Apostila Recup Veg Area Degrada Semiárido
Apostila Recup Veg Area Degrada Semiárido
Apostila Recup Veg Area Degrada Semiárido
RECUPERAÇÃO DE ÁREAS
DEGRADAS NO
SEMIÁRIDO
ABRIL 2019
Este produto foi realizado no âmbito do Projeto de
Cooperação Técnica especificado no item 1, alínea
a, das Declarações, em contrato celebrado entre a
CONTRATADA e o CONTRATANTE.
Autores
Fernando Antonio Rodriguez
Igor Pinheiro
Revisão
Flávio Hermínio de Carvalho
Maria Angélica Valério
Sumário
Introdução ........................................................................................................ 10
5. Degradação .................................................................................................. 20
9.2.2. Estrutura.......................................................................................... 79
Referências ...................................................................................................... 91
Lista de Figuras
Figura 1. Utilização de lenha retirada da mata para produção de carvão e estacas
(cercas) St. Lagoinha, município de Tavares – PB. ......................................... 11
Figura 2. Manuseio comum do lixo em municípios do semiárido ..................... 12
Figura 3. Vegetação típica da caatinga, ainda no final do período chuvoso .... 14
Figura 4. Cena típica do uso da madeira na caatinga ...................................... 15
Figura 5. Caprinos e cerca capaz de impedir sua travessia por eles. .............. 15
Figura 6. Vazões específicas médias das bacias hidrográficas do Nordeste do
Brasil ................................................................................................................ 17
Figura 7. Perfis com as características dos solos de clima desértico e semiárido
......................................................................................................................... 18
Figura 8. Caracterização de níveis de degradação de pastagens.................... 27
Figura 9. Representação simplificada do conceito de pastagem degradada ... 27
Figura 10. Síntese dos números de ativo ambiental, passivo de Reserva Legal e
déficit de APP, por região biogeográfica (Em milhões de hectares)................. 29
Figura 11. Agricultores retirando favelas da sementeira para plantio (A); diferente
em matéria de volume e peso, entre as mudas produzidas nas embalagens
plásticas, cerca de 20 mudas (B); e na sementeira 60 unidades. .................... 38
Figura 12. Cova para plantio da favela após receber água de chuva proveniente
do escoamento superficial (A) e após o plantio da faveleira com a cobertura do
entorno da muda, com pedras coletas no local. ............................................... 44
Figura 13. Detalhe da camada de detritos para captação de água no entorno da
faveleira (A): entremeado pela presença de plantas herbáceas e da jurema preta
(B). ................................................................................................................... 45
Figura 14. Área em processo de recuperação com a faveleira (A); com a
presença de bovinos (B). ................................................................................. 46
Figura 15. Esquema de disposição das mudas pioneiras e não pioneiras para a
nucleação através do plantio de mudas nativas ............................................... 50
Figura 16. Esquema de plantio e espaçamento das mudas no processo de
recuperação ..................................................................................................... 51
Figura 17. Espaçamento de nucleação com cinco plantas .............................. 52
Figura 18. Espaçamentos de nucleação com 9 e 13 plantas ........................... 53
Figura 19. Espaçamentos de grupos de espécie de 2 x 2 m e em quincôncio. 54
Figura 20. Estrutura Sistêmica de modelos de exploração do estabelecimento
rural e suas interseções ................................................................................... 56
Figura 21. Caatinga raleada em Sobral – CE ................................................... 60
Figura 22. Caatinga rebaixada ............................................................................. 61
Figura 23. Caatinga enriquecida ...................................................................... 62
Figura 24. Revegetação de áreas na caatinga com o sistema agrosilvopastoril
......................................................................................................................... 75
Figura 25. Processo de recuperação vegetativa de uma caatinga degradada . 76
Figura 26. Fluxograma das fases de um processamento de mudas para
recuperação da caatinga. ................................................................................. 77
Figura 27. Viveiro aramado e sombrite ............................................................ 78
Figura 28. Um exemplo de juazeiro como planta matriz .................................. 83
Figura 29. Sementes guardadas em refrigerador ............................................. 84
Figura 30. Produção de mudas na caatinga. .................................................... 85
Lista de Quadros
Quadro 1. Evolução da redução da área original para ação antrópica............. 12
Quadro 2. Práticas agrícolas inadequadas (enquanto fatores de desagregação
ambiental) e consequentes e impactos ............................................................ 28
Quadro 3. Regeneração natural: vantagens, desvantagens e recomendações 36
Quadro 4. Tabela a ser preenchida pelo proprietário no monitoramento de áreas
a serem recuperadas no bioma Caatinga ........................................................ 40
Quadro 5. Comparativo entre os resultados obtidos para os modelos tipo
agrossilvipastoril e convencional. ..................................................................... 63
Quadro 6. Estimativas de custos e benefícios dos projetos de recuperação da
vegetação por ecossistema .............................................................................. 65
Quadro 7. Custo de reforma e recuperação de pastagens degradadas. .......... 67
Quadro 8. Estimativas de retorno financeiro (1) para investimentos em diferentes
estratégias de manutenção de pastagens na propriedade rural....................... 67
Quadro 9. Custos estimados para técnicas de restauração no bioma Caatinga
......................................................................................................................... 69
Quadro 10. Comparação de custos de restauração da vegetação nativa nos
biomas brasileiros ............................................................................................ 70
Quadro 11. Atividades e recomendações para revegetação do bioma caatinga
......................................................................................................................... 82
Quadro 12. Custos de materiais, sistema de irrigação, motobomba e mão de obra
para implantação de um viveiro de 576 m2 para produzir 30.000 mudas ......... 86
PARTE I – PRA TICAS VEGETATIVAS
PARA RECUPERAÇA O DE A REA
DEGRADADAS PARA PRODUÇA O DE
A GUA
Introdução
Este trabalho é voltado à recuperação de áreas degradadas e reflorestamento,
ou seja, se restringe a iniciativas vegetativas no semiárido brasileiro onde as
áreas ainda com vegetação nativa, restantes, estão extremamente
fragmentadas. O bioma Caatinga é um dos mais ameaçados, sobretudo devido
ao uso inadequado e insustentável tanto dos recursos naturais quanto do solo,
provocando elevado grau de degradação ambiental que, conjuntamente, com o
ainda deficiente conhecimento acerca de sua biodiversidade, constituem o
grande impasse para a preservação da vegetação natural.
ALCANTARA et al (2013) ressaltam que a degradação ambiental da região está
relacionada com a dependência em relação aos seus recursos naturais,
intensificando o desmatamento, a erosão e a perda de fertilidade dos solos,
assoreamento dos cursos d’água e a desertificação. As vulnerabilidades sociais,
ambientais e econômicas do semiárido são complexas e caracterizadas pela
baixa pluviosidade, evapotranspiração alta, geomorfologia do terreno, entre
outras, com o agravante de deficiência de infraestrutura de convivência com as
secas. Quanto maiores os níveis de degradação, na revegetação, mais esses
fatores inibem ou impedem a sucessão (KAGEYAMA et al. 2008).
