Livro 03 - Metodologias para Aprendizagem Ativa
Livro 03 - Metodologias para Aprendizagem Ativa
Livro 03 - Metodologias para Aprendizagem Ativa
APRENDIZAGEM
ATIVA
Introdução
As formas de viver em sociedade se reconfiguraram nas últimas déca-
das, nas áreas econômicas, políticas e sociais, principalmente devido ao
processo de globalização iniciado a partir da década de 1990 no Brasil
e no mundo. Estas mudanças que, a princípio, tinham como objetivo
promover maiores condições de desenvolvimento econômico para as
nações capitalistas por sua fusão em blocos, acabaram sendo impul-
sionadas pelo avanço das tecnologias de informação e comunicação,
modificando aspectos importantes da vida social, como as questões
educacionais que iremos estudar. Dessa forma, a aprendizagem nos
dias de hoje possui múltiplos formatos, o que torna esse processo ainda
mais rico se comparado com as antigas concepções didáticas. Nestas, o
professor agia como figura central, valendo-se de seu status de detentor
do conhecimento para cumprir com sua atribuição de ensinar. Com a
possibilidade de estudo pela internet, como os métodos de educação à
distância, a aprendizagem se tornou híbrida, podendo o professor utilizar
2 Blended learning: educação híbrida e sala de aula invertida
Presencial + Ensino
on-line = Ensino
híbrido
Para que você possa aprender melhor a respeito do ensino híbrido, vamos
observar algumas de suas principais características, segundo Horn e Staker
(2015):
Sobre o ensino híbrido, podemos afirmar que este somente agrega àqueles
que estão interessados em aprender, rompendo com os antigos paradigmas
educacionais em que todos devem aprender os mesmos conteúdos, no mesmo
ritmo.
Uma das mudanças mais significativas a partir da educação híbrida é o fato de que a
aprendizagem pode ser adaptada à necessidade e ao nível de entendimento de cada
aluno, com o uso de programas computacionais em ambiente virtual.
A aprendizagem adaptativa rompe com a ideia de ensino universal, em que tanto
os conteúdos quanto os processos avaliativos ocorrem da mesma forma. Porém, cabe
aos professores se atualizar sobre estas possibilidades de ensino híbrido e fazer bom
uso delas.
4. Modelo
1. Modelo 3. Modelo à la
2. Modelo flex virtual
de rotação carte enriquecido
Rotação por
estações
Laboratório
rotacional
Sala de aula
invertida
Rotação
individual
Modelo de rotação
O modelo de rotação é aquele utilizado em qualquer curso ou disciplina em que
o aluno costuma alternar entre as modalidades de aprendizagem presenciais e
on-line, o que podem fazer a partir de uma sequência fixa ou por outros critérios
criados pelo professor. Dentro deste modelo, temos a possibilidade de realizar
a rotação por estações, por laboratório funcional, pela rotação individual e
pela sala de aula invertida. Estas modalidades podem prever ações coletivas
ou individuais, de acordo com a técnica utilizada. Por exemplo, a rotação por
estações costuma se valer de grupos que realizam o rodízio entre as estações
em que terão que realizar atividades práticas a partir dos conhecimentos prévios
adquiridos on-line. Dessa forma, em cada estação será exigido um desafio,
uma solução de problema ou a execução de algum processo criativo pelo
grupo. Convém destacar que uma destas estações poderá disponibilizar ações
realizadas on-line pelo grupo. A rotação individual segue esta mesma ideia,
mas por ser realizada individualmente, fornecendo melhores subsídios sobre
o nível de aprendizagem de cada aluno. O laboratório rotacional usualmente
se vale dos laboratórios de informática ou outros existentes nas instituições
de ensino para que sejam realizadas atividades práticas e on-line dentro da
escola, alternando entre outros momentos de aprendizado propostos pelos
8 Blended learning: educação híbrida e sala de aula invertida
Modelo flex
O modelo flex é aquele em que “o ensino on-line é a espinha dorsal do processo
de aprendizagem do aluno, mesmo que às vezes o direcione os alunos para
atividades presenciais” (HORN; STAKER, 2015, documento sem paginação).
O que caracteriza sua flexibilidade é a possibilidade de o aluno se movimentar
dentro do curso que realiza, de acordo com as necessidades de aprendizagem
que podem vir a surgir durante o curso ou a disciplina abordada. Essa mo-
dalidade costuma apresentar bons resultados para programas de recuperação
de estudos de disciplinas da educação básica.
