Pscico Socioint Livro-Texto - Unidade II
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Unidade II
5 A OBRA DE WALLON EM SEU MOMENTO HISTÓRICO
Henri Wallon nasceu em Paris, França, em 1879. Em sua formação recebeu forte influência de sua
família, de tradição universitária, republicana e de atmosfera humanista. Sua maior referência foi seu
avô. Ele foi um grande historiador, discípulo de Michelet e político de oposição ao Império. De acordo
com Galvão (2013): “Seu avô foi deputado da Assembleia Constituinte, autor da emenda conhecida
como ‘emenda Wallon’ que introduziu a palavra ‘república’ na Constituição de 1875”.
Dessa forma, Wallon foi criado em um ambiente repleto de discussões sobre política e sobre a
construção de uma sociedade justa e igualitária. Isso contribuiu para sua inclinação e preocupação
sobre as causas sociais traduzida numa trajetória de compromisso ético e engajamento político.
Observação
56
PSICOLOGIA SOCIOINTERACIONISTA
Foi uma vida marcada por intensa produção intelectual e ativa participação
nos acontecimentos que marcaram sua época. Sua biografia nos apresenta o
perfil de um homem que buscou integrar a atividade cientifica à ação social,
numa atitude de coerência e engajamento.
Formou‑se na Escola Normal Superior em 1902, ano em que iniciou na docência, como professor de
Filosofia. Entre 1903 e 1908 estudou Medicina em Paris, e, ao final do curso, defendeu sua primeira tese
sobre delírio de perseguição. Ao longo de sua formação e atuação profissional, suas áreas de interesse
foram Filosofia, Medicina, Psiquiatria e Psicologia.
Em 1914 realizou pesquisas sobre psicopatologia, observou crianças de 2 a 15 anos internadas com
profundas perturbações de comportamento (instabilidade, delinquência, perversidade) e estes estudos
foram a base para posteriores investigações sobre o funcionamento psicológico humano.
Ao mesmo tempo, Wallon viveu um momento histórico marcado por instabilidade social e turbulência
política. Participou ativamente na Primeira Guerra Mundial (1914‑1918) como soldado, lutou e prestou
atendimento médico aos soldados feridos. Durante esse período de guerra, como médico do exército
francês, teve a oportunidade de cuidar de pessoas com distúrbios psiquiátricos e, ao lidar constantemente
com ex‑combatentes portadores de lesões cerebrais, pôde rever seus estudos sobre lesões neurológicas
em crianças deficientes. Com isso pôde observar relações entre lesões orgânicas (neurológicas) e seus
efeitos sobre os processos psíquicos (MAHONEY, 2000).
As crises sociais e as instabilidades políticas foram fundamentais para Wallon construir sua
compreensão sobre o funcionamento psicológico humano, pois serviram de estímulo para que ele
organizasse suas ideias. Isso explica, em parte, a visão marxista de sua obra e por que aderiu, no período
anterior à Primeira Guerra, aos movimentos de esquerda e ao Partido Socialista.
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Unidade II
Lembrete
Observação
No mesmo ano, Wallon publicou sua tese de doutorado: A Criança Turbulenta. Inicia‑se um período
de intensa produção científica com livros voltados para a Psicologia da Criança.
58
PSICOLOGIA SOCIOINTERACIONISTA
Em 1929, Wallon realizou conferências sobre a Psicologia da Criança como professor na Universidade
de Sorbonne e em outras instituições de ensino superior. Atuou como médico em instituições psiquiátricas
e, nesse período, consolidou seu interesse pela Psicologia da Criança. Em 1931, viajou para Moscou e foi
convidado a integrar o Círculo da Rússia Nova, grupo formado por intelectuais que se reuniam com o
objetivo de aprofundar o estudo sobre o materialismo dialético e examinar as possibilidades oferecidas
por este referencial aos vários campos da ciência. Neste grupo, o marxismo que se discutia não era o
sistema de governo, mas a corrente filosófica.
De 1939 a 1945, período marcado pela Segunda Guerra Mundial, a França foi ocupada pelos alemães e
Wallon participou do movimento de Resistência Francesa contra os invasores; foi perseguido pela Gestapo
(polícia nazista); viveu clandestinamente; e teve que interromper suas atividades acadêmicas. No entanto,
não interrompeu suas atividades científicas, dando continuidade à pesquisa em seu laboratório e, nessa
época, escreveu e publicou o livro Do Ato ao Pensamento. Nesse período também viveu e combateu
o avanço do fascismo, as revoluções socialistas e as guerras pela libertação das colônias na África. Foi
deputado na Assembleia Constituinte de Paris, em 1946. Sua participação ativa nesse momento histórico
“reforçou ainda mais a sua crença na necessidade da escola assumir valores de solidariedade, justiça social,
antirracismo como condições para a reconstrução de uma sociedade justa” (MAHONEY, 2000).
Em 1948, Wallon cria e lança a Revista Enfance, periódico que ainda hoje é utilizado como fonte de
pesquisa por estudiosos na área da Psicologia do Desenvolvimento. Entre 1937 e 1962, lecionou Psicologia
e Educação no Colégio de França (berço da Psicologia francesa) e integrou a Sociedade Francesa de
Pedagogia. Além disso, no período de 1944 a 1946, participou, em Paris, da Comissão do Ministério da
Educação Nacional para reformulação do sistema de ensino francês. Considerava uma relação recíproca
entre Psicologia e Educação e criticou o ensino tradicional, participando do Movimento da Escola Nova.
No período entre 1946 e 1962, tornou‑se vice‑presidente do Grupo Francês da Educação Nova, instituição
que ajudou a revolucionar o sistema de ensino daquele país e da qual foi presidente de 1946 até sua morte.
Sua experiência e interesse voltados à área pedagógica fizeram com que elaborasse juntamente com o
físico Paul Langevin, e um grupo de educadores, um projeto para a Reforma do Sistema do Ensino Francês,
o “Projeto Langevin‑Wallon”, uma série de propostas similares à nossa Lei de Diretrizes e Bases (LDB).
Nesse projeto são discutidas questões para uma mudança profunda no ensino francês, visando ao
fim da seletividade perversa do sistema. A justiça social era um dos pilares que sustentavam as ideias
desse plano, que carregava implicitamente grande parte da teoria construída por Wallon ao longo de
sua vida profissional e acadêmica. Uma das propostas do projeto, por exemplo, é de que nenhum aluno
deve ser reprovado numa avaliação escolar.
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Unidade II
[...] o plano representa a esperança em uma educação mais justa para uma
sociedade mais justa. A reforma proposta (que não chegou a ser implantada)
deveria operar‑se no sentido de adequar o sistema às necessidades de uma
sociedade democrática e às possibilidades e características psicológicas do
indivíduo, favorecendo o máximo desenvolvimento das aptidões individuais
e a formação do cidadão.
Lembrete
Observação
Depois que você conheceu os aspectos importantes da vida de Wallon e como estes fatos orientaram
sua compreensão sobre o desenvolvimento psicológico, apresentamos a seguir, de maneira esquemática,
estas informações para facilitar seus estudos.
• 1914 – realizou pesquisas sobre psicopatologia, sendo estes estudos a base para posteriores
investigações sobre o funcionamento psicológico humano.
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PSICOLOGIA SOCIOINTERACIONISTA
• 1914‑1918 – atuou como médico do exército francês na Primeira Guerra Mundial; permaneceu
vários meses na frente de combate, ajudando a cuidar de pessoas com distúrbios psiquiátricos,
o que permitiu observar a relação entre as lesões neurológicas e seus reflexos nos processos
psíquicos.
• 1931 – atuou como médico em instituições psiquiátricas e, nesse período, consolidou seu
interesse pela Psicologia da Criança. Viaja para Moscou e é convidado para integrar o Círculo da
Rússia Nova.
• 1937 a 1949 – leciona Psicologia e Educação no Colégio de França (berço da Psicologia francesa).
Integrou a Sociedade Francesa de Pedagogia (1937 a 1962).
• 1948 – lançou a Revista Enfance, periódico que ainda hoje é utilizado como fonte de pesquisa
por estudiosos na área da Psicologia do Desenvolvimento.
Exemplo de aplicação
II. Formado em Medicina, Psicologia e Filosofia, participou da Primeira Guerra Mundial como médico,
cuidando das lesões dos soldados em combate. Durante a Segunda Guerra Mundial participou de
forças de resistência contra o nazismo; foi perseguido pela Gestapo e desenvolveu suas atividades
científicas na clandestinidade.
III. Como educador, defendeu o método de controle disciplinar no ensino, como maneira de lidar com
as questões afetivas dos alunos. Estudou crianças em laboratório, diferenciando as normas das
anormais, enfatizando que a anormalidade é responsável pela inadaptação do aluno ao ensino,
resultando em sua tese de doutorado A Criança Turbulenta.
V. A Revista Enfance, lançada em 1948, foi um importante veículo de comunicação das ideias de Wallon
com professores e pesquisadores da época. Nela, propunha novas ideias para a Educação como estudos
sobre Biologia, formação do professor, interação das crianças na escola, adaptação escolar, ideias
compartilhadas por membros do Grupo Francês de Educação Nova, que presidiu de 1946 a 1962.
Resposta:
Alternativa D
Comentário: formado em Medicina, Psicologia e Filosofia, participou da Primeira Guerra Mundial como
médico, cuidando das lesões dos soldados em combate. Durante a Segunda Guerra Mundial participou de
forças de resistência contra o nazismo; foi perseguido pela Gestapo e desenvolveu suas atividades científicas na
clandestinidade. Militante de esquerda, identificava‑se com as ideias marxistas, buscando a transformação do
ensino francês através do Projeto Langevin‑Wallon, que propunha o desenvolvimento das habilidades individuais
conjuntamente à formação do cidadão. A Revista Enfance, lançada em 1948, foi um importante veículo de
comunicação das ideias de Wallon com professores e pesquisadores da época. Nela, propunha novas ideias para
a Educação como estudos sobre Biologia, formação do professor, interação das crianças na escola, adaptação
escolar, ideias compartilhadas por membros do Grupo Francês de Educação Nova, que presidiu de 1946 a 1962.
