BEVERNAGE Passeidade Do Passado

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revista de teoria da história 24|1 2021

ARTIGO

‘A PASSEIDADE
DO PASSADO’
reflexões sobre a política da
historicização e a crise da
passeidade historicista
BERBER BEVERNAGE
Universidade de Gante
Gante | Bélgica
berber.bevernage@ugent.be
orcid.org/0000-0002-3201-3119

É bem sabido que a noção de passeidade do passado é uma


ideia central que sustenta a visão de mundo historicista.
Recentemente, no entanto, a passeidade do passado se
tornou uma grande preocupação acadêmica e política.
Contra o pano de fundo de uma crescente atenção
transnacional por memória e injustiça histórica, muitos
comentadores notaram uma diluição da distinção entre
passado e presente e uma crise da passeidade historicista.
Embora eu certamente não concordo que nós podemos
simplesmente nos livrar inteiramente da noção de passeidade
do passado, eu defendo um repensar radical. Tal repensar
pode nos ajudar a nos reengajar criticamente com o
historicismo como uma prática que pode ser emancipatória
e também opressiva. Esse repensar pode também permitir
uma análise mais nuançada sobre alguns importantes
desafios políticos, incluindo aqueles relacionados à memória
e a assim chamada política retrospectiva. Na primeira parte
deste artigo, eu discuto como a noção historicista de
passeidade tem sido crescentemente posta em questão. Na
segunda parte do texto, apresento algumas reflexões sobre
como repensar criticamente a passeidade do passado.

passeidade – historicismo – temporalidade

Tradução do inglês de Walderez Simões Costa Ramalho


Revisão de Guilherme Bianchi Moreira

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revista de teoria da história 24|1 2021

ARTICLE

‘THE PASTNESS
OF THE PAST’
reflections on the politics of
historicization and the crisis of
historicist pastness
BERBER BEVERNAGE
Ghent University
Ghent | Belgium
berber.bevernage@ugent.be
orcid.org/0000-0002-3201-3119

It is well known that the notion of the pastness of the past is


a central idea underpinning the historicist worldview.
Recently, however, the pastness of the past has become a
major scholarly as well as political preoccupation. Against
the background of a growing transnational attention for
memory and historical injustice, many commentators have
noticed a blurring of the differentiation between past and
present and a crisis of historicist pastness. Although I
certainly do not argue that we can simply rid ourselves of the
entire notion of the pastness of the past, I do plead for a
radical rethinking. Such a rethinking can help us critically re-
engage with historicism as a practice that can be
emancipatory as well as oppressive. It can also enable a more
nuanced analysis of some important political challenges,
including those revolving around memory and so-called
retrospective politics. In the first part of the article, I discuss
how the historicist notion of pastness is increasingly being
challenged. In the second part of the paper, some reflections
are offered on how to critically rethink the pastness of the
past.

pastness – historicism – temporality

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Nem toda relação com o passado é histórica per se. Somente depois
que o passado é preenchido com uma qualidade definida de
passeidade – e sua passeidade relacionada ao presente por meio de
uma operação cognitiva especial da consciência histórica – nós
podemos falar de uma relação com o passado “especificamente
histórica” (Rüsen 1997, 119-120)

Os governantes coloniais tentaram pregar, para nós, que o passado


está morto. Mas nós nos preocupamos não com a passeidade do
passado, mas como a “passeidade do presente”, isto é, o passado
vivo [...]. A escrita da história é uma disciplina viva, não morta
(Sharma 2001, 34).

[...] A distinção entre o passado e o presente é duvidosa ao


extremo. Nunca ouvi falar de ninguém que tenha encontrado uma
linha entre o presente e o passado. (Fasolt 2004, 10).

INTRODUÇÃO
É bem sabido que a noção de passeidade do passado é uma ideia central
que sustenta a visão de mundo historicista.1 Essa ideia historicista da alteridade
ou da não-contemporaneidade do passado há muito parecia tão evidente que
dificilmente necessitava de qualquer explicação ou merecesse uma reflexão
teórica.
Recentemente, no entanto, a passeidade do passado se tornou uma
grande preocupação acadêmica e política. Contra o pano de fundo de uma
crescente atenção transnacional pela memória e pela injustiça histórica, muitos
comentadores notaram uma diluição da distinção entre passado e presente e uma
crise da passeidade historicista. De acordo com os comentadores mais
pessimistas, tal diluição ameaça o próprio sentido de um presente coletivamente
compartilhado ou o “Nós” contemporâneo e, por conseguinte, também a
capacidade de ação coletiva (progressista). Muitos, portanto, parecem
nostálgicos de uma noção mais clara sobre a passeidade historicista e apoiam sua
restauração. Eu proponho outra visão. Embora eu certamente não concorde que
podemos simplesmente nos livrar inteiramente da noção de passeidade do
passado, defendo um repensar radical. Tal repensar pode nos ajudar a nos
reengajar criticamente com o historicismo2 como uma prática que pode ser
emancipatória e também opressiva. Esse repensar pode também permitir uma
análise mais nuançada sobre alguns desafios políticos importantes, incluindo
aqueles relacionados à memória e a assim chamada política retrospectiva.3

1 Eu gostaria de agradecer a Andrey Oleynikov, Walderez Ramalho, Kate Temoney and

Marie-Gabrielle Verbergt por seus perspicazes comentários e feedbacks.


2 O termo “historicismo” é notoriamente complexo e polissêmico. Neste artigo, foco na

interpretação do termo proposta por Karl Mannheim. Mannheim descreveu o historicismo


como uma visão de mundo (Weltanschauung), que compreende o mundo todo como um produto
da mudança histórica e nega a existência de quaisquer realidades trans-temporais. Assim, o
historicismo não deve ser confundido com a historiografia em geral. Como Mannheim afirma:
“Desde Heródoto, a história tem sido registrada de múltiplas formas; como uma simples crônica
de fatos, como lenda, como um objeto edificante de meditação, como um livro espiritual e
ilustrativo, como retórica, como uma obra de arte. Nós temos historicismo apenas quando a
história em si é escrita desde a visão de mundo historicista” (Mannheim 1952, 85).
3 Sobre a cronosofia que sustenta a política retrospectiva dominante, ver: Bevernage (2015).

