E Book Creep Feeding 1

Fazer download em pdf ou txt
Fazer download em pdf ou txt
Você está na página 1de 11

O uso do creep feeding na

produção de gado de corte

Antonio Ferriani Branco

O sistema vaca-bezerro

Os fatores que afetam mais significativamente o desenvolvimento de um


bezerro de corte são:

A produção de leite da vaca que por sua vez é uma função de três principais
fatores: nutrição, genética, sanidade.

A produção de leite das vacas de corte é fundamental para o sucesso do


sistema de produção de carne. Miller e Wilton (1996) avaliaram dados
obtidos no período de 1980 a 1993 de 8 diferentes raças. Nesse estudo foram
utilizados 2207 dados de peso ao desmame e 1826 dados de produção de
leite. Os autores obtiveram uma correlação de 0,76 entre peso ao desmame
e produção de leite das vacas. Este resultado mostra que o peso ao
desmame é um bom indicador da produção de leite da vaca.

Página 1
A oferta e a qualidade da pastagem.

O uso de suplementos, que afetam principalmente o ganho médio diário do


bezerro e pode em algumas situações influenciar o desempenho
reprodutivo da vaca.

A prática do creep feeding

O creep feeding é uma prática de manejo alimentar que tem como alvo a
suplementação dos bezerros (as) de corte ainda durante o período em que
estão mamando (lactentes). Para viabilizar a técnica do creep feeding é
necessário o uso de instalações que permitam acesso apenas de animais
jovens ao cocho onde será disponibilizado o suplemento ou ração. Creep
feeding é uma palavra da língua inglesa onde creep significa rastejar,
engatinhar, e se refere à maneira como os bezerros chegam ao cocho e
feeding significa alimentação.

O creep feeding pode ser utilizado para ganhos mais elevados em peso (25 a
40 kg a mais de peso vivo na desmama) em sistema intensivos de produção
(super precoce, por exemplo), ou para ganhos moderados em peso (8 a 15 kg
a mais na desmama) em sistemas menos intensivos de produção.

Objetivos da prática

Os principais objetivos da adoção da prática do creep feeding podem ser


resumidos em:

Aumentar a taxa de ganho de peso dos bezerros (as) reduzindo a idade ao


abate ou a idade a primeira prenhes;

Produzir lotes de bezerros mais uniformes;

Diminuir o estresse pós-desmama;

Página 2
Melhorar a condição corporal das primíparas e vacas magras, de forma que
cheguem ao final do período de amamentação em melhores condições.

Fatores a serem avaliados

Considerando os diferentes sistemas de produção de gado de corte, alguns


fatos são bastante claros e abrem espaço para uma ampla discussão e
estudos sobre a adoção da prática do creep feeding. Entre esses fatos,
destacamos:

A produção de leite das vacas: a curva de produção de leite em vacas de


raças de corte bem alimentadas mostra que, em média, o pico de produção
ocorre aproximadamente aos 2 meses de lactação (Figura 1), e após 90 dias
em lactação o leite da mãe já não suporta os nutrientes necessários para
manter um ganho diário de 0,7 kg;

Página 3
O desenvolvimento do bezerro e as exigências nutricionais.

Santos et al. (2002) avaliaram a curva de crescimento de bezerros em


pastagens nativas do Pantanal e verificaram que bezerros desmamados aos
7 meses com cerca de 150 kg tiveram seu crescimento comprometido a
partir de 3 meses de idade. Aos 90 dias de idade um bezerro que se
desenvolve a uma taxa de ganho de 0,7 kg/dia apresentará um peso de
aproximadamente 95 kg. Nestas condições, a exigência de energia para
ganho deste bezerro é de 1,13 Mcal de ELg/dia, enquanto outro que se
desenvolve a taxa de ganho de 1 kg/dia apresentará um peso de
aproximadamente 120 kg e precisará de 2,02 Mcal de ELg/dia.

Para ganhos médios de 0,7 kg/dia são necessários aproximadamente 3,5 kg


de leite/dia somente para manter a taxa de ganho, além de outros 5 kg para
manter o peso vivo que o animal já apresenta. Na Tabela 1 podemos 4
verificar as exigências de energia líquida para ganho (ELg, Mcal/dia) de
bezerros em diferentes taxas de ganho diário. Observamos também os
pesos que os bezerros apresentarão em cada mês e o peso ao desmame.
Para atingirmos pesos ao desmame de 240 kg, há necessidade de
mantermos uma taxa de ganho de 1,0 kg/dia.

Página 4
A produção e a qualidade do pasto: em condições de clima tropical as
forrageiras se desenvolvem de forma extraordinária durante o verão e, com
isso, ocorre rápido declínio na qualidade da pastagem com o avanço da
estação das águas. Na seca temos comprometimento da produção e da
qualidade.

A questão do consumo

O ganho diário desejado, em decorrência do sistema de produção, é que


definirá o tipo de suplemento a ser oferecido aos bezerros. Independente do
tipo de suplementação a ser adotada, alguns fatos relacionados ao consumo
nos diferentes sistemas devem ser destacados:

Bezerros (as) pertencentes a grupos genéticos europeus ou cruzamentos


normalmente apresentam consumos mais elevados que aqueles
pertencentes às raças zebuínas;

Em regiões chuvosas o consumo tende a ser menor;

Em pastagens adubadas o consumo tende a ser menor;

Em lotes de vacas com menor número de animais (100 cabeças) o consumo


tende a ser maior.

