Apostila Recup Veg Area Degrada Semiárido

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PROGRAMA PRODUTOR DE ÁGUA

Treinamento em Práticas Conservacionistas na


Revitalização de Bacias Hidrográficas.

BRASILIA-DF • SETE LAGOAS-MG • ARACAJU-SE • HOLAMBRA-SP

RECUPERAÇÃO DE ÁREAS
DEGRADAS NO
SEMIÁRIDO

ABRIL 2019
Este produto foi realizado no âmbito do Projeto de
Cooperação Técnica especificado no item 1, alínea
a, das Declarações, em contrato celebrado entre a
CONTRATADA e o CONTRATANTE.
Autores
Fernando Antonio Rodriguez
Igor Pinheiro
Revisão
Flávio Hermínio de Carvalho
Maria Angélica Valério
Sumário
Introdução ........................................................................................................ 10

2. O semiárido brasileiro .................................................................................. 12

2.1. Atenção especial ................................................................................... 15

2.2. Intervenções nos recursos naturais do semiárido .................................. 16

3. Potencialidade hídrica do semiárido............................................................. 17

4. Solos e água no semiárido ........................................................................... 18

5. Degradação .................................................................................................. 20

5.1. Principais causas da degradação .......................................................... 22

5.1.1. Degradação física: .......................................................................... 23

5.1.2. Degradação química: ...................................................................... 23

5.1.3. Degradação biológica:..................................................................... 24

5.2. Impactos da degradação do solo ........................................................... 24

5.3. Pastagens degradadas .......................................................................... 24

6. Práticas de recuperação de áreas degradadas no balanço água e solo ...... 28

6.1. Adubação verde ..................................................................................... 30

6.2. Reflorestamento .................................................................................... 31

6.3. Plantação em curvas de nível ................................................................ 31

6.4. Rotação de culturas ............................................................................... 31

6.5. Consórcio de culturas ............................................................................ 32

6.6. Recuperação de solos ........................................................................... 32

6.6. Capacidade de suporte ambiental ......................................................... 33

6.7. Visão Multissetorial do Espaço Rural e novos atores estratégicos ........ 33

6.8. Regeneração natural ............................................................................. 34

6.8. Recuperação ......................................................................................... 36

6.8.1. Espécies e exemplo de processo de recuperação de áreas


degradadas ............................................................................................... 40
6.8.2. Mudas e sementes .......................................................................... 46

6.8.3. Técnicas de plantio favoráveis na Caatinga .................................... 47

6.8.4. Espaçamentos ................................................................................ 49

6.8.5. Sistemas Agrossilvopastoris ........................................................... 54

6.8.5.1. Vantagens ................................................................................ 56

6.8.5.2. Desvantagens ........................................................................... 57

6.8.5.3. Desenvolvimento do sistema .................................................... 57

6.8.5.3.1. Área agrícola ...................................................................... 57

6.8.5.3.2. Área pecuária ..................................................................... 59

6.8.5.3.3. Raleamento da caatinga .................................................... 59

6.8.5.3.4. Rebaixamento da caatinga................................................. 60

6.8.5.3.5. Enriquecimento da caatinga ............................................... 61

6.8.5.4. Rentabilidade do sistema agrossilvipastoril .............................. 63

6.8.6. Tratos culturais nas intervenções de recuperação de áreas


degradadas ............................................................................................... 63

7. Custos de recuperação no semiárido ........................................................... 65

8. Revegetação da caatinga espécies.............................................................. 72

9. Viveiro recomendado ................................................................................... 75

9.1. Condições para escolha do local do viveiro ........................................... 76

9.2. Aramado e sombrite............................................................................... 78

9.2.1. Cobertura ........................................................................................ 78

9.2.2. Estrutura.......................................................................................... 79

9.2.3. Instalação ........................................................................................ 79

9.2.4. Construção do viveiro ...................................................................... 79

9.2.4.1. Aramado ................................................................................... 80

9.2.4.2. Projeção lateral ......................................................................... 80

9.2.4.3. Sistema de Irrigação ................................................................. 80


10. Processo de produção de mudas ............................................................... 81

10.1. Qualidade das mudas .......................................................................... 85

11. Custos dos materiais, equipamentos e serviços para implantação de um


viveiro ............................................................................................................... 85

12. Legalização do Viveiro ............................................................................... 87

12.1. Registro de Produtor de mudas ........................................................... 87

ANEXO 1 Lista de sementes e mudas da caatinga.......................................... 89

ANEXO 2 – Quebra de dormência de algumas essências da caatinga ........... 91

Referências ...................................................................................................... 91

Lista de Figuras
Figura 1. Utilização de lenha retirada da mata para produção de carvão e estacas
(cercas) St. Lagoinha, município de Tavares – PB. ......................................... 11
Figura 2. Manuseio comum do lixo em municípios do semiárido ..................... 12
Figura 3. Vegetação típica da caatinga, ainda no final do período chuvoso .... 14
Figura 4. Cena típica do uso da madeira na caatinga ...................................... 15
Figura 5. Caprinos e cerca capaz de impedir sua travessia por eles. .............. 15
Figura 6. Vazões específicas médias das bacias hidrográficas do Nordeste do
Brasil ................................................................................................................ 17
Figura 7. Perfis com as características dos solos de clima desértico e semiárido
......................................................................................................................... 18
Figura 8. Caracterização de níveis de degradação de pastagens.................... 27
Figura 9. Representação simplificada do conceito de pastagem degradada ... 27
Figura 10. Síntese dos números de ativo ambiental, passivo de Reserva Legal e
déficit de APP, por região biogeográfica (Em milhões de hectares)................. 29
Figura 11. Agricultores retirando favelas da sementeira para plantio (A); diferente
em matéria de volume e peso, entre as mudas produzidas nas embalagens
plásticas, cerca de 20 mudas (B); e na sementeira 60 unidades. .................... 38
Figura 12. Cova para plantio da favela após receber água de chuva proveniente
do escoamento superficial (A) e após o plantio da faveleira com a cobertura do
entorno da muda, com pedras coletas no local. ............................................... 44
Figura 13. Detalhe da camada de detritos para captação de água no entorno da
faveleira (A): entremeado pela presença de plantas herbáceas e da jurema preta
(B). ................................................................................................................... 45
Figura 14. Área em processo de recuperação com a faveleira (A); com a
presença de bovinos (B). ................................................................................. 46
Figura 15. Esquema de disposição das mudas pioneiras e não pioneiras para a
nucleação através do plantio de mudas nativas ............................................... 50
Figura 16. Esquema de plantio e espaçamento das mudas no processo de
recuperação ..................................................................................................... 51
Figura 17. Espaçamento de nucleação com cinco plantas .............................. 52
Figura 18. Espaçamentos de nucleação com 9 e 13 plantas ........................... 53
Figura 19. Espaçamentos de grupos de espécie de 2 x 2 m e em quincôncio. 54
Figura 20. Estrutura Sistêmica de modelos de exploração do estabelecimento
rural e suas interseções ................................................................................... 56
Figura 21. Caatinga raleada em Sobral – CE ................................................... 60
Figura 22. Caatinga rebaixada ............................................................................. 61
Figura 23. Caatinga enriquecida ...................................................................... 62
Figura 24. Revegetação de áreas na caatinga com o sistema agrosilvopastoril
......................................................................................................................... 75
Figura 25. Processo de recuperação vegetativa de uma caatinga degradada . 76
Figura 26. Fluxograma das fases de um processamento de mudas para
recuperação da caatinga. ................................................................................. 77
Figura 27. Viveiro aramado e sombrite ............................................................ 78
Figura 28. Um exemplo de juazeiro como planta matriz .................................. 83
Figura 29. Sementes guardadas em refrigerador ............................................. 84
Figura 30. Produção de mudas na caatinga. .................................................... 85

Lista de Quadros
Quadro 1. Evolução da redução da área original para ação antrópica............. 12
Quadro 2. Práticas agrícolas inadequadas (enquanto fatores de desagregação
ambiental) e consequentes e impactos ............................................................ 28
Quadro 3. Regeneração natural: vantagens, desvantagens e recomendações 36
Quadro 4. Tabela a ser preenchida pelo proprietário no monitoramento de áreas
a serem recuperadas no bioma Caatinga ........................................................ 40
Quadro 5. Comparativo entre os resultados obtidos para os modelos tipo
agrossilvipastoril e convencional. ..................................................................... 63
Quadro 6. Estimativas de custos e benefícios dos projetos de recuperação da
vegetação por ecossistema .............................................................................. 65
Quadro 7. Custo de reforma e recuperação de pastagens degradadas. .......... 67
Quadro 8. Estimativas de retorno financeiro (1) para investimentos em diferentes
estratégias de manutenção de pastagens na propriedade rural....................... 67
Quadro 9. Custos estimados para técnicas de restauração no bioma Caatinga
......................................................................................................................... 69
Quadro 10. Comparação de custos de restauração da vegetação nativa nos
biomas brasileiros ............................................................................................ 70
Quadro 11. Atividades e recomendações para revegetação do bioma caatinga
......................................................................................................................... 82
Quadro 12. Custos de materiais, sistema de irrigação, motobomba e mão de obra
para implantação de um viveiro de 576 m2 para produzir 30.000 mudas ......... 86
PARTE I – PRA TICAS VEGETATIVAS
PARA RECUPERAÇA O DE A REA
DEGRADADAS PARA PRODUÇA O DE
A GUA
Introdução
Este trabalho é voltado à recuperação de áreas degradadas e reflorestamento,
ou seja, se restringe a iniciativas vegetativas no semiárido brasileiro onde as
áreas ainda com vegetação nativa, restantes, estão extremamente
fragmentadas. O bioma Caatinga é um dos mais ameaçados, sobretudo devido
ao uso inadequado e insustentável tanto dos recursos naturais quanto do solo,
provocando elevado grau de degradação ambiental que, conjuntamente, com o
ainda deficiente conhecimento acerca de sua biodiversidade, constituem o
grande impasse para a preservação da vegetação natural.
ALCANTARA et al (2013) ressaltam que a degradação ambiental da região está
relacionada com a dependência em relação aos seus recursos naturais,
intensificando o desmatamento, a erosão e a perda de fertilidade dos solos,
assoreamento dos cursos d’água e a desertificação. As vulnerabilidades sociais,
ambientais e econômicas do semiárido são complexas e caracterizadas pela
baixa pluviosidade, evapotranspiração alta, geomorfologia do terreno, entre
outras, com o agravante de deficiência de infraestrutura de convivência com as
secas. Quanto maiores os níveis de degradação, na revegetação, mais esses
fatores inibem ou impedem a sucessão (KAGEYAMA et al. 2008).
Souto et al. (2005) argumentam que a remoção da vegetação da caatinga,
deixando os solos expostos, associada a períodos extensos de seca, `as
elevadas amplitudes térmicas e aos ventos, possibilita uma acentuada
degradação física, química e biológica dos solos. Estes se tornam limitados em
seu potencial produtivo, causando danos, muitas vezes, irreversíveis ao meio.
Historicamente, o semiárido teve a pecuária extensiva como base de atividade
econômica, ligada à agricultura de subsistência.
A falta de um planejamento voltado para uma exploração sustentável é um fator
concorrente para o empobrecimento, não apenas dos recursos naturais, mas
principalmente da população que vive desses recursos, acarretando assim um
estado de degradação avançado, que tem na lenha a fonte de energia, já que
ela é um dos recursos mais usados para obtenção de energia, por ser a fonte
mais barata e a região não dispor de tecnologias adequadas alternativas.
O desmatamento tem sido realizado principalmente para a expansão da
agropecuária, fabricação de carvão, olarias1, panificadoras, comercialização da
lenha, construção de cercas entre outros (Figura 1). Esse modelo extrativista
provoca a aceleração do processo de erosão e infertilidade do solo, além disso,
afeta a qualidade da água diminuindo os cursos de riachos e córregos.

Fonte: Silva, et alii, 2015

Figura 1. Utilização de lenha retirada da mata para produção de carvão e


estacas (cercas) St. Lagoinha, município de Tavares – PB.

Há carência de conhecimentos apropriados para convivência com o clima do


semiárido, bem como para mudar o uso inadequado dos fatores produtivos e
para cobrir o desconhecimento do seu comportamento.
Outra situação de vulnerabilidade está ligada à poluição dos rios, onde lixo e os
esgotos domésticos são fatores formadores do alto índice de vulnerabilidade,
que na maioria dos casos são eliminados a céu aberto. O lixo por sua vez
encontra-se quase que em todos os municípios, o lixão fica a poucos quilômetros
da cidade em terrenos baldios, mas sem nenhum cuidado. A problemática do
lixo no meio urbano abrange alguns aspectos relacionados à sua origem e
produção, comprometendo o meio ambiente, principalmente no que diz respeito
à poluição do solo e dos recursos hídricos (Figura 2).

1No núcleo de desertificação do Seridó o problema do desmatamento é agravado pela presença


de cerca de 70 olarias cujos produtos cerâmicos são de reconhecida qualidade nos grandes
centros urbanos do Nordeste. As indústrias de cerâmica dessa região têm agravado o processo
de desertificação devido a elevada demanda por lenha para geração de energia.
Figura 2. Manuseio comum do lixo em municípios do semiárido
A exploração da Caatinga pela pecuária sem considerar a capacidade de suporte
e recuperação da vegetação, o uso da madeira para produção de carvão e
práticas de desmatamento e queimada pela agricultura migratória estão entre as
maiores causas da redução da vegetação natural para a sua metade. De acordo
com Jacomine (2002) a fragilidade do sistema Caatinga e o uso pouco racional
a que foram submetidos os solos, grandes extensões dessa área encontram-se
severamente degradadas. (Quadro 1)

Quadro 1. Evolução da redução da área original para ação antrópica

2. O semiárido brasileiro
A geografia convencional divide o Nordeste brasileiro em zonas: Litorânea,
Agreste e Sertão, sendo que estas duas últimas formam, essencialmente, a
região semiárida. O bioma Caatinga é considerado um tipo de floresta
sazonalmente seca e possui características florísticas, fisionômicas e ecológicas
próprias, apresentando uma grande diversidade e riqueza de espécies vegetais.
Embora possua características tão marcantes, dentre os biomas brasileiros
ainda é cheio de lacunas sobre o conhecimento de sua botânica e
comportamento hídrico e o que está mais exposto a alterações, por ações
antrópicas.
Caatinga significa “mata-branca” no tupi-guarani, deve-se ao comportamento
caducifólio das espécies vegetais, ou seja, queda das folhas no período de seca
em função das condições climáticas, marcada pela baixa disponibilidade hídrica.
O clima no bioma Caatinga é bastante irregular, apresentando valores extremos,
em nível de Brasil, com forte insolação, altas médias de temperatura, entre 25°
e 30° C, elevadas taxas de evaporação e transpiração com baixos índices
pluviométricos, em torno de 400 a 800 mm anuais, com grande variabilidade
espacial e temporal. Esse bioma abrange todos os estados da região Nordeste
do Brasil, em menor ou maior proporção, e o norte de Minas Gerais, único estado
localizado na região Sudeste.
A Caatinga apresenta uma grande riqueza de ambientes e espécies que não são
encontrados em nenhum outro bioma. Considerado como o único bioma
integralmente brasileiro, sua vegetação apresenta características peculiares,
geralmente relacionadas ao rigor climático observado nessa região do semiárido,
como a presença de muitas espécies com espinhos (Leal et al. 2003)2. Outra
peculiaridade climática desse bioma, que influencia diretamente a vegetação ali
encontrada, está relacionada à dinâmica de chuvas, geralmente dividida em dois
períodos secos anuais: um de longo período de estiagem, seguido de chuvas
intermitentes e um de seca curta seguido de chuvas torrenciais (que podem faltar
durante anos) (IBGE 2012)3. O bioma da Caatinga, e consequentemente a sua
biodiversidade, sustentam diversas atividades socioeconômicas voltadas para
fins agrosilvopastoris e industriais, especialmente nos ramos farmacêutico, de
cosméticos, químico e de alimentos.
É clara a necessidade da ampliação do conhecimento acerca dos seus
comportamentos. Assim, estudos envolvendo processos fisiológicos partindo
desde as sementes são fundamentais para a utilização sustentável de espécies
nativas da Caatinga, sobre as quais o conhecimento a respeito de germinação

2 LEAL, I.R.; TABARELLI, M.; SILVA, J.M.C. Ecologia e conservação da Caatinga. Recife: Ed.
Universitária da UFPE, 822 p. 2003.
3 IBGE. Manual técnico da vegetação brasileira. Rio de Janeiro. 275p. 2012
ainda é escasso (SILVA et al., 2014), tendo em vista a produção de sementes e
mudas a fim de evitar a perda da biodiversidade da Caatinga.
Qualquer ação integrada que vise o aumento da produtividade agrícola deverá
enfrentar o problema do gerenciamento dos recursos hídricos no semiárido que
abrange 70% da área do Nordeste e 63% de sua população.
A região semiárida brasileira é constituída por várias sub-regiões, onde
predominam uma grande diversificação de clima, vegetação, solo, água e de
aspectos socioeconômicos. O bioma caatinga é formado por vegetais com
características próprias para resistência à seca. São mecanismos fisiológicos e
anatômicos utilizados para utilizar e armazenar o máximo de água durante a
estação chuvosa. Predominam árvores de troncos tortuosos, cobertos de cortiça
e espinhos além de raízes que cobrem a superfície do solo. Figura 3.

Foto: BIROLO, Fernanda Muniz Bez

Figura 3. Vegetação típica da caatinga, ainda no final do período chuvoso


Muitas espécies nativas do Semiárido estão ameaçadas de extinção pelo
desmatamento provocado pela procura da lenha (junto com o carvão representa
30 a 50 % da energia primária do Nordeste)4, (Figura 4) e por essa razão ações
de reflorestamento só serão bem sucedidas se engajarem os agricultores,
estima-se que mais de 50% do bioma caatinga já foram explorados pelo homem,
sendo tímidas as práticas de reposição florestal.