[N.T.: ver também a versão em português: Bevernage (2020)]

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Na primeira parte deste artigo, discuto como a noção historicista de


passeidade tem sido crescentemente posta em questão. Embora as críticas ao
historicismo e sua correspondente noção de passeidade tenha uma história longa
e complexa, este artigo focaliza apenas na onda mais recente de críticas e
desafios. A crise recente da passeidade historicista, eu argumento, relaciona-se
especificamente com a ideia de alteridade do passado (sua diferença para com o
presente) e de sua não-contemporaneidade (o seu não-pertencer-ao-nosso-
tempo).
Na segunda parte do texto, apresento algumas reflexões sobre como
repensar criticamente a passeidade do passado. Argumento primeiramente que
definir a passeidade do passado não pode jamais ser assunto de uma mera
observação, e que o passado não pode nunca ser empiricamente determinado
em sua inteireza. O problema com a passeidade do passado é que ela depende
de uma noção altamente problemática da presença do presente, ou o que
filósofos como Jacques Rancière e Peter Osborne se referem como a ficção do
“estado de coisas” (Rancière 2013) ou “a ficção do contemporâneo” (Osborne
2013a). Afirmar que a passeidade do passado é dependente de uma ficção não
implica que ela seja completamente imaginária ou arbitrária. Em vez disso,
argumento que a passeidade do passado sempre permanece empiricamente
subdeterminada e que o sentido de passeidade do passado é parcialmente
construído com base em um quadro interpretativo que é geográfica e sócio-
culturalmente localizado (em vez de universal), que inclui elementos
especulativos e que possui um forte componente ideológico.

A CRISE DA PASSEIDADE
Tornou-se comum entre historiadores, teóricos culturais e outros
estudiosos apontar que as relações com o tempo e a temporalidade ou os
“regimes de historicidade” (Hartog 2003) estão se transformando. Esses
comentadores observam com frequência mudanças radicais nas relações com o
passado culturalmente dominantes. Muitos observadores têm notado como o
passado alcançou uma forte presença em um amplo conjunto de esferas
societárias, abrangendo desde a política (internacional), o sistema de justiça, a
mídia de massa, a indústria do entretenimento e as artes.4 Segundo alguns desses
autores, o passado se tornou tão onipresente que ele ameaça de forma
fundamental a consciência histórica moderna e a própria noção historicista de
passeidade.
Já no início da década de 1990, Fredric Jameson afirmou que a “lógica
cultural” subjacente às sociedades pós-modernas produziu uma “crise na
historicidade”, pois o presente foi crescentemente “colonizado” pela nostalgia e
porque a história “real” foi sendo deslocada por meros efeitos estéticos de
“passeidade” e de “profundidade pseudo-histórica”, resultando em uma
experiência temporal altamente fragmentada e uma perda da capacidade do

4 Muito tem sido escrito, por exemplo, sobre o foco crescente do passado na esfera da política

nacional e internacional – seja na forma de uma crescente atenção por injustiças históricas,
desculpas históricas, ou políticas de reparação. Ver por exemplo: Torpey (2004); Gibney (2008);
Neumann e Thompson 2015. Outros autores escreveram sobre o apetite crescente por
patrimônio, “projetos-retrô” e a “musealização” generalizada da sociedade. Ver por exemplo:
De Groot 2008; Reynolds 2012; Lowenthal 1998. O crescente foco na passeidade também tem
sido observada nas instituições de arte que eram anteriormente consideradas como simbolizando
o “contemporâneo”. Ver por exemplo: Staff (2018); Ross (2012); Nield (2014).

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sujeito pós-moderno “em organizar seu passado e seu futuro em uma


experiência coerente” (Jameson 1992, 25).5 De forma similar, Andreas Huyssen
argumentou que embora até recentemente o discurso histórico ainda fosse capaz
de “garantir a estabilidade relativa do passado em sua passeidade”, mudanças na
mídia de massa, no conhecimento histórico, e “uma cultura museal cada vez mais
voraz” causaram um enfraquecimento das “fronteiras temporais” e tornaram o
passado “parte do presente de formas simplesmente inimagináveis em séculos
anteriores” (Huyssen 2003, 1). Hans Ulrich Gumbrecht também argumenta que
as mudanças nas percepções sociais de tempo e as evoluções tecnológicas que
permitem uma “preservação da memória” aparentemente ilimitada tornaram
“cada vez mais difícil para nós deixarmos qualquer passado ‘para trás’”
(Gumbrecht 2014, 22) fazendo “os passados confluírem para o nosso presente”
(Gumbrecht 2014, xiii). Observando mudanças igualmente radicais nas
concepções sociais de futuro – que, de acordo com Gumbrecht, está perdendo
seu caráter anterior, como um “horizonte aberto de possibilidades”, e cada vez
mais “parece se aproximar como uma ameaça” (Gumbrecht 2014, xiii) –
Gumbrecht postula a existência de um tipo de temporalidade “pós-historicista”
radicalmente nova, que denomina de “presente amplo”. Esse presente amplo,
segundo o autor, tornou “obsoleto” o cronótopo anterior associado ao
pensamento histórico. Embora as noções de tempo histórico sejam ainda
frequentemente referidas na conversação cotidiana, Gumbrecht afirma que nós
“não vivemos mais no tempo histórico” no sentido de que este último “não
oferece mais as bases para as formas como nós agimos ou adquirimos
experiências” (Gumbrecht 2014, xiii).
Apesar das diferenças óbvias entre os autores mencionados, todos eles
diagnosticam uma crise na passeidade em um duplo sentido: eles observam uma
crise devido a uma alegada obsessão sociocultural pelo passado e, paralelamente,
observam uma crise na própria consciência histórica relacionada ao
reconhecimento da passeidade do passado. Os críticos da crise da passeidade
historicista geralmente não são anti-historicistas e não defendem o seu
esquecimento, mas, ao contrário, parecem por vezes nostálgicos de uma
consciência histórica própria na qual o passado e o presente ainda estavam
seguramente separados. O problema, para esses críticos, parece ser então a
forma como esse passado não está mais apresentando suficiente passeidade ou
um tipo errado de passeidade.
A crise da passeidade historicista tem provocado muitas avaliações
críticas e por vezes bastante alarmistas. Com frequência, historiadores concebem
a negação da passeidade do passado como uma falha epistêmica e ética com
relação ao passado em si, ou mais precisamente, como uma falha em reconhecer
a alteridade das sociedades e povos do passado. No entanto, muitos
comentadores têm concebido a crise da passeidade historicista primariamente
como uma ameaça ao presente e ao futuro. Para alguns autores, a crise da
passeidade historicista impacta negativamente na capacidade para a ação política
(progressista) e ameaça até mesmo o próprio sentido de um “Nós
contemporâneo” ou “o nosso tempo” enquanto um presente coletivamente
compartilhado. De acordo com Gumbrecht, por exemplo, o colapso do que ele
chama de “cronótopo historicista” não apenas tornou cada vez mais difícil dizer
o que é e o que não é do “nosso tempo” (por exemplo, em termos de arquitetura,
arte ou estilos literários), como também afeta profundamente nossa capacidade
de agir no presente visando um futuro melhor. Foi precisamente a “consciência