Souto et al. (2005) argumentam que a remoção da vegetação da caatinga,
deixando os solos expostos, associada a períodos extensos de seca, `as
elevadas amplitudes térmicas e aos ventos, possibilita uma acentuada
degradação física, química e biológica dos solos. Estes se tornam limitados em
seu potencial produtivo, causando danos, muitas vezes, irreversíveis ao meio.
Historicamente, o semiárido teve a pecuária extensiva como base de atividade
econômica, ligada à agricultura de subsistência.
A falta de um planejamento voltado para uma exploração sustentável é um fator
concorrente para o empobrecimento, não apenas dos recursos naturais, mas
principalmente da população que vive desses recursos, acarretando assim um
estado de degradação avançado, que tem na lenha a fonte de energia, já que
ela é um dos recursos mais usados para obtenção de energia, por ser a fonte
mais barata e a região não dispor de tecnologias adequadas alternativas.
O desmatamento tem sido realizado principalmente para a expansão da
agropecuária, fabricação de carvão, olarias1, panificadoras, comercialização da
lenha, construção de cercas entre outros (Figura 1). Esse modelo extrativista
provoca a aceleração do processo de erosão e infertilidade do solo, além disso,
afeta a qualidade da água diminuindo os cursos de riachos e córregos.
2. O semiárido brasileiro
A geografia convencional divide o Nordeste brasileiro em zonas: Litorânea,
Agreste e Sertão, sendo que estas duas últimas formam, essencialmente, a
região semiárida. O bioma Caatinga é considerado um tipo de floresta
sazonalmente seca e possui características florísticas, fisionômicas e ecológicas
próprias, apresentando uma grande diversidade e riqueza de espécies vegetais.
Embora possua características tão marcantes, dentre os biomas brasileiros
ainda é cheio de lacunas sobre o conhecimento de sua botânica e
comportamento hídrico e o que está mais exposto a alterações, por ações
antrópicas.
Caatinga significa “mata-branca” no tupi-guarani, deve-se ao comportamento
caducifólio das espécies vegetais, ou seja, queda das folhas no período de seca
em função das condições climáticas, marcada pela baixa disponibilidade hídrica.
O clima no bioma Caatinga é bastante irregular, apresentando valores extremos,
em nível de Brasil, com forte insolação, altas médias de temperatura, entre 25°
e 30° C, elevadas taxas de evaporação e transpiração com baixos índices
pluviométricos, em torno de 400 a 800 mm anuais, com grande variabilidade
espacial e temporal. Esse bioma abrange todos os estados da região Nordeste
do Brasil, em menor ou maior proporção, e o norte de Minas Gerais, único estado
localizado na região Sudeste.
A Caatinga apresenta uma grande riqueza de ambientes e espécies que não são
encontrados em nenhum outro bioma. Considerado como o único bioma
integralmente brasileiro, sua vegetação apresenta características peculiares,
geralmente relacionadas ao rigor climático observado nessa região do semiárido,
como a presença de muitas espécies com espinhos (Leal et al. 2003)2. Outra
peculiaridade climática desse bioma, que influencia diretamente a vegetação ali
encontrada, está relacionada à dinâmica de chuvas, geralmente dividida em dois
períodos secos anuais: um de longo período de estiagem, seguido de chuvas
intermitentes e um de seca curta seguido de chuvas torrenciais (que podem faltar
durante anos) (IBGE 2012)3. O bioma da Caatinga, e consequentemente a sua
biodiversidade, sustentam diversas atividades socioeconômicas voltadas para
fins agrosilvopastoris e industriais, especialmente nos ramos farmacêutico, de
cosméticos, químico e de alimentos.
É clara a necessidade da ampliação do conhecimento acerca dos seus
comportamentos. Assim, estudos envolvendo processos fisiológicos partindo
desde as sementes são fundamentais para a utilização sustentável de espécies
nativas da Caatinga, sobre as quais o conhecimento a respeito de germinação
2 LEAL, I.R.; TABARELLI, M.; SILVA, J.M.C. Ecologia e conservação da Caatinga. Recife: Ed.
Universitária da UFPE, 822 p. 2003.
3 IBGE. Manual técnico da vegetação brasileira. Rio de Janeiro. 275p. 2012
ainda é escasso (SILVA et al., 2014), tendo em vista a produção de sementes e
mudas a fim de evitar a perda da biodiversidade da Caatinga.
Qualquer ação integrada que vise o aumento da produtividade agrícola deverá
enfrentar o problema do gerenciamento dos recursos hídricos no semiárido que
abrange 70% da área do Nordeste e 63% de sua população.
A região semiárida brasileira é constituída por várias sub-regiões, onde
predominam uma grande diversificação de clima, vegetação, solo, água e de
aspectos socioeconômicos. O bioma caatinga é formado por vegetais com
características próprias para resistência à seca. São mecanismos fisiológicos e
anatômicos utilizados para utilizar e armazenar o máximo de água durante a
estação chuvosa. Predominam árvores de troncos tortuosos, cobertos de cortiça
e espinhos além de raízes que cobrem a superfície do solo. Figura 3.
Fonte: https://www.youtube.com/watch?v=Y4FB5HrrcOc
5. Degradação
A degradação do solo é processo natural e importante para sua formação,
inclusive de relevos, quando é resultado de ações naturais como as causadas
pela água ou vento. Constitui problema quando há intervenção humana com
destruição da vegetação, o uso de químicos sem controle, uso agropecuário
intensivo sem observar a sua capacidade suporte e devido, também a expansão
desordenada das cidades ou as poluições devido a intervenções antrópicas,
inclusive às industriais.
Ao se falar em degradação tem-se que estar atento na região semiárida sobre
os riscos de desertificação.
As áreas onde o problema da desertificação6 é mais acentuado são conhecidas
por núcleos de desertificação. São os seguintes no Nordeste: 1) Núcleo do
Seridó, localizado na região centro-sul do Rio Grande do Norte e centro-norte da
6Perto de 15% da superfície terrestre está sob risco de desertificação em algum grau. As áreas
mais afetadas são o oeste da América do Sul, o nordeste do Brasil, o norte e o sul da África, o
Oriente Médio, a Ásia Central, o noroeste da China, a Austrália e o sudoeste dos Estados Unidos.
Paraíba, abrangendo área de aproximadamente 2.341 km2, envolvendo vários
municípios em torno de Parelhas; 2) Núcleo de Irauçuba, no noroeste do estado
do Ceará abrangendo uma área de 4.000 Km2 incluindo os municípios de
Irauçuba, Forquilha e Sobral; 3) Núcleo de Gilbués no Piauí, com uma área
aproximada de 6.131 Km2 envolvendo os municípios de Gilbués e Monte Alegre
e 4) Núcleo de Cabrobó em Pernambuco que totaliza uma área de 5.960 Km2
abrangendo os municípios de Cabrobó, Belém de São Francisco e Floresta.
