Regencia e Crase
Regencia e Crase
Regencia e Crase
REGÊNCIA E CRASE
3. (Unifesp 2016)
A tristeza dos pescadores do Rio Doce refere-se ___ desgraça que ocorreu no local em
novembro de 2015. ___ empresa responsável foi aplicada ___ multa. No entanto, esta não foi
suficiente para devolver ___ natureza o equilíbrio ambiental aniquilado. Pouco ___ pouco
esses pescadores tentam encontrar alternativa sustentável.
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LISTA DE EXERCÍCIOS:
REGÊNCIA E CRASE
a) à – À – a – à – a
b) à – A – a – à – a
c) a – À – a – à – a
d) à – A – à – a – à
5. (Fgvrj 2016) Levando-se em conta a norma-padrão escrita da língua portuguesa, das frases
abaixo, a única correta do ponto de vista da regência verbal é:
a) A cidade tem características que a rendem, ao mesmo tempo, críticas e elogios.
b) Para você evitar o estresse, é imprescindível seguir o estilo de vida que mais o interesse.
c) É importante prezar não só a ordem mas também a liberdade.
d) Sua distração acarretou em grandes prejuízos para todo o grupo.
e) Alguém precisa se responsabilizar sobre a abertura do prédio na hora combinada.
6. (Espcex (Aman) 2019) Assinale a alternativa correta, quanto ao emprego do acento grave.
a) As nações juntam-se a Assembleia da ONU, para eliminarem progressivamente os
problemas de gestão do serviço.
b) A Secretaria de Saneamento e as Conferências das Cidades foram criadas com vistas à
diminuir as desigualdades de acesso a esse serviço.
c) Pode-se caminhar alguns passos no sentido de garantir que a essa tarefa alinhe-se a
participação social.
d) A gestão dos serviços deve ser acrescentada uma visão de saneamento básico como direito
à cidadania.
e) O marco legal estabelece que a prestação dos serviços tem como foco à garantia do
cumprimento das metas.
7. (Ufpr 2019) É verdade que na Alemanha (da mesma forma que em outros países europeus)
sempre existiram ressentimentos xenófobos e antissemitas, como também grupos e partidos de
extrema direita. Não são fenômenos novos. A novidade desses últimos anos é o exibicionismo
desavergonhado __________ são manifestadas em público essas posturas desumanas, o
desenfreio __________ se assedia e se fustiga nas ruas os que têm aspecto, crenças e uma
forma de amar diferentes dos da maioria. A novidade é o consenso social __________ é
tolerável dizer e o que deve continuar sendo intolerável.
(<https://brasil.elpais.com/brasil/2018/09/21/opinion/1537548764_065506.html?id_externo_rsoc
=FB_BR_CM>.)
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LISTA DE EXERCÍCIOS:
REGÊNCIA E CRASE
entusiasmado com o novo Estado: em Israel, explicava, vivem judeus de todo o mundo, judeus
brancos da Europa, judeus pretos da África, judeus da Índia, isto sem falar nos beduínos com
seus camelos: tipos muito esquisitos, Guedali.
Tipos esquisitos – aquilo me dava ideias. Por que não ir para Israel? 15Num país de
gente tão estranha – e, 16ainda por cima, em guerra – eu certamente não chamaria a atenção.
Ainda menos como combatente, entre a poeira e a fumaça dos incêndios. Eu me via correndo
pelas ruelas de uma aldeia, empunhando um revólver trinta e oito, atirando sem cessar; eu me
via caindo, 17varado de balas. 18Aquela, sim, era a 19morte que eu almejava, morte heroica,
esplêndida justificativa para uma vida miserável, de monstro 20encurralado. E, caso não
morresse, poderia viver depois num kibutz . Eu, que conhecia tão bem a vida numa fazenda,
teria muito a fazer ali. Trabalhador dedicado, os membros do kibutz terminariam por me aceitar;
numa nova sociedade há lugar para todos, mesmo os de patas de cavalo.
Adaptado de: SCLIAR, M. O centauro no jardim. 9. ed. Porto Alegre: L&PM, 2001.
8. (Ufrgs 2018) Se a forma verbal almejava fosse substituída por aspirava em Aquela, sim, era
a morte que eu almejava (ref. 18), qual das alternativas abaixo estaria gramaticalmente
correta?
a) Aquela, sim, era a morte a que eu aspirava.
b) Aquela, sim, era a morte para a qual eu aspirava.
c) Aquela, sim, era a morte que eu aspirava.
d) Aquela, sim, era a morte de que eu aspirava.
e) Aquela, sim, era a morte com a qual eu aspirava.
Viagens, cofres mágicos com promessas sonhadoras, não mais 5revelareis 6vossos
tesouros intactos! Hoje, quando ilhas polinésias afogadas em concreto se transformam em
porta-aviões ancorados nos mares do Sul, quando as favelas corroem a África, quando a
aviação 9avilta a floresta americana antes mesmo de poder 7destruir-lhe a virgindade, de que
modo poderia a pretensa 10evasão da viagem conseguir outra coisa que não 14confrontar-nos
15
com as formas mais miseráveis de nossa existência histórica?
18
Ainda 22assim, compreendo a paixão, a loucura, o equívoco das narrativas de viagem.
Elas criam a ilusão daquilo 1__________ não existe mais, mas 2__________ ainda deveria
16
existir. Trariam nossos modernos Marcos Polos, das mesmas terras distantes, desta vez em
forma de fotografias e relatos, as especiarias morais 3_________ nossa sociedade experimenta
uma necessidade aguda ao se sentir 11soçobrar no tédio?
É assim que me identifico, viajante procurando em vão reconstituir o exotismo com o
auxílio de fragmentos e de destroços. 19Então, 26insidiosamente, a ilusão começa a tecer suas
armadilhas. Gostaria de ter vivido no tempo das verdadeiras viagens, quando um espetáculo
ainda não estragado, contaminado e maldito se oferecia em todo o seu esplendor. 20Uma vez
12
encetado, o jogo de conjecturas não tem mais fim: quando se deveria visitar a Índia, em que
época o estudo dos selvagens brasileiros poderia levar a conhecê-los na forma menos
alterada? Teria sido melhor chegar ao Rio no século XVIII? Cada década para 23trás 29permite
27
salvar um costume, 28ganhar uma festa, 17partilhar uma crença suplementar.
