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A BÍBLIA DO ESPIRITUALISMO

PAULO ANTONIO GONÇALVES

A busca pela verdade espiritual através


da filosofia, da psicologia e das religiões,
e o caminho de evolução da alma

Manuscrito / Original
Título: A Bíblia do Espiritualismo

Subtítulo: A busca pela verdade espiritual através da filosofia, da psicologia e das


religiões, e o caminho de evolução da alma

Autor: Paulo Antonio Gonçalves

Categoria: Espiritualismo

ISBN:

Contato: www.filosofiaespiritualista.com.br / pauloantoniofg@hotmail.com

Para impressão, utilize papel A4, frente e verso.

Direitos autorais reservados. Proibida a publicação sem autorização, total ou parcial.

Última atualização do texto: 29/01/2016

A Bíblia do Espiritualismo Página 2


“E conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará.”

João 8-32

A Bíblia do Espiritualismo Página 3


A Bíblia do Espiritualismo Página 4
ÍNDICE
INTRODUÇÃO: TORNANDO-SE UM ESPIRITUALISTA ................................... 7
O LEGADO DA FILOSOFIA E DAS RELIGIÕES ............................................... 17
FILOSOFIA GREGA: A BUSCA PELA VERDADE E O CUIDADO COM A ALMA ................................. 17

XAMANISMO: A VIAGEM ESPIRITUAL ...................................................................................... 21

HINDUÍSMO E YOGA: NOSSA ALMA É UMA PARTE DE DEUS...................................................... 25

TAOÍSMO: O CAMINHO DO UNIVERSO E A ELIMINAÇÃO DO ORGULHO ....................................... 29

MEDIUNIDADE, ESPIRITISMO, UMBANDA E CANDOMBLÉ .......................................................... 31

O LEGADO DA PSICOLOGIA DE CARL G. JUNG ............................................ 37


A ESTRUTURA DINÂMICA DA PSIQUE ...................................................................................... 39

OS TIPOS PSICOLÓGICOS ......................................................................................................... 45

AS FASES DE DESENVOLVIMENTO DA PSIQUE .......................................................................... 47

OS ARQUÉTIPOS DO INCONSCIENTE E AS MITOLOGIAS: SIGNOS ASTROLÓGICOS E ORIXÁS ......... 51

O CAMINHO DE EVOLUÇÃO DA ALMA ........................................................... 65


OS ESTADOS DA ALMA ........................................................................................................... 65

AS LEIS E O OBJETIVO DO PLANO DIVINO ................................................................................ 69

GUIAS ESPIRITUAIS E ANJOS GUARDIÕES ................................................................................ 75

TÉCNICAS PARA A HARMONIZAÇÃO DA ALMA ......................................................................... 79

A Essência da Prece .................................................................................... 79

Meditação e Limpeza Espiritual .................................................................. 81

Terapias ...................................................................................................... 82

O Equilíbrio dos Chakras ............................................................................ 84

OS ESTÁGIOS DE E VOLUÇÃO DA ALMA ................................................................................... 89

Muladhara: as Raízes no Mundo Material ................................................... 91

Svadhisthana: a Morte-renascimento e a Iniciação Espiritual ..................... 95

Manipura: a Jornada do Herói .................................................................... 99

A Bíblia do Espiritualismo Página 5


Anahata: o Encontro do Eu com o Atman (o Eu maior) ............................. 101

Vishuddha, Ajna e Sahasrara: os Chakras Etéreos .................................... 105

CONCLUSÕES: A AUTORREALIZAÇÃO COMO SENTIDO DA VIDA ........ 107


GLOSSÁRIO .......................................................................................................... 117
ALMA E SEUS SINÔNIMOS...................................................................................................... 117

EU MAIOR E SEUS SINÔNIMOS ................................................................................................ 118

DIVINDADE E SEUS SINÔNIMOS ............................................................................................. 119

ANJO DA GUARDA E SEUS SINÔNIMOS ................................................................................... 119

LUZ DIVINA E SEUS SINÔNIMOS ............................................................................................. 119

OUTROS CONCEITOS USADOS NA ESPIRITUALIDADE .............................................................. 120

BIBLIOGRAFIA .................................................................................................... 129

A Bíblia do Espiritualismo Página 6


Introdução: Tornando-se um Espiritualista

Buscar pelos conhecimentos essenciais da espiritualidade, de forma racional,


filosófica e científica, sem preconceitos e sem limitações. Essa foi a diretriz que
orientou todo o trabalho de desenvolvimento deste livro. Identificar os conceitos
verdadeiramente espirituais presentes no conhecimento humano. Pesquisar
profundamente, na teoria e na prática, para enfim descobrir a essência e o sentido da
vida.

Nessa busca épica foi preciso correr todos os riscos. O risco de não encontrar nada
de verdadeiramente espiritual na vida e no universo. O risco de questionar as
convenções sociais, os dogmas das religiões e os conceitos da Filosofia e da Ciência. A
diretriz da minha missão não permitia dúvida nem erro. Eu tinha que “ver com os meus
próprios olhos”. Tinha que entender muito bem cada assunto, através de uma lógica
verdadeiramente científica e filosófica, de tal forma que pudesse explicá-los a outras
pessoas.

Os resultados? Muitos conceitos espirituais reais, verdadeiros, reveladores e


surpreendentes foram encontrados. Mas não nos lugares esperados. Enquanto grandes
religiões tradicionais mostraram pouca profundidade em conceitos espirituais por trás de
seus dogmas e cerimonialismos, riquíssimos conhecimentos foram encontrados em
religiões não convencionais, como Xamanismo, Hinduísmo, Yoga, Espiritismo,
Umbanda e Candomblé, e também na Filosofia Clássica e na Psicologia de Carl G.
Jung.

E quais são enfim esses conceitos essências e descobertas? Primeiramente, a


constatação de que a dimensão espiritual não só existe, mas é a razão por trás da
existência da dimensão material que vemos. Deus existe, é a consciência do universo e o
criador de tudo o que existe. A alma humana existe, e possui dois estados bem distintos:
um voltado ao material, outro ao espiritual. A alma saudável vive em contínuo processo
de evolução, absorvendo e incorporando características de nossa “alma divina”, o Eu
maior, que é uma parte do próprio Deus dentro de nós. Mas esse processo só se inicia
naqueles que conseguem transpor a enorme barreira psíquica do materialismo. Antes
disso a alma vive em um estado embrionário, em “gestação”, e só nasce de fato após
uma transformação psíquica chamada genericamente de “iniciação espiritual”. Após a
morte do corpo físico, as almas que não transcenderam esse estado embrionário em
geral não conseguem sobreviver no mundo espiritual, pois durante a vida não
incorporaram à sua estrutura conteúdos de natureza espiritual. Ou sobrevivem de forma
precária, vagando entre dois mundos. Isso posto, estas palavras de Jesus passam a fazer
bem mais sentido: “Em verdade vos digo que aquele que não nascer da água e do

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espírito não pode entrar no reino de Deus. O que é nascido da carne é carne, e o que é
nascido do espírito é espírito. Não vos maravilheis em vos ter dito: necessário vos é
nascer de novo” (João 3:5). Intuitivamente todos sabem dessa realidade, desejam a
salvação, mas não sabem como a conseguir. E é nesse contexto que nascem os muitos
falsos profetas em busca de poder.

E enfim, a constatação de que existe um grande projeto em andamento, com um


objetivo muito claro: a evolução das almas. Saber como percorrer o caminho de
evolução da alma é o mais essencial dos conhecimentos espirituais, o verdadeiro e único
sentido da vida. A felicidade é o estado natural da alma, e não um estágio complexo,
quase inalcançável. Basta que as coisas estejam no “lugar certo”. A infelicidade ao
contrário é o resultado de se estar “fora do lugar”, fora do caminho natural a ser
seguido, o que acontece bastante no estilo de vida atual.

Como vamos discorrer sobre conceitos filosóficos avançados ao longo do livro,


comecemos esclarecendo alguns termos fundamentais. Por exemplo, qual o significado
de termos como espiritualidade e espiritualismo? Espiritualidade é uma forma de viver
baseada em conceitos espiritualistas. E espiritualismo ou filosofia espiritualista é todo o
conceito filosófico fundamentado na existência de uma causa espiritual por trás da vida
e do universo. É toda a visão de mundo que tenha por base a existência de Deus e de um
universo ou dimensão espiritual, e a existência da alma humana e sua continuidade após
a morte do corpo físico. O espiritualismo se opõe ao materialismo, que por sua vez é
uma concepção do mundo em que só existe o material. O espiritualismo parte do
princípio que, além da dimensão material, existe também uma dimensão espiritual, tão
forte e tão presente quanto a material.

Se o espiritualismo é uma filosofia, seria bom também esclarecermos: o que é


Filosofia? De acordo com os grandes dicionários: “estudo geral sobre a natureza de
todas as coisas e suas relações entre si. Os valores, o sentido, os fatos e princípios gerais
da existência, bem como a conduta e destino do homem. Forma de entender a vida e a
tudo”. Em resumo, é o total da sabedoria humana, é tudo o que o ser humano consegue
entender do universo, ou seja, a verdade.

Mas, o que é então a verdade, como identificá-la? No cerne da Filosofia existe um


método chamado dialética, conceito criado por Sócrates, o patrono da Filosofia. A
dialética é uma espécie de diálogo, em que se confrontam várias hipóteses e antíteses, e,
após uma avaliação lógica dessa argumentação, chega-se a uma síntese ou conclusão.
Em resumo, tudo pode e deve ser questionado e analisado racionalmente. Todas as
crenças humanas, espirituais ou não, para serem consideradas verdades filosóficas ou
científicas, precisam ser analisadas pelo método científico, que é a dialética, essência da
epistemologia (teoria do conhecimento).

A Bíblia do Espiritualismo Página 8


Então, o espiritualismo é uma filosofia de vida que tem como fundamento a
consciência da existência de Deus, de um universo espiritual, da alma humana e sua
eternidade. Repare que usei a palavra “consciência” e não “crença”. Há uma grande
diferença entre as duas. Estar consciente de algo significa saber bem sobre esse algo,
entender sua essência e sua estrutura. Logo, o espiritualismo diferencia-se da
religiosidade. Nas religiões existem os dogmas, ou seja, conceitos inquestionáveis. Já no
espiritualismo, por ser uma filosofia, as teorias são analisadas racionalmente, e os fatos
são pesquisados e questionados, como na Ciência.

O primeiro passo para se tornar um espiritualista é encontrar evidências


suficientes da existência de Deus, do mundo espiritual e da eternidade da alma. É
preciso um questionamento inicial, como o dos cientistas e filósofos. Assumirmos a
dúvida como um fato, e buscarmos por evidências. A fé verdadeira, inabalável, só é
possível sobre uma base sólida, composta de provas que satisfaçam nossa consciência
racional. Enfim, a fé verdadeira só pode ser obtida através da compreensão da realidade
espiritual. É preciso ver (no sentido cognitivo) para crer.

Tratando-se portanto de um estudo, de uma filosofia, de uma ciência, precisamos


então utilizar os métodos acadêmicos tradicionais. Inicialmente, seria preciso então
estudar os teóricos espiritualistas clássicos: Pitágoras, Sócrates, Platão, Jesus Cristo e
seus apóstolos (ou seja, o Novo Testamento), os gnósticos, Kardec e Jung. Ler,
entender, e (por que não?) questionar essas teorias, está entre os passos obrigatórios de
uma pessoa que busca pela espiritualidade. Precisamos também conhecer as teologias,
ou seja, as teorias das religiões. São muitas vezes dogmáticas, arbitrárias, porém, podem
conter informações importantes, que o espiritualista, como pesquisador, não pode
descartar. Se não podemos descartar informações, precisamos também conhecer as
teorias de esotéricos, como os astrólogos, e de autores espiritualistas, como Chico
Xavier, James Van Praagh, Paulo Coelho e Zíbia Gasparetto. Religiões minoritárias,
como a Umbanda, o Candomblé e o Xamanismo também podem ser ricas fontes de
informação, assim como as grandes religiões, não somente as ocidentais, mas também
as grandes religiões orientais, que possuem tantos conceitos espirituais importantes a
ensinar. Um pesquisador não pode ter restrições ao coletar informações. Fenômenos
espirituais, como mediunidade, visões e profetizações, EFCs (Experiências Fora do
Corpo) e EQMs (Experiências de Quase Morte), precisam também ser observadas.
Obviamente todo o material coletado deve ser analisado e questionado. Mas não pode
ser ignorado, negligenciado.

O espiritualista e o religioso são semelhantes em um aspecto: acreditam em algo


além do material, acreditam no lado espiritual da vida. Mas diferenciam-se quanto à
forma de sua fé: enquanto o religioso obedece às regras dogmáticas de sua religião, o
espiritualista é livre e independente para construir sua própria concepção espiritual.

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Outra diferença é a tendência expansionista, fortemente presente nas religiões, e,
totalmente ausente na filosofia espiritualista. O entendimento e o estado de consciência
adquiridos nos estudos espiritualistas permitem que a pessoa entenda que a “salvação da
alma” ou a “iluminação” é algo totalmente individual, e, por consequência, o
entendimento de que não há necessidade de impor nossa crença a outras pessoas, pois
para que elas alcancem um estado de iluminação, é preciso que expandam a
consciência, e isso só é possível por meio de uma iniciativa própria. E, dessa forma,
qualquer esforço de convencimento seria em vão. Somente a disponibilização de
informações seria útil para promover o despertar das pessoas em geral. A única
obrigação do espiritualista é manter-se em constante estado de aprendizado, em
constante revisão de sua filosofia de vida, consciente de sua falibilidade e de sua
fragilidade, consciente de sua dependência da natureza, de sua dependência de uma
força espiritual muito superior, que rege os rumos do universo, e que é ainda pouco
conhecida por nós.

Segundo Leonardo Boff, "todas as religiões estão doentes". Eu acrescentaria: "nos


dias de hoje, ou seguimos na espiritualidade, ou seguimos uma religião", tamanha a
crise. Toda crise é a saturação de um paradigma, o fim de algo que não funciona e o
nascimento de outra. Mas o que seria uma espiritualidade verdadeira? Bem
resumidamente, viver na prática o mecanismo natural da alma, que é a transformação
constante do Eu. Um constante processo de “morte-renascimento”, em que
abandonamos conceitos e formas de viver ultrapassadas, e adotamos outras, evoluindo
na alma. A maioria das pessoas não consegue fazer isso por conta própria. Precisa de
alguém que auxilie. Mas quem? Um padre, um pastor, um pai de santo, um psicólogo?
Nenhum deles tem conseguido isso ultimamente. Mas, teoricamente, seria possível: uma
instituição, um grupo de especialistas que auxiliassem de fato nas questões da alma. Na
prática, isso está longe de acontecer. Enquanto isso, os poucos que conseguem se salvar
da loucura (que é viver ignorando os processos naturais da alma), contam apenas com
os livros espiritualistas, o auxílio direto dos espíritos, e uma imensa força de vontade.

Ao passarmos realmente pela transformação materialista-espiritualista, ou seja, ao


tomarmos consciência da natureza espiritual da vida, surge uma forte necessidade
interior de realizar na vida terrestre os conceitos e orientações advindos desse
entendimento da dimensão espiritual. Surge a necessidade da prática espiritual, da
realização, da cristalização na realidade material de nossa interioridade, que por sua vez
é de natureza espiritual. Enfim, surge uma necessidade de autorrealização, de seguir
pelo caminho de evolução da alma. Ao concluirmos que realmente temos uma alma, e
que ela sobrevive para a eternidade, fica claro que é muito mais importante cuidarmos
das questões relacionadas à vida do espírito do que cuidarmos somente das questões
relacionadas à temporária vida terrena. A partir da conscientização dessa verdade
fundamental, tudo muda na vida de uma pessoa. A angústia que impera na humanidade

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atual advém de sua limitada consciência, de sua limitada visão do mundo e da
arbitrariedade das convenções sociais que nos escravizam. A palavra “angústia” vem do
latim e significa espaço reduzido, estreiteza, carência, falta. O trabalho de ampliação da
consciência é portanto um caminho real e confiável para alcançarmos a paz, a plenitude
de nossa alma e a felicidade.

Outro conceito que precisa ser esclarecido nessa introdução é a Psicologia, ciência
que, inclusive, fazia parte da Filosofia na Antiguidade. A Psicologia é o estudo da
psique, palavra que vem do termo grego psykhé, e significa alma, espírito ou mente. A
psique é o conjunto dos processos mentais conscientes e inconscientes. Enfim, a
Psicologia é o estudo da alma humana, e o psicólogo seria então o médico da alma. As
teorias do psiquiatra e psicólogo Carl G. Jung são riquíssimas em conceitos espirituais,
e por isso estão presentes ao longo de todo o livro.

E enfim, quando finalmente alcançamos a sabedoria, a consciência da verdade


espiritual, após uma longa estrada de aventuras filosóficas e práticas, descobrimos que o
sentido da vida e do universo é o desenvolvimento espiritual. Que as almas são partes de
Deus, e que o objetivo desse gigantesco e maravilho Projeto Divino é somente um: a
evolução das almas.

Se o primeiro passo para se tornar um espiritualista é encontrar evidências


suficientes da existência de Deus, do mundo espiritual e da eternidade da alma,
comecemos então observando atentamente nossa realidade. Comecemos pelo corpo
humano: o cérebro, os órgãos e sistemas, suas funções autônomas dotadas de
inteligência. Em nível de complexidade, nenhum dispositivo criado pelo homem se
aproxima do corpo humano. A própria ciência médica reconhece que ainda sabemos
pouco sobre a fisiologia humana. Depois, observemos os demais animais, os vegetais,
os planetas, a estrutura da matéria, enfim, tudo o que a Ciência pôde observar até hoje
da realidade à nossa volta. E agora pensemos: seria possível que toda essa realidade,
inclusive os seres vivos, que possuem inteligência própria, seria possível tudo isso ter se
originado do acaso, ou seja, do choque aleatório entre partículas, até formar átomos,
moléculas, células, órgãos e seres inteligentes? Com certeza não. Não seria possível. Por
mais que as partículas se chocassem, de diferentes formas, em diferentes temperaturas e
pressões, por milhões de anos, não seria possível o surgimento da vida. Existe uma
causa, existe uma inteligência causadora para gerar coisas complexas, e que inclusive
possuem inteligência própria. Existe uma grande mente conduzindo esse grande projeto
chamado Vida. Como disse Carl G. Jung em uma entrevista: “Tudo o que aprendi
levou-me, passo a passo, a uma inabalável convicção sobre a existência de Deus. Eu só
acredito naquilo que sei. E isso elimina a crença. Portanto, não baseio a Sua existência
na crença. Eu sei que Ele existe”. Enfim, quem observa a natureza com um olhar
realmente científico, isento de preconceitos, percebe a existência de Deus.

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Observemos agora a alma humana. A Psicologia é a ciência que estuda a psique,
analisando e registrando suas características mais profundas. A psique é um conjunto
das capacidades humanas interiores: consciência, personalidade, juízo, ética,
inteligência, pensamento, capacidade de aprendizado, motivações, sentimentos,
tendências, comportamento. A psique, também chamada de mente ou espírito, é em
resumo a nossa essência, as características que nos individualizam, nosso ser. E agora
pensemos: seria possível a existência de nossas complexas instâncias psíquicas com
base apenas em nossos órgãos físicos? Por mais complexo que seja o nosso cérebro, ele
não seria capaz de instanciar todas essas faculdades. Existe algo mais, uma causa que
gera esses efeitos. Algo não material, ou constituído de uma matéria mais sutil, de uma
matéria espiritual. Ou seja, a alma ou psique não é um efeito resultante das
funcionalidades físicas, mas a causa. A palavra alma, derivada do latim, significa aquilo
que anima, que dá a vida. A alma é portanto o princípio vital, a causa do
comportamento humano, e não um efeito.

Segundo o médico indiano Deepak Chopra, em seu livro “A Cura Quântica”, as


células do corpo humano são constantemente substituídas, como se fosse um prédio que
tem seus tijolos constantemente trocados, mas que mantém a mesma aparência pois é
sempre seguida a planta original. E dessa forma o ser humano “troca de corpo” várias
vezes durante a vida. Essa planta original não estaria presente apenas no DNA, mas no
espírito, que controlaria o corpo, e por isso seria possível a chamada “cura quântica”,
onde as pessoas poderiam encontrar a cura, mesmo de doenças graves, através de
práticas terapêuticas espirituais, como a meditação, a acupuntura e a ayurveda,
alcançando uma saúde integral. Essas práticas visam manter a camada física do corpo
em um estado de descanso, permitindo que a camada espiritual, ou seja, a alma, trabalhe
no restabelecimento da parte física. Enfim, nosso corpo é extremamente frágil. O que
nos mantém vivos e saudáveis é o nosso espírito, e a sua relação harmônica com o
universo. Esses conceitos de cura através da espiritualidade, saúde integral e equilíbrio
psíquico, são muito bem aceitos por todos, pois parecem bastante lógicos. E, mais do
que isso, eles têm funcionado, têm demostrado excelentes resultados. E por isso as
chamadas terapias holísticas fazem tanto sucesso hoje.

Mas ainda resta uma questão intrigante da espiritualidade: a alma sobrevive após a
morte do corpo físico? Pensemos: a alma é a causa da vida, aquilo que anima e dá vida
ao ser, e não um efeito, uma manifestação resultante dos mecanismos físicos. Se a alma
é aquilo que tem a capacidade de animar, de dar vida a um ser, é algo que é vida em si
mesmo. E aquilo que é vida em si mesmo pode morrer? O que seria vida em si? Um
conceito, uma consciência, um princípio. Mas qual a natureza desse princípio, do que
ele é constituído? A mesma natureza do ser criador da vida, Deus: uma natureza
espiritual. E aquilo que é de natureza espiritual morre? Acredito a princípio que não.

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Jung em uma entrevista disse o seguinte sobre a continuidade da alma: “Existem
faculdades especiais da psique que não são limitadas pelo espaço e pelo tempo. Você
pode ter sonhos e visões sobre o futuro, pode ver mais longe que as esquinas, apenas a
ignorância recusa esses fatos. É evidente que eles existem, e sempre existiram. Esses
fatos mostram que a psique, ao menos parte dela, não depende desses limites. E se a
psique não é obrigada a viver no tempo e no espaço, e obviamente não vive, então, até
tal ponto a psique não está sujeita àquelas leis, o que indica uma continuação prática,
uma espécie de existência psíquica, além do tempo e do espaço”.

Observemos também o curso das vidas humanas: os acontecimentos na vida de


cada um, as pessoas com quem nos ligamos no decorrer do caminho, as situações que
surgem à nossa frente. Em parte, as coisas acontecem de forma casual, mas também é
fato que acontecem coisas que parecem ter sido planejadas por uma esfera de
inteligência maior, parecem intervenções com algum objetivo. E esse conjunto de
situações que costumamos chamar de destino ou carma, gera um efeito claramente
observável nas vidas humanas: transformações comportamentais, que parecem ser enfim
o objetivo maior da vida. Ou seja, há evidências de que nossas vidas são fortemente
influenciadas por alguma inteligência não material, alterando nossos destinos para que
as necessárias transformações da alma ocorram. E, se há um propósito, um plano em
andamento observável, um objetivo, então obrigatoriamente há uma causa.

Então, se Deus realmente existe, criando e recriando a vida, pois não seria
possível o surgimento da vida de forma espontânea e aleatória, sem uma inteligência
promovendo essa complexa criação, e se também existe uma alma que anima a vida
humana, pois não seria possível a existência das complexas instâncias psíquicas do ser
humano considerando-se somente a existência de seus órgãos físicos, podemos concluir
que existem coisas não materiais, ou melhor, constituídas de uma matéria mais sutil, que
ainda não conhecemos bem, uma matéria espiritual. E se existe essa matéria espiritual,
da qual é constituído Deus, nossa alma e as criaturas celestiais, pode muito bem existir
todo um universo ou dimensão constituída dessa matéria, os mundos espirituais, e esses
mundos serem populados por milhares de espíritos.

Esses são conceitos filosóficos, ou seja, formulados com base na lógica, na


observação, na reflexão. Porém, paralelamente, os fenômenos mediúnicos nos colocam
frente a uma realidade espiritual, de uma forma surpreendentemente simples e real. A
mediunidade é a capacidade de “ver”, “ouvir” e “conversar” com espíritos. Ver, ouvir e
conversar entre aspas porque não são usados os órgãos físicos, mas uma linguagem de
espírito para espírito, como uma telepatia. Mas, como sabermos se esses contatos são
reais ou fruto da imaginação dos médiuns? A mediunidade se manifesta de forma nata,
na infância. Posteriormente o médium procura ajuda, cursos, orientações, para saber
lidar melhor com essa capacidade. Mas é algo que se manifesta naturalmente a

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princípio. Com um desenvolvimento orientado e disciplinado, o médium torna-se capaz
de interagir com os espíritos de forma benéfica a ambos os lados, e torna-se também
capaz de canalizar ou incorporar espíritos elevados, chamados de entidades, e atender
pessoas em consultas. E em muitos desses atendimentos, os consulentes apenas ouvem,
e ficam surpresos ao receber orientações muito adequadas aos problemas pessoais que
estão vivendo. Existem também os casos de atendimento mediúnico com a intenção de
contatar parentes falecidos. E em muitos desses atendimentos os parentes vivos ficam
convencidos de que tiveram um contato real com o parente falecido, em razão de
detalhes que somente a alma do falecido poderia responder. Os livros espíritas ou
psicografias, obras em que o autor é um espírito desencarnado que escreve o livro
através de um médium, apresentam conceitos morais muito avançados, revelações
surpreendentes muitas vezes, demonstrando que podem realmente terem sido originadas
em uma dimensão superior a nós.

Enfim, o contato mediúnico é um campo vasto, cheio de evidências da


espiritualidade, e cheio de polêmicas também. Eu mesmo sou médium, e percebo as
coisas espirituais desde a infância. E também sofri muito com as crises do “chamado”,
assim como sofri com as dificuldades por ser diferente. Não tinha quem me ajudasse ou
orientasse. Não no plano terreno. Já adulto, passei a frequentar o Espiritismo, a
Umbanda e o Candomblé, e isso me ajudou muito. Foram mais de 10 anos, em
atividades bem práticas, onde aprendi e me desenvolvi muito. E por ser médium,
entendo e acredito nos relatos de outros médiuns. Mas, como provar isso para as pessoas
que não são?

Paralelamente, nos últimos anos, dezenas de cientistas, principalmente médicos e


psiquiatras, têm se dedicado a pesquisas sobre fenômenos espirituais, num movimento
que podemos chamar de “ciência espírita”. Os principais temas dessas pesquisas são a
reencarnação, as atividades mediúnicas, as experiências de quase morte (EQMs) e as
experiências fora do corpo (EFCs). Um dos mais importantes desses cientistas, Ian
Stevenson, foi chefe do Departamento de Psiquiatria da Universidade da Virgínia, e
reuniu um banco de dados com mais de dois mil casos de memórias supostamente
reencarnatórias. Na maior parte dos casos eram crianças que lembravam com muita
lucidez de fatos de suas vidas passadas, com muitos detalhes, o que inclusive permitiu
investigações práticas onde Stevenson confirmava as lembranças como reais. Assim
como Stevenson, vários dos outros cientistas que pesquisaram esses temas acabaram se
deparando com fatos que levaram a uma conclusão positiva com relação à maioria dos
fenômenos.

O Dr. Brian Weiss, importante psiquiatra norte-americano, deparou-se com a


questão das vidas passadas em um dos tratamentos que estava conduzindo, e anos mais
tarde relatou o caso em seu best-seller “Muitos vidas, muitos mestres”. Uma de suas

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pacientes, Catherine, tinha sérios problemas de fobia e ansiedade, e não estava
respondendo ao tratamento convencional. O Dr. Weiss passou a utilizar sessões de
hipnose, a instruindo a voltar ao tempo em que seus sintomas começaram, e Catherine
passou a descrever diversas experiências de vidas passadas, em detalhes. Catherine
também passou a transmitir mensagem de espíritos altamente desenvolvidos durante as
sessões. A vida do Dr. Weiss mudou muito depois do episódio, e alguns anos mais tarde
ele passou a dedicar-se a cursos e palestras para instruir outros terapeutas e médicos na
chamada “terapia de vidas passadas” que hoje é conhecida em todo o mundo.

O Departamento de Psiquiatria da Universidade de São Paulo realizou muitas


pesquisas a respeito dos tratamentos médicos e psiquiátricos feitos em centros espíritas,
ou seja, tratamentos conduzidos supostamente por espíritos, através de médiuns. E os
resultados indicaram um alto nível de eficiência dos tratamentos, e, por conta disso, foi
criado o PROSER - Programa de Saúde, Espiritualidade e Religiosidade, com o objetivo
de pesquisar mais sobre essa relação, e aplicar os conhecimentos obtidos nos
tratamentos convencionais. Os resultados dessas pesquisas têm influenciado os médicos
a rever os conceitos dos tratamentos, priorizando a promoção de uma saúde integral, em
lugar de apenas combater a doença.

Em muitos casos de ressuscitação de pacientes de enfarte do coração, situação em


que o coração e o cérebro chegam a parar de funcionar, os pacientes costumam relatar
uma experiência fora do corpo. Contam que se sentiram flutuando, que puderam ver seu
próprio corpo “de fora”, toda a movimentação da sala médica e dos arredores.
Costumam relatar também visões de uma dimensão espiritual, paisagens, fortes luzes,
conversas com espíritos. É a chamada EQM - experiência de quase morte. Os casos são
muito frequentes, e centenas de médicos pelo mundo registraram os casos em pesquisas.

O foco dos cientistas é a questão “mente-cérebro”. A mente é o espirito ou alma, e


o cérebro, o órgão físico. Essas duas entidades existem, é um fato, pois pode-se listar as
propriedades de cada uma. A resposta que os cientistas têm buscado é: um pode viver
sem o outro? Os dados têm demonstrado que sim.

Enfim, a humanidade já tem à disposição uma quantidade suficiente de provas da


existência da espiritualidade. Mas para se alcançar uma fé verdadeira é preciso mais do
que satisfazer nosso raciocínio lógico. É preciso vivenciarmos a espiritualidade através
de uma experiência mística pessoal, quando sentimos, na essência de nossa alma,
reverberar a lembrança da maior das verdades: que o espiritual é a razão e a essência de
tudo que existe.

Quando uma pessoa percebe a existência da realidade espiritual por trás da vida
comum que conhecemos, as suas prioridades mudam. E por isso, possuir uma fé
verdadeira é uma questão fundamental, que divide a humanidade em dois: os que

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acreditam e os que não acreditam. E cada um desses dois grupos age de forma bem
diferente um do outro, com conjuntos de valores muito diferentes. Quem acredita
verdadeiramente na espiritualidade passa a priorizar a vida da alma. Passa a priorizar o
“ser” em lugar do “ter” e do “parecer”. Passa a ver todas as coisas da vida de forma
diferente: o trabalho, a família, o lazer, a sociedade, o dinheiro, tudo. Há um encontro
com o Sagrado, que maravilha, conforta e esclarece, aliviando as angústias e nos
apresentando uma nova perspectiva de vida. Mas a fé precisa ser verdadeira para causar
esse efeito. Mas, como adquirir uma fé inabalável? Primeiramente não se sentir
obrigado a acreditar sem provas, mas buscar pela verdade. E é possível encontrarmos,
através da reflexão lógica e da pesquisa científica, uma quantidade suficiente de
evidências.

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O Legado da Filosofia e das Religiões

Filosofia Grega: a Busca pela Verdade e o Cuidado com a Alma

“Sócrates no Leito de Morte”, de Jacques-Louis Daivid, 1787.

Pitágoras (571 a 490 a.C.) foi o precursor dos conceitos filosóficos espiritualistas.
Considerava a essência de Deus como a fonte de todas as formas da natureza. Deuses,
demônios e heróis eram emanações do Supremo, e havia uma quarta emanação, a alma
humana. A palavra demônio para os gregos não tinha o mesmo significado que temos
hoje. Daimon ou daemon significava um espírito protetor, intermediário entre os deuses
e os homens, ou seja, o equivalente atualmente ao anjo protetor. A alma humana era
imortal, e quando libertada do corpo passava à habitação dos mortos onde permanecia
até voltar ao mundo terreno, em um corpo humano ou animal, e, finalmente, depois de
suficientemente purificada, voltava à fonte de onde procedia. Essa doutrina da
transmigração de almas (metempsicose), egípcia de origem, é muito parecida com o
conceito de reencarnação encontrado hoje no Espiritismo e nas religiões orientais.
Ovídio, poeta romano de I a.C., explica a teoria de Pitágoras aos seus discípulos da
seguinte forma: "As almas não morrem jamais, mas sempre deixam uma morada para
passar a outra. Eu mesmo me lembro de que, na época da Guerra de Tróia, fui Eufórbio,
filho de Pantos, e caí pela lança de Menelau. Há pouco, visitando o templo de Juno em
Argos, reconheci meu escudo pendurado entre os troféus. Todas as coisas mudam, nada
perece.”

