Livro Técnicas+Avançadas+de+Investigação v.1
Livro Técnicas+Avançadas+de+Investigação v.1
Livro Técnicas+Avançadas+de+Investigação v.1
DE INVESTIGAÇÃO
Perspectivas prática e jurisprudencial
Volume 1
Organizadores
Galtiênio da Cruz Paulino
João Paulo Santos Schoucair
Octahydes Ballan Junior
Tiago Dias Maia
REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL
Tatiana Jebrine
Secretária de Comunicação Social Substituta
Rajiv Geeverghese
Secretário de Tecnologia da Informação
PARECERISTA
João Paulo Lordelo
Procurador da República
ESCOLA SUPERIOR DO MINISTÉRIO PÚBLICO DA UNIÃO
SGAS Quadra 603 Lote 22 · 70200-630 · Brasília-DF
www.escola.mpu.mp.br · divep@escola.mpu.mp.br
T255
Técnicas avançadas de investigação / organizadores: Galtiênio
da Cruz Paulino, João Paulo Santos Schoucair, Octahydes
Ballan Junior, Tiago Dias Maia. – Brasília : ESMPU, 2021.
2 v.
ISBN 978-65-88299-89-0 (obra completa)
ISBN 978-65-88299-91-3 (v. 1, impresso)
ISBN 978-65-88299-92-0 (v. 1, e-book)
1. Investigação criminal – Brasil. 2. Investigação criminal
– jurisprudência –Brasil. 3. Investigação criminal – legislação
– Brasil. 4. Crime organizado – Brasil. 5. Delação premiada –
Brasil. 6. Cooperação jurídica internacional. 7. Perícia – Brasil.
8. Pesquisa jurídica. 9. Sigilo bancário – Brasil. 10. Sigilo fiscal –
Brasil. I. Paulino, Galtiênio da Cruz, org. II. Schoucair, João Paulo
Santos, org. III. Ballan Junior, Octahydes, org. IV. Maia, Tiago
Dias, org. V. Título.
CDD 341.413
MARCELO CAIADO
Perito do MPU desde 1997 e chefe da Assessoria Nacional de Perícias
de Tecnologia da Informação e Comunicação da Procuradoria-Geral
da República. Mantenedor do site http://dfir.com.br, que é dedicado à
área de Forense Digital e Resposta a Incidentes, com certificação CISSP,
GCIH, GCFA, GSLC, CCO, CCPA, CASA, CHFI e CTIA. Mestre em Ciência da
Computação pela Universidade de Brasília (UnB). Especialista em Gestão
Pública pela Fundação Getúlio Vargas (FGV).
WINÍCIUS FERRAZ
Servidor do Ministério Público Federal, lotado na Assessoria Nacional
de Perícia em TIC da Procuradoria-Geral da República. Engenheiro de
Computação. Especialista em Segurança da Informação pelo Centro
Universitário de Brasília (UniCeub) e em Computação Forense pelo
Instituto de Pós-graduação e Graduação (IPOG).
SUMÁRIO
1 · INTRODUÇÃO
Na presente quadra, não há como negar: por mais que as instituições
públicas tenham avançado e se profissionalizado, o crime, especial-
mente o macro e de efeitos difusos, não dá sinais de trégua ou de arre-
fecimento. Quando aparentemente isto ocorre, trata-se apenas de uma
estratégia ou correção de suas tipologias de atuação, de modo que sua
reengenharia de comportamentos se põe, no mais das vezes, à frente
das técnicas de investigação.
Nieto já antecipou que a “corrupção acompanha o poder como a som-
bra acompanha o corpo”.1 Nesse exato contexto, a corrupção, como um
fenômeno de caráter milenar, e os crimes lesivos à Administração Pública
e à própria sociedade, em faceta que mais se prejudica, têm se tornado
de difícil persecução. Na verdade, mais do que um terreno extrema-
mente arenoso, para quem se propõe enfrentar tais mazelas, a eterni-
zação tem sido a marca, pela menos na realidade empírica ora enfren-
tada, da grande maioria das investigações e dos processos de vulto que
ousam esquadrinhar os fatos que lhes são subjacentes.
17
Isso pode ser percebido não apenas pela leniência do sistema ou pelo
TÉCNICAS AVANÇADAS DE INVESTIGAÇÃO
18
requer busca prioritária por liquidez e isto leva ao direcionamento das
19
Pelo menos não aqui, longe das fortalezas de concreto, dos palacetes de
TÉCNICAS AVANÇADAS DE INVESTIGAÇÃO
20
Essa concepção ancora-se numa lógica aparentemente simples: a finali-
21
crimes de rua, por deixarem vestígios, pode-se ver as mudanças pro-
TÉCNICAS AVANÇADAS DE INVESTIGAÇÃO
6 SANTOS, Leonardo Augusto de Andrade Cezar dos. Fixação de dano moral coletivo
na sentença condenatória penal em casos de corrupção. In: AZAMBUJA, Edson;
BALLAN JUNIOR, Octahydes; SILVA, Vinícius de Oliveira e (org.). Combate à corrupção
na visão do Ministério Público. Leme (SP): JH Mizuno, 2018. p. 234-235.
22
individuais do autor do crime. Tudo a exigir uma interpretação menos
23
podendo a constrição incidir sobre todo o patrimônio do investigado,
TÉCNICAS AVANÇADAS DE INVESTIGAÇÃO
24
4 · DO “SEQUESTRO” ESPECIAL DO DECRETO-LEI N. 3.240/1941
25
DECRETADO, A TÍTULO DA MEAÇÃO. VALORES APREENDIDOS. DECRETO-
TÉCNICAS AVANÇADAS DE INVESTIGAÇÃO
9 YOSHIDA, Consuelo Yatsuda Moromizato. Ação civil pública: judicialização dos con-
flitos e redução da litigiosidade. In: MILARÉ, Édis. A ação civil pública após 20 anos:
efetividade e desafios. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2005. p. 115.
26
Prosseguindo, já que se falou em “requisito” para deferimento, o citado
27
Pela relevância do bem jurídico afetado (patrimônio da coletividade), a
TÉCNICAS AVANÇADAS DE INVESTIGAÇÃO
28
que o objetivo da tutela é privilegiar a Fazenda Pública, equipando-a
29
Diferentemente do sequestro definido no Código de Processo Penal,
TÉCNICAS AVANÇADAS DE INVESTIGAÇÃO
30
a academia se esforça para não lembrar, que estes, assim como as cor-
31
ou processual na manutenção da apreensão (art. 118 do CPP) e à não
TÉCNICAS AVANÇADAS DE INVESTIGAÇÃO
32
verá, é a constrição feita diretamente sobre a folha de pagamento de ven-
11 ASSIS, Araken de. Manual da execução. 9. ed. São Paulo: RT, 2004.
33
previstas nos arts. 125 a 144 do Código de Processo Penal, destinam-se,
TÉCNICAS AVANÇADAS DE INVESTIGAÇÃO
34
devem estar insertos nos autos, ressoa de grande importância para
35
5.2 · DA REGRA DA IMPENHORABILIDADE DE VALORES
TÉCNICAS AVANÇADAS DE INVESTIGAÇÃO
36
o Ministério Público como verdadeiro “credor” de uma pena, como se
Assim, a aplicação do art. 833 do CPC aos casos penais não pode fugir
da concepção de um sistema cautelar de natureza patrimonial que se
almeja, nos dias de hoje, adequado, específico e completo.
Quando se pensa em adequação de uma medida cautelar a um caso
concreto (ou a uma pessoa juridicamente individualizada), sempre vem a
lume um princípio: o da proporcionalidade, não apenas no sentido usual-
mente empregado pelas defesas (consectário do garantismo negativo),
mas também no de prestigiar o dever que o Estado tem de proteger
(e de forma eficiente!) bens jurídicos que foram violados (princípio da
proibição de proteção deficiente) e que precisam de recomposição,
calhando trazer o seguinte aditamento de Streck:
Trata-se de entender, assim, que a proporcionalidade possui uma
dupla face: de proteção positiva e de proteção de omissões estatais.
Ou seja, a inconstitucionalidade pode ser decorrente de excesso do
Estado, caso em que determinado ato é desarrazoado, resultando
desproporcional o resultado do sopesamento (Abwägung) entre fins
e meios; de outro, a inconstitucionalidade pode advir de proteção
insuficiente de um direito fundamental-social, como ocorre quando
o Estado abre mão do uso de determinadas sanções penais ou admi-
nistrativas para proteger determinados bens jurídicos. Este duplo viés
do princípio da proporcionalidade decorre da necessária vinculação
de todos os atos estatais à materialidade da Constituição, e que tem
como consequência a sensível diminuição da discricionariedade
(liberdade de conformação) do legislador.13
12 LOPES JÚNIOR, Aury. Direito processual penal. 17. ed. São Paulo: Saraiva, 2020. p. 72-73.
13 STRECK, Lênio Luiz. A dupla face do princípio da proporcionalidade: da proibição
de excesso [Übermassverbot] à proibição de proteção deficiente [Untermassverbot]
ou de como não há blindagem contra normas penais inconstitucionais. Revista da
Ajuris, Porto Alegre, v. 32, n. 97, p. 180, 2005.
37
isto sim, de campo para seu uso intersistemático, em visão dialógica,
TÉCNICAS AVANÇADAS DE INVESTIGAÇÃO
38
DE COMPROVAÇÃO DE QUE A ORIGEM DO DINHEIRO É LÍCITA. AUSÊN-
39
Previsão equivalente está presente, inclusive, em dispositivo da Lei de
TÉCNICAS AVANÇADAS DE INVESTIGAÇÃO
40
arts. 125 do CPP e seguintes e 4º da Lei 9.613/98, o qual prevê de forma
Ademais, no dia a dia da prática forense, não é raro se deparar com con-
tas bancárias de “mera passagem”, mantidas por pessoas politicamente
expostas, de grande patrimônio ostensivo, mas de parcas formalizações
41
financeiras, em situação reveladora de má-fé a justificar, na nossa visão,
TÉCNICAS AVANÇADAS DE INVESTIGAÇÃO
6 · CONSIDERAÇÕES FINAIS
O crime organizado é uma realidade presente. Sua capilaridade penetra
instituições públicas. Seus integrantes, máxime os ocupantes de privi-
legiadas posições sociais, até bem pouco tempo não faziam parte de
quaisquer estatísticas criminais, havendo, sempre que elevada a tempe-
ratura das investigações pelo Brasil, um movimento de resistência para
refrear esse sopro de mudança, a exigir um redirecionamento do olhar da
persecução penal, voltado, mais amiúde, ao patrimônio de agentes que,
com suas condutas, lesam o bem público em especial. Diante de um sis-
tema penal tradicionalista, remarcado por processos morosos, por penas
corporais baixas e de difícil realização prática, medidas de recomposição
patrimonial são redesenhadas para a salvaguarda da sociedade e para a
inibição, quiçá, de ciclos delitivos.
Não há como dissociar: o enfrentamento da macrocriminalidade per-
passa, necessariamente, pela presença de um sistema penal eficiente,
que imponha mais riscos do que benefícios, como única linguagem
entendida por quem insiste em descumprir mandamentos legais. O
42
momento exige evolução. E esta virá. Entretanto, virá apenas se, ao lado
REFERÊNCIAS
ASSIS, Araken de. Manual da execução. 9. ed. São Paulo: RT, 2004.
43
utilização do sistema financeiro para os ilícitos previstos nesta Lei; cria
TÉCNICAS AVANÇADAS DE INVESTIGAÇÃO
LOPES JÚNIOR, Aury. Direito processual penal. 17. ed. São Paulo: Saraiva
Educação, 2020.
44
CAPÍTULO 2
O AGENTE INFILTRADO
André Batista e Silva
Alda Cristina Xavier Alves
1 · INTRODUÇÃO
As formas de crime organizado remontam à Antiguidade;16 e a sua
capacidade de se estruturar e se renovar, embrenhando-se nos mais
diversos setores, é que evidencia a tarefa grandiosa do Estado no
enfrentamento dessa chaga.
A primeira organização criminosa de que se tem notícia e notoriedade
no Brasil foi o chamado Cangaço, que se desenvolveu na região Nordeste
no final do século XIX e início do século XX, tendo como destaque a pes-
soa de Virgulino Ferreira da Silva, conhecido como Lampião.17
45
A ideia do cangaço voltou à tona a partir de ações de bandos armados
TÉCNICAS AVANÇADAS DE INVESTIGAÇÃO
que têm como foco instituições financeiras, com base nos roubos a
agências bancárias e carros-fortes, tema que vem ganhando destaque:
Esse “cangaço moderno” ganhou destaque midiático pela forma de
atuação dos indivíduos que o cometem e hoje representa um grande
desafio para a Segurança Pública. Inicialmente no Nordeste e atual-
mente em todo o país e América do Sul, a característica principal dos
bandos armados conhecidos por novos cangaceiros é assaltar agências
bancárias em pequenas cidades interioranas, o que constitui uma das
mais rápidas formas de capitalização do crime organizado. Entender
o funcionamento dessa modalidade dinâmica, ágil, bem estruturada
logística e financeiramente é fundamental para um enfrentamento, prin-
cipalmente nas suas consequências e interligações com outros crimes.18
lógica criminal dos assaltos a banco no Brasil. Instituto de Ensino Rogério Greco, Belo
Horizonte, jul. 2020. Disponível em: https://www.rogeriogreco.com.br/post/novo-
cangaço. Acesso em: 25 fev. 2021.
18 PONTES; FRANÇA, 2020, n. p.
19 MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL. PROCURADORIA-GERAL DA REPÚBLICA. MPF e Polícia
Federal buscam provas de desvio de recursos e fraudes na compra de respiradores no
Pará. Disponível em: http://www.mpf.mp.br/pgr/noticias-pgr/mpf-e-policia-federal-
buscam-provas-de-desvio-de-recursos-e-fraudes-na-compra-de-respiradores-no-
para. Acesso em: 21 fev. 2021.
46
seus integrantes, de forma a conquistar a confiança do grupo e tornar
20 MASSON, Cleber; MARÇAL, Vinícius. Crime organizado. 4. ed. São Paulo: Método,
2020. p. 407.
21 PACHECO, Rafael. Crime organizado: medidas de controle e infiltração policial. Curitiba:
Juruá, 2011. p. 109.
47
de inteligência, como servidores da Agência Brasileira de Inteligência
TÉCNICAS AVANÇADAS DE INVESTIGAÇÃO
48
para fornecer informações, de forma sigilosa, aos órgãos encarregados da
24 LIMA, Renato Brasileiro de. Legislação criminal especial comentada. 8. ed. Salvador:
JusPodivm, 2020a. p. 846.
25 LIMA, 2020a, p. 846.
26 CUNHA, Rogério Sanches; LINS, Caroline de Assis e Silva Holmes; SOUZA, Renee de
Ó. A nova figura do agente disfarçado. In: WALMSLEY, Andréa (coord.); CIRENO, Lígia
(coord.); BARBOZA, Márcia Noll (coord.). Inovações da Lei n. 13.964, de 24 de dezembro de
2019. Coletânea de Artigos, Volume 7. Ministério Público Federal - 2ª CCR: 2020. p. 64
49
policiais (ou ministeriais) informações objetivamente eficazes para a con-
TÉCNICAS AVANÇADAS DE INVESTIGAÇÃO
3 · EVOLUÇÃO LEGISLATIVA
A técnica especial de investigação por infiltração encontra-se prevista na
Convenção das Nações Unidas contra o Crime Organizado Transnacional,
denominada Convenção de Palermo,29 que foi incorporada ao direito
interno por meio do Decreto n. 5.015, de 12 de março de 2004.
50
No ensinamento de Vladimir Aras, a Convenção de Palermo possui dis-
foram uma represália dessa organização criminosa ao chamado Pool Antimafia, que
levou à prisão dezenas de mafiosi, inclusive o boss Salvatore Riina”. Disponível em:
https://vladimiraras.blog/2020/05/16/a-convencao-de-palermo-contra-o-crime-
organizado/. Acesso em: abr. 2020.
30 Cf. https://vladimiraras.blog/2020/05/16/a-convencao-de-palermo-contra-o-crime-
organizado/.
31 Cf. http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/Mensagem_Veto/anterior_98/VEP-
LEI-9034-1995.pdf.
51
Para pôr fim à polêmica acerca da ausência de disciplinamento quanto à
TÉCNICAS AVANÇADAS DE INVESTIGAÇÃO
52
Isso porque
53
(subsidiariedade), impõe-se que a prova não possa ser produzida por
TÉCNICAS AVANÇADAS DE INVESTIGAÇÃO
54
menos planejamento, não exigem mudança de identidade ou perda de
55
de trabalho e pessoais, prestação de serviços públicos, desenvolvimento
TÉCNICAS AVANÇADAS DE INVESTIGAÇÃO
56
Nesse ponto, importante trabalho vem sendo desenvolvido pela organi-
57
agentes de polícia na internet, com o fim de investigar os crimes contra a
TÉCNICAS AVANÇADAS DE INVESTIGAÇÃO
58
7 · PROCEDIMENTO DA INFILTRAÇÃO
59
Após o término49 dos trabalhos, deverá a polícia apresentar relatório
TÉCNICAS AVANÇADAS DE INVESTIGAÇÃO
Por sua vez, meios de prova são os instrumentos através dos quais as
fontes de prova são introduzidas no processo. Dizem respeito, portanto,
a uma atividade endoprocessual que se desenvolve perante o juiz, com
o conhecimento e a participação das partes, cujo objetivo precípuo é a
fixação de dados probatórios no processo. […]
53 Art. 14, II, da Lei n. 12.850/2013: “São direitos do agente: [...] II - ter sua identidade
alterada, aplicando-se, no que couber, o disposto no art. 9º da Lei nº 9.807, de 13 de
julho de 1999, bem como usufruir das medidas de proteção a testemunhas”.
54 Art. 7º, IV, da Lei n. 9.807/1999: “Os programas compreendem, dentre outras, as seguin-
tes medidas, aplicáveis isolada ou cumulativamente em benefício da pessoa prote-
gida, segundo a gravidade e as circunstâncias de cada caso: [...] IV - preservação da
identidade, imagem e dados pessoais”.
55 “HABEAS CORPUS. CONSTITUCIONAL. PROCESSUAL PENAL. NULIDADE DO INTERRO-
GATÓRIO. SIGILO NA QUALIFICAÇÃO DE TESTEMUNHA. PROGRAMA DE PROTEÇÃO
À TESTEMUNHA. PROVIMENTO N. 32/2000 DA CORREGEDORIA DO HC 124614 MC /
SP TRIBUNAL DE JUSTIÇA PAULISTA. ACESSO RESTRITO À INFORMAÇÃO. NULIDADE
INEXISTENTE. IMPOSSIBILIDADE DE REEXAME DE FATO EM HABEAS CORPUS. ORDEM
DENEGADA. 1. Não se comprova, nos autos, a presença de constrangimento ilegal a
ferir direito dos Pacientes, nem ilegalidade ou abuso de poder a ensejar a concessão
da presente ordem de ‘habeas corpus’. 2. Não há falar em nulidade da prova ou do pro-
cesso-crime devido ao sigilo das informações sobre a qualificação de uma das teste-
munhas arroladas na denúncia, notadamente quando a ação penal omite o nome de
uma testemunha presencial dos crimes que, temendo represálias, foi protegida pelo
sigilo, tendo sua qualificação anotada fora dos autos, com acesso exclusivo ao magis-
trado, à acusação e à defesa. Precedentes. 3. O ‘habeas corpus’ não é instrumento
processual adequado para análise da prova, para o reexame do material probatório
produzido, para a reapreciação da matéria de fato e também para a revalorização dos
elementos instrutórios coligidos no processo penal de conhecimento. Precedentes. 4.
Ordem denegada.” (HC 112.811/SP, rel. min. Cármen Lúcia – grifei). Embora respeitosa-
mente dissentindo dessa diretriz jurisprudencial, devo ajustar o meu entendimento a
essa orientação, em respeito ao princípio da colegialidade, motivo pelo qual, em aten-
ção à posição dominante na jurisprudência do Supremo Tribunal Federal, indefiro o
pedido de medida liminar, sem prejuízo, contudo, de ulterior reapreciação da matéria
quando do julgamento final do presente ‘writ’ constitucional.”
62
Ultrapassada a questão da admissibilidade do depoimento do agente,
56 Os outros dois sistemas de valoração da prova são: I) íntima convicção, no qual o juiz
é livre para valorar as provas, não precisando fundamentar o seu convencimento;
II) sistema da verdade legal ou tarifário, no qual os meios de prova têm valor fixado em
abstrato pelo legislador, cabendo ao juiz calcular matematicamente o valor das provas.
57 Nesse sentido, a 2ª Turma do Supremo Tribunal Federal entendeu que o depoi-
mento do réu colaborador, sem outras provas que minimamente corroborem com
sua narrativa, não pode conduzir à condenação, também não sendo suficiente para
autorizar a instauração de ação penal (STF, 2ª Turma, Inq. 3994/DF, rel. para acórdão
min. Dias Toffoli).
58 BELEZA, Tereza Pizzaro; PINTO, Frederico Costa (coord.). Prova criminal e direito de
defesa: estudos sobre a teoria da prova e garantias de defesa em processo penal.
Coimbra: Almedina, 2010. p. 157-158.
63
9 · CAUSA DE EXCLUSÃO DA CULPABILIDADE:
TÉCNICAS AVANÇADAS DE INVESTIGAÇÃO
64
debate na hipótese em que o agente infiltrado vier a cometer crimes
65
honra, deve ser preservada a eficácia da investigação criminal, incidindo
TÉCNICAS AVANÇADAS DE INVESTIGAÇÃO
63 “Art. 24, CP – Considera-se em estado de necessidade quem pratica o fato para salvar
de perigo atual, que não provocou por sua vontade, nem podia de outro modo evitar,
direito próprio ou alheio, cujo sacrifício, nas circunstâncias, não era razoável exigir-se.”
