantam.
40. Fazes também que os meus inimigos me deem as costas; aos que me odeiam
eu os destruo.
41. Clamam, porém não há libertador; clamam ao Senhor, mas ele não lhes responde.
42. Então os esmiúço como o pó diante do vento; lanço-os fora como a lama das
ruas.
43. Livras-me das contendas do povo, e me fazes cabeça das nações; um povo que
eu não conhecia se me sujeita.
44. Ao ouvirem de mim, logo me obedecem; com lisonja os estrangeiros se me
submetem.
45. Os estrangeiros desfalecem e, tremendo, saem dos seus esconderijos.
46. Vive o Senhor; bendita seja a minha rocha, e exaltado seja o D-us da minha
salvação,
47. O D-us que me dá vingança, e sujeita os povos debaixo de mim,
48. Que me livra de meus inimigos; sim, tu me exaltas sobre os que se levantam
contra mim; tu me livras do homem violento.
49. Pelo que, ó Senhor, te louvarei entre as nações, e entoarei louvores ao teu nome.
50. Ele dá grande livramento ao seu rei, e usa de benignidade para com o seu
ungido, para com Davi e sua posteridade, para sempre.
450 | Secretum - Manual Prático de Kabbala Teúrgica
Aplicação do Salmo 18
“Eu te amo, Ó Senhor1. Escreva num pedaço de papel, esta frase deste Salmo, e
use sempre num de teus bolsos do lado direito. Desta forma será protegido contra
teus inimigos e terá sempre aberto o curso de teu caminho.
1° instruções preliminares.
Este Ritual deve ser efetuado em caso de penúria intensa: o oficial de justiça
está na vossa porta, mais dinheiro para pagar o aluguel ou mesmo o salário é mi
serável e as necessidades da vida cotidiana não podem ser satisfeitas.
Em consequência, ele não deverá ser feito com o objetivo de aumentar riquezas
já possuídas; nenhum sentimento de avidez (cobiça) deverá fundar esta Cerimônia.
Este Ritual limpa o subconsciente dos obstáculos à vinda do dinheiro. Por
essa razão, ele poderá ser efetuado, pois sua potência é tal que ele vos harmonizará
com a energia particular chamada dinheiro.
Com efeito, o dinheiro é uma energia dispensadora de alegria e de benefícios.
Ela é uma fonte de trocas e de possibilidades entre os homens. A prática mágica
mostra geralmente que, efetuado pela primeira vez, este Ritual revela todas as forças
negativas acumuladas no subconsciente concernindo esta energia assim como os
obstáculos kármicos à sua manifestação.
Todos os temores, todo o desgosto, toda a culpabilidade ligados ao dinheiro
assim como toda a inveja em relação àqueles que o têm, dormem no mais fundo
do ser e são entraves reais à livre circulação desta energia na vida cotidiana. Essas
forças negativas podem ser percebidas pelas seguintes afirmações: “o dinheiro não
traz a felicidade...”, “o dinheiro é maldito...”, “o dinheiro é sujo...”.
Tantas bobagens são ditas, e o foram ao curso dos séculos, sobre o dinheiro, que
hoje o subconsciente coletivo o confunde com o diabo, distribuidor de ilusões. Que
a utilização do dinheiro conduz a abusos e pode reforçar um apego doentio aos bens
materiais, é certo - e aí está o diabo - mas daí a amaldiçoá-lo significa jogar aquilo que,
em nossas sociedades, permite uma troca nas atividades e competências humanas. É
verdade que estas ideias negativas foram difundidas no curso dos séculos, justamente
por aqueles mesmos que tinham dinheiro, de modo que a maioria dos homens per
manecem pobres e trabalham para os providos. Compreender bem o processo pelo
qual o inconsciente coletivo foi intoxicado e ao qual o vosso está ligado, constitui
o primeiro passo em direção à abundância. Esta maldição que é a pobreza cessará.
Além disso, cargas kármicas saídas não mais de uma certa maneira de pensar
na vida atual mas de atos ou de pensamentos acumulados em vidas passadas cons
tituem um entrave desejado pela Lei à manifestação do dinheiro em vossa vida e
o Ritual os revelará.
452 | Secretum - Manual Prático de Kabbala Teúrgica
A carga de todas as velas se faz em apelo: unção de cima para baixo de cada
vela. Não esqueçais, quando da preparação de vosso Ritual, de pensar untando
as velas, no papel que cada uma delas detém. Assim, a vela dourada representa o
poder de atração e a vela púrpura, o poder de trazer (ela impulsiona o resultado
desejado enquanto que a precedente atrai, em benefício do demandista, este
resultado...). A vela carmim é a aceleração da manifestação deste mesmo resul
tado enquanto que as cinco velas verdes são o dinheiro sob todas as suas formas.
Quanto àquela que vos representa, ela é vós (não vos esqueçais de ali colocar um
pouco de saliva.)
Helvécio de Resende Urbano Júnior | 453
Imagem
Centelha Divina da divindade Centelha Divina
2o Ritual
Fazei sobre vós o Sinal da Cruz dos Elementos para vos purificar e abrir assim
o Ritual.
Acendei as Velas Divinas, o carvão e o incenso seguindo o processo e indica
ções descritos no capítulo I, parte IV do Manual Mágico de Kabbala Prática.
Exaltai a Força do Pantáculo do Reino segundo o processo indicado no Ritual
do Fogo n.° 1.
Depois elevai os braços e, palma das mãos viradas para o céu, dizei:
“Pelo Nome de ELOAH VE DAATH, Poderoso MICHAEL venha em meu socor
ro. Tu, Veículo de Luz, Semelhante ao Mais Alto, dissolva em mim tudo o que impede
a vinda da abundância material na minha vida. Faça com que o dinheiro circule
livremente em minha existência afim de que eu possa ser, por minha vez, uma fonte
454 | Secretum - Manual Prático de Kabbala Teúrgica
Aplicação do Salino 93
Rezando este Salmo nos momentos de dificuldade financeira terás sucesso em
todas as empreitadas e atrairá para si sorte, intuição e prosperidade. Se desejas obter
reconhecimento e sucesso, enche uma vasilha com água e coloque dentro folhas de
456 | Secretum - Manual Prático de Kabbala Teúrgica
mirra e pétalas de rosas brancas e vermelhas e reze os Salmos, 91, 93 e 99, por três
vezes. A cada vez lave o rosto e por fim jogue o restante desta água com as folhas
e pétalas de rosas do pescoço para baixo. Depois volte o rosto para o Leste e reze a
D-us pela realização de teus desejos e verás coisas maravilhosas. Ficarás assombrado
ao ver tua boa fortuna crescendo e ao mesmo tempo as honras e reconhecimento
avançando em forma surpreendente de um ponto ao outro.
Imagem
Centelha Divina da divindade Centelha Divina
2o Ritual
Fazei sobre vós o Sinal da Cruz dos elementos para vos purificar e abrir assim
o Ritual.
Acendei as Velas Divinas, o carvão e o incenso segundo o ensinamentos de
correspondências indicado no Manual Mágico de Kabbala Prática.
Exaltai a Força do Pantáculo pessoal segundo o processo indicado no Ritual
do Fogo n° 1.
Fazei então a invocação seguinte:
“Em Nome de AL, Senhor TSADKIEL, Tu, cuja Magnificência é grande, eu
Te suplico. Traga para minha vida a grandeza e o crescimento, a prosperidade e
o controle das diversas situações que a compõem. Que Teu Nome seja abençoado
para todo o sempre”.
Acendei a vela que vos representa precisando em voz alta, no momento dos
precedentes Rituais, que ela é vós (ou o beneficiário do Ritual) em todas as coisas.
Acendei a vela dourada afirmando bem seu poder de atração.
Acendei a vela púrpura especificando seu Poder e sua Força.
Acendei a vela verde dizendo o que ela é: o dinheiro e a saúde.
Helvécio de Resende Urbano Júnior | 459
Aplicação do Salmo 92
Escreva este Salmo num papel e depois de recitá-lo, dentro do Ritual, divida-o
em quatro partes enterrando-o num terreno virgem, nos quatro pontos cardeais.
O Nome Santo deste Salmo é El, que significa D-us forte. Leia também, para obter
a prosperidade, os Salmos 93 e o 94.
Se escreves, este Salmo, junto com o verso final do Salmo anterior sobre um
papel virgem e o carregar sempre contigo, estarás sempre propenso aos bons au
gúrios e à fortuna.
Erguei o Altar assim (com 2 Velas Divinas, 1 que vos representa, 1 de cor dou
rada, 4 laranjas e 4 púrpuras):
462 | Secretum - Manual Prático de Kabbala Teúrgica
Imagem
Centelha Divina da divindade Centelha Divina
2o Ritual:
Fazei sobre vós o Sinal da Cruz dos elementos, ou RMDP.
Acendei as duas Velas Divinas, o carvão e o incenso seguindo o processo e
indicações descritos no capítulo I, parte IV do Manual Mágico de Kabbala Prática.
Exaltai as vibrações do Pantáculo do Reino ou do Pantáculo pessoal.
