Livro 03 - Metodologias para Aprendizagem Ativa

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METODOLOGIAS PARA

APRENDIZAGEM
ATIVA

Pablo Rodrigo Bes


Blended learning:
educação híbrida e sala
de aula invertida
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:

„„ Explicar o modelo híbrido de educação, enfatizando algumas expe-


riências no Brasil e no mundo.
„„ Identificar os diferentes modelos de aplicação da educação híbrida,
enfatizando a sala de aula invertida (flipped classroom).
„„ Descrever diferentes instrumentos avaliativos e seus critérios, aten-
tando para as especificidades do trabalho pedagógico com os prin-
cipais modelos híbridos.

Introdução
As formas de viver em sociedade se reconfiguraram nas últimas déca-
das, nas áreas econômicas, políticas e sociais, principalmente devido ao
processo de globalização iniciado a partir da década de 1990 no Brasil
e no mundo. Estas mudanças que, a princípio, tinham como objetivo
promover maiores condições de desenvolvimento econômico para as
nações capitalistas por sua fusão em blocos, acabaram sendo impul-
sionadas pelo avanço das tecnologias de informação e comunicação,
modificando aspectos importantes da vida social, como as questões
educacionais que iremos estudar. Dessa forma, a aprendizagem nos
dias de hoje possui múltiplos formatos, o que torna esse processo ainda
mais rico se comparado com as antigas concepções didáticas. Nestas, o
professor agia como figura central, valendo-se de seu status de detentor
do conhecimento para cumprir com sua atribuição de ensinar. Com a
possibilidade de estudo pela internet, como os métodos de educação à
distância, a aprendizagem se tornou híbrida, podendo o professor utilizar
2 Blended learning: educação híbrida e sala de aula invertida

técnicas que aliem esta a atividades presenciais para promover melhores


resultados com seus alunos.
Neste capítulo, você irá aprender sobre os modelos híbridos de
educação, procurando conhecer alguns casos de sucesso no Brasil e
no mundo. Você também conhecerá modelos de educação híbrida,
entre eles, a sala de aula invertida. Além disso, você irá aprender sobre o
processo de avaliação, seus critérios e seus instrumentos mais utilizados
na educação híbrida.

O modelo híbrido de educação


Para que possamos entender o que significa um modelo híbrido de educação,
também conhecido internacionalmente como blended learning, podemos
partir de um entendimento do significado da expressão híbrido. Quando
nos referimos a algo híbrido, entendemos que este passou por um processo
de mistura entre os fatores que o constituem. Dessa forma, quando falamos
em aprendizagem híbrida, devemos entender que esta é composta tanto por
métodos e técnicas didáticas típicas do ensino presencial (off-line) quanto pelo
ensino à distância (on-line). No Brasil, ainda estamos mais familiarizados com
os modelos educacionais de ensino presencial, em que o professor articula
seus alunos a partir dos recursos existentes em sala de aula para que possam
aprender aquilo que se encontra como objetivo em seus planos. Portanto, para
aqueles que ainda não conheça o ensino à distância, é importante entender
algumas características que o constituem para que o conceito de hibridismo
entre ambas as práticas de ensino fique mais claro.
Segundo Moore e Kearsley (2007, p. 2) a educação a distância é como “[...]
o aprendizado planejado que ocorre normalmente em um lugar diferente do
lugar do ensino, exigindo técnicas especiais de criação do curso e de instrução,
comunicação por meio de várias tecnologias e disposições organizacionais e
administrativas especiais”. Para que a educação à distância possa ocorrer, faz-se
necessário que existam tecnologias digitais, o que normalmente é ofertado aos
alunos a partir de plataformas denominadas ambientes virtuais de aprendiza-
gem. Na atualidade, podemos aprender sobre múltiplos assuntos a partir da
internet. Você já teve a oportunidade de aprofundar seu conhecimento sobre
um assunto de seu interesse por intermédio de mídias digitais? Já percebeu
que existem inúmeros cursos on-line ofertados quando você utiliza a internet?
Horn e Staker (2015, documento on-line) associam o início do ensino
híbrido ao ensino on-line, destacando que “quando surgiu, o ensino on-line, de
Blended learning: educação híbrida e sala de aula invertida 3