4 Ministério do Meio Ambiente, 2008


Fonte: https://www.youtube.com/watch?v=Y4FB5HrrcOc

Figura 4. Cena típica do uso da madeira na caatinga

2.1. Atenção especial


Na caatinga está o maior percentural do rebanho caprino do país5, e como eles
são muito ágeis e audaciosos é preciso ter muito cuidado para que os viveiros
não sejam invadidos por eles, por isso a cerca protegendo o viveiro é
indispensável e com muitos fios de arame como mostrado na Figura 5. Os
caprinos são a base de sustentação econômica da maioria dos pequenos
agricultores da caatinga.

Fonte: https://www.youtube.com/watch?v=Y4FB5HrrcOc

Figura 5. Caprinos e cerca capaz de impedir sua travessia por eles.


Na caatinga existem algumas espécies como jureminha (Desmanthus virgatus,
L. Willd), a faveleira (Parkia platycephala, Benth) o juazeiro (Ziziphus joazeiro,
Mart), o umbuzeiro (Spondias tuberosa, Arruda), o mororó (Bauhinia cheilantha,
Bong. Steud), o feijão bravo (Capparis flexuosa, L.), a maniçoba (Manihot
pseudoglaziovii, Pax & K. Hoffm.), o pau-ferro (Caesalpina ferra, Mart.), a favela
(Cnidoscolus phyllacanthus, Pax & H. Hoffm.), entre outras que são de grande
importância para o pastoreio dos animais, principalmente para os caprinos na
época de estiagem.

5 Em 2010 o rebanho caprino no semiárido estava estimado de 8,3 milhões de cabeças.


2.2. Intervenções nos recursos naturais do semiárido
As formas mais sustentáveis de exploração da natureza sempre estão
relacionadas a especificidades locais e não a fórmulas genéricas que poderiam
ser difundidas em “pacotes tecnológicos” do tipo “Revolução Verde”. Mas a
necessidade de se evitar fórmulas simplificadoras e de buscar soluções
diversificadas não pode levar a uma diluição da principal característica
agroecológica da região nordeste: o fenômeno da “seca”. Afinal, o que mais
distingue o Nordeste dos demais complexos regionais brasileiros é sua
vulnerabilidade climática e pluvial.
No Brasil, o semiárido será a região mais afetada pelas mudanças climáticas. O
aumento da temperatura global previsto para as próximas décadas deverá afetar
a segurança alimentar nas regiões mais pobres e menos capazes de se adaptar
às transformações esperadas.
Reconhecer e valorizar o conhecimento local sobre o uso de espécies nativas
regionais e sistemas produtivos de base agroecológica abre uma porta de
oportunidade para implementar as Contribuições Nacionais Determinadas pelo
Acordo de Paris (NDC na sigla em inglês) e diminuir a vulnerabilidade local,
permitindo a inclusão social.
A inserção de espécies arbóreas nativas regionais em sistemas produtivos de
princípio agroecológico e multifuncional pode se configurar uma estratégia
importante para a recuperação e conservação da Caatinga, uma vez que concilia
a produção sustentável de alimentos com a conservação da vegetação nativa.
Quando se fala em conceitos, como produtor de água, implica em articular a
gestão de recursos hídricos com o ordenamento territorial de modo a promover
ações integradas de conservação de solos e água no âmbito do manejo de
microbacias no meio rural, que é o principal elemento de fazer com que a água
se infiltre no solo para alimentar aquíferos. Mas tem-se que afastar de conceitos
que levam à panaceia, como exemplo plantar árvore é produzir água. Tem-se
que tomar muito cuidado com o que é mito e o que é realidade. Nada mais
perigoso do que a meia verdade.
No conceito de produtor de água é imperativo implementar ações de
conservação para a integridade de ecossistemas nas regiões semiáridas
fazendo o balanço entre as altas taxas de evapotranspiração e a escassez e má
distribuição da precipitação pluviométrica, pois a água que alimenta todo o
sistema hídrico é uma só, a das chuvas, daí demandar implementar ações de
proteção às áreas de recarga de aquíferos, mantendo sua capacidade de suporte
bem como as demandas ambientais e antrópicas, em quantidade e qualidade.
Constitui-se num desafio grande, mas não impossível.

3. Potencialidade hídrica do semiárido


A potencialidade hídrica superficial é apresentada pela vazão média de longo
período em uma seção de rio. Trata-se de um indicador importante, pois
possibilita uma primeira avaliação da carência ou abundância de recursos
hídricos de forma especializada numa dada região.
O processo de degradação dos solos produz a deterioração da cobertura
vegetal, do solo e dos recursos hídricos.
Na Figura 6 estão mostradas as potencialidades hídricas superficiais expressas
por unidade de área. (litros por segundo por quilômetro quadrado) nas diferentes
bacias hidrográficas do Nordeste, como resultado de trabalho apresentado pela
ANA (2005): “Atlas Nordeste: abastecimento urbano de água”.

Fonte: ANA, 2005

Figura 6. Vazões específicas médias das bacias hidrográficas do Nordeste


do Brasil
4. Solos e água no semiárido
O solo é resultado de uma série de fatores importantes que influenciam na sua
formação, tais como: o clima - influencia na desagregação da rocha e formação
do húmus; a geologia - contribui para a textura e composição química que
implica na sua fertilidade; o tempo - fator determinante relacionado às condições
ambientais; e, a vegetação - responsável pela circulação de nutrientes e
proteção dos solos.
O solo é um dos principais reservadores da água de chuva para alimentar os
aquíferos que por sua vez alimentam os mananciais. Só que no semiárido ele
tem uma capacidade muito limitada de exercer esse papel o que requer
tecnologias específicas para essa região. Na Figura 7 estão perfis de solos de
zonas áridas e semiáridas, que são aparentemente mais simples do que os das
demais regiões, mas bem mais difíceis e complexos quanto à necessidade de
manejá-los para otimizar ou aprimorar a capacidade de recarga de aquíferos, ou
pelo menos armazenar água para uso futuro, evitando-se a principal perda que
é por evaporação que inclusive deteriora a qualidade da água superficial pela
salinização.

Figura 7. Perfis com as características dos solos de clima desértico e


semiárido
Os solos das regiões áridas muitas vezes formam uma crosta na superfície que
só pode ser molhada com dificuldade, de forma que a água das raras chuvas
torrenciais penetra escassamente no solo e a maior parte escorre sobre a
superfície em direção às depressões que recebem muita água, a qual penetra
em profundidade. Exemplificando, dados fornecidos por WALTER (1977),
revelam que num deserto perto do Cairo onde chove apenas 25 mm/ano existem
áreas de baixada onde se infiltra a água na proporção de 500 mm/ano,
permitindo o crescimento de uma vegetação normal de zonas de baixo déficit
hídrico.
A quantidade de chuva que precipita é somente de importância indireta para as
regiões áridas e semiáridas. É muito mais importante a quantidade de água que
permanece no solo e se torna disponível para o sistema radicular. Parte da água
que precipita escorre sobre o solo e parte evapora. A proporção em que a água
permanece no solo e sua disponibilidade para as plantas é determinada pela
textura do solo. Nas regiões de precipitação elevada, os solos arenosos são mais
secos porque têm menor capacidade de retenção de água em relação aos solos
mais argilosos. O contrário acontece nas regiões, áridas. Nos seus solos a água
não percola a grandes profundidades. Somente à parte mais ou menos
superficial do solo permanece úmida em função da capacidade de retenção.
Admitindo, por exemplo, que numa área semiárida penetram no solo 50 mm de
chuva, se o solo for arenoso, os primeiros 50 cm serão molhados até atingir a
capacidade de campo. Todavia, se o solo for argiloso com uma capacidade de
campo 5 vezes superior a água será retida nos dez primeiros centímetros de
profundidade. Em solos pedregosos com pequenas frestas, a água pode
penetrar mais profundamente ainda.
Com o processo evaporativo os primeiros 5 cm do solo argiloso secam, então
50% da água que penetrou no solo se perde. O solo arenoso não seca tanto, e
mesmo que os primeiros 5 cm percam completamente a água, isto representa
apenas 10% da água armazenada. No solo mais pedregoso a evaporação é,
muito reduzida e pouca água seria perdida. Estas considerações, de autoria de
WALTER (1977), têm sido confirmadas por observações experimentais
realizadas no deserto de Negev por HILLEL & TADMOR (1962). Estes autores
verificaram que determinados tipos de vegetação, que em solos arenosos de
zonas semiáridas ocorrem em locais de baixa pluviosidade, necessitam de uma
pluviosidade bem mais elevada para ocorrer em solos argilosos. Por exemplo:
Acácia tortilis encontrada no Sudão sobre solos arenosos em uma zona que tem
uma precipitação de 50 a 250 mm/ano; em solos argilosos só ocorre em zonas
com pluviosidade superior a 400 mm/ano
A cobertura florestal associada com um preparo de solo adequado poderá
beneficiar grandemente as características físico-químicas de todo o perfil e
principalmente da superfície. Com a constituição de uma cobertura florestal
arbórea teríamos os seguintes reflexos: a) Conservação dos efeitos benéficos
do preparo do solo pela proteção exercida pela serapilheira que se acumula na
superfície; b) Aumento da infiltração de água no solo; c) Maior armazenamento
de água no solo; d) Diminuição do escorrimento superficial; e) Grande redução
na erosão do solo; e f) Minimização do processo de assoreamento dos rios e
preservação das áreas de captação das bacias hidrográficas.
O solo mal cuidado e utilizado inadequadamente perde sua função de
sustentação da vegetação, inclusive produção de alimentos, fibras e energéticos,
chegando a não alimentar os aquíferos e a contaminar cursos de água e o lençol
freático.

5. Degradação
A degradação do solo é processo natural e importante para sua formação,
inclusive de relevos, quando é resultado de ações naturais como as causadas
pela água ou vento. Constitui problema quando há intervenção humana com
destruição da vegetação, o uso de químicos sem controle, uso agropecuário
intensivo sem observar a sua capacidade suporte e devido, também a expansão
desordenada das cidades ou as poluições devido a intervenções antrópicas,
inclusive às industriais.
Ao se falar em degradação tem-se que estar atento na região semiárida sobre
os riscos de desertificação.
As áreas onde o problema da desertificação6 é mais acentuado são conhecidas
por núcleos de desertificação. São os seguintes no Nordeste: 1) Núcleo do
Seridó, localizado na região centro-sul do Rio Grande do Norte e centro-norte da

6Perto de 15% da superfície terrestre está sob risco de desertificação em algum grau. As áreas
mais afetadas são o oeste da América do Sul, o nordeste do Brasil, o norte e o sul da África, o
Oriente Médio, a Ásia Central, o noroeste da China, a Austrália e o sudoeste dos Estados Unidos.
Paraíba, abrangendo área de aproximadamente 2.341 km2, envolvendo vários
municípios em torno de Parelhas; 2) Núcleo de Irauçuba, no noroeste do estado
do Ceará abrangendo uma área de 4.000 Km2 incluindo os municípios de
Irauçuba, Forquilha e Sobral; 3) Núcleo de Gilbués no Piauí, com uma área
aproximada de 6.131 Km2 envolvendo os municípios de Gilbués e Monte Alegre
e 4) Núcleo de Cabrobó em Pernambuco que totaliza uma área de 5.960 Km2
abrangendo os municípios de Cabrobó, Belém de São Francisco e Floresta.
Os solos das classes Luvissolos, Neossolos e Planossolos com cobertura
vegetal de caatinga hiper-xerófila dominam os núcleos de desertificação de
Irauçuba, Cabrobó e Seridó enquanto que no núcleo de Gilbués dominam os
solos das classes Latossolos, Neossolos Quartzênicos e Argissolos sob
vegetação do tipo campo-cerrado. A erosão hídrica responde pelas perdas de
solo nos núcleos de desertificação de Irauçuba, Cabrobó e Seridó enquanto que
no núcleo de Gilbués, além dessa, a erosão eólica tem relevância nos meses de
agosto a novembro.
A degradação e os riscos da desertificação precisam estar bem clara na mente
dos profissionais para que orientem os tomadores de decisões quando se quer
perseguir a sustentabilidade que se apoia em cinco pilares: social, econômico,
ambiental, tecnológico e político.
Segundo a FAO (Organização das Nações Unidas para Alimentação e
Agricultura) a degradação do solo é definida como uma mudança na saúde da
terra, com a diminuição da capacidade dos ecossistemas que se desenvolvem
sobre este solo, de fornecerem bens e serviços. Esta mudança não se limita à
disponibilidade de água; inclui presença ou não de microrganismos endógenos,
composição balanceada de minerais e de matéria orgânica, acidez e aeração
correta, entre outros fatores.
De acordo com a Política Nacional do Meio Ambiente (Lei Federal n° 6.938/81),
degradação ambiental é qualquer “alteração adversa das características do meio
ambiente” (art.3º, inciso II), neste sentido observa-se que trata de um “conceito
amplo que abrange vários casos como prejuízo à saúde, ao bem-estar das
pessoas, às atividades sociais e econômicas, à biosfera, etc.”.
Segundo NBR 10703 da ABNT (1989), a degradação do solo é apontada como
sendo a alteração adversa das características do solo em relação aos seus
diversos usos possíveis, tanto os estabelecidos em planejamento, como os
potenciais. Já o Manual de Recuperação de Áreas Degradadas pela Mineração
do IBAMA (IBAMA, 1990), define que “a degradação de uma área ocorre quando
a vegetação nativa e a fauna forem destruídas, removidas ou expulsas; a
camada fértil do solo for perdida, removida ou enterrada; e a qualidade e o
regime de vazão do sistema hídrico forem alterados. A degradação ambiental
ocorre quando há perda de adaptação às características físicas, químicas e
biológicas e é inviabilizado o desenvolvimento socioeconômico.”
A degradação ambiental ocorre principalmente pela ação antrópica que esgota
os recursos naturais. Dessa forma, a prática da agricultura atualmente é uma
das principais causas de degradação do solo na região Nordeste. Sobre isso,
Silva e Corrêa (2007, p. 172) apud Silva et ali (2017) afirmam que:
No Semiárido nordestino, a sucessão temporal de modos de produção incompatíveis com a
sustentabilidade dos sistemas físicos de superfície terrestre resulta em uma série de
problemas ambientais que são visualizados e sentidos contemporaneamente, e que
representam a totalidade da degradação ambiental, advinda de usos pretéritos e atuais.

Na região Nordeste a degradação é mais intensa devido às atividades agrícolas


utilizadas na agricultura, nessas áreas a grande maioria dos agricultores não
pratica o pousio para que os solos recuperem naturalmente seus nutrientes.
Em 2015 a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura
(FAO) lançou o “Status of the World’s Soil Resources”, este relatório mostra que
33% dos solos do mundo estão degradados. Na América Latina cerca de 50%
dos solos sofrem algum tipo de degradação e segundo e Empresa Brasileira de
Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA) aproximadamente 30% dos solos das áreas
cultivadas (90 milhões de ha) no Brasil, estão com algum grau de degradação.
O solo é um dos elementos naturais essenciais uma vez que todos os seres vivos
dependem dele, pois se apoiam sobre ele, inclusive os aquáticos. Basicamente
todo sustento humano é retirado desse recurso. Ao degradar-se, o solo perde
sua capacidade de produção e de assegurar o equilíbrio do ciclo hidrológico.

5.1. Principais causas da degradação


Diversos são os fatores causadores da degradação do solo atuando de forma
direta ou indireta e os processos de degradação podem ser físicos, químicos ou
biológicos.
5.1.1. Degradação física:
Compactação – ocorre o aumento da densidade do solo e é causada pela
eliminação da porosidade estrutural. Compactação – ocorre o aumento da
densidade do solo e é causada pela eliminação da porosidade estrutural.
Erosão – é o arraste de partículas do solo pelo vento (erosão eólica) ou pela
água (erosão hídrica), pode ter causa natural ou pela atividade humana. É o mais
conhecido tipo de degradação de solo no Brasil, sendo a erosão hídrica a mais
comum e com maior distribuição espacial. Alteram a forma do relevo, podendo
ocupar grandes áreas e diminuem a fertilidade do solo pelo esgotamento de
nutrientes. O crescente aumento das erosões é resultado da forma equivocada
de plantio desenvolvida por muitos agricultores ao longo do território brasileiro,
isso tem transformado grandes áreas produtivas em solos inférteis.
Queimadas - é uma técnica agrícola muito antiga e muito usada para preparar
o solo para agricultura. Normalmente é eficiente, rápida e de baixo custo, quando
comparada a outras técnicas agrícolas. No entanto, as queimadas geram
também muitos prejuízos e riscos. As queimadas intencionais para fins agrícolas
e as queimadas acidentais causadas por negligência são muito prejudiciais ao
ambiente. As queimadas têm consequências também para o próprio solo, uma
vez que eliminam bactérias e outros microrganismos que compõem a microfauna
do solo.
Laterização – ocorre o acúmulo de óxidos de ferro e alumínio modificando a
composição do solo, as causas podem estar associadas a processos naturais
(solos desgastados pelo tempo) ou antrópicos destacando as queimadas e o
desmatamento, removendo a proteção da superfície e não fornecendo materiais
orgânicos ao solo.
Redução da infiltração – Esta ocorrência sempre pode estar acompanhada de
outras, mas merece destaque por ser a que mais interessa na produção de água,
para se ter o solo como um reservatório e condutor de água para o aquífero. O
mal manejo reduz sua capacidade de infiltração.

5.1.2. Degradação química:


Salinização – é o aumento de sais minerais e está relacionada ao manejo
inadequado da irrigação que contém sais dissolvidos e com a evaporação da
água estes se acumulam no solo. O lençol freático raso também pode ser fonte
de sais.
Lixiviação – processo que causa perda de cátions, eutrofização de nutrientes
como o fósforo, diminuição da fertilidade do solo pela perda de nutrientes.
Acidificação – processo químico caracterizado pela redução do pH do solo,
aumento do alumínio tóxico e diminuição da saturação por bases.