Fazei a invocação seguinte: “Em Nome de AL e pelo Majestoso TSADKIEL,
que os Reais HASMALIM me sejam propícios e me tragam o sucesso desejado para
tal empreendimento:... (dizer aquilo que se quer). Divino TSADKIEL, Tu cuja Mag
nificência e a Irradiação ofuscam o Espaço de TZÉDEK, conceda tua Clemência, Ó
Misericordioso, afim de que eu.... (dizer aquilo que se quer. Se o Ritual é feito para
outrem, dizer então: “a fim de que um tal,...” etc...). Eu Te rendo Graça, Magnífico
TSADKIEL, por EL, O Quatro Vezes Santo. Amem”
Acendei a vela que vos representa ou que está destinada ao beneficiário do
Ritual.
Acendei a vela dourada e dizei: “quão grande é seu poder de atração?
Acendei as velas laranja 1 e 2 dizendo: “Aqui se eleva o Esplendor do Sucesso,
da Sorte e da Magnificência. A sorte, com efeito, surge em proveito de... (dizei vosso
Helvécio de Resende Urbano Júnior | 463
nome ou aquele que beneficia do Ritual), e tudo aquilo que ele pede, a saber... (dizei
o objetivo do Ritual: emprego preciso em tal lugar..., etc...) é realizado pela Energia
sublime que se despeja nesse instante sobre sua situação!"
Acendei as velas púrpuras 1 e 2 e dizei: “Isto é o Poder Divino Que impulsiona
a Sorte, Que faz emergir o Sucesso em direção a um tal no objetivo de... (dizer qual é
este objetivo ainda uma vez). Este Poder é inexorável e o sucesso é certo.”
Depois dizei com respeito: “Vinde! Gritemos de alegria para o Senhor. Aclame
mos o Rochedo da nossa Salvação! Ide diante Dele em ações de graças e o aclamemos!
Pois D-us é Grande e ele é Rei acima de todos os Céus!”
Não acendais as outras velas (laranjas 3 e 4, púrpuras 3 e 4).
Meditai. Vede vossa situação se enriquecer de sorte e de sucesso. Deixai as
Velas Divinas e as velas se consumir pela metade depois as apagai no sentido in
verso do acendimento. Encerrai esta Cerimônia fazendo sobre vós o Sinal da Cruz
dos Elementos.
No dia seguinte, sexta-feira, refazei este Ritual, mas acrescentai à invocação
que fizestes, quando as Velas Divinas acabarem de ser acendidas, e que vos foi
dado, o que segue:
“Eupeço também a Benevolência do Divino HANIEL, por YOD-HE-VAU-HE
TZABAOTH e que os ELOHIM realizem também meu pedido e tragam o Sucesso.
Amem.”
Acendei todas as velas (duas metades laranja 1,2; duas metades púrpuras 1,2;
duas laranjas inteiras 3,4; duas púrpuras inteiras, 3,4).
Dizei as mesmas afirmações e preces.
Deixai as Velas Divinas, a vela que vos representa, a vela dourada assim como
as velas laranja e púrpuras 1 e 2 se consumirem inteiramente e apagai, então, as
outras que não estiverem mais que pela metade (laranjas e púrpuras 3 e 4).
Na semana seguinte, refazei este Ritual, na Quinta-Feira, utilizando as metades
de velas laranja e púrpuras 3 e 4 que restam da Cerimônia precedente e pegando
novas velas: duas Velas Divinas, uma que vos representa, uma de cor dourada, duas
laranjas e duas púrpuras.
Elevando o Altar, nesta segunda Quinta-feira, colocareis a metade das duas
velas laranja e a metade das duas velas púrpuras restantes (n° 3 e 4 sobre o croqui)
nas posições 1 e 2 (ver o mesmo croqui); as duas novas velas laranjas e as duas
novas velas púrpuras, inteiras então, ocuparão as posições 3 e 4. Depois fareis o
Ritual da Quinta-Feira e deixareis se consumir inteiramente as duas metades de
464 | Secretum - Manual Prático de Kabbala Teúrgica
Aplicação do Saltno 4
Se ainda não tens o Sucesso que almeja e se tua vida não vai para frente, le
vanta-te antes do Sol nascer no horizonte e leia três vezes este Salmo acompanhado
da seguinte oração:
“Que te seja sempre agradável, Ó Jiheje (O que é e será), conceda-me prosperi
dade e abra meus caminhos, mostre-me onde devo dar meus passos e encetar minhas
ações. Permita que meus desejos sejam amplamente realizados desde agora, pela
virtude de teu grande, poderoso e misterioso nome. Amém”.
Podeis ainda ler este Salmo quando estiverdes viajando ou caminhando por
alguma estrada deserta e serás preservado da má sorte e dos assaltantes, e obterás
com facilidade tuas prementes necessidades. Também se escreve este Salmo para a
pessoa que não consegue dormir à noite, e então dirás:
“Sede convocados para expulsar todo pensamento ou ansiedade do peito e da
mente de F... filho de F.., e proporcionai-lhe um sono calmo e um repouso justo e
sem agitações, pela verdade de vosso poder sobre a noite, e o dia, ó assembleia das
Inteligências ascencionadas, servidores do nobre Trono”.
A prece para este Salmo é:
“Que te sejas agradável, Ó Jiheje, dar-se prosperidade no meu caminho, nos
meus passos e em todas as minhas ações. Permita que meus desejos sejam plena
mente satisfeitos, hoje, em honra a teu poderoso e bendito nome. Amém.”
Fazei este Ritual se, sem parceiro na vida, estiverdes tomado pela solidão tanto
sentimental quanto sexual.
Podeis fazê-lo se igualmente desejardes atrair os favores afetivos de uma
determinada pessoa sem que tenha para tanto uma conotação amorosa em vosso
desejo: receber simplesmente afeto.
Contudo, atenção! Não façais este Ritual, se a pessoa cobiçada para fins de uma
relação amorosa estiver já ligada a outro parceiro (marido ou esposa) ou que vive em
um concubinato feliz. O fato de desejar tal pessoa pode se compreender na medida
em que os seres humanos não controlam seus sentimentos e não fazem nada para
isto, mas aquilo que é repreensível é fazer um Ritual de Magia Divina para atrair
uma pessoa que não se interessa em vós e que ama outra. Mas mesmo se a pessoa
cobiçada está livre, e se fizerdes este Ritual, aquele não curvará sua vontade, desde
que ela se oponha violentamente a esta união. Este Ritual, compreendei-o bem, não
cria “um rosto” do amor...
Este Ritual pode ser feito, em consequência:
Este Ritual dura sete dias. Ele deve ser empreendido em uma Sexta-Feira em
Lua Ascendente.
O Governador deste Ritual é o Arcanjo Haniel (Netzach).
As velas deste Ritual são as seguintes:
Imagem
Centelha Divina da divindade Centelha Divina
2o Ritual
Fazei sobre vós o Sinal da Cruz dos elementos.
Acendei as duas Velas Divinas, o carvão e o incenso seguindo o processo e
indicações descritos no capítulo 1, parte IV do Manual Mágico de Kabbala Prática.
Exaltai a Força do Pantáculo do Reino segundo o processo indicado no Ritual
do Fogo n.° 1.
Depois fazei a invocação seguinte: “Por YOD-HE-VAU-HE TZABAOTH, eu
chamo aqui a Bondade e a Doçura do Esplêndido Arcanjo HANIAL. Ó HANIEL, pos
sam os ÉLOHIM vir em socorro de minha solidão e de minha tristeza e levar em minha
direção o (ou a)parceira tão esperada. Eu Te agradeço, Divino HANIEL; Amem”.
Acendei a vela que vos representa e dizei bem o que ela é: vós em qualquer
coisa, com vossa falta, vossas aspirações afetivas ou amorosas.
Acendei a vela púrpura que se encontra ao lado da vela que vos representa (n°
1) e dizei bem o que ela é: vosso desejo de amor.
Acendei a vela dourada precisando seu papel de amante, seu poder de atração
imenso. Dizei que esta vela dourada trabalha para vós, atrai para vós, etc...
468 | Secretum - Manual Prático de Kabbala Teúrgica
Acendei a vela que representa a pessoa desejada (que ela tenha um nome,
então que ela seja conhecida por vós ou que ela seja ainda desconhecida). Dizei o
que ela representa: a parceira esperada, desejada, etc...
Acendei a vela vermelha n° 2 que está ao lado daquela que representa a pessoa
desejada. Dizei bem que ela é, neste Ritual, sobre este Altar, o amor desta pessoa
para vós, o desejo desta pessoa para vós, etc...
Se vós fordes um homem, dizei então: "Como teus pés são belos em tuas sandá
lias, filha de Príncipe! A curva dos teus flancos é como um colar, obra das mãos de um
artista. Teu umbigo forma uma taça em que não falta o vinho, teu ventre um pedaço
de frumento cercado de lis e teus dois seios são dois filhotes, gêmeos de uma gazela.”
Não hesiteis em repetir isto várias vezes e com emoção. Se fordes uma mulher,
dizei então:
"Eu durmo, mas meu coração vigia. Eu ouço meu Bem-Amado que bate”. "Meu
Bem-Amado passou a mão pelo buraco da porta e, de repente, minhas entranhas
estremeceram.”
Não hesiteis em repetir isto várias vezes e com emoção!
Deixai consumir uma quinzena de minutos as Velas Divinas e, depois as
apagai na ordem inversa de seu acendimento. Fazei sobre vós o Sinal da Cruz dos
elementos e deixai o Altar tal como está.
No dia seguinte recomeçai este Ritual tendo antes avançado dois centímetros
aproximadamente a vela que representa a pessoa desejada assim como a vela púrpura
n° 2 em direção à vela que vos representa (ver o sentido da flecha sobre o croqui).