modo previsível, tinha a reputação de ser uma alternativa secundária e barata


para a sala de aula presencial tradicional.” Segundo os autores, quando passou
a ser utilizado na educação básica norte-americana, o ensino on-line teve pouco
efeito, sendo utilizado somente para recuperações de aulas ou disciplinas que
alguns alunos não tivessem entendido plenamente. No entanto, ainda segundo
os autores, com o avanço nas tecnologias e inovações disruptivas, o ensino
on-line passou inclusive a substituir o ensino presencial em alguns casos. Um
ponto importante a ser destacado é que a educação híbrida pode ser ofertada
em qualquer etapa educacional, tanto na educação básica (educação infantil,
ensino fundamental e ensino médio) quanto no ensino superior, proporcionando
aos alunos uma aprendizagem mais personalizada a partir deste ensino.

Inovação disruptiva é um termo criado pelo professor Clayton M. Christensen, da


Universidade de Harvard, que se refere ao fenômeno pelo qual uma inovação trans-
forma um mercado ou setor existente ao introduzir a simplicidade, a conveniência e
a acessibilidade aos seus usuários.

No Brasil, alternativas de ensino on-line têm sido discutidas para a educação


básica pública, já sendo amplamente utilizadas em escolas privadas como apoio
à aprendizagem dos alunos. Existem boas iniciativas por parte de organiza-
ções do terceiro setor que procuram implementar cursos de capacitação de
professores na rede pública brasileira para que suas escolas possam estruturar
suas plataformas virtuais e que os alunos conheçam a educação híbrida. Uma
destas organizações é a Fundação Lemann e um exemplo de escolas que se
utilizam deste suporte para educação híbrida são os Ginásios Experimentais
Cariocas. Estes ginásios são escolas públicas que possuem uma plataforma de
ensino híbrido e que conseguiram, com o uso destas tecnologias educacionais,
promover uma melhoria significativa em resultados na aprendizagem de alunos
do 6º ao 9º ano do ensino fundamental.
No ensino superior, já encontramos práticas bem consolidadas de utili-
zação de estratégias educacionais on-line, tanto no ensino presencial quanto
na educação à distância. Um bom exemplo dessas experiências é o Centro
Universitário Uniamérica, instituição educacional comunitária sem fins lucra-
tivos, localizada em Foz do Iguaçu (PR). Essa instituição de ensino superior
4 Blended learning: educação híbrida e sala de aula invertida

tem aplicado muitos elementos do ensino híbrido em seus cursos presenciais


de graduação e pós-graduação, valendo-se de metodologias ativas e do ensino
on-line para enriquecer o aprendizado de seus acadêmicos. Outra instituição
de ensino superior de destaque na busca pela implementação da educação
híbrida em seus cursos de graduação e pós-graduação, incluindo mestrado
e doutorado, é a PUC–PR, que tem proporcionado a seus alunos uma apren-
dizagem enriquecida por meio de inúmeras propostas de customização das
aprendizagens via modelos híbridos postos em prática pelos professores. No
ensino à distância de Engenharia, destaca-se a Unicesumar, atualmente um dos
maiores grupos educacionais brasileiros. No âmbito da educação profissional
também percebemos, no Brasil, o crescimento e a proliferação de cursos com
a possibilidade de ser realizados on-line ou, ainda, em modelos híbridos que
associam períodos presenciais e virtuais em sua carga horária.
Ertl, Winkler e Mandl (2007, p. 132) observam que a “blended learning é
baseada na integração entre fases virtuais e fases presenciais”, sendo a inte-
gração entre o e-learning e a aprendizagem presencial ( face-to-face) muito
benéfica para que os programas híbridos tenham resultados mais eficazes.
Podemos considerar a educação híbrida como representada na Figura 1.

