Rodrigo Constantino Economia Do Individuo
Rodrigo Constantino Economia Do Individuo
Rodrigo Constantino Economia Do Individuo
ECONOMIA DO INDIVÍDUO:
O LEGADO DA ESCOLA AUSTRÍACA
1ª Edição
Copyright © Rodrigo Constantino, 2009
1ª Edição
Capa:
Domus GG
Imagens da capa:
Ludwig von Mises Institute
Projeto gráfico:
André Martins
Revisão:
Odil Augusto David
Bibliografia
Prefácio . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11
Introdução. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 15
Este é o primeiro livro editado pelo Instituto Ludwig von Mises Brasil.
É uma felicidade e uma honra que nossa estreia ocorra com uma obra de
Rodrigo Constantino, um incansável guerreiro da liberdade que já produ-
ziu fascinantes livros e numerosos textos em todas as mídias, sempre com
eloquência e sagacidade1.
1
Rodrigo Constantino é autor de outros quatro livros: “Prisioneiros da Liberdade”, “Estrela Cadente”, “Ego-
ísmo Racional” e “Uma Luz na Escuridão”. Escreve regularmente em seu blog: htt://rodrigoconstantino.blo-
gspot.com. Rodrigo é membro do Conselho de Administração do Instituto Ludwig von Mises Brasil, membro-
fundador do Instituto Millenium e diretor do Instituto Liberal.
A porção referente ao módulo de ascenção.
2
12 Prefácio
3
A escravidão, a antítese da liberdade, já não existia na Europa no século XIX, e embora estivesse em declínio,
ainda permanecia significativa nas Américas, em especial no Brasil (até 1888) e no sul dos Estados Unidos (até
1865). Mas enquanto metade da população brasileira era de escravos em 1800, apenas 15% eram escravos logo
após a proibição do tráfico em 1850, segundo a Enciclopedia Britannica.
Esta obra utiliza a grafia “estado”, com “e” minúsculo.
4
Esta é, em suma, a tese de Étienne de La Boétie em seu ensaio de 1553 (ver apêndice II).
5
Prefácio 13
Hoje em dia, não corremos risco de vida por divulgar nossas ideias. Ao
passo em que o custo de impressão e publicação era muito grande há al-
guns séculos, com o advento da internet o custo se tornou muito próximo
a zero6. Não há desculpa para nos omitirmos. O Instituto Ludwig von
Mises Brasil (www.mises.org.br) pretende ser, para sempre, um parceiro
daqueles que buscam mais conhecimento e mais questionamento.
6
Este livro físico é uma edição print-on-demand, tecnologia que permite custos unitários substancialmente infe-
riores aos das edições tradicionais para baixas tiragens.
Introdução
Foi no trabalho que escutei falar em Mises e Hayek pela primeira vez.
E, curiosamente, de um economista com doutorado pela Universidade de
Chicago. Meu então chefe, Paulo Guedes, nutria profundo respeito pelo
pensamento da Escola Austríaca e recomendou-me a leitura de seus clás-
sicos. Quando comecei, não consegui mais parar. A lógica econômica, os
sólidos argumentos, os acertos de tantas previsões, tudo foi derrubando
falácias tão disseminadas pelos professores keynesianos ou marxistas. Eu
já era um liberal, mas encontrei nos livros dos “austríacos” os mais emba-
sados argumentos econômicos na defesa da liberdade individual.
Carl Menger
1
O Valor de Menger
7
Na verdade, a teoria de valor da Escola Clássica já vinha sofrendo constantes críticas na segunda metade
do século XIX, como explica Ricardo Feijó em Economia e Filosofia na Escola Austríaca: “Um sistema te-
órico marginalista mais geral estivera em germinação entre 1862 e 1873, desenvolvendo-se na mente dos
três expoentes da Revolução Marginalista. Eram na ocasião jovens autores, novatos na Economia Política:
Jevons na Inglaterra, Carl Menger na Áustria e, na França, Leon Walras”. O foco mudava do produtor para
o consumidor. Havia, entretanto, importantes diferenças entre esses três autores. Menger, por exemplo,
acreditava que se deve evitar o emprego de formulações matemáticas e aplicá-las apenas em casos extremos.
Jevons, por sua vez, mostrou-se bastante entusiasmado com o uso da matemática. Além disso, tanto Jevons
como Walras esforçaram-se no desenvolvimento de uma teoria dos preços, enquanto Menger desconfiava
de qualquer uma delas e enfatizava a “barganha, a incerteza e a descontinuidade na determinação dos pre-
ços de mercado”. Em comum, há a ênfase no problema da escassez. Outros pensadores haviam esboçado a
noção marginalista, mas nunca de forma tão sistemática. O interessante é que, na mesma época, em locais
diferentes e baseados em premissas distintas, esses três autores chegaram a conclusões parecidas sobre o
conceito de utilidade marginal e procuraram edificar uma nova visão da ciência econômica – justificando,
talvez, o uso do termo “revolução”.
18 Carl Menger
O fato de o nexo causal não ter que ser imediato é relevante. Se a de-
manda por fumo desaparecesse por conta de uma mudança no gosto das
pessoas, não apenas os estoques de fumo perderiam sua qualidade de bem,
mas todos os demais ingredientes e máquinas utilizadas somente para este
fim. No caso, isso ocorre porque todos derivam sua qualidade de bens de
seu nexo causal com o atendimento da necessidade humana concreta de
consumir fumo. É o conhecimento progressivo do nexo causal das coisas
com o bem-estar humano que leva a humanidade do estágio primitivo e de
miséria extrema para ao desenvolvimento e riqueza.
1
A Teoria da Exploração
tos. “As massas não buscam a reflexão crítica: simplesmente, seguem suas
próprias emoções”, avalia ele. Para o austríaco, a teoria marxista é crível
aos seguidores porque lhes agrada. “Acreditariam nela mesmo que sua
fundamentação fosse ainda pior do que é.”
Capítulo III
1
A Praxeologia de Mises
2
As Sete Lições
“É impossível para um homem aprender aquilo que ele acha
que já sabe.” – Epíteto
Capitalismo
A origem desse sistema foi voltada para a produção em massa para
atender ao excesso populacional proveniente do campo. Desde o começo,
portanto, as empresas têm como alvo a satisfação das demandas das mas-
sas e seu sucesso é totalmente dependente da preferência dos consumido-
res. Há mobilidade social: ganha mais quem melhor satisfaz as demandas.
Assim, o desenvolvimento do capitalismo consiste em que cada homem
tem o direito de servir melhor ou mais barato a seus clientes. O salto na
qualidade e na expectativa de vida foi exponencial após o advento do capi-
talismo, e a população inglesa dobrou entre 1760 e 1830. No capitalismo
de livre mercado, quem manda é o consumidor.
Socialismo
O mercado não é um lugar, mas um processo no qual os indivíduos
exercem livremente suas escolhas. Num sistema desprovido de mercado
e determinado totalmente pelo governo, qualquer liberdade é ilusória na
prática. Se o governo for o dono das máquinas impressoras, não pode
haver liberdade de imprensa, tal como ocorre em Cuba. A visão do go-
verno como uma autoridade paternal, um guardião de todos, é típica do
socialismo. Se couber ao governo o direito de determinar o que o corpo
humano deve consumir, o próximo passo seria, naturalmente, o controle
das ideias. A partir do momento em que se admite o poder de controle
estatal sobre o consumo de álcool do cidadão, como negar ao estado o
controle sobre livros ou ideias, já que a mente não é menos importante
que o corpo? O planejamento central é o caminho para o socialismo, sis-
tema em que até uma liberdade fundamental como a escolha da carreira
é solapada. O homem vive como num exército, acatando ordens. Marx
chegou a falar em “exércitos industriais”, e Lênin usou a metáfora do
exército para a organização de tudo. A centralização socialista ignora
que o conhecimento acumulado pela humanidade não pode ser detido
por um homem ou grupo porque desconsidera que os indivíduos são
diferentes. No socialismo, quem manda não é mais o consumidor, mas
o Comitê Central. Cabe ao povo obedecer-lhe.
Intervencionismo
Todas as medidas de intervencionismo governamental têm por obje-
tivo restringir a supremacia do consumidor. O governo tenta arrogar a
si mesmo um poder que pertence aos consumidores. Um caso claro é a
tentativa de controle de preços que, por contrariar as leis de mercado, gera
longas filas e prateleiras vazias. O passo seguinte costuma ser o raciona-
mento e decisões arbitrárias que geram privilégios aos bem conectados.
Com o tempo, o governo vai ampliando mais e mais seus tentáculos inter-
vencionistas. Na Alemanha de Hitler, por exemplo, não havia iniciativa
privada de facto porque tudo era rigorosamente controlado pelo governo.
Ludwig von Mises 29
Inflação
O fenômeno inflacionário é basicamente monetário e dependente da
quantidade de dinheiro existente. Como qualquer produto, quanto maior
a oferta, menor é seu preço. O modo como os recursos são obtidos pelo
governo é que dá lugar ao que chamamos de inflação. A emissão de mo-
eda é, de longe, a principal causa da inflação. Há uma falsa dicotomia
entre inflação e crescimento ou desemprego, e o “remédio” da inflação
para conter o desemprego sempre se mostra, no mínimo, inócuo no longo
prazo. Em última instância, a inflação se encerra com o colapso do meio
circulante, como na Alemanha em 1923. O único método que permite a
situação de “pleno emprego” é a preservação de um mercado de trabalho
livre de empecilhos. A inflação é uma política, e sua melhor cura é a limi-
tação dos gastos públicos.
Investimento Externo
Para que países menos desenvolvidos iniciassem um processo de de-
senvolvimento, o investimento estrangeiro sempre se constituiu num fa-
tor preponderante. As estradas de ferro de inúmeros países, assim como
companhias de gás, foram construídas com o capital britânico. Esses
investimentos representam um auxílio ao baixo nível de poupança do-
méstica. A hostilidade aos investimentos estrangeiros cria barreiras ao
desenvolvimento.
Política e Ideias
Todos os países acabam dominados por grupos de interesses que, pela
via política, disputam mais e mais privilégios em detrimento do restante.
Poucos são os que se dedicam realmente à defesa de um modelo benéfico
em âmbito geral. Para que isso seja alterado, o campo das ideias é crucial.
Mises lembra que as ideias intervencionistas, sejam socialistas ou infla-
cionistas, foram paridas por escritores e professores. Marx e Engels eram
“burgueses” no sentido dado pelos próprios socialistas ao termo. Para
Mises, ideias devem ser combatidas com ideias. “Ideias, e somente ideias,
podem iluminar a escuridão.”
Por fim, alterei o título do artigo para sete, e não seis lições. A úl-
tima delas eu me arrogo a pretensão de dar. É bastante simples: ler o
livro de Mises!
30 Ludwig von Mises
3
O Peso da Mão Estatal
“Apontar algum inconveniente que a economia de mercado
não foi capaz de eliminar não quer dizer que o socialismo ou o
intervencionismo sejam viáveis ou desejáveis.” – Ludwig von Mises
4
Liberalismo e Religião
“O resultado final da disputa entre liberalismo e totalitarismo não será
decidido pelas armas, mas por ideias.” – Ludwig von Mises
O liberalismo trata dos aspectos mundanos não por desprezo aos bens
espirituais, mas por convicção de que as mais elevadas e profundas de-
mandas do espírito não podem ser tratadas pela regulação de qualquer
força exógena. Elas partem de dentro de cada indivíduo. Mesmo os que
abraçam um ideal de vida ascético, fazendo até mesmo voto de pobreza e
pregando o desapego material como ideal de vida, não podem rejeitar o
liberalismo por objetivar o bem-estar material dos demais que não con-
cordem com tais estilos de vida. A busca pelo prazer material destes não
atrapalha em nada a escolha pela vida humilde daqueles.
deve à sua razão. Por que então abdicar do uso da razão justamente na esfera
da política social e confiar em sentimentos ou impulsos vagos e obscuros?
5
A Mentalidade Anticapitalista
“Todos gostam do sucesso, mas detestam as pessoas bem-sucedidas.”
– John McEnroe
6
Os Tentáculos Burocráticos
“A burocracia tem o estado em seu poder: ele é sua propriedade
privada.” – Karl Marx
Há praticamente uma unanimidade nas reclamações referentes ao
aparato burocrático, com a exceção, talvez, dos próprios burocratas. To-
dos sabem que a burocracia é ineficiente, lenta e impõe inúmeras bar-
reiras ao livre agir dos indivíduos. Qualquer um que depende dos ser-
viços de uma repartição pública já experimentou na pele a ineficiência
burocrática. Não obstante, os tentáculos da burocracia parecem crescer
a cada ano, com a mesma intensidade que asfixiam vários setores da so-
ciedade. Tentando explicar este aparente paradoxo, Ludwig von Mises
escreveu o livro Bureaucracy, em 1944. A seguir, veremos os principais
pontos do autor.
7
A Falácia da Renda Nacional
“A individualidade sobrepuja em muito a nacionalidade e, num
determinado homem, aquela merece mil vezes mais consideração do
que esta.” – Arthur Schopenhauer
Em Theory and History, Mises explica porque o coletivismo será sempre autoritário. “The futility and arbitrari-
8
ness of the collectivist point of view become still more evident when one recalls that various collectivist parties
compete for the exclusive allegiance of the individuals. [...] But an individual can renounce autonomous action
and unconditionally surrender his self only in favor of one collective. Which collective this ought to be can be
determined only by a quite arbitrary decision. The collective creed is by necessity exclusive and totalitarian.
It craves the whole man and does not want to share him with any other collective. It seeks to establish the
exclusive supreme validity of only one system of values. [...] Collectivism is a doctrine of war, intolerance, and
persecution.” Logo, para o coletivista nacionalista, a nacionalidade passa a ser o critério dominante, enquanto
os demais grupos não importam. Já para o coletivista racial, a raça é o coletivo predominante; para o coletivista
religioso, a crença é que define o fim válido. Somente o liberalismo coloca cada indivíduo como o fim em si
mesmo e permite que ele se voluntarie a fazer parte de diversos coletivos distintos.
Ludwig von Mises 41
dade de bens disponíveis, mas algo que está acima e fora dessas atividades.
Esse ente misterioso produz uma quantidade chamada “renda nacional”, e
depois um segundo processo “distribui” esta quantidade entre os indivídu-
os. O significado político desse método é óbvio. Os coletivistas criticam a
“desigualdade” existente na “distribuição” da renda nacional e demandam
a concentração de poder arbitrário nas mãos dos “clarividentes” que irão
distribuir essa renda de forma mais “justa”.
8
A Falácia do Polilogismo
“A humanidade precisa, antes de tudo, se libertar da submissão a
slogans absurdos e voltar a confiar na sensatez da razão.”
