Oportunidades Disfarçadas - Parte Escrita
Oportunidades Disfarçadas - Parte Escrita
Oportunidades Disfarçadas - Parte Escrita
Se você é patrocinador oficial ou não, fique de olhos bem abertos para identificar qualquer
chance de promover seu negócio durante grandes eventos.
Imagine que seu maior concorrente fechou a cota de patrocínio de um grande evento. Antes
que você se desespere e pense que tudo está perdido, calma: pode ser que o patrocinador
oficial não explore tão bem o ativo, e mais: com criatividade, é possível até que a sua marca
saia ganhando. É o chamado “Ambush Marketing”, ou Marketing de emboscada, prática em
que uma marca intrusa ataca de surpresa o patrocinador oficial, seu concorrente.
Em 2008, nos jogos olímpicos de Pequim, a Pepsi surpreende ao trocar a cor da sua latinha de
azul para vermelho, sob a alegação de que era para apoiar as equipes chinesas. A
patrocinadora oficial dos jogos era a Coca Cola.
É surpreendente que o evento que mais celebra as pessoas com deficiência tenha surgido
graças ao acontecimento que mais produziu… pessoas com deficiência. Após a Segunda Guerra
Mundial, a Europa se deparou com a dura realidade dos soldados feridos. Homens lesionados,
amputados, paraplégicos, tetraplégicos e doentes. Em teoria, heróis de guerra; na prática,
gente traumatizada, deprimida, revoltada, sentindo-se inválida. No hospital Stoke Mandeville,
na Grã-Bretanha, o neurocirurgião Ludwig Guttmann fez uma importante constatação: quando
os feridos se movimentavam, fosse para arremessar dardos ou mesmo jogar baralho,
apresentavam melhora no quadro geral. Baseado nisso, o médico improvisou nas
dependências do hospital alguns jogos de arco e flecha e basquete. O resultado foi tão
animador que o encorajou a pensar grande. A edição seguinte dos Jogos Olímpicos ocorreria
em 1948, em Londres. No mesmo dia da abertura, Guttmann anunciou a primeira competição
para pessoas com deficiência da história, até hoje os JOGOS PARALÍMPICOS é considerando
um grande evento que têm impacto positivo em milhões de deficientes por todo o mundo.
Outro exemplo de uma oportunidade disfarçada a partir da guerra foi quando os soldados da
Guerra Civil Espanhola levavam nas bolsas pequenos pedaços de chocolate revestidos com
uma firme crosta de açúcar para não derreterem. Após conhecer a novidade na Europa, o
empresário Forrest Mars lançou nos Estados Unidos um produto semelhante, mas em cores
chamativas. Sim, o M&M’s veio dos campos de batalha.
A Guerra é sim capaz de deixar algum efeito colateral benéfico para a sociedade, a União do
povo, determinação para reconstruir um país, uso mais consciente dos recursos naturais e
redução da desigualdade social. Além de invenções, inovações e produtos importantes, como
os veículos Jeep e Vespa, o Pilates, os alimentos em conserva, o leite condensado, radares,
computadores, a internet e até mesmo a chegada do homem à Lua.
Saber que pessoas vivendo situações extremas e em condições subumanas conseguiram dar
origem a uma competição (Paralimpíadas), uma obra-prima (Dom Quixote) e até uma filosofia
de vida transformadora (Logoterapia) deveria servir de estímulo e inspiração para todos nós
enfrentarmos nossas próprias adversidades.
Em 1970, a nave espacial Apollo 13 sofreu uma grave pane a 330 quilômetros da Terra e ficou
impedida de retornar ou prosseguir na missão. Com o oxigênio se esgotando, a tripulação
estava condenada à morte. A única saída era os tripulantes construírem um filtro de ar usando
fita adesiva, papelão e alguns sacos plásticos. Como sabemos, eles conseguiram retornar sãos
e salvos. Pense nisso da próxima vez que enfrentar uma grave restrição: a questão não são as
limitações, mas o melhor que você pode fazer dentro delas.