Os solos das classes Luvissolos, Neossolos e Planossolos com cobertura
vegetal de caatinga hiper-xerófila dominam os núcleos de desertificação de
Irauçuba, Cabrobó e Seridó enquanto que no núcleo de Gilbués dominam os
solos das classes Latossolos, Neossolos Quartzênicos e Argissolos sob
vegetação do tipo campo-cerrado. A erosão hídrica responde pelas perdas de
solo nos núcleos de desertificação de Irauçuba, Cabrobó e Seridó enquanto que
no núcleo de Gilbués, além dessa, a erosão eólica tem relevância nos meses de
agosto a novembro.
A degradação e os riscos da desertificação precisam estar bem clara na mente
dos profissionais para que orientem os tomadores de decisões quando se quer
perseguir a sustentabilidade que se apoia em cinco pilares: social, econômico,
ambiental, tecnológico e político.
Segundo a FAO (Organização das Nações Unidas para Alimentação e
Agricultura) a degradação do solo é definida como uma mudança na saúde da
terra, com a diminuição da capacidade dos ecossistemas que se desenvolvem
sobre este solo, de fornecerem bens e serviços. Esta mudança não se limita à
disponibilidade de água; inclui presença ou não de microrganismos endógenos,
composição balanceada de minerais e de matéria orgânica, acidez e aeração
correta, entre outros fatores.
De acordo com a Política Nacional do Meio Ambiente (Lei Federal n° 6.938/81),
degradação ambiental é qualquer “alteração adversa das características do meio
ambiente” (art.3º, inciso II), neste sentido observa-se que trata de um “conceito
amplo que abrange vários casos como prejuízo à saúde, ao bem-estar das
pessoas, às atividades sociais e econômicas, à biosfera, etc.”.
Segundo NBR 10703 da ABNT (1989), a degradação do solo é apontada como
sendo a alteração adversa das características do solo em relação aos seus
diversos usos possíveis, tanto os estabelecidos em planejamento, como os
potenciais. Já o Manual de Recuperação de Áreas Degradadas pela Mineração
do IBAMA (IBAMA, 1990), define que “a degradação de uma área ocorre quando
a vegetação nativa e a fauna forem destruídas, removidas ou expulsas; a
camada fértil do solo for perdida, removida ou enterrada; e a qualidade e o
regime de vazão do sistema hídrico forem alterados. A degradação ambiental
ocorre quando há perda de adaptação às características físicas, químicas e
biológicas e é inviabilizado o desenvolvimento socioeconômico.”
A degradação ambiental ocorre principalmente pela ação antrópica que esgota
os recursos naturais. Dessa forma, a prática da agricultura atualmente é uma
das principais causas de degradação do solo na região Nordeste. Sobre isso,
Silva e Corrêa (2007, p. 172) apud Silva et ali (2017) afirmam que:
No Semiárido nordestino, a sucessão temporal de modos de produção incompatíveis com a
sustentabilidade dos sistemas físicos de superfície terrestre resulta em uma série de
problemas ambientais que são visualizados e sentidos contemporaneamente, e que
representam a totalidade da degradação ambiental, advinda de usos pretéritos e atuais.
7Dias Filho, M. B. Degradação de pastagens – o que é e como evitar. Embrapa – Brasília – DF.
2017
Uma causa importante dessa condição é a tradição de desleixo no uso de
insumos e de tecnologia que ainda persiste no manejo de muitas áreas de
pastagens no Brasil. Essas situações de descaso com o manejo da pastagem
geralmente ocorrem onde a pecuária não é conduzida profissionalmente, como
uma atividade econômica de caráter empresarial, isto é, onde a atividade,
independentemente da grandeza do empreendimento pecuário, não é
administrada de forma eficiente, responsável e racional.
A forma mais prática de avaliar se a pastagem está degradando é acompanhar
a sua “capacidade de suporte” no decorrer do tempo. A capacidade de suporte
é o número de animais que é possível manter, em uma determinada área de
pasto, sem ocasionar prejuízo (perda de peso ou produção de leite) para o
desempenho dos animais e para o desenvolvimento da pastagem (pasto
“rapado” ou pasto “passado”). Assim, se ano a ano o número de animais possível
de ser mantido em uma determinada pastagem estiver diminuindo, muito
provavelmente essa pastagem está degradando. Outros indícios da degradação
da pastagem são o aumento no percentual de plantas daninhas e de áreas do
solo descoberto (sem vegetação) e a consequente diminuição no percentual de
capim (ou de leguminosas forrageiras) na área da pastagem. Normalmente,
quanto mais avançado estiver o nível de degradação da pastagem, mais difícil,
cara e demorada será a sua recuperação.
De modo geral, existem dois tipos extremos e principais de degradação da
pastagem: a “degradação agrícola” e a “degradação biológica”. Na degradação
agrícola, ocorre um aumento excessivo do percentual de plantas daninhas na
pastagem. Nesse tipo de degradação, a capacidade produtiva do pasto fica
temporariamente diminuída ou inviabilizada, por causa da competição pelas
plantas daninhas no capim e nas leguminosas forrageiras. Essa competição
reduz sucessivamente a produção de forragem e a eficiência de uso da
pastagem pelo gado. Ou seja, o gado tem dificuldade em selecionar e consumir
a forragem, por causa da presença excessiva das plantas daninhas. Na
degradação biológica, a queda de produtividade da pastagem está
principalmente associada à deterioração do solo. Nesse caso, há um aumento
na proporção de solo descoberto (sem vegetação) na área da pastagem,
facilitando a erosão, a perda de matéria orgânica e de nutrientes do solo. A
degradação biológica é uma condição mais drástica de degradação da
pastagem, pois também indica a degradação do solo.
A Figura 8 mostra os níveis de evolução da degradação de pastagens, enquanto
que a Figura 9 mostra o processo de degradação agrícola e biológica onde se
observa como a degradação biológica é a que leva à situação de catástrofes.
O manejo preventivo é a forma mais eficaz para evitar a degradação da
pastagem. Assim, quando o manejo da pastagem é feito profissionalmente,
desde a sua formação, isto é, quando o produtor faz o controle rotineiro da taxa
de lotação (número de animais por área de pasto), analisa anualmente o solo,
faz a manutenção periódica da sua fertilidade e controla as plantas daninhas e
insetos-praga, pastagem produtiva passa a ser o cenário dominante na
propriedade rural. Sob essa estratégia profissional e preventiva de manejo, a
necessidade de recuperações ou reformas recorrentes da pastagem é
praticamente eliminada. Nessa situação, o produtor estaria adotando a chamada
“pastagem empresarial” (pastagem sob manejo intensivo). Assim, ao manejar
corretamente a pastagem, desde a sua formação, o produtor estará prevenindo
a degradação. Ao adotar esse manejo preventivo para impedir a queda de
produtividade da pastagem, o produtor estaria também evitando os ônus
econômico, ambiental e social, típicos da existência de uma área de pastagem
degradada na propriedade rural e da consequente necessidade de recuperar
essa pastagem.