– Ludwig von Mises
Claro que alguns homens podem pensar de forma mais profunda e refi-
nada que outros, tal como alguns não conseguem compreender um proces-
so de inferência em longas cadeias de pensamento dedutivo. Mas isso não
nega a estrutura lógica uniforme. Mises cita como exemplo alguém que
pode contar apenas até três, lembrando que mesmo sua contagem limitada
não difere daquela feita por Gauss ou Laplace. É justamente porque todos
consideram este fato inquestionável que os homens entram em discus-
sões, trocam ideias ou escrevem livros. Seria simplesmente impossível
uma cooperação intelectual entre os indivíduos sem a razão lógica. Os
homens tentam provar ou refutar argumentos porque compreendem que
as pessoas utilizam a mesma estrutura lógica. Qualquer povo reconhece a
diferença entre afirmação e negação e também pode entender que “A” não
pode ser, ao mesmo tempo, o contrário de “A”.
Ludwig von Mises 43
No entanto, apesar desse fato ser bastante evidente, ele foi contestado
por Marx e pelos marxistas, entre eles o “filósofo proletário” Dietzgen.
Para estes, o pensamento é determinado pela classe social da pessoa; já o
pensamento não produziria verdades, mas ideologias. Para os marxistas,
os pensamentos não passam de um disfarce para os interesses egoístas da
classe social a qual esse pensador pertence. Nesse contexto, seria inútil
discutir qualquer coisa com pessoas de outra classe social. O que se segue
disso é que as “ideologias não precisam ser refutadas por meio do racio-
cínio discursivo; elas devem ser desmascaradas através da denúncia da po-
sição da classe, a origem social de seus autores”. Se uma teoria científica
é revelada por um burguês, o marxista não precisa atacar seus méritos.
Basta ele denunciar a origem burguesa do cientista.
ção, mas a essência é a mesma. Basta trocar classe por nação ou raça e
pronto. Cada nação ou raça possui uma estrutura lógica própria e, por-
tanto, sua própria economia, matemática ou física. Pela ótica marxista,
pensadores como Ricardo, Freud, Bergson e Einstein estavam errados
porque eram burgueses; pela ótica nazista, eles estavam errados porque
eram judeus. O coletivismo, seja de classe ou raça, anula o indivíduo e
sua lógica universal.
9
Os Pilares do Nazismo
“Deve ser sempre enfatizado que o nacionalismo econômico é um
corolário do estatismo, seja o intervencionismo ou o socialismo.”
– Ludwig von Mises
9
Colega de Mises, o prêmio Nobel Hayek, também analisou o nazismo por um prisma semelhante e concluiu
que a relativa facilidade com que um jovem comunista podia se converter em nazista ou vice-versa era notória
na Alemanha. Aqueles estudantes que detestavam a civilização liberal do Ocidente não sabiam ao certo o que
escolher entre nazismo e comunismo, mas tinham em comum o ódio ao modelo liberal. Hayek explica a situ-
ação em O Caminho da Servidão. “É verdade que na Alemanha, antes de 1933, e na Itália, antes de 1922, comu-
nistas e nazistas ou fascistas entravam mais frequentemente em conflito entre si do que com os outros partidos.
Disputavam o apoio de pessoas da mesma mentalidade e voltavam uns aos outros o ódio que se tem aos hereges.
No entanto, seu modo de agir demonstrava quão semelhantes são de fato. Para ambos, o verdadeiro inimigo, o
homem com o qual nada tinham em comum e ao qual não poderiam esperar convencer, era o liberal da velha
escola. Enquanto o nazista para o comunista, o comunista para o nazista, e para ambos, o socialista, são recrutas
em potencial, terreno propício à sua pregação – embora se tenham deixado levar por falsos profetas – eles sabem
que é impossível qualquer tipo de entendimento com os que realmente acreditam na liberdade individual.”
Mesmo o professor Eduard Heimann, um dos líderes do socialismo religioso alemão, escreveu que o liberalismo
tem a honra de ser a doutrina mais odiada por Hitler. E pelos socialistas também.
48 Ludwig von Mises
10
Os Defensores da Política Inflacionária
“Inflação é o complemento fiscal do estatismo e do governo arbitrário.”
– Ludwig von Mises
Em The Theory of Money and Credit, Ludwig von Mises deixa claro que
a inflação não é um ato divino, mas sim um resultado de políticas de go-
verno. Ela é um subproduto das doutrinas que delegam ao governo o
Ludwig von Mises 49
poder mágico de criar riqueza do nada e fazer o povo feliz com o aumento
da “renda nacional”. O dinheiro é apenas um meio de troca para facilitar
o escambo de produtos pelo uso de um denominador comum. Porém, o
que de fato se troca são bens e serviços; a riqueza deve, portanto, ser criada
pelos indivíduos. O produtor troca seus produtos no mercado para satis-
fazer suas demandas, recebendo em troca aquilo produzido por outros.
Essa divisão de trabalho permite um ganho enorme de produtividade.
Mas para consumir é preciso sempre produzir.
10
Hayek, em Prices and Production, após uma longa dissertação sobre as incertezas que ainda dominam a
teoria monetária, conclui que seria um risco substituir o sistema imperfeito do padrão-ouro por outro mais
arbitrário e controlado. “[...] we are also not yet in a position drastically to reconstruct our monetary system,
in particular to replace the semi-automatic gold standard by a more or less arbitrarily managed currency.
Indeed, I am afraid that, in the present state of knowledge, the risks connected with such an attempt are
much greater than the harm which is possibly done by the gold standard. I am not even convinced that a
good deal of the harm which is just now generally ascribed to the gold standard will not by a future and better
informed generation of economists be recognized as a result of the different attempts of recent years to make
the mechanism of the gold standard inoperative.”
Ludwig von Mises 51
ciais. Até mesmo nos Estados Unidos a compra de ouro chegou a ser
proibida em 1933. O padrão-ouro não morreu naturalmente: ele foi
assassinado pelo governo.
garante ao governo os fundos que ele não conseguiria captar por impostos
diretos ou emissão de dívida. Eis o verdadeiro motivo para uma política
inflacionária. Seus defensores são inimigos do “dinheiro sólido” e, con-
comitantemente, da liberdade individual.
11
A Prosperidade Ilusória
“A única forma de se livrar, ou mesmo de aliviar, o retorno periódico
do ciclo econômico – com seu clímax, a crise – é rejeitar a falácia
de que a prosperidade pode ser produzida pelo uso de instrumentos
bancários para tornar o crédito barato.” – Ludwig von Mises
Segundo Mises, o principal fator por trás dessa ilusão coletiva é ideo-
lógico. Tanto os políticos como os empresários encaram a redução da taxa
de juros como uma meta essencial da política econômica. A expansão do
crédito circulante é vista como o meio adequado para atingir esta meta.
Enquanto as pessoas não entenderem que o único meio sustentável de re-
dução da taxa de juros é o maior acúmulo de capital através da poupança,
ondas de euforia seguida de pânico irão continuar. Os bancos devem atuar
como intermediários entre poupadores e investidores, mas não devem ter
o poder de criar crédito com lastro inexistente. O conhecimento de que
o governo estará disponível no caso de emergências cria um moral hazard,
fazendo com que os bancos sejam ainda mais agressivos e irresponsáveis
na política de crédito circulante. Se a crise pudesse seguir seu curso li-
vremente e impor as duras penalidades nos agentes que assumiram mais
dívida do que podiam, todos seriam mais cuidadosos com o crédito no
futuro. Mas a opinião pública aprova a assistência do governo durante as
crises, o que apenas estimula o comportamento irresponsável.
12
Um Marxista Coerente
“As escolhas que um homem faz são determinadas pelas ideias que
ele adota.” – Ludwig von Mises
Se Marx fosse consistente com suas crenças, como lembra Mises, ele
não teria embarcado em atividades políticas. Bastaria ter ficado quieto em
seu canto e aguardar o dia no qual a propriedade privada capitalista iria
desaparecer para dar lugar ao socialismo. Nada que os homens fizessem,
segundo o próprio Marx, poderia mudar esse destino. Ele era, afinal, algo
já determinado pela história. Qual o sentido em lutar tanto por uma causa
Ludwig von Mises 55
que independe de nossa luta e que já é certa, pois foi previamente defi-
nida? As ações de Karl Marx entram em evidente contradição com suas
ideias justamente ao provar que ele mesmo depositava, em seu íntimo,
enorme importância ao poder das ideias nas escolhas dos homens. Estes
teriam, portanto, a liberdade de traçar o próprio destino.
Por fim, resta questionar como o marxismo lida com as constantes mu-
danças de classe social. Essa mobilidade é especialmente maior onde há
mais liberdade econômica. Empregados conseguem capital e criam seus
próprios negócios, tornando-se empresários. Por outro lado, capitalistas
vão à bancarrota e perdem tudo, tendo que arrumar algum emprego qual-
quer. O que ocorre com suas ideias durante o processo de mudança? Já
que é a classe social que determina as ideias, um proletário que se torna
um capitalista altera automaticamente suas crenças? Um capitalista sub-
metido a empregado muda todas suas ideias? Como seriam classificados
os intermediários, como administradores de grandes empresas, que não
deixam de ser empregados e recebem salários maiores do que o lucro de
muitos capitalistas?
PS: Quem expôs essas contradições de forma brilhante foi Arthur Koes-
tler, através do personagem principal de O Zero e o Infinito, Rubachov: “O
Partido negava o livre arbítrio do indivíduo e, ao mesmo tempo, exigia
seu sacrifício voluntário. Negava sua capacidade de escolha diante de uma
alternativa – e ao mesmo tempo exigia que escolhesse constantemente a
alternativa certa. Negava-lhe capacidade para distinguir o bem do mal – e
ao mesmo tempo falava pateticamente em culpa e traição. O indivíduo
vivia debaixo do signo da fatalidade econômica, uma roda de um mecanis-
mo de relógio a que haviam dado corda para toda a eternidade e não podia
parar nem ser influenciada – e o Partido exigia que a roda se revoltasse
contra o mecanismo de relógio e mudasse seu curso. Em algum lugar
havia um erro de cálculo: a equação era absurda.”
13
As Barreiras do Sindicalismo
“O poder sindical é essencialmente o poder de privar alguém de
trabalhar aos salários que estaria disposto a aceitar.” – F. A. Hayek
os melhores produtos pelos menores preços. Por isso eles são levados a pagar
somente o salário de mercado, ou seja, aquele decorrente da produtividade
do trabalhador e sujeito às leis da oferta e demanda. Se um trabalhador pede
aumento porque sua mulher teve mais um filho e o empregador nega alegan-
do que o bebê nada acrescenta à produtividade da empresa, o capitalista está
agindo em favor dos melhores interesses de seus consumidores.
Afinal, esses consumidores não estão dispostos a pagar mais pelo produto
porque o trabalhador aumentou sua família. A ingenuidade dos sindicalistas
se manifesta no fato de que eles mesmos nunca aceitariam o mesmo argumen-
to na compra dos produtos que eles consomem. No papel de consumidor, o
sindicalista não questiona lojistas se o bem foi produzido por empregados
com poucos ou muito filhos. Ele apenas quer o melhor produto pelo menor
preço. E quando exerce essa escolha, ele próprio está definindo como o em-
pregador deve agir – sempre mantendo o menor custo possível, incluindo aí
um salário compatível apenas ao valor agregado pelo trabalhador.
Para quem gostaria de ter uma ideia do que representaria um monopólio estatal do emprego na prática, basta
11
observar o que aconteceu na União Soviética de Stalin. Em 1940, no dia 26 de junho, Stalin baixou um decreto
sobre os “direitos” trabalhistas. Foi adotada uma jornada de oito horas de trabalho, com uma semana de sete
dias e proibição do operário deixar a empresa por iniciativa própria. A ausência injustificada, começando por
atraso superior a 20 minutos, era sancionada penalmente. O contraventor era passível de trabalhos corretivos
e retenção de 25% de seu salário, pena que poderia ser agravada com prisão de dois a quatro anos. O decreto
permaneceu em vigor até 1956.
Capítulo IV
1
A Liberdade Segundo Hayek
2
Igualdade, Valor e Mérito
“Eu não tenho nenhum respeito pela paixão pela igualdade, que me
parece meramente uma idealização da inveja.”
– Oliver Wendell Holmes Jr.
3
O Culto à Democracia
“Se a democracia é um meio para preservar a liberdade, então a
liberdade individual é não menos uma condição essencial para o
funcionamento da democracia.” – F. A. Hayek
12 Em Human Action, Mises é enfático: “Democracy guarantees a system of government in accordance with
the wishes and plans of the majority. But it cannot prevent majorities from falling victim to erroneous
ideas and from adopting inappropriate policies which not only fail to realize the ends aimed at but result in
disaster. Majorities too may err and destroy our civilization. The good cause will not triumph merely on
account of its reasonableness and expediency. Only if men are such that they will finally espouse policies
reasonable and likely to attain the ultimate ends aimed at, will civilization improve and society and state
render men more satisfied, although not happy in a metaphysical sense. Whether or not this condition is
given, only the unknown future can reveal”.
Friedrich von Hayek 67
Para o liberal, existem coisas que ninguém tem o direito de fazer, seja um
rei ou uma maioria democrática. Conforme alerta Hayek, é quando se acei-
ta que “na democracia o certo é aquilo que a maioria decide” que o sistema
se traveste em demagogia. De fato, a democracia é o método mais pacífico
que existe para a alternância de governos. Mas isso, sob hipótese alguma,
quer dizer que as escolhas da maioria serão sempre certas. Hayek destaca
o importante papel da democracia de educar as massas ao longo do tempo
justamente porque todos acabam participando do processo de formação de
opinião. Esse processo dinâmico é que garante o valor da democracia, e não
seu aspecto estático de escolha pontual dos governantes. Seus benefícios,
portanto, costumam aparecer somente no longo prazo, enquanto suas con-
quistas imediatas podem ser inferiores às de outras formas de governo.
4
Liberais e Conservadores
“O liberal, hoje, precisa se opor mais positivamente a algumas
concepções básicas que a maioria dos conservadores compartilha com
os socialistas.” – F. A. Hayek
Seria por esta razão que o liberal não considera ideais morais ou reli-
giosos como objetos adequados para a coerção, enquanto tanto os conser-
vadores como os socialistas não reconhecem tais limites. Crenças morais
que dizem respeito apenas à conduta individual que não interfere dire-
tamente na esfera protegida das outras pessoas não justificam coerção.
