2014 EvertonMachadoSimoes VCorr

Fazer download em pdf ou txt
Fazer download em pdf ou txt
Você está na página 1de 196

UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO

FACULDADE DE FILOSOFIA, LETRAS E CIÊNCIAS HUMANAS

ÁFRICA BANTA NA REGIÃO DIAMANTINA: UMA PROPOSTA DE


ANÁLISE ETIMOLÓGICA

(Versão corrigida)

Everton Machado Simões

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-


Graduação em Linguística para obtenção do
título de Mestre em Linguística.

Orientadora: Profa. Dra. Margarida Maria Taddoni Petter

São Paulo
2014
EVERTON MACHADO SIMÕES

ÁFRICA BANTA NA REGIÃO DIAMANTINA: UMA PROPOSTA DE


ANÁLISE ETIMOLÓGICA

(Versão corrigida)

Dissertação de mestrado apresentada ao


Programa de Pós-Graduação em Linguística
para a obtenção do título de mestre em
Linguística.

Orientadora: Profa. Dra.


Margarida Maria Taddoni Petter

São Paulo
2014
SIMÕES, Everton Machado. África banta na região diamantina: uma proposta de estudo
etimológico. Dissertação apresentada ao Programa de Pós-graduação em Lingüística, da
Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo para
obtenção do título de Mestre em Linguística.

Aprovado em:

Banca Examinadora

Prof. Dr.________________________________________Instituição: _____________________

Julgamento:____________________________________Assinatura: ______________________

Prof. Dr.________________________________________Instituição: _____________________

Julgamento:____________________________________Assinatura: ______________________

Prof. Dr.________________________________________Instituição: _____________________

Julgamento:____________________________________Assinatura: ______________________
Dedicatória

Aos meus sobrinhos, Sarah e Gabriel.

À ma puce.
AGRADECIMENTOS

Agradeço,

Primeiramente à Profa. Margarida Petter, por sua orientação, generosidade


e carinho que nunca serão esquecidos;

À Profa. Márcia de Oliveira, pelas boas indicações dadas no exame de


qualificação e pelo incentivo constante;

À Profa. Sônia Queiroz, pelas sugestões de pesquisa, e por seu convite para
participarmos do 44º. Festival de Diamantina;

À colega Andréa Adour, professora doutora da UFRJ, com quem pude tantas
vezes compartilhar do trabalho com os vissungos e falares africanos;

À minha amiga e prima Andréa Machado, que com suas leituras e revisões
leigas ajudou profundamente o trabalho;

Ao Guilherme Marczak, por todo apoio e amizade incondicionais;

Aos mestres de cantos e contos das comunidades, em especial: Seu Ivo, Seu
Geraldo (in memoriam), Dona Geralda, Clemência, Vavá e Geraldinho, em Milho
Verde; Dona Ana e Dona Luísa, no Espinho; Seu Pedro de Alexina, Dona Maria
Miúda e Maria Macarrão, em São João da Chapada e Quartel do Indaiá;

Às pessoas que foram de grande auxílio nas pesquisas de campo: Teresinha


Sanguinete e família, em São João da Chapada; Adeliane e sua família tão
acolhedora, no Espinho; Mauro e o pessoal da Pousada Morais, em Milho Verde;

Aos queridos colegas da Universidade de São Paulo: Edna, Paulo Jefferson,


Kamunjin, Lívia, David, Eduardo, Francisco;

Aos caros amigos: Tina, Damaris, Tatá, Chico, Cláudia e Jeff;

À minha família;

Aos meus irmãos e meus pais,

Muito obrigado.
RESUMO

Este trabalho constitui uma pesquisa sobre o léxico de origem africana presente
em falares da região diamantina de Minas Gerais. Estão aqui reunidos os léxicos de
diferentes pesquisas sobre a região, além dos resultados recentes de nossa
investigação, realizada em quatro comunidades remanescentes de quilombo:
Ausente e Baú, no distrito de Milho Verde, Serro; Espinho, no município de
Gouveia; e, Quartel do Indaiá, no distrito de São João da Chapada, Diamantina. O
objetivo principal deste estudo é apresentar uma investigação etimológica dos
itens lexicais coletados, procurando fazer um estudo histórico e linguístico da
realidade observada.

A partir de orientações para o trabalho etimológico de Viaro (2011), procuramos


consultar as fontes de registro mais antigas de línguas africanas que pudessem
estar relacionadas ao léxico da região. Esses registros são constituídos,
principalmente, de dicionários de línguas africanas e alguns estudos históricos e
linguísticos sobre as comunidades mineiras investigadas.

O estudo realizado permite afirmar que o sistema de escravidão na região


diamantina, o tráfico mais recente partindo do porto de Benguela e a proximidade
lexical das línguas do grupo banto preservaram por um período uma língua
africana de características bantas. Não se pode identificar com certeza qual seria
essa língua, apesar da presença de um grande número de itens lexicais do
umbundo. É mais prudente propor que se trate de um caso de convergência de um
falar veicular do grupo R com as línguas do grupo H, presentes na região.

Palavras-chave: línguas africanas no Brasil, léxico de origem africana, línguas


bantas, etimologia, línguas africanas em Minas Gerais.
ABSTRACT

This is a study of lexical items from ‘African speeches’ (falares africanos) in


the diamond-mining region of Minas Gerais, Brazil. We collected the lexical items
from different researches in the area, complementing them with results from our
investigative research in four maroon-descendent communities: Ausente and Baú,
district of Milho Verde, Serro; Espinho, Gouveia; and, Quartel do Indaiá, district of
São João da Chapada, Diamantina. Our main objective is to present an etymological
investigation of the items collected, based on a historical and linguistic study.

Based on Viaro (2011), we consulted the oldest registers of African


languages that could be related to the lexical items found in the region. These
registers are constituted mostly by African languages dictionaries, besides some
historical and linguistic studies of the African-Brazilian communities from Minas
Gerais.

Our study indicates that the slavery system of the diamond region, the late
traffic departing from Benguela seaport and the lexical proximity of Bantu
languages, favored the preservation during a certain period of time of an African
language of Bantu characteristics. It is not possible to identify precisely which
language it was, but we could identify a great lexical contribution from umbundo
(R10). It is reasonable to propose that there was a case of linguistic convergence of
a vehicular language from the R group with languages from the H group, both
present in the region.

Keywords: African languages in Brazil, African lexical items, Bantu languages,


Etymology, African languages in Minas Gerais
Sumário

Abreviações e diacrítcos 11

Introdução 13

Capítulo I – Os Africanos na Região Diamantina 17

1.1 A Região Diamantina 17


1.1.1 O distrito diamantino e a mineração 17
1.1.2 O distrito diamantino e a escravidão 22
1.2 Remanescentes de quilombos 25
1.2.1 Milho Verde e as comunidades de Ausente e Baú 27
1.2.2 São João da Chapada e Quartel do Indaiá 31
1.2.3 Espinho 35

Capítulo II – Falares africanos na região diamantina 39

2.1 Os vissungos 41
2.2 O canto dos Catopês de Nossa Senhora do Rosário 43
2.3 A língua africana da região diamantina 51

Capítulo III – Línguas africanas na região diamantina 87

3.1 O tráfico e as línguas africanas no Brasil 87


3.2 Considerações sobre o trabalho etimológico 93
3.3 As línguas bantas 98
3.4 As fontes dicionarísticas das línguas africanas 102
3.5 Análise dos dados 143

Conclusão 185
Referências bibliográficas 187
Anexo 1 195
ÍNDICE DE FIGURAS E MAPAS

Figura 1: Mapa da Estrada Real (Caminhos Velho e Novo) 19


Figura 2: O Atlântico Sul português no séc. XVIII 24
Figura 3: Mapa de comunidades afrodescendentes em Minas Gerais 55
Figura 4: Províncias atuais de Angola 90
Figura 5: As línguas do grupo banto (classificação de Malcolm Guthrie) 98
ÍNDICE DE QUADROS E TABELAS

Quadro 1: Comparação dos vocabulários de falares africanos no Brasil 58


Tabela 1: Tráfico de africanos para o Brasil 88
Quadro 2: Comparação dos falares africanos com línguas do grupo banto 109
Abreviações

adj. adjetivo
adv. advérbio
AM Aires da Mata Machado Filho (São João da Chapada)
cl. classe
dim. diminutivo
ESP Espinho
ext. extensão verbal
GEN genitivo
imp. imperativo
IO índice do objeto
IS índice do sujeito
lit. literalmente
LOC locativo
MV Milho Verde
Obs. comentários sobre a análise
PI pré-inicial
PL plural
POSS sufixo do possessivo
pr. presente
pref. prefixo
quimb. quimbundo
REC passado recente
SG singular
sub. substantivo
TAM marca de tempo, aspecto e modo
umb. umbundo
v. verbo
VF vogal final

Diacríticos

*x x é reconstruído
x>y x se transforma em y
x<y x provém de y
x → y x deriva (morfologicamente) de y
x ← y x é derivação de y
x≈y x é variante de y
x≅y x é cognato de y
x ≡ y x é homófono de y

x≅y x é cognato de y

x  y x afeta y analogicamente
x >> y o significado x se transforma no significado y
? Dúvida quanto à afirmação
[?] Menor probabilidade da hipótese
INTRODUÇÃO

Este trabalho teve início a partir de um projeto-piloto de parceria entre o


IPHAN (Instituto do Patrimônio Histórico Nacional) e a Universidade de São Paulo,
sob a coordenação das Professoras Doutoras Margarida Maria Taddoni Petter e
Márcia Santos Duarte de Oliveira, cujo objetivo, em termos gerais, segundo as
coordenadoras (2011a) era a elaboração de um “banco de textos orais coletados
em duas comunidades quilombolas de Minas Gerais – Tabatinga (Bom
Despacho/MG) e Milho Verde (MG) – e uma do Pará – Jurussaca (Tracuateua) –
para avaliar a eventual presença de traços de línguas africanas a partir da
comparação de dados atuais com trabalhos publicados sobre a ‘linguagem’
daquelas regiões”.

A partir da análise de dados coletados no projeto, procurou-se continuar a


pesquisa no distrito de Milho Verde, município de Serro (MG), e expandi-la a
comunidades afro-brasileiras histórica e socialmente ligadas à região diamantina
de Minas Gerais, tendo por objetivo não somente registrar a situação dos falares
africanos nestes locais, mas também tentar remontá-los à sua origem.

O objeto de estudo deste trabalho é este conjunto de falares contendo léxico


de origem africana encontrado em comunidades afrodescendentes na região
diamantina do estado de Minas Gerais, os quais se apresentam sob três formas
distintas: uma ‘língua secreta’ falada no garimpo, contendo alguns poucos itens
lexicais de origem africana, inseridos, normalmente, na morfossintaxe do
português brasileiro; cantos religiosos da festa de reinado de Nossa Senhora do
Rosário, entoados pelo grupo dos Catopês; e os vissungos, entoados antigamente
pelos escravos e seus descendentes acompanhando alguma prática ou função
social (funeral, trabalho etc.).

Os vissungos são uma rica fonte para a análise das línguas africanas
presentes no Brasil, tendo preservado sob a música, uma quantidade maior de
itens linguísticos trazidos pelos negros escravizados. São cantos “ritualísticos [...]
que incorporam emoções de ordem social e religiosa” (NASCIMENTO, 2003, p. 23).
A própria palavra tem origem no termo umbundo, ovi-sungo, pertencente à quarta

13
classe prefixal nominal, e plural de oci-sungo, o qual significa ‘canção’ (SANDERS,
1885 [2009]).

Observa-se que a opção por tratar o objeto de estudo como um conjunto de


‘falares’ deve-se ao fato de não serem estes utilizados como língua plena. A língua
secreta do garimpo, até recentemente, tinha por estrutura o português brasileiro
contendo um vocabulário de quase duas centenas de itens diferenciados. Já os
cantos, em sua maior parte, constituem um corpus cristalizado cujo léxico não é
tão facilmente acessado pelos falantes, apesar de razoavelmente preservado.

O objetivo geral desta dissertação é resgatar e documentar a existência de


parte deste léxico de origem africana na região diamantina. Mais especificamente,
busca-se explicar sua origem, transformação e permanência sob uma perspectiva
histórica, evidenciando o seu contato com a língua portuguesa e línguas africanas
na região. Considerando-se que a maioria das unidades lexicais inventariadas é de
origem banta, almeja-se também entender a suposta ausência de elementos
lexicais de demais grupos linguísticos do oeste africano, mais especificamente de
uma língua que, no século XVIII, foi documentada na região – a língua geral de
mina.

Para alcançar esses objetivos, além das pesquisas bibliográficas, foram


realizadas quatro viagens de campo às seguintes comunidades remanescentes de
quilombos: Ausente e Baú, situados no distrito de Milho Verde, município de Serro
(MG); Quartel do Indaiá, no distrito de São João da Chapada, município de
Diamantina (MG); e, Espinho, no município de Gouveia (MG). Sendo que algumas
entrevistas foram realizadas na cidade do Serro, na área conhecida como
Mombassa, e no distrito de São Gonçalo do Rio das Pedras.

Devido à quase extinção dos falares africanos na região, buscou-se


entrevistar informantes que ainda se lembrassem das práticas dos vissungos ou da
‘língua dos africanos’, sendo geralmente apontados pelas comunidades os
habitantes mais idosos, conhecedores de histórias, contos, músicas e tradições.
Mediante conversas informais, pedia-se aos informantes que recordassem
histórias, palavras e músicas antigas ligadas aos africanos, além de contarem suas
histórias pessoais. Quando fornecida alguma música ou palavra, perguntou-se

14
sobre o modo de uso e sentido, que nem sempre eram conhecidos pelos
colaboradores.

Por vezes, recorreu-se a perguntas sobre um vocabulário específico,


utilizando termos da região e do glossário de Machado Filho (1985), ou indagando
como se dizia na língua africana algumas palavras do vocabulário básico de
alimentação, tais como ‘sal’, ‘água’, açúcar’ etc.

O material coletado durante a pesquisa corresponde a 1672 minutos, ou


quase 28 horas de gravação, aos quais se somam 740 minutos cedidos pelo
Projeto-Piloto IPHAN/USP, do qual selecionamos 33 itens lexicais da comunidade
do Espinho, 106 novos itens coletados na região de Milho Verde. Além disso,
utilizamo-nos de itens em bibliografia sobre a região para a complementação de
nossos dados.

Para a análise do léxico, optamos pelo método etimológico segundo as


orientações encontradas em Viaro (2011). Utilizamos como fontes de nosso
trabalho comparativo, sete dicionários de umbundo e quimbundo, além de um
vocabulário de umbundo elaborado durante o século XIX. Aproveitamo-nos
também de alguns poucos dados do quicongo. Procuramos por fontes que nos
indicassem uma sincronia pretérita dessas línguas e, desta forma, tornassem nosso
trabalho possível.

Este estudo, além desta introdução e da conclusão, distribui-se em três


capítulos. No primeiro, apresenta-se a região diamantina e descrevem-se as
regiões onde se efetuou a pesquisa de campo, destacando o contexto histórico em
que se desenvolveram os falares africanos. Esses falares são o tema do segundo
capítulo, onde se expõem suas diferentes variedades: os cantos vissungos, o canto
dos catopés de Nossa Senhora do Rosário e, finalmente, a língua africana da região
diamantina. A análise do léxico coletado na pesquisa bibliográfica e no trabalho de
campo – foco central desta dissertação – é apresentada no capítulo final, onde se
coloca em evidência o estudo etimológico dos termos inventariados.

Cabe, por fim, fazer uma observação quanto ao uso dos termos escravo e
escravizado. Por vezes, neste trabalho, alternamos entre o uso destas palavras,
mesmo cientes da realidade que os povos africanos transplantados para o Brasil

15
durante o período do infame comércio, o tráfico negreiro, não eram escravos na
sua origem, mas foram aqui escravizados. Desta forma, o eventual uso do termo
escravo não implica em ofensa ou culpabilização do escravizado em relação à sua
condição.

16
Capítulo I – Os Africanos na Região Diamantina

Que eles num são nação daqui, não.


Tudo é africano. Essa nação, tudo é africano.

Seu Crispim (VERÍSSIMO, 2009, p. 15)

Principalmente a partir das últimas décadas do século XX, as comunidades


remanescentes de quilombo da região diamantina foram objeto de pesquisas
linguísticas, históricas, antropológicas, etnomusicológicas, entre outras. As
pesquisas sobre os afro-brasileiros na região foram estimuladas devido à história
peculiar do distrito diamantino e aos registros de tradições dos afrodescendentes.
Para situar nosso trabalho nessa tradição de estudos, procuramos, neste capítulo,
apresentar uma breve história da região, das comunidades pesquisadas e das
pesquisas nelas desenvolvidas.

1.1 A região diamantina

1.1.1 O distrito diamantino e a mineração

A descoberta da região aurífera de Minas Gerais ocorreu no final do século


XVII, impulsionando uma grande corrida do ouro por todo o século seguinte, o
chamado ‘ciclo do ouro’. O ouro de aluvião encontrado primeiramente no leito do
Rio das Velhas, em região onde futuramente se fundaria a Vila Rica de Ouro Preto,
fez com que uma região pouco habitada, inóspita e de terreno pouco fértil fosse
rapidamente colonizada. Em 1709, cerca de 15 anos após a descoberta do ouro,
cerca de 30 mil pessoas já trabalhavam em diversas atividades na região
(mineradora, agrícola e comerciais) (BOXER, 1969, p. 71).

Logo na última década do séc. XVII, formaram-se novos caminhos de acesso


à região das minas. O ‘caminho velho’, aberto a partir de Parati até se juntar ao
‘caminho geral do sertão’ (utilizado pelos bandeirantes paulistas), na altura de
Pindamonhangaba, juntamente com o ‘caminho novo’ que partia do Rio de Janeiro,

17
ficou conhecido como a Estrada Real. Um outro caminho também utilizado para a
região, que apesar de mais longo, mais simples e menos escarpado, foi o chamado
‘Caminho da Bahia’ ou ‘Caminho dos Currais do Sertão’, traçado ao longo do Rio
São Francisco até a junção com o Rio das Velhas (BOXER, 1969, pp. 62-63). Boxer
afirma que:

os arraiais mineiros (...) depressa estavam interligados por uma rêde de


trilhas e passagens, inclusive com os remotos postos avançados
estabelecidos no inabordável Serro do Frio, parte do vale do Rio
Jequitinhonha (BOXER, 1969, p. 63).

18
Figura 1: Mapa da Estrada Real. Fonte: http://www.sabaranet.com.br/estradareal.asp

A corrida do ouro alcançou as cabeceiras do Rio Jequitinhonha ainda no


começo do século XVIII. Suas nascentes se localizam na parte meridional da Serra
do Espinhaço, formação geológica que segue do centro do estado de Minas Gerais
ao sul da Bahia, em cujos flancos e derivações normalmente se encontrava o ouro.
Em 1714, o arraial principal de Nossa Senhora da Conceição do Serro Frio,
tradução da palavra indígena Ivituruí, ‘montanhas frias’, logo se elevou a Vila do
Príncipe, atual município do Serro (SANTOS, 1956, p. 49).

19
Na primeira metade do século XVIII, a história da região passa a se
distinguir de seus arredores após a descoberta e prospecção dos diamantes. Já em
1726, era conhecida a existência das pedras, sendo que aventureiros adentraram
às partes mais remotas do Serro Frio, trocando a lavagem do ouro pela das pedras
recém-descobertas (BOXER, 1969, p. 224). Ainda na década de 1730, o Arraial do
Tejuco, futura cidade de Diamantina, ultrapassa em população e importância a Vila
do Príncipe, tornando-se o polo comercial mais importante da região.
Em 1734, cria-se a Intendência de Diamantes, administração da região
diretamente ligada à coroa, e demarcam-se as terras do distrito, que sofreriam
diversas alterações durante o século XVIII (SCARANO, 1969, p. 165). Após
sucessivos aumentos da taxa de capitação,1 forma como eram cobrados os
impostos pela Coroa Real, seguiu-se um período de proibição completa da
mineração na região (para recuperação dos preços dos diamantes que perdiam
valor devido ao contrabando e à livre exploração inicial). Em 1740, a Coroa institui
o contrato de monopólio (BOXER, 1969, pp. 228-229).

Neste período destacam-se os chefes Felisberto Caldeira Brant, preso em


1752 sob a acusação de fraudar a Coroa, e o doutor em leis João Fernandes de
Oliveira, conhecido por seu romance com Francisca da Silva, a Chica da Silva,
conhecida negra liberta que ascendeu à alta sociedade.

O caso de Brant não era uma exceção. Havia restrição quanto ao número de
escravizados que poderiam trabalhar na mineração. Apenas 600, segundo Scarano
(1969, p. 165). No entanto, Machado Filho (1985, p.18) indica que era geral o
abuso dos contratadores que chegavam a empregar 4000 escravizados nas lavras.
Boxer (1969, p. 237) afirma ser o número exagerado. No entanto, os contratadores
utilizavam de negros supostamente ocupados em outros serviços para procurar
diamantes. Ainda, mineravam em riachos fora dos limites impostos e mesmo
compravam diamantes de garimpeiros ilegais e de seus próprios escravos.
A mineração por contrato é substituída pela Real Extração, em 1772,
quando a coroa passou a explorar diretamente as pedras, instituindo o Regimento
Diamantino, o famigerado ‘livro da capa verde’. Durante todo o período colonial,

1
Segundo Boxer (1969, pp. 224-226) cobrava-se uma taxa de 5$000 sobre cada escravo ou mineiro
empregado na mineração em 1730. Apenas dois anos depois, a taxa havia sido elevada a 40$000,
principalmente para limitar o número de mineradores e aumentar o valor das pedras.

20
porém mais enfaticamente durante a Real Extração, o distrito diamantino foi uma
Demarcação da Metrópole com tratamento distinto das demais regiões e regras
rígidas para seus habitantes, ligando-se diretamente a Lisboa. Segundo Boxer
(1969, p. 239), comerciantes deveriam passar por rigorosa inspeção alfandegária
ao entrar ou sair do distrito, e qualquer cidadão poderia ser expulso diante da mais
leve suspeita ou acusação.
O período de exploração sobrevive por alguns anos à decadência do ciclo do
ouro, entrando em descrédito a partir de 1816, sendo a Real Extração
definitivamente abandonada pelo Império Brasileiro em 1841 (SCARANO, 1969, p.
166).
Martins (2008, p. 612) afirma que o século XIX pode ser dividido em quatro
períodos: a) 1808-1832, quando há a primeira crise do diamante, correspondente
ao fim da Real Extração; b) 1832-1870, ápice da atividade garimpeira, quando se
adota o regime de livre exploração; c) 1870-1897, segunda crise do diamante,
ocasionada pela descoberta das minas na África do Sul; d) 1897-1930, quando há
reintensificação da atividade mineradora e intensificação da operação de grandes
empresas estrangeiras.
No decorrer dos séculos XIX e XX, os diversos vilarejos e distritos da região
foram se emancipando e formando diferentes municípios, a saber: Diamantina,
1831; Serro, elevado a cidade em 1838; Rio Vermelho, 1938; Felício dos Santos,
1953; Gouveia, 1953; Presidente Kubitschek, 1962; Alvorada de Minas, 1962;
Datas, 1962; Senador Modestino Gonçalves, 1962; São Gonçalo do Rio Preto, 1962;
Couto de Magalhães de Minas, 1963; Monjolos, 1963; Santo Antônio do Itambé,
1963.
Mesmo com tais mudanças político-administrativas, o garimpo ainda é uma
realidade na região, ainda que realizado ilegalmente e em empreitadas
independentes. Mais recentemente, a atenção aos problemas ambientais causados
no Alto Jequitinhonha levou à proibição do garimpo e mineração em diversos
trechos do rio. Segundo artigo da revista Veja (27/06/2001), a única mineradora
instalada em Diamantina, do grupo Andrade Gutierrez, deixaria de atuar em três
anos por esgotamento da jazida.

21
1.1.2 O distrito diamantino e a escravidão

A comarca do Serro Frio foi dos lugares onde a Coroa fez valer toda sua
autoridade, sendo difícil escapar às leis impostas na região. Scarano (1969, pp. 104,
108) afirma que o número de negros na localidade nunca foi superior ao das
Comarcas mais populosas (Mariana, Vila Rica e Rio das Velhas), entretanto, ainda
assim, constituíram o maior contingente populacional da região.
O sistema de capitação levava os proprietários a ocultarem ou modificarem
seus números, utilizando de recursos como a substituição de escravizados fugidos
ou doentes (SCARANO, 1969, p. 106). Contam-se, em 1735, 10.102 escravizados na
Comarca da Vila do Príncipe. Quando da instituição do sistema de Contrato, os
números baixam para 7.000 ao final da década de 1740, subindo a um total de
15.414 duas décadas mais tarde (Ibid., p. 110).
Em 1740, qualquer escravo encontrado em busca de diamante fora da área
delimitada seria confiscado pela Coroa, assim como escravos que ultrapassassem a
cota permitida para mineração. Um indivíduo poderia, ainda, ser expulso do
distrito simplesmente diante da acusação de um dos contratadores (BOXER, 1969,
pp. 229-230). Negros forros e pardos estavam entre os grupos mais vitimizados
pelo sistema.
Entretanto, o sistema necessitava de escravos. Mesmo assim, havia a
intenção de se trabalhar com o mínimo necessário para evitar os roubos e
contrabando de diamantes.
Os escravos tinham que trabalhar curvados, de frente para seu capataz
de forma a peneirar o cascalho nos alguidares e atirar para fora o
referido cascalho enquanto apanhavam os diamantes. Tinham que trocar
de lugares [...] a fim de impedir o encontro de diamantes que pudessem
ter escondido num monte de pedras ou na terra. [...] [Todavia] A
primeira coisa que os trabalhadores velhos, entre os escravos,
ensinavam aos moleques [...] era a forma de roubar diamantes. (BOXER,
1969, pp. 234).

O maior contingente de escravizados da região, no entanto, dedicava-se ao


serviço agrícola. Ao passo que 8.591 trabalhavam nas roças, 2.681 permaneciam
nas lavras de diamantes na década de 1760 (SCARANO, 1969, p. 111).

22
A rigidez de controle instaurada pela Coroa incitava muitos brancos pobres
à ilegalidade do garimpo e sua associação aos quilombolas, grupos de negros
fugidos. O terreno acidentado da região criava esconderijos fáceis para ambos, que
mantiveram o contrabando de diamantes durante todo o período colonial, mesmo
sendo perseguidos constantemente pelos dragões de Minas.
Os escravizados do Distrito Diamantino pertenciam às mais diversas
‘nações’ que forneceram contingentes para o Brasil. Em análise sobre as
irmandades religiosas de negros na região, Scarano (1969, p. 113) afirma serem os
‘minas’ mais numerosos, seguidos pelos ‘benguelas’ e ‘nagôs’ e, finalmente, pelos
‘angolas’. A autora ainda afirma a presença de poucos representantes de diversas
‘nações’: daomé, tapa, congo-cabinda, moçambique, maqui, sabará, timbú, cobú,
xamba, malé.
Em busca de referências às nações dos africanos escravizados, realizamos
uma consulta modesta aos dados de óbitos da região de Milho Verde, atual distrito
do município de Serro, e local de nascimento de Chica da Silva. Os documentos2
encontram-se na Casa do Bispo (ou Mitra) na Rua do Contrato em Diamantina.
Verificamos os registros de óbitos de escravos entre 1785-1819. Os registros
possuem lacunas entre os anos de 1800-1806, além de não oferecerem dados dos
anos de 1795, 1807, 1816, 1817. Entre os dados de africanos falecidos na região,
verificamos um total de 147, especificados da seguinte forma em ordem
decrescente: benguelas/banguelas – 21; crioulos – 15; angolas – 12; nagôs – 6;
minas – 6; rebolos – 6; cabras – 6; cabinda – 5; mafumbes/muvumbes – 5; cassanje
– 3; ganguelas – 3; congos – 2; songos – 2; munjolos – 2; outros (vermelho,
goganda, moçambique, da fomé (daomé), timbú, malé, lada, gosir(?)/yosir(?);
perneba/parneba(?); cadgaguino(?) ) – 1 de cada; além de 43 não especificados.
Desse modo, percebemos uma indicação da forte presença de africanos
escravizados vindos tanto da África Ocidental (a chamada costa de mina) quanto
da África Centro-Ocidental (a partir dos portos de Angola). As ‘nações’ não
especificavam necessariamente etnias, mas foram importantes no processo de
reconstrução identitária dos africanos vitimados pelo tráfico.

2
Diamantina, Casa do Bispo, MG - Caixa 357, Bloco E – Registro de óbitos de Milho Verde 1715-1818.

23
Figura 2: O Atlântico Sul português no século XVIII. Fonte: MILLER, 2010, p. 37.

Durante o ciclo do ouro, houve preferência por africanos trazidos da costa


de mina. Segundo Boxer (1969, p. 195), o africano ‘mina’, exportado
principalmente de Ajudá, atual República do Benin, era considerado mais forte e
vigoroso que os da África Centro-Ocidental, além de se lhe atribuir poderes
mágicos para a descoberta do ouro. A Costa de Mina incluía desde o Cabo Palmas,
atual república da Libéria, até a região da atual República dos Camarões.
O intenso tráfico de escravos ‘mina’, levou à documentação, em meados do
século XVIII, de uma língua veicular entre os africanos escravizados na região de
Vila Rica de Ouro Preto. O documento, primeiramente publicado em Lisboa em
1731, com segunda edição em 1741, de autoria de Antonio da Costa Peixoto,
permaneceu desconhecido até 1945 quando publicado por Luís Silveira como Obra
nova de língua geral de Mina de António da Costa Peixoto (BONVINI, 2008, p. 39).
A língua de Mina foi objeto de um importante estudo etnolinguístico
realizado por Yeda Pessoa de Castro (2002), em que a autora associa a língua a um
falar fon. Bonvini (2008, p. 41) tem outra avaliação, e acrescenta que o fon, uma
língua do tronco nigero-congolês, subfamília kwa (cuá), é um dos 51 dialetos do
grupo (language unit) gbe. Além do mais, o autor indica que não haveria ligação da

24
língua a um dialeto específico, mas a todo o language unit, na constituição de um
falar veicular, em processo de pidginização3 (BONVINI, 2008, p. 45).
Apesar dos mitos que ajudaram a intensificar o tráfico de escravos ‘mina’, o
comércio negreiro prosseguiu ativamente na costa de Angola, sendo que os
africanos exportados da região seguiam de perto em número os da África Ocidental
(BOXER, 1969, p. 195). Com a decadência do ciclo do ouro, reforçou-se o tráfico na
costa de Angola, havendo aumento do transporte na segunda metade do século
XVIII, pelo porto de São Filipe de Benguela, ao sul de Luanda; nos portos do Congo
Norte, em 1810; e, em Benguela novamente, após 1830 (SLENES, 1992, p. 60).
Em 1873, o total de escravizados do município de Diamantina era de
34.838, constituindo 9% do total da província (MARTINS, 2008,p. 616). Machado
Filho afirma que a lei áurea libertou cerca de 800.000 brasileiros, 230.000 em
Minas Gerais, boa parte dos quais se encontravam nos municípios do antigo
Distrito Diamantino. Muitos dos escravizados recém-libertos, deixados em situação
precária, juntaram-se aos garimpeiros independentes, lançando-se à fortuna e
desfortuna proporcionada pelos diamantes.
A dinâmica da escravidão, a geografia peculiar da Serra do Espinhaço e as
práticas severas impostas pela coroa no Distrito Diamantino foram relevantes na
manutenção de costumes africanos na região, assim como na formação das
diversas comunidades remanescentes de quilombos.

1.2 Remanescentes de quilombos

Sabe-se que a formação histórica dos aquilombamentos ocorreu pela fuga


de africanos escravizados para regiões ermas, cansados e inconformados com a
situação árdua do cativeiro. O quilombo tornou-se um modelo de resistência do
africano ao sistema da escravidão. O termo tem origem na língua quimbunda,
kilómbo, significando um arraial ou agrupamento de trabalhadores (cf. ASSIS
JUNIOR, p. 127). Os quilombolas ou ‘calhambolas’ eram temidos pelos habitantes

3
O autor (2008, p. 45) sugere a partir de Manessy (1995), um fenômeno tríplice, indicativo da
pidginização: 1. Adaptação, “reinterpretação segundo um modelo estrangeiro”; 2. Simplificação,
“diminuição do número de manifestações externas dos mecanismos gramaticais e melhoria de seu
rendimento funcional”; 3. Redução, “redução a zero da complexidade do sistema linguístico”.

25
da colônia, sendo frequentemente acusados de roubos e assassinatos. Todavia, a
visão de um grupo composto somente por africanos e seus descendentes é
equivocada, visto que mesmo brancos e mulatos encontravam-se entre os
elementos do grupo (SCARANO, 1969, p. 118).

Ainda que diversos agrupamentos tenham se formado sob estas condições,


dados do Centro de Documentação Eloy Ferreira da Silva (CEDEFES) indicam que a
maior parte das comunidades remanescentes de quilombo de Minas Gerais se
formou após a abolição.

[...] grande parte dos negros não tinha mais onde ficar, não havia
trabalho e não havia perspectiva de integração à sociedade
brasileira. Assim, muitas famílias migraram para os grotões, para
as terras desabitadas ou para as margens das fazendas. Algumas
poucas famílias receberam terras como doação dos antigos
senhores e ali constituíram uma comunidade (CEDEFES, 2008).

Atualmente, contabilizam-se 435 comunidades ou remanescentes de


quilombos naquele estado, contando-se um número considerável na região
diamantina e seus arredores (CEDEFES, 2008).

Diante desta realidade e da presença do termo ‘remanescentes de


quilombos’ no art. 68, do ADCT (Ato das Disposições Constitucionais Transitórias)
da constituição brasileira de 1988, houve a necessidade de se repensar o que
constitui uma comunidade quilombola contemporânea. Segundo o site do INCRA
(Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária) (2012), uma comunidade
quilombola é constituída predominantemente de uma população afrodescendente
urbana ou rural, autodefinida a partir de suas relações com a terra, o parentesco, o
território, a ancestralidade, as tradições e práticas culturais próprias.

Tal afirmação reproduz as afirmações dos artigos primeiro e segundo do


decreto no. 4887, de 20 de novembro de 2003, assinado pelo Presidente da
República Luís Inácio Lula da Silva.

Art. 1o Os procedimentos administrativos para a identificação, o


reconhecimento, a delimitação, a demarcação e a titulação da
propriedade definitiva das terras ocupadas por remanescentes das
comunidades dos quilombos, de que trata o art. 68 do Ato das

26
Disposições Constitucionais Transitórias, serão procedidos de acordo
com o estabelecido neste Decreto.

Art. 2o Consideram-se remanescentes das comunidades dos


quilombos, para os fins deste Decreto, os grupos étnico-raciais, segundo
critérios de auto-atribuição, com trajetória histórica própria, dotados de
relações territoriais específicas, com presunção de ancestralidade negra
relacionada com a resistência à opressão histórica sofrida.

Oliveira, Campos e Fernandes (2011, p. 130), sintetizam bem a questão. As


comunidades quilombolas com direito à posse de terra não são necessariamente:
1) comunidades situadas em locais associados à presença histórica de
aquilombamento; 2) comunidades isoladas e de população homogênea; ou, 3)
comunidades que tenham se constituído em movimentos de insurreição. Segundo
os autores, a condição básica seria a autoidentificação como “um grupo étnico
distinto do restante da sociedade”.

As comunidades apresentadas a seguir foram selecionadas, portanto, por


compartilharem uma ligação histórica, geográfica e social. Todas são reconhecidas
como remanescentes de quilombos e encontram-se na região que outrora havia
sido o Distrito Diamantino, considerada neste trabalho como região diamantina,
além de haver referências bibliográficas indicando a preservação e uso
diferenciado de línguas africanas.

1.2.1 Milho Verde e as comunidades de Ausente e Baú

O distrito de Milho Verde, município do Serro (MG), situa-se a 23


quilômetros da cidade do Serro, fazendo parte do roteiro da estrada real. O acesso
se dá por uma estrada que foi asfaltada somente em 2011. A população atual do
distrito é de 1.275 habitantes, segundo dados do IBGE (Censo 2010).

27
Capela do Rosário em Milho Verde (jan/2011). Foto: Everton Machado Simões

O distrito teve origem possivelmente em um pequeno arraial formado por


garimpeiros no século XVIII, e foi logo submetido ao controle da Coroa Portuguesa
que instalou um quartel e um posto fiscal para controle da mineração.

No distrito são tradicionalmente celebradas a Folia de Reis, em janeiro, e a


festa de Nossa Senhora do Rosário, no primeiro final de semana de outubro. A festa
do Rosário é uma celebração de Reinado Congo, contando com a participação do
grupo de cantantes da guarda dos Catopés (constituído por moradores de Milho
Verde, Ausente e Baú), um grupo de marujada e, mais recentemente, o grupo de
caboclinhos. Durante a festa há hasteamento de mastro, procissão e coroação de
rei e rainha congos. Muitos dos cantos dos Catopés têm a presença de elementos
lexicais africanos. Discorreremos em detalhes sobre o Congado no próximo
capítulo.

Atualmente, a população local sobrevive do turismo devido a suas belas


cachoeiras, e de atividades rurais. Muitos habitantes do distrito são ex-moradores
das comunidades remanescentes dos quilombos Ausente e Baú.

(a) Ausente

A comunidade de Ausente fica a três quilômetros do distrito de Milho Verde,


dividida em Ausente de Cima, Ausente de Baixo, Papagaio e Massangana (CEDEFES,
2008). A comunidade tem luz elétrica, escola de ensino fundamental e acesso por
estrada de terra. Segundo seus moradores, todas as famílias tiveram origem na

28
comunidade do Baú, que chegaram à região quando os antigos moradores a
haviam abandonado, logo, estando ‘ausentes’.

(b) Baú

A comunidade quilombola do Baú fica a dez quilômetros do distrito de


Milho Verde, no distrito de Pedro Lessa. A comunidade tem luz elétrica, escola de
ensino fundamental e difícil acesso por estrada de terra. Constam 44 famílias,
totalizando 234 habitantes (CEDEFES, 2008).
Os moradores nos relataram que a terra foi doada ou vendida aos escravos
pelos senhores após a abolição. Há ainda ruínas de uma senzala no local. Com o
crescimento atual de igrejas evangélicas pentecostais, parte da população já não
participa das festas tradicionais ligadas ao Rosário e à Igreja Católica.

A pesquisa na região

Segundo nos informa Queiroz (1998, p. 22), o Prof. Mário Roberto Zágari
(Universidade Federal de Juiz de Fora) investigava uma língua de origem africana
na região em 1976. Zágari é responsável por um estudo dialetológico do Estado de
Minas Gerais, entretanto, ainda que tenhamos pesquisado, não encontramos
publicações a respeito de sua pesquisa. Já em 1996, com a publicação do livro
“Cafundó, a África no Brasil”, os autores Carlos Vogt e Peter Fry (1996, pp. 285-
341) apresentam um vocabulário coletado em Milho Verde, apesar de não
oferecerem maiores informações a respeito da coleta dos dados. Nas referências
bibliográficas deste trabalho, encontramos o trabalho do etnomusicólogo austríaco
Gerhard Kubik (1991), “Extensionen Afrikanischer Kulturen in Brasilien”, que
gravou alguns vissungos na região de Quartel do Indaiá (em 1979), e também em
Milho Verde.
No final da década de 1990, cabe ressaltar a pesquisa do também
etnomusicólogo suíço Marc-Antoine Camp, que elaborou um longo trabalho de
investigação concluído em sua tese de doutorado “Gesungene Busse: Praxis und
Valorisierung der Afro-Brasilianischen Vissungo in der Region Von Diamantina,

29
Minas Gerais” (2006), no qual discorre sobre a presença dos cantos vissungos e o
papel e influência dos pesquisadores em geral diante da cultura tradicional.
No começo dos anos 2000, Lúcia Valéria do Nascimento pesquisa a região
em uma busca mais detalhada pelos cantos tradicionais ‘vissungos’. Nascimento
(2003) registra um pequeno glossário de itens coletados com dois informantes da
região, principalmente o Sr. Antônio Crispim Veríssimo, falecido em 2008, e o Sr.
Ivo Silvério da Rocha, mestre do grupo dos Catopês. Nascimento estende o seu
trabalho também à região de São João da Chapada e Quartel do Indaiá.
Há diversos trabalhos artísticos e documentais na região, como, por
exemplo, as diversas oficinas e festivais realizados pela Profa. Sônia Queiroz
(Universidade Federal de Minas Gerais - UFMG) com os dois mestres de cantos e
falares africanos da região, Seu Ivo e Seu Crispim, principalmente durante os
festivais de inverno de Diamantina, realizados pela UFMG. Há, ainda, um
documentário realizado após a morte de Seu Crispim, Ausência (2008), dirigido
por Cássio Gusson.
Por fim, destacamos o Projeto-Piloto IPHAN/USP no. 20173 “Levantamento
etnolinguístico de comunidades afro-brasileiras de Minas Gerais e Pará”,
coordenado pelas Profas. Margarida Maria Taddoni Petter e Márcia Santos Duarte
de Oliveira na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da
Universidade de São Paulo. O projeto surgiu de um convênio do Instituto do
Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) com a Universidade de São
Paulo (USP) por meio da unidade FFLCH e viabilizado pela pesquisa das
professoras acima mencionadas, cujo objetivo foi a criação de um banco de dados,
disponibilizado na rede, de textos orais de duas comunidades afro-descendentes
em Minas Gerais (a comunidade da Tabatinga, em Bom Despacho; e o distrito de
Milho Verde, junto às comunidades de Ausente e Baú, município do Serro) e uma
no Pará (comunidade de Jurussaca, município de Bragança) (PETTER & OLIVEIRA,
2011). O projeto teve como finalidade registrar, documentar e avaliar os traços de
línguas africanas nas ‘linguagens’ das regiões.
Realizado entre 2010 e 2011, o Projeto IPHAN/USP adquire importância
por fazer parte de uma série de projetos-pilotos que antecederam a criação do
decreto no. 7387, de 2 de dezembro de 2010, assinado pelo Presidente Luís Inácio
Lula da Silva, que instituiu o Inventário Nacional da Diversidade Linguística.

30
Segundo o artigo primeiro do presente decreto, o inventário é um “instrumento de
identificação, documentação, reconhecimento e valorização das línguas portadoras
de referência à identidade, à ação e à memória dos diferentes grupos formadores
da sociedade brasileira”.
Conforme já citado, reitera-se que este trabalho filia-se ao Projeto
IPHAN/USP, estendendo a pesquisa a outras comunidades da região, buscando
investigar os ‘falares africanos’ encontrados.

1.2.2 São João da Chapada e Quartel do Indaiá

O distrito de São João da Chapada dista 30 quilômetros da sede do


município de Diamantina em viagem feita por estrada de terra. Teve colonização
tardia, “em um contexto de quilombos e negros foragidos” (GNERRE, 2009, p. 60).
Próximo ao fim da Extração Real, em 1833, dá-se a descoberta das lavras da
Pratinha, atual localização do distrito (MACHADO FILHO, 1985, p. 23), sendo de
negros de procedência da África Ocidental as primeiras casas do arraial (Felipe
Mina, Felipe Nagô etc.) (MACHADO FILHO, 1985, p. 25).

Pôr-do-sol em São João da Chapada, Diamantina (MG) (fev/2012). Foto: Everton Machado Simões

Atualmente, alguns habitantes ainda garimpam em pequenas faisqueiras em


busca de diamantes, mas em sua maioria trabalham com plantação e criação de
animais. Segundo dados do IBGE (Censo 2010), o distrito tem 1.581 habitantes. As
festas tradicionais são: a festa do divino, em maio; a folia de reis, em janeiro, na

31
qual se dança o chula; e a festa de Santo Antônio, em junho, com levantamento de
mastro e procissão.
O chula é uma tradição afro-brasileira na qual os homens tocam e cantam
em versos improvisados, enquanto as mulheres dançam em roda. Atualmente,
existem apenas duas matriarcas da dança na região (D. Miúda e D. Maria
Macarrão). Ainda, antigamente, em São João da Chapada, podia-se acompanhar o
lundu africano, canto acompanhado de dança com bastões, e a festa do bumba-
meu-boi.
A comunidade de Quartel do Indaiá surgiu no início do século XIX, após o
fim do distrito diamantino, ao lado de um antigo posto de fiscalização desativado.
O morro Maqueba, nome supostamente de origem banta e de significado não
fornecido, era utilizado por escravos fugidos que se escondiam dos fazendeiros e
da fiscalização, realizando assaltos na região (CEDEFES, 2008). Machado Filho
(1985, p. 57) afirma que havia seis quilombos ao redor de São João da Chapada:
“Calambolas, Maquemba, um perto do córrego da Formiga, o quilombo de Antônio
Moange, na Valvina, perto do morro do Macumbá, um na Madalena e outros nos
terrenos da fazenda de Bezerra”. Dos dois primeiros teria se formado a população
do local.
O topônimo surge pela grande quantidade de coqueiros de Indaiá que
crescem na região, de cujas folhas os habitantes elaboravam a cobertura de suas
casas de pau-a-pique. Ainda no ano de nossa pesquisa (2012), pudemos observar
algumas poucas construções presentes, conforme se vê na foto abaixo.

Cafua, ou casa de pau-a-pique em Quartel do Indaiá (fev/2012). Foto: Everton Machado Simões

32
A região do quartel passou por conflitos e grilagem de terra nos últimos
anos, fazendo com que alguns habitantes perdessem parte de suas terras.
Atualmente, vivem de agricultura de subsistência e da criação de alguns animais.
Devido à distância até São João da Chapada (semelhantemente às
comunidades de Ausente e Baú), era costume dos moradores em ocasião de
falecimento carregar o cadáver até o cemitério entoando cantos de tradição
africana.

A pesquisa na região

A região é bastante conhecida pela pesquisa pioneira desenvolvida pelo


Prof. Aires da Mata Machado Filho sobre os vissungos, cantos entoados pelos
africanos e seus descendentes para acompanhar o árduo trabalho no garimpo e
demais práticas sociais. O estudo de Aires da Mata resultou na publicação do livro
O Negro e o Garimpo em Minas Gerais.
Aires da Mata observou pela primeira vez os cantos em 1928 quando
passava suas férias na região. Na década seguinte, com o auxílio de Araújo
Sobrinho, do informante João Tameirão e de outro cantador não informado, Aires
da Mata coletou 65 vissungos, dos quais, além de registrar as letras, elaborou as
notações musicais. O autor ainda lista um glossário do que veio a chamar o “dialeto
crioulo sanjoanense”, indicado pelos falantes como língua de Angola ou língua
banguela, constituído de 153 entradas lexicais (algumas contêm mais que um item
lexical) e um vocabulário de 36 entradas encontradas em outras localidades 4.
Aires da Mata indica ‘o caráter banto’ das cantigas e da língua, muitas vezes
tentando relacioná-las a seus étimos na língua ambunda (quimbundo), baseando-
se nas obras até então publicadas sobre línguas africanas no Brasil (a saber, ‘A
influência africana no português do Brasil’, de Renato Mendonça; ‘O elemento afro-
negro na língua portuguesa’, de Jacques Raimundo, ambas publicadas em 1933;
entre outros).
Segundo Queiroz (2009, p. 37), o trabalho de Aires da Mata é
primeiramente publicado em capítulos na Revista do Arquivo Municipal de São

4
A afirmação de Aires da Mata Machado Filho, provavelmente se baseia nos vocabulários até então
elaborados por demais estudiosos de línguas africanas no Brasil.

33
Paulo entre 1939 e 1940, sendo publicado na íntegra em 1943, pela editora José
Olímpio. Uma segunda edição foi publicada em 1964 pela Civilização Brasileira, e
uma terceira, em 1985, pela Editora Itatiaia (edição utilizada nesta dissertação).
Ainda no ano de 1944, o musicólogo e folclorista Luiz Heitor Corrêa de
Azevedo grava vissungos na região de Diamantina em projeto de colaboração com
Alan Lomax, do America Folklife Center da Library of Congress. As gravações de
Azevedo ainda se encontram arquivadas na Biblioteca do Congresso Americano
(Library of Congress) e no Laboratório de Etnomusicologia da UFRJ (Universidade
Federal do Rio de Janeiro). Azevedo selecionou Diamantina como local de gravação
após encontro com Aires da Mata Machado conforme nos indica Camara (2013, p.
41). Em estudo comparativo entre as notações musicais elaboradas por Aires da
Mata e as gravações de Luiz Heitor Correa de Azevedo, Camara nos indica que:

(...) a diferença entre os dois registros é notória, tratando-se de


música de tradição oral na voz de diferentes intérpretes. Por essa
razão, ainda que preservada a identidade cultural, não há um
paralelismo imediato entre o registro de Aires e de Luiz Heitor (2013,
p. 42).

Em 1979, Gerhard Kubik realiza gravações na região de Quartel do Indaiá,


publicando seu trabalho em 1991 (citado anteriormente). Aparentemente, houve
pouca repercussão desta obra sobre os demais trabalhos desenvolvidos na região
em língua portuguesa, sendo uma hipótese provável sua publicação em língua
alemã.
A região somente foi revisitada para pesquisa no início dos anos 2000, em
trabalho de mestrado de Lúcia Valéria do Nascimento, que abrangeu também o
distrito de Milho Verde, no Serro. Nascimento (2003) constatou que não havia
mais conhecedores de vissungos em São João da Chapada, somente dois irmãos na
comunidade vizinha de Quartel do Indaiá: Pedro de Alexina e seu irmão Paulo. Dos
65 vissungos coletados por Machado Filho apenas 14 foram recordados
(NASCIMENTO, 2003, p. 65). Era a confirmação do que Aires da Mata já havia
constatado na década de 1930: “Os vissungos estão quase desaparecendo. Estão

34
morrendo os poucos que sabiam. Os moços (...) vão se esquecendo” (MACHADO
FILHO, 1985, p. 66).
Pedro de Almeida, conhecido localmente como Pedro de Alexina, pôde
participar de vários eventos promovidos pela UFMG na cidade de Diamantina, além
de encontros com os mestres de cantos africanos de Milho Verde, Seu Ivo e Seu
Crispim. Seu irmão, Seu Paulo, faleceu poucos anos após o trabalho de Nascimento
(2003).
Em 2010, o cineasta Rodrigo Siqueira, no belíssimo e premiado
documentário Terra Deu, Terra Come, registra todo o ritual funerário em Quartel
do Indaiá, no qual Seu Pedro de Alexina entoa os vissungos para carregar o defunto
na rede até o cemitério em São João da Chapada.

1.2.3 Espinho

A comunidade do Espinho situa-se na área rural de Gouveia, povoado


surgido no ano de 1715, no período de mineração, e pertencente ao município de
Diamantina até o ano de 1953, quando obteve sua emancipação (ROSA, 2004, p.
19). A comunidade encontra-se situada em um terreno de difícil acesso, próxima a
antigos engenhos, indícios de sua relação com a sociedade escravocrata (ROSA,
2004, p. 78).

Divide-se em Espinho de Cima e Espinho de Baixo, contando com cerca de


60 famílias, constituídas por 120 pessoas. A população sobrevive basicamente de
bolsas federais, atividades agrícolas e de renda enviada por parentes que
migraram para centros urbanos (CEDEFES, 2008).

As festas tradicionais são católicas, celebrando-se a festa da Santa Cruz em


maio e de Nossa Senhora Aparecida em outubro.

35
Santa Cruz no Espinho (fev/2012). Foto: Everton Machado Simões

A pesquisa na região

A antropóloga Miriam Virginia Ramos Rosa, na sua dissertação de mestrado


na Universidade de Brasília, afirma que a comunidade apresenta um fato intrigante
por ter se dissociado de suas origens africanas e, logo, de quaisquer vínculos com a
escravidão, em resposta ao preconceito sofrido pelos habitantes do centro de
Gouveia. Segundo a pesquisadora, a comunidade assumiu o discurso de habitar a
região desde tempos imemoriais, negando serem remanescentes de quilombo ou
terem recebido a terra de algum senhor (ROSA, 2004, p. 49).

Percebe-se aqui não ser tão simples quanto parece o processo de


autorreconhecimento como remanescente de quilombo pelos membros das
comunidades. Apesar de trazer benefícios para comunidades que se formaram
após o fim da escravidão, a autodefinição também depende do olhar do outro sobre
si, e este olhar é muitas vezes estigmatizante. Maria Célia Barros Virgolino Pinto
(2011, p. 87) percebe situação semelhante na comunidade de Jurussaca (município

36
de Bragança, Pará) e elabora o problema: “como formar uma identidade em torno
de uma cultura até certo ponto expropriada e nem sempre assumida com orgulho
pela maioria”.

Pinto (2011, pp. 86-88) nos aponta que, diante de uma sociedade, cujo ideal
é o branqueamento da população, na qual a identidade branca é a única vista como
“desejável”, percebe-se melhor que a identidade negra não é algo constituído, mas
uma construção. De fato, Rosa (2004, p. 78) indica que os habitantes do Espinho
não se identificavam como negros, mas “de cor”, “vermelhos”, “morenos” etc. (Em
pesquisa recente sobre a comunidade da Tabatinga, em Bom Despacho, a Profa.
Margarida Petter indicou situação semelhante).

Em conversa, durante viagem de campo, em fevereiro de 2012, com


Adeliane Margarida da Silva, presidente da Associação Comunitária Quilombola da
Comunidade do Espinho, soubemos que o processo de autodefinição não fora fácil.
A definição veio a partir de outros, porém foi rejeitada quatro vezes pela
comunidade, havendo necessidade de um trabalho explicativo para as famílias
sobre o que seriam comunidades remanescentes de quilombos, suas manifestações
culturais, histórias e os privilégios que poderiam obter pela autodefinição.

O processo de construção identitária e revalorização da cultura local


depende, desta forma, da educação, seja mediante a própria associação
comunitária, como no caso do Espinho, ou do próprio currículo escolar, como em
Jurussaca. Pinto aponta uma situação que pode ser aplicada a várias das
comunidades afrodescendentes espalhadas pelo país:

O processo identitário de Jurussaca não está no vazio, é resultado de uma


confluência de fatores, escolhidos por eles mesmos: entre os elementos
comuns aos membros do grupo; formas de organização política e social,
território, elementos lingüísticos e religiosos. É também através das
manifestações culturais que a comunidade constrói seu currículo
invisível e legitimam suas identidades de forma positiva e emancipatória.

Desta forma, é possível perceber a importância da educação no processo


de construção da identidade da pessoa negra e das tantas minorias
muitas vezes esquecidas, acreditando que a escola pode contribuir com a
construção da identidade dos seus educandos pertencentes à população
negra a partir do momento que assume uma função social inclusiva, em
que as diferenças são reveladas enquanto momento de valorização.
(2011, p. 89).