62
PSICOLOGIA SOCIOINTERACIONISTA
Wallon foi um importante pensador francês (e não alemão); sua teoria revolucionou a maneira de
compreender o desenvolvimento infantil, porque compreendia que os processos afetivos
afetivos,, cognitivos
e motores (e não apenas cognitivos) são essenciais na formação do eu como pessoa. Como educador,
defendeu o método dialético (e não de controle disciplinar) no ensino como maneira de lidar com as
questões afetivas dos alunos. Estudou crianças em laboratório, diferenciando as normas das anormais,
enfatizando que a anormalidade é uma das referências para estudar o desenvolvimento infantil (e
não como sendo responsável pela inadaptação do aluno ao ensino, resultando em sua tese de doutorado
A Criança Turbulenta).
A obra de Wallon, sob a forma de livro, não é numerosa, mas sua produção é densa e de difícil
compreensão. Listamos a seguir, de forma cronológica, algumas de suas obras mais significativas,
fazendo um breve comentário sobre cada uma delas e, para isso, utilizamos como referência a listagem
apresentada por Galvão (2013). Ao longo do nosso curso, alguns dos diversos temas aqui listados serão
mais desenvolvidos.
• 1923 – Delírios de Perseguição (Délire de Persecution): esta publicação apresenta a tese na qual
Wallon conclui o curso de Medicina, em que descreve a origem biológica de vários tipos de delírio,
com base nos primeiros indícios do materialismo dialético.
• 1925 – A Criança Turbulenta (L’Enfant Turbulent): apresenta sua tese de doutorado e a base
de sua concepção psicogenética do desenvolvimento, com os fundamentos de sua metodologia
genético‑comparativa. Na primeira parte, apresenta os estágios do desenvolvimento infantil
e, na segunda parte, descreve síndromes psicomotoras na interface entre os fatores orgânicos
(deficiências neurológicas) e os fatores sociais (interações com o meio).
• 1942 – Do Ato ao Pensamento (De l’Acte à la Pensée): este livro foi escrito por Wallon no período
em que trabalhava na Resistência Francesa e vivia na clandestinidade. Apresenta seu pensamento
interdisciplinar, fazendo uso de dados da Antropologia e da Psicologia Animal. Demonstra as
raízes sensório‑motoras da função intelectual, indicando que entre o ato motor e o ato mental há
uma complexa relação de interdependência e de conflito.
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Unidade II
Saiba mais
<http://www.bvs.br>.
<http://www.bvs‑psi.org.br>.
<http://www.pol.org.br>.
<http://www.portaldapesquisa.com.br>.
<http://portal.revistas.bvs.br>.
<http://portalteses.cict.fiocruz.br/index.php>.
<http://www.scielo.org>.
<http://www.teses.usp.br/>.
<http://www.unifesp.br/dis/bibliotecas>.
<http://www3.unip.br/servicos/biblioteca/base_dados.aspx>.
<http://www.usp.br/sibi>.
6 O PENSAMENTO DE WALLON
Wallon, da mesma forma que Vygotsky, foi adepto da corrente epistemológica materialista
histórica e dialética. Parte do princípio de que é no início da vida que a história de um sujeito começa
a se constituir, por isso, constrói uma teoria psicogenética para compreender o psiquismo humano.
Nesse sentido, para que haja compreensão sobre o comportamento de uma pessoa, deve‑se investigar
a sua gênese. Afirma que, do nascimento à idade adulta, o desenvolvimento dos processos psicológicos
recebem influência direta do ambiente sócio‑histórico no qual o sujeito está inserido.
64
PSICOLOGIA SOCIOINTERACIONISTA
Observação
Para fundamentar suas concepções, Wallon busca dialogar com as principais correntes do pensamento
filosófico ocidental, opondo‑se às concepções reducionistas (inatismo, empirismo, interacionismo) que,
segundo ele, limitam a compreensão do psiquismo humano. Após vigorosas críticas a estas concepções,
opta pelo materialismo dialético, para fundamentar sua compreensão sobre o funcionamento
psicológico humano. Afirma que existe uma fronteira tênue entre os fatores de natureza orgânica e
os de natureza social e, entre ambos, há complexa relação de determinação recíproca. Em função disso
o homem é determinado fisiológica e socialmente sujeito, portanto a uma dupla história, a de suas
disposições internas e a das situações exteriores que encontra ao longo de sua existência.
No excerto a seguir, temos uma boa explicação sobre isso. Faça a leitura do texto para melhor
compreender este pressuposto epistemológico e a teoria de Wallon.
Para Wallon, o estudo dessa realidade movediça e contraditória, que é o homem e seu
psiquismo, beneficia‑se enormemente do recurso ao materialismo dialético, perspectiva filosófica
especialmente capaz de captar a realidade em suas permanentes mudanças e transformações.
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Unidade II
A partir da leitura deste excerto, podemos compreender que, para Wallon, é no encontro do orgânico
com o social que os sujeitos se desenvolvem. Isso significa que, por um lado, existem os aspectos
biologicamente determinantes, que são de natureza orgânica, genética, que herdamos no nascimento,
e, por outro lado, existem os fatores do meio, do contexto em que vivemos, que nos impõem uma série
de desafios e nos obrigam a nos desenvolver para uma adaptação.
Você pode se perguntar: “Mas esta não é a premissa na qual Jean Piaget (1896‑1980) estrutura
sua compreensão sobre o funcionamento psicológico humano?”. Sim, você está correto, mas, tanto
para Wallon como para Vygotsky, a constituição humana não depende somente da natureza orgânica
e dos fatores do meio para seu funcionamento, e sim, dos acontecimentos históricos que vão surgindo
diariamente em nossa vida, modificando e determinando nossa relação conosco mesmo e com o ambiente
social no qual estamos inseridos. Portanto, de acordo com o materialismo histórico e dialético, o
homem transforma o mundo em que habita e é transformado pelas condições que ele mesmo produz.
Com isso, na teoria walloniana não há como compreender o ser humano longe de suas condições sociais
de existência. Essas condições são fatores que implicam diretamente no ritmo de seu desenvolvimento.
A relação organismo‑meio constitui‑se em um par indissociável e complementar, onde as disposições
genéticas são potenciais que somente irão desenvolver‑se se encontrarem possibilidades no meio em
que habitam.
Lembrete
Observação
Assim, o desenvolvimento se dá pela união entre o orgânico e o social. Por exemplo, digamos que
o sujeito tenha nascido com um potencial genético para ser um grande artista plástico, como Claude
Monet (1840‑1926) ou como Pablo Picasso (1881‑1973). No entanto, se o contexto social e histórico
não lhe oportunizar condições para isso, esse sujeito nunca desenvolverá essa capacidade artística.
66
PSICOLOGIA SOCIOINTERACIONISTA
Nesse sentido, o ser humano é geneticamente social e está inserido em um meio constituído por
três tipos:
• meio biológico – se sobrepõe ao físico‑químico e diz respeito à interrelação que nós, humanos,
temos com outras espécies vivas (os micro‑organismos, os vegetais e os animais de todas as
espécies);
• meio social – reúne‑se aos outros dois para também estabelecer condições de existência coletivas,
mas muito mais variadas. Wallon afirma que essas condições do meio social são mais móveis e
frequentemente transitórias onde podem se destacar diferenciações individuais.
Além dos meios que determinam as condições de interação do indivíduo, existem também os grupos
que são indispensáveis à criança, não apenas para a sua aprendizagem social, como também para o
desenvolvimento da personalidade e da consciência. Um exemplo disso é o papel do grupo no período da
adolescência, onde o sentimento de pertencimento a um grupo possibilita o desenvolvimento psíquico e
social do sujeito, a passagem da infância para a vida adulta.
Observação
Ainda em relação às concepções metodológicas que respaldam os estudos de Wallon, sua teoria
está alicerçada na perspectiva genética e na análise comparativa, por isso, para compreensão do
desenvolvimento infantil, recorre à Psicologia Genética e a outros campos do conhecimento, como
Neurologia, Psicopatologia, Antropologia e Psicologia Animal. Não obstante foi intensa a sua interlocução
no campo da Psicologia da Criança com autores como Stern, Preyer, C. Buhler, Guillaume, Freud e Piaget.
Observação
Nesta perspectiva e com os recursos do materialismo dialético, Wallon elaborou seu próprio método
de investigação: a análise genética comparativa multidimensional. Neste método propõe realizar
uma série de comparações para melhor compreender o processo de desenvolvimento psicológico:
comparações entre crianças normais e patológicas, crianças com adultos, adultos de hoje com civilizações
primitivas etc. Com essas comparações, pode‑se analisar os fenômenos em suas determinações orgânicas,
neurofisiológicas e sociais.
Ainda em relação aos procedimentos metodológicos, o autor utiliza a observação como recurso
para ter acesso à criança, instrumento privilegiado da Psicologia Genética, no entanto, adverte para
que a observação seja totalmente objetiva, um decalque exato da realidade, devendo o pesquisador
subjulgar qualquer manifestação subjetiva.
A seguir apresentamos uma parte do texto, em que o materialismo dialético e suas concepções
epistemológicas são novamente referenciados, como proposta de exercício de reflexão para melhor
compreensão da teoria desse grande autor. Propomos que você faça uma leitura atenta desse excerto
sobre os argumentos de Wallon a respeito desta concepção epistemológica e, com isso, concluímos este
tópico. Boa leitura!