Presencial + Ensino
on-line = Ensino
híbrido

Figura 1. Educação híbrida (blended learning).

Podemos perceber os ganhos de resultados com o ensino híbrido a partir


dos inúmeros cursos de aperfeiçoamento corporativos (treinamentos e capa-
citações) propostos por organizações que se valem de programas estruturados
de ensino que mesclam cargas horárias em plataformas on-line com encontros
periódicos para promover a troca de experiências, interações e aprendizagens
complementares entre os aprendizes. Porém, utilizar o ensino híbrido é muito
mais do que equipar uma sala com equipamentos eletrônicos, como compu-
tadores e outros dispositivos, ou simplesmente adotar uma combinação de
ensino on-line com o ensino presencial.
Blended learning: educação híbrida e sala de aula invertida 5

Para que você possa aprender melhor a respeito do ensino híbrido, vamos
observar algumas de suas principais características, segundo Horn e Staker
(2015):

„„ o programa educacional é formal;


„„ parcialmente on-line;
„„ há um controle sob as atividades;
„„ o local físico é supervisionado;
„„ a aprendizagem é integrada.

O ensino híbrido deve fazer parte de um programa de educação formal,


o que o diferencia de qualquer outro tipo de aprendizagem que possa vir a
ser utilizada simplesmente via internet. Dentro desse programa educacional,
uma de suas partes necessariamente ocorrerá on-line para o aluno. Da mesma
forma, este aluno deverá ter algum mecanismo de controle sobre o seu apren-
dizado, o que envolve poder estudar no seu ritmo, em horários programados
e adequados a sua rotina diária.
A existência de um local físico supervisionado, onde os alunos possam
complementar o curso, é parte fundamental do ensino híbrido. Este local
deve ficar longe da casa do aluno, podendo ser uma escola em seu bairro ou
outro espaço formal que apresente uma estrutura física montada para esta
finalidade. Logo, podemos descartar algumas hipóteses que não se enquadram
neste aspecto: por exemplo, o caso de uma pessoa que estuda sozinha com seu
smartphone em um shopping não é considerado ensino híbrido.
A característica mais marcante do ensino híbrido é a que se refere a uma
experiência integrada. Dessa forma, “as modalidades ao longo do caminho de
aprendizagem de cada aluno em um curso ou uma matéria estão conectadas
para fornecer uma experiência de aprendizagem integrada” (HORN; STAKER,
2015). Ou seja, o ensino híbrido irá propor ao aluno que ele busque comple-
mentar o que vem aprendendo a partir das etapas que cursa presencialmente
e on-line, o que é diferente de acessar tópicos de conteúdo on-line indicados
pelo professor e, após isso, em sala de aula, estudar tais assuntos novamente.
Um exemplo internacional de sucesso com a aplicação do blended learning
são as Summit Public Schools, nos Estados Unidos, que se trata de uma rede
pública de escolas que possuem gestão privada e que utilizam plataformas
adaptativas de educação híbrida para alunos do ensino fundamental. Nestas
escolas, o aluno é protagonista e responsável por traçar suas trajetórias de
estudo on-line, que são reforçadas e postas em prática nos mais diversos
projetos em que se engaja no ensino presencial.
6 Blended learning: educação híbrida e sala de aula invertida

Sobre o ensino híbrido, podemos afirmar que este somente agrega àqueles
que estão interessados em aprender, rompendo com os antigos paradigmas
educacionais em que todos devem aprender os mesmos conteúdos, no mesmo
ritmo.

Uma das mudanças mais significativas a partir da educação híbrida é o fato de que a
aprendizagem pode ser adaptada à necessidade e ao nível de entendimento de cada
aluno, com o uso de programas computacionais em ambiente virtual.
A aprendizagem adaptativa rompe com a ideia de ensino universal, em que tanto
os conteúdos quanto os processos avaliativos ocorrem da mesma forma. Porém, cabe
aos professores se atualizar sobre estas possibilidades de ensino híbrido e fazer bom
uso delas.