Fonte: Dias Filho, 2017.
(2) Desmatamento realizado com o objetivo de limpar o terreno em áreas que foram
desmatadas
Fonte: Silva, et alii. 2015
Essa prática provoca também danos negativos à fauna. Este fato é preocupante,
visto que as práticas agrícolas inadequadas fazem parte da cultura agrícola
regional. No entanto, o desmatamento sem controle e predatório provoca
impactos ambientais que causam desequilíbrio à biodiversidade local. O
desmatamento tem sido comum, sendo realizado na maioria das áreas dos
municípios pela maioria dos agricultores.
job and income generation in rural areas. Ecological Restoration, v. 28, p. 199-207, 2010.
componentes capazes de contribuir para a alimentação da reserva de água do
solo no semiárido no trinômio água-solo-planta, o que implica no conhecimento
dos processos físicos, químicos e biológicos que ocorrem naturalmente nesse
ambiente.
Os aspectos ecológicos ligados às regiões de clima seco e posteriormente à
implantação de florestas na região semiárida do Nordeste brasileiro precisam ser
bem conhecidos
Está amplamente comprovado que as florestas, tanto naturais como plantadas,
são ecossistemas que consomem mais água do que outros tipos de cobertura
vegetal. Este aspecto levanta algumas interrogações quanto ã vantagem de se
realizar o florestamento na região do nordeste semiárido.
Quanto à precipitação, em certos anos ela pode até atingir 800 mm. Contudo a
irregularidade da distribuição e a grande evapotranspiração se processa nesta
região durante o ano inteiro inviabilizam o crescimento natural de extensas áreas
florestais. Está comprovado também que as florestas não atraem as chuvas,
como se pensava erroneamente há alguns anos. Ao contrário, o clima com
precipitação mais abundante que propicia o desenvolvimento das florestas.
O florestamento bem executado poderá modificar bastante as características das
bacias hidrográficas, principalmente dos rios temporários do semiárido.
Para tal foi feito um levantamento10 dessas práticas com base em sustentação
científica que as recomendem para sua aplicação com segurança e confiança.
Para tratar as causas da degradação do solo são necessárias aplicar algumas
técnicas de preservação do solo que visam melhorar suas condições químicas,
biológicas e físicas principalmente no que concerne à interação com a água,
através do conhecimento dos processos físicos, químicos e biológicos que
ocorrem naturalmente nos solos.
10 http://www.cnpgc.embrapa.br/publicacoes/cot/COT62.html
www.epamig.br
www.portaldoagronegocio.com.br
http://hotsites.sct.embrapa.br/
www.iapar.br
minerais que as plantas cultivadas necessitam para seu bom desenvolvimento.
A adubação verde evita ainda o desenvolvimento de ervas daninhas. As plantas
cultivadas para adubação verde são geralmente as leguminosas e outras plantas
associadas às bactérias fixadoras de nitrogênio. As plantas utilizadas na
adubação verde evitam que as gotas de chuva caiam diretamente sobre o solo.
Com isso evitam a erosão e o lixiviamento. Portanto, o solo tratado com
adubação verde fica mais rico em nutrientes, especialmente em nitrogênio,
menos suscetível à erosão, ao lixiviamento e às pragas.
6.2. Reflorestamento
O reflorestamento consiste na plantação de árvores em regiões que sofreram
desmatamento e que correm risco de erosão. O reflorestamento traz vários
benefícios, tais como: filtrar os sedimentos; proteger as beiras de rio; aumentar
a porosidade do solo devido à presença de raízes profundas e volumosas;
diminuir o escoamento superficial da água pelo solo; permitir a criação de
refúgios para a fauna; poder gerar fonte de energia, através da lenha produzida.
O reflorestamento pode ser feito em faixas, intercalando-se com culturas anuais.
Essa prática favorece a fertilidade natural do solo, que fica rico em nutrientes, e
também o protege de ação prejudicial de agentes físicos, especialmente a água.
13ALVES, L.S., et al. Regeneração natural em uma área de caatinga situada no município de
Pombal-PB - Brasil. Revista Verde de Agroecologia e Desenvolvimento Sustentável Grupo Verde
de Agricultura Alternativa (GVAA), Mossoró, RN, v.5, n.2, p. 152-168, abril/junho de 2010.
14 LOPES, C.G.R., et al. Regeneração natural de uma área de agricultura abandonada em uma
floresta tropical seca e a influência da precipitação e do tempo de abandono. In: LOPES, C.G.R.
Regeneração natural em uma área de campo de agricultura abandonada em ambiente semiárido.
2011. 141 f. Tese (Doutorado em Botânica) - Universidade Federal Rural de Pernambuco, Recife,
PE, 2011. Cap. 1, p. 44-73.
desvantagem estaria em um período maior necessário para que uma área em
regeneração natural chegue a ter um grau de recuperação. Quadro 3.
Apesar da importância de restabelecer as áreas degradadas no Bioma Caatinga,
pouca atenção tem sido dada a avaliação e monitoramentos dessas áreas
durante seu processo de recuperação. Acredita-se que isto se deve ao fato da
carência de informações técnicas relacionadas à recuperação da área
degradada na Caatinga.
6.8. Recuperação
Segundo Martins (2009) apud Tatsch ((2011)15 o termo recuperação tem sido
mais associado com áreas degradadas, referindo-se à aplicação de técnicas
silviculturais, agronômicas e de engenharia, visando à recomposição topográfica
e à revegetação de áreas em que o relevo foi descaracterizado pela mineração,
pela abertura de estradas, etc. A Lei 9.985 de 18/07/2000, Art 2º (BRASIL, 2000)
diz que: XIII – Recuperação: restituição de um ecossistema ou de uma população
silvestre degradada a uma condição não degradada, que pode ser diferente de
sua condição original. A legislação brasileira menciona através do Decreto
Federal 97.632/89 (BRASIL, 1989) que o objetivo da recuperação é o “retorno
do sítio degradado a uma forma de utilização, de acordo com um plano pré-
estabelecido para o uso do solo, visando à obtenção de uma estabilidade do
NUCLEAÇÃO – SANTA MARGARIDA DO SUL, RS, UNIPAMPA, São Gabriel. RS, 2011
meio ambiente”. O mesmo afirma IBAMA (1990) quando diz que na recuperação,
um sítio degradado será retornado a uma forma de utilização, de acordo com o
plano preestabelecido para uso do solo. Uma condição estável será obtida em
conformidade com os valores ambientais, estáticos e sociais do entorno.
