A Arquitetura Modernista Paulistana

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A arquitetura

moderna
Paulistana.
-
Um reflexo cultural
de um período
de industrialização.

Texto de Raphael Balco


e projeto gráfico de
Brunno Balco.
-
acerca.cc
Introdução

O movimento da arquitetura moderna sociais e econômicas. A arquitetura


foi um reflexo cultural do período em moderna em São Paulo é o reflexo das
que o país passou pela industrialização grandes inovações técnicas e ideais de
e pelo ciclo de intensa relação com as “como morar e viver”, que começam a
artes. Isso gerou um novo viés estético surgir já no fim do século XIX. Com a
que acabou unindo diversas tendências chegada da revolução industrial,
que já vinham surgindo, fixadas na passa-se a utilizar o ferro de uma
valorização da realidade do país, maneira nunca antes vista nas
sugerindo um descarte das tradições construções. Materiais como o aço e o
que até então vinham sendo seguidas concreto armado dão aos projetistas e
tanto na literatura como nas artes. profissionais da área muitas
possibilidades para a criação,
O Modernismo não se limitou apenas à tentando assim definir um novo estilo
arquitetura e arte, pois envolveu sem se confundir com
aspectos ligados à áreas tecnológicas, o contemporâneo.
Boa-nova

Havia crítica no que acreditava ser sociedade mais justa e igualitária. A


uma arquitetura “preocupada com o partir das décadas de 20 e 30, os
supérfluo e o superficial”. O arquitetos brasileiros começaram a
ornamento, por sua vez, com suas construir os prédios de uma nova São
regras estabelecidas pela Academia, Paulo. Esses homens tinham ideias
estava ligado à outra noção combatida modernas. A sociedade industrial
pelos primeiros modernos, o estilo. apontava para novas realidades, e os
Junto com as vanguardas artísticas arquitetos deveriam estar prontos para
das décadas de 1910 e 20 havia como isso. Nas décadas de 30, 40, 50 o
objetivo comum a criação de espaços arquiteto começou a ter uma
e objetos abstratos, geométricos e contribuição com proposições
mínimos. Uma das principais estéticas que caracterizassem as
bandeiras do movimento modernista é obras como bens culturais
a rejeição dos estilos históricos, e sociais.
principalmente pelo que acreditavam
ser a sua devoção ao ornamento. O que os profissionais, queriam era
Outra característica importante eram fazer arquitetura moderna em pleno
as ideias de industrialização, início do século XX. Porém,
economia e a recém-descoberta convivíamos com a realidade de um
noção do design. país que ainda havia tudo para se
fazer. Não podemos dizer que essa
Acreditava-se que o arquiteto era um “leva” moderna e seus ideais eram
profissional responsável pela correta e irreais e utópicos, pois não existia uma
socialmente justa construção do maneira coerente de se lidar com isso
ambiente habitado pelo homem, e os naqueles tempos, devido a vários
edifícios deveriam ser econômicos, fatores, mas mesmo assim,
limpos e úteis. Buscava-se nos criavam-se espaços e lacunas para a
primeiros passos do estilo, um reflexo execução e também de uma forma
na arquitetura e a conquista de uma diferente de se pensar a arquitetura.
Img: Acervo Prefeitura de São Paulo A2

Img: Leon Liberman A1

A1
Edifício Esther / 1935
Praça da República, 64
Arq.: Álvaro Vital Brazil e
Adhemar Marinho
A2
Biblioteca Mário de
Andrade / 1935
R. da Consolação, 94
Arq.: Jacques Pilon
A3
Img: José Moscardi Junior A4
Cine Ipiranga
Img: Acervo Digital Rino Levi A3
& Hotel Excelsior / 1941
Av. Ipiranga, 786
Arq.: Rino Levi
A4
Edifício Esplanada / 1946
R. Formosa, 367
Arq.: Lucjan Korngold
A5
Edifício "O Estado
de São Paulo / 1946
R. Martins Fontes, 71
Arq.: Jacques Pilon e Adolf
Franz Heep
A6
Edifício ABC / 1950
R. Major Sertório, 92
Arq.: Oswaldo Arthur Bratke
Img: Acervo arquivo.arq.br A5 Img: Acervo vitruvius.com.br A6
O impulso
inovador