No sétimo dia, as duas velas que foram assim avançadas devem estar muito
próximas daquela que vos representa e da vela dourada. Deixai igualmente, neste
último dia, todas as velas se consumirem até o fim.
1 Com a minha voz clamo ao Senhor; com a minha voz ao Senhor suplico.
2 Derramo perante ele a minha queixa; diante dele exponho a minha tribulação.
3 Quando dentro de mim esmorece o meu espírito, então tu conheces a minha
vereda; no caminho em que eu ando ocultaram-me um laço.
4 Olha para a minha mão direita, e vê, pois não há quem me conheça; refúgio
me faltou; ninguém se interessa por mim.
Helvécio de Resende Urbano Júnior | 469
Salmos [127]
2o Ritual
Fazei sobre vós o Sinal da Cruz dos Elementos.
Acendei as Velas Divinas, o carvão e o incenso seguindo o processo e indica
ções descritos no capítulo I, parte IV do Manual Mágico de Kabbala Prática.
Exaltai a Força do Pantáculo do Reino segundo o processo indicado no Ritual
do Fogo n° 1.
Acendei a vela carmim e dizei:
“Mãe Bem-Amada, Tu Que distribui o Amor e a Paz aos corações, olhe Tuas
duas crianças, Um Tal e Uma Tal que agora não sentem mais o amor em seus cora
ções. A atração magnética parou de agir entre eles e sua vida se resseca.
Ó Tu, a Maravilhosa, Tu, Que conhece a Nota de cada ser, faça ressoar no co
ração do Um Tal e da Uma Tal seu Som respectivo, e no silêncio de sua indiferença
mútua, eles se tornarão novamente receptivos à Vibração do Amor. Por YOD-HÉ-
VAV-HÉ TZABAOTH e pelo Magnífico HANLAL, como os ÉLOHIM agem rápido!
Por SCHADDAYE-EL-HAi e o Tenro GAVRIAL, como os KÉRURIM agem rápido!
Que a união de Um Tal com Uma Tal seja! Amem.”
Acendei a vela que representa a mulher, a vela dourada (ou vermelha) e a vela
púrpura que estão ao lado dela. Pensai bem aquilo que fazeis. Dizei o que cada uma
delas representa.
Acendei a vela que representa o homem, a vela dourada e a vela púrpura ao
lado dela. Pensai bem naquilo que fazeis. Dizei o que cada uma delas representa.
Depois dizei:
“Sobre meu leito, à noite, eu procurei aquele que meu coração ama. Eu o
procurei, mão eu não o achei. Eu me levantarei então e percorrerei a cidade. Nas
ruas e sobre as praças eu procurarei aquele que meu coração ama. Eu o procurei,
mas eu não o encontrei! Os guardas me encontraram, aqueles que fazem a ronda na
cidade: “Vistes aquele que meu coração ama?” Mas eu os havia apenas ultrapassado,
e eu encontrei aquele que meu coração ama.”
Meditai alguns minutos.
Apagai as velas no sentido inverso de seu acendimento, fazei sobre vós o Sinal
da Cruz dos Elementos kabbalísticos (veja em nossa obra Manual Mágico de Kabbala
Prática) e deixai o Altar tal como está.
No dia seguinte, na mesma hora, recomeçai esta Cerimônia tendo antes re-
aproximado em dois centímetros aproximadamente as velas que compõem os dois
grupos (ver as flechas sobre o croqui).
Helvécio de Resende Urbano Júnior | 473
Continuai assim durante nove dias. No nono dia, o último deste Ritual, todas
as velas estão face a face muito perto. Deixai-as se consumir até o fim.
Aplicação do Salmo 45
Este Salmo emprega-se para minimizar as discórdias; escreve-se num papel
virgem, na primeira hora de Domingo, em jejum, e, se um dos cônjuges o carrega
será sempre protegido, das cizânias e brigas ordinárias que provocam separações e
tristezas. Também se escreve para quem ama, porque proporciona uma boa acei
tação para as mulheres junto aos seus esposos e junto de qualquer um que olhar
aquele que o use.
Salmos [27]
Aplicação ão Salmo 27
O Nome sagrado deste Salmo é Elohe. Recita este Salmo, se queres ficar livre
de traições e deslealdade de seus cônjuges. Após a leitura deste Salmo convoca os
Servidores Ahya Sharahya, Adonay, Senhor Tzabaoth, El Shadday.
Se um dos cônjuges afastou e quer uma reconciliação, escreva este Salmo,
num papel virgem, perfuma-o com incenso e açafrão e use pendurado ao pescoço.
Assim terá a reconciliação conjugal e a paz reinará no lar do casal.
Imagem
Centelha Divina da divindade Centelha Divina
2o Ritual
Fazei sobre vós o Sinal da Cruz dos Elementos.
Acendei as Velas divinas, o carvão e o incenso seguindo o processo e indicações
descritos no capítulo I, parte IV do Manual Mágico de Kabbala Prática.
Exaltai o Pantáculo do Reino ou o Pantáculo pessoal, segundo o procedimento
indicado no Ritual n° 1.
Fazei, então, a invocação seguinte:
“Em Nome de SHADDAY-EL-CHAI, Senhor GABRIEL, escute meu apelo. En
vie sobre este lar onde reina a discórdia e o sofrimento a Paz e a Alegria da Divina
Mãe. Possa, então, ASET, a Divina, a Mãe Eterna, abençoar esta casa e aqueles que
ali vivem a fim de que todos os problemas sejam resolvidos em Seu Nome e de que os
Poderosos Querubins, executando Suas Ordens, dissolvam com Sua Água Sublime o
que é contrário ao Bom Entendimento. Amem”
Acendei a vela que vos representa e dizei bem o que ela é: vós em todas as coisas.
Acendei a vela que representa vossa família e dizei bem o que ela é: vossa
família. Enumerai os membros e dizei o nome de cada um deles.
478 | Secretum - Manual Prático de Kabbala Teúrgica
Acendei as duas velas douradas e dizei bem qual é seu poder imenso de
atração do Bem, da Paz e da Alegria. Dizei que cada uma delas trabalha para vós
e vossa família.
Acendei as duas velas rosa dizendo que elas são a alegria, a doçura de viver,
a afeição, etc... no lar.
Acendei as duas velas de um azul-pálido dizendo que elas são a paz, a har
monia, a compreensão e a sinceridade no lar. Dizei bem que estas velas canalizam
a Força da Mãe Divina.
Depois fazei a Prece seguinte:
“Feliz aquele que foge da companhia de homens sem Fé, que não caminha na
via daqueles que se perdem, que não se assenta no banco daqueles que riem mas que
se compraz na Lei do senhor e murmura Seu Nome dia e noite!”
Repeti esta prece.
Meditai durante uma quinzena de minutos olhando as Velas se consumirem.
Apagai-as na ordem inversa de seu acendimento, fazei o Sinal da Cruz dos
Elementos e deixai vosso Altar tal como está.
No dia seguinte, recomeçai o mesmo Ritual tendo antes avançado as duas
velas azuis e as duas velas rosa em direção ao demandista e sua família (ver sentido
das flechas sobre o croqui).
No sétimo dia, as velas devem estar reunidas assim:
Imagem
Centelha Divina da divindade Centelha Divina
Helvécio de Resende Urbano Júnior | 479
1 Ó D-us, nós ouvimos com os nossos ouvidos, nossos pais nos têm contado
os feitos que realizaste em seus dias, nos tempos da Antiguidade.
2 Tu expeliste as nações com a tua mão, mas a eles plantaste; afligiste os povos,
mas a eles estendes-te largamente.
3 Pois não foi pela sua espada que conquistaram a terra, nem foi o seu braço
que os salvou, mas a tua destra e o teu braço, e a luz do teu rosto, porquanto
te agradaste deles.
4 Tu és o meu Rei, ó D-us; ordena livramento para Jacó.
5 Por ti derrubamos os nossos adversários; pelo teu nome pisamos os que se
levantam contra nós.
6 Pois não confio no meu arco, nem a minha espada me pode salvar.
7 Mas tu nos salvaste dos nossos adversários, e confundiste os que nos odeiam.
8 Em D-us é que nos temos gloriado o dia todo, e sempre louvaremos o teu
nome.
9 Mas agora nos rejeitaste e nos humilhaste, e não sais com os nossos exércitos.
10 Fizeste-nos voltar as costas ao inimigo e aqueles que nos odeiam nos despojam
à vontade.
11 Entregaste-nos como ovelhas para alimento, e nos espalhaste entre as nações.
12 Vendeste por nada o teu povo, e não lucraste com o seu preço.
13 Puseste-nos por opróbrio aos nossos vizinhos, por escárnio e zombaria àqueles
que estão à roda de nós.
14 Puseste-nos por provérbio entre as nações, por ludíbrio entre os povos.
15 A minha ignomínia está sempre diante de mim, e a vergonha do meu rosto
me cobre,
16 à voz daquele que afronta e blasfema, à vista do inimigo e do vingador.
17 Tudo isto nos sobreveio; todavia não nos esquecemos de ti, nem nos houvemos
falsamente contra o teu pacto.
18 O nosso coração não voltou atrás, nem os nossos passos se desviaram das tuas
veredas,
480 | Secretum - Manual Prático de Kabbala Teúrgica
19 para nos teres esmagado onde habitam os chacais, e nos teres coberto de trevas
profundas.