A Psicologia é uma ciência? Esta pergunta foi colocada frequentemente pelos teóricos
burgueses. Ela tem dois possíveis significados: a Psicologia tem um objeto correspondente
no mundo real? O objeto da Psicologia é compatível com o determinismo científico?
[...]
Foi a dialética que forneceu à Psicologia sua estabilidade e seu significado, e que a libertou
de ter de optar entre o materialismo elementar ou o idealismo choco, o substancialismo cru ou
o irracionalismo desesperado. Com o auxílio da dialética a Psicologia pode ser simultaneamente
uma ciência natural e uma ciência humana, abolindo a divisão entre a consciência e as coisas que o
espiritualismo buscou impor ao universo. A Dialética Marxista permitiu à Psicologia compreender o
organismo e seu ambiente em interação constante, como uma totalidade unificada. E finalmente,
na Dialética Marxista, a Psicologia encontra uma ferramenta para explicar os conflitos nos quais o
indivíduo tem que evoluir seu comportamento e desenvolver sua personalidade.
Como Wallon apresenta o desenvolvimento psicológico na criança? Qual sua compreensão sobre o
funcionamento psíquico e sua relação com o meio?
Lembrete
Para a construção de seu método de análise, Wallon utilizou como perspectiva a Psicologia Genética,
uma vez que considera esse procedimento o mais adequado para compreender o funcionamento
psicológico humano. A Psicologia Genética estuda as origens, a gênese dos processos psíquicos,
constitui‑se no método de uma Psicologia geral, concebida como conhecimento sobre o adulto por
meio do estudo da criança.
Figura 22 – Crianças
70
PSICOLOGIA SOCIOINTERACIONISTA
• personalismo (3 a 6 anos);
• categorial (6 a 11 anos);
Observação
Embora o desenvolvimento seja apresentado em uma sequência de etapas, não há uma linearidade
na evolutiva infantil. Em uma perspectiva walloniana, o processo é dinâmico, ocorrem idas e vindas,
como foi mencionado anteriormente, repleto de rupturas, retrocessos e reviravoltas. Os fatores orgânicos
(biológicos) determinam a sequência fixa dos estágios do desenvolvimento, que se tornam flexíveis pela
influência dos fatores sociais. Por isso, mais uma vez, retomamos uma afirmação walloniana: o alimento
cultural do desenvolvimento é a linguagem e o conhecimento.
Em outras palavras, a gênese da inteligência para Wallon é genética e organicamente social. Nesse
sentido, a Teoria do Desenvolvimento Cognitivo, como foi dito anteriormente, é centrada na psicogênese
da pessoa completa, onde, em cada estágio, temos uma pessoa inteira, completa e em transformação
constante, a partir das dimensões afetiva, cognitiva e motora.
Lembrete
Wallon foi o primeiro a levar não só o corpo da criança, mas suas
emoções para dentro da sala de aula.
Vale ressaltar que durante o processo de desenvolvimento psicológico, os três campos funcionais nos
quais ocorre a atividade infantil estarão presentes. Por isso a constituição psíquica do sujeito será a partir
das atividades concomitantes da dimensão emocional (afetividade), dimensão cognitiva (inteligência) e
dimensão motora (movimento), determinados também pelos fatores orgânicos e sociais.
conflitos chamados fatores dinamogênicos, que podem ser de natureza endógena/interna (maturação
nervosa) e de natureza exógena/externa (cultural).
A seguir fazemos um destaque destes conceitos para que você possa melhor identificá‑los e
reconhecê‑los em cada fase do desenvolvimento proposto por Wallon.
• Lei da Integração Funcional: existe uma relação hierarquizada entre os estágios do desenvolvimento:
no início, estágios mais simples que vão sendo integrados aos estágios mais complexos seguintes,
conforme as relações do sujeito com o meio e as possibilidades de seu sistema nervoso central. Por
isso, no final do desenvolvimento, ocorre a integração funcional, ou seja, a integração das dimensões
motora‑afetiva‑cognitiva na estruturação e funcionamento psicológico do sujeito.
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PSICOLOGIA SOCIOINTERACIONISTA
Predominância
Estágios do desenvolvimento/idade Fatores dinamogênicos Funcional/campos funcionais
Impulsivo emocional (0‑1) Endógeno Afetivo
Personalismo (3‑6) Endógeno Afetivo
Puberdade e adolescência (11‑15) Endógeno Afetivo
Sensório motor e projetivo (1‑3) Exógeno Cognitivo
Categorial (6‑11) Exógeno Cognitivo
Exemplo de aplicação
“Penso que é maravilhoso tudo que me acontece – não só o que aparece em meu corpo, mas o que
se realiza por dentro... Cada vez que tenho menstruação – e isso só aconteceu três vezes! – sinto que,
apesar de toda dor, desconforto e sujeira, possuo um segredo delicado e é por isso que, embora de certo
modo não passe de uma maçada, eu anseio pelo tempo em que sentirei dentro de mim aquele segredo...
Depois que vim para cá, logo ao fazer 14 anos, comecei a pensar em mim mais cedo que a maioria das
meninas e a perceber que era uma ‘pessoa’...” Anne Frank (apud OSÓRIO, 1998).
Resposta:
Alternativa B
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Unidade II
Figura 23 – Crianças
As fases do desenvolvimento propostas por Wallon foram observadas e construídas por ele, em
suas minúcias, por meio do método de análise genética comparativa multidimensional, método já
explicado anteriormente.
Lembrete
Lembramos, mais uma vez, que as idades descritas por Wallon referem‑se
à cultura francesa (e de outras culturas e etnias) do final do século XIX e
início do século XX, por isso devem ser colocadas em reavaliação crítica
quando de sua aplicação no contexto em que for estudado.
Vamos agora, então, conhecer as fases do desenvolvimento estudadas por Wallon. Inicialmente
apresentaremos as principais características de cada etapa e alguns exemplos para tornar mais claro
para você como ocorre o funcionamento psicológico da criança em cada período. Ao final, damos
algumas dicas de filmes para que você possa reconhecer os principais indicadores do desenvolvimento
estudados no curso.
74
PSICOLOGIA SOCIOINTERACIONISTA
A partir do nascimento até por volta de um ano de idade, se dá o primeiro estágio, chamado de
impulsivo emocional. A predominância funcional, nesse período, é afetiva (relações afetivas) e o
conflito é de natureza endógena (centrípeta), ou seja, voltado para o autoconhecimento. Sendo assim,
a afetividade é marcante nesse momento, pois a criança se nutre pelo olhar e por contato físico e se
expressa por gestos, mímicas e posturas.
Essa é a etapa da formação do eu corporal, a criança está voltada à construção do eu. No início,
há total indiferenciação eu‑outro (simbiose); somente no próximo estágio ocorrerá à diferenciação do
espaço objetivo e subjetivo (recorte corporal). Um exemplo sobre esta indiferenciação é quando o bebê
coloca a mão na boca e morde sem compreender que a dor que sente foi provocada por ele mesmo.
Figura 24 – Bebê
• impulsivo (0 a 3 meses) — é um organismo puro, sua atividade se manifesta apenas por reflexos
e movimentos impulsivos: exploração do corpo, movimentos bruscos, desordenados; existe uma
simbiose fisiológica.
Em relação à impulsividade motora, que ocorre por volta de 0‑3 meses de vida, foram identificadas
sensibilidades interoceptiva e proprioceptiva.
75
Unidade II
As sensibilidades interoceptivas são aquelas que se manifestam pela região visceral, como, por
exemplo, a fome e dores provocadas pela região intestinal; já a sensibilidade proprioceptiva é aquela
ligada às questões musculares, como, por exemplo, o incômodo postural gerado ao deixar o bebê por
muito tempo na mesma posição ou pelo prazer em se movimentar livremente.
Lembrete
Seus movimentos vão se tornando cada vez mais expressivos e, dessa forma, ela passa a se entender
melhor com o adulto que dela cuida, uma vez que emocionalmente vai acontecendo um diálogo por meio
do corpo. Ainda não há fala na criança, mas esta vai aprendendo cada vez mais a como se manifestar
e conseguir do adulto o que precisa. É importante lembrar que o bebê está ainda em processo de
indiferenciação do eu corporal e do eu psíquico.
Aos seis meses inicia‑se a atividade circular, ou seja, um gesto da criança cria um resultado auditivo
ou visual e ela tentará reproduzi‑lo, isso possibilitará a organização dos exercícios sensório-motores e
irá preparar a criança para o estágio seguinte.
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PSICOLOGIA SOCIOINTERACIONISTA
Os balbucios do bebê, cada vez mais variados, que o preparam para discernir
os mesmos sons pronunciados pelas pessoas de seu meio, são um exemplo
da atividade no campo auditivo. Da mesma forma, sente prazer com o
barulho do chocalho, quando colocado em sua mão, ou com o barulho feito
ao amassar e rasgar uma folha de papel. Em relação à atividade motora ou
tátil, a criança não se cansará de pegar e manipular objetos ao seu alcance,
mordê‑los, esfregá‑los no corpo e deixá‑los cair um sem número de vezes.
Observação
Portanto essas atividades circulares – movimentos repetitivos que se chamam circulares por girarem
em torno do mesmo eixo – podem ser observadas, como foi dito, em várias ações infantis: balbucios
variados, movimentos de pernas, movimentos de braços, morder objetos, manipular um chocalho, pegar
e deixar cair várias vezes um objeto.
Assim, nesse período, as principais aprendizagens se destinam a reconhecer “o que” ela é e fazer
um recorte entre ela e o mundo, pois a criança ainda não se reconhece como diferente de qualquer
objeto que encontra em seu meio. Não raro, encontramos bebês beliscando a si próprios por não
se reconhecerem como donos do próprio braço e começarem a chorar por sentir a dor. Em outras
situações podemos presenciar uma criança puxando seu próprio cabelo e, naturalmente, chorando
pela dor que sente.
