Historia Da Educacao
Historia Da Educacao
Historia Da Educacao
História da
educação
2ª EDIÇÃO
2014
Proibida a reprodução total ou parcial.
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EDITORA UNIMONTES
Campus Universitário Professor Darcy Ribeiro
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Unidade 1 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11
A educação antiga e medieval . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11
1.1 Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11
Referências . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 36
Unidade 2 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 37
Educação: do renascimento ao surgimento dos sistemas escolares . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 37
2.1 Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 37
Referências . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 47
Unidade 3 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 49
A educação brasileira na colônia e no império . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 49
3.1 Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 49
Referências . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 59
Unidade 4 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 61
A educação no Brasil: período republicano . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 61
4.1 Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 61
Referências . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 74
Resumo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 77
Atividade de aprendizagem - AA . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 89
História - História da Educação
Apresentação
Caro(a) acadêmico(a), a disciplina HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO tem como objetivo principal
contribuir para a sua compreensão da evolução sócio-histórico da educação através da identi-
ficação dos paradigmas educacionais, na realidade tempo/espaço, com atenção especial para a
História da Educação no Brasil, suas tendências e concepções de educação ideal, conforme a rea-
lidade educacional, no contexto sócio-político específico de cada época.
Essa disciplina conduzirá você a uma reflexão sobre o nosso passado educacional. com o
apoio dos autores clássicos da historiografia da história da educação. Será apresentada uma
análise das principais características dos processos educativos e sua interação com o contexto
socioeconômico e cultural em diferentes períodos históricos da civilização, relacionando-os ao
contexto educativo brasileiro, de forma a auxiliá-lo na identificação dos aspectos históricos que
fundamentam nosso atual sistema educacional.
Esta disciplina tem, portanto, como objetivos específicos:
• Examinar a educação em diferentes contextos históricos;
• Conhecer a história da educação da civilização ocidental, para compreender a história da
educação brasileira;
• Compreender a influência das transformações ocorridas no período renascentista na defini-
ção do modelo da educação ocidental e a influência nas determinações do modelo da edu-
cação predominante na história da educação brasileira;
• Analisar historicamente os vários aspectos da realidade educacional nos diferentes contex-
tos históricos, com a finalidade de compreender as políticas determinantes da educação, na
atual sociedade brasileira;
• Desvelar as políticas que delineiam a história da educação brasileira, desde a sua implanta-
ção até a atualidade, para compreender os interesses que a impulsiona, no que se refere aos
valores, ideias e organização nos diversos períodos da história desse país;
• Problematizar os determinantes históricos do papel da escola, do modelo de professor e do
aluno que se pretende formar, assim como o enfoque dos conteúdos e da avaliação nos di-
ferentes períodos da educação brasileira.
Esclarecemos a você a relevância em alcançar esses objetivos, pois esta disciplina é muito
importante para sua formação profissional, ética, política e humana, de forma emancipada.
Esclarecemos, também, que este caderno didático foi organizado em quatro unidades e que
cada uma está dividida em subunidades, com o objetivo de facilitar a compreensão das discus-
sões propostas.
As sugestões de textos, pesquisas e filmografias também são importantes, uma vez que am-
pliam os conhecimentos e discussões.
Para que haja aproveitamento nos seus estudos, é preciso que você realize as atividades
propostas, ao longo dos textos, assim como a atividade avaliativa proposta no final deste cader-
no, pois estas o(a) ajudarão a compreender e a fixar os conteúdos abordados.
Desejamos que sua caminhada nesta disciplina seja prazerosa e enriquecedora.
Os autores.
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História - História da Educação
Unidade 1
A educação antiga e medieval
1.1 Introdução
Esta unidade tem como objetivo central Esta primeira unidade abordará, portan-
examinar a educação nos diferentes contextos to, a importância da história da educação e o
históricos e auxiliar você a compreender a his- processo sócio-histórico das práticas educati-
tória da educação antiga e medieval. Propõe-se, vas no Egito, na Grécia, em Roma e nas Escolas
através deste estudo, examinar a educação em Medievais.
diferentes contextos históricos para que você Segundo Aranha (1990), para entender a
possa, através do conhecimento da história da História da Educação, é importante conhecer a
educação da civilização ocidental, compreender educação no contexto histórico, ou seja, faz-se
a história da educação brasileira Falaremos um necessário compreender que o homem é re-
pouco sobre a educação nas civilizações orien- sultante de sua prática social dentro de deter-
tal, porém não alongaremos nossa conversa so- minado contexto histórico, social, pois é a par-
bre elas, tendo em visto o tempo que dispomos tir das relações sociais que os homens criam
para este estudo e, ainda, que nossa tradição é padrões, instituições e saberes. Portanto, é “a
predominantemente ocidental. educação que mantém viva a memória de um
No desenvolvimento desta unidade, você povo e dá condições para sua sobrevivência.
vai encontrar temáticas que são abordadas com Por isso, dizemos que a educação é uma ins-
base em uma perspectiva histórica, verá que tância mediadora que torna possível a recipro-
tudo na Educação, dos conhecimentos às rela- cidade entre indivíduo e sociedade” (ARANHA,
ções entre sujeitos escolares, espaços, metodo- 1990, p.15).
logias e materiais foi inventado, produzido pelo A educação está envolvida nas relações
ser humano em circunstâncias sociais e históri- sociais que os homens estabelecem e sofre in-
cas determinadas. fluência ideológica por estar ligada à política.
Com base em autores como Maria Lúcia Portanto, o fenômeno educacional não é neu-
Aranha (1990), Paul Monroe (1976), Tomas Giles tro, está ligado às questões culturais, políticas
(1987), Luciano Farias Filho (1995), Mario Mana- e sociais de seu tempo (FARIA FILHO, 1995).
corda (2006), entre outros, serão apresentados A escola faz parte de um mundo marca-
os fundamentos teóricos para que você com- do por desigualdades e lutas sociais; nesse
preenda a educação antiga e medieval. sentido, faz-se relevante refletir sobre a esco-
Através da leitura dos textos propostos, la como um instrumento de transformação da
você verá que a História da Educação tem como sociedade, ao mesmo tempo em que as trans-
uma das suas funções desnaturalizar as práticas formações políticas, econômicas e sociais con-
educativas, estabelecendo uma relação com o tribuem para a constituição dos sistemas de
contexto no qual estão inseridas. ensino.
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UAB/Unimontes - 2º Período
rígidos sistemas religiosos e morais. Veremos lidade. Nesse contexto, o objetivo principal da
que as grandes civilizações, na antiguidade, educação era o falar bem, embora a escrita já
tinham modelos de educação parecidos, cujos fizesse parte da cultura antiga.
ensinamentos eram passados principalmente Como você poderá verificar através de pes-
de pai para filho. quisas mais aprofundadas, a escrita aparece na
Segundo Manacorda (2006), é do Egito antiguidade como instrumento de registro dos
que chegaram os testemunhos mais antigos atos oficiais, era utilizada por peritos e não ne-
e talvez mais ricos sobre todos os aspectos da cessariamente por governantes, ao passo que o
civilização e, em particular, sobre a educação, falar bem se identifica com a arte do governo,
embora haja conhecimentos sobre a cultura ou seja, era instrumento direto da política.
de outros povos. Assim sendo, iniciaremos os Faz-se relevante, aqui, destacar que a
estudos da História da Educação na antiguida- educação sistematizada, na antiguidade, era
de pelo Egito. Propomos fazer breves passa- direcionada principalmente à formação da
gens pela história antiga, uma vez que nosso classe dominante.
foco principal deverá ser a história da educa- Antes de dedicarmos espaços de discus-
ção no Brasil. são sobre a educação em diferentes lugares,
Vamos conversar um pouco sobre essa entendemos ser interessante dizer que os “en-
educação? sinamentos” mais antigos, segundo Manacorda
Vamos encontrar nos registros propor- (2006), contêm preceitos morais e comporta-
cionados pelos historiadores que a educação, mentais rigorosamente harmonizados com as
para falar bem e para a obediência, consistia estruturas e as conveniências sociais ou, mais
no verdadeiro valor da educação na antiguida- diretamente, com o modo de viver próprio das
Figura 1: Egípcios em de, estava diretamente ligada a fins políticos castas dominantes, ou seja, estes são sempre
adoração. de governo e acontecia em contraste com a em forma de conselhos dirigidos do pai para o
Fonte: Disponível em: natureza individual, na formação da persona- filho e do mestre escriba para o discípulo.
<http://sphotos-a.
xx.fbcdn.net/hphotos-
-prn2/p480x480/9095_10
151365867626274_154096
1810_n.jpg >. Acesso em:
1.2.1 Educação no Egito
09/02/2013.
▼
Para pensarmos sobre a educação egíp- (nas margens do rio Nilo) entre 3200 a.C. (unifi-
cia, entendemos ser necessário antes falarmos cação do norte e sul) a 32 a.C. (domínio roma-
um pouco sobre a civilização egípcia antiga, no). Como a região é formada por um deserto
no sentido de nos colocarmos no contexto (Saara), o rio Nilo ganhou uma extrema im-
onde ela surgiu. Veremos que a civilização portância para os egípcios. O rio era utilizado
egípcia se desenvolveu no nordeste africano como via de transporte (através de barcos) de
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História - História da Educação
mercadorias e pessoas. As águas do rio Nilo ser humano e parte de animal sagrado) que in-
também eram utilizadas para beber, pescar e terferiam na vida das pessoas. As oferendas e
fertilizar as margens, nas épocas de cheias, fa- festas em homenagem aos deuses eram muito
vorecendo a agricultura. realizadas, acreditavam na vida após a morte,
A economia egípcia era baseada principal- mumificavam os cadáveres dos faraós, colocan-
mente na agricultura, que era realizada, princi- do-os em pirâmides, com o objetivo de preser-
palmente, nas margens férteis do rio Nilo. Os var o corpo para a vida seguinte.
egípcios também praticavam o comércio de É relevante aqui dizer que a civilização
mercadorias e o artesanato. Os trabalhadores egípcia destacou-se muito nas áreas de Ciên-
rurais eram constantemente convocados pelo cias. Esse povo desenvolveu conhecimentos
faraó para prestarem algum tipo de trabalho importantes na área da Matemática, conhe-
em obras públicas (canais de irrigação, pirâmi- cimentos estes usados amplamente na cons-
des, templos, diques). A religião dos egípcios trução de pirâmides e templos e ainda na
era repleta de mitos e crenças interessantes. medicina. Os procedimentos de mumificação
Acreditavam na existência de vários deuses proporcionaram importantes conhecimentos
(muitos deles com corpo formado por parte de sobre o funcionamento do corpo humano.
A educação egípcia não se limitava à eli- Vamos observar através dos registros Glossário
te, ao contrário da Babilônia e de outros povos dos historiadores que a educação no antigo
Escriba: Na Antiguida-
em que somente a classe dos sacerdotes escri- Egito estava voltada para o desenvolvimento
de, pessoa encarregada
bas era alfabetizada. da fala, da obediência e da moral. As escolas de escrever, como copis-
No antigo Egito, a educação começava funcionavam como templos e algumas casas ta, secretário ou redator.
cedo na vida da criança, pois esse povo tinha foram frequentadas por pouco mais de vinte Doutor da lei entre os
um caráter bastante prático por natureza. Os alunos. A aprendizagem se fazia por transcri- judeus. Escrivão. Na
Antiguidade, os escribas
egípcios necessitaram desenvolver técnicas e ções de hinos, livros sagrados, acompanhada
eram os profissionais
ciências para resolver seus problemas cotidia- de exortações morais e de coerções físicas. Ao que tinham a função de
nos tendo em vista sua ocupação geográfica, lado da escrita, ensinava-se também aritméti- escrever textos, registrar
ou seja, localizada às margens do Rio Nilo, ca, com sistemas de cálculo, complicados pro- dados numéricos, redi-
na porção nordeste do continente africano. blemas de geometria associados à agrimen- gir leis, copiar e arquivar
informações. Escribas
Os alunos recebiam informações sentados sura, conhecimentos de botânica, zoologia,
era responsável pelos
em esteiras. O ensino é direcionado a práti- mineralogia e geografia. ensinamentos.
ca, com exercícios e com aplicações de artes Pode-se afirmar que, no início do Médio Edubla: Era o local
da arquitetura da época, do comércio e da Império (2133- 1786 a.C.), o uso do livro de texto destinado à educação e
administração. aparecia, com frequência, sendo utilizado pelos treinamento dos escri-
bas que frequentavam a
escribas, e, isto acontecia por um pai escriba
escola desde a juventu-
educando seu próprio filho ou um discípulo. de até a idade adulta,
Vamos observar, também, que, na anti- para adquirir o status de
guidade, as escolas se não eram públicas, ao profissionais.
menos eram coletivas, e havia presente a rela-
ção educativa privada, de pai para filho ou de
escriba para discípulo (aluno). Segundo Mana-
corda (2006), a progressiva transformação da
sabedoria em cultura, em conhecimento eru-
dito e em assimilação da tradição, com seus
rituais, e a correlativa constituição da escola
com seus materiais didáticos, os rolos de papi-
ros, é confirmada tanto pelas inscrições fúne-
bres como pelos textos literários.
◄ Figura 3: Papiro.
▲ Fonte: Disponível
Figura 2: Escriba (Professor no antigo Egito). em: <http://bibliote-
cas1978.files.wordpress.
Fonte: Disponível em: <http://4.bp.blogspot.com/vw- com/2012/08/del-papiro-
pIB75j3A/TfPnCijaQlI/AAAAAAAAAGQ/9FqKdSpZ1GM/ -al-blog.gif>. Acesso em:
s1600/Escriba+mastaba+Kaninisut.jpg >. Acesso em: 06 06 fev. 2013.
fev. 2013.
13
UAB/Unimontes - 2º Período
“Faz-se o que se diz quando se estuda nos livros. Penetra nos livros, coloca-os no teu cora-
Glossário ção: tudo o que dirás será excelente. Um escriba destinado para uma função consulta os escritos”.
Papiro: Uma espécie de (Br. 291 apud MANACORDA, 2006, p. 27).
papel chamado papiro, Veja que através da leitura deste parágrafo, já no segundo período (cerca de 1785 a 1580
que era produzido a a. C.), a passagem da sabedoria para a cultura ou instrução tornou-se mais clara, pois o sábio
partir de uma planta de
mesmo nome, tam- deixa de ser apenas aquele que possui experiência e inteligência para ser também aquele que
bém era utilizado para conheceu a tradição através dos livros, que adquiriu cultura e assimilou a sabedoria dos an-
registrar os textos. A tigos através dos livros. É neste momento histórico que o livro ganha destaque como instru-
escrita egípcia também mento de instrução.
foi algo importante De acordo com Manacorda (2006), é no Novo Império (1552 – 1069 a. C.) que ocorre a ge-
para este povo, pois
permitiu a divulgação neralização e a consolidação da escola, pois neste período aparece uma quantidade considerá-
de ideias, comunicação vel das chamadas coletâneas escolares, textos e cadernos de exercícios, contendo hinos, ora-
e controle de impostos. ções, sentenças morais, além de sátiras de ofícios e exaltações dos antigos escribas e do ofício
Existiam duas formas de escriba.
de escrita: a demótica
(mais simplificada) e a
hieroglífica (mais com-
plexa e formada por Atividade
desenhos e símbolos).
As paredes internas das
Observe o texto abaixo:
pirâmides eram repletas
de textos que falavam Vem, descrever-te-ei o comportamento do escriba quando se diz: Depressa!
sobre a vida do faraó, Para o teu lugar! Os teus colegas já estão fixos nos livros: não sejas preguiçoso!
rezas e mensagens Ora dizes: três mais três. Ora lês diligentemente no rolo de papiro. Ora deves
para espantar possíveis fazer os caçulos em silêncio e que não se ouça a voz da tua boca. Escreve com a
saqueadores. mão e lê com a boca; pede conselho. Não sejas negligente nem passes um dia
Sátira: é uma técnica na ociosidade, senão, ai de teu corpo! Segue os métodos do teu mestre, ouve
literária ou artística que seus ensinamentos. Sê um escriba: Eis-me aqui! Dirás sempre que te chamem.
ridiculariza um determi- Cuida de nunca dizer: Ufa! (MANACORDA, 2006, p. 33-34)
nado tema (indivíduos,
organizações, estados), Vamos refletir? Você certamente percebeu que o texto acima registra momentos da vida es-
geralmente como forma colar na antiguidade. Ao fazer esta leitura você percebeu alguma semelhança com algum mo-
de intervenção política
ou outra, com o objeti-
mento de sua educação? Entre no fórum de discussão e comente com seus colegas sobre suas
vo de provocar ou evitar descobertas.
uma mudança.
Vamos perceber que, já na antiguidade, havia uma preocupação com a educação infantil,
pois, segundo Manacorda (2006), há registros de que foi inventada para as crianças pequeni-
nas, no que se refere ao cálculo, noções aritméticas a serem aprendidas através do jogo e da
diversão; subdivisão de maçãs e de coroas entre certo número de alunos, dando a cada alu-
no o mesmo número, entre outras atividades que proporcionavam este trabalho. Este fato foi
comprovado através dos achados arqueológicos, tanto de brinquedos como de representa-
ções de jogos, junto com as fontes literárias apresentadas e os testemunhos iconográficos, que
consistem em fontes preciosas de informações a respeito de aspectos concretos da educação
na antiguidade.
A civilização egípcia destacou-se muito nas áreas de ciências. Desenvolveram conheci-
mentos importantes na área da matemática, usados na construção de pirâmides e templos. Na
medicina, os procedimentos de mumificação proporcionaram importantes conhecimentos so-
bre o funcionamento do corpo humano.
14
◄ Figura 4: Ciência
egípcia.
Fonte: Disponível em:
http://www.mundoedu-
cacao.com.br/novosite/
upload/conteudo_legend
a/4d431e40d9146c8fddb1
84d086b7a64f.jpg. Acesso
em: 12/02/2013.
Um fato interessante de se observar é que a educação egípcia não se limitava à elite, ao con-
trário da Babilônia e de outros povos em que somente a classe dos sacerdotes escribas era alfa-
betizada. No Egito, existia a possibilidade de as classes inferiores aprenderem a ler e a escrever e
inclusive poderiam subir de nível social. O processo educativo egípcio caracteriza-se pela palavra
escrita. Assim, a capacidade de ler e de escrever conferiu aos que detinham esse saber certo mis-
tério, pois, apoiada pela religião, a autoridade da palavra escrita se torna inviolável (GILES, 1987).
Outro fato importante, como você pode constatar, é que a presença da religião configura-se
também como uma característica marcante da educação e de todos os aspectos da vida egípcia.
O faraó era o sumo sacerdote dos cultos oficiais e chefe de Estado. Este Estado apoiava-se na
forma teocrática de governo, onde a administração burocrática era ligada à casta sacerdotal. Po-
de-se observar que a flexibilidade da sociedade egípcia se deu, entre outros fatores, pelo fato de
qualquer menino talentoso poder se tornar um escriba.
◄ Figura 5: Educação
egípcia.
Fonte: Disponível em:
<http://2.bp.blogspot.
com/_EOHn_S0Peko/
SxOpYDKkHlI/AAAAAA-
AAABo/vmnmSsvDrU8/
s1600/31125_31126_ima-
ge002.jpg>. Acesso em:
12/02/2013.
A integração da sociedade era o meio que a burocracia sacerdotal adotava, fornecendo ad-
ministradores e funcionários para o governo. Giles relata que a escolarização era um mecanismo
importante nessa sociedade. Em suas palavras:
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UAB/Unimontes - 2º Período
Junto à tesouraria real sempre havia uma escola pública, equipada para a for-
mação de escribas, cujos serviços eram indispensáveis para a manutenção de
todo o aparato burocrático do Estado. Mesmo não conseguindo emprego jun-
to ao governo, o escriba era sempre procurado para a administração das gran-
des fazendas e junto aos grandes comerciantes do reino. A instrução nessas es-
colas era gratuita, custeada pelo próprio Estado. O instrumento de mobilidade
e de estabilidade social é a escola. Trata-se de aprender a ler e escrever para
subir socialmente. (GILES, 1987, p. 54).
Propomos aqui falar um pouco dos tipos formação dos filhos da nobreza que preten-
de escola, no antigo Egito, com base nos re- diam seguir a carreira de oficial do exército.
gistros encontrados. Vamos lá! Veremos, atra- Além disso, existiam os colégios sacerdotais, de
vés dos registros históricos, que, no Egito, no estudos superiores.
período depois de 3.000 a.C, ocorreram três Convidamos você a conhecer um pouco
tipos de escolas: dessas escolas e a descobrir qual a preocupa-
1. escolas do templo: as escolas do templo ção desse povo com a educação.
eram direcionadas para treinamento do De acordo com os registros históricos,
clero; aos cinco anos, iniciava-se a formação dos jo-
2. escolas da corte: as escolas da corte eram vens nas escolas da aldeia, sob a orientação
destinadas à formação dos burocratas; do templo local, em que podiam aprender os
3. escolas provinciais: as escolas provinciais fundamentos de determinada profissão. Aos
eram destinadas à formação de funcioná- dezessete anos, os jovens que se destacavam
rios para o setor privado e para o governo. continuavam os estudos no templo central ou
nas escolas superiores de instrução escribal, du-
rante três ou quatro anos.
A atividade principal dentro dessa escola
era a memorização da hieroglífica e o domínio
da escrita hierática cursiva, utilizada para fins
comerciais. Veremos que a escola egípcia con-
sistia na manutenção da literatura de inspira-
Figura 6: Educação da ► ção divina e a técnica predominante no ensino
criança egípcia. era a memorização e a repetição. As virtudes
Fonte: Disponível em: consideradas neste período eram o silêncio, a
<http://www.fascinio- obediência, a abstinência e a reverência ao pas-
egito.sh06.com/agri-
cola.jpg>. Acesso em: sado. A criatividade e a originalidade deveriam
16/02/2013. ser evitadas, e o castigo era aplicado ao aluno
como forma para conseguir as virtudes.
Nesse tipo de educação egípcia, você ob-
servará que, para se tornar escriba, o aluno ti-
nha que alcançar perfeição na reprodução dos
textos antigos e modelos de escrita, somente
através desse resultado é que poderia ter aces-
so à mobilidade social. Veremos, também, que
o processo educativo do Egito antigo consistia
na conservação das instituições existentes na
sociedade sem que elas fossem modificadas. O
Nesse período, observamos que há indí- modelo educacional do Egito antigo funcionou
cios da existência de escolas militares para a durante 3000 anos.
