Capítulo - Ataques Gomaristas e Contra-Ataques Remonstrantes

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CAPITULO 15 ICONOGRAFIA DORTIANA: ATAQUES GOMARISTAS E CONTRA-ATAQUES REMONSTRANTES Vinicius Couto INTRODUGAO © presente capitulo continua a discussio da controvérsia entre arminia- nos e calvinistas, $6 que dessa vez por meio de anzilise iconogrilica. O foco recai sobre algumas gravuras que fazem parte especificamente dos anos que cercaram, © Sinodo de Dort, Ao todo, verificaremos doze figuras, As duas primeiras sio de autoria do partido gomarisa, isto é, dos contrarremonstrantes ¢ de como eles cria ram a narrativa de que sua teologia é mais sélida, ortodoxa e apropriada para a paz social ¢ eclesiéstica, enquanto que a teologia arminiana, ou remonstrante, € acusada de ser algo letal e destruidor. As proximas quatro gravuras (03 a 06) se ‘nem em voz profética denunciando abuso ¢ a injustiga cometida para com 0 estadista Johann von Oldenbarnevelt, além de apontarem para as aliancas injustas ¢ tiranas que religiosos ¢ politicos fizeram para obterem seu objetivo de poder temporal ¢ eclesial, As figuras 07 a 09 so auxiliares, iustrativas e ajudam a en tender o pano de fimdo das proximas. Finalmente, as tés Gltimas figuras (10, 1] € 12) se encarregam de apresentar um contra-ataque as cruéis representagoes feitas CINTOLERANCIAS RELIGIOSAS NOS PAISES BAIXOS 463 pelos contrarremonstrantes dos arminianos, demonstrando que 0 madus eperand dos gomaristas no foi justo ¢ que também nao podia ter vindo de Deus, devido a tantas crueldades. A metodologia prossegue a mesma: Wolflin ¢ Panoliky. Mas, dessa vez, pulamos as explicagties metodolégicas, visto que jé foram delineadas no capitulo anterior 1, OS ATAQUES GOMARISTAS ANTES E DURANTE 0 SiNODO DE DORT Como jé vimos, depois da morte de Arminio, Johannes Wtenbogaert lide- rou. os remonstrantes na elaboragio de um documento de protesto contra 0 cal- vinismo rigido nos Paises Baixos. Esse documento era composto por cinco artigos que defendiam 0 que chamamos atualmente de depravacao total, graga resistive! preveniente, eleigio condicional, expiacio ilimitada ¢ possibilidade de apostasia, Esse dltimo artigo no chegou a ser enfitica ainda nessa época, ie., em 1610, mas altura do Sinodo de Dort, no nove documento remonstrante de 1618, eles se po- sicionaram a favor da possibilidade de apostasia de maneira mais clara. A questo & que, a publicagdo do primeiro protesto (1610) abriu portas para uma discussio com os gomaristas, que passaram a ser chamados de contrarremonstrantes desde centio. Essa discussio deveria ser amigdvel ¢ foi organizada pelos Estado Gerais, de modo que seis representantes de cada lado poderiam apresentar suas ideias ¢ discuti-las pacificamente. Essa conferéncia ocorreu em Haia num periodo de {quase dois meses, tendo-se iniciado em 10 de Margo de 1611 ¢ terminado em 20 de Maio de 1611. A reunio finalizou com um: robusta, que possui quase ‘quatrocentas paginas e que descreve as opinides de ambos os grupos? 1 DOODEWAARD, Willan van. Remonstrant, Contra-remonstrants and the Syaod of ort (1618-1619) the relgioss history of the early Dutch Republic, Canadian Journal of [Netherlandic Studies, Montreal,» 28, n. 2, Fall 2007, p. 150, 2 No ano sequinte & conferénca foram publicados os documentos, que podem ser vistos em Schriftelicke conferentic, gehowden in #'Gravenhaghe inden iare 1611. The Hague, 1612, #405 em 1615 das verses foram tradusidas para atm, uma por Henriens Brands ‘outta por Petrus Bertus, mas os emonstrantes acitaram apenas a versio de Bertie (cf YAGI, Takayuli. A Gift from England: William Ames and his Polemical Discourse against 464 VINICIUS COUTO Iara rioseen Poses tanosnts wot Tconografia Dortiana Apesar da diretiva dos Estados Gerais de que os grupos devessem discutir pacificamente o partido gomarsta nfo estava tao disposto a seguir ese camino Desde aquela época, o aumento paniletirio acusando os arminianos de voltarem para Roma © de prestarem um desserviga & Reforma foi amplo, Na gravura Ar tminaensche dclaghen (O casro de exterco arminianc), os jesuitas apontavam 0 caminho pata o Sul, isto é, para as provincias que se mantiveram vinculadas & Espanha ¢, consequentemente catélicas. Pata piorar essa situaso, Oldenbarnevelt hacia assinado o tratado de trégua com a Espana ¢ por recefo de que as ideias progremistas dese estadista desfizentm os exfargos anteriores da revoltanoctista i- derada por Guilherme de Orange e até mesmo de manutensio do