Atividade Artes Van Gogh
Atividade Artes Van Gogh
Atividade Artes Van Gogh
Tainá
2º ano
Roteiro 2
Vincent van Gogh, um dos pintores mais influentes da história da arte, já recebeu
algumas homenagens no universo cinematográfico, em especial, por meio de três
filmes: Sede de viver (Vincente Minnelli, 1956), em que foi interpretado por Kirk
Douglas; Vincent & Theo (1990), dirigido por Robert Altman; e Van Gogh (1991),
escrito e dirigido por Maurice Pialat. Essas obras, além de enaltecerem a genialidade e
importância de Van Gogh para a pintura moderna, ressaltam a biografia do artista
trágico, que concentra em poucos anos a essência da sua arte e possui comportamento
fora dos padrões. Em termos de recursos estéticos, entretanto, nenhuma das
produções citadas se compara com a animação Com amor, Van Gogh, lançada no final
de 2017. A obra, dirigida por Dorota Kobiela e Hugh Welchman, transfere para a tela o
universo pictórico do mestre pós-impressionista, uma vez que praticamente todos os
frames do filme são resultantes de 62.450 telas a óleo. Graduada em belas artes e
cinema de animação, Kobiela queria combinar pintura e animação em um curta-
Universos distintos
O filme é baseado em um roteiro original do escritor polonês
Jacek Dehen. O protagonista é Armand Roulin (Douglas Booth),
filho do carteiro Joseph Roulin (Chris O’Dowd), de quem o mestre
holandês se tornou grande amigo quando se mudou para Arles. A
trama se inicia um ano após a morte do pintor, quando o jovem
Armand decide realizar sua própria investigação por duvidar da
hipótese do suicídio do artista. A busca pela verdade dá vida às
personagens que posaram para o pintor e flashbacks em preto
em branco que não existem nos quadros do artista. A unidade
visual e a linguagem de vanguarda são os grandes méritos do
filme, na opinião de Ghiraldelli. “A pintura como alegoria
promove um encontro com a arte de Van Gogh, ultrapassando,
inclusive, problemas de roteiro que, em alguns momentos,
aceleram demasiadamente alguns fatos. Mas nada que comprometa o impressionante resultado estético do
filme”, comenta. Problemas narrativos são também observados por Brolezzi. Para ele, “o fato de quadros
pintados à mão constituírem o corpo do filme, sem dúvida, trouxe resultados muito bons e inovadores. (...) “O
filme procura ser o mais correto possível no que tange à trajetória do pintor. Mas o espírito das telas de Van
Gogh não pode ser captado apenas colocando seus
quadros em movimento. Essa estratégia pode ser
enganosa para aqueles que procuram não somente belas
imagens, mas uma compreensão da singularidade de sua
poética. Se não fosse Van Gogh, poderia ter sido Gauguin,
Matisse ou qualquer outro pintor a ser tratado da mesma
forma. Há, portanto, o perigo da homogeneização”,
assinala. Sem minimizar a vanguarda do filme, em termos
de estética no cinema, Brolezzi pondera sobre o
relacionamento das duas linguagens artísticas. "No
episódio “Corvos” do filme Sonhos (1990), Akira Kurosawa
tenta estabelecer relações entre o cinema e a pintura de
Van Gogh, mas de modo totalmente diferente. Lá o
intraduzível permanece. Uma pintura não supõe
Para compor as cenas do filme foram movimento, o olho do observador é que deve se
pintadas mais de 60 mil telas a óleo. movimentar diante dela. Pintura e cinema pertencem a
universos distintos, embora não incomunicáveis.
Correspondências entre artes distintas são extremamente
difíceis de serem feitas”, finaliza.
Sugestão: Leia o texto “A matemática pincelada nas turbulências de Van Gogh” disponível em
https://difusaoneuromat.wordpress.com/2017/03/21/a-matematica-pincelada-nas-turbulencias-de-van-gogh/
Atividades
01. Explique o estilo do filme, destacando as diferenças em relação às animações produzidas até então.
Gabarito
01. O filme é muito original ao começar pela forma como foi conceituado: estreando a técnica da animação a
partir de pinturas a óleo, que consegue reproduzir a textura e a beleza das pinceladas seguindo o mesmo
estilo do próprio homenageado o que o diferente das demais animações.