37
Atualmente, a comunidade do Espinho é reconhecida pela Fundação
Palmares, e busca afirmar-se positivamente como remanescente de quilombo,
ainda que isto cause estranhamento em alguns moradores. Aparentemente, a
atitude da cidade de Gouveia em relação aos moradores do Espinho mudou desde a
década de 1990, vendo-os de forma mais positiva.

Neste trabalho, optamos por pesquisar a comunidade devido a afirmações


de que “lá se fala uma ‘língua estranha’ [...] em ocasiões de velórios e enterros”
(ROSA, 2004:78). Deste modo, nos propusemos a uma investigação linguística que
buscasse elementos do vocabulário ‘afro-brasileiro’ encontrado nas demais
comunidades da região diamantina.

Consideramos, portanto, que as similaridades sócio-históricas das


comunidades refletiram na manutenção em comum de um léxico de origem
africana. Primeiramente, temos um compartilhamento da experiência histórica
como vítimas de práticas escravagistas rígidas características do distrito
diamantino. Em segundo lugar, encontramos o garimpo de diamantes (alternativa
de sobrevivência dos quilombolas, negros alforriados e dos escravizados após a
libertação) que, sendo uma prática geralmente ilegal, ocasionava maior isolamento
dos grupos. Finalmente, as comunidades se mantiveram longe dos grandes centros
e em locais de difícil acesso, facilitando a preservação de suas tradições.

38
Capítulo II - Falares africanos na região diamantina

Ó gente,
Fala língua de baranco, auê
Ai omboê
Fala língua de baranco auê
Cantiga de multa XXI
(MACHADO FILHO, 1985, p. 80)

Os falares africanos foram uma realidade nas comunidades remanescentes


de quilombo estudadas. Nossa afirmação se encontra no pretérito, pois em nossa
pesquisa lidamos, na maior parte, com sua obsolescência. Diferentemente de
comunidades afrodescendentes onde falares africanos ainda se encontram
presentes e funcionais, nas comunidades pesquisadas na região diamantina esses
pertencem basicamente à memória de seus habitantes mais velhos.

Segundo Bonvini (2008, p. 50), o declínio e extinção da maioria das línguas


africanas ligadas à escravidão se deram por dois motivos: primeiramente, a
abolição da escravatura, que até então as alimentava devido ao grande número de
escravizados em zonas delimitadas pelo tipo de produção (açúcar, mineração etc.);
e, em segundo lugar, à nova situação econômica, baseada no café, que redistribuiu
a massa de negros libertos, estendendo-lhes o uso da língua portuguesa e dando
fim à alternância de códigos linguísticos.

O autor prossegue afirmando que houve, entretanto, uma


‘refuncionalização’ das línguas veiculares a um uso específico de determinadas
populações, servindo como ferramenta de preservação identitária, autodefesa e de
afirmação do grupo, dividindo-se em línguas cultuais e em línguas “secretas”
(BONVINI, 2008, p. 50).

Os falares africanos da região diamantina acabam por ocupar as duas


funções. Trazidas com os africanos escravizados, as línguas africanas serviram
como meio natural de comunicação entre falantes de línguas tipologicamente
próximas (o que parece ter ocorrido no caso da língua de mina e entre falantes de
línguas do subgrupo banto, família benuê-congolesa, tronco nigero-congolês), além

39
de ferramenta útil ao ocultar suas conversas de seus senhores, facilitando planos
de fuga, por exemplo. A função cultual destas línguas pode se observar
principalmente nos cantos registrados na região, muitas vezes explicados somente
aos iniciados, conforme as palavras do cantador Manuel Pedro, registradas por
Aires da Mata: “Eu não posso ensinar. Meu mestre não me ensinou. Mandou outro.
Nem todo fundamento a gente pode dar” (MACHADO FILHO, 1985, p. 67, grifo
nosso). O grupo dos Catopês de Milho Verde também entoa cantos na ‘língua’ na
festa do Rosário, e, de igual forma, o mestre do grupo que detém seus
fundamentos, comunicando-os aos demais participantes. Traduz-se ‘fundamento’,
como o significado dos cantos, não necessariamente explicando cada item lexical,
mas que atenta à história e situação de uso de cada canto.

Percebemos, portanto, através das diversas pesquisas mencionadas no


capítulo anterior, que os falares tiveram sobrevida na região devido ao isolamento
relativo destas comunidades e pela ‘refuncionalização’ de sua língua em sua
associação ao trabalho em grupo no garimpo.

Mesmo assim, Nascimento (2003, p. 71) lamenta que sua intenção original
de realizar um estudo comparativo entre os cantos coletados por Aires da Mata na
década de 1930 e os de sua pesquisa em 2001 tenha se tornado um relato de
práticas sociais e cantos obliterados. A indicação feita por Aires da Mata Machado
Filho sobre o processo de desaparecimento destas tradições havia, enfim, se
concretizado.

A pesquisadora ainda afirma que há diversas razões para que uma língua se
torne obsoleta: “o processo de colonização, o desuso da língua ancestral em
detrimento da língua nacional, [...] a interferência e rapidez dos meios de
transporte e comunicação, a utilidade e o prestígio” (NASCIMENTO, 2003, p. 75).
Retomaremos a questão de morte e mudança linguística no decorrer deste capítulo
e no próximo.

Diante destas considerações, apresentamos a seguir os gêneros de falares


africanos que puderam ser registrados na região. Primeiramente, observam-se os
cantos, considerados separadamente em vissungos e cantos dos Catopês de Nossa
Senhora do Rosário, não por constituírem necessariamente gêneros distintos, mas

40
pela diferença em seu uso e preservação pelas comunidades. Em seguida,
apresentaremos dados das línguas africanas coletados durante as pesquisas
realizadas na região, além de resultados mais recentes do projeto IPHAN/USP
(2010-2011) e desta pesquisa.

2.1 Os vissungos

Os vissungos são cantos que acompanham diversas práticas sociais. O termo


vissungo, conforme indicado por Castro (2009, p. 70) e Nascimento (2003, p. 23)
tem sua origem no substantivo umbundo visungo, plural de ocisungo, com
significado de ‘louvores’ (Este item lexical será analisado com maior cuidado no
próximo capítulo). Segundo Aires da Mata estes traduzem

[...] a necessidade universal de trabalhar cantando. Basta lembrar as


vindimas de Portugal e o trabalho das fiandeiras. Em Minas têm seus
cantos especiais os capinadores de roça. É cantando que se deslocam
pedras pesadas. No mutirão usam-se cantigas apropriadas (MACHADO
FILHO, 1985, p. 66).

Conforme dito anteriormente, os vissungos foram primeiramente


registrados por Aires da Mata Machado Filho em seu livro O Negro e o Garimpo em
Minas Gerais (1943 [1985]) no início da década de 30, no distrito de São João da
Chapada e na comunidade de Quartel do Indaiá.

Queiroz afirma que, apesar de haver inconsistências na categorização das


cantigas, talvez por descuido na edição, os cantos são agrupados por Aires da Mata
em:

[...] padre-nossos, cantos da manhã (ou: ao nascer do dia), canto do meio-


dia [há apenas um registro], cantigas de multa, cantigas de caminho,
cantigas de rede e de caminho, [cantiga] pedindo licença para cantar,
[cantigas] gabando qualidades [talvez um equivalente banto do oriki, da
tradição nagô-iorubá], [cantos de] negro enfeitiçado, cantiga de ninar,
[canto do] companheiro manhoso, e há ainda um grupo de cantigas
diversas (QUEIROZ, 2009, pp. 37-38).

41
Entre as cantigas de rede e de caminho, incluem-se as cantigas de carregar
defuntos, tradição realizada pelas comunidades mais distantes dos distritos, que
necessitavam levar seus mortos até o cemitério. Tais cantigas foram registradas na
comunidade de Quartel do Indaiá, que seguia até o distrito de São João da Chapada
e nas comunidades de Ausente e Baú, que seguiam até o distrito de Milho Verde.
Também destacamos que se encontram vagamente na lembrança dos habitantes
do Espinho, que carregavam os defuntos até a comunidade próxima de Pedro
Pereira.

É interessante ressaltar também os vissungos de multa, entoados no


garimpo ao som das ferramentas de trabalho, cobrando uma prenda de estranhos
ou de qualquer pessoa que chegasse à lavra. As prendas eram pagas em dinheiro,
rapadura ou cachaça. Caso o ‘invasor’ se recusasse a pagar, os trabalhadores
cantavam um vissungo em ofensa, geralmente o insultando de ‘tamanduá’ (que
significa que o intruso tem nariz comprido, rabo comprido etc.).

Os vissungos são ainda lembrados pelo Sr. Pedro de Alexina, em Quartel do


Indaiá, e por Seu Ivo Silvério, mestre dos Catopês, além de alguns dos filhos do
falecido Sr. Crispim Veríssimo. No Espinho, os cantos de enterro, trabalho e multa
deixaram de ser entoados há pelo menos 50 anos, segundo moradores da região.

Como se pode observar, em comparação entre os vissungos coletados por


Machado Filho (1985) e os registrados por Nascimento (2003), houve alterações e
traduções significativas dos cantos, afetados cada vez mais pela língua portuguesa.

Arraigados à função social, os vissungos perderam sua razão de ser a partir


do momento em que tais práticas sociais se encerraram. Desta forma, quando os
carros passaram a buscar os mortos nas comunidades, ou quando o trabalho em
grupo foi progressivamente substituído pelo garimpo individual, os cantos se
silenciaram.

Outro fator que contribui para a extinção definitiva dos cantos é a forte
recusa em se ensinar os vissungos por outro meio que não seja a tradição oral. Os
mestres, em especial S. Ivo, preferem a não comunicação a uma comunicação
imperfeita, conforme nos indica a etnomusicóloga Glaura Lucas:

42
[...] como acontece com várias outras expressões vocais afro-
brasileiras, alguns saberes rituais exigem um grau de
desenvolvimento pessoal do aprendiz para que sejam
transmitidos, de tal forma que os mestres detentores de tais
saberes podem preferir a não revelação ao risco de um uso
inadequado. Um capitão de Moçambique, dos Arturos, certa vez se
referiu a essa atitude como um ato de preservação da cultura.
Assim, “preservar” pode representar a extinção de certos aspectos
da cultura, visando à sua proteção (LUCAS, 2009, p. 28).

Nascimento (2003, p. 98) sugere que uma das formas de se trabalhar a


manutenção dessas línguas seria através da arte. De fato, em julho de 2012, na
oficina de mestres de cantos e falares africanos do festival de inverno da UFMG em
Diamantina foi discutida entre os participantes a possibilidade de refuncionalizar
os cantos para ao menos preservá-los na comunidade, mediante apresentações
artísticas ou uma simulação da prática social. Pudemos perceber a estranheza e a
relutância dos mestres vissungueiros diante da ideia de reconfigurar todo o
contexto extralinguístico que dá sentido singular ao canto.

2.2 O canto dos Catopês de Nossa Senhora do Rosário

A festa de Nossa Senhora do Rosário em Milho Verde ocorre geralmente no


primeiro final de semana do mês de outubro, reunindo participantes de várias
localidades ao redor, em especial das comunidades de Ausente e Baú. É uma festa
de reinado (ou congado) à semelhança de outras em diversas localidades do estado
de Minas Gerais.

Segundo Scarano (1969, p. 48), o reinado teria sua origem em associações


mais ou menos secretas de negros em Portugal, as quais tinham seus próprios ‘reis’
e mantinham suas tradições, mescladas às práticas católicas. Os congados, apesar
da roupagem ocidental e Católica Romana, são em essência africanos. Sílvia
Brügger e Anderson de Oliveira afirmam que:

43
[... mediante] as folias que elegiam seus reis, rainha e corte... [o
negro] se reapropria de parâmetros de poder vigentes na
sociedade colonial para recriar verdadeiras linhagens religiosas
com base num passado africano de glórias que se reproduziria nas
suas procissões, festas, entre outras manifestações. (BRÜGGER;
OLIVEIRA, 2009, p. 189).

A devoção à Nossa Senhora do Rosário foi popular na Península Ibérica,


sendo que logo foi adotada como protetora dos homens do mar no Porto
(SCARANO, 1969, p. 41), iniciando provavelmente a tradição da marujada em suas
festas. A devoção dos ‘pretos do Rosário’ provavelmente tenha surgido
gradativamente nas associações de conventos dominicanos, que divulgavam a
santa e a recitação do terço (SCARANO, 1969, p. 42).

A festa de reinado em Milho Verde tem a presença dos dançantes do grupo


de Catopês e da Marujada de Milho Verde. Tradicionalmente, a Marujada é
composta pelos descendentes de portugueses, ao passo que o grupo dos Catopês
representa os africanos e seus descendentes trazidos para o Brasil. Nos últimos
anos, a festa conta também com a participação do grupo de caboclinhos, o único
que contém participantes mulheres, sendo uma tradição trazida da festa do
Rosário do Serro.

Segundo a tradição da região, os marujos e os caboclinhos tentaram retirar


a estátua de Nossa Senhora do Rosário de uma gruta, porém a estátua retornava ao
local, tendo sido levada definitivamente para a capela por meio dos negros, por
isso estes são os seus fiéis mais devotos. Eles eram escravos, mas a divindade os
escolheu, logo, a rivalidade entre os grupos. Os Catopês e a Marujada do Serro
aparentemente trilham ruas diferentes durante a celebração da festa. Em Milho
Verde, S. Geraldo, falecido em maio de 2012, antigo mestre de marujada, sabia as
canções dos Catopês de cor.

Como introdução à única prática social pela qual sobrevivem os falares


africanos de Milho Verde, faremos uma descrição da festa do Rosário, tal como a
presenciamos em outubro de 2011.

44
A festa do Rosário de Milho Verde tem início com novenas durante a
semana, seguindo com o levantamento do mastro no sábado e a procissão no
domingo. Para a festa, são escolhidos um rei e uma rainha e toda uma corte real
que segue pelo pequeno distrito até a capela do Rosário, onde celebram uma missa
fora da igreja, almoçam e seguem em procissão com as imagens de Nossa Senhora
do Rosário e São Benedito, para então, ao final do dia, descerem o mastro. Novos
reis e juízes, responsáveis pela manutenção da festa, são escolhidos a cada ano.

Os Catopês e a Marujada seguem juntos pela cidade alternando cantos que


até pouco tempo obedeciam a uma liturgia de canto e resposta. Apresentavam
encenações teatrais (ainda encontradas na celebração do Serro), tais como a
revolta dos marujos e a morte do capitão, um embate entre os marujos e os
Catopês. As roupas são jaquetas azuis e chapéus com fitas coloridas para a
Marujada, e jaquetas amarelas, verdes e vermelhas, além de cocares com muitas
plumas e espelhos ao redor para os Catopês, que parecem indicar uma relação com
os indígenas.

Atualmente, os cantos dos Catopês na festa do Rosário são a única tradição


de língua africana que persiste na comunidade, o que não impede que o número de
dançantes míngue a cada ano. Nota-se claramente a diferença de idade entre os
dançantes mais antigos e os mais novos, homens já acima da meia-idade e crianças.
Há uma lacuna deixada pelos mais jovens, ocupados em buscar serviço em outras
localidades. Ainda assim, o grupo continua a se apresentar nos meses de
setembro/outubro, diminuindo seu repertório e falando cada vez menos a língua.

Conforme dito anteriormente, somente distinguimos os cantos por sua


situação de ocorrência. Enquanto os vissungos eram realizados nas diversas
práticas sociais já citadas, os cantos dos Catopês se realizam na festa do Rosário.
Tal divisão não é rígida, como informado por Seu Ivo, pois alguns vissungos
também são cantados nos Catopês.

Seu Ivo, mestre dos Catopês, 70 anos, é praticamente o único conhecedor de


cantos em língua africana na região, tanto dos cantos da festa, quanto dos
vissungos. Com uma energia ímpar, Seu Ivo puxa os cantos para Nossa Senhora em
marcha lenta ou em marcha dobrada. A marcha lenta utilizada nos longos trajetos

45
de procissão, a marcha dobrada nos momentos de euforia, como ao chegar perto
da igreja ou ao levantar o mastro. O grupo responde repetindo as palavras
cantadas, tocando instrumentos artesanais: a caixa (espécie de tambor) e o canjá,
como chamam um reco-reco de bambu.

No grupo ainda se encontram o contramestre, o embaixador e o carunjinjim,


quase todos das comunidades de Ausente e Baú. O contramestre, com seu apito,
ajuda a manter o ritmo do grupo e a corrigir os instrumentos. O embaixador segue
à frente com uma espada a riscar o chão, abrindo e fechando caminhos. Aqui se
encontra um dos únicos jovens do grupo, filho de Seu Crispim, conhecido mestre
de cantos africanos, falecido em 2008. Por último, o carunjinjim, portador do
remédio protetor (ou viná), uma raizada de receita secreta feita com aguardente,
que o grupo toma antes de iniciar os trabalhos e em seus intervalos. Alguns dizem
que contém até raízes venenosas, mas isto fica reservado ao saber secreto do
mestre que as prepara.

Os moradores mais antigos da região dizem que antes a festa durava mais
de três dias, com a presença de vários dançantes e devotos do Baú e de Ausente.
Ficavam hospedados em diversas casas e saíam logo cedo para a matinada. Apesar
de ainda se dizer que fazem a matinada, esta deve acontecer em segredo, pois
ninguém soube informar o horário e o local onde ocorre, talvez sendo um
momento de devoção só dos dançantes.

Há de se fazer todo este percurso da prática social para tratar dos cantos
dos Catopês e, consequentemente, dos vissungos e da língua africana neles
encontrada. Estes não são textos isolados, mas dependem fortemente de sua
prática. O texto do canto dialoga com a liturgia, com o contexto histórico e religioso
ou profano, com a interação de canto e resposta. Quando um destes elementos é
retirado da equação, muito se perde.

A título de exemplo, apresentamos algumas transcrições de cantos


coletados durante o Projeto IPHAN/USP (2010-2011). As duas primeiras
apresentam o mesmo canto, realizado por informantes distintos, e a última um
canto informado por Seu Ivo. As transcrições são ortográficas, seguindo as
orientações do Projeto Vertentes do português afro-brasileiro falado na Bahia.

46
a) Xô xô canjira auê (1) (PETTER; OLIVEIRA, 2011b)

INF: Informante (Seu Chico, dançante do Grupo de Catopês).

DOC: Documentador.

INF (Seu Chico): ... né, agora tem ôtas mais. Deus, nosso sinhô, pôs o
nêgo pa vigiá os arrozá. Deus, nosso sinhô, pôs o nêgo pas vigiá o
arrozá, mandá. Aí o nêgo lá ferrô no sono... ferrô no sono, [ie] mandá...
ferrô no sono. Quando os passarinho tá arrancando a... o... a... o arroz
pra... pra esse [preto], o nêgo acordô assustado... o nêgo acordô
cantando: {INF canta} “Xô Xô, canjira auê... xô xô, canjina auê, num catar
o assangue de gananzambe... num catá o assangue... gue... gananzambe.
Xô Xô, canjina auê... Xô Xô, canjina auê... Num catá e assan... de
gananzambe.” Ganhanzambe é Deus, mandá, xô xô é o passarinho, o
sangue é o arroz.

DOC: hum.

INF: Mandá, Deus, nosso sinhô, ele já pôs na e... na cabeça dele pa ele
tocá os passarinho, mandá... mandá. [Minha nêga] ieu sei é muito
cantiga, tem muito caso pra contá, mandá.

Os itens lexicais africanos são três: canjira ‘passarinho’; assangue ‘arroz’; e


Gananzambe ‘Deus’. Os três são indicados pelo informante, apesar de haver uma
confusão entre xô xô e canjira. Mesmo não identificando corretamente todas as
palavras de origem africana, o informante se lembrou do significado completo do
canto e de toda sua história contextual.

O canto nos leva a perceber que o léxico africano é relevante ao assumir um


aspecto místico: o negro não espanta simplesmente os passarinhos, mas o faz em
língua africana. A história certamente faz referência à tradição local de um negro
falante da língua, portanto ‘sabido’. Considera-se, na região, que os negros ‘sabidos’
geralmente sabiam lançar feitiços, sendo perigosos e respeitados. Podemos ainda
imaginar que há um fundo moral em que a falta de atenção gera oportunidade para
que outros espoliem seus bens.

47
Na segunda gravação do canto, nota-se a fidedignidade ao texto oral. Seu
Geraldo, falecido mestre da marujada, narra a história de forma praticamente
idêntica, demonstrando mais uma vez que não somente a relevância do léxico, mas
de todo o contexto da narrativa do canto, fazendo com que consideremos que não
se deve olhar somente ao que é falado, mas como, onde, quando e com quem se
fala. Observa-se que Valdir, filho do informante, não domina o mesmo texto que o
pai, tentando somente traduzir o léxico.

b) Xô xô canjira auê (2) (Petter; Oliveira, 2011c).

INF2 (Valdir): ... xô xô, canjirauê...


INF1 (Seu Geraldo): Ah...
INF2: ... num tocá no assangue de gananzambe...
DOC1: Esse mêmo, né.
INF1: É... é...
DOC: Dêx’eu...
{INFs começam a tocar música, trecho cantado}
INF1: Xô... xô canjirauê...
INF2: Xô... xô canjirauê... num cata o assangue de gananzambe... num
pega o assangue de gananzambe...
INF1: Xô... xô canjirauê...
INF2: Xô... xô... canjirauê...
INF1: Num pega o assangue de gananzambe... num pega o assangue de
gananzambe...
{trecho ININT}
DOC1: E que que significa essa música?
INF2: Xô xô passarinho, num tocá no milho de... ne... no.. no... de.. da...
na... na...
INF1: É o... o sinhô dos nego...
INF2: ... no milho de Deus, né.
INF1: ... pôs ele pa tomá...
INF2: Assangue é milho.
INF1: ... conta do arrozár pa passarinho num arrancá, né...
INF2: um arroz... milho.

48
INF1: ... é o canjira é... canjira é... canjira é os passarinho. E o assangue é
o arroz...
DOC2: Ah...
INF1: ... de Gananzambe é nosso senhor.
DOC2: Nosso senhor...
INF1: É... {INF1 ri}
DOC2: Ai que bonito...
DOC1: Muito bonito, muito obrigado.
DOC2: Brigada, Seu Geraldo...
INF2: Olha o ININT é o pão de Deus.
DOC2: Brigada, tchô dá um abraço no senhor, brigada INTERRUP

Percebe-se que Seu Chico e Seu Geraldo tentam reproduzir o mesmo texto
aprendido pela tradição oral, o qual manterá seus diálogos contextuais. Não só a
música, ou o léxico africano, mas toda a narrativa tornam o texto completo,
realizando-se plenamente quando cantado em situação própria pelo grupo dos
Catopês.

Finalmente, podemos observar como Seu Ivo utiliza dos mesmos recursos
ao apresentar um outro canto.

c) Injira calunga (Petter; Oliveira, 2011d).

INF (Seu Ivo): Essa música é um dobrado, viu?


DOC1: Tá.
INF: {trecho cantado} É o injira calunga... é cuarimo cuarto... conjira
muguango cuami curiá... erê... calungua cuarimo cuato... conjira
muguango cuami curiá.
DOC1: E aí ela significa o quê, essa daí?
INF: É... que o calunga é água...
DOC1: Tá...
INF: ... né. E... o caçador foi pa caçada puque... antigamente nas festa é
eles... eles fazia a festa é... aprontava com as carne até de bicho,
entendeu?
DOC1: Hum-hum.

49
INF: Eles tinham liberdade de caçá...
DOC1: Certo.
INF: E... pegavam os bicho e... dava alimento de carne ah... nas festa...
DOC1: Ham-ham.
INF: ... E aí o caçador vai... ele... ele tá dizendo na... na música... é... o
caçador vai pa caçada com seus cachorro, solta os cachorro, o cachorro
encontra o tatu no lago...
DOC1: Hum...
INF: ... e o cachorro vai cavacando, as unhas dele... o tatu tá lá dento,
mai’ ele agora... o tatu tá sem jeito de segui puque é pedra...
DOC1: Tá.
INF: ... e o buraco é... tá estan... distante, e o cachorro num tá agüentano.
Aí o ma... pó... o... o caçador vai, busca uma água, que é o calunga, vira
no... no buraco, o tatu vem de costa ele atira com a espingarda...
DOC1: Ah... e curiá... curiá é...
INF: Injira um calunga é água, virô a água, ela lá vai sumi girano...
DOC1: Hum-hum
INF: ... num buraco. É o calunga cuarimo cuaro e... o tatu vem... ele
atira...
DOC1: ‘tendi.
INF: [Injira] muguango... o muguango é o tatu...
DOC2: Ham...
INF: ... cuami curiá, que é pa comê {INF ri}.

Seu Ivo inicia informando que a música é um dobrado, sabendo que esta
existe no espaço/tempo junto com o toque dos instrumentos e é cantada em
momento específico da liturgia. Conta-se, então, para explicar o fundamento do
canto, toda uma história que dialoga com o passado da comunidade quando
precisavam caçar para comer. É interessante perceber que a música e seu
fundamento se tornam um ensinamento de como proceder ao caçar um tatu que
entrou no buraco, hábito de caça comum na região até pouco tempo. Apesar de não
fornecido pelo informante, poderíamos ainda ter um diálogo com o momento de
refeição que se aproxima para os dançantes.

50
Ainda que S. Ivo não traduza especificamente cada item lexical observado, a
essência do canto é comunicada na descrição de sua história e da performance (o
toque dobrado). Percebemos ainda que estes cantos, entoados na festa do Rosário,
aparentemente trazem pouco do aspecto religioso (a não ser que apresentem
algum significado ocultado pelos informantes e que esteja relacionado à liturgia da
festa), mas servem para trazer à memória do falante a sua própria identidade e
história afro-brasileira.

Tendo em conta que o objeto da pesquisa deste trabalho se encontra na


análise lexical dos vocábulos pertencentes às ‘línguas secretas’, não nos deteremos
mais na análise dos cantos. Todavia, ressaltamos que estes fazem parte do
conjunto de falares africanos na região, contendo a presença do mesmo léxico e,
muitas vezes, conservando formas desconhecidas pelos falantes. Esperamos, assim,
que nosso trabalho possa ser esclarecedor para futuras análises de léxico africano
neles encontrados.

2.3 A língua africana da região diamantina

Todas as comunidades pesquisadas neste projeto apresentaram, em


diferentes graus, alguma preservação de léxico africano utilizado em uma
linguagem própria.

Conforme citado, Machado Filho (1985, p. 120) faz menção a um “dialeto


crioulo” em São João da Chapada, em vias de desaparecimento, falado então em
faisqueiras isoladas (zonas de garimpo), tendo sido largamente empregado na
localidade. O vocabulário é constituído por 153 itens/agrupamentos5 lexicais
coletados com o informante João Tameirão (no final da década de 1920), além de
outros 36 pertencentes ao linguajar local.

Em nosso trabalho, revisitamos o distrito de São João da Chapada e a


comunidade do Quartel do Indaiá. Conforme constatou Nascimento (2003), não há

5
Optamos por mencionar itens ou agrupamentos devido ao fato de Machado Filho registrar mais de um
item em uma mesma entrada lexical (como, por exemplo, “Capungo, Túria, s. – Gente ruim” (1985, p.
129). Por outro lado, o autor separa itens que são claramente formas variantes (“Anduro, s. – Fogo”, p.
121; “Ondara, s. – fogo”, p. 133).

51
mais conhecedores do ‘dialeto’. O único habitante da região que ainda sabe cantar
alguns vissungos é o Sr. Pedro de Almeida, conhecido como Pedro de Alexina.
Pudemos conversar com Seu Pedro em duas ocasiões: em visita à sua casa no
Quartel do Indaiá (fev/2012) e no 44º Festival de Inverno da UFMG em Diamantina
(jul/2012). Seu Pedro, apesar de nos receber muito bem, se recusou a gravar
entrevistas, mas lembrou-se de dois itens lexicais que pudemos anotar: copicondei
‘fogo’ e jamundá ‘morro’. Falou ainda sobre as festas que eram realizadas na região,
especialmente o bumba-meu-boi, que foi encenado pela população para o
documentarista Rodrigo Siqueira, em material não divulgado.

Seu Pedro de Almeida e o boi (fev/2012). Foto: Everton Machado Simões

Ainda no Quartel do Indaiá, conversamos com o Sr. Leandro Vitorino de


Almeida, 85 anos à época, também conhecido na comunidade como Seu Liandro.
Durante a entrevista, perguntávamos se existiam palavras que eram faladas de
forma diferente pelos mais antigos (porco, galo, água etc.), ou apresentávamos
alguns dos itens lexicais registrados na região por Machado Filho, sem oferecer seu
significado (ex. ‘O senhor sabe o que é candimba?). Seu Liandro lembrou-se de
cinco itens presentes no glossário de Machado Filho (a saber: cumbara ‘comércio’;
candamboro ‘galo’; candimba ‘coelho’; otombô ‘mandioca’; e oxito de orongôia
‘carne de boi’). Nota-se que orongoia consta em Machado Filho como ‘diamante’
(1985, p. 133). O informante ainda forneceu alguns itens que não constam no
vocabulário elaborado pelo autor (1985): caburé, ‘criança’; injirá ‘sair; ir’;
quilengue ‘galinheiro’; tualina ‘mulher bonita’.

52
Prosseguimos nas demais regiões de forma semelhante, suscitando dados
lexicais a partir do vocabulário do ‘dialeto sanjoanense’. Tendo conhecimento da
situação de obsolescência das ‘línguas africanas’, buscamos informantes que
provavelmente tiveram algum contato com as variedades de falares da região, ou
seja, os habitantes mais idosos.

Na região de Milho Verde e das comunidades de Ausente e Baú,


entrevistamos diversos informantes com idades entre 30 e 94 anos (a princípio
durante o Projeto IPHAN/USP e, posteriormente, durante a pesquisa realizada
para esta dissertação). Os poucos informantes mais novos, com idade menor que
60 anos, participam do grupo de Catopês na festa do Rosário e ofereceram poucos
dados lexicais (exceto Geraldinho, filho mais velho de Seu Crispim, que
basicamente nos relatou itens já registrados na pesquisa de Nascimento, 2003). Os
demais informantes encontram-se, em sua maioria, acima dos 75 anos.

Entrevistamos 14 informantes que colaboraram com informações lexicais


de ‘dialetos africanos’, 11 do sexo masculino, sendo que cinco se encontravam
acima dos 60 anos de idade e foram os que mais apresentaram informações sobre
o vocabulário. As mulheres contribuíram com poucos itens: alguns nomes de
animais, ximboco ‘sapo’, candimba ‘coelho’, cuxito ‘porco pequeno’; um item
relacionado à alimentação, pipoquê/tipoque ‘feijão’; um relacionado à religião, ou
superstição, otupã ‘diabo’.

Byrd (2005, p. 64) relata situação semelhante no uso da língua calunga de


Patrocínio, sendo que uma de suas informantes chama o falar africano de ‘língua
masculina’. De forma semelhante, Queiroz (1998) atesta uma maioria de falantes
do sexo masculino da gíria da Tabatinga (Bom Despacho, MG). Talvez em Milho
Verde, tenhamos nos deparado com a mesma realidade, na qual o uso social do
falar africano estivesse necessariamente ligado ao trabalho realizado por homens.
Ressalta-se que as mulheres também não participavam dos vissungos de levar o
defunto na rede ao cemitério.

Ainda, notamos que todos os informantes do sexo masculino estiveram em


algum momento envolvidos com o trabalho no garimpo, além de participarem das
festas tradicionais da região. O informante mais velho, o Sr. Nestor de Araújo, 94

53
anos em 2012, é morador do distrito de São Gonçalo do Rio das Pedras, próximo a
Milho Verde. Seu Nestor nos relatou que trabalhou no garimpo quando menino,
por volta dos 13 anos de idade e, apesar de ter aprendido pouco da ‘língua dos
negros’, lembrou-se de alguns dados que foram incluídos nesta pesquisa. Seu
Nestor ainda nos informa que havia na região dois indivíduos que conversavam
fluentemente na língua e ninguém conseguia entender. É importante ressaltar que
os itens lembrados por Seu Nestor, referentes à época de seu trabalho no garimpo,
remetem ao mesmo período em que Machado Filho realizava sua pesquisa. No
total, verificamos a presença de 106 itens (devido à presença de formas variantes,
agrupamos os itens em 75 entradas lexicais) relacionados aos falares africanos na
região, apresentados no quadro adiante.

Contrariamente à situação observada em Milho Verde, na comunidade do


Espinho registramos os itens lexicais com duas irmãs, D. Ana e D. Luíza, contadoras
de contos e casos da região. D. Luíza nos informou que as mulheres da comunidade
também participavam do garimpo. O léxico coletado foi suscitado a partir do
vocabulário de Machado Filho e está quase que totalmente em desuso (à exceção
de alguns itens: arenga ‘fofoca’; brocotó ‘caminho ruim’; calunga ‘raiz medicinal’;
candonga ‘fofoca’; cariapemba, pemba ‘diabo’; catita ‘tipo de mingau’). No total,
coletamos 33 itens (agrupados em 30 entradas lexicais na tabela adiante).

Conforme explicado em nossa introdução, o objetivo inicial desta pesquisa


era verificar a presença/ausência de itens lexicais relacionados à língua ‘mina’
registrada no século XVIII na região de Ouro Preto. Após análise não constatamos
relação alguma entre os falares africanos da região diamantina e a língua descrita
por Antônio da Costa Peixoto. Pelo contrário, encontramos um item na língua de
mina que possivelmente seja uma composição desta com um item de línguas

bantas, avódumzambe ‘Domingo’, no qual podemos identificar zambe ≅ nzambi

‘Deus’ no quimbundo/quicongo.

No entanto, verifica-se a relação destes falares com demais ‘línguas


africanas’ em outras comunidades afrodescendentes do Brasil. Elaboramos,
portanto, um quadro do léxico de falares africanos coletados na região (quadro 1),

54
no qual os comparamos entre si e aos demais falares similares registrados no
Brasil.

Nosso quadro é uma variação do trabalho realizado por Oliveira (2006), no


qual a autora reúne o vocabulário de sete comunidades falantes de remanescentes
de línguas africanas em Minas Gerais. Não incluímos, entretanto, os dados
apresentados por Vogt & Fry (1996, pp. 285-341) coletados com o Sr. José Costa de
Mogi das Cruzes (SP), nem os de D. Ondina de Alfenas (MG), que apesar de
mencionarem itens lexicais relevantes, não se encontravam inseridos em uma
comunidade de falares africanos. Optamos por acrescentar ao trabalho da autora
(OLIVEIRA, 2006) os dados lexicais de Vogt & Fry (1996) da comunidade do
Cafundó em Salto do Pirapora (SP) e os dados apresentados por Castro (2001) de
falares africanos na Bahia.

Figura 3: Mapa de comunidades afrodescendentes em Minas Gerais com a presença de falares afro-brasileiros. Fonte:
OLIVEIRA (2006, p. 6)

Apresentamos, em seguida, uma breve descrição dos falares que serviram


de comparação e das fontes utilizadas:

a) A língua do negro da costa, ou gíria da Tabatinga, falada por comunidade urbana


remanescente de quilombo nas ruas da Tabatinga e Cruz do Monte, município de
Bom Despacho (MG), pesquisada pela Profa. Sônia Queiroz da UFMG no início da

55
década de 1980. Utilizamos o glossário apresentado em seu livro Pé preto no barro
branco – A língua dos negros da Tabatinga (1998, pp. 112-138).

b) A falange ou cupópia, língua do Cafundó, bairro rural no município de Salto do


Pirapora (SP), pesquisada por Carlos Vogt e Peter Fry, então professores na
UNICAMP (Universidade de Campinas), em pesquisa de dez anos de 1978-1988.
Utilizamos o vocabulário apresentado em seu livro Cafundó – A África no Brasil
(1996, pp. 285-341).

c) A calunga falada na região do Triângulo Mineiro/Alto Paranaíba, principalmente


na cidade de Patrocínio, por uma população majoritariamente do sexo masculino,
constituída de tropeiros, roceiros, mineradores e operários da construção civil
(BYRD, 2005, p. 66). O léxico que nos serviu para a comparação encontra-se no
trabalho de Gastão Batinga (1994, apud OLIVEIRA, 2006), Vogt & Fry (1996, pp.
285-341) e do falante Marlenísio Ferreira, Kalunga – a língua secreta dos escravos,
(s/d).

d) Os falares africanos na Bahia descritos por Yeda Pessoa de Castro (2001). A


autora divide os falares em cinco níveis de acordo com o maior ou menor grau de
interação fonológica e morfossintática com o português. São estes: a língua de
Santo (LS), circunscrito ao universo religioso e de expressão mais simbólica, porém
já com interferência da língua portuguesa do Brasil; a linguagem do povo de santo
(PS), utilizada em contexto intergrupal e determinada pela nação do grupo
(candomblé angola, queto etc.); A linguagem popular da Bahia (LP), utilizada pelas
populações de baixa renda de maioria negra e de religiões afro-brasileiras; o
português regional da Bahia (BA); e, finalmente, o português do Brasil (PB),
unidade formada pelo complexo de seus diversos falares regionais.

e) Vocabulário compilado por João Dornas Filho, em 1938 (apud OLIVEIRA, 2006),
no povoado de Catumba, Itaúna (MG), chamado pelos falantes de ‘quimbundo’, ou
‘undaca de quimbundo’.

f) Vocabulário dos Tata n’Ganga Mukice da Irmandade de N.S. do Rosário do Bairro


Jatobá, Belo Horizonte (MG), compilado por Eugênia Dias Gonçalves (1995 apud
OLIVEIRA, 2006).

56
A opção por inserir falares africanos que se encontram além da fronteira
mineira parte de uma aparente relação lexical entre os diferentes falares. Desta
forma, o trabalho de comparação torna-se fundamental para o entendimento da
preservação destas ‘línguas’ no Brasil, apontando não somente para questões
linguísticas, mas também levando-nos a considerações sobre os contextos
histórico-sociais em que estes falares sobreviveram.
Na organização dos falares africanos na região diamantina, escolhemos os
itens apresentados por Machado Filho (1985) para a região de São João da
Chapada e Quartel do Indaiá; para a região de Milho Verde, os dados do Projeto
IPHAN/USP (2011) e de nossa pesquisa (indicados em caixa alta e negrito no
quadro), somados a dados encontrados em Vogt & Fry (1996), Nascimento (2003)
e Camp (2006, pp. 154-157), quando não verificados em nossos resultados; e,
somente os dados de nossa pesquisa para a região do Espinho.

Reafirmamos aqui que os itens verificados na região diamantina foram


reagrupados em entradas lexicais (por vezes, constituídas de um único item
lexical), quando apresentavam forma e significado correspondentes. A título de
exemplo, optamos por separar os itens capungo e túria, ‘gente ruim’ (MACHADO
FILHO, 1985), visto que, apesar do significado em comum, estes apresentam muito
provavelmente origens e relações distintas com seus étimos e com os demais
falares africanos. Por outro lado, agrupamos os itens aquenjê e aquenjê verome por
sua semelhança de forma e significado (verome teria sua origem no português ‘ver
homem’, segundo Machado Filho [1985, p. 126]). Inserimos também na análise um
item que não se encontra no vocabulário elaborado por Machado Filho (1985), mas
em um exemplo de frase registrado na região (1985, p. 134), a saber, cachupá, com
significado provável de ‘fumar’.
A lista é organizada alfabeticamente, a partir dos dados de Machado Filho
(1985). As entradas da coluna de Milho Verde e Espinho obedecem à mesma
ordem quando não se relacionam com o item referente ao ‘dialeto sanjoanense’.
Alguns dos dados do ‘dialeto crioulo no linguajar local’, apresentado em capítulo
separado por Machado Filho (1985), mantiveram-se ao final.
Apresentamos, desta forma, nosso quadro comparativo de falares africanos
no Brasil.

57
Quadro 1- Comparação dos vocabulários de falares africanos no Brasil

SÃO JOÃO DA MILHO VERDE Calunga – Patrocínio


CHAPADA (1939- (1996; 2001; 2006; ESPINHO (2012) Tabatinga (Queiroz) Cafundó (Vogt & Fry) (Batinga; Vogt & Fry; Bahia (Castro) Itaúna (Dornas) Jatobá (Gonçalves)
1943 [1985]) 2011-2012) Ferreira)

Ingalapo. Mão
Acrepu. Mão.
(Batinga) [?].
Cacurucai (LS).
ACURO. Velho; Ancião, velho. Cf.
Ocora. 1. Velho. 2.
homem velho; Macuro, Cacurucaia,
Homem velho. 3. Jocorocoto. Velho [?] Ococá. Velho.
Nacuro. Homem (Vogt cacurucaio. Kik./
Velho, genitor.
& Fry). Kimb. Kilulukaia /
Umb. Okangulukai.
Aiêto. Grande (Vogt
& Fry).
Aiocá (auicá, arocá)
a mãe-d'água nas
expressões Mesa-,
Aiuca. Muito (Curima
Princesa- ou Rainha-
aiuca-aiuca, Omenhá
do-aiocá. Kimb.
aiuca-aiuca).
Kialoka/ Yor. Àyɔ´
a,
a encantadora. [?]
ANDARU (?); Andurá, Undara, Undaro,
Indaro, Andaro (Vogt Undaro. Fogo. Kik. Andaro, Undáro,
Anduro, Ondara. Fogo. Anderu. Fogo, fósforo, Sundaro, Indaro. 1. Andaru. Fogo. Ondara. Fogo.
& Fry) Ndalu. Undarú.
isqueiro (Camp,2006). Fogo; 2. Ouro.
Alume. Homem.
ANDAMBE, Indame. Fogo, Indumba (PS). Moça;
INDAMBE. Mulher, mulher; Indumba. jovem prostituta. Kik./ Olondombe. Pessoa
Andambi. Mulher. Mandumba.
palavra feia mulher, moça (Vogt Kimb. Ndumba, moça; direita.
(prostituta [?]) & Fry) adultério, impudicícia.
Ocáia (PS). Concubina,
amante. Kik./Kimb.
Okay. Mulher kiuaya. Cacurucai
ANDAMBE OCAIO. Ocaia, Ocaio, Caio. (Ferreira; Batinga); (LS). Ancião, velho. Cf.
Ocaia. Mulher. Rancaia. Prostituta.
Mulher da vida livre Mulher. Ocai, Ocaia, Ocaio. Cacurucaia,
Mulher (Vogt & Fry). cacurucaio. Kik./
Kimb. Kilulukaia /
Umb. Okangulukai.
Andê. Amigo
(Nascimento).
Andô. Morte
(Camp,2006).

58
SÃO JOÃO DA MILHO VERDE Calunga – Patrocínio
CHAPADA (1939- (1996; 2001; 2006; ESPINHO (2012) Tabatinga (Queiroz) Cafundó (Vogt & Fry) (Batinga; Vogt & Fry; Bahia (Castro) Itaúna (Dornas) Jatobá (Gonçalves)
1943 [1985]) 2011-2012) Ferreira)

Angana-mussambê.
Angana. Senhor, Angana (PS). Patrão. Senhora do Rosário;
Senhora. Kik./Kimb. (a)ngana Manganá, Ongana.
Senhora.
Zambi (PS),
Zambiapungo (PS),
Zambiampungo (PS),
Zambiapombo (PS),
Zambiapongo (PS),
Zambiapunga (PS),
Angana-Nzambi. Deus.
Zambiupongo (PS),
(Gananzambi,
Zamiapombo (PS),
Nganazambi, Angana- GANANZAMBI,
Granjão, Garanjão, Zamunipongo (PS), Zâmbi,
Nzambi-Opungo, INGANANZAMBI. Ingananzambe. deus, Ganazambi. Padre
Garanjame. 1. Deus. Zamuripongo (PS), Candiambi. Deus Zambiapungo.
Zambiopungo, Deus. Inganazambe. santo; Jambi. Santo. (Vogt & Fry).
2. Padre. Gangazambi (LS), Deus criador
Anzambe, Anzambi, Deus (Nascimento).
Ganganzambi (LS),
Anzambê, Anganaiovê,
Angananzamabi (LS),
Gananzambe)
Angananzambi-
Opungo (LS). Kik./
Kimb. Ngana Nzambi,
Senhor Deus. Kimb.
Ngana Nzambi
Mpungu.
Angana-Iangue. Patrão
Vianguê. Meu.
(Meu Senhor).
Nigueié. Gato.
Nigueié de sengo.
Mingüé. 1. Gato. 2. Anguncê-cuatá,
Anguê. Onça. Onça (Ferreira);
Onça. Ongucê-cuatá. Onça.
Nigucié. Gato
(Batinga)
Anguira. Ouro (Camp,
2006).
Apumbo. Milho
Pongue. Milho
(Nascimento); Opungo,
Pungue, Bugue, (Batinga); Pongue,
iupungo (alimento), Pungo. Milho.
Bugre, Burre. Milho. Tipongue. Milho
ofúmbu. Fubá, angu
(Ferreira).
(Camp, 2006).
Aquenjê. Menino;
Aquenjê Verome.
Rapazinho.

59
SÃO JOÃO DA MILHO VERDE Calunga – Patrocínio
CHAPADA (1939- (1996; 2001; 2006; ESPINHO (2012) Tabatinga (Queiroz) Cafundó (Vogt & Fry) (Batinga; Vogt & Fry; Bahia (Castro) Itaúna (Dornas) Jatobá (Gonçalves)
1943 [1985]) 2011-2012) Ferreira)

Araposse-Arapossí,
Possi. Descanso, Arapôssi. Sentar.
repouso.
Lengalenga (BR).
Arengar. Conversar
Conversa fiada,
Arenga. Fofoca; fiado, resmungado;
enganosa. Kik./Kimb.
Arengá. Tarefa. Arengueiro. Arengueiro. Fuxica-
Lenga-lenga < "ku-
Fofoqueiro dor; Lenga-lenga.
langa", enganar
Conversa fiada.
alguém.
Arirê (LS). Canto,
cantar Yor. Orire;
Arerê (LP). barulho,
Arirê. Contar (v.); s. Orirar. Cantar confusão, diverti-
Curirar. Chorar
Canto. (Ferreira). mento. Yor. Aré(a)ré;
Uadilá (LS). Choro,
chorar. Kik./Kimb.
(ku)dila.
Atanhára, Tanhara.
Otaiá, Otainha. Dia Otanha. Preguiça
Atanhara. adj. Alto. Sol; Utanha, Otanha.
(Vogt & Fry). (Batinga).
Dia.
Tunda. Nádegas;
Atundá. adv. Alto. Tundá. Roupa velha Tunda-cundá. Correr
depressa.
Baieta. Capa de chuva
(Nascimento)
Bangüê (BR). Padiola
feita de cipós entrela-
çados, que era usada
para transportar
cadáveres de escra-
BANGUÊ. Rede para vos; espécie de liteira
Bangüê. Rede, tipóia.
levar defunto. usada no campo, para
transportar crianças,
enfermos e mortos.
Kik. banga > bangi,
padiola de cipós
entrelaçados.
Barundo. Senhor,
patrão.
Cuxipa, Cuxipo. 1.
Cusita. Urina; Cusitar. Xiba(r) (LS). Fumar.
Cachupá. Fumar [?] Cuxipá. Fumar Órgão sexual femi- Cuchipa. Cigarro.
Urinar [?]. Kik./Kimb. šiba.
nino. 2. Nádegas [?]

60
SÃO JOÃO DA MILHO VERDE Calunga – Patrocínio
CHAPADA (1939- (1996; 2001; 2006; ESPINHO (2012) Tabatinga (Queiroz) Cafundó (Vogt & Fry) (Batinga; Vogt & Fry; Bahia (Castro) Itaúna (Dornas) Jatobá (Gonçalves)
1943 [1985]) 2011-2012) Ferreira)

Cacunda (BR). Costas,


dorso; corcova, giba.
Kacunda. Costas Var. cadicunda,
CACUNDA. Costas.
(Ferreira); (Batinga). car(i)cunda,
corcunda. Kik./
Kimb. Ka(di)kunda.
CAIMINA,
CAIUMINA. Moça,
Okay. Mulher
mocinha, mulher Ocáia (PS). Concubina,
Ocaia, Ocaio, Caio. (Ferreira; Batinga);
nova; Kaimina. Moça amante. Kik./Kimb. Ocaia. Mulher.
Mulher. Ocai, Ocaia, Ocaio.
nova (Nascimento); kiuaya.
Mulher (Vogt & Fry).
Caiumim (Camp,
2006).
Calunga (LS). O mar; o
CALUNGA. Água; Kalunga, Calunga. fundo da terra, o
CALUNGO. Rio; Calunga. Raiz Fala; língua (Ferreira); abismo; divindade Calunga. Céu ou
Calunga. Mar.
Carunga. Rio (Vogt medicinal entidade africana poderosa; seus morte.
& Fry). (Batinga). símbolos. Kik./
Kimb./Umb. Kalunga
Kalungo. Rato
(Nascimento).
Cambá (BR). (arcaico)
designação dada aos
negros brasileiros
durante a guerra do
Paraguai no século
passado. Kik./Kimb.
CAMBA. Amigo. Kamba, companheiro, Macamba. Amigo.
grupo, coisa posta em
pares, enfiadas.
Macamba (LP). Cama-
rada, companheiro,
freguês. Kik./Kimb.
makamba.
CAMBAMBE.
Feiticeiro, sabido.
Bambi (LS). Veado,
gazela. Kik./Kimb.
Cambambe. Veado.
Mbambi/ Umb.
Ombambi.

61
SÃO JOÃO DA MILHO VERDE Calunga – Patrocínio
CHAPADA (1939- (1996; 2001; 2006; ESPINHO (2012) Tabatinga (Queiroz) Cafundó (Vogt & Fry) (Batinga; Vogt & Fry; Bahia (Castro) Itaúna (Dornas) Jatobá (Gonçalves)
1943 [1985]) 2011-2012) Ferreira)

Borocotó; brocotó
(LP). Terreno esca-
broso, com muitos
altos e baixos, esca-
Cambrocotó. adj. Brocotó. Caminho vado ou obstruído de Brocoió. Lugar
Termo injurioso. ruim pedras; sulco irregular distante
aberto por águas
pluviais em ruas
sem calçamento.
Kik./Kimb. mbulukutu
Tata-camunquenje
Camuquengue. (PS). Pai-pequeno.
Moleque. Kik./Kimb. Tata
camungenji.
Camundá. Morro,
monte.
Cananenecô. Termo Camanaco. Menino
injurioso. [?].
Candombora, Caramboro,
Candombóia, Kadiaboro. Galo Candomboro,
Quindomboro. Galo Candambóia, (Ferreira); Caramoro,
Candamburo. Galo. Camdombô. Galo.
(Vogt & Fry). Canambóia, Kandiaboro (Vogt Carangoro (LS).
Condombóia. & Fry). Galo. Kik./ Kimb./
Galinha Umb. kolombolo.
Candango. Feijão
(Vogt & Fry).
Candimba (LP).
CANDIMBA,
Candimba. Coelho. Coelho-do-mato. Candimba.
COANDIMBA. Coelho.
Kimb. Kandimba.
Candonga (LP).
Fuxico; falsidade,
Candonga. Arenga, manha, lisonja
Candonga. Intriga
intriga. enganosa. Kik.
Kandonga/ Kimb.
Kandonge.
CANENGUE,
CANDENGUE.
Menino, criança.
Cangúia. Termo
injurioso ou
cabalístico.

62
SÃO JOÃO DA MILHO VERDE Calunga – Patrocínio
CHAPADA (1939- (1996; 2001; 2006; ESPINHO (2012) Tabatinga (Queiroz) Cafundó (Vogt & Fry) (Batinga; Vogt & Fry; Bahia (Castro) Itaúna (Dornas) Jatobá (Gonçalves)
1943 [1985]) 2011-2012) Ferreira)

Anguru. Porco
(Nascimento; Vogt
Cangulo, Canguro Ongulo, Cangulo.
Canguro, Onguro. & Fry); Canguro, Cangura, canguro. Kangulo, Kanguro, Canguro, cangulo.
Canguro. Porco. (LS). Porco, toucinho. Porco; Otatariangue-
Porco. Kanguru, Cangúru. Porco. Kangô (Batinga). Porco, leitão.
Kik./Kimb. (ka)ngulu. cangulo. Soldado.
Polícia, soldado
(Camp, 2006).
Canzá (BR). 2.
idiofone feito de
cortes transversais em
taquara de bambu no
CANJÁ. Reco-reco de qual são feitos regos
bambu usado pelo transversais por onde
Ganjá. Reco-reco Canzá. Certo
grupo dos catopés na Ganza. Reco-reco. se esfrega uma vareta
(Vogt & Fry). instrumento musical.
festa de Nossa Se- para ressoar. Kik.
nhora do Rosário. Nsanza, nkwanza /
Kimb. dikanza. Ganzá
(BR). Chocalho de
bambu. Kik. Nkwanza/
Kimb. dikanza.
CANJIRA, CANJIRAUÊ.
Orogira. Passarinho.
Passarinho.
Canjerê (BR). Sessão
de feitiçaria; feitiço.
Canjira-Canjerê.
Canjira-Canjerê. Dança Var. canjira, canjirê. Jerê. Certa dança.
Dança; Canjerê. Dança.
Kik./Kimb. Kanjila >
kanjile.
Canjonjo. Beija-Flor.
Capanga (BR). s.m.
guarda-costas, ja-
Capungo. Gente ruim. gunço. Kik./Kimb.
Kimpunga/
kimbangala
Caqui. Valente, ou
feiticeiro mestre.
Korombo, Karambo
Carango, Carenga.
maioral. Chefe;
Mulher; Mulher velha
Korongo, Karango.
(Vogt & Fry).
Patrão (Batinga).
Carimbamba (LS).
1. Coruja. Kik.
Carimbamba. Coruja.
Kannganga, corvo
pequeno
63
SÃO JOÃO DA MILHO VERDE Calunga – Patrocínio
CHAPADA (1939- (1996; 2001; 2006; ESPINHO (2012) Tabatinga (Queiroz) Cafundó (Vogt & Fry) (Batinga; Vogt & Fry; Bahia (Castro) Itaúna (Dornas) Jatobá (Gonçalves)
1943 [1985]) 2011-2012) Ferreira)

CARINJINJIM,
CARUNJINJIM,
CARUNJINJINHA,
CARUNJIJIA,
CARINJIJI.
Um dos daçantes dos
catopés que leva o
antídoto; Karinjinjin.
Pessoa responsável
para administrar os
meninos que não
sabemdançarno
catopé; sua função é
educar os meninos
(Nascimento).
Carumbi. Sertanejo.
Carungar. Casar (Vogt
Cassucara,
& Fry); Cusucanar. Sucanar. Casar (Vogt
Cassucaro.
Casar (Vogt & Fry); & Fry); Sucanado.
Casamento;
Cassú-caná (Camp, Casado.
Cassucará. Casar.
2006).
Catiçá (LS). v. oferecer
em sacrifício, encan-
tar. Kik. Kutiisa /
Kimb. Kukwatisa.
Catiça. Ajudar (v.) GANANZAMBE
Zambinaquatessala
Angananzambi iô QUE TE AQUATIÇA
(LS). Saudação em
catiça (Deus lhe (TIAQUATIÇA).
resposta a inzambi.
ajude). Deus te ajude.
Kik. Nzambi na
kuatisala, que Zambi
lhe faça o bem, que lhe
abençõe.
Catimba(r) (LP).
Usar de catimba. Kik.
Kutima/ Kimb.
CATIMBAR. Causar Kushimba; Catimba
confusão. (LP). Manha, astúcia,
engodo. Kik.
Nkwatima/ Kimb.
Kashimba.

