Historia Da Educacao

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Carla Cristina Barbosa

Huagner Cardoso da Silva


Maria Cristina Freire Barbosa
Maria Nadurce da Silva
Rosângela Silveira Rodrigues

2ª edição atualizada por


Huagner Cardoso da Silva
Maria Nadurce da Silva

História da
educação

2ª EDIÇÃO

Montes Claros/MG - 2014


Copyright ©: Universidade Estadual de Montes Claros
UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MONTES CLAROS - UNIMONTES

REITOR CONSELHO EDITORIAL


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2014
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Coordenadora Adjunta da UAB/Unimontes
Chefe do Departamento de Política e Ciências Sociais/Unimontes
Betânia Maria Araújo Passos
Maria da luz Alves Ferreira
Autores
Carla Cristina Barbosa
Doutora em História da Ciência pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo – PUC-SP (Brasil).
Mestre em Letras/Português pela Universidade Federal de Uberlândia – UFU (Brasil). Especialista
em Docência para a Educação Profissional. Graduada em História pela Universidade Estadual de
Montes Claros – Unimontes. Docente vinculada ao Departamento de História. Coordenadora geral
do Núcleo de História e Cultura Regional – Nuhicre – desta Universidade.

Huagner Cardoso da Silva


Doutorando em Ciências da Religião pela PUC-SP (Brasil). Mestre em Educação pela Universidade
Federal de Uberlândia – UFU (Brasil). Especialista em Docência para a Educação Profissional.
Graduado em Pedagogia pela Universidade Estadual de Montes Claros – Unimontes. Docente
vinculado ao Departamento de Estágios e Práticas Escolares da Universidade Estadual de Montes
Claros – Unimontes.

Maria Cristina Freire Barbosa


Doutora em Ciências da Educação pela Universidade Trás-os-Montes e Alto Douro – UTAD
(Portugal). Mestre em Educação pelo Instituto Superior Enrique José Varona (Cuba), validado pela
Universidade de Brasília – UnB (Brasil). Graduada em Pedagogia pela Universidade Estadual de
Montes Claros – Unimontes. Docente vinculada ao Departamento de Educação da Unimontes.

Maria Nadurce Silva


Doutoranda em Ciências da Educação pela Universidade Trás-os-Montes e Alto Douro – UTAD
(Portugal). Mestre em Educação pela Universidade Católica de Brasília – UCB (Brasil). Especialista em
Sociologia pela Universidade Federal de Minas Gerais – UFMG (Brasil). Especialista em Metodologia
Científica e Epistemologia da Pesquisa pela Universidade Estadual de Montes Claros – Unimontes.
Especialista em Educação à Distância, pela Universidade Aberta do Brasil – UAB/Unimontes.
Graduada em Pedagogia pela Fundação Norte-Mineira de Ensino Superior – FUNM. Docente
vinculada ao Departamento de Educação da Universidade Estadual de Montes Claros – Unimontes.
Coordenadora do Curso de Pedagogia UAB/Unimontes. Pesquisadora do Grupo de Pesquisa
GEPEDS.

Rosângela Silveira Rodrigues


Doutora em Educação, área de História e Filosofia da Educação, pela UNICAMP (Brasil). Mestre
em Educação na área de Docência do Ensino Superior pela PUC – Campinas (Brasil). Graduada
em Pedagogia pela Fundação Norte-Mineira de Ensino Superior - FUNM. Docente vinculada ao
Departamento de Métodos e Técnicas educacionais – Unimontes. Pesquisadora do Grupo de
Pesquisa GEHES.
Sumário
Apresentação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 9

Unidade 1 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11
A educação antiga e medieval . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11

1.1 Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11

1.2 Educação antiga . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11

1.3 Educação Romana . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 24

Referências . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 36

Unidade 2 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 37
Educação: do renascimento ao surgimento dos sistemas escolares . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 37

2.1 Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 37

2.2 A educação a caminho da modernidade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 38

2.3 A educação no período do renascimento . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 39

2.4 A educação, a reforma e a contrarreforma . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 41

2.5 O iluminismo e a consolidação da educação moderna . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 44

Referências . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 47

Unidade 3 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 49
A educação brasileira na colônia e no império . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 49

3.1 Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 49

3.2 Para um começo de história . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .49

3.3 Período jesuítico (1549 - 1759) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 50

3.4 A influência jesuítica na educação brasileira . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 51

3.5 A educação no Brasil na era pombalina (1760-1808) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 53

3.6 A educação no Brasil Imperial . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 54

Referências . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 59

Unidade 4 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 61
A educação no Brasil: período republicano . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 61

4.1 Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 61

4.2 A reforma educacional de Benjamim Constant . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 62

4.3 A educação na 2ª república . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 65


4.4 A educação superior no Brasil pós LDBEN 9.394/1996 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 73

Referências . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 74

Resumo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 77

Referências básicas, complementares e suplementares . . . . . 85

Atividade de aprendizagem - AA . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 89
História - História da Educação

Apresentação
Caro(a) acadêmico(a), a disciplina HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO tem como objetivo principal
contribuir para a sua compreensão da evolução sócio-histórico da educação através da identi-
ficação dos paradigmas educacionais, na realidade tempo/espaço, com atenção especial para a
História da Educação no Brasil, suas tendências e concepções de educação ideal, conforme a rea-
lidade educacional, no contexto sócio-político específico de cada época.
Essa disciplina conduzirá você a uma reflexão sobre o nosso passado educacional. com o
apoio dos autores clássicos da historiografia da história da educação. Será apresentada uma
análise das principais características dos processos educativos e sua interação com o contexto
socioeconômico e cultural em diferentes períodos históricos da civilização, relacionando-os ao
contexto educativo brasileiro, de forma a auxiliá-lo na identificação dos aspectos históricos que
fundamentam nosso atual sistema educacional.
Esta disciplina tem, portanto, como objetivos específicos:
• Examinar a educação em diferentes contextos históricos;
• Conhecer a história da educação da civilização ocidental, para compreender a história da
educação brasileira;
• Compreender a influência das transformações ocorridas no período renascentista na defini-
ção do modelo da educação ocidental e a influência nas determinações do modelo da edu-
cação predominante na história da educação brasileira;
• Analisar historicamente os vários aspectos da realidade educacional nos diferentes contex-
tos históricos, com a finalidade de compreender as políticas determinantes da educação, na
atual sociedade brasileira;
• Desvelar as políticas que delineiam a história da educação brasileira, desde a sua implanta-
ção até a atualidade, para compreender os interesses que a impulsiona, no que se refere aos
valores, ideias e organização nos diversos períodos da história desse país;
• Problematizar os determinantes históricos do papel da escola, do modelo de professor e do
aluno que se pretende formar, assim como o enfoque dos conteúdos e da avaliação nos di-
ferentes períodos da educação brasileira.
Esclarecemos a você a relevância em alcançar esses objetivos, pois esta disciplina é muito
importante para sua formação profissional, ética, política e humana, de forma emancipada.
Esclarecemos, também, que este caderno didático foi organizado em quatro unidades e que
cada uma está dividida em subunidades, com o objetivo de facilitar a compreensão das discus-
sões propostas.
As sugestões de textos, pesquisas e filmografias também são importantes, uma vez que am-
pliam os conhecimentos e discussões.
Para que haja aproveitamento nos seus estudos, é preciso que você realize as atividades
propostas, ao longo dos textos, assim como a atividade avaliativa proposta no final deste cader-
no, pois estas o(a) ajudarão a compreender e a fixar os conteúdos abordados.
Desejamos que sua caminhada nesta disciplina seja prazerosa e enriquecedora.

Os autores.

9
História - História da Educação

Unidade 1
A educação antiga e medieval

1.1 Introdução
Esta unidade tem como objetivo central Esta primeira unidade abordará, portan-
examinar a educação nos diferentes contextos to, a importância da história da educação e o
históricos e auxiliar você a compreender a his- processo sócio-histórico das práticas educati-
tória da educação antiga e medieval. Propõe-se, vas no Egito, na Grécia, em Roma e nas Escolas
através deste estudo, examinar a educação em Medievais.
diferentes contextos históricos para que você Segundo Aranha (1990), para entender a
possa, através do conhecimento da história da História da Educação, é importante conhecer a
educação da civilização ocidental, compreender educação no contexto histórico, ou seja, faz-se
a história da educação brasileira Falaremos um necessário compreender que o homem é re-
pouco sobre a educação nas civilizações orien- sultante de sua prática social dentro de deter-
tal, porém não alongaremos nossa conversa so- minado contexto histórico, social, pois é a par-
bre elas, tendo em visto o tempo que dispomos tir das relações sociais que os homens criam
para este estudo e, ainda, que nossa tradição é padrões, instituições e saberes. Portanto, é “a
predominantemente ocidental. educação que mantém viva a memória de um
No desenvolvimento desta unidade, você povo e dá condições para sua sobrevivência.
vai encontrar temáticas que são abordadas com Por isso, dizemos que a educação é uma ins-
base em uma perspectiva histórica, verá que tância mediadora que torna possível a recipro-
tudo na Educação, dos conhecimentos às rela- cidade entre indivíduo e sociedade” (ARANHA,
ções entre sujeitos escolares, espaços, metodo- 1990, p.15).
logias e materiais foi inventado, produzido pelo A educação está envolvida nas relações
ser humano em circunstâncias sociais e históri- sociais que os homens estabelecem e sofre in-
cas determinadas. fluência ideológica por estar ligada à política.
Com base em autores como Maria Lúcia Portanto, o fenômeno educacional não é neu-
Aranha (1990), Paul Monroe (1976), Tomas Giles tro, está ligado às questões culturais, políticas
(1987), Luciano Farias Filho (1995), Mario Mana- e sociais de seu tempo (FARIA FILHO, 1995).
corda (2006), entre outros, serão apresentados A escola faz parte de um mundo marca-
os fundamentos teóricos para que você com- do por desigualdades e lutas sociais; nesse
preenda a educação antiga e medieval. sentido, faz-se relevante refletir sobre a esco-
Através da leitura dos textos propostos, la como um instrumento de transformação da
você verá que a História da Educação tem como sociedade, ao mesmo tempo em que as trans-
uma das suas funções desnaturalizar as práticas formações políticas, econômicas e sociais con-
educativas, estabelecendo uma relação com o tribuem para a constituição dos sistemas de
contexto no qual estão inseridas. ensino.

1.2 Educação antiga


O processo educativo passou por constan- De acordo com Aranha (1996), nas civili-
tes mudanças através da história das civilizações. zações orientais, embora seja reconhecida a
Propomos rever alguns desses momentos históri- existência da escrita, não havia propostas pro-
cos, pois “a história da educação na antiguidade priamente pedagógicas, a preocupação com
se torna um objeto interessante na medida em a educação permeava os livros sagrados, que
que remonta à história de nosso próprio proces- ofereciam regras ideais de conduta e orienta-
so pedagógico”. (MARROU, 1966, p.4). Vamos lá! ção para o enquadramento das pessoas nos

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UAB/Unimontes - 2º Período

rígidos sistemas religiosos e morais. Veremos lidade. Nesse contexto, o objetivo principal da
que as grandes civilizações, na antiguidade, educação era o falar bem, embora a escrita já
tinham modelos de educação parecidos, cujos fizesse parte da cultura antiga.
ensinamentos eram passados principalmente Como você poderá verificar através de pes-
de pai para filho. quisas mais aprofundadas, a escrita aparece na
Segundo Manacorda (2006), é do Egito antiguidade como instrumento de registro dos
que chegaram os testemunhos mais antigos atos oficiais, era utilizada por peritos e não ne-
e talvez mais ricos sobre todos os aspectos da cessariamente por governantes, ao passo que o
civilização e, em particular, sobre a educação, falar bem se identifica com a arte do governo,
embora haja conhecimentos sobre a cultura ou seja, era instrumento direto da política.
de outros povos. Assim sendo, iniciaremos os Faz-se relevante, aqui, destacar que a
estudos da História da Educação na antiguida- educação sistematizada, na antiguidade, era
de pelo Egito. Propomos fazer breves passa- direcionada principalmente à formação da
gens pela história antiga, uma vez que nosso classe dominante.
foco principal deverá ser a história da educa- Antes de dedicarmos espaços de discus-
ção no Brasil. são sobre a educação em diferentes lugares,
Vamos conversar um pouco sobre essa entendemos ser interessante dizer que os “en-
educação? sinamentos” mais antigos, segundo Manacorda
Vamos encontrar nos registros propor- (2006), contêm preceitos morais e comporta-
cionados pelos historiadores que a educação, mentais rigorosamente harmonizados com as
para falar bem e para a obediência, consistia estruturas e as conveniências sociais ou, mais
no verdadeiro valor da educação na antiguida- diretamente, com o modo de viver próprio das
Figura 1: Egípcios em de, estava diretamente ligada a fins políticos castas dominantes, ou seja, estes são sempre
adoração. de governo e acontecia em contraste com a em forma de conselhos dirigidos do pai para o
Fonte: Disponível em: natureza individual, na formação da persona- filho e do mestre escriba para o discípulo.
<http://sphotos-a.
xx.fbcdn.net/hphotos-
-prn2/p480x480/9095_10
151365867626274_154096
1810_n.jpg >. Acesso em:
1.2.1 Educação no Egito
09/02/2013.

1.2.1.1 Egito: um pouco de história

Para pensarmos sobre a educação egíp- (nas margens do rio Nilo) entre 3200 a.C. (unifi-
cia, entendemos ser necessário antes falarmos cação do norte e sul) a 32 a.C. (domínio roma-
um pouco sobre a civilização egípcia antiga, no). Como a região é formada por um deserto
no sentido de nos colocarmos no contexto (Saara), o rio Nilo ganhou uma extrema im-
onde ela surgiu. Veremos que a civilização portância para os egípcios. O rio era utilizado
egípcia se desenvolveu no nordeste africano como via de transporte (através de barcos) de

12
História - História da Educação

mercadorias e pessoas. As águas do rio Nilo ser humano e parte de animal sagrado) que in-
também eram utilizadas para beber, pescar e terferiam na vida das pessoas. As oferendas e
fertilizar as margens, nas épocas de cheias, fa- festas em homenagem aos deuses eram muito
vorecendo a agricultura. realizadas, acreditavam na vida após a morte,
A economia egípcia era baseada principal- mumificavam os cadáveres dos faraós, colocan-
mente na agricultura, que era realizada, princi- do-os em pirâmides, com o objetivo de preser-
palmente, nas margens férteis do rio Nilo. Os var o corpo para a vida seguinte.
egípcios também praticavam o comércio de É relevante aqui dizer que a civilização
mercadorias e o artesanato. Os trabalhadores egípcia destacou-se muito nas áreas de Ciên-
rurais eram constantemente convocados pelo cias. Esse povo desenvolveu conhecimentos
faraó para prestarem algum tipo de trabalho importantes na área da Matemática, conhe-
em obras públicas (canais de irrigação, pirâmi- cimentos estes usados amplamente na cons-
des, templos, diques). A religião dos egípcios trução de pirâmides e templos e ainda na
era repleta de mitos e crenças interessantes. medicina. Os procedimentos de mumificação
Acreditavam na existência de vários deuses proporcionaram importantes conhecimentos
(muitos deles com corpo formado por parte de sobre o funcionamento do corpo humano.

1.2.1.2 Educação no antigo Egito

A educação egípcia não se limitava à eli- Vamos observar através dos registros Glossário
te, ao contrário da Babilônia e de outros povos dos historiadores que a educação no antigo
Escriba: Na Antiguida-
em que somente a classe dos sacerdotes escri- Egito estava voltada para o desenvolvimento
de, pessoa encarregada
bas era alfabetizada. da fala, da obediência e da moral.  As escolas de escrever, como copis-
No antigo Egito, a educação começava funcionavam como templos e algumas casas ta, secretário ou redator.
cedo na vida da criança, pois esse povo tinha foram frequentadas por pouco mais de vinte Doutor da lei entre os
um caráter bastante prático por natureza. Os alunos. A aprendizagem se fazia por transcri- judeus. Escrivão. Na
Antiguidade, os escribas
egípcios necessitaram desenvolver técnicas e ções de hinos, livros sagrados, acompanhada
eram os profissionais
ciências para resolver seus problemas cotidia- de exortações morais e de coerções físicas. Ao que tinham a função de
nos tendo em vista sua ocupação geográfica, lado da escrita, ensinava-se também aritméti- escrever textos, registrar
ou seja, localizada às margens do Rio Nilo, ca, com sistemas de cálculo, complicados pro- dados numéricos, redi-
na porção nordeste do continente africano. blemas de geometria associados à agrimen- gir leis, copiar e arquivar
informações. Escribas
Os alunos recebiam informações sentados sura, conhecimentos de botânica, zoologia,
era responsável pelos
em esteiras. O ensino é direcionado a práti- mineralogia e geografia. ensinamentos.
ca, com exercícios  e com  aplicações de artes Pode-se afirmar que, no início do Médio Edubla: Era o local
da  arquitetura  da época, do comércio e da Império (2133- 1786 a.C.), o uso do livro de texto destinado à educação e
administração. aparecia, com frequência, sendo utilizado pelos treinamento dos escri-
bas que frequentavam a
escribas, e, isto acontecia por um pai escriba
escola desde a juventu-
educando seu próprio filho ou um discípulo. de até a idade adulta,
Vamos observar, também, que, na anti- para adquirir o status de
guidade, as escolas se não eram públicas, ao profissionais.
menos eram coletivas, e havia presente a rela-
ção educativa privada, de pai para filho ou de
escriba para discípulo (aluno). Segundo Mana-
corda (2006), a progressiva transformação da
sabedoria em cultura, em conhecimento eru-
dito e em assimilação da tradição, com seus
rituais, e a correlativa constituição da escola
com seus materiais didáticos, os rolos de papi-
ros, é confirmada tanto pelas inscrições fúne-
bres como pelos textos literários.

◄ Figura 3: Papiro.
▲ Fonte: Disponível
Figura 2: Escriba (Professor no antigo Egito). em: <http://bibliote-
cas1978.files.wordpress.
Fonte: Disponível em: <http://4.bp.blogspot.com/vw- com/2012/08/del-papiro-
pIB75j3A/TfPnCijaQlI/AAAAAAAAAGQ/9FqKdSpZ1GM/ -al-blog.gif>. Acesso em:
s1600/Escriba+mastaba+Kaninisut.jpg >. Acesso em: 06 06 fev. 2013.
fev. 2013.

13
UAB/Unimontes - 2º Período

Observe o texto abaixo:

“Faz-se o que se diz quando se estuda nos livros. Penetra nos livros, coloca-os no teu cora-
Glossário ção: tudo o que dirás será excelente. Um escriba destinado para uma função consulta os escritos”.
Papiro: Uma espécie de (Br. 291 apud MANACORDA, 2006, p. 27).
papel chamado papiro, Veja que através da leitura deste parágrafo, já no segundo período (cerca de 1785 a 1580
que era produzido a a. C.), a passagem da sabedoria para a cultura ou instrução tornou-se mais clara, pois o sábio
partir de uma planta de
mesmo nome, tam- deixa de ser apenas aquele que possui experiência e inteligência para ser também aquele que
bém era utilizado para conheceu a tradição através dos livros, que adquiriu cultura e assimilou a sabedoria dos an-
registrar os textos. A tigos através dos livros. É neste momento histórico que o livro ganha destaque como instru-
escrita egípcia também mento de instrução.
foi algo importante De acordo com Manacorda (2006), é no Novo Império (1552 – 1069 a. C.) que ocorre a ge-
para este povo, pois
permitiu a divulgação neralização e a consolidação da escola, pois neste período aparece uma quantidade considerá-
de ideias, comunicação vel das chamadas coletâneas escolares, textos e cadernos de exercícios, contendo hinos, ora-
e controle de impostos. ções, sentenças morais, além de sátiras de ofícios e exaltações dos antigos escribas e do ofício
Existiam duas formas de escriba.
de escrita: a demótica
(mais simplificada) e a
hieroglífica (mais com-
plexa e formada por Atividade
desenhos e símbolos).
As paredes internas das
Observe o texto abaixo:
pirâmides eram repletas
de textos que falavam Vem, descrever-te-ei o comportamento do escriba quando se diz: Depressa!
sobre a vida do faraó, Para o teu lugar! Os teus colegas já estão fixos nos livros: não sejas preguiçoso!
rezas e mensagens Ora dizes: três mais três. Ora lês diligentemente no rolo de papiro. Ora deves
para espantar possíveis fazer os caçulos em silêncio e que não se ouça a voz da tua boca. Escreve com a
saqueadores. mão e lê com a boca; pede conselho. Não sejas negligente nem passes um dia
Sátira: é uma técnica na ociosidade, senão, ai de teu corpo! Segue os métodos do teu mestre, ouve
literária ou artística que seus ensinamentos. Sê um escriba: Eis-me aqui! Dirás sempre que te chamem.
ridiculariza um determi- Cuida de nunca dizer: Ufa! (MANACORDA, 2006, p. 33-34)
nado tema (indivíduos,
organizações, estados), Vamos refletir? Você certamente percebeu que o texto acima registra momentos da vida es-
geralmente como forma colar na antiguidade. Ao fazer esta leitura você percebeu alguma semelhança com algum mo-
de intervenção política
ou outra, com o objeti-
mento de sua educação? Entre no fórum de discussão e comente com seus colegas sobre suas
vo de provocar ou evitar descobertas.
uma mudança.

Vamos perceber que, já na antiguidade, havia uma preocupação com a educação infantil,
pois, segundo Manacorda (2006), há registros de que foi inventada para as crianças pequeni-
nas, no que se refere ao cálculo, noções aritméticas a serem aprendidas através do jogo e da
diversão; subdivisão de maçãs e de coroas entre certo número de alunos, dando a cada alu-
no o mesmo número, entre outras atividades que proporcionavam este trabalho. Este fato foi
comprovado através dos achados arqueológicos, tanto de brinquedos como de representa-
ções de jogos, junto com as fontes literárias apresentadas e os testemunhos iconográficos, que
consistem em fontes preciosas de informações a respeito de aspectos concretos da educação
na antiguidade.
A civilização egípcia destacou-se muito nas áreas de ciências. Desenvolveram conheci-
mentos importantes na área da matemática, usados na construção de pirâmides e templos. Na
medicina, os procedimentos de mumificação proporcionaram importantes conhecimentos so-
bre o funcionamento do corpo humano.

14
◄ Figura 4: Ciência
egípcia.
Fonte: Disponível em:
http://www.mundoedu-
cacao.com.br/novosite/
upload/conteudo_legend
a/4d431e40d9146c8fddb1
84d086b7a64f.jpg. Acesso
em: 12/02/2013.

Um fato interessante de se observar é que a educação egípcia não se limitava à elite, ao con-
trário da Babilônia e de outros povos em que somente a classe dos sacerdotes escribas era alfa-
betizada. No Egito, existia a possibilidade de as classes inferiores aprenderem a ler e a escrever e
inclusive poderiam subir de nível social. O processo educativo egípcio caracteriza-se pela palavra
escrita. Assim, a capacidade de ler e de escrever conferiu aos que detinham esse saber certo mis-
tério, pois, apoiada pela religião, a autoridade da palavra escrita se torna inviolável (GILES, 1987).
Outro fato importante, como você pode constatar, é que a presença da religião configura-se
também como uma característica marcante da educação e de todos os aspectos da vida egípcia.
O faraó era o sumo sacerdote dos cultos oficiais e chefe de Estado. Este Estado apoiava-se na
forma teocrática de governo, onde a administração burocrática era ligada à casta sacerdotal. Po-
de-se observar que a flexibilidade da sociedade egípcia se deu, entre outros fatores, pelo fato de
qualquer menino talentoso poder se tornar um escriba.

◄ Figura 5: Educação
egípcia.
Fonte: Disponível em:
<http://2.bp.blogspot.
com/_EOHn_S0Peko/
SxOpYDKkHlI/AAAAAA-
AAABo/vmnmSsvDrU8/
s1600/31125_31126_ima-
ge002.jpg>. Acesso em:
12/02/2013.

A integração da sociedade era o meio que a burocracia sacerdotal adotava, fornecendo ad-
ministradores e funcionários para o governo. Giles relata que a escolarização era um mecanismo
importante nessa sociedade. Em suas palavras:

15
UAB/Unimontes - 2º Período

Junto à tesouraria real sempre havia uma escola pública, equipada para a for-
mação de escribas, cujos serviços eram indispensáveis para a manutenção de
todo o aparato burocrático do Estado. Mesmo não conseguindo emprego jun-
to ao governo, o escriba era sempre procurado para a administração das gran-
des fazendas e junto aos grandes comerciantes do reino. A instrução nessas es-
colas era gratuita, custeada pelo próprio Estado. O instrumento de mobilidade
e de estabilidade social é a escola. Trata-se de aprender a ler e escrever para
subir socialmente. (GILES, 1987, p. 54).

Propomos aqui falar um pouco dos tipos formação dos filhos da nobreza que preten-
de escola, no antigo Egito, com base nos re- diam seguir a carreira de oficial do exército.
gistros encontrados. Vamos lá! Veremos, atra- Além disso, existiam os colégios sacerdotais, de
vés dos registros históricos, que, no Egito, no estudos superiores.
período depois de 3.000 a.C, ocorreram três Convidamos você a conhecer um pouco
tipos de escolas: dessas escolas e a descobrir qual a preocupa-
1. escolas do templo: as escolas do templo ção desse povo com a educação.
eram direcionadas para treinamento do De acordo com os registros históricos,
clero; aos cinco anos, iniciava-se a formação dos jo-
2. escolas da corte: as escolas da corte eram vens nas escolas da aldeia, sob a orientação
destinadas à formação dos burocratas; do templo local, em que podiam aprender os
3. escolas provinciais: as escolas provinciais fundamentos de determinada profissão. Aos
eram destinadas à formação de funcioná- dezessete anos, os jovens que se destacavam
rios para o setor privado e para o governo. continuavam os estudos no templo central ou
nas escolas superiores de instrução escribal, du-
rante três ou quatro anos.
A atividade principal dentro dessa escola
era a memorização da hieroglífica e o domínio
da escrita hierática cursiva, utilizada para fins
comerciais. Veremos que a escola egípcia con-
sistia na manutenção da literatura de inspira-
Figura 6: Educação da ► ção divina e a técnica predominante no ensino
criança egípcia. era a memorização e a repetição. As virtudes
Fonte: Disponível em: consideradas neste período eram o silêncio, a
<http://www.fascinio- obediência, a abstinência e a reverência ao pas-
egito.sh06.com/agri-
cola.jpg>. Acesso em: sado. A criatividade e a originalidade deveriam
16/02/2013. ser evitadas, e o castigo era aplicado ao aluno
como forma para conseguir as virtudes.
Nesse tipo de educação egípcia, você ob-
servará que, para se tornar escriba, o aluno ti-
nha que alcançar perfeição na reprodução dos
textos antigos e modelos de escrita, somente
através desse resultado é que poderia ter aces-
so à mobilidade social. Veremos, também, que
o processo educativo do Egito antigo consistia
na conservação das instituições existentes na
sociedade sem que elas fossem modificadas. O
Nesse período, observamos que há indí- modelo educacional do Egito antigo funcionou
cios da existência de escolas militares para a durante 3000 anos.

1.2.2 Educação na Grécia

Convidamos você, agora, para iniciarmos uma conversa a respeito da História da educação
na Grécia. Para melhor entender as questões educacionais nesse país, faz-se importante rever um
pouco de sua história. Vamos lá!

16
História - História da Educação

◄ Figura 7: Ruína grega


Fonte: Disponível em:<
http://2.bp.blogspot.
com/-rwJl9SkhtZ4/UNSA-
F7goRcI/AAAAAAAAAHc/
K0XwZeW8EbU/s1600/
grecia+antiga.jpg>. Aces-
so em: 10/02/2013.

1.2.2.1 Grécia: um pouco de história

A civilização grega surgiu entre os mares Egeu, Jônico e Mediterrâneo, por volta de 2000 a.C.
Ela formou-se após a migração de tribos nômades de origem indo-europeia como, por exemplo,
aqueus, jônios, eólios e dórios. Ressaltamos ainda que a Grécia era formada por um aglomerado
de diversas cidades (polis). As polis (cidades-estado), forma que caracteriza a vida política dos
gregos, surgiram por volta do século VIII a.C. As duas polis mais importantes da Grécia foram Es-
parta e Atenas.

1.2.2.2 Falando da educação na Grécia

Na Grécia, encontraremos aspectos da educação do antigo Egito, principalmente a sepa-


ração dos processos educativos segundo as classes sociais, porém esta aconteceu de forma
menos rígida e com evidente desenvolvimento para as formas de democracia educativa. (MA-
NACORDA, 2006).

Educação no período antigo

Veremos que, para as classes dominantes, das e oprimidas, nada havia, nem escolas nem
a educação grega visava prepará-las para as treinamento.
tarefas de poder. O mesmo acontecia no Egito, Na Grécia antiga, vamos destacar duas
portanto, a ênfase na formação do sujeito era modalidades de educação (duas Paideias): a
no “pensar” e no “falar” (política) e no “fazer”, Homérica e a Hesiodeica. Vamos falar um pou-
este último aspecto inerente ao uso das armas. co sobre isto?
Para a classe trabalhadora (dos governados), Na educação homérica, os indivíduos das
não havia escolas, mas havia treinamento no classes dominantes são guerreiros na juventu-
trabalho e isto consistia em imitar a atividade de e políticos na velhice. A educação, no pe-
dos adultos no trabalho. Para as classes excluí- ríodo homérico, caracterizava-se pela falta de

17
UAB/Unimontes - 2º Período

Glossário organização institucional específica, falta de Nesse período, o ensino formal não existia, o
Paideia: Esse termo “foi método e de controle. A educação consistia no conteúdo desse ensino era a retórica, ensinada
criado por volta do sé- treino de atividades práticas, com pouco lugar para falar, e a arte militar, ensinada para agir.
culo V a.C, que significa- para a instrução de caráter literário. O treino A educação hesiodeica, por sua vez, tem
va “criação dos meninos” voltado para atender às necessidades reais da origem os ensinamentos que constituem um
(pais paidós). Na educa- vida acontecia no seio familiar. Para deveres patrimônio de sabedoria e de moralidade cam-
ção intelectual, a noção
de paideia amplia de superiores da vida, como serviço público, o ponesa e que correspondem aos ensinamentos
simples educação da treino era realizado pelo Conselho (aproxima- egípcios, mesopotâmicos ou hebraicos.
criança para a contínua va de uma instituição educativa), na guerra e Vemos em Manacorda (2006) que na edu-
formação do adulto, nas expedições de conquista. O ideal da edu- cação grega, denominada de arcaica, encon-
capaz ele mesmo de cação homérica baseava-se na teoria do de- tramos documentada a aculturação (moral,
repensar a cultura do
seu tempo. Para Aranha, senvolvimento da personalidade; compreen- religiosa, patriótica) e a aquisição das técnicas,
a Grécia Clássica é o dia o ideal do homem de ação e do homem sobretudo as de governar e as de produzir. Ve-
berço da pedagogia. de sabedoria. A primeira virtude do homem remos que a educação grega acontece através
Com o tempo, o sentido de ação e do guerreiro era a bravura. Assim, da música e da ginástica. Por música, era en-
amplia para designar a Aquiles (o guerreiro) e Ulisses (oratória) foram tendido os hinos religiosos e militares, canta-
teoria da educação. Os
gregos, ao discutirem o os modelos de virtude e de honra. O menino dos em coro pelos jovens. Por ginástica, enten-
fim da Paideia, esboçam aprendia as proezas dos heróis homéricos. dia-se a preparação do guerreiro.
as primeiras linhas da
ação pedagógica, que
irão influenciar a cultura
ocidental.
Educação no período clássico

relata que em Creta e Esparta a educação era


tarefa precípua do Estado, confiada a um ma-
Figura 8: Educador ► gistrado denominado de pedônomo ou do
grego. legislador para a infância e também acontecia
Fonte: Disponível em: de forma coletiva.
< http://4.bp.blogspot. Durante os primeiros sete anos, a crian-
com/-aqTZq3g_K0M/
TjCY5fYwHTI/AAAAAA-
ça ficava sob os cuidados dos referidos as-
AAAGU/reK2RaW13_8/ sistentes, bem como do “pedônomo”, em
s1600/educa%25C3%25A habitações públicas de soldados, mantidas
7%25C3%25A3o+gr%25
C3%25A9cia.jpg>. Acesso
pelo Estado. Nessas habitações, a criança era
em: 12/02/2013. preparada para se tornar um guerreiro. Pode-
se dizer que a imitação era a base da educa-
Dica ção grega, mas ela, ao contrário da educação
oriental, incidia sobre modelos vivos, sendo o
O período clássico – docente um dos mais importantes. “Pelo con-
séculos V e IV a. C. – é
considerado o apogeu tato direto do menino com o adulto, como
da civilização grega. da criança com o pedagogo e do jovem com
Observa-se, na polí- A educação na Grécia, no período clássi- o ‘inspirador’, os gregos efetuaram de modo
tica, o ideal grego de co, segundo Manacorda (2006), continua ba- mais prático a educação moral da juventude”.
democracia represen- seada na música e na ginástica. O autor nos (MONROE, 1983, p. 49).
tado por Péricles. Além
disso, as artes, literatura
e filosofia contribuíram
definitivamente para Escola do alfabeto
a herança cultural do
mundo ocidental. (ARA-
NHA, 1990). Veja que, por longo período, os conteú- Lembra-se dos escribas? Recorda que este
dos e fins da educação permanecem tendo ensinamento era repassado pelos escribas?
como seu principal veículo a música e a gi- Observou que a escrita egípcia era hieroglí-
nástica, porém, com o desenvolvimento da fica e, sendo assim, era bastante complexa e
Glossário democracia, a educação deixa de ser privi- de domínio exclusivo dos escribas? Observou
Pedônomo: Antigo Ma- légio das classes dominantes e é estendida que, por esse motivo, os escribas também
gistrado que, em muitas para as classes menos favorecidas, ou seja, é eram considerados homem de poder, por do-
cidades da Grécia, direcionada a todos os cidadãos livres. Nesse minar esta técnica? Então vamos continuar
especialmente Esparta e
momento, nasce um fato novo, a escola de nossa discussão sobre a educação no Egito e
Creta, velava pela edu-
cação das crianças. escrita. descobrir o que deste modelo existe até hoje
Você observou, no início deste estudo, na educação brasileira?
que no Egito os ensinamentos eram escritos? Veja você que para entendermos a esco-

18
História - História da Educação

la do alfabeto precisamos voltar um pouco na


educação egípcia. Então vamos lá!
No Egito, existia a possibilidade de as
classes inferiores aprenderem a ler e a escrever
e inclusive poderiam subir de nível social. O
processo educativo egípcio caracteriza-se pela
palavra escrita. Assim, a capacidade de ler e de
escrever conferiu aos que detinham esse saber e criando, assim, a escrita alfabética. (Alfabeto, ▲
certo mistério, pois, apoiada pela religião, a palavra derivada de alfa e beta, as duas primei-
Figura 9: Alfabetização
autoridade da palavra escrita se torna inviolá- ras letras do alfabeto grego.) (escrita chamada
vel (GILES, 1987). Na Grécia, com a escrita alfabética consi- hieroglífica).
Os fenícios inventaram um sistema re- derada mais simples, veremos que surge um Fonte: Disponível em:
duzido de caracteres que representavam o meio mais democrático de comunicação e de <http://www.disco-
verybrasil.com/egito/
som consonantal, característica das línguas educação. A escola de escrita se abre a todos alfabetizacao> Acesso em:
semíticas encontrada hoje na escrita árabe e os cidadãos. Junto aos mestres de música e de 10/02/2013
hebraica. Em seguida, os gregos adaptaram o ginástica, surge um novo mestre, o das letras
sistema de escrita fenícia agregando as vogais do alfabeto.

Atividade
Através dos registros históricos, temos que Platão nos informa sobre a metodologia do ensi-
no desta nova e democrática técnica cultural que era a escrita alfabética. Vamos ver o que ele nos
disse? Veremos através dos escritos de Platão que primeiro se aprendiam as letras oralmente e
depois as letras escritas, ou seja, primeiro recitavam-se os nomes das letras. Leia o texto abaixo e
reflita um pouco sobre esta metodologia de ensino.

Quando aprendemos a ler, aprendemos primeiro os nomes das letras, depois


suas formas e seus valores, em seguida as sílabas e suas propriedades e, enfim,
as palavras e suas flexões. Daí, coçamos a ler e a escrever, de início lentamente,
sílaba por sílaba. Quando, no devido prosseguimento do tempo, as formas das
palavras estiverem bem fixas em nossa mente, lemos com agilidade qualquer
texto proposto, sem tropeçar, com incrível rapidez e facilidade. (Opuscula, II,
4-16 apud MANACORDA, 2006, p. 54)

Quer ver se este método durou mesmo por milênios como afirmam os historiadores? Então
procure em sua família ou na comunidade um ancião (pessoas que tenham pelo menos 70 anos)
que frequentou escola quando criança. Indague sobre a forma como foram alfabetizados. Apre-
sente os relatos desse momento no fórum de discussão, socializando suas descobertas com seus
colegas.
Vamos pensar um pouco mais? Imagine esta escola e dê sua opinião, considerando o momen-
to atual. Entre no fórum e apresente suas considerações, dialogando com seus colegas de curso.