O recurso principal de aprendizagem nada mais é do que a fusão com o adulto. É como se a criança
e o adulto fossem uma pessoa só, graças à forte ligação entre os dois. Essa interação é que proporciona
o avanço em todos os conjuntos funcionais da criança, pois a estimula de inúmeras maneiras.
Exemplo de aplicação
Mariana está sentada em seu carrinho. Brinca animadamente com as suas mãos: abre e fecha os
dedos, segura uma mão contra a outra, coloca‑as na boca. Agarra seus pés, coloca‑os na boca, e começa
a chorar, porque mordeu os seus pés. A partir dessa situação é possível inferir que:
II. No caso, o eu corporal ainda está indiferenciado, sem a diferenciação entre o espaço objetivo e o
espaço subjetivo (morde o próprio pé).
77
Unidade II
Resposta:
Alternativa A
Comentário: todas as afirmativas são corretas, porque correspondem ao período impulsivo emocional
e respondem a situação de Mariana ao morder seus pés.
Predominância Fatores
Estágio Idade Características
funcional dinamogênicos
Impulsivo emocional 0 a 1 ano
Indiferenciação eu-outro
Está dividido em dois
momentos: Sensibilidade interoceptiva,
Conflito de proprioceptiva, exteroceptiva
Impulsividade motora 1 a 3 meses natureza
Afetiva Simbiose fisiológica
endógena
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PSICOLOGIA SOCIOINTERACIONISTA
Saiba mais
OLHA quem está falando. Dir. Amy Heckerling, EUA, 1989. 93 minutos.
NINGUÉM segura esse bebê. Dir. Patrick Read Johnson, EUA, 1994. 100
minutos.
O próximo estágio, o sensório motor e projetivo, por volta de 1 a 3 anos, tem por base a exploração
do mundo exterior. A predominância funcional nesse estágio é cognitiva (relações cognitivas) e o
conflito é de natureza exógena (centrífuga), ou seja, voltada para o mundo exterior. Período marcado
pela diferenciação do corpo físico, mas não do eu psíquico, que ocorre no próximo estágio.
Nessa etapa, portanto, ocorre a integração do corpo, das sensações ao corpo visual e isso pode
ser observado, por exemplo, quando a criança está em frente ao espelho. Ela somente irá perceber
e reconhecer sua própria imagem projetada no espelho por volta dos 2 anos (diferenciação do eu
corporal). Antes disso, acredita que a sua imagem projetada é de outra criança e tenta comunicar‑se com
ela, atribuindo a ela existência, vida própria. Apresenta também diálogo consigo mesma representando
vários personagens.
Como outra característica desse período, observa‑se intensa exploração sensório motora do
mundo físico; há na criança uma intensa atitude de agarrar, segurar, empurrar objetos, bem como
comportamentos de sentar e de marchar (andar), dando‑lhe autonomia para explorar o ambiente de
diferentes formas e, com isso, desenvolver‑se. Além disso, há o desenvolvimento da função simbólica e
da linguagem – o ato mental “projeta‑se” em atos motores.
Com isso, os ganhos do estágio anterior possibilitam que a criança tenha mais instrumentos de
exploração dos locais em que vive. O desenvolvimento neuromotor alcançado até então permite
maior interação com os objetos exteriores e, com estes, há uma relação para um exercício das funções.
Movimentos e atividades da criança se repetem para testar os efeitos e modular seus órgãos sensórios
motores; é a continuidade das atividades circulares, que agora, nesse estágio, se ampliam.
79
Unidade II
Observação
Essa atividade projetiva aparece nesse estágio e nos outros por meio dos jogos simbólicos e das
histórias infantis, e abre caminho para outras formas de representação, uma vez que a ação motora
organiza seu pensamento. Há vários movimentos projetivos nessa fase: imitação, simulacro, animismo
e o uso da 3ª pessoa.
• simulacro — pelos gestos, a criança simula uma situação de utilização de um objeto sem tê‑lo de
fato. Trata‑se de um ato sem o objeto real, pois é um pensamento apoiado em gestos e serve de
suporte à sua linguagem (o faz de conta). O gesto torna presente o objeto;
• animismo — a criança atribui vida a alguma parte de seu corpo, tratando‑a como se fosse uma
pessoa;
• uso da terceira pessoa — refere‑se a sua pessoa pelo próprio nome ou usa a terceira pessoa em
vez de utilizar o pronome “eu”. Por exemplo: “Mariana” está triste; “ela” quer brincar etc.
Portanto a criança utiliza a imitação como modelo da sua conduta motora e inicia as manifestações
do simulacro, ou seja, suas atividades que manifestam a fantasia e são o prenúncio da representação.
Ao imitar, a criança demonstra ser capaz de guardar imagens de coisas que captou visualmente e
guardá‑las em mente. Por isso, para Wallon, a imitação é o primeiro e mais rico meio de aprendizagem
da criança nesta fase de desenvolvimento.
Após conquistar avanços representativos através da imitação a criança começa a simular as coisas
existentes em seu meio, como, por exemplo, ao pegar uma pedra e brincar como se fosse uma batata,
ela projeta na mente o objeto batata e simula (por isso simulacro) uma realidade. A brincadeira do faz de
conta, para Wallon, é uma conquista ainda maior que a anterior, a imitação, pois dá a chance da criança
incorporar papéis sociais, estruturar em sua mente uma melhor noção dos costumes e formas de vida
existentes em seu meio etc.
É brincando que a criança conquista esse avanço mental, por isso a brincadeira deve ser muito
valorizada em todos os estágios, em especial, nesse, porque estará aprendendo a fazer isso.
Exemplo de aplicação
Paulinha está fazendo aniversário e seu avô lhe trouxe de presente uma boneca bastante grande.
No dia seguinte, no parque em frente a sua casa, ao contar para outra criança sobre seu presente, ela
abre os braços para mostrar o tamanho da boneca que ganhou. A forma de Paulinha contar sobre seu
presente parece indicar que ela se encontra no estágio:
A) Personalismo, pois, para conseguir o que deseja, a criança usa qualquer recurso para exibir o
objeto admirado.
B) Impulsivo emocional, em que há profunda relação entre a emoção e o tônus, este para favorecer
uma base material à vida afetiva.
C) Categorial, pois revelam sua necessidade de autossubstituir os outros, pois seus simples gestos são
padrões imitativos.
81
Unidade II
E) Sensório motor e projetivo, porque seu pensamento ainda é incipiente, e, assim, necessita do
auxílio de gestos para se exteriorizar, expressar seus pensamentos.
Resposta:
Alternativa E
Cometário: seu pensamento ainda é incipiente, e, assim, necessita do auxílio de gestos para se
exteriorizar, expressar seus pensamentos. A isso Wallon chamou de simulacro.
No quadro a seguir resumimos os principais conceitos desse período para auxiliá‑lo em seus estudos.
Imitação
Projetivo 2 a 3 anos
Simulacro
Animismo
Saiba mais
OLHA quem está falando também. Dir. Amy Heckerling. EUA, 1990. 77
minutos.
TRÊS solteirões e um bebê. Dir. Leonard Nimoy. EUA, 1987. 102 minutos.
82
PSICOLOGIA SOCIOINTERACIONISTA
Em função disso, esse é um período de formação da personalidade, marcado por conflitos e crises. Será
nesse momento do desenvolvimento que ocorrerá a construção e o enriquecimento da personalidade,
a formação do eu psíquico.
A personalidade é compreendida por Wallon como “[...] sentido do ser total, físico‑psíquico e tal
como ele se manifesta pelo conjunto do seu comportamento” (WALLON, 2007, p. 131).
Dessa forma, três fases de relações interpessoais distintas se apresentam neste estágio, com o
objetivo de, ao final, ter‑se conseguido o desdobramento do eu psíquico, a individualização. Trata‑se de
romper com seus cuidadores, simbolicamente, pois dependerá deles para adquirir um jeito próprio de
ser. São elas: a oposição, a sedução e a imitação.
Trata‑se da necessidade de romper a característica de seguir os pedidos dos adultos como forma de
tentar galgar seu próprio espaço. A criança parece ter se virado contra os adultos, mas nada é tão natural
nessa fase. Muitos dizem ser a fase de autoafirmação e, por isso, a criança costuma não obedecer da
maneira que fazia anteriormente.
Assim sendo, nesse período ocorrem com frequência os conflitos pessoais, a criança apresenta
momentos de oposição ao não eu, manifestados em forma de confrontos (ciúmes, tirania, agressividade).
Um exemplo disso é a disputa de brinquedos, em que a manifestação do desejo de propriedade conta
mais do que o próprio objeto. Wallon chama isso de sentimento de posse, onde ter propriedade não
significa apenas apropriar‑se do que é do outro, mas a afirmação de si próprio. Nesse sentido a criança
se torna competitiva e extremamente ciumenta, em função da necessidade de ter claro para si o que lhe
pertence e, com isso, se diferenciar do outro para se constituir como sujeito diferenciado. Portanto há
a expulsão e a incorporação do outro, ou seja, movimentos complementares e alternantes no processo
de formação do “eu”.
Uma boa maneira de lidar com essa situação, uma vez que parece ser a autonomia o interesse da
criança, seria oferecer pequenas responsabilidades para ela. Tomar conta de algo, ajudar com uma
coisa ou outra, algo que venha a valorizar seu jeito de fazer as coisas. Alguns pais de filhos nesta
faixa de idade costumam pedir que os ajudem a cuidar do irmão mais novo e, mesmo sendo algo não
tão sério (pois não se relegaria aos cuidados de uma criança nesta idade a vida de outra mais nova)
costuma dar certo, pois valoriza a participação ativa da criança, proporcionando a autoafirmação que
ela tanto desejava.