A Lei 9.985 de 18/07/2000, Art. 2º (BRASIL, 2000) diz que para os fins previstos
nesta Lei, entende-se por restauração a “restituição de um ecossistema ou de
uma população silvestre degradada o mais próximo possível da sua condição
original”.
No domínio do semiárido uma numerosa população luta para conviver com as
dificuldades naturais, adaptando seus modos de vida às imposições de um meio
ambiente extremamente hostil. Ela cria estratégias de sobrevivência apoiadas
em conhecimento empírico acumulado ao longo de muitas gerações e coloca a
seca no centro de sua estratégia econômica e de vida, para minimizar o risco de
perdas e de fracasso na produção dos meios de subsistência.
Até hoje, decorrido quase as duas primeiras décadas deste século, as iniciativas
para enfrentar a problemática dos recursos hídricos têm se baseado
essencialmente na construção de grandes reservatórios de água, muitas vezes
sem considerar as condições de aproveitamento dos próprios usuários. Essas
soluções implicam na centralização das ofertas, em geral alocadas não próximas
dos pequenos estabelecimentos rurais tornando-se necessários custosos
sistemas de distribuição. Muitas vezes a própria localização dos açudes resultou
de decisões políticas orientadas por motivações que contrariavam os mais
rudimentares critérios agroecológicos.
No semiárido é diferente. É a região mais pobre e de menor disponibilidade
hídrica no país. Além disso, carece de investimentos em tecnologia da
restauração. Por isso, muitas vezes os produtores rurais sentem-se
desestimulados a colocar sua força de trabalho em atividades de restauração,
uma vez que não estão diretamente ligadas ao seu ganha-pão e apresentam
grandes chances de fracasso. Para superar essa grande barreira, é imperativo
que os projetos de restauração estejam mais intimamente conectados com a
produção agrícola. Se o produtor rural souber que determinadas espécies
nativas melhoram a produtividade da sua roça, certamente ele vai querer plantá-
las e conservá-las.
Os agricultores do semiárido têm preocupação com o manuseio de mudas, pois
pelas dificuldades de transporte tem resistência ao uso de mudas de semeio em
embalagens plásticas, pois elas chegam a pesar em torno de 950 g enquanto
que as mudas plantadas em sementeiras pesam cerca de 120 g. (Figura 11).
16PEREIRA, A. R. Como selecionar plantas para áreas degradadas e controle de erosão. 2. ed.
Belo Horizonte: FAPI, 2008. 239 p
nativas adaptadas à condição local passam a ser desejadas pelo produtor rural”,
diz Padovezi17.
Em experimentos realizados na região de Quixeramobim, Sertão Central do
Ceará, onde foi avaliada a utilização de leguminosas arbóreas, concluiu-se que
todas as espécies estudadas podem ser utilizadas em programas de
recuperação florestal de áreas degradadas, destacando-se as espécies:
Parkinsonia aculeata, a Gliricidia sepium, a Mimosa hostilis e a Leucaena
leucocephal. O uso de leguminosas durante o processo de recuperação é uma
técnica de baixo custo e viável para recuperação de solos degradados, pois,
promove a sua melhoria, através do aporte de matéria orgânica e pela adição e
reciclagem de nutrientes (ARAÚJO FILHO et al., 200718).
Segundo Figueiredo (2010), o restabelecimento de essências arbóreas é
fundamental para recuperação de áreas na caatinga, o que pode ser acelerado
pelo plantio de Caesalpinia pyramidalis, Mimosa tenuiflora e Cnidoscolus
phyllacanthus, espécies pioneiras de sítios antropizados da Caatinga. Estas
árvores produzem lenha e/ou forragem, protegem o solo e propiciam condições
para o desenvolvimento do estrato herbáceo. Um dos fatores fundamentais a ser
considerado no processo de recuperação de áreas degradadas é o respeito aos
princípios da sucessão ecológica de cada bioma. Estudos apontam que as
essências arbóreas Tibouchina mutabilis (Vell.) Cogn., Croton vulnerarius Baill.
e Piptadenia adiantoides (Spreng.) Macbr, nativas da Mata Atlântica, Lithraea
molleoides, Peschiera fuchsiaefolia e Solanum inaequale Vell., comuns no
Cerrado, e Caesalpinia pyramidalis Tul., diversas Mimosa e Croton, de ampla
dispersão no bioma Caatinga, são espécies pioneiras e colonizadoras de sítios
antropizados. São estas, ao contrário de espécies secundárias e clímax, as
recomendadas para a revegetação de áreas degradadas nos seus respectivos
biomas (FIGUEIREDO, 2010)19. A recuperação de áreas degradadas da
caatinga depende da escolha de espécies vegetais rústicas, tolerantes aos
ambiente semiárido. 2011. 141 f. Tese (Doutorado em Botânica) - Universidade Federal Rural de
Pernambuco, Recife, PE, 2011.
22 MARTINS, S.V. Regeneração Ecológica de ecossistemas degradados. Viçosa, UFV, 2012. p.
293.
restauração, não devemos inserir espécies novas, mesmo que seja da Caatinga,
que não ocorram anteriormente no local. As condições da área em termos de
drenagem do solo também devem ser verificadas, já que algumas espécies não
se adaptam a condições de encharcamento, mesmo que temporário, fato comum
observado em áreas onde ocorre a Carnaúba (margens de rios, baixios, etc.).
Outro trabalho que serve como um bom referencial está no reflorestamento com
faveleira, (C. quercifolius), no Município de São José do Seridó – RN, onde foram
utilizados dois tipos de produção mudas: a) o semeio em embalagens plásticas
de polietileno, de 22 x 12 cm, em substrato de argila, esterco bovino e areia (1/3
de cada); e b) diretamente no solo, com uso do mesmo material na forma de
sementeira. O transplantio foi feito quando as mudas já estavam com 120 dias
de idade, com uma altura média de 35 cm. As covas tinham 50 cm de abertura
por 25 cm de profundidade, permitindo acumulo de água de chuva conforme
mostrado na Figura 12.
A faveleira, foi escolhida como planta que permitirá a coleta de sementes para
alimentação humana, em caráter de subsistência, hábito secular nas áreas com
a presença desse vegetal.
Figura 12. Cova para plantio da favela após receber água de chuva
proveniente do escoamento superficial (A) e após o plantio da faveleira
com a cobertura do entorno da muda, com pedras coletas no local.
Fonte: MEDEIROS & ALOUFA, 2017
Um ano depois, essas mudas tinham 41 cm em ambos os tipos de mudas.