Modelos de aplicação da educação híbrida


É fato que a educação está mudando, acompanhando as tendências mundiais
nas áreas de tecnologia da informação e comunicações digitais. Morán (2015,
p. 15), ao pesquisar sobre os processos de inovação voltados para a área edu-
cacional, comenta que “a educação formal está num impasse diante de tantas
mudanças na sociedade: como evoluir para tornar-se relevante e conseguir que
todos aprendam de forma competente a conhecer, a construir seus projetos de
vida e a conviver com os demais”. Essa evolução pode ser conquistada a partir
do ensino híbrido, como visto no tópico anterior, o que proporciona inúmeros
modelos que podem ser adaptados à cultura de cada organização em busca de
seus objetivos educacionais.
O blended learning ainda se encontra em fase de expansão e pode suscitar
algumas dúvidas nas instituições que se valem deste para conduzir e per-
sonalizar seus processos de ensino. Para que possa realizar essa tarefa com
eficiência, a instituição de ensino deverá conhecer e selecionar os modelos
de educação híbrida que serão aplicados. Vamos conhecê-los na Figura 2 e
detalhá-los a seguir.
Blended learning: educação híbrida e sala de aula invertida 7

4. Modelo
1. Modelo 3. Modelo à la
2. Modelo flex virtual
de rotação carte enriquecido

Rotação por
estações

Laboratório
rotacional

Sala de aula
invertida

Rotação
individual

Figura 2. Modelos de educação híbrida.

Modelo de rotação
O modelo de rotação é aquele utilizado em qualquer curso ou disciplina em que
o aluno costuma alternar entre as modalidades de aprendizagem presenciais e
on-line, o que podem fazer a partir de uma sequência fixa ou por outros critérios
criados pelo professor. Dentro deste modelo, temos a possibilidade de realizar
a rotação por estações, por laboratório funcional, pela rotação individual e
pela sala de aula invertida. Estas modalidades podem prever ações coletivas
ou individuais, de acordo com a técnica utilizada. Por exemplo, a rotação por
estações costuma se valer de grupos que realizam o rodízio entre as estações
em que terão que realizar atividades práticas a partir dos conhecimentos prévios
adquiridos on-line. Dessa forma, em cada estação será exigido um desafio,
uma solução de problema ou a execução de algum processo criativo pelo
grupo. Convém destacar que uma destas estações poderá disponibilizar ações
realizadas on-line pelo grupo. A rotação individual segue esta mesma ideia,
mas por ser realizada individualmente, fornecendo melhores subsídios sobre
o nível de aprendizagem de cada aluno. O laboratório rotacional usualmente
se vale dos laboratórios de informática ou outros existentes nas instituições
de ensino para que sejam realizadas atividades práticas e on-line dentro da
escola, alternando entre outros momentos de aprendizado propostos pelos
8 Blended learning: educação híbrida e sala de aula invertida

professores. O funcionamento da sala de aula invertida, o modelo de rotação


mais utilizado na atualidade, será detalhado em seguida.

Modelo flex
O modelo flex é aquele em que “o ensino on-line é a espinha dorsal do processo
de aprendizagem do aluno, mesmo que às vezes o direcione os alunos para
atividades presenciais” (HORN; STAKER, 2015, documento sem paginação).
O que caracteriza sua flexibilidade é a possibilidade de o aluno se movimentar
dentro do curso que realiza, de acordo com as necessidades de aprendizagem
que podem vir a surgir durante o curso ou a disciplina abordada. Essa mo-
dalidade costuma apresentar bons resultados para programas de recuperação
de estudos de disciplinas da educação básica.

