Resenha Sociologia

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SOCIOLOGIA

Luan Barth Alves

SILVA, Graziella Moraes Dias da. Sociologia da sociologia da educação: caminhos e


desafios de uma policy science no Brasil (1920-1979). Encontros e desencontros da
sociologia e educação no Brasil. Revista brasileira de ciências sociais. Bragança Paulista,
Editora da Universidade São Francisco, 2007.

Graziella Moraes Dias da Silva é doutora em Sociologia pela Universidade de


Harvard (2010) e possui Mestrado em Sociologia e Antropologia (PPGSA 2000) e graduação
(1998) em Ciências Sociais, ambos pela Universidade Federal do Rio de Janeiro. Suas
pesquisas e publicações se concentram nas áreas de desigualdade social, relações raciais
comparadas, sociologia política e sociologia da educação. Graziella foi bolsista de
produtividade em pesquisa do CNPq e Jovem Cientista do Nosso Estado da Faperj. Desde
setembro de 2016, Graziella está em missão internacional no Graduate Institute of
International and Development Studies, em Genebra, na Suíça.
Esta publicação teve como foco discutir as condições que conduziram o desinteresse
da sociologia brasileira pela temática da educação, particularmente durante o período que se
estende do golpe militar até o início do processo de redemocratização do país. A autora leva
em consideração que a educação no Brasil tinha relação estreita com a origem da sociologia
no país. Dentro disso, a discussão decorre no período compreendido desde a década de 1920
até o início da transição democrática, em final dos anos de 1970, buscando analisar também as
possibilidades e os limites que existiram, quanto à construção da sociologia da educação
como uma ciência política.
Refletir sobre as possibilidades, os desafios e os problemas inerentes à constituição de
uma sociologia da educação atualmente, voltada para a avaliação e o refinamento de políticas
educacionais empreendidas tanto na esfera como estadual e municipal, sem perde nessa
empreitada o rigor teórico-metodológico presente na tradição sociológica.
Seguindo pensamentos de Archer, onde salienta que as interações sociais ao influírem
na produção da estrutura presente acaba por produzir novas realidades que, por sua vez, se
tornam estruturas, de tal forma que as consequências se transformam em causas e vice-versa.
Nessa discussão, a autora introduz uma outra problemática, qual seja, a tentativa de
compreender a sociologia da educação no Brasil como uma ciência política, articulando essa

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ideia com a dinâmica dos sistemas educacionais. As ciências políticas não estariam voltadas à
procedimentos burocráticos, mas deveriam ter valores bem definidos que determinariam os
objetivos a serem alcançados. Uma pesquisa social encontraria espaço de ação científica na
análise de contextos específicos como uma adequação dos melhores meios para atingir
determinados fins. No entanto, por olhares de autores como Lerner e Lasswell, uma visão
estreita da pesquisa sobre políticas públicas pode acarretar uma excessiva subordinação dessas
ciências a projetos de Estado, transformando os cientistas sociais em meros tecnocratas e/ou
reformadores sociais.
Um grupo que marcou o início dos anos 30 foram os pioneiros da escola nova. Estes
eram firmes e se opunham ao processo de educação da igreja, tendo a ambição de transformar
o país por meio de seu sistema de ensino e seus membros acreditavam também na aplicação
de princípios científicos no planejamento da educação, embora imperasse uma elevada dose
de autodidatismo entre eles. Deste modo, o Manifesto dos Pioneiros de 1932, contribuiu não
apenas para defender uma ampla agenda de reformas educacionais no país – incluindo a
defesa de uma educação pública e laica, mas levantou também o debate sobre a
profissionalização do intelectual como assessor técnico das reformas sociais. Os chamados
educadores-pioneiros, encontravam-se ativamente envolvidos no debate sobre a criação de um
sistema educacional e disputavam suas diretrizes gerais com grupos concorrentes, formados
por católicos e militares. Inicialmente, os Pioneiros foram os intelectuais-educadores
influentes junto ao novo governo instalado em 1930 e na Constituinte de 1933.
A Constituição de 1934 registrou vitórias e derrotas, tanto dos Pioneiros, como dos
católicos. O princípio liberal de ensino público, contido na Constituição de 1891, deu lugar ao
princípio da escolha das famílias pelo ensino laico ou religioso, por influência dos católicos.
A previsão de elaboração de um plano nacional de educação, com suficiente descentralização
para
a ação dos Estados, bem a inclusão da vinculação de uma porcentagem de recursos federais
para investimento na educação, foram claramente atuação dos pioneiros.
A partir de 1937, o ideal de “educar para a sociedade”, pleiteado pelos Pioneiros, foi
substituído pela concepção “educar para a pátria”. Centralização autoritária constituiu um
duro golpe nas intenções “científico-educacionais” dos Pioneiros e representou a ruptura da
possibilidade de uma nascente interação entre educação e sociologia. A ênfase nos cursos de

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educação física, no culto à bandeira e na educação moral e cívica expressava por parte do
exército objetivos mais políticos do que pedagógicos.
O afastamento da possibilidade de uma interação mais estreita entre a sociologia e o
planejamento correspondeu ao início do processo de institucionalização da sociologia como
disciplina universitária. Durante esse período, de 1920 a 1945 a sociologia da educação foi
modesta em fins científicos. Fernando de Azevedo, mesmo formado em direito foi quem se
destacou com produções direcionadas na área, sobretudo fortemente influenciado pelo
pensamento de Durkheim.
Entre 1945 e 1964 destaca-se o processo de democratização do país. No entanto,
mesmo com a união de jovens cientistas com os pioneiros da escola nova as pesquisas se
voltaram para as condições gerais da sociedade, como industrialização, imigração, partidos
políticos etc., e não especificamente ao sistema educacional. Após esse período, perdurando
até 1979, ocorreu uma repressão política aos esquerdistas, acarretando um esvaziamento do
espaço acadêmico, por meio de cassações e aposentadorias compulsórias de professores e
controle da liberdade acadêmica das universidades. Entre as ciências, somente a econômica
teve legitimidade no contexto político nesse período.
A partir destas reformas o debate educacional tomou o rumo das faculdades de
pedagogia, dando margem para o empobrecimento da sociologia da educação. Na década de
1980 uma reflexão sistemática e a realização metódica de trabalhos teóricos e empíricos sobre
o tema da educação e de sua articulação com outros campos sociais teve uma recuperação.
Alguns questionamentos podem ser discutidos perante todo processo da ciência
sociologia para com a sociologia da educação. Por que quando o ato de democratização
parecia estar tão perto uma ancora era jogada ou algo forçava um regresso? Manter a
população leiga sobre aspectos educacionais é importante para mantê-las igualmente leigas no
processo econômico do país. Talvez essa seja uma resposta. Manter os sociólogos entretidos
comandando instituições que tinham por objetivo organizar a educação talvez seria uma
forma do estado manter estes pensadores próximos como forma de administrá-los. Seria como
contratar o melhor escritor para registrar uma biografia, mas não a publicar.
Este trabalho se faz relevante para resgatar determinados momentos dos caminhos e
dos descaminhos percorridos pelas afinidades estabelecidas entre a sociologia e a educação no
país. Pode ser explorado por estudantes da área da educação, para que possam compreender e
discutir sobre os processos vividos pela sociologia da educação no país.
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