Pode-se pensar em alguns exemplos – prostituição entre adultos respon-
sáveis ou mesmo a venda voluntária de órgãos – que podem ser atitudes
moralmente condenáveis para muitos, mas que impactam apenas as vidas
dos envolvidos. O liberal, diferentemente do conservador e do socialista,
não é autoritário. Isso pode explicar porque parece tão mais fácil para um
socialista arrependido achar uma nova casa espiritual no conservadoris-
mo que no liberalismo.
Por fim, Hayek escreveu algo que resume bem a diferença básica entre
liberais e conservadores. “O liberal difere do conservador em sua disposição
para encarar sua ignorância e admitir o quão pouco sabemos, sem alegar au-
toridade de fontes sobrenaturais de conhecimento onde sua razão falha.”
5
O Caminho da Servidão
“O livre mercado é o único mecanismo que já foi descoberto para o
alcance da democracia participativa.” – Milton Friedman
Entre os meios práticos usados pelos que pregam o fim socialista, está o
planejamento central. Ele é defendido por aqueles que desejam substituir a
“produção para o lucro” pela “produção para o uso”. Seus defensores deman-
dam uma direção central de toda a atividade econômica segundo um único
plano: os recursos da sociedade devem ser “conscientemente direcionados”
para o serviço de determinados fins por eles traçados. Isto vai de encontro ao
argumento liberal em favor do melhor uso possível das forças de competição
como meio de coordenação dos esforços humanos. A competição, além de
mais eficiente, é o único método pelo qual as atividades podem ser ajustadas
sem intervenção coercitiva ou autoridade arbitrária.
arbitrário”, diz Hayek. Por isso o império da lei é a grande distinção entre
países livres e países com governos arbitrários.
6
Imposto Progressivo
“Redistribuição por taxação progressiva acabou sendo quase
universalmente aceita como justa.” – F. A. Hayek
Muitos assumem como certo, ainda que sem a devida reflexão, o uso de
imposto progressivo como mecanismo para a redistribuição de renda. A ideia
de uma maior igualdade material, independente do valor gerado para a socie-
dade, costuma estar por trás dessa mentalidade. Entretanto, ao dedicarmos
um pouco mais de atenção ao tema, são evidentes os riscos que tal medida car-
rega: perda de liberdade individual, uso arbitrário de força contra minorias e
ineficiência do resultado final. Vários autores se dedicaram a esta questão com
Friedrich von Hayek 73
ínfima. Em 1962, nos Estados Unidos, apenas 6,4% do total arrecadado foi
proveniente dos impostos acima de 30% da renda. Para um imposto de 50%
da renda, a receita foi de apenas 1,9% do total. Como fica claro, o imposto alta-
mente progressivo não tem fins reais de arrecadação, pois há inúmeras outras
maneiras mais eficientes para que o governo consiga financiamento. Em um
mundo com mobilidade de capital, os incentivos não são adequados quando
os mais ricos sabem que terão boa parte de suas rendas tomadas pelo governo.
O dinheiro, nesse caso, acaba migrando para países mais amigáveis. E os mais
pobres que precisam desse capital e dos empreendimentos realizados por ele
são os que mais saem perdendo. Há ainda o problema gerado pelo enorme pla-
nejamento tributário, já que várias faixas de impostos criam uma complexida-
de tamanha que agrada somente a advogados e penaliza os que não conseguem
montar esquemas legais de desvio. Vários países do Leste Europeu entende-
ram essas falhas e saíram do comunismo para impostos com taxa única para
todas as faixas de renda, com grande sucesso e aumento na arrecadação total.
7
Moedas Concorrentes
“Os males desesperados são aliviados com remédios desesperados ou,
então, não têm alívio.” – William Shakespeare, em Hamlet
Ganhador do Nobel, Hayek pregou uma drástica medida como remédio às
mazelas do monopólio monetário estatal gerador de crescente inflação: a de-
sestatização do dinheiro. Em princípio, sua sugestão gera bastante desconfor-
Friedrich von Hayek 75
Em primeiro lugar, Hayek deixa claro que não pretende proibir o governo
de fazer qualquer coisa que seja em relação à moeda. Ele apenas se opõe que o
estado impeça que outros façam o que sabem fazer melhor que os governos. O
grande argumento em prol de emissores privados da moeda é que sua sobrevi-
vência, em longo prazo, seria totalmente dependente da confiança do público.
Qualquer desvio da atitude correta de fornecer ao público um dinheiro estável
e honesto iria, imediatamente, redundar na rápida substituição da moeda in-
fratora por outras. A competição do lado da oferta de bens e serviços sempre
foi a maior garantia de bons produtos para os consumidores. A maior vanta-
gem do esquema proposto “está no fato de ele impedir os governos de ‘protege-
rem’ as moedas que emitem contra as consequências adversas de suas próprias
medidas e, assim, de impedir que os governantes continuem adotando essas
medidas prejudiciais”. Em resumo, “os governos perderiam a capacidade de
camuflar a depreciação do dinheiro que emitem”.
13
Peter Bernstein explica o caso no seu livro O Poder do Ouro. Kublai Khan, neto do grande unificador do im-
pério mongol Genghis Khan, foi o primeiro imperador da dinastia Yuan. Marco Polo permaneceu a serviço
do grande líder mongol por anos. Seus relatos, principalmente sobre a riqueza do Khan, são surpreendentes.
Sempre que comerciantes entravam em seus domínios com pérolas, pedras preciosas, ouro, prata ou qualquer
coisa valiosa, eram todos “instados” a ceder todo o seu tesouro para o Grande Khan em troca de papel-moeda.
O poder de persuasão do líder para garantir a confiança em sua moeda, foi explicado pelo próprio Marco
Polo, ao afirmar que “ninguém ousa recusá-lo sob pena de perder a vida”. E assim, o Khan tinha realmente
dominado a arte da alquimia, ao menos dentro dos seus domínios.
76 Friedrich von Hayek
garam a esquecer que uma moeda não passa de uma peça de metal nobre
com peso e composição específicos, elementos garantidos pela retidão
do cunhador, chegando-se até a duvidar de que a moeda seja, em última
análise, uma mercadoria”.
8
Os Mitos Históricos
“Uma mentira pode viajar metade do mundo enquanto a verdade está
colocando seus sapatos.” – Mark Twain
Em Human Action, Mises escreve: “The factory owners did not have the power to compel anybody to take a
14
factory job. They could only hire people who were ready to work for the wages offered to them. Low as these
wage rates were, they were nonetheless much more than these paupers could earn in any other field open to
them. It is a distortion of facts to say that the factories carried off the housewives from the nurseries and the
kitchens and the children from their play. These women had nothing to cook with and to feed their children.
Friedrich von Hayek 79
para eles! Entre trabalhar várias horas e morrer de inanição, não res-
tam muitas dúvidas sobre a escolha preferível. Não parece honesto
comparar uma realidade dura a uma alternativa inexistente, utópica,
fantasiosa. Muitos repudiam o fato de mulheres e até crianças terem
ido trabalhar nas fábricas, mas ignoram que era um ato voluntário,
pois a alternativa era ainda pior. O capitalismo veio para salvar estes
miseráveis, não para explorá-los. Muitos dos que puderam condenar
os abusos depois sequer estariam vivos não fosse o progresso da indus-
trialização. Como ingratos, cospem no prato em que comeram.
These children were destitute and starving. Their only refuge was the factory. It saved them, in the strict sense
of the term, from death by starvation”.
80 Friedrich von Hayek
9
A Arrogância Fatal
“A maior parte das vantagens da vida social, especialmente
em suas formas mais avançadas que chamamos ‘civilização’,
depende do fato de que o indivíduo se beneficia de maior
conhecimento do que ele está ciente.”
– F. A. Hayek
15
Em Teoria dos Sentimentos Morais, Adam Smith escreve que “todo homem é certamente, em todos os aspectos,
mais adequado e capaz de cuidar de si mesmo do que qualquer outra pessoa”. “Todo homem sente seus próprios
prazeres e dores mais intensamente do que os de outras pessoas. [...] Depois de si mesmo, os membros de sua
família, os que habitualmente vivem em sua casa, seus pais, filhos, irmãos e irmãs, são naturalmente objetos de
seus mais cálidos afetos. [...] Os filhos dos primos, sendo ainda menos unidos, têm ainda menos importância
uns para os outros; e o afeto diminui gradualmente na medida em que a relação se torna mais e mais remota.”
Em suma, quanto mais distante a pessoa, menor o interesse por ela. O grande equívoco dos socialistas ou
“tribalistas” é justamente extrapolar o sentimento existente dentro de uma família para toda a sociedade ou
humanidade. Pelo seu próprio filho, você está disposto ao sacrifício por pura benevolência; mas o mesmo não
se pode dizer quando se trata de um estranho vivendo do outro lado do mundo. E esperar um relacionamento
familiar para todos os habitantes do planeta não é apenas uma utopia; é uma perigosa utopia.
16
Mises, em Human Action, escreve: “It is customary nowadays to speak of ‘social engineering’. Like planning,
this term is a synonym for dictatorship and totalitarian tyranny. The idea is to treat human beings in the same
way in which the engineer treats the stuff out of which he builds bridges, roads, and machines. The social
engineer’s will is to be substituted for the will of the various people he plans to use for the construction of his
utopia. Mankind is to be divided into two classes: the almighty dictator, on the one hand, and the underlings
who are to be reduced to the status of mere pawns in his plans and cogs in his machinery, on the other. If this
were feasible, then of course the social engineer would not have to bother about understanding other people’s
actions. He would be free to deal with them as technology deals with lumber and iron.”
82 Friedrich von Hayek
época em que suas respectivas línguas ainda não haviam alcançado o ple-
no desenvolvimento gramatical e, em suas obras, contribuíram intencio-
nalmente para a fixação de normas da linguagem culta. Muitos outros
indivíduos também contribuíram com um ou poucos tijolos isolados na
construção do edifício monumental da linguagem; não poderiam conhe-
cer, entretanto, o alcance de suas propostas e nem se elas seriam aceitas
pelos demais.” A construção de instituições orgânicas surge de diversas
ações. Mas como nem todas elas e seus futuros efeitos combinados podem
ser conhecidos, há um elemento de espontaneidade no processo de fixação
das instituições orgânicas.
10
A Desigualdade Social
“Quando as palavras perdem seu significado, as pessoas perdem sua
liberdade.” – Confúcio
O uso do adjetivo “social” serve para insinuar que os resultados dos pro-
cessos espontâneos do livre mercado foram, na verdade, fruto de uma cria-
ção humana deliberada. Em segundo lugar, e como consequência disso,
serve para instigar os homens a redesenhar aquilo que nunca foi desenhado
por eles. Por fim, serve para esvaziar o sentido dos termos associados a este
adjetivo vago. O exemplo já citado de “justiça social” é perfeito para ilus-
trar tal tese. A demanda que surge com o uso do adjetivo “social” ao lado
de justiça é adotar uma “justiça distributiva” irreconciliável com a ordem
competitiva de mercado, esta sim a causa do crescimento da riqueza e da
própria população. O que essas pessoas chamam de “social” representa o
maior obstáculo à própria manutenção da sociedade. Social, aqui, passa a
significar antissocial.
Se retirarmos o véu que cobre os reais motivos por baixo do adjetivo “so-
cial”, fica evidente que essas pessoas falam em desigualdade material apenas
e tão somente. Estão condenando o fato de que alguns indivíduos conse-
guiram recompensas monetárias acima dos outros. Em suma, estão olhando
somente para a conta bancária, como se nada mais existisse na vida. Eles
sabem que, se usarem o termo verdadeiro, perderão a pose de nobreza que
vem como resultado do uso do adjetivo “social”. Ora, desiguais os seres
humanos já são ao nascer! A genética é diferente, as paixões e interesses,
a educação em casa, os anseios e metas, a inteligência e o esforço, a sorte.
É simplesmente impossível atribuir peso para cada um desses itens, e é o
Friedrich von Hayek 85
11
O Problema Econômico
“Segundo Marx, para acabar com os males do mundo, bastava
distribuir. Foi fatal; os socialistas nunca mais entenderam a escassez.”
– Roberto Campos
Aquilo que torna possível uma alocação eficiente dos recursos é a com-
petição, um processo dinâmico na busca pela satisfação dos desejos e de-
mandas dos consumidores. Estes desejos não podem ser tratados como
dados disponíveis e estáticos porque dependem do valor subjetivo de cada
indivíduo e estão sempre em mutação. A função da competição é justa-
mente nos ensinar quem pode nos servir melhor – e tal resposta nunca
é fixa. O problema econômico é como fazer o melhor uso dos recursos
disponíveis, logo não faz sentido teorizar a utopia do “mercado perfeito”.
O problema é justamente fazer o melhor uso por meio das pessoas existen-
tes, todas com seus conhecimentos limitados e específicos. Somente uma
competição dinâmica com preços livres permite os ajustes necessários
para uma tendência rumo ao equilíbrio. O grande erro dos economistas
clássicos foi partir de um equilíbrio hipotético, como se os dados fossem
conhecidos e tudo não passasse de um problema de cálculo racional ex post
facto, com os custos dados. E foi justamente esse lado falho dos clássicos
que Marx utilizou em suas teorias.
Quando uma autoridade central determina o uso dos recursos sem le-
var em conta os preços de mercado, não fica evidente o custo de alocação
ineficiente justamente porque se trata de um custo de oportunidade. Ou
seja, como esse recurso poderia estar sendo mais bem utilizado em outro
lugar. Bastiat chamou a atenção para a miopia sobre aquilo que não se
Friedrich von Hayek 89
12
O Abuso da Razão
“O futuro está em aberto; não é predeterminado e, deste modo, não
pode ser previsto – a não ser por acidente. As possibilidades contidas
no futuro são infinitas.” – Karl Popper
Quando o cientista alega estudar fatos objetivos, diz que tenta estudar
coisas independentemente do que os homens pensam ou fazem sobre elas.
Por outro lado, as ciências sociais ou morais estão preocupadas com as
ações conscientes que podem ser escolhidas pelos próprios homens. O que
cada um pensa sobre tais coisas, portanto, passa a ter crucial importância
para as ciências sociais. Na falta de termos melhores, pode-se dizer que o
método da ciência natural é “objetivo”, enquanto nas ciências sociais ele
é “subjetivo”. Podemos compreender a ação humana porque partimos de
uma introspecção ao assumir que lidamos com uma característica comum
a todos: a mente humana.
