Material Estudo Transdução Sensorial
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TRANSDUÇÃO SENSORIAL
O sabor salgado
(Com adaptações de: TREVILLATO, P.C.; WERNECK, R.I. Genética odontológica. São Paulo, Editora Artes Médicas Ltda, 2014.)
O Sabor Azedo (Ácido)
Um alimento tem sabor azedo devido à sua alta acidez (ex. baixo pH). Ácidos,
tais como HCl, dissolvem-se em água e liberam prótons (H+). Portanto os prótons são
os agentes causadores da sensação de acidez e azedume sabe-se que afetam seus
receptores gustativos de duas maneiras (Figura 2). Primeiro, H+ pode entrar pelos
canais de sódio sensíveis à amilorida, aquele mesmo canal que medeia o sabor
salgado. Isto causa uma entrada de corrente de H+ que despolarizaria a célula. (A
célula não seria capaz de distinguir o Na+ do H+ se este fosse o único mecanismo de
transdução disponível.) Segundo, o H+ pode se ligar e bloquear canais seletivos para
K+. Quando a permeabilidade de membrana ao K+ decresce, a célula despolariza.
Estes podem não ser os únicos mecanismos para transdução do sabor azedo, já que
mudanças no pH podem afetar virtualmente todos os processos celulares.
Embora receptores gustativos usem muitos sistemas moleculares de transdução, os receptores olfativos
empregam apenas um (Figura 6). Todas as moléculas de transdução estão nos cílios. O caminho olfativo pode ser
sumarizado assim:
Substâncias odoríferas
Ligação aos receptores odoríferos
Estimulação de uma proteína G (Golf)
Ativação da adenilato ciclase
Formação do AMPc
Ligação do AMPc aos canais catiônicos específicos
Abertura dos canais catiônicos e influxo de Na+ e Ca2+
Abertura de canais de cloreto regulados por Ca2+
Despolarização de membrana (potencial do receptor)
Uma vez que os canais catiônicos regulados por AMPc estejam abertos a corrente flui para dentro e a
membrana do neurônio olfativo despolariza (Figura 7). Além do Na+, o canal iônico regulado por AMPc permite que o
Ca2+ entre no cílio. Por sua vez, o Ca2+ ativa canais de cloreto que podem amplificar o potencial do receptor olfativo.
(Isto é diferente do efeito usual das correntes de Cl que inibem neurônios; em células olfativas, a concentração
interna de Cl deve ser tão anormalmente alta que a corrente de Cl tende a despolarizar em vez de hiperpolarizar a
membrana.) Se o potencial resultante do receptor for suficientemente grande, ele poderá exceder o limiar para o
potencial de ação no corpo celular e ondas irão se propagar ao longo dos axônios até o SNC.
Uma forma pela qual a informação é representada no sistema nervoso é por meio de modificações no
potencial de membrana dos neurônios. Assim sendo, procuramos por um mecanismo pelo qual a absorção de
energia luminosa possa ser transduzida em uma alteração no potencial de membrana dó fotorreceptor. Sob muitos
aspectos, esse processo é análogo à transdução de sinais químicos em sinais elétricos que ocorre durante a
transmissão sináptica. Em um receptor de neurotransmissor acoplado à proteína. G, por exemplo, a ligação do
transmissor ao receptor ativa proteínas G na membrana, as quais, por sua vez, estimulam várias enzimas efetoras
(Figura 8a). Essas enzimas modificam a concentração intracelular de moléculas de segundos mensageiros
citoplasmáticos, que, direta ou indiretamente, mudam a condutância de canais iônicos na membrana, assim, variando
o potencial de membrana. De uma forma semelhante, no fotorreceptor, a estimulação luminosa do fotopigmento ativa
uma proteína G inibitória (Gi) chamada transducina em neurônios especiais da retina. Os bastonetes, neurônios
responsáveis pela visão de penumbra, possuem em suas membranas canais de sódio ligados à GMP cíclico (GMPc)
permanentemente abertos no escuro. Quando o fotopigmento (rodopsina) recebe um fóton, a transducina ativa uma
enzima efetora, a fosfodiesterase
(PDE), que hidrolisa o GMPc
presente no citoplasma dos
bastonetes a GMP. O decréscimo
nas concentrações de GMPc
determina o fechamento dos canais
de Na+ na membrana do
fotorreceptor, bloqueando a entrada
deste íon. Este influxo reduzido de
Na+ junto com o contínuo efluxo de
K+ hiperpolariza a membrana.
(Figura 8b).
Lembre-se de que um
neurônio típico em repouso tem um
potencial de membrana de cerca de
65 mV, próximo ao potencial de
+
equilíbrio para o K . Por sua vez,
quando em completa escuridão, o
potencial de membrana do
segmento externo do bastonete é de
cerca de 30 mV. Tal
despolarização é causada pelo
+
influxo constante de Na através de canais especiais na membrana do segmento externo (Figura 9a). Esse
movimento de cargas positivas através da membrana é chamado de corrente do escuro (dark current). Em 1985, uma
equipe-de cientistas russos, liderada por Evgeniy Fesenko, descobriu que esses canais de sódio têm sua abertura
estimulada por - são ativados (gated) a - um segundo mensageiro intracelular chamado guanosina monofosfato
cíclico, ou GMPc. Evidentemente, o GMPc é produzido continuamente no fotorreceptor pela enzima guanilato ciclase,
mantendo os canais de Na+ abertos. A luz reduz a quantidade de GMPc, o que determina o fechamento dos canais
de Na+ e toma o potencial de membrana mais negativo (Figura 9b). Dessa forma, os fotorreceptores são
hiperpolarizados em resposta à luz.