20 Se nos tivéssemos esquecido do nome do nosso D-us, e estendido as nossas
mãos para um deus estranho,
21 porventura D-us não haveria de esquadrinhar isso? Pois ele conhece os se
gredos do coração.
22 Mas por amor de ti somos entregues à morte o dia todo; somos considerados
como ovelhas para o matadouro.
23 Desperta! Por que dormes, Senhor? Acorda! Não nos rejeites para sempre.
24 Por que escondes o teu rosto, e te esqueces da nossa tribulação e da nossa
angústia?
25 Pois a nossa alma está abatida até o pó. O nosso corpo pegado ao chão.
26 Levanta-te em nosso auxílio, e resgata-nos por tua benignidade.
Aplicação do Salmo 44
Se queres reconciliar duas pessoas que brigaram, lê o Salmo no meio delas. Para
a mulher que está separada do seu marido deves ler o salmo, três vezes, sobre um
recipiente cheio de óleo de oliva perfumado e colocar neste óleo pistilo de açafrão.
Desenhe o Pantáculo de Harmonia Conjugal (veja em nossa obra, Manual Mágico
de Kabbala Prática, Editora Madras, 2011, página 320), e mergulhe-o neste óleo e
depois unge a mulher para reconciliá-la com seu marido. Guarda-se o restante do
óleo e se houver outro desentendimento entre eles, unge-se o rosto de ambos para
reconciliá-los pelo poder de D-us.
A unção das velas é em apelo. Elevai vosso Altar segundo o desenho seguinte.
2o Ritual
Fazei sobre vós o Sinal da Cruz dos Elementos.
Acendei as duas Velas Divinas, o carvão e o incenso seguindo o processo e
indicações descritos no capítulo I, parte IV do Manual Mágico de Kabbala Prática.
Exaltai a Força do Pantáculo do Reino segundo o processo indicado no Ritual
do Fogo n° 1.
Depois dizei:
“Por YOD-HE-VAU-HE TZABAOTH, Magnífico HANIEL, vem em meu
socorro. Tu, cujo Esplendor tece de Beleza e de Harmonia, a “Casa” do D-us Vivo,
conceda-me uma situação de vida decente, neste mundo onde eu peno. Dá-me, em
Nome de Tua Alegria, um teto, a fim de que pelo Teu exemplo, eu possa por minha
vez cantar de contentamento. Obrigado a Ti, Maravilha de Netzach, Amor na Beleza
pela Glória dos Mundos!"
Helvécio de Resende Urbano Júnior | 483
Imagem
Centelha Divina da divindade Centelha Divina
Acendei a vela que vos representa dizendo bem o que ela é: vós em todas
as coisas.
Acendei a vela dourada precisando seu papel de atração. Ela trabalha para
vós durante todo o Ritual.
Acendei a vela rosa dizendo o que ela é: vossa habitação tal como a desejais.
Descreva-a. (Atenção! Permanecei nos limites do possível. Não peçais para viver
em um castelo enquanto que vosso salário vos permite dificilmente de encontrar
um apartamento de quatro aposentos!)
Acendei a vela laranja precisando que ela é o sucesso vivo neste Ritual.
Acendei a vela de um azul pálido dizendo que ela canaliza a proteção da Mãe
Divina sobre o lar: Ela não deixará Seus filhos sem teto! E mesmo se ela quisesse
dar uma lição kármica pelas dificuldades suportadas, este Ritual seria um pedido
de Graça; então, Ela poderá “organizar” o Karma de outra maneira...
Acendei a vela púrpura afirmando seu Poder inexorável “de levar” em vossa
direção à habitação que procurais. Dizei tudo isto com força e convicção.
Depois dizei:
“O Senhor é meu Pastor, nada me faltará”
Repeti isto várias vezes.
484 | Secretum - Manual Prático de Kabbala Teúrgica
Aplicação do salmo 87
Para construir ou encontrar uma casa, escreve-se o Salmo e enterra-o nas
fundações; isto trará uma grande benção a esse lugar. Se habitas em casa alugada,
escreve o Salmo sobre um papel e enterra-o sobre o lugar em que te encontras. Isto
será muito útil e lhe trará uma grande benção. Ele estenderá a prosperidade pela
força do D-us Altíssimo.
• A vela que vos representa (ver quadro no capítulo I, parte, IV, do Manual
Mágico de Kabbala Prática, aquela que melhor se adequa a sua necessidade).
Imagem
Centelha Divina da divindade Centelha Divina
2o Ritual:
Fazei sobre vós o Sinal da Cruz dos Elementos.
Acendei as duas Velas Divinas, o carvão e o incenso seguindo o processo e
indicações descritos no capítulo I, parte IV do Manual Mágico de Kabbala Prática.
Exaltai a Força do Pantáculo do Reino seguindo o procedimento indicado
no Ritual n°l.
Acendei a vela que vos representa e dizei bem o que ela é: vós em todas as coisas.
Acendei as quatro velas brancas seguindo a numeração do croqui e dizei:
“Aqui se eleva um Círculo de Luz e de Pureza entorno do espírito de... (dizei vosso
nome ou aquele da pessoa a proteger) que se mantém no meio, com tanta sincerida
de e clareza quanto esta flama ilumina. Um tal (dizei o nome) está bem protegido”
Acendei as seis velas vermelhas pegando o Fogo da Vela Divina n° 2 e repor
tando imediatamente o fósforo inflamado ao centro, acima - sem misturar as flamas
da vela acesa representando o beneficiário do Ritual. Acendei em seguida as seis
velas vermelhas seguindo a numeração do croqui. Desde que a sexta estiver acesa,
reportai o fósforo inflamado ao centro, sempre acima da flama do demandista,
488 | Secretum - Manual Prático de Kabbala Teúrgica
para bem fechar o Hexagrama. Obtém-se, então, a figura ao lado. A não ser que
utilizeis fósforos muito longos, é provável que não tereis tempo de acender, com
um pequeno fósforo (o fósforo habitual) as seis velas partindo bem do centro e ali
voltando. É por isso que é recomendado antever ao lado do Altar (e não sobre este)
uma vela branca (que não terá sido untada nem carregada) com a qual procedemos
o acendimento do Hexagrama.
Depois dizei:
“Por ELOAH-VE-DAATH e por MICHAEL, todas as forças contrárias se eva-
nescerão neste instante diante do Esplendor Divino. Nenhum mal resiste a esta Luz.
Pelo Poder dos Malakins epelo Fogo dos Serafins, todo o mal deixou... (dizei o nome).
É assim, por ELOAH VA DAATH e por MICHAEL; Amem.”
Depois com um profundo respeito dizei:
“O Senhor reina, vestido de Majestade. O Senhor se vestiu de Potência, Ela a
atou aos Seus rins. Tu fixaste o Universo inquebrantável, Teu Trono está fixado desde
a origem; sempre, és Tu, YOD-HE-VAU-HE. Os rios desencadeiam sua voz, os rios
desencadeiam seu barulho; mais que a voz das inumeráveis águas, mais soberbo
que a ressaca do mar, YOD-HE-VAU-HE é soberbo nas alturas. Teu Testemunho é
a Verdade e a Santidade Tua Casa, pelos séculos dos séculos. Amem”.
Deixai as velas se consumirem inteiramente. Podeis permanecer quanto tempo
quiserdes para orar, meditar e contemplar esta mágica e eficaz combustão. Antes de
deixar o aposento, fazei sobre vós o Sinal da Cruz dos Elementos.
Se desejais efetuar este Ritual para o benefício de outra pessoa além de vós
mesmo, a vela que representa o beneficiário do Ritual (no centro) deve ser nomeada
como representando tal pessoa. Se tiverdes uma testemunha daquela, isto é bom
(cabelo, algodão impregnado de saliva que poreis perto da vela central). Vigiai,
contudo, o final da combustão para evitar todos os riscos devidos ao fogo.
Helvécio de Resende Urbano Júnior | 489
Aplicação do Salmo 47
Escreve-se este Salmo para a pessoa que sofre por magia; se a pessoa o usa
(carrega consigo escrito) a magia perderá a força, por ordem de D-us.
Após escrever o Salmo e desenhar o Pantáculo (para banimento de pessoas
ou espíritos inimigos e exorcismos; veja em nossa obra, Manual Mágico de Kabbala
Prática, Editora Madras, 2011, página 315), num papel virgem defumando-o em três
ramos de romãs e recita-se o salmo, enquanto queima o incenso recita-se o Salmo 23,
por três vezes, e entre cada leitura deverá convocar os Anjos, da hora, para destruir
a magia, todo trabalho de feitiçaria e assim a pessoa ficará livre por ordem de D-us.
I 491 |
492 | Secretum - Manual Prático de Kabbala Teúrgica
escuta seu querido filho. Ninguém nunca está só, ainda que sintas abandonado por
todos que te rodeiam, D-us nunca te abandona nem renega, recorda que és tu que
se distância Dele, e sempre que volta te recebe de braços abertos. Peça rezando com
fervor, e se lhe abrirá uma porta, aparecerá um novo caminho e a luz brilhará no
vamente para ti iluminando tua vida, dando-lhe novas motivações a tua existência.
Cântico dos Cânticos 1:3 - Suave é o cheiro dos teus perfumes; como perfume
derramado é o teu nome; por isso as donzelas te amam.