66
quando o bem jurídico preservado possuir o mesmo valor do bem jurí-
10 · MECANISMOS DE PROTEÇÃO E
DIREITOS DO AGENTE INFILTRADO
A técnica de infiltração não pode ser utilizada deixando de lado a pes-
soa física que ingressará de forma simulada dentro da estrutura crimi-
nosa. Visando salvaguardar a atuação do agente estatal, a legislação
67
estabeleceu mecanismos de proteção para tutelar a intimidade e a inte-
TÉCNICAS AVANÇADAS DE INVESTIGAÇÃO
11 · CONSIDERAÇÕES FINAIS
Ao longo dos anos, no enfrentamento aos crimes comuns, os órgãos volta-
dos para a persecução penal valiam-se de meios ordinários para investigar
aqueles que praticavam infrações penais. Com o desenvolvimento do crime
organizado e a maior profissionalização dos criminosos, mostrou-se neces-
sário criar diversas técnicas especiais de investigação com a finalidade do
combate à macrocriminalidade, a exemplo da infiltração de agentes.
Assinale-se que o Brasil se comprometeu, em diversos instrumentos legis-
lativos internacionais, a combater o crime organizado, devendo se valer
dos meios legais que se tem à disposição para alcançar essa finalidade,
gerando uma obrigação processual penal positiva para o Estado brasileiro.
Para o melhor enquadramento do agente infiltrado no ordenamento
jurídico brasileiro, devem ser estabelecidos, previamente, a sua admis-
sibilidade e os limites da sua atuação, sendo tais respostas trazidas no
66 A Lei n. 12.850/2013 trouxe, no seu rol de crimes em espécie, tipo penal que prevê
pena de reclusão para aquele que viola o sigilo dessa técnica especial de investiga-
ção. Segue o teor do dispositivo legal:
“Art. 20. Descumprir determinação de sigilo das investigações que envolvam a ação
controlada e a infiltração de agentes:
Pena – reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa”.
68
seu conceito. Outrossim, mostra-se indispensável diferenciá-lo de outras
REFERÊNCIAS
BELEZA, Tereza Pizzaro; PINTO, Frederico Costa (coord.). Prova criminal e
direito de defesa: estudos sobre a teoria da prova e garantias de defesa
em processo penal. Coimbra: Almedina, 2010.
69
CUNHA, Rogério Sanches; LINS, Caroline de Assis e Silva Holmes; SOUZA,
TÉCNICAS AVANÇADAS DE INVESTIGAÇÃO
LIMA, Renato Brasileiro de. Manual de processo penal: volume único. 8. ed.
Salvador: JusPodivm, 2020b.
PONTES, Rafael Araújo de; FRANÇA, Fábio Gomes de. Novo cangaço? Refle
xões sobre a lógica criminal dos assaltos a banco no Brasil. Belo Horizonte:
Instituto de Ensino Rogério Greco, jul. 2020. Disponível em: https://www.roge
riogreco.com.br/post/novo-cangaço. Acesso em: 25 fev. 2021.
70
CAPÍTULO 3
QUESTÕES PRÁTICAS DA CAPTAÇÃO AMBIENTAL
Tiago Dias Maia
1 · INTRODUÇÃO
A vida em sociedade exige cada vez mais o sacrifício do direito à privaci-
dade. Com a rápida expansão dos meios de comunicação, as transforma-
ções sistemáticas da forma de se lidar com a informação e a popularização
de dispositivos eletrônicos de gravação de alta tecnologia, a sociedade con-
temporânea passa aos indivíduos uma sensação de constante vigilância.
Andar pelas ruas e estabelecimentos comerciais e notar as inúmeras câme-
ras de monitoramento espalhadas pela cidade faz lembrar a visão de futuro
de George Orwell que, ainda no ano de 1948, escreveu a célebre obra 1984.
O livro descreve um regime totalitário em que não há privacidade nem
mesmo em relação aos próprios pensamentos, onde o ditador Big Brother
tudo pode ver e está sempre observando todas as pessoas e lugares.
O direito à privacidade como é amplamente reconhecido atualmente
teve origem no artigo “The Right to Privacy”, escrito em coautoria pelos
advogados Samuel Warren e Louis Brandeis, publicado em 1890 na
Harvard Law Review.67 Talvez por ser um dos direitos mais desafiados
pela sociedade da informação, vem ganhando novos contornos decor-
rentes de reconhecimentos e confrontos.
Muitas dessas confrontações ao direito à privacidade ocorrem no âmbito
do processo penal. A investigação criminal tem feito um grande esforço
para se reinventar diante da revolução nos meios de comunicação e da
sofisticação do modus operandi das organizações criminosas. A evolução
dos meios de produção de prova nos levou da fase caracterizada por
67 SCHREIBER, Anderson. Direitos da personalidade. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2013. p. 134.
71
Michel Foucault como “controle do corpo”, em franca referência à utili-
TÉCNICAS AVANÇADAS DE INVESTIGAÇÃO
72
por um receptor colocado no ambiente em que está a fonte de emis-
69 BADARÓ, Gustavo Henrique. Processo penal [livro eletrônico]. 6. ed. São Paulo: Thomson
Reuters Brasil, 2020.
70 Transcreve-se a literalidade do dispositivo inscrito no inciso IV do artigo do 2º da Lei
n. 9.034/1995 – acrescentado pela Lei n. 10.217/2001 – que dispõe, in verbis: “Art. 2º Em
qualquer fase de persecução criminal são permitidos, sem prejuízo dos já previstos
em lei, os seguintes procedimentos de investigação e formação de provas: [...] IV – a
captação e a interceptação ambiental de sinais eletromagnéticos, óticos ou acústicos,
e o seu registro e análise, mediante circunstanciada autorização judicial”. (BRASIL. Lei
10.217 de 11 de abril de 2001. Senado Federal. Disponível em: http://www.planalto.gov.
br/ccivil_03/decreto-lei/del2848compilado.htm. Acesso em: 15 jan. 2021.)
73
A principal crítica é a de que a captação ambiental restringe direitos
TÉCNICAS AVANÇADAS DE INVESTIGAÇÃO
74
legislação, haverão de ser aplicadas as formas já conhecidas de reso-
74 BADARÓ, 2020.
75
5 · GRAVAÇÕES REALIZADAS EM ESPAÇOS PÚBLICOS
TÉCNICAS AVANÇADAS DE INVESTIGAÇÃO
75 LIMA, Renato Brasileiro de. Pacote anticrime: comentários à Lei n. 13.964/19. Salvador:
JusPodivm, 2020. p. 443.
76 CONDE, 2007.
77 AVOLIO, Luiz Francisco Torquato. Provas ilícitas: interceptações telefônicas, ambientais
e gravações clandestinas [livro eletrônico]. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2015.
76
pública e utilizaram as conversas gravadas contra o interlocutor usuário
78 U.S. Katz v. United States, 389 U.S. 347 (1967), United States Supreme Court. Disponível em:
https://caselaw.findlaw.com/us-supreme-court/389/347.html. Acesso em: 15 fev. 2021.
79 U.S. Olmstead v. United States, 277 U.S. 438 (1928), United States Supreme Court. Disponível
em: https://supreme.justia.com/cases/federal/us/277/438/. Acesso em: 12 jan. 2021.
80 Tradução livre de “wherever a man may be, he is entitled to know that he will be free”.
81 SCHREIBER, 2013, p. 145.
77
uma conversa reservada e há uma expressa expectativa de privacidade,
TÉCNICAS AVANÇADAS DE INVESTIGAÇÃO
78
principalmente entre a classe dos advogados, que se insurgiu contra a
84 COVER, Avidan Y. A rule unfit for all seasons: monitoring attorney-client communications
violates privilege and the Sixth Amendment, 87 Cornell L. Rev. 1233 (2002). Disponível
em: http://scholarship.law.cornell.edu/clr/vol87/iss5/3. Acesso em: 13 jan. 2021.
79
O Supremo Tribunal Federal, no já mencionado Inquérito n. 2.424/RJ, reco-
TÉCNICAS AVANÇADAS DE INVESTIGAÇÃO
80
Nesse sentido, a gravação correspondente não foi aceita no processo
81
dela no Código de Processo Penal Alemão são inconstitucionais. Nas
TÉCNICAS AVANÇADAS DE INVESTIGAÇÃO
82
Isso significa que existe um limite de tolerância na relativização do direito
83
9.296, o “requerimento deverá descrever circunstanciadamente o local e
TÉCNICAS AVANÇADAS DE INVESTIGAÇÃO
94 BRASIL. Decreto-Lei n. 2.848, de 7 de dezembro de 1940. Código Penal, DF: Senado Federal.
84
A interpretação conjunta dos dispositivos parece nos levar à conclu-
95 BRASIL. Câmara dos Deputados. Projeto de Lei n. 6.341, de 2019, que “Aperfeiçoa a legislação
penal e processual penal”. Brasília: Câmara dos Deputados, 2019. Disponível em: https://
www2.camara.leg.br/legin/fed/lei/2019/lei-13964-24-dezembro-2019-789639-veto-
159755-pl.html#:~:text=66%20da%20Constitui%C3%A7%C3%A3o%2C%20decidi%20
vetar,legisla%C3%A7%C3%A3o%20penal%20e%20processual%20penal%22.
Acesso em: 15 fev. 2021.
85
A doutrina exalta a garantia da inviolabilidade do domicílio tendo em vista
TÉCNICAS AVANÇADAS DE INVESTIGAÇÃO
96 TAVARES, André Ramos. Curso de direito constitucional [livro eletrônico]. 11. ed. São
Paulo: Saraiva, 2013.
97 MENDES, Gilmar Ferreira; BRANCO, Paulo Gustavo Gonet. Curso de direito constitucional
[livro eletrônico]. 7. ed. São Paulo: Saraiva, 2012.
98 BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Inq. 2.424/DF. Disponível em: http://redir.stf.jus.br/
paginadorpub/paginador.jsp?docTP=AC&docID=609608. Acesso em: 5 jan. 2021.
86
De acordo com André de Carvalho Ramos, ocorreu no referido julga-
9 · CONSIDERAÇÕES FINAIS
Durante muitos anos, as interceptações telefônicas foram a principal fer-
ramenta para o enfrentamento à criminalidade, especialmente a elucida-
ção de crimes praticados por grandes organizações criminosas. Todavia,
com a revolução dos meios de comunicação, as interceptações telefôni-
cas vêm perdendo sua efetividade, razão pela qual a captação ambiental
tem sido cada vez mais comum nas investigações criminais.
99 RAMOS, André de Carvalho. Curso de direitos humanos [livro eletrônico]. 7. ed. São
Paulo: Saraiva, 2020.
100 BRASIL. Decreto-Lei n. 2.848, de 7 de dezembro de 1940.
87
A legislação brasileira avançou recentemente ao prever regras específi-
TÉCNICAS AVANÇADAS DE INVESTIGAÇÃO
REFERÊNCIAS
ABREU, Jacqueline de S.; SMANIO, Gianluca M. Compatibilizando o uso
de tecnologia em investigações com direitos fundamentais: o caso das
interceptações ambientais. Revista Brasileira de Direito Processual Penal,
Porto Alegre, v. 5, n. 3, p. 1449-1482, set./dez. 2019. Disponível em: http://
www.ibraspp.com.br/revista/index.php/RBDPP/article/view/262. Acesso
em: 15 jan. 2021.
88
BADARÓ, Gustavo Henrique. Processo penal [livro eletrônico]. 6. ed. São
BRASIL. Câmara dos Deputados. Projeto de Lei n. 6.341, de 2019, que “Aperfeiçoa
a legislação penal e processual penal”. Brasília: Câmara dos Deputados, 2019.
Disponível em: https://www2.camara.leg.br/legin/fed/lei/2019/lei-13964-24-
dezembro-2019-789639-veto-159755-pl.html#:~:text=66%20da%20Consti
tui%C3%A7%C3%A3o%2C%20decidi%20vetar,legisla%C3%A7%C3%A3o%
20penal%20e%20processual%20penal%22. Acesso em: 15 fev. 2021.
U.S. Katz v. United States, 389 U.S. 347 (1967), United States Supreme Court.
Disponível em: https://caselaw.findlaw.com/us-supreme-court/389/347.
html. Acesso em: 15 fev. 2021.
U.S. Olmstead v. United States, 277 U.S. 438 (1928), United States Supreme
Court. Disponível em: https://supreme.justia.com/cases/federal/us/277/438/.
Acesso em: 12 jan. 2021.
90
CAPÍTULO 4
AÇÃO CONTROLADA E SUA ANÁLISE NO
COMBATE AO CRIME ORGANIZADO
João Paulo Santos Schoucair
Luciana Matutino Caires
1 · INTRODUÇÃO
As organizações criminosas têm seu norte magnético na busca pelo
poder, e o fluxo de capitais é o combustível para sua proliferação, devas-
tando a sociedade e dilacerando o Estado, bem como seus mecanis-
mos normais de funcionamento. Assim, o crime organizado se globa-
liza mundialmente, dando aparência de licitude aos seus assombrosos
ganhos financeiros, de modo desfrutar da certeza da impunidade.
As mudanças experimentadas pelo mundo, com as revoluções indus-
triais, inovações tecnológicas, crises econômicas, entre outros fatos
relevantes, encobriram, assim, uma realidade onde a matriz era indi-
vidual, trazendo a lume, hodiernamente, bens jurídicos sem sujeitos
determinados que precisam de proteção (meio ambiente, ordem
financeira, ordem econômica etc.), impondo-se o redimensionamento
do seu enfrentamento, com técnicas especiais de investigação, que
equalizem a preservação aos direitos fundamentais e a proteção à
segurança pública.
Feitas tais considerações, objetiva o presente trabalho abordar a téc-
nica especial de investigação da ação controlada, sua evolução e
contornos normativos, a qual, isolada ou associada a outras medidas
investigativas, não tem o fetiche de pôr fim ao crime organizado no
Brasil, mas reafirma o compromisso do Estado em combater o crime
e proteger a sociedade.
91
2 · MACROCRIMINALIDADE E TÉCNICAS
TÉCNICAS AVANÇADAS DE INVESTIGAÇÃO
ESPECIAIS DE INVESTIGAÇÃO
O Brasil, ao aquecer sua economia e se inserir no mundo global, passou, a
partir da década de 1990, a ser um promissor porto seguro para negócios
ilícitos e palco para fortalecimento de organizações criminosas, não se
olvidando da fragilidade dos órgãos estatais de controle e a desestrutu-
ração de seu sistema de defesa social.
O resultado dessa equação criminosa foi calculado pelo Instituto de Pesquisa
Econômica Aplicada (IPEA) e pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública
(FBSP), numa análise de inúmeros indicadores, encartados no Atlas da
Violência 2020,101 feito para melhor compreender o processo de acentuada
violência no país, com a constatação de que há uma concentração do pro-
blema dos homicídios nos países latino-americanos; e o Brasil, lamentavel-
mente, entra sempre na lista das nações mais violentas do planeta.
Em 2018 o país registrou uma taxa de 27,8 mortes intencionais por 100
mil habitantes, em 2016 e 2015 esse índice foi de 30,3 e 28,9, respectiva-
mente, sendo mister ressaltar que a maior taxa já medida no Brasil tinha
sido registrada em 2014, quando alcançou 29,8 mortes, totalizando, entre
os anos de 2006 a 2016, a assustadora marca de 533.000 mortes violentas.
Conclusão semelhante foi apresentada pela Organização Mundial de
Saúde,102 registrando que o Brasil tem cinco vezes mais homicídios
que a média global, ostentando a nona maior taxa de homicídio das
Américas, com um índice de 30,5 mortes para cada 100 mil habitantes,
segundo dados de 2015, ao passo que, das cinquenta cidades mais vio-
lentas do mundo, dezessete estão no Brasil.103
Adicione-se a esse ambiente de guerra a fortificação das organizações
criminosas com atuação no tráfico de drogas e armas, que se imiscuem,
ainda, no cometimento de crimes patrimoniais violentos e execuções
sumárias de seus desafetos, estimuladas pela suposição da impunidade
e exacerbada lucratividade.
107 PRADO, Luiz Regis. Associação criminosa: crime organizado (Lei 12.850/2013). Revista
dos Tribunais, São Paulo, v. 102, n. 938, p. 241-297, dez. 2013.
94
expressão, de associações, movimentação, repouso, intimidade, privaci-
95
acusados e investigadores, com todo o detalhamento do iter procedi-
TÉCNICAS AVANÇADAS DE INVESTIGAÇÃO
3 · CONCEITO
A ação controlada é concebida como técnica especial de investigação
para ampliar a coleta de elementos informativos, retardando o cumpri-
mento de determinadas diligências, cuja realização imediata poderia
reduzir o campo de informações necessárias à persecução penal mais
eficaz de determinadas infrações penais.
I - colaboração premiada;
II - captação ambiental de sinais eletromagnéticos, ópticos ou acústicos;
III - ação controlada;
IV - acesso a registros de ligações telefônicas e telemáticas, a dados cadastrais constantes
de bancos de dados públicos ou privados e a informações eleitorais ou comerciais;
V - interceptação de comunicações telefônicas e telemáticas, nos termos da legis-
lação específica;
VI - afastamento dos sigilos financeiro, bancário e fiscal, nos termos da legisla-
ção específica;
VII - infiltração, por policiais, em atividade de investigação, na forma do art. 11;
VIII - cooperação entre instituições e órgãos federais, distritais, estaduais e municipais na
busca de provas e informações de interesse da investigação ou da instrução criminal.”
111 ARAS, Vladimir. Técnicas especiais de investigação. In: CARLI, Carla de. Lavagem de
dinheiro: prevenção e controle penal. 2. ed. Porto Alegre: Verbo Jurídico, 2013. p. 513.
96
Não custa lembrar que as autoridades policiais têm o dever legal de apu-
112 PACELLI, Eugênio. Curso de processo penal. 24. ed. São Paulo: Atlas, 2020. p. 254.
113 AVENA, Norberto. Processo penal. 9. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2017. p. 651.
97
modo que no momento oportuno - segundo a interpretação dos agen-
TÉCNICAS AVANÇADAS DE INVESTIGAÇÃO
[…]
[…]
98
serem autorizados judicialmente, encontram-se inseridos no âmbito da
114 MENDRONI, Marcelo Batlouni. Crime organizado, aspectos gerais e mecanismos legais.
6. ed. São Paulo: Atlas, 2016. p. 104-108.
115 CORDEIRO, Néfi. Tráfico internacional de entorpecentes. Tese (doutorado em Direito)
– Setor de Ciências Jurídicas e Sociais, Universidade Federal do Paraná, Curitiba,
2000. p. 150.
99
territórios figurem como provável itinerário ou destino do investigado
TÉCNICAS AVANÇADAS DE INVESTIGAÇÃO
4 · DIREITO COMPARADO
Como é cediço, a sofisticação da atuação da criminalidade moderna,
cuja diagramação opera-se em ambientes privados e fechados, de difí-
cil acesso, dificulta a produção de provas pelos métodos tradicionais
de investigação, exigindo o emprego de técnicas especiais de investi-
gação, a estampar que o Brasil não trouxe nenhuma solução fantasiosa
para enfrentar a macrocriminalidade, mas apenas incorporou normativas
internacionais ao seu ordenamento jurídico.
Tem-se, assim, que a ação controlada encontra sua origem normativa
em diversas convenções internacionais, numa simbiose com a entrega
116 JALIL, Mauricio Schaun. Nova lei sobre organizações criminosas (Lei n. 12.850/2013):
primeiras considerações. Revista do Instituto dos Advogados de São Paulo, São Paulo,
n. 32, p. 87-96, dez. 2013.
117 MASSON, Cleber; MARÇAL, Vinícius. Crime organizado. 5. ed. São Paulo: Método,
2020. p. 329.
118 LIMA, Renato Brasileiro de. Manual de processo penal. 8. ed. Salvador: JusPodivm,
2020. p. 909.
100
vigiada, frise-se, por oportuno, sua subespécie, como aborda a Convenção
Por sua vez, a Convenção das Nações Unidas contra a corrupção de 2003,
em vigência no Brasil desde a edição do Decreto n. 5.687/2006, no seu
artigo 2, indica que a “entrega vigiada” consiste em técnica para permitir
119 “Artigo 1: […] 1) Por ‘entrega vigiada’ se entende a técnica de deixar que remessas ilíci-
tas ou suspeitas de entorpecentes, substâncias psicotrópicas, substâncias que figuram
no Quadro I e no Quadro II anexos nesta Convenção, ou substâncias que tenham
substituído as anteriormente mencionadas, saiam do território de um ou mais países,
que o atravessem ou que nele ingressem, com o conhecimento e sob a supervisão
de suas autoridades competentes, com o fim de identificar as pessoas envolvidas em
praticar delitos especificados no parágrafo 1º do Artigo 3º desta Convenção.”
120 “Artigo 11. Entrega Vigiada. 1. […] as Partes adotarão as medidas necessárias, dentro
de suas possibilidades, para que se possa recorrer, de forma adequada, no plano
internacional, à entrega vigiada, com base nos acordos e ajustes mutuamente
negociados, com a finalidade de descobrir as pessoas implicadas em delitos estabe-
lecidos de acordo com o parágrafo 1º do Artigo 3º e de encetar ações legais contra
estes. […] 3. As remessas ilícitas, cuja entrega vigiada tenha sido negociada, pode-
rão, com o consentimento das Partes interessadas, ser interceptadas e autorizadas a
prosseguir intactas ou tendo sido retirados ou subtraídos, total ou parcialmente, os
entorpecentes ou substâncias psicotrópicas que continham.”
101
que remessas ilícitas ou suspeitas saiam do território de um ou mais
TÉCNICAS AVANÇADAS DE INVESTIGAÇÃO
I – (Vetado).
102
que a medida legal se concretize no momento mais eficaz do ponto de
Nesse ponto específico, deve ser consignado que a entrega vigiada veio
tratada na Lei n. 10.409/2002 (antiga Lei de Entorpecentes), que, no art.
33, inciso II, estabelecia
a não atuação policial sobre os portadores de produtos, substâncias ou
drogas ilícitas que entrem no território brasileiro, dele saiam ou nele tran-
sitem, com a finalidade de, em colaboração ou não com outros países,
identificar e responsabilizar maior número de integrantes de operações
de tráfico e distribuição, sem prejuízo da ação penal cabível.
103
destinados a proteger o indivíduo investigado ou acusado: prisão
TÉCNICAS AVANÇADAS DE INVESTIGAÇÃO
104
6 · REQUISITOS PARA IMPLEMENTAÇÃO
123 CABETTE, Eduardo Luiz Santos. Ação controlada na investigação criminal: entre a
normatividade e a factibilidade. Revista Jurídica Consulex, Brasília, ano XV, n. 355,
p. 46-48, nov. 2011.