Modelo à la carte
O modelo à la carte, como o próprio nome sugere, é aquele em que o aluno
tem a possibilidade de realizar um curso ou uma disciplina de sua matriz
curricular de forma completamente on-line, desde que frequente uma escola
física tradicional. Embora este modelo seja amplamente utilizado no ensino
médio nos Estados Unidos, percebemos que no Brasil é mais aplicado ao ensino
superior, em cursos presenciais que disponibilizam esta opção aos seus alunos.
Este talvez seja o maior ganho do professor ao trabalhar com a sala de aula
invertida. Ele pode se valer de metodologias ativas para enriquecer o período
presencial com os alunos, o que pode ser feito a partir de desafios, situações
problema, cases, jogos, situações práticas do tipo aprender fazendo, entre
outras que se encaixem com os objetivos de aprendizagem. Outro aspecto
a destacar é que os encontros presenciais poderão alternar entre atividades
individuais e atividades coletivas ou em grupos que favoreçam a troca de
conhecimentos e a interação.
Segundo Bacich e Morán (2015, p. 46), a sala de aula invertida pode ainda
ser aprimorada a partir de práticas que se envolvam “[...] a descoberta, a
experimentação, como proposta inicial para os alunos, ou seja, oferecer pos-
sibilidades de interação com o fenômeno antes do estudo da teoria”. Partindo
desta observação dos autores, acompanhe o exemplo a seguir.
Imagine que você é professor do 5° ano do ensino fundamental e que sua escola
possui um sistema híbrido de educação. Você deverá começar a desenvolver com
seus alunos os conteúdos relativos à diversidade étnica e cultural que compõe a
nossa sociedade. Estes alunos, ao realizarem em suas casas a aproximação inicial
com o conteúdo, serão desafiados a utilizar um aplicativo disponível na plataforma
da escola, com o qual deverão construir um avatar que represente suas características
físicas e, no encontro presencial, deverão socializar com os colegas. Essa atividade,
além de sensibilizar a todos sobre as diferenças e as aproximações entre as pessoas
que compõe nossa sociedade, também promove o interesse dos alunos a partir da
utilização de uma linguagem digital, que costuma ser comum a eles, pois a criação
de avatars faz parte de muitos dos jogos com os quais os alunos estão familiarizados.
avaliação em teia;
diário de bordo;
mapa conceitual;
interatividade on-line;
avaliação formal;
autoavaliação;
avaliação diagnóstica.
Avaliação em teia
A avaliação em teia consiste em propor uma estrutura de tecnologia que permita
avaliar continuamente os alunos, a partir dos itinerários que vão escolhendo
durante seus estudos on-line. Assim, quando o aluno acerta uma questão, pode
ir gradualmente elevando seu nível de estudo sobre o assunto e, caso erre,
retorna a uma questão de fundamentação e embasamento mais simples para
que retome o processo avaliativo. O importante é que a teia apresente questões
com diversos níveis de complexidade para que possa capturar os traços dos
respondentes e adaptar seu processo de aprendizagem. Silva (2016) aplicou
a avaliação em teia para o ensino de matemática na educação básica em um
protótipo de sala de aula invertida, em uma escola pública de Maceió com 46
alunos. O autor utilizou o Google Docs e a teoria de resposta ao item (TRI) para
construir seu processo avaliativo, destacando que este processo de avaliação
“é prospectivo e evidencia os dados qualitativos; seu escopo é compreender
a relação entre o aprendizado e o desenvolvimento das funções psicológicas
superiores” (SILVA, 2016, p. 40). Ou seja, este modelo se fundamenta no
entendimento de que as capacidades cognitivas podem ser modificadas com
o decorrer do tempo, sendo acrescidas a partir do desenvolvimento da teia.
A TRI é hoje amplamente utilizada nas provas do Enade e busca compreender como
os alunos analisam as alternativas (distratores) em relação a afirmativa correta. Logo,
ele utiliza teorias de estatística para tentar avaliar não apenas o número de acertos,
mas também a proficiência real do candidato em cada área de conhecimento.
Diário de bordo
A utilização de um diário de bordo pode ser uma boa alternativa para a edu-
cação híbrida, pois permite que os alunos construam um portfólio de seus
Blended learning: educação híbrida e sala de aula invertida 13
Mapa conceitual
O mapa conceitual também serve como instrumento para ser utilizado na
educação híbrida, pois os alunos podem descrever, pela representação grá-
fica, os conceitos abordados e suas principais características em direção aos
objetos de aprendizagem requeridos. Tanzi Neto, Schneider e Bacich (2017)
utilizaram os mapas conceituais na condução de um experimento de ensino
híbrido para a língua inglesa com alunos do ensino médio, que denominaram
de laboratório rotacional, no qual os alunos realizavam o rodízio entre a sala
de aula e o laboratório de informática e eram avaliados de forma individual e
coletiva, a partir da construção e da socialização dos mapas conceituais. Esse
método pode ser também utilizado na sala de aula invertida, uma vez que, ao
terem realizado os estudos domiciliares, os alunos podem expor seus níveis
de conhecimento adquiridos a partir da construção dos mapas conceituais
com o acompanhamento do professor.