Modelo à la carte
O modelo à la carte, como o próprio nome sugere, é aquele em que o aluno
tem a possibilidade de realizar um curso ou uma disciplina de sua matriz
curricular de forma completamente on-line, desde que frequente uma escola
física tradicional. Embora este modelo seja amplamente utilizado no ensino
médio nos Estados Unidos, percebemos que no Brasil é mais aplicado ao ensino
superior, em cursos presenciais que disponibilizam esta opção aos seus alunos.

Modelo virtual enriquecido


O modelo virtual enriquecido, por sua vez, é aquele utilizado em cursos que
oferecem sessões presenciais de aprendizagem, que serão complementadas
pelos alunos em períodos posteriores de forma on-line. Por exemplo, o aluno
estuda na escola física nas segundas e nas quartas-feiras e realiza atividades
on-line nas terças, quintas e sextas-feiras. Dessa forma, os alunos e o professor
não se encontram diariamente.

Sala de aula invertida (flipped classroom)


Dentre os modelos de rotação da educação híbrida, a sala de aula invertida
é a mais utilizada e conhecida ou, ao menos, a que possui maior destaque
nas mídias quando o tema é abordado. A sala de aula invertida recebe este
nome por inverter questões que normalmente ocorreriam em uma sala de aula
Blended learning: educação híbrida e sala de aula invertida 9

tradicional presencial. Dessa forma, os alunos terão acesso ao ensino e aos


conteúdos de forma on-line, em suas casas, e se encontrarão na escola para
realizarem práticas e projetos orientados pelo professor sobre os assuntos já
estudados. Perceba que, ao invés de realizarem lições de casa que reforçariam
seu aprendizado, os alunos têm como foco principal o ensino em seus lares e
as lições são feitas em sala de aula com o professor. Esta inversão é ilustrada
pela Figura 3.

Figura 3. Sala de aula invertida.


Fonte: Horn e Staker (2015, documento sem paginação).

Ao comentar sobre a sala de aula invertida, Morán (2015, p. 22) destaca


que “um dos modelos mais interessantes de ensinar hoje é o de concentrar
no ambiente virtual o que é informação básica e deixar para a sala de aula as
atividades mais criativas e supervisionadas”. Esta parece ser uma ótima saída
para grupos de alunos que apresentam desinteresse e desmotivação em relação
às aulas realizadas de forma tradicional, na qual os conteúdos costumam ser
repassados em aula, tomando quase que o tempo total da disciplina e costumam
apresentar, mesmo quando metodologias criativas são utilizadas, um espaço
menor para atividades de criação por parte dos alunos.
10 Blended learning: educação híbrida e sala de aula invertida

Este talvez seja o maior ganho do professor ao trabalhar com a sala de aula
invertida. Ele pode se valer de metodologias ativas para enriquecer o período
presencial com os alunos, o que pode ser feito a partir de desafios, situações
problema, cases, jogos, situações práticas do tipo aprender fazendo, entre
outras que se encaixem com os objetivos de aprendizagem. Outro aspecto
a destacar é que os encontros presenciais poderão alternar entre atividades
individuais e atividades coletivas ou em grupos que favoreçam a troca de
conhecimentos e a interação.
Segundo Bacich e Morán (2015, p. 46), a sala de aula invertida pode ainda
ser aprimorada a partir de práticas que se envolvam “[...] a descoberta, a
experimentação, como proposta inicial para os alunos, ou seja, oferecer pos-
sibilidades de interação com o fenômeno antes do estudo da teoria”. Partindo
desta observação dos autores, acompanhe o exemplo a seguir.

Imagine que você é professor do 5° ano do ensino fundamental e que sua escola
possui um sistema híbrido de educação. Você deverá começar a desenvolver com
seus alunos os conteúdos relativos à diversidade étnica e cultural que compõe a
nossa sociedade. Estes alunos, ao realizarem em suas casas a aproximação inicial
com o conteúdo, serão desafiados a utilizar um aplicativo disponível na plataforma
da escola, com o qual deverão construir um avatar que represente suas características
físicas e, no encontro presencial, deverão socializar com os colegas. Essa atividade,
além de sensibilizar a todos sobre as diferenças e as aproximações entre as pessoas
que compõe nossa sociedade, também promove o interesse dos alunos a partir da
utilização de uma linguagem digital, que costuma ser comum a eles, pois a criação
de avatars faz parte de muitos dos jogos com os quais os alunos estão familiarizados.