5 Note que o próprio Jameson inclui os termos “real” e “passeidade” entre aspas.

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histórica” que permitiu ao sujeito moderno “alinhar as experiências do passado


com as condições do presente e do futuro e selecionar, dentre as possibilidades
proporcionadas pelo futuro, projetos de transformação do mundo sempre
novos” (Gumbrecht 2014, 31). Com a perda da consciência histórica, uma
importante fonte de energia política e intelectual teria se esgotado, de acordo
com Gumbrecht – um fato que o autor relaciona com fenômenos tão diversos
como a crise das humanidades e a estagnação do socialismo de Estado.
Gumbrecht pode ser excessivamente alarmista, mas muito de suas
análises sobre os efeitos políticos da crescente presença do passado parece ser
compartilhada por muitos outros pensadores. Autores como John Torpey,
Charles Maier ou Pieter Lagrou com frequência relacionam de forma direta um
alegado “excesso de memória” (Maier 1993) ou “passeísmo” (Lagrou 2013, 117)
na cultura contemporânea a uma “falta de projetos de futuro” (Lagrou 2013,
117) e “expectativas políticas rebaixadas” (Torpey 2006, 5). Os filósofos Jean-
Luc Nancy e Marcia Sá Cavalcante Schuback argumentam que o problema da
“substituição epistemológica da história pela memória” e o destaque cada vez
maior nos “passado[s] que não passam” e “fins que não acabam” não é apenas
que tais processos ameaçam nosso senso de futuro, mas também o próprio senso
do “hoje” – “do nosso hoje, do em-comum de um hoje” (Nancy; Schuback 2016,
823-826).6 Essa ideia se relaciona intimamente com muitas críticas similares que
relacionam os “passados presentes” a uma “sobrevalorização das afiliações”7 e a
uma política de identidades problemática em que a lealdade para com os
ancestrais é vista como uma ameaça à coesão social do presente ou à
solidariedade entre os contemporâneos.
Porém, nem todas as avalições sobre a crise da passeidade historicista
são negativas. Embora poucos autores estejam dispostos a desistir da ideia de
passeidade, muitos têm criticado a separação demasiadamente estrita entre
passado e presente, ou têm identificado um grande potencial político e
intelectual em se repensar criticamente a ideia de passeidade do passado. As
críticas da passeidade historicista atuam em pelo menos três níveis: ontológico,
epistêmico/hermenêutico e ético-político. A separação ontológica entre passado
e presente foi fortemente criticada, por exemplo, por Jacques Derrida ao longo
de sua obra. Em seus últimos trabalhos – mais notavelmente em Espectros de Marx
(1994) – Derrida argumentou que o reconhecimento da espectralidade do
passado (o fato de o passado assombrar o presente) é a condição para um sentido
inclusivo de justiça. Parcialmente inspirado por Derrida, Dipesh Chakrabarty
propôs uma crítica similar e sofisticada da passeidade historicista. Para levar a
sério o potencial crítico dos povos e ideias do passado, argumenta Chakrabarty,
nós não deveríamos tratá-los meramente como “significante(s) de outros tempos
e sociedades” (Chakrabarty 1998, 24), mas dotá-los de uma certa
contemporaneidade e vê-los em parte como nossos contemporâneos. Refletindo
sobre os assim chamados passados subalternos, Chakrabarty reivindica uma
abordagem que vê esses passados como representando “modos [específicos] de
ser neste mundo”, e levanta a questão de saber se esses modos de ser oferecem
“uma possibilidade para nossas próprias vidas e para o que definimos como

6 Tais preocupações sobre a recente perda de um hoje compartilhado ou um presente comum

é tema recorrente entre muitos acadêmicos e intelectuais de diferentes formações. O historiador


alemão Charles Meier, por exemplo, argumenta que “tornou-se hoje uma questão em aberto
saber se ainda existe algo que podemos chamar de ‘o presente’ – um único ‘presente’”. Segundo
Meier, devido ao ritmo crescente da mudança histórica e o aumento da fragmentação social,
“uma consciência sólida do ‘presente’ dificilmente pode emergir novamente” (Meier 2005, 22).
7 Sobre a expressão “survalorisation des filiations”, ver: Noudelmann (2010, 63).