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Sócrates (496 a 399 a.C.) é considerado o patrono da Filosofia, a mais importante
figura da Filosofia Ocidental, principalmente por ter estabelecido sua diretriz
fundamental, a dialética, uma metodologia para se encontrar a verdade até hoje usada
pela Ciência. Na dialética de Sócrates tudo precisa ser questionado, todas as crenças. É
preciso se fazer todas as perguntas possíveis antes de qualquer resposta. Em sua cidade,
Atenas, muitos o chamavam de sábio, e Sócrates foi então se consultar com o famoso
oráculo de Delfos (uma mulher, a sibila), que perguntou-lhe: “O que você sabe?”. Ele
respondeu: “Só sei que nada sei”. O oráculo respondeu: “Sócrates é o mais sábio de
todos os homens, pois é o único que sabe que não sabe”.

A vida e filosofia de Sócrates foram registradas na obra de seu discípulo Platão:


os famosos “diálogos”. A espiritualidade é tratada de forma mais exclusiva no diálogo
“Fédon”, que descreve os ensinamentos dados por Sócrates aos seus discípulos e amigos
em seu último dia de vida. O tema central é a alma e sua imortalidade. Em razão dessa
constatação importantíssima, de que temos uma alma e que ela é imortal, e que inclusive
pode reencarnar, seria preciso então todo um cuidado em relação à saúde de nossa alma.
Seria preciso lutar contra os prazeres e contra os vícios do corpo, onde a alma está
condenada a viver, e de onde quer libertar-se. Essa libertação se daria pela busca do
conhecimento, no esforço dialético pelo bem e pela justiça. O filósofo seria aquele que
cuida da sua alma, pois percebe que a alma é mais importante que o corpo, procurando
desprender-se dos bens terrenos, desenvolver a sabedoria, observando e analisando o
funcionamento da natureza e o funcionamento da sua própria interioridade, sua psique, e
aplicando essa sabedoria em seu dia a dia. Ao analisar a natureza com uma
argumentação filosófica, a pessoa passaria a perceber a existência de uma causa
espiritual da vida, e a existência de leis que regem o bom funcionamento da vida. E
observando a si próprio, a pessoa perceberia a sua própria alma, e toda sua riqueza e
complexidade. Para Sócrates, os deuses eram mais sábios que os homens, e por isso
deveriam ser obedecidos, como um discípulo aprende com seu mestre e o obedece. Os
deuses mitológicos eram muito importantes e presentes na vida do povo grego da
Antiguidade. Os gregos dedicavam muito tempo em cultuá-los.

Esses assuntos fazem parte da Metafísica, a parte da Filosofia que busca por uma
visão total da vida e do universo. Já a Ética, outra disciplina fundamental da Filosofia,
trata da busca do comportamento humano ideal. Na Filosofia Clássica esse assunto foi
tratado principalmente por Zenão de Cítio (333 a 263 a.C.) o último dos grandes
filósofos gregos, criador do Estoicismo. Posteriormente, um filósofo da época do
império romano chamado Sêneca (4 a.C. a 65) fez um excelente resumo da ética
estoicista (e foi além) em seus tratados “Da Felicidade”, “Da Vida Retirada” e “Da
Tranquilidade da Alma”. Para Sêneca, o objetivo da vida é alcançarmos a felicidade e a
tranquilidade da alma. E para se conseguir isso seria preciso seguir certas regras
comportamentais básicas: separar muito bem o que é útil do que é inútil ou nocivo, ter

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estratégia de vida, segurança e autonomia, valorizar a vida retirada e a vida particular, e
valorizar a virtude. Vejamos mais detalhadamente essas regras comportamentais
segundo Sêneca:

Separar muito bem o que é útil do que é inútil ou nocivo: devemos trabalhar
somente em coisas verdadeiramente úteis, sejam elas atividades externas (públicas) ou
retiradas (filosóficas). Coisas úteis são aquelas proveitosas para o bem de muitos, se
não, a poucos, se não a esses, aos mais próximos, ou então a si mesmo. E,
simultaneamente, devemos eliminar de nossas vidas tudo o que é inútil ou nos faça
infeliz: a ambição, a ânsia por poder e bens materiais, os luxos e os prazeres excessivos,
as atividades incessantes, perturbadoras e sem objetivo. O sábio deve dedicar-se ao
realizável, e não empenhar-se em algo que não traga resultado. Ao dedicar-se a coisas
externas, não deve ignorar as coisas particulares. Ao desenvolvermos a virtude já
estamos fazendo o bem, pois a virtude não se esconde, emite seus sinais, e quem for
digno captará seus vestígios. A dedicação aos assuntos externos dependerá da
possibilidade de alguma realização útil. Se não for possível, melhor dedicar-se à
reflexão e à virtude. O bem supremo é viver de acordo com natureza. Devemos escolher
tarefas que sejam adequadas à nossa capacidade, sem nunca nos sobrecarregarmos com
algo acima de nossa capacidade. A uns cabe melhor atividades externas, a outros, as
reflexivas. Devemos fugir de empreitadas que não tem fim, que tragam muitos afazeres
e nenhum resultado. Não devemos trabalhar em coisas inúteis ou desnecessárias, nem
naquilo que não podemos conseguir, mas sim em coisas que realmente nos preparem
para o futuro. Dessa forma, também não devemos ajudar a quem quer sempre mais e
mais. Nas dificuldades, abandone as coisas que não podem ser feitas ou que sejam
muito difíceis, e dedique-se ao que é possível, e assim alimentando a esperança. O
único bem é a dignidade, e o único mal a desonestidade, sendo todo o restante um
aglomerado de coisas que não retiram nem acrescentam nada à felicidade humana.

Estratégia de vida, segurança e autonomia: a felicidade é alcançada com um


planejamento racional de uma vida em harmonia com o universo e com a natureza,
fonte de toda a vida. A tranquilidade pode ser obtida armando-se contra as desgraças,
com prevenção, em uma busca pela virtude e pelo aprimoramento espiritual. Devemos
determinar, em primeiro lugar, o que desejamos, e em seguida, por onde podemos
avançar mais rapidamente nesse sentido. E dessa forma não seremos influenciados pela
opinião da maioria, que, por sua vez, não tem juízo. Ou seja, é preciso autonomia de
pensamento, sem se deixar conduzir pelo que é frequentemente feito. A posse de bens
materiais não é maléfica a princípio. Apenas se levarem o indivíduo à sujeição.
Devemos escolher as pessoas que sejam dignas de nossa companhia, que tenham
respeito e apreço por nossa companhia, e evitando também aqueles muito maculados, ou
muito perturbadores do ambiente. Ser responsável por outras pessoas é sempre um fardo
pesado. Por isso devemos deixar todos livres, e dessa forma nos tornamos mais leves,

A Bíblia do Espiritualismo Página 19


livres e felizes. Precisamos ser responsáveis por nossas coisas particulares, não às
delegando a ninguém, nos apoiando sobre nossos próprios membros, com autonomia. A
felicidade consiste em uma alma livre, sem medo, e constantemente inacessível ao
temor e à ganância.

Valorizar a vida retirada e a vida particular: o afastamento das atividades externas


é essencial para o homem observar e julgar tudo pelo prisma do bem e da honestidade.
Esse afastamento deve ocorrer em segurança, em um conforto mínimo, e possibilita o
desenvolvimento filosófico, que é útil a todos. O descanso e o lazer são sagrados, e
devem ser cultivados diariamente, renovando assim a nossa estrutura física e espiritual.
Ninguém pode ser feliz se não tiver a mente sadia, e, certamente não a tem quem opta
por aquilo que vai prejudica-lo. É feliz, por isso, quem tem julgamento correto. Feliz é
aquele que, satisfeito com a sua condição desfruta dela. Feliz é quem entrega à razão a
condução de toda a sua vida.

Valorizar a virtude: o bem supremo é uma alma que despreza as coisas fúteis e se
satisfaz com a virtude. Olha a virtude com respeito, confia naqueles que, tendo-a
seguido durante toda a vida, demostram tratar-se de algo muito importante e que sempre
ganha novas dimensões de grandeza. A ela, como aos deuses e a seus oráculos, tal qual
sacerdote, venera. Sempre que forem lidos textos sagrados, mantém silêncio respeitoso
para ouvir. Os antigos recomendam seguir a vida melhor, e não a mais agradável, de
modo que o prazer se torne um aliado e não o guia da vontade digna e honesta. Onde
houver um ser humano, aí haverá possibilidade de fazer o bem. Sei que minha pátria é o
mundo e que os deuses o comandam, e eles estão acima de mim e ao redor, agindo
como censores de meus atos e de minhas palavras. Deve-se aceitar a morte: qual o
problema em retornar de onde se veio? A natureza trata melhor aqueles que aceitam a
morte como parte da vida. Quando a natureza solicitar o meu espírito, partirei dizendo
que sempre cultivei a retidão de caráter, e as melhores intenções, sem haver reduzido a
liberdade de ninguém, muito menos a minha. Qualquer pessoa que se proponha a fazer
isso estará trilhando a estrada que leva aos deuses.

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Xamanismo: a Viagem Espiritual

O Xamanismo é uma atividade espiritual praticada desde a Pré-História. Ela se


desenvolveu no dia a dia, da forma mais natural possível, o que a torna uma importante
e pura fonte de conhecimento espiritual. Os xamãs ou pajés são os responsáveis por
algumas das mais difíceis tarefas de suas comunidades: precisam cumprir os
importantíssimos papéis de médico, sacerdote e psicólogo. Para tão difícil missão, o
xamã precisa ter uma sólida base espiritual, uma espiritualidade plenamente
desenvolvida.

A primeira característica que define o xamã é a chamada “crise de iniciação”. É


quando uma pessoa diferencia-se em sua comunidade, ainda na infância ou
adolescência, ao passar por alguma doença grave, física ou psicológica, e sair dela vivo.
É o “chamado”, o sinal de que essa pessoa deve ser iniciada como xamã. E essa
iniciação poderá ser orientada por um mestre, ou seja, um xamã experiente, ou, em
muitos casos, conduzida de forma solitária e independente.

No rito de iniciação, o xamã precisa passar por um processo de morte-


renascimento, através de variadas técnicas. É um processo que permite ao iniciando
adentrar o universo espiritual, encontrar seus espíritos-guia, conectar-se a Deus e ao
universo. As técnicas envolvem períodos prolongados de isolamento e meditação, às
vezes utilizando também jejum e bebidas sagradas (alucinógenos naturais). O iniciado é
orientado principalmente a buscar contato com o “Grande Espírito”, Deus, e também
com seu espírito-guia pessoal. O ponto fundamental da iniciação é a morte-
renascimento. Um processo psíquico natural, onde o Eu, ao adentrar o mundo do
inconsciente, o mundo espiritual, vê seu corpo se deteriorando, se desmanchando, se
dissolvendo. Vê a si mesmo, morto, embaixo da terra, somente ossos. E então, com a

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ajuda do espírito-guia e do Grande Espírito, vê-se renascido, agora ciente da razão ou
causa espiritual por trás da vida.

Após a iniciação o xamã está pronto para atuar em sua comunidade. Mas, de
tempos em tempos, precisa se recolher outras vezes, utilizar de suas técnicas
transcendentais e assim manter sua força espiritual. Dentre as muitas técnicas que
utilizam, a viagem espiritual é a sua maior fonte de força, poder e conhecimento, e, não
por acaso, é também a sua mais importante forma de transcendência.

Na viagem xamânica existem três diferentes dimensões espirituais que são


visitadas: o mundo inferior, o mundo superior e o mundo intermediário. As viagens
podem ser horríveis e demoníacas, ou, divinas, maravilhosas e felizes. O objetivo é
quase sempre aprender. Aprender formas de cura, principalmente, mas também obter
informações importantes para a sobrevivência da comunidade, sobre caça, pesca e
agricultura, ou sobre guerras e disputas. Há também viagens com outros objetivos,
como a obtenção de energia espiritual, fazer pedidos de misericórdia aos deuses, ou para
guiar almas perdidas e doentes dos falecidos para locais espirituais de paz e repouso.

Abandonar o corpo e viajar por diferentes dimensões espirituais envolve alguns


riscos, como perder-se em caminhos desconhecidos ou ser atraído para dimensões de
trevas e loucura. Por isso, antes das viagens, o xamã passa por uma sólida preparação
que o torna santificado e resguardado pelo seu espírito guardião. A preparação em geral
envolve períodos de purificação, com silêncio, isolamento, meditação, orações, jejum.
Dessa forma, o espírito fica liberto de vibrações de baixo nível, ao mesmo tempo em
que o torna mais próximo das vibrações elevadas e dos espíritos mais nobres.

Segundo especialistas brasileiros, como Wagner Borges e Liliane Moura Martins,


as técnicas que promovem a viagem espiritual consistem principalmente de exercícios
de visualização, de imaginação controlada. Exercícios que ativam os chakras e nosso
lado espiritual, e, paralelamente, colocam nosso lado físico em estado de máximo
relaxamento. São trabalhados principalmente os chakras superiores – o chakra coronário
(no topo da cabeça) e o chakra frontal (o “terceiro olho”) – em exercícios que ativam
principalmente a glândula pineal, que fisicamente fica localizada bem no meio do
interior do cérebro (para o filósofo René Descartes (1596 a 1650, França), a glândula
pineal era um ponto de união entre corpo e alma, um órgão com funções
transcendentes). Outra característica das técnicas é procurar manter a consciência ativa
durante a viagem astral. Todos nós fazemos viagens espirituais eventualmente durante o
sono, mas quase sempre em um estado inconsciente, uma espécie de sonambulismo
espiritual. O que tornaria a viagem espiritual plena e benéfica seria realizá-la em um
estado espiritualmente consciente. Para isso é preciso exercitar a consciência
primeiramente no estado de vigília, estando atento a tudo o que acontece ao redor,

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mantendo a mente leve, livre de pensamentos e preocupações e totalmente desperta.
Com o exercício contínuo, ter a mente desperta, lúcida, aberta e consciente torna-se um
hábito, uma característica pessoal. E então é preciso desenvolver formas de manter essa
lucidez espiritual durante o sono, o que não é fácil. Um dica é praticar a meditação e a
prece todos os dias antes de dormir, de tal forma que você adormeça em um bom e
elevado estado espiritual.

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Hinduísmo e Yoga: Nossa Alma é uma Parte de Deus

A religião mais antiga da humanidade, o Hinduísmo, teve seu início por volta de
4000 a.C., mas suas práticas só foram registradas por volta de 2000 a.C., em suas
primeiras escrituras, os Vedas. Por volta de 500 a.C. digamos que o Hinduísmo evoluiu
para uma filosofia, para uma metafísica, com o nascimento dos Upanishads, obras
filosóficas espiritualistas que até hoje são importantes fontes de estudo para a Filosofia
e a Psicologia.

Os estudiosos costumam classificar o Hinduísmo não como uma religião, pelo


fato de não ser uma instituição com um comando central, dogmas e doutrinas, mas
como o conjunto da cultura indiana: seus costumes, suas crenças, sua visão do mundo,
sua filosofia. É importante frisar isso nos tempos atuais, em que as religiões são
gigantescas instituições estruturadas e mostram-se muitas vezes adoecidas pelo
fanatismo e pela ausência de conteúdo espiritual.

Em sua essência, o Hinduísmo ensina que nossa alma é uma parte de Brahman, o
Deus Supremo. Essa alma divina, chamada atman ou purusha, é um si-mesmo
transcendente, um Eu maior, que precisa se realizar durante a vida terrena. Caso
contrário, a alma precisa reencarnar inúmeras vezes, até conseguir a realização do atman
e a eliminação do carma negativo, e, dessa forma, libertar-se da “roda das encarnações”,
o samsara. O atman reside em nosso inconsciente profundo e só começa a ser realizado
de fato quando a pessoa desperta para o desenvolvimento espiritual.

Toda a filosofia e prática hinduísta gira em torno da realização do si-mesmo


transcendente, esse Eu maior, o atman. Para o Hinduísmo, não há nada mais sagrado e
importante do que isso. A partir dessa necessidade, surge o Yoga: um conjunto de
práticas com o objetivo de evolução espiritual, de um desenvolvimento psíquico, de
uma melhoria constante da alma, aproximando-a cada vez mais de Deus. A palavra

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Yoga, do sânscrito, significa união. Ou seja, o Yoga busca a união de nossa alma com
Deus.

Por volta de 400 d.C. Patanjali organizou os conhecimentos nos Yoga Sutras,
dividindo-os em oito etapas:

Yamas: conduta moral e ética. Em sânscrito significa “restrição” e é um código de


conduta. Existem dez yamas: não violência, verdade, honestidade, continência sexual,
paciência, força, moral, gentileza, moderação alimentar, e evitamento de impurezas no
corpo, na fala e na mente.

Niyamas: conduta disciplinar. Existem dez niyamas ou observâncias: austeridade,


contentamento, crença em Deus, caridade, veneração a Deus, escutar as explicações das
doutrinas, modéstia, discernimento, repetição das preces e sacrifícios.

Asanas: posturas psico-físicas. São as posturas do Yoga. Quando se realiza a


postura correta, as forças do corpo são equilibradas, a respiração fica mais lenta e
meditação facilitada.

Pranayamas: práticas respiratórias, controle do prana. Tornar a respiração mais


lenta, de modo a segurar a respiração entre a inalação e a exalação é o segredo do
pranayama.

Pratyahara: abstenção dos sentidos. O afastamento das distrações do mundo dos


sentidos por meio da concentração profunda.

Dharana: concentração, acalmar a mente. Concentrar-se em um chakra de cada


vez é uma excelente maneira de desenvolver dharana.

Dhyana: meditação. A meditação ininterrupta na qual não existe um ponto fixo


(tal como um chakra) em que vamos meditar. É um estado de calma profunda, em que
começa a experiência da bem-aventurança.

Samadhi: iluminação. O estado de completo equilíbrio e autorrealização, em que


nos tornamos livres do egoísmo, do tempo e do espaço.

Entre as muitas escolas de Yoga que surgiram, o Kundalini Yoga (ou Tantra
Yoga) foi uma das que mais teve êxito nesse propósito. Para o Kundalini Yoga, existem
sete fases ou estágios de evolução espiritual e cada uma delas possui um símbolo
sagrado, os chamados chakras. Cada chakra tem uma rica carga de significado em sua
simbologia, para descrever com detalhes as características de cada estágio.

A Bíblia do Espiritualismo Página 26


O surgimento do Tantra marcou uma grande mudança no Yoga: as escolas
tradicionais trabalhavam apenas com a energia do prana, a energia espiritual, de caráter
masculino, através do ascetismo, ou seja, do afastamento das atividades mundanas, com
jejuns de comida, bebida, sexo e outras atividades, e com a devoção a divindades
exclusivamente masculinas. O Tantra Yoga passou a divinizar “Shakti”, que significa
divindade feminina geral, aboliu as práticas ascéticas, priorizando o desenvolvimento
espiritual através das práticas humanas cotidianas (ao invés de evitá-las), e começou a
trabalhar com a energia chamada kundalini, e, dessa forma, estabelecendo um novo
conceito: o equilíbrio viria de dois fluxos de energia: o prana, vindo de céu e indo para a
terra, e a kundalini, vindo da terra e indo para o céu.

A kundalini é a energia espiritual manifesta, ou seja, uma energia física, a energia


primordial que possibilitou o surgimento da matéria e da vida. Enquanto que Brahman é
a consciência cósmica ou universal. A kundalini, a energia física, de natureza feminina,
quer se encontrar com Brahman, a consciência, de natureza masculina. A kundalini
reside adormecida em muladhara, o primeiro chakra, o primeiro estágio de evolução da
alma. Nesse estagio, a alma ainda não despertou, não percebeu o mundo espiritual e o
caminho que precisa percorrer. Mas, quando despertada, a kundalini inicia seu percurso
através dos chakras, percorrendo as fases de desenvolvimento espiritual, partindo da
Terra em direção ao Céu, conduzindo o Eu pelos estágios de evolução, em busca de seu
objetivo: a união com Brahman.

Eis os sete chakras, representantes das fases de evolução da alma, e suas


características principais, segundo os conceitos do Kundalini Yoga:

Muladhara: as raízes no mundo material, os instintos de sobrevivência e o


aprisionamento nas convenções sociais do mundo humano. É a residência da kundalini,
em estado adormecido. É associado ao elemento terra. É o chakra da sobrevivência, e é
bloqueado pelo medo.

Svadhisthana: o mundo do inconsciente. Conduzido pela kundalini despertada, o


Eu chega ao lugar da transformação, da morte-renascimento e da iniciação espiritual.
Nesse processo o Eu precisa atravessar as “profundezas do oceano”, o mundo
inconsciente e espiritual, dissolver-se e renascer ciente do mundo espiritual. É associado
ao elemento água. É o chakra do prazer, e é bloqueado pela culpa.

Manipura: a jornada do herói na batalha contra seus inimigos internos, as


emoções: a raiva, o ódio, o medo e a tristeza. Se essa etapa é plenamente vencida o Eu
fica livre das emoções, carregando consigo apenas pensamentos e sentimentos, e pode
então adentrar anahata. É associado ao elemento fogo. É o chakra da força de vontade, e
é bloqueado pela vergonha dos fracassos.

A Bíblia do Espiritualismo Página 27


Anahata: o encontro do Eu com o atman (o Eu maior): a conscientização do
sagrado, do Eu maior e de sua profunda ligação com as Leis Universais. É quando se
toma consciência de sua verdadeira função no universo e do verdadeiro significado do
amor: proteger e incentivar a vida. É associado ao elemento ar. É o chakra do amor, e é
bloqueado pelo sofrimento, pela tristeza.

Chakras superiores, associados ao elemento éter, o elemento espiritual:

Vishuddha: é quando o mundo espiritual torna-se a realidade primordial. É o


chakra da verdade, e é bloqueado pelas mentiras (que contamos a nós mesmos).

Ajna: é onde ocorre a união completa do Eu com o atman (o Eu maior), e os


mundos material e espiritual tornam-se um só. É o chakra da percepção, e é bloqueado
pelas ilusões.

Sahasrara: onde ocorre a união do Eu com Brahman, o Deus Supremo. É o chakra


da energia cósmica pura, e é bloqueado pelos apegos materiais.

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Taoísmo: o Caminho do Universo e a Eliminação do Orgulho

O Taoísmo é a mais tradicional religião da China e influenciou muito as demais


religiões orientais. É baseada no livro Tao Te Ching, de Lao Tsé, e foi escrito entre 350
e 250 a.C.. “Tao Te Ching” significa “O Livro do Caminho e da Virtude”. É um livro
pequeno e simples. O “Tao” é o “Caminho”, a origem de todas as coisas, a razão
espiritual por trás da vida e do universo. “Te” significa virtude, e “Ching”, livro
clássico.

O conceito central é a eliminação do orgulho, da intenção, dos desejos, da vontade


de poder, do ego (no sentido de orgulho) e do excesso de pensamentos. Dessa forma a
mente ficaria calma como a água de um lago, e seria possível então a manifestação do
Sagrado, do elevado, do espiritual, do Tao.

A simplicidade no viver seria portanto fundamental, possibilitando assim a


naturalidade do ser. Segundo Wu Jyh Cherng, um dos principais tradutores do Tao Te
Ching para o Português, é preciso “esvaziar-se e ser natural como a água que flui no
vale”, e dessa forma possibilitar uma vida em que as maravilhas do Tao se manifestam.

Dentre os ensinamentos de Lao Tsé, existem os “três tesouros fundamentais”: a


humildade, a simplicidade e a afetividade. A humildade é o total inverso do orgulho. O
orgulho é o maior empecilho no desenvolvimento espiritual, bloqueando qualquer
possibilidade de contato com o Tao.

A expressão “wu wei” está presente ao longo de todo o livro e significa “não-
ação”, no sentido de ação sem intenção. Somente através da ação sem intenção seria
possível contemplar as maravilhas, ou seja, as manifestações do Caminho.

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O verso 22 do Tao Te Ching, na tradução-versão de José Laércio do Egito, é bem
famoso, e resume bem o conteúdo do livro:

“Aquele que conhece o outro é sábio. Aquele que conhece a si mesmo é


iluminado. Aquele que vence o outro é forte. Aquele que vence a si mesmo é poderoso.
Aquele que conhece a alegria é rico. Aquele que conserva o seu caminho tem vontade.

Seja humilde, e permanecerás íntegro. Curva-te, e permanecerás ereto. Esvazia-te,


e permanecerás repleto. Gasta-te, e permanecerás novo. O sábio não se exibe, e por isso
brilha. Ele não se faz notar, e por isso é notado. Ele não se elogia, e por isso tem mérito.
E, porque não está competindo, ninguém no mundo pode competir com ele.”

Outro conceito fundamental do Taoísmo é a dualidade da natureza do universo,


simbolizada no diagrama Taiji, o famoso símbolo Yin-Yang. Yin é o princípio
feminino, a água, a passividade, escuridão e absorção. E Yang é o princípio masculino,
o fogo, a luz e a atividade. Em razão dessa dualidade presente no alicerce do universo,
tudo na vida teria dois lados, e ambos precisariam estar em harmonia, que é o contrário
da guerra, da disputa e da competição. Nas práticas taoístas, como o Tai Chi Chuan (luta
sublime), uma espécie de yoga chinesa, são sempre exercitadas a aceitação das diversas
forças em ação no universo e a paz interior. Deve-se sempre aceitar e interagir
pacificamente com as forças contrárias, evitando-se sempre o embate, a luta, a disputa.

O “Homem Sagrado” é outro conceito básico do Tao Te Ching: um estado de


elevação espiritual e plenitude em que o ser alcança a “união da Consciência Pura com a
Vida Infinita”:

“O Homem Sagrado realiza a obra pela não-ação (a ação sem intenção). E pratica
o ensinamento através da não-palavra (a palavra sem intenção).”

“O Homem Sagrado governa (tem controle sobre si). Esvazia seu coração (sua
razão, sua emoção, sua intenção). Enche seu ventre (sua vitalidade). Enfraquece suas
vontades (seus desejos). Robustece seus ossos (sua estrutura psíquica, sua alma).”

Outro livro sagrado do Taoísmo é I Ching, um antigo sistema oracular chinês.


Semelhante a outros oráculos, é composto de 84 hexagramas ou destinos. São usadas
três moedas chinesas (yin de um lado, yang do outro), em seis jogadas, para se tentar
descobrir qual dos 84 hexagramas é o destino da pessoa. As descrições desses
hexagramas são muito ricas, cheias de significados arquetípicos, e por isso o I Ching foi
muito estudado por psicólogos como Richard Wilhelm e Carl G. Jung.

A Bíblia do Espiritualismo Página 30


Mediunidade, Espiritismo, Umbanda e Candomblé

Em 1857 era publicado “O Livro dos Espíritos”, de Allan Kardec (1804 a 1869 -
França), apresentando ao mundo esclarecimentos sobre os mais diversos assuntos, com
base nos ensinamentos dados diretamente pelos espíritos, por via mediúnica. A chamada
“Doutrina Espírita” integra conceitos científicos, filosóficos e religiosos, e trata da
"natureza, origem e destino dos Espíritos, bem como de suas relações com o mundo
corporal e as consequências morais que dela dimanam".

A mediunidade é hoje um conceito bastante popular. A grande maioria já sabe do


que se trata: a capacidade de contato com a dimensão espiritual, nas mais diversas
formas. A questão que ainda está envolta em mistério é: o que fazer com a
mediunidade? Em que ela pode nos ajudar, ou atrapalhar? Segundo o Kardecismo, todos
têm algum nível de mediunidade, todos nós somos espíritos, e por isso somos todos
capazes de perceber o mundo espiritual, mesmo que seja em um grau menor. Mas os
chamados “médiuns” possuem um grau elevado de percepção espiritual, e enxergam os
fatos espirituais quase que com a mesma clareza com que as pessoas comuns enxergam
os fatos materiais.

Além dessa capacidade, uma outra característica é bastante comum entre eles: o
trabalho intenso pela melhoria da humanidade, através da ajuda direta às pessoas em
sofrimento, e através do ensino da sabedoria espiritual. São pessoas com uma “missão a
cumprir da Terra”, como os próprios médiuns dizem. Estão sempre envolvidos, com
grande empenho, em alguma atividade de caridade, de auxílio aos que necessitam de
orientação, de ajuda ou de cura.

Os médiuns são pessoas que atravessaram o “portal”, passaram pela iniciação que
ocorre interiormente, psiquicamente. Passaram por uma crise de iniciação semelhante à
do Xamã, passaram pelo processo de morte-renascimento, atravessaram as “grandes
ondas” e as “profundezes do oceano” do inconsciente, pelo batismo, “o renascimento da
água e do espírito”, na vida presente, ou em alguma encarnação anterior. E por isso
percebem o mundo espiritual.

A Bíblia do Espiritualismo Página 31


O médium, como o próprio nome sugere, é um intermediário. São pessoas que se
dispõem a servir como instrumento para a ação de espíritos de elevado grau. Os
médiuns estão sempre vinculados à ação dos seus guias espirituais, seus mentores, seus
mestres. Enfim, os médiuns são pessoas com um nível de desenvolvimento espiritual
mais elevado que a média da humanidade, pois já possuem um bom conhecimento das
leis universais, e estão por isso iniciando como aprendizes no ofício de ser um
trabalhador de Deus, como são os guias espirituais, os anjos e as divindades. Ao
servirem de instrumento da ação desses guias, os médiuns vão aprendendo esse ofício
sagrado de ajudar os que sofrem. Então, considerando a hierarquia dos gregos, que
divide o mundo em homens, heróis e deuses, os médiuns seriam então os nossos heróis,
intermediários entre os humanos comuns e os deuses, como são também os xamãs e os
“iluminados” ou “despertos” das religiões orientais.

Ser médium significa trabalho duro, disciplina, entrega, caridade,


desenvolvimento moral e desenvolvimento da sabedoria. Em resumo, não é uma vida
fácil. Por outro lado, os seres elevados do mundo espiritual orientam todo esse processo.
A começar, são os espíritos que percebem que uma pessoa já tem condições de
“trabalhar na espiritualidade”, como dizem os médiuns, e passam a tentar entrar em
contato, enviar mensagens, enfim, convocar a pessoa para essas novas atividades. E no
decorrer do caminho da espiritualidade, são também os espíritos que orientam todo o
trabalho a ser realizado.

A mais conhecida forma de mediunidade é a incorporação ou canalização, quando


um espírito age através do corpo do médium. Esse tipo de mediunidade é a base das
práticas religiosas na Umbanda e no Candomblé. No Espiritismo Kardecista costuma-se
praticar a psicografia e algumas outras formas de mediunidade, mas raramente a
incorporação. E por isso inclusive, no Kardecismo, a principal atividade é o estudo, a
leitura e interpretação dos livros psicografados, como os de Chico Xavier e Zíbia
Gasparetto, e, principalmente, dos livros do próprio Kardec.

O Candomblé é a recriação da religiosidade africana no Brasil. Os negros


escravizados procuraram manter vivas suas tradições religiosas, com muita dificuldade
obviamente. O culto é extremamente musical, com a batida dos atabaques como base, e
todos dançando e cantando as homenagens aos espíritos de seus ancestrais. Os
participantes formam uma grande roda, que vai lentamente girando, no sentido anti-
horário. Na dança individual, os médiuns também giram às vezes em torno de si,
também no sentido anti-horário, e procuram imitar os passos de dança dos espíritos.
Esse giro ajuda a receber o axé, a luz divina, que vêm do Céu em direção à Terra,
girando no sentido horário. No decorrer da dança ocorrem as incorporações, e o médium
incorporado vai para dentro da roda, permitindo que a entidade ancestral faça sua dança

A Bíblia do Espiritualismo Página 32


através do corpo do médium, e emita suas irradiações de energia espiritual que podem
ser sentidas pelos presentes.

O panteão afro-brasileiro, os orixás, forma, na minha opinião, a mais rica


mitologia arquetípica do mundo. Digo isso porque é o grupo de divindades mais
ricamente descrito em características de personalidade, e um dos que mais se adequam
às personalidades encontradas nos seres humanos. Os africanos no geral os veem como
antepassados físicos, biológicos. Mas eles contém elementos universais, e obviamente
fazem parte do inconsciente coletivo. São ancestrais da humanidade. E os arquétipos,
esses ancestrais psíquicos da humanidade, participam ativamente no processo de
desenvolvimento da personalidade, na evolução da alma. E por isso essa questão é
tratada em profundidade no capítulo “Os Arquétipos do Inconsciente e as Mitologias:
Signos Astrológicos e Orixás”.

O povo ioruba, etnia africana que mais influenciou na formação do Candomblé,


possui uma definição muito rica a respeito da alma. Segundo Reginaldo Prandi,
sociólogo especialista em religiões afro-brasileiras, na concepção do povo iorubá, o
espírito é formado de várias subunidades, cada uma com existência própria: o sopro
vital ou emi, a personalidade-destino ou ori, a identidade sobrenatural ou identidade de
origem que liga a pessoa à natureza, ou seja, o orixá pessoal, e o espírito propriamente
dito ou egum. Essas subunidades precisam estar integradas no todo que forma a pessoa
durante a vida, tendo cada uma delas um destino diferente após a morte.

