Arley Andriolo - Hospedagem e Turismo em OP - Artigo
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Semestre de 2007
RESUMO
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ISSN 1981 - 5646 [REVISTA ELETRÔNICA DE TURISMO CULTURAL] 2º. Semestre de 2007
1. Introdução
Este artigo tem por objetivo principal narrar a história da formação da rede hoteleira de
Ouro Preto durante o século XX, para indicar algumas categorias pertinentes à implantação da
localizados em arquivos de São Paulo, Rio de Janeiro e Ouro Preto, sobretudo na Casa do
conduz àquilo que em Psicologia Social designa-se “função simbólica”, “fonte de toda razão e
de toda irrazão”, no dizer do filósofo Merleau-Ponty (1989, p. 151). De modo sintético, essa
afirmação compreende a definição do humano como um ser que, mais do que criar uma
para criar outras. “Assim a dialética humana é ambígua: ela se manifesta de início pelas
estruturas sociais ou culturais que faz aparecer e nas quais se aprisiona. Mas seus objetos de
uso e seus objetos culturais não seriam aquilo que são se a atividade que os faz aparecer não
grifos no original). A estrutura presente fora de nós, nos sistemas naturais e sociais, está
também em nós como função simbólica, habita nosso corpo e alimenta nossos atos
Vale lembrar, com Hans-Georg Gadamer (1985, p. 50), que, na Grécia, símbolo
hospedeiro quebrava um caco ao meio, conservando consigo uma metade e entregando a outra
ao hóspede. Esse pedaço era o passaporte para o retorno do hóspede ou de seus sucessores.
Essa compreensão de função simbólica, que remete à noção de Goethe e Schiller, permite
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substituto de algo ausente, mas uma “presença”, neste caso, o próprio hotel é representativo.
Neste texto, procurou-se construir uma história da hotelaria ouropretana, sobretudo para
indicar possibilidades de pesquisa nas quais hotéis e pousadas são parte importante da
espaço urbano, além das conhecidas forças do capital imobiliário, do Instituto do Patrimônio
Histórico e Artístico Nacional, dos interesses dos habitantes, entre outras ordens próximas e
XIX, não correspondia à prática de hospedar turistas. De modo mais remoto, a hospitalidade
Xidieh (1993, p.85). Rocha Pita notara, em Salvador, na segunda metade dos Seiscentos, a
cumprir a tarefa de hospedar viajantes. Mesmo quando se generaliza o termo turista, no início
do século XX, não se tratava propriamente do consumidor de serviços que seria o significado
Lembre-se do caso citado por Manuel Bandeira (1938, p. 35), quando da visita do
Reverendo Walsh ao Brasil, em 1828, que não teve ânimo de hospedar-se no local que lhe
conferiram, pois, tratava-se de uma “hospedaria aos pedaços”. Tal hospedaria fazia parte de
um tipo de abrigo aos moldes da estalagem, referente a práticas de hospedagem que, durante o
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Jorge Pires (1993, p. 50), a palavra “hotel”, embora não fosse desconhecida no Rio de Janeiro
daquele século, “talvez não passasse de um eufemismo para designar uma simples
estalagem”.
Considera-se que havia alguns desses hotéis quando da visita de Dom Pedro II a Ouro
visitavam constantemente a antiga capital mineira para a realização de negócios. Ali, figurava
o Hotel Goiano, no Fundo de Ouro Preto, em plena atividade quando foi proclamada a
República; local onde o presidente da província de Minas Gerais se abrigou até sua saída
Alguns anos antes da transferência da capital para Belo Horizonte, pode-se contar
São José, seu proprietário era Antônio Gomes Monteiro, e gerente Domingos de Carvalho
Reis; 2) Hotel Familiar, na Rua de Ouro Preto, de propriedade de Benedito Paladini; 3) Hotel
Martinelli, Rua do Paraná, propriedade de Martinelli & Irmãos, sendo gerente Carlos
Martinelli; 4) Hotel Antunes, Rua de Santa Quitéria, dos herdeiros de dona Mathilde do
Carmo Pereira Campos, tendo como gerente Antônio Maria Antunes (Ozzori, 1890, pp. 82-
84).
Todos os hotéis registrados nesse ano ficavam localizados na Freguesia de Ouro Preto,
Hospedaria de José Rodrigues Meira, em Antônio Dias (Martins e Oliveira, 1864, pp. 117-
119). Provavelmente, com a parada do trem a realizar-se na estação junto à Freguesia de Ouro
Preto, ocorria uma valorização dos meios de hospedagem nesse setor da cidade.