Lembrete
Logo em seguida à oposição, surge a fase da sedução ou idade da graça, onde a criança sente
necessidade de ser aceita e admirada, de agradar os adultos e, dessa forma, admirar‑se também. Gosta
de se exibir com gracejos dizendo: “Olha o que eu faço, olha o que eu consigo fazer”, faz isso em busca
de elogios e de satisfação narcísica.
84
PSICOLOGIA SOCIOINTERACIONISTA
Então acontece nessa fase uma exuberância motora que precisa ser mostrada, na qual a criança
se exibe na busca de reconhecimento. Agora, nessa busca que parece ser mais um fortalecimento da
autoestima, ela busca a admiração daqueles com quem antes ela havia rompido pela oposição. Costuma
ser muito comum a criança brigar pela atenção daqueles que ela admira, fazendo coisas extravagantes
e chamativas. Mostrar os saltos que ela aprendeu a fazer, o brinquedo que ela ganhou, a nova habilidade
que ela desenvolveu, a música que aprendeu etc. são os instrumentos que ela utiliza para arrancar elogios,
reconhecimento e admiração. Por isso as respostas dos adultos parecem ser bastante importantes para
ela. Entretanto, não se pode pensar que qualquer forma de elogio seria valorizada pela criança, pois,
mesmo sendo muito nova, não se deixa enganar. Caso seja elogiada sem sentido ela perceberá e não
aceitará como algo sincero, uma vez que não quer ser enganada, mas sim reconhecida para que seu
conceito de valor próprio (autoestima) seja preenchido positivamente.
Outra importante característica dessa fase é a inércia mental, que faz com que a criança seja
totalmente absorvida por suas ocupações, sem nenhum poder de mudança sobre elas. Ela costuma ser
atraída por qualquer estímulo que chame sua atenção, mudando de atividade ou persistindo nelas sem
que se possa explicar ao certo.
É também nessa fase que Wallon pôde ver a primeira manifestação afetiva que ele chamou de
paixão. Paixão é quando se possui o autocontrole cognitivo para retardar uma manifestação emocional.
Por exemplo, uma criança de 4 anos pode apresentar um autocontrole de seu ciúme por seu irmão mais
novo, esperando sua mãe sair do quarto para que ele possa se aproximar e dar um beliscão no bebê. Ou
aguardar a distração de sua professora e arrancar da mão de uma colega o brinquedo que ele não quer
lhe emprestar.
A escola, dessa forma, pode ocupar um papel muito importante para a criança nessa fase, pois,
para formar sua própria personalidade, ela precisa se autoafirmar psiquicamente e reconhecer que é
diferente de outras pessoas. Nesse sentido, é favorável que conviva com várias pessoas, e o ambiente
escolar é um local que propicia isso, uma vez que em casa essas oportunidades ficam limitadas. Outro
detalhe importante é que a criança precisa aprender a lidar com a negação, pois a frustração é um
aspecto comum na vida social de um adulto e desde cedo precisamos aprender que as coisas não são
sempre ao nosso favor ou do jeito que queremos que sejam.
85
Unidade II
Exemplo de aplicação
Artur, desde os 2 anos e meio de idade, queria realizar todas as atividades sem ajuda de ninguém.
Mas é somente a partir dos 3 anos que ele realmente faz questão de agir e de se livrar sozinho das
dificuldades. Esforça‑se para empurrar ou arrastar objetos, subir, molhar uma planta, gritando o tempo
todo, entusiasmado: “Olha! Eu sei fazer sozinho! Eu fiz sozinho!”.
A) Categorial.
C) Impulsivo emocional.
D) Operatório formal.
E) Personalismo.
Resposta:
Alternativa E
No quadro a seguir resumimos os principais conceitos desse período para auxiliá‑lo em seus estudos.
86
PSICOLOGIA SOCIOINTERACIONISTA
Quadro 5 – Personalismo
Predominância Fatores
Estágio Idade Características
funcional dinamogênicos
Diferenciação do corpo
físico, eu psíquico
Formação da
personalidade
Praxias culturais
Conflito de natureza Oposição
Personalismo 3 a 6 anos Afetiva de endógena
centrípeta Sedução ou Idade da
Graça
Imitação
Sentimento de posse
Ciúme
Inércia mental
Saiba mais
O estágio categorial se inicia por volta dos 6 anos de idade e se distingue amplamente do período
anterior. No personalismo, a afetividade é a predominância funcional que conduz ao desenvolvimento;
no período categorial a predominância funcional é cognitiva, as características do comportamento
são determinadas principalmente pelo desenvolvimento intelectual e o plano afetivo e motor são
dependentes da evolutiva da cognição.
87
Unidade II
No plano motor, a criança já manifesta gestos mais precisos e elaborados, pode planejar movimentos
e as consequências de seus gestos. Da mesma forma, é capaz de tomar maior cuidado com seu próprio
corpo em situações de risco e, nesse sentido, é mais autônoma em relação aos adultos. Em outras
palavras, esse é um período de razoável estabilidade se comparado com o estágio do personalismo. No
transcorrer, desaparece o sincretismo e a criança apresenta uma autodisciplina mental ou atenção que
marca sua entrada na escola – por isso também é chamada de idade escolar.
Assim sendo, uma das principais características que emerge nesse estágio é a autodisciplina mental
ou atenção. Significa dizer que nesse momento a criança torna‑se capaz de manter‑se atenta por
mais tempo em uma mesma atividade, desconsiderando os demais estímulos que recebe do ambiente e
respondendo apenas àqueles que lhe interessam.
Na maior parte das culturas, esse período coincide com a entrada na escola e, graças à maturação
neurológica, a função simbólica e a diferenciação da personalidade, importantes avanços ocorrem no
plano da inteligência, como a direção do interesse para o conhecimento e a conquista do mundo exterior
(centrífuga), vertendo suas relações com o meio com preponderância do aspecto cognitivo.
analisa o pensamento discursivo de crianças de 5 a 9 anos e busca compreender como pensavam. Para
isso realiza entrevistas abordando temas do cotidiano infantil, com perguntas do tipo: “o que é o sol,
o vento, a lua etc.” Wallon conseguiu perceber, por meio desse estudo, que o pensamento se processa
no início dessa fase de maneira sincrética, confusa e global, para, depois, tornar‑se um pensamento
categorial propriamente dito, com a expressão de um pensamento discursivo.
— pensamento por pares: um objeto ou situação só pode existir em seu pensamento se estiver
em relação a outro que lhe dê identidade. Exemplo: uma pessoa dorme porque sonha.
As manifestações do pensamento sincrético no período categorial podem ser observadas por vários
fenômenos, como pensamento por pares, tautologia, elisão e fabulação. Vamos à definição de cada um deles.
Dessa forma, a menor unidade do pensamento é o par, ele é base do raciocínio infantil. A criança
não consegue considerar uma palavra isoladamente, pois ainda não há essa diferenciação. Wallon
nos mostra que o pensamento sincrético mistura aleatoriamente uma coisa à outra, sem uma lógica
definida, por ainda ter uma forte base afetiva nesse pensamento. Essa base guia boa parte das escolhas
no uso dos termos empregados pela criança e pela escolha do par, por exemplo: pode fazê‑lo em função
de uma vivência, pela semelhança entre os objetos, por aproximações sonoras ou automatismos de
sentido, como parlendas ou rimas. Assim, no pensamento por pares, a criança não consegue operar com
sistemas de relações, não distingue causa e efeito, por isso classifica os objetos em função da relação
que estabelece com eles.
Observação
Além do pensamento por par, regido por uma dinâmica binária que compõe em pares os objetos
mentais, outros fenômenos caracterizam o pensamento sincrético nessa fase, que são elementos
observados na fala da criança quando em diálogo com adultos ou outras crianças.
Na tautologia, a criança define um termo pela repetição do mesmo na frase, diversas vezes. Por
exemplo, a criança diz: “Eu fui para escola e no caminho eu vi um cachorro, era um cachorro muito
grande, eu tive medo do cachorro porque...” A palavra “cachorro” é repetida várias vezes na frase, como fio
organizador do pensamento da criança. A elisão caracteriza‑se pela fala repleta de partes incompletas,
uma fala confusa, faltando pedaços. Outra característica é a fabulação, na qual, na narrativa infantil,
observa‑se um enredo, uma história para retratar ou explicar um acontecimento ou uma ideia.
A criança, nesta fase, precisa aprender o que é o mundo, as diferenças e semelhanças entre as
coisas, elaborar ideias, representações, enfim, pôr o mundo em categorias racionalmente organizadas.
Para isso, precisa de uma variedade de atividades e, segundo Wallon, a escola é o principal cenário
onde isso pode ocorrer.
90
PSICOLOGIA SOCIOINTERACIONISTA
Exemplo de aplicação
Luiza arrumou seu guarda‑roupa colocando todas as camisetas de manga em uma gaveta. Na
outra gaveta, colocou as blusas de alça, organizou todas as saias em um cabide e as calças em outro,
depois, separou as tarefas escolares do dia seguinte em uma pilha e as da próxima semana em outra.
Luiza também é organizada com a sua coleção de papéis de cartas que está guardada em uma pasta e
arrumada por cor e tamanho.
I. Se encontra no estágio categorial e seu interesse está voltado para nomear, agrupar, comparar,
classificar.
II. O pensamento categorial permite à Luiza analisar as características dos objetos ou acontecimentos,
fazer comparações e assimilações sistemáticas e coerentes, entre outras características.
III. Luiza se encontra no personalismo e essa busca de controle sobre os objetos reflete a busca
interior de controle do próprio eu.
A) I apenas.
B) II apenas.
C) III apenas.
D) I e II apenas.
E) II e III apenas.
Resposta:
Alternativa D
Cometnário: Luiza se encontra no estágio categorial e seu interesse está voltado para nomear,
agrupar, comparar, classificar (I). O pensamento categorial permite à Luiza analisar as características
dos objetos ou acontecimentos, fazer comparações e assimilações sistemáticas e coerentes, entre outras
características (II).