105
ação vinculada a uma organização criminosa e a cooperação jurídica
TÉCNICAS AVANÇADAS DE INVESTIGAÇÃO
106
7 · ESPÉCIES
107
a introdução de agente público, dissimuladamente quanto à finalidade
TÉCNICAS AVANÇADAS DE INVESTIGAÇÃO
127 PACHECO, Denilson Feitoza. Direito processual penal: teoria, crítica e práxis. 6. ed. rev.,
ampl. e atual. Niterói: Impetus, 2009. p. 820.
128 Com as alterações trazidas pela Lei n. 13.441/2017.
108
maneira, a técnica da infiltração de agentes também seria permitida para
109
Objetiva o dispositivo da convenção maior efetividade na investigação
TÉCNICAS AVANÇADAS DE INVESTIGAÇÃO
130 Assim anuncia a Súmula: “Não há crime, quando a preparação do flagrante pela polícia
torna impossível a sua consumação”.
110
sabe-se que flagrante preparado ou provocado não deve ser confun-
131 LOPES, Paulo Victor Ribeiro. As ações controladas no direito processual penal brasileiro para o
133 STJ, 6ª T., HC n. 510.107/SP, rel. min. Nefi Cordeiro, DJe 3 dez. 2019 (grifo nosso).
112
próprio trabalho investigativo, afastando eventual crime de prevaricação ou
10 · CONSIDERAÇÕES FINAIS
A ação controlada figura como técnica especial de investigação, com
distinções da infiltração policial, da entrega vigiada, dos flagrantes pre-
parado e diferido, encartada dentro do universo instrumental normativo
de combate à macrocriminalidade, com sua roupagem dada pela Lei de
Drogas, Organizações Criminosas e Lavagem de Dinheiro.
134 STJ, 5ª T., HC n. 1424.553/SP, rel. min. Reynaldo Soares da Fonseca, DJe 28 ago. 2018
(grifo nosso).
135 STF, Tribunal Pleno, Inq. n. 4483 AgR-segundo, rel. min. Edson Fachin, DJe 9 ago. 2018.
113
Sublinhe-se, por relevante, que o instituto em comento é mundialmente
TÉCNICAS AVANÇADAS DE INVESTIGAÇÃO
REFERÊNCIAS
ARAS, Vladimir. Técnicas especiais de investigação. In: CARLI, Carla de.
Lavagem de dinheiro: prevenção e controle penal. 2. ed. Porto Alegre:
Verbo Jurídico, 2013.
114
GOMES, Rodrigo Carneiro. A repressão à criminalidade organizada e os
PACELLI, Eugênio. Curso de processo penal. 24. ed. São Paulo: Atlas, 2020.
115
CAPÍTULO 5
A QUEBRA DA OMERTÀ PELA COLABORAÇÃO PREMIADA
Octahydes Ballan Junior
1 · INTRODUÇÃO
A criminalidade organizada, como fenômeno global e cada vez mais
facilmente disseminável devido à quebra das barreiras geográficas,
pela sociedade de risco e da informação, gerou desafios para o Direito
Penal e Processual Penal.
De modo geral, o processo penal se acostumou a “ver” e “tocar” no objeto
subtraído, no cadáver da vítima, na ofendida estuprada, no documento
falsificado, na nota contrafeita, na droga transportada e por aí vai, tudo a
permitir a produção de provas diretas e (ou) orais em juízo, em ato solene
presidido por um magistrado. Tanto o Direito Penal material quanto o pro-
cessual se prepararam para uma criminalidade callejera, violenta e (ou) per-
ceptível sensorialmente sem maiores dificuldades.
Paulo Augusto Moreira Lima, na linha da contextualização aqui apre-
sentada, reforça que o pensamento sobre as provas teve como parâ-
metro a “realidade dos crimes clássicos, existentes na humanidade
desde os tempos bíblicos, como homicídio, roubo, furto e estupro”,
que permitem a produção de “provas diretas, testemunhas ocula-
res, confissões e prisões em flagrante”. Foi esse o cenário que for-
jou o “pensamento predominante nas Cortes Superiores do Brasil”.
Entretanto, as novas formas delituosas advindas com a globalização
passaram a “exigir mudança não apenas na forma de investigar, mas
sobretudo na maneira de julgar e analisar a prova possível de ser
produzida”, porque o modus operandi dessa nova criminalidade, em
que “impera forte código de silêncio na instrução criminal”, não é
117
demonstrado através dos meios clássicos de prova, que conduziriam
TÉCNICAS AVANÇADAS DE INVESTIGAÇÃO
a nulidades ou a absolvições.136
Não é difícil perceber, assim, que o cenário em relação aos crimes de
corrupção, lavagem de dinheiro e pertencimento a organização crimi-
nosa é muito mais complexo, exigindo mudança de compreensão sobre
o sistema probatório, afinal os meios clássicos de produção de provas
não conseguem dar resposta aos desafios da sociedade contemporânea.
No presente artigo, através de revisão bibliográfica, com a compreen-
são das características essenciais dos grupos criminosos organizados,
ver-se-á o funcionamento da colaboração premiada como instrumento
de quebra da omertà, o pacto de silêncio que normalmente impera nos
grupos criminosos organizados.
A colaboração premiada se apresenta como técnica especial de investi-
gação fundamental para permitir o conhecimento da engenharia deli-
tuosa do grupo e, portanto, para autorizar o avanço na colheita de provas
pelo Estado, com o consequente desbaratamento dos delitos e desarti-
culação da organização criminosa.
136 LIMA, Paulo Augusto Moreira. A prova diabólica no processo penal. In: SALGADO,
Daniel de Resende; QUEIROZ, Ronaldo Pinheiro (Org.). A prova no enfrentamento à
macrocriminalidade. 3. ed. Salvador: JusPodivm, 2019. p. 170.
137 VIANA, Luziram Costa. A organização criminosa na Lei 12.850/2013. 240f. Dissertação
(Mestrado) – Faculdade de Direito, Universidade Federal de Minas Gerais, Belo
Horizonte, 2017. p. 93.
118
Conforme Jean-François Gayraud, a máfia é uma espécie de primeira
119
discurso legitimador. Esse poder de dominação não se exerce apenas
TÉCNICAS AVANÇADAS DE INVESTIGAÇÃO
120
própria palavra “máfia” estaria envolta em lendas, porque seria a contra-
Por sua vez, Isabel Sánchez García de Paz, cuidando do perfil criminoló-
gico do crime organizado contemporâneo, diz que é identificável uma
característica estrutural dos componentes do grupo, um especial perigo
138 Resumo das características do grupo mafioso e seu conceito a partir de: GAYRAUD,
Jean-François. El G 9 de las mafias en el mundo: geopolítica del crimen organizado.
Urano: Barcelona, 2007. p. 278-339.
121
em frente a outras formas de criminalidade e uma expansão e internacio-
TÉCNICAS AVANÇADAS DE INVESTIGAÇÃO
122
um perigo superior à delinquência individual, porque reduz ou exclui
123
Em grande medida essas características são também replicadas pelas
TÉCNICAS AVANÇADAS DE INVESTIGAÇÃO
124
com vigência entre 11 de janeiro de 1603 e a entrada em vigor do Código
142 CARVALHO, Márcio Augusto Friggi de. Colaboração premiada. Online. Disponí-
vel em: http://www.mpsp.mp.br/portal/page/portal/cao_criminal/doutrinas/
doutrinas_autores/COLABORA%C3%87%C3%83O%20PREMIADA.doc. Acesso em:
23 jan. 2021.
143 O Livro V, Título CXVI, dispunha, com a redação da época, sobre “como se perdoará
aos malfeitores, que derem outros á prisão”, prevendo:
“Qualquer pessôa, que der á prisão cada hum dos culpados, e participantes em
fazer moeda falsa, ou em cercear, ou per qualquer artificio mingoar, ou corromper
a verdadeira, ou em falsar nosso sinal, ou sello, ou da Rainha, ou do Principe meu
filho, ou em falsar final de algum Vêdor de nossa fazenda, ou Dezembargador,
ou de outro nosso Official Mór, ou de outros Officiaes de nossa Caza, em cou-
sas, que toquem a seus Officios, ou em matar, ou ferir com bêsta, ou espingarda,
matar com peçonha (2), ou em a dar, ainda que morte della se não siga, em matar
atraiçoadamente, quebrantar prisões e Cadêas (3) de fóra per força, fazer furto,
de qualquer sorte e maneira que seja, pôr fogo ácinte para queimar fazenda, ou
pessôa, forçar mulher, fazer feitiços, testemunhar falso, em soltar presos por sua
vontade, sendo Carcereiro, em entrar em Mosteiro de Freiras com proposito deso-
nesto, em fazer falsidade em seu Officio, sendo Tabellião, ou Serivão; tanto que
assi dér á prisão os ditos malfeitores, ou cada hum delles, e lhes provar, ou forem
provados cada hum dos ditos delictos, se esse, que assi deu á prisão, participante
em cada hum dos ditos malefícios, em que he culpado aquelle, que he preso,
havemos por bem que, sendo igual na culpa, seja perdoado livremente, posto que
não tenha perdão da parte.
E se não fôr participante do mesmo malefício, queremos que haja perdão para si
(tendo perdão das partes) de qualquer malefício, que tenha, posto que grave seja, e
isto não sendo maior daquelle, em que he culpado o que assi deu á prisão.
E se não tiver perdão das partes, havemos por bem de lhe perdoar livremente o
degredo, que tiver para África, até quatro annos, ou qualquer culpa, ou malefício,
que tiver commettido, porque mereça degredo até os ditos quatro annos.
Porém, isto se entenderá, que o que dér á prisão o malfeitor, não hava perdão de
mais pena, nem degredo, que de outro tanto, quanto o malfeitor merecer (1).
1. E além do sobredito perdão, que assi outorgamos, nos praz, que sendo o malfei-
tor, que assi foi dado á prisão, salteador de caminhos, que aquelle, que o descobrir,
e dér á prisão, e lho provar, haja de Nós trinta cruzados de mercê”.
Disponível em: http://www1.ci.uc.pt/ihti/proj/filipinas/l5p1272.htm. Acesso em:
23 jan. 2021.
125
financeiro nacional);144 8.072/1990 (crimes hediondos e equiparados);145
TÉCNICAS AVANÇADAS DE INVESTIGAÇÃO
144 “Art. 25 [...] § 2º. Nos crimes previstos nesta Lei, cometidos em quadrilha ou coautoria,
o coautor ou partícipe que através de confissão espontânea revelar à autoridade policial
ou judicial toda a trama delituosa terá a sua pena reduzida de um a dois terços”.
O dispositivo, contudo, foi incluído pela Lei n. 9.080, de 19 de julho de 1995.
145 “Art. 8º Será de três a seis anos de reclusão a pena prevista no art. 288 do Código
Penal, quando se tratar de crimes hediondos, prática da tortura, tráfico ilícito de
entorpecentes e drogas afins ou terrorismo.
Parágrafo único. O participante e o associado que denunciar à autoridade o bando
ou quadrilha, possibilitando seu desmantelamento, terá a pena reduzida de um a
dois terços.”
A Lei n. 8.072/90 ainda inseriu no Código Penal o § 4º do art. 159 (extorsão mediante
sequestro), prevendo: “§ 4º Se o crime é cometido por quadrilha ou bando, o coau-
tor que denunciá-lo à autoridade, facilitando a libertação do sequestrado, terá sua
pena reduzida de um a dois terços”.
146 “Art. 16. Qualquer pessoa poderá provocar a iniciativa do Ministério Público nos crimes
descritos nesta lei, fornecendo-lhe por escrito informações sobre o fato e a autoria,
bem como indicando o tempo, o lugar e os elementos de convicção.
Parágrafo único. Nos crimes previstos nesta Lei, cometidos em quadrilha ou coautoria,
o coautor ou partícipe que através de confissão espontânea revelar à autoridade poli-
cial ou judicial toda a trama delituosa terá a sua pena reduzida de um a dois terços.”
Parágrafo também incluído pela Lei n. 9.080, de 19 de julho de 1995.
147 “Art. 6º Nos crimes praticados em organização criminosa, a pena será reduzida de um
a dois terços, quando a colaboração espontânea do agente levar ao esclarecimento
de infrações penais e sua autoria.”
148 Na redação original: “Art. 1º. [...] § 5º A pena será reduzida de um a dois terços e
começará a ser cumprida em regime aberto, podendo o juiz deixar de aplicá-la ou
substituí-la por pena restritiva de direitos, se o autor, coautor ou partícipe colaborar
espontaneamente com as autoridades, prestando esclarecimentos que conduzam
à apuração das infrações penais e de sua autoria ou à localização dos bens, direitos
ou valores objeto do crime”.
Na redação atual, conferida pela Lei n. 12.683/2012: “§ 5º A pena poderá ser reduzida
de um a dois terços e ser cumprida em regime aberto ou semiaberto, facultando-se
ao juiz deixar de aplicá-la ou substituí-la, a qualquer tempo, por pena restritiva de
direitos, se o autor, coautor ou partícipe colaborar espontaneamente com as autori-
dades, prestando esclarecimentos que conduzam à apuração das infrações penais,
à identificação dos autores, coautores e partícipes, ou à localização dos bens, direi-
tos ou valores objeto do crime”.
126
Colaboradores);149 11.343/2006 (drogas);150 e 12.850/2013 (organizações
149 “Art. 14. O indiciado ou acusado que colaborar voluntariamente com a investigação
policial e o processo criminal na identificação dos demais coautores ou partícipes
do crime, na localização da vítima com vida e na recuperação total ou parcial do
produto do crime, no caso de condenação, terá pena reduzida de um a dois terços.”
150 “Art. 41. O indiciado ou acusado que colaborar voluntariamente com a investigação
policial e o processo criminal na identificação dos demais coautores ou partícipes
do crime e na recuperação total ou parcial do produto do crime, no caso de conde-
nação, terá pena reduzida de um terço a dois terços.”
151 BALLAN JUNIOR, Octahydes; VASCONCELOS, Sóya Lélia Lins de. Colaboração premiada:
instrumento para a efetivação da política criminal brasileira. Revista Magister de Direito
Penal e Processual Penal, Porto Alegre, n. 70, p. 33-53, fev./mar. 2016. p. 33-53.
152 BITENCOURT, Cezar Roberto. Delação premiada é favor legal, mas antiético. Revista
Eletrônica Consultor Jurídico. Online, 2017. Disponível em: https://www.conjur.com.
br/2017-jun-10/cezar-bitencourt-delacao-premiada-favor-legal-antietico. Acesso
em: 24 jan. 2021.
127
Nada obstante, a literatura especializada há tempos já apontou que o
TÉCNICAS AVANÇADAS DE INVESTIGAÇÃO
128
as regras de cada um dos regimes estabelecidos neste mesmo código e
129
n. 12.850/2013, porque as demais leis, acima mencionadas, não tratavam
TÉCNICAS AVANÇADAS DE INVESTIGAÇÃO
157 BRANDALISE, Rodrigo da Silva. Justiça penal negociada: negociação da sentença criminal
e princípios processuais relevantes. Curitiba: Juruá, 2016. p. 65.
158 De forma diversa, no plea bargaining “afasta-se o trial, isto é, o processo de acusação
formalizada e procedimento probatório, para ao final se produzir uma sentença,
e passa-se diretamente à aplicação da pena (sentencing)”. (SUXBERGER, Antonio
Henrique Graciano. Acordo de não persecução penal: o exercício da ação penal e a
questão prisional como problema público. Brasília: Fundação Escola, 2019. p. 51)
159 “[…] se o jus puniendi é a manifestação do atributo de soberania do Estado, que
toma para si o monopólio da forma legitimada, é forçoso concluir que a pena
dá-se justamente por meio do brocardo latino nulla poena sine judicio. É dizer:
o jus puniendi do Estado se materializa, quando presente o conflito penal, por
meio do processo penal.” (SUXBERGER, 2019, p. 81)
130
pena maior, cumprirá a sanção até o limite que foi fixado”. Logicamente
131
4 · CONSIDERAÇÕES FINAIS
TÉCNICAS AVANÇADAS DE INVESTIGAÇÃO
REFERÊNCIAS
BALLAN JUNIOR, Octahydes; VASCONCELOS, Sóya Lélia Lins de. Colabo
ração premiada: instrumento para a efetivação da política criminal bra-
sileira. Revista Magister de Direito Penal e Processual Penal, Porto Alegre, n.
70, p. 33-53, fev./mar. 2016.
134
CAPÍTULO 6
COLABORAÇÃO PREMIADA: ASPECTOS PRÁTICOS
E A VISÃO DOS TRIBUNAIS SUPERIORES
Galtiênio da Cruz Paulino
1 · INTRODUÇÃO
Atualmente, a colaboração premiada se apresenta como um dos ins-
trumentos de combate à criminalidade organizada mais eficiente. A
Convenção de Palermo enquadra a colaboração premiada como uma
técnica especial de investigação que impõe uma obrigação proces-
sual penal positiva161 para os Estados de utilizar o instituto no aprimo-
ramento das investigações.
No Brasil, a colaboração premiada passou a ter suas primeiras regu-
lamentações normativas a partir da década de 1990, com a Lei dos
Crimes Hediondos (Lei n. 8.072/1990), que trouxe a previsão de que o
agente que auxiliar na persecução penal para desestruturar quadrilha
ou bando terá sua pena reduzida.162 Ocorre que a positivação de um
161 “Artigo 26
Medidas para intensificar a cooperação com as autoridades competentes para a
aplicação da lei
1. Cada Estado Parte tomará as medidas adequadas para encorajar as pessoas que
participem ou tenham participado em grupos criminosos organizados: [...]”. BRASIL.
Decreto n. 5.015, de 12 de março de 2004. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/
ccivil_03/_ato2004-2006/2004/decreto/d5015.htm. Acesso em: 15 fev. 2021.
162 “Art. 8º Será de três a seis anos de reclusão a pena prevista no art. 288 do Código
Penal, quando se tratar de crimes hediondos, prática da tortura, tráfico ilícito de
entorpecentes e drogas afins ou terrorismo.
Parágrafo único. O participante e o associado que denunciar à autoridade o bando
ou quadrilha, possibilitando seu desmantelamento, terá a pena reduzida de um a
dois terços.” BRASIL. Lei n. 8.072, de 25 de julho de 1990. Código Penal. Senado Federal.
135
“prêmio” em razão da colaboração de um acusado com a persecução
TÉCNICAS AVANÇADAS DE INVESTIGAÇÃO
136
Parte do texto desenvolvido neste trabalho já foi publicado em sua
164 BRASIL.
Lei n. 9.613, de 3 de março de 1998. Senado Federal. Disponível em: http://
www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9613.htm. Acesso em: 15 jan. 2021.
165 BRASIL.Lei n. 9.807, de 13 de julho de 1999. Senado Federal. Disponível em: http://www.
planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9807.htm. Acesso em: 15 dez. 2020.
166 BRASIL.Lei n. 12.850, de 2 de agosto de 2013. Senado Federal. Disponível em: http://www.
planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2013/lei/l12850.htm. Acesso em: 15 dez. 2020.
137
Vigora nas leis que antecedem a Lei n. 12.850/2013 o sistema do favor
TÉCNICAS AVANÇADAS DE INVESTIGAÇÃO
167 CORDEIRO, Nefi. Colaboração premiada: caracteres, limites e controles. São Paulo:
Forense, 2019.
138
duzentos anos, só cumprirá vinte. O inverso também pode acontecer, ou
139
Outro acréscimo importante realizado pela Lei n. 13.964/2019 é a pre-
TÉCNICAS AVANÇADAS DE INVESTIGAÇÃO
140
passou a vedar expressamente a possibilidade de medidas cautelares ou
141
TÉCNICAS AVANÇADAS DE INVESTIGAÇÃO
142
Ocorre que as inovações trazidas pela Lei n. 13.964/2019 não apenas
excepcionada – adoção, no ponto, da tese proposta pelo eminente revisor, Ministro Luís
Roberto Barroso -, quando a condenação impõe o cumprimento de pena em regime
fechado, e não viável o trabalho externo diante da impossibilidade de cumprimento da
fração mínima de 1/6 da pena para a obtenção do benefício durante o mandato e antes
de consumada a ausência do Congressista a 1/3 das sessões ordinárias da Casa Legisla-
tiva da qual faça parte. Hipótese de perda automática do mandato, cumprindo à Mesa
da Câmara dos Deputados declará-la, em conformidade com o artigo 55, III, § 3º, da CF.
Precedente: MC no MS 32.326/DF, Rel. Min. Roberto Barroso, 02.9.2013. 8. Suspensão dos
direitos políticos do condenado quando do trânsito em julgado da condenação (art.
15, III, da CF).” BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Ação Penal n. 694. Relatora: Min. Rosa
Weber. Julg. 2.5.2017. Publ. 31 ago. 2017. Disponível em: https://jurisprudencia.stf.jus.br/
pages/search/sjur372379/false. Acesso em: 5 jun. 2020.
174 BRASIL. Lei n. 12.850, de 2 de agosto de 2013.
143
de uma norma penal pura ou mista pode ser restringido desde que seja
TÉCNICAS AVANÇADAS DE INVESTIGAÇÃO
para favorecer aquele que, em tese, está infringindo uma norma criminal.
Nesse cenário, é totalmente admissível se fixar um regime de cumpri-
mento de pena que seja mais favorável ao acusado ou ao colaborador,
no caso dos acordos de colaboração premiada.
A previsão legal do art. 4, § 7, inciso II, da Lei n. 12.850/2013 é, em
verdade, uma limitação ao outro polo do acordo de colaboração, o
Ministério Público. Este não poderá pactuar com o colaborador um
regime de cumprimento da sanção penal em condições mais gravosas
do que as legalmente previstas.
Esse entendimento decorre da necessidade de se fazer uma interpreta-
ção lógico-sistemática da lei. A interpretação de todos os dispositivos
da Lei do Crime Organizado, inerentes ao acordo de colaboração pre-
miada, deverá ocorrer em consonância com o objetivo do instituto, que
é proporcionar ao colaborador uma condição jurídica mais favorável em
relação à que iria se submeter ordinariamente ao violar a ordem jurídica
criminal, em razão de ter colaborado com a persecução penal.