Interatividade on-line
Outra forma de avaliação largamente utilizada no ensino híbrido é o uso de
alguma métrica para mensurar a interatividade dos alunos junto à plataforma
on-line disponibilizada para o curso ou a disciplina. Porém, não devem ser
somente computados os períodos em que o aluno está on-line na plataforma,
mas também os seus esforços ao desenvolver as atividades ali propostas.
Andrade e Souza (2016) utilizaram este formato de avaliação das interações
on-line para avaliar seus alunos tanto no modelo de rotação por estações quanto
na sala de aula invertida. As autoras esclarecem que, no modelo de rotação
por estações, devido ao trabalho com grupos menores em cada estação, os
professores podiam se valer de uma avaliação qualitativa mais consistente e
utilizavam de feedbacks constantes para que os alunos pudessem aprimorar
sua aprendizagem.
14 Blended learning: educação híbrida e sala de aula invertida
Avaliação formal
As avaliações formais, representadas por provas e testes que visam mensurar
os conhecimentos adquiridos, também fazem parte da educação híbrida e
são normalmente utilizadas no ensino superior à distância, interligadas a
atividades interativas on-line realizadas em casa. Valente (2014) destaca que
utilizou este procedimento em turmas de sala de aula invertida no ensino
superior, em cursos que apresentam a proposta de ensino à distância chamada
semipresencial, na qual os alunos estudam o conteúdo em suas casas e, se
encontrarem semanalmente ou mensalmente em sala de aula com seus tutores,
além de realizarem atividades práticas sobre os temas estudados, também
realizam provas presenciais.
Autoavaliação
Outro bom instrumento avaliativo que serve para que o aluno reflita sobre o
seu próprio desenvolvimento e corrija suas rotas de estudo, tanto presenciais
quanto on-line, é a autoavaliação, que se adapta a todas as modalidades híbri-
das utilizadas. A partir dela, tanto alunos quanto professores podem perceber
os ajustes que se fazem necessários ao processo de ensino e aprendizagem.
Avaliação diagnóstica
Outro aspecto das avaliações que ocorrem na educação híbrida é o caráter
diagnóstico do sistema de avaliação utilizado. Ou seja, devem estar presentes,
durante todas as etapas da aprendizagem, tanto no meio presencial quanto
nas atividades on-line, mecanismos que possam testar a aprendizagem dos
alunos em relação a pontos centrais dos assuntos tratados para que, quando
necessário, possam ser fornecidos ajustes nas trilhas de aprendizagem que
estão sendo seguidas. Uma maneira de realizar esses diagnósticos é por fóruns
específicos ou interdisciplinares, por enquetes ou outras atividades em que
o aluno tenha que compartilhar o que aprendeu naquele período específico,
como um desafio ou uma situação-problema que deva resolver. O Quadro 1
sintetiza os principais tipos de avaliação.
Blended learning: educação híbrida e sala de aula invertida 15
https://qrgo.page.link/AghE7
16 Blended learning: educação híbrida e sala de aula invertida
TANZI NETO, A.; SCHNEIDER, F.; BACICH, L. Tecnologia no Ensino de Língua Adicional:
Personalização e Autonomia do estudante por meio de um modelo de Ensino Híbrido.
Revista CBTecLE, São Paulo, v. 1, n. 1, p. 614–631, 2017. Disponível em: https://revista.
cbtecle.com.br/index.php/CBTecLE/article/view/29. Acesso em: 21 maio 2019.
VALENTE, J. A. Blended learning e as mudanças no ensino superior: a proposta da sala de
aula invertida. Educar em Revista, Curitiba, n. esp. 4, p. 79–97, 2014. Disponível em: http://
www.scielo.br/scielo.php?script=sci_abstract&pid=S0104-40602014000800079&lng=
pt&nrm=iso&tlng=pt. Acesso em: 21 maio 2019.
Leitura recomendada
HAYDT, R. C. C. Avaliação do processo ensino-aprendizagem. 6. ed. São Paulo: Ática,
2008. 159 p.