Fichamento - A Revolução Urbana - Henri Lefebvre
Fichamento - A Revolução Urbana - Henri Lefebvre
Belo
Horizonte: UFMG, 2002.
Uriel Ricardo de Araújo
Henri Lefebvre foi um filósofo e sociólogo francês, graduou-se em filosofia no ano de
1920 na Universidade de Paris. Seu trabalho, baseado na análise e diálogo com o trabalho
de Karl Marx, é extenso, tendo publicado mais de 70 livros. Dentre suas contribuições
mais estudadas estão as obras acerca do espaço urbano, principalmente ‘Direito a Cidade’
(1968) e ‘A Revolução Urbana’ (1970). Em A Revolução Urbana, Lefebvre apresenta
uma análise do espaço urbano mostrando os processos que formam as cidades, tendo
como ponto de partida a influência do modo de produção capitalista nessa estruturação
urbana.
Deste modo, o autor junta dois termos e cria o que ele denomina por “sociedade urbana”,
este termo torna-se primordial ao decorrer do livro para compreensão das ideias
trabalhadas por Lefebvre, para tanto, devemos compreender o que o autor defende ser o
urbanismo. À luz da obra de Lefebvre, entende-se o urbanismo como o processo que
busca submeter a realidade urbana a racionalidade industrial, sendo assim, a sociedade
urbana nasce do processo de industrialização, processo que domina e absorve a produção
agrícola. Lefebvre destaca como esse processo de urbanização se deu ao longo do tempo,
mostrando as transformações que as cidades sofreram até de fato serem centros urbanos,
o cerne que permeia essas transformações é o capitalismo, destacando-se como esse modo
de produção foi conquistando e dominando as cidades. Para se elucidar como o
capitalismo foi gradativamente conquistando as cidades, o autor destaca o fato de não
haver comerciantes nas cidades até o fim da Idade Média e faz um paralelo com a
passagem bíblica em que Jesus expulsa comerciantes do templo (cidade), dando uma ideia
de que as cidades eram lugares imaculados até a chegada dos comerciantes. Destaca-se
ainda a mudança notável que as cidades sofrem a partir do momento em que os
comerciantes dominam o espaço urbano, fato que torna as cidades em sinônimo de
encontro de pessoas, de coisas, trocas, ou seja, as cidades tornam-se os grandes centros
comunicativos da sociedade.
À medida que a obra segue o autor explora mais afundo o que constitui cidade, tanto em
sua concepção teórica, quanto em sua concepção prática e tátil, analisa características
como a relação dos centros urbanos com a natureza e até mesmo prevê os problemas que
hoje enfrentamos como a poluição do ar e da água.
O autor ressalta como esses elementos são caracterizados por uma presença fictícia nos
meios urbanos, seus signos como jardins, parques e “espaços verdes” estão presentes, mas
são nada mais que ilusórios e acabam por se tornar objeto da especulação publicitária, por
meio do que o autor chama de “fetiche natureza” que está presente na comercialização de
produtos e até mesmo das férias.
A natureza assim como o tempo são constituintes do grupo de coisa que o autor considera
como novas raridades, para ele a sociedade urbana possui em abundância o que antes era
raro ( pão, e os alimentos em geral), assim as novas raridades estão em sua maioria
relacionadas a aspectos que foram transformados pelo modo de produção capitalista,
sobretudo o espaço e o tempo, de modo que estes são agora submetidos a racionalidade
industrial.
Assim entende-se como este fenômeno não deve ser entendido de forma objetiva e
designada por uma especialidade só, mas pelo conjunto dos esforços de várias
especialidades.
Lefebvre encerra essa obra criticando a passividade dos usuários que deveriam ser os mais
interessados em todo esse processo de formação urbana, uma vez que este processo dita
a vivência dessas pessoas em uma sociedade urbanizada. Nota-se como o livro elucida
questões que são pertinentes a pesquisa a ser desenvolvida, sobretudo, mostrando os
caminhos que levaram ao que se tem hoje na sociedade, como a dominância dos discursos
neoliberais e a impregnação do modus operandi capitalista que impõem a racionalidade
industrial a todos os setores da sociedade.