Silo - Tips A Biblia Do Espiritualismo
Silo - Tips A Biblia Do Espiritualismo
Silo - Tips A Biblia Do Espiritualismo
Manuscrito / Original
Título: A Bíblia do Espiritualismo
Categoria: Espiritualismo
ISBN:
João 8-32
Terapias ...................................................................................................... 82
Nessa busca épica foi preciso correr todos os riscos. O risco de não encontrar nada
de verdadeiramente espiritual na vida e no universo. O risco de questionar as
convenções sociais, os dogmas das religiões e os conceitos da Filosofia e da Ciência. A
diretriz da minha missão não permitia dúvida nem erro. Eu tinha que “ver com os meus
próprios olhos”. Tinha que entender muito bem cada assunto, através de uma lógica
verdadeiramente científica e filosófica, de tal forma que pudesse explicá-los a outras
pessoas.
Outro conceito que precisa ser esclarecido nessa introdução é a Psicologia, ciência
que, inclusive, fazia parte da Filosofia na Antiguidade. A Psicologia é o estudo da
psique, palavra que vem do termo grego psykhé, e significa alma, espírito ou mente. A
psique é o conjunto dos processos mentais conscientes e inconscientes. Enfim, a
Psicologia é o estudo da alma humana, e o psicólogo seria então o médico da alma. As
teorias do psiquiatra e psicólogo Carl G. Jung são riquíssimas em conceitos espirituais,
e por isso estão presentes ao longo de todo o livro.
Mas ainda resta uma questão intrigante da espiritualidade: a alma sobrevive após a
morte do corpo físico? Pensemos: a alma é a causa da vida, aquilo que anima e dá vida
ao ser, e não um efeito, uma manifestação resultante dos mecanismos físicos. Se a alma
é aquilo que tem a capacidade de animar, de dar vida a um ser, é algo que é vida em si
mesmo. E aquilo que é vida em si mesmo pode morrer? O que seria vida em si? Um
conceito, uma consciência, um princípio. Mas qual a natureza desse princípio, do que
ele é constituído? A mesma natureza do ser criador da vida, Deus: uma natureza
espiritual. E aquilo que é de natureza espiritual morre? Acredito a princípio que não.
Então, se Deus realmente existe, criando e recriando a vida, pois não seria
possível o surgimento da vida de forma espontânea e aleatória, sem uma inteligência
promovendo essa complexa criação, e se também existe uma alma que anima a vida
humana, pois não seria possível a existência das complexas instâncias psíquicas do ser
humano considerando-se somente a existência de seus órgãos físicos, podemos concluir
que existem coisas não materiais, ou melhor, constituídas de uma matéria mais sutil, que
ainda não conhecemos bem, uma matéria espiritual. E se existe essa matéria espiritual,
da qual é constituído Deus, nossa alma e as criaturas celestiais, pode muito bem existir
todo um universo ou dimensão constituída dessa matéria, os mundos espirituais, e esses
mundos serem populados por milhares de espíritos.
Quando uma pessoa percebe a existência da realidade espiritual por trás da vida
comum que conhecemos, as suas prioridades mudam. E por isso, possuir uma fé
verdadeira é uma questão fundamental, que divide a humanidade em dois: os que
Pitágoras (571 a 490 a.C.) foi o precursor dos conceitos filosóficos espiritualistas.
Considerava a essência de Deus como a fonte de todas as formas da natureza. Deuses,
demônios e heróis eram emanações do Supremo, e havia uma quarta emanação, a alma
humana. A palavra demônio para os gregos não tinha o mesmo significado que temos
hoje. Daimon ou daemon significava um espírito protetor, intermediário entre os deuses
e os homens, ou seja, o equivalente atualmente ao anjo protetor. A alma humana era
imortal, e quando libertada do corpo passava à habitação dos mortos onde permanecia
até voltar ao mundo terreno, em um corpo humano ou animal, e, finalmente, depois de
suficientemente purificada, voltava à fonte de onde procedia. Essa doutrina da
transmigração de almas (metempsicose), egípcia de origem, é muito parecida com o
conceito de reencarnação encontrado hoje no Espiritismo e nas religiões orientais.
Ovídio, poeta romano de I a.C., explica a teoria de Pitágoras aos seus discípulos da
seguinte forma: "As almas não morrem jamais, mas sempre deixam uma morada para
passar a outra. Eu mesmo me lembro de que, na época da Guerra de Tróia, fui Eufórbio,
filho de Pantos, e caí pela lança de Menelau. Há pouco, visitando o templo de Juno em
Argos, reconheci meu escudo pendurado entre os troféus. Todas as coisas mudam, nada
perece.”
Esses assuntos fazem parte da Metafísica, a parte da Filosofia que busca por uma
visão total da vida e do universo. Já a Ética, outra disciplina fundamental da Filosofia,
trata da busca do comportamento humano ideal. Na Filosofia Clássica esse assunto foi
tratado principalmente por Zenão de Cítio (333 a 263 a.C.) o último dos grandes
filósofos gregos, criador do Estoicismo. Posteriormente, um filósofo da época do
império romano chamado Sêneca (4 a.C. a 65) fez um excelente resumo da ética
estoicista (e foi além) em seus tratados “Da Felicidade”, “Da Vida Retirada” e “Da
Tranquilidade da Alma”. Para Sêneca, o objetivo da vida é alcançarmos a felicidade e a
tranquilidade da alma. E para se conseguir isso seria preciso seguir certas regras
comportamentais básicas: separar muito bem o que é útil do que é inútil ou nocivo, ter
Separar muito bem o que é útil do que é inútil ou nocivo: devemos trabalhar
somente em coisas verdadeiramente úteis, sejam elas atividades externas (públicas) ou
retiradas (filosóficas). Coisas úteis são aquelas proveitosas para o bem de muitos, se
não, a poucos, se não a esses, aos mais próximos, ou então a si mesmo. E,
simultaneamente, devemos eliminar de nossas vidas tudo o que é inútil ou nos faça
infeliz: a ambição, a ânsia por poder e bens materiais, os luxos e os prazeres excessivos,
as atividades incessantes, perturbadoras e sem objetivo. O sábio deve dedicar-se ao
realizável, e não empenhar-se em algo que não traga resultado. Ao dedicar-se a coisas
externas, não deve ignorar as coisas particulares. Ao desenvolvermos a virtude já
estamos fazendo o bem, pois a virtude não se esconde, emite seus sinais, e quem for
digno captará seus vestígios. A dedicação aos assuntos externos dependerá da
possibilidade de alguma realização útil. Se não for possível, melhor dedicar-se à
reflexão e à virtude. O bem supremo é viver de acordo com natureza. Devemos escolher
tarefas que sejam adequadas à nossa capacidade, sem nunca nos sobrecarregarmos com
algo acima de nossa capacidade. A uns cabe melhor atividades externas, a outros, as
reflexivas. Devemos fugir de empreitadas que não tem fim, que tragam muitos afazeres
e nenhum resultado. Não devemos trabalhar em coisas inúteis ou desnecessárias, nem
naquilo que não podemos conseguir, mas sim em coisas que realmente nos preparem
para o futuro. Dessa forma, também não devemos ajudar a quem quer sempre mais e
mais. Nas dificuldades, abandone as coisas que não podem ser feitas ou que sejam
muito difíceis, e dedique-se ao que é possível, e assim alimentando a esperança. O
único bem é a dignidade, e o único mal a desonestidade, sendo todo o restante um
aglomerado de coisas que não retiram nem acrescentam nada à felicidade humana.
Valorizar a virtude: o bem supremo é uma alma que despreza as coisas fúteis e se
satisfaz com a virtude. Olha a virtude com respeito, confia naqueles que, tendo-a
seguido durante toda a vida, demostram tratar-se de algo muito importante e que sempre
ganha novas dimensões de grandeza. A ela, como aos deuses e a seus oráculos, tal qual
sacerdote, venera. Sempre que forem lidos textos sagrados, mantém silêncio respeitoso
para ouvir. Os antigos recomendam seguir a vida melhor, e não a mais agradável, de
modo que o prazer se torne um aliado e não o guia da vontade digna e honesta. Onde
houver um ser humano, aí haverá possibilidade de fazer o bem. Sei que minha pátria é o
mundo e que os deuses o comandam, e eles estão acima de mim e ao redor, agindo
como censores de meus atos e de minhas palavras. Deve-se aceitar a morte: qual o
problema em retornar de onde se veio? A natureza trata melhor aqueles que aceitam a
morte como parte da vida. Quando a natureza solicitar o meu espírito, partirei dizendo
que sempre cultivei a retidão de caráter, e as melhores intenções, sem haver reduzido a
liberdade de ninguém, muito menos a minha. Qualquer pessoa que se proponha a fazer
isso estará trilhando a estrada que leva aos deuses.
Após a iniciação o xamã está pronto para atuar em sua comunidade. Mas, de
tempos em tempos, precisa se recolher outras vezes, utilizar de suas técnicas
transcendentais e assim manter sua força espiritual. Dentre as muitas técnicas que
utilizam, a viagem espiritual é a sua maior fonte de força, poder e conhecimento, e, não
por acaso, é também a sua mais importante forma de transcendência.
A religião mais antiga da humanidade, o Hinduísmo, teve seu início por volta de
4000 a.C., mas suas práticas só foram registradas por volta de 2000 a.C., em suas
primeiras escrituras, os Vedas. Por volta de 500 a.C. digamos que o Hinduísmo evoluiu
para uma filosofia, para uma metafísica, com o nascimento dos Upanishads, obras
filosóficas espiritualistas que até hoje são importantes fontes de estudo para a Filosofia
e a Psicologia.
Em sua essência, o Hinduísmo ensina que nossa alma é uma parte de Brahman, o
Deus Supremo. Essa alma divina, chamada atman ou purusha, é um si-mesmo
transcendente, um Eu maior, que precisa se realizar durante a vida terrena. Caso
contrário, a alma precisa reencarnar inúmeras vezes, até conseguir a realização do atman
e a eliminação do carma negativo, e, dessa forma, libertar-se da “roda das encarnações”,
o samsara. O atman reside em nosso inconsciente profundo e só começa a ser realizado
de fato quando a pessoa desperta para o desenvolvimento espiritual.
Por volta de 400 d.C. Patanjali organizou os conhecimentos nos Yoga Sutras,
dividindo-os em oito etapas:
Entre as muitas escolas de Yoga que surgiram, o Kundalini Yoga (ou Tantra
Yoga) foi uma das que mais teve êxito nesse propósito. Para o Kundalini Yoga, existem
sete fases ou estágios de evolução espiritual e cada uma delas possui um símbolo
sagrado, os chamados chakras. Cada chakra tem uma rica carga de significado em sua
simbologia, para descrever com detalhes as características de cada estágio.
A expressão “wu wei” está presente ao longo de todo o livro e significa “não-
ação”, no sentido de ação sem intenção. Somente através da ação sem intenção seria
possível contemplar as maravilhas, ou seja, as manifestações do Caminho.
“O Homem Sagrado realiza a obra pela não-ação (a ação sem intenção). E pratica
o ensinamento através da não-palavra (a palavra sem intenção).”
“O Homem Sagrado governa (tem controle sobre si). Esvazia seu coração (sua
razão, sua emoção, sua intenção). Enche seu ventre (sua vitalidade). Enfraquece suas
vontades (seus desejos). Robustece seus ossos (sua estrutura psíquica, sua alma).”
Em 1857 era publicado “O Livro dos Espíritos”, de Allan Kardec (1804 a 1869 -
França), apresentando ao mundo esclarecimentos sobre os mais diversos assuntos, com
base nos ensinamentos dados diretamente pelos espíritos, por via mediúnica. A chamada
“Doutrina Espírita” integra conceitos científicos, filosóficos e religiosos, e trata da
"natureza, origem e destino dos Espíritos, bem como de suas relações com o mundo
corporal e as consequências morais que dela dimanam".
Além dessa capacidade, uma outra característica é bastante comum entre eles: o
trabalho intenso pela melhoria da humanidade, através da ajuda direta às pessoas em
sofrimento, e através do ensino da sabedoria espiritual. São pessoas com uma “missão a
cumprir da Terra”, como os próprios médiuns dizem. Estão sempre envolvidos, com
grande empenho, em alguma atividade de caridade, de auxílio aos que necessitam de
orientação, de ajuda ou de cura.
Os médiuns são pessoas que atravessaram o “portal”, passaram pela iniciação que
ocorre interiormente, psiquicamente. Passaram por uma crise de iniciação semelhante à
do Xamã, passaram pelo processo de morte-renascimento, atravessaram as “grandes
ondas” e as “profundezes do oceano” do inconsciente, pelo batismo, “o renascimento da
água e do espírito”, na vida presente, ou em alguma encarnação anterior. E por isso
percebem o mundo espiritual.
O emi, sopro vital que vem de Olorum (o senhor do céu), e que está representado
pela respiração, abandona na hora da morte o corpo material, fabricado por Oxalá, o
orixá maior, sendo reincorporado à massa coletiva que contém o princípio genérico e
inesgotável da vida, força vital cósmica do deus-primordial Olodumaré-Olorum. O emi
nunca se perde e é constantemente reutilizado. O ori, chamado também de cabeça,
contém a individualidade e o destino, e desaparece com a morte, pois é único e pessoal,
de modo que ninguém herda o destino de outro. Cada vida será diferente, mesmo com a
reencarnação. O orixá individual, que define a origem mítica de cada pessoa, suas
potencialidades e tabus, origem que não é a mesma para todos, retorna com a morte ao
orixá geral, do qual é uma parte infinitésima. Finalmente, o egum, que é a própria
memória do vivo em sua passagem pelo aiê (a vida terrena), representante da identidade
plena do ser e de sua ligação social, biográfica e concreta com a comunidade, vai para o
orum, o mundo espiritual, podendo daí retornar, renascendo no seio da própria família
biológica.
O segundo passo é cuidar do orixá, a divindade que nos guia pela vida, em um
ritual semelhante chamado feitura. O orixá, quando não devidamente cuidado, pode
dominar a vida da pessoa, anulando o Eu, de forma que a pessoa torna-se apenas um
veículo de manifestação do orixá, e não mais um indivíduo, com autonomia e juízo.
Quando uma pessoa é “cuspida e escarrada o orixá”, como se diz popularmente, o
sacerdote considera isso um caso grave, muito prejudicial, e que precisa de uma
intervenção urgente: cuidar do orixá. Com a harmonização do orixá, a pessoa pode
usufruir da força, qualidades e orientações do orixá, sem perder sua autonomia. Esse é
portanto um dos principais objetivos da feitura: a maior parte dos casos em que o
sacerdote indica esse ritual é exatamente em razão dessa chamada “cobrança do orixá”.
Na mitologia afro-brasileira existe uma alegoria que explica muito bem a essência
da espiritualidade, e diz mais ou menos o seguinte: o caminho das águas começa dentro
da terra, onde a água está como um feto no ventre materno. Mas uma força a leva para a
flor da terra, e depois para a busca de um rio. Esses são os domínios de Nanã e Obá.
Nos rios, que unem águas de muitas fontes, tomam grande volume. São os domínios de
Oxum e Xangô. Mas uma força as leva para o mar, domínio de Iemanjá, que tem Ogum
como guardião. Um mundo novo, só de água. Mas o caminho não acaba aqui. A força
Talvez o melhor caminho seja uma unificação dessas tradições com tanto em
comum, formando assim um culto forte e completo. Talvez também incluindo
elementos do Kardecismo, das religiões orientais e das práticas terapêuticas holísticas, o
que de fato tem acontecido com muitos templos de sucesso, os chamados “Templos
Espiritualistas”. O mais importante para o sucesso de um templo é priorizar a vivência
essencialmente espiritual, em detrimento das ritualísticas demasiadamente físicas, e das
disputas e da sede de poder que sempre corroem as religiões e a humanidade.
Carl Gustav Jung (1875 a 1961, Suíça) foi um dos mais importantes nomes da
Psicologia, talvez o maior, em razão da profundidade e abrangência de suas descobertas.
Formou-se em Medicina (especialização em Psiquiatria) em 1900. Em 1907 une-se a
Sigmund Freud (1856 a 1939, Áustria) e ajuda na divulgação da recém-nascida
Psicanálise, e, em 1910, torna-se o primeiro presidente da Associação Psicanalítica
Internacional. Mas a partir de 1913 passa a trabalhar em suas próprias teorias e
metodologias, a Psicologia Analítica, rompendo relações com Freud e a Associação
Psicanalítica Internacional. Para Freud, quase tudo que existia na psique humana estava
relacionado à sexualidade, e não havia mais nenhum impulso ou motivação. Mas para
Jung, existia muito mais coisas a serem investigadas, existiam outras motivações
humanas além de impulso sexual.
Enfim, Jung foi o pensador que mais contribuiu para a formação de conceitos
verdadeiramente espirituais para agregar ao conhecimento humano. Foi também o autor
de uma das melhores teorias de desenvolvimento da alma. E por isso seus conceitos
estão presentes por quase todo o livro, principalmente nos capítulos que seguem.
Todo esse conjunto chamado aparelho psíquico possui uma orientação natural de
autodesenvolvimento, de melhoria constante da personalidade. E esse
autodesenvolvimento se dá através de um processo natural de transformação, em que o
modelo psíquico é constantemente reconstruído, remodelado, influenciado pelas
situações vividas, e pelo inconsciente profundo. Jung batizou esse processo com o nome
de “função alquímica”, em razão da sua grande semelhança com as teorias da Alquimia,
em que substâncias grosseiras eram decompostas e recompostas, formando substâncias
melhores, até chegar à qualidade máxima, a “pedra filosofal”, uma substância perfeita,
capaz de resolver os maiores problemas da humanidade. A pedra filosofal, ou pedra do
filósofo, é uma expressão que tem como significado original algo como “o alicerce do
filósofo”, a sabedoria fundamental, a essência de todas as coisas. A pedra filosofal é
portanto a consciência de que a essência da vida e do universo é a evolução das almas,
através da transformação, da melhoria constante, e não uma pedra que transforma metal
em ouro, como rezam as lendas, que são na verdade metáforas do seu significado real,
que é a transformação contínua da personalidade, até alcançar um estado de felicidade
plena.
A alma humana possui portanto dois estados bem distintos. No primeiro, a alma
está em um estado teórico, inconsciente, e de caráter coletivo, universal. Durante a vida,
essa alma passa por muitas transformações, até tornar-se totalmente consciente,
totalmente pessoal, e totalmente em conformidade com as orientações universais. Como
podemos deduzir com certa facilidade, alcançar esse estado de plenitude é muito, muito
difícil, e raramente é possível completá-lo em uma única vida. A reencarnação é
portanto mais que uma hipótese ou possibilidade: é uma necessidade fundamental para o
desenvolvimento das almas.
Mas para uma minoria, essa forma de viver não faz sentido. Para o introvertido, o
sentido da vida é realizar sua interioridade, ou seja, realizar um plano de
desenvolvimento (presente em seu interior) de uma personalidade em harmonia com o
universo, em harmonia com as orientações mais elevadas. Essa personalidade ideal
buscada possui as virtudes, que são em geral voltadas para o bem estar de todos os seres
vivos. Ou seja, não se trata de uma pessoa egoísta ou individualista, pois ama o Projeto
Divino, que inclui todas as formas de vida, e, na medida do possível, trabalha para que a
vida seja preservada e incentivada, luta pelo direito de cada ser de viver suas
características pessoais próprias. É contra a ideia de massificação psicológica, de
anulação do ser. Enfim, é a pessoa que segue no caminho espiritual, que é uma jornada
cheia de dificuldades, para ao final conquistar um estado de alma plenamente
desenvolvido.
Segundo Jung ainda, esses tipos nem sempre são encontrados em estado puro:
muitas pessoas possuem os dois tipos simultaneamente, mas um deles é sempre
predominante. Essa manifestação tem sua causa na dualidade fundamental presente na
É óbvio que cada lado sente-se muitas vezes incomodado com a existência de um
outro tipo que tem uma visão de vida contrária à sua. Mas, seguindo as leis da natureza,
dentre elas a liberdade, a diversidade e a interdependência, é preciso que ambas se
aceitem e se respeitem. O que, obviamente, nem sempre acontece. O confronto sempre
acontece, como podemos ver mais claramente nas histórias dos muitos e famosos filmes
épicos: o herói é sempre uma pessoa diferente, que é desprezada, atacada e humilhada
pela maioria, e, depois de uma longa aventura, revela-se a todos um ser com um
desenvolvimento de alma acima da média, virtuoso, interessado no bem-estar da
maioria e na defesa da liberdade, que é o direito de cada um viver sua própria vida
plenamente. Esse confronto entre os opostos faz parte da vida, da natureza e do
universo, e tem obviamente um só propósito: a evolução das almas.
O ser humano inicia sua vida em um estado de inconsciência total. Porém, em seu
interior existe um conteúdo psíquico inato, com um completo projeto de vida a ser
realizado, o inconsciente coletivo, composto pelo si-mesmo e pelos arquétipos. Durante
a infância, o inconsciente coletivo entra em contato com o mundo externo, e começa a
formar uma nova instância psíquica, o inconsciente pessoal, através da criação dos
complexos, resultantes da interação entre os conteúdos do inconsciente coletivo e o
mundo exterior, e onde são formadas também as figuras pessoais de mãe, pai, família,
vida, morte, perigos, sobrevivência, amor e tantos outros.
A adolescência é portanto uma fase muito complexa, em que a pessoa reduz a sua
ligação e dependência dos pais, e inicia uma busca por seu complemento do sexo
oposto, e, paralelamente, é iniciada nas questões da fase adulta, onde precisa ser
responsável por si mesma e por outras pessoas, e obedecer às regras da comunidade.
Segundo Jung, em razão da grande dificuldade dessa fase, seria importante uma
“ritualística de iniciação”, como fazem muitos povos indígenas. Nesses ritos os jovens
meninos e meninas são expostos a uma rígida disciplina, enquanto recebem instruções
sobre as regras e tradições da comunidade, e sobre o universo espiritual. Ou seja, são
rituais que ajudam na transformação psíquica criança-adulto. Infelizmente nas
sociedades ocidentais não restaram essas práticas sociais, e as pessoas acabam não
tendo uma boa transformação criança-adulto, mantendo aspectos infantis em sua psique,
ou conteúdos inconscientes não confrontados, não conscientizados, que acabam
tornando-se espectros negativos que passam a agir de forma autônoma, causando as
doenças psíquicas, como a neurose.
A infância, do zero aos doze anos, e a adolescência, dos treze aos dezoito, são
fases em que o ser ainda não tem responsabilidade sobre si mesmo, e por isso precisa da
presença dos pais, adultos que cumpram com seus deveres de provedores e orientadores.
Nos casos em que os pais não cumprem essa função, as crianças e adolescentes são
obrigadas a abandonar seu desenvolvimento natural e assumirem, de forma totalmente
precária, a responsabilidade por sua sobrevivência, através de um desenvolvimento
anormal da persona, e, dessa forma, comprometendo todo o seu desenvolvimento.
Enfim, serão adultos mal formados, cheios de aspectos adolescentes e infantis em sua
psique, e por isso podem também tornarem-se pais “incompletos”, e assim formar um
tenebroso ciclo vicioso.
Um dos grandes vilões que pode atrapalhar esse processo é a persona, aquele
personagem criado pela psique para atender as demandas do exterior, as convenções
sociais, e tem sua importância em etapas intermediárias do desenvolvimento da
personalidade. Porém, quando o processo de individuação se inicia, a persona precisa
ser dissolvida, eliminada, para que a pessoa torne-se si mesma. A dissolução da persona
é uma tarefa muito difícil, quase impossível para algumas pessoas. A persona é uma
personalidade estereotípica, totalmente baseada nas convenções sociais. Uma
personalidade construída através da imitação das ações humanas mais usadas na
sociedade, o que pode ser algo muito perigoso. Quando as pessoas moldam seu
comportamento baseando-se somente no que a maioria faz, começam a surgir regras
sem sentido, destruidoras muitas vezes, mas que são seguidas fielmente, sem nenhum
questionamento. É a consolidação da alienação. As pessoas param de pensar e de sentir.
Param de viver a verdadeira vida para seguir cegamente as regras sociais, o
comportamento da maioria. É enfim algo como a morte das almas. Prioritariamente o
ser humano precisa desenvolver sua personalidade com base no aprendizado, no
entendimento da vida, e nos conceitos que emanam do seu interior, e não na imitação.
Um dos muitos símbolos associados à morte é a cruz. Porém, a cruz não simboliza
apenas a morte, mas está também associada ao sacrifício, à superação dos maus
instintos, através do controle sobre si mesmo. Na Umbanda, por exemplo, existe uma
simbologia muito rica chamada “o cruzeiro das almas”. Fisicamente é representada por
uma grande cruz sobre um pedestal de três níveis, que fica ao ar livre, na frente das
igrejas católicas ou nos cemitérios católicos. Espiritualmente é um portal que liga os
dois mundos, e é controlado pelo orixá Obaluaê. Seu nome na língua iorubá significa
algo como “rei senhor das almas”. Obaluaê é um orixá associado à doença e à saúde, à
morte, e principalmente à transformação. Nesse portal, a vibração sentida pelos médiuns
está muito relacionada às leis universais, aos sacrifícios que precisamos realizar, e às
transformações que precisamos operar em nossa personalidade para alcançarmos um
estado de paz e plenitude de alma. Enfim, o cruzeiro das almas é um portal que permite
a conscientização de verdades fundamentais, e por isso pode conduzir as almas a uma
dimensão mais elevada, sejam encarnadas ou já desencarnadas. É um símbolo que
representa muito bem o que os umbandistas chamam de “Linha das Almas”, uma faixa
vibracional que reúne, além de Obaluaê, várias outras entidades espirituais com uma
Esse é um assunto que não tem nada a ver com homossexualidade. Essas
manifestações relacionadas a falhas na projeção do sexo oposto são consideradas
patologias, neuroses em geral, que atrapalham no desenvolvimento humano, mas não
levam ao homossexualismo. Acredito que essa questão por sua vez, o homossexualismo,
ocorra quando uma alma com características femininas muito fortes vive em um corpo
masculino, ou vice-versa, e isso explicaria a atração por pessoas do mesmo sexo do
ponto de vista físico.
Libra: busca o equilíbrio e a organização das diversas forças em ação. Busca pelo
aperfeiçoamento das relações entre as pessoas, as relações harmoniosas, a paz e a
beleza.
É sempre importante lembrar que não somos regidos por apenas um signo, mas
por um conjunto de signos que compõe o nosso mapa astral. Mas o signo ascendente
parece ser o que mais influencia a formação da personalidade. Segundo os astrólogos
em geral, o signo solar rege um Eu mais voltado ao exterior, para a relação cotidiana
com o mundo, enquanto o signo ascendente rege a missão interior do ser, e o signo lunar
rege as questões mais particulares, a forma como a pessoa encontra bem-estar. Segundo
os astrólogos ainda, na segunda metade da vida o signo ascendente toma a frente da
consciência, que era até então dominada pelo signo solar. Relacionando esses
conhecimentos astrológicos com as teorias de Jung, o signo solar seria então o regente
da persona, responsável pela relação entre o ser e o mundo, enquanto o signo ascendente
seria o regente do si-mesmo, o núcleo da psique, responsável pela missão do ser
humano na Terra. Também é importante lembrar que os signos influenciam a formação
da personalidade, mas não fazem parte de nossa alma. Enfim, não somos os nossos
signos, apesar de eles nos influenciarem bastante. Somos a nossa alma, com nossas
características próprias e individuais. Ou pelo menos deveríamos ser.
Oxossi: caçador e líder da sua tribo, busca por atender as necessidades básicas de
sua comunidade, o alimento, o conforto e a segurança. É um herói em sua comunidade
por ser capaz de abater os seres malignos. Aparece muitas vezes associado ao
Oxum: assim como Xangô, possui uma personalidade muito voltada ao mundo
humano, material e terrestre, priorizando valores como poder, riqueza e beleza. Está
associada à fertilidade, ao amor (conjugal), aos rios e cachoeiras. É carinhosa e
protetora com os filhos, mas tem dificuldade em educá-los (no sentido de preparar para
a vida). Costuma ser associada aos signos astrológicos Touro, Câncer e Libra.
Euá: rege a purificação das almas, a justiça divina, separando o que é bom e o que
é ruim. Grande heroína, luta pela igualdade, pela justiça, pelos bons princípios, pela
cultura e pela arte, e em favor dos mais fracos. É representada pela evaporação da água,
que separa o que é espiritual sutil do material denso. Costuma ser associada aos signos
astrológicos Aquário e Peixes.
Orunmilá ou Ifá: orixá primordial masculino, forma com Iemanjá outro casal
primordial, gerando novos orixás. Rege a simplicidade e a síntese dos conhecimentos
Mas o entendimento das personalidades dos orixás só fica claro no dinamismo dos
mitos. Nos primórdios, Olorum pede a Oxalá e Odudua que façam a criação do mundo,
o aiê, e da humanidade. Oxalá e Odudua formam um casal conflituoso, lembrando o
conceito Yin-yang, onde yin é o princípio feminino, a água, a terra, a passividade,
escuridão e absorção. O yang é o princípio masculino, o fogo, o ar, a luz e atividade.
Orunmilá, sempre acompanhado de Exu, vêm em auxílio, para acalmar os conflitos
entre Oxalá e Odudua, e ajudar na criação.
Mas o conflito original permanece. Há diversas lutas heroicas nas narrações, ora
entre Odudua e Oxossi, ora entre Nanã e Ogum, ora entre Ogum e Xangô, e várias
outras. E o que se percebe são dois grandes grupos de orixás: um mais voltado à Terra,
ao Aiê (Odudua - Iá Mi Oxorongá - Nanã, Oxum, Xangô, Obá e outros), e outro mais
voltado ao Orum, o mundo espiritual (Oxalá, Orunmilá, Ogum, Iemanjá, Euá, Iansã,
Obaluaê e outros). Enfim, a dualidade e a diversidade aparecem mais uma vez como
pilares fundamentais da natureza e do universo.
Os Estados da Alma
O objetivo do universo, ou seja, o plano de Deus, que pode também ser chamado
de Projeto Divino, é em resumo o desenvolvimento e amadurecimento de todas as
almas. E o processo de desenvolvimento da alma é uma caminhada ascendente, como o
subir de uma escadaria, ou uma longa caminhada, por meio de várias encarnações, cada
uma com seus sofrimentos, sacrifícios e aprendizados.
Deus cria todas as almas iguais. E, ao longo dos séculos, as almas vão
desenvolvendo individualidade, consciência, capacidades, moralidade e virtudes,
através da prática de seus hábitos. E hoje, assim como sempre, o principal meio para
que esse desenvolvimento ocorra são as dificuldades e o sofrimento, exigindo a
superação das próprias capacidades. Cada alma acaba desenvolvendo suas
particularidades, formando uma individualidade, e o conjunto das almas forma o reino
de Deus. É um conjunto, mas cheio de diversidades. Além das particularidades de cada
alma, ao longo do tempo novas almas nascem, e, obviamente, em um estado de
desenvolvimento menor que as demais, o que torna ainda mais diversificado o conjunto
das almas. E todos esses diversos têm de conviver harmonicamente, uns ensinando aos
outros.
Uma das melhores formas para se avaliar o real estado de uma alma é observando
suas características após a morte do corpo físico, quando a alma está em estado “puro”,
sem a influência do corpo físico. E em razão disso, a mediunidade, capacidade de
comunicação com os espíritos, pode tornar-se um recurso importante. Uma das
principais observações dos médiuns sobre os espíritos contatados é que eles têm uma
personalidade muito semelhante à que tinham quando no corpo físico. Até a aparência é
a mesma, nos casos em que os médiuns “visualizam” o espírito. Enfim, a personalidade
A alma humana não pode ser analisada como algo independente, mas como uma
entidade que só pode ser entendida plenamente se considerarmos o sistema espiritual do
qual faz parte. Para entendermos essa relação de interdependência basta observarmos a
natureza. Uma planta depende do solo, da água, da luz, do ar, e, fora desse contexto,
morre. Os biólogos, estudiosos da vida, sabem bem que essa interação é o pilar
fundamental da natureza. A ecologia, mecanismo de trocas da natureza, que permite a
sustentação da vida, é o mesmo princípio que há na interdependência espiritual. A alma
recebe os fluidos espirituais de Deus e dos espíritos superiores, e esse fluido espiritual,
chamado de luz, alimenta nossa alma, através dos nossos chakras, que funcionam como
pontos de conexão que unem nosso corpo, nossa alma, e o universo. A alma, energizada
com a luz divina, emite uma aura, um brilho ao seu redor, sinalizando um estado de
graça, e sua verdadeira natureza. A aura, quando grande e luminosa, é o sinal de uma
alma desenvolvida e em harmonia com o universo. E é por isso que em muitas imagens
de santos católicos existe uma auréola acima da cabeça, simbolizando o grande brilho
de aura de um ser elevado.
Existem portanto dois estados básicos de alma: um saudável, em que a alma está
conectada à essência do universo, e por isso funciona plenamente. Outro em que a alma
não está conectada à essência do universo, não age nem pensa de acordo com os
princípios universais, e busca sobreviver usurpando e sugando o fluido de vida de outros
seres, como um parasita, um sub-ser.
Ou seja, o principal recurso para se alcançar a saúde da alma ainda é, sem dúvida
alguma, manter-se conectado ao mundo espiritual, o qual é a nossa raiz, nossa essência,
nossa família. Nossa alma é uma parte de Deus, e faz parte de um complexo mecanismo
espiritual. Não há como sermos verdadeiramente felizes sem estarmos conectados a
Deus e ao mecanismo espiritual do qual fazemos parte. Realizar essa conexão com a
natureza e com o universo é fundamental. Mais do que isso, a vida só tem realmente
sentido quando estamos espiritualmente conectados ao universo, realizando a função
que cabe a cada ser.
Existe uma clara diferença entre as leis divinas e as leis humanas. A humanidade
conseguiu um avanço extraordinário ao estabelecer as Constituições das Nações, os
Estados de Direito. Pessoas realmente nobres conseguiram estabelecer (a duras penas)
leis fundamentais de proteção aos direitos humanos básicos, como a liberdade, a
democracia, a proteção à infância e à juventude, o direito à saúde e à educação. Leis que
inclusive estão bastante alinhadas às leis divinas. Mas, são textos teóricos, e
infelizmente estão longe de serem aplicadas na prática. A verdadeira lei humana são as
regras das convenções sociais, ou seja, a imitação do comportamento da maioria. Nesse
contexto (nada saudável), os comportamentos mais monstruosos podem ser aceitos
como normais, e isso explica muitos dos absurdos que vemos. Enfim, as convenções
sociais são as verdadeiras leis humanas, pois são as que realmente são aplicadas no dia a
dia, e não a legislação formal.
E quanto às leis divinas? De que forma podemos descobrir quais são elas? Através
da observação filosófica e científica da vida e da natureza, e de uma boa análise dessas
observações. As leis divinas são diferentes das leis formais, as leis escritas que
conhecemos, que, se não forem cumpridas, os transgressores são punidos. As leis
universais são na verdade as melhores formas de proceder entre as infinitas
possibilidades. É mais uma orientação para trilharmos um caminho rumo à Vida e à
plenitude. Sem essa orientação corremos o risco de nos perdermos entre os infinitos
caminhos, alguns inclusive que podem nos levar ao desespero e à morte.
Os frutos de uma árvore são os resultados. Uma boa árvore é uma pessoa ou uma
situação que traz resultados positivos à vida das pessoas. E também disse Jesus: “se uma
As emoções também podem ser fortes aliadas nessas avaliações: a tristeza, por
exemplo, é um alerta da nossa alma de que aquilo em que estamos envolvidos nos faz
mal, e da mesma forma a alegria é um sinal de que estamos em um bom caminho.
Enfim, para se distinguir o bem do mal, é preciso usar bem os nossos recursos
interiores: o coração, as emoções, a intuição, o raciocínio e o juízo. Recursos que bem
usados podem guiar as pessoas para um bom caminho, sem a necessidade de seguirmos
cegamente os padrões de comportamento.
Observando bem o mundo podemos deduzir muitas outras leis. E a maior delas
parece ser o amor. O amor verdadeiro é um desejo de união harmônica dos seres e das
coisas. Um desejo de que o universo funcione bem, que a vida seja estimulada e
protegida, que os seres vivam a união (desde que mantidas suas individualidades). O
amor parece ser o próprio desejo de Deus. E se conseguirmos vivenciar o amor no dia a
dia, estaremos em conformidade com a essência do universo, ou seja, Deus. Mas, como
vivenciar o amor no dia a dia? Amando primeiramente esse grande Projeto Divino
chamado Vida. As escrituras orientam: ame o próximo, ame os inimigos. Mas temos
dificuldade de amar outras criaturas tão imperfeitas quanto nós ou mais. Porém, quando
Assim como a maior das leis é a do amor, pois pode-se a partir dela deduzir as
demais, o egoísmo é o maior dos pecados, pois dele se originam os demais. Pensar
somente em si mesmo é o exato contrário da postura virtuosa e correta. O egoísmo, a
vaidade, a vontade de poder e a inveja não permitem a frutificação de verdadeiras
riquezas como a amizade, o amor, a família e uma sociedade saudável. É uma atitude
nociva ao bem-estar geral, mas, infelizmente, a atitude egoísta e competitiva é ainda um
padrão de comportamento.
Analisemos esse trecho do evangelho de São Mateus: “Não penseis que vim abolir
a Lei e os Profetas. Não vim para abolir, mas para cumprir. Em verdade, eu vos digo:
antes que o Céu e a Terra deixem de existir, nem uma só letra ou vírgula serão tiradas
da Lei, sem que tudo aconteça. Portanto, quem desobedecer a um só destes
mandamentos, por menor que seja, e assim ensinar os outros, será considerado o menor
no Reino dos Céus. Porém, quem os praticar e ensinar será considerado grande no Reino
dos Céus. Eu vos digo: se vossa justiça não for maior que a dos escribas e dos fariseus,
não entrareis no Reino dos Céus.”
Além das divindades arquetípicas, as pessoas podem ter, figurando entre seus
guias, espíritos que não sejam seres de pureza arquetípica, mas que ainda assim
possuam elevado conhecimento das leis divinas. Esses guias espirituais não-arquetípicos
também possuem grande afinidade com seu protegido, e algumas vezes são nossos
próprios antepassados, biológicos ou espirituais.
Os anjos são os responsáveis pela execução dos nossos carmas, nossos destinos,
sejam eles bons ou ruins. Eles tentam nos manter dentro de um caminho que possibilite
a plena realização do nosso Eu maior. Mas sempre respeitando nosso livre arbítrio, pois
precisamos ter um aprendizado real, o desenvolvimento de um juízo próprio.
Os anjos se tornam figuras polêmicas quando constatamos que eles nos fazem
também coisas “ruins”. Ruins entre aspas porque esses remédios amargos são para o
nosso próprio bem maior, a saúde real de nossas almas. Mas ao mesmo tempo em que
nos administram remédios amargos, também nos mantém vivos, afastando de nós
grandes perigos, nos ajudam a conseguir as necessidades da vida, como um emprego,
um casamento, nossa saúde, etc. Enfim, os anjos nos impõem um fardo de peso coerente
com o que suportamos carregar, e um destino em conformidade com as orientações do
Plano Superior. O anjo guardião é a entidade espiritual mais próxima de nós, e a mais
importante para o nosso bem-estar.
Existe ainda outra questão inquietante para os estudiosos das entidades espirituais:
todos esses espíritos superiores, incluindo os seres arquetípicos e os anjos, já passaram
pela forma humana? Ou os anjos e as divindades, como os orixás, são seres que
surgiram diretamente a partir da luz divina de Deus, sem passar pela forma humana?
Enfim, esses espíritos superiores foram almas humanas. Já passaram pela forma
humana, através da difícil missão da vivência na Terra, muitas e muitas vezes, pois só
assim seria possível a aquisição do conhecimento e das virtudes de comportamento
necessárias a esses seres evoluídos.
A Essência da Prece
Rezar é a mais importante forma de contato com a dimensão espiritual. Falar com
Deus, com os santos e os anjos, pedir orientação, proteção, paz e saúde. Na bíblia, Jesus
Cristo nos ensina a melhor forma de rezar: “Quando orardes, não façais como os
hipócritas, que gostam de orar de pé nas sinagogas e nas esquinas das ruas, para serem
vistos pelos homens. Em verdade eu vos digo: já receberam sua recompensa. Quando
orares, entra no teu quarto, fecha a porta e ora ao teu Pai em segredo; e teu Pai, que vê
num lugar oculto, recompensar-te-á. Nas vossas orações, não multipliqueis as palavras,
como fazem os pagãos que julgam que serão ouvidos à força de palavras. Não os
imiteis, porque vosso Pai sabe o que vos é necessário, antes que vós lho peçais. Eis
como deveis rezar: Pai Nosso, que estais no Céu, santificado seja o vosso nome; venha a
nós o vosso Reino; seja feita a vossa vontade, assim na Terra como no Céu. O pão nosso
de cada dia nos dai hoje; perdoai as nossas ofensas, assim como nós perdoamos aqueles
que nos têm ofendido; e não nos deixeis cair em tentação, mas livrai-nos do mal. Porque
teu é o Reino, o Poder e a Glória, para todo o sempre. Porque, se perdoardes aos
homens as suas ofensas, vosso Pai celeste também vos perdoará. Mas se não perdoardes
aos homens, tampouco vosso Pai vos perdoará.” (São Mateus, 06:05 a 15).
O “Pai nosso, que estais no céu” é Deus, inteligência universal, que a tudo criou,
inclusive nossos corpos e nossas almas, e a tudo conduz. Tudo o que existe surgiu da
mente e das mãos dessa inteligência superior. Sendo assim, nada mais correto que
louvá-lo e respeitá-lo: “santificado seja o vosso nome”. Se pensarmos bem, toda a prece
precisa ser iniciada com um agradecimento. Tudo o que existe, inclusive nossa alma,
nosso corpo, nossos guias e anjos, nossa família e o mundo em que vivemos, tudo foi
criado por alguém, não surgiu por acaso. Então, muito obrigado meu Deus. E muito
obrigado também a todos os espíritos iluminados, guias, santos, anjos e ancestrais, que
tanto nos ajudam em nosso dia a dia.
Seguindo, o “Pai Nosso” é uma conversa com Deus: que o Projeto Divino
aconteça, tanto na Terra, como no mundo espiritual. Não nos deixe faltar o básico, o
Perdoai os nossos erros para com os semelhantes, fazendo-os sofrer, assim como
nós perdoamos aqueles que cometeram erros para conosco, nos prejudicaram, nos
fizeram sofrer. Deus a tudo perdoa, mas é fundamental que o ser humano perdoe a si
mesmo e aos seus semelhantes, e tenha uma conscientização de que seus atos podem
prejudicar as pessoas, fazê-las sofrer. Para que o sofrimento acabe, é preciso que todos
tratem os demais como cada indivíduo gostaria de ser tratado. E dessa forma
alcançaríamos a harmonia. Enfim, limpe seu coração, perdoando a todos que lhe
ofenderam ou prejudicaram. Seja humilde, reconheça os seus erros, faça um exame dos
seus defeitos: “Dois homens subiram ao templo para orar; um era fariseu, o outro,
publicano. O fariseu, conservando-se de pé, orava assim, consigo mesmo: Meu Deus,
rendo-vos graças por não ser como os outros homens, que são ladrões, injustos e
adúlteros, nem mesmo como esse publicano. Jejuo duas vezes na semana; dou o dízimo
de tudo o que possuo. O publicano, ao contrário, conservando-se afastado, não ousava,
sequer, erguer os olhos ao céu; mas, batia no peito, dizendo: Meu Deus, tem piedade de
mim, que sou um pecador. Declaro-vos que este voltou para a sua casa justificado, e o
outro não; porquanto, aquele que se eleva será rebaixado e aquele que se humilha será
elevado” (S. LUCAS, 18:9 a 14.).
Pedir a Deus que “...não nos deixeis cair em tentação...” é algo que nem sempre
pode ser atendido pelo Plano Superior, pois temos livre-arbítrio, e podemos escolher o
caminho que quisermos, mesmo os errados. Seria mais prudente então pedirmos “dai-
nos orientação e força para seguirmos os caminhos mais corretos”.
E por fim, Deus, por favor, livrai-nos do mal, nos concedendo a proteção divina,
através dos anjos guardiões, para que tenhamos segurança e saúde para seguirmos em
nosso caminho de desenvolvimento, nossa missão.
E agora, peça o que você mais precisa: “Seja o que for que peçais na prece, crede
que o obtereis e concedido vos será o que pedirdes” (S. MARCOS, 11:24.). Peça e lhe
será dado.
As preces são o recurso máximo que dispomos para refazermos nossa alma. Na
prece, além de entrarmos em contato com a essência do universo, Deus, e dessa forma
nos sentirmos revigorados e em paz, também podemos, ou devamos, entrar em contato
com os nossos guias espirituais e com o nosso anjo guardião. Eles têm um papel
fundamental em nossa vida particular, em nosso destino, em nosso percurso sobre a
Terra. Ignorá-los é como andar pela vida com os olhos vendados. Descobrir quem são
os nossos guias espirituais e o nosso anjo guardião, e falar com eles sempre que
A meditação, tão utilizada pelas religiões orientais, para nós ocidentais parece ser
a princípio uma prática complexa e inacessível. Mas, muito pelo contrário, é algo muito
simples, e que muitas vezes praticamos naturalmente no dia a dia: esvaziar a mente. Não
é difícil. A mais utilizada técnica é manter a atenção somente na respiração, e dessa
forma conduzir a mente a um estado de atividade mínima. Nessa técnica, a respiração
precisa ser o mais natural possível. Esvaziar a mente nos leva a uma atitude mais
confiante e natural. “Tudo é uma questão de manter, a mente quieta, a espinha ereta, e o
coração tranquilo”, como canta a música de Walter Franco. É uma prática que nos leva
a utilizar a mente de uma forma mais ampla e natural, em lugar de utilizar somente a
nossa limitada razão consciente. A “limpeza” da mente é fundamental para a saúde da
alma. Nosso dia a dia é cheio de situações que podem poluir nosso espírito com energias
negativas. Existem várias técnicas para a limpeza espiritual, mas todas são parecidas ou
relacionadas com a meditação.
O banho de mar age de forma semelhante, e com efeitos até melhores. O mar
contém, além do sal grosso (o cloreto de sódio, sal de cozinha), muitos outros tipos de
sais e minerais, e contém também toda uma população de microrganismos vivos,
vegetais e animais. A água, já sendo um condutor natural de energia, torna-se um
condutor de energia ainda mais poderoso com a presença desses sais e biomas, e pelas
suas grandes dimensões também: quando entramos no mar, estamos também conectados
energeticamente a todos os oceanos, com seus milhares de quilômetros de extensão e de
profundidade. Talvez por isso uma das características do arquétipo de Iemanjá, a rainha
do mar, seja a capacidade de absorver todas as mágoas do mundo.
Os banhos de ervas, famosos na Umbanda, também têm grande eficácia, mas não
para limpeza, não para eliminação de energias, como acontece com o sal grosso. O
sumo das ervas, espalhado pela superfície do corpo, age como um facilitador no contato
energético entre nós e dimensões espirituais mais elevadas. Isso porque as ervas
possuem em si uma forma de vida muito pura. A extração do sumo é feita pela imersão
das ervas picadas em água quente ou fervente, como na preparação de um chá, para
depois ser coado, esfriado e derramado sobre o corpo. Porém isso deve ser feito somente
sob orientação de especialistas: existem ervas que são tóxicas, venenosas.
Terapias
Outra técnica que pode ajudar muito na saúde da alma é a psicanálise. Nosso
inconsciente é muito complexo, cheio de questões não resolvidas, que podem inclusive
criar vida própria e nos assombrar. Perceber, através do nosso Eu consciente, as ideias e
sentimentos presentes em nosso inconsciente, é um processo natural e obrigatório. Um
fluxo, como a correnteza de um rio, que natural e obrigatoriamente precisa trafegar, do
inconsciente em direção ao Eu consciente. Porém, a gigantesca estrutura de regras
sociais nos influencia muito, gerando um fluxo de impulsos na direção contrária: vindo
do externo e indo para nossa interioridade. As neuroses e outras patologias psíquicas são
a forma de escape da pressão gerada nesse conflito. A solução é tratar com respeito os
impulsos do inconsciente, analisando-os, refletindo sobre eles. Talvez alguns desses
impulsos estejam certos, outros não, alguns você utilize, outros não. Mas é preciso dar
ouvido a todos eles. E tratar da mesma forma os impulsos externos: analisando e
avaliando-os segundo os critérios do nosso próprio juízo, sem sentir-se obrigado a
aceitar sem questionamentos todas as regras que as convenções sociais vão criando.
Quem não consegue fazer isso por conta própria, precisa da ajuda do psicólogo, o
terapeuta que consegue rearmonizar, através de suas técnicas, a relação entre os
impulsos internos da pessoa, e os impulsos recebidos de fora. Porém, se possível, seria
melhor resolver por conta própria essas “questões não resolvidas”, falando diretamente
com as pessoas relacionadas ao problema o que se quer dizer. Ou ainda, conversar de
forma sincera com as pessoas mais próximas, que realmente nos amam, apenas
explicando o que sente. É mais natural, e mais eficiente.
A luz divina, o axé, o prana, o chi, enfim, a energia espiritual universal, é o nosso
mais importante alimento, o que sustenta nossa alma, nos dá saúde e equilíbrio. Mas
para recebê-la precisamos ter os nossos chakras funcionando plenamente. Os chakras
são os nossos conectores espirituais. São dispositivos que interligam três instâncias:
nosso corpo, nossa alma e o universo. Para ativarmos os nossos chakras podemos fazer
exercícios de imaginação conduzida, visualizando esse grande fluxo de energia
A luz dourada desce um pouco mais e agora atinge o chakra frontal: de cor azul
clara, localizado no centro da testa, “o terceiro olho”, representa a visão espiritual, e a
visão do mundo interior. É o chakra da percepção, e pode ficar bloqueado por causa das
ilusões. Uma bola azul clara surge no interior da cabeça, atrás dos olhos, e você percebe
essa bola pulsando e girando. E, de dentro dela, surge uma espécie de raio que sai pela
testa, e também por trás da cabeça, como um eixo, também girando. Esse eixo alonga-se
cerca de trinta centímetros de você, à frente e para trás. Nas extremidades desse eixo a
energia se espalha, formando uma cápsula que envolve o seu corpo, uma das camadas
que constituem a aura.
A luz dourada continua a descer e chega ao chakra laríngeo, de cor azul escura,
localizado na garganta, representando a expressão, a criatividade e a arte. É o chakra da
verdade, e pode ficar bloqueado por causa das mentiras (que contamos a nós mesmos).
Repita o processo anterior, visualizando uma bola de luz, agora azul escura, pulsando e
girando, a energia fluindo através de um eixo, se espalhando nas extremidades e
formando mais uma camada da aura.
Agora visualize essa energia vermelha subindo pelo seu corpo, energizando cada
chackra, até alcançar o topo da cabeça e ir além.
Ao final do exercício, você terá as energias espirituais circulando pelo seu corpo,
os chakras ativados, emitindo suas energias características, e essas energias emitidas
pelos chakras formando a sua aura.
Essa é a chamada meditação dos chakras. O texto abaixo pode ajudar bastante
nesses exercícios de visualização, mais especificamente no entendimento ou
conscientização da essência de cada chakra.
Mas então, sendo algo tão importante, a mais importante das missões humanas, o
que fazer na prática para que esse processo aconteça? O que podemos fazer para
melhorar esse processo? Quais as dicas para evoluir nessa caminhada? O conhecimento
espiritual que melhor explica as etapas dessa jornada é o sistema de chakras do
Kundalini Yoga.
Para o ocidental, o Yoga é uma espécie de ginástica. Mas, longe disso, trata-se
uma filosofia, uma forma de entender a vida. A palavra Yoga significa união, a união
cósmica, a união com Deus. São os conceitos e práticas que levam o ser a essa união
com o universo e com Deus. As práticas físicas do Yoga, os ásanas, podem ajudar no
desenvolvimento espiritual, mas não são obrigatórias. O desenvolvimento espiritual é
espiritual, ou seja, interior, mental, abstrato, simbólico, e não físico. Para o
desenvolvimento espiritual é obrigatório que aconteçam as mudanças no interior da
pessoa, ou seja, é um processo totalmente psíquico, como os processos descritos pela
Psicologia, ou seja, processos de transformação interior.
Muladhara é o estágio inicial, o estágio em que está a grande maioria das pessoas.
Nele ainda não há consciência do mundo espiritual, mas somente do material, das coisas
do mundo humano, principalmente a sobrevivência. São as pessoas que não iniciaram
ainda o caminho espiritual. Não estou falando aqui das pessoas ateias ou sem religião.
Na verdade, a maior parte das pessoas que estão no estágio muladhara seguem religiões,
principalmente as grandes e hegemônicas religiões. Mas ainda não percebem o
espiritual, não enxergam essa dimensão, não foram ainda internamente iniciadas nesse
universo. Elas têm uma vaga e fugidia noção da existência dessa dimensão, o que
inclusive lhes causa muito medo. As questões religiosas são vistas por elas muitas vezes
como uma obrigação que precisa ser cumprida para que o mundo espiritual não
“atrapalhe” seu mundo “real”, que é o material.
Cada chakra está sempre associado a uma região do corpo e a um dos quatro
elementos físicos. No caso de muladhara a região do corpo é a base de coluna vertebral,
e o elemento é a terra.
Jung sugere que o elefante, animal ilustrado neste chakra, representa força, solidez
e firmeza, características necessárias ao ego neste estágio, para que ele não sucumba e
se dissolva no inconsciente: “O elefante representa aquele impulso tremendo que
suporta a consciência humana, a força que nos faz construir tal mundo consciente. Para
o hindu o elefante funciona como o símbolo da libido domesticada, como funciona
conosco a imagem do cavalo. Ele significa a força da consciência, o poder da vontade, a
capacidade de se fazer o que se quer fazer”.
Superada a dominação das emoções e dos desejos, o ser agora é mais senhor de si,
tem mais controle sobre si mesmo. Já enfrentou sua sombra, conheceu a si mesmo e
alcançou assim a maturidade para a próxima fase: conhecer seu Eu maior e a grande
missão de sua vida na Terra. A região do corpo associada a anahata é o coração, e o
elemento é o ar.
O Eu maior, também chamado self, atman ou purusha, é visto pela primeira vez
em anahata. É a essência do Eu, o Eu supremo, o Eu primordial. Enfim, é o nosso
arquétipo principal. Este é o primeiro pressentimento da existência de um ser dentro de
Anahata traz a gazela como o animal que define suas características. A gazela não
é um animal domesticado, nem um animal sacrificial, nem agressivo, é um animal
excessivamente cauteloso, esquivo e veloz. A gazela parece voar com grandes saltos. É
leve e só toca a terra aqui e ali. Ela é um animal da terra, mas é quase libertada da força
da gravidade. Tal animal seria adequado para simbolizar a força, a eficiência e a leveza
da substância psíquica: pensamento e sentimento. A gazela também denota que em
anahata a coisa psíquica é um fator evasivo, dificilmente apanhado.
Em ajna o Eu está consciente de que não é nada além de psique. O psíquico não é
mais um conteúdo do ego, mas o ego se torna um conteúdo do psíquico. O Eu e o self
são agora um. O self não precisa mais forçar o Eu a seguir no caminho, pois os
pensamentos e intenções agora são únicos.
Sahasrara, a flor de lótus de mil pétalas, está associada ao topo da cabeça, ponto
por onde nos conectamos com Brahman, o Deus Supremo. Aqui ocorre portanto a união
com Brahman, a realização do Ser Supremo.
Ter sonhos e fazer planos para realiza-los é um dever do ser humano, faz parte da
sua natureza. Não dar atenção aos sonhos seria como viver pela metade ou não viver.
Porém, nem sempre os sonhos se realizam da forma como planejamos, pois existem
forças superiores a nós, conscientes de coisas que não sabemos, e, às vezes, precisamos
aceitar essas determinações superiores, para o nosso bem maior. Mesmo assim,
trabalhar pela realização dos nossos sonhos ainda é a melhor receita de felicidade. Em
razão disso nosso projeto de vida pode e deve ser alterado ao longo do caminho, sendo
É obvio que não é uma tarefa fácil. Principalmente quando estamos falando de
uma vida em comunidade: todos têm livre arbítrio e liberdade, é um direito básico. E
cada alma está em um diferente estado desenvolvimento, muitas ainda presas em um
estado infantil de consciência. A dinâmica da vida em comunidade é bem complexa.
Mas existem algumas diretrizes que podem nos ajudar nos relacionamentos. Todos
temos o direito à liberdade, e o dever de sermos felizes e plenos. A partir desse
princípio, podemos concluir que não temos obrigação de permanecer em companhia de
pessoas que nos fazem mal, ou que sejam muito diferentes de nós em valores interiores.
As pessoas podem e devem encontrar o seu lugar, o lugar em que possam se
desenvolver sem se destruir. O mal existe quando as coisas estão fora de lugar. Não
significa ter raiva ou odiar ninguém, o que seria prejudicial. Mas exercer o direito de
viver e de escolher a vida que quer para si.
São muitas as tarefas no percurso da vida na Terra, essa grande escola. Tarefas
muito difíceis, com certeza. E com um agravante: não basta apenas realizá-las
mecanicamente. É preciso incorporar as atitudes virtuosas à nossa personalidade, ao
nosso espírito, à nossa consciência, e eliminar os maus impulsos, através dos nossos
hábitos, em muitos dias, meses, anos, vidas.
“Salvar a alma” não é um ato de negação dos impulsos e de total adaptação, mas o
contrário. A “ética divina”, a forma correta de proceder, está dentro de nós. O que nos
falta muitas vezes é o ânimo, a fé, a coragem, a sabedoria e o esforço para colocá-la em
prática, em um mundo em que se estabeleceu uma ética paralela criada pela
humanidade, ignorando os conceitos essências da vida, os conceitos espirituais. Por
isso, tornar-se si-mesmo é o melhor que podemos fazer, por nós mesmos, pela
humanidade e pelo universo. Existe portanto um momento mágico na vida, em que a
pessoa consegue se realizar espiritualmente, consegue sua iluminação, vence aquele que
é o maior desafio de sua vida, e passa a realizar a sua função no universo. Nesse
momento, só nesse momento, a pessoa pode dizer que alcançou de fato o sucesso e a
vitória na vida.
Deus existe, assim como também existe a alma humana, e esta continua a existir
após a morte de seu corpo físico. Isso é um fato que pode ser comprovado pela lógica.
Basta pensar, questionar, raciocinar e concluir. Questionemos: seria possível ter surgido
tudo o que conhecemos por acaso, de forma aleatória, ou existe uma inteligência
superior que conduz esse grande projeto? Tudo o que se passa na mente do ser humano
é originado somente no seu órgão físico, o cérebro, ou existe algo anterior, uma alma
que dá vida a esse ser? E essa alma, que não é física, sobrevive à morte do corpo? Cada
ser humano precisa fazer esses questionamentos em seu foro pessoal, e se esforçar em
encontrar as respostas, para que sua fé seja forte e real, ou melhor, seja mais do que fé:
seja consciência.
Se Deus existe, qual é então o seu propósito? Qual é afinal o sentido da vida? Se
observarmos bem, vamos perceber que as almas humanas são partes de Deus, e por isso
possuem os mesmos atributos que Ele: consciência, criatividade, individualidade e vida,
esse impulso mágico. Vamos perceber também, observando o mundo, um grande padrão
em tudo: a constante evolução, o constante desenvolvimento de todas as coisas vivas.
Enfim, o sentido da vida é o desenvolvimento das almas. O desenvolvimento pleno de
cada uma das bilhões de almas existentes.
Se realmente temos uma alma, e ela sobrevive para a eternidade, então é muito
mais importante cuidarmos das questões relacionadas à vida do espírito do que
cuidarmos somente das questões relacionadas à temporária vida terrena. Cuidar das
questões espirituais significa obter a saúde da alma, a plenitude e a paz da alma. Como?
Principalmente através da autorrealização: torna-se aquilo que realmente somos, e
aquilo que o universo espera de nós. E, nesse difícil percurso de autorrealização, gerar o
mínimo de carma negativo, e o máximo de carma positivo, através do entendimento de
uma questão básica: o respeito ao estado de desenvolvimento de cada ser humano.
Descobrir o nosso verdadeiro Eu é uma tarefa muito difícil para muitas pessoas.
Um ótimo início é estudar as características do nosso signo astrológico ascendente,
através de um mapa astral. Isso não significa que nós somos o nosso signo ascendente.
A formação do Eu é um processo dinâmico, particular e individual. Mas estudar as
características desse signo pode nos ajudar bastante na descoberta das características do
nosso si-mesmo, nosso Eu maior. A análise dos sonhos (ou pesadelos) também ajuda
muito na autodescoberta. Os sonhos sempre têm a intenção de transmitir alguma
mensagem ao nosso Eu consciente. O difícil muitas vezes é interpretar a sua linguagem
simbólica, e por isso a necessidade de lembrar de detalhes, analisar e refletir sobre os
conteúdos dos sonhos, interpretando a mensagem que o nosso poderoso inconsciente
quer nos transmitir.
Outra conclusão importante que podemos tirar desses estudos é que as questões
espirituais precisam ser vivenciadas em ações práticas, e não apenas na teoria. Acreditar
Os valores espirituais, a ética, o amor e o respeito pelas leis divinas, precisam ser
vividos na prática. Ter os valores espirituais somente como teoria, sem exteriorizá-las
em nossas ações do dia a dia, é o mesmo que não ter ética nenhuma. Porém, precisa ser
uma atitude natural. Não se trata de sair por aí em uma campanha de pregação ou de
caridade, mas de ser autêntico e fiel a valores morais verdadeiros, nos momentos em
que é realmente necessário defender um princípio, através de uma ação ou postura.
Que o nosso desenvolvimento espiritual nos ajude a praticar valores morais mais
elevados, e abandonar hábitos nocivos à vida.
Que o nosso desenvolvimento espiritual nos ajude a ter uma lúcida percepção de
tudo à nossa volta, e que essa percepção nos conduza à verdade suprema.
Que o nosso desenvolvimento espiritual nos ajude a ter boa saúde, uma família
harmoniosa e conforto material.
Sinônimos são palavras com uma carga de significado muito semelhante, a mesma
em muitos casos. E nos estudos espiritualistas a quantidade de sinônimos é bem grande.
A presença de muitos sinônimos não é benéfica, mas, ao contrário, acaba atrapalhando o
entendimento de conceitos que, inclusive, já são complexos por si só. E por isso nesse
glossário resolvi também agrupar as palavras sinônimas, ou de carga semântica muito
semelhante, para facilitar o entendimento dos conceitos.
Alma: do latim anima, é a causa oculta dos movimentos vitais. Força vital,
princípio sensitivo e intelectual da vida. Princípio imaterial da vida, do pensamento e da
ação. Substância incorpórea, imaterial, invisível, criada por Deus à sua semelhança.
Fonte e motor de todos os atos humanos. E também essa substância quando separada do
corpo.
Atman ou atma: palavra originária do sânscrito que significa alma divina ou sopro
vital.
Daimon ou daemon: palavra de origem grega , significa gênio bom ou mau que,
segundo as crenças da Antiguidade, presidia o destino de cada homem e de cada Estado.
Agnóstico: que ignora ou aparenta ignorar tudo quanto não caia sob o domínio
dos sentidos.
Alquimia: arte que procurava descobrir a pedra filosofal, o remédio para todos os
males.
Astral: do latim astrale. Relativo aos astros. Qualificativo que, em várias religiões,
se dá a certa classe de gênios compostos de ar e fogo e que, segundo elas, povoam o
universo: Espírito astral. Segundo o ocultismo, o plano astral é o mundo espiritual.
Auréola: do latim aureola. Círculo de luz com que se orna a cabeça dos santos e
que nas esculturas é suprido por um semicírculo de metal. Brilho ou esplendor moral.
Glória, prestígio.
Demônio: do grego daímon. Gênio do mal, anjo caído, anjo mau, belzebu, diabo,
espírito maligno, satanás.
Deus (com letra maiúscula): do latim Deus. Ser supremo. O espírito infinito e
eterno, criador e preservador do Universo.
Fé: do latim fide. Convicção da existência de algum fato. Crença nas doutrinas da
religião cristã.
Inconsciente: que não é consciente. Praticado sem consciência. Que não tem
noção do que faz. Irresponsável. Pessoa que não procede com consciência ou
conhecimento claro do que faz. Em Psicologia, a parte da nossa vida da qual não temos
consciência.
Ingorossi: termo de origem africana, é o tipo de reza específico para cada orixá.
No Brasil, na Umbanda e no Candomblé, pode significar o conjunto de características
que forma a personalidade do orixá.
Milagre: do latim miraculu. Fato que se atribui a uma causa sobrenatural. Algo de
difícil e insólito, que ultrapassa o poder da natureza e a previsão dos espectadores
(Santo Tomás). Coisa admirável pela sua grandeza ou perfeição. Maravilha. Fato que,
pela raridade, causa grande admiração. Intervenção sobrenatural. Efeito cuja causa
escapa à razão humana.
Mitologia: do grego mythologíai. Descrição geral dos mitos. Estudo dos mitos.
História dos mistérios, cerimônias e culto com que os pagãos reverenciavam os seus
deuses e heróis.
Oráculo: do latim oraculu. Resposta dada por uma divindade a quem a consultava.
A própria divindade que respondia. Lugar onde se davam os oráculos. Profecia,
revelação. Palavra inspirada e infalível.
Orgulho: conceito muito elevado que alguém faz de si mesmo. Altivez, brio.
Amor-próprio exagerado. Empáfia, bazófia, soberba. Ufania. Aquilo de que alguém
pode orgulhar-se: o bom filho é o orgulho de seus pais.
Perene: do latim perene. Que dura muitos anos. Que não tem fim, eterno,
perpétuo. Incessante, ininterrupto, contínuo.
Projeção: em Psicologia, processo pelo qual uma pessoa atribui a outra os motivos
de seus próprios conflitos.
Santo: do latim sanctu. Que vive conforme a lei de Deus. Que cumpre com todo o
escrúpulo, com a maior exatidão, os seus deveres religiosos e morais. Virtuoso. Com o
caráter de santidade, dotado de santidade. Consagrado ao culto, à divindade, sagrado.
Digno de respeito e veneração pelo seu caráter, talento e virtudes. Que não pode ser
violado sem que se cometa uma espécie de profanação. Aquele que leva uma vida de
abnegação e amor ao próximo. Indivíduo de vida exemplar e de conduta irrepreensível.
Signo: do latim signu. De acordo com a Astrologia, cada uma das doze partes em
que se divide o zodíaco (região celeste que compreende o sistema solar), e cada uma das
Stress: da língua inglesa. Ação inespecífica dos agentes e influências nocivas (frio
ou calor excessivos, infecção, intoxicação, emoções violentas, tais como inveja, ódio,
medo etc.), que causam reações típicas do organismo, tais como a síndrome de alarma e
a síndrome de adaptação.
Subjugar: do latim subjugare. Pôr sob o jugo (os bois). Ligar ao jugo, jungir.
Submeter à força das armas. Conquistar, dominar: "A raça dos visigodos... subjugara
toda a Península" (Alex. Herculano, ap Laud. Freire). Domesticar: Subjugar as feras.
Dominar, vencer. Ter ou adquirir império sobre: Subjugar os impulsos, as paixões.
Transcender: do latim transcendere. Passar além dos limites de, ser superior a;
exceder, sobrepujar, ultrapassar. Chegar a um alto grau de superioridade, distinguir-se.