Em suplementos em que não se utiliza um limitador de consumo podemos


ter uma elevada ingestão do suplemento, como pode ser observado nos
dados obtidos por Hamilton e Dickie (1992) mostrados na Tabela 2.

Página 5
Em condições de suplementação onde é disponibilizado aos bezerros um
suplemento para livre escolha sem limitador de consumo, a literatura
mostra que a conversão alimentar do suplemento melhora quando as
condições da pastagem e de produção de leite da vaca pioram. Na Tabela 3
encontramos valores médios de conversão alimentar de suplementos para
diferentes condições de uso dos mesmos (Lusby, 1986).

Página 6
Estudos realizados por pesquisadores da Universidade de Oklahoma nos
Estados Unidos (Lusby, 1986) com creep feeding em bezerros de corte por
período de 4,5 meses mostram, que suplementos com limitação de
consumo podem ter desempenho econômico superior àqueles com livre
escolha (Tabela 3). No entanto, é fundamental que haja uma oferta
adequada de forragem e, neste caso, suplementos com teor de proteína
entre 20 e 40% têm produzido melhores resultados.

As condições de manejo

Em suplementos com limitador de consumo deve-se dispor de


aproximadamente 6-10 cm de cocho para cada bezerro do lote. Naqueles
casos em que se utiliza cocho móvel, uma providência que dá bons
resultados é pintar os cochos de branco, pois tal fato ajuda na identificação
da área de creep pelos bezerros. A área de creep feeding deve ser localizada
próxima a malhadouros, cochos de sal, sombras ou aguadas, ou seja, locais
onde as vacas permanecem mais tempo. Não devemos nos esquecer que os
bezerros não se distanciarão de suas mães para consumir suplementos por
mais palatáveis que sejam. A prática de creep feeding normalmente não dá
bons resultados em pastos muito grandes onde há muitas aguadas.

Praças de alimentação mal dimensionadas e mal localizadas, além de


cochos inadequados contribuem de forma negativa para o sucesso da
prática.

A avaliação econômica

Embora o ganho em peso de bezerros consumindo suplementos de baixo


consumo seja menor (Tabela 4), normalmente esta opção é mais rentável
para o sistema de produção.

Página 7
O resultado econômico do creep feeding está diretamente relacionado à:

Custo do suplemento;

Preço do bezerro;

Taxa de conversão alimentar do suplemento usado.

Os teores ideais de energia e proteína de uma ração de creep estão


relacionados a alguns fatores, que incluem:

Tipo de sistema de alimentação: livre escolha ou com limitação de consumo;

Peso dos bezerros: bezerros mais jovens exigem níveis de proteína mais
elevados;

Tamanho corporal a maturidade do grupo genético em questão;

Disponibilidade e qualidade da pastagem.

Página 8
O sucesso da prática do creep feeding é mais provável nas seguintes
condições:

Quando a qualidade das pastagens é baixa. Nas condições brasileiras, de


maneira geral, este fato ocorre em vacas que tem parição mais tardia em
propriedades que não adotam estação de monta;

Em anos em que a estação seca do ano é mais rigorosa;

Em grupos de vacas de primeira cria ou vacas velhas (acima de 11-12 anos);

Para animais que serão produzidos em sistema de novilho precoce ou


superprecoce.

Custos adicionais

Fatores a considerar na implantação da prática do creep feeding:

Instalação adicional representada pela praça de alimentação;

Mão de obra adicional;

Toda suplementação que visa os bezerros (as) dificulta a seleção da mãe


para peso ao desmame, momento em que avaliamos a habilidade materna,
o que dificulta a seleção de novilhas de reposição para essa característica.

Quando a opção for pela suplementação de baixo consumo, deve-se projetar


uma área de no mínimo 1m2 por bezerro na praça de alimentação, o que
significa dizer que para um lote de 100 bezerros devemos ter uma área
mínima de 50m2 . No caso de usar um suplemento sem limitador de
consumo adotar acima de 2m2 por bezerro. Independente do suplemento
utilizado é fundamental o uso de cochos cobertos.

Página 9
O fornecimento do suplemento deve ser iniciado o mais cedo possível no
sentido de favorecer a adaptação dos bezerros, pois o consumo nas
primeiras semanas é muito baixo. Consumo mais significativo é observado
após os quatro meses de idade.

Referências

Hamilton, T., Dickie, D. Creep feeding beef calves. Ontario Beef Research
Update.

Lusby, K. S. Comparison of limit-fed high protein creep feed and free-choice


grain creep for springborn calves on native range. Oklahoma Agriculture
Experimental Station Research Report MP-118, 1986.

Miller e Wilton (1996). Ontario Beef Research Update. University of Guelph


Publication.

National Research Council-NRC. Nutrient requirements of beef cattle.


Washington D. C.: National Academic Press, 2000. 242p.

Santos, S. A., Souza, G. S., Crispim, S. M. A., Costa, C., Comastri Filho, J. A.
Curva de crescimento de bezerros Nelore criados em pastagem nativa na
sub-região da Nhecolândia, Pantanal. In: REUNIÃO ANUAL DA SOCIEDADE
BRASILEIRA DE ZOOTECNIA, 39, 2002, Recife. Anais...Recife. SBZ, 2002a CD-
ROM. Seção Forragicultura.

Página 10
Autor

Prof. Dr. Antonio Ferriani Branco -


Zootecnista, Professor de Nutrição
Animal por mais de 30 anos no Curso de
Zootecnia UEM, Orientador de cursos de
Especialização, Mestrado e Doutorado,
Pesquisador 1 do CNPq por mais de 20
anos, Consultor Técnico.

Você também pode gostar