91
Unidade II
Para finalizar nossos estudos sobre este estágio, apresentamos a seguir um quadro com uma síntese
com as principais características desse período.
Quadro 6 – Categorial
Fatores
Estágio Idade Predominância funcional Características
dinamogênicos
Categorial 6 a 11 anos Autodisciplina mental ou
atenção.
Está dividido em
dois momentos: Atenção voluntária
Pré‑categorial 6 a 9 anos (rompendo com a inércia
mental).
Cognitiva Conflito de natureza Idade Escolar.
de exógena centrífuga
Categorial Pensamento sincrético:
9 a 11 anos tautologia, elisão, fabulação,
propriamente dito
pensamento por pares.
Pensamento discursivo
Saiba mais
HARRY Potter e a pedra filosofal. Dir. Chris Columbus. EUA, 2001. 152
minutos.
O estágio da puberdade e adolescência começa por volta dos 12 anos e vai até a juventude,
pois se trata da última e movimentada etapa que separa a criança do adulto. Novamente, sujeito à
mudança na predominância funcional, assim como no estágio do personalismo, o sujeito volta‑se
agora para o conhecimento do eu (direção centrípeta), o conhecimento interior. Mas as semelhanças
entre esses estágios são maiores, pois, como explica Wallon, são as necessidades da personalidade que
passam novamente para primeiro plano. Nela, o indivíduo está sujeito a inúmeras crises, onde “[...] os
sentimentos possuem a mais evidente ambivalência: timidez e arrogância, vaidade e gozo dos outros
alternam e muitas vezes combinam‑se” (WALLON, 2007, p. 139). A predominância funcional é afetiva
(relações afetivas) e o conflito é de natureza endógena (centrípeta).
92
PSICOLOGIA SOCIOINTERACIONISTA
O estágio da puberdade é também chamado de período da crise da puberdade, pois nele ocorrem
modificações fisiológicas, corporais e psicológicas. Há o amadurecimento sexual, provocando na criança
profundas transformações corporais acompanhadas de modificações psíquicas. O corpo da menina fica
diferente do corpo do menino, crescem pêlos, há a modificação da voz, crescimento dos seios e dos
órgãos genitais, além do aumento acelerado na estatura. A menina apresenta a menarca e o menino
apresenta a emissão de espermas (aquisição da função reprodutora).
Lembrete
Quanto à função sexual, Wallon destaca que o sujeito leva boa parte da adolescência para se
reconhecer sexualmente e, como se sabe, isso se refere às necessidades sexuais, o que carece de muito
mais orientações do que julgamentos, punições ou comentários que colocam o adolescente em situações
vexatórias.
Psicologicamente muita coisa muda, pois o desejo sexual aparece, dando espaço a tentações típicas
dessa energia estimulada pelos hormônios. Acompanhando esse raciocínio, podemos perceber os
riscos de inúmeros problemas, os desejos aflorados e a necessidade de enamorar‑se de outra pessoa.
O resultado, em termos de atitude, quando não bem orientado, pode ser uma gravidez precoce, uma
doença sexualmente transmissível ou outros problemas tão graves quanto.
O espelho é o grande rival: ao mesmo tempo em que se apresenta como companhia constante,
proporcionando momentos de prazer, causa inquietação e angústia, pois em função das mudanças
corporais tão rápidas, o adolescente não se reconhece na imagem refletida e isso lhe proporciona mal estar.
Observação
Como vimos anteriormente, puberdade nada mais é do que um fenômeno biológico, endocrinológico,
que acomete as pessoas nessa fase de desenvolvimento e, exatamente por conta deste fenômeno, se
coloca um fim à infância. A adolescência, por sua vez, significa o período socialmente criado no qual
aqueles que não são mais crianças e ainda não são considerados adultos são chamados, portanto,
trata‑se de um período de separação entre ambos.
Figura 28 – Adolescentes
Dessa forma, a puberdade e adolescência são consideradas como momento crucial do desenvolvimento
do indivíduo, pois marcam não apenas a aquisição da imagem corporal definitiva, como também a
estruturação final da personalidade. A puberdade (do latim pubertate – sinal de pelos, barba, penugem)
caracteriza‑se pelas modificações biológicas dessa faixa etária, e a adolescência (do latim adolescere –
crescer), pelas transformações psicossociais que a acompanham (OSÓRIO,1992).
94
PSICOLOGIA SOCIOINTERACIONISTA
A puberdade se inicia com o aparecimento dos pelos no corpo da criança – axilas, região pubiana
– em função da ação hormonal (desenvolvimento das gônadas – testículos, nos meninos, e ovários,
nas meninas), que desencadeia o processo puberal, com dois eventos marcantes por volta dos doze
aos quinze anos: a menarca ou primeira menstruação, na menina, e a primeira ejaculação ou emissão
de esperma no menino (espermarca). A puberdade estaria concluída com o crescimento físico por
volta dos 18 anos.
Observação
Em função de crescimento, o sujeito precisa reestruturar seu esquema corporal, ou seja, se readequar
às suas dimensões de corpo, quanto aos braços e pernas mais longos, que o tornam, às vezes, um pouco
desajeitado, seus movimentos no espaço etc.
De acordo com Osório (1992), o término ocorre por volta dos 18 anos (variando de acordo com as
condições socioeconômicas da família) e pode ser identificado pelos seguintes aspectos:
95
Unidade II
Para finalizar a discussão sobre essa etapa é importante que seja dito que nesta fase existe uma
preocupação com o futuro. A apreensão do tempo faz com que o sujeito se destine a escolher uma
carreira, um modo de vida, mas, ao mesmo tempo, seus planos mudam tão facilmente quanto surgem
em função da ambivalência própria desse período.
O adulto deve estar preparado para auxiliar a criança em todas as etapas do desenvolvimento
psicológico, especialmente nessa última fase, em que irá preparar o sujeito para uma vida psíquica
adulta, com a integração de todas as funcionalidades: afetiva‑cognitiva‑motora.
Exemplo de aplicação
Geração Coca‑Cola
Quando nascemos fomos programados a receber o que vocês nos empurraram com os enlatados dos
USA, de nove às seis.
Desde pequenos nós comemos lixo comercial e industrial, mas agora chegou nossa vez: vamos cuspir
de volta o lixo em cima de vocês.
Somos os filhos da revolução. Somos burgueses sem religião. Somos o futuro da nação. Geração
Coca‑Cola [...]
E) Representa o estágio do personalismo, período em que o jovem deve fazer escolha de valores
morais, geralmente estabelecendo relações inadequadas.
96
PSICOLOGIA SOCIOINTERACIONISTA
Resposta:
Alternativa D
Predominância Fatores
Estágio Idade Características
funcional dinamogênicos
Formação de grupos.
Saiba mais
97
Unidade II
8 WALLON E A EDUCAÇÃO
Henri Wallon construiu uma teoria psicológica partindo de uma abordagem psicogenética. Por meio
do estudo do desenvolvimento psicológico da criança apresenta a origem dos processos psíquicos. Em
seus estudos, compreende o sujeito humano como uma pessoa completa, analisa‑a em suas dimensões
afetiva, cognitiva e motora, em uma perspectiva integrada, dialética e interdependente.
Wallon não propõe uma teoria pedagógica, mas desde o início de seus estudos e pesquisas
compreendeu a importância da educação na constituição psicológica da criança. Por isso produziu
textos específicos sobre educação e participou da elaboração da reforma do ensino francês, conhecido
como Projeto Langevin‑Wallon, que será discutido mais adiante.
Segundo Mahoney (2000), na obra de Wallon encontramos dois tipos de referências à educação:
• pedagogia explícita – textos que apresentam reflexões sobre reforma da universidade, doutrinas
da educação nova, orientação vocacional e o papel do psicólogo escolar, formação do professor,
interação entre alunos e problemas de comportamento, bem como o Projeto Langevin‑Wallon.
Como já foi dito, Wallon não criou um método pedagógico original de ensino, sua formação em
Medicina e os estudos em Psicologia, levaram‑no a uma participação ativa no debate educacional
de sua época. Entre as várias atividades destacam‑se o Grupo Francês de Educação Nova (GFEN)
e a Sociedade Francesa de Pedagogia da qual foi presidente até sua morte;
• educação nova – Wallon faz uma série de críticas aos pioneiros desse movimento (Ferrière,
Claparède, Freinet, Dewey, Montessori) afirmando que oferecem conclusões parciais sobre a
educação e não abrem a escola para a sociedade em que a criança está inserida. Em sua perspectiva,
apenas Decroly (1871‑1932) e Makarenko (1888‑1939) conseguiram fazer essa integração entre
a prática e a teoria levando em consideração o contexto psicossocial da criança. Em função de
seus estudos sobre a educação nova e de sua teoria psicológica sobre a formação da pessoa,
será convidado por Langevin para participar da Reforma do Ensino Francês, sendo sua grande
oportunidade de expressar seus ideais de Homem e de Sociedade (MAHONEY, 2000).
Após a Segunda Guerra Mundial, no período de 1945 a 1947, Wallon, com um grupo de 20 membros
nomeados pelo Ministério da Educação Nacional, participou da Reforma do Ensino Francês.
98
PSICOLOGIA SOCIOINTERACIONISTA
No início o presidente desta Comissão foi o físico Paul Langevin e, depois de sua morte, Wallon
assumiu a coordenação do grupo.
Lembrete
De acordo com Mahoney (2000), a diretriz norteadora do projeto é construir uma educação mais
justa para uma sociedade mais justa. As ações propostas repousam sobre quatro princípios: justiça,
dignidade, orientação e cultura geral.
Além disso, o projeto oferece sugestões de métodos de ensino, salientado que os mesmos devem se
adequar às necessidades dos alunos, o conteúdo das disciplinas e a atividade dos alunos, alternando o
trabalho individual ao trabalho em equipe.
