Altas Habilidades/Superdotação E Hiperatividade: Possíveis Relações Que Podem Geram Alguns Equívocos
Altas Habilidades/Superdotação E Hiperatividade: Possíveis Relações Que Podem Geram Alguns Equívocos
Altas Habilidades/Superdotação E Hiperatividade: Possíveis Relações Que Podem Geram Alguns Equívocos
Resumo
A educação especial possui um público alvo de alunos, que segundo a Política Nacional de
Educação Especial na perspectiva da Educação Inclusiva (2008), se delimita na educação dos
alunos com deficiências, transtornos globais do desenvolvimento e altas
habilidades/superdotação. Porém, para que seja realizado algum trabalho suplementar para
estes alunos com altas habilidades/superdotação, é importante saber onde eles se encontram
no contexto escolar. Assim, o presente trabalho procede de experiências vividas e estudos
acadêmicos obtidos através da participação no projeto de pesquisa denominado “Da
identificação à orientação de alunos com características de altas habilidades”. Este projeto
objetiva a identificação de alunos com características de altas habilidades/superdotação em
escolas municipais, estaduais e particulares do município de Santa Maria/RS, com o intuito de
encaminhá-los para um programa de enriquecimento. Este trabalho visa demonstrar algumas
semelhanças e divergências entre altas habilidades/superdotação e TDAH, sendo que o
diagnóstico de hiperatividade nas escolas está sendo muito discutido na contemporaneidade,
configurando-se como um tema atual, que nas conversas informativas desenvolvidas pela
equipe do referido sempre são mencionadas pelos professores. Nessas conversas informativas
pode-se inúmeras vezes perceber uma confusão por parte dos professores em relação às altas
habilidades/superdotação e o TDAH, sendo que esses equívocos são evidenciados quando os
professores participam relatando casos e trazendo questões referentes aos seus alunos. Por
isso é importante esclarecer que as altas habilidades/superdotação e o TDAH possuem
características de que podem se assemelhar, mas que é importante diferenciá-las para que não
aconteçam equívocos no processo de identificação e nos encaminhamentos pedagógicos.
Introdução
Desenvolvimento
Para iniciar essa discussão salienta-se que essa problematização de debate surgiu a
partir de encontros com os professores, que é a primeira etapa do processo de identificação de
alunos com características de altas habilidades/superdotação. Essa primeira etapa com os
professores das escolas participantes do Projeto “Da identificação à orientação de alunos com
características de altas habilidades” se constitui em proporcionar ao corpo docente das
instituições participantes um esclarecimento sobre a temática das altas
habilidades/superdotação através de conversas informativas. Isso em função de que, após
esses esclarecimentos, os professores preencham um guia proposto pela pesquisadora Zenita
Cunha Guenther (2006), indicando os alunos que possam vir a ter essas características e que
posteriormente serão avaliados pela equipe executora do projeto. Dessa forma, é importante o
esclarecimento a respeito do tema, já que são os professores que fazem esta primeira
indicação dos alunos.
Nas conversas informativas pode-se inúmeras vezes perceber uma confusão por parte
dos professores em relação às altas habilidades/superdotação e o TDAH, sendo que esses
equívocos são evidenciados quando os professores participam relatando casos e trazendo
questões referentes aos seus alunos. Por isso é importante esclarecer que as altas habilidades e
o TDAH possuem características de que podem se assemelhar, mas que é importante
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Estas características citadas acima podem ser percebidas algumas vezes também
quando se trabalha com alunos com altas habilidades/superdotação, que podem estar
entrelaçadas com outros fatores como falta de estimulação, frustração, etc.. Os estudos do
pesquisador Joseph Renzulli (2004) evidenciam como pontos fundamentais no
comportamento desses sujeitos, três traços principais: Habilidade acima da média,
Envolvimento com a Tarefa e Criatividade. O cruzamento entre estas características forma o
Modelo dos Três Anéis, sendo que para estes três traços determinarem as altas
habilidades/superdotação, é necessária a interação destes comportamentos, ou seja, esses
fatores necessariamente devem ser combinados no sujeito.
A habilidade acima da média tanto pode ser descrita em habilidades gerais quanto
específicas. A habilidade geral consiste na capacidade de processar as informações como
também, envolver-se no pensamento abstrato. A habilidade específica consiste na capacidade
de adquirir conhecimentos e destreza numa ou mais áreas específicas. O envolvimento com a
tarefa é caracterizado pelo expressivo interesse em relação a uma determinada área ou tarefa
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Desde modo, esta não é uma característica freqüente nestes alunos com altas
habilidades/superdotação, porém pode vir a apresentar-se em algumas situações, dependendo
da concordância ou não entre seus interesses e os conteúdos do momento. Isso também
porque o aluno pode já estar dominando o conteúdo trabalhado pelo professor, e por isso se
tornar desinteressado e algumas vezes resistente a manter a atenção na aula. Por isso, quando
se trata de promover estratégias diferenciadas para estes alunos é imprescindível se pensar em
atividades extras, realização de tutoria, pesquisas na biblioteca, entre outras tarefas que podem
envolver o aluno a continuar estudando e manter-se atento que está sendo desenvolvido em
sala.