5.1.3. Degradação biológica:


Diminuição da matéria orgânica do solo – processo que favorece a emissão
de gases de efeito estufa pela redução do estoque de carbono do solo.
Redução da fauna e dos microrganismos do solo – a fauna do solo exerce
papel fundamental na fragmentação dos resíduos vegetais e na regulação
indireta de processos biológicos do solo, estabelecendo interações com os
microrganismos e os microrganismos são os principais agentes da atividade
bioquímica do solo, estando envolvidos em todos os processos biológicos e
influenciando processos físicos e químicos.

5.2. Impactos da degradação do solo


O solo degradado contribui para a degradação ambiental e está relacionada a
práticas inadequadas de manejo do solo e da água, implicando em:
• Aumento da perda de solo;
• Perda da fertilidade natural pela redução de nutrientes;
• Em função da acidez impossibilidade de produzir a maioria das culturas
e também diminuição dos microrganismos, que são responsáveis pela
decomposição da matéria orgânica;
• Diminuição da capacidade de retenção e infiltração de água pelo
aumento da densidade global do solo;
• Assoreamento e contaminação de corpos hídricos;
• Destruição da fauna e da flora.

5.3. Pastagens degradadas


No Brasil existe uma extensão significativa de pastagens degradadas.
Segundo Dias Filho (2017)7 a degradação de pastagens ocorre em todas as
regiões do Brasil, contribuindo para que uma proporção considerável das áreas
de pastagens no País esteja sendo usada muito abaixo do seu real potencial.

7Dias Filho, M. B. Degradação de pastagens – o que é e como evitar. Embrapa – Brasília – DF.
2017
Uma causa importante dessa condição é a tradição de desleixo no uso de
insumos e de tecnologia que ainda persiste no manejo de muitas áreas de
pastagens no Brasil. Essas situações de descaso com o manejo da pastagem
geralmente ocorrem onde a pecuária não é conduzida profissionalmente, como
uma atividade econômica de caráter empresarial, isto é, onde a atividade,
independentemente da grandeza do empreendimento pecuário, não é
administrada de forma eficiente, responsável e racional.
A forma mais prática de avaliar se a pastagem está degradando é acompanhar
a sua “capacidade de suporte” no decorrer do tempo. A capacidade de suporte
é o número de animais que é possível manter, em uma determinada área de
pasto, sem ocasionar prejuízo (perda de peso ou produção de leite) para o
desempenho dos animais e para o desenvolvimento da pastagem (pasto
“rapado” ou pasto “passado”). Assim, se ano a ano o número de animais possível
de ser mantido em uma determinada pastagem estiver diminuindo, muito
provavelmente essa pastagem está degradando. Outros indícios da degradação
da pastagem são o aumento no percentual de plantas daninhas e de áreas do
solo descoberto (sem vegetação) e a consequente diminuição no percentual de
capim (ou de leguminosas forrageiras) na área da pastagem. Normalmente,
quanto mais avançado estiver o nível de degradação da pastagem, mais difícil,
cara e demorada será a sua recuperação.
De modo geral, existem dois tipos extremos e principais de degradação da
pastagem: a “degradação agrícola” e a “degradação biológica”. Na degradação
agrícola, ocorre um aumento excessivo do percentual de plantas daninhas na
pastagem. Nesse tipo de degradação, a capacidade produtiva do pasto fica
temporariamente diminuída ou inviabilizada, por causa da competição pelas
plantas daninhas no capim e nas leguminosas forrageiras. Essa competição
reduz sucessivamente a produção de forragem e a eficiência de uso da
pastagem pelo gado. Ou seja, o gado tem dificuldade em selecionar e consumir
a forragem, por causa da presença excessiva das plantas daninhas. Na
degradação biológica, a queda de produtividade da pastagem está
principalmente associada à deterioração do solo. Nesse caso, há um aumento
na proporção de solo descoberto (sem vegetação) na área da pastagem,
facilitando a erosão, a perda de matéria orgânica e de nutrientes do solo. A
degradação biológica é uma condição mais drástica de degradação da
pastagem, pois também indica a degradação do solo.
A Figura 8 mostra os níveis de evolução da degradação de pastagens, enquanto
que a Figura 9 mostra o processo de degradação agrícola e biológica onde se
observa como a degradação biológica é a que leva à situação de catástrofes.
O manejo preventivo é a forma mais eficaz para evitar a degradação da
pastagem. Assim, quando o manejo da pastagem é feito profissionalmente,
desde a sua formação, isto é, quando o produtor faz o controle rotineiro da taxa
de lotação (número de animais por área de pasto), analisa anualmente o solo,
faz a manutenção periódica da sua fertilidade e controla as plantas daninhas e
insetos-praga, pastagem produtiva passa a ser o cenário dominante na
propriedade rural. Sob essa estratégia profissional e preventiva de manejo, a
necessidade de recuperações ou reformas recorrentes da pastagem é
praticamente eliminada. Nessa situação, o produtor estaria adotando a chamada
“pastagem empresarial” (pastagem sob manejo intensivo). Assim, ao manejar
corretamente a pastagem, desde a sua formação, o produtor estará prevenindo
a degradação. Ao adotar esse manejo preventivo para impedir a queda de
produtividade da pastagem, o produtor estaria também evitando os ônus
econômico, ambiental e social, típicos da existência de uma área de pastagem
degradada na propriedade rural e da consequente necessidade de recuperar
essa pastagem.
Fonte: Dias Filho, 2017.

Figura 8. Caracterização de níveis de degradação de pastagens

Fonte: Dias Filho, 2017

Figura 9. Representação simplificada do conceito de pastagem degradada


No semiárido nordestino as práticas agrícolas intensificam a degradação
ambiental, principalmente dos solos, conforme mostrado no Quadro 2. Dessa
forma, a degradação tem crescido, fator que provoca a desertificação que é um
processo ocasionado pela ação antrópica ou por fatores naturais.

Quadro 2. Práticas agrícolas inadequadas (enquanto fatores de


desagregação ambiental) e consequentes e impactos

(2) Desmatamento realizado com o objetivo de limpar o terreno em áreas que foram
desmatadas
Fonte: Silva, et alii. 2015
Essa prática provoca também danos negativos à fauna. Este fato é preocupante,
visto que as práticas agrícolas inadequadas fazem parte da cultura agrícola
regional. No entanto, o desmatamento sem controle e predatório provoca
impactos ambientais que causam desequilíbrio à biodiversidade local. O
desmatamento tem sido comum, sendo realizado na maioria das áreas dos
municípios pela maioria dos agricultores.

6. Práticas de recuperação de áreas degradadas no balanço


água e solo
A identificação da melhor técnica de recuperação da área, bem como, o
estabelecimento de todas as atividades necessárias para recuperação, inclusive
a mensuração dos insumos necessários, é feita após um diagnóstico estruturado
da área, que é composto por uma completa descrição e análise dos recursos
ambientais e suas interações, caracterizando a situação ambiental da área e
considerando o meio físico, biológico e os ecossistemas naturais, e o meio
socioeconômico. As principais atividades do diagnóstico incluem a avaliação de
aspectos como: estado de conservação do solo, presença de vegetação arbórea
nativa remanescente na área ou nas proximidades, topografia, regime hídrico,
proximidade de curso d’água e histórico de uso da área. A partir do diagnóstico
da área devem-se hierarquizar as atividades a serem executadas, bem como,
mensurado os insumos necessários para a realização das mesmas.
Além da necessidade de recuperação da vegetação, é preciso evitar a conversão
e a degradação de áreas de ativo ambiental, ou seja, áreas de vegetação nativa
que podem se transformar em futura conversão legal para áreas agrícolas. Isso
é particularmente importante para as regiões biogeográficas do Cerrado e da
Caatinga, que possuem a maior parte dos 99±6 milhões de hectares de ativo
ambiental do país, 40±2 milhões de hectares no Cerrado e 26±1,5 milhões de
hectares na Caatinga (Brasil, 2013)8. Figura 10.

Figura 10. Síntese dos números de ativo ambiental, passivo de Reserva


Legal e déficit de APP, por região biogeográfica (Em milhões de hectares)
A cadeia produtiva da recuperação da vegetação nativa, que inclui a coleta de
sementes, a produção de mudas, o plantio, a manutenção e o monitoramento
dos projetos, representa um elemento diferencial na geração de empregos, no
aumento da renda e na melhoria da qualidade de vida das pessoas (Mesquita et
al., 2010)9.
Para solução sustentável de problemas é preciso sempre atacar as causas e não
os efeitos, por isso deve-se buscar as técnicas de conservação de água e solo,
procurando assegurar todas suas condições que dê equilíbrio em todos os

8 Scaramuzza, C. A. de M. et alii. Elaboração da Proposta do Plano Nacional de recuperação da


vegetação Nativa. Mudanças no Código Florestal Brasileiro: desafios para implementação da
nova lei. Disponível em: <http://www:mma.gov/biodiversidade/proposta-para-recuperacao-da-
vegetacao-em-larga-escala>
9 MESQUITA, C. A. B. et al. Cooplantar: a Brazilian initiative to integrate forest restoration with

job and income generation in rural areas. Ecological Restoration, v. 28, p. 199-207, 2010.
componentes capazes de contribuir para a alimentação da reserva de água do
solo no semiárido no trinômio água-solo-planta, o que implica no conhecimento
dos processos físicos, químicos e biológicos que ocorrem naturalmente nesse
ambiente.
Os aspectos ecológicos ligados às regiões de clima seco e posteriormente à
implantação de florestas na região semiárida do Nordeste brasileiro precisam ser
bem conhecidos
Está amplamente comprovado que as florestas, tanto naturais como plantadas,
são ecossistemas que consomem mais água do que outros tipos de cobertura
vegetal. Este aspecto levanta algumas interrogações quanto ã vantagem de se
realizar o florestamento na região do nordeste semiárido.
Quanto à precipitação, em certos anos ela pode até atingir 800 mm. Contudo a
irregularidade da distribuição e a grande evapotranspiração se processa nesta
região durante o ano inteiro inviabilizam o crescimento natural de extensas áreas
florestais. Está comprovado também que as florestas não atraem as chuvas,
como se pensava erroneamente há alguns anos. Ao contrário, o clima com
precipitação mais abundante que propicia o desenvolvimento das florestas.
O florestamento bem executado poderá modificar bastante as características das
bacias hidrográficas, principalmente dos rios temporários do semiárido.
Para tal foi feito um levantamento10 dessas práticas com base em sustentação
científica que as recomendem para sua aplicação com segurança e confiança.
Para tratar as causas da degradação do solo são necessárias aplicar algumas
técnicas de preservação do solo que visam melhorar suas condições químicas,
biológicas e físicas principalmente no que concerne à interação com a água,
através do conhecimento dos processos físicos, químicos e biológicos que
ocorrem naturalmente nos solos.

6.1. Adubação verde


Adubação verde significa cultivar algumas plantas que depois serão
incorporadas ao solo, através da decomposição. Isso enriquece os solos com os

10 http://www.cnpgc.embrapa.br/publicacoes/cot/COT62.html
www.epamig.br
www.portaldoagronegocio.com.br
http://hotsites.sct.embrapa.br/
www.iapar.br
minerais que as plantas cultivadas necessitam para seu bom desenvolvimento.
A adubação verde evita ainda o desenvolvimento de ervas daninhas. As plantas
cultivadas para adubação verde são geralmente as leguminosas e outras plantas
associadas às bactérias fixadoras de nitrogênio. As plantas utilizadas na
adubação verde evitam que as gotas de chuva caiam diretamente sobre o solo.
Com isso evitam a erosão e o lixiviamento. Portanto, o solo tratado com
adubação verde fica mais rico em nutrientes, especialmente em nitrogênio,
menos suscetível à erosão, ao lixiviamento e às pragas.

6.2. Reflorestamento
O reflorestamento consiste na plantação de árvores em regiões que sofreram
desmatamento e que correm risco de erosão. O reflorestamento traz vários
benefícios, tais como: filtrar os sedimentos; proteger as beiras de rio; aumentar
a porosidade do solo devido à presença de raízes profundas e volumosas;
diminuir o escoamento superficial da água pelo solo; permitir a criação de
refúgios para a fauna; poder gerar fonte de energia, através da lenha produzida.
O reflorestamento pode ser feito em faixas, intercalando-se com culturas anuais.
Essa prática favorece a fertilidade natural do solo, que fica rico em nutrientes, e
também o protege de ação prejudicial de agentes físicos, especialmente a água.

6.3. Plantação em curvas de nível


Curva de nível é uma linha imaginária que une os pontos de mesma altitude de
uma região. O plantio em níveis cria obstáculos à descida das águas de
enxurradas, o que diminui a velocidade de arraste das partículas do solo e
aumenta a infiltração da água no terreno.

6.4. Rotação de culturas


A rotação de culturas é um planejamento de plantações diversas. A distribuição
no terreno ocorre em certa ordem e por determinado tempo. É uma prática
alternativa à monocultura (em que é plantado apenas um tipo de vegetal) e ao
sistema contínuo de sucessão (em que se alternam apenas dois tipos de
vegetais). As práticas de monocultura e de sistema contínuo de sucessão são
situações mais favoráveis para o desenvolvimento de doenças, pragas e ervas
daninhas. O sistema de rotação de culturas consiste em alterar anualmente as
espécies vegetais plantadas em uma mesma área agrícola. O planejamento
deve observar os propósitos comerciais e a recuperação do solo. A seleção das
espécies cultivadas deve se basear na diversidade botânica. Devem ser
escolhidas plantas com raízes e exigências nutricionais diferentes. São muitas
as vantagens da rotação de culturas: proporciona a produção diversificada de
alimentos; melhora as características físicas, químicas e biológicas do solo;
auxilia no controle de ervas daninhas, doenças e pragas; repõe a matéria
orgânica do solo; protege o solo da ação de agentes físicos de intemperismo.

6.5. Consórcio de culturas


Consórcio de cultura é o plantio de diversas espécies vegetais ao mesmo tempo
em um terreno. A diversidade diminui o risco de pragas ou doenças e mantém o
ambiente em maior equilíbrio, com características mais próximas ao original. O
consórcio inclui leguminosas e outras plantas que servem como adubo verde,
fertilizando o solo. Outros fatores como Integração da produção animal e
agrofloresta contribuem para uma melhor conservação dos solos.

6.6. Recuperação de solos


O manejo sustentável de recursos naturais envolve o conceito de “usar, melhorar
e restaurar” a capacidade produtiva e os processos de suporte da vida do solo,
o mais básico de todos os recursos naturais. O objetivo não é só minimizar a
degradação do solo, mas reverter às tendências através de medidas de
recuperação do solo e manejo de culturas. A qualidade do solo e a sua
capacidade produtiva devem ser incrementados além da preservação através de
medidas de reconstrução do solo, por exemplo, prevenindo a erosão do solo e
melhorando a profundidade de enraizamento do solo, “reabastecendo” o solo
com nutrientes extraídos durante as colheitas de culturas ou produção animal,
através do uso correto de adubos minerais e orgânicos e práticas efetivas de
ciclagem de nutrientes, incrementando a atividade biológica da fauna do solo, e
melhorando o conteúdo de matéria orgânica do solo. O uso da terra e o sistema
de manejo adotado devem ser “restaurador ou recuperador do solo” ao invés de
“esgotador do solo”, “esgotador de fertilidade” e “degradador do solo”. Além disto,
o solo não deve ser utilizado como uma área para depósito de lixo tóxico. Apesar
de o solo apresentar uma resiliência intrínseca, existe um limite de abuso que o
solo pode suportar.
6.6. Capacidade de suporte ambiental
O uso e a ocupação do espaço são condicionados pelas características
intrínsecas de cada bacia hidrográfica. Esta determina as potencialidades e
limitações para as diversas modalidades de uso/ocupação e a visualização de
possíveis conflitos de interesses, daí ser essencial identificar o espaço
geográfico e os recursos naturais da bacia, tendo como base a integração dos
componentes biofísicos, bioquímicos e minerais dos ecossistemas e suas
respectivas potencialidades e limitações, determinando-se sua capacidade de
suporte.
Envolve:
• Identificação dos ecossistemas, evidenciando suas potencialidades e
limitações para as atividades econômicas, tais como: agropecuária,
turismo e mineração.
• Identificação de mananciais para abastecimento de água para fins
múltiplos.
• Identificação de áreas para recuperação ambiental.
• Fundamentos para a elaboração do plano de uso do espaço rural.
Para garantir a conservação do solo e da água, cada gleba de terra da
propriedade ou da sub-bacia hidrográfica deve ser explorada de acordo com sua
capacidade de uso: mata, pastagens e lavouras, cada uma no seu devido lugar.

6.7. Visão Multissetorial do Espaço Rural e novos atores estratégicos


No novo milênio, o espaço rural, que era dominado pela produção agrícola, vê
sua dimensão ampliada, o que interfere diretamente nos seus modos de uso. O
espaço rural agora é visto como um conjunto variado de bens públicos aos quais
estão ligados valores que vão muito além da simples produção de alimentos,
fibras e energia. O meio rural deve ser encarado não como uma simples
sustentação geográfica de um setor (a agricultura), mas como a base de um
conjunto diversificado de atividades e de atores (Abramovay, 2003)11.
Depositórios principais da biodiversidade, de um rico patrimônio paisagístico e
de formas de vidas crescentemente valorizadas nos dias de hoje, os espaços
rurais ganham dimensões promissoras para o processo de desenvolvimento.

11 ABRAMOVAY, R. O futuro das regiões rurais. Porto Alegre, Editora da UFRGS,2003


Deve ser encarado como o espaço de atividades variadas, reunindo uma
multiplicidade de atores sociais e não apenas como o terreno de onde vão sair
produtos agropecuários. Vão surgindo novas formas de relação entre o homem
e o território, em que as necessidades da produção agrícola são apenas um
componente - e cada vez menos importante- na utilização do espaço.
Dentro dessa ótica, o desenvolvimento rural dentro de uma bacia hidrográfica
deve ser um conceito espacial e multissetorial e a agricultura, como parte dele.
A unidade de análise não são os sistemas agrários nem os sistemas alimentares,
mas economias regionais (Santana, 2003)12.
É imperativo intensificar e dinamizar a pesquisa, ensino e assistência técnica
integral que os agricultores familiares do sertão nordestino necessitam para
vencer os obstáculos impostos por um meio natural tão hostil não pode resultar
apenas das atividades dos profissionais que atuam nas 14 unidades nordestinas
dos Sistema EMBRAPA, nas instituições de ensino e pesquisa e nos órgãos de
assistência técnica e pesquisa dos Estados. Tem-se que envolver e
comprometer outros atores estratégicos.

