Amazonia Diversidade Biologica e Historia Geologic
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Marcelo Menin
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Marcelo Menin
Introdução
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A floresta Amazônica apresenta uma das biotas mais diversificadas do mundo
(Tabela 1) com cerca de 30.000 espécies de plantas Angiospermas, 1.300 espécies de
aves, 311 espécies de mamíferos, além de uma grande diversidade de outros grupos
animais e vegetais. A bacia Amazônica abriga ainda a maior diversidade de peixes de
água doce do mundo, com cerca de 1.800 espécies conhecidas. Essa diversidade inclui
um grande número de grupos derivados de ancestrais marinhos, como as raias
(Chondrichthyes, família Potamotrygonidae), baiacus ou mamaiacus
(Tetraodontiformes) e linguados ou solhas (Pleuronectiformes).
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Apesar da imensa diversidade de espécies encontrada na Amazônia, acredita-se
que exista uma outra imensa quantidade de espécies ainda desconhecidas. Algumas
estimativas para peixes indicam que pelo menos 3.000 espécies ocorram na região, mas
somente 1.800 espécies estão descritas. Se para os vertebrados, como os peixes, esse
número pode dobrar, imagine para os invertebrados como os artrópodes, que são os
mais diversos entre todos os animais. Esse grande desconhecimento da diversidade
biológica da região ocorre por diversos fatores. A imensa área coberta pela floresta
Amazônica com lugares de difícil acesso, os custos associados ao trabalho necessário
para gerar conhecimento científico nessas áreas e o pequeno número de pesquisadores
na região, são fatores que restringem as pesquisas ao eixo Manaus-Belém,
acompanhando o curso dos grandes rios. Há a necessidade de investimentos maciços na
região, com a formação e a fixação de pesquisadores, incentivo ao desenvolvimento
científico e tecnológico, e a expansão dos principais centros de pesquisa da região.
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Estudos ecológicos indicam que diversos fatores abióticos podem influenciar a
distribuição das espécies hoje em dia, tais como: clima, topografia, solos e hidrografia.
Os fatores topográficos influenciam diretamente as características do solo e,
conseqüentemente, a estrutura e dinâmica da floresta. Essas variações na estrutura e
composição da floresta em gradientes topográficos geram uma grande variedade de
microhabitats, que podem afetar diretamente a distribuição e número de indivíduos das
populações dentro das comunidades animais. A topografia, o clima e a vegetação são
geralmente considerados os fatores mais importantes que determinam a distribuição de
diversos grupos animais em uma macroescala espacial. Em uma escala espacial menor,
a estrutura da vegetação, o solo e a cobertura de liteira influenciam a distribuição de
diversas espécies de anuros (Amphibia, Anura). Os habitats que são estruturalmente
mais simples, como campinas e capoeiras jovens, comparadas com áreas de floresta,
podem conter poucas espécies, de forma que a riqueza local de espécies está também
associada com a diversidade estrutural dos habitats.
Para entender a grande diversidade de espécies da Amazônia é necessário
compreender um pouco da história geológica dessa região, além da distribuição
geográfica das espécies, objetivo da ciência chamada Biogeografia. Muitas teorias
utilizam dados geológicos para explicar a distribuição das espécies e os possíveis
mecanismos de especiação que podem ter ocorrido durante eventos geológicos distintos.
Para a bacia Amazônica, os fatores históricos que provavelmente afetam a distribuição
das espécies estão ligados à evolução geológica da bacia, como por exemplo, o
soerguimento dos Andes, as introgressões marinhas e as mudanças associadas aos
cursos dos rios.
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oceanos do mundo. Ele é considerado o maior rio do mundo, tanto em comprimento
quanto em volume de água.
Os dados apresentados a seguir são baseados principalmente nas descrições de
Sioli (1991). O clima na bacia Amazônica é permanentemente quente e úmido,
apresentando variações diurnas de temperatura do ar maiores que as variações anuais. A
temperatura média é de aproximadamente 30° C durante a estação seca e 26° C durante
a estação chuvosa. Um importante fenômeno que causa significativa variação da
temperatura, algumas vezes com consequências ecológicas importantes é a "friagem",
que ocorre quando uma massa polar alcança a parte central e oeste da Amazônia,
podendo a temperatura atingir 10° C.