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constassem os meios de hospedagem de Ouro Preto no início do século passado. Não se sabe
redução considerável, quando, por exemplo, o Hotel Monteiro faliu e foi vendido a João
elevação de Vila Rica, em 1911. O primeiro seria destinado aos convidados, o segundo não
figura como hospedagem, referido apenas num breve comentário de Furtado de Menezes, por
1975, p. 110).
Por outro lado, foi fundada, por volta de 1900, a firma Toffolo, na Rua Tiradentes n. 10,
da qual surgiu o mais antigo hotel em funcionamento atualmente em Ouro Preto. O patriarca
da família, Olívio Ângelo Toffolo, chegou à cidade após a criação da Estrada de Ferro,
estrangeiras; nada se falava das acomodações (Tribuna de Ouro Preto, 24 ago. 1924, p.4).
à cidade, Ouro Preto possuía apenas três hotéis e muita gente ficou sem ter onde dormir, no
dizer de José Alves, na ocasião com oito anos de idade (depoimento em Barbosa, 1993, p. 28).
Eram o Toffolo, o Martinelle e o “antigo” Grande Hotel, situado na Rua Paraná. O prédio do
Liceu de Artes e Ofícios, na Rua dos Contos, foi transformado em uma hospedaria para
receber os prefeitos das outras cidades, bem como a Secretaria das Finanças hospedou a
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Mineiro, cedido por Benjamin Dias. No Palacete dos Camargos prepararam-se cômodos para
Talvez a inauguração do Hotel Reis, de “tipo familiar”, inspirara-se nos ares entusiastas
mineira. Seu proprietário era José Braz dos Reis, tendo como gerente Américo Martins de
das coisas antigas, o Hotel Reis apostava na sedução de seu público pela oferta de
Ilustração 1. Edifício construído no final do século XIX para o Hotel Monteiro, voltou à atividade
original como Solar do Rosário. Fotografia de Luís Fontana, 1946, col. IFAC.
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Ilustração 2. À direita, Hotel Toffolo. Fotografia de Luís Fontana, 16 jun. 1946,col. IFAC
um vazio na documentação recolhida, que não permite precisar o ano de fechamento dos
hotéis Martinelli, Reis e Antunes, bem como da inauguração do Hotel Internacional, este
último presente apenas na primeira edição do guia de Bandeira, em 1938. Este hotel instalara-
com a Praça Rio Branco. O uso hoteleiro do edifício se perdeu, décadas depois abriga a
prefeitura.
(1933), havia algum interesse por parte dos governantes em ampliar, ainda que timidamente, a
Conforme Gustavo Pena (1928, pp. 17-18), o edifício era um sobrado de pau a pique, parecia
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como, por exemplo, o ministro do Uruguai, Dionísio Ramos Montero (Tribuna de Ouro
Preto, 18 out. 1925). Ali também se hospedaram intelectuais como Manuel Bandeira e Carlos
Drummond de Andrade.
O Grande Hotel foi uma importante empreitada do governo na articulação de Ouro Preto
como cidade turística. Como afirmou à época Rodrigo M. F. de Andrade: “Em relação ao
classe” (Tribuna de Ouro Preto, 08 jun. 1947, p.1 e 10). Para João Velloso Filho, o prefeito
João Velloso teria iniciado as negociações para a construção desse hotel, em meado dos anos
1930.1 No entanto, conforme Ângelo Oswaldo, tais negociações teriam surgido apenas em
1938, após a visita de Getúlio Vargas à cidade, por meio do então prefeito Washington de
Araújo Dias.2 Nessa ocasião, como pregava o costume, os políticos eram recebidos nas casas
prefeito Washington Dias, na Rua Direita, quando iniciaram as conversas sobre o futuro hotel.
governamentais. Os custos ficaram a cargo dos governos Federal e Estadual, este último sob o
1
João Velloso Filho, “Ouro Preto antes e depois de 1930”, documento mimeo., Ouro Preto, 1984, Biblioteca
Municipal de Ouro Preto.
2
“Discurso do prefeito Ângelo Oswaldo”, documento mimeo., Ouro Preto, outubro de 1993, fl.1, Biblioteca
Municipal de Ouro Preto.