Convidamos você, agora, para iniciarmos uma conversa a respeito da História da educação
na Grécia. Para melhor entender as questões educacionais nesse país, faz-se importante rever um
pouco de sua história. Vamos lá!
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História - História da Educação
A civilização grega surgiu entre os mares Egeu, Jônico e Mediterrâneo, por volta de 2000 a.C.
Ela formou-se após a migração de tribos nômades de origem indo-europeia como, por exemplo,
aqueus, jônios, eólios e dórios. Ressaltamos ainda que a Grécia era formada por um aglomerado
de diversas cidades (polis). As polis (cidades-estado), forma que caracteriza a vida política dos
gregos, surgiram por volta do século VIII a.C. As duas polis mais importantes da Grécia foram Es-
parta e Atenas.
Veremos que, para as classes dominantes, das e oprimidas, nada havia, nem escolas nem
a educação grega visava prepará-las para as treinamento.
tarefas de poder. O mesmo acontecia no Egito, Na Grécia antiga, vamos destacar duas
portanto, a ênfase na formação do sujeito era modalidades de educação (duas Paideias): a
no “pensar” e no “falar” (política) e no “fazer”, Homérica e a Hesiodeica. Vamos falar um pou-
este último aspecto inerente ao uso das armas. co sobre isto?
Para a classe trabalhadora (dos governados), Na educação homérica, os indivíduos das
não havia escolas, mas havia treinamento no classes dominantes são guerreiros na juventu-
trabalho e isto consistia em imitar a atividade de e políticos na velhice. A educação, no pe-
dos adultos no trabalho. Para as classes excluí- ríodo homérico, caracterizava-se pela falta de
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UAB/Unimontes - 2º Período
Glossário organização institucional específica, falta de Nesse período, o ensino formal não existia, o
Paideia: Esse termo “foi método e de controle. A educação consistia no conteúdo desse ensino era a retórica, ensinada
criado por volta do sé- treino de atividades práticas, com pouco lugar para falar, e a arte militar, ensinada para agir.
culo V a.C, que significa- para a instrução de caráter literário. O treino A educação hesiodeica, por sua vez, tem
va “criação dos meninos” voltado para atender às necessidades reais da origem os ensinamentos que constituem um
(pais paidós). Na educa- vida acontecia no seio familiar. Para deveres patrimônio de sabedoria e de moralidade cam-
ção intelectual, a noção
de paideia amplia de superiores da vida, como serviço público, o ponesa e que correspondem aos ensinamentos
simples educação da treino era realizado pelo Conselho (aproxima- egípcios, mesopotâmicos ou hebraicos.
criança para a contínua va de uma instituição educativa), na guerra e Vemos em Manacorda (2006) que na edu-
formação do adulto, nas expedições de conquista. O ideal da edu- cação grega, denominada de arcaica, encon-
capaz ele mesmo de cação homérica baseava-se na teoria do de- tramos documentada a aculturação (moral,
repensar a cultura do
seu tempo. Para Aranha, senvolvimento da personalidade; compreen- religiosa, patriótica) e a aquisição das técnicas,
a Grécia Clássica é o dia o ideal do homem de ação e do homem sobretudo as de governar e as de produzir. Ve-
berço da pedagogia. de sabedoria. A primeira virtude do homem remos que a educação grega acontece através
Com o tempo, o sentido de ação e do guerreiro era a bravura. Assim, da música e da ginástica. Por música, era en-
amplia para designar a Aquiles (o guerreiro) e Ulisses (oratória) foram tendido os hinos religiosos e militares, canta-
teoria da educação. Os
gregos, ao discutirem o os modelos de virtude e de honra. O menino dos em coro pelos jovens. Por ginástica, enten-
fim da Paideia, esboçam aprendia as proezas dos heróis homéricos. dia-se a preparação do guerreiro.
as primeiras linhas da
ação pedagógica, que
irão influenciar a cultura
ocidental.
Educação no período clássico
18
História - História da Educação
Atividade
Através dos registros históricos, temos que Platão nos informa sobre a metodologia do ensi-
no desta nova e democrática técnica cultural que era a escrita alfabética. Vamos ver o que ele nos
disse? Veremos através dos escritos de Platão que primeiro se aprendiam as letras oralmente e
depois as letras escritas, ou seja, primeiro recitavam-se os nomes das letras. Leia o texto abaixo e
reflita um pouco sobre esta metodologia de ensino.
Quer ver se este método durou mesmo por milênios como afirmam os historiadores? Então
procure em sua família ou na comunidade um ancião (pessoas que tenham pelo menos 70 anos)
que frequentou escola quando criança. Indague sobre a forma como foram alfabetizados. Apre-
sente os relatos desse momento no fórum de discussão, socializando suas descobertas com seus
colegas.
Vamos pensar um pouco mais? Imagine esta escola e dê sua opinião, considerando o momen-
to atual. Entre no fórum e apresente suas considerações, dialogando com seus colegas de curso.
19
UAB/Unimontes - 2º Período
No que se refere à educação grega, po- ção do ideal educativo. Com isso, os filósofos
demos considerar que essa teve como particu- gregos, representantes da nova educação do
laridade a oportunidade do desenvolvimento mencionado país, ganharam destaque, espe-
individual. As explicações religiosas são substi- cialmente, Sócrates, Platão e Aristóteles.
tuídas pelo reconhecimento da razão autôno- Para refletirmos um pouco a respeito da
ma, pela inteligência crítica, pela personalidade história da educação no contexto em que vi-
livre, capaz de formular o ideal de formação do via Platão, necessitamos lembrar que as ideias
cidadão. Assim, Aranha (1990) relata que uma deste filósofo marcam dois momentos e dois
nova concepção de cultura e do lugar do in- modelos de educação, sendo que o primeiro
divíduo na sociedade repercute na educação, momento representa as ideias de Platão en-
bem como nas teorias educacionais. De fato, os quanto jovem, que são expressas no livro A
filósofos gregos refletiram a esse respeito, para República. Platão aponta o modelo ideal de ci-
que a educação pudesse desenvolver um pro- dade, onde as pessoas são livres para se gover-
cesso de construção consciente de que o ho- nar. Aqui, fica clara a concepção de homem,
mem fosse constituído de modo correto e sem que traz implícita uma concepção de educa-
falha, nas mãos, nos pés e no espírito. ção e, consequentemente, uma visão de ensi-
Na Grécia, existiam conflitos entre os teó- no e aprendizagem coerente com a moral e a
ricos educacionais, com relação à constitui- política. Segundo Platão:
20
História - História da Educação
Temos que a educação na Grécia dividiu-se entre período antigo (Idade Homérica) e novo Dica
período (educação espartana e ateniense). Já apresentamos a educação no período homérico. Para Sócrates, a aprendi-
Propomos, agora, falar um pouco da educação grega no novo período, ou seja, educação espar- zagem é fruto de uma
tana e ateniense. Vamos lá! semente germinada
Você precisa saber que, na educação grega no novo período, continuam as ideias educacio- e cultivada na alma.
nais, religiosas e morais, porém, nesse momento, desenvolveu-se um novo pensamento filosófi- E, assim, a educação
deve ocorrer por meio
co e novas práticas educativas surgiram. de diálogos críticos,
Vamos observar estas educações através dos relatos dos historiadores, separando em duas procurando demonstrar
sessões: educação em Esparta e educação em Atenas. a necessidade de unir
pensamento e vida, a
fim de que o ser huma-
no procurasse buscar
o autoconhecimento.
Você percebe esse mo-
delo de educação pre-
sente nas concepções
ensino-aprendizagem
adotadas atualmente?
Para conversarmos a respeito da educa- de obediência às leis para que esse indivíduo
Atividade
ção espartana, precisamos ressaltar que Espar- se tornasse um soldado ideal em bravura e
ta era uma importante cidade-estado situada verdadeiro cidadão. Pense no que você leu
na península do Peloponeso. Com a formação É sabido que, ao nascer, a criança espar- no parágrafo anterior
sobre a educação da
da cidade-estado (unidades políticas maio- tana era minuciosamente observada por um criança espartana. Qual
res), faz aparecer a evolução da nova estrutura grupo de anciãos. Caso ela não apresentasse a sua opinião sobre a
política, acompanhada por modificações nas uma boa saúde ou tivesse algum problema forma que os espar-
formas de governo, de sistema monárquico, físico, era lançada do cume do monte Taigeto. tanos pensavam sua
depois ditadura e, por fim, a democracia re- Se a criança fosse considerada saudável, ficaria educação na antigui-
dade? Nossa educação
publicana. Entretanto, Esparta aparece como com a mãe até os sete anos de idade e, a partir resguarda alguma
uma exceção a esse processo, pois o ideal ho- dessa idade, passava a ficar sob a tutela do go- semelhança com esse
mérico irá permanecer de maneira atuante e verno espartano, com a finalidade de receber modelo? Qual a sua
nitidamente militarista. todo o conhecimento necessário à sua futura opinião a esse respeito?
Veremos que o estado de guerra pratica- trajetória militar. Entre no fórum e dialo-
gue com seus colegas.
mente permanente impõe uma disciplina que Vamos refletir?
subordina o indivíduo ao Estado. Dessa forma, Como você pode perceber, o processo
a educação espartana consistia em dar a cada educativo em Esparta era controlado pelas
indivíduo a perfeição física, coragem e hábito autoridades políticas, afinal, para o ideal es-
21
UAB/Unimontes - 2º Período
partano, as crianças nascem e são criadas para oficial do Estado e o ensino destinava-se a for-
servir ao Estado. Aos sete anos de idade, o mar o soldado. Observe logo abaixo o comen-
menino era entregue aos cuidados da escola tário de Giles:
O menino recebe uma cama de palha, sem cobertor, e uma camisola curta.
Deve andar descalço. Para acostumar-se a passar fome em tempo de guerra, só
recebe um mínimo de comida. (GILES, 1987, p.13).
22
História - História da Educação
cera. Mais tarde, escrevia-se em folhas de papiro. O aluno traçava as formas Atividade
das letras, já preparadas pelo instrutor, até aprender a formá-las ele próprio.
(GILES, 1987, p. 15) Como você percebeu
essa preocupação da
educação feminina pe-
Quanto à educação das meninas de Atenas, verificamos que elas não frequentavam escolas, los espartanos? O que
ficavam aos cuidados da mãe até o casamento. diria se essa forma de
Como você pode observar, por volta dos sete anos de idade, o menino ateniense era educação fosse implan-
orientado por um pedagogo e não enviado a campos de formação de guerreiro como em Es- tada hoje em nossos
sistemas educativos? Vá
parta. Na escola, os jovens estudavam música, artes plásticas, Filosofia, entre outras. As ativi-
ao fórum e apresente
dades físicas também faziam parte da vida escolar dos atenienses, pois estes consideravam de sua opinião, discutindo
grande importância a manutenção da saúde corporal e não havia a preocupação com a guer- sobre esse assunto com
ra. Embora os cidadãos atenienses vivessem sobre um regime democrático, a educação ainda suas colegas de Curso.
era um privilégio dos nobres.
Para saber mais
Assista ao filme “300”,
de Zack Snyder, que traz
uma cena que ilustra
muito bem o que vimos
sobre a educação espar-
tana: trata-se do treina-
mento do rei Leônidas
quando menino.
- Visite o fórum e
comente sobre o filme
com seus colegas.
◄ Figura 13: Educação
em Atenas. Atividade
Fonte: Disponível em:
<http://www.dm.ufscar.
Neste modelo você
br/hp/hp902/hp902001/ percebe alguma seme-
fhp902001d.jpg>. Acesso lhança com a educação
em: 13/02/2013. atual? Entre no fórum
e comente com seus
colegas sobre sua des-
coberta.
Atividade
Vamos pensar um
pouco? Este modelo
educacional tem algu-
ma semelhança com o
nosso modelo atual?
O que você percebeu?
Entre no fórum e discu-
ta com seus colegas as
suas percepções.
Atividade
Observou que a edu-
cação ateniense tinha
como objetivo trabalhar
as qualidades mentais,
Diante do que estudou até agora, você observou que, no que diz respeito à educação ate- físicas e morais do ser
niense, muitos aspectos eram considerados. Porém, há outro fato que consideramos de relevân- humano, guiando a
cia: é quanto aos responsáveis pela educação em Atenas. Vamos observar que os sofistas surgem juventude e fazendo-os
como os primeiros mestres, profissionais da educação. Veremos, ainda, que o processo educati- tornarem-se “fortes e
descentes”, úteis à socie-
vo ateniense estava associado às necessidades práticas, principalmente a eloquência perante a dade e bons cidadãos?
assembleia dos cidadãos. A retórica, portanto, era considerada fundamental na formação desse Pois é, o que você acha
cidadão, pois se acreditava que através da argumentação, da força de dicção poética, da orna- dessa preocupação dos
mentação e estilística e da persuasão, a opinião pública poderia ser manipulada. atenienses? Entre no
A educação ateniense tinha uma sistematização, como podemos verificar através dos rela- fórum e comente com
seus colegas de Curso.
tos apresentados no ícone Para saber mais a seguir.
Leia-o e descubra do que estamos falando.
23
UAB/Unimontes - 2º Período
BOX 1
Texto: Ministério Nacional da Educação e dos Assuntos Religiosos da República Hel-
lênica. Tradução (Inglês/Português) Phedra Panos.
A educação na antiga Atenas consistia em três (3) cursos básicos.
O Primeiro curso era chamado “Grammata” (as letras), e incluía a leitura, escrita e mate-
mática. O professor era chamado de “Grammatistes” (professor das letras). Quando as crianças
passavam a dominar a língua, era-lhes ensinados os grandes Poetas e suas obras.
O segundo curso consistia em Música e Canto. O professor era chamado de “Kitharistes”
(guitarrista). Através das letras, da música e poesia, também lhes era ensinado história, geo-
grafia, ética e todos os demais valores da vida.
O terceiro curso consistia em educação física. O professor era chamado de “Paidotribes”
(formador de criança). As lições tinham lugar à tarde na “Palaestra” (lugar de esportes) e no
estádio. As crianças praticavam luta, salto, corrida e arremesso de disco e dardo.
Atividade Fonte: Disponível em: < http://www.sociedadehelenica.org.br/paginas_pt/netnews.cgi?cmd=mostrar&cod=12&max=
Qual a sua opinião 9999&tpl=modelo2>. Acesso em: 13/02/2013
sobre esse modelo edu-
cacional? Você acha que Vamos agora dialogar um pouco a respeito da educação Romana, e, para tal, precisamos
esse modelo poderia
melhorar nossa edu- considerar que, com a conquista romana, a cultura grega estende suas fronteiras, sem mudar seu
cação? Converse sobre caráter. Você vai observar que, na realidade, a educação romana vai ser apenas um aspecto da
isso com seus colegas educação da Grécia.
no fórum.
24
História - História da Educação
dividir o império em Império Romano do Oci- Para podermos discutir a respeito da edu-
dente, com capital em Roma, e Império Roma- cação em Roma, você precisa saber também
no do Oriente (Império Bizantino), com capital que os filósofos gregos, particularmente Só-
em Constantinopla. Em 476, chega ao fim o crates, Platão e Aristóteles tentaram conciliar
Império Romano do Ocidente, após a invasão o conflito existente entre a educação institu-
de diversos povos bárbaros, entre eles, visi- cional e a nova educação individualista, o que
godos, vândalos, burgúndios, suevos, saxões, resultou na formulação de um problema que
ostrogodos, hunos etc. Nesse contexto, pode- permanece até a educação atual, ou seja, as
mos afirmar que ocorria o fim da Antiguidade discussões de fins, métodos e conteúdo edu-
e início de uma nova época chamada de Ida- cacionais sofrem influência dessa época até o
de Média. presente, porém é preciso saber que a orga-
Agora, dedicaremos nossa atenção à re- nização educacional sugerida pelos filósofos
flexão acerca da educação romana propria- gregos não teve impacto imediato na educa-
mente dita. Vamos lá! Historiadores afirmam ção romana. Dessa forma, ponderamos que a
que, na antiga Roma, o pai de família era o tendência individualista na educação romana
primeiro educador e que esse modelo de edu- permaneceu até que fosse reprimida politica-
cação se caracteriza pela mentalidade prática mente pelo Império Romano e moralmente
dos romanos, enquanto na Grécia os sofistas pelo cristianismo. Você verá que o ideal roma- Atividade
foram os instrumentos para a introdução de no de educação era baseado na concepção de Como você vê esta
novas práticas educativas. direitos e deveres. Assim, Giles comenta: forma de seleção para
a educação? O que mu-
Todos os deveres de pai e de cidadão reclamavam uma educação definida, du- dou? A partir da leitura
rante os anos da meninice, a fim de se desenvolverem as aptidões ou virtudes do texto acima, entre no
adequadas. Mesmo nos últimos períodos, esta educação, apenas em pequena fórum e comente com
parte, era ministrada na escola. O lar é que ministrava uma educação definida, seus colegas apresen-
de caráter positivo e de grande valor. (GILES, 1987, p. 37). tando sua opinião a
esse respeito, fazendo
relação com o momen-
Esclarecemos a você que o processo edu- tante e o principal agente educativo. O proces- to atual.
cativo romano, assim como o de Esparta, tinha so educativo é a formação do caráter moral.
a finalidade de formar os filhos para servirem Assim, as escolas formais, no início da infân-
à Pátria. A aprendizagem consistia nas artes cia, tinham menor relevância, em comparação
mais necessárias para o Estado. Lembramos com o lar. A educação era responsabilidade
que, na sociedade romana, diferentemente da dos pais, que deviam dar disciplina severa, au-
espartana, a família é a instituição mais impor- toritária e moral. Thomas Giles revela que:
25
UAB/Unimontes - 2º Período
A partir do ritual, a criança aprovada e piedoso a partir da observação dos mais ve-
aprende a referendar as divindades ancestrais, lhos. Assim, a força do exemplo era o instru-
a obedecer às leis e aos pais, ou seja, aprende mento crucial da educação romana.
a ser guerreira e cidadã. Quanto ao processo Para Manacorda, a transição do estado
educativo fundamental dos romanos, por tra- tribal à monarquia aconteceu em apenas 300
dição, o jovem aprendia a ser um homem bom anos:
Segundo os historiadores, os ritos da ini- escolar helenista foi implantada no sistema es-
ciação começavam aos dezesseis anos, quan- colar romano da época. O ensino de literatura,
do o adolescente passava para a condição de da lógica e da oratória continuou e, nesse mo-
adulto, trocava de veste e confirmava o seu mento histórico, o menino era entregue aos
nome. Observe que era a partir desse momen- cuidados do pedagogo. É preciso que você
to que a educação do jovem era entregue a saiba que o pedagogo romano, nessa época,
Para saber mais parentes ou amigos, que ensinariam a arte tinha como objetivo servir de guardião, com-
Assista aos filmes: O guerreira e agrícola. O adolescente aprendia panheiro e orientador moral. Esse pedagogo
Império Romano - SBJ também a ginástica, o manejo de armas, a ler era escolhido com muito critério, sendo obser-
Produções, ou Roma e escrever e a história da pátria como sinal de vado principalmente o seu caráter moral.
Antiga – 3 filmes/ Vídeo identidade nacional. Voltando a falar da educação romana,
peia Britânica, ou A Veremos que o ensino literário limitava-se no que diz respeito ao método de ensino, ve-
Queda do Império Ro-
mano, ou Ben- Hur. à transmissão oral de hinos religiosos e cantos remos que, aos sete anos, o menino aprendia
Faça um debate no Fó- militares. O filho era moldado pelo pai para a escrever copiando as palavras ditadas pelo
rum com seus colegas formar uma sociedade de soldados e aristocra- mestre ou traçando as letras sobre as tábuas
sobre o cotidiano, a tas, pois o objetivo da educação romana era de cera. Na leitura, utilizava-se a tradução la-
política, a educação, a moral e prática, e não intelectual e literária. tina da Odisseia. Com doze anos de idade, o
cultura dos romanos.
Entretanto, veremos que a anexação da aluno vai para a escola gramatical, que se di-
Grécia, da Macedônia e de outras províncias vidia no estudo de língua e de literatura grega
transformou Roma em uma cidade bilíngue, e no estudo do latim e da literatura romana.
destacando a língua grega, que se tornou, Assim, veremos que a escola elementar roma-
nesse período, a segunda língua para os di- na foi substituída pelo modelo grego. O mes-
plomatas e aristocratas. Assim, você pode tre providenciava as instalações para as aulas,
perceber que, nesse contexto, as mudanças que normalmente eram barracas e tendas ao
em Roma são irreversíveis. Inicia-se o ideal ar livre, ao passo que no nível superior, as salas
pragmático utilitário de aceitação e adaptação eram espaçosas, com bancos e cátedra para o
dos estudos helenistas por parte de Roma. So- mestre.
mente na segunda metade do século II surge Também entendemos ser importante aqui
Atividade um curso de instrução formal que tem o ideal registrar que a Retórica latina adaptada do gre-
humanista, correspondente à Paideia. go ganha importância nesse período, estuda-
Qual a sua opinião so- Assim sendo, veremos que a organização va-se também Letras/Português, música, ma-
bre a separação entre a
educação dos meninos
sistemática do ensino em Roma desta época temática, geometria e astronomia. Entretanto,
e a educação das meni- se baseia no programa de estudos domina- somente os meninos estudavam na escola gra-
nas? Entre no fórum e dos pela gramática, filologia e retórica, e não matical, as meninas estudavam no lar.
comente sua resposta pela literatura, estética e filosofia. Veja que os Outro ponto que julgamos relevante para
com seus colegas. estudos romanos dividiam-se em três etapas: a você refletir é que o processo educativo roma-
primeira consistia na leitura, na escrita do gre- no caracterizava–se pela independência do
go e do latim; a segunda consistia no ensino Estado e a sua falta de controle. Entretanto, a
da gramática, filologia e literatura; e a terceira necessidade da formação de uma burocracia
etapa compreendia o nível superior, ou seja, fez com que o Estado romano se envolvesse
o estudo técnico da filosofia, da dialética e da gradativamente no processo educativo, fazen-
retórica. do com que as escolas assumissem a forma do
Porém, veremos, aqui, que o elemento sistema estatal.
comum nessas três etapas era a dimensão Você deve observar que a organização
prática (aplicabilidade à vida do que se ensina dos estudos e métodos de ensino utilizados
e se aprende). Podemos dizer que a estrutura em Roma provinha das escolas helenistas. Que
26
História - História da Educação
Através de uma viagem na história da edu- vam ou não o latim, ensinaram a própria língua
cação romana, veremos que o escravo era pe- e transmitiram sua própria cultura aos romanos.
dagogo e mestre na própria família, ou seja, era Observe que, em Roma, com o desenvol-
o escravo liberto que ensinava na sua própria vimento da sociedade patriarcal, a educação se
escola. Assim como na Grécia, esses escravos tornou um ofício exercido inicialmente por es-
pedagogos foram, na sua maioria, estrangeiros cravos dentro da família, e, posteriormente, por
“bárbaros”, isto é, falavam mal o grego e, por- libertos, na escola. Podemos dizer que essas são
tanto, ensinavam sua própria cultura. Também as origens da profissão de educador em Roma.
em Roma, esses escravos foram gregos que fala- Segundo Monroe:
O que mais caracteriza esta decadência é o fato desta educação ser limitada
à classe mais elevada. A educação já não se destinava a ser a educação práti-
ca de todo o povo, mas o ornamento de uma sociedade oca, superficial e ge-
ralmente corrupta; já não é um estádio de desenvolvimento possível para um
povo inteiro, ou para indivíduos de dada categoria, mas a simples obtenção ou
mesmo mera insígnia de distinção de uma classe favorecida. Quando o antigo
vigor político e as oportunidades para as atividades políticas desapareceram, o
governo municipal se tornou mera máquina para coletar impostos, quando o
exército se encheu de bárbaros, a classe superior, agora mais numerosa do que
nunca, voltou-se para o único traço remanescente da primitiva Roma imperial - Para saber mais
a cultura. (MONROE, 1976, p. 23).