A colaboração premiada é um instituto de direito premial e, como tal, desti-
na-se a premiar todos que venham a contribuir com a persecução penal. A
não fixação de um regime sancionatório mais favorável do que o ordinário
impossibilita a celebração de qualquer acordo premial, pois há a extinção
do fator de incentivo ao colaborador (prêmio), inerente ao referido instituto.
Mesmo que o art. 4, § 7, inciso II, da Lei n. 12.850/2013 enquadre-se como
um dispositivo de natureza processual, não há vedação legal de se tran-
sigir sobre o teor do regime de cumprimento da sanção.
O Código de Processo Civil, aplicável subsidiariamente ao processo penal,
estabelece, em seu art. 190, que,
versando o processo sobre direitos que admitam autocomposição, é
lícito às partes plenamente capazes estipular mudanças no procedi-
mento para ajustá-lo às especificidades da causa e convencionar sobre
os seus ônus, poderes, faculdades e deveres processuais, antes ou
durante o processo.175
175 BRASIL. Lei n. 13.106, de 16 de março de 2015. Senado Federal. Disponível em: http://www.
144
A colaboração premiada, legalmente enquadrada como negócio jurídico
145
4 · PRINCIPAIS DISCUSSÕES PRÁTICAS RELACIONADAS
TÉCNICAS AVANÇADAS DE INVESTIGAÇÃO
176 FONSECA, Cibele Benevides Guedes da. Colaboração premiada. Belo Horizonte:
Del Rey, 2017.
177 BRANDALISE, Rodrigo da Silva. Justiça penal negociada: negociação de sentença
criminal e princípios processuais relevantes. Curitiba: Juruá, 2016.
178 CACHO, Manoela Andrade. Colaboração premiada e o princípio da obrigatoriedade.
2015. 148 f. Dissertação (Mestrado em Direito) – Pontifícia Universidade Católica de
São Paulo, São Paulo, 2015.
179 “Art. 3º-B. O recebimento da proposta para formalização de acordo de colaboração
demarca o início das negociações e constitui também marco de confidencialidade,
146
Avançando as tratativas e ocorrendo a celebração do acordo, mesmo
181 PEZZOTTI, Olavo Evangelista. Colaboração premiada: uma perspectiva de direito com-
parado. São Paulo: Almedina, 2020.
148
A colaboração se apresenta como um instrumento de justiça nego-
182 CABRAL, Antonio do Passo. Convenções processuais: teoria geral dos negócios jurídicos
processuais. Salvador: JusPodivm, 2020.
149
juízo, que não participa das negociações e não adentra no mérito do
TÉCNICAS AVANÇADAS DE INVESTIGAÇÃO
183 “Art. 4.
[...] § 6º O juiz não participará das negociações realizadas entre as partes para a
formalização do acordo de colaboração, que ocorrerá entre o delegado de polícia,
o investigado e o defensor, com a manifestação do Ministério Público, ou, conforme
o caso, entre o Ministério Público e o investigado ou acusado e seu defensor.
§ 7º Realizado o acordo na forma do § 6º deste artigo, serão remetidos ao juiz, para
análise, o respectivo termo, as declarações do colaborador e cópia da investigação,
devendo o juiz ouvir sigilosamente o colaborador, acompanhado de seu defensor,
oportunidade em que analisará os seguintes aspectos na homologação: (Redação
dada pela Lei nº 13.964, de 2019)
I – regularidade e legalidade; (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)
II – adequação dos benefícios pactuados àqueles previstos no caput e nos §§ 4º
e 5º deste artigo, sendo nulas as cláusulas que violem o critério de definição do
regime inicial de cumprimento de pena do art. 33 do Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de
dezembro de 1940 (Código Penal), as regras de cada um dos regimes previstos no
Código Penal e na Lei nº 7.210, de 11 de julho de 1984 (Lei de Execução Penal) e os
requisitos de progressão de regime não abrangidos pelo § 5º deste artigo; (Incluído
pela Lei nº 13.964, de 2019)
III – adequação dos resultados da colaboração aos resultados mínimos exigidos nos
incisos I, II, III, IV e V do caput deste artigo; (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)
IV – voluntariedade da manifestação de vontade, especialmente nos casos em que
o colaborador está ou esteve sob efeito de medidas cautelares. (Incluído pela Lei nº
13.964, de 2019)
§ 8º O juiz poderá recusar a homologação da proposta que não atender aos requisitos
legais, devolvendo-a às partes para as adequações necessárias. (Redação dada pela
Lei nº 13.964, de 2019) [...]”. BRASIL. Lei n 12.850, de 2 de agosto de 2013. Senado Federal.
Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2013/lei/l12850.
htm. Acesso em: 15 dez. 2020.
150
solução de conflito, por meio de um acordo entre as partes envolvidas,
184 Nesse sentido, vide: STF HC 99736; STJ - REsp 1829744 / SP, AgRg no HC 539544 / SP, AgRg
no AREsp 1520576 / SP, AgRg no REsp 1758459 / PR, AgRg no REsp 1728847 / SP, APn 843
/ DF, AgRg no REsp 1639763 / TO, REsp 1477982 / DF, HC 198665 / DF, AgRg no Ag 1317120
/ SP, HC 145794 / RJ, HC 191490 / RJ, HC 215315 / SP, HC 174286 / DF, HC 114648 / RJ, HC
156349 / SP, HC 151748 / SP, HC 97509 / MG, HC 120454 / RJ, HC 118030 / SP.
151
agindo de maneira racional, valorarão os possíveis custos e benefícios
TÉCNICAS AVANÇADAS DE INVESTIGAÇÃO
152
de rescisão de acordo. A cláusula de desempenho é, em verdade, um
155
4.5 · A NATUREZA JURÍDICA DA SANÇÃO ESTABELECIDA
TÉCNICAS AVANÇADAS DE INVESTIGAÇÃO
188 ISMAEL, André Gomes; RIBEIRO, Diaulas Costa; AGUIAR, Julio Cesar de. Plea bargaining:
aproximação conceitual e breve histórico. Revista de Processo, São Paulo, v. 263,
p. 429-449, jan. 2017.
189 LIPPKE, Richard L. Plea bargaining in the shadow of the constitution. Duquesne law
review, Pittsburgh, v. 51, p. 709-734, 2013.
156
A pena é um ato exclusivo, no sistema inquisitorial adotado no Brasil, de
157
respectivos elementos de corroboração, poderão ser utilizados em
TÉCNICAS AVANÇADAS DE INVESTIGAÇÃO
158
Ocorre que o acordo de colaboração pode englobar diversos relatos
190 Conceitua como Philipe Benoni Melo e Silva: “Trata-se a fishing expedition de uma
investigação especulativa indiscriminada, sem objetivo certo ou declarado, que ‘lança’
suas redes com a esperança de ‘pescar’ qualquer prova, para subsidiar uma futura
acusação. Ou seja, é uma investigação prévia, realizada de maneira muito ampla e
genérica para buscar evidências sobre a prática de futuros crimes. Como consequência,
não pode ser aceita no ordenamento jurídico brasileiro, sob pena de malferimento das
balizas de um processo penal democrático de índole Constitucional”. MELO E SILVA.
Philipe Benoni. Fishing expedition: a pesca predatória por provas por parte dos órgãos
de investigação. JOTA, São Paulo, 2017. Disponível em: https://www.jota.info/opiniao-e-
analise/artigos/fishing-expedition-20012017. Acesso em: 17 jun. 2021.
159
4.7 · COLABORAÇÃO PREMIADA, PRERROGATIVA
TÉCNICAS AVANÇADAS DE INVESTIGAÇÃO
DE FORO E COMPETÊNCIA
A definição da competência para a homologação dos acordos de colabora-
ção premiada segue as regras processuais penais de fixação da competência.
Havendo relatos delitivos envolvendo autoridades dotadas de foro por prer-
rogativa de função, o juízo competente para a análise e a eventual homolo-
gação do acordo será o dotado de competência para a investigação.191
Desse modo, a princípio, apenas quando houver relatos criminosos
envolvendo autoridade dotada de prerrogativa de foro, o juízo compe-
tente para a homologação do acordo de colaboração será um tribunal.
Contudo, é possível que um tribunal seja competente para homologar
um acordo de colaboração quando não houver, como delatado, autori-
dade dotada de prerrogativa de foro?
191 Nesse sentido: “Habeas Corpus. 2. Inquérito originário do Superior Tribunal de Justiça.
Delitos de corrupção passiva (art. 317 do CP), lavagem de dinheiro (art. 1º da Lei
9.613/98) e falsidade ideológica eleitoral (art. 350 do Código Eleitoral). 3. Conforme art.
4º, § 7º, da Lei 12.850/13, o acordo de colaboração premiada ‘será remetido ao juiz para
homologação, o qual deverá verificar sua regularidade, legalidade e voluntariedade’.
Muito embora a lei fale apenas em juiz, é possível que a homologação de delações seja
da competência de Tribunal. O colaborador admite seus próprios delitos e delata outros
crimes. Assim, quanto à prerrogativa de função, será competente o Juízo mais gra-
duado, observadas as prerrogativas de função do delator e dos delatados. Precedentes.
4. Acordos de colaboração premiada celebrados pelo Ministério Público Estadual e
homologados por Juiz de Direito, delatando Governador de Estado. Ilegitimidade e
incompetência. 5. Legitimidade da autoridade com prerrogativa de foro para discutir a
eficácia das provas colhidas mediante acordo de colaboração realizado sem a supervi-
são do foro competente. A impugnação quanto à competência para homologação do
acordo diz respeito às disposições constitucionais quanto à prerrogativa de foro. Assim,
ainda que, ordinariamente, seja negada ao delatado a possibilidade de impugnar o
acordo, esse entendimento não se aplica em caso de homologação sem respeito à
prerrogativa de foro. Inaplicabilidade da jurisprudência firmada a partir do HC 127.483,
rel. Min. Dias Toffoli, Pleno, julgado em 27.8.2017. 6. Ineficácia, em relação ao Governador
do Estado, dos atos de colaboração premiada, decorrentes de acordo de colaboração
homologado em usurpação de competência do Superior Tribunal de Justiça. 7. Tendo
em vista que o inquérito foi instaurado tendo por base material exclusiva os atos de
colaboração, deve ser trancado. 8. Concedida a ordem, para reconhecer a ineficácia, em
relação ao paciente, das provas produzidas mediante atos de colaboração premiada e,
em consequência, determinar o trancamento do Inquérito 1.093, do Superior Tribunal
de Justiça.” BRASIL. Supremo Tribunal Federal (2. Turma). HC 151605. Relatora: Min.
Cármen Lúcia. Julg. 29.11.2019. Publ. 10 dez. 2019. Disponível em: https://jurispruden-
cia.stf.jus.br/pages/search?base=acordaos&sinonimo=true&plural=true&page=1&pa
geSize=10&queryString=compet%C3%AAncia%20colabora%C3%A7%C3%A3o%20
foro&sort=_score&sortBy=desc. Acesso em: 5 jun. 2020.
160
Em um contexto delitivo, principalmente nos casos envolvendo orga-
162
Alguns julgados importantes, não abarcados pelos tópicos anteriores,
163
Conforme exposto acima, a colaboração é um instrumento de Justiça
TÉCNICAS AVANÇADAS DE INVESTIGAÇÃO
164
Outrossim, o fundamento para o acordo de colaboração premiada ter o
165
realizadas entre as partes de um acordo de colaboração premiada.
TÉCNICAS AVANÇADAS DE INVESTIGAÇÃO
166
5.3 · COMPETÊNCIA PARA DECIDIR QUESTÕES INERENTES
BRASIL. Supremo Tribunal Federal (2. Turma). MS n. 35693 AgR/DF. Relator: Min. Edson
Fachin. Julg. 28.5.2019. Publ. 24 jul. 2020 (grifos nossos). Disponível em: https://jurispru
dencia.stf.jus.br/pages/search/sjur428739/false. Acesso em: 5 jun. 2020.
“QUESTÃO DE ORDEM EM PETIÇÃO. COLABORAÇÃO PREMIADA. I. DECISÃO INICIAL DE
HOMOLOGAÇÃO JUDICIAL: LIMITES E ATRIBUIÇÃO. REGULARIDADE, LEGALIDADE E
VOLUNTARIEDADE DO ACORDO. MEIO DE OBTENÇÃO DE PROVA. PODERES INSTRU-
TÓRIOS DO RELATOR. RISTF. PRECEDENTES. II. DECISÃO FINAL DE MÉRITO. AFERIÇÃO
DOS TERMOS E DA EFICÁCIA DA COLABORAÇÃO. CONTROLE JURISDICIONAL DIFE-
RIDO. COMPETÊNCIA COLEGIADA NO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. 1. Nos moldes do
decidido no HC 127.483, Rel. Min. DIAS TOFFOLI, Tribunal Pleno, DJe de 3.2.2016, reafirma-se
a atribuição ao Relator, como corolário dos poderes instrutórios que lhe são conferidos pelo
Regimento Interno do STF, para ordenar a realização de meios de obtenção de prova (art. 21,
I e II do RISTF), a fim de, monocraticamente, homologar acordos de colaboração premiada,
oportunidade na qual se restringe ao juízo de regularidade, legalidade e voluntariedade da
avença, nos limites do art. 4ª, § 7º, da Lei n. 12.850/2013. 2. O juízo sobre os termos do acordo
de colaboração, seu cumprimento e sua eficácia, conforme preceitua o art. 4º, § 11, da Lei n.
12.850/2013, dá-se por ocasião da prolação da sentença (e no Supremo Tribunal Federal, em
decisão colegiada), não se impondo na fase homologatória tal exame previsto pela lei como
controle jurisdicional diferido, sob pena de malferir a norma prevista no § 6º do art. 4º da
referida Lei n. 12.850/2013, que veda a participação do juiz nas negociações, conferindo,
assim, concretude ao princípio acusatório que rege o processo penal no Estado Demo-
crático de Direito. 3. Questão de ordem que se desdobra em três pontos para: (i) resguar-
dar a competência do Tribunal Pleno para o julgamento de mérito sobre os termos e a
eficácia da colaboração, (ii) reafirmar, dentre os poderes instrutórios do Relator (art. 21 do
RISTF), a atribuição para homologar acordo de colaboração premiada; (iii) salvo ilegali-
dade superveniente apta a justificar nulidade ou anulação do negócio jurídico, acordo
homologado como regular, voluntário e legal, em regra, deve ser observado mediante
o cumprimento dos deveres assumidos pelo colaborador, sendo, nos termos do art. 966,
§ 4º, do Código de Processo Civil, possível ao Plenário analisar sua legalidade.” BRASIL.
Supremo Tribunal Federal (Tribunal Pleno). Pet 7074/DF QO. Relator: Min. Edson Fachin.
Julg. 29.6.2017. Publ. 3 maio 2018 (grifos nossos). Disponível em: https://jurisprudencia.stf.
jus.br/pages/search/sjur384343/false. Acesso em: 5 jun. 2020.
167
premiada.197 Outra situação muito corriqueira é o pedido de acesso ao
TÉCNICAS AVANÇADAS DE INVESTIGAÇÃO
6 · CONSIDERAÇÕES FINAIS
Ao longo deste trabalho, buscou-se demonstrar a importância que a colabo-
ração premiada atualmente possui para a persecução penal, apresentando-
-se como um instrumento essencial no combate à criminalidade organizada.
Pontuaram-se alguns problemas práticos atualmente existentes na apli-
cação do instituto, bem como foram expostas algumas das principais
discussões referentes à matéria, tendo como foco a jurisprudência do
Supremo Tribunal Federal.
Apesar da grande evolução ao longo dos anos, o instituto da colabora-
ção premiada ainda se encontra em fase de consolidação, adquirindo
uma roupagem mais sólida e completa ao longo dos anos, por meio
da utilização do instituto pelo Ministério Público e a Polícia, bem como
por meio das inúmeras discussões jurídicas que estão ocorrendo cons-
tantemente sobre a matéria nos Tribunais Superiores, posteriormente
incorporadas à legislação.
168
REFERÊNCIAS
BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Ação Penal n. 694. Relatora: Min. Rosa
Weber. Julg. 2.5.2017. Publ. 31 ago. 2017. Disponível em: https://jurisprudencia.
stf.jus.br/pages/search/sjur372379/false. Acesso em: 5 jun. 2020.
169
BRASIL. Supremo Tribunal Federal (2. Turma). HC 151605. Relatora: Min.
TÉCNICAS AVANÇADAS DE INVESTIGAÇÃO
Cármen Lúcia. Julg. 29.11.2019. Publ. 10 dez. 2019. Disponível em: https://
jurisprudencia.stf.jus.br/pages/search?base=acordaos&sinonimo=
true&plural=true&page=1&pageSize=10&queryString=compet%
C3%AAncia%20colabora%C3%A7%C3%A3o%20foro&sort=_score&sor
tBy=desc. Acesso em: 5 jun. 2020.
BRASIL. Supremo Tribunal Federal (2. Turma). Inq. 4005. Relator: Min.
Edson Fachin. Julg. 11.12. 2018. Publ. 21 maio 2019. Disponível em: https://
jurisprudencia.stf.jus.br/pages/search/sjur404250/false. Acesso em: 5 jun. 2020.
BRASIL. Supremo Tribunal Federal (Tribunal Pleno). Pet 7074/DF QO. Relator:
Min. Edson Fachin. Julg. 29.6.2017. Publ. 3 maio 2018. Disponível em:
https://jurisprudencia.stf.jus.br/pages/search/sjur384343/false. Acesso em:
5 jun. 2020.
ISMAEL, André Gomes; RIBEIRO, Diaulas Costa; AGUIAR, Julio Cesar de. Plea
bargaining: aproximação conceitual e breve histórico. Revista de Processo,
São Paulo, v. 263, p. 429-449, jan. 2017.
1 · INTRODUÇÃO
O enfrentamento ao crime, em seus diversos matizes, tem-se tornado
tarefa cada dia mais árdua, dado o crescente incremento da sofistica-
ção e organização dos mecanismos utilizados por agentes criminosos
para a prática dos delitos.
Sob a ótica do combate à corrupção e à prática de crimes contra a
Administração Pública em geral, as tipologias criminosas rudimentares
são cada vez menos frequentes, mesmo em estruturas estatais de entes
de pequeno porte, onde ordinariamente os desvios e fraudes costuma-
vam saltar aos olhos, o que revela o aprimoramento na prática de delitos.
Também sob a perspectiva do enfrentamento ao crime organizado, inclu-
sive de natureza violenta, os métodos criminosos se revelam cada vez
mais coordenados, no sentido da organização logística, propriamente,
como também aprimorados, valendo-se os delinquentes, por exemplo,
de mecanismos tecnológicos de acentuada modernidade, a fim de se
furtarem às ações dos órgãos do sistema de justiça. Também o poderio
bélico dos grupos criminosos tem aumentado, denotando maior organi-
zação e capacidade de ação.
Fato é que o fenômeno criminoso, cujo enfrentamento nunca se revelou
facilitado, cada vez mais vem recrudescendo, a exigir dos órgãos e ins-
tituições incumbidos da respectiva investigação e punição a adoção de
mecanismos e sistemáticas inovadoras, com o objetivo de potencializar
as capacidades cognitivas, táticas e operacionais de seus agentes.
171
É nesse contexto que se apresenta a cooperação interinstitucional, como
TÉCNICAS AVANÇADAS DE INVESTIGAÇÃO
198 “Advances in technology and their future exploitation by gang members will create new
challenges for law enforcement. However, collaboration and the sharing of intelligence
will enable agencies across the country to stay one step ahead of gangs and their criminal
activity”. (Tradução livre). BUREAU OF JUSTICE ASSISTANCE. National Alliance of
Gang Investigators Associations. 2005 National Gang Threat Assessment, [s. l.], p. 5.
Disponível em: https://bja.ojp.gov/sites/g/files/xyckuh186/files/Publications/2005_threat_
assesment.pdf. Acesso em: 19 jan. 2021.
199 BUREAU OF JUSTICE ASSISTANCE. U. S. Department of Justice. Guidelines for Establishing
and Operating Gang Intelligence Units and Task Forces, [s. l.], out. 2008. Disponível em:
https://it.ojp.gov/documents/d/guidelines%20for%20establishing%20Gang%20
Intelligence%20units.pdf. Acesso em: 19 jan. 2021.
172
Na sequência, propor-se-á uma classificação das diversas espécies de
200 A própria origem etimológica traça uma importante distinção entre cooperação e
coordenação – do latim, cum ordinare, ou seja, colocar em ordem, organizar junto a
terceiros –, evidenciando uma perspectiva mais estratégica/tática que operacional
da coordenação em relação à cooperação. (CASTAÑER, Xavier; OLIVEIRA, Nuno.
Collaboration, coordination, and cooperation among organizations: establishing
the distinctive meanings of these terms through a systematic literature review.
Journal of Management, [s. l.], v. 46, p. 965-1001, fev. 2020).
201 COOPERAÇÃO. In: Dicionário Porto da Língua Portuguesa. Porto: Porto Ed., 2013.
E-book, versão Kindle.
173
sendo, antes disso, ”uma estratégia que pode possibilitar a obtenção de
TÉCNICAS AVANÇADAS DE INVESTIGAÇÃO
202 MASSON, Cléber; MARÇAL, Vinícius. Crime organizado. 3. ed. Rio de Janeiro: Forense;
São Paulo: Método, 2017. p. 339.
203 Embora se trate de contraposição sem grandes repercussões práticas, a crítica nos
parece adequada apenas sob algumas das perspectivas da atuação em regime de
cooperação. Segundo Carnelutti, chama-se “meio de prova a atividade do juiz [ou
do aplicador do direito, em sentido amplo] mediante a qual busca a verdade do
fato a provar, e fonte de prova ao fato do qual se serve para deduzir a própria ver-
dade” (CARNELUTTI, Francesco. A prova civil. Trad. Lisa Sary Scarpa. 2. ed. Campinas:
Bookseller, 2002. p. 99). Para Didier, enquanto os “meios [de prova] são as técnicas
desenvolvidas para se extrair a prova de onde ela jorra (ou seja, da fonte) [...], são
fontes de prova as coisas, as pessoas e os fenômenos” (DIDIER JUNIOR, Fredie. Curso
de direito processual civil: teoria da prova, direito probatório, ações probatórias, deci-
são, precedente, coisa julgada e antecipação dos efeitos da tutela. 10. ed. Salvador:
JusPodivm, 2015, v. 2. p. 39). Assim, a atividade das instituições, atuando em conjunto
em prol do êxito da investigação (perspectiva operacional, vide classificação a ser
proposta adiante), afigura-se, de fato, como meio de prova; por outro lado, as infor-
mações constantes das bases de dados das instituições, a serem compartilhadas,
por exemplo, são fontes probatórias.