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membro do Serviço. Lauro Cavalcanti (1995, p. 168) notou a construção do Grande Hotel
como um importante episódio pelo qual a arquitetura moderna alcança a condição de obra de
arte e “seus adeptos vêem consolidadas suas posições nos quadros do Sphan”.
escolhas revelavam-se os telhado em capa e canal, bem como paredes caiadas de branco. O
entorno e sua vinculação à corrente “neocolonial” (CAVALCANTI, 1995, p. 150). Este último
aspecto parece ter sido mais relevante, tendo em vista o argumento da “trama” que o
desmereceu, levantando outro nome para o trabalho: Oscar Niemeyer. A figura principal
desses acontecimentos foi Lúcio Costa, em cujas correspondências com o diretor do Serviço
questionou as soluções de Leão, atribuindo o projeto a um “recuo” dos modernistas diante dos
“neocoloniais”.
Apesar de algumas considerações em seu favor, o arquiteto Carlos Leão, ao sofrer duras
críticas, afastou-se das discussões, ocorrendo uma polarização entre a “proposta moderna” e
outra que partira de Renato Soeiro. Segundo Cavalcanti, Soeiro era apoiado por Paulo
de edifícios estavam o Fórum de Ouro Preto, na esquina do Largo dos Contos com a Rua
Direita, e mais duas casas descendo a Rua do Paraná.3 Esta última proposta era rejeitada pelo
prefeito Washington Dias, que, embora apreciador do “projeto neocolonial” de Leão, aliou-se
3
“Discurso do prefeito Ângelo Oswaldo”, documento mimeo., Ouro Preto, outubro de 1993, fl.1, Biblioteca
Municipal de Ouro Preto.
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pela solução empregada na cobertura, com laje recoberta de grama para provocar uma ilusão
Julgava-se naquele momento, como notou Lia Motta (1987, p. 110), que a cidade estava
e continuaria estagnada. Assim, a obra em questão seria uma exceção junto ao conjunto da
cidade que, conforme Lúcio Costa, não abriria “precedente perigoso” através da imitação por
novas construções citadinas. A carta de Lúcio Costa, como “arquiteto filiado aos CIAM e
contendo o parecer sobre o Grande Hotel, tornou-se documento fundamental não apenas ao
modernistas nos anos 30 e 40: “Ouro Preto é uma cidade já pronta e as construções novas que,
uma ou outra vez, lá se fizerem, serão obrigatoriamente controladas pelo SPHAN”, pensava
Costa.
prejudicado com a edificação do hotel, da mesma forma que o tráfego de automóveis nas
ladeiras não causa “dano visual a ninguém”. Desse modo, conclui Lúcio Costa:
qualidade expressa no Grande Hotel definia sua equidade junto à arquitetura setecentista. Nas
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Em 1940, tudo estava acertado para a edificação do hotel. Cinco anos depois,
inaugurou-se oficialmente o Grande Hotel Ouro Preto. Por ser uma obra contemporânea de
arquitetura. Essa dupla afirmação, promovida pela construção do Grande Hotel, reitera o
duas categorias, a exemplo da arquitetura eclética, dos arremedos neoclássicos, entre outras
Ilustração 2. Terreno na Rua das Flores destinado à construção do Grande Hotel Ouro Preto.
Fotografia de Luís Fontana, s.d., col. IFAC.
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Ilustração 3. Grande Hotel Ouro Preto, em 1944. Fotografia de Luís Fontana, col. IFAC.
Na década de 1940, eram três os principais hotéis de Ouro Preto. Nos festejos de 12 de
para ex-capital a fim de participarem das comemorações. Uma notícia coeva informava:
por José Feliciano Rodrigues, são poucas as referências. Ele aparece entre as sugestões de
hospedagem fornecidas pelo guia de Geraldo Trindade (1948, p. 29) e na terceira edição de
Bandeira, de 1957; não constando mais nos guias a partir dos anos 1970. Basicamente, as
disputas por hóspedes na imprensa local eram travadas entre o Toffolo e o Grande Hotel.
Não se fizera em Ouro Preto outro hotel em moldes “modernistas”. O hotel Toffolo
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edifícios, para atender às exigências dos turistas, operavam-se mudanças também no plano da
decoração.