protestantsmo neerlandés, muitos do lado calvinista acusavam~no de ser um traidor que estava em dialogo com a coroa expanhola e com o catoliismo. & verdade que Olden- barnevelttinha uma mentalidade mais aberta quanto a lierdade de consciéncia, sna iso no queria dizer que cle extava disposto a retornat wo eatoticinn ¢rnuita menos que estaria considerando alguma possibilidade de se realiangar com os es- panhéis, £ preciso lembrar que até 1571, antes do Sinodo de Emden, havia uma convivéncia mais genérica dos varios grupos religiosos que ali conviviam desde a revolta, de modo que eram encontradosfuteranos, espiitualistas (familias), ana- batistas, menonitas,extdicon¢ até mesma judeus oriundos de Portugal. Coornhert mesmo fai um catdlico de visio humanista, influenciado pot Castellion, ¢ que apoiou Guilherme de Orange. No entanto, depois do Sinodo de Emden, os calvinistas assumiram um po- sicionamento mais rigoroso © puritan. Mas isso nio era algo novo, Em 1366, por exemplo, os calvinistas que ficaram conhecides como wilde geuzen (mendigos selvagens), rebelar se contra a postura da Duquesa de Parma, Margarida Margarete) (1522-1586), indo para as ruas com tigelas ¢ medalhas ao redor do pescogo, num ato de sarcasmo com a nobre que os chamou de geuzen (mendigos) Esses calvinistas, no entanto, nao fizeram um protesto pacifico, requerendo seus dircitos que estavam cada vex mais escassos entre os nobres. Ao invés disso, eles adentraram um templo catélico e quebraram as imagens, beberam © vinho da ‘Due Arminianism. Gottingen: Vandenhorck & Ruprecht, 2020, p. 20), A verso lana poe ser vista em BERTIUS, Petrus (Ea, ¢ Trad) Collatio Scripta Habita Hagae Comitis Middelburg, 1615, CINDTOLERANCIAS RELIGIOSAS NOS PAISES BAIXOS 465 PROVATNALneanderansre Paes Basra 16s oan 1638 sactistia, pisotearam as héstias ¢ destrutram as imagens catélicas, Ples acredita- vam que esta “purificaco” era um meio de restauracao religiosa que criaria lagos com cristios primitivos, além de lavar séculos de corrupgao ¢ adoracii de falsos santos!, Além do Sinodo de Emden, ocorrido em 1571, outro evento merece des- taque. Ele ocorveu em 1581, quando as provincias nortistas foram mais ri ‘quanto A separagio da Espanha c elaboraram um Plakkaat van Velatinghe Juramen- to de Abjuragio), por meio do qual “os Estados Gerais das Provincias Unidas nos Paises Baixos aprovaram uma resolugao que declarava que Filipe 1 [..] perdia sta soberania sobre as provincias™. O documento de abjuracio no era de todo cerrado, pois nada mais era do que uma atitude de resisténcia para com a tirania de Filipe II, que era o rei do Império Espanhol aquela altura e 0 responsivel pelo tcrritério dos Paises Baix« ‘A independéncia, embora ainda no reconhecida, mas imposta pelos re beldes liderados por Guilherme de Orange, colocou a pritica de “purificar” as propriedades catdlicas como algo comum. A igreja que Jaco Arminio pastoreou centre 1587-1603 em Amsterdam, conhecida como Oude Kirk (Igreja Antiga), pas- sou par esse processo em 1578, Embora a Igreja Reformada da Holanda tenha se autoproclamado oficial em 1571 ¢ os Estados Gerais do Norte tenkam assinado ‘a abjuracio em 1581, Israel explicou que desde a década de 1550 as congre- gagies calvinistas que se instalaram nos Paises Baixos se tornaram o bastido do movimento reformado, Desde esse periodo, of reformados também se tornaram ‘© grupo protestante hegeménico. A explicagio de Israel para esse sucesso é que calvinismo tinha “doutrinas claras ¢ a estrutura [eclesiastica] formidavel”, 0 que “‘possibilitou ao protestantismo [reformado] nos Paises Baixos organizar-se em um movimento mais poderoso do que se viu anteriormente’, Entretanto, ainda é pre- iso salientar que “A medida que essa posigae confessional se tornou mais definida, 3° ARBLASTER, Paul A history of the Low Countries, New York Palgrave MacMillan, 2006, p. 120, 4 GELDEREN, Marin Van. The political thought of the Dutch revolt 1555-1590. Canibridge: Cambridge University Pres, 1992. p 5 ISRABL, Jonathan, The Dutch Republic: Iris, greatness and fall 477-1806, New Yor Oxford University Press, 1995. p. 105 466 VINICIUS COUTO PROVATOR ieandernnere ates nasa Ho seer 1630 115. teonografia Dortiana a Tgreja Reformada [...] também se tornou mais intolerante™, Essa intolerancia foi muitas vezes acompanhada de atos violentos, de soberba confessional ¢ até mesmo desonestidade intelectual. Hles se achavam superiores aos demais grupos religiosos com grande frequéncia. O Sinodo de Dort foi um