6. °- Contra o inimigo
Deuteronômio 7:12 - Será, pois, que, se, ouvindo estes juízos, os guardares e
cumprires, o SENHOR, teu D-us, te guardará a aliança e a misericórdia prometida
sob juramento a teus pais;
494 | Secretum - Manual Prático de Kabbala Teúrgica
Cântico dos Cânticos 8:5 - Quem é esta que sobe do deserto, e vem encostada
ao seu amado? Debaixo da macieira te despertei; ali esteve tua mãe com dores; ali
esteve com dores aquela que te deu à luz.
a Miguel Arco e com um endereço fictício e se envia a qualquer ponto do país, que
se encontre exatamente oposto em longitude e latitude ao lugar de nascimento do
Invocador. A carta deverá ser enviada certificada para estar seguro de recuperá-la.
No momento que a carta chega ao seu destino Miguel recebe a mensagem que se
cumpre imediatamente. Mas o invocador não verá o cumprimento de seu desejo
antes que ela seja devolvida. Todas as pessoas que conheço que tenham levado a
sério este ritual viram cumprir seus desejos.
Então se concentra olhando a Rosa Branca e recita em voz alta num tom eleva
do (numa oitava superior, mais agudo) a oração para cura de uma pessoa enferma.
496 | Secretum - Manual Prático de Kabbala Teúrgica
N
A
V
s
Helvécio de Resende Urbano Júnior | 497
Hosana na Terra!
Hosana no Céu!
Hosana nos Quatro Elementos!
Bendito seja aquele que trabalha em nome de D-us!
Hosana! Hosana! Hosana!
Oh D-us misericordioso,
meu criador, criador de toda vida,
sem o qual nada seria e nada existiria
Ser dos seres, única fonte do bem,
Conceda-me Vossa Graça!
Oração da prosperidade
“O Senhor é meu banqueiro. Meu crédito é bom. Ele me faz descansar no con
vencimento da abundância onipresente. Ele me dá a chave do seu cofre. Ele restaura
minha fé em suas riquezas. Ele me guia por caminhos de prosperidade, por amor,
sem que ainda ande na própria sombra das dívidas não temo nenhum mal, porque
Tu estás comigo, tua prata e teu ouro são minha segurança. Tu abres meu caminho
na presença do cobrador: Tu enches minha carteira com abundância. Minha medida
derrama. Certamente o bem e a prosperidade me acompanham todos os dias de minha
vida. Todos os negócios que faço serão em nome do Senhor. Amém”.
temor. Todo quebranto ou fraqueza será jogado fora, e que aquele que aqui entre se
sentirá são eforte.Nesta casa está presente a pureza, nenhum pensamento ruim aqui
pode entrar, eu habito na presença do puro, qualquer um que aqui se chegue sentirá
sua presença pura e bendita.Nesta casa, se apresenta a paz e a harmonia, eu vivo em
paz, nenhum pensamento de inquietude ou discórdia chega até aqui, nada me irrita,
e nada temo. A presença de D-us é paz e a paz habita aqui.
Nesta casa há prosperidade, nenhum bem me falta, estou satisfeito. Qualquer
um que aqui entre se sentirá gratificado, satisfeito. Nesta casa se apresenta a beleza.
Aqui todo é espiritualmente belo, qualquer pessoa que aqui entre sentirá o belo de
toda casa santa e perfeita, nesta casa há sabedoria, a necessidade, a ignorância,
a dúvida e a superstição são descartadas. D-us que é Sabedoria habita aqui. Eu
vivo e me movo na presença da Sabedoria.Nesta casa, está a presença do gozo, ele
se manifesta por todas as partes, nenhuma pena pode haver. Aqui habita o gozo
do Senhor e há superabundância de alegria, todos que aqui entrar sentirá feliz e
contente. Nesta casa o amor se apresenta repleto. Todo espaço está repleto de harmo
nia. Todo sentimento de cólera, de aborrecimento ou de vingança se desfaz. D-us é
amor e no amor eu vivo, me movo e habita todo meu ser. Te dou graças Pai Eterno,
Supremo de Luz e de Amor, porque Tua presença aqui ocupa toda esta casa, aqui
se sente tua bendita presença”.
Oração de força
“Pai Supremo, luminária do Universo, Rei da energia, supre minhas necessidades
diárias, supre aos meus irmãos, reserva energia para evoluir e enaltecer seja para Ti
e de Ti toda a energia”.
500 | Secretum - Manual Prático de Kabbala Teúrgica
Oração de Proteção
“Em nome de D-us todo-poderoso te peço autoridade celestial para segundo
fixado esta oração detrás da porta principal de minha casa, retire todos meus inimi
gos e o mal que possam me querer fazer, que se evapore no espaço infinito, porque eu
não faço mal e não desejo mal a ninguém. Que D-us grande e todo-poderoso bendiga
minha residência e que o pão nosso de cada dia nunca me falte. Que nos retire todo
mau pensamento, de ódio e maldade já que desde hoje em nossa casa passa imperar
a harmonia e o bom pensamento, como um sereno de bondade infinito produzido por
nosso sublime D-us que tudo pode e tudo vence”.
Se minha petição é justa, envia teus mensageiros para que me auxiliem e mostre-me
a forma ou maneira que devo atuar para ganhar e reter minha felicidade. Ponha em
meu caminho o braço poderoso, para que por meio de sua intercessão me sirva de apoio
em minhas tristezas durante minha peregrinação por este mundo. Conserva-me na
cadeia harmônica da família e da paz, e conceda-me e retenha-me a felicidade neste
meu atribulado espírito encarnado”.
Oração de graças
“D-us infinitamente bom, que vosso Nome seja sempre bendito pelos êxitos que me
haveis concedido, seria indigno se eu atribuísse a causalidade ou a meu próprio mérito.
A vós espíritos bons, que haveis sido executores da vontade de D-us para meus êxitos
a vós, sobretudo meu Sagrado Anjo Guardião eu vos dou as minhas graças. Afasta de
mim o pensamento de orgulho e faça-me seguir sempre pelo caminho do bem e da Luz”.
Oração de cura
“Peço a Grande Força Invisível de D-us Pai Criador, que limpe toda impureza
ou obstáculo, que haja em meu corpo e em minha mente, que me restaure em perfei
ta saúde, eu peço de coração e com toda fé. Graças, Pai de Luz de Amor, que ouviu
minha pregação. Amém”.
Deixei propositadamente esta oração para finalizar esta parte, pois entendo que
é uma das orações que atende a todas as questões, independente das razões pessoais
que nos levam a pedir ajuda aos céus. Na verdade, O Pai Nosso é uma oração tão
luminosa quanto universal, ao alcance de todos. Não se trata de nenhum texto secreto
que ficou resguardado nos misteriosos arcanos de alguma Escola de Mistérios, o que
apenas estaria disponível a uns poucos escolhidos.
Petição 5: perdoai-nos as nossas ofensas assim como nós perdoamos a quem nos tem ofendido,
Por último, a Prece ensinada por Jesus tem o seu desfecho dedicado à Mente:
O aspirante à vida superior realiza a união da sua natureza inferior com a su
perior mediante a Meditação em assuntos elevados, e essa união é consolidada pela
Contemplação. Ambos estados são transcendidos pela Adoração, que faz ascender
o espírito ao trono da Graça.
Helvécio de Resende Urbano Júnior | 507
“Eis que estou à porta, e bato: se alguém ouvir a minha voz e abrir a porta,
entrarei e cearei com ele e ele comigo”.
(Apocalipse 3:20).
Isto significa que temos de Lhe abrir a porta mediante um amoroso ato de
entrega voluntária, porque Ele nunca a forçará: espera o nosso consentimento,
ou melhor, espera que façamos a metanoia, a iluminada mudança de mente, ou
arrependimento, pois só assim poderemos ser conduzidos à casa do pai, tal como
o filho pródigo depois de arrependido (depois de ter feito a metanoia), foi recebi
do de braços abertos pelo Pai Misericordioso. Esta ideia espiritual; D-us aguarda
ansiosamente que o busquemos, já tem antecedentes no Antigo Testamento: Se
o procuras, Ele deixar-se-á encontrar” (Crônicas 1:28;9)
“Um adepto verdadeiro não tem um D-uspara pedir-lhe algo, senão para dar-
lhe as graça; uma vez que este entra em contato com a Divindade, através de um
ritual mágicko, ele já tem em conta que tudo está consumado, que a necessidade
dele estará de acordo com os preceitos do Eterno; tudo está justo e perfeito”
Ali Al Khan S7 17
Helvécio de Resende Urbano Júnior | 509
Invocação a Michael
Ele é único e imutável, ele todo é uno em verdade, ele é o Sol permanente e
uno em totalmente em sua deidade. Que a paz seja contigo, Pai! És amor e meu
caminho, e esta para mim é a única sabedoria. Em todas as esferas e em todas as
línguas lutam para sua glória e minha vida é sua vida, pois somente Tu é Verdade
e Felicidade. Daime, meu D-us o reencontro contigo e o sorriso buscando minha
alma e iluminando sempre meu caminho. Vejo seu rosto iluminar ao ouvir minhas
palavras, e seus lábios sorrindo dizendo Verdades místicas. Ó Primeira e única
Beleza gloriosa num tríplice espelho reflete sua Luz. A mesma fonte que está em
tudo, uno é o fogo, mas a verdade reconhece que as chamas, iguais, são três, po
rém todos sabem que sua substância é uma, És único e imutável, és tudo em um
verdadeiramente, um sol imutável uno em tudo, em sua eterna resplandecência.