A qualidade dos serviços oferecidos pelos dois hotéis, naquele tempo, parece não
comunicava que era “o mais antigo de Ouro Preto, o preferido dos srs. viajantes, com
centro da cidade”. O Grande Hotel de Ouro Preto dispunha de “conforto, […] cozinha
nacional e estrangeira, recomendado aos srs. turistas e pessoas de bom gosto, […]
apartamentos para casais e solteiros” (Tribuna de Ouro Preto, 03 jun. 1945, ps. 2 e 4).
Os termos empregados, um como viajante, outro como turista, pode revelar algum
significado. No guia de Trindade (1948, p. 28), pouco se fala do Hotel Toffolo e do Hotel
Rodrigues, fornecendo apenas suas localizações. Não obstante, o Grande Hotel consistia de:
mantivera nos moldes tradicionais. O guia de Trindade (1948, p. 28) indicava que o Grande
Hotel era explorado pela firma Alberto Quatrini Bianchi, posteriormente a Hidrominas
ampliaram o simbolismo do casario e das igrejas para outros objetos. Por meio de seu poema
“Hotel Toffolo”, de 1951, Drummond (1992, p. 226) expressava essa relação, dizendo:
estendida aos objetos, sugerindo uma amplitude maior das “cidades históricas”, em níveis
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distintos de consumo de acordo com a origem social do turista, desde o restrito mercado de
antiguidades até as modestas cópias em cimento de obras de arte famosas. Durand (1989, p.
91) notou a difusão do gosto por objetos antigos do Brasil como resultado do efeito
acumulado da valorização da cultura material de Minas Colonial. Essa atitude, porém, não
casario, as quais se tornariam referência nas “cidades históricas”. Pela cronologia das
inaugurações de hotéis na cidade, percebe-se que, entre as décadas de 1940 e 1960, ocorreu
ignorados pelas fontes oficiais, praticavam a hospedagem. Esse é o caso, por exemplo, da
residência de Enedina Lucas Machado, que desde os anos 1950 abrigava passantes num
sobrado de pau-a-pique e canga, datado de 1754, e que não se registrara à época como hotel.4
Apesar de lento, nota-se algum crescimento em reflexo da constituição da cidade como ponto
(1989, p. 93) afirma que à promoção das “cidades históricas” precedem os estabelecimentos
Embora se note a gênese do “turismo industrial” brasileiro nos anos de 1950, a sua
maior expressão se daria apenas a partir da década seguinte (RODRIGUES, 1997, p. 133;
Andriolo, 1998, p. 83). A “modernização” dessa época, iniciada com as inversões de capitais
4
Data inscrita em verga de granito no primeiro pavimento do edifício n.33, à Rua Antônio Martins, Barra.
Conforme sua proprietária, ali teria sido também moradia do Aleijadinho.
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Grande Hotel, não veio inicialmente pelo turismo, mas sim pela exploração das mineradoras.
Brasileira S.A. foi adquirida pelo grupo canadense Aluminium Limited, implantando o
complexo da ALCAN em Saramenha (Jornal de Ouro Preto, 08 jun. 1984, p. 8). Pode-se
acompanhada em segundo lugar pela pecuária leiteira e alguns produtos agrícolas como o chá-
Nas décadas de 1950 e 1960, foram inauguradas três pousadas em Ouro Preto. Esse
número é pouco significativo em relação aos anos seguintes, mas importante em relação aos
seus antecedentes. A primeira delas foi criada em 1957, por dona Lilli Corrêa de Araújo
num sobrado em frente à igreja de Nossa Senhora do Carmo. Nomeada Pouso do Chico Rei,
arquitetura apresenta vergas e cunhais distintos nos dois pavimentos. Foi residência, tendo
sofrido poucas adaptações para atender o novo uso. Abrigou, entre outros, Guignard, Vinícius
Seis anos depois, em 1964, na Praça Tiradentes, seria inaugurado o Hotel Pilão.
comércio de Painhas (cf. Erothides Vieira, depoimento em BARBOSA, 1993, p. 24). Trata-se
de uma construção na esquina da Praça Tiradentes com a Rua do Ouvidor, onde se forma mais
1976, p. 53).
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Ao final da década de 1960, inaugurou-se a Pousada Ouro Preto (depois Hotel Luxor).