64
SÃO JOÃO DA MILHO VERDE Calunga – Patrocínio
CHAPADA (1939- (1996; 2001; 2006; ESPINHO (2012) Tabatinga (Queiroz) Cafundó (Vogt & Fry) (Batinga; Vogt & Fry; Bahia (Castro) Itaúna (Dornas) Jatobá (Gonçalves)
1943 [1985]) 2011-2012) Ferreira)

Catito (LP). Ratinho


Catita. Pequeno caseiro. Kik. Katutu;
(Combaro catita, lugar CATITO, EUCATITO. Catito, acatito. 1. Catita (BR). Uma Catito. Pequeno,
Catita. Tipo de mingau
pequeno; Combaro Pouco, Pequeno. pequeno; 2. pouco. dança dramática baixo, pouco.
uonene, cidade). folclórica. Kik./Kimb.
Ma-/katita
Caveia. interj. O que
é lá?
Kaxicobeira. Doença Covera, corvera. Uacasi. Estar aqui
Caxicovera. Doença. Cuvéra. Dor
(Nascimento). Doença (Vogt & Fry).
Caxinguelê (LP).
Indivíduo magro, feio
CAXINGANGUELÊ,
e de pequena estatura;
CAXINGUINGUELÊ.
mau caráter. Kik.
Defunto.
(ka)nsengele / yengele.
[?]
CUMBARA. Cidade;
Kumbaca, Kumbara,
CUMBARI-NÊNE.
Kumbara maioral,
Comércio, cidade;
Combaro. Lugar Cumbara. Comércio, Cumbara, Kunebara, Kimbó. Cumbara (LS). Cidade Cumbara. Cidade,
Cumbaraiêto. Cidade Ambara. Cidade.
habitado. cidade Incumbara. Cidade Cidade (Ferreira); Kik. Kumbanda lugar habitado.
grande (Vogt & Fry);
Cumbe. Cidade, po-
Kumbara. Cidade
voado (Vogt & Fry).
(Nascimento).
Comboêro. Grota. Comboêro. Cambão
Congá (LP). Cesta ou
caixa para guardar
roupa e outros obje-
Congá. Garrafa.
tos. Cf. cangá, gongá.
Kik./Kimb. Nkonga /
Umb. Ukonga.
Congembro.
Conjenga. Morte (na Defunto (Batinga);
Congembo. Morrer Conjema. 1. Morte; 2.
expressão cuendar pra Congembra,
(v.); Morte. Cemitério; 3. Terra.
conjenga carunga). Congendro. Morto
(Ferreira).
Tipequerá. Dormir;
Tipeqüera, Cachico cupequéra,
Copequera. Dormir
Tipequera, Tipequé, Copequerar. Dormir Chapaquerá measso. Requerar. Dormir.
(v.).
Tiprequero, Dormir.
Tiprequé. Cama.
Corofeca. Ruim. Oféca. Terra.

65
SÃO JOÃO DA MILHO VERDE Calunga – Patrocínio
CHAPADA (1939- (1996; 2001; 2006; ESPINHO (2012) Tabatinga (Queiroz) Cafundó (Vogt & Fry) (Batinga; Vogt & Fry; Bahia (Castro) Itaúna (Dornas) Jatobá (Gonçalves)
1943 [1985]) 2011-2012) Ferreira)

Vicanda. Pena de
escrever (Kimb.
Covicanda. Escrever,
Dikanda, "passo",
Conversar (v.).
"pegada"); Mucanda.
Escrita.
Cuata. Pegar v.
Quatá (LS). 1. Pegar,
(Orossimba ô cuatá ô
tomar, dar. Kik./ Cucata. Doença
mpuco - O gato pega o
Kimb./Umb. Kuata.
rato).
Quendá (LS). Andar,
QÜENDA. Reunião, Ocuenda. Entrar;
Koendar, Kuendar partir, viajar. Var.
Cuendê. Entrar (v.). reunido; Uendar. Cuendar. Andar. Oronguenda. Passeio. Uenda. Andar, entrar;
(Batinga). cuenda, puendá.
Andar (Vogt & Fry). Ocucuenda. Enganar.
Kik./Kimb. Kwenda.
CUMBUMBE
Samburequê.
SABUQUIRENE.
Lamentar.
Mulher grávida.
Curiá. Comida;
Cudiá (LS). Comer.
Curiá. 1. Comer; 2; Curiar. Comer.
CURIÁ. Comer; Curiar. Var. cudiá, cuniá,
Copular; Cureio, Variar. Comer. (Vogt & Fry); Kuriar, Curiá. Comer.
Beber (Vogt & Fry). curiá. Kik./Kimb.
Cureia, Curei. Comida Kuriatar. Almoçar,
Kudyá.
comer (Ferreira).
Curiacuca (LS).
Nacuruacucua. Cozinheira, a
Curiacuca. Cozinheiro. Homem velho encarregada da
(Vogt & Fry). comida ritual.
Kik./Kimb. Kudiakuka
Curiandamba. Velho.
Curimba, Curimbo,
Curima, Curimo. 1.
Curimá (LS).
Trabalho, ato de tra-
Trabalhar. Kik.
balhar. 2. Local de Kurima. Trabalho
Curima. Serviço. Curimar. Trabalhar. Kutima/Kimb. Curima. Trabalho
trabalho. 3. Produto (Batinga).
Kudima/Umb.
do trabalho. 4. Terra.
Okulima
5. Pedra; Curimbá,
Curimá. Trabalhar.
Duque. Tambor (Vogt
Duque. Inseto [?]
& Fry).
Exoa. Bobo (Vogt &
Fry).

66
SÃO JOÃO DA MILHO VERDE Calunga – Patrocínio
CHAPADA (1939- (1996; 2001; 2006; ESPINHO (2012) Tabatinga (Queiroz) Cafundó (Vogt & Fry) (Batinga; Vogt & Fry; Bahia (Castro) Itaúna (Dornas) Jatobá (Gonçalves)
1943 [1985]) 2011-2012) Ferreira)

Funganga (LS).
FUNDANGA DE Pólvora. Var.
Cundanga.
CAPECERE. Peido Fundanga. Kik. Ocuperecê. Assoprar.
Espingarda.
fedido Funda nganga/
Kimb. Fundanga.
GAJEIRO. Dançante do
Catopés
Ingunga (LS). Sino,
GUNGA, CUMBA. Sino;
sineta usada para fins
GONGO TEIA. Sino;
ritualísticos.
Gongo. Sino (Nasci-
Kik./Kimb./Umb.
mento).
(o)ngunga.
Quimbanda (PS).
Imbanda. 1. Feitor. 2. Curandeiro, vidente,
Sacerdote, feiticeiro. 3. ocultista, sacerdote de
Também se refere ao macumba; (pejora- Quimbanda.
chefe de uma prática tivo) feitiço, feiticeiro. Sacerdote que
litúrgica, a Cabula, da Var. embanda, conhece magias boas
qual existiam adeptos imbanda, quiambo, e más.; Undamba.
em São João da umbanda. Kik /Kimb.
Chapada. Kimbanda / Umb.
(ovi)mbanda.
Ingoma casaca.
Revólver (Nasci-
mento); Engoma-
casaca, ingomacasaqui
(Camp, 2006).
Inzala (LS). Fome.
Injara Mitomo. Anjara. Desejo,
Injara. Fome. Kik./Kimb./Umb. Onjala, Nixala. Fome.
Barriga [?]. vontade, fome.
(o)nzala. Var. Injara.
Mataco (LP). Nádegas, Taco. Bunda, mulher
Mataco. Nádegas
Itaco. Assento, anus. Mataco. Vagina. traseiro. Kik./Kimb. bonita.; Mataco,
(Ferreira).
Mataku. Otaco. Bunda.
JACUBA. Farinha de Jacuba. Água com
mandioca com garapa farinha de mandioca e
ou café rapadura.

67
SÃO JOÃO DA MILHO VERDE Calunga – Patrocínio
CHAPADA (1939- (1996; 2001; 2006; ESPINHO (2012) Tabatinga (Queiroz) Cafundó (Vogt & Fry) (Batinga; Vogt & Fry; Bahia (Castro) Itaúna (Dornas) Jatobá (Gonçalves)
1943 [1985]) 2011-2012) Ferreira)

Jimbo (LP). Búzios da


Jamba. Cada uma das
costa, dinheiro. Var.
duas partes de uma
jimbra, zimbo. Kik./
porta. Jambá. Dia-
JAMBÁ. Diamante; Injimbe. Dinheiro Kimb. Nji(nzi)mbu / Ongamba, N´jamba.
Jambá. Ouro. mante. Jambô. Ouro.
Ouro (Vogt & Fry). Umb. Onjimbu. Elefante.
Jambu, Dumbo. Ele-
Quizamba (LS).
fante. Jimbo. Di-
Elefante. Kik./Kimb.
nheiro.
(ki)nzamba.
CAXAMBÁ. Diamante;
CAXAMBÁ DE
OMENHA. Diamante;
Kachambi, Kaichama
(Camp, 2006).
Jambi. Capim. Jambi. Machado.
Jombô. Lama Preta.
Lamba. 2. (LP) (p.
LAMBA. Trabalho Malamba. Desgraça Lamba, Lemba.
Lamba. Desgraça. ext.) trabalho pesado,
pesado (Ferreira). Desgraça, tragédia.
penoso, feito à força.
Cuca (BR). Negra
velha, coroca, bruxa,
MACUCA (O). Mulher bicho-papão. Var.
Macuco. Mulher feia e
(homem) feia (o) e acuca (LS), macuca, Macuco. Velho, idoso.
velha.
velha (o) mumuca. Kik./Kimb.
(ma/mu)kuka, pessoa
muito velha.
MACUMBA EMBAUA,
MACUNDENBAIA.
Cundanga.
Espingarda; Cachorro
Espingarda [?]
[?]; Macundenbaia.
Espingarda.
MAENGUE. Queijo;
Maiembe. Remédio
Maiengue. Queijo
[?].
(Nascimento).
Maêni. Vaca leiteira [?]
(Camp, 2006).
Manguanguera adj.
Sem gordura (Pipoquê Manganguera,
Manguanguera - Fei- Maganguera. Sem
jão sem gordura; gordura. Carne magra;
Ochito Manguan- Manguera. Gordura.
guera).

68
SÃO JOÃO DA MILHO VERDE Calunga – Patrocínio
CHAPADA (1939- (1996; 2001; 2006; ESPINHO (2012) Tabatinga (Queiroz) Cafundó (Vogt & Fry) (Batinga; Vogt & Fry; Bahia (Castro) Itaúna (Dornas) Jatobá (Gonçalves)
1943 [1985]) 2011-2012) Ferreira)

Imbanje, Imbangue. Camanje. O Outro Manganjê. Irmão,


Manjangue. Irmão.
Irmão. (Vogt & Fry) [?]. amigo.
Maravir. Terra. Maravi. Planeta terra.
Marauangue,
Marruangue. Criança,
menino (Vogt & Fry).
Massongo,
Massuango. Arroz
MASSANGUE,
Assangue, (Vogt & Fry);
ASSANGUE. Arroz;
Assango, Musango, Maçango (LS). Milho.
Angu; Massango,
Assengue, Massango. Arroz. Mussunango, Var. Moçambo. Kik./ Massango. Massango.
Massangro, Massámbi,
Imassango, Massango (Batinga); Kimb. Masangu.
Marsame, Marsámbi
Missangue. Arroz. Massango,
(Camp, 2006).
Mussango. Arroz
(Ferreira).
Matombo. Cabeça
Matombo (LP).
(Vogt & Fry); Matembó (Ferreira);
Buraco, leirão, cova
Mutombo, Mutongo. Matambó (Batinga);
Matambu, Matambô, onde se planta a es- Matambô. Farinha de
Matombô. Mandioca. Mandioca (Vogt & Matombô. Mandioca Mutombo. Mandioca Mutongo, Mutombo. Mutambo, Mutambô.
Matamboa. Mandioca. taca da mandioca. Var. mandioca.
Fry); Moutombou, Mandioca (Vogt &
matumbo. Kik./
Matombô (Camp, Fry).
Kimb./Umb. Matumbu.
2006).
MAVU. Cemitério;
Marru, Mavu. Terra
(Vogt & Fry).
Bambi (LS). 2. Frio.
Mambi. Agulha, faca, Bambi, Dambi,
Mbambe. Frio. BAMBI. Frio Bambi. Frio. Kik./Kimb./Umb. Bambi. Frio. Bambi. Frio.
frio. Kambi (Batinga).
(o)mbambi.
Mbanga. Membro Viril.
Imbembo (LS).
Homem branco.
Mbembo. Feitor; Moço
Kik./Kimb.
branco.
(lu)mbengo, vermelho
claro, rosado.
Lumbuguro (LS).
Bumunguru. Sem
Mbungururu. Estrela. Estrela; nome de
significado recolhido.
vunje. Kik. Lubukulu.
Meprá. Roça. Apiá. Roça [?].

69
SÃO JOÃO DA MILHO VERDE Calunga – Patrocínio
CHAPADA (1939- (1996; 2001; 2006; ESPINHO (2012) Tabatinga (Queiroz) Cafundó (Vogt & Fry) (Batinga; Vogt & Fry; Bahia (Castro) Itaúna (Dornas) Jatobá (Gonçalves)
1943 [1985]) 2011-2012) Ferreira)

Muçununga (BA). Mossoroca. Lama


Mossoroco. Chuva Terra arenosa, de após chuva.
Mossoroca. Chuva grossa (Nascimento); Muçuruca/muçuruco Massaroca. Mandioca barro vermelho, Massaroca,
Mossoroca. Sal
Grossa. Mossoroca (Camp . Cabelo, bigode. [?] (Batinga). úmida e fofa. Kik./ mossoroca.
,2006). Kimb. (mu)swenga > Misturada, lameiro,
musunenga certo mosquito.
Moco, Moque,
Muque, Muco. 1.
Qualquer ferramenta
Mocó. Braço, mão
ou instrumento de Maco (LS). Braço,
MUCAIANGUE. Arma (Vogt & Fry); Mokó.
trabalho: enxada, Mocoange. Faca. mão. Kik. Moko / Mocó. Faca. Omôco. Faca.
de fogo Arma, arma branca
enchadeco, foice etc. Kimb. Maku.
(Ferreira).
2. Qualquer arma:
revólver, espingarda,
faca etc.
MUCUETU. Silêncio
MUGUANGO, CONGO
Teia. Tatu.
TEIA. Tatu
Munha. Trigo; Munha
de mutombo. Farinha
de mandioca (Vogt &
Fry).
NANGUÊ. Você
Ndimba. Cantador.
Ganga (LS). Chefe;
ocultista, vidente,
Nganga, Uganga. Inganga, Góngu, Ganga. Soldado sacerdote. Kik./
Unganga. Sacerdote,
Padre; Oronganga. Inganga. Padre Inganga. Padre. (Batinga); Gonga. Kimb. Nganga/ Umb.
padre, feiticeiro.
Soldado. (Camp,2006). Polícia (Ferreira). Oganga; Uganga.
Deus. Kik./Kimb./
Umb. (o)nganga.
Ingombe (LS).
Ingome. Boi. Vaca.
Boi, gado. Var. Ongombe. Boi;
Ngombe, Ongombe, Gombê. 1. Boi. 2. Vaca. (Batinga; Ferreira); Orongome,
ONGOMBE. Boi Ingombe. Boi, vaca. quingombe. tambor grande;
Orongombe. Boi. 3. Gado. Nhingomo. Boi (Vogt orongombe. Boi.
Kik/Kimb./Umb. Ongombiá. Vaca.
& Fry).
(o)ngombe.
Quendá (LS). Andar,
QÜENDA. Reunião, Ocuenda. Entrar;
Nguenda. Pressa; Koendar, Kuendar partir, viajar. Var.
reunido; Uendar. Cuendar. Andar. Oronguenda. Passeio. Uenda. Andar, entrar;
pequena fuga. (Batinga). cuenda, puendá.
Andar (Vogt & Fry). Ocucuenda. Enganar.
Kik./Kimb. Kwenda.

70
SÃO JOÃO DA MILHO VERDE Calunga – Patrocínio
CHAPADA (1939- (1996; 2001; 2006; ESPINHO (2012) Tabatinga (Queiroz) Cafundó (Vogt & Fry) (Batinga; Vogt & Fry; Bahia (Castro) Itaúna (Dornas) Jatobá (Gonçalves)
1943 [1985]) 2011-2012) Ferreira)

Quinioca (LP). Cobra,


serpente; personagem
Inharra. Cobra (Vogt
Nhorrã. Cobra. de conto popular. Var.
& Fry)
nioca. Cf. minhoca.
Kik./ Kimb. (ki)nyoka
Jequê; Injequê; Jiquê; Indiequê (LS). Sacola
Njequê. Capanga Injequê. Saco, Jequé. Bolso. Caixa. Indiequê. Capanga,
Jiqui. 1. Buraco; 2. usada a tiracolo. Kimb.
(sacola). receptáculo. (Batinga); (Ferreira) saco pequeno.
Barriga; 3. Boca. dinzeke.
Impuco (LS). Rato.
Npuco. Rato. Puco. Rato (Ferreira). Camugo. Rato. Puco. Rato.
Kik./Kimb. Mpuku.
Binga (LP). Chifre;
ponta de chifre de boi
torneada, própria para
guardar tabaco em pó
ou pólvora para es-
pingarda de caça; (p. Binga. Pênis. Guarda-
Obingá. Chifre; ext.) corno, chifrudo, rapé de ponta de
Ombingá. Magro. marido traído; homem chifre. Binga-di-
sem importância; macáia. Isqueiro.
espécie de cascalho
em forma de chifre;
tipo de colibri. Kik.
mvimba / Kimb.
mbinga, chifre.
Acará (LS). Fogo,
Okara. Café carvão; tocar fogo,
Ocará. Café.
(Nascimento). incendiar. Kik./Kimb./
Umb. (ma)kala.
Macaia (BR). Folha de
tabaco, fumo; fumo de
MACANHA, MACAIO. má qualidade. Var.
Macaia. Fumo de rolo;
Fumo de rolo; Macaibo, macaíbo. macaio, macanha.
Ocaiá. Fumo. Macaia. Fumo. Maconha. "Cannabis
Macaibo, okaia, okaio, Erva, cigarro. Maconha. Kik.
sativa".
makaio (Camp, 2006). Madikaya/ Kimb.
Madikanya / Umb.
Akaya.
OXITO. Porco; Carne.
Xito (LS). Carne.
Oxita. Carne (Nasci- Muxito. Matagal
Ochito. Carne. Kik./Kimb./Umb. Xito, Oxito. Carne.
mento); Osito. Carne (Ferreira).
(o)šitu.
(Vogt & Fry).

71
SÃO JOÃO DA MILHO VERDE Calunga – Patrocínio
CHAPADA (1939- (1996; 2001; 2006; ESPINHO (2012) Tabatinga (Queiroz) Cafundó (Vogt & Fry) (Batinga; Vogt & Fry; Bahia (Castro) Itaúna (Dornas) Jatobá (Gonçalves)
1943 [1985]) 2011-2012) Ferreira)

Quendá (LS). Andar,


QÜENDA. Reunião, Ocuenda. Entrar;
Koendar, Kuendar partir, viajar. Var.
Oenda. Entrar (v.). reunido; Uendar. Cuendar. Andar. Oronguenda. Passeio. Uenda. Andar, entrar;
(Batinga). cuenda, puendá.
Andar (Vogt & Fry). Ocucuenda. Enganar.
Kik./Kimb. Kwenda.
Uísque. Açúcar;
UÍQUE. Rapadura; Uíque (LS). Mel,
Uíque, Uígue. 1. Uique. Doce; Uique Uique. Açúcar, doce,
Oique. Rapadura. Oêki, Uiki (Camp, Uíque. Doce, açúcar. açúcar, doce. Kik./ Uíque. Açúcar, mel.
Açúcar; 2. Doce. de vinhango. Rapa- mel, rapadura.
2006). Kimb./Umb. Wiki.
dura (Ferreira).
Ogira. Fogo
(Nascimento); Onjira,
Ungira, Ougira (Camp,
2006).
Umbera. Chuva
Ombera. Chuva. Imbera. Chuva. (Ferreira). Água. Umbera. Chuva. Ombera. Chuva.
Chuva. (Batinga)
Kimbim. Cigarro. Cambiá. Fumo, Ombia. Cigarro;
Ombiá. Cigarro. Imbiá. Cigarro Imbiá. Cigarro.
Morto (Batinga). tabaco. Ombiá. Panela.
Anguá. Cachorro
(Nascimento); Ambuá, Arambuá,
Imbuá (LS). Cachorro.
Ambuaianque. Arambuá. Cão; Embuá. Cachorro
Omboá. Cachorro. Cambuá. Cachorro. Kik./Kimb. Mbwa / M'boá. Cachorro. Ombuá. Cachorro.
Cachorro (Vogt & Fry); Arambecá. Cão. (Batinga); Imbuá.
Umb. Ombwa.
Imbuá (Vogt & Fry); Cão (Vogt & Fry).
Amuá (Camp, 2006).
OMENHA, OMENHÁ,
Omenha. Água Menha (LS). Água,
OMENGUE. Água; Omenha, Omém. 1.
(Ferreira). Omeia, córrego. Kimb. Menya. Omenha. Água. Meiá. Omenha, Menha.
Omenhá, Menhá. Água. Omengue (Nasci- Omenha. Fazer cocô Água. 2. Chuva. 3. Vava. Água.
Omenha. Água Menga. (LS). Sangue. Rio, córrego. Água. Ovava. Água.
mento); Nenha Urina. 4. Sangue.
(Batinga). Kik. Menga.
(Camp, 2006).
OMENHA DE CAXAÍ,
OMENGA DE CAXAÍ.
Cachaça.
Omenha de
vinhango. Cachaça
OMENHÁ DE (Ferreira); Viango, Muengue (LS). Cana-
VIANGUE. Cachaça; Vianjê. Cana. Vienguê. Cana, pinga de-açúcar. Kik./Kimb. Vienguê. Cana. Viango. Torresmo.
Viango (Camp, 2006). (Vogt & Fry). Mwengue.
Vinhango, Virango.
Cana (Batinga).
Oméra. Boca. Omerá.
Amera. Rosto (Vogt & Caméria. Cara, rosto,
Omerá. Língua. Comprar, obter, Omera. Língua.
Fry). boca.
retirar.

72
SÃO JOÃO DA MILHO VERDE Calunga – Patrocínio
CHAPADA (1939- (1996; 2001; 2006; ESPINHO (2012) Tabatinga (Queiroz) Cafundó (Vogt & Fry) (Batinga; Vogt & Fry; Bahia (Castro) Itaúna (Dornas) Jatobá (Gonçalves)
1943 [1985]) 2011-2012) Ferreira)

Omindes. Eu (pr.). Omindes. Eu.


Munquê. Sal (Ba- Mungo (LS). Sal. Var.
Mongo, Mungue,
Omungá. Sal. Omungá. Sal Mungo. Sal. tinga); Mungo. Sal mongo. Kik./Kimb. Mongo. Sal. Omunga. Sal.
Mungo. Sal.
(Vogt & Fry). Mungu, mungwa.
ONEFE. Vulva, órgão
sexual feminino.
Ongá. Alavanca. Ongá. Alavanca.
Unjira (LS). Estrada,
ONGIRA, UNGIRA.
caminho,rua; nome de
Ongira. Caminho, Caminho; Ojira. Injira, Injiro. Angira, Gira, Ongir,
Bambojira. Kik./
estrada. Caminho (Camp, Caminho. Ongira. Caminho.
Kimb./Umb. (o)njila,
2006).
caminho.
Unjira (LS). Estrada,
Injirá. Ir, andar, caminho,rua; nome de
INJIRÁ, GIRÁ. Angira, Gira, Ongir,
Girá. Andar correr, sair, crescer Bambojira.
Caminhar, ir embora Ongira. Caminho.
etc. Kik./Kimb./Umb.
(o)njila, caminho.
Orongó, Orangó,
Marangolo. Cavalo,
Orongome, Arongó,
burro (Ferreira);
Ongoró. Cavalo; Égua ONGORÓ. Cavalo; Arangome, Aran-
Angora. Cavalo. (Vogt N'goró. Cavalo. Ogorô. Cavalo.
(s.f.). Porco [?]. guão. Cavalo; Ingora.
& Fry); Marangó.
Cavalgadura: Mula,
Burro (Vogt& Fry).
cavalo, jumento etc.
ONINGUE, ONINGA,
Oninga. Mau cheiro. Oringa. Cheiro, ruim.
ANENGUE. Mau cheiro
Injeque. Milho, pipoca Angiquê, Onjaquê.
Onjequê. Milho.
(Vogt & Fry). Milho
Oranjê, Aranjê. 1.
Angerê, Ongere,
Onjerê. Cabelo. Cabelo. 2. Barba. 3. Orangê. Testa.
Olongere. Cabelo.
Bigode.
ONJÓ. Casa, Igreja, Unzó (LS), Injó (LS).
Conjolo, Conjor, Injó, Sinjó. Casa (Ba-
Rancho, Venda, Ca- Casa, Terre(i)ro. Injó, Undió.
Onjó. Casa, Rancho. Conjô, Canjolo. 1. Injó. Casa. tinga). Injó. Casa (Fer- Onjó. Casa.
valo [?]; Enjo. Casa Kik./Kimb./Umb. Habitação, casa.
Casa. 2. Gaiola. reira).
(Vogt & Fry). (o)nzo.
Onjundo. Marrão.
Onumuquaxo.
Onumuquacho. Par-
Companheira;
ceiro; colega de ser-
Onunuquaxo.
viço.
Parceiro, colega.

73
SÃO JOÃO DA MILHO VERDE Calunga – Patrocínio
CHAPADA (1939- (1996; 2001; 2006; ESPINHO (2012) Tabatinga (Queiroz) Cafundó (Vogt & Fry) (Batinga; Vogt & Fry; Bahia (Castro) Itaúna (Dornas) Jatobá (Gonçalves)
1943 [1985]) 2011-2012) Ferreira)

Iputaviputa, Viputa.
Oputá. Angu. Oputá. Angu.
Angu.
Vipeque. Osso (Vogt
Oquepá. Osso. Oquepá. Osso.
& Fry).
Orera de anguru. Tou-
cinho de porco (Nas- Orela, orerá.
Orerá. Toucinho. Orelo, Orela. Gordura. Orelá. Toucinho.
cimento). OXITO DE Toucinho.
OLERÁ. Toucinho.
Oringá. Poeira.
Orunanga. Roupa Nanga. Camisa;
Urunanga,
(Vogt & Fry); Roupa; Orinanga,
Urundanga,
Orununga de Nanga. Folha, pele, Nanja, Onanja. Urunanga. Calça; Onanga, oronanga,
Oronanga. Roupa. Urunanga. Roupa Arunanga,
quinuimba. Rede, fazenda, pena, roupa. Roupa; Urinanga, Oronanga. Roupa. ronanga. Roupa.
Arundanga.
roupa de defunto Urunanga. Calça.
1. Roupa.
(Vogt & Fry). (Batinga).
Oronángui. Diamante
(Camp, 2006).
Oranganja. Cachaça
(Nascimento);
Rongonja, Orongonja. Ganja (LP). Vaidade,
Orogongi. Ovo [?]; Oruganja-di-uíque.
Oronganje. Cachaça. Aguardente, cachaça presunção. Kik./Kimb.
Anguara. Aguardente. Mel de abelhas.
(Vogt & Fry); Ngan(z)já [?].
Uruganja, Orunganja
(Camp, 2006).
Orongóia. Diante;
Orongoia. Diamante Angôia. Balainho de
Orongóia. Diamante (Ferreira). Orongóia. taquara com semen-
Orongoia. Diamante.
(Camp, 2006). Pinguela feita de pau tes; instrumento mu-
(Vogt & Fry). sical do candomblé e
do jongo.
Orongóia. Diante;
Angôia. Balainho de
Orongóia. Pinguela
Oronguipoia. Lenha taquara com semen-
feita de pau (Vogt &
(Vogt & Fry). tes; instrumento musi-
Fry).
cal do candomblé e do
jongo.
Orofim, orofimba.
Oroni. Lenha. Orofim. Lenha.
Mato, lenha. [?]
Pungo (LS). Chapéu,
Oropungo. Bateia. Oropungo. Cabelo [?].
gorro. Kik. Mpongu.

74
SÃO JOÃO DA MILHO VERDE Calunga – Patrocínio
CHAPADA (1939- (1996; 2001; 2006; ESPINHO (2012) Tabatinga (Queiroz) Cafundó (Vogt & Fry) (Batinga; Vogt & Fry; Bahia (Castro) Itaúna (Dornas) Jatobá (Gonçalves)
1943 [1985]) 2011-2012) Ferreira)

Arasangue. Galinha
(Nascimento);
Sanjo. Frango (Vogt &
Orosanje. Galinha Sanji. Galinha;
Orossanje. Galinha. Sanje. Frango, ave. Fry; Batinga). Sanja, Ossangue. Ave.
(Vogt & Fry). Ossangê, Orossanji. Frango.
Senje (Batinga).
orossângui
(Camp,2006).
Calucimba,
Kalussimba,
Kanissimba. Gato
Orossimba. Gato. Orossimba. Gato.
(Camp, 2006);
Carofimba (Vogt
& Fry).
Orovanga, Orovungo. Oruvango. Tecido de
Baeta. algodão.
Orrori. Peixe (Vogt &
Orossi, Uruxi. Peixe.
Fry).
Orumbá. Carumbé.
Semá. Cabelo (Vogt
ASSEMÁ, OSSEMÁ. & Fry); Cemá. Barba, Ocemáucema,
Ossemá. Fubá. Massena. Farinha.
Céu. cabelo; Ocema. En- Ucema. Fubá.
xada (Ferreira).
Osenha. Rua. [?] Sora.
Ossenhê, senhê. Lua. Ossanhê. Lua.
Dente, lua.
Otaka, Otata (Ba-
Tata (PS). Pai, trata-
tinga); Tatá. Mãe
mento respeitoso.
(Vogt & Fry); Okay
Otata. Pai. Tata. Pai (Vogt & Fry). Tata, Otata. Genitor. Tata. Pai. Var. tatá. Kik./Kimb. Tatá. Pai. Otata,Tata. Pai.
otatá, okay tata. Mãe;
Taata, pai, título
Otatá, tatá. Pai (Fer-
honorífico.
reira).
Otatariangue. Feitor;
Otatariangue. Feitor,
Otatariangue-
patrão de serviço.
cangulo. Soldado.
Otatariôve. Insulto
Ocudê-tatariovê.
máximo (envolvendo Tataiova, Tataiove. Papaiove. Pai (Vogt &
Insulto: "Filho sem
o pai; Otata + Ovê, Pai. Fry).
pai".
você).
Oteke. Entardecer,
Oteque. Noite, céu,
Oteque, Conteque. tarde; Oteka. Preto, Otecame, Otéque. Oteque. Hoje;
Otequê. Dia. abóbada celeste (Vogt Téqui, Otéqui. Noite.
Noite. negro, escuro da noite Noite. Quitéque. Manhã.
& Fry).
(Ferreira).
Otiça. Cativeiro.

75
SÃO JOÃO DA MILHO VERDE Calunga – Patrocínio
CHAPADA (1939- (1996; 2001; 2006; ESPINHO (2012) Tabatinga (Queiroz) Cafundó (Vogt & Fry) (Batinga; Vogt & Fry; Bahia (Castro) Itaúna (Dornas) Jatobá (Gonçalves)
1943 [1985]) 2011-2012) Ferreira)

Otombo. Farinha de
Otombô. Farinha de Otambô. Farinha de
Mandioca (Nasci-
Mandioca. mandioca.
mento).
OTUPÃ. Diabo Tupa. Deus. Turupã. Deus.
Ovê. Você, o Senhor
(Ovê a ô vissepa Iove. Eu (Vogt & Fry); Mamaiove. Mãe (Lit.
cachupá ombiá - Dá- Ouê. O senhor, você tua mãe); Papaiove. Ovê. Você; Iovê. Ele.
me uma palha para (Vogt & Fry). Pai (Vogt & Fry).
eu fazer um cigarro).
Viango, Vienguê.
Cana, pinga (Vogt
Ovango. Foice;
Oviango. Foice. Vianjê. Cana. & Fry). Vinhango,
Viango. Torresmo.
Virango. Cana
(Batinga).
Ovicaiá. Piçarra.
Ovini. Mãe. Ovivi. Mãe.
Vipaque, Zipaque.
OVIPACO. Dinheiro, Dinheiro (Ferreira);
Vipaco, Vipaque. Ovipaca, Vipaco.
diamante na mão; Isipaco. Dinheiro
Dinheiro. Dinheiro.
Vipaco (Camp, 2006). (Batinga); Zipaque.
Dinheiro (Vogt & Fry).
Bamba (BR). 2.
Valentão, desordeiro.
Kik./Kimb. Mbangui. 3. Bamba. Valente;
(BR) Autoridade em Bambambã. Valentão;
Pamba. Valentão.
qualquer assunto; Surumbamba.
exímio, mestre. Var. Valentão.
bambambã. Kik./
Kimb. Kibamba.
Pangaranguenga.
Enterro (Vogt & Fry).
Parongo. Carneiro. Porango. Carneiro.
PIPOQUÊ, TIPÓQUE. Tipoque, Tiproque, Chipoquê. Feijão Quipoquê (LS). Feijão.
Pipoque, Quipoquê.
Pipoquê. Feijão Feijão, Milho. Pipoque. Tipoquê. Feijão Tipoquê, Tipoquero. Chipoquê. Feijão. (Vogt & Fry); Tipoque Kik. Tipoke/ Kimb. Tipoquê. Feijão.
Feijão.
Feijão (Nascimento). Feijão. (Batinga); (Ferreira). Kipoke, feijão.

76
SÃO JOÃO DA MILHO VERDE Calunga – Patrocínio
CHAPADA (1939- (1996; 2001; 2006; ESPINHO (2012) Tabatinga (Queiroz) Cafundó (Vogt & Fry) (Batinga; Vogt & Fry; Bahia (Castro) Itaúna (Dornas) Jatobá (Gonçalves)
1943 [1985]) 2011-2012) Ferreira)

Indaca. 1. (LS) boca,


O cupupiá, pupiá.
língua; maldição,
Falar; Pupiá-indaca.
Cupopiar. Falar; Copiá. Entender intriga. Kimb./Kik./
Conversar fiado, falar
Pupiá ondaca. Falar na Cupópia. Voz, fala, (Batinga); Kupiá. Umb. (o)ndaka, língua, Popiá undaca. Falar a
língua de negro;
língua dos pretos. verdade, a "língua Entender (Ferreira); intriga, obscenidade. língua.
Undaca. Asneira.
africana". Tupiandaca. Mentira. 2. discussão, bate-
Língua de negro de
boca; intriga, mexe-
senzala.
rico, fuxico.
QUEBIRRÃ. Pouco.
Quiban(d)o (LP).
Peneira grossa, em
QUIBANO,
forma de disco, para
QUIBANDO.
senga(r) o arroz, o
Ir embora.
café, etc. Kik. Kibanda/
Kimb. Kibandu.[?]
Quimbimba. Defunto;
QUIMBIMBA, Quimbimbar. Morrer
QUIVIMBA. Morto, (Vogt & Fry);
defunto; Quinvimba. Kimimbar. Morrer Quivimba. Defunto.
Morto, defunto (Vogt (Batinga); Kimbimbe,
& Fry). Kimbe. Cadáver
(Ferreira).
XIMBOCO. Sapo; Quimboto (LP). Sapo.
Quimboto. Sapo. Quimboto. Sapo (Vogt Var. Quipongo. Kik. Quimbôto. Sapo.
& Fry). (ki)bototo.
Munbundo. Preto;
Vimbundo. Negro,
preto (Vogt & Fry);
Vimbundo. Homem Kimbunde. Homem;
Quimbundo. Negro. Quimbundo. Negro. Quimbundo. Pessoa.
preto. Vimbunado. Moreno;
Imbundo. Preto (Fer-
reira); Vimbune.
Preto (Batinga).
Quimpracaca. Gato
(Vogt & Fry).
QUIOUA, QUIÔA.
Bobo.

77
SÃO JOÃO DA MILHO VERDE Calunga – Patrocínio
CHAPADA (1939- (1996; 2001; 2006; ESPINHO (2012) Tabatinga (Queiroz) Cafundó (Vogt & Fry) (Batinga; Vogt & Fry; Bahia (Castro) Itaúna (Dornas) Jatobá (Gonçalves)
1943 [1985]) 2011-2012) Ferreira)

Cabungo (LP). Chapéu


ordinário, alusivo ao
fato de que se carre-
Tipune, Tipungue.
QUIPUNGO. Chapéu; gava o cabungo na
Chapéu (Vogt & Fry);
Tipungá, Quipongo, Tipomo, Ticomo, Chicongo, Chipango. cabeça até o local de Pungo, Tipungo.
Quipungo. Chapéu. Tipungo. Chapéu
Kipungu. Chapéu Pongo. Chapéu. Chapéu. jogar os dejetos fora. Chapéu.
(Ferreira); Tiponque
(Camp, 2006). Kik./Kimb. Kibungu,
(Batinga).
latrina; Pungo (LS).
Chapéu, gorro. Kik.
Mpongu.
Quissonde. Formiga
Quissenje. Formiga.
vermelha.
Quissama, Quissamba.
Trouxa; Mochila.
QUIUÁ. Muito Uaiá. Muito grande.
Ronjendo. Vindo (Vogt
& Fry).
Ruduvu (LP). Barulho,
briga, confusão. Var.
Rubudu. Moinho.
vuvu. Kik./Kimb.
Luvovu/mufufu.
Riu! Riu! Silêncio,
Rio-rio. Int. de silêncio.
Psiu.
SARANGO SECO. Angu
SECURO. Homem.
Sengo. Mato, floresta
(Vogt & Fry); Sanjo, Ossenguê, Sengue.
Senguê. Mato. Assenguê. Banheiro. Sengue, Sengo. Mato. Sengue. Mato. Senguê. Mato.
Senjó, Sengue (Ba- Mato.
tinga).
SURUITIÚ, SURUTIÚ. Sureca, Suru. Sem
Tatu rabo, cauda ou cabelo.
Tiadiambe. Dia Santo.
Tiapossóca, Antipossoca. Coisa
Tiapossoca. Coisa Boa. Quiapossóca. Adj. boa; Tiapossoca.
Bom. Pessoa boa.
Tiapoá. (Gente) ruim
Túria. Gente ruim Tuim. Soldado [?].
[?].
Uanda. Rede (Camp,
Uandá. Rede.
2006)

78
SÃO JOÃO DA MILHO VERDE Calunga – Patrocínio
CHAPADA (1939- (1996; 2001; 2006; ESPINHO (2012) Tabatinga (Queiroz) Cafundó (Vogt & Fry) (Batinga; Vogt & Fry; Bahia (Castro) Itaúna (Dornas) Jatobá (Gonçalves)
1943 [1985]) 2011-2012) Ferreira)

Muanga (LS). Veneno.


Uanga. Feitiço. Muamba. Feitiço
Kik./Kimb. (m)wanga.
Uanga de sincorá.
Feitiço de mulata.
Uarangara. Morte
(Vogt & Fry).
Acueto (LS).
Camarada; saudação
equivalente a "meus
CUETO. Dançante
camaradas". Kik.
(Companheiro; pessoa
Cuete. 1. Homem. 2. Akweto/ Kimb. Mu-
Ucuêto, Vacuêto, humana); Naguete. Musueto. O outro;
Pai. 3. Mulher. 4. kweto/ Umb. Ukweto.
Acuêto. Companheiro. Homem; Uacueto, Ocuêto. Homem.
Gente. Macuero (LS). Nossos
Uagueto. Ele, homem
amigos, nossos irmãos,
(Vogt & Fry).
nossa família.
Kik./Kimb. makweru,
makuetu.
Cumba. Hora, dia, sol;
CUMBI. Sol; Cumbe, Gumbo. Dia, hoje
Ucumbi. Sol. Ocumbe, Ucumbe. Sol Cumba, Pumba. Sol. Cumbe. Sol. (Vogt & Fry). Kumba,
(Vogt & Fry). Kumbo. Ano (Ba-
tinga).
UMUNDA. Mundéu
Ungundo. Pó de fumo,
Ungundo. Pó; rolão.
rapé.
Urundungo (LS).
Pimenta. Kik.
Urundungo. Pimenta. Urundungo. Pimenta.
Lundungu / Umb.
Olundungu.
Inene (LS). Grande.
Uoneme. Grande. Kik./Kimb./Umb. Inene. Grande.
Nene.
Caviconve,
Cavicome,
Biquanga,
Vigongo; Vicongo. Cavicongo,
obiquanga. Pão, Viango. Torresmo.
Torresmo. Cavicongue,
sabão, queijo, tijolo [?].
Conviconve,
Conficonfe. Pão. [?]

79
SÃO JOÃO DA MILHO VERDE Calunga – Patrocínio
CHAPADA (1939- (1996; 2001; 2006; ESPINHO (2012) Tabatinga (Queiroz) Cafundó (Vogt & Fry) (Batinga; Vogt & Fry; Bahia (Castro) Itaúna (Dornas) Jatobá (Gonçalves)
1943 [1985]) 2011-2012) Ferreira)

VINÁ. Remédio levado


pelo carunjinjim du-
rante a festa do Ro-
sário
Caviconve,
Cavicome,
Biquanga,
Cavicongo,
Vinganga. Arroz. obiquanga. Pão,
Cavicongue,
sabão, queijo, tijolo [?].
Conviconve,
Conficonfe. Pão. [?]
Viquimbana. Caixa
(Vogt & Fry);
Viquimbanza,
Riquimbanza. Caixa
(Instrumento) (Camp,
2006).
Vissepa. Palha.
Vissungo. Cantigas. VISSUNGO. Canto. Vizunga. Baile.
Xibiu (LP). Vulva,
partes genitais da
XIBIU. Diamante mulher; diamante Xibiu. Vulva.
pequenino. Var. tobiu.
Kik. Tšubilu.

Bamba. 1. (LS)
Babaçue. Certa dança.
valentão, desordeiro.
[?]. Bamba. Valente;
Kik./Kimb. Mbangui.
Bambambã. Valentão;
Bambazuô. [?]. Bambá (LP). 2.
Bambaré. Barulho;
Provocação de briga. Toda dança que ter-
Tarumbamba. Briga
mina em desordem.
forte entre
Kik./Kimb. Mbanga,
criminosos.
confusão.

80
SÃO JOÃO DA MILHO VERDE Calunga – Patrocínio
CHAPADA (1939- (1996; 2001; 2006; ESPINHO (2012) Tabatinga (Queiroz) Cafundó (Vogt & Fry) (Batinga; Vogt & Fry; Bahia (Castro) Itaúna (Dornas) Jatobá (Gonçalves)
1943 [1985]) 2011-2012) Ferreira)

Binga (LP). Chifre;


ponta de chifre de boi
torneada, própria para
guardar tabaco em pó
ou pólvora para es-
pingarda de caça; (p. Binga. Pênis. Guarda-
ext.) corno, chifrudo, rapé de ponta de
Binga. Isqueiro. BINGA. Isqueiro. Binga. Isqueiro
marido traído; homem chifre. Binga-di-
sem importância; macáia. Isqueiro.
espécie de cascalho
em forma de chifre;
tipo de colibri. Kik.
mvimba / Kimb.
mbinga, chifre.
Cacimba (BR). Poço
de água potável; fonte,
Cacimba. Poço de água Cacimba. Poço de água Cacimbo. Estação das
vasilha. Kimb./Kik.
potável de minas. potável de minas secas.
Kisima, kisimbu,
vasilha.
Calundu (BR). Mau-
humor, amuo. Kik.
Kilunda/ Kimb.
Kialundu, o que re-
Calundu. cebe o espírito, de
Aborrecimento. referência ao aspecto
carrancudo do rosto e
comportamento dos
possuídos em transe
pela divindade.
Cambungo. Corruptela
de carbúnculo.
Canjongo. Osso.
Cariapemba (LS). O
demônio, o cão, enti-
dade maléfica. Var.
Caiapembe.
Cariá, Cariapemba. Cariá, Cariapemba, Candiambe, Cariambe,
CARIAPEMBA. Diabo. Fantasma, alma,
Diabo. Pemba. Diabo Cariapembe. Kik./
espírito.
Kimb. Nkadiampemba,
lit. o espírito maléfico
dos cemitérios.
Caxaramba. Cachaça.

81
SÃO JOÃO DA MILHO VERDE Calunga – Patrocínio
CHAPADA (1939- (1996; 2001; 2006; ESPINHO (2012) Tabatinga (Queiroz) Cafundó (Vogt & Fry) (Batinga; Vogt & Fry; Bahia (Castro) Itaúna (Dornas) Jatobá (Gonçalves)
1943 [1985]) 2011-2012) Ferreira)

Caxanga (PS).
Indisposição súbita.
Caxanga. Achaque.
Kik. Kizangu/Kimb.
Kazungu< kuzanga.
Coxito. Pequeno (adj.); CUXITO, CUNXITO. Coxito. Porco pequeno
Porco pequeno (subt.). Porco (subt.)
Gunguna(r) (LP). V.
resmungar, murmurar
Gungunar. Resmungar. Gungunar. Resmungar. consigo mesmo. Kik.
(ku) nguna/ Kimb.
Kungonga.
Malungo (LS). 1.
companheiro, irmão
de barco. Kik./Kimb.
Nkwanlungu, irmão, Malungo. Compa-
Malunga. Da mesma companheiro da nheiro. "Num pri-
idade (Vogt &Fry); mesma canoa, embar- meiro momento, o
Malungo. Da mesma Malungo. Da mesma
Malungo. Compa- cação. 2. (LP) (arcai- nome dado ao compa-
idade; companheiro. idade; companheiro
nheiro, irmão (Fer- co)o negro compa- nheiro que veio no
reira). nheiro da embarcação mesmo navio ne-
de África; (p. ext.) greiro".
irmão-de-criação ou
irmão-de-leite.
Malumbo.
Marimbo. Espécie de
jogo de cartas.
Moçambique. Cintas
de vidro.
Murundu (BR).
Montículo de terra,
amontoado de coisas.
Morumbo; Murundu.
Kik./Kimb. (Mu)lundu,
Montículo; testículos.
monte de barro ou
feito por termitas, em
forma de cone.
Muafa (LP). 1. bebe-
deira, embriaguez.
Muafa. Safanão.
Kik./Kimb. Mufwa,
estar cheio.

82
SÃO JOÃO DA MILHO VERDE Calunga – Patrocínio
CHAPADA (1939- (1996; 2001; 2006; ESPINHO (2012) Tabatinga (Queiroz) Cafundó (Vogt & Fry) (Batinga; Vogt & Fry; Bahia (Castro) Itaúna (Dornas) Jatobá (Gonçalves)
1943 [1985]) 2011-2012) Ferreira)

Quiba (LP). 1. Adj.


forte, corpulento
Quiba. Pessoa corpu-
Quiba. Trouxa; Monte Quiba. Trouxa; Monte (falando-se de ani-
lenta, monte de rou-
de roupas. de roupas mais). Kik. Koba. 2.
pas.
(vulgar) testículos.
Kik. Kibalanga/ kibata.
Samba (BA). 2. diz-se
Samba. Saquitel de de uma peça de roupa
pano que se põe à ou de outro objeto de
boca de bezerros uso pessoal quando
para desmamá-los. está ou fica folgado,
dançando no corpo. [?]
Samba (BR). Dança e
música popular bra-
sileira decompasso
binário e acompa-
Semba. Dança dos Samba. Certo ritmo,
nhamento sincopado;
Negros. dança.
a música que acompa-
nha essa dança.
Kik./Kimb. Samba/
semba. Semba (PS).
Sanjuê. Barulho; Briga. Sanjuê. Dança
Sumbanga. João- Tibanga, Tibangara.
Ninguém. 1. Bobo. 2. Triste.
Tatarnê. Bicho de pé.
Xambá. Espécie de
Xambá. Pedaço
pássaro.
Vôlo-vôlo. Certo
Zungu. 1. (LP) baru-
Vungo-Vungo, Zungo- brinquedo: pedaço
lho, confusão. Kik.
Zungo. Tipo de brin- de pau amarrado na
Zungu/Kimb. Nzangu.
quedo. ponta de corda, ro-
[?]
dado com rapidez.

83
Percebe-se que, em nossa análise, reconsideramos alguns dos itens com
entradas distintas em Oliveira (2006) como formas cognatas. Aponta-se o caso
específico de acrepu ‘mão’ (MACHADO FILHO, 1985) e ingalapo ‘mão’ (BATINGA,
apud OLIVEIRA, 2006), não correlacionados pela autora. Nossas sugestões de
análise etimológica no próximo capítulo podem indicar uma variação possível.

Primeiramente, veremos os resultados comparativos entre o léxico da


região diamantina e, em seguida, com as demais línguas. Os dados de Machado
Filho são constituídos de 200 itens lexicais, agrupados em 173 entradas. Os dados
de Milho Verde (considerando-se aqui não somente os itens verificados em nossa
pesquisa) contabilizam 224 itens, agrupados em 125 entradas lexicais. Finalmente,
a comunidade do Espinho apresenta 33 itens, agrupados em 30 entradas. Os itens
encontram-se agrupados num total de 243 entradas lexicais para toda a região.

Ressaltamos que a maior variedade de itens lexicais verificada em Milho


Verde é justificada pela quantidade de informantes encontrados que acabam
também por deixar marcas idioletais. Observemos, por exemplo, o caso da entrada
lexical massangue. Encontramos ali sete variedades: massangue, assangue,
massango, massangro, massámbi, marsame e marsámbi. Entendemos que cada item
possui uma história etimológica e a variação pode ter ocorrido por diversos
motivos (influência do português brasileiro, influência de outras línguas africanas,
ou mesmo dificuldades de fala do informante e/ou de registro pelo pesquisador).
No próximo capítulo, sugerimos uma hipótese etimológica para esses termos.

Em comparação dos dados referentes às comunidades da região


diamantina, fizemos a seguinte constatação: o léxico de São João da Chapada
compartilha 54 itens/agrupamentos com o léxico encontrado em Milho Verde,
além de outros três que se aproximam em forma, porém se diferenciam em
significado; entre o léxico da comunidade do Espinho e o léxico sanjoanense,
encontramos 18 itens/agrupamentos iguais, e outros nove com significado
distinto; e, entre o léxico das regiões de Milho Verde e Espinho, observamos oito
itens/agrupamentos de forma e significado iguais, e cinco com diferença
semântica.

84
Mesmo diante da quantidade desigual de dados na região, parece-nos que
houve ali um compartilhamento lexical. Entretanto, logo percebemos que os dados
são insuficientes para afirmarmos a existência de um único falar africano para toda
a região, cada qual apresentando características peculiares. Continuaremos a tratá-
los como uma unidade constituída de elementos plurais, fazendo maiores
considerações no próximo capítulo no qual os relacionamos às línguas africanas.

Em relação aos demais falares africanos no Brasil, encontramos formas


cognatas nas seguintes proporções: 54 itens/agrupamentos na língua da
Tabatinga; 57 na língua do Cafundó; 71 na língua calunga; 100 na Bahia (52, LS; 10
PS; 23, LP; 2, BA; 13, BR); 61 em Itaúna (Dornas); 110 na comunidade do Jatobá; e
69 sem correlação.

Nota-se um dado curioso: a comunidade do Espinho, que apresenta nove


itens distintos do vocabulário sanjoanense, aproxima-se, no significado do item
arenga ‘fofoca’, às formas cognatas em Castro (2001), lengalenga ‘conversa fiada;
enganosa’, e da comunidade do Jatobá, arengar ‘conversar fiado’.

Percebemos, ainda, que a comunidade do Jatobá apresenta a maior


quantidade de itens/agrupamentos lexicais em comum com a região diamantina.
Esta comunidade, em Belo Horizonte (MG), é constituída por uma irmandade de
Nossa Senhora do Rosário, parecendo reforçar o papel relevante das associações
religiosas de negros na manutenção de léxico africano. Nota-se, igualmente, que o
léxico encontra maior número de formas cognatas na língua de Santo, utilizada
pelos candomblés angola na Bahia.

Essa comparação se mostra relevante para nossa investigação etimológica


dos itens lexicais africanos da região diamantina. Poderemos, então, distinguir
falares mais conservadores daqueles que apresentam maior variação dos dados de
línguas africanas, além de falares que tenham preservado formas cognatas de
outras línguas. Nossa análise somente aponta para a relação das línguas nas
diferentes comunidades afro-brasileiras com os falares da região diamantina e,
portanto, ignora o restante de seus itens lexicais. Sugerimos, desta forma, a
construção futura de um banco de dados que compreenda todas as informações

85
lexicais de falares afro-brasileiros (item lexical, variações, datações, localidade,
história da comunidade, entre outros) que certamente complementará nosso
conhecimento da história das línguas africanas que vieram com os negros
escravizados para o Brasil.

86
Capítulo III - Línguas africanas na região diamantina

Andambi, ucumbi u atundá

Sequerendê,

Ucumbi a uariá..

Andambi, ucumbi u atundá!

Canto do meio-dia (MACHADO FILHO, 1985, p. 75)6

Neste capítulo, elaboramos uma investigação etimológica dos falares


africanos da região diamantina em sua relação com línguas da África. Sabendo-se
que a África é um continente de grandes proporções geográficas, plurilíngue e
pluriétnico, a pergunta sobre quais línguas devem ser observadas em nossa análise
não se responde facilmente.

Para responder esta questão, devemos investigar quais línguas africanas


foram transplantadas juntamente com os negros escravizados para o Brasil. Em
segundo lugar, apresentar os motivos de nossa escolha entre o conjunto dessas
línguas, sendo necessário descrevê-las para que se acompanhe melhor o
desenvolvimento de nosso trabalho. Somente então podemos sugerir hipóteses
etimológicas para os itens analisados.

3.1 O tráfico e as línguas africanas no Brasil

Podemos considerar a presença de línguas africanas no Brasil, a partir de


duas perspectivas: 1) a história e a rota do tráfico entre a África e o Brasil; 2) o
registro histórico da presença de línguas africanas em terras brasileiras.