A alta taxa de precipitação registrada em toda a bacia – com um volume médio
de 2.200 mm/ano – contribui para a existência de uma densa rede de igarapés e
pequenos rios. Aproximadamente metade da precipitação total provém do oceano
Atlântico, trazida pelos ventos e a outra metade deriva da evapotranspiração da
vegetação existente na própria bacia. As chuvas locais aumentam consideravelmente as
descargas dos sistemas fluviais de menor porte. Porém, exercem pequena influência
imediata sobre o nível de água dos rios maiores, que varia de 10 a 20 metros
anualmente, de acordo com a área de captação.
As chuvas na Amazônia não estão distribuídas uniformemente, variando entre
2.000 e 3.600 mm. As áreas com menores taxas de precipitação encontram-se no sul e
leste da Amazônia, com uma área que se estende do norte até além do médio e baixo rio
Amazonas, onde as precipitações podem ficar abaixo de 2.000 mm. As áreas no
noroeste da Amazônia podem atingir precipitações anuais que alcançam 3.600 mm.
A subida e a descida anual das águas é uma resposta à distribuição das chuvas,
que é bastante heterogênea na região Amazônica, apresentando duas estações bem
definidas: uma estação seca e uma estação chuvosa. A estação chuvosa inicia-se na
parte oeste da bacia Amazônica e se dirige progressivamente para leste, na maior parte,
entre os meses de novembro e maio. A região apresenta ainda uma defasagem de
precipitação entre as partes sul e norte; esta variação faz com que os afluentes vindos do
sul atinjam os picos de inundação alguns meses antes dos afluentes vindos do norte.
Rios da Amazônia
Segundo Sioli (1991) os tipos de rios conhecidos para a Amazônia são os rios de
água branca (água barrenta), água clara e água preta. Os rios de águas barrentas, como
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os rios Purus e Juruá, têm sua origem nas áreas de terras altas, em sua maior parte nos
Andes. Toda a bacia amazônica ocidental, principalmente na sua porção sudoeste, é
formada por sedimentos provenientes da costa de intemperismo dos Andes. As
nascentes dos rios de águas claras provêm dos escudos das Guianas e Brasileiro. Esses
rios como, por exemplo, o rio Tapajós, transportam maiores quantidades de material em
suspensão no período chuvoso. Já os rios de água preta, como o rio Negro, são pobres
em partículas suspensas devido a um relevo pouco movimentado em suas cabeceiras e
solos que não fornecem quantidades de material fino, transportável em suspensão.
Embora rochas pré-cambrianas constituam uma das principais características do
embasamento geológico da Amazônia com rios de águas pretas ou águas claras, este
tipo de rocha na superfície é praticamente ausente na Amazônia ocidental.
Durante o período glacial o nível do mar estava aproximadamente 100 metros
abaixo do atual. O declive e a correnteza dos rios da Amazônia era maior. Dessa forma,
esses rios escavaram vales nos sedimentos terciários da formação Barreiras, do baixo e
médio vale do Amazonas. Com o término do período glacial e a consequente elevação
do nível do mar, houve um represamento da água dos rios até dentro da Amazônia
Central, levando ao afogamento de seus vales. Essas características permitem inferir
sobre a origem da morfologia atual dos rios amazônicos.
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Tabela 2: Eras, períodos e épocas geológicos e principais eventos biológicos em cada período.