A corrente modernista paulistana


veio de uma necessidade de ligar os
elementos que estavam perdidos
A7
antes desse período e foi
Img: José Moscardi Junior

precisamente a ruptura do ecletismo


acadêmico, que era norma na época,
para uma reintegração da arte na
nova tecnologia construtiva, até
então vinculada a arquitetura
racionalista, que imperava a
utilização do concreto armado.

O que era produzido em São Paulo,


era algo que realizava uma arquitetura
com ênfase na técnica construtiva:
A adoção do concreto armado
aparente; A valorização da estrutura;
Grandes vãos para a livre circulação:
Iluminação total; E o paisagismo
permeando o partido do projeto
vanguardista.

A escola paulista estava preocupada


com a afirmação de uma linguagem
atual e nacional, composta pela
junção da gramática racionalista com
Img: Jose Moscardi Junior A8 elementos ditos "tradicionais".
A7
Edifício Copan / 1951
Av. Ipiranga, 200
Arq.: Oscar Niemeyer
Img: José Moscardi Junior A9 Img: Acervo arquivo.arq.br A10 A8
Edifício Anchieta / 1941
Av. Paulista, 2567
Arq.: Marcelo Roberto e
Milton Roberto

A9
Edifício Itália / 1956
Av. Ipiranga, 344
Arq.: Adolf Franz Heep
A10
Edifício Barão de Iguape / 1956
R. Direita, 250
Arq.: Jacques Pilon e
Giancarlo Gasperini
Img: José Moscardi Junior A11
A11
MASP / 1956
Img: Acervo arquivo.arq.br A12 Av. Paulista, 1578
Arq.: Lina Bo Bardi
A12
Edifício Paulicéia / 1956
Av. Paulista, 960
Arq.: Jacques Pilon e
Giancarlo Gasperini
A13
Edifício Nações Unidas / 1953
Av. Paulista, 648
Arq.: Abelardo de Souza
A14
Conjunto Nacional / 1954
Av. Paulista, 2073
Img: Acervo arquivo.arq.br A13 Img: Acervo arquivo.arq.br A14 Arq.: David Libeskind
O estilo

É inegável que a arquitetura


moderna surgiu para não existir
isolada e descaracterizada.
O movimento de arte moderna foi
originalizado na Semana de 22 sem
representatividade específica na
parte projetual. Foi surgir depois de
1930, quando já as formas da
arquitetura racionalista Coubisiana
tinham tomado um significado
capaz de ser assimilado
culturalmente por nós.

O piloti era um meio de facilitar a


circulação. Os vãos de janelas
eram para proteção e iluminação.
O painel de vidro uma decorrência
de uma estrutura independente, e o
terraço com jardim uma área que
se recuperava como forma de ter
um pouco de natureza aproveitada
em todos os edifícios.

A escola moderna paulista, vinha


com as mesmas definições
atribuídas por Le Corbusier para o
século XX, tais como:
Construção Pilares que tornavam as construções
mais abertas, arejadas e, ao mesmo
de Pilotis tempo, ajudava na fácil circulação das
pessoas, propiciando uma união da
sociedade igualitária e justa;

| Corte longitudinal. | Maior flexibilidade de layout no piso térreo.


Planta Livre Significava que deveria existir pouca
ou nenhuma parede interna, com total
de Estrutura vão-livre. Com menos paredes os
espaços ficam mais dinâmicos, sociais
e flexíveis, podendo assim serem
dados vários usos ao
mesmo edifício;

| Planta. | Layout livre, sem interferências


de pilares ou estruturas.
Janelas em Fita As janelas deveriam acompanhar toda
a parede da fachada do edifício,
aproveitando melhor a luz natural
dentro dos ambientes e sempre
localizada a uma certa altura, de um
ponto ao outro da fachada, de acordo
com a melhor orientação solar.

| Elevação frontal. | Obtendo melhor proveito da


iluminação e ventilação.