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nosso presente?” (Chakrabarty 1998, 24). Em vez de reforçar a ideia da alteridade


exótica do passado, o estudo crítico dos passados subalternos deve nos fazer
refletir sobre as “heterogeneidades, as formas plurais de ser, que conformam o
nosso próprio presente” e nos ajudam a enxergar “a natureza disjuntiva dos
nossos tempos” (Chakrabarty 1998, 24). Ao recusar tratar os outros históricos
como meros significantes da passeidade, Chakrabarty tenta mostrar os limites da
historicização e rejeita explicitamente a famosa injunção “sempre historicizar”
de Jameson. Entretanto, a crítica de Chakrabarty não deve ser vista como uma
rejeição indiscriminada de todas as formas de historicização. Em vez disso, o
autor argumenta que a teoria crítica e a prática de historicização devem partir de
uma análise aprofundada da complexa natureza ontológica do “agora” e o
reconhecimento da não-contemporaneidade do presente a si. Como Chakrabarty
argumenta:

É porque nós sempre já temos experiência daquilo que faz o presente não-
contemporâneo a si que nós podemos de fato historicizar. Assim, o que
permite os historiadores medievalistas a historicizar o medieval ou o
antigo é o próprio fato de esses mundos não serem nunca completamente
perdidos. É porque vivemos em nós temporais que podemos, por assim
dizer, empreender o exercício de desatar algumas partes do nó, por assim
dizer [...]. (Chakrabarty 1998, 24).

Chakrabarty certamente não está sozinho na defesa por uma abordagem


mais crítica à historicização que reconhece seus próprios limites e que reflete
criticamente sobre a ideia da passeidade do passado (ou a presença do presente),
em vez de considerá-la como um dado. Nós observamos, por exemplo, defesas
similares em reflexões nas artes e literatura (ver por exemplo Dunn; Haddox
2012; Fleissner 2013), nos estudos sobre religião (Ver por exemplo: Wolfart
2009; Yerushalmi 2002; Neusner 1997), e no emergente campo da etnografia da
historicidade (Stephan Palmié, 2013a e 2013b; Hirsh; Stewart 2005; Palmié;
Stewart 2019; Lambek 1998; Suzman 2004).
Uma das críticas da passeidade historicista mais difundidas pode ser
encontrada no contexto das discussões e ativismos em torno dos legados da
escravidão e da discriminação racial nos EUA. Em um ensaio intitulado Quando
é o tempo da escravidão, Ariela Gross, por exemplo, argumenta que as histórias
tradicionais da escravidão nos Estados Unidos muitas vezes falham em produzir
debates críticos sobre injustiças raciais contemporâneas porque tendem a tratar
a escravidão como “seguramente enterrada no passado profundo” e isolá-la das
diferentes manifestações de injustiça racial que fluem da escravidão –
“minimizando as conexões entre o tempo da escravidão e o agora” (Gross 2008,
p. 283 e 288). Como Gross explica, argumentos por reparação ou justiça
corretiva, em contraste, dependem fortemente do estabelecimento de conexões
entre “os danos da escravidão e os danos atuais” ou, mais geralmente, do
destaque às continuidades entre passado e presente (Gross 2008, 306). É contra
esse pano de fundo de uma rejeição da noção de passeidade do passado que nós
devemos entender expressões que descrevem o encarceramento em massa nos
EUA como “as novas leis Jim Crow” (Alexander 2012) ou argumentar que “as
leis Jim Crow nunca morreram” (ver, por exemplo: Pitts Jr. 2012; Traister 2015).
Kenan Van De Mieroop argumentou de forma semelhante que os debates sobre
reparações pela escravidão (nos EUA e na França) não se referem
principalmente aos relatos factuais da história da escravidão, mas antes às visões

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conflitantes sobre a natureza do “presente histórico” e o lugar dos legados da


escravidão nesse presente (Van De Mieroop 2016).8
Na mesma linha, Stephan Palmié argumenta que o ceticismo ou mesmo
a hostilidade aberta de muitos Afro-Americanos contra a historiografia
acadêmica gira principalmente em torno de “formas antagônicas de imaginação
histórica” que não concebem o passado como um país estrangeiro mas, antes,
vê o passado como “um problema doméstico do aqui e agora” (Palmié 2010,
374). O não-reconhecimento da passeidade do passado por essa imaginação
histórica opositiva, de acordo com Palmié, não deve ser rejeitada como um ato
irracional. O autor destaca, em vez disso, que a clássica noção historicista de “um
passado fixo e objetivo cuja separação ontológica e epistemológica do presente
deve ser mantida para que ‘o passado’ seja contaminado por ‘preocupações
presentistas” é em si altamente ideológica e “logicamente instável” (Palmié 2010,
370).
A noção historicista de passeidade provoca, portanto, avaliações
fortemente conflitantes. Para alguns, ela é a condição para uma política
emancipatória ou progressista. Para outros, em contraste, ela é precisamente o
que deve ser criticado para tornar possível uma política justa e verdadeiramente
transformadora. De forma similar, a negação da passeidade do passado é vista
por alguns como uma ameaça à nossa compreensão da particularidade do
presente, enquanto outros veem o repensar crítico da passeidade como uma
condição para um entendimento mais sofisticado do presente.
Eu compartilho da última posição e acredito que em vez de meramente
reforçar a ideia da alteridade do passado, o pensamento histórico crítico deve
refletir sobre as “heterogeneidades [...] que conformam o nosso próprio
presente” ou “a natureza disjuntiva dos nossos tempos” (Chakrabarty 1998, 24).

A PASSEIDADE DO PASSADO: O QUE PARECE SER O PROBLEMA?


É um grande enigma que pouquíssimos pensadores tenham se
preocupado em refletir sobre a noção de passeidade do passado. Com
frequência, essa noção é tomada de maneira gratuita, ou como uma realidade sui
generis que pode ser empiricamente observada. Nesta parte do artigo, quero
argumentar contra essa ideia. Argumento que a passeidade do passado deve ser
diferenciada de uma simples “antecedência” cronológica e ser tratada como um
conceito relacional dependente de uma noção específica de presente que é em si
mesma problemática e não pode jamais ser simplesmente observada ou
empiricamente subdeterminada, na melhor das hipóteses.