99
Unidade II
[...] o plano representa as esperanças em uma educação mais justa para uma
sociedade mais justa. A reforma proposta (que nunca chegou a ser implantada)
deveria operar‑se no sentido de adequar o sistema às necessidades de uma
sociedade democrática e às possibilidades e características psicológicas do
indivíduo, favorecendo o máximo desenvolvimento das aptidões individuais
e a formação do cidadão.
Pedagogia implícita: textos que apresentam suas reflexões a respeito de sua teoria psicogenética
do funcionamento psicológico e sua atuação (do próprio Wallon) como professor.
A teoria walloniana enfatiza que cada etapa do desenvolvimento psicológico tem suas próprias
características e deve ser vivenciada a partir de seus objetivos e necessidades. Por isso o atendimento
a essas necessidades deve ser preocupação do educador, levando em consideração o contexto
sócio‑histórico no qual a criança está inserida. É responsabilidade do educador adequar o meio escolar
às possibilidades e necessidades infantis do momento (MAHONEY, 2000).
• a ação da escola não se limita à instrução, mas se dirige à pessoa inteira e deve converter‑se em
um instrumento para seu desenvolvimento; esse desenvolvimento pressupõe a integração entre
as dimensões afetiva, cognitiva e motora;
• é no meio físico e social que a atividade infantil encontra as alternativas de sua realização; o saber
escolar não pode se isolar desse meio, mas sim, nutrir‑se das possibilidades que ele oferece.
Observação
100
PSICOLOGIA SOCIOINTERACIONISTA
De acordo com Mahoney (2000), o papel do professor na escola é muito importante pelo que lhe é
atribuído pela sociedade.
O apoio que o professor dará ao aluno nessa travessia de criança a adulto terá
maior ou menor relevância dependendo dele olhar muitas vezes para trás
para avaliar seu próprio desempenho; de olhar seu aluno com reverência ou
acatamento, lembrando sempre que a criança de hoje é o adulto de amanhã;
de tomar em consideração, ter em conta suas condições de aprendizagem
e as de seu meio; de seguir as determinações, cumprir, observar, acatar o
ritmo de desenvolvimento próprio de sua etapa de formação. Enfim, é da
disposição do professor estar na direção, estar voltado para seu aluno.
Exemplo de aplicação
Carlos e André estão disputando um brinquedo: um pião. Uma vez por semana, na sexta‑feira, as
crianças trazem seus próprios brinquedos para brincar. Ana Lúcia, a professora, tenta separá‑los. Em
seguida, eles recomeçam a brigar, sendo que um deles alega que o pião é seu.
C) Para obter o que deseja ou para beneficiar outra criança, que outras atitudes as crianças dessa
idade podem apresentar quando se tratam de seus brinquedos?
Resposta:
A) Na disputa pelos objetos, pode‑se observar que o sentimento de propriedade se mostra muito
presente e que a propriedade significa não só a apropriação do que é do outro, mas a afirmação
de si próprio. Assim, a criança se sente frustrada, em sua pessoa, se seu bem é dado à outra
pessoa sem seu consentimento. Período caracterizado pela exploração de si, oposição (expulsão
do outro)/discriminação eu do outro.
B) Personalismo, 3 a 6 anos.
C) Para conseguir o que deseja a criança é capaz de mentir, usar força, não emprestar o brinquedo
para o irmão, mas emprestar com alegria a outro que admira. Uma estratégia que a própria
criança usa é emprestar seu próprio brinquedo para conseguir se apossar dos brinquedos do
outro. Pode ocorrer também de partilhar o brinquedo e até renunciá‑lo, a fim de beneficiar outra
criança, principalmente se esta outra for mais nova e/ou houver uma ligação afetiva maior.
101
Unidade II
O texto a seguir apresenta reflexão sobre as ideias de Wallon a respeito da educação em interface
com sua teoria do desenvolvimento psicológico. Aproveite essa leitura!
Assim, o acesso à cultura é função primordial da educação formal, pois ela é a expressão
do florescimento das criações e das aptidões do homem genérico, universal, sejam manuais,
corporais, estéticas, intelectuais ou morais. A escola é parte das condições de existência
na qual a pessoa se desenvolve e constitui, devendo intervir neste processo de maneira a
promover o desenvolvimento de tantas aptidões quantas for possível.
102
PSICOLOGIA SOCIOINTERACIONISTA
Wallon acreditava que todos deveriam ter oportunidades iguais, inclusive ao respeito à
singularidade, e para isso seria necessário haver escola para todos onde cada um pudesse
encontrar, segundo suas aptidões, todo o desenvolvimento intelectual, estético e moral
que fosse capaz de assimilar. Oferecida uma base comum, dever‑se‑ia também propiciar
condições para que a criança, experimentando, descobrisse suas tendências de acordo com
seu estágio de desenvolvimento:
— dos três aos onze anos, as aptidões parecem não contribuir de maneira eficiente.
Exatamente por este motivo, o momento seria propício, segundo Wallon, para
orientar e cultivar todas elas, cada uma de acordo com sua natureza: manual,
corporal, estética, intelectual e moral.
— entre onze e quinze anos, sobre um fundo de aquisições comuns, emergem aptidões
mais particulares, mais pessoais, mais originais que devem encontrar tarefas que
ajudem no desenvolvimento. A oferta de alternativas deveria ser ampla o suficiente
para permitir à criança, ao exercitar e desenvolver novas funções, reconhecer suas
preferências e suas dificuldades.
Wallon afirma que o meio e a cultura condicionam os valores morais e sociais que a
criança incorporará, e que devem ser cultivados os valores de solidariedade e justiça. Insiste
na importância de o professor conhecer as condições de existência de seu aluno, para saber
quais os valores que nela estão sendo cultivados, nos outros meios em que está imersa, e
saber como cultivar aqueles que são seu objetivo.
103
Unidade II
“Tomar a seu cargo o êxito de uma ação que é executada em colaboração com outros
ou em proveito de uma coletividade. A responsabilidade confere um direito de domínio,
por uma causa, mas também um dever de sacrifício, o que significa que o adolescente
responsável é aquele que deve se sacrificar maior, por tarefas sociais que contribuem para o
crescimento e desenvolvimento da coletividade e do grupo”.
Ao estudar as reflexões de Wallon sobre a educação, entendemos que este autor nos convida a
responder a seguinte questão: como superar o dilema entre o autoritarismo dos métodos tradicionais e
a espontaneidade das práticas que se pretendem renovadas? Como oferecer uma proposta de educação
onde a primazia não seja ora do professor, ora do aluno?
Para Wallon, ações pedagógicas que superem essa dicotomia são aquelas que estão pautadas em
um raciocínio dialético, que compreenda as complexas relações de determinação recíproca que existem
entre indivíduo e sociedade. Tarefa difícil, não acha?
A solução para esse impasse não se atinge somente com uma discussão
acerca de métodos pedagógicos. Demanda uma reflexão política sobre o
papel da escola na sociedade.
Não se trata, portanto, de priorizar a construção de uma melhor metodologia para educação, mas
sim, de identificar as dimensões sociais de controle em uma sociedade, uma vez que o regime político de
determinada sociedade tem relação direta com o sistema educacional que é oferecido a sua população.
104
PSICOLOGIA SOCIOINTERACIONISTA
Lembrete
A educação tem sempre um papel político, mesmo que isso não esteja
explicitamente colocado.
Galvão (2013) relata que Wallon tinha um olhar crítico à seletividade do sistema de ensino francês,
pois este oferecia um promissor processo de ensino aos alunos de classes sociais mais favorecidas e, ao
contrário, aos menos favorecidos impunha curta carreira dirigida a cursos técnicos e profissionalizantes.
Por trás dessa seletividade havia uma força e interesse político da elite que, com isso, buscava manter‑se
no poder, como classe dirigente, em uma sociedade capitalista, competitiva e individualista. Temos, com
isso, uma educação a serviço do controle e da manutenção da desigualdade social.
Wallon se opunha veementemente a essa concepção política de controle da qual a educação estava
a serviço. Para este autor, a educação deve contribuir para a construção de uma sociedade socialista,
pautada pela democracia e justiça social.
A Psicologia Psicogenética walloniana constitui valiosa ferramenta para educação na medida em que
apresenta as características psicológicas da criança em cada uma das fases de desenvolvimento, permitindo,
com isso, a construção de estratégias pedagógicas mais eficientes ao ensino e aprendizagem do aluno.
Dessa forma, se utilizada como referencial teórico para a prática pedagógica, possibilita intervenção e
promoção em todas as dimensões do desenvolvimento psicológico do aluno (afetivo, cognitivo, motor).
Observação
Assim, a proposta não é oferecer uma Pedagogia conteudista, onde o professor é o transmissor da
cultura e o aluno um sujeito passivo e receptivo. Ao contrário, busca a valorização da expressividade
do sujeito, especialmente porque é a partir dela que o mesmo irá construir sua personalidade, base
postulada na psicogênese.
105
Unidade II
Por fim, destaca‑se a importância que Wallon atribui ao meio no qual a criança aplica e recebe
recursos sociais para suas ações. Em se tratando do ambiente escolar, o planejamento, a organização
e a estruturação desse meio possibilita a promoção do desenvolvimento infantil. Isso significa que o
planejamento das atividades não deve se restringir somente à seleção de temas ou conteúdos de ensino,
mas envolver todas as dimensões que compõem o meio no qual a criança está inserida (materiais, objetos,
espaço físico, disposição do mobiliário, organização do tempo, duração da atividade, oportunidade de
interação social, formação de grupos).