21
Mas conheço bem demais os textos do passado para não saber que, me privando de
um século, renuncio a perguntas dignas de enriquecer minha reflexão. E eis, diante de mim, o
círculo intransponível: quanto menos as culturas tinham condições de se comunicar entre si,
menos também os emissários 8respectivos eram capazes de perceber a riqueza e o significado
da diversidade. No final das contas, sou prisioneiro de uma 32alternativa: 30ora viajante antigo,
confrontado com um prodigioso espetáculo do qual quase tudo lhe escapava 24— ainda pior,
inspirava troça ou desprezo 25—, 31ora viajante moderno, correndo atrás dos vestígios de uma
realidade desaparecida. Nessas duas situações, sou perdedor, pois eu, que me lamento diante
das sombras, talvez seja impermeável ao verdadeiro espetáculo que está tomando forma neste
instante, mas 4__________ observação, meu grau de humanidade ainda 13carece da
sensibilidade necessária. 33Dentro de alguma centena de anos, neste mesmo lugar, outro
viajante pranteará o desaparecimento do que eu poderia ter visto e que me escapou.
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LISTA DE EXERCÍCIOS:
REGÊNCIA E CRASE
Adaptado de: LÉVI-STRAUSS, C. Tristes trópicos. São Paulo: Cia. das Letras, 1996. p. 38-44.
– Temos sorte de viver no Brasil – dizia meu pai, depois da guerra. – Na Europa
1
2
mataram 3milhões de judeus.
Contava as 4experiências que 5os médicos nazistas faziam com os prisioneiros.
Decepavam-lhes as cabeças, faziam-nas encolher – à maneira, li depois, dos índios Jivaros.
6
Amputavam pernas e braços. Realizavam estranhos transplantes: uniam a metade superior de
um homem _____1_____ metade inferior de uma mulher, ou aos quartos traseiros de um bode.
7
Felizmente 8morriam 9essas atrozes quimeras; 10expiravam como seres humanos, não eram
obrigadas a viver como aberrações. (_____2_____ essa altura eu tinha os olhos cheios de
lágrimas. Meu pai pensava 11que a descrição das maldades nazistas me deixava comovido.)
12
Em 1948 13foi proclamado 14o Estado de Israel. Meu pai abriu uma garrafa de vinho –
o melhor vinho do armazém –, brindamos ao acontecimento. E não saíamos de perto do rádio,
acompanhando _____3_____ notícias da guerra no Oriente Médio. Meu pai estava
entusiasmado com o novo Estado: em Israel, explicava, vivem judeus de todo o mundo, judeus
brancos da Europa, judeus pretos da África, judeus da Índia, isto sem falar nos beduínos com
seus camelos: tipos muito esquisitos, Guedali.
Tipos esquisitos – aquilo me dava ideias. Por que não ir para Israel? 15Num país de
gente tão estranha – e, 16ainda por cima, em guerra – eu certamente não chamaria a atenção.
Ainda menos como combatente, entre a poeira e a fumaça dos incêndios. Eu me via correndo
pelas ruelas de uma aldeia, empunhando um revólver trinta e oito, atirando sem cessar; eu me
via caindo, 17varado de balas. 18Aquela, sim, era a 19morte que eu almejava, morte heroica,
esplêndida justificativa para uma vida miserável, de monstro 20encurralado. E, caso não
morresse, poderia viver depois num kibutz . Eu, que conhecia tão bem a vida numa fazenda,
teria muito a fazer ali. Trabalhador dedicado, os membros do kibutz terminariam por me aceitar;
numa nova sociedade há lugar para todos, mesmo os de patas de cavalo.
Adaptado de: SCLIAR, M. O centauro no jardim. 9. ed. Porto Alegre: L&PM, 2001.
10. (Ufrgs 2018) Assinale a alternativa que preenche corretamente as lacunas 1, 2 e 3, nessa
ordem.
a) à – À – às
b) a – A – às
c) à – A – às
d) a – À – as
e) à – A – as
Publicado em 1948, o livro 1984, de George Orwell, saltou para o topo da lista dos
mais vendidos (...) 1A distopia de Orwel, mesmo situada no futuro, tinha um endereço certo em
seu tempo: o stalinismo. (...) 2O mundo da “pós-verdade”, dos “fatos alternativos” e da
anestesia intelectual nas redes sociais mais parece outra distopia, publicada em 1932:
Admirável mundo novo, de Aldous Huxley.
3
Não se trata de uma tese nova. Ela foi levantada pela primeira vez em 1985, num
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LISTA DE EXERCÍCIOS:
REGÊNCIA E CRASE
livreto do teórico da comunicação americano Neil Postman: Amusing ourselves to death (4Nos
divertindo até morrer), relembrado por seu filho Andrew em artigo recente no The Guardian.
“Na visão de Huxley, não é necessário nenhum Grande Irmão para despojar a população de
autonomia, maturidade ou história”, escreveu Postman. “Ela acabaria amando sua opressão,
adorando as tecnologias que destroem sua capacidade de pensar. Orwell temia aqueles que
proibiriam os livros. Huxley temia que não haveria motivo para proibir um livro, pois não haveria
ninguém que quisesse lê-los. Orwell temia aqueles que nos privariam de informação. Huxley,
aqueles que nos dariam tanta que seríamos reduzidos à passividade e ao egoísmo. 5Orwell
temia que a verdade fosse escondida de nós. Huxley, que fosse afogada num mar de
irrelevância.”
6
No futuro pintado por Huxley, (...) não há mães, pais ou casamentos. O sexo é livre. A
diversão está disponível na forma de jogos esportivos, cinema multissensorial e de uma droga
que garante o bem-estar sem efeito colateral: o soma. Restaram na Terra dez áreas civilizadas
e uns poucos territórios selvagens, onde 7grupos nativos ainda preservam costumes e
tradições primitivos, como família ou religião. “O mundo agora é estável”, diz um líder civilizado.
“As pessoas são felizes, têm o que desejam e nunca desejam o que não podem ter. Sentem-se
bem, estão em segurança; nunca adoecem; 8não têm medo da morte; vivem na ditosa
ignorância da paixão e da velhice; não se acham sobrecarregadas de pais e mães; 9não têm
esposas, nem filhos, nem amantes por quem possam sofrer emoções violentas; são
condicionadas de tal modo que praticamente não podem deixar de se portar como devem. E
se, por acaso, alguma coisa andar mal, há o soma.”
10
Para chegar à estabilidade absoluta, foi necessário abrir mão da arte e da ciência. “A
felicidade universal mantém as engrenagens em funcionamento regular; a verdade e a beleza
são incapazes de fazê-lo”, diz o líder. “Cada vez que as massas tomavam o poder público, era
a felicidade, mais que a verdade e a beleza, o que importava.” A verdade é considerada uma
ameaça; a ciência e a arte, perigos públicos. Mas não é necessário esforço totalitário para
controlá-las. Todos aceitam de bom grado, fazem “qualquer sacrifício em troca de uma vida
sossegada” e de sua dose diária de soma. “Não foi muito bom para a verdade, sem dúvida.