Quanto a incipiência no crescimento das plantas no todo, explica-se pelas
limitações nas condições de solo, além do ano de 2015 o volume de chuvas ser
muito reduzido. Com relação a influência da semiaridez no crescimento do
vegetal, Pinheiro et al. (2009) apud MEDEIROS & ALOUFA (2017), concluiu que
no semiárido nordestino, os solos sem a presença de cobertura, expostos ao
pisoteio do gado, ficam impermeabilizados comprometendo a capacidade
hídrica. Quanto ao fator solo, as considerações de Duque (1980) propõe que,
assentada sobre rochas, a faveleira apresenta porte arbustivo. Registrou-se, no
microssítio do entorno de 88 faveleiras, cerca de 73%, incluídas aquelas não
encontradas vivas, a jurema preta, uma pioneira bem distribuída pela
comunidade vegetal do entorno, totalizando entre uma e 16 plantas por cova,
com altura total de até 3 cm, o que presume-se que o recrutamento tenha
ocorrido, na estação chuvosa de 2016. É importante ressaltar que no microssítio
de todas as plantas, a presença de herbáceas típicas da estação úmida,
verificadas no entorno do sítio degradado em recuperação, totalizando 14
espécies diferentes, o que confirma a conclusão de RICKLEFS (2013) ao
ressaltar que, a criação de qualquer novo habitat, atrais um conjunto de espécies
particularmente adaptadas, como bons pioneiros (Figura 13).
23COSTA, R.C. e ARAÚJO, F.S. Densidade, germinação e flora do banco de sementes no solo,
no final da estação seca, em uma área de Caatinga, Quixadá, CE. Acta Botanica Brasilica,
[online]. 2003, v.17, n.2, p. 259-264.
diferentes tipos de dormência, as árvores e ervas daninhas na região árida e
semiárida, a quebra de dormência no período seco é comum.
As mudas nativas a serem plantadas na área e modelo de plantio selecionado
devem ser compostas por material genético com o máximo de variabilidade
genética possível, já que a finalidade do plantio é recuperação. Sendo assim é
necessário que haja esse controle ainda no momento da coleta de sementes. As
coletas de sementes devem ser realizadas por amostragem (sem selecionar
nenhuma característica nas matrizes) e entre 12 a 30 árvores sadias por
população, distanciadas entre 100 e 200 m entre si, dentro de três a cinco
populações. No caso de espécies raras abre-se exceção, podendo ser realizada
individualmente em pelo menos 12 árvores-matrizes, de diferentes populações.
Essa preocupação com a origem das mudas é altamente necessária, já que a
utilização de mudas com baixa variabilidade genética, ou mesmo oriunda de uma
única árvore pode inviabilizar completamente a restauração realizada a curto,
médio ou longo prazo, independente da técnica empregada. Não sabemos se as
mudas resistentes a determinada praga ou doença que possa vir a atacar o
povoamento são as oriundas de árvores com tronco grosso e reto ou aquelas de
troncos finos e tortuosos. Mudas oriunda de uma única árvore, por exemplo,
pode apresentar anomalias advindas do auto cruzamento que pode se expressar
ainda na fase de muda ou em fase adulta. Uma restauração com árvores irmãs
gerará frutos com material genético da mesma família que serão dispersos
naquela área e ao longo do tempo diminuirá cada vez mais a variabilidade
genética podendo aparecer cada vez mais problemas, correndo o risco daquele
povoamento não se auto renovar em longo prazo e a restauração realizada
perecer.
Além disso, é preciso estar atento para as mudanças climáticas que vem
ocorrendo aceleradamente. Se plantarmos mudas advindas de várias matrizes
algumas dessas pode ser resistentes a mudanças bruscas que venha a ocorrer
na temperatura, por exemplo, e repassado essa característica aos seus filhos.
6.8.4. Espaçamentos
O desenvolvimento uniforme de espécies de rápido crescimento durante um
período de 7 - 8 anos possibilita a obtenção da mesma área basal, observada
em florestas naturais tropicais no clímax. Esta elevada produtividade é obtida
basicamente graças à seleção de árvores apropriadas para o reflorestamento,
escolha de um espaçamento adequado para retardar ao máximo a competição
das copas e dos sistemas radiculares e outros tratos culturais.
Deve-se ressaltar, entretanto, que o crescimento acentuado observado nas
florestas plantadas ocorre à custa de uma rápida transferência de nutrientes do
solo para a biomassa arbórea e de uma utilização intensiva da água do solo.
Antes de definir os espaçamentos é preciso definir alguns parâmetros de como
será conduzida a revegetação.
A produção de ilhas de vegetação sugere a formação de pequenos núcleos onde
são colocadas plantas de distintas formas de vida. Esse é o conceito da
nucleação.
Espécies com maturação precoce têm a capacidade de florir e frutificar
rapidamente atraindo predadores, polinizadores, dispersores e decompositores
para os núcleos formados. Isso gera condições de adaptação e reprodução de
outros organismos. Devem-se buscar espécies nativas, principalmente as que
possuem forte interação com a fauna (espécies com frutos e sementes atrativos
à fauna) e com funções nucleadoras. Recomenda-se que também sejam
escolhidas espécies ameaçadas de extinção, de forma a garantir a preservação
da diversidade biológica local. Aconselha-se plantar as mudas em grupos de
cinco, nove ou 13, espaçadas a 0,5 m ou 1 m de distância entre elas. No caso
dessa técnica, as espécies plantadas em grupos tendem a competir entre si por
recursos como água, nutrientes do solo, etc. Desta forma, os melhores indivíduos
(mudas) serão selecionados naturalmente de acordo com as condições
ambientais específicas para cada local.
Tem-se recomendado dispor o grupo com as espécies pioneiras que apresentam
crescimento rápido e espécies não pioneiras com crescimento mais lento (Figura
15).
6.8.5.1. Vantagens
a) otimização do ciclo de renovação de nutrientes no solo;
b) manutenção da biodiversidade;
c) redução da sazonalidade no uso da mão-de-obra e do êxodo rural;
d) aumento da renda líquida familiar;
e) aumento e estabilidade na oferta da produção agropecuária e florestal;
f) redução dos riscos e incertezas em função da diversificação da produção;
g) redução drástica da dependência de insumos e financiamentos externos.
6.8.5.2. Desvantagens
a) complexidade do manejo dos sistemas agroflorestais;
b) elevados custos de implantação;
c) limitações para mecanização dentro dos padrões atuais; e
d) despreparo dos extensionistas e falta de motivação dos agricultores para
a adoção dos SAFs.
6.8.5.3. Desenvolvimento do sistema
Os dados preliminares do Sistema de Produção Agrosilvopastoril no Semiárido
do Ceará indicam de oito a nove hectares, como tamanho da propriedade que
permitiria a obtenção de até dois salários mínimos mensais, como renda bruta.