Seu projeto reforça a posição desses novos hotéis que, ao invés de produzirem construções
“coloniais”. A ocupação não era direta, os edifícios passaram por reformas, segundo as
Vasconcellos foi o responsável pelo projeto de adaptação do casarão que recebeu um anexo.5
turismo. O folder explicava que “Essas cidades, apesar de encerrarem um dos maiores
apropriadas para seus visitantes que, devido a isso, vêem-se forçados a percorrê-las ‘de
corrida’”.6
Pelas palavras do folheto, era preciso ampliar o tempo de estada do turista (que amplia
investimento fora planejado para o Largo de Antônio Dias. Nas imagens da propaganda, a
imponente igreja aparecia registrada pelos traços de Guignard e recebia ao lado uma flecha
imóveis tombados (IPHAN, 1995, p. 173). Na década anterior, Rodrigo Andrade assumira a
5
Os incorporadores da obra foram Jorge Leal da Costa Neves e Álvaro Luciano Dias de Toledo, realizada pela
construtora Walter Coscarelli Ltda., de Belo Horizonte.
6
“Viva (confortavelmente...) o mais importante ciclo de nossa história”. Folder promocional de projeto para a
Pousada Ouro Preto, s/ data (c. 196?), 8 ps., form. +- 20cm./40 cm., Arquivo Noronha Santos, IPHAN, Rio de
Janeiro.
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Renato Soeiro que pregava a “reciclagem” como a melhor alternativa para o problema da
Patrimônio, desta vez Sylvio de Vasconcellos, o projeto de “soluções ideais”, porém, desta
vez, sem a polêmica gerada pelo Grande Hotel. As pousadas revelariam a afirmação da forma
privada definida pelo tempo de uso do estabelecimento, num misto de colônia de férias com
hotel. Na definição do citado folheto, as pousadas seriam “hotéis pequenos (somente trinta
apartamentos), porém, de alto luxo”. Representariam “a solução ideal para o seu bem estar,
um negócio seguro e rendoso, e a melhor maneira para você ‘viver confortavelmente’ os mais
Jato Viagens, encarregada de “enviar um constante afluxo de hóspedes, não deixando haver
Esse conjunto de hotéis fundados em Ouro Preto revelou uma nova orientação na forma
Para os hotéis criados a partir dos anos 1960, uma nova ordem tornou-se preponderante; a de
internamente, a maioria optou por fazer uso de antiguidades ou de novos objetos estilizados
Minas”.
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Ilustração 4. Pouso do Chico Rei, Rua Brigadeiro Mosqueira, 90, Centro. Fotografia do autor, 1997.
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Ilustração 6. Pousada Ouro Preto, depois Luxor Hotel, Largo Antônio Dias, 10. Fotografia do
autor, 1997.
5. Hotéis e Monumentos
Diante dos meios de hospedagem criados até 1969, pequeno em quantidade, mas
monumentos de valor histórico e artístico. Essa nova ordenação do espaço urbano caracteriza-
Assim, pode-se notar: o Grande Hotel em local privilegiado, próximo à Casa dos
Contos; o Pouso do Chico Rei em frente à igreja de Nossa Senhora do Carmo; o Pilão na
Praça Tiradentes; e a Pousada Ouro Preto ao lado da igreja de Nossa Senhora da Conceição de
hotéis projetavam-se nas paisagens e nos roteiros turísticos da cidade. O Hotel Toffolo, nesse
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sentido, refere-se a outro sistema de relações, do qual também o Grande Hotel participou. O
atrativo turístico, nas primeiras décadas do século XX, não existia e a firma Toffolo foi
Observa-se também que a Pousada Ouro Preto, de 1969, rompe com a tradição de se
década seguinte. O hotel Pilão, embora continuasse hospedando, perdeu essa condição no guia
Quinta dos Barões; o Hotel Colonial; o Solar das Lages; e a Hospedaria Antiga.
A primeira pousada a ser inaugurada nessa década foi a Quinta dos Barões, na Barra,
1720. Nesse local vivera um dos governadores da Capitania de Minas Gerais.7 Em 1972,
inaugurou-se o Hotel Colonial, no beco entre a Rua das Flores e a Direita, em construção
parcerias junto aos grupos hoteleiros Tropical-Varig, e ainda, Pousadas Quatro Rodas e
Hoturminas (O Ouro Preto, 31 mar. 1974, p. 2). Previa-se iniciar as obras em 1974, com a
7
Cf. José Christiano Penna de Andrade, “Antigos palácios e quartéis dos governadores e dragões reais,
existentes ou em ruínas, no arraial de Nossa Senhora da Conceição de Ouro Preto, em Vila Rica de Albuquerque,
na atual cidade de Ouro Preto”, documento mimeo., Ouro Preto, 1991. Biblioteca Municipal de Ouro Preto.