Figura 9: A hiperpolarização dos
fotorreceptores em resposta à luz. Os
fotorreceptores estão continuamente
despolarizados no escuro devido a uma
corrente de sódio que entra na célula, a
corrente do escuro, (a) O sódio penetra no
fotorreceptor através de um canal ativado
por GMPc. (b) A luz leva à ativação de uma
enzima que destrói o GMPc, assim
cancelando a corrente de Na+ e
hiperpolarizando a célula.
A resposta hiperpolarizante à
luz é iniciada pela absorção da
radiação eletromagnética pelo
fotopigmento localizado nas
membranas dos discos empilhados no
segmento externo dos bastonetes. Nos
bastonetes, esse pigmento é
denominado rodopsina (também
conhecido como púrpura visual pela
sua cor característica), que consiste de
uma proteína receptora com sete
segmentos -hélices transmembrana
(receptor 7TM ou GPCR) chamada de
opsina, e de uma pequena molécula
conjugada derivada da vitamina A
denominada retinal. A absorção de luz
determina uma alteração na conformação do retinal, de forma que a opsina é ativada (Figura 10).
Esse processo altera os comprimentos de luz que a rodopsina é capaz de absorver (o fotopigmento
literalmente muda da cor púrpura para a amarelo) e ativa a transducina presente no disco membranoso, a qual, por
sua vez, ativa a enzima fosfodiesterase (PDE). A PDE hidrolisa o GMPc presente no citoplasma dos bastonetes a
GMP. O decréscimo nas concentrações de GMPc determina o fechamento dos canais de Na+ na membrana do
fotorreceptor, bloqueando a entrada deste Na+. Este influxo reduzido de Na+ junto com o contínuo efluxo de K+
hiperpolariza a membrana. A hiperpolarização por sua vez reduz a liberação de neurotransmissor da célula
fotorreceptora para o neurônio aferente, sendo este sinal enviado ao sistema nervoso central e interpretado como luz.
No escuro, a célula possui alta concentração de GMPc, o qual se liga aos canais mantendo uma grande parte deles
abertos e a célula despolarizada e enviando um sinal constante para o neurônio sensorial aferente. Pouca luz
ocasiona uma leve diminuição no GMPc e o fechamento de poucos canais de Na+, enquanto a luz brilhante induz
uma maior redução de GMPc e, consequentemente, o fechamento de um número mais elevado desses canais.
Desta forma, a resposta da célula é graduada de acordo com a intensidade de luz.
Uma consequência funcional bastante interessante da utilização de uma cascata bioquímica para a
transdução é a amplificação do sinal. Muitas moléculas de proteína G são ativadas para cada molécula de
fotopigmento e cada enzima PDE ativada hidrolisa mais de uma molécula de GMPc. Essa amplificação confere ao
nosso sistema visual a capacidade de detectar até mesmo fótons individuais, as unidades elementares da energia
luminosa. A sequência completa dos eventos da fototransdução nos bastonetes está ilustrada na Figura 11.
Figura 11: A cascata bioquímica ativada pela luz em um fotorreceptor. (a) No escuro, GMPc ativa um canal de sódio, causando
uma corrente de entrada de Na+ e, consequentemente a despolarização da célula, (b) A ativação da rodopsina pela energia
luminosa faz com que uma proteína G (transducina) troque GDP por GTP, por sua vez ative a enzima fosfodiesterase (PDE). A
PDE hidrolisa o GMPc e cancela as correntes do escuro.
(Texto adaptado de: BEAR, M.F., CONNORS, B.W. & PARADISO, M.A. Neurociências: Desvendando o Sistema
Nervoso. Porto Alegre 2ª ed, Artmed Editora, 2002. MOYES, C.D.; SCHULTE, P.M. Princípios de fisiologia animal. 2ª
ed. Porto Alegre/RS, Artmed Editora S.A., 2010.)
Transdução auditiva pelas Células Ciliadas do órgão de Corti
Figura 13: Deslocamento dos estereocílios produzido pelo movimento para cima da membrana basilar, (a) Em repouso, as células
ciliadas estão mantidas entre a lâmina reticular e a membrana basilar e as extremidades dos estereocílios das células ciliadas
externas estão ligados à membrana tectorial. (b) Quando o som promove a deflexão para cima da membrana basilar, a lâmina
reticular move-se para cima e se aproxima do modíolo, fazendo com que os estereocílios se curvem no sentido oposto.
Até recentemente, o avanço de nossa compreensão sobre como as células ciliadas convertem o
deslocamento dos estereocílios em sinal neural era lento. Pelo fato de a cóclea estar em um envoltório ósseo, fica
muito difícil a obtenção do o registro eletrofisiológico das células ciliadas. Na década de 1980, A.J.Hudspeth e
colaboradores, no Instituto de Tecnologia da Califórnia, foram pioneiros em uma nova abordagem, na qual as células
ciliadas são isoladas do ouvido interno e estudadas in vitro. As técnicas in vitro revelaram muito sobre os
mecanismos de transdução. Os registros das células ciliadas indicam que quando os estereocílios deslocam-se em
uma direção, a célula ciliada despolariza e quando se deslocam na outra, a célula hiperpolariza (Figura 14a). Quando
uma onda sonora causa o deslocamento dos cílios para um lado e para o outro, as células ciliadas geram um
potencial de receptor que despolariza e hiperpolariza alternadamente a partir do potencial de repouso de -70 mV
(Figura 14b).
A inervação das Células Ciliadas. O nervo auditivo consiste de axônios cujos corpos celulares estão
localizados no gânglio espiral. Assim, os neurônios do gânglio espiral, que são os primeiros na via auditiva a disparar
potenciais de ação, fornecem toda a informação auditiva enviada ao encéfalo.