Os produtos mais importantes do sistema de produção agrossilvipastoril
proposto são: madeira para diversos fins, feno, grãos e produtos de origem
animal (carne, leite, esterco, pele e mel de abelha). Atualmente, visualiza-se a
existência de muitas oportunidades para diversificação da renda do sistema pelo
aproveitamento econômico das frutas nativas e dos animais silvestres e pela
inclusão de novas atividades, como apicultura, criação de galinhas caipiras e
serviços ambientais.
25CALMON, M. et al. Emerging threats and opportunities for large-scale ecological restoration in
the Atlantic Forest of Brazil. Restoration Ecology, v. 19, n. 2, p. 19, p. 154-158, 2011.
demonstram o potencial de a recuperação da vegetação nativa prover benefícios
sociais a comunidades marginalizadas, gerando trabalho e renda complementar
às atividades econômicas já realizadas por esses grupos (Mesquita et al., 2010).
O engajamento das comunidades rurais e tradicionais em iniciativas de
recuperação da vegetação é fruto da identificação dos indivíduos com os projetos
a serem implementados (Ball, Gouzerh e Brancalion, 2014)26. Considerando que
o processo de degradação dos ecossistemas ocorrido nos últimos séculos foi
causado, em grande parte, por atividades antrópicas (Ellis et al., 2010)27, o
envolvimento da sociedade na recuperação dos ecossistemas degradados tem
sido apontado como um aspecto fundamental para o sucesso das iniciativas
(Aronson et al., 2010; Wortley, Hero e Howes, 2013; Muller, 2013) Apud
Scaramuzza et alii, 2014.
Já a recuperação de pastagens, que representa um significativo número de
hectares degradados tem seus custos mostrados no Quadro 4.
Segundo Dias Filho (2017)28 a escolha entre reformar ou recuperar o pasto ainda
levanta muitas dúvidas. Dentre os fatores que devem ser considerados no
processo de tomada de decisão estão o custo de cada uma das alternativas e o
tempo que levará para que o pecuarista volte a ter um pasto produtivo. Esse
Quadro 4 mostra o custo médio da reforma (preparo do solo e plantio do capim)
e da recuperação de pastagens com diferentes níveis de infestação por plantas
invasoras. De acordo com esta estimativa, em situações de elevada infestação
por plantas invasoras, pode ser mais interessante reformar o pasto que tentar
recuperá-lo. Por outro lado, nas áreas com ausência de invasoras ou com nível
médio de infestação a recuperação, quando possível, é mais interessante. É
importante ressaltar, no entanto, que para o cálculo dos custos apresentados no
Quadro 7 foram assumidos valores médios e que estes devem ser adaptados às
condições reais da propriedade.
26 BALL, A.; GOUZERH, A.; BRANCALION, P. H. S. Multi-scalar governance for restoring the
Brazilian Atlantic Forest: a case study on small landholdings in protected areas of sustainable
development. Forests, v. 5, n. 4, p. 599-619, 2014.
27 ELLIS, E. C. et al. Anthropogenic transformation of the biomes, 1700 to 2000. Global Ecology
Fonte: http://www.florestal.gov.br/documentos/informacoes-florestais/premio-sfb/v-premio/monografias-v-premio/profissional-4/3381-025-tmp-monog-1/file
Quadro 10. Comparação de custos de restauração da vegetação nativa nos biomas brasileiros
Fonte: http://www.florestal.gov.br/documentos/informacoes-florestais/premio-sfb/v-premio/monografias-v-premio/profissional-4/3381-025-tmp-monog-1/file
PARTE II - VIVEIRO PARA PRODUÇA O
DE MUDAS PARA PRA TICAS
VEGETATIVAS DE RECUPERAÇA O DE
A REAS DEGRADADAS
8. Revegetação da caatinga espécies
Muitas espécies nativas do semiárido estão ameaçadas de extinção pelo
desmatamento provocado pelo antropismo, e por essa razão ações de
recomposição da vegetação só serão bem sucedidas se engajarem os usuários
dos estabelecimentos rurais que exercem pressões sobre o bioma.
Segundo LEAL et. Al. (2005) A maior dificuldade de estabelecer estratégias de
conservação na caatinga está na deficiência da legislação reguladora, de
políticas públicas de mecanismos legais de incentivos, e de instrumentos
econômicos e oportunidades para conservação da biodiversidade.
Existem vários estudos que indicam espécies que podem ser utilizadas para
recuperação do bioma caatinga. O Anexo 1 deste relaciona as principais
espécies que podem ser utilizadas para recomposição do bioma caatinga.
Na recuperação de áreas degradadas deve ser utilizado um conjunto de mudas
de diferentes espécies com características de crescimento e porte
complementares. Em área a ser recuperada a vegetação deve ser raleada
(rebaixada) para que não ocorra sufocamento das mudas e o solo deve estar
úmido. As mudas devem ser plantadas logo após o início do período chuvoso
que permita o crescimento e estabelecimento do sistema radicular e a
sobrevivência da muda no campo. Normalmente as mudas são classificadas em
dois grupos de acordo com o seu estabelecimento no campo e podem ser dividas
em: Pioneiras: São plantas cuja germinação das sementes e o crescimento das
plantas dá-se em condições de alta luminosidade, geralmente em condição de
sol pleno. Estas espécies são as primeiras a se estabelecer em áreas
perturbadas que se encontram em processo de reabilitação e apresentam
crescimento rápido, porém um tempo de vida mais curto. Geralmente
apresentam grande quantidade de sementes que são dispersas pelo vento
(anemocórica) ou por animais (zoocórica). São exemplos de plantas pioneiras o
tamboril, o mulungu e a jurema branca, importantes espécies que devem constar
na primeira fase de programas de reflorestamento. Não pioneiras: São espécies
que não apresentam desenvolvimento favorável em condição de sol pleno,
necessitando de sombra em pelo menos parte da vida para que ocorra o seu
estabelecimento. Elas aparecem ou devem ser plantadas quando já existe uma
vegetação estabelecida na área, podendo ser utilizadas em programas de
enriquecimento da vegetação. As plantas deste grupo apresentam
desenvolvimento lento e produzem uma quantidade limitada de frutos
geralmente grandes. Dessa forma, a dispersão das sementes ocorre apenas
através dos animais (zoocórica). São exemplos de plantas não pioneiras o
violete, pau branco, ipê roxo, ipê amarelo e copaíba, dentre outras.
As espécies propagadas no viveiro do Insa, em Campina Grande (PB), são
usadas em pesquisas sobre germinação e multiplicação de mudas e distribuídas
para promover o reflorestamento de áreas degradadas.
Na pesquisa foram multiplicadas sementes de dez espécies florestais nativas –
aroeira (Myracrodruon urundeuva), angico (Anadenanthera colubrina),
canafístula (Senna spectabilis) , cumaru (Amburana cearensis) , mulungu
(Erythrina velutina), sabiá (Mimosa caesalpiniifolia), caibeira (Tabebuia aurea) ,
feijão-bravo (Capparis flexuosa) , imburana-de-cambão (Commiphora
leptophloeos) e favela ou orelha-de-onça (Cnidoscolus quercifolius).