Lembrete
Saiba mais
Prezado aluno,
Certamente há perguntas sem respostas, bem como dúvidas e questionamentos que permanecem, mas
esse é o desafio de se tornar um profissional que pretenda lidar com a formação de outros seres humanos:
suportar a incerteza para que se mantenha aberto aos novos conhecimentos que a prática e a vida irão lhe
propor, buscando construir o embasamento necessário para as escolhas que, diariamente, deverá realizar!
Este material tem como função servir de guia e de companhia na jornada que você irá empreender
daqui para frente: recorra a ele sempre que puder. Esperamos que você continue determinado na busca
de seus sonhos e na realização do seu projeto de vida!
Terminamos com um texto de um escritor, educador, psicanalista e poeta Rubem Alves, que foi
extraído do jornal Correio Popular, de Campinas/SP. Um texto sensível, provocativo e inspirador!
Até a próxima!
106
PSICOLOGIA SOCIOINTERACIONISTA
A pipoca
A culinária me fascina. De vez em quando eu até me até atrevo a cozinhar. Mas o fato é
que sou mais competente com as palavras do que com as panelas.
Por isso tenho mais escrito sobre comidas que cozinhado. Dedico‑me a algo que poderia
ter o nome de “culinária literária”. Já escrevi sobre as mais variadas entidades do mundo da
cozinha: cebolas, ora‑pro‑nobis, picadinho de carne com tomate feijão e arroz, bacalhoada,
suflês, sopas, churrascos.
A pipoca, milho mirrado, grãos redondos e duros, me pareceu uma simples molecagem,
brincadeira deliciosa, sem dimensões metafísicas ou psicanalíticas. Entretanto, dias atrás,
conversando com uma paciente, ela mencionou a pipoca. E algo inesperado na minha mente
aconteceu. Minhas ideias começaram a estourar como pipoca. Percebi, então, a relação
metafórica entre a pipoca e o ato de pensar. Um bom pensamento nasce como uma pipoca
que estoura, de forma inesperada e imprevisível.
Para os cristãos, religiosos são o pão e o vinho, que simbolizam o corpo e o sangue de
Cristo, a mistura de vida e alegria (porque vida, só vida, sem alegria, não é vida...). Pão e
vinho devem ser bebidos juntos. Vida e alegria devem existir juntas.
Lembrei‑me, então, de lição que aprendi com a Mãe Stella, sábia poderosa do Candomblé
baiano: que a pipoca é a comida sagrada do Candomblé...
normais. Não sei como isso aconteceu, mas o fato é que houve alguém que teve a ideia de
debulhar as espigas e colocá‑las numa panela sobre o fogo, esperando que assim os grãos
amolecessem e pudessem ser comidos.
E o que é que isso tem a ver com o Candomblé? É que a transformação do milho duro
em pipoca macia é símbolo da grande transformação porque devem passar os homens para
que eles venham a ser o que devem ser. O milho da pipoca não é o que deve ser. Ele deve ser
aquilo que acontece depois do estouro. O milho da pipoca somos nós: duros, quebra‑dentes,
impróprios para comer, pelo poder do fogo podemos, repentinamente, nos transformar em
outra coisa — voltar a ser crianças! Mas a transformação só acontece pelo poder do fogo.
Milho de pipoca que não passa pelo fogo continua a ser milho de pipoca, para sempre.
Mas, de repente, vem o fogo. O fogo é quando a vida nos lança numa situação que
nunca imaginamos. Dor. Pode ser fogo de fora: perder um amor, perder um filho, ficar
doente, perder um emprego, ficar pobre. Pode ser fogo de dentro. Pânico, medo, ansiedade,
depressão — sofrimentos cujas causas ignoramos. Há sempre o recurso aos remédios. Apagar
o fogo. Sem fogo o sofrimento diminui. E com isso a possibilidade da grande transformação.
Imagino que a pobre pipoca, fechada dentro da panela, lá dentro ficando cada vez mais
quente, pense que sua hora chegou: vai morrer. De dentro de sua casca dura, fechada em si
mesma, ela não pode imaginar destino diferente. Não pode imaginar a transformação que
está sendo preparada. A pipoca não imagina aquilo de que ela é capaz. Aí, sem aviso prévio,
pelo poder do fogo, a grande transformação acontece: PUF!! — e ela aparece como outra
coisa, completamente diferente, que ela mesma nunca havia sonhado. É a lagarta rastejante
e feia que surge do casulo como borboleta voante.
Em Minas, todo mundo sabe o que é piruá. Falando sobre os piruás com os paulistas,
descobri que eles ignoram o que seja. Alguns, inclusive, acharam que era gozação minha,
que piruá é palavra inexistente. Cheguei a ser forçado a me valer do Aurélio para confirmar
o meu conhecimento da língua. Piruá é o milho de pipoca que se recusa a estourar.
Por exemplo: em Minas “piruá” é o nome que se dá às mulheres que não conseguiram
casar. Minha prima, passada dos quarenta, lamentava: “Fiquei piruá!” Mas acho que o poder
metafórico dos piruás é maior.
Piruás são aquelas pessoas que, por mais que o fogo esquente, se recusam a mudar. Elas
acham que não pode existir coisa mais maravilhosa do que o jeito delas serem.
Ignoram o dito de Jesus: “Quem preservar a sua vida perdê‑la‑á”. A sua presunção e o
seu medo são a dura casca do milho que não estoura. O destino delas é triste. Vão ficar
duras a vida inteira. Não vão se transformar na flor branca macia. Não vão dar alegria para
ninguém. Terminado o estouro alegre da pipoca, no fundo a panela ficam os piruás que não
servem para nada. Seu destino é o lixo.
Quanto às pipocas que estouraram, são adultos que voltaram a ser crianças e que sabem
que a vida é uma grande brincadeira...
“Nunca imaginei que chegaria um dia em que a pipoca iria me fazer sonhar. Pois foi
precisamente isso que aconteceu”.
Resumo
110
PSICOLOGIA SOCIOINTERACIONISTA
Exercícios
Questão 1. O resgate de importantes contribuições teóricas para a Psicologia e a Educação tem sido
um fenômeno significativo nas últimas décadas. A teoria de Wallon, bem como as ideias e reflexões de
Vygotsky é um alicerce para um olhar mais amplo sobre os fenômenos psicopedagógicos.
Neste sentido, quando pensamos em Vygotsky e Wallon, com relação à concepção de conhecimento,
à análise genética e a psicogênese da inteligência, e a base conceitual e perspectiva teórica que lhes são
comuns, podemos afirmar que:
A) I apenas.
B) II apenas.
C) I e II apenas.
D) II e III apenas.
E) I, II e III.
I. Afirmativa correta.
Justificativa: Vygotsky teve uma vida marcada por conflitos sociais. De família judaica e rica,
sofreu preconceito especialmente durante e após a Revolução Russa (1917). Outro fator de exclusão
social foi ter contraído tuberculose em uma época em que não havia cura para tal doença. Wallon
participou das duas guerras mundiais, na primeira atuou como médico e soldado no front de batalha
e na segunda na Resistência Francesa. Por isso, o contexto socio‑histórico no qual viveram os teóricos
influenciou na concepção de conhecimento, na teoria construída e na compreensão dos processos
psíquicos, uma vez que compreendem a origem do conhecimento humano a partir das influências
sócio‑históricas.
Justificativa: a Psicologia Genética estuda as origens, a gênese dos processos psíquicos. Partindo
desse pressuposto, ambos os teóricos consideram a análise genética o único procedimento que não
dissolve em elementos estanques e abstratos a totalidade da vida psíquica. Assim sendo, possibilita o
conhecimento sobre o funcionamento psicológico do adulto a partir do estudo do desenvolvimento da
criança.
Justificativa: para ambos os autores a única abordagem que permite a superação das contradições do
pensamento dualista é o materialismo dialético, pois auxilia na coordenação de pontos de vista apresentados
sob a forma exclusiva e absoluta por diferentes doutrinas filosóficas. Este referencial apresenta‑se como
fecundo uma vez que busca a compreensão dos fenômenos a partir dos vários conjuntos dos quais participa
e porque admite a contradição como constitutiva do sujeito e do objeto.
112
PSICOLOGIA SOCIOINTERACIONISTA
[...]
De acordo com o artigo científico que apresentamos e a teoria de Henri Wallon, comportamentos
de grafitagem e pichação podem estar relacionados com as seguintes características do período
da puberdade e adolescência:
113
Unidade II
III - Em alguns casos, o desacordo entre as aspirações do adolescente e o meio acaba por levar à
formação de grupos hostis à ordem constituída.
A) I apenas.
B) II apenas.
C) I e II apenas.
D) II e III apenas.
E) I, II e III.
114
FIGURAS E ILUSTRAÇÕES
Figura 1
Figura 2
Figura 3
SCHMIDT, M. F. Nova história crítica. São Paulo: Nova Geração, 1999. vol. 4, p. 65
Figura 4
Figura 5
Figura 6
Figura 7
Figura 8
Figura 9
Figura 11
Figura 12
Figura 13
Figura 14
Figura 15
Figura 16
Figura 17
Figura 18
Figura 20
Retrato de Henri Wallon. Revista Educação – série especial: história da pedagogia, São Paulo:
Segmento, 2010.
Figura 21
Retrato de Karl Marx. FERACINE, L. Filosofia comentada: Karl Marx ou a sociologia do marxismo. São
Paulo: Lafonte, 2012, capa.
Figura 22
Figura 23
Figura 24
Figura 25
Figura 26
Figura 27
Figura 29
Figura 30
Figura 31
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OLHA quem está falando também. Dir. Amy Heckerling. EUA, 1990. 77 minutos.
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LP. Faixa 6.
UM TIRA no jardim da infância. Dir. Ivan Reitman. EUA, 1991. 110 minutos.
TRÊS solteirões e um bebê. Dir. Leonard Nimoy. EUA, 1987. 102 minutos.
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123
124
Informações:
www.sepi.unip.br ou 0800 010 9000