Invocação a Gabriel
Com uma voz de mistério acudimos a vós, Guardiões Supremos, nós somos os
continuadores de vossa Obra: Luminosos Seres que olhamos e escutamos. Além da
nossa própria busca pedimos sabedoria, além do nosso próprio esforço pedimos que
proteja e faça com que possamos fazer uma boa colheita. Pela unidade de propósito
pedimos a vós, pela alegria da resolução que é o vinho da vontade, transformando
tudo que for estranho a ela. Pela luz vivente e pela luminosa vida pedimos a vós. Ô
Grandes e Ocultos Seres! Assim, a Luz e a Vida serão finalmente atraídas na radiação
da Estrela única e dita Estrela ascenderá até a altura sem sombras.
“É através da oração que o indivíduo age e interfere em todos os sistemas”.
Helvécio de Resende Urbano Júnior | 511
Invocação a Samael
BATERIA: ••• O ••
» 4- 4—
Selo do Anjo correspondente: “Machon
Sephirah n° 5 Geburah, valor - Mantra: Elohim Gibor
Acender o incenso (Cravo) e três velas vermelhas, em forma triangular.
Invocação a Raphael
Invocação a Sachiel
BATERIA: ••• O •
Selo do Anjo correspondente: “Zebul” -S Ut
Sephirah n° 4 Hesed - Júpiter, riqueza - Mantra: El
Acender o incenso (Almíscar) e cinco velas azuis violeta, em forma pentagonal.
Onipotente e eterno D-us, que tem ordenado toda criação para tua honra
e glória e para salvação do homem, te peço ardentemente que me envie Inteli
gências da ordem da esfera de Júpiter, um dos mensageiros de Sachiel, a quem
escolheu como agente do firmamento deste dia, para que me instrua em todas
as coisas que desejo perguntar-lhe, mandar-lhe ou pedir-lhe, e para que execute
meus desejos. Mas que se faça sua voltade e não a minha, por Yeschouah Nosso
Senhor. Amém.
Salmos 18
46 Vive o Senhor; bendita seja a minha rocha, e exaltado seja o D-us da minha
salvação.
47 o D-us que me dá vingança, e sujeita os povos debaixo de mim.
48 que me livra de meus inimigos. Sim, tu me exaltas sobre os que se levantam
contra mim. Tu me livras do homem violento.
49 Pelo que, ó Senhor, te louvarei entre as nações, e entoarei louvores ao teu nome.
50 Ele dá grande livramento ao seu rei, e usa de benignidade para com o seu
ungido, para com Davi e sua posteridade, para sempre.
Invocação a Anael
BATERIA:
Selo do Anjo correspondente: “Sagum”
Sephirah n° 7 Netzah - Vénus, amor - Mantra: Yahveh Tzabaoth
Acender o incenso (Verbena) e seis velas verdes, em forma hexagonal.
Com poder forja e dá forma a todos os seres, sua é a força que nos faz fortes
e amorosos, seu poder nos magnífica. É o maior e mais delicado atributo do ser e
escrupulosamente verdadeiro; depois em antes de Vénus, correm suas vigias. Assim
está exaltado, sobre a austera forma que governa o coração de toda criatura huma
na. Seu trono com realeza está estabelecido e fundamentado no amor, na retidão,
na magnificência e na sabedoria do sentimento. A Terra e o mar estão sobre suas
mãos, e o mundo e os céus a tudo Ele sustenta, e, sobretudo, com equidade rege:
Assim está Ele exaltado; Ele, que nutre as almas que anelam na forma mais plena de
sentimento que se transforma em amor. Por isso é aclamado através dos mundos:
Ele é Poderoso! Por isso é louvado. Ele, que tem paciência dos tempos. Passa a ira,
e volta sua verdade permanente. Aos que vêm a Ele com confiança, uma nova vida
lhes reserva. Assim está Ele exaltado, e através dos mundos de Vida seu nome seja
sempre glorificado.
‘Procuro reunir o divino que está em mim ao divino que está no Universo”.
518 | Secretum - Manual Prático de Kabbala Teúrgica
Invocação a Cassiel
BATERIA: ~~~
Selo do Anjo correspondente: (...) h~-_==h
Sephirah n° 3 - Binah - Saturno, karma, tikun - Mantra: Elohim
Acender o incenso (Benjoim) e sete velas negras, em forma hexagonal man
tendo uma no centro da figura.
“Sinto tanto a presença de D-us que ele é mais íntimo do que minha pró
pria alma”.
CAPÍTULO VII
I-
Eu me aproximarei de Ti, D-us de meu ser. Eu me apro
ximarei de Ti, todo sujo como eu sou. Eu mostrarei para mim
mesmo com confiança ante Ti. Eu entrarei até Ti no nome Trino
da existência eterna, no nome de minha vida, no nome da tua
aliança santa com os homem. Estas oferendas serão para Ti um
sacrifício aceitável no qual o teu Espírito enviará seu fogo divino, para consumir
e transportar isto para Teu domicílio sagrado, com tudo carregados e enchido dos
desejos de uma alma necessitada que só suspira por Ti. Senhor, Senhor! Quando
é que eu ouvirei para me articular no abismo de minha alma que se consola com a
palavra vivente que chama no homem pelo nome dele e proclama o alistamento dele
I 519 |
520 | Secretum - Manual Prático de Kabbala Teúrgica
no exército divino, e quando é que ele deveria ser enumerado entre os seus criados
? Pelo poder daquela palavra santa deva eu achar rapidamente que eu cerquei pelo
memoriais eterno de poder de 'Fe ama, com que eu avançarei corajosamente contra
os inimigos da trindade, e eles fugirão antes dos raios terríveis que flamejam de
Tua palavra vitoriosa. Ai, Ó Senhor! Um homem de miséria e escuridão para que
apreciará tais aspirações altas, tais esperanças orgulhosas? Em lugar de golpear o
inimigo, ele não deve buscar só uma proteção de seu sopro ? Não será Fornecido
mais nenhum braço mais longo, não está ele, como um objeto desprezível, reduziu
as lágrimas da vergonha e ignomínia nas moitas da retirada dele, impossibilitado
de mostrar para ele antes do dia? Em lugar desses hinos triunfantes que uma vez o
seguiram nas conquistas dele, ele não é sentenciado a só ser ouvido entre os suspi
ros e gemidos? Testemunharei pelo menos um benefício, Ó Senhor que quando Tu
procuras meu coração e minhas rédeas, Tu sabes que nunca os vais achar sem o Teu
amor. Eu sinto, e sentiria incessantemente, que todo o tempo não é o bastante para
o elogio de Teu realizar deste trabalho santo até certo ponto que será merecedor de
Ti, os meus sendo inteiros devem ser possuídos e devem ser fixados no movimento
da eternidade Trina. Então, Grande Ó D-us de toda a vida e todo o amor, que minha
alma possa reforçar minha fraqueza com a tua força; Eu peço licença para entrar em
uma santa liga com Tu pelo qual eu serei invencível à vista de meus inimigos que
me ligarão assim pelos desejos de meu coração e da Trindade que Tu sempre me
achara como um zeloso para conservar Tua glória para Ti, Ó Senhor, arte ansiosa
para minha libertação e beatitude.
IIo
Cônjuge de minha alma! Quem concebeu o desejo da
sabedoria, me ajude para dar à luz a este filho bem-amado de
quem eu nunca posso apreciar suficientemente.
Tão logo como ele vê a luz, o submerge nas puras águas
batismais que dá vida ao Espírito, e é assim ele sempre numerou
entre os iniciados fieis da Igreja do mais Alto. Como uma mãe tenra, faça Tu o levar
nos braços da Trindade até aos meus membros fracos tenha força pelo apoio dele, e
o proteja de tudo aquilo que é prejudicial. Cônjuge de minha alma! Desconhecido
excluído pelo humilde, eu faço homenagem a ti dê poder, e eu não confiaria a outras
mãos do que a do filho da trindade de amor que Tu tens me dado. Ó nutra-me, assista
por cima bem cedo os passos dele e o instrua quando ele cresce no louvor que ele
Helvécio de Resende Urbano Júnior | 521
deve ao Pai, que os seus dias possam ser longos na terra; o inspire com o respeito e o
amor para o poder e as virtudes dele de que tens lhe dado. Cônjuge de minha alma!
Também me inspire, eu primeiro, nutrir esta criança preciosa incessantemente com
o leite espiritual do qual Tu formou em meu peito. Mais que eu sempre vejo no meu
filho a imagem do Pai, no Pai a semelhança de meu filho, e de todos esses de quem
Tu mais gera dentro de mim pelo curso incorruptível das eternidades. Cônjuge de
minha alma! Só conhecido aos santificados, seja Tu imediatamente o mentor e o
modelo desta criança de teu Espírito que em todas as vezes e lugares os trabalhos
dele e o exemplo podem proclamar a origem divina dele. Lugar perpétuo antes dos
povos da majestade do teu e Nome. Cônjuge de minha alma! Tal é as delícias que
Tu preparastes para esses que te amam e buscam a união com Ti. Pereça sempre o
últrimo porque ele me tentaria para quebrar nossa aliança sagrada! Pereça sempre
o último ele que me persuadiria a preferir outro cônjuge! Cônjuge de minha alma!
Leve-me rapidamente como a sua própria criança; deixe-me ser como esta criança, e
verta em nós todas as graças que nós não merecemos ambos de recebem o teu amor.