6.8. Regeneração natural


O conhecimento da regeneração de áreas que foram antropizadas em ambientes
secos ainda é restrito. Possivelmente as florestas secas se recuperam mais
rapidamente, e têm uma maior capacidade de resiliência que as florestas
úmidas, pois sua composição florística é mais simples, apresentando menos
estágios serais, menor porte e muitas espécies com alta capacidade de rebrota.
É fundamental durante o processo de regeneração natural, conhecer as
características ecológicas das espécies, principalmente quanto à dispersão das
sementes e o estágio dentro da sucessão ecológica, definindo com isto o
sucesso ou insucesso de um programa de recuperação de áreas degradadas.
Nos ecossistemas florestais, os propágulos que alcançam o solo são produzidos
predominantemente por indivíduos encontrados no local, pela liberação de
sementes e frutos, e por outras fontes de áreas vizinhas ou distantes, de acordo
com a eficiência dos mecanismos de dispersão, a combinação destas fontes de
propágulos e fatores determina a estrutura da comunidade florestal (ALVES et

12SANTANA, D.P. Santana, D. P. Manejo Integrado de bacias hidrográficas. Embrapa – CNMS,


Sete Lagoas, 2003
al., 2010)13. A regeneração natural em área controlada com baixo grau de
perturbação, mantém a maioria das características bióticas e abióticas das
formações florestais típicas da área a ser preservada. No estudo realizado por
Lopes et al. (2011)14 após 16 anos de regeneração de uma área na caatinga,
recuperou a metade das espécies lenhosas e 65% da riqueza de espécies
existentes na mata preservada, tal resultado se deve à curta distância entre
fragmentos (2,5 m) e à ausência de novas perturbações antrópicas. Neste
sentido, entende-se que o uso atual do solo é um fator essencial na eficácia da
regeneração natural. A continuidade da perturbação no sítio em recuperação
prejudicará a sucessão ecológica. A retirada de madeira, mesmo que
seletivamente, afetará a riqueza e a diversidade das espécies, e a atividade de
pastagem, compromete a regeneração dessas espécies. Por isso, é fundamental
que a área em regeneração natural seja privada de qualquer atividade, para que
o processo de recuperação ambiental ocorra de forma eficaz.
A garantia da permanência de uma determinada espécie em uma floresta é
função direta do número de indivíduos e de sua distribuição nas classes de
diâmetro. Dessa forma, uma densidade populacional baixa significa que existe
uma possibilidade maior dessa espécie ser substituída por outra no
desenvolvimento da floresta, por razões naturais ou em razão das perturbações
ocorridas na área (ALVES et al., 2010). O conhecimento do processo
regenerativo, principalmente, o tipo de propágulo predominante no ambiente, é
importante para o estudo da eficácia deste processo na recuperação do
ecossistema. No entanto, o que se verifica em trabalhos realizados sobre
regeneração na caatinga, é a carência de informações relativas às formas de
propágulos predominantes neste bioma. A regeneração natural tem suas
vantagens e desvantagens dentro de um processo de recuperação ambiental,
sendo a principal vantagem financeira, pois não há necessidade de gastos com
produção de mudas e com a mão de obra para o plantio e manutenção, e a

13ALVES, L.S., et al. Regeneração natural em uma área de caatinga situada no município de
Pombal-PB - Brasil. Revista Verde de Agroecologia e Desenvolvimento Sustentável Grupo Verde
de Agricultura Alternativa (GVAA), Mossoró, RN, v.5, n.2, p. 152-168, abril/junho de 2010.
14 LOPES, C.G.R., et al. Regeneração natural de uma área de agricultura abandonada em uma

floresta tropical seca e a influência da precipitação e do tempo de abandono. In: LOPES, C.G.R.
Regeneração natural em uma área de campo de agricultura abandonada em ambiente semiárido.
2011. 141 f. Tese (Doutorado em Botânica) - Universidade Federal Rural de Pernambuco, Recife,
PE, 2011. Cap. 1, p. 44-73.
desvantagem estaria em um período maior necessário para que uma área em
regeneração natural chegue a ter um grau de recuperação. Quadro 3.
Apesar da importância de restabelecer as áreas degradadas no Bioma Caatinga,
pouca atenção tem sido dada a avaliação e monitoramentos dessas áreas
durante seu processo de recuperação. Acredita-se que isto se deve ao fato da
carência de informações técnicas relacionadas à recuperação da área
degradada na Caatinga.

Quadro 3. Regeneração natural: vantagens, desvantagens e


recomendações

6.8. Recuperação
Segundo Martins (2009) apud Tatsch ((2011)15 o termo recuperação tem sido
mais associado com áreas degradadas, referindo-se à aplicação de técnicas
silviculturais, agronômicas e de engenharia, visando à recomposição topográfica
e à revegetação de áreas em que o relevo foi descaracterizado pela mineração,
pela abertura de estradas, etc. A Lei 9.985 de 18/07/2000, Art 2º (BRASIL, 2000)
diz que: XIII – Recuperação: restituição de um ecossistema ou de uma população
silvestre degradada a uma condição não degradada, que pode ser diferente de
sua condição original. A legislação brasileira menciona através do Decreto
Federal 97.632/89 (BRASIL, 1989) que o objetivo da recuperação é o “retorno
do sítio degradado a uma forma de utilização, de acordo com um plano pré-
estabelecido para o uso do solo, visando à obtenção de uma estabilidade do

Tatsch, G. L. RECUPERAÇÃO DE UMA ÁREA DEGRADADA ATRAVÉS DO MÉTODO DE


15

NUCLEAÇÃO – SANTA MARGARIDA DO SUL, RS, UNIPAMPA, São Gabriel. RS, 2011
meio ambiente”. O mesmo afirma IBAMA (1990) quando diz que na recuperação,
um sítio degradado será retornado a uma forma de utilização, de acordo com o
plano preestabelecido para uso do solo. Uma condição estável será obtida em
conformidade com os valores ambientais, estáticos e sociais do entorno.
A Lei 9.985 de 18/07/2000, Art. 2º (BRASIL, 2000) diz que para os fins previstos
nesta Lei, entende-se por restauração a “restituição de um ecossistema ou de
uma população silvestre degradada o mais próximo possível da sua condição
original”.
No domínio do semiárido uma numerosa população luta para conviver com as
dificuldades naturais, adaptando seus modos de vida às imposições de um meio
ambiente extremamente hostil. Ela cria estratégias de sobrevivência apoiadas
em conhecimento empírico acumulado ao longo de muitas gerações e coloca a
seca no centro de sua estratégia econômica e de vida, para minimizar o risco de
perdas e de fracasso na produção dos meios de subsistência.
Até hoje, decorrido quase as duas primeiras décadas deste século, as iniciativas
para enfrentar a problemática dos recursos hídricos têm se baseado
essencialmente na construção de grandes reservatórios de água, muitas vezes
sem considerar as condições de aproveitamento dos próprios usuários. Essas
soluções implicam na centralização das ofertas, em geral alocadas não próximas
dos pequenos estabelecimentos rurais tornando-se necessários custosos
sistemas de distribuição. Muitas vezes a própria localização dos açudes resultou
de decisões políticas orientadas por motivações que contrariavam os mais
rudimentares critérios agroecológicos.
No semiárido é diferente. É a região mais pobre e de menor disponibilidade
hídrica no país. Além disso, carece de investimentos em tecnologia da
restauração. Por isso, muitas vezes os produtores rurais sentem-se
desestimulados a colocar sua força de trabalho em atividades de restauração,
uma vez que não estão diretamente ligadas ao seu ganha-pão e apresentam
grandes chances de fracasso. Para superar essa grande barreira, é imperativo
que os projetos de restauração estejam mais intimamente conectados com a
produção agrícola. Se o produtor rural souber que determinadas espécies
nativas melhoram a produtividade da sua roça, certamente ele vai querer plantá-
las e conservá-las.
Os agricultores do semiárido têm preocupação com o manuseio de mudas, pois
pelas dificuldades de transporte tem resistência ao uso de mudas de semeio em
embalagens plásticas, pois elas chegam a pesar em torno de 950 g enquanto
que as mudas plantadas em sementeiras pesam cerca de 120 g. (Figura 11).

Figura 11. Agricultores retirando favelas da sementeira para plantio (A);


diferente em matéria de volume e peso, entre as mudas produzidas nas
embalagens plásticas, cerca de 20 mudas (B); e na sementeira 60 unidades.
Fonte: MEDEIROS, & ALOUFA, 2016,
Quando a área está muito distante de fragmentos de vegetação conservados, o
ideal é que seja inserido o maior número de espécies de diferentes grupos
ecológicos para que a floresta a ser recriada consiga apenas com a nossa ação
se recuperar o máximo possível. A entrada de espécies vegetais pela fauna
nessas condições estará sendo dificultada pelo isolamento da área de outros
fragmentos nativos. A escolha das espécies esta relacionada às condições do
solo e claro a ocorrência natural na área.
Caso a área esteja muito degradada com solo exposto, a restauração pode ser
dividida em duas etapas:
A primeira etapa com o plantio do máximo de espécies leguminosas
nodulíferas e com espécies que propiciem rapidamente a cobertura do
solo tanto em termos de sombra quanto em serapilheira para proteger o
solo do impacto das chuvas e diminuir a perda de solo por erosões. Essas
espécies devem ser compostas por pioneiras rústicas, capaz de
sobreviver em condições muito adversas. Exemplo de espécies: sabiá,
tamboril, mutamba, coronha (Acacia farnesiana), juremas (Mimosa
artemisiana, Mimosa tenuiflora) e mufumbo (Combretum Leprosum).
Cactos poderiam também compor essa primeira etapa já que esses
sobrevivem em condições extremas, aumentando assim a diversidade de
espécies nessa fase.
A segunda etapa é implantada após o estabelecimento das espécies da
primeira etapa, já criado um ambiente mais favorável. Nessa etapa seria
indicado o uso de espécies pioneiras mais sensíveis, espécies em
extinção e principalmente as não pioneiras, pois entrariam na área no
intuito de enriquecer a mesma com uma maior diversidade. Exemplos:
aroeira, angico (Anadenanthera colubrina), catingueira (Caelsapinia
pyramidalis), ipê-roxo (Tabebuia impetiginosa), ipê-amarelo (Tabebuia
serratifolia), jatobá (Hymenea courbaril), freijó (Cordia trichotoma) e pajeú
(Triplaris gardneriana) etc.
Já em áreas com ausência de fragmentos próximos, porém apenas perturbada
(não degradada), todas as espécies citadas nos exemplos acima poderiam ser
introduzidas em plantio em uma única etapa.
O Plano Nacional de Recuperação da vegetação nativa (2017) estabelece
modelo de como o ocupante do estabelecimento rural tem que preencher para
acompanhamento das intervenções que serão feitas nesse estabelecimento. É
uma boa base para se planejar as intervenções de recuperação. Quadro 4.
Quadro 4. Tabela a ser preenchida pelo proprietário no monitoramento de
áreas a serem recuperadas no bioma Caatinga

6.8.1. Espécies e exemplo de processo de recuperação de áreas


degradadas
Áreas antropizadas estão mais sujeitas às intempéries e às oscilações
climáticas, dificultando o estabelecimento natural de cobertura vegetal e,
consequentemente, afetando a recuperação ambiental do local.
A escolha das espécies para recuperação e proteção ambiental dessas áreas é
afetada por fatores edáficos, climáticos e ambientais. De acordo com o autor, o
fator edáfico corresponde a aclimatação das espécies às condições do solo da
região, como o pH, a fertilidade natural, a salinidade, a toxidez, a textura, a
drenagem e a matéria orgânica. O fator climático é considerado o mais
importante, pois não pode ser reproduzido artificialmente; assim deve-se atentar
para a tolerância a secas, geadas, déficits hídricos da região, precipitação,
temperatura e umidade. Já o fator ambiental está relacionado com o objetivo da
recuperação ambiental e engloba uma série de aspectos importantes como:
longevidade, produção de biomassa, crescimento e efeitos paisagísticos, fixação
de nitrogênio, palatabilidade da fauna, dormência das sementes e
biodiversidade. A seleção correta de plantas para uso em áreas degradadas
permite estabilização e recomposição vegetativa da área, efetivamente. Isso é
alcançado porque as plantas aumentam a resistência do solo através de suas
raízes, reduzindo o transporte de sedimentos; reduzem o run-off, aumentando a
taxa e o tempo de infiltração da água no solo; reduzem a erosão interceptando
a água da chuva que não atinge diretamente o solo (PEREIRA, 2008)16.
Quando houver vegetação em bom estado de conservação pode ser usado um
menor número de espécies, porém devem ser priorizadas as espécies que
produzem frutos atrativos para as aves, morcegos e outros animais. Com a
circulação desses animais a procura de alimento e abrigo, mais sementes são
trazidas das áreas vizinhas pelas fezes ou mesmo no bico/boca, potencializando
dessa forma a restauração da área.
Uma árvore típica da Caatinga conhecida por quixabeira (Sideroxylon
obtusifolium) tem uma copa bem desenvolvida, com muita folhagem, ela gera
boa sombra, diminuindo a temperatura do solo. Quando suas folhas caem, elas
levam matéria orgânica para a terra. Isso faz com que o solo perto da quixabeira
seja mais fértil e propício para a produção agrícola.
Outra espécie identificada como importante tanto para a produção quanto para
a restauração é a palma (Opuntia ficus-indica). A palma é uma espécie exótica,
mas muito bem adaptada ao clima do semiárido. Uma prática dos agricultores
locais é cortar a palma e distribuir no solo para reter água, aumentando a
fertilidade e umidade do solo. Assim, ela cria condições para a regeneração e
desenvolvimento de outras espécies nativas. “Ao compreender a sabedoria do
sertanejo sobre as espécies arbóreas nativas e o papel que elas desempenham
nos ecossistemas naturais e produtivos, novas tecnologias podem ser
desenvolvidas, tornando os sistemas produtivos mais sustentáveis e eficazes.
Isso inverte a lógica da desertificação, pois o plantio ou regeneração de espécies

16PEREIRA, A. R. Como selecionar plantas para áreas degradadas e controle de erosão. 2. ed.
Belo Horizonte: FAPI, 2008. 239 p
nativas adaptadas à condição local passam a ser desejadas pelo produtor rural”,
diz Padovezi17.
Em experimentos realizados na região de Quixeramobim, Sertão Central do
Ceará, onde foi avaliada a utilização de leguminosas arbóreas, concluiu-se que
todas as espécies estudadas podem ser utilizadas em programas de
recuperação florestal de áreas degradadas, destacando-se as espécies:
Parkinsonia aculeata, a Gliricidia sepium, a Mimosa hostilis e a Leucaena
leucocephal. O uso de leguminosas durante o processo de recuperação é uma
técnica de baixo custo e viável para recuperação de solos degradados, pois,
promove a sua melhoria, através do aporte de matéria orgânica e pela adição e
reciclagem de nutrientes (ARAÚJO FILHO et al., 200718).
Segundo Figueiredo (2010), o restabelecimento de essências arbóreas é
fundamental para recuperação de áreas na caatinga, o que pode ser acelerado
pelo plantio de Caesalpinia pyramidalis, Mimosa tenuiflora e Cnidoscolus
phyllacanthus, espécies pioneiras de sítios antropizados da Caatinga. Estas
árvores produzem lenha e/ou forragem, protegem o solo e propiciam condições
para o desenvolvimento do estrato herbáceo. Um dos fatores fundamentais a ser
considerado no processo de recuperação de áreas degradadas é o respeito aos
princípios da sucessão ecológica de cada bioma. Estudos apontam que as
essências arbóreas Tibouchina mutabilis (Vell.) Cogn., Croton vulnerarius Baill.
e Piptadenia adiantoides (Spreng.) Macbr, nativas da Mata Atlântica, Lithraea
molleoides, Peschiera fuchsiaefolia e Solanum inaequale Vell., comuns no
Cerrado, e Caesalpinia pyramidalis Tul., diversas Mimosa e Croton, de ampla
dispersão no bioma Caatinga, são espécies pioneiras e colonizadoras de sítios
antropizados. São estas, ao contrário de espécies secundárias e clímax, as
recomendadas para a revegetação de áreas degradadas nos seus respectivos
biomas (FIGUEIREDO, 2010)19. A recuperação de áreas degradadas da
caatinga depende da escolha de espécies vegetais rústicas, tolerantes aos

17 Aurelio Padovezi, gerente de projetos de restauração do WRI Brasil


18 ARAÚJO FILHO, J.A., et al. Avaliação de leguminosas arbóreas, para recuperação de solos e
repovoamento em áreas degradadas, Quixeramobim-CE - Guarapari, ES. In: V CONGRESSO
BRASILEIRO DE AGROECOLOGIA, v.2, n. 2, 2007, Guarapari. Resumo do V CBA – Outras
Temáticas. Porto Alegre: ABA Agroecologia, 2007.
19 FIGUEIREDO, J.M. Revegetação de áreas antropizadas da Caatinga com espécies nativas.