6
O fundamento é dado por Machado Filho: “O cantador avisa a mulher – ou cozinheira do serviço – de
que o sol já está muito alto, é hora, pois, do almoço) (1985, p. 76).
87
Segundo afirma Mattoso (1979 apud BONVINI, 2008, pp. 26-27)
consideram-se quatro ciclos do tráfico de escravos para o Brasil: (1) Século XVI, o
ciclo da Guiné: principalmente de escravos sudaneses7 da África ao norte da linha
do equador; (2) Século XVII, o ciclo do Congo e de Angola: negros da zona banta;
(3) Século XVIII, o ciclo da costa de Mina: negros sudaneses, por sua maior
experiência com mineração, além do ciclo baiano da baía do Benin; (4) Século XIX:
Escravos de vários lugares, porém com predominância de Angola e Moçambique.

Bonvini (2008, p. 27), no entanto, afirma que a divisão em ciclos é somente


válida em linhas gerais, visto que o início de um novo ciclo não acarreta
necessariamente o fim do ciclo anterior. Além disso, o autor aponta a prática da
metrópole portuguesa de misturar africanos de diferentes etnias de modo a
impedir sua concentração em um mesmo lugar.
Dados fornecidos por Alencastro (2000, p. 69) indicam o número de mais de
quatro milhões de africanos escravizados que desembarcaram no Brasil durante os
300 anos do tráfico8. Ver Tabela 1.

Tabela 1: Tráfico de africanos para o Brasil

Fonte: ALENCASTRO, 2000, p. 69.

7
Torna-se necessário explicar o termo ‘sudaneses’ para não confundi-lo com os habitantes da área
ocupada pela atual República do Sudão. O termo refere-se ao antigo Sudão Francês, na África Ocidental,
atual República do Mali. Ainda assim, ressaltamos que a referência não é exclusiva aos africanos da
região do atual país, mas a todos que foram trazidos da África Ocidental.
8
Castro (2011, p. 62) afirma serem os números ainda maiores, entre cinco e oito milhões.
88
Conforme informado em nosso primeiro capítulo, a descoberta de ouro e
diamante nas primeiras décadas do século XVIII estimulou o tráfico de africanos
escravizados durante quase todo o século. Nota-se que a diminuição dos números
do tráfico nas duas últimas décadas, corresponde ao período de decadência da
mineração. Entre 1701 e 1780 calcula-se que 1.285.500 africanos tenham
desembarcado no Brasil, principalmente para o trabalho nas minas.
Quanto ao século XIX, Mattos (2006, p. 15) nos indica que a chegada da
corte portuguesa em 1808 e a abertura dos portos brasileiros para o comércio com
outras nações impulsionaram novamente a necessidade de mão-de-obra escrava. O
fim do tráfico em 1850 aumentou o preço dos escravizados e estimulou fortemente
o tráfico interno. No período entre 1801-1850, 1.713.100 africanos são trazidos
para o Brasil, correspondendo a 42,5% do total do tráfico.
No entanto, mesmo diante de números tão assombrosos, encontram-se
poucos documentos sobre línguas africanas no Brasil durante a época colonial. O
primeiro registro é datado de 1697, com o título de Arte da língua de Angola,
elaborado pelo padre jesuíta Pedro Dias. O documento foi escrito no Brasil e
publicado em Lisboa, e trata-se da primeira gramática do quimbundo (língua do
subgrupo banto, ramo benuê-congo, tronco nigero-congolês).

Bonvini (2008, p. 29) ressalta o papel de língua veicular que o quimbundo


desenvolveu com o tráfico em Angola, principalmente a partir do século XVII, entre
os pombeiros de Luanda, mercadores negros ou mestiços que circulavam pelo
interior da região. Em meados do século, Caçanje e Matamba, até então dedicados à
caça de escravos, tornaram-se estados comerciantes, intermediando o fluxo de
escravizados vindos do império Lunda, além do rio Cuango, e Luanda.

89
Figura 4: Províncias atuais de Angola. Fonte: http://www.angolaglobal.net/

Mais adiante, no início do século XIX, o frei italiano Bernardo Maria de


Cannecattim atesta a mesma realidade veicular do quimbundo, indicando línguas
aparentadas em grande área ao redor de Angola:

(...) (os milúas, trazidos de Caçanje) aprendem a língua bunda com


maior facilidade do que qualquer outra língua, de tal modo que
chegando os escravos milúas9 a Loanda todos fallam a língua
bunda, signal evidente da muita correlação que estas línguas têem
entre si (CANNECATTIM, 1859, p. xv).

Curiosamente, quanto à língua benguela (ou umbundo, falado na região


centro-sul de Angola), Cannecattim percebe a semelhança lexical entre ambas as
línguas, porém afirma ser “esta (a língua de Angola) mui difícil de aprender aos
indivíduos d’aquella nação” (Ibidem, p. xv).

O segundo registro indicado é o de uma língua veicular ‘mina’ falada na Vila


de Ouro Preto, na primeira metade do século XVIII, detalhada no primeiro capítulo.
Somente no século XIX, teremos mais dados a respeito das línguas africanas faladas
no Brasil, atestando uma situação de plurilinguismo.

9 O historiador Robert Slenes (1992, p. 50) indica que os milúas eram provenientes do Império Lunda.

90
Adrien Balbi (1826, apud BONVINI 2008, p. 46) elabora um quadro
comparativo de 26 palavras de três línguas africanas, cujos dados foram coletados
pelo pintor alemão Maurice Rugendas em viagem pelo Brasil. Bonvini (2008, p.
47), ressalta que, apesar de Balbi denominar as línguas pelo nome dos povos que
as falavam, sua “mini-experiência comparativa” lhe permitiu classificar três línguas
africanas do grupo banto, alguns decênios antes dos grandes trabalhos
comparativos de W. H. I. Bleek.

Ainda importante, Os Africanos no Brasil, de Nina Rodrigues, publicado


postumamente no Brasil em 1932, é resultado de uma pesquisa desenvolvida nos
terreiros de candomblé em Salvador (BA) nas últimas décadas do século XIX.
Rodrigues elabora um quadro sinótico de 122 dados lexicais, pertencentes a cinco
línguas da África Ocidental faladas na Bahia à sua época: grunce (gurúnsi), jeje
(eve-fon), hauçá, canúri e tapa (nupe) (BONVINI, 2008, p. 48). Seu trabalho se
caracteriza por marcar fortemente uma polarização do tráfico: a forte presença de
africanos sudaneses na Bahia; e o tráfico de africanos bantos para o restante do
Brasil.

O impacto da publicação de Nina Rodrigues ocasionou uma


supervalorização da presença iorubá/nagô no Brasil. Por um lado, devido ao
próprio autor, e por outro, às pesquisas que seguiram ao seu trabalho. Lucilene
Reginaldo (2005, pp. 165-166) e Castro (2009, p. 67) apontam o equívoco de Nina
Rodrigues ao fazer afirmações referentes a todo o estado da Bahia, tendo como
referência apenas a cidade de Salvador, além de ressaltar o desinteresse do médico
pelos africanos da África Austral (zona banta). Castro (2001, p. 53) ainda afirma
que a interpretação dos aportes africanos no Brasil através de uma óptica iorubá,
deve-se também a um continuísmo metodológico da literatura especializada que
concentrou seus estudos nos mesmos terreiros estudados por Rodrigues.

Podemos também sugerir que outra afirmação de Nina Rodrigues (2010


[1932], p. 162) de que, entre as línguas do grupo banto, “tenha predominado, no
Brasil, o kimbundo ou língua de Angola, cuja estrutura fundamental se conserva a
mesma desde o século XVII”, justifique o abuso de buscas etimológicas no
quimbundo, constatado por Castro (2001, p. 56), na obra O Negro Brasileiro e
91
Outros Estudos de Jacques Raimundo (1936), e verificado também nos trabalhos de
João Dornas Filho (1942) e Aires da Mata Machado Filho (1943 [1985]).
Ressaltamos, também, possível influência da recém-descoberta relação linguística
do grupo banto, além dos trabalhos publicados sobre o quimbundo no final do
século XIX.

Desta forma, a consciência da vasta presença de línguas africanas, tanto da


África sudanesa quanto da África banta nos levou a considerações sobre quais
línguas deveríamos investigar em uma análise etimológica. A princípio, decidimos
comparar os itens lexicais coletados com os testemunhos mais antigos de línguas
africanas no Brasil. Primeiramente, buscamos por itens lexicais descritos na Arte
da língua de Angola de Pedro Dias (1697) e, em seguida, na língua veicular de
‘mina’ descrita por Antônio da Costa Peixoto (1745).

Como já mencionamos, não encontramos itens que se relacionassem


diretamente entre a língua de ‘mina’ e os falares da região diamantina. No entanto,
nossa comparação com a obra de Pedro Dias, confirmou a constatação de Machado
Filho (1985, p. 118) do “caráter banto” do ‘dialeto sanjoanense’10. Castro (2001, p.
81) nos oferece informações adicionais sobre os falares mineiros, afirmando que,
na Bahia, “entre as ‘nações’ intituladas congo e angola (...) a predominância é de
termos do quicongo e do quimbundo sobre o umbundo, ao contrário do que se
observa nos vocabulários recolhidos em Minas Gerais”. A própria etimologia da
palavra vissungo, teria relação com o umbundo (do singular ocisungo, plural em
ovisungo ‘louvores’) (Castro, 2009, p. 70).

Desta forma, decidimos elaborar nossa análise a partir destas duas línguas,
quimbundo e umbundo (ambas do subgrupo banto, ramo benuê-congo, tronco
nigero-congolês, faladas em Angola). Ademais, incluímos algumas referências
adicionais ao quicongo, cuja presença foi indicada nos falares baianos em Castro
(2001).

Antes de apresentarmos nossos resultados, teceremos considerações a


respeito de nossa metodologia de análise, orientada em grande parte pelo trabalho
10
Apresentamos no anexo 1, uma pequena lista comparativa de itens cognatos entre a língua de Angola
de Pedro Dias e os falares diamantinos.
92
do Prof. Mário Viaro (2011) e, em seguida, apresentaremos as línguas do grupo
banto consideradas em nossa análise.

3.2 Considerações sobre o trabalho etimológico

A etimologia, ciência que trata da história e origem das palavras, teve seu
maior desenvolvimento no século XIX, principalmente pelos trabalhos de
linguística histórico-comparativa, realizados pelo dinamarquês Rasmus Christian
Rask (1787-1832), e pelos alemães Franz Bopp (1791-1867), Jakob Grimm (1785-
1863), e August Schleicher (1821-1868). Schleicher, influenciado pelas teorias
darwinistas, é considerado o criador da ‘teoria de árvore’ ou ‘método filogenético’,
e o primeiro estudioso a tentar uma reconstrução da língua proto-indo-europeia 11.
Apontamos ainda Hugo Schuchardt (1842-1927) que aproxima a etimologia
fortemente de um modelo indutivo de análise, levando em consideração a
heterogeneidade da língua. Viaro (2011, p. 86) indica que a visão de Schuchardt
sobre a língua “seria de um continuum” e “cada palavra e variante teria uma
história própria”, conforme demonstram posteriormente os estudos dialetológicos
e de línguas em contato.

No início do século XX, com o advento da corrente estruturalista na


linguística moderna, consolida-se a concepção da língua como um objeto
autônomo, principalmente a partir do trabalho de Ferdinand de Saussure (1857-
1913), Curso de Linguística Geral, publicado postumamente por seus alunos. A
partir da dicotomia saussuriana (sincronia x diacronia), valorizaram-se em termos
gerais, no decorrer do século, os estudos sincrônicos sobre os diacrônicos, além de
uma visão exclusivamente imanente da mudança linguística (FARACO, 2007, p.
163). Somente os estudos sociolinguísticos desenvolvidos na segunda metade do
século voltaram a se preocupar com os dados históricos, segundo apontado por
Viaro (2011, p. 91).

11
A família indo-europeia é formada por cerca de 400 línguas, faladas ao redor do globo, sendo constituída pelas
línguas germânicas, línguas românicas, línguas eslavas, línguas indo-arianas, as variedades do grego, entre outras.

93
Além de ter sido afetada por influência do estruturalismo e pelas guerras
mundiais na primeira metade do século XX, a ciência etimológica ainda sofre com
pesquisas desenvolvidas de pouco teor científico, ou mesmo etimologias
fantasiosas, conforme indica Viaro (2011, p. 224). Deste modo, para a elaboração
de nossas análises etimológicas, procuramos seguir as indicações do autor (Viaro,
2011).

Primeiramente, afirmamos que a etimologia se caracteriza por uma postura


diacrônica e indutiva, ou seja, observa-se a variação linguística em sua relação com
o tempo, e elaboram-se considerações e hipóteses somente após a observação dos
dados. Delineia-se, desta forma, nossa concepção de étimo: “forma equivalente da
mesma palavra, imediatamente anterior numa sincronia pretérita qualquer”
(Viaro, 2011, p. 99).

No caso mais específico da etimologia dos falares africanos no Brasil,


devemos ser cautelosos em distinguir étimo e origem. Viaro exemplifica a questão
com uma análise etimológica da palavra açúcar no português:

sânscrito çarkarā > árabe sukkar → árabe as-sukkar > açúcar (2011, p. 106)

No caso a palavra teria origem no sânscrito, passando para o árabe e sendo


enfim emprestada pelo português em contato com os árabes do norte da África. A
forma sukkar teria derivado as-sukkar ao acrescentar o determinante. O étimo da
palavra na língua portuguesa seria, portanto, a forma derivada do árabe.

Em nosso estudo, a definição gera uma dificuldade. Apesar de sabermos da


origem africana dos termos, não temos como informar se o étimo seria proveniente
diretamente das línguas africanas ou de variedades de falares africanos de outras
regiões do Brasil. Diante deste problema, a partir de nossa análise, assumiremos a
hipótese inicial de uma ligação direta entre as línguas africanas e o falar registrado
na região, parecendo-nos a melhor solução, visto não termos uma história precisa
de cada comunidade falante de ‘línguas africanas’ em nosso país.

94
Apesar de o estudo etimológico ser permeado de dúvidas, não se justifica a
busca por soluções ad hoc 12. Desta forma, Viaro (2011, p. 125) aponta alguns
fatores que distinguiriam uma etimologia mais confiável e científica de outra com
soluções idiossincráticas:

a) Delimitação temporal precisa da sincronia pretérita à qual o étimo


pertence.

b) Adequação do étimo ao sistema reconstruído na sincronia


pretérita, que precisa ser reconstruída.

c) Conhecimento do contato ou da influência cultural entre as


línguas nessa mesma época.

d) Avaliação do étimo com a palavra investigada. No caso de


irregularidades nas mudanças fonéticas, deve haver razões pró ou
contra, pautadas em paralelos com outras palavras ou outros sistemas e
não em argumentos ad hoc.

e) Comparando-se o significado do étimo e da palavra investigada,


nos casos de mudanças muito bruscas de significado, deve haver razões
pró ou contra, pautadas em paralelos com outras palavras ou outros
sistemas. Nesse caso, porém, a arbitrariedade das explicações costuma
ser ainda maior (Viaro, 2011, p. 125).

Primeiramente, tivemos dificuldades para contemplar os itens (a) e (b),


porém procuramos atendê-los ao consultar as obras mais antigas escritas sobre as
línguas pesquisadas. No caso do quimbundo, a gramática do padre Pedro Dias, já
citada, além de outras obras dos séculos XIX e XX (Cannecattin, 1805 [1865];
Chatelain, 1889 [1964]; e os trabalhos mais recentes de Pedro, 1993; e Xavier,
2010). Entretanto, nossa maior dificuldade surge nos registros do umbundo, sendo
o mais antigo um vocabulário elaborado por Antônio Francisco Ferreira da Silva
Porto em meados do século XIX, quando o tráfico já chegava ao fim e os falares da
região diamantina provavelmente já se encontravam estabelecidos. Desta forma,
percebe-se nossa limitação em afirmarmos que as formas cognatas verificadas no

12Do latim, significando hipótese formulada com o único objetivo de legitimar ou defender uma teoria, e não
em decorrência de uma compreensão objetiva e isenta da realidade (HOUAISS, 2009).
95
material pesquisado sobre o umbundo sejam exatamente as fontes etimológicas de
vários itens analisados, mesmo quando fortemente similares.

Quanto aos demais itens, julgamos tê-los seguido como preconizado pelo
autor. Primeiramente, com nossa apresentação sobre a presença africana na região
diamantina e, em seguida, na forma como elaboramos nossa análise.

Em relação às fontes da pesquisa etimológica, Viaro (2011, p. 101) afirma


que “os corpora são de grande importância, sobretudo os organizados de forma tal
que se possa obter alguma informação diacrônica”. Os corpora, principalmente
para línguas com rica história de documentação, formam um grupo de datações e
uso registrado de vocábulos em diferentes sincronias pretéritas da língua, sendo
relevantes para a datação de termos mais antigos e na definição de étimos.

Na ausência de um corpus bem documentado das línguas africanas


referentes à época do tráfico, podemos considerar duas possibilidades de trabalho:
a primeira, ir a campo e entrevistar diversos falantes de diferentes variedades
dialetais de línguas africanas, pesquisar outras línguas que se mantiveram em
contato, construir um banco de dados de formas cognatas e reconstruir possíveis
étimos; a segunda, que adotamos: trabalhar dentro das limitações do material
pesquisado, apontando, ainda que deficientemente, para sincronias pretéritas da
língua. Ressaltamos, todavia, que ambas possibilidades não são excludentes, sendo
preferível um trabalho que as associe.

No entanto, podemos imediatamente perceber as dificuldades impostas pela


primeira possibilidade para o nosso trabalho. Além do problema de tempo e
recursos que encontraríamos, a pesquisa de sincronias presentes das línguas
podem não apresentar diversos aspectos relevantes, tais como: itens em desuso,
variedades obsoletas etc.
Exemplificamos com dois casos recentes: durante uma das viagens de
campo a Diamantina, em janeiro de 2012, encontramos angolanos falantes de
quimbundo e umbundo que nos auxiliaram na identificação de alguns itens lexicais
dos falares diamantinos, porém não reconheceram alguns itens cognatos que já
havíamos verificado nos dicionários; ainda, em julho de 2013, a Profa. Margarida

96
Petter, em projeto desenvolvido no Libolo13, Cuanza Sul, Angola, entrevistou um
falante de umbundo que tampouco pôde reconhecer alguns dos mesmos termos.
Esta situação nos leva a reforçar que as línguas dos africanos escravizados
transplantadas para o Brasil compartilharam de uma sincronia com as línguas
africanas faladas na África até meados do século XIX (até então numa relação
continuamente alimentada pelo tráfico), mas que, a partir de sua separação
definitiva e dos diferentes contatos sociolinguísticos estabelecidos evoluíram
diferentemente, preservando termos em comum, porém formando novas
(re)construções de forma e sentido.
Desta forma, não se despreza o falante nativo em seu conhecimento, mas,
conforme afirma Viaro (2011, p. 233), a capacidade deste de analisar seu código
linguístico tem pouco valor para a etimologia, sendo necessário proceder à
listagem e ao acesso de dados que remetam ao passado da língua.
Percebemos, assim, que os dicionários constituem um importante material
de análise, pois oferecem o registro de estados anteriores das línguas africanas que
permaneceram no uso e na memória dos falantes das comunidades investigadas.
Valorizamos, também, os registros mais antigos que puderam ser encontrados.
Todavia, enfatizamos que estes trabalhos optam, geralmente, pelo registro de uma
única forma lexical e acabam por limitar a realidade plural da língua e de um
trabalho que reflita esta característica com maior cientificidade.

Aplicamos, portanto, em nossa análise, um estudo de variações fonéticas


possíveis entre os itens lexicais dos falares diamantinos e seus supostos étimos,
buscando por padrões que possam explicar uma relação com as línguas africanas.
Diante da quantidade de dados que se assemelham em forma e significado,
acreditamos ser altamente provável, no mínimo, uma origem comum.

Diante desses cuidados e limitações, faremos a seguir uma breve


apresentação das línguas africanas que serviram como base de comparação com os
falares da região diamantina.

13
O projeto é integrado por uma equipe internacional de 14 investigadores nas áreas da linguística, ensino e
formação de docentes, história e antropologia, sendo coordenado pelos professores Carlos Figueiredo (UMAC –
Universidade de Macau) e Márcia S. D. Oliveira (USP). Os dados coletados em pesquisa de campo realizada em
julho/2013 estão sendo transcritos para posterior análise e publicação.
97
3.3 As línguas bantas

Figura 5: As línguas do grupo banto, segundo a classificação de Malcolm Guthrie. Fonte: NURSE, A survey report for the Bantu
languages, 2001.

O grupo banto – subdivisão do Benuê-congo, uma das famílias do tronco


Nigero-Congolês – constitui um conjunto linguístico com cerca de 600 línguas,
faladas por perto de 240 milhões de pessoas, numa vasta região da África, que se
estende ao sul de uma linha que vai desde os Montes Camarões (sul da Nigéria),
junto à costa atlântica, até a foz do rio Tana (Quênia). Essa área inclui os seguintes
países: África do Sul, Angola, Botsuana, Burundi, Camarões, Comores, Congo,
Gabão, Guiné Equatorial, Lesoto, Madagascar, Maláui, Moçambique, Namíbia,
Quênia, República Democrática do Congo, Ruanda, Suazilândia, Tanzânia, Uganda,
Zâmbia e Zimbábue (NGUNGA, 2004, p. 29).

98
Dentre os inúmeros estudos sobre as línguas bantas, destacamos os
precursores dos trabalhos atuais:

W. Bleek, que cunhou o termo bantu14 para designar o conjunto de línguas e


estabeleceu a classificação do grupo em linhas gerais (1862-1869);

C. Meinhof (1910, 1935), que reconstituiu o Protobanto;

M. Guthrie (1948, 1971), que propôs uma classificação geográfico-genética dessas


línguas.

O código de identificação criado por Guthrie é utilizado até hoje por todos
os bantuístas. Segundo o critério desse autor, as línguas bantas distribuem-se em
15 zonas, codificadas por letras e números. As letras correspondem às regiões e os
números indicam a colocação da língua nesse conjunto. Por exemplo, H20 indica o
grupo quimbundo e a língua, propriamente, com suas variantes mais próximas, é
identificada como H21; outra variante falada numa região mais longínqua, o songo,
é referida pelo código H24. Recentemente, Maho (2003, pp. 639-651) completou a
lista de Guthrie acrescentando duzentas novas línguas, usando o mesmo critério de
codificação de seu criador.

Do ponto de vista tipológico, as línguas do grupo banto apresentam uma


morfologia aglutinante, caracterizada por um sistema de classificação nominal e
um sistema de concordância elaborado, que se relaciona com aquele sistema, o de
classes nominais. Isso significa afirmar que todos os nomes (substantivos) estão
associados a uma classe, que se identifica por um prefixo distinto, um para o
singular e outro para o plural. No item abaixo, do quimbundo, pode-se constatar
esse emparelhamento:

dìálá: classe 5 ‘homem’ málá: classe 6 ‘homens’

14
O autor verificou a recorrência de palavras que apresentavam o prefixo ba(marca de plural)
associado à raiz ntu (pessoa) em línguas da região. ) [ba(marca de plural) + ntu (pessoa) em
línguas da região.
99
O número máximo de classes nominais verificado nas línguas bantas é de
20. O quimbundo tem 18 classes e o umbundo tem 16. Essas classes agrupam-se
aos pares, uma forma para o singular e outra para o plural, para os itens que
admitem pluralização na língua. Os números ímpares indicam, normalmente, as
classes de singular e os pares, as de plural. Quando um nome ocorre numa
sentença ele desencadeia um sistema de concordância, em que todos os elementos
que se referem a ele devem concordar em classe, como se pode observar no
exemplo abaixo:

málá mámbánzá má↓íkì nì mákínì

má-lá má-mbánzá má-↓íkì nì má-kínì

cl 6-homem cl 6-da-cidade cl 6-cantou e cl 6-dançou

‘os homens da cidade cantaram e dançaram’ (XAVIER, 2010, p. 118)

Observa-se que o nome que está na posição de sujeito, málá, pertencente à


classe 6, pois possui o prefixo identificador dessa classe má-, acarreta todo o
sistema de concordância, tanto no nível do sintagma nominal (málá mámbánzá)
quanto no verbal (má↓íkì /mákínì), em que os verbos são precedidos pelo prefixo
que é o índice do sujeito, uma palavra da classe 6.

O verbo das línguas do grupo banto possui uma estrutura complexa que se
pode resumir pela seguinte sequência de posições que devem/podem ser
preenchidas:

a. (PI) - IS - TAM + (IO) + Raiz + (Exts.) + VF

PI = pré-inicial (marca de negação, nas línguas que o possuem);

IS = índice de sujeito;

TAM = marca de tempo, aspecto e modo;

100
IO = índice de objeto, único morfema que tem posição fixa, sempre antes da
raiz;

Exts. = extensões verbais, que são morfemas derivacionais que modificam o


sentido, a morfologia do radical verbal, podendo, também, alterar as relações de
transitividade;

VF = vogal final, podendo indicar aspecto segundo alguns autores.

Na estrutura a, são obrigatórios os elementos representados em negrito, e


os que estão entre parênteses são facultativos. Observe-se o exemplo do
quimbundo, extraído de Pedro (1993, p. 272):

b. Ngájìkúlá ódíbìtù

Ng- -á- -jìk- -úl- Á ó- -di- -bìtù

IS TAM Raiz Ext. VF Aumento Cl 5 Nome


verbal

Eu pas. fechar reversivo Acabado a porta

Trad.: “Eu abri a porta”.

Como o nosso estudo focaliza os nomes, principalmente, não nos


estenderemos na análise dos verbos. Apresentamos a seguir o quadro com as
classes nominais do quimbundo e do umbundo, pois esses dados foram de crucial
importância para o estudo etimológico dos termos inventariados.

101
3.4 As fontes dicionarísticas das línguas africanas

Utilizamos em nossa análise um glossário e três dicionários de umbundo


(R11), além de quatro dicionários de quimbundo (H21). Aproveitamos também os
dados do quicongo (H16) listados em Maia (1961). Os dicionários abarcam um
período do início do século XIX à segunda metade do século XX e são apresentados
com detalhes a seguir:

a. Umbundo

 Viagens e Apontamentos de um Portuense em África. Excerptos do ‘Diário’ de


António Francisco da Silva Porto (1942).

Nascido António Francisco da Silva, na cidade do Porto, em 1817, o autor


começou jovem a vida de comerciante, tendo trabalhado como caixeiro no Rio de
Janeiro desde seus doze anos. Em 1838, chega pela segunda vez a Luanda,
iniciando sua vida de ‘sertanejo’ no ano seguinte. Estabeleceu-se no reino de Bié,
região central de Angola, entre os ovimbundos, povos falantes de umbundo. Silva
102
Porto passa os 50 anos seguintes na região, fazendo constantes viagens pelo
interior de Angola e à cidade de São Filipe de Benguela. É nomeado capitão-mor do
Bié em 1885, falecendo em 1890, em decorrência de ferimentos causados após
tentativa de suicídio.

O vocabulário elaborado pelo autor refere-se “ao idioma comum daqui (Bié)
para Oeste, peculiar à tribu (sic) Quimbumba” (SILVA PORTO, 1942, p. 217), cujo
idioma chama ‘umbumbo’ (sic). O vocabulário faz parte das anotações de seu
diário, publicado integralmente somente no final do século XX. Provavelmente foi
elaborado durante a metade do século XIX, durante o período que habitou entre os
ovimbundos. Constitui-se de um breve glossário, português-umbundo, porém
extremamente rico ao proporcionar informações do idioma mais próximas à época
do tráfico.

 Vocabulary of the Umbundu Language: Comprising Umbundu-English and


English-Umbundu. William H. Sanders (1885).

O livro não traz informação sobre seus autores, os Reverendos W. H.


Sanders e W. E. Fay., membros da A.B.C.F.M. (American Board of Comissioners for
Foreign Missions – Junta Americana de Comissionados para Missões Estrangeiras).
O vocabulário é constituído, conforme informado na contracapa, de três mil
palavras usadas pelos habitantes do Bailundo e do Bié, e outras regiões da África
centro-ocidental.
Algumas poucas informações puderam ser coletadas sobre o autor em
artigo de Fola Soremekun (1971) sobre as difíceis relações das juntas de missões
americanas e o governo português. Soremekun (1971, p. 342) afirma que Sanders
era filho de missionários da A.B.C.F.M. no Ceilão e, seguindo a vocação de seus pais,
chegou ao Bailundo em março de 1881, juntamente com a primeira equipe de
missionários americanos. Supostamente o Rei Ekuikui fez a seguinte indagação ao
vê-los: “Vocês não vão comprar cera, borracha, marfim ou escravos. Então por que
estão aqui?”15 (The Missionary Herald, November, 1885 apud SOREMEKUN, 1971,

15
“You will not buy wax, rubber, ivory, or slaves, what are you here for?”.

103
p. 344, tradução minha), indicando o tipo de contato que era comum entre
europeus e africanos nativos em uma época em que eram escassos os missionários
católicos interessados na vida religiosa da população local.
É admirável que o dicionário tenha sido publicado quatro anos mais tarde,
sob circunstâncias tão complexas como a falta de apoio e proteção do governo
português, as desconfianças políticas que causavam os missionários americanos, e
as constantes guerras entre grupos da região. A missão passou a prosperar a partir
de 1890, após os portugueses tomarem o controle efetivo de Bié. Sanders
permaneceu no trabalho missionário até a década de 1930. Sua correspondência
pode ser consultada na Harvard University Library, nos registros de missões
africanas da Junta Americana de Comissionados para Missões Estrangeiras
(A.B.C.F.M.).

 Dicionário Prático: Português-Umbundo. Compilado por Ralph L. Wilson


(1935).

Não foram encontradas informações a respeito de Ralph L. Wilson. O livro


foi publicado pela tipografia Sarah H. Bates, Missão Evangélica, possivelmente
ligando-o às missões protestantes na região. No prefácio, o autor (1935, p. 4)
afirma que procurou coletar palavras em umbundo comuns a todas as regiões. A
base de sua seleção foi uma lista de palavras mais frequentes em espanhol (visto
não haver algo semelhante feito em português), elaborada pelo Prof. Milton
Alexander Buchanan da Universidade de Toronto, Canadá, baseando-se na
literatura espanhola. Foram selecionadas as primeiras 4.000 palavras das 6.702
palavras mais frequentes da lista, algumas outras de sua parte restante e 600 de
interesse local.
O dicionário apresenta 4.782 palavras, com o objetivo de “suprir a
necessidade dum vocabulário simples, compôsto de palavras usadas com
frequência, suficiente para todas as ocasiões” (WILSON, 1935, p. 3). Além disso, o
autor aponta a possibilidade da criação de uma literatura simplificada com vista a
desenvolver o hábito de leitura entre os nativos.

104
 Dicionário Português-Umbundu por Grégoire Le Guennec e José Francisco
Valente (1972).

O original deste dicionário foi elaborado pelo padre missionário Grégoire Le


Guennec, nascido na Bretanha, França. Segundo o revisor do trabalho, o Pe. José
Francisco Valente (1972, p. VII), autor de uma gramática do umbundo, Le Guennec
teria passado dois terços de sua vida em Angola, falecendo em 19 de julho de 1960,
aos 85 anos de idade. Entre as regiões onde o padre esteve, citam-se Ganda e
Balombo, na região de Benguela, e o Bailundo, na região do Huambo. Valente
afirma que os nativos se maravilhavam com o domínio que o padre francês possuía
da língua: “Fala como os anciãos da tribo!” (1972, p. VIII).
O trabalho realizado por Le Guennec e Valente é o dicionário mais extenso e
abrangente que se pôde analisar, tendo como única desvantagem não ser possível
consultar diretamente os vocábulos em umbundo.

b. Quimbundo

 Diccionario da língua Bunda, ou Angolense, explicada na Portugueza, e


Latina, composto por Fr. Bernardo Maria de Cannecattim, Capuchinho
Italiano da Província de Palermo, Missionário Apostólico, e Prefeito das
Missões de Angola, e Congo (1804).

Frei Bernardo Maria de Cannecattim é também autor de Collecção de


Observações Grammaticaes sobre a Lingua Bunda ou Angolense e Diccionario
Abreviado da Lingua Congueza. O autor considera ser seu trabalho o primeiro
realizado sobre a língua, “... não havendo em parte alguma Mestre, ou Livro, que a
ensine” (1804, p. ii), apresentando total desconhecimento da obra de Pedro Dias,
publicada cerca de cem anos antes.
Os objetivos de seu trabalho resumem as necessidades, temores e
pensamentos correntes à época:

105
A intelligencia da língua Bunda (...) he utilíssima, e necessaria aos
Ecclesiasticos no exercicio do seu ministerio; aos Governadores, e
Magistrados na Regencia do Estado, e Administração da Justiça; aos Chefes
Militares no acerto do seu Commando, e na felicidade de suas operações;
aos Commerciantes em fim no manejo do seu negocio, sendo huma ruína, e
huma desgraça, que todas estas pessoas não vejão o objecto de suas
funções, senão ao travéz da opaca sombra de hum Negro interprete
(CANNECATTIM, 1804, p. IV-V).

Como se pode notar, o autor reclama da ausência de homens brancos


conhecedores da língua bunda (quimbundo) e desconfia dos intérpretes nativos.
Estes poderiam não traduzir a língua na mesma intensidade das expressões
originais, assim como tirar proveito das mais diferentes situações (vingança e
lucro pessoais, informações militares secretas etc.).
Cannecattim ainda fala sobre a zona de abrangência da língua bunda, de
uma estreita faixa do litoral a uma ampla área do sertão do Reino de Angola que se
estende até ‘Cassanc’i’ (sic), entreposto de escravos no interior de Angola. Por fim,
o estudioso adota por vezes, uma grafia que remete à língua portuguesa ou ao
italiano, conforme o exemplo: Monandénghi ‘criança’ (ler como no português,
Monandéngui). Cannecattim também nega a existência das pré-nasais iniciais
(bunda, ao invés de mbunda).

 Diccionario Portuguez-Kimbundu. José Pereira do Nascimento (1903).

José Pereira do Nascimento apresenta os títulos de médico da Armada Real


e explorador naturalista da Província de Angola. O autor demonstra conhecimento
de outros trabalhos realizados, tal como a gramática do quimbundo escrita por
Heli Chatelain, além de já haver elaborado a Grammática do Umbundu ou Lingua de
Benguella, em 1894.
Em seu prefácio, indica que o dicionário deve ser um material
complementar às demais obras e, mais especificamente, para o auxílio dos
europeus que quiserem aprender a língua indígena. Seu trabalho é dividido em
duas partes: uma primeira, apresentando características morfofonológicas da

106
língua, em especial o sistema de classes nominais e, a segunda, o dicionário
propriamente dito.

 Dicionário Kimbundu-Português: Linguístico, Botânico, Histórico e


Corográfico. A. de Assis Junior (s.d.).

O prefácio da obra traz poucas informações a respeito do autor, Antônio


Assis Junior. Na página virtual da União de Escritores Angolanos (2013), informa-
se que o autor nasceu em 1887, na vila do Golungo Alto, Província do Cuanza
Norte. Romancista, publicou os livros Relato dos acontecimentos de Ndalatando e
Lucala e Segredo da Morta (1935). Faleceu em Luanda, exilado de sua terra natal,
em 1961, devido às suas crenças nacionalistas.
Nesta obra, Assis Junior pretende ocupar a lacuna de meio século desde a
primeira publicação do dicionário kimbundu-português de J.D. Cordeiro da Matta
em fins do século XIX. O autor (s.d.) afirma ser este o resultado de um longo
trabalho de doze anos. Apesar de não trazer a data de publicação, Bonvini (2009, p.
48) indica o ano de 1941. Quanto a considerações linguísticas, Assis Junior faz uma
breve apresentação da fonologia do quimbundo e do sistema de classes nominais,
chamando atenção à variação entre [di] e [ri], na língua, optando pela grafia da
segunda, a qual chama de ri brando.

c. Quimbundo e quicongo

 Dicionário Complementar. Português-Kimbundu-Kikongo (Línguas Nativas do


Centro e Norte de Angola), compilado por Pe. António da Silva Maia (1961).

Segundo o jornalista Manuel Pires Bastos (2011) em artigo do quinzenário


português João Semana, o Pe. António da Silva Maia nasceu em 13 de março de
1905, em Cimo da Vila, Ovar, Portugal. Ordenado sacerdote em Luanda, em 1936,
percorreu diversas localidades de Angola, além de se dedicar ao estudo das línguas

107
nativas, incluindo o omumbuim e o mussele16, dois dialetos do quimbundo. Maia
foi considerado um traidor pelo governo de Portugal, ao manter-se dedicado aos
seus fiéis angolanos, faleceu de volta à pátria no ano de 1981.
À maneira de outras obras já citadas, ressalta-se no prefácio de Félix Bravo
a importância missionária, comercial e administrativa do trabalho, além de se
apontar o valor de registro histórico de ambos os ‘dialectos’ (MAIA, 1961, p. VII).
Há também um pequeno quadro indicando os prefixos de classe nominal dos
idiomas apresentados.

Apresentamos, em seguida, nosso quadro de comparação dos falares da


região diamantina com as línguas africanas.

16
Sobre o umumbuim, Maia (1951) afirma: “Para lingua indigena escolhemos o «Ümumbuim» - lingua dos pretos de Gabela -
Amboim - dialecto oriundo do «Kimbundu» e um tanto do «Umbundu», porque é esse o Dialecto que melhor conhecemos em
virtude de ai termos vivido värios anos, e dai a razäo porque neste humilde trabalho Iinguistico se descrevem diversos usos e
costumes dos seus habitantes”.
108
Quadro 2: Comparação dos vocabulários de falares africanos na região diamantina com dicionários de umbundo, quimbundo e quicongo.

SÂO JOÂO DA MILHO VERDE Silva Porto – Sanders - Wilson - LeGuennec - Cannecattim - Nascimento - Assis Jr. – Maia – Maia -
CHAPADA (1939, (1996; 2003; ESPINHO (2012) Umbundu Umbundu Umbundu Umbundu Língua Bunda Kimbundu Kimbundu Kimbundu Kikongo
1943 [1985]) 2006; 2011-2012) (c. 1860) (1885) (1935) (1972) (1804) (1903) (c. 1941) (1961) (1961)

Acrepu. Mão.
Akulu, adj e
sub. pl. Finados; Uakola,
ACURO. Velho; Químa
Mukulu. Velho Defunctos; Os Uakulu,
homem velho; Ukulu. Homem Quioucúlu.
Ukulu. Elder Wa kuka, ca (pessoa) adj.; - antepassados; Os Okulu, mukulu, Ankulu. Ve-
Macuro, Nacuro. de idade avan- Coisa velha;
(Mais velho) kuka. Velho. okulu. Velho, avoengos; ÙkuIu, sekulu. Velho. lho; Akulu.
Homem (Vogt & çada (Velho). Oculacági.
a, adj. sub. Vetustês; o Antepas-
Fry). Velhice.
que é antigo, sado.
velho.
letu. adj. e pron.
poss. pl. (contr.
- etu. Nosso, da prep. ia e do Etu, kietu,
Aiêto. Grande (Vogt Etu. Per. Pron. - etu. Relativo a Químa Quiéttu.
Cetu. Nosso. a, adj. e pron. pron. pess. pl. dietu. Nosso, Ietu. Nós.
& Fry). We (Nós). nós (Nosso). Nossa cousa.
pess. etu). Nossa; nossa, de nós.
nosso; Das nos-
sas pessoas.
Aiuca. Muito
- iuka. De- Kuiuka, kiaiu-
(Curima aiuca- Ocuihuca. Yuka. Be full
Ce yuka. Cheio. - yuka. Cheio. reito, a, (ser, ka. Direito,
aiuca, Omenhá Cheio. (Estar cheio).
ficar, estar), v. jus.
aiuca-aiuca).
ANDARU (?);
Andura, Anderú.
Anduro, Ondara. Ondalu. Fire Ondalu. Lume
Fogo, fósforo, Ondallo. Fogo. Ondalu. Fogo. Ndalu. Fogo.
Fogo. (Fogo). (Fogo).
isqueiro (Camp;
2006).
Ulume. Ser
Múlume. adj.
dotado de alma Kiulume,
Olume. Ho- Ulume. Man Ulume. Ho- Munúmi. Ma- Mulume. Ma- Macho; Masculo;
Alume. Homem. e corpo: do sexo mulume.
mem; Êle. (Homem). mem. rido. rido, s. viril. Sub. Marido;
masculino Masculino.
consorte.
(Homem).
Ndumbu.
Ndúmbu. Sub.
Mulher da rua
Ondambi. A Prostituta; ra-
ANDAMBE, dada a praze- Ndumba.
good man or Ondambi. Mu- meira; meretriz;
INDAMBE. Mulher, res, prostituta; Mulherzinha,
Andambi. Mulher. woman (Um lher bonita Mulher da vida;
palavra feia (prosti- Ndumbe. rapariguita
homem bom ou (Mulher). Ndûmbe, sub.
tuta [?]) Mulher em (Mulher).
mulher boa). Mulher em novi-
noviciado
ciado; Noviça.
(Mulher).

109
SÂO JOÂO DA MILHO VERDE Silva Porto – Sanders - Wilson - LeGuennec - Cannecattim - Nascimento - Assis Jr. – Maia – Maia -
CHAPADA (1939, (1996; 2003; ESPINHO (2012) Umbundu Umbundu Umbundu Umbundu Língua Bunda Kimbundu Kimbundu Kimbundu Kikongo
1943 [1985]) 2006; 2011-2012) (c. 1860) (1885) (1935) (1972) (1804) (1903) (c. 1941) (1961) (1961)

Ocai. Mulher; Ukãyi. Pessoa


ANDAMBE OCAIO.
Dama; Ela; Ukai. Woman adulta do sexo
Mulher da vida Ukãi. Mulher.
Ogrocai. Ve- (Mulher). feminino (Mu-
livre
lha. lher).
Anange. O meu
Andê. Amigo (Nas-
amigo (Amigo)
cimento).
[?]
Andô. Morte (Camp: Quíndo, Indo. Indô ou ndô. Îndo. sub. Tris- Îndu. Tris-
2006). Luto. Lucto, s. tez, luto teza.
Ngana. sub. O
. que possui hon-
Ngánna,
Angana. Senhor, Anganna. Tratamento Ngana. Se- ras ou dinheiro; Ngana. Se-
Ñala. Senhor. Jingánna.
Senhora. Senhor. cerimonioso nhor, a, s. fidalgo. Senhor; nhor.
Senhor.
(Senhor). dono; possuidor;
dominador.
Angana-Nzambi. Nzâmbi. sub.
Deus. (Gananzambi, Deus. Santo;
Nganazambi, divindade de
Suku. Senhor Nzambi,
Angana-Nzambi- GANANZAMBI, Succo, Sambi. qualquer reli-
supremo; Ngana-
Opungo, INGANANZAMBI. Criador Suku. God Nzambi. Deus, gião. Cada um Nzambi.
Suku. Deus. Njambi. Outros Zámbi. Deos. Nzambi,
Zambi-opungo, Deus. Inganazambe. (Deus); Succo. (Deus). s. dos membros da Deus.
nomes de Deus. Nzambi-
Anzambe, Anzambi, Deus (Nascimento). Deus. Trindade cristã;
(Deus). Pungu. Deus.
Anzambê, —Pungu, o Ser
Anganaiovê, Supremo; o Todo
Gananzambe) Poderoso.
lâmi. adj. poss. Uami (pl. ami), Kiame (pl.
Angana-Iangue. Q'uiámi, ou, -ami. Meu, (contr. da prep. e kiami (pl. iame). Meu,
Chiangue, Cange. Meu
Patrão (Meu Se- - ange. Meu. Ch'iámi, Iámi. Minha, adj.e do pron. pess. iami). Meu, minha,
Eangue. Meu. (Minha).
nhor). Meu. pron. pess. eme. Meu, minha; minha, meus, meus, mi-
De mim. minhas. nhas.
'Ngo. sub. zool.
Onça; tigre; Íngo.
Ongue, Ongwe. Ounce Ongwe. Mamífe- sub. zool. Animal
Inco, Mánco. Ngo, Ingo.
Anguê. Onça. Hongue. Ouça (animal) (Onça, Ongue. Onça. ro carnívoro Ingo. Onça, s. digitigrado da Ngó. Onça.
Onça (animal). Onça.
(Onça). animal). feroz (Onça). fam. dos felinos;
Tigre; Mamífero
felida; Onça.

110
SÂO JOÂO DA MILHO VERDE Silva Porto – Sanders - Wilson - LeGuennec - Cannecattim - Nascimento - Assis Jr. – Maia – Maia -
CHAPADA (1939, (1996; 2003; ESPINHO (2012) Umbundu Umbundu Umbundu Umbundu Língua Bunda Kimbundu Kimbundu Kimbundu Kikongo
1943 [1985]) 2006; 2011-2012) (c. 1860) (1885) (1935) (1972) (1804) (1903) (c. 1941) (1961) (1961)

Ngina. sub. Esca-


+ lyengila. Ex- vação subterrâ-
Anguira. Ouro plorar uma mi- nea natural ou
(Camp: 2006). na (Minerar) artificial com
[?]. entrada franca
[?].
Apumbo. Milho
(Nascimento);
Epungu. Planta
Opungo, iupungo Pungo, épungo. Epungu. Corn
Epungu. Milho. Gramínea (Mi-
(alimento), ofúmbu. Milho. (Milho).
lho).
Fubá, angu (Camp:
2006).
Okwenju. Boy Rikuenze. Adj.
Aquenjê. Menino; Ocoenje. (Menino); Ukwenje. Ho- Esforçado; vigo-
Ukuenje
Aquenjê Verome. Cachopo; Ukwenje. mem novo roso; possante.
Rapaz.
Rapazinho. Donzel. Youth (Jovem, (Rapaz). sub. Pessoa
Juventude). decidida, valente.
Araposse-Arapossí,
Possi. Descanso,
repouso.
Mulénga. sub.
Arenga. Fofoca;
Linga. Do Oku linga. + linga. Execu- Molénga. Mulenga. Seara; Terra Mulenga.
Arengá. Tarefa. Arengueiro. Fofo-
(Fazer). Executar. tar (Trabalhar). Lavoura. Lavra, s. cultivada; lavra Seara.
queiro
grande.
+ lila. Prantear Kuríla. v. intr.
Oco-rila. Pran- (Chorar); o Chorar; verter
Arirê. Contar (v.); s. Lila. Cry (Cho- Oku lila. - rila. Chorar, Dila ia kololo.
to; Óchilela. cantar dos Curíla. Chorar. lágrima. Sub. - dila. Chorar.
Canto. rar, gritar). Chorar. v. Chorar.
Lamento. pássaros (Can- Pranto; lamento;
tar). choro.
Utanha. Dia
Utanya. Sun- Muánha. Ca- Luanha. Sol, s.; Luânha. sub. O
Otaiá, Otainha. Dia Ottanha. solar (Dia); o Muanha, Lua-
Atanhara. adj. Alto. shine (Raio de lor; Luánha. Muanha. Calor sol, seu brilho ou
(Vogt & Fry). Calor, Dia. calor do sol nha. Sol.
Sol). Sol. do Sol. calor.
(Sol).
Kutúnda. v. intr.
Sair; tirâr-se do
+ tunda. Brotar
Ocutúnda, lugar. Proceder;
Tunda (desig. Tunda. Depart Oku tunda. da terra (Nas- - tunda. Sa-
Atundá. adv. Alto. Tundá. Roupa velha Oicutúnda. provir. Ser simi- - Tunda. Sair.
de safa) (Partir, sair). Sair. cer); Ir para hir, v.
Sahida. Ihante. sub.
fora (Sair).
Saimento; pro-
cedência.

111
SÂO JOÂO DA MILHO VERDE Silva Porto – Sanders - Wilson - LeGuennec - Cannecattim - Nascimento - Assis Jr. – Maia – Maia -
CHAPADA (1939, (1996; 2003; ESPINHO (2012) Umbundu Umbundu Umbundu Umbundu Língua Bunda Kimbundu Kimbundu Kimbundu Kikongo
1943 [1985]) 2006; 2011-2012) (c. 1860) (1885) (1935) (1972) (1804) (1903) (c. 1941) (1961) (1961)

Baieta. Capa de
chuva (Nasci-
mento)
BANGUÊ. Rede Mbangala. sub. Mbangala.
para levar defunto. port. Bengala. Vara.
Mbâlu. adj.
Insubordinado;
revoltado. Bravo;
selvagem; Indó-
mito; Que anda a
Ombalu. Brave
monte; Umbalu.
Barundo. Senhor, Balo, ombalo. man (Homem - mbalu. Bra-
Mbalundu. adj. e Mbalu. Bravo. Forte, fortim
patrão. Injúria. bravo, raivoso, vo, a, adj.
sub. Natural do [?].
corajoso).
Bailundo; Ho-
mem nascido nas
terras do Bailun-
do ou a elas
referente.
+ sipa. Aspirar o
Kúxíba. v. tr. - Xiba
Oco-chipa. Sipa. Smoke Oku sipa. fumo de (Fu- Cuchíba. - xiba. Chu-
Cachupá. Fumar [?] Cuxipá. Fumar Chupar; sugar; macanha, -
Cachimbar. (Fumar). Fumar. mar); Chupar o Chupar. par, v.
absorver. xipa. Fumar.
fumo (Chupar).
Ricúnda, Dikunda (pl.
Kunda. sub.
Macúnda. Rikunda, makunda).
Costado; costas; Elunda,
Ekunda. Dorso Costas; Karikunda. Costas;
Oh-lunda. Karikunda. sub. malunda.
CACUNDA. Costas. dos animais Cacúnda. Giba, s.; kadikunda,
Corcunda. Corcova; Giba; Corcunda
(Dorso). Giboso; Rikunda. kakunda.
Costas um tanto (corcova).
Ocacúnda. Costas, s. Corcunda
arqueadas.
Corcova. (corcova).
Ocai. Mulher;
CAIMINA, Dama; Ela;
CAIUMINA. Moça, Ogrocai. Ve-
Ukãyi. Pessoa
mocinha, mulher lha; Emina -
Ukai. Woman adulta do sexo
nova; Kaimina. Emina (desig- Ukãi. Mulher.
(Mulher). feminino (Mu-
Moça nova (Nas- nação do es-
lher).
cimento); Caiumim tado interes-
(Camp, 2006). sante da mu-
lher).

112
SÂO JOÂO DA MILHO VERDE Silva Porto – Sanders - Wilson - LeGuennec - Cannecattim - Nascimento - Assis Jr. – Maia – Maia -
CHAPADA (1939, (1996; 2003; ESPINHO (2012) Umbundu Umbundu Umbundu Umbundu Língua Bunda Kimbundu Kimbundu Kimbundu Kikongo
1943 [1985]) 2006; 2011-2012) (c. 1860) (1885) (1935) (1972) (1804) (1903) (c. 1941) (1961) (1961)

Kalúnga, adj.
Eminente, Insig-
ne; Grande.
Incomensurável.
Infinito. Sub.
Massa líquida
Okalunga.
Kalunga. Massa que circunda os
Spirit-world
CALUNGA. Água; e extensão de continentes. Kalunga. Mar;
(Mundo dos Kalunga
CALUNGO. Rio; Calunga. Raiz medi- Calunga. Mar; água salgada Calúnga. Mar; Kalunga. Mar, Oceano; O mar. Kalunga. Mor-
Calunga. Mar. espíritos); Okalunga. Mar. ozele. Mar
Carunga. Rio (Vogt cinal. Morte. (Mar); Outros Calúnca. Morte. s.; Morte, s. O Além, a Eterni- te; Kalunga.
hades (Inferno, bravo (Mar).
& Fry). nomes de Deus dade. Uma das Deus.
além-túmulo);
(Deus). três deusas que
ocean (Oceano).
fiavam e corta-
vam o fio da
vida; Kalunga
'a-ngombe. Deus
da Morte A pró-
pria Morte.
Nakalongaka.
Rato dos cam-
pos, preto; rato
Ekolongonjo. que faz montí-
Kalungo. Rato A field rat (Um culos como a
(Nascimento). rato do campo) toupeira; eko-
[?]. longonjo. Rato
dos montes de
salalé (Rato)
[?].
Ekamba. Com- Kámba, sub. Ekamba,
Ekamba. O que Kamba,
Ocamba. Ami- rade, friend Ekamba. Cambaria' Rikamba. abrev. de rikámba. Muntu a
CAMBA. Amigo. dedica amizade Dikamba.
go; Camarada. (Camarada, Amigo. Riála. Amigo. Amigo, a, s. Amigo; confiden- kamba. Com-
(Amigo). Amigo.
amigo). te; aliado. panheiro.
Mbámba. adj.
Mestre consu-
mado; Exímio;
Excelente; ex-
CAMBAMBE. Feiti- Mbamba. Bambangolo.
celso; insigne.
ceiro, sabido. Mestre [?]. Valente [?].
Sem rival; Sabi-
do; como nin-
guém mais.
Sabedor. [?].

113
SÂO JOÂO DA MILHO VERDE Silva Porto – Sanders - Wilson - LeGuennec - Cannecattim - Nascimento - Assis Jr. – Maia – Maia -
CHAPADA (1939, (1996; 2003; ESPINHO (2012) Umbundu Umbundu Umbundu Umbundu Língua Bunda Kimbundu Kimbundu Kimbundu Kikongo
1943 [1985]) 2006; 2011-2012) (c. 1860) (1885) (1935) (1972) (1804) (1903) (c. 1941) (1961) (1961)

Mbámbi. sub.
zool. Antílope
Mbambi.
Ombambi. maior que a Mbambi. Vea-
Bambi, Ombambi. Ani- Gazella, s.;
Small deer corça; Cervo; do, cervo;
Cambambe. Veado. ombambi. mal antílope kambambi.
(Pequeno Veado; Cam-bambi.
Veado. (Gazela). Gazella pe-
veado). Kambámbi. Enho.
quena.
sub. zool. Corça;
Veado pequeno.
Ximbolokoto.
Cambrocotó. adj. Brocotó. Caminho Ximbolokoto. sub. Botão; pe- Ximbolokoto.
Termo injurioso. ruim Verruga, s. quena excres- Verruga.
cência da pele.
Okwenju. Boy
Mukuenze. adj e
Ocoenje. (Menino); Ukwenje. Ho-
Camuquengue. Ukuenje. sub. Atleta. Alen- Mukuenze.
Cachopo; Ukwenje. mem novo
Moleque. Rapaz. tado; esforçado. Atleta.
Donzel. Youth (Jovem, (Rapaz).
[?]
Juventude).
Kamulundu, sub.
Munda, ca- Pequena eleva-
Omunda. Monte Mulundu.
munda. Cerro; Omunda. Mulúndu, ção de terreno;
Camundá. Morro, muito alto e Monte, s.; Mulundu.
Cole; Morro; Mountain Omunda. Monte. Milúndu. Pequeno morro;
monte. extenso (Mon- Kamulundu. Morro.
Munda. Mon- (Montanha). Monte. Monte; Mulundu.
tanha). Montezinho.
tanha. sub. Serra; mon-
tanha; morro.
Cananenecô. Termo Okanike. Meni-
injurioso. no [?].
Ekoko dia
Sanje, ósanje e Ekondombolo. Corumbólu, Kolombolo,
Quindomboro. Galo Ekondombolo. Ekondombolo. Rikolombolo. Kolombolo. sub. nsusu, Eko-
Candamburo. Galo. econdombóro. Ave doméstica Jicorumbólu. Dikolombolo.
(Vogt & Fry). Rooster (Galo). Galo. Gallo, s. Galo. lombolo.
Galo. (Galo). Gallo. Galo.
Galo.
Kandanda, sub.
Ochindongo. bot. Planta legu-
Candango. Feijão Kandanda.
Milho preto minosa; vagem
(Vogt & Fry). Feijão [?].
(Milho) [?]. de feijoeiro;
Feijão [?].