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Armando Sanders. O projeto fora realizado pelo arquiteto paulista Arnaldo F. Paoliello e seria
executado pela construtora, também paulista, Adolfo Lindemberg, prevendo uma obra em
patamares na encosta do morro. Nesse ano, estava à mostra a maquete da edificação, projetada
para o bairro Água Limpa, acesso principal da cidade, “com base no Plano de Viana de Lima,
Preto, 15 maio 1974, p.1). Mais dois hotéis estavam projetados para Ouro Preto, dos quais
um, de grandes proporções, deveria localizar-se no terreno vago ao lado da Escola de Minas.
O projeto teria sido aprovado pelo IPHAN, mas em seguida embargado pela Prefeitura. Pelo
que se constatou, nenhum desses projetos foram implantados (C. J. Arquitetura, n. 17, 1977,
p. 82).
primeiro em uma construção do século XIX muito modificada, no antigo caminho para
Mariana, foi criado pelo artista Pedro Corrêa de Araújo. A Hospedaria Antiga foi instalada na
casa que pertencera a Xavier da Veiga e onde funcionara o Arquivo Público Mineiro, por ele
fundado em 1894, utilizando-se do piso superior para moradia, deixando o inferior reservado
ao arquivo.
proximidade dos monumentos, buscava-se, quando possível, fazer do próprio edifício objeto
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Ilustração 7. Pousada Quinta dos Barões, com 15 quartos na inauguração. Rua Pandiá Calógeras,
474, Barra. Fotografia do autor, 1997.
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Ilustração 9. Solar das Lages. Rua Conselheiro Quintiniano, 604, Lages. Fotografia do autor, 1997.
Ilustração 10. Hospedaria Antiga. Rua Xavier da Veiga, n.1, Centro. Fotografia do autor, 1997.
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6. Conclusão
Para concluir, convém notar que o ritmo atingido pelas inaugurações de meios de
empreendimentos foram motivados pela relativa abertura política e pela nova condição da
cidade que, desde 1980, foi reconhecida como Patrimônio da Humanidade. Essa foi a década
século XX. Foram cerca de quinze meios de hospedagem contra onze identificados até então.
se por todo o centro e áreas periféricas e, de maneira geral, não mantiveram vínculo direto
com os monumentos. Não obstante, a Pousada do Mondego, está entre aquelas que seguiram a
proximidade dos monumentos. Instalou-se ao lado da Igreja de São Francisco de Assis e faz
troca simbólica, valorizando os hotéis adjacentes, pode-se observar casos em que houve uma
inversão nessa relação. A partir daí, demarcam-se outros setores até então de pouco interesse
turístico, fato também notado em algumas cidades européias por Ashworth e Tumbridge
(1990, p. 63). Em Ouro Preto, o maior exemplo dessa questão é o Solar do Rosário. O largo
ficava fora dos principais roteiros dentro da cidade e a igreja, embora de reconhecida
na década de 1990, iniciou-se a restauração da igreja ao mesmo tempo em que bares e lojas
foram criados no largo, invertendo a relação simbólica e impondo importante reflexão aos
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16
14
12
10
8
6
4
2
0
1900 10 20 30 40 50 60 70 80 90
Tabela 1. Número de estabelecimentos hoteleiros inaugurados em Ouro Preto, distribuídos por décadas do
século XX.
Agradecimentos
Todas as fotografias em P&B foram gentilmente cedidas em cópias pelo Instituto de Filosofia
Artes e Cultura, Universidade Federal de Ouro Preto, MG, neste artigo designado Col. IFAC.
O autor agradece a colaboração de Flávio Andrade, de Ouro Preto, que permitiu a consulta a
sua coleção pessoal de jornais do município. Na Casa do Pilar, foi decisiva a ajuda das
nora de Olívio Ângelo Toffolo, Enedina Lucas Machado e Pedro Corrêa de Araújo,
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ANDRADE, Carlos Drummond de. Poesia e prosa. Rio de Janeiro: Ed. Nova Aguiar, 1992.
ANDRIOLO, Arley. Turismo industrial e cidade histórica no Brasil. In: LIMA, Luiz Cruz
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pp. 82-90.
ASHWORTH, Gregory. Accommodation and the historic city. Built Environment, v.15, n.2,
1989, p.93.
ASHWORTH, Gregory & TUMBRIDGE, J. E. The tourist-historic city. London/New York:
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