Mas foi excelente para a felicidade.”
No universo de Orwell, a população é controlada pela dor. No de Huxley, pelo prazer.
“Orwell temia que nossa ruína seria causada pelo que odiamos. Huxley, pelo que amamos”,
escreve Postman. Só precisa haver censura, diz ele, se os tiranos acreditam que o público
sabe a diferença entre discurso sério e entretenimento. (...) O alvo de Postman, em seu tempo,
era a televisão, que ele julgava ter imposto uma cultura fragmentada e superficial, incapaz de
manter com a verdade a relação reflexiva e racional da palavra impressa. 11O computador só
engatinhava, e Postman mal poderia prever como celulares, tablets e redes sociais se
tornariam – bem mais que a TV – o soma contemporâneo. Mas suas palavras foram
prescientes: “O que afligia a população em Admirável mundo novo não é que estivessem rindo
em vez de pensar, mas que não sabiam do que estavam rindo, nem tinham parado de pensar”.
11. (Epcar (Afa) 2018) Assinale a alternativa em que o aspecto gramatical analisado está
correto.
a) Em “Para chegar à estabilidade absoluta...” (ref. 10), se acrescentado o pronome possessivo
sua antes da palavra estabilidade, a obrigatoriedade do acento indicativo de crase se desfaz.
b) Em “stalinismo” e “egoísmo”, o sufixo utilizado nas palavras indica, além da flexão de grau, a
noção de origem, de estado ou qualidade do nome primitivo.
c) Os vocábulos “chegar”, “absoluta”, “ciência” e “temia” apresentam, respectivamente, dígrafo,
encontro consonantal, hiato e ditongo oral crescente.
d) O último período do texto foi apresentado entre aspas para indicar que nele há um erro de
concordância.
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LISTA DE EXERCÍCIOS:
REGÊNCIA E CRASE
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:
Sons que confortam
Martha Medeiros
1
Eram quatro da manhã quando seu pai sofreu um colapso cardíaco. 2Só estavam os três na
casa: o pai, a mãe e ele, um garoto de 13 anos. Chamaram o médico da família. 3E
aguardaram. E aguardaram. E aguardaram. 4Até que o garoto escutou um barulho lá fora. É ele
que conta, hoje, adulto: 5Nunca na vida ouvira um som mais lindo, mais calmante, do que os
pneus daquele carro amassando as folhas de outono empilhadas junto ao meio-fio.
6
Inesquecível, para o menino, foi ouvir o som do carro do médico se aproximando, o homem
que salvaria seu pai. Na mesma hora em que li esse relato, imaginei um sem-número de sons
que nos confortam. A começar pelo choro na sala de parto. Seu filho nasceu. E o mais aliviante
para pais que possuem adolescentes baladeiros: 7o barulho da chave abrindo a fechadura da
porta. Seu filho voltou.
E pode parecer mórbido para uns, masoquismo para outros, mas há quem mate a saudade
assim: ouvindo pela enésima vez 8o recado na secretária eletrônica de alguém que já morreu.
Deixando a categoria dos sons magnânimos para a dos sons cotidianos: a voz no alto-falante
do aeroporto dizendo que a aeronave já se encontra em solo e o embarque será feito dentro de
poucos minutos.
9
O sinal, dentro do teatro, avisando que as luzes serão apagadas e o espetáculo irá começar.
O barulho da chuva forte no meio da madrugada, quando você está no quentinho da sua cama.
Uma conversa em outro idioma na mesa ao lado da sua, provocando a falsa sensação de que
você está viajando, de férias em algum lugar estrangeiro. E estando em algum lugar
estrangeiro, ouvir o seu idioma natal sendo falado por alguém que passou, fazendo você
lembrar que o mundo não é tão vasto assim.
11
O toque do interfone quando se aguarda ansiosamente a chegada do namorado. Ou mesmo
a chegada da pizza.
O aplauso depois que você, nervoso, falou em público para dezenas de desconhecidos.
15
O primeiro eu te amo dito por quem você também começou a amar.
MEDEIROS, Martha. Feliz por nada. São Paulo: L&PM Editores, 2011.
12. (Uece 2019) Em função de uma linguagem mais simples e coloquial, a crônica, muitas
vezes, pode “desrespeitar” a norma gramatical própria do uso culto da escrita formal da língua,
o que pode ser observado no texto de Martha Medeiros na seguinte passagem:
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LISTA DE EXERCÍCIOS:
REGÊNCIA E CRASE
a) “Eram quatro da manhã quando seu pai sofreu um colapso cardíaco” (ref. 1), em que,
gramaticalmente, o verbo “ser”, indicando tempo, não varia em número para concordar com
“quatro da manhã”.
b) “Até a musiquinha que antecede a chamada a cobrar pode ser bem-vinda” (ref. 10), em que
o verbo “anteceder” exige um complemento com preposição.
c) “A música que você mais gosta tocando no rádio do carro” (ref. 14), em que a regência do
verbo “gostar” não é obedecida.
d) “O toque do interfone quando se aguarda ansiosamente a chegada do namorado” (ref. 11),
em que a expressão “a chegada’ deveria vir com o acento indicativo de crase, já que o verbo
“aguardar” exige complemento com a preposição “a”, bem como o artigo que acompanha o
substantivo é do gênero feminino.
13. (Acafe 2020) Preencha os espaços em branco com Há, a, à, nessa ordem.
I. _____ dois anos não _____ visitava, mas sua mãe sempre esteve _____ espera.
II. _____ beira do precipício, _____ poucos arbustos _____ decorar a paisagem.
III. _____ quem quisesse ver, demonstrei que não _____ possibilidade de resolver _____
questão.
IV. _____ alguma chance, _____ custa de muito esforço, de obter _____ vaga pretendida.
V. _____ ao menos três maneiras de encaminhar isso _____ quem está _____ disposição para
ajudar.
A frase, título do filme, reproduz uma variedade linguística recorrente na fala de muitos
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LISTA DE EXERCÍCIOS:
REGÊNCIA E CRASE
2 de MAIO de 1958. Eu não sou indolente. Há tempos que eu pretendia fazer o meu diario.
Mas eu pensava que não tinha valor e achei que era perder tempo.
...Eu fiz uma reforma para mim. Quero tratar as pessoas que eu conheço com mais atenção.
Quero enviar sorriso amavel as crianças e aos operarios.
...Recebi intimação para comparecer as 8 horas da noite na Delegacia do 12. Passei o dia
catando papel. A noite os meus pés doiam tanto que eu não podia andar.