174
b) Garantirá, sem prejuízo à aplicação do Artigo 46 da presente Convenção,
175
medida em que o Órgão de Execução ministerial tem permissão legal
TÉCNICAS AVANÇADAS DE INVESTIGAÇÃO
176
49)206 e na Convenção das Nações Unidas Contra o Crime Organizado
177
TÉCNICAS AVANÇADAS DE INVESTIGAÇÃO
(c) the Member State in which the team operates shall make the necessary organisational
arrangements for it to do so.
4. In this Article, members of the joint investigation team from Member States other than the
Member State in which the team operates are referred to as being ‘seconded’ to the team.
5. Seconded members of the joint investigation team shall be entitled to be present when
investigative measures are taken in the Member State of operation. However, the leader of the
team may, for particular reasons, in accordance with the law of the Member State where the
team operates, decide otherwise.
6. Seconded members of the joint investigation team may, in accordance with the law of
the Member State where the team operates, be entrusted by the leader of the team with the
task of taking certain investigative measures where this has been approved by the competent
authorities of the Member State of operation and the seconding Member State.
7. Where the joint investigation team needs investigative measures to be taken in one of the
Member States setting up the team, members seconded to the team by that Member State
may request their own competent authorities to take those measures. Those measures shall
be considered in that Member State under the conditions which would apply if they were
requested in a national investigation.
8. Where the joint investigation team needs assistance from a Member State other than those
which have set up the team, or from a third State, the request for assistance may be made by
the competent authorities of the State of operations to the competent authorities of the other
State concerned in accordance with the relevant instruments or arrangements.
9. A member of the joint investigation team may, in accordance with his or her national law
and within the limits of his or her competence, provide the team with information available in
the Member State which has seconded him or her for the purpose of the criminal investigations
conducted by the team.
10. Information lawfully obtained by a member or seconded member while part of a joint
investigation team which is not otherwise available to the competent authorities of the
Member States concerned may be used for the following purposes:
(a) for the purposes for which the team has been set up;
(b) subject to the prior consent of the Member State where the information became available,
for detecting, investigation and prosecuting other criminal offences. Such consent may be
withheld only in cases where such use would endanger criminal investigations in the Member
State concerned or in respect of which that Member State could refuse mutual assistance;
(c) for preventing an immediate and serious threat to public security, and without prejudice
to subparagraph;
(b) if subsequently a criminal investigation is opened;
(d) for other purposes to the extent that this is agreed between Member States setting
up the team.
11. This Article shall be without prejudice to any other existing provisions or arrangements on
the setting up or operation of joint investigation teams.
12. To the extent that the laws of the Member States concerned or the provisions of any legal
instrument applicable between them permit, arrangements may be agreed for persons other
178
Por fim, (3) quanto à duração ou abrangência da cooperação, esta pode
than representatives of the competent authorities of the Member States setting up the joint
investigation team to take part in the activities of the team. Such persons may, for example,
include officials of bodies set up pursuant to the Treaty on European Union. The rights
conferred upon the members or seconded members of the team by virtue of this Article shall
not apply to these persons unless the agreement expressly states otherwise.”
209 Uma importante diretiva sobre JITs em âmbito europeu é representada pela 2002 EU
Framework Decision on joint investigation teams. Disponível em: https://eur-lex.europa.
eu/legal-content/EN/ALL/?uri=CELEX%3A32002F0465. Acesso em: 19 jan. 2021.
210 BUREAU OF JUSTICE ASSISTANCE. U. S. Department of Justice. Guidelines for Establishing
and Operating Gang Intelligence Units and Task Forces, [s. l.], out. 2008. Disponível em:
https://it.ojp.gov/documents/d/guidelines%20for%20establishing%20Gang%20
Intelligence%20units.pdf. Acesso em: 28 jan.2021.
211 A distinção na aplicabilidade dos modelos de forças-tarefas e grupos permanentes é
trazida também pela publicação “Forças-tarefas: direito comparado e legislação apli-
cável” (PALUDO, Januário – coord.; LIMA, Carlos Fernando dos Santos; ARAS, Vladimir.
Forças-tarefas: direito comparado e legislação aplicável – MPF. Brasília: Escola Superior do
Ministério Público da União, 2011. p. 49. Manuais de Atuação ESMPU, v. 8), nos seguintes
termos: “A complexidade da delinquência tem crescido. Poderosas organizações crimi-
nosas têm implantado ‘cabeças-de-ponte’ na Administração Pública. Por isso, cremos
que, mais do que soluções paliativas, como mutirões ou, mais do que bem planejadas, como
forças-tarefas, o ideal é que o Ministério Público Federal se organize formalmente, mediante
uma lei de ofícios, em unidades especializadas, com atribuição específica e estrutura de apoio
adequada para atuação em uma ou mais subseções judiciárias, como uma Procuradoria
Nacional, sem vinculação ao modelo de organização e divisão judiciárias. (Grifo nosso).
179
e especializados. Na Itália, por exemplo, o fenômeno mafioso e o crime
TÉCNICAS AVANÇADAS DE INVESTIGAÇÃO
4 · A COOPERAÇÃO INTERINSTITUCIONAL NA
JURISPRUDÊNCIA DOS TRIBUNAIS SUPERIORES
A fim de analisar o estado da arte atual da jurisprudência brasileira no
tocante à cooperação interinstitucional, cuidemos de analisar dois tópi-
cos específicos: as balizas e limitações à cooperação, em sede de ati-
vidade de inteligência; e a cooperação informacional e o compartilha-
mento de dados sujeitos a sigilo bancário e fiscal.
212 Até a finalização deste trabalho, haviam sido criados, no âmbito do MPF, Gaecos nos
seguintes Estados: Minas Gerais, Paraíba, Paraná, Amazonas, Pará e Rio de Janeiro.
180
De partida, é relevante se conceituar a atividade de inteligência, inclusive
213 LOWENTHAL, Mark M. Intelligence: from secrets to policy. 8. ed. Thousand Oaks,
California: CQ Press, 2020. Edição Kindle.
214 ALMEIDA NETO, Wilson Rocha de. Inteligência e contrainteligência no Ministério Público.
Aspectos práticos e teóricos da atividade como instrumento de eficiência no combate
ao crime organizado e na defesa de direitos fundamentais. Belo Horizonte: Dictum,
2009. p. 28.
215 ALMEIDA NETO, 2009, p. 62.
181
Sob o enfoque da “inteligência de segurança pública”, portanto, vislum-
TÉCNICAS AVANÇADAS DE INVESTIGAÇÃO
216 BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Relator: Min. Adilson Vieira Macabu – Des.
Convocado do TJ/RJ. Quinta Turma; maioria. Julg. 7.6.2011. Publ. DJe 5 set. 2011.
182
integram o Sistema Brasileiro de Inteligência, como se infere dos inci-
a.1) aponta-se violação aos arts. 144, § 1º, IV, da Constituição Federal e 4º,
do Código de Processo Penal, aduzindo que, embora a Agência Brasileira
de Inteligência - ABIN tenha levado a efeito, por pessoas a seu serviço,
monitoramentos telefônico e telemático em desfavor do ora paciente,
no período compreendido entre fevereiro de 2007 e o início de 2008, o
Departamento de Polícia Federal só instaurou o inquérito em 25.06.08;
b.5) o acesso ilegal, pela ABIN, aos dados dos HDs do Banco Opportunity,
acobertados por sigilo;
183
c) a intromissão estatal abusiva e ilegal na esfera da vida privada, da
TÉCNICAS AVANÇADAS DE INVESTIGAÇÃO
Sustentam os impetrantes violação aos arts. 1º, III, e 5º, X, XII, LVI, ambos
da Magna Carta e 157, do Código de Processo Penal.
Ao analisar o case, o ministro relator aduziu que, nos termos do art. 144,
CR/1988, as atribuições da Polícia Judiciária, no âmbito da União, cabem
exclusivamente à Polícia Federal e, na esfera dos Estados, devem ser exerci-
das pela Polícia Civil, ressalvada a competência da Polícia Militar, sendo que
apenas em casos excepcionalíssimos e desde que preenchidos os
requisitos legais do art. 4º, parágrafo único, do Código de Processo
Penal, permitir-se-á que essa atividade seja exercida por órgão diverso
da Polícia Judiciária.
217 “Art. 4º. À ABIN, além do que lhe prescreve o artigo anterior, compete:
I – planejar e executar ações, inclusive sigilosas, relativas à obtenção e análise de dados
para a produção de conhecimentos destinados a assessorar o Presidente da República;
II – planejar e executar a proteção de conhecimentos sensíveis, relativos aos interesses
e à segurança do Estado e da sociedade;
III – avaliar as ameaças, internas e externas, à ordem constitucional;
IV – promover o desenvolvimento de recursos humanos e da doutrina de inte-
ligência, e realizar estudos e pesquisas para o exercício e aprimoramento da
atividade de inteligência.
Parágrafo único. Os órgãos componentes do Sistema Brasileiro de Inteligência for-
necerão à ABIN, nos termos e condições a serem aprovados mediante ato presiden-
cial, para fins de integração, dados e conhecimentos específicos relacionados com a
defesa das instituições e dos interesses nacionais.”
184
O acórdão avança em argumentos que, data venia, minimizam a importância
Na sequência, questiona:
Sendo público e notório que o presente writ teve origem em processos
investigatórios de possíveis delitos de desvio de verbas públicas, corrup-
ção e branqueamento de capitais, como dizem os portugueses, indaga-
-se: onde reside o interesse nacional na apuração de tais crimes?
185
TÉCNICAS AVANÇADAS DE INVESTIGAÇÃO
186
O revés advindo da decisão em análise maximizou a percepção dos
187
procedimento, notadamente em cautelares sujeitas a reserva de juris-
TÉCNICAS AVANÇADAS DE INVESTIGAÇÃO
219 BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Habeas Corpus 96.986/MG. Relator: Min. Gilmar
Mendes. Segunda Turma, unânime. Julg. 15.5.2012. Publ. 14 set. 2012.
188
nada impede que essa execução possa ser efetuada por outros órgãos,
Não bastasse todos esses elementos, sobreleva destacar que a lei autori-
zou o uso dos serviços e técnicos das concessionárias (art. 7º).
189
Por isso entendo que, a considerar a decisão proferida pelo Juízo da
TÉCNICAS AVANÇADAS DE INVESTIGAÇÃO
220 “Art. 4º. À ABIN, além do que lhe prescreve o artigo anterior, compete:
I – planejar e executar ações, inclusive sigilosas, relativas à obtenção e análise de dados
para a produção de conhecimentos destinados a assessorar o Presidente da República;
II – planejar e executar a proteção de conhecimentos sensíveis, relativos aos interesses
e à segurança do Estado e da sociedade;
III – avaliar as ameaças, internas e externas, à ordem constitucional;
IV – promover o desenvolvimento de recursos humanos e da doutrina de inte-
ligência, e realizar estudos e pesquisas para o exercício e aprimoramento da
atividade de inteligência.
Parágrafo único. Os órgãos componentes do Sistema Brasileiro de Inteligência for-
necerão à ABIN, nos termos e condições a serem aprovados mediante ato presiden-
cial, para fins de integração, dados e conhecimentos específicos relacionados com a
defesa das instituições e dos interesses nacionais.”
221 Outros dispositivos citados pelos autores da ação – Partido Rede Sustentabilidade
e Partido Socialista Brasileiro – são o art. 2º, § 1º, da Lei n. 9.883/1999 (“Art. 2º […] §
190
Ao analisar a medida cautelar da ADI, o Supremo Tribunal Federal, pelo
[…]
191
O fornecimento de informações entre órgãos públicos para a defesa das
TÉCNICAS AVANÇADAS DE INVESTIGAÇÃO
192
Ao final do julgamento, o Tribunal decidiu por deferir parcialmente a
193
fundamentada decisão judicial, a ser proferida pelo juiz responsável pelo
TÉCNICAS AVANÇADAS DE INVESTIGAÇÃO
sigilo do expediente.
Observadas as balizas traçadas pelas decisões referidas, portanto, tem-
-se um relevantíssimo mecanismo de cooperação, que tende a maxi-
mizar a eficácia investigativa dos órgãos e instituições incumbidas do
combate ao crime.
194
5º e 6º da mesma norma e seus decretos regulamentadores. Na ocasião, as
1. Julgamento conjunto das ADI nº 2.390, 2.386, 2.397 e 2.859, que têm
como núcleo comum de impugnação normas relativas ao fornecimento,
pelas instituições financeiras, de informações bancárias de contribuintes
à administração tributária.
195
novembro de 2009) consagram, de modo expresso, a permanência do sigilo
TÉCNICAS AVANÇADAS DE INVESTIGAÇÃO
5 · CONSIDERAÇÕES FINAIS
Em conclusão, tem-se que a cooperação interinstitucional pode ser defi-
nida como meio de obtenção de prova decorrente da atuação conjunta
de um ou mais órgãos ou instituições, em caráter pontual ou permanente,
198
em âmbito doméstico ou internacional, visando ao atingimento de um
REFERÊNCIAS
ALMEIDA NETO, Wilson Rocha de. Inteligência e contrainteligência no
Ministério Público. Aspectos práticos e teóricos da atividade como ins-
trumento de eficiência no combate ao crime organizado e na defesa
de direitos fundamentais. Belo Horizonte: Dictum, 2009.
CARNELUTTI, Francesco. A prova civil. Trad. Lisa Sary Scarpa. 2. ed. Campinas:
Bookseller, 2002.
199
CASTAÑER, Xavier; OLIVEIRA, Nuno. Collaboration, coordination, and coop-
TÉCNICAS AVANÇADAS DE INVESTIGAÇÃO
PALUDO, Januário (coord.); LIMA, Carlos Fernando dos Santos; ARAS, Vladimir.
Forças-tarefas: direito comparado e legislação aplicável – MPF. Brasília: Escola
Superior do Ministério Público da União, 2011. p. 49. (Manuais de Atuação
ESMPU, v. 8).
200
CAPÍTULO 8
COOPERAÇÃO JURÍDICA INTERNACIONAL
EM MATÉRIA PENAL
Wanessa Rezende Silva
1 · INTRODUÇÃO
A cooperação jurídica internacional mostrou-se como grande saída
para as dificuldades encontradas para combater a prática de crimes
transnacionais. Com vistas a garantir o enfrentamento eficaz e célere,
os Estados precisaram buscar soluções que não violassem os direitos
humanos nem atingissem sua soberania, mas que garantissem o fim
almejado. Este capítulo trará algumas considerações sobre os instru-
mentos já incorporados ao ordenamento jurídico brasileiro, idealizados
para auxiliar nessas demandas globais.
Para Luís de Lemos Triunfante, o estudo da cooperação jurídica inter-
nacional deve, ab initio, partir do conceito/significado de cooperação,
segundo o qual
o termo cooperar, ou ato ou efeito de cooperar ETIM lat. Cooperatio, onis,
auxilio, colaboração significa “trabalhar com outros para atingir o mesmo
fim”. Assim o verbo “cooperar”, deriva do latim “cooperari” e é o oposto
do verbo “disputar”, pois enquanto na disputa os objetivos visam um
resultado particular com uma possível eliminação da parte que se opôs,
na cooperação os resultados beneficiam (ou devem beneficiar) todos,
pois numa relação humana o coletivo é mais importante do que o indi-
vidual. De acordo com a definição dada pelo dicionário da Academia
Real de Espanha, sobressaem duas características. Em primeiro lugar,
trata-se de um processo de interação entre dois ou mais sujeitos e em
segundo, um esforço comum que se dirige à prossecução do mesmo
fim. Nesse sentido, cooperação pressupõe trabalho conjunto, colabo-
ração, e, no caso em presença, qualquer forma de contribuição entre
201
Estados, para a prossecução de um objetivo comum, que tenha refle-
TÉCNICAS AVANÇADAS DE INVESTIGAÇÃO
202
pórtico constitucional e certamente seriam frustrados alguns dos
225 VALE, Horácio Eduardo Gomes. Princípio da cooperação internacional. Revista Jus
Navigandi, Teresina, ano 19, n. 3864, 29 jan. 2014. Disponível em: https://jus.com.br/
artigos/26542. Acesso em: 6 jan. 2021.
226 GIACOMET JUNIOR, Isalino Antonio. Elaboração de pedido de cooperação jurídica
internacional em matéria penal. In: BRASIL. Ministério Público Federal. Secretaria
de Cooperação Internacional. Temas de cooperação internacional. 2. ed. rev. e atual.
Brasília: MPF, 2016. p. 71.
203
Segundo a Convenção de Palermo (Decreto n. 5015/2004), a infração será
TÉCNICAS AVANÇADAS DE INVESTIGAÇÃO
227 Patrícia Maria Nuñez Weber esclarece que são equivalentes os termos jurisdicional,
judiciária ou jurídica, empregados para qualificar a cooperação penal internacional,
distinguindo-a da cooperação administrativa (é aquela não vinculada a demanda
ou feito criminal, mas destinada ao aprimoramento tecnológico, à troca de infor-
mações, à criação e manutenção de banco de dados, à criação de estratégias de
atuação entre os órgãos envolvidos. O termo também é empregado, no entanto,
para designar cooperação entre autoridades administrativas, que independa de
pronunciamento judicial). (Cooperação penal internacional: conceitos básicos. In:
BRASIL. Ministério Público Federal. Secretaria de Cooperação Internacional. Temas
de cooperação internacional. 2. ed. rev. e atual. Brasília: MPF, 2016. p. 27).
204
Extradição e a Carta Rogatória foram aperfeiçoados ao mesmo tempo
228 SAADI, Ricardo Andrade; BEZERRA, Camila Soares. A autoridade central no exercício da
cooperação jurídica internacional. In: BRASIL. Ministério da Justiça e Segurança Pública.
Secretaria Nacional de Justiça. Manual de cooperação jurídica internacional e recuperação
de ativos: cooperação em matéria penal. 2. ed. Brasília: Ministério da Justiça, 2013. p. 21.
229 TRIUNFANTE, 2008.
230 WEBER, 2016.
205
a) a aplicação da norma mais favorável à cooperação (favor comissionis
TÉCNICAS AVANÇADAS DE INVESTIGAÇÃO
3 · MODALIDADES TRADICIONAIS DE
COOPERAÇÃO INTERNACIONAL PENAL
As modalidades tradicionais de cooperação internacional penal
incorporadas ao ordenamento jurídico brasileiro serão vistas a seguir.
Destaca-se que não se aprofundará no exame de cada instituto. A
abordagem busca tão somente apresentar suas características mais
marcantes e sua aplicação prática.
3.1 · EXTRADIÇÃO
A extradição consiste numa medida de cooperação internacional entre
o Estado brasileiro e outro Estado pela qual se concede ou se solicita
a entrega de pessoa sobre quem recaia condenação criminal definitiva
ou para fins de instrução de processo penal em curso.233 Pressupõe-se
que o crime teria sido cometido no território do Estado requerente ou
que sejam aplicáveis ao extraditando as leis penais desse Estado; e que
o extraditando esteja respondendo a processo investigatório, a processo
penal ou que tenha sido condenado pelas autoridades judiciárias do
Estado requerente a pena privativa de liberdade.
233 Art. 81 da Lei n. 13.445, de 24 de maio de 2017. Brasília, DF: Presidência da República,
2021. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-2018/2017/Lei/
L13445.htm#art124. Acesso em: 16 fev. 2021.
207
O instituto encontra-se regulado nos arts. 81 a 99 da Lei n. 13.445, de 24
TÉCNICAS AVANÇADAS DE INVESTIGAÇÃO
c) o País for competente, segundo as suas leis, para julgar o crime impu-
tado ao extraditando;
208
O pedido que possa originar processo de extradição perante Estado
209
3.2 · ENTREGA DE PESSOA AO TRIBUNAL PENAL INTERNACIONAL
TÉCNICAS AVANÇADAS DE INVESTIGAÇÃO
240 Promulgado pelo Decreto n. 4.388, de 25 de setembro de 2002. Disponível em: http://
www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/2002/d4388.htm. Acesso em: 16 fev. 2021.
241 WEBER, 2016, p. 28.
210
ou vínculo pessoal, desde que expresse interesse nesse sentido, a fim de
211
TABELA 1 · TRANSFERÊNCIA DE PESSOAS CONDENADAS
TÉCNICAS AVANÇADAS DE INVESTIGAÇÃO
ACORDOS MULTILATERAIS
SUBSIDIÁRIOS
214
3.5 · CARTA ROGATÓRIA
215
Apesar de as cartas rogatórias estarem sujeitas a um mero juízo de deli-
TÉCNICAS AVANÇADAS DE INVESTIGAÇÃO
216
Milton Fornazari Júnior define
217
desses instrumentos internacionais, o Brasil não apenas adquire o direito
TÉCNICAS AVANÇADAS DE INVESTIGAÇÃO
218
PERSPECTIVAS PRÁTICA E JURISPRUDENCIAL
ACORDOS MULTILATERAIS DECRETOS
Convenção de Auxílio Judiciário em Matéria Decreto n. 8.833, de 4.8.2016
Penal entre os Estados Membros da CPLP
219
TÉCNICAS AVANÇADAS DE INVESTIGAÇÃO
220
PERSPECTIVAS PRÁTICA E JURISPRUDENCIAL
ACORDOS BILATERAIS DECRETOS
PERU: Acordo de Assistência Judiciária Decreto n. 3.988, de 29.10.2001
em Matéria Penal entre o Governo
da República Federativa do Brasil e o
Governo da República do Peru
221
O Regimento Interno do Superior Tribunal de Justiça, em seu art. 216-O, §
TÉCNICAS AVANÇADAS DE INVESTIGAÇÃO
222
a) notificação de decisões judiciais e sentenças;
j) qualquer outro ato, desde que haja acordo entre o Estado requerente
e o Estado requerido.
262 BRASIL.
Decreto n. 3.468, de 17 de maio de 2000. Brasília, DF: Presidência da República,
2021. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/D3468.htm.
Acesso em: 11 fev. 2021.