dpice desse tipo de comportamento no decorzer da histitia dos Pases Baixos. No entanto, para ot contrarremonstrantes, o ponte de vista era de triunfo, de um ganho incaleulavel, de purificagao de heresias ¢ de uniformidade doutrinéria, Vejamos como cles re~ trataram 0 S wo de Dort (figura 01) ¢, ainda, como retrataram © movimento remonstrante (figura 02), Figura 01: De opening van de nationale synode te Dordrecht, 1618 — Franéois Schillenans, 1618/19 ih | aS Ponte: Rifsmascan, Amsterdam & ISRAEL, 1995, p. 103, CINDTOLERANCIAS RELIGIOSAS NOS PAISES BAIXOS 467 PROVAFNAL Motard rages noe Paes Sanorinds 187 jose 1838 © pano de fiando para a realizagio do Sinodo jé foi abordade nesta obra. A abertura do Sinodo se deu em 13 de novembro de 1618 ¢ aconteceu com a presen- ‘ca de mais de cem pastores, professores e politicos da Europa Ocidental, os quais s¢ reuniram em Dordrecht (Dor!) para por oficialmente fim as disputas religiosas, A figura 01 foi publicada originalmente num formato de logotipo, sendo cercado de uma poesia ao lado esquerdo do leitor, de autoria de Jacob Cats, O contetido do poema é romantico e alegérico: autor compara 0 Sinodo de Dort com o Con- clio de Jerusalém ¢ com 0 Concilio de Nicéia. Sabemos que a primeira reuniio discuti a transculturalidade do evangelho e desfez as heresias dos judaizantes; jd a segunda reuniiio discutiu cristologia, condenando as heresias do arianismo con- firmando o a divindade de Cristo, Um trecho da poesia descreve 0 Sinoda como sendo “a flor mais bela de todos os paises no sujeitos ao Papa, a mais profunda visio e doutrina mais s6lida, o sal da terra e a luz mais brithante do mundo”. Do lado direito de quem observa, existe uma legenda bem detalhiada, que dé nome a praticamente todos os participantes, com exceco das pessoas que estio do lado de fora da reunifio, Essa gravura possui dezenas de versées posteriores, de modo que pode al- ternar a quantidade de pessoas desenhadas principalmente do lado de fora, as ve~ es um homem andando no interior. Outras figuras tém um eachorro, No entanto, pensando nas versdes mais antigas e no padrio mais basilar, o caso é que a figura 01 vetrata um ambiente organ ado e alinhado, A figura fechada retrata o interior de uma prefeitura, de um ambiente piblico. O artista se preocupou em deixar detalhados os pontos estruturais do prédio com o devido cuidado. Ele retratou 0 telhado arredondado, as vigas que prendem as paredes laterais, um grande ba- laistre central para iluminagio, paredes riisticas com as caracteristicas da época, grandes janelas laterais e um ambiente de transigio, demarcado por um pequeno porto na parte inferior central da figura, Tudo isso dé a sensagio tridimensional do ambiente e prepara para que possamos destacar os varios médulos que a figura possui, os quais esto agora ligados as pessoas, 7 SPAANS, Joke. Imagining the Synod of Dordt and the Arminian Controversy In GOUDRIAAN, Avs; LIEBURG, Fred van, Revisiting the Synod of Dordt (1616-1619). Leiden / Boson: Beil, 2011. p. 359. 468 VINICIUS COUTO PROVATOR ieanderinsre Pas anes 100 seer 1630 Tconografia Dortiana Poclemos separar a figura em cinco quadrantes lineares, trés verticais ¢ dois horizontais. Os t primeiros estio no interior da prefeitura, de modo que cles so marcados por duas fileiras coladas as paredes ¢ uma fileira de duas mesas alinhadas de maneira central na figura. Estes ambientes estio cheios de pessoas e € possivel contabilizé-las, O quadrante da parede a direita da figura possui duas fileiras com trés compartimentos cada um, A fileira superior possui dezoito pessoas (seis em cada compartimento} ¢ a inferior quinze (cinco em cada compartimento). Inclusive, Francisco Gomaro est representado bem no meio do compartimento que se encosta com a pared, na fileira inferior. Todas essas pessoas esto posicionadas para a diregio das mesas centrais. Encostado na f= leita superior, ha uma pequena mesa ocupada por um Giniea homem, que esté posicionado para a entrada do ambiente, I1é espago para mais alguém dividir 0 ambiente com ele, mas ele se encontra s6. Pouco adiante dele, hi duas cadeiras varias, Esse homem solitério possui alguns objetos sobre a mesa, que parecem ser cadernos ou livros. De acordo com a legenda, ele ¢ Daniel Heynsius, que ocupou a fungio de Delegatis ab epistuliser secrtis(Delegado secretario epistolérie), 0 secretario ¢ bibliotecario dos Estados Gerais. Enquanto a fileira da direita é bastante simétrica e sempre bem equitativa ‘com os participantes, a