114
SÂO JOÂO DA MILHO VERDE Silva Porto – Sanders - Wilson - LeGuennec - Cannecattim - Nascimento - Assis Jr. – Maia – Maia -
CHAPADA (1939, (1996; 2003; ESPINHO (2012) Umbundu Umbundu Umbundu Umbundu Língua Bunda Kimbundu Kimbundu Kimbundu Kikongo
1943 [1985]) 2006; 2011-2012) (c. 1860) (1885) (1935) (1972) (1804) (1903) (c. 1941) (1961) (1961)

Kandimba. sub.
Coelhinho; Le-
bracho; Láparo;
CANDIMBA, Ondimba. Ondimba. Mamí-
Candimba. Ondimba. Ndimba. sub. Ndimba.
Candimba. Coelho. COANDIMBA. Rabbit (Co- fero roedor
Lebre. Coelho. zool. Mamífero Coelho.
Coelho. elho). (Coelho).
roedor, tipo de
fam. Leporida;
Lebre.
Ndônga. sub.
Grupo, muita
gente (no Mute- Ndonga ia atu
Ondonga. Pássa-
mo); Ndóngo. akondoloka o
ro malhado;
Ondonga. Kind sub. Reunião kima. Grupo
Candonga. Arenga, Ondongwa. Pás- Ndonga.
Candonga. Intriga of bird (Tipo de onde se emitem de pessoas
intriga. saro de cauda Grupo [?].
pássaro) [?]. pareceres, opini- dispostas em
comprida. (Pás-
ões, juízos; Con- circo (Grupo)
saro) [?].
selho de família, [?].
de ministros, de
guerra [?].
Kandenge. Sub.
O mais novo dos
irmãos; adj. Do
Ondengendenge.
menor. Ndênge.
Criança que não
adj. Menor;
atingiu a idade Ndenge. O
CANENGUE, Inferior; Adoles- Ndenge. Novo;
da razão (Cri- Monandénghi. mais novo
CANDENGUE. cente; Fraco; Mona-ndenge.
ança); Creança. (pessoa).
Menino, criança. pequeno. Que Menino.
Kandengendenge. Novo, a, adj.
tem pouca idade,
Dedo mendinho
jovem; sub. Cri-
(Dedo).
ança. Menino,
Pequerrucho;
Moço.

115
SÂO JOÂO DA MILHO VERDE Silva Porto – Sanders - Wilson - LeGuennec - Cannecattim - Nascimento - Assis Jr. – Maia – Maia -
CHAPADA (1939, (1996; 2003; ESPINHO (2012) Umbundu Umbundu Umbundu Umbundu Língua Bunda Kimbundu Kimbundu Kimbundu Kikongo
1943 [1985]) 2006; 2011-2012) (c. 1860) (1885) (1935) (1972) (1804) (1903) (c. 1941) (1961) (1961)

Kangúia. sub.
Ongoya. A
Kátumbu. adj.
lowlander; one
Agulheado; sub.
belonging to
Ongoya. Adj. Agulha de pe-
one of coast
Que tem prazer queno tamanho;
tribes west of
em fazer mal Umbigo um
the Ovimbundu
Ongúia (adul- (Cruel); Ongoya. Nguia (aport.). pouco saliente;
Cangúia. Termo (Habitante das
teração de Onguya. Agu- Que tem avare- Gúia, Jigúia. Agulha, s.; Diz-se do cabelo Ngúia.
injurioso ou caba- terras baixas;
agulha). Agu- lha. za (Avarento); Agulha. Kanguia. Agu- de criança en- Agulha.
lístico. pertencente a
lha. Onguya. Haste lha pequena. trançado e unta-
uma das tribos
de metal para do de tacula e
costeiras a
costura (Agu- óleo. A própria
oeste dos
lha). criança com
Ovimbundo);
cabelo nestas
Onguya. Nee-
condições. fig.
dle (Agulha).
Dinheiro.
Ongulu. Mamífe-
Anguru. Porco Ngúlu, sub. zool.
ro doméstico
(Nascimento; Vogt Gullo. Porco; Género tipo da
quadrúpede Ngúlu, Jingúlu. Ngulu. Porco,
Canguro, Onguro. & Fry); Canguro, Can-gullo. Ongulu. Pig fam. suida. Por- Ngulu ie vata.
Ongulu. Porco. (Porco); Porco; Cangúlu s.; Kangulu. Ngulu. Porco.
Porco. Kanguru, Cangúru. Porquinha, (Porco). co; cevado; Porco.
Okangulu. Pe- caféli. Leitão. Porquinho.
Polícia, soldado Bacorinho. Kangúlu, sub.
queno porco
(Camp: 2006). Bàcoro; leitão.
(Porquinho).
Rikanza, sub.
Chocalho; ins-
trumento músi-
co; Pedaço de
bordão ôco e
Onganja. Small Ekonjo, okakonjo.
CANJÁ. Reco-reco de frisado transver-
gourd (Cabaça Chocalho para
bambu usado pelo salmente e cujo
pequena); uso supersticio- Dikanza. Cho-
grupo dos catopés Ocanja. Vara. ruído, produzido
Kanja. Club out so (Chocalho); calho.
na festa de Nossa pela fricção de
of tree (Bastão Onganja. Pau-
Senhora do Rosário. uma vareta ou
de uma árvore). ferro (Pau).
fuso, acompanha
a puíta, o tambor,
o harmonium ou
canto nas danças
africanas.

116
SÂO JOÂO DA MILHO VERDE Silva Porto – Sanders - Wilson - LeGuennec - Cannecattim - Nascimento - Assis Jr. – Maia – Maia -
CHAPADA (1939, (1996; 2003; ESPINHO (2012) Umbundu Umbundu Umbundu Umbundu Língua Bunda Kimbundu Kimbundu Kimbundu Kikongo
1943 [1985]) 2006; 2011-2012) (c. 1860) (1885) (1935) (1972) (1804) (1903) (c. 1941) (1961) (1961)

Gilla, ongilla. Njila, sub. zool.


Ngíla, Jingíla.
CANJIRA, Pássaro, Ave; Onjila. Designa- Animal bípede,
Onjila. Bird Passaro; Njila. Passaro,
CANJIRAUÊ. Cam-gilla. Pas- Onjila. Pássaro. ção genérica das oviparo, de asas. Njila. Pássaro.
(Pássaro). Cangíla caféli. s.
Passarinho. sarinho, Ave- aves (Pássaro). Pássaro; Ave
Passarinho.
zinha. pequena.
+ chila. Mover o
corpo segundo
Canjira-Canjerê. as regras da
Canjira-Canjerê. Oco-chila. Cina. Dance Cuquína. - kina. Dan- Kukína, v. intr. - Kina.
Dança; Canjerê. Cila. Dançar. dan-ça (Dan-
Dança Dançar. (Dançar). Dançar. çar, v. Bailar, dançar [?]. Dançar.
Dança. çar); Ochila.
Lugar da dança
(Dança).
Kánzonzo. sub.
zool. Pequeno
Onjonjo. Beija- pássaro azul
Canjonjo. Beija-Flor.
flor (Colibri). ferrete e peito
vermelho; Pica-
flôr.
Pungu, adj.
Okapyangu.
Mocho. 1. Omni-
Ladrão (Gatu-
potente; que não
Kapiangu. no); Kapongo.
Capungo. Gente tem igual; sub. O Kapunga.
Thief (Ladrão) Espírito que
ruim. grande; o maior. Moço [?].
[?]. causa a escravi-
Kapúnga. sub.
dão (Espírito)
Meirinho; moço
[?].
[?].
Caqui. Valente, ou
feiticeiro mestre.
Ekangala. La-
Carango, Carenga. Ekangala.
gartixa grande, Rikalanga. La- Kalanga. sub.
Mulher; Mulher Lagarto (lagar-
das árvores gartixa, s. [?] zool. Lagarto [?].
velha (Vogt & Fry). tixa) [?].
(Lagartixa) [?].
Carimbamba. Himbamba.
Coruja. Coruja (esp.).

117
SÂO JOÂO DA MILHO VERDE Silva Porto – Sanders - Wilson - LeGuennec - Cannecattim - Nascimento - Assis Jr. – Maia – Maia -
CHAPADA (1939, (1996; 2003; ESPINHO (2012) Umbundu Umbundu Umbundu Umbundu Língua Bunda Kimbundu Kimbundu Kimbundu Kikongo
1943 [1985]) 2006; 2011-2012) (c. 1860) (1885) (1935) (1972) (1804) (1903) (c. 1941) (1961) (1961)

CARINJINJIM,
CARUNJINJIM,
CARUNJINJINHA,
CARUNJIJIA,
CARINJIJI. Um dos
daçantes dos cato-
pés que leva o an-
tídoto; Karinjinjin.
Pessoa responsável
para administrar os
meninos que não
sabem dançar no
catopé; sua função
é educar os meni-
nos (Nascimento).
Okalimbi.
Person who,
though evil
spoken of when
present, does
not perceive
that he is the Kálumbi. sub.
Carumbi. Sertanejo. one meant bot. Silveira; O
(Pessoa que, seu fruto [?].
apesar de se
falar mal quan-
do presente,
não percebe
que é de quem
se fala) [?].
Kusókana, Ku-
Carungar. Casar
sakana. V. tr.
(Vogt & Fry); Cusu-
Sokana. Marry + sokala. V. refl. Cucasála. - sokana. Casar, Cohabitar; - sokana, -
canar. Casar (Vogt
(Casar). Casar. Casar. Casar, v. ter vida comum; sakana. Casar.
& Fry); Cassú-caná
sub. Casamento;
(Camp: 2006).
cohabitação.
Kukuatesa. v. tr.
Catiça. Ajudar (v.) GANANZAMBE
+ kwatisa. Fazer pegar;
Angananzambi iô QUE TE AQUATIÇA Kwatisa. Help Oku kuatisa. Cucatéssa. - kuatesa. - kuatesa. Kuatisa.
Auxiliar agarrar; deter.
catiça (Deus lhe (TIAQUATIÇA). (Ajudar). Ajudar. Ajudar. Ajudar, v. Ajudar. Ajudar.
(Ajudar). Ajudar; amparar;
ajude). Deus te ajude.
socorrer.

118
SÂO JOÂO DA MILHO VERDE Silva Porto – Sanders - Wilson - LeGuennec - Cannecattim - Nascimento - Assis Jr. – Maia – Maia -
CHAPADA (1939, (1996; 2003; ESPINHO (2012) Umbundu Umbundu Umbundu Umbundu Língua Bunda Kimbundu Kimbundu Kimbundu Kikongo
1943 [1985]) 2006; 2011-2012) (c. 1860) (1885) (1935) (1972) (1804) (1903) (c. 1941) (1961) (1961)

CATIMBAR. Causar Káximba. Sub. Kaximba.


confusão. Engodo. Engodo.
Catita. Pequeno
- tito. De di-
(Combaro catita, CATITO,
Catita. Tipo de Catito. Peque- Titu. adj. Little Ci tito. Pe- mensões exí-
lugar pequeno; EUCATITO.
mingau no; Pouco. (Pequeno) queno. guas (Peque-
Combaro uonene, Pouco, Pequeno.
no).
cidade).
Caveia. interj. O que
é lá?
- bela. Estar
Oco-bera. Kasi. Be (Loca- - kasi. Achar-se magro, esque-
Kúbela. v. intr.
Adoecer; tive) (Ser, presente (Es- - bela. Magro, lético, encova-
Kaxicobeira. Doen- Okuvela. Do- Ocubéla. Ma- Estar magro;
Caxicovera. Doença. Cobalir; Do- estar; locativo); tar); Okuvela. a (ser, estar, do, abatido,
ça (Nascimento). ença. greza. Definhar, enfra-
ença; Enfer- Vela. Be sick Falta de saúde ficar), v. diminuído,
quecer.
midade. (Estar doente). (Doença). humilhado
(Estar).
CAXINGANGUELÊ, Xinjangele. Ra- Xinj'a-ngele. sub.
Xinjangele.
CAXINGUINGUELÊ. to de palmeira. zool. Arda. Var.
Rato [?].
Defunto. Rato [?]. Kaxinj'a ngele [?].
CUMBARA. Cidade;
CUMBARI-NÊNE.
Ombala. Povoa-
Comércio, cidade; Mbâla. sub.
ção numerosa
Combaro. Lugar Cumbaraiêto. Cida- Cumbara. Comér- Bala, ombala. Ombala. Ca- Ombala. Ca- Mbala. Povoa- Pequena povoa-
(Cidade); Povo- Mbala. Aldeia.
habitado. de grande (Vogt & cio, cidade Côrte. pital. pital. ção, s. ção; Vila, aldeia;
ação principal
Fry); Kumbara. Residência.
(Capital).
Cidade (Nasci-
mento).
Mbuélu. adj.
Zamboeira,
(Honga) sub.
Cambueira Ombwelu.
Terreno inclina-
(desig. Dos Lowland
K'ombwelo. Na do, várzea; Vale;
lugares a (Terra baixa); Kombuelo.
Comboêro. Grota. Comboêro. Cambão parte inferior baixa; juzante. A Mbuelu. Vale.
partir do K'ombwelu. Abaixo.
(Abaixo). parte mais baixa
nascente para Adv. Below
do terreno;
o poente e (Abaixo).
Descida, Penden-
vice-versa)
te.
Kánganza. sub.
Ongalafa. Ukonga. Cabaça
Cam-garrafa. Ongalafa. Gar- Nganza. Ca- Cálice, taça (de Nganza. Ca-
Congá. Garrafa. Bottle (Gar- com gargalo
Garrafa [?]. rafa [?]. baça, s. pau ou cabaça) baça.
rafa) [?]. (Cabaça).
para líquidos.
Congembo. Morrer Onjambo. Onjembo. Sepul-
(v.); Morte. Mortalha. cro (Sepultura).
119
SÂO JOÂO DA MILHO VERDE Silva Porto – Sanders - Wilson - LeGuennec - Cannecattim - Nascimento - Assis Jr. – Maia – Maia -
CHAPADA (1939, (1996; 2003; ESPINHO (2012) Umbundu Umbundu Umbundu Umbundu Língua Bunda Kimbundu Kimbundu Kimbundu Kikongo
1943 [1985]) 2006; 2011-2012) (c. 1860) (1885) (1935) (1972) (1804) (1903) (c. 1941) (1961) (1961)

+ pekela. Deitar
Oco-pequéra. alguém (Dei-
Copequera. Dormir Adormecer; Pekela. Sleep Oku pekela. tar); + pekela
(v.). Oco-pequera. (Dormir). Dormir. otulo. Estar en-
Dormir. tregue ao sono
(Dormir).
Ofeka. Conjunto
de indivíduos
Ofeka. Country que constituem
Corofeca. Ruim. Ofeka. País.
(País, nação). uma sociedade
autónoma, re-
gião (Nação).
Múkanda. sub.
Epístola; Qual-
Mucánda, Mukanda, Nkanda a
Covicanda. Escre- Mocanda. Ukanda. Letter Ukanda. Carta Mukanda. quer papel escri-
Ukanda. Carta. Micánda. Kamukanda. sonékua.
ver, Conversar (v.). Escrita. (Carta). escrita (Carta). Carta, s. to; Mensagem
Carta. Carta. Carta.
que se dirige a
qualquer.
Cumucuáta.
Cuata. Pegar v. + kwata. Colar, Agarrar; Kukuata. v. intr.
Oco-coata. - kuata. Pe-
(Orossimba ô cuatá Kwata. Seize Oku kuata. fazer aderir Cucuáta, ou Ter; possuir; v.tr.
Agarrar; gar, v. (tomar, - Kuata. Pegar.
ô mpuco - O gato (Agarrar). Pegar. (Pegar); Apa- Cumucuáta. Agarrar; pegar;
Embargar. apanhar).
pega o rato). nhar (Agarrar). Pegar de segurar.
alguém.
Kuénda. v. intr. Kuenda
Andar; percor- malembe-
QÜENDA. Reunião, + enda. Passar
Ocoênta. Ir; Oku enda. Ir, Cuénda. An- - enda. Andar, rer; Viajar; cami- malembe;
Cuendê. Entrar (v.). reunido; Uendar. Enda. Go (Ir). de um lugar Kuenda. Andar.
Marchar. Andar. dar; Ir. v. nhar; marchar. kuenda atonji.
Andar (Vogt & Fry). para outro (Ir).
sub. Andadura; Andar deva-
marcha. gar (Andar).
Mbumbi. sub.
(IX) Bola.
Kusabuka. V.
CUMBUMBE Mbumbi. Bola, Mbumbi. Bola;
Cussabúca. intr. Despontar; Savuka. Ger-
SABUQUIRENE. s.; - sabuka. - Sabuka. Ger-
Nascer [?]. Germinar; sair minar [?].
Mulher grávida. Brotar, v. [?]. minar. [?]
do solo. Nascer;
sub. Acto de bro-
tar, de nascer. [?]
- diá o
CURIÁ. Comer; + lya. Tomar
Cudia, ócudia. Lia. Eat Kûria. v. tr e intr. menga. Co-
Curiar. Beber (Vogt Oku lia. Comer. como alimento Cúria. Comer. - ria. Comer, v. - Diá. Comer.
Comer. (Comer). Comer. mer sangue
& Fry). (Comer).
(Comer).

120
SÂO JOÂO DA MILHO VERDE Silva Porto – Sanders - Wilson - LeGuennec - Cannecattim - Nascimento - Assis Jr. – Maia – Maia -
CHAPADA (1939, (1996; 2003; ESPINHO (2012) Umbundu Umbundu Umbundu Umbundu Língua Bunda Kimbundu Kimbundu Kimbundu Kikongo
1943 [1985]) 2006; 2011-2012) (c. 1860) (1885) (1935) (1972) (1804) (1903) (c. 1941) (1961) (1961)

Ukulu. Elder
Ukulu. Homem
(Mais velho);
de idade avan-
Cudia, ócudia. Kuku. Grand- Kûria. v. tr e intr.
Nacuruacucua. Oku lia. Comer; çada (Velho); - Cúria. Comer; - Diá. Comer;
Curiacuca. Cozi- Comer; Cuco. parent (Avô); - ria. Comer, Comer; Kûku. - diá; Nkaka
Homem velho (Vogt Wa kuka, ca kuka. Idoso Cúcu, Jicúcu. Kuku ia diala.
nheiro. Avó; Oacuca. a deferential v.; kuku. Avô, s. sub. Avô; avó. ia kala (Avô).
& Fry). kuka. Velho. (Velho). Ou, + Avô. Avô.
Decrépito. response (tra- Antepassado.
lya. Comer; -
tamento respei-
kuka. Velho.
toso).
Ukulu
wendamba.
Curiandamba.
Homem de
Velho.
idade avançada
(Velho).
Curima, ó
Lima. Culti- Curíma Ochi. Kuríma. v tr.
corima. Agrí- Oku lima. + lima. Cultivar - rima. La- - dima.
Curima. Serviço. vate (Cultivar, Lavrar a Lavrar (terra);
cola; Culti- Lavrar. (Lavrar). vrar, v. Capinar.
lavrar). terra. capinar.
vação.
Endingu. Tam-
Duku. Tam-
Duque. Tambor Endingu. Drum bor curto e com
bor, bombo
(Vogt & Fry). (Tambor) [?]. duas peles
[?].
(Tambor) [?].
Ochyova. Indiví-
Kióua. Adj. e sub.
Exoa. Bobo (Vogt duo falta de Quatóva, Atóva. Kioua. Estupi- Kióua. Estúpi- Ezóua. Estú-
Néscio; parvo;
& Fry). inteligência Idiota. do, a, adj. do, cretino. pido, cretino.
tolo.
(Estúpido).
Fundanga, Ofundanga. Fundanga, sub.
Ofundanga.
ófundanga. Substância Fundanga. Substância ex-
Gunpowder Ofundanga. Cuffundánca. Fundanga.
FUNDANGA DE Pólvora; explosiva (Pól- Polvora, s.; - plosiva para as
(Pólvora); Pólvora; Oku Pólvora; Pólvora; -
CAPECERE. Peido Oco-pecéra. vora); + pesela. busela. Andar a armas de fogo;
Pesela. Turn pesela. Derra- Cubússa. So- busela. As-
fedido Perda; Espar- Entornar, espa- assoprar. As- Pólvora;
over, drop (Vi- mar [?]. prar [?]. soprar [?].
gir; Entornar; lhar (Derra- soprar [?]. Kubusela. v. intr.
rar, soltar) [?].
Dano [?]. mar) [?]. Soprar [?].
GAJEIRO. Dançante
do Catopés
GUNGA, CUMBA. Ongunga. Ins- Ngúnga. sub.
Ongunga.
Sino; GONGO TEIA. trumento que Ngunga. Sino, Qualquer ins-
Large bell (Sino Ongunga. Sino. Ngunga. Sino.
Sino; Gongo. Sino produz sons s. trumento sono-
grande).
(Nascimento). (Sino). ro; Sino.

121
SÂO JOÂO DA MILHO VERDE Silva Porto – Sanders - Wilson - LeGuennec - Cannecattim - Nascimento - Assis Jr. – Maia – Maia -
CHAPADA (1939, (1996; 2003; ESPINHO (2012) Umbundu Umbundu Umbundu Umbundu Língua Bunda Kimbundu Kimbundu Kimbundu Kikongo
1943 [1985]) 2006; 2011-2012) (c. 1860) (1885) (1935) (1972) (1804) (1903) (c. 1941) (1961) (1961)

Imbanda. 1. Feitor.
Ochimbanda.
2. Sacerdote, feiti-
Bruxo (Feiti- Kimbánda. sub.
ceiro. 3. Também se
ceiro); Médico Pessoa que trata
refere ao chefe de Quimbanda, Ocimbanda. Ocimbanda. Quimbár, Kimban-
indígena (Cu- Kimbanda. de doentes; Má- Kimbanda.
uma prática litúrgi- Himbanda. Doctor (Mé- Feiticeiro; Imbár. Feitor da.Bruxa (o);
randeiro); Curandeiro, s. gico; exorcista; Feiticeiro.
ca, a Cabula, da qual Curandeiro. dico). Médico. de fazenda. Médico.
Homem que necromante;
existiam adeptos
exerce a medi- bruxo.
em São João da
cina (Médico).
Chapada.
Ingoma casaca.
Revólver (Nasci-
mento); Engoma-
casaca, ingomaca-
saqui (Camp:
2006).
Onjalla. Fome; Onjala. Apetite Nzála. sub. Fo-
Onjala. Hunger
Injara. Fome. Apetite; Ca- Onjala. Fome. de comer (Fo- Nzála. Fome. Nzala. Fome, s. me; apetite; Von- Nzala. Fome.
(Fome).
rência. me). tade de comer.
Etako. Parte
carnuda que Mataku. Sub. pl.
Taku, Ditaku
Itaco. Assento, Etaku. Butt forma a parte Ritáccu, Ritaku. Na- Parte carnuda
Ettaco. Cu. (pl. Mataku).
anus. (Nádega). superior e pos- Matáccu. Cu. dega, s. que lade a o
Nádega.
terior das coxas anus; Nádegas.
(Nádega).
JACUBA. Farinha
de mandioca com
garapa ou café
Onjamba. O
mamífero mais
Samba,
corpulento (Ele-
onjamba. Onjamba. Ele-
Onjamba. fante); Osamba. Zámba
JAMBÁ. Diamante; Elefante; fante; eyo Nzamba. Ele- Nzamba. sub. Nzamba.
Jambá. Ouro. Elephant Feitiço de di- Jizámba.
Ouro Binga e lionjamba. phante, s. Elefante. Elefante.
(Elefante). nheiro (Feiti- Elefante.
onjamba. Marfim.
ço); Onjambo.
Marfim.
Gorjeta (Grati-
ficação).
CAXAMBÁ. Dia-
mante; CAXAMBÁ Okatiamba. Kaxámba. sub.
DE OMENHA. Dia- Beans (a kind bot. Feijoeiro e
mante; Kachambi, of) (Feijão, seu fruto; Feijo-
Kaichama (Camp: tipo) [?]. ca; vagem [?].
2006).

122
SÂO JOÂO DA MILHO VERDE Silva Porto – Sanders - Wilson - LeGuennec - Cannecattim - Nascimento - Assis Jr. – Maia – Maia -
CHAPADA (1939, (1996; 2003; ESPINHO (2012) Umbundu Umbundu Umbundu Umbundu Língua Bunda Kimbundu Kimbundu Kimbundu Kikongo
1943 [1985]) 2006; 2011-2012) (c. 1860) (1885) (1935) (1972) (1804) (1903) (c. 1941) (1961) (1961)

Onjambolo,
Onjombia. Onjombya. Erva Kandámbia.
Jambi. Capim.
Young grass tenra (Erva). Erva.
(Relva nova).
Jombô. Lama Preta.
Lámba. sub. Lamba, Dilam-
Elamba. Po- Elamba. Infor-
LAMBA. Trabalho Rilamba. Des- Desventura; ba (pl. Malam-
Lamba. Desgraça. breza; Empo- túnio (Desgra-
pesado graça, s. provação; in- ba). Desven-
brecimento. ça).
fortúnio. tura.
Kuku. Grand-
parent (Avô); - kuka. Idoso
MACUCA (O). Cuco. Avó; Kûku. sub. Avô; Akulu, Nkaka.
Macuco. Mulher feia a deferential Wa kuka, ca (Velho); kuku, Cúcu, Jicúcu. Kuku. Ante-
Mulher (homem) Oacuca. De- Kuku. Avô, s. avó. Antepas- Antepassa-
e velha. response (tra- kuka. Velho. makulu. A mãe Avô. passado.
feia (o) e velha (o) crépito. sado. do.
tamento respei- dos pais (Avó).
toso).
MACUMBA
EMBAUA, omukonda. Ar-
MACUNDENBAIA. ma branca de Lukuaku (pl. Koko (pl.
Lucácu, Mácu. Mâku. sub. pl.
Espingarda; Ca- lâmina curta e maku). Bra- moko).
Braço. Braços; mãos [?].
chorro [?]; perfurante ço, s. Braço.
Macundenbaia. (Punhal) [?].
Espingarda.
MAENGUE. Queijo; Omahini. Leite Muenge (pl.
Maiengue. Queijo azedo (Leite) Mienge).
(Nascimento). [?]. Milho [?].
Maêni. Vaca leiteira Omahini. Leite
[?] (Camp: 2006). azedo (Leite).
Manguanguera adj.
Sem gordura (Pipo- - . Mungangela. adj.
quê Manguanguera Que tem pouca e sub. Natural ou
- Feijão sem gordu- gordura (Ma- proveniente das
ra; Ochito gro) [?]. ganguelas [?].
Manguanguera).
Manje. Youn- Manje. Filho do
ger brother or mesmo pai e da
Manji ulume.
Manjangue. Irmão. sister (Irmão mesma mãe em
Irmão.
ou irmã mais relação a outro
novos). filho (Irmão).
Olwili. Planeta
Maravir. Terra. Oluali. Terra [?]. em que habita-
mos (Terra) [?].

123
SÂO JOÂO DA MILHO VERDE Silva Porto – Sanders - Wilson - LeGuennec - Cannecattim - Nascimento - Assis Jr. – Maia – Maia -
CHAPADA (1939, (1996; 2003; ESPINHO (2012) Umbundu Umbundu Umbundu Umbundu Língua Bunda Kimbundu Kimbundu Kimbundu Kikongo
1943 [1985]) 2006; 2011-2012) (c. 1860) (1885) (1935) (1972) (1804) (1903) (c. 1941) (1961) (1961)

Marauangue, Omola. Ser hu-


Marruangue. Cri- Mora e ocai. Omona. Child Omola. Cri- mano ainda
ança, menino (Vogt Filha. (Criança). ança. pequeno (Cri-
& Fry). ança).
Másangu. sub.
MASSANGUE,
Bot. Cereal miú-
ASSANGUE. Arroz;
Asangu. Milho do fam. das
Angu; Massango,
painço. (Milho); gramíneas [pen- Masangu.
Massangro, Asangu. Pain- Masangu, pl.
Espécie de nisetum typhoi- Milho; Pain-
Massámbi, ço. Alpiste, s.
milho miúdo deum). de pro- ço.
Marsame,
(Sorgo). priedade alimen-
Marsámbi (Camp:
tícia. Alpiste;
2006).
painço.
Matombo. Cabeça Utombo. Planta
(Vogt & Fry); cuja raiz é co- Ritúmbu. sub.
Mutombo.
Mutombo, Mutongo. Utombo. mestível ebe- Montículo; Terra
Matombô. Man- Matombô. Man- Ottombo. Utombo. Man- Mandioca de
Mandioca (Vogt & Mandioc massim as amontoada com
dioca. dioca Mandioca. dioca. molho. Man-
Fry); Moutombou, (Mandioca). folhas quando a mão, enxada,
dioca, s.
Matombô (Camp: ainda tenras etc.
2006). (Mandioca).
Efuku dia
MAVU. Cemitério;
Mavu, pl. Bar- Mâvu, sub. Terra; mavu. Monte
Marru, Mavu. Terra Mávu. Pó. Mavu. Terra.
ro, s. pó. de barro
(Vogt & Fry).
(Monte).
Ombambi. Au- Mbâmbi, sub.
Bambi, Om- Ombambi. Mbambi.
Mbambe. Frio. BAMBI. Frio Ombambi. Frio. sência de calor Bámbi. Frio. Friagem; Ar ou Mbambi. Frio.
bambi. Frio. Cold (Frio). Frio, s.
(Frio). tempo frio.
Mbânga, sub.
Cada um dos dois
Mbanga. Membro Mbanga. Tes- órgãos que den- Mbanga. Tes-
Viril. ticulo, s. tro do escroto tículo.
acompanham o
pénis; Testículo.
Pemba. sub.
Substância argi-
Mbembo. Feitor; losa branca, Ampembe.
Moço branco. usoda nos exor- Branco [?].
cismos e xingui-
lamentos. [?]
Olumbungululu.
Olumbungululu. Olumbungululu. Lumbungûlu.
Mbungururu. Estrela. Astro celeste
Star. Estrêla. Estrela.
(Estrela).

124
SÂO JOÂO DA MILHO VERDE Silva Porto – Sanders - Wilson - LeGuennec - Cannecattim - Nascimento - Assis Jr. – Maia – Maia -
CHAPADA (1939, (1996; 2003; ESPINHO (2012) Umbundu Umbundu Umbundu Umbundu Língua Bunda Kimbundu Kimbundu Kimbundu Kikongo
1943 [1985]) 2006; 2011-2012) (c. 1860) (1885) (1935) (1972) (1804) (1903) (c. 1941) (1961) (1961)

Epia (plu.
Epia. Campo. Évia. Roça
Meprá. Roça. Ovapia). Field epya (?) roça.
[?] [?].
(Campo) [?].
Mossoroco. Chuva
Mossoroca. Chuva grossa (Nascimen-
Mossoroca. Sal
Grossa. to); Mossoroca
(Camp: 2006).
Omoko. Instru-
mento cortante
composto de
lâmina e cabo
Pócu ria
MUCAIANGUE. Omoku. Knife (Faca); omu- Pôko. Sub. Faça;
Mocco. Faca. Omoko. Faca. cubatuíla. Fa- Poko. Faca, s. Poko. Faca.
Arma de fogo (Faca). konda. Arma navalha.
ca de cortar.
branca de lâmi-
na curta e per-
furante (Pu-
nhal).
Mukuetu. adj. e
sub. Outro (como
nós). Camarada;
Mukuetu.
companheiro;
Ukwetu. Cama- Mukuetu. Meu Amigo; Muku-
Ukuetu. Cama- Akuetu. adj. e Nkuetu.
MUCUETU. Silêncio rada (Compa- e nosso, Com- etu, Ukuetu.
rada. pron. indef. pl. Amigo.
nheiro). panheiro, a, s. Companhei-
Outros (como eu,
ro.
como nós); Nós
outros; Meus
companheiros.
Ekungu. Ra-
vine, abyss Ekungu. Buraco
(Ravina, abis- fundo (Buraco) Rikungu. sub.
MUGUANGO, Ecungo. Des- Rizungu. Bu- Kikungu.
mo) [?]; [?]; Oluteya. Es- Barroca; escava-
CONGO TEIA. Tatu penhadeiro. raco, s. [?] Buraco [?].
Oluteya. Young pécie de Lebre ção, cova [?].
rabbit (Coelho (Lebre).
jovem).
Munha. Trigo;
Munha de mutombo. Omonda. Fari-
Farinha de mandio- nha [?]
ca (Vogt & Fry).
Nge, ngei,
NANGUÊ. Você
ngéie. Tu.

125
SÂO JOÂO DA MILHO VERDE Silva Porto – Sanders - Wilson - LeGuennec - Cannecattim - Nascimento - Assis Jr. – Maia – Maia -
CHAPADA (1939, (1996; 2003; ESPINHO (2012) Umbundu Umbundu Umbundu Umbundu Língua Bunda Kimbundu Kimbundu Kimbundu Kikongo
1943 [1985]) 2006; 2011-2012) (c. 1860) (1885) (1935) (1972) (1804) (1903) (c. 1941) (1961) (1961)

Onjimba, Ngímbí. adj. e Nhimbila.


Onjimbi, Ngimbi, Njimbi. Can-
Onjimba. Sin- onjimbe. O que sub. Que canta; Cantador;
Ndimba. Cantador. Onjimba. Ngimbiri. tador; Ngimbi.
ger (Cantor). canta (Canta- Pessoa que sabe Nhimbidi.
Cantor. Cantor, s. Cantor.
dor). cantar; Cantor. Cantor.
Onganga. O que
Onganga. Ngánga, adj. e
tinha o poder de
Bruxo; Ganga, sub. Sacerdote;
oferecer vítimas Nganga a
onganga. profeta; Que tem
Nganga, Uganga. Inganga, Góngu, Onganga. à divindade, en- Táta-Ngánga; Ndonga.
Feiticeiro; Onganga. Nganga, Pa- ou revela grande Nganga. Sa-
Padre; Oronganga. Inganga. Padre Wizard tre os Antigos Ngánga. Pa- Sacerdote de
Auganna Bruxa. dre, s. saber; Douto; cerdote.
Soldado. (Camp: 2006). (Bruxo). (Sacerdote); dre. Deus (Sacer-
ganga mestre; Padre;
Unganga. Ofício dote).
(Anganna). doutor de igreja;
de bruxo (Bru-
Padre. Clérigo; abade.
xo).
Ngómbe. sub.
Gombe, zool. Ruminante
Ongombe. Boi; Ongombe. Boi Ngómbi, da fam. dos bo-
Ngombe, Ongombe, Ongombe. Ox Ngombe
ONGOMBE. Boi Olongombe. Ongombe. Boi. doméstico Jingómbi. Ngombe. Boi, s. vídeos destinado Ngombe. Boi.
Orongombe. Boi. (Boi). iakala. Boi.
Boiada, Va- (Boi). Boi, ou Vaca. a carga e almen-
cum. tacão do homem;
Boi.
Kuénda. v. intr. Kuenda
Andar; percor- malembe-
QÜENDA. Reunião, + enda. Passar
Nguenda. Pressa; Ocoênta. Ir; Oku enda. Ir, Cuénda. An- - enda. An- rer; Viajar; cami- Kuenda. malembe;
reunido; Uendar. Enda. Go (Ir). de um lugar
pequena fuga. Marchar. Andar. dar; Ir. dar, v. nhar; marchar. Andar. kuenda atonji.
Andar (Vogt & Fry). para outro (Ir).
sub. Andadura; Andar deva-
marcha. gar (Andar).
Nhoka. sub.
Inharra. Cobra Nhóa, Ónhóa. Onyoha. Snake Onhoha. Réptil Nhóca, Jinhóca. Nhoka. Co-
Nhorrã. Cobra. Onyoha. Cobra. Serpente; réptil; Nhoka. Cobra. Nioka. Cobra.
(Vogt & Fry) Cobra. (Cobra). ofídio (Cobra). Cobra. bra, s.
Cobra.
Nzéke. sub. Envó-
Onjeke. Bolsa
lucro feito da
cosida por todos
Njequê. Capanga Onjeke. Bag Nzeke. Sacco, entrecasca do
Ongeque. Saco. Onjeke. Saco. os lados e com Nzeke. Saco.
(sacola). (Saco). s. imbondeiro para
uma só abertura
conducção de
(Saco).
cereais; Saco.
Omuku. Mamífe-
Omuku. Rat Puku. sub. zool.
Npuco. Rato. Mucco. Rato. Omuku. Rato. ro roedor (Ra- Puku. Rato, s. Puku. Rato. Mpuku. Rato.
(Rato). Rato silvestre.
to).

126
SÂO JOÂO DA MILHO VERDE Silva Porto – Sanders - Wilson - LeGuennec - Cannecattim - Nascimento - Assis Jr. – Maia – Maia -
CHAPADA (1939, (1996; 2003; ESPINHO (2012) Umbundu Umbundu Umbundu Umbundu Língua Bunda Kimbundu Kimbundu Kimbundu Kikongo
1943 [1985]) 2006; 2011-2012) (c. 1860) (1885) (1935) (1972) (1804) (1903) (c. 1941) (1961) (1961)

Mbínga. sub.
Cada um dos
Ombinga. Horn
Obingá. Chifre; Binga, Lom- Ombinga. Ombinga. Corno Bínga, Gibínga. apêndices duros Mbinga.
(Chifre); Tusk
Ombingá. Magro. binga. Córneo. Chifre. (chifre). Corno. na cabeça, de Chifre.
(Presa).
certos ruminan-
tes; Cornicho.
Akala, ekala.
Rikala (pl.
Okara. Café (Nas- Ekala. A coal Madeira mal RíkaIa. sub. Dikala. Car- E kala. Car-
Ocará. Café. Ekãla. Carvão. Makala). Car-
cimento). (Um carvão). queimada (Car- Carvão. vão. vão.
vão, s.
vão).
Ekaya. Planta
MACANHA, herbácea (Ta-
MACAIO. Fumo Ekaya. baco); Akaya.
Macanha, Rikanha (pl. Dikanha (pl. E káia (pl.
de rolo; Tobacco-leaf Folhas desta Macála, Acála. Rikanha. sub.
Ocaiá. Fumo. ómacanha. Makanha). makanha). makáia).
Macaibo, okaia, (Folha de ta- planta, prepara- Carvão. Folha de tabaco.
Tabaco. Tabaco, s. Tabaco. Tabaco.
okaio, makaio baco). das para fumar
(Camp: 2006). ou cheirar (Ta-
baco).
OXITO. Porco; Car-
ne. Oxita. Carne Ositu. Tecido
Chito, óchito. Ositu. Meat
Ochito. Carne. (Nascimento); Ositu. Carne. muscular Chítu. Carne. Xitu. Carne, s. Xitu. sub. Carne. Xitu. Carne. Nitu. Carne.
Carne. (Carne).
Osito. Carne (Vogt (Carne).
& Fry).
Kuénda. v. intr. Kuenda
Andar; percor- malembe-
QÜENDA. Reunião, + enda. Passar
Ocoênta. Ir; Oku enda. Ir, Cuénda. An- - enda. An- rer; Viajar; cami- Kuenda. An- malembe;
Oenda. Entrar (v.). reunido; Uendar. Enda. Go (Ir). de um lugar
Marchar. Andar. dar; Ir. dar, v. nhar; marchar. dar. kuenda atonji.
Andar (Vogt & Fry). para outro (Ir).
sub. Andadura; Andar deva-
marcha. gar (Andar).
Owiki. Substân-
cia açucarada
UÍQUE. Rapadura;
Owiki. Honey que as abelhas Uiki, Nhuiki.
Oique. Rapadura. Oêki, Uiki (Camp: Ouíque. Mel. Owiki. Mel. Guiquí. Mel. Uiki. Mel, s. Uîki. sub. Mel.
(Mel). preparam com o Mel.
2006).
suco das flores
(Mel).
Ogira. Fogo (Nas-
cimento).
Ombela. Água
Om-béra. Ombela. Rain que cai da at-
Ombera. Chuva. Ombela. Chuva.
Chuva. (Chuva). mosfera (Chu-
va).

127
SÂO JOÂO DA MILHO VERDE Silva Porto – Sanders - Wilson - LeGuennec - Cannecattim - Nascimento - Assis Jr. – Maia – Maia -
CHAPADA (1939, (1996; 2003; ESPINHO (2012) Umbundu Umbundu Umbundu Umbundu Língua Bunda Kimbundu Kimbundu Kimbundu Kikongo
1943 [1985]) 2006; 2011-2012) (c. 1860) (1885) (1935) (1972) (1804) (1903) (c. 1941) (1961) (1961)

Ombya. Vaso em
ímbia. sub. Vaso
que se cozem os
de barro ou me- Mbiá. Panela
Ombia, Ombia. Pot alimentos (Pane-
Ímbia, Jímbia. Imbia. Panel- tal em que se Ímbia. Panela [?]. Mbúngua.
Ombiá. Cigarro. Imbiá. Cigarro Hombia. (Panela, Pote) Ombia. Póte [?]. la);
Panella [?]. la, s. [?]. coze a comida; [?]. Pipa (de
Panela [?]. [?]. ongolongombya.
Panela; Tacho; cachimbo).
Pó de cachimbo
Caçarola [?].
(Pó) [?].
Anguá. Cachorro
Ímbua, sub. zool.
(Nascimento);
Cambua. Ca- Quadrúpede
Ambuaianque. Ombwa. Animal
chorro; Ombwa. Dog Imbua, Jimbúa. carnívoro digiti- Mbùa, Ímbua.
Omboá. Cachorro. Cachorro (Vogt & Ombua. Cão. doméstico Imbua. Cão, s. Mbúa. Cão.
Hombua. Ca- (Cachorro) Cão. grado e domésti- Cão.
Fry); Imbuá (Vogt & (Cão).
chorra. co. Cão; cadela;
Fry); Amuá (Camp:
cachorro.
2006).
OMENHA, OME-
Ovava. Water
NHÁ, OMENGUE. Baba, ó baba. Mênha. sub.
(Água); Ovava. Água; Menha, o Méia, Mea.
Omenhá, Menhá. Água; Omengue Água; Menha (pl.). Água; Lugar por
Omenha. Fazer cocô Ombenga. Ovava. Água. Ombenga. Água Ménha. Agua. mema, o vava. Água; Menga.
Água. (Nascimento); Oabenga. Agua, s. onde a água
Sediment (Se- turva (Água). Água. Sangue.
Nenha (Camp: Turvo. corre ou alaga.
dimento).
2006).
OMENHA DE CA-
XAÍ, OMENGA DE
CAXAÍ. Cachaça.
Muênge. sub.
Bot. Planta fam.
das graníneas Muinse,
OMENHÁ DE Omwenge. Enge.Haste oca;
Muéngue, (saccharum Nsuangi.
VIANGUE. Cachaça; Sugar-cane Omuengue. omwenge. Cana- Muenge. Can- Muenge, Mun-
Miéngue. Cana officinarum), de Cana doce ou
Viango (Camp: (Cana de açú- Cana. de-açúcar (Ca- na, s. ga. Cana.
de assucar. que se faz o cana de açú-
2006). car). na).
açúcar; Cana car (Cana).
doce; Rianga.
sub. Cana brava.
Amera. Rosto (Vogt Mera, Oh-mera. Omena. Mouth Omela. Abertura
Omerá. Língua. Omela. Boca.
& Fry). Bôca. (Boca). do rosto (Boca).
Ame. Pron. Pess.
A pessoa que Eme (absolu- Éme. pron. pess.
Mono, Omono.
Omindes. Eu (pr.). Ame. Eu. Ame. I (Eu) Ame. Eu, pron. fala; ndi. Na Emmi. Eu. to); Ngi (prefi- A minha pessoa. Eme. Eu.
Eu.
forma verbal xo). Eu. Eu.
afirmativa (Eu).

128
SÂO JOÂO DA MILHO VERDE Silva Porto – Sanders - Wilson - LeGuennec - Cannecattim - Nascimento - Assis Jr. – Maia – Maia -
CHAPADA (1939, (1996; 2003; ESPINHO (2012) Umbundu Umbundu Umbundu Umbundu Língua Bunda Kimbundu Kimbundu Kimbundu Kikongo
1943 [1985]) 2006; 2011-2012) (c. 1860) (1885) (1935) (1972) (1804) (1903) (c. 1941) (1961) (1961)

Múngua
abasenji
Omongwa. Salt Omongwa. Sal Múngua. Sub. Móngua,
Omungá. Sal. Omungá. Sal Mongua. Sal. Omongua. Sal. Múnga. Sal. Mungua. Sal, s. niama. Sal de
(Sal). doméstico (Sal). Sal. Múngua. Sal.
mina, sal-
gema (Sal).
ONEFE. Vulva, Onefa. Órgão
órgão sexual fe- genital feminino Nefe. Vagina.
minino. (Vagina).
Enge. Corn-
Enge. Haste oca
Ongá. Alavanca. stalk (Talo de
(Cana) [?].
milho) [?].
Njila, sub. Nome
genérico da to-
ONGIRA, UNGIRA. Onjila. Faixa de
das as faixas de
Ongira. Caminho, Caminho; Ojira. Ongira. Ve- Onjila. Road Onjila. Ca- terreno desti- Ngílla Quicóca. Njila. Ca- Njila. Ca- Nzila. Ca-
terreno que
estrada. Caminho (Camp: reda. (Estrada). minho. nada ao trânsito Estrada. minho, s. minho. minho.
conduzem de um
2006). (Caminho).
para outro lugar.
Caminho.
Kuijila. V. tr.
INJIRÁ, GIRÁ. t- Chegar, vir por
Gira, ongira. Onjila. Road Onjila. Ca-
Caminhar, ir em- Girá. Andar wi. Ir ao fundo via de; Caminhar - ijila. Chegar.
Caminhar. (Estrada). minho.
bora (Ir). por; Chegar de
repente.
Ongolo. Mamí-
Ongoró. Cavalo; ONGORÓ. Cavalo; Gollo, ongollo. fero com pele Ngólo. sub. zool.
Ongolo. Zebra. Ngolo. Zebra.
Égua (s.f.). Porco [?]. Zebra. listrada (Ze- Zebra
bra).
ONINGUE, Eninga. Caca;
. Maté-
ONINGA, Nengue, Onine. Esterco
Oninga. Mau cheiro. Aniña. Fezes. rias fecais (Fe- Isenga. Fezes.
ANENGUE. Ónengue. [?].
zes).
Mau cheiro Sobrecu.
Kanjika. sub.
Guisado de feijão
Kanjika. Papa
e milho tempe-
Onjequê. Milho. de milho, s.
rado com banha
[?].
ou óleo de pal-
ma.[?]
Olunjele. Cabelo
Olonjele. Beard Olonjele.
Onjerê. Cabelo. Quiçame do rosto do ho-
(Barba). Barba.
mem (Barba).

129
SÂO JOÂO DA MILHO VERDE Silva Porto – Sanders - Wilson - LeGuennec - Cannecattim - Nascimento - Assis Jr. – Maia – Maia -
CHAPADA (1939, (1996; 2003; ESPINHO (2012) Umbundu Umbundu Umbundu Umbundu Língua Bunda Kimbundu Kimbundu Kimbundu Kikongo
1943 [1985]) 2006; 2011-2012) (c. 1860) (1885) (1935) (1972) (1804) (1903) (c. 1941) (1961) (1961)

ONJÓ. Casa, Igreja,


Honjo, honjo. Nzo. sub. Abrev.
Rancho, Venda, Onjo. House Onjo. Morada
Onjó. Casa, Rancho. Casa; Domi- Onjo. Casa. Inzo. Casa, s. de inzo. Edifício; Kanzo. Casa. Nzo. Casa.
Cavalo [?]; Enjo. (Casa). (Casa).
cílio. moradia; casa.
Casa (Vogt & Fry).
Onjundo. Mar-
Onjundo. Ham- Onjundo. Mar- Nzúndu. sub. Nzundu. Mar-
Onjundo. Marrão. telo grande, da
mer (Martelo). telo. Macete. telo.
forja (Martelo).
Onumuquacho. Omanu. A hu-
Ómanno. Omunu. Person Omunu.
Parceiro; colega manidade (Ho-
Gente. (Pessoa). Pessoa.
de ser-viço. mem). [?]
Iputa. Qualquer
alimento, pirão
Iputa. Mush
de farinha de
Oputá. Angu. (Mingau, Pi- Iputa. Pirão.
milho, termo do
rão).
Huambo e Bai-
lundo (Papa).
Ekepa. Parte
sólida e dura do
Ekepa. Bone
Oquepá. Osso. Guepa; equepa Ekepa. Ôsso. esqueleto dos
(Osso).
vertebrados
(Osso).
Orera de anguru. Ulela. Gordura
Ulela. Oil,
Toucinho de porco Ullera. Gordu- dos animais,
Grease, Fat Ulela. Gordura;
Orerá. Toucinho. (Nascimento). ra; Sebo; especialmente
(Óleo, Banha, Azeite; Óleo.
OXITO DE OLERÁ. Banha. do porco (Ba-
Gordura).
Toucinho. nha).
. Maté-
Onine. Esterco Aniña. Fezes
Oringá. Poeira. rias fecais (Fe- Isenga. Pó [?].
[?]. [?].
zes) [?].
Orunanga. Roupa
Nanga,
(Vogt & Fry);
ónanga. Onanga. Peças
Orununga de Onanga. Cloth Olonanga. Nanga. sub. Nanga. Te-
Oronanga. Roupa. Urunanga. Roupa Coberta; do vestuário
quinuimba. Rede, (Pano). Roupa. Fazenda; tecido. cido.
Ólonanga. (Roupa).
roupa de defunto
Fazenda.
(Vogt & Fry).
Oronángui. Diaman-
te (Camp: 2006).

130
SÂO JOÂO DA MILHO VERDE Silva Porto – Sanders - Wilson - LeGuennec - Cannecattim - Nascimento - Assis Jr. – Maia – Maia -
CHAPADA (1939, (1996; 2003; ESPINHO (2012) Umbundu Umbundu Umbundu Umbundu Língua Bunda Kimbundu Kimbundu Kimbundu Kikongo
1943 [1985]) 2006; 2011-2012) (c. 1860) (1885) (1935) (1972) (1804) (1903) (c. 1941) (1961) (1961)

Oranganja. Cachaça
Nganza. sub.
(Nascimento);
Copo, caneca
Rongonja, Orongonja. Ganja, Onganja. Small
Onganja. Ca- Onganja.Vasilha Nganza. Ca- sem asa; Peque- Nganza. Ca-
Oronganje. Cachaça. Aguardente, cacha- onganja. gourd (Peque-
baça [?]. (Cabaça) [?]. baça, s. [?]. na cabaça, vaso baça [?].
ça (Vogt & Fry); Cuia [?]. na cabaça) [?].
para beber água,
Uruganja, Orungan-
vinho, etc. [?].
ja (Camp: 2006).
Ongoya. Que
Orongoia. Orongóia. Diamante
tem avareza
Diamante. (Camp: 2006).
(Avarento) [?].
Oronguipoia. Lenha
(Vogt & Fry).
Huinhi. sub. Cada
Olohwi, oluhwi, uma das partes
olungwi. Madei- em que se racha
Olohwi. Fuel H'únhi,
Olõhui. Lenha ra empregada Uinhi. Le- um tronco de ar-
Oroni. Lenha. (Combustível) Jih'únhi.
[?]. para alimentar a nha, s. [?]. vore para fazer
[?]. Lenha [?].
combustão lenha; Pau ou
(Lenha). [?] madeira seca
para [?].
Kibúnga, sub.
Chapéu; carapu-
ça, barrete; Kibungu.
Kibungu. Cloa- Kíbungu. sub. Cloaca; Umbungu.
Oropungo. Bateia.
ca, s. [?]. Cloaca. | Vaso Kibunga. Cloaca [?].
grande onde se Chapéu [?].
deitam dejectos
[?].
Arasangue. Galinha
(Nascimento);
Sanje, Ósanje Osanje. Fowl Osanji. Fêmea
Orosanje. Galinha Osanji yomange. Sanc'i, Jissánc'i. Sanji. Galli- Sánji. sub. Ga-
Orossanje. Galinha. e ólo-uange. (Ave), Hen do galo (Gali- Sanji. Galinha.
(Vogt & Fry). Galinha. Gallinha. nha, s. linha.
Galinha. (Galinha). nha).
Ossangê, orossângui
(Camp:2006).
Calucimba,
Kalussimba,
Olusimba. Olusimba. Gato Ximba. Gato Ximba. Gato-
Kanissimba. Gato Ximba. sub. zool.
Orossimba. Gato. Leopard (Leo- almiscareiro bravo (Gato, tigre, Gato
(Camp: 2006); Gato-tigre.
pardo). (Gato). s.). bravo (Gato).
Carofimba (Vogt &
Fry).