Friedrich von Hayek 91
A teoria econômica, por exemplo, não tem nada a dizer sobre os dis-
cos de metal que uma visão objetiva ou materialista pode tentar definir
como dinheiro. O que importa é o significado que as pessoas atribuem a
estes discos, que podem ser entendidos somente por suas ações. Apenas
o que as pessoas conhecem ou acreditam pode representar um motivo
para sua ação consciente. Enquanto as coisas no mundo externo não se
comportam de forma diferente devido ao que pensamos delas, o com-
portamento humano depende claramente do que cada um pensa sobre
ele. Muita confusão surge justamente quando os métodos das ciências
naturais e sociais são misturados. O cientista social começa a tratar,
nesse caso, a subjetividade dos indivíduos como um dado objetivo que
pode ser observado de fora e permite a descoberta de “leis de comporta-
mento”, tal como as leis naturais. O behaviorismo é um exemplo claro
de tal ambiguidade.
Uma nação ou classe não existem como dados da natureza, como ocorre
com pedras ou montanhas, mas são agrupamentos artificiais que fazemos
justamente para tentar explicar as relações individuais. Quando atribuímos
características de personalidade a coletivos como sociedade ou nação, incor-
remos no risco de inverter as coisas e analisar o coletivo como se fosse um
ente concreto. Esse conceito antropomórfico de coletivos mentais acaba ge-
rando efeitos perversos nas ciências sociais. O esforço de tratar o fenômeno
social como um todo observável pode ser entendido pelo desejo de obter-
se uma visão distante na esperança de que certas regularidades irão surgir,
mesmo que permaneçam obscuras ao olhar mais próximo das partes. Seria
a tentativa de enxergar a floresta com suas “leis”, mas ignorando as árvores.
Essa “visão macroscópica” pode, por muitas vezes, impedir a visão real das
partes existentes. Na maioria dos casos, a crença de que é possível enxergar
o todo com critérios objetivos não passa de uma ilusão.
92 Ludwig Lachmann
homens pode ter surgido sem sua consciência, muitos saltam para outra
falácia ainda maior: a de que cabe a eles remodelar as instituições huma-
nas da forma que desejarem. Eis onde o non sequitur representa enorme
perigo, pois, como Hayek lembra, não só essas instituições foram criadas
em sua maioria sem a consciência humana como também são preservadas
porque seu funcionamento depende de ações de pessoas que não são guia-
das pelo desejo de mantê-las existindo17.
17
Assim Hayek explica melhor seu ponto. “Many of the greatest things man has achieved are the result not of
consciously directed thought, and still less the product of a deliberately coordinated effort of many individuals,
but of a process in which the individual plays a part which he can never fully understand. They are greater
than any individual precisely because they result from the combination of knowledge more extensive than a
single mind can master.”
Quem conseguiu sintetizar essa mensagem de forma brilhante foi Raymond Aron, autor de O Ópio dos
18
Intelectuais. “O liberal é humilde. Reconhece que o mundo e a vida são complicados. A única coisa de
que tem certeza é que a incerteza requer a liberdade para que a verdade seja descoberta por um processo de
concorrência e debate que não tem fim. O socialista, por sua vez, acha que a vida e o mundo são facilmente
compreensíveis; sabe de tudo e quer impor a estreiteza de sua experiência – ou seja, sua ignorância e arrogân-
cia – aos seus concidadãos.”
Capítulo V
Ludwig Lachmann
1
A Estrutura do Capital
Mises, em Human Action, escreve: “One must provide the capital goods lacking in those branches which were
19
unduly neglected in the boom. Wage rates must drop; people must restrict their consumption temporarily until
the capital wasted by malinvestment is restored. Those who dislike these hardships of the readjustment period
must abstain in time from credit expansion”.
Capítulo VI
Murray Rothbard
1
A Crise de 1929
“Por mais paradoxal que possa parecer, o ponto de partida para crises
e depressões pode ser encontrado na abundância ao invés da escassez,
seja de dinheiro ou capital.” – Theodore E. Burton
Os recursos são escassos, e tudo exige uma troca. Para alguma indús-
tria específica experimentar um crescimento no consumo, outras preci-
sam sofrer uma queda no mesmo montante, ceteris paribus. O aumento
generalizado do consumo precisa ser financiado e só pode vir pela queda
da poupança e investimento. Em resumo, as pessoas escolhem entre con-
sumo presente e futuro, bem como podem aumentar o consumo presente
somente à custa do futuro, e vice-versa. O único meio de o investimento
crescer junto com o consumo é pela expansão inflacionária de crédito.
Logo, por ser monopólio estatal a emissão de moedas, um crescimento em
conjunto de consumo e investimento só pode ser atribuído ao governo,
não ao livre mercado.
2
Esquerda e Direita
“Aqueles que desistiriam da liberdade essencial para comprar
um pouco de segurança temporária não merecem liberdade nem
segurança.” – Benjamin Franklin
Rothbard aponta o mais grave erro dos liberais: o dos princípios. Muitos
liberais modernos aceitaram concessões demais e defenderam a manutenção
do poder de guerra, da moeda, das estradas e da educação nas mãos do gover-
no. A opção por mudanças graduais foi um grande equívoco segundo Roth-
bard, que cita o libertário William Lloyd Garrison como exemplo do poder
de um ideal contra a contemporização imediata. Garrison, um importante
abolicionista, reconhecia que a escravidão não seria derrotada com uma taca-
da apenas, mas que tal fato não significava que não devesse ser assim.
3
A Lei Natural
“O libertário deve possuir uma paixão pela justiça, uma emoção
derivada do e guiada pelo seu insight racional do que a justiça natural
requer.” – Murray Rothbard
natural. Será o foco desse artigo. Rothbard discorda tanto dos que
tentaram defender uma lei natural calcada na revelação divina como
dos céticos que rejeitam qualquer possibilidade de obtermos esta lei
da natureza humana. Logo no começo, Rothbard deixa claro que não
é preciso uma fé teológica para sustentar o direito natural. Ele ainda
afirma que esses defensores da lei natural com base na fé enfraquece-
ram gravemente a causa ao alegar que métodos apenas racionais não
poderiam descobrir e elaborar tal lei.
Uma crítica comum que surge dos oponentes da lei natural é a se-
guinte: quem irá estabelecer estas alegadas verdades sobre os homens?
Para Rothbard, há um erro já na questão, pois não é quem e sim o quê, e
a resposta é: a razão humana. Esta é objetiva, não subjetiva. Não existe
uma razão para cada indivíduo. A razão que permite um avião se manter
no ar, por exemplo, é a mesma em cada canto do planeta. Cada entidade
tem uma natureza e é específica, não contraditória e limitada. Tal enti-
dade deve agir de acordo com sua natureza. Cabe a cada ser responsável
utilizar a razão para examinar as diversas teorias e formar sua própria
mente, partindo de axiomas e respeitando a lei do não contraditório.
Pensar é um ato individual que exige foco, esforço e volição. O que não
quer dizer que o homem seja infalível. Mesmo nas ciências naturais,
como física e química, há vários erros e disputas. Mas nossa ignorância
parcial não anula a existência de nossa natureza e nem rejeita a razão
como único instrumento capaz de descobri-la. Nenhum ser humano é
onisciente. Eis, por sinal, uma lei da natureza humana.
A doutrina da lei natural seria a visão de que uma ética objetiva pode ser
estabelecida pela razão e afirma que bondade ou maldade podem ser deter-
minadas por aquilo que atende melhor a natureza humana. Os dois pode-
rosos grupos de inimigos desta doutrina que tentam enfraquecer a razão são
os místicos, que creem numa ética dada por uma revelação sobrenatural, e
108 Murray Rothbard
Rothbard lembra que Lord Acton compreendia muito bem tal con-
ceito, afirmando que o liberalismo deseja aquilo que deve ser inde-
pendente daquilo que é. Um código de princípios morais objetivos,
enraizados na natureza humana, inevitavelmente entrará em conflito
com certos costumes e com a lei positiva. Rothbard questiona, então,
por que os defensores da lei natural foram chamados de “conservado-
res”, já que a própria ideia de lei natural é essencialmente radical e pro-
fundamente crítica em relação às instituições políticas existentes. Por
serem universais, os princípios universais, fixos e imutáveis podem
explicar parcialmente a confusão, já que um defensor da lei natural
pretende conservar, obviamente, os princípios éticos derivados desta
lei. Mas, por outro lado, se os teóricos da lei natural derivam da natu-
reza humana uma estrutura fixa de lei independente do tempo ou local,
ou ainda do hábito, autoridade e normas do grupo, esta lei será uma
força na direção de mudanças radicais. Somente quando ocorresse um
caso absolutamente raro da lei positiva coincidir com a lei natural, o
defensor da última seria um conservador. Na esmagadora maioria dos
casos, ele seria um revolucionário.
20
Em Theory and History, Mises explica porque discorda do conceito de lei natural, ao mesmo tempo em que
respeita algumas consequências derivadas dele. “Many manifestly spurious theses have been advanced under
the label of natural law. It was not difficult to explode the fallacies common to most of these lines of thought.
And it is no wonder that many thinkers become suspicious as soon as natural law is referred to. Yet it would be
a serious blunder to ignore the fact that all the varieties of the doctrine contained a sound idea which could nei-
ther be compromised by connection with untenable vagaries nor discredit by any criticism. […] There is first
the idea that a nature-given order of things exists to which man must adjust his actions if he wants to succeed.
Second: the only means available to man for the cognizance of this order is thinking and reasoning, and no
existing social institution is exempt from being examined and appraised by discursive reasoning. Third: there
is no standard available for appraising any mode of acting either of individuals or of groups of individuals but
that of the effects produced by such action. Carried to its ultimate logical consequences, the idea of natural law
led eventually to rationalism and utilitarianism. […] The chief accomplishment of the natural law idea was its
rejection of the doctrine (sometimes called legal positivism) according to which the ultimate source of statute
law is to be seen in the superior military power of the legislator who is in a position to beat into submission all
those defying his ordinances. Natural law taught that statutory laws can be bad laws, and it contrasted with the
bad laws the good laws to which it ascribed divine or natural origin.”
110 Murray Rothbard
4
A Liberdade de Crusoé
“Se eu sou ou não meu próprio mestre e posso seguir minha própria
escolha e se as possibilidades das quais devo escolher são muitas ou
poucas são duas questões inteiramente diferentes.” – F. A. Hayek
Para praticamente todas as demandas que Crusoé tem na ilha, ele logo
descobre que o mundo natural não satisfaz imediata e instantaneamente
seus desejos. Ele não está no Jardim do Éden, mas num mundo muitas
vezes hostil e totalmente indiferente a seus anseios. Para alcançar seus
objetivos, ele deve pegar os recursos naturais que dispõe, transformá-los
em objetos úteis e satisfazer suas demandas. Para pescar, ele precisa antes
construir uma lança ou rede. Para obter trigo, ele teria antes que plantar.
Em suma, Crusoé deve produzir antes de consumir.
21
Em Man, Economy and State, Rothbard explica bem a distinção entre liberdade e capacidade ou poder.
“Crusoe and Friday on a desert island have very little range or power of choice; their power of substitution is
limited. Yet if neither man interferes with the other’s person or property, each one is absolutely free. To ar-
gue otherwise is to adopt the fallacy of confusing freedom with abundance or range of choice. No individual
producer is or can be responsible for other people’s power to substitute. [...] The false confusion of freedom with
abundance rests on a failure to distinguish between the conditions given by nature and man-made actions to
transform nature. In a state of raw nature, there is no abundance; in fact, there are few, if any, goods at all.
Crusoe is absolutely free, and yet on the point of starvation. Of course, it would be pleasanter for everyone if
the nature-given conditions had been far more abundant, but these are vain fantasies.”
Murray Rothbard 111
Quando alguém diz que o homem não é livre para voar está alegando, na
verdade, é que o homem não tem o poder de voar. Nada além da sua própria
natureza o impede de voar. De acordo com as leis da natureza humana e do
mundo, o homem é capaz de uma limitada gama de ações. A liberdade de
Crusoé para pensar, adotar suas ideias e escolher suas metas é inviolável na
ilha, o que não quer dizer que ele seja onipotente ou onisciente. Tais atribu-
tos não são da natureza humana. Ele encontra limites naturais e pode falhar
em suas escolhas. Seu poder, em resumo, é limitado. Não faz sentido algum
definir liberdade a partir do poder de uma entidade realizar um ato impos-
sível para sua natureza. Se assim fosse, ninguém seria livre no mundo!
112 Murray Rothbard
5
O Conceito de Coerção
“O direito nunca é infringido a não ser quando alguém se encontra
destituído de uma parte daquilo que apropriadamente lhe pertença,
ou de sua liberdade pessoal, sem o seu consentimento ou contra a sua
vontade.” – Wilhelm von Humboldt
fins do outro para evitar uma escolha ainda pior. A coerção, para Hayek,
ocorre quando as ações de um homem são “forçadas” na direção dos desejos
de outro homem, não dos seus próprios. Desta forma, o conceito de Hayek
inclui o uso de violência física, mas também inclui o uso de outros meios
de não agressão. Segundo Rothbard, a diferença abre uma brecha que pode
causar enormes rachaduras nos pilares de sua filosofia política.
Quem não concorda pode refletir sobre um caso diferente, mas que
evidencia o mesmo princípio. Suponha que alguém está doente, e somen-
te uma pessoa dispõe da habilidade necessária para curá-la; quem diria
que a necessidade do doente justifica, legalmente falando, a obrigação do
curandeiro de curá-lo, sob risco de ser preso caso contrário? Afirmar que
o curandeiro está usando coerção se pedir algo em troca do doente é dizer
que o doente não estaria usando coerção se forçasse o curandeiro a curá-lo.
Em outras palavras, a escravidão do curandeiro seria justificada em nome
da não coerção – uma postura claramente contraditória.
Murray Rothbard 115
O meu direito à vida não pode ser o dever de outro satisfazer minhas ne-
cessidades. Na verdade, o que eu tenho é um direito natural e inalienável de
buscar atender necessidades para me manter vivo, contanto que não invada
o mesmo direito dos demais. Trata-se do conceito de “liberdade negativa”
usado por Isaiah Berlin. A alternativa é um conceito de “liberdade positi-
va”, ou liberdade para alguma coisa, que invariavelmente terá que invadir a
liberdade de alguém. Se eu devo não apenas ser livre para não sofrer coerção
humana ao buscar atender minhas necessidades e demandas, mas também
possuo o “direito” de ter tais demandas satisfeitas por terceiros, isso implica
no dever de alguém atender meus anseios. Em resumo, se eu tenho o direito
à moradia, isso significa que alguém tem o dever de construir uma casa para
mim. Não haveria mais somente trocas voluntárias entre indivíduos, e sim
um modelo de semiescravidão. Em nome do meu direito positivo, eu pode-
ria usar coerção para obter o que desejo. Meu “direito” à alimentação seria
o dever do pescador trabalhar como escravo para mim.