fileira a esquerda da figura possui um pouco mais de dis- paridade, Dessa ver, ao invés de duas fileiras com trés compartimentos, a figura ilustra (de cima para baixo) quatro fileiras com és, dois, trés e t:és compartimen- tos, respectivamente, A primeira fileira possui apenas cinco pessoas, mas elas nao esto com a mesma distribuigao equivalente que a do lado oposto. Dessa vez ha dois grupos de duas pestoas e mais uma sozinba. A segunda fileira esté vazia, A lerceira ¢ a quarta fileitas se confundem, ficando dificil separi-las. Blas também no seguem o mesmo padeio simétrico de lado oposto. De qualquer modo, € pos: sivel contar a quantidade de pessoas misturadas nessas iltimas fileiras, somando tum total de vinte ¢ uma pessoas. Hi, ainda, duas cadeiras encostadas nas fileiras inferiores, semelhante ao modo como as duas cadeiras esto posicionadas na fileira superior. Essas pessoas do lado esquerdo também estio posicionadas em diregio as rmesas centrais, Estes homens das laterais eram provavelmente delegados ouvintes, fs quais somam, ao todo, cinquenta e nove participantes sentadas (trinta ¢ trés na direita ¢ vinte ¢ seis na esquerda}, CINDTOLERANCIAS RELIGIOSAS NOS PAISES BAIXOS 469 PROVATNALneanderionere Paes Basra 10 @ oan 1638 Reparemos, agora, nas mesas centrais: a mesa superior possui cinco ho- mens. O do meio parece ser mais proeminente, inclusive por suas vestes, De acor- do com a legenda, podemos saber que essa figura central corresponde ao Presi- dente do Sinodo, Ioannes Bergermannus, Ele esti acompanhado de dois homens, ‘cada um de uan lado, que sio seus astessores: Iacobus Rolandus e Hermannus Fau- Keelius; ¢ de mais dois que ocupam as extremidades da mesa, que sio os eseribas: Sebastianus Damman ¢ Festus Hommius, Essa mesa superior esta posicionada horizontalmente. Logo adiante deles, hé outra mesa maior, posicionada de manei- ra vertical, Ela esti repleta de pessoas ao seu redor, com excegio da extremidade superior. Ao todo, essa mesa esti cercada por quitize pessoas, que sio alguns dos remonstrantes, cujas identidades esto reveladas na legenda: Henticus Leo, Ber- nerus Wezekius, Henricus Hollinger, Simon Episcopius, Ioannes Arnold Corvin, Bernardus Dvinglonius, Eduardus Poppius, Theophilus Rickwaerdius, Philippus Pynackerus, Dominicus Sapma, Thomas Goswinius, Asucrus Matthisius, Carolus \Niellius, Isaacus Frederici e Samuel Neranus, Finalmente, temos os dois iltimos quadrantes horizontais, Comegando pelo lado interior da prefeitura, temos duas fileiras com quatro compartimentos, cada fileira de um lado da figura e separadas pelo portio de acesso. Do lado dieito da figura, estio dezenove pessoas, € do lado esquerdo mais vinte, ‘Todos eles esto bem alinhados esto posicionados em direcio mesa central. Jé o iltimo qua- drante horizontal esti no ambiente externo da prefeitura, ou mais precisamente & ‘entrada do local de reunil Nesse caso, 0 artista dividiu vinte homens igualmente ‘em cada lado da figura, isto 6, dez de cada lado. Esses tiltimos esto posicionados ‘em direcio varidvel, mas 0 foco é sempre as mesas centrais. © que ocorre € que alguns deles ni esto olhando para a mesa porque estio conversando, Ao todo, a figura retrata cento ¢ trinta ¢ oito pessoas: cinquenta e nove delegados sentados verticalmente, cinquenta ¢ nove sentadlos horizontalmente, vinte do lado de fora, cinco na mesa principal ¢ quinze na mesa secundaria, A figura, com todos esses detalhes simétricos ¢ al thados, vende uma narrativa visual de organizacao, sole- idade, equidade e justica, que somado ao texto poético jé destacado, pretende demanstrar que o Sinodo agiu de boa fé e que solucionou problemas teoligicos controvertidos & semelhanga de Jerusalém ¢ Nieéia, Se os gomaristas contrarre- ‘monstrantes estavam no mesmo patamar dos apéstolos, preshiteros ¢ bispos das 470 VINICIUS COUTO PROVAFNA Iolani raossnoe Paes Sanorinds 70 seer 1838 115. teonografia Dortiana duas reunites, entio os remonstrantes estavam, de acordo com essa narrativa, no ‘mesmo patamar dos judaizantes ¢ dos arianos. O imaginario do Sinodo queria vender a ideia de que a ortodoxia suplantou a heterodoxia. K-foi exatamente assim (que as narrativas visuais continuaram a apretentar o arminianismo, como pode- ‘mos ver na figura 02, Figura 02: Warminiaen — Aninimo, 1618 ante: Alam, Amsterdam CINDTOLERANCIAS RELIGIOSAS NOS PAISES BAIXOS 471 PROVAFNAL Motard reese Pas Sanoeinds 7» jose 1838 Para se ter dimensio de como os calvinistas enxergavam a teologia arminia- na