Começou chover. Eu ia na Delegacia, ia levar o José Carlos. A intimação era para ele. O José
Carlos tem 9 anos.
3 de MAIO. ...Fui na feira da Rua Carlos de Campos, catar qualquer coisa. Ganhei bastante
verdura. Mas ficou sem efeito, porque eu não tenho gordura. Os meninos estão nervosos por
não ter o que comer.
6 de MAIO. De manhã não fui buscar agua. Mandei o João carregar. Eu estava contente.
Recebi outra intimação. Eu estava inspirada e os versos eram bonitos e eu esqueci de ir na
Delegacia. Era 11 horas quando eu recordei do convite do ilustre tenente da 12ª Delegacia.
...o que eu aviso aos pretendentes a política, é que o povo não tolera a fome. É preciso
conhecer a fome para saber descrevê-la.
Estão construindo um circo aqui na Rua Araguaia, Circo Theatro Nilo.
9 de MAIO. Eu cato papel, mas não gosto. Então eu penso: Faz de conta que estou sonhando.
10 de MAIO. Fui na Delegacia e falei com o Tenente. Que homem amavel! Se eu soubesse
que ele era tão amavel, eu teria ido na Delegacia na primeira intimação.
(...) O Tenente interessou-se pela educação dos meus filhos. Disse-me que a favela é um
ambiente propenso, que as pessoas tem mais possibilidades de delinquir do que tornar-se util a
patria e ao país. Pensei: se ele sabe disso, porque não faz um relatorio e envia para os
politicos? O Senhor Janio Quadros, o Kubstchek, e o Dr Adhemar de Barros? Agora falar para
mim, que sou uma pobre lixeira. Não posso resolver nem as minhas dificuldades.(...) O Brasil
precisa ser dirigido por uma pessoa que já passou fome. A fome tambem é professora. Quem
passa fome aprende a pensar no proximo e nas crianças.
11 de MAIO. Dia das mães. O céu está azul e branco. Parece que até a natureza quer
homenagear as mães que atualmente se sentem infeliz por não realizar os desejos de seus
filhos. (...) O sol vai galgando. Hoje não vai chover. Hoje é o nosso dia. (...) A D. Teresinha veio
visitar-me. Ela deu-me 15 cruzeiros. Disse-me que era para a Vera ir no circo. Mas eu vou
deixar o dinheiro para comprar pão amanhã, porque eu só tenho 4 cruzeiros.(...) Ontem eu
ganhei metade da cabeça de um porco no frigorifico. Comemos a carne e guardei os ossos
para ferver. E com o caldo fiz as batatas. Os meus filhos estão sempre com fome. Quando eles
passam muita fome eles não são exigentes no paladar. (...) Surgiu a noite. As estrelas estão
ocultas. O barraco está cheio de pernilongos. Eu vou acender uma folha de jornal e passar
pelas paredes. É assim que os favelados matam mosquitos.
13 de MAIO. Hoje amanheceu chovendo. É um dia simpatico para mim. É o dia da Abolição.
Dia que comemoramos a libertação dos escravos. Nas prisões os negros eram os bodes
expiatorios. Mas os brancos agora são mais cultos. E não nos trata com desprezo.
Que Deus ilumine os brancos para que os pretos sejam feliz. (...) Continua chovendo. E eu
tenho só feijão e sal. A chuva está forte. Mesmo assim, mandei os meninos para a escola.
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LISTA DE EXERCÍCIOS:
REGÊNCIA E CRASE
Estou escrevendo até passar a chuva para mim ir lá no Senhor Manuel vender os ferros. Com
o dinheiro dos ferros vou comprar arroz e linguiça. A chuva passou um pouco. Vou sair. (...) Eu
tenho dó dos meus filhos. Quando eles vê as coisas de comer eles brada: Viva a mamãe!. A
manifestação agrada-me. Mas eu já perdi o habito de sorrir. Dez minutos depois eles querem
mais comida. Eu mandei o João pedir um pouquinho de gordura a Dona Ida. Mandei-lhe um
bilhete assim:
“Dona Ida peço-te se pode me arranjar um pouquinho de gordura, para eu fazer sopa para os
meninos. Hoje choveu e não pude catar papel. Agradeço. Carolina”
(...) Choveu, esfriou. É o inverno que chega. E no inverno a gente come mais. A Vera começou
a pedir comida. E eu não tinha. Era a reprise do espetaculo. Eu estava com dois cruzeiros.
Pretendia comprar um pouco de farinha para fazer um virado. Fui pedir um pouco de banha a
Dona Alice. Ela deu-me a banha e arroz. Era 9 horas da noite quando comemos.
E assim no dia 13 de maio de 1958 eu lutava contra a escravatura atual – a fome!
15. (Epcar (Afa) 2016) Quanto ao uso da crase, percebe-se pela escrita de Carolina Maria de
Jesus, que, nos trechos destacados abaixo, ela não foi utilizada, infringindo, dessa forma, a
regra gramatical. Assinale a opção em que a crase NÃO deveria ocorrer obrigatoriamente.
a) “Quero enviar sorriso amavel as crianças e aos operarios.”
b) “...o que eu aviso aos pretendentes a política, é que o povo não tolera a fome.”
c) “A noite os meus pés doiam tanto que eu não podia andar...”
d) “Eu mandei o João pedir um pouquinho de gordura a Dona Ida.”
TEXTO 1
TEXTO 2
É melhor que o sujeito comece a ler através de uma adaptação bem feita de um
clássico do que seja obrigado a ler um texto ilegível e incompreensível segundo a linguagem e
os parâmetros culturais atuais. Depois que leu a adaptação, ele pode pegar o gosto, entrar no
processo de leitura e eventualmente se interessar por ler o Machadão no original. Agora, dar
uma machadada em um moleque que tem PS3, Xbox, 1000 canais a cabo e toda a internet à
disposição é simplesmente burrice.
TEXTO 3
Não defenderia, jamais, que Secco [autora da adaptação] fosse impedida de realizar
seu projeto, mas não me parece que a proposta devesse merecer apoio do Ministério da
Cultura e ser realizada com a ajuda de leis que, afinal, transferem impostos para a cultura.