2010. 60 f. Dissertação (Mestrado em Ciências Florestais) - Universidade Federal de Campina


Grande, Patos, PB, 2010.
períodos secos e à baixa fertilidade do solo, sendo produtoras de grande
quantidade de matéria orgânica e sementes viáveis (PEREIRA, 2011)20.
Ressalta-se que durante todo o processo evolutivo das espécies vegetais da
caatinga, permitiu que neste ecossistema apresentasse espécies pioneiras
adaptadas às condições adversas de extrema seca e altas temperaturas, que
devem ser utilizadas nos estádios iniciais de regeneração de áreas degradadas.
Os fragmentos florestais localizados próximos à área em regeneração atuam
como um banco de germoplasma que pode disponibilizar sementes no processo
inicial da regeneração. Quanto mais próximo uma área abandonada estiver de
uma área florestada, mais chances de receber sementes e consequentemente
mais rápido será sua regeneração (LOPES, 2011)21. Um dos principais
mecanismos de regeneração da vegetação, nessas situações, é a chuva de
sementes, podendo ser comprometida pela distância entre os fragmentos
degradados que ainda resistem à paisagem da área que pretende restaurar,
havendo uma relação negativa entre chuva de sementes/regeneração e
distância da fonte de propágulo (MARTINS, 2012)22.
Algumas das espécies da Caatinga que possuem atratividades a fauna são:
amburana-de-espinho (Commiphora leptophloeos), ingá (Ingá edulis, Ingá
laurina), oiticica (Licania rigida), cajá (Spondia mombin), carnaúba (Copernicia
prunifera), jucá (Caesalpinia ferrea var. ferrea), mandacaru (Cereus jamacaru)
mutamba (Guazuma umifolia) e trapiá (Crateuva tapia). Além das espécies
atrativas a fauna deve ser usada outras espécies que possuam funções de
recuperação da área, como as leguminosas nodulíferas, e espécies raras e
ameaçadas de extinção, só que em menor quantidade. Exemplos: tamboril
(Enterolobium contorsiliquum), aroeira (Myracrodruon urundeuva) e mororó
(Bauhinia forficata). É importante saber que antes de indicar uma espécie
frutífera para plantio é necessário verificar no diagnóstico ambiental quais
espécies ocorriam anteriormente na área, já que a ação pretendida é a

20 PEREIRA, O.N. Reintrodução de espécies nativas em área degradada de caatinga e sua


relação com os atributos do solo. 2011. 83 f. Dissertação (Mestrado em Ciências Florestais) -
Universidade Federal de Campina Grande, Patos, PB, 2011.
21 LOPES, C.G.R. Regeneração natural em uma área de campo de agricultura abandonada em

ambiente semiárido. 2011. 141 f. Tese (Doutorado em Botânica) - Universidade Federal Rural de
Pernambuco, Recife, PE, 2011.
22 MARTINS, S.V. Regeneração Ecológica de ecossistemas degradados. Viçosa, UFV, 2012. p.

293.
restauração, não devemos inserir espécies novas, mesmo que seja da Caatinga,
que não ocorram anteriormente no local. As condições da área em termos de
drenagem do solo também devem ser verificadas, já que algumas espécies não
se adaptam a condições de encharcamento, mesmo que temporário, fato comum
observado em áreas onde ocorre a Carnaúba (margens de rios, baixios, etc.).
Outro trabalho que serve como um bom referencial está no reflorestamento com
faveleira, (C. quercifolius), no Município de São José do Seridó – RN, onde foram
utilizados dois tipos de produção mudas: a) o semeio em embalagens plásticas
de polietileno, de 22 x 12 cm, em substrato de argila, esterco bovino e areia (1/3
de cada); e b) diretamente no solo, com uso do mesmo material na forma de
sementeira. O transplantio foi feito quando as mudas já estavam com 120 dias
de idade, com uma altura média de 35 cm. As covas tinham 50 cm de abertura
por 25 cm de profundidade, permitindo acumulo de água de chuva conforme
mostrado na Figura 12.
A faveleira, foi escolhida como planta que permitirá a coleta de sementes para
alimentação humana, em caráter de subsistência, hábito secular nas áreas com
a presença desse vegetal.

Figura 12. Cova para plantio da favela após receber água de chuva
proveniente do escoamento superficial (A) e após o plantio da faveleira
com a cobertura do entorno da muda, com pedras coletas no local.
Fonte: MEDEIROS & ALOUFA, 2017
Um ano depois, essas mudas tinham 41 cm em ambos os tipos de mudas.
Quanto a incipiência no crescimento das plantas no todo, explica-se pelas
limitações nas condições de solo, além do ano de 2015 o volume de chuvas ser
muito reduzido. Com relação a influência da semiaridez no crescimento do
vegetal, Pinheiro et al. (2009) apud MEDEIROS & ALOUFA (2017), concluiu que
no semiárido nordestino, os solos sem a presença de cobertura, expostos ao
pisoteio do gado, ficam impermeabilizados comprometendo a capacidade
hídrica. Quanto ao fator solo, as considerações de Duque (1980) propõe que,
assentada sobre rochas, a faveleira apresenta porte arbustivo. Registrou-se, no
microssítio do entorno de 88 faveleiras, cerca de 73%, incluídas aquelas não
encontradas vivas, a jurema preta, uma pioneira bem distribuída pela
comunidade vegetal do entorno, totalizando entre uma e 16 plantas por cova,
com altura total de até 3 cm, o que presume-se que o recrutamento tenha
ocorrido, na estação chuvosa de 2016. É importante ressaltar que no microssítio
de todas as plantas, a presença de herbáceas típicas da estação úmida,
verificadas no entorno do sítio degradado em recuperação, totalizando 14
espécies diferentes, o que confirma a conclusão de RICKLEFS (2013) ao
ressaltar que, a criação de qualquer novo habitat, atrais um conjunto de espécies
particularmente adaptadas, como bons pioneiros (Figura 13).

Figura 13. Detalhe da camada de detritos para captação de água no entorno


da faveleira (A): entremeado pela presença de plantas herbáceas e da
jurema preta (B).
Fonte: MEDEIROS & ALOUFA, 2017
A área trabalhada por MEDEIROS & ALOUFA (2017), não foi cercada e conviveu
harmoniosamente com o gado como pode ser visto na Figura 14.
Figura 14. Área em processo de recuperação com a faveleira (A); com a
presença de bovinos (B).
Fonte: MEDEIROS & ALOUFA, 2017
O trabalho manual dos agricultores é o suficiente para reflorestar as áreas
abertas e clareiras das áreas de pastoreio, sobretudo aproveitando-se o período
após a ocorrência de enxurradas, quando o solo se encontra úmido.

6.8.2. Mudas e sementes


A plântula é a fase mais crítica no ciclo de vida das plantas em regeneração, pois
a sobrevivência está diretamente ligada à capacidade de germinar e aprofundar
rapidamente as raízes no solo durante a estação chuvosa. No caso da caatinga,
por causa dos seus períodos de seca, o estabelecimento das plântulas fica
comprometido.
A densidade de sementes está relacionada a intensidade e duração do período
chuvoso, e a sazonalidade climática que exerce influência sobre o número de
sementes no solo da caatinga, sendo mais significativo na camada de 0-5 cm.
No bioma Caatinga, em virtude da sazonalidade do regime pluviométrico o banco
de semente predomina no período seco, e o banco de plântulas no período das
chuvas. Segundo Costa e Araújo (2002)23, em ambientes desertos e
semidesertos, os bancos de sementes no solo são considerados principais
estratégias de sobrevivência em longo prazo das comunidades vegetais, em
virtude da sazonalidade e irregularidade do regime pluviométrico. Entretanto,
pouco se sabe sobre o papel do banco de sementes como estratégia de
sobrevivência das espécies da caatinga. Tais estratégias têm relação com os

23COSTA, R.C. e ARAÚJO, F.S. Densidade, germinação e flora do banco de sementes no solo,
no final da estação seca, em uma área de Caatinga, Quixadá, CE. Acta Botanica Brasilica,
[online]. 2003, v.17, n.2, p. 259-264.
diferentes tipos de dormência, as árvores e ervas daninhas na região árida e
semiárida, a quebra de dormência no período seco é comum.
As mudas nativas a serem plantadas na área e modelo de plantio selecionado
devem ser compostas por material genético com o máximo de variabilidade
genética possível, já que a finalidade do plantio é recuperação. Sendo assim é
necessário que haja esse controle ainda no momento da coleta de sementes. As
coletas de sementes devem ser realizadas por amostragem (sem selecionar
nenhuma característica nas matrizes) e entre 12 a 30 árvores sadias por
população, distanciadas entre 100 e 200 m entre si, dentro de três a cinco
populações. No caso de espécies raras abre-se exceção, podendo ser realizada
individualmente em pelo menos 12 árvores-matrizes, de diferentes populações.
Essa preocupação com a origem das mudas é altamente necessária, já que a
utilização de mudas com baixa variabilidade genética, ou mesmo oriunda de uma
única árvore pode inviabilizar completamente a restauração realizada a curto,
médio ou longo prazo, independente da técnica empregada. Não sabemos se as
mudas resistentes a determinada praga ou doença que possa vir a atacar o
povoamento são as oriundas de árvores com tronco grosso e reto ou aquelas de
troncos finos e tortuosos. Mudas oriunda de uma única árvore, por exemplo,
pode apresentar anomalias advindas do auto cruzamento que pode se expressar
ainda na fase de muda ou em fase adulta. Uma restauração com árvores irmãs
gerará frutos com material genético da mesma família que serão dispersos
naquela área e ao longo do tempo diminuirá cada vez mais a variabilidade
genética podendo aparecer cada vez mais problemas, correndo o risco daquele
povoamento não se auto renovar em longo prazo e a restauração realizada
perecer.
Além disso, é preciso estar atento para as mudanças climáticas que vem
ocorrendo aceleradamente. Se plantarmos mudas advindas de várias matrizes
algumas dessas pode ser resistentes a mudanças bruscas que venha a ocorrer
na temperatura, por exemplo, e repassado essa característica aos seus filhos.

6.8.3. Técnicas de plantio favoráveis na Caatinga


As mudas devem ser plantadas logo após o início do período chuvoso. As covas
que receberão as mudas devem ser amplas (de 30 a 40 cm de profundidade e
largura) para favorecer o sistema radicular no início do seu desenvolvimento,
que é a fase decisiva no estabelecimento do povoamento. Em solos pobres e/ou
mal estruturados (compactados, por exemplo), recomenda-se pelo menos 1 litro
de esterco bovino curtido dentro de cada cova, facilitando o desenvolvimento e
estabelecimento das raízes e maior chance de sobrevivência da muda no campo.
No caso do solo ser fértil, se estiver bastante compactado, ao invés de esterco,
é recomendável que seja usada entorno de 1 litro de bagana de carnaúba,
preferencialmente em estado mais avançado de decomposição (envelhecida),
caso se disponha desse material.
Ao redor de cada cova deve ser feito o coroamento das mudas com um raio de
aproximadamente meio metro e com uma leve inclinação em direção ao centro
da cova de forma que facilite o acúmulo de água na planta, complementando
com o amontoamento de folhagem em cima da cova.
O hidrogel, também conhecido como condicionador de solo, é um produto
importante nos plantios de mudas nativas na Caatinga. Ele tem a função de
garantir um suprimento de água extra por mais algumas semanas, mesmo após
o encerramento das chuvas, o que irá facilitar o pegamento das mudas e a maior
resistência ao primeiro período de estiagem.
Experimentos com plantio de mudas desenvolvidas em sacos plásticos e em
sementeiras mostram que muito embora, o plantio das mudas em sacos
tivessem um rendimento superior na avaliação após primeiro ano, com taxa de
sobrevivência de 93% enquanto que as das mudas provenientes de sementeria
foi de 77%.
Esses resultados foram superiores aos obtidos por outros trabalhos, também
com o plantio de mudas. Aragão (2009), na restauração de mata ciliar, no Baixo
São Francisco (Nordeste do Brasil) apresentou taxa de sobrevivência de 62%,
após 60 meses, enquanto Barbosa (2008), com emprego da espécie E.
pubescens, no recobrimento de áreas degradas, por mineração, no Cerrado,
com taxa de 76%. O caráter endêmico do vegetal, aliado aos mecanismos de
sobrevivência em condições extremas, outras variáveis muito corroboraram para
esses resultados. O primeiro, digno de menção, se refere ao transplante com
mínimo de 120 dias de idade, desde a semeadura, com as plantas apresentando
robustez física suficiente para enfrentar condições ambientais extremas.
Merece menção, na taxa de sobrevivência alcançada, o sistema de captação e
armazenamento de água in situ, com cobertura de pedras, implantado no
microespaço de plantio das mudas, na já mencionada Figura 9, por neutralizar
os empecilhos à infiltração de água, criado pela camada impermeável, típico do
solo do local reflorestado, promovendo a contenção de água e de outros
materiais transportados, incluindo folhas e sementes, melhorando o solo.
A diferença de rendimento entre mudas plantadas em sacos e a diretamente em
sementeiras é compensado pela redução da ordem de 80%, do tempo gasto no
preparo das mudas diretamente no solo, através de sementeira. O transporte
das mudas, até o local de plantio, em função da diminuição no volume
transportável, o tempo dispendido teve a redução estimada em 70%. Isto porque
as mudas da sementeira, foram transportadas para o local, a 3 Km, em uma
caixa plástica, por um agricultor, de uma só vez, enquanto a mesma quantidade
de mudas, nas embalagens plásticas, foram necessários três deslocamentos

6.8.4. Espaçamentos
O desenvolvimento uniforme de espécies de rápido crescimento durante um
período de 7 - 8 anos possibilita a obtenção da mesma área basal, observada
em florestas naturais tropicais no clímax. Esta elevada produtividade é obtida
basicamente graças à seleção de árvores apropriadas para o reflorestamento,
escolha de um espaçamento adequado para retardar ao máximo a competição
das copas e dos sistemas radiculares e outros tratos culturais.
Deve-se ressaltar, entretanto, que o crescimento acentuado observado nas
florestas plantadas ocorre à custa de uma rápida transferência de nutrientes do
solo para a biomassa arbórea e de uma utilização intensiva da água do solo.
Antes de definir os espaçamentos é preciso definir alguns parâmetros de como
será conduzida a revegetação.
A produção de ilhas de vegetação sugere a formação de pequenos núcleos onde
são colocadas plantas de distintas formas de vida. Esse é o conceito da
nucleação.
Espécies com maturação precoce têm a capacidade de florir e frutificar
rapidamente atraindo predadores, polinizadores, dispersores e decompositores
para os núcleos formados. Isso gera condições de adaptação e reprodução de
outros organismos. Devem-se buscar espécies nativas, principalmente as que
possuem forte interação com a fauna (espécies com frutos e sementes atrativos
à fauna) e com funções nucleadoras. Recomenda-se que também sejam
escolhidas espécies ameaçadas de extinção, de forma a garantir a preservação
da diversidade biológica local. Aconselha-se plantar as mudas em grupos de
cinco, nove ou 13, espaçadas a 0,5 m ou 1 m de distância entre elas. No caso
dessa técnica, as espécies plantadas em grupos tendem a competir entre si por
recursos como água, nutrientes do solo, etc. Desta forma, os melhores indivíduos
(mudas) serão selecionados naturalmente de acordo com as condições
ambientais específicas para cada local.
Tem-se recomendado dispor o grupo com as espécies pioneiras que apresentam
crescimento rápido e espécies não pioneiras com crescimento mais lento (Figura
15).

Fonte: Secretaria do Meio Ambiente, São Paulo (2011)

Figura 15. Esquema de disposição das mudas pioneiras e não pioneiras


para a nucleação através do plantio de mudas nativas
Na Figura 13, os círculos com coloração verde representam as espécies
pioneiras e os com cores azuis, as espécies secundárias. O plantio irá ser
realizado dessa forma, pois as pioneiras apresentam crescimento mais rápido e
irão proteger as espécies não pioneiras, que apresentam um crescimento mais
lento. Das mudas necessárias um total de espécies nativas (deve estimar mais
10% para replantio), sendo que 70% serão mudas de espécies pioneiras e 30%
de mudas de espécies secundárias.
Fonte: Adapta de Secretaria do Meio Ambiente, São Paulo, 2011

Figura 16. Esquema de plantio e espaçamento das mudas no processo de


recuperação

Para áreas próximas onde existem fragmentos de vegetação nativa utiliza-se os


espaçamentos no formato mostrados nas Figuras 17 e 18 as mudas além de se
protegerem mais da perda de água por evaporação, é possível um favorecimento
maior das espécies mais sensíveis ao desenvolvimento a pleno sol. As mudas
das espécies pioneiras rapidamente se desenvolveram e forneceram sombra
para o melhor desenvolvimento inicial das não pioneiras. Os núcleos serão os
potencializadores da colonização arbórea da área. Os espaços entre os núcleos
criam condições para que espécies de outros grupos ecológicos como as
herbáceas e cipós nativos também tenham seu lugar no início da colonização da
área, sendo o fechamento da área pelas arbustivo-arbóreas um processo
gradativo e mais próximo ao natural.
Já na Figura 19 se observa ouros espaçamentos adotados.
Fonte: http://www.terrabrasilis.org.br/ecotecadigital/pdf/restauracao-florestal-
da-caatinga.pdf

Figura 17. Espaçamento de nucleação com cinco plantas


Fonte: http://www.terrabrasilis.org.br/ecotecadigital/pdf/restauracao-florestal-da-
caatinga.pdf

Figura 18. Espaçamentos de nucleação com 9 e 13 plantas


Fonte: http://www.terrabrasilis.org.br/ecotecadigital/pdf/restauracao-florestal-da-
caatinga.pdf

Figura 19. Espaçamentos de grupos de espécie de 2 x 2 m e em quincôncio.


Os espaçamentos a serem adotados na situação de área longe de fragmentos
nativos conservados e com pouca ou nenhuma capacidade de se recuperar
sozinha são os que priorizam a cobertura mais uniforme da área, portanto nessas
situações os espaçamentos regulares em quincôncio, 2 x 2 m, 4 x 1 m etc., são
vantajosos. O espaçamento em quincôncio é ainda mais favorável em ambientes
declivosos, devido a sua disposição de plantas dificultarem alguns tipos de
erosão.