como danosa ¢ monstruosa, a mesma época do Sinode de Dort, um panfleto de autoria anénima foi divulgado com 0 objetivo de contrapor os cinco artigos da remonstrdincia de 1610: trata-se de um monstro de cinco cabecas, batizado de Warminiaen. © tema primério aqui é a monstruosidade do arminianismo. O tema secundario pode ser explicada pelos varios elementos contidos nesta gravura, As cinco cabegas representavam os cinco artigos da remonstrancia que foram elabo- rados a partir de 14 de Janeiro de 1610, algum tempo apds a morte de Arminio, quando quarenta ¢ um pregadores e dois lideres do Colégio estadual de Leiden se reuniram na cidade de Haia e expuseram seus protestos contra o calvinismo rigi- do, Este documento fora elaborado por Johannes Wenbogaert, Adriaan van den Borrius, Eduardus Poppius, Nicolaus Grevinchovius ¢ Simon Episcapius, dentre outros, € apés algumas revisdes ¢ alterag6es, foi aprovado € assinado por todos ‘em Julho de 1610! A. ilimitada, _graga preveniente e resistivel] contrapunha o ensino calvinista, com excesio do ia dos artigos (cleigo condicional, expiag primeiro, que defendia a totalidade da depravagdo, o que era convergente c censino reformado. Deste modo, Warminiaen era um trocadilho de duas palavras holandesas: war, que significa transtornado, confundide ou perturbado ¢ arminiam, que sig- nifica arminiano. Trata-se, portanto, de um monstro ideolégico arminiano que perturba e transtorna a paz da Estado e da Lgreja, além de confundir a fé das pes- soas, conduzindo-as para a heresia e muitas outras situages negativas, retratadas na propria figura, que esta claramente idealizada numa forma fechada, Como se pode perceber, as cabecas do monstro esti com inscrigées que representam, res- pectivamente, a avareza (azaritia), a estupidex (tupidias), o engano ou fraude {fiaus), a sedigio ou a perturbagio, desordem (dito) © a opiniso (opinio). A besta esti pisando com um dos pés um bebé que representa a inocéncia {inocentid) € com 0 ‘outro um ramo de folhas que simboliza a paz (pay), além de ter quebrado a espada da justiga (iustiia). Nao obstante, cla empunha em suas mios a inveja (inzidia) © 8 DEN BOER, Wiliam. God's Two Fold Love: the theology of Jacob Arminius (1559-160) Gingen: Vandenboeck & Ruprecht, 2010, p22, Ox artigos remanstrantes podem ser vistos ‘em SCHAFF, Philip. The Creeds of Christendom, vo. 3. Grand Rapids: Baker Book Hse, 1990, p. 545-549. 472 VINICIUS COUTO Inotanae goss ree Pabee Boss «72 115. teonografia Dortiana guerra (bellum), Numa inscrigo inferior, que na aparece nesta imagem, mas que esta na original, tem a seguinte frase: “Quando o erro, fortalecido, leva a mente a zelos opostos, dé & luz esse monstro mortal” A faixa que cobre a genitélia do humanoide monstruoso, diz: "Cob siura de negh igéncia™, Essa narrativa, no entanto, estava longe de ser aceita sem criticas ou ques- tionamentos. © Sinodo de Dort nao agiu com essa elegincia e ortodoxia que os contrarremonstrantes queriam destacar utopicamente, Ao invés disso, 0 Sinado nao ouviu os remonstrantes, que embora tenham sido convidados para participar, foram apenas como ouvintes acusados ¢ no tinham direito de opinar e discutir as questdes ali levantadas. O Sinodo também agiu com desonestidade intelectual, acusando os arminianos de terem dito e defendido determinados pontos que nao cram deles, mas de outras pessoas que levantaram controvérsias realmente con- traditérias com a {& cristi, Finalmente, o Sinodo ainda puni severamente os re- monstrantes ¢ principalmente a Oldenbarnevelt. Nas préximas sees veremos ‘ando essas contestagGes € como os remonstrantes reagiram ao Sinodo, contra-al as narrativas descabidas apresentadas até aqui. OS CONTRA-ATAQUES REMONSTRANTES DEPOIS DO S{NODO DE DORT QUANTO A MORTE DE OLDENBARNEVELT A sequéncia de figuras que analisaremos nesta segio se referem iis deniin- cias sobre a injustiga soltida por Oldenbarnevelt. A primeira figura (03) que que- remos nos debrucar retrata a sua execugio, que ocorreu por decapitagio no dia 13 de maio de 1619. As demais (figuras 04 a 06) dizem respeito & maneira como diversas pessoas (do circulo protestante ¢ catélico} reagiram a brutal ¢ injusta con- denacio do estadista, 9 BRANDT, Gerard, Historie der Reformatie, Amsterdam: Voor Jan Riewwersr, Hendrik en Dirk Boom 1674, p. 985, 986. Ver, ainda, MULE, Frederick, De Nederlandsche seschiedenis in platen. Amsterdam: F Malle 1870. p. 172 CINTOLERANCIAS RELIGIOSAS NOS PAISES BAIXOS 473 PROVAFNAL Wounds raossnoePaeeSanorinds 