Ficha de Preparação - Texto Narrativo
Ficha de Preparação - Texto Narrativo
Ficha de Preparação - Texto Narrativo
TEXTO 1
Lê o texto e as notas.
1. Explica como, a partir da caracterização do tio, se pode inferir que ele é uma
ameaça para a segurança do principezinho.
3. Indica duas características (uma física e outra social) que distingam os dois
meninos e uma que os aproxime.
TEXTO 2
Lê o texto. Se necessário, consulta o vocabulário.
A Galinha
Minha mãe e minha tia foram à feira. Minha mãe com o meu pai e minha tia com o meu tio.
Mas todos juntos. Na camioneta da carreira. Na feira compraram muitas coisas e a certa altura
minha mãe viu uma galinha e disse:
– Olha que galinha engraçada.
5 E comprou-a também. Estava agachada como se a pôr ovos ou a chocá-los. Era castanha
nas asas, menos castanha para o pescoço, e a crista e o bico tinham a cor de um bico e de uma
crista. Nas costas levara um corte a toda a volta para se formar uma tampa e meterem coisas
dentro, porque era uma galinha de barro. Minha tia, que se tinha afastado, veio ver, estava a
minha mãe a pagar depois de discutir. E perguntou quanto custava. A mulher disse que vinte mil
10 réis, minha tia começou aos berros, que aquilo só se o fosse roubar, e a mulher vendeu-lhe uma
outra igual por sete mil e quinhentos. Minha mãe aí não se conformou, porque tinha regateado
mas só conseguira baixar para doze e duzentos. A mulher disse:
– Foi por ser a última, minha senhora.
Minha tia confrontou as duas galinhas, que eram iguais, achando que a de minha mãe era
15 diferente.
– Só se foi por ser mais cara – disse minha mãe com a ironia que pôde.
Minha tia aqui voltou a erguer a voz. Não se via que era diferente? Não se via que tinha o
bico mais perfeito? E o rabo?
– Isto é lá rabo que se compare?
20 E tais coisas disse e tantas, com gente já a chegar-se, que minha mãe pôs fim ao sermão,
por não gostar de trovoadas:
– Mas se gostas mais desta, leva-a, mulher.
Foi o que ela quis ouvir. Trocou logo as galinhas, mas ainda disse:
– Mas sempre te digo que a minha é de mais dura, basta bater-lhe assim (bateu) para se
25 ver que é mais forte.
– Então fica com ela outra vez – disse minha mãe.
– Não, não. Trafulhices, não. Está trocada, está trocada.
Meu tio estava a assistir mas não dizia nada, porque minha tia dizia tudo por ele e, se
dissesse alguma coisa de sua invenção, minha tia engolia-o. Meu pai também estava a assistir,
30 mas também não dizia nada, por entender que aquilo era assunto de mulheres. Acabadas as
compras, minha mãe voltou logo com o meu pai na carroça do António Capador, que tinha ido
vender um porco. Mas a minha tia ficava ainda com o meu tio, porque precisavam de ir visitar a
D. Aurélia, que era uma pessoa importante e merecia por isso uma visita para se ser também um
pouco importante. E como ficavam e só voltavam na camioneta da carreira, a minha tia pediu a
35 minha mãe que ela lhe trouxesse a galinha, para não andar com ela o dia inteiro num braçado 1,
que até se podia partir. [...]
Minha mãe trouxe, pois, as duas galinhas na carroça do António Capador, e a minha tia
ficou.
Vergílio Ferreira, Contos, “A Galinha”, Quetzal, 2009.
VOCABULÁRIO:
1
braçado: nos braços.
1. A compra da galinha de barro provocou, desde o início, um mal-estar entre a mãe e a tia do
narrador.
1.1. Comprova, sem recorrer a expressões do texto, a veracidade da afirmação anterior.
3. “minha mãe pôs fim ao sermão, por não gostar de trovoadas” (linhas 21-22).
3.1. Esclarece o sentido desta afirmação, usando palavras tuas.
2. O principezinho é uma criança pequena, um bebé que ainda tem de ser amamentado.
De facto, devido à morte precoce do pai, ele torna-se o rei do seu país, o que o expõe não só a uma
grande responsabilidade mas também a grandes perigos, pois, para os inimigos, ele não representa qualquer
ameaça.
TEXTO 2
1.1. O mal-estar entre a mãe e a tia do narrador é visível desde o início do texto.
Efetivamente, a tia cobiçou a galinha de barro da mãe e comprou uma idêntica por um valor mais baixo,
motivo pelo qual a mãe do narrador se sentiu defraudada, chamando a atenção da feirante do seu desagrado.
Por sua vez, a tia justificou essa diferença de preço afirmando que as galinhas não eram iguais, que a da mãe
era mais perfeita, o que acabou por gerar uma discussão em torno deste assunto, levando a mãe a trocar as
galinhas, para evitar eventuais conflitos.
4.1. A ironia é um recurso expressivo muito utilizado pelo narrador para relatar o incidente na ida à feira.
Para exemplificar, destaca-se a expressão (deve ser registada apenas um exemplo e respetivo valor)
- “se dissesse alguma coisa de sua invenção, minha tia engolia-o” (linha 30) – o narrador evidencia o carácter
conflituoso da tia mesmo com o marido;
- “por entender que aquilo era assunto de mulheres” (linhas 31-32) – o narrador salienta a passividade do pai
perante a esposa e/ou a mentalidade conservadora de certos homens;
- “merecia por isso uma visita para se ser também um pouco importante” (linha 35) – o narrador denuncia o
carácter superficial de algumas pessoas pelos valores que defendem.
5.1. O provérbio “A galinha da vizinha é sempre melhor do que a minha” resume o conto.
Pretende-se, pois, transmitir a ideia de que, tal como a tia do narrador, há pessoas que nunca estão
satisfeitas com as coisas que possuem e acreditam que as dos outros são sempre melhores. Por isso,
cobiçam constantemente as coisas dos outros.