Fachada Livre A fachada dos prédios deveria ser


simples e funcional. Elementos de
de Estrutura decoração e adornos deveriam ser
abolidos, para não termos mais a
ligação com o “antigo” da arquitetura
estritamente ligada à burguesia;

| Elevação frontal. | Sem obstáculos em sua linearidade.


Terraços Elementos que retomavam à velha
ideia dos jardins suspensos, Le
Jardim Corbusier afirmava que em metrópoles
com cada vez menos espaço, os
telhados poderiam ser aproveitados
como espaços de lazer e vegetação;

| Perspectiva isométrica. | Otimização de espaço em sua cobertura.


Img: blogcasasbac a na s . w ord p re s s . c om A15

Img: Jason Nathan A16

A15
Edifício Prudência / 1944
Av. Higienópolis, 265
Arq.: Rino Levi e Roberto
Cerqueira Cesar
A16
A17
Img: Blogspot Holod e c k
Edifício Lausanne / 1953
Av. Higienópolis, 101
I m g : Ac e r v o a t f pa 3 y 4 . wo rdpre s s . c o m A18 Arq.: Adolf Franz Heep
A17
Casa Modernista / 1927
R. Itápolis, 961
Arq.: Gregori Warchavchik
A18
Edifício Louveira / 1946
R. Piauí (Pça. Vilaboim), 1081
Arq.: Vilanova Artigas
e Carlos Cascaldi
A19
I m g : g -a rqu i t e t u r a . c o m . br A20 Residência Luiz
Img: Enciclopédi a I ta ú Cultur a l A19 da Silva Prado / 1930
R. Bahia, 1126
Arq.: Gregori Warchavchik
A20
Residência Rio Branco
Paranhos / 1942
R. Heitor de Morais, 120
Arq.: Vilanova Artigas
A herança

O movimento que se iniciou em São


Paulo foi de grande importância para
o cenário nacional. Enquanto o
mundo assistia a cristalização do
chamado “estilo internacional”, os
arquitetos paulistas e brasileiros
saudavam o concreto, como a
realização da forma nacional.

O estado do pós-guerra vivia a


euforia da construção de uma nação
independente, onde a arquitetura
moderna fazia um papel importante
na história. São Paulo é uma
megalópole que tem vida própria,
uma cidade que é o foco cultural e
ao mesmo tempo o sistema nervoso
do país.

Após todo este relato, a cidade à


frente de nosso tempo não se realizou
como esperávamos, pois em 1964
aconteceram mudanças indesejadas.
Rompeu-se a construção do
“Brasil-moderno”, em que todos
teriam acesso a justiça social e a
qualidade de vida, retratada na beleza
dos projetos de anos anteriores.
Fantasiadas com uma roupagem
diferente, as mudanças vieram para
que o antigo persistisse e se
ampliasse, e assim nossa
cidade se fez.

O homem é destinado a preparar o


ambiente para uma sociedade que
tenha a ambientação que merece,
com dignidade e respeito de viver.
_

Referências pesquisadas:
Arquitetura Moderna Paulistana -
Xavier, Alberto / Lemos, Carlos /
Corona, Eduardo - 1983 - Brasil -
Editora Pini • Arquitetura Moderna
Brasileira - Andreoli, Elisabetta /
Forty, Adrian - 2004 - EUA - Phaidon
Press • História da Arquitetura
Moderna - Benevolo, Leonardo -
1998 - Brasil - Perspectiva • História
Crítica da Arquitetura Moderna -
Frampton, Kenneth - 1997 - Brasil -
Martins Fontes.
_

Texto e ilustrações:
Raphael Balco
raphaelbalco@gmail.com
_

Projeto gráfico:
Brunno Balco
brunnobalco@gmail.com
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Concepção e curadoria:
Acerca
acercazine@gmail.com
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acerca.cc

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