131
SÂO JOÂO DA MILHO VERDE Silva Porto – Sanders - Wilson - LeGuennec - Cannecattim - Nascimento - Assis Jr. – Maia – Maia -
CHAPADA (1939, (1996; 2003; ESPINHO (2012) Umbundu Umbundu Umbundu Umbundu Língua Bunda Kimbundu Kimbundu Kimbundu Kikongo
1943 [1985]) 2006; 2011-2012) (c. 1860) (1885) (1935) (1972) (1804) (1903) (c. 1941) (1961) (1961)

Ovonha
(omeme). Pêlo
Orovanga,
Ovonya omeme. ondulado do
Orovungo.
Lã [?]. carneiro e ou-
Baeta.
tros animais
(Lã) [?].
Orrori. Peixe (Vogt
& Fry).
Olumbala. Olumbala. Arco
Orumbá. Carumbé. Hoop (Aro, de barril (Arco)
arco) [?]. [?].
Osema. Pó resul-
tante de moa-
gem de cereais
ASSEMÁ, OSSEMÁ. Cema, Ócema. Osema. Meal Osema. Fuba; (Farinha); No- Ansema.
Ossemá. Fubá.
Céu. Farinha. (Farinha). Farinha. me vulgar da Branco [?].
farinha de milho
e mandioca
(Fubá).
Osãyi. Planeta
Sãim, osãim. Osai. Moon que gira em
Ossenhê, senhê. Lua. Osãi. Lua.
Lua. (Lua). volta da Terra
(Lua).
Tate. (My)
Tata. Pai (Vogt Tate. Meu pai Táta, Jitáta.
Otata. Pai. Taté. Pai. father (O meu Tata. Pae, s. Tâta. sub. Pai. Tata. Pai.
& Fry). (Pai). Pai.
pai).
Otatariangue. Fei-
tor, patrão de ser-
viço.
Otatariôve. Insulto
máximo (envolven-
do o pai; Otata +
Ovê, você).
Eteke. Tempo
Ohteque.
Oteque. Noite, céu, Eteke (plu. que decorre
Deshoras;
Otequê. Dia. abóbada celeste Oloneke). Day Eteke. Dia. entre o nascer
Otheque. Noi-
(Vogt & Fry). (Dia). e o pôr do Sol
te.
(Dia).
Otiça. Cativeiro.

132
SÂO JOÂO DA MILHO VERDE Silva Porto – Sanders - Wilson - LeGuennec - Cannecattim - Nascimento - Assis Jr. – Maia – Maia -
CHAPADA (1939, (1996; 2003; ESPINHO (2012) Umbundu Umbundu Umbundu Umbundu Língua Bunda Kimbundu Kimbundu Kimbundu Kikongo
1943 [1985]) 2006; 2011-2012) (c. 1860) (1885) (1935) (1972) (1804) (1903) (c. 1941) (1961) (1961)

Utombo. Planta
cuja raiz é co-
mestível e bem
assim as folhas
Otombo. Farinha de Utombo. Man- quando ainda Útumbu. sub.
Otombô. Farinha de Ottombo. Utombo. Man- Utumbu. Fa- Utumbu. Fa-
Mandioca (Nasci- dioc (Mandi- tenras (Mandi- Farêlo; Resíduos
Mandioca. Mandioca. dioca. relo, s. relo.
mento). oca). oca); Utumbu. O (de milho).
grão quando
começa a ficar
em farinha
(Farinha).
OTUPÃ. Diabo Tupa. Deus.
Ovê. Você, o Senhor
Ove. Pron. Pess.
(Ovê a ô vissepa
Iove. Eu (Vogt & suj. Designativo
cachupá ombiá - Ove. Pers. Pro.
Fry); Ouê. O senhor, Obe. Tu. Ove. Tu, pron. da pessoa com
Dá-me uma palha Thou (Tu).
você (Vogt & Fry). quem se fala
para eu fazer um
(Tu)
cigarro).
Muênge. sub.
Bot. Planta fam.
Muenge. Can-
Omwenge. Enge.Haste oca; das graníneas
Ouango. Her- Muéngue, na, s., (saccha-
Sugar-cane Omuengue. omwenge. Cana- (saccharum Muenge. Cana Muinse. Cana
Oviango. Foice. vagem; Palha Miéngue. Cana rina); Rianga,
(Cana de açú- Cana [?]. de-açúcar (Ca- officinarum), de [?]. [?].
[?]. de assucar [?]. Canna brava
car) [?]. na) [?]. que se faz o
[?].
açúcar; Cana
doce [?].
Ochikalawe.
Ovicaiá. Piçarra. Pedra pequena
(Pedra) [?].
Ina (plu.
Ina. Mulher ou
Ovaina). Mo-
Ina (pron. de fêmea que teve
Ovini. Mãe. ther (his or Ina. Mãi.
mãe). Na um mais ou
her) (Mãe,
filhos (Mãe).
dele ou dela).
OVIPACO. Dinhei- Ovipako. Ipaka. sub. pl.
Kipaka. Moeda
ro, diamante na Goods, Mer- Ovipako. Bens Nome das anti- Mpaku. Di-
Epako. Fruta. de 10 reis
mão; Vipaco (Camp: chandise (Bens, (Fazenda). gas moedas de nheiro.
(Moeda, s.).
2006). mercadoria). dez reis.

133
SÂO JOÂO DA MILHO VERDE Silva Porto – Sanders - Wilson - LeGuennec - Cannecattim - Nascimento - Assis Jr. – Maia – Maia -
CHAPADA (1939, (1996; 2003; ESPINHO (2012) Umbundu Umbundu Umbundu Umbundu Língua Bunda Kimbundu Kimbundu Kimbundu Kikongo
1943 [1985]) 2006; 2011-2012) (c. 1860) (1885) (1935) (1972) (1804) (1903) (c. 1941) (1961) (1961)

Mbámba. adj.
Mestre consu-
mado; Exímio;
Pama. Be stout, - pama. Adj. Que E bambango-
Mbamba. Excelente; excel- Mbamba.
Pamba. Valentão. thick (Ser forte, Ca pama. Forte. tem força (Va- lo. Valente,
Mestre, s. so; insigne. Sem Mestre.
grosso). lente). Valentão.
rival; Sabido;
como ninguém
mais. Sabedor.
Kipangala. sub.
Armação; esque-
leto; Ngênga.
Pangaranguenga. adj. Que se sepa- Kimbangala,
Enterro (Vogt ra ou serve de Kipangala.
& Fry). separação. Que Esqueleto [?].
está à parte;
Separado; desu-
nido [?].
Palánga, sub.
zool. Quadrúpede
Palanga. Vea-
Parongo. Carneiro. ruminante cervi-
do, cervo.
no.| Wapite;
veado.
Ochipoke. Fruto
PIPOQUÊ, TIPÓ-
Quipoque, de planta legu-
QUE. Feijão, Milho. Ocipoke. Beans
Pipoquê. Feijão Tipoquê. Feijão Hipoque. Ocipoke. Feijão. minosa aprecia-
Pipoque. Feijão (Feijão).
Feijão. do na alimenta-
(Nascimento).
ção (Feijão).
+ popya. Expri-
Popia. Speak, mir por pala-
Pupiá ondaca. Falar insult (?) (Fa- Oku popia. vras (Falar);
Dacca. Pala- Ndáca. Velha-
na língua dos pre- lar, insultar); Falar; Ondaka. ondaka. Som
vra; Voz. caria.
tos. Ondaka. Word Palavra. articulado que
(Palavra). tem um sentido
(Palavra).
QUEBIRRÃ. Pouco.
QUIBANO,
QUIBANDO. Ir
em-bora.

134
SÂO JOÂO DA MILHO VERDE Silva Porto – Sanders - Wilson - LeGuennec - Cannecattim - Nascimento - Assis Jr. – Maia – Maia -
CHAPADA (1939, (1996; 2003; ESPINHO (2012) Umbundu Umbundu Umbundu Umbundu Língua Bunda Kimbundu Kimbundu Kimbundu Kikongo
1943 [1985]) 2006; 2011-2012) (c. 1860) (1885) (1935) (1972) (1804) (1903) (c. 1941) (1961) (1961)

QUIMBIMBA,
Chibimbe, Kimbi. sub.
QUIVIMBA. Morto, Ocivimbi. Ochivimbi. Cor- E vimbu,
Óchibimbe. Ocivimbi. Ca- Kimbi. Ca- Cadáver; morto; Kiambi. Ca-
defunto; Quinvimba. Corpse (Ca- po morto (Ca- umvumbi.
Defunto; dáver. daver, s. Kivimba. adj. dáver.
Morto, defunto dáver). dáver). Cadáver.
Morto. Que está intacto.
(Vogt & Fry).
Kimboto. sub.
Ochimboto.
XIMBOCO. Sapo; zool. Nome por
Chimboto. Ocimboto. Ocimboto. Batráquio anu-
Quimboto. Sapo. Quimboto. Sapo que na região do Kimboto. Rã.
Sapo. Toad (Sapo). Sapo. ro, semelhante à
(Vogt & Fry). Seles é conhecida
rã (Sapo).
a rã; Batráquio.
Mumbúndu. adj.
e sub. Escuro; de
Ocimbundu.
côr preta; Afri-
One of the race
cano; Ambúndu,
which inhabits Ukimbundu.
Mubúndu, adj, e sub pl.
Oviye, Idioma: de Mumbundu.
Quimbundo. Negro. Abúndu. Ne- Pretos; Homens
Ombalundu Luanda (Quim- Negro, a, s.
gro. pretos; de côr ou
(Pessoa da raça bundo).
raça preta; Kim-
que habita Bié,
búndu, sub. Lín-
Bailundo).
gua dos naturais
de Angola.
Quimpracaca. Gato
(Vogt & Fry).
Ochyova. Indi-
Kióua, adj. e sub. Ezóua. Estú-
QUIOUA, QUIÔA. víduo falta de Quatóva, Ató- Kioua. Tolo, Kióua. Estúpi-
Chioba. Tolo. Néscio. parvo; pido, creti-
Bobo. inteligência va. Idiota. a, s. do, cretino.
tolo: no.
(Estúpido).
QUIPUNGO. Cha-
Kibungu.
péu; Tipungá, Qui- Kibúnga, sub.
Kibunga. Bar- Cloaca; Ki-
Quipungo. Chapéu. pongo, Kipungu. Chapéu; carapu-
rete, s. bunga. Cha-
Chapéu (Camp: ça; barrete.
péu.
2006).

135
SÂO JOÂO DA MILHO VERDE Silva Porto – Sanders - Wilson - LeGuennec - Cannecattim - Nascimento - Assis Jr. – Maia – Maia -
CHAPADA (1939, (1996; 2003; ESPINHO (2012) Umbundu Umbundu Umbundu Umbundu Língua Bunda Kimbundu Kimbundu Kimbundu Kikongo
1943 [1985]) 2006; 2011-2012) (c. 1860) (1885) (1935) (1972) (1804) (1903) (c. 1941) (1961) (1961)

Nsonde.
Kisonde. For- Formiga
miga grande grande e
Kisónde, sub.
e brava (de brava (de
Ochisonde. zool. Formigão
Ocisonde. mordidela mordidela
Quiçonde. Formiga- Kisonde. For- de que há várias
Quissonde. Formiga An army ant Ocisonde. For- muito doloro- muito dolo-
Formigão vermelha, miga brava espécies, de
vermelha. (Formiga guer- miga. sa), decor rosa), decor
(esp.) que morde (Formiga, s.). mordedura
reira). vermelha eque vermelha
(Formiga). dolorosa; Formi-
anda em fila eque anda
ga brava.
(formigão) em fila (for-
(Formiga). migão)
(Formiga).
Quissama, Quissamba.
Trouxa; Mochila.
Wa. Adj. Good Ciwa. Bom - wa. Virtuoso
QUIUÁ. Muito Chiua. Óptimo.
(Bom). (boa), adj. (Bom).
Enju. Impera-
tive defec., enju. Imperativo
Ronjendo. Vindo
come (Impera- singular de + iya
(Vogt & Fry).
tivo defectivo, (Vir) [?]
vir) [?].
Lubundu. sub.
Kihuhu. Moi-
Rubudu. Moinho. Detrimento; pre-
nho.
juízo; dano [?].
Rio-rio. Int. de si-
lêncio.
Múkua-
Kisalangu. sub. isalangu.
Kisalangu.
SARANGO SECO. Abominaçâo; Monstro;
Monstruosi-
Angu monstruosidade Kisalangu.
dade, s. [?].
[?]. Monstruosi-
dade [?].
Sekulu. sub. Tio;
osekulu. Homem Ancião; Chefe de
Sekulu. An- Sekùlu. An-
SECURO. Homem. Osekulu. Velho. de idade avan- casa ou sanzala
cião, ã,s. cião.
çada (Velho). (ao sul da Pro-
víncia).
Usenge. Terreno
Sênge. sub. Po-
Ocengue. Er- incultocoberto Ekenge. Flo- Munseke.
Senguê. Mato. Assenguê. Banheiro. Usenge. Mato. voação; vila [?]
mo; Mata. de plantas a- resta. [?] Floresta. [?]
cidade
grestes (Mato).

136
SÂO JOÂO DA MILHO VERDE Silva Porto – Sanders - Wilson - LeGuennec - Cannecattim - Nascimento - Assis Jr. – Maia – Maia -
CHAPADA (1939, (1996; 2003; ESPINHO (2012) Umbundu Umbundu Umbundu Umbundu Língua Bunda Kimbundu Kimbundu Kimbundu Kikongo
1943 [1985]) 2006; 2011-2012) (c. 1860) (1885) (1935) (1972) (1804) (1903) (c. 1941) (1961) (1961)

Isulukutu. Sub.
SURUITIÚ, pl. Cousa que
SURUTIÚ. Tatu disperta abomi-
nação [?]
Tiadiambe. Dia
Santo.
Posoka. To be
Tiapossoca. Coisa well dressed Ca posoka. - posoka. Adj.
Boa. (Estar bem Bonito (a). Bonito (Bom).
vestido).
Kâria. sub. Fin-
gimento de
bondade, de
ideias ou de
Tuli. Mal. adv.
Túria. Gente ruim opiniões apreci-
[?].
áveis. Falta de
sinceridade,
Impostura. De-
voção fingida [?].
Uanda ua
Uânda. sub. Rede
Uanda. Rede Owanda. Ti- Owanda. Tipoia natina, anda
Uandá. Rede. Owanda. Rêde. Uanda. Rede, s. para pescar ou Uanda. Tipóia.
(Camp:2006) poia. (Rede). (pl. manda).
dormir a sesta.
Tipóia.
Owanga.
Owanga. Malefí- Nguánga, Uanga (pl.
Ouanga. Feiti- Charm (fetish) Owanga. En- Uanga. Feiti- Uánga. sub.
Uanga. Feitiço. Muamba. Feitiço cio de feiticeiro Jinguánga. mauanga).
ço; Mandinga. (feitiço, encan- canto. ço, s. veneno; feitiço.
(Feitiço). Feitiço. Feitiço.
to, fetiche).
Singila. Be pos-
sessed with a
Uanga de sincorá. spirit (Estar
Feitiço de mulata. possuído por
um espírito)
[?].
Kulangála. v.
Langala. Fall
intr. Estar na
prostrate or
Uarangara. Morte cama; repousar; - langala. Langa. Re-
dead (ficar/
(Vogt & Fry). Deitar-se; exten- Repousar. pousar.
cair prostrado
der-se ao com-
ou morto).
prido.

137
SÂO JOÂO DA MILHO VERDE Silva Porto – Sanders - Wilson - LeGuennec - Cannecattim - Nascimento - Assis Jr. – Maia – Maia -
CHAPADA (1939, (1996; 2003; ESPINHO (2012) Umbundu Umbundu Umbundu Umbundu Língua Bunda Kimbundu Kimbundu Kimbundu Kikongo
1943 [1985]) 2006; 2011-2012) (c. 1860) (1885) (1935) (1972) (1804) (1903) (c. 1941) (1961) (1961)

Mukuetu. adj. e
sub. Outro (como
CUETO. Dançante
nós). Camarada;
(Companheiro; Mukuetu. Meu
Macuêto. companheiro;
Ucuêto, Vacuêto, pessoa humana); Ukwetu. Cama- e nosso com- Mukuetu. Nkuetu.
Congratula- Ukuetu. Cama- Akuetu. adj. e
Acuêto. Compa- Naguete. Homem; rada (Compa- panheiro Compa- Compa-
ção; Bacuêto. rada. pron. indef. pl.
nheiro. Uacueto, Uagueto. nheiro). (Companhei- nheiro. nheiro.
Salve. Outros (como eu,
Ele, homem (Vogt ro, a, s.).
como nós); Nós
& Fry).
outros; Meus
companheiros.
CUMBI. Sol; Cumbe,
Ekumbi. Sun Ekumbi. O disco Kumbi. Sub. O Kumbi,
Ucumbi. Sol. Ocumbe, Ucumbe. Ecumbi. Sol. Ekumbi. Sol. Ricúmbi. Sol. Rikumbi. Sol, s.
(Sol). solar (Sol). sol; o dia. Dikumbi. Sol.
Sol (Vogt & Fry).
UMUNDA. Mundéu
Ngundu sub. Ngundu. Des-
Ongundo.
Restos de edifí- troços, restos
Ungundo. Pó; rolão. Medicine (Re-
cios; destroços; de edifícios,
médio) [?].
ruínas [?]. ruínas [?].
Ndungu. sub. bot.
Olundungu. Nome genérico
Olundungu. Planta cujo fruto Ndúngu, de vários frutos Ndungu (pl. Ndungu za
Urundungo. Pi- Ólondungo. Olundungu. Ndungu. Pi-
Pepper (Pi- tem um sabor Jindúngu. das plantas pipe- Jindungu). kindele. Pi-
menta. Pimenta. Pimenta. menta, s.
menta). picante (Pimen- Pimenta. ráceas de diver- Pimenta. menta.
ta). sas espécies,
Pimenta.
Únene, sub.
- nene. Adj. Químa Quiné- Grandeza; Uône-
Hinene. Nene. adj. Cinene. - onene. Uonene. Uanene.
Uoneme. Grande. Corpulento ne. Cousa ne, adj. Grande;
Grande. Large (Grande). Grande. Grande, adj. Grande. Grande
(Grande). Grande. notável: de alta
jerarquia.
Ovikangwa.
Resíduo da
Kanga. Fry, banha depois de Kikangelu, e Kangilu.
Vigongo; Vicongo. Oku kanga. Kikangelu. Kikangelu. sub.
Parch (Fritar, extraída a gor- kangu. Tor- Torresmo,
Torresmo. Fritar [?]. Torresmo, s. Torresmo.
Tostar) [?]. dura pela ação resmo, rijão. rijão.
do fogo (Tor-
resmo).
VINÁ. Remédio Ochina. Qual-
levado pelo carun- Ocina. Thing quer objecto
Ocina. Coisa. Químa. Cousa. Kima. Cousa, s. Kima. sub. Coisa. Kima. Coisa. Kiuma. Coisa.
jinjim durante a (Coisa). inanimado
festa do Rosário (Coisa).

138
SÂO JOÂO DA MILHO VERDE Silva Porto – Sanders - Wilson - LeGuennec - Cannecattim - Nascimento - Assis Jr. – Maia – Maia -
CHAPADA (1939, (1996; 2003; ESPINHO (2012) Umbundu Umbundu Umbundu Umbundu Língua Bunda Kimbundu Kimbundu Kimbundu Kikongo
1943 [1985]) 2006; 2011-2012) (c. 1860) (1885) (1935) (1972) (1804) (1903) (c. 1941) (1961) (1961)

Ocikwamba.
Manioc Bread
Vinganga. Arroz. Vinji. Pão.
(Pão de mandi-
oca) [?]
Mbánza. sub.
Viquimbana. Caixa
Espécie de viola;
(Vogt & Fry);
Instrumento mu-
Viquimbanza,
sico de três cor-
Riquimbanza. Caixa
das que se toca
(Instrumento)
com palheta de
(Camp: 2006).
pau; Rebeque [?].
Ocisapa. Ovisapa. Conjun-
Bough (Ramo, to de ramos de
Vissepa. Palha.
galho de árvo- uma planta
re). (Ramada).
Nzangu. Canto
Ocisungo. Song Ocisungo. Ochisungo. Hino Nzangu, sam-
Vissungo. Cantigas. VISSUNGO. Canto. em voz alta
(Canto). Canto. (Canto). bu. Canto.
(Canto, s.).
XIBIU. Diamante

Mbámba. adj.
Mestre consu-
mado; Exímio;
- bana nzangu.
Pama. Be stout, - pama. Adj. Que Excelente; excel- E bambango-
Bambazuô. Provo- Fazer barulho Mbamba.
thick (Ser forte, Ca pama. Forte. tem força (Va- so; insigne. Sem lo. Valente,
cação de briga. (Barulho, s.) Mestre [?].
grosso). lente) [?]. rival; Sabido; Valentão [?].
[?].
como ninguém
mais. Sabedor
[?].
Mbínga. sub.
Cada um dos
Binga, Ombinga. Horn
Ombinga. Ombinga. Corno Bínga, Gibínga. apêndices duros Mbinga.
Binga. Isqueiro. BINGA. Isqueiro. Binga. Isqueiro Lombinga. (Chifre); Tusk
Chifre. (chifre). Corno. na cabeça, de Chifre.
Córneo. (Presa).
certos ruminan-
tes; Cornicho.
Ochisimo. Cavi-
Cacimba. Poço de Cacimba. Poço de Ocima. Clay pit Quichíma quiá
dade aberta na Kixima. Ca- Kixima. sub. Kixima. Ca- Xima. Ca-
água potável de água potável de (Poço de argi- Ocisimo. Poço. Ménha. Poço
terra, com água cimba, s. Tanque. Cisterna. cimba. cimba.
minas. minas la). de agua.
(Poço) [?].

139
SÂO JOÂO DA MILHO VERDE Silva Porto – Sanders - Wilson - LeGuennec - Cannecattim - Nascimento - Assis Jr. – Maia – Maia -
CHAPADA (1939, (1996; 2003; ESPINHO (2012) Umbundu Umbundu Umbundu Umbundu Língua Bunda Kimbundu Kimbundu Kimbundu Kikongo
1943 [1985]) 2006; 2011-2012) (c. 1860) (1885) (1935) (1972) (1804) (1903) (c. 1941) (1961) (1961)

Kilundu. sub.
Calundu. Aborreci- Espírito; Ser do Kuluuala. Mau
mento. mundo invisível humor. [?]
[?].
Cambungo. Corrup-
tela de carbúnculo.
Canjongo. Osso.
Kâria. Sub.
Kâria-Pemba adj.
Karia-Pemba
e sub. Demónio; Nkadi-a-
Cariá, Cariapemba. CARIAPEMBA. Cariá, Cariapemba, Cariapêmba. Cariapémba. (litt. O que Kádia-Pemba.
diabo; Pessoa de Mpemba.
Diabo. Diabo. Pemba. Diabo Demônio. Diabo. come pemba). Diabo.
maus instintos, Diabo.
Diabo, s.
Mafarrico; Sata-
naz.
Caxaramba. Cacha-
ça.
Caxanga. Achaque.
Coxito. Pequeno Káxitu. sub.
CUXITO, CUNXITO. Coxito. Porco pe-
(adj.); Porco pe- Carninha. Ani-
Porco queno (subt.)
queno (subt.). malzinho.
Kúngonga. v. tr.
intr. e r. Murmu-
- Ngonga.
rar. Dar sinais de
Gungunar. Res- Gungunar. Res- Ñuñuna. Mur- . Falar - ngonga. Resmungar; -
descontentamen-
mungar. mungar. murar. por entre dentes Murmurar, v. ngongena.
to; Kungongena.
(Resmonear). Murmurar.
v. tr. Murmurar
sobre.
Ulungu (pl.
Malungo. Da mesma Malungo. Da mes-
Rilúngu iaie- Ulungu. Ca- Ulungu. sub. malungu).
idade; companhei- ma idade; compa- Ulungu.Navio.
néne. Barco. noa, s. Almadia; canoa. Canoa, PI-
ro. nheiro
roga.
Márimu. sub. pl.
Marimbo. Espécie
Habilidades; es-
de jogo de cartas.
pertezas [?].
Moçambique. Cintas
de vidro.

140
SÂO JOÂO DA MILHO VERDE Silva Porto – Sanders - Wilson - LeGuennec - Cannecattim - Nascimento - Assis Jr. – Maia – Maia -
CHAPADA (1939, (1996; 2003; ESPINHO (2012) Umbundu Umbundu Umbundu Umbundu Língua Bunda Kimbundu Kimbundu Kimbundu Kikongo
1943 [1985]) 2006; 2011-2012) (c. 1860) (1885) (1935) (1972) (1804) (1903) (c. 1941) (1961) (1961)

Mulundu. sub.
Serra; montanha;
Mulundu. morro; Penedo; Mulundu.
Ochilundu. Adj. Mulúndu,
Morumbo. Montícu- Monte, s.; rocha; Mulúmbu. Montanha;
Pequeno monte Milúndu.
lo; testículos. Montanha, s. sub. Envide; Mulumbu.
(Montículo). [?] Monte. [?]
[?] uraco. Cordão Prepúcio. [?]
umbilical, fig.
Prepúcio [?].
Muafa. Safanão.
Kiba. sub. Vasi-
Quiba. Trouxa; Quiba. Trouxa; Químa Quiá lha feita de pele
Monte de roupas. Monte de roupas Quíba. Odre. de certos ani-
mais; Odre.
Kisasamba. sub.
Samba. Saquitel de Barracão; Estala-
pano que se põe à Oco-samba. Osambo. Corral Casasámba. gem; baiuca. Nzemba. Pano
boca de bezerros Imolação [?]. (Curral) [?]. Presépio [?]. Presépio; estre- [?].
para desmamá-los. baria; estábulo
[?].
Esemba. Dança Kusesemba, v. - sesemba.
Semba. Dança dos com acompa- tr. e intr. Dançar Dançar arras-
Negros. nhamento das (arrastando os tando os pés
mãos (Dança). pés). (Dançar).
Kisanji. sub.
Instrumento
Sanjuê. Barulho; Nzangu. Baru- músico de hastes
Sanjuê. Dança
Briga. lho, s. [?]. metálicas, hoje
bastante conhe-
cido [?].
Ombangwi.
Súmbe. Adj.
Incessant
Sujeito compra-
talker; a bore
Sumbanga. João- do; Sub. Lugar ou
(Pessoa que
Ninguém. região onde se
fala sem cessar;
compravam
um aborreci-
escravos [?].
mento) [?].
Tatarnê. Bicho de
pé.
Xambá. Espécie de
Xambá. Pedaço
pássaro.

141
SÂO JOÂO DA MILHO VERDE Silva Porto – Sanders - Wilson - LeGuennec - Cannecattim - Nascimento - Assis Jr. – Maia – Maia -
CHAPADA (1939, (1996; 2003; ESPINHO (2012) Umbundu Umbundu Umbundu Umbundu Língua Bunda Kimbundu Kimbundu Kimbundu Kikongo
1943 [1985]) 2006; 2011-2012) (c. 1860) (1885) (1935) (1972) (1804) (1903) (c. 1941) (1961) (1961)

Vungo-Vungo,
Zungo-Zungo. Tipo
de brinquedo.

142
3.5 Análise dos dados

A partir de nossas observações do quadro 2, dividimos nossa análise em


sete grupos de acordo com sua correlação e possível origem etimológica: a)
Umbundo; b) Quimbundo; c) Quicongo; d) Quimbundo/Umbundo; e)
Quicongo/Umbundo; f) Quimbundo/Quicongo/Umbundo.
Além disso, fizemos a seguinte divisão: 1. Itens de forma e significado iguais
ou semelhantes ao étimo proposto; 2. Itens de forma igual ou semelhante, mas de
significado distinto; 3. Itens de forma distinta, mas de significado semelhante.
Fizemos comentários a respeito de fenômenos de variação observados e
nossa hipótese do étimo abaixo das análises propostas. Adiantamos que nossas
observações se baseiam em alguns fatores: a presença de prefixos de classe
nominal relacionados a uma língua ou outra; relações fonológicas; e,
principalmente, a presença ou ausência dos itens nas fontes dicionarísticas.
Entretanto, não consideramos como fator diferencial a presença do aumento ‘o-‘,
visto sua ocorrência, apesar de mais frequente no umbundo, ser também atestada
no quimbundo, com função de determinante. Além disso, encontramos formas
mais relacionadas ao umbundo que realizaram aférese, apagamento inicial, da
vogal. Desconsideramos também como fator diferencial entre umbundo, quicongo
e quimbundo a distinção [z] ≠ [ʒ] ≠ [dʒ], assim como [s] ≠ [ʃ] ≠ [tʃ] visto ocorrerem
formas mais ou menos palatalizadas nestas línguas (observa-se, por exemplo, a
ocorrência de [ʒ] no quimbundo, [nʒílá] ‘pássaro’; e de [tʃ] no umbundo, ochito,
registrado em Silva Porto, 1942, ao invés de ositu forma mais atestada).
Os dados do glossário de Silva Porto (1942) foram destacados em nossa
análise por estarem mais próximos a uma diacronia pretérita do umbundo que
possivelmente veio para o Brasil, além de se apresentarem geralmente mais
próximos das formas encontradas em Minas Gerais.
Quanto à grafia utilizada, preservamos as formas descritas na tabela para os
itens de falares afro-brasileiros analisados, no entanto, quanto aos étimos,
procuramos adaptá-los a uma escrita próxima à fala do português, a saber: ‘tch’
[tʃ], ‘dj’ [dʒ], ‘nh’ [ɲ], ‘g’ [g], porém ‘w’ [w] e ‘y’ [j] para as semi-vogais. A opção feita
explica-se pela dificuldade de transcrevermos fidedignamente os itens coletados
ortograficamente nos dicionários para o alfabeto fonético (principalmente em
relação às vogais).
143
Recomendamos a consulta das abreviações e diacríticos no início deste
trabalho para melhor compreensão da seção a seguir.

a) Umbundo

1. Forma e significado iguais ou semelhantes ao étimo

AIUCA: adv., ‘Muito’ (Omenhá aiuca-aiuca ‘Muita água’) (AM).


‘aiuca’ < a-yuka ← a (cl. 6) + -yuka ‘cheio’ (Adj.) umb.
*-yuka ‘cheio’ >> *-yuka yuka ‘cheio cheio’ >> -yuka ‘muito’

Étimo: adj., a-yuka, ‘cheio’.

Obs. –yuka, assim como todos os poucos adjetivos nas línguas analisadas, recebe um prefixo de concordância
pronominal da classe ou pronome ao qual se relaciona. Neste caso teria recebido o índice de sujeito da classe 6
(plural das classes 5, 11 e 15 em umbundo).

ANDAMBE: sub., Mulher (AM); ANDAMBE, INDAMBE: sub., Mulher; prostituta (MV).
andambi < ondambi (cl. 9) ‘um homem ou mulher bons/bonitos’ umb.
indambe < *ndambi < *o-ndambi < ondambi (cl.9) ‘um homem ou mulher bons/bonitos’ umb.

ondambi ‘homem ou mulher bonitos/bons’ >> ondambi ‘mulher bonita’ >> ondambi ‘prostituta’ 
ndúmbu (cl. 9) ‘prostituta’ quimb.
Étimo: sub. (cl. 9), ondambi/o-ndambi ‘um homem ou mulher bons/bonitos’ umb.

Obs. Ambos os significados são mantidos na região de Milho Verde, ‘mulher’ e ‘prostituta’, a segunda acepção
pode ser explicada por influência de forma semelhante em quimbundo, e preservada em outras variedades de
falares africanos no Brasil. Há abaixamento da vogal inicial o>a.

ANDAMBE OCAIO: sub., Mulher da vida livre (MV).


umb. o- (cl. 9)  ocaio < *ukãyi-u < u-kãyi (cl. 1) “mulher” umb.
ocaio < *ocai (cl. 1) “mulher” umb. (Silva Porto).
Étimo: sub. (cl.1), ukãyi ‘mulher’.

Obs. Não há sugestão para a mudança de significado do item, ‘mulher’ >> ‘mulher de vida livre’. A forma
registrada em Silva Porto encontra-se mais próxima ao item analisado.

ANGANA-IANGUE: sub., Patrão (Meu Senhor) (AM)


angana-iangue < *anganayange ← angana ‘senhor’ (cl. 9) umb. + ya (cl. 9+GEN) + nge (POSS 1SG)
‘meu’ umb.
Étimo: sub. (cl. 9) angana-yange ‘meu senhor’.

144
Obs. Apesar de angana ocorrer tanto em umbundo quanto em quimbundo, a forma sufixal do possessivo de
primeira pessoa do singular se relaciona apenas ao umbundo, pois, como visto na tabela 2, a forma em
quimbundo é –ami ‘meu’.

ANGUÊ: sub., Onça (AM)


anguê < o-nge (cl. 9) ‘ onça’ umb.
anguê < *onge < o-ngwe (cl. 9) ‘onça’ umb.
Étimo: sub. (cl. 9) onge ou ongwe ‘onça’

Obs. Há um abaixamento da vogal [o]. A hipótese de abaixamento ‘o>a’ é fortalecida pelo exemplo, visto que
seu plural seria olo-nge ‘onças’. As formas cognatas no quimbundo (ngo, ingo) não foram consideradas
próximas o suficiente para serem consideradas na análise.

APUMBO: sub., Milho; OPUNGO, IUPUNGO: sub., Alimento; OFÚMBU: sub., Angu (MV).

umb. o- (cl. 9)  opungo < *pungu < *e-pungu (cl. 5) ‘milho’ umb.
apumbo < opumbo MV
port. fubá  ofúmbu < opungo MV [?]
iupungo < y-upungu < y (cl. 9 GEN) + *opungu MV [?]

Étimo: sub. (cl. 5) e-pungo ‘milho’.

Obs. Este é o primeiro exemplo em que há aférese, apagamento da vogal inicial da classe 5 ‘e-‘ ou sua
substituição por ‘o-‘ provavelmente por analogia ao prefixo frequente da classe 9. Além disso, há mudança da
pré-nasalizada velar [ŋg] pela bilabial [mb], no caso de ofúmbu, apumbo. A forma opungo, encontrada em Milho
Verde poderia ter originado as demais variações.

AQUENJÊ: sub., Menino (AM); AQUENJÊ VEROME: sub., Rapazinho (AM).


aquenjê < a-kwendje (cl.2) ← u-kwendje (Cl. 1) ‘rapaz’ umb.
aquenjê < o-coendje (cl. 1) .
Étimo: sub. (cl. 2) a-kwendje ‘rapazes’.
sub. (cl. 1) o-kwendje ‘rapaz’.

Obs. A forma [dʒ] encontrada no umbundo se palataliza em [ʒ], como nos demais exemplos. A forma indicada
em Silva Porto, ocoenje, pode indicar uma possibilidade distinta, ocorrendo abaixamento da vogal do índice de
sujeito da classe 1 ‘o-‘. Ainda, cabe ressaltar que os tons característicos das línguas bantas pesquisadas não são
preservados nas formas encontradas no Brasil. Há duas possibilidades: influência de um tom alto final; ou uma
diástole, transposição do acento à sílaba posterior, tornando a palavra paroxítona em oxítona. Isto exigiria uma
forma anterior sem valor tonal *a-kwendje. Vários itens dos falares africanos diamantinos foram preservados
como oxítonas.

CAMUNDÁ: sub., Morro, monte (AM).


camundá < (o)ka-munda ‘morro’ (cl. 12) umb.
Étimo: sub. (cl. 12) o-ka-munda, monte.

145
CANDAMBURO: sub., Galo (AM); sub., QUINDOMBORO: Galo (MV).
candamburo < *kondomboro < e-kondomboro ‘galo’ (cl. 5) umb.
quimb. (cl. 7) ki-  quindomboro <*ko-ndomboro < e-kondombolo ‘galo’ (cl. 5) umb.
Étimo: sub. (cl. 5) e-kondombolo ‘galo’.
sub. (cl. 5) e-condobóro ‘galo’ (Silva Porto).

Obs. Aférese da vogal do prefixo da classe 5 ‘e-‘. O rotacismo [l]>[r] apresenta-se em quase todas as formas

encontradas. Os dados de Silva Porto registram a variação [l]~[r] também no umbundo. Esta transformação é

comum também às variedades do português brasileiro e esteve presente na formação da língua portuguesa.

CANJÁ: sub., Reco-reco de bambu usado pelo grupo dos catopés na festa de Nossa Senhora do Rosário (MV).
canjá < o-kandja ‘vara’ (cl. 9) umb.
Étimo: sub. (cl.9) o-kandja ‘Vara, bastão’

Obs. Poderia haver uma adaptação do termo quimbundo rikanza, reportado na tabela 2, a uma fonologia mais
próxima do umbundo. No entanto, optamos pela forma quase idêntica verificada em Sanders e Wilson. Há
aférese de ‘o-‘ referente à classe 9.

CARIMBAMBA: sub., Coruja (AM).


carimbamba <* ka-rimbamba < oka-rimbamba ← himbamba ‘coruja’ (cl. ?) umb.
Étimo: sub., (cl. 12) *ka-himbamba ‘coruja’.

Obs. A classe da forma original não pôde ser identificada.

CATITA: adj., Pequeno (AM); CATITO, EUCATITO: adv., Pouco; adj., pequeno (MV); CATITA: sub., Mingau (ESP).
[?] port. gên. fem. -a  catita < ka-tito (cl. 12) ← - tito ‘pequeno’ (adj.) umb.
Catito < ka-tito (cl. 12) ← - tito ‘pequeno’ (adj.) umb.
Étimo: adj., -tito ‘pequeno’; adj., (cl. 12) ka-tito ‘pequenininho’.

Obs. Não conseguimos elaborar sugestões de análise para a forma eucatito, nem para a diferença semântica no
item encontrado no Espinho catita.

CAXICOVERA: sub., Doença (AM); KAXICOBEIRA: sub., Doença (MV).


caxicovera < *kasi kuvela < o-kasi (cl. 1 ou 2SG + v.) oku-vela ← oku-kasi (cl. 15) ‘estar’ + oku- vela (cl.
15) ‘estar doente’ umb.
kaxicobeira < *kaxi kobera < *kasi kobera < o-kasi (cl. 1 ou 2SG + v.) oku-vela ← oku-kasi (cl. 15)’estar’
+ oku-vela (cl. 15) ‘estar doente’ umb.
Étimo: v. (cl. 1 ou 2SG)o-kasi ‘ele está/tu estás’ + v. (cl. 15) oku-vela ‘estar doente’.

Obs. A forma indicada por Silva Porto, oco-bera, encontra-se mais próxima de ‘kaxicobeira’, além do autor
indicar itens com [tʃ] ou [ʃ], grafado ‘ch’, em lugar de [s], como nos demais autores. Cf. ochito na tabela 2.

CONGÁ: sub., Garrafa (AM).


congá < u-konga (cl. 3) ‘cabaça com gargalo’ umb.

146
Étimo: sub. (cl. 3) u-konga ‘cabaça

Obs. As demais formas verificadas nos dicionários (on-galafa; ka-ngarrafa) parecem indicar neologismos
adaptados à morfossintaxe das línguas africanas do port. ‘garrafa’, além de exigirem apócope (apagamento
final) das duas últimas sílabas. Optou-se pela forma encontrada em Le Guennec, u-konga.

CONGEMBO: v., Morrer; sub., Morte (AM).


congembo < ku-ondjembo ← ku (LOC cl. 17) ‘para’ + ondjembo (cl. 9) ‘sepultura’ umb.

k-ondjembo ‘para a sepultura’ >> congembo ‘morte’ >> congembo ‘morrer’.


Étimo: sub. loc. (cl. 17) k’ondjembo ‘sepultura’
sub. loc. (cl. 17) k’ondjambo ‘mortalha’ (Silva Porto)

Obs. O prefixo locativo da classe 17 ‘ku-‘ para, perde valor semântico, juntando-se ao substantivo da classe 9.

COPEQUERA: v., Dormir (v.)


copequera < *ko-pekera < oko-pekera (cl. 15) ‘dormir’ umb.
Étimo: v., (cl. 15) oco-pekera ‘dormir’ (Silva Porto)

CURIANDAMBA: sub., Velho (AM).


[?] AM curiacuca  curiandamba < *kulu andamba < ukulu wendamba ← ukulu (cl. 1) ‘velho’ umb. +
wendamba (adj. cl. 1) umb. (cl. 1 + GEN + ondamba ‘homem ou mulher bons’).
curiandamba < u-kulyandamba < *ukulu ya ondamba ← *ukulu (cl. 1) ‘velho’ + ya (cl. 9 + GEN) +
ondamba (cl. 9) ‘mulher or homem bons’ umb.
Étimo: sub., (cl.1) u-kulu + (adj. cl. 1) wendamba, ‘velho’.

Obs. A forma do étimo foi verificada em Le Guennec, wendamba, formada por uma construção conectiva, ou o
genitivo, ‘pref. prep. de cl. + GEN’, ‘u-’ (cl. 1) + ‘-a-‘ + ondamba (cl. 9) ‘homem ou mulher bons’. Há a
possibilidade de padronização analógica da construção possessiva para a classe 9, i + a ‘ya’, onde esperaríamos
ocorrer ‘wa’ (con. pron. cl. 1).

GUNGUNAR: v., Resmungar (AM/ESP).


port. v. - ar  gungunar < -gunguna < oku- ngunguna (cl. 15) ‘resmungar’ umb.
Étimo: v., (cl. 15) oku- ngunguna ‘resmungar’.

Obs. Aférese da pré-nasal inicial e adaptação à estrutura verbal do português.

MANJANGUE: sub., Irmão (AM).


manjangue < *mandje-ange < mandje-wa-nge ← mandje (cl. 1) ‘irmão’ umb. + -wa- (1SG + GEN) + -
nge (POSS 1SG) ‘meu’ umb.
Étimo: sub., (cl. 1) mandje-wange ‘meu irmão’

147
MARAUANGUE, MARRUANGUE: sub., Criança, menino (MV).
marauangue < *malauange < *mola wange < o-mola wange ← o-mola (cl. 9) ‘criança’ + -wa- (1SG +
GEN) + -nge (POSS 1SG) ‘meu’ umb.
marruangue < *maruangue < marauangue ‘menino’ MV [?]
Étimo: sub., (cl. 9) omola-wange ‘minha criança, meu filho’.

Obs. Abaixamento de o>a. Preservação do con. pron. da cl. 1 ‘wa’, diferente de manjangue.

MBUNGURURU: sub., Estrela (AM).


mbungururu < olu-mbungululu (cl. 11) ‘estrela’ umb.
Étimo: sub., (cl. 11) olu-mbungunlulu ‘estrela’.

Obs. Aférese do prefixo de classe nominal 11 ‘olu-‘.

NHORRÃ: sub., Cobra (AM); INHARRA: sub., Cobra (MV).


nhorrã < o-nhoha (cl. 9) ‘cobra’ umb.
inharra nhaha nhoha < o-nhoha (cl. 9) ‘cobra’ umb.[?]
Étimo: sub., (cl. 9) o-nhohã ‘cobra’.

Obs. Aférese do prefixo da cl. 9, no caso de nhorrã. Em inharra há prótese, adição de uma vogal no início da
palavra. A forma apresentada em Silva Porto ‘nhóa’ distancia-se mais das outras formas verificadaspela
ausência da fricativa glotal [h].

OMBERA: sub., Chuva (AM).


ombera < ombera (cl. 9) ‘chuva’ umb.
Étimo: sub., (cl. 9) o-mbera ‘chuva’ (Silva Porto).

OMENHÁ DE VIANGUE: sub., Cachaça; VIANGO: sub., Cana (MV).


viangue < *ovi-ange < ovi-enge (cl. 4) pl. ← omwenge (cl. 3) ‘cana’ umb.
viango < viangue MV [?]
Étimo: sub., (cl. 4) ovi-enge ‘cana de açúcar’.

Obs. Consideramos aqui, somente a forma sublinhada na construção perifrástica ‘omenhá de viangue’. Aférese
da vogal inicial (aumento) da classe 4 ‘ovi-‘. Ver análise de omenhá na seção de itens relacionados somente ao
quimbundo.

OMERÁ: sub., Língua (AM); AMERA: sub., Rosto (MV).


omerá < o-mera (cl. 9) ‘boca’ umb.
amera < o-mera (cl. 9) ‘boca’ umb.
Étimo: sub., (cl. 9) o-mera ‘boca’ (Silva Porto).

Obs. Abaixamento da vogal inicial em amera.

148
OPUTÁ: sub., Angu (MV).
umb. (cl. 9) o-  oputá < i-puta (cl. 5) ‘pirão’ umb.
Étimo: sub., (cl. 5?) i-puta ‘pirão’.

Obs. Aférese do ‘i-‘ inicial e prótese analógica da forma prefixal da classe 9 ‘o-‘.

OQUEPÁ: sub., Osso (AM).


umb. (cl. 9) o-  oquepá < e-kepa (cl. 5) ‘osso’ umb.
Étimo: sub., (cl. 5) e-kepa ‘osso’.

Obs. Há a possibilidade de aférese da vogal da classe 5 ‘e-‘ e substituição análoga por ‘o-‘ da classe 9.

ORERÁ: sub., Toucinho (AM); OXITO DE OLERÁ: sub., Toucinho (MV).


umb. (cl. 9) o-  orerá < u-lera (cl. 3) ‘gordura’ umb.
Étimo: sub., (cl. 3) u-lera ‘gordura, banha’ (Silva Porto).

Obs. Analogia com a classe 9 ‘u-‘ (cl. 3) > ‘o-‘ (cl. 9).

ORONANGA: sub., Roupa (AM); ORUNANGA: sub., Roupa (MV); URUNANGA: sub., Roupa (ESP).
oronanga < olo-nanga (cl. 10) pl. ← o-nanga (cl. 9) ‘roupa’ umb.
orunanga < oronanga MV.
urunanga < olo-nanga (cl. 10)pl. umb.
Étimo: sub., (cl. 10) olo-nanga ‘roupas’.

Obs. Alçamento o> u.

ORONI: sub., Lenha (AM).


oroni < *olo-ni < *olon-hwi < olõ-hwi (cl. 10) ‘lenha’ umb.
Étimo: sub., (cl. 10) olõ-hwi ‘lenha’ umb.

Obs. Há síncope, apagamento medial, da consoante [h] devido à influência da nasalização.

OROSSANJE: sub., Galinha (AM); ARASANGUE, OROSANJE, OSSANGÊ, OROSSÂNGUI: sub., Galinha (MV).
orossanje < olo-sandji (cl. 10) ← o-sandji (cl. 9) ‘galinha’ umb.
arasangue < *arosanje < orosanje MV
ossangê < o-sandji (cl. 9) ‘galinha’ umb.
ossangue < (o)sandji (cl. 9) ‘galinha’ quimb./umb.
Étimo: sub., (cl. 9) o-sandji ‘galinha’.

Obs. Abaixamento o>a. Velarização de [ndʒ] > [ŋg] em ossangue e arasangue.

149
OROSSIMBA: sub., Gato(AM); CALUCIMBA, KALUSSIMBA, KANISSIMBA, CAROFIMBA: sub., Gato (MV).
orossimba < olo-simba < olu-simba (cl. 11) ‘leopardo’ umb. [?]
umb. (cl. 10) olo-  orossimba < olu-simba (cl. 11) ‘leopardo’ umb.[?]
calucimba < ka-lusimba (cl. 12) ‘pequeno leopardo’ olusimba (cl. 11) ← ‘leopardo’ umb. [?].
Étimo: sub., (cl. 11) olu-simba ‘leopardo’

Obs. Abaixamento de u>o, quando não consta o prefixo diminutivo da classe 12 ‘ka-‘.

OSSEMÁ: sub., Fubá (AM); ASSEMÁ, OSSEMÁ: sub., Céu (MV).


ossemá < osema (cl. 3/9) ‘farinha’ umb.
Étimo:, sub., (cl. 3/9?) o-sema ‘farinha’

Obs. Uma das formas apresenta abaixamento de o>a.

OSSENHÊ, SENHÊ: sub., Lua (AM).


ossenhê < *osanhe < *osanye < o-sãyi (cl. 9 ?) ‘lua’ umb.
senhê < o-senhê (AM).
Étimo: sub., (cl. 3/9?) o-sãyi ‘lua’.

Obs. Aférese de ‘o-‘ em senhê. Transformação de [j] em [ɲ], devido à nasalização de [a] anterior.

OTATARIANGUE: sub., Feitor, patrão de serviço (AM).


otatariangue < otate lyange ‘meu pai’ ← otate (cl. 9) ‘pai’ + - ly a- (cl. 5+GEN) + -nge (POSS 1SG) ‘meu’
umb.
otatariangue ‘meu pai’ >> otatariangue ‘figura de autoridade’ >> otatariangue ‘patrão’
Étimo: sub., (cl. 9) otata-lyange “meu pai”.

Obs. Onde se esperaria uma forma do genitivo com a cl. 9 ‘ya’, encontra-se a forma da cl. 5 ‘lya’.

OTEQUÊ: sub., Dia (AM); OTEQUE: sub., Noite, céu (MV).


umb. o- (cl. 9)  otequê < e-teke (cl. 5) ‘dia’ umb.
otequê < o-teke (cl. 5) ‘noite’ umb. (Silva Porto).
Étimo: sub., (cl.5) e-teke ‘dia’
sub., (cl. 5) o-teke ‘noite’ (Silva Porto).

Obs. Mudança analógica da classe 5 ‘e-‘ para a forma da classe 9 ‘o-‘. Entretanto, a forma registrada em Silva
Porto se aproxima mais do item analisado, tanto em forma quanto em conteúdo. Devido à diferença semântica
mantivemos ambas possibilidades.

OVÊ: pron. pess. Você, o Senhor (AM); IOVE: pron. pess. Eu; OUÊ: pron. pess. O senhor, você (MV).
ovê < ove (2 SG) ‘tu’ umb.
ouê < ove (2 SG) ‘tu’ umb.
iove < yove ← y (pref. pron. cl. 9) + ove (2 SG) ‘tu’ umb.
Étimo: pron. pess. 2SG ove ‘tu’.

150
OVINI: sub., Mãe (AM).
ovini < ova-ina (cl. 2) pl. ← ina (cl. 1 ?) ‘mãe’ umb.
Étimo: sub., (cl. 2) ova-ina ‘mãe’.

Obs. Fusão de ‘a+i’ para evitar hiatos, e alçamento de ‘a’ final em ‘i’. O plural é uma forma sugerida em Sanders.

OVIPACO; VIPACO: sub., Dinheiro, diamante na mão (MV).


ovipaco < ovipako (cl. 4) pl. ‘bens’ umb.
Étimo: sub., (cl. 4) ovipako ‘bens’.

Obs. Aférese da vogal inicial ‘o-‘ em vipaco.

PIPOQUÊ: sub., Feijão (AM); PIPOQUÊ, TIPÓQUE: sub., Feijão, Milho; PIPOQUE: sub., Feijão (MV); TIPOQUÊ:
sub., Feijão (ESP).
[?] port. pipoca  pipoquê < tchi-pokê < otchi-poke (cl. 7) ‘feijão’ umb [?].
tipóque < o-tchi-poke (cl. 7) ‘feijão’ umb.
Étimo: sub., (cl. 7) otchi-poke ‘feijão’.

Obs. É o único caso em que [tʃ] > [p], há a possibilidade de assimilação do fonema [p] da segunda sílaba ou,
como sugerido, influência analógica do português ‘pipoca’, de origem tupi (in Houaiss eletrônico, 2009).

PUPIÁ ONDACA: sub., Falar na língua dos pretos (AM).


port. v. –ar  pupiá < pupya < oku-popya (cl. 15) ‘falar’ umb.
ondaca < o-ndaka (cl. 9) ‘palavra’ umb.
Étimo: v., (cl. 15) (oku-)popya ‘falar’.
sub., (cl. 9) on-daka ‘palavra’; ‘voz’.

Obs. São dois itens lexicais distintos, mas por ocorrerem juntos em Machado Filho (1985) e terem sido ambos
verificados somente em umbundo, foram tratados na mesma entrada. Aférese do prefixo da cl. 15 ‘oku-‘ em
oku-popya. Alçamento de o>u.

SENGUÊ: sub., Mato (AM); ASSENGUÊ: sub., Banheiro (ESP).


senguê < o-senge (cl. 3) ‘mato’ umb.
assenguê < o-senge (cl. 3) ‘mato’ umb.
Étimo: sub., (cl. 3) o-senge ‘mato’

Obs. Aférese de ‘o-‘. Abaixamento o>a. Percebe-se também a ocorrência de diástole.

TIAPOSSOCA: adj., Coisa boa (AM).


- tchya- (con. pron. cl. 7)  tiapossoca < *tchiposoka < tchi- (cl. 7) + posoka (adj) ‘bom’ umb.
tiapossoca < *tchyaposoka < tchi-a- (cl. 7+GEN) + posoka (adj.) ‘bom’ umb.
Étimo: adj., (cl. 7) tchya-posoka ‘bom’.

151
Obs. A forma encontrada poderia ser explicada por analogia à forma do genitivo (pref. pron. de cl. + a),visto
que, em umbundo, o adjetivo exige somente um prefixo pronominal de classe, como na forma reconstruída
*tchi-posoka, segundo dados de Schadeberg (1990). No entanto, Valente (1964, p. 116) indica dados
semelhante à nossa segunda reconstrução.

URUNDUNGO: sub., Pimenta (AM).


urundungo < olu-ndungu (cl. 11) ‘pimenta’ umb.
Étimo: sub., (cl. 11) olu-ndungu ‘pimenta’.

Obs. Alçamento o>u.

VIGONGO, VICONGO: sub., Torresmo (AM).


vicongo < *vi-kango < *vi-kangwa < ovi-kangwa (cl.4) ‘resíduo da banha após extraída a gordura’ umb.
vigongo < vicongo AM
Étimo: sub., (cl. 4) ovi-kangwa ‘Torresmo’

Obs. Aférese de ‘o-‘ no prefixo da classe 4 ‘ovi-‘. Sonorização de [k]>[g]. Monotongação do ditongo [wa] >
[o]/[ʊ].

VISSUNGO: sub., Cantigas (AM/MV).


vissungo < ovi-sungo (cl. 4) pl. ← otchi-sungo (cl. 7) ‘canto’ umb.
Étimo: sub., (cl.4) ovi-sungo ‘cantos’.

Obs. Aférese de ‘o-‘.

2. Forma igual ou semelhante, significado distinto.

ATANHARA: adj., Alto (AM); OTAIÁ, OTAINHA: sub., Dia (MV).


atanhara < *a-tanha-la < a-tanha (cl. 6) ← u-tanha ‘raio ou calor do sol’ (cl. 3) umb. [?]
‘atanhara ucumbi’
atanhara < *a-tanha-la < *a-tanha-lya < *a-tanha lya- ukumbi < a-tanha (cl. 6) ‘raios ou calor do sol’
+ lya (cl. 5+GEN) + e-kumbi (cl. 5) ‘sol’ umb.
otaiá < *o-taya < o-tanha (cl. 3) ‘dia’ umb.
otainha < o-tanha (cl. 3) ‘dia’ umb.
Étimo: sub., (cl. 6) a-tanha ‘raio ou calor do sol’; ‘dia’ umb. (Silva Porto).
sub., (cl. 3) o-tanha ‘dia’ umb. (Silva Porto).
sub. (cl. 3) o-tanha + (cl. 5+GEN) lya ‘dia de...’

Obs. Os étimos sugeridos são o-tanha (cl. 3) ‘dia’, singular, ou seu plural a-tanha (cl. 6). A sílaba final ‘-ra’ seria
um acréscimo (paragoge) à palavra causado pelo genitivo, como indicado na segunda proposta de análise. O
exemplo é encontrado em Machado Filho (1985, p. 126): Atanhara ucumbi u atundá ‘Mulher o sol está alto’ . As
demais formas se aproximam do étimo, ocorrendo uma vocalização de [ɲ] > [j] em otaiá, além de epêntese de
[i] em otainha.