6.8.5. Sistemas Agrossilvopastoris


Sistemas agrossilvopastoris ou agroflorestais (SAFs) são formas de uso e
manejo dos recursos naturais, nos quais as espécies lenhosas (árvores,
arbustos e palmeiras) são utilizadas em associação com cultivos agrícolas ou
com animais, no mesmo terreno, de maneira simultânea ou em uma sequência
temporal.
O diferencial inovador desse sistema é a inserção da exploração extrativa
vegetal e silvícola no conjunto de produtos do estabelecimento. Lenha, carvão,
estacas, mel de abelha e outros produtos, proporcionados pela diversidade da
caatinga, passam a ser tão importantes quanto a produção agrícola e pecuária.
A melhoria do padrão ecológico da microbacia hidrográfica e, em consequência,
do estabelecimento agrícola, decorrente da valorização de pastagens e da
associação de árvores madeireiras que protegem o solo, os cultivos e os
animais, contribui para a elevada valorização econômica das terras beneficiadas
com esse sistema de exploração.
De maneira geral, e por definição, sistemas agroflorestais são meios de
produção que tendem a uma diversidade maior do que as monoculturas, o que
lhes confere algumas vantagens.
Os sistemas de produção agroflorestais procuram simular os ecossistemas
naturais e, com isso, buscam produzir em harmonia com a natureza, com base
na conservação dos recursos naturais renováveis, resultando em melhoria da
produtividade e sustentabilidade da produção.
A simples existência de um componente arbóreo no sistema traz inúmeros
efeitos positivos sobre a fertilidade do solo, controle de erosão e reciclagem dos
nutrientes.
A essência do uso da terra pelos sistemas agroflorestais é que uma mesma
diversidade de bens pode ser produzida numa área menor do que em outros
sistemas de produção. De maneira geral, as vantagens ecológicas da interação
entre os componentes também são vantagens em termos de uso de mão-de-
obra para a produção da mesma quantidade de produtos animais e/ou vegetais,
em comparação com os sistemas de monocultura (Vaz, 2000)24.
São quatro categorias de sistemas de produção agroflorestais, comportando
cada grupo um grande número de modelos, oriundos de condições ecológicas,
econômicas, sociais e culturais:

24 VAZ, P. Sistemas agroflorestais como opção de manejo para microbacias. Informe


Agropecuário. Belo Horizonte,207:75-81.2000.
• Agrossilviculturais: caracterizados pela associação de espécies florestais
com culturas agrícolas anuais ou perenes.
• Agropastoris: caracterizam-se pela combinação de cultivos agrícolas,
anuais e perenes, com plantas forrageiras e animais.
• Silvopastoris: caracterizam-se através da combinação de árvores ou
arbustos com plantas forrageiras herbáceas e animais.
• Agrossilvipastoris: combinam cultivos, essências florestais e animais, em
uma mesma área ou em uma sequência temporal.
Para descrição dos procedimentos a seguir seguiu-se as recomendações do
Estado do Ceará (2010) por ser uma das abordagens mais simples, objetiva e
ser aplicável em todo o semiárido brasileiro.
A Figura 20 mostra a estrutura sistêmica de modelos de exploração e
convencional agroflorestal e suas interseções.

Figura 20. Estrutura Sistêmica de modelos de exploração do


estabelecimento rural e suas interseções
Fonte: Lourenço (2009) apud CEARÁ (2010)

6.8.5.1. Vantagens
a) otimização do ciclo de renovação de nutrientes no solo;
b) manutenção da biodiversidade;
c) redução da sazonalidade no uso da mão-de-obra e do êxodo rural;
d) aumento da renda líquida familiar;
e) aumento e estabilidade na oferta da produção agropecuária e florestal;
f) redução dos riscos e incertezas em função da diversificação da produção;
g) redução drástica da dependência de insumos e financiamentos externos.

6.8.5.2. Desvantagens
a) complexidade do manejo dos sistemas agroflorestais;
b) elevados custos de implantação;
c) limitações para mecanização dentro dos padrões atuais; e
d) despreparo dos extensionistas e falta de motivação dos agricultores para
a adoção dos SAFs.
6.8.5.3. Desenvolvimento do sistema
Os dados preliminares do Sistema de Produção Agrosilvopastoril no Semiárido
do Ceará indicam de oito a nove hectares, como tamanho da propriedade que
permitiria a obtenção de até dois salários mínimos mensais, como renda bruta.
Os produtos mais importantes do sistema de produção agrossilvipastoril
proposto são: madeira para diversos fins, feno, grãos e produtos de origem
animal (carne, leite, esterco, pele e mel de abelha). Atualmente, visualiza-se a
existência de muitas oportunidades para diversificação da renda do sistema pelo
aproveitamento econômico das frutas nativas e dos animais silvestres e pela
inclusão de novas atividades, como apicultura, criação de galinhas caipiras e
serviços ambientais.

6.8.5.3.1. Área agrícola


A preparação da área na parcela agrícola consta de um raleamento da
vegetação arbórea, devendo ser preservada cerca de 200 árvores por hectare,
o que corresponde a uma cobertura de aproximadamente 20%, garantindo um
aporte anual de matéria orgânica em torno de 1.500 kg/ha, por ocasião da queda
das folhas no início da estação seca. Até que haja um bom estabelecimento da
leguminosa perene, que será a principal fonte de adubação verde, não deve ser
praticado o destocamento, pois, a rebrotação das espécies nativas comporá
importante fonte de adubação verde, durante o período das chuvas.
Após a retirada da madeira útil, cuja venda custeará parte das despesas de
implantação, os garranchos são enleirados em faixas perpendiculares ao declive
do terreno e espaçados de três em três metros, para proteção do solo contra a
erosão. Procede-se, então, o plantio de uma leguminosa em linhas, localizadas
em ambos os lados dos cordões, com um espaçamento de 0,50m entre plantas.
Pode ser usada leucena, gliricídio, sabiá, jurema preta, mororó e camaratuba.
A experiência tem mostrado que o estabelecimento da leguminosa é uma
operação que nem sempre tem sucesso na primeira tentativa. O plantio deve ser
feito por sementes, mas é importante a preparação de mudas para replantio, logo
no primeiro ano. A decomposição dos garranchos nos cordões é rápida, durando
no máximo três anos, quando, então, a leguminosa perene estará estabelecida
e os substituirá no papel de proteção do solo. O plantio das culturas alimentares
deve ser realizado nas faixas de 3,0m entre os cordões.
Recomenda-se a prática da policultura, pois o uso de várias culturas, em
sistemas de consórcio, favorece a redução na complexidade do ecos sistema,
tanto quanto promove uma dieta diversificada para a população humana e
resultando em uma maior geração de renda, estabilidade da produção,
diminuição dos riscos, redução da incidência de pragas e doenças, eficiência no
uso de mão-de-obra e aumento do retorno, com baixos níveis de tecnologia.
O aporte contínuo de matéria orgânica ao solo é garantido por cinco fontes
distintas. A primeira consta de folhagem das árvores preservadas, quando do
raleamento, alcançando cerca de 1,5 tonelada por hectare/ano. A segunda
consiste da parte aérea da rebrotação dos tocos, cortada e incorporada ao solo,
durante o período das chuvas, atingindo cerca de duas toneladas por hectare. A
terceira origina-se das ervas nativas que são capinadas ou roçadas e
incorporadas ao solo, durante o ciclo das culturas e que podem perfazer até três
toneladas por hectare. A quarta é formada pelo corte da parte aérea da
leguminosa perene, estabelecida nos lados dos cordões de garranchos,
somando outras duas toneladas.
E por fim, a quinta e última fonte de matéria orgânica advém do esterco dos
animais que é distribuído a lanço, ao final do período seco, e que atinge até três
toneladas por hectare. Assim, são adicionadas, anualmente, ao solo até 11
toneladas de matéria orgânica por hectare, na parcela sob agricultura.
A produtividade média obtida na área agrícola do Modelo Experimental variou de
722 kg/ha, em 1998, a 2.625 kg/ha, em 2007, com a média no período de 1.384
kg/ha. Considere-se que 30% dessa área destina-se à preservação ambiental
(mata ciliar, renques de leguminosas e árvores), essa produtividade é bem
superior à obtida no sistema tradicional, de 400-575 kg/ha de milho.
Após a colheita da cultura alimentar, a palhada pode ser recolhida e enfardada
para uso como suplemento alimentar volumoso, durante a época seca, quando,
então, a parcela agrícola passa a desempenhar o papel de banco de proteína.
Para tanto, o rebanho permanece na área, diariamente, por um período de uma
hora a uma hora e meia, para que os animais possam utilizar a leguminosa
perene, a rebrotação dos tocos e as sobras do restolho cultural. No caso da
agricultura familiar, deve-se dar preferência à exploração de ovinos e caprinos.

6.8.5.3.2. Área pecuária


Nessa área, pode-se adotar vários modelos de manejo sustentado da caatinga
para fins pastoris, notadamente, o raleamento, o rebaixamento e o
enriquecimento.

6.8.5.3.3. Raleamento da caatinga


Três recomendações fundamentais garantem, quando seguidas, a
sustentabilidade das tecnologias de manipulação da caatinga: preservação de
até 400 árvores por hectare, ou o equivalente a 40% de cobertura, utilização
máxima de 60% da forragem disponível e preservação da mata ciliar em toda a
malha de drenagem da pastagem.
O raleamento da vegetação arbóreo-arbustiva da caatinga consiste no controle
seletivo de espécies lenhosas, com o objetivo de, reduzindo o sombreamento e
a densidade de árvores e arbustos indesejáveis, obter-se incremento da
produção de fitomassa do estrato herbáceo, propiciando a formação de uma
pastagem nativa de elevada produtividade. (Foto 21).
Figura 21. Caatinga raleada em Sobral – CE
Fonte: João Ambrósio de Araújo Filho apud CEARÁ – 2010
Áreas de caatinga raleada deverão ter um sombreamento por árvores e/ou
arbustos em cerca de 40%, correspondendo a cerca de 400 árvores de porte
médio por hectare. Como, com esta prática, obtém-se um aumento considerável
da produção de fitomassa do estrato herbáceo, que passa a contribuir com cerca
de 80% da fitomassa pastável disponível. Presta-se o raleamento à exploração
com bovinos e/ou ovinos.
Na caatinga raleada, a disponibilidade de forragem corresponde a 60% da
fitomassa produzida, originando uma capacidade de suporte anual para bovinos
3,5 ha/cab, para caprinos e ovinos de 0,5 ha/cab.

6.8.5.3.4. Rebaixamento da caatinga


Consta o rebaixamento de broca manual de espécies lenhosas, com o objetivo
de aumentar o acesso à forragem de árvores e arbustos, melhorar sua qualidade
alimentar e estender a produção de folhagem verde por mais tempo na estação
seca. Provavelmente, constitui a alternativa mais adequada aos diferentes tipos
de caatinga do semiárido do nordeste do Brasil uma vez que, em termos médios,
cerca de 70% das espécies arbóreas e arbustivas da caatinga são forrageiras. A
técnica deve ser utilizada em áreas de vegetação lenhosa, com predominância
de árvores e arbustos, reconhecidamente forrageiros.
Deverão ser rebaixadas as espécies de reconhecido valor forrageiro, tais como
o sabiá, o mororó, a jurema-preta e o quebra-faca. Ao fim do período seco
seguinte, proceder-se-á ao corte das rebrotações das espécies lenhosas
forrageiras, poupando-se de uma a duas vergônteas por toco. Figura 22.
A caatinga rebaixada deverá ser explorada preferencialmente com caprinos, ou
com a combinação de bovinos e caprinos. A capacidade de suporte anual é de
5,0 ha para bovinos, 0,7 ha para caprinos.

Figura 22. Caatinga rebaixada

Fonte: João Ambrósio de Araújo Filho apud CEARÁ – 2010

6.8.5.3.5. Enriquecimento da caatinga


O enriquecimento pode ser feito em nível do estrato herbáceo ou lenhoso. De
preferência, o ressemeio deve ser feito pela prática do cultivo mínimo, tendo-se
em vista a preservação do estrato herbáceo nativo, rico em leguminosas
forrageiras, em alguns sítios mais comuns no sertão. Deverão ser mantidas 200
árvores por ha. Figura 23.

Figura 23. Caatinga enriquecida


Fonte: João Ambrósio de Araújo Filho apud CEARÁ – 2010

O plantio da forrageira dar-se-á no período das chuvas. Com o objetivo de cobrir


parcialmente os custos no primeiro ano, pode-se associar o plantio da forrageira
com o cultivo de uma cultura de subsistência (milho, sorgo, feijão, mandioca,
etc.). Como o fósforo tende a ser o nutriente de maior deficiência na maioria dos
solos da caatinga, recomenda-se promover uma adubação fosfatada, na base
de 100 kg/ha de P2O5.
A capacidade de suporte aumenta para 1,1 cab/ha/ano com bovinos e 10,0
cab/ha/ano com caprinos e ovinos.

Para um sistema agrossilvipastoril em uma área de 8,0ha, poderão ser criadas


até 20 matrizes ovinas ou caprinas, se a parcela pastoril for uma caatinga
raleada. Caso seja uma caatinga enriquecida, o sistema comportará até 50
matrizes.
O rebanho ocupará as parcelas na seguinte sequência: 30 dias na parcela de
reserva legal, no início da época das chuvas. Em seguida, será movimentado
para a parcela pastoril, onde permanecerá até junho, ou fim do período úmido.
Nos 30 primeiros dias do período seco, ocupará de novo a área de reserva legal.
Após este curto período, voltará para a parcela pastoril, onde permanecerá por
toda a época seca, submetido à suplementação alimentar de feno e rolão de
milho

6.8.5.4. Rentabilidade do sistema agrossilvipastoril


Os resultados, aqui apresentados, foram extraídos do artigo intitulado “Modelo
de exploração de ovinos e caprinos para agricultores familiares do semiárido por
meio do sistema agrossilvipastoril”, apresentado em França; Holanda Júnior e
Sousa Neto (2007).
O Quadro 5 mostra os principais dados da viabilidade do empreendimento.

Quadro 5. Comparativo entre os resultados obtidos para os modelos tipo


agrossilvipastoril e convencional.

6.8.6. Tratos culturais nas intervenções de recuperação de áreas


degradadas
Os tratos culturais são muito específicos de cada situação não tendo uma regra
única, pois cada iniciativa recomendará um rol de tratos culturais necessários ao
sucesso da intervenção.
O êxito do sistema utilizado dependerá do grau de degradação da vegetação,
bem como das condições física do solo, espaçamento utilizado, tratos
silvoculturais e época de realização das operações. Nas condições do semiárido
é aconselhável que o plantio seja realizado no período e esteja-se atento à
presença de formigas.
Problemas relacionados a disponibilidade de mão-de-obra para práticas de
recuperação de área degradadas por intermédio do reflorestamento com espécie
nativas é agravado com a necessidade de se efetuar sua implantação em
período muito reduzido, visto que as chuvas se concentram em 3 a 5 meses do
ano, competindo com as lavouras tradicionais da agricultura familiar. Assim, o
plantio nestas condições só é possível ao se dirigir toda a mão-de-obra
disponível para as operações de implantação da floresta. Com isso, problemas
com ervas daninhas tornam-se constantes e principalmente nas áreas
implantadas no início das chuvas. Ervas daninhas já adaptadas à região e
agressivas, passam a competir por luminosidade, água e nutrientes, com as
essências nativas.
Ainda é escasso o conhecimento sobre o uso de capina química na
recomposição de essências nativas na caatinga. No plantio de reflorestamento
com plantas exóticas como o esucalipto é eficiente o ROUNDUP deve ser
aplicado a 3,0 litros por hectare, apenas no controle de ervas perenes que se
multiplicam vegetativamente, ao passo que o GOAL aplicado a 3,0 litros por
hectare controla as ervas perenes a anuais que se multiplicam por sementes; -
o ROUNDUP deve ser aplicado antes do plantio e o GOAL imediatamente após
o plantio; - sendo empregados corretamente, pode-se computar algumas
vantagens, tais como: . melhor desenvolvimento das plantas, livres de
competição;. maior sobrevivência na implantação; melhor utilização da mão-de-
obra; maior aproveitamento da fertilização e precipitação. no que se refere a
custos, apenas quando utilizados em conjunto (ROUNDUP e GOAL na mesma
área), pode ser ligeiramente mais cara a capina química se comparada à manual;
- trabalhos diversos de pesquisa e experimentação deverão ser implantados,
principalmente para assegurar que não interfiram nas espécies nativas que se
quer propagar.
7. Custos de recuperação no semiárido
Há uma grande variação na composição de custos em investimentos feitos na
recuperação, mesmo os feitos na área acadêmica, pois muitas vezes tem sido
inseridos parcerias e apoios que mascaram o custo real dessa iniciativa.
Projetos de recuperação na Caatinga são, via de regra, caros, pouco eficientes
e sem retorno econômico direto. Isso acontece porque a maior parte das
pesquisas e experiências em restauração no Brasil se encontra em biomas
florestais, como a Mata Atlântica e o Cerrado.
Parte-se, portanto de uma análise de custos de recuperação em ecossistemas
distintos onde não se encontrou a caatinga, comparando-se não somente o seu
custo, mas o benefício gerado por essa iniciativa. Quadro 6.