6
O Direito de Formar Cartéis
“Uma ação de cartel, se ela for voluntária, não pode agredir a
liberdade de competição e, se ela se provar rentável, ela beneficia em
vez de prejudicar os consumidores.” – Murray Rothbard
Alguns criticam os cartéis com base no seu tamanho. Mas como Ro-
thbard diz, não há meios precisos de se determinar um tamanho ótimo
de uma firma em qualquer indústria. A função dos empresários será
justamente projetar a demanda futura e os custos de produção, e aqueles
mais bem-sucedidos irão permanecer no mercado. O prejuízo será o
alerta de que o empresário está falhando em sua tarefa de atender a de-
manda dos consumidores de forma eficiente. Portanto, somente o livre
mercado, através do mecanismo de tentativa e erro, poderá responder
qual o tamanho ótimo de uma firma. Nenhum economista pode calcular
ex ante qual seria o tamanho adequado de uma empresa de forma a maxi-
mizar a satisfação dos consumidores. Somente estes podem dizê-lo com
suas livres escolhas. Logo, não há garantia alguma que um cartel ou um
grupo de empresas cooperando entre si será menos eficiente que inúme-
ras pequenas empresas isoladas. O único jeito de descobrir o resultado
é permitir o livre funcionamento do mercado, inclusive com a liberdade
de se unir para cooperar com outras firmas.
Por fim, o fato de que o termo cartel desperte tanta reação negativa
pode ter explicação em sua origem. No passado, um monopólio ou cartel
era garantido como um privilégio especial do estado, reservando uma de-
terminada área de produção para um grupo particular. A entrada de novos
concorrentes era proibida pelo governo. No caso brasileiro, a Petrobras
foi um exemplo claro de um monopólio possível apenas pelo decreto es-
tatal, e não por uma maior eficiência da empresa sobre concorrentes. O
mais famoso cartel do mundo, a Opep (Organização dos Países Exporta-
dores de Petróleo), segue o mesmo caso. Ele é garantido pelos governos
autoritários dos países produtores de petróleo, basicamente do Oriente
Médio. Mas este tipo de cartel não tem nenhuma relação com o livre
mercado. Ao contrário, ele é fruto justamente da intervenção no mercado.
com menos regalias. Quando tais sindicatos usam de ameaça violenta para
impedir a livre competição, estão prejudicando os trabalhadores de forma
geral. Novamente, a solução justa e eficiente está no livre mercado.
7
O Primeiro Banco Central
“O propósito essencial do banco central é usar o privilégio
governamental para remover as limitações criadas pelo free banking
na inflação monetária e de crédito bancário.” – Murray Rothbard
Na verdade, muitos consideram que o primeiro banco central foi o Riksbank na Suécia, que começou suas
22
operações em 1668 com privilégios concedidos pelo reino sueco. No entanto, a posição do Riksbank como
banco central começou mesmo em 1897, quando uma lei deu ao banco o direito exclusivo de emissão de notas
bancárias. Assim, a Encyclopedia Britannica considera que o The Bank of England foi mesmo o primeiro banco
público a assumir as principais características de um banco central.
120 Murray Rothbard
emitiria novas notas para financiar o déficit do governo. Como não havia
poupadores privados suficientes desejando bancar este déficit, Paterson se
mostrou disposto a comprar títulos do governo desde que pudesse fazê-lo
com notas bancárias criadas do nada e garantidas pelo estado. Assim que o
Banco da Inglaterra foi criado em 1694, até o Rei William e vários membros
do Parlamento se tornaram acionistas da fábrica de dinheiro recém-criada.
Paterson pressionou o governo para obter status de “legal tender” para suas
notas, o que forçaria todos a aceitá-las como pagamento de dívidas. O go-
verno inglês recusou, provavelmente por achar que Paterson havia ido longe
demais. Mas o Parlamento concedeu a vantagem do Banco da Inglaterra em
manter todos os depósitos do governo e também o poder para emitir novas
notas para o pagamento de dívida do governo. O Banco da Inglaterra logo
emitiu uma grande soma de dinheiro com efeito inflacionário imediato e, em
apenas dois anos, estava insolvente após uma corrida bancária. Nesse mo-
mento, lamenta Rothbard, uma decisão catastrófica foi tomada com grandes
consequências para o futuro. Em maio de 1696, o governo inglês simples-
mente permitiu que o Banco da Inglaterra suspendesse o pagamento em espé-
cie. Em outras palavras, o banco poderia se recusar a honrar suas obrigações
contratuais de resgate das notas em ouro. O banco seguiu este caminho e suas
notas, automaticamente, perderam 20% de valor em relação ao ouro.
23
Na segunda edição de The Mystery of Banking, Rothbard incluiu um apêndice em que nega a existência de
um livre setor bancário escocês, tratado pelo autor como mito. Ele afirma que a influência do estudo de White
sobre o tema foi enorme, mas os dados não estariam corretos. A estabilidade nos bancos descrita por White
seria medida apenas pela menor quantidade de falências na Escócia, mas para Rothbard isso não é evidência
concreta de que o setor funcionava melhor que o inglês. Um fato importante parece rejeitar a tese de free banking
na Escócia: os bancos suspenderam o resgate em espécie em 1797, como foi feito na Inglaterra também. Para
Rothbard, isso é evidência de que o sistema não era livre de fato. Para ele, os bancos escoceses contavam com o
consentimento tácito do governo britânico e, mesmo que ilegal para as leis escocesas, a suspensão dos resgates
em ouro demonstra que, na prática, o setor não era realmente livre. Isso explica, para Rothbard, porque os ban-
cos escoceses puderam manter uma postura inflacionária similar ao que ocorria na Inglaterra.
Murray Rothbard 121
sa época, a economia escocesa experimentou uma fase bem mais tranquila e li-
vre de crises, ao contrário da Inglaterra. Lawrence H. White, especialista no
tema, escreveu que a Escócia era uma nação industrializada, com instituições
monetárias bastante desenvolvidas, e experimentou uma incrível estabilidade
macroeconômica durante o século XVIII e começo do século XIX.
Em 1844, uma nova medida iria gerar efeitos perversos no setor finan-
ceiro, segundo Rothbard. Sir Robert Peel, um liberal clássico que fora
Primeiro Ministro da Grã-Bretanha, adotou reformas importantes no sis-
tema financeiro inglês. O famoso Peel’s Act representa um caso típico de
uma bem-intencionada reforma politico-econômica que resulta em des-
graça. Na tentativa de acabar com o mecanismo de reservas fracionárias e
instituir 100% de reserva, os seguidores de Peel decidiram colocar poder
absoluto nas mãos do banco central, cuja influência perniciosa eles tinham
tentado expor. Para Rothbard, isso foi como colocar a raposa cuidando do
galinheiro. O monopólio parcial que o Banco da Inglaterra desfrutava até
então virava monopólio total imposto por lei. Uma vez criado este poder,
parecia natural que ele seria usado e abusado.
8
A Origem do Fed
“O problema com o fiat money é que ele recompensa a minoria que
pode lidar com dinheiro, mas engana a geração que trabalhou e
poupou dinheiro.” – Adam Smith
24
Eis o que Thomas Jefferson pensava sobre os riscos disso já em 1802. “I believe that banking institutions
are more dangerous to our liberties than standing armies. If the American people ever allow private banks to
control the issue of their currency, first by inflation, then by deflation, the banks and corporations that will
grow up around the banks will deprive the people of all property until their children wake-up homeless on the
continent their fathers conquered.”
Murray Rothbard 123
ato ilegal, como nos Estados Unidos em 1933. O déficit do governo fica bas-
tante limitado sob o padrão-ouro e, por este motivo, os defensores de mais go-
verno sempre atacaram o metal. No fundo, eles lutam pelo direito do governo
de gerar inflação, ainda que o discurso seja dissimulado.
25
Em Monetary Theory and the Trade Cycle, Hayek defendeu o efeito multiplicador dos depósitos no crédito
como a principal causa dos ciclos econômicos. Mas, ao contrário de Rothbard, ele não considerava desejável um
sistema de 100% de reservas. “If it were possible, as has been repeatedly asserted in recent English literature, to
keep the total amount of banks deposits entirely stable, that would constitute the only means of getting rid of
cyclical fluctuations. This seems to us purely utopian. It would necessitate the complete abolition of all bank
money - i.e., notes and checks - and the reduction of the banks to the role of brokers, trading in savings. But
even if we assume the fundamental possibility of this state of things, it remains very questionable whether many
would wish to put it into effect if they were clear about its consequences. The stability of the economic system
would be obtained at the price of curbing economic progress. The rate of interest would be constantly above the
level maintained under the existing system.” A Escola Austríaca está dividida sobre esta questão. Alguns eco-
nomistas consideram as reservas fracionárias uma fraude, outros não. Rothbard desenvolve melhor o tema em
The Mystery of Banking, onde acusa de forma direta. “It should be clear that modern fractional reserve banking
is a shell game, a Ponzi scheme, a fraud in which fake warehouse receipts are issued and circulate as equivalent
to the cash supposedly represented by the receipts.”
Murray Rothbard 125
vinha atuando desde 1896, mas encontrava sempre forte resistência. A crise
gerou o momento adequado para convencer os demais. O que Rothbard
mostra é que os grandes banqueiros, como Morgan e Rockfeller, estavam
por trás da demanda pela criação de um banco central. A crença de que os
próprios banqueiros desejavam um regulador para limitar sua liberdade por
puro altruísmo parece bastante ingênua. Seres humanos, em geral, não são
afeitos a um sacrifício pelo bem geral, muito menos os banqueiros podero-
sos. Logo, podemos assumir que havia total interesse por parte dos grandes
bancos na existência de um banco central. Rothbard entende que a razão
era o desejo de preservar a capacidade de inflar moeda dos bancos26.
9
O Primeiro Pânico Americano
“A história não se repete, mas com frequência rima.” – Mark Twain
26
Em The Mystery of Banking, Rothbard reforça a tese. “In short, the Central Bank functions as a govern-
ment cartelizing device to coordinate the banks so that they can evade the restrictions of free markets and free
banking and inflate uniformly together. The banks do not chafe under central banking control; instead, they
lobby for and welcome it. It is their passport to inflation and easy money.”
126 Murray Rothbard
O governo não era detentor de uma varinha mágica capaz de emitir pa-
pel e estimular o crescimento econômico novamente. Não foram poucos os
que apelaram para a solução expansionista por meio da inflação. Os argu-
mentos a favor não diferem dos utilizados atualmente: a nação sofria uma
escassez de dinheiro, os bancos não estavam em condições de emprestar
e, portanto, o governo deveria expandir a moeda mesmo sem a respectiva
conversão em espécie. Os devedores seriam aliviados, as taxas de juros cai-
riam, e a confiança seria restabelecida. Todos esses pontos receberam fortes
críticas e contra-argumentos que, de certa forma, acabaram predominando.
10
A Origem do Dinheiro
“Se os governos desvalorizam a moeda para trair todos os credores,
você educadamente chama este procedimento de ‘inflação’.”
– George Bernard Shaw
11
O Estado e a Educação
“Eu nunca deixei a escola interferir na minha educação.”
– Mark Twain
New Liberty, discorda. Para ele, a mistura entre governo e educação, com
o acréscimo das leis de presença obrigatória nas aulas, foi um contundente
fracasso e uma ameaça à liberdade individual. Pelos mesmos motivos que
o estado deve ser separado da religião, ele deve também ser afastado da
importante questão educacional.
Rothbard destaca a seguinte passagem do professor E.G. West. “Protection of a child against starvation or
27
malnutrition is presumably just as important as protection against ignorance. It is difficult to envisage, ho-
wever, that any government, in its anxiety to see that children have minimum standards of food and clothing,
would pass laws for compulsory and universal eating, or that it should entertain measures which lead to increa-
sed taxes or rates in order to provide children’s food, ‘free’ at local authority kitchens or shops.” Infelizmente, o
autor não conheceu os “restaurantes populares” brasileiros que, como todos sabem, tinham como único objetivo
o populismo em busca de votos. Alguém ainda consegue acreditar que o verdadeiro interesse dos governantes
com a escola pública seja realmente educar as massas?
132 Israel Kirzner
A era moderna parece a “era dos direitos”, mas ignora que muitos pro-
dutos e serviços não caem do céu. Logo, se alguém tem “direito” a mora-
dia, escola e saúde, isso quer dizer que outro tem o dever de fornecer tais
bens. Como dizia Bastiat, “o estado é a grande ficção através da qual todo
mundo se esforça para viver à custa de todo mundo”. Mas deve-se ter em
mente sempre que o “direito” ao ensino público representa a obrigação de
outros trabalharem para pagar a conta. Então, Rothbard questiona ainda
porque o governo deveria parar na escola, já que o ensino formal é apenas
uma parte da educação toda. Será que o governo deveria fornecer revistas
e jornais “grátis” para todos?
Israel Kirzner
1
O Empreendedor Alerta
A ignorância acerca das decisões que os outros estão para tomar cos-
tuma levar à escolha de planos inadequados por parte dos tomadores
de decisões. No processo de mercado desencadeado após suas escolhas,
novas informações são adquiridas sobre os planos dos outros agentes, o
que gera uma revisão nas decisões antes tomadas. As decisões feitas em
um período de tempo geram alterações sistemáticas nas decisões corres-
pondentes para o período seguinte. Essas séries de mudanças interliga-
das às decisões constituem o processo do mercado, que é inerentemente
competitivo. Em cada momento, há a descoberta de novas informações
antes não disponíveis, gerando novas oportunidades. No esforço de fi-
carem à frente dos competidores, os participantes são forçados a buscar
uma interação cada vez mais hábil dentro de seus limites. A confiança
na habilidade do mercado em aprender com a experiência e gerar um
136 Israel Kirzner
O livre mercado é uma condição sine qua non para a existência do em-
preendedor. De forma objetiva, Ubiratran Iorio resume o argumento de
Kirzner em Economia e Liberdade. “Um dos aspectos mais importantes do
conceito de atividade empresarial de Kirzner é que o empresário é visto
não apenas como a mola propulsora de uma economia de mercado, mas
principalmente como um produto exclusivo da economia de mercado.
Em outras palavras, só podem existir empresários, no conceito utilizado
pela Escola Austríaca, onde houver economia de mercado, uma vez que o
processo de descoberta que caracteriza os mercados livres, em que os em-
presários são obrigados a manter-se em permanente estado de alerta para
que possam saber que necessidades específicas os consumidores desejam
ver atendidas, não pode ser substituído pelo planejamento, por computa-
dores, por ‘câmaras setoriais’ ou por ‘soluções’ políticas.”
Mises vai além. “Não é porque existem destilarias que as pessoas be-
bem uísque; é porque as pessoas bebem uísque que existem destilarias.”