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Triássico 245 Primeiros dinossauros; primeiros mamíferos verdadeiros;
pterossauros, crocodilos, répteis marinhos, lepidosssauros,
anfíbios anuros e peixes teleósteos
Permiano 286 Radiação dos amniotas; répteis semelhantes a mamíferos;
extinção em massa no final do período
Carbonífero 354 Grande radiação de insetos; radiação dos tetrápodes
anaminiotas e aparecimento dos primeiros amniotas; grandes
florestas de coníferas
Devoniano 407 Primeiros tetrápodes terrestre; primeiros peixes co nadadeiras
Paleozóica raiadas e nadadeiras lobadas
Siluriano 440 Peixes com mandíbula; primeiros invertebrados terrestres
Ordoviciano 505 Primeiros vertebrados (peixes sem maxilas); primeiras plantas
terrestres; abundância de invertebrados marinhos
Cambriano 540 Radiação explosiva de animais. Primeiros cordados, moluscos
com conchas; trilobitas
(Proterozóico) 2.500 Formação das grandes massas continentais. Primeiros
organismos eucariontes surgem há cerca de 2 bilhões de anos
(Arqueano) 4.600 Formação da Terra
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O núcleo da Placa da América do Sul é formado por dois grandes escudos
cristalinos do Pré-Cambriano: o escudo das Guianas e o escudo Brasileiro, cujas idades
estão entre 2,6 a 0,5 bilhões de anos (Figura 1). Os escudos cratônicos são parte da
crosta terrestre, relativamente estáveis e pouco deformados em longos períodos de
tempo. O escudo das Guianas compreende grande parte da superfície das Guianas, sul
da Venezuela, sudeste da Colômbia e norte do Brasil. O escudo Brasileiro ocupa grande
parte da superfície central e sudeste do Brasil. Essas áreas são recortadas por depressões
que servem como locais de depósito de sedimentos desde aproximadamente 500
milhões de anos antes do presente (A.P.). Essas depressões são representadas pelas
bacias sedimentares dos rios Amazonas, Solimões e Acre e são definidas por arcos
estruturais. Dessa forma, a bacia do Amazonas consiste de uma área alongada no
sentido leste-oeste com aproximadamente 500.000 km2, com 2.500 km de comprimento
e 500 km de largura, limitada pelos arcos de Gurupá ao leste e Purus, a oeste. A bacia
do rio Solimões tem aproximadamente 600.000 km2, sendo formada nas adjacências da
bacia do Amazonas entre os arcos do Purus e Iquitos (no Peru). A bacia do rio Acre está
localizada a oeste do arco de Iquitos.
Figura 1: Características topográficas e geológicas da América do Sul: rede
hidrográfica, escudos cristalinos (Escudo das Guianas e Brasileiro), Cordilheira dos
Andes, Arcos Estruturais (barras negras). (Modificado de Lundberg et al., 1998).
Entre os Andes e os escudos cristalinos ocorrem os arcos estruturais que limitam
bacias intracratônicas (Figura 1). Esse termo inclui características topográficas de várias
origens que são barreiras reais ou potenciais de sistemas de drenagem. São formados a
partir de compressões ocorridas dentro de uma placa tectônica. Diversos arcos
estruturais foram identificados na América do Sul, sendo que 12 ocorrem na bacia
Amazônica. São eles: Gurupá, Monte Alegre, Purus, Carauari, El Baul, Auraca, Vaupés,
Iquitos, Marañon, Serra do Moa, Jutaí, Fitzcaraldo e Michicola, sendo este último no
limite sudoeste entre a bacia Amazônica e a bacia Paraná-Paraguai.
Durante o Paleozóico, a América do Sul estava ligada à África e a bacia
Amazônica encontrava-se coberta por um mar aberto para o Pacífico. Há cerca de 112
milhões de anos A.P., no início do Cretáceo, a América do Sul e a África começaram a
se separar e a dividir a Gondwana, uma massa de terra que incluía também partes do sul
da Ásia, Antártida e Austrália. O oceano Atlântico começou a se formar a oeste e
separou a América do Sul da África. O continente sul americano tem permanecido num
estado de compressão oeste-leste do qual os Andes são o principal resultado. Diversos
registros geológicos de incursões marinhas ocorreram desde a separação dos dois
continentes. Registros existem para o final do Cretáceo (70 milhões de anos A.P.), final
do Paleoceno e início do Eoceno (55 milhões de anos A.P.), final do Eoceno (40
milhões de anos A.P.) e no início e meio do Mioceno (15 a 20 milhões de anos A.P.).
Há cerca de 90 milhões de anos, a separação entre a América do Sul e a África se
completou, abrindo o oceano Atlântico. Com o soerguimento da margem continental
oeste da América do Sul, a direção das drenagens mudou no sentido oeste para leste,
chegando ao Atlântico, devido ao bloqueio do sistema fluvial para o Pacífico.
Aproximadamente, no mesmo período, houve uma transgressão marinha devido a um
aumento no nível do mar. Essa transgressão alcançou a região leste da bacia onde hoje
encontramos os Llanos, estabelecendo condições marinhas completas sobre grande
parte do que hoje é a Colômbia.