A produção incluiu duas espécies florestais exóticas, gliricídia (Gliricidia sepium)
e algaroba (Prosopis juliflora); uma espécie frutífera nativa, umbu (Spondia
tuberosa); e três espécies de frutíferas naturalizadas, pinha (Annona squamosa),
pitanga (Eugenia brasiliensis) e jaca (Artocarpus integrifolia).
Para atender às necessidades de plantas nativas recorre-se aos viveiros que ao
serem instalados devem reproduzir as condições naturais das plantas, o que
envolve diversos fatores. Além das condições originárias da mata nativa, deve-
se atentar para a condição de fragilidade das mudas no início de seu
desenvolvimento, que requerem cuidados especiais.
A semeadura direta deve ser adotada sempre que possível, porque oferece
algumas vantagens: simplifica as operações, evita danos à raiz e traumas na
repicagem, além de apressar o processo de produção de mudas. Sua execução
é mais fácil com sementes de tamanho médio, de fácil manipulação e de
porcentagem de germinação conhecida. Neste caso, o número de sementes
empregado em geral é maior, uma vez que são utilizadas mais de uma semente
por recipiente, de forma a assegurar o aproveitamento de pelo menos uma planta
(as outras são repicadas ou cortadas com tesoura). É comum o uso de 3 a 5
sementes por recipiente.
As sementes devem ser colocadas nos recipientes e cobertas com substrato29
ou material inerte. O canteiro deve ser protegido com sombrite e/ou plástico até
30 dias após a germinação. No caso das pioneiras, não há necessidade de
cobertura com sombrite.
Análises da fertilidade do substrato deverão preceder o plantio. No entanto, na
ausência desta, para cada m3 da mistura recomenda-se a aplicação de 300 g/m3
de rocha fosfatada ou termofosfato, 40 g/m3 de uma fonte de micronutrientes,
normalmente FTE BR 12 ou MIB equivalente, e 300 g/m3 de ureia. A aplicação
de ureia, no entanto, deve ser suprimida no substrato para a produção de mudas
de espécies leguminosas fixadoras de nitrogênio
Para espécies que permaneçam mais tempo no viveiro (não pioneiras nativas)
podem ser utilizados sacos de até 11 x 25cm, com espessura de 0,15mm.
Pesquisas sobre revegetação no semiárido brasileiro apontam benefícios
socioambientais como a mitigação dos rigores das condições climáticas e
econômicas face ao papel que a vegetação exerce sobre o meio ambiente e
pode oferecer ao ser humano. Vários pesquisadores salientam que espécies
nativas impactam positivamente o ambiente posto que a raiz das plantas penetra
no solo, influenciando na redução do impacto das gotas de chuva no solo, causa
principal do processo erosivo e na penetração da água no solo bem como na
reciclagem de nutrientes. Na superfície modifica o ambiente luminoso pelo
sombreamento, influenciando a umidade e a evapotranspiração.
Esses trabalhos de pesquisa têm inclusive levado à elaborar modelos de
sistemas agro-silvo-pastoril, conforme pode ser visto na Figura 24, onde procura-
se conciliar a experiência do agricultor com sua tecnologia e uso dos recursos
naturais, de modo a evitar maiores danos ao bioma, sem que ele perca área
produtiva de seu estabelecimento.
29RESENDE & CHAER, 2010, recomendam para a maioria das espécies testadas a formulação
de substrato de quatro partes de arisco para uma parte de esterco bovino ou composto orgânico.
As proporções recomendadas são com base em volume, e não na massa de cada componente
da mistura.
Fonte: https://www.youtube.com/watch?v=Y4FB5HrrcOc dia de campo, 16/6/2016
9. Viveiro recomendado
Os viveiros florestais são os locais nos quais são produzidas mudas de plantas,
e que reúnem todas as condições necessárias para o desenvolvimento delas. As
plantas que ali estão em fase inicial de desenvolvimento, geralmente são de
espécies nativas da região onde se encontra instalado o viveiro, e o destino
destas plantas em grande parte são para o reflorestamento – para recomposição
da mata ciliar, de áreas degradadas, proteção de mananciais, entre outros.
Ao processo para um competente programa de revitalização de uma caatinga
está sintetizado na Figura 25.
Fonte: Manual Técnico – conhecendo e produzindo sementes e mudas – da caatinga. PEREIRA,
M. de S. Fortaleza – CE. Associação Caatinga. 2011
9.2.1. Cobertura
Quando feita com diversos materiais como palhas, madeiras e materiais
sintéticos. Contudo, a utilização de madeiras e palhas acarreta a
desuniformidade lumínica no interior do viveiro, sendo difícil o controle da
percentagem de entrada de luz, podendo trazer prejuízos para o
desenvolvimento de determinadas espécies. Ao contrário, o sombrite regula a
intensidade de luz homogeneamente através de toda a área do viveiro; seu custo
de instalação pode ser inicialmente um pouco maior, porém compensa por sua
utilização a longo prazo (durabilidade) e pela facilidade de instalação.
9.2.2. Estrutura
Os pilares em madeira-de-Iei, oferecem a sustentação necessária, são de fácil
aquisição nas regiões de caatinga, além de boa durabilidade. A cobertura é
assentada sobre arame liso (galvanizado), só que essa madeira além de ser
irregular, com o tempo empena, apodrece e deforma a cobertura.
9.2.3. Instalação
É mais prática e rápida pois o arame é apenas esticado sobre os pilares, não
sendo necessários maiores conhecimentos.
9.2.4.1. Aramado
A sustentação do sombrite é feita com arame liso galvanizado apoiado sobre os
esteios e tensionados linha a linha até aos esticadores que ficam dispostos em
todas as laterais do viveiro, dispostos a cada 4,00 m. O arame está configurado
de forma longitudinal, perpendicular e transversal (vide planta), oferecendo ótimo
apoio para o sombrite e para o sistema de irrigação.
Esse modo de sustentação oferece, além da durabilidade e praticidade da
instalação, um menor custo em relação à madeira. Se o viveiro fosse atracado
com pernas-mancas de madeira-de-Iei, o custo seria de aproximadamente R$
1.350,00 em material, considerando que levaria no mínimo 7 (sete) dúzias, além
de contar com mão-de-obra especializada (carpinteiro) para a realização dos
serviços. Já com a utilização do arame, esses custos caem bastante, pois um
rolo de 1.000 m (quantidade suficiente para um módulo) é vendido no mercado
dependendo da região local entre R$ 500,00 a mais de R$ 1.000,00 0, com a
vantagem adicional da facilidade de manuseio e não requerer maiores
conhecimentos de carpintaria.
Mororó Bauhinia SP
Referências