7y@ jose 1838 Figura 03: Afbeelding der execute geschiet den XT may 1619 Aan Jan van Oldenbarnecelt gewesene advocaet van Holland — Andnimo, ca, 1650 — 1 Ey Fonte: Batol san hat Vedepaes, Den Haag, ‘A figura 03 descreve a decapitacio de Oldenbarnevelt e é uma cépia andni- ‘ma de um desenho original de C, Visscher, Essa versio apareceu em uma reedigo da obra Palamedes de Joost van den Vondel, publicada em Amersfoort em 1707, [Antes de falar da figura, é importante conhecer um pouco sobre esse artista, Vondet {foi um poeta e dramaturgo famoso da era dourada. De familia menonita, ele preci- sou conviver com persegui¢do religiosa ¢ intolerineia por muitas vezes, havendo a necestidade até mesmo de mudar de enderego com sua familia em fungio disso". ‘Vendlo a situagio que os Paises Baixos estavam passando com a hegemonia calvinista ‘em Dort, alinhado com os remonstrantes (ele foi amigo de Hugo Grécio) ¢ motiva- do principalmente com a execugio dle Oldenbarnevelt, Vondel esereveu uma pega chamada Palanedes", na qual por meio do uso de alegoria, denunciow a execugio 10 Uma biograia decalnada de Vonéel pode ser vsta em BRANDT, Geeraerd. J. van Vondel's leven, The Hague: Charles Nypels, 1928 L VONDEL, Joost van den, Palamedes. Amterdamn: lacob Aerts. Calomn, Boeckvercooper 474 VINICIUS COUTO Imes regions ree Pabes Boss «4 115. teonografia Dortiana do estadista como sendo por motivo politico ¢ de modo injusto, Claro que essa nar rativa nao porleria ser expressa de modo tio explicito, pois ele correria risca de ser condenado em tal acusagio. Por: 10, mesmo a escolha de quem publicaria sua pega deveria ser debaixo de grande critério. E. tudo se encaixou bem com Iacob Aerts Calom, um impressor bastante conhecido da época. Lassche Visser explicam que [A historia da impressio [de Palamedes} comega alguns fo (28 de abril de 1625), quando sete edigbes apareceram em poco tempo meses apés a morte do principe Mas [A primeira delas chegou ao mercado no outono, logo apis fo fianeral de Mauricio, em 20 de setembro, sob o titulo de Palamedes, sem o astassinato, O impressor era o entio joven editor de Amsterdam Jacob Aerts, Colom (1600-1673). Se- gundo Brandt, @ primeira edigio esgotou em alguns dias, ¢ ‘uma segunda ¢ terceira edigdo logo apareceram! Colom, além de impressor, atuou como livreiro, comerciante, cartografo © ‘matemético maritimo, No entanto, uma informagio interessante, 6 0 seu interes- se pelas obras de Coornhert, as quais imprimiu todas em 1633". Essa era outra questio que Vondel ¢ Colom tinham em comum, isto é, 0 apreco pela literatura coornhertianal’, Sabemos que esse homem foi um eticista ¢ humanista catslico que se posicionou contundentemente contra os calvinistas no século XVI e principale mente a favor da liberdade de consciéneia, acreditando que até mesmo os ateus deveriam ter o direito de expressar sua falta de f, se assim fosse. Para ele, isso era resultado do nao recebimento da graga divina e, portanto, essa pessoa nao deveria ‘opt wate, nde verge Calom, 1626, © lero pode ser consultado no ste da Universidade de Leiden em: hup/ weet leidenanival/ Dutch/Ceneton/ VondelPalamedes1626 hom 12 LASSCHE, Alie; VISSER, Amoud, Lezets in de marges van Vondels Palamedes Ben census van zeventiende-ceuwse edie Nederlandae Letterieunde, Amaterm, v.24, 1.1, March 2019, p. 38 18 AA, A.J. van der COLOM (Jan Aerts) I Biographixch Woordenbock der Nederianden. Haailen: Achtsende Deel, 1874, p. 626, 1 AA.A.J.van der. VONDEL (Joost van den} In Biographisch Woordenboek der Nederlanden. Haatiem: Achtiende Dee), 1874p 331 CINDTOLERANCIAS RELIGIOSAS NOS PAISES BAIXOS 475, PROVAFNAL Wotands reese noe PaeSanorinds 7s jose 1838 ser condenada to apressadamente, pois poderia mudar de ideia com o passar do tempo", Vale ressaltar que seu posicionamento contra a pena de morte era algo nao 4 frente do tempo, mas que seguia as tendéncias das filosofias humanistas de seus dias, Sabemos que Coornhert sofreu influéneias de Sebastianus Castellion, cuja frase “hominem scidee non est doctrinam tur, sed est hominem occidee™ (gnatar umm homem no € defender uma doutrina, [mas] é matar um homem)" reverberada contra a atitude ‘de Calvino para com Servetus, tem muito a dizer em toda essa querela dortiana. De acordo com Voogt, mesmo Jacé Arminio teve acesso as ideias de tolerancia religiosa de Castellion por meio de Coornhert, Para Somos, Coorhert foi um importante cestudioso que conseguia fazer a ponte entre a literatura académica e a popular, o que certamente