Ainda durante o Paleozóico, a bacia sedimentar Amazônica passou por um longo
período de erosão, seguido de uma fase de magmatismo intenso e movimentos
tectônicos. Um novo depósito sedimentar se originou, formando a Formação Alter do
Chão entre o meio e final do Cretáceo, que possui depósitos de origem marinha. Nesse
período, as drenagens fluíam no sentido oeste, pois os Andes estavam somente nos
estágios iniciais de formação e, conseqüentemente, os canais dos rios descarregavam
seus sedimentos diretamente no oceano Pacífico. No fim do Cretáceo e início do
Terciário, ocorreu uma regressão marinha, que provavelmente expôs grandes áreas da
Amazônia ao desenvolvimento de uma ampla superfície de erosão.
Os eventos geológicos mais estudados na região Amazônica descrevem fatos
que ocorreram ao longo do Mioceno (entre 5 e 25 milhões A.P.). Esses eventos, que
ocorreram no oeste e noroeste da Amazônia, trazem dados sobre a penetração do oceano
Pacífico e caribenho no interior da Amazônia, o soerguimento dos Andes e a formação
do atual sistema de drenagem da bacia Amazônica.
Durante o Mioceno, a América do Sul sofreu profundas mudanças na topografia,
ambiente e padrões de drenagem dos rios. Uma combinação de mudanças no nível do
mar e tectônica levou a profundas ingressões marinhas na porção superior da bacia
Amazônica. Essas ingressões marinhas são documentadas pela presença de fósseis de
moluscos e copépodas (Crustacea). A presença de áreas de pântanos, lagos e rios com
diferentes salinidades poderiam ter sido ideais para o isolamento de peixes marinhos em
habitats progressivamente dessalinizados. A divergência entre as raias de água doce e
seus parentes marinhos mais proximamente relacionados poderiam ter ocorrido durante
o Mioceno. A distribuição dos parentes marinhos mais próximos das raias de água doce
inclui o Caribe, que é uma fonte proposta de incursões marinhas, entre 15 e 23 milhões
de anos A.P.
O sistema fluvial durante o início do Mioceno drenava no sentido leste-oeste
transportando sedimentos originários do escudo das Guianas. Incursões marinhas
podem ter alcançado a região por meio do “proto-Orinoco” e de um portal
provavelmente localizado na região oeste dos Andes. Durante o Mioceno médio, a
deposição dos sedimentos foi alterada para o sentido oeste-leste devido ao soerguimento
da cordilheira dos Andes. Um sistema fluvio-lacustre com influência estuarina devido à
continuidade das incursões marinhas através da conexão com o mar do Caribe foi
estabelecido nesse período. Entre o final do Mioceno e início do Plioceno a conexão
entre a Amazônia e o mar do Caribe deve ter sido fechada devido ao soerguimento dos
Andes dando origem ao atual sistema de deposição de sedimentos e da rede
hidrográfica, coincidindo com uma queda do nível do mar globalmente.
Uma nova fase tectônica surgiu durante o Mioceno, como reflexo da reativação
dos Andes, favorecendo a formação de uma grande bacia lacustre a partir do
fechamento da conexão com o oceano Pacífico, registrada na Formação Solimões. Um
aumento no nível do mar ocorreu durante o início ao meio do Mioceno e é registrado
nas formações Barreiras e Pirabas. Depósitos estuarinos são encontrados a
aproximadamente 200 km dentro do continente em relação ao limite atual da costa. No
final do Mioceno houve uma fase de erosão, com alternância entre estações secas e
úmidas bem definidas devido ao clima relativamente mais árido do que hoje em dia.
Fósseis de jacarés de grande porte do gênero Purussaurus (que apresentava
aproximadamente 15 m de comprimento), tartarugas, peixes e mamíferos, além de
registros palinológicos, são datados do final do Mioceno e indicam que o ambiente da
época era formado por uma grande bacia inundada, com lagos rasos e pântanos.