02. Mais do que contar sua história era necessário apresentá-la sob seu ponto de vista tão particular, que fez
com que o pintor se tornasse cultuado após sua morte. O resultado, visualmente falando, é deslumbrante.
a animação revisita locais e personagens recorrentes de seu portfolio para construir uma investigação que,
além de contar a história do pintor, esmiúça o mistério acerca de sua morte. Teria sido mesmo suicídio ou
alguém seria o responsável? A resposta é apresentada a partir da viagem de Armand Roulin à cidade
francesa de Arles, um ano após o falecimento de Van Gogh, com o objetivo de entregar à sua família uma
carta perdida do pintor, endereçada ao irmão, Theo. Cada vez mais obcecado, Roulin inicia então uma
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Exercícios Complementares
investigação pessoal em torno dos conhecidos de Van Gogh para decifrar o que realmente aconteceu. Tal
narrativa, no fim das contas, serve mais para ambientar como era a vida do pintor, e suas aflições, do que
propriamente para desvendar qualquer mistério.
03. Van Gogh possui inúmeras influências que marcaram sua curta e intensa trajetória de pintor. Podemos
destacar as pinturas de Millet que foram amplamente reproduzidas em releituras muito originais. Seu
contato com os impressionistas em Paris também fez com que muitos recursos técnicos fossem por ele
apropriados. Van Gogh também foi um grande admirador das gravuras japonesas o que constantemente
influenciou seus trabalhos.
04. Van Gogh converte a própria vida em conteúdo das obras. Mas ao invés de descrevê-la objetivamente, o
faz de maneira emocional, altamente dramática. O resultado é uma obra original, criativa e intensamente
emocional que revela suas inquietações pessoais.
05. Pinceladas fortes de grossas camadas de tintas e com minucioso trabalho na escolha das cores, deixando
os quadros repletos de texturas vibrantes que traduzem a atitude emocional do pintor. Dispensa o realismo
da fase inicial para utilizar a cor, a forma e o desenho com liberdade criativa.
Era uma manhã quente do verão de 1888 em Arles, sul da França. O sol quente e a luz mediterrânea que
atraíram tantos pintores também trouxeram aquele artista, que carregando um cavalete, telas e tintas
caminhava pelos campos à procura não da bela paisagem, que se mostrava benevolente, mas da emoção, da
cor. Esse homem veio do norte, da pequena cidade holandesa de Grootzundeter, onde nasceu em 1853. Em
sua vida estiveram presentes sempre, dualidades extremas, a tragédia e o maravilhoso. A tragédia na sua
história pessoal, o maravilhoso na expressão da sua arte.
A loucura, a pobreza, a incompreensão, a amargura, a tristeza e a solidão, marcam sua vida. Sob o sol
forte do verão de Arles, pinta rápido, com força. Procura. "Mas o caminho que sigo, tenho de manter, se não
fizer nada, se não estudar, se não procurar, então estou perdido". Com estas palavras, Vincent Van Gogh, o
homem que pintava nos campos de Arles, resume a sua vida. Ele não sabia naquele momento, e nunca veio a
saber, que já havia encontrado. Havia encontrado a expressividade da cor.
"Sob um sol forte, tanto a sombra própria, quanto a sombra projetada dos objetos e das figuras tornam-se
totalmente diferentes e é tão colorida que somos mesmos tentados a suprimi-las." Van Gogh fala sobre o efeito
que a cor lhe provoca. Os impressionistas privilegiaram a luz como objeto da pintura. Van Gogh ultrapassou
isso usando a luz e a cor. A sua técnica característica era o uso de grossas camadas de tinta. Às vezes usava
mesmo todo o conteúdo do tubo sobre a tela e então modelava com o pincel. No início usava traços de tintas, à
maneira dos impressionistas e anos depois passou a usar as pinceladas em espiral e em círculos. Entre as
cores, a que mais o fascinava era o amarelo, que tem um papel fundamental em sua obra. "Ao exagerar nas
cores, quero expressar-me com força". A cor era usada não para representar um aspecto externo, e sim para
ser a expressão da mente e emoções do pintor. Às vezes usava uma só cor e com variações tonais obtinha a
forma que queria. Pintou durante 10 anos, mas os trabalhos dos últimos 4 anos é que deram força à sua obra.
Van Gogh, junto com Cézanne e Gauguin, foi a porta para a Arte Moderna, que depois é definitivamente aberta
por Pablo Picasso. Iniciaram o que é considerado como o Pós – impressionismo, que inclui sob este rótulo uma
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Arte
vasta tendência vanguardista. Van Gogh foi o elo na cadeia da evolução da arte clássica para a arte
contemporânea. E o novo foi a redescoberta da emoção, que sempre existiu no passado da arte. Os pintores
pré – históricos, quando representavam animais, pintavam com a emoção de um ritual, em que queriam a força
do animal que seria abatido na caça. Os egípcios, gregos e romanos colocavam na pintura, sobretudo a vida, e
os pintores medievais pintavam a emoção da religião. A Renascença e o Neoclassicismo atingiram a perfeição
da reprodução do mundo tal como era visto e as emoções eram menos importantes e foram deixadas de lado.
Van Gogh foi o primeiro artista, que trouxe de volta a expressão das emoções ao que deu preferência ao invés
da execução perfeita da obra.
