A Roupa Nova Do Imperador

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A ROUPA

NOVA DO
IMPERADOR

HANS CHRISTIAN ANDERSEN


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fins comerciais.

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(http://creativecommons.org/licenses/by-nc-nd/3.0/br/)

31p.; il. 10 Edição


ISBN:
Literatura infanto-juvenil. I. Título.

CDD 021.2 CDU


347+0568.1(8177.1)

Instituto
LpC
2021
1

Há muito, muito tempo, vivia em um reino


distante um imperador vaidosíssimo.

Seu único interesse eram as roupas.


Pensava apenas em trocar de roupas, várias
vezes ao dia; desfilava vestes belíssimas,
luxuosas e muito caras para a corte.

Um belo dia, chegaram


à capital do reino dois
pilantras, muito habilidosos
em viver às custas do
próximo.
2

Assim que os dois souberam da fraqueza


do imperador por belas roupas, espalharam a
notícia de que eles eram especialistas em tecer
um pano único no mundo, de cores e padrões
deslumbrantes. E — o mais impressionante,
segundo eles: as roupas confeccionadas com
aquele tecido tinham o poder de serem
invisíveis para as pessoas tolas, ou que
ocupassem um cargo sem merecê-lo.
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O imperador logo se entusiasmou com a


ideia de ter roupas não só bonitas, mas também
úteis para desmascarar os bobos e os que não
mereciam cargos na corte. E tratou de mandar
chamar tão habilidosos tecelões.

— Ponham-se logo a
meu serviço. Quero uma
roupa sob medida, a mais
linda que já tenham feito.
5

— Majestade, necessitamos de uma sala,


de um tear, de fios de seda e de ouro e,
principalmente, de que ninguém nos incomode.

Foram logo atendidos. Uma hora depois


estavam diante do tear, fingindo tecer sem
parar. E assim continuaram por muitos dias,
pedindo cada vez mais seda, mais ouro… e
mais dinheiro, é claro!

O imperador estava curioso e um dia


resolveu enviar seu velho primeiro-ministro
para inspecionar a obra dos tecelões.
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“É ele um ministro sábio e fiel”, pensou o


rei. “Com certeza, conseguirá ver esse tecido
tão extraordinário e nada me esconderá.”

Mas, quando o velho ministro chegou em


frente ao tear, nada viu. Preocupou-se. Ficou
em dúvida.

— Mas isso não significa que eu não seja


digno do cargo que ocupo — disse a si mesmo,
aflito.
8

Aos tecelões, porém, que lhe perguntavam


com insistência se o padrão do tecido era de seu
agrado, se as cores se harmonizavam, ele
respondeu entusiasmado:

— Mas claro! É magnífico. Nunca vi coisa


igual.

O ministro levou ao conhecimento do


imperador os progressos da confecção e, por
precaução elogiou o extraordinário bom gosto
dos dois profissionais. Por nada neste mundo
admitiria ter olhado para um tear vazio.
9

Na cidade já não se falava em outra coisa,


senão da nova roupa do imperador e de seus
poderes mágicos. Dizia-se que custaria uma
fortuna, mas que bem valia o preço: poderia
desmascarar ministros e secretários!

Na corte, em compensação, muitos


impostores e aproveitadores do cofre do reino
não dormiam tranqüilos e aguardavam com
temor o momento em que o imperador iria,
enfim, vestir a tão famosa e denunciadora
roupa.
10

Transcorreram mais cinco ou seis dias, e o


imperador, que não agüentava mais esperar,
resolveu ir em pessoa visitar os tecelões.

Com uma comitiva de guardas e


escudeiros, e acompanhado por seu fiel
primeiro-ministro, que tremia de medo, foi ver
o trabalho dos dois impostores, sendo recebido
com enorme solenidade e muitas explicações.

— Nunca teríamos ousado esperar tanto,


Majestade.
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Sua visita e sua satisfação são o maior


reconhecimento ao nosso trabalho…
Aprovando Vossa Majestade nosso humilde
trabalho, ficaremos extremamente lisonjeados.
Será muita honra. Após tanta bajulação, o
imperador e sua comitiva foram conduzidos à
sala do tear.

— Majestade, observe a extraordinária


beleza e perfeição do desenho — disse o velho
ministro com voz trêmula.
12

O imperador permanecia calado: estava


assombrado! Ele não via nada, apenas o tear
vazio, totalmente vazio! Isto queria dizer que
era um bobo, ou não era digno de ser
imperador.

“Coitado de mim!”, pensou. “Nada poderia


ser pior, tenho que dar um jeito para não
descobrirem a verdade.”

Resolveu reagir e afastar o perigo de um


possível desmascaramento. Aproximou-se do
tear, segurando seu monóculo, fingindo
admirar o tecido invisível.
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— Hein?… Sim, é claro… É realmente


uma beleza.

Um trabalho e tanto. E a comitiva toda fez


um coro de elogios e mais elogios.

Nenhum membro do séquito iria confessar


não estar vendo nada de nada, pois ninguém
queria passar por tonto, ou ser considerado
indigno do cargo que ocupava.

Os espertos tecelões sorriam, satisfeitos. O


temor dos poderosos representava mais seda,
mais ouro e mais dinheiro.
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— Vossa Majestade, então, aprova o nosso


trabalho? — perguntaram eles, com malícia e
ironia.