Após o período de recuo do mar, uma nova fase de sedimentação é registrada
entre o Plioceno e Pleistoceno. Uma grande quantidade de sedimentos provenientes dos
Andes foi depositada no noroeste e oeste da Amazônia entre o médio e final do Plioceno
e, provavelmente, o paleo-ambiente foi dominado por rios, lagos e brejos com
predomínio de palmeiras, capins e outras herbáceas flutuantes. Essa paisagem teve
influência marinha que pode ser comprovada por estudos palinológicos que detectaram
pólen fossilizado de Rhizophora, que é típico de áreas de mangue, além de
foraminíferos (Protista, Filo Granuloreticulosa), moluscos e peixes de origem marinha
nos sedimentos. Essa região provavelmente ocupava mais de 500 km de extensão e era
preenchida por pântanos, lagos e rios com diferentes níveis de salinidade devido às
conexões com o mar do Caribe. Existem evidências da presença de lagos permanentes
denominados de “Lago Pebas”. Esta fase é representada pelas formações Içá e Pós-
Barreiras. Após essas deposições, nenhum registro sedimentar é encontrado até o final
do Pleistoceno.
A principal elevação dos Andes ocorreu nos últimos 15 milhões de anos, quando
a placa continental Sul-americana colidiu com a placa de Nazca (Figura 2). A placa de
Nazca deslizou sob a placa Sul-Americana, empurrando a zona de contato para cima.
Aparentemente, existem evidências de que o rio Amazonas corria em direção noroeste,
para a região do Caribe, o que é agora o sistema do Orinoco. Há cerca de 10 milhões de
anos, durante o Plioceno, o rio Amazonas escavou seu atual curso em direção ao leste,
entre os planaltos do Brasil e das Guianas, desaguando no oceano Atlântico. Há cerca
de 18.000 anos, o nível do mar era aproximadamente entre 100 a 130 metros mais
baixo. Os rios fluíam mais rapidamente escavando os leitos e as paredes de seus vales.
O rio Amazonas também foi profundamente escavado durante períodos glaciais.
Posteriormente, os sedimentos andinos transportados formaram suas áreas inundáveis e
elevaram o nível de seu leito. Atualmente, a profundidade média do rio Amazonas
durante a cheia é de 30 a 50 m, sendo raras áreas com profundidades superiores a 100
m, que provavelmente são canyons fósseis formandos durante os períodos glaciais do
Pleistoceno. As massas líquidas retidas ficaram represadas, formando um sistema
aparentemente pouco estável de rios e lagos, com a formação de sedimentos de água
doce atingindo até 300 m de espessura, que constituem a formação Barreiras ou Alter do
Chão.
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Glossário
Biogeografia: é a ciência que estuda a distribuição geográfica dos seres vivos, procurando entender
padrões de organização espacial e processos que resultaram em tais padrões. É uma ciência
multidisciplinar que relaciona informações de diversas outras ciências como geografia, biologia,
climatologia, geologia, ecologia e evolução.
Biota: conjunto de plantas, animais e microrganismos de uma determinada região ou área biogeográfica.
Clado: linhagem filogenética que se origina de um táxon ancestral comum, incluindo todos os
descendentes.
Escudos cristalinos ou núcleos cratônicos: são rochas magmáticas e metamórficas muito antigas do Pré-
Cambriano e da era Paleozóica, modificadas por grande desgaste devido a um intenso processo erosivo.
Fanerógamas: plantas com estruturais denominadas de flores, que são com órgãos reprodutores facilmente
observáveis. Representada pelas Gimnospermas e Angiospermas.
Friagem: fenômeno climático caracterizado pela queda brusca de temperatura e ventos razoavelmente
frios. Ocorre na Amazônia Ocidental entre os meses de maio e agosto.
Ingressão ou transgressão marinha: é o avanço dos mares sobre terras emersas continentais como
conseqüência de elevação do nível do mar.
Intemperismo: consiste na alteração das rochas ao entrar em contato com a água, o ar, as mudanças de
temperatura e os organismos vivos.
Intertidal: nome dado ao ambiente marinho compreendido entre as linhas de maré-baixa e maré-alta.
Ístmo: uma porção de terra estreita cercada por água em dois lados e que conecta duas grandes extensões
de terra.
Liteira: camada formada por folhas caídas, ramos, caules, cascas e frutos depositados sobre o solo em
florestas.
Simpatria: ocorrência de duas ou mais espécies em uma determinada área geográfica, com sobreposição
total ou parcial de suas distribuições geográficas.
Sistema Anastomosado: sistema de rios formado por múltiplos canais com alta sinuosidade.
Táxon: qualquer unidade taxonômica, tal como uma família, um gênero ou uma espécie particulares.
Vicariância: processo de subdivisão de uma linhagem evolutiva em elementos vicariantes por uma
barreira geográfica.