Quadro 6. Estimativas de custos e benefícios dos projetos de recuperação


da vegetação por ecossistema

A cadeia produtiva da recuperação de áreas degradadas ou alteradas tem um


grande potencial de geração de trabalho e renda. Estima-se que 90% dos postos
de trabalho serão destinados a pessoas de baixa renda e qualificação
profissional e, em sua maioria, de áreas rurais, principalmente em se tratando
das demandas por mudas e sementes de espécies nativas, implantação,
manutenção e monitoramento dos projetos de recuperação (Calmon et al.,
2011)25. Dessa maneira, as iniciativas de recuperação podem reduzir a pobreza
e a desigualdade por meio da geração de empregos e do fortalecimento da
economia rural. Cooperativas de restauradores de florestas do sul da Bahia já

25CALMON, M. et al. Emerging threats and opportunities for large-scale ecological restoration in
the Atlantic Forest of Brazil. Restoration Ecology, v. 19, n. 2, p. 19, p. 154-158, 2011.
demonstram o potencial de a recuperação da vegetação nativa prover benefícios
sociais a comunidades marginalizadas, gerando trabalho e renda complementar
às atividades econômicas já realizadas por esses grupos (Mesquita et al., 2010).
O engajamento das comunidades rurais e tradicionais em iniciativas de
recuperação da vegetação é fruto da identificação dos indivíduos com os projetos
a serem implementados (Ball, Gouzerh e Brancalion, 2014)26. Considerando que
o processo de degradação dos ecossistemas ocorrido nos últimos séculos foi
causado, em grande parte, por atividades antrópicas (Ellis et al., 2010)27, o
envolvimento da sociedade na recuperação dos ecossistemas degradados tem
sido apontado como um aspecto fundamental para o sucesso das iniciativas
(Aronson et al., 2010; Wortley, Hero e Howes, 2013; Muller, 2013) Apud
Scaramuzza et alii, 2014.
Já a recuperação de pastagens, que representa um significativo número de
hectares degradados tem seus custos mostrados no Quadro 4.
Segundo Dias Filho (2017)28 a escolha entre reformar ou recuperar o pasto ainda
levanta muitas dúvidas. Dentre os fatores que devem ser considerados no
processo de tomada de decisão estão o custo de cada uma das alternativas e o
tempo que levará para que o pecuarista volte a ter um pasto produtivo. Esse
Quadro 4 mostra o custo médio da reforma (preparo do solo e plantio do capim)
e da recuperação de pastagens com diferentes níveis de infestação por plantas
invasoras. De acordo com esta estimativa, em situações de elevada infestação
por plantas invasoras, pode ser mais interessante reformar o pasto que tentar
recuperá-lo. Por outro lado, nas áreas com ausência de invasoras ou com nível
médio de infestação a recuperação, quando possível, é mais interessante. É
importante ressaltar, no entanto, que para o cálculo dos custos apresentados no
Quadro 7 foram assumidos valores médios e que estes devem ser adaptados às
condições reais da propriedade.

26 BALL, A.; GOUZERH, A.; BRANCALION, P. H. S. Multi-scalar governance for restoring the
Brazilian Atlantic Forest: a case study on small landholdings in protected areas of sustainable
development. Forests, v. 5, n. 4, p. 599-619, 2014.
27 ELLIS, E. C. et al. Anthropogenic transformation of the biomes, 1700 to 2000. Global Ecology

and Biogeography, v. 19, n. 5, p. 589-606, 2010.


28 Dias Filho, M.B. Degradação de pastagens: processo, causas e estratégias de recuperação.

3ed. 190p. 2007.


Quadro 7. Custo de reforma e recuperação de pastagens degradadas.

Fonte: Dias Filho, 2017


Apesar de o investimento para o produtor adotar a “pastagem empresarial” ser
em torno de 60% maior do que para manter uma pastagem tradicional (apenas
com o controle periódico de plantas daninhas e de insetos-praga), os ganhos
(retorno) são compensadores. Deve-se ressaltar que os custos da intensificação
são imediatos, enquanto os lucros são cumulativos, só sendo auferidos com o
passar do tempo.
Dias Filho (2017) considerando uma fazenda padrão, os indicadores médios
básicos de retorno para o investimento realizado, nos diferentes cenários já
discutidos, são apresentados no Quadro 8.

Quadro 8. Estimativas de retorno financeiro (1) para investimentos em


diferentes estratégias de manutenção de pastagens na propriedade rural.

Fonte: Dias Filho, 2017


É importante observar que, para a chamada “pastagem tradicional”, apesar de o
retorno médio estimado ser de R$1,30 (para cada real investido), há uma
tendência de redução para receita negativa (despesa) com o passar do tempo.
A razão para isso é que, normalmente, a capacidade de suporte inicial da
pastagem, já a partir do segundo ou terceiro ano após a formação, tende a
reduzir (inicialmente, em torno de 10% ao ano), quando não é feita a manutenção
da fertilidade do solo (adubação e correção), mesmo sendo realizado controle
periódico de plantas daninhas e de insetos-praga. Essa redução varia com a
fertilidade natural do solo e com o manejo do pastejo (controle da carga animal)
feito pelo produtor. Assim, quanto menos fértil for o solo ou menos cuidadoso for
o manejo do pastejo, mais rapidamente deverá cair a capacidade de suporte da
pastagem.
Quando, além do manejo da fertilidade do solo, o controle das plantas invasoras,
de insetos-praga e o manejo do pastejo são também negligenciados,
dependendo do caso, a redução da capacidade de suporte pode alcançar valores
bem mais expressivos (inicialmente em torno de 30% ao ano), inviabilizados o
uso da pastagem, poucos anos após a sua formação (geralmente, já a partir do
terceiro ou quarto ano), em decorrência da degradação. Para a construção dos
cenários apresentados na Tabela 1, considerou-se capacidades de suporte
médias que variaram de 1,2 UA/ha (pastagem tradicional) a 3,5 UA/ha (pastagem
empresarial, sem irrigação), supondo que as pastagens tenham sido
implantadas em solos de baixa fertilidade natural. Considerou-se ainda que, para
as intervenções de recuperação ou renovação, a área da pastagem ficaria sem
uso, ou seria apenas subutilizada, por cerca de 3 meses, visando a sua
restauração, o que significa ausência de receita para o produtor. Outra premissa
considerada nos cálculos foi que quanto maior o investimento em tecnologia
(intensificação), maior o tempo para que o capital investido seja recuperado pelo
produtor.
Constituem boas fontes de referência de custos:
• Centros de Referência para Recuperação de Áreas Degradadas:
www.univasf.edu.br/~crad/
• Caatinga http://www.uesb.br/

Os Quadros 9 e 10 mostram custos estimados para técnicas de restauração no


bioma caatinga e comparação com outros biomas respectivamente.
Quadro 9. Custos estimados para técnicas de restauração no bioma Caatinga

Fonte: http://www.florestal.gov.br/documentos/informacoes-florestais/premio-sfb/v-premio/monografias-v-premio/profissional-4/3381-025-tmp-monog-1/file
Quadro 10. Comparação de custos de restauração da vegetação nativa nos biomas brasileiros

Fonte: http://www.florestal.gov.br/documentos/informacoes-florestais/premio-sfb/v-premio/monografias-v-premio/profissional-4/3381-025-tmp-monog-1/file
PARTE II - VIVEIRO PARA PRODUÇA O
DE MUDAS PARA PRA TICAS
VEGETATIVAS DE RECUPERAÇA O DE
A REAS DEGRADADAS
8. Revegetação da caatinga espécies
Muitas espécies nativas do semiárido estão ameaçadas de extinção pelo
desmatamento provocado pelo antropismo, e por essa razão ações de
recomposição da vegetação só serão bem sucedidas se engajarem os usuários
dos estabelecimentos rurais que exercem pressões sobre o bioma.
Segundo LEAL et. Al. (2005) A maior dificuldade de estabelecer estratégias de
conservação na caatinga está na deficiência da legislação reguladora, de
políticas públicas de mecanismos legais de incentivos, e de instrumentos
econômicos e oportunidades para conservação da biodiversidade.
Existem vários estudos que indicam espécies que podem ser utilizadas para
recuperação do bioma caatinga. O Anexo 1 deste relaciona as principais
espécies que podem ser utilizadas para recomposição do bioma caatinga.
Na recuperação de áreas degradadas deve ser utilizado um conjunto de mudas
de diferentes espécies com características de crescimento e porte
complementares. Em área a ser recuperada a vegetação deve ser raleada
(rebaixada) para que não ocorra sufocamento das mudas e o solo deve estar
úmido. As mudas devem ser plantadas logo após o início do período chuvoso
que permita o crescimento e estabelecimento do sistema radicular e a
sobrevivência da muda no campo. Normalmente as mudas são classificadas em
dois grupos de acordo com o seu estabelecimento no campo e podem ser dividas
em: Pioneiras: São plantas cuja germinação das sementes e o crescimento das
plantas dá-se em condições de alta luminosidade, geralmente em condição de
sol pleno. Estas espécies são as primeiras a se estabelecer em áreas
perturbadas que se encontram em processo de reabilitação e apresentam
crescimento rápido, porém um tempo de vida mais curto. Geralmente
apresentam grande quantidade de sementes que são dispersas pelo vento
(anemocórica) ou por animais (zoocórica). São exemplos de plantas pioneiras o
tamboril, o mulungu e a jurema branca, importantes espécies que devem constar
na primeira fase de programas de reflorestamento. Não pioneiras: São espécies
que não apresentam desenvolvimento favorável em condição de sol pleno,
necessitando de sombra em pelo menos parte da vida para que ocorra o seu
estabelecimento. Elas aparecem ou devem ser plantadas quando já existe uma
vegetação estabelecida na área, podendo ser utilizadas em programas de
enriquecimento da vegetação. As plantas deste grupo apresentam
desenvolvimento lento e produzem uma quantidade limitada de frutos
geralmente grandes. Dessa forma, a dispersão das sementes ocorre apenas
através dos animais (zoocórica). São exemplos de plantas não pioneiras o
violete, pau branco, ipê roxo, ipê amarelo e copaíba, dentre outras.
As espécies propagadas no viveiro do Insa, em Campina Grande (PB), são
usadas em pesquisas sobre germinação e multiplicação de mudas e distribuídas
para promover o reflorestamento de áreas degradadas.
Na pesquisa foram multiplicadas sementes de dez espécies florestais nativas –
aroeira (Myracrodruon urundeuva), angico (Anadenanthera colubrina),
canafístula (Senna spectabilis) , cumaru (Amburana cearensis) , mulungu
(Erythrina velutina), sabiá (Mimosa caesalpiniifolia), caibeira (Tabebuia aurea) ,
feijão-bravo (Capparis flexuosa) , imburana-de-cambão (Commiphora
leptophloeos) e favela ou orelha-de-onça (Cnidoscolus quercifolius).
A produção incluiu duas espécies florestais exóticas, gliricídia (Gliricidia sepium)
e algaroba (Prosopis juliflora); uma espécie frutífera nativa, umbu (Spondia
tuberosa); e três espécies de frutíferas naturalizadas, pinha (Annona squamosa),
pitanga (Eugenia brasiliensis) e jaca (Artocarpus integrifolia).
Para atender às necessidades de plantas nativas recorre-se aos viveiros que ao
serem instalados devem reproduzir as condições naturais das plantas, o que
envolve diversos fatores. Além das condições originárias da mata nativa, deve-
se atentar para a condição de fragilidade das mudas no início de seu
desenvolvimento, que requerem cuidados especiais.
A semeadura direta deve ser adotada sempre que possível, porque oferece
algumas vantagens: simplifica as operações, evita danos à raiz e traumas na
repicagem, além de apressar o processo de produção de mudas. Sua execução
é mais fácil com sementes de tamanho médio, de fácil manipulação e de
porcentagem de germinação conhecida. Neste caso, o número de sementes
empregado em geral é maior, uma vez que são utilizadas mais de uma semente
por recipiente, de forma a assegurar o aproveitamento de pelo menos uma planta
(as outras são repicadas ou cortadas com tesoura). É comum o uso de 3 a 5
sementes por recipiente.
As sementes devem ser colocadas nos recipientes e cobertas com substrato29
ou material inerte. O canteiro deve ser protegido com sombrite e/ou plástico até
30 dias após a germinação. No caso das pioneiras, não há necessidade de
cobertura com sombrite.
Análises da fertilidade do substrato deverão preceder o plantio. No entanto, na
ausência desta, para cada m3 da mistura recomenda-se a aplicação de 300 g/m3
de rocha fosfatada ou termofosfato, 40 g/m3 de uma fonte de micronutrientes,
normalmente FTE BR 12 ou MIB equivalente, e 300 g/m3 de ureia. A aplicação
de ureia, no entanto, deve ser suprimida no substrato para a produção de mudas
de espécies leguminosas fixadoras de nitrogênio
Para espécies que permaneçam mais tempo no viveiro (não pioneiras nativas)
podem ser utilizados sacos de até 11 x 25cm, com espessura de 0,15mm.
Pesquisas sobre revegetação no semiárido brasileiro apontam benefícios
socioambientais como a mitigação dos rigores das condições climáticas e
econômicas face ao papel que a vegetação exerce sobre o meio ambiente e
pode oferecer ao ser humano. Vários pesquisadores salientam que espécies
nativas impactam positivamente o ambiente posto que a raiz das plantas penetra
no solo, influenciando na redução do impacto das gotas de chuva no solo, causa
principal do processo erosivo e na penetração da água no solo bem como na
reciclagem de nutrientes. Na superfície modifica o ambiente luminoso pelo
sombreamento, influenciando a umidade e a evapotranspiração.
Esses trabalhos de pesquisa têm inclusive levado à elaborar modelos de
sistemas agro-silvo-pastoril, conforme pode ser visto na Figura 24, onde procura-
se conciliar a experiência do agricultor com sua tecnologia e uso dos recursos
naturais, de modo a evitar maiores danos ao bioma, sem que ele perca área
produtiva de seu estabelecimento.

29RESENDE & CHAER, 2010, recomendam para a maioria das espécies testadas a formulação
de substrato de quatro partes de arisco para uma parte de esterco bovino ou composto orgânico.
As proporções recomendadas são com base em volume, e não na massa de cada componente
da mistura.
Fonte: https://www.youtube.com/watch?v=Y4FB5HrrcOc dia de campo, 16/6/2016

Figura 24. Revegetação de áreas na caatinga com o sistema


agrosilvopastoril

9. Viveiro recomendado
Os viveiros florestais são os locais nos quais são produzidas mudas de plantas,
e que reúnem todas as condições necessárias para o desenvolvimento delas. As
plantas que ali estão em fase inicial de desenvolvimento, geralmente são de
espécies nativas da região onde se encontra instalado o viveiro, e o destino
destas plantas em grande parte são para o reflorestamento – para recomposição
da mata ciliar, de áreas degradadas, proteção de mananciais, entre outros.
Ao processo para um competente programa de revitalização de uma caatinga
está sintetizado na Figura 25.
Fonte: Manual Técnico – conhecendo e produzindo sementes e mudas – da caatinga. PEREIRA,
M. de S. Fortaleza – CE. Associação Caatinga. 2011

Figura 25. Processo de recuperação vegetativa de uma caatinga degradada


Existem vários tipos de viveiros alguns ao ar livre outros mais rústicos até os
mais sofisticados que são os metálicos galvanizados. Para este curso em face à
realidade da caatinga e das condições que precisarão ser trabalhadas escolheu-
se o aramado e sombrite.

9.1. Condições para escolha do local do viveiro


O primeiro passo para escolha do local mais adequado do viveiro que ser
implantar é verificar todas as etapas porque passa desde o início do plantio até
a destinação final da muda que ser quer produzir para comercializar ou doação,
como mostra a Figura 26.
Fonte: Autores

Figura 26. Fluxograma das fases de um processamento de mudas para


recuperação da caatinga.
Água - É o recurso mais importante que deve ser observado para o
funcionamento do viveiro, em todas as etapas de produção. Quanto mais
próximo da fonte de água estiver, menores serão os custos de
implantação, manutenção e funcionamento. As fontes poderão ser rios,
lagos, poços, etc.
Declividade do terreno - A inclinação deve ser a menor possível, sendo
a ideal de 1% a 3%, segundo vários autores. Deve-se evitar a instalação
do viveiro em locais irregulares, o que dificultaria a execução dos tratos
culturais e o acesso e trânsito de máquinas, veículos e pessoas.
Solos - Deve-se dar preferência a solos de textura solta, com boa
drenagem, evitando-se o acúmulo de água, o que pode acarretar o
excesso de umidade e, por consequência, o aparecimento de pragas ou
doenças no viveiro.
Proteção do vento - A ação direta dos ventos sobre as plantas pode
acarretar torção e inclinação, trazendo prejuízos no desenvolvimento das
mudas. O modelo aqui proposto já oferece essa barreira. Porém, não
sendo possível a sua instalação, deve-se plantar uma cortina quebra-
vento com espécies de crescimento rápido [Parkia multijuga (paricá), Inga
edulis (ingá), Acacia mangium (acácia mangium)], etc., ou manter a
vegetação existente no local. A proteção vegetal deve ficar a uma
distância razoável, para evitar o sombreamento excessivo.
Tamanho – leva em conta aspectos como, por exemplo, a quantidade de
mudas a serem plantadas, quantas mudas pode haver por metro
quadrado (o que varia de acordo com a espécie), a distância entre os
canteiros de modo que o espaço seja aproveitado, e produza em seu
máximo. No tamanho do viveiro, também deve ser contabilizado o espaço
de acesso às mudas, o que facilita para o trato das plantas,
acompanhando o crescimento destas e prevenindo rapidamente a
propagação de doenças entre as mudas. Neste sentido também, como os
viveiros geralmente têm produção em grande quantidade, é conveniente
que eles estejam situados perto da área a ser reflorestada, evitando danos
às mudas, caso tenham que ser transportadas por grandes distâncias.
O tamanho do viveiro a ser construído vai depender da quantidade de
mudas a produzir, do tamanho dos recipientes, da forma de distribuição
das mudas no espaço interno e do tempo que as mudas permanecerão
no viveiro. O projeto aqui sugerido descreve a instalação de um módulo
com capacidade aproximada de 30.000 mudas, que poderá ser ampliado
com outros módulos, de acordo com a necessidade de produção.
Dimensões - para o cálculo do tamanho do viveiro devem ser levadas em
conta a área em que estarão localizadas as plantas e as mudas, e
igualmente as áreas de acesso às plantas, constituída pelos caminhos e
estradas que facilitam o cuidado direto das mudas.

9.2. Aramado e sombrite


Utiliza o sombrite sobre aramado, o que resulta em uma estrutura mais leve e
durável. Melhor relação custo/benefício. (Figura 27).

Figura 27. Viveiro aramado e sombrite


Esse viveiro apresenta vantagens em relação aos demais tipos (ao ar livre,
rústico suspenso, de palha, ripado, metálico, de madeira e sombrite):

9.2.1. Cobertura
Quando feita com diversos materiais como palhas, madeiras e materiais
sintéticos. Contudo, a utilização de madeiras e palhas acarreta a
desuniformidade lumínica no interior do viveiro, sendo difícil o controle da
percentagem de entrada de luz, podendo trazer prejuízos para o
desenvolvimento de determinadas espécies. Ao contrário, o sombrite regula a
intensidade de luz homogeneamente através de toda a área do viveiro; seu custo
de instalação pode ser inicialmente um pouco maior, porém compensa por sua
utilização a longo prazo (durabilidade) e pela facilidade de instalação.