Passeidade e cronologia

Embora seja claramente relacionada ao raciocínio cronológico, a noção


historicista de passeidade não se confunde com a simples antecedência
cronológica ou à prioridade no tempo cronológico. Como Zachary Schiffman
argumenta, o passado historicista não é simplesmente um tempo anterior ao
presente, mas um tempo fundamentalmente diferente do presente (Schiffman
2011). A passeidade historicista que está em crise e que temos analisado aqui de
fato se refere a uma certa alteridade ou a uma não-contemporaneidade do
passado. Esse sentido de passeidade do passado está relacionado à

8 Van De Mieroop toma de empréstimo o conceito de “presente histórico” de Paul Ricoeur.

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transformação do que é cronologicamente anterior ou antigo para o


“desatualizado”, “antiquado” ou “obsoleto”.9 Enquanto tal, a passeidade do
passado jamais pode ser determinada pelo mero apontamento de sua
antecedência cronológica. Tem sido repetidamente argumentado que os sentidos
historicistas de passeidade não resultam simplesmente da mera passagem dos
anos do calendário: “passados” que são cronologicamente “mais próximos” do
presente podem, às vezes, serem dotados de uma passeidade maior que outros
“passados” que são cronologicamente “mais distantes” do presente. Como
Henri Rousso explica: “Se observarmos a importância recente das
comemorações na Europa, a Primeira Guerra Mundial parece mais próxima do
nosso próprio tempo do que era há 30 anos atrás [...]. Portanto, um evento
remoto poderia ser visto como mais ‘contemporâneo’ do que outro mais
recente” (Rousso 2017, 22). Ou como Constantin Fasolt argumenta: “[...] o
presente [não] simplesmente envelhece ou desaparece no passado de maneira
uniforme. O tique-taque do relógio não mede nem a velocidade, nem a
intensidade com a qual o presente se desvanece no passado. Cristo é muito mais
jovem do que o Grande Inquisidor, e Stálin é mais velho do que Karl Marx”
(Fasolt 2004, 16). A diferença entre a passeidade historicista e o tempo
cronológico é expressa de forma mais eloquente por Thomas Mann, quando o
escritor comenta de forma espirituosa sobre a “passeidade exagerada” da
narrativa de A Montanha Mágica ao perguntar retoricamente se “a passeidade do
passado [não seria] mais profunda, completa e maravilhosa quanto mais
imediatamente antes do presente ele recair?” (Mann 1999, 1).
Ao destacar a diferença entre o raciocínio cronológico e a noção
historicista de passeidade, obviamente eu não pretendo sugerir que ambos não
estejam relacionados. Os historiadores, por exemplo, muitas vezes confiaram no
raciocínio cronológico para postular a passeidade do passado, ou para garantir
um “álibi”10, de forma que não precisem abordar a questão das fronteiras entre
passado e presente ou refletir sobre a “temporalidade marginal” da história
contemporânea.11 Como já argumentei em trabalhos anteriores, o sentido
cronológico de pertencimento ao passado tem sido frequentemente usado para
implicar a passeidade substantiva dos fenômenos (no sentido de sua
obsolescência ou superação) (Bevernage 2012). Em outras palavras, a
databilidade [datability] cronológica dos eventos históricos – o fato dos eventos
poderem ser posicionados em um sistema cronológico – muitas vezes tem sido
usada para postular a sua datação [datedness] – a ideia de que a data cronológica
de um evento determina de forma fundamental o seu sentido e sua (ir)relevância
com relação ao presente. Jeffrey Insko está correto quando observa que “a
insistência historicista na diferença histórica” é em parte sustentada por um
destaque na “cronologia numérica” e por uma abordagem matemática sobre a
realidade histórica (Insko 2012, 107).12 Ao enxergar a realidade histórica pelas
lentes de um sistema cronológico numericamente organizado segundo o qual os
eventos, ações, textos ou contextos históricos inteiros estão anexados a anos,
dias e horas específicos, o historicismo tende a cortar o tempo em “fatias
numeradas” que funcionam como envelopes metafóricos que contém
fragmentos de história.13 Como Insko explica:

9 Sobre a noção de obsoleto, ver: Tischleder; Wasserman (2015).


10 Sobre o tempo como álibi, ver De Certeau (2010, 216).
11 Sobre o contemporâneo como uma “temporalidade marginal”, ver Apter (2017, 38).
12 Insko toma de empréstimo a noção de “cronologia numérica” de Wai Chee Dimock.
13 Para uma crítica perspicaz a essa ideia de tempo como um “envelope”, ver Ermarth (2010).

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Esse sistema [de fatiar matematicamente o tempo] fornece aos


historicistas uma maneira de pôr entre parêntesis certos tipos de conexão
– relações de semelhança ao longo dos períodos de tempo – para discernir
(ou estabelecer) a diferença, a singularidade de momentos históricos
particulares, os segmentos específicos de tempo. Esse sistema também
ajuda a estabelecer semelhanças ao permitir que conexões sejam feitas
entre práticas sociais díspares ocorridas em um mesmo momento no
tempo. Esse procedimento “funciona” porque se baseia na aparente
naturalidade do tempo cronológico linear (Insko 2012, 107-108).

No entanto, como ele pergunta de forma retórica:

Mas e se abordássemos a história com a suposição de que medir o tempo


em períodos sucessivos (meses, anos, eras) é apenas uma conveniência
conceitual, apenas uma entre muitas outras ferramentas possíveis que
podemos usar para compreender e explicar a diferença? E se for o caso de
o historicismo não honrar ou atender de forma desinteressada a alteridade
do passado, mas, por meio de seu discurso sobre a temporalidade,
produzir essa mesma alteridade? Que tipo de compreensão sobre a história
e a historicidade de textos literários se seguiria da visão que afirma: o
passado não é o “outro” porque o tempo está dividido em períodos; os
historicistas dividem o tempo em períodos para estabelecer a alteridade do
passado? (Insko 2012, 108).