Ao utilizar um modelo de ensino híbrido, a instituição de ensino estará oportunizando


um espaço escolar que esteja em sintonia maior com o mundo exterior e, da mesma
forma, que os alunos entendam que a aprendizagem pode e deve ocorrer em outros
espaços além da sala de aula, o que caracteriza o blended learning. Trata-se de uma
abertura da escola para o mundo e vice-versa.
Blended learning: educação híbrida e sala de aula invertida 11

Instrumentos avaliativos para a educação


híbrida
A educação híbrida reconfigurou as formas de ensinar e aprender entre os
alunos, promovendo a alternância entre os estudos presenciais e on-line.
Nessa proposta, os processos avaliativos também devem ser repensados para
que possam contemplar as aprendizagens adquiridas pelos alunos nos mais
variados modelos de blended learning utilizados pela instituição de ensino.
As discussões sobre a avaliação na educação são antigas e densas, no
entanto, podemos concordar com Depresbiteris (1998, p. 163), que comenta
que “a avaliação e o planejamento são atividades inseparáveis; formam um
processo único, no qual devem ser definidos os objetivos, os conteúdos, as
estratégias de ensino, os critérios e as formas de avaliar”. Logo, ao propor um
modelo de educação híbrida que se alinhe à cultura da instituição de ensino, a
avaliação já deverá constar nestes planejamentos iniciais. Pensar na avaliação
dentro de uma proposta de educação híbrida deve ir além da simples medição
e classificação quantitativa dos alunos, procurando, como observa Bento
(2017, p. 68), “mostrar o progresso dos alunos durante todo o curso”. Ou seja,
busca-se muito mais o caráter formativo do que o caráter somativo, comum
às aulas mais tradicionais. Deverão existir estratégias de avaliação ao longo
de todo o processo para não se incorrer ao erro de superavaliar o ensino nos
encontros presenciais em detrimento dos estudos em casa, ou vice-versa.
Pelos resultados de inúmeras experiências exitosas na área da educação
híbrida, podemos apresentar alguns tipos de instrumentos avaliativos que
podem ser utilizados para mensurar os resultados obtidos pelos alunos com
eficiência, em termos de aprendizagem. São eles:

„„ avaliação em teia;
„„ diário de bordo;
„„ mapa conceitual;
„„ interatividade on-line;
„„ avaliação formal;
„„ autoavaliação;
„„ avaliação diagnóstica.

O primeiro aspecto a discutirmos sobre os formatos utilizados para ava-


liação é o fato de que esta deverá ser estruturada de forma a abranger tanto os
aspectos quantitativos quanto os qualitativos da aprendizagem. Dessa forma,
a avaliação não deve ser realizada somente ao final do processo de estudo de
12 Blended learning: educação híbrida e sala de aula invertida

um curso ou de uma disciplina, mas durante todas as etapas do modelo de


educação híbrida adotado. A seguir, iremos detalhar as ferramentas avalia-
tivas citadas no quadro acima, procurando relacioná-las com os modelos de
educação híbrida que aprendemos nos tópicos anteriores.