Van Gogh influenciou um grupo de artistas alemães e austríacos que foram chamados expressionistas. O
Expressionismo foi um movimento especialmente importante, posterior ao Impressionismo, com duração
imprecisa entre 1905 e 1920. Definido como "Qualquer forma de arte que coloque os sentimentos acima das
observações". Os expressionistas alimentavam fortes sentimentos à respeito do sofrimento humano.
Preocupavam-se com a pobreza, a violência e a paixão. Enfrentavam os fatos da vida como ela era. Os seus
líderes, claro, também incompreendidos, foram expulsos da Alemanha pelos nazistas. Ernst Kirchner, Erich
Heckel, Schmidt Rottluff, Otto Mueller, Franz Marc, Wassily Kandinsky, Otto Dix, Oskar Kokoschka, Egon
Schiele, herdaram não só a cor e a emoção de Van Gogh, Gauguin e Cézanne, herdaram também a rebeldia,
que então passando por Picasso e Dali, levou à "Pintura Abstrata" e a toda liberdade da arte atual.
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Exercícios Complementares
Vincent era um homem de bons sentimentos, foi missionário, e era capaz de dar as próprias roupas e comida
para os mais pobres. Mas não conseguia viver segundo os valores de sua época, não se relacionava com a
maioria das pessoas e nem mesmo ganhava o mínimo para o sustento. Não conseguiu ter uma família. Nunca
se deu bem com as mulheres e quando se apaixonava era sempre um desastre. Recebeu durante toda a vida
ajuda o necessário para viver, de seu irmão, Theo, que também não era rico. Um emocionante exemplo de
solidariedade desinteressada. O irmão, quatro anos mais novo, dele cuidou como de uma criança. Vincent Van
Gogh produziu pouco mais de 800 quadros. Recebeu apenas uma crítica favorável em vida. Albert Aurier
escreve positivamente sobre ele no "Mercure de France", em 1890. Um mês depois, ele vende o primeiro e
único quadro de sua vida, "O Vinhedo Vermelho", pela pequena quantia de 400 Francos. Cem anos depois é
vendido "O Jardim das Flores" por 83,6 milhões de dólares, o maior valor já pago por uma obra de arte. É
irônico ler as proféticas palavras de Van Gogh "Não posso evitar os fatos de que meus quadros não sejam
vendáveis. Mas virá o tempo em que as pessoas verão que eles valem mais que o preço das tintas".
A vida de Van Gogh foi um exemplo da incompreensão humana. Procurou a amizade e nunca encontrou,
deu a solidariedade para quem não soube receber, sonhou com uma comunidade criativa de artistas que nunca
conseguiu implantar, nunca viu o reconhecimento de sua obra enquanto vivo. Sentiu a rejeição por seu
comportamento irregular, o que acabou na sua expulsão do convívio das pessoas. Certamente a não aceitação
das pessoas fez a tragédia de Van Gogh. Talvez, se Van Gogh soubesse que realizar é o que é importante, sem
esperar o reconhecimento ou o agradecimento. Se percebesse que a opinião dos outros não importa quando se
tem certeza de que se fez o melhor, a sua vida teria sido menos sofrida. Sobrou em sua vida apenas Theo, com
quem sempre se correspondia. O irmão o compreendia e o amava. Não era um artista, não produziu nenhuma
obra, mas é admirado, por quem conhece a sua história, por seus sentimentos e comportamento fraternal. É
muito fácil ajudar com o que sobra ou com o que se obtém dos outros. Theo não dava as sobras, dividia o
pouco que tinha, sem esperar retribuição. Vincent morreu, morte trágica, em julho de 1890 e Theo morreu 6
meses depois. Escreveu Charles Terrasse: "Não quiseram separar aqueles que tanto se amaram durante suas
vidas, Theo o irmão sublime e Vincent o pintor dos sóis silenciosos e dos girassóis de ouro. Repousam lado a
lado em Auvers-sur-oise. E, na admiração universal que suscitam, seus dois nomes são apenas um". Van Gogh
foi o primeiro passo para chegar à idéia de arte contemporânea. A arte hoje é vista como a expressão de um
conceito, de uma emoção, através de qualquer veículo. Esta visão totalmente aberta e livre não seria atingida
sem a rebeldia de Van Gogh. A história da arte é uma história, felizmente, sem fim. Outros movimentos estão
acontecendo e mesmo com a rapidez da informação, com a TV, a Internet, os jornais e revistas é impossível se
avaliar o que provavelmente só será reconhecido pelas futuras gerações. Mas a história de Van Gogh nos incita
a ficar de olhos abertos e sem preconceitos, olhar sem julgamentos para a arte que está sendo criada agora,
procurar o novo e talvez, porque não, ter a ousadia de também criar.
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Arte
Atividades