De fato, poder-se-ia argumentar que é precisamente essa abordagem


matemática da realidade histórica e a relação intuitiva entre o antes cronológico
e o “passado” substantivo, ou entre a databilidade e a datação, que está sendo
posta em questão na crise atual da passeidade historicista.

A passeidade do passado e a presença do presente

A passeidade logicamente só faz sentido em relação a algum presente. A


passeidade é um conceito relacional que não pode existir sui generis e, assim,
nunca é simplesmente “pertence ao passado”. Como Michel-Rolph Trouillot
afirma:

[...] O passado não existe de forma independente do presente. De fato, o


passado somente é passado porque existe um presente, tal como eu posso
apontar para coisas ali somente porque eu estou aqui. Mas nada está
inerentemente ali ou aqui. Nesse sentido, o passado não tem conteúdo. O
passado – ou, mais precisamente, a passeidade – é uma posição. Assim, de
nenhum modo nós podemos identificar o passado como passado. (1997, 15).

No entanto, dizer que a passeidade do passado só pode existir em relação


a um presente é ainda muito vago. A ideia de passeidade do passado que estamos
analisando aqui está relacionada a uma concepção específica de presente.
Claramente a passeidade do passado não se refere à alteridade ou diferença entre
cada aspecto separado do passado com relação a tudo que existe atualmente no
presente (cronológico). Em vez disso, ela está relacionada a uma certa concepção
de presente como um “contexto histórico” ou “um tempo” coerentes. A
passeidade do passado – no sentido de sua alteridade ou não-contemporaneidade
– é dependente da ideia de uma certa mesmidade ou contemporaneidade do
presente (histórico). Em outras palavras, a passeidade do passado depende da
ideia da existência de um presente histórico contemporâneo a si mesmo.

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revista de teoria da história 24|1 2021

A ideia de contemporaneidade do presente é uma forte pressuposição


entre historiadores e outros acadêmicos. Como comenta Helge Jordheim, a
disciplina da história tem tradicionalmente investido fortemente na noção de
singularidade do tempo (Jordheim 2014). Wolf Schäfer chega a argumentar que
o objetivo primordial da história global deve ser o de demonstrar a
contemporaneidade do presente e de dissipar a “ideologia da não-
contemporaneidade” ou “a alegação de que nem todos os contemporâneos são
contemporâneos” (Schäfer 2004, 109). No entanto, outros autores (incluindo eu
mesmo) têm disputado essa última afirmação, argumentando que a noção do
“contemporâneo” é em si mesma ideológica, porque ela não leva em
consideração a heterogeneidade (histórica) que caracteriza o presente
cronológico (Bevernage 2016). Um número crescente de acadêmicos têm
mostrado um interesse cada vez maior na heterogeneidade temporal e têm
teorizado sobre esse problema de formas sofisticadas (ver, por exemplo:
Jordheim 2012; Helgesson 2014; Thomas 2017; Harootunian 2013 e 2007). De
forma similar, tem havido recentemente um crescimento das análises críticas
sobre a noção de contemporaneidade (ver, por exemplo: Ruffel 2010;
Valderrama 2011; Agamben 2009; Brozgal; Kippur 2017; Cox; Lund 2016; Erber
2013; Hyde; Wasserman 2017; Lucas 2015; Luckhurst; Marks 2014; Martin 2017;
Smith 2006).14 Ambas as vertentes da literatura apontam para a complexidade da
natureza do presente.15 Jacques Rancière, por exemplo, argumenta que muitos
discursos sobre o “tempo em que vivemos” ou referências sobre “o nosso
tempo” – mesmo as que tentam formular uma crítica radical – partem de uma
ideia altamente problemática e ideológica de um “presente absoluto” no qual
“tudo prossegue no mesmo ritmo acelerado” e que “pressupõem uma identidade
comum imediata entre o tempo global e o tempo dos indivíduos” (Rancière
2013).
De maneira similar, o filósofo britânico Peter Osborne defende um
repensar crítico da noção de auto-contemporaneidade do presente ou “o
contemporâneo” (Osborne 2013a e 2013b). Embora Osborne não defenda que
a noção do contemporâneo deva ser rejeitada como irreal, ele argumenta que ela
é altamente problemática em muitos níveis. Em um nível teórico, a noção de “o
contemporâneo” é problemática porque ela está além de toda experiência
possível. O contemporâneo é produto de um raciocínio hipotético ou uma
pressuposição e pode ser chamado, na terminologia de Kant, como uma “ficção
heurística”. Em um nível mais fundamental, Osborne argumenta, a noção do
contemporâneo enquanto unidade autocontida do presente vivo é problemática
por razões que já foram explicadas por Heidegger. Como Heidegger argumenta,
o presente vivo não pode jamais existir por si mesmo, mas apenas “ex-iste”
como uma conjunção fraturada do passado e do futuro. Porque o
contemporâneo projeta “na presença” uma unidade temporal que é na verdade
essencialmente “futura”, Osborne chama esse conceito de “estruturalmente
antecipatório” ou historicamente “especulativo” (Osborne 2013a, 23).

14 Para uma reflexão fenomenológica muito interessante sobre o contemporâneo como um


mundo social e as relações sociais entre os “contemporâneos”, ver: Schutz (1967).
15 Henri Rousso está certo, no entanto, quando observa que “ao contrário do que se nota

entre críticos literários, historiadores da arte e filósofos, a questão da contemporaneidade não


atraiu ainda a maioria dos historiadores” (Rousso 2017, 16).