Trata-se, na melhor das hipóteses, de ingenuidade; na pior, de excesso de “sagacidade”. Não
será a adulteração de obras, para torná-las supostamente mais legíveis por ignorantes, que irá
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LISTA DE EXERCÍCIOS:
REGÊNCIA E CRASE
Em uma fazenda americana, nos anos 60, o garoto Frank Walker (Thomas Robinson)
persegue o sonho de inventar uma engenhoca capaz de fazê-lo voar. O pai lhe dá uma bronca
por perder tempo com tal sandice. Seu primeiro teste revela-se um doloroso anticlímax. Nem
por isso Frank desanima. “Não vou desistir nunca”, diz. O filete de autoajuda contido na frase é
uma premonição do gosto que restará na garganta do espectador ao fim de Tomorrowland
(Estados Unidos, 2015). Na produção da Disney em cartaz no país, o personagem sonhador
surge, já adulto, na pele de George Clooney, para narrar os estranhos fatos que se seguiram à
apresentação de sua máquina na Feira Mundial de Nova York, em 1964. Na ocasião, o garoto
é humilhado pelo chefe da comissão de novas invenções do evento, Nix (Hugh Laurie). Mas a
enigmática menina Athena (Raffey Cassidy) vê tudo e percebe que está diante de alguém
especial. O rumo da vida de Frank muda quando ela lhe dá de presente um item prosaico – um
broche com a letra T. Ao passear em um brinquedo que parece saído dos parques de
diversões da Disney, ele atravessa o portal para outra dimensão: na Tomorrowland do título, os
cidadãos voam em versões modernosas de seu propulsor e aerotrens cruzam os ares em meio
à selva de edifícios high-tech. Corta para o começo dos anos 2000. Filha de um engenheiro da
Nasa ameaçado de perder o emprego com o ocaso da indústria espacial, a adolescente Casey
Newton (Britt Robertson) vai para a cadeia após invadir a base de Cabo Canaveral, na Flórida.
Por vias misteriosas, um broche como o de Frank cai em suas mãos. Da mesma forma que
ocorrera com o garoto décadas antes, o artefato a transportará para a cidade futurista. Com um
empurrão da mesma menina enigmática, Casey se conecta ao adulto Frank, ao lado de quem
tentará impedir um cataclismo relacionado àquele mundo paralelo.
Tomorrowland deriva da ala futurista homônima que se pode visitar em vários parques
da Disney – cujo espírito também está na base do Epcot, em Orlando. A ideia de um futuro de
arquitetura sinuosa e modalidades flamantes de transporte era fixação do fundador da
companhia, Walt Disney (1901-1966). No momento em que seu primeiro parque está para
completar sessenta anos, é curioso notar como envelheceu aquela noção de futuro – assim
como tantas outras desde os livros do francês Júlio Verne, que descreviam, com as lentes do
século XIX, um mundo por vir. Apesar do frenesi de videogame, Tomorrowland cheira a um
compêndio de design retrô, com seus robôs e naves malucas. Como fica explícito em sua ode
à era da corrida espacial, o filme expressa um paradoxo: a nostalgia do futuro. Até porque o
futurismo dos parques da Disney foi assimilado na arquitetura pós-moderna de cidades como
Dubai, Xangai ou Las Vegas. Disney, enfim, ajudou a moldar o mundo de hoje – só que, no
processo, seu futurismo virou item de museu.
Na verdade, o componente nostálgico é um fator de empatia do filme. O deslize está
em outro detalhe: a indecisão existencial. Tomorrowland fica a meio caminho entre a aventura
juvenil e a distopia tecnológica à la Matrix. Para os jovens, a pirotecnia não compensará o
enfado com tanto papo-cabeça – o que talvez explique por que a produção de 180 milhões de
dólares decepcionou nas bilheterias americanas. Para os adultos, a causa da frustração será
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LISTA DE EXERCÍCIOS:
REGÊNCIA E CRASE
Marcelo Marthe. Veja, ed. 2429, ano 48, nº 23, 10 de jun. 2015. p. 110-111. Adaptado.
17. (Upe-ssa 2 2016) Observe o trecho: “Casey se conecta ao adulto Frank, ao lado de quem
tentará impedir um cataclismo relacionado àquele mundo paralelo”. Considerando as normas
da regência verbal e também os sentidos promovidos, identifique a alternativa cujas
modificações (destacadas) mantêm a adequação linguística do trecho.
a) Casey se conecta no adulto Frank, ao lado de quem tentará impedir um cataclismo
relacionado naquele mundo paralelo.
b) Casey se conecta ao adulto Frank, ao lado de cuja pessoa tentará impedir um cataclismo
relacionado àquele mundo paralelo.
c) Casey se conecta pelo adulto Frank, ao lado de quem tentará impedir um cataclismo
relacionado à este mundo paralelo.
d) Casey se conecta com o adulto Frank e, ao seu lado, tentará impedir um cataclismo
relacionado àquele mundo paralelo.
e) Casey se conecta por meio do adulto Frank, com quem tentará impedir um cataclismo
relacionado aquele mundo paralelo.
Não faz muito que 1temos esta nova TV com controle remoto, 2mas devo dizer que se
trata agora de um instrumento sem 3o qual eu não saberia viver. Passo os dias sentado na
velha poltrona, mudando de um canal para o outro – uma tarefa que antes exigia certa
movimentação, 4mas que agora ficou muito fácil. Estou num canal, não gosto – 5zap, mudo
para outro. 6Eu 7gostaria de ganhar em dólar num mês o número de vezes que você troca de
canal em uma hora, diz minha mãe. 8Trata-se de uma pretensão fantasiosa, 9mas pelo menos
10
indica 11disposição para o humor, admirável nessa mulher.
12
Sofre minha mãe. Sempre 13sofreu14: infância carente, pai cruel, etc. Mas o seu
sofrimento aumentou muito quando meu pai a deixou. Já faz tempo; foi logo depois que eu
nasci, e estou agora com treze anos. Uma idade em que se vê muita televisão, e em que se
muda de canal constantemente, ainda que minha mãe ache 15isso um absurdo. Da tela, uma
moça sorridente pergunta se o caro telespectador já conhece certo novo sabão em pó. 16Não
conheço nem quero conhecer, de modo que – 17zap – mudo de canal. “Não me abandone,
Mariana, não me abandone18!”. Abandono, sim. Não tenho o menor 19remorso, e agora é um
desenho, que eu já vi duzentas vezes, e – 20zap – um homem 21falando. Um homem, abraçado
_____1_____ guitarra elétrica, fala _____2_____ uma entrevistadora. É um roqueiro. É meio
velho, tem cabelos grisalhos, rugas, falta-lhe um dente. É o meu pai.
É sobre mim que 22ele fala. Você tem um filho, não tem?, pergunta a apresentadora, e
ele, meio 23constrangido – situação pouco admissível para um roqueiro de verdade –, diz que
sim, que tem um filho só que não vê há muito tempo. Hesita um pouco e acrescenta: você
sabe, eu tinha que fazer uma opção, era a família ou o rock. A entrevistadora, porém, insiste
(24é chata, ela): mas o seu filho gosta de rock25? Que você saiba, seu filho gosta de rock26?