Avaliação em teia
A avaliação em teia consiste em propor uma estrutura de tecnologia que permita
avaliar continuamente os alunos, a partir dos itinerários que vão escolhendo
durante seus estudos on-line. Assim, quando o aluno acerta uma questão, pode
ir gradualmente elevando seu nível de estudo sobre o assunto e, caso erre,
retorna a uma questão de fundamentação e embasamento mais simples para
que retome o processo avaliativo. O importante é que a teia apresente questões
com diversos níveis de complexidade para que possa capturar os traços dos
respondentes e adaptar seu processo de aprendizagem. Silva (2016) aplicou
a avaliação em teia para o ensino de matemática na educação básica em um
protótipo de sala de aula invertida, em uma escola pública de Maceió com 46
alunos. O autor utilizou o Google Docs e a teoria de resposta ao item (TRI) para
construir seu processo avaliativo, destacando que este processo de avaliação
“é prospectivo e evidencia os dados qualitativos; seu escopo é compreender
a relação entre o aprendizado e o desenvolvimento das funções psicológicas
superiores” (SILVA, 2016, p. 40). Ou seja, este modelo se fundamenta no
entendimento de que as capacidades cognitivas podem ser modificadas com
o decorrer do tempo, sendo acrescidas a partir do desenvolvimento da teia.

A TRI é hoje amplamente utilizada nas provas do Enade e busca compreender como
os alunos analisam as alternativas (distratores) em relação a afirmativa correta. Logo,
ele utiliza teorias de estatística para tentar avaliar não apenas o número de acertos,
mas também a proficiência real do candidato em cada área de conhecimento.

Diário de bordo
A utilização de um diário de bordo pode ser uma boa alternativa para a edu-
cação híbrida, pois permite que os alunos construam um portfólio de seus
Blended learning: educação híbrida e sala de aula invertida 13

aprendizados a partir dos estudos realizados fora da escola. Estes diários


podem ser socializados durante os encontros presenciais, favorecendo a in-
teração e a troca de experiências entre os alunos e o professor. Silva, Silva e
Marques (2016) utilizaram o diário de bordo com seus alunos, que deveriam
descrever suas experiências de aprendizagem na plataforma Moodle. Estes
relatos, escritos em primeira pessoa, forneceram subsídios para a avaliação
dos conteúdos abordados pelos professores em suas disciplinas.

Mapa conceitual
O mapa conceitual também serve como instrumento para ser utilizado na
educação híbrida, pois os alunos podem descrever, pela representação grá-
fica, os conceitos abordados e suas principais características em direção aos
objetos de aprendizagem requeridos. Tanzi Neto, Schneider e Bacich (2017)
utilizaram os mapas conceituais na condução de um experimento de ensino
híbrido para a língua inglesa com alunos do ensino médio, que denominaram
de laboratório rotacional, no qual os alunos realizavam o rodízio entre a sala
de aula e o laboratório de informática e eram avaliados de forma individual e
coletiva, a partir da construção e da socialização dos mapas conceituais. Esse
método pode ser também utilizado na sala de aula invertida, uma vez que, ao
terem realizado os estudos domiciliares, os alunos podem expor seus níveis
de conhecimento adquiridos a partir da construção dos mapas conceituais
com o acompanhamento do professor.

Interatividade on-line
Outra forma de avaliação largamente utilizada no ensino híbrido é o uso de
alguma métrica para mensurar a interatividade dos alunos junto à plataforma
on-line disponibilizada para o curso ou a disciplina. Porém, não devem ser
somente computados os períodos em que o aluno está on-line na plataforma,
mas também os seus esforços ao desenvolver as atividades ali propostas.
Andrade e Souza (2016) utilizaram este formato de avaliação das interações
on-line para avaliar seus alunos tanto no modelo de rotação por estações quanto
na sala de aula invertida. As autoras esclarecem que, no modelo de rotação
por estações, devido ao trabalho com grupos menores em cada estação, os
professores podiam se valer de uma avaliação qualitativa mais consistente e
utilizavam de feedbacks constantes para que os alunos pudessem aprimorar
sua aprendizagem.
14 Blended learning: educação híbrida e sala de aula invertida

Avaliação formal
As avaliações formais, representadas por provas e testes que visam mensurar
os conhecimentos adquiridos, também fazem parte da educação híbrida e
são normalmente utilizadas no ensino superior à distância, interligadas a
atividades interativas on-line realizadas em casa. Valente (2014) destaca que
utilizou este procedimento em turmas de sala de aula invertida no ensino
superior, em cursos que apresentam a proposta de ensino à distância chamada
semipresencial, na qual os alunos estudam o conteúdo em suas casas e, se
encontrarem semanalmente ou mensalmente em sala de aula com seus tutores,
além de realizarem atividades práticas sobre os temas estudados, também
realizam provas presenciais.