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revista de teoria da história 24|1 2021

O conceito de contemporaneidade histórica é também empiricamente


problemático. Apesar da crescente interconectividade criada pela globalização e
o capitalismo transnacional, a existência contínua da disjunção social torna a
noção de um presente histórico existencialmente unificado uma ideia utópica.
Como Osborne argumenta: “Não há nenhuma posição de sujeito realmente
compartilhado de, ou dentro de, nosso presente do ponto de vista de que sua
totalidade relacional poderia ser vivida como um todo, seja em qualquer forma
epistemologicamente problemática ou existencialmente fragmentada” (Osborne
2013a, 23).
Finalmente, o contemporâneo é problemático em um nível geopolítico
porque ele coloca a questão sobre a unidade e disjunção do espaço social
(Osborne 2013a, 25). O que se considera como contemporâneo – e como se lhe
periodiza – diferirá consideravelmente a depender da posição geopolítica de cada
um. Como Osborne coloca ao citar Dipesh Chakrabarty: a dimensão geopolítica
coloca a questão: “onde é o agora?” (Osborne 2013b, 82).
Por todas essas razões, Osborne fala sobre “a ficção do
contemporâneo”. Entretanto, ao chamar o contemporâneo de ficcional,
Osborne não quer dizer que ele seja irreal. Em vez disso, ele quer dizer que o
contemporâneo resulta em parte de uma “imaginação produtiva” que é muito
real porque funciona como uma projeção performativa que “torna presente” ou
que “atualiza socialmente” uma conjunção total e na verdade inexistente de
tempos vividos. Em um nível epistemológico, o contemporâneo deve, portanto,
ser situado entre o modo narrativo ficcional e o modo narrativo histórico.

REPENSAR A PASSEIDADE DO PASSADO:


ALGUMAS IDEIAS PRELIMINARES

Assim como a noção do contemporâneo é ficcional, mas não irreal, a


passeidade do passado não deve ser considerada irreal porque ela é parcialmente
performativa ou construída socialmente.16 Confundir o que é empiricamente
indeterminado com o arbitrário ou “simplesmente inventado” implicaria uma
séria subestimação da existência real dos sentidos culturais e sociais de
passeidade e seus efeitos (políticos ou outros). Contudo, penso que uma reflexão
crítica sobre o caráter relacional da passeidade do passado nos força a quebrar
com a sua axiomática sui generis ou imaginação “objetivada”, bem como assumir
outra perspectiva sobre essa questão. Eu não tenho espaço para desenvolver
minhas ideias em detalhes aqui, mas gostaria de fazer algumas proposições para
avançar a discussão.
Em primeiro lugar, precisamos reconhecer que as afirmações sobre a
passeidade do passado são sempre dependentes de um lugar geográfico, social
ou existencial específico a partir da qual são feitas. Afirmações sobre a
passeidade do passado são problemáticas pois assumem uma aparência
universalizante. Elas disfarçam o fato de que são sempre baseadas em
interpretações localizadas e incompletas das diferenças entre certos aspectos do
passado (cronológico) e certos aspectos do presente que são epistemicamente
privilegiados ou extrapolados e passam a ser representados como “o presente”
ou “o passado”. No entanto, os fenômenos associados com a passeidade por
membros de determinadas classes ou grupos culturais em uma dada região do

16 Para uma reflexão mais elaborada sobre a dimensão performativa da ruptura historicista

das dimensões temporais passado, presente e futuro, ver: Bevernage (2010).

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mundo podem muito bem ser experimentadas como contemporâneas por outras
pessoas. A ascrição da passeidade, portanto, sempre pode ser contestada e
sempre envolve diferenças de poder. Michel de Certeau já havia entendido isso
quando argumentou que:

No interior de uma realidade social estratificada, a historiografia definida


como “passado” (isto é, como um conjunto de alteridades e de
“resistências” a ser compreendido ou rejeitado) não pertence de qualquer
forma ao poder de produzir o presente, seja o poder político, social ou
científico. (De Certeau 2010, 216)

Embora de Certeau escrevia sobre a historiografia, não se deve


superestimar o papel dos historiadores quando estes estudam a produção de
noções de passeidade. Em vez disso, uma análise profunda do sentido de
passeidade do passado como um fenômeno sociocultural deve olhar para um
conjunto muito mais amplo e complexo de processos que envolvem “o trabalho
de mil mãos” (para citar Raphael Samuel) (Samuel 1994, 18). Sentidos
culturalmente dominantes de passeidade de fato resultam de uma miríade de
produções locais de sentido de passeidade. A questão, portanto, deve ser a de
saber como os sentidos historiograficamente produzidos de passeidade
interagem com e reforçam outras noções de passeidade – tais como a passeidade
legal, estética, tecnológica, etc.17
Em segundo lugar, e intimamente relacionado ao ponto anterior, eu
acredito que para resguardar-se do “alocronismo” (Fabian 2002) – a alocação
simbólica de outros no tempo – as afirmações sobre a passeidade do passado
sempre devem levar em consideração a questão da heterogeneidade que existe
no presente cronológico. Diversos acadêmicos têm mostrado que a gênese da
noção de alteridade do passado esteve intimamente relacionada à ideia da
“passeidade do outro”18. Como Barry Hindess argumenta, durante o encontro
colonial com o novo mundo, a imaginação do outro foi fortemente influenciada
por ideias tomadas da história antiga (por exemplo as descrições gregas e
romanas da alteridade dos “bárbaros”), mas o encontro com os “outros” do
novo mundo, por sua vez, também influenciou fortemente a compreensão de
história antiga e a ideia de alteridade do passado (Hindess 2007, 331-332).
Embora o surgimento da disciplina da etnologia, como de Certeau argumenta,
possa ter “parcialmente aliviado a história [da] tarefa de estabelecer um palco
para o outro no presente” (De Certeau 1988, 85), isto é, de fato apenas
parcialmente o caso, pois o discurso histórico é ainda muitas vezes usado para
se engajar no alocronismo. Isso acontece quando certas pessoas e práticas no
presente cronológico são descritas como anacronismos vivos ou como símbolos
de uma passeidade viva, sendo assim simbolicamente excluídas do
contemporâneo ou do “nosso” tempo. Pense nas descrições do Islã como pré-
moderno ou pré-iluminista, e assim historicamente atrasado, nos discursos
religiosos da direita, por exemplo.

