Relação Entre Linguagem e Pensamento
Relação Entre Linguagem e Pensamento
Relação Entre Linguagem e Pensamento
24:109-16, 1980.
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HOYOS-ANDRADE, R.-E. Linguagem e pensamento: uma preocupação de lingüistas
e filósofos. Alfa, São Paulo, 24:109-16, 1980.
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HOYOS-ANDRADE, R.-E. Linguagem e pensamento: uma preocupação de lingüistas
e filósofos. Alfa, São Paulo, 24:109-16, 1980.
mentos. (Os "substantivos" nem ilusão dizer que "se pensa numa
sempre correspondem a noções de língua determinada".
"substanciais").
Mounin (7) é mais explícito e, ao
(d) Usam-se construções que "fe- mesmo tempo, mais cauteloso
rem a lógica" ou as "leis do pensa- quando diz que hoje temos provas
mento". ("O vento sopra", sendo convincentes realizadas com crian-
que "vento" já é "ar em movimen- ças normais, na idade pré-lingüís-
to". ..) tica, e com surdos-mudos, de que
existe pensamento sem linguagem.
Dir-se-á, portanto, com o mesmo Esse pensamento sem linguagem
Buyssens, que a língua não pode não deve confundir-se com o sim-
ser definida como "a expressão do bolismo lógico-matemático que é de
pensamento". Pode-se, com efeito, natureza pós-lingüística. Não exis-
usar a língua — e seja este um te, provavelmente, acrescenta Mou-
exemplo — para ocultar o pensa- nin (7), um corte abrupto entre
mento . . . pensamento sem linguagem e pen-
samento verbalizado: dá-se uma
A perplexidade do lingüista e do passagem gradual, contínua, casual
filósofo é grande, e o problema colo- e vacilante. (Este seria o lugar pri-
ca-se de novo na sua integridade, vilegiado da estilística, passagem
quando comprovamos que até ago- permanente da experiência indi-
ra não se encontraram correlações vidual e inefável à mesma expe-
simples, imediatas, unívocas, uni- riência verbalizada e socializável).
versais ou universalizáveis entre as
estruturas da linguagem e o que se
pensa saber das estruturas do pen- 7. CONCLUSÃO
samento (Mounin (7) citando Ser-
rus). Eis o balanço de que falávamos
na introdução. Um balanço bem
modesto em resultados. O proble-
6. LINGUAGEM SEM PENSA- ma continua desafiando pesquisa-
MENTO? dores das diversas áreas do conhe-
cimento. As afirmações definitivas
O fato constatado acima da não — se alguma há — são poucas, os
identidade e da não correspondên- interrogantes muitos. Uma coisa,
cia bi-unívoca entre linguagem e porém, é clara: não se pode mais
pensamento, deveria obviamente separar taxativamente o estudo da
levar-nos a concluir que é possível linguagem e o do pensamento. Tra-
o pensamento sem linguagem. Nem ta-se de duas realidades paralelas,
todos, porém, concordam. Vygots- não idênticas nem nocional, nem
ky, por exemplo, acha — citando ontologicamente, mas dinamica-
Sapir em seu favor — que é uma mente interdependentes e tão inex-
ilusão afirmar que se pode pensar tricavelmente unidas como o estão
ou raciocinar sem linguagem. Buys- na concepção saussureana o signi-
sens, pelo contrário, afirma que é ficante e o significado.
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HOYOS-ANDRADE, R. -E. Linguagem e pensamento: uma preocupação de lingüistas
e filósofos. Alfa, São Paulo, 24:109-16, 1980.
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