ajudou-o a ter alguma abrangéncia maior" ‘Ainda vale acrescentar que @ pega de Vondel contou com a ajuda do historiador dos dos stados Gerais ¢ humanista Johannes Meursius™, que a altura inodo de Dort c principalmente depois, inclinou-se ao lado dos arminianos. ‘Meursius é apontado como tendo alinidade com Coornhert a partir de um teo- loge biblico e arcebispo bizantino do sécula XI chamado Teofilacto de Ocrida Esse tedlogo esereveu iniimeros comentarios sobre os livros do Novo Testamento ¢ influenciou também a Erasmo de Rotterdam, que por sua vez, foi chamado de “a tinica Fénix da Europa” por Coornhert. As interligacées slo interessantes 15 FORSE, Rainer, Toleration in Conflict Past and Present, New Yorks Cambridge University Pres, 2003. p 161,162. Para ina biografa de Cournbert, ver BONGER, Henk "The Life and Work of Dirck Volkertsz00n Coornhert, New York / Amsterdam: Rodopi 200, 16 CASTELLIO, Scbastianus, Contra Libellum Galvini in quo Ostendere Conatur Hacreticos Jure Gladii Goercendos Esse, wl. 1 [sl [an], 1612. p.e77 17 VOOGT, Gert, Constraint on trial: Disk Volckertse Coornhert and religious feedom. Krkvil: Truman State University Press, 2000, p. 62 I SOMOS, Mark, Secularination and the Leiden Girele, Leiden / Boston: Beil, 2011p 275, 19 SIERHIUIS, Freya, The Literature of the Arminian Controversy: Religion, Poiies and the Stage in the Datch Republic. Oxford: Oxford Univesity Press, 2015p. 198 20. NIEKERK, Dick van. Theophylact’s hidden Influence on Erasmus, Coornhert, Grotius, Heinsius and other Dutch Authors of Renaissance, In: State and Empire, Proceedings of the 6th International Symposium “Days of Justinian I" Ohrid - Resen, 22-24 Novetber 2018 (ed. M.Pancn.p. 104 476 VINICIUS COUTO Imotaae goss ree Pabes Boss «78 Tconografia Dortiana ‘Todos os humanistas pareciam estar conectados de alguma maneira pelas mes- mas fontes € 0 resultado era uma visio de mundo que valorizava a vida humana, ‘Assim, depois de entendermos esse pano de fando dos envolvidos ma arte em ‘questio, podemos destacar que a gravura de Vondel reflete o zefgei! humanista neerlandés dos séeulos XVEXVIL A figura 03, como vimos, faz parte de uma peca chamada Palamedes, Essa 6 uma referéncia A mitologia grega, pois Palamedes era filho de Nauplius ¢ Clyme- ne. De acordo com esse mito, Palamedes estava participando dos preparativos para a guerra de Troia nessa ocasido desmascarou o fingimento de Ulisses, que se fingia de louco para nio participar da batalha, o que gerou um édio mortal deste por aquele, Palamedes sempre ficava de olho nas situagSes que poderiam prejudicar o exército ¢ as pessoas ao seu redor. Num caso semelhante ao de Ulisses, ele descobriu uma fraude de uma moga chamada ipola, que se fingiu de homem com o intuito de retirar seu pai da guerra. Ele ajudava 0 exército a avangar e eriava estratégias que traziam éxito € isso sempre trazialhe aprego centre os soldados € 0 comandante, © que Palamedes néo contava era com a vvinganga de Ulisses, que estava aguardando © maquinando um meio de ver seu adversirio punido, Assim, cle forjou uma carta por um prisioneito troiano, dan- do a entender que Palamedes era aliado aos inimigos dos gregos. Para fortalecer ‘essa acusacio, Ulisses ainda escondeu ouro na tenda de Palamedes. Depois das acusagdes ¢ da descoberta de ouro, Palamedes foi considerado traidor e foi mor- to por apedrejamento injustamente”” A versio de Vondel de Palamedes seguia algumas modificacées ligeiras, {que visavam, por meio da alegoria, denunciar a morte de Oldenbarnevelt. Deste modo, sua peca tinha uma clara conotagio polit |. que apresentava a narrativa de um assassinato judicial. Na versio de Vondel, a responsabilidade pelo assassi- nato de Palamedes € atribuida principalmente a Agamenon, 0 que mnda a nar- rativa original, que culpava Ulisses; mas o objetivo de Vondel é claro: o severo € tirdnico Agamenon de sia pega pretendia retratar o principe Mauricio de Nas- 21 Para um testo que descreve o mito de Palamedes e que aponta para as fontes prima, ver FERNANDEZ-CANO, Antonio; FERNANDEZ-GUERRERO, Inés M. ‘The classical myth of Urysses versus Palamedes: an early metaphor forthe qualtative/quanstatve debate? Qual Quant, New York, v.45, 1,1, p 525-598, 2011 CINDTOLERANCIAS RELIGIOSAS NOS PAISES BAIXOS 477 PROVAFNAL Motard reese Pas Sanoeinds 77 jose 1838 sau, Mas a pega no denuncia apenas Mauricio, ela também alegoriza outras pessoas como Francois van Aerssen van Sommelsdijk no personagem Ulises, Festus Hommius no