Que Eu possa mais viver se as vozes minha e de meu filho fiquem proibidas de nos
unir para a celebração eterna dos louvores a ti em cânticos, como rios inesgotáveis
sempre gerados pela sensação das maravilhas de Tu e que tu tens o poder inefável.
IIIo
Como eu deveria ousar, Ó Senhor, para que num momen
to me contemplar sem tremer ao horror de minha miséria! Eu
moro no meio de minhas próprias iniquidade, a fruta de toda a
maneira de excessos que se tornaram até mesmo como um ves
tuário. Eu enfureci todas minhas leis, eu abusei de minha alma,
eu abusei de meu corpo. Eu vi, e vira diariamente, uma conta doente sem todas as
graças de teu amor continuamente Trino pela criatura ingrata e incrédula que sou.
Para Tu eu deveria sacrificar tudo e não deveria dar nada até o tempo em que a tua
visão me fosse como a de um ídolo, sem vida e entendimento. Contudo eu dedico
tudo até o tempo e nada de Ti. Assim fazendo eu me lancei anteriormente no abismo
da confusão, entregado para a adoração idólatra onde o teu nome não é conhecido.
Eu agi como o insensato e ignorante deste mundo que gasta todos seus esforços para
exterminar os decretos terríveis da justiça e fazer deste lugar de provação o mais longo
da labuta e sofrendo aos seus olhos. D-us de paz e D-us da verdade, se a confissão
de minhas faltas é insuficiente para a nossa remissão, se lembre dele que os lavou e
522 | Secretum - Manual Prático de Kabbala Teúrgica
Ele e os lava no sangue do corpo dele, a alma dele, e do amor dele. Como o fogo que
consome todas as substâncias materiais e impuras como este fogo que é a imagem
dele, Ele se devolveu a Ti, livre de todas as manchas da terra. E A Ele e por Ele só com
o trabalho de minha purificação do renascimento tenha sido cumprido. E somente
Ele tem a majestade sagrada suportada para considerar o homem, pois somente Tu
és o voluntarioso para apressar nossa cura e nossa salvação. Contemplando com os
olhos do seu amor que limpa tudo a ponto de não se ver mais nenhuma deformidade
no homem, mas só aquela faísca divina que está em Tua própria semelhança de teu
ardor sagrado que arrasta a perpetualidade para isto, como uma propriedade da tua
fonte divina. Ó Senhor, Tu só contempla o que é verdade e puro como teu ser. O mal
está além do alcance exaltado da visão, e consequentemente o homem mau está como
a um a quem Tu nem se lembra mais, a quem os teus olhos não podem fixar, desde
que ele não tenha mais nenhum tempo a mais ou qualquer correspondência com Tu.
Neste abismo de horror eu, todavia, ousei morar; não há nenhum outro lugar para o
homem que não é mais submergido no abismo da compaixão de si. Ainda que não
seja mais cedo faz ele virar o seu coração e os olhos das profundidades da iniquidade
que ele se acha naquele oceano da clemência que o cerca e a todas as criaturas de Ti.
Assim vou eu me curvar ante ti em minha vergonha e a sensação de minha miséria;
o fogo de meu sofrimento secará dentro de mim o abismo de meu ser pecaminoso,
e lá permanecerá em mim só o reino eterno da tua clemência.
IVo
Leve de volta meu testamento, Ó Senhor, leve de volta meu
testamento. Para ver se eu posso suspender isto por um momento
ante Tu, nas torrentes da vida de Tua iluminação e não tem nada
que possa resistir a ela, verterá impetuosamente dentro de mim.
Me ajude a demolir as barreiras cheias de aflição que me separam
de ti; me arme contra mim; triunfo dentro de mim em cima de todos os inimigos da
trindade e mina subjugando meu testamento. O Princípio Eterno de toda a alegria e
de toda a verdade! Quando eu serei renovado assim sem os tortuosos caminhos do
meu consciente e do ego, haverá economia no teu afeto permanente exclusivamente
avivado em vão? Quando todo tipo de privação aparecerá a mim numa vantagem,
me preservando de toda a escravidão, e me deixando amplo em pretender se ligar
à liberdade do espírito de Tua sabedoria? Quando males aparecerão a mim como
favores estendido por Ti, como tantas oportunidades de Vitória, tantas ocasiões de
Helvécio de Resende Urbano Júnior | 523
recepção que te dão as coroas de glória e que Tu distribui a todos esses que lutam
em teu nome? Quando todas as vantagens e alegrias desta vida se tornarão a mim
como tantas armadilhas, incessantemente fixado pelo inimigo que pode estabelecer
em nosso coração um D-us da mentira e sedução em lugar daquele D-us de paz e
verdade que deveriam reinar lá para sempre? Quando, em represália, deva o zelo
santo de teu amor e o ardor de minha união com Tu me reja e me faça renunciar
com delícia minha vida, minha felicidade, com todos os afetos a este estrangeiro que
é uma criatura chamada homem, assim o amor por Ti que tens determinado minha
total entrega á ele, que ele poderia ser inflamado através do exemplo teu ? Eu sei, Ó
Senhor que nem todos são transportado por esta devoção santa e não é merecedor
de Ti, e não faz contudo o primeiro passo em direção a ti. O teu conhecimento vai
a solicitude do crente que nunca partir disto por um momento, nisto é o um, o ver
dadeiro lugar primeiro para a alma do homem; ele não pode entrar no aqui agora
sem estar imediatamente cheio com o rapto, como se todo o seu ser fosse renovado
e revificado em todas as suas faculdades pelas primaveras de tua própria vida, nem
ele pode retirar o aqui agora sem se ver entregue em seguida para todos os horrores
da incerteza, perigo, e morte, rapidez, D-us da consolação, radiante, D-us de poder,
comunique a meu coração um desses puros movimentos de Teu testamento santo e
invencível! A pessoa só é precisa ao estabelecer o reinado da eternidade, e para ser
constante com a resistência universal de todos os testamentos estrangeiros que se
combinam em minha alma, note, prepare o corpo para esta batalha. Então deva eu
me abandonar para meu D-us na doce efusão de minha fé, então deva eu proclamar
os trabalhos maravilhosos dele. Os Homens não são merecedores de Tuas maravilhas,
ou contemplar a doçura da Tua sabedoria, ou a profundidade das Tuas deliberações;
e eu, inseto vil que eu sou, eu posso igualar aos que me rodeiam, quem é merecem
só as visitações da justiça e da ira? Senhor, Senhor! Possa a estrela de Jacob me dar
o descanso por um momento para mim; possa Tua luz santa Ter inflamado em meu
pensamento, e Tu vais ser mais puro em meu coração!
Vo
Escuta, minha alma, Escuta, e seja consolado na minha
angústia! Há um D-us poderoso que empreende para curar
todas as minhas feridas. Somente Ele tem este poder supre
mo, e Ele somente exercita isto para aqueles que reconhecem
que Ele possui isto e é seu administrador zeloso. Não entre
524 | Secretum - Manual Prático de Kabbala Teúrgica
de teu poder; entre um momento que o vinhedo santo que Tu tens plantado
em toda a eternidade; arranque mas uma dessas uvas avivando o que se produz
incessantemente. Deixe o sagrado e o regenerado fluxo do suco em meus lábios;
umedecerá minha língua tostada, entrará no meu coração, aguentará a isso com
alegria e vida, penetrará todos meus membros e os fará forte e saudável. Então
deva eu ser rápido, ágil, vigoroso como no primeiro dia quando eu vi diante a
mim suas mãos. Então deva os inimigos, sejam frustrados nas suas esperanças,
se ruborizam com a vergonha e tremem com medo e ira para ver a sua oposição
contra si mesmo se fez em vão e a realização de meu destino sublime apesar da
ousadia deles e de seus esforços persistentes. Escuta-me então, Ó minha alma!
Escuta-me, e seja consolado na sua angústia! Um D-us poderoso há por cima que
empreendido a cura de feridas.
VIo
Eu me apresento nos portões do templo de meu D-us, e
eu não deixarei este asilo humilde da minha gaveta indigente
eu sou, recebi meu pão diário do Pai de minha vida. Veja o
mistério deste pão! Eu o provei aqui, e eu proclamarei sua
doçura para nações por nascer. Ó D-us Eterno dos Seres. O
título sagrado levado por Ele que é feito carne da qual Ele poderá ser manifestado
às nações visíveis e invisíveis; o espírito dele ao qual a pronúncia do Nome todo
joelho curvará, no céu, na terra, e no inferno. Tal são os três elementos imortais do
qual compõem este pão diário. É multiplicado incessantemente, com a imensidão
de seres que são nutridos assim, e, tudo do que é o seu número, nunca possa eles
diminuírem sua abundância.