Já os sujeitos com TDAH evidenciam de maneira mais exposta esta característica de
desatenção, já que possuem uma dificuldade significativa de manter a atenção por maior
período de tempo. Conforme menciona o autor:
Em resumo, pessoas com TDAH têm problemas para fixar sua atenção em coisas
por mais tempo que outras. Elas lutam, às vezes com tenacidade, para manter sua
atenção em atividades mais longas que as usuais, especialmente aquelas mais
maçantes, repetitivas e tediosas. Tarefas escolares desinteressantes, atividades
domésticas extensas e palestras longas são problemáticas, assim, como leituras
extensas, trabalhos desinteressantes, prestar atenção a explicações sobre assuntos
desinteressantes e finalizar projetos extensos (BARKLEY, 2002, p.50)
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Assim, o convívio com estes alunos com TDAH aponta que estas características de
desatenção e agitação são freqüentes, apresentando dificuldades de concluir suas tarefas,
aprofundar alguns assuntos, etc., o que pode até mesmo prejudicar o seu rendimento escolar,
uma vez que, neste momento de desatenção, perde explicações, não abstrai alguns conceitos
importantes, não concluir suas respostas, etc.
Este é um aspecto que pode causar confusão quanto aos dois grupos, mas que com
atenção do professor pode auxiliar na diferenciação entre eles, uma vez que a desatenção pode
demonstrar falta de interesse e motivação, mas no caso do aluno com altas
habilidades/superdotação, na maioria das vezes seu rendimento e suas notas escolares
permanecem boas, o que demonstra que está evoluindo em suas aprendizagens e mesmo não
detendo sua atenção na sala, consegue abstrair.
Além disso, outro aspecto que tem chamado a atenção e que pode confundir no
momento da identificação destes grupos é a fala expressiva, relacionada a impulsividade. Os
alunos com TDAH geralmente, por sua maior agitação, também costumam falar mais, muitas
vezes no impulso, sem pensar o que vai falar. Barkley escreve que:
Esta característica pode fazer com que este aluno se saliente em sala de aula, muito
expressivo, falando bastante, conversando com os colegas, etc.. Este comportamento pode
torná-lo bem aceito pelos colegas, relacionando-se com todos.
É importante salientar esta característica já que os alunos com altas
habilidades/superdotação com capacidade superior na área lingüística ou interpessoal
(GARDNER, 1994), também podem apresentar facilidade na expressividade e no
relacionamento com os colegas. No entanto, estes alunos expressam suas opiniões com
fundamentação, com vários argumentos, e mesmo tendo bom relacionamento com os colegas,
muitas vezes possui alguns com os quais seus interesses coincidem. Além disso, a expressão é
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uma forma de demonstração de criatividade, muito característico das pessoas com altas
habilidades/superdotação nesta área. Conforme Ourofino e Guimarães:
Conclusão
Assim, fica evidente que recomendações pedagógicas direcionadas para alunos com
altas habilidades/superdotação não são adequadas e iguais aos alunos com TDAH. Podemos
citar o exemplo de que nos casos de alunos com TDAH é indicado à diminuição do tempo e
na complexidade das atividades escolares, também um ambiente pouco estimulador em sala
de aula para que este não seja um fator de desvio da atenção desses alunos.
Logo, para os alunos com altas habilidades/superdotação esses procedimentos são
inadequados, primeiro porque esses alunos necessitam de um tempo significativo para
desenvolver suas atividades escolares, justificado pelo fato de que possuem a característica do
envolvimento com a tarefa, como já referido neste artigo, esse tempo maior é investido por
esses alunos para a qualificação na realização das atividades. No aspecto da complexidade das
atividades, quanto mais desafiador, maior será o interesse e dedicação do aluno no
desenvolvimento das mesmas. Assim, além de promover a valorização e o desenvolvimento
do potencial dos alunos com altas habilidades, tende a permitir a transformação de sua
realidade e de si mesmo, fazendo com que este compartilhe os resultados de suas habilidades
com os colegas que estão a sua volta.
Em relação ao ambiente na sala de aula, este deve ser estimulador, pois a tendência do
aluno com altas habilidades/superdotação é considerar as atividades escolares tediosas, pois
na maioria das vezes não existe uma preocupação em desafiar o aluno, logo, ele não terá
interesse em comprometer-se com as atividades e tão pouco exercitará a sua criatividade. Por
isso, a necessidade de um ambiente estimulador, para que favoreça o aluno com
características de altas habilidades/superdotação no processo de aprendizagem segundo a
proposta de uma educação inclusiva, propiciando o desenvolvimento de seus potenciais e
talentos.
Enfim, acreditamos que o esclarecimento das características de alunos com altas
habilidades/superdotação e TDAH, pode proporcionar aos professores a elucidação de que
apesar desses dois grupos apresentarem características que possam gerar certa confusão, esses
sujeitos possuem suas especificidades, possíveis de serem diferenciadas. Neste sentido,
destacamos a importância das escolas estabelecerem parcerias com instituições de Ensino
Superior, que possuam pesquisas direcionadas a essas temáticas, para que possam esclarecer
suas dúvidas podendo facilitar o processo de identificação, e no caso de alunos com altas
habilidades/superdotação encaminhá-los a programas de enriquecimento escolar.
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REFERÊNCIAS