Para melhor compreen-
são, veja o vídeo sobre
Observe que, na educação romana, pre- vam papéis secundários, pois a família era o
a educação e a Roma
valeceu um sistema modificado que incluía centro do processo educacional. Vimos tam- antiga. Disponível em:
elementos gregos e romanos. A cultura e lite- bém que existiram, em Roma, inicialmente, <http://www.youtube.
ratura grega chegaram às classes superiores, as escolas elementares, denominadas ludi, as com/watch?v=M1AL-
nas quais se organizou um sistema de escolas quais ficavam responsáveis por ensinar os ru- 8nGFDRk&feature=re-
lated>.
de gramática e de retórica, fundaram-se uni- dimentos da leitura, da escrita e do cálculo.
versidades e bibliotecas. Mas, com o tempo, Entre meados do século III e I, a cultura grega
essa educação ficou formal e irreal e perdeu foi assimilada pelos romanos e, com isto, sur-
sua importância social. Surge, então, uma giu a escola grega de gramática, a qual mar-
nova educação ministrada pela Igreja. cou o período introdutório das escolas gre-
Temos, ainda, que na educação romana, gas. Nela, lecionavam docentes gregos, que
que era essencialmente prática, as escolas e ensinavam noções básicas da língua e da lite-
os professores, de uma forma geral, ocupa- ratura (MONROE, 1983).
27
UAB/Unimontes - 2º Período
Dedicaremos, aqui, um espaço para apresentar alguns elementos históricos que nos possibi-
litem discutir acerca da educação na Idade Média. E, para iniciarmos essas reflexões, buscaremos
apoio nas palavras de Manacorda, ao tratar da educação na Idade Média, em que afirma:
Diante do exposto, vale esclarecermos a você que, no decorrer da história, devido a muitos
acontecimentos políticos, encontramos a decadência da cultura clássica, que compreendemos
fazer parte do mundo grego.
28
História - História da Educação
Em meio à política social vivenciada na ção e a religião grega e romana não ofereciam
Idade Média, enfatizamos a você que a im- essa formação. Com o cristianismo, a educação
portância e a influência exercida pela Igreja adquire um caráter novo. O treino físico e re-
na educação e nos princípios morais, políticos tórico foi substituído por uma disciplina rígida
e jurídicos da sociedade medieval são funda- de conduta, o elemento intelectual é trocado
mentais. Assim, a educação na Idade Média é pela instrução da doutrina da Igreja e da práti-
marcada pela disciplina e pela influência da re- ca ao culto.
ligião. O Cristianismo tornou-se a religião ofi- Veja que a educação, nesse período,
cial do Império Romano. tornou-se um regime rígido em que todo o
Outro ponto relevante nessa discussão excesso de interesses naturais deveria ser su-
é que os romanos decadentes e os bárbaros primido, ou seja, tudo que fosse ligado a este
godos e vândalos tinham necessidade de uma mundo era um mal, como também o desen-
preparação de conduta e espírito, só assim volvimento da personalidade e o gosto pelo
poderiam enfrentar a substituição de novos estético ou pelo intelectual eram considerados
ideais de vida e de conduta. Afinal, a educa- pecados. Assim, Manacorda relata:
Veremos que o novo ideal educacional um esforço desses padres em mostrar que a li-
era baseado na natureza moral do homem. teratura grega estava cheia de princípios e ver-
Para o cristianismo, essa natureza moral era dades, de preconceitos e exemplos instrutivos
comum a todos, passível de aplicação univer- para uma vida superior.
sal. O problema fundamental da educação Entre os mencionados padres, destaca-
e da vida moral encontra uma nova base de vam-se Gregório, Agostinho e Tertuliano, que
vida. Essa concepção fez com que os cristãos acreditavam que um cristão não poderia ser
primitivos e medievais tornassem indiferentes mestre de uma cultura pagã. Aqui é impor-
a educação e cultura grega romana. Agora, as tante enfatizarmos para você que Agostinho
preocupações são morais e religiosas e não foi o mais influente dos pensadores cristãos
mais intelectuais estéticas e físicas. na elaboração de um projeto que resolvesse o
Como se sabe, através dos registros his- conflito entre a fé cristã e a cultura clássica. Por
tóricos, a religião dos gregos e romanos se meio de seu pensamento, contribuiu decisi-
enquadrava nos conceitos políticos. O proble- vamente para a construção de um modelo de
ma ético estava então associado à filosofia. A educação que, desde então, delineou a cultura
ética e a moralidade tornam-se conexão com educacional do mundo ocidental.
a religião, passando a exercer uma influência A respeito do contexto em que acontece
sobre as massas. Porém, os padres gregos que a síntese do pensamento cristão com base na
tinham sido filósofos, antes da sua conversão, filosofia dos gregos, Cambi afirma que:
incentivavam o estudo da literatura. Houve Glossário
Estoicismo: (do grego
Após o grande conflito entre paganismo e cristianismo, que alinha de cada Στωικισμός) é uma esco-
lado os intelectuais mais ilustres e mais decididos (como Símaco e Ambrósio) e la de filosofia helenística
que conclui com a vitória política e ideológica do cristianismo; após a completa fundada em Atenas por
simbiose operada entre cristianismo e pensamento greco-helenístico; após o Zenão de Cítio, no início
amplo desenvolvimento realizado na religião cristã por obra dos Padres, orien- do século III a.C.
tais e ocidentais, estava maduro o tempo de dar vida a uma síntese completa Estóicos: ensinavam que
do pensamento cristão que exprimisse seus fundamentos teóricos na trilha do as emoções destrutivas
pensamento grego pusesse em evidência seus elementos éticos, antropológi- resultam de erros de
cos, políticos e históricos dotados de nítida autonomia e diferença presentes julgamento, e que um
na visão cristã do mundo. A obra de Santo Agostinho coloca-se neste plano, sábio, ou pessoa com
reativando no cristianismo os princípios da filosofia platônica (o inatismo da “perfeição moral e
verdade; o dualismo alma/corpo; a ascese ética e mística típica, sobretudo do intelectual”, não sofreria
neoplatonismo), mas salvaguardando também as características originais da dessas emoções.
teologia (a Trindade, por exemplo) e da moral (o senso do pecado em particu-
lar, ou então a ascese rigorosa) cristãs. O seu pensamento foi realmente uma
29
UAB/Unimontes - 2º Período
Mediante o exposto na citação acima, podemos ressaltar que, por intermédio de Agostinho,
a filosofia cristã é influenciada pelos estóicos por meio da atribuição de uma conotação religiosa
que a filosofia grega adaptou aos dogmas cristãos. Nesse período, Agostinho, como um gran-
de discípulo do platonismo, organiza a concepção de homem, que se torna reconhecida como a
doutrina da igreja católica por muito tempo.
Veja você que a história é marcada pela utilização dos clássicos como instrumentos, para a
compreensão da fé. Agostinho entendia que o homem é concebido como uma alma que habita
Figura 16: Conversão de o corpo. E que, sendo criado por Deus à sua imagem e semelhança, deve seguir o princípio ético
santo Agostinho. e fazer o bem.
Fonte: Disponível em: Agostinho defendia que, quando Platão dizia que conhecer a verdade referia-se a voltar para
< http://www.agusti-
nosrecoletos.com/files/
si mesmo, autoconhecer-se, Platão estava se referindo a Deus, que habita no interior do homem, na
images//FICHERO8382. alma, na essência. Portanto, conhecer a verdade implica encontrar a luz que habita dentro de si, sen-
jpg?KeepThis=true&TB_ do a verdade o encontro com Deus, que é a luz que ilumina tudo. E o homem era um ser miserável,
iframe=true>. Acesso em:
17/02/2013.
que só podia ser salvo pela graça divina, feito à semelhança de Deus, mas com possibilidades de
afastar-se dele.
▼
Diante das concepções de homem, segundo Agostinho, é possível compreender que a educa-
ção em sua visão é confiada a Deus. Sendo assim, a cátedra pertence a ele, que está nos céus, o que
lhe permite ensinar a verdade sobre a terra. Nesse caso, assim como Platão, Agostinho entendia
30
História - História da Educação
a educação como “iluminação interior” ou como “voltar-se para dentro”, em que as palavras têm a Atividade
finalidade de suscitar recordações sobre as coisas as quais simbolizam. Será que os professo-
Como você pode observar, esse modelo de educação não é desconhecido em nosso meio. res das nossas escolas
Podemos percebê-lo implícito nas tendências pedagógicas que propõem a educação por meio priorizam essa metodo-
do verbalismo do professor, a fim de promover a contemplação como passo fundamental para o logia até hoje? Dê sua
processo educacional, que, por sua vez, distancia a teoria da prática, priorizando a contemplação. opinião entrando no
fórum e discutindo com
Por meio das ideias de Agostinho, a patrística transforma completamente a pedagogia, seus colegas.
cujo processo educacional se inicia a partir da aflição em buscar respostas por meio da con-
templação, da disciplina cristã, enfim, dos princípios religiosos. A pedagogia proposta por
Agostinho é apresentada ao escrever a obra O Mestre (De Magistro), em que afirma que é de
competência do professor apresentar, estimular e despertar os discípulos por meio de pala- Glossário
vras. Assim, Agostinho apresenta um diálogo conforme a tradição de Platão, entre ele e seu Patrística: entende-se
filho Adeodato. como o período do pen-
Veja que Agostinho pediu a Deodato para dar suas impressões sobre a sua proposta pe- samento cristão que se
dagógica. E seu filho Deodato lhe responde: seguiu à época do novo
testamento e chega até
ao começo da Escolás-
Eu na verdade, pela admoestação de suas palavras, aprendi que estas não ser-
tica, isto é, os séculos
vem senão para estimular o homem a aprender, e que já grande coisa é se,
II – VIII da era vulgar.
através das palavras transparecesse um pouquinho do pensamento de quem
Este período da cultura
fala. Se depois foi dita a verdade, isto no-lo pode ensinar somente aquele que,
cristã é designado com
falando por fora, avisa que habita dentro de nós; aquele que por sua graça, hei
o nome de Patrística, e
de amar tanto mais ardorosamente quanto mais eu progredir no conhecimen-
representa o pensamen-
to. (AGOSTINHO, 1980, p. 323-324).
to dos Padres da Igreja,
que são os construtores
Observe que, nesse contexto histórico da Idade Média, é visível a ideia de que não se deve da Teologia Católica,
desprezar a razão humana, que deve ser utilizada para compreender a verdade. No entanto, den- guias e mestres da
tro do incipiente da teoria da educação cristã, é refletida a tensão entre fé e razão; entre aceita- doutrina cristã.
ção e rejeição da cultura clássica.
Fonte: Disponível em:
Observe, também, que o fato de o cristianismo levar o indivíduo a descobrir o sentido que <http://www.recanto-
deve orientar a sua existência configura-se como uma visão pedagógica, um processo educa- dasletras.com.br/cro-
tivo. Esse processo é explicado por Agostinho no livro As Confissões – que trata da história do nicas/2868411. Acesso
crescimento e desenvolvimento do homem. Assim: em: 15/02/2013.
Convidamos você a continuar a reflexão sobre a educação medievalista com vistas a revi-
sitar a história da educação na Idade Média e isto requer que não nos esqueçamos de ponderar
que a vida da Igreja cristã primitiva era em si mesma uma escola de enorme importância, pois
31
UAB/Unimontes - 2º Período
Glossário durante aproximadamente mil anos a educação se caracterizaria pela ausência de elementos
Catecumenatos: Ou intelectuais com priorização dos elementos cristãos e morais. E, na sequência, salientamos que,
formação dos catecú- naquele contexto histórico, a Igreja estava empenhada na reforma moral do mundo, para a edu-
menos, tem por finali- cação moral dos seus próprios membros.
dade permitir a estes Veja que as escolas eram verdadeiros catecumenatos, tinham o aspecto mais primitivo da
últimos, em resposta à vida da Igreja Cristã, que se aproximava de uma instrução formal. Era, na verdade, a preparação
iniciativa divina e em
união com uma comu- dos conversos, jovens e idosos; destinava-se à instrução na doutrina e na prática de vida cristã.
nidade eclesial, que As escolas catequéticas usavam o mesmo método das escolas catecumenatos, porém colo-
levem a conversão e a fé cavam a filosofia, a retórica e o saber grego à disposição da Igreja Cristã. As escolas episcopais e
à maturidade. Trata-se as escolas das catedrais são organizadas pelos bispos para preparar o clero. Os sacerdotes foram
de uma “formação à submetidos às regras ou cânone, possibilitando o controle do trabalho dessas escolas.
vida cristã integral (...)
pela qual os discípulos
são unidos a Cristo,
seu mestre. Por isso, os
catecúmenos devem
ser iniciados (...) nos
mistérios da salvação e
na prática de uma vida
evangélica, e introdu-
zidos, mediante ritos
sagrados celebrados em
épocas sucessivas, na
vida da fé, da liturgia e
da caridade do povo de
Deus”.
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História - História da Educação
33
UAB/Unimontes - 2º Período
Veja você que a finalidade do pensamento escolástico foi a atitude de obediência, aceita-
ção de todas as doutrinas, declarações da Igreja. A partir das verdades formais dogmaticamen-
te estabelecidas, hostilizava todo estado de dúvida, investigação considerada pecaminosa. O
objetivo dessa educação era apoiar a fé na razão, ou seja, revigorar a vida religiosa e a Igreja
pelo desenvolvimento intelectual. A fé era considerada superior à razão; as doutrinas da Igreja
formuladas anteriormente deveriam ser analisadas, definidas e sistematizadas. Para tanto, te-
mos nas palavras de Monroe que:
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História - História da Educação
za o campo do fazer instrumental; com o seu educação, Silveira Rodrigues (2006) afirma
pensamento, cria uma multiplicidade de pos- que podemos considerar que a manifesta-
sibilidades sociais, nas relações estabelecidas ção do pensamento desses autores, ao res-
entre as culturas vivenciadas no processo de gatar o pensamento grego, dá continuidade
evolução da história da humanidade, dan- a contraposições de ideias que marcam uma
do valor ao trabalho nas relações do homem diversidade nas concepções de educação
com a natureza. predominantes no decorrer da história. Nas
A respeito desse marco da história da palavras da autora:
35
UAB/Unimontes - 2º Período
Referências
ARANHA, Maria Lucia de Arruda. História da educação e da pedagogia: geral e Brasil. 3 ed. São
Paulo: Moderna, 1990.
AGOSTINHO, Santo. Confissões; De Magistro. In: Os pensadores, São Paulo: Abril cultural, 1980.
CHATELET, F. História da Filosofia, Ideias e Doutrinas. Vol. 7-3 Rio de Janeiro: Zahar, 1973.
MANACORDA, M. A. História da Educação: da antiguidade aos nossos dias. 12 ed. São Paulo:
Cortez, 2006.
MARROU, H. I., História da Educação na Antiguidade. São Paulo: Editora Herder, 1966.
MONROE, P. História da Educação. Trad. Idel Becker. São Paulo: Nacional, 1976.
_______. História da educação. Tradução: Idel Becker. São Paulo: Companhia editora nacional,
1983.
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História - História da Educação
Unidade 2
Educação: do renascimento ao
surgimento dos sistemas escolares
2.1 Introdução
Nesta unidade, trataremos da educa- a Contrarreforma como direção à elaboração
ção no período da Idade Moderna, buscando da base do pensamento pedagógico renas-
contextualizar o momento do Renascimento centista.
como final da Idade Média, buscando enfa- Preparado para iniciar a nossa viagem?
tizar a influência dos acontecimentos desse Então, vamos lá...
momento na sociedade e na construção do Através de uma análise dos registros his-
processo histórico vivenciado na atualidade. tóricos, você verá que o otimismo renascen-
Assim sendo, este estudo tem como objetivo tista foi paralisado pelas lutas religiosas, e as
principal conhecer o processo histórico que instituições eclesiásticas e estatais começa-
marca a história da educação na modernidade, ram a se assustar. Verá que a liberdade dos
por meio do entendimento das transforma- educadores foi cortada e, no mundo católi-
ções políticas, econômicas, sociais e artísticas co, teve início uma profunda decadência das
desse período que influenciaram nos contor- universidades. Verá também que os efeitos
nos que delineiam a educação ocidental. da Reforma na educação se fizeram sentir a
Nesta unidade, abordaremos os últimos longo prazo e que um dos mais importantes
séculos da Idade Média, quando a cultura efeitos foi a extensão do ensino primário.
europeia recebeu grande impulso, que cul- É preciso que você saiba que, com a Con-
minou com o pré-Renascimento. Veremos trarreforma, os países católicos ganharam
que, nesse período, a educação retomou os novas instituições de educação: os colégios.
antigos ideais clássicos, que defendiam a Nesse período, foi criado um modelo insti-
conjunção harmoniosa do homem com a na- tucional destinado aos filhos das classes pri-
tureza. Veremos, também, que os pensado- vilegiadas, sendo desenvolvidos métodos de
res da época eram, em sua maior parte, mes- grande refinamento psicológico. Veja que o
tres e percorriam a Europa difundindo suas ideal da educação renascentista tinha sido o
ideias, porém é preciso que você saiba que de formar o homem capaz de dominar todos
esse primeiro período renascentista durou os campos do conhecimento, desde a arte
poucos anos, sendo encerrado pelo início da até a ciência. Tarefa considerada impossível.
Reforma. Veremos que o desenvolvimento das
Ao final deste estudo, pretendemos que técnicas, adiantando-se muitas vezes ao das
você seja capaz de: compreender a história ciências puras, impôs a especialização dos
da educação marcada pelas principais trans- saberes, num mundo em que a arquitetura, a
formações ocorridas no período renascen- arte da guerra, a navegação e as finanças fi-
tista e suas contribuições na educação oci- cavam cada vez mais em mãos de um grupo
dental; compreender o Renascimento como reduzido de especialistas.
caminho para construção do pensamento hu- Vamos nos aprofundar um pouco mais
manista e, ainda, compreender a Reforma e nessa discussão?
37
UAB/Unimontes - 2º Período
38
História - História da Educação
39
UAB/Unimontes - 2º Período
Diante do exposto, entendemos que, nesse momento histórico, não é de grande interesse
mais formar o monge. Busca-se formar o profissional do mundo, por intermédio da preparação
escolástica, em função da necessidade de uma profissão que necessita do conhecimento da gra-
mática, dos cálculos, que passam a ser ensinados com objetivo comercial, para atender à escola
construída para atender às necessidades de uma sociedade mercantil, quase totalmente livre da
igreja e do império. O que, por sua vez, provoca a venalidade da ciência, fazendo emergir uma
revolução em torno dos métodos de ensino.
Conforme esta discussão que apresentamos a você, podemos encontrar, nas palavras de
Cambi (1999), assertivas que confirmam nosso posicionamento no que diz respeito à afirmação
de que se mudam os métodos de ensino por meio da mudança das teorias pedagógicas que ti-
nham anteriormente como critério de verdade do conhecimento as sagradas escrituras, cujos
métodos de ensino recebem uma conotação empírica, de acordo com as exigências de um mo-
delo educacional com base na instrução. Nas palavras do autor:
40
História - História da Educação
Foi Lutero, especialmente, quem deu impulso prático e força política à progra-
mação de um novo sistema escolar, voltado também à instrução de meninos
destinados não à continuação dos estudos, mas ao trabalho. “Mesmo se não
existisse nem alma nem inferno” – escrevia ele –, deveríamos ter escolas para
as coisas deste mundo. (MANACORDA, 1989, p. 198)
Em 1517, Martinho Lutero encontrou terreno fértil à sua pregação nas regiões em que era
interessante aos nobres se apoderarem das terras da Igreja Católica. Aliando-se aos príncipes,
41
UAB/Unimontes - 2º Período
(...) as classes destinadas à produção são consideradas não mais como os princi-
pais destinatários da catequese cristã, mas também como participantes ativos
no processo comum da instrução; Lutero se põe o problema da relação instru-
ção – trabalho. Se a necessidade de ler as Sagradas Escrituras e a capacidade de
cada um interpretar a palavra divina nelas contida está na base desta nova exi-
gência da cultura popular, é, porém o desenvolvimento das capacidades pro-
dutivas e a participação das massas na vida política que exigem este processo.
(MANACORDA, 1989, p. 198).
Você verá que a Reforma teve implicações relevantes na educação, pois Martinho Lutero in-
sistia em suas pregações que o ensino deveria ser ministrado a todos, nobre, plebeu, rico e po-
bre. Defendeu que a educação não devia por mais tempo ser pela religião e pela igreja, defendia
ainda a criação de uma rede de ensino público para oferecer instrução ao povo, argumentava
que o dinheiro investido em educação seria menor que o gasto com armas e traria mais benefí-
cios. Dessa forma, Monroe refere-se ao pensamento ora mencionado expressando entender que
nele havia a defesa das escolas como necessárias para
(...) a segurança dos negócios deste mundo, como a história dos gregos e ro-
manos claramente nos ensina. O mundo tem necessidade de homens e mu-
lheres educados, para que os homens possam governar o país acertadamente
e para que as mulheres possam criar convenientemente seus filhos, dirigir os
seus criados e os negócios domésticos. (MONROE, 1976, p. 179).