No livre mercado, os consumidores são os verdadeiros patrões. São eles
que decidem o que será produzido. Peyrefitte explicou que “o consumi-
dor exerce poder soberano sobre a orientação econômica: a maneira como
138 Israel Kirzner
2
A Natureza da Ciência Econômica
“Mesmo o governo mais poderoso, operando com a máxima
severidade, não pode ser bem-sucedido nos esforços que são contrários
ao que foi chamado de ‘lei econômica’.” – Ludwig von Mises
Os meios existem como tais para o homem depois que ele os transfor-
mou de acordo com seu propósito. O homem se vê na necessidade de
agir de forma a alcançar aquilo que ele deseja. Seu comportamento ten-
de a ser moldado pelo padrão implícito em sua escala de fins. A racio-
nalidade envolve o esforço consciente de adequar a conduta ao caminho
possível para seus fins. A partir destes fundamentos da praxeologia, é
possível criar teoremas com base apenas na lógica apriorística. Como
exemplo, podemos pensar numa cidade com caminhos alternativos de
transporte em que uma das rotas foi danificada por um acidente. Será
óbvio para o observador que os efeitos desse acidente tenderão a abrigar
um volume acima do normal nas rotas alternativas. Fazendo esta previ-
são, o observador está aplicando de forma simples seus poderes racionais
para um problema da ação humana. Os teoremas da praxeologia permi-
tem lançar um raio de luz sobre a massa de dados empíricos do passado,
explicando de forma lógica fenômenos sociais. A praxeologia oferece
uma ordem aos dados históricos e esclarece os nexos de causalidade. Ob-
servar dados empíricos sem uma teoria prévia calcada na lógica acaba
gerando mais confusão do que explicação.
28
Mises, em Human Action, escreve: “The subject matter of catallactics is all market phenomena with all their
roots, ramifications, and consequences. It is a fact that people in dealing on the market are motivated not
only by the desire to get food, shelter, and sexual enjoyment, but also by manifold ‘ideal’ urges. Acting man is
always concerned both with ‘material’ and ‘ideal’ things. He chooses between various alternatives, no matter
whether they are to be classified as material or ideal. In the actual scales of value material and ideal things are
jumbled together. [...] economics deals with the problems man has to face on account of the fact that his life
is conditioned by natural factors. It deals with action, i.e., with the conscious endeavors to remove as far as
possible felt uneasiness”.
Capítulo VIII
Ron Paul
1
O Manifesto de Ron Paul
Além disso, Ron Paul questiona os conservadores que, com sua lógica
peculiar, desconfiam da eficiência de um governo excessivamente inter-
ventor no cenário doméstico ao mesmo tempo em que depositam enorme
fé na capacidade desse mesmo governo apresentar excelentes resultados
mundo afora. Sem falar que essa concentração de poder para as ambiciosas
metas imperialistas acaba, inevitavelmente, se voltando contra o próprio
povo. Basta lembrar o que o Patriot Act, baixado após o 11 de Setembro,
representou em termos de perda de liberdades individuais. Os governos
sempre procuram monstros externos para combater e, assim, justificam
seu aumento de poder. Sob as condições de tempos de guerra, as propostas
socialistas sempre têm se tornado a regra. E os grandes empresários “ami-
gos do rei” aproveitam a simbiose entre governo e economia para obter
privilégios à custa do povo.
cais deveria ser, desde o começo, algo temporário. Mas Milton Friedman
estava certo quando disse que não há nada tão permanente quanto um
programa “temporário” de governo. Ron Paul acredita que o excesso de
extensão militar dos Estados Unidos poderá, literalmente, quebrar o país
e fazer com que sua moeda perca muito mais valor. Ele também enxerga
o risco do retorno do alistamento obrigatório que transforma indivíduos
em propriedade do governo. E lamenta profundamente o fato de que tais
assuntos cruciais não sejam seriamente debatidos, já que ambos os lados
políticos concordam que a nação necessita de tropas em 130 países!
2
A Doença do Sistema de Saúde
“A mudança mais importante que o controle extensivo do governo
produz é uma mudança psicológica, uma alteração no caráter
das pessoas.” – F.A. Hayek
Um dos pontos mais importantes abordados por Ron Paul pode ser
resumido na epígrafe de Hayek reproduzida no início deste excerto.
Quando o governo resolve controlar demais as coisas, inclusive atos
de caridade que sempre ocorreram de forma voluntária, ele acaba por
gerar um efeito indesejado no caráter das pessoas. Ron Paul questiona
quantos médicos estariam praticando tarefas voluntárias se não hou-
vesse tanta intervenção do governo no setor. Uma grave consequência
do welfare state é justamente a mentalidade de que não precisamos pra-
ticar atos de caridade, pois alguém já faz isso por nós – e cobrando pe-
sados impostos para tanto. Antes do crescimento assustador do estado
de Bem-Estar social, a norma sempre foi a prática gratuita de medicina
por parte de inúmeros profissionais da área. Porém, as pessoas perde-
ram a crença de que a liberdade funciona, pois ninguém mais consegue
conceber como pessoas livres poderiam solucionar problemas sem o
uso de ameaças de violência – essência das soluções impostas pelo go-
verno. Atualmente, todos encaram com naturalidade a “solidariedade
compulsória” intermediada pelo governo.
Ron Paul lamenta o quão rápido foi esquecido que os Estados Uni-
dos já foram o ícone do sistema de saúde eficiente no mundo, motivo da
29
Em 1945, para cada beneficiário da Previdência Social, existiam mais de 40 trabalhadores pagando a conta.
Em 2002, eram apenas pouco mais de três trabalhadores para cada aposentado. Em 2030, pelas tendências atu-
ais, serão pouco mais de dois trabalhadores para cada beneficiário. Como o sistema de Previdência Social não
passa de um grande esquema Ponzi de pirâmide em que os novos adeptos bancam os aposentados, a demografia
é crucial para manter o programa funcionando. A conta está ficando cada vez mais pesada para os ombros dos
trabalhadores. Desde 1986, os saldos positivos da Previdência Social subsidiaram o resto dos gastos do governo
em mais de US$ 2,3 trilhões. Assim, o déficit fiscal do governo podia ser reportado abaixo do real, pois o buraco
era tampado pelo saldo previdenciário. Muito em breve, isso vai mudar. Em vez de a Previdência Social subsi-
diar o restante do orçamento, o restante do orçamento terá que cobrir o rombo da Previdência. Trata-se de uma
verdadeira bomba-relógio fazendo tic-tac, tic-tac...
Ron Paul 147
são tratados nos hospitais públicos para esse fim específico. Se os he-
róis americanos são tratados de forma lamentável, o que se deve espe-
rar para os cidadãos comuns? A solução para esses males, segundo Ron
Paul, é simplesmente tirar o governo do setor de saúde, que era bem
mais acessível e eficiente antes dele se meter tanto. O sistema de saúde
americano está doente. E a causa é um vírus chamado vulgus politicus.
Está na hora de atacar esse vírus e resgatar a boa saúde do sistema.
Capítulo IX
George Reisman
1
O Controle de Preços
Desta forma, os preços dos bens e serviços numa oferta limitada se-
rão determinados não apenas pelo julgamento de valor dos consumidores,
mas pelo julgamento de valor em respeito às quantidades marginais desses
bens e serviços. No caso da escassez de petróleo causada pelo embargo
árabe e ampliada pelo controle de preços do governo americano, um mo-
torista de caminhão teria interesse em pagar mais por um litro extra de
combustível do que uma família rica que iria utilizar esse litro para algo
supérfluo, tal como aquecer uma piscina. Se o mercado pudesse funcionar
livremente, o óleo iria automaticamente para aqueles que mais demandas-
sem o bem na margem. O preço oferecido pelos usos mais importantes
iria ultrapassar aquele oferecido pelos supérfluos, e a redução na oferta
acabaria afetando apenas demandas sem grande importância para a eco-
nomia. Mas o controle de preços paralisa a ação racional dos agentes e
impede que este tipo de leilão possa direcionar os produtos para os usos
mais demandados pela própria sociedade, ou seja, os consumidores.
2
A Função dos Especuladores
“Sem especulação não pode haver nenhuma atividade econômica
alcançando além do presente imediato.” – Ludwig von Mises
Poucas são as profissões tão repudiadas pelo senso comum como a es-
peculação de ativos financeiros30. No entanto, o principal motivo para
esse preconceito reside na falta de conhecimento acerca das funções que a
especulação exerce no mercado. Em The Government Against the Economy,
Reisman defende a livre economia mostrando que é justamente a interfe-
rência do governo, especialmente através do controle de preços, que tanto
mal gera para todos. Há ainda uma embasada defesa dos especuladores,
explicando de forma didática o mecanismo de ajuste e equalização dos
preços pela especulação.
30
Na verdade, qualquer ação humana é especulativa no sentido de que o futuro é incerto. Quando alguém sai
de casa com um guarda-chuva, pois existem nuvens no céu, está especulando que poderá chover. Quando uma
empresa acumula estoques em vez de reduzir o preço até atender toda a demanda existente, está especulando
ao apostar que a demanda irá aumentar no futuro. “Toda ação se refere a um futuro desconhecido. Ela é nesse
sentido sempre uma especulação arriscada”, frisa Mises em Human Action.
George Reisman 153
Walter Block
1
Liberdade de Expressão
Pelo bem da humanidade, deve-se abraçar essa ideia com força. Com
a exceção de ameaças de violência ou fraudes, o indivíduo deve ser livre
para falar aquilo que quiser, não importa o quanto incomode ou choque
Walter Block 159
2
A Estrada da Liberdade
“O engarrafamento no trânsito é uma colisão entre a livre empresa e o
socialismo; a empresa privada produz automóveis mais rápido do que
o socialismo pode construir ruas e capacidade nas ruas.”
– Andrew Galambos
Por que as ruas e estradas devem ser administradas pelo governo? Eis
uma pergunta que quase ninguém faz, pois a maioria toma como certa a
necessidade do governo na gestão e controle das vias de transporte. Mas
será que deveria ser assim? Foi essa pergunta que o economista Walter
Block resolveu fazer e o título de seu mais recente livro, The Privatization
of Roads & Highways, já deixa evidente a resposta obtida por ele. Para
Block, não há necessidade alguma de a gestão das ruas ficar nas mãos ine-
ficientes do governo. Ao contrário, Block está convencido de que a eleva-
da taxa de mortes nas estradas seria drasticamente reduzida caso as ruas
e estradas fossem privatizadas, o que também garantiria custos menores
para os usuários. As ruas públicas “grátis” acabam custando caro demais
aos pagadores de impostos.
31
Rothbard escreve em For a New Liberty: “The answer is that everyone, in purchasing homes or street service in
a libertarian society, would make sure that the purchase or lease contract provides full access for whatever term
of years is specified. With this sort of ‘easement’ provided in advance by contract, no such sudden blockade
would be allowed, since it would be an invasion of the property right of the landowner”.
Walter Block 163
Muitos outros pontos são abordados por Block, mas ele próprio re-
conhece que inúmeras soluções de mercado ainda desconhecidas iriam
surgir. Essa é justamente a grande maravilha do livre mercado: pela
interação de milhões de consumidores e empresários num processo di-
nâmico de tentativa e erro, soluções antes ignoradas vão aparecendo.
O conhecimento disponível hoje não é suficiente para antecipar todas
as possibilidades que se apresentarão. Daí que o planejamento central
é sempre um fracasso: além de faltarem os mecanismos adequados de
incentivo, como punição pelo erro e premiação pelo acerto (prejuízo e
lucro), os burocratas são obrigados a contar apenas com o seu conheci-
mento presente e bastante limitado. Já no livre mercado, todo o conhe-
cimento disperso entre os indivíduos poderá ser utilizado para criar so-
luções hoje desconhecidas. Portanto, Block é humilde o suficiente para
saber que não tem todas as respostas, apesar de oferecer várias delas em
forma de sugestões interessantes. Ele sabe que o próprio mercado será a
melhor fonte das respostas demandadas.
1
A Viabilidade do Padrão-Ouro
livro de Ayn Rand. Ele chegou a afirmar que “o ouro e a liberdade econô-
mica são inseparáveis” e acrescentou que, “sob o padrão-ouro, um sistema
de operação bancária livre trabalha como o protetor da estabilidade e do
crescimento equilibrado da economia”.
32
O ex-governador do Fed, Laurence Meyer, escreveu o livro A Term at the Fed, em que relata sua experiência
nos anos que passou no banco central americano. Algumas passagens são elucidativas. Meyer diz ter percebido
rapidamente que o Fed não sabe especificar onde a economia está ou onde ele quer que ela vá. Em certa ocasião,
após o primeiro aumento na taxa de juros depois de dois anos, Meyer foi honesto ao afirmar que “a verdade é que
nenhum de nós do FOMC sabia o que aconteceria em seguida”. O FOMC é o todo-poderoso comitê que decide
a taxa de juros básica da economia, similar a nosso Copom. Tal decisão exerce profundo impacto na economia
e acaba ficando sob a tutela de alguns poucos homens. O próprio Meyer chamava a equipe de “o templo”, em
parte pela obscuridade do processo decisório. É evidente que o mercado acaba tendo muita influência nas
decisões do Fed. William Poole, do Fed, reconhece isso e mantém a humildade, afirmando que, na maioria
dos casos, nada deve ser feito pelo banco central em momentos de instabilidade financeira, respeitando-se os
próprios mecanismos de autoajuste do mercado. Mas nem sempre – ou quase nunca – isso ocorre. Seria, então,
o caso de questionarmos até que ponto pouco mais de uma dezena de indivíduos falíveis deveriam concentrar o
poder sobre o destino econômico de toda uma nação.
168 Llewellyn Rockwell Jr.
Por fim, não se pode ignorar o moral hazard como resultado da atuação do
banco central. Quando o governo salva instituições financeiras com proble-
mas, ele age como pais permissivos que encorajam o comportamento errado
dos filhos e eliminam a ameaça de punição. Para os austríacos, portanto,
não deveria haver emprestador de última instância – ou seja, o pagador de
imposto –, forçando a disciplina dos bancos sem garantia de ajuda para ins-
tituições sem liquidez. Os seguidores mais próximos a Rothbard defende-
riam um retorno total ao padrão-ouro e a abolição do banco central. Já os
seguidores de Hayek pregariam um sistema competitivo de moedas priva-
das em que o próprio consumidor pode selecionar qual delas deseja utilizar.
Seja qual for a escolha, o importante é ter em mente os perigos existentes na
concentração de poder arbitrário nas mãos de poucos homens que podem,
com uma canetada, causar extremo sofrimento através da inflação.
2
Guerra e Liberdade
“A melhor forma de limitar o poder é limitar a centralização.”