Ele se mexe na cadeira; o microfone, preso _____3_____ desbotada camisa, roça-
27
lhe o peito, produzindo um desagradável e bem audível rascar. Sua angústia é
compreensível; aí está, num programa local e de baixíssima audiência – e ainda tem de passar
pelo vexame de uma pergunta que o embaraça e à qual não sabe responder. E então ele me
olha. 28Vocês dirão que não, que é para a câmera que ele olha; aparentemente é isso; mas na
realidade é a mim que ele olha, sabe que, em algum lugar, diante de uma tevê, estou a fitar
seu rosto atormentado, as lágrimas me correndo pelo rosto; e no meu olhar ele procura a
resposta _____4_____ pergunta da apresentadora: você gosta de rock? Você gosta de mim?
Você me perdoa? – mas aí comete um engano mortal29: insensivelmente, automaticamente,
seus dedos começam a dedilhar as cordas da guitarra, é o vício do velho roqueiro. Seu rosto
se ilumina e 30ele vai dizer que sim, que seu filho ama o rock tanto quanto ele, mas nesse
momento – 31zap – aciono o controle remoto e ele some. 32Em seu lugar, uma bela e sorridente
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LISTA DE EXERCÍCIOS:
REGÊNCIA E CRASE
jovem que está – à exceção do pequeno relógio que usa no pulso – nua, completamente nua.
Adaptado de: SCLIAR, M. Zap. In: MORICONI, Í. (Org.) Os cem melhores contos brasileiros.
Rio de Janeiro: Objetiva, 2009. p. 547-548.
Ela era gorda, baixa, sardenta e de cabelos excessivamente crespos, meio arruivados.
Tinha um busto enorme, enquanto nós todas ainda éramos achatadas. Como se não bastasse,
enchia os dois bolsos da blusa, por cima do busto, com balas. Mas possuía o que qualquer
criança devoradora de histórias gostaria de ter: um pai dono de livraria.
Pouco aproveitava. E nós menos ainda: até para aniversário, em vez de pelo menos
um livrinho barato, ela nos entregava em mãos um cartão-postal da loja do pai. Ainda por cima
era de paisagem do Recife mesmo, onde morávamos, com suas pontes mais do que vistas.
Atrás escrevia com letra bordadíssima palavras como “data natalícia” e “saudade”.
Mas que talento tinha para a crueldade. Ela toda era pura vingança, chupando balas
com barulho. Como essa menina devia nos odiar, nós que éramos imperdoavelmente
bonitinhas, esguias, altinhas, de cabelos livres. Comigo exerceu com calma ferocidade o seu
sadismo. Na minha ânsia de ler, eu nem notava as humilhações a que ela me submetia:
continuava a implorar-lhe emprestados os livros que ela não lia.
Até que veio para ela o magno dia de começar a exercer sobre mim uma tortura
chinesa. Como casualmente, informou-me que possuía As reinações de Narizinho, de Monteiro
Lobato.
Era um livro grosso, meu Deus, era um livro para se ficar vivendo com ele, comendo-o,
dormindo-o. E completamente acima de minhas posses. Disse-me que eu passasse pela sua
casa no dia seguinte e que ela o emprestaria.
Até o dia seguinte eu me transformei na própria esperança da alegria: eu não vivia, eu
nadava devagar num mar suave, as ondas me levavam e me traziam.
No dia seguinte fui à sua casa, literalmente correndo. Ela não morava num sobrado
como eu, e sim numa casa. Não me mandou entrar. Olhando bem para meus olhos, disse-me
que havia emprestado o livro a outra menina, e que eu voltasse no dia seguinte para buscá-lo.
Boquiaberta, saí devagar, mas em breve a esperança de novo me tomava toda e eu
recomeçava na rua a andar pulando, que era o meu modo estranho de andar pelas ruas de
Recife. Dessa vez nem caí: guiava-me a promessa do livro, o dia seguinte viria, os dias
seguintes seriam mais tarde a minha vida inteira, o amor pelo mundo me esperava, andei
pulando pelas ruas como sempre e não caí nenhuma vez.
Mas não ficou simplesmente nisso. O plano secreto da filha do dono de livraria era
tranquilo e diabólico. No dia seguinte lá estava eu à porta de sua casa, com um sorriso e o
coração batendo. Para ouvir a resposta calma: o livro ainda não estava em seu poder, que eu
voltasse no dia seguinte. Mal sabia eu como mais tarde, no decorrer da vida, o drama do “dia
seguinte” com ela ia se repetir com meu coração batendo.
E assim continuou. Quanto tempo? Não sei. Ela sabia que era tempo indefinido,
enquanto o fel não escorresse todo de seu corpo grosso. Eu já começara a adivinhar que ela
me escolhera para eu sofrer, às vezes adivinho. Mas, adivinhando-me mesmo, às vezes aceito:
como se quem quer me fazer sofrer esteja precisando danadamente que eu sofra.
Quanto tempo? Eu ia diariamente à sua casa, sem faltar um dia sequer. Às vezes ela
dizia: pois o livro esteve comigo ontem de tarde, mas você só veio de manhã, de modo que o
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LISTA DE EXERCÍCIOS:
REGÊNCIA E CRASE
emprestei a outra menina. E eu, que não era dada a olheiras, sentia as olheiras se cavando
sob os meus olhos espantados.
Até que um dia, quando eu estava à porta de sua casa, ouvindo humilde e silenciosa a
sua recusa, apareceu sua mãe. Ela devia estar estranhando a aparição muda e diária daquela
menina à porta de sua casa. Pediu explicações a nós duas. Houve uma confusão silenciosa,
entrecortada de palavras pouco elucidativas. A senhora achava cada vez mais estranho o fato
de não estar entendendo. Até que essa mãe boa entendeu. Voltou-se para a filha e com
enorme surpresa exclamou: mas este livro nunca saiu daqui de casa e você nem quis ler!
E o pior para essa mulher não era a descoberta do que acontecia. Devia ser a
descoberta horrorizada da filha que tinha. Ela nos espiava em silêncio: a potência de
perversidade de sua filha desconhecida e a menina loura em pé à porta, exausta, ao vento das
ruas de Recife. Foi então que, finalmente se refazendo, disse firme e calma para a filha: você
vai emprestar o livro agora mesmo. E para mim: “E você fica com o livro por quanto tempo
quiser.” Entendem? Valia mais do que me dar o livro: “pelo tempo que eu quisesse” é tudo o
que uma pessoa, grande ou pequena, pode ter a ousadia de querer.