223
i) apreensão, transferência de bens confiscados e outras medidas de
TÉCNICAS AVANÇADAS DE INVESTIGAÇÃO
natureza similar;
d) troca de informações;
224
execução da cooperação jurídica, que é regulada por um tratado inter-
225
5 · CONSIDERAÇÕES FINAIS
TÉCNICAS AVANÇADAS DE INVESTIGAÇÃO
REFERÊNCIAS
BRASIL. Código Penal. Brasília, DF: Presidência da República, 2021. Disponível
em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/del2848compilado.htm.
Acesso em: 13 mar. 2021.
226
BRASIL. Decreto n. 3.468, de 17 de maio de 2000. Brasília, DF: Presidência da
228
CAPÍTULO 9
PERÍCIA EM CONTABILIDADE E ECONOMIA
Fabiano Henrique Cruz Fernandes
Isaac Anderson Oliveira de Almeida
José Jorge Gabriel Júnior
269 MAGALHÃES, Antônio de Deus Farias. Perícia contábil: uma abordagem teórica, ética,
legal, processual e operacional. 3. ed. São Paulo: Atlas, 2001.
270 ALBERTO, Valder Luiz Palombo. Perícia contábil. São Paulo: Atlas, 2009.
229
auxílio com o objetivo de esclarecer uma controvérsia técnica, quer seja
TÉCNICAS AVANÇADAS DE INVESTIGAÇÃO
230
Em qualquer que seja a instância, os peritos terão que buscar elementos,
PERÍCIA AUDITORIA
Objetivo Produção de provas/ Revisão/Verificação
Elucidar fatos
Fonte: Adaptado de SÁ, Antônio Lopes de. Perícia contábil. 10. ed. São Paulo: Atlas, 2011.
231
indagações, investigações, avaliações, arbitramentos, em suma, todo e
TÉCNICAS AVANÇADAS DE INVESTIGAÇÃO
272 ZITZEWITZ, Eric. Forensic economics. Journal of Economic Literature, Pittsburgh, v. 50,
n. 3, p. 731–769, set. 2012.
232
Em mercados competitivos e completos, isto é, onde exista um número
273 COLANDER, David C. Microeconomics. 11. ed. Nova York: McGraw-Hill Education, 2020.
233
praticados no respectivo mercado”,274 ou seja, quando o preço é desar-
TÉCNICAS AVANÇADAS DE INVESTIGAÇÃO
274 LIMA, Luiz H. Sobrepreço e superfaturamento. Gazeta Digital, Cuiabá, 11 abr. 2016.
Disponível em: https://www.gazetadigital.com.br/editorias/opiniao/sobrepreco-e-
superfaturamento/475385. Acesso em: 21 out. 2020.
234
infundados que oneram a execução e geram superfaturamento. Esse
235
Não obstante, há a possibilidade de se verificar o superfaturamento por
TÉCNICAS AVANÇADAS DE INVESTIGAÇÃO
276 LIMA, Ricardo Carvalho de Andrade; RESENDE, Guilherme Mendes. Using the Moran’s I
to detect bid rigging in Brazilian procurement auctions. The Annals of Regional Science,
[s. l.], v. 66, p. 237-254, 4 set. 2020. DOI: https://doi.org/10.1007/s00168-020-01018-X.
277 LIMA; RESENDE, 2020.
278 BRASIL. Ministério Público Federal. Câmara de Coordenação e Revisão, 3. Combate a
cartéis. Brasília: MPF, 2019. (Roteiro de atuação, v. 1)
236
Tais métodos podem ser divididos em dois tipos: os métodos baseados
237
teoria econômica, elaboram-se estratégias de identificação de comporta-
TÉCNICAS AVANÇADAS DE INVESTIGAÇÃO
281 IMHOF, David. Empirical methods for detecting bid-rigging cartels. 2018. 190 f. Tese
(Doutorado em Economia e Ciências Sociais). Universidade Bourgogne Franche-
Comté, França, 2018.
238
Uma terceira estratégia de identificação de comportamento colusivo é o
239
dentro do MPF, dá-se especial atenção a dois tipos: a gestão temerária de
TÉCNICAS AVANÇADAS DE INVESTIGAÇÃO
284 BITENCOURT, Carlos Roberto; BREDA, Juliano. Crimes contra o sistema financeiro
nacional e contra o mercado de capitais. 3. ed. São Paulo: Saraiva, 2013.
285 Quatro dos maiores fundos de pensão brasileiros, respectivamente das empresas
Caixa Econômica Federal, Petrobras, Banco do Brasil e Empresa Brasileira de
Correios e Telégrafos.
240
de investimento por parte das EFPC. Nesse sentido, foram analisados os
286 MAUBOUSSIN, Michael J. Common errors in DCF models. Legg Mason Capital
Management, [s. l.], 16 mar. 2006. Ver também DAMODARAN, Aswath. Investment
valuation: tools and techniques for determining the value of any asset. 3. ed. New
Jersey: John Wiley & Sons, 2012.
241
Por exemplo, a formação de uma posição muito direcionada com ativos
TÉCNICAS AVANÇADAS DE INVESTIGAÇÃO
242
com o grupo de tratamento após a conduta lesiva. Nessas condições, o
243
de investimentos estruturados, pode-se utilizar uma carteira teórica de
TÉCNICAS AVANÇADAS DE INVESTIGAÇÃO
244
relacionados. Ademais, esse decreto especifica os casos de agravamento
245
II – sobre o montante total de recursos recebidos pela pessoa jurídica
TÉCNICAS AVANÇADAS DE INVESTIGAÇÃO
246
[...] Apesar de ter celebrado acordo de leniência no processo adminis-
Afigura-se, por tais razões, que outras sanções cabíveis, além das mencio-
nadas na própria LAC, como aquelas previstas na LIA, possam eventual-
mente ser negociadas e fixadas em acordo de leniência quando promovi-
dos pelo Ministério Público. [...]. (Grifos nossos).
292 Alguns possíveis impactos sociais da falência de uma grande empresa são: a demis-
são generalizada de funcionários; o comprometimento das empresas da cadeia
247
FIGURA 3 · VALOR DA MULTA X VALOR DO DANO/GRAVIDADE DO ILÍCITO
TÉCNICAS AVANÇADAS DE INVESTIGAÇÃO
248
FIGURA 4 · VALOR DA MULTA X CAPACIDADE FINANCEIRA
249
necessários para uma adequada avaliação, principalmente no caso das
TÉCNICAS AVANÇADAS DE INVESTIGAÇÃO
DOCUMENTOS UTILIZADOS
Alguns documentos em que os peritos se baseiam para realizar tais
análises são:
• Demonstrações contábeis: Balanço Patrimonial (BP), Demonstração
do Resultado do Exercício (DRE), Demonstração de Fluxo de Caixa
(DFC), Demonstração das Mutações do Patrimônio Líquido (DMPL)
e Demonstração do Valor Adicionado (DVA) dos últimos anos. Além
disso, devem-se disponibilizar as notas explicativas das principais con-
tas, como receitas e despesas; investimentos; imobilizado; emprésti-
mos/financiamentos (contratos) etc. Esses demonstrativos devem ser
assinados por contador registrado e, preferencialmente, auditados
por auditorias independentes.
• Documentos da empresa: relatório da administração (projeções/expec-
tativas); projeções realizadas pela empresa ou por companhias con-
tratadas; balanço social (interação da empresa com a sociedade); atas
de assembleias; relatório do conselho fiscal; informações da estrutura
societária da empresa, discriminando sócios, controlada, controla-
dora, participações em outras empresas.
• Relatórios de terceiros: emitidos por Agências de Classificação de Risco
de Crédito (Rating) e empresas independentes do mercado financeiro.
• Declarações tributárias da empresa (LALUR, DCTF).
• Declaração de Imposto de Renda Pessoa Física (DIRF) dos principais acio-
nistas. Apesar de extrapolar um pouco a avaliação da empresa, pode-
-se, em alguns casos, detectar casos mais explícitos de dilapidação do
patrimônio da empresa em benefício dos sócios majoritários.
250
DIFICULDADES
A) PRAZO DO PAGAMENTO
Quanto maior o prazo para a empresa pagar o valor pactuado,
maior poderá ser o valor total que ela pagará até o final do acordo.
Exemplificando, caso uma empresa gere R$ 200 milhões anuais de caixa
e comprometa 25% desse valor anual gerado para quitar o acordo de
leniência, ter-se-ia um montante de R$ 50 milhões anuais disponíveis
para pagamento. Sem considerar a atualização monetária, em cinco anos
poderiam ser pagos R$ 250 milhões e em 20 anos, R$ 1 bilhão.
Assim, em uma primeira análise, poder-se-ia concluir que a melhor alter-
nativa fosse parcelar o valor a pagar por muitas décadas para se chegar
a um montante maior.
Contudo, quanto maior o prazo a ser definido, maior o risco de ocor-
rer uma projeção não fidedigna e maior a possibilidade de a com-
panhia não pagar o valor total devido. Quanto a esse último ponto,
na teoria contábil pressupõe-se a continuidade da empresa, ou seja,
pressupõe-se que ela pode sobreviver indefinidamente. No entanto,
sabe-se que a taxa de sobrevivência das empresas brasileiras é baixa,
conforme demonstra o gráfico abaixo, extraído do estudo Demografia
251
das Empresas e Estatísticas de Empreendedorismo, 2018, do Instituto
TÉCNICAS AVANÇADAS DE INVESTIGAÇÃO
Percebe-se pelo gráfico anterior que quanto mais funcionários uma empresa
possui, ou seja, quanto maior a companhia, maior a chance de ela sobre-
viver ao longo dos anos. Nesse contexto, como os acordos de leniência
normalmente envolvem empresas de grande porte, é de se esperar que o
risco de uma eventual falência dessas companhias seja menor.
Contudo, é importante considerar que empresas envolvidas em atos de
corrupção geralmente têm um desgaste importante de sua marca. Em
virtude disso, perdem muitos clientes, o que afeta suas receitas, além de
incorrer em custos que não possuíam anteriormente, tais como aqueles
referentes ao compliance,293 despesas processuais, aumento de exigên-
cias para empréstimos (covenants) e, consequentemente, maior custo de
256
PERSPECTIVAS PRÁTICA E JURISPRUDENCIAL
Relatório FOCUS Organização para Fundo Banco Mundial
(Banco Central a Cooperação do Monetário (World Bank)
do Brasil) Desenvolvimento Internacional
Econômico - – FMI (IMF)
OCDE (OECD)
Tempo 4 anos 40 anos 5 anos 10 anos
aproximado
de projeção
REFERÊNCIAS
ALBERTO, Valder Luiz Palombo. Perícia contábil. São Paulo: Atlas, 2009.
257
DANTAS, José Alves; MEDEIROS, Otávio Ribeiro de; PAULO, Edilson. Relação
TÉCNICAS AVANÇADAS DE INVESTIGAÇÃO
SÁ, Antônio Lopes de. Perícia contábil. 10. ed. São Paulo: Atlas 2011.
258
CAPÍTULO 10
PERÍCIA EM TECNOLOGIA DA
INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO
Marcelo Caiado
Winícius Ferraz
1 · CRIMES INFORMÁTICOS
Neste século, o uso da internet e dos recursos tecnológicos associa-
dos tornou-se imprescindível às organizações (públicas e privadas), aos
indivíduos e à sociedade de forma geral. As pessoas buscam conheci-
mento, procuram novas relações pessoais, executam atividades profis-
sionais ou simplesmente intentam se divertir a partir de um dispositivo
conectado à rede mundial de computadores. As corporações, por sua
vez, também são cada vez mais dependentes da tecnologia da infor-
mação e comunicação para se comunicarem com parceiros, fornece-
dores e clientes, bem como para otimizarem os processos de produção
e prestação de serviços.
Em relação ao acesso à Tecnologia da Informação e Comunicação (TIC)
no Brasil, convém mencionar alguns indicadores da pesquisa intitu-
lada TIC Domicílios, realizada periodicamente pelo Centro Regional de
Estudos para o Desenvolvimento da Sociedade da Informação (Cetic.br).
Segundo essa pesquisa, em 2019,296 71% dos lares brasileiros possuíam
acesso à internet. Em 2017,297 a mesma pesquisa apontava 61% para esse
296 COMITÊ GESTOR DA INTERNET NO BRASIL. TIC Domicílios 2019. São Paulo: CGI.br, 2020.
Disponível em: https://cetic.br/pt/tics/domicilios/2019/domicilios/A4/expandido/.
Acesso em: 18 ago. 2020.
297 COMITÊ GESTOR DA INTERNET NO BRASIL. TIC Domicílios 2017. São Paulo: CGI.br, 2018.
Disponível em: https://cetic.br/pt/tics/domicilios/2017/domicilios/A4/expandido.
Acesso em: 18 ago. 2020.
259
mesmo indicador, e, em 2015,298 apenas 51% das residências brasileiras
TÉCNICAS AVANÇADAS DE INVESTIGAÇÃO
298 COMITÊ GESTOR DA INTERNET NO BRASIL. TIC Domicílios 2015 – Indivíduos. São Paulo:
CGI.br, 2016. Disponível em: https://www.cetic.br/pt/tics/domicilios/2015/individuos/
C1/. Acesso em: 18 ago. 2020.
299 COMITÊ GESTOR DA INTERNET NO BRASIL. TIC Domicílios 2019 – Indivíduos. São Paulo:
CGI.br, 2020. Disponível em: https://www.cetic.br/pt/tics/domicilios/2019/individuos/
C1. Acesso em: 18 ago. 2020.
300 COMITÊ GESTOR DA INTERNET NO BRASIL. TIC Domicílios 2017 – Indivíduos. São Paulo:
CGI.br, 2018. Disponível em: https://www.cetic.br/pt/tics/domicilios/2017/individuos/
C1/. Acesso em: 18 ago. 2020.
260
cia, e, por fim, em 2015,301 esse índice era de apenas 66%. A figura a seguir
301 COMITÊ GESTOR DA INTERNET NO BRASIL. TIC Domicílios 2015 – Indivíduos. São Paulo:
CGI.br, 2016b. Disponível em: https://www.cetic.br/pt/tics/domicilios/2015/individuos/
C1/. Acesso em: 18 ago. 2020.
302 Disponível em: https://mercadoeconsumo.com.br/2020/08/06/primeiro-semestre-
tem-1326-milhoes-de-compras-feitas-pela-Internet/. Acesso em: 11 nov. 2020.
261
online em 2020, o que significa um incremento de 73,4% em relação ao
TÉCNICAS AVANÇADAS DE INVESTIGAÇÃO
303 WELCH, 2007, p. 2781-2782 apud CAIADO, Felipe B.; CAIADO, Marcelo. Combate à
pornografia infantojuvenil com aperfeiçoamentos na identificação de suspeitos e
na detecção de arquivos de interesse. In: BRASIL. Ministério Público Federal. Crimes
cibernéticos – 2ª Câmara de Coordenação e Revisão, Criminal. Brasília: MPF, 2018.
(Coletânea de Artigos; v. 3). p. 11. Disponível em: http://www.mpf.mp.br/atuacao-
tematica/ccr2/publicacoes/coletaneas-de-artigos/coletanea_de_artigos_crimes_
ciberneticos. Acesso em: 18 ago. 2020.
304 Disponível em: https://www.tecmundo.com.br/seguranca/206233-ataque-hacker-
ter-atingido-stj-pf-investiga.htm/. Acesso em: 15 nov. 2020.
305 KIST, Dário José. A prova digital no processo penal. Leme: JH Mizuno, 2019. p. 66.
262
Relativamente ao termo “crimes informáticos”, importante consignar que a
263
que o mero uso de um dispositivo computacional para a execução de
TÉCNICAS AVANÇADAS DE INVESTIGAÇÃO
308 Crimes complexos são os delitos em que há uma fusão unitária de mais de um tipo
de crime (HUNGRIA, 1958 apud VIANNA; MACHADO, 2013, p. 53).
264
de natureza diversa”. São delitos derivados do ataque ao sistema infor-
265
QUADRO 1 · COMPILADO DE ALGUNS DOS MAIS COMUNS
TÉCNICAS AVANÇADAS DE INVESTIGAÇÃO
Crime Tipificação
Realizar interceptação de comunicações telefônicas, de Lei n. 9.296/1996, art. 10
informática ou telemática, promover escuta ambiental
ou quebrar segredo da Justiça, sem autorização
judicial ou com objetivos não autorizados em lei.
266
PERSPECTIVAS PRÁTICA E JURISPRUDENCIAL
Crime Tipificação
Violar direitos de autor de programa de computador. Lei n. 9.609/1998, art. 12
Obter, para si ou para outrem, vantagem ilícita, Código Penal, art. 171
em prejuízo alheio, induzindo ou mantendo
alguém em erro, mediante artifício, ardil,
ou qualquer outro meio fraudulento.
267
Nesse contexto de análise dos crimes informáticos, é oportuno citar
TÉCNICAS AVANÇADAS DE INVESTIGAÇÃO
2 · PROVAS DIGITAIS
Na literatura técnica de crimes cibernéticos, percebe-se que muitas obras
mencionam os termos “vestígio digital, evidência digital e prova digital”
praticamente como sinônimos. Para o entendimento deste capítulo, a
exata distinção não chega a ser algo fundamental, mas ainda assim con-
vém aclarar esses conceitos e suas diferenças sutis, pois em certas situa-
ções essa questão não será um mero preciosismo.
Primeiramente, de acordo com o § 3º do art. 158-A da Lei n. 13.964/2019,
“vestígio é todo objeto ou material bruto, visível ou latente, constatado
ou recolhido, que se relaciona à infração penal”. Com base nessa defi-
nição, é cabível entender vestígio digital como todo material de cunho
informático ou digital, visível ou latente, constatado ou recolhido, que se
relaciona a um crime informático.
310 KIRK, Paulo Leland apud VELHO, Jesus Antônio (org.). Tratado de computação forense.
Campinas: Millenium, 2016. p. 18.
268
Na mesma linha, vestígio digital também pode ser apresentado como
311 BRASIL. Ministério Público Federal. Roteiro de atuação de crimes cibernéticos. 3. ed.
Brasília: Ministério Público Federal – 2ª Câmara de Coordenação e Revisão, 2016. p.
158. Disponível sob demanda em: http://www.mpf.mp.br/atuacao-tematica/ccr2/
publicacoes/roteiro-atuacoes. Acesso em: 20 ago. 2020.
312 BRASIL, 2016, p. 163.
269
Superadas as diferenças conceituais entre vestígio, evidência e prova digi-
TÉCNICAS AVANÇADAS DE INVESTIGAÇÃO
tal, convém deixar transparente que estes autores, ao longo deste capítulo,
os tratarão como sinônimos, dando preferência ao termo “prova digital”.
270
Outro predicado consiste na possibilidade de partes da mesma prova
271
dência. Essa qualidade “diz respeito à imutabilidade da evidência e pode
TÉCNICAS AVANÇADAS DE INVESTIGAÇÃO
272
empresa, por sua vez, encaminha a massa de dados telemáticos ao MP, que,
320 O tema “cadeia de custódia” não será abordado a fundo neste momento, pois é alvo
de capítulo específico no segundo volume desta obra.
321 VACCA, 2005 apud VIEIRA, 2019.
322 ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR ISO/IEC 27037: diretrizes para
identificação, coleta, aquisição e preservação de evidência digital. Rio de Janeiro:
ABNT, 2013.
273
diretamente relacionada à manutenção da integridade e à garantia de
TÉCNICAS AVANÇADAS DE INVESTIGAÇÃO
323 Na esfera federal, o perito oficial é o perito criminal federal, cargo vinculado ao
Departamento de Polícia Federal.
324 O CPP também aponta algumas exceções para essa regra.
325 NATIONAL INSTITUTE STANDARDS AND TECHNOLOGY. Guide to integrating forensic
techniques into incident response. NIST Special Publication 800-86. Gaithersburg:
NIST, 2006. Disponível em: https://csrc.nist.gov/publications/detail/sp/800-86/final.
Acesso em: 18 ago. 2020.
274
a. coleta;
275
preparados para repetir com precisão os métodos utilizados e ter esses
TÉCNICAS AVANÇADAS DE INVESTIGAÇÃO
3 · PERÍCIAS EM COMPUTADORES E
DISPOSITIVOS DE ARMAZENAMENTO
Conforme já apresentado neste capítulo, a investigação de crimes infor-
máticos deve obedecer a um rito específico, onde é especialmente
importante ser observado que o manuseio de evidência digital possui
características intrínsecas, as quais se não forem devidamente conside-
radas podem comprometer ou até mesmo invalidar toda a investigação.
Nesse sentido, em uma descrição mais extensiva, a perícia cibernética
pode ser definida como a preservação, aquisição, análise, descoberta,
documentação e apresentação de evidência presente em meio digi-
tal (equipamentos computacionais e mídias de armazenamento) com
277
o intuito de comprovar a existência (ou mesmo a ausência) de deter-
TÉCNICAS AVANÇADAS DE INVESTIGAÇÃO
278
Assim, deve-se:
Ferramenta Descrição
IPED Software utilizado para processar e analisar evidências
digitais. Desenvolvido por peritos da Polícia Federal em 2012,
seu código foi publicado no repositório Github em 2019.
279
TÉCNICAS AVANÇADAS DE INVESTIGAÇÃO
Ferramenta Descrição
SIFT Workstation Coletânea de programas forenses utilizada em treinamentos
do SANS Institute, com centenas de programas e uma
ótima documentação. Disponível para download
em duas versões: VMware appliance e ISO DVD.
HTTrack Copier Usado para cópia completa de sites da internet. Permite gravar
com diferentes níveis de iteração com os links das páginas.
sumário, mas não é possível fazer o inverso. Além disso, o hash deve possuir um
baixo índice de colisão, ou seja, deve ser bastante difícil encontrar a existência do
mesmo sumário em diferentes entradas.
330 EVANS, Colin. The father of forensics: the groundbreaking cases of Sir Bernard Spilsbury,
and the beginnings of modern CSI. New York: Berkley Books, 2006.
280
3.1 · CONCEITOS COMPUTACIONAIS
65 41 101 01000001 A
281
TÉCNICAS AVANÇADAS DE INVESTIGAÇÃO
335 Tamanhos cluster padrão para NTFS, FAT e exFAT disponíveis em: https://support.
microsoft.com/pt-br/help/140365/default-cluster-size-for-ntfs-fat-and-exfat.