17 Para uma interessante análise construtivista de como sentidos de passeidade são muitas

vezes criados em torno de objetos arqueológicos e do patrimônio material, ver Holtorf (2013;
2017). Para uma análise muito precisa sobre a produção de sentidos sobre a passeidade e os
mecanismos de “envelhecimento” estético (“mécanismes de vieillissement”) no campo literário, ver
Casanova 2010. Para uma reflexão interessante sobre as relações entre passeidade e noções
culturais de autenticidade, ver Robinson (2010).
18 Expressão da introdução de Hughes; Trautmann (1995, 1).

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Em terceiro lugar, eu proponho tratar as afirmações sobre a passeidade


do passado como sempre potencialmente prematuro ou preventivo. Uma vez
que, como Osborne e outros argumentam, nenhuma descrição inteiramente
empírica do contemporâneo é viável, e uma vez que as delimitações temporais
do contemporâneo são sempre contestáveis, sempre pode-se correr o risco de
perder de vista importantes continuidades históricas e declarar a passeidade do
passado prematuramente. Reconhecer esse risco que pode ser chamado de
historicização preventiva deve nos ajudar a levar a sério as afirmações de muitos
grupos de ativistas e vítimas que, por exemplo, falam sobre “o assunto não
terminado do apartheid”, que argumentam que “nós não somos descolonizados
ainda”, ou ver o encarceramento em massa nos EUA como “o novo Jim Crow”
(Alexander 2012) e afirmar que “Jim Crow nunca morreu”.
Finalmente, eu proponho pensar a passeidade do passado como
uma dinâmica sempre frágil e não como um estado fixo e como algo irreversível.
A crise da passeidade historicista deve nos fazer pensar sobre como os sentidos
socioculturais de passeidade se ligam a certos fenômenos e como certos
fenômenos podem também perder seu sentido de passeidade. Seguindo o
exemplo de Reinhart Koselleck, uma atenção crescente tem sido dada aos
chamados “futuros passados”. No entanto, eu acredito que o estudo dos
“passados passados”, ou passados que perderam seu senso de passeidade, seriam
potencialmente mais reveladores da dinâmica do pensamento historicista. Um
caso interessante, por exemplo, é o sentido de passeidade outrora atribuído às
religiões organizadas, em certos ambientes socioculturais que postulavam de
forma otimista a secularização como um fato histórico no fim do século XX, e
como esse sentido de passeidade tem sido desafiado pelo renascimento dos
fundamentalismos cristãos e do Islã político no começo do século XXI.

CONCLUSÃO
Este artigo resulta de um paper escrito para uma conferência ocorrida no
Museu Garage em Moscou entre 26 e 27 de outubro de 2018, que girava em
torno da questão central: “A que tempo nós pertencemos?”. Esta é uma questão
muito importante e que nunca perde sua urgência crítica. Contudo, ela deve ser
tratada como o necessário cuidado, e certa resistência intelectual é apropriada. A
resposta à questão depende muito, é claro, do que se quer dizer com “Nós”. Em
vez de tentar responder à questão de forma descritiva, eu decidi refletir sobre
como os conceitos de tempo histórico influenciam as conceitualizações do
“Nós” e quem é incluído ou excluído.
Claramente, ao ler a questão pela primeira vez, eu intuitivamente pensei
em um “Nós” sincrônico: nós que somos “agora”, parte “do contemporâneo”.
Contudo, é claro que outros “Nós” [We’s] mais diacrônicos poderiam ser
imaginados e que atribuiriam experiências, compromissos e solidariedades
compartilhadas entre pessoas vivendo em épocas distintas. Eu acredito que uma
importante razão pela qual eu pensei intuitivamente em um Nós sincrônico em
vez de diacrônico é a ideia historicista profundamente enraizada de uma radical
“alteridade” diacrônica; em outras palavras, a noção de passeidade do passado.
“O que, afinal, estamos fazendo quando historicizamos”, como Jennifer
Fleissner pergunta retoricamente, “se não afirmar, sobretudo, a passeidade do
passado – sua incapacidade de responder à posição do presente que o organiza?”
(Fleissner 2013, 702).

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As reflexões neste artigo são primeiramente motivadas por uma


frustração como esse tipo de historicização exorcista que nunca se canse de
dividir estritamente e distanciar o passado do presente e que simplesmente
afirma o passado em sua passeidade. Um repensar crítico da passeidade do
passado e da presença do presente pode nos ajudar a quebrar o hábito de tratar
o tempo como um “meio de exclusão” (Rancière 2013) para imaginar diferentes
“Nós” [We’s] em torno de uma multiplicidade de compromissos e solidariedades
para além do “contemporâneo”. Meu ponto principal é, de fato, que nós temos
que pensar historicidade e sociabilidade juntos. Dessa perspectiva, a crise da
passeidade historicista pode de fato ser vista como o resulto de mudanças nas
formas de sociabilidade ou de uma crise de um “nós” particular e de um conjunto
de fidelidades e compromissos.
Ao criticar a passeidade historicista, não tenho por objetivo
simplesmente rejeitar o historicismo como uma ferramenta intelectual ou como
um “padrão cultural” (Fulda 2010). Em vez disso, creio que devemos tentar
revigorar o historicismo reacendendo sua auto-reflexividade e reconhecendo de
que forma a historicização nunca é meramente um meio neutro de descrever a
realidade, mas envolve sempre uma intervenção ativa nessa. Uma forma de
refletir criticamente sobre o historicismo, creio, é estudar como sentidos
concretos de passeidade historicista são socialmente produzidos, reproduzidos
e contestados ou rejeitados.

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‘A passeidade do Passado’
Reflexões sobre a política da historicização e a crise da passeidade historicista
artigo recebido em 01/03/2021 • aceito em 01/06/2021.
DOI | doi.org/10.5216/rth.v24i1.69673
Revista de Teoria da História | issn 2175-5892

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