9.2.2. Estrutura
Os pilares em madeira-de-Iei, oferecem a sustentação necessária, são de fácil
aquisição nas regiões de caatinga, além de boa durabilidade. A cobertura é
assentada sobre arame liso (galvanizado), só que essa madeira além de ser
irregular, com o tempo empena, apodrece e deforma a cobertura.

9.2.3. Instalação
É mais prática e rápida pois o arame é apenas esticado sobre os pilares, não
sendo necessários maiores conhecimentos.

9.2.4. Construção do viveiro


o primeiro passo para a construção do viveiro de mudas é a escolha do local
adequado, que dependendo dos fatores elencados, em ordem de prioridade,
pode dar a exata medida do êxito ou do fracasso do empreendimento.
O módulo apresenta a dimensão de 24 x 24 m, perfazendo uma área de 576 m2,
com capacidade para 30.000 mudas. Os esteios estão dispostos a uma distância
regular de 4 x 4 m, exceto nas duas faces que podem servir para ampliação, em
que a distância cai para 2 m na linha (vide planta); têm 0,10 x 0,10 m de
espessura, com 2 m de pé-direito e comprimento total de 2,50 m.

o viveiro está dividido em quatro submódulos, com áreas de circulação

pavimentadas com brita, para facilitar o acesso de máquinas, veículos e


pessoas, e permitir uma melhor drenagem das águas; limitadas com meio-fio,
que pode ser de qualquer material disponível no local (madeira, tijolos, blocos de
cimento, etc.). Esses submódulos deverão ser nivelados com areia, que além de
oferecer uma melhor condição para a sustentação dos sacos e outros
recipientes, funcionará como controladora de plantas invasoras.
A cobertura é feita utilizando-se sombrite a 50% de interceptação da luz solar,
que atende à maioria das espécies cultivadas na região.
o pedilúvio (1,00 x 1,00 m) deverá ser assentado na entrada principal do viveiro,
de modo a permitir o controle fitossanitário na circulação de máquinas e pessoas.

9.2.4.1. Aramado
A sustentação do sombrite é feita com arame liso galvanizado apoiado sobre os
esteios e tensionados linha a linha até aos esticadores que ficam dispostos em
todas as laterais do viveiro, dispostos a cada 4,00 m. O arame está configurado
de forma longitudinal, perpendicular e transversal (vide planta), oferecendo ótimo
apoio para o sombrite e para o sistema de irrigação.
Esse modo de sustentação oferece, além da durabilidade e praticidade da
instalação, um menor custo em relação à madeira. Se o viveiro fosse atracado
com pernas-mancas de madeira-de-Iei, o custo seria de aproximadamente R$
1.350,00 em material, considerando que levaria no mínimo 7 (sete) dúzias, além
de contar com mão-de-obra especializada (carpinteiro) para a realização dos
serviços. Já com a utilização do arame, esses custos caem bastante, pois um
rolo de 1.000 m (quantidade suficiente para um módulo) é vendido no mercado
dependendo da região local entre R$ 500,00 a mais de R$ 1.000,00 0, com a
vantagem adicional da facilidade de manuseio e não requerer maiores
conhecimentos de carpintaria.

9.2.4.2. Projeção lateral


Têm-se os detalhes do assentamento do sombrite, em que apresenta um
tensionador em madeira em todas as laterais do viveiro, para permitir mais
segurança e apoio no esticamento da cobertura. De qualquer forma, o arame é
que dá a maior sustentação ao sombrite, e o uso da madeira foi bastante
reduzido em comparação com os viveiros tradicionais. Nota-se também, que
aproveitando-se do esticamento do arame, projeta-se uma aba de 2,20 m de
comprimento, que servirá de quebra-vento e auxiliará na uniformização da
luminosidade nas laterais do viveiro.

9.2.4.3. Sistema de Irrigação


Um viveiro de porte médio, que chega a produzir 100.000 mudas por ano,
necessitará aproximadamente de 10.000 litros de água por dia.
O excesso de rega costuma ser mais prejudicial do que a falta. O excesso de
rega dificulta a circulação de ar no solo, impedindo o crescimento das raízes,
lixivia os nutrientes e propicia o aparecimento de doenças. É interessante
ressaltar que a rega eficiente é obtida quando o terreno fica suficientemente
umidificado, sem apresentar sinais de encharcamento (poças ou água
escorrendo).
A irrigação de um viveiro pode ser realizada de diversas formas, desde a
irrigação por inundação (sulcos), passando-se pelo uso de mangueiras,
regadores, aspersores, nebulizadores, etc. Todos esses sistemas apresentam
as suas vantagens e desvantagens.
Contudo, quando a irrigação pode ser detalhadamente monitorada, quantificada
e uniformizada, as vantagens são muitas. Isso é o que propõe o sistema de
irrigação elevado por nebulização. A começar pela forma prática e rápida da
instalação, pelos custos dos materiais e pela economia de água e energia
elétrica. Por ser um sistema elevado, a distribuição da água será mais uniforme,
fazendo com que as mudas recebam a mesma quantidade, evitando-se o
desperdício.

o sistema é composto de uma linha de alimentação principal de 50 mm de

diâmetro, da qual derivam 18 linhas secundárias de 20 mm, sendo 9 de um lado


e 9 do outro. Em cada linha secundária há um registro e 6 nebulizadores
distantes 1,80 m entre si. Os nebulizadores utilizados neste projeto são do
modelo cônico, mas existem no
No mercado existem outros tipos e modelos que poderão ser utilizados, e até
outros materiais para as linhas de distribuição. O importante é que o sistema seja
elevado para garantir todas as qualidades buscadas na distribuição da água no
viveiro.

10. Processo de produção de mudas


Para que o resultado do plantio das mudas seja satisfatório, é preciso seguir
etapas como as mostradas no Quadro .
Quadro 11. Atividades e recomendações para revegetação do bioma
caatinga

Fonte: EMBRAPA-Florestas. Documentos 243. Arborização urbana no semiárido: espécies


potenciais da Caatinga. Colombo – PR. 2012
A qualidade da muda é indispensável para o sucesso da recuperação, elas
devem apresentar um sistema radicular bem formado, de modo a permitir
transplante eficiente e eficaz, melhor fixação no solo e melhor absorção de água
e nutrientes para o desenvolvimento rápido e eficiente.
A propagação das plantas apresenta detalhes técnicos importantes que
precisam ser conhecidos previamente. O emprego das técnicas de propagação
depende muito da qualidade das mudas produzidas, a qual reflete no sucesso
ou não do futuro plantio no campo.
A grande maioria das plantas da caatinga é propagada por sementes ou estacas.
A seleção das espécies considera necessariamente: disponibilidade de
sementes ou material propagativo, capacidade de adaptação, sobrevivência e
desenvolvimento no local o plantio., além das características como porte tipo de
copa, folhas, flores, ausência de frutos, hábito de crescimento das raízes,
ausência de princípios tóxicos, adaptabilidade climática, resistência a pragas e
doenças, tolerância a poluentes e a baixas condições de aeração do solo (RGE
GESTÃO AMBIENTAL, 2010).
Primeira etapa escolha da árvore matriz e coleta de sementes. Figura 28. As
sementes são submetidas ao beneficamento que compreende descascas,
limpas, e sempre que possível armazenadas em refrigerador para não perder
sua capacidade germinativa. Figura 29.
No caso das sementes florestais que serão utilizadas com a finalidade de
reflorestamento ou recuperação de áreas degradadas, as sementes devem ser
coletadas de diversas plantas matrizes representativas de uma população. De
preferência, coletadas das plantas mais vigorosas e livres de pragas e doenças.
A coleta de sementes de uma só planta, além de causar potenciais prejuízos
para a reprodução da espécie pode inviabilizar o estabelecimento do plantio caso
a planta matriz não seja resistente ao ataque de pragas e doenças, ou até
mesmo, modificações ambientais na área do plantio.

Fonte: Josimar Araújo de Medeiros

Figura 28. Um exemplo de juazeiro como planta matriz


Fonte: https://www.youtube.com/watch?v=TfYuTo4hsQU

Figura 29. Sementes guardadas em refrigerador


O momento certo de colher as sementes é quando os frutos começam a se abrir
ou mudam a coloração da casca. No caso de sementes aladas, como da aroeira,
ipês, cumaru entre outras, devem ser colhidas antes da abertura ou dispersão
dos frutos, muitas vezes quando ainda estão na planta. Neste caso, a incidência
de pragas e doenças é menor devido à ausência de contato com o solo. As
sementes podem ser coletadas sobre o chão, no entanto deve ser realizada a
retirada de impurezas para o correto armazenamento. No momento da colheita,
as plantas matrizes devem ser identificadas e mapeadas com uma ficha de
campo de forma que a espécie possa ser encontrada com facilidade caso haja
algum problema na produção das mudas no viveiro e haja a necessidade de
realizar uma nova coleta, isto é esteja sempre georeferenciada. Dependendo da
espécie, vários equipamentos (tesouras, podões, facas escadas, cordas entre
outros) podem auxiliar no processo de coleta. O uso dos equipamentos é
determinado pelo porte da planta, presença de galhos e espinhos e facilidade ou
não no momento da colheita.
A segunda etapa é a semeadura direta no saquinho, conforme pode ser vista na
Figura 30.
Quando a semente exigir quebra de dormência deve-se proceder como orienta
o Anexo 2.
Foto. RESENDE, Alexander Silva de

Figura 30. Produção de mudas na caatinga.


Deve-se planejar o viveiro com mudas aptas ao plantio entre 3 a 8 meses após
a germinação.
Após quatro a cinco meses atingem 30 a 40 cm aptas a serem plantadas no
campo.

10.1. Qualidade das mudas


Além do bom aspecto visual (uniformidade de altura, ausência de estiolamento,
rigidez da haste principal, além do enovalamento e enraizamento no solo) a
relação raiz-parte aérea da muda é uma boa referência da qualidade da muda,
sendo indicada a relação próxima de 1:1. O torrão das mudas não deve se
desfazer facilmente, quando da retirada das mudas do recipiente de plantio.
O tempo que a muda deve permanecer no viveiro varia dependendo da espécie
e da composição do substrato. Quando se compara ao período de produção de
mudas de outras regiões, as mudas produzidas na caatinga tende a ter ciclo de
viveiro mais curto, em função da temperatura mais elevada e da luminosidade.

11. Custos dos materiais, equipamentos e serviços para


implantação de um viveiro
Os custos variam muito de região para região, muitas vezes entre municípios
próximos, tomou-se um referencial de um padrão de composição elaborado pela
EMBRAPA, coletando-se os valores para mês de dezembro de 2018, que estão
apresentados na Quadro 12.
Quadro 12. Custos de materiais, sistema de irrigação, motobomba e mão
de obra para implantação de um viveiro de 576 m2 para produzir 30.000
mudas

Discriminação Unidade Quantidade Valor R$


Materiais
Esteio de 0,10 m x 0,10 m X 3,0 m peça 65 3.931,20
Ripa plainada de 4,0 m duzia 8 887,04
Frechal de 4,0 m peça 70 1.911,00
Areia m3 30 2.079,00
Seixo m3 6 1.008,00
Arame liso ovalado de aço zincado/galvanizado
2,40 x3,0 mm, rolo com 1.000 m rolo 1 531,30
Arame galvanizado 0,56 mm, rolo de 125 m rolo 3 56,70
Catraca para arame liso unid 16 100,80
Grampo 1 x 9 para arame quilo 2 19,32
Grampo 1/8"para cabo de aço unid 60 63,00
Sombrite com 3 m de largura, 50% lumin m 300 7.560,00
Tinta PVA branca lata 18 L 2 203,70
Prego 3 x 9 kg 3 26,46
Prego 1 1/2" kg 3 29,80
Prego 2 1/2" kg 3 27,72
Outros materiais verba 10 % sub to 1.843,50
Subtotal de materiais 20.278,54
Sistema de irrigação
Nebulizador unid 108 1.814,40
Adesivo de plástico com 75 g tubo 5 20,90
Fita veda rosca 25 m rolo 4 20,50
Tubo PVC marrom soldável 50 mm x 6 m tubo 6 367,00
Tubo PVC marrom soldável 20 mm x 6 m tubo 36 487,62
Curva PVC marrom soldável 50 mm unid 2 29,40
Cruzeta PVC marrom soldável 50 mm unid 8 184,80
TÊ PVC marrom soldável 50 mm unid 1 10,50
Tê PVC marrom soldável 20 mm unid 108 124,74
Registro PVC marrom roscável 50 mm unid 1 60,90
Registro PVC marrom roscável 20 mm unid 18 325,08
Adaptador PVC marrom SR 50 mm x 1 1/2" unid 2 9,66
Adaptador PVC marrom SR 20 mm unid 108 79,38
Bolsa redução PVC marrom soldável 50 x 20 mm unid 18 151,20
Luva de PVC roscável 1/2" unid 108 136,08
Cap PVC marrom soldável 20 mm unid 18 21,00
Subotal sistema de irrigação 3.843,15
Sub total Materiais + Sistema de irrigação 24.121,69
Motobomba de água centrífuga 5 CV unid 1 3.916,50
Mão de obra H/dia 25 6.300,00
Custo total implantação viveiro 34.338,19
Fonte: Adaptado de GÓES, A. C. P.Viveiro de Mudas – Construção, Custos e Legalização
EMBRAPA Doc. 64 Dez.2006
Os “outros materiais” mencionados na tabela se referem à necessidades de
acordo com a distância da fonte de água: tubos e conexões para alimentar a
linha principal; e acessórios como: martelo, prumo, esquadro, cavador, carro de
mão, linha de nylon, etc. (valor estimando R$ 1,843,50).

12. Legalização do Viveiro


É obrigatório o registro, no Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento,
de todo viveiro de mudas destinado à exploração comercial ou industrial,
inclusive aquele utilizado para florestamento ou reflorestamento.
Essa atividade é disciplinada por lei, e os produtores deverão procurar a
Superintendência do Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento, para
efetuarem a competente regularização.
Com o advento da Lei nO10.711, de 05 de agosto de 2003, muita coisa mudou
em relação ao regulamento da inspeção e fiscalização da produção e do
comércio de sementes e mudas.
Dessa forma, apresentamos a seguir, os passos necessários para se efetuar os
registros exigidos pela legislação federal.

12.1. Registro de Produtor de mudas


Para produção, beneficiamento, reembalagem, armazenamento, análise,
comércio, importação ou exportação de muda, fica a pessoa física ou jurídica
obrigada a se inscrever no Registro Nacional de Sementes e Mudas (Renasem):
Requerimento, por meio de formulário próprio, assinado pelo interessado
ou representante legal, constando as atividades para as quais requer a
inscrição;
Comprovante do pagamento da taxa correspondente;
Relação das espécies com que trabalha;
Cópia do contrato social registrado na junta comercial ou equivalente,
quando pessoa jurídica, constando dentre as atividades da empresa
aquelas as quais requer a inscrição;
Cópia do CNPJ ou CPF, quando pessoa física;
Cópia da inscrição estadual ou equivalente, quando for o caso;
Declaração do interessado de que está adimplente junto ao Ministério da
Agricultura, Pecuária e Abastecimento;
Relação de instalações e equipamentos para produção, da qual conste a
capacidade operacional, própria ou de terceiros; e Termo de compromisso
firmado pelo responsável técnico.
A inscrição no Renasem terá a validade de três anos, podendo ser renovada por
iguais períodos, desde que solicitada e atendida as exigências legais.
Serão necessários os seguintes documentos para inscrição do viveiro:
Comprovante da origem do material de propagação;
Autorização do respectivo detentor dos direitos de propriedade intelectual
da cultivar, no caso de cultivar protegida;
Contrato com o certificador, quando for o caso;
Mapas de produção e de comercialização de mudas;
Manter à disposição do órgão fiscalizador o projeto técnico de produção;
os laudos de vistoria do viveiro; o termo de conformidade e certificado de
mudas, conforme o caso; contrato de prestação de serviços, quando estes
forem executados por terceiros; e demais documentos referentes à
produção de mudas.
ANEXO 1 Lista de sementes e mudas da caatinga

Nome comum Nome científico

Angico Anadenanthera colubrina

Aroeira Myracrodrun urundeuva

Amburana de cheiro Amburana cearensis

Barriguda Chorisia glaziovii

Braúna Schinopsis brasiliensis

Carnaúba Copernicia prunifera

Cedro Cedrela odorata

Canafistula Senna spectabilis

Catanduva Piptadenia moniliformis

Cajá Spondias mombin

Catingueira Caelsapinia pyramidalis

Copaíba Copaifera langsdorffii

Coronha Acácia farnesiana

Frei jorge Cordia trichotoma

Ipê roxo Tabebuia impetiginosa

Ipê amarelo Tabebuia Alba

Ingá bravo Lonchocarpus sericeus

Jatobá Hymenea courbaril

Jucá Caesalpinia férrea var. férrea

Juazeiro Ziziphus joazeiro


Nome comum Nome científico

Jurema branca Mimosa artemisiana

Jurema preta Mimosa tenuiflora

Mororó Bauhinia SP

Mutamba Grazuma ulmifolia

Mulungu Erythrina velutina

Muquem Albizia inundata mart

Oiticica Licania rígida

Pacote Cochlospermum vitifolium(willd.) spreng

Pitomba Talisia esculenta

Pau mocó Luetizelburgia auriculata (allemão) ducke

Pajaú Triplaris gardneriana

Pereiro Aspidosperma pyrifolium

Sabiá Mimosa caesalpiniifolia

Sabonete Sapinndus saponaria

Tamboril Enterolobium contortisiliquum

Trapiá Crataeva tapia

Umbu Spondias tuberosa

Violete Dalbergia cearensis


Fonte: http://www.acaatinga.org.br/producao-de-mudas-nativas/
ANEXO 2 – Quebra de dormência de algumas essências da
caatinga

Referências

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