– Llewellyn Rockwell Jr.
vetara armas nas cabines dos aviões; que administrava a segurança dos
aeroportos; que ajudara a criar, de certa forma, o grupo rebelde que se
transformaria na Al Qaeda; que recebera alertas antes e os ignorou; e que
prometeu e fracassou de todas as formas em garantir a segurança dos cida-
dãos. Rockwell acredita que, para distrair todos dessa conclusão, o gover-
no criou a ilusão de que a maior ameaça de todas está em algum lugar fora
das fronteiras, e os americanos devem confiar no governo para saber qual
ela é. Quando vemos resultados negativos da ação do governo, sempre é
demandado mais governo para resolver o problema.
Isso tudo quer dizer que os libertários são contra todas as guerras?
Não necessariamente. Existem as guerras justas e elas devem ser sem-
pre defensivas. Jamais devem ter civis como alvos. Seus meios devem
ser proporcionais às ameaças envolvidas. Devem ser o último recurso
170 Llewellyn Rockwell Jr.
Para muitos, a visão de Llewellyn Rockwell pode ser ingênua, até mes-
mo utópica. Podem alegar que o mundo não funciona assim e nunca irá
funcionar. São os defensores da realpolitik, que se consideram mais “prag-
máticos”, respeitam a realidade e entendem que o bom é inimigo do óti-
mo. Pode até ser. Darei o benefício da dúvida, aceitando que os pontos de
vista do autor são mesmo fantasia no mundo atual. Mas isso não tira seu
grande valor. E este é lembrar a natureza do governo, seus motivadores e,
acima de tudo, os enormes riscos que todos os defensores da liberdade cor-
rem quando o governo cresce demais. E não se pode esquecer que guerras
são os mais comuns pretextos para a expansão dos governos. Algumas
provavelmente serão necessárias, até mesmo para preservar a liberdade.
Mas, na maioria dos casos, elas serão apenas um veículo de aumento de
poder político, sacrificarão milhares de vidas e transferirão riqueza dos
pagadores de impostos aos “amigos do rei”.
3
O Caminho da Vitória
“Ideias e somente ideias podem iluminar a escuridão.”
– Ludwig von Mises
Então, que deve ser feito? Antes de tudo, é preciso reconhecer que as
ideias liberais são impopulares, não vendem sonhos falsos ou promessas
utópicas e nem retiram a responsabilidade dos indivíduos. Somos mino-
ria. Nossos pontos de vista não são bem-vindos pelo regime e, com fre
quência, são ignorados pelo público indiferente. Mas algo deve ser feito,
e Rockwell oferece algumas sugestões.
Cada um daqueles que realmente deseja isso deve fazer algo e contri-
buir como for possível pela causa da liberdade. Rockwell ajudou a fundar
o Mises Institute, que cresce a cada ano, espalhando mais e mais as ideias
liberais pelo mundo. No Brasil, já temos agora o Instituto Ludwig von
Mises Brasil (www.mises.org.br), uma iniciativa louvável de amigos sin-
174 Llewellyn Rockwell Jr.
ceros da liberdade. E você, prezado leitor? O que você está fazendo pela
defesa da liberdade? Faça já a sua parte! Lembre-se que uma jornada de
mil milhas começa com apenas um passo.
4
A Pureza das Ideias
“Não se entregue ao mal, mas continue com mais coragem contra ele.”
– Virgílio
Isso não quer dizer, em minha opinião, que seja louvável alguém so-
nhar qualquer sonho sem os pés no chão. Existem ideais e ideais. O
socialismo é uma utopia e, como tal, inexequível. Mas, não obstante seus
fins serem um pesadelo para todos aqueles que não se veem como insetos
gregários, sua grande falha está também no fato de suas crenças baterem
de frente com a natureza humana. Ou seja, os meios pregados pelos socia-
listas levam inexoravelmente ao terror, miséria e escravidão. O socialismo
é um ideal errado e, além disso, ignora totalmente a realidade. Isso não
quer dizer que devemos repudiar qualquer ideal. O liberalismo pode ser
visto como um ideal também, uma vez que defende uma ampla liberdade
individual que ainda não existe. No entanto, além de ser um ideal dese-
jável, ele pode ser também factível porque não entra em confronto com
nossa natureza. Pode até ser que, em sua forma mais pura, o liberalismo
seja um ideal inalcançável, mas ao menos ele serve como a tal estrela que
mostra o caminho a ser seguido. É fundamental não perder isso de vista
em troca das concessões pragmáticas do momento.
Uma vez identificado o ideal a ser seguido, resta questionar por que
seria condenável ser “radical” na defesa deste ideal. Uma pensadora que
sempre condenou este relativismo foi Ayn Rand, logicamente tachada de
“extremista” por seus inimigos. Numa análise inicial, o termo “extre-
mismo” não tem significado algum se estiver isolado. O conceito de “ex-
tremo” denota uma relação, medida ou grau. Logo, parece óbvio que a
primeira pergunta a ser feita é: extremo em relação a que? Responder que
é ruim um extremo em relação a qualquer coisa é absurdo, pois extrema
saúde e extrema doença seriam igualmente indesejáveis, extrema inteli-
gência seria tão ruim quanto extrema burrice, ou extrema integridade se-
ria tão condenável quanto extrema perfídia. Seria o caso de se perguntar
aos ditos “moderados”, então: é igualmente indesejável ser extremamente
honesto e extremamente desonesto? O “caminho do meio” faz sentido
quando se trata da integridade? Quem responde que sim não pode estar
do lado dos íntegros.
176 Llewellyn Rockwell Jr.
Em Monetary Nationalism and International Stability, Hayek elucubra sobre o melhor modelo monetário para
33
o mundo. “I do believe that in the long run human affairs are guided by intellectual forces. It is this belief
which for me gives abstract considerations of this sort their importance, however slight may be their bearing on
what is practible in the immediate future.”
Llewellyn Rockwell Jr. 177
Acho bom que defensores da liberdade tentem atuar pela via política
também, mas acho mais provável serem corrompidos do que mudarem o
sistema estando dentro do ninho de cobras. Por isso, vejo com bons olhos
a atuação intransigente, radical e extremista dos “austríacos” no campo
das ideias. Quando uma gota de veneno se mistura a um prato de comi-
da saudável, o veneno sobressai. Lama misturada com sorvete estraga a
178 Llewellyn Rockwell Jr.
Hans-Hermann Hoppe
1
Os Perigos da Democracia
Antes, porém, é justo frisar que Hoppe, apesar de uma pintura mais
favorável da monarquia em relação à democracia, não é um monarquista.
Sua postura é que se deve existir um estado, definido como uma agência
que exerce um monopólio territorial compulsório de jurisdição e taxação,
então seria econômica e eticamente mais favorável escolher uma monar-
quia em vez de uma democracia. Mas ele defende que uma “ordem natu-
ral” seria possível e preferível através do “autogoverno” dos indivíduos.
Em suas palavras, “a escolha entre monarquia e democracia envolve uma
escolha entre duas ordens sociais defeituosas”. Hoppe destaca os estudos
de Mises e Rothbard como suas grandes influências positivas pela postura
antiestatizante e pró-livre mercado de ambos. Mas reconhece que os dois
180 Hans-Hermann Hoppe
A analogia que Hoppe faz é com uma criança que ainda não tem noção
adequada de tempo e acaba optando por consumir tudo que pode de uma
vez. O sinal claro de maturidade ao decorrer dos anos é compreender que
só é possível consumir mais no futuro se sacrificar consumo presente. O
mesmo vale para uma sociedade, e o sinal de decadência seria uma baixa
propensão a poupar. Como a expropriação do governo gera justamente
este efeito, ela é vista como incentivo à decadência, e quanto maior for esta
expropriação, maior será também a decadência.
Todo governo irá usar seu monopólio de expropriação para seu próprio
benefício e de forma a maximizar sua riqueza ou renda. Logo, deve ser es-
perado de todo governo uma tendência natural em direção ao próprio cres-
cimento. Para Hoppe, um rei que fosse dono do seu governo territorial iria
evitar uma taxação exagerada, pois isso iria reduzir o potencial de ganho
futuro e, por conseguinte, o valor presente de seu reino. Valeria o mesmo
princípio de toda propriedade, em que o dono busca a maximização do seu
valor presente. Por essa razão um dono de um automóvel cuida melhor
do carro do que alguém que apenas aluga um veículo. As pessoas tratam
com mais cuidado aquilo que possuem como propriedade particular. Já na
democracia, o governante tem todo o aparato a seu dispor, mas não possui
nada disso para si. Ele controla somente o uso corrente dos recursos e terá
incentivos para maximizar os gastos presentes em vez da riqueza total. A
Hans-Hermann Hoppe 181
moderação não seria uma vantagem para um governante eleito por um man-
dato temporário. Esperar por altruísmo é ingênuo demais.
Creio que Hoppe não diz muito sobre a possibilidade nada descartável
pela experiência histórica de que o déspota monarca não seja esclarecido
ou racional, mas sim um lunático perigoso. Como Lord Acton disse, “o
poder corrompe, e o poder absoluto corrompe absolutamente”. Ou, citando
novamente Popper, “não somos democratas porque a maioria sempre está
certa, mas porque as instituições democráticas, se estão enraizadas em tra-
dições democráticas, são de longe as menos nocivas que conhecemos”. A
democracia parece mesmo o pior modelo que existe, excetuando-se todos os
outros. Mas nada disso anula a importância das críticas de Hoppe. Jamais
devemos esquecer que a democracia, como simples escolha da maioria, pode
ser apenas a votação entre dois lobos e uma ovelha para o que jantar. Por
isso, acredito que o livro de Hoppe tem muita utilidade, lembrando que a
democracia é um meio bastante imperfeito, e não um fim em si. A fonte da
civilização humana não é o governo, seja ele monárquico ou democrático,
mas sim a propriedade privada e a concomitante responsabilidade indivi-
dual. O mais importante é buscar o esclarecimento dessa ideia para que a
democracia seja, de fato, o meio que levará a tal fim.
2
Democracia e Imigração
“Nenhuma democracia pode sobreviver muito tempo à decadência
moral de seu povo, pois a abdicação de autocontrole de sua parte
é um convite à tirania.” – Michael Novak
Não custa lembrar que os Estados Unidos foram criados à base da imi-
gração, mas naquele tempo o governo ainda era mínimo e não oferecia
todas as regalias típicas do welfare state. Assim, o país atraía, normalmen-
te, os indivíduos com espírito empreendedor, individualistas que estavam
em busca de trabalho duro e oportunidades para o próprio sustento. Eram
pessoas que fugiam justamente de países com maior intervenção estatal e
buscavam a ampla liberdade individual oferecida lá. Os Estados Unidos,
por sua maior garantia à propriedade privada, sempre foi o destino prefe-
rido do “brain drain” mundial e conseguiu atrair os melhores intelectos e
empreendedores do mundo.
Thomas J. DiLorenzo
1
A Herança de Lincoln
2
A Revolução Capitalista
“O capitalismo de livre mercado, baseado na propriedade privada e
troca pacífica, é a fonte da civilização e do progresso humano.”
– Thomas DiLorenzo
Uma das primeiras leis mercantilistas impostas aos colonos foi o Mo-
lasses Act, de 1733, que criou uma elevada tarifa para a importação de
melaço. Uma série de leis conhecidas como Navigation Acts representou
mais um grande passo em direção ao mercantilismo imposto na América.
Essas leis foram uma importante causa da Revolução. Para proteger a in-
192 Thomas J. DiLorenzo
A Revolução Americana pode ser vista como uma luta contra o mercan-
tilismo em defesa dos principais pilares do capitalismo de livre mercado.
Com o tempo, ocorreram várias tentativas de se adotar o mercantilismo
nos Estados Unidos, algumas infelizmente com sucesso. Não obstante, o
país permaneceu razoavelmente livre, e foi justamente isso que possibili-
tou tanto progresso. Foi o capitalismo que salvou a América!
193
Capítulo XIV
1
A Escola de Salamanca
Roger W. Garrison
1
A Teoria Austríaca de Ciclos Econômicos
34
Em junho de 1932, no prefácio de Monetary Theory and the Trade Cycle, Hayek escreveu de forma premonitória:
“To combat the depression by a forced credit expansion is to attempt to cure the evil by the very means which
brought it about; because we are suffering from a misdirection of production, we want to create further misdi-
rection – a procedure that can only lead to a much more severe crises as soon as the credit expansion comes to
an end”. Como mostrou a história, ele estava correto.
200 Roger W. Garrison
Capítulo XVI
Dominick Armentano
1
O Caso Contra o Antitruste
truste. “Um juiz deve decidir se uma empresa pode ‘integrar’ dois produtos
ou se deve vendê-los separadamente.” Murphy faz uma analogia com a Ford
para demonstrar como seria absurdo questionar se a empresa deveria ter o
poder de “integrar” o motor e os pneus de seus veículos ao vendê-los aos
consumidores. “Seria ridículo para uma concorrente reclamar que a Ford
estava ‘vinculando’ de forma desleal seus pneus ao sucesso de seu motor,
reduzindo, dessa forma, a concorrência no negócio de pneus.”
35
“It is hardly necessary to point out that competition of the kind we now have in mind acts not only when in
being but also when it is merely an ever-present threat. It disciplines before it attacks. The businessman feels hi-
mself to be in a competitive situation even if he is alone in his field or if, though not alone, he holds a position such
that investigating government experts fail to see any effective competition between him and any other firms in the
same or a neighboring field and in consequence conclude that his talk, under examination, about his competitive
sorrows is all make-believe. In many cases, though not in all, this will in the long run enforce behavior very simi-
Dominick Armentano 203
lar to the perfectly competitive pattern.” (Joseph Schumpeter, “Capitalism, Socialism and Democracy”, p. 85)
O poder arbitrário de entidades como o Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica) impede o fun-
36
cionamento adequado do livre mercado. Para quem ainda não se convenceu disso, nada como uma piada para
expor de forma clara tais riscos. Três empresários de um setor foram presos porque o governo decidiu que suas
práticas adotadas estavam prejudicando o livre mercado. Um deles reclamou que estava preso porque fora acusa-
do de “práticas predatórias” ao ter colocado o preço abaixo da concorrência. O outro rebateu que tinha sido preso
porque o governo o acusara de adotar “preços abusivos”, típicos de monopólios. O terceiro empresário, estarre-
cido, disse que tinha sido encarcerado com a acusação de “formação de cartel”, por praticar preços iguais ao da
concorrência. Em português claro, se correr o bicho pega, se ficar o bicho come. Os empresários acabam reféns
dos burocratas do governo, sem saber ex ante o que será considerado um “preço justo” pela ótica do governo.
204 Dominick Armentano
Apêndice I
Mark Skousen
Viena e Chicago:
A Luta Pelo Livre Mercado
joga com metas mais práticas e de curto prazo. A Escola Austríaca, nesse
contexto, mostra onde deveríamos mirar, enquanto a Escola de Chicago
apresenta opções concretas para o trajeto. Para sair de A até C, talvez
seja preciso passar por B. A Escola de Chicago foca bastante nas “second-
best solutions”, nas alternativas viáveis. Se eu tivesse que resumir em uma
expressão, a Escola de Chicago pensa que o ótimo é inimigo do bom e
luta pelo bom possível. Mas assumindo o papel de advogado dos “aus-
tríacos”, eu lembraria que o inverso também pode ser verdade, ou seja,
por muitas vezes o bom é inimigo do ótimo. O que quero dizer com isso
é que, em muitos casos, podemos deixar o ótimo para trás justamente
porque objetivamos apenas o bom. Quem coloca como meta a medalha
de bronze, que certamente é melhor que nada, pode estar abandonando
as chances de conseguir a de ouro.
Apêndice II
Étienne de La Boétie
A Servidão Voluntária
37 David Hume escreveu: “Quase todos os governos que existem hoje ou dos quais existem registros na história
se fundaram na usurpação ou na conquista, ou em ambas, sem pretensão alguma de um consentimento legítimo
ou de uma submissão deliberada do povo”. E acrescentou: “A obediência e a submissão se tornam uma coisa
tão costumeira que os homens, em sua maioria, jamais procuram investigar as suas origens ou causas, tal como
ocorre em relação à lei da gravidade, ao atrito ou às leis mais universais da natureza”. Em The State, Franz
Oppenheimer explica que existem, basicamente, duas formas de organização da vida social: o meio econômico,
que é pacífico por depender de trocas voluntárias; e o meio político, que é baseado na dominação e, portanto,
é essencialmente violento por ser uma apropriação não solicitada do trabalho dos outros. O estado surgiria
numa sociedade quando algumas pessoas utilizam os meios políticos para vantagem própria. Essas pessoas
estariam numa situação vantajosa para forçar certas ações aos demais, e as relações passam a ser calcadas em
subordinação e comando. O estado seria, então, o primeiro de todos os aparatos de dominação. Independente
do desenvolvimento desse estado, Oppenheimer repete constantemente que sua forma básica e sua natureza não
mudam. Desde o estado primitivo feudal até a constituição moderna do estado, ele ainda é a institucionalização
dos meios políticos por um determinado grupo para expropriar a riqueza econômica de outros.
Étienne de La Boétie 211
esquece que o governo lhe toma metade dos frutos de seu trabalho, prefe-
rindo relaxar no carnaval. “Assim, os povos, enlouquecidos, achavam belos
esses passatempos, entretidos por um vão prazer, que lhes passava diante dos
olhos, e acostumavam-se a servir como tolos”, lamenta o autor.
Thomas E. Woods Jr
O Fed foi criado por um ato do Congresso em 1913, tem seu presiden-
te escolhido pelo governo e conta com privilégios de monopólio sobre a
moeda. Em suma, o Fed está calcado em princípios diametralmente opos-
tos aos do livre mercado. Ele é um agente de planejamento central eco-
nômico, mas em vez de planejar a produção de bens, como fazia a Gosplan
comunista, o Fed planeja a taxa de juros com consequências que reverbe-
ram por toda a economia. Segundo Woods, esta manipulação das taxas de
juros, mantidas artificialmente baixas por tempo demais, foi justamente a
mais importante causa da crise atual. “O Fed é o elefante na sala que todos
fingem não notar”, ele diz.
O que Tom Woods questiona é porque ainda levam tão a sério as previ-
sões dos mais poderosos governantes se eles foram totalmente incapazes de
Thomas E. Woods Jr 215
Mises faz uma analogia entre uma economia sob a influência de taxas
de juros artificialmente baixas e um construtor que erroneamente acre-
dita que tem mais recursos, tais como tijolos, do que realmente possui.
Ele irá construir uma casa com proporções diferentes daquela que usu-
almente faria se soubesse a verdadeira oferta disponível de tijolos. Em
algum momento, ele irá descobrir que faltam tijolos para completar sua
casa. Quanto mais rápido ele descobrir isso, melhor, pois poderá fazer
os ajustes necessários com menor dano. Se ele descobrir muito tempo
depois, poderá ser forçado a destruir quase toda a casa ou simplesmente
abandoná-la inacabada. O resultado de uma política frouxa de juros, que
joga a taxa abaixo de seu patamar “natural”, acaba por causar efeito simi-
lar à economia como um todo. Uma série de “malinvestiments” irá desviar
recursos escassos para destinos indesejáveis. A farsa não pode durar para
sempre, e logo ficará claro que o rei está nu.
Como disse Hayek, combater essa depressão inevitável com mais ex-
pansão forçada de crédito é tentar curar o mal pelos mesmos meios que o
criaram. No entanto, esta é justamente a receita keynesiana, tão em moda
apesar de seus fracassos no passado. A recessão é a fase necessária de
ajuste em que a realidade precisa ser enfrentada. A estrutura de produção
precisa ser refeita com base nos dados reais e sustentáveis, mas ofuscados
pela euforia artificialmente criada pelo Fed. É como um bêbado que pre-
cisa enfrentar a ressaca para ficar sóbrio. Os keynesianos querem oferecer
mais e mais bebida para “curar” o porre e manter o indivíduo bêbado. E
claro que esta política é insustentável. Ela não apenas posterga o ajuste
necessário, mas também agrava a situação.
Higgs comparou este plano com aquele em que alguém tira água da parte
mais funda da piscina e coloca na parte rasa, esperando que o nível geral
da água vá subir. Essa foi a reação tanto na Grande Depressão, cujo New
Deal postergou a recuperação, como na crise do Japão, que ficou estagnado
por duas décadas. Impedir os ajustes necessários e injetar mais recursos
na economia não resolve nada, muito pelo contrário. É o que explica a
teoria austríaca, e o que a história ilustra.
De forma geral, para uma sociedade consumir, ela antes deve produ-
zir. É justamente essa realidade inexorável que incomoda tantos políti-
cos e economistas. Eles gostariam de burlar esta lei natural e, para tanto,
contam com os incríveis poderes do Fed. Mas, como diz a frase da epí-
grafe, nenhuma manipulação pode desafiar a realidade por muito tem-
po. A bolha artificial precisa estourar cedo ou tarde. Melhor que seja
cedo, pois causa menos estrago. E quando o governo tenta solucionar os
problemas mirando em seus resultados em vez de se concentrar nas cau-
sas, ele apenas joga mais lenha na fogueira. Em vez disso, como sugere
Woods, o governo deveria permitir os ajustes necessários. Ele deveria
deixar as empresas quebrarem para que o capital possa, o mais rápido
possível, ser realocado para setores e empreendimentos mais eficientes.
Recompensar prejuízos com pacotes de resgate apenas incentiva mais
erros e cria um enorme moral hazard. Além disso, o governo deveria
reduzir drasticamente seus gastos em vez de aumentá-los. Desta forma,
os recursos retornariam para as atividades criadoras de riqueza no setor
privado. Por fim, o Fed deveria ser abolido. Muitos condenam o livre
mercado pela crise, mas Woods questiona: o que há de livre mercado
218 Thomas E. Woods Jr
Ação humana, 25-27, 32, 41, 80, 81, 88, 136, 137, Economia, 11, 15-17, 25-27, 29, 30, 32, 36, 40, 41,
148, 175 43, 47-49, 56, 59, 70, 74, 80, 82-87, 91-93, 95-98,
Armentano, Dominick, 197 101, 112, 115-117, 121-123, 128, 131, 132, 134-
137, 140, 145-148, 150, 161-163, 177, 180, 183,
Apriorístico, 27 189, 191, 193-195, 198, 201-203, 209-214
Economia de mercado, 30, 32, 40, 41, 49, 56,
131, 132
Banco central, 96, 98, 115-118, 120, 121, 123, Empreendedor, 131-134, 180
161-164, 184, 193, 195, 209-211
Empresário, 21, 30, 31, 57, 84, 92, 113, 132, 156,
Bastiat, Frédéric 102 158, 199
Bens, 17-19, 21-23, 32, 34, 36, 40, 41, 48, 49, 51, Escola Austríaca, 15-17, 77, 79, 84, 105, 109,
58, 62, 72, 73, 84, 85, 91-93, 95, 98, 112, 118-120, 112, 120, 132, 137, 161, 172, 189, 190, 191, 193,
124, 130, 135, 145-147, 155-157, 176, 179, 187, 201-204, 209, 214
190, 194, 195, 210, 212
Escola de Chicago, 201-204
Boétie, Étienne de La, 12, 205
Escravidão, 12, 31, 34, 70, 102, 110, 156, 159,
Böhm-Bawerk, Eugen von, 21 168, 171, 177, 183, 184, 186, 205, 208
Burocracia, 37-39, 101, 129, 185 Estado, 12, 28, 30, 32, 33, 37, 38, 40, 42, 47-49,
59, 60, 70, 71, 73, 74, 76, 87, 95, 99-101, 108, 114,
115, 126, 127, 129, 130, 132, 136, 142, 152, 164,
166, 175, 179, 206
Capital, 21, 22, 29, 31, 35, 41, 46, 49, 51-55, 57,
71, 72, 87, 91-95, 98, 100, 127, 147, 149, 175, 176, Estatismo, 43, 44, 48, 100
187, 193-195, 197, 202, 210, 212, 214 Estatísticas, 15, 27, 84, 212
Capitalismo, 28, 30, 34-36, 38, 39, 41, 44, 47, 53, Estatização, 47
55, 58, 75-77, 80, 83, 98, 99, 102, 148, 163, 186- Ética, 103, 136, 186
188, 198, 201, 204, 209, 213, 214
Exploração, 21, 23, 55-57, 75, 77, 99, 100, 189, 201
Coerção, 19, 33, 59, 61, 62, 66, 67, 69, 106, 108,
109, 110-112, 114, 127, 130, 141, 152, 173
Conservadores, 66-68, 99, 100-102, 104, 140,
164, 165, 211 Federalismo, 122, 179, 184, 186
Consumidor, 17, 22, 28, 31, 37, 38, 57, 96, 112, Fome, 60, 111, 120, 127, 186, 187
126, 133, 158, 164, 194, 195, 199
Crescimento econômico, 96, 98, 99, 123, 194-
196, 202, 203
Grande depressão, 73, 95, 98, 100, 203, 213
Crise, 51-53, 91, 95, 97, 98, 121-123, 145, 148,
149, 150, 162, 172, 209-214 Guerra, 12, 46, 47, 51, 55, 81, 98, 102, 115, 119,
122, 126, 128, 139, 140, 143, 164, 165, 167, 171,
183-185, 187, 188, 213
Garrison, Roger, 193
Demanda, 18, 22, 34, 36, 38, 39, 49, 51, 56, 57,
61, 62, 69, 70, 76, 82, 84, 90, 94, 96, 112, 113,
121, 124, 125, 127, 129, 131, 133, 146, 148-151,
158, 162, 163, 173, 176, 194, 195, 198, 199, 211 Hayek, Friedrich von, 59
Democracia, 31, 46, 56, 63, 64, 65, 68, 69, 81, Hoppe, Hans-Hermann, 175, 178
131, 140, 152, 175-181 História, 11, 19, 25-27, 44, 54, 75, 76, 89, 99, 119-
Dilorenzo, Thomas, 183, 186 121, 124, 126, 134, 183, 195, 203, 206, 210, 213
Divisão de trabalho, 48, 49, 85, 93, 169, 187 Hume, David, 68, 78, 205, 206
220 Índice Remissivo
Ideologia, 48, 90, 129, 208 69, 70, 81, 85, 100, 102, 106, 110, 113, 136, 137,
Igualdade, 35, 61-63, 69, 70, 184, 201 147, 162, 165, 167, 169, 170-172, 185, 186, 194,
206, 212
Impostos, 51, 71, 72, 101, 115, 123, 125, 130, 142,
143, 155, 159, 166, 177, 180, 185, 187, 188, 209 Mercado, 17, 23, 28, 29, 30, 31, 32, 36, 37, 40, 41,
44, 48, 49, 50, 51, 53, 56-58, 68, 77, 80, 82, 83, 85,
Indivíduo, 11, 12, 15, 17-19, 31, 32, 35, 40, 41, 43, 86, 91, 93-98, 101, 108, 112-114, 117, 118, 124,
56, 59, 60-63, 69, 77, 82-85, 90, 103, 104, 106, 107, 126, 128, 129, 131-134, 136, 145, 146, 148, 149,
136, 137, 152-154, 165, 176, 179, 180, 193, 212 151, 157-159, 162, 163, 175, 186, 188-191, 194,
Inflação, 29, 47, 48, 50, 52, 72, 74, 75, 93, 95, 98, 197-204, 209-211, 213, 214
115, 118, 119, 121, 123-126, 139, 143, 145, 162, Menger, Carl, 17, 74, 84, 136, 189
163, 164, 177, 185, 190, 191, 202
Mercantilismo, 101, 183, 187, 188
Iniciativa privada, 28, 34, 38, 39, 86, 209
Mises, Ludwig von, 11, 13, 21, 25, 27, 30, 32, 34,
Intervencionismo, 28, 29, 30, 44, 46, 48, 204, 213 37, 39, 42, 44, 48, 51, 53, 131, 134, 148, 167, 169,
Investimento, 29, 52, 53, 92, 93, 95, 97, 176, 193, 196 171, 189
Moeda, 29, 49, 50-52, 73-75, 90, 95-98, 102, 115,
118, 119, 121, 123-126, 141, 143, 145, 161-163,
177, 190, 195, 202, 209, 210, 212, 214
Juro, 21-23
Moral, 52, 60-63, 67, 78, 81, 90, 129, 141, 152, 153
Jefferson, Thomas, 12, 104, 118, 122, 139, 141,
157, 164, 165, 167, 170, 177, 178, 181, 183, 184
167, 184
189, 200, 213
Murphy, Robert, 197
Privatização, 156, 157, 168, 201 Violência, 19, 46, 47, 58, 109, 110, 112, 142, 151,
Propriedade, 18, 31, 37, 44, 45, 49, 54, 63, 70, 80, 154
83, 100, 105, 107-110, 112, 136, 141, 147, 153, 157,
175-181, 186, 187, 200, 201
Valor, 16-19, 21-23, 36, 41, 51, 57, 59, 60-62, 65,
66, 70, 74, 75, 82, 83, 85, 92, 107, 116, 118, 122,
124, 126, 127, 132, 136, 141, 146, 147, 153, 156,
158, 163, 166, 176, 178, 189, 190, 191, 206, 207
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