336 File slack é a área não utilizada pelo arquivo, dentro do cluster, e que abrange exclu-
sivamente os setores não utilizados. Toda a área existente entre o final lógico do
arquivo e o final físico do arquivo é denominada file slack. RAM slack é a porção não
utilizada de um setor que precisou ser utilizado parcialmente, pois a menor unidade
de gravação é um setor, e, nem sempre, um arquivo preenche clusters inteiros.
283
Filesystem). Cada um desses possui distintos controles de gerenciamento
TÉCNICAS AVANÇADAS DE INVESTIGAÇÃO
3.3 · METADADOS
As evidências podem deixar rastros digitais, os quais, muitas vezes, são
difíceis de serem apagados pelos criminosos, ou estes simplesmente
nem sequer sabem da existência do registro de tais evidências. Um caso
bastante curioso em que isso ocorreu foi o da prisão de Dennis Rader, um
assassino em série dos EUA, também conhecido como BTK (Bind, Torture,
Kill), que demorou vários anos até ser preso, e somente o foi após se
284
comunicar com um jornalista por meio de um documento gravado em
337 “EXIF (Exchangeable Image File) é um padrão que especifica os formatos de ima-
gens, som e tags auxiliares usados por câmeras digitais, scanners e outros sistemas
que lidam com arquivos de imagem e som gravados por câmeras digitais.” Fonte:
https://en.wikipedia.org/wiki/Exif.
285
Além das informações EXIF, as imagens podem auxiliar em uma investi-
TÉCNICAS AVANÇADAS DE INVESTIGAÇÃO
3.4 · LOGS
Os logs, conforme já bem demonstrado, podem oferecer informação pri-
mordial para iniciar uma investigação, a qual muitas vezes fica bastante
comprometida sem o fornecimento devido de dados que possibilitem a
identificação de qual usuário estava vinculado a um determinado IP, em
um intervalo específico de tempo, o qual tenha sido identificado como
potencial origem de um crime ou incidente de segurança.
Nesse sentido, para a devida definição do autor de um crime, em espe-
cial a possibilidade de imputar uma responsabilidade partindo da iden-
tificação do usuário que estava utilizando um definido IP no momento
do cometimento do crime, é essencial que os logs estejam disponíveis no
momento que forem solicitados.
Inclusive, o Comitê Gestor da Internet Brasileira, em seu documento inti-
tulado Práticas de Segurança para Administradores de Redes Internet, reco-
menda aos provedores de acesso o armazenamento dos logs por um
período mínimo de três anos, com a utilização de algoritmos criptográfi-
cos de hash que garantam sua integridade.338
Por outro lado, o Marco Civil da Internet (MCI) brasileira, sancionado em
23 de abril de 2014 por meio da Lei n. 12.965, seguiu um caminho con-
trário ao entendimento do GCI.br e às necessidades das forças da lei bra-
sileiras, ao tratar a questão da guarda de registros (logs) de acesso esta-
belecendo um prazo muito exíguo em relação ao prazo mínimo em que
286
os provedores de conexão à internet e os provedores de aplicação de
287
de um crime, sendo também muitas vezes complexo determinar quem
TÉCNICAS AVANÇADAS DE INVESTIGAÇÃO
339 LEWIS, Lori; CALLAHAN, Chadd. 2017: this is what happens in an internet minute.
[S. l.], 8 mar. 2017. Twitter: @lorilewis. Disponível em: https://twitter.com/lorilewis/
status/839475921035874306. Acesso em: 12 jul. 2021.
340 LEWIS, Lori; CALLAHAN, Chadd. 2018: this is what happens in an internet minute.
[S. l.], 4 abr. 2018. Twitter: @lorilewis. Disponível em: https://twitter.com/lorilewis/
status/981529615884849153. Acesso em: 12 jul. 2021.
288
FIGURA 10 · EXEMPLOS DO VOLUME DE DADOS PRODUZIDOS NA
Pela análise das imagens, é possível perceber que boa parte dos servi-
ços teve sua utilização incrementada (e consequentemente a massa de
dados associada) de 2017 a 2020. Por exemplo, o Facebook, em 2017, pos-
suía, em média, 900 mil logins por minuto. Em 2020, esse número saltou
para 1,3 milhão de logins. O Instagram, por sua vez, em 2018, detinha a
marca de 174 mil scrollings, em média, por minuto. Já em 2020, chegou
a 694.444. Outro serviço que, apesar do surgimento de novas formas
de comunicação, ainda se mantém em alta é o bom e velho e-mail. Em
2017, em média, foram enviados 156 milhões de mensagens desse tipo
por minuto no planeta. No ano seguinte esse número saltou para 187
milhões, chegando a 190 milhões em 2020.
Assim, grande parte dos provedores de serviços de internet, especial-
mente de e-mails, também possui escritórios e opera seus servido-
res em outros países, armazenando os dados e informações de seus
usuários brasileiros, inclusive daqueles que sejam alvo de investigações
341 LEWIS, Lori; CALLAHAN, Chadd. 2019: this is what happens in an internet minute.
[S. l.], 7 mar. 2019. Twitter: @lorilewis. Disponível em: https://twitter.com/lorilewis/
status/1103687442727616523. Acesso em: 12 jul. 2021.
342 LEWIS, Lori; CALLAHAN, Chadd. 2020: this is what happens in an internet minute.
[S. l.], 11 mar. 2020. Twitter: @lorilewis. Disponível em: https://twitter.com/lorilewis/
status/1237753508201402371. Acesso em: 12 jul. 2021.
289
pelas forças da lei brasileiras e que têm seu sigilo quebrado após um
TÉCNICAS AVANÇADAS DE INVESTIGAÇÃO
343 CAIADO, Marcelo; MILAGRE, José. Cloud forensics: best practice and challenges
for process efficiency of investigations and digital forensics. In: INTERNATIONAL
CONFERENCE ON FORENSIC COMPUTER SCIENCE – ICoFCS, 8th, 2013, Brasília.
Anais [...]. Brasília: ABEAT, 2013. Disponível em: http://www.icofcs.org/2013/papers-
published.html. Acesso em: 18 jan. 2021.
290
é bastante realizada por remetentes de e-mails não solicitados (ou e-mail
Fonte: https://gchq.github.io/CyberChef/.
344 Este é um método de codificação que permite, por exemplo, o envio de arquivos
binários por e-mail, em um meio de transmissão que foi projetado essencialmente
para transportar textos. Para isso, faz uso de 64 caracteres em formato ASCII.
291
possuem formas bastante diversas de fornecimento desses dados, e, mui-
TÉCNICAS AVANÇADAS DE INVESTIGAÇÃO
294
o File Transfer Protocol (FTP), o Secure Hyper Text Transfer Protocol
295
FIGURA 14 · EXEMPLO DE ENDEREÇAMENTO IPV4
TÉCNICAS AVANÇADAS DE INVESTIGAÇÃO
296
Por sua vez, o CGNAT é um NAT em larga escala ou uma solução NAT em
297
da Polícia Federal, utilizando um caminho com três proxies,354 localizados
TÉCNICAS AVANÇADAS DE INVESTIGAÇÃO
354 Proxy é um servidor que realiza a ponta entre o usuário e o destino final na internet.
Ele age como um intermediário para as requisições dos clientes, para em seguida
solicitar recursos de outros servidores.
355 Whois, tecnicamente, é um protocolo que oferece um serviço de identificação
(contato, endereço e outras informações) de IPs e domínios na internet.
356 O Whois do Registro.br está disponível em: https://registro.br/tecnologia/ferramentas/
whois/. Acesso em: 14 fev. 2021.
357 O Whois da IANA está disponível em: https://www.iana.org/whois. Acesso em: 15 fev. 2021.
298
figura a seguir ilustra uma consulta realizada via Whois do Registro.br pelo
Fonte: https://registro.br/tecnologia/ferramentas/whois/.
299
2804:14c:6584:5a2c:5810:655f:82b2:c0e9, é gerido pela empresa Claro S.A.
TÉCNICAS AVANÇADAS DE INVESTIGAÇÃO
Fonte: https://www.iana.org/whois.
358 Em que pese serem conceitos relacionados, origem e autoria não são sinônimos. A
origem está associada ao circuito/terminal utilizado para estabelecer a conexão à
internet via provedor de conexão. A autoria, por sua vez, está relacionada ao agente,
à pessoa que efetivamente executou o suposto ato delituoso.
300
Observa-se que, apesar de não ser identificado claramente o provedor de
Fonte: http://lacnic.net/cgi-bin/lacnic/whois.
301
Dentre as informações apresentadas na figura, destaca-se o fato de que o
TÉCNICAS AVANÇADAS DE INVESTIGAÇÃO
359 Mais informações sobre o serviço de DNS estão disponíveis em: https://youtu.be/
ACGuo26MswI. Acesso em: 14 fev. 2021.
360 Outras informações em relação ao NSLookup estão disponíveis em: https://docs.
microsoft.com/pt-br/windows-server/administration/windows-commands/
nslookup. Acesso em: 15 fev. 2021.
302
respectivo IP; a partir de um endereço IP obter o nome do host; obter
304
destaque aos sites https://viewdns.info e https://my-addr.com/, ilus-
Fonte: https://my-addr.com/.
361 Como exemplo, um servidor público, na execução de atos relacionados à sua função,
é um agente detentor de fé pública.
305
Art. 384. A existência e o modo de existir de algum fato podem ser ates-
TÉCNICAS AVANÇADAS DE INVESTIGAÇÃO
362 Outras informações sobre os serviços notariais estão disponíveis em: http://www.
planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8935.htm. Acesso em: 15 fev. 2021.
363 O tema cadeia de custódia será abordado em outro capítulo específico do segundo
volume desta obra. Ademais, os arts. 158 a 184 do CPP, na visão destes autores, é
uma leitura obrigatória aos interessados pelo tema.
306
Copier364 e WGet. Como ilustração, a figura a seguir apresenta o HTTrack em
307
que os investigadores e peritos tenham outra possibilidade de coletar
TÉCNICAS AVANÇADAS DE INVESTIGAÇÃO
Fonte: Capturada pelos autores, nas próprias estações de trabalho, a partir de arquivo
enviado pela empresa Microsoft.
Fonte: Capturada pelos autores, nas próprias estações de trabalho, a partir de arquivo
enviado pela empresa mantenedora do aplicativo WhatsApp.
371 Registra-se que atualmente o WhatsApp não fornece dados de conteúdo, mas
somente dados cadastrais e metadados, e, ainda assim, mediante ordem judicial.
310
Nesse diapasão, o MCI fez uma importante distinção entre os prestado-
372 O art. 5º, II, do MCI define terminal como “um computador ou qualquer dispositivo
que se conecte à internet”.
311
até um máximo de noventa dias, de modo a permitir que as autorida-
TÉCNICAS AVANÇADAS DE INVESTIGAÇÃO
373 O art. 13 do MCI, por sua vez, trata da guarda de registro de conexão à internet.
312
Artigo 18º – Injunção
[...]
313
atender a padrões definidos em regulamento, respeitado seu direito de
TÉCNICAS AVANÇADAS DE INVESTIGAÇÃO
314
FIGURA 27 · PARTE DE ORDEM JUDICIAL ILUSTRATIVA
315
Quanto à forma ou ao meio de fornecimento dos dados informáticos
TÉCNICAS AVANÇADAS DE INVESTIGAÇÃO
Fonte: https://leportal.microsoft.com.
Fonte: https://lers.google.com/.
378 Essa seção apresenta dados oriundos de uma requisição registrada pelo usuário
autenticado no momento.
379 Essa seção apresenta dados oriundos de uma requisição registrada por outra autoridade
mas que foi compartilhada com o usuário autenticado no momento via portal LERS.
380 Os valores de hash apresentados fazem referência aos arquivos gerados após o
processo de descompactação, ou seja, não são os valores hashes dos arquivos .zip
baixados no primeiro momento.
318
autoridades competentes. Nesse âmbito, o quadro a seguir sumariza os
Dropbox legal@dropbox.com
https://www.dropbox.com/report_abuse
Facebook https://www.facebook.com/records
Google lis-latam@google.com
https://lers.google.com
Microsoft lelatam@microsoft.com
https://leportal.microsoft.com
Netflix legalprocess@netflix.com
ProtonMail legal@protonmail.ch
Telegram legalnotices@telegram.com
TikTok legal@tiktok.com
Twitter https://legalrequests.twitter.com/forms/landing_disclaimer
Uber lert@uber.com
https://lert.uber.com/
WhatsApp records@whatsapp.com
https://www.whatsapp.com/records
321
5 · DISPOSITIVOS MÓVEIS
TÉCNICAS AVANÇADAS DE INVESTIGAÇÃO
382 Disponível
em: https://www.statista.com/statistics/272698/global-market-share-
held-by-mobile-operating-systems-since-2009/. Acesso em: 11 dez. 2020.
322
Somente os aplicativos disponíveis na Apple Store podem ser instalados
Conceito/Sigla Descrição
ADB Sigla de Android Debug Bridge. O seu uso permite
estabelecer uma comunicação direta do computador
(ou software forense) com o dispositivo móvel.
383 Para localizar o IMEI de um dispositivo móvel, pode-se digitar *#06#, verificar em
uma etiqueta atrás da bateria, ou, a depender do aparelho, ele poderá estar gravado
na parte traseira, como é o caso nos iPhones.
323
TÉCNICAS AVANÇADAS DE INVESTIGAÇÃO
Conceito/Sigla Descrição
IMSI Sigla de International Mobile Subscriber Identity.
É o número gravado no SIM Card que faz a
identificação do usuário na operadora.
384 Existe atualmente no mercado solução específica, composta por software e hardware,
para quebra de senhas de vários aparelhos, cuja extração por ferramentas forenses
somente poderia ser realizada com a presença da senha.
325
• analisar o histórico de navegação, buscando visitas a sites suspeitos;
TÉCNICAS AVANÇADAS DE INVESTIGAÇÃO
REFERÊNCIAS
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR ISO/IEC 27037: diretri-
zes para identificação, coleta, aquisição e preservação de evidência digital.
Rio de Janeiro: ABNT, 2013.
326
BRASIL. Decreto-Lei n. 2.848, de 7 de dezembro de 1940. Disponível em: http://
327
COMITÊ GESTOR DA INTERNET NO BRASIL. Introdução. IPv6.br, São Paulo,
TÉCNICAS AVANÇADAS DE INVESTIGAÇÃO
EVANS, Colin. The father of forensics: the groundbreaking cases of Sir Bernard
Spilsbury, and the beginnings of modern CSI. New York: Berkley Books, 2006.
KIST, Dário José. A prova digital no processo penal. Leme: JH Mizuno, 2019.
328
LEWIS, Lori; CALLAHAN, Chadd. 2020: this is what happens in an internet
329
CAPÍTULO 11
PESQUISA EM FONTES ABERTAS DIGITAIS
Alessandra Linhares Araújo Cavalcante
Daniele Marques Caldas
1 · INTRODUÇÃO
A investigação criminal é composta por diversas espécies de ferramentas
que possibilitam a colheita de informações a respeito de fatos potencial-
mente ilícitos e seus autores. Integrando e refletindo as dinâmicas sociais, a
atividade investigativa não se aparta dos meios digitais e necessita avançar
para a obtenção de dados de maneira rápida, econômica e legítima.
A evolução exponencial dos recursos tecnológicos das últimas décadas
democratizou o acesso à internet ao promover o encurtamento de dis-
tâncias e a celeridade das comunicações. Tal transformação social, experi-
mentada em processo contínuo, traz consigo desafios até então inéditos.
O aumento da inclusão digital é permeado pela expansão do alcance
dos atos delitivos ao mundo virtual e, dentre os novos comportamentos
observados, surge a utilização das ferramentas digitais na facilitação e
dissimulação de crimes tradicionais, bem como a prática de novos tipos
de condutas ilícitas resultantes dessas tecnologias. A obtenção de indí-
cios de autoria e materialidade delitiva no cenário exposto requer cada
vez mais dinamismo em face da velocidade na qual as interações sociais
escalam na era da informação.
A propósito, desde o início do milênio o sociólogo Manuel Castells385
destaca o protagonismo que a informação assumiu na atualidade e ana-
lisa o surgimento de uma sociedade informacional,
na qual se evidencia a conjunção de uma série de inovações institu-
cionais, tecnológicas, organizacionais, econômicas, políticas e sociais,
385 CASTELLS, Manuel. A galáxia da internet. Rio de Janeiro: Zahar, 2003. p. 251.
331
a partir das quais a informação e o conhecimento passam a desempe-
TÉCNICAS AVANÇADAS DE INVESTIGAÇÃO
A Constituição também previu em seu art. 37, § 3º, inciso II, que lei poste-
rior disciplinaria a participação do usuário na administração pública direta
e indireta através da regulação do acesso a registros administrativos e
a informações sobre atos de governo.388 Cite-se ainda, nesse sentido, o
art. 216, § 2º, da Carta Magna, o qual preceitua caber “à administração
pública, na forma da lei, a gestão da documentação governamental e as
providências para franquear sua consulta a quantos dela necessitem”.389
Visando regulamentar os dispositivos constitucionais citados, a Lei n.
12.527, de 18 de novembro de 2011 (Lei de Acesso à Informação), dispôs
sobre os procedimentos que deverão ser observados por União, Estados,
Distrito Federal e Municípios para garantir o direito fundamental de acesso
a informações. Tal norma subordina tanto a Administração Direta quanto
a Administração Indireta de todos os poderes, sendo aplicada também às
entidades privadas sem fins lucrativos que recebam recursos públicos.
Além de garantir o direito fundamental de acesso à informação, diver-
sas diretrizes foram previstas pelo art. 3º da citada norma, quais sejam:
observância da publicidade como preceito geral e sigilo como exceção;
386 BUENO, Gustavo; JORGE, Higor Vinicius Nogueira. Investigação criminal tecnológica
e direitos fundamentais das vítimas de crimes. Canal Ciências Criminais, [s. l.], 11 dez.
2019. Disponível em: https://canalcienciascriminais.jusbrasil.com.br/artigos/7913257
37/investigacao-criminal-tecnologica-e-direitos-fundamentais-das-vitimas-de-
crimes. Acesso em: 22 fev. 2021.
387 BRASIL. Constituição, de 5 de outubro de 1988. Constituição da República Federativa do
Brasil. Brasília: Senado Federal, 1988. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/cci
vil_03/constituicao/constituicao.htm. Acesso em: 2 fev. 2021.
388 BRASIL, 1988.
389 BRASIL, 1988.
332
divulgação de informações de interesse público; utilização de meios de
390 BRASIL. Lei n. 12.527, de 18 de novembro de 2011. Regula o acesso a informações pre
visto no inciso XXXIII do art. 5º, no inciso II do § 3º do art. 37 e no § 2º do art. 216 da
Constituição Federal; altera a Lei n. 8.112, de 11 de dezembro de 1990; revoga a Lei
n. 11.111, de 5 de maio de 2005, e dispositivos da Lei n. 8.159, de 8 de janeiro de 1991;
e dá outras providências. Brasília: Senado Federal, 2011. Disponível em: http://www.
planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2011/lei/l12527.htm. Acesso em: 28 fev. 2021.
391 BRASIL, 2011.
392 BRASIL, 2011.
393 RIBOLI, Eduardo Bolsoni. “Eu sei o que vocês fizeram no verão passado”: o uso de
software de espionagem como meio de obtenção de prova penal. Revista Brasileira
de Ciências Criminais, São Paulo, v. 156, 2019. p. 2.
333
digitais, cabe ao presente estudo identificar os principais métodos de pes-
TÉCNICAS AVANÇADAS DE INVESTIGAÇÃO
2 · FONTES DE INFORMAÇÃO
A origem de uma informação pode ser entendida como fonte, local onde
é possível acessar algum tipo de dado, que, segundo a Doutrina Nacional
de Inteligência de Segurança Pública (DNISP),394 consiste em
toda e qualquer representação de fato, situação, comunicação, notícia,
documento, extrato de documento, fotografia, gravação, relato, denún-
cia, etc. ainda não submetida, pelo profissional de ISP, à metodologia de
Produção de Conhecimento.
334
Embora não seja o objetivo deste capítulo, é importante frisar que
335
2.2 · PESQUISA EM FONTES ABERTAS
TÉCNICAS AVANÇADAS DE INVESTIGAÇÃO
399 KLANOVICZ, Jó. Fontes abertas: inteligência e o uso de imagens. Revista Brasileira de
Inteligência, ABIN, Brasília, v. 2, n. 2, abr. 2006. p. 1.
400 BRASIL. Lei n. 12.965, de 23 de abril de 2014. Estabelece princípios, garantias, direitos e
deveres para o uso da Internet no Brasil. Brasília: Senado Federal, 2014. Disponível
em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2014/lei/l12965.htm. Acesso
em: 28 fev. 2021.
401 BRASIL, 2014.
336
3 · TIPOS DE PESQUISA EM FONTES ABERTAS
402 O referido site possui características de enciclopédia livre, com edição colaborativa
e anônima, razão pela qual não é recomendada sua utilização como única fonte de
pesquisa, devendo ser checada a veracidade da informação nele obtida.
403 MOTOR DE BUSCA. In: WIKIPÉDIA, a enciclopédia livre. Flórida: Wikimedia Foundation,
2020. Disponível em: https://pt.wikipedia.org/wiki/Motor_de_busca. Acesso em:
22 fev. 2021.
337
Entre as ferramentas disponíveis, o buscador mais utilizado pelos bra-
TÉCNICAS AVANÇADAS DE INVESTIGAÇÃO
338
QUADRO 1 · PRINCIPAIS COMANDOS DE PESQUISA DO GOOGLE
339
TÉCNICAS AVANÇADAS DE INVESTIGAÇÃO
340
PERSPECTIVAS PRÁTICA E JURISPRUDENCIAL
Operador Função Exemplo Resultado
341
TÉCNICAS AVANÇADAS DE INVESTIGAÇÃO
Fonte: JORGE, Higor Vinicius Nogueira. Investigação criminal tecnológica: contém mode-
los de representações e requisições, além de procedimentos para investigação em fon-
tes abertas. Rio de Janeiro: Brasport, 2018. v. 1. p. 53 [com adaptações].