152
COMBOÊRO: sub., Grota (AM); COMBOÊRO: sub., Cambão (ESP).
comboêro < *komboelu < k'ombwelu (adv.) ‘para baixo’ umb.
adv., k’ombuelu >> sub., comboêro ‘grota’
Étimo: adv., k’ombuelu ‘para baixo’.

Obs. Há uma mudança na classe gramatical dos itens adv. > sub. ‘Para baixo’ passa a significar ‘um lugar baixo’,
‘uma caverna’. A acepção de cambão não pôde ser melhor investigada na comunidade, mas aparentemente
significa uma ladeira ou descida. Os dicionários analisados já apresentam a forma k’ombwelu ‘abaixo’ ← ku
(LOC cl. 17) + ombwelu ‘terra baixa’.

COROFECA: adj., Ruim (AM).


corofeca < *kolofeka < ku-olo-feka (cl. 10) ‘para as nações’ ← ku (LOC cl. 17) ‘para’ + o-feka (cl. 9)
‘nação’ umb.
Étimo: pref. (cl. 17) ku- + sub. (cl. 10) olo-feka ‘em direção às nações’.

Obs. Sem maiores dados, uma reconstrução do deslocamento semântico do item, possivelmente metafórico,
pode soar fantasiosa, logo não elaboramos uma proposta.

COVICANDA: v., Escrever, conversar (AM).


covicanda < k-ovikanda < ku + ovikanda (cl. 4) ‘cartas’ ← ku (LOC cl. 17) ‘para’ + u-kanda (cl. 3)
‘carta’.
k’ovikanda ‘para as cartas/letras’ >> covicanda ‘escrever’
Étimo: pref. (cl. 17) ku- + sub., (cl. 4) ovi-kanda ‘para as cartas’.

MUCAIANGUE: sub., Arma de fogo (MV).


mucaiangue < *o-mukayange omukoyange omoko yange ← omoko (cl. 9) ‘faca’ + -ya- ( cl.
9+GEN) + -nge (POSS 1 SG) ‘meu’ umb. [?]
Étimo: sub., (cl. 9) omoko-yange ‘minha faca’.

Obs. Aférese de ‘o-‘. Alçamento de o>u. Abaixamento de o>a. Há deslocamento de sentido, ‘minha faca’ >>
‘minha arma’ >> ‘arma de fogo’.

ONINGA: sub., Mau cheiro (AM); ONINGUE, ONINGA, ANENGUE: sub., Mau cheiro (MV).
umb. (cl. 9) o-  oninga a-ninga (cl. 6) ‘fezes’ umb.
aninga ‘fezes’ >> oninga ‘mau-cheiro’
Étimo: sub., (cl. 6) a-nin ga ‘fezes’.

Obs. Alçamento de ‘a-‘ (cl. 6) para ‘o-‘ (cl. 9).

ONJERÊ: sub., Cabelo (AM).


onjerê < *on-djele (cl. 9) sing. ← olo-ndjele (cl. 10) pl. ‘barba’ umb.
onjerê ‘cabelo da barba’ >> onjerê ‘cabelo’
Étimo: sub., (cl. 9) o-ndjele ‘barba’.

153
Obs. A forma olongere ocorre na comunidade do Jatobá.

ORONGANJE: sub., Cachaça (AM); ORANGANJA, RONGONJA, ORONGONJA, URUGANJA, ORUNGANJA: sub.,
Aguardente, cachaça (MV).
oronganje < olo-ngandja (cl. 10) pl. ← o-ngandja (cl. 9) ‘cabaça’ umb.
oranganja < olo-ngandja (cl. 10) pl. ← o-ngandja (cl. 9) ‘cabaça’ umb.
rongonja < *o-longandja < olo-ngandja (cl. 10) pl.
umb. (pref. cl. 11) olu-  orungandja < *olo-ngandja (cl. 10) pl. [?]
uruganja < orunganja MV
olo-ngandja ‘vasilhas para líquidos’ >> oronganje ‘líquido que se toma’
Étimo: sub., (cl. 10) olo-ngandja ‘cabaças’.

Obs. Abaixamento de o>a em ‘oranganja’. Mudança de a>e em posição final (alçamento [a]>[ɪ] ?; [ə]> [ɪ]?).
Possível deslocamento de sentido metonímico.

OTATARIÔVE: exp., Insulto máximo (AM).


otatariôve < *o-tate lyove ‘teu pai’ ← tate (cl. 1) ‘pai’ + - ly a- (cl. 5+GEN) + -ove (POSS 2SG) ‘teu’
umb.
Étimo: sub., (cl. 9) otate-lyove ‘teu pai’.

Obs. Apesar de otata ser identificado em quimbundo e umbundo, a forma do sufixo possessivo somente foi
verificada em umbundo. Segundo Schadeberg (1990, p. 12) a forma táté ‘pai’, ocorre sem o aumento, sugere-se
uma mudança analógica à cl. 9.

QUIUÁ: adv., Muito (MV).


quimb. (pref. cl. 7) ki-  quiuá < *tchi-wa (cl. 7) ← wa (adj.) ‘bom’ umb.
-wa ‘bom, bonito’ >> o jambá tá quiuá ‘o diamante está bom; tem muito diamante’ >> quiuá ‘muito’.
Étimo: adj. (cl. 7), tchi-wa ‘bom’.

Obs. A forma parece sofrer influência do prefixo da cl. 7 do quimbundo ‘ki-‘. O adjetivo –wa foi somente
encontrado em umbundo.

TIADIAMBE: sub., Dia Santo (AM).


tiadiambe < *tchya-ndjambi < tchya- (cl. 7+GEN) + ndjambi (cl.?) ‘deus’ umb.
tchya-djambi ‘de Deus’ >> tiadiambe ‘coisa santa’ >> tiadiambe ‘dia santo’ [?]
Étimo: adj., (com. nom. cl. 7) tchya- + (cl. 7) ndjambi ‘de deus’.

Obs. A forma ndjambi ‘deus’ ocorre em Le Guennec. tchya, cl. 7+ GEN, cria a forma tchya-ndjambi ‘de deus’, os
fonemas do umbundo são preservados, a saber [tʃ] e [dʒ].

VINÁ: sub., Remédio levado pelo carunjinjim (membro do grupo dos Catopês) durante a festa do Rosário (MV).
viná < ovi-na (cl. 4) ‘coisas’ ← otchi-na (cl. 7) ‘coisa’ umb. [?]
ovi-na ‘coisas’ >> viná ‘qualquer coisa/alguma coisa específica’ >> viná ‘remédio dos catopés’ [?].

154
Étimo: sub., (cl. 4) ovi-na ‘coisas’.

Obs. Aférese de ‘o-‘ da classe 4 ovi-. O deslocamento de sentido é uma sugestão.

VISSEPA: sub., Palha (AM).


vissepa < o-vi-sapa (cl. 4) pl. ← oci-sapa (cl. 7) ‘ramo’ umb.
Étimo: sub., (cl. 4) ovi-sapa ‘ramos’.

Obs. Aférese de ‘o-‘ da classe 4 ovi-. Alçamento de [a]>[e]. Parece-nos possível que o deslocamento semântico
teria ocorrido por uma generalização do termo: ‘Quaisquer ramos’ >> ‘palha’.

3. Forma distinta, significado igual ou semelhante.

CAMUQUENGUE: sub., Moleque (AM).


camuquengue < *ka-mukendje < *oka-mukwendje ← omu-kwendje ← u-kwendje ‘rapaz’ (cl. 1) umb.
[?]
Étimo: sub., (cl. 12) *ka-(mu)kwendje ‘menino’.

Obs. A forma omu-kwendje não foi encontrada em umbundo, entretanto Schadeberg (1990, p. 10) lista ‘omu-‘
como forma irregular nasal. Valente (1964, pp. 80-81) afirma ser esta um desmembramento da classe u (cl. 1).
Sugere-se, assim, a forma omu-kwendje, mesmo não se encontrando dicionarizada, mas por relação a omu-nu
(cl. 1) ‘homem’. A palavra ainda conteria o pref. nominal da classe 12 ‘ka-‘. A transformação [ndʒ]>[ŋg] ocorre
também em olo-sandje > arassangue. Machado Filho sugere outras possibilidades de etimologia,
desconsideradas aqui por envolverem um maior deslocamento semântico (1985, p. 129). De qualquer modo,
entendemos que nossa hipótese se enfraquece diante das várias alterações.

OMINDES: pron. pess., Eu (AM).

omindes < *omindi < *ame-ndi < ame (pron. pess. 1SG) ‘Eu’ + ndi- (pref. pron 1SG) ‘Eu’ umb.
Étimo: pron. pess. 1SG ame + pref. pron. 1SG ndi-

Obs. Sugere-se a composição de uma forma a partir da construção ‘ame ndi + verbo’ em umbundo. Não
conseguimos elaborar uma explicação satisfatória para a adição de /-s/ final. Alçamento de a>o.

b) Quimbundo

1. Forma e significado iguais ou semelhantes ao étimo

CACUNDA: sub., Costas (MV).


cacunda < ka-kunda (cl. 12) ‘giboso’ quimb.
Étimo: sub., (cl. 12) ka-kunda ‘giboso, corcunda’.

155
CANENGUE, CANDENGUE: sub., Menino, criança (MV).
canengue < * ka-nenge < ka-ndenge ← ndenge ‘criança’ (Cl.9) quimb.
candengue < ka-ndenge ← ndenge ‘criança’ (Cl.9) quimb.
Étimo: sub., (cl. 12) ka-ndenge ‘criança’.

MBANGA: sub., Membro Viril (AM).


mbanga < mbanga (cl. 9) ‘testículo’ quimb.
Étimo: sub., (cl.9) mbanga ‘testículo’

OMENHÁ, MENHÁ: sub., Água (AM); OMENHA, OMENHÁ, OMENGUE, NENHA: sub., Água (MV); OMENHA: sub.,
Cocô (ESP).
omenhá o menha ‘a água’ < o (DET) + menha (cl. 6) ‘‘água’’ quimb.
menhá < menha (cl. 6) ‘água’ quimb.
omengue < o (DET) + menha (cl. 6) ‘‘água’’ quimb.

Étimo: sub., (cl. 6) o menha ‘água’ quimb.

Obs. Classe 6 indicada em Xavier (2010, p. 138), Ma-enia. Há a manutenção do aumento ‘o’, que no quimbundo
tem a função de determinante (CHATELAIN, 1964 [1889]; XAVIER, 2010, p. 85). Velarização de [ɲ]>[ŋg],
omengue.

QUIOUA, QUIÔA: sub., Bobo (MV).


quioua < kióua (cl. 7) ‘estúpido’ quimb.
Étimo: sub., (cl. 7) kióua ‘estúpido’.

2. Forma igual ou semelhante, significado distinto.

CAMBROCOTÓ: sub., Termo injurioso (AM); BROCOTÓ: sub., Caminho ruim. (ESP).
cambrocotó < *ka-mborokotó < *ka-mbolokoto < *ka-ximbolokoto [?] ← ximbolokoto ‘verruga’ (cl.
9) quimb. [?]
brocotó < *borokotó < *mbolokoto < *xi-mbolokoto < ximbolokoto ‘verruga’ (cl. 9) quimb.
Étimo: sub., (cl. 12) ka-mbolokoto ‘verruguinha’.
sub., (cl. 9) (xi)-mbolokoto ‘verruga’.

Obs. Não há sugestão do deslocamento semântico do termo. A síncope de [o] pode ser explicada pelo
deslocamento de acento para a última sílaba, diástole (*mbolokóto > mblokotó> brocotó). Há apagamento da
pré-nasal em [mb]>[b].

CATIMBAR: v., Causar confusão (MV).


port. v. -ar  catimbar < catimba (sub.) port < ka-ximba (cl. 12) ‘engodo’ quimb.
catimba ‘engodo’ >> catimbar ‘enganar’ >> catimbar ‘causar confusão’ [?]
Étimo: sub., (cl. 12) ka-ximba ‘engodo’.

156
Obs. Palatalização de [ʃ] > [tʃ]. Provavelmente uma analogia da forma já corrente no português catimba, termo
coletado como explicação de um item ocorrente em canto vissungo.

MATOMBÔ: sub., Mandioca (AM); MATOMBO: sub., Cabeça; MUTOMBO, MUTONGO, MOUTOMBOU, MATOMBÔ:
sub., Mandioca; MATOMBÔ: sub., Mandioca (ESP).
matombô < *oma-tombo (cl.2) ? < u-tombo (cl. 3) ‘mandioca’ umb. [?]
(cl. 6) pl. ma-  matombô < mutombo (cl. 3) ‘mandioca de molho’ quimb. [?]
matombô < ma-túmbu (cl. 6) ← ri-tumbu (cl. 5) ‘montículo onde se planta a mandioca’ [?] quimb
Étimo: sub., (cl. 3) u-tombo ‘mandioca’ (umb.)
sub., (cl. 3) mu-tombo ‘mandioca de molho’.
Sub., (cl. 6) ma-túmbu ‘montículo onde se planta a mandioca’.

Obs. Nenhum dos étimos encontrados em quimbundo significa diretamente ‘mandioca’, mas estão
relacionados ‘mandioca de molho’ ou ‘montículo onde se planta a mandioca’. Demos preferência a uma análise
que favoreça o quimbundo pela presença de ‘ma-‘ (cl. 6) plural do quimbundo. Há velarização de [mb]>[ŋg].

PARONGO: sub., Carneiro (AM).


parongo < palánga (cl. 9) ‘veado’ quimb.
Étimo: sub., (cl. 9) palánga ‘veado’.

Obs. Alçamento de ‘a>o’.

QUIBA: sub., Trouxa; Monte de roupas (AM; ESP).


quiba < ki-ba (cl. 7) ‘odre’ quimb.
kiba ‘odre’ >> quiba ‘recipiente para guardar coisas >> quiba ‘trouxa de roupas’.
Étimo: sub., (cl. 7) ki-ba ‘odre’

QUIPUNGO: sub., Chapéu (AM); QUIPUNGO, TIPUNGÁ, QUIPONGO: sub., Chapéu (MV).
quipungo < *ki-búngo < *ki-búnga (cl. 7) ‘chapéu’ quimb. [?]
quipongo < *ki-bongo < ki-búnga (cl. 7) ‘chapéu’ quimb. [?]
quipungo < *ki-bungu (cl. 7) ‘cloaca’ quimb. [?]
umb. (cl. 7) otchi  tipungá < *ki-punga < *ki-búnga (cl. 7) ‘chapéu’ quimb. [?]
Étimo: sub., (cl. 7) ki-búnga ‘chapéu’.
ou
sub., (cl.7) ki-bungu ‘cloaca; vaso de dejetos’.

Obs. Castro (2001, p. 184) sugere o étimo ki-bungu (cl. 7) ‘vaso de dejetos carregado na cabeça’, logo a
extensão semântica ‘chapéu’. Além de incluir o dado sugerido por Castro (2001), sugerimos aqui a forma ki-
búnga (cl. 7) ‘chapéu’, mesmo que exija maior transformação fonética. A palatalização em tipungá poderia ser
convergência com a classe 7 ‘otchi-‘ do umbundo.

157
c) Quicongo

1. Forma e significado iguais ou semelhantes ao étimo

NPUCO: sub., Rato (AM).


npuco < mpuku (cl. 9) ‘rato’ quic.
NC (consoantes oclusivas antecedidas por consoantes pré-nasalisadas)  npuco puku (cl. 9) ‘rato’
quimb. [?]
Étimo: sub., (cl. 9) mpuku ‘rato’

Obs. Há poucas formas encontradas somente em quicongo, o que nos leva a considerar uma mudança analógica
afetada por formas NC (nasal + consoante). Entretanto, como nossos dados do quicongo não foram exaustivos
a hipótese é enfraquecida.

NANGUÊ. pron. pess. Você (MV).


nanguê < *ange < nge (2 SG) ‘tu’ quic. [?]
Étimo: pron. pess. 2SG. nge ‘tu’.

Obs. Única forma verificada mais próxima ao item coletado em Milho Verde, que exigiria uma prótese de [na-].

d) Quimbundo/Umbundo

1. Forma e significado iguais ou semelhantes ao étimo

ALUME: sub., Homem (AM).


alume < alume (cl. 2) ← ulume (cl. 1) ‘homem’ umb.
alume < o-lume (cl. 1) ‘homem’ umb. (Silva Porto).
alume < alume (cl. 2) ← mu-lume (cl. 1) ‘marido’ quimb.
Étimo: umb. sub., (cl.2) alume ‘homens’.
quimb. sub., (cl. 2) alume ‘homens’.
umb. sub. (cl. 1) olume ‘homem’ (Silva Porto).

Obs. As duas formas seriam possíveis, no entanto, devido a outros exemplos de alçamento o>a, adotamos a
possibilidade de transformação a partir do étimo oferecido em Silva Porto.

ANGANA: sub., Senhor, Senhora (AM).


angana < angana ‘senhor’ umb.
angana < ngana (Cl. 9) ‘senhor’ quimb.
Étimo: umb. sub., (cl. 2) angana ‘senhor’ (Silva Porto)
quimb. sub., (cl. 7) ngana ‘senhor’.

158
Obs. A forma mais comum nos dicionários de umbundo seria ongala com um [l] nasal. Silva Porto oferece o

item anganna que poderia servir como étimo. A forma do quimbundo exigiria ou uma prótese vocálica ou
alteração do aumento o>a.

ARENGÁ: sub., Tarefa (AM); ARENGA: sub., Fofoca; ARENGUEIRO: sub., Fofoqueiro (ESP).
arengá < *a-lenga < *o- (cl. 1) + linga ‘ ele faz’ ← oku-linga (cl. 15) ‘fazer’ umb. [?]
arengá < *a-lenga (cl. 2) ‘searas’ quimb. ? mu-lenga (cl. 3) ‘seara’ quimb. [?]
Étimo: umb. v., (cl. 15) o-linga ‘ele faz’ (Silva Porto)
quimb. sub., (cl. 3) a-lenga ‘searas, terras cultivadas’.

Obs. Os étimos se relacionam mais ao significado encontrado em AM ‘tarefa’. Não foi possível encontrar um
étimo mais ligado ao significado de ‘fofoca’. A forma mulenga do quimb. exigiria transformações maiores para
se adequar à forma coletada (exigiria o plural de mu- (cl. 3), em a- (cl. 2), e não em mi- (cl. 4), plural comum da
língua)e é, portanto, enfraquecida como hipótese. O deslocamento semântico encontrado na hipótese de
reconstrução do étimo em umbundo também enfraquece a proposta.

ARIRÊ: v., Contar; sub., Canto.


arirê < *a-rilé (IMP cl. 6) ← oku-rila (cl. 15) ‘chorar’ umb. [?]
arirê < *o-rilé (IMP cl. 1) ← oku-rila (cl. 15) ‘chorar’ umb. [?]
arirê < *a-rile (IMP cl. 1) ‘chore ele’ ← ku-ríla (cl. 15) ‘chorar’ quimb. [?]
Étimo: umb. v., (cl. 15) a-rilé ‘cl.-6 chore/cl.6- cante’ (Silva Porto)
quimb. v., (cl. 15) a-rile ‘cl. 1 - chore’.

Obs. A forma conjugada do verbo parece servir de étimo para o item analisado. Schadeberg (1990, p. 35)
informa que uma forma com final em [é], tom alto, é possível em imperativos que possuam um índice de objeto
(infixo de concordância anafórica com o objeto). No entanto, não se encontra vestígio do índe de objeto na
forma analisada. Chatelain (1964 [1889], p. 72) sugere forma parecida em quimbundo na terceira pessoa ou
classe 1.

CACHUPÁ (AM); CUXIPÁ: v., Fumar (ESP).


port. chupar [?]  cachupá < *ka-xupa < *ka (cl. 12) -xipa < (o)ku-xipa (cl. 15) ‘fumar’ quimb./umb. [?]
port. v. -ar  cuxipá < (o)ku-xipa (cl. 15) ‘ ‘fumar’ ‘ umb./quimb.’
Étimo: umb. v., (cl. 15) oku-chipa ‘cachimbar, chupar’ (Silva Porto).
quimb. v., (cl. 15) ku-xipa ‘fumar’.

Obs. A forma mais próxima foi coletada na comunidade do Espinho, Gouveia, e exigiria pouca transformação. A
forma de Aires foi retirada de um exemplo de frase Ovê a ô vissepa cachupá ombiá (trad. ‘Dê-me você uma
palha para eu fazer um cigarro’) (1985, p. 134). Sugere-se analogia com o port. ‘chupar’, um dos possíveis
significados do verbo (o)ku-xipa nas línguas estudadas.

CAMBAMBE. sub.,Veado (AM).


cambambe < ka-mbambi (cl. 12) ← (o)mbambi ‘veado’ (Cl. 9) quimb./umb.
Étimo: quimb./umb. sub., (cl. 12) ka-mbambi dim. ‘veado’

159
Obs. As duas formas seriam étimos possíveis.

CANDIMBA: sub., Coelho (AM); CANDIMBA, COANDIMBA: sub., Coelho (MV).


candimba < ka-ndimba ‘coelhinho’ (Cl. 12) quimb./umb.
Étimo: quimb./umb. sub., (cl. 12) ka-ndimba dim. ‘coelho’.

CANJIRA, CANJIRAUÊ: sub., Passarinho (MV).


canjira < ka-njila (cl. 12) ‘passarinho’ ← (o)ndjila (cl. 9) ‘pássaro’ umb./quimb.
canjirauê < ka-njila (cl. 12) ‘passarinho’ + auê (rima utilizada em cantos)

Étimo: quimb./umb. sub., (cl. 12) ka-ndjila dim. ‘pássaro’

Obs. ‘-auê’ é um recurso rítmico muito encontrado nos cantos da região de Milho Verde. Há paragoge do
recurso à forma canjira ‘passarinho’.

CANJONJO. sub., Beija-Flor (AM)


canjonjo < ka-ndjondjo ← ondjondjo ‘colibri’ (cl. 9) umb./ (quimb.?)
Étimo: umb. sub., (cl. 12) ka-ndjondjo dim. ‘colibri’.
quimb. sub., (cl. 12) ka-nzónzo dim. ‘pica-flor’.

Obs. Apesar da forma em umbundo estar mais próxima do item analisado, não consideramos a distinção [z]

≠[dʒ] suficiente para que uma forma fosse privilegiada. Há a possibilidade de variedades do quimbundo que

apresentem maior palatalização em zonas de contato com o umbundo.

CUSUCANAR, CASSÚ-CANÁ: v., casar (MV).


port. v. -ar  cusucanar < (o)ku-sokana ‘casar’ (cl. 15) quimb./umb.
cassúcana < *ka-sukana < (o)ku-sokana ‘casar’ (cl. 15) quimb./umb.
Étimo: umb. v., (cl. 15) oku-sokana ‘casar’.
quimb. v., (cl. 15) ku-sokana ‘casar’.

Obs. Todas as formas são afetadas pela morfologia verbal da conjugação em [-ar] do port.

COMBARO: sub., Lugar habitado (AM); CUMBARA, CUMBARI-NÊNE: sub., Comércio, cidade; CUMBARAIÊTO:
sub., Cidade grande (MV).
combaro < *kombala < ku-ombala ← ku (LOC cl. 17) + (o)mbala (cl. 9) ‘capital’ umb./quimb.
cumbara < * kumbara < ku-(o)mbala ← ku (LOC cl. 17) + (o)mbala (cl. 9) ‘capital’ umb./quimb.
cumbari-nêne < *kumbar-inene < *kumbara inene < ku-(o)mbala i-nene (adj. cl. 9) ← ku (LOC cl. 17) +
(o)mbala (cl. 9) ‘capital’ umb./quimb. + -nene (adj.) ‘grande’ umb./quimb.
cumbaraiêto < *kumbalaietu < ku-(o)mbala ietu (GEN+ POSS 1PL) ← ku (cl. 17 loc.) + ombala
(cl. 9) ‘capital’ quimb./umb. + -etu (POSS 1PL) ‘nosso(a)’ quimb./umb.
Étimo: umb. pref., (cl. 17) ku- + sub., (cl. 9) ombala ‘para a capital’.
quimb. pref., (cl. 17) ku- + sub., (cl. 9) mbala ‘para a aldeia, vila’.

160
Obs. Sugerimos que combara seja formada por um pref. loc. da classe 17 ‘ku-‘ + (o)mbala ‘cidade/vila’ em
umbundo e quimbundo. Pode ter havido preservação do aumento ‘o-‘ ou da vogal da classe 17 locativa ‘ku-‘.
Cumbaraiêto (lit. ‘para a nossa cidade’ >> ‘cidade grande’) pode ter originado a forma aiêto ‘grande’ encontrada
em Vogt & Fry.

CUATA: v., Pegar (AM).


cuata < (o)ku-kwata (cl. 15) ‘pegar’ quimb./umb.
Étimo: umb. v., (cl. 15) oku-kwata ‘pegar’.
quimb. v., (cl. 15) ku-kwata ‘pegar’.

Obs. Aférese da classe 15 do infinitivo ‘(o)ku-‘.

CURIACUCA: sub., Cozinheiro (AM); NACURUACUCUA: sub., Homem velho (MV).


umb./quimb. ‘comer’ (cl. 15) (o)ku-lya  curiacuca < *kulu akuka < *ukulu akuka < ukulu wa
kuka ← ukulu (cl. 1) ‘velho’ umb./quimb. + wa kuka (adj). ‘decrépito; velho; dos avós’ umb. [?]
curiacuca < *kulya akuka < kulya wa kuka ← (o)ku-lya (cl. 15) ‘comer’ umb./quimb. + wa kuka
(adj). ‘decrépito; velho’ umb.’
nacuruacucua < ma-kulu wa kukua < ma-kulu (cl. 2) ‘avós’ wa kuku adj. ‘velhos’ quimb.
Étimo: umb. v., (cl. 15) oku-lya/oku-dya ‘comer’.
quimb. v., (cl. 15) ku-rya/ku-dya ‘comer’.
ou
umb. sub., (cl. 2) a-kulu ‘velhos’.
quimb. Sub., (cl. 2) ma-kulu ‘avós’.
+
umb. (adj. cl. 1) wa kuka ‘decrepito, velho’
quimb. sub., (cl. 7) kuku ‘antepassado, avô’.

Obs. A forma wa kuka é sugerida em Wilson (1935) como adjetivo ‘decrépito’. Poderíamos sugerir que há uma
convergência das formas (a)kulu ya ‘velhos’ ≡ kulya ‘comer’, que tenha sido readaptada pelos falantes em
‘antepassados’ >> ‘cozinheiro’. akulu wa kuka poderia ainda significar ‘avós dos avós; velhos dos velhos; velhos
dos avós’, significando os antepassados.

CURIMA: sub., Serviço (AM).


curima < (o)ku-lima (cl.15) ‘lavrar’ quimb./umb.
Étimo: umb. v., (cl. 15) oku-rima ‘lavrar’ (Silva Porto).
quimb. v., (cl. 15) ku-rima ‘lavrar’.

FUNDANGA DE CAPECERE. sub., Peido fedido (MV).


fundanga (o)fundanga (cl. 9) ‘pólvora’ umb./quimb.
capecére < *ka-peseli < *ka (cl. 12) -pesela < *ku-pesela < oku-pesela (cl. 15) ‘entornar; dano’ umb.[?]
capecére < *ka-peseli < *ku-pusela < ku-busela (cl. 15) ‘assoprar’ quimb.[?]
fundanga de capecere ‘pólvora de soprar’ >> fundanga de capecere ‘cheiro da pólvora’ >> fundanga de
capecere ‘cheiro ruim’

161
Étimo: umb. sub., (cl. 9) o-fundanga ‘pólvora’.
quimb. sub., (cl. 9) fundanga ‘pólvora’.
+
umb. v., (cl. 15) oku-pesela ‘entornar, derramar’.
ou
quimb. v., (cl. 15) ku-busela ‘soprar’.

Obs. fundanga nos parece bem explicado. Sugerimos duas hipóteses para capecere, entretanto, apesar da forma
mais próxima do umbundo oku-pesela, o significado do étimo em quimbundo parece mais próximo em vista de
ocorrer item com significado semelhante na comunidade do Jatobá ocuperecê ‘assoprar’ (conforme visto no
quadro 1).

GUNGA, CUMBA, GONGO, GONGO TEIA: sub., Sino (MV).


gunga < *n-gunga (o)ngunga (cl. 9) ‘sino’ quimb./umb.
cumba < cunga < gunga MV
Étimo: umb. sub., (cl. 9) o-ngunga ‘sino’.
quimb. sub., (cl. 9) ngunga ‘sino’.

Obs. A forma mais próxima do étimo gunga teria originado as demais. Há aférese da consoante pré-nasal
[ŋg]>[g]. Após o apagamento da consoante pré-nasal, há a possibilidade de ensurdecimento de [g]>[k],
conforme visto em cumba. Ainda ocorre a transformação [ŋg]>[mb].

INJARA: sub., Fome (AM).


injara < *ndjala < (o)ndjala (cl. 9) ‘fome’ umb./(quimb. ?)
Étimo: umb. sub., (cl. 9) o-ndjala ‘fome’.
quimb. sub., (cl. 9) nzala ‘fome’.

Obs. Prótese de vogal inicial para manutenção da pré-nasal [ndʒ].

ITACO: sub. Assento, ânus (AM).


itaco < e-taku (cl. 5) ‘nádegas’ umb.
itaco < ri-taku (cl. 5) ‘nádegas’ quimb.’ [?]
Étimo: umb. sub., (cl. 5) e-taku ‘nádegas’.
quimb. sub., (cl. 5) ri-taku ‘pólvora’.

Obs. O alçamento de [e]>[i] parece mais provável, favorecendo a forma em umbundo.

LAMBA: sub., Desgraça (AM); LAMBA: sub., Trabalho pesado (MV).


lamba < (e)-lamba (cl. 5) umb./quimb.
Étimo: umb. sub., (cl. 5) e-lamba ‘trabalho pesado’.
quimb. sub., (cl. 9) lamba ‘trabalho’.

Obs. No caso do étimo ser do umbundo elamba (cl. 5): [e]>[Ø].

162
MACUCO: sub., Mulher feia e velha (AM); MACUCA (O): sub., Mulher (homem) feia (o) e velha (o) (MV).
macuco < (o)ma-kuku (cl. 6) quimb. (cl. 2?) umb. ‘avós’.
Étimo: umb. sub., (cl. 2) oma-kuku ‘avós’ [?].
quimb. sub., (cl. 9) kuku ‘avô’.

Obs. Em umbumdo ‘oma-‘ é sugerido como forma irregular nasal da classe 2 plural. A forma plural de kuku (cl.
9) em quimbundo seria ji-kuku (cl. 10). Poderia ter havido uma regularização do plural para a classe 6 ‘ma-’ do
quimbundo.

MASSANGUE, ASSANGUE; MASSANGO, MASSANGRO, MASSÁMBI, MARSAME, MARSÁMBI: Arroz; Angu (MV).
massangue < ma-sangu (cl. 6) ‘alpiste’ quimb.
assangue < a-sangu (cl. 6) ‘milho painço’ umb.
massango < ma-sangu (cl. 6) ‘alpiste’ quimb.
massámbi < massangue MV [?]
Étimo: umb. sub., (cl. 6) a-sangu ‘milho-painço’.
quimb. sub., (cl. 6) ma-sangu ‘alpiste, sorgo’.

Obs. No agrupamento, há uma forma mais ligada ao umbundo, assangue, enquanto as demais parecem mais
ligadas ao quimbundo. Novamente ocorre a transformação [ŋg]>[mb]. A forma mais próxima ao étimo, ma-
sangu, teria originado as demais variações.

MBAMBE: sub., Frio (AM); BAMBI: sub., Frio (MV).


mbambe < (o)mbambi (cl. 9) ‘frio’ quimb./umb.
bambi < mbambi < (o)mbambi (cl. 9) ‘frio’ quimb./umb.
Étimo: umb. sub., (cl. 9) o-mbambi ‘frio’.
quimb. sub., (cl. 9) mbambi ‘frio’.

Obs. Preservação da pré-nasal em AM. Aférese da pré-nasal no dado de MV.

NDIMBA: sub., Cantador (AM).


ndimba < o-ndjimba (cl. 9) ‘cantor’ umb.
ndimba < ndjimbi (cl. 9) ‘cantor’ quimb.
Étimo: umb. sub., (cl. 9) o-ndjimba ‘cantor’.
quimb. sub., (cl. 9) ndjimbi ‘cantor’.

Obs. A vogal final favorece um étimo do umbundo, entretanto as formas são semelhantes o suficiente para se
construir uma hipótese possível para ambas.

NJEQUÊ: sub., Capanga (sacola) (AM).


njequê < on-djeke (cl. 9) ‘saco’ umb./(quimb. ?)
Étimo: umb. sub., (cl. 9) o-ndjeke ‘saco’.
quimb. sub., (cl. 9) nzeke ‘saco’.

163
OBINGÁ: sub., chifre; OMBINGÁ: Magro (AM).
(aum.) o-  obingá binga (o)mbinga (cl. 9) ‘chifre’ quimb./umb.
ombingá (o)mbinga (cl. 9) ‘chifre’ quimb./umb.
ombinga ‘chifre’ >> ombinga ‘magro como um chifre’ >> ombingá ‘magro’
Étimo: umb. sub., (cl. 9) o-mbinga ‘chifre’.
quimb. sub., (cl. 9) mbinga ‘chifre’.

Obs. Aférese da pré-nasal em obingá ‘chifre’ AM, porém sua manutenção em ombingá ‘magro’ AM. Há a
possibilidade de que a distinção tenha surgido para eliminar a homofonia.

OCHITO: sub., Carne (AM); OXITO: sub., Porco; carne; OXITA, OSITO: sub., carne (MV).
ochito o xitu ‘a carne’ ← o (aum.) + xitu (cl. 9) ‘carne’ quimb. [?]
umb. ‘carne’ (cl. 9) ositu  oxitu xitu (cl. 9) ‘carne’ quimb. [?]
ochito (o)xito (cl. 9) ‘carne’ quimb./umb.
osito < ositu (cl. 9) ‘‘carne’’ umb.’
Étimo: umb. sub., (cl. 9) o-xitu/o-situ ‘carne’.
quimb. sub., (cl. 9) xitu ‘carne’.

Obs. A forma ositu (cl. 9) ‘carne’, mais encontrada nos dicionários de umbundo, co-ocorre com outras variações
em MV. Silva Porto indica uma forma mais palatalizada chito, óchito, onde ch = [tʃ], aproximando as formas
cognatas em ambas as línguas, umbundo e quimbundo.

OÍQUE: sub., Rapadura (AM); UÍQUE, OÊKI: sub., Rapadura (MV).


oique < wiki (cl. 14) ‘mel’ quimb. [?]
oíque <*o-iki < o-wiki (cl. 3) umb. [?]
uíque < wiki (cl. 14) ‘mel’ quimb.
Étimo: umb. sub., (cl. 3) o-wiki ‘mel’.
quimb. sub., (cl. 14) wiki ‘mel’.

Obs. Aférese da vogal inicial em umbundo o-wiki (cl. 3). Em AM, a mudança [w] > [o] pode ter ocorrido por
regularização analógica à classe 9 do umbundo. Em oêki MV, há abaixamento do ditongo inicial [wi] > [oe].

ONEFE: sub., Vulva, órgão sexual feminino (MV).


onefe o nefe ← o (DET) + nefe (cl. 9?) ‘vagina’ quimb.
onefe < onefa (cl. 9 ?) ‘vagina’ umb.
Étimo: umb. sub., (cl. 9) o-nefe ‘vagina’.
quimb. sub., (cl. 9) nefe ‘vagina’.

Obs. A forma do quimbundo com a presença do aumento ‘o-‘ se aproxima do item analisado. Ressaltamos que
este item ocorre em uma construção perifrástica, andambe de onefe (lit. mulher de vagina, ‘prostituta’), na qual
o primeiro item se relaciona mais facilmente ao umbundo.

ONGORÓ: sub., Cavalo; Égua (AM); ONGORÓ. Cavalo; Porco [?] (MV).
ongoró < (o)ngolo (cl. 9) ‘zebra’ quimb./umb.

164
Étimo: umb. sub., (cl. 9) o-ngolo ‘zebra’.
quimb. sub., (cl. 9) ngolo ‘zebra’.

ONJUNDO: sub., Marrão (AM)


onjundo < o-ndjundo (cl. 9) ‘martelo’ umb./(quimb. ?)
Étimo: umb. sub., (cl. 9) o-ndjundo ‘martelo’.
quimb. sub., (cl. 9) nzundu ‘martelo’.

OTATA: sub., Pai (AM); TATA: sub., Pai (MV).


otata < o tata o (DET)+ tata (cl. 9) ‘pai’ quimb.
Quimb. ‘‘pai’’ tata  otata < o-tate (cl. 9 ?) ‘pai’ umb. [?]’
Étimo: umb. sub., (cl. 9) o-tate ‘pai’.
quimb. sub., (cl. 9) tata ‘pai’.

Obs. A forma tata (cl. 9) do quimbundo se aproxima mais do item analisado. No entanto, ocorrem formas
compostas com o sufixo possessivo de 1SG do umbundo, -nge (ver otatariangue AM).

OTOMBÔ: sub., Farinha de Mandioca (AM); OTOMBO: Farinha de Mandioca (MV).


otombô < otombo (cl. 3 ?) ‘‘mandioca’’ umb. [?]
otombô < utombo (cl. 3) ‘‘mandioca’’ umb [?]
otombo ‘mandioca’ >> otombo ‘farinha de mandioca’  utumbu (cl. 14) ‘farelo’ quimb. [?]
Étimo: umb. sub., (cl. 3) o-tombo ‘mandioca’.
quimb. sub., (cl. 14) utumbu ‘farelo’.

Obs. A forma se aproxima mais do étimo proposto em umbundo, em forma e significado, no entanto
encontramos o item utumbu (cl. 14) do quimbundo com o significado de ‘farelo’.

PAMBA: adj., Valentão (AM)


quimb. ‘mestre’ (cl. 9) mbamba  pamba < - pama (adj.) ‘forte’ umb. [?]
pamba < -pama (adj.) ‘forte’ umb.
Étimo: umb. adj. -pama ‘forte’.
quimb. sub., (cl. 9) mbamba ‘mestre’.

Obs. Aparentemente há uma convergência das formas em umbundo e quimbundo. Uma outra possibilidade
seria influência analógica do padrão nasal + consoante (NC) na forma do umbundo [mb]  pamba < pama.

QUIMBOTO: sub., Sapo (AM); XIMBOCO, QUIMBOTO: sub., Sapo (MV).


quimboto < ki-mboto (cl. 7) ‘rã’ quimb.
ximboco < tchi-mboto < otchim-boto (cl. 7) ‘rã’ umb. [?]’
Étimo: umb. sub., (cl. 7) otchi-mboto ‘sapo’.
quimb. sub., (cl. 7) ki-mboto ‘sapo’.
Obs. A consoante inicial palatalizada em ximboco se aproxima do étimo em umbundo otchi-mboto (cl. 7).

165
QUIMBIMBA, QUIVIMBA, QUINVIMBA: sub., Morto, defunto (MV).
quivimba < ki-vimba (adj. cl.7) ‘ que está intacto’ quimb.
quimb. ‘defunto’ (cl. 7) ki-mbi  quimbimba < quivimba MV
umb. ‘defunto’ (cl. 7) otchivimbe >> quivimba ‘morto’ MV [?]
quimb. ‘que está intacto’ (adj. Cl. 7) ki-vimba  quivimba < tchi-vimbe < otchi-vimbe (cl. 7) ‘morto’
umb. [?]
Étimo: umb. sub., (cl. 7) otchi-vimbe/otchi-bimbe ‘defunto’.
quimb. sub., (cl. 7) ki-vimba ‘que está intacto’.
e/ou
quimb. sub., (cl. 7) ki-mbi ‘defunto’.

Obs. A forma se aproxima do umbundo, otchi-vimbe (cl. 7), porém parece indicar relação com formas do
quimbundo, ki-mbi (cl. 7) ‘defunto’ e ki-vimba (cl. 7) ‘que está intacto’.

QUIMBUNDO: sub., Negro (AM).


quimbundo < ki-mbundu (cl. 7) ‘quimbundo’ quimb.
Étimo: umb. sub., (cl. 7) otchi-mbundu ‘quimbundo’.
quimb. sub., (cl. 7) ki-mbundu ‘quimbundo’.

Obs. A (des)palatalização não foi considerada um dado suficiente para marcar diferença de origem. Há formas
sugeridas por Silva Porto para o umbundo que apresentam a forma ‘ki-‘ (ki-sonde, ‘formiga’, por exemplo),
além de zonas de contato do quimbundo que apresentam formas mais palatalizadas, como registrado
recentemente pela Profa. Margarida Petter em projeto no Libolo, região do Kwanza Sul em Angola em que
alguns falantes de quimbundo se expressavam: [eme otʃimbundu] ‘eu sou quimbundo’.

SEMBA: sub., Dança dos Negros (AM).


semba < e-semba (cl. 5) ‘dança’ umb.
Étimo: umb. sub., (cl. 5) e-semba ‘dança’.
quimb. v., (cl. 15) ku-sesemba ‘dançar’.

Obs. A forma do umbundo se aproxima mais do item analisado. No entanto, há a possibilidade de aférese do
pref. da classe 15 ‘ku-‘, como visto em outros exemplos, e efeito do fenômeno da haplologia, no qual há o
apagamento da primeira sílaba (no caso: *-se-semba) quando seguida de sílaba igual ou iniciada pela mesma
consoante, mesmo que com vogais distintas, sendo a segunda sílaba tônica (VIARO, 2011, p.151).

SECURO: sub., Homem (AM).


securo < (o)sekulu (cl. 9) ‘ancião’ quimb./umb.
Étimo: umb. sub., (cl. 9) o-sekulu ‘velho’.
quimb. sub., (cl. 9) sekulu ‘ancião’.

UANGA: sub., Feitiço (AM); MUAMBA: sub., Feitiço (ESP).


uanga < (o)wanga) (quimb. cl. 14/umb. cl. 3) ‘feitiço’ quimb./umb.
muamba < *mwanga < ma-wanga (quimb. cl. 6) ‘feitiços’ quimb.
Étimo: umb. sub., (cl. 3) o-wanga ‘feitiço’.

166
quimb. sub., (cl. 14) wanga ‘feitiço’.

Obs. Caso muamba compartilhe do étimo plural de wanga → ma-wanga ocorre novamente a transformação
[ŋg]>[mb].

UARANGARA: sub., Morte (MV)


uarangara < wa-langala ‘caiu morto’ < u (cl.1) + a (REC) + langala ← (o)ku-langala (cl. 15) ‘cair
morto’ umb./quimb.
uarangara < wa-langala ‘caíste morto’ < o (2SG) + a (REC) + langala ← oku-langala (cl. 15) ‘cair
morto’ umb. [?]
uarangara < wa-langala ‘repousaste’ < u (2SG) + a (REC) + langala ← oku-langala (cl. 15)
‘repousar’ quimb. [?]
Étimo: umb. v. pret. (cl. 1) wa-langala ‘caiu morto’.
umb. v. pret. (2SG) ao-langala ‘caíste morto’.
quimb. v. pret (cl. 1/2SG) wa-langála ‘deitou/deitaste’.

Obs. Há deslocamento semântico ou morfossintático, transformando a forma verbal conjugada ‘ele morreu’, em
substantivo ‘morte’.

UCUMBI: sub., Sol (AM); CUMBI, OCUMBE, UCUMBE: sub., Sol (MV).
umb. o- (cl. 9)  ucumbi < kumbi < e-kumbi (cl. 5) ‘sol’ umb.
Étimo: umb. sub., (cl. 5) e-kumbi ‘sol’.
quimb. sub., (cl. 5) kumbi ‘sol’.

Obs. Novamente parece haver uma regularização dos prefixos de classe, neste caso para ‘u-‘ (cl. 3) umb., ou ‘o-‘
(cl. 9), tendo ocorrido um alçamento o>u.

2. Forma igual ou semelhante, significado distinto

AIÊTO: adj., Grande (MV).


MV cumbaraiêto → cumbar-aiêto  aiêto < y-etu (cl. 9) ← - etu (POSS 1PL) umb./quimb.
Étimo: umb./quimb. suf. poss. 1PL, -etu ‘nosso(a)’.

Obs. Apesar de – etu ocorrer nas três línguas que serviram para análise, o deslocamento semântico parece ter
surgido no item indicado em Vogt & Fry (cumbaraiêto (ku-mbala yetu, ‘lit. para nossa cidade’ >> cumbaraiêto
‘cidade grande’ >> cumbara ‘cidade’ + aiêto ‘grande’).

ATUNDÁ: adv., Alto (AM); TUNDÁ: sub., Roupa velha (ESP).


atundá < *u-atundá watundá ‘cl. 3 saiu’ u- (cl. 3) -a- (REC) + tundá (raiz verbal) ‘sair’ ← andambi,
ucumbi u atundá ‘Mulher, o sol está alto’ (lit. Mulher, o sol saiu).
atundá < *a-tundá (imp. cl. 6) ← oku-tunda ‘sair’ (cl. 15) umb. [?]
atundá < *a-tunda (IS cl. 6) ‘cl. 6 saiu’ ← oku-tunda ‘sair’ (cl. 15) umb. [?]
atundá < *a-tunda (IS cl. 2) ‘eles saem’ ← ku-tunda ‘sair’ (cl. 15) quimb. [?]

167
Étimo: umb. v., (cl. 15) a-tundá ‘saia’.
quimb. v., (cl. 15) a-tunda ‘cl. 6- saiu’.

Obs. Sugeriram-se algumas possibilidades para a origem da forma. A primeira hipótese parece mais provável a
partir do exemplo de AM. Criam-se duas possibilidades: Machado Filho talvez tenha interpretado a sentença
apenas na tradução aproximada dada pelo informante ou houve, de fato, um deslocamento semântico. Não
sugerimos uma hipótese para o deslocamento semântico em tundá ‘roupa velha’ ESP.

BINGA: sub., Isqueiro (AM; MV; ESP).


binga < mbinga < (o)mbinga (cl. 9) ‘chifre’ quimb./umb.
Étimo: umb. sub., (cl. 9) o-mbinga ‘chifre’.
quimb. sub., (cl. 9) mbinga ‘chifre’.

Obs. Há aférese da consoante pré-nasalizada [mb] > [b]. Castro (2001, p. 176) sugere o étimo mwinga do
quicongo.

CANGÚIA: sub. Termo injurioso ou cabalístico (AM).

cangúia < *ka-nguya < ka-ngoya (cl. 12) ‘cruelzinho’ ← o-ngoya (adj. cl. 9) ‘cruel; avarento’ umb.
cangúia < ka-nguya (cl. 12) ‘agulhinha’ ← (o)-nguya (cl. 9) ‘agulha’ umb./quimb.

Étimos: umb. sub. (cl. 9) o-ngoya ‘habitante das terras baixas a oeste dos ovimbundo’.
umb. adj. (cl. 9) o-ngoya ‘cruel; avarento’.
umb./quimb. sub. (cl. 12) ka-nguya ‘agulhinha’.

Obs. Registra-se em reportagem da Agência Angola Press (2004), um artigo de 02/09/2004 em que o Rev.
Gabriel Vinte e Cinco da Igreja Metodista Unida considera o termo ‘ngoia’ como pejorativo para os falantes de
quimbundo do Kwanza Sul, sugerindo outros termos para as variantes dialetais. ongoya ainda ocorre como um
adjetivo de qualidades negativas ou provável corruptela do port. agulha.

JAMBÁ: sub., Ouro (AM); JAMBÁ. sub., Diamante, Ouro (MV).


jambá < *djamba < *on-djamba < o-ndjamba (cl. 9) ‘elefante’ umb./(quimb. ?)
Étimo: umb. sub., (cl. 9) o-njamba ‘elefante’ [?].
quimb. sub., (cl. 9) nzamba ‘elefante’ [?].

Obs. Há aférese da consoante pré-nasal [mdʒ]>[ʒ]. O significado ‘elefante’ foi preservado em demais falares,
conforme visto na tabela 1, entretanto consideraríamos demasiadamente fantasioso criar uma proposta para o
deslocamento semântico.

e) Quicongo/Umbundo

1. Forma e significado iguais ou semelhantes ao étimo

168
ANDURO, ONDARA: sub., Fogo (AM); ANDARU [?], ANDURA, ANDERÚ: Fogo, fósforo, isqueiro (MV).
anduro < *andulu < ondalu (Cl. 9) ‘fogo’ umb.
ondara < *ondala < ondalu (Cl. 9) ‘fogo’umb.
andaru < *andalu < ondalu (Cl. 9) ‘fogo’umb.
andaru < *andalu < ndalu (cl. ?) ‘fogo’ quic.
andura < *andula < *ondala < ondalu (Cl. 9) ‘fogo’ umb. [?]
anderú < *andelu < *andalu < ondalu (Cl. 9) ‘fogo’ umb. [?]

Étimo: umb. sub. (cl. 9) o-ndalu ‘fogo’.


quic. sub. (cl. 7?) ndalu ‘fogo’.

Obs. Há diversas variações ocasionadas por diferentes transformações vocálicas. Mais importante para esta
análise é a prótese de uma vogal inicial (caso o étimo seja do quicongo), e o abaixamento de [o] > [a].

EXOA: adj., Bobo (MV).


exoa < *exova < *exiova < otchi-yova (adj. cl. 7) ‘estúpido’ umb.
exoa exoua ezóua (cl. ?) ‘estúpido’ quic.

Étimo: umb. adj. (cl. 7) otchi-yova ‘estúpido’.


quic. adj. (cl. ?) ezóua ‘estúpido’.

Obs. Haveria uma vocalização de [v]>[w] no caso de um étimo em umbundo. A palatalização ocorreria nas duas
formas quic. [z] > [ʃ]/umb. [tʃ]>[ ʃ].

2. Forma igual ou semelhante, significado distinto

OCARÁ: sub., Café (AM); OKARA: sub., Café (MV).


umb. o- (cl. 9)  ocará < e-kala ‘carvão’ (cl. 5) umb./(cl. ?) quic.
Étimo: umb. sub. (cl. 5) e-kala ‘carvão’.
quic. sub. (cl. ?) e kala ‘carvão’.

Obs. Regularização analógica (cl. 5) ‘e-‘> (cl. 9) ‘o-‘. O deslocamento semântico pode ter ocorrido por associação
à cor do café e do carvão.

f) Quimbundo/Quicongo

1. Forma e significado iguais ou semelhantes ao étimo

ANDÔ: sub., Morte (MV).


andô Ndô (cl. 9) ‘luto’ quimb.
andô < Ndô (cl. 9) ‘luto’ quic. [?]
Étimo: quimb./quic. sub., (cl. 9) ndô ‘luto, tristeza’.

Obs. Prótese de vogal inicial, mantendo a consoante pré-nasalizada.

169
MAVU, MARRU: sub., Cemitério; Terra (MV).
mavu < ma-vu (cl. 6) ‘terra, pó’ quimb./quic.
marru < mavu MV
Étimo: quimb./quic. sub., (cl. 6) ma-vu ‘terra, pó’.

Obs. À semelhança com alguns dialetos do nordeste brasileiro, ocorre a glotalização [v]>[h].

2. Forma igual ou semelhante, significado distinto

MALUNGO: sub., Da mesma idade; companheiro (AM); MALUNGO: sub., Nascidos no mesmo ano (ESP).
malungo < ma-lungu (cl. 6) pl. ← ulungu (cl. 14) ‘canoa’ quimb./quic.
Étimo: quimb./quic. (cl. 6) ma-lungu ‘barcos; navios’.

Obs. Adotamos a sugestão de Slenes (1992, p. 53) que propõe um deslocamento semântico para ‘meu
companheiro de barco’ com a vinda de africanos escravizados para a América. A palavra do umbundo sugerida,
lilungu ‘companheiro de sofrimento’, não foi identificada nas fontes pesquisadas, nem o significado de
‘companheiro’.

g) Quimbundo/Quicongo/Umbundo

1. Forma e significado iguais ou semelhantes ao étimo

ACURO: adj., Velho; sub., homem velho; MACURO, NACURO: sub., Homem (MV).
acuro < akulu (Cl. 2) ← ukulu (Cl. 1) ‘velho’ umb.
acuro < o-kulu (cl. 1)  ‘o-‘ (cl. 9) umb.
acuro < akulu (Cl. 2) ← mukulu (Cl. 1) quimb.
acuro < akulu (Cl. 2) quic.
nacuro < ankulu (cl. 2) quic.
macuro < makulu (Cl. 6) ← - kulu (Adj.) quimb. [?]
nacuro < macuro MV [?]
Étimo: umb. sub., (cl. 2) a-kulu ‘velhos’.
quimb. sub., (cl. 2) a-kulu ‘velhos’.
quic. sub., (cl. 2) a-kulu ‘velhos’; (cl. 2) a-nkulu ‘antepassados’.

Obs. Há possibilidade de que o étimo seja das 3 línguas analisadas. nacuro pode ter surgido tanto de uma
transposição (metátese) de [an]>[na], quanto de mudança de [m]>[n].

ANGANA-NZAMBI (Gananzambi, Nganazambi, Angana-Nzambi-Opungo, Zambiopungo, Anzambe, Anzambi,


Anzambê, Anganaiovê, Gananzambe): sub., Deus (AM); GANANZAMBI, INGANANZAMBI: sub., Deus (MV).

gananzambi < *gana-nzambi < ngana-nzambi ‘senhor deus’ (Cl. 9) quimb.


anganaiovê < angana + yove < angana (cl. 9) ‘senhor’ umb. + -ya- (cl. 9+GEN) + -ove ‘teu’ (suf.
POSS 2 SG) umb.

170
anzambê < *anzambi < *nzambi ‘deus’ (Cl. 9) quimb./quic.
zambiopungo nzambiopungo ← nzambi ‘Deus’ (Cl. 9) quimb./quic. + ‘o’ (DET) + pungo ‘onipotente’
(adj.) quimb.’
Étimo: quimb. /umb. sub., (cl. 9) ngana ‘senhor’.
quimb./quic./umb. sub., (cl. 9) Nzambi ‘deus’.
quimb. adj., -pungo ‘onipotente’.

Obs. A forma nzambi ≅ ndjambi pôde ser encontrada nas 3 línguas analisadas, entretanto angana aparece
somente em umbundo e quimbundo. O item é frequente nas regiões pesquisadas, o que pode justificar as
diversas alterações. Há preservação da consoante pré-nasal pela prótese de vogal inicial, ou aférese da mesma.

CALUNGA: sub., Mar (AM); CALUNGA: sub., Água; CALUNGO, CARUNGA: sub., Rio (MV); CALUNGA: sub., Raiz
medicinal (ESP).
kalunga < ka-lunga (cl. 12) ‘mar’ quimb./quic.
kalunga < oka-lunga (cl. 12) umb.
Étimo: quimb./quic./umb. sub., (cl. 12) (o)ka-lunga ‘mar’.