Como contar o que se seguiu? Eu estava estonteada, e assim recebi o livro na mão.
Acho que eu não disse nada. Peguei o livro. Não, não saí pulando como sempre. Saí andando
bem devagar. Sei que segurava o livro grosso com as duas mãos, comprimindo-o contra o
peito. Quanto tempo levei até chegar em casa, também pouco importa. Meu peito estava
quente, meu coração pensativo.
Chegando em casa, não comecei a ler. Fingia que não o tinha, só para depois ter o
susto de o ter. Horas depois abri-o, li algumas linhas maravilhosas, fechei-o de novo, fui
passear pela casa, adiei ainda mais indo comer pão com manteiga, fingi que não sabia onde
guardara o livro, achava-o, abria-o por alguns instantes. Criava as mais falsas dificuldades para
aquela coisa clandestina que era a felicidade. A felicidade sempre iria ser clandestina para
mim. Parece que eu já pressentia. Como demorei! Eu vivia no ar... Havia orgulho e pudor em
mim. Eu era uma rainha delicada.
Às vezes sentava-me na rede, balançando-me com o livro aberto no colo, sem tocá-lo,
em êxtase puríssimo. Não era mais uma menina com um livro: era uma mulher com o seu
amante.
20. (Acafe 2018) Nas frases a seguir, preencha as lacunas com uma das preposições
sugeridas entre parênteses e depois assinale a alternativa com a sequência correta.
I. Nesse caso, é estranho que o Ministro do Meio Ambiente ignore as informações técnicas
__________ que detém a posse. (sobre, com, de)
II. De acordo com as fontes __________ as quais mantive contato ontem, a mudança na
legislação eleitoral não valerá para 2018. (com, perante, a)
III. Quando um homem __________ quem eu confiava me disse que havia uma solução para
isso, eu acreditei. (a, em, de)
IV. Logo cedo chegaram dois gaúchos pilchados e um vizinho meu recente, __________ cuja
procedência não me lembro. (em, de, sobre)
V. Ontem resolvi mandar uma carta à empresa __________ a qual o jornal fez uma longa
reportagem, publicada na semana passada. (com, perante, sobre)
a) sobre - a - de - de - com
b) de - com - em - de - sobre
c) sobre - perante - a - em - perante
d) com - perante - em - sobre - com
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REGÊNCIA E CRASE
Pedrinho, na varanda, lia um jornal. De repente parou e disse à Emília, que andava
rondando por ali:
– Vá perguntar à vovó o que quer dizer folk-lore.
– Vá? Dobre a sua língua. Eu só faço coisas quando me pedem por favor. — Pedrinho,
que estava com preguiça de levantar-se, cedeu à exigência da ex-boneca.
– 1Emilinha do coração — disse ele —, faça-me o maravilhoso favor de ir perguntar à
vovó que coisa significa a palavra folk-lore, sim, teteia? — Emília foi e voltou com a resposta.
– Dona Benta disse que folk quer dizer gente, povo; e lore quer dizer sabedoria,
ciência. Folclore são as coisas que o povo sabe por boca, de um contar para o outro, de pais a
filhos.
Os contos, as histórias, as anedotas, as superstições, as bobagens, a sabedoria
popular etc. e tal. Por que pergunta isso, Pedrinho?
O menino calou-se. Estava pensativo, com os olhos lá longe. Depois disse: — Uma
ideia que eu tive. 2Tia Nastácia é o povo. Tudo que o povo sabe e vai contando de um para
outro, ela deve saber. Estou com o plano de espremer Tia Nastácia para tirar o leite do folclore
que há nela.
Emília arregalou os olhos. – Não está má a ideia, não, Pedrinho! 3Às vezes, a gente
tem uma coisa muito interessante em casa e nem percebe.
21. (S1 - ifce 2020) A expressão “às vezes” (referência 3) contida no texto apresenta o
fenômeno da crase
a) uma vez que é uma locução coordenada explicativa.
b) visto que é uma locução adverbial deslocada.
c) por tratar-se de uma expressão adverbial feminina.
d) pois é um elemento coesivo que inicia a frase.
e) tendo em vista que é uma locução verbal.
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LISTA DE EXERCÍCIOS:
REGÊNCIA E CRASE
que vi o ladrão morrer afogado com os soldados de canoa dando tiros, e havia uma mulher do
outro lado do rio gritando.
Mas como eu poderia, mulher estranha, convertê-la em menina para subir comigo pela
capoeira? Uma vez vi uma urutu junto de um tronco queimado; e me lembro de muitas
meninas. Tinha uma que para mim uma adoração. Ah, paixão da infância, paixão que não
amarga. Assim eu queria gostar de você, mulher estranha que ora venho conhecer, homem
maduro. Homem maduro, ido e vivido; mas quando a olhei, você estava distraída, meus olhos
eram outra vez daquele menino feio do segundo ano primário que quase não tinha coragem de
olhar a menina um pouco mais alta da ponta direita do banco.
Adoração de infância. Ao menos você conhece um passarinho chamado saíra? É um
passarinho miúdo: imagine uma saíra grande que de súbito aparecesse a um menino que só
tivesse visto coleiros e curiós, ou pobres cambaxirras. Imagine um arco-íris visto na mais
remota infância, sobre os morros e o rio. O menino da roça que pela primeira vez vê as algas
do mar se balançando sob a onda clara, junto da pedra.
Ardente da mais pura paixão de beleza é a adoração da infância. Na minha
adolescência você seria uma tortura. Quero levá-la para a meninice. Bem pouca coisa eu sei;
uma vez na fazenda rira: ele não sabe nem passar um barbicacho! Mas o que sei lhe ensino;
são pequenas coisas do mato e da água, são humildes coisas, e você é tão bela e estranha!
Inutilmente tento convertê-la em menina de pernas magras, o joelho ralado, um pouco de lama
seca do brejo no meio dos dedos dos pés.
Linda como a areia que a onda ondeou. Saíra grande! Na adolescência e torturaria;
mas sou um homem maduro. Ainda assim às vezes é como um bando de sanhaços bicando os
cajus de meu cajueiro, um cardume de peixes dourados avançando, saltando ao sol, na
piracema; um bambual com sombra fria, onde ouvi um silvo de cobra, e eu quisera tanto
dormir. Tanto dormir! Preciso de um sossego de beira de rio, com remanso, com cigarras. Mas
você é como se houvesse demasiadas cigarras cantando numa pobre tarde de homem.