342
FIGURA 2 · PESQUISA AVANÇADA
343
3.2 · PESQUISA NAS REDES SOCIAIS
TÉCNICAS AVANÇADAS DE INVESTIGAÇÃO
344
sociais. Embora existam opções gratuitas, os mecanismos mais comple-
O referido autor cita ainda outros websites que podem ser utilizados
para a realização da pesquisa de usuários da rede social Facebook, quais
sejam: IntelTechniques,418 Lookup419 e Fbookscraper.420 Nos mesmos mol-
des, é possível realizar busca na rede social Twitter, com a localização de
tweets recentes, palavras-chave e hashtags, por meio do website https://
twxplorer.knightlab.com.421
345
A própria plataforma do Twitter também permite a exploração avançada
TÉCNICAS AVANÇADAS DE INVESTIGAÇÃO
346
oficiais da rede mundial de computadores. O § 3º do mencionado artigo
347
FIGURA 4 · PÁGINA INICIAL DO PORTAL DA TRANSPARÊNCIA
TÉCNICAS AVANÇADAS DE INVESTIGAÇÃO
348
Governo Federal – como o Sistema Integrado de Administração Financeira
349
é permitido o download ou a impressão bem como se admite ao
TÉCNICAS AVANÇADAS DE INVESTIGAÇÃO
429 A Lei n. 13.982/2020, em seu art. 2º, concedeu um auxílio financeiro no valor de
R$ 600,00 (seiscentos reais) mensais ao trabalhador que cumprisse os requisitos
nela estabelecidos.
430 Consiste em um programa de transferência de renda do Governo Federal, instituído
pela Medida Provisória n. 132, de 20 de outubro de 2003, convertida em lei em 9 de
janeiro de 2004 pela Lei Federal n. 10.836.
431 O art. 20 da Lei n. 8.742/1993 define como benefício de prestação continuada a
garantia de um salário mínimo mensal à pessoa com deficiência e ao idoso com 65
anos ou mais que comprovem não possuir meios de prover a própria manutenção
nem de tê-la provida por sua família.
432 O art. 24-C da Lei n. 8.742/1993 instituiu o Programa de Erradicação do
Trabalho Infantil (Peti), de caráter intersetorial, integrante da Política Nacional
de Assistência Social, que, no âmbito do Sistema Único de Assistência Social
(Suas), compreende transferências de renda, trabalho social com famílias e
oferta de serviços socioeducativos para crianças e adolescentes que se encon-
trem em situação de trabalho.
433 O Garantia-Safra foi criado em 2002 e está vinculado ao Ministério da Agricultura,
Pecuária e Abastecimento (Mapa). Esse benefício social garante ao agricultor familiar
o recebimento de um auxílio pecuniário, por tempo determinado, caso perca sua
safra em razão do fenômeno da estiagem ou do excesso hídrico.
434 Pago no valor de um salário mínimo ao pescador artesanal que trabalha de forma
ininterrupta e tem sua atividade profissional paralisada durante o período de defeso
para a reprodução das espécies.
350
Governo Federal as transações realizadas nos seguintes cartões de paga-
351
FIGURA 5 · CONSULTA DA DESPESA PÚBLICA NO PORTAL
TÉCNICAS AVANÇADAS DE INVESTIGAÇÃO
352
endereço. A partir da relação de ocupantes, é possível filtrar a pesquisa
437 O Cadastro de Entidades Privadas sem Fins Lucrativos Impedidas (Cepim) apresenta
a relação de entidades privadas sem fins lucrativos que estão impedidas de celebrar
novos convênios, contratos de repasse ou termos de parceria com a Administração
Pública Federal, em razão de irregularidades não resolvidas em convênios, contratos
de repasse ou termos de parceria firmados anteriormente.
438 O Cadastro de Expulsões da Administração Federal (Ceaf) é um banco de dados
mantido pela Controladoria-Geral da União (CGU) que reúne informações, desde
2004, sobre os servidores civis do Poder Executivo Federal punidos com demissão,
destituição ou cassação de aposentadoria.
439 O Cadastro Nacional de Empresas Inidôneas e Suspensas (Ceis) apresenta a relação
de empresas e pessoas físicas que sofreram sanções que implicaram a restrição de
participar de licitações ou de celebrar contratos com a Administração Pública.
440 O Cadastro Nacional de Empresas Punidas (Cnep) apresenta a relação de empresas que
sofreram qualquer das punições previstas na Lei n. 12.846/2013 (Lei Anticorrupção).
354
Por fim, o décimo sexto item permite a opção de busca por “Viagens a
355
os elementos de prova colhidos em meios digitais, é possível interpretar os
TÉCNICAS AVANÇADAS DE INVESTIGAÇÃO
442 BRASIL. Lei n. 13.105, de 16 de março de 2015. Código de Processo Civil. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/lei/l13105.htm. Acesso em:
28 fev. 2021.
443 BRASIL, 2015.
444 BRASIL. Lei n. 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Código Civil. Disponível em: http://www.
planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/l10406compilada.htm. Acesso em: 28 fev. 2021.
445 BRASIL, 2002.
446 BRASIL. Decreto-Lei n. 3.689, de 3 de outubro de 1941. Código de Processo Penal. Dispo
nível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/l10406compilada.htm.
Acesso em: 28 fev. 2021.
356
Dessa forma, demonstrada a aceitação das provas colhidas em meio ele-
357
pelo envio da mensagem criminosa, e não a própria mensagem, o que já
TÉCNICAS AVANÇADAS DE INVESTIGAÇÃO
Ademais, ressaltou o STF que o paciente não teria direito ao sigilo dos
dados registrados na lan house, pois o computador pertencia ao proprie-
tário do estabelecimento, o qual poderia ter pleno acesso às informações
registradas pelo cliente bem como compartilhá-las com a autoridade
policial. Neste sentido, concluiu o Tribunal Superior que
[...] se o criminoso utiliza momentaneamente computador alheio, o acesso
pela autoridade policial ao conteúdo desse computador demanda o
assentimento do proprietário, e não do usuário temporário, não man-
tendo este qualquer expectativa de privacidade que não esteja ao alcance
da vontade do proprietário.448
447 BRASIL. Supremo Tribunal Federal (1. Turma). Habeas Corpus n. 103.425. Brasília, 26 de
junho de 2012. Disponível em: http://redir.stf.jus.br/paginadorpub/paginador.jsp?doc
TP=TP&docID=2541738. Acesso em: 28 fev. 2021.
448 BRASIL, 2012.
449 BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Recurso Especial n. 1.861.383 – Decisão Monocrática.
Brasília, 14 de agosto de 2020a. Disponível em: https://scon.stj.jus.br/SCON/Search
BRS?b=DTXT&livre=%28%221861383%22%29+E+%2216091+113650332%22.COD.&
thesaurus=&p=true. Acesso em: 28 fev. 2021.
358
postagens e até mesmo as curtidas e os comentários virtuais como ele-
450 BRASIL. Superior Tribunal de Justiça (5. Turma). Recurso Ordinário em Habeas Corpus n.
119.577/AL. Brasília, 4 de fevereiro de 2020c. Disponível em: https://scon.stj.jus.br/SCON/
GetInteiroTeorDoAcordao?num_registro=201903178007&dt_publicacao=10/02/2020.
Acesso em: 12 mar. 2021.
451 BRASIL. Superior Tribunal de Justiça (5. Turma). Habeas Corpus n. 628.870/PR. Brasília,
15 de dezembro de 2020b. Disponível em: https://scon.stj.jus.br/SCON/GetInteiro
TeorDoAcordao?num_registro=202003115236&dt_publicacao=18/12/2020. Acesso
em: 12 mar. 2021.
359
5 · CONSIDERAÇÕES FINAIS
TÉCNICAS AVANÇADAS DE INVESTIGAÇÃO
REFERÊNCIAS
BARRETO, Alesandro Gonçalves. Utilização de fontes abertas na investi-
gação policial. Direito & TI – Debates Contemporâneos, [s.l.], 13 nov. 2015.
Disponível em: www.direitoeti.com.br/artigos. Acesso em: 19 nov. 2020.
BBC. Como matemático inventou há mais de 150 anos a fórmula das buscas
no Google. G1, [s. l.], 2 nov. 2015. Disponível em: http://g1.globo.com/tecnolo
gia/noticia/2015/11/como-matematico-inventou-ha-mais-de-150-anos-a-
formula-das-buscas-no-google.html. Acesso em: 22 fev. 2021.
362
BRASIL. Supremo Tribunal Federal (1. Turma). Habeas Corpus n. 103.425.
RIBOLI, Eduardo Bolsoni. “Eu sei o que vocês fizeram no verão passado”:
o uso de software de espionagem como meio de obtenção de prova
penal. Revista Brasileira de Ciências Criminais, São Paulo, v. 156, 2019.
363
CAPÍTULO 12
QUEBRA DE SIGILOS BANCÁRIO E FISCAL
Marco Antônio Coutinho
1 · INTRODUÇÃO
Neste capítulo, é trabalhada toda a problemática envolvendo o sigilo
bancário e fiscal, tentando, de maneira clara e objetiva, demonstrar o
panorama jurídico que circunda o tema.
Inicialmente, será exposta a natureza jurídica dos sigilos bancário e fis-
cal, evidenciado pelo arcabouço normativo dedicado à sua proteção.
Em sequência, verificar-se-ão as hipóteses de seu afastamento (quebra),
bem como os requisitos necessários que devem ser observados para a
decretação da medida.
Serão, ainda, apresentadas questões de ordem prática que possam surgir
quando da requisição dos dados financeiros ou até mesmo quando de
sua análise pelos órgãos de persecução.
Assim, o leitor compreenderá todo o panorama jurídico existente envol-
vendo as possibilidades de afastamento do sigilo bancário e fiscal, com
suas respectivas hipóteses e requisitos. Também poderá entender como
melhor operacionalizar referida quebra, sempre a buscar a efetividade da
investigação, sem deixar de lado a observância dos direitos assegurados
às pessoas investigadas.
365
direitos, a Constituição Federal de 1988 estabeleceu, em seu art. 5º, inci-
TÉCNICAS AVANÇADAS DE INVESTIGAÇÃO
366
manifestação destes, em que pese alguma controvérsia inicial sobre a
458 SARLET, Ingo Wolfgang; MARINONI, Luiz Guilherme; MITIDIERO, Daniel. Curso de direito
constitucional. 4. ed. São Paulo: Saraiva, 2015. E-book. p. 461.
459 MENDES; BRANCO, 2019, p. 436.
460 ABRÃO, Nelson. Direito bancário. 14. ed. São Paulo: Saraiva, 2018. E-book. p. 60.
367
O dever legal de manutenção do sigilo bancário está previsto na Lei
TÉCNICAS AVANÇADAS DE INVESTIGAÇÃO
Complementar n. 105/2001, a qual prevê, em seu art. 1º, que “as institui-
ções financeiras conservarão sigilo em suas operações ativas e passivas
e serviços prestados”.461
Os dados bancários, de modo geral, estão em poder de instituições pri-
vadas, salvo os casos de instituições financeiras estatais (federais, esta-
duais e municipais), que, contudo, regem-se pelos princípios da iniciativa
privada (art. 173, § 1º). Desse modo, o dever de manutenção de sigilo
bancário é dirigido às instituições financeiras em geral e a seus funcioná-
rios. Já os dados fiscais encontram-se, em princípio, sob a guarda do fisco
federal, estadual e municipal, sendo o dever de sigilo dirigido a essas
entidades estatais e a seus agentes.462
O dever legal de salvaguardar o sigilo fiscal está previsto no art. 198 do
Código Tributário Nacional, que determina:
Art. 198. Sem prejuízo do disposto na legislação criminal, é vedada a
divulgação, por parte da Fazenda Pública ou de seus servidores, de infor-
mação obtida em razão do ofício sobre a situação econômica ou finan-
ceira do sujeito passivo ou de terceiros e sobre a natureza e o estado de
seus negócios ou atividades.463
461 BRASIL. Lei Complementar n. 105, de 10 de janeiro de 2001. Regulamenta o sigilo ban-
cário e dá outras providências. Brasília: Senado Federal, 2001a. Disponível em: http://
www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/lcp/lcp105.htm. Acesso em: 15 mar. 2021.
462 TAVARES, 2017, p. 551.
463 BRASIL. Lei n. 5.172, de 25 de outubro de 1966. Código Tributário Nacional. Brasília: Senado
Federal, 1966. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l5172compi
lado.htm. Acesso em: 15 mar. 2021.
464 BRASIL. Secretaria da Receita Federal do Brasil. Manual do Sigilo Fiscal da Secretaria
da Receita Federal do Brasil. Coordenação de Aylton Dutra Leal. Brasília: Secretaria da
Receita Federal do Brasil, 2011a. p. 14. Disponível em: https://www.conjur.com.br/dl/
manual-sigilo-fiscal-receita-federal.pdf. Acesso em: 25 nov. 2020.
368
Percebe-se, portanto, que os sigilos bancário e fiscal possuem matriz
[…]
369
Assim, como o sigilo bancário e fiscal encontra-se restrito ao predomínio
TÉCNICAS AVANÇADAS DE INVESTIGAÇÃO
468 LIMA, Renato Brasileiro de. Manual de processo penal – Volume único. 8. ed. Salvador:
JusPodivm, 2020. p. 860.
469 BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Resp n. 1.197.444/RJ. Relator: Min. Napoleão
Nunes Maia Filho, 27 de agosto de 2013. DJe, 5 set. 2013. Disponível em: https://
processo.stj.jus.br/processo/revista/documento/mediado/?componente=ATC&se
quencial=30552704&num_registro=201001073020&data=20130905&tipo=5&
formato=PDF. Acesso em: 14 jan. 2021.
470 BRASIL, 2001a.
370
os referentes a contas de depósitos e aplicações financeiras, quando
371
A hipótese legal impõe ao fisco que, após a constituição do débito tribu-
TÉCNICAS AVANÇADAS DE INVESTIGAÇÃO
tário, encaminhe representação fiscal para fins penais aos órgãos respon-
sáveis por inaugurar a ação penal.
O tema central da controvérsia que chegou ao Supremo girava em
torno da constitucionalidade de, com base no citado dispositivo legal,
haver o compartilhamento dos dados bancários, que o fisco obteve
diretamente, sem prévia autorização judicial, com o Ministério Público
para fins de representação penal.
Em recente julgamento no Recurso Extraordinário n. 1.055.941, o STF
fixou a tese de que é possível o
compartilhamento com o Ministério Público, para fins penais, dos
dados bancários e fiscais do contribuinte, obtidos pela Receita Federal
no legítimo exercício de seu dever de fiscalizar, sem autorização prévia
do Poder Judiciário.475
475 BRASIL. Supremo Tribunal Federal. RE n. 1.055.941/SP. Relator: Min. Dias Toffoli, 4 de
dezembro de 2019. DJe, 6 out. 2020a. Disponível em: https://jurisprudencia.stf.jus.br/
pages/search/sjur433179/false. Acesso em: 14 mar. 2021.
476 BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Súmula Vinculante n. 24. DJe, 11 dez. 2009. Dispo
nível em: http://www.stf.jus.br/portal/jurisprudencia/menuSumario.asp?sumula=1265.
Acesso em: 14 mar. 2021.
372
Decerto, para o STF, “o sigilo de informações necessárias para a preservação
477 BRASIL. Supremo Tribunal Federal. MS n. 33.340/DF. Relator: Min. Luiz Fux, 26 de maio
de 2015. DJe, 3 ago. 2015. Disponível em: https://jurisprudencia.stf.jus.br/pages/search/
sjur313576/false. Acesso em: 14 mar. 2021.
478 BRASIL, 2015.
479 BRASIL, 2015.
480 TAVARES, 2017, p. 551-552.
373
“acesso aos registros das operações bancárias realizadas por particulares
TÉCNICAS AVANÇADAS DE INVESTIGAÇÃO
481 BRASIL. Supremo Tribunal Federal. RHC n. 133.118/CE. Relator: Min. Dias Toffoli, 26 de
setembro de 2017. DJe, 9 mar. 2018. Disponível em: https://jurisprudencia.stf.jus.br/
pages/search/sjur381568/false. Acesso em: 14 mar. 2021.
482 BRASIL. Supremo Tribunal Federal. MS n. 21.729/DF. Relator: Min. Marco Aurélio, 5 de
outubro de 1995. DJ, 19 out. 2001b. Disponível em: https://jurisprudencia.stf.jus.br/
pages/search/sjur101299/false. Acesso em: 14 mar. 2021.
374
Deputados e pelo Senado Federal, em conjunto ou separadamente,
375
Art. 3º Serão prestadas pelo Banco Central do Brasil, pela Comissão
TÉCNICAS AVANÇADAS DE INVESTIGAÇÃO
376
do lapso temporal abrangido pela ordem de ruptura dos registros sigilo-
488 BRASIL. Supremo Tribunal Federal. MC no MS n. 25.812/DF. Relator: Min. Nelson Jobim,
27 de janeiro de 2006. DJ, 6 fev. 2006. Disponível em: https://jurisprudencia.stf.jus.br/
pages/search/despacho40214/false. Acesso em: 14 mar. 2021.
377
Ressalte-se, ainda, que o § 4º do art. 1º da Lei Complementar n. 105/2001
TÉCNICAS AVANÇADAS DE INVESTIGAÇÃO
I - de terrorismo;
378
Já a indicação da pertinência temática entre as informações a serem obtidas
379
Importante esclarecer que, por sua excepcionalidade, não pode ocorrer,
TÉCNICAS AVANÇADAS DE INVESTIGAÇÃO
por via de regra, a quebra em relação a terceiros que não integram a lide
ou não sejam investigados formalmente.
No entanto, havendo justificativa plausível e com base em elementos
concretos constantes dos autos, é possível o deferimento da medida em
face de terceiros, ainda que não investigados formalmente.
Exemplificando, seria possível a quebra do sigilo bancário e fiscal em rela-
ção a empresas de pessoa investigada por crime de corrupção, quando
concreta a possibilidade de utilização das contas dessas pessoas jurídicas
para a prática do delito. Ou até seria possível a extensão da medida em rela-
ção a pessoas que possuem estreita relação financeira e patrimonial com
a pessoa investigada (cotitular de conta conjunta), pelo mesmo motivo.
Em síntese, basta a demonstração de uma relação financeiro-patrimonial
prévia e singular da pessoa investigada com terceiros para justificar a exten-
são da diligência em relação a esses terceiros, mesmo que não integrem ou
sejam investigados formalmente na apuração.
Nesses casos, tanto o requerimento de quebra quanto a decisão que a
defere devem assinalar às instituições financeiras que o afastamento do
sigilo bancário deve abranger, também, contas, operações financeiras,
investimentos e outros serviços prestados pelas instituições financeiras/
bancárias, ainda que em nome de terceiros (fundos de investimentos,
outras pessoas físicas ou jurídicas), em que constem os investigados
apontados como representantes legais, contratuais, procuradores, res-
ponsáveis, curadores ou qualquer outra forma de representação.
Tal indicação é necessária tendo em vista que as instituições financeiras
interpretam a ordem judicial de maneira restritiva. Assim, se não constar
expressamente esse pedido na ordem de requisição bancária, mesmo
que o investigado possua poderes de movimentações em contas de
terceiros (por procuração, por exemplo), os dados não serão remetidos
pelas instituições financeiras, sob o argumento de que o efetivo titular da
conta não foi alvo da quebra bancária.
Importante destacar que tal hipótese não se confunde com pedido
genérico de quebra bancária, pois os dados remetidos pelas instituições
financeiras dizem respeito tão somente àqueles em que o investigado
possui poder de ingerência, o que por si só, concretamente, justifica a
análise dos dados bancários pelos órgãos de persecução.
380
O requerimento de quebra e a decisão que a determina devem especificar o
381
DE SUSPENSÃO DO EXERCÍCIO DA FUNÇÃO PÚBLICA (ART. 319, VI, CPP).
TÉCNICAS AVANÇADAS DE INVESTIGAÇÃO
[…]
[…]
493 BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. APN n. 951/DF. Relator: Min. Luis Felipe Salomão,
16 de setembro de 2020. DJe, 12 nov. 2020b. Disponível em: https://processo.stj.jus.br/
processo/revista/documento/mediado/?componente=ATC&sequencial=117231252
&num_registro=202000795552&data=20201112&tipo=5&formato=PDF. Acesso em:
14 mar. 2021.
382
cognição judicial da análise probatória ao marco factual existente e indi-
383
Atualmente, entre as ferramentas disponíveis para o processamento e a
TÉCNICAS AVANÇADAS DE INVESTIGAÇÃO
384
Recebida a ordem de quebra, o Banco Central consultará o Cadastro de
385
Esses dados fornecidos pelo Bacen permitem que o próprio sistema
TÉCNICAS AVANÇADAS DE INVESTIGAÇÃO
500 BRASIL. Banco Central do Brasil. Carta-Circular n. 3.454, de 14 de junho de 2010. Brasília:
Bacen, 2010. Disponível em: https://www.economia.go.gov.br/images/imagens_
migradas/upload/arquivos/2018-02/carta-circular-3454-2010---bcb1.pdf. Acesso em:
14 mar. 2021.
501 CONHEÇA…, 2020.
386
Todo o fluxo de comunicação e remessa de dados é criptografado, o que
388
requisitar os dados bancários e fiscais de investigados, desde que
REFERÊNCIAS
ABRÃO, Nelson. Direito bancário. 14. ed. São Paulo: Saraiva, 2018. E-book.
389
Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/lcp/lcp105.htm.
TÉCNICAS AVANÇADAS DE INVESTIGAÇÃO
BRASIL. Supremo Tribunal Federal. RHC n. 133.118/CE. Relator: Min. Dias Toffoli,
26 de setembro de 2017. DJe, 9 mar. 2018. Disponível em: https://jurisprudencia.
stf.jus.br/pages/search/sjur381568/false. Acesso em: 14 mar. 2021.
BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. APN n. 951/DF. Relator: Min. Luis Felipe
Salomão, 16 de setembro de 2020. DJe, 12 nov. 2020b. Disponível em: https://
processo.stj.jus.br/processo/revista/documento/mediado/?componen
te=ATC&sequencial=117231252&num_registro=202000795552&data=
20201112&tipo=5&formato=PDF. Acesso em: 14 mar. 2021.
TAVARES, André Ramos. Curso de direito constitucional. 15. ed. São Paulo:
Saraiva, 2017. E-book.
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Obra composta em Myriad Pro
e impressa em papel Pólen Soft 80 g/m² pela
Gráfica e Editora Qualytá Ltda. · Brasília-DF
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Tiragem: 900 exemplares
Recursos gráficos: freepik.com
2021 · BRASÍLIA-DF