personagem Euripilo ¢ Johannes Bogerman no personagem. Caleas*, As alegorias cram tio claras que as autoridades de Amsterdam no encontraram dificuldade em decifiar os significados politicos por tris das alusies lissicas de Vondel ¢ Ihe impuseram uma multa pesada como punigio, além de terem censurado a obra. Apesar disso, a pega sofreu muitas edigdes ilegais depois ¢ chegou a ser encenada em 1663*, No entanto, multa no lugar de pena de morte foi lucro para esse dramaturgo, pois ele péde continuar se expressando ‘em situagies posteriores ‘A gravura foi usada como ilustragio, mas sua mensagem transcende © mero objetivo ilustrativo, Ela serve coma uma espécie de fotografia dos iltimos momentos de vida de Oldenbarnevelt, tanto que 0 1 wlo da gravura é Afbeelding der execute geschiet den XIII may 1619 Aan Jan van Oldenbarnecelt gewesene advocaet van de 1619 contra 0 Advogado da Holanda Jan van Oldenbarnevelt”, Ela retrata uma mule Holland, isto é, “Representagio da execugio realizada em XIIL mai tido que acompanha a execucio; esse grupo de pessoas esté localizado princi- palmente ao redor de uma plataforma que fica na area externa da prefeitura, ‘mas no se limita a ela, havendo outras muitas pessoas em sireas mais distantes. © pblico que acompanha é muito misto: é possivel encontrar muitas mulheres € até mesmo eriangas, As roupas também mostram variedade de classes sociais: ho- mens de melhor condigio financeira ¢ agricultores. Na parte superior da figura também hé uma igreja e se encontram poucas pessoas ali, assistindo A execucao. Existem poucos soldados espalhados pela cidade, No entanto, o foco primario da figura esta na plataforma de execugio, Nessa plataforma estio trés homens pro: ximos 4 entrada da prefeitura, impedindo a subida de outras pessoas na escada de acesso A plataforma; acima deles ha mais dois homens que estio debrugados no corrimio da plataforma, Eles olham para a multidao ¢ esti de costas para jo. Finalmente, h um carrasco com a espada em mira do pescogo 22 LASSCHE; VISSER, 2019, p47. 23 EEKHOUTT, Marianne, Dicrensatie in de 17de ceuw: De Synode van Dordzrcht er de terechisteling van Oldenbarnevelt op schilderijen, Holland Historisch Tijdschrift, In vredig Holland, [sl], «50,1. 3, 2018, p. 154 478 VINICIUS COUTO Imotanee goss ree Pabes Boss 78 Tconografia Dortiana do executado, que € Oldenbarnevelt, A multidio préxima da plataforma nao parece excitada, ou contrariada, sendo algumas poucas pessoas que parecem chocadas. A finica excecio é um homem que escala, solitirio, a plataforma, Nao é possivel saber se ele queria apenas ter uma vista mais privilegiada ou se queria agir de modo mais resistente. Além deste grupo mais préximo da plataforma, € apesar de néo estar muito claro, existem dois grupos nas extremidades inferiores que parecem estar equipadas com paus ou armas, Néo € possivel saber se eles esto se posicionando para uma rebelifio, mas existe essa possibilidade, princi- palmente porque o grupo da esquerda da figura parece estar se movimentando ‘ese empurrando, ao passo que um homem parece estar correndo, Na parte in- ferior da gravura temos uma critica alegérica a Mauricio de Nassau, Trata-se de uma citage do senador e historiador romano Cornelius Tacitus, extraida de sua ‘obra Vita Agricolae: Nero tamen subtraxitoculas. lussitquescelera sed non spectait (Nero desviow os olhos. Ele ordenou, mas no assistiu seus crimes). Embora o Sinodo de Dort tena saido vitorioso no que tange & politica de Mauricio de Nassau e & teologia dos gomatistas, é certo que houve muitas decisdes injustas, que nao se resumem a execugio de Oldenbarnevelt, mas incluem assassinatos cruéis de remonstrantes, exilios de pastores, confisco de bens ¢ corte salarial dos ministros que se alinhavam com a teologia nio calvi- nista, Por isso, as decisdes intolerantes geraram reagies. Existem muitas outras literaturas, poemas e pinturas que condenaram tais atitudes, A morte do esta- dista ¢ advogado Oldenbarnevelt foi vista coma um ato covarde, realizado por individuos sem compaixio ¢ que nao poderiam ser considerados seres huma- nos. A critica recorrente é de desumanidade! Em meio aos protestantes, varias figuras levaram essa narrativa (figuras 04 ¢ 05). Mas ela ndo ficou estitica neste universo, pois até mesmo catélicos se pronunciaram contra todas aquelas crueldades (figura 06). CINDTOLERANCIAS RELIGIOSAS NOS PAISES BAIXOS 479 PROVAFNAL Wounds ragossnoe Paes Sanorinds eS jose 1838

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