Julho, 1945
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LISTA DE EXERCÍCIOS:
REGÊNCIA E CRASE
23. (Imed 2015) As lacunas das referências 1, 5, 10, 14 e 15 ficam correta e respectivamente
preenchidas por:
a) A – haviam – a – à – a
b) Há – havia – a – a – à
c) A – haviam – a – a – à
d) A – havia – à – à – à
e) Há – haviam – à – a – a
Ela era gorda, baixa, sardenta e de cabelos excessivamente crespos, meio arruivados.
Tinha um busto enorme, enquanto nós todas ainda éramos achatadas. Como se não bastasse,
enchia os dois bolsos da blusa, por cima do busto, com balas. Mas possuía o que qualquer
criança devoradora de histórias gostaria de ter: um pai dono de livraria.
Pouco aproveitava. E nós menos ainda: até para aniversário, em vez de pelo menos
um livrinho barato, ela nos entregava em mãos um cartão-postal da loja do pai. Ainda por cima
era de paisagem do Recife mesmo, onde morávamos, com suas pontes mais do que vistas.
Atrás escrevia com letra bordadíssima palavras como “data natalícia” e “saudade”.
Mas que talento tinha para a crueldade. Ela toda era pura vingança, chupando balas
com barulho. Como essa menina devia nos odiar, nós que éramos imperdoavelmente
bonitinhas, esguias, altinhas, de cabelos livres. Comigo exerceu com calma ferocidade o seu
sadismo. Na minha ânsia de ler, eu nem notava as humilhações a que ela me submetia:
continuava a implorar-lhe emprestados os livros que ela não lia.
Até que veio para ela o magno dia de começar a exercer sobre mim uma tortura
chinesa. Como casualmente, informou-me que possuía As reinações de Narizinho, de Monteiro
Lobato.
Era um livro grosso, meu Deus, era um livro para se ficar vivendo com ele, comendo-o,
dormindo-o. E completamente acima de minhas posses. Disse-me que eu passasse pela sua
casa no dia seguinte e que ela o emprestaria.
Até o dia seguinte eu me transformei na própria esperança da alegria: eu não vivia, eu
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LISTA DE EXERCÍCIOS:
REGÊNCIA E CRASE
24. (Efomm 2016) Assinale a passagem em que a autora, apesar do uso expressivo do termo,
comete, de acordo com a norma culta, um DESVIO de regência.
a) (...) era um livro para se ficar vivendo com ele, comendo-o, dormindo-o.
b) (...) continuava a implorar-lhe emprestados os livros que ela não lia.
c) (...) e que eu voltasse no dia seguinte para buscá-lo.
d) Horas depois abri-o, li algumas linhas maravilhosas, fechei-o de novo (...)
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LISTA DE EXERCÍCIOS:
REGÊNCIA E CRASE
e) (...) balançando-me com o livro aberto no colo, sem tocá-lo, em êxtase puríssimo.
O reinado do celular
De alto a baixo da pirâmide social, quase todas as pessoas que eu conheço possuem
celular. É realmente um grande quebra-galho. Quando estamos na rua e precisamos dar um
recado, é só sacar o aparelhinho da bolsa e resolver a questão, caso não dê pra esperar
chegar em casa. Pra isso – e só pra isso – serve o telefone móvel, na minha inocente opinião.
Ao contrário da maioria das mulheres, nunca fui fanática por telefone, incluindo o fixo.
Uso com muito comedimento para resolver assuntos de trabalho, combinar encontros,
cumprimentar alguém, essas coisas realmente rápidas. Fazer visita por telefone é algo para o
qual não tenho a menor paciência. Por celular, muito menos. Considero-o um excelente
resolvedor de pendências e nada mais.
Logo, você pode imaginar meu espanto ao constatar como essa engenhoca se
transformou no símbolo da neurose urbana. Outro dia fui assistir a um show. Minutos antes de
começar, o lobby do teatro estava repleto de pessoas falando ao celular. “Vou ter que desligar,
o espetáculo vai começar agora”. Era como se todos estivessem se despedindo antes de
embarcar para a lua. Ao término do show, as luzes do teatro mal tinham acendido quando
todos voltaram a ligar seus celulares e instantaneamente se puseram a discar. Para quem?
Para quê? Para contar sobre o show para os amigos, para saber o saldo no banco, para o tele-
horóscopo?? Nunca vi tamanha urgência em se comunicar à distância. Conversar entre si, com
o sujeito ao lado, quase ninguém conversava.
O celular deixou de ser uma necessidade para virar uma ansiedade. E toda ânsia nos
mantém reféns. Quando vejo alguém checando suas mensagens a todo minuto e fazendo
ligações triviais em público, não imagino estar diante de uma pessoa ocupada e poderosa, e
sim de uma pessoa rendida: alguém que não possui mais controle sobre seu tempo, alguém
que não consegue mais ficar em silêncio e em privacidade. E deixar celular em cima de mesa
de restaurante, só perdoo se o cara estivar com a mãe no leito de morte e for ligeiramente
surdo.
Isso tudo me ocorreu enquanto lia o livro infantil O menino que queria ser celular, de
Marcelo Pires, com ilustrações de Roberto Lautert. Conta a historia de um garotinho que não
suporta mais a falta de comunicação com o pai e a mãe, já que ambos não conseguem
desligar o celular nem por um instante, nem no fim de semana – levam o celular até para o
banheiro. O menino não tem vez. Aí a ideia: se ele fosse um celular, receberia muito mais
atenção.
Não é história da carochinha, isso rola pra valer. Adultos e adolescentes estão virando
dependentes de um aparelho telefônico e desenvolvendo uma nova fobia: medo de ser
esquecido. E dá-lhe falar a toda hora, por qualquer motivo, numa esquizofrenia considerada,
ora, ora, moderna.
Os celulares estão cada dia menores e mais fininhos. Mas são eles que estão botando
muita gente na palma da mão.
(MEDEIROS, Martha. O reinado do celular. In:__. Montanha Russa; Coisas da vida; Feliz por
nada. Porto Alegre, RS: LPM, 2013. p. 369-370.)
25. (Esc. Naval 2015) Em que opção a reescritura do texto está INCORRETA, de acordo com
a norma padrão?
a) “[...] quase todas as pessoas que eu conheço possuem celular.” (1º §) - ... quase todas as
pessoas as quais conheço possuem celular.
b) “[...] caso não dê pra esperar chegar em casa.” (1º §) - ... caso não dê para esperar chegar a
casa.
c) “Fazer visita por telefone é algo para o qual não tenho a menor paciência.” (2º §) – Fazer
visita por telefone é algo para que não tenho a menor paciência.
d) “Outro dia fui assistir a um show.” (3º §) – Outro dia fui assistir um show.
e) “Nunca vi tamanha urgência em se comunicar à distância.” (3º §) – Nunca vi tamanha
urgência em se comunicar a distância.
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