Obs. Calunga parece ter preservado outros significados nos cantos da região diamantina (Deus, morte etc.)
apesar de ser indicado pelos informantes apenas como água, mar, rio. Não elaboramos sugestões para calunga
‘raiz medicinal’.

CAMBA: sub., Amigo (MV).


camba < kamba ‘amigo’ (cl.12) quimb.
camba < e-kamba (cl. 5) umb./quic.
Étimo: quimb. sub., (cl. 12) kamba ‘amigo’.
quic./umb. sub., (cl. 5) e-kamba ‘amigo’.

Obs. No caso do étimo se originar do quicongo ou umbundo, há aférese da vogal inicial ‘e-‘.

CANGURO, ONGURO: sub., Porco (AM); ANGURU: sub., Porco; CANGURO, KANGURU: sub., Polícia, soldado
(MV).
canguro < ka-ngulu ← (o)ngulu (cl. 9) ‘porco’ quimb./umb./quic.
onguro < (o)ngulu (cl. 9) ‘porco’ umb./quimb.
Étimo: quimb./quic./umb. sub., (cl. 9) (o)ngulu ‘porco’.
quimb./quic./umb. sub., (cl. 12) (o)ka-ngulu ‘porquinho’.

Obs. Há um deslocamento semântico de ‘porco’ >> ‘polícia’, indicando o tipo de relação construída entre as
comunidades e as autoridades.

CARIÁ, CARIAPEMBA: sub., Diabo (AM); CARIAPEMBA: sub., Diabo (MV); CARIÁ, CARIAPEMBA, PEMBA: sub.,
Diabo (ESP).
cariá kârya (cl. ?) ‘diabo’ quimb.
cariapemba < kârya-pemba (cl. 9) ‘diabo’ quimb./quic./umb.
Étimo: quimb./quic./umb. sub., (cl. 9) karyapemba ‘diabo’.

171
Obs. Silva Porto é o único que registra o termo em umbundo. Em quicongo a forma verificada em Maia é Nkadi-
a-Mpemba, entretanto, a variação [di]≈[ri]≈[li] é comumente encontrada nas línguas analisadas ([ri] ≈[li], no
umbundo, de acordo com os dados de Silva Porto).

CATIÇA: v., Ajudar (Angananzambi iô catiça ‘Deus lhe ajude’) (AM); GANANZAMBE QUE TE AQUATIÇA
(TIAQUATIÇA): v., Deus te ajude (MV).
catiça < *kwatisa < (o)ku-kwatisa (cl. 15) ‘ajudar’ umb./quic.
tiaquatiça < *tchya-kwatisa ‘(IS cl. 7 + ‘a’ marca de tempo e aspecto pret. + raiz verbal) ajudou’ ← oku-
kwatisa (cl. 15) ‘ajudar’ umb.
Étimo: quic./umb. v., (cl. 15) (o)ku-kwatisa ‘ajudar’.
quimb. v., (cl. 15) ku-kuatesa ‘ajudar’.

Obs. A forma em quimbundo ku-atesa exigiria alçamento da vogal [e] > [i]. tchya-kuatisa forma conjugada no
pretérito (cl. 7) do umbundo, corresponde a nzambi/ndjambi (cl. 7).

CUENDÊ: v., Entrar (AM).


cuendê < cuendé (IMP) ? ← cuenda (o)ku-enda (cl. 15) ‘andar’ umb./quimb. [?]
Étimo: quimb./quic./umb. v., (cl. 15) (o)ku-enda ‘ir, andar’.

Obs. Haveria influência do imperativo ocasionando na mudança vocálica final, ou simplesmente alçamento a>e
(visto ter se preservado a classe 15 do infinitivo ‘ku-‘).

CURIÁ, CURIAR: v., Comer (MV).


port. v. -ar  curiá < ku-ria (cl. 15) ‘comer’ quimb.
port. v. -ar  curiá < kulya < oku-lya (cl. 15) ‘comer’ umb.
Étimo: quimb./quic./umb. v., (cl. 15) (o)ku-lya; (o)ku-rya; (o)ku-dya ‘comer’.

Obs. Influência da conjugação verbal do português ‘-ar’.

IMBANDA: sub., 1. Feitor. 2. Sacerdote, feiticeiro.


imbanda < *mbanda < oci-mbanda (cl. 7) ‘curandeiro’ umb.
imbanda < *mbanda < ki-mbanda (cl. 7) ‘curandeiro’ quimb./quic.’
Étimo: quimb./quic. sub., (cl. 7) ki-mbanda ‘curandeiro’.
umb. sub., (cl. 7) otchi-mbanda ‘curandeiro’.

Obs. Há aférese da classe nominal 7 (ki-/otchi-) e prótese de uma vogal inicial que mantém a consoante pré-
nasal.

INJIRÁ, GIRÁ: v., Caminhar, ir embora (MV); GIRÁ: v., Andar (ESP)
port. v. -ar  injirá < (o)ndjila (cl. 9) ‘caminho’ quimb./umb./quic. [?]
port. v. -ar  injirá idjila (raiz verbal) ← ku-idjila (cl. 15) ‘chegar’ quimb. [?]
Étimo: quimb./quic./umb. sub., (cl. 9) (o)ndjila ou nzila ‘caminho’.
quimb. v., (cl. 15) (ku)-idjila ‘chegar’ [?].

172
Obs. É possível que a forma tenha se originado do sub. (cl. 9) (o)ndjila/nzila, sofrendo deslocamento semântico
para verbo. No entanto, encontramos também a forma verbal do quimbundo ku-idjila (cl. 15) ‘chegar’.

NGANGA, UGANGA: sub., Padre; ORONGANGA: sub., Soldado (AM); INGANGA, GÓNGU: Padre (MV).
inganga < nganga < (o)nganga (cl. 9) ‘sacerdote, padre’ quimb./umb.
(pref. cl. 1) u-  uganga < *ganga < *on-ganga < o-nganga (cl. 9) ‘sacerdote, padre’ umb. [?]
oronganga < olo-nganga (cl. 10) pl. ← o-nganga (cl. 9) ‘padre’ umb.
góngu < ganga < (o) nganga (cl. 9) ‘padre’ quimb./umb. [?]
Étimo: quimb./quic./umb. sub., (cl. 9) (o)nganga ‘sacerdote’.

Obs. A frequência de uso pode explicar as diversas formas encontradas. Oronganga se aproxima do umbundo,
porém não encontramos uma forma onganga (cl. 9).

NGOMBE, ONGOMBE, ORONGOMBE: sub., Boi (AM); ONGOMBE: sub., Boi (MV).
ngombe < (o)ngombe (cl. 9) ‘boi’ quimb./umb./quic.
ongombe < (o)ngombe (cl. 9) ‘boi’ quimb./umb.
orongombe < olo-ngombe (cl. 10) pl. ← o-ngombe (cl.9) ‘boi’ umb.
Étimo: quimb./quic./umb. sub., (cl. 9) (o)ngombe ‘boi’.
umb. sub., (cl. 10) olo-ngombe ‘bois’.

Obs. orongombe se aproxima somente do étimo em umbundo, nos levando a considerar que a forma ongombe
também o seja.

NGUENDA: sub., Pressa; pequena fuga (AM); QÜENDA: sub., Reunião, reunido; UENDAR: v., Andar (MV).
nguenda < ng-enda (1SG + v.) ‘eu vou’ ← (o)ku-enda (cl. 15) ‘ir’ quimb./umb.
qüenda < (o)ku-enda (cl. 15) ‘ir’ quimb./umb./quic.
port. v. -ar  uendar < u-enda (2SG ou cl. 1 + v.) ← ku-enda (cl. 15) ‘ir’ quimb. [?]
port. v. -ar  uendar < o-enda (2 SG ou cl. 1 + v.) ← oku-enda (cl. 15) ‘ir’ umb. [?]
Étimo: quimb./quic./umb. v., (cl. 15) (o)ku-enda ‘ir; andar’.
quimb./umb. v., ngenda (IS 1SG + raiz verbal) ‘eu vou’.

Obs. ngenda ocorre como forma irregular da primeira pessoa do singular em umbundo, entretanto seria a
conjugação padrão em quimbundo. Uendar pode vir da forma conjugada em umbundo/quicongo/quimbundo
na primeira classe ou ‘ele faz’ com influência analógica da conjugação ‘-ar’ do português.

OCAIÁ: sub., Fumo; MACANHA, MACAIO, MACAIBO, OKAIA, OKAIO, MAKAIO: sub., Fumo de rolo (MV).
umb. o- (cl. 9)  ocaiá < e-kaya (cl. 5) ‘tabaco’ umb./quic.
umb. o- (cl. 9)  okaia < e- kaya (cl. 5) ‘tabaco’ umb./quic.
okaio < okaia MV
macanha < ma-kanha (cl. 6) pl. ← rikanha (cl. 5) ‘tabaco’ quimb.
macanha < o-makanha (cl. 9 ?) ‘tabaco’ umb. (Silva Porto)
quimb. ma- (cl. 6)  macaio < e-kayo < e-kaya (cl. 5) ‘tabaco’ umb./quic. [?]
ma-kayo < *ma-kãya < ma-kanha (cl. 6) pl. ← rikanha (cl. 5) ‘‘tabaco’’ quimb. [?]

173
macaibo < macaio MV [?]
Étimo: quic./umb. sub., (cl. 5) e-kaya ‘tabaco’.
quimb./umb.? sub., (cl. 6) (o)makanha ‘tabaco’.

Obs. As formas são próximas, mas sugerimos a presença do pref. de classe nominal 6 [ma-] do quimbundo.
Silva Porto registra macanha, ómacanha para o umbundo.

OENDA: v. Entrar (AM).


oenda < u-enda (2SG ou cl. 1 + v.) ← ku-enda (cl. 15) ‘ir’ quimb. [?]
oenda < o-enda (2 SG ou cl. 1 + v.) ← oku-enda (cl. 15) ‘ir’ umb. [?]
Étimo: quimb./quic. ?/umb. v., uenda ou oenda (IS 2SG ou IS cl. 1 + raiz verbal) ‘tu vais’ ou ‘ele vai’.

Obs. Caso semelhante a uendar, registrado por Vogt & Fry em MV, aqui sem influência do português.

OMBOÁ: sub., Cachorro (AM); ANGUÁ, AMBUAIANQUE, IMBUÁ, AMUÁ (MV).


omboá < o-mboa (o)mbwa (cl. 9) ‘cão’ quimb./umb./quic.
ambuaianque < ombwa iange ‘meu cão’ ← ombwa (cl. 9) ‘cão’ umb. + -ia- (con. pron. cl. 9) + -nge
(suf. poss. 1SG) ‘meu’ umb.
imbuá mbwa (o)mbwa (cl. 9) ‘cão’ quimb./umb./quic.
MV anguá < *ambwá < ombwá AM
amuá < *ambwá < o-mbwa (o)mbwa (cl. 9) ‘cão’ quimb./umb./quic.
Étimo: quimb./quic./umb. sub., (cl. 9) (o)mbwa ‘cão’.

Obs. Há ocorrência de velarização [mb]>[ŋg] em anguá e ensurdecimento de [ŋg]>[ ŋk] em ambuaianque. A


forma do possessivo se relaciona também ao umbundo, conforme indicado.

OMUNGÁ: sub., Sal; OMUNGÁ: Sal (ESP).


omungá < omonga < o-mongwa (cl. 3) ‘sal’ umb. [?]
omungá < *o múnga < o múngwa ‘o sal’ ← o (aum.) + múngwa (cl. 3) ‘sal’ quimb./quic. [?]
Étimo: quimb./quic./umb. sub., (cl. 3) (o)mungwa ‘sal’.

Obs. O acento tônico na sílaba final pode ter ocasionado na síncope da semi-vogal [w] no ditongo final.

ONGIRA: sub., Caminho, estrada (AM); ONGIRA, UNGIRA, OJIRA: sub., Caminho (MV).
ongira < (o)ndjila (cl. 9) ‘caminho’ quimb./umb.
Étimo: quimb./quic./umb. sub., (cl. 9) (o)ndjila ou nzila ‘caminho’.

ONJÓ: sub., Casa, Rancho (AM); ONJÓ: sub., Casa, Igreja, Rancho, Venda, Cavalo [?]; ENJO: Casa (MV).
onjó < o-ndjo (cl. 9) ‘casa’ umb.
Étimo: umb. sub., (cl. 9) ondjo ‘casa’.
quimb./quic. sub., (cl. 9) nzo ‘casa’.

QUISSONDE: sub., Formiga vermelha (AM).


quissonde < ki-sonde (cl. 7) ‘formiga’ quimb.

174
Étimo: quimb./quic./umb. sub., (cl. 3) (o)ki-sonde ‘formiga vermelha’.

Obs. Ocorre nas 3 línguas analisadas, porém como otchi-sonde somente em umbundo. Silva Porto indica a
ocorrência ki-sonde.

UANDÁ: sub., Rede (AM); UANDA: sub., Rede (MV).


uandá < (o)wanda ‘tipoia’ quimb.(cl. 14) /quic./umb. (cl. 3)
Étimo: umb. sub., (cl. 3) owanda ‘tipoia’.
quimb./quic.? sub., (cl. 14) wanda ‘tipoia’.

UCUÊTO, VACUÊTO, ACUÊTO: sub., Companheiro (AM); CUETO: Dançante; NAGUETE, UACUETO, UAGUETO:
sub., Ele, homem (MV).
ucuêto ukwetu (cl. 1) ‘companheiro’ umb.
vacuêto < va-kwetu < ova-kwetu (cl. 2) pl. ‘companheiros’ umb.
acuêto < a-kwetu (cl. 2) pl. ‘companheiros’ umb./quimb./quic.
cueto < u-kwetu (cl. 1) ‘companheiro’ umb.
umb. (cl. 1) u-  uacueto < a-kwetu (cl. 2) pl. ‘companheiros’ umb./quimb./quic. [?]
uacueto < va-kwetu (cl. 2) pl. ‘companheiros’ umb. [?]
naguete < *agwete < *a-kwete < a-kwetu (cl. 2) pl. ‘companheiros’ umb./quimb./quic. [?]
uagueto < uacueto MV
Étimo: quimb./quic./umb. sub., (cl. 2) a-kwetu ‘companheiros’.
umb., sub., (cl. 1) u-kwetu ‘companheiro’.
umb., sub., (cl. 2) (o)va-kwetu ‘companheiros’.

Obs. Sugere-se que a forma uacuêto tenha surgido por consonantização [v]>[w].

UONEME: adj., Grande (AM).


uoneme < *uo-nene < u-nene (adj. cl. 1) ← -nene (adj.) ‘grande’ quimb./umb./quic.
Étimo: quimb./quic./umb. adj. (cl.1), u-nene ‘grande’.

Obs. Chatelain (1964 [1889], p. 64) sugere a forma –onene, com formação de uonene na classe 1, para o
quimbundo.

2. Forma igual ou semelhante, significado distinto

BARUNDO: sub., Senhor, patrão (AM).


barundo balundu mbalundu ‘habitante do Bailundo’ (Cl. 9) quimb.
umb./quimb./quic. ‘homem bravo’ (cl. 9) (o)mbalu >> barundo ‘senhor, patrão’ [?]
Étimo: quimb./quic.?/umb. sub., (cl. 9) (o)mbalundo ‘habitante do Bailundo’.

Obs. A forma do étimo se relaciona a um indivíduo do Bailundo, na região de Bié, onde habitam os ovimbundo,
falantes de umbundo. Pode haver um deslocamento semântico influenciado pela forma mbalu, presente nas 3
línguas.

175
CANDONGA: sub., Arenga, intriga (AM/ESP).

candonga < * ka-ndonga (cl. 12) ‘grupinho’ quimb./quic. [?]


candonga < *ka-ndonga (cl. 12) ‘pequeno pássaro’ umb. [?]

Étimos: quimb./quic. sub., (cl. 12) ka-ndonga ‘grupinho’.


umb. sub., (cl. 12) ka-ndonga ‘passarinho esp.’

Obs. O deslocamento semântico pode ser sugerido como comentários que se fazem em um pequeno grupo. A
formação se dá pela prefixo da classe 12 (diminutivo).

MUCUETU. Interj. Silêncio! (MV).


mucuetu mukwetu (cl. 1) ‘amigo’ quimb.
mucuetu ‘amigo’ >> mucuetu ‘atenção, companheiros (utilizado nos catopés)’ >> mucuetu ‘silêncio’
Étimos: quimb./quic.?/umb.? sub., (cl. 1) (o)mu-kwetu “companheiro”

Obs. O deslocamento semântico parece ser bem explicado ao se observar o uso do item no grupo dos catopés.
Apesar da forma mukwetu ter sido apenas encontrada em quimbundo, há a possibilidade de criação nas
demais línguas pelo prefixo da classe 1 (umb. omu-, ainda que mais raro; quic. mu-, apesar da forma reportada
nkwetu).

OMBIÁ: sub., Cigarro (AM); IMBIÁ: sub., Cigarro (ESP).

ombiá (o)mbia (cl. 9) ‘pote’ umb./quimb./quic.


Étimo: quimb./quic./umb. sub., (cl. 9) (o)mbya ‘pote’.

Obs. Não se pôde explicar o deslocamento semântico. Em conversas com um falante de umbundo, este afirmou
existir a forma [ómbyà] ‘cigarro’, que não pôde ser conferida nos dicionários.

3. Forma distinta, sentido igual ou semelhante.

CACIMBA: sub., Poço de água potável de minas (AM; ESP)


cacimba < *ka-ximba < *ka-xima (cl. 12) ← ki-xima (cl. 7) ‘cisterna, cacimba’ quimb.
Étimo: quimb./quic. sub., (cl. 7) ki-xima ‘cisterna’.
umb. sub., (cl. 7) otchi-simo ‘poço’ ou otchi-ma ‘poço de argila’.

Obs. Há despalatização em [ʃ] para [s]. Além da formação de uma estrutura nasal + obstruinte à semelhança do
que ocorre em pama > pamba. A forma do umbundo se distancia mais do item analisado.

176
Considerações sobre nossa análise - Um falar mais banguela

Em nossa proposta, relacionamos: 61 itens/agrupamentos somente ao


umbundo; 11 ao quimbundo, 2 ao quicongo; 46 ao umbundo e quimbundo; 3 ao
umbundo e quicongo; 3 ao quimbundo e quicongo; 29 às três línguas. Não
conseguimos analisar confiavelmente a relação de 83 agrupamentos lexicais com
línguas africanas e quatro outros encontram-se dicionarizados indicando
etimologia de línguas indo-europeias (MV baieta1, gajeiro2) ou do tupi (MV jacuba3,
tupa4/otupã). Excluímos, ainda, ingomacasaca, ‘revólver’, por ser um possível
deslocamento semântico da expressão idiomática em português engomar casaca,
‘morrer’.

No entanto, não devemos desconsiderar completamente os itens não


analisados, visto que apresentam também algumas características interessantes.
Por exemplo, o item otupã, que possivelmente apresenta prótese analógica ao
aumento ‘o-‘ das línguas africanas investigadas, além de outras formas que
preservam vestígios dos prefixos de classe, mas não puderam ser satisfatoriamente
relacionadas a seus étimos (orongóia ‘diamante’, oviango ‘foice’, ovicaiá ‘piçarra,
cascalho’ etc.).

Desta forma, selecionamos algumas variações que nos pareceram


relevantes.

1) Aférese de ‘e-‘ referente ao prefixo da classe 5 do umbundo e, muitas vezes,


substituição ou prótese de ‘o-‘ referente ao aumento ou ao prefixo da classe 9.
Conforme alguns exemplos que retomamos:

candamburo < *kondomboro < e-kondomboro ‘galo’ (cl. 5) umb.

umb. o- (cl. 9)  otequê < e-teke (cl. 5) ‘dia’ umb.

1 No dicionário Houaiss (2009): baeta, sub. fem. “tecido de lã ou algodão, de textura felpuda, com pelo em
ambas as faces”. Étimo: ant. picardo bayette, do lat. badìus,a,um 'baio, castanho (cor original do tecido)'
Datação: c1574.
2 No dicionário Houaiss (2009): gajeiro, sub. masc. “marinheiro a quem se confia o serviço de um mastro, suas

velas e vergas e respectivo aparelho” Étimo: ‘origem obscura’. Datação: c1538.


No entanto, no dicionário online Caldas Aulete (2013): “Possivelmente do antigo gage 'prenda, gratificação' (<
do francês gage 'penhor, salário') + -eiro.”
3 O dicionário online Caldas Aulete (2013) sugere um possível termo tupi: “jecu'acuba”. Parece-nos, no entanto,

uma afirmação não muito fundamentada. Em Houaiss (2009) a origem é duvidosa e a datação de 1889.
4 Em Houaiss (2009), étimo: tupi tu'pã ou tu'pana 'gênio do trovão ou do rio'. Datação: 1549-1567.

177
umb. (cl. 9) o-  oquepá < e-kepa (cl. 5) ‘osso’ umb.

umb. o- (cl. 9)  opungo < *pungu < *e-pungu (cl. 5) ‘milho’ umb.

Atribuímos a variação observada ao fenômeno da analogia. Segundo Viaro


(2011, p. 204) “basta que uma palavra qualquer de sonoridade semelhante tenha
uma alta frequência ou que um paradigma seja mais numeroso que outro, para
fazer-se atuar”. Em suma, o efeito da analogia está diretamente relacionado à
frequência de uso.
Notamos que entre os itens analisados há forte ocorrência de substantivos
da classe 9 (o-mbuá ‘cão’, o-ngira ‘caminho’, o-njó ‘casa’), além de outras formas
que mantiveram o aumento inicial (o-vipaco ‘dinheiro’, o-ronganje ‘cachaça’, o-
menha ‘água’). Levantamos a hipótese, portanto, que a mudança tenha ocorrido
por analogia às formas mais frequentes, regularizando e simplificando o sistema da
língua.
Por outro lado, observamos também a aférese de o- em prefixos que
normalmente o portariam, ovi- > vi- (cl. 4) PL, e olo- > ro-. Entretanto, ainda

convivendo com variantes mais conservadoras (ovipaco ≅ vipaco; oronganja ≅

ronganja).

2) Outra constatação é a ocorrência frequente de oxítonas. Como observamos


anteriormente, podemos supor a ocorrência de diástole, transposição do acento
tônico para a sílaba posterior, se tivermos uma forma imediatamente anterior sem
valor tonal. Poderíamos explicar aqui a variação acrepu ‘mão’ ≈ ingalapo ‘mão’,
sendo ingalapo, mais próximo à forma etimológica provável, mesmo que não a
tenhamos encontrado em nossas fontes. Neste caso, haveria deslocamento do
acento da penúltima sílaba em ingalapo para a última ocorrendo elisão da vogal na
antepenúltima sílaba (inga’lapo > ingala’po > ingla’po), originando uma forma
mais próxima à acrepu.
Outra possibilidade seria a influência de um tom alto. As fontes
dicionarísticas de línguas africanas pesquisadas em nosso trabalho não registram,
entretanto, a marcação de tons. Baseando-se, portanto, em trabalhos mais recentes
(Xavier, 2010; Schadeberg, 1990) pudemos fazer maiores considerações sobre a
questão tonal.

178
Os falares diamantinos, em alguma sincronia anterior, perderam a distinção
tonal das línguas bantas. Entretanto, notamos algumas estratégias da língua para
diferenciar os casos de homonímia gerados. Por exemplo, em quimbundo e
umbundo, há distinção somente pelo tom alto e baixo entre as seguintes palavras
(os acentos gráficos são marcações tonais):

Umbundo (cl. 9): [ó-ndʒílá] ≠ [ó-ndʒílà]


‘pássaro’ ‘caminho’

Quimbundo (cl. 9): [nʒílá] ≠ [nʒílà]


‘pássaro’ ‘caminho’

[mbámbì] ≠ [mbámbí]

‘veado’ ‘frio’

Estes itens lexicais foram preservados na região diamantina, porém diante


da perda de valor tonal, assumem formas distintas possivelmente para evitar a
homonímia. Utilizam, assim, o prefixo da classe 12 do diminutivo ‘ka-‘.

MV onjira ‘caminho’ ≠ canjira ‘passarinho’

AM mbambe ‘frio’ ≠ cambambe ‘veado’.

Outros exemplos parecem reforçar a hipótese de que os acentos tônicos


tenham respeitado a ordem de tons altos e baixos (quimb. [nzámbì] ‘deus’ >
anzambi ‘deus’ AM; [ŋúlù] ‘porco’ > canguro ‘porco’ AM; umb. [á-kwendʒé] ‘rapaz’ >
aquenjê ‘rapaz’ AM; [ó-ví-ná] ‘coisas’ > viná ‘remédio dos catopês’).

Encontramos também, situações em que a marcação acentual parece


favorecer um étimo do umbundo:

umb. (cl. 9) [ó-mbwá] > ombuá ‘cão’ AM; porém em quimb. (cl. 9) [í-mbùà] ‘cão’

umb. (cl. 9) [ó-ndʒó] ‘casa’ > onjó ‘casa’ AM/MV; porém em quimb. (cl. 9) [í-nzò] ‘casa’.

Há, no entanto, exceções, como podemos ver nos exemplos seguintes:

Quimb. (cl. 3) [mú-ŋùà] ‘sal’ ≅ Umb. (cl. 3) [ómóŋgwà] ‘sal’ ≅ AM/ESP omungá ‘sal’

Umb. (cl. 9) [ó-mélà] ‘boca’ > omerá ‘língua’ AM

179
porém, [ó-mélà] ‘boca’ > amera ‘rosto’ MV.

Conforme observado, mesmo diante de um tom baixo final em ambas as


línguas africanas (quimbundo e umbundo), encontramos omungá ‘sal’ nos falares
africanos da região diamantina. O mesmo ocorre com omerá ‘boca’, porém uma
segunda variante é preservada, amera ‘rosto’. Conclui-se ser necessário um estudo
diacrônico mais aprofundado do tom nas línguas pesquisadas para se consolidar a
hipótese e melhor entendermos tais exceções.

3) Nossa sugestão de que prefixos da classe 2 do plural (umbundo,


quimbundo) tenham sido preservados em alguns itens lexicais dos falares
africanos da região diamantina, parece reforçada pela presença de itens compostos
por classes prefixais claramente do plural, mas com significado no singular.
Pressupõe-se, portanto, um esvaziamento semântico dos morfemas de classe, que
passaram a ser considerados como parte da raiz nominal. Conforme os exemplos
abaixo:

alume ‘homem’ AM < a-lume (cl. 2) ← ulume (cl. 1) ‘homem’ umb.

alume ‘homem’ AM < a-lume (cl. 2) ← mu-lume (cl. 1) ‘marido’ quimb.

aquenjê AM < a-kwendje (cl.2) ← u-kwendje (Cl. 1) ‘rapaz’ umb.

ovipaco ‘dinheiro’ MV < ovipako (cl. 4) pl. ‘bens’ umb.

orossanje < olo-sandji (cl. 10) ← o-sandji (cl. 9) ‘galinha’ umb.

Por outro lado, boa parte dos itens lexicais que preservaram os prefixos de
classes plurais ‘ovi-‘ (cl. 4) e ‘olo-‘ (cl. 10) referem-se a substantivos que podem ser
percebidos coletivamente pelo falante: vissepa ‘palha’ AM; oronganje ‘cachaça’.

Tais fatos, somados a outros exemplos, não eliminam nossa outra hipótese
de abaixamento do aumento, ocasionando a variação ‘o>a’. Conforme os exemplos:

alume < o-lume (cl. 1) ‘homem’ umb. (Silva Porto).

anguê < o-nge (cl. 9) ‘ onça’ umb.

Os diferentes argumentos nos levam a preservar as duas hipóteses. Afinal,


conforme afirma Viaro (2011, p. 119), “não se deve confiar num etimólogo que

180
ofereça um étimo qualquer com certeza absoluta, pois tal atitude seria típica da
Religião e não da Ciência”.

Nossa análise parece, portanto, nos levar a confirmar a hipótese de que


línguas africanas da zona banta tenham sido faladas por comunidades da região
diamantina. Baseados em nossos dados, podemos considerar que devido à
semelhança tipológica e lexical entre essas línguas, o que observamos são as
reminiscências de um dialeto veicular banto de línguas do centro-oeste-africano.
No entanto, sobressaindo-se formas lexicais do umbundo ou uma língua comum ao
grupo R.

Machado Filho (1985) fornece poucos exemplos de uso da língua, porém os


dados anotados pelo pesquisador mineiro são reveladores por apresentarem
formas mais próximas à tipologia de línguas africanas, reforçando nossa hipótese.
Consideramos o exemplo a seguir, complementando-o com formas reconstruídas
no quimbundo e umbundo:

AM: Anguê ô cuatá ô ngambe (1985, p. 130).

cl. 9-onça cl. 1 – pegar cl.9 - boi

‘A onça pega o boi’

Quimb. *O ngo i-kwata o ngombe.

DET - cl. 9 – onça cl. 9 – pegar DET cl.9-boi

‘A onça pega o boi’

Umb. *O-ngwe i-kwata o-ngombe.

cl. 9 – onça cl. 9 – pegar cl.9 – boi

‘A onça pega o boi’

Percebe-se no exemplo de Machado Filho que provavelmente haveria uma


regularização na conjugação verbal para o prefixo pronominal da classe 1
(referente aos humanos e, provavelmente, de maior frequência de uso). O prefixo

181
preposicional referente à classe 9 seria ‘i-‘ em ambas as línguas africanas. Um
segundo exemplo de Machado Filho, demonstra uma situação de coocorrência:

AM Anguê i cuatá ô orocogombe (1985, p. 126).

cl. 9-onça cl. 9-pegar DET cl. 10 – boi

‘A onça pega o boi’

Quimb. *O ngo i-kwata o ji-ngombe.

DET cl.9-onça cl. 9-pegar DET cl. 10-boi.

‘A onça pega os bois’

Umb. *O-ngwe i-kwata olo-ngombe.

cl. 9-onça cl. 9-pegar cl. 10-boi

‘A onça pega os bois’.

Apesar das formas de classe e prefixo pronominal corresponderem, há um


esvaziamento semântico do prefixo da classe 10 plural do umbundo, ‘olo-‘, sendo a
frase traduzida para o singular. Vejamos, ainda, outro exemplo:

AM Andambi ucumbi u atundá (1985, p. 126).

cl. 9-mulher cl. 1-sol cl.1-REC-sair

‘Mulher, o sol está alto’

Lit. ‘Mulher, o sol saiu’.

Umb. *O-ndambi e-kumbi ly-a-tunda.

cl. 9-mulher cl.5-sol cl.5-REC-sair

‘Mulher, o sol saiu’.

Encontramos, no exemplo anterior, maior semelhança com o umbundo.


Entretanto, há novamente regularização da conjugação verbal para a classe 1, e
mudança da classe 5 para a classe 1. Finalmente, atentaremos a um último
exemplo:

182
AM Ochito ia ngombe

cl.9-carne cl.9-GEN-boi

‘carne de boi’

Quimb. *O xitu ya-ngombe

DET cl.9-carne cl.9-GEN-boi

‘carne de boi’

Umb. *O-situ y’o-ngombe

O-situ ya–o-ngombe

cl. 9-carne cl.9-GEN-cl.9-boi

‘carne de boi’

O prefixo pronominal da classe 9 estaria de acordo com ochito ou com


ongombe. Conforme mencionado, nas línguas africanas a construção genitiva
concorda com o objeto possuído. Encontramos um exemplo contrário em nossa
análise do termo atanhara, no qual a classe da construção genitiva concorda com o
possuidor.

Os poucos exemplos encontrados em Machado Filho (1985) nos são úteis


para elaborarmos uma hipótese mais contundente linguística e historica do que se
partíssemos apenas dos poucos dados coletados nas demais comunidades da
região diamantina. Os dados mais recentes de falares africanos na região, à exceção
dos cantos vissungos e religiosos de Milho Verde, são de um léxico reduzido e
adaptado à morfossintaxe da variedade regional do português à semelhança de
outros falares africanos do sudeste brasileiro. Ainda assim, as formas não são mais
produtivas, sendo praticamente desconhecidas pelas populações locais.

Seguem alguns exemplos das formas mais recentemente encontradas:

a. 'Ocê tem um imbiá pr'eu cuxipá.

Trad. Você tem um cigarro pra eu fumar (ESP)

183
b. O cumbi vem empurrando o bambi.

Trad. O sol vem empurrando o frio; está amanhecendo (MV).

Estes dados foram coletados durante nossa pesquisa e, como podemos


perceber, distanciam-se fortemente da realidade linguística registrada por
Machado Filho na década de 1930. Diante dos escassos exemplos de uso da língua
e seu registro de um vocabulário restrito, podemos reconsiderar se, de fato, as
construções apresentadas em seu trabalho eram produzidas pelos falantes ou se
sobreviviam apenas como formas cristalizadas.

Ainda assim, temos uma informação relevante fornecida pelo próprio autor
(MACHADO FILHO, 1985, p. 117) de que os conhecedores da língua a chamavam
língua d’Angola e língua banguela. Diante de nossos dados, podemos afirmar que
os falantes se aproximavam mais de uma descrição adequada da língua do que o
autor ao denominá-la ‘dialeto crioulo sanjoanense’. De alguma forma, os falantes,
ainda que não intencionalmente, apontaram para uma realidade de língua veicular,
surgida do contato entre línguas do grupo banto vindas de Luanda e Benguela.

Visto que nosso objetivo neste trabalho é contribuir com a questão sobre
quais línguas estiveram presentes na região diamantina, decidimos não nos
estender mais. Vemos nosso trabalho como um bom passo em direção a uma
sistematização dos dados encontrados nos falares africanos do Brasil, além de
apontar para os grupos linguísticos possivelmente envolvidos em sua formação.

184
Conclusão

Quando comparamos os dados históricos de nosso primeiro capítulo e os


dados de nossa análise, parece-nos que a língua africana na região diamantina foi
altamente reforçada pelos africanos escravizados embarcados no porto de São
Filipe de Benguela, provavelmente em um período do final do século XVIII a início
do século XX.

Estes africanos, levados aos portos pelas caravanas dos povos ovimbundo,
provavelmente não falavam somente o umbundo, ou uma única variedade de
umbundo, mas por sua relação com a região sul de Angola poderiam mesmo falar
outras línguas do grupo R. Queiroz (1998) sugere alguns itens do olunyaneka
(R13) correspondentes a itens da língua da Tabatinga e, em breve consulta,
notamos diversas semelhanças. Seriam essas semelhanças causadas pela
proximidade linguística ou pela presença efetiva de cada uma dessas línguas na
diáspora? É uma questão de difícil resposta. Porém, reforçamos a hipótese de
Slenes (1990) de que os bantos logo descobriram uma relação linguística e cultural
entre si ainda em solo africano (conforme indicada em nossa citação de
Cannecattim acima).

A proporcionalidade dos itens lexicais que pudemos analisar, apesar de


indicar uma boa parte do léxico ligado ao umbundo, conta também com uma
presença razoável de itens ligados somente ao quimbundo. Se ampliássemos nossa
pesquisa ainda mais ao quicongo e outras línguas, provavelmente encontraríamos
maiores relações. Entretanto, alguns dos itens são comuns a muitas línguas da
zona banta (ongombe, por exemplo, é um termo que encontramos também no
suaíli, língua veicular falada na África Centro-oriental) e achamos inadequado
delimitá-los a uma única variedade.

Além disso, chama-nos a atenção o processo de regularização de algumas


formas da língua: os prefixos de classe 3 e 5 regularizados para a classe 9; os
prefixos pronominais (índices de sujeito) regularizados para a classe 1; a ausência
de tons. Tais fatores parecem nos indicar um processo de pidginização, sugerido
por Bonvini (2008) ao referir-se à língua veicular de Mina e por Queiroz (1998, pp.

185
98-107) ao discutir as origens da gíria da Tabatinga (variedade de falar africano no
município de Bom Despacho, MG).

Entendemos, portanto, que nosso trabalho é um passo significativo para


fortalecer a teoria de que os falares africanos são, de fato, remanescentes de
línguas que se mantiveram vivas no Brasil no período do tráfico.

Devemos investigar, no entanto, se a realidade mais ‘benguela’ da língua na


região diamantina se aplica aos demais falares no Brasil. Nossa primeira tabela é
um princípio dessa investigação, sendo que podemos começar a avaliar os falares
que se mantiveram mais conservadores em relação às línguas africanas e os que
foram mais inovadores.

Tendo encontrado uma sobrevida em algumas comunidades (como


Cafundó, Patrocínio, Tabatinga) por um grande fator identitário, estas línguas
ainda sobrevivem no Brasil. Na região diamantina, são obsolescências, presentes
em um falar ritualizado ligado aos cantos, porém não mais produtivas. A situação
de rápido desaparecimento dessas falares nos demonstra a necessidade de
pesquisá-las e catalogá-las o quanto antes, assim como desenvolver práticas para
sua manutenção.

Por outro lado, podemos dizer o mesmo quanto à situação de pesquisa das
línguas africanas. Enquanto não elaborarmos registros e descrições das variedades
dialetais das diversas línguas, não poderemos nem definitivamente confirmar, nem
refutar nossas hipóteses.

Resumindo, portanto, nossas conclusões, dizemos que o sistema de


escravidão na região diamantina, o tráfico mais recente partindo do porto de
Benguela e a proximidade lexical das línguas do grupo banto preservaram por um
período uma língua africana de características bantas, porém, como reconhecido
pelos próprios informantes de Machado Filho, uma língua mais benguela, ou
‘banguela’, que poderia ser constituída majoritariamente por umbundo, ou por
uma convergência de um falar veicular do grupo R com as línguas do grupo H,
presentes na região.

186
Referências Bibliográficas

ALENCASTRO, Luiz Felipe. O trato dos viventes. Formação do Brasil no Atlântico


Sul. São Paulo: Companhia das Letras, 2000.

AULETE, Caldas. Aulete Digital – Dicionário contemporâneo da Língua Portuguesa.


2013. Disponível em: <http://aulete.uol.com.br>. Acesso em: 10/09/2013.

ASSIS JUNIOR, A. de. Dicionário Kimbundu-Português. Luanda: Ed. Argente, Santos


& C.a. Ltda., s/d.

BASTOS, Manuel Pires. Padre António da Silva Maia - Um grande em Angola. Jornal
João Semana, Ovar, Aveiro, Portugal. 28 de abril de 2011. Disponível em:
<http://artigosjornaljoaosemana.blogspot.com.br/2011/04/padre-antonio-da-
silva-maia-um-grande.html> Acesso em: 25/09/2012.

BONVINI, Emilio. Línguas africanas e português falado no Brasil. In: FIORIN, José
Luiz; PETTER, Margarida Maria Taddoni (orgs). A África no Brasil: a formação da
língua portuguesa. São Paulo: Editora Contexto, 2008. pp. 15-62.

BONVINI, Emilio. Revisiter, trois siècles après, Arte da língua de Angola de Pedro
Dias S.I. (1697), Première Grammaire du Kimbundu. In: PETTER, Margarida;
MENDES, Ronald Beline (ed.). Proceedings of the Special World Congress of African
Linguistics. São Paulo: Humanitas, 2009. pp. 15-46.

BOXER, C. R. A Idade de Ouro do Brasil (dores de crescimento de uma sociedade


colonial). 2ª. Ed. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1969.

BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil.


Brasília, DF, Senado. Disponível em: <
http://www.dji.com.br/constituicao_federal/cfdistra.htm > Acesso em:
04/09/2013.

BRASIL. Decreto n. 4.887, de 20 de novembro de 2003. Regulamenta o


procedimento para identificação, reconhecimento, delimitação, demarcação e
titulação das terras ocupadas por remanescentes das comunidades dos quilombos
de que trata o art. 68 do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias.

187
Disponível em: < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/2003/d4887.htm
> Acesso em: 04/09/2013.

BRASIL. Decreto no. 7.387, de 2 de dezembro de 2010. Institui o Inventário


Nacional da Diversidade Linguística e dá outras providências. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-
2010/2010/Decreto/D7387.htm> Acesso em: 04/09/2013.

BRÜGGER, Silvia; OLIVEIRA, Anderson de. Os Benguelas de São João del Rei:
tráfico atlântico, religiosidade e identidades étnicas (Séculos XVIII e XIX). Revista
Tempo, Instituto de Ciências Humanas e Filosofia - Universidade Federal
Fluminense, n. 26, Rio de Janeiro, jan. 2009. p. 177-204.

BYRD, Steven E. Calunga, an Afro-Brazilian Speech of the Triângulo Mineiro: Its


Grammar and History. 2005. 226 f. Tese (doutorado). University of Austin, Texas,
2005.

CAMARA, Andréa A. A. Vissungo: o cantar banto nas Américas. 2013. 188f. Tese
(Doutorado). Universidade Federal de Minas Gerais. 2013.

CAMP, Marc-Antoine. Gesungene Busse: Praxis und Valorisierung der Afro-


Brasilianischen Vissungo in der Region Von Diamantina, Minas Gerais. 2006. 180 f.
Tese (Doutorado), Philosophischen Fakultät, Universität Zürich, Zürich. 2006.

CANNECATTIM, Frei Bernardo Maria de. Collecção de Observações Grammaticaes


sobre a Lingua Bunda ou Angolense e Diccionario Abreviado da Lingua Congueza.2ª.
Ed. Lisboa: Imprensa Nacional, 1859. (Versão digital).

CANNECATTIM, Frei Bernardo Maria de. Diccionario da Lingua Bunda, ou


Angolense, explicada na Portugueza, e Latina. Lisboa: Impressão Régia, 1804.
(Versão digital).

CASTRO, Yeda Pessoa de. Falares Africanos na Bahia. Rio de Janeiro: Academia
Brasileira de Letras: Topbooks, 2001.

______ A propósito do que dizem os vissungos. In: SAMPAIO, Neide Freitas (org).
Vissungos – Cantos Afro-descendentes em Minas Gerais. Belo Horizonte: Edições
Viva Voz, 2009. pp. 67-72.

188
CEDEFES (Centro de Documentação Eloy Ferreira da Silva) (org.) Comunidades
Quilombolas de Minas Gerais no século XXI – História e resistência, Belo Horizonte:
Autêntica/CEDEFES, 2008. Disponível em:
<http://www.cedefes.org.br/index.php?p=colunistas_detalhe&id_pro=2> Acesso
em: 15/12/2012

CHATELAIN, Heli. Grammatica Elementar do Kimbundu ou língua de Angola (1889).


London: Gregg Press, Ltd. 1964.

DIAS, Pedro. A Arte da Língua de Angola (1697). Braga: Edições Vercial, 2010.
Edição Kindle e-book. Disponível em: < http://www.amazon.com/Arte-
L%C3%ADngua-Angola-Portuguese-Edition-
ebook/dp/B004E10YOS/ref=sr_1_1?ie=UTF8&qid=1389202348&sr=8-
1&keywords=arte+da+l%C3%ADngua+de+angola >

FARACO, Carlos Alberto, Lingüística histórica – uma introdução ao estudo das


histórias das línguas. 2ª Ed. São Paulo: Parábola, 2007.

FERREIRA, Marlenísio. Kalunga: A língua secreta dos escravos. Patrocínio:


Publicação independente, s/d.

GNERRE, Maurizio. O corpus dos vissungos de São João da Chapada (MG). In:
SAMPAIO, Neide Freitas (org). Vissungos – Cantos Afro-descendentes em Minas
Gerais. Belo Horizonte: Edições Viva Voz, 2009. pp. 55-66.

HOUAISS, A. Dicionário eletrônico Houaiss da língua portuguesa. Rio de Janeiro:


Objetiva. Versão 3.0. [CD-ROM]. 2009.

LE GUENNEC, Grégoire; VALENTE, José Francisco. Dicionário Português-Umbundu.


Luanda: Instituto d’Investigação Científica d’Angola, 1972.

LUCAS, Glaura, Garimpando os vissungos no séc. XXI. In: SAMPAIO, Neide Freitas
(org). Vissungos – Cantos Afro-descendentes em Minas Gerais. Belo Horizonte:
Edições Viva Voz, 2009. p. 27-31.

MACHADO FILHO, Aires da Mata. O Negro e o Garimpo em Minas Gerais. Belo


Horizonte: Editora Itatiaia, 1985.

189
MAIA, António da Silva. Guia prático para a aprendizagem das línguas portuguesa e
omumbuim – língua indígena de Gabela – Amboim – Quanza Sul – Angola – dialecto
do Kimbundu. Luanda: Escola Tipográfica das Missões, Cucujães, 1951.

MAIA, António da Silva. Dicionário Complementar: Português-Kimbundu-Kikongo.


Luanda: Tipografia das Missões, Cucujães, 1961.

MAHO, Jouni F. A classification of the Bantu languages: an update of Guthrie's


referential system. In: NURSE, Derek; PHILIPPSON, Gérard (org.). The Bantu
languages. London & New York: Routledge, 2003, pp. 639-651.

MARTINS, Marcos Lobato. A Crise dos Negócios do Diamante e as Respostas dos


Homens de Fortuna no Alto Jequitinhonha, Décadas de 1870-1890. Estudos
Econômicos (São Paulo), São Paulo, v. 38, n. 3, pp. 611-638, Julho-Setembro, 2008.
Disponível em: < http://www.scielo.br/pdf/ee/v38n3/v38n3a07.pdf > Acesso em:
04/03/2013.

MATTOS, Regiane Augusto de. De Cassange, Mina, Benguela a Gentio da Guiné.


Grupos étnicos e formação de identidades africanas na cidade de São Paulo (1800-
1850). 2006. 227 f. Dissertação (mestrado), FFLCH, Universidade de São Paulo.
2006.

MILLER, Joseph C. África Central durante a era do comércio de escravizados, de


1490 a 1850. In: HEYWOOD, Linda M. (org.), Diáspora Negra no Brasil. São Paulo:
Editora Contexto, 2010. pp. 29-80.

NASCIMENTO, José Pereira do. Diccionario Portuguez-Kimbundu (1903).


Breinigsville, PA: Nabu Press, 2011.

NASCIMENTO, Lúcia Valéria do. A África no Serro-Frio, Vissungos: uma prática


social em extinção. 2003. 129f. Dissertação (Mestrado), Universidade Federal de
Minas Gerais, Belo Horizonte. 2003.

NGUNGA, A. Introdução à lingüística bantu. Universidade Eduardo Mondlane.


Maputo: Imprensa Universitária, 2004.

190
NURSE, Derek. A Survey Report for the Bantu Languages. SIL International, 2001.
Disponível em: < http://www-01.sil.org/silesr/2002/016/silesr2002-016.htm>
Acesso em: 30/09/2013.

OLIVEIRA, Amanda Sônia López de. Palavra Africana em Minas Gerais. Belo
Horizonte: FALE/UFMG, 2006.

OLIVEIRA, Márcia S. D. de; CAMPOS, Ednalvo Apóstolo; FERNANDES, Jonas Tadeu


V. “Repensando a Escola em Jurussaca a Partir da ‘Norma dos Pronomes Pessoais
da Comunidade’”. In: CUNHA, Ana Stela de Almeida. Construindo Quilombos,
Desconstruindo Mitos: A educação formal e a realidade quilombola no Brasil. São
Luís, MA: Edição do autor, 2011.

PEDRO, J. D. Étude grammaticale du kimbundu (Angola). Thèse de Nouveau Régime


pour l’obtention du Doctorat en Linguistique. Paris: Universidade René Decartes,
1993.

PEIXOTO, António da Costa. Obra nova de língua geral de Mina (1741). Lisboa:
Divisão de publicações e biblioteca Agência Geral das Colónias, 1945.

PETTER, Margarida. M. Taddoni; OLIVEIRA, Márcia S. Duarte de. Projeto-Piloto


Comunidades Quilombolas IPHAN/USP. 2011. Disponível em:
<http://www.fflch.usp.br/indl> Acesso em: 16/03/2012.

PINTO, Maria Célia B. V. Remanescentes Quilombolas de Jurussaca – Processos


identitários. In: CUNHA, Ana Stela de Almeida. Construindo Quilombos,
Desconstruindo Mitos: A educação formal e a realidade quilombola no Brasil. São
Luís, MA: Edição do autor, 2011.

QUEIROZ, Sônia Maria de Melo. Pé preto no barro branco: a língua dos negros da
Tabatinga. Belo Horizonte: Ed. UFMG, 1998.

______ Vissungos: Cantos afro-descendentes de morte e vida. In: SAMPAIO, Neide


Freitas (org). Vissungos – Cantos Afro-descendentes em Minas Gerais. Belo
Horizonte: Edições Viva Voz, 2009. p. 37-47.

REGINALDO, Lucilene. Os Rosários dos Angolas: Irmandades Negras, Experiências


escravas e identidades africanas na Bahia setecentista. 2005. 244f. Tese

191
(doutorado), Instituto de Filosofia e Ciências Humanas, Universidade Estadual de
Campinas, 2005.

RODRIGUES, Raymundo Nina. Os Africanos no Brasil (1932). Rio de Janeiro: Centro


Edelstein de Pesquisas Sociais, 2010. Disponível em: <http://www.bvce.org/>

ROSA, Míriam Virgínia Ramos. Espinho: a desconstrução da racialização negra da


escravidão. Brasília: Thesaurus, 2004.

SANDERS, William H. Vocabulary of the Umbundu Language: Comprising


Umbundu-English and English-Umbundu (1885). La Vergne, TN: Kessinger
Publishing’s, 2009.

SANTOS, Joaquim Felício dos. Memórias do distrito diamantino da comarca do Sêrro


Frio (Província de Minas Gerais). 3ª ed. Rio de Janeiro: Edições O Cruzeiro, 1956.

SCARANO, Júlia Maria Leonor. Devoção e Escravidão: A Irmandade de Nossa


Senhora do Rosário dos Pretos no Distrito Diamantino no Século XVIII. 1969. 180f.
Tese (Doutorado), FFLCH, Universidade de São Paulo. 1969.

SCHADEBERG, Thilo C. A Sketch of Umbundu. Köln: Rüdiger Köppe Verlag, 1990.

SILVA PORTO, António Francisco da. Viagens e Apontamentos de um Portuense em


África: Excerptos do ‘Diário’ de António Francisco da Silva Porto. Lisboa: Divisão de
Publicações e Biblioteca Agência Geral das Colônias, 1942.

SLENES, Robert. Malungu Ngoma Vem! A África coberta e descoberta do Brasil.


Revista da USP, dez-jan-fev. no. 2, 1991/1992, pp. 48-67.

SOREMEKUN, Monsieur Fola. Religion and Politics in Angola: the American Board
Missions and the Portuguese Government, 1880-1922. In: Cahiers d’études
africaines, v. 11, no. 43, 1971, pp. 341-377. Disponível em: <
http://www.persee.fr/web/revues/home/prescript/article/cea_0008-
0055_1971_num_11_43_2791>

VALENTE, José Francisco. Gramática Umbundu- A língua do centro de Angola.


Lisboa: Junta de Investigações do Ultramar, 1964.

192
VEJA; OLIVEIRA, Neide. Adeus aos diamantes. Revista Veja, São Paulo, Ed. 1.706, 27
de junho de 2011. Disponível em: <http://veja.abril.com.br/270601/p_070.html>.
Acesso em: 13/11/2012.

VIARO, Mário Eduardo. Etimologia. São Paulo: Editora Contexto, 2011.

VOGT, Carlos; FRY, Peter. Cafundó: A África no Brasil. São Paulo: Companhia das
Letras, 1996.

WILSON, Ralph L. Dicionário Prático: Português-Umbundo. Dondi, Bela Vista:


Tipografia Sarah H, Bates, Missão Evangélica, 1935.

XAVIER, Francisco da S. Fonologia segmental e supra-segmental do quimbundo:


Variedades de Luanda, Bengo,Quanza Norte e Malange. 2010. 139f. Tese
(Doutorado), FFLCH, Universidade de São Paulo. 2010.

Textos não assinados, extraídos de sites

AGÊNCIA ANGOLA PRESS. Reverendo nega existência de língua Ngoia no Kwanza


Sul. 02/09/2004. Disponível em:
<http://www.portalangop.co.ao/angola/pt_pt/noticias/sociedade/2004/8/36/Re
verendo-nega-existencia-lingua-Ngoia-Kwanza-Sul,295ff678-96cd-400b-b396-
bbb592c54478.html> Acesso em: 18/09/2013.

INCRA, 2012. Disponível em: < http://www.incra.gov.br/index.php/estrutura-


fundiaria/quilombolas > Acesso em: 20/10/2013.

UNIÃO DOS ESCRITORES ANGOLANOS, 2013. Disponível em: <


http://www.ueangola.com/bio-quem/item/38-ant%C3%B3nio-de-assis-
j%C3%BAnior>. Acesso em: 15/07/2013.

Transcrições

PETTER, Margarida. M. T.; OLIVEIRA, Márcia S. D. de. Projeto-Piloto Comunidades


Quilombolas IPHAN/USP. Transcrições: “Xô xô canjirauê Seu Chico” 2011b.
Disponível em:

193
<http://www.fflch.usp.br/dl/indl/transcricao_detalhe.php?id=52&idc=158>
Acesso em: 10/01/2013.

PETTER, Margarida. M. T.; OLIVEIRA, Márcia S. D. de. Projeto-Piloto Comunidades


Quilombolas IPHAN/USP. Transcrições: “Xô xô canjirauê Seu Geraldo e Seu Valmir”
2011c. Disponível em: <
http://www.fflch.usp.br/dl/indl/transcricao_detalhe.php?id=53&idc=159> Acesso
em: 10/01/2013.

PETTER, Margarida. M. T.; OLIVEIRA, Márcia S. D. de. Projeto-Piloto Comunidades


Quilombolas IPHAN/USP. Transcrições: “Seu Ivo - Vissungo” 2011d. Disponível em:
<http://www.fflch.usp.br/dl/indl/transcricao_detalhe.php?id=39&idc=154>
Acesso em: 10/01/2013.

194
ANEXO 1 – Lista do vocabulário quimbundo registrado por Pedro Dias (1697) e
encontrada na região diamantina.

Percebemos que os itens em Pedro Dias, variaram pouco em relação aos


dicionários mais recentes.

Atuanène - Pessoas grandes

Camba - Amigo; Macamba – Amigos

Cunda, Macunda - Corcovas

Etu - Nós

Imbià - panela; Gimbia - panelas

Ngana ya muhetu - senhora

Ngana yalla - senhor

Nganga, Ginganga - Padre

Nginariàzambi - Nome de Deus

Ngombe - Boi

Nguenda - eu ando

Nguitunda - eu saio

Nzambi, Ginzambi – Deus

Quinêne - coisa grande

Sangi, Gisangi - Galinha

Tatarinène - Grande pai

Uanga, Maüanga - Feitiços

Xitu, Gixitu – Carne

195

Você também pode gostar