Desenvolveu em mim os gérmenes eternos de minha vida, e os permitiu a
circular em minhas veias a seiva sagrada de minhas raízes originais e divinas. Os
quatro elementos que compõem isto dispersaram escuridão e confusão dos caos
de meu coração; eles restabeleceram com isto o vivendo da luz santa; a sua força
criativa me transformou em um ser novo, e eu me tornei o guarda e o administrador
dos seus caracteres sagrados e de seus sinais doadores de vida. Então, como o anjo
dele e seu ministro eu mostrei para mim em todas as regiões, se fazer conhecido da
glória dele do qual o homem é o escolhido. Eu revisei todo o trabalho das mãos dele
que distribuiu a cada um deles esses sinais e caracteres que Ele impressionou em
mim para que eles pudessem ser transmitidos a eles, e confirmar as propriedades
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e poderes que eles receberam. Mas meu ministério não foi limitado á operação
nos trabalhos regulares da Sabedoria Eterna. Eu me aproximei de tudo que estava
deformado, e fixado nestas frutas da desordem os sinais da justiça e da vingança
prendidos aos poderes secretos de minha eleição; esses que eu poderia arrebatar
da corrupção que eu ofereci como um holocausto ao D-us supremo, e eu compus
meus perfumes dos puros elogios da minha mente e coração, de forma que tudo o
que tem vidas podem confessar que a homenagem, a glória, o louvor são devidos
ao D-us supremo como a fonte de poder e justiça. Eu exclamei nos transportes de
meu amor: Abençoado é o homem, porque Tu o elegeu como o assento de autori
dade Trina e o ministro da tua glória no Universo. Abençoado é o homem, porque
Tu tens lhe permitido sentir, até mesmo nas profundidades da essência dele, a
atividade penetrante de tua vida divina. Abençoado é o homem, porque ele pode
ousar oferecer a si mesmo um sacrifício de ação de graças fundado no sentimento
inefável de todos os desejos da Tua infinidade santa. Poderes do mundo material!
Poderes do Universo físico! Não é assim que o teu D-us os tratou! Ele o constituiu
dos agentes simples das leis dele e as forças que operam para o firmamento dos
desígnios dele. Consequentemente não ha nenhum outro ser na Natureza que não
O secunda no trabalho dele e coopera na execução dos planos dele. Mas Ele não é
feito conhecido a você como o D-us de paz e o D-us de amor; no momento quando
Ele o trouxe no ser de agora estava transtornado pelas consequências da rebelião,
desde que Ele ordenou ao homem para subjugar e o governar. Ainda menos, se
perverteram e corrompem os seus poderes, Ele dispensou a você essas favores
com o que Ele o concedeu para subjugar o homem. Sim não têm preservado a
esses que foram concedidos em virtude de sua origem; sim sonharam com um lote
mais luminoso e um privilégio mais esplêndido do que ser os objetos da ternura
dele da qual neste momento só mereceram ser as vítimas da justiça dele. Medite,
só Ele confiou os tesouros da sabedoria dele; neste ser depois do próprio coração
dele ter Ele centrado todo o Seu afeto e todos Seus poderes. Autor soberano de meu
espírito, minha alma, e meu coração! Sejas Tu abençoado para sempre e em todos
os lugares, porque Tu tens permitido ao homem, trina criatura ingrata e criminal,
recuperar estas verdades sublimes. Tido na memória Da trina convenção antiga e
sagrada não saltada que os que te amam os convoca a restabelecer, eles teriam esta
do para sempre perdidos no homem. Louvor e bênção para Ele a quem te formou
homem na imagem dele e depois na própria semelhança dele que, apesar de todos
o empreendimentos e todos os triunfos do inferno, recebe ele no seu esplendor, na
sabedoria e na beatitude da origem dele. Amém.
Helvécio de Resende Urbano Júnior | 527
VIIo
Homens de paz e homens de aspirações! Deixe-nos con
templar em uníssono, com um medo santo, a imensidade das
clemências de nosso D-us. Nos deixe confessar junto a Ele o
que todos os pensamentos dos homens, todos seus mais puros
desejos, todas suas ações ordenadas, nâo puderam, quando
combinado, aproxime o ato menor do amor dele. Como nós deveríamos expressar
isto então? Porque não é limitado a nenhuma ação individual ou temporal, mas
manifestos imediatamente em todos os seus tesouros, e que em uma constante,
universal, e de modo não danificado! D-us de verdade e D-us de amor! Assim ages
Tu diariamente com o homem. Entre toda a infecção que o mina e de vileza dão
extratos incansáveis de que ainda permanece nesses elementos preciosos e sagrados
do qual Tu realiza e me formam no princípio. Como a mulher frugal no Evangelho
que consome a luz dela para recuperar a moeda de dez centavos que ela perdeu,
são as suas luminárias sempre acesa, sempre Tu se detém para a terra, sempre tens
a esperança para recuperar do pó o puro ouro que deslizou de tuas mãos. Homens
de paz! Como nós deveríamos contemplar se em caso contrário com o medo santo
e a extensão das clemências de nosso D-us! Nós somos mil vezes mais culpados
para Ele que, à vista da justiça humana estão esses malfeitores que são arrastados
por cidades e lugares em público, carregados com a insígnia da infâmia, e forçados
a confessar os seus crimes em voz alta às portas dos templos e na presença dos
poderes que eles desafiaram. Como eles, e mil vezes mais merecidamente que eles,
deva nós sermos arrastados ignominiosamente aos pés de todos os poderes da
Natureza e do Espírito. Nós deveríamos ser desfilados como criminosos por todas
as regiões do Universo, visível e invisível, e deveríamos receber na sua presença os
castigos terríveis e vergonhosos que são invocados por nossas tergiversação apa
vorantes. Mas em lugar de achar os juizes duros e armados com vingança, veja um
Monarca venerável cujos olhos publicam a clemência dele cujos lábios só articulam
perdão para todos esses que não se seguram inocente cegamente. Longe de legar
nós deveríamos usar os vestuários de opróbrio daqui em diante, Ele comanda para
os criados dele devolver a nós nossa bata primeva, fixar um anel em nosso dedo e
sapatos em nossos pés. Para que todos estes favores sejam o bastante, como os mais
recentes filhos pródigos. Confessar que nós não achamos na casa de estranhos a
felicidade da casa do Pai. Homens de paz! Diga, nós contemplaremos excluído com
o medo santo do amor infinito e clemência de nosso D-us? Diga, nós não faremos
528 | Secretum - Manual Prático de Kabbala Teúrgica
uma resolução santa para permanecer fiel para sempre às leis dele e para as delibe
rações beneficentes da sabedoria dele? Ó D-us! incompreensível em indulgência
e compreensão de passado apaixonado, eu posso amar mais a mim mesmo só. Eu
não me amaria mais tanto se me tiver me perdoado tanto. Eu não desejaria mais
nenhum lugar de repouso se excluísse do meu coração o meu D-us que me abraça
em tudo pelo seu poder e tem me apoiado em todo lado, meu prosperar e minha
consolação. Desta fonte divina todas as bênçãos vertem imediatamente em mim.
Ele se verte continuamente e para sempre no coração do homem. Assim faz Ele gera
dentro de nós a própria vida dele; assim faz Ele estabelece dentro de nós os puros
raios e extratos da própria essência dele, onde é que Ele ama mais, e ele se tornam
em nós o órgão das gerações infinitas dele. Desta tesouraria sagrada, por todas as
faculdades de nossa natureza, Ele dirige as emanações de parentesco que repetem
a ação em troca disto tudo aquilo se constitui, e assim nossa atividade espiritual,
nossas virtudes, que são nossas luzes são multiplicadas incessantemente. Veja, está
excedendo o lucrativo para erguer um templo em nossos corações! Homens de
paz! Homens de aspiração! Diga, nós contemplaremos sem nenhum medo santo a
imensidade do amor e das clemências e dos poderes de nosso D-us?
Helvécio de Resende Urbano Júnior | 529
Ao terminar nosso trabalho, neste livro, julgamos ter cumprido um dever de cons
ciência e de humanidade. Aqui tratamos de assuntos, hora exotérico e hora esotéricos.
Começamos falando sobre Religião e Mito, uma abordagem historial e mítica,
em seguida filosofamos com a Moral e Ética, buscando uma aproximação entre a
Arte e a Metafísica, ou seja, uma linha comum onde o que esteve em jogo não foi
outra coisa senão o ser humano e o outro.
Na terceira parte, dedicamos a Kabbala, dentro da visão mística e prática,
disponibilizando aos leitores um manancial de informações, para o uso no dia-a-
dia, de maneira clara e pragmática. Muitos desses ensinamentos me foram passados
de lábios a ouvidos e, apesar de ter lido, por muitos anos, obras das mais diversas
origens, nada vi que fosse publicado neste teor. Mas, desde já posso lhes garantir que
todas estas informações foram testadas e refletidas dentro da mais alta critecidade
antes de decidirmos a disponibilizá-las.
Na última parte, tratamos da magia prática ou Magia Teúrgica, em que pas
samos informações, fórmulas, rituais, invocações e orações de maneira que anteci
padamente todas foram testadas e aprovadas, idealizadas de forma que pudessem
ser úteis na vida das pessoas.
Tivemos o ânimo e a oportunidade de contemplar a formidável ocasião, onde
vivemos numa época em que os corações têm produzido, por um lado a indiferença
e por outro lado o materialismo grosseiro.
Mas, podemos observar que: quanto mais o homem se afasta de D-us e de uma
vida simples e sã mais se aproxima dos consultórios psiquiátricos com um vazio na
alma, onde busca a solução química para suas dores e desencantos aparentemente
sem motivos, um sentimento de solidão e tristeza que invadem os corações e a alma
pede socorro. Daí arranja-se a solução artificial para liquidar com sua vida virtual
e artificial infeliz.
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534 | Secretum - Manual Prático de Kabbala Teúrgica
Que cada qual veja em nossa obra o que sua consciência o determine. “O Sucesso
é sua Prova”
I 536 I
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546 | Secretum - Manual Prático de Kabbala Teúrgica
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