Em 2007, o mexicano Jordi Muñoz vivia uma situação inusitada nos Estados Unidos. Enquanto
aguardava que seu processo de imigração fosse concluído, estava impedido de estudar e
trabalhar. Sem ter o que fazer adorava andar pelas ruas e parques da cidade e acabou
observando que pilotar aeromodelos parecia impossível para as pessoas comuns. Como muñoz
já havia estudado eletrônica pensou em uma forma de simplificar a operação, ele abriu o
controle remoto de seu Nintendo Wii e removeu os sensores. Em seguida, conectou a um
microcontrolador que comprou por 18 dólares. Faltava apenas um programa que estabilizasse
a navegação do helicóptero. Sem dinheiro para contratar um programador, ele mesmo
aproveitou o tempo livre para tentar desenvolver. A partir dessa tentativa o mexicano tinha
acabado de criar o drone, equipamento que transfere para o software toda a complicação
mecânica de pilotagem. Alguns anos depois Muñoz se tornou sócio da 3D Robotics, a maior
fabricante de drones dos Estados Unidos. Entre seus clientes consta a Nasa.
A princípio não existe um método ou fórmula definida, cada caso descrito neste livro e no
anterior envolve um conjunto singular de variáveis: momento histórico, situação do mercado,
realidade macroeconômica, habilidades pessoais, acaso etc. pelo menos existem atitudes,
características e aptidões que comprovadamente aumentam suas possibilidades de descobrir
uma oportunidade disfarçada. Vamos a elas.
Permanecer no desconforto: problemas são oportunidades, erros nos levam a desvios,
fracassos são terrenos férteis e crises estimulam inovação. Mas só testemunhará isso quem
suportar ficar no ambiente hostil do problema, do erro, do fracasso e da crise por tempo
suficiente, até baixar a poeira das emoções e recuperar a racionalidade. Com equilíbrio e
calma, é possível enxergar com clareza a situação real, dimensioná-la e identificar possíveis
causas e soluções.
Ser curioso: “É mágico: quanto mais você lê e se informa sobre o assunto, mais as ideias
começam a aparecer”, disse Andrew Ng, fundador do centro de pesquisa Google Brain. Estude
tudo que puder sobre o assunto: a realidade do segmento, casos semelhantes do passado,
tendências futuras e novidades da tecnologia. Não tenha pressa. Em vez de buscar logo a luz
no fim do túnel, tente iluminar o túnel. Como disse Albert Einstein: “Não é que eu seja muito
inteligente, é que eu passo mais tempo com os problemas.”
Ser criativo: Criar é fazer conexões entre coisas aparentemente não relacionadas. Por isso é
tão importante abastecer o cérebro de informações antes de criar. Quanto mais repertório,
melhor. A criatividade é como um músculo: pode ser exercitada e aperfeiçoada. O que impede
que haja mais gente criativa são – surpresa – nossas travas interiores. Para romper essa
dinâmica, ouça a voz da ciência: quanto mais você tentar pensar de forma criativa, mais
criativo se tornará. Isso se explica pela plasticidade do cérebro: quando ativamos neurônios
para realizar determinada tarefa, mais fortes se tornam as conexões entre as células
envolvidas. Portanto, diante de um desafio ou dificuldade, permita-se imaginar diversas saídas.
Invente, crie, tente soluções diferentes.
Ter resiliência: O caminho para uma oportunidade disfarçada é sempre repleto de obstáculos.
Ainda que a maioria esteja fadada ao insucesso, socialmente é bom que muitos tentem.
Porque, mesmo que poucos sejam bem-sucedidos, o efeito líquido para a sociedade em larga
medida supera o custo dos indivíduos que não chegaram ao resultado pretendido, Nós não
sabemos de antemão qual dará certo ou quem será bem-sucedido. E um Bill Gates que acerta,
ou um Shakespeare, um Francis Bacon que acerta, o benefício trazido por esse resultado
positivo supera largamente o custo daqueles cujo nome não sabemos por que tentaram e não
deu certo.” Mesmo que você não pretenda empreender ou realizar grandes inovações, o
pensamento Oportunidades Disfarçadas pode tornar sua vida mais produtiva, dinâmica e
estimulante.
Conforme Joseph Campbell, “cada um de nós é uma criatura completa, única, e, se for o caso
de oferecermos alguma dádiva ao mundo, ela deverá ser extraída da nossa própria experiência
e da realização das nossas próprias potencialidades, e não de quem quer que seja.”