Autoavaliação
Outro bom instrumento avaliativo que serve para que o aluno reflita sobre o
seu próprio desenvolvimento e corrija suas rotas de estudo, tanto presenciais
quanto on-line, é a autoavaliação, que se adapta a todas as modalidades híbri-
das utilizadas. A partir dela, tanto alunos quanto professores podem perceber
os ajustes que se fazem necessários ao processo de ensino e aprendizagem.

Avaliação diagnóstica
Outro aspecto das avaliações que ocorrem na educação híbrida é o caráter
diagnóstico do sistema de avaliação utilizado. Ou seja, devem estar presentes,
durante todas as etapas da aprendizagem, tanto no meio presencial quanto
nas atividades on-line, mecanismos que possam testar a aprendizagem dos
alunos em relação a pontos centrais dos assuntos tratados para que, quando
necessário, possam ser fornecidos ajustes nas trilhas de aprendizagem que
estão sendo seguidas. Uma maneira de realizar esses diagnósticos é por fóruns
específicos ou interdisciplinares, por enquetes ou outras atividades em que
o aluno tenha que compartilhar o que aprendeu naquele período específico,
como um desafio ou uma situação-problema que deva resolver. O Quadro 1
sintetiza os principais tipos de avaliação.
Blended learning: educação híbrida e sala de aula invertida 15

Quadro 1. Principais tipos de avaliação

Tipos Conceito Função

Formativa Ocorre durante o processo Obter evidências sobre a


de ensino e aprendizagem. aprendizagem e propor
Apresenta caráter condições para a tomada
regulador, mediador, de decisões sobre o (re)
inclusivo/ colaborativo, planejamento adotado.
reflexivo e dinâmico.

Somativa ou Tem como objetivo Para certificar, comparar,


classificatória verificar a aquisição de um medir o sucesso ou
conjunto de conhecimentos insucesso dos alunos
planejados pelo professor. com a aplicação de
É aplicada ao final de um notas ou conceitos. Seus
período determinado, resultados podem servir
normalmente pelo uso de como indicadores para
provas e testes que resultam ações a serem realizadas
em notas ou conceitos. pela gestão da escola.

Diagnóstica Permite que o professor Embasa a tomada


conheça o que os alunos de decisões para o
sabem sobre determinado planejamento do
assunto, normalmente professor em relação ao
sem atribuir notas. ensino dos conteúdos.

Uma das grandes vantagens da educação híbrida é a possibilidade de personalização


do ensino e aprendizagem pelo uso de tecnologias digitais de informação e comuni-
cação (TDICs). Acesse o link abaixo e acompanhe o relato da professora Juliana Guida,
que aplica o blended learning em sua escola com o suporte do Porvir Educação, uma
iniciativa do Instituto Inspirare, organização do terceiro setor que presta suporte para
a inovação da educação brasileira.

https://qrgo.page.link/AghE7
16 Blended learning: educação híbrida e sala de aula invertida

ANDRADE, M. C. F.; SOUZA, P. R. Modelos de rotação do ensino híbrido: estações


de trabalho e sala de aula invertida. Revista E-Tech: Tecnologias para Competitividade
Industrial, Florianópolis, v. 9, n. 1, p. 3–16, 2016. Disponível em: http://etech.sc.senai.br/
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Leitura recomendada
HAYDT, R. C. C. Avaliação do processo ensino-aprendizagem. 6. ed. São Paulo: Ática,
2008. 159 p.

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