O emi, sopro vital que vem de Olorum (o senhor do céu), e que está representado
pela respiração, abandona na hora da morte o corpo material, fabricado por Oxalá, o
orixá maior, sendo reincorporado à massa coletiva que contém o princípio genérico e
inesgotável da vida, força vital cósmica do deus-primordial Olodumaré-Olorum. O emi
nunca se perde e é constantemente reutilizado. O ori, chamado também de cabeça,
contém a individualidade e o destino, e desaparece com a morte, pois é único e pessoal,
de modo que ninguém herda o destino de outro. Cada vida será diferente, mesmo com a
reencarnação. O orixá individual, que define a origem mítica de cada pessoa, suas
potencialidades e tabus, origem que não é a mesma para todos, retorna com a morte ao
orixá geral, do qual é uma parte infinitésima. Finalmente, o egum, que é a própria
memória do vivo em sua passagem pelo aiê (a vida terrena), representante da identidade
plena do ser e de sua ligação social, biográfica e concreta com a comunidade, vai para o
orum, o mundo espiritual, podendo daí retornar, renascendo no seio da própria família
biológica.

Enfim, no Candomblé, saúde e equilíbrio são obtidos através da integração das


partes do espírito: ori, orixá e egum. O sacerdote busca formas de equilibrar essas partes
com o objetivo maior de construção da pessoa. O primeiro passo é cuidar do ori, a

A Bíblia do Espiritualismo Página 33


cabeça, a personalidade-destino, com uma limpeza, eliminando as cargas negativas
acumuladas nessa ou em outras vidas. Além de banhos de ervas e rituais, o sacerdote faz
uma espécie de análise, como da Psicologia, para harmonizar a cabeça da pessoa.
Depois é feito o bori, uma oferenda (ebó) ao ori, num ritual em que a pessoa fica
recolhida por alguns dias, desligada do mundo, concentrando-se no restabelecimento do
seu ori. Garantir que o ori esteja equilibrado é essencial para a continuidade do
processo.

O segundo passo é cuidar do orixá, a divindade que nos guia pela vida, em um
ritual semelhante chamado feitura. O orixá, quando não devidamente cuidado, pode
dominar a vida da pessoa, anulando o Eu, de forma que a pessoa torna-se apenas um
veículo de manifestação do orixá, e não mais um indivíduo, com autonomia e juízo.
Quando uma pessoa é “cuspida e escarrada o orixá”, como se diz popularmente, o
sacerdote considera isso um caso grave, muito prejudicial, e que precisa de uma
intervenção urgente: cuidar do orixá. Com a harmonização do orixá, a pessoa pode
usufruir da força, qualidades e orientações do orixá, sem perder sua autonomia. Esse é
portanto um dos principais objetivos da feitura: a maior parte dos casos em que o
sacerdote indica esse ritual é exatamente em razão dessa chamada “cobrança do orixá”.

Com a harmonização do ori e do orixá, o axé, a energia espiritual vital, passa a


fluir em nosso ser, nos dando saúde, vitalidade, lucidez e força. Ori e orixá são partes
“temporárias” do nosso espírito. Quando morremos elas retornam ao lugar de onde
vieram. O que permanece é o egum, nossa alma, nosso Eu, que vai seguir pela
eternidade em sua tarefa de desenvolvimento, vivendo ora no mundo espiritual, ora
reencarnando no mundo terreno.

O sistema oracular, o jogo de búzios, tem um papel fundamental no Candomblé. É


usado para se descobrir os orixás regentes da pessoa, e, principalmente, para se
descobrir o odu, ou seja, o destino. Existem 16 odus possíveis (que podem se desdobrar
em 256), cada um com uma rica descrição arquetípica de um destino. O sacerdote lança
um conjunto de 16 búzios em uma peneira, e vai observando os lados que ficam para
cima (um é fechado o outro aberto), e, interpretando essas jogadas (com ajuda dos
orixás Ifá e Exu), vai assim descobrindo os orixás-guia e o destino do consulente.

Na mitologia afro-brasileira existe uma alegoria que explica muito bem a essência
da espiritualidade, e diz mais ou menos o seguinte: o caminho das águas começa dentro
da terra, onde a água está como um feto no ventre materno. Mas uma força a leva para a
flor da terra, e depois para a busca de um rio. Esses são os domínios de Nanã e Obá.
Nos rios, que unem águas de muitas fontes, tomam grande volume. São os domínios de
Oxum e Xangô. Mas uma força as leva para o mar, domínio de Iemanjá, que tem Ogum
como guardião. Um mundo novo, só de água. Mas o caminho não acaba aqui. A força

A Bíblia do Espiritualismo Página 34


do sol causa a evaporação, domínio de Euá. Agora no ar, novamente em um mundo
novo, são arrastadas e reunidas pelo vento, domínio de Iansã. No alto do céu, reunidas,
recebem as ordens de orixás ainda mais antigos, viram água de novo, e voltam para terra
para começarem um novo xirê. Essa alegoria é mitológica, e obviamente não deve ser
tomada ao pé da letra, mas é preciso extrair dela sua enorme riqueza simbológica. Os
orixás não controlam os fenômenos físicos, mas sim, os espirituais. O "caminho das
águas" é uma simbologia do caminho que almas devem percorrer, com suas várias
etapas.

A Umbanda nasceu de uma fusão de várias religiões, mas principalmente do


Candomblé. O povo brasileiro branco-indígena se identificou e se encantou com a
religião dos negros, e fez a sua própria versão. Nela foram incorporados também
elementos das religiões indígena e cabocla, católica e kardecista. Mas a essência
candomblecista permaneceu: a gira, a música, as incorporações, as oferendas aos orixás.
Mas algumas diferenças foram surgindo, dando origem a novos e importantes conceitos
espirituais.

Na Umbanda as entidades vêm para trabalhar, e não apenas para serem


homenageadas. Os caboclos, pretos-velhos, baianos e marinheiros vem à Terra, através
dos médiuns, para realizar um trabalho de caridade, ora para saudarem suas dívidas
cármicas, ora para avançarem na evolução espiritual. Mas o trabalho de caridade,
através das consultas, é uma constante. E da mesma forma que as entidades espirituais
mantêm-se em evolução espiritual constante, principalmente através do trabalho de
caridade, assim devem seguir seus médiuns, que são também seus aprendizes. Ou seja,
existe na Umbanda esse conceito de mestre-discípulo, a exemplo de antigas ordens
espirituais, mas o mestre normalmente é um espírito, o espírito-guia do médium.

Os rituais de iniciação da Umbanda são em geral os mesmos do Candomblé (que


por sua vez assemelham-se também aos do Xamanismo): os recolhimentos, a
preparação do ori, a feitura do orixá, e a cerimônia pública, a “saída do orixá”. Após a
saída o médium é chamado iaô a e ganha a permissão para atender os visitantes do
terreiro em consulta.

No calendário anual, os principais orixás são cultuados em grandes eventos,


festas, onde todos os participantes, mesmo aqueles que não são “filhos” do orixá
homenageado, vivenciam o “enredo” ou “ingorossi” do orixá, ou seja, as suas
características de personalidade e seus ensinamentos. Em Janeiro, Oxossi, o senhor da
floresta, nos ensina a prover a fartura para nossa família. Em Abril, Ogum, o grande
guardião, o grande herói, nos ensina a matar o dragão e a vencer o mal (que, na maioria
das vezes, está dentro de nós mesmos). Em Agosto, Obaluaê nos ensina sobre as
transformações espirituais e sobre a cura das doenças. Em Dezembro, Iemanjá, a grande

A Bíblia do Espiritualismo Página 35


mãe, nos ensina a iniciação espiritual, na travessia da “noite escura” ou das
“profundezas do mar”. E muitas outras festas e vivências espirituais podem ocorrer ao
longo do ano: Cosme e Damião (as Crianças ou Erês), Pretos-Velhos, Caboclos, etc.

Enfim, a Umbanda nos oferece novos conceitos espirituais, riquíssimos em


significado, e revivem uma religiosidade natural, como é o Xamanismo. São práticas
que realmente tocam as questões fundamentais da espiritualidade, ou seja, o caminho de
desenvolvimento espiritual, com suas fases, e cada uma dessas fases com suas
características e desafios, sempre em torno de uma transformação psíquica.

Como todas as religiões, a Umbanda e o Candomblé também sofrem suas crises.


A chamada “hipertofia ritual” está muito presente e crescente. Trata-se de um
crescimento exagerado da ritualística física, em paralelo a uma diminuição das
vivências espirituais ou psíquicas (que em geral independem de rituais com coisas
materiais), e a uma diminuição do entendimento dos conceitos e significados por trás
dos rituais. As religiões afro-brasileiras também sofrem muito com as disputas de poder,
sempre presentes nas sociedades humanas, e sempre nocivas e destruidoras. E isso
inclui, além das disputas internas dentro dos terreiros, as disputas ou separações entre o
Candomblé (mais negro) e a Umbanda (mais branca), o que é muito enfraquecedor.

Talvez o melhor caminho seja uma unificação dessas tradições com tanto em
comum, formando assim um culto forte e completo. Talvez também incluindo
elementos do Kardecismo, das religiões orientais e das práticas terapêuticas holísticas, o
que de fato tem acontecido com muitos templos de sucesso, os chamados “Templos
Espiritualistas”. O mais importante para o sucesso de um templo é priorizar a vivência
essencialmente espiritual, em detrimento das ritualísticas demasiadamente físicas, e das
disputas e da sede de poder que sempre corroem as religiões e a humanidade.

A Bíblia do Espiritualismo Página 36


O Legado da Psicologia de Carl G. Jung

Carl Gustav Jung (1875 a 1961, Suíça) foi um dos mais importantes nomes da
Psicologia, talvez o maior, em razão da profundidade e abrangência de suas descobertas.
Formou-se em Medicina (especialização em Psiquiatria) em 1900. Em 1907 une-se a
Sigmund Freud (1856 a 1939, Áustria) e ajuda na divulgação da recém-nascida
Psicanálise, e, em 1910, torna-se o primeiro presidente da Associação Psicanalítica
Internacional. Mas a partir de 1913 passa a trabalhar em suas próprias teorias e
metodologias, a Psicologia Analítica, rompendo relações com Freud e a Associação
Psicanalítica Internacional. Para Freud, quase tudo que existia na psique humana estava
relacionado à sexualidade, e não havia mais nenhum impulso ou motivação. Mas para
Jung, existia muito mais coisas a serem investigadas, existiam outras motivações
humanas além de impulso sexual.

Em um de seus primeiros livros, “Tipos Psicológicos”, Jung deixa claro que as


pessoas são muito diferentes, que não há um padrão único de comportamento, e que não
há problema nenhum nessa diversidade, ao contrário, isso torna tudo mais harmônico e
natural. O desenvolvimento da própria individualidade seria portanto a base de um ser
saudável, e por consequência de uma sociedade saudável. Cada um deveria então
descobrir e torna-se quem realmente é, no fundo de sua psique.

Jung percebeu, analisando o inconsciente de seus pacientes, a existência de


modelos prototípicos de personalidade, o arquétipos, e a sua importante influência sobre
a formação da personalidade. Pesquisando mais a questão, percebeu alguns padrões: os
arquétipos que viviam no inconsciente das pessoas faziam parte de um conjunto básico.
E esse conjunto básico tinha extrema similaridade com as divindades encontradas nas

A Bíblia do Espiritualismo Página 37


mais diversas mitologias do mundo e da História. Isso o levou à tese do inconsciente
coletivo: uma camada psíquica profunda comum a todos os seres humanos, composta
por arquétipos.

Jung elaborou também uma excelente teoria de desenvolvimento da


personalidade: a individuação. Segundo essa teoria, existe um arquétipo principal
chamado self (si-mesmo em português) que contém um projeto completo para a
formação da personalidade. Mas, antes de alcançar esse estágio de plenitude e
autorrealização, o Eu (chamado também de ego) teria que passar por algumas etapas
obrigatórias: trazer para a consciência conteúdos do inconsciente, incluindo os mais
sombrios, confrontá-los na consciência, compreendê-los, e assim dominá-los. Superar o
individualismo do ego e conscientizar-se de questões coletivas. Livrar-se da persona, a
máscara que usamos para nos adequarmos às convenções sociais. E, principalmente,
seguir as orientações de formação da personalidade vindas do self. Ao final, a
personalidade se tornaria o que nasceu para ser, aquilo que o universo havia planejado
para ele.

Ciente de que existia de fato esse caminho de desenvolvimento da alma, Jung


buscou por outras teorias que trabalhassem essa questão, e encontrou respostas nas
muitas religiões e filosofias espiritualistas, como a Alquimia Medieval: uma teoria
baseada em símbolos, os quais tinham a função de representar as transformações pelas
quais a alma humana deveria passar para se tornar mais pura, menos densa e material,
mais etérea e espiritual.

Já com a teoria da individuação bem amadurecida, Jung teve contanto com o


Hinduísmo, e fez uma descoberta fascinante: os conceitos de uma prática chamada
Kundalini Yoga eram extremamente similares à sua teoria da individuação. No
Kundalini Yoga as fases de desenvolvimento eram representadas por sete símbolos
complexos, riquíssimos em significado: os chakras. E as características dessas fases
eram semelhantes às fases de suas teorias. Em razão disso, Jung estudou a fundo o
Kundalini Yoga e os princípios gerais do Hinduísmo, inclusive vivendo por alguns
meses na Índia. Desses estudos derivaram muitos livros, e os seminários apresentados
em 1932, em Zurique, “A Interpretação Psicológica do Kundalini Yoga”.

Enfim, Jung foi o pensador que mais contribuiu para a formação de conceitos
verdadeiramente espirituais para agregar ao conhecimento humano. Foi também o autor
de uma das melhores teorias de desenvolvimento da alma. E por isso seus conceitos
estão presentes por quase todo o livro, principalmente nos capítulos que seguem.

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A Estrutura Dinâmica da Psique

Representação do espírito segundo Robert Fludd, 1619

De acordo com os princípios gerais da Psicologia, a psique é dividida em duas


grandes instâncias: consciente e inconsciente. A consciência é a parte do nosso ser que
conhecemos, que percebemos, que pensa, sente e age no dia a dia. Já o inconsciente é
uma parte de nós escondida, que se manifesta apenas em casos específicos, quando
“perdemos o controle”, quando fazemos ou pensamos algo que não sabemos bem de
onde veio, ou quando sonhamos. A descoberta do inconsciente foi algo revolucionário,
que mudou a Psicologia no final do século XIX. Uma descoberta que trouxe explicação
para muitos dos comportamentos humanos.

Entre as muitas técnicas de análise dos conteúdos do inconsciente dos pacientes, a


análise dos sonhos sempre foi uma das mais utilizadas. Os conteúdos do inconsciente
não têm o mesmo formato dos pensamentos da consciência, que são constituídos
normalmente de palavras e estruturas racionais. Os conteúdos do inconsciente não são
racionais, e encontram-se em formato de imagens e sentimentos, como nas formas de
arte.

Para Jung, o Eu, ou seja, a consciência, se transforma e se desenvolve interagindo


não somente com o mundo externo, mas também com o inconsciente, um mundo

A Bíblia do Espiritualismo Página 39


interno, e, inicialmente, desconhecido. Mais do que isso, para Jung, a transformação dos
conteúdos do inconsciente em ideias racionais na consciência é uma tarefa obrigatória
para o ser humano que deseja atingir a plenitude do ser.

O modelo junguiano da psique é formado por três instâncias gerais: inconsciente


coletivo, inconsciente pessoal e Eu consciente.

No centro do inconsciente coletivo reside um componente central do ser, o self ou


si-mesmo, o qual coordena todo o processo de desenvolvimento da psique, pois possui
um plano a ser realizado para constituir uma personalidade completa. Ao redor do si-
mesmo estão os arquétipos, conteúdos inatos que são modelos prototípicos de
personalidade, referências de comportamento semelhantes às imagens que temos da
sabedoria ancestral, das pessoas importantes, santos, deuses mitológicos, e outras
representações universais de personalidade.

Em outra instância psíquica, o inconsciente pessoal, residem os complexos. Os


complexos são agrupamentos de imagens, ideias e emoções que temos a respeito de um
determinado assunto ou pessoa. São desenvolvidos durante a vida, resultantes da relação
entre os conteúdos inatos do inconsciente coletivo e as impressões captadas do mundo
externo.

E, finalmente, a consciência, onde reside o Eu consciente, também chamado ego


ou simplesmente Eu. Além do Eu autêntico, reside também no Eu consciente uma
instância chamada persona ou máscara, um personagem criado pela psique para atender
as exigências da sociedade. Essa instância tem a princípio um caráter temporário,
devendo se dissolver durante o processo de desenvolvimento da personalidade.

O aparelho psíquico jungiano.

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O aparelho psíquico jungiano segundo A. Stevens, 1990.

Todo esse conjunto chamado aparelho psíquico possui uma orientação natural de
autodesenvolvimento, de melhoria constante da personalidade. E esse
autodesenvolvimento se dá através de um processo natural de transformação, em que o
modelo psíquico é constantemente reconstruído, remodelado, influenciado pelas
situações vividas, e pelo inconsciente profundo. Jung batizou esse processo com o nome
de “função alquímica”, em razão da sua grande semelhança com as teorias da Alquimia,
em que substâncias grosseiras eram decompostas e recompostas, formando substâncias
melhores, até chegar à qualidade máxima, a “pedra filosofal”, uma substância perfeita,
capaz de resolver os maiores problemas da humanidade. A pedra filosofal, ou pedra do
filósofo, é uma expressão que tem como significado original algo como “o alicerce do
filósofo”, a sabedoria fundamental, a essência de todas as coisas. A pedra filosofal é
portanto a consciência de que a essência da vida e do universo é a evolução das almas,
através da transformação, da melhoria constante, e não uma pedra que transforma metal
em ouro, como rezam as lendas, que são na verdade metáforas do seu significado real,
que é a transformação contínua da personalidade, até alcançar um estado de felicidade
plena.

A alma humana é o resultado de uma fórmula, de uma receita, em que a matéria-


prima é a “centelha divina”, uma parte do próprio Deus, chamado por Jung de si-
mesmo, influenciada pelos arquétipos, representantes da sabedoria viva universal, e
depurada no “fogo” que é o contato direto com a realidade material e social, a vivência.

O conjunto formado pelo si-mesmo e pelos arquétipos universais é chamado por


Jung de inconsciente coletivo pois possui esse caráter universal, coletivo. Mas quando

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esse conjunto de caráter coletivo entra em contato com o mundo, com a vida e com a
matéria, através da nossa vivência pessoal, vai gradualmente se transformando na alma
pessoal, individual, através do processo alquímico de transformação constante, que
absorve e sintetiza as experiências individuais. Se o processo é concluído com sucesso,
a alma torna-se então pessoal, individual, única. O verdadeiro alquimista seria então a
pessoa capaz de realizar essas transformações internas com sucesso, tornando-se um ser
completo, capaz de materializar na vida as elevadas orientações universais, vindas de
Deus e dos espíritos superiores.

O núcleo da personalidade, o si-mesmo ou self, diferencia-se dos arquétipos. É


uma instância equivalente ao conceito oriental “atman”, palavra sânscrita que significa
algo como “si-mesmo cósmico superior além do ego”. Possui um caráter divino, pois,
segundo o livro “Advaita Vedanta”, um dos principais livros sagrados do Hinduísmo, o
atman é uma parte do Absoluto ou Brahman. O si-mesmo ou atman é a nossa alma em
um estado teórico e inconsciente, e precisa ser realizado na dinâmica da vida, caso
contrário precisa reencarnar para completar essa realização.

No Esoterismo, que inclui também a Astrologia, o si-mesmo é chamado de Eu


maior. Uma expressão muito coerente inclusive: se o si-mesmo é uma parte do nosso
Eu, mas em um estado ainda divino e universal, contendo o projeto teórico de como
deve ser a nossa personalidade, trata-se portanto de um “Eu maior”.

A alma é portanto o resultado da transformação dos conteúdos do si-mesmo ou Eu


maior, o qual possui uma caráter coletivo, universal e divino, pois é uma parte de Deus,
em conteúdos mais pessoais, particulares, individuais, através da nossa vivência pessoal.
O desenvolvimento da personalidade é um processo de transformação do atman, nossa
alma divina e universal, em um Eu consciente, nossa alma pessoal, amadurecida e
autônoma, mas que ainda possui um caráter divino em sua essência, pois originalmente
é uma parte de Deus.

A alma humana possui portanto dois estados bem distintos. No primeiro, a alma
está em um estado teórico, inconsciente, e de caráter coletivo, universal. Durante a vida,
essa alma passa por muitas transformações, até tornar-se totalmente consciente,
totalmente pessoal, e totalmente em conformidade com as orientações universais. Como
podemos deduzir com certa facilidade, alcançar esse estado de plenitude é muito, muito
difícil, e raramente é possível completá-lo em uma única vida. A reencarnação é
portanto mais que uma hipótese ou possibilidade: é uma necessidade fundamental para o
desenvolvimento das almas.

O conceito de reencarnação está presente em muitas religiões e doutrinas


filosóficas. No Hinduísmo, por exemplo, existe um conceito chamado “samsara”, o
período das reencarnações da alma. A alma precisa reencarnar muitas vezes, até que

A Bíblia do Espiritualismo Página 42


encontre equilíbrio cármico. O carma, outro conceito oriental, é em resumo a lei
universal da causa e efeito, onde toda a ação humana recebe um retorno do universo
totalmente coerente e complementar à ação original. As pessoas colhem o que plantam,
e, enquanto plantam e colhem ações nocivas à vida, desarmônicas com o universo,
precisam continuar reencarnando, até completarem seu aprendizado, quando finalmente
livram-se da “roda das encarnações”, o samsara.

Dinâmica da alma (o processo de individuação).

A Bíblia do Espiritualismo Página 43


A Bíblia do Espiritualismo Página 44
Os Tipos Psicológicos

Para Jung existem dois tipos psicológicos básicos: o extrovertido e o introvertido.


Esses termos podem gerar muita confusão, pois remetem a ideias de pessoa desinibida e
pessoa tímida, respectivamente. Mas não é isso. O extrovertido é o tipo psicológico
mais comum, e tem seu desenvolvimento orientado pelos objetos exteriores, ou seja,
pelas pessoas, pelas situações, pelos objetos materiais, pela sociedade, pelas convenções
sociais, enfim, é uma pessoa reativa. Já o introvertido é um tipo psicológico menos
comum, que tem seu desenvolvimento orientado pelos objetos interiores, ou seja, pela
sua alma, mais especificamente pelo seu si-mesmo, seu Eu maior.

O extrovertido, por ser orientado pelos objetos exteriores, tem seu


desenvolvimento centrado na persona, no seu papel social, o personagem construído
para atender as exigências da sociedade. A convenção social em geral não aceita
pessoas que pensam por conta própria, que expõem sentimentos e opiniões, que
interagem com a sua interioridade, ou seja, com seu lado inconsciente e espiritual. O
mundo interior é proibido para os extrovertidos, que precisam estar sempre no mundo
“real”, que são as regras sociais estabelecidas. E é por esse motivo que a humanidade
tem tanta dificuldade em estabelecer a liberdade plena, sempre com uma preferencia por
regimes ditatoriais. Para o extrovertido as pessoas não podem viver livres, nem ser
diferentes. Para o extrovertido todos devem ser iguais, seguir as regras sociais e os
líderes “fortes”. E por isso também acabam priorizando o “ter”, o “possuir”, o “mandar”
e o “obedecer”, e desprezando o “ser”.

Mas para uma minoria, essa forma de viver não faz sentido. Para o introvertido, o
sentido da vida é realizar sua interioridade, ou seja, realizar um plano de
desenvolvimento (presente em seu interior) de uma personalidade em harmonia com o
universo, em harmonia com as orientações mais elevadas. Essa personalidade ideal
buscada possui as virtudes, que são em geral voltadas para o bem estar de todos os seres
vivos. Ou seja, não se trata de uma pessoa egoísta ou individualista, pois ama o Projeto
Divino, que inclui todas as formas de vida, e, na medida do possível, trabalha para que a
vida seja preservada e incentivada, luta pelo direito de cada ser de viver suas
características pessoais próprias. É contra a ideia de massificação psicológica, de
anulação do ser. Enfim, é a pessoa que segue no caminho espiritual, que é uma jornada
cheia de dificuldades, para ao final conquistar um estado de alma plenamente
desenvolvido.

Segundo Jung ainda, esses tipos nem sempre são encontrados em estado puro:
muitas pessoas possuem os dois tipos simultaneamente, mas um deles é sempre
predominante. Essa manifestação tem sua causa na dualidade fundamental presente na

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natureza do universo, influenciando toda a manifestação da vida, que acaba apresentado
sempre dois lados opostos. E essa dualidade dos tipos psicológicos gera toda uma
epopeia de aventuras humanas, resultante do choque entre essas duas formas opostas de
se viver. Uma prioritariamente materialista, voltada às coisas estritamente humanas,
apresentando uma imensa resistência às coisas psíquicas, interiores e espirituais (isso
não as impede de seguir religiões. Aliás, as pessoas extrovertidas-materialistas
majoritariamente seguem as grandes religiões). A outra forma de se viver,
prioritariamente espiritualista, é voltada à construção do ser, com base em critérios
interiores, naturais, universais (em oposição às orientações das regras sociais humanas),
e toda a aventura que isso envolve.

É óbvio que cada lado sente-se muitas vezes incomodado com a existência de um
outro tipo que tem uma visão de vida contrária à sua. Mas, seguindo as leis da natureza,
dentre elas a liberdade, a diversidade e a interdependência, é preciso que ambas se
aceitem e se respeitem. O que, obviamente, nem sempre acontece. O confronto sempre
acontece, como podemos ver mais claramente nas histórias dos muitos e famosos filmes
épicos: o herói é sempre uma pessoa diferente, que é desprezada, atacada e humilhada
pela maioria, e, depois de uma longa aventura, revela-se a todos um ser com um
desenvolvimento de alma acima da média, virtuoso, interessado no bem-estar da
maioria e na defesa da liberdade, que é o direito de cada um viver sua própria vida
plenamente. Esse confronto entre os opostos faz parte da vida, da natureza e do
universo, e tem obviamente um só propósito: a evolução das almas.

A Bíblia do Espiritualismo Página 46


As Fases de Desenvolvimento da Psique

O ser humano inicia sua vida em um estado de inconsciência total. Porém, em seu
interior existe um conteúdo psíquico inato, com um completo projeto de vida a ser
realizado, o inconsciente coletivo, composto pelo si-mesmo e pelos arquétipos. Durante
a infância, o inconsciente coletivo entra em contato com o mundo externo, e começa a
formar uma nova instância psíquica, o inconsciente pessoal, através da criação dos
complexos, resultantes da interação entre os conteúdos do inconsciente coletivo e o
mundo exterior, e onde são formadas também as figuras pessoais de mãe, pai, família,
vida, morte, perigos, sobrevivência, amor e tantos outros.

Seguindo as orientações do si-mesmo, o aparelho psíquico segue seu


desenvolvimento e cria a unidade psíquica mais importante de todas: o Eu ou ego. Com
o nascimento do Eu, o ser passa a perceber a existência de si próprio e a realidade à sua
volta, e essa percepção marca o nascimento da consciência e da individualidade.

A adolescência é o momento de mais uma transformação crítica: o fim da infância


e o início da fase adulta. É um momento em que o ser toma consciência da falibilidade
dos pais, e por consequência percebe a necessidade de um autodesenvolvimento. Nessa
fase é construído um importante complexo consciente chamado persona: uma espécie de
personagem ou máscara com a função de atender as exigências da sociedade e ajudar a
preservar a particularidade do ser. Entre os muitos conteúdos que emanam do
inconsciente nessa fase está também a anima, imagem do feminino na psique do
homem, ou o animus, imagem masculina na psique da mulher. Esse conteúdo guia a
pessoa na busca do seu complemento, seu cônjuge.

A adolescência é portanto uma fase muito complexa, em que a pessoa reduz a sua
ligação e dependência dos pais, e inicia uma busca por seu complemento do sexo
oposto, e, paralelamente, é iniciada nas questões da fase adulta, onde precisa ser
responsável por si mesma e por outras pessoas, e obedecer às regras da comunidade.
Segundo Jung, em razão da grande dificuldade dessa fase, seria importante uma
“ritualística de iniciação”, como fazem muitos povos indígenas. Nesses ritos os jovens
meninos e meninas são expostos a uma rígida disciplina, enquanto recebem instruções
sobre as regras e tradições da comunidade, e sobre o universo espiritual. Ou seja, são
rituais que ajudam na transformação psíquica criança-adulto. Infelizmente nas
sociedades ocidentais não restaram essas práticas sociais, e as pessoas acabam não
tendo uma boa transformação criança-adulto, mantendo aspectos infantis em sua psique,
ou conteúdos inconscientes não confrontados, não conscientizados, que acabam
tornando-se espectros negativos que passam a agir de forma autônoma, causando as
doenças psíquicas, como a neurose.

A Bíblia do Espiritualismo Página 47


Mas enfim, o que diferencia uma criança de um adulto? Brincar? Não, adultos
podem brincar sem deixarem de ser adultos. A imaginação e a fantasia? Também não,
adultos podem imaginar e fantasiar sem deixarem de ser adultos. O que diferencia é a
responsabilidade. Primeiramente, por si mesmo: responsabilidade pelos próprios atos,
pela própria sobrevivência e bem-estar. E, secundariamente, no decorrer do
desenvolvimento, a responsabilidade com relação às pessoas próximas, como o cônjuge
e os filhos por exemplo. E, num terceiro momento, se a pessoa alcançar esse nível, a
responsabilidade pelo bem-estar de outras esferas sociais maiores. Ou seja, o nível de
autonomia e de responsabilidade da pessoa define seu status de adulto. Uma pessoa não-
adulta faz o que é fácil ou divertido, ou imita comportamentos gerais. Mas uma pessoa
realmente adulta faz o que é preciso para garantir o bem-estar de si mesmo e de seu
grupo. Um rito de iniciação ideal para o período da adolescência seria um que levasse a
pessoa à conscientização da responsabilidade sobre si mesmo, da consequência dos atos,
da existência de uma realidade muitas vezes hostil, e a existência de certas regras
sociais e naturais que precisam ser obedecidas, e dessa forma tornando o ser pronto para
a vida. Como a sociedade atual não possui mecanismos eficientes que auxiliem nessa
transformação psíquica, as pessoas adultas tentam resolver essas questões tardiamente,
com o auxílio da psicanálise, ou com o uso de uma forte força de vontade.

A infância, do zero aos doze anos, e a adolescência, dos treze aos dezoito, são
fases em que o ser ainda não tem responsabilidade sobre si mesmo, e por isso precisa da
presença dos pais, adultos que cumpram com seus deveres de provedores e orientadores.
Nos casos em que os pais não cumprem essa função, as crianças e adolescentes são
obrigadas a abandonar seu desenvolvimento natural e assumirem, de forma totalmente
precária, a responsabilidade por sua sobrevivência, através de um desenvolvimento
anormal da persona, e, dessa forma, comprometendo todo o seu desenvolvimento.
Enfim, serão adultos mal formados, cheios de aspectos adolescentes e infantis em sua
psique, e por isso podem também tornarem-se pais “incompletos”, e assim formar um
tenebroso ciclo vicioso.

Se a pessoa consegue alcançar os objetivos básicos da fase adulta com sucesso,


inicia-se uma nova fase de transformação psíquica: a individuação. O termo pode nos
remeter a conceitos como egoísmo, egocentrismo ou vaidade, mas na verdade tem um
significado muito diferente. A individuação é um conceito junguiano a respeito do
objetivo final do desenvolvimento da psique, que é tornar-se si mesmo. Um
amadurecimento completo do ser, em que a pessoa consolida uma personalidade
própria, ao concluir a transformação dos conteúdos do si-mesmo, nosso Eu maior, em
conteúdos do Eu consciente, nossa alma pessoal. Essa fase é marcada pela realização de
uma função social de uma forma mais ampla. A pessoa busca participar ativamente da
sociedade doando as suas capacidades em benefício da comunidade.

A Bíblia do Espiritualismo Página 48


A individuação é o objetivo final do processo de desenvolvimento, mas, na
prática, poucas pessoas chegam a esse estágio. Iniciando-se em geral na segunda metade
da vida, é um processo em que o ser desenvolve uma personalidade própria e
independente, em conformidade com a sua interioridade (e em consequência em
conformidade com a natureza e o universo), e atuando plenamente na realidade social e
material. Alcançar a individuação significa torna-se quem realmente somos, e aquilo
que o universo espera que nós sejamos.

Um dos grandes vilões que pode atrapalhar esse processo é a persona, aquele
personagem criado pela psique para atender as demandas do exterior, as convenções
sociais, e tem sua importância em etapas intermediárias do desenvolvimento da
personalidade. Porém, quando o processo de individuação se inicia, a persona precisa
ser dissolvida, eliminada, para que a pessoa torne-se si mesma. A dissolução da persona
é uma tarefa muito difícil, quase impossível para algumas pessoas. A persona é uma
personalidade estereotípica, totalmente baseada nas convenções sociais. Uma
personalidade construída através da imitação das ações humanas mais usadas na
sociedade, o que pode ser algo muito perigoso. Quando as pessoas moldam seu
comportamento baseando-se somente no que a maioria faz, começam a surgir regras
sem sentido, destruidoras muitas vezes, mas que são seguidas fielmente, sem nenhum
questionamento. É a consolidação da alienação. As pessoas param de pensar e de sentir.
Param de viver a verdadeira vida para seguir cegamente as regras sociais, o
comportamento da maioria. É enfim algo como a morte das almas. Prioritariamente o
ser humano precisa desenvolver sua personalidade com base no aprendizado, no
entendimento da vida, e nos conceitos que emanam do seu interior, e não na imitação.

Para a Psicologia, são consideradas duas as formas de aprendizado: a cognição e a


imitação, sendo a imitação a forma mais usada. Para mim, somente a cognição é um
aprendizado real, enquanto a imitação um verdadeiro desastre para a humanidade.
Cognição é o entendimento da causa, do motivo, do porquê de cada coisa, formando-se
assim uma visão teórica da vida, modelos lógicos. Enquanto a imitação é copiar os
comportamentos práticos de outras pessoas, sem entender o motivo. Imitar
comportamentos é muito comum, principalmente a imitação do comportamento dos
pais. E por isso é considerado pela Psicologia como uma forma de aprendizado. Mas,
para mim, aprendizado é somente a cognição, o entendimento do porquê de cada coisa,
enquanto a imitação nunca foi uma forma de aprendizado, mas uma doença que corrói a
humanidade. Digo isso com essa certeza toda por um motivo muito simples: a imitação
é algo completamente irracional.

Outro ponto crítico do processo de individuação é o confronto com a sombra,


outro conceito junguiano. A sombra é o conjunto dos complexos mais difíceis de serem
conscientizados. Reúne os conteúdos que foram condenados ou reprimidos pela psique,

A Bíblia do Espiritualismo Página 49


por serem considerados malignos, condenáveis, terríveis. Durante o processo de
individuação a pessoa precisa enfrentar a sombra, ou seja, os seus maiores temores, e
vencê-los. Quando nos dispomos a enfrentar as coisas que nos aterrorizam, observando
e entendendo a natureza desses espectros, com o uso da razão consciente, da lucidez e
da interpretação lógica, eles perdem a sua força, deixam de existir e de nos aterrorizar, e
temos então mais liberdade e força para cuidar de assuntos realmente importantes para a
vida. Na vida terrena, alguns de nós passam por experiências horríveis, que alteram o
fluxo natural da vida, que é a realização do Eu maior. São experiências que nos
envenenam, com ódio, revolta e medo, emoções que nos aprisionam, nos consomem.
Encontrar essas memórias e eliminá-las de nosso ser, nos liberta para o caminho da
autorrealização.

Concluído ou não o processo de individuação, o ser humano inicia sua velhice, e


precisa preparar-se para a difícil hora da morte. Muito difícil, porém, como dizia
Sócrates, o bom filósofo prepara-se durante toda a vida para nesse momento estar
pronto para a passagem ao plano espiritual, ciente de sua missão cumprida e em paz. A
missão do ser humano é portanto desenvolver a sua psique, a sua alma, em direção a um
amadurecimento, à formação de uma personalidade própria e independente, que não é
facilmente suscetível às opiniões do meio em que vive, e em direção a um
enobrecimento da alma, transformando aspectos sombrios em virtudes, como
consciência, lucidez, responsabilidade, justiça, coragem, sinceridade e força de vontade.
Uma missão de superação e sacrifício, numa relação intensa com a sua própria
interioridade. Como escreveu o astrólogo Oscar Quiroga certa vez, “sacrifício é o sacro
ofício de agir em nome do Plano Maior”.

A Bíblia do Espiritualismo Página 50


Os Arquétipos do Inconsciente e as Mitologias: Signos Astrológicos e Orixás

“Orixás”, de Carybé, 1968.

O si-mesmo não realiza sozinho a tarefa de formar uma personalidade completa,


mas utiliza da ajuda dos arquétipos para isso. O si-mesmo precisa de modelos confiáveis
que sirvam de base, de orientação. E os modelos, para que sejam realmente confiáveis,
precisam ter experimentado a vida, todas as situações e dificuldades possíveis, e terem
as superado, consolidando assim uma sabedoria de vida. Os arquétipos são portanto as
personalidades que deram certo no decorrer da história da humanidade. São os espíritos
dos nossos ancestrais mais ilustres, que melhor servem de exemplo para o
desenvolvimento das nossas personalidades. São tipos de personalidade que podemos
identificar com facilidade, são bem conhecidos: o velho sábio, a grande mãe, o herói, o
vilão, a bruxa, o rei, o avarento, o trickster, etc.

Segundo Jung, a melhor forma de acessarmos os arquétipos é através dos


símbolos. As imagens dos símbolos nos auxiliam a “relembrar” ou “atualizar” em nossa
consciência conteúdos presentes no inconsciente coletivo. As pessoas reconhecem
nesses símbolos os atributos dos arquétipos universais, sentem que a vibração vinda
dessas imagens reverbera em suas interioridades. Reconhecem que as características
desses símbolos relembram, na vida material, algo que existe em dimensões espirituais.

A Bíblia do Espiritualismo Página 51


Em seus estudos sobre os muitos arquétipos, Jung percebeu a existência de quatro
entidades principais: o arquétipo masculino, contemplando características como
paternidade, heroísmo, força e conhecimento. O arquétipo feminino, contemplando
características como maternidade, acolhimento, beleza e habilidade nos
relacionamentos. O arquétipo Amor, chamado também de Eros. E o arquétipo Morte,
também chamado Tanatos. Esses quatro arquétipos fundamentais precisam ser trazidos
do inconsciente para o consciente, onde precisam encontrar um entendimento adequado
por parte da personalidade consciente. E a dinâmica para isso acontecer é a vivência. Na
infância, os arquétipos masculino e feminino são projetados sobre o pai e a mãe. Na fase
adulta, o arquétipo do mesmo sexo da pessoa deve ser vivenciado na própria
personalidade, e o arquétipo do sexo oposto deve ser projetado no cônjuge, e dessa
forma conduzindo os conteúdos do inconsciente a uma realização. O arquétipo Amor,
Eros, representa o amor à vida, o desejo de viver, de agregar, de unir, o desejo de
realizações no mundo material. E o arquétipo Morte, Tanatos, representa a destruição, a
desagregação.

Sendo Tanatos a morte e a destruição, de que forma poderíamos aceitá-lo em


nossa psique? Na natureza não há vida sem morte. A vida surge a partir de substâncias e
elementos que foram originados pela morte. Também em aspectos gerais da vida, para
se iniciar algo, é preciso dissolver outra. A dissolução e reagregação das coisas
materiais é uma lei da natureza, uma regra básica da dinâmica da vida. É enfim a lei
universal da transformação. Olhando dessa forma, a morte e a dissolução das coisas
materiais passa a ter outro significado, mais brando. Já não é bem um inimigo, mas mais
um dos pilares da vida e da natureza.

Um dos muitos símbolos associados à morte é a cruz. Porém, a cruz não simboliza
apenas a morte, mas está também associada ao sacrifício, à superação dos maus
instintos, através do controle sobre si mesmo. Na Umbanda, por exemplo, existe uma
simbologia muito rica chamada “o cruzeiro das almas”. Fisicamente é representada por
uma grande cruz sobre um pedestal de três níveis, que fica ao ar livre, na frente das
igrejas católicas ou nos cemitérios católicos. Espiritualmente é um portal que liga os
dois mundos, e é controlado pelo orixá Obaluaê. Seu nome na língua iorubá significa
algo como “rei senhor das almas”. Obaluaê é um orixá associado à doença e à saúde, à
morte, e principalmente à transformação. Nesse portal, a vibração sentida pelos médiuns
está muito relacionada às leis universais, aos sacrifícios que precisamos realizar, e às
transformações que precisamos operar em nossa personalidade para alcançarmos um
estado de paz e plenitude de alma. Enfim, o cruzeiro das almas é um portal que permite
a conscientização de verdades fundamentais, e por isso pode conduzir as almas a uma
dimensão mais elevada, sejam encarnadas ou já desencarnadas. É um símbolo que
representa muito bem o que os umbandistas chamam de “Linha das Almas”, uma faixa
vibracional que reúne, além de Obaluaê, várias outras entidades espirituais com uma

A Bíblia do Espiritualismo Página 52


função em comum: cuidar das almas do “umbral”, onde estão os espíritos
desencarnados em sofrimento, que não se desenvolveram espiritualmente. Pelo árduo
trabalho dessas entidades, muitas almas são resgatadas do umbral, e encaminhadas de
volta à jornada de evolução. Mas algumas se desenvolvem tão pouco que não é possível
salvá-las. E por isso essas entidades intervém também na vida dos encarnados, quando
ainda há tempo de fazer algo para o desenvolvimento e salvação da alma.

O cruzeiro das almas.

Aceitar a existência da morte como parte da vida, assim como aceitar os


sacrifícios necessários da vida, é um ato de conscientização, autocontrole, dignidade e
superação, fundamental para um desenvolvimento pleno do ser. E, dessa forma,
aceitarmos o arquétipo Tanatos em nossa consciência. É preciso então confrontarmos o
medo da morte em nossa consciência, entendendo e aceitando-a como parte natural da
vida. E, da mesma forma, aceitarmos também como parte natural da vida os sacrifícios
necessários, evoluindo assim no nobre e divino objetivo de desenvolvimento moral de
nosso ser, na obtenção da honra e da dignidade.

O arquétipo complementar e oposto a Tanatos é Eros, o amor, a união dos


elementos. Da união dos elementos surge a vida. Quando nos sentimos fazendo parte
desse processo de união que possibilita a sustentação da vida, isso nos traz muita
alegria, nos enche de esperança e entusiasmo. O sentimento de alegria pode ser portanto
um bom aliado na escolha dos caminhos a seguir. Quando fazemos um plano de vida e
sentimos alegria ao imaginá-lo realizado, significa que é um caminho em conformidade
com a nossa interioridade, com a natureza, e com o arquétipo Eros.

A Bíblia do Espiritualismo Página 53


Independentemente do sexo da pessoa, os arquétipos masculino e feminino
figuram no inconsciente de todos. E precisam ser confrontados pelo Eu consciente,
porém, com uma abordagem diferente a cada um, de acordo com o sexo da pessoa,
obviamente. O homem tem como característica central a autonomia, a independência, a
capacidade de decidir e de resolver sozinho as questões da sua sobrevivência. Enquanto
a mulher tem como característica principal a habilidade nos relacionamentos. Ela
consegue alcançar sua estabilidade através dos relacionamentos (não só como o
cônjuge, mas com todos). Cada um precisa vivenciar suas características próprias em
sua personalidade, e as do sexo oposto precisam ser projetadas no cônjuge. Ou seja, eles
realmente formam um par, um complementando o outro.

Quando, porém, um homem demonstra caraterísticas como dependência afetiva


demasiada, ou a mulher uma enorme vontade de independência, é sinal que seus
complexos interiores do sexo oposto não estão encontrando um caminho de saída
saudável, ou seja, a projeção sobre o cônjuge. Isso acontece bastante com pessoas que
não conseguiram uma boa projeção sobre os pais na infância, ou seja, não tiveram as
figuras de pai e mãe estabelecidas com clareza na psique. De qualquer modo, as pessoas
precisam colocar todos esses impulsos do inconsciente em seus devidos lugares no Eu
consciente.

Esse é um assunto que não tem nada a ver com homossexualidade. Essas
manifestações relacionadas a falhas na projeção do sexo oposto são consideradas
patologias, neuroses em geral, que atrapalham no desenvolvimento humano, mas não
levam ao homossexualismo. Acredito que essa questão por sua vez, o homossexualismo,
ocorra quando uma alma com características femininas muito fortes vive em um corpo
masculino, ou vice-versa, e isso explicaria a atração por pessoas do mesmo sexo do
ponto de vista físico.

Os arquétipos masculino e feminino formam um par, um complementando o


outro, enquanto Eros e Tanatos formam outro par, também um complementando o
outro. A dualidade parece ser então um outro arquétipo, ainda mais primordial que esses
quatro. É a mesma dualidade primordial contida no conceito chinês (do taoísmo) Yin-
yang, onde duas forças complementares compõem tudo o que existe, e do equilíbrio
dinâmico entre elas surge todo movimento e mutação. A dualidade e a diversidade são
portanto pilares fundamentais da natureza e do universo. Sendo assim, para alcançar a
harmonia, o ser humano precisa entender, aceitar e conviver bem com a diversidade. O
conceito de que precisamos ser todos iguais é falso e extremamente prejudicial.
Precisamos exercer a liberdade, respeitando as particularidades de cada um.

A Bíblia do Espiritualismo Página 54


Símbolo do conceito da dualidade: Yin-yang.

Entre as histórias bíblicas, uma das mais arquetípicas e primordiais é a história de


Caim e Abel, filhos de Adão e Eva. Abel tinha um espírito nobre e puro, e acaba sendo
assassinado pelo irmão invejoso, Caim. Mais uma dualidade: duas personalidades, duas
consciências, dois comportamentos opostos. Se seguirmos o exemplo de Abel,
acabamos assassinados. Se seguirmos o exemplo de Caim, ficamos em uma situação
pior do que ser assassinado. A questão-chave é que não devemos imitar nenhum dos
dois exemplos, mas criar uma terceira forma de agir, original e própria, com base no
ensinamento que essa e outras histórias primordiais nos transmitem. Ser uma pessoa
virtuosa, mas inocente, a ponto de ficar vulnerável, não é um bom caminho. Ser
invejoso e assassinar, pior ainda. Da mesma forma devemos nos posicionar em relação a
todos os arquétipos. Os arquétipos são imagens coletivas. Se permitirmos a
manifestação desses arquétipos sem o controle da nossa consciência e do nosso livre
arbítrio, deixamos de ser um indivíduo, uma alma, e passamos a ser apenas um veículo
de manifestação dessa imagem coletiva. Precisamos ter clara consciência da separação
entre nossa alma e o conjunto de arquétipos que nos guia no decorrer da vida,
entendendo as lições que esses arquétipos podem nos ensinar, mas sempre mantendo
vivas e salvaguardadas nossas características individuais e particulares.

Entre as simbologias arquetípicas melhor estruturadas e mais ricamente descritas


estão os signos astrológicos e as divindades afro-brasileiras, os orixás. Ao fazermos uma
comparação entre esses dois famosos conjuntos de arquétipos, é possível identificar
muitas semelhanças, equivalências presentes nos dois conjuntos simultaneamente. Ou
seja, tudo indica que são diferentes formas de nomear e descrever um mesmo conjunto
das entidades arquetípicas universais, que existe de fato na dimensão espiritual.

O termo “eledá”, de origem africana iorubá, significa a princípio algo como


“guardião ancestral” ou “orixá pessoal”. Mas entre os umbandistas o termo encontra-se
muitas vezes associado a um conjunto de orixás ou arquétipos que acompanham a
pessoa pela vida. Na Astrologia, os arquétipos são os signos. Segundo a Astrologia a
pessoa nasce com um conjunto de signos que orientam a passagem do ser pela Terra, os

A Bíblia do Espiritualismo Página 55


quais podem ser conhecidos através do mapa astrológico, sendo os principais o signo
ascendente, o solar e o lunar. Pelo que pude entender estudando a estrutura dos mapas
astrais (os astrólogos me corrijam se eu estiver errado), o signo ascendente influencia a
formação de cerca de 40% da personalidade, o solar cerca de 30%, o lunar cerca de
20%, e as demais influências astrológicas cerca de 10%. Segundo os astrólogos, os
signos são consciências, formas teóricas as serem realizadas. Vejamos as descrições
gerais de cada um desses doze arquétipos:

Áries: dá início e vida a novas ideias e empreendimentos. Cria e realiza ideias


para o bem-estar da humanidade.

Touro: assimila, materializa e concretiza os empreendimentos em andamento.


Promove mecanismos para a realização dos desejos da humanidade.

Gêmeos: busca, através do raciocínio, lucidez de consciência para a humanidade.


Está muito ligado à juventude e à infância, à intelectualidade e à comunicação.

Câncer: busca o estabelecimento do mundo particular: a casa, a família, a


individualidade. Está associado à fertilidade e à vida, à psique profunda, às emoções, à
obstinação e à segurança.

Leão: busca a excelência do Eu, e por consequência a excelência da humanidade.


Sintetizando a prosperidade do mundo, brilha, centraliza e comanda.

Virgem: analisa e organiza a produção da humanidade. Identifica e realiza as


potencialidades da humanidade.

Libra: busca o equilíbrio e a organização das diversas forças em ação. Busca pelo
aperfeiçoamento das relações entre as pessoas, as relações harmoniosas, a paz e a
beleza.

Escorpião: busca a realização da verdade interior de cada individuo. Investiga e


analisa a fundo as questões, e decide pelas necessárias transformações. Rege os ciclos
de vida das coisas, o fim de umas e o nascimento de outras.

Sagitário: coleta e seleciona todas as ideias e fornece uma direção para a


humanidade. Promove a propagação das ideias e a comunicação.

Capricórnio: realiza toda a potencialidade da humanidade no aspecto material.


Através de disciplina, estratégia, ambição, responsabilidade e paciência, organiza a
humanidade para as situações mais difíceis.

A Bíblia do Espiritualismo Página 56


Aquário: promove a união dos seres, desde que mantidas as suas individualidades.
Busca pela fraternidade universal através da justiça, do amor, da expressão artística e da
comunicação.

Peixes: promove mecanismos para a espiritualização da humanidade. Vive em


uma faixa vibracional dividida entre o individual e o coletivo, entre o local e o
universal, entre o material e o espiritual.

É sempre importante lembrar que não somos regidos por apenas um signo, mas
por um conjunto de signos que compõe o nosso mapa astral. Mas o signo ascendente
parece ser o que mais influencia a formação da personalidade. Segundo os astrólogos
em geral, o signo solar rege um Eu mais voltado ao exterior, para a relação cotidiana
com o mundo, enquanto o signo ascendente rege a missão interior do ser, e o signo lunar
rege as questões mais particulares, a forma como a pessoa encontra bem-estar. Segundo
os astrólogos ainda, na segunda metade da vida o signo ascendente toma a frente da
consciência, que era até então dominada pelo signo solar. Relacionando esses
conhecimentos astrológicos com as teorias de Jung, o signo solar seria então o regente
da persona, responsável pela relação entre o ser e o mundo, enquanto o signo ascendente
seria o regente do si-mesmo, o núcleo da psique, responsável pela missão do ser
humano na Terra. Também é importante lembrar que os signos influenciam a formação
da personalidade, mas não fazem parte de nossa alma. Enfim, não somos os nossos
signos, apesar de eles nos influenciarem bastante. Somos a nossa alma, com nossas
características próprias e individuais. Ou pelo menos deveríamos ser.

Mas restam ainda algumas questões não respondidas satisfatoriamente: como


acontece essa influência dos astros sobre a personalidade? Por que uma pessoa que
nasce em um determinado dia do ano, em um determinado horário do dia, possui sempre
um determinado tipo de personalidade? É fato que os movimentos dos astros
influenciam, através da ação gravitacional e da luz do Sol, os ciclos da natureza, e por
consequência os ciclos da agricultura, da pesca e da pecuária, bases da sobrevivência
humana. Sendo esses ciclos da natureza primordiais para a vida, tornaria-se então
urgente que o ser humano nascesse preparado, adaptado a cada um desses ciclos. É
muito provável então que a enorme inteligência interna do ser humano, presente em sua
fisiologia, seja capaz de criar modelos físico-mentais diferentes, adaptados a esses
vários ciclos da natureza, e por isso as diferentes personalidades, as diferentes
predisposições.

Os deuses africanos, os orixás, influenciaram fortemente a cultura brasileira,


formando uma nova mitologia, afro-brasileira. Entre os arquétipos formados nessa
junção de culturas, vejamos os 16 principais:

A Bíblia do Espiritualismo Página 57


Ogum ou São Jorge é a própria figura do herói: corajoso, invencível em batalha,
protege os mais fracos, luta pela justiça e pelos valores morais, e está fortemente
associado ao trabalhador. Ou seja, é a própria figura ideal masculina-paterna. É o
guardião do cumprimento das leis divinas, e um criador de ideias e ações para
solucionar os problemas da humanidade. Está também associado à ação, ao comando
operacional, às missões difíceis, às necessidades urgentes, à proteção contra o mal e o
perigo. Costuma ser associado aos signos astrológicos Áries e Escorpião.

São Jorge, o santo guerreiro, é objeto da devoção de milhares, e também um


exemplo de vida para essas pessoas. Mas será que essas pessoas sabem realmente quem
é São Jorge ou Ogum? Suas motivações, princípios e objetivos? A maioria sabe apenas
que se trata de um guerreiro imbatível, capaz de vencer qualquer batalha. Mas as
pessoas que estudam seu arquétipo mais a fundo, incluídas aí os médiuns que
incorporam esse orixá, veem essa divindade de outra forma: um ser que ama
profundamente a obra de Deus, suas leis, e os valores éticos e morais mais elevados.
Enfim, que ama o Projeto Divino, a Vida. E, inspirado por esses valores e ideais, é
capaz de vencer qualquer coisa que os ameace, como um guardião. Portanto, em
essência, não é uma divindade que ama a guerra, mas o contrário. Uma pessoa que não
entenda essas motivações, e observe somente seu aspecto superficial, pode ter a falsa
ideia de que a sua lição de vida seja a competição, a força bruta, a guerra e a vitória
sobre os inimigos (no sentido de obtenção de poder). Mas ninguém melhor que Ogum
para saber que a guerra não traz glória nem satisfação, mas sim destruição, morte e
tristeza. Ogum sabe melhor que ninguém que o uso da força é o último recurso para se
defender os ideais e os valores mais sagrados. Só gosta da guerra quem nunca participou
de uma. Quem nunca presenciou os resultados de um embate verdadeiro, em que o fim é
sempre a morte, é sempre um cenário de corpos dilacerados. Não sabe a verdade sobre a
guerra, e, por nunca ter vivido isso, tem uma ilusória visão romântica de vitória e glória
a respeito de lutas e guerras. Paralelamente a essa visão ilusória, no ingorossi de Ogum
a lei mais fundamental é a preservação da Vida, ou seja, a preservação do Projeto
Divino, que depende de leis morais para se manter, como a justiça, a liberdade, a
igualdade, a família, a paz e o desenvolvimento moral. Enfim, sua missão é preservar o
direito que todos têm de viver e se desenvolver, e isso nem sempre é conseguido pelo
uso da espada.

Iemanjá ou Nossa Senhora da Conceição é a rainha do mar, de onde surgiu a vida,


grande mãe de todos, auxiliando e acolhendo seus filhos, mas muito severa e exigente,
está associada à vida e à fertilidade. É a figura ideal feminina-materna. Rege a vida, a
geração e sustentação da vida. Está associada ao mar e à maternidade. Recebe todas as
águas, todas as mágoas do mundo. Costuma ser associada aos signos astrológicos
Câncer e Escorpião.

A Bíblia do Espiritualismo Página 58


Por que o arquétipo de Iemanjá é tão popular, tão cultuado, e honrado com o título
de “Grande Mãe”? Por dois motivos: Iemanjá nunca abandona nenhum filho. Mesmo
que errem gravemente, nunca os renega. E, em segundo, ela sempre mantém seus filhos
em desenvolvimento, em aprendizado. É exigente, disciplinadora, preparando assim
seus filhos para a vida. Ou seja, Iemanjá não abandona seus filhos quando erram, mas
trabalha intensamente para que se corrijam e amadureçam para a vida.

Oxalá ou Obatalá ou Jesus Cristo é senhor da vida e da criação. Em sua essência


se encerra um amor gigantesco com o qual cria e recria a vida. É a figura onde as
pessoas se revigoram de vida, a própria imagem do amor e da criação. Rege a
fraternidade, a união dos seres, a humildade e o estado de graça. Está também associado
à fé verdadeira, fruto do reconhecimento da essência divina de tudo. Costuma ser
associado ao signo astrológico Aquário.

Obaluaê ou Omulu ou São Lázaro é o senhor da morte e controlador da doença e


da saúde. Rege as transformações da vida: a encarnação da alma no feto, as
transformações da personalidade no decorrer da vida, a passagem da alma ao mundo
espiritual na hora da morte. Enfim, é o senhor das transformações e da evolução.
Costuma ser associado aos signos astrológicos Escorpião e Aquário.

São Jorge, Iemanjá, Jesus Cristo e Obaluaê.

A Bíblia do Espiritualismo Página 59


Não por coincidência, essas quatro divindades que estão entre as mais populares
do panteão afro-brasileiro, São Jorge (Ogum), Iemanjá, Jesus Cristo (Oxalá) e Obaluaê
(São Lázaro), podem ser diretamente associadas aos arquétipos principais de Jung:
masculino, feminino, Eros e Tanatos, o que reforça a teoria de que os diversos conjuntos
de arquétipos existentes são diferentes formas de enxergar um único conjunto de
arquétipos que existe realmente na dimensão espiritual. Vejamos mais algumas
importantes e populares divindades desse panteão afro-brasileiro, os orixás:

Exu ou Elegbara: possui um enorme poder de transformação, em razão da sua


capacidade de manipulação das situações humanas. O destino de todos passa pelas suas
mãos. Exu rege o percurso das almas em sua passagem pela Terra. É o orixá
mensageiro, fazendo a comunicação entre todos os espíritos, encarnados ou não,
elevados ou não. Pombagira é o nome da sua versão feminina. Rege a vitalidade, a
sobrevivência, a disciplina, a força de realização, a libido e a vontade. Na mitologia
africana quase sempre aparece com a função de trabalhador, às vezes de escravo, e
como aquele que deve ser homenageado em primeiro lugar nas cerimônias. É
considerado um anjo-guardião ou anjo da guarda por conduzir o destino das pessoas,
executando seus carmas, bons ou ruins, num objetivo de evolução espiritual. É famosa a
associação que costumam fazer de seu arquétipo com o do demônio cristão. Porém,
estudando-se seus mitos, não há nenhum traço maligno em sua personalidade. O mal, o
maligno, é somente aquilo que causa destruição ou sofrimento sem finalidade.
Características de personalidade malignas podem ser encontradas em outros orixás, mas
não em Exu, que, inclusive, na mitologia, participa ativamente de grandes momentos da
criação, ao lado de Oxalá, Orunmilá, Ogum e outros. Costuma ser associado aos signos
astrológicos Gêmeos, Virgem e Escorpião.

Oxumarê: rege a administração e a composição das ideias. Está associado ao


contínuo aperfeiçoamento. Costuma ser associado aos signos astrológicos Gêmeos,
Virgem e Libra.

Xangô: rege a cristalização ou consolidação das conquistas, dos avanços


realizados pela humanidade. Possui uma personalidade muito voltada ao mundo
humano, material e terrestre, priorizando valores como poder, riqueza e beleza. Está
fortemente associado às estruturas de poder e justiça (dos homens). Costuma ser
associado aos signos astrológicos Leão, Touro e Peixes.

Oxossi: caçador e líder da sua tribo, busca por atender as necessidades básicas de
sua comunidade, o alimento, o conforto e a segurança. É um herói em sua comunidade
por ser capaz de abater os seres malignos. Aparece muitas vezes associado ao

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conhecimento, à busca pela verdade, à música e à estética. Costuma ser associado aos
signos astrológicos Touro e Libra.

Ossaim: orixá do encanto, da beleza e do mistério. Domina o conhecimento das


folhas, das ervas. Costuma ser associado ao signo astrológico Câncer.

Obá: muito guerreira e combativa, luta incessantemente em defesa das minorias.


Sua paixão pela guerra ultrapassa muitas vezes os limites da razão e da coerência. Tem
a capacidade de mistura-se espiritualmente à personalidade e ao sofrimento das pessoas.
Oxum é sua tradicional rival na mitologia, usando e abusando da inocência de Obá. É
extremamente fiel à sua mãe Odudua e às irmandades femininas. Costuma ser associada
aos signos astrológicos Virgem e Escorpião.

Oxum: assim como Xangô, possui uma personalidade muito voltada ao mundo
humano, material e terrestre, priorizando valores como poder, riqueza e beleza. Está
associada à fertilidade, ao amor (conjugal), aos rios e cachoeiras. É carinhosa e
protetora com os filhos, mas tem dificuldade em educá-los (no sentido de preparar para
a vida). Costuma ser associada aos signos astrológicos Touro, Câncer e Libra.

Euá: rege a purificação das almas, a justiça divina, separando o que é bom e o que
é ruim. Grande heroína, luta pela igualdade, pela justiça, pelos bons princípios, pela
cultura e pela arte, e em favor dos mais fracos. É representada pela evaporação da água,
que separa o que é espiritual sutil do material denso. Costuma ser associada aos signos
astrológicos Aquário e Peixes.

Iansã ou Oiá: rege o direcionamento, a orientação, os rumos. Rege também a


comunicação, a propagação das ideias e as questões espirituais. Assim como Euá,
Obaluaê e outros orixás, trabalha na chamada “linha das almas”, ou seja, a tarefa de
condução das almas pelos caminhos espirituais. É representada pelos ventos e
tempestades. Costuma ser associada aos signos astrológicos Sagitário e Peixes.

Odudua - Iá Mi Oxorongá - Nanã: orixá primordial feminino, representante da


Terra, forma com Oxalá o casal primordial que criou os demais orixás e a humanidade.
Dona de um gigantesco poder, tanto pode fornecer a matéria da vida como destruir a
tudo. Extremamente irascível, irritada, maligna e perigosa, na maioria das vezes deixa
um rastro de sofrimento e destruição por onde passa. Por conta disso é tratada com
enorme respeito e temor nos rituais. “Iá Mi” não faz parte do nome do orixá: significa
“Minha Mãe”, como um pronome de tratamento respeitoso. Costuma ser associada aos
signos astrológicos Gêmeos e Capricórnio.

Orunmilá ou Ifá: orixá primordial masculino, forma com Iemanjá outro casal
primordial, gerando novos orixás. Rege a simplicidade e a síntese dos conhecimentos

A Bíblia do Espiritualismo Página 61


adquiridos no xirê, gravados no ori, a “cabeça”, o lugar da alma que guarda as coisas
importantes, a memória da alma. Domina o oráculo, a arte da adivinhação, que seria
obtido através do conhecimento dos mitos e das personalidades, pois as pessoas
costumam repetir os comportamentos ao longo da história. Costuma ser associado aos
signos astrológicos Capricórnio e Aquário.

Olorum ou Olodumaré: o ser supremo, criador do Orum, o mundo espiritual, do


Ayê, o mundo material, e da humanidade. Enfim, é o nome dado a Deus pelos africanos.

Mas o entendimento das personalidades dos orixás só fica claro no dinamismo dos
mitos. Nos primórdios, Olorum pede a Oxalá e Odudua que façam a criação do mundo,
o aiê, e da humanidade. Oxalá e Odudua formam um casal conflituoso, lembrando o
conceito Yin-yang, onde yin é o princípio feminino, a água, a terra, a passividade,
escuridão e absorção. O yang é o princípio masculino, o fogo, o ar, a luz e atividade.
Orunmilá, sempre acompanhado de Exu, vêm em auxílio, para acalmar os conflitos
entre Oxalá e Odudua, e ajudar na criação.

A primeira humanidade era extremamente desrespeitosa com a natureza, que por


sua vez é um princípio sagrado, a origem da vida. E por isso Iemanjá, a rainha do mar,
interveio destruindo essa primeira humanidade, e possibilitando assim o surgimento de
outra. Iemanjá também aparece em vários mitos como esposa de Oxalá, e às vezes de
Orunmilá.

Oxalá, Odudua, Iemanjá e Orunmilá costumam aparecer como pais de novas


gerações de orixás, complementando o panteão africano, trazendo novas personalidades,
novos conhecimentos, e assim seguindo-se a evolução da Vida.

Mas o conflito original permanece. Há diversas lutas heroicas nas narrações, ora
entre Odudua e Oxossi, ora entre Nanã e Ogum, ora entre Ogum e Xangô, e várias
outras. E o que se percebe são dois grandes grupos de orixás: um mais voltado à Terra,
ao Aiê (Odudua - Iá Mi Oxorongá - Nanã, Oxum, Xangô, Obá e outros), e outro mais
voltado ao Orum, o mundo espiritual (Oxalá, Orunmilá, Ogum, Iemanjá, Euá, Iansã,
Obaluaê e outros). Enfim, a dualidade e a diversidade aparecem mais uma vez como
pilares fundamentais da natureza e do universo.

A Bíblia do Espiritualismo Página 62


Olorum

Oxalá (às vezes Orunmilá) Oxalá (às vezes Orunmilá)


e Odudua - Iá Mi Oxorongá - Nanã e Iemanjá

Obaluaê Iansã Oxumaré Ossaim Euá Obá

Exu Ogum Oxossi Xangô Oxum

Árvore genealógica da mitologia africana.

Com base nesses estudos podemos concluir que, quando nascemos, um


determinado modelo físico-mental, uma determinada personalidade, nos seria então
imposta pela fisiologia humana, em conformidade com o ciclo da natureza vigente
naquele momento. E, de acordo com essa personalidade, entidades espirituais
arquetípicas, como as divindades, se ligariam a nós, de acordo com a afinidade de
características, e nos influenciariam durante a vida. Na morte, porém, essa ligação seria
desfeita, pois esse modelo de personalidade gravado no corpo físico morreria junto com
o corpo, restando apenas a nossa alma, que contém a nossa memória, experiência de
vida e predisposições pessoais. E a mais importante lição que podemos tirar disso tudo:
não somos nossos arquétipos, não devemos ser nossos arquétipos. Porque se formos,
permitirmos que esses conteúdos inconscientes se manifestem sem controle, deixaremos
de ser um indivíduo, com personalidade própria (que é a nossa missão maior), e
passaremos a ser apenas um veículo de manifestação desses arquétipos. A solução para
esses casos é o processo de conscientização desses conteúdos, dessas formas de ser,
para que possamos então entender essas personalidades em profundidade, e, depois de
compreendidas, possamos avaliar e escolher o que queremos que faça parte de nosso ser
particular.

A Bíblia do Espiritualismo Página 63


A Bíblia do Espiritualismo Página 64
O Caminho de Evolução da Alma

Os Estados da Alma

A alma saudável é aquela que possui elementos do si-mesmo ou Eu maior


incorporados ao Eu consciente. O Eu maior é de natureza etérea, espiritual, divina. É
uma parte de Deus, a “centelha divina”. No processo natural de desenvolvimento o Eu
vai sofrendo transformações ao longo da vida, incorporando elementos desse Eu maior.
De uma forma geral, quanto maior for o conteúdo divino compreendido, conscientizado
e incorporado pelo Eu, maior a saúde da alma. Logo, realizar esse processo é vital para
o ser humano. Mas a verdade é que realizar essas transformações (a verdadeira
alquimia) é algo muito difícil e poucos conseguem. A grande maioria das pessoas tem
seu desenvolvimento orientado somente pelos objetos externos, pela sociedade, o que,
no geral, impede que os processos psíquicos de evolução da alma ocorram.

O objetivo do universo, ou seja, o plano de Deus, que pode também ser chamado
de Projeto Divino, é em resumo o desenvolvimento e amadurecimento de todas as
almas. E o processo de desenvolvimento da alma é uma caminhada ascendente, como o
subir de uma escadaria, ou uma longa caminhada, por meio de várias encarnações, cada
uma com seus sofrimentos, sacrifícios e aprendizados.

Deus cria todas as almas iguais. E, ao longo dos séculos, as almas vão
desenvolvendo individualidade, consciência, capacidades, moralidade e virtudes,
através da prática de seus hábitos. E hoje, assim como sempre, o principal meio para
que esse desenvolvimento ocorra são as dificuldades e o sofrimento, exigindo a
superação das próprias capacidades. Cada alma acaba desenvolvendo suas
particularidades, formando uma individualidade, e o conjunto das almas forma o reino
de Deus. É um conjunto, mas cheio de diversidades. Além das particularidades de cada
alma, ao longo do tempo novas almas nascem, e, obviamente, em um estado de
desenvolvimento menor que as demais, o que torna ainda mais diversificado o conjunto
das almas. E todos esses diversos têm de conviver harmonicamente, uns ensinando aos
outros.

Uma das melhores formas para se avaliar o real estado de uma alma é observando
suas características após a morte do corpo físico, quando a alma está em estado “puro”,
sem a influência do corpo físico. E em razão disso, a mediunidade, capacidade de
comunicação com os espíritos, pode tornar-se um recurso importante. Uma das
principais observações dos médiuns sobre os espíritos contatados é que eles têm uma
personalidade muito semelhante à que tinham quando no corpo físico. Até a aparência é
a mesma, nos casos em que os médiuns “visualizam” o espírito. Enfim, a personalidade

A Bíblia do Espiritualismo Página 65


não se altera com a morte. São as mesmas tendências, virtudes e manias. Logo, a
importância de se conseguir um estado de saúde e plenitude da alma ainda em vida,
quando há mais possibilidades de transformação, e dessa forma gozando um estado de
plenitude, paz e liberdade após a morte. A vida na Terra é portanto um instrumento de
transformação que precisa ser bem utilizado. São os nossos hábitos atuais que
determinarão o estado de nossa alma e a vida futura que teremos.

Quando uma alma desvia-se do caminho natural de desenvolvimento espiritual, e


assim desconecta-se do contato com Deus e com a dimensão espiritual, esse ser entra
em um estado doentio, um estado de sofrimento. Esse estado, caracterizado por
sentimentos de abandono, inferioridade, vaidade, inveja e vontade de poder, pode ser
chamado de um estado infernal. E os agrupamentos dessas almas formam as dimensões
infernais: “há muitas moradas na casa de meu Pai”. Segundo o Espiritismo, existe uma
dimensão espiritual chamada “umbral”, na qual residem as almas que não conseguiram
libertar-se do mundo material, pois ainda estão ligadas a ele por algum laço, e por isso
não conseguem ascender a dimensões mais espirituais e felizes. No umbral as almas
sofrem, com fome, sede e angústia, pois estão ainda ligadas a coisas da vida terrena,
mas já não têm mais a dimensão material à disposição, onde inclusive podiam mentir,
fingir, enganar e usurpar a vida de outros, explorando aquilo que não pertencia a eles,
escravizando outras pessoas. E por isso não desenvolveram nem sabedoria, nem
virtudes próprias. Sem o corpo físico, resta só o corpo espiritual, a alma. Se ela não foi
desenvolvida durante a vida, após a morte sofre muito, e, às vezes, não sobrevive.

A alma humana não pode ser analisada como algo independente, mas como uma
entidade que só pode ser entendida plenamente se considerarmos o sistema espiritual do
qual faz parte. Para entendermos essa relação de interdependência basta observarmos a
natureza. Uma planta depende do solo, da água, da luz, do ar, e, fora desse contexto,
morre. Os biólogos, estudiosos da vida, sabem bem que essa interação é o pilar
fundamental da natureza. A ecologia, mecanismo de trocas da natureza, que permite a
sustentação da vida, é o mesmo princípio que há na interdependência espiritual. A alma
recebe os fluidos espirituais de Deus e dos espíritos superiores, e esse fluido espiritual,
chamado de luz, alimenta nossa alma, através dos nossos chakras, que funcionam como
pontos de conexão que unem nosso corpo, nossa alma, e o universo. A alma, energizada
com a luz divina, emite uma aura, um brilho ao seu redor, sinalizando um estado de
graça, e sua verdadeira natureza. A aura, quando grande e luminosa, é o sinal de uma
alma desenvolvida e em harmonia com o universo. E é por isso que em muitas imagens
de santos católicos existe uma auréola acima da cabeça, simbolizando o grande brilho
de aura de um ser elevado.

A Bíblia do Espiritualismo Página 66


Conexão espiritual: a luz divina despertando a aura.

Auréola dos santos católicos, simbolizando uma aura muito desenvolvida.

Mas existe a situação contrária: a falta de ligação com as dimensões de luz, e,


consequentemente, a grande probabilidade de ligação com seres de pouca luz. A vida
sem espiritualidade, sem a consciência de Deus e de nossa natureza espiritual, forma
almas incompletas, deturpadas, doentias, que não compreendem formas mais elevadas
de pensamento, mas compreendem apenas formas muito primitivas de se viver, pouco
elaboradas, sem ética, sem virtude, sem cultura, sem esforços e sacrifícios, sem respeito
às leis naturais. São formas de viver “extrativistas” e “predatórias”, baseadas na
usurpação, em obter vantagens sobre os outros, em explorar e extrair vantagens, de tudo
e de todos, sem colaborar em nada para o bem comum, e nem pelo próprio bem.

A Bíblia do Espiritualismo Página 67


As almas dos que morrem nesse estado de espirito doentio, que não são poucas,
não conseguem ascender às dimensões espirituais, aonde inclusive deveriam ficar todos
os espíritos desencarnados. Não conseguem, ou, muitas vezes, não o querem, pois são
dimensões onde não são possíveis os comportamentos mesquinhos com os quais estão
acostumados. Esses espíritos pouco evoluídos preferem então se aproximar do mundo
dos encarnados, na intenção de voltar a fazer o que costumavam: sugar o que há de bom
na vida dos outros. São os “vampiros espirituais”. Manter-se conectado às dimensões
espirituais elevadas minimiza a ação dos vampiros espirituais, que têm como opção
ligar-se somente aos encarnados semelhantes a eles. Quando estamos alinhados às
orientações superiores, sabemos bem quem somos e o que devemos fazer na vida. Mas,
no contrário, quando não sabemos ao certo nem quem somos, nem o que fazer na vida,
abrimos espaço para os espíritos usurpadores comandarem nossas vidas, sejam eles
espíritos encarnados ou desencarnados. Além disso, abrimos espaço também para as
convenções sociais dominarem nossas atitudes.

Existem portanto dois estados básicos de alma: um saudável, em que a alma está
conectada à essência do universo, e por isso funciona plenamente. Outro em que a alma
não está conectada à essência do universo, não age nem pensa de acordo com os
princípios universais, e busca sobreviver usurpando e sugando o fluido de vida de outros
seres, como um parasita, um sub-ser.

Ou seja, o principal recurso para se alcançar a saúde da alma ainda é, sem dúvida
alguma, manter-se conectado ao mundo espiritual, o qual é a nossa raiz, nossa essência,
nossa família. Nossa alma é uma parte de Deus, e faz parte de um complexo mecanismo
espiritual. Não há como sermos verdadeiramente felizes sem estarmos conectados a
Deus e ao mecanismo espiritual do qual fazemos parte. Realizar essa conexão com a
natureza e com o universo é fundamental. Mais do que isso, a vida só tem realmente
sentido quando estamos espiritualmente conectados ao universo, realizando a função
que cabe a cada ser.

A Bíblia do Espiritualismo Página 68


As Leis e o Objetivo do Plano Divino

Existe uma clara diferença entre as leis divinas e as leis humanas. A humanidade
conseguiu um avanço extraordinário ao estabelecer as Constituições das Nações, os
Estados de Direito. Pessoas realmente nobres conseguiram estabelecer (a duras penas)
leis fundamentais de proteção aos direitos humanos básicos, como a liberdade, a
democracia, a proteção à infância e à juventude, o direito à saúde e à educação. Leis que
inclusive estão bastante alinhadas às leis divinas. Mas, são textos teóricos, e
infelizmente estão longe de serem aplicadas na prática. A verdadeira lei humana são as
regras das convenções sociais, ou seja, a imitação do comportamento da maioria. Nesse
contexto (nada saudável), os comportamentos mais monstruosos podem ser aceitos
como normais, e isso explica muitos dos absurdos que vemos. Enfim, as convenções
sociais são as verdadeiras leis humanas, pois são as que realmente são aplicadas no dia a
dia, e não a legislação formal.

E quanto às leis divinas? De que forma podemos descobrir quais são elas? Através
da observação filosófica e científica da vida e da natureza, e de uma boa análise dessas
observações. As leis divinas são diferentes das leis formais, as leis escritas que
conhecemos, que, se não forem cumpridas, os transgressores são punidos. As leis
universais são na verdade as melhores formas de proceder entre as infinitas
possibilidades. É mais uma orientação para trilharmos um caminho rumo à Vida e à
plenitude. Sem essa orientação corremos o risco de nos perdermos entre os infinitos
caminhos, alguns inclusive que podem nos levar ao desespero e à morte.

Depois de muita observação, questionamentos e reflexões, pude identificar as


seguintes leis divinas ou universais:

A lei da evolução das almas ou lei da humildade e do aprendizado.

A lei do juízo próprio e da liberdade.

A lei da justiça divina ou lei do carma ou lei do retorno.

A lei do amor universal.

E a lei da família ou da obrigação para com os filhos.

A Bíblia do Espiritualismo Página 69


O projeto de Deus para a humanidade pode ser resumido em uma frase: o
desenvolvimento de todas almas. O longuíssimo trabalho de melhoria de todas as almas,
tão diversas em níveis e personalidades. Para executar tão árdua tarefa, o Plano Superior
conta com algumas estratégias. Por exemplo: forçar a convivência de almas que se
odeiam em um mesmo grupo, família, trabalho ou outros grupos, para que aprendam a
se aceitar, e a melhorar. Ou, reunir pessoas com um mesmo defeito para que o defeito
fique evidente. Ou, intervenções diretas de espíritos trabalhadores, ou seja, anjos, para
realizar as mudanças necessárias. Ou ainda, dificuldades, pobreza e doenças, etc.

Sendo as dificuldades e o sofrimento os principais recursos para que haja o


obrigatório desenvolvimento das almas, muito atribulada é a vida do ser humano na
Terra, chamada em uma passagem da bíblia de “o vale de lágrimas”. Ninguém quer
sofrer, ninguém gosta de sofrer, todos querem apartar o sofrimento de suas vidas. E é
essa a força que vai impulsionar o ser humano a um aprimoramento de sua alma, a uma
transformação interior rumo a uma forma melhor de viver.

Estamos portanto em uma grande escola, em aprendizado. E o orgulho impede o


aprendizado, pois o orgulhoso acha que sabe tudo o que precisa saber, e bloqueia-se a
qualquer conceito novo. E por isso o orgulho e a teimosia estão entre os piores pecados.
A humildade, ao contrário, permite a conscientização de uma verdade fundamental: que
muito pouco sabemos. E, a partir da conscientização dessa verdade, a pessoa fica aberta
ao aprendizado, que é a missão fundamental do ser humano na Terra. Como dizia
Sócrates, que inclusive era em sua época chamado de “o maior de todos os sábios”: “só
sei que nada sei”. Algumas pessoas são capazes de cometer erros toda uma vida,
causando enormes sofrimentos, a si mesmas e a outras, simplesmente porque não
conseguem admitir um erro. Enfim, a evolução da alma só é possível com uma
abundante e verdadeira humildade, que por sua vez é a raiz da capacidade de
aprendizado e das transformações da alma.

Ao iniciarmos por esse caminho de evolução, de humildade, aprendizado e


transformações da alma, percebemos outra diretriz universal: cada ser deve construir
uma personalidade própria. Autonomia, juízo próprio, características pessoais próprias e
autênticas. Enfim, precisamos todos ter uma capacidade própria de avaliar a realidade. E
um primeiro passo é estabelecermos formas de diferenciar o certo do errado. “É pelos
frutos que se conhece uma árvore”, disse Jesus aos seus discípulos quando lhe
perguntaram como saber quem seriam os verdadeiros e os falsos profetas, ou seja, como
diferenciar o certo do errado, o bem do mal. Essa lição pode ser aplicada a todas as
escolhas que tivermos que fazer na vida.

Os frutos de uma árvore são os resultados. Uma boa árvore é uma pessoa ou uma
situação que traz resultados positivos à vida das pessoas. E também disse Jesus: “se uma

A Bíblia do Espiritualismo Página 70


árvore não dá bons frutos, atire-a no fogo”. Traduzindo a metáfora, não devemos
continuar participando de algo que não traz bons resultados à nossa vida, seja um
trabalho, uma amizade, um casamento, uma religião, uma forma de viver ou uma
concepção de vida que esteja nos fazendo mal, nos fazendo infelizes.

As emoções também podem ser fortes aliadas nessas avaliações: a tristeza, por
exemplo, é um alerta da nossa alma de que aquilo em que estamos envolvidos nos faz
mal, e da mesma forma a alegria é um sinal de que estamos em um bom caminho.
Enfim, para se distinguir o bem do mal, é preciso usar bem os nossos recursos
interiores: o coração, as emoções, a intuição, o raciocínio e o juízo. Recursos que bem
usados podem guiar as pessoas para um bom caminho, sem a necessidade de seguirmos
cegamente os padrões de comportamento.

É claramente observável na natureza que a diversidade dos seres é uma lei


fundamental. E se cada ser precisa desenvolver seu próprio juízo, e cada ser precisa ter
sua própria personalidade e características próprias, a liberdade torna-se uma lei
fundamental. As visões de mundo de cada um podem ser compartilhadas com outras
pessoas, mas nunca impostas. Pois é lei que cada um desenvolva a sua própria visão.
Mas, infelizmente, é comum nos depararmos com pessoas com o sinistro impulso de
impor suas visões de mundo a outras pessoas (e, não por coincidência, também são as
pessoas com as piores visões do mundo). Enfim, liberdade é fundamental: respeite a
liberdade dos outros e exija que a sua seja respeitada.

Existe na essência da natureza um mecanismo de balanço, de equilíbrio. Isso pode


ser facilmente observado em quase tudo no universo. Cada ação recebe uma reação
exatamente proporcional, como explica a terceira lei de Newton ou princípio da ação e
reação. Tudo o que fazemos para outros seres, de bom ou de ruim, volta para nós na
mesma exata intensidade. É o que os indianos chamam de lei do carma, e o que os
umbandistas chamam de lei do retorno. É bem simples e fácil de entender. Mesmo
assim vemos as almas reencarnando centenas de vezes para pagarem suas dívidas com
a lei do carma.

Observando bem o mundo podemos deduzir muitas outras leis. E a maior delas
parece ser o amor. O amor verdadeiro é um desejo de união harmônica dos seres e das
coisas. Um desejo de que o universo funcione bem, que a vida seja estimulada e
protegida, que os seres vivam a união (desde que mantidas suas individualidades). O
amor parece ser o próprio desejo de Deus. E se conseguirmos vivenciar o amor no dia a
dia, estaremos em conformidade com a essência do universo, ou seja, Deus. Mas, como
vivenciar o amor no dia a dia? Amando primeiramente esse grande Projeto Divino
chamado Vida. As escrituras orientam: ame o próximo, ame os inimigos. Mas temos
dificuldade de amar outras criaturas tão imperfeitas quanto nós ou mais. Porém, quando

A Bíblia do Espiritualismo Página 71


nos tornamos conhecedores do plano de Deus em andamento, que é o desenvolvimento
de todas as almas, algumas pouco amadurecidas, outras já santificadas, passamos a amar
esse ideal, esse projeto, e consequentemente temos mais facilidade para entender e
perdoar as imperfeições, e vivenciar no dia a dia o amor que melhora e ilumina tudo, e
que é a matéria-prima da sustentação da vida.

Além da humildade, da liberdade, da justiça e do amor, há muitas outras virtudes


que compõem uma alma bem desenvolvida: dever e sacrifício, honra e dignidade,
doação e caridade, fé e piedade, tolerância, paciência e perdão, coragem e boa-vontade,
sinceridade. As virtudes são em resumo a forma correta de se viver, um código de
moralidade da humanidade. As atitudes contrárias a esse regulamento de vida são os
vícios, os pecados. Cada virtude possui seu contrário, um pecado. Da mesma forma que
a lei do amor, todas as virtudes estão em geral ligadas à dedicação e ao
comprometimento com o próximo, com a sociedade, com o bem-estar de todos,
inclusive de si mesmo.

Assim como a maior das leis é a do amor, pois pode-se a partir dela deduzir as
demais, o egoísmo é o maior dos pecados, pois dele se originam os demais. Pensar
somente em si mesmo é o exato contrário da postura virtuosa e correta. O egoísmo, a
vaidade, a vontade de poder e a inveja não permitem a frutificação de verdadeiras
riquezas como a amizade, o amor, a família e uma sociedade saudável. É uma atitude
nociva ao bem-estar geral, mas, infelizmente, a atitude egoísta e competitiva é ainda um
padrão de comportamento.

Outro pilar fundamental de comportamento são os valores familiares. Os deveres


familiares confundem-se com os próprios deveres do ser humano. A família é a célula
básica de qualquer sociedade. Uma sociedade só tem sucesso se cada família que a
compõe tem sucesso. Se as famílias são doentes, assim será a sociedade. O ser humano
possui uma característica muito peculiar: é extremamente frágil e dependente durante
sua infância e juventude. Dentre os animais, é o que tem o mais longo tempo de
amadurecimento para atingir a idade adulta. E por isso, ser pai ou mãe é ser totalmente
responsável por uma vida humana, e todas as vidas são sagradas. Dar condições de
saúde, educação e desenvolvimento às crianças e jovens é o dever mais sagrado da
humanidade. A negligência a esse dever é hoje a causa de quase todos os males que
assombram a humanidade. Além de fornecer as condições básicas, alimentação, roupas,
médico, escola, etc., é preciso preparar os filhos com valores, sabedoria e virtudes, o
que só é possível se os pais já desenvolveram em si mesmos essas virtudes. Portanto,
uma das principais obrigações dos pais é desenvolver muito bem a própria
personalidade.

A Bíblia do Espiritualismo Página 72


Uma das maiores fontes de regras morais de que a humanidade dispõe é o famoso
“Sermão da Montanha”, presente no evangelho de São Mateus. Nele Jesus esclarece
muitos conceitos equivocados da humanidade, explicando a essência e o motivo de cada
regra moral. A temática central é uma contundente crítica à hipocrisia, à falsidade, à
retórica com objetivos mesquinhos, à vida de aparências. O ser humano conhece as leis
morais, e tem plena capacidade de entender o porquê de cada uma. Porém, não se sabe
ao certo por qual motivo, prefere manipular as situações e burlar essas leis. Vaidade?
Vontade de poder? Egoísmo? Seja qual for o motivo, uma coisa é certa: tal atitude só
causa sofrimento.

Analisemos esse trecho do evangelho de São Mateus: “Não penseis que vim abolir
a Lei e os Profetas. Não vim para abolir, mas para cumprir. Em verdade, eu vos digo:
antes que o Céu e a Terra deixem de existir, nem uma só letra ou vírgula serão tiradas
da Lei, sem que tudo aconteça. Portanto, quem desobedecer a um só destes
mandamentos, por menor que seja, e assim ensinar os outros, será considerado o menor
no Reino dos Céus. Porém, quem os praticar e ensinar será considerado grande no Reino
dos Céus. Eu vos digo: se vossa justiça não for maior que a dos escribas e dos fariseus,
não entrareis no Reino dos Céus.”

As leis divinas precisam ser aprendidas, interiorizadas e praticadas, de forma


plena, por todos os seres humanos, por todas as almas, sem exceções. Isso pode levar
muitos e muitos séculos, mas esse é o destino de todos, esse é o plano de Deus.
Portanto, todos os defeitos das almas precisam ser corrigidos. Nenhum pecado ou
injustiça é aceito. Todos precisam corrigir-se, ao longo de suas muitas vidas na Terra. A
lei e a justiça divinas são algo que não se pode contornar.

A Bíblia do Espiritualismo Página 73


A Bíblia do Espiritualismo Página 74
Guias Espirituais e Anjos Guardiões

Existe toda uma população de espíritos muito superiores a nós, em sabedoria,


inteligência e virtudes. São espíritos que estão à nossa frente na longa jornada de
desenvolvimento das almas. O conhecimento das leis divinas, dos regulamentos para o
bom andamento do universo, está embutido no cerne dessas almas. Esses espíritos
alcançaram a sabedoria, a iluminação, e buscam compartilhar com outros seres esse
estado de graça, auxiliando aqueles que ainda sofrem. Para esses espíritos superiores,
auxiliar os que sofrem é um dever, e ao mesmo tempo uma dádiva, um prazer. Faz tão
bem a eles quanto às pessoas auxiliadas.

Essa população de espíritos superiores é muito diversificada em níveis de


desenvolvimento, pureza, personalidade e afinidades. Mas, apesar dessa grande
diversidade, é possível separá-los em dois grandes grupos: os guias espirituais e os anjos
guardiões.

Espíritos com alto nível de desenvolvimento e pureza estão mais distantes do


mundo material, em razão do próprio estado do seu ser, e por isso o auxílio que podem
nos dar são orientações, conhecimento, rumos conceituais a serem seguidos. Esses
seriam então os nossos guias espirituais. Eles assemelham-se muito à definição de
arquétipos de Jung, e consequentemente aos conceitos de divindades e santos.

Os guias espirituais estão ligados a nós por laços de afinidade de personalidade,


ou seja, existem muitas semelhanças entre a personalidade do guia e a do seu protegido.
Por exemplo: na Umbanda, os médiuns, com o auxílio de um orientador, descobrem
quais são os seus orixás-guia. E, normalmente, esses orixás tem uma grande semelhança
com a personalidade do médium e com seus signos astrológicos. É o orixá pessoal,
também chamado de “pai de cabeça” ou “mãe de cabeça”, quem guia a formação da
personalidade de seu “afilhado”, influenciando com vibrações de conceitos, formas de
proceder e valores que vão moldando a personalidade e a forma de agir. Essa
personalidade do orixá é chamada na Umbanda de ingorossi, ou seja, as características
essenciais do orixá, seus valores, sua forma de proceder, e, durante os trabalhos de
desenvolvimento, o médium exercita o contato, o entendimento e a absorção desse
ingorossi, para um fortalecimento da própria personalidade.

Além das divindades arquetípicas, as pessoas podem ter, figurando entre seus
guias, espíritos que não sejam seres de pureza arquetípica, mas que ainda assim
possuam elevado conhecimento das leis divinas. Esses guias espirituais não-arquetípicos
também possuem grande afinidade com seu protegido, e algumas vezes são nossos
próprios antepassados, biológicos ou espirituais.

A Bíblia do Espiritualismo Página 75


A boa relação com nossos guias espirituais é fundamental para o nosso sucesso. E
a boa relação com os guias é como a relação mestre-discípulo encontrada em antigas
tradições. O discípulo precisa ser humilde, obediente, confiar em seu mestre, entender
bem as suas orientações, e colocá-las em prática.

Se por um lado os guias espirituais nos auxiliam com orientações, os anjos


guardiões ou anjos da guarda são os espíritos que nos auxiliam em questões mais
práticas e operacionais. Mais do que isso, eles são os responsáveis pela execução das
tarefas necessárias ao cumprimento dos planos de Deus. São os trabalhadores de Deus,
os executores da vontade divina.

Os anjos são os responsáveis pela execução dos nossos carmas, nossos destinos,
sejam eles bons ou ruins. Eles tentam nos manter dentro de um caminho que possibilite
a plena realização do nosso Eu maior. Mas sempre respeitando nosso livre arbítrio, pois
precisamos ter um aprendizado real, o desenvolvimento de um juízo próprio.

Os anjos se tornam figuras polêmicas quando constatamos que eles nos fazem
também coisas “ruins”. Ruins entre aspas porque esses remédios amargos são para o
nosso próprio bem maior, a saúde real de nossas almas. Mas ao mesmo tempo em que
nos administram remédios amargos, também nos mantém vivos, afastando de nós
grandes perigos, nos ajudam a conseguir as necessidades da vida, como um emprego,
um casamento, nossa saúde, etc. Enfim, os anjos nos impõem um fardo de peso coerente
com o que suportamos carregar, e um destino em conformidade com as orientações do
Plano Superior. O anjo guardião é a entidade espiritual mais próxima de nós, e a mais
importante para o nosso bem-estar.

Existe ainda outra questão inquietante para os estudiosos das entidades espirituais:
todos esses espíritos superiores, incluindo os seres arquetípicos e os anjos, já passaram
pela forma humana? Ou os anjos e as divindades, como os orixás, são seres que
surgiram diretamente a partir da luz divina de Deus, sem passar pela forma humana?

É fato que o objetivo do universo, o plano de Deus, é o desenvolvimento e


amadurecimento de todas as almas. As almas, a cada dia, a cada ano, a cada vida, vão se
desenvolvendo, amadurecendo, criando autonomia e responsabilidade, por si mesmas e
pelas esferas sociais em que está envolvido. E essa evolução se realiza através do
trabalho que a pessoa é capaz de executar. É através do trabalho que se manifesta a
responsabilidade que cada ser tem no universo. Na medida em que a alma desenvolve
suas qualidades interiores, a reponsabilidade, o conhecimento das leis universais, o
amor, etc., o universo lhe atribui maiores responsabilidades nesse grande projeto
chamado Vida. Inicialmente, o ser precisa aprender a cuidar do bem-estar e segurança
de si mesmo. Depois, do bem-estar e segurança de seu grupo mais próximo, ou seja, sua

A Bíblia do Espiritualismo Página 76


família. E assim por diante, até iniciar em esferas superiores de responsabilidade, como
acontece com os anjos e orixás.

Os anjos, na teologia católica, estão organizados em uma longa estrutura


hierárquica: serafins, querubins, tronos, dominações, virtudes, potestades, principados,
arcanjos, e, finalmente, os anjos. Essa organização em hierarquia reforça a teoria de
evolução dos espíritos, e do aumento de suas responsabilidades. Segundo o Espiritismo,
os anjos seriam espíritos que já alcançaram a perfeição possível de ser alcançada pelas
criaturas, por isso dedicam sua existência a fazer cumprir a vontade de Deus na Criação,
por serem capazes de compreendê-la completamente. As almas ou espíritos são criados
simples e ignorantes, sem conhecimentos nem consciência do bem e do mal, porém,
aptos para adquirir o que lhes falta. O trabalho é o meio de aquisição, e o fim, a
perfeição.

Os seres arquetípicos, ou seja, as divindades, como os orixás, possuem funções


especificas no universo. Alguns cuidam do cumprimento das leis e da justiça divina,
outros, cuidam da maternidade e da família, outros, cuidam da evolução e das
transformações necessárias, e assim por diante. São criaturas que evoluíram muito em
sua reponsabilidade e conhecimento, e por isso lhe foram atribuídas funções de nível
universal. Nos terreiros de Umbanda e Candomblé, onde muitas entidades espirituais se
apresentam, através dos médiuns, nas giras, os orixás demonstram um comportamento
diferente de outras entidades: eles não falam, mas transmitem aos presentes seus
ingorossis, a essência de suas personalidades, enquanto fazem seus movimentos em
forma de dança no centro do salão. Outras entidades, como os caboclos, pretos-velhos,
baianos e marinheiros, demonstram um comportamento mais próximo do ser humano
encarnado, e falam com as pessoas presentes, de forma parecida com a que falamos no
dia a dia, mas com um conhecimento da vida maior do que o nosso, por terem já vivido
muitas vidas, e por estarem agora em outro plano, no mundo espiritual, livres das
dificuldades terrenas.

Enfim, esses espíritos superiores foram almas humanas. Já passaram pela forma
humana, através da difícil missão da vivência na Terra, muitas e muitas vezes, pois só
assim seria possível a aquisição do conhecimento e das virtudes de comportamento
necessárias a esses seres evoluídos.

A Bíblia do Espiritualismo Página 77


A Bíblia do Espiritualismo Página 78
Técnicas para a Harmonização da Alma

A prática espiritual tem como essência a conexão entre nosso Eu e a dimensão


espiritual. A palavra “religião”, de origem latina, significa religação, reconexão, enfim,
reconectar-se à dimensão espiritual, transcender, ultrapassar a dimensão material. Por
que essa conexão é fundamental? Porque somos seres espirituais. Somos almas, partes
do próprio Deus. Essa é a nossa essência. E por isso só nos sentimos realmente vivos
quando estamos conectados à família da qual fazemos parte: o mundo espiritual.

A Essência da Prece

Rezar é a mais importante forma de contato com a dimensão espiritual. Falar com
Deus, com os santos e os anjos, pedir orientação, proteção, paz e saúde. Na bíblia, Jesus
Cristo nos ensina a melhor forma de rezar: “Quando orardes, não façais como os
hipócritas, que gostam de orar de pé nas sinagogas e nas esquinas das ruas, para serem
vistos pelos homens. Em verdade eu vos digo: já receberam sua recompensa. Quando
orares, entra no teu quarto, fecha a porta e ora ao teu Pai em segredo; e teu Pai, que vê
num lugar oculto, recompensar-te-á. Nas vossas orações, não multipliqueis as palavras,
como fazem os pagãos que julgam que serão ouvidos à força de palavras. Não os
imiteis, porque vosso Pai sabe o que vos é necessário, antes que vós lho peçais. Eis
como deveis rezar: Pai Nosso, que estais no Céu, santificado seja o vosso nome; venha a
nós o vosso Reino; seja feita a vossa vontade, assim na Terra como no Céu. O pão nosso
de cada dia nos dai hoje; perdoai as nossas ofensas, assim como nós perdoamos aqueles
que nos têm ofendido; e não nos deixeis cair em tentação, mas livrai-nos do mal. Porque
teu é o Reino, o Poder e a Glória, para todo o sempre. Porque, se perdoardes aos
homens as suas ofensas, vosso Pai celeste também vos perdoará. Mas se não perdoardes
aos homens, tampouco vosso Pai vos perdoará.” (São Mateus, 06:05 a 15).

O “Pai nosso, que estais no céu” é Deus, inteligência universal, que a tudo criou,
inclusive nossos corpos e nossas almas, e a tudo conduz. Tudo o que existe surgiu da
mente e das mãos dessa inteligência superior. Sendo assim, nada mais correto que
louvá-lo e respeitá-lo: “santificado seja o vosso nome”. Se pensarmos bem, toda a prece
precisa ser iniciada com um agradecimento. Tudo o que existe, inclusive nossa alma,
nosso corpo, nossos guias e anjos, nossa família e o mundo em que vivemos, tudo foi
criado por alguém, não surgiu por acaso. Então, muito obrigado meu Deus. E muito
obrigado também a todos os espíritos iluminados, guias, santos, anjos e ancestrais, que
tanto nos ajudam em nosso dia a dia.

Seguindo, o “Pai Nosso” é uma conversa com Deus: que o Projeto Divino
aconteça, tanto na Terra, como no mundo espiritual. Não nos deixe faltar o básico, o

A Bíblia do Espiritualismo Página 79


necessário para nossa sobrevivência, pois o pão simboliza isso: o alimento, a
sobrevivência, a proteção, a saúde e a orientação.

Perdoai os nossos erros para com os semelhantes, fazendo-os sofrer, assim como
nós perdoamos aqueles que cometeram erros para conosco, nos prejudicaram, nos
fizeram sofrer. Deus a tudo perdoa, mas é fundamental que o ser humano perdoe a si
mesmo e aos seus semelhantes, e tenha uma conscientização de que seus atos podem
prejudicar as pessoas, fazê-las sofrer. Para que o sofrimento acabe, é preciso que todos
tratem os demais como cada indivíduo gostaria de ser tratado. E dessa forma
alcançaríamos a harmonia. Enfim, limpe seu coração, perdoando a todos que lhe
ofenderam ou prejudicaram. Seja humilde, reconheça os seus erros, faça um exame dos
seus defeitos: “Dois homens subiram ao templo para orar; um era fariseu, o outro,
publicano. O fariseu, conservando-se de pé, orava assim, consigo mesmo: Meu Deus,
rendo-vos graças por não ser como os outros homens, que são ladrões, injustos e
adúlteros, nem mesmo como esse publicano. Jejuo duas vezes na semana; dou o dízimo
de tudo o que possuo. O publicano, ao contrário, conservando-se afastado, não ousava,
sequer, erguer os olhos ao céu; mas, batia no peito, dizendo: Meu Deus, tem piedade de
mim, que sou um pecador. Declaro-vos que este voltou para a sua casa justificado, e o
outro não; porquanto, aquele que se eleva será rebaixado e aquele que se humilha será
elevado” (S. LUCAS, 18:9 a 14.).

Pedir a Deus que “...não nos deixeis cair em tentação...” é algo que nem sempre
pode ser atendido pelo Plano Superior, pois temos livre-arbítrio, e podemos escolher o
caminho que quisermos, mesmo os errados. Seria mais prudente então pedirmos “dai-
nos orientação e força para seguirmos os caminhos mais corretos”.

E por fim, Deus, por favor, livrai-nos do mal, nos concedendo a proteção divina,
através dos anjos guardiões, para que tenhamos segurança e saúde para seguirmos em
nosso caminho de desenvolvimento, nossa missão.

E agora, peça o que você mais precisa: “Seja o que for que peçais na prece, crede
que o obtereis e concedido vos será o que pedirdes” (S. MARCOS, 11:24.). Peça e lhe
será dado.

As preces são o recurso máximo que dispomos para refazermos nossa alma. Na
prece, além de entrarmos em contato com a essência do universo, Deus, e dessa forma
nos sentirmos revigorados e em paz, também podemos, ou devamos, entrar em contato
com os nossos guias espirituais e com o nosso anjo guardião. Eles têm um papel
fundamental em nossa vida particular, em nosso destino, em nosso percurso sobre a
Terra. Ignorá-los é como andar pela vida com os olhos vendados. Descobrir quem são
os nossos guias espirituais e o nosso anjo guardião, e falar com eles sempre que

A Bíblia do Espiritualismo Página 80


possível, seria portanto muito importante para o nosso sucesso. Nos momentos mais
difíceis da minha vida eles foram mais do que mestres e mais do que amigos: eles foram
a minha família.

Meditação e Limpeza Espiritual

Os estados de sofrimento da alma estão em geral relacionados a uma atividade


mental excessiva: muitos medos, muitos desejos, muitas mágoas, muita ansiedade.
Enquanto que os estados de paz estão em geral relacionados a uma mente com poucos
pensamentos e emoções. “Digo-te que, se tiver paciência e não ficar perturbado, nisto
está a verdadeira alegria e a verdadeira virtude e a salvação da alma”. Essa frase de São
Francisco, que de certa forma resume ou representa bem a filosofia franciscana, nos
remete aos conceitos das religiões orientais, ao pregar uma abstenção das coisas do
mundo material e dos pensamentos excessivos, e um encontro com a plenitude e a paz
espiritual. Um estado meditativo ou contemplativo. Esse pode ser então um recurso-
chave para alcançarmos um estado de alma saudável.

A meditação, tão utilizada pelas religiões orientais, para nós ocidentais parece ser
a princípio uma prática complexa e inacessível. Mas, muito pelo contrário, é algo muito
simples, e que muitas vezes praticamos naturalmente no dia a dia: esvaziar a mente. Não
é difícil. A mais utilizada técnica é manter a atenção somente na respiração, e dessa
forma conduzir a mente a um estado de atividade mínima. Nessa técnica, a respiração
precisa ser o mais natural possível. Esvaziar a mente nos leva a uma atitude mais
confiante e natural. “Tudo é uma questão de manter, a mente quieta, a espinha ereta, e o
coração tranquilo”, como canta a música de Walter Franco. É uma prática que nos leva
a utilizar a mente de uma forma mais ampla e natural, em lugar de utilizar somente a
nossa limitada razão consciente. A “limpeza” da mente é fundamental para a saúde da
alma. Nosso dia a dia é cheio de situações que podem poluir nosso espírito com energias
negativas. Existem várias técnicas para a limpeza espiritual, mas todas são parecidas ou
relacionadas com a meditação.

A limpeza espiritual, feita em geral à noite, na hora de dormir, consiste em


eliminar todos os pensamentos e emoções excessivos ou nocivos à saúde da alma que
vivenciamos durante os dias difíceis, e ficam gravados em camadas mais externas do
nosso espírito. A técnica consiste em um exercício de imaginação conduzida, onde
visualizamos essas energias saindo de nossa aura, e sendo dissolvidas na natureza, no ar,
nas florestas ou no mar. Por exemplo: imagine essas energias sendo “desenroladas” ou
“descoladas” do corpo, da cabeça, dos ombros, de todo o corpo enfim, e sendo
encaminhadas, flutuando, para a natureza, que por sua vez dissolve essas energias e as
reutiliza beneficamente.

A Bíblia do Espiritualismo Página 81


Inserir figura exercício de limpeza espiritual.

O famoso banho de sal grosso é outro recurso bastante eficiente na limpeza de


energias negativas presentes em nossa aura. O único cuidado é não utilizar em excesso,
mas somente quando é realmente necessário, pois o banho de sal grosso, com sua
enorme força neutralizadora, pode eliminar da aura também energias positivas.

O banho de mar age de forma semelhante, e com efeitos até melhores. O mar
contém, além do sal grosso (o cloreto de sódio, sal de cozinha), muitos outros tipos de
sais e minerais, e contém também toda uma população de microrganismos vivos,
vegetais e animais. A água, já sendo um condutor natural de energia, torna-se um
condutor de energia ainda mais poderoso com a presença desses sais e biomas, e pelas
suas grandes dimensões também: quando entramos no mar, estamos também conectados
energeticamente a todos os oceanos, com seus milhares de quilômetros de extensão e de
profundidade. Talvez por isso uma das características do arquétipo de Iemanjá, a rainha
do mar, seja a capacidade de absorver todas as mágoas do mundo.

Os banhos de ervas, famosos na Umbanda, também têm grande eficácia, mas não
para limpeza, não para eliminação de energias, como acontece com o sal grosso. O
sumo das ervas, espalhado pela superfície do corpo, age como um facilitador no contato
energético entre nós e dimensões espirituais mais elevadas. Isso porque as ervas
possuem em si uma forma de vida muito pura. A extração do sumo é feita pela imersão
das ervas picadas em água quente ou fervente, como na preparação de um chá, para
depois ser coado, esfriado e derramado sobre o corpo. Porém isso deve ser feito somente
sob orientação de especialistas: existem ervas que são tóxicas, venenosas.

Terapias

A acupuntura e a ayurveda são técnicas medicinais que nasceram com o objetivo


de curar o corpo físico a partir do equilíbrio integral do ser, considerando sempre um
conjunto formado pelo espírito, pelo corpo, pelas energias que circulam pelo corpo, e
pela relação desse conjunto com o universo.

A acupuntura busca desbloquear pontos obstruídos no corpo físico, permitindo a


livre circulação da energia. Existem músculos, órgãos e glândulas que interrompem seu
funcionamento pleno por causa de experiências negativas na vida, que acabam por sua
vez sendo somatizadas, ou seja, refletem sobre o corpo físico. As agulhas da acupuntura
são inseridas em pontos externos do corpo correspondentes a esses órgãos, e, através
dessa ação estimulante, reativam o pleno funcionamento do órgão, e o restabelecimento
dos fluxos de energia.

A Bíblia do Espiritualismo Página 82


A ayurveda, nome que para os ocidentais pode sugerir algo complexo e
misterioso, consiste basicamente em técnicas de relaxamento profundo. O relaxamento
profundo, obtido principalmente através do sono profundo, é ainda um dos melhores
métodos existentes para a cura de doenças e para a obtenção de uma boa saúde. Isso
porque ainda não existe um melhor recurso de cura que os próprios sistemas internos do
corpo humano. E, estando o corpo em estado de relaxamento profundo, os sistemas
internos de cura podem funcionar plenamente.

Outra técnica que pode ajudar muito na saúde da alma é a psicanálise. Nosso
inconsciente é muito complexo, cheio de questões não resolvidas, que podem inclusive
criar vida própria e nos assombrar. Perceber, através do nosso Eu consciente, as ideias e
sentimentos presentes em nosso inconsciente, é um processo natural e obrigatório. Um
fluxo, como a correnteza de um rio, que natural e obrigatoriamente precisa trafegar, do
inconsciente em direção ao Eu consciente. Porém, a gigantesca estrutura de regras
sociais nos influencia muito, gerando um fluxo de impulsos na direção contrária: vindo
do externo e indo para nossa interioridade. As neuroses e outras patologias psíquicas são
a forma de escape da pressão gerada nesse conflito. A solução é tratar com respeito os
impulsos do inconsciente, analisando-os, refletindo sobre eles. Talvez alguns desses
impulsos estejam certos, outros não, alguns você utilize, outros não. Mas é preciso dar
ouvido a todos eles. E tratar da mesma forma os impulsos externos: analisando e
avaliando-os segundo os critérios do nosso próprio juízo, sem sentir-se obrigado a
aceitar sem questionamentos todas as regras que as convenções sociais vão criando.
Quem não consegue fazer isso por conta própria, precisa da ajuda do psicólogo, o
terapeuta que consegue rearmonizar, através de suas técnicas, a relação entre os
impulsos internos da pessoa, e os impulsos recebidos de fora. Porém, se possível, seria
melhor resolver por conta própria essas “questões não resolvidas”, falando diretamente
com as pessoas relacionadas ao problema o que se quer dizer. Ou ainda, conversar de
forma sincera com as pessoas mais próximas, que realmente nos amam, apenas
explicando o que sente. É mais natural, e mais eficiente.

O nosso dia a dia é estressante. A palavra vem do inglês, “stress”, e significa


pressão, preocupação, muita atividade. E a atividade demasiada leva a uma doença
muito conhecida: a depressão. Não é uma doença psíquica, que se trata com terapia, mas
uma desordem na bioquímica do cérebro, que precisa de um tratamento medicamentoso.
A depressão é causada por alterações nos níveis de substâncias chamadas
neurotransmissores, em especial a serotonina. É uma doença muito negligenciada, e a
falta de tratamento gera estados internos de muita angústia e tristeza que acabam
deformando a alma com o tempo. Enfim, milhares de almas, encarnadas ou não, estão
hoje em estado de sofrimento em consequência da depressão, doença que, por outro
lado, pode ser tratada sem muita dificuldade pela medicina atual.

A Bíblia do Espiritualismo Página 83


A ansiedade é outro grande vilão, causador de sofrimento e transtornos psíquicos,
entre eles a própria depressão. O ser humano tem sonhos, desejos e planos que deseja
realizar, e isso é uma característica fundamental de sua natureza. Mas, a realização dos
sonhos é sempre difícil, requer muito trabalho e planejamento. E, nesse processo, as
pessoas podem “se perder” no decorrer do “trajeto”, entrando em estados de angústia,
medo e desespero. Nesses casos, o melhor a fazer é respirar bem fundo, e recomeçar,
refletindo antes sobre toda a situação, sobre o que se deseja realmente, como conseguir,
e quais as dificuldades. E, em alguns casos mais difíceis, em que a ansiedade domina o
ser, procurar por ajuda médica.

Existem duas formas de regressão: a regressão ao estado fetal, e a regressão a


vidas passadas. Na regressão ao estado fetal, usando-se técnicas hipnóticas, em geral
pelo uso da respiração, a pessoa pode ter acesso a memórias escondidas da vida atual, e
com isso tornar-se mais consciente de si, superar traumas, e assim encontrar paz de
espírito. Nesses exercícios é possível inclusive acessar memórias de quando éramos
bebês, no berço, tomando mamadeira. As técnicas são simples, mas devem ser
conduzidas por especialistas. É uma experiência tranquila, sem grandes perigos, e até
aconselhável.

Já a regressão a vidas passadas é indicada somente em casos muito específicos.


No geral, como inclusive ensina o Espiritismo Kardecista, não é uma experiência
obrigatória, segundo o “Livro dos Espíritos”: “Ao entrar na vida corporal, o Espírito
perde, momentaneamente, a lembrança de suas existências anteriores, como se um véu
as ocultasse; entretanto, às vezes, tem uma vaga consciência disso e elas podem até
mesmo lhe ser reveladas em algumas circunstâncias. Mas é apenas pela vontade dos
Espíritos Superiores que o fazem espontaneamente, com um objetivo útil e nunca para
satisfazer uma curiosidade vã”. Em seu recente livro, “O Aleph”, Paulo Coelho fala
sobre a experiência, mas deixa claro que no ensinamento dado por seus mestres a
regressão a vidas passadas deve ser usada apenas em casos de extrema necessidade.

O Equilíbrio dos Chakras

A luz divina, o axé, o prana, o chi, enfim, a energia espiritual universal, é o nosso
mais importante alimento, o que sustenta nossa alma, nos dá saúde e equilíbrio. Mas
para recebê-la precisamos ter os nossos chakras funcionando plenamente. Os chakras
são os nossos conectores espirituais. São dispositivos que interligam três instâncias:
nosso corpo, nossa alma e o universo. Para ativarmos os nossos chakras podemos fazer
exercícios de imaginação conduzida, visualizando esse grande fluxo de energia

A Bíblia do Espiritualismo Página 84


espiritual passando através do nosso corpo e despertando o funcionamento de cada
chakra.

Muitos livros espiritualistas ou de autoajuda contém exercícios espirituais desse


tipo. No geral é preciso antes fazer uma preparação simples: cerca de dez respirações
profundas. É claro que é preciso estar em um lugar tranquilo, com a mente esvaziada,
etc. Após as respirações profundas, visualize uma luz dourada bem acima da cabeça, no
céu. Essa luz desce e penetra pelo topo da cabeça, o chakra coronário, que é de cor
púrpura e tem o formato de uma coroa, “uma flor de mil pétalas”, e gira lentamente no
sentido anti-horário, para receber melhor a luz divina. Enfim, é o chakra da nossa
conexão com Deus e o universo, o chakra da energia cósmica pura, e pode ficar
bloqueado por causa dos apegos materiais.

A luz dourada desce um pouco mais e agora atinge o chakra frontal: de cor azul
clara, localizado no centro da testa, “o terceiro olho”, representa a visão espiritual, e a
visão do mundo interior. É o chakra da percepção, e pode ficar bloqueado por causa das
ilusões. Uma bola azul clara surge no interior da cabeça, atrás dos olhos, e você percebe
essa bola pulsando e girando. E, de dentro dela, surge uma espécie de raio que sai pela
testa, e também por trás da cabeça, como um eixo, também girando. Esse eixo alonga-se
cerca de trinta centímetros de você, à frente e para trás. Nas extremidades desse eixo a
energia se espalha, formando uma cápsula que envolve o seu corpo, uma das camadas
que constituem a aura.

A luz dourada continua a descer e chega ao chakra laríngeo, de cor azul escura,
localizado na garganta, representando a expressão, a criatividade e a arte. É o chakra da
verdade, e pode ficar bloqueado por causa das mentiras (que contamos a nós mesmos).
Repita o processo anterior, visualizando uma bola de luz, agora azul escura, pulsando e
girando, a energia fluindo através de um eixo, se espalhando nas extremidades e
formando mais uma camada da aura.

Continue, repetindo o processo para cada chakra:

Chakra cardíaco: de cor verde, localizado na região do coração, representa o amor,


a compaixão, a união e a harmonia dos relacionamentos entre todos os seres. Está
relacionado ao elemento ar. É o chakra do amor, e pode ficar bloqueado por causa do
sofrimento, da tristeza.

Chakra plexo solar: de cor amarela, localizado na região do estômago, representa


a vontade, a determinação, a liberdade, a energia, o poder de realização e a ação. Está
relacionado ao elemento fogo. É o chakra da força de vontade, e pode ficar bloqueado
por causa da vergonha dos fracassos.

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Chakra sexual: de cor laranja, localizado quatro dedos abaixo do umbigo,
representa a dualidade universal, e também o nosso espaço particular. Está relacionado
ao elemento água. É o chakra da prazer, e pode ficar bloqueado por causa da culpa.

Chakra básico: de cor vermelha, localizado na base da coluna, representa a raiz,


nossa ligação com o planeta Terra, e nossos instintos de sobrevivência. Está relacionado
ao elemento terra. É o chakra da sobrevivência, e pode ficar bloqueado por causa do
medo.

Concluída a ativação do chakra básico, você percebe que a energia continua a


descer, pelas pernas, penetra no chão e busca pelo centro da Terra, feito de magma, de
rocha derretida extremamente quente. Ao alcançar o centro da Terra, uma outra energia
sobe, vinda do centro da Terra em direção ao chakra básico. Uma energia vermelha e
quente: a kundalini. Essa energia complementa a ativação do chakra básico, aumenta
sua energia, o faz pulsar e girar ainda mais.

Agora visualize essa energia vermelha subindo pelo seu corpo, energizando cada
chackra, até alcançar o topo da cabeça e ir além.

A kundalini é a energia primordial do universo, energia que emana do planeta


Terra, de natureza feminina e material. Enquanto que a luz divina é a energia da
consciência, de natureza masculina e espiritual. Esses dois fluxos de energia precisam
percorrer o nosso copo, um de cima para baixo, outro de baixo para cima. São esses dois
fluxos que fazem os chakras girarem. Aliás, a palavra chakra, do sânscrito, significa
exatamente isso: roda, círculo, ciclo.

Ao final do exercício, você terá as energias espirituais circulando pelo seu corpo,
os chakras ativados, emitindo suas energias características, e essas energias emitidas
pelos chakras formando a sua aura.

Essa é a chamada meditação dos chakras. O texto abaixo pode ajudar bastante
nesses exercícios de visualização, mais especificamente no entendimento ou
conscientização da essência de cada chakra.

Sahasrara – Coroa – Espiritual – Sabedoria – “SOU CONEXÃO”: equilibrado:


sabedoria da Unidade e que o Self reflete o Divino, troca o egoísmo pelo universal.
Desequilibrado: incapaz de abandonar a ansiedade e o medo e de imaginar a Unidade
Cósmica.

Ajna – Testa – Espiritual – Criatividade – “VEJO CLARAMENTE”: equilibrado:


espiritual desperto, consciência interior, intuição confiante, conexão com o universo.

A Bíblia do Espiritualismo Página 86


Desequilibrado: rejeita o espiritual, foco no intelecto, só vê o óbvio e o superficial,
medo da intuição.

Vishuddha – Garganta – Espiritual – Expressão – “FALO CLARAMENTE”:


equilibrado: sabe equilibrar o silêncio e a fala, confia na intuição, sabe ouvir a “voz
interior”. Desequilibrado: fala muito (mas não se expressa bem), medo do silêncio e de
ser julgado, rejeitado.

Anahata – Coração – Ar – Amor – “SOU AMOR”: equilibrado: sente-se feliz,


abraça a vida, aceita a vida e os relacionamentos. Desequilibrado: incapaz de dar amor
sincero e aceitar amor dos outros, busca por recompensa.

Manipura – Plexo Solar – Fogo – Força de Vontade – “SOU PODER”:


equilibrado: sente-se calmo e completo, tolera os outros, equilibra mundo material e
espiritual. Desequilibrado: não confia no fluxo natural, precisa dominar, busca por
segurança material.

Svadhisthana – Sacro – Água – Intimidade – “FLUO”: equilibrado: é polido,


amigável e gentil, permanece aberto, pensa nos outros. Desequilibrado: insegurança
sexual, não se expressa bem, ignora as necessidades pessoais.

Muladhara – Base – Terra – Sobrevivência – “SOU VIDA”: equilibrado: conexão


à natureza, confiança nas leis universais, entendimento do fluxo da vida.
Desequilibrado: descrença na natureza, foco na possessão material, foco em satisfazer
os desejos.

A Bíblia do Espiritualismo Página 87


Fluxo da energia espiritual (prana e kundalini) através dos chakras.

A energia dos chakras formando a aura.

A Bíblia do Espiritualismo Página 88


Os Estágios de Evolução da Alma

Existe um caminho de desenvolvimento espiritual natural a ser seguido, e é


possível identificarmos suas etapas e características. É um caminho de evolução do Eu,
ou seja, de evolução da alma. Um caminho de ampliação gradual da consciência, degrau
a degrau. Um caminho em que a alma vai absorvendo, compreendendo e incorporando
conteúdos do inconsciente, em especial do nosso Eu maior, o self, rumo à construção de
um ser cada vez mais consciente e melhor estruturado psiquicamente, mais espiritual
que material, mais coletivo que individual, e cada vez mais próximo de Deus.

Mas então, sendo algo tão importante, a mais importante das missões humanas, o
que fazer na prática para que esse processo aconteça? O que podemos fazer para
melhorar esse processo? Quais as dicas para evoluir nessa caminhada? O conhecimento
espiritual que melhor explica as etapas dessa jornada é o sistema de chakras do
Kundalini Yoga.

Para o ocidental, o Yoga é uma espécie de ginástica. Mas, longe disso, trata-se
uma filosofia, uma forma de entender a vida. A palavra Yoga significa união, a união
cósmica, a união com Deus. São os conceitos e práticas que levam o ser a essa união
com o universo e com Deus. As práticas físicas do Yoga, os ásanas, podem ajudar no
desenvolvimento espiritual, mas não são obrigatórias. O desenvolvimento espiritual é
espiritual, ou seja, interior, mental, abstrato, simbólico, e não físico. Para o
desenvolvimento espiritual é obrigatório que aconteçam as mudanças no interior da
pessoa, ou seja, é um processo totalmente psíquico, como os processos descritos pela
Psicologia, ou seja, processos de transformação interior.

O sistema de chakras do Yoga parte do princípio de que o ser humano é um


microcosmo que surgiu do macrocosmo, que é o Universo, e por isso ambos seriam a
mesma coisa, compartilhando das mesmas energias, elementos e tudo o mais. E por isso
também o corpo humano trocaria continuamente energia com o cosmo, através de
centros de energia ou vórtices psicoenergéticos chamados de chakras. Os chakras se
localizam no corpo sutil. O Yoga concebe o corpo humano como um sistema
hierárquico de “invólucros”, cada um vibrando em uma frequência ou grau de sutileza
diferente. No nível mais baixo está o corpo físico, no mais elevado o “corpo” totalmente
espiritual. Entre esses dois extremos há uma série de envoltórios corporais
intermediários, que não são normalmente acessíveis à percepção consciente.

Através das práticas meditativas do Yoga seria possível visualizar os chakras em


sua forma, cor e outras propriedades. Os sábios iogues interpretaram essas visões das
estruturas do corpo sutil, os chakras, transformando as propriedades observadas em
símbolos, em imagens. Cada chakra tem portanto um símbolo, uma gravura cheia de

A Bíblia do Espiritualismo Página 89


significados. Quase todas contém os seguintes elementos: flores de lótus com diferentes
números de pétalas, uma forma geométrica, divindades (uma feminina e outra
masculina) e um animal. As divindades carregam em seus inúmeros braços objetos
diversos que representam os atributos necessários ao iogue para conquistar a energia
associada ao chakra. Segundo alguns estudiosos, todos os sete símbolos contém as três
instruções básicas para se atingir o estado de Yoga (união da alma com Deus). Seriam
eles: o amor perfeito (devoção a Deus em todo o tempo), o pensamento perfeito (estudo
das coisas espirituais) e a ação perfeita (esforços de purificação).

Segundo Jung, os chakras simbolizam fatos psíquicos altamente complexos que


no momento presente não nos é possível expressar, exceto por imagens. Os chakras
formariam uma teoria simbólica da psique. A psique é algo tão complicado que somente
através dos símbolos podemos representar o que sabemos sobre ela. Os símbolos dos
chakras nos proporcionam um ponto de vista que se estende além do consciente. São
intuições sobre a psique como um todo, sobre suas várias condições e possibilidades.
Eles simbolizam a psique de um ponto de vista cósmico.

A vivência de cada estágio, de cada chakra, não acontece de forma linear, em


sequência, uma a uma. Primeiramente, esses estágios às vezes não são vividos de forma
plena, e, mesmo assim, acabamos adentrando outro, e, nesse caso, é preciso em algum
momento voltar para concluir o estágio incompleto. Na prática, esse percurso acontece
em ciclos, e acabamos percorrendo a sequência várias vezes, ou saltando de um estágio
a outro não sequencialmente, de acordo com o momento da vida.

Jung estudou e interpretou a simbologia dos chakras e os relacionou às etapas de


desenvolvimento psíquico da sua teoria, a individuação. O resultado desses estudos foi
apresentado em um seminário em 1932, em Zurique: “A Interpretação Psicológica do
Kundalini Yoga”. Mais recentemente, em 1996, a transcrição desse seminário foi
organizada e publicada por Sonu Shamdasani. Os capítulos a seguir são baseados nesse
livro, e descrevem a sabedoria presente em cada um dos sete chakras: muladhara,
svadhisthana, manipura, anahata, vishuddha, ajna e sahasrara.

A Bíblia do Espiritualismo Página 90


Muladhara: as Raízes no Mundo Material

Muladhara é o estágio inicial, o estágio em que está a grande maioria das pessoas.
Nele ainda não há consciência do mundo espiritual, mas somente do material, das coisas
do mundo humano, principalmente a sobrevivência. São as pessoas que não iniciaram
ainda o caminho espiritual. Não estou falando aqui das pessoas ateias ou sem religião.
Na verdade, a maior parte das pessoas que estão no estágio muladhara seguem religiões,
principalmente as grandes e hegemônicas religiões. Mas ainda não percebem o
espiritual, não enxergam essa dimensão, não foram ainda internamente iniciadas nesse
universo. Elas têm uma vaga e fugidia noção da existência dessa dimensão, o que
inclusive lhes causa muito medo. As questões religiosas são vistas por elas muitas vezes
como uma obrigação que precisa ser cumprida para que o mundo espiritual não
“atrapalhe” seu mundo “real”, que é o material.

Cada chakra está sempre associado a uma região do corpo e a um dos quatro
elementos físicos. No caso de muladhara a região do corpo é a base de coluna vertebral,
e o elemento é a terra.

Em muladhara a consciência está emaranhada nas raízes do mundo material, na


realidade que tocamos e vemos, o mundo concreto. É um estágio no qual os deuses

A Bíblia do Espiritualismo Página 91


dormem, ou seja, aqui tudo o que concerne aos deuses, a possibilidade de troca do Eu
com o si-mesmo, está adormecida. Em muladhara o homem aparece como a única força
ativa, e os deuses, o impessoal, as forças de não-ego, são forças ainda não despertadas,
em estado de energia potencial.

Também em muladhara, ou seja, nas raízes, na terra sobre a qual estamos, no


mundo consciente, em nossa existência pessoal e corpórea, conscientes apenas da
realidade egóica, somos vítimas de tudo que não seja ego. Tudo além do ego é escuridão
e inconsciência, somos vítimas dos impulsos, dos instintos, da inconsciência, da
participação mística.

Jung sugere que o elefante, animal ilustrado neste chakra, representa força, solidez
e firmeza, características necessárias ao ego neste estágio, para que ele não sucumba e
se dissolva no inconsciente: “O elefante representa aquele impulso tremendo que
suporta a consciência humana, a força que nos faz construir tal mundo consciente. Para
o hindu o elefante funciona como o símbolo da libido domesticada, como funciona
conosco a imagem do cavalo. Ele significa a força da consciência, o poder da vontade, a
capacidade de se fazer o que se quer fazer”.

Muladhara é o estágio psíquico em que reina a persona, aquele personagem que


criamos para sobreviver no mundo humano, com suas leis cruéis, simplórias e
primitivas, de competição e poder, de aparências e hipocrisia. Não somos nosso Eu,
somos apenas uma persona, um personagem, com as características que o mundo
humano (a massa, a maioria) espera de nós. Apesar de não ser um Eu autêntico, possui
um traço pessoal e individual verdadeiro, uma marca pessoal, que é a escolha de quais
características-padrão da sociedade imitar. É um embrião, um primeiro passo na
construção de uma personalidade própria.

Em muladhara ainda não teria se iniciado portanto o processo de individuação.


Para Jung o processo de individuação inicia-se em geral na segunda metade da vida,
quando o indivíduo, já adaptado ao meio externo, poderia mobilizar energia psíquica
para sua individuação, ou seja, para tornar-se o que nasceu para ser de fato, um ser
único. Aqui o homem é individual, como toda forma de vida na Terra. Mas “a
individuação só acontece quando você está consciente dela, enquanto que a
individualidade está sempre lá, desde o início da sua existência”.

Jung afirma que as convicções do mundo de muladhara são extremamente


necessárias. Para ele, é vital que se seja racional, e que se acredite na certeza deste
mundo concreto. Caso contrário, não nos enraizamos em muladhara, não nos
conectamos com esse mundo. Somente nascendo nele poderíamos então tomar
consciência do self e, a partir daí, iniciar o processo de individuação. “Se você tocar a
realidade na qual vive, e permanecer nela por várias décadas, se você deixar sua marca,

A Bíblia do Espiritualismo Página 92


então o processo impessoal pode começar. Deve-se entender que o broto, o traço
pessoal, precisa penetrar no solo para dele sair”.

Jung vê no despertar da kundalini o despertar dos deuses. Para ele, o despertar da


kundalini é o início da relação ego-self, o despertar da individuação, pois para
iniciarmos este processo temos de ressoar com o self, se não seremos apenas uma
individualidade. Assim, após o enraizamento em solo pessoal, muladhara, pode-se
iniciar a relação com os deuses. O ego começa a perceber um poder além dele mesmo, e
entra em contato com a dualidade da psicologia humana: o consciente e o inconsciente.
Quando o ego se percebe não único, entra em contato com as forças do não-ego,
mergulhando nas águas do inconsciente. Saímos então de muladhara e penetramos em
svadhisthana.

A Bíblia do Espiritualismo Página 93


A Bíblia do Espiritualismo Página 94
Svadhisthana: a Morte-renascimento e a Iniciação Espiritual

Svadhisthana é o estágio da grande transformação. Nele o Eu entra em contato


com a substância espiritual e com o inconsciente. Um mundo novo, estranho,
assustador. Nele existe o infinito, a existência fora da matéria, conceitos novos,
assustadores para quem está acostumado apenas com o mundo material. Após a
passagem por essa “noite escura”, pelas “profundezas do mar”, o ser renasce outro,
consciente da existência de uma razão espiritual por trás da vida. A região do corpo
associada a svadhisthana é a que fica entre o umbigo e a genitália, e o elemento
associado é a água.

Em svadhisthana estamos no mundo do inconsciente. Inundado pelos conteúdos


deste, o ego deve absorvê-los e integrá-los, ou defender-se de alguma forma, sob o risco
de ser aniquilado pelo monstro marinho, o animal que ilustra esse chakra. A força que
sustentou o ego em muladhara, o elefante, em svadhisthana torna-se o leviatã. Assim, o
poder que sustenta o ego no mundo consciente torna-se seu pior inimigo quando o ego
penetra no inconsciente, pois aqui estamos em outro mundo, e as forças que nos mantêm
conectados ao mundo concreto agirão contra o movimento necessário para que a

A Bíblia do Espiritualismo Página 95


transformação aconteça, para que se possa abdicar do velho e aceitar o novo, e enfim,
seguir no processo natural de uma psique saudável.

A simbologia da água aparece frequentemente em sonhos nos quais questões,


valores e complexos estão se dissolvendo nas águas do inconsciente (a morte
simbólica), para que algo novo possa surgir (o renascimento). Esse processo ao qual o
ego é submetido pode ser ilustrado pelo mito do sol: “O sol à tarde está ficando velho e
fraco e, portanto, afunda no mar ocidental, viaja por baixo das águas (a viagem noturna
no mar), e se ergue de manhã renascido no leste. Assim, o segundo chakra poderia ser
chamado o chakra do batismo, ou do renascimento, ou da destruição, qualquer que
pudesse ser a consequência do batismo”.

É um período em que o ser precisa se entregar ao mundo espiritual, precisa aceitar


e confiar em algo maior, superior ao seu ego e à vida material. Precisa aceitar a morte, e
aceitar sua dependência em relação ao mundo espiritual, muito superior a ele. Um
momento de prostração com relação à vida humana e material, de conscientização de
sua fragilidade e limitação, e de entrega total, de corpo e alma, a Deus e ao mundo
espiritual.

A questão do renascimento é aludida, em termos claros ou velados, em todo o


saber religioso da humanidade. Assim, após ter nascido na Terra (ou da terra) é
necessária uma morte simbólica e um renascimento. Tal fenômeno de transformação ou
renascimento é mencionado por Cristo em linguagem metafórica: “Em verdade vos digo
que aquele que não nascer da água e do espírito não pode entrar no reino de Deus. O
que é nascido da carne é carne, e o que é nascido do espírito é espírito. Não vos
maravilheis em vos ter dito: necessário vos é nascer de novo”. No ritual católico do
batismo, o padre se aproxima da criança com uma vela e profere: “Dono tibi lucem
eternam” (eu te dou a luz eterna), e assim a criança recebe a alma imortal que não
possuía antes. É nascida duas vezes.

Esse processo de afundar nas águas do inconsciente, enfrentar os monstros, deixar


que algumas partes morram para poder renascer transformado não é um processo ao
qual o ego se submete voluntariamente. É, na realidade, imposto por uma força maior
que o conduz, o self, e é ativado por uma grande descarga de energia psíquica, a energia
anímica. Desta forma, o progresso para o segundo chakra só é possível se houver o
despertar da kundalini, a energia divina que impulsiona o ego em busca de tornar-se
uma completa realização de si-mesmo. Jung sugere que a energia da kundalini seja a
energia anímica: “Uma centelha que guia, algum incentivo que o força através das águas
e em direção ao próximo centro, esta centelha é a kundalini, algo absolutamente
irreconhecível, que pode aparecer talvez como medo, como uma neurose ou como um
vívido interesse, mas é algo superior a sua vontade. Caso contrário você não passa por

A Bíblia do Espiritualismo Página 96


isso, você vê o leviatã e foge; mas se esta centelha viva, este impulso, esta necessidade
o pega pelo pescoço, você não pode voltar, você tem que enfrentar a música”.

Jung questiona: o que acontece quando travamos conhecimento com o


inconsciente e o levamos a sério? Desejo, paixões, sexo, poder, todo o mundo
emocional, todos os demônios de nossa natureza se soltam. Assim, se não sucumbirmos
ao leviatã, poderemos esperar a manifestação de uma nova vida, de luz, intensidade, de
alta atividade, entramos então em manipura.

A Bíblia do Espiritualismo Página 97


A Bíblia do Espiritualismo Página 98
Manipura: a Jornada do Herói

Após a iniciação ocorrida em svadhisthana, o Eu passa a ser mais autêntico, mais


verdadeiro. Não aceita mais a hipocrisia como forma de vida. Não aceita mais um
mundo de personagens, um mundo de aparência e mentira. Vai buscar pela verdade, e
lutar pela liberdade e pela justiça. E, principalmente, vai buscar por autorrealização,
individualidade, autonomia e autenticidade. E por isso também vai se tornar minoria, o
diferente ou estranho, e precisa arcar com as consequências: a solidão do herói. Nessa
jornada de aventura, um importante processo interno deve ocorrer: a eliminação das
emoções (o medo, a raiva, o ódio, a tristeza, etc.), para que reste ao final apenas
sentimentos e pensamentos, tornando assim o ser mais puro, mais aprimorado, mais
elevado, e seguindo pelo caminho de evolução. A região do corpo associada a manipura
é o plexo solar ou diafragma, e o elemento é o fogo.

Em manipura, a jornada heroica não significa tanto enfrentar inimigos externos,


mas principalmente os internos. É preciso conhecer a si mesmo, conhecer as próprias
fraquezas, os próprios medos e desejos, o lado sombrio de nosso ser. Conscientizando-
se de seu lado sombrio, olhando para ele com honestidade, torna-se possível entendê-lo
e controlá-lo.

A Bíblia do Espiritualismo Página 99


Para Jung, em manipura estamos no centro das emoções: “o mundo todo está em
chamas, e nós vazando o fogo do desejo”. Nesta jornada heroica, o ego que se libertou
do aprisionamento no mundo concreto em muladhara, e se dissolveu em svadhisthana,
enfrentando a perigosa viagem noturna sob o mar, pode renascer como um novo sol.
Aqui, a energia emocional é liberada, e se apresenta ao ego, que se torna então
consciente de seus desejos, medos e paixões. Dentre a enxurrada de emoções que
emergem está também a sombra, ou seja, nossos impulsos mais sinistros, mais difíceis
de aceitar. Enfim, quase todos os conteúdos do inconsciente emergem, e precisam ser
assimilados da melhor forma possível pelo Eu consciente. Quando o ego absorve
conteúdos do todo, torna-se parte da substância divina, pronto para o avanço em direção
ao próximo chakra, ou correndo o risco de ser queimado pelo fogo das emoções.

Conforme Jung, já indicando o processo da saída de manipura e a entrada em


anahata: “quando as pessoas travam conhecimento com o inconsciente elas brilham
subitamente, elas explodem; antigas emoções enterradas reaparecem, toca-se o fogo que
estava esquecido embaixo das cinzas. Após ter caído no inferno e ter enfrentado um
redemoinho de paixões, instintos e desejos, pode vir a descoberta de uma essência
impessoal. O ser então pode perceber que não precisa estar identificado com seus
desejos ou medos”.

Em manipura o carneiro é o animal simbólico. Ele não é mais a força insuperável


do elefante, nem o leviatã das profundezas do chakra anterior. O perigo diminuiu. Ele é
um animal sacrificial. Agora, o ego deve sacrificar seus desejos ou paixões
fundamentais, não há mais o risco de ser afogado na inconsciência, ele superou o pior
perigo ao tornar-se consciente de seus desejos, medos e paixões.

A Bíblia do Espiritualismo Página 100


Anahata: o Encontro do Eu com o Atman (o Eu maior)

Superada a dominação das emoções e dos desejos, o ser agora é mais senhor de si,
tem mais controle sobre si mesmo. Já enfrentou sua sombra, conheceu a si mesmo e
alcançou assim a maturidade para a próxima fase: conhecer seu Eu maior e a grande
missão de sua vida na Terra. A região do corpo associada a anahata é o coração, e o
elemento é o ar.

Ao sair de manipura e entrar nos domínios de anahata, ocorre uma grande


mudança na relação do ego com o todo. Cada vez mais consciente da existência de uma
essência impessoal, o ego pode iniciar o processo de libertação do aprisionamento no
corpo e nas emoções. Percebe agora o ego e o não-ego, o impessoal, demostrando assim
um movimento gradual e contínuo de ampliação da consciência. Alcançada essa
maturidade a alma assemelha-se a uma chama tranquila que não se perturba com o
vento, uma vez que, em anahata, o ego torna-se completamente ciente de algo maior, o
self, e por isso adquire a capacidade de não sofrer mais com as perturbações da mente.

O Eu maior, também chamado self, atman ou purusha, é visto pela primeira vez
em anahata. É a essência do Eu, o Eu supremo, o Eu primordial. Enfim, é o nosso
arquétipo principal. Este é o primeiro pressentimento da existência de um ser dentro de

A Bíblia do Espiritualismo Página 101


você que não é você mesmo. Um ser no qual você está contido, que é maior e mais
importante que você, mas que tem uma existência inteiramente psíquica.

Em anahata nos aproximamos das questões abstratas: “No diafragma cruzamos o


limiar entre as coisas visíveis e tangíveis e as coisas quase invisíveis e intangíveis. Estas
coisas invisíveis em anahata são as coisas psíquicas, pois esta é a região do que é
chamado sentimento e intelecto. O coração é característico do sentimento, e o ar é
característico do pensamento”.

A importância real dos nossos sentimentos e pensamentos só fica clara quando os


reconhecemos como forças propulsoras em nossas vidas. Quando o homem atinge esse
nível na civilização, ou no seu desenvolvimento individual, podemos dizer que ele está
em anahata, o centro onde as “coisas psíquicas” começam, onde se dá o reconhecimento
das ideias e dos valores. Aqui, estamos mais conscientes da existência real do mundo
psíquico.

Em anahata tomamos conhecimento do amor verdadeiro, um sentimento de que


todos os seres vivos são sagrados, e por isso a vida precisa ser protegida e estimulada. O
sagrado direito (e dever) que todos têm de viver e se desenvolver, em liberdade e com
condições básicas, precisa ser garantido. Um desejo de ver todos os seres vivendo em
harmonia, se desenvolvendo, e tendo suas individualidades respeitadas. Essa é a
verdadeira essência do amor.

Anahata traz a gazela como o animal que define suas características. A gazela não
é um animal domesticado, nem um animal sacrificial, nem agressivo, é um animal
excessivamente cauteloso, esquivo e veloz. A gazela parece voar com grandes saltos. É
leve e só toca a terra aqui e ali. Ela é um animal da terra, mas é quase libertada da força
da gravidade. Tal animal seria adequado para simbolizar a força, a eficiência e a leveza
da substância psíquica: pensamento e sentimento. A gazela também denota que em
anahata a coisa psíquica é um fator evasivo, dificilmente apanhado.

Para Jung, quando começamos a nos diferenciar da explosão de paixões,


começamos a pressentir o self. Nesse momento, o processo de individuação teria início.
Aqui é necessário cuidado para que não haja uma inflação, ou seja, o perigo do ego
identificar-se totalmente com o self. O perigo do Eu consciente sucumbir totalmente ao
poder do self ao invés de absorver seus conteúdos e assim os assimilar, os incorporar,
apropriando-se desses conteúdos. O perigo de tornar-se apenas um veículo de
manifestação do nosso arquétipo principal.

Mas, apesar de, em muitos sentidos, já termos como humanidade atingido o


estágio de anahata, se observarmos nossa própria forma de funcionamento, e a do
mundo, perceberemos que o aprisionamento em manipura ainda é muito frequente.

A Bíblia do Espiritualismo Página 102


Assim, quando somos expostos a emoções intensas, facilmente sucumbimos e
esquecemos deste ser maior, tornando-nos reféns de nossos desejos e medos: “Anahata
é ainda muito tênue, e a psicologia de manipura está muito perto de nós. Ainda temos
que ser gentis com as pessoas para evitar as explosões de manipura”.

A Bíblia do Espiritualismo Página 103


A Bíblia do Espiritualismo Página 104
Vishuddha, Ajna e Sahasrara: os Chakras Etéreos

A partir de vishuddha, os chakras são todos associados ao elemento éter, ou seja, o


elemento espiritual, em oposição ao demais elementos, que são materiais: terra, água,
fogo e ar. Ou seja, a partir de vishuddha, entramos em um mundo totalmente espiritual,
totalmente abstrato. A ideia que permanece é a de que estamos transformando a matéria
bruta em matéria sutil, ou para Jung, em matéria psíquica: “A ideia da transformação
dos elementos mostra a analogia do Yoga Tântrico com nossa Filosofia Alquímica
Medieval. Lá se encontram exatamente as mesmas ideias: a transformação da matéria
bruta na sutil matéria da mente, a sublimação do Homem”.

Na essência de vishuddha, o primeiro chakra do elemento éter, associado à região


da garganta no corpo, ocorre uma grande revelação: a única realidade é a espiritual. É o
mundo das ideias abstratas e dos valores. O mundo onde a psique existe em si mesma,
onde a realidade psíquica é a única realidade, ou, onde a matéria é somente uma fina
casca em volta de um enorme cosmos de realidades psíquicas.

Em anahata, o estágio anterior, existiam condições externas que justificavam o


pensamento e o sentimento. Eles estão conectados com os objetos externos,
entrelaçados em fatos concretos. Em vishuddha, os pensamentos e sentimentos existem
e são em si mesmo. Jung comenta que na passagem de manipura para anahata, o
indivíduo tem de aprender que suas emoções e pensamentos devem ter uma base real,
devem estar ancorados em fatos concretos. Mas, na passagem de anahata para
vishuddha, torna-se necessário desaprender-se de tudo isso, devendo-se admitir que os
fatos psíquicos não são secundários aos fatos materiais: eles são um fenômeno em si
mesmo. Na verdade, tudo é a mesma coisa, tudo é energia, tudo é psíquico. Para Jung,
se você atingiu este estágio, você deixou anahata. Você teve sucesso em dissolver os
fatos materiais externos e os fatos internos ou psíquicos, tornando-os uno. Você começa
a considerar o jogo do mundo como seu próprio jogo. As pessoas que aparecem fora são
representantes da sua própria condição psíquica. O que quer que aconteça com você,
qualquer que seja a experiência ou aventura que você tenha no mundo externo, é sua
própria experiência.

O elefante aparece novamente em vishuddha. A força insuperável do animal que


em muladhara nos conduziu para a realidade concreta não está mais sustentando a terra,
e sim as substâncias etéreas. O elefante agora apóia os conceitos, para que estes se
tornem realidades. A força do elefante é emprestada para as realidades psíquicas que
nossa razão gostaria de considerar como meras abstrações. A insuperável força da
realidade não está mais sustentando fatos da Terra, mas os fatos psíquicos.

A Bíblia do Espiritualismo Página 105


Ajna é o segundo chakra do elemento éter. Está associado ao “terceiro olho”, a
região entre as sobrancelhas. Em sua essência mais uma transformação psíquica: a união
do Eu com o atman, o Eu maior. O Eu, após ter passado por vishuddha, já está
familiarizado com o mundo espiritual, já é um ser que pode viver somente no espiritual,
sem a necessidade do material. E pode agora unir-se de forma mais completa com o Eu
maior, que é composto somente de substância espiritual. Não há mais a dualidade, o
lado animal não mais se confronta nem é confrontado com o lado divino, pois ambos
são, agora, absolutamente idênticos. Em vishuddha a realidade psíquica ainda era oposta
à realidade física, por isso era necessário o suporte do elefante para sustentar a realidade
da psique. Em visuddha, a matéria e o psíquico se dissolvem tornando-se o todo, em
ajna já estamos no todo, não há mais diferenciação entre o psíquico e o físico.

Em ajna o Eu está consciente de que não é nada além de psique. O psíquico não é
mais um conteúdo do ego, mas o ego se torna um conteúdo do psíquico. O Eu e o self
são agora um. O self não precisa mais forçar o Eu a seguir no caminho, pois os
pensamentos e intenções agora são únicos.

Ajna é o estado de consciência completa, não só de auto-consciência, mas uma


consciência extensa que inclui tudo. Toda árvore, toda pedra, toda saliência, tudo isso
seria você mesmo. Em tal consciência extensa todos os chakras seriam simultaneamente
experienciados, porque este é o estado mais alto de consciência, e ele não seria o mais
alto se não incluísse as experiências anteriores

Sahasrara, a flor de lótus de mil pétalas, está associada ao topo da cabeça, ponto
por onde nos conectamos com Brahman, o Deus Supremo. Aqui ocorre portanto a união
com Brahman, a realização do Ser Supremo.

A Bíblia do Espiritualismo Página 106


Conclusões: A Autorrealização como Sentido da Vida

A missão do ser humano na Terra é o desenvolvimento de sua alma. E é


exatamente por isso que tanta gente se sente perdida e sem rumo: porque dedica-se
exclusivamente às coisas terrenas, à subsistência, aos desejos materiais, ao sucesso
dentro do universo paralelo criado pelo ser humano, com seus jogos de poder e vaidade.
E por isso sente-se vazio e infeliz, pois na verdade não está fazendo nada em favor da
sua felicidade e plenitude, que é enfim seguir em sua verdadeira missão: o
desenvolvimento de sua própria alma. A pessoa desconectada da dimensão espiritual,
desviada do caminho natural de desenvolvimento psíquico, pode facilmente se tornar
um veículo das convenções sociais, com uma personalidade estereotípica, escravo dos
modismos e das opiniões, enfim, um robô, sem alma.

Despertar para as coisas da alma e do mundo espiritual é na verdade investir na


própria felicidade, uma verdadeira fórmula para o sucesso. A felicidade e a plenitude
estão diretamente ligadas ao desenvolvimento espiritual. E o desenvolvimento espiritual
está diretamente ligado à realização da interioridade. Colocar em prática, materializar
tudo aquilo que está em nossa interioridade, enfim, realizar-se. Tornar-se si mesmo.
Assumir uma postura, uma personalidade compatível com a essência espiritual
individual. Encontrar-se. Ser, livremente ser, aquilo que realmente somos na essência da
alma. Doar ao mundo aquilo que se tem de melhor, e dessa forma fazer acontecer na
Terra o Plano Divino: “Venha a nós o vosso Reino, seja feita a vossa vontade, assim na
Terra como no Céu.” Trazendo à tona o si-mesmo, o Eu maior, a essência da alma, e
incorporando esses conteúdos ao Eu, a pessoa passa a fazer parte de algo maior, sente-se
importante e feliz, sente-se inteira e realizada. Conhecer a si mesmo é portanto algo
fundamental. Descobrir-se, observar-se. Quais são as suas aptidões naturais? Quais são
seus sonhos mais profundos? Parecem perguntas simples, mas não são fáceis de
responder, porque fomos treinados para ser aquilo que as convenções sociais
orientaram.

Os conteúdos da nossa interioridade não podem ficar guardados (porque inclusive


tornariam-se “substâncias tóxicas” dentro de nós). Eles precisam fluir, se movimentar.
A água quando parada apodrece. Nossas ideias, desejos e sentimentos precisam fluir, e a
vida verdadeira precisa se manifestar. A obrigação de seguirmos milhares de regras
sociais é ilusória. Muitas dessas convenções sociais inclusive incentivam a consolidação
de regras absurdas e destruidoras. As convenções sociais, ou seja, as atitudes da
maioria, possuem uma força de influência gigantesca sobre todos nós. Mesmo pessoas
com um desenvolvimento mental alto são subjugadas por essa força. São raros os casos
de pessoas que agem de acordo com princípios próprios, que conscientemente negam-se
a seguir convenções sociais que sejam nocivas ao bem-estar geral, mesmo enfrentando o

A Bíblia do Espiritualismo Página 107


desafio de ser diferente, mas gozando dos benefícios da autorrealização e do
cumprimento do seu dever como ser humano.

Segundo Jung, o dilema fundamental da individuação é justamente essa dualidade


do processo: existe uma realização pessoal relacionada ao mundo exterior, ou seja, a
adaptação ao meio externo, à sociedade, e existe uma realização pessoal relacionada ao
mundo interior, ou seja, encontrar uma função social em que seja possível servir à
sociedade com algo realmente útil, e que esteja em conformidade com a orientação da
nossa alma. Essa dualidade aparece de forma semelhante em um livro do médium James
Van Praagh, “Espíritos Entre Nós”. Segundo ele, pode-se viver de duas formas: com
base no sentimento de medo, ou com base no sentimento de amor. Pelo medo, a pessoa
está sempre tentando adaptar-se ao meio, à sociedade. Enquanto que pelo amor, a
pessoa busca realizar a sua interioridade, encontrar o melhor meio de participar da
sociedade de uma forma útil, doando o que tem de melhor, de forma natural, buscando
pelo seu bem-estar pessoal e pelas coisas que ama. É como a célebre frase de
Shakespeare, em sua obra-prima Hamlet, onde o protagonista precisa decidir entre ser
fiel às suas convicções ou se conformar: “ser ou não ser: eis a questão”. Jung em uma
entrevista disse também o seguinte sobre a individualidade: “Todos procuram sua
própria existência, querem garantir sua existência contra a insignificância. O homem
não suporta uma vida sem significado”.

Entender que a felicidade e o sucesso dependem da autorrealização é um primeiro


passo. O próximo passo é descobrir o que há em nossa interioridade a ser realizado, e
iniciar o difícil trabalho de materializar essa essência espiritual na realidade social. Para
se alcançar qualquer objetivo na vida é preciso planejamento. Um plano, um projeto,
organizado e detalhado, é fundamental para se alcançar qualquer meta, e não seria
diferente com a realização espiritual. Quando fazemos um detalhamento do nosso plano
de vida, ocorre uma conexão entre o nosso Eu consciente e o nosso inconsciente, e em
consequência com a dimensão espiritual. E quando fazemos algo em “parceria” com o
nosso lado intuitivo e espiritual, ganhamos uma força enorme para a realização desses
sonhos. Detalhar nossos desejos, nosso plano de vida, permite uma visualização mental
dos objetivos. E essa visualização nos leva à utilização de nossos recursos espirituais,
mais amplos e poderosos que nossos recursos tradicionais.

Ter sonhos e fazer planos para realiza-los é um dever do ser humano, faz parte da
sua natureza. Não dar atenção aos sonhos seria como viver pela metade ou não viver.
Porém, nem sempre os sonhos se realizam da forma como planejamos, pois existem
forças superiores a nós, conscientes de coisas que não sabemos, e, às vezes, precisamos
aceitar essas determinações superiores, para o nosso bem maior. Mesmo assim,
trabalhar pela realização dos nossos sonhos ainda é a melhor receita de felicidade. Em
razão disso nosso projeto de vida pode e deve ser alterado ao longo do caminho, sendo

A Bíblia do Espiritualismo Página 108


constantemente revisto e remodelado, com base em nossos princípios interiores, mas
também observando-se a realidade do universo em constante mudança.

Outra característica fundamental para um bom projeto de vida é o equilíbrio. É


preciso levar em conta todos os aspectos humanos, de forma equilibrada, e não apenas
um ou alguns objetivos pessoais. Podemos listar quatro aspectos que necessitam estar
em bom funcionamento, simultaneamente, para que o ser humano esteja plenamente
equilibrado:

Saúde física: alimentação adequada, atividade física, evitar fumo e o álcool,


acompanhamento médico, etc.

Saúde social, profissional e financeira: a profissão é a função social, a prestação


de um serviço que seja útil à sociedade. Porém, dentro da regra econômica em que
vivemos, precisamos de uma renda que possibilite cobrir as despesas da implementação
de um bem-estar material, de um conforto de vida básico. Enfim, é preciso então
encontrar um trabalho que tenha uma função social útil, e que gere uma renda coerente
com as nossas necessidades materiais.

Saúde familiar: “amar ao próximo como a si mesmo” ensinou-nos Jesus Cristo. É


preciso então primeiramente amar a si mesmo. E, com a mesma intensidade, amar as
pessoas próximas, as pessoas que nos são mais importantes, que estão ligadas a nós de
uma forma profunda, nossa família. É importante lembrar que não são os laços
sanguíneos que determinam os laços familiares. São os laços de real amor, amizade,
união e comprometimento que determinam os verdadeiros laços familiares.

Saúde espiritual: realização espiritual e intelectual, identificando-se a essência de


nossa interioridade a ser realizada, ou seja, nossos sonhos e os conteúdos do nosso Eu
maior, e possibilitando sua realização.

Já temos então elementos suficientes para desenhar um bom plano de vida, de


autorrealização. Mas seria importante também sabermos quais as dificuldades a serem
enfrentadas no percurso. A raiz do mal está no orgulho, na vaidade, na inveja, no
egoísmo, na teimosia e na irresponsabilidade. Por exemplo, quando uma pessoa passa a
trabalhar apenas em função de sua “glória” própria, em competição, em uma guerra por
“status”, por posições sociais, e esquece a essência do trabalho, que é prestar um serviço
ao próximo e ao bem-estar geral (inclusive ao bem-estar de si mesmo), essa pessoa está
agindo contra a essência da natureza e da espiritualidade, e só vai conseguir tristeza,
doença e morte. A vida perde o sentido. Se, ao contrário, a pessoa tem na mente e no
coração que o trabalho é fundamentalmente um serviço ao próximo, vive em
conformidade com a natureza, e encontra paz. Algumas pessoas podem dizer: “mas
todos vivem assim, em competição por status, em conchavos, e eu tenho que viver

A Bíblia do Espiritualismo Página 109


assim também, não posso ser diferente”. E aí vem uma ponderação importante: por que
fazer algo errado, que nos faz mal, só porque a maioria vive assim? Não, não
precisamos fazer algo apenas porque a maioria faz, e, não devemos fazer algo errado,
porque teremos que colher os resultados dessas ações, mesmo sendo algo que “todo
mundo faz”. E o resultado nesse caso é a infelicidade. O único perigo real para o ser
humano é o próprio ser humano, a natureza humana. Somos a origem de todo o bem e
de todo o mal que existe.

O caminho da felicidade e da autorrealização está fundamentalmente ligado a uma


eliminação das tendências egoístas e orgulhosas, e a um desenvolvimento de uma
personalidade fundamentada no bem-estar, de si mesmo e da comunidade em que se
está inserido. Tornar-se adulto de fato, amadurecer de uma forma mais completa e
profunda do que costuma acontecer na sociedade. Um desenvolvimento baseado muito
mais nos critérios do si-mesmo, também chamado superego, juízo ou Eu maior, e muito
menos nas regras externas, as convenções sociais, o que implica em uma tarefa de
autoconhecimento e autodesenvolvimento para que aflore e amadureça esse juízo
próprio.

É obvio que não é uma tarefa fácil. Principalmente quando estamos falando de
uma vida em comunidade: todos têm livre arbítrio e liberdade, é um direito básico. E
cada alma está em um diferente estado desenvolvimento, muitas ainda presas em um
estado infantil de consciência. A dinâmica da vida em comunidade é bem complexa.
Mas existem algumas diretrizes que podem nos ajudar nos relacionamentos. Todos
temos o direito à liberdade, e o dever de sermos felizes e plenos. A partir desse
princípio, podemos concluir que não temos obrigação de permanecer em companhia de
pessoas que nos fazem mal, ou que sejam muito diferentes de nós em valores interiores.
As pessoas podem e devem encontrar o seu lugar, o lugar em que possam se
desenvolver sem se destruir. O mal existe quando as coisas estão fora de lugar. Não
significa ter raiva ou odiar ninguém, o que seria prejudicial. Mas exercer o direito de
viver e de escolher a vida que quer para si.

A busca pela felicidade e autorrealização está muito ligada à busca do bem-estar.


Mas enfim, o que traz bem-estar ao ser humano? Saúde, paz de espírito, autonomia,
leveza, liberdade. Ter poucos desejos na Terra ajuda bastante, pois os desejos
aprisionam, tiram a liberdade e o bem-estar. Viver com leveza é aproveitar as coisas
boas e simples da vida, viver as coisas que nos trazem um real bem-estar, sem a
obrigação de viver coisas que, no fundo, não queremos, mas às vezes temos a sensação
de ser algo obrigatório. Estar perto de pessoas que nos fazem bem, e distância das
pessoas que nos fazem mal, que nos incomodam. Não permitir abusos e manter
distância de pessoas que abusam, que não respeitam a dignidade de cada ser, que
desejam dominar e subjugar os demais.

A Bíblia do Espiritualismo Página 110


Enfim, a felicidade é um estado natural do ser. Não é algo externo, complexo e
difícil de alcançar. Às vezes a chave da felicidade é apenas afastar o que nos faz mal,
colocar as coisas nos seus devidos lugares, cada um na sua turma, e saber desfrutar a
paz, que é o nosso estado natural.

São muitas as tarefas no percurso da vida na Terra, essa grande escola. Tarefas
muito difíceis, com certeza. E com um agravante: não basta apenas realizá-las
mecanicamente. É preciso incorporar as atitudes virtuosas à nossa personalidade, ao
nosso espírito, à nossa consciência, e eliminar os maus impulsos, através dos nossos
hábitos, em muitos dias, meses, anos, vidas.

Dentre os tesouros grandiosos da vida, as possibilidades do amor, da amizade e da


família tem um valor especial. Quando nos tornamos pais e mães, por exemplo,
descobrimos um mundo novo, um novo conjunto de valores. Nossos filhos têm uma
importância gigantesca em nosso coração. Vê-los crescer e aprender, cuidar da
felicidade e formação deles é uma emoção de dimensão sagrada. Não precisam ser
nossos filhos de sangue, mas podem ser também os filhos que “adotamos” ao longo da
vida. Deus e os espíritos superiores sentem o mesmo quando cuidam de nós.
Promovermos a felicidade uns dos outros é a maior alegria que podemos ter. Como no
conceito de amizade de Platão: “a amizade é uma predisposição recíproca que torna dois
seres igualmente ciosos da felicidade um do outro”. A questão principal torna-se então:
o que faz os seres felizes? Sua evolução, seu desenvolvimento. Quando o ser amplia a
sua consciência, sua sabedoria, sua força e seu amor, torna-se mais feliz. Por isso Deus,
através de sua grande obra, promove o desenvolvimento das almas: para promover a
felicidade dos seus filhos. E quando evoluímos nesse desenvolvimento, nos tornamos
mais parecidos com nosso Pai Celestial, e passamos a fazer o mesmo que ele: incentivar
a vida, contribuindo para o desenvolvimento e felicidade de outras pessoas.

“Salvar a alma” não é um ato de negação dos impulsos e de total adaptação, mas o
contrário. A “ética divina”, a forma correta de proceder, está dentro de nós. O que nos
falta muitas vezes é o ânimo, a fé, a coragem, a sabedoria e o esforço para colocá-la em
prática, em um mundo em que se estabeleceu uma ética paralela criada pela
humanidade, ignorando os conceitos essências da vida, os conceitos espirituais. Por
isso, tornar-se si-mesmo é o melhor que podemos fazer, por nós mesmos, pela
humanidade e pelo universo. Existe portanto um momento mágico na vida, em que a
pessoa consegue se realizar espiritualmente, consegue sua iluminação, vence aquele que
é o maior desafio de sua vida, e passa a realizar a sua função no universo. Nesse
momento, só nesse momento, a pessoa pode dizer que alcançou de fato o sucesso e a
vitória na vida.

A Bíblia do Espiritualismo Página 111


Dentre as muitas conclusões que podem ser tiradas dos estudos que constituem
esse livro, a principal é que cada ser humano precisa buscar pela verdade,
individualmente, entendendo profundamente tudo o que está à sua volta e dentro de si.
Questionar a tudo, e buscar pelas respostas, usando o raciocínio lógico, avaliando cada
uma das muitas hipóteses que podem ser levantadas. Essa foi a maior lição que Sócrates
nos deixou: “só sei que nada sei”. Partindo desse princípio, o ser humano pode, através
do diálogo, consigo mesmo ou com outras pessoas, obter respostas importantíssimas,
respostas que podem o livrar do enorme mar de ilusão em que costuma se afundar,
respostas que podem o levar a um estado de consciência maior.

Deus existe, assim como também existe a alma humana, e esta continua a existir
após a morte de seu corpo físico. Isso é um fato que pode ser comprovado pela lógica.
Basta pensar, questionar, raciocinar e concluir. Questionemos: seria possível ter surgido
tudo o que conhecemos por acaso, de forma aleatória, ou existe uma inteligência
superior que conduz esse grande projeto? Tudo o que se passa na mente do ser humano
é originado somente no seu órgão físico, o cérebro, ou existe algo anterior, uma alma
que dá vida a esse ser? E essa alma, que não é física, sobrevive à morte do corpo? Cada
ser humano precisa fazer esses questionamentos em seu foro pessoal, e se esforçar em
encontrar as respostas, para que sua fé seja forte e real, ou melhor, seja mais do que fé:
seja consciência.

Se Deus existe, qual é então o seu propósito? Qual é afinal o sentido da vida? Se
observarmos bem, vamos perceber que as almas humanas são partes de Deus, e por isso
possuem os mesmos atributos que Ele: consciência, criatividade, individualidade e vida,
esse impulso mágico. Vamos perceber também, observando o mundo, um grande padrão
em tudo: a constante evolução, o constante desenvolvimento de todas as coisas vivas.
Enfim, o sentido da vida é o desenvolvimento das almas. O desenvolvimento pleno de
cada uma das bilhões de almas existentes.

Se a evolução das almas é o sentido da vida, é a razão de estarmos aqui, então


tudo o que pensarmos e fizermos precisa ter alguma relação com esse princípio
fundamental. A vida só tem sentido se estivermos evoluindo na alma, se estivermos nos
aproximando, a cada dia, mesmo que lentamente, da perfeição. Só estamos trilhando o
caminho real da vida se estivermos constantemente ampliando nossa consciência, nosso
entendimento de tudo. Se estivermos exercitando e construindo nossa personalidade,
nosso discernimento, nosso juízo, nossa capacidade de separar o certo do errado, o útil
do inútil, o bem do mal. Se estivermos entendendo e praticando as regras da vida e da
natureza. Regras essas que não são uma imposição de Deus: são na verdade o melhor
caminho a seguirmos, dentre as infinitas possibilidades existentes. Precisamos perceber
que somos uma extensão de Deus, seus representantes, e que precisamos ter por isso

A Bíblia do Espiritualismo Página 112


responsabilidade, juízo e maturidade, pois somos nós mesmos, as almas, partes de Deus,
os seres que realizam o grande projeto de Deus, que é a vida e a perfeição.

Se realmente temos uma alma, e ela sobrevive para a eternidade, então é muito
mais importante cuidarmos das questões relacionadas à vida do espírito do que
cuidarmos somente das questões relacionadas à temporária vida terrena. Cuidar das
questões espirituais significa obter a saúde da alma, a plenitude e a paz da alma. Como?
Principalmente através da autorrealização: torna-se aquilo que realmente somos, e
aquilo que o universo espera de nós. E, nesse difícil percurso de autorrealização, gerar o
mínimo de carma negativo, e o máximo de carma positivo, através do entendimento de
uma questão básica: o respeito ao estado de desenvolvimento de cada ser humano.

O mal que ainda impera na Terra consiste na existência de pessoas de baixíssima


mentalidade que escravizam, exploram e usurpam os demais. E aquele que usurpa é tão
culpado e pecador quanto aquele que permite-se ser usurpado. Os escravizados são
pessoas que não sabem ainda quem são e o que devem fazer no mundo, e por isso
tornam-se vítimas dos usurpadores. Portanto, tornar-se quem realmente somos, em
conformidade com o nosso Eu maior e com o universo, assumindo verdadeiramente as
nossas responsabilidades, é o único caminho para nos livrarmos do mal.

Descobrir o nosso verdadeiro Eu é uma tarefa muito difícil para muitas pessoas.
Um ótimo início é estudar as características do nosso signo astrológico ascendente,
através de um mapa astral. Isso não significa que nós somos o nosso signo ascendente.
A formação do Eu é um processo dinâmico, particular e individual. Mas estudar as
características desse signo pode nos ajudar bastante na descoberta das características do
nosso si-mesmo, nosso Eu maior. A análise dos sonhos (ou pesadelos) também ajuda
muito na autodescoberta. Os sonhos sempre têm a intenção de transmitir alguma
mensagem ao nosso Eu consciente. O difícil muitas vezes é interpretar a sua linguagem
simbólica, e por isso a necessidade de lembrar de detalhes, analisar e refletir sobre os
conteúdos dos sonhos, interpretando a mensagem que o nosso poderoso inconsciente
quer nos transmitir.

Quando descobrimos nossa essência, nosso Eu verdadeiro, podemos colocar essa


teoria em prática através do trabalho. O trabalho é a forma de manifestação de nossa
função universal, de nosso Eu verdadeiro. E o trabalho, um conceito deturpado pelo mal
que impera na Terra, é na verdade, em sua acepção mais pura, trabalhar pelo bem-estar
real das pessoas, de si mesmo, das pessoas próximas e de toda a humanidade. Enfim, o
trabalho, em sua verdadeira acepção, é a própria manifestação do Sagrado, e o principal
caminho para nossa autorrealização.

Outra conclusão importante que podemos tirar desses estudos é que as questões
espirituais precisam ser vivenciadas em ações práticas, e não apenas na teoria. Acreditar

A Bíblia do Espiritualismo Página 113


em Deus e no mundo espiritual, por exemplo, é algo que precisa de ação. A pessoa
precisa procurar, questionar, experimentar e vivenciar. E, através da experiência mística
real, vislumbrar a existência de Deus e da dimensão espiritual, e assim obter uma fé
embasada. Do contrário as pessoas se tornam alienadas e vítimas dos falsos profetas.

Rezar, meditar e praticar exercícios transcendentais são ações que melhoram o


nosso espírito, desenvolvem e fortalecem a nossa alma. São formas práticas de nos
conectarmos à dimensão espiritual, entendendo seu funcionamento, percebendo que se
trata de nossa verdadeira essência. São formas de obter a sabedoria divina, a gnosis,
vinda de esferas elevadas, para aplicá-la na vida. São práticas que facilitam nosso
contato com os espíritos superiores, que podem nos ajudar em todos os aspectos da vida.
E, principalmente, são formas de nos reintegrarmos à essência do universo, que por sua
vez é algo totalmente espiritual.

Os valores espirituais, a ética, o amor e o respeito pelas leis divinas, precisam ser
vividos na prática. Ter os valores espirituais somente como teoria, sem exteriorizá-las
em nossas ações do dia a dia, é o mesmo que não ter ética nenhuma. Porém, precisa ser
uma atitude natural. Não se trata de sair por aí em uma campanha de pregação ou de
caridade, mas de ser autêntico e fiel a valores morais verdadeiros, nos momentos em
que é realmente necessário defender um princípio, através de uma ação ou postura.

Os conhecimentos espirituais precisam sair da teoria e encontrar meios dinâmicos


de exteriorização. Precisam realmente nos ajudar em questões práticas, como alcançar a
segurança material, ter pensamentos positivos, conseguir livrar-se de perturbações e
preocupações, ter uma mente clara e serena, se expressar bem, realizar projetos pessoais
com sucesso, exteriorizar os sentimentos de forma equilibrada, viver o amor e os
relacionamentos de forma plena, compreender os defeitos das pessoas, perdoar aqueles
que nos prejudicam, livrar-se das mágoas, conseguir livrar-se de relacionamentos
nocivos, ter entusiasmo pela vida, ter autoestima, flexibilidade, inteligência e sabedoria
em todas as atitudes.

Busquemos, através do nosso desenvolvimento espiritual, objetivos claros e


nobres.

Que o nosso desenvolvimento espiritual nos ajude a acreditar em Deus e na vida


espiritual.

Que o nosso desenvolvimento espiritual nos ajude a praticar valores morais mais
elevados, e abandonar hábitos nocivos à vida.

Que o nosso desenvolvimento espiritual nos ajude a conhecer a missão de nossa


alma, e a realizá-la.

A Bíblia do Espiritualismo Página 114


Que o nosso desenvolvimento espiritual nos ajude a enxergar a vida através da
consciência divina.

Que o nosso desenvolvimento espiritual nos ajude a transmitir boas mensagens ao


mundo.

Que o nosso desenvolvimento espiritual nos ajude a expressar o amor através da


gentileza, da solidariedade, da caridade e da compaixão nos atos da vida.

Que o nosso desenvolvimento espiritual nos ajude a ter uma lúcida percepção de
tudo à nossa volta, e que essa percepção nos conduza à verdade suprema.

Que o nosso desenvolvimento espiritual nos ajude a ter força de vontade e


iniciativa para gerar mudanças na vida.

Que o nosso desenvolvimento espiritual nos ajude a entender o trabalho como


uma função universal e sagrada, que tem como objetivo o bem-estar de todos.

Que o nosso desenvolvimento espiritual nos ajude a praticar a justiça, a liberdade,


a igualdade e a fraternidade em todos os atos da nossa vida.

Que o nosso desenvolvimento espiritual nos ajude a ter boa saúde, uma família
harmoniosa e conforto material.

Que o nosso desenvolvimento espiritual nos ajude a sermos plenamente felizes.

A Bíblia do Espiritualismo Página 115


A Bíblia do Espiritualismo Página 116
Glossário

A Semântica, parte da Gramática que estuda o significado dos termos, é um


conhecimento fundamental para a sabedoria humana, mas ao mesmo tempo é um
conhecimento negligenciado, ou, muitas vezes, desprezado. Mas cada palavra carrega
uma rica carga de significado, um conceito. Não conhecer o conceito e a carga de
significado que existe por traz de cada palavra compromete a aquisição de uma
sabedoria real. Por isso acrescentei ao livro esse glossário, que relaciona termos
presentes no livro com as descrições presentes nos principais dicionários e
enciclopédias.

Sinônimos são palavras com uma carga de significado muito semelhante, a mesma
em muitos casos. E nos estudos espiritualistas a quantidade de sinônimos é bem grande.
A presença de muitos sinônimos não é benéfica, mas, ao contrário, acaba atrapalhando o
entendimento de conceitos que, inclusive, já são complexos por si só. E por isso nesse
glossário resolvi também agrupar as palavras sinônimas, ou de carga semântica muito
semelhante, para facilitar o entendimento dos conceitos.

Alma e seus Sinônimos

Alma: do latim anima, é a causa oculta dos movimentos vitais. Força vital,
princípio sensitivo e intelectual da vida. Princípio imaterial da vida, do pensamento e da
ação. Substância incorpórea, imaterial, invisível, criada por Deus à sua semelhança.
Fonte e motor de todos os atos humanos. E também essa substância quando separada do
corpo.

Consciência: do latim conscientia, conhecimento, percepção imediata da própria


experiência. Capacidade de percepção em geral.

Ego: do latim ego, é a experiência que o indivíduo possui de si mesmo, ou


concepção que faz de sua personalidade. Em psicanálise, apenas a parte da pessoa em
contato direto com a realidade, e cujas funções são a comprovação e a aceitação dessa
realidade.

Egum: conceito de origem iorubá, representa o espírito do morto nas religiões


afro-brasileiras, e a parte do espírito do vivo que sobrevive após a morte, e pode
reencarnar. Reúne as características de personalidade e individualidade da pessoa.

A Bíblia do Espiritualismo Página 117


Espírito: do latim spiritu, é o princípio animador ou vital que dá vida aos
organismos físicos. Sopro vital, alma. As faculdades mentais do homem, em
contraposição à parte física, à carne.

Eu: do latim ego, entidade ou a individualidade da pessoa que fala. A


individualidade metafísica da pessoa.

Eu consciente: em Psicologia, existem partes da psique que influenciam o Eu, mas


que não são conscientes. Essas partes formariam então uma espécie de Eu-inconsciente.
O Eu consciente é portanto somente a parte do Eu em estado consciente.

Mente: do latim mente, é a faculdade de conhecer. Consciência. Inteligência e


poder intelectual do espírito. Entendimento, alma, espírito. Disposição para fazer
alguma coisa.

Psique: do grego psykhé, significa alma, espírito ou mente. Conjunto dos


processos psíquicos conscientes e inconscientes.

Eu maior e seus Sinônimos

Atman ou atma: palavra originária do sânscrito que significa alma divina ou sopro
vital.

Centelha divina: a palavra centelha vem do latim scintilla, partícula ígnea ou


luminosa que se desprende de um corpo incandescente. Portanto, centelha divina é uma
partícula luminosa que se desprende do divino, ou seja, de Deus.

Eu maior: projeto de personalidade a ser realizado na vida na Terra. É de natureza


espiritual e divina, uma parte do próprio Deus. Reside no centro de nosso inconsciente.

Si-mesmo ou self (palavra da língua inglesa que significa si-mesmo): processo


desenvolvido pelo indivíduo humano em interação com seus semelhantes, por meio do
qual se torna capaz de tratar a si mesmo como objeto de análise, isto é, de "afastar-se",
por assim dizer, do seu próprio comportamento, e considerá-lo do ponto de vista alheio.

Superego: na Psicanálise, fator ou conjunto de fatores que restringem a atividade


do ego e do ID, o instinto. Corresponde, de modo prático, ao que comumente se
denomina consciência moral.

A Bíblia do Espiritualismo Página 118


Divindade e seus Sinônimos

Aeon: para os gnósticos, seres espirituais elevados, intermediários entre Deus e os


espíritos comuns, humanos.

Arquétipo: do grego arkhétypon, modelo dos seres criados. O que serve de


modelo ou exemplo. Protótipo.

Divindade: do latim divinitate, de natureza ou essência divina. Pessoa ou coisa


divinizada. Qualquer deus ou deusa do paganismo.

Guia: para os umbandistas, são os espíritos que trabalham incorporando nos


médiuns para realizar seu trabalho caritativo e dar orientações.

Orixá: divindade da religião dos iorubás. Forças naturais tornadas divindades e


que são atraídas nos terreiros de Candomblé por meio de cantos.

Anjo da Guarda e seus Sinônimos

Anjo da guarda ou anjo-guardião: espírito celestial que, segundo a crença católica,


vela pela pessoa de cada cristão. Pessoa que nos tem afeição, nos dirige e defende,
moral ou fisicamente.

Anjo: do latim angelu, ente puramente espiritual, dotado de personalidade própria,


superior ao homem e aos demais seres terrenos.

Daimon ou daemon: palavra de origem grega , significa gênio bom ou mau que,
segundo as crenças da Antiguidade, presidia o destino de cada homem e de cada Estado.

Luz Divina e seus Sinônimos

Axé: do iorubá, energia, poder, força. No contexto do Candomblé, o axé


representa um poder de força sobrenatural.

Chi: conceito fundamental da cultura tradicional chinesa, é a energia metafísica


que permeia e sustenta os seres vivos.

Energia Psíquica: termo da Psicologia, reúne os aspectos mobilizadores da psique,


fundamentais para o funcionamento da mente humana. Por exemplo, os impulsos da
libido.

A Bíblia do Espiritualismo Página 119


Luz divina: fluido de natureza espiritual que se origina de Deus, e circula por todo
o universo, levando consigo energia, orientação e saúde, que por sua vez podem ser
captadas por nossas almas.

Prana: conceito sânscrito, segundo as antigas escrituras indianas é a energia vital


universal que permeia o cosmo, absorvida pelos os seres vivos através do ar que
respiram.

Outros Conceitos Usados na Espiritualidade

Agnóstico: que ignora ou aparenta ignorar tudo quanto não caia sob o domínio
dos sentidos.

Alquimia: arte que procurava descobrir a pedra filosofal, o remédio para todos os
males.

Anima e animus: em Psicologia, sizígia, ou o arquétipo da alteridade, refere-se aos


opostos masculino e feminino na psique. Trata-se da personificação de uma produção
espontânea do inconsciente. Como é inconsciente, esse arquétipo caracteriza-se pela sua
autonomia em relação ao ego, produzindo fenômenos problemáticos, tanto no âmbito do
relacionamento com o sexo oposto, quanto na intimidade do indivíduo. Nos sonhos de
um homem, por exemplo, a anima pode surgir como uma mulher desconhecida. O
mesmo dando-se com uma sonhadora com o seu animus. A relação do sonhador com o
arquétipo da alteridade indica como está o relacionamento do sonhador com o seu
oposto complementar.

Ansiedade: do latim anxietate. Aflição, angústia, ânsia. Atitude emotiva


concernente ao futuro e que se caracteriza por alternativas de medo e esperança. Medo
vago adquirido especialmente por generalização de estímulos. Desejo ardente ou
veemente. Impaciência.

Arbítrio e livre-arbítrio: do latim arbitriu. Resolução que depende só da vontade.


Julgamento, opinião, voto. Livre-arbítrio: poder do ser humano, consciente, de decidir
livremente.

Astral: do latim astrale. Relativo aos astros. Qualificativo que, em várias religiões,
se dá a certa classe de gênios compostos de ar e fogo e que, segundo elas, povoam o
universo: Espírito astral. Segundo o ocultismo, o plano astral é o mundo espiritual.

Astrologia: ciência esotérica de autoconhecimento e de predição do futuro, com


base na observação da influência dos astros.

A Bíblia do Espiritualismo Página 120


Aura: do latim aura. Segundo os ocultistas, emanação fluídica que rodeia o corpo
humano como uma luz ou fosforescência, observável principalmente ao redor da cabeça
e na extremidade dos dedos.

Auréola: do latim aureola. Círculo de luz com que se orna a cabeça dos santos e
que nas esculturas é suprido por um semicírculo de metal. Brilho ou esplendor moral.
Glória, prestígio.

Canalização ou incorporação: ação e efeito de o médium receber em si entidade


espiritual.

Carma: do sânscrito karma. Segundo o hinduísmo e o budismo, lei de causa e


efeito, que opera tanto no plano físico como no moral.

Chakra: segundo a filosofia iogue, centros energéticos dentro do corpo humano,


que distribuem a energia (prana) através de canais (nadis) que nutre órgãos e sistemas.
Na Doutrina Espírita os chakras são chamados de Centros de Força.

Complexo: em Psicanálise, grupo de idéias impregnadas de força emotiva, as


quais produzem atividades inconscientes e muitas vezes autônomas.

Cristo: do grego khristós, ungido. Aquele que é o ungido do Senhor, ou seja, o


representante do Senhor.

Demônio: do grego daímon. Gênio do mal, anjo caído, anjo mau, belzebu, diabo,
espírito maligno, satanás.

Depressão: abatimento (físico ou moral). Patologia causada por desordens na


produção de hormônios cerebrais. Sintomas: perda de prazer nas atividades diárias,
apatia, redução das capacidades cognitivas e motoras, fadiga e sensação de fraqueza,
alterações do sono, alterações do apetite, redução do interesse sexual, retraimento
social.

Deus (com letra maiúscula): do latim Deus. Ser supremo. O espírito infinito e
eterno, criador e preservador do Universo.

Deus e deusa (com letras minúsculas): indivíduo ou personagem que, por


qualidades extraordinárias, se impõe à adoração ou ao amor dos homens. Divindades do
paganismo.

Dimensão: do latim dimensione. No contexto da espiritualidade, diferentes


dimensões são diferentes mundos. Por exemplo: mundo ou dimensão material, mundo
ou dimensão espiritual.

A Bíblia do Espiritualismo Página 121


Divino: do latim divinu. Proveniente de Deus. Consagrado a Deus. Inspirado por
Deus. Sobrenatural. Excelente, magnífico, perfeito, sublime.

Doutrina: do latim doctrina. Ensino que se dá sobre qualquer matéria. Conjunto de


princípios em que se baseia um sistema religioso, político ou filosófico.

Eledá: de origem iorubá, significa orixá protetor. Na Umbanda, conjunto de


entidades ou guias de uma pessoa.

Esoterismo: do grego esóteros. Doutrina secreta, reservada. Profundo, recôndito.


Difícil de entender.

Espiritismo: doutrina (e prática) segundo a qual os espíritos dos mortos podem


entrar em contato com os vivos, principalmente pela ação dos médiuns, e manifestar-se
por toques, movimentos de objetos e certas formações materiais (ectoplasmas). Culto
religioso fundado nessa doutrina e prática.

Espiritualidade: do latim spiritualitate. Qualidade do que é espiritual. Modo de


viver característico de um crente que busca alcançar a plenitude da sua relação com o
transcendental. Estilo de vida fundamentado no desenvolvimento espiritual.

Espiritualismo: doutrina filosófica que tem por base a existência da alma e de


Deus. Tendência para a vida espiritual.

Estereótipo: imagem mental padronizada, tida coletivamente por um grupo,


refletindo uma opinião demasiadamente simplificada. Atitude afetiva ou juízo
incriterioso a respeito de uma situação.

Ética: do grego ethiké. Parte da Filosofia que estuda os valores morais e os


princípios ideais da conduta humana. Conjunto de princípios morais que se devem
observar no exercício de uma profissão.

Evangelho: doutrina de Jesus Cristo. Os quatro primeiros livros do Novo


Testamento, escritos pelos evangelistas Mateus, Marcos, Lucas e João, em que estão
narradas a vida e doutrina de Jesus Cristo.

Fé: do latim fide. Convicção da existência de algum fato. Crença nas doutrinas da
religião cristã.

Filosofia: do grego philosophía. Estudo geral sobre a natureza de todas as coisas e


suas relações entre si. Os valores, o sentido, os fatos e princípios gerais da existência,
bem como a conduta e destino do homem. Forma de entender a vida e a tudo.

A Bíblia do Espiritualismo Página 122


Gnosticismo e gnose: do grego gnosis. Conhecimento especial das verdades
espirituais. Saber por excelência. Filosofia dos magos. Alta teologia.

Herói: das mitologias grega e romana: denominação dada aos descendentes de


divindades e seres humanos da era pré-homérica (semideuses). Homem elevado a
semideus após a morte, por seus serviços relevantes à humanidade. Homem que se
distingue por coragem extraordinária na guerra ou diante de outro qualquer perigo.
Homem que suporta exemplarmente um destino incomum, como, por exemplo, um
extremo infortúnio ou sofrimento, ou que arrisca sua vida abnegadamente pelo seu
dever ou pelo próximo.

Hinduísmo: religião e sistema social da maior parte da população da Índia.

Holismo: doutrina que considera o organismo vivo como um todo


indecomponível.

Inconsciente: que não é consciente. Praticado sem consciência. Que não tem
noção do que faz. Irresponsável. Pessoa que não procede com consciência ou
conhecimento claro do que faz. Em Psicologia, a parte da nossa vida da qual não temos
consciência.

Inferno: das mitologias grega e romana: lugar subterrâneo em que habitavam as


almas dos mortos. Segundo o Cristianismo, lugar destinado ao suplício das almas dos
condenados e onde habitam os demônios. Os demônios. Tormento, martírio atroz.

Ingorossi: termo de origem africana, é o tipo de reza específico para cada orixá.
No Brasil, na Umbanda e no Candomblé, pode significar o conjunto de características
que forma a personalidade do orixá.

Iorubá: língua dos iorubás, a qual pertence ao grupo nígero-cameruniano, centro-


oeste da África. Povo negro de larga disseminação, possuidor de instituições políticas
bastante desenvolvidas e aptidões comerciais apreciáveis.

Junguiano: relativo ou pertencente ao psicólogo suíço Carl Gustav Jung (1875-


1961), ou às suas teorias.

Kardecismo: doutrina espírita do pensador francês Allan Kardec (1804-1869).

Kundalini: do sânscrito kundaliní, é o poder espiritual ou físico primordial ou


energia cósmica que jaz adormecida no Múládhára Chakra, o centro de força situado
próximo à base da coluna, e aos órgãos genitais. É a energia que transita entre os
chakras.

A Bíblia do Espiritualismo Página 123


Médium: do latim mediu. Pessoa capaz de estabelecer relações entre o mundo
visível e o mundo invisível. Pessoa que, segundo os espíritas, pode servir de
intermediário entre os vivos e os espíritos dos mortos.

Metafísica: do latim metaphysica. Ciência do supra-sensível. Parte da Filosofia


que estuda a essência dos seres. Conhecimento geral e abstrato. Sutileza ou
transcendência no discorrer.

Metempsicose: do grego metempsýkhosis. Teoria que admite a transmigração da


alma de um corpo para outro. Passagem da alma de um corpo para outro.

Milagre: do latim miraculu. Fato que se atribui a uma causa sobrenatural. Algo de
difícil e insólito, que ultrapassa o poder da natureza e a previsão dos espectadores
(Santo Tomás). Coisa admirável pela sua grandeza ou perfeição. Maravilha. Fato que,
pela raridade, causa grande admiração. Intervenção sobrenatural. Efeito cuja causa
escapa à razão humana.

Misticismo: crença religiosa ou filosófica dos místicos, que admitem


comunicações ocultas entre os homens e a divindade. Aptidão ou tendência para crer no
sobrenatural. Devoção religiosa. Vida contemplativa. Que diz respeito à vida espiritual.
Que se refere à vida religiosa. Que se relaciona com o espírito, e não com a matéria.

Mitologia: do grego mythologíai. Descrição geral dos mitos. Estudo dos mitos.
História dos mistérios, cerimônias e culto com que os pagãos reverenciavam os seus
deuses e heróis.

Neurose: designação geral dada a qualquer doença nervosa, em especial àquelas


em que não se encontra qualquer lesão orgânica, e que se caracterizam por dificuldades
de ajustamento social, embora mantidas as capacidades de inteligência.

Nobre: do latim nobile. Digno de estima, brioso. Bravo, valente. Majestoso.


Distinto, ilustre, notável. Que revela elevação moral, generosidade, grandeza de alma.

Oráculo: do latim oraculu. Resposta dada por uma divindade a quem a consultava.
A própria divindade que respondia. Lugar onde se davam os oráculos. Profecia,
revelação. Palavra inspirada e infalível.

Orgulho: conceito muito elevado que alguém faz de si mesmo. Altivez, brio.
Amor-próprio exagerado. Empáfia, bazófia, soberba. Ufania. Aquilo de que alguém
pode orgulhar-se: o bom filho é o orgulho de seus pais.

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Paganismo: do latim paganu. Politeísmo. Diz-se de toda religião ou pessoa que
não seja cristã nem judaica. Maometano, em relação aos cristãos, e herético, em relação
aos católicos.

Pajé ou xamã: entre os indígenas, misto de feiticeiro, médico, profeta e sacerdote.

Panteão: do grego pántheion. Conjunto de deuses de uma mitologia.

Patologia: Ciência que estuda a origem, os sintomas e a natureza das doenças.

Paz: do latim pace. Repouso, silêncio. Tranqüilidade da alma. União, concórdia


nas famílias. Sossego.

Pecado: do latim peccatu. Transgressão de lei ou preceito religioso. Transgressão


de qualquer preceito ou regra

Perene: do latim perene. Que dura muitos anos. Que não tem fim, eterno,
perpétuo. Incessante, ininterrupto, contínuo.

Persona (ou máscara): do latim persona, na psicologia analítica de Jung, é função


psíquica relacional voltada ao mundo externo, na busca de adaptação social.

Piedade: do latim pietate. Amor e respeito às coisas religiosas, devoção,


religiosidade. Compaixão pelos sofrimentos alheios. Pena, dó. Misericórdia.

Plenitude: do latim plenitudine. Estado ou qualidade do que é pleno, cheio ou


completo. Totalidade. Perfeito, total, absoluto.

Profeta: do grego profetes. Anunciador ou intérprete de uma mensagem divina.


Aquele que, entre os hebreus, anunciava e interpretava a vontade e os propósitos divinos
e, ocasionalmente, predizia o futuro por inspiração divina. Pessoa considerada, por um
grupo de adeptos, como supremo revelador da vontade de Deus. Título dado a Maomé
pelos muçulmanos. Adivinho, vidente.

Projeção: em Psicologia, processo pelo qual uma pessoa atribui a outra os motivos
de seus próprios conflitos.

Psicanálise: análise da mente. Separação da psique em seus elementos


constitutivos. Sistema de psicologia e método de tratamento de desordens mentais e
nervosas, criado e desenvolvido por Sigmund Freud (1856-1939), psicanalista austríaco.
Caracteriza-se por uma visão dinâmica de todos os aspectos da vida mental, conscientes
ou inconscientes, salientando no entanto o papel destes últimos. As técnicas de
investigação e tratamento, características da psicanálise, consistem na observação das
expressões de associações livres e dos fatos de transferência emocional. Conjunto de

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fatos descobertos nesse método pela análise dos sonhos e das memórias e desejos
inconscientes. Ciência do inconsciente que se baseia nesses fatos e procura interpretá-
los.

Psicografia: escrita de um espírito pela mão do médium.

Psicologia: Ciência que trata da mente e de fenômenos e atividades mentais.


Ciência do comportamento animal e humano em suas relações com o meio físico e
social. Conjunto de estados e processos mentais de uma pessoa ou grupo de pessoas,
especialmente como determinante de ação e comportamento.

Psiquiatria: parte da Medicina que se ocupa das doenças mentais.

Religião: do latim religione. Serviço ou culto a Deus, ou a uma divindade


qualquer, expresso por meio de ritos, preces e observância do que se considera
mandamento divino. Sentimento consciente de dependência ou submissão que liga a
criatura humana ao Criador. Culto externo ou interno prestado à divindade. Crença ou
doutrina religiosa. Sistema dogmático e moral. Veneração às coisas sagradas. Crença,
devoção, fé, piedade. Prática dos preceitos divinos ou revelados. Temor de Deus. Tudo
que é considerado obrigação moral ou dever sagrado e indeclinável. Ordem ou
congregação religiosa. Caráter sagrado ou virtude especial que se atribui a alguém ou a
alguma coisa e pelo qual se lhe presta reverência.

Samadhi: palavra de origem sânscrita, êxtase. Alcance da última etapa do sistema


Yoga, quando se atinge a suspensão e a compreensão da existência, resultando na
comunhão com a mãe universal.

Samsara: palavra de origem sânscrita, andar em círculo. Metempsicose. O curso


da vida. A roda dos nascimentos, para o budismo.

Sânscrito: relativo à cultura índica clássica ou derivada dela. Antiga língua da


família indo-européia. A língua clássica da Índia e do Hinduísmo, em que está escrita a
maioria da sua literatura desde os Vedas.

Santo: do latim sanctu. Que vive conforme a lei de Deus. Que cumpre com todo o
escrúpulo, com a maior exatidão, os seus deveres religiosos e morais. Virtuoso. Com o
caráter de santidade, dotado de santidade. Consagrado ao culto, à divindade, sagrado.
Digno de respeito e veneração pelo seu caráter, talento e virtudes. Que não pode ser
violado sem que se cometa uma espécie de profanação. Aquele que leva uma vida de
abnegação e amor ao próximo. Indivíduo de vida exemplar e de conduta irrepreensível.

Signo: do latim signu. De acordo com a Astrologia, cada uma das doze partes em
que se divide o zodíaco (região celeste que compreende o sistema solar), e cada uma das

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constelações respectivas. A presumida influência de uma dessas partes sobre a vida das
pessoas, e, por extensão, de outras influências: Nasceu sob o signo da fortuna, da beleza
etc.

Símbolo: do grego symbolon. Qualquer coisa usada para representar outra,


especialmente objeto material que serve para representar qualquer coisa imaterial: O
leão é o símbolo da coragem. A pomba com um ramo de oliveira no bico é o símbolo da
paz.

Somatização: desenvolver (uma determinada doença) por causa de problemas


emocionais e/ou depressão.

Stress: da língua inglesa. Ação inespecífica dos agentes e influências nocivas (frio
ou calor excessivos, infecção, intoxicação, emoções violentas, tais como inveja, ódio,
medo etc.), que causam reações típicas do organismo, tais como a síndrome de alarma e
a síndrome de adaptação.

Subjugar: do latim subjugare. Pôr sob o jugo (os bois). Ligar ao jugo, jungir.
Submeter à força das armas. Conquistar, dominar: "A raça dos visigodos... subjugara
toda a Península" (Alex. Herculano, ap Laud. Freire). Domesticar: Subjugar as feras.
Dominar, vencer. Ter ou adquirir império sobre: Subjugar os impulsos, as paixões.

Telepatia: capacidade de transmitir e receber pensamentos a distância, sem que


façam uso dos sentidos naturais.

Teologia: do grego theología. Ciência que se ocupa de Deus e de seus atributos e


perfeições. Ciência sobrenatural de Deus e das criaturas enquanto ordenadas a Deus.

Teosofia: sabedoria divina. Teoria filosófica que admite o conhecimento de Deus


e das leis do Universo pela revelação mística, manifestada pela própria alma do
indivíduo. Iluminismo. Conjunto de doutrinas filosóficas que conciliam a razão e a fé,
de tal maneira que se estabelece perfeita harmonia nos pontos de coincidência das
religiões, seitas e escolas filosóficas.

Terreiro: denominação dada ao local onde se realizam os cultos afro-brasileiros


(Umbanda e Candomblé).

Transcender: do latim transcendere. Passar além dos limites de, ser superior a;
exceder, sobrepujar, ultrapassar. Chegar a um alto grau de superioridade, distinguir-se.

Transmigração das almas: do latim transmigratione. Doutrina da escola pitagórica,


segundo a qual as almas passam por diferentes corpos, que sucessivamente animam.

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Trevas: do latim tenebras: do ponto de vista espiritual, ignorância a respeito da
sabedoria divina.

Umbral: portal, limiar, ombreira da porta. Entrada, começo, extremidade inicial:


Umbrais da eternidade.

Universo: do latim universu. Conjunto de todas as realidades criadas. Mundo.


Conjunto de todos os sóis, planetas, satélites, astros e asteróides do espaço. Cosmos. A
terra habitável. O planeta Terra. Toda a sociedade. Todo o gênero humano. Um todo
composto de partes, harmonicamente dispostas.

Usurpar: do latim usurpare. Apoderar-se de, com fraude ou violência: Usurpar


uma herança. Usurpar direitos a alguém. Exercer indevidamente. Assumir de forma
ilícita: Usurpar funções, autoridade, poderes.

Vampiro: do sérvio vampir. Ente fantástico que, segundo a superstição do povo,


sai, de noite, das sepulturas, para sugar o sangue das pessoas, principalmente das
crianças. Indivíduo que enriquece à custa alheia ou por meios ilícitos.

Verdade: do latim veritate. Aquilo que é ou existe iniludivelmente. Conformidade


das coisas com o conceito que a mente forma delas. Concepção clara de uma realidade.
Realidade, exatidão. Sinceridade, boa-fé. Princípio certo e verdadeiro. Axioma. Juízo ou
proposição que não se pode negar racionalmente. Conformidade do que se diz com o
que se sente ou se pensa. Máxima, sentença.

Vício: do latim vitiu. Defeito físico ou moral. Deformidade, imperfeição. Defeito


que torna uma coisa ou um ato impróprios, inoperantes ou inaptos para o fim a que se
destinam, ou para o efeito que devem produzir. Falta, defeito, erro, imperfeição grave,
viciação, viciamento. Disposição ou tendência habitual para o mal. Hábito de proceder
mal. Ação indecorosa que se pratica por hábito. Costume condenável ou censurável.
Degenerescência moral ou psíquica do indivíduo que, habitualmente, procede contra os
bons costumes, tornando-se elemento pernicioso ao meio social, ou com este
incompatível. Desmoralização, libertinagem.

Virtude: do latim virtute. Hábito de praticar o bem, o que é justo. Excelência


moral Probidade, retidão. Boa qualidade moral. O conjunto de todas as boas qualidades
morais. Austeridade no viver. Força moral. Valor, valentia, coragem. Ação virtuosa.
Entre os antigos e entre os escolásticos, as virtudes naturais: prudência, justiça,
temperança e fortaleza.

Yin-yang: do chinês yînyáng. No taoísmo, os dois princípios complementares que


abrangem todos os aspectos e fenômenos da vida.

A Bíblia do Espiritualismo Página 128


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