Enfim, podemos considerar que o contexto da Reforma promoveu uma necessidade de di-
fusão da instrução com o intuito de que a cada um fosse possível ler e interpretar as sagradas es-
crituras, independentemente da interpretação do clero. Dessa forma, entendemos que a exigên-
cia de instrução e de democracia foi um aspecto que contribuiu com a disseminação dos ideais
de modernidade, que, por sua vez, relacionam-se com um projeto educativo que não é diferente
das ideias de Platão nas Leis, seja diretamente relacionado com o Estado, que tem suas obriga-
ções, seja com a família e com a escola, local onde se inicia e se deslancha o processo educativo.
Assim, Lutero, segundo Nunes:
Dessa forma, entendemos que Lutero contribuiu com a inovação do modelo de educação,
no decorrer da história, em direção à institucionalização da escola pública de acordo com os inte-
resses do novo Estado burguês. Martinho Lutero defendeu que fossem abertas bibliotecas, e que
os pais fossem forçados a instruir seus filhos. Nas palavras de Manacorda:
É a Lutero que precisamos nos referir, embora o seu claro posicionamento so-
bre a escola seja posterior aos seus colaboradores. Foi ele especialmente que
deu o impulso prático e a força política à programação de um novo sistema
escolar, voltado também à instrução de meninos destinados à não continua-
ção dos estudos, mas do trabalho. “Mesmo que não existisse nem alma nem
inferno – escrevia ele - “deveríamos ter escolas para as coisas deste mundo.”
(MANACORDA, 1989, p. 196).
Diante dos movimentos protestantes, a igreja católica reage com a realização do Concílio de
Trento (1545 a 1563), a fim de defender o poder de monopolização da educação e da ideologia.
Dessa forma, criam ordens religiosas com o intuito de se defender e realizar um trabalho de cate-
quese nos países a serem conquistados.
Nesse período da história, você verá que se desencadeou um amplo movimento de mora-
lização do clero e de reorganização das estruturas administrativas da igreja católica, que ficou
conhecido como Reforma Católica ou Contrarreforma.
Nesse contexto, é criada e aprovada a ordem dos jesuítas, que, por sua vez, criou o catecis-
mo, catequese e os seminários, com vistas a reconquistar os fiéis. Além disso, incentivou prega-
42
História - História da Educação
dores apostólicos romanos como responsáveis pela catequese no novo mundo. Dessa forma, a
Companhia de Jesus, segundo Manacorda:
À parte os seminários para a formação do clero, o exemplo mais bem sucedi- Atividade
do de novas escolas para leigos recomendado pelo Concilio de Trento foi o Pensando neste método
das escolas dos jesuítas, campeões máximos na luta da Igreja Católica contra o de ensino adotado
protestantismo. Além da formação do próprio quadro, eles se dedicaram prin- pelos jesuítas, você faz
cipalmente à formação das classes dirigentes da sociedade. (MANACORDA, alguma relação com a
1989, p. 202). forma de ensinar de al-
gum dos seus professo-
Nesse contexto, surge a Companhia de Jesus, de Inácio de Loyola, subordinada diretamente res? Qual a sua opinião
ao papa e que levava sua pregação ao continente americano e até a Ásia. O cerne da Contrarre- sobre essa metodologia
forma em relação à educação foi a criação da Companhia de Jesus, que influenciou decisivamen- de ensino? Vá ao fórum
e apresente sua opinião,
te no ensino, por intermédio da criação da Ratio Studiorum, ou Sistema de Estudo, do qual, não interagindo com os seus
podemos deixar de ressaltar, originou o modelo de educação brasileira. A respeito da Ratio Stu- colegas de curso.
diorum, Manacorda afirma que ela apareceu no fim do século (1586-99) e, nas palavras do autor:
Você verá na unidade seguinte que o modelo educacional construído pelos jesuítas deu
origem ao modelo de educação brasileiro, mesmo após a expulsão desses educadores. Aguarde
que na próxima unidade vamos conversar um pouco mais sobre isso.
Na sequência deste estudo, continuaremos nossas conversas procurando apontar mais um
contexto que, na esteira do tempo, contribui com o desenho da história da educação por meio
de pensadores iluministas, cujas ideias e posicionamentos políticos são considerados marcos na
história da educação.
43
UAB/Unimontes - 2º Período
BOX 2
Entre os pensadores mencionados nesse texto, podemos destacar Galileu (1564-1642),
que fundamentava o conhecimento na experiência, construindo o método científico com
base em observações, formulação de hipóteses, experimentação e, finalmente, formação das
leis de acordo com resultados. Nesse contexto, a partir do empirismo, Galileu dá uma visão
ativa à ciência, por meio de fundamentos em explicações quantitativas, de causa e efeito e
mecanicistas. Posteriormente, Francis Bacon (1561-1626) formaliza esse método, caracteri-
zado pela defesa de uma ciência baseada no método experimental, que formula leis cientí-
ficas, sendo que estas consistem em generalizações baseadas em observações realizadas no
decorrer das constantes repetições dos fenômenos, construindo uma lógica indutiva. Dando
sequência ao pensamento de Galileu e Bacon, mas, ao mesmo tempo, marcando a contra-
dição aos referidos pensamentos nesse momento histórico filosófico, como já mencionado.
Descartes (1596-1650) é considerado um dos pais da filosofia moderna e do racionalismo,
por causa dos preceitos essenciais de sua lógica que envolve a condução do pensamento de
maneira organizada, interferindo decisivamente na maneira de pensar, nos valores, enfim, na
cultura ocidental. Sendo assim, Descartes afirma uma visão de mundo racionalista, resgatan-
do o pensamento socrático-platônico, e rompendo efetivamente com os ideais medievais do
conhecimento pela fé, resgatando ainda o sujeito como conhecedor, e o método racionalis-
ta como verdadeiro para a construção do conhecimento. Configura-se, assim, a premissa da
dúvida metódica, que diz respeito à necessidade de se conhecer a verdade para colocar em
dúvida todos os conhecimentos por meio do questionamento. Enfim, duvida-se de todos os
conhecimentos medievais, buscando promover análises criteriosas, a fim de verificar o grau
de verdade de todos os conhecimentos, com a finalidade de encontrar uma verdade primeira
da qual não se pode duvidar. Diante do exposto, afirma-se a existência humana na capacida-
de da elaboração do pensamento.
2.5 O iluminismo e a
consolidação da educação
moderna
Ao considerarmos que já discutimos acerca do Renascimento e do Humanismo, agora nos-
sas reflexões irão em direção à História da Educação em um momento em que foi vivenciado o
denominado Iluminismo, momento este que consiste em um movimento cultural e intelectual,
surgido na Europa do século XVII, fundamentado no uso e na exaltação da razão.
Nesse contexto, era abordado o conhecimento, a liberdade e a felicidade como os objetivos
do homem. Você precisa compreender que a visão iluminista defendia a possibilidade de cada
ser humano ter consciência de si mesmo e de seus erros e acertos e de ser dono do seu destino.
Nesse contexto, critica-se a tradição e a autoridade daqueles que tomaram para si a tarefa de
guiar o pensamento e contra o dogmatismo. É notória, ainda, a luta contra as verdades dogmáti-
cas, na esfera política, em oposição ao absolutismo monárquico.
Você precisa ter claro que o movimento iluminista foi marcado pela influência que os em-
preendimentos científicos do século XVII e início do século XIII delinearam no pensamento oci-
dental, que era alicerçado no misticismo religioso, de forma a construir o racionalismo, em que
o mundo físico e seus fenômenos passavam a ser explicados pela razão, e não mais pela religião.
No que se refere aos ideais iluministas, esses valorizavam o homem e sua capacidade de
controlar e conhecer tudo o que o rodeia. No plano social, esse otimismo se traduziu na crença
de que os homens são agentes históricos, que são capazes de conduzir a história de acordo com
os seus interesses.
Podemos considerar que, no campo político, o otimismo das Luzes foi a base de sustentação
ideológica das revoluções burguesas. Os preceitos de Igualdade, Liberdade e Fraternidade, pre-
sentes na Revolução Francesa, foram a derivação política das teses racionalistas.
44
História - História da Educação
Dessa forma, é pertinente ressaltarmos que os iluministas e seus precursores foram respon-
sáveis por importantes descobertas científicas e pela reestruturação do pensamento ocidental.
Entre eles, podemos citar alguns nomes, como os de Giordano Bruno, Nicolau Copérnico, Galileu
Galilei, Francis Bacon, René Descartes, João Amos Comênio, Voltaire, Diderot, Rousseau, Montes-
quieu, Adam Smith, John Locke, entre outros.
Vamos agora pontuar algumas ideias acerca da educação, produzidas pelos autores citados
no parágrafo anterior. E, para tal, iniciaremos com uma breve reflexão acerca do pensamento de
Comênio (1592-1670), filósofo cujo pensamento humanístico contribuiu para a renovação da
educação, por meio da defesa de que o homem é capaz de aprender e, sendo assim, pode ser
educado. Seguidor da lógica do racionalismo cartesiano, esse autor concebeu a didática como a
arte de ensinar, colocando-se a serviço dos interesses da sociedade burguesa e marcando a his-
tória da educação. Segundo Silveira Rodrigues:
Comênio (1957) propõe uma sabedoria universal e, dessa forma, influencia permanente-
mente a pedagogia das épocas anteriores, ao propor um método de ensino que seja possível en-
sinar a todos os povos e uma escola que seja para a vida toda, pois todos são capazes de apren-
der. Nas palavras do autor:
Você concorda com Comênio quando afirma que é possível que um só professor ensine al-
gumas centenas de alunos, e que isto é vantajoso para o professor e para os alunos? Qual seria o
interesse político que pode ser sustentado por esse pensamento?
A proposta de didática apresentada por Comênio pode ser entendida como revolucionária
ao propor o ensino para todos. Todavia, ao refletirmos um pouco sobre ela, podemos perceber
que apresenta em si um modelo excludente no que ser refere à qualidade da educação para o
ensino público.
Assim, posicionamo-nos ao percebermos que, ao sugerir a sua didática magna, propõe a
sala de aula cheia de um grande número de alunos, que permanecerão passivos diante do con-
45
UAB/Unimontes - 2º Período
Veja você que a educação, a formação e a instrução, portanto, são três coisas tão diferentes
no que se refere ao seu objeto quanto à governanta, o preceptor e o professor. Essas distinções,
porém, não são bem compreendidas e, para ser bem dirigida, a criança deve seguir um só guia.
Devemos, pois, generalizar nossas ideias e considerar em nosso aluno o homem abstrato, o ho-
mem exposto a todos os acidentes da vida humana.
Assim, é preciso ensinar à criança a se conservar como homem, a suportar todos os atro-
pelos que a sociedade lhe expõe. Porém, é interessante ponderar que, contraditoriamente, Rou-
sseau afirma que a educação pode vir da natureza quando se refere ao desenvolvimento das
faculdades dos órgãos. Ideias de exclusão podem ser percebidas em “O contrato social” ao referir-
se ao camponês como aquele que não precisa de escolas, pois o que precisa aprender aprende
com a natureza. Ou seja, no campo onde vive.
O filósofo afirma que a natureza ensina o camponês. Afirmação esta que é negada na obra
“O Emílio”, ao atribuir à personagem principal, que representa uma classe privilegiada, a condição
de uma educação superior, com vistas a formar o homem Ideal.
Suchoudolsk levanta a seguinte questão a respeito dos interesses que permeiam o pensa-
mento de Rousseau:
O autor pretendeu provar que “é bom tudo o que sai das mãos do criador da
Natureza e tudo degenera nas mãos do homem”. Posto isto, será possível con-
fiar aos homens o problema da educação? Não será conveniente dar à crian-
ça um desenvolvimento livre e espontâneo? A educação - segundo Rousseau
- não deve ter por objetivo a preparação da criança com vistas ao futuro ou
modelá-la de determinado modo; deve ser a própria vida da criança. É preci-
46
História - História da Educação
Referências
CAMBI F. História da Pedagogia. São Paulo: Unesp, 1999.
COMÊNIO, J. A. Didática Magna: tratado da arte universal de ensinar tudo a todos. 3. ed. Lisboa:
Gulbenkian, 1957.
GADOTTI, Moacir. História das ideias pedagógicas. São Paulo: Ática, 2003.
MANACORDA, M. A. História da Educação: da antiguidade aos nossos dias. São Paulo: Cortez/
Editores Associados, 1989.
47
UAB/Unimontes - 2º Período
MONROE, P. História da Educação. Trad. Idel Becker. São Paulo: Nacional, 1976.
MONROE, Paul. História da Educação. Tradução: Idel Becker. São Paulo: Companhia Editora Na-
cional, 1983.
ROUSSEAU, Jean-Jacques. Discurso sobre as ciências e as artes. Tradução Lourdes Santos Ma-
chado. Coleção Os Pensadores - Rousseau. São Paulo: Nova Cultural, 1999.
48
História - História da Educação
Unidade 3
A educação brasileira na colônia e
no império
3.1 Introdução
Nesta unidade, temos por objetivo le- 2ª fase (1759 – 1808): a das reformas do Glossário
var você a compreender o processo em que Marquês de Pombal, fase a qual denominamos
ocorreu a construção da história da educação de período pombalino, que se inicia após a ex- Hegemonia: Segundo
Gramsci, Hegemonia
brasileira e a reconhecer as diferentes formas pulsão dos jesuítas do Brasil e termina com a é a prática dominante
educacionais e legais na história do Brasil, transferência da família real para o Rio de Ja- no seio das sociedades
identificando características da educação je- neiro. capitalistas avança-
suítica e pombalina, quando da colonização 3ª fase: (1808 – 1889): a do período que das, visando suscitar
deste país chamado Brasil, bem como aquelas se inicia com a chegada, ao Brasil, de D. João o conhecimento ativo
dos dominados, através
ocorridos durante o regime monárquico. VI, então Rei de Portugal, e a corte portugue- da elaboração de uma
Buscaremos, portanto, nesta unidade, tra- sa, e se encerra na Proclamação da República. função ideológica
tar da educação no Brasil durante suas fases Faremos este estudo seguindo, tanto quanto particular que visa à
colonial e imperial, destacando o período que possível, os debates e estudos empreendidos constituição da ficção
contou com a hegemonia dos jesuítas (1549 pelos autores apresentados como referência de interesse geral. É o
exercício não coerci-
-1759), uma vez que ele retrata duzentos e dez básica, acrescidos de outros autores apresen- vo do domínio e da
anos da história da educação brasileira. tados como referências complementares. dominação de classe,
Iniciamos nossas discussões apresentan- Nesta unidade, buscaremos caracterizar nomeada pela hegemo-
do um pequeno contexto histórico; a seguir, os aspectos políticos, econômicos, sociocul- nia ideológica. Porque
buscaremos discutir sobre os conflitos entre as turais e ideológicos da realidade educacional a dominação de classe
pode fazer adotar os
diferentes posturas de ensino neste período, nos diferentes contextos históricos por que seus valores e suas con-
finalizando com uma reflexão sobre as impli- passa a sociedade brasileira; identificar os va- vicções pela sociedade
cações desse momento histórico e sua relação lores, ideias e organização da educação bra- restante através de
com a educação contemporânea. sileira nos diversos períodos; destacar as po- instâncias de socializa-
Para melhor compreensão deste estudo, líticas educacionais que permeiam a história ção sem ter que recorrer
à força ou à repressão.
dividimos o período em três fases: da educação brasileira, definindo o papel da Para Antônio Gramsci, o
1ª fase (1549 – 1759): a do predomínio dos escola, do professor e do aluno, assim como o conceito de hegemonia
jesuítas, fase a qual denominamos de fase da enfoque dos conteúdos e da avaliação nos di- caracteriza a liderança
implementação do ensino religioso, que se es- ferentes períodos da educação brasileira, até a cultural – ideológica de
tende até a expulsão dos jesuítas. Proclamação da República. uma classe sobre as ou-
tras. (COUTINHO, 1981,
p 94-96).
49
UAB/Unimontes - 2º Período
são, continentes inteiros foram conquistados e Gramsci faz sobre a hegemonia, quando este
explorados pelos europeus. afirma que “uma massa humana não se distin-
Ressaltamos ainda que, no mencionado gue e não se torna independente por si, sem
contexto mundial, vários fatores contribuíram organizar-se; (...) e não existe organização sem
para a expansão marítimo-comercial nesse intelectuais, isto é, sem organizadores e diri-
período; entre eles, podemos destacar: a crise gentes...” (GRAMSCI, 1989, p. 21).
econômica que perturbava a maioria das na- Veremos, porém, que a expansão marí-
ções representada pela fome e muitas doen- timo-comercial surgiu como uma excelente
ças; a busca de uma nova rota para o comér- opção para atender a todos esses interesses.
cio do Oriente, com o objetivo de abastecer, Associada às questões econômicas, aparece o
com maiores lucros, o comércio de especiarias fato de que os líderes políticos justificavam a
(cravo, canela, pimenta, noz-moscada, gengi- necessidade de expansão territorial, alegando
bre) e de artigos de luxo (porcelanas, tecidos ser necessário propagar a fé cristã e converter
de seda, marfim, perfumes); interesses dos os povos não cristãos de todo o mundo. Para
Estados Nacionais que, com governos centra- tal, a educação, como sempre, deveria ser uti-
lizados e objetivos mercantis, impulsionaram lizada para formar as pessoas com o perfil ne-
a expansão marítima pelo desejo dos reis de cessário aos interesses sociais do contexto.
aumentar o seu poder. Nesta unidade, chamamos sua atenção
Veja que havia também, nesse período, para um aspecto inicial dessa questão, o pro-
um consenso entre a nobreza e a burguesia blema metodológico idealizado pelos jesuí-
no que diz respeito ao anseio de crescimento tas, pois estudar a ação pedagógica dos jesuí-
e hegemonia, pois a nobreza desejava manter tas implica sempre no enfrentamento de um
os seus privilégios e a burguesia queria au- problema teórico-metodológico de grande
mentar seus lucros. importância, considerando que a hegemonia
Figura 23: Padre José de Verifique que, a respeito do mencionado exercida por eles na educação, durante o pe-
Anchieta. contexto, os ideais da nobreza e da burguesia ríodo colonial, no Brasil, é um fato histórico de
Fonte: Disponível em: podem ser bem retratados na descrição que grande relevância.
< http://2.bp.blogspot.
com/_pgEIC3H0PbA/S9Ci-
G51ULlI/AAAAAAAAAC0/
50
História - História da Educação
Sendo assim, em março de 1549, jun- gistros históricos da época, podemos ressaltar
tamente com o primeiro governador-geral, que a primeira escola elementar brasileira foi Para saber mais
Tomé de Souza, chegaram os primeiros jesuí- edificada na cidade de Salvador, e teve como
Assista ao filme: A mis-
tas ao território brasileiro, comandados pelo mestre o jesuíta Irmão Vicente Rodrigues. são. Este filme vai levar
Padre Manoel de Nóbrega, que tinham como Como você viu, a chegada dos padres je- você a uma viagem no
missão difundir a ideologia cristã e, ainda, au- suítas ao Brasil marca o início da história edu- tempo. Ele transpor-
mentar os domínios do reino. cacional desse país. Observou, também, que tará você para o Brasil
Sem dúvidas, podemos considerar que os esse fato inaugura a primeira fase e a mais recém-descoberto, pois
aborda as finalidades da
jesuítas vieram para o Brasil a serviço da coroa longa e importante de nossa história educa- colonização; o papel da
portuguesa, que tinha o interesse de explorar cional, devido a seus impactos na educação catequese no processo
o território brasileiro e, para isso, utilizaram a nacional. civilizatório; o choque
educação como veículo de dominação. Diante das discussões acima, podemos in- cultural entre povos
Veja você que, tão logo chegaram ao Bra- ferir que a educação brasileira teve início com com usos e costumes
diferentes; e ainda
sil, os jesuítas criaram a primeira escola ele- o fim do regime de capitanias no Brasil, fato retrata a aliança e o con-
mentar; era assim chamada porque era desti- que ocorreu no ano de 1549, com a chegada fronto entre as posições
nada apenas ao ensino da leitura e da escrita, do primeiro governador-geral, que traz em sua da igreja e dos donos de
ou seja, das primeiras letras. Através dos re- companhia um grupo de padres jesuítas. terras.
51
UAB/Unimontes - 2º Período
Dica
José de Anchieta, nas-
cido na Ilha de Tenerife
e falecido na cidade de
Reritiba, atual Anchieta,
no litoral sul do Estado
do Espírito Santo, em Figura 24: Missão ►
1597. Anchieta tornou- Jesuítica no século
se mestre-escola do XVII.
Colégio de Piratininga; Fonte: nicamp.br/nave-
foi missionário em São gando/ >. Acesso em:
Vicente, missionário 10/09/2008
em Piratininga, Rio de
Janeiro e Espírito Santo;
Provincial da Compa-
nhia de Jesus, de 1579 a
1586, e reitor do Colégio
do Espírito Santo.
Porém, a atuação jesuítica no Brasil con- moderno,ou seja, não buscavam relação do
tribuiu com a educação neste período e teve que ensinavam com as questões cotidianas.
um caráter ambíguo, pois os jesuítas educa- Podemos observar que a ação escolari-
vam e instruíam os filhos da elite colonial ao zadora dos jesuítas foi concretizada, no Brasil,
passo que catequizavam os índios. pela criação dos colégios, que se direcionavam
A escolarização proposta e desenvolvida principalmente à formação da elite dirigente
pelos jesuítas no Brasil voltava-se mais para a colonial. Vimos, também, que os jesuítas me-
exposição e a divulgação da doutrina católi- nosprezavam o estudo da história, da Letras/
ca, ou seja, a catequese, tendo como texto de Português e da matemática, pois os jesuítas
leitura os textos da bíblia sagrada, sendo estes consideravam estas disciplinas como ciência vã.
também considerados o suporte para as práti- A forma de ensinar dos jesuítas, ou seja, a
Atividade
cas educativas orais. metodologia adotada por eles no desenvolvi-
Vá ao ambiente de Vimos nos registros históricos que a ta- mento e estudos dos textos não permitia que
aprendizagem, acesse
o Fórum que discute
refa dos jesuítas nesta nova terra não foi fácil, os alunos desenvolvessem o espírito crítico. O
sobre as consequências pois os povos indígenas aqui encontrados, ensino universalista e muito formal desenvol-
da educação jesuítica principalmente as crianças, não se submete- vido pelos jesuítas distanciava os alunos da
no Brasil. Você deverá ram com facilidade à cultura proposta pela vida prática, porque era voltado para a forma-
registrar a sua análise Companhia de Jesus. ção do homem erudito, pois os jesuítas cultua-
sobre essa questão. Não
se esqueça de acom-
Segundo Aranha (1990), uma das carac- vam as belas-letras e o saber por saber.
panhar o raciocínio terísticas mais criticadas do ensino proposto Como você já viu, no estudo da unidade
das questões postadas pelos jesuítas foi a separação entre a escola e a anterior, as escolas dos jesuítas eram regula-
pelos seus colegas de vida, pois os jesuítas se mostravam excessiva- mentadas por um documento escrito por Iná-
turma. mente conservadores, mantendo-se indiferen- cio de Loiola, o Ratio atque Instituto Studiorum,
tes às controvérsias do pensamento filosófico chamado abreviadamente de Ratio Studiorum.
Vamos adiante com nossas discussões. jesuítas sobre os índios se resumia à cristiani-
Agora, a fim de observarmos, através dos re- zação e à sua pacificação, para que eles se tor-
latos históricos, que os jesuítas educavam e nassem dóceis, facilitando o seu engajamento
instruíam os filhos da elite colonial ao mesmo no trabalho agrícola.
tempo em que catequizavam os índios. Lembramos, ainda, que o modelo de edu-
Veja você que a ação educacional dos cação proposto pelos jesuítas não tinha como
52
História - História da Educação
objetivo contribuir para promover a eman- Agora, gostaríamos de mostrar para você
cipação das pessoas, pois era um modelo de um fato muito interessante, que é o seguinte:
educação excludente. Assim, para os filhos a ação educativa, que havia sido utilizada pe-
dos colonos a ação dos jesuítas era diferente, los jesuítas apenas como meio de submissão Dica
pois eles se dedicavam oferecendo aos apren- e domínio político, passa a ser vista como res- As aulas régias com-
dizes uma educação mais ampla, ultrapassan- ponsável pelo descompasso entre o governo preendiam os estudos
do os limites da educação elementar, ou seja, português e o resto da Europa. das humanidades,
do ler e do escrever. Enquanto que, para os na- O Marquês de Pombal, então ministro de sendo pertencentes ao
tivos, ofereciam a catequese com o intuito de Portugal, “cuja linha de pensamento estava Estado e não mais res-
tritas à Igreja, foram as
difundir valores e atitudes de subserviência. estritamente vinculada ao enciclopedismo” primeiras formas do sis-
Vimos que, nesse período, a nobreza bus- (ROMANELLI, 1997, p. 36), “influenciado pelas tema de ensino público
cava acentuar ainda mais o seu poder político ideias dos enciclopedistas franceses, pretendia no Brasil. O surgimento
e econômico e a nova classe, a burguesia, bus- modernizar o ensino, liberando-o da estreiteza das aulas régias acabava
cava aumentar seus lucros; assim, uma educa- e do obscurantismo que imprimiram os jesuí- com qualquer possibi-
lidade do aluno realizar
ção com base na catequese seria adequada. tas” (WEREBE, 1997, p. 26). um curso organicamen-
Esclarecemos que, no período jesuítico, Nesse contexto, os jesuítas, não atenden- te articulado, obrigan-
no que se refere à educação primária, tanto do mais aos interesses de Pombal, foram expul- do-o a montar um curso
no Brasil como em toda a Europa, na sua maior sos do reino e de seus domínios. Com a expul- próprio, o “seu” curso.
parte, ficava aos cuidados das famílias, ou seja, são dos jesuítas, a educação brasileira vivenciou
as famílias é que se responsabilizavam pela uma grande ruptura histórica num processo já
iniciação da escolaridade da criança. Porém, as implantado e consolidado como modelo edu- Atividade
famílias com boas condições financeiras opta- cacional; passou por momentos de crise, o que Pensando na organiza-
vam por pagar um preceptor ou por delegar acabou provocando um retrocesso no já defa- ção do próprio curso
o ensino de suas crianças aos cuidados de um sado sistema educacional imperial. como nos tempos das
parente mais letrado. Veja você que com a expulsão dos jesuí- aulas régias...
Enfim, os jesuítas vieram para o Brasil tas, deixam de existir no Brasil dezoito estabe- Você gostaria que lhe
fosse dada a oportu-
com o principal objetivo de desenvolver o tra- lecimentos de ensino secundário e cerca de 25 nidade de montar seu
balho missionário e pedagógico, tinham como escolas de ler e escrever. Em substituição às es- próprio curso como
finalidade converter o gentil e impedir que colas dirigidas pelos jesuítas, foram instituídas nos tempos das aulas
os colonos que aqui viviam se desviassem da por Pombal algumas aulas régias, sem nenhu- régias? Vá ao fórum e
fé católica. Observa-se que a educação jesuí- ma ordenação entre elas. monte sua proposta
para o Ensino Funda-
tica assumiu, no Brasil, também um papel de Diante dessas mudanças instituídas por mental e veja a proposta
agente colonizador. E pontuamos, ainda, que a Pombal, você verá que várias foram as con- de seus colegas. Será
educação desenvolvida pelos jesuítas no Brasil sequências trazidas para a educação brasilei- que as propostas se as-
estava voltada a atender aos brancos não mui- ra; entre elas, podemos citar a dificuldade de semelham? Será que as
to pobres e na idade juvenil, ou seja, atender encontrar o professor preparado para desen- propostas poderiam ser
atendidas no sistema
aos jovens já basicamente instruídos. volver o ensino que rompesse com o ideal da do ensino ofertado em
Em meio à realidade vivenciada no men- educação jesuítica, pois boa parte dos profes- Grupo escolar (escola)?
cionado contexto, mais precisamente no ano sores aqui existentes possuía formação jesuíti-
de 1759, a educação jesuítica não convinha ca, ou seja, haviam sido alunos dos jesuítas.
aos interesses comerciais emanados por Pom- Veja que ao longo dos séculos XVI e XVII
bal, pois os jesuítas, através da escolarização, e até meados do século XVIII, foi notável a ex-
tinham por objetivo principal servir aos in- pansão da educação no Brasil, tendo por base
teresses da fé, e o Marquês de Pombal, então os colégios subsidiados pela Coroa Portugue-
primeiro ministro de Portugal, pensava em or- sa e construídos em locais diversos como Sal-
ganizar a escola para servir aos interesses do vador, são Luís, São Tiago, Rio de Janeiro e São
Estado. Paulo.
53
UAB/Unimontes - 2º Período
Para dar sequência a este estudo requer precário, que foi agravado pela democracia da
voltarmos um pouco na história; podemos di- reforma pombalina. Nesse período, com a edu-
zer que no princípio do século XIX (anos 1800...), cação à deriva, essa situação se arrastou por um
com a expulsão dos jesuítas, a educação brasi- longo período, durante o Brasil colônia, ocasião
Atividade leira ficou extremamente comprometida. Per- em que aumentou a distância entre os letrados
sistia o panorama do analfabetismo e do ensino e a maioria da população, que era analfabeta.
Qual a sua opinião
sobre esse sistema de
ensino? Você crê que
54
História - História da Educação
Veja você que, no período imperial, o en- mudanças foram observadas no período im-
sino no Brasil foi estruturado em três níveis. perial, entre elas as propostas na Lei de 15 de
Analisando a estrutura da educação no perío- outubro de 1827. Dica
do imperial, temos: o ensino primário desti- Podemos afirmar que a única lei estabe- A Constituição de 1824,
nava-se à escola de ler e de escrever; o ensi- lecida quanto ao ensino elementar no perío- outorgada pela Assem-
no secundário manteve-se dentro do mesmo do de 1827 a 1946 foi a Lei de 15 de outubro bleia Constituinte, dizia,
esquema das “aulas régias”, mas ganhou uma de 1827. Nessa lei, previa-se a educação como no seu artigo 179, que
a instrução primária
divisão em disciplinas, e o ensino superior dever do Estado; falava-se da distribuição ra-
era gratuita a todos os
não sofreu alterações. cional do ensino por todo o território nacio- cidadãos.
Somente no século XIX se concretiza o nal, mas contemplava apenas as escolas de
ideal nacional da educação pública, isto se dá primeiras letras; propunha-se o uso do méto-
com a intervenção gradativa do Estado para do lancasteriano nas escolas.
estabelecer a escola elementar universal lei- Isso mesmo!
ga, gratuita e obrigatória. Nesse século, enfa- O método lancasteriano traz traços que
tiza-se a relação entre educação e bem-estar observamos até hoje em nossas escolas, isto é,
social. está presente no sistema de monitoria muito
Na carta que foi outorgada em 1824, só utilizado pelos professores do ensino funda-
há referências quanto à construção de esco- mental. Observamos através de uma reflexão Dica
las de primeiras letras, assegurado pela lei, histórica que, na Lei de 15 de outubro de 1827, O Método Lancasteriano
em 1827. A Constituição de 1824 foi a primei- o ensino era bastante limitado quanto ao grau: propunha um sistema
ra e única lei geral sobre instrução primária (apenas um – primeiro grau); quanto aos obje- de ensino mútuo, ou
no Brasil durante o período imperial. Outras tivos: (alfabetização - primeiras letras). seja, um sistema de
ensino baseado em mo-
nitoria. Nessa proposta,
o ensino acontecia por
3.6.2 Retrospectiva: história da educação brasileira no período “ajuda mútua” entre
alunos mais adiantados
imperial (1822 - 1888) e alunos menos adian-
tados.
Vamos conhecer um pouco mais sobre a lancasteriano ou de ensino mútuo. Ou seja, so-
educação no Brasil imperial? mente um professor para cada escola. Como
1822: O Decreto de 1º de março criava no você viu, em 1823, na tentativa de se suprir a
Rio de Janeiro uma escola baseada no método falta de professores, institui-se no Brasil o Mé-
55
UAB/Unimontes - 2º Período
todo Lancaster, ou do “ensino mútuo”, em que des e vilas, além de prever o exame na seleção
Atividade um aluno treinado (decurião) ensina um grupo de professores, para nomeação. Propunha ain-
Você observou a de dez alunos (decúria) sob a rígida vigilância da a abertura de escolas para meninas.
presença do método de um inspetor. O Decreto de 1826 trata da primeira Lei
lancasteriano durante o Outro fato que se faz relevante aqui re- Geral relativa ao Ensino Elementar. Esse de-
seu período de educa-
ção fundamental? Vá ao
gistrar é que, no ano de 1824, é outorgada a creto, outorgado por Dom Pedro I, veio a se
fórum e comente sobre primeira Constituição Brasileira e, no art. 179 tornar um marco na educação imperial, de tal
sua experiência com dessa Lei Magna, diz que a “instrução primária modo que passou a ser a principal referência
seus colegas de curso. é gratuita para todos os cidadãos”. para os docentes do primário e ginásio nas
O quadro geral da instrução pública no províncias. Essa Lei tratou dos mais diversos
Brasil, no período imperial, enriquecido com a assuntos, como descentralização do ensino,
criação de cursos superiores incentivados prin- remuneração dos professores e mestras, ensi-
cipalmente por D. João VI não se alterou sig- no mútuo, currículo mínimo, admissão de pro-
nificativamente depois de outorgada a cons- fessores e escolas das meninas.
tituição de 1824. Em 1826, um Decreto institui Quanto aos estudos primários e médios,
quatro graus de instrução: Pedagogias (escolas algumas escolas de primeiras letras foram cria-
primárias); Liceus; Ginásios e Academias. Pro- das. Todavia, as aulas continuaram avulsas, no
põe a criação de pedagogias em todas as cida- velho estilo das aulas régias.
Observe que nesta lei, apresentam-se muitos aspectos discriminatórios em relação ao ensi-
no no que diz respeito ao gênero (feminino X masculino).
BOX 3
Lei de 15 de outubro de 1827
Manda criar escolas de primeiras letras em todas as cidades, vilas e lugares mais popu-
losos do Império. D. Pedro I, por Graça de Deus e unânime aclamação dos povos, Imperador
Constitucional e Defensor Perpétuo do Brasil: Fazemos saber a todos os nossos súditos que a
Assembleia Geral decretou e nós queremos a lei seguinte:
Art. 1º Em todas as cidades, vilas e lugares mais populosos, haverá quantas escolas de pri-
meiras letras que forem necessárias.
Art. 2º Os Presidentes das províncias, em Conselho e com audiência das respectivas Câ-
maras, enquanto não estiverem em exercício os Conselhos Gerais, marcarão o número e lo-
calidades das escolas, podendo extinguir as que existem em lugares pouco populosos e
remover os Professores delas para as que se criarem, onde mais aproveitem, dando conta a
Assembleia Geral para final resolução.
Art. 3º Os presidentes, em Conselho, taxarão interinamente os ordenados dos Professo-
res, regulando-os de 200$000 a 500$000 anuais, com atenção às circunstâncias da população
e carestia dos lugares, e o farão presente a Assembleia Geral para a aprovação.
Art. 4º As escolas serão do ensino mútuo nas capitais das províncias; e serão também nas
cidades, vilas e lugares populosos delas, em que for possível estabelecerem-se.
Art. 5º Para as escolas do ensino mútuo se aplicarão os edifícios, que couberem com a
suficiência nos lugares delas, arranjando-se com os utensílios necessários à custa da Fazenda
Pública e os Professores que não tiverem a necessária instrução deste ensino, irão instruir-se
em curto prazo e à custa dos seus ordenados nas escolas das capitais.
Art. 6º Os professores ensinarão a ler, escrever, as quatro operações de aritmética, práti-
ca de quebrados, decimais e proporções, as noções mais gerais de geometria prática, a gra-
mática de língua nacional, e os princípios de moral cristã e da doutrina da religião católica e
apostólica romana, proporcionados à compreensão dos meninos; preferindo para as leituras a
Constituição do Império e a História do Brasil.
Art. 7º Os que pretenderem ser providos nas cadeiras serão examinados publicamente
perante os Presidentes, em Conselho; e estes proverão o que for julgado mais digno e darão
parte ao Governo para sua legal nomeação.
Art. 8º Só serão admitidos à oposição e examinados os cidadãos brasileiros que estiverem
no gozo de seus direitos civis e políticos, sem nota na regularidade de sua conduta.
56
História - História da Educação
Art. 9º Os Professores atuais não serão providos nas cadeiras que novamente se criarem,
sem exame de aprovação, na forma do art. 7º.
Art. 10º Os Presidentes, em Conselho, ficam autorizados a conceder uma gratificação
anual que não exceda à terça parte do ordenado, àqueles Professores, que por mais de doze
anos de exercício não interrompido se tiverem distinguido por sua prudência, desvelos, gran-
de número e aproveitamento de discípulos.
Art. 11º Haverá escolas de meninas nas cidades e vilas mais populosas, em que os Presi-
dentes em Conselho julgarem necessário esse estabelecimento.
Art. 12º As Mestras, além do declarado no art. 6º, com exclusão das noções de geometria
e limitado a instrução de aritmética só as suas quatro operações, ensinarão também as pren-
das que servem à economia doméstica; e serão nomeadas pelos Presidentes em Conselho,
aquelas mulheres, que sendo brasileiras e de reconhecida honestidade, se mostrarem com
mais conhecimento nos exames feitos na forma do art. 7º.
Art. 13º As Mestras vencerão os mesmos ordenados e gratificações concedidas aos Mes-
tres.
Art. 14º Os provimentos dos Professores e Mestres serão vitalícios; mas os Presidentes em
Conselho, a quem pertence a fiscalização das escolas, os poderão suspender e só por senten-
ças serão demitidos, provendo interinamente quem substitua.
Art. 15º Estas escolas serão regidas pelos estatutos atuais se não se opuserem a presente
lei; os castigos serão os praticados pelo método Lancaster.
Art. 16º Na província, onde estiver a Corte, pertence ao Ministro do Império, o que nas
outras se incumbe aos Presidentes.
Art. 17º Ficam revogadas todas as leis, alvarás, regimentos, decretos e mais resoluções em
contrário.
Mandamos, portanto a todas as autoridades, a quem o conhecimento e execução da re-
ferida lei pertencer, que a cumpram e façam cumprir, e guardar tão inteiramente como nela se
contém.
O Secretário de Estado dos Negócios do Império a faça imprimir, publicar e correr. Dada
no Palácio do Rio de Janeiro, aos 15 dias do mês de outubro de 1827, 6º da Independência e
do Império.
IMPERADOR com rubrica e guarda Visconde de São Leopoldo.
57
UAB/Unimontes - 2º Período
de ensino em cada província, numa tentativa dessa época: o conjunto de ensino existen-
Dica de solucionar questões que eram centraliza- te era carente de vínculos efetivos com o
das pela coroa anteriormente. Começa-se a ter mundo prático, ou seja, não preparava para
Ato Adicional de 1834, uma preocupação com o ensino básico, conti- a vida. O ensino desenvolvido nessa época
da reforma constitucio-
nal, dizia que a educa- nuando o poder central responsável pelo en- era mais voltado para os jovens do que para
ção primária e secun- sino superior. Tal medida em pouco alterou o as crianças. Outro elemento marcante do en-
dária ficaria a cargo das quadro do ensino elementar, pois a verba des- sino no período imperial foi a reforma Leôn-
províncias, restando à tinada às províncias para custeio da instrução cio de Carvalho, ocorrida no ano de 1879. Na
administração nacional pública era ínfima, insuficiente para fazer fren- condição de Ministro do Império, Leôncio de
o ensino superior.
te a tais responsabilidades. Carvalho promulgou o Decreto nº 7.247, ad
Podemos citar como consequência do referendum da assembleia, instituindo a li-
Ato Adicional a inexistência de um sistema berdade do ensino primário e secundário no
único de instrução no país; o que havia era município da Corte e a liberdade do ensino
um conjunto de sistemas provinciais, muito superior em todo o país.
Atividade diferentes e desiguais entre si, já que cada Por liberdade de ensino, a nova Lei De-
Você já pensou nas
província podia organizar a instrução ele- creto nº 7.247 entendia que todos os que se
consequências quanto à mentar como melhor lhe conviesse. achavam por julgamento próprio, capacitados
estrutura do ensino ad- Foi criada, na cidade do Rio de Janeiro, a ensinar, poderiam expor suas ideias e adotar
vinda do Ato Adicional a Inspetoria Geral da Instrução Primária e Se- os métodos que lhes conviessem. A frequência
de 1834? Vá ao fórum e cundária, órgão ligado ao Ministério do Impé- aos cursos secundários e superiores no Brasil,
apresente sua resposta.
rio e destinado a fiscalizar e orientar o ensino nesse período, era livre, de forma que os alu-
público e particular nos níveis primário e mé- nos poderiam escolher com quem queriam
dio. Porém, apesar destas medidas, o pano- aprender e, após o término dos estudos, deve-
rama geral do ensino elementar continuou riam ser submetidos aos exames de seus esta-
ruim e teve como uma das causas a falta de belecimentos de ensino regulamentado.
pessoal docente habilitado. Veja que o Decreto de nº 7.247/79 permi-
Surgiram, então, por iniciativa dos gover- tia que as instituições de ensino se organizas-
nos provinciais, as primeiras escolas normais sem por matérias, de modo que o aluno pode-
das províncias, mas o nível era muito baixo. ria escolher as matérias que cursaria e as que
A normatização legal constituiu-se numa das julgasse desnecessárias diante do exame final.
principais formas de intervenção do Estado Porém, as escolas eram aconselhadas a serem
no serviço de instrução do país, durante o pe- rigorosas nos exames.
ríodo imperial. Em 1879, Leôncio de Carvalho (segundo
Podemos dizer que a década de 1850 Fernando de Azevedo, o inovador de ensino
foi marcada por uma série de realizações re- mais audacioso e radical do período imperial)
levantes para a educação institucional no estabeleceu normas para o ensino primário,
Brasil. No ano de 1854, foi criada a Inspetoria secundário e superior.
Geral da Corte, com o objetivo de orientar e A lei defendia a liberdade de ensino, de
supervisionar o ensino brasileiro. frequência, de credo religioso, a criação de es-
colas normais e o fim da proibição de matrícu-
la de escravos (ARANHA, 1990, p. 156).
Figura 27: Modelo ► Você verá que os vestígios do ensino im-
de Escola Normal
brasileira perial estão presentes no modo de organizar
Fonte: Disponível em: < o ensino secundário, que acompanha, para
http://educacaodialogica. sua estruturação, o parâmetro oferecido pelos
blogspot.com/2009/11/ exames vestibulares.
as-primeiras-escolas-
-normais>. Acesso em: Outro fator quanto ao ensino no período
12/09/2008. imperial que nos chama a atenção é o caráter
propedêutico assumido pelo ensino secun-
Era de responsabilidade desse órgão dário, somado ao seu conteúdo humanístico,
estabelecer regras para o exercício da li- fruto da aversão ao ensino profissionalizante,
berdade de ensino e para a preparação dos fundamentado numa ordem social escravo-
professores primários. Era também de res- crata. Esse caráter propedêutico do ensino se
ponsabilidade da Inspetoria Geral da Corte constitui em um fator do atraso cultural das
reformular os estatutos dos colégios prepa- escolas brasileiras até as décadas recentes.
ratórios no sentido de adequá-los ao padrão Em 1882, Ruy Barbosa sugere a liberdade do
dos livros usados nas escolas oficiais. ensino, o ensino laico e a obrigatoriedade de
Veja que, no período imperial, duas ca- instrução, obedecendo às normas emanadas
racterísticas foram marcantes para o ensino pela Maçonaria Internacional.
58
História - História da Educação
Referências
ARANHA, Maria Lucia de Arruda. História da educação e da pedagogia: geral e Brasil. 3 ed. São
Paulo: Moderna, 1990.
SILVA, Geraldo B. A educação secundária: perspectivas históricas e teoria. São Paulo: Compa-
nhia Editora Nacional, 1969. (Atualidades Pedagógicas, vol. 94).
WEREBE, Maria José G. Grandezas e Misérias do Ensino no Brasil. 2 ed. São Paulo: Ática, 1997.
59
História - História da Educação
Unidade 4
A educação no Brasil: período
republicano
4.1 Introdução
O objetivo desta unidade é que você Brasil após a Lei de Diretrizes e Bases da Edu-
possa conhecer os aspectos contemporâneos cação Nacional – LDBEN – 9.394/1996. Para
da nossa história educacional, focalizando as isso, buscaremos suporte em autores que dis-
questões sociais, políticas e econômicas que cutem essa temática.
a permeiam. Iniciaremos essa reflexão a partir Segundo Romanelli, em 1888, o Brasil Dica
da reforma educacional de Benjamin Cons- contava com apenas 250.000 alunos matricu- Decretos-lei são atos do
tant. Em seguida, analisaremos a educação na lados, para uma população de 14 milhões de presidente da república
2ª república e, por fim, a educação superior no habitantes. A autora afirma ainda que: com imediata efeti-
vidade, ou seja, logo
após publicada, passa a
[...] dos liceus provinciais, em cada capital de província dos colégios particula-
organizar a administra-
res em algumas cidades importantes, alguns cursos normais (que formavam
ção pública. Demonstra
os professores), os Liceu de Artes e Ofícios, criado na Corte, em 1856, e mais
centralização de poder
alguns cursos superiores, que foram enriquecidos com a transformação da an-
nas mãos do presidente.
tiga Escola Central em Escola Politécnica (ROMANELLI, 1997, p. 40).
61
UAB/Unimontes - 2º Período
federativo de governo, consagrou também a pulação rural e desfavorecida e, por outro, re-
Dica descentralização do ensino, prevista em seu força a preocupação com a educação da classe
O caráter elitista da edu- artigo 35, itens 3º e 4º, que reservou à União o dominante, nas escolas técnicas e superiores.
cação era denunciado: direito de criar instituições de ensino superior Nesse período, prevaleceram, ainda no
• pela composição e secundário nos Estados, além de prover a Brasil, os ideais educacionais europeus. Ideais
do corpo docente, instrução secundário no Distrito Federal. estes que pensavam na formação do homem
nomeado pelo À União cabia criar e controlar a instru- com vistas a controlar o seu próprio destino.
governo e formado
por intelectuais de ção superior em toda a Nação, bem como Um homem completo de corpo e alma. Para
reconhecida capa- criar e controlar o ensino secundário acadê- atingir este objetivo, era preciso educar o juízo
cidade nos meios mico e a instrução em todos os níveis do Dis- do aluno ao invés de encher-lhe a cabeça com
acadêmicos; trito Federal. palavras e, para tanto, a prática pedagógica
• pela seletividade Aos Estados, cabia criar e controlar o en- era voltada ao desenvolvimento da autonomia
do corpo discente,
revelada pelos exa- sino primário e o ensino profissional. Na épo- do aluno, ou seja, o professor deveria apontar
mes de admissão ca, este compreendia principalmente escolas o caminho, ou permitir que o aluno descubris-
e promocionais e normais (de nível médio) para moças, e escolas se seu próprio caminho.
pelo pagamento técnicas, para rapazes. A seguir, discutiremos um pouco a respei-
das anuidades; Observe que o ensino, nesse período, as- to das implicações da reforma educacional de
• pelos programas
de ensino, de base sume uma dualidade. De um lado, ofereceu Benjamim Constant no processo da história da
clássica e tradição oportunidade de formação prática para a po- educação brasileira.
humanística;
• pela disciplina
rígida, imposta
pelos Regula-
mentos. Essas
medidas deram ao
4.2 A reforma educacional de
ensino secundário
oficial uma função
formativa dirigida
Benjamim Constant
às elites, através
da preparação
dos alunos para o Conforme anunciamos no início do estudo desta unidade, dialogaremos a respeito do gran-
ensino superior. de marco educacional do período, que foi a reforma educacional proposta por Benjamim Cons-
tant Botelho de Magalhães, nomeado ministro da Instrução Pública, Correios e Telégrafos entre
1889 e 1891.
Vamos lá!
Militar atuante e adepto aos ideais da filosofia positivista de Auguste Comte, tinha como
“orientação a liberdade e laicidade do ensino, como também a gratuidade da escola primária”
(RIBEIRO, 2008). Esses princípios seguiam a orientação do que estava estipulada na Constituição
brasileira.
Veja que, a respeito das intenções da reforma de Benjamin Constant, Azevedo (1963) afirma
que foram:
• transformar o ensino em formador de alunos para os cursos superiores e não apenas pre-
parador;
• a obrigatoriedade do regime seriado;
• a duração do curso secundário em 7 anos;
• a introdução no Ginásio Nacional, antigo Colégio Pedro II;
• toda a série hierárquica das ciências abstratas, segundo a classificação de Compte;
• a inclusão, ao lado do curso bacharelado em Letras, em 7 anos, no Ginásio Nacional;
• o “exame de madureza”, como prova da capacitação intelectual dos alunos no fim dos es-
tudos;
• substituir a predominância literária pela científica.
62
História - História da Educação
Veremos, neste estudo, que essa reforma de autonomia dos estabelecimentos federais
foi proposta durante o governo do Marechal de ensino, da extinção da ação fiscalizadora
Hermes da Fonseca, em 1911, a qual se carac- do Governo Federal sobre os estabelecimen-
terizou com insucesso, pois propunha facultar tos particulares.
total liberdade e autonomia aos estabeleci- Saiba que essa reforma propunha, ainda,
mentos de ensino na sua organização, supri- uma reestruturação no Conselho Superior de
mindo o caráter oficial do ensino. Ensino, então criado, e que, de acordo com a
Você verá, ainda, que se destaca, na sua própria lei, substituiria a função fiscal do Es-
proposta, a liberdade que pretendia dar ao tado, tendo ação sobre os estabelecimentos
ensino Superior, sendo considerada como “li- mantidos pelo Governo Federal, assim mesmo
berdade de ensino” que a mesma adotara, co- respeitando a autonomia a esses concedida
rolário do dispositivo constitucional que asse- (Decreto nº 8.659, de 05/04/1911).
gurava a liberdade de profissão e a promessa
A reforma proposta por Rocha Vaz, no para a importação e entrada dos imigrantes,
governo do presidente Arthur Bernardes, em que, por sua vez, traziam outras culturas que
1925, representou a última tentativa do perío- incrementavam o mercado.
do no sentido de instituir normas regulamen- Nesse mesmo sentido, não podemos
tares para o ensino, tendo o mérito de esta- deixar de esclarecer que juntamente com a
belecer, pela primeira vez, um acordo entre a formação das cidades, o que caracterizava a
União e os Estados, propondo a promoção da mudança de modelo de sociedade rural para
educação primária e eliminando os exames urbano, ocorria a necessidade de que as pes-
preparatórios para acesso à educação – o que soas soubessem ler e escrever. Isso porque
caracterizava um processo excludente para os precisavam votar para eleger os representan-
menos favorecidos. (ROMANELLI, 1997). tes das cidades, ou seja, os políticos.
Um grande traço social desse período foi Ao considerar o exposto, lembramos a
a transição do modelo rural para o modelo so- você que, em função da transição do modelo
cial urbano-industrial que começava a tomar rural para o modelo urbano, a reforma propos-
fôlego no Brasil. Fato que não podemos deixar ta por Rocha Vaz foi considerada reacionária,
de enfatizar, porque o mesmo justifica a ne- por conter em seu bojo a “Resistência Conser-
cessidade de formar mão de obra barata para vadora” do cenário educacional, retirando em
o mercado de trabalho emergente, necessitan- definitivo a autonomia administrativa e didáti-
do de pessoas para consumir o que o merca- ca concedida pela sua antecedente.
do oferecia, em função da abertura dos portos As medidas adotadas por essa reforma
63
UAB/Unimontes - 2º Período
Dica concorreram para acentuar o período de crise todos que se alicerçavam nos fundamentos
Outro fato social política que resultaria na revolução de 1930; da teoria de Herbart que, com base na razão
marcante para o novo por intermédio dela, o Estado passa a contro- cartesiana, apresenta passos a serem seguidos
cenário educacional lar ideologicamente o sistema de ensino. para ensinar.
que despontava no país É interessante, ainda, considerarmos que, Ainda vale ponderar que os intelectuais
foi a SEMANA DE ARTE nesse contexto, os conhecimentos que com- e artistas brasileiros de reconhecimento inter-
MODERNA, aconteci-
mento entre os dias punham os conteúdos ensinados deixam de nacional propunham uma “redescoberta do
11 e 18 de fevereiro de ser fundamentados na sagrada escritura para país” com a produção de obras de arte que va-
1922, no Teatro Central, serem fundamentados nas ciências naturais, lorizassem a cultura brasileira sem se diminuir
em São Paulo. ou seja, no positivismo. Para relembrar o sig- frente às propostas artísticas europeias.
nificado de positivismo, leia o caderno de Filo- Esse movimento acena para a nova eli-
sofia da Educação e o caderno de Pesquisa em te intelectual brasileira que se formara e que,
Educação. anos depois, alteraria sua história, agrário-pro-
No que se refere ao ensino na época, esse dutora, com novas tendências produtivas, con-
era vivenciado por meio da utilização de mé- forme veremos na década de trinta.
Veja que, de acordo com as nossas coloca- moveu a reforma no curso normal (profissio-
ções anteriores, referentes às necessidades da nalização do curso), além do convite para os
sociedade brasileira vivenciada na década de professores realizarem cursos de férias para
trinta, foi realizada a reforma educacional de- o aperfeiçoamento da profissão, com fins de
nominada de reforma Lourenço Filho, por meio inovar todo o processo pedagógico. Era ainda
do educador Manuel Bergström Lourenço Filho, uma exigência do educador que os professo-
paulistano de Porto Ferreira (1897-1970) que, fiel res aprendessem a forma correta de aplicação
a seu referencial teórico, procurou intervir na dos Testes, para que esses fossem utilizados
educação brasileira respondendo às questões de maneira cautelosa e respaldada no conteú-
oriundas dos interesses políticos vivenciados do teórico defendido por ele.
em seu contexto histórico. Enfatizamos que as propostas de Louren-
Psicólogo por formação, Lourenço Filho ço Filho foram inovadoras. Porém, ressaltamos
desenvolveu o chamado Teste ABC, que verifi- que elas surtiram efeitos positivos apenas para
cava a maturidade necessária à aprendizagem os interesses políticos da época, e não para
da leitura e da escrita, principalmente no que as pessoas em geral. No decorrer da história,
se refere à reforma educacional do Estado do mais precisamente em outubro de 1931, ao as-
Ceará, no ano de 1922. sumir a Diretoria Geral de Instrução Pública do
Precisamos esclarecer que, tendo em Distrito Federal, Anísio Teixeira encontra um
vista atender à demanda do novo modelo de cenário pouco favorável à educação pública
educação implantado, esse educador pro- na capital do país.
64
História - História da Educação
Veja que, naquele ano, segundo dados do dora, isto é, um “sistema” escolar com edifica-
Relatório de 1932, para uma população escolar ções de duas naturezas: as escolas nucleares,
mínima – crianças de 6 a 12 anos – de 196.000 ou escolas-classe e os parques escolares, onde
indivíduos, só existiam escolas para cerca de as crianças deveriam frequentar regularmente
45% das crianças. Esse fato era agravado, ain- as duas instalações.
da, pelas condições dos prédios, tanto os pú- No primeiro turno, em prédio adequa-
blicos como os alugados, cuja maioria se cons- do e econômico (escola-classe), receberiam o
tituía de residências particulares, impróprios ensino propriamente dito; no segundo turno,
ou inadequados ao funcionamento escolar. em um parque escolar aparelhado e desen-
Com base nos inquéritos e levantamen- volvido, receberiam a educação propriamente Para saber mais
tos realizados pelo Serviço de Prédios e Apa- social, a educação física, a educação musical,
relhamentos Escolares, o Departamento de a assistência alimentar e o uso da leitura. Des- Para você entender me-
lhor acesse: http://www.
Educação estabeleceu um plano mínimo de sa forma, no Rio de Janeiro, os prédios foram centrorefeducacional.
construção, a ser realizado até o ano de 1938, construídos obedecendo a cinco tipos: a “Es- pro.br/aniescnova.html
que compreendia, entre outras coisas, a cons- cola Tipo Mínimo”, com 2 salas de aula e uma Sobre Lourenço Filho,
trução de 74 edificações novas, ainda insufi- sala de oficinas, para as regiões de reduzida acesse: http://www.
cientes para abrigar a população escolar atual população escolar; a “Escola Tipo Nuclear” ou dgbiblio.unam.mx/
(TEIXEIRA, 1935, p.196). escola-classe, com 12 salas de aula, além de
No Rio de Janeiro, como em todo o Brasil, locais apropriados para administração, secre-
o problema de edificações escolares não ha- taria e biblioteca. Esses prédios foram proje-
via sido antes objeto de soluções previamente tados pelo arquiteto Enéas Silva, da Divisão
planejadas e sistematicamente seguidas. Para de Prédios e Aparelhamentos Escolares; Escola
resolver o problema da escassez de prédios Platoon 25 classes (12 salas comuns, 12 salas
escolares, era preciso encontrar soluções em especiais e o ginásio). O sistema “platoon” era
que se contrabalançassem as deficiências em constituído de salas de aula comuns e salas es-
relação ao terreno, à localização, às condições peciais para auditório, música, recreação e jo-
do prédio, à economia ou ao programa educa- gos, leitura e literatura, ciências, desenho e ar-
cional, principalmente quanto às grandes con- tes industriais; e o seu funcionamento dava-se
centrações escolares. pelo deslocamento dos alunos, através de “pe-
Assim, já em sua administração no Rio de lotões”, pelas diversas salas, conforme horários
Janeiro, Anísio concebe uma proposta inova- pré-estabelecidos (DÓREA, 2008).
BOX 4
Afirmava o documento O manifesto dos pioneiros da educação de 1932:
“Em nosso regime político, o Estado não poderá, de certo, impedir que, graças à organi-
zação de escolas privadas de tipos diferentes, as classes mais privilegiadas assegurem a seus
filhos uma educação de classe determinada; mas está no dever indeclinável de não admitir,
dentro do sistema escolar do Estado, quaisquer classes ou escolas, a que só tenha acesso uma
minoria, por um privilégio exclusivamente econômico. Afastada a ideia do monopólio da edu-
cação pelo Estado num país em que o Estado, pela sua situação financeira, não está ainda em
condições de assumir a sua responsabilidade exclusiva, e em que, portanto, se torna necessá-
rio estimular, sob sua vigilância as instituições privadas idôneas, a “escola única” se entende-
rá, entre nós, não como “uma conscrição precoce”, arrolando, da escola infantil à universida-
de, todos os brasileiros, e submetendo-os durante o maior tempo possível a uma formação
idêntica, para ramificações posteriores em vista de destinos diversos, mas antes como a escola
oficial, única, em que todas as crianças, de 7 a 15, todas ao menos que, nessa idade, sejam
confiadas pelos pais à escola pública, tenham uma educação comum, igual para todos” (Mani-
festo dos Pioneiros, 1932).
65
UAB/Unimontes - 2º Período
Dessa forma, você não pode deixar de considerar que, apesar das primeiras reformas repu-
blicanas e das iniciativas em prol do desenvolvimento do ensino público no país, a questão do
analfabetismo continuava representando um sério problema a ser enfrentado nas décadas do
século XX. É nessa realidade que o Manifesto dos Pioneiros compreende o envolvimento de di-
versos educadores que se voltaram aos problemas educacionais, com a intenção de “melhorar” a
situação do ensino no país.
Porém, a partir do texto citado no Box anterior, do trecho retirado do Manifesto, percebe-
se o caráter reivindicatório por uma educação de qualidade, ofertada pelo estado, admitindo-se
cooperação do setor privado. Cooperação esta que denuncia o incentivo da privatização da edu-
cação e a preocupação com a oferta de um ensino que garanta a qualidade da educação para
uma classe privilegiada economicamente.
Esclarecemos-lhe que, embora os educadores envolvidos no mencionado manifesto tives-
sem interesses e visões distintas acerca do que era a educação, convergiam quanto à necessi-
dade de uma renovação pedagógica adequada a atender ao planejamento para uma civilização
urbano-industrial.
Foi no bojo da manifestação política acima mencionada que, como expressão desse movi-
mento, pode-se destacar o Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova, de 1932, em que partici-
param pessoas como Roquete Pinto, Fernando de Azevedo, Cecília Meireles, Anísio Teixeira, Pas-
choal Lemme e Lourenço Filho.
Para continuarmos nossas conversas, você precisa ter claro que, no que diz respeito ao Ma-
nifesto, este se trata de um documento de política educacional que, mais do que a defesa da
Escola Nova, está em causa a defesa da escola pública. Nesse sentido, o Manifesto emerge como
uma proposta de construção de um amplo e abrangente sistema nacional de educação pública,
abarcando desde a escola infantil até a formação dos grandes intelectuais pelo ensino universitá-
rio (Saviani, 1997, p.184).
Ressaltamos que os educadores envolvidos no manifesto buscavam a hegemonia educacio-
nal do país. Entretanto, havia também a intenção pela ascensão do grupo aos setores educacio-
nais referenciados ao poder do Estado. Entre esses educadores, vigoravam as ideias escolanovis-
tas em oposição ao ensino tradicional. Diante do exposto, esclarecemos que:
66
História - História da Educação
BOX 5
O escolanovismo propõe um novo tipo de homem, defende os princípios democráticos,
isto é, todos têm direito a assim se desenvolverem. No entanto, isso é feito em uma sociedade
capitalista, em que são evidentes as diferenças entre as camadas sociais. Assim, as possibili-
dades de se concretizar esse ideal de homem se voltam para aqueles pertencentes ao grupo
dominante. A característica mais marcante do escolanovismo é a valorização da criança, vista
como ser dotado de poderes individuais, cuja liberdade, iniciativa, autonomia e interesses de-
vem ser respeitados. O professor passou a ser um auxiliar do desenvolvimento livre e espon-
tâneo da criança; é ele o facilitador de aprendizagem. Os processos de transmissão e recepção
são substituídos pelo processo de elaboração pessoal e o saber é centrado no sujeito cognos-
cente e não mais no objeto de conhecimento. A valorização do clima de harmonia na sala de
aula é uma forma de vivência democrática. O movimento escolanovista preconiza a solução
de problemas educacionais numa perspectiva interna da escola, sem considerar a realidade
brasileira nos seus aspectos político, econômico e social. O problema educacional passa a ser
uma questão escolar técnica. A ênfase recai no ensinar bem, mesmo que a uma minoria. A
Escola Nova transfere, portanto, a preocupação dos objetivos e conteúdos para os métodos, e
da quantidade para a qualidade.
Ainda a esse respeito, podemos esclare- gir a meta da educação para todo o cidadão,
cer que a Pedagogia Nova expressa uma preo- visto que aproximadamente 50% da popula-
cupação com a formação do caráter e da per- ção ainda era analfabeta (FACCI, 1998). Quem
sonalidade do indivíduo, abrangendo, para tal, tinha condições financeiras adequadas para
conhecimentos da área da biologia e também ingressar em escolas privadas tinha acesso à
da psicologia. educação de qualidade. Caso contrário, sub-
Um dos principais nomes relacionados metia-se a uma formação precária
ao escolanovismo é John Dewey (1859-1952), nos mais variados aspectos.
educador norte-americano que defendeu a Estudiosos afirmam que a Esco-
ideia do aprender fazendo, de forma a atender la Nova procurou corrigir as “imper-
aos interesses da sociedade capitalista ame- feições” deixadas pela Pedagogia
ricana, de formar as pessoas nos moldes de- Tradicional; porém, contraditoria-
mandados pelo desenvolvimento econômico. mente, não adequaram as escolas
Dewey, “[...] empregou a maior parte dos seus públicas ao novo modelo idealizado
esforços na aplicação da psicologia a proble- para a educação, conforme o mode-
mas da educação” (SCHULTZ & SCHULTZ, 2000, lo europeu e norte-americano.
p.158). A respeito dos fundamentos filosóficos O que podemos ponderar que
e implicações políticas do pensamento de De- não é diferente da atualidade, ao
wey, você deve rever os capítulos um e dois do considerarmos o modelo educacio-
caderno de Didática. nal da Espanha, que vem sendo di-
Ele considerava a educação como um fundido a todo vigor como parâme-
processo social indispensável, um meio para tro a nortear a prática pedagógica vivenciada ▲
a continuidade e o progresso ordenado da so- nas escolas brasileiras, a serviço dos ideais das Figura 29: Lourenço
ciedade humana. A respeito da Escola Nova, políticas neoliberais, por intermédio do banco Filho, um dos
podemos esclarecer que esta foi uma reação mundial. signatários do
à Pedagogia Tradicional, a qual vigorou até o Voltamos a atenção à proposta educa- Manifesto.
início do século XX, porém evidenciou resul- cional de Dewey e, assim, dizemos que esta Fonte: Disponível em:
(CPDOC/FGV/ArquivoLou-
tados insatisfatórios para a educação pública, pode ser encarada como “escola ativa”, ou renço FIlho/LF foto 96-1)>.
cuja estrutura não se encontrava adequada à seja, o aprendizado é feito a partir do trei- Acesso em: 14/09/2008.
vivência do processo educacional, conforme no – tendência influenciada pelo Tayloristo
proposto pela mesma. e Fordismo, fato que acena para um modelo
Com o discurso de melhorar a qualidade, de educação cujas origens encontram-se no
a educação muda a estrutura do modelo edu- pensamento de Aristóteles, que valoriza a ati-
cacional anterior, de forma a elitizar a quali- vidade teórica e a atividade prática. Porém,
dade da educação por intermédio das escolas não supera a dicotomia entre ambas, ao com-
particulares, cuja estrutura era adequada ao preender que a teoria é a técnica que dirige a
trabalho pedagógico proposto, ao contrário ação prática.
da escola pública. Conforme acima mencionado, para o mo-
Dessa forma, fica apenas no discurso atin- vimento escolanovista, a educação deixa de
67
UAB/Unimontes - 2º Período
Dica ser centrada no professor que ensina, o que, ciadas na escola pública com as condições em
Preocupados com uma tradicionalmente falando, remete à teoria. que ela se encontrava, o que a tornava exclu-
educação pública de quali- Passa, então, a centrar-se no aluno, o que re- dente e elitista. (Nogueira, 2001, p. 28).
dade e que se desvinculas- mete à ação prática, descentraliza a atenção Para Saviani (1997, p. 13), o pensamento
se totalmente dos dogmas
da igreja católica, intelec- na quantidade do conteúdo ensinado e volta- de Dewey “desloca o eixo da questão peda-
tuais do período lançaram, se para a qualidade do ensino. Fato este que, gógica do intelecto para o sentimental; do
em 1932, o Manifesto dos com o decorrer da história da educação brasi- aspecto lógico para o psicológico; dos conteú-
Pioneiros da Educação
Nova. Tal documento foi leira, gradativamente provoca a negação do dos cognitivos para os métodos ou processos
escrito por Fernando de conteúdo a favor da valorização do processo, pedagógicos; do professor para o aluno”. O
Azevedo e assinado por vá- o que, por sua vez, contribui significativamen- autor ressalta, ainda, que a teoria pedagógica
rios intelectuais da época,
como Hermes Lima, Carnei- te com o quadro de fracasso escolar encontra- de Dewey considera que o importante não é
ro Leão, Afrânio Peixoto, e, do na realidade educacional brasileira até a aprender, mas aprender a aprender. Importân-
certamente, Anísio Teixeira, atualidade. cia essa que precisamos esclarecer, não é coin-
grande amigo de Fernando
de Azevedo. Afirmava o do- Com o discurso de humanização e de cidência, faz lembrar os pilares da educação
cumento que, se a evolu- negação da autoridade da escola tradicional, atual afirmados pelas políticas internacionais
ção do sistema cultural de é proposto que a escola deixe de ser um am- de cunho neoliberal, oriundas dos países que
um país depende de suas
condições econômicas, é biente de sujeição, de disciplina, de silêncio, detêm o capital, para os países periféricos en-
impossível desenvolver as para ser um ambiente de alegria, de pesquisa tendidos como os mais pobres. Como no caso
forças econômicas e pro- e de dinamismo, de assistência individualiza- da América Latina, onde, por sua vez, se en-
dutivas sem o preparo in-
tensivo das forças culturais da, características impossíveis de serem viven- contra o Brasil.
e o desenvolvimento das
aptidões; aos fatores fun-
damentais do acréscimo de
riqueza de uma sociedade, 4.3.2 Criação do Ministério da Educação
a educação seria, portanto,
fundamental tanto para o
processo de desenvolvi- Na sequência dessa reflexão, alertamos a pedista de sua proposta. Segundo Maria Tetis
mento quanto o definiria
numa ordem dialética você que, em 1930, no governo de Getúlio Var- Nunes, citada por Romanelli (1997), o caráter
(apud Romanelli, 1983). gas, é criado o Ministério da Educação e Saúde enciclopedista dos programas curriculares
Alegavam os intelectuais Pública. É notório, pela criação desse ministé- do período a tornavam uma educação para
que a educação do período
privilegiava as elites – área rio, como os governos entendiam (e muitos a elite. Além do rigor avaliativo da proposta,
onde atuava a igreja cató- hoje ainda assim o consideram) que educação a obrigatoriedade de se cursar línguas como
lica com cursos pagos – e e saúde deveriam andar juntos para o desen- francês, alemão e latim impossibilitava o aces-
que a educação popular
necessitava de maior aten- volvimento da nação. O que não podemos es- so à maioria das pessoas ao ensino, de forma a
ção estatal. Além disso, a quecer é que essa união é uma grande ferra- dar à proposta o caráter excludente.
classe média ascendente menta política. Outra grande criação do período foi a re-
do período clamava por
melhoria do ensino médio, Francisco de Campos é nomeado o seu forma do ensino profissional. O que não po-
seguidos pelos anseios primeiro ministro, promovendo inovações deríamos deixar de ponderar é que a criação
das classes populares que para o setor educacional. No mesmo ano, dos mencionados cursos justificavam-se na
reivindicavam escolas com
ensino primário de boa criou o estatuto das Universidades e organi- demanda da mão de obra especializada para o
qualidade. Fazia parte das zou o ensino secundário. Na sequência de seus mercado de trabalho.
propostas: Educação de atos pela educação, é fundada, em 1934, a Uni- O primeiro curso profissional a ser cria-
qualidade, pública, gratuita
e totalmente laica; Direitos versidade de São Paulo e, em 1937, a Universi- do pela reforma de Francisco Campos foi o de
de todos à educação: dade Nacional do Rio de Janeiro, atual Univer- contabilidade, seguido de sua devida regula-
assegurados que homens sidade Federal do Rio de Janeiro. Durante o mentação para o ensino superior (conforme
ou mulheres deveriam
ter acesso às mesmas Estado Novo, foram promulgadas as leis orgâ- decreto 20.158 de 30 de junho de 1931). Teve
oportunidades educativas; nicas do ensino, dividindo o curso secundário grande influência no período o ensino pro-
educação posta para o em ginasial e colegial (clássico ou científico). fissional ministrado através das empresas e
desenvolvimento econômi-
co, financeiro e intelectual Embora as propostas de Francisco Cam- indústrias, tais como o Serviço Nacional da In-
de toda a nação; no início pos tivessem o mérito de serem inovadoras, dústria (Senai) e o Serviço Nacional do Comér-
da escolarização, escolas podemos entender o caráter elitista e enciclo- cio (Senac).
pré-primárias e ensino
primário se configura-
riam num único bloco; o
ensino primário deveria ser
articulado ao ensino se- 4.3.3 A criação das Leis de Diretrizes e Bases da Educação
cundário; o ensino superior
deveria ser diversificado, Nacional
proporcionando formação
em cursos para as carreiras
liberais e para as profissões Na esteira da história da educação brasi- ticas direcionadas ao progresso, a Constituição
técnicas. leira, encontramos a sociedade brasileira se Federal de 1946 foi a primeira a trazer no seu
organizando gradativamente em direção ao texto a expressão “diretrizes e bases” associa-
processo de industrialização. Em meio às polí- da à questão da educação nacional.
68
História - História da Educação
Enfim, você precisa ter claro que a organização No contexto em questão, o tecnicismo
Dica social brasileira ocorrida nas décadas de 1960 vazio de conteúdo que predominava passa a
O Banco Internacional e 1970 marcou a história da educação desse dar vazão a novas concepções que, de acor-
de Reconstrução e De- país por atribuir a ela um papel unicamente do com Mialchi (2003), implantaram-se como
senvolvimento (BIRD), econômico, fazendo dela um veículo de desen- forma de aceitar e entender os excluídos, en-
conhecido como Banco
volvimento econômico-industrial, a favor do tre eles o professor. O que entendemos fazer
Mundial, foi criado em
1944 e surgiu com a desenvolvimento e da manutenção de condi- parte de um discurso imbuído dos interesses
tarefa de reconstruir cionantes sociais, políticos, ideológicos e eco- das políticas de globalização, que priorizam
os países europeus nômicos, que contribuíram decisivamente para perspectivas individualizantes, cujos objetos
desestruturados pelo o processo de escravização do Brasil em relação de estudo requerem a interpretação de forma
segundo grande
ao capital estrangeiro, representado pelas clas- subjetiva, e assim, podem ser entendidos em
conflito mundial. Sob
um forte domínio ses dominantes, compostas pelos grandes em- uma perspectiva micro, de forma a deixar à
dos Estados Unidos, presários e pelos Estados Unidos. margem as questões históricas, políticas e eco-
que o preside desde a Para prosseguirmos as nossas conversas, nômicas vivenciadas pela sociedade.
fundação, o Banco tinha precisamos ter claro que, nas mencionadas dé- Nesse período da história, no que se refere
como objetivo discutir
cadas, o Estado visava modelar e remodelar a ao cenário mundial, é promovida pelas políticas
os rumos das reformas
do pós-guerra, visando formação das pessoas com um perfil técnico, neoliberais, por meio dos países economica-
impulsionar o cresci- para promover o desenvolvimento social de- mente mais favorecidos, uma nova organização
mento econômico e sejado a partir da relação capital-trabalho-e- da sociedade capitalista, cujo resultado implica
evitar novas crises inter- ducação como instrumento da acumulação de o domínio dos países ricos sobre os países pe-
nacionais. Vale ressaltar
capital. riféricos, especialmente os países da América
que, nesse contexto,
ao Banco era dado um Na sequência, é pertinente ressaltarmos Latina, como no caso do Brasil.
papel secundário: o da que o aumento das vagas nas escolas, sem o Para que você compreenda melhor a his-
reconstrução das eco- investimento na qualidade da educação, pro- tória da educação brasileira no período em
nomias inviabilizadas vocou a evasão e a repetência e, ainda, um questão, apresentamos o nosso pensamento a
pela guerra e para con-
processo de formação de professores inade- respeito das ideias da Jacomeli (2007), quando
cessão de empréstimos,
a longo prazo, para o quado ao perfil necessário a um modelo de essa autora se refere ao cenário histórico políti-
setor privado, recaindo educação de pessoas emancipadas. co mundial, ponderando que, com a queda do
sobre o FMI o maior Na esteira da história, com o fim da dita- Muro de Berlim, em 1989, por meio de alianças
interesse das nações dura militar e com o projeto de desenvolvi- econômicas e geopolíticas realizadas pelas su-
líderes (TOMMASI, 1996,
mentismo econômico falido, ganham fôlego perpotências mundiais, o mundo é redesenha-
p. 18).
De sua criação até hoje, no Brasil discussões referentes aos problemas do, transpondo fronteiras e promovendo a arti-
o Banco Mundial passou sociais e, em meio a tais discussões, encon- culação da globalização e do capitalismo.
por mudanças consi- tramos as referentes à realidade educacional Assim, com o neoliberalismo, afirma-se a
deráveis, consequência vivenciada no país. Por meio das discussões democracia a serviço do aumento de lucro do
das transformações
mencionadas, são realizadas críticas pelos capital internacional, que legitima a globaliza-
ocorridas no cenário
mundial. Assim, a partir educadores que se articulam com base em ção do capitalismo. Dessa forma, é difundida a
dos anos 50, paulatina- ideias marxistas oriundas de sociólogos fran- ideia de que, para viver em uma sociedade com
mente, foi adquirindo ceses como Bourdieu e Passeron, Baudelot e igualdade de oportunidades e mais humana, é
um perfil de instituição Establet e do filósofo Althusser, e assim, de- preciso que os indivíduos sejam democráticos,
financiadora de projetos
nunciam a escola como aparelho ideológico para não gerar oposições e possíveis resistên-
em países emergentes
ou em desenvolvimen- do estado. cias a favor de outra forma de ideologia.
to, ampliando, inclusive,
para cerca de 180 o
número de países mem-
bros (FONSECA, 1995,
p. 46).
Isto lhe deu a condição
de ser, na contempora-
neidade, a instituição
de maior influência no
cenário político e eco-
nômico e educacional
do mundo. Figura 30: Educação e ►
Neoliberalismo.
Fonte: Disponível em:
< http://www.riopreto-
-in-net.com.br/walmir/
site.html >. Acesso em:
10/09/2008
.
70
História - História da Educação
Ressaltamos, aqui, que as políticas eco- presas transnacionais, tornando a educação Dica
nômicas, sociais e educacionais brasileiras dependente das políticas e dos financiamen- Da constituição de 1988 à
também são organizadas de acordo com o tos intervencionistas dos organismos interna- Lei nº 9.394/1996
neoliberalismo. Ou seja, por organizações cionais. No ano de 1988, é promul-
gada a atual Constituição
financeiras a serviço dos interesses das em- Segundo Sanfelice: que traz no artigo 3º “...
educação é um direito de
Hoje é notório o financiamento internacional da educação e a intervenção das todos e dever do Estado e
agências mundiais na estruturação dos sistemas de ensino, mas na lógica de da família...” (BRASIL, 1988),
mercado a educação torna-se um produto a ser consumido por quem demons- para o estabelecimento do
trar vontade e competência para adquiri-la, em especial a educação ministrada pleno desenvolvimento.
Depois dessa data, vários
nos níveis médio e superior. As teses neoliberais têm sido pródigas em propor outros documentos são
argumentos favoráveis à privatização da educação como formadora das elites criados, em âmbito nacio-
ou para dar a cada um o que sua função exige, e que não pode ser obtido por nal, para fazer valer os seus
meio de uma educação pública comum. (SANFELICE, 2001, p. 10). ideais para a educação,
vejamos: Em 24 de novem-
bro de 1995, foi aprovada a
Percebemos, assim, uma política educa- a diversos fatores, como localização geográfi- Lei 9.131, dispondo sobre
cional que não só permite como também in- ca, cultura etc, terão possibilidades de produ- as atribuições do Conselho
centiva a privatização, assim como na década zir melhores condições de educação para as Nacional de Educação,
órgão vinculado ao MEC.
de 30. Com o discurso de investir na qualida- pessoas em relação a outros? Assim, ponde- Tem funções normativas,
de, justifica-se a ideia de que a sociedade re- ramos que tal política privilegia determinadas deliberativas e de asses-
quer o trabalhador adequado às transforma- regiões como forma de promover a exclusão soramento ao Ministro de
Estado da Educação no
ções sociais originadas pela globalização. O de muitas outras no que se refere à qualidade desempenho das funções
que, por sua vez, exige a mudança do modelo da educação das pessoas. e atribuições do poder
de educação. Aqui, é conveniente sabermos também público federal em matéria
de educação, cabendo-lhe
Nessa mesma direção, encontramos a po- que atribuir a responsabilidade da educação formular e avaliar a política
lítica de descentralização do Estado, por meio ao município não é coisa tão nova, pois desde a nacional de educação, zelar
da transferência de responsabilidade aos mu- década de 1970 tal tarefa é recomendada pelo pela qualidade do ensino,
velar pelo cumprimento
nicípios por intermédio dos serviços públicos, Banco Mundial e, finalmente, consolidada pela da legislação educacional
o que se estende ao ensino. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional e assegurar a participação
Para prosseguirmos nossas reflexões, pre- 9394/96, para atender aos interesses do Estado da sociedade no aprimo-
ramento da educação.
cisamos nos ater aqui em pensar um pouco a minimalista, idealizado pelo neoliberalismo. Em 1996, é criada a Lei
respeito da responsabilidade que é atribuída Assim, o Estado deixa de ser responsável de Diretrizes e Bases da
aos municípios sobre a educação. Isto ao con- pelo sistema nacional de educação e efetiva- Educação Nacional, Lei
nº 9.394/1996. Segundo
siderarmos as implicações que podem ocorrer se a descentralização da organização da es- Saviani (1997), a LDBEN
diante de tal realidade. Por exemplo: você já cola, por meio da regionalização dos currícu- surge da mobilização do
pensou no fato de que os municípios brasilei- los. Dessa forma, desarticulados do currículo grupo de educadores que
lutaram durante todo o nú-
ros são muito diferentes? Tanto culturalmente, nacional, promove a fragmentação do saber, mero de Constituições no
economicamente, socialmente, o que possivel- desarticula os professores, que assumem uma Brasil na época do regime
mente vai acarretar um desnível na qualidade posição alienada, ao deixarem de questionar a militar e em consonância
com as novas necessidades
da educação brasileira? O que podemos en- sua condição político-social de sujeito da edu- da sociedade brasileira.
tender que determinados municípios, devido cação. De acordo com Mialchi: Complementa, ainda, que
historicamente a nossa
Este processo promovido pela nova organização capitalista é em grande parte educação caminhou, ora
incentivado pelas suas instituições de fomento. Referimo-nos ao Banco Mun- respondendo às políticas,
ora indo ao encontro das
dial e ao Fundo Monetário Internacional, que passam a ditar na década de 1990 necessidades da nossa
o conjunto ideário político pedagógico aos países ditos periféricos. É assim que economia, mas pouco
vemos pelo Plano Decenal de Educação para Todos (1993) elaborado pelo MEC, preocupada com um pla-
mas que, buscando traçar um diagnóstico da situação educacional, se detém nejamento a longo prazo.
ao ensino fundamental, a mesma perspectiva apresentada na Declaração Mun- Em 2001, é aprovado o Pla-
dial sobre Educação para Todos (1990). Este último foi elaborado como diretriz no Nacional de Educação
à educação mundial na reunião de Joentin, Tailândia (MIALCHI, 2008, p. 38). (PNE) que traça diretrizes e
metas para a educação no
Brasil e tem prazo de até
Ao considerarmos a nova organização educação escolar, dirigido em grande parte na dez anos para que todas
acima mencionada e o domínio dos países figura do professor, é atribuída a ele a responsa- elas sejam cumpridas. Para
isso, o governo transfor-
sobre outros, ressaltamos que tal realidade bilidade pelo resultado escolar dos alunos. Va- mou o PNE em lei, que pas-
ocorreu por meio da inculcação de valores no mos agora caminhar pela história da educação sou a valer a partir do dia
indivíduo e que a escola é utilizada para incul- brasileira, com vistas a pensar a nova organiza- 9 de janeiro de 2001. Entre
as principais metas, estão a
cação de tais valores. Assim, é necessário di- ção escolar, de forma a atender às demandas melhoria da qualidade do
fundir a ideia de que a melhor e única maneira das políticas internacionais de cunho neoliberal. ensino e a erradicação do
possível de atender socialmente é por inter- Necessitamos, ainda, esclarecer que, de analfabetismo. Nem todos
os itens do plano foram
médio da educação escolar. acordo com a lógica das políticas internacio- aprovados pelo governo
Diante do exposto, precisamos ter claro nais já mencionadas, para atender à reformu- federal.
ainda que, com o objetivo redirecionamento à lação do currículo da educação básica, espe-
71
UAB/Unimontes - 2º Período
72
História - História da Educação
Através dos estudos realizados, pode- o consumo. Assim, tais valores são veiculados
mos perceber que, na história da educação pelos meios de comunicação, como no caso
Dica
brasileira, não é novidade a utilização do dis- das novelas, que trazem para dentro dos lares Jacomeli (2007) afirma
curso de respeito às diferenças com o intuito cenários que representam culturas diversas e que a Conferência
Mundial de Educação
de promover a violência cultural para favore- valores diversos a serem difundidos. Segun- para Todos, realizada
cer órgãos de financiamento das políticas in- do Dalarosa, nos Parâmetros Curriculares Na- em Jomtien, em 1990,
ternacionais, que se interessam em globalizar cionais: marcou a articulação
e interferência das
[...] como se essa noção tivesse uma existência independente do texto que o agências internacionais
instituiu como novo objeto. Da mesma forma, quem passa diretamente à análi- nas políticas neoliberais,
se dos textos específicos das áreas disciplinares é porque se torna ‘compelido’ sendo que o Banco
pela ‘autoridade’ estabelecida pelo texto a não fazer certas questões prévias mundial passou a ser o
que poderiam colocar em dúvida as bases e os princípios sobre os quais estão grande financiador das
assentados os PCNs. Isso nos faz concordar que colocar a ênfase no estabeleci- propostas educacionais
mento de um currículo nacional significa desviar a atenção precisamente dos para os países em de-
fatores que estão no início da cadeia casual que leva aos baixos desempenhos senvolvimento, dentre
(DALOROSA, 2001, p. 207). eles o próprio Brasil.
Como financiadora das
propostas, as agências
Mais uma vez, em nome da situação in- compreende algo natural, promovendo um internacionais se veem
grata com as pessoas que não possuem os discurso de conformismo, de aceitação entre em condições de dizer
bens materiais necessários para vivenciar o as pessoas, de forma a negar que as diferen- como e o quê deve ser
consumo, tanto dos bens culturais como dos ciações entre as classes diversas não podem oferecido pela educa-
bens materiais de forma organizada, os PCNs ser consideradas algo natural, pois se funda- ção, que passa a ter
uma proposta comum
afirmam que as diferenças se resumem em mentam em questões econômicas, que, por de conhecimento em
diferenças culturais. Ao não mencionar as di- sua vez, são produzidas pelos homens, de todos os países que vêm
ferenças econômicas tão evidentes nas escolas acordo com determinadas conveniências. realizando Reformas em
públicas desse país, limita o olhar das pessoas Enfim, você precisa entender aqui que, no seus currículos educa-
e, consequentemente, a consciência crítica. contexto evidenciado no parágrafo anterior, cionais, de forma que
haja uma conformação
Ao buscarmos os objetivos dos PCNs, de os PCNs trazem em si uma ideia de que existe de todos os cidadãos
acordo com o pensamento de Jacomeli (2007), um parâmetro natural a ser seguido. para uma única realida-
de através de uma “sutil”
inculcação ideológica.
73
UAB/Unimontes - 2º Período
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75
História - História da Educação
Resumo
Unidade I
A história da educação Grega foi marcada pela ligação entre o público e o privado; a educa-
ção iniciava-se no espaço privado e, após os seis anos, os homens são separados das mulheres e
continuam o processo educacional, que busca atender o corpo e a alma por meio da ginástica,
da dança, da luta e da música.
Sobre a obrigatoriedade da educação, Platão (1999) afirma que os professores de todas as
disciplinas deverão ensinar a seus alunos. Deixamos claro que dizer ensinar a todos não significa
dizer que a educação era igual para todos. A educação diferenciava uns de outros, considerando
a seletividade social que tinha como parâmetro a natureza social dada a cada um. Assim, estabe-
lece a seletividade no processo educacional grego, que aparece de forma explícita no pensamen-
to de Platão.
O modelo educacional presente no idealismo pedagógico encontra-se de acordo com a Pai-
deia, ou o saber apresentado por Platão, que afirma a necessidade de produzir o homem con-
forme os moldes e os interesses da época, caracterizada pela sociedade patriarcal. Dessa forma,
a educação é vista como condição para materialização do fato de que não é possível construir o
político sem educação, ou manutenção da ordem vigente. O que, nesse caso, justifica o sistema
educacional afirmar a desigualdade da divisão do trabalho e, assim, sustentar a divisão de classe
social.
Em Roma, a educação moral, cívica e religiosa, aquela que chamamos de inculturação às tra-
dições pátrias, tem uma história com características próprias, ao passo que a instrução escolar, no
sentido técnico, especialmente das letras, é quase totalmente grega. Com as palavras de Cícero,
podemos dizer que “As virtudes (virtutes) têm sua origem nos romanos, a cultura (doctrinae) nos
gregos.” (MANACORDA, 1989, p. 73).
A educação, então, é entregue a parentes ou amigos que ensinarão a arte guerreira e agrí-
cola. O educando aprende também a ginástica, o manejo de armas, a ler e escrever e a história
da pátria como sinal de identidade nacional. O ensino literário limitava-se à transmissão oral de
hinos religiosos e cantos militares. O filho era moldado pelo pai para formar uma sociedade de
soldados e aristocratas, pois o objetivo dessa educação era moral e prática, e não intelectual e
literária.
Com a anexação da Grécia, da Macedônia e de outras províncias, Roma se transforma em
uma cidade bilíngue, destacando-se a língua grega, que se torna a segunda língua para os diplo-
matas e aristocratas.
As mudanças em Roma são irreversíveis. Inicia-se o ideal pragmático utilitário de aceitação e
adaptação dos estudos helenistas por parte de Roma. Somente na segunda metade do século II
surge um curso de instrução formal que tem o ideal humanista, correspondente à Paideia.
Com o cristianismo, a educação adquire um caráter novo. O treino físico e retórico foi subs-
tituído por uma disciplina rígida de conduta, o elemento intelectual é trocado pela instrução da
doutrina da Igreja e da prática ao culto. A educação, nesse período, tornou-se um regime rígido,
em que todo o excesso de interesses naturais deveria ser suprimido, ou seja, tudo que fosse liga-
do a este mundo era um mal, como também o desenvolvimento da personalidade e o gosto pelo
estético ou intelectual eram considerados pecados.
Do Século VI até o XIII, as preocupações intelectuais foram praticamente eliminadas da edu-
cação. E, quando readmitidas mais tarde, não escaparam à concepção disciplinar de educação.
Todos os tipos de educação que se desenvolveram durante o longo período da Idade Média, an-
tes do Renascimento clássico do século XV, não passaram de modalidades desse conceito dis-
ciplinar. Por intermédio de um treino rígido, tanto físico como intelectual e moral, o indivíduo
devia preparar-se para um futuro desligado do presente pelo tempo e pelo caráter. Sob o domí-
nio da Igreja e do monaquismo, esse estado futuro tornou-se a “outra vida”. Durante todo esse
período, predominou, assim, uma nova concepção de educação em completo antagonismo com
a liberal e individualista dos gregos. (MONROE, 1976).
O novo ideal educacional era baseado na natureza moral do homem. Para o cristianismo,
essa natureza moral era comum a todos, passível de aplicação universal. O problema fundamen-
tal da educação e da vida moral encontra uma nova base de vida. Essa concepção fez com que os
cristãos primitivos e medievais se tornassem indiferentes à educação e à cultura grega e romana.
A finalidade do pensamento escolástico foi a atitude de obediência, aceitação de todas as
doutrinas, declarações da Igreja. A partir das verdades formais dogmaticamente estabelecidas,
hostilizava todo estado de dúvida, investigação considerada pecaminosa. O objetivo era apoiar
a fé na razão, ou seja, revigorar a vida religiosa e a Igreja pelo desenvolvimento intelectual. A fé
era considerada superior à razão; as doutrinas da Igreja, formuladas anteriormente, deveriam ser
analisadas, definidas e sistematizadas.
78
História - História da Educação
A educação escolástica estava incluída nesse objetivo mais amplo. A educação escolástica
visava desenvolver o poder de formular as crenças num sistema lógico e de expor e defender tais
definições de crenças contra todos os argumentos que pudessem ser levantados contra elas. Ao
mesmo tempo, empenhou-se em evitar o desenvolvimento de uma atitude crítica de espírito pe-
rante os princípios fundamentais já estabelecidos pela autoridade. (MONROE, 1976).
Agostinho e Tomás de Aquino contribuem com a difusão dos princípios da educação pro-
posta por Aristóteles para o mundo ocidental. A educação passa a ser concebida como uma ati-
vidade que torna aquilo que é potencial em atual, que valoriza a atividade prática ao valorizar o
trabalho manual, como parte do exercício do pensamento.
Unidade II
79
UAB/Unimontes - 2º Período
A Reforma promoveu uma necessidade de difusão da instrução com o intuito de que a cada
um fosse possível ler e interpretar as sagradas escrituras, independentemente da interpretação
do clero.
A exigência de instrução e de democracia foi um aspecto que contribuiu com a dissemina-
ção dos ideais de modernidade, os quais, por sua vez, relacionam-se com um projeto educativo
que não difere das ideias de Platão nas Leis, seja diretamente relacionado com o Estado, que tem
suas obrigações, seja com a família e com a escola, local onde se inicia e se deslancha o processo
educativo.
Diante dos movimentos protestantes, a igreja católica reage com a realização do Concílio de
Trento (1545 a 1563), a fim de defender o poder de monopolização da educação e da ideologia.
Dessa forma, criam ordens religiosas com o intuito de se defender e realizar um trabalho de cate-
quese nos países a serem conquistados.
Foi criada e aprovada a ordem dos jesuítas, que, por sua vez, criou o catecismo, a cateque-
se e os seminários, com vistas a reconquistar os fiéis. Incentivou, ainda, pregadores apostólicos
romanos como responsáveis pela catequese no novo mundo, por meio da Companhia de Jesus.
O cerne da Contrarreforma em relação à educação foi a criação da Companhia de Jesus, que
influenciou decisivamente no ensino, por intermédio da criação da Ratio Studiorum, ou Sistema
de Estudo, do qual não podemos deixar de ressaltar, originou o modelo de educação brasileira.
Exemplificamos alguns pensadores e cientistas da educação do século das Luzes, cujas
ideias são consideradas marcantes na história da educação: Comenius, Rousseau, Pestalozzi,
Herbart.
Unidade III
Unidade IV
80
História - História da Educação
A reforma educacional proposta por Benjamim Constant Botelho de Magalhães, adepto aos
ideais positivistas, tinha como “orientação a liberdade, a laicidade e a gratuidade do ensino da es-
cola primária”. Essa reforma foi criticada pelos positivistas, pois feria os princípios pedagógicos de
Comte, pelo acréscimo de matérias científicas às tradicionais, tornando o ensino enciclopédico
um insucesso, pois propunha facultar total liberdade e autonomia aos estabelecimentos de ensi-
no na sua organização, suprimindo o caráter oficial do ensino. Propunha, ainda, uma reestrutura-
ção no Conselho Superior de Ensino então criado, que, de acordo com a própria lei, substituiria
a função fiscal do Estado, tendo ação sobre os estabelecimentos mantidos pelo Governo Federal,
e assim mesmo respeitando a autonomia a esses concedida (Decreto nº 8.659, de 05/04/1911).
A reforma proposta por Carlos Maximiliano re-oficializa o ensino e equipara os estabeleci-
mentos estaduais com os federais.
A reforma Rocha Vaz propôs a promoção da educação primária, eliminando os exames pre-
paratórios para acesso à educação – o que se caracterizava como um processo excludente para
os menos favorecidos.
Na década de 1930, Lourenço Filho procurou intervir na educação brasileira, respondendo
às questões oriundas dos interesses políticos vivenciados em seu contexto histórico. Promoveu a
reforma no curso normal (profissionalização do curso).
No contexto histórico da educação na Segunda República, encontramos o Manifesto dos
Pioneiros em 1932, contexto em que a educação foi foco de preocupação internacional e nacio-
nal, fato que provocou a reforma da educação depois da Primeira Guerra Mundial. Tal reforma,
imbuída dos interesses das políticas liberais democráticas, inspirou a defesa da escola para todos.
Mas foi após a década de 30 que se efetivaram as mudanças, que, no Brasil, consistiram em um
movimento da reconstrução Nacional pela educação.
Apesar das primeiras reformas republicanas e das iniciativas em prol do desenvolvimen-
to do ensino público no país, a questão do analfabetismo continuava representando um sério
problema a ser enfrentado nas décadas do século XX. E é nessa realidade que o Manifesto dos
Pioneiros que aqui instaurou ideias escolanovistas, segundo o modelo apresentado por Dewey,
educador norte-americano que defendeu a ideia do aprender fazendo, de forma a atender aos
interesses da sociedade capitalista americana, de formar as pessoas nos moldes demandados
pelo desenvolvimento econômico.
Em 1930, no governo de Getúlio Vargas, é criado o Ministério da Educação e Saúde Pública.
É notório, pela criação desse Ministério, como os governos entendiam (e muitos hoje ainda assim
o consideram) que educação e saúde deveriam andar juntas para o desenvolvimento da nação.
O que não podemos esquecer é que essa união é uma grande ferramenta política. Outra grande
criação do período foi a reforma do ensino profissional. O que não poderíamos deixar de pon-
derar é que a criação dos mencionados cursos justificavam-se na demanda da mão de obra es-
pecializada para o mercado de trabalho. Teve grande influência no período o ensino profissional
ministrado através das empresas e indústrias, tais como o Serviço Nacional da Indústria (Senai) e
o Serviço Nacional do Comércio (Senac).
Em meio às políticas direcionadas ao progresso, a Constituição Federal de 1946 foi a primei-
ra a trazer no seu texto a expressão “diretrizes e bases”, associada à questão da educação nacio-
nal. A efetivação de uma lei que tratasse especificamente da educação só ocorreu em 1961. Ape-
sar de ser inovadora, no sentido de propor legalmente uma estrutura para a educação nacional,
essa lei não trouxe significativas mudanças para o cenário do período.
Em 1965, através da Lei 4.464, o Brasil regulamenta a organização de órgãos de representa-
ção estudantil, e estabelece acordos com o MEC e seus órgãos, com a USAID (agência internacio-
nal de desenvolvimento dos EUA), que fazia assistência técnica e cooperação financeira, gerando
o acordo MEC-USAID. Através desse acordo, as reformas no Ensino Superior acabam incorporan-
do as tendências modernizantes da economia (CARVALHO, 2008).
A educação novamente foi considerada meio para se estabelecer a ordem e o progresso, ou
melhor, para promover o desenvolvimento que dependia de uma modernização dos meios de
comunicação. Essa preocupação foi precursora do slogan “Educação, direito de todos. Escola para
todos”. Esse slogan fez com que as exigências de reestruturação educacional, sob a ótica do pro-
jeto de educação do MECUSAID, fossem incorporadas na Lei 5.692/71, segunda lei de diretrizes e
bases da educação.
A lei promulgada durante o regime militar continha fortes pressões às inovações educacio-
nais que trouxessem qualquer tipo de ameaça para o regime ditatorial. Fortaleceu-se, no perío-
do, a criação de instituições particulares que atendiam plenamente aos ditames dos militares
(CARVALHO, 2008). Ainda nesse contexto, o Plano Decenal de Desenvolvimento Econômico e
81
UAB/Unimontes - 2º Período
Social de 1967 a 1977 ocasionou alterações tanto no Ensino Superior (Lei 5.540/68) quanto no
ensino básico (Lei 5.692/71).
Com a entrada do capital estrangeiro, as políticas vigentes buscavam fortalecer o Estado,
com fins a tornar o Brasil uma potência econômica, tornando o sistema educacional adequado
ao modelo imposto pelas políticas norte-americanas para a América Latina. Dessa forma, a reali-
dade político-social posta pelo Golpe Militar de 1964, por intermédio da Lei 5.692/71, reordena a
educação brasileira, por meio do sistema de ensino de acordo com o modelo econômico impos-
to pela política norte-americana, para a América Latina. Foram criadas, nesse contexto, faculda-
des particulares que funcionavam como empresas, com o intuito de obter lucros.
Enfim, você precisa ter claro que a organização social brasileira, ocorrida nas décadas de 60
e 70, marcou a história da educação desse país por atribuir a ela um papel unicamente econô-
mico, fazendo dela um veículo de desenvolvimento econômico-industrial, a favor do desenvol-
vimento e da manutenção de condicionantes sociais, políticos, ideológicos e econômicos, que
contribuíram decisivamente para o processo de escravização do Brasil em relação ao capital es-
trangeiro.
Após a ditadura militar, predominam entre os educadores discussões referentes aos proble-
mas sociais, bem como suas implicações na educação, fundamentadas em ideias marxistas de
sociólogos franceses, como Bourdieu e Passeron, Baudelot e Establet e do filósofo Althusser.
No cenário mundial, as políticas neoliberais, por intermédio dos países economicamente
mais favorecidos, promovem uma nova organização da sociedade capitalista. Organização esta
cujo resultado implica o domínio dos países ricos sobre os países periféricos, especialmente os
países da América Latina, como no caso do Brasil.
As políticas econômicas, sociais e educacionais brasileiras também são organizadas de acor-
do com o neoliberalismo. Ou seja, por organizações financeiras a serviço dos interesses das em-
presas transnacionais, tornando a educação dependente das políticas e dos financiamentos in-
tervencionistas dos organismos internacionais.
Percebemos, assim, uma política educacional que não só permite como incentiva a privati-
zação, assim como na década de 30. Com o discurso de investir na qualidade, justifica-se a ideia
de que a sociedade requer o trabalhador adequado às transformações sociais originadas pela
globalização.
A mudança do modelo de educação promove a descentralização do Estado, por meio da
transferência de responsabilidade aos municípios, por intermédio dos serviços públicos, o que se
estende ao ensino, o que não é coisa tão nova, pois desde a década de 70 tal tarefa é recomen-
dada pelo Banco Mundial e, finalmente, consolidada pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação
Nacional 9.394/96, para atender aos interesses do Estado minimalista, idealizado pelo neolibera-
lismo.
Necessitamos, ainda, esclarecer que, de acordo com a lógica das políticas internacionais já
mencionadas, para atender à reformulação do currículo da educação básica, especialmente o en-
sino fundamental, presente na LDB de 1996, foram elaborados para o Brasil os Parâmetros Curri-
culares Nacionais (PCNs) em 1997.
Por meio dos Parâmetros Curriculares organizados em forma de Temas Transversais, o cur-
rículo das escolas brasileiras consiste em uma adaptação do currículo espanhol, que fora elabo-
rado no contexto da abertura política, e que, na atualidade, não era mais condizente com a rea-
lidade da Espanha. Dessa forma, é produzida para a educação brasileira uma maneira de difundir
valores referentes ao cotidiano das pessoas, a fim de promover o discurso da paz entre os ho-
mens. Valores esses necessários à manutenção do capitalismo presente na sociedade globaliza-
da. Dessa forma, atribui-se à educação escolar a função de formar pessoas para serem cidadãos
do mundo, com perfil para atuar em uma sociedade democrática.
Ao buscarmos os objetivos dos PCNs, de acordo com o pensamento de Jacomeli (2007),
compreende algo natural, promovendo um discurso de conformismo, de aceitação entre as pes-
soas, de forma a negar que as diferenciações entre as classes diversas não podem ser considera-
das algo natural, pois se fundamentam em questões econômicas, que, por sua vez, são produzi-
das pelos homens de acordo com determinadas conveniências.
O ensino superior no Brasil registra um crescimento no número de matrícula e na criação de
novos cursos, sobretudo na rede privada. No entanto, segundo Dourado (2002), as políticas de
expansão da educação superior no país caracterizam-se por serem assincrônicas e o nível de en-
sino por mostrar-se amplo e heterogêneo, permeados por práticas de natureza pública e privada,
com predominância dessas últimas.
No viés ideológico, o Banco Mundial exerce uma função exponencial. No entendimento
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História - História da Educação
de Coraggio (1996), em estudo publicado por Dourado (2002) apud Almeida e Silva (2007), essa
instituição está por trás da ideia que defende um reducionismo economicista, baseado no vetor
custo-benefício, assim como da descentralização que permite desarticular setores já organizados
e da capacitação docente, em programas paliativos e rápidos, com os professores em serviço.
Neste último caso, cria-se a ilusão de um movimento de constante melhoria na capacitação
pedagógica, o que, na prática, configura-se por aparente atualização, muitas vezes desfigurando
a realidade em que o professor atua, alienando-o com mistificações pedagógicas ou conteúdos
vazios de formação acadêmica, causando uma situação inversamente proporcional ao discurso,
pois exclui as populações pobres do mercado, o qual baseia suas exigências no acúmulo de co-
nhecimentos específicos, e não na educação via amenidades.
No que se refere à educação superior no Brasil pós LDBEN 9.394/1996, cresce o número de
matrícula e a criação de novos cursos, sobretudo na rede privada. No entanto, segundo Doura-
do (2002), as políticas de expansão da educação superior no país caracterizam-se por serem as-
sincrônicas e o nível de ensino por mostrar-se amplo e heterogêneo, permeado por práticas de
natureza pública e privada, com predominância destas últimas (ALMEIDA e SILVA, 2007). Nos úl-
timos anos, houve um processo expansionista no setor. Em 1999, por exemplo, o Instituto Nacio-
nal de Estudos e Pesquisas Educacionais, INEP, registra que o ensino superior brasileiro cresceu
substantivamente em 11,8% em relação à matrícula do ano anterior.
Neste contexto, há, também, um novo delineamento na política de formação de professo-
res, vinculada ao estreitamento das exigências postas pelas reformas educativas da educação bá-
sica que visam à formação das novas gerações. De acordo com as ideias de Freitas (2002), a políti-
ca de expansão da educação dos institutos superiores de educação e cursos normais superiores,
desde 1999, obedece portanto a balizadores postos pela política educacional em nosso país em
cumprimento às lições dos organismos financiadores internacionais. Caracterizados como insti-
tuições de caráter técnico-profissionalizante, os ISE’s têm como objetivo principal a formação de
professores com ênfase no caráter técnico instrumental, com competências determinadas para
solucionar problemas da prática cotidiana, em síntese, um “prático”.
No viés ideológico, o Banco Mundial defende um reducionismo economicista, baseado no
vetor custo-benefício, assim como da descentralização que permite desarticular setores já orga-
nizados e da capacitação docente, em programas paliativos e rápidos, com os professores em
serviço.
Nesse último caso, cria-se a ilusão de um movimento de constante melhoria na capacitação
pedagógica, o que, na prática, se configura por aparente atualização, muitas vezes desfigurando
a realidade em que o professor atua, alienando-o com mistificações pedagógicas ou conteúdos
vazios de formação acadêmica, causando uma situação inversamente proporcional ao discurso,
pois exclui as populações pobres do mercado, o qual baseia suas exigências no acúmulo de co-
nhecimentos específicos, e não na educação via amenidades.
O ensino no Brasil enfrenta uma situação singular nas duas últimas décadas. Fruto de lutas,
contradições, adaptações às tendências, interesses econômicos, encontra-se numa situação tan-
to de reestruturação quanto de melhoria.
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História - História da Educação
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História - História da Educação
Atividades de
Aprendizagem - AA
Esta atividade tem como objetivo auxiliar você na fixação dos conteúdos aprendidos e na prepa-
ração para as avaliações da disciplina, portanto faça-a com bastante atenção.
Destaque esta atividade do caderno e entregue ao seu tutor presencial, cinco dias após o térmi-
no do estudo da disciplina.
1) A educação primitiva se caracteriza pela sua forma simples, onde a criança é inserida no meio
social através da experiência de vida das gerações passadas. Neste período a atividade educacio-
nal pode ser entendida como:
a) ( ) No Egito
b) ( ) Em Atenas
c) ( ) Em Esparta
d) ( ) Em Roma
3) O humanismo renascentista marca a volta do homem para o palco da história. A principal mu-
dança ocorrida nesse período foi a substituição:
5) A hegemonia que os jesuítas exerceram na ação pedagógica durante o período colonial brasi-
leiro é um fato histórico. Em mais de quinhentos anos de história da educação brasileira, duzen-
tos e dez tiveram a condução da Companhia de Jesus. Em relação à educação jesuítica no Brasil,
marque com (V) as alternativas VERDADEIRAS e com (F) as alternativas FALSAS.
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UAB/Unimontes - 2º Período
6) Considerando o quadro geral da educação no Brasil no período imperial podemos dizer que....
Todas as afirmativas abaixo são verdadeiras, EXCETO:
a) ( ) O Decreto de 1826 trata-se da primeira Lei Geral relativa ao Ensino Elementar. Este decreto,
outorgado por Dom Pedro I, veio a se tornar um marco na educação imperial, de tal modo que
passou a ser a principal referência para os docentes do primário e ginásio nas províncias.
b) ( ) O Decreto de 1826 trata-se da primeira Lei Geral relativa ao Ensino Elementar. Este decreto,
outorgado por Dom Pedro I, veio a se tornar um marco na educação imperial, de tal modo que
passou a ser a principal referência para os docentes do primário e ginásio nas províncias.
c) ( ) O quadro geral da instrução publica no período imperial, enriquecidos com a criação de
cursos superiores incentivados principalmente por D. João VI, se alterou significativamente de-
pois de outorgada a constituição de 1824.
d) ( ) A grande ação escolarizadora dos jesuítas na colônia foi representada pelos colégios que
eram voltados a formação da elite dirigente colonial.
7) No período jesuítico, a educação primária, na sua maior parte, ficava aos cuidados das famí-
lias, ou seja, as famílias é quem se responsabilizavam pela iniciação da escolaridade da criança,
porém as famílias mais afortunadas optavam por pagar um preceptor ou por delegar o ensino de
suas crianças aos cuidados de um parente mais letrado.
Se você concordar com essa afirmativa marque Verdadeira e se discordar marque Falsa.
( ) Verdadeira ( ) Falsa
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História - História da Educação
A sequência correta é:
a) ( ) V, III, VI, II, I e IV.
b) ( ) V, III, VI, IV, I e II.
c) ( ) III, V, I, II, IV e VI.
d) ( ) VI, IV, III, II, I e V.
10) As estratégias do Banco Mundial, no Brasil como em outras partes do mundo, é a de apoiar
os investimentos que encorajem o crescimento econômico e o desenvolvimento social, num
contexto de estabilidade macroeconômica. Segundo os ideais pregados pelo Banco Mundial
como em outras partes do mundo, a pesquisa no Brasil mostra que o retorno social do inves-
timento em educação primária (36%) é consideravelmente maior que o investimento quer na
educação secundária (5%) quer na superior (21%) (Banco Mundial, 1995 a: 11). Portanto, para o
Banco, no caso do Brasil, é prioritário:
a) ( ) melhorar as habilidades dos professores no que diz respeito a técnicas de sala aula, prefe-
rencialmente, na própria escola e/ou à distância, num processo de capacitação contínua;
b) ( ) providenciar livros didáticos;
c) ( ) as propostas de capacitação dos professores devem levar em conta a avaliação das ativida-
des e da eficácia das mesmas na mudança de comportamento didático-pedagógico dos profes-
sores;
d) ( ) melhorar a remuneração recebida pelos professores e demais prestadores de serviço à
educação.
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