Continuando nossa conversa, veremos surgem as primeiras bibliotecas com escritos


que, posteriormente, a escrita grega foi adap- de mitologia, história, astronomia, astrologia,
tada pelos romanos, constituindo-se o sistema magia, poesia e gramática. Como o sacerdote
alfabético greco-romano, que deu origem ao era o mediador entre o homem e os deuses, a
nosso alfabeto atual. Veremos que esse sistema formação era centrada nos rituais. Portanto, o
representa o menor inventário de símbolos que processo educativo se destinava à conserva-
permite a maior possibilidade combinatória de ção e à continuidade do sistema político e so-
caracteres, isto é, representação dos sons da cial do período.
fala em unidades menores que a sílaba.
Com a invenção da escrita, o processo
educativo tornou-se mais formalizado, exigin- ◄ Figura 10: Escrita
do uma classe de especialista. Nesse caso, a alfabética.
transmissão e a escrita ficam entregues à res- Fonte: Disponível em: <
http://www.webeduc.mec.
ponsabilidade da casta sacerdotal. O sacerdo- gov.br/midiaseducacao/
te era o mediador entre os deuses e o homem. modulo4/e1_assun-
Entretanto, o novo sistema escolar ainda não tos_a1.html>. Acesso em:
10/02/2013
era universal, destinava-se somente aos filhos
dos detentores de poder. Nesse contexto,

19
UAB/Unimontes - 2º Período

No que se refere à educação grega, po- ção do ideal educativo. Com isso, os filósofos
demos considerar que essa teve como particu- gregos, representantes da nova educação do
laridade a oportunidade do desenvolvimento mencionado país, ganharam destaque, espe-
individual. As explicações religiosas são substi- cialmente, Sócrates, Platão e Aristóteles.
tuídas pelo reconhecimento da razão autôno- Para refletirmos um pouco a respeito da
ma, pela inteligência crítica, pela personalidade história da educação no contexto em que vi-
livre, capaz de formular o ideal de formação do via Platão, necessitamos lembrar que as ideias
cidadão. Assim, Aranha (1990) relata que uma deste filósofo marcam dois momentos e dois
nova concepção de cultura e do lugar do in- modelos de educação, sendo que o primeiro
divíduo na sociedade repercute na educação, momento representa as ideias de Platão en-
bem como nas teorias educacionais. De fato, os quanto jovem, que são expressas no livro A
filósofos gregos refletiram a esse respeito, para República. Platão aponta o modelo ideal de ci-
que a educação pudesse desenvolver um pro- dade, onde as pessoas são livres para se gover-
cesso de construção consciente de que o ho- nar. Aqui, fica clara a concepção de homem,
mem fosse constituído de modo correto e sem que traz implícita uma concepção de educa-
falha, nas mãos, nos pés e no espírito. ção e, consequentemente, uma visão de ensi-
Na Grécia, existiam conflitos entre os teó- no e aprendizagem coerente com a moral e a
ricos educacionais, com relação à constitui- política. Segundo Platão:

Um homem perfeito só pode ser um perfeito cidadão. E como é necessário co-


nhecer o bem para ser um homem de bem ou um bom cidadão, se não o co-
nhecer por si mesmo em todo o seu esplendor, convém pelo menos ser orien-
tado por aqueles que se elevaram até este conhecimento, ou seja, os filósofos.
Eis por que é necessário, para o bem de todos, que os filósofos sejam conside-
rados os líderes da cidade (PLATÃO, 1999, p. 32).

Podemos observar que, ao conceber o homem livre, a educação também é concebida de


Para saber mais forma livre, pois é necessário formar o homem que se ajuste a um modelo, onde cada pessoa
Para você entender me- tenha consciência de sua classe e, dessa forma, irá desempenhar os seus papéis, cumprir obri-
lhor sobre a Grécia, leia gações, a fim de manter a harmonia entre a hierarquia, necessária a uma cidade justa, livre das
as obras de Sócrates, desilusões, conveniências sociais e interesses individuais ou de uma minoria de aristocratas. No
Isócrates, Platão e Aris-
que se refere à educação proposta por Platão na República, Giles afirma que:
tóteles. Você encontra
ebooks desses pensa-
dores em sites como: Em “A República”, Platão analisa demoradamente o processo educativo. Este
<http://ateus.net/ visa, antes de tudo, à formação do guardião, que é quem deve exercer lideran-
ebooks/http://projeto- ça e garantir a subsistência do Estado na sua forma ideal. Platão é menos ex-
phronesis.wordpress. plícito no que diz respeito à formação dos guerreiros e dos artesãos. Porém, a
com/2009/07/10/e- escolha do candidato para cada tipo de educação será baseada no talento, ou
-bookssocrates/http:// seja, na capacidade natural. (GILES, 1987, p. 21).
searchworks.stanford.
edu/view/4535727> Veremos que a organização da sociedade grega fez florescer o progresso social e que a li-
berdade estimulou o desenvolvimento de todos os aspectos e de todas as formas de expressão
do valor individual. Assim, surgiu o conceito de educação liberal, considerada digna do homem
livre, que, segundo os historiadores, possibilita tirar proveito de sua liberdade ou fazer uso dela.
Ao aprofundar no estudo da história da educação na Grécia, você observará que esta tinha
a missão de aplicar a inteligência a todas as fases da vida, pois, no modelo de educação grega
deste período, o saber deixou de ser servo da teologia e a pesquisa não era privilégio especial do
sacerdócio. Verá que, nesse contexto, existia uma contraposição de ideias, discutidas por meio
de debates, de forma que provocasse um conflito. Nesses debates, os gregos defendiam ideais
filosóficos que, ao serem estabelecidos, foram cristalizados de forma a influenciar o mundo oci-
dental, até a atualidade. De acordo com Chatelet:

[...] é incontestável que a concepção grega do homem e do mundo se secula-


rizou ou laicizou progressivamente e que o universo dos deuses desapareceu
pouco a pouco face às ações dos homens... Subministra-se aí um pensamen-
to novo, que rejeita nos horizontes distantes do arcaísmo o excessivo interesse
pelos deuses e, em consequência, o exclusivo interesse pelos homens. Nesta
óptica, a regulamentação da continuidade já é significação de ruptura... Um
estilo novo de discurso nela se impõe; define-se uma ordem que será logo de-
signada como lógica; determina-se nele uma política original. A novidade é
evidente, não é mais a força dos hábitos ou do poder pseudo-real dos mante-
nedores da ordem que se impõe, mas a ordem da palavra controlada. (CHATE-
LET, 1973, p. 20).

20
História - História da Educação

Temos que a educação na Grécia dividiu-se entre período antigo (Idade Homérica) e novo Dica
período (educação espartana e ateniense). Já apresentamos a educação no período homérico. Para Sócrates, a aprendi-
Propomos, agora, falar um pouco da educação grega no novo período, ou seja, educação espar- zagem é fruto de uma
tana e ateniense. Vamos lá! semente germinada
Você precisa saber que, na educação grega no novo período, continuam as ideias educacio- e cultivada na alma.
nais, religiosas e morais, porém, nesse momento, desenvolveu-se um novo pensamento filosófi- E, assim, a educação
deve ocorrer por meio
co e novas práticas educativas surgiram. de diálogos críticos,
Vamos observar estas educações através dos relatos dos historiadores, separando em duas procurando demonstrar
sessões: educação em Esparta e educação em Atenas. a necessidade de unir
pensamento e vida, a
fim de que o ser huma-
no procurasse buscar
o autoconhecimento.
Você percebe esse mo-
delo de educação pre-
sente nas concepções
ensino-aprendizagem
adotadas atualmente?

◄ Figura 11: Educação na


Grécia.
Fonte: Disponível em:
< http://1.bp.blogspot.
com/-yV9aOxseiek/T5T-
zu0Iy7rI/AAAAAAAAADo/
PGf56ZM-xeE/s1600/
educ3.jpg>. Acesso em:
12/02/2013.

1.2.2.3 Educação em Esparta

Para conversarmos a respeito da educa- de obediência às leis para que esse indivíduo
Atividade
ção espartana, precisamos ressaltar que Espar- se tornasse um soldado ideal em bravura e
ta era uma importante cidade-estado situada verdadeiro cidadão. Pense no que você leu
na península do Peloponeso. Com a formação É sabido que, ao nascer, a criança espar- no parágrafo anterior
sobre a educação da
da cidade-estado (unidades políticas maio- tana era minuciosamente observada por um criança espartana. Qual
res), faz aparecer a evolução da nova estrutura grupo de anciãos. Caso ela não apresentasse a sua opinião sobre a
política, acompanhada por modificações nas uma boa saúde ou tivesse algum problema forma que os espar-
formas de governo, de sistema monárquico, físico, era lançada do cume do monte Taigeto. tanos pensavam sua
depois ditadura e, por fim, a democracia re- Se a criança fosse considerada saudável, ficaria educação na antigui-
dade? Nossa educação
publicana. Entretanto, Esparta aparece como com a mãe até os sete anos de idade e, a partir resguarda alguma
uma exceção a esse processo, pois o ideal ho- dessa idade, passava a ficar sob a tutela do go- semelhança com esse
mérico irá permanecer de maneira atuante e verno espartano, com a finalidade de receber modelo? Qual a sua
nitidamente militarista. todo o conhecimento necessário à sua futura opinião a esse respeito?
Veremos que o estado de guerra pratica- trajetória militar. Entre no fórum e dialo-
gue com seus colegas.
mente permanente impõe uma disciplina que Vamos refletir?
subordina o indivíduo ao Estado. Dessa forma, Como você pode perceber, o processo
a educação espartana consistia em dar a cada educativo em Esparta era controlado pelas
indivíduo a perfeição física, coragem e hábito autoridades políticas, afinal, para o ideal es-

21
UAB/Unimontes - 2º Período

partano, as crianças nascem e são criadas para oficial do Estado e o ensino destinava-se a for-
servir ao Estado. Aos sete anos de idade, o mar o soldado. Observe logo abaixo o comen-
menino era entregue aos cuidados da escola tário de Giles:

O menino recebe uma cama de palha, sem cobertor, e uma camisola curta.
Deve andar descalço. Para acostumar-se a passar fome em tempo de guerra, só
recebe um mínimo de comida. (GILES, 1987, p.13).

Então, como na era formar bons soldados para abastecer o


se pode observar, a exército da polis e, por este motivo, podemos
educação espartana inferir que a educação espartana tinha como
tinha critérios para objetivo principal formar soldados fortes, va-
entrada e continuida- lentes e capazes de lutar na guerra. Veremos,
de do processo edu- também, que o senso crítico e artístico não era
cativo, ou seja, entre valorizado pelos espartanos e que os jovens
os sete e os doze estudantes tinham que aprender a aceitar or-
anos, a criança rece- dens dos seus superiores e falar somente o ne-
bia os conhecimen- cessário.
tos fundamentais As meninas espartanas também tinham
sobre a organização direito à educação específica, porém, esta
e as tradições de seu acontecia de forma bem diferente da educa-
povo. Após os doze ção dos meninos. A educação das meninas
anos, iniciava-se um tinha como objetivo formar boas esposas e
▲ rigoroso treinamento militar em que o menino mães. As meninas também participavam de
Figura 12: Educação seria colocado em uma série de provações e atividades desportivas e torneios, mas com o
espartana. testes que deveriam aprimorar suas habilida- objetivo de tornarem-se mulheres saudáveis
Fonte: Disponível em: des de guerreiro. e fortes, para, no futuro, dar a luz a soldados
< http://1.bp.blogspot.
com/-jpD70CpjYrQ/
Aranha (1996) comenta que, como todos saudáveis e fortes.
Ttd5_MGUG_I/AAAAA- os gregos, os espartanos desenvolvem o estu- Você observou que o conteúdo da educa-
AAAAEg/nVUPxZ4TGb0/ do de música, canto e dança coletiva. Até os 12 ção espartana era dominantemente físico e mo-
s400/300-6.jpg>. Acesso
em: 12/02/2013.
anos, predominavam as atividades lúdicas e, ral? Observou que a educação moral valorizava
conforme o crescimento, aumentava-se o rigor a obediência, a aceitação dos castigos e o res-
da aprendizagem e a educação física se trans- peito aos mais velhos? Assim sendo, podemos
formava em verdadeiro treino militar. inferir que a educação desenvolvida em Esparta
Atividade Veja que o princípio da educação esparta- estava intimamente ligada ao caráter militarista.
Qual a sua opinião
sobre esta forma de
educar? Tem observado
alguma semelhança
Educação em Atenas
com a forma de edu-
cação atual? Entre no
fórum e dialogue com
Vamos observar através dos registros his- ensinamentos. Quando os jovens atingiam a
seus colegas de Curso a tóricos que a educação em Atenas contrasta- idade de 16 anos, completava-se a sua educa-
esse respeito dando sua va com a adotada em Esparta, pois a educa- ção básica.
opinião. ção ateniense tinha como objetivo principal Segundo os registros históricos, todo ci-
a formação de indivíduos completos, ou seja, dadão ateniense enviava o filho a três tipos de
preocupava-se com o bom preparo físico, psi- escola elementar: a palestra ou escola de ginás-
Atividade cológico e cultural. Os atenienses acreditavam tica, a escola de música e a escola de escrita.
Em nossa educação que a cidade-estado se tornaria mais forte se A música visava ao desenvolvimento do
contemporânea existe cada menino desenvolvesse individualmente senso estético do menino, e o sentido de partici-
essa preocupação? O suas aptidões. pação em concursos, festivas e declamações de
que você percebe da Veremos que o governo ateniense não poesia constituía a formação do caráter moral.
nossa educação atual controlava os alunos e as escolas. Os primei- Na escola de escrita, o menino aprendia
que se assemelha a
estas descrições? Qual a ros anos de vida da educação ateniense eram a escrever tanto a letra formal como a letra
sua opinião sobre essa completamente dedicados à diversão, ou seja, cursiva. Nesse período (século V a.C), segundo
forma de educar? Vá ao o menino entrava na escola aos 6 anos de ida- Guiles, houve evolução do alfabeto em Atenas
fórum e comente com de e ficava sob a responsabilidade de um pe- e isso foi de extrema importância para o pro-
seus colegas sobre o dagogo que era responsável pelos primeiros cesso educativo:
modelo educacional
espartano, apresentan-
do sua opinião. O aluno iniciava por copiar as letras individuais, para depois combiná-las
em sílabas e, enfim, decorava palavras inteiras. A escrita era feita em tábuas
de barro cozido com estilete. As tábuas eram cobertas com uma camada de

22
História - História da Educação

cera. Mais tarde, escrevia-se em folhas de papiro. O aluno traçava as formas Atividade
das letras, já preparadas pelo instrutor, até aprender a formá-las ele próprio.
(GILES, 1987, p. 15) Como você percebeu
essa preocupação da
educação feminina pe-
Quanto à educação das meninas de Atenas, verificamos que elas não frequentavam escolas, los espartanos? O que
ficavam aos cuidados da mãe até o casamento.  diria se essa forma de
Como você pode observar, por volta dos sete anos de idade, o menino ateniense era educação fosse implan-
orientado por um pedagogo e não enviado a campos de formação de guerreiro como em Es- tada hoje em nossos
sistemas educativos? Vá
parta. Na escola, os jovens estudavam música, artes plásticas, Filosofia, entre outras. As ativi-
ao fórum e apresente
dades físicas também faziam parte da vida escolar dos atenienses, pois estes consideravam de sua opinião, discutindo
grande importância a manutenção da saúde corporal e não havia a preocupação com a guer- sobre esse assunto com
ra. Embora os cidadãos atenienses vivessem sobre um regime democrático, a educação ainda suas colegas de Curso.
era um privilégio dos nobres.
Para saber mais
Assista ao filme “300”,
de Zack Snyder, que traz
uma cena que ilustra
muito bem o que vimos
sobre a educação espar-
tana: trata-se do treina-
mento do rei Leônidas
quando menino.
- Visite o fórum e
comente sobre o filme
com seus colegas.
◄ Figura 13: Educação
em Atenas. Atividade
Fonte: Disponível em:
<http://www.dm.ufscar.
Neste modelo você
br/hp/hp902/hp902001/ percebe alguma seme-
fhp902001d.jpg>. Acesso lhança com a educação
em: 13/02/2013. atual? Entre no fórum
e comente com seus
colegas sobre sua des-
coberta.

Atividade
Vamos pensar um
pouco? Este modelo
educacional tem algu-
ma semelhança com o
nosso modelo atual?
O que você percebeu?
Entre no fórum e discu-
ta com seus colegas as
suas percepções.

Atividade
Observou que a edu-
cação ateniense tinha
como objetivo trabalhar
as qualidades mentais,
Diante do que estudou até agora, você observou que, no que diz respeito à educação ate- físicas e morais do ser
niense, muitos aspectos eram considerados. Porém, há outro fato que consideramos de relevân- humano, guiando a
cia: é quanto aos responsáveis pela educação em Atenas. Vamos observar que os sofistas surgem juventude e fazendo-os
como os primeiros mestres, profissionais da educação. Veremos, ainda, que o processo educati- tornarem-se “fortes e
descentes”, úteis à socie-
vo ateniense estava associado às necessidades práticas, principalmente a eloquência perante a dade e bons cidadãos?
assembleia dos cidadãos. A retórica, portanto, era considerada fundamental na formação desse Pois é, o que você acha
cidadão, pois se acreditava que através da argumentação, da força de dicção poética, da orna- dessa preocupação dos
mentação e estilística e da persuasão, a opinião pública poderia ser manipulada. atenienses? Entre no
A educação ateniense tinha uma sistematização, como podemos verificar através dos rela- fórum e comente com
seus colegas de Curso.
tos apresentados no ícone Para saber mais a seguir.
Leia-o e descubra do que estamos falando.

23
UAB/Unimontes - 2º Período

BOX 1
Texto: Ministério Nacional da Educação e dos Assuntos Religiosos da República Hel-
lênica. Tradução (Inglês/Português) Phedra Panos.
A educação na antiga Atenas consistia em três (3) cursos básicos.
O Primeiro curso era chamado “Grammata” (as letras), e incluía a leitura, escrita e mate-
mática. O professor era chamado de “Grammatistes” (professor das letras). Quando as crianças
passavam a dominar a língua, era-lhes ensinados os grandes Poetas e suas obras.
O segundo curso consistia em Música e Canto. O professor era chamado de “Kitharistes”
(guitarrista). Através das letras, da música e poesia, também lhes era ensinado história, geo-
grafia, ética e todos os demais valores da vida.
O terceiro curso consistia em educação física. O professor era chamado de “Paidotribes”
(formador de criança). As lições tinham lugar à tarde na “Palaestra” (lugar de esportes)  e no
estádio. As crianças praticavam luta, salto, corrida e arremesso de disco e dardo.
Atividade Fonte: Disponível em: < http://www.sociedadehelenica.org.br/paginas_pt/netnews.cgi?cmd=mostrar&cod=12&max=
Qual a sua opinião 9999&tpl=modelo2>. Acesso em: 13/02/2013
sobre esse modelo edu-
cacional? Você acha que Vamos agora dialogar um pouco a respeito da educação Romana, e, para tal, precisamos
esse modelo poderia
melhorar nossa edu- considerar que, com a conquista romana, a cultura grega estende suas fronteiras, sem mudar seu
cação? Converse sobre caráter. Você vai observar que, na realidade, a educação romana vai ser apenas um aspecto da
isso com seus colegas educação da Grécia.
no fórum.

1.3 Educação romana


Começaremos esta discussão esclarecen- dades pastoris. Lembramos, ainda, que a so-
do para você que, de acordo com os historia- ciedade romana, nessa época, era formada
dores, a fundação de Roma resulta da mistura por patrícios (pobres proprietários de terras)
de três povos que foram habitar a região da e plebeus (comerciantes, artesãos e pequenos
península itálica: gregos, etruscos e italiotas. proprietários).
Esses povos desenvolveram na região uma Vamos ver um pouco da história deste
economia baseada na agricultura e nas ativi- país na antiguidade, segundo os historiadores?

1.3.1 Um pouco da história de Roma

Reportarmos à história de Roma requer rais decorativos e esculturas com influências


considerarmos que esta consistia em uma gregas. República Romana (509 a.C. a 27 a.C).
pequena cidade e se tornou um dos maiores Ressaltamos que, durante o período repu-
impérios da antiguidade. Dos romanos, herda- blicano, o senado Romano ganhou grande po-
mos uma série de características culturais. der político. Os senadores, de origem patrícia,
Veremos que o direito romano, até os dias cuidavam das finanças públicas, da adminis-
de hoje, está presente na cultura ocidental, tração e da política externa. As atividades exe-
assim como o latim, que deu origem à língua cutivas eram exercidas pelos cônsules e pelos
portuguesa, francesa, italiana e espanhola. tribunos da plebe. A criação dos tribunos da
Origens de Roma: explicação histórica e Mo- plebe está ligada às lutas dos plebeus por uma
narquia Romana (753 a.C a 509 a.C). maior participação política e melhores condi-
Como você certamente recorda dos estu- ções de vida. Em 367 a.C., foi aprovada a Lei Li-
dos que realizou no ensino médio, o sistema cínia, que garantia a participação dos plebeus
político romano era a monarquia já que a cida- no Consulado (dois cônsules eram eleitos: um
de era governada por um rei de origem patrí- patrício e um plebeu). Essa lei também acabou
cia. Lembra-se também que a religião, de ma- com a escravidão por dívidas (válida somente
neira geral, nesse período, era politeísta? Os para cidadãos romanos). Formação e Expansão
romanos adotavam deuses semelhantes aos do Império Romano.
dos gregos, porém com nomes diferentes. Nas Você precisa ter claro também que, no
artes, destacava-se a pintura de afrescos, mu- ano de 395, o imperador Teodósio resolveu

24
História - História da Educação

dividir o império em Império Romano do Oci- Para podermos discutir a respeito da edu-
dente, com capital em Roma, e Império Roma- cação em Roma, você precisa saber também
no do Oriente (Império Bizantino), com capital que os filósofos gregos, particularmente Só-
em Constantinopla. Em 476, chega ao fim o crates, Platão e Aristóteles tentaram conciliar
Império Romano do Ocidente, após a invasão o conflito existente entre a educação institu-
de diversos povos bárbaros, entre eles, visi- cional e a nova educação individualista, o que
godos, vândalos, burgúndios, suevos, saxões, resultou na formulação de um problema que
ostrogodos, hunos etc. Nesse contexto, pode- permanece até a educação atual, ou seja, as
mos afirmar que ocorria o fim da Antiguidade discussões de fins, métodos e conteúdo edu-
e início de uma nova época chamada de Ida- cacionais sofrem influência dessa época até o
de Média. presente, porém é preciso saber que a orga-
Agora, dedicaremos nossa atenção à re- nização educacional sugerida pelos filósofos
flexão acerca da educação romana propria- gregos não teve impacto imediato na educa-
mente dita. Vamos lá! Historiadores afirmam ção romana. Dessa forma, ponderamos que a
que, na antiga Roma, o pai de família era o tendência individualista na educação romana
primeiro educador e que esse modelo de edu- permaneceu até que fosse reprimida politica-
cação se caracteriza pela mentalidade prática mente pelo Império Romano e moralmente
dos romanos, enquanto na Grécia os sofistas pelo cristianismo. Você verá que o ideal roma- Atividade
foram os instrumentos para a introdução de no de educação era baseado na concepção de Como você vê esta
novas práticas educativas. direitos e deveres. Assim, Giles comenta: forma de seleção para
a educação? O que mu-
Todos os deveres de pai e de cidadão reclamavam uma educação definida, du- dou? A partir da leitura
rante os anos da meninice, a fim de se desenvolverem as aptidões ou virtudes do texto acima, entre no
adequadas. Mesmo nos últimos períodos, esta educação, apenas em pequena fórum e comente com
parte, era ministrada na escola. O lar é que ministrava uma educação definida, seus colegas apresen-
de caráter positivo e de grande valor. (GILES, 1987, p. 37). tando sua opinião a
esse respeito, fazendo
relação com o momen-
Esclarecemos a você que o processo edu- tante e o principal agente educativo. O proces- to atual.
cativo romano, assim como o de Esparta, tinha so educativo é a formação do caráter moral.
a finalidade de formar os filhos para servirem Assim, as escolas formais, no início da infân-
à Pátria. A aprendizagem consistia nas artes cia, tinham menor relevância, em comparação
mais necessárias para o Estado. Lembramos com o lar. A educação era responsabilidade
que, na sociedade romana, diferentemente da dos pais, que deviam dar disciplina severa, au-
espartana, a família é a instituição mais impor- toritária e moral. Thomas Giles revela que:

Completados os oito ou nove dias do nascimento, o filho é inspecionado para


ver se merece viver ou não. Sendo aprovado, a família festeja a ocasião com ce-
rimônia religiosa, dando-se nome ao filho. Só então a família assume a sagrada
tarefa de cuidar da criança, educando-a para o cumprimento da futura tarefa
de assumir os deveres de cidadão. (GILES, 1987, p.78).

◄ Figura 14: Educação


romana.
Fonte: Disponível em: <
http://cpantiguidade.files.
wordpress.com/2011/04/
imagem-1-valc3a9ria1.
jpg>. Acesso em:
16/02/2013.

25
UAB/Unimontes - 2º Período

A partir do ritual, a criança aprovada e piedoso a partir da observação dos mais ve-
aprende a referendar as divindades ancestrais, lhos. Assim, a força do exemplo era o instru-
a obedecer às leis e aos pais, ou seja, aprende mento crucial da educação romana.
a ser guerreira e cidadã. Quanto ao processo Para Manacorda, a transição do estado
educativo fundamental dos romanos, por tra- tribal à monarquia aconteceu em apenas 300
dição, o jovem aprendia a ser um homem bom anos:

Em Roma a educação moral, cívica e religiosa, aquela que chamamos de incul-


turação às tradições pátrias, tem uma história com características próprias, ao
passo que a instrução escolar no sentido técnico, especialmente das letras, é
quase totalmente grega. Com as palavras de Cícero podemos dizer que “As vir-
tudes (virtutes) têm sua origem nos romanos, a cultura (doctrinae) nos gregos.”
(MANACORDA, 2006, p. 73).

Segundo os historiadores, os ritos da ini- escolar helenista foi implantada no sistema es-
ciação começavam aos dezesseis anos, quan- colar romano da época. O ensino de literatura,
do o adolescente passava para a condição de da lógica e da oratória continuou e, nesse mo-
adulto, trocava de veste e confirmava o seu mento histórico, o menino era entregue aos
nome. Observe que era a partir desse momen- cuidados do pedagogo. É preciso que você
to que a educação do jovem era entregue a saiba que o pedagogo romano, nessa época,
Para saber mais parentes ou amigos, que ensinariam a arte tinha como objetivo servir de guardião, com-
Assista aos filmes: O guerreira e agrícola. O adolescente aprendia panheiro e orientador moral. Esse pedagogo
Império Romano - SBJ também a ginástica, o manejo de armas, a ler era escolhido com muito critério, sendo obser-
Produções, ou Roma e escrever e a história da pátria como sinal de vado principalmente o seu caráter moral.
Antiga – 3 filmes/ Vídeo identidade nacional. Voltando a falar da educação romana,
peia Britânica, ou A Veremos que o ensino literário limitava-se no que diz respeito ao método de ensino, ve-
Queda do Império Ro-
mano, ou Ben- Hur. à transmissão oral de hinos religiosos e cantos remos que, aos sete anos, o menino aprendia
Faça um debate no Fó- militares. O filho era moldado pelo pai para a escrever copiando as palavras ditadas pelo
rum com seus colegas formar uma sociedade de soldados e aristocra- mestre ou traçando as letras sobre as tábuas
sobre o cotidiano, a tas, pois o objetivo da educação romana era de cera. Na leitura, utilizava-se a tradução la-
política, a educação, a moral e prática, e não intelectual e literária. tina da Odisseia. Com doze anos de idade, o
cultura dos romanos.
Entretanto, veremos que a anexação da aluno vai para a escola gramatical, que se di-
Grécia, da Macedônia e de outras províncias vidia no estudo de língua e de literatura grega
transformou Roma em uma cidade bilíngue, e no estudo do latim e da literatura romana.
destacando a língua grega, que se tornou, Assim, veremos que a escola elementar roma-
nesse período, a segunda língua para os di- na foi substituída pelo modelo grego. O mes-
plomatas e aristocratas. Assim, você pode tre providenciava as instalações para as aulas,
perceber que, nesse contexto, as mudanças que normalmente eram barracas e tendas ao
em Roma são irreversíveis. Inicia-se o ideal ar livre, ao passo que no nível superior, as salas
pragmático utilitário de aceitação e adaptação eram espaçosas, com bancos e cátedra para o
dos estudos helenistas por parte de Roma. So- mestre.
mente na segunda metade do século II surge Também entendemos ser importante aqui
Atividade um curso de instrução formal que tem o ideal registrar que a Retórica latina adaptada do gre-
humanista, correspondente à Paideia. go ganha importância nesse período, estuda-
Qual a sua opinião so- Assim sendo, veremos que a organização va-se também Letras/Português, música, ma-
bre a separação entre a
educação dos meninos
sistemática do ensino em Roma desta época temática, geometria e astronomia. Entretanto,
e a educação das meni- se baseia no programa de estudos domina- somente os meninos estudavam na escola gra-
nas? Entre no fórum e dos pela gramática, filologia e retórica, e não matical, as meninas estudavam no lar.
comente sua resposta pela literatura, estética e filosofia. Veja que os Outro ponto que julgamos relevante para
com seus colegas. estudos romanos dividiam-se em três etapas: a você refletir é que o processo educativo roma-
primeira consistia na leitura, na escrita do gre- no caracterizava–se pela independência do
go e do latim; a segunda consistia no ensino Estado e a sua falta de controle. Entretanto, a
da gramática, filologia e literatura; e a terceira necessidade da formação de uma burocracia
etapa compreendia o nível superior, ou seja, fez com que o Estado romano se envolvesse
o estudo técnico da filosofia, da dialética e da gradativamente no processo educativo, fazen-
retórica. do com que as escolas assumissem a forma do
Porém, veremos, aqui, que o elemento sistema estatal.
comum nessas três etapas era a dimensão Você deve observar que a organização
prática (aplicabilidade à vida do que se ensina dos estudos e métodos de ensino utilizados
e se aprende). Podemos dizer que a estrutura em Roma provinha das escolas helenistas. Que

26
História - História da Educação

os romanos conseguiram assimilar o essencial ma em centro literário, sem qualquer preocu-


do modelo grego. Deve saber, também, que pação com a formação do aluno. Veremos que
esse modelo educacional romano foi transmi- a escola gramatical, na sua última fase, restrin-
tido aos períodos posteriores. Porém, ressal- gia o programa de estudos e o conteúdo.
ta-se que, com a transição do principado ao Veja, ainda, que, nesse período, na edu-
império romano, com a criação de um Estado cação romana, as escolas de retórica foram li-
Despótico, aumentou o controle imperial no mitadas, uma vez que não tinha mais abertura
sistema escolar. para o exercício da oratória política. O proces-
Veja, também, que, em Roma, os mestres so educativo voltou-se para a sala de aula, e
das escolas elementares eram contratados e não para a vida real. Com o declínio do Impé-
pagos com o dinheiro público. Nesse período, rio Romano, a educação reduziu-se ao apren-
foram criadas várias escolas de todos os níveis, dizado de memória do conteúdo dos com-
tornando o ensino quase universal. Com a crise pêndios (material neutro), que estão sujeitos
do império, Roma é saqueada pelos visigodos ao controle por parte da burocracia imperial.
e depois pelos vândalos. Essa situação erradia Esses compêndios tinham conteúdos das artes
para o processo educativo, levando à mudan- liberais que se dividiam no trivium (gramáti-
ças significativas. Nesse momento, veremos ca, retórica, filosofia) e quadrivium (aritmética,
que a escola elementar, em Roma, se transfor- geometria, astronomia e música).

1.3.2 A educação romana por obra de escravos e libertos

Através de uma viagem na história da edu- vam ou não o latim, ensinaram a própria língua
cação romana, veremos que o escravo era pe- e transmitiram sua própria cultura aos romanos.
dagogo e mestre na própria família, ou seja, era Observe que, em Roma, com o desenvol-
o escravo liberto que ensinava na sua própria vimento da sociedade patriarcal, a educação se
escola. Assim como na Grécia, esses escravos tornou um ofício exercido inicialmente por es-
pedagogos foram, na sua maioria, estrangeiros cravos dentro da família, e, posteriormente, por
“bárbaros”, isto é, falavam mal o grego e, por- libertos, na escola. Podemos dizer que essas são
tanto, ensinavam sua própria cultura. Também as origens da profissão de educador em Roma.
em Roma, esses escravos foram gregos que fala- Segundo Monroe:

O que mais caracteriza esta decadência é o fato desta educação ser limitada
à classe mais elevada. A educação já não se destinava a ser a educação práti-
ca de todo o povo, mas o ornamento de uma sociedade oca, superficial e ge-
ralmente corrupta; já não é um estádio de desenvolvimento possível para um
povo inteiro, ou para indivíduos de dada categoria, mas a simples obtenção ou
mesmo mera insígnia de distinção de uma classe favorecida. Quando o antigo
vigor político e as oportunidades para as atividades políticas desapareceram, o
governo municipal se tornou mera máquina para coletar impostos, quando o
exército se encheu de bárbaros, a classe superior, agora mais numerosa do que
nunca, voltou-se para o único traço remanescente da primitiva Roma imperial - Para saber mais
a cultura. (MONROE, 1976, p. 23).
Para melhor compreen-
são, veja o vídeo sobre
Observe que, na educação romana, pre- vam papéis secundários, pois a família era o
a educação e a Roma
valeceu um sistema modificado que incluía centro do processo educacional. Vimos tam- antiga. Disponível em:
elementos gregos e romanos. A cultura e lite- bém que existiram, em Roma, inicialmente, <http://www.youtube.
ratura grega chegaram às classes superiores, as escolas elementares, denominadas ludi, as com/watch?v=M1AL-
nas quais se organizou um sistema de escolas quais ficavam responsáveis por ensinar os ru- 8nGFDRk&feature=re-
lated>.
de gramática e de retórica, fundaram-se uni- dimentos da leitura, da escrita e do cálculo.
versidades e bibliotecas. Mas, com o tempo, Entre meados do século III e I, a cultura grega
essa educação ficou formal e irreal e perdeu foi assimilada pelos romanos e, com isto, sur-
sua importância social. Surge, então, uma giu a escola grega de gramática, a qual mar-
nova educação ministrada pela Igreja. cou o período introdutório das escolas gre-
Temos, ainda, que na educação romana, gas. Nela, lecionavam docentes gregos, que
que era essencialmente prática, as escolas e ensinavam noções básicas da língua e da lite-
os professores, de uma forma geral, ocupa- ratura (MONROE, 1983).

27
UAB/Unimontes - 2º Período

1.3.3 Educação medieval

Dedicaremos, aqui, um espaço para apresentar alguns elementos históricos que nos possibi-
litem discutir acerca da educação na Idade Média. E, para iniciarmos essas reflexões, buscaremos
apoio nas palavras de Manacorda, ao tratar da educação na Idade Média, em que afirma:

No início do século VI, verificam-se fenômenos políticos significativos. De um


lado, alguns reinos romano-bárbaros já se implantavam firmemente em ter-
ritórios do Império do Ocidente, onde a única autoridade política autentica-
mente romana é a Igreja e especialmente o papado; de outro lado, o Império
do oriente conserva ainda a sua unidade e a sua força, o que lhe permitirá
tentar a reconquista do Ocidente. Estes três centros de poder, tão diferentes
entre si, se enfrentarão numa complexa luta ideológica e militar. (MANACOR-
DA, 2006, p. 111).

Diante do exposto, vale esclarecermos a você que, no decorrer da história, devido a muitos
acontecimentos políticos, encontramos a decadência da cultura clássica, que compreendemos
fazer parte do mundo grego.

1.3.3.1 A Europa medieval

No movimento da história, em meio às Vale, ainda, lembrar a você que a estru-


transformações culturais abordadas, precisa- tura política que prevaleceu na Idade Média
mos levar em conta que, no campo da instru- são as relações de vassalagem e suserania. O
ção, podemos observar o desaparecimento da suserano era quem dava um lote de terra ao
escola clássica e, paralelamente, a formação da vassalo, sendo que este último deveria prestar
escola cristã. fidelidade e ajuda ao seu suserano.

Figura 15: Educação na ►


Idade Média.
Fonte: Disponível em:
<http://2.bp.blogspot.
com/-kwpClVjPhmE/
Tfp_8qX6sMI/
AAAAAAAAAHA/
y34D9Kv9sow/s1600/
Professor_na_Idade_
Media%255B12%255D.
jpg>. Acesso em:
17/02/2013.

28
História - História da Educação

Em meio à política social vivenciada na ção e a religião grega e romana não ofereciam
Idade Média, enfatizamos a você que a im- essa formação. Com o cristianismo, a educação
portância e a influência exercida pela Igreja adquire um caráter novo. O treino físico e re-
na educação e nos princípios morais, políticos tórico foi substituído por uma disciplina rígida
e jurídicos da sociedade medieval são funda- de conduta, o elemento intelectual é trocado
mentais. Assim, a educação na Idade Média é pela instrução da doutrina da Igreja e da práti-
marcada pela disciplina e pela influência da re- ca ao culto.
ligião. O Cristianismo tornou-se a religião ofi- Veja que a educação, nesse período,
cial do Império Romano. tornou-se um regime rígido em que todo o
Outro ponto relevante nessa discussão excesso de interesses naturais deveria ser su-
é que os romanos decadentes e os bárbaros primido, ou seja, tudo que fosse ligado a este
godos e vândalos tinham necessidade de uma mundo era um mal, como também o desen-
preparação de conduta e espírito, só assim volvimento da personalidade e o gosto pelo
poderiam enfrentar a substituição de novos estético ou pelo intelectual eram considerados
ideais de vida e de conduta. Afinal, a educa- pecados. Assim, Manacorda relata:

Do Século VI até ao XIII as preocupações intelectuais foram praticamente elimi-


nadas da educação. E quando readmitidas mais tarde não escaparam à concep-
ção disciplinar de educação. Todos os tipos de educação que se desenvolve-
ram durante o longo período da Idade Média, antes do Renascimento clássico
do século XV, não passaram de modalidades deste conceito disciplinar. Por in-
termédio de um treino rígido, tanto físico como intelectual e moral, o indivíduo
devia preparar-se para um futuro desligado do presente pelo tempo e pelo ca-
ráter. Sob o domínio da Igreja e do monarquismo, este estado futuro tornou-se
a ‘outra vida’. Durante todo este período predominou assim uma nova concep-
ção de educação em completo antagonismo com a liberal e individualista dos
gregos. (MANACORDA, 2006, p.111).

Veremos que o novo ideal educacional um esforço desses padres em mostrar que a li-
era baseado na natureza moral do homem. teratura grega estava cheia de princípios e ver-
Para o cristianismo, essa natureza moral era dades, de preconceitos e exemplos instrutivos
comum a todos, passível de aplicação univer- para uma vida superior.
sal. O problema fundamental da educação Entre os mencionados padres, destaca-
e da vida moral encontra uma nova base de vam-se Gregório, Agostinho e Tertuliano, que
vida. Essa concepção fez com que os cristãos acreditavam que um cristão não poderia ser
primitivos e medievais tornassem indiferentes mestre de uma cultura pagã. Aqui é impor-
a educação e cultura grega romana. Agora, as tante enfatizarmos para você que Agostinho
preocupações são morais e religiosas e não foi o mais influente dos pensadores cristãos
mais intelectuais estéticas e físicas. na elaboração de um projeto que resolvesse o
Como se sabe, através dos registros his- conflito entre a fé cristã e a cultura clássica. Por
tóricos, a religião dos gregos e romanos se meio de seu pensamento, contribuiu decisi-
enquadrava nos conceitos políticos. O proble- vamente para a construção de um modelo de
ma ético estava então associado à filosofia. A educação que, desde então, delineou a cultura
ética e a moralidade tornam-se conexão com educacional do mundo ocidental.
a religião, passando a exercer uma influência A respeito do contexto em que acontece
sobre as massas. Porém, os padres gregos que a síntese do pensamento cristão com base na
tinham sido filósofos, antes da sua conversão, filosofia dos gregos, Cambi afirma que:
incentivavam o estudo da literatura. Houve Glossário
Estoicismo: (do grego
Após o grande conflito entre paganismo e cristianismo, que alinha de cada Στωικισμός) é uma esco-
lado os intelectuais mais ilustres e mais decididos (como Símaco e Ambrósio) e la de filosofia helenística
que conclui com a vitória política e ideológica do cristianismo; após a completa fundada em Atenas por
simbiose operada entre cristianismo e pensamento greco-helenístico; após o Zenão de Cítio, no início
amplo desenvolvimento realizado na religião cristã por obra dos Padres, orien- do século III a.C.
tais e ocidentais, estava maduro o tempo de dar vida a uma síntese completa Estóicos: ensinavam que
do pensamento cristão que exprimisse seus fundamentos teóricos na trilha do as emoções destrutivas
pensamento grego pusesse em evidência seus elementos éticos, antropológi- resultam de erros de
cos, políticos e históricos dotados de nítida autonomia e diferença presentes julgamento, e que um
na visão cristã do mundo. A obra de Santo Agostinho coloca-se neste plano, sábio, ou pessoa com
reativando no cristianismo os princípios da filosofia platônica (o inatismo da “perfeição moral e
verdade; o dualismo alma/corpo; a ascese ética e mística típica, sobretudo do intelectual”, não sofreria
neoplatonismo), mas salvaguardando também as características originais da dessas emoções.
teologia (a Trindade, por exemplo) e da moral (o senso do pecado em particu-
lar, ou então a ascese rigorosa) cristãs. O seu pensamento foi realmente uma

29
UAB/Unimontes - 2º Período

síntese orgânica da Patrística e um ponto de continuidade - talvez o máximo -


entre cultura antiga, pensamento grego e cristianismo, de modo a ocupar, nes-
te último, o papel de guia constante do agudo pensamento cristão (seja na Ida-
de Média seja na Modernidade), em razão dos temas de que trata, da audácia
com que os trata e do método - inspirado em Platão e no seu idealismo - com
que os enfrenta. (CAMBI, 1999, p. 135).

Mediante o exposto na citação acima, podemos ressaltar que, por intermédio de Agostinho,
a filosofia cristã é influenciada pelos estóicos por meio da atribuição de uma conotação religiosa
que a filosofia grega adaptou aos dogmas cristãos. Nesse período, Agostinho, como um gran-
de discípulo do platonismo, organiza a concepção de homem, que se torna reconhecida como a
doutrina da igreja católica por muito tempo.
Veja você que a história é marcada pela utilização dos clássicos como instrumentos, para a
compreensão da fé. Agostinho entendia que o homem é concebido como uma alma que habita
Figura 16: Conversão de o corpo. E que, sendo criado por Deus à sua imagem e semelhança, deve seguir o princípio ético
santo Agostinho. e fazer o bem.
Fonte: Disponível em: Agostinho defendia que, quando Platão dizia que conhecer a verdade referia-se a voltar para
< http://www.agusti-
nosrecoletos.com/files/
si mesmo, autoconhecer-se, Platão estava se referindo a Deus, que habita no interior do homem, na
images//FICHERO8382. alma, na essência. Portanto, conhecer a verdade implica encontrar a luz que habita dentro de si, sen-
jpg?KeepThis=true&TB_ do a verdade o encontro com Deus, que é a luz que ilumina tudo. E o homem era um ser miserável,
iframe=true>. Acesso em:
17/02/2013.
que só podia ser salvo pela graça divina, feito à semelhança de Deus, mas com possibilidades de
afastar-se dele.

Diante das concepções de homem, segundo Agostinho, é possível compreender que a educa-
ção em sua visão é confiada a Deus. Sendo assim, a cátedra pertence a ele, que está nos céus, o que
lhe permite ensinar a verdade sobre a terra. Nesse caso, assim como Platão, Agostinho entendia
30
História - História da Educação

a educação como “iluminação interior” ou como “voltar-se para dentro”, em que as palavras têm a Atividade
finalidade de suscitar recordações sobre as coisas as quais simbolizam. Será que os professo-
Como você pode observar, esse modelo de educação não é desconhecido em nosso meio. res das nossas escolas
Podemos percebê-lo implícito nas tendências pedagógicas que propõem a educação por meio priorizam essa metodo-
do verbalismo do professor, a fim de promover a contemplação como passo fundamental para o logia até hoje? Dê sua
processo educacional, que, por sua vez, distancia a teoria da prática, priorizando a contemplação. opinião entrando no
fórum e discutindo com
Por meio das ideias de Agostinho, a patrística transforma completamente a pedagogia, seus colegas.
cujo processo educacional se inicia a partir da aflição em buscar respostas por meio da con-
templação, da disciplina cristã, enfim, dos princípios religiosos. A pedagogia proposta por
Agostinho é apresentada ao escrever a obra O Mestre (De Magistro), em que afirma que é de
competência do professor apresentar, estimular e despertar os discípulos por meio de pala- Glossário
vras. Assim, Agostinho apresenta um diálogo conforme a tradição de Platão, entre ele e seu Patrística: entende-se
filho Adeodato. como o período do pen-
Veja que Agostinho pediu a Deodato para dar suas impressões sobre a sua proposta pe- samento cristão que se
dagógica. E seu filho Deodato lhe responde: seguiu à época do novo
testamento e chega até
ao começo da Escolás-
Eu na verdade, pela admoestação de suas palavras, aprendi que estas não ser-
tica, isto é, os séculos
vem senão para estimular o homem a aprender, e que já grande coisa é se,
II – VIII da era vulgar.
através das palavras transparecesse um pouquinho do pensamento de quem
Este período da cultura
fala. Se depois foi dita a verdade, isto no-lo pode ensinar somente aquele que,
cristã é designado com
falando por fora, avisa que habita dentro de nós; aquele que por sua graça, hei
o nome de Patrística, e
de amar tanto mais ardorosamente quanto mais eu progredir no conhecimen-
representa o pensamen-
to. (AGOSTINHO, 1980, p. 323-324).
to dos Padres da Igreja,
que são os construtores
Observe que, nesse contexto histórico da Idade Média, é visível a ideia de que não se deve da Teologia Católica,
desprezar a razão humana, que deve ser utilizada para compreender a verdade. No entanto, den- guias e mestres da
tro do incipiente da teoria da educação cristã, é refletida a tensão entre fé e razão; entre aceita- doutrina cristã.
ção e rejeição da cultura clássica.
Fonte: Disponível em:
Observe, também, que o fato de o cristianismo levar o indivíduo a descobrir o sentido que <http://www.recanto-
deve orientar a sua existência configura-se como uma visão pedagógica, um processo educa- dasletras.com.br/cro-
tivo. Esse processo é explicado por Agostinho no livro As Confissões – que trata da história do nicas/2868411. Acesso
crescimento e desenvolvimento do homem. Assim: em: 15/02/2013.

Conhecimento e fé constituem a meta do processo educativo. A base do pro-


cesso é inabalável convicção da realidade de Deus e da divindade de Cristo. O
ponto de partida é o desejo de conhecer Deus. O elo que leva do conhecimen-
to deste mundo mutável, instável e imperfeito ao conhecimento de Deus é a
pessoa de Cristo. (AGOSTINHO, 1980, p. 222).
Dica
Veja você que Agostinho defendia que o ponto fundamental no processo educativo é o fato A Patrística é contem-
de o verdadeiro conhecimento ser inato, colocado na alma de Deus. Dessa maneira, o saber não porânea do último
é transmitido pelo mestre ao aluno, já que a verdade é uma experiência da pessoa que está den- período do pensamen-
to grego, o período
tro de cada um. Na procura de ativar as ideias inatas, o aluno recebe assistência especial de Deus, religioso, com o qual
independentemente da iluminação divina. Trata-se de perceber o reflexo das ideias eternas nas tem fecundo, entretanto
coisas materiais deste mundo. dele diferenciando-
Como já mencionamos, Agostinho marca a história da educação com o seu pensamento se profundamente,
ao apresentar um plano pedagógico que direciona o modelo de educação difundido pelo oci- sobretudo como o
teísmo se diferencia do
dente cristão. panteísmo. E também
Nas palavras de Cambi: contemporâneo do
império romano, com o
Também no plano pedagógico, Santo Agostinho foi um pouco “o” mestre do qual também polemiza,
Ocidente cristão, já que investigou os aspectos fundamentais de uma peda- e que terminará por se
gogia de estatuto religioso e lhe deu soluções realmente exemplares: pela cristianizar depois de
espessura cultural, pelo vigor teórico e também pelo significado espiritual. Constantino.
(CAMBI, 1999, p. 135).
Fonte: Disponível em:
<http://www.recanto-
dasletras.com.br/cro-
1.3.3.2 Escolas medievalistas nicas/2868411. Acesso
em: 15/02/2013.

Convidamos você a continuar a reflexão sobre a educação medievalista com vistas a revi-
sitar a história da educação na Idade Média e isto requer que não nos esqueçamos de ponderar
que a vida da Igreja cristã primitiva era em si mesma uma escola de enorme importância, pois

31
UAB/Unimontes - 2º Período

Glossário durante aproximadamente mil anos a educação se caracterizaria pela ausência de elementos
Catecumenatos: Ou intelectuais com priorização dos elementos cristãos e morais. E, na sequência, salientamos que,
formação dos catecú- naquele contexto histórico, a Igreja estava empenhada na reforma moral do mundo, para a edu-
menos, tem por finali- cação moral dos seus próprios membros.
dade permitir a estes Veja que as escolas eram verdadeiros catecumenatos, tinham o aspecto mais primitivo da
últimos, em resposta à vida da Igreja Cristã, que se aproximava de uma instrução formal. Era, na verdade, a preparação
iniciativa divina e em
união com uma comu- dos conversos, jovens e idosos; destinava-se à instrução na doutrina e na prática de vida cristã.
nidade eclesial, que As escolas catequéticas usavam o mesmo método das escolas catecumenatos, porém colo-
levem a conversão e a fé cavam a filosofia, a retórica e o saber grego à disposição da Igreja Cristã. As escolas episcopais e
à maturidade. Trata-se as escolas das catedrais são organizadas pelos bispos para preparar o clero. Os sacerdotes foram
de uma “formação à submetidos às regras ou cânone, possibilitando o controle do trabalho dessas escolas.
vida cristã integral (...)
pela qual os discípulos
são unidos a Cristo,
seu mestre. Por isso, os
catecúmenos devem
ser iniciados (...) nos
mistérios da salvação e
na prática de uma vida
evangélica, e introdu-
zidos, mediante ritos
sagrados celebrados em
épocas sucessivas, na
vida da fé, da liturgia e
da caridade do povo de
Deus”.

Fonte: Disponível em:


< http://catecismo-az.
tripod.com/conteudo/a-
z/c/catecumeno.html>.
Acesso em 15/02/2013.

Figura 17: Escolas ►


catequéticas.
Fonte: Disponível em:
< http://2.bp.blogspot.
com/-10QImxPUh3I/
UBgytrW3v
_I/
AAAAAAAACgI/38tFqljU
FcQ/s1600/Sa%CC%83o+
Bernardo+de+
Claraval.jpeg>. Acesso Na sequência, lembramos também que, com a destruição da cultura romana pelos bárbaros,
em: 18/02/2013.
a educação ficou nas mãos da Igreja; estas escolas, juntamente com os mosteiros, eram as únicas
existentes no Ocidente. Com relação à educação como disciplina moral, o monaquismo significa a
organização de homens que fizeram votos de vida religiosa e que vivem de acordo com as regras
de conduta.
As escolas episcopais destinavam-se à preparação do clero secular; as escolas nos mos-
teiros e a dos frades mendicantes foram denominadas congregações de ensino, justamente
por desenvolverem o trabalho educativo.
Diante do exposto, esclarecemos-lhe que o monaquismo foi um sistema de educação es-
colar destinado à formação do caráter moral e religioso. As escolas nos mosteiros ensinavam as
artes de leitura. Esse ensino era considerado pobre e destinava-se aos meninos que seguiriam
a vida monástica. Os mosteiros foram considerados os grandes depositários da literatura e do
saber, principalmente da literatura dos antigos. Os monges produziram materiais, destacando-se
as discussões das sete artes liberais (trivium - gramática, retórica, filosofia - e quadrivium - aritmé-
tica, geometria, astronomia e música), que significava o conjunto do saber.
Após termos refletido acerca da história da educação medievalista, voltaremos nossas con-
versas para o modelo de educação denominado de escolástica.

32
História - História da Educação

1.3.3.3 A escolástica Dica


Podemos dizer que, no
geral, a cultura medieval
Antes de refletirmos acerca do significado da escolástica, é necessário que você se lembre foi fortemente influen-
ciada pela religião. Na
de que, no curso da história, posteriormente à invasão dos bárbaros e à queda do império roma- arquitetura, destacou-se
no, mais precisamente nos séculos V, VI e VII, pensadores cristãos resgataram os pensamentos a construção de caste-
gregos por meio do estudo das ciências da natureza, da lógica, da matemática, da literatura, da los, igrejas e catedrais.
Porém, no século XI,
retórica, da astronomia e da música, a serviço da fé e da razão. E, ainda, para pensarmos na es- dentro do contexto
colástica, precisamos esclarecer-lhe que a educação como disciplina intelectual foi denominada histórico da expansão
escolástica e que, para Manacorda (2006), o nome Escolástica surge por ser a filosofia ensinada árabe, os muçulmanos
conquistaram a cidade
nas escolas presididas por um eclesiástico ou, em latim, scholasticus. sagrada de Jerusalém.
Diante dessa situação, o
papa Urbano II convo-
cou a Primeira Cruzada
(1096), com o objetivo
de expulsar os “infiéis”
(árabes) da Terra Santa.
Essas batalhas, entre
católicos e muçulma-
nos, duraram cerca de
dois séculos, deixando
milhares de mortos e
um grande rastro de
destruição. Ao mesmo
tempo em que eram
guerras marcadas por
diferenças religiosas,
também possuíam um
forte caráter econômi-
co. Muitos cavaleiros
cruzados, ao retornarem
para a Europa, saquea-
vam cidades árabes e
vendiam produtos nas
estradas, nas chamadas
feiras e rotas de comér-
cio. De certa forma, as
Cruzadas contribuíram
para o Renascimento
urbano e comercial a
partir do século XIII.
Após as Cruzadas, o
Mar Mediterrâneo foi
aberto para os contatos
comerciais. A Idade
Média compreende um
período extenso, de mil
anos, entre a queda do
Império Romano (476)
e a tomada de Cons-
tantinopla pelos turcos
em (1473). O período
que sucede à queda
do Império Romano,
chamado de Alta Idade
Média, é caracterizado
pela desagregação da
antiga ordem e pela
divisão em diversos rei-
nos bárbaros, formados
após diversas invasões.

◄ Figura 18: A escolástica.


Fonte: Disponível em:<
http://www.gloriadaida-
demedia.blogspot.com/>.
Acesso em: 15/02/2013.
Podemos dizer que a escolástica predominou do século XI ao século XV. E, segundo o nosso
entendimento acerca do pensamento do mencionado autor, a escolástica é uma cultura nova,
totalmente medieval e cristã. Você precisa saber que essa cultura herdou a língua latina das tradi-
ções clássicas e tem como característica na sua elaboração a assunção como patrimônio cultural
e os textos da tradição hebraica do Velho e do Novo Testamento.

33
UAB/Unimontes - 2º Período

Veja você que a finalidade do pensamento escolástico foi a atitude de obediência, aceita-
ção de todas as doutrinas, declarações da Igreja. A partir das verdades formais dogmaticamen-
te estabelecidas, hostilizava todo estado de dúvida, investigação considerada pecaminosa. O
objetivo dessa educação era apoiar a fé na razão, ou seja, revigorar a vida religiosa e a Igreja
pelo desenvolvimento intelectual. A fé era considerada superior à razão; as doutrinas da Igreja
formuladas anteriormente deveriam ser analisadas, definidas e sistematizadas. Para tanto, te-
mos nas palavras de Monroe que:

A educação escolástica estava incluída neste objetivo mais amplo. A educação


escolástica visava desenvolver o poder de formular as crenças num sistema
lógico e de expor e defender tais definições de crenças contra todos os argu-
mentos que pudessem ser levantados contra elas. Ao mesmo tempo, empe-
nhou-se em evitar o desenvolvimento de uma atitude crítica de espírito pe-
rante os princípios fundamentais já estabelecidos pela autoridade. (MONROE,
1976, p.99)

Podemos aqui dizer que, na realidade, a escolástica deveria sistematizar o conhecimento


dando-lhe formas científicas, porém o pensamento escolástico acreditava que o conhecimento
era primeiramente de caráter teológico e filosófico e que a forma científica valorizava a lógica de-
dutiva Assim, essa educação conseguiu elaborar vários sistemas de conhecimento abrangendo a
área de seu interesse. Observe o que Monroe nos fala a esse respeito:

A escolástica constitui a completa redução do pensamento religioso à forma


lógica. Como esta organização decorreu inteiramente das obras de Aristóteles,
a escolástica é definida, frequentemente, como a união das crenças cristãs com
a lógica aristotélica. Todos os ramos do conhecimento eram subordinados à
religião. Todo conhecimento legítimo devia ser sancionado pela Igreja, devia
apresentar a possibilidade de ser situado no sistema de pensamento escolás-
tico e reduzir-se à forma lógica adequada. Isto era a tarefa dos escolásticos.
(MONROE, 1976, p. 85).

Você observou que diferentemente da analisado, conforme a lógica aristotélica.


Figura 19: Aristóteles.
organização das escolas catequéticas, de per- Entre os grandes escolásticos, destaca-se
Fonte: Disponível em:
<http://www.vidasluso- guntas e respostas, na escolástica prevalece a Alexandre de Hales, considerado o primeiro
fonas.pt/aristo03.jpg>. forma lógica sistematizada? Pois é. A matéria dos escolásticos a ter conhecimento da filo-
Acesso em: 18/02/2013. era dividida em partes, capítulos, subcapítu- sofia de Aristóteles; podemos lembrar, ainda,
▼ los, sendo que cada tópico era rigorosamente de Alberto Magno e Tomás de Aquino, este
último considerado o mai importante dos es-
colásticos, cuja obra representa a culminân-
cia da escolástica. No bojo das relações apre-
sentadas, assim como Agostinho retoma o
pensamento de Platão, Tomás de Aquino re-
toma o pensamento de Aristóteles, mais uma
vez a serviço do pensamento católico.
Nesse contexto, você verá que Aquino re-
toma as ideias de Aristóteles no que diz respei-
to ao ser e ao saber, dando ênfase à importân-
cia da realidade sensorial, por meio da reflexão
sobre princípios básicos que utilizou para ela-
borar argumentos que provassem a existência
de Deus. Na obra De Magistro, Aquino apre-
senta seu pensamento, que se opõe às doutri-
nas predominantes, ao defender a existência
de um só intelecto para todos os homens. As-
sim concebe que o ensino é superior à aquisi-
ção do conhecimento por si próprio, conside-
rando que o ensinar é, ao mesmo tempo, de
caráter ativo e contemplativo.
Veja que ao contrário de Agostinho,
Aquino marca a história da educação quando
valoriza a tradição helênica, ao valorizar a ra-
zão e as mãos, e, consequentemente, valori-

34
História - História da Educação

za o campo do fazer instrumental; com o seu educação, Silveira Rodrigues (2006) afirma
pensamento, cria uma multiplicidade de pos- que podemos considerar que a manifesta-
sibilidades sociais, nas relações estabelecidas ção do pensamento desses autores, ao res-
entre as culturas vivenciadas no processo de gatar o pensamento grego, dá continuidade
evolução da história da humanidade, dan- a contraposições de ideias que marcam uma
do valor ao trabalho nas relações do homem diversidade nas concepções de educação
com a natureza. predominantes no decorrer da história. Nas
A respeito desse marco da história da palavras da autora:

Utilizando o método do diálogo, anunciando sua tese, dando voz ao adversá-


rio, contestando e posteriormente apontando soluções, Aquino demonstra sua
visão de mundo, sua vontade inovadora sobre o mesmo, tendo como instru-
mento a educação que, para ele, é feita de forma teórica e prática. Assim, aqui
é valorizado tanto o trabalho manual como parte do exercício do pensamento.
Vale aqui esclarecer a marcante oposição entre o pensamento da patrística e
o de Aquino, que na idade média dão continuidade à oposição estabelecida
na Grécia clássica, entre as ideias essencialistas socrático-platônico e a existen-
cialista epicurista-aristotélica. O primeiro direciona ao entendimento de que o
fenômeno da aprendizagem não depende da atividade do homem, mas sim,
da contemplação em busca do autoconhecimento como o encontro com sua
essência, por meio da reflexão. E o segundo, em oposição à patrística, defende
a ideia de que a aprendizagem não é fruto só da contemplação, mas sim do
caráter ativo em consonância com o contemplativo, por intermédio dos órgãos
do sentido. Onde a aprendizagem não é gratuita, vinda da alma. Mas sim, fruto
da experiência do homem no meio em que vive. Diante dessa visão da apren-
dizagem, conclui-se que o ensino não acontece somente por meio da fala, mas
também por intermédio da ação. (SILVEIRA RODRIGUES, 2006, p.48).

Veja que, nesse contexto, a educação pas-


sa a ser concebida como uma atividade que tor-
na aquilo que é potencial em atual, que valoriza
a atividade prática ao valorizar o trabalho ma-
nual como parte do exercício do pensamento. ◄ Figura 20: Tomás de
Torna-se evidente o pensamento de To- Aquino.
más de Aquino no movimento escolástico à Fonte: Disponível em:
retomada do pensamento de Aristóteles, ao <http://www.passeiweb.
enfatizar a importância da realidade sensorial com/saiba_mais/
biografias/t/imagens/
que fundamenta futuramente as pedagogias tomas_de_aquino.jpg>.
ativistas, fundamentadas em concepções que Acesso em: 18/02/2013.
resgatam o ensino-aprendizagem por meio das
relações teoria e prática, de caráter humanista,
que configuraram a educação brasileira desde
a década de 30 e que continuam presentes nas
salas de aula das escolas brasileiras até a atuali-
dade.
Diante dessas reflexões acerca da história
da educação na Idade Média, é possível com-
preender que, por mais que esse período da
história signifique uma estagnação cultural ou
um retrocesso à efervescência de ideias que
nasciam na Grécia, pode-se considerar que, no
que se refere aos modelos educacionais gregos,
estes foram recuperados por intermédio de
Aquino e Agostinho, de forma que fosse possí-
vel permanecerem presentes na sociedade oci-
dental da Idade Moderna até a atualidade, por
meio da fundamentação das diversas teorias de
ensino-aprendizagem que encontramos pre-
dominando nas escolas atualmente e sobre as
quais você vai estudar na disciplina de Didática,
ainda neste Curso.

35
UAB/Unimontes - 2º Período

Referências
ARANHA, Maria Lucia de Arruda. História da educação e da pedagogia: geral e Brasil. 3 ed. São
Paulo: Moderna, 1990.

_______. Filosofia da Educação. São Paulo: Moderna, 1996.

AGOSTINHO, Santo. Confissões; De Magistro. In: Os pensadores, São Paulo: Abril cultural, 1980.

CAMBI F. História da Pedagogia. São Paulo: Unesp, 1999.

CHATELET, F. História da Filosofia, Ideias e Doutrinas. Vol. 7-3 Rio de Janeiro: Zahar, 1973.

GILES. T. R. História da Educação. São Paulo: EPU, 1987.

MANACORDA, M. A. História da Educação: da antiguidade aos nossos dias. 12 ed. São Paulo:
Cortez, 2006.

MARROU, H. I., História da Educação na Antiguidade. São Paulo: Editora Herder, 1966.

MONROE, P. História da Educação. Trad. Idel Becker. São Paulo: Nacional, 1976.

_______. História da educação. Tradução: Idel Becker. São Paulo: Companhia editora nacional,
1983.

PLATÃO. As LEIS, incluindo Epinomis. São Paulo: Edipro, 1999.

SILVEIRA RODRIGUES R. Teoria Crítica da Didática: contraposições epistemológicas possibilida-


des políticas. Tese de Doutorado. São Paulo: UNICAMP, 2006.

36
História - História da Educação

Unidade 2
Educação: do renascimento ao
surgimento dos sistemas escolares

2.1 Introdução
Nesta unidade, trataremos da educa- a Contrarreforma como direção à elaboração
ção no período da Idade Moderna, buscando da base do pensamento pedagógico renas-
contextualizar o momento do Renascimento centista.
como final da Idade Média, buscando enfa- Preparado para iniciar a nossa viagem?
tizar a influência dos acontecimentos desse Então, vamos lá...
momento na sociedade e na construção do Através de uma análise dos registros his-
processo histórico vivenciado na atualidade. tóricos, você verá que o otimismo renascen-
Assim sendo, este estudo tem como objetivo tista foi paralisado pelas lutas religiosas, e as
principal conhecer o processo histórico que instituições eclesiásticas e estatais começa-
marca a história da educação na modernidade, ram a se assustar. Verá que a liberdade dos
por meio do entendimento das transforma- educadores foi cortada e, no mundo católi-
ções políticas, econômicas, sociais e artísticas co, teve início uma profunda decadência das
desse período que influenciaram nos contor- universidades. Verá também que os efeitos
nos que delineiam a educação ocidental. da Reforma na educação se fizeram sentir a
Nesta unidade, abordaremos os últimos longo prazo e que um dos mais importantes
séculos da Idade Média, quando a cultura efeitos foi a extensão do ensino primário.
europeia recebeu grande impulso, que cul- É preciso que você saiba que, com a Con-
minou com o pré-Renascimento. Veremos trarreforma, os países católicos ganharam
que, nesse período, a educação retomou os novas instituições de educação: os colégios.
antigos ideais clássicos, que defendiam a Nesse período, foi criado um modelo insti-
conjunção harmoniosa do homem com a na- tucional destinado aos filhos das classes pri-
tureza. Veremos, também, que os pensado- vilegiadas, sendo desenvolvidos métodos de
res da época eram, em sua maior parte, mes- grande refinamento psicológico. Veja que o
tres e percorriam a Europa difundindo suas ideal da educação renascentista tinha sido o
ideias, porém é preciso que você saiba que de formar o homem capaz de dominar todos
esse primeiro período renascentista durou os campos do conhecimento, desde a arte
poucos anos, sendo encerrado pelo início da até a ciência. Tarefa considerada impossível.
Reforma. Veremos que o desenvolvimento das
Ao final deste estudo, pretendemos que técnicas, adiantando-se muitas vezes ao das
você seja capaz de: compreender a história ciências puras, impôs a especialização dos
da educação marcada pelas principais trans- saberes, num mundo em que a arquitetura, a
formações ocorridas no período renascen- arte da guerra, a navegação e as finanças fi-
tista e suas contribuições na educação oci- cavam cada vez mais em mãos de um grupo
dental; compreender o Renascimento como reduzido de especialistas.
caminho para construção do pensamento hu- Vamos nos aprofundar um pouco mais
manista e, ainda, compreender a Reforma e nessa discussão?

37
UAB/Unimontes - 2º Período

2.2 A educação a caminho da


modernidade
Continuando esta sequência histórica, en- Oriente para o Ocidente. Com as viagens de
contraremos uma vivência de diversos confli- descobrimento e a colonização das novas ter-
tos, e, junto com eles, veremos o início de uma ras, prepara um contato bastante estreito en-
nova sociedade de artesãos e mercadores, que tre diferentes áreas do mundo, entre etnias e
viviam nas cidades organizadas em comunas, culturas, entre modelos antropológicos dife-
determinando, assim, o nascimento do mundo rentes (como ocorre com os “selvagens” reco-
moderno e dando início a uma nova literatura, nhecidos ora como indivíduos inferiores em
que tende a reproduzir conteúdos e formas estado pré-civil ora como herdeiros diretos
em latim, introduzindo novos conteúdos e do “homem natural”).
formas, expressando os interesses das classes Este autor destaca que, como revolução
emergentes. econômica, acaba com o modelo feudal, li-
Ressaltamos que os interesses educacio- gado a um sistema econômico fechado, ba-
nais tornam-se nacionais, ampliando a con- seado na agricultura, para ativar, por sua vez,
cepção de homem por meio da apreensão de uma economia de intercâmbio, baseada na
valores relacionados ao respeito ao ser hu- mercadoria e no dinheiro, na capitalização,
mano em si, de forma a transcender tempos no investimento, na produtividade: modelo
e povos, formando um caráter cosmopolita, que implica uma racionalização dos recursos
humanista, íntegro e orador, capaz de conci- (financeiros e humanos) e um cálculo do lucro
liar o pensar e o viver, o falar e o agir, levando como regra do crescimento econômico. Nasce
em conta os fatores apontados por Aristóteles, o sistema capitalista, e nasce independente de
que direcionam as disposições naturais ligadas princípios éticos, de justiça e de solidariedade,
às normas técnicas, à instrução e à prática. para caracterizar-se, ao contrário, pelo puro
De acordo com Cambi (1999), no fim dos cálculo econômico e pela exploração de todo
anos quatrocentos, quando a Europa se laiciza recurso (natural, humano, técnico).
economicamente com a retomada do comér- Como revolução política, a Modernidade
cio, e politicamente, com o nascimento dos gira em torno do nascimento do Estado mo-
Estados nacionais e sua política de controle derno, que é um Estado centralizado, contro-
sobre toda a sociedade e também ideologi- lado pelo soberano em todas as suas funções,
camente, separando o mundano do religioso atento à própria prosperidade econômica,
e afirmando sua autonomia e centralidade na organizado segundo critérios racionais de efi-
própria vida do homem; quando a Europa – ciência; um Estado-nação e um Estado-patri-
que, convém lembrar, é uma construção pro- mônio nas mãos do soberano. Assim, muda
movida pela fé cristã e pela ideia do Império também a concepção do poder: embora anco-
– se abre para o mundo: com as descobertas rada numa visão social da figura do rei, o exer-
geográficas, com seus comércios, seus inten- cício efetivo do poder se distribui capilarmen-
tos de colonização, política e religiosa; quando te pela sociedade, através de um sistema de
a própria cultura sofre uma dupla e profunda controle, de instituições (da escola ao cárcere,
transformação, radica-se no homem e nas suas da burocracia ao exército, aos intelectuais) de-
cidades, isto é, liga-se à experiência da vida legadas à elaboração do consenso e à pene-
individual e social, independentemente de tração de uma lógica estatal (centralização das
qualquer hipoteca religiosa, como faz o hu- decisões e do controle) na sociedade em seu
manismo, sobretudo italiano, redescobrindo o conjunto.
valor autônomo do pensamento e da arte, ou Como revolução social, promove a forma-
então se dirige para um novo âmbito do saber ção e a afirmação de uma nova classe: a bur-
– científico-técnico. guesia, que nasce nas cidades e promove o
Cambi (1999) continua seu relato dizen- novo processo econômico (capitalista), assim
do que a ruptura da Modernidade apresenta- como delineia uma nova concepção do mun-
se, portanto, como uma revolução em muitos do (laica e racionalista) e novas relações de
âmbitos: geográfico, econômico, político, poder (opondo-se à também aristocracia feu-
social, ideológico, cultural e pedagógico; de dal e aliando-se à coroa, depois entrando em
fato, também no âmbito pedagógico. Como conflito aberto também com esta e com seu
revolução geográfica, desloca o eixo da his- modelo de Estado-patrimonial e de exercício
tória do Mediterrâneo para o Atlântico, do absoluto do poder).

38
História - História da Educação

so). Segundo, de racionalização, produzindo Dica


uma revolução profunda nos saberes que se O Renascimento clássico
legitimam e se organizam através de um livre dos séculos XV e XVI foi
uso da razão, a qual segue apenas seus víncu- marcado por um movimen-
to intelectual, estético e
los internos (sejam eles lógicos ou científicos, social. Período também
isto é, analíticos ou experimentais), opondo-se conhecido como o fim da
a toda forma de preconceito. Será o Iluminismo Idade Média e nascimento
da modernidade, ou seja,
que caracterizará de modo orgânico e explícito a maneira moderna de ver
este novo modelo de mentalidade e de cultura, o mundo. Os valores domi-
com sua fé no sapere aude e na raison como cri- nantes na Idade Média são
substituídos por uma men-
tique; com sua oposição à mentira e seu vínculo talidade moderna, como o
estreitíssimo com a ciência e o seu iter lógico e Humanismo. No Humanis-
experimental. (CAMBI, 1999, p. 196-198) mo, desloca-se o eixo de
um mundo centrado em
Você verá que a Reforma e a Contrarre- Deus (teocêntrico) para a
forma trouxeram importantes implicações construção de outra ma-
educacionais. Nesse período histórico, houve neira de ver o mundo, ou
seja, um mundo centrado
certo embate de visões educacionais entre no homem (antropocên-

educadores humanistas e os religiosos. Den- trico), denominada cultura
Figura 21: O homem vitruviano. tro desse contexto, como resposta às ações humanista. O racionalismo
Fonte: Disponível em: < http://4.bp.blogspot.com/- retira do centro a visão
-U1hjcWRvQ1w/TfpFQlkfMdI/AAAAAAAAACo/lS56Hi-
da Reforma, foi fundada a Companhia de do mundo focado na fé
QfOY8/s320/renascimento.jpg>. Acesso em: 18/02/2013. Jesus e, com ela, várias escolas jesuíticas, as para explicá-lo por meio
quais obtiveram êxito. Um dos principais mo- da razão, denominada
cultura racionalista. O
Do ponto de vista ideológico-cultural, a tivos disto foi a boa educação ministrada nas individualismo contrapõe o
modernidade opera uma dupla transforma- referidas instituições. aspecto coletivo e fraternal
No século XVIII, que foi marcado pelo de cristandade, centran-
ção: primeiro, de laicização, emancipando a do-o na valorização do
mentalidade – sobretudo das classes altas da pensamento iluminista, fez-se urgente todo individualismo associado
sociedade – da visão religiosa do mundo e da um conjunto de alterações com relação ao ao espírito de competição
ensino. Defendeu-se a educação leiga, livre e e concorrência comercial.
vida humana e ligando o homem à história e à Esse período se configura
direção do seu processo (a liberdade, o progres- universal, pois o Iluminismo: como transição do Feuda-
lismo para o Capitalismo,
[...] fundava-se numa fé suprema na razão do indivíduo, na justiça do Estado, as artes, o pensamento e
na tolerância das crenças religiosas, na liberdade da ação política, e nos direi- o conhecimento científico
passaram por um processo
tos do homem. O período primeiro foi dominado por uma crença profunda
de muitas mudanças, que
nas prerrogativas do indivíduo, no seu direito individual de julgar e determinar foi denominado Renasci-
suas questões sem sofrer a influência nem das crenças e superstições da Igreja, mento Cultural. O termo
nem das tradições da sociedade (MONROE, 1983, p. 250). Renascimento deve ser
entendido como a retoma-
da (renascer) do estudo de
textos da Cultura Clássica.

2.3 A educação no período do


Com o Renascimento,
surge um novo conceito
de homem. O indivíduo
passou a ter a sua própria

renascimento história e a sociedade


também. A relação entre
o indivíduo e a realidade
na qual ele está inserido
se entrelaça: o passado, o
O Renascimento, período que sucedeu a “Idade das Trevas”, foi caracterizado pela revaloriza- presente e o futuro trans-
ção dos ideais e traços culturais greco-romanos, dando origem a uma nova concepção societária. formam-se em criações
humanas. O tempo e o
Esta, por sua vez, “influenciou a educação: tornou-a mais prática, incluindo a cultura do corpo e espaço se humanizam e
procurando substituir processos mecânicos por métodos mais agradáveis” (GADOTTI, 2003, p. 61). o infinito transforma-se
Veremos que a época do Renascimento herdou as tradições antigas e cristãs da pedagogia numa realidade social. O
Renascimento representou
da essência (que teve início com Platão e com o cristianismo) e as completou com a concepção a redescoberta do conheci-
de modelo do homem, baseado na razão. O Renascimento se caracterizou pelo humanismo, pelo mento e do estudo fora do
racionalismo e pelo individualismo, ainda que sua manifestação tenha ocorrido principalmente âmbito daquelas matérias
permitidas pela Igreja. Os
nas artes, na literatura e na filosofia. renascentistas preocupa-
vam-se principalmente
O Renascimento (...) foi uma época em que a pedagogia da essência, conti- com as questões ligadas
nuando a procurar inspiração nas tradições pedagógicas antigas e cristãs, criou à vida humana, por isso o
novas concepções de protótipos e de normas que devem regular os homens e movimento é identificado
a educação. (SUCHODOLSKI, 2000. p. 28). com o Humanismo.

39
UAB/Unimontes - 2º Período

Veja que o Humanismo representou tendência semelhante no campo da ciência, em que


podemos perceber a influência que pessoas letradas, pertencentes ao clero e à burguesia, exer-
Dica
ceram na sociedade por meio da rejeição dos valores e a maneira de ser da Idade Média, de for-
O Renascimento ma a conduzir modificações nos métodos de ensino, desenvolvendo a análise e a crítica na inves-
foi principalmente
tigação científica. Nesse período, o homem passou a perceber a sua importância como um ser
um movimento de
individualismo. Os racional, deixando de ser dominado pelos senhores feudais. Ele trocou os valores dominantes da
traços característicos do Idade Média por novos valores, baseados no homem como o centro de um mundo compreendi-
período são as tenta- do de uma maneira moderna.
tivas para derrubar, na Dessa forma, no referido movimento, percebemos que os humanistas se esforçavam para
igreja, no estado, nas
modificar o padrão de estudos tradicionais das universidades medievais, controladas pela Igreja,
organizações industriais
e sociais, na vida inte- voltado para as três carreiras tradicionais: direito, medicina e teologia, com o intuito de incluir os
lectual e educacional, estudos humanos como a poesia, a filosofia, a história, a matemática e a eloquência.
as diversas formas de Na sequência dessa reflexão, precisamos considerar a contextualização histórica que ora
autoridade dominantes apresentamos para você. É necessário lembrarmos que, com o rápido fortalecimento comercial
durante a Idade Média.
e urbano que atingiu grande parte da Europa Ocidental entre os séculos XIV e XVI, retomaram-se
(MONROE, 1976, p.171).
valores da cultura greco-romana. Vivencia-se, então, um movimento que se tornou considerado
como um importante período de transição envolvendo as estruturas feudo-capitalistas.
Vale esclarecer, ainda, que, nesse contexto abordado, mais precisamente no campo da
produção cultural, esse movimento atingiu a elite das cidades prósperas de forma a provocar
a mudança na qualidade da produção intelectual e aumentar a produção cultural. Assim, po-
demos ponderar que o desenvolvimento quantitativo foi favorecido pela imprensa e pela ação
de mecenas.
Na sequência desse nosso diálogo acerca da história com ênfase na educação, é pertinente
salientarmos que a escola submetia-se à monopolização do poder por parte do clero, o que se
estendia às universidades e, no decorrer da história, os mestres seriam livres autores e seriam,
ainda, protagonistas da nova escola que estava sendo criada, destinada à classe burguesa.
No momento em questão, precisamos esclarecer para você, ainda, que três classes sociais se
estabeleceram: o clero, a nobreza e a burguesia. Dessa forma, os leigos, que eram pagos, tornam-
se responsáveis pela educação da burguesia. Nesse contexto, inicia-se o processo de venalidade
da ciência, em contradição com a gratuidade sugerida pelo clero.
De acordo com Nunes, podemos afirmar que:

No início da idade moderna, a educação passou por modificações profundas,


tanto na sua concepção como nos meios usados para a consecução dos seus
objetivos. Principalmente, ela começou a visar de modo claro e definido à for-
mação integral do homem, o seu desenvolvimento intelectual, moral e físico,
em contraste com a educação medieval que se esmerava na formação religio-
sa e intelectual e dava às escolas superiores um alcance prático, um objetivo
profissionalizante, uma vez que as faculdades de teologia preparavam mestres,
assessores de papa e bispos, eclesiásticos aptos para o devido exercício do
ministério sacro. As faculdades de direito adestravam os advogados e os con-
selheiros de reis, príncipes, papas e bispos, tanto para o exercício da rendosa
carreira da advocacia como para as funções políticas e diplomáticas que reque-
riam o conhecimento do direito canônico, enquanto as faculdades de medicina
formavam os médicos que atendiam, a bom preço, aos doentes que os procu-
ravam. (NUNES, 1980, p. 41).

Diante do exposto, entendemos que, nesse momento histórico, não é de grande interesse
mais formar o monge. Busca-se formar o profissional do mundo, por intermédio da preparação
escolástica, em função da necessidade de uma profissão que necessita do conhecimento da gra-
mática, dos cálculos, que passam a ser ensinados com objetivo comercial, para atender à escola
construída para atender às necessidades de uma sociedade mercantil, quase totalmente livre da
igreja e do império. O que, por sua vez, provoca a venalidade da ciência, fazendo emergir uma
revolução em torno dos métodos de ensino.
Conforme esta discussão que apresentamos a você, podemos encontrar, nas palavras de
Cambi (1999), assertivas que confirmam nosso posicionamento no que diz respeito à afirmação
de que se mudam os métodos de ensino por meio da mudança das teorias pedagógicas que ti-
nham anteriormente como critério de verdade do conhecimento as sagradas escrituras, cujos
métodos de ensino recebem uma conotação empírica, de acordo com as exigências de um mo-
delo educacional com base na instrução. Nas palavras do autor:

40
História - História da Educação

Com a modernidade nasce a pedagogia como ciência: como saber da forma-


ção humana que tende a controlar racionalmente as complexas (e inúmeras)
variáveis que ativam esse processo. Mas nasce também uma pedagogia social
que se reconhece como parte orgânica do processo da sociedade em seu con-
junto, na qual ela desempenha uma função insubstituível e cada vez mais cen-
tral: formar o homem-cidadão e formar o produtor, chegando depois, pouco
a pouco, até o dirigente. Como também nasce uma pedagogia antropológico
-utópica que tende a desafiar a existente e a colocar tal desafio como o ver-
dadeiro sentido do pensar e fazer pedagogia (como faz Comenius, como faz
Rousseau) Na modernidade, a pedagogia-educação se renova, delineando-se
como saber e como práxis, para responder de forma nova àquela passagem
do mundo tradicional para o mundo moderno, sobre a qual insistiram, ainda
recentemente, historiadores e teóricos da pedagogia, como Clausse e Sucho-
dolski. E a renovação se configurou como uma revolução: como um impulso
e um salto em relação ao passado e como o nascimento de uma nova ordem.
(CAMBI, 1999, p. 199)

Ressaltamos que, no decorrer da história, a educação que excluía a aprendizagem para o


trabalho ficava destinada ao clérigo, no que diz respeito às sagradas escrituras. Podemos, ainda,
recorrer a Nunes:

[...] os humanistas do Renascimento conceberam de tal maneira a educação do


homem que as suas doutrinas educacionais deram origem na prática ao giná-
sio moderno, às escolas terminais de nível médio e superior que, sem perten-
cerem à categoria universitária, proporcionavam aos jovens excelente forma-
ção intelectual com o tempo. Esse tipo de escola criada pelos humanistas veio
a constituir a moderna escola média ou curso secundário, enquanto no plano
universitário se projetavam as faculdades das artes como autênticas escolas su-
periores de filosofia, ciências e letras, a verdadeira sede do saber teórico. (NU-
NES, 1980, p. 42).

2.4 A educação, a reforma e a


contrarreforma
No decorrer da esteira da história aqui estudada, não podemos deixar de considerar que,
no movimento do Renascimento, encontramos também grupos que questionavam as doutri-
nas até então vigentes, com o intuito de tomar o poder de monopólio do poder político e eco-
nômico da igreja católica. Entre os acontecimentos a desfavor das políticas do clero, podemos
citar a Reforma Protestante.
Veja que a Reforma Protestante foi um movimento religioso, econômico e político de oposição
à Igreja Católica, que resultou na fragmentação da unidade cristã e na origem do protestantismo.
Esse período é marcado por uma nova forma de pensar, pela ascensão da classe burguesa, desenvol-
vimento nas relações de produção de capital e trabalho e pela formação dos Estados Absolutistas. O
homem é posto como centro das atenções e o pensamento científico começa a questionar algumas
afirmações vigentes até então, entre elas, as religiosas. Dessa forma, você pode considerar que exis-
tia, naquele contexto, uma vertente do pensamento humanista que levava a uma maior reflexão do
papel da igreja e das verdades que ela pregava.
Em meio a esse contexto, encontramos a Europa envolta em uma efervescência contestadora,
o que acaba chegando às bases da Igreja Romana. Tais contestações deram origem à Reforma Pro-
testante, que entendemos ter sido iniciada por Martinho Lutero, monge agostiniano alemão (1483
– 1546), cujo pensamento sofreu profunda influência de São Paulo de Tarso. Segundo Manacorda:

Foi Lutero, especialmente, quem deu impulso prático e força política à progra-
mação de um novo sistema escolar, voltado também à instrução de meninos
destinados não à continuação dos estudos, mas ao trabalho. “Mesmo se não
existisse nem alma nem inferno” – escrevia ele –, deveríamos ter escolas para
as coisas deste mundo. (MANACORDA, 1989, p. 198)

Em 1517, Martinho Lutero encontrou terreno fértil à sua pregação nas regiões em que era
interessante aos nobres se apoderarem das terras da Igreja Católica. Aliando-se aos príncipes,

41
UAB/Unimontes - 2º Período

conseguiu principalmente o apoio do Imperador do Sacro Império Romano-Germânico, Carlos V.


As doutrinas luteranas causaram grande agitação, principalmente sua ideia subversiva de confis-
car os bens da Igreja:

(...) as classes destinadas à produção são consideradas não mais como os princi-
pais destinatários da catequese cristã, mas também como participantes ativos
no processo comum da instrução; Lutero se põe o problema da relação instru-
ção – trabalho. Se a necessidade de ler as Sagradas Escrituras e a capacidade de
cada um interpretar a palavra divina nelas contida está na base desta nova exi-
gência da cultura popular, é, porém o desenvolvimento das capacidades pro-
dutivas e a participação das massas na vida política que exigem este processo.
(MANACORDA, 1989, p. 198).

Você verá que a Reforma teve implicações relevantes na educação, pois Martinho Lutero in-
sistia em suas pregações que o ensino deveria ser ministrado a todos, nobre, plebeu, rico e po-
bre. Defendeu que a educação não devia por mais tempo ser pela religião e pela igreja, defendia
ainda a criação de uma rede de ensino público para oferecer instrução ao povo, argumentava
que o dinheiro investido em educação seria menor que o gasto com armas e traria mais benefí-
cios. Dessa forma, Monroe refere-se ao pensamento ora mencionado expressando entender que
nele havia a defesa das escolas como necessárias para

(...) a segurança dos negócios deste mundo, como a história dos gregos e ro-
manos claramente nos ensina. O mundo tem necessidade de homens e mu-
lheres educados, para que os homens possam governar o país acertadamente
e para que as mulheres possam criar convenientemente seus filhos, dirigir os
seus criados e os negócios domésticos. (MONROE, 1976, p. 179).

Enfim, podemos considerar que o contexto da Reforma promoveu uma necessidade de di-
fusão da instrução com o intuito de que a cada um fosse possível ler e interpretar as sagradas es-
crituras, independentemente da interpretação do clero. Dessa forma, entendemos que a exigên-
cia de instrução e de democracia foi um aspecto que contribuiu com a disseminação dos ideais
de modernidade, que, por sua vez, relacionam-se com um projeto educativo que não é diferente
das ideias de Platão nas Leis, seja diretamente relacionado com o Estado, que tem suas obriga-
ções, seja com a família e com a escola, local onde se inicia e se deslancha o processo educativo.
Assim, Lutero, segundo Nunes:

Prescreve as normas fundamentais para a organização da escola, para ele a reli-


gião é a base da educação, os pais são responsáveis pela educação dos filhos, a
frequência à escola é obrigatória, ao Estado compete a organização do ensino,
os métodos didáticos devem adaptar-se à natureza da criança, e é necessário
haver preparação meticulosa dos professores. (NUNES, 1980, p. 101)

Dessa forma, entendemos que Lutero contribuiu com a inovação do modelo de educação,
no decorrer da história, em direção à institucionalização da escola pública de acordo com os inte-
resses do novo Estado burguês. Martinho Lutero defendeu que fossem abertas bibliotecas, e que
os pais fossem forçados a instruir seus filhos. Nas palavras de Manacorda:

É a Lutero que precisamos nos referir, embora o seu claro posicionamento so-
bre a escola seja posterior aos seus colaboradores. Foi ele especialmente que
deu o impulso prático e a força política à programação de um novo sistema
escolar, voltado também à instrução de meninos destinados à não continua-
ção dos estudos, mas do trabalho. “Mesmo que não existisse nem alma nem
inferno – escrevia ele - “deveríamos ter escolas para as coisas deste mundo.”
(MANACORDA, 1989, p. 196).

Diante dos movimentos protestantes, a igreja católica reage com a realização do Concílio de
Trento (1545 a 1563), a fim de defender o poder de monopolização da educação e da ideologia.
Dessa forma, criam ordens religiosas com o intuito de se defender e realizar um trabalho de cate-
quese nos países a serem conquistados.
Nesse período da história, você verá que se desencadeou um amplo movimento de mora-
lização do clero e de reorganização das estruturas administrativas da igreja católica, que ficou
conhecido como Reforma Católica ou Contrarreforma.
Nesse contexto, é criada e aprovada a ordem dos jesuítas, que, por sua vez, criou o catecis-
mo, catequese e os seminários, com vistas a reconquistar os fiéis. Além disso, incentivou prega-

42
História - História da Educação

dores apostólicos romanos como responsáveis pela catequese no novo mundo. Dessa forma, a
Companhia de Jesus, segundo Manacorda:

À parte os seminários para a formação do clero, o exemplo mais bem sucedi- Atividade
do de novas escolas para leigos recomendado pelo Concilio de Trento foi o Pensando neste método
das escolas dos jesuítas, campeões máximos na luta da Igreja Católica contra o de ensino adotado
protestantismo. Além da formação do próprio quadro, eles se dedicaram prin- pelos jesuítas, você faz
cipalmente à formação das classes dirigentes da sociedade. (MANACORDA, alguma relação com a
1989, p. 202). forma de ensinar de al-
gum dos seus professo-
Nesse contexto, surge a Companhia de Jesus, de Inácio de Loyola, subordinada diretamente res? Qual a sua opinião
ao papa e que levava sua pregação ao continente americano e até a Ásia. O cerne da Contrarre- sobre essa metodologia
forma em relação à educação foi a criação da Companhia de Jesus, que influenciou decisivamen- de ensino? Vá ao fórum
e apresente sua opinião,
te no ensino, por intermédio da criação da Ratio Studiorum, ou Sistema de Estudo, do qual, não interagindo com os seus
podemos deixar de ressaltar, originou o modelo de educação brasileira. A respeito da Ratio Stu- colegas de curso.
diorum, Manacorda afirma que ela apareceu no fim do século (1586-99) e, nas palavras do autor:

Regulamentou rigorosamente todo o sistema escolástico jesuítico: a organi-


zação em classes, os horários, os programas e a disciplina. Eram previstos seis
anos de studia inferiora, divididos em cinco cursos (três de gramática, um de
humanidades ou poesia, um de retórica); um triênio de studia superiora de
filosofia (lógica, física, ética), um ano de metafísica, matemática superior, psi-
cologia e fisiologia. Após uma repetitio generalis e um período de prática do
magistério, passava-se ao estudo da teologia que durava quatro anos (MANA-
CORDA, 1989, p. 202).

Após realizamos essas reflexões acerca da Reforma e da Contrarreforma, é interessante per-


cebermos que existiu, nesse contexto, uma proposta de democratização, uma disciplina rígida
a serviço de uma formação da elite burguesa condizente com a necessidade de manter a hege-
monia cultural e política. Sendo assim, não se tinha grande interesse na educação das massas e
mantinha as instituições em perfeita organização administrativa. A ordem era dividida em pro-
víncias administrativas, no setor educativo, presididas por um provincial subordinado ao geral e
chefe do reitor. Subordinados ao reitor estavam os prefeitos de estudos, os inspetores de ensino
e os professores. O prefeito de estudos e o reitor fiscalizavam a classe e preparavam todos os
mestres para assegurar o resultado favorável em todas as escolas. Os estudantes também po-
diam exercer a fiscalização uns sobre os outros, para isso eram divididos em grupos, sob a dire-
ção de monitores e aos pares. O ensino era ministrado de preferência por professores que tinham
estudado no colégio inferior e superior da ordem. Enfim, segundo Monroe:

O método de ensino jesuítico caracterizava-se pelas revisões frequentes da


matéria. Cada dia começava com a revisão do dia anterior; cada semana que
terminava com uma revisão. Cada ano, com uma revisão do trabalho anual, e,
finalmente, o estudante destinado à ordem via o curso inteiro, ensinando-o.
(MONROE, 1976, p.186).

Você verá na unidade seguinte que o modelo educacional construído pelos jesuítas deu
origem ao modelo de educação brasileiro, mesmo após a expulsão desses educadores. Aguarde
que na próxima unidade vamos conversar um pouco mais sobre isso.
Na sequência deste estudo, continuaremos nossas conversas procurando apontar mais um
contexto que, na esteira do tempo, contribui com o desenho da história da educação por meio
de pensadores iluministas, cujas ideias e posicionamentos políticos são considerados marcos na
história da educação.

43
UAB/Unimontes - 2º Período

BOX 2
Entre os pensadores mencionados nesse texto, podemos destacar Galileu (1564-1642),
que fundamentava o conhecimento na experiência, construindo o método científico com
base em observações, formulação de hipóteses, experimentação e, finalmente, formação das
leis de acordo com resultados. Nesse contexto, a partir do empirismo, Galileu dá uma visão
ativa à ciência, por meio de fundamentos em explicações quantitativas, de causa e efeito e
mecanicistas. Posteriormente, Francis Bacon (1561-1626) formaliza esse método, caracteri-
zado pela defesa de uma ciência baseada no método experimental, que formula leis cientí-
ficas, sendo que estas consistem em generalizações baseadas em observações realizadas no
decorrer das constantes repetições dos fenômenos, construindo uma lógica indutiva. Dando
sequência ao pensamento de Galileu e Bacon, mas, ao mesmo tempo, marcando a contra-
dição aos referidos pensamentos nesse momento histórico filosófico, como já mencionado.
Descartes (1596-1650) é considerado um dos pais da filosofia moderna e do racionalismo,
por causa dos preceitos essenciais de sua lógica que envolve a condução do pensamento de
maneira organizada, interferindo decisivamente na maneira de pensar, nos valores, enfim, na
cultura ocidental. Sendo assim, Descartes afirma uma visão de mundo racionalista, resgatan-
do o pensamento socrático-platônico, e rompendo efetivamente com os ideais medievais do
conhecimento pela fé, resgatando ainda o sujeito como conhecedor, e o método racionalis-
ta como verdadeiro para a construção do conhecimento. Configura-se, assim, a premissa da
dúvida metódica, que diz respeito à necessidade de se conhecer a verdade para colocar em
dúvida todos os conhecimentos por meio do questionamento. Enfim, duvida-se de todos os
conhecimentos medievais, buscando promover análises criteriosas, a fim de verificar o grau
de verdade de todos os conhecimentos, com a finalidade de encontrar uma verdade primeira
da qual não se pode duvidar. Diante do exposto, afirma-se a existência humana na capacida-
de da elaboração do pensamento.

Fonte: Silveira Rodrigues, 2006.

2.5 O iluminismo e a
consolidação da educação
moderna
Ao considerarmos que já discutimos acerca do Renascimento e do Humanismo, agora nos-
sas reflexões irão em direção à História da Educação em um momento em que foi vivenciado o
denominado Iluminismo, momento este que consiste em um movimento cultural e intelectual,
surgido na Europa do século XVII, fundamentado no uso e na exaltação da razão.
Nesse contexto, era abordado o conhecimento, a liberdade e a felicidade como os objetivos
do homem. Você precisa compreender que a visão iluminista defendia a possibilidade de cada
ser humano ter consciência de si mesmo e de seus erros e acertos e de ser dono do seu destino.
Nesse contexto, critica-se a tradição e a autoridade daqueles que tomaram para si a tarefa de
guiar o pensamento e contra o dogmatismo. É notória, ainda, a luta contra as verdades dogmáti-
cas, na esfera política, em oposição ao absolutismo monárquico.
Você precisa ter claro que o movimento iluminista foi marcado pela influência que os em-
preendimentos científicos do século XVII e início do século XIII delinearam no pensamento oci-
dental, que era alicerçado no misticismo religioso, de forma a construir o racionalismo, em que
o mundo físico e seus fenômenos passavam a ser explicados pela razão, e não mais pela religião.
No que se refere aos ideais iluministas, esses valorizavam o homem e sua capacidade de
controlar e conhecer tudo o que o rodeia. No plano social, esse otimismo se traduziu na crença
de que os homens são agentes históricos, que são capazes de conduzir a história de acordo com
os seus interesses.
Podemos considerar que, no campo político, o otimismo das Luzes foi a base de sustentação
ideológica das revoluções burguesas. Os preceitos de Igualdade, Liberdade e Fraternidade, pre-
sentes na Revolução Francesa, foram a derivação política das teses racionalistas.
44
História - História da Educação

Dessa forma, é pertinente ressaltarmos que os iluministas e seus precursores foram respon-
sáveis por importantes descobertas científicas e pela reestruturação do pensamento ocidental.
Entre eles, podemos citar alguns nomes, como os de Giordano Bruno, Nicolau Copérnico, Galileu
Galilei, Francis Bacon, René Descartes, João Amos Comênio, Voltaire, Diderot, Rousseau, Montes-
quieu, Adam Smith, John Locke, entre outros.
Vamos agora pontuar algumas ideias acerca da educação, produzidas pelos autores citados
no parágrafo anterior. E, para tal, iniciaremos com uma breve reflexão acerca do pensamento de
Comênio (1592-1670), filósofo cujo pensamento humanístico contribuiu para a renovação da
educação, por meio da defesa de que o homem é capaz de aprender e, sendo assim, pode ser
educado. Seguidor da lógica do racionalismo cartesiano, esse autor concebeu a didática como a
arte de ensinar, colocando-se a serviço dos interesses da sociedade burguesa e marcando a his-
tória da educação. Segundo Silveira Rodrigues:

[...] sua posição vitaliza a posição idealista do platonismosocrático fortalecendo a


ideia da aprendizagem por intermédio da direção da razão metódica cartesia-
na. Comênio, vivendo em meio a vários conflitos que, muitas vezes, tornaram-se
responsáveis por momentos difíceis de sua vida em consequência do momento
sociopolítico que deslanchou em sua contemporaneidade, este pedagogo apro-
ximadamente vinte anos após Descartes, ter escrito O discurso do método, tor-
nou-se um dos grandes reformadores sociais de sua época, em que emerge das
camadas populares a necessidade de acesso às escolas, em consequência das in-
fluências das ideias iluministas. (SILVEIRA RODRIGUES, 2006, p. 57),

Comênio (1957) propõe uma sabedoria universal e, dessa forma, influencia permanente-
mente a pedagogia das épocas anteriores, ao propor um método de ensino que seja possível en-
sinar a todos os povos e uma escola que seja para a vida toda, pois todos são capazes de apren-
der. Nas palavras do autor:

Fortalecendo a convicção de que o homem é capaz de aprender e pode ser


educado e que esta característica é própria de todos os humanos, Comênio
conhece a antiga objeção pessimista, segundo a qual não é de toda madei-
ra que se faz uma colher. Mas rejeita a aplicação dessa imagem que se faz ao
homem e responde: Mas de todo homem se pode fazer um homem, se não
aparece ninguém que perturbe o processo. Ou seja: não há nenhum homem
e nenhuma disposição espiritual que não possam ser melhorados com a ajuda
da educação e dedicação engajadas. Com esta tese e sua concepção educa-
cional, didática e pedagógica, Comênio aprofunda a visão realista, introduzida
no pensamento educacional por Ratke e outros reformadores do século XVII.
(MÄRZ, 1987, p. 65).

A passagem do mencionado autor também é marcada na história da educação, a partir de


quando escreve A Didática Magna, obra que ele considera como o tratado universal de ensinar
tudo a todos, por meio da qual determina e apresenta as bases necessárias para a organização
do ensino, que se pode considerar progressivo. Dessa forma, Comênio defende que deve ser
ensinado todos os conhecimentos, sob as mesmas condições, para todas as pessoas ao mesmo
tempo. O que implica não considerar que nem todos estão aptos a apreender todos os conheci-
mentos, considerando as diferenças de diversos níveis que existem entre as pessoas. De acordo
com Comênio:

Não só afirmo que é possível que um só professor ensine algumas centenas


de alunos, mas sustento que deve ser assim, pois isso é muito vantajoso para
o professor e para os alunos. Aquele despenderá sem dúvida as suas funções
com tanto maior prazer quanto mais for o maior número de alunos que vir
diante de si (COMÊNIO, 1957, p. 279).

Você concorda com Comênio quando afirma que é possível que um só professor ensine al-
gumas centenas de alunos, e que isto é vantajoso para o professor e para os alunos? Qual seria o
interesse político que pode ser sustentado por esse pensamento?
A proposta de didática apresentada por Comênio pode ser entendida como revolucionária
ao propor o ensino para todos. Todavia, ao refletirmos um pouco sobre ela, podemos perceber
que apresenta em si um modelo excludente no que ser refere à qualidade da educação para o
ensino público.
Assim, posicionamo-nos ao percebermos que, ao sugerir a sua didática magna, propõe a
sala de aula cheia de um grande número de alunos, que permanecerão passivos diante do con-

45
UAB/Unimontes - 2º Período

teúdo ensinado, que será resguardado de problematizações ou inter-


venções. Dessa forma, percebemos que Comênio (1957) projeta a sala
de aula como um auditório, em que ao professor é atribuído o papel de
personagem principal que, por meio do verbalismo, exerce sua autori-
dade sobre o aluno, durante quatro horas por dia.
Vários séculos já se passaram e mesmo com a viabilização da edu-
cação a distância, o espaço e o tempo escolar vêm sendo utilizados
com as mesmas intenções definidas na modernidade. Intenção esta de
proporcionar à maioria das pessoas uma educação baseada na informa-
ção, de forma a diplomar as pessoas para alimentar a ilusão da conquis-
ta de um espaço no mercado de trabalho.
Após dialogarmos acerca da influência das ideias de Comênio na
história da educação, vamos pensar um pouco a respeito do pensa-
mento de Rousseau, que pode ser considerado de extrema importância
para a evolução da educação no decorrer da história.
Iniciamos a nossa reflexão sobre do Rousseau, lembrando que
esse filósofo revoluciona a imagem da criança ao afirmar que esta é um
adulto em miniatura. O que podemos considerar um avanço, ao levar
em conta a condição que era dada à criança, que até mesmo era consi-
▲ derada como um bichinho de estimação.
Figura 22: Comênio, Rousseau defende a pequena burguesia. Porém, ressalta que a sociedade faz o homem ne-
o criador da didática gar sua natureza de ser bom, e torna-o egoísta e artificial. Mas, contraditoriamente, propõe a
moderna. igualdade jurídica para todos ao afirmar que o Estado é democrático. Combate o intelectualismo
Fonte: Disponível em: e a divisão de classe ao criticar o senhor dos escravos, que se acha o senhor dos demais seres,
http://www.hid0141.blo-
gspot.com/2008_09_01_ sem deixar de ser tão escravo quanto eles. Assim, critica também a sociedade privada. Afirma
archive.html. Acesso em: que o homem nasceu livre e a sociedade o acorrenta de todas as formas, desde o modelo de
10/09/2008 educação que lhe impõe. Dessa forma, Rousseau afirma que:

A verdadeira educação consiste menos em preceitos do que em exercícios. Co-


meçamos a nos instruir quando começamos a viver; nossa educação começa
junto conosco; nosso primeiro preceptor é nossa ama-de-leite. Assim, a palavra
educação tinha, entre os antigos, um sentido diferente, que já não lhe damos:
significa alimentação.... Repito, a educação do homem começa com o seu nas-
cimento: antes de falar e antes de ouvir, ele já se instrui. A experiência antecipa
as lições; no momento em que conhece sua ama-de-leite ele já descobriu mui-
tas coisas. Ficaríamos surpresos com os conhecimentos dos mais grosseiros dos
homens, se seguíssemos seu progresso desde o momento em que nasceu até
onde está. (ROUSSEAU, 1999, p. 14, 46).

Veja você que a educação, a formação e a instrução, portanto, são três coisas tão diferentes
no que se refere ao seu objeto quanto à governanta, o preceptor e o professor. Essas distinções,
porém, não são bem compreendidas e, para ser bem dirigida, a criança deve seguir um só guia.
Devemos, pois, generalizar nossas ideias e considerar em nosso aluno o homem abstrato, o ho-
mem exposto a todos os acidentes da vida humana.
Assim, é preciso ensinar à criança a se conservar como homem, a suportar todos os atro-
pelos que a sociedade lhe expõe. Porém, é interessante ponderar que, contraditoriamente, Rou-
sseau afirma que a educação pode vir da natureza quando se refere ao desenvolvimento das
faculdades dos órgãos. Ideias de exclusão podem ser percebidas em “O contrato social” ao referir-
se ao camponês como aquele que não precisa de escolas, pois o que precisa aprender aprende
com a natureza. Ou seja, no campo onde vive.
O filósofo afirma que a natureza ensina o camponês. Afirmação esta que é negada na obra
“O Emílio”, ao atribuir à personagem principal, que representa uma classe privilegiada, a condição
de uma educação superior, com vistas a formar o homem Ideal.
Suchoudolsk levanta a seguinte questão a respeito dos interesses que permeiam o pensa-
mento de Rousseau:

O autor pretendeu provar que “é bom tudo o que sai das mãos do criador da
Natureza e tudo degenera nas mãos do homem”. Posto isto, será possível con-
fiar aos homens o problema da educação? Não será conveniente dar à crian-
ça um desenvolvimento livre e espontâneo? A educação - segundo Rousseau
- não deve ter por objetivo a preparação da criança com vistas ao futuro ou
modelá-la de determinado modo; deve ser a própria vida da criança. É preci-

46
História - História da Educação

so ter em conta a criança não só porque ela é objeto da educação. É a partir


do desenvolvimento concreto da criança, das necessidades e dos impulsos de
seus sentimentos e de seus pensamentos que se forma o que ela há de vir a
ser, graças ao auxílio inteligente do mestre. Os educadores não poderiam ter Para saber mais
outras pretensões; seriam absolutamente nocivas. (SUCHODOLSKI, 1984, p. 41).
Para um melhor en-
tendimento assista aos
Observe que, de acordo com a direção acima apresentada, Rousseau defendia que o proces- vídeos:
so educativo devia ter características de uma orientação direcionada, respeitando a individuali- Lancelot - O Primeiro
dade do educando; e, para que isto aconteça, é necessário que o educador o conheça e busque Cavaleiro. Diretor: Jerry
acompanhar o seu amadurecimento progressivamente, com liberdade para alcançar a educação Zucker
Nacionalidade: EUA -
ideal. 1995. Duração: 133 min.
O professor deve ser aquele amigo que orienta e que possa intervir com respeito, sempre Versão livre do clássico
que for necessário, com vistas ao aperfeiçoamento dos órgãos dos sentidos - entendidos como triângulo amoroso
instrumentos do conhecimento. Dessa forma, preparará o educando para, futuramente, ter con- envolvendo o lendário
dições para seguir o caminho da verdade, da bondade, tendo condições de ser dono de si mes- rei Artur, sua amada
Lady Guinevere e seu
mo e ser capaz de julgar e avaliar a realidade que o cerca. primeiro cavaleiro, Lan-
Diante das considerações aqui apresentadas, vale recorrer às palavras de Silveira Rodrigues: celot. O filme aborda a
existência apaixonante,
É importante salientar que, mesmo sendo considerada a maior tentativa de mas fictícia, dos heróis
negação da pedagogia da essência, em função da criação da pedagogia da da Távola Redonda,
existência, na concepção de educação de Rousseau é visível o seu caráter dis- exaltados nos romances
criminatório, a partir de sua convicção de que o camponês não precisava de de cavalaria do final do
educação, pois tudo que precisava saber aprendia com sua mestra – a nature- século XII e começo do
za. Assim, também afirmava que o pobre não precisava de educação, pois es- século XIII. É possível
tes teriam que adaptar às suas condições, seguindo os caminhos da natureza. observar também a
Neste sentido, pode-se observar uma proposta de educação a serviço da bur- política de vassalagem
guesia, que já não interessava mais contrariar a concepção de mundo da no- da sociedade feudal.
breza, pois, com a nova divisão do trabalho e acumulação de riquezas - a partir Lutero (Luther),
da produção em série, passou a ter como contraditória uma nova classe operá- Alemanha, 2003, 121
ria, com uma consciência diferente da consciência burguesa. Assim, conforme min., direção de Eric
discutido, para manutenção do capitalismo, necessário seria utilizar mecanis- Till, Casablanca Filmes;
mos para convencer a massa trabalhadora a aceitar os novos valores e novas Título Original: Luther;
concepções da classe detentora do poder. Marca-se aqui a ampliação do nú- Gênero: Aventura, Dra-
mero de escolas para atender à necessidade de imposição da nova ideologia, ma, Épico; Diretor: Eric
da ordem natural das coisas. As pessoas teriam que aprender a renunciar sua Till; Duração: 12; Lança-
liberdade individual vivendo em sociedade. (SILVEIRA RODRIGUES, 2006, p. 68) mento: Fevereiro/2005.
Elenco: Bruno Ganz,
Uwe Ochsenknecht,
Diante das colocações que apresentamos por intermédio da citação acima, é pertinente
Joseph Fiennes, Alfred
consideramos que a proposta de educação apresentada por Rousseau traz em si um romantismo Molina, Claire Cox, Sir
humanístico que se encontra totalmente incoerente com a realidade das condições atribuídas ao Peter Ustinov. Dublado
ensino público que conhecemos no Brasil, no âmbito da sociedade capitalista. e Legendado.
Pois bem, imaginem vocês: é possível um professor acompanhar, ser amigo, respeitar as di-
ferenças individuais, ou seja, ministrar aulas em salas de aula de forma a ensinar verdadeiramen-
te os conteúdos indispensáveis à formação de qualidade, conforme a realidade das salas, bem
como da estrutura das escolas brasileiras?
É isso aí, esse contexto da história da educação que abordamos nesta unidade nos mostra a
importante influência que a educação atual sofreu e vem sofrendo dos pensamentos originados
pelas ideias produzidas a serviço das políticas dominantes naquela época.

Referências
CAMBI F. História da Pedagogia. São Paulo: Unesp, 1999.

COMÊNIO, J. A. Didática Magna: tratado da arte universal de ensinar tudo a todos. 3. ed. Lisboa:
Gulbenkian, 1957.

GADOTTI, Moacir. História das ideias pedagógicas. São Paulo: Ática, 2003.

MANACORDA, M. A. História da Educação: da antiguidade aos nossos dias. São Paulo: Cortez/
Editores Associados, 1989.

47
UAB/Unimontes - 2º Período

MÄRZ, Fritz. Grandes educadores. São Paulo: EPU, 1987.

MONROE, P. História da Educação. Trad. Idel Becker. São Paulo: Nacional, 1976.

MONROE, Paul. História da Educação. Tradução: Idel Becker. São Paulo: Companhia Editora Na-
cional, 1983.

NUNES, A. C. Aprendendo Filosofia. Campinas: Papirus, 1980.

ROUSSEAU, Jean-Jacques. Discurso sobre as ciências e as artes. Tradução Lourdes Santos Ma-
chado. Coleção Os Pensadores - Rousseau. São Paulo: Nova Cultural, 1999.

SILVEIRA RODRIGUES R. Teoria Crítica da Didática: contraposições epistemológicas possibilida-


des políticas. Tese de Doutorado. São Paulo: UNICAMP, 2006.

SUCHODOLSKI, B. A Pedagogia e as grandes correntes filosóficas. Lisboa: Livros horizonte,


1984.

SUCHODOLSKI, Bogdan. A pedagogia e as grandes correntes filosóficas: A pedagogia da es-


sência e a pedagogia da existência. 5. ed. Tradução Liliana Rombert Soeiro. Lisboa: Livros Hori-
zonte, 2000.

48
História - História da Educação

Unidade 3
A educação brasileira na colônia e
no império

3.1 Introdução
Nesta unidade, temos por objetivo le- 2ª fase (1759 – 1808): a das reformas do Glossário
var você a compreender o processo em que Marquês de Pombal, fase a qual denominamos
ocorreu a construção da história da educação de período pombalino, que se inicia após a ex- Hegemonia: Segundo
Gramsci, Hegemonia
brasileira e a reconhecer as diferentes formas pulsão dos jesuítas do Brasil e termina com a é a prática dominante
educacionais e legais na história do Brasil, transferência da família real para o Rio de Ja- no seio das sociedades
identificando características da educação je- neiro. capitalistas avança-
suítica e pombalina, quando da colonização 3ª fase: (1808 – 1889): a do período que das, visando suscitar
deste país chamado Brasil, bem como aquelas se inicia com a chegada, ao Brasil, de D. João o conhecimento ativo
dos dominados, através
ocorridos durante o regime monárquico. VI, então Rei de Portugal, e a corte portugue- da elaboração de uma
Buscaremos, portanto, nesta unidade, tra- sa, e se encerra na Proclamação da República. função ideológica
tar da educação no Brasil durante suas fases Faremos este estudo seguindo, tanto quanto particular que visa à
colonial e imperial, destacando o período que possível, os debates e estudos empreendidos constituição da ficção
contou com a hegemonia dos jesuítas (1549 pelos autores apresentados como referência de interesse geral. É o
exercício não coerci-
-1759), uma vez que ele retrata duzentos e dez básica, acrescidos de outros autores apresen- vo do domínio e da
anos da história da educação brasileira. tados como referências complementares. dominação de classe,
Iniciamos nossas discussões apresentan- Nesta unidade, buscaremos caracterizar nomeada pela hegemo-
do um pequeno contexto histórico; a seguir, os aspectos políticos, econômicos, sociocul- nia ideológica. Porque
buscaremos discutir sobre os conflitos entre as turais e ideológicos da realidade educacional a dominação de classe
pode fazer adotar os
diferentes posturas de ensino neste período, nos diferentes contextos históricos por que seus valores e suas con-
finalizando com uma reflexão sobre as impli- passa a sociedade brasileira; identificar os va- vicções pela sociedade
cações desse momento histórico e sua relação lores, ideias e organização da educação bra- restante através de
com a educação contemporânea. sileira nos diversos períodos; destacar as po- instâncias de socializa-
Para melhor compreensão deste estudo, líticas educacionais que permeiam a história ção sem ter que recorrer
à força ou à repressão.
dividimos o período em três fases: da educação brasileira, definindo o papel da Para Antônio Gramsci, o
1ª fase (1549 – 1759): a do predomínio dos escola, do professor e do aluno, assim como o conceito de hegemonia
jesuítas, fase a qual denominamos de fase da enfoque dos conteúdos e da avaliação nos di- caracteriza a liderança
implementação do ensino religioso, que se es- ferentes períodos da educação brasileira, até a cultural – ideológica de
tende até a expulsão dos jesuítas. Proclamação da República. uma classe sobre as ou-
tras. (COUTINHO, 1981,
p 94-96).

3.2 Para um começo de história


Para melhor compreender nossa história pela necessidade de ampliação nos negócios
educacional, convidamos você a rever alguns da burguesia e pela busca de enriquecimento
fatos discutidos nas unidades anteriores como: da classe burguesa.
no período compreendido entre os séculos Esclarecemos-lhe que, em decorrência
XV e XVI surge a Renascença, que recebe esse de diversos conflitos e interesses vivenciados
nome por sugerir a retomada dos valores gre- naquela época, ocorreu a expansão marítima
co-romanos. Esse período se destaca como o e comercial europeia dos séculos XV e XVI; foi
período das grandes invenções e das grandes um dos mais grandiosos acontecimentos da
viagens marítimas que ocorriam motivadas época moderna. Como resultado dessa expan-

49
UAB/Unimontes - 2º Período

são, continentes inteiros foram conquistados e Gramsci faz sobre a hegemonia, quando este
explorados pelos europeus. afirma que “uma massa humana não se distin-
Ressaltamos ainda que, no mencionado gue e não se torna independente por si, sem
contexto mundial, vários fatores contribuíram organizar-se; (...) e não existe organização sem
para a expansão marítimo-comercial nesse intelectuais, isto é, sem organizadores e diri-
período; entre eles, podemos destacar: a crise gentes...” (GRAMSCI, 1989, p. 21).
econômica que perturbava a maioria das na- Veremos, porém, que a expansão marí-
ções representada pela fome e muitas doen- timo-comercial surgiu como uma excelente
ças; a busca de uma nova rota para o comér- opção para atender a todos esses interesses.
cio do Oriente, com o objetivo de abastecer, Associada às questões econômicas, aparece o
com maiores lucros, o comércio de especiarias fato de que os líderes políticos justificavam a
(cravo, canela, pimenta, noz-moscada, gengi- necessidade de expansão territorial, alegando
bre) e de artigos de luxo (porcelanas, tecidos ser necessário propagar a fé cristã e converter
de seda, marfim, perfumes); interesses dos os povos não cristãos de todo o mundo. Para
Estados Nacionais que, com governos centra- tal, a educação, como sempre, deveria ser uti-
lizados e objetivos mercantis, impulsionaram lizada para formar as pessoas com o perfil ne-
a expansão marítima pelo desejo dos reis de cessário aos interesses sociais do contexto.
aumentar o seu poder. Nesta unidade, chamamos sua atenção
Veja que havia também, nesse período, para um aspecto inicial dessa questão, o pro-
um consenso entre a nobreza e a burguesia blema metodológico idealizado pelos jesuí-
no que diz respeito ao anseio de crescimento tas, pois estudar a ação pedagógica dos jesuí-
e hegemonia, pois a nobreza desejava manter tas implica sempre no enfrentamento de um
os seus privilégios e a burguesia queria au- problema teórico-metodológico de grande
mentar seus lucros. importância, considerando que a hegemonia
Figura 23: Padre José de Verifique que, a respeito do mencionado exercida por eles na educação, durante o pe-
Anchieta. contexto, os ideais da nobreza e da burguesia ríodo colonial, no Brasil, é um fato histórico de
Fonte: Disponível em: podem ser bem retratados na descrição que grande relevância.
< http://2.bp.blogspot.
com/_pgEIC3H0PbA/S9Ci-
G51ULlI/AAAAAAAAAC0/

3.3 Período jesuítico (1549 - 1759)


ryNYSJrWBno/s1600/an-
chieta_1.jpg>. Acesso em:
18/03/2013.

Nesta altura, não é mais novidade para


você que os jesuítas foram considerados os
primeiros educadores brasileiros e que a edu-
cação dos jesuítas permaneceu um tempo
histórico significativo a frente da educação
desse país. Dessa forma, iniciaremos essas
reflexões alertando que chamamos de perío-
do Jesuítico o período educacional que com-
preende desde a chegada dos jesuítas ao Bra-
sil até a sua expulsão deste país.
Para você entender melhor esse período
da educação brasileira, lembramos-lhe que o
rei de Portugal, Dom João III, convencido da
necessidade de envolver a Monarquia para
ocupação e defesa da nova terra, o Brasil, ins-
tituiu um governo geral, nomeando para essa
função Tomé de Sousa, que se tornou o pri-
meiro governador-geral deste país.
Veja que foi nesse mesmo momento his-
tórico, o contexto da Reforma e da Contrar-
reforma da igreja católica que, tendo como
objetivo principal combater a expansão do
protestantismo, a igreja Católica incentivou a
criação de ordens em todo o mundo, como,
por exemplo, a Ordem dos Jesuítas, coman-
dada por Inácio de Loyola, no ano de 1534.

50
História - História da Educação

Sendo assim, em março de 1549, jun- gistros históricos da época, podemos ressaltar
tamente com o primeiro governador-geral, que a primeira escola elementar brasileira foi Para saber mais
Tomé de Souza, chegaram os primeiros jesuí- edificada na cidade de Salvador, e teve como
Assista ao filme: A mis-
tas ao território brasileiro, comandados pelo mestre o jesuíta Irmão Vicente Rodrigues. são. Este filme vai levar
Padre Manoel de Nóbrega, que tinham como Como você viu, a chegada dos padres je- você a uma viagem no
missão difundir a ideologia cristã e, ainda, au- suítas ao Brasil marca o início da história edu- tempo. Ele transpor-
mentar os domínios do reino. cacional desse país. Observou, também, que tará você para o Brasil
Sem dúvidas, podemos considerar que os esse fato inaugura a primeira fase e a mais recém-descoberto, pois
aborda as finalidades da
jesuítas vieram para o Brasil a serviço da coroa longa e importante de nossa história educa- colonização; o papel da
portuguesa, que tinha o interesse de explorar cional, devido a seus impactos na educação catequese no processo
o território brasileiro e, para isso, utilizaram a nacional. civilizatório; o choque
educação como veículo de dominação. Diante das discussões acima, podemos in- cultural entre povos
Veja você que, tão logo chegaram ao Bra- ferir que a educação brasileira teve início com com usos e costumes
diferentes; e ainda
sil, os jesuítas criaram a primeira escola ele- o fim do regime de capitanias no Brasil, fato retrata a aliança e o con-
mentar; era assim chamada porque era desti- que ocorreu no ano de 1549, com a chegada fronto entre as posições
nada apenas ao ensino da leitura e da escrita, do primeiro governador-geral, que traz em sua da igreja e dos donos de
ou seja, das primeiras letras. Através dos re- companhia um grupo de padres jesuítas. terras.

3.4 A influência jesuítica na


educação brasileira
Começaremos essa discussão com a pro- limitaram ao ensino das primeiras letras. Além
posta de apresentar a proposta de ensino cria- do curso elementar, mantinham cursos de Le-
da pelo Padre Manoel da Nóbrega, líder dos tras e Filosofia, considerados secundários, e o
jesuítas aqui no Brasil. curso de Teologia e Ciências Sagradas, de nível
Esse padre forjou um plano de ensino superior, para formação de sacerdotes.
adaptado ao nosso país. E, no que se refere à No curso de Letras, estudava-se Gramá-
proposta de estudo de Nóbrega, podemos tica Latina, Humanidades e Retórica; e, no
ressaltar que esta se fundamentava no ensino curso de Filosofia, estudava-se Lógica, Meta-
do Português, na doutrina cristã, no ensino de física, Moral, Matemática e Ciências Físicas e
ler e escrever. Essa modalidade de ensino era Naturais.
chamada de ensino básico. As novas igrejas que se formavam defen-
Após a etapa do ensino básico recomen- diam a necessidade de que seus fiéis deveriam
dado pelos jesuítas, o aluno ingressava no aprender a ler para que pudessem ter contato
estudo da música instrumental e do canto or- direto com as leituras bíblicas e, por sua vez,
feônico. Após essa etapa de estudo, o aluno se a igreja católica resolveu adotar a educação
encontrava pronto para prosseguir seus estu- como meio de impedir o avanço das novas
dos de gramática, completando, depois, sua crenças, pois viam na leitura uma forma de
formação nas Universidades Europeias. manter viva a fé católica de seus fiéis.
No Brasil, os jesuítas integraram-se desde No Brasil, os jesuítas se dedicaram prin-
o início à política colonizadora do rei de Por- cipalmente à pregação da fé católica e ao tra-
tugal e foram os responsáveis quase exclusivos balho educativo. A escola de primeiras letras,
pela educação durante longos anos. Os alunos aqui, no Brasil, foi um dos instrumentos utiliza-
que não tinham pretensão ou não tinham con- dos pelos jesuítas para alcance dos objetivos,
dições de prosseguir nos estudos poderiam que era a difusão e a conservação da fé cató-
finalizar seus estudos, com o aprendizado de lica entre os senhores de engenho, entre os
uma profissão ligada à agricultura. colonos, entre os negros, escravos e entre os
No Brasil, as escolas dos jesuítas não se índios.

51
UAB/Unimontes - 2º Período

Dica
José de Anchieta, nas-
cido na Ilha de Tenerife
e falecido na cidade de
Reritiba, atual Anchieta,
no litoral sul do Estado
do Espírito Santo, em Figura 24: Missão ►
1597. Anchieta tornou- Jesuítica no século
se mestre-escola do XVII.
Colégio de Piratininga; Fonte: nicamp.br/nave-
foi missionário em São gando/ >. Acesso em:
Vicente, missionário 10/09/2008
em Piratininga, Rio de
Janeiro e Espírito Santo;
Provincial da Compa-
nhia de Jesus, de 1579 a
1586, e reitor do Colégio
do Espírito Santo.

Fonte: Disponível em:


http://www.bairrodoca-
tete.com.br/padrejose-
deanchieta.html. Acesso
em: 10/09/2009.

Porém, a atuação jesuítica no Brasil con- moderno,ou seja, não buscavam relação do
tribuiu com a educação neste período e teve que ensinavam com as questões cotidianas.
um caráter ambíguo, pois os jesuítas educa- Podemos observar que a ação escolari-
vam e instruíam os filhos da elite colonial ao zadora dos jesuítas foi concretizada, no Brasil,
passo que catequizavam os índios. pela criação dos colégios, que se direcionavam
A escolarização proposta e desenvolvida principalmente à formação da elite dirigente
pelos jesuítas no Brasil voltava-se mais para a colonial. Vimos, também, que os jesuítas me-
exposição e a divulgação da doutrina católi- nosprezavam o estudo da história, da Letras/
ca, ou seja, a catequese, tendo como texto de Português e da matemática, pois os jesuítas
leitura os textos da bíblia sagrada, sendo estes consideravam estas disciplinas como ciência vã.
também considerados o suporte para as práti- A forma de ensinar dos jesuítas, ou seja, a
Atividade
cas educativas orais. metodologia adotada por eles no desenvolvi-
Vá ao ambiente de Vimos nos registros históricos que a ta- mento e estudos dos textos não permitia que
aprendizagem, acesse
o Fórum que discute
refa dos jesuítas nesta nova terra não foi fácil, os alunos desenvolvessem o espírito crítico. O
sobre as consequências pois os povos indígenas aqui encontrados, ensino universalista e muito formal desenvol-
da educação jesuítica principalmente as crianças, não se submete- vido pelos jesuítas distanciava os alunos da
no Brasil. Você deverá ram com facilidade à cultura proposta pela vida prática, porque era voltado para a forma-
registrar a sua análise Companhia de Jesus. ção do homem erudito, pois os jesuítas cultua-
sobre essa questão. Não
se esqueça de acom-
Segundo Aranha (1990), uma das carac- vam as belas-letras e o saber por saber.
panhar o raciocínio terísticas mais criticadas do ensino proposto Como você já viu, no estudo da unidade
das questões postadas pelos jesuítas foi a separação entre a escola e a anterior, as escolas dos jesuítas eram regula-
pelos seus colegas de vida, pois os jesuítas se mostravam excessiva- mentadas por um documento escrito por Iná-
turma. mente conservadores, mantendo-se indiferen- cio de Loiola, o Ratio atque Instituto Studiorum,
tes às controvérsias do pensamento filosófico chamado abreviadamente de Ratio Studiorum.

3.4.1 Plano de estudo de Ratio

Vamos adiante com nossas discussões. jesuítas sobre os índios se resumia à cristiani-
Agora, a fim de observarmos, através dos re- zação e à sua pacificação, para que eles se tor-
latos históricos, que os jesuítas educavam e nassem dóceis, facilitando o seu engajamento
instruíam os filhos da elite colonial ao mesmo no trabalho agrícola.
tempo em que catequizavam os índios. Lembramos, ainda, que o modelo de edu-
Veja você que a ação educacional dos cação proposto pelos jesuítas não tinha como

52
História - História da Educação

objetivo contribuir para promover a eman- Agora, gostaríamos de mostrar para você
cipação das pessoas, pois era um modelo de um fato muito interessante, que é o seguinte:
educação excludente. Assim, para os filhos a ação educativa, que havia sido utilizada pe-
dos colonos a ação dos jesuítas era diferente, los jesuítas apenas como meio de submissão Dica
pois eles se dedicavam oferecendo aos apren- e domínio político, passa a ser vista como res- As aulas régias com-
dizes uma educação mais ampla, ultrapassan- ponsável pelo descompasso entre o governo preendiam os estudos
do os limites da educação elementar, ou seja, português e o resto da Europa. das humanidades,
do ler e do escrever. Enquanto que, para os na- O Marquês de Pombal, então ministro de sendo pertencentes ao
tivos, ofereciam a catequese com o intuito de Portugal, “cuja linha de pensamento estava Estado e não mais res-
tritas à Igreja, foram as
difundir valores e atitudes de subserviência. estritamente vinculada ao enciclopedismo” primeiras formas do sis-
Vimos que, nesse período, a nobreza bus- (ROMANELLI, 1997, p. 36), “influenciado pelas tema de ensino público
cava acentuar ainda mais o seu poder político ideias dos enciclopedistas franceses, pretendia no Brasil. O surgimento
e econômico e a nova classe, a burguesia, bus- modernizar o ensino, liberando-o da estreiteza das aulas régias acabava
cava aumentar seus lucros; assim, uma educa- e do obscurantismo que imprimiram os jesuí- com qualquer possibi-
lidade do aluno realizar
ção com base na catequese seria adequada. tas” (WEREBE, 1997, p. 26). um curso organicamen-
Esclarecemos que, no período jesuítico, Nesse contexto, os jesuítas, não atenden- te articulado, obrigan-
no que se refere à educação primária, tanto do mais aos interesses de Pombal, foram expul- do-o a montar um curso
no Brasil como em toda a Europa, na sua maior sos do reino e de seus domínios. Com a expul- próprio, o “seu” curso.
parte, ficava aos cuidados das famílias, ou seja, são dos jesuítas, a educação brasileira vivenciou
as famílias é que se responsabilizavam pela uma grande ruptura histórica num processo já
iniciação da escolaridade da criança. Porém, as implantado e consolidado como modelo edu- Atividade
famílias com boas condições financeiras opta- cacional; passou por momentos de crise, o que Pensando na organiza-
vam por pagar um preceptor ou por delegar acabou provocando um retrocesso no já defa- ção do próprio curso
o ensino de suas crianças aos cuidados de um sado sistema educacional imperial. como nos tempos das
parente mais letrado. Veja você que com a expulsão dos jesuí- aulas régias...
Enfim, os jesuítas vieram para o Brasil tas, deixam de existir no Brasil dezoito estabe- Você gostaria que lhe
fosse dada a oportu-
com o principal objetivo de desenvolver o tra- lecimentos de ensino secundário e cerca de 25 nidade de montar seu
balho missionário e pedagógico, tinham como escolas de ler e escrever. Em substituição às es- próprio curso como
finalidade converter o gentil e impedir que colas dirigidas pelos jesuítas, foram instituídas nos tempos das aulas
os colonos que aqui viviam se desviassem da por Pombal algumas aulas régias, sem nenhu- régias? Vá ao fórum e
fé católica. Observa-se que a educação jesuí- ma ordenação entre elas. monte sua proposta
para o Ensino Funda-
tica assumiu, no Brasil, também um papel de Diante dessas mudanças instituídas por mental e veja a proposta
agente colonizador. E pontuamos, ainda, que a Pombal, você verá que várias foram as con- de seus colegas. Será
educação desenvolvida pelos jesuítas no Brasil sequências trazidas para a educação brasilei- que as propostas se as-
estava voltada a atender aos brancos não mui- ra; entre elas, podemos citar a dificuldade de semelham? Será que as
to pobres e na idade juvenil, ou seja, atender encontrar o professor preparado para desen- propostas poderiam ser
atendidas no sistema
aos jovens já basicamente instruídos. volver o ensino que rompesse com o ideal da do ensino ofertado em
Em meio à realidade vivenciada no men- educação jesuítica, pois boa parte dos profes- Grupo escolar (escola)?
cionado contexto, mais precisamente no ano sores aqui existentes possuía formação jesuíti-
de 1759, a educação jesuítica não convinha ca, ou seja, haviam sido alunos dos jesuítas.
aos interesses comerciais emanados por Pom- Veja que ao longo dos séculos XVI e XVII
bal, pois os jesuítas, através da escolarização, e até meados do século XVIII, foi notável a ex-
tinham por objetivo principal servir aos in- pansão da educação no Brasil, tendo por base
teresses da fé, e o Marquês de Pombal, então os colégios subsidiados pela Coroa Portugue-
primeiro ministro de Portugal, pensava em or- sa e construídos em locais diversos como Sal-
ganizar a escola para servir aos interesses do vador, são Luís, São Tiago, Rio de Janeiro e São
Estado. Paulo.

3.5 A educação no Brasil na era


pombalina (1760-1808)
Para falarmos a respeito da educação na cias europeias da época e apostou na educação
era pombalina, precisamos ressaltar que Pombal como meio para a solução dessa crise.
pensava em reerguer Portugal da decadência Como estratégia de defesa, a coroa no-
em que se encontrava diante de outras potên- meia professores e estabelece planos de

53
UAB/Unimontes - 2º Período

nambuco, Minas Gerais, São Paulo, Pará e Ma-


ranhão.
No que se refere às aulas régias, essas
eram autônomas e isoladas, com professor
único e uma não se articulava com as outras,
ou seja, as aulas régias eram avulsas e se des-
tinavam ao estudo de Latim, Grego, Filosofia
e Retórica. Veja você que, nas aulas régias, os
próprios professores é quem organizavam
seus locais de trabalho e somente após colo-
car sua classe para funcionar, os professores
requisitavam do governo o pagamento pelo
trabalho do ensino.
Porém, esse contexto é marcado com as
mudanças provocadas pelas necessidades
estudo e inspeção. O ensino brasileiro é mo- oriundas da chegada da família real ao Brasil,

dificado para sistema de aulas régias de dis- no ano de 1808. Com a vinda da Corte portu-
Figura: 25: Aulas régias. guesa para o Brasil no ano de 1808, o ensino
ciplinas isoladas. Nesse sistema, foi elaborado
Fonte: Disponível em: brasileiro passou por algumas modificações,
< http://1.bp.blogspot. um mapa com indicação das cidades, tipos
com/-8ek3xQ0UX00/ de aula e número de professores necessários, pois era preciso uma adaptação para atender
US0q2pTYt2I/ tendo sido criadas 17 aulas de ler e escrever, aos cortesãos que chegaram em grande nú-
AAAAAAAACi4/9rpQHpV mero.
pXxY/s1600/02.JPG>. Aces- distribuídas entre Rio de Janeiro, Bahia, Per-
so em: 18/02/2013.

3.5.1 As reformas pombalinas da instrução pública no Brasil


colônia

Para dar sequência a este estudo requer precário, que foi agravado pela democracia da
voltarmos um pouco na história; podemos di- reforma pombalina. Nesse período, com a edu-
zer que no princípio do século XIX (anos 1800...), cação à deriva, essa situação se arrastou por um
com a expulsão dos jesuítas, a educação brasi- longo período, durante o Brasil colônia, ocasião
Atividade leira ficou extremamente comprometida. Per- em que aumentou a distância entre os letrados
sistia o panorama do analfabetismo e do ensino e a maioria da população, que era analfabeta.
Qual a sua opinião
sobre esse sistema de
ensino? Você crê que

3.6 A educação no Brasil Imperial


esta forma poderia fun-
cionar bem no contexto
atual? Vá ao fórum e
converse sobre isso com
seus colegas.
Veja que, em 1808, com a chegada da ciais do exército e da marinha, com o objetivo
família real portuguesa ao Brasil, a estrutura de defender a colônia.
educacional brasileira passa por modificações Foram então criadas, no Brasil Império,
para adequar-se às necessidades da Corte que universidades para formar engenheiros, médi-
Atividade aqui se instala. A primeira medida que D. João cos e militares. Foi no ano de 1808 que na Bah-
Qual foi a principal con- VI toma ao chegar ao Brasil foi a de instituir o ia se implantou o Curso de Cirurgia e, no mes-
seqüência da expulsão ensino superior não teológico, visando aten- mo ano, na cidade do Rio de Janeiro, o Curso
dos jesuítas do Brasil, no der a essa demanda. Porém, nesse mesmo de Cirurgia e Anatomia.
terreno da educação? ano, surgem cursos profissionalizantes em ní- Ainda no ano de 1808, na cidade do Rio
Vá ao Fórum e comente.
vel médio e em nível superior. de Janeiro, implanta-se o Curso de Medicina.
Gostaríamos que você observasse que a Tão logo a corte se instala no Brasil, toma uma
tradição escolar brasileira desde o início da sua série de medidas visando criar as condições
implantação traz em si uma cultura elitista vol- para o exercício do governo.
tada para a busca de atender às classes domi- Cria, assim, a imprensa Régia, a Biblioteca
nantes e aos interesses políticos do governo. Nacional e o Jardim Botânico. No que se refere
Dessa forma, para confirmar tal afirmação, res- à educação e à cultura, de uma forma mais ge-
saltamos que D João VI, ao criar as primeiras ral, um momento marcante foi a transferência
escolas de ensino superior, visava formar ofi- da família real para o Brasil.

54
História - História da Educação

◄ Figura 26: Colégio


Pedro II.
Fonte: Disponível em:<
http://upload.wiki-
media.org/wikipedia/
commons/2/2e/Colegio_
Pedro_II_school_unifor-
ms1855.jpg>. Acesso em:
18/03/2013.

3.6.1 Estrutura da educação no Brasil no período imperial

Veja você que, no período imperial, o en- mudanças foram observadas no período im-
sino no Brasil foi estruturado em três níveis. perial, entre elas as propostas na Lei de 15 de
Analisando a estrutura da educação no perío- outubro de 1827. Dica
do imperial, temos: o ensino primário desti- Podemos afirmar que a única lei estabe- A Constituição de 1824,
nava-se à escola de ler e de escrever; o ensi- lecida quanto ao ensino elementar no perío- outorgada pela Assem-
no secundário manteve-se dentro do mesmo do de 1827 a 1946 foi a Lei de 15 de outubro bleia Constituinte, dizia,
esquema das “aulas régias”, mas ganhou uma de 1827. Nessa lei, previa-se a educação como no seu artigo 179, que
a instrução primária
divisão em disciplinas, e o ensino superior dever do Estado; falava-se da distribuição ra-
era gratuita a todos os
não sofreu alterações. cional do ensino por todo o território nacio- cidadãos.
Somente no século XIX se concretiza o nal, mas contemplava apenas as escolas de
ideal nacional da educação pública, isto se dá primeiras letras; propunha-se o uso do méto-
com a intervenção gradativa do Estado para do lancasteriano nas escolas.
estabelecer a escola elementar universal lei- Isso mesmo!
ga, gratuita e obrigatória. Nesse século, enfa- O método lancasteriano traz traços que
tiza-se a relação entre educação e bem-estar observamos até hoje em nossas escolas, isto é,
social. está presente no sistema de monitoria muito
Na carta que foi outorgada em 1824, só utilizado pelos professores do ensino funda-
há referências quanto à construção de esco- mental. Observamos através de uma reflexão Dica
las de primeiras letras, assegurado pela lei, histórica que, na Lei de 15 de outubro de 1827, O Método Lancasteriano
em 1827. A Constituição de 1824 foi a primei- o ensino era bastante limitado quanto ao grau: propunha um sistema
ra e única lei geral sobre instrução primária (apenas um – primeiro grau); quanto aos obje- de ensino mútuo, ou
no Brasil durante o período imperial. Outras tivos: (alfabetização - primeiras letras). seja, um sistema de
ensino baseado em mo-
nitoria. Nessa proposta,
o ensino acontecia por
3.6.2 Retrospectiva: história da educação brasileira no período “ajuda mútua” entre
alunos mais adiantados
imperial (1822 - 1888) e alunos menos adian-
tados.

Vamos conhecer um pouco mais sobre a lancasteriano ou de ensino mútuo. Ou seja, so-
educação no Brasil imperial? mente um professor para cada escola. Como
1822: O Decreto de 1º de março criava no você viu, em 1823, na tentativa de se suprir a
Rio de Janeiro uma escola baseada no método falta de professores, institui-se no Brasil o Mé-

55
UAB/Unimontes - 2º Período

todo Lancaster, ou do “ensino mútuo”, em que des e vilas, além de prever o exame na seleção
Atividade um aluno treinado (decurião) ensina um grupo de professores, para nomeação. Propunha ain-
Você observou a de dez alunos (decúria) sob a rígida vigilância da a abertura de escolas para meninas.
presença do método de um inspetor. O Decreto de 1826 trata da primeira Lei
lancasteriano durante o Outro fato que se faz relevante aqui re- Geral relativa ao Ensino Elementar. Esse de-
seu período de educa-
ção fundamental? Vá ao
gistrar é que, no ano de 1824, é outorgada a creto, outorgado por Dom Pedro I, veio a se
fórum e comente sobre primeira Constituição Brasileira e, no art. 179 tornar um marco na educação imperial, de tal
sua experiência com dessa Lei Magna, diz que a “instrução primária modo que passou a ser a principal referência
seus colegas de curso. é gratuita para todos os cidadãos”. para os docentes do primário e ginásio nas
O quadro geral da instrução pública no províncias. Essa Lei tratou dos mais diversos
Brasil, no período imperial, enriquecido com a assuntos, como descentralização do ensino,
criação de cursos superiores incentivados prin- remuneração dos professores e mestras, ensi-
cipalmente por D. João VI não se alterou sig- no mútuo, currículo mínimo, admissão de pro-
nificativamente depois de outorgada a cons- fessores e escolas das meninas.
tituição de 1824. Em 1826, um Decreto institui Quanto aos estudos primários e médios,
quatro graus de instrução: Pedagogias (escolas algumas escolas de primeiras letras foram cria-
primárias); Liceus; Ginásios e Academias. Pro- das. Todavia, as aulas continuaram avulsas, no
põe a criação de pedagogias em todas as cida- velho estilo das aulas régias.

3.6.2.1 Lei de 15 de outubro de 1827

Observe que nesta lei, apresentam-se muitos aspectos discriminatórios em relação ao ensi-
no no que diz respeito ao gênero (feminino X masculino).

BOX 3
Lei de 15 de outubro de 1827

Manda criar escolas de primeiras letras em todas as cidades, vilas e lugares mais popu-
losos do Império. D. Pedro I, por Graça de Deus e unânime aclamação dos povos, Imperador
Constitucional e Defensor Perpétuo do Brasil: Fazemos saber a todos os nossos súditos que a
Assembleia Geral decretou e nós queremos a lei seguinte:
Art. 1º Em todas as cidades, vilas e lugares mais populosos, haverá quantas escolas de pri-
meiras letras que forem necessárias.
Art. 2º Os Presidentes das províncias, em Conselho e com audiência das respectivas Câ-
maras, enquanto não estiverem em exercício os Conselhos Gerais, marcarão o número e lo-
calidades das escolas, podendo extinguir as que existem em lugares pouco populosos e
remover os Professores delas para as que se criarem, onde mais aproveitem, dando conta a
Assembleia Geral para final resolução.
Art. 3º Os presidentes, em Conselho, taxarão interinamente os ordenados dos Professo-
res, regulando-os de 200$000 a 500$000 anuais, com atenção às circunstâncias da população
e carestia dos lugares, e o farão presente a Assembleia Geral para a aprovação.
Art. 4º As escolas serão do ensino mútuo nas capitais das províncias; e serão também nas
cidades, vilas e lugares populosos delas, em que for possível estabelecerem-se.
Art. 5º Para as escolas do ensino mútuo se aplicarão os edifícios, que couberem com a
suficiência nos lugares delas, arranjando-se com os utensílios necessários à custa da Fazenda
Pública e os Professores que não tiverem a necessária instrução deste ensino, irão instruir-se
em curto prazo e à custa dos seus ordenados nas escolas das capitais.
Art. 6º Os professores ensinarão a ler, escrever, as quatro operações de aritmética, práti-
ca de quebrados, decimais e proporções, as noções mais gerais de geometria prática, a gra-
mática de língua nacional, e os princípios de moral cristã e da doutrina da religião católica e
apostólica romana, proporcionados à compreensão dos meninos; preferindo para as leituras a
Constituição do Império e a História do Brasil.
Art. 7º Os que pretenderem ser providos nas cadeiras serão examinados publicamente
perante os Presidentes, em Conselho; e estes proverão o que for julgado mais digno e darão
parte ao Governo para sua legal nomeação.
Art. 8º Só serão admitidos à oposição e examinados os cidadãos brasileiros que estiverem
no gozo de seus direitos civis e políticos, sem nota na regularidade de sua conduta.

56
História - História da Educação

Art. 9º Os Professores atuais não serão providos nas cadeiras que novamente se criarem,
sem exame de aprovação, na forma do art. 7º.
Art. 10º Os Presidentes, em Conselho, ficam autorizados a conceder uma gratificação
anual que não exceda à terça parte do ordenado, àqueles Professores, que por mais de doze
anos de exercício não interrompido se tiverem distinguido por sua prudência, desvelos, gran-
de número e aproveitamento de discípulos.
Art. 11º Haverá escolas de meninas nas cidades e vilas mais populosas, em que os Presi-
dentes em Conselho julgarem necessário esse estabelecimento.
Art. 12º As Mestras, além do declarado no art. 6º, com exclusão das noções de geometria
e limitado a instrução de aritmética só as suas quatro operações, ensinarão também as pren-
das que servem à economia doméstica; e serão nomeadas pelos Presidentes em Conselho,
aquelas mulheres, que sendo brasileiras e de reconhecida honestidade, se mostrarem com
mais conhecimento nos exames feitos na forma do art. 7º.
Art. 13º As Mestras vencerão os mesmos ordenados e gratificações concedidas aos Mes-
tres.
Art. 14º Os provimentos dos Professores e Mestres serão vitalícios; mas os Presidentes em
Conselho, a quem pertence a fiscalização das escolas, os poderão suspender e só por senten-
ças serão demitidos, provendo interinamente quem substitua.
Art. 15º Estas escolas serão regidas pelos estatutos atuais se não se opuserem a presente
lei; os castigos serão os praticados pelo método Lancaster.
Art. 16º Na província, onde estiver a Corte, pertence ao Ministro do Império, o que nas
outras se incumbe aos Presidentes.
Art. 17º Ficam revogadas todas as leis, alvarás, regimentos, decretos e mais resoluções em
contrário.
Mandamos, portanto a todas as autoridades, a quem o conhecimento e execução da re-
ferida lei pertencer, que a cumpram e façam cumprir, e guardar tão inteiramente como nela se
contém.
O Secretário de Estado dos Negócios do Império a faça imprimir, publicar e correr. Dada
no Palácio do Rio de Janeiro, aos 15 dias do mês de outubro de 1827, 6º da Independência e
do Império.
IMPERADOR com rubrica e guarda Visconde de São Leopoldo.

Fonte: Disponível em: <www.direitonet.com.br/artigos/x/48/22/482/>. Acesso em: 12/09/2008.

A primeira contribuição da Lei de 15 de promover e regulamentar o ensino superior,


outubro de 1827 foi a de determinar, no seu enquanto que as províncias são destinadas à
artigo 1º, que as Escolas de Primeiras Letras escola elementar e à secundária.
(hoje, ensino fundamental) deveriam ensinar Percebe-se que, através do Ato Adicional
para os meninos a leitura, a escrita, as quatro de 1834, a educação da elite fica a cargo do
operações de cálculo e as noções mais gerais poder central e a do povo confinada às provín-
de geometria prática. Observe que, para as me- cias. Observamos que a situação da educação
ninas, sem qualquer embasamento pedagógi- básica no Brasil ficou ainda mais comprome-
co, estavam excluídas as noções de geometria. tida depois do Ato Adicional de 1834, que de-
Aprenderiam, sim, as prendas (costurar, bordar, legava às províncias a prerrogativa de legislar
cozinhar etc.) para a economia doméstica. sobre a educação primária, comprometendo
Quando promulgada a Constituição de definitivamente o futuro da educação básica
1834, a educação ganha um novo olhar das no Brasil, pois possibilitou que o governo cen-
autoridades competentes, atendendo a um tral se afastasse da responsabilidade de asse-
número maior de famílias e regiões. Porém, o gurar a educação elementar para todos.
golpe de misericórdia que prejudicou de vez Como você pode ver, durante a primeira
a educação brasileira, nessa época, veio de metade do século XIX, não houve, no Brasil,
uma emenda à Constituição, o Ato Adicional uma proposta de educação sistemática e pla-
de 1834. nejada. As mudanças tendiam a resolver pro-
Vamos ver por quê? blemas imediatos, que serviam para diminuir a
Em 1834, o Ato Adicional à Constituição defasagem da nova sede do império em rela-
dispõe que as províncias passariam a ser res- ção a outros países e para atender às deman-
ponsáveis pela administração do ensino pri- das da Coroa.
mário e secundário. Essa reforma descentra- Veja que, com o Ato Adicional de 1834,
liza o ensino, atribuindo à Coroa a função de houve também a criação de sistemas paralelos

57
UAB/Unimontes - 2º Período

de ensino em cada província, numa tentativa dessa época: o conjunto de ensino existen-
Dica de solucionar questões que eram centraliza- te era carente de vínculos efetivos com o
das pela coroa anteriormente. Começa-se a ter mundo prático, ou seja, não preparava para
Ato Adicional de 1834, uma preocupação com o ensino básico, conti- a vida. O ensino desenvolvido nessa época
da reforma constitucio-
nal, dizia que a educa- nuando o poder central responsável pelo en- era mais voltado para os jovens do que para
ção primária e secun- sino superior. Tal medida em pouco alterou o as crianças. Outro elemento marcante do en-
dária ficaria a cargo das quadro do ensino elementar, pois a verba des- sino no período imperial foi a reforma Leôn-
províncias, restando à tinada às províncias para custeio da instrução cio de Carvalho, ocorrida no ano de 1879. Na
administração nacional pública era ínfima, insuficiente para fazer fren- condição de Ministro do Império, Leôncio de
o ensino superior.
te a tais responsabilidades. Carvalho promulgou o Decreto nº 7.247, ad
Podemos citar como consequência do referendum da assembleia, instituindo a li-
Ato Adicional a inexistência de um sistema berdade do ensino primário e secundário no
único de instrução no país; o que havia era município da Corte e a liberdade do ensino
um conjunto de sistemas provinciais, muito superior em todo o país.
Atividade diferentes e desiguais entre si, já que cada Por liberdade de ensino, a nova Lei De-
Você já pensou nas
província podia organizar a instrução ele- creto nº 7.247 entendia que todos os que se
consequências quanto à mentar como melhor lhe conviesse. achavam por julgamento próprio, capacitados
estrutura do ensino ad- Foi criada, na cidade do Rio de Janeiro, a ensinar, poderiam expor suas ideias e adotar
vinda do Ato Adicional a Inspetoria Geral da Instrução Primária e Se- os métodos que lhes conviessem. A frequência
de 1834? Vá ao fórum e cundária, órgão ligado ao Ministério do Impé- aos cursos secundários e superiores no Brasil,
apresente sua resposta.
rio e destinado a fiscalizar e orientar o ensino nesse período, era livre, de forma que os alu-
público e particular nos níveis primário e mé- nos poderiam escolher com quem queriam
dio. Porém, apesar destas medidas, o pano- aprender e, após o término dos estudos, deve-
rama geral do ensino elementar continuou riam ser submetidos aos exames de seus esta-
ruim e teve como uma das causas a falta de belecimentos de ensino regulamentado.
pessoal docente habilitado. Veja que o Decreto de nº 7.247/79 permi-
Surgiram, então, por iniciativa dos gover- tia que as instituições de ensino se organizas-
nos provinciais, as primeiras escolas normais sem por matérias, de modo que o aluno pode-
das províncias, mas o nível era muito baixo. ria escolher as matérias que cursaria e as que
A normatização legal constituiu-se numa das julgasse desnecessárias diante do exame final.
principais formas de intervenção do Estado Porém, as escolas eram aconselhadas a serem
no serviço de instrução do país, durante o pe- rigorosas nos exames.
ríodo imperial. Em 1879, Leôncio de Carvalho (segundo
Podemos dizer que a década de 1850 Fernando de Azevedo, o inovador de ensino
foi marcada por uma série de realizações re- mais audacioso e radical do período imperial)
levantes para a educação institucional no estabeleceu normas para o ensino primário,
Brasil. No ano de 1854, foi criada a Inspetoria secundário e superior.
Geral da Corte, com o objetivo de orientar e A lei defendia a liberdade de ensino, de
supervisionar o ensino brasileiro. frequência, de credo religioso, a criação de es-
colas normais e o fim da proibição de matrícu-
la de escravos (ARANHA, 1990, p. 156).
Figura 27: Modelo ► Você verá que os vestígios do ensino im-
de Escola Normal
brasileira perial estão presentes no modo de organizar
Fonte: Disponível em: < o ensino secundário, que acompanha, para
http://educacaodialogica. sua estruturação, o parâmetro oferecido pelos
blogspot.com/2009/11/ exames vestibulares.
as-primeiras-escolas-
-normais>. Acesso em: Outro fator quanto ao ensino no período
12/09/2008. imperial que nos chama a atenção é o caráter
propedêutico assumido pelo ensino secun-
Era de responsabilidade desse órgão dário, somado ao seu conteúdo humanístico,
estabelecer regras para o exercício da li- fruto da aversão ao ensino profissionalizante,
berdade de ensino e para a preparação dos fundamentado numa ordem social escravo-
professores primários. Era também de res- crata. Esse caráter propedêutico do ensino se
ponsabilidade da Inspetoria Geral da Corte constitui em um fator do atraso cultural das
reformular os estatutos dos colégios prepa- escolas brasileiras até as décadas recentes.
ratórios no sentido de adequá-los ao padrão Em 1882, Ruy Barbosa sugere a liberdade do
dos livros usados nas escolas oficiais. ensino, o ensino laico e a obrigatoriedade de
Veja que, no período imperial, duas ca- instrução, obedecendo às normas emanadas
racterísticas foram marcantes para o ensino pela Maçonaria Internacional.

58
História - História da Educação

Após a independência, em nome dos prin- Observando essa discussão apresentada


cípios liberais e democráticos, são redigidos por Silva (1969), vemos que o ideal iluminista da
planos visando nova política no campo da ins- educação, ainda nesse período, estava longe de
trução popular, mas, na prática, pouco se con- se tornar uma realidade no Brasil.
cretiza. Segundo Aranha (1990), as ideias ilumi-
Através de uma análise histórica da nossa nistas presentes no século XVIII defendiam o
educação, você verá que até a Proclamação da poder da razão e a capacidade do homem de Atividade
República, em 1889, praticamente nada se fez discernir o próprio destino. Observamos que
Você já pensou em
de concreto pela educação brasileira. Verá que uma educação oferecida apenas para decifrar e quais foram os fatores
a instrução primária, a profissional e o ensino escrever símbolos, desenvolvida pela escola pri- que atribuíram o atraso
normal ficaram inteiramente subordinados à mária, está longe de possibilitar tal realização. cultural ocorrido na
iniciativa e possibilidades econômicas dos esta- Entre os principais pedagogos, cujas ideias educação brasileira, no
dos, da mesma forma que se subordinavam às fundamentaram as práticas pedagógicas pre- período colonial? Pense
nisso e discuta com seus
províncias, no Império. dominantes nesse período abordado, podemos colegas no fórum.
Dada à inexistência de instrução básica mencionar Pestalozzi, Froebel e Herbat.
comum, considerada necessária à formação da Pestalozzi é considerado um dos defenso-
consciência nacional, vários projetos de lei são res da escola popular extensiva a todos. Reco-
elaborados nesse sentido. Em 1890, logo após nhece firmemente a função social do ensino, Glossário
a Independência do Brasil, é criado o Ministério que não se acha restrito à formação do gentil Ensino propedêutico:
da Instrução Pública, Correios e Telégrafos; po- -homem. é aquele organizado
com o único objetivo de
rém, conforme registros históricos, durou pou- Froebel privilegia a atividade lúdica por levar o aluno a um nível
co mais de um ano. Diante das medidas que perceber o significado funcional do jogo e do mais adiantado, isto é, é
foram tomadas pela elite política que gover- brinquedo para o desenvolvimento sensório- sempre um ensino pre-
nava nosso país no período imperial, observa- motor e inventa métodos para aperfeiçoar as paratório para acesso a
mos que uma das características que marcou a habilidades. universidade.
história do ensino no Brasil, ao longo do século Para Herbart, a conduta pedagógica segue
XIX, foi o seu caráter elitista e excludente. três procedimentos básicos: o governo, a instru-
Veja que o ensino dessa época era con- ção e a disciplina.
siderado elitista porque estava voltada para a Lembramos, ainda, que instruir as clas- Atividade
educação de camadas sociais mais altas; e ex- ses inferiores era tarefa fundamental do Esta- Comente no Fórum a
cludentes, porque excluía os escravos, grande do brasileiro e, ao mesmo tempo, condição de sua opinião acerca da
parte dos pobres, negros ou brancos, e tam- existência desse Estado e da nação e que a edu- afirmativa abaixo:
bém as mulheres. cação já defendia, a seu modo, as nossas elites Uma das características
que marcou a história
Se a denominação de escola primária desde o período imperial. do Brasil, ao longo do
representaria política e pedagogicamente a Observamos que muitas questões, no que século XIX, foi o seu
permanência da ideia de um ensino suficiente- diz respeito ao direcionamento do ensino se- caráter elitista e exclu-
mente difundido e realmente formativo, a clas- cundário, acontecem até hoje, principalmente dente.
sificação de escolas de primeiras letras simboli- se considerarmos que são as universidades que
zava, antecipadamente, a tibieza congênita que determinam os conteúdos que serão avaliados
irá marcar a maior parte dos esforços de educa- em seus concursos de vestibulares e que, dessa
ção popular durante o império e até mesmo na situação, decorre a estruturação, pelas escolas,
República. (SILVA, 1969, p. 193). de sua proposta curricular.

Referências
ARANHA, Maria Lucia de Arruda. História da educação e da pedagogia: geral e Brasil. 3 ed. São
Paulo: Moderna, 1990.

COUTINHO, Carlos Nelson. Gramsci. Porto Alegre: LP&M, 1981.

GRAMSCI, Antonio. Os intelectuais e a organização da cultura. 7 ed. Rio de Janeiro: Civilização


Brasileira, 1989.

ROMANELLI, Otaíza de O. História da Educação no Brasil. 19 ed. Petrópolis: Vozes, 1997.

SILVA, Geraldo B. A educação secundária: perspectivas históricas e teoria. São Paulo: Compa-
nhia Editora Nacional, 1969. (Atualidades Pedagógicas, vol. 94).

WEREBE, Maria José G. Grandezas e Misérias do Ensino no Brasil. 2 ed. São Paulo: Ática, 1997.
59
História - História da Educação

Unidade 4
A educação no Brasil: período
republicano

4.1 Introdução
O objetivo desta unidade é que você Brasil após a Lei de Diretrizes e Bases da Edu-
possa conhecer os aspectos contemporâneos cação Nacional – LDBEN – 9.394/1996. Para
da nossa história educacional, focalizando as isso, buscaremos suporte em autores que dis-
questões sociais, políticas e econômicas que cutem essa temática.
a permeiam. Iniciaremos essa reflexão a partir Segundo Romanelli, em 1888, o Brasil Dica
da reforma educacional de Benjamin Cons- contava com apenas 250.000 alunos matricu- Decretos-lei são atos do
tant. Em seguida, analisaremos a educação na lados, para uma população de 14 milhões de presidente da república
2ª república e, por fim, a educação superior no habitantes. A autora afirma ainda que: com imediata efeti-
vidade, ou seja, logo
após publicada, passa a
[...] dos liceus provinciais, em cada capital de província dos colégios particula-
organizar a administra-
res em algumas cidades importantes, alguns cursos normais (que formavam
ção pública. Demonstra
os professores), os Liceu de Artes e Ofícios, criado na Corte, em 1856, e mais
centralização de poder
alguns cursos superiores, que foram enriquecidos com a transformação da an-
nas mãos do presidente.
tiga Escola Central em Escola Politécnica (ROMANELLI, 1997, p. 40).

Percebe-se, a partir dessa afirmativa, a educação popular


preocupação com a formação superior em do período era me-
detrimento da formação elementar da popu- ramente “propedêu-
lação, fato que caracterizava a elitização do tica”, voltada para o
ensino. Outro fato importante a se registrar do exercício de funções,
período é a falta de dados precisos do número nas quais “a retóri-
de matriculados na educação elementar. ca tem o papel mais
Como a educação ainda tinha um caráter importante do que a
elitista, frases como a do Senador baiano João criatividade” (ROMA-
José de Oliveira Junqueira, senador entre 1873 NELLI, 1997, p. 41).
e 1887, ficaram famosas: “Certas matérias, tal- Observe que a
vez, não sejam convenientes para o pobre; o primeira república
menino pobre deve ter noções muito simples”. no Brasil inicia-se
É interessante percebermos que tal fala no governo do pre-
encontra-se coerente com a fala do Rousseau, sidente Marechal
já mencionada no capítulo anterior, que diz Deodoro da Fonseca,
que para o camponês não precisa escola, pois que governou entre
ele já se encontra no ambiente propício para 1889 e 1891, como
aprender o que precisa, que é a natureza. governo provisório.
Podemos, assim, perceber que a fala do Deodoro governou
senador mencionado demonstra a falta de um por decretos-leis, até que fosse promulgada ▲
compromisso político com as pessoas menos a nova Constituição, pois a Constituição de Figura 28: Trabalho
favorecidas economicamente. Dessa forma, 1824 não valia mais. A partir de 1890, é inicia- infantil.
podemos entender predominar nesse país, da a discussão para a criação da nova Consti- Fonte: Disponível em:
http://4.bp.blogspot.
naquela época, uma política que não se inte- tuição que vigoraria durante todo o período com/__7S5KgqN1xI/
ressava pela formação de uma cultura educa- da república velha, ou seja, de sua promulga- ShmWUvb65PI/AAAAA-
cional que atendesse aos interesses de toda a ção, em 1891 a 1930. AAAABU/hMijapmFIa0/
s320/jeito+de+crian%C
sociedade. Veja que, ainda de acordo com Romanel- 3%A7a+trabalho+de+a
A esse respeito, Romanelli afirma que a li (1997), essa Constituição instituiu o sistema dulto.bmp>. Acesso em:
10/09/2008

61
UAB/Unimontes - 2º Período

federativo de governo, consagrou também a pulação rural e desfavorecida e, por outro, re-
Dica descentralização do ensino, prevista em seu força a preocupação com a educação da classe
O caráter elitista da edu- artigo 35, itens 3º e 4º, que reservou à União o dominante, nas escolas técnicas e superiores.
cação era denunciado: direito de criar instituições de ensino superior Nesse período, prevaleceram, ainda no
• pela composição e secundário nos Estados, além de prover a Brasil, os ideais educacionais europeus. Ideais
do corpo docente, instrução secundário no Distrito Federal. estes que pensavam na formação do homem
nomeado pelo À União cabia criar e controlar a instru- com vistas a controlar o seu próprio destino.
governo e formado
por intelectuais de ção superior em toda a Nação, bem como Um homem completo de corpo e alma. Para
reconhecida capa- criar e controlar o ensino secundário acadê- atingir este objetivo, era preciso educar o juízo
cidade nos meios mico e a instrução em todos os níveis do Dis- do aluno ao invés de encher-lhe a cabeça com
acadêmicos; trito Federal. palavras e, para tanto, a prática pedagógica
• pela seletividade Aos Estados, cabia criar e controlar o en- era voltada ao desenvolvimento da autonomia
do corpo discente,
revelada pelos exa- sino primário e o ensino profissional. Na épo- do aluno, ou seja, o professor deveria apontar
mes de admissão ca, este compreendia principalmente escolas o caminho, ou permitir que o aluno descubris-
e promocionais e normais (de nível médio) para moças, e escolas se seu próprio caminho.
pelo pagamento técnicas, para rapazes. A seguir, discutiremos um pouco a respei-
das anuidades; Observe que o ensino, nesse período, as- to das implicações da reforma educacional de
• pelos programas
de ensino, de base sume uma dualidade. De um lado, ofereceu Benjamim Constant no processo da história da
clássica e tradição oportunidade de formação prática para a po- educação brasileira.
humanística;
• pela disciplina
rígida, imposta
pelos Regula-
mentos. Essas
medidas deram ao
4.2 A reforma educacional de
ensino secundário
oficial uma função
formativa dirigida
Benjamim Constant
às elites, através
da preparação
dos alunos para o Conforme anunciamos no início do estudo desta unidade, dialogaremos a respeito do gran-
ensino superior. de marco educacional do período, que foi a reforma educacional proposta por Benjamim Cons-
tant Botelho de Magalhães, nomeado ministro da Instrução Pública, Correios e Telégrafos entre
1889 e 1891.
Vamos lá!
Militar atuante e adepto aos ideais da filosofia positivista de Auguste Comte, tinha como
“orientação a liberdade e laicidade do ensino, como também a gratuidade da escola primária”
(RIBEIRO, 2008). Esses princípios seguiam a orientação do que estava estipulada na Constituição
brasileira.
Veja que, a respeito das intenções da reforma de Benjamin Constant, Azevedo (1963) afirma
que foram:
• transformar o ensino em formador de alunos para os cursos superiores e não apenas pre-
parador;
• a obrigatoriedade do regime seriado;
• a duração do curso secundário em 7 anos;
• a introdução no Ginásio Nacional, antigo Colégio Pedro II;
• toda a série hierárquica das ciências abstratas, segundo a classificação de Compte;
• a inclusão, ao lado do curso bacharelado em Letras, em 7 anos, no Ginásio Nacional;
• o “exame de madureza”, como prova da capacitação intelectual dos alunos no fim dos es-
tudos;
• substituir a predominância literária pela científica.

A esse respeito, Cunha afirma que:

A reforma proposta por Benjamin Constant foi criticada pelos positivistas,


pois feria os princípios pedagógicos de Comte, que defendia a predominância
literária, sendo que na adaptação brasileira o que ocorreu foi o acréscimo de
matérias científicas às tradicionais, tornando o ensino enciclopédico (CUNHA,
1980).

62
História - História da Educação

4.2.1 A lei orgânica Rivadávia de Correa

Veremos, neste estudo, que essa reforma de autonomia dos estabelecimentos federais
foi proposta durante o governo do Marechal de ensino, da extinção da ação fiscalizadora
Hermes da Fonseca, em 1911, a qual se carac- do Governo Federal sobre os estabelecimen-
terizou com insucesso, pois propunha facultar tos particulares.
total liberdade e autonomia aos estabeleci- Saiba que essa reforma propunha, ainda,
mentos de ensino na sua organização, supri- uma reestruturação no Conselho Superior de
mindo o caráter oficial do ensino. Ensino, então criado, e que, de acordo com a
Você verá, ainda, que se destaca, na sua própria lei, substituiria a função fiscal do Es-
proposta, a liberdade que pretendia dar ao tado, tendo ação sobre os estabelecimentos
ensino Superior, sendo considerada como “li- mantidos pelo Governo Federal, assim mesmo
berdade de ensino” que a mesma adotara, co- respeitando a autonomia a esses concedida
rolário do dispositivo constitucional que asse- (Decreto nº 8.659, de 05/04/1911).
gurava a liberdade de profissão e a promessa

4.2.2 A reforma proposta por Carlos Maximiliano


Glossário
Essa foi outra reforma proposta nesse da Educação ou das Secretarias Estaduais de
Escolanovismo: é a
período. Segundo Romanelli (1997, p. 42), ela Educação, a fim de que pudessem expedir cer- concepção baseada nas
representou uma “contramarcha, re-oficiali- tificados e diplomas válidos perante os órgãos ideias de John Dewey,
zando o ensino”, ao autorizar a organização oficiais. que acredita ser a
de uma Universidade Federal, constituída de A reforma proposta por Carlos Maximiliano educação o único meio
Faculdade de Medicina, de Escola Politécnica, foi promulgada em 1915, e foi conhecida como realmente efetivo para
a construção de uma
das duas Faculdades Livres de Direito do Rio Lei Carlos Maximiliano (Dec. 11.530). Ela resta- sociedade democrática,
de Janeiro, Universidade essa que só foi criada beleceu a equiparação dos estabelecimentos que respeite as carac-
em 1920, no Governo de Epitácio Pessoa. estaduais com os federais e manteve o exame terísticas individuais de
As escolas particulares, que funcionavam vestibular, ao mesmo tempo em que assegurou cada pessoa, inserindo
sob o regime de concessão do poder público, aos alunos dos colégios particulares o direito de -a em seu grupo social
com respeito à sua
deveriam ser previamente autorizadas a fun- prestação de exames preparatórios no Colégio unicidade, mas como
cionar e, a seguir, reconhecidas e inspeciona- Pedro II e nos colégios equiparados, para fins de parte integrante e parti-
das pelos setores competentes do Ministério inscrição em exame vestibular (SILVA, 1969). cipativa de um todo.

4.2.3 Reforma Rocha Vaz

A reforma proposta por Rocha Vaz, no para a importação e entrada dos imigrantes,
governo do presidente Arthur Bernardes, em que, por sua vez, traziam outras culturas que
1925, representou a última tentativa do perío- incrementavam o mercado.
do no sentido de instituir normas regulamen- Nesse mesmo sentido, não podemos
tares para o ensino, tendo o mérito de esta- deixar de esclarecer que juntamente com a
belecer, pela primeira vez, um acordo entre a formação das cidades, o que caracterizava a
União e os Estados, propondo a promoção da mudança de modelo de sociedade rural para
educação primária e eliminando os exames urbano, ocorria a necessidade de que as pes-
preparatórios para acesso à educação – o que soas soubessem ler e escrever. Isso porque
caracterizava um processo excludente para os precisavam votar para eleger os representan-
menos favorecidos. (ROMANELLI, 1997). tes das cidades, ou seja, os políticos.
Um grande traço social desse período foi Ao considerar o exposto, lembramos a
a transição do modelo rural para o modelo so- você que, em função da transição do modelo
cial urbano-industrial que começava a tomar rural para o modelo urbano, a reforma propos-
fôlego no Brasil. Fato que não podemos deixar ta por Rocha Vaz foi considerada reacionária,
de enfatizar, porque o mesmo justifica a ne- por conter em seu bojo a “Resistência Conser-
cessidade de formar mão de obra barata para vadora” do cenário educacional, retirando em
o mercado de trabalho emergente, necessitan- definitivo a autonomia administrativa e didáti-
do de pessoas para consumir o que o merca- ca concedida pela sua antecedente.
do oferecia, em função da abertura dos portos As medidas adotadas por essa reforma

63
UAB/Unimontes - 2º Período

Dica concorreram para acentuar o período de crise todos que se alicerçavam nos fundamentos
Outro fato social política que resultaria na revolução de 1930; da teoria de Herbart que, com base na razão
marcante para o novo por intermédio dela, o Estado passa a contro- cartesiana, apresenta passos a serem seguidos
cenário educacional lar ideologicamente o sistema de ensino. para ensinar.
que despontava no país É interessante, ainda, considerarmos que, Ainda vale ponderar que os intelectuais
foi a SEMANA DE ARTE nesse contexto, os conhecimentos que com- e artistas brasileiros de reconhecimento inter-
MODERNA, aconteci-
mento entre os dias punham os conteúdos ensinados deixam de nacional propunham uma “redescoberta do
11 e 18 de fevereiro de ser fundamentados na sagrada escritura para país” com a produção de obras de arte que va-
1922, no Teatro Central, serem fundamentados nas ciências naturais, lorizassem a cultura brasileira sem se diminuir
em São Paulo. ou seja, no positivismo. Para relembrar o sig- frente às propostas artísticas europeias.
nificado de positivismo, leia o caderno de Filo- Esse movimento acena para a nova eli-
sofia da Educação e o caderno de Pesquisa em te intelectual brasileira que se formara e que,
Educação. anos depois, alteraria sua história, agrário-pro-
No que se refere ao ensino na época, esse dutora, com novas tendências produtivas, con-
era vivenciado por meio da utilização de mé- forme veremos na década de trinta.

4.2.4 As reformas educacionais que influenciaram a década de


1930

Como mencionamos anteriormente, com era mais a necessidade da sociedade emergen-


as novas tendências produtivas a partir da dé- te. Em meio ao contexto mencionado, entram
cada de trinta, encontra-se nesse país a acu- em cena educadores brasileiros que haviam
mulação de capital, ocorrida com a produção estudado na Europa e Estados unidos, e que re-
agropecuária, o que permitiu que o Brasil pu- tornavam ao Brasil com ideias oriundas do con-
desse investir no mercado interno e na produ- texto em que se formaram, e assumem o papel
ção industrial. de educadores e, também, cargos no governo.
Essa nova situação econômica exigia a for- Compreendemos que tal realidade favo-
mação de mão de obra especializada e, para tal, receu a realização das reformas que mudaram
foi necessário propor novas alternativas para o o modelo da educação brasileira, por meio da
setor educacional, o que significava que a edu- implantação da escola nova, que trazia consi-
cação não poderia ser pensada mais com o in- go ideais referentes à visão humanista moder-
tuito de formar mão de obra barata, pois não na, como veremos a seguir.

4.2.5 A reforma de Lourenço Filho

Veja que, de acordo com as nossas coloca- moveu a reforma no curso normal (profissio-
ções anteriores, referentes às necessidades da nalização do curso), além do convite para os
sociedade brasileira vivenciada na década de professores realizarem cursos de férias para
trinta, foi realizada a reforma educacional de- o aperfeiçoamento da profissão, com fins de
nominada de reforma Lourenço Filho, por meio inovar todo o processo pedagógico. Era ainda
do educador Manuel Bergström Lourenço Filho, uma exigência do educador que os professo-
paulistano de Porto Ferreira (1897-1970) que, fiel res aprendessem a forma correta de aplicação
a seu referencial teórico, procurou intervir na dos Testes, para que esses fossem utilizados
educação brasileira respondendo às questões de maneira cautelosa e respaldada no conteú-
oriundas dos interesses políticos vivenciados do teórico defendido por ele.
em seu contexto histórico. Enfatizamos que as propostas de Louren-
Psicólogo por formação, Lourenço Filho ço Filho foram inovadoras. Porém, ressaltamos
desenvolveu o chamado Teste ABC, que verifi- que elas surtiram efeitos positivos apenas para
cava a maturidade necessária à aprendizagem os interesses políticos da época, e não para
da leitura e da escrita, principalmente no que as pessoas em geral. No decorrer da história,
se refere à reforma educacional do Estado do mais precisamente em outubro de 1931, ao as-
Ceará, no ano de 1922. sumir a Diretoria Geral de Instrução Pública do
Precisamos esclarecer que, tendo em Distrito Federal, Anísio Teixeira encontra um
vista atender à demanda do novo modelo de cenário pouco favorável à educação pública
educação implantado, esse educador pro- na capital do país.

64
História - História da Educação

Veja que, naquele ano, segundo dados do dora, isto é, um “sistema” escolar com edifica-
Relatório de 1932, para uma população escolar ções de duas naturezas: as escolas nucleares,
mínima – crianças de 6 a 12 anos – de 196.000 ou escolas-classe e os parques escolares, onde
indivíduos, só existiam escolas para cerca de as crianças deveriam frequentar regularmente
45% das crianças. Esse fato era agravado, ain- as duas instalações.
da, pelas condições dos prédios, tanto os pú- No primeiro turno, em prédio adequa-
blicos como os alugados, cuja maioria se cons- do e econômico (escola-classe), receberiam o
tituía de residências particulares, impróprios ensino propriamente dito; no segundo turno,
ou inadequados ao funcionamento escolar. em um parque escolar aparelhado e desen-
Com base nos inquéritos e levantamen- volvido, receberiam a educação propriamente Para saber mais
tos realizados pelo Serviço de Prédios e Apa- social, a educação física, a educação musical,
relhamentos Escolares, o Departamento de a assistência alimentar e o uso da leitura. Des- Para você entender me-
lhor acesse: http://www.
Educação estabeleceu um plano mínimo de sa forma, no Rio de Janeiro, os prédios foram centrorefeducacional.
construção, a ser realizado até o ano de 1938, construídos obedecendo a cinco tipos: a “Es- pro.br/aniescnova.html
que compreendia, entre outras coisas, a cons- cola Tipo Mínimo”, com 2 salas de aula e uma Sobre Lourenço Filho,
trução de 74 edificações novas, ainda insufi- sala de oficinas, para as regiões de reduzida acesse: http://www.
cientes para abrigar a população escolar atual população escolar; a “Escola Tipo Nuclear” ou dgbiblio.unam.mx/
(TEIXEIRA, 1935, p.196). escola-classe, com 12 salas de aula, além de
No Rio de Janeiro, como em todo o Brasil, locais apropriados para administração, secre-
o problema de edificações escolares não ha- taria e biblioteca. Esses prédios foram proje-
via sido antes objeto de soluções previamente tados pelo arquiteto Enéas Silva, da Divisão
planejadas e sistematicamente seguidas. Para de Prédios e Aparelhamentos Escolares; Escola
resolver o problema da escassez de prédios Platoon 25 classes (12 salas comuns, 12 salas
escolares, era preciso encontrar soluções em especiais e o ginásio). O sistema “platoon” era
que se contrabalançassem as deficiências em constituído de salas de aula comuns e salas es-
relação ao terreno, à localização, às condições peciais para auditório, música, recreação e jo-
do prédio, à economia ou ao programa educa- gos, leitura e literatura, ciências, desenho e ar-
cional, principalmente quanto às grandes con- tes industriais; e o seu funcionamento dava-se
centrações escolares. pelo deslocamento dos alunos, através de “pe-
Assim, já em sua administração no Rio de lotões”, pelas diversas salas, conforme horários
Janeiro, Anísio concebe uma proposta inova- pré-estabelecidos (DÓREA, 2008).

BOX 4
Afirmava o documento O manifesto dos pioneiros da educação de 1932:
“Em nosso regime político, o Estado não poderá, de certo, impedir que, graças à organi-
zação de escolas privadas de tipos diferentes, as classes mais privilegiadas assegurem a seus
filhos uma educação de classe determinada; mas está no dever indeclinável de não admitir,
dentro do sistema escolar do Estado, quaisquer classes ou escolas, a que só tenha acesso uma
minoria, por um privilégio exclusivamente econômico. Afastada a ideia do monopólio da edu-
cação pelo Estado num país em que o Estado, pela sua situação financeira, não está ainda em
condições de assumir a sua responsabilidade exclusiva, e em que, portanto, se torna necessá-
rio estimular, sob sua vigilância as instituições privadas idôneas, a “escola única” se entende-
rá, entre nós, não como “uma conscrição precoce”, arrolando, da escola infantil à universida-
de, todos os brasileiros, e submetendo-os durante o maior tempo possível a uma formação
idêntica, para ramificações posteriores em vista de destinos diversos, mas antes como a escola
oficial, única, em que todas as crianças, de 7 a 15, todas ao menos que, nessa idade, sejam
confiadas pelos pais à escola pública, tenham uma educação comum, igual para todos” (Mani-
festo dos Pioneiros, 1932).

Fonte: Disponível em: <http://cpdoc.fgv.br/producao/dossies/JK/artigos/Educacao/ManifestoPioneiros>. Acessado


em: 10/12/2008.

4.3 A educação na 2ª república


Para continuarmos nossas conversas a respeito da história da educação brasileira, com vis-
tas a pensar no manifesto dos pioneiros, precisamos nos lembrar de que a educação foi foco de

65
UAB/Unimontes - 2º Período

preocupação internacional e nacional, o que provocou a reforma da educação depois da Primei-


ra Guerra Mundial. Tal reforma, imbuída dos interesses das políticas liberais democráticas, inspi-
rou a defesa da escola para todos. Mas foi após a década de 30 que se efetivaram as mudanças,
no Brasil. Conforme Azevedo, o Movimento da Reconstrução Nacional pela Educação acontece
através do Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova que:

apontou a necessidade de repensar a formação do magistério primário, com a


preparação nas escolas normais, uma vez que esse estabelecimento não conse-
guia, a contento, oferecer sólida preparação pedagógica nem a educação geral
que deveria (AZEVEDO, 1963, p. 73).

Dessa forma, você não pode deixar de considerar que, apesar das primeiras reformas repu-
blicanas e das iniciativas em prol do desenvolvimento do ensino público no país, a questão do
analfabetismo continuava representando um sério problema a ser enfrentado nas décadas do
século XX. É nessa realidade que o Manifesto dos Pioneiros compreende o envolvimento de di-
versos educadores que se voltaram aos problemas educacionais, com a intenção de “melhorar” a
situação do ensino no país.
Porém, a partir do texto citado no Box anterior, do trecho retirado do Manifesto, percebe-
se o caráter reivindicatório por uma educação de qualidade, ofertada pelo estado, admitindo-se
cooperação do setor privado. Cooperação esta que denuncia o incentivo da privatização da edu-
cação e a preocupação com a oferta de um ensino que garanta a qualidade da educação para
uma classe privilegiada economicamente.
Esclarecemos-lhe que, embora os educadores envolvidos no mencionado manifesto tives-
sem interesses e visões distintas acerca do que era a educação, convergiam quanto à necessi-
dade de uma renovação pedagógica adequada a atender ao planejamento para uma civilização
urbano-industrial.

4.3.1 O manifesto dos pioneiros em 1932

Foi no bojo da manifestação política acima mencionada que, como expressão desse movi-
mento, pode-se destacar o Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova, de 1932, em que partici-
param pessoas como Roquete Pinto, Fernando de Azevedo, Cecília Meireles, Anísio Teixeira, Pas-
choal Lemme e Lourenço Filho.
Para continuarmos nossas conversas, você precisa ter claro que, no que diz respeito ao Ma-
nifesto, este se trata de um documento de política educacional que, mais do que a defesa da
Escola Nova, está em causa a defesa da escola pública. Nesse sentido, o Manifesto emerge como
uma proposta de construção de um amplo e abrangente sistema nacional de educação pública,
abarcando desde a escola infantil até a formação dos grandes intelectuais pelo ensino universitá-
rio (Saviani, 1997, p.184).
Ressaltamos que os educadores envolvidos no manifesto buscavam a hegemonia educacio-
nal do país. Entretanto, havia também a intenção pela ascensão do grupo aos setores educacio-
nais referenciados ao poder do Estado. Entre esses educadores, vigoravam as ideias escolanovis-
tas em oposição ao ensino tradicional. Diante do exposto, esclarecemos que:

A expressão Escola Nova (escolanovismo) não se refere a um só tipo de escola


ou mesmo a um determinado sistema escolar, mas a um conjunto de princí-
pios, que resultam em determinadas características, com o objetivo de ree-
xaminar e rever os problemas didáticos tradicionais de ensino (NOGUEIRA,
2001, p.25).

66
História - História da Educação

BOX 5
O escolanovismo propõe um novo tipo de homem, defende os princípios democráticos,
isto é, todos têm direito a assim se desenvolverem. No entanto, isso é feito em uma sociedade
capitalista, em que são evidentes as diferenças entre as camadas sociais. Assim, as possibili-
dades de se concretizar esse ideal de homem se voltam para aqueles pertencentes ao grupo
dominante. A característica mais marcante do escolanovismo é a valorização da criança, vista
como ser dotado de poderes individuais, cuja liberdade, iniciativa, autonomia e interesses de-
vem ser respeitados. O professor passou a ser um auxiliar do desenvolvimento livre e espon-
tâneo da criança; é ele o facilitador de aprendizagem. Os processos de transmissão e recepção
são substituídos pelo processo de elaboração pessoal e o saber é centrado no sujeito cognos-
cente e não mais no objeto de conhecimento. A valorização do clima de harmonia na sala de
aula é uma forma de vivência democrática. O movimento escolanovista preconiza a solução
de problemas educacionais numa perspectiva interna da escola, sem considerar a realidade
brasileira nos seus aspectos político, econômico e social. O problema educacional passa a ser
uma questão escolar técnica. A ênfase recai no ensinar bem, mesmo que a uma minoria. A
Escola Nova transfere, portanto, a preocupação dos objetivos e conteúdos para os métodos, e
da quantidade para a qualidade.

Fonte: Veiga, 1989, p. 50

Ainda a esse respeito, podemos esclare- gir a meta da educação para todo o cidadão,
cer que a Pedagogia Nova expressa uma preo- visto que aproximadamente 50% da popula-
cupação com a formação do caráter e da per- ção ainda era analfabeta (FACCI, 1998). Quem
sonalidade do indivíduo, abrangendo, para tal, tinha condições financeiras adequadas para
conhecimentos da área da biologia e também ingressar em escolas privadas tinha acesso à
da psicologia. educação de qualidade. Caso contrário, sub-
Um dos principais nomes relacionados metia-se a uma formação precária
ao escolanovismo é John Dewey (1859-1952), nos mais variados aspectos.
educador norte-americano que defendeu a Estudiosos afirmam que a Esco-
ideia do aprender fazendo, de forma a atender la Nova procurou corrigir as “imper-
aos interesses da sociedade capitalista ame- feições” deixadas pela Pedagogia
ricana, de formar as pessoas nos moldes de- Tradicional; porém, contraditoria-
mandados pelo desenvolvimento econômico. mente, não adequaram as escolas
Dewey, “[...] empregou a maior parte dos seus públicas ao novo modelo idealizado
esforços na aplicação da psicologia a proble- para a educação, conforme o mode-
mas da educação” (SCHULTZ & SCHULTZ, 2000, lo europeu e norte-americano.
p.158). A respeito dos fundamentos filosóficos O que podemos ponderar que
e implicações políticas do pensamento de De- não é diferente da atualidade, ao
wey, você deve rever os capítulos um e dois do considerarmos o modelo educacio-
caderno de Didática. nal da Espanha, que vem sendo di-
Ele considerava a educação como um fundido a todo vigor como parâme-
processo social indispensável, um meio para tro a nortear a prática pedagógica vivenciada ▲
a continuidade e o progresso ordenado da so- nas escolas brasileiras, a serviço dos ideais das Figura 29: Lourenço
ciedade humana. A respeito da Escola Nova, políticas neoliberais, por intermédio do banco Filho, um dos
podemos esclarecer que esta foi uma reação mundial. signatários do
à Pedagogia Tradicional, a qual vigorou até o Voltamos a atenção à proposta educa- Manifesto.
início do século XX, porém evidenciou resul- cional de Dewey e, assim, dizemos que esta Fonte: Disponível em:
(CPDOC/FGV/ArquivoLou-
tados insatisfatórios para a educação pública, pode ser encarada como “escola ativa”, ou renço FIlho/LF foto 96-1)>.
cuja estrutura não se encontrava adequada à seja, o aprendizado é feito a partir do trei- Acesso em: 14/09/2008.
vivência do processo educacional, conforme no – tendência influenciada pelo Tayloristo
proposto pela mesma. e Fordismo, fato que acena para um modelo
Com o discurso de melhorar a qualidade, de educação cujas origens encontram-se no
a educação muda a estrutura do modelo edu- pensamento de Aristóteles, que valoriza a ati-
cacional anterior, de forma a elitizar a quali- vidade teórica e a atividade prática. Porém,
dade da educação por intermédio das escolas não supera a dicotomia entre ambas, ao com-
particulares, cuja estrutura era adequada ao preender que a teoria é a técnica que dirige a
trabalho pedagógico proposto, ao contrário ação prática.
da escola pública. Conforme acima mencionado, para o mo-
Dessa forma, fica apenas no discurso atin- vimento escolanovista, a educação deixa de

67
UAB/Unimontes - 2º Período

Dica ser centrada no professor que ensina, o que, ciadas na escola pública com as condições em
Preocupados com uma tradicionalmente falando, remete à teoria. que ela se encontrava, o que a tornava exclu-
educação pública de quali- Passa, então, a centrar-se no aluno, o que re- dente e elitista. (Nogueira, 2001, p. 28).
dade e que se desvinculas- mete à ação prática, descentraliza a atenção Para Saviani (1997, p. 13), o pensamento
se totalmente dos dogmas
da igreja católica, intelec- na quantidade do conteúdo ensinado e volta- de Dewey “desloca o eixo da questão peda-
tuais do período lançaram, se para a qualidade do ensino. Fato este que, gógica do intelecto para o sentimental; do
em 1932, o Manifesto dos com o decorrer da história da educação brasi- aspecto lógico para o psicológico; dos conteú-
Pioneiros da Educação
Nova. Tal documento foi leira, gradativamente provoca a negação do dos cognitivos para os métodos ou processos
escrito por Fernando de conteúdo a favor da valorização do processo, pedagógicos; do professor para o aluno”. O
Azevedo e assinado por vá- o que, por sua vez, contribui significativamen- autor ressalta, ainda, que a teoria pedagógica
rios intelectuais da época,
como Hermes Lima, Carnei- te com o quadro de fracasso escolar encontra- de Dewey considera que o importante não é
ro Leão, Afrânio Peixoto, e, do na realidade educacional brasileira até a aprender, mas aprender a aprender. Importân-
certamente, Anísio Teixeira, atualidade. cia essa que precisamos esclarecer, não é coin-
grande amigo de Fernando
de Azevedo. Afirmava o do- Com o discurso de humanização e de cidência, faz lembrar os pilares da educação
cumento que, se a evolu- negação da autoridade da escola tradicional, atual afirmados pelas políticas internacionais
ção do sistema cultural de é proposto que a escola deixe de ser um am- de cunho neoliberal, oriundas dos países que
um país depende de suas
condições econômicas, é biente de sujeição, de disciplina, de silêncio, detêm o capital, para os países periféricos en-
impossível desenvolver as para ser um ambiente de alegria, de pesquisa tendidos como os mais pobres. Como no caso
forças econômicas e pro- e de dinamismo, de assistência individualiza- da América Latina, onde, por sua vez, se en-
dutivas sem o preparo in-
tensivo das forças culturais da, características impossíveis de serem viven- contra o Brasil.
e o desenvolvimento das
aptidões; aos fatores fun-
damentais do acréscimo de
riqueza de uma sociedade, 4.3.2 Criação do Ministério da Educação
a educação seria, portanto,
fundamental tanto para o
processo de desenvolvi- Na sequência dessa reflexão, alertamos a pedista de sua proposta. Segundo Maria Tetis
mento quanto o definiria
numa ordem dialética você que, em 1930, no governo de Getúlio Var- Nunes, citada por Romanelli (1997), o caráter
(apud Romanelli, 1983). gas, é criado o Ministério da Educação e Saúde enciclopedista dos programas curriculares
Alegavam os intelectuais Pública. É notório, pela criação desse ministé- do período a tornavam uma educação para
que a educação do período
privilegiava as elites – área rio, como os governos entendiam (e muitos a elite. Além do rigor avaliativo da proposta,
onde atuava a igreja cató- hoje ainda assim o consideram) que educação a obrigatoriedade de se cursar línguas como
lica com cursos pagos – e e saúde deveriam andar juntos para o desen- francês, alemão e latim impossibilitava o aces-
que a educação popular
necessitava de maior aten- volvimento da nação. O que não podemos es- so à maioria das pessoas ao ensino, de forma a
ção estatal. Além disso, a quecer é que essa união é uma grande ferra- dar à proposta o caráter excludente.
classe média ascendente menta política. Outra grande criação do período foi a re-
do período clamava por
melhoria do ensino médio, Francisco de Campos é nomeado o seu forma do ensino profissional. O que não po-
seguidos pelos anseios primeiro ministro, promovendo inovações deríamos deixar de ponderar é que a criação
das classes populares que para o setor educacional. No mesmo ano, dos mencionados cursos justificavam-se na
reivindicavam escolas com
ensino primário de boa criou o estatuto das Universidades e organi- demanda da mão de obra especializada para o
qualidade. Fazia parte das zou o ensino secundário. Na sequência de seus mercado de trabalho.
propostas: Educação de atos pela educação, é fundada, em 1934, a Uni- O primeiro curso profissional a ser cria-
qualidade, pública, gratuita
e totalmente laica; Direitos versidade de São Paulo e, em 1937, a Universi- do pela reforma de Francisco Campos foi o de
de todos à educação: dade Nacional do Rio de Janeiro, atual Univer- contabilidade, seguido de sua devida regula-
assegurados que homens sidade Federal do Rio de Janeiro. Durante o mentação para o ensino superior (conforme
ou mulheres deveriam
ter acesso às mesmas Estado Novo, foram promulgadas as leis orgâ- decreto 20.158 de 30 de junho de 1931). Teve
oportunidades educativas; nicas do ensino, dividindo o curso secundário grande influência no período o ensino pro-
educação posta para o em ginasial e colegial (clássico ou científico). fissional ministrado através das empresas e
desenvolvimento econômi-
co, financeiro e intelectual Embora as propostas de Francisco Cam- indústrias, tais como o Serviço Nacional da In-
de toda a nação; no início pos tivessem o mérito de serem inovadoras, dústria (Senai) e o Serviço Nacional do Comér-
da escolarização, escolas podemos entender o caráter elitista e enciclo- cio (Senac).
pré-primárias e ensino
primário se configura-
riam num único bloco; o
ensino primário deveria ser
articulado ao ensino se- 4.3.3 A criação das Leis de Diretrizes e Bases da Educação
cundário; o ensino superior
deveria ser diversificado, Nacional
proporcionando formação
em cursos para as carreiras
liberais e para as profissões Na esteira da história da educação brasi- ticas direcionadas ao progresso, a Constituição
técnicas. leira, encontramos a sociedade brasileira se Federal de 1946 foi a primeira a trazer no seu
organizando gradativamente em direção ao texto a expressão “diretrizes e bases” associa-
processo de industrialização. Em meio às polí- da à questão da educação nacional.
68
História - História da Educação

Porém, as discussões para a efetivação de tando a educação como privilégio de classe.


uma lei que tratasse especificamente da edu- Por outro lado, este mesmo Estado ouviu
cação só ocorreu em 1961. Apesar de ser ino- as exigências da “corrente católica”, ainda dou-
vadora, no sentido de propor legalmente uma trinária e influente, que queria estar presente
estrutura para a educação nacional, essa lei no cenário da educação, do qual foi excluí- Dica
não trouxe significativas mudanças para o ce- da com a expulsão dos jesuítas. (CARVALHO, A reforma Francis-
nário do período. 2008). co Campos tornou
Destaca-se a sua importância na unifica- Para Saviani (1997, p.21), esse período foi obrigatória no ensino
ção dos sistemas escolares e sua capacidade marcado pelo contexto político e econômico a realização de uma
arguição mensal, uma
descentralizadora, transmitindo para os esta- de um país que fazia as “substituições de im- prova parcial a cada
dos membros da federação a autonomia para portações” e dava os primeiros passos para o dois meses e um exame
exercer a função educadora e o da distribuição avanço da industrialização, visando proporcio- final. Era o total de 130
de recursos para a educação. nar o desenvolvimento do país, condição ne- provas e exames, o que
O Estado buscou, com o texto constitu- cessária para a sua libertação nacional. equivalia a uma prova a
cada dois dias de aula.
cional, no campo da educação, satisfazer às Fique sabendo que, com a mudança eco- Nesse mesmo período,
exigências políticas da época, procurando nômica e a ruptura política provocada pelo era criada a função de
considerar as reivindicações do Manifesto dos golpe militar de 1964, ao mesmo tempo em “inspetor”, profissional
Pioneiros (já apresentado no nosso texto an- que se buscava uma libertação, propagava-se que para “fiscalizar” o
teriormente), representante de uma ideologia uma política ideológica nacionalista. Isso de- bom andamento das
propostas educacionais.
renovadora próxima da concepção liberal e sencadeava um plano econômico que levava
idealista da educação, que exigia que o Estado à industrialização do país, através de uma pro-
assumisse um programa de educação nacional, gressiva desnacionalização da economia. O
laica, pública e obrigatória para todos, contes- Brasil tinha como opção: Dica
[...] ou compatibilizar o modelo econômico com a ideologia nacionalizando a Em 1911, o engenhei-
economia, ou renunciar ao nacionalismo desenvolvimentista e ajustar a ideo- ro norte-americano
logia política à tendência que se manifestava no plano econômico. (SAVIANI, Frederick W. Taylor
1997, p.82, apud CARVALHO, 2008). publicou Os princípios
da administração cientí-
fica; ele propunha uma
Veja você que, em 1965, através da Lei e 1ª a 4ª série ginasial, se unifica no chamado 1º intensificação da divisão
4.464, o Brasil regulamenta a organização de grau de 1ª a 8ª série; o 2º grau se profissionaliza do trabalho, ou seja,
órgãos de representação estudantil, e estabe- e o currículo é reorganizado, tendo como prin- fracionar as etapas do
lece acordos como o MEC e seus órgãos, com cipal objetivo a formação do cidadão naciona- processo produtivo de
a USAID (agência internacional de desenvolvi- lista, que vive na ordem e que produz para o modo que o trabalha-
dor desenvolvesse tare-
mento dos EUA), que fazia assistência técnica progresso. Essa reforma trouxe um grande es- fas ultra-especializadas
e cooperação financeira, gerando o acordo vaziamento da qualidade de ensino. e repetitivas. O norte-a-
MEC-USAID. Através desse acordo, as reformas Além disso, por se tratar de uma lei pro- mericano Henry Ford
no Ensino Superior acabam incorporando as mulgada durante o regime militar, continha foi o primeiro a por em
tendências modernizantes da economia (CAR- fortes pressões às inovações educacionais que prática, na sua empresa
“Ford Motor Company”,
VALHO, 2008). trouxessem qualquer tipo de ameaça para o o taylorismo. Posterior-
Carvalho (2008) ainda afirma que, no setor regime ditatorial. Fortaleceu-se, no período, a mente, ele inovou com
econômico, a indústria buscava ser mais autô- criação de instituições particulares que aten- o processo do fordismo,
noma, porém, para isso, era necessário o inves- diam plenamente aos ditames dos militares que, absorveu aspectos
timento do capital estrangeiro que se instalava (CARVALHO, 2008). do taylorismo.
Consistia em organizar
no país, trazendo junto consigo influências nos Podemos considerar que, no contexto em a linha de montagem
vários outros setores, como o político e o social. questão, encontramos o Plano Decenal de De- de cada fábrica para
A educação novamente foi considerada senvolvimento Econômico e Social de 1967 a produzir mais, contro-
meio para se estabelecer a ordem e o progres- 1977, que ocasionou alterações tanto no Ensino lando melhor as fontes
so, ou melhor, para promover o desenvolvi- Superior (Lei 5.540/68) quanto no ensino básico de matérias-primas e de
energia, os transportes,
mento que dependia de uma modernização (Lei 5.692/71). a formação da mão de
dos meios de comunicação. Essa preocupação Assim, não podemos deixar de ponderar obra.
foi precursora do slogan “Educação, direito de para você que, por intermédio da entrada do
todos. Escola para todos”. Esse slogan fez com capital estrangeiro, as políticas vigentes bus-
que as exigências de reestruturação educa- cavam fortalecer o Estado, com fins a tornar o
cional, sob a ótica do projeto de educação do Brasil uma potência econômica, o que tornou o
MECUSAID, fossem incorporadas à Lei 5.692/71, sistema educacional adequado ao modelo im-
segunda lei de diretrizes e bases da educação. posto pelas políticas norte-americanas para a
Essa traz a ideia de escola única, com a América Latina.
justificativa de profissionalização universal do Veja você que foram criadas, nesse contex-
ensino de 2º grau. Assim sendo, o ensino primá- to, faculdades particulares, que funcionavam
rio, antes organizado em 1º ao 4º ano primário como empresas, com o intuito de obter lucros.
69
UAB/Unimontes - 2º Período

Enfim, você precisa ter claro que a organização No contexto em questão, o tecnicismo
Dica social brasileira ocorrida nas décadas de 1960 vazio de conteúdo que predominava passa a
O Banco Internacional e 1970 marcou a história da educação desse dar vazão a novas concepções que, de acor-
de Reconstrução e De- país por atribuir a ela um papel unicamente do com Mialchi (2003), implantaram-se como
senvolvimento (BIRD), econômico, fazendo dela um veículo de desen- forma de aceitar e entender os excluídos, en-
conhecido como Banco
volvimento econômico-industrial, a favor do tre eles o professor. O que entendemos fazer
Mundial, foi criado em
1944 e surgiu com a desenvolvimento e da manutenção de condi- parte de um discurso imbuído dos interesses
tarefa de reconstruir cionantes sociais, políticos, ideológicos e eco- das políticas de globalização, que priorizam
os países europeus nômicos, que contribuíram decisivamente para perspectivas individualizantes, cujos objetos
desestruturados pelo o processo de escravização do Brasil em relação de estudo requerem a interpretação de forma
segundo grande
ao capital estrangeiro, representado pelas clas- subjetiva, e assim, podem ser entendidos em
conflito mundial. Sob
um forte domínio ses dominantes, compostas pelos grandes em- uma perspectiva micro, de forma a deixar à
dos Estados Unidos, presários e pelos Estados Unidos. margem as questões históricas, políticas e eco-
que o preside desde a Para prosseguirmos as nossas conversas, nômicas vivenciadas pela sociedade.
fundação, o Banco tinha precisamos ter claro que, nas mencionadas dé- Nesse período da história, no que se refere
como objetivo discutir
cadas, o Estado visava modelar e remodelar a ao cenário mundial, é promovida pelas políticas
os rumos das reformas
do pós-guerra, visando formação das pessoas com um perfil técnico, neoliberais, por meio dos países economica-
impulsionar o cresci- para promover o desenvolvimento social de- mente mais favorecidos, uma nova organização
mento econômico e sejado a partir da relação capital-trabalho-e- da sociedade capitalista, cujo resultado implica
evitar novas crises inter- ducação como instrumento da acumulação de o domínio dos países ricos sobre os países pe-
nacionais. Vale ressaltar
capital. riféricos, especialmente os países da América
que, nesse contexto,
ao Banco era dado um Na sequência, é pertinente ressaltarmos Latina, como no caso do Brasil.
papel secundário: o da que o aumento das vagas nas escolas, sem o Para que você compreenda melhor a his-
reconstrução das eco- investimento na qualidade da educação, pro- tória da educação brasileira no período em
nomias inviabilizadas vocou a evasão e a repetência e, ainda, um questão, apresentamos o nosso pensamento a
pela guerra e para con-
processo de formação de professores inade- respeito das ideias da Jacomeli (2007), quando
cessão de empréstimos,
a longo prazo, para o quado ao perfil necessário a um modelo de essa autora se refere ao cenário histórico políti-
setor privado, recaindo educação de pessoas emancipadas. co mundial, ponderando que, com a queda do
sobre o FMI o maior Na esteira da história, com o fim da dita- Muro de Berlim, em 1989, por meio de alianças
interesse das nações dura militar e com o projeto de desenvolvi- econômicas e geopolíticas realizadas pelas su-
líderes (TOMMASI, 1996,
mentismo econômico falido, ganham fôlego perpotências mundiais, o mundo é redesenha-
p. 18).
De sua criação até hoje, no Brasil discussões referentes aos problemas do, transpondo fronteiras e promovendo a arti-
o Banco Mundial passou sociais e, em meio a tais discussões, encon- culação da globalização e do capitalismo.
por mudanças consi- tramos as referentes à realidade educacional Assim, com o neoliberalismo, afirma-se a
deráveis, consequência vivenciada no país. Por meio das discussões democracia a serviço do aumento de lucro do
das transformações
mencionadas, são realizadas críticas pelos capital internacional, que legitima a globaliza-
ocorridas no cenário
mundial. Assim, a partir educadores que se articulam com base em ção do capitalismo. Dessa forma, é difundida a
dos anos 50, paulatina- ideias marxistas oriundas de sociólogos fran- ideia de que, para viver em uma sociedade com
mente, foi adquirindo ceses como Bourdieu e Passeron, Baudelot e igualdade de oportunidades e mais humana, é
um perfil de instituição Establet e do filósofo Althusser, e assim, de- preciso que os indivíduos sejam democráticos,
financiadora de projetos
nunciam a escola como aparelho ideológico para não gerar oposições e possíveis resistên-
em países emergentes
ou em desenvolvimen- do estado. cias a favor de outra forma de ideologia.
to, ampliando, inclusive,
para cerca de 180 o
número de países mem-
bros (FONSECA, 1995,
p. 46).
Isto lhe deu a condição
de ser, na contempora-
neidade, a instituição
de maior influência no
cenário político e eco-
nômico e educacional
do mundo. Figura 30: Educação e ►
Neoliberalismo.
Fonte: Disponível em:
< http://www.riopreto-
-in-net.com.br/walmir/
site.html >. Acesso em:
10/09/2008
.

70
História - História da Educação

Ressaltamos, aqui, que as políticas eco- presas transnacionais, tornando a educação Dica
nômicas, sociais e educacionais brasileiras dependente das políticas e dos financiamen- Da constituição de 1988 à
também são organizadas de acordo com o tos intervencionistas dos organismos interna- Lei nº 9.394/1996
neoliberalismo. Ou seja, por organizações cionais. No ano de 1988, é promul-
gada a atual Constituição
financeiras a serviço dos interesses das em- Segundo Sanfelice: que traz no artigo 3º “...
educação é um direito de
Hoje é notório o financiamento internacional da educação e a intervenção das todos e dever do Estado e
agências mundiais na estruturação dos sistemas de ensino, mas na lógica de da família...” (BRASIL, 1988),
mercado a educação torna-se um produto a ser consumido por quem demons- para o estabelecimento do
trar vontade e competência para adquiri-la, em especial a educação ministrada pleno desenvolvimento.
Depois dessa data, vários
nos níveis médio e superior. As teses neoliberais têm sido pródigas em propor outros documentos são
argumentos favoráveis à privatização da educação como formadora das elites criados, em âmbito nacio-
ou para dar a cada um o que sua função exige, e que não pode ser obtido por nal, para fazer valer os seus
meio de uma educação pública comum. (SANFELICE, 2001, p. 10). ideais para a educação,
vejamos: Em 24 de novem-
bro de 1995, foi aprovada a
Percebemos, assim, uma política educa- a diversos fatores, como localização geográfi- Lei 9.131, dispondo sobre
cional que não só permite como também in- ca, cultura etc, terão possibilidades de produ- as atribuições do Conselho
centiva a privatização, assim como na década zir melhores condições de educação para as Nacional de Educação,
órgão vinculado ao MEC.
de 30. Com o discurso de investir na qualida- pessoas em relação a outros? Assim, ponde- Tem funções normativas,
de, justifica-se a ideia de que a sociedade re- ramos que tal política privilegia determinadas deliberativas e de asses-
quer o trabalhador adequado às transforma- regiões como forma de promover a exclusão soramento ao Ministro de
Estado da Educação no
ções sociais originadas pela globalização. O de muitas outras no que se refere à qualidade desempenho das funções
que, por sua vez, exige a mudança do modelo da educação das pessoas. e atribuições do poder
de educação. Aqui, é conveniente sabermos também público federal em matéria
de educação, cabendo-lhe
Nessa mesma direção, encontramos a po- que atribuir a responsabilidade da educação formular e avaliar a política
lítica de descentralização do Estado, por meio ao município não é coisa tão nova, pois desde a nacional de educação, zelar
da transferência de responsabilidade aos mu- década de 1970 tal tarefa é recomendada pelo pela qualidade do ensino,
velar pelo cumprimento
nicípios por intermédio dos serviços públicos, Banco Mundial e, finalmente, consolidada pela da legislação educacional
o que se estende ao ensino. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional e assegurar a participação
Para prosseguirmos nossas reflexões, pre- 9394/96, para atender aos interesses do Estado da sociedade no aprimo-
ramento da educação.
cisamos nos ater aqui em pensar um pouco a minimalista, idealizado pelo neoliberalismo. Em 1996, é criada a Lei
respeito da responsabilidade que é atribuída Assim, o Estado deixa de ser responsável de Diretrizes e Bases da
aos municípios sobre a educação. Isto ao con- pelo sistema nacional de educação e efetiva- Educação Nacional, Lei
nº 9.394/1996. Segundo
siderarmos as implicações que podem ocorrer se a descentralização da organização da es- Saviani (1997), a LDBEN
diante de tal realidade. Por exemplo: você já cola, por meio da regionalização dos currícu- surge da mobilização do
pensou no fato de que os municípios brasilei- los. Dessa forma, desarticulados do currículo grupo de educadores que
lutaram durante todo o nú-
ros são muito diferentes? Tanto culturalmente, nacional, promove a fragmentação do saber, mero de Constituições no
economicamente, socialmente, o que possivel- desarticula os professores, que assumem uma Brasil na época do regime
mente vai acarretar um desnível na qualidade posição alienada, ao deixarem de questionar a militar e em consonância
com as novas necessidades
da educação brasileira? O que podemos en- sua condição político-social de sujeito da edu- da sociedade brasileira.
tender que determinados municípios, devido cação. De acordo com Mialchi: Complementa, ainda, que
historicamente a nossa
Este processo promovido pela nova organização capitalista é em grande parte educação caminhou, ora
incentivado pelas suas instituições de fomento. Referimo-nos ao Banco Mun- respondendo às políticas,
ora indo ao encontro das
dial e ao Fundo Monetário Internacional, que passam a ditar na década de 1990 necessidades da nossa
o conjunto ideário político pedagógico aos países ditos periféricos. É assim que economia, mas pouco
vemos pelo Plano Decenal de Educação para Todos (1993) elaborado pelo MEC, preocupada com um pla-
mas que, buscando traçar um diagnóstico da situação educacional, se detém nejamento a longo prazo.
ao ensino fundamental, a mesma perspectiva apresentada na Declaração Mun- Em 2001, é aprovado o Pla-
dial sobre Educação para Todos (1990). Este último foi elaborado como diretriz no Nacional de Educação
à educação mundial na reunião de Joentin, Tailândia (MIALCHI, 2008, p. 38). (PNE) que traça diretrizes e
metas para a educação no
Brasil e tem prazo de até
Ao considerarmos a nova organização educação escolar, dirigido em grande parte na dez anos para que todas
acima mencionada e o domínio dos países figura do professor, é atribuída a ele a responsa- elas sejam cumpridas. Para
isso, o governo transfor-
sobre outros, ressaltamos que tal realidade bilidade pelo resultado escolar dos alunos. Va- mou o PNE em lei, que pas-
ocorreu por meio da inculcação de valores no mos agora caminhar pela história da educação sou a valer a partir do dia
indivíduo e que a escola é utilizada para incul- brasileira, com vistas a pensar a nova organiza- 9 de janeiro de 2001. Entre
as principais metas, estão a
cação de tais valores. Assim, é necessário di- ção escolar, de forma a atender às demandas melhoria da qualidade do
fundir a ideia de que a melhor e única maneira das políticas internacionais de cunho neoliberal. ensino e a erradicação do
possível de atender socialmente é por inter- Necessitamos, ainda, esclarecer que, de analfabetismo. Nem todos
os itens do plano foram
médio da educação escolar. acordo com a lógica das políticas internacio- aprovados pelo governo
Diante do exposto, precisamos ter claro nais já mencionadas, para atender à reformu- federal.
ainda que, com o objetivo redirecionamento à lação do currículo da educação básica, espe-
71
UAB/Unimontes - 2º Período

cialmente o Ensino fundamental, presente na PCNs (Parâmetros Curriculares Nacionais) em


LDB de 1996, foram elaborados para o Brasil os 1997, que constitui
Dica
Em 2001, é aprovado o um conjunto de temas que aparecem transversalizados nas áreas definidas,
Plano Nacional de Edu- isto é, permeando a concepção, os objetos, os conteúdos e as orientações di-
cação. O Plano Nacional dáticas de cada área, no decorrer de toda escolaridade obrigatória. A trans-
de Educação (PNE) traça versalidade pressupõe um tratamento integrado das áreas e um compromisso
diretrizes e metas para das relações interpessoais e sociais escolares com as questões envolvidas nos
a educação no Brasil e temas, a fim de que haja uma coerência entre os valores experimentados na
tem prazo de até dez vivência que a escola propicia aos alunos e o contato intelectual com tais valo-
anos para que todas res. As aprendizagens relativas a esses temas se explicitam na organização dos
elas sejam cumpridas. conteúdos das áreas, mas a discussão da conceitualização e da forma de trata-
Para isso, o governo mento que devem receber no todo da ação educativa escolar está especificada
transformou o PNE em textos de fundamentação por tema (BRASIL, 1997, p. 64).
em lei, que passou a
valer a partir do dia 9 de Por meio dos Parâmetros Curriculares, função de formar pessoas para serem cidadãs
janeiro de 2001. Entre as organizados em forma de Temas Transversais, do mundo, com perfil para atuar em uma so-
principais metas estão a o currículo das escolas brasileiras consiste em ciedade democrática.
melhoria da qualidade
do ensino e a erradica- uma adaptação do currículo espanhol, que Com o mencionado intuito, valoriza-se a
ção do analfabetismo. fora elaborado no contexto da abertura polí- vida cotidiana que, por sua vez, é expressa nos
Nem todos os itens do tica, e que, na atualidade, não era mais condi- conteúdos de forma adaptada, e tem objetivos
plano foram aprovados zente com a realidade da Espanha. que apontam uma preocupação em construir
pelo governo federal. Dessa forma, é produzida para a educa- uma identidade nacional e pessoal a valorizar
Veja aqui o que é o PNE,
suas principais metas e ção brasileira uma maneira de difundir valores a pluralidade do patrimônio sociocultural das
os vetos do governo. referentes ao cotidiano das pessoas a fim de diversas nações, contra qualquer que seja o
As metas devem ser promover o discurso da paz entre os homens. tipo de discriminação. Na verdade, com o in-
reformuladas ao final do Valores esses necessários à manutenção do ca- tuito de globalizar a cultura dos países domi-
decênio e proposta para pitalismo presente na sociedade globalizada. nantes sobre os países periféricos.
os próximos dez anos. O
governo lança o Plano Dessa forma, atribui-se à educação escolar a
de Desenvolvimento
da Educação (PDE) com
medidas com as quais o
governo espera melho-
rar o desempenho das
instituições educacio-
nais de todos os níveis.
Embora mais voltado
para a educação básica,
o Plano tem, no con-
cernente à educação
superior, duas metas
principais: a ampliação
do acesso e a articula-
ção entre os programas
de financiamento do
ensino superior.

Figura 31: Educação e ►


igualdade.
Fonte: Disponível em: <
http://www.infojovem.
org.br/.../educacao-
-especial/ >. Acesso em:
10/09/2008.

72
História - História da Educação

Através dos estudos realizados, pode- o consumo. Assim, tais valores são veiculados
mos perceber que, na história da educação pelos meios de comunicação, como no caso
Dica
brasileira, não é novidade a utilização do dis- das novelas, que trazem para dentro dos lares Jacomeli (2007) afirma
curso de respeito às diferenças com o intuito cenários que representam culturas diversas e que a Conferência
Mundial de Educação
de promover a violência cultural para favore- valores diversos a serem difundidos. Segun- para Todos, realizada
cer órgãos de financiamento das políticas in- do Dalarosa, nos Parâmetros Curriculares Na- em Jomtien, em 1990,
ternacionais, que se interessam em globalizar cionais: marcou a articulação
e interferência das
[...] como se essa noção tivesse uma existência independente do texto que o agências internacionais
instituiu como novo objeto. Da mesma forma, quem passa diretamente à análi- nas políticas neoliberais,
se dos textos específicos das áreas disciplinares é porque se torna ‘compelido’ sendo que o Banco
pela ‘autoridade’ estabelecida pelo texto a não fazer certas questões prévias mundial passou a ser o
que poderiam colocar em dúvida as bases e os princípios sobre os quais estão grande financiador das
assentados os PCNs. Isso nos faz concordar que colocar a ênfase no estabeleci- propostas educacionais
mento de um currículo nacional significa desviar a atenção precisamente dos para os países em de-
fatores que estão no início da cadeia casual que leva aos baixos desempenhos senvolvimento, dentre
(DALOROSA, 2001, p. 207). eles o próprio Brasil.
Como financiadora das
propostas, as agências
Mais uma vez, em nome da situação in- compreende algo natural, promovendo um internacionais se veem
grata com as pessoas que não possuem os discurso de conformismo, de aceitação entre em condições de dizer
bens materiais necessários para vivenciar o as pessoas, de forma a negar que as diferen- como e o quê deve ser
consumo, tanto dos bens culturais como dos ciações entre as classes diversas não podem oferecido pela educa-
bens materiais de forma organizada, os PCNs ser consideradas algo natural, pois se funda- ção, que passa a ter
uma proposta comum
afirmam que as diferenças se resumem em mentam em questões econômicas, que, por de conhecimento em
diferenças culturais. Ao não mencionar as di- sua vez, são produzidas pelos homens, de todos os países que vêm
ferenças econômicas tão evidentes nas escolas acordo com determinadas conveniências. realizando Reformas em
públicas desse país, limita o olhar das pessoas Enfim, você precisa entender aqui que, no seus currículos educa-
e, consequentemente, a consciência crítica. contexto evidenciado no parágrafo anterior, cionais, de forma que
haja uma conformação
Ao buscarmos os objetivos dos PCNs, de os PCNs trazem em si uma ideia de que existe de todos os cidadãos
acordo com o pensamento de Jacomeli (2007), um parâmetro natural a ser seguido. para uma única realida-
de através de uma “sutil”
inculcação ideológica.

4.4 A educação superior no Brasil


pós LDBEN 9.394/1996
Em se tratando de ensino superior, o ensino superior e demais instituições isoladas,
Brasil registra um crescimento no número de amparadas pelo Conselho Nacional de Educa-
matrícula e na criação de novos cursos, sobre- ção que, em 1999, aprovou a criação de 567
tudo na rede privada. No entanto, segundo novos cursos universitários – mais da metade
Dourado (2002), as políticas de expansão da do que fora aprovado em toda a história do
educação superior no país caracterizam-se CNE (Folha de S. Paulo. 26.02.02).
por serem assincrônicas e o nível de ensino Nesse contexto, veja você que há, tam-
por mostrar-se amplo e heterogêneo, permea- bém, um novo delineamento na política de
do por práticas de natureza pública e privada, formação de professores, vinculada ao estrei-
com predominância destas últimas (ALMEIDA tamento das exigências postas pelas reformas
e SILVA, 2007). educativas da educação básica, que visam à
Nos últimos anos, houve um processo ex- formação das novas gerações. A formação ini-
pansionista no setor. Em 1999, por exemplo, o cial de professores, na ótica oficial, “deve ter
Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Edu- como primeiro referencial as normas legais
cacionais, INEP, registra que o ensino superior e recomendações pedagógicas da educação
brasileiro cresceu substantivamente em 11,8% básica” (MELLO, 2000). Constata-se, no setor, a
em relação à matrícula do ano anterior. ideia de que é inviável ao poder público finan-
Para a então presidente do Instituto, He- ciar, a preço das universidades tidas como “no-
lena Guimarães de Castro, esta foi a maior bres”, a formação superior de professores para
taxa de crescimento das últimas duas décadas a educação básica, uma vez que somam mais
(CASTRO, 2000, apud CATANI, 2002) universi- de um milhão.
tários, faculdades integradas, instituições de Diz-se que, com um volume muito menor

73
UAB/Unimontes - 2º Período

de recursos, em tempo e situações de aprendi- dos acima, sobretudo na iniciativa particular,


zagem, também reduzidos, chega-se ao mes- promovendo, quando não, a concorrência ou
mo resultado, justificando-se a aprovação, pelo parcerias entre os setores público e privado.
CNE, do número de cursos universitários, cita- Ainda, a esse respeito Freitas, afirma que:

A política de expansão da educação dos institutos superiores de educação e


cursos normais superiores, desde 1999, obedece, portanto a balizadores postos
pela política educacional em nosso país em cumprimento às lições dos orga-
nismos financiadores internacionais. Caracterizados como instituições de cará-
ter técnico-profissionalizante, os ISE’s têm como objetivo principal a formação
de professores com ênfase no caráter técnico instrumental, com competências
determinadas para solucionar problemas da prática cotidiana, em síntese, um
“prático”. (FREITAS, 2002, p. 54)

No viés ideológico, vamos movimento de constante melhoria na capaci-


ver que o Banco Mundial exerce tação pedagógica, o que, na prática, configu-
uma função exponencial. No en- ra-se por aparente atualização, muitas vezes
tendimento de Coraggio (1996), desfigurando a realidade em que o professor
em estudo publicado por Dou- atua, alienando-o com mistificações pedagó-
rado (2002) apud Almeida e Sil- gicas ou conteúdos vazios de formação aca-
va, (2007), esta instituição está dêmica, causando uma situação inversamente
por trás da ideia que defende proporcional ao discurso, pois exclui as popu-
um reducionismo economicista, lações pobres do mercado, o qual baseia suas
baseado no vetor custo-benefí- exigências no acúmulo de conhecimentos es-
cio, assim como da descentrali- pecíficos, e não na educação via amenidades.
zação que permite desarticular O ensino no Brasil enfrenta uma situa-
setores já organizados e da ca- ção singular nas duas últimas décadas. Fruto
pacitação docente, em progra- de lutas, contradições, adaptações às ten-
mas paliativos e rápidos, com os dências, interesses econômicos, encontra-se
professores em serviço. numa situação tanto de reestruturação quan-
▲ Nesse último caso, cria-se a ilusão de um to de melhoria.
Figura 32: Charge.
Fonte: Disponível em: <

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75
História - História da Educação

Resumo
Unidade I

Na unidade I deste caderno você aprendeu que:


Conhecer a História da Educação é indispensável para o processo de emancipação das pes-
soas, pois, por meio dela, podemos compreender que o homem é resultante de sua prática social
dentro de determinado contexto histórico e social.
É a partir das relações sociais que os homens criam padrões, instituições e saberes. Portan-
to, a educação está envolvida nas relações sociais que os homens estabelecem e sofre influência
ideológica por estar ligada com a política, no decorrer dos tempos.
É preciso conhecer a história da educação para entendermos que o fenômeno educacional
não é neutro, está ligado às questões culturais, políticas e sociais de seu tempo.
O contexto histórico da educação mostra que a escola faz parte de um mundo marcado por
desigualdades e lutas sociais. Nesse sentido, devemos refletir que a escola é um instrumento de
transformação da sociedade.
As transformações políticas, econômicas e sociais vivenciadas no decorrer da história da so-
ciedade definem a constituição dos sistemas públicos de ensino na Antiguidade, na Idade Média
e até a atualidade.
A educação primitiva se caracteriza pela sua forma simples, em que a criança é inserida no
meio social através da experiência de vida das gerações passadas e tem características práticas e
teóricas.
A educação prática não é organizada, compreende a busca de alimentos, abrigo e vestuário,
dividindo-se em dois estágios. O primeiro estágio baseia-se na aquisição de conhecimento por
imitação, ou seja, a criança imita inconscientemente as atividades dos adultos. No segundo está-
gio da educação prática, a criança participa das atividades dos adultos, aprendendo consciente-
mente por imitação. Nesse momento, exige-se das meninas e meninos o trabalho.
A educação teórica consiste na transmissão dos adultos às gerações mais jovens os conheci-
mentos das cerimônias, danças e rituais que caracterizam o culto religioso dos povos primitivos.
Essas cerimônias tinham caráter educativo, pois, por meio delas, as gerações mais jovens eram
instruídas a partir da tradição do passado, isto é, da vida intelectual e espiritual desses povos. En-
tre as cerimônias dessas comunidades, as cerimônias de iniciação tinham papel educativo espe-
cial por possuírem valor moral. As meninas eram orientadas pelas mulheres, e os meninos, pelos
homens.
As danças deram ao homem primitivo a explicação do universo, das crenças animistas que
originaram as ciências, a filosofia e as religiões naturais.
A educação primitiva tinha características estacionária e imitativa; a educação era o meio de
perpetuar os padrões culturais aos jovens, que eram moldados para atuarem na manutenção do
sistema vigente.
A escola egípcia consistia na manutenção da literatura de inspiração divina. A técnica pre-
dominante no ensino era a memorização e a repetição. As virtudes consideradas nesse período
eram o silêncio, a obediência, a abstinência e a reverência ao passado. A criatividade e a origi-
nalidade deveriam ser evitadas; o castigo era aplicado ao aluno como forma para conseguir as
virtudes.
No contexto grego, foram constituídos marcos da história da educação, que configuram a
educação do ocidente, e também o modelo de governo democrático.
A educação grega teve como particularidade a oportunidade do desenvolvimento indivi-
dual. As explicações religiosas são substituídas pelo reconhecimento da razão autônoma, pela
inteligência crítica, pela personalidade livre, capaz de formular o ideal de formação do cidadão.
A organização da sociedade grega fez florescer o progresso social, a liberdade estimulou o
desenvolvimento de todos os aspectos e de todas as formas de expressão do valor individual. As-
sim surgiu o conceito de educação liberal, considerada digna do homem livre, a qual possibilita a
ele tirar proveito de sua liberdade ou fazer uso dela.
Na Grécia, havia uma contraposição de ideias por meio de debates, os quais provocavam
um conflito. Esses debates defendiam ideais filosóficos que, ao serem estabelecidos, foram cris-
talizados, de forma a influenciar o modelo de sociedade e, consequentemente, a educação do
mundo ocidental até a atualidade.
77
UAB/Unimontes - 2º Período

A história da educação Grega foi marcada pela ligação entre o público e o privado; a educa-
ção iniciava-se no espaço privado e, após os seis anos, os homens são separados das mulheres e
continuam o processo educacional, que busca atender o corpo e a alma por meio da ginástica,
da dança, da luta e da música.
Sobre a obrigatoriedade da educação, Platão (1999) afirma que os professores de todas as
disciplinas deverão ensinar a seus alunos. Deixamos claro que dizer ensinar a todos não significa
dizer que a educação era igual para todos. A educação diferenciava uns de outros, considerando
a seletividade social que tinha como parâmetro a natureza social dada a cada um. Assim, estabe-
lece a seletividade no processo educacional grego, que aparece de forma explícita no pensamen-
to de Platão.
O modelo educacional presente no idealismo pedagógico encontra-se de acordo com a Pai-
deia, ou o saber apresentado por Platão, que afirma a necessidade de produzir o homem con-
forme os moldes e os interesses da época, caracterizada pela sociedade patriarcal. Dessa forma,
a educação é vista como condição para materialização do fato de que não é possível construir o
político sem educação, ou manutenção da ordem vigente. O que, nesse caso, justifica o sistema
educacional afirmar a desigualdade da divisão do trabalho e, assim, sustentar a divisão de classe
social.
Em Roma, a educação moral, cívica e religiosa, aquela que chamamos de inculturação às tra-
dições pátrias, tem uma história com características próprias, ao passo que a instrução escolar, no
sentido técnico, especialmente das letras, é quase totalmente grega. Com as palavras de Cícero,
podemos dizer que “As virtudes (virtutes) têm sua origem nos romanos, a cultura (doctrinae) nos
gregos.” (MANACORDA, 1989, p. 73).
A educação, então, é entregue a parentes ou amigos que ensinarão a arte guerreira e agrí-
cola. O educando aprende também a ginástica, o manejo de armas, a ler e escrever e a história
da pátria como sinal de identidade nacional. O ensino literário limitava-se à transmissão oral de
hinos religiosos e cantos militares. O filho era moldado pelo pai para formar uma sociedade de
soldados e aristocratas, pois o objetivo dessa educação era moral e prática, e não intelectual e
literária.
Com a anexação da Grécia, da Macedônia e de outras províncias, Roma se transforma em
uma cidade bilíngue, destacando-se a língua grega, que se torna a segunda língua para os diplo-
matas e aristocratas.
As mudanças em Roma são irreversíveis. Inicia-se o ideal pragmático utilitário de aceitação e
adaptação dos estudos helenistas por parte de Roma. Somente na segunda metade do século II
surge um curso de instrução formal que tem o ideal humanista, correspondente à Paideia.
Com o cristianismo, a educação adquire um caráter novo. O treino físico e retórico foi subs-
tituído por uma disciplina rígida de conduta, o elemento intelectual é trocado pela instrução da
doutrina da Igreja e da prática ao culto. A educação, nesse período, tornou-se um regime rígido,
em que todo o excesso de interesses naturais deveria ser suprimido, ou seja, tudo que fosse liga-
do a este mundo era um mal, como também o desenvolvimento da personalidade e o gosto pelo
estético ou intelectual eram considerados pecados.
Do Século VI até o XIII, as preocupações intelectuais foram praticamente eliminadas da edu-
cação. E, quando readmitidas mais tarde, não escaparam à concepção disciplinar de educação.
Todos os tipos de educação que se desenvolveram durante o longo período da Idade Média, an-
tes do Renascimento clássico do século XV, não passaram de modalidades desse conceito dis-
ciplinar. Por intermédio de um treino rígido, tanto físico como intelectual e moral, o indivíduo
devia preparar-se para um futuro desligado do presente pelo tempo e pelo caráter. Sob o domí-
nio da Igreja e do monaquismo, esse estado futuro tornou-se a “outra vida”. Durante todo esse
período, predominou, assim, uma nova concepção de educação em completo antagonismo com
a liberal e individualista dos gregos. (MONROE, 1976).
O novo ideal educacional era baseado na natureza moral do homem. Para o cristianismo,
essa natureza moral era comum a todos, passível de aplicação universal. O problema fundamen-
tal da educação e da vida moral encontra uma nova base de vida. Essa concepção fez com que os
cristãos primitivos e medievais se tornassem indiferentes à educação e à cultura grega e romana.
A finalidade do pensamento escolástico foi a atitude de obediência, aceitação de todas as
doutrinas, declarações da Igreja. A partir das verdades formais dogmaticamente estabelecidas,
hostilizava todo estado de dúvida, investigação considerada pecaminosa. O objetivo era apoiar
a fé na razão, ou seja, revigorar a vida religiosa e a Igreja pelo desenvolvimento intelectual. A fé
era considerada superior à razão; as doutrinas da Igreja, formuladas anteriormente, deveriam ser
analisadas, definidas e sistematizadas.

78
História - História da Educação

A educação escolástica estava incluída nesse objetivo mais amplo. A educação escolástica
visava desenvolver o poder de formular as crenças num sistema lógico e de expor e defender tais
definições de crenças contra todos os argumentos que pudessem ser levantados contra elas. Ao
mesmo tempo, empenhou-se em evitar o desenvolvimento de uma atitude crítica de espírito pe-
rante os princípios fundamentais já estabelecidos pela autoridade. (MONROE, 1976).
Agostinho e Tomás de Aquino contribuem com a difusão dos princípios da educação pro-
posta por Aristóteles para o mundo ocidental. A educação passa a ser concebida como uma ati-
vidade que torna aquilo que é potencial em atual, que valoriza a atividade prática ao valorizar o
trabalho manual, como parte do exercício do pensamento.

Unidade II

Na unidade II deste caderno você aprendeu que:


O nascimento do mundo moderno traz consigo o início de uma nova sociedade de artesãos
e mercadores, que viviam nas cidades organizadas em comunas e dá início a uma nova literatura,
que tende a reproduzir conteúdos e formas em latim, introduzindo novos conteúdos e formas,
expressando os interesses das classes emergentes.
Amplia-se a concepção de homem por meio da apreensão de valores relacionados ao res-
peito ao ser humano em si, de forma a transcender a tempos e povos; forma-se, assim, o caráter
cosmopolita, humanista, íntegro e orador, capaz de conciliar o pensar e o viver, o falar e o agir,
levando em conta os fatores apontados por Aristóteles, que direcionam as disposições naturais
ligadas às normas técnicas, à instrução e à prática.
Tendo em vista o movimento de transição, destacam-se as mudanças ocorridas em conse-
quência do desenvolvimento do comércio e da burguesia que, para sustentar seus interesses,
provocam uma reformulação na concepção de homem fundamentada no conceito da antigui-
dade clássica, mais precisamente na Grécia. Consequentemente, tal realidade interfere de forma
decisiva na legitimação das concepções de ensino-aprendizagem emergidas no cerne dos pen-
samentos das teorias clássicas desde a antiguidade. (SILVEIRA RODRIGES, 2006, p. 48).
Os pensamentos delinearam a modernidade por intermédio dos filósofos iluministas, que
se destacaram no processo de produção do modelo de educação que permanece norteando as
práticas pedagógicas até a atualidade.
O Renascimento se caracterizou pelo humanismo, racionalismo e individualismo, cuja mani-
festação ocorreu pelas artes, literatura, filosofia etc. O Humanismo representou tendência seme-
lhante no campo da ciência, o homem passa a perceber a sua importância como um ser racional,
deixa de ser dominado pelos senhores feudais.
Nesse período, o homem troca os valores dominantes da idade média por novos valores ba-
seados no homem como o centro de um mundo compreendido de uma maneira moderna. Es-
tabeleceram-se as classes do clero, da nobreza e da burguesia. Dessa forma, os leigos que eram
pagos tornaram-se responsáveis pela educação da burguesia, a fim de dar-lhe instrução. Nesse
contexto, inicia-se o processo de venalidade da ciência em contradição com a gratuidade sugeri-
da pelo clero.
Com a modernidade, nasce a pedagogia como ciência: como saber da formação humana, que
tende a controlar racionalmente as complexas (e inúmeras) variáveis que ativam esse processo.
Nasce, também, uma pedagogia social que se reconhece como parte orgânica do processo
da sociedade em seu conjunto, na qual ela desempenha uma função insubstituível e cada vez
mais central: formar o homem-cidadão e formar o produtor, chegando depois, pouco a pouco,
até o dirigente.
Nasce a pedagogia antropológico-utópica, que tende a desafiar e a colocar tal desafio como
o verdadeiro sentido do pensar e do fazer pedagogia (como faz Comenius, como faz Rousseau).
Na modernidade, a pedagogia-educação se renova, delineando-se como saber e como prá-
xis, para responder de forma nova àquela passagem do mundo tradicional para o mundo moder-
no, sobre a qual insistiram, ainda recentemente, historiadores e teóricos da pedagogia.
A renovação da Pedagogia se configurou como uma revolução: como um impulso e um sal-
to em relação ao passado e como o nascimento de uma nova ordem. (CAMBI, 2003, p. 199).
A Reforma teve implicações relevantes na educação, pois Martinho Lutero insistia em suas
pregações que o ensino deveria ser ministrado a todos, nobre, plebeu, rico e pobre. Defendeu
que a educação não devia por mais tempo ser pela religião e pela igreja, defendia, ainda, a cria-
ção de uma rede de ensino público para oferecer instrução ao povo, argumentava que o dinheiro
investido em educação seria menor que o gasto com armas e traria mais benefícios.

79
UAB/Unimontes - 2º Período

A Reforma promoveu uma necessidade de difusão da instrução com o intuito de que a cada
um fosse possível ler e interpretar as sagradas escrituras, independentemente da interpretação
do clero.
A exigência de instrução e de democracia foi um aspecto que contribuiu com a dissemina-
ção dos ideais de modernidade, os quais, por sua vez, relacionam-se com um projeto educativo
que não difere das ideias de Platão nas Leis, seja diretamente relacionado com o Estado, que tem
suas obrigações, seja com a família e com a escola, local onde se inicia e se deslancha o processo
educativo.
Diante dos movimentos protestantes, a igreja católica reage com a realização do Concílio de
Trento (1545 a 1563), a fim de defender o poder de monopolização da educação e da ideologia.
Dessa forma, criam ordens religiosas com o intuito de se defender e realizar um trabalho de cate-
quese nos países a serem conquistados.
Foi criada e aprovada a ordem dos jesuítas, que, por sua vez, criou o catecismo, a cateque-
se e os seminários, com vistas a reconquistar os fiéis. Incentivou, ainda, pregadores apostólicos
romanos como responsáveis pela catequese no novo mundo, por meio da Companhia de Jesus.
O cerne da Contrarreforma em relação à educação foi a criação da Companhia de Jesus, que
influenciou decisivamente no ensino, por intermédio da criação da Ratio Studiorum, ou Sistema
de Estudo, do qual não podemos deixar de ressaltar, originou o modelo de educação brasileira.
Exemplificamos alguns pensadores e cientistas da educação do século das Luzes, cujas
ideias são consideradas marcantes na história da educação: Comenius, Rousseau, Pestalozzi,
Herbart.

Unidade III

Na unidade III deste caderno você aprendeu que:


Pensar a história da educação o Brasil implica lembrar que os jesuítas foram considerados
os primeiros educadores brasileiros. A educação dos jesuítas permaneceu um tempo histórico
significativo na frente da educação desse país, inclinados a satisfazer o ideal europeu, ao oferecer
uma educação clássica às pessoas pertencentes à classe dominante.
Os jesuítas vieram para o Brasil com o principal objetivo de desenvolver o trabalho missio-
nário e pedagógico; tinham como finalidade converter o gentil e impedir que os colonos que
aqui viviam se desviassem da fé católica. Observa-se que a educação jesuítica assumiu, no Brasil,
também um papel de agente colonizador.
A educação desenvolvida pelos jesuítas, no Brasil, estava voltada a atender aos brancos não
muito pobres e na idade juvenil, ou seja, atender aos jovens já basicamente instruídos.
As reformas pombalinas, no século XVIII, após a expulsão dos jesuítas, provocaram um gran-
de retrocesso na educação brasileira. Passou a ser instituído o ensino laico e público, e os conteú-
dos curriculares basearam-se nas Cartas Régias.
A estrutura da educação no período imperial quanto ao ensino primário destinava-se à es-
cola de ler e de escrever; o ensino secundário manteve-se dentro do mesmo esquema das “aulas
régias”, mas ganhou uma divisão em disciplinas, e o ensino superior não sofreu alterações.
Somente no século XIX, no Brasil, se concretiza o ideal nacional da educação pública, isto se
dá com a intervenção gradativa do Estado para estabelecer a escola elementar universal leiga,
gratuita e obrigatória.
Diante das medidas que foram tomadas pela elite política que governava nosso país no pe-
ríodo imperial, observamos que uma das características que marcou a história do ensino no Bra-
sil, ao longo do século XIX, foi o seu caráter elitista e excludente. Elitista porque estava voltada
para a educação de camadas sociais mais altas; e excludentes, porque excluía os escravos, grande
parte dos pobres, negros ou brancos, e também as mulheres.
Os principais pedagogos cujas ideias fundamentaram as práticas pedagógicas predominan-
tes nesse período abordado foram Pestalozzi, Froebel e Herbat.

Unidade IV

Na unidade IV deste caderno você aprendeu que:


Em 1888, o Brasil contava com apenas 250.000 alunos matriculados, para uma população
de 14 milhões de habitantes, de acordo com Romanelli (1983). O ensino, nesse período, assume
uma dualidade. De um lado, ofereceu oportunidade de formação prática para a população rural
e desfavorecida e, por outro, reforçou a preocupação com a educação da classe dominante, nas
escolas técnicas e superiores.

80
História - História da Educação

A reforma educacional proposta por Benjamim Constant Botelho de Magalhães, adepto aos
ideais positivistas, tinha como “orientação a liberdade, a laicidade e a gratuidade do ensino da es-
cola primária”. Essa reforma foi criticada pelos positivistas, pois feria os princípios pedagógicos de
Comte, pelo acréscimo de matérias científicas às tradicionais, tornando o ensino enciclopédico
um insucesso, pois propunha facultar total liberdade e autonomia aos estabelecimentos de ensi-
no na sua organização, suprimindo o caráter oficial do ensino. Propunha, ainda, uma reestrutura-
ção no Conselho Superior de Ensino então criado, que, de acordo com a própria lei, substituiria
a função fiscal do Estado, tendo ação sobre os estabelecimentos mantidos pelo Governo Federal,
e assim mesmo respeitando a autonomia a esses concedida (Decreto nº 8.659, de 05/04/1911).
A reforma proposta por Carlos Maximiliano re-oficializa o ensino e equipara os estabeleci-
mentos estaduais com os federais.
A reforma Rocha Vaz propôs a promoção da educação primária, eliminando os exames pre-
paratórios para acesso à educação – o que se caracterizava como um processo excludente para
os menos favorecidos.
Na década de 1930, Lourenço Filho procurou intervir na educação brasileira, respondendo
às questões oriundas dos interesses políticos vivenciados em seu contexto histórico. Promoveu a
reforma no curso normal (profissionalização do curso).
No contexto histórico da educação na Segunda República, encontramos o Manifesto dos
Pioneiros em 1932, contexto em que a educação foi foco de preocupação internacional e nacio-
nal, fato que provocou a reforma da educação depois da Primeira Guerra Mundial. Tal reforma,
imbuída dos interesses das políticas liberais democráticas, inspirou a defesa da escola para todos.
Mas foi após a década de 30 que se efetivaram as mudanças, que, no Brasil, consistiram em um
movimento da reconstrução Nacional pela educação.
Apesar das primeiras reformas republicanas e das iniciativas em prol do desenvolvimen-
to do ensino público no país, a questão do analfabetismo continuava representando um sério
problema a ser enfrentado nas décadas do século XX. E é nessa realidade que o Manifesto dos
Pioneiros que aqui instaurou ideias escolanovistas, segundo o modelo apresentado por Dewey,
educador norte-americano que defendeu a ideia do aprender fazendo, de forma a atender aos
interesses da sociedade capitalista americana, de formar as pessoas nos moldes demandados
pelo desenvolvimento econômico.
Em 1930, no governo de Getúlio Vargas, é criado o Ministério da Educação e Saúde Pública.
É notório, pela criação desse Ministério, como os governos entendiam (e muitos hoje ainda assim
o consideram) que educação e saúde deveriam andar juntas para o desenvolvimento da nação.
O que não podemos esquecer é que essa união é uma grande ferramenta política. Outra grande
criação do período foi a reforma do ensino profissional. O que não poderíamos deixar de pon-
derar é que a criação dos mencionados cursos justificavam-se na demanda da mão de obra es-
pecializada para o mercado de trabalho. Teve grande influência no período o ensino profissional
ministrado através das empresas e indústrias, tais como o Serviço Nacional da Indústria (Senai) e
o Serviço Nacional do Comércio (Senac).
Em meio às políticas direcionadas ao progresso, a Constituição Federal de 1946 foi a primei-
ra a trazer no seu texto a expressão “diretrizes e bases”, associada à questão da educação nacio-
nal. A efetivação de uma lei que tratasse especificamente da educação só ocorreu em 1961. Ape-
sar de ser inovadora, no sentido de propor legalmente uma estrutura para a educação nacional,
essa lei não trouxe significativas mudanças para o cenário do período.
Em 1965, através da Lei 4.464, o Brasil regulamenta a organização de órgãos de representa-
ção estudantil, e estabelece acordos com o MEC e seus órgãos, com a USAID (agência internacio-
nal de desenvolvimento dos EUA), que fazia assistência técnica e cooperação financeira, gerando
o acordo MEC-USAID. Através desse acordo, as reformas no Ensino Superior acabam incorporan-
do as tendências modernizantes da economia (CARVALHO, 2008).
A educação novamente foi considerada meio para se estabelecer a ordem e o progresso, ou
melhor, para promover o desenvolvimento que dependia de uma modernização dos meios de
comunicação. Essa preocupação foi precursora do slogan “Educação, direito de todos. Escola para
todos”. Esse slogan fez com que as exigências de reestruturação educacional, sob a ótica do pro-
jeto de educação do MECUSAID, fossem incorporadas na Lei 5.692/71, segunda lei de diretrizes e
bases da educação.
A lei promulgada durante o regime militar continha fortes pressões às inovações educacio-
nais que trouxessem qualquer tipo de ameaça para o regime ditatorial. Fortaleceu-se, no perío-
do, a criação de instituições particulares que atendiam plenamente aos ditames dos militares
(CARVALHO, 2008). Ainda nesse contexto, o Plano Decenal de Desenvolvimento Econômico e

81
UAB/Unimontes - 2º Período

Social de 1967 a 1977 ocasionou alterações tanto no Ensino Superior (Lei 5.540/68) quanto no
ensino básico (Lei 5.692/71).
Com a entrada do capital estrangeiro, as políticas vigentes buscavam fortalecer o Estado,
com fins a tornar o Brasil uma potência econômica, tornando o sistema educacional adequado
ao modelo imposto pelas políticas norte-americanas para a América Latina. Dessa forma, a reali-
dade político-social posta pelo Golpe Militar de 1964, por intermédio da Lei 5.692/71, reordena a
educação brasileira, por meio do sistema de ensino de acordo com o modelo econômico impos-
to pela política norte-americana, para a América Latina. Foram criadas, nesse contexto, faculda-
des particulares que funcionavam como empresas, com o intuito de obter lucros.
Enfim, você precisa ter claro que a organização social brasileira, ocorrida nas décadas de 60
e 70, marcou a história da educação desse país por atribuir a ela um papel unicamente econô-
mico, fazendo dela um veículo de desenvolvimento econômico-industrial, a favor do desenvol-
vimento e da manutenção de condicionantes sociais, políticos, ideológicos e econômicos, que
contribuíram decisivamente para o processo de escravização do Brasil em relação ao capital es-
trangeiro.
Após a ditadura militar, predominam entre os educadores discussões referentes aos proble-
mas sociais, bem como suas implicações na educação, fundamentadas em ideias marxistas de
sociólogos franceses, como Bourdieu e Passeron, Baudelot e Establet e do filósofo Althusser.
No cenário mundial, as políticas neoliberais, por intermédio dos países economicamente
mais favorecidos, promovem uma nova organização da sociedade capitalista. Organização esta
cujo resultado implica o domínio dos países ricos sobre os países periféricos, especialmente os
países da América Latina, como no caso do Brasil.
As políticas econômicas, sociais e educacionais brasileiras também são organizadas de acor-
do com o neoliberalismo. Ou seja, por organizações financeiras a serviço dos interesses das em-
presas transnacionais, tornando a educação dependente das políticas e dos financiamentos in-
tervencionistas dos organismos internacionais.
Percebemos, assim, uma política educacional que não só permite como incentiva a privati-
zação, assim como na década de 30. Com o discurso de investir na qualidade, justifica-se a ideia
de que a sociedade requer o trabalhador adequado às transformações sociais originadas pela
globalização.
A mudança do modelo de educação promove a descentralização do Estado, por meio da
transferência de responsabilidade aos municípios, por intermédio dos serviços públicos, o que se
estende ao ensino, o que não é coisa tão nova, pois desde a década de 70 tal tarefa é recomen-
dada pelo Banco Mundial e, finalmente, consolidada pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação
Nacional 9.394/96, para atender aos interesses do Estado minimalista, idealizado pelo neolibera-
lismo.
Necessitamos, ainda, esclarecer que, de acordo com a lógica das políticas internacionais já
mencionadas, para atender à reformulação do currículo da educação básica, especialmente o en-
sino fundamental, presente na LDB de 1996, foram elaborados para o Brasil os Parâmetros Curri-
culares Nacionais (PCNs) em 1997.
Por meio dos Parâmetros Curriculares organizados em forma de Temas Transversais, o cur-
rículo das escolas brasileiras consiste em uma adaptação do currículo espanhol, que fora elabo-
rado no contexto da abertura política, e que, na atualidade, não era mais condizente com a rea-
lidade da Espanha. Dessa forma, é produzida para a educação brasileira uma maneira de difundir
valores referentes ao cotidiano das pessoas, a fim de promover o discurso da paz entre os ho-
mens. Valores esses necessários à manutenção do capitalismo presente na sociedade globaliza-
da. Dessa forma, atribui-se à educação escolar a função de formar pessoas para serem cidadãos
do mundo, com perfil para atuar em uma sociedade democrática.
Ao buscarmos os objetivos dos PCNs, de acordo com o pensamento de Jacomeli (2007),
compreende algo natural, promovendo um discurso de conformismo, de aceitação entre as pes-
soas, de forma a negar que as diferenciações entre as classes diversas não podem ser considera-
das algo natural, pois se fundamentam em questões econômicas, que, por sua vez, são produzi-
das pelos homens de acordo com determinadas conveniências.
O ensino superior no Brasil registra um crescimento no número de matrícula e na criação de
novos cursos, sobretudo na rede privada. No entanto, segundo Dourado (2002), as políticas de
expansão da educação superior no país caracterizam-se por serem assincrônicas e o nível de en-
sino por mostrar-se amplo e heterogêneo, permeados por práticas de natureza pública e privada,
com predominância dessas últimas.
No viés ideológico, o Banco Mundial exerce uma função exponencial. No entendimento

82
História - História da Educação

de Coraggio (1996), em estudo publicado por Dourado (2002) apud Almeida e Silva (2007), essa
instituição está por trás da ideia que defende um reducionismo economicista, baseado no vetor
custo-benefício, assim como da descentralização que permite desarticular setores já organizados
e da capacitação docente, em programas paliativos e rápidos, com os professores em serviço.
Neste último caso, cria-se a ilusão de um movimento de constante melhoria na capacitação
pedagógica, o que, na prática, configura-se por aparente atualização, muitas vezes desfigurando
a realidade em que o professor atua, alienando-o com mistificações pedagógicas ou conteúdos
vazios de formação acadêmica, causando uma situação inversamente proporcional ao discurso,
pois exclui as populações pobres do mercado, o qual baseia suas exigências no acúmulo de co-
nhecimentos específicos, e não na educação via amenidades.
No que se refere à educação superior no Brasil pós LDBEN 9.394/1996, cresce o número de
matrícula e a criação de novos cursos, sobretudo na rede privada. No entanto, segundo Doura-
do (2002), as políticas de expansão da educação superior no país caracterizam-se por serem as-
sincrônicas e o nível de ensino por mostrar-se amplo e heterogêneo, permeado por práticas de
natureza pública e privada, com predominância destas últimas (ALMEIDA e SILVA, 2007). Nos úl-
timos anos, houve um processo expansionista no setor. Em 1999, por exemplo, o Instituto Nacio-
nal de Estudos e Pesquisas Educacionais, INEP, registra que o ensino superior brasileiro cresceu
substantivamente em 11,8% em relação à matrícula do ano anterior.
Neste contexto, há, também, um novo delineamento na política de formação de professo-
res, vinculada ao estreitamento das exigências postas pelas reformas educativas da educação bá-
sica que visam à formação das novas gerações. De acordo com as ideias de Freitas (2002), a políti-
ca de expansão da educação dos institutos superiores de educação e cursos normais superiores,
desde 1999, obedece portanto a balizadores postos pela política educacional em nosso país em
cumprimento às lições dos organismos financiadores internacionais. Caracterizados como insti-
tuições de caráter técnico-profissionalizante, os ISE’s têm como objetivo principal a formação de
professores com ênfase no caráter técnico instrumental, com competências determinadas para
solucionar problemas da prática cotidiana, em síntese, um “prático”.
No viés ideológico, o Banco Mundial defende um reducionismo economicista, baseado no
vetor custo-benefício, assim como da descentralização que permite desarticular setores já orga-
nizados e da capacitação docente, em programas paliativos e rápidos, com os professores em
serviço.
Nesse último caso, cria-se a ilusão de um movimento de constante melhoria na capacitação
pedagógica, o que, na prática, se configura por aparente atualização, muitas vezes desfigurando
a realidade em que o professor atua, alienando-o com mistificações pedagógicas ou conteúdos
vazios de formação acadêmica, causando uma situação inversamente proporcional ao discurso,
pois exclui as populações pobres do mercado, o qual baseia suas exigências no acúmulo de co-
nhecimentos específicos, e não na educação via amenidades.
O ensino no Brasil enfrenta uma situação singular nas duas últimas décadas. Fruto de lutas,
contradições, adaptações às tendências, interesses econômicos, encontra-se numa situação tan-
to de reestruturação quanto de melhoria.

83
História - História da Educação

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87
História - História da Educação

Atividades de
Aprendizagem - AA
Esta atividade tem como objetivo auxiliar você na fixação dos conteúdos aprendidos e na prepa-
ração para as avaliações da disciplina, portanto faça-a com bastante atenção.

Destaque esta atividade do caderno e entregue ao seu tutor presencial, cinco dias após o térmi-
no do estudo da disciplina.

1) A educação primitiva se caracteriza pela sua forma simples, onde a criança é inserida no meio
social através da experiência de vida das gerações passadas. Neste período a atividade educacio-
nal pode ser entendida como:

A respeito da educação primitiva todas as questões abaixo estão corretas EXCETO:

a) ( ) Na educação primitiva a educação se dava apenas pela prática.


b) ( ) Na educação primitiva a educação prática não era organizada, esta compreendia a busca
de alimentos, abrigo e vestuário.
c) ( ) Na educação primitiva a educação prática se dividia em dois estágios. O primeiro estágio
baseia-se na aquisição de conhecimento por imitação, no segundo estágio a criança participa
das atividades dos adultos aprendendo conscientemente.
d) ( ) Na educação primitiva a educação consistia na transmissão dos conhecimentos, das ceri-
mônias, danças e rituais pelos adultos às gerações mais jovens.

2) Tinha um ideal de educação desenvolvido numa perspectiva militarista de formação de cida-


dãos guerreiros, homogêneos a ideologia de uma sociedade fechada e compacta, estamos falan-
do do ideal de educação desenvolvido:

a) ( ) No Egito
b) ( ) Em Atenas
c) ( ) Em Esparta
d) ( ) Em Roma

3) O humanismo renascentista marca a volta do homem para o palco da história. A principal mu-
dança ocorrida nesse período foi a substituição:

a) ( ) da monarquia pela república.


b) ( ) do antropocentrismo pela psicologia científica.
c) ( ) do teocentrismo pelo antropocentrismo.
d) ( ) da filosofia racional pela filosofia positivista.

4) Os colégios brasileiros de 1549 a 1599 tinham como objetivos:

a) ( ) a catequização, ensinar a ler, a escrever, e a gramática.


b) ( ) ensinar apenas o dogma da Igreja.
c) ( ) o ensino de teologia, teatro e Língua Grega.
d) ( ) a formação de padres que formariam o grupo chamado templários.

5) A hegemonia que os jesuítas exerceram na ação pedagógica durante o período colonial brasi-
leiro é um fato histórico. Em mais de quinhentos anos de história da educação brasileira, duzen-
tos e dez tiveram a condução da Companhia de Jesus. Em relação à educação jesuítica no Brasil,
marque com (V) as alternativas VERDADEIRAS e com (F) as alternativas FALSAS.

89
UAB/Unimontes - 2º Período

a) ( ) Os padres jesuítas contribuíram com a formação da elite colonial.


b) ( ) A companhia de Jesus veio ao Brasil para proteger os povos indígenas contra a exploração
dos colonizadores portugueses.
c) ( ) As crianças e os jovens indígenas se submeteram facilmente à ação educativa dos padres
jesuítas.
d) ( ) A ação missionária e catequética dos jesuítas dirigiu-se, inicialmente, aos povos indígenas,
especialmente às crianças.

6) Considerando o quadro geral da educação no Brasil no período imperial podemos dizer que....
Todas as afirmativas abaixo são verdadeiras, EXCETO:

a) ( ) O Decreto de 1826 trata-se da primeira Lei Geral relativa ao Ensino Elementar. Este decreto,
outorgado por Dom Pedro I, veio a se tornar um marco na educação imperial, de tal modo que
passou a ser a principal referência para os docentes do primário e ginásio nas províncias.
b) ( ) O Decreto de 1826 trata-se da primeira Lei Geral relativa ao Ensino Elementar. Este decreto,
outorgado por Dom Pedro I, veio a se tornar um marco na educação imperial, de tal modo que
passou a ser a principal referência para os docentes do primário e ginásio nas províncias.
c) ( ) O quadro geral da instrução publica no período imperial, enriquecidos com a criação de
cursos superiores incentivados principalmente por D. João VI, se alterou significativamente de-
pois de outorgada a constituição de 1824.
d) ( ) A grande ação escolarizadora dos jesuítas na colônia foi representada pelos colégios que
eram voltados a formação da elite dirigente colonial.

7) No período jesuítico, a educação primária, na sua maior parte, ficava aos cuidados das famí-
lias, ou seja, as famílias é quem se responsabilizavam pela iniciação da escolaridade da criança,
porém as famílias mais afortunadas optavam por pagar um preceptor ou por delegar o ensino de
suas crianças aos cuidados de um parente mais letrado.

Em relação à história da Educação no Brasil, ao longo do período colonial, assinale a alternativa


CORRETA.

a) ( ) As práticas educativas desenvolvidas pelos jesuítas baseavam-se no ideário iluminista am-


plamente divulgado, naquele momento, na Europa.
b) ( ) Os jesuítas foram importantes divulgadores da doutrina católica nas terra recém-desco-
bertas.
c) ( ) As ações educativas dos jesuítas eram desenvolvidas a partir de um grande respeito e diá-
logo para com a cultura dos povos indígenas.
d) ( ) Os jesuítas pouco se preocupavam com a educação das elites coloniais, pois estas tinham
outros colégios onde estudar.

8) Em 1823, na tentativa de se suprir a falta de professores institui-se o Método Lancaster, onde


um aluno treinado, denominado decurião, ensina um grupo de dez alunos denominados, decú-
ria, sob a rígida vigilância de um inspetor.

Se você concordar com essa afirmativa marque Verdadeira e se discordar marque Falsa.
( ) Verdadeira ( ) Falsa

Justifique sua resposta.

9) Observe a cronologia da educação brasileira:


I. O Decreto 1331A, de 17 de fevereiro, reforma os ensinos, primário e secundário, exigindo pro-
fessores credenciados e a volta da fiscalização oficial;
II. O sistema jesuítico é substituído e o ensino é dirigido pelos vice-reis nomeados por Portugal.
III. É promulgada a Lei nº 4.024, que regulamenta as Diretrizes e Bases da Educação Nacional.
IV. A nova Constituição dispõe, pela primeira vez, que a educação é direito de todos, devendo
ser ministrada pela família e pelos Poderes Públicos.
V. O Decreto 510, do Governo Provisório da República, diz, em seu artigo 62, item 5, que “ o en-
sino será leigo e livre em todos os graus e gratuito no primário “.
VI. A Lei nº 5.370 cria o Movimento Brasileiro de Alfabetização - MOBRAL.

90
História - História da Educação

Agora associe-a aos períodos correspondentes:

( ) Período da Primeira República


( ) Período da Nova República
( ) Período do Regime Militar 
( ) Período Pombalino
( ) Período Imperial
( ) Período da Segunda República

A sequência correta é:
a) ( ) V, III, VI, II, I e IV.
b) ( ) V, III, VI, IV, I e II.
c) ( ) III, V, I, II, IV e VI.
d) ( ) VI, IV, III, II, I e V.

10) As estratégias do Banco Mundial, no Brasil como em outras partes do mundo, é a de apoiar
os investimentos que encorajem o crescimento econômico e o desenvolvimento social, num
contexto de estabilidade macroeconômica. Segundo os ideais pregados pelo Banco Mundial
como em outras partes do mundo, a pesquisa no Brasil mostra que o retorno social do inves-
timento em educação primária (36%) é consideravelmente maior que o investimento quer na
educação secundária (5%) quer na superior (21%) (Banco Mundial, 1995 a: 11). Portanto, para o
Banco, no caso do Brasil, é prioritário:

Considerando o exposto todas as afirmativas abaixo estão corretas, EXCETO:

a) ( ) melhorar as habilidades dos professores no que diz respeito a técnicas de sala aula, prefe-
rencialmente, na própria escola e/ou à distância, num processo de capacitação contínua;
b) ( ) providenciar livros didáticos;
c) ( ) as propostas de capacitação dos professores devem levar em conta a avaliação das ativida-
des e da eficácia das mesmas na mudança de comportamento didático-pedagógico dos profes-
sores;
d) ( ) melhorar a remuneração recebida pelos professores e demais prestadores de serviço à
educação.

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