O imperador disse que estava satisfeito e,


para demonstrar seu reconhecimento,
presenteou os dois pilantras com um saco cheio
de ouro.

Mas continuava preocupado e perplexo.


Seria indigna sua realeza? Seria ele um
incompetente?
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— Majestade — falou o primeiro-ministro.


— Por que com esse tecido não manda
confeccionar uma roupa especial para o torneio
do próximo domingo?

— Sim, sim, claro — resmungou o


imperador.— Estou mesmo querendo uma
roupa nova para o torneio.

Foi dada nova incumbência aos tecelões,


que pegaram a fita métrica e tiraram as medidas
do rei, fingindo entender do ofício.
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— A cauda, Majestade, deverá ser muito


longa?

— Claro que sim, muito comprida.


Arrastando-se por metros atrás de mim.

— E o laço? Prefere de veludo ou de


cetim?

— Podem sugerir, confio no gosto de


vocês.
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O imperador voltou ao palácio


transformado, e os dois impostores
continuaram a trabalhar na frente do tear vazio.

Nem sequer pararam durante a noite.


Empenhados na farsa, trabalhavam à luz de
vela.

Alguém que, por curiosidade, foi espiar


por uma fresta da porta, viu-os atarefados,
cortando o ar com uma grande tesoura e
costurando com uma agulha sem linha.
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Dois dias depois, na manhã do domingo, os


tecelões se apresentaram na corte, levando a
roupa para o torneio.

Mantinham os braços levantados, como se


estivessem segurando algo muito delicado e
volumoso. Ninguém via nada — pois nada
havia para ser visto —, mas ninguém, também,
ousou confessar. Quem assumiria ser tolo ou
incompetente?
20

Os dois charlatões correram ao encontro do


imperador, assim que este apareceu na porta do
salão.

— Vossa Majestade gostaria de vestir suas


roupas novas agora? — perguntou, irônico, o
primeiro.

O imperador disse que queria vesti-las


logo. Foi para a frente de um grande espelho e
tirou as roupas que vestia.
21

Os tecelões fingiram entregar ao imperador


primeiro a túnica, depois a calça e, enfim a
capa com sua longa cauda.

O imperador, meio despido, sentia muito


frio. Até espirrou, mas não podia nem pensar
em perguntar se continuava em trajes íntimos.

— Não é um pouco leve demais este


tecido? — arriscou.
22

— Majestade, a leveza é uma de suas


qualidades mais apreciadas. Nem uma aranha
poderia tecer uma tela tão impalpável, apesar
de termos empregado muitos fios de ouro.

E o imperador se convenceu de que estava


vestindo uma roupa fabulosa, embora o
espelho refletisse apenas a imagem de um
homem de cueca e camiseta.
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Em volta dele, os cortesãos se


desmanchavam em elogios à nova roupa.
Finalmente, a toalete terminou: tomara banho,
perfumara-sé, penteara-se e vestira a tão falada
roupa.

No pátio do palácio já estavam a postos


quatro soldados em trajes de gala, segurando
um dossel sob o qual o imperador se protegeria
até a praça dos torneios.
25

— Vossa Majestade está pronta? A roupa é


do seu agrado? — Perguntou um dos
charlatões.

— Não deseja mais nenhuma mudança? —


Perguntou o outro trapaceiro.

O imperador deu mais uma olhada no


espelho, perplexo e desconfiado, e respondeu:

— Claro. Podemos ir.


26

Os criados de quarto ficaram fingindo


recolher do chão a cauda do manto real, os
soldados seguraram bem alto o dossel, e o
cortejo começou a caminhar.

Ao longo das ruas uma multidão estava à


espera do cortejo, a fim de admirar as fabulosas
roupas do imperador.

Nas janelas e nas sacadas os curiosos se


espremiam, e os comentários eram
intermináveis.
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— É a roupa mais linda de todo o guarda-


roupa imperial.

— Que luxo, que elegância!

Naturalmente, ninguém via a roupa tão


comentada, mas não iria confessar isso, pois
correria o risco de passar por bobo ou
incompetente.

O cortejo já tinha atravessado meia cidade,


chegando próximo à praça dos torneios.
29

De repente, um menininho que conseguira


um lugar bem na frente, gritou, desapontado:

— O imperador não está vestido. Como é


ridículo, assim quase pelado! Cadê as roupas
novas?

Muitos o escutaram, alguém repetiu o


comentário.

— Um garotinho está gritando que o


imperador está sem roupas…
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— Oh! E a voz da inocência! Criança diz


tudo que vê.

As palavras, primeiro murmuradas,


aumentaram de volume e agora eram ditas aos
brados pela gente do povo, que ria até não
poder mais.

O imperador escutou e ficou corado como


um tomate, pois a cada passo que dava, se
convencia de que aquela gente tinha razão e
que ele tinha sido redondamente enganado e
que, na verdade a tão elogiada roupa não
existia. Mas, e agora?
31

Faria o quê?

Continuou a caminhar, todo orgulhoso,


como se nada de estranho ocorresse,
acompanhado pelas gargalhadas cada vez mais
intensas de seus súditos.

Os dois charlatões nunca mais foram


vistos. Fugiram com todo o ouro, e